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THE HUNTER - P. 2
Series & Trilogias Literarias
CAPÍTULO 14
— Cachorros droga! Como diabos captaram o nosso cheiro?
Ewen não teve tempo para pensar sobre isto. Eles precisavam se perder nas florestas e colinas de Lowther antes dos ingleses os alcançarem. Se ele podia ouvi-los, os cachorros deviam estar perto.
A Guarda das Highlands usava o interior como arma. Quanto mais densa a floresta, mais íngreme e hostil o terreno, mais eles podiam levar vantagem sobre os ingleses — superiores em número e armamento superior. A armadura pesada dos ingleses e os cavalos eram um fardo no campo, e Bruce aprendeu a usar aquilo em seu benefício.
Ewen não desperdiçou tempo tentando encobrir sinais de sua presença, levantando acampamento assim que puderam juntar seus pertences. O velho monte e forte tinham providenciado abrigo, mas forneceria pouca defesa. Pior, Janet estaria bem no meio disso.
Ela o fazia se sentir vulnerável de um modo que ele nunca se sentiu antes. Bàs roimh Gèill. Antes a morte que se render, era o lema da Guarda das Highlands. Ele nunca pensou que questionaria sobre isto. Mas se renderia mil vezes antes de deixar qualquer coisa acontecer a ela.
Não sabia o que isso queria dizer, mas sabia que era significativo. No calor do perigo, face a um ataque, ele não estava pensando em Bruce, Stewart, um castelo inacabado ou sua responsabilidade para seu clã, ele estava pensando nela — sua segurança era tudo que importava, e não só por causa da missão.
Preparando-se, Ewen virou para enfrentá-la. Mas nada podia tê-lo preparado para o punho que envolveu ao redor do seu coração e o puxou quando seus olhos se encontraram. Podia ver o medo, mas também a confiança de que não importa o quão desesperador isso pudesse parecer, ele a protegeria. Isso mexeu com ele. Humilhou-o. Quase o deixou de joelhos com a força de uma emoção que nunca sentiu antes. Deus, ele...
Ewen não terminou o pensamento.
Mas nada podia tê-lo impedido de estender a mão para envolver o rosto dela. Ela aninhou a bochecha no couro de sua mão enluvada, enterrando-se bem dentro do seu coração.
— Temos que correr. — Ele disse, sua voz irreconhecivelmente terna.
Ela acenou com a cabeça.
— Posso fazer isto.
Acreditou nela. Janet era forte e determinada. E pela primeira vez, Ewen percebeu que não iria querer que isto fosse de qualquer outro modo. Ele nunca pensou em uma mulher como nada mais que uma parceira de cama ou governanta. Uma criatura delicada e frágil que era seu trabalho proteger. Uma necessidade, mas nunca alguém para ficar ao seu lado, com quem conversar e discutir — sem falar deixá-lo louco. Mas Janet o fazia querer todas essas coisas.
Ele deslizou o polegar acima de sua boca ternamente.
— Não pare, não importa o que você escute. Eu te acharei.
O pequeno sorriso que curvou sua boca lhe roubou o fôlego.
— Eu sei.
E então eles correram. Correram tão rápido quanto Ewen podia empurrá-la dentro dos pântanos e colinas cobertas pela névoa e neve que assomavam ao longe. O exército de Bruce abrigou-se neles muitas vezes antes, mas seria demais esperar não achar ninguém por perto assim da aldeia. Era só até ele e Sutherland conseguir tirá-los dessa. Eles não seriam capazes de correr mais que seus perseguidores, não a pé, com cachorros e cavalos os perseguindo.
Eles não tinham tanto tempo quanto esperava. A sombra do forte atrás dele ao amanhecer ainda não tinha sumido quando ele capturou o primeiro vislumbre dos cavalos.
— O rio! — Ele gritou por cima do ombro para Janet. — Uns trinta metros adiante através das árvores. Siga-o até que alcance a borda da linha das árvores e então entre nas colinas. Lembre-se do que eu disse. Não pare. Não importa o que você escute.
O rosto dela estava enrubescido pelo esforço de correr, mas ele achou que ela empalideceu.
— Ewen, eu...
Ele não a deixou terminar.
— Vá!
Não podia ouvir isto. Não agora. Ewen esperou até que ela desaparecesse dentro da floresta antes de virar para Sutherland. Mas o mais novo membro do Guarda das Highlands já o antecipara.
— A travessia?
Ewen movimentou a cabeça. A garganta profunda e estreita do vale diminuiria a velocidade dos cavalos e daria a ele e Sutherland tempo para se posicionarem.
Mas não havia tempo. O inimigo já estava respirando em seu pescoço. Girou e puxou sua espada enquanto o primeiro braço armado arremetia balançando para baixo em direção a ele. Ele bloqueou o golpe da lança com uma torção rápida de sua espada que enviou a arma do inglês voando de suas mãos. Um momento mais tarde, a espada de Ewen desceu duramente na perna do cavaleiro, quase a decepando.
Ele ouviu o grito surpreso do homem antes de tombar no chão, sangue jorrando dele. Um rápido olhar disse a Ewen o que precisava saber: uma dúzia de homens armados, um cavaleiro, o braço direito de Beaumont e dois cachorros latindo de modo selvagem.
Então não foi surpresa que o outro cavaleiro estivesse quase sobre ele. Ewen sentiu uma onda de energia correr através do seu sangue enquanto o furor da batalha o atingia. Segurou sua espada com as duas mãos acima da cabeça e a baixou contra a lâmina do outro homem com força suficiente para tirá-lo de sua sela.
Um por um ele e Sutherland derrubaram o inimigo, trabalhando em conjunto enquanto se moviam para atacar os ingleses entrando em posição no estreito vale.
Exatamente assim, a batalha mudou. Os cavalos não podiam manobrar. Ao invés de agressores, o cavaleiro inglês e seus homens se tornaram arenques presos em barril. Com Ewen de um lado e Sutherland do outro, não havia nenhum lugar para eles irem. Forçados a abandonar seus cavalos ou morrer.
Morreriam de qualquer maneira.
O estrondo alto da batalha começou a embotar à medida que os ingleses caíam sob suas espadas. Os latidos pararam. Um dos cachorros parecia ter sido pisoteado ao fugir dos cavalos e o outro...
Ewen amaldiçoou, tirando o suor que se reuniu embaixo do elmo para limpar sua visão. Onde estava o outro cachorro?
Enquanto se desviava dos golpes, ele esquadrinhou a área ao redor deles, olhando por cima dos corpos dos homens e cavalos que caíram ao lado deles. Nada do segundo cachorro.
Uma onda fria atravessou seu sangue quando percebeu que havia um homem faltando também.
Ainda havia quatro soldados restando. Três deles convergiram para Sutherland, esperando dominá-lo, enquanto o outro tentava impedir Ewen de ajudá-lo. Sutherland não precisava de ajuda. E nem Ewen. Ele trocou golpes com o homem armado de pescoço grosso e peito largo, que conseguiu aterrissar um golpe sólido de sua espada no ombro do Ewen antes que a ponta da lâmina de Ewen pudesse encontrar o pescoço do oponente.
Sutherland percebeu o que aconteceu.
—Vá! — Ele gritou entre balanços de sua espada. — Vou acabar com eles.
Ewen não hesitou. Saltando em um dos cavalos remanescentes, ele saiu galopando na direção em que disse para que Janet corresse.
Ele se debruçou sobre a quina da sela para evitar os galhos e troncos que se espalhavam em todas as direções da floresta que circulava a base das colinas e rezou. Rezou para que tivesse contado errado. Rezou para que a alcançasse a tempo.
Mas um momento mais tarde ouviu um som penetrante que o assombraria para o resto de sua vida. Um grito estridente cheio de terror rasgou o ar do amanhecer nublado, parando seu coração e o catapultando adiante na escuridão, em um abismo pouco conhecido de medo.
Janet tinha toda a intenção de seguir suas ordens. Mas quando o estrondo penetrante de metal contra metal se espalhou pelo ar, sua cabeça instintivamente girou em direção ao som.
Ela parou para olhar por apenas um minuto, mas a visão que seus olhos encontraram não era uma que ela logo esqueceria. Era uma batalha em toda sua crueza e caos horroroso. Duas vezes antes ela viu a violência da guerra — em uma noite na ponte quando tentou salvar sua irmã e o dia na floresta com Marguerite quando encontrou Ewen pela primeira vez, — mas a ferocidade, a brutalidade disto, surpreendeu-a de novo. A visão de espadas balançando, sujeira voando, sangue derramando em uma confusão de homens e feras rosnando assustou-a horrivelmente. Como os sons. A própria barulheira disto. O brado violento de aço e morte.
Como uma praga de gafanhotos revestida de aço, os ingleses fervilhavam sobre os dois Highlanders. Pelo certo, deveria ter sido uma matança. Ela não podia respirar, temendo que Ewen fosse abatido com o primeiro golpe. Mas ela tinha esquecido, ou disse a si mesma que devia ter exagerado a habilidade dele. A força extraordinária e intenção mortal. O propósito brutalmente frio pelo qual ele realizava sua tarefa. Sir Kenneth lutava do mesmo modo, não como um cavaleiro, mas como um bárbaro. Não era difícil demais imaginá-los causando terror através dos mares em uma embarcação viking.
Os dois Highlanders podiam ter sido ultrapassados em número, mas eram de longe superiores em habilidade. Na primeira piscadela da luz do dia, em meio àquele caos e horror, com seus elmos e plaids esvoaçando como capas fantasmagóricos, eles mais pareciam com seres imortais e ameaçadores de outro mundo.
Eles pareciam com... Fantasmas.
A percepção a atordoou por um momento, entretanto, lembrando-se da advertência do Ewen, ela se virou e correu. Correu através das árvores e arbustos até que suas pernas doíam e seus pulmões pareciam que iam explodir ao longo da margem rochosa do rio e através da floresta.
Seguiu não mais do que uma milha quando ouviu latidos atrás dela. O medo apertou seu peito já mais do que apertado. Ela olhou por cima do ombro, viu o cão de caça correndo bem atrás dela, e contra cada instinto em seu corpo que gritava perigo — corra! — Ela se forçou a diminuir a velocidade.
O cachorro era treinado para caçar. Para perseguir. Não ia parar, e não podia correr mais que isso.
Ela não seria sua presa. Com a mão no cabo de sua lâmina, girou para encará-lo. Meio esperando que saltasse em cima dela, ficou surpresa quando ele parou a cerca de três metros de distância. Eles olharam fixamente um para o outro em uma muda encarada. Fera e homem. Ou neste caso, mulher.
Animais sempre gostaram dela. Tentou se lembrar disso enquanto ficava de pé perfeitamente quieta, exceto pelo pesado subir de seu tórax engolindo ar.
O Deerhound18 era grande, sua cabeça cinza aproximadamente no nível de sua cintura. Sua boca repuxada para trás, deixando-a ver todos seus dentes impressionantemente longos, mas seus olhos pretos estavam mais curiosos que enraivecidos. Um cachorro podia ser curioso?
Seu pelo felpudo estava sujo e emaranhado, e parecia estar precisando de um bom banho, mas era um animal de boa aparência, com as linhas longas e esguias de um caçador, talvez um pouco magro nas laterais.
Com a mão que não estava segurando o cabo da lâmina, ela alcançou a bolsa de couro em sua cintura e pegou um pedaço de carne seca. Cautelosamente estendeu murmurando sons suaves enquanto o cachorro a olhava de forma especuladora. Seu coração martelava à medida que o cachorro lentamente fez seu caminho para ela. Não querendo testar a sorte, ela pôs a carne seca no chão. O cachorro se lançou sobre a carne. Devorando-a em segundos, levantou o olhar para ela novamente, dando um pequeno latido de encorajamento.
Apesar das circunstâncias, ela riu. Era um diabinho fofo uma vez que você passava por cima o tamanho e os dentes.
De maneira hesitante, ela estendeu sua mão deixando o cachorro cheirar, murmurando desculpas.
— Sinto muito, isto é tudo que tenho.
Ele latiu novamente e então arquejou esperançosamente, sentando-se aos pés dela. Quando estendeu a mão para acariciar sua cabeça, ele choramingou.
Janet riu.
— Quer dizer que você não é tão apavorante...
De repente, um cavalo e cavaleiro atravessaram as árvores. Um ofego surpreso ficou preso em sua garganta, o brilho da cota de malha o identificou como inimigo. O homem a agarrou, obviamente pretendendo puxá-la sobre seu cavalo, quando de repente o cachorro saltou, seus dentes se fechando sobre o braço coberto pela cota de malha, tentando arrastá-lo para fora do cavalo. De alguma forma, cachorro e o brutamontes se embolaram debaixo das patas traseiras do cavalo, fazendo o cavalo se lançar adiante.
Ela ouviu um estalo horroroso e o uivo aflito do cachorro. Ela se virou depressa, mas imediatamente percebeu o que aconteceu: o cachorro tinha sido esmagado debaixo do cavalo, o cavalo quebrou sua perna e o cavaleiro... o cavaleiro tinha sido jogado para fora, mas estava lentamente ficando de pé. Xingando, ele puxou sua espada e a balançou na confusão entrelaçada de cachorro e cavalo.
Ela gritou e se virou.
— Maldito vira-lata estúpido — ele rosnou. Com o varrer de um golpe, o choro cheio de dor do cachorro parou. Ele seguiu com um segundo golpe e o ansioso resfolegar do cavalo enquanto ele tentou ficar de pé parou.
Sabendo que ele viria atrás dela a seguir tentou correr, gritando novamente quando a mão esticou e agarrou seu braço.
Ele a girou, sua espada erguida acima de sua cabeça.
— Onde você pensa que está indo, sua estúpida cadela rebelde...
Janet não pensou, reagiu. Ela tinha sorte que ele a agarrou por seu braço esquerdo, porque era do direito que precisava para puxar a lâmina de sua bainha e empurrar para cima com toda sua força entre as pernas dele, esperando achar um espaço entre a cota de malha.
Justo enquanto sua faca mergulhava, ouviu um ruído surdo apavorante. Os olhos dele arregalaram. Sua mão apertou o braço dela e então soltou enquanto caía aos seus pés, uma lança atravessando seu pescoço.
Ewen nunca experimentou esse tipo de ira. A visão de Janet sendo apertada de modo rude pelo cavaleiro fez algo com ele. Ela parecia com uma flor prestes a ser esmagada em um torno de aço, seus ossos delicados não era páreo para a força do grande guerreiro com armadura e a espada que podia a qualquer momento arrancar sua cabeça.
Uma raiva negra o tomou. Sede de sangue. Desejo de matar. Sua visão estreitou como se ele estivesse espreitando por um túnel escuro com um único objetivo em vista. Ajustou a lança em sua mão. Não se permitiu pensar que se falhasse, ela morreria. Ele não tinha tempo.
Doze, nove, seis metros de distância... ele lançou com toda sua força.
A lança rasgou através do ar com um zumbido, perfurando a alça da cota de malha do cavaleiro como se fosse manteiga.
Ewen atingiu o chão no mesmo instante que o soldado. Janet virou, o viu, e com um grito suave que rasgou seu coração, correu para dentro de seus braços.
Ele a segurou perto enquanto ela enterrava a cabeça no seu peito, saboreando cada maldita sensação que o tomava. Ela está a salvo, disse a si mesmo repetidas vezes. Salva. Mas seu maldito coração não parava de martelar.
As emoções clamando dentro dele eram diferentes de tudo que já tinha experimentado, e ele levou um tempo para colocá-las sob controle suficiente para falar.
— Você está bem?
Ela movimentou a cabeça acenando contra seu peito, mas ele precisava ver. Cuidadosamente inclinou o queixo dela para trás e olhou para dentro dos olhos cheios de lágrimas. A pele suave de bebê sob as pontas dos seus dedos estava muito pálida, parecia quase translúcida.
— Eu estava tão assustada. O cachorro... — Ela levantou o olhar para ele, atingida. — Foi horrível.
Uma onda de ternura subiu dentro dele com intensidade esmagadora.
— Acabou, meu bem. Acabou.
Ela acenou com a cabeça obedientemente — duvidava que ela tivesse feito isso desde que era criança, e provavelmente nunca mais desde então, — mas o horror do ataque obviamente ainda estava pesando nela. Ela tremia encostada nele, seus ombros esbeltos sacudindo, e uma onda feroz de proteção surgiu dentro dele. Tomou tudo que ele tinha não colocar sua boca na dela e beijá-la até que os dois esquecessem.
Mas não fez. O perigo estava terminado, e com sua ausência vinha a lembrança do seu dever.
Lentamente, relutantemente, a deixou ir.
Ela piscou levantando os olhos para ele, a princípio surpresa, e então com um olhar ferido que o rasgou impiedosamente.
Ele amaldiçoou a injustiça disso. Os deveres, as lealdades, as responsabilidades que tornava isto — eles — impossível.
De repente ela ofegou, seu olhar voando para o braço dele.
— Você está ferido!
Deu uma olhada para baixo, percebendo que a espada do inglês fatiou através de sua roupa e sangue estava derramando dele. Verdade seja dita, ele não sentiu. Embora não pudesse dizer o mesmo de sua perna, que latejava e queimava como se alguém tivesse jogado uísque e então tacado fogo.
— Estou bem. É só um arranhão.
Ela estragou isso com seu biquinho familiar. Quem iria imaginar que o aborrecimento podia parecer tão doce?
— Seu braço podia estar pendurado por um fio e você diria que estava bem.
Um canto de sua boca ergueu em um meio sorriso. Ela provavelmente estava certa.
— Vocês, guerreiros, são todos parecidos... — Ela parou e olhou ao redor ansiosamente. — Onde está Sir Kenneth?
— Não se preocupe. Ele estava acabando quando eu vim atrás de você. Deve estar chegando a qualquer minuto.
— Não posso acreditar que... eu não teria acreditado se não tivesse visto com meus próprios olhos. Dois homens contra tantos... — sua voz mantinha uma inconfundível reverência. Mas ele não podia apreciar isto. Ela estava chegando perto demais. De alguma maneira ele sabia o que ela iria dizer mesmo antes de seus olhos trancarem nos dele. — Você é parte disso, não é? Você é um dos fantasmas de Bruce?
Sangue de Deus, a moça cortejava problemas como um trovador apaixonado! Ela enxergava demais, e agora estava fazendo suposições — suposições perigosas que podiam pôr todos eles em risco. Ela já não estava correndo perigo suficiente? O conhecimento — inclusive a suspeita — como esta levaria a metade do exército inglês atrás dela. Identificar e capturar os membros do exército secreto de Bruce estava no topo da lista do comando inglês.
Sua expressão não deu a ela nenhuma sugestão da tempestade de emoções que sua pergunta soltou dentro dele. Ele fingiu diversão desinteressada.
— Seus pais não disseram a você que não existe tal coisa como fantasma?
Ela ergueu o queixo.
— Você nega ser parte do exército secreto que assolou com as tropas inglesas...
Ele a cortou com uma imprecação, pegando seu braço.
— Nós precisamos ir.
— Você não respondeu minha pergunta.
Mas mal as palavras deixaram sua boca quando ela ouviu algo também. O latido de um cachorro, e não muito atrás disso, o som de cavalos. Seus olhos arregalaram e ela enterrou os saltos dos seus sapatos no chão, impedindo-o de puxá-la em direção ao cavalo.
— Mas e Sir Kenneth? Nós não precisamos esperar por ele?
A boca de Ewen caiu em uma linha severa.
— Ele vai nos achar.
Assim esperava. Mas o som de cavaleiros se aproximando não era um bom presságio. Ele amaldiçoou novamente — silenciosamente, não querendo adicionar à sua preocupação. Mas a missão que tinha começado ruim só parecia estar ficando pior.
Ele estava prestes a ajudar a levantá-la para cima do cavalo quando ela se afastou novamente.
— Espera! Esqueci meu punhal.
Percebendo que ela deve tê-lo usado para tentar se defender, ele a impediu de ir atrás dele.
— Eu vou pegar.
Ele se aproximou do corpo do cavaleiro morto. Não levou muito tempo para localizar a faca.
Bem, estarei condenado. Se sua lança não tivesse acabado com a vida do maldito inglês, a lâmina dela, que estava mergulhada profundamente em sua perna, teria.
Sentiu inconfundivelmente seu peito inchar de orgulho. A moça era uma lutadora. Sua primeira impressão todos esses meses atrás de uma valquíria não estava tão longe.
Enxugando o sangue da lâmina na cota de malha de suas pernas, as quais já estavam manchadas de qualquer maneira de coisas nojentas, ele a estendeu de volta para ela.
Ela levantou o olhar para ele indecisamente.
— Eu fiz...
Ele sabia o que ela estava perguntando.
— Você se defendeu bem, moça. O teria deixado manco por toda vida. — Ele mentiu.
Ela suspirou, parecendo visivelmente aliviada.
— Eu não tinha certeza.
Ele tinha morte suficiente em sua alma para ambos. Ele podia protegê-la disso pelo menos.
Outro latido — este aqui discernívelmente mais próximo — pôs fim ao breve atraso.
Ajudando-a a subir no cavalo, ele montou atrás dela e foram embora, cavalgando curvados ao longo da margem do rio em direção às colinas. Eles montariam o cavalo o máximo que pudessem — ele esperava que tempo suficiente para interromper o cheiro e fazer mais difícil segui-los. Um dos melhores modos de fazer isto era com outro animal. Água também ajudaria. Já que era raso suficiente para fazer isso, ele guiou o cavalo para dentro do rio.
Eles continuaram naquele ritmo frenético por alguns quilômetros, até que os sons de seus perseguidores ficaram mais e mais distantes, eventualmente desaparecendo completamente.
Ele soltou um suspiro de alívio. Eles os perderam por enquanto e não cedo demais. Foi forçado a diminuir a velocidade do seu ritmo consideravelmente, quando o chão começou a subir, e a floresta e o rio do vale sumiam nas colinas cobertas de urze que acenavam para ele como a primeira visão de terra depois de dias no mar. Lar. Refúgio. Segurança.
Apesar do amanhecer ter rompido um tempo atrás, um cobertor espesso de névoa de inverno escondia de vista o topo da montanha estéril. Elas não só pareciam sinistras e assustadoras, também forneceriam bastante cobertura para eles desaparecerem. Mesmo que os ingleses seguissem a trilha deles novamente, pensariam duas vezes sobre segui-los em tal terreno ameaçador.
Mas ele não iria arriscar. Sabendo que o cavalo só dificultaria para eles a partir deste ponto, quando chegou a uma pequena ponte sobre o rio, ele disse a Janet para esperar enquanto ele a cruzava montado. Desmontando, ele bateu na anca do cavalo e o assistiu galopar descendo o caminho estreito. Com alguma sorte ele iria assim por algum tempo. Cuidadoso em esconder sua trilha, ele repassou seus passos até onde Janet permanecia observando-o.
Ela olhava fixamente no rio escuro abaixo com um nariz enrugado.
— Presumo que meus pés vão ficar molhados novamente, não é?
Ele sorriu perante sua expressão.
— Temo que sim.
Instruindo-a a andar em pedras ou chão mais duro sempre que pudesse, ele a ajudou a descer a margem e dentro d’água. Infelizmente, diferente do rio anterior, os bancos eram íngremes e a água espiralava quase até os joelhos dela.
Eles seguiram o rio subindo a colina até que o chão ficou muito íngreme e a água se tornou cachoeira. Marchando em cima na borda, ele apontou para uma pedra grande.
— Nós podemos descansar aqui durante algum tempo.
Não precisando de mais encorajamento, ela desmoronou. Encolhendo os ombros para tirar os sacos que ele levava, usou um deles como assento e juntou-se a ela. Felizmente, junto com os sacos de seus pertences, também estava levando a comida. Tentou não pensar em Sutherland, dizendo a si mesmo que seu novo recruta podia cuidar de si mesmo. Mas o ataque não devia ter acontecido. Era trabalho de Ewen garantir que não acontecesse. Se ele se sentia responsável, era porque era responsável. Ele falhou, droga, e não engolia bem o fracasso.
O que deu errado? Como diabos os cachorros capturaram seu cheiro? Aparentemente os pensamentos dela estavam correndo na mesma direção que os seus.
— Acha que nós os despistamos?
— Por enquanto. — Ele disse. — Com os cavalos e o rio, os cães terão dificuldade em seguir o cheiro.
— Mas como eles captaram?
— Não sei. Tive a maldita certeza que nós não deixamos nada...
Ele parou, seu olhar captou um vislumbre de um cacho de cabelo dourado que deslizou de sua trança. Até na névoa, sua cabeça dourada brilhava luminosa. Sua cabeça dourada nua. Sua boca caiu em uma linha dura, enquanto a explicação para o que aconteceu ficou clara. Ele xingou.
— Onde está sua touca?
CAPÍTULO 15
A mão de Janet foi para cabeça reflexivamente. Ficou surpresa por encontrar mechas suaves de cabelo debaixo de sua palma em vez de lã.
— Oh, não percebi — ela pensou em voz alta. — Deve ter caído ontem à noite quando deslizei do cavalo.
Ele amaldiçoou novamente, o que era redundante em sua opinião, já que só de olhar para cara dele dizia tudo. Ele estava furioso. Além de furioso, realmente. Irado. Tempestuoso. O tipo de tempestade de quarenta dias e quarenta noites.
— Deve ter sido como eles nos rastrearam.
— Eu sinto muito, não percebi...
Ele ficou de pé e a levantou arrastando. Ela ficou meia surpresa por não a ter agarrado pela orelha como um filhote de cachorro malcriado. — Maldição, eu disse a você que nós precisávamos ser cuidadosos. Não é de se espantar que eles nos seguissem tão depressa. Você os levou direto para nós.
Ele não precisava dizer isso, ela sabia o que estava pensando. É por isso que uma mulher não pertencia a este lugar. Uma mulher não tem que estar na guerra. Volte para sua agradável caixinha e fique fora disto.
Queria tanto impressioná-lo, mostrar lhe que podia ajudar tanto quanto ele — de um modo diferente talvez, mas de uma maneira que também fosse valiosa. Ao invés disso, ela provou o ponto dele. Como podia esperar que a visse de um certo modo se ela cometia erros tolos?
Janet queria discutir com ele. Seu instinto era se defender, tentar argumentar. Mas pelo menos uma vez ela não tinha uma desculpa ou explicação. Ele não estava sendo injusto, estava só falando a verdade — ainda que a maioria das pessoas não teria falado tão claramente. Mas evitar magoar não era o forte do Ewen. Não, ele era honrado e ia direto à falha.
Normalmente ela não se importaria. Mas estava assustada e cansada, tendo dormido só algumas horas nos últimos dois dias, e se sentindo anormalmente vulnerável depois do que tinha acontecido mais cedo. Eles compartilharam algo na floresta: uma honestidade de emoção que não o deixaria negar. Estava tão certa que a beijaria. Tão certa que ele poria de lado qualquer reserva que tivesse. Mas se afastou dela novamente. E agora...
Suas mãos se retorceram, um sentimento doente parecendo crescer em seu estômago.
— Foi um erro inocente.
— Um erro que poderia ter matado a todos nós.
Ela se encolheu tanto da dureza de aço em seu olhar quanto do chicote verbal que veio junto.
— Eu disse que sinto muito, não sei o que mais posso fazer.
— Nada. Mas da próxima vez que eu disser algo a você, tente seguir as ordens.
Janet chegou ao limite de sua aceitação passiva de culpa.
— Não sou um dos seus homens para que você possa mandar.
— Isso está dolorosamente claro. Meus homens são muito mais disciplinados.
Agora ele não era o único a perder seu temperamento, ela faiscou como uma fogueira. Suas mãos se retorcendo fecharam em punhos aos lados de seu corpo.
— Certo. Mulheres não têm lugar no campo de batalha, é o que você quer que eu diga?
Os olhos dele faiscaram. Ele se inclinou mais perto dela e rosnou.
— É um maldito bom começo.
Janet quis bater o pé em ultraje. Mas apesar disso sem dúvida daria a ele mais motivos para tratá-la como uma criança, ela jogou sua cabeça para trás com um alto bufo.
Ele era o homem mais exasperante, mandão, bruto e irracional que ela já conheceu!
E ainda assim, mesmo ele estando aqui de pé lhe passando um sermão — que infelizmente neste caso era merecido — uma parte tola dela ainda esperava que a tomasse nos braços e dissesse que estava tudo bem. Confortá-la como ele fez antes. Para um homem tão formidavelmente encorpado, ele fora surpreendentemente gentil.
Mas conforto era a última coisa na cabeça dele.
— Você vai ter que tirar suas roupas.
Ela recuou.
— Minhas roupas?
— Aye, todas elas. E entre no rio. Você fede a jacintos, esfregue cada pedacinho disso do seu cabelo e pele. Nós precisamos ter certeza que eles perderam o cheiro.
— Mas... — Ela olhou para laguinho abaixo da cachoeira. Mesmo daqui parecia gelado. E jacintos não fediam.
Ele apertou sua mandíbula como se lutando por paciência.
— Maldição, você pode apenas seguir ordens pelo menos uma vez?
Seus olhos se trancaram em uma batalha silenciosa de vontades. Ela já teve o suficiente de seus comandos rudes. Um sorriso secreto curvou seus lábios, enquanto o diabo dentro dela botava para fora sua cabeça feia.
Eu posso seguir ordens, tudo bem.
— Como você quiser.
Ela deixou o plaid escorregar de seus ombros e cair em uma poça escura aos seus pés.
Ele piscou.
Erguendo uma sobrancelha distintamente desafiadora, ela soltou seu gibão, que se juntou ao plaid aos seus pés um instante mais tarde.
Ele se arrumou para achar sua voz quando ela chutou suas botas e começou a puxar os calções de couro acima de seus quadris.
— O que você está fazendo? — Ele disse — bastante estupidamente na sua opinião.
Ela sorriu, removendo suas meias.
— Seguindo ordens — ela levantou o olhar para ele com ingenuidade. — Precisa de água?
— Água? Não, por quê?
— Sua garganta parece um pouco seca.
E com isto, ela ergueu a camisa por cima da cabeça.
Deve ter sido a batalha. Ou talvez o esgotamento físico dos últimos dias. Mas enquanto Ewen estava lá, assistindo-a, seus membros se transformaram em chumbo. Ele não podia se mover. Não teve a força para impedi-la.
Oh Deus, detenha-a.
Mas antes que alguma medida de autopreservação pudesse assumir, a camisa dela caiu no chão.
O mundo parou. Seu coração se esqueceu de bater. Sua boca estava seca mesmo. Uma secura que queimava. Chamuscando. Sua garganta estava tão esturricada quanto os desertos de Outremer, e ele sabia que não existia água suficiente nos oceanos deste mundo de meu Deus para extinguir a sede que ele tinha por ela.
Ela era perfeita. Membros longos, esbelta e curvilínea em todos os lugares certos, com centímetros e centímetros de pele impecável e cremosa. Os seios firmes e redondos que foram marcados a ferro em sua memória eram ainda mais espetaculares do que ele se lembrava, os pequenos mamilos cor de rosa enrijecidos e escuros, e o lugar suave e feminino entre suas pernas...
Meu Deus do céu! Ele gemeu. Desejo apertou sua virilha, quente e dolorido, puxando e apertando com necessidade.
Sua voz o trouxe de volta.
— É isso que você queria?
O desafio rouco da voz dela enviou uma bola de fogo de luxúria correndo por sua espinha abaixo. Juntou-se na base pulsando — não, tremendo — com necessidade.
Ele olhou dentro dos olhos dela.
Maldita! A moça não tinha um osso fraco ou vulnerável em seu corpo. Até nua como o dia que Deus a fez, era corajosa, desafiadora e forte.
Forte suficiente para quebrá-lo.
No espaço de dois longos segundos ele a teve em seus braços, sua pele suave como veludo esmagado contra ele.
Ela ofegou pela brusquidão do seu movimento, mas não resistiu. Não, ela pediu por isto, e por tudo que era santo, ela aceitaria.
Por uma fração de segundo, Janet sentiu um faiscar de medo e perguntou a si mesma se ela o empurrou muito longe. Entretanto estava em seus braços e sabia que ele nunca a machucaria. Mesmo fora de controle, Ewen a segurava com uma gentileza que era desmentida pelo corpo forte e duro contra ela.
O couro e aço de sua armadura contra sua carne nua era um choque, embora nem um pouco desagradável. Existia algo estranhamente sensual sobre ter todo aquele couro morno e metal frio apertado contra ela. Ou talvez fosse só que ela estava tão fria antes, o calor irradiando de seu corpo fez qualquer desconforto parecer pequeno.
Ela inclinou sua cabeça para trás, examinando seus olhos.
A ferocidade da expressão dele enviou uma excitação disparando por suas veias.
— Sua maldita — ele disse furiosamente, seu último ofego de protesto antes de se render.
Todos os pensamentos de gentileza foram esquecidos enquanto sua boca cobria a dela. Ele a beijou rudemente, seus lábios se movendo acima dos dela com uma possessividade feroz que a fez ofegar. E gemer. Mais de uma vez. Especialmente quando ele começou a usar sua língua. Os golpes fundos e penetrantes definitivamente produziram muitos gemidos nela. Gemidos baixos e urgentes que pareciam começar em algum lugar bem lá no fundo — bem sobre o lugar em que podia senti-lo duro contra ela. Estremeceu, seu corpo respondendo à primitiva evidência do desejo dele. Ela estava dolorosamente ciente de cada centímetro grossa daquela evidência.
Ele a puxou mais perto, curvando-a para trás, indo mais e mais fundo. Ela teve que lutar para acompanhá-lo, sua inocência não era páreo para a crua investida da paixão.
Sabia que ele estava castigando-a por forçá-lo a isso, tentando assustá-la com a intensidade de seu desejo. Mas Janet o encontrou golpe a golpe. Ela podia ser uma serva inocente, mas os instintos que ele despertou nela eram daqueles temerários. Ela queria isso. Cada pedaço tanto quanto ele, e a sensualidade crua da sua paixão apenas alimentava a dela.
Aye, ela estava quente, sua pele quase febril. Parecia estar derretendo, dissolvendo em uma poça de calor derretido. Ele removeu suas luvas e a sensação de suas mãos grandes e calosas vagando sobre sua pele nua — acariciando, apertando, não deixando nenhuma centímetro sem tocar — só aumentava aquele calor e produzia muito mais daqueles gemidinhos.
— Deus, você é tão gostosa. Sua pele é tão suave — o calor de sua respiração soprou em sua orelha, mas foram suas palavras que a fizeram estremecer. — Quero tocar em você por toda parte. Cada centímetro seu, mo chroí. — "Meu coração" — a expressão terna fez seu peito apertar. Janet não podia acreditar que era Ewen falando com ela desse jeito. As palavras suaves como seda não podiam ter estado mais em conflito com o guerreiro rude que falava sem pensar ou se importar com traquejos sociais. Era uma combinação arrojada, a paixão feroz e áspera misturada com as palavras suaves e sensuais. Suas mãos a possuíam, deslizando por suas costas abaixo, sobre sua bunda, erguendo-a um pouco mais forte contra ele, esfregando... Ave Maria! Ela podia ter saltado, seu corpo inteiro acendendo com uma energia não diferente de relâmpago engarrafado. Ela esqueceu de respirar, seu corpo tenso e esperando. Pelo que?
— Deus, você está me matando.
Normalmente ela não pensaria que era uma coisa tão boa, mas o modo como ele disse a fez pensar que poderia ser. Sua boca se movia para baixo e para cima de seu pescoço de maneira faminta, deixando sua pele em chamas pelo caminho. Seu coração estava martelando. Seus joelhos estavam bambeando. E o lugar entre suas pernas... uma onda fresca de calor subiu para suas bochechas. Ela não queria nem pensar sobre o que estava acontecendo lá. Estava quente e dolorida e... molhada, com estranhos pequenos tremores...
Oh! Ele se esfregou contra ela novamente e aqueles estranhos pequenos tremores começaram a pulsar. Ela o queria ali. Bem aí. A coluna de aço grossa cunhou alto e apertado, esfregando contra ela.
— Doce Jesus, você está me deixando selvagem — sua voz estava esfarrapada e apertada com restrição.
Janet conhecia a sensação.
— Eu quero estar dentro de você — ele sussurrou em sua orelha.
Ela quase gritou desapontada quando ele liberou seu aperto na bunda dela e a pressão gostosa foi embora. Mas sua decepção durou só um momento. A mão dele deslizou rapidamente por cima do seu estômago para cobrir um seio.
— Tão macia — ele gemeu, apertando, apalpando-a suavemente em sua mão. — Seus seios são incríveis. Sonhei em fazer isso desde a primeira vez que vi você.
Foi?
Janet ficou feliz por ele não parecer esperar uma resposta, enquanto ela estava tendo dificuldade em respirar. As sensações que as mãos dele causavam em seu corpo estavam comandando toda sua atenção. Instintivamente ela arqueou em sua mão, tendo descoberto bastante depressa que essa pressão aumentava as sensações.
Mas ela não antecipou a sensação dos dedos dele em seu mamilo. A ponta áspera de seu polegar acima do bico sensível e latejante quase a enviou saltando fora de sua pele novamente, enquanto outro relâmpago daqueles enviou um flash de energia disparando através do que pareceu ser cada terminação nervosa do seu corpo.
Ele fez um som rude antes de sua boca cobrir a dela novamente. Ela o sentiu alcançar a ponta do seu laço. Seu beijo não era mais punitivo, mas determinado. Cada golpe de sua língua, cada toque das mãos em seu corpo parecia calculado para aumentar sua paixão, trazê-la cada vez mais perto de algo que pairava justo fora do seu alcance. Ela estremeceu com antecipação.
Ele ergueu a cabeça.
— Está com frio?
Excitada além da medida. Ela sacudiu a cabeça, administrando a falta de fôlego:
— Quente.
— Bom — seus olhos escureceram. — Você está prestes a ficar muito mais quente.
Estremeceu novamente, ouvindo a promessa sensual em sua voz áspera. Ele era tão bom quanto sua palavra. Um momento mais tarde quando a boca achou seu seio, ela pensou que tinha caído nas entranhas ardentes do inferno, pois certamente deve ser um pecado se sentir tão bem.
Ela gritou quando sua língua circulou o mamilo e começou a chupar. Suavemente a princípio, e então um pouco mais duro, conforme ela arqueava mais fundo em sua boca. O calor. A raspadura de seu queixo. O escovar sedoso do seu cabelo na pele dela. Era demais. Não era suficiente.
Ela começou a se retorcer em frustração, e ele finalmente deu o alívio que ela sem saber buscava. Sua língua lavou e sacudiu contra seu mamilo ao mesmo tempo em que seus dedos deslizando entre a junção de suas coxas. Ficou imóvel, o instinto lhe dizendo o que ele estava prestes a fazer. Ela teve um momento de pânico. Vinte e sete anos de virgindade, de guardar sua castidade como uma relíquia sagrada não era renunciada sem uma pequena pontada de incerteza. Isso era errado? Quase como se ouvisse sua pergunta não dita, ele ergueu a cabeça. Seus olhos se encontraram, e qualquer incerteza que ela teve enfraqueceu na intensidade da emoção que viu refletido no olhar dele.
E então ele a tocou. Ali. No lugar que ela sem saber reservou para ele para este momento. Prazer floresceu bem no fundo dela como uma flor desabrochando suas pétalas aveludadas ao sol enquanto ele prendia seu olhar e a acariciava. Era mágico. Bonito. A coisa mais perfeita e natural no mundo. Como isso podia ser errado?
As sensações estavam se construindo mais rápido agora, correndo em um ritmo frenético em direção a um determinado fim. E momentos mais tarde quando ela olhou dentro de seus olhos enquanto ele a acariciava até o próprio cume da paixão, quando ficou sem fôlego, seu corpo apertou, e calor se espalhou por cada centímetro dela quebrando em uma luz ofuscante, Janet soube de mais uma coisa: estava muito contente que não era freira.
Ewen estava perdido no momento em que olhou dentro dos olhos dela. Vendo-a se desmanchar, assistindo a paixão espalhar sobre seu rosto em euforia sensual, lábios inchados separados, bochechas enrubescidas e olhos suaves com prazer, soltou algo dentro dele que não podia ser contido.
Luxúria o atravessou diferente de qualquer coisa que ele já experimentou. Era mais poderoso. Mais intenso. Mais profundo. Isso não encheu apenas seu membro — que estava tão duro quanto um pilar de mármore, — mas seus ossos, seu sangue, cada centímetro de seu corpo, inclusive uma parte dele que desejou que não fizesse: seu coração.
Sua necessidade por ela era elementar. Como água, comida e o ar que respirava, ele tinha que tê-la. O último refluxo da liberação dela ainda enfraquecia antes dele a colocar no chão, o plaid descartado debaixo dela. Ele se atrapalhou com suas calças. Da próxima vez, ele jurou. Da próxima vez ele faria isto perfeito. Desta vez teria sorte se durasse alguns minutos.
Estava fora de controle, passou do ponto da razão, seu corpo se movendo por vontade própria. Ele não queria se permitir pensar. Sangue martelava através do seu corpo, dentro de sua cabeça. Suor se reuniu em sua sobrancelha. Ele nunca quis nada tão intensamente na sua vida.
Ar frio abençoado atingiu sua pele quente quando se liberou de suas calças dolorosamente apertadas. Ele se moveu para se posicionar, alavancando seu corpo acima do dela, centímetros, segundos, do doce alívio. Ele estava duro como uma espiga, vermelho e pulsante. Pulsando dolorosamente. O tipo de latejar: preciso gozar nesse instante. Uma gota escapou em perversa antecipação.
Seus dentes apertaram. Mais alguns segundos...
Não podia esperar por esse primeiro momento maravilhoso de contato, quando a ponta quente e sensível encontraria a morna e feminina umidade. Ele podia quase senti-la apertada e quente ao redor dele, uma luva aveludada apertada, agarrando... apertando... ordenhando. Suas nádegas apertaram. Os olhos dela tremularam abertos. O sorriso que se espalhou por seu rosto espremeu seu peito como um torno, cortando sua respiração já trabalhosa. Tão bonito...
— Isso foi maravilhoso. Eu nunca imaginei que... — Ela olhou para ele. — Tem mais?
Moça gulosa! Ele sorriu.
— Aye, isto é só o começo. Vou fazer você...
Minha.
Ele ficou imóvel. A palavra chacoalhando algo dentro dele, despertando sua consciência de sua soneca drogada.
— Vai me fazer o que? — Ela disse resolutamente. Ela olhou para baixo, olhos arregalando à medida que caíam sobre ele. — Oh... Oh!
Os olhos dela dispararam de volta para ele de maneira incerta, e com mais do que um pouco de medo. Não era sem motivo. Ele foi feito para o prazer da mulher. Mas ela não era uma mulher, era uma serva.
É uma serva, ele se corrigiu.
Cada músculo em seu corpo flexionou com restrição. Seria tão fácil investir para dentro. Ele curvou sua cabeça, seu corpo tremendo, lutando para se controlar enquanto a necessidade de seu corpo guerreava com sua mente. Uma mente que ele queria calar.
Só termine. Você pode fazer isto bom para ela. Ela quer isso. É tarde demais, droga.
Mas não era tarde demais. Não ainda.
Ela não é sua. Mas pode ser. Mais alguns centímetros e você pode fazer isto.
Mas a que custo? Tudo que ele esteve lutando para alcançar? Ele era como seu pai afinal? Ele amaldiçoou, não percebendo que articulou o xingamento vil em voz alta até que ela ofegou.
— O que está errado? — Ela estendeu sua mão para cima e tocou em seu rosto tenso.
Ele encolheu os ombros para tirá-la e se afastou, cada instinto em seu corpo rugindo em protesto.
— Não posso fazer isso.
— Por que não?
Ele já estava de pé, afastando-se. Não podia olhar para ela, a emoção em sua voz estava corroendo-o suficiente. Ele precisava de um minuto — mais do que um minuto — para se colocar sob controle.
— Tem sabão e algumas roupas extras na minha bolsa. Lave essas malditas flores. Assim que você acabar nós podemos ir.
Afastar-se foi a coisa mais dura que Ewen já fez. Ele amaldiçoou cada passo que o levava para longe dela. Sua honra e lealdade foram empurradas a ponto de quebrarem, deixando-o sem lugar algum para ir.
CAPÍTULO 16
Janet não entendeu o que tinha acabado de acontecer. Num minuto estava ali com ela e estavam tão perto quanto duas pessoas podiam estar, no outro ele estava em outro lugar. Em algum lugar que não podia alcançá-lo. A ferocidade de sua expressão a alarmou. Ele parecia quebrado — torturado. Ela chamou atrás dele enquanto ia embora, mas agiu como se não a ouvisse e seguiu em frente.
Deixando-a deitada. Literalmente de costas. Se ela não estivesse tão confusa, poderia ter chorado. Como ele ousava deixá-la desse jeito! Estava pronta — ansiosa — para experimentar isso tudo. Ela se entregou a ele, e ele a rejeitou.
Sozinha e sem o calor do seu corpo, ela estremeceu. O frio da manhã nublada mais uma vez se infiltrou em seus ossos. Mas não era nada comparado ao que estava por vir. Sem escolha além de fazer o que ele disse, ela então passou dois, talvez três dos minutos mais desagradáveis de sua vida, banhando-se no lago de água gelada debaixo da cachoeira.
Forçar seus pés a sair da beirada rochosa não era nada fácil. Só de saber que ela era a culpada pelos ingleses estarem perseguindo-os a compelia adiante. Ela saltou. Dizer que a água era um choque era um eufemismo de proporções gigantescas. Isso filtrou cada pedacinho de sensação de seus ossos, tirando sua letargia e qualquer memória prolongada do que tinha acabado de acontecer com isto. Mas ela nunca esqueceria. Ele lhe mostrou um vislumbre do céu e nada podia levar isto. Nem ele, nem a água. Nada.
Rompendo a superfície, ela esfregou seu cabelo e membros com a lasca de sabão, não tentando apenas apagar o “fedor” dos jacintos, mas também manter o sangue se movendo assim não morreria congelada. Sair não forneceu muito alívio. Seus dentes ainda estavam chacoalhando minutos mais tarde quando ele retornou. Ela não teve que perguntar onde foi. Pelo seu cabelo úmido, percebeu que ele também tomou banho, embora mais abaixo no rio.
Seu olhar a varreu. Se ficou agradado ao ver que fez como ele disse, ela não podia dizer. Toda evidência da expressão torturada saiu de seu rosto, suas feições mais uma vez estampadas em uma máscara em branco. A falta de emoção a irritava. Como ele podia estar tão inalterado, quando ela estava tão afetada? Sua boca se comprimiu, raiva atravessando um pouco da confusão.
— Precisa de ajuda?
Aparentemente ele notou a dificuldade que estava tendo em se vestir. Embora tivesse conseguido vestir uma de suas camisas e calções de lã, a camisa já estava meio ensopada por seu cabelo molhado e seus dedos não estavam cooperando quando ela tentou puxar os calções.
Ela sacudiu a cabeça. Como uma oferta de paz — se é o que isso era — não foi o suficiente. Ele a rejeitou, deixando-a daquele jeito, e ela não o deixaria fingir que nada aconteceu. Como se a colocando nas suas roupas pudesse apagar a evidência da memória! Ela estava quase se embrulhando no plaid novamente quando ele a deteve.
— Você não pode vestir nada que usou antes. Deixaremos isto com as outras coisas.
— Mas isso pertence a Eoin e é quente.
Ela pensou que sua boca repuxou um pouco mais apertada.
— MacLean vai entender — Ewen tirou seu próprio plaid e o estendeu para ela. — Pode vestir o meu.
Seus olhos se prenderam por um longo minuto, como se existisse algum tipo de significado além do calor que isso ofereceria, mas então ele desviou o olhar e o momento se foi.
Ela tomou o plaid e depressa o envolveu ao redor de si mesma, incapaz de conter o suspiro de prazer quanto o calor envolvia seus membros congelados. O calor do corpo dele parecia capturado no intricado entrelace dos fios de lã. Se ela inalasse (o que ela fez), podia só pegar um leve cheiro do familiar pinho e couro.
Depois de alguns minutos ela estava aquecida suficiente para terminar de se vestir. Juntou as mechas ensopadas de seu cabelo em uma trança apertada na nuca e calçou as botas. Pelo menos ele não insistiu que ela fosse descalça. Ele estendeu um pedaço de corda, a qual ela olhou inexpressivamente.
— Para os calções — ele explicou. — As amarras não parecem estar funcionando muito bem.
Realmente, ela constantemente tinha que puxar as calças para cima para não escorregarem por seus quadris. Ainda assim, eram melhores que suas outras opções: seu hábito ou o belo vestido que Mary mandou buscar para ela apresentar-se na corte.
Ela enfiou a camisa de linho nos calções e juntou um bolo ao redor de sua cintura, usando a corda como cinto. Notando o modo que os olhos dele caíram em seus quadris, demorando com fome quase palpável por um momento, até que ele forçou seu olhar para longe, ela teve certeza de levar seu tempo. Vingança insignificante talvez, mas que se provou surpreendentemente satisfatória.
O cinto adicional ajudou, e alguns momentos mais tarde, depois que ele amarrou sua antiga roupa emprestada ao redor de uma pilha de pedras e a lançou no lago, ele juntou os pertences deles para irem embora.
Mas Janet não estava pronta para partir. Não sem uma explicação. Ela pegou seu braço antes dele poder ir embora.
— Por que você parou daquele jeito? Eu fiz algo errado?
Sua mandíbula apertou, seu olhar azul de aço se encontrou com o dela.
— Não agora, Janet. Precisamos nos mover mais alto nas colinas. Eles não desistirão da caça.
— Talvez não, mas a menos que você ache que eles estão bem atrás de nós, certamente pode me dar alguns minutos. Não mereço algum tipo de explicação?
A expressão dela se tornou aflita.
— Você não fez nada errado. Foi minha culpa. Nunca devia ter acontecido.
— Por que não?
Seus olhos faiscaram quentes.
— Porque não é certo. Sua inocência pertence ao seu marido, maldição.
Janet endureceu, tentando não exagerar ou ficar desapontada. Sua reação era compreensível — era como a maioria dos homens pensava. Mas ela não queria que ele pensasse como a maioria dos homens. Queria que a visse por ela mesma e não como uma posse ou acessório. Era demais pedir isso?
Às vezes ela podia quase se convencer que ele era diferente. Que sua irracionalidade era apenas resultado da inexperiência. Que ele não conhecia nada melhor, mas que uma vez que conseguisse conhecê-la a veria como… o que? Capaz. Certamente não uma virgem para ser trocada e vendida como uma vaca premiada.
— Minha inocência pertence a mim — ela disse firmemente. — É minha para perder ou não.
— Eu queria que fosse verdade. Mas não é tão simples, Janet. Você é a filha de um conde e cunhada do rei. Seu marido vai esperar...
— Que marido? Não sou casada, nem pretendo ser.
Sua veemência o levou para trás.
— Você soa tão certa.
Ela ergueu o queixo.
— Estou.
— Você está seriamente considerando se tornar freira?
Depois do que tinha acabado de acontecer, isso soou da mesma maneira improvável para ela. Mas faria o que devia.
— Se esta for minha única alternativa ao casamento.
— Você faz o casamento soar como uma sentença de morte. Realmente seria tão horrível?
Ela pensou em sua família. Sim, seria. Como ela podia explicar? Como podia fazê-lo entender o que para ele — para a maioria dos homens — deve parecer antinatural?
— Eu me perderia.
A sobrancelha dele franziu.
— Como?
— Eu não teria mais a capacidade de controlar minhas próprias ações. Tudo, até a menor decisão, seria controlada por meu marido. Minha vontade não seria mais minha. Não tenho nenhuma vontade de ser tratada como uma posse.
Ele franziu o cenho.
— Não é sempre assim.
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Então você conhece muitos homens quem tratam suas esposas como iguais?
Seu cenho franzido aprofundou.
— Alguns.
Seu coração saltou adiante. Isso o incluía?
— E você permitiria a sua esposa o poder de tomar suas próprias decisões ainda que elas não concordassem com as suas?
— Não estamos falando sobre mim.
— Não, não estamos — disse baixinho, seu coração apertando com inesperada decepção. Ela não podia ter estado pensando nele como marido, não é? — Mas queria saber minhas razões e você é um exemplo perfeito. Deixou seus pensamentos sobre o que estou fazendo bastante claro. Por que podia esperar que outro homem se sentisse de forma diferente? Pode imaginar um marido permitindo que eu continuasse meu trabalho?
Sua boca apertou teimosamente.
— Seu trabalho é perigoso.
— Então preciso ser protegida de mim mesma, é isso? — Não surpreendentemente, ele não respondeu. Ela decidiu devolver a pergunta a ele. — Por que está tão certo que eu não devia estar fazendo isto? Por que tem tão pouca consideração com as mulheres ou é só eu?
Ele pareceu chocado.
— Jesus, Janet, só porque não penso que é seguro para você vagar por toda parte da Escócia sozinha no meio de uma guerra, realizando algo que pode fazê-la ser morta se for descoberta não significa que penso menos de você. Diabos, já se provou para todo mundo depois de hoje. Você agiu tão bem quanto qualquer homem — o peito dela se ergueu ante suas palavras. Ele não fazia ideia do quanto elas significavam para ela. — Mas ser mulher a torna vulnerável de modos diferentes. Quando penso no que podia acontecer a você… — seu rosto escureceu e seus olhos tomaram uma cobertura assombrada. — Maldição, tem alguma ideia do que os ingleses fariam com você se descobrissem o que estava fazendo?
Existia algo mais no trabalho aqui do que simplesmente sua visão em papéis tradicionais para homens e mulheres. Obviamente ele estava falando de experiência pessoal.
— Diga-me o que aconteceu.
Sua mandíbula apertou tão firmemente que ela podia ver o músculo abaixo começando a repuxar.
— Foi há alguns anos, não muito depois que nós chegamos à Escócia depois de sermos forçados a nos refugiarmos nas Ilhas por alguns meses. — Ela engoliu em seco. Foi quando seu irmão Duncan tinha sido morto. — Nós estávamos sendo caçados, a maré ainda não tinha virado, e um punhado de aldeões, principalmente mulheres e crianças, ajudaram a nos esconder nas colinas. Os ingleses descobriram, e quando nós voltamos para agradecê-los — seus olhos encontraram os dela — não tinha restado ninguém para agradecer. As mulheres foram estupradas e espancadas antes de terem suas gargantas cortadas. Só uma moça sobreviveu.
Janet ofegou. Apesar dele ter falado com sua aspereza habitual, ela podia ouvir a emoção em sua voz e perceber o quanto deve ter sido horrível.
— Não foi culpa sua.
— Claro que foi — ele estalou. — Nós pedimos ajuda a eles, nunca imaginando o risco que estávamos pedindo que corressem.
— Mas eles teriam feito isto de qualquer maneira — ela disse suavemente. — Mesmo sabendo, eles teriam te ajudado.
— Como pode saber disso?
— Porque eu teria feito o mesmo.
Ele olhou fixamente para ela, não dizendo nada por um momento.
— Por que ser mensageira é tão importante para você?
— O porquê não devia importar. O fato em si deve ser suficiente — era demais esperar que um homem pudesse entender isto? — Não pergunto a você por que faz o que faz. Só porque não uso armadura e levo uma espada não faz o que faço menos importante. — Ela fez uma pausa. — Esta guerra não será ganha só pela espada, Ewen. Como você acha que os fantasmas de Bruce sabem o lugar certo para atacar? — Ele a estava observando atentamente. — Bons espiões passaram por mensageiros.
Ela deixou como estava, não querendo dizer mais.
Ele pareceu considerar o que disse, mas se deu a isto qualquer peso, ela não podia dizer.
— Isto é sobre sua irmã?
Ela endureceu.
— Sobre o que você está falando?
— Você não tem que se provar ou reconciliar pelo que aconteceu na ponte. Mary não te culpa. Se você só soubesse o quão desesperada ela esteve para te achar e quão ansiosa está para ter você de volta.
O coração de Janet devorou cada palavra. Era verdade? Ela queria acreditar nele e ansiava questioná-lo, mas isso significaria reconhecer para si mesma que suas palavras guardavam alguma verdade.
— Minha irmã não tem nada a ver com isso. Não é suficiente querer ajudar? Sempre tem que haver uma razão adicional? E você, por que está aqui, Ewen? O que fez você decidir ser um dos fantasmas de Bruce?
Ele fez uma cara feia, mas não mordeu a isca.
— Eu me juntei ao exército de Bruce porque meu suserano, e um homem que eu respeitava acima de todos os outros, pediu que o fizesse. Fiquei para livrar meu clã da extinção.
Os olhos dela se arregalaram pela honestidade cega. Nada de febre ou falas patrióticas de liberdade e tirania dele, somente ambição e recompensa.
— Seu pai? — Ela perguntou.
Levou um momento para perceber o que ela queria dizer. Quando entendeu, ele riu.
— Dificilmente. Meu pai não era homem de inspirar muita devoção. Não, falo do antigo Stewart, Sir James Stewart.
Janet não pode esconder a surpresa. Era este o senhor que ele falou quem o criou? Os Lordes Stewart de Bute eram um dos clãs mais importantes do país. — Você é conectado aos Stewarts?
Um sorriso torto virou sua boca, como se ele adivinhasse a direção de seus pensamentos.
— Não próximo. Minha mãe era prima de Sir James, sua prima favorita, quando isso aconteceu. — Vendo sua confusão, ele suspirou como se resignando a ter que dizer mais. — Minha mãe era noiva do Chefe dos Lamont quando ela conheceu meu pai, um dos seus comandantes, e decidiu casar com ele em vez do outro. Desnecessário dizer, o chefe dos Lamont não ficou muito feliz. Ele foi à guerra com meu pai e o teria destruído sem a ajuda de Sir James. — Ele sacudiu a cabeça. — Ironicamente foi meu pai sendo cortado do resto do clã que me deu a habilidade para salvar isto.
— O que você quer dizer?
— Tipo os MacDougalls, MacDowells e Comyns, meu primo, o chefe atual, e os membros do seu clã ficaram contra Bruce, foram exilados e tiveram as terras do clã desapropriadas, com exceção das minhas terras em Ardlamont. Se não fosse pela minha conexão com os Stewarts, e deste modo com Bruce, eu estaria com eles. Como isso está, sou o último Lamont em Cowal. Meu clã vive ou morre com a habilidade da minha espada, por assim dizer.
Janet estava atordoada. Não é de se espantar que ele parecia tão teimoso e com um único objetivo em mente sobre cada missão. O futuro do que foi uma vez um grande clã descansava em seus ombros largos. Mas outra coisa mais que ele disse deu a ela um sussurro de possibilidade.
— Você é um chefe?
Ele segurou seu olhar.
— Não fique muito impressionada, minha senhora. É só uma propriedade secundária, com metade de um castelo.
As sobrancelhas dela franziram, não entendendo o sarcasmo.
— Até o rei te recompensar com mais pelo seu serviço?
Ele deu de ombros.
— Se for da sua vontade.
Ela olhou-o especulativamente. Apesar de ele ter dito isto com indiferença, sentiu o quanto importava para ele. Era isso que o conduzia. Recompensa e uma posição para seu clã sob a monarquia de Bruce. Também fornecia outra explicação para o porquê dele ter parado. Despojar a cunhada do rei dificilmente agradaria a Robert.
Mas não havia nenhuma razão para que Robert algum dia descobrisse. Não que ela pensasse que isso provavelmente influenciaria Ewen. Estava provando ter uma raia de honra inconveniente nele.
Ela mordeu o lábio, perguntando-se se existia outro modo. Apesar de sua continuada rejeição e comportamento apavorantes em se afastar dela no meio do ato de amor, ela ainda o queria e não iria desistir.
Por que isso era tão importante para ela, não sabia. Ou era uma glutona por castigo ou existia algo verdadeiramente especial entre eles que valia a pena os golpes continuados no seu orgulho. E havia a paixão. A inegável atração que surgiu entre eles como uma fogueira. Ela não podia descontar isto.
Em todo caso — eu não posso fazer isto — não era uma resposta que ela tinha intenção de aceitar. Soava demais como não. Se a voz de Mary sussurrou um aviso, Janet empurrou isto de lado. Ela sabia o que estava fazendo. Além disso, não havia ninguém mais por perto para ser magoado.
Ele esquadrinhou a área atrás dela.
— Nós descansamos tempo suficiente.
Ela ergueu uma sobrancelha em questionamento. “Descansar” não era como descreveria o que eles fizeram. Se não estivesse certa que era impossível para ele corar, teria jurado que suas bochechas escureceram enquanto entendia o que ela estava querendo dizer.
— Aye, bem, você poderá dormir assim que tiver certeza que nós os despistamos.
— Acho que eu preferiria fazer um pouco mais de descanso.
Ele disparou a ela um olhar repreensivo.
— Janet…
Ele poderia estar dando bronca em um filhote malcriado. Ela piscou para ele inocentemente.
— O que?
— Não vai acontecer. Eu disse a você que foi um erro. Está acabado. Acabou.
Ela sorriu, sabendo que nenhum deles acreditou nisto. Não estava acabado, acabou de começar.
Ewen os empurrou impiedosamente, tanto para colocar o máximo de distância entre eles e os ingleses quanto para mantê-la ocupada demais para conspirar sua queda.
A moça era problema. E teimosa.
Audaciosa demais pro seu gosto. Também era inteligente.
Dolorosamente doce. E de longe mais forte do que ele esperava.
Não podia acreditar que ela ainda estava de pé. Até este momento foi caçada por cachorros, atacada por um cavaleiro inglês, matou o dito cavaleiro com um punhal bem colocado na perna, marchou por quilômetros afundada até os joelhos em um rio gelado, sofreu um banho naquela água gelada, e caminhou por quilômetros acima de colinas congeladas e cobertas de névoa. Como se não bastasse, também estava por um fio de cabelo da ruína.
Um orgasmo não podia compensar tudo aquilo. Apesar de ter sido um inferno de um orgasmo. Ele não achou que algum dia esqueceria o olhar de êxtase e surpresa em seu rosto enquanto seu corpo desintegrava debaixo dele. O fluxo de cor para suas bochechas, os olhos entreabertos e nebulosos de paixão, os lábios suavemente separados inchados do seu beijo.
Jesus. Calor inchava sua virilha penosamente abusada. O alívio que ele tomou em sua mão depois de deixá-la mal resolveu. Como ele manteria suas mãos fora dela até que alcançassem a costa, quando tudo que conseguia pensar era sobre terminar o que eles começaram?
A moça invadiu seus sentidos, penetrou suas defesas e deslizou debaixo de sua pele. A queria com cada fibra de seu ser. Mesmo exausto, sua perna queimando, com frio e faminto, ele não podia olhar para ela sem pensar sobre lançá-la no chão, entrelaçar aquelas pernas longas e esguias ao redor de sua cintura, e dar a ela exatamente o que estava pedindo.
Então ele fez o que qualquer guerreiro destemido faria: não olhou para ela.
Mas não sabia quanto mais disso podia aguentar. Mais descanso… diabos! Ela estava tentando matá-lo? Deus sabia por que, mas a moça enfiara na cabeça em entregar-lhe sua inocência. Ela tinha alguma ideia do quanto era difícil para ele recusar esse tipo de oferta?
Claro, ela não sabia, e depois de ouvir seu ponto de vista sobre o casamento, ele com toda certeza não iria iluminá-la. Não tinha nenhuma dúvida que teria que arrastá-la chutando e gritando a distância toda até Dunstaffnage. Bruce teria um inferno de uma batalha em suas mãos quando ela descobrisse sobre seus planos.
A pior parte era que ele não estava certo que a culparia por isso. Ele nunca considerou o casamento da perspectiva de uma mulher antes, mas tinha que admitir, suas preocupações não eram sem mérito. Sempre deu como garantido o papel do homem de autoridade absoluta. Para uma mulher como Janet que estava acostumada a tomar suas próprias decisões, seria sufocante. Ela se irritaria contra aquelas ligações a cada volta.
Mas qual era a alternativa? Ewen não era como MacKay, ele não podia deixar sua esposa segui-los na batalha. Franziu o cenho. Embora esteve agradecido mais de uma vez por ter uma curandeira qualificada à mão.
Helen é diferente, disse a si mesmo.
Mas Janet não era?
Eles escalaram um pequeno platô na colina e ele parou. Apesar de ser apenas algumas horas depois do meio-dia, a luz do dia já estava desvanecendo.
— Espere aqui — ele disse apontando para um rochoso afloramento. Como fez a cada pouco quilômetro, deixou-a recuperar o fôlego enquanto ele circulava de volta para tentar esconder a trilha deles. A neve no chão endurecia conforme a temperatura caía quanto mais alto que eles subiam na montanha, tornando mais fácil fazer isso. Mas onde o chão era muito suave, em vez de esconder, ele começaria a confundir seus perseguidores andando para trás, interrompendo em outras direções durante algum tempo ou fazendo várias pegadas em uma área. Quando retornou alguns minutos mais tarde, ela estava acomodada em uma das pedras, olhando para ele.
— Alguém está nos seguindo?
Ele sacudiu a cabeça. Mas algo a deixou curiosa.
— Por que você parou para olhar a samambaia lá atrás?
Ele se sentou ao lado dela e tirou seu odre. Depois de tomar um longo gole, ele entregou a ela.
— Alguns dos talos estavam quebrados por onde nós passamos.
Ela franziu o cenho.
— Pensei que você estava escondendo nossas pegadas.
— Estou escondendo nossa trilha.
— Não é a mesma coisa?
Ele balançou a cabeça.
— Estou procurando por qualquer perturbação na paisagem, não apenas pegadas. Qualquer sinal que alguém pode ter passado.
— E você pode dizer por alguns galhos quebrados que alguém passou.
Ele deu de ombros.
— É um sinal.
Ela deu a ele um longo olhar.
— Como você se tornou tão bom nisto?
— O escudeiro do meu pai era um rastreador. Costumava me levar com ele quando eu era pequeno e mais tarde quando voltei da guarda. Ele notou que possuía uma memória incomum para detalhes e me ensinou como usar essa habilidade para rastrear. Mas é principalmente experiência. — Anos e anos de saber pelo que procurar.
— Que tipo de detalhes?
— Olhe atrás de mim — ele esperou alguns momentos. — Agora feche os olhos e me diga o que você viu.
Ela olhou de volta para ele.
— Isto é um truque? Só tem uma área plana de charneca suja de neve, com algumas pedras espalhadas sobre ela.
— Olhe novamente — ele não virou, mas chamou a imagem de memória. — As pedras espalhadas sobre os pântanos são arenito Graywacke, mas cerca de vinte passos atrás de mim têm algumas pedras de granito empilhados que é provavelmente o início de cume de um monte de pedras. Justo à esquerda, você pode ver os contornos de um caminho estreito vindo do Norte onde a grama foi pisada, provavelmente por lebres da montanha, se a pilha de excrementos perto é qualquer indicação, e a neve é ligeiramente mais baixa. Próximo aos caminhos da grama do pântano púrpura se esticando através da neve no lado oeste da colina está a trilha de um grupo pequeno de cervos vermelhos. Diretamente acima do meu ombro esquerdo, mais ou menos cinco passos atrás de mim, tem uma pequena protuberância na neve. Se olhar de perto, você pode ver algumas penas castanhas espetando a neve. Suspeito que é a carcaça de uma perdiz trazida aqui para baixo por um tartaranhão azulado ou falcão peregrino.
Ela ficou boquiaberta.
— Você nem olhou.
— Fiz mais cedo. Eu disse a você, tenho uma memória incomum.
— Digo mais. Tem um olho agudo para detalhes — ela sorriu deleitada. — Pelo que mais você procura?
Ele não estava acostumado a um público tão ávido, mas como o assunto claramente a interessava e sabendo que isso ajudaria a passar o tempo, ele explicou alguns princípios básicos, tal como minimizar sua impressão na paisagem e ter certeza que nenhum sinal foi deixado para trás, táticas de engano para esquivar de seus perseguidores, tais como andar para trás, dar a volta, pular pedra e andar na ponta do pé. Como se mover com o vento para esconder seu odor, como evitar mudar de direção em lugares óbvios, e como quebrar uma trilha de odor como eles fizeram com os cachorros. Ela o escutou com a atenção extasiada, claramente fascinada.
— Cada vez que você dá um passo — ele disse — procure por pedras, chão duro, remendos de gelo, estradas ou caminhos existentes, musgos flexíveis, coisas assim. Seus passos serão menos visíveis.
— Achei difícil — ela disse.
Isso era um modo de colocar, mas ele tentava não pensar sobre — muito — dado seus problemas numa certa área.
Ela olhou para ele.
— Parece tão óbvio agora que você apontou, mas nunca percebi.
— A maior parte do que faço é bom senso. Você só tem que pensar sobre isto.
— Você está sendo modesto — ela inclinou sua cabeça para trás para olhar para ele. — Não é de espantar que Robert quisesse você para seu exército secreto. Posso imaginar que uma habilidade como a sua é útil para homens que querem parecer com fantasmas.
Podia sentir seus olhos nele, então teve cuidado de não reagir. Maldição, a moça era incansável! Ele devia ficar surpreso por ela ter descoberto, mas não estava. Ela podia encontrar problemas mesmo sem procurar por eles.
— Você não vai dizer nada?
Ele virou para olhar para ela, seus olhos mergulhados nos dela.
— Eu preciso te dizer quanto perigo você pode nos colocar só de mencionar o assunto, independente se é verdade?
O olhar dela nunca oscilou.
— Mas é verdade. Sei que é.
Claramente, não iria dissuadi-la. Sabia que devia tentar. Ele fez um juramento, e não era só sua própria vida em jogo, mas não queria mentir para ela. Então fez a segunda melhor coisa e disse: — Vamos. A hora de descanso acabou.
Ela gemeu.
— Mas nós acabamos de sentar. Você só está tentando evitar minhas perguntas — ele não negou. — Os ingleses não estarão nos perseguindo para sempre, Ewen. Um dia desses você não poderá evitar responder.
Ele não sabia, era bom para caramba em evitar coisas. Exceto com ela — o que era parte do problema. Não respondeu, simplesmente esticando sua mão ao invés disto. A ajudou a ficar de pé — com outro gemido dramático da parte dela — e partiram.
Embora estivesse bastante certo que eles despistaram seus perseguidores, ele queria alcançar o próximo cume ao anoitecer. Havia um velho campo de pedra onde eles podiam se abrigar. Era muito perigoso vagar ao redor destas montanhas na escuridão, especialmente com a neblina. De manhã, trataria de achar cavalos para levá-los para Ayr, onde com toda certeza esperavam MacKay e MacLean, e Sutherland os alcançaria.
Ensiná-la sobre rastreamento provou ser um modo efetivo de passar tempo, distraindo-os — ele de pensar sobre a dor em sua perna e o destino de seus amigos, e ela de fazer mais perguntas que ele não podia responder sobre a Guarda das Highlands. Era uma aluna ávida, surpreendendo-o com seu interesse, como também com quão rapidamente ela parecia aprender.
Foram capazes de se mover em um ritmo muito mais rápido desde que ela se tornou mais consciente dos sinais que estava deixando para trás conforme eles subiam, e deste modo ele não precisou passar tanto tempo voltando para cobri-los.
Devia tê-la instruído mais cedo. Por que não o fez? Essa era uma das primeiras coisas que fazia com os homens sob seu comando. Ele tinha pensado que os princípios eram muito difíceis de aprender ou que era somente para homens?
Ela estava certa, percebeu. Ele assumiu que porque não usava armadura e carregava armas, estava mal equipada para guerra. Mas Janet de Mar parecia estar mudando na cabeça dele muitas de suas noções preconcebidas sobre mulheres. Ela não era frágil ou impotente. Era forte e capaz. Capaz para caramba, na sua opinião.
Embora pudesse estar disposto a admitir que ele subestimou suas habilidades, não estava errado sobre o perigo. Ela pode ter se defendido do cavaleiro hoje, mas sem o elemento surpresa — ou se houvesse mais de um homem — estaria tão morta quanto aquelas mulheres em Lochmaben. Ainda que ela fosse a melhor maldita mensageira na Escócia, isso não anulava seu instinto de protegê-la.
Mas ela precisava de proteção?
Pensou na conversa deles sobre as mulheres em Lochmaben. Ele nunca acreditaria que uma mulher podia entender o perigo e ainda querer ser envolvida. Justo como ele, ela assinalou. Isso era ridículo, não era?
Quando a sombra do campo apareceu no horizonte, Ewen alcançou um de seus objetivos: a moça estava exausta. Exausta demais para fazer qualquer coisa além de entrar nas dobras do plaid que ele estendeu para ela como cobertor, depois de limpar totalmente os excrementos dos antigos ocupantes animais, e dormir.
A virtude — e a honra dela — estava segura. Por enquanto.
Mas quando subiu para pequena cabana de pedra deitando-se ao lado dela algumas horas mais tarde, e ela instintivamente encostou-se nele, enterrando-se em seus braços, algo duro e pesado se alojou no seu peito. O peso da inevitabilidade? A certeza pedregosa do destino? Porque nada nunca pareceu mais perfeito. Sozinho em uma montanha, abrigando-se em uma cabana de pedra destinada para ovelhas enquanto estavam sendo caçados por ingleses, ele nunca se sentiu mais contente.
Ele dobrou seu braço debaixo do peito dela, aconchegou sua bundinha na sua virilha, enterrou seu nariz na maciez sedosa dos cabelos dela, e saboreou cada minuto de segurar a mulher que não era dele, mas que com toda certeza se sentiu como se fosse.
CAPÍTULO 17
Janet despertou de estalo. Levou alguns apavorantes segundos para lembrar onde estava, mas eventualmente começou a respirar uniformemente de novo. O campo de pedra na montanha. Com Ewen.
Ela franziu o cenho. Ewen, que não estava em nenhum lugar por ali. Não precisou procurar pela cabaninha de pedra para ver que ele se fora, podia dizer pelo frio vazio atrás dela.
Ele dormiu ao lado dela. Instintivamente sabia disso. Não que pudesse lembrar, caramba. A última coisa de que se lembrava era estar enfiada debaixo das dobras quentes do seu plaid. Estava tão cansada que adormeceu no momento que seus olhos fecharam.
Ele provavelmente contaria com isto, o idiota. A fez marchar estas colinas acima até que estava cansada demais e com frio para fazer qualquer coisa além de desabar. Tudo que podia recordar era uma sensação de calor e satisfação. De estar perfeitamente relaxada e aquecida em sua cama, aliviada pelos eventos do dia.
Ele a segurou, ela percebeu.
Janet balançou a cabeça com moderado desgosto. A única vez que ele a tomou em seus braços e segurou, e ela nem esteve acordada para apreciar! Se não estivesse tão certa que existia algo especial entre eles, as tentativas dele para evitá-la poderiam ter sido desmoralizantes.
Ela tinha acabado de fechar o plaid quando o idiota em questão meteu a cabeça pela porta baixa da cabana. Ele teve que abaixar ligeiramente para ficar do lado de dentro, já que o telhado abobadado tinha só mais ou menos um metro e oitenta de altura no centro.
— Você está acordada? Não pensei que você se levantaria até o meio dia.
A princípio ela pensou que ele a estava criticando, mas então percebeu que a estava provocando. Ela deu a ele um olhar conhecedor.
— Fiquei com frio sem você ao meu lado.
O rosto dele ficou em branco — muito em branco.
— Fiquei lá fora a maior parte da noite, mantendo vigia — ele estendeu o odre antes que ela pudesse discutir. — Pode usar isto para se lavar até que alcancemos um regato.
Ela tomou a bolsa d’água agradecida. Seus olhos e dentes pareciam que estavam com areia. Tudo que precisava era um pente — que devia estar em uma das bolsas — e poderia até se sentir humana novamente. Ela pensou sobre cutucá-lo sobre o arranjo deles de dormir, mas decidiu deixar para lá — no momento. Ao invés disto, perguntou: — Que regato?
— Próximo à aldeia de Cuingealach. Precisamos de um cavalo. Os ingleses parecem ter desistido da perseguição, mas quero colocar o máximo possível de distância entre nós.
Um plano sábio. Mas algo a estava incomodando.
— Em primeiro lugar, por que você acha que eles estavam nos perseguindo?
Ele hesitou, aparentemente cuidadoso com suas palavras.
— Tivemos alguns problemas a caminho de encontrar você em Roxburgh.
— Então eles estavam procurando por você?
— Provavelmente.
O conhecimento aliviou sua consciência um pouco sobre perder a touca. Não tinha sido tudo culpa sua. Além disso, como ela esperava que fosse difícil convencer Robert a deixá-la retornar para Roxburgh depois do que tinha acontecido, o fato que os soldados tinham ido atrás de Ewen e dos outros, e não dela, ajudaria. Claro, não havia dúvida de Ewen a escoltaria de volta. Era perigoso demais para ele. Mas não seria para a Noviça Eleanor.
— Acha que estamos muito atrasados? Devo estar de volta a Roxburgh dentro de quinze dias.
Uma expressão estranha cruzou seu rosto. Ele desviou o olhar quase desconfortavelmente.
— Você vai ter bastante tempo. Mas devemos ir.
— E Sir Kenneth? Como ele vai saber como nos achar?
— Não se preocupe com Sutherland. Ele nos alcançará se puder.
Se. Ela captou algo em sua expressão que por estar assustada e chateada demais não notou antes. Um leve escurecimento dos olhos e aperto ao redor da boca.
Janet ficou quieta enquanto o horror lentamente caiu sobre ela.
— Você acha que algo aconteceu com o marido da minha irmã?
Como se Mary já não tivesse motivos suficientes para odiá-la.
Ela deve ter parecido tão atingida quanto soou porque ele amaldiçoou, passando os dedos por seu cabelo.
— Maldição, não foi isso que eu quis dizer. Tenho certeza que ele está bem.
— E se ele não estiver?
Ele pegou seu queixo e inclinou o rosto dela em direção ao seu.
— Se não estiver, não tem nada a ver com você. Isto é o que ele faz, e às vezes — a maior parte das vezes — é perigoso. Mary sabe disso.
Janet acenou com a cabeça, mas em seu coração não podia aceitar isto. Se qualquer coisa acontecesse ao marido de sua irmã, Janet nunca se perdoaria.
Uma touca. A porcaria de uma touca! Ele não podia ter morrido por causa de algo tão insignificante... podia?
Lágrimas encheram seus olhos. O polegar de Ewen acariciou sua bochecha, como se ele as enxugasse antes delas poderem cair. A gentileza entrou em seu coração e não foi embora.
Eu podia amá-lo.
Com o menor encorajamento, ela podia amá-lo. A realização do quão fácil seria se levantar e agarrá-la pela garganta, inspirava tanto temor quanto e pavor. Isso mudaria tudo.
Ele parecia que iria dizer algo mais, mas ao invés disso deixou a mão cair do seu rosto e se afastou.
— Prepare-se e coma alguma coisa enquanto dou outra olhada por aí. A névoa não está tão espessa esta manhã e quero estar fora destas montanhas antes que se levante.
Ele tinha quase atravessado a entrada quando ela gritou.
— Ewen!
Ele girou e olhou-a por cima do ombro. O coração dela apertou. Com seu cabelo escuro, olhos azuis como aço, feições rústicas e mandíbula com sombra de barba, ele parecia tão rudemente bonito que doía. Por que ele? Depois de todos esses anos, por que este homem tinha finalmente ameaçado seu coração?
— Obrigado.
— Pelo que?
Ela corou. Por estar aqui com ela. Por mantê-la a salvo e aquecida. Por segurá-la em seus braços. Por lhe trazer água para se lavar esta manhã. Por não a culpar e tentar fazê-la se sentir melhor.
— Por tudo — ela disse suavemente.
Confusas, as sobrancelhas dele franziram ligeiramente, mas ele assentiu.
Um pouco tempo depois eles estavam subindo mais as colinas, continuando em direção ao leste. Apesar de descansadas, suas pernas ainda estavam doloridas da véspera e ela ficou feliz que ele aliviou o ritmo um pouco.
Franzindo o cenho, perguntou-se se a perna dele o estava incomodando. Mas depois de observá-lo durante algum tempo, não descobriu qualquer sinal de dano ou dor e concluiu que o unguento deve ter funcionado.
Estava certo sobre a névoa. Não demorou, erguendo-se no meio da manhã, quase ao mesmo tempo em que eles alcançaram o riacho do qual ele tinha falado. O fluxo era mais ou menos de quase um metro de largura atravessando um desfiladeiro profundo. Era bonito, estabelecido na paisagem de musgo, pedra e uma leve camada de neve, mais precisamente, atalhos de neve, à medida que o sol morno já estava derretendo o fôlego gelado do inverno. Ela tomou seu tempo, lavando o rosto e as mãos, e apreciando o momento de paz. Ela devia saber que não duraria.
Ewen apertou os dentes pela batalha adiante. Ele devia saber que ela não iria gostar do seu plano. Deus, todas as mulheres tinham tantas opiniões? Pensando nas esposas dos seus soldados, suspeitou que elas tinham.
Diabos, o que estava acontecendo com ele? Tinha sido tão mais fácil quando não pensava sobre o que uma moça pensava ou queria. O olhar dela deslizou por cima dele em uma silenciosa zombaria que certo como o inferno não devia deixá-lo quente, mas seu membro não parecia notar seus olhos faiscantes.
— Uma muda de roupa não esconde o que você é, Ewen. Qualquer um que olhar para você vai ver que é um guerreiro — a observação o agradou muito mais do que devia. Como fez o modo que os olhos dela se demoraram de forma apreciativa em seus ombros e braços. — Deixe-me ir com você, eu posso ajudar. Você será menos óbvio com uma esposa a seu lado.
Lembrando o quão bem isso terminou na primeira vez, ele declinou.
— Estou comprando um cavalo, Janet. Fiz isso centenas de vezes antes. Não existe nada com que se preocupar. Estarei de volta antes de você sequer perceber que fui.
Ela balançou a cabeça.
— Mas e se tiverem soldados ali?
— Não haverá. Como você pode ver — ele apontou lá embaixo no vale para dúzia ou mais de construções e a igrejinha aninhada na ladeira, — é uma aldeia pequena. Nenhum castelo significa nenhum inglês.
— Eu posso te ajudar. Lembra o que aconteceu na pousada? Sou boa em falar com as pessoas.
E ele não era. Mas podia pechinchar bem para caramba por um cavalo. Sabendo que eles estariam de pé aqui para sempre se não fizesse algo, Ewen tentou um caminho diferente. Um que tinha mais verdade do que ele queria admitir.
— Não é por isso que não quero que vá. Sei que podia ajudar, mas tendo você comigo poria a ambos em perigo.
— Por quê?
— Eu estaria preocupado com você. Focado em você. Você me faz...
Ele não sabia como explicar. Fraco. Vulnerável. Palavras que ele nunca usou para descrever a si mesmo antes.
Cristo! Se ela notasse seu desconforto, isso não ia impedi-la de perguntar.
— Faz você o que?
Ele estabeleceu.
— Distraído.
Sua resposta não pareceu satisfazê-la. Ela enrugou o nariz delicadamente, franzindo-o.
— Vou ficar fora do caminho, você nem vai saber que estou lá.
Como se isso fosse possível.
— Sempre sei quando você está lá.
— Por quê?
— Por quê? — Ele repetiu, não tendo antecipado a pergunta.
— Aye, por que você sempre sabe que estou lá? Por que sou tão diferente?
Sua mandíbula endureceu.
— Você sabe por que.
Ela ergueu o queixo de uma maneira que disse a ele que pretendia dificultar as coisas.
— Não, receio que não.
Sabia o que ela estava tentando fazer, maldição. Mas se isso significasse mantê-la a salvo, ele diria o que diabos ela quisesse.
— Porque me importo com você. Porque o pensamento de algo te acontecendo me faz enlouquecer. É por isso que não quero você indo comigo.
Ela sorriu e ele jurou era como se o sol tivesse acabado de sair.
— Certo.
A aquiescência veio muito facilmente, ele não pensou que a ouviu direito.
— Certo?
Ela acenou com a cabeça.
— E só para que saiba, você me distrai também — ela deu a ele um sorrisinho. — Eu não tinha a menor ideia que você era tão romântico.
Romântico? Ele? Maldição! Ela estava lendo demais nisso tudo.
— Janet, você não entende...
Ela fez um gesto com as mãos despachando-o — realmente despachando-o. Achava que ninguém fez aquilo desde que o cozinheiro o espantou para longe da cozinha — e das tortas recentemente assadas — quando ele era garoto.
— Entendo bastante bem. Seria melhor você ir agora antes que eu reconsidere, enquanto ainda estou impaciente com a poética “me faz enlouquecer”.
Sua boca retorceu. Estava provocando-o. Ainda era difícil para ele acreditar o quão natural parecia. Devia corrigi-la e ter certeza que entendia que isto não mudava nada, mas estava certa: não queria dar a ela a oportunidade de mudar de ideia. Teria que esperar.
— Aye, bem não se acostume a isto. Temo que possuo um suprimento limitado de palavras poéticas. Não posso pensar em nada que rime com “maldição”.
Ela riu, e o som doce reverberou em seu tórax.
— Que tal “estábulo”? Ou talvez “lamacento”'?
Ele soltou uma risada aguda. Devia saber que ela pensaria em algo.
— Vou trabalhar nisto — ele ficou sério e o sorriso de lado deslizou do seu rosto. — Não vou demorar muito. Fique longe da vista. Se alguém se aproximar, pode deslizar atrás daquelas pedras.
Não era uma caverna, mas o espaço entre os grandes pedregulhos era largo o bastante para deslizar entre elas. Queria que não tivesse que deixá-la sozinha, mas não podia evitar. Se eles queriam chegar à costa logo, eles precisariam de um cavalo. Ele teria preferido dois, mas seria muito mais difícil de explicar.
Sua prioridade — sua única prioridade — era deixar Janet em segurança o mais rápido possível. Mas ele também concederia uma pitada de incerteza sobre sua perna. Algo não parecia certo. Todo o escalar de ontem deve ter agravado. Infelizmente, ele não pensou em pegar o unguento com MacKay antes de se separarem. Nada pareceu errado quando olhou para seu ferimento mais cedo enquanto tomava banho, realmente a hemorragia parecia ter diminuído — mas doía como o inferno cada vez que dava um passo. A dor era aguda e profunda — mordia. E ele estava cansado. Mais do que deveria estar. Quanto mais cedo Helen pudesse dar uma olhada, melhor.
— Vou ficar bem — ela o assegurou. — Se qualquer coisa der errado, tenho meu punhal.
Embora ele soubesse o quão bem ela podia usar o punhal, isso não exatamente aliviava sua mente de pensar sobre ela precisando fazer isso. Ele assentiu.
— Estarei de volta antes de você perceber.
Seus olhos se encontraram. Os pés dele não queriam se mover. Ela parecia tão doce e confiante. Tão bonita e forte. Ele queria agarrá-la com cada fibra do seu ser, como se fosse a coisa mais natural a fazer. Mas não fez. Forçou seus pés a ir embora.
— Ewen — ele virou. — Eu... — Ele podia ver algum tipo de tumulto em seu rosto, e uma emoção que não podia nomear. — Tenha cuidado.
Acenou com a cabeça, perguntando-se o que ela estava prestes a dizer. Realmente, ele parecia estar pensando nisso o caminho inteiro abaixo da colina até a aldeia. Pareceu prestes a dizer algo a ele. Algo que suspeitava que não queria ouvir, mas ansiava ouvir ao mesmo tempo. Seu peito ardia. Saber que ele só enlouqueceria pensando sobre coisas que não podiam ser, forçou sua mente para a tarefa à mão. Foco.
Seu plano era simples: ofereceria dinheiro suficiente para evitar qualquer pergunta. Normalmente quando a Guarda das Highlands precisava de cavalos nas fronteiras, eles faziam uso da rede de partidários de Bruce na área. Infelizmente, as lealdades desta aldeia escondida no alto das colinas de Galloway eram desconhecidas. Eles tinham partidários em Douglas, Lanarkshire, a mais ou menos vinte e quatro quilômetros de distância, mas como também era onde eles se meteram em problemas antes, queria evitar a área.
Como a aldeia não tinha uma pousada, ele começou com a propriedade mais próxima e trabalhou seu caminho, ficando cada vez mais frustrado a cada parada. Parecia não ter um único cavalo à venda na aldeia inteira, restando apenas um que era apropriado. Inferno, neste momento ele daria boas-vindas a um velho pangaré.
Depois de meia dúzia de paradas, sua frustração estava aparecendo. Mas quando se aproximou do próximo sítio, viu por um momento algo vagando no campo que o faria ir embora: um corcel belo, robusto e parecendo ágil.
Infelizmente, o dono estava se provando difícil.
— De onde você disse que era? — Ele perguntou.
Ewen olhou o velho fazendeiro, cujo rosto abatido pelo tempo escondia uma mente ágil e astuta. — Roxburgh — ele respondeu de forma curta. — Você está disposto a vender o cavalo? Ofereço dez libras.
Até para o belo animal era uma oferta generosa. O velho devia ter dado pulos. Ao invés disso, ele acariciou sua barba longa e grisalha de forma avaliadora.
— É muito dinheiro. Você realmente deve estar necessitado.
O temperamento de Ewen estava vindo à tona. O fazendeiro obviamente suspeitava de algo, e Ewen não gostou do modo que o estava empurrando com perguntas, mas queria aquele maldito cavalo. Deu a ele um olhar duro.
— Vai me vender o cavalo ou não?
— Ele não está à venda.
Ewen apertou seus dentes e contou até cinco.
— Por que não?
— Ele não é meu para vender. Estou cuidando dele. Eu era o chefe do estábulo do exército do Rei John. — Ah, Inferno, Balliol! Definitivamente não era um amigo de Bruce então. — Ainda cuido dos cavalos doentes quando posso. Este aqui pertence ao capitão da guarda em Sanquhar. — Maldição. Isto só ficava cada vez melhor. Sanquhar era um dos castelos agora guarnecidos de James Douglas pelos ingleses. Os olhos do velho cintilaram maldosamente. — Quem sabe você possa perguntar a ele?
Ewen não precisou perguntar o que queria dizer. Tinha acabado de ouvir o galope de cavalos se aproximando. Olhou por cima do ombro, pegando o reflexo da cota de malha na luz do sol enquanto meia dúzia de soldados ingleses entravam nos arredores da aldeia vindo do Oeste. Embora eles estivessem ainda a uma boa distância, estavam se aproximando de rápido.
Não poderia fugir sem ser visto. Quando não estava mancando pelo ferimento ele corria rápido — mas não mais rápido que um cavalo. Nestas colinas abertas, sem névoa para esconder sua direção, não podia ter certeza que poderia achar cobertura rápido suficiente para despistá-los.
E ainda havia Janet. E se na caça a ele, a achassem em vez disso? Não podia arriscar. Ele xingou inúmeras vezes na sua cabeça, mas só havia uma única coisa que podia fazer: apresentar uma boa história ou ser melhor que seis cavaleiros montados com não mais do que seu punhal.
Como ele não tinha a língua hábil de Janet, suspeitava que seria o último, e até para um dos guerreiros de elite da Guarda das Highlands isso não era tarefa fácil.
Sangue de Deus, isto podia ficar pior?
Alguns minutos mais tarde, quando o som de uma voz gritando seu nome enviou uma explosão de gelo por suas veias para congelar até o último osso em seu corpo, teve sua resposta: Aye, isto podia ficar um inferno de muito pior.
— Ewen! — Janet não deixou sua mortal cara feia detê-la. Sabia que ele estaria furioso, mas no momento viu a bandeira voando ao longe de seu poleiro na colina, e não deixaria nada impedi-la de tentar adverti-lo. Infelizmente, levou muito tempo para achá-lo e agora era muito tarde. Ela chegou ao sítio ao mesmo tempo em que os soldados. — Você está aí! Comecei a pensar que se esqueceu de mim.
Ela viu seus olhos arregalarem conforme ele observava seu surgimento. Com uma mão no quadril, como se apoiando suas costas pela exaustão, ela bateu levemente em sua barriga suavemente arredondada com a outra. — Você já achou um cavalo para a gente montar?
Seu rosto estava tão fechado e carregado quanto uma nuvem de tempestade, mas depois de um momento de pausa, ele percebeu sua parte e avançou para ajudá-la. Seus olhos cravaram nos dela prometendo vingança, enquanto deslizava o braço ao redor de sua cintura protetoramente.
— Pensei ter dito que esperasse por mim — disse, adicionando depois uma pausa que ele esperava que não soasse estranha, — mo chroí.
Ela riu como se acostumada à sua explosão masculina, o que surpreendentemente estava. Não havia dúvida que berraria e grunhiria como um leão bravo quando estivesse terminado, mas não se importava. Ele precisava de sua ajuda, quisesse admitir ou não. Estava praticamente desarmado. Não o assistiria sendo colocado a ferros e arrastado para longe daqui.
Levantando-se nas pontas dos pés, ela colocou um beijo suave em sua bochecha, como se o acalmando com um bálsamo sedativo. O aperto ao redor de sua cintura instintivamente aumentou. Ela sentiu um calafrio de consciência enquanto seus corpos se moldavam juntos.
— Fiquei cansada de esperar — ela disse, um pouco agitada pelo contato. — Tanto eu quanto o bebê estamos inquietos.
A parte do quase pai amoroso aparentemente não era uma que ele estava familiarizado. Levou um momento para fingir preocupação. Ele pôs a mão em sua barriga arredondada — ou neste caso, a almofada de roupas que estufou debaixo da túnica que Mary mandou que ela vestisse. O vestido de baixo ainda era fino demais para seja o que for que ele fingia ser, mas a lã marrom era melhor que o manto bordado de ouro que ia sobre ele.
— Está tudo bem com o bebê? — Ele perguntou.
Ciente de seu público interessado, ela refletiu a preocupação dele em seus próprios olhos e suspirou com um cansaço que não precisou fingir.
— Espero que sim. Não percebi o quanto seria cansativo. Estou tão exausta. Vou ficar contente quando nossa jornada terminar.
— O que está acontecendo aqui? — Uma voz autoritária trovejou. Um dos soldados — o líder, ela suspeitava — avançou, colocando-se entre Ewen e o velho, que permanecia na entrada de seu sítio de pedra retangular com seu telhado de relvas misturadas.
— Estou procurando um cavalo para minha, uh, esposa — Ewen explicou. — Ela está cansada e não pode caminhar muito mais longe.
— Você não me disse que era para uma moça — o velho homem disse com um franzido surpreso no rosto.
De sua posição dobrada contra o corpo dele, era fácil para Janet olhar para cima e dar a Ewen uma sacudida reprovadora de sua cabeça. Então ela deu uma olhada para o velho com outro suspiro cansado.
— Às vezes acho que ele esquece que tem uma esposa. Não queria que eu viesse, mas insisti e agora temo que causei todos os tipos de problemas.
O velho homem corajosamente saltou em sua defesa.
— Que tipo de problemas uma moça pequenina e fina como você podia causar?
— Você ficaria surpreso — Ewen disse baixinho, mas alto suficiente para eles ouvirem.
Janet deu uma cotovelada de lado e disparou uma cara feia para ele.
— Eu disse a você que sentia muito — ela virou para o velho pedindo ajuda. — Ele me culpa.
— Pelo que? — O soldado se meteu.
— Por perder nosso cavalo em primeiro lugar — ela retorceu as mãos ansiosamente. — Foi tudo minha culpa. Não amarrei as rédeas direito e ele vagou para longe na tempestade. Agora devemos usar o dinheiro que planejávamos dar à abadia para comprar outro. — Quando os homens olharam para ela em confusão, ela adicionou. — Ele não disse a você que estamos a caminho de Whithorn rezar pelo nascimento da criança?
O velho balançou a cabeça. Por alguma razão as lágrimas não foram difíceis de produzir. O pensamento de levar um filho de Ewen a encheu com todos os tipos de emoções estranhas. Emoções profundas. Ternas.
— Nós perdemos tantos — ela disse suavemente. — Eu só quero dar um filho a ele.
Ewen parecia ter sido pego na emoção também. Ele a colocou debaixo do seu braço novamente e a acalmou com tapinhas gentis na sua cabeça.
— Não se aflija, meu bem, tudo vai ficar bem.
Janet descansou a bochecha na parede sólida do seu peito e tomou um fôlego estremecido. Céus, era tão bom. Com a força dos seus braços ao redor dela, era fácil acreditar nele.
— Este cavalo não está à venda — Ewen adicionou, — mas vamos achar outro. Venha, amor.
Ele começou a levá-la para longe, mas uma voz os deteve. Uma voz inglesa irritada e anasalada.
— Espere. Alguém vai me explicar o que está acontecendo aqui, agora.
Janet murmurou baixinho uma das palavras de maldição favoritas de Ewen e levantou o olhar para o grande inglês assomando acima deles na sela. Surpreendentemente, não foi a armadura pesada e numerosas armas reluzindo na luz do sol que a preocupou, mas a acuidade do seu olhar. Embaixo do elmo de aço, ela podia dizer que o capitão de olhos azuis, cabelos escuros e barba bem aparada não era nenhum tolo. E estava muito claro que ele não os deixariam só ir embora.
CAPÍTULO 18
O modo que o soldado estava olhando para Ewen enviou arrepios de cima a baixo pela espinha de Janet. E Ewen — affe — não estava fazendo qualquer esforço para declinar a suspeita. Estava agindo a cada centímetro como o guerreiro feroz e formidável, usando seu corpo musculoso afiado pela guerra para protegê-la.
Templos de Jerusalém! Ele podia muito bem ter gritado sua ocupação. Parecia com um homem que nasceu com uma espada na mão e lutava até a morte para proteger o que era seu. Neste caso, ela. Seria bastante doce, se não conseguisse que eles fossem mortos.
— Minha esposa e eu estamos fazendo nosso caminho para a Abadia de Whithorn rezar pelo bebê — ele disse de forma curta, a autoridade de um comandante das Highlands fluindo em sua voz. Nossa Senhora, ele não podia pelo menos tentar fingir deferência? — Nós perdemos nosso cavalo e eu estava tentando comprar este aqui do fazendeiro. — Ele fez um gesto para o cavalo no pátio. — Não estava ciente que não pertencia a ele. Se você estivesse interessado em vender...
— Não estou — o capitão interrompeu. — Isto é verdade? — Ele perguntou ao fazendeiro.
O velho acenou.
— Aye, ele me ofereceu dez libras pelo animal.
Por trás do ombro largo de Ewen — que era impressionante, ela tinha que admitir — Janet não gostou do modo que os olhos do soldado estreitaram. Ele olhou como Ewen se vestia de forma simples.
— Que tipo de camponês anda por aí com tanto dinheiro?
Janet praticamente podia ouvir Ewen rangendo os dentes. Ele verdadeiramente era horrível nisso. Ser aprazível, amável, modesto e político não parecia estar em sua natureza. Era uma boa coisa que ele fosse um guerreiro tão bom, ele não duraria dois dias como mensageiro.
— O tipo que está indo para uma abadia rezar por um filho por nascer — ele estalou.
Janet gemeu ante o sarcasmo inconfundível em sua voz. Por que ele simplesmente não puxava sua espada? O efeito era o mesmo.
Isto levou tempo suficiente. Estava claro que ela precisava fazer alguma coisa, e rápido. Atrair a atenção do soldado para longe do Ewen, para começar. Esperava que isto funcionasse. Ela esteve fingindo ser uma freira por tanto tempo que estava um pouco sem prática. Felizmente, com nada melhor para fazer enquanto esteve esperando mais cedo, ela tomou algumas dores com sua aparência. Jogando seu cabelo recentemente penteado por cima do ombro, ela arrastou o decote do vestido para baixo um pouco e saiu atrás do seu “marido”. Ela sorriu docemente para o soldado irado (o tom de Ewen obviamente não passou batido).
— Meu marido não é um camponês, meu senhor — ela disse caminhando em direção a ele. Pensou que Ewen rosnou algo, mas ignorou seu aviso. — Ele é um mestre construtor. Pelos últimos dois anos, ele esteve trabalhando nas melhorias para o castelo em Roxburgh. — Isso devia explicar o físico fortemente musculoso, como também os calos em suas mãos, para onde o capitão olhava.
Ela era bastante aficionada por aqueles calos...
Sua pele formigou e teve que forçar sua mente a se afastar do porquê.
Antes que os ingleses pudessem fazer mais perguntas, soltou um suspiro cansado, não perdendo o modo que seu olhar caiu no corpete apertado do seu vestido. Ela levantou o olhar lacrimejante, dando a ele seu melhor olhar de donzela impotente em perigo. Isso levava um pouco de esforço.
— Meu marido... ele está preocupado comigo e o bebê — ela disse como desculpa pelos modos de Ewen. — Tem sido uma jornada difícil. — Sua voz ficou mais alta e mais rápida com sua angústia crescente. — A tempestade veio e então perdi o cavalo, e você vê, ele ficou tão bravo, com todo o direito, estou certa que você concordará.
O soldado disparou a Ewen um olhar como se ele não concordasse mesmo. Janet lamentou ter que lançá-lo no papel de tirano, mas era necessário para trazer para fora a natureza cavalheiresca do soldado.
— Tive que continuar parando a cada milha e então disse que não podia continuar — não até que encontrássemos outro cavalo. Estou certa que é horrível de minha parte, mas só de pensar em dar mais um passo por aquelas montanhas... estou muito pesada para carregar, você vê. Então ele me chamou de redonda! — Os homens ofegaram em compreensão. Uma única lágrima deslizou por sua bochecha a baixo. — Eu simplesmente não podia fazer isto. — Ela piscou levantando o olhar para ele, feliz de ver que parecia ter esquecido tudo sobre Ewen. — Eu só estou tão... — ela cambaleou dramaticamente, como se pudesse desmaiar — cansada.
Mal a palavra saiu da sua boca, o soldado saltou para pegar seu braço e estabilizá-la.
— Não se aflija, querida senhora. — Ele disparou uma cara feia para o velho fazendeiro. — Por que você só está aí parado? Rápido, pegue algo para a senhora beber. — Ele a levou até um tamborete ao lado da porta. — Descanse aqui, você não devia ficar tanto tempo de pé na sua condição. — Janet sorriu enquanto olhava para cima dentro do olhar preocupado do soldado, sabendo que ela o tinha.
Ewen não sabia se a estrangulava ou batia palma. Quando eles saíram da aldeia montados algumas horas mais tarde, não só tinham um cavalo, mas barrigas cheias também.
Assisti-la tinha sido algo revelador. Nenhum ator em cima do palco podia ter se apresentado melhor. Ela girou sua história com tal facilidade e confiança, que até mesmo ele começou a acreditar nela. Ele de fato se achou dizendo ao velho homem e sua esposa que a criança seria chamada de James se fosse menino, por causa do homem que ensinou tudo que sabia. James Stewart realmente ensinou tudo a ele. Claro, o fazendeiro não percebeu que Ewen não estava falando sobre construção, mas sobre ser um guerreiro e comandante.
Aye, ela foi bem, mas nunca podia esquecer o momento que seu coração parou ao vê-la ali. Foi um choque. Não só por que o desobedeceu e se pôs em perigo, mas também pela sua aparência. Ela não parecia nada com uma freira ou um rapaz. Vestida como uma dama pela primeira vez desde que a conheceu, ele ficou cravado no lugar pela sensualidade feminina de seu longo cabelo dourado caindo por cima de seus ombros em cachos soltos, e a doçura das curvas reveladas por seu vestido justo. Seus seios eram espetaculares. O vestido parecia ter sido feito para fazer um homem pensar que eles estavam sendo apresentados só para ele, como algum tipo de oferenda generosa aos deuses. Jesus, ele queria lançar seu plaid em volta dos ombros dela e enterrar sua cabeça neles ao mesmo tempo!
Claro, um grande desvio tinha sido uma enorme surpresa. Grávida. Sentiu como se um pedregulho tivesse batido no seu peito. Isso apertou. Apertou. Queimou com uma emoção que nunca sentiu antes. Uma espécie de feroz possessividade caiu sobre ele que diminuiu tudo que veio antes.
Ele não era tão qualificado quanto Raider ou Saint no combate mão a mão, mas enfrentaria cada um daqueles soldados de mãos nuas para protegê-la. Inferno, podia ter encarado todos eles de mãos nuas, como seu pai fez com os lobos para protegê-la.
Esteve quase louco de raiva — e provavelmente ciúme, maldição — quando ela tinha propositadamente começado a se ocupar do capitão inglês com seu charme feminino que ele ainda não acabou de admirar.
Só a realização que estava funcionando segurou sua mão. Mas levou cada pingo de auto restrição que tinha (e alguma que ele não possuía) para não ir para cima e socar seu punho no olhar apreciativo do canalha. O fato de o capitão perceber exatamente o quão Ewen estava bravo só parecia encaixar a parte que ela lançou nele como o marido severo, superprotetor e de temperamento curto. Quem no inferno podia entendê-lo mal por isto?
Então ele fumegou em silêncio, se não invisivelmente, enquanto Janet dispersava as suspeitas do soldado, alistando a ajuda do fazendeiro para achar um aldeão que pudesse ter um cavalo à venda, encantando a esposa rígida do fazendeiro em cozinhar para eles uma refeição quente, e de alguma maneira conseguir que saíssem de lá sem puxar uma lâmina. Ele não era tolo suficiente para desejar diferente, mas nesse instante, com o modo como seu corpo estava abundando com energia sem descanso, teria dado boas-vindas a uma luta.
Uma vez que estava certo que não estavam sendo seguidos, ele deu a volta para pegar sua armadura e armas de onde as deixou ao lado do regato. O desvio foi lamentável, mas mesmo com o peso de dois no cavalo, eles deviam ser capazes de alcançar Sundrum do lado de fora de Ayr ao anoitecer. Existia uma casa segura lá para eles passarem a noite, onde esperava que os outros os alcançariam.
Apesar dele estar segurando-a com firmeza pela cintura na frente dele, e seu corpo estar dolorosamente ciente dela, não disse uma palavra desde que deixaram a aldeia. Com todas as estranhas emoções torcendo dentro dele, não tinha certeza que confiava em si mesmo.
Eles estiveram cavalgando por mais ou menos uma hora quando ela finalmente quebrou o silêncio.
— Vá em frente. Sei que está com raiva. Só supere isto. Mas antes de começar a gritar, só quero que fique registrado que só deixei o regato porque vi as bandeiras e estava tentando te avisar. — Ele abriu a boca para responder, mas ela o cortou. — Também quero que fique registrado que você não estava exatamente fazendo amigos na aldeia. — Desta vez sua boca nem sequer abriu antes dela cortá-lo novamente. — Você só tinha um punhal. Sei que é um guerreiro excepcionalmente qualificado, mas teria que ter sido um fantasma de verdade para conseguir sair lutando disso.
Ele arqueou uma sobrancelha. Então pensava que era um guerreiro excepcional, não é? Ele gostou bastante de ouvi-la dizer isto.
— Posso falar agora ou você tem qualquer outra coisa para dizer?
Ela ergueu o queixo, encontrando seu olhar.
— Acabei. Por enquanto.
Ela parecia com uma penitente esperando o chicote. Ele sentia muito desapontá-la.
— Você agiu bem, moça. Obrigado.
Ele aparentemente fez o impossível: deixou-a sem fala. Ela podia pegar moscas com sua boca aberta assim.
— “Obrigado”?
Ele deu de ombros.
— O bebê foi um golpe brilhante.
— Brilhante? — Ela repetiu estupidamente.
— Vejo por que você é uma mensageira tão boa. Não posso decidir se está perdendo seu talento como oficial da lei ou como artista de palco.
— Quer dizer que você não está bravo?
Ele deu a ela um olhar de esguelha enquanto cavalgavam por uma estreita clareira de arbustos.
— Eu não disse isto. Você levou cinco anos da minha vida quando te vi descendo por aquela colina, e outros cinco quando começou a flertar com o capitão.
— Eu não estava flertando, o estava distraindo.
Ele deu a seu protesto toda a atenção que valia — em outras palavras, nenhuma.
— É um jogo perigoso brincar com um homem assim, mas tenho que admitir, você se nivelou muito bem. Ele tinha uma raia pesada de cavalheirismo inglês nele. Não que eu não estivesse pronto a cortar sua cabeça fora por olhar para você assim. Ela piscou para ele na luz do sol, parecendo tão bonita que seria capaz de cortar um membro para poder beijá-la novamente.
Ele pigarreou e se forçou a desviar o olhar.
Ela ficou tão quieta por um momento que quase podia ouvi-la pensando.
— Você realmente pensa que sou boa no que faço?
A felicidade na voz dela fez seu peito apertar. E o modo que estava olhando-o... era como se ele tivesse acabado de arrancar o sol do céu e entregasse para ela. Podia se acostumar a esse olhar.
— Depois do que acabou de acontecer, dificilmente posso negar isto.
Ela sacudiu a cabeça, estupefata.
— Não posso acreditar que você não vai berrar comigo.
— Aye, bem, não faça disto um hábito. Nem todos os homens são tão honrados quanto Sir Ranulf. — Este, conforme ele botava para fora, era o nome do capitão. Um pouco de sua raiva retornou. — Alguns podem ver um bater de cílios e uma exibição saudável de decote como um convite.
Ela deu a ele um olhar astuto por cima do ombro.
— Você estava com ciúme.
— Ciúme? — Ele explodiu, ultrajado. — Eu não estava com ciúme.
— É bastante compreensível, Sir Ranulf é um homem bastante bonito.
Se ele fosse capaz de enxergar direto, poderia ter notado a faísca maliciosa dentro do olho dela. Mas estava muito furioso.
— Bonito? Aquele papagaio? Eu me pergunto quanto tempo ele passou olhando dentro do espelho para aparar aquela barba dele. Não existia um maldito cabelo fora de lugar!
Apenas quando ela desatou a rir que a névoa limpou dos olhos dele. Seus olhos estreitaram, percebendo que o provocava num modo muito mais esclarecedor que sábio. A atrevida tremulou seus olhos e se debruçou adiante, dando a ele visão privilegiada daquele decote espetacular.
— E você, Ewen? Você é o tipo de homem que visualiza isto como um convite?
Por um momento tolo ele se permitiu olhar. Deixou seus olhos mergulharem nas profundezas perversas entre seus seios. Ele se fartou na abundância, no arredondamento, na maciez sedosa da pele branca cremosa. Ele podia quase saboreá-la...
Ele inalou fundo na força do calor que o agarrou. Na borda afiada da luxúria que rugiu pelo seu sangue. Como se adivinhando sua dor, ela deslizou seu traseiro para trás na sela contra ele. Aconchegando. Levou tudo que tinha para não agarrar seus quadris e esfregá-la mais forte contra ele. Só o desafio tácito em seus olhos aquietou suas mãos.
— Este não é um convite que estou livre para aceitar, maldição. E você sabe muito bem por que. Como acha que o rei reagiria, ou Stewart reagiria, ao descobrir que tomei sua inocência?
Ela franziu o cenho.
— Stewart? Você quer dizer o jovem Walter Stewart? Por que ele devia se importar?
Ah, inferno! Ewen fechou sua boca num estalo, percebendo seu erro.
— Ele é meu suserano. O pai dele garantiu minha lealdade e não pagarei envergonhando o filho.
Ela pareceu aplacada, sua explicação aparentemente satisfatória.
— Então é a reação de Robert que te preocupa? Acha que ele te puniria por estar comigo?
Achar? Ewen deu a ela um duro olhar fixo.
— Eu sei que ele iria. E teria todo o direito. Você é sua cunhada, pelo amor de Cristo! Sou o chefe de um clã desfavorecido com um dedo de terra restante do que uma vez foi uma grande propriedade. Meu clã está se segurando por um fio, Janet. Qualquer esperança que eu tenha de recuperar essas terras descansa com o rei.
Janet podia ver as emoções conflitantes guerreando em seu rosto e quase se sentiu mal por pressioná-lo. Quase. Entendia a fonte do seu dilema, só não via isto como um problema insuperável. Não depois do que ele disse.
Ela ainda não podia acreditar: não só a agradeceu, mas também tinha admitido que era boa no que fazia. Ele viu o que podia fazer e reconheceu como podia ser útil. Brilhante. A admiração em sua voz quase a fez soluçar.
Depois de dias se perguntando se tudo que ela estava fazendo era bater sua cabeça contra uma parede de pedra, finalmente teve sucesso. Não era como seu pai ou Duncan — ou a maior parte dos outros homens que ela conhecia. Ele era diferente. Ela estava certa: sua aparente falta de consideração com as mulheres era consequência da ignorância e inexperiência em vez de verdadeira crença. Não a via como um acessório impotente ou como serva, mas como alguém capaz, valorizada e merecedora de respeito — como a esposa de Magnus, Helen, a curandeira que ele mencionou. Era o que ela sempre quis de um homem, mas nunca sonhou encontrar. Estava mais segura do que nunca que isso era certo. Como ele podia segurá-la nos braços desse jeito, com seus corpos apertados intimamente juntos, e negar isto? Queria que ele a tocasse. Fizesse amor com ela. Queria sentir seu corpo conectado ao dela e saber como era experimentar a paixão. O problema era convencê-lo.
Era desanimador pensar que ela se segurou tão firmemente a algo por vinte e sete anos, e então quando finalmente estava pronta para soltar, estava tendo que persuadir um homem para aceitar.
— Isso é entre eu e você, Ewen. Não vejo nenhuma razão para Robert estar até mesmo envolvido. Se você me quer e eu o quero, por que qualquer outra coisa devia importar?
Ele deu uma risada severa, destituída até mesmo da ilusão de diversão.
— Você não pode ser tão ingênua. Sabe que não é assim que é feito. Compartilhar uma cama não é tão simples.
Ela ergueu o queixo, não gostando do seu tom.
— Devia ser.
— Talvez, mas até esse dia, uma mulher da nobreza não é livre para dar sua inocência quando quiser.
Janet sabia que falava a verdade, mas isso não significava que ela tinha que concordar com ele — ou cumprir.
— Não há nenhuma razão para que Robert precise saber.
Ele endureceu.
— Eu saberia. Não desonraria você assim.
Janet deu uma olhada para ele sentado atrás dela, vendo a expressão de aço estabelecida no seu rosto. Aquela nobreza infernal dele estava se provando problemática novamente.
— Porque não nos casamos?
O olhar que ele deu a ela foi feroz, ardente em sua intensidade. A mandíbula dele apertou ainda mais.
— Porque não podemos estar casados.
Sua veemência a fez recuar. Ficou em silêncio por um momento, absorvendo as implicações. Ele deve ter tomado seus protestos contra o casamento a sério. Ou era alguma outra coisa? Não podemos... Talvez ele estivesse aludindo às suas diferenças sociais?
Mas de alguma forma pareceu como se ele tivesse acabado de desistir. E apesar de sua recente epifania, não tinha certeza que queria levantar este assunto. Compartilhar uma cama, como ele colocou, era uma coisa, mas confiar em um homem para pôr seu destino em suas mãos era outro. Ela queria casar com ele?
CAPÍTULO 19
Depois de dias sendo caçados, a cavalgada de Cuingealach, a pequena aldeia nas colinas, para Ayrshire provou desconcertantemente calma. Eles cruzaram as colinas entre Douglas e Sanquhar, e seguiram em direção oeste através das Airds Moss. Pelo fim da tarde, eles chegaram a seu destino.
Apesar da presença inglesa ainda ser pesadamente sentida, este era o país de William Wallace, e muitos dos seguidores do patriota martirizado vieram atrás de Bruce. Vários parentes de Wallace viviam em Sundrum, inclusive um primo que a Guarda das Highlands usava em ocasiões como esta.
Ewen devia estar aliviado. Sua missão estava quase completa — ou estaria de manhã, quando eles encontrassem Hawk e Chef em Ayr no birlinn. Ele devolveria Janet para sua família e voltaria aos seus deveres com a Guarda, rastreando o próximo inimigo ou aliado perdido. Bruce estaria agradecido e Ewen a um passo mais perto de restabelecer o nome dos Lamont — e, ele esperava, as terras também. Era isto exatamente o que ele queria. Exatamente pelo que esteve lutando.
Então por que ele estava tentando arrastar cada minuto no seu cavalo? Por que sentia como se no momento em que a deixasse ir tudo isso estaria acabado?
Mas não havia “isso”. Nunca existiu. Não podia ser sua. Tinha deixado bem claro. Disse que não podia se casar com ela, e pelo silêncio dela desde então, parecia que finalmente tinha entendido.
Era o que ele queria.
Então por que estava desapontado que ela não protestou? Por que uma minúscula parte dele tinha esperado que a ideia de um casamento com ele não fosse tão inconcebível?
Parou em um pequeno regato no enorme bosque para dar água ao cavalo pela última vez antes de alcançar Sundrum. Sua perna tinha melhorado muito desde que conseguiram a montaria, mas ficou enrijecida sem movimento e parecia bom se mover. Ele não estava atrasado.
Janet retornou de atender suas necessidades e sentou numa pedra ao lado do riacho mordiscando um pedaço de carne seca, enquanto ele segurava o cavalo para beber água.
— Conte-me sobre Helen.
Ele levantou o olhar com surpresa. Não era exatamente a conversa que estava esperando depois de sua última. Ele endureceu ligeiramente, perguntando-se se ela notou alguma coisa a respeito de sua perna. Teve cuidado para não favorecer a outra, mas a moça era observadora demais.
— O que quer saber?
Ela deu de ombros.
— Ela é boa no que faz?
— É uma das melhores.
— Você disse que ela podia ser médica? Como isso pode ser? Ela é mulher.
— É raro, mas não impossível. O cunhado do seu irmão, o Conde de Sutherland, é casado com uma mulher que treinou em Edimburgo por um tempo em uma das academias estudantis até que se casou. Helen poderia ter ido também.
— Mas então ela casou com Magnus?
Ewen não estava certo onde ela estava querendo ir com isto.
— Aye, mas Helen nunca quis ir. Ela é feliz em fazer o que está fazendo.
— E é exatamente o que?
Ewen terminou de dar água para o cavalo e então o levou do riacho, amarrando a rédea ao redor de uma árvore. Ele cruzou os braços e olhou para ela, sabendo que estava andando em terreno perigoso. Ela estava sem dúvida jogando verde para colher alguma coisa sobre a Guarda ou confirmar o lugar dele nisto.
— Ela atende os doentes, o que mais faria?
— Vai para as batalhas com vocês?
— Não.
— Mas fica perto?
— Por que está tão interessada nisso?
Ela deu de ombros.
— Só estou. Você tem que admitir que não é comum para uma dama bem-nascida assumir tal papel.
— Helen é incomum.
— O marido dela também. Ele é um homem raro para permitir que sua esposa se coloque em tal perigo.
Ele riu.
— MacKay odeia cada maldito minuto disto.
Ela pareceu genuinamente perplexa.
— Então por que aceita isto?
— Porque sabe que ela é necessária. E...
Ele parou.
— E?
Ele deu de ombros desconfortavelmente.
— E porque ele a ama.
— Oh — obviamente não era a resposta que ela esperava.
A boca de Ewen se torceu em um sorriso.
— Certamente você ouviu falar disto?
Seus olhos se encontraram e um afiado frisson de consciência passou entre eles.
Ela corou, abaixando seu olhar.
— Aye, só não dentro do casamento.
O tom seco não escondeu a tristeza.
— Seus pais não tiveram um casamento feliz?
Ela fez um som afiado.
— Meu pai dava a minha mãe tanta consideração quanto teria dado a um servo. A maior parte do tempo esquecia que ela estava lá. Quando ela encontrava coragem para falar, ele a cortava tão cruelmente que eventualmente começou a acreditar que era tão estúpida quanto ele a fazia se sentir.
Ele se encolheu, tendo visto mais que sua parte de casamentos semelhantes.
— Nem todos os casamentos são assim, moça.
A boca de Janet se torceu com cinismo.
— Aye, alguns, como da minha irmã Mary, estão cheios de miséria, coração partido e infidelidade, e outros, como do meu irmão Duncan, são constantes campos de batalha de discussão e discórdia. Ele e Christina brigavam por horas. Ele estava constantemente a arrastando para seus aposentos para fazer Deus sabe o que com a pobre mulher.
Percebendo que ela estava falando sério, Ewen desatou a rir. Ela se eriçou.
— Não vejo o que é engraçado.
Vendo a mágoa em seu rosto, ele ficou sério.
— Eu sinto muito, moça. Não posso falar pelo primeiro casamento de sua irmã Mary. Conheci o Conde de Atholl, e embora ele fosse um inferno de um guerreiro, não prestei muita atenção em suas relações com mulheres que não eram sua esposa. Porém conheço Sutherland há algum tempo, e pelo que sei ele tem sido fiel à sua irmã desde que pôs seus olhos pela primeira vez nela. — Ele omitiu o quanto todos eles se divertiram por isto, já que Mary o rejeitou como pretendente. — Foi seu comentário sobre Duncan que me fez rir. A paixão dele por sua esposa era bem conhecida, tanto dentro quanto fora dos seus aposentos. Suspeito que eles faziam as pazes tão apaixonadamente quanto discutiam.
Os olhos de Janet se arregalaram e suas bochechas avermelharam conforme entendia o que ele queria dizer. Suas sobrancelhas se franziram.
— Como sabe tanto sobre meu irmão?
Maldição. Este não era exatamente um assunto que queria estar discutindo com ela.
— Lutei com ele durante algum tempo.
Ela pareceu atordoada.
— Lutou? Por que não me disse antes? — Ela pareceu perceber algo antes mesmo que as palavras deixassem sua boca. — Você estava com ele no Lago Ryan, não estava?
Ele assentiu.
Ela expirou lentamente. O modo que engatou dolorosamente fez seu peito apertar. Ele quis se estender para ela, mas forçou suas mãos para o lado. Ela ficou quieta por um momento, como se estabilizando suas emoções.
— Como ele morreu?
Ewen viu a lâmina faiscando na luz do sol antes de descer no pescoço de Duncan e forçou a imagem horrorosa para longe. Ela não precisava saber dos detalhes.
— Bravamente, moça. Como o feroz guerreiro das Highlands que ele era. Estava orgulhoso de lutar ao lado dele.
Ela sabia que ele não estava dizendo tudo, mas pelo menos uma vez ela não forçou a barra.
— Deve ter sido horrível — ela disse. — Todos aqueles homens que morreram. — Ela estremeceu. — Você teve sorte de sair disso vivo.
— Aye.
Foi um banho de sangue. Os MacDowells foram informados de sua chegada e esperaram por eles. Ewen esteve em um dos dois birlinns que conseguiram escapar. Quem os traiu tinha custado as vidas de quase setecentos homens. Um dia essa pessoa pagaria.
Janet viu as emoções sombrias cruzarem seu rosto e lamentou invocar as memórias dolorosas. Mas de alguma maneira a fez se sentir melhor saber que Ewen estava com Duncan quando ele morreu. Embora a perda do seu irmão sempre seria um buraco doloroso em seu coração, Ewen suavizou a dor um pouco.
Era verdade o que ele disse sobre Duncan e Christina? Ela esteve tão enganada a respeito dos sentimentos entre eles? O que aconteceu por trás daquelas portas fechadas? Aparentemente mais do que tinha percebido.
Subitamente, todas aquelas longas horas em seus aposentos tiveram um significado muito diferente — um sensual em vez de sinistro. Seu irmão sempre parecia tão apaziguado posteriormente. Ela achava que era remorso, mas e se fosse alguma outra coisa? Era desconcertante perceber o quão pouco ela sabia sobre algo que esteve acontecendo bem na sua cara antes.
Ela arqueou uma sobrancelha, observando como Ewen perdia tempo com um saco amarrado ao cavalo, eventualmente removendo um odre. Como ele sabia tanto?
Depois de tomar um longo gole, ele se abaixou sentando ao lado dela. Isso era bom, sentar aqui com ele sem uma nuvem de perigo em cima deles. Aparentemente, sem pressa de continuar a jornada, ela decidiu perguntar a ele.
— Seus pais se amavam?
Ele enrijeceu quase imperceptivelmente. Ela sentiu imediatamente que o assunto não era bem-vindo. Mas ele respondeu sua pergunta.
— Aye, porém não deviam.
— O que você quer dizer?
— Quando meu pai sequestrou minha mãe com a aprovação dela, levando-a para longe do Chefe dos Lamont, isso quase destruiu meu pai e nosso clã. Se não fosse por James Stewart isso teria acontecido.
— Ainda existe algo inegavelmente romântico a respeito disso. Seu pai deve tê-la amado de verdade para estar disposto a arriscar tanto.
O rosto do Ewen endureceu.
— Meu pai era um rufião irresponsável que fazia o que bem quisesse sem o menor bom senso e sem medir as consequências. Ele brigava muito, bebia muito e, aparentemente, amava muito. Dever e lealdade não significavam merda nenhuma para ele. Roubou a noiva do seu chefe, pelo amor de Deus, sabendo muito bem que haveria guerra.
Ouvi-lo falar do seu pai explicava muito. Parecia que Ewen fez tudo que podia para se distanciar do tipo de homem que seu pai fora. Sua disciplina, seu senso de honra e responsabilidade eram o oposto de seu pai. Onde seu pai tinha sido selvagem e irresponsável, Ewen era o soldado modelo, fazendo exatamente o que era esperado dele.
— E sua mãe?
Os dedos apertaram o odre que ainda segurava em sua mão.
— Sua irresponsabilidade a matou.
Ela ofegou.
— O que aconteceu?
— Ele não podia manter suas malditas mãos fora dela. Ela mal tinha acabado de dar à luz a mim antes dele deixá-la grávida novamente. Morreu no leito de parto dez meses depois do um nascimento. A criança, uma menininha, nasceu morta.
O modo que ele disse — a menininha — fez algo em seu coração doer.
— Oh Ewen, sinto muito. Isto é horrível. Crescer sem uma mãe... isso não deve ter sido fácil.
Ele deu de ombros.
— Nunca conheci nada diferente. Felizmente, os Stewarts me levaram em sua guarda ou eu poderia ter acabado tão selvagem e sem reputação quanto meu pai. Quando ele não estava brigando ou bebendo, estava tentando se matar com algum desafio tolo. Foi assim realmente que morreu. O chefe Lamont finalmente teve sua vingança, desafiando meu pai para escalar um penhasco próximo ao Castelo Dundonald na chuva.
— Deve ter ficado devastado depois da morte da sua mãe.
— Estava construindo um castelo para ela quando morreu. Por anos, tudo que ele falava era sobre terminar aquele castelo. Mas claro, ele nunca terminou. Quando menino, isso veio de forma que eu odiava a mera maldita visão daquelas paredes meio construídas.
Seu coração apertou. Deve ter sido uma lembrança dolorosa dos fracassos do seu pai. Ele balançou a cabeça.
— Mas sabe o que é pior? De alguma maneira deu um jeito para conseguir que eu fizesse isto para ele. Então agora, além de tentar recuperar umas terras Lamont, também preciso ganhar dinheiro suficiente para terminar essa maldita coisa.
Emoção se alojou em seu peito, e pela primeira vez admitiu para si mesma o que era: ela o amava. Ela o amava com cada fibra do seu ser. Como era estranho depois de todos esses anos finalmente perder seu coração.
Ele estava olhando fixamente à distância perdido em suas memórias, as linhas fortes de seu belo rosto captando os ardentes matizes laranja da luz do sol desvanecendo. Não, perder era errado. Ela achou. Seu coração sempre pertenceu a ele.
— Você é um bom homem, Ewen Lamont — ela disse suavemente.
Ele virou para olhar para ela e algo estranho faiscou em seus olhos. Parecia quase culpa. Mas aí ele sorriu melancolicamente.
— Sou um tolo sentimental e acho que você passou noites demais neste chão duro — ele ficou de pé e estendeu sua mão. — Venha. Tem um banho quente, uma refeição quente e uma cama confortável esperando por você.
Ela suspirou sonhadoramente, deslizando sua mão na dele e permitindo que a ajudasse a se levantar.
— Isso soa divino. Mas Ewen... — olhos azuis firmes encontraram os seus. — Nada disso vai fazer com que eu mude de ideia.
Ele segurou seu olhar por um longo tempo. E então disse algo que ela não entendeu, mas isso mantinha a vaga sensação de uma advertência.
— Espero que você sinta o mesmo em alguns dias.
A visão dos muros caiados da casa de fazenda de telhado de palha aconchegada numa pequena colina nos bancos do Lago Lochend devia ter sido causa para celebração. Esta era primeira parada no fim de sua jornada. Eles estariam seguros aqui.
Mas para Ewen representava um retorno amargo à realidade. Livre da visão estreitada de perigo, onde conseguir que Janet ficasse a salvo e a um passo à frente dos ingleses que os perseguiam era tudo que importava, ele podia ver claramente o que a culpa esteve tentando dizer a ele, a qual esteve crescendo desde que percebeu como era importante o lugar dela na rede do rei.
Ela o odiaria por não dizer a verdade. Por permitir que acreditasse que realmente podia estar retornando a Roxburgh em alguns dias. Por não dizer a ela sobre o noivado.
O que tinha parecido prudente e não era da conta dele no início, agora se sentia como uma traição. Era uma traição. Ele não podia fingir o contrário. Sua relação mudou. A atração pecaminosa que sentiu pela “Irmã Genna” se transformou em algo mais profundo, mais intenso, conforme conhecia — e se importava — com Janet. Em algum lugar ali dentro a coisa certa a fazer mudou, e se algum dia teve a oportunidade para corrigir o erro ele perdeu.
Terminar esta missão estava indo a um custo pessoal que ele nunca imaginou. Sabia que ela ficaria com raiva, só não tinha percebido o quanto importaria para ele. Parte dele queria dizer a verdade, mas sabia que provavelmente seria melhor deste modo.
Talvez se ela o odiasse não seria tão difícil para ele ir embora? Talvez o impedisse de pensar a respeito de coisas que não podiam ser? Talvez tornasse menos duro vê-la se casar com outra pessoa?
Seu peito ardia. Só o mero pensamento disso comia suas entranhas como ácido. Sua mão apertou as rédeas, e inconscientemente seu braço apertou mais ao redor da cintura dela.
Que diabo de escolha ele tinha? O rei não ia colocar o noivado com Stewart de lado para deixá-la se casar com um dos seus soldados — ainda por cima um Lamont — mesmo que Ewen pudesse convencê-la, o que ele não tinha certeza que podia. A única opção aberta era aquela que ele não podia considerar. Ele não era seu maldito pai. Não podia sequestrar a noiva do seu suserano. Não arriscaria tudo por uma mulher. Não importa quanto a quisesse.
E Deus, como a queria! Depois de tantas horas com ela em seus braços, cada centímetro de seu corpo queimava com necessidade. O cheiro do seu cabelo, sua cintura fina, o peso dos seus seios, a curva de sua bunda, infundia seus sentidos, imprimiu em sua consciência, invadiu sua alma. Ele não queria deixá-la ir embora. Ela virou para olhar para ele.
— Tem alguma coisa errada?
Ele se surpreendeu.
— Não, por quê?
— Você não vai descer? Assumo que este é nosso destino?
Ele amaldiçoou baixinho tentando encobrir seu embaraço. Quanto tempo eles estavam ali?
Ele retirou o braço que estava ao redor de sua cintura e pulou para o chão. Depois de ajudá-la a desmontar, amarrou as rédeas a um poste.
— Espere aqui enquanto me certifico que sejamos bem-vindos — ela acenou com a cabeça, contudo ele pensou sobre outra coisa. — É importante que você só me chame pelo meu primeiro nome.
Ela franziu o cenho.
— Por quê?
— Lamont não é um nome exatamente bem-vindo nestas partes. Existem alguns que ainda acreditam que meu clã teve uma mão no assassinato do pai de William Wallace — sem mencionar que seu primo, o chefe Lamont exilado, era um vassalo do Conde de Menteith, o homem que foi responsável por virar o próprio Wallace contra os ingleses.
Normalmente, ele simplesmente usaria seu nome de guerra, Hunter. Mas com Janet aqui isso não era uma opção. Ela já sabia demais.
Felizmente, a resposta pareceu satisfazê-la.
— Muito bem. E quem eu sou?
Ele sabia o que ela estava perguntando, mas de jeito nenhum fingiria estar casado com ela novamente. Não podia permanecer outra noite dormindo ao lado dela.
— Janet. Isto é tudo que eles precisam saber. Deixara-os desconfortáveis por saber que servem a cunhada do rei em seu humilde lar.
— Eu não deixaria ninguém desconfortável, mas passaram-se muitos anos desde que fui servida por alguém. Não espero, nem desejo isto. Asseguro a você, este humilde lar vai parecer um castelo comparado a alguns dos lugares que fiquei.
Ele não perdeu a repreensão suave. Se ela estivesse também tentando dizer que sua diferença de status não importava para ela, fingiu não entender. Podia não importar a ela, mas importaria ao rei. Disso estava mais do que certo.
Com um último olhar que pareceu suspeitosamente com um adeus, Ewen foi encontrar o fazendeiro. Uma vez que Janet percebeu a verdade dos seus sentimentos por Ewen, tudo pareceu se encaixar no lugar. Se ela teve qualquer dúvida sobre o que queria, elas foram logo postas de lado ao chegar à pequena fazenda.
Ela se sentou à mesa diante do fogo de turfa ardendo suavemente, apreciando o calor que a envolvia. Não era apenas o calor das chamas ou a satisfação de uma boa refeição, mas também a companhia. Os Wallaces eram anfitriões corteses e sua felicidade era contagiosa.
Ewen estava certo, nem todos os casamentos eram horríveis. Os Wallaces eram prova disto. Suas brincadeiras apaixonadas, sutis olhares amorosos e toques inconscientes falavam de possibilidades.
Robert Wallace era um primo distante de William Wallace. Ele lutou ao lado de seu ilustre parente até seis anos atrás quando Robert perdeu uma mão em uma briga em Earnside. Margaret era consideravelmente mais nova que seu marido, e de longe mais bonita. A moça delicada de cabelos escuros, com suas feições de fada e constituição esbelta parecia totalmente errada ao lado do guerreiro de cabelos grisalhos por volta dos quarenta anos, quem estava à altura de seu parente famoso e o tamanho imponente de um forjador. Mas de alguma maneira eles se encaixavam perfeitamente. A risada dela aberta e brilhante, e natureza ensolarada complementava a aspereza do seu marido e disposição taciturna. Estava claro que ele adorava sua jovem esposa. Sua jovem esposa grávida.
A estranha pontada que Janet sentiu no peito quando percebeu que Margaret estava esperando bebê se tornou mais identificável conforme a noite passava lentamente. Era desejo. Dolorido e agudo desejo.
Nos saltos de sua própria “gravidez”, Janet nunca sentiu a ausência de crianças em sua vida tão intensamente. Claro, houve vezes ao longo dos anos quando ela pensava sobre crianças — sobre o que estaria desistindo aceitando o véu, — mas já que uma criança exigia um marido, e considerando a importância do trabalho que estava fazendo, parecia um pequeno preço a pagar. Em teoria, talvez fosse. Mas não parecia tão pequeno agora, sentada com uma mulher grávida radiante de um lado e o homem a quem ela tinha acabado de perceber que amava do outro.
Isso se sentia como algo que ela queria. Com ele. Crianças. Noites confortáveis diante do fogo. Olhares amorosos e toques ternos. Queria o que os Wallaces tinham.
Ela sabia o que isso significava. Casamento.
Esperou alguns segundos para reagir à palavra, mas o gosto ruim habitual não subiu à sua boca. Deve ser amor, pensou com um sorriso torto. Com Ewen, um casamento feliz parecia possível.
Sabia que existiam complicações. O rei de um lado, seu trabalha por outro. Robert provavelmente era o mais fácil dos dois. Se Ewen estivesse realmente em sua guarda secreta como suspeitava, isso ajudaria. Ewen não gostaria da ideia dela continuando seu trabalho, mas entenderia o quanto era importante para ela. Ele não era como seu pai e irmão — não tentaria enfiá-la em alguma caixa. Ele a valorizava — disse muito isso. Se ele a amasse, eles achariam um modo de fazer isto funcionar — como Magnus e Helen.
Finalmente encontrou um homem que era forte suficiente para deixá-la ser ela mesma. Sua força de vontade poderia ser muito mais quieta que a dela, mas era tão forte quanto. Haveria brigas entre eles, aye, mas estaria esperando ansiosamente por elas.
Claro, não era ela quem precisava ser convencida que era uma boa ideia. Ele a queria, disso não tinha nenhuma dúvida, e ele se importava com ela — o admitiu tantas vezes. Mas queria se casar com ela? Ele disse que era impossível, mas e se não fosse?
Seu olhar deslizou para o homem em questão. Ele estava preso em uma conversa em voz baixa com Robert Wallace sobre a guerra, enquanto Janet e Margaret terminavam sua refeição — a última fingindo não escutar a discussão dos homens.
— Estamos falando alto suficiente para você, esposa? Não quero que você perca nada de nossa conversa particular — disse Robert, levantando o olhar. Sua expressão era provocadora, mas seus olhos eram suaves quando caíram em sua esposa. Margaret não perdeu um segundo.
— Isto é bastante considerado de sua parte, Robert. Tenho certeza que isso tudo está além da minha pobre compreensão de mulher, mas se você pudesse falar um pouquinho mais alto ajudaria.
Os olhos dela dançavam enquanto se inclinava e sussurrava para Janet.
— Embora eu dificilmente qualificasse a troca de algumas palavras e grunhido ocasional uma conversa. Não sei qual deles é pior.
Janet desatou a rir.
Os olhos de Robert estreitaram em sua esposa.
— O que é tão engraçado?
Margaret sorriu e deu a Janet uma piscada enquanto ficava de pé ao lado da mesa.
— Temo que seja particular.
Robert balançou a cabeça, mas Janet não perdeu o sorrisinho quando ele voltou à sua conversa com Ewen.
Margaret começou a limpar os pratos da refeição deles. Quando Janet se levantou para ajudar, ela mandou que voltasse para sua cadeira.
— Você é uma convidada — disse ela, e então em um sussurro. — Além disso, você deve me contar se eles disserem qualquer coisa interessante.
Janet sorriu de forma conspiradora.
— Vou fazer o melhor que puder. Mas “interessante” provavelmente é mais do que podemos esperar.
Margaret riu.
— Você provavelmente está certa. Que tal este: tente não dormir.
— Não me faça prometer — disse Janet. — Não posso me lembrar da última vez que me senti tão confortável. Você tem uma casa adorável, Margaret.
Ela podia ver quanto o comentário agradou a outra mulher.
— Acho que você viu a torta de maçã.
Janet riu.
— Posso ter visto.
Margaret foi para o outro lado da longa sala enquanto Janet relaxava. Olhou para os dois homens no fim da mesa sorrateiramente. Ela não devia ser tão versada em escutar quanto Margaret, porque podia entender muito pouco do que estava sendo dito. Embora estivesse acostumada a escassa conversa de Ewen, até mesmo para ele, parecia anormalmente subjugado hoje à noite. Algo estava errado.
Ele estava mais preocupado do que dizia por seus amigos não terem chegado? Ele parecia confiante que eles chegariam logo. Ou qualquer outra coisa o estava incomodando?
Ela franziu o cenho enquanto ele tornava a encher sua taça novamente. Parecia estar bebendo mais do que o habitual hoje à noite. Seu rosto parecia um pouco corado. Ela esperou para interromper a conversa dos homens.
— Está tudo bem com sua perna, Ewen?
Ele levantou o olhar para ela.
— Parece bem. Por que pergunta?
Ela enrubesceu, não querendo admitir que estivesse observando-o tomar sua cerveja.
— Você não a mencionou durante algum tempo e estava só me perguntando como estava sua recuperação.
— Está boa.
— Você foi ferido? — Margaret perguntou se aproximando da mesa.
— Um tempo atrás — ele respondeu.
— Mas não curou corretamente — Janet inseriu.
Ewen lhe atirou uma cara feia. Ela sorriu.
Margaret franziu o cenho.
— Eu tenho um pouco de unguento...
— Sério — Ewen disse. — Está tudo bem.
— Deixe o rapaz em paz, Margaret — Robert disse. — Ele tem idade suficiente para decidir por si mesmo se precisa de ajuda.
Margaret e Janet olharam uma para outra revirando os olhos. Não havia idade suficiente para os homens admitirem que eles precisavam de ajuda.
— Contudo estou bastante cansado — Ewen disse, empurrando-se para longe da mesa. — Acho que devo me retirar.
— Já? — Janet disse, não escondendo sua decepção. — Mas e a torta?
Não estava pronta para a noite terminar — ou para a jornada terminar, de fato. Sabia muito bem que Ewen podia ser chamado para outra missão assim que eles retornassem, e ela teria que partir quase imediatamente também, voltar para Roxburgh a tempo do Dia de St. Drostan.
As complicações com os ingleses que eles enfrentaram em sua jornada certamente faria com que persuadir Robert fosse mais difícil, mas pela importância das informações do seu contato, e o fato que Ewen e os outros fantasmas não estariam com ela para atrair a atenção dos ingleses, estava confiante que ele veria a necessidade.
E havia o outro assunto. O assunto deles.
Ewen olhou para Margaret.
— Esperarei ansiosamente uma fatia de manhã — seu olhar finalmente caiu nela. — Você devia descansar um pouco também. Nós sairemos cedo e teremos um longo dia à nossa frente.
Janet assentiu e o deixou ir. Por enquanto. Descansaria, mas só depois que falasse o que queria falar. Ele precisava saber como ela se sentia. Como o que tinha a dizer precisava ser dito em particular, ela esperaria seu tempo. Mas antes desta noite acabar, Ewen saberia o que estava em seu coração.
CAPÍTULO 20
Ewen se sentou pensativamente em um tamborete diante do braseiro de ferro que Margaret forneceu para seu calor no celeiro, passando a extremidade de sua lâmina acima da pedra de amolar lubrificada, com golpes longos, lentos e deliberados. Era algo que ele fazia antes da batalha, para se acalmar e manter sua mente fora do que estava adiante. Um ritual, ele supunha. Eles todos tinham. A maior parte dos soldados atendiam suas armas, mas MacSorley gostava de nadar um pouco, e Striker lia de um amarrado pequeno de couro que carregava por aí com ele como um talismã. Existiam sempre uns que oravam — e uns que bebiam longos goles de uísque.
Mas esta noite, como a cerveja e a natação no lago que vieram antes, o ritual não estava ajudando. Nada estava ajudando a manter sua mente fora de Janet e o que vinha adiante. E certo como o inferno não estava ajudando a aliviar a energia inquieta abundando dentro dele. Ele se sentia tão no limite quanto esta maldita espada.
Ewen queria que pudesse dizer que era apenas luxúria. Deus sabia, ele foi empurrado bem além do limite do que qualquer homem de sangue quente devia ser esperado suportar. Ele a queria tão intensamente que seus dentes doíam só de olhar para ela. Mas apesar de que o pau duro fosse uma parte disso — uma grande e dolorosa parte — não era tudo.
Luxúria não era o que fazia seu peito arder cada vez que seus olhos se encontraram esta noite. Ele não tinha perdido a reação dela à condição da Margaret e o desejo em seu rosto, assim como não perdeu o modo que ela olhou para ele a seguir.
Isso não era possível, maldição. Por que ela o estava atormentando com coisas que não podiam ser?
Porque ela não sabia que eles não podiam ser.
Mais um dia. Mais um dia e isso tudo estaria acabado. Ele teria a maldita certeza que ela não estaria olhando para ele assim depois de amanhã, e o que ele queria não faria diferença. Mas ele encontraria pouca alegria em saber que ela o odiaria, mesmo que fosse o melhor.
Fazer a coisa certa não devia ser tão difícil, maldição.
Ewen xingou quando sua mão deslizou e seu polegar encontrou a borda da lâmina. Uma linha de sangue esguichou da ponta do seu dedo, umas gotas caíram na pedra de amolar antes dele poder afasta-la.
Maldito inferno! Bom que ele não acreditava em presságios. Se acreditasse, este era um ruim.
A porta abriu de rompante assim que ele ficou de pé. Mesmo nas sombras ele a reconheceu.
— O que aconteceu, está tudo bem com você... — Janet parou, seus olhos arregalando à medida que via seu dedo ensanguentado. — Sua mão!
Ela deu um passo dentro do celeiro, mas ele a deteve.
— Não é nada. — Ele pegou um pedaço da bandagem que envolvia sua perna e a enrolou ao redor do seu polegar. — Eu me cortei na lâmina. Isso acontece o tempo todo. — Ele mentiu, embora fosse verdade que o corte era somente um incômodo.
Diferente de sua perna. Isso doía como se queimasse, o que era estranho já que não parecia pior. O pouco sangue que havia parecido fino — parecia aguado, realmente, — mas isso era alarmante. Depois de ir nadar no lago gelado mais cedo, envolveu o ferimento em linho limpo e se sentiu um pouco melhor. Mas tinha de admitir que estava preocupado. Não preocupado suficiente, porém, para tê-la tocando-o. Se era por isso que ela estava aqui — embora não visse nenhum unguento ou linho em suas mãos. Qualquer que fosse a razão para seu aparecimento, não era uma boa ideia.
— O que está fazendo aqui, Janet? Deve ser depois da meia-noite. Você devia estar dormindo. Volte para a casa.
Ela o ignorou.
— Nós precisamos conversar. — Fechando a porta suavemente, ela caminhou em direção a ele. Quando chegou mais perto, ela entrou na luz.
Sangue de Deus! Ele sentiu como se alguém tivesse acabado de dar um soco na sua barriga. Um soco de tentação. Ela era uma fantasia ambulante. Uma sereia enviava para levá-lo diretamente para o inferno. Ela parecia como se tivesse acabado de rolar da cama. Seu cabelo dourado caía pelos ombros em uma massa ligeiramente bagunçada — sensualmente bagunçada, — ondas que captavam o faiscar da luz das velas em um halo prateado. Seu plaid estava envolvido ao redor dos ombros dela e se juntava na frente, mas ele ainda podia ver a camisa de linho fino que ela vestia por baixo. Tudo que ela vestia por baixo. Por baixo da bainha podia ver uma sugestão de pernas e pés nus que ela apressadamente enfiou em seus sapatos sem meia.
Ela parou a alguns passos dele e Ewen tentou respirar, mas o ar em seus pulmões parecia ter se tornado sólido.
Pela primeira vez que em sua vida, o caçador experimentou como era ser pego. Como um cervo na mira do arqueiro, ele não podia se mover.
Ele viu o olhar dela ir para trás em direção ao estábulo escuro, onde seu cavalo e alguns outros animais estavam alojados, e então para o pequeno canto onde um pallet de aparência confortável tinha sido ajeitado para seu uso. Além do braseiro e do tamborete, havia uma mesinha com uma luminária a óleo. O cheiro era de terra por causa da turfa em vez de pungente, e o ar era abafado e morno.
Juntando com o modo que ela parecia, o fazia pensar sobre…
Inferno, tudo nela o fazia pensar sobre isto. Ele estava equilibrado na extremidade da espada. Apertou os punhos, uma mão formando uma bola em torno da bandagem.
— Você precisa partir, Janet, agora. Seja o que for que você tem a dizer pode esperar até amanhã. Isto não está certo. Você não deveria estar aqui comigo sozinha assim. E se os Wallaces acordarem e notarem que você se foi?
A ferocidade de seu tom não pareceu causar nenhuma impressão nela. Ela ergueu o queixo para encontrar seu olhar.
— Estivemos sozinhos por quase dois dias. Os Wallaces estão profundamente adormecidos, e ainda que acordem, suspeito que saberão exatamente onde eu fui, Margaret especialmente. — Ela deu outro passo em sua direção, e ele teve que se forçar a não dar um passo atrás. Mas sua pele ficou apertada sobre os ossos. Seu sangue disparou por suas veias, e seu coração estava martelando como um tambor. — O que tenho a dizer é importante e não pode esperar.
Ele franziu o cenho, uma pontada de preocupação penetrando através de sua raiva pela invasão e a urgência de conseguir tirá-la daqui.
— Algo está errado?
Ela sacudiu a cabeça.
— Então o que é?
Ela mordeu o lábio, como se não soubesse o que dizer. Já que ela sempre sabia o que dizer, sua preocupação aumentou.
— Eu mudei de ideia.
— Sobre o que?
— Não acho que eu quero ser uma freira.
Um pouco de sua raiva retornou.
— E isto é tão importante para que você escape sorrateiramente de sua cama no meio da noite para vir me encontrar?
Ela disparou uma cara feia para ele, apertando a boca.
— Isso significa que nas circunstâncias certas eu poderia considerar casamento.
Ele ficou imóvel. O ar parecia ter deixado seus pulmões. Realmente o ar, o sangue, os ossos, e quase tudo mais parecia tê-lo deixado também.
Ela estava tentando dizer que consideraria se casar com ele?
Pelo modo que ela abaixou seu olhar e o suave rubor rosa em suas bochechas, suspeitava que era exatamente o que ela queria dizer.
Jesus! Apesar dele estar vestindo só uma túnica e uma calça de lã fina, sentiu um brilho de suor se reunir em suas sobrancelhas. Que diabos ele devia dizer?
— Janet, você sabe que as circunstâncias certas serão decididas pelo rei. Se for seu desejo se casar, Bruce será quem irá encontrar um marido para você — um marido apropriado.
Sua boca apertou cheia de desgosto.
— Robert não é assim. Ele considerará meus desejos.
Ewen xingou baixinho. Como podia dizer a ela que “Robert” já tinha encontrado um marido sem considerar seus desejos afinal? Sem mencionar que o rei tinha avisado a Ewen para ficar longe dela.
Ele se mexeu desconfortavelmente, de repente sentindo como se estivesse caminhando por um jardim dos sacos de pólvora do Sutherland — com faíscas nas botas.
— Ele vai encontrar um marido que tenha mais que um dedo de terras e um castelo meio construído.
Em vez de desencorajá-la, suas palavras pareceram incentivá-la.
— Mas e se ele pudesse ser persuadido? Você não vê, eu podia te ajudar. Se você se casasse comigo, melhoraria sua posição com Robert. Ele com certeza devolveria algumas terras para você e...
— Pare! — Ele a pegou pelos ombros e sacudiu, não percebendo o que estava fazendo. — O que você está dizendo é impossível. Maldição, algum dia já ouviu a palavra “não”? Não vai acontecer.
Ela respirou fundo, olhando fixamente para ele com centenas de perguntas nos olhos.
— Por que não? Pensei que você… — Os olhos dela viraram para os seus, rasgando-o. — Pensei que se importasse comigo. Você não me quer?
Maldito inferno! Ewen a soltou tão de repente quanto a agarrou, não confiando em si mesmo. Ele a queria com cada fibra de seu ser. Ele a queria tão desesperadamente, levou tudo que tinha para não a puxar em seus braços agora mesmo.
— Não é tão simples, Janet.
— Por que não?
A dor em sua voz quase o quebrou. Sabia que haveria lágrimas em seus olhos se ele olhasse, então ao invés disso arrastou os dedos por seu cabelo e andou alguns passos diante do braseiro de ferro.
— Simplesmente não é.
— Mas eu amo você.
Seus pés pararam. Seu coração parou. Tudo pareceu parar. Levou alguns momentos para as palavras afundarem. Por um instante sentiu uma explosão de algo similar à felicidade pura — felicidade como nunca experimentou antes. Porém isso foi socado sob o peso amargo do dever e da lealdade. Pessoas estavam contando com ele, maldição. Ela pertencia a outro homem.
Ewen não seria como seu pai, mesmo se isso o matasse. Ele não faria isto. Disciplina.
Ele virou e se forçou a olhar para ela, cada músculo em seu corpo tão apertado quanto um arco. Sua mandíbula estava apertada, seus punhos estavam apertados, e a dor em seu peito abafou tudo que ele esteve sentindo em sua perna.
Ela olhou fixamente para ele com olhos arregalados, parecendo mais vulnerável do que ele já a viu.
— Você não vai dizer algo?
— O que você gostaria que eu dissesse? — Ele não queria que isso soasse tão duro quanto soou, mas nunca foi bom com palavras. Ele nunca foi bom com nada disso. Como a bagunça que ele fazia com tudo.
Ela se encolheu, seus dedos ficando brancos conforme ela apertava o plaid com mais força.
— Eu pensei... — Ela parou, sufocando um soluço mudo. — Pensei que você pudesse se sentir do mesmo modo. Mas posso ver que estava errada. — As primeiras lágrimas deslizaram de seus olhos, cada uma delas uma lança de dor através do seu coração. — Eu não devia ter te incomodado. Me d-desculpe.
Ele mal pode ouvir a última palavra pelo soluço minúsculo. Podia ver os ombros dela tremendo quando ela virou para partir.
Ele não podia fazer isto. Não podia deixá-la partir deste jeito.
— Janet, espere.
E foi quando ele cometeu seu erro. Ele a segurou.
Janet estava muito magoada para estar humilhada, embora tivesse certeza que isso viria mais tarde. Deus do Céu, ela praticamente pediu para ele se casar com ela! Ela deu a ele seu coração e ele não quis. Seu peito se sentia como se tivesse sido esmagado por um pedregulho — ou o chão debaixo de uma enorme bota pesada.
Ela não podia respirar — não ousava respirar — temendo que a onda quente de emoção constringindo sua garganta e peito se despejasse em uma torrente de soluços.
Algum dia já ouviu a palavra “não”?
Aye, ela ouviu. Em alto e bom som. Querido Deus, como ela pode ter estado tão enganada? Isto era só outro exemplo dela descendo montanha abaixo como uma pedra rolando? Ela tinha imaginado algo que não estava lá?
Seu lábio inferior tremeu. Seus ombros sacudiram. As lágrimas começaram a fluir. Oh Deus, ela tinha que sair dali!
Ela o ouviu chamar atrás dela e o teria ignorado se ele não pegasse seu braço.
— Solte-me! — Ela tentou encolher os ombros para escapar, não querendo que ele a visse chorar. Não querendo que ele visse o quanto a magoou. Ele não podia deixá-la com um fragmento de orgulho?
Aparentemente não. Ele não a soltou, a mão do seu grande guerreiro fechou ao redor da parte superior do braço dela como uma algema de aço. Ele a fez dar meia volta para que o enfrentasse, mas ela não levantou o olhar. Manteve o olhar fixo na gola bordada de sua túnica de linho. Mas até isso doía. Estava amarrado ao pescoço dele, e ela se achou olhando fixamente para o caminho de pele escura por baixo. A pele que ela ainda queria tocar.
O calor de seu corpo a envolveu. Cruelmente. Provocadoramente. Perseguindo-a com memórias de coisas que não podiam ser.
— Eu não quero magoar você.
Ela deu uma risada aguda que saiu mais como um soluço quebrado. Era tarde demais para isto.
— Então o que você quer, Ewen? — Ela levantou o olhar para dentro dos seus olhos, um flash de raiva temerária restabelecendo um pouco de sua coragem. — Oh, espera. Eu sei o que você quer. — Ela inclinou seu corpo no dele, suas terminações nervosas zumbindo ante o contato. Mas desejo não era amor. — Como eu posso ter confundido isso com qualquer outra coisa?
Ewen soltou um gemido áspero, torcendo o braço dela ao redor para aproximá-la muito mais apertada contra ele, embora não achasse que ele estava ciente do que fez.
— Pare com isso, Janet. Isto não é verdade.
Seu rosto era uma máscara escura e torturada. Sua boca uma linha dura, seus olhos tiras de aço, sua mandíbula apertada.
O coração dela tinha dono. Odiava-o por fazer com que ela o quisesse tanto. Por cada um dos músculos duros pressionados contra ela que faziam seu corpo esquentar, mesmo agora. Por ser tão bonito que fazia seu coração doer só de olhar para ele. Por fazê-la perder de vista seu plano e acreditar até por um momento em contos de fadas. E acima de tudo por não a amar de volta.
— O que não é verdade? — Ela provocou. — Que você não me quer? — Ela apertou seus quadris contra ele. — Eu diria que seu corpo discorda.
Seus olhos mergulharam nos dele. Estava tremendo de raiva, frustração e dor. Ela queria atacar. Queria machucá-lo tanto quanto ele a machucou.
— Mas quer saber, Ewen? Isso não é mais suficiente para mim. Não quero mais você. Então solte-me!
Pânico subiu duro e quente dentro dele. Ela estava falando sério. Ewen podia ver em seus olhos. Ela não o queria mais. Ele a empurrou para longe vezes demais. Era o que ele procurou, não era? Ele achou. Mas enquanto estavam lá tão colados, faíscas de raiva e desejo chocando entre eles em uma feroz batalha de vontades, soube que não podia deixá-la ir. Se ele a deixasse ir embora agora, seria muito tarde. Ele a perderia. Ela nunca voltaria. Estaria terminado.
Ele podia lutar com o desejo — poderia até mesmo ser capaz de ganhar, — mas não podia lutar com o medo forjado por pensamentos de um futuro sem ela. Ela jogou suas defesas abaixo até que ele simplesmente não podia mais lutar.
Pro inferno com isto. Sua boca cobriu a dela em um beijo quente e possessivo que era para não deixar nenhuma dúvida sobre suas intenções. Ele iria fazê-la pertencer a ele da única maneira que podia. Pela primeira vez, Ewen não segurou nada, dando rédea livre ao seu desejo.
Ele provou a ela a mentira com seus lábios e língua, pedindo — não, exigindo — com cada golpe hábil, até que ela estava retribuindo seu beijo com tanto calor e paixão que queimava dentro dele. Ela o queria.
O plaid que ela estava segurando — seu plaid — caiu numa poça aos seus pés conforme seus braços rodeavam o pescoço dele. O corpo minúsculo dela esticado contra o seu e ele afundou nela, respirando em seu quente e pesado calor.
Era incrível. Seu calor. Sua suavidade. O aroma inebriante de seu cabelo. Ele cavou mais fundo, ajustando o corpo seu corpo ao dele, cavando a mão através das mechas douradas para agarrar sua cabeça nas palmas dele, e afundar a língua cada vez mais fundo na doçura da caverna quente de sua boca.
Ele não podia ter o suficiente. Sua boca estava faminta pelo gosto dela, suas mãos ávidas para vagar por cada centímetro, e seu corpo doía por mais pressão.
Ela gemeu e estremeceu, seus dedos minúsculos embreando — cavando — em seus ombros, prova visceral do quanto ela o queria.
Um raio de calor atingiu duro em sua virilha, enchendo-o. Fazendo-o inchar. Pulsar. Latejar.
Ele não iria durar.
Varrendo-a para dentro de seus braços, carregou-a para cima da pallet. Interrompeu o beijo apenas tempo suficiente para descê-la e arrancar sua camisa antes de descer ao lado dela.
Os olhos dela arregalaram, viajando sobre planos de pele nua. Não, “viajando” não era bastante certo. “Banqueteando” talvez fosse mais preciso. Estava acostumado a mulheres admirando os efeitos da guerra em seu corpo, mas com ela era diferente. Com ela importava.
— Meu Deus, você é bonito — ela deixou escapar.
Ele sorriu.
— Guerreiros não são bonitos, moça. Pensei que você fosse boa com palavras.
Ela corou, embora soubesse que ele estava brincando com ela.
— Muito bem, “perfeito” então. — Seus olhos foram para o corte que ele sofreu na batalha com os ingleses na manhã anterior. — O ferimento não dói? — Ele sacudiu a cabeça. Como disse a ela, não era mais do que um arranhão. — O que é isto? — Ela perguntou, traçando a marca que o vinculava à Guarda das Highlands em seu outro braço com o dedo.
Ah, inferno.
— Nada.
Ela o ignorou.
— É o Leão Desenfreado com algum tipo de faixa e inscrição. — Ela espremeu os olhos para enxergar melhor na luz das velas. — Or inveniam viam. ”Eu devo achar um modo”. — Ela traduziu. — Isso se encaixa para um rastreador. Soa como a inscrição para uma espada.
— É. — Ele disse. Tinha a mesma marca em sua espada. A tatuagem do Leão Desenfreado rodeada com a faixa como um torniquete de uma teia de aranha, era a marca usada para identificar cada membro da Guarda das Highlands. Mas muitos dos guerreiros a personalizavam com armas ou lemas. Ewen fez ambos. Tinha duas lanças cruzadas atrás do leão e a inscrição em sua espada abaixo.
Seu braço flexionou debaixo da ponta do dedo dela, e agradecidamente ela continuou. Ela se estendeu e espalhou suas mãos por seu tórax e braços.
— Você parece como se fosse feito de aço. — Ela ergueu o olhar timidamente. — Sabe, nunca gostei de músculos antes, mas acho que aprendi a gostar bastante. — Sua palma espalhou sobre o músculo protuberante em seu braço superior e apertou. — Aye. — Ela disse, sua voz ficando um pouco mais rouca. — Aprecio bastante.
Outra explosão de calor correu através dele. Amaldiçoou e a beijou novamente antes que suas palavras pudessem deixá-lo mais louco.
Ele tinha toda intenção de levar isto devagar. Saborear cada minuto do que poderia ser a única vez...
Ele parou. Não pense nisso.
Ao invés disso se concentrou no quanto era boa a sensação dela bem enfiada debaixo dele. Segurou-a aconchegada ao seu lado, meio projetado em cima dela, para não a esmagar com seu peso. Isso também deixava sua mão livre para explorar, e teve a maldita certeza de não deixar nenhuma parte dela sem tocar. Ele segurou de forma côncava seu seio através do tecido fino da camisola, escovando o polegar acima do bico tenso, antes de deslizar a mão atrás sobre sua cintura e quadris, e então sua bunda, erguendo-a contra ele até que a perna dela envolveu ao redor do quadril dele.
Seus grunhidos e gemidos saíram de foco juntos quando ele começou a esfregar suavemente contra ela. Lentamente aumentou, imitando o ritmo com sua língua, enquanto os círculos lentos e gentis se tornavam um esfregar rápido e duro. Ele a deixou se acostumar ao seu tamanho. Deixou-a sentir cada centímetro de seu comprimento enquanto movia seu corpo acima do dela.
Mas a performance separada por algumas camadas de linho e lã não era suficiente para nenhum deles. A corrida frenética dos batimentos cardíacos dela e respiração acelerada, entre ofegos crescentemente urgentes e gemidos, combinavam com os seus.
Tensão latejava por seu corpo. Ele estava quente para cacete. Fervia. Seu corpo um inferno de necessidade. Suor reunia em sua sobrancelha enquanto ele lutava com os instintos pressionando dentro dele. Cada um dos seus músculos estava flexionado com força, tremendo pelo esforço para encontrar restrição. Para encontrar controle. Para fazer isto durar.
Mas não ia durar. Não desta vez. Estava tão gostoso e ele a queria tão intensamente. Desde o primeiro momento que a viu na floresta, meio nua e feroz como uma valquíria, ele esteve esperando por este momento. Não quis reconhecer nem para si mesmo, mas a verdade finalmente o alcançou. Ou talvez fosse o destino que o tenha alcançado.
Sabia que estava muito apressado. Apressado demais. Mas tinha que estar dentro dela. Agora.
Com uma mão, desabotoou os laços de seus calções e os deslizou de seus quadris. A explosão de ar frio sobre sua pele túrgida o fez gemer de alívio.
Sutileza estava além dele. Sua mão parecia grande e desajeitada enquanto agarrava a bainha da camisola dela, levantando-a só o suficiente para ele ter acesso. Ele se forçou a tirá-la. Deixou sua mão descansar na coxa dela um instante antes de tocá-la. Mas ela não deixou. Começou a se retorcer, gemer, erguer seus quadris para encontrá-lo.
Então deu a ela o que ambos queriam, varrendo seus dedos sobre a umidade dela, antes de deslizar no apertado calor feminino. Ele gemeu. Tão molhada. Tão quente.
Um afiado aperto de desejo formou uma bola na base de sua espinha. Queria estar dentro dela tão desesperadamente, levou tudo que tinha para não alavancar seu corpo acima do dela e investir duro para dentro. O conhecimento do quão bom se sentiria colidiu nele numa onda quente, quase o arrastando para baixo.
Mas tinha que deixá-la pronta para ele. Ela era inocente, maldição, e ele iria fazer isto bom para ela, ainda que o matasse.
E seria muito bom.
Erguendo a cabeça, interrompeu o beijo para ver seu rosto enquanto dava prazer a ela.
Sentiu algo apertar duro em seu peito. Ela era tão bonita. Presa na agonia da paixão, suas bochechas coradas com prazer, seu cabelo dourado espalhado atrás de sua cabeça numa desordem selvagem, seus olhos entrecerrados e seus lábios inchados pelo beijo suavemente separados, ela parecia com algum tipo de deusa sensual. Sabendo que ele estava fazendo isto para ela o humilhava. Foi seu beijo que inchou os lábios dela, sua barba de uma semana que avermelhou a pele sensível ao redor do queixo, e seu toque que estava deixando-a selvagem.
Mas não selvagem o bastante.
Janet se sentiu como se tivesse sido pega em um vendaval. Um vendaval quente, frenético e devastador. Ela foi do desespero absoluto até o êxtase em questão de minutos.
O que o tinha segurado se foi. Quando a beijou, ela soube que ele tomou sua decisão: ele a escolheu. Seu peito inchou com felicidade. Ela não esteve errada em entregar seu coração a ele.
Foi varrida pelo calor do seu abraço, entregou-se à paixão. Entregou-se à ele. A rendição nunca pareceu tão boa. A sensação de seus dedos dentro dela — acariciando-a, trazendo-a ao próprio pico do prazer…
Oh Deus, ela não podia aguentar isso! Ela gemeu, se retorceu, sentiu o desejo avassalador de pressionar seus quadris na mão dele. Um eco da memória do que ele fez com ela a provocou, enquanto a sensação cintilava mal fora do seu alcance.
— Não ainda, mo chroí. — Ele sussurrou em seu ouvido com uma risada malvada. — Quero te saborear primeiro.
Janet não queria tentar dizer a ele o que fazer, mas preferia esse negócio agora de beijar.
Ela soltou um pequeno choramingo de protesto quando ele diminuiu as carícias, e tentou não ficar irritada quando ele riu.
— Prometo que você gostará disto, moça.
Ela sentiu seu primeiro cintilar de premonição quando ele deslizou para baixo, não para cima. Meu Deus, seu rosto estava bem entre sua...
Uma súbita onda de embaraço esfriou um pouco do calor. O instinto fez suas pernas se juntarem com força.
— Não! Não faça isso! Você não pode!
Ele levantou os olhos para ela, um brilho malvado em seus olhos azuis acinzentados. Uma mecha espessa de cabelo escuro caía sobre sua sobrancelha, dando a ele uma distinta borda marota. Ele enterrou sua boca bem no ápice de suas pernas fechadas, o calor de sua respiração fazendo-a ofegar. Ele sorriu.
— Asseguro a você, eu posso. — Ele se aninhou nela novamente, suavemente cutucando suas pernas para se separarem. — Você vai gostar disso, amor. Só me deixe ter um gostinho.
Oh Deus! Ela estremeceu — e não com mortificação — quando ele se aninhou nela novamente, desta vez dando a ela um tremular de sua língua que enviou uma ondulação após a outra de sensação direto para os dedões do seu pé. Suas pernas relaxaram ainda mais, abrindo um pouco mais à medida que o embaraço rapidamente dava lugar para os desejos perversos do seu corpo.
Quando ele a beijou lá, apertando seus lábios quentes e firmes na sua parte mais íntima, ela gritou em choque e prazer tão agudos que deixou cada terminação nervosa no limite. Ou melhor, virou do avesso cada terminação nervosa. Ela era uma bola crua de terminações nervosas viradas do avesso. Quente, sensível e posicionada para seu toque.
Ele a provocou com estalidos gentis de sua língua e beijos suaves até que ela não pode aguentar mais. Começou a erguer seus quadris contra ele, querendo mais pressão.
— Gosta disso, amor?
Gostar disso? Céus, nunca imaginou gostar tanto de uma coisa. Esperava que ele não estivesse esperando que ela falasse, tudo que podia administrar era um ofego sem fôlego.
Esqueceu-se de estar envergonhada e não ofereceu um único protesto quando ele se instalou firmemente entre suas pernas, lançou as pernas dela por cima de seu ombro, e agarrou sua bunda com ambas as mãos para erguê-la mais completamente para sua boca maravilhosa e perversa.
O primeiro golpe amoroso de sua língua fez cada um daqueles terminais nervosos virados do avesso formigar. Mas foi a pressão de sua boca e o esfregar de mandíbula da barba por fazer contra a pele tenra entre suas coxas que a fez perder toda vergonha.
Ela começou a tremer. Começou a arquear as costas e erguer os quadris cada vez com mais força contra seus lábios e língua. Disse a ele para não parar. Implorou para fazer isso parar. Mais rápido. Mais fundo. Mais duro.
Oh Deus, sim… sim! Uma corrida de calor surgiu entre suas pernas para a sucção morna de sua boca. Ele a segurou ali, bebendo-a, enquanto ela se catapultava em um reino diferente, enquanto seu corpo se partia em onda após onda de prazer quente e ondulante.
Através da névoa desatenta, ela o ouviu praguejar.
— Não posso esperar mais… Tenho que estar dentro de você… Desculpe.
Sua voz soava quase estrangulada.
Por que ele estava se desculpando?
Não levou muito tempo para descobrir.
CAPÍTULO 21
Ewen chegou ao fim de sua restrição. Qualquer controle que ele pensou que tinha desapareceu após o clímax dela. Queria deixá-la louca e pronta para ele, só não tinha antecipado o que isso faria a ele.
Era experiência a mais erótica de sua vida. Nunca saboreou uma mulher tão completamente antes. Nunca teve sua boca nela enquanto ela se quebrava. Nunca se sentiu tão conectado enquanto os espasmos de prazer reverberavam pelo corpo dela. Ela se entregou tão livre e completamente.
Ele não podia esperar outro minuto.
Murmurando algum tipo de desculpa, alavancou seu corpo sobre o dela. Os músculos em seus braços e ombros flexionaram duros em antecipação enquanto ele lutava para se segurar firme. Para ir lentamente.
Os olhos dela se ergueram para os dele. Ele sentiu um clique. Era como se algo tivesse mudado em seu peito e trancado no lugar.
Seus olhos tremularam para baixo e arregalaram. Seguiu a linha de seu olhar e viu a mesma coisa que ela: uma ereção de tamanho muito intimidante. Queria dar a ela algum tipo de reafirmação, dizer que tudo ficaria bem, mas verdade seja dita, ainda que pudesse dar um jeito para grunhir algumas palavras agora, não estava certo quanto disso iria doer. Mesmo suave e molhada de seu orgasmo, ela ainda era pequena e apertada, e ele grande e duro. Muito grande e muito duro.
Só de pensar nisso o fez pulsar. Lutou com a urgência de lançar a cabeça para trás e investir para dentro dela.
Mas esta era uma batalha que ele perdeu.
Seu pau estava muito duro, sua entrada escorregadia e morna muito convidativa, e qualquer controle que ele tinha fugiu no momento em que esfregou a cabeça sensível contra sua umidade sedosa. Segurando seu olhar, ele começou a pressionar para dentro, centímetro por centímetro, mas a intimidade era intensa demais, as emoções muito poderosas. Era demais. O gentil cutuque se tornou um mergulho rápido enquanto ele a possuía completamente, ligando-a a ele de um modo que não podia ser desfeito.
Ele soltou um gemido de pura e primitiva satisfação, subjugado por uma sensação de alívio e mais alguma coisa. O único modo de descrever isso era retidão absoluta. Como se ele estivesse onde pertencia. Como se encontrasse seu destino.
O grito suave de dor atravessou um pouco da sua névoa. Mas era tarde demais. Tarde demais para recriminações. Tarde demais para mudar de ideia. Tarde demais para recuar — ele foi muito longe, não podia puxar de volta agora mesmo que quisesse. Ela era sua.
Pelo menos no momento.
Ewen cerrou os dentes, mantendo-se imóvel como uma pedra, querendo lhe dar tempo para ajustar à sensação dele. Mas era bom demais. Ela era apertada e quente, agarrando-o como uma maldita luva, e cada instinto em seu corpo gritava para se mover.
Ele roubou um olhar para baixo em sua direção, surpreso por ver seus olhos não fechados bem apertados, mas olhando para ele com a emoção que ela o forçou a reconhecer.
Amor. Seu peito apertou. Uma onda de ternura bateu nele em cheio. Ele se inclinou e deu-lhe um beijo suave.
— Eu sinto muito.
Ela sorriu.
— Por quê?
Por tantas coisas.
— Machuquei você.
— Não é tão ruim... agora.
Como se para provar suas palavras, ela se mexeu, enviando um inchaço quente de prazer surgindo até a ponta dele. Ele gemeu, incapaz de resistir ao primitivo instinto de responder com um movimento também. Uma investida apertada e rápida.
Ela se encolheu.
Ele praguejou.
— Maldição. Me desculpe. Estou tentando não me mexer, mas você é tão gostosa, isso está me matando.
Pela quantidade de dor em que ele estava no momento, o sorriso que se espalhou pelo rosto dela não foi exatamente apreciado.
— Eu estou? Eu sou?
Ele lhe um olhar afiado, seus dentes apertados firmemente.
— Não precisa estar tão contente com isto.
O sorriso dela se tornou ainda mais largo.
Ele se inclinou para beijá-la novamente, o movimento fazendo-o afundar mais profundamente.
Ela ofegou, mas desta vez não com dor. Seus olhos se encontraram.
— Oh! Essa sensação...
Ele sabia como se sentia. Parecia incrível. Ele se moveu novamente, tirando só um pouco e afundando de volta. Os olhos dela se arregalaram.
— Oh... — De novo. — Oh!
Quando ela circulou seus braços ao redor do pescoço dele para segurar mais apertado, foi todo o convite que ele precisava. Segurando seu olhar, ele investiu novamente. Observando por qualquer sinal de dor. Mas não era dor que trouxe um suave rubor rosa para suas bochechas.
Quando os quadris dela se levantaram para encontrá-lo, ele não pode se conter. Seus golpes prolongaram. Aprofundaram. Foi mais rápido e mais duro, ela ofegando gemidos que o incentivaram a continuar.
O prazer era intenso. Avassalador. Como nada que ele algum dia sequer imaginou. Ela era... tudo. E mais.
Tão apertada. Tão quente. Suor despejava dele, as punhaladas frenéticas cobrando seu preço. A pressão construiu na base de sua espinha, mais forte e mais poderosa que qualquer coisa que ele já sentiu antes. O corpo dela o agarrou, ordenhou, empurrou-o por cima da borda.
E ele a levou junto. Segurando os quadris dela, ele apunhalou duro e fundo, esfregando para dar prazer a ela em círculos duros e lentos, enquanto seu próprio prazer rugia em seus ouvidos.
Ele gozou com uma intensidade incandescente que o sacudiu em seu núcleo. Por um momento, o prazer foi tão aguçado que viu tudo preto. Novamente os espasmos o assolaram. Agarrando. Apertando. Deixando-o seco.
— Amo tanto você. — As palavras dela ecoaram inúmeras vezes em sua cabeça, em seu coração.
Quando o último jato diminuiu em sua virilha, ele desmoronou na cama ao lado dela, gasto e exausto, deleitando-se nas sensações e sentimentos estranhos. Ainda sentia como se estivesse voando. Sentiu a cabeça leve, sua mente um pouco suave e vaga. Quase como se tivesse tomado mais daquele uísque do que percebeu. Jesus! Nunca percebeu que isso podia ser... Assim.
Incrível. Surpreendente. Como nada que já experimentou antes. Eles estavam... conectados. Não apenas juntos, mas conectados. Nunca se sentiu mais perto de ninguém em sua vida como esteve no momento em que estava dentro dela, olhando no fundo dos seus olhos. Quando eles acharam o clímax juntos, não só seu corpo foi saciado, mas sua alma. E a euforia não terminou com o orgasmo. Ele se sentiu — o sentimento era tão estranho para ele que levou um momento para pôr um nome nisso — feliz. Como se pudesse deitar aqui com ela para sempre.
Era tão doce. Tão entregue. E ela o amava? Como teve tanta sorte?
Estava prestes a alcançá-la e colocá-la debaixo de seu braço quando ela falou.
— Se isto é o que casamento tem a oferecer, acho que devo estar bastante contente.
Ela podia ter jogado um balde da água fria nele, o choque de suas palavras era o mesmo. O atordoamento desapareceu. A euforia e felicidade viraram um frio gelado à medida que a realidade do que fez o atingiu rápido e duro.
Foda.
O palavrão estava bem colocado. Foi isso exatamente que ele fez — tanto literal quanto figurativamente. Não só ela, mas ele mesmo também.
Em vez de aconchegá-la contra ele, olhou fixamente para o teto de madeira do celeiro em atordoada descrença enquanto as ramificações o derrubaram implacavelmente.
Sangue de Deus, que diabos ele fez?
Ao tomar sua inocência, ele violou a confiança tanto do seu rei quanto do seu suserano, e pôs seu futuro, como também do seu clã, em risco. Um dedo de terra? Inferno, ele não teria um punhado de sujeira no seu nome quando Bruce descobrisse. O castelo meio terminado — um monumento à imprudência de seu pai — seria um flagelo na paisagem para sempre. Mas nada disso importava porque Ewen estaria morto. O rei o mataria.
Ewen tinha tentado manter sua cabeça baixa, fazer seu trabalho, distanciar-se de seu pai “selvagem” e seu primo rebelde, e não chamar atenção para si mesmo. Bem, Bruce certo como o inferno ia notar isto. Estava quase feliz que Sir James estava morto para que ele não tivesse que ver isto.
Destinado a ser. Retidão. Fatalidade. Destino. Realmente tinha usado tais desculpas fantásticas para justificar o indesculpável e perder de vista sua honra? Por esquecer o que importava? Que tal dever, lealdade e disciplina? Era nisso em que ele deveria pensar. Queria culpar o uísque, mas sabia que não era isto. Ficou com medo de perdê-la e reagiu sem pensar. Deixou a emoção controlá-lo. Maldição, ele não ficou sentimental. Isto não deveria acontecer com ele.
Era tão ruim quanto seu maldito pai! Sua vida inteira esteve lutando para ter certeza que não terminaria como o Selvagem Fynlay, e em questão de minutos desfez tudo isso.
Os Lamonts em Cowal não existiriam mais. Você decidiu. Deus, sentia-se doente.
A princípio Janet não percebeu nada de errado. Ainda formigando e fraca de prazer, ainda sentindo como se estivesse planando nas nuvens, estava tão presa na maravilha do que tinha acabado de acontecer que assumiu que Ewen estava se sentindo do mesmo modo.
Nem estava preocupada quando ele não respondeu ao seu gracejo. Provavelmente estava tão subjugado quanto ela.
Foi só quando ele se sentou jogando as pernas por cima da beirada do pallet (dando a ela uma boa visão de suas costas largas e bem musculosas), arrastou seus calções para cima e enfiou a cabeça em suas mãos que ela percebeu que algo estava errado.
Só percebeu o quanto estava errada quando ele murmurou um palavrão que ela nunca ouviu dele antes.
Seu peito apertou, mas tentou não reagir demais, exagerar. E daí se isto não foi exatamente como ela tinha imaginado o momento? Não importava que ele não a puxou em seus braços, acariciou seu cabelo e disse a ela o quanto era maravilhosa. Quanto a amava. Realmente não importava.
O aperto aumentou para uma pontada. Ela não era uma virgem de dezoito anos de idade. Era uma mulher madura. Não precisava de tais garantias, embora teria sido legal. Empurrou para trás a onda quente de emoção que subiu aos seus olhos.
Ignorando o desapontamento tolo e de mocinha em seu peito, tentou pensar racionalmente. Sua reação era compreensível. É claro que era. Ela conhecia Ewen, e sem dúvida que ele veria tomar sua virgindade como algum tipo da violação ao seu código de homem.
Ela podia pensar que era ridículo, mas ele não.
Sentando-se atrás dele, ela se esticou e pôs a mão no ombro dele. Os músculos enrijeceram sob de sua palma. Outra lasca de dor tentou fazer seu caminho através da felicidade em que ela se envolveu como um plaid, mas não deixaria.
— Por favor, não fiquei chateado. De verdade, não há nada com que se preocupar. Não fizemos nada de errado. — Ela sorriu. — Ou nada que não possa logo ser corrigido. Vou até Robert assim que chegarmos e explicar, bem, talvez não tudo. — Robert podia ser tão cavalheiresco sobre este tipo de coisa quanto Ewen. — Mas ele entenderá. Ficará muito feliz em me ver casada finalmente, e casar comigo vai ajudar seu clã, você vai ver.
Nada podia ter impedido a punhalada de dor quando ele se empurrou para longe do toque dela.
— Você não entende uma maldita coisa, o rei vai ficar furioso!
Janet piscou de volta para ele em choque, atordoada pela força de sua veemência. Não pensava em si mesma como possuindo ternos sentimentos, mas ele conseguiu achar um com suas palavras tipicamente cegas e afiadas como navalhas.
— Talvez isso não seja uma combinação ideal, mas tenho certeza que Robert pode ser persuadido...
Ele a agarrou pelo braço e a forçou a encará-lo.
— Maldição, Janet! Nem tudo pode ser manejado com uma língua hábil e um belo sorriso. Quando diabos você vai aprender isso? Você não tem ideia do que eu fiz.
Ela parou de dizer a si mesma para fazer pouco de sua reação. Seja o que for que estivesse fazendo com que ele agisse assim era sério.
Ele deixou a mão cair e pôs de volta a cabeça entre suas mãos.
De repente gelada, ela juntou o plaid deixado por Margaret aos pés do pallet, embrulhou-o ao redor de seus ombros e se posicionou ao lado dele.
— Então por que não me diz? — Ela disse suavemente.
Ela pensou que ele ignoraria seu pedido. Mas depois de alguns minutos às voltas com seus pensamentos, ele pareceu chegar a algum tipo de decisão.
— O rei já organizou um noivado para você.
Ela respirou fundo, olhando fixamente para ele em absoluto horror e descrença. Não podia se lembrar de como respirar. Sua mente estava ocupada correndo em milhares de direções. Esta era a última coisa que ela esperava. Robert nunca deu nenhuma indicação que ele planejava...
Traição a rasgou, estraçalhando aquele manto de felicidade em minúsculos fragmentos. Mas não era só de Robert. Encarou Ewen, procurando pelo homem que ela pensou que conhecia. Que pensou que a conhecesse.
Ele mentiu para mim.
— Quem? — Ela perguntou entorpecidamente.
— Walter Stewart.
O golpe tomou o restinho de ar que tinha no peito. Claro!
Ewen deixou o nome dele deslizar uma vez. Agora entendia o significado. Queria rir, mas tinha medo de que fosse chorar. Walter Stewart mal tinha idade suficiente para ter ganhado suas esporas.
— Meu suserano e o filho do homem a quem devo tudo. — Ele adicionou.
Ela poderia ter tentado entender sua culpa, as profundezas da desonra que ele devia estar sentindo por sua deslealdade e confiança quebrada, mas estava envolvida demais na própria dor e confiança quebrada. Olhou fixamente para seu rosto, buscando por algo em que se segurar. Algo para mudar a conclusão inevitável encarando-a.
Ela desviou o olhar, voltando os olhos para seus pés descalços. Em algum ponto ela deve ter chutado suas botas. Uma pontada aguda cortou seu coração. Foi apenas minutos atrás que ela pensou que ele era o único para ela?
— Você não me disse.
Não era uma pergunta. Não se importava com suas razões para o porquê, mas ele disse de qualquer maneira.
— O rei suspeitou que você não seria tão... uh, dócil para retornar se soubesse.
O choque estava começando a diminuir e raiva surgiu dentro dela. Ela devolveu seu olhar, a boca torcida com sarcasmo.
— Como ele me conhece bem. E você aceitou, claro. Provavelmente era mais fácil para você. “Não é sua batalha”, não foi isso que você disse? Por que deveria se envolver?
Sua boca afinou ante o sarcasmo dela.
— Quando percebi que eu estava envolvido nisso, era tarde demais. Eu sabia que você ficaria com raiva, e sei que isso não é desculpa, mas na época eu estava mais preocupado em nos manter vivos.
Sua admissão que ele estava envolvido também era tarde demais — e pequena demais.
— Você podia ter me dito hoje à noite. Deveria ter me dito mim hoje à noite.
— Aye, bem eu não pretendia exatamente que isto acontecesse. Pensei que seria mais fácil se o rei explicasse. Pensei que isso tornaria nossa separação menos... complicada.
— Se eu odiasse você?
Ele a encarou sem piscar.
Querido Deus! A cor lavou do rosto dela, era exatamente o que ele tinha pensado. Ele simplesmente a teria entregue a outro homem e não olhado para trás. Seu coração estraçalhou como vidro jogado no chão. Ele poderia muito bem ter feito exatamente aquilo.
De repente outra verdade a atingiu. Outra traição.
— Esta não é uma permanência temporária na Escócia. O rei não tem nenhuma intenção de me deixar retornar a Roxburgh, não é?
Ele não se esquivou da fria acusação em seu olhar.
— Não.
— Mas você me deixou pensar que eu poderia persuadi-lo. Você sabia o quanto isto era importante para mim e ainda assim me deixou acreditar que eu voltaria!
Ela o viu se encolher, mas sua culpa não era boa o suficiente.
Ele encolheu os ombros. Ombros nus que mesmo agora a provocavam com memórias. Podia ver as minúsculas impressões de suas unhas. Provas de sua estupidez.
— Pareceu mais fácil na época. Pensei que você poderia se recusar a ir e eu não queria ter que te perseguir novamente. O que você estava fazendo era perigoso...
— E é claro, isso não podia ser tão importante quanto o que você está fazendo.
Ela pensou que ele não podia magoá-la mais do que fez mentindo para ela. Estava errada. Ele nunca acreditou mesmo em mim.
Janet poderia ter tentado compreender sua tentativa de evitar o conflito, mas não a falta de consideração para com ela. Ewen sabia o quanto o que ela estava fazendo significava para ela, e em sua indulgência em deixá-la acreditar que a missão dela estava apenas sendo atrasada, mostrou o quão pouco ele a valorizava. O quão pouco ele pensava dela. Nunca lhe daria o que ela queria de um marido.
Ela ficou de pé para partir, mas ele pegou seu braço, detendo-a.
— Só porque você pode sair de uma situação com conversa não significa que deveria. Você é superconfiante a ponto do descuido. Como o que aconteceu com o padre em Roxburgh... era só questão de tempo antes de ser descoberta. Eu não vou me desculpar por não querer ver você em perigo.
— E quanto a mentir para mim? — E me fazer amar você?
Os olhos dele suavizaram. Mas ela se sentiu estranhamente indiferente a isto. Uma hora atrás poderia ter visto como um sinal de sentimento. Agora, ela sabia melhor.
— Lamento profundamente por isto. Estava apenas tentando fazer meu trabalho.
Um afiado som de deboche irrompeu de seu peito firmemente ferido.
— E a missão sempre vem em primeiro, não é certo? — Ele não disse nada. Ela olhou para seu belo rosto, vendo o mudo apelo por compreensão. Parte dela queria dar isto a ele. Parte dela queria pensar que ainda haveria um modo que isso não acabasse tão horrivelmente. — E agora, Ewen? O que acontece com sua missão agora?
Certamente ela não podia ter estado tão errada. Ele não merecia uma chance, mas ela lhe daria uma.
Ewen tinha estragado tudo. Era exatamente por esta razão que ele queria evitar isto. Ele não podia suportar o modo que ela estava olhando para ele. Ver a confiança quebrada em seus olhos. A traição. O coração partido.
Isso o rasgava.
Ele não queria perdê-la. Mas que diabos podia fazer? Tentaria se desdobrar para fazer isto direito, salvar o que podia de sua honra e seu lugar no exército de Bruce, mas não tinha ilusões.
— Explicarei tudo para Bruce quando retornarmos. Se ele concordar, nós nos casaremos assim que os proclamas forem lidos.
Ela olhou fixamente para ele, forçando seu olhar a encontrar o dela.
— Você realmente não acha que pode conseguir que ele concorde?
Ele não pensava que existia uma chance no inferno. Sua mandíbula apertou.
— Não era você que estava confiante que poderia persuadi-lo?
— Isso foi antes de ser notificada do noivado. Robert não vai te “recompensar” por interferir em seus planos.
— Direi a ele que não há escolha. É tarde demais. — Ele tomou sua inocência, maldição.
— Então você deveria se preparar para se defender com sua espada, porque ele vai querer te matar. Robert não vai ver com bons olhos você depreciar o valor do seu prêmio.
— Não fale disso assim. — Ele estalou furiosamente. — Não é assim que me sinto.
— Como você se sente, Ewen?
Como se estivesse tentando achar tração numa colina de gelo? Confuso? Rasgado? Como um homem que acabou de perder tudo e falhou com um clã inteiro?
— Como pode perguntar depois do que acabou de acontecer? Certamente deve perceber o quanto você significa para mim?
Ele podia dizer pela faísca de decepção que cruzou seu rosto que esta não era a declaração que ela queria ouvir. Mas devia ter sido suficiente. Ela pôs a mão no braço dele, virando aqueles grandes olhos verdes da cor do mar para ele implorando.
— Então fuja comigo. Vamos encontrar um padre em algum lugar para nos casar. Você sabe que este é o único modo. Robert nunca nos concederá permissão para casar.
Cada músculo no corpo dele se tornou tão rígido quanto aço, sua rejeição às palavras dela profundas até o osso.
Estava o destino brincando com algum tipo de piada horrorosa, forçando-o a enfrentar a mesma escolha que seu pai? Bem, pode apostar que não cometeria o mesmo erro.
— Eu não vou fugir.
Ela o observou, seus olhos tomando nota dos seus punhos apertados e músculos flexionados.
— Me amar não vai te transformar no seu pai, Ewen.
Ela ergueu o olhar para ele com tal compaixão e compreensão que por um momento ele vacilou. Queria puxá-la em seus braços e dizer que tudo ficaria bem.
Mas não iria. Seus sentimentos por ela não custariam isso a ele.
— Não vai? Talvez você esteja certa. Não me faria meu pai. Meu pai teve Stewart para ajudá-lo a juntar os pedaços, eu não terei ninguém.
— Você me terá.
Como se pudesse ser tão simples.
— Que tipo de vida viveríamos? Sem o apoio do rei e Stewart, eu não tenho nada para te oferecer. Nenhum dinheiro. Nenhum castelo. Só duzentas pessoas que dependem de mim para provê-los. Deveríamos nos juntar ao meu primo e parentes na Irlanda com os outros “rebeldes”?
Ela ergueu o queixo obstinadamente, sua boca apertada.
— Mary vai ajudar. Christina também.
— Você pediria isso a elas? Você as colocaria em problemas com Bruce.
Com isto, ele teve sucesso em aquietá-la.
— Fugir não é romântico, Janet, é irresponsável e tolo. Não resolverá nosso problema, vai torná-lo pior. Não, não existe nenhum outro modo. Nós nos arriscaremos com Bruce.
Ele se forçou a não ver o desapontamento cintilando em seus olhos, mas isso comia como ácido em seu peito.
— Então você fez sua escolha.
— Fiz.
— Mesmo que isso signifique que não podemos estar juntos? Mesmo que isso signifique que devo me casar com outro homem?
Ele a pegou pelo braço, arrastando seu rosto para o dele.
— Sim, maldição, sim!
Foi como se soprasse uma vela, a luz nos olhos dela simplesmente morreu. Sentiu o rápido agitar do pânico em seu peito. Instintivamente, estendeu a mão, mas ela se empurrou para longe.
Seus olhos verdes da cor do mar dispararam adagas para ele, afiadas o suficiente para tirar sangue.
— Não toque em mim novamente. Você tomou sua decisão, agora tomei a minha. Não casarei com você nem com Walter Stewart. Não casarei com ninguém. Vou tomar o véu antes que alguém tente me forçar a descer a nave da igreja.
A pulsação dele saltou, pânico não mais só agitando seu peito, mas saltando — não, ricocheteando — por toda parte.
— Você não quer dizer isto.
Ela não disse nada. Nem sequer olhou para ele. Seu olhar estava alfinetado na porta atrás dele.
— Ao contrário do que acredita, Ewen, sou capaz de conhecer minha própria mente.
Ele praguejou, sabendo que ela estava escapando dele, mas não sabendo como detê-la. Ficou de pé, cambaleando da dor em sua perna. Mas isso não era nada comparado à fogueira de emoções queimando em seu peito. Ele odiava se sentir assim. Fora de controle. Bravo. Apavorado. Impotente. Ela estava despedaçando-o.
Ele atacou cegamente, como uma besta encurralada.
— Que diabos quer de mim, Janet? Você percebe o que isso... — Ele sacudiu a cabeça em direção à cama bagunçada atrás deles. — Me custou? Tudo pelo que estive lutando. Isto não é suficiente ou devo cortar uma veia por você também?
Ela pareceu arrasada, cada pingo de cor deslizou de seu rosto. Sua voz tremia.
— Não percebi que havia um preço em algo que era livremente dado. Quis te agradar, sinto muito se não foi o suficiente. Mas não precisa se preocupar. Isso não precisa te custar nada. Como não estarei casando com ninguém, minha inocência, ou falta dela, não é importante. Você ofereceu casamento e eu recusei. Você fez seu dever, se houve qualquer dano à sua honra, foi amenizado. Não existe nenhuma razão para dizer qualquer coisa a Robert afinal. Sua posição no exército dele só estará em perigo se você escolher fazer isto.
Tão depressa quanto a raiva subiu, foi derrubada. Ele mal ouviu suas palavras dando a ele uma saída, tudo que podia ver era a dor que suas palavras descuidadas infligiram. Ele não devia estar culpando-a. Não era culpa dela. E ele certo como o inferno não quis fazer o que aconteceu entre eles parecer com algum tipo de transação.
— Maldição, sinto muito. Eu não quis dizer isto. Nunca quis que nada disso tivesse acontecido. Estava só tentando fazer meu trabalho.
— E eu entrei no caminho. Você era apenas um simples soldado tentando fazer seu dever e eu era, como você colocou? Uma complicação.
Ele franziu o cenho. Não foi o que ele quis dizer... foi? Ela era tão mais que isto.
— Eu sinto muito por tornar as coisas difíceis para você, Ewen. Se tivesse me contado a verdade, poderia não ter acontecido do modo que aconteceu. Mas como você assumiu tomar essas decisões por nós dois, temo que agora deva viver com elas. Você é um lutador, estou certa que achará uma maneira de ganhar tudo que deseja. Teria sido mais fácil, mais simples, se nunca tivéssemos nos encontrado. E se servir de consolo, nesse instante eu desejo o mesmo.
Jesus! O que ele fez?
— Você não quer dizer isto.
O olhar que ela lhe deu disse diferente. A pele dele, que esteve sentindo anormalmente quente, pareceu de repente coberta em uma camada de gelo.
— E é exatamente por isto que eu faço. Você me disse uma vez o que queria em uma esposa. Eu devia ter escutado você. Talvez isto seja muito mais culpa minha. Eu quis fazer de você algo que você não era. Você não é Magnus, e eu não sou Helen. Espero que um dia encontre uma mulher que fique feliz em deixar você mimá-la e protegê-la, pensar por ela. Mas essa não sou eu.
Ela ficou de pé e começou a caminhar em direção à porta.
Gostava mais quando ela estava com raiva dele. Essa estranha fria, calma e indiferente o apavorava. Estou perdendo-a. O que posso fazer?
Ele sentiu como se estivesse caindo — colidindo — de uma montanha sem uma corda. A colina era mais íngreme, o gelo mais duro e mais escorregadio, e ele não podia entrincheirar seus saltos para parar de escorregar.
— Espere.
Ela virou.
— Você não pode ir.
Para um tolo segundo, Janet pensou que ele quis chamá-la de volta porque mudou de ideia. Que ele lutaria por eles, tão duro quanto ela estava certa que ele lutaria pelo rei ou seu clã. Mas ela estava errada — novamente.
— Não posso me arriscar que você tente fugir. — Ele disse.
Na pilha de desapontamento que ele amontoou aos pés dela, mais uma pedra não devia fazer diferença. Mas fez. A missão. É claro, ele estava pensando na missão. Não nela.
Embora talvez ele a entendesse um pouco, afinal. Por ela não ter nenhuma intenção de retornar com ele para Dunstaffnage. Janet nunca devia ter deixado que ele a levasse para longe de Roxburgh em primeiro lugar. Tinha que voltar. Ela não arriscaria perder algo importante. Lidaria com seu ex-cunhado e seus “planos” para ela quando tivesse acabado.
Janet endireitou as costas, chamando cada gota de seu sangue de filha de conde. Apesar dele se elevar sobre ela, até a alguns passos de distância, ela ainda conseguiu dar a ele um olhar longo e majestoso empinando o nariz.
— Então serei tratada como uma prisioneira? — Ela estendeu as mãos e cruzou os pulsos. — Vai me amarrar com correntes ou uma corda será suficiente?
Ewen praguejou. Ela o viu se mexer e se encolher enquanto colocava peso na perna. Obviamente estava doendo mais do que dizia, mas ela mordeu de volta as palavras de preocupação que queriam saltar de sua língua. Ele não quis sua ajuda quando ela ofereceu. Ele não queria nada dela. Mas como sempre, ela não quis ouvir. Ela não quis ouvir “não”. Pensou que sabia o que era melhor.
Pelo menos desta vez, ela era a única machucada. Isto é, assumindo que ele não contasse a Robert. Esperava que ele não fosse tolo o suficiente para fazer isso agora. Não havia razão. Ele não precisava perder tudo por tomar o que ela deu livremente. Queria que pudesse dizer o mesmo. Por vinte e sete anos não sabia nada do que estava perdendo. Agora sabia.
— Jesus, Janet. Não é assim. Só não quero que você faça nada... precipitado.
Ele só continuava lançando uma pedra atrás da outra. Eventualmente esperava que elas parassem de doer.
— Como sou afortunada por ter você para cuidar de mim.
— Maldição. Eu não quis dizer isto assim. Você vai me dar sua palavra que não tentará partir?
— Sim.
Ele fez uma pausa, olhando fixamente para ela.
— Você vai fugir no momento que eu virar minhas costas.
Ela ergueu o queixo, não negando.
— Então sou sua prisioneira?
A boca de Ewen afinou.
— Você é a mulher cuja segurança me foi confiada. Não vou deixar você ir.
Um calafrio a percorreu ante suas palavras, mas sabia que era tolice atribuir qualquer coisa significante a elas. Deixá-la ir era exatamente o que ele estava fazendo.
— Vou lutar por nós, Janet. Só confie em mim.
Ela fez e olhe onde isso a trouxe. Ele estava deixando perfeitamente claro o que pensava dela: ela era uma missão — um dever — nada mais. Sua voz tremeu.
— Não vou dormir aqui com você.
Sua boca apertou.
— Sim, vai.
— Você vai ter que me arrastar para Dunstaffnage, pois não vou com você de boa vontade.
O músculo debaixo de sua mandíbula contraiu ameaçadoramente.
— Se é isso que precisa para manter você a salvo.
— Odiarei você por isto.
Seus olhos seguraram os dela, e se ele não a tivesse curado de suas ilusões, poderia ter pensado que viu emoção verdadeira neles.
— Espero que não o faça.
Janet sabia que a batalha estava perdida por enquanto. Ele não seria dissuadido. Era imutável — uma parede de pedra bloqueando seu caminho. De repente a força a deixou. Era como se os eventos do dia a alcançassem de repente. Danificada e machucada até as profundezas da sua alma, tudo que queria fazer era se curvar em uma bola e chorar até dormir. Mas ele nem sequer daria isto a ela.
Olhou para a cama, uma punhalada de dor esfaqueando-a. Ainda podia senti-lo entre suas pernas, a dor incômoda uma lembrança dolorosa do que eles compartilharam.
— Não pode esperar que eu compartilhe uma cama com você.
Ele balançou a cabeça, parecendo mais triste do que já o viu.
— Você pode dormir no pallet. Não acho que vou dormir muito.
— O custo do dever de guarda.
Ele não respondeu à sua cutucada, mas esfregou a perna inconscientemente, como se tentando conseguir um golpe final e estremeceu.
Ela virou se afastando assim não seria tentada a se importar.
— Sinto muito, Janet. Nunca quis te machucar.
Mas machucou. Irreparavelmente.
A caminho da cama, ela pegou sua camisa e lançou para ele. O tórax nu que apenas minutos atrás tinha dado tanto prazer a ela agora doía olhar. Ele pôs a camisa sem comentários.
Ela deitou na cama e ele se sentou diante do fogo, encostando-se à parede, com suas pernas esticadas à sua frente. Janet não tinha intenção de dormir. Ela rastejou debaixo do plaid e o observou com olhos entreabertos.
Ewen recuperou um odre antes de sentar, e pelo longo gole que ele tomou, ela suspeitava que era uísque.
Com alguma sorte, ele beberia até o esquecimento.
CAPÍTULO 22
Janet despertou de estalo e estremeceu. Bom Deus, estava congelando aqui!
Aqui. Ela piscou na escuridão, reconhecendo as paredes rústicas de madeira do celeiro. De repente tudo o que aconteceu voltou a ela em uma onda de dor e decepção.
Como ele podia ter feito isso?
Ela praguejou baixinho. Não devia ter adormecido. Graças a Deus pelo frio. O braseiro deve ter acabado...
De repente, a realização do que significava a atingiu. Seus olhos disparam para onde Ewen se posicionou contra a parede. Ele estava sentado com a cabeça caída para frente como um boneco de trapo. Ela não precisou ver o rosto por trás do véu sedoso de cabelo espesso e escuro para saber que estava adormecido. Dormindo como um morto. Ou melhor, desmaiado, se o odre de uísque descartado ao seu lado era qualquer indicação.
Janet não podia acreditar! O soldado perfeito dormiu no trabalho. Parecia tão completamente fora do personagem ele dar a ela uma pausa. Talvez alguém tivesse escutado suas orações, afinal. Mas rapidamente disse a si mesma para não contar suas bênçãos.
Cuidadosamente — muito cuidadosamente, — ela se levantou da cama provisória. Seu coração martelava o tempo inteiro, olhando para ele por qualquer sinal de movimento, mas Ewen não mexeu um único músculo.
Ela respirou fundo, com a respiração entrecortada. Menos cuidadosamente, para testá-lo, ela ficou de pé. Cada minúsculo som que ela fazia reverberava em seus ouvidos como um sino, mas mesmo assim ele não se moveu.
Deus do Céu, quanto ele tinha bebido? Ele estava todo dur...
Ela parou, lembrando a si mesma para não contar suas bênçãos.
Janet olhou para ele. Olhou para as botas dela. Olhou para o saco ao lado dele — um saco que ela sabia conter seus outros vestidos, dinheiro, e o que restava da comida deles. Olhou para o cavalo no estábulo atrás do celeiro.
Ela podia fazer isto?
Seu coração balançou, mas então continuou a bater. Sim. Sim, ela podia. Pelo menos, valia a pena tentar. Não podia ficar com ele.
Não sabia quanto tempo tinha, mas esperava que ainda tivesse algumas horas antes do amanhecer. Montar o cavalo tornaria mais fácil rastrear — e não tinha nenhuma dúvida que ele a seguiria, — mas isso daria a ela a velocidade que ele não teria estando a pé. E ela aprendeu algumas coisas dele que poderia ajudar.
Ela engoliu em seco, pensando na jornada que tinha adiante. Seria longa e perigosa, mas nada que ela não tenha feito incontáveis vezes antes. Então por que lhe deu uma pontada de medo agora? Por que o pensamento de o abandonar de repente a deixava inquieta?
Porque nos últimos dias, Janet se acostumou a tê-lo ao seu lado. Podia não querer sua proteção, mas veio a apreciá-la, e se não dependia dela, então pelo menos tinha conforto nela.
Seu coração apertou. Por que isso tinha que doer tanto? Como ele podia ter mentido para ela desse jeito? Não apenas pelo noivado, mas sobre sua volta a Roxburgh. Ele sabia o quanto isto era importante para ela. Até mesmo sua traição ela podia ter tentado entender — poderia ter tentado perdoá-lo — se ele a amasse.
Mas ele não amava — ou não o suficiente. Preferia vê-la se casar com outro homem do que arriscar uma comparação com o pai. O pior era que Janet entendia. Nem mesmo o culpava. Não de verdade. Mas também sabia que não era bom o suficiente para ela.
Lágrimas rolaram por suas bochechas. Maldito seja Ewen por fazer isto com ela! Até que ele entrou repentinamente em sua vida como um rolo compressor, ela esteve muito feliz sozinha. Contente com a vida que tinha planejado.
Janet enxugou as lágrimas com um movimento brusco de raiva, determinada a ser feliz novamente. Seu trabalho era a única coisa que importava agora. Era a única coisa que restava.
Ela era melhor sozinha. Não soube sempre disso?
Pondo de lado qualquer reserva que tivesse, Janet tomou sua decisão. Levou apenas alguns minutos para juntar o que precisava. Enquanto levava o cavalo do estábulo, ela deu um último olhar. Com lágrimas nublando os olhos, ela partiu sem olhar para trás.
Alguém estava gritando com ele. A cabeça de Ewen pendeu de um lado para o outro. Pare de me sacudir.
— Ewen! Acorde, rapaz!
Ele abriu os olhos. Levou um momento para reconhecer o homem diante dele. Grande. Cabelos grisalhos. Rosto maltratado pelo tempo e com cicatrizes da batalha. Robert Wallace.
Sua mente parecia com um pântano, seus pensamentos vagarosos.
E Deus, ele estava quente.
Ele gemeu e voltaria a dormir se Robert não o sacudisse novamente.
— A moça, onde ela está?
Isso o trouxe de volta rápido. Um pouco da névoa clareou de sua mente. Janet. Seu olhar disparou para o pallet. O pallet vazio.
Ewen praguejou, percebendo o que aconteceu. Ele adormeceu e ela fugiu.
Como diabos isso podia ter acontecido? Ele estava de serviço, maldição! Não cometia enganos assim.
Ele tentou se levantar, mas algo não estava certo. Não parecia que conseguia coordenar seus membros. Diabos, estava tão fraco quanto um potro recém-nascido.
— O que se passa com você, rapaz? — Robert disse, estendendo uma mão. — Você está queimando tanto quanto uma fogueira e aqui está frio.
— Eu não sei...
As palavras do Ewen morreram em uma punhalada de dor quando tentou pôr peso em sua perna ferida.
— É a perna. Deve estar pior do você pensava. — Robert fez uma pausa para chamar sua esposa com um grito. — Sente-se. — Ele ordenou. — Margaret vai dar uma olhada nela.
Ewen o afastou, procurando ao redor por suas coisas como um cego.
— Eu não posso. Tenho que ir atrás dela.
— Por que ela partiria? — Robert perguntou.
Porque ele era um tolo cego.
— Para se afastar de mim.
Se qualquer coisa acontecesse a ela, ele nunca se perdoaria.
Ele alcançou sua espada e quase caiu. Deus, sentia-se horrível! Não precisava que Helen dissesse a ele que algo estava muito errado com sua perna. Como as coisas podiam ficar tão ruins tão depressa? Pensou que estava ficando melhor, mas estava pior. Muito pior.
Engoliu a dor e a névoa da febre para se aprontar. Ele se arrumou para colocar a maior parte de sua armadura antes de Margaret aparecer.
Seu grito suave disse a ele que devia estar pior do que sentia.
— Você está doente! — Ela disse.
Ele não discutiu. Mas um olhar rápido na bolsa restante disse a ele que precisaria de algumas coisas.
— Vou precisar de alguma comida e bebida, e qualquer dinheiro que você tiver sobressalente.
Janet levou tudo. Ele praguejou novamente. Como pode ter sido tão negligente? Ele sabia que ela fugiria. Devia ter tomado precauções melhores. Devia tê-la amarrado, maldição. Devia ter feito o que fosse necessário para mantê-la a salvo.
Devia ter feito o que fosse necessário para mantê-la com ele.
Ah, inferno! Ele praguejou novamente. Nem mesmo a febre o impediria de ver a verdade.
— Você não pode ir a lugar nenhum assim. — Disse Margaret.
— Eu tenho que ir. — Ewen disse entredentes, lutando com a força poderosa que parecia estar tentando derrubá-lo. Cabia a ele. O sol da manhã já estava com força completa. — Ela pode ter ido já há algumas horas. — Não podia perder a trilha enquanto estivesse fresca.
Pegou a bolsa e começou a ir em direção aos fundos do celeiro. Sua perna fraquejou, e ele teria caído no chão se Robert não o tivesse segurado por baixo do braço.
— Firme, rapaz.
— O cavalo. — Disse Ewen, mordendo de volta a onda de náusea que subiu dentro dele. — Só me ajude a subir no cavalo.
— Foi embora. — Disse Robert.
A extensão de seu fracasso era humilhante. Enquanto ele estava supostamente em guarda, ela se esgueirou com um maldito cavalo passando por ele.
— Vou ter que ir a pé.
— Você não chegará até a próxima aldeia em sua condição. — Margaret disse.
Ele não chegou nem mesmo fora do celeiro. Escuridão se levantou como a boca de um dragão feroz e o engoliu inteiro.
Janet não parava de olhar por cima do ombro, esperando que Ewen viesse como uma tempestade estrada abaixo atrás dela como um demônio do inferno. Ou talvez, mais precisamente, como um fantasma do inferno.
Ela se lembrou como ele se parecia a primeira vez que o viu. A armadura de couro escuro pontilhada com rebites de aço, o plaid estranhamente adaptado envolvido ao redor dele, o elmo enegrecido e arsenal de armas amarrado com uma correia em seu tórax largo e bem musculoso. Seu coração apertou. Ela esteve assustada por uma boa razão, acabou estando certa. Deveria ter virado e corrido no primeiro instante que o viu.
Mas ou ele não estava vindo atrás dela ou ela era melhor em esconder seus rastros do que pensava. Lembrou de suas dicas: chão duro, água ou rios quando possível, andar em círculos, confundir e ofuscar. Ela se manteve na estrada, misturando e escondendo sua trilha o melhor que podia. Mas sabia que sua melhor arma era a velocidade, então não levou muito tempo escondendo-as como deveria.
Talvez o despistar tenha funcionado? Recordando o que Ewen fez quando a levou a primeira vez de Rutherford, Janet não refez seus passos a leste, mas direcionou-se ao norte em direção a Glasgow, esperando perder sua trilha na grande cidade antes de virar a para o leste na estrada principal.
Mas infelizmente, Ewen tinha a vantagem de saber o destino dela. Ainda que conseguisse se esquivar dele na estrada, ele a encontraria logo em Roxburgh. A menos que pudesse pensar num modo de fazer contato com sua fonte no castelo sem retornar a Rutherford.
Apesar do que ela disse a Ewen, a ideia de tomar o hábito novamente não sentava bem a ela. Tendo vindo para o celeiro apenas com um chemise — o sob vestido que Mary previdentemente providenciou ainda na casa — Janet foi forçada a escolher entre a veste extravagante que se sobrepunha ao vestido que era para ir sobre esta ou a saia de lã marrom-escuro “Noviça de Eleanor”. Embora tivesse escolhido a última — uma mulher em um vestido tão fino viajando sozinha seria muito mais difícil de explicar — ela não podia suportar colocar o escapulário branco e o véu. Em vez disso, envolveu o plaid ao redor de si mesma como uma capa com capuz — o que Margaret tinha deixado, não Ewen — e fez o melhor que pôde para evitar outros viajantes na estrada.
Nesta época do ano, nos dias frios e escuros próximos ao Natal, não tinham muitos viajantes. Aqueles com quem ela cruzou tinham a curiosidade satisfeita pela sua reivindicação de ser uma parteira, viajando para atender o nascimento do primeiro filho da sua irmã em alguma aldeia adiante.
Algumas vezes, ela se juntou a outros viajantes durante um tempo — inclusive um fazendeiro e sua esposa levando aves ao mercado em Glasgow e um velho viajando para Lanark para visitar seu filho — buscando segurança e conforto em números. Mas quando as perguntas se tornavam muito pessoais, ela era forçada a se separar da companhia.
Na maioria das vezes ela estava só com seus pensamentos, os quais ela tentava impedir que retornassem a Ewen. Nem sempre seria assim horrível, disse a si mesma. Mas pela primeira vez podia entender a miséria que sua irmã sofreu em seu primeiro casamento. Como era amar alguém e não ter a pessoa retribuindo esses sentimentos. Como se sentia ser traída pelo homem a quem você deu seu coração.
Era uma jornada longa e difícil. Mais difícil do que deveria ter sido especialmente comparada à anterior. Além de não ter os ingleses a perseguindo, a vantagem de ficar na estrada principal era que evitava as colinas que ela e Ewen foram forçados a atravessar. A desvantagem, claro, era a chance de encontrar acidentalmente uma patrulha inglesa.
Durante dois longos dias, através de Rutherglen, onde passou sua primeira noite, para Peebles, onde passou sua segunda, Janet conseguiu evitar tal perigo. No terceiro, porém, enquanto ela e um comerciante e sua esposa, com quem esteve viajando desde Innerleithen, aproximaram-se dos subúrbios de Melrose, onde encontrou Ewen na primeira vez, o destino interveio mais uma vez. Uma dúzia de soldados apareceu na estrada à frente dela.
Seu sangue correu frio. Cada instinto que tinha urgia que fugisse, embora soubesse que era ridículo. Não existia nenhuma razão para ela fugir. Não fez nada errado.
Ela forçou ar em seus pulmões em lentas e uniformes inalações. Quantas vezes fez isto antes? Muitas para contar. Com o tanto de tempo que passou nas estradas como mensageira, dar de encontro com soldados ingleses não era incomum. Por que estava tão nervosa?
Seguindo a dica do comerciante e sua esposa, fingiu não notar nada fora do comum e continuou no caminho adiante. Se o casal notou sua leve vacilação, não comentaram nada. Porém o comerciante, um homem velho o suficiente para ser seu pai, deixou seu olhar demorar no rosto dela um instante mais longo que o habitual. Ele viu sua pele empalidecer sob o capuz improvisado do seu plaid? O olhar dele caiu para as mãos dela. Percebendo que estava apertando as rédeas, forçou seus dedos a soltar. Mas isto, ele definitivamente notou.
Conforme a distância diminuía entre eles, o comerciante moveu sua carroça para o lado do caminho para deixar os soldados passarem. Janet seguiu o casal, aproveitando a oportunidade para angular sua própria montaria atrás deles, onde esperava que não estivesse tão visível.
O martelar do seu coração em seus ouvidos ficava mais alto conforme os poderosos cavalos de guerra se aproximavam. O chão começou a tremer, ela esperou que pudesse esconder seu próprio tremor.
O comerciante levantou sua mão em saudação quando o primeiro cavalo passou.
O martelar em seu coração acalmou. Continuem, ela rezou. Não parem.
Um… dois… três… passaram. Seu coração começou a bater novamente. Ia dar tudo certo. Mas então o martelar não parou — não seu coração, os cascos.
— Alto. — Uma dura voz inglesa disse. — Você aí. Qual o seu nome? Que negócios você tem na estrada?
Nenhuma razão para pânico, disse a si mesma. Nada fora do comum.
— Walter Hende, meu senhor. Sou um comerciante a caminho de Roxburgh, onde minha esposa e eu esperamos abrir uma loja.
— Que tipo de loja?
O comerciante fez um gesto para sua carroça.
— De tecidos, meu senhor. Tenho as roupas de lã mais finas de Edinburgh. Dê uma olhada se quiser.
Janet aventurou uma olhada no soldado. Seu coração caiu no chão. Ele não era um soldado, era um cavaleiro, embora não tivesse reconhecido os braços de seis heráldicas separadas por uma grossa curva de ouro. Ele era um homem de aparência imponente, e não só por causa de sua pesada armadura e a insígnia de correio. Ele era grande — alto e de ombros largos — com uma mandíbula dura e escura, olhos entrecerrados somente visíveis debaixo do elmo de aço.
Ele fez um gesto para um homem mais jovem ao seu lado, quem ela assumiu que devia ser seu escudeiro. O rapaz saltou e abordou a carroça. Erguendo o oleado de couro, ele acenou com a cabeça.
— Aye, Sir Thomas. Está cheio de pano.
Foi então que o desastre atingiu. O escudeiro olhou de relance em sua direção. Por causa de onde ele veio ficar de pé ao lado da carroça, ele teve uma visão clara de seu rosto.
Ele ofegou.
— Lady Mary! O que está fazendo aqui?
O sangue deslizou de seu rosto. Oh Deus, isto não podia estar acontecendo. O menino pensou que ela era sua irmã.
— Você conhece esta mulher, John? — Sir Thomas disse.
O rapaz franziu o cenho, olhando fixamente para ela. Ele deve ter visto algo que o fez questionar sua primeira impressão.
— Sou eu, Lady Mary. John Redmayne. Eu era amigo do seu filho na corte. Você se lembra, nós nos encontramos no Castelo de Bamburgh no ano passado. Eu vim com Sir Clifford.
Sir Robert Clifford era um dos principais comandantes de Edward na batalha contra os escoceses. O medo coalhou como leite azedo em seu estômago.
Depois de um momento, Janet finalmente encontrou sua voz.
— Temo que você está me confundindo com outra pessoa.
O cenho franzido do garoto foi de lado.
— Dê um passo adiante onde eu possa ver você — o cavaleiro ordenou. — Se você não é a mulher que meu escudeiro acredita, então quem você é?
— Kate, meu senhor — ela disse suavemente, usando o nome que deu ao comerciante.
Os olhos do cavaleiro estreitaram.
— Puxe seu capuz para trás.
Ela fez como ele mandou, esperava que sem mostrar tanta relutância quanto sentia. No momento que o plaid caiu para trás, um silêncio coletivo caiu sobre o cavaleiro e seus homens. Eles olharam fixamente para ela em choque e inconfundível admiração masculina.
Com exceção do escudeiro. Ele sorriu amplamente.
— É ela. Lady Mary, a Condessa de Atholl.
O garoto obviamente não tinha ouvido falar da deserção de sua irmã e seu segundo casamento. Mas o cavaleiro tinha. O modo que seus olhos escuros cintilaram enquanto sua boca curvava em um sorriso lento a gelou até o osso.
— E o que a rebelde Lady Mary está fazendo em Melrose?
Janet forçou um sorriso tímido em seu rosto.
— Temo que o menino está enganado, meu senhor. — Ela bateu seus cílios para ele com o que esperava ser apenas a quantidade certa de inocência. Mas alguma coisa disse a ela que este homem não seria um tolo fácil. — Eu sou...
— Nossa filha, meu senhor.
Janet se surpreendeu e esperava que não parecesse tão surpresa como se sentia quando o comerciante surgiu ao lado dela e a reclamou pelo braço.
Ewen lutou com a força da escuridão que o embalava, que lutava para arrastá-lo para baixo. Você não pode dormir. Ele tentou abrir os olhos, mas as pálpebras estavam muito pesadas. Alguém pôs um peso nelas.
Tente. Você tem uma coisa para fazer. Ele não sabia o que tinha que fazer, mas sabia que era importante. Muito importante. A coisa mais importante no mundo.
Levante. Você tem que ir atrás dela.
Oh Deus, Janet!
Ele se debateu cegamente na escuridão, tentando sentar. Mas algo o arrastava para baixo. Mãos poderosas e de aço apertaram seus pulsos e tornozelos, prendendo-o na cama.
Ele gritou, retorcendo em dor e frustração enquanto tentava lutar para se livrar. Mas as mãos firmes pareceram multiplicar como algum tipo de aranha horrorosa.
Tenho que levantar. Perigo. Ela precisa de mim. Oh, Deus, Janet… desculpe.
— …Prenda-o. — uma voz suave penetrou nas bordas da sua consciência. Uma voz de mulher. Uma voz de Angel. — …Ficando pior… corte a perna.
— Não! — Ele deu coices, lutando com tudo que tinha até a dor subjugá-lo e a escuridão o arrastar para baixo.
Ewen estava sonhando novamente, fugindo através da escuridão procurando por algo — por alguém.
Tem que encontrá-la…
Ele se assustou e abriu os olhos, rapidamente fechando-os novamente conforme a luz os atravessava como um punhal.
Ele gemeu, virando, surpreso por sentir seus braços se movendo livremente ao seu lado.
— Ele está acordado. — Uma voz familiar disse.
Oh Deus, Janet!
Ele abriu os olhos novamente, piscando para o rosto que assombrava seus sonhos.
Ele estendeu a mão para cima e embalou a bochecha dela em sua mão.
— Você está aqui. — Ele disse, sua voz áspera e fraca. Ela estava a salvo. Janet estava segura. — Deus, sinto muito.
Ela sorriu, e ele sentiu o primeiro pressentimento que algo não estava certo — uma pontada confusa cutucando as extremidades desfiadas da sua consciência.
— Como está se sentindo? — Ela perguntou.
Outro rosto apareceu ao lado dela, também familiar, mas fazendo uma careta. Apesar do modo que o homem estava olhando para ele, Ewen sabia que devia estar aliviado ao vê-lo por alguma razão.
— Eu sei que você quase morreu. — O homem disse. — Mas vai se achar perto da morte novamente se não tirar suas malditas mãos da minha esposa.
Sutherland, Ewen percebeu. Ele está vivo.
Ele deixou sua mão cair do rosto da mulher. O rosto de Mary, não de Janet.
Mary deu ao seu marido uma carranca afiada.
— Ele esteve inconsciente por quase quatro dias, você acha que pode colocar de lado sua primitiva possessividade só por alguns minutos?
Quatro dias?
Sutherland deu de ombros sem arrependimento.
— Não se ele olhar para você assim. Inferno, pensei que ele ia te arrastar para cima dele. Estava só o poupando de uma surra enquanto ele se recupera.
Ewen não estava grogue demais para debochar.
— Este será um dia frio no inferno, Ice.
Mary pigarreou.
— Obviamente, ele pensou que eu era minha irmã.
— Onde ela está? — Ewen disse, imediatamente alerta. — Onde está Janet?
Sutherland ficou sério.
— Nós estávamos esperando que você nos dissesse.
— Quer dizer que ela não está aqui? — Ele olhou ao redor, de repente percebendo que não sabia onde diabos ele estava.
Mary pareceu entender sua confusão.
— Dunstaffnage.
Sede de Bruce em Argyll, ganha do rebelde John MacDougall, Lorde de Lorn, anos atrás.
— Nós te encontramos não muito tempo depois que você desabou nos Wallaces. — Disse Sutherland. — Sinto muito por deixar você e a moça sozinhos lá fora, mas não podia ter ajudado. Quando os ingleses atacaram pela segunda vez, eu não quis me arriscar e levá-los até você. Alcancei MacKay e MacLean, que tinham encontrado Douglas. Nós estaríamos aqui mais cedo, mas Douglas teve alguns problemas que nós precisamos cuidar. — Ewen assumiu que eram problemas ingleses. A expressão de Sutherland se tornou sinistra. — Você estava mal. Não pensamos que você sairia dessa. Saint e Hawk te levaram para Angel na hora certa.
Angel. Foi quem o esteve atendendo quando ele despertou delirante...
Ewen congelou em horror quando o resto da memória retornou. Ele estava quase apavorado para olhar. Inferno, estava apavorado para olhar. Respirando fundo, abaixou seu olhar para o cobertor acima dele, lançando-o somente quando viu o amontoado de suas pernas — os dois amontoados de suas pernas.
— Você se lembra? — Mary perguntou.
Ele assentiu.
— Você teve sorte pelo local do ferimento. — Sutherland disse. — Angel decidiu que seria mais perigoso tirar sua perna por causa de onde o dano estava do que deixar você lutar com o pus no osso.
Mas não foi o fato que ele quase perdeu sua perna que esfriou seu sangue.
— Por que ninguém foi atrás dela?
— Striker e eu fomos. — Disse Sutherland. — Nós só retornamos ontem à noite. Pensamos ter pego sua trilha indo pro norte na estrada para Glasgow, mas então nós a perdemos.
— Glasgow? Por que diabos ela iria para lá? — Mas ele soube antes que até mesmo terminasse a pergunta. Diabos! Ela levou a sério suas lições.
Ele se sentou e teria perdido o conteúdo do seu estômago se existisse qualquer coisa dentro. Ele balançou enquanto a náusea e a vertigem lutavam para levá-lo de volta para baixo.
— Espere! — Mary gritou, tentando empurrá-lo de volta para baixo. — O que você está fazendo? Não pode levantar.
Ewen rangeu os dentes.
— Eu tenho que encontrá-la. É tudo minha culpa.
A porta abriu e três pessoas irromperam no quarto.
— Nós ouvimos vozes… — Helen ofegou, mas se recuperou depressa. Seus olhos estreitaram. — Vejo que foi um erro desamarrar você. — Ela atirou para seu marido, que surgiu ao lado dela, um olhar de “eu te disse”.
Mas foi a terceira pessoa que entrou no quarto que fez o coração de Ewen afundar e um brilho de suor doentio reunir em sua sobrancelha.
Robert, o Bruce, Rei da Escócia, fixou seu olhar escuro e afiado como uma navalha nele.
— Onde está Janet, e por que é sua culpa?
CAPÍTULO 23
Priorado de Rutherford, Fronteira Escocesa, 14 de dezembro de 1310
— Dê-me uma boa razão por que eu não deveria lançar você em uma no calabouço da prisão agora mesmo! — O rei exigiu.
— Porque você precisa de mim para encontrar Janet e garantir que ela está a salvo. — Ewen respondeu.
Mas ele podia nem sequer conseguir fazer isto. Cinco malditos dias! Por cinco dias ele vasculhou o interior do país, virando cada pedra — cada folha — sem avistá-la. Janet se provou uma pupila melhor do que podia ter imaginado, usando as habilidades que ele a ensinou contra ele.
Esta era sua última vantagem — inferno, era sua única. Com a aproximação de St. Drostan, ele estava de volta ao priorado em Rutherford, esperando que seja qual fosse a razão que ela teve para querer retornar, esta época a traria de volta.
Mas de sua posição nas árvores alguns metros da entrada até o priorado, ele mal podia decifrar os rostos das freiras passando por ele. Apertou seus punhos ao lado, lutando pela paciência que tinha desaparecido dias atrás.
— Não posso ver coisa nenhuma. Estou entrando lá.
MacLean entrou na frente dele.
— Você não fará nenhum bem a ela se for pego. Lembre-se do que o rei disse: fique longe da vista, observe e não interfira a menos que seja necessário. Eu não acho que despedaçar cada igreja entre Roxburgh e Berwick conta como necessário.
— Ou aterrorizar comerciantes desafortunados o suficiente para vender nozes açucaradas. — Sutherland brincou secamente de sua posição atrás dele.
Ewen fez uma careta. Isso tinha sido um engano. Mas o comerciante foi um bastardo provocador, e Ewen esteve de saco cheio de suas respostas engraçadinhas. Antes que percebesse, sua mão envolveu o pescoço do homem e o teve preso contra a parede de madeira da loja. Não surpreendentemente, o homem então tinha sido muito mais acessível em suas respostas para as perguntas de Ewen. Deselegante talvez, mas efetivo.
— Esta é minha última vantagem. — Ele disse entre dentes. — Não vou me arriscar a perdê-la. Saia do meu maldito caminho.
— Use sua cabeça, Hunter. — MacLean disse.
Mas Ewen estava além da razão. Ele deu passo ao redor de MacLean — em vez de empurrá-lo de lado como estava tentado a fazer, — mas outro de seus irmãos, ou seus antigos irmãos o bloquearam.
— Você não vai entrar lá. — Disse MacKay.
— Certo como o inferno que vou. — Disse Ewen, os músculos saltando com prontidão para a briga que MacKay ia conseguir se não saísse do seu caminho. Por cima do ombro do outro homem ele notou outro punhado de freiras saindo do priorado. Mas nenhuma delas era a freira que ele procurava.
— Que diabos você planeja fazer? — MacKay desafiou. — Entrar lá parecendo assim? As freiras vão dar uma olhada em você e correr gritando. Você parece tão feroz e selvagem quanto um lobo. — Ele sacudiu a cabeça. — Você podia tentar dormir um pouco ou comer alguma coisa que não venha de um odre. Sua perna está longe de estar curada e você não vai fazer à moça nenhum bem se cair e morrer. Estou começando a pensar que Helen estava certa. Nós devíamos ter mantido você preso.
Mesmo sabendo que ele falava a verdade, Ewen não estava nem aí. Ele passou sua vida inteira tentando evitar ser comparado ao seu pai, e agora era tão maluco e desequilibrado quanto o Selvagem Fynlay já fora.
— A menos que você queira colocar uma túnica e ter eu te chamando de Madre, meus hábitos de comer e dormir não são da sua conta. Não tenho tempo para isto!
MacLean assumiu que ele estava se referindo à chegada do rei para Selkirk para a conferência de paz.
— Nós teremos ido por alguns dias. As negociações não durarão muito tempo. Bruce exigirá ser reconhecido como rei, os lacaios de Edward recusarão e estaremos a caminho novamente. Se até lá a moça não tiver retornado, podemos tentar novamente.
Apesar da conferência ser mantida sob a sagrada bandeira da trégua, o Comandante queria que eles servissem como parte da escolta. Eles deveriam sair amanhã para alcançar os outros antes deles alcançarem Selkirk.
A boca de Ewen caiu em uma linha fina, mas não disse nada. Não explicaria que não estava indo para Selkirk e que não fazia mais parte da Guarda das Highlands.
Sutherland veio e deu a volta para ficar ao lado de seu cunhado. Deu a Ewen um olhar duro.
— Por que tenho a sensação que tem alguma coisa que você não está nos contando? O que exatamente fez você e o rei discutirem?
A conversa com o rei foi exatamente como Ewen tinha esperado que fosse. Uma vez que todo mundo deixou o quarto, ele explicou o que tinha acontecido. Bruce teria colocado uma lâmina em sua barriga — ou talvez uma área ligeiramente mais baixa — se Ewen não tivesse estado deitado, desarmado e fraco da febre. Em vez disso, seus piores medos tinham se realizado. O rei o despojou de sua terra, sua recompensa e seu lugar na Guarda, e teria tomado sua liberdade também se Ewen não o tivesse convencido a deixá-lo encontrar Janet para assegurar que ela não estava em perigo.
E levou algum tempo convencendo. O rei esteve inclinado a concordar com o julgamento de Janet: se ela pensou que era importante, ele não queria fazer nada para colocar em perigo o informante ou a informação que seu contato poderia passar. Não importa quanto Ewen o pressionasse, o rei não descobriria a identidade do informante — exceto dizer que era alguém em Roxburgh altamente conectado aos tenentes de Edward. Quem pensaria que Ewen trazendo a inteligência recente, habilitando a Guarda das Highlands, saberia exatamente onde atacar?
Ewen esteve atônito. Janet era responsável por isto? Ele subestimou sua importância e sabia disso. Ele lhe devia uma desculpa — uma de muitas — se ela pelo menos o escutasse novamente.
Mas descobrir exatamente quão envolvida nisso Janet estava só intensificava sua preocupação. Inferno, não era preocupação, era um medo entorpecente, de gelar o sangue e os ossos. As apostas seriam ainda maiores se os ingleses descobrissem seu papel.
Ele tinha tanta fé nela quanto Bruce, mas a fé de Ewen estava cega por algo que o rei não estava. Não foi até que Ewen perdeu tudo que pôde ver claramente o que dever e lealdade o impediram de reconhecer. A emoção queimando seu peito e despedaçando suas entranhas só podia ser uma coisa. Nada mais podia atingir este tipo de medo e miséria. Ele a amava. E ele tomou seu amor e o jogou de volta na cara dela.
Você terá a mim.
As palavras dela o comeram. Como ele pôde ter pensado que não seria suficiente? Ela era tudo. Sem ela, nada mais importava.
Pela primeira vez na sua vida, Ewen podia ver seu pai não com constrangimento, vergonha ou raiva, mas com admiração. Por ele ter feito o que Ewen não fez: Finlay teve a coragem de arriscar tudo e lutar pela mulher que amava.
E agora a mulher que Ewen amava estava Deus sabia onde, fazendo Deus sabia o que, porque ele foi tolo demais para fazer o que precisasse fazer para mantê-la. Quando pensava sobre como deu as costas depois de fazer amor com ela, como disse a ela que estava levando-a de volta e a entregaria a outro homem…
Não é de se espantar que ela fugisse. Ele passaria o resto de sua vida consertando isto, se ela deixasse.
Mas e se não tivesse a chance de explicar? E se algo acontecesse a ela e não pudesse dizer a ela o quanto a amava?
Ele tinha que encontrá-la, maldição. Ele rasgaria aos pedaços cada convento em ambos os lados da fronteira se tivesse que fazê-lo.
O perigo tinha finalmente feito Bruce ceder — mas só até certo ponto. Por isso, o papel de Ewen como observador. Quanto ao resto, a Guarda iria descobrir em breve.
— Isto é entre Bruce e eu. — Ele disse a Sutherland.
— Janet é minha irmã agora. — Disse Sutherland, seu temperamento notoriamente quente faiscando em seus olhos. — Se você fez alguma coisa para desonrá-la…
A boca do Ewen apertou. Sutherland teria que ficar na fila.
— Eu arruinei tudo, tudo bem. Mas estou tentando fazer isto direito. — Ele parou distraído, enquanto outra freira emergiu do priorado. Mas mesmo desta distância podia ver que o tipo físico não era certo. Precisava pelo menos chegar mais perto. Voltou-se para Sutherland impacientemente. — Não vou ter esta conversa agora. Assim que nós a encontrarmos, responderei a qualquer maldita pergunta que você queira. Agora, a menos que tente me deter, saia do meu caminho.
O desafio foi endereçado a todos os três homens bloqueando seu caminho. Eles olharam um para o outro e deviam ter reconhecido a determinação em seu olhar — ou talvez fosse o olhar selvagem, frenético, quase à beira da loucura que os convenceu.
MacLean balançou a cabeça e suspirou, dando um passo para o lado primeiro.
— É melhor você saber o que diabos está fazendo.
Ewen não sabia, mas tinha que fazer algo. Não podia ficar aqui e esperar outro minuto.
Seus olhos esquadrinharam a área diante dele enquanto se movia pelas árvores. O rio seguia para o lado leste do priorado. De lá ele teria uma visão mais próxima do pátio. Podia deixar sua armadura para trás e fingir ser um pescador...
De repente, ele parou. Seu olhar faiscou de volta para algo que ele tinha deixado passar mais cedo.
— O que é? — MacLean sussurrou, surgindo atrás dele.
— O rapaz. — Ewen disse. — Sentado nas pedras ao lado do rio.
— O que tem ele? — MacKay perguntou.
— Eu o vi antes. — Algo formigou na sua nuca. — A primeira vez que eu estive aqui e alguns dias atrás.
Sutherland franziu o cenho.
— O que é suspeito em um menino local pescando?
— Nada. — Ewen respondeu. — Se é isso que ele está fazendo. Mas olhe, sua linha não está na água, e sim na beirada do banco, e ele não está observando o peixe. — Ele estava vigiando a porta para o priorado, exatamente como Ewen estaria fazendo, embora bem menos evidente.
— O que você pensa que ele está fazendo? — MacLean perguntou.
— Eu não sei, mas pretendo descobrir.
Ewen continuou de olho na porta e no menino pelo resto da tarde. Toda vez que uma freira saía, o rapaz parecia estudar seu rosto tão atentamente quanto Ewen. Nenhuma vez o menino verificou a linha de pesca ao lado dele. Ou o rapaz era o pior pescador do mundo ou estava vigiando alguém. Mas quem?
Se fosse uma coincidência, era uma que deixava Ewen inquieto. Maldita inquietação. E não pensava que era coincidência.
Suas suspeitas foram confirmadas pouco tempo mais tarde, quando a porta do priorado fechou para a noite e o rapaz abandonou seu posto. Segui-lo foi fácil, mas a cada passo do caminho, o coração de Ewen acelerava mais um pouco.
O rapaz não estava indo para uma casa na vizinhança, estava indo para Roxburgh. Mais especificamente, estava indo para o castelo.
Ewen não precisou seguir o rapaz pelo portão do castelo. De seu ponto de vantagem no topo de uma colina perto, podia ver com clareza arrepiante diretamente no pátio. Antes mesmo que o menino abordasse o edifício, Ewen adivinhou para onde estava se dirigindo. Ah inferno, a capela!
Seu sangue ficou frio, recordando o confronto de Janet com o padre do castelo no mercado.
Se o padre tinha alguém vigiando o priorado, Ewen sabia o que isso significava. O monge encontrado na estrada para Berwick tinha falado antes deles o matarem. A identidade de Janet foi comprometida. Foi como os ingleses os seguiram tão facilmente do priorado umas semanas atrás.
Isso também significava que Ewen não era o único caçando-a, e se não a achasse primeiro, o perigo que ele temia se tornaria muito real.
Graças ao comerciante e sua esposa, Janet tinha uma maneira de fazer contato com sua fonte sem voltar para Rutherford, um lugar para ficar e uma nova identidade.
Seu véu e escapulário ficaram escondidos na bolsa. Em seu lugar, ela usava uma touca de linho e se tornou um membro do crescente número de homens de negócios e comerciantes que estavam fluindo para as cidades. Na sociedade altamente estruturada feudal, os comerciantes estavam em algum lugar abaixo da nobreza e acima do resto — diferente do clero. Como filha de um comerciante, ela aproveitava do mesmo tipo de liberdade que tinha como freira para caminhar por ali sem ser percebida.
Janet não sabia o que tinha feito o comerciante reclamá-la como filha, mas ele a salvou de uma situação que podia ter sido muito difícil e provavelmente ameaçara sua vida. Uma que ela podia muito bem não ter podido se livrar com conversa.
Mesmo com a reivindicação do comerciante, Sir Thomas estava suspeitando. Não foi até que a esposa do comerciante, Alice, avançou para brigar com ela por ficar olhando o bonito cavaleiro quando estava quase noiva de outro, e Janet rompeu em lágrimas, soluçando por que ela não queria se casar com um homem velho o suficiente para ser seu pai, que o escudeiro admitiu que ele podia estar errado, e Sir Thomas permitiu que eles partissem. Realmente, ele parecia querer escapar do drama de família e do olhar de Janet “me salve” o mais rápido possível.
Mas seu coração não parou de acelerar por dias, até bem depois que chegaram em segurança a Roxburgh. Ela agradeceu os Hendes pelo que fizeram e ficou aliviada quando eles não fizeram perguntas, mas simplesmente ofereceram a ela um lugar para ficar o tempo que precisasse.
Janet reembolsou sua generosidade com trabalho duro, ajudando-os a instalar sua loja no terreno mais baixo na Rua Alta, que também alojava uma loja de miudezas, negociante e ourives.
Em retrospecto, o enfrentamento com os soldados perto de Melrose provou ser um benefício inesperado. Isso deu a ela exatamente o que precisava: um modo de fazer contato com seu informante dentro do castelo, o que permitiu que ela evitasse lugares em que esteve antes. Ela levou as lições de Ewen a sério, não queria de nenhum modo conectar a Noviça Eleanor ou Irmã Genna a Kate, a filha do comerciante de lã.
No primeiro sábado de seu retorno, quando as damas do castelo passeavam pelas barracas do mercado, Janet estava pronta. Um rápido e acidental esbarrão, uma desculpa murmurada, e um olhar significativo fora toda a explicação necessária. Janet fez um ponto para caminhar lentamente de volta a loja dos Hendes, onde ela teve certeza que seu informante a veria entrar.
A culpa de Janet por qualquer perigo em potencial que ela pudesse ter posto os Hendes ficando com eles foi suavizada um pouco pelo sucesso imediato que o casal atraiu, depois que um número de homens e mulheres nobres do castelo entraram em sua loja e declararam sua lã a “melhor em Roxburgh”. Os Hendes estavam logo recebendo mais pedidos do que podiam dar conta, incluindo um dos próprios oficiais do Castelo Roxburgh, Sir Henry de Beaumont.
Em uma destas visitas, Janet deu um jeito de ter uma pequena conversa com sua informante enquanto mostrava a ela um tecido fino cor de rubi.
— Tem qualquer coisa que eu possa te ajudar, milady? — Ela perguntou, cuidadosa em manter suas palavras inócuas no caso de que estivessem sendo ouvidas.
A mulher sacudiu a cabeça.
— Temo que ainda não. Mas como tem muitas celebrações importantes por vir, estou certa de que pensarei em alguma razão para esta bela lã logo. — Ela sorriu. — Há muita excitação pelo castelo com o Natal chegando.
Janet traduziu a mensagem facilmente: nada ainda, mas algo grande estava definitivamente fermentando.
— Aye, milady. Até na aldeia, excitação está no ar. Devo estar no meu primeiro banquete de St. Drostan amanhã. Ouvi que é bastante celebrado.
— Aye, haverá um banquete no castelo também. — A dama disse.
Outra dama veio naquele ponto e as interrompeu. O grupo saiu logo em seguida, mas não antes de sua informante prometer que a veria no próximo sábado, dia de mercado, consequentemente daqui alguns dias.
Desapontada que ainda não houvesse nada para reportar e que sua curta estadia em Roxburgh se estenderia por pelo menos mais alguns dias, Janet fez o melhor que podia para se manter ocupada.
O trabalho duro manteve sua mente fora do seu coração partido e a conversa difícil que teria com Robert quando finalmente voltasse para as Highlands. Por mais que o prospecto de vestir um hábito novamente — desta vez de verdade — não fosse atraente para ela, um casamento arranjado era ainda menos.
Deus do Céu, Walter Stewart? Sangue nobre ou não, ela não se casaria com um rapaz que mal tinha idade suficiente para ter uma barbicha no queixo. Ela não podia suportar pensar em estar com ele… Intimamente.
Na maior parte do tempo, Janet tinha sucesso em manter sua mente fora da paixão que Ewen mostrou a ela no celeiro aquela noite — o modo que ele a fez sentir, o quanto foi incrível senti-lo dentro de seu corpo, a emoção avassaladora que a agarrou, — mas ficou lá.
Ela nunca compartilharia isso com outro homem. Sabia disso com cada fibra do seu ser e do fundo do seu coração sangrando, rasgado em pedacinhos e estraçalhado.
Contudo, aparentemente Janet não era uma perita em esconder sua aflição como ela pensava.
— O banquete fará bem a você. — Alice Hende insistiu depois de retornar da confusão do St. Drostan esta manhã. Ela olhou Janet de forma conhecedora. — Seja quem ele for, não vale a pena você trabalhar até a exaustão.
Conhecendo a astúcia da Alice, Janet não tentou negar. Mas também não queria falar sobre isto. Ainda estava muito crua.
— Você é amável, mas acho que é melhor se eu ficar para trás. Você e Mestre Walter vão e aproveitem a trupe de artistas. Você pode me contar tudo sobre isto.
Alice põe as mãos nos quadris largos.
— Não.
Janet piscou.
— Não?
— Aye, não. Você está indo para o banquete, se divertirá e pronto.
Atarracada e com rosto plano, a esposa do comerciante se assemelhava a cada babá com espinha de ferro que Janet já teve. Alice deu a luz a cinco filhas, todas já estabelecidas, e não havia uma desculpa ou explicação que já não tinha ouvido. Janet sabia que podia bajular ou pedir até o sol descer e nascer novamente, mas Alice Hende não ficaria balançada.
Uma emoção encheu seu peito. O que tinha na teimosia e dominação que se tornou tão cativante para ela?
Piscando para afastar as lágrimas, Janet acenou com a cabeça. Sabia quando perdia.
E na verdade, mais tarde aquela noite, ficou agradecida pela insistência de Alice Hende. Pela primeira vez em dias — semanas? — Janet riu, e pela primeira vez em anos, ela dançou.
A rua alta estava esfuziante em bom humor e luz da fogueira. Um palco tinha sido montado para a apresentação dos artistas, grandes mesas de cavalete estavam carregadas com comida e bebida, e músicos foram organizados para providenciar as danças.
Alice insistiu que Janet usasse a túnica de acabamento fino que Mary deu a ela, e a mulher mais velha arrumou seu cabelo em uma toquinha bordada que deixou uma cascata de cachos dourados caindo por suas costas.
Janet não sentia falta de parceiros, e rodando ao redor da fogueira, suas bochechas quentes e pulmões ofegando por ar, sentiu-se como uma menina novamente. Bonita e viva e, por um momento, despreocupada.
Não percebeu quanta atenção estava atraindo.
Ela escapuliu para longe por um momento na taverna para usar de privacidade — que era não mais do que um buraco na parede com um assento de madeira acima da fossa — quando uma figura encapuzada deu um passo no seu caminho quando ela saiu do prédio.
Seu coração parou. Mas levou apenas alguns segundos para reconhecer a figura esbelta e encapuzada na luz da tocha. Céus, era sua informante!
Janet imediatamente olhou de relance, procurando por um lugar para escapar da multidão, e se arremessou dentro na estreita passagem que corria ao lado da taverna. Era mais escuro lá e haveria menos chance de alguém vê-las.
Seu coração estava martelando, sabendo que devia ser algo importante para trazer sua informante aqui desse jeito.
— Temi que eu não pudesse achar você. — A dama disse. — Mas então eu vi você dançando. — A luz da tocha não se estendia para dentro da passagem, e seu rosto estava escondido na sombra escura do capuz coberto, mas Janet podia dizer pela sua voz que ela estava sorrindo. — Confesso que não reconheci você a princípio. A bonita e sorridente filha do comerciante está bem longe de uma freira italiana.
Janet estava contente que a outra mulher não podia ver seu rubor.
— Você assumiu um grande risco em vir aqui.
— Eu precisei. Isto não pode esperar. — Ela estendeu um pedaço dobrado de pergaminho para Janet, que Janet depressa deslizou na bolsa em sua cintura. — Você deve levar isto para ele a toda velocidade. Pode já ser tarde demais. As conversas são estabelecidas para depois de amanhã. Você deve achá-lo antes dele chegar a Selkirk amanhã.
Janet era só uma mensageira. Ela não era normalmente privada de informações, então sabia que devia ser sério para a mulher estar dizendo isso a ela.
— Selkirk?
— Aye, para as negociações de paz. — A mulher tomou o braço da Janet e a puxou mais perto. Janet podia ver o pânico cintilando em seus grandes olhos. — É uma armadilha. Os ingleses querem tomar Bruce.
Ela não estava aqui. Maldição, ele estava tão certo que ela estaria.
Tenho que voltar no Dia de St. Drostan, ela disse.
Então onde diabos ela estava? Não no priorado. Nem no hospital, de fato. Ewen deixou Sutherland vigiar o priorado e seguiu o grupo de freiras que caminhavam para o hospital depois das orações matutinas. Ordens ou não, seu papel como observador terminou ontem à noite no momento em que percebeu que o padre a estava vigiando. Posando como viajante na estrada, ele examinou cada pessoa naquele hospital: leproso, freira, viajante, o doente ou fraco — até o grupo de damas do castelo que chegaram para dar esmola no dia santo.
Mas ela não estava ali.
Ele estava ficando sem tempo. Ficando sem ideias. Nunca se sentiu tão impotente, nunca esteve tão perdido. Na única vez em que realmente precisou encontrar alguém, suas habilidades falharam.
Pior, não podia escapar da sensação que ele de alguma maneira devia saber. Como não percebeu que alguém estava observando-a? Devia ter percebido que os soldados de Douglas não podiam tê-los rastreado tão rápido. Culpou-a por descuido quando ele mesmo perdeu os sinais.
Era depois do escurecer quando deixou o hospital para se reunir com Sutherland no priorado. MacLean e MacKay partiram tarde na noite anterior, depois de atender alguns negócios na floresta e não sem alguma discussão.
— O rei não vai gostar disto. — Disse MacLean. — Ele ordenou que todos nós voltássemos amanhã. Você nem mesmo sabe se ela está aqui. Pode voltar amanhã à noite se cavalgar duro.
A boca do Ewen apertou. Desejou muito que ela não estivesse aqui, que estivesse em algum lugar seguro e longe. Mas conhecia Janet. Se ela pensasse que era importante, nada a manteria longe.
— Ela está aqui. — Disse de modo plano. — Não estou nem aí para ordens. — Seu companheiro ergueu a sobrancelha ao ouvir isso, mas Ewen o ignorou. — Vocês três vão e retornem quando puderem. Não vou deixá-la.
MacKay pareceu cético.
— Tem certeza que sabe o que está fazendo? Se estiver errado, o rei não vai ficar feliz.
O rei não estava feliz agora. E Ewen não estava errado.
— Você deixaria sua esposa?
MacKay não disse nada.
— Em um segundo. — MacLean disse de modo plano.
Ewen lançou a ele um olhar enojado.
— Bem, não vou deixá-la.
Nenhum dos homens declarou o óbvio: ela não era sua esposa e provavelmente nunca seria.
No fim, foi MacKay e MacLean que partiram para se juntar aos outros e relatar para o rei o que aconteceu. Sutherland insistiu em ficar com Ewen.
— Se eu partir e algo acontecer com ela, minha esposa nunca vai me perdoar. Acho que vou me arriscar com Bruce.
Conhecendo Mary, era provavelmente uma sábia decisão. Mas Ewen estava contente pela espada extra — e o par de olhos extra.
Ele assobiou para avisar Sutherland que se aproximava. O mais novo membro da Guarda das Highlands, o homem que podia preencher quase qualquer lugar e assumia o trabalho perigoso de trabalhar com o pó negro depois da morte de um de seus irmãos, respondeu com um assobio antes de saltar de uma árvore à frente dele.
— Alguma coisa? — Ewen perguntou.
— Não. A prioresa trancou cerca de uma hora atrás. Assumo pelo seu tom que você também não teve muita sorte.
Ewen balançou a cabeça sombriamente.
— O rapaz mostrou seu rosto?
Um flash de branco apareceu no luar enquanto Sutherland sorria.
— Depois de ontem à noite? Não acho que ele andaria dentro de uma milha deste lugar, mesmo se você não o estivesse pagando para ficar longe. — Ele riu. — Não percebi que tínhamos tantos admiradores nas fileiras dos espiões ingleses.
— O rapaz não sabia que diabos estava fazendo.
Na noite passada, antes de MacKay e MacLean partirem, eles esperaram que o rapaz deixasse o castelo, seguiram e o cercaram na floresta. Tinha vezes que sua reputação de fantasma vinha em bom uso. O rapaz, provavelmente de dezesseis ou dezessete, inicialmente ficou apavorado. Ele soltou o que estava fazendo para o padre quase antes deles terminarem de fazer a pergunta. Por mais de um mês ele ganhou um centavo por dia para vigiar a nova freira no priorado e relatar para o padre imediatamente se ela fosse a qualquer lugar ou fizesse qualquer coisa. O menino não entendeu por que ainda estava vigiando o lugar quando a freira partiu com um homem uma quinzena mais cedo, mas estava contente em coletar seu dinheiro pelo tempo que o padre quisesse pagar.
Ele ficou atônito ao saber que ele estava espionando para os ingleses.
— Não sou um traidor. — Ele insistiu. — Eu sou um escocês.
O rapaz esteve tão ofendido, tão envergonhado, que Sutherland estava certo, Ewen provavelmente não precisava pagar a ele. Mas achou que era melhor assegurar que o rapaz não tivesse segundos pensamentos.
Eles o instruíram a se ausentar do priorado, mas continuar relatando ao padre todas as noites como antes. Posteriormente era para ele encontrá-los e seria pago um xelim — mais do que sua família provavelmente ganhava em uma semana.
Uma vez que estava claro que eles não queriam lhe fazer qualquer dano, o rapaz agiu como se estivesse na presença de semideuses, polvilhando-os com perguntas até que foram forçados a mandá-lo embora.
Vocês realmente podem aparecer da névoa?
Suas espadas realmente vêm de Valhalla?
Vocês têm cabeças debaixo das máscaras ou seus olhos de demônio brilham do vazio?
Para onde vocês vão quando desaparecem?
— Quem sabe talvez devêssemos encontrar um novo recruta? — Sutherland disse.
Ewen teria rido se não estivesse pensando que estariam precisando de um logo.
— Você nunca sabe.
— E aí?
— Voltamos para Roxburgh e esperamos pelo rapaz reportar de volta para nós.
— E então?
Ewen desejou muito que ele soubesse. Estava fora da vantagem. Não percebeu quanto havia fixado suas esperanças no dia de hoje. Mas uma coisa era certa: não ia desistir até que a encontrasse.
Janet olhou fixamente para sua informante em atordoada descrença. Os ingleses queriam capturar Robert em Selkirk sob a proteção de uma negociação de paz? Desafiava cada noção de honra. Era uma violação de um código entre soldados em guerra — por uma longa tradição, negociações eram terreno sagrado sob a cobertura de uma trégua.
— Você tem certeza?
— Eu não arriscaria isto se não tivesse. Está tudo aí. — Sua informante disse, referindo-se ao pergaminho. — Fui somente sortuda que achei isso mais cedo hoje à noite. O banquete do dia da celebração tornou possível que eu escapasse sorrateiramente do castelo. Mas devo retornar antes de alguém notar que saí. Você pode levar isto para ele a tempo?
A mente de Janet já estava correndo com tudo que tinha para fazer. Ela se prepararia para partir imediatamente, ficando apenas tempo suficiente para dizer adeus aos Hendes, juntar seus pertences, e com um pouco de sorte conseguir um cavalo. O banquete ajudaria nesse sentido.
— Posso.
As palavras mal deixaram sua boca antes delas ouvirem passos e o som de vozes.
— Onde ela foi? — Um homem disse furiosamente.
Janet sentiu um flash de alarme, mas disse a si mesma que não era nada. Provavelmente seu próximo parceiro de dança procurando por ela.
Os olhos das duas mulheres se encontraram na escuridão.
— Vá. — Disse Janet. — Alguém está vindo.
A mulher assentiu.
— Boa viagem. — Ela sussurrou, e para surpresa de Janet, ela se inclinou para lhe dar um rápido abraço antes de virar e ir.
Mas a mulher mal deu alguns passos quando o desastre atingiu.
— Lá! — Um homem gritou. — Atrás dela! Não a deixe escapar.
Um homem veio correndo em direção a elas — um homem grande. Janet não teve tempo para pensar. Agiu por instinto, e seu primeiro era proteger a outra mulher. Bem quando o homem começou a correr passando por ela, entrou em seu caminho.
Sua intenção era fazê-lo tropeçar e dar um passo fora do caminho, mas isso não funcionou do modo que ela planejou. Sua saia embolou no seu pé e ele foi capaz de agarrá-la. Eles atingiram o chão juntos.
O golpe chacoalhou o ar de seus pulmões, mas ela se recuperou rápido e imediatamente se levantou. Infelizmente, o grande imbecil também. Ele era muito mais alto que Ewen, embora não cheirasse tão bem. Este homem fedia como se trabalhasse com porcos o dia todo.
Ela teria se contorcido para longe, mas as mãos dele eram como grandes e maciços grilhões.
— O que significa isto? Tire suas mãos de mim!
Surpreendentemente, ele fez. A autoridade de seu tom deve ter surpreendido o homem. Ele era grande e volumoso, com um rosto plano de camponês, feições bruscas e um pescoço que parecia triturado em seus ombros. Se fosse possível parecer estúpido, ele fez um bom trabalho.
Janet relaxou um pouco. Sair disto conversando não devia ser muito difícil.
— Como se atreve a me atacar assim! Olhe o que você fez. — Ela levantou a saia. — Você rasgou meu vestido. Percebe o quanto isto custa? Pode ter certeza que vou mandar a conta para você pagar pelo conserto.
Ele recuou um passo ou dois e ela tentou não rir.
— Eu não queria...
Ela não o deixou terminar, mantendo-o na defensiva.
— Você faz de seus negócios abordar mulheres inocentes em becos escuros?
— Não, fui informado que… Ele me disse...
Ele olhou em direção à rua e Janet deu uma olhada de relance no homem que estava se aproximando. Foi ele quem emitiu a ordem.
Ele estava mais ou menos a seis metros de distância e olhando direto para ela.
— Então é você. — Ele disse. — Pensei, mas não estava certo. Está bem longe da Itália, Irmã Genna.
O sangue drenou de seu rosto. Oh Deus, o padre do mercado! Ela não sairia dessa conversando.
Mas havia uma coisa que ela podia fazer. Antes do grande imbecil recolher seu juízo e agarrá-la novamente, ela correu.
CAPÍTULO 24
— Atrás dela! — O padre gritou. — Guardas! Não a deixem escapar.
Janet derrubou o imbecil tão rápido quanto suas pernas a carregaram.
Uma olhada por cima do ombro mandou sua pulsação saltando pela garganta. Figuras estavam sombreadas na boca do beco atrás dela. Uma meia dúzia de soldados, talvez mais. Eles estavam mais perto do que ela percebeu.
Ela tomou algum conforto no conhecimento que sua fonte provavelmente conseguiu escapar, mas isso foi atenuado pela realização do que estava em jogo. Se não saísse daqui, se não chegasse a Bruce a tempo, tudo podia estar acabado.
Sabendo que tinha somente alguns minutos para sair da aldeia antes deles bloquearem as estradas, dobrou a primeira esquina e mergulhou em outro beco escuro.
Podia ouvi-los perseguindo-a, mas não pensou sobre isto. Seus pulmões estavam estourando e suas pernas estavam enfraquecendo, mas não diminuiu a velocidade. Manteve a mente focada em sair da aldeia. Se pudesse fazer isto para a floresta, teria uma chance.
Mas eles estavam se espalhando atrás dela. Aproximando-se.
Ela precisava de um cavalo. Mas isso teria que esperar. Se pudesse apenas fazer isto para Rutherford, seria capaz de achar algo.
E talvez…
Seu coração apertou e não foi pela falta de ar nos pulmões. Ela não tinha nenhuma razão para pensar que ele estaria ali, mas se Ewen tivesse vindo atrás dela, Rutherford seria sua melhor chance de encontrá-lo. Eu vou encontrar você. As palavras dele de quando eles estavam sendo caçados voltaram para ela.
— Ela está indo para a floresta!
Seu estômago caiu no chão ouvindo cavalo e cavaleiro se aproximarem atrás dela.
Mas ela estava quase ali. Um momento mais tarde ela mergulhou em pesada escuridão. Isso a engoliu como uma tumba. Uma em sentido figurativo, ela esperava.
Experimentou uma nova explosão de energia com o conhecimento que as árvores diminuiriam a velocidade dos cavalos e os fariam correr por entre arbustos e samambaias, empurrando galhos fora do caminho quando ela podia vê-los, não notando os arranhões que rasgavam sua pele quando não podia.
Os sons atrás dela começaram a sumir. Manteve-se indo na mesma direção, rezando para que fosse a certa, mas a escuridão e árvores levaram seu senso de direção.
Após outro punhado de minutos, ela teve que parar. Curvando-se, ela engoliu ar como uma pessoa faminta. Podia ser capaz de caminhar por dias, mas correndo a toda velocidade por vinte minutos minou-a de cada pingo de energia.
Ainda tinha que continuar.
Mais lento agora, mas ainda correndo, ela trançou passando através das árvores. Por favor, deixe ser a direção certa.
Por tantas razões, ela desejou que tivesse Ewen com ela. Ele não se perderia, o que era mais do que ela podia dizer de si mesma. Com as nuvens, não havia nem estrelas para guiá-la. Estava indo pelo instinto agora, procurando por qualquer sinal de algo familiar. Era menos de oito quilômetros entre Roxburgh e Rutherford, com floresta entre elas na maior parte do caminho. A estrada era ao norte de onde esperava que estivesse.
Os sons se foram agora. Mas não se permitiu relaxar, sabendo que a floresta podia absorver som tão eficazmente quanto fazia com a luz.
Foi por isso que ela não o ouviu até que fosse tarde demais.
Um homem a agarrou por trás, prendendo seus braços ao lado com seu braço grande revestido de aço. Uma manopla de couro bateu em cima da sua boca antes que ela pudesse gritar. Seus pés chutaram de modo selvagem, mas inúteis no ar.
— Eu a peguei! — Ele berrou.
Algo não estava certo. A inquietação do Ewen começou a aumentar cerca de uma hora atrás. O rapaz estava atrasado.
— Ele devia estar aqui agora. — Ele disse.
— Talvez tenha sido atrasado pelos banquetes? — Sutherland sugeriu. — Parece ser uma grande celebração, se esses fogos são qualquer indicação.
De seu ponto de vantagem na colina, eles podiam ver o portão principal e dentro do pátio do castelo. O castelo de Roxburgh assentava na ponta de uma pequena península de terra na conjuntura dos rios Tweed e Teviot. A aldeia ficava atrás e sua maior parte estava bloqueada da vista, mas eles podiam ver o rugido dos fogos.
Nesta hora da noite, o portão para o castelo normalmente estaria fechado, mas devido ao banquete, as pessoas ainda estavam fluindo livremente dentro e fora.
— Vou entrar lá. — Ewen disse.
— Você está louco? O castelo de Roxburgh é um dos castelos mais fortemente defendidos nas fronteiras. Existem pelo menos quinhentos soldados ingleses guarnecidos ali nesse instante esperando retomar a guerra, onde um dos seus maiores objetivos é matar os membros do afamado exército secreto de Bruce. E você vai simplesmente caminhar direito para lá sem um plano e espera que eles não te notem?
Ewen cerrou os dentes.
— Aye. Estou certo como o inferno que não vou me manter de pé aqui. Com o banquete, isto pode ser minha melhor chance de entrar lá. E tenho um plano. Aliviarei um dos homens armados celebrando na aldeia de seu traje.
— Isso é um plano? É um maldito suicídio, isso que é.
— Se o contato dela está no castelo, Janet pode estar lá agora mesmo. O banquete seria uma oportunidade perfeita.
— Isto é um inferno de muito risco para uma possibilidade.
— Possibilidades são tudo que tenho agora. A menos que você tenha uma ideia melhor. — Ele desafiou furiosamente.
A mandíbula do Sutherland se tornou uma linha dura. Ele o encarou por um longo momento.
— Eu irei com você.
Ewen balançou a cabeça.
— Preciso de você aqui fora. Se algo der errado, posso precisar que você use aquele seu pó para uma distração.
Sutherland praguejou.
— Com toda maldita certeza queria que Viper estivesse aqui.
Ewen não podia discordar. Lachlan MacRuairi tinha uma habilidade única de entrar e sair de quase qualquer lugar. Mas agora Ewen estaria agradecido por qualquer um dos seus irmãos — ou ex-irmãos. Se alguma coisa acontecesse, duas espadas contra quinhentas não eram exatamente chances encorajadoras.
Maldição, era difícil acreditar que ele não seria uma parte disso mais. Lutar nesta equipe foi a maior coisa que ele já fez. E estes homens…
Eles eram os amigos mais próximos que ele já teve. Eram como irmãos para ele. Deixar isso tudo para trás seria mais duro do que ele queria pensar.
Ele e Sutherland tinham acabado de terminar os detalhes — não existiam muitos — de seu plano quando Sutherland pegou um movimento vindo do lado da colina.
— Tanto para ser discreto. — Sutherland disse ironicamente. — O rapaz não está exatamente tentando esconder sua ânsia de chegar aqui.
O pulso do Ewen acelerou enquanto o rapaz se aproximava suficiente para ele decifrar sua expressão.
— Não é somente ânsia, algo está errado.
Os olhos do rapaz estavam arregalados quando ele subiu cambaleando a extremidade da colina.
— Desculpe… Atrasado… Senhora… — ele ofegou e arfou entre grandes golpes de ar.
Ewen o agarrou pelos ombros e o forçou a se endireitar ante a menção de “senhora”.
— O que tem a senhora? Você a viu?
Os olhos do rapaz ficaram tão arregalados que Ewen pensou que eles estalariam para fora. Ele estava formando palavras, mas nenhum som estava saindo.
— Acalme-se. — Sutherland disse ao lado do Ewen. — Você o está assustando.
Ah inferno. Ewen o soltou e tentou moderar seu tom quando sentiu como se rugindo em voz altíssima.
— O que aconteceu?
O rapaz olhou para ele cautelosamente, ainda tentando pegar o fôlego. Finalmente articulou as palavras que enviaram cada gota de sangue correndo do corpo do Ewen.
— O p-padre… Ele achou a senhora.
Janet lutou com tudo que tinha, mas o soldado parecia mal notar enquanto a arrastava pela floresta. A estrada estava mais perto do que ela percebeu. Depois de mais ou menos cinquenta jardas, eles saíram das árvores e ele a empurrou adiante com força suficiente para colocá-la de joelhos. Ela olhou para cima e se viu rodeada por homens a cavalo. Além do padre e do imbecil que a pegou antes, ela contou meia dúzia de soldados.
Mas nenhum pareceu mais perigoso que o padre. Não havia nada de religioso no olhar ameaçador fixo nela.
— Teve uma agradável corrida, minha querida?
Janet sentiu uma pontada de pânico, mas forçou-a de lado. Tinha que pensar. Não desistiria sem lutar. Um punhado de explicações diferentes passou pela sua cabeça, mas não tinha tempo para pesar todas elas. Foi com a primeira coisa que veio à sua mente: fingir que não sabia quem ele era.
— Você é um padre? — Ela disse se levantando. — Graças a Deus! Pensei que você estava com este homem que estava me abordando. — Ela apontou para o imbecil.
O padre balançou a cabeça com um som de tsc.
— Você pode esquecer o fingimento, minha querida. Eu sei quem você é. Seu amigo, o monge, foi mais comunicativo, com um pouco de persuasão, claro.
O sorrisinho enviou calafrios percorrendo sua espinha cima a baixo. Pobre Thom.
— Eu conheço sua transformação da freira italiana para noviça Eleanor. Suspeitei que você estava ajudando o rei usurpador a passar mensagens, mas imagine minha surpresa e prazer quando nos levou direto a seu exército secreto. Estou mais interessado em saber os nomes dos homens com quem você esteve viajando.
— Não sei sobre o que você está falando. — Ela persistiu. — Você deve ter me confundido com outra pessoa.
Os olhos dele estreitaram. Os soldados moveram seus cavalos mais perto ao redor dela, e ela teve que lutar com o desejo opressivo de não tentar se arremessar entre eles e correr. O instinto de fugir do perigo se aproximando era primitivo.
— Você acha que remover um véu e colocar um vestido bonito vai me enganar? — O padre exigiu. — Levei um momento quando vi você dançando, mas não esqueço um rosto. Especialmente um tão bonito quanto o seu. É uma vergonha. Tanta beleza se perdendo.
Janet não gostou do som disto. Ela não sabia o que dizer. Sua língua pareceu embolar na sua boca. Ele não era o cavaleiro ou o escudeiro, e ela não tinha o comerciante e sua esposa para ajudá-la. Não tinha ninguém para ajudar. Deus, o que ela não faria por Ewen e seus amigos agora.
Tudo que tinha era sua genialidade — que parecia estar falhando com ela agora — e seu punhal. Teria que esperar pela hora certa para tentar escapar, o que com todos estes homens a rodeando, claramente não seria agora.
Ela tentou sua sorte com os soldados.
— Parece existir algum mal-entendido. — Ela disse para um deles. — Talvez fosse melhor se nós voltássemos para a cidade...
O padre não a deixou terminar.
— Não existe nenhum mal-entendido. O que você estava fazendo com a mulher no beco? E quem é ela?
— Mulher? — Janet repetiu, como se confusa. — Oh, você quer dizer a mendiga?
— Você normalmente abraça mendigas? — O padre perguntou, um brilho astuto em seus olhos.
Janet amaldiçoou seu erro, ela esqueceu do abraço.
— Eu mesma fiquei surpresa, Padre. Mas ela estava mais do que agradecida pela moeda que eu dei a ela.
— Acho que não, Genna ou Eleanor ou qualquer que seja o nome que você está usando agora. Mas não é sua identidade que me preocupa. — Obviamente o monge morto não teve conhecimento do seu nome real ou ela suspeitava que o padre estaria muito interessado. — Nós suspeitamos que alguém esteve vazando informações do castelo, e você vai nos dizer quem é, mas o importante primeiro. — Janet não gostou do sorrisinho no rosto dele quando virou para o soldado que a capturou. — Reviste-a.
As palavras dele enviaram um arrepio por sua espinha. Ela sabia que não levaria muito tempo para acharem o pergaminho na bolsa em sua cintura. E se eles achassem…
Não queria pensar sobre isto. Não era apenas sua vida em jogo, mas também a de sua informante, a do rei e o futuro da Escócia propriamente dito. Se Bruce fosse capturado agora a causa estaria perdida. Quem mais seria valente suficiente para se levantar contra o reino mais poderoso da cristandade? O rei Edward colocaria outra marionete no trono ou ele mesmo o tomaria.
Não podia deixá-los encontrar o pergaminho, tinha que escapar.
O tempo para conversa acabou. Ela agarrou seu punhal, mas não foi rápida o suficiente. O soldado agarrou seus braços em um aperto esmagador e rodou-a para encará-lo.
— Solte-me! — Ela conseguiu livrar uma de suas mãos e atacou o rosto dele. Uma de suas unhas pegou na bochecha dele, mas isso só o deixou com mais raiva.
Na luz da tocha ela conseguiu olhá-lo pela primeira vez e quase desejou a escuridão. Ele não era excepcionalmente alto como o homem que a pegou no beco, mas o que lhe faltava em altura, sobrava em largura e tamanho. Ele era largo como um carvalho, troncudo e forte. Embaixo da beirada do seu elmo, tudo que podia ver era um nariz espremido e torto que parecia que tinha sido curado na mesma posição em que foi esmurrado. Uma barba espessa e escura que cobria a metade inferior de seu rosto e uma boa porção do seu pescoço também, e olhos escuros penetrantes que estavam olhando fixamente para ela com raiva.
— Cadela! — Ele pegou o pulso dela em sua mão e apertou com tanta força que ela pensou que ele queria estalar o osso. Ele a soltou tempo suficiente para bater o punho na mandíbula dela.
Sua cabeça estalou para trás, e ela gritou de dor e do choque de ser golpeada. Ele bateu nela novamente, desta vez com as costas da mão na sua bochecha. O sangue escorreu por seu rosto enquanto lágrimas derramaram de seus olhos. Mas mesmo assim ela lutou de volta. Chutou selvagemente — instintivamente, — mas ele bloqueou seus golpes com facilidade. Atingiu-a repetidamente, batendo até sua submissão. Sua mandíbula… Sua bochecha… O lado de suas costelas. Sua cabeça nadou, a dor era avassaladora. Levou tudo que tinha só para ficar de pé.
— Já chega. — Um dos outros soldados disse, desgosto evidente em sua voz. Aparentemente nem todos os soldados eram brutos que gostavam de bater em mulheres. — Vamos ver se ela tem algo primeiro.
O soldado bruto a girou novamente, segurando seus dois pulsos em uma mão como um torno, enquanto o outro apalpava rudemente seu corpo com óbvio deleite.
— A bolsa. — O padre disse impacientemente. — Dê-me a bolsa.
Ela gritou e fez um último esforço frenético para proteger a missiva, mas ele estalou o cinto de couro de sua cintura e o lançou para o padre.
Através das lágrimas e sangue que borrou sua visão, ela viu quando o padre removeu o pergaminho da bolsa de couro. Um brilho de vitória apareceu em seu olhar enquanto um dos homens segurava uma tocha acima de sua cabeça para ele ler.
Ele voltou a dobrar a maldita evidência e a deslizou em suas vestes.
— Vejo que eu estava certo sobre você e a dama. Acho que com isto Lorde de Beaumont deve ser capaz de definir a fonte de seu vazamento. Embora não será metade da diversão que seria se Randolph estivesse aqui para retirar as informações de você. É um talento particular dele.
Entorpecida com a dor de seu espancamento, seu corpo contundido e machucado ainda conseguiu fica gelado. Tortura! Oh Deus, dê-me força. Embora soubesse do perigo desde o início — e sabia que algo assim podia acontecer — ela esperava nunca ter que enfrentar isto.
O padre deve ter lido o medo em seus olhos porque sorriu.
— Odeio privá-lo de sua diversão. — Ele olhou para Randolph. — Veja o que você pode descobrir. Se ela não te disser o que você perguntar, mate-a.
O coração de Janet pulou para sua garganta.
— Espere. Você não pode fazer isto. Você é um homem de Deus.
— E você é uma traidora. O homem que você chama de rei é um assassino e excomungado pelo papa. Deus não tem misericórdia de rebeldes.
Janet virou para o soldado que falou com ela antes.
— Por favor.
Mas ele deu as costas friamente, ignorando seu patético apelo. O cavalheirismo terminou com a descoberta da missiva.
Um momento mais tarde, o padre, seu assecla imbecil e os outros soldados estavam partindo, deixando-a com seu torturador e executor.
— Não leve muito tempo. — o padre disse por cima de seu ombro direito antes deles desaparecerem de vista.
O soldado bruto começou a arrastá-la de volta para dentro das árvores. O coração de Janet estava martelando contra suas costelas — suas costelas provavelmente quebradas — e cada instinto a urgia a usar o que restou de força para lutar de volta. Mas tinha que ser paciente e esperar pela oportunidade perfeita. Ela teria apenas uma chance de pegá-lo de surpresa. Então forçou a luta de seus músculos, tornando-os tão moles quanto uma marionete de trapos.
Quando eles alcançaram uma pequena clareira, ele a lançou sem cerimônia no chão. Ela olhou para ele assomando acima dela e tentou empurrar de volta o pânico rastejando subindo por sua garganta.
Seu estômago embrulhou.
Ele alcançou debaixo de sua cota de malha de mensageiro e começou a soltar as amarras de sua calça.
— Não se mova, sua cadela estúpida. Nunca fodi ninguém para me contar o que quero ouvir, mas nunca interroguei alguém tão bonita quanto você. Ou tão bonita quanto costumava ser. Seu rosto não parece muito bom agora. — Ele riu.
Janet tentou calar as palavras dele. Tentou não ouvir o que ele estava dizendo enquanto se concentrava na mão alcançando lentamente sua bota.
Só mais alguns centímetros…
Ela ofegou quando deu um passo acima dela. Ele teria esmagado suas pernas com o pé se ela não reagisse separando-as. Mas sem saber, espalhando suas pernas ele a ajudou. Sua mão achou seu objetivo.
Ela agarrou o cabo do seu punhal dentro da mão enquanto ele se ajoelhava no chão diante dela.
Tudo que podia ver na luz da lua era o frio cintilar de seu sorriso.
— Você não vai lutar comigo? É muito mais divertido desse modo.
Seu coração estava na garganta. Prendeu a respiração, esperando pelo momento perfeito.
Ele ergueu sua cota de malha. Os olhos de Janet foram para a protuberância massiva de carne, e ela estremeceu com nojo.
Ele viu sua reação.
— Aye, é impressionante, não é? — Ele abaixou os olhos e envolveu a mão ao redor de si mesmo, dando a isto um golpe duro.
Foi quando ela o atacou.
Deslizou a lâmina da bainha e mergulhou na sua perna.
Ele gritou de choque e dor. Seus olhos arregalaram e então as mãos dele rodearam seu pescoço, apertando…
Ela gritou até que ficou sem ar.
Ewen tomou o que o garoto disse a ele — que o padre viu por um momento a senhora na aldeia e enviou soldados para o castelo para prendê-la, mas a senhora foi embora antes dele poder pegá-la — e ser capaz de esconder sua trilha para o lugar em que os cavalos a perseguiram dentro da floresta.
Deixando o menino vigiar a estrada, ele e Sutherland seguiram a trilha pela floresta. Como estava escuro, ele não teve escolha a não ser usar uma tocha.
Ele foi para um lugar onde outro conjunto de rastros aparecia da estrada, e um frio úmido percorreu seu sangue. Alguns metros mais tarde seus temores foram confirmados: quem a seguiu conseguiu pegá-la. Ele mal tinha começado a seguir os rastros para onde o homem a arrastou, quando ouviu um som que parou seu coração: um grito de mulher.
Ele não hesitou. Mesmo depois que Sutherland deixou escapar um aviso para ter cuidado, ele mergulhou pelas árvores. O som foi perto. Tortuosamente perto. Rezou tanto quanto nunca rezou na sua vida. Por favor, deixe-me chegar ali a tempo. Não deixe ser tarde demais. Só mais alguns segundos…
Ele irrompeu na clareira com a espada erguida. Quando viu a pequena figura lutar para se levantar debaixo do corpo de um homem inclinado, tudo dentro dele pareceu parar subitamente.
Sua mão caiu.
— Janet?
Ela levantou o olhar e ele fez um som aflito. As emoções eram tão ferozes e intensas que cambaleou. Seu estômago se revoltou. Sentiu algo assim só uma vez antes, logo após sua primeira batalha, onde a visão de todo o sangue o deixou doente. Mas isso não era nada ante a visão da mulher que amava espancada e ensanguentada.
— Ewen? — Ela disse suavemente. — Você me achou.
Ela oscilou e ele se lançou adiante, pegando-a contra ele. O coração dele estava batendo tanto que ele nem pôde respirar. Embalou-a nele como um pássaro quebrado. O pensamento de quanto ele chegou perto de perdê-la deixou seus joelhos fracos.
— Oh, Deus, você está bem? O que aconteceu?
Ela enterrou a cabeça em seu tórax e se agarrou nele com força, segurando-o como um gatinho assustado. Mas um olhar para o corpo do homem aos seus pés disse a ele que seu gatinho tinha o coração de um leão. Ela foi espancada, mas não derrotada, e apesar das emoções apertando suas entranhas, ele sentiu seu peito inchar de orgulho.
Ele beijou a cabeça dela, saboreando a textura sedosa de seu cabelo e o cheiro de jacintos que o lembravam de casa. Ela era sua casa. Como ele pôde não saber disso?
— Está tudo bem agora. — Ele murmurou ternamente. — Estou com você. Tudo vai ficar bem. Prometo.
Sutherland surgiu atrás deles e praguejou, a luz da tocha possibilitando que ele visse seu rosto. Isso pareceu quebrar o transe que os envolveu.
Ela olhou para ele, seu rosto contundido e ensanguentado de repente intento.
— Vocês têm que pegá-los antes que alcancem o castelo.
— Quem? — Ele perguntou.
Antes que ela pudesse responder, o som de um assobio agudo perfurou a noite. Ele e Sutherland trocaram um olhar. Sutherland respondeu, e alguns momentos mais tarde eles tinham companhia.
Janet estava em estado de choque. Ainda podia sentir as mãos do homem apertando seu pescoço. Pensou que ele iria matá-la. Ele teria também, se sua lâmina não encontrasse o lugar perfeito. Antes que ele pudesse acabar com ela, desabou em cima dela, seu sangue ainda derramando de seu corpo.
Fora deste pesadelo, Ewen tinha aparecido como uma imagem de um sonho. Ela levou um momento para perceber que ele era real.
Ele a encontrou. Estava segurando-a e ela nunca queria soltá-lo.
Mas então se lembrou do padre. Eles tinham que encontrá-lo antes dele chegar ao castelo. A vida de sua informante estava em jogo.
Porém sua explicação foi interrompida pela chegada de mais três fantasmas de elmos. Sob circunstâncias normais ela poderia ter sentido um faiscar de apreensão, mesmo sabendo que eram amigos, mas Ewen a estava segurando.
— Nós ouvimos o grito. — Um dos homens disse a modo de explicação. Magnus, ela percebeu, reconhecendo sua voz.
Quando ela girou de sua posição apertada contra tórax do Ewen olhar para ele, o grande Highlander jurou.
Ela mordeu o lábio saboreando sangue, e percebeu que seu rosto devia parecer tão ruim quanto se sentia.
— O que aconteceu, moça? — Ele perguntou, sua voz mais gentil do que ela já ouviu.
Ela devia parecer realmente mal.
— Não tenho tempo para explicar. Tem um grupo de cinco soldados, um padre e outro homem voltando para o castelo. Vocês têm que pegá-los antes que eles cheguem. Eles têm uma missiva designada a Bruce. Uma nota que pode significar uma sentença de morte para alguém dentro do castelo.
Ela sentiu movimento de um dos homens ao lado de Magnus e instintivamente retrocedeu para a segurança do peito do Ewen. Até debaixo do elmo escurecido ele parecia mais cruel que o resto.
— Para trás, Viper. — Ewen disse por trás dela. — Que diabos há com você?
O guerreiro o ignorou, seus olhos fixos nela — os olhos mais estranhos que ela já vira.
— Quando eles partiram?
— Alguns minutos atrás. — Janet pensou bem. — Talvez cinco?
— Eu irei. — O homem que Ewen chamou de Viper disse.
Janet virou para Ewen.
— Você deve ir também. Tem que ter certeza que eles os encontrem e ninguém escape.
Ewen cerrou os dentes, parecendo tão maleável quanto uma parede de pedra.
— Não vou te deixar.
— Por favor. — Ela disse. — Você deve fazer isso por mim. Eu te imploro.
Os olhos dele buscaram os dela.
— Não me peça isto. Você está ferida. Jesus, Janet, você está coberta de sangue, e seu rosto… — Sua voz foi interrompida. O luar quase fez seus olhos parecerem brilhantes de lágrimas.
Ela se arrumou para dar um sorriso vacilante, porém isso doeu.
— Meu rosto vai curar e o sangue não é meu. — Pelo menos a maior parte não era. — Mas preciso achar Robert o mais cedo possível, e não posso fazer isso a menos que eu saiba que a pessoa dentro do castelo está a salvo.
— Viper vai cuidar disso. — Ewen disse. Mas ele deve ter lido alguma coisa no rosto dela. — Isto é importante para você?
Ela assentiu.
— O parlamento em Selkirk é uma armadilha. Os ingleses planejam romper a trégua.
Mais de um homem praguejou ao ouvir suas notícias.
— Você tem certeza? — Ewen perguntou. — O romper da paz em uma trégua está além inclusive do curso normal da deslealdade inglesa.
Ela acenou com a cabeça.
— Tenho certeza. A prova está naquela missiva.
O de aparência cruel com o nome apropriado de Viper interrompeu.
— Nós precisamos ir se esperarmos pegá-los antes deles chegarem. Não é longe do castelo.
Ainda assim, Ewen hesitou. Não queria deixá-la.
O coração dela apertou.
— Vai ficar tudo bem. — Ela disse suavemente. — Meu cunhado me manterá a salvo. Não é, Sir Kenneth?
O marido da Mary sorriu e avançou.
— Como eu faria com minha própria esposa, minha senhora.
Sir Kenneth estendeu a mão e Ewen relutantemente a liberou.
— Vou cobrar isso, Ice. — Ele disse ferozmente.
Ewen, Viper e um homem que ela reconheceu como MacLean começaram a se mover, mas Magnus os deteve.
— Bàs roimh Gèill. — A morte antes de se render, ela traduziu. — E Hunter. — Ewen virou para olhar para ele. — Volte depressa. Acho que tem uma coisa que você esqueceu de nos dizer.
A expressão de Ewen se tornou austera — Deus, como ela sentia falta disto! — E ele assentiu. Com um último olhar para ela que falava de coisas não ditas, os três homens montaram e partiram.
Egoisticamente, Janet quis chamá-lo de volta. Queria sua força ao redor dela. Queria enterrar sua cabeça no peito dele, enrolar em uma bola e deixá-lo fazer isso tudo ir embora.
Mas ambos tinham trabalho a fazer.
Quando isso estivesse acabado...
Pela primeira vez desde que o deixou aquela noite no estábulo, Janet teve esperança.
CAPÍTULO 25
Castelo de Dunstaffnage, Lorn, Highlands Escocesas
Véspera de Natal 1310
Janet se sentou no baú aos pés da cama. A criada tinha acabado de terminar de organizar seu cabelo em um anel de ouro quando ouviu uma batida na porta.
Mandou a pessoa entrar, e sua irmã gêmea, Mary, entrou no quarto. Seus olhos se encontraram. Mary balançou a cabeça em resposta à sua pergunta não dita e os ombros de Janet afundaram.
A estranha comunicação sem palavras que ela e sua irmã compartilharam quando crianças voltou horas após estarem juntas. Estar com sua irmã novamente…
Emoção inchou seu peito. Janet não percebeu quanta falta sentia de sua gêmea até Mary correr para dentro do quarto onde ela foi trazida na sua chegada para ser atendida por Lady Helen, Esposa de Magnus. Elas olharam uma para a outra e irromperam em lágrimas. Passou bastante tempo antes de Helen poder retomar seus cuidados no rosto, costelas e o osso quebrado no pulso de Janet.
Janet ainda não podia acreditar que sua irmã a perdoou. Realmente, se Mary fosse acreditar, ela nunca a culparia. Não percebeu quanto o perdão da sua irmã significava para ela. Sentiu como se um grande peso fosse levantado. Para surpresa de Janet, falar sobre o que aconteceu naquela noite — a explosão, as mortes de Cailin e dos membros do clã MacRuairi, o desaparecimento de Janet — fora estranhamente catártico. Ela choraria e lamentaria as mortes dessa noite pelo resto da sua vida, mas estava pronta para colocá-los para descansar.
Apesar de sua alegria em ver sua irmã, a balançada da cabeça da Mary fez seu peito apertar com desapontamento.
— Ainda não tem nenhum sinal dele?
Era menos uma pergunta que um apelo. Não muito depois de Janet interceptar o rei com sucesso apenas alguns quilômetros antes dele alcançar Selkirk, avisando-o da deslealdade que estava adiante, Viper — quem agora ela sabia era o nom de guerre para Lachlan MacRuairi — e Eoin MacLean os alcançaram. Sua missão foi um sucesso. Eles recuperaram a missiva para o rei e asseguraram a segurança de sua informante. Contudo, Ewen os deixou em Roxburgh rumo a um destino que ele não disse. Ele deu a eles uma mensagem para ela — que retornaria assim que possível, — mas depois de mais de uma semana Janet estava começando a perder a esperança.
Ela não entendia. Pensou que quando ele a encontrou na floresta, quando a segurou nos braços, quando olhou em seus olhos com tal emoção terna e pungente, que ele mudou de ideia. Que percebeu que gostava dela e tinha a intenção de lutar por eles.
Mas onde ele estava? Por que não veio até ela? Alguma coisa tinha acontecido?
Sabendo de sua perna e do quão perto ele chegou da morte a assombrava. Não podia acreditar que confundiu a febre dele com embriaguez e o deixou quando ele estava tão mal.
Mary balançou a cabeça novamente.
— Kenneth falou com o rei, mas ninguém sabe onde ele está. Nem mesmo Robert.
Janet fez uma cara e se encolheu, tendo esquecido seus ferimentos. Embora Helen tenha dito que ela curaria e nem se lembraria de sua provação além de algumas pequenas cicatrizes, os cortes e contusões ainda estavam sensíveis.
Mas Robert, o assunto que provocou sua reação, precisava ser lidado. Ela não tinha falado com ele desde que ela e os outros relataram as notícias da deslealdade inglesa. Ele ficou agradecido e furioso com o que aconteceu com ela, mas eles ainda discutiriam Ewen ou o futuro dela.
— Não posso acreditar que eles simplesmente o deixaram partir quando ele ainda estava se recuperando. — Disse Janet com as mãos se retorcendo nas saias. — E se ele está caído ali fora em algum lugar…
— Os homens disseram que ele estava bem. — Mary a assegurou. — E Bella não ficou muito contente com Lachlan também quando ela a descobriu. Mas Lachlan assinalou que não era uma “maldita babá” e Ewen insistiu.
— Ewen não disse a ninguém que o rei o chutou para fora da Guarda? — Ela perguntou.
Mary disse ao exército secreto do Bruce — ou os fantasmas, como ela os chamava — eram conhecidos como a Guarda das Highlands entre os homens. Embora Janet não tivesse conhecimento das identidades de todos os guerreiros, ela tinha suas suspeitas. Se o Rei Edward fosse esperto, ele começaria a olhar para cada homem das Highlands com mais de 1,80m de altura, constituído como uma pedra e com um rosto incomumente bonito.
— Não. — Mary respondeu, — mas assim que eles descobriram, os homens convenceram o rei a reconsiderar o assunto.
Sabendo o quanto Robert podia ser teimoso, Janet perguntou:
— Como eles fizeram isto?
Mary deu de ombros.
— Eu não sei, mas seja o que for, deve ter sido persuasivo.
— Isto é ridículo. — Janet jogou as mãos para cima e se levantou. Ela começou a ir para a porta.
Mary olhou para cima de onde estava sentada na beirada da cama.
— Onde você vai?
— Ver se Robert reconsidera corretamente.
Mesmo se Ewen não a quisesse, ele não perderia tudo por causa dela.
Os anos foram duros com Robert, o Bruce. Ele mudou muito do belo jovem cavaleiro que capturou o coração da irmã mais velha de Janet, Isabella. Ele ainda era bonito, mas parecia mais velho que seus trinta e seis anos. A guerra, a dificuldade que ele enfrentou depois da derrota catastrófica na Batalha de Methven, e sua destruição pouco depois, ficaram estampadas nas linhas profundas marcadas em seu rosto. Mas foi sua expressão o que mais mudou. O cavaleiro sociável, alegre e cavalheiresco se foi para sempre, substituído pelo sério rei guerreiro, formidável e endurecido pela batalha.
Sentada na frente dele em seu solário particular, os homens dele partindo a pedido dela, Janet sentiu uma pontada de apreensão inesperada. Ela podia pensar nele como Robert, mas o homem diante dela era inegavelmente um rei. Contudo, a preocupação nos escuros olhos que encontraram os dela lhe deu coragem.
— Você está se sentindo melhor? Helen atendeu a todas as suas necessidades? Eu disse a ela que você devia ter o que quisesse.
Ela pretendia segurá-lo nisto.
— Eu me sinto muito melhor, Alteza. Helen cuidou de mim como se eu fosse sua irmã. Mas tem uma coisa que eu pediria.
Ele sorriu, parecendo aliviado.
— O que você pedir é seu. Estou em dívida com você, Janet. Sei o que passou para trazer esta mensagem para mim, e ouvi como você protegeu nossa informante no castelo saltando na frente do homem no beco.
Seus olhos se encontraram e Janet pôde ver como ele estava mesmo agradecido. A informante era importante para ele e foi por isso que ele confiou nela em primeiro lugar. Mas se perguntou como ele ouviu as particularidades do que aconteceu em Berwick. Alguém deve ter falado com sua informante.
— Ainda não posso acreditar que os ingleses planejaram deslealdade em uma negociação de paz. — Ele continuou. — Tanto Gloucester quanto Cornwall me deram a sua palavra. Eu esperaria isto de Gaveston, mas não de um filho de Monthermer.
O Conde de Cornwall, Piers Gaveston, era o favorito de Edward. O Conde de Gloucester, Gilbert de Clare, era um forte partidário do rei, mas também era o enteado de um velho amigo de Robert, Ralph de Monthermer.
— Mas depois de Methven, eu não deveria mais ficar surpreso. — O rosto do Robert escureceu, dando a Janet um vislumbre de sua raiva e ira. — Pelo que eu li nessa missiva, eles poderiam ter sido bem-sucedidos. Planejaram nos cercar com uma guarnição inteira de Roxburgh enquanto dormíamos. — Ele fez uma pausa por um momento, recobrando-se antes de olhar de volta para ela. — O que você quer, Janet? Se estiver em meu poder, será seu.
Janet prendeu seu olhar e não hesitou.
— Eu quero Ewen.
Os olhos do Robert faiscaram.
— Não torça minhas palavras contra mim desta vez, Janet. Eu já dei minha resposta a Lamont quando ele veio a mim com o “pedido” dele.
Janet não deixou sua raiva a intimidar.
— Estou pedindo para você reconsiderar tendo em vista os eventos recentes. Nunca te pedi nada antes, Robert, mas estou pedindo agora.
Ele se sentou para trás em sua cadeira tipo trono, considerando-a com olhos atentos e duros.
— Pelo que exatamente você está pedindo?
— Não quero que Ewen seja punido pelo que aconteceu. Devolva suas terras, dê a ele seu lugar de volta na Guarda, e… — suas bochechas esquentaram.
— E? — Robert perguntou.
— E se ele ainda desejar se casar comigo, dê-nos sua permissão.
— Você não teria que me pedir isto?
Janet balançou a cabeça.
— Eu não o forçaria a um casamento sem seu consentimento, pois não gostaria de ser forçada.
O rei franziu o cenho, não tendo perdido sua reprovação corajosa.
— Ele tomou sua inocência. Não vou recompensá-lo por isto.
— Você não me conhece nem um pouco se pensa que ele tomou qualquer coisa que eu não desse de boa vontade.
— Ele se aproveitou de sua inocência. — Robert disse desconfortavelmente, obviamente ele não achava agradável o tema de tais assuntos íntimos com uma mulher que era como uma irmã para ele.
— Não sou uma menina, Robert. Sou uma mulher de vinte e sete anos que esteve esperando sua vida inteira por isto, por ele. Eu o amo.
— Amor não é razão para casamento. Ele não tem terra para oferecer, ou títulos ou fortuna.
— Então você pode dar mais a ele. — Disse Janet. — Se o que eu fiz não merece uma recompensa, então que tal o que ele fez? — Ela o deixou considerar aquilo por um momento. — Quanto ao amor, e seus casamentos, Robert? Certamente um sujeito não pode olhar mais alto que seu rei por direção?
A expressão do Robert não deu a menor pista que suas palavras penetraram, mas ela sabia que tinham. Era bem conhecido que Robert se casou com ambas as esposas por amor.
Um momento mais tarde ele balançou a cabeça, dando-lhe aquele seu olhar exasperado que ela se recordava do tempo que ela passou vivendo com ele e Isabella.
— Você devia ter sido um oficial da lei, Janet. Que pena que você não nasceu um homem, eu poderia te usar em meu conselho particular.
Janet sorriu, recordando palavras semelhantes de Ewen quando ela o conheceu. Também se lembrou de outra coisa. Lamont, oficial da lei.
— Talvez eu deva ser, Alteza.
As sobrancelhas dele franziram de forma pensativa. O cerne de outra ideia tinha acabado de criar raiz quando foram interrompidos por uma batida com força na porta. Logo depois, o feroz chefe a Oeste das Highlands que raramente deixava o lado de Robert, entrou na sala.
Imponente. Formidável. Intimidante. Autoritário. Assustador. Nada disso chegava perto de descrever Tor MacLeod. O líder da Guarda das Highlands parecia mais um nobre que um soldado, mesmo na presença de alguém tão majestoso quanto Robert, o Bruce.
— Imagino que se você está interrompendo, é algo importante. — Robert inquiriu.
— Aye. — Disse Tor. — Tem alguém aqui para ver você.
— Diga a ele para esperar.
Tor olhou para ela, um meio sorriso virando sua boca.
— Acho que você vai querer vê-lo.
Ele colocou a cabeça para fora da porta e acenou para alguém. Janet ofegou, seu coração saltando para a garganta quando Ewen entrou a passos largos pela porta.
— Você voltou! — Ela gritou, e teria corrido para os seus braços se não notasse o homem que surgiu atrás dele.
Seu coração, que saltou apenas um instante atrás, caiu no chão. Ela congelou, sua boca aberta em choque.
Apesar dele parecer consideravelmente mais velho que da última vez que o viu, Janet não teve dificuldade em reconhecer o desengonçado novo Stewart da Escócia, Walter Stewart.
Seu olhar disparou para Ewen em mudo horror, buscando reafirmação. Por que ele o trouxe aqui?
Ewen queria ir para Janet no momento em que entrou na sala, mas estava muito ciente do homem acomodado na cadeira tipo trono atrás da mesa. Ewen tinha feito tudo errado com o rei antes, tinha que fazer isto de forma correta desta vez.
O alívio em vê-la tão curada o atingiu com um golpe poderoso no peito. Disse a si mesmo repetidamente que Helen cuidaria dela, que ela estava em excelentes mãos, mas ela não estava em suas mãos, e não foi até que a viu cara a cara que pôde começar a relaxar.
Ele fez um inventário de seus ferimentos: a faixa envolvendo seu pulso, as volumosas bandagens ao redor de suas costelas por baixo do vestido e a pequena linha de pontos em sua bochecha. O inchaço em sua mandíbula e nariz diminuiu, deixando os remanescentes amarelados, pretos e azuis dos hematomas. As duas meias-luas pretas debaixo de seus olhos sugeriam que seu nariz foi quebrado, embora parecesse estar tão reto quanto antes.
Os olhos dela encontraram os seus, e o olhar de incerteza lançou suas boas intenções no inferno. Pro inferno com Bruce! Ele foi e estendeu sua mão. Ela deslizou sua minúscula palma na dele como se seu lugar fosse ali — o qual era — e a ajudou a se levantar.
Não liberou sua mão, mantendo-a envolvida pela dele. Com a outra ele inclinou sua cabeça para trás para examinar melhor seu rosto, virando-o para uma direção depois para outra.
— Está tudo bem com você?
Ela assentiu e ele se permitiu mais um terno varrer de seu polegar ao longo do contorno contundido de seu queixo antes de soltá-la, e virou para enfrentar seu rei. Não confiou em si mesmo para não a beijar, e pelo modo que o rei estava olhando para ele agora, já estava perto de sair daqui em correntes.
— Pensei que te ordenei que retornasse para o dia de St. Drostan com os outros. — Disse Bruce, olhando para ele furiosamente.
Ewen decidiu não assinalar que ele realmente ordenou que saísse de suas vistas.
— Tinha uma coisa importante que eu precisava cuidar.
O olhar do Bruce foi rapidamente para Walter antes de voltar para ele.
— Você parece estar tendo dificuldade em seguir todos os tipos de ordens ultimamente.
Ewen não discordou.
O rei segurou seu olhar por um longo tempo e então virou para Walter.
— Presumo que tenha uma razão para trazê-lo aqui.
— Ele tem, Alteza. — Walter disse, avançando com uma reverência. — Lamont veio a mim com um pedido bastante inesperado. Pediu para se casar com minha noiva.
Ele ouviu a inalada aguda de Janet e sentiu seus olhos nele, mas ele estava observando Bruce. O rei se recostou em sua cadeira, sua expressão não revelando nada.
— Ele fez, não é? Ele mencionou que recusei um pedido semelhante?
— Aye. — Walter disse. — Ele mencionou sim.
— E o que você disse a ele? — Bruce perguntou.
O olhar de Walter foi para Janet se desculpando antes de responder.
— Eu disse a ele que daria meu apoio e romperia o noivado se este fosse o desejo da dama também.
— É! — Janet teria corrido adiante para assegurá-lo, mas Bruce a fez recuar com um erguer de sua mão.
Ewen disse uma prece em silêncio de agradecimento. Até aquele momento não esteve cem por cento certo que ele não tinha discutido por nada com Walter Stewart (que apesar de sua jovem idade provou um oponente formidável) durante os dias passados. Ewen teve sorte de sair do Castelo de Rothesay sem ter que prometer a ele seu primogênito.
— Assumo que ele disse tudo a você. — Bruce inquiriu.
Stewart, que estava obviamente muito ciente da presença de Janet, enrubesceu.
— Disse.
O rei não disse nada por um minuto, mas então virou para Janet.
— MacLeod vai levá-la de volta para seu quarto. Lady Anna preparou um banquete esta noite da véspera de Natal. Nós falaremos mais tarde.
Janet começou a protestar.
— Mas...
Ewen a cortou, tomando suas mãos nas dele e dando a elas um gentil aperto.
— Vá agora. Encontrarei você. — Eu sempre vou te encontrar, disse a ela silenciosamente. — Lembra?
Ela acenou com a cabeça.
— Confie em mim. — Ele disse suavemente, prendendo seu olhar. — Não vou te desapontar. — Nunca mais.
Ela torceu seu nariz maltratado.
— Nem sempre serei assim obediente.
Ele sorriu.
— Tremo só de pensar nisso.
Ele trouxe uma de suas mãos até sua boca para um beijo antes de finalmente soltá-la, pelo que ele jurou seria a última vez.
Ela marchou bastante ofendida em direção à porta. Olhando de volta por cima do ombro, deu suas palavras de despedida para Bruce.
— Lembre-se de sua promessa, Robert.
— Não fiz nenhuma promessa. — O rei protestou.
— Aye, mas sei que você estava prestes a fazer. — Ela deu a ele um sorriso alegre, estremecendo quando pareceu causar dor nela.
Tanto Ewen quanto o rei foram em direção a ela com preocupação.
— Você está bem? — Eles perguntaram ao mesmo tempo.
O sorriso de Janet aprofundou.
— Vou ficar.
A pequena descarada! Aquele estremecimento foi uma lembrança. E ele não foi o único a perceber. Ewen suspeitava que por um longo tempo ele testaria usando um olhar exasperado e ligeiramente derrotado como o que estava no rosto do rei. Felizmente.
CAPÍTULO 26
Janet esperou tempo suficiente. Ewen deixou o solar do rei cerca de uma hora atrás. Lady Anna Campbell, a esposa de Arthur Campbell, quem era o guardião de Dunstaffnage para o rei (e também, se seu rosto bonito e físico musculoso fosse qualquer indicação, um dos homens da guarda), foi gentil suficiente para informá-la disto, como também onde Janet poderia encontrá-lo.
Ela tomou isto como um bom sinal que ele recebeu uma câmara no castelo, em vez de debaixo dele nas masmorras. Então por que não veio ao seu encontro?
O castelo estava zumbindo com excitação pela celebração da noite. Janet passou por vários servos desde sua câmara no terceiro andar descendo a caminho dos aposentos de Ewen no primeiro. Contudo, ela franziu o cenho quando notou uma jovem serva — e bastante bonita — indo em direção à mesma porta que ela com um enorme balde de água nas mãos.
A garota estava prestes a abrir a porta quando Janet a parou.
— Eu levo isto.
A serva pareceu horrorizada. Ela balançou a cabeça.
— Não seria certo, minha senhora. O lorde está… — suas bochechas esquentaram — se banhando.
— Ele está agora? — Janet esperava que não soasse tão rabugenta quanto se sentia.
A garota assentiu.
— Lady Helen insiste que ele ponha sua perna de molho pelo menos uma vez por dia. — Janet sentiu uma pontada de culpa por seu ciúme, mas esse ciúme foi instantaneamente reavivado quando a garota acrescentou: — Estou indo ajudar com seja o que for que ele precise enquanto Lady Helen atende o pequeno William.
Janet conheceu seu adorável sobrinho alguns dias atrás. A criança era danadinha, mal tendo começado a engatinhar.
— Tem algo errado?
— O pequenino bateu a cabeça no poste da cama, mas Lady Helen diz que ficará bom. Não tem nem um hematoma.
Janet acenou com a cabeça sem esconder seu alívio.
— Vou levar o balde para o lorde. Nós estamos para nos casar. — Pelo menos esperava que estivessem. — Mas se não se importa, tem algo que eu gostaria que você fizesse primeiro.
Quando Ewen respondeu a batida na porta, foi a jovem serva quem respondeu.
— Sua água, meu senhor. — Mas foi Janet quem entrou no quarto. Ela fechou a porta atrás dela e caminhou em direção ao homem espalhado nu na tina com suas costas na direção dela. Ela estava irritada o suficiente para olhar para ele sem vergonha, assistindo cada centímetro de pele dura e bronzeada.
— Devo lavar suas costas, meu senhor? — Ela disse em uma voz suave e cantante, completamente diferentemente da sua.
— Se você quiser — ele disse indiferente.
O safado! Ele devia se lavar! Foi com bastante satisfação que Janet esvaziou o balde inteiro de água na cabeça dele. Água fria, ela teve tempo de notar.
— Que diabos! — Ele saltou para fora da tina e virou para ela em choque e raiva. Vendo quem que era, a raiva sumiu. Ele franziu a testa. — Que diabos está fazendo aqui, Janet?
Ela apertou a boca, cruzou os braços e percorreu aquele corpo incrível lentamente, ligeiramente apaziguada quando uma parte bem grande dele começou a engrossar e levantar sob seu olhar firme.
Ele praguejou, agarrou um pano para se secar que estava na cama e o envolveu ao redor da cintura.
Mas se pensava em se cobrir, ele calculou mal. O linho úmido grudou em cada músculo e moldou cada centímetro desse negócio grosso. Meu Deus, estava agradavelmente quente e abafado aqui dentro.
— Pare de olhar para mim assim, maldição.
Seus olhos encontraram os dele.
— Prefere que eu chame a serva de volta?
Levou um momento, mas a ficha finalmente caiu. Ele sorriu. Amplamente. Pareceu tão bonito que fez seu peito apertar.
— Você está com ciúme.
Ela não negou.
— Você mesmo pode se lavar de agora em diante.
Ele sorriu, cruzando seus braços, provavelmente para distraí-la. Funcionou. Ela respirou fundo ante a impressionante exibição de músculos protuberantes. Santo Deus, ela tinha nova apreciação para a guerra!
— E se eu precisar de ajuda?
— Eu te ajudarei — ela disse entredentes, sabendo que estava sendo ridícula.
— Acho que gostaria de ver isto. Obediente e servil em um único dia. Ainda farei de você uma esposa adequada.
Os olhos dela foram para os seus. O ciúme, a brincadeira, a admiração dos músculos, tudo sumiu. Só uma coisa importava. Nada nunca importou mais.
— O rei concordou?
— Aye — ele disse roucamente. Em seu olhar ela pôde ver toda a emoção enchendo seu coração. — Mas ele tinha uma condição.
Janet de repente ficou cautelosa.
— Que tipo de condição?
— Eu devo ter seu consentimento.
Lágrimas encheram seus olhos quando ele caiu de joelho aos seus pés. Ele tomou sua mão e olhou dentro dos seus olhos.
— Eu sinto muito por mentir para você. Eu devia ter te contado a verdade. Sinto muito por não a segurar em meus braços depois que fizemos amor e dizer a você o quanto te amava. Sinto muito por não ter coragem suficiente por lutar por nós, por não fazer o que fosse preciso para te fazer minha esposa. Pensei que eu tinha perdido tudo, mas nada disso importava sem você. Eu sei que não posso mudar as coisas ou devolver isto para você, mas prometo que vou tentar pelo resto da minha vida se você concordar em ser minha esposa.
Janet ficou ali de pé em atordoado silêncio. Seus papéis pelo que parecia, foram invertidos. O homem que sempre disse a coisa errada se expressou graciosamente, e a mulher que sempre soube o que dizer parecia que não podia encontrar sua língua.
Ele começou a ficar um pouco preocupado olhando para ela com incerteza.
— Janet?
Tinha uma coisa que ela tinha que saber.
— E se eu desejar continuar meu trabalho?
Ele fez uma pausa.
— Você ainda faria mesmo depois do que aconteceu?
— E se eu fizesse?
— Eu tentaria conversar com você para sair disto. O padre pode estar morto, mas existem outros que eventualmente vão juntar as coisas como ele fez.
— E se não pudesse me convencer?
Ele parecia como se preferisse estar comendo unha.
— Eu deferiria, mas de má vontade, para seu julgamento. E provavelmente eu ficaria tão desagradável quanto MacKay quando Helen insiste em nos acompanhar.
Um sorriso largo se espalhou pelas feições dela. Se ela algum dia precisou de prova do seu amor, ela acabou de ouvir.
— Você, desagradável? Isso é inacreditável.
Ele deu um tapa na bunda dela e ela riu.
Mas então ela ficou séria.
— Eu gostaria de continuar a ajudar Robert, mas acho meus dias como mensageira estão terminados. Você estava certo, eu era confiante demais em minhas habilidades e talvez — ela concedeu — até um pouco ingênua sobre o que podia acontecer. Eu devia ter exercitado mais discrição. Depois de duas situações apertadas, acho que abusei das minhas boas-vindas nas fronteiras, sem falar que fiquei sem identidades.
— Duas situações apertadas? — Ele explodiu.
Ops.
— Será que esqueci de mencionar como vim a trabalhar em uma rouparia?
— Aye, eu diria que você esqueceu.
Janet deu uma rápida explanada, ignorando sua expressão se fechando quando ela mencionou o escudeiro e o cavaleiro, e concluiu com como foi forçada a partir sem dizer adeus para os Hendes.
— Você acha que pode haver um modo de conseguir falar com eles e ver que estão seguros?
— Considere isto feito — ele disse.
— Obrigada — ela disse, não percebendo o quanto esteve pesando nela.
— Não vou dizer que não estou contente que você não vai insistir em usar seu hábito novamente.
Janet sorriu.
— Eu não esperaria isso de você. Além disso, seria bastante inapropriado dadas as circunstâncias.
— Que circunstâncias?
Não estava pronta para dizer a ele ainda. Mas isso tinha sido seu copo de graça se Robert se provasse sem ser razoável.
— Porém não pense que eu acabei. Tenho outro plano em mente.
Ele gemeu.
— Não quero nem perguntar.
— Não se preocupe, não é nada muito ultrajante.
Ele fez um rosto aflito.
— Que alívio — ele disse secamente. — Janet, a menos que você tenha falhado em notar, ainda estou de joelhos. — Ele estremeceu desconfortavelmente.
Os olhos dela saltaram para sua perna.
— Oh Deus, esqueci da sua perna. — Ela o arrastou de pé. — Isso dói horrivelmente? Sinto tanto por deixar você assim, não percebi que você estava doente na noite que eu parti. Pensei que estava bêbado.
Ele alisou o cabelo dela para trás longe do seu rosto.
— Eu raramente me permito abusar do álcool.
Ela olhou para ele.
— Por causa de seu pai?
Ele assentiu.
— Eu devia saber.
Ele balançou a cabeça.
— Eu não quis que você soubesse. Inferno, nem eu mesmo percebi o quanto estava mal.
— Graças a Deus por Helen — ela disse.
Ele retornou o sentimento e cavou seu queixo, erguendo seu olhar para o dele.
— Você não respondeu minha pergunta.
Ela sorriu.
— Sim… Sim!
— Graças a Deus — ele gemeu, puxando-a em seus braços. O beijo terno era para selar a promessa de seu futuro, porém rapidamente se transformou em alguma outra coisa. Algo quente e exigente. Ela embrulhou os braços ao redor do seu pescoço, atraindo-o para mais perto, encostando seu corpo no dele.
O golpe morno da língua dele em sua boca a fez se arrepiar. O calor suavizou seus ossos, espalhando sobre ela em ondas derretidas pesadas. Deus, ela adorava beijá-lo.
Os círculos de sua língua ficaram mais profundos e mais quentes, mais rápido e mais carnal. Seu corpo ficou mais duro, rígido com a força do seu desejo.
Ela gemeu, e ele afastou.
— Ah inferno. Eu te machuquei? — Seu dedo deslizou acima do corte em sua bochecha e nas contusões em seu queixo.
Ela balançou a cabeça.
— Eu queria que você não o tivesse matado — ele disse. Ela olhou para ele com surpresa. Mas o rosto dele estava tão feroz como ela jamais viu. — Eu teria feito isto muito mais doloroso para ele por te machucar desse jeito.
Ela se levantou na ponta dos pés e pressionou um beijo nos lábios dele.
— Está no passado. E agora estou mais preocupada com o futuro, nosso futuro.
Não tão distraidamente, ela deixou sua mão cair entre eles, desenhando pequenos círculos no estômago dele com a ponta do dedo. Sua pele era tão morna e lisa, e quanto mais perto ela dançava para o vulto proeminente debaixo do pano, mais escuros seus olhos ficavam e mais duro as faixas de músculo cruzando seu estômago apertavam.
Ele teria agarrado seu pulso para detê-la, mas ela foi esperta o bastante para usar a mão ferida.
— Janet… — ele a advertiu roucamente. — Continue me tocando assim e eu posso esquecer minhas intenções honradas e seus ferimentos.
Ela sorriu e levantou a cabeça para olhar dentro de seus olhos.
— Bom. Estou bem, realmente estou. Por favor, eu quero isto. Quero você.
Justo para que não houvesse nenhum argumento, ela deixou sua mão cair um pouco mais baixo, esfregando seu pulso acima da ponta engorgitada.
Ele prendeu a respiração.
— Jesus, Janet, você não luta justo.
Um sorriso mal curvou sua boca.
— Você pode ser gentil, não pode?
Ele a puxou para cima e a levou para cama.
— Com toda certeza espero que sim.
Com seu pulso ferido, ela precisava de ajuda para tirar suas roupas — um dever que ele estava mais do que feliz em ajudar.
— Pensei que você não fosse uma “maldita donzela”— ela o provocou enquanto ele desabotoava sua túnica, lembrando a ele de um pedido semelhante que ela fez na cabana de pescador não muito tempo atrás.
Ele deu uma risada aguda.
— Acho que mudei de ideia. Se você pretende me ajudar com meus banhos, o mínimo que posso fazer é te ajudar com suas roupas.
— Seu esclarecimento na paridade do casamento é verdadeiramente incrível — ela disse secamente.
Ele riu.
— Sem mencionar interesseiro.
Quando o último artigo de vestuário foi removido, ele voltou a ficar de pé e olhou para ela por tanto tempo que ela começou a tentar se cobrir com as mãos. Mas ele suavemente as puxou para longe.
— Não faça isso — ele disse, sua voz áspera com emoção. — Você é tão bonita. — Ele começou a correr seus dedos por sua pele nua. — Quero tocar cada centímetro sua.
Parecia como se ele tivesse acabado de fazer isso. A respiração de Janet já estava vindo rápida quando ele finalmente se inclinou e deslizou um mamilo rígido em sua boca, arrastando-o suavemente e circulando-o com a língua. O cabelo escuro e sedoso dele caía para o lado, escovando em sua pele nua. Ela deslizou seus dedos através do cabelo dele, prendendo-o a ela. Ele segurou seu peito em forma de xícara com a palma, apertando e manipulando entre suas mãos enquanto a tomava cada vez mais fundo em sua boca.
Esquecendo tudo sobre suas costelas feridas, ela começou a arquear as costas, gemendo enquanto as sensações começavam a se construir.
Ele ergueu a cabeça.
— Você está tornando difícil ir lento.
— E de quem é a culpa?
Ele sorriu, e isso capturou seu coração.
— Eu amo ver você sorrir — ela disse suavemente. — Você não faz isso o bastante.
— Não tive muita razão para sorrir. Mas suspeito que isso vai mudar.
Ela sabia que iria, especialmente quando ele aprendesse...
Ele inclinou e a beijou, e o que ela estava prestes a dizer a ele ficou perdido na névoa sensual que a atingiu com toda a sutileza de uma onda relacionada a maré.
Seu calor, seu cheiro, a sensação de sua pele esfregando na dela a tomou, suprimindo tudo exceto as sensações poderosas se construindo por dentro.
Ele segurou seu tórax acima dela, cuidando para não apertar suas costelas feridas, mas ela o puxou para baixo, querendo sentir o contato. O calor de seu tórax nu e o peso sólido de seu corpo em cima dela.
Ele removeu o pano em volta de sua cintura e ela pôde sentir o comprimento igualmente sólido de sua ereção quente e pulsando contra sua barriga. Ela pressionou e circulou os quadris, tentando fazer com que ele chegasse mais perto.
Ele gemeu, aprofundando o beijo e os golpes longos de sua língua até que ela não podia suportar mais. Ela o queria dentro dela. Queria senti-lo a enchendo.
O coração dela estava martelando, sua respiração estava acelerando e o lugar entre suas pernas estava tremendo com necessidade.
— Por favor — ela gemeu.
Erguendo a cabeça, ele examinou seus olhos. Ela podia senti-lo se posicionando entre suas pernas.
— Diga se doer — ele disse firmemente, seus músculos apertados com restrição.
Ele pressionou dentro dela. Lento e gentil. Avançando. Esticando. Enchendo-a. Ela ofegou. Gemeu. Abriu ao redor dele.
Não doía. Não doía nem um pouco. Parecia incrível. Ela se sentiu cheia. Possuída. Amada.
Os olhos dele eram escuros e quentes.
— Você é tão gostosa.
— Você também — ela disse rouca.
— Eu amo você, mo chroí.
Ela sorriu, lágrimas de felicidade enchendo seus olhos.
— E eu amo você.
Lentamente, o corpo dele começou a mover dentro dela em golpes longos e suaves. Era avassalador, a coisa mais bonita que ela já experimentou. Ele reivindicava seu corpo mesmo quando seus olhos reivindicavam seu coração. O prazer era tão intenso quanto antes, mas mais profundo. Não era simplesmente o compartilhar de dois corpos, mas o compartilhar de duas almas. Ele fez amor com ela. Cada parte dela. Lentamente, suave e completamente. Ele era uma parte dela, e ela nunca o deixaria ir.
Finalmente, ela não podia tomar mais. Seus gemidos suaves ficaram mais urgentes. Ele ouviu seu mudo apelo e respondeu. Seus golpes começaram a prolongar. Afundar. Acelerar. Ficar mais duros. Ela podia sentir o corpo dele ficar tenso debaixo das pontas dos seus dedos até quando ela começou a se fragmentar. Ela tinha que se fragmentar. Não havia nenhum outro lugar para ir.
Ela gritou, o prazer quebrando acima dela em uma lenta e pulsante onda.
— Oh, Deus — ele gemeu, deixando-se ir. Ele gozou dentro dela num fluxo quente que se moldou com o dela. Pareceu continuar para sempre. Os espasmos reverberavam por cada centímetro dela, não deixando ir.
Isso foi justo como antes, exceto que desta vez, quando ele finalmente acabou, ele rolou para o lado, puxando-a contra ele e a segurou como se nunca a deixasse ir embora.
Foi muito tempo mais tarde quando Ewen achou a energia e as palavras para falar. Estava humilhado e um pouco aterrorizado pelo que tinha acabado de acontecer. Ele nunca soube que podia ser assim. Nunca se sentiu tão próximo de ninguém em sua vida. Ele tinha se deitado com muitas mulheres, mas só fez amor com uma: a mulher que seria sua esposa. Ainda não podia acreditar nisto.
Como se lendo sua mente, ela perguntou:
— Como você conseguiu que Robert concordasse?
Ela estava aconchegada contra ele com sua bochecha no peito dele, brincando com os cabelos escuros espalhados em um V em seu pescoço, mas para fazer sua pergunta, ela escorou o queixo nas costas de sua mão para olhar para ele.
— Você já tinha feito a maior parte do trabalho — ele disse, correndo os dedos sobre a pele nua de seu braço. — E meus irmãos também.
Ewen ainda não podia acreditar que eles recusaram continuar qualquer missão a menos que ele estivesse de volta. MacLeod lembrou a Bruce que ele deu a ele plena autoridade sobre a equipe. A Guarda das Highlands lutava por Bruce, mas eram homens de MacLeod.
— Como conseguiu que Walter viesse para Dunstaffnage te ajudar a pleitear seu caso?
— Não foi fácil. Mas eu o fiz ver que eu era mais valioso como seu homem do que não. Também posso ter dado ele a ideia de uma noiva alternativa.
Walter Stewart pode ser jovem, mas era tão ambicioso quanto seu parente James Douglas — e seu parente Robert, o Bruce, no que diz respeito a esse assunto.
Ela ergueu uma sobrancelha, intrigada.
— Uma mais impressionante que uma filha de Mar?
Ele riu de sua afronta. Mas neste caso, sim.
— Pensei que você quisesse cair fora do noivado, então achei que seria melhor não discutir suas partes boas — ele apertou a bunda dela — que são muitas.
Ela fez uma cara feia e então arruinou o efeito rindo.
Ele beijou sua cabeça e então a atraiu mais perto.
— O que você disse para o rei? — Ele perguntou.
Ela deu de ombros.
— Eu só o lembrei de tudo que nós fizemos a seu serviço.
— E?
— E o lembrei de seus próprios casamentos.
— Que é?
Ela deu de ombros novamente.
— Foi suficiente. Mas vim bem preparada para pleitear meu caso e estava confiante que ele enxergaria. Entretanto não fui forçada a usar isto, tive um argumento que asseguraria que ele veria as coisas do meu modo.
Ele olhou para ela ceticamente.
— Pensei que você acabou com essa história de ser confiante demais. O rei estava tão bravo como nunca vi.
— Ah, mas um bom oficial da lei sempre guarda o melhor argumento por último.
— E que argumento é?
Os olhos dela encontraram os seus e ele sentiu algo dentro dele mudar mesmo antes dela falar. Ela pôs a mão sobre seu estômago.
— Meu período está atrasado.
Ele ficou imóvel. Seu corpo sentiu a importância de suas palavras, mas sua mente levou um momento para captar.
— Um bebê?
Ela acenou com a cabeça, lágrimas brilhando em seus olhos.
— Acho que sim. Está… está tudo bem?
Jesus, como ela podia perguntar algo assim? Uma onda quente de emoção abateu sobre ele. Apertou seu peito e garganta. Ele não soube o que dizer. Nunca soube. Mas a diferença com Janet era que isso não importava. Ela o entendia de qualquer maneira.
Mas por via das dúvidas, ele disse a ela novamente. Desta vez com seu corpo.
Isso era melhor que tudo bem. Era tudo. Ela tinha dado tudo a ele. O caçador encontrou o que ele nem sabia que estava procurando, e ele nunca a deixaria ir embora novamente.
Epílogo
Ardlamont, Cowal, Escócia, dezembro de 1315.
Janet estava indo ter uma boa conversa com aquele diabinho de olhos azuis.
— James! James Fynlay Lamont, venha aqui agora mesmo! — Ela correu quarto por quarto, vindo a parar quando entrou no berçário e viu seu marido. Ele estava de pé a uns poucos passos longe dela com dois pacotinhos enfiados debaixo de seus braços e duas pernas magras espiando por trás dele.
Mesmo depois de cinco anos de casamento, seu coração ainda engatava ao vê-lo, como se parte dela ainda não pudesse acreditar que ele podia ser seu. Porém, apesar de seus sentimentos, ela aprendeu muito tempo atrás a não o deixar a distrair. Ela dobrou os braços por cima do peito e olhou fixamente para ele.
— Não adianta tentar escondê-lo. Eu posso ver você, James.
A cabecinha loira espiou por trás das pernas do Ewen. Ela não comprou o olhar inocente em seu rosto nem por um momento.
— Entrega, Jamie.
— Entregar o que, mãe?
— A carta que você tirou da minha escrivaninha. — Ela se curvou até o nível do garotinho, tentando manter a expressão dura em face de um lábio inferior muito trêmulo. — É uma carta muito importante, Jamie. Eu preciso devolvê-la para o rei.
Ele fez uma carinha, alcançou dentro de sua bota e puxou o pedaço de pergaminho agora amassado.
— Eu não me importo com esse estúpido rei velho. Não quero que você trabalhe mais hoje. Quero que você venha brincar comigo.
O teimoso e desconsolado olhar em seu rosto que se assemelhava muito a seu pai, ela teve que levantar o olhar para Ewen. Ele só deu de ombros.
— Não olhe para mim.
Janet suspirou e puxou seu filho de quatro anos de idade para seu colo. Algum dia isso ficaria mais fácil? Ela tentou equilibrar o trabalho que fazia para o rei como sua “conselheira” e de fato, se não exatamente publicamente reconhecida oficial da lei, mas tinha dias — como o de hoje — quando inevitavelmente essa balança inclinava.
Agora que a guerra tinha sido ganha com a Inglaterra, Robert estava ansioso para ter a Escócia aceita como um reino independente, e ela caiu dentro do trabalho preparando seus argumentos para as cartas cuidadosamente escritas que seriam enviadas para o rei francês e o papa, para quem eles também fossem simpáticos a ter erguida a excomunhão que foi colocada em Robert desde que ele apunhalou John Comyn — O Vermelho — na Igreja de Greyfriar quatro anos atrás. O latim que ela uma vez se desesperou tinha caído bem.
— Você não ia jogar bola lá fora com papai hoje? — Ela disse suavemente, acariciando sua cabeça.
— Nós fomos. Mas aí elas entraram no caminho. Elas sempre entram no caminho.
Janet tentou não sorrir e olhou para as meninas de dois anos de idade se retorcendo debaixo dos braços do seu pai. Diferente de Jamie, elas tinham o cabelo escuro como do Ewen.
— O que elas fizeram desta vez? — Ela perguntou a seu filho.
— Mary lançou a bola no lago e então Issy começou a chorar. Odeio quando ela chora.
Eu também, Janet pensou, e ela faz um monte terrível disto. Ela olhou para Ewen por ajuda.
— Estou tentando — ele disse. — Mas como pode ver, tenho minhas mãos cheias. Ele escapou de mim.
— Eu pareço me recordar de alguém me dizendo que isto seria fácil.
— Eu estava esperando uma, não duas — ele disse. — Acho que é hora de voltar para a guerra.
— A guerra está terminada.
— Não me lembre — ele disse com um revirar exagerado dos olhos. — Acho que ouvi Stewart me chamando.
— Walter pode esperar — Janet disse. — Além disso, ele tem uma nova noiva para pensar. — Ela ainda não podia acreditar que a nobre cuja mão o atraiu era sua sobrinha Marjory Bruce — filha de Robert e Isabella. Marjory foi mantida na Inglaterra por quase oito anos, mas foi liberada no ano passado depois da Batalha de Bannockburn. — Seja o que for que um homem semeia, ele também colherá — ela lembrou a seu marido.
Ele sorriu maldosamente.
— O semear foi divertido, é só o colher que não estou tão certo. — Ele desmentiu suas palavras, conferindo e beijando os dois pequenos querubins em seus braços até que elas ficaram selvagens com risadas.
— Nós estávamos indo encontrar você — Ewen disse quando as meninas finalmente desmoronaram na cama com exaustão. — Se tiver um minuto, tem algo que quero mostrar a você.
Ela olhou para ele. Depois de quase cinco anos de casamento, estava afinada a cada nota em sua voz — e ela ouviu a emoção espessa.
— Está feito? — Ela perguntou sem fôlego.
Seus olhos se encontraram e ele assentiu.
Sem palavras, ela o deixou tomar sua mão enquanto a levava e seus três filhos para fora da velha casa da torre.
— Não olhe ainda — ele disse quando ela tentou dar uma olhada na colina perto.
Finalmente, ele parou.
— Certo, vire-se.
Janet prendeu a respiração. O sol brilhante de final de tarde brilhava na pedra recém-cortada, fazendo o castelo cintilar e brilhar como uma joia recentemente cunhada. Tinha quatro torres, uma em cada canto, cercada por um muro formidável. Era uma fortaleza impressionante para qualquer padrão, mas não era isso o que a fazia importante.
Ela deslizou a mão na do homem que tornou sua vida aventureira como uma mensageira em outro tipo de aventura. Uma de risos, amor e alegria.
— É bonita — ela disse. — Ela teria adorado isto.
Ele olhou para ela e acenou com a cabeça, a emoção demais para ele falar. Ele terminou castelo da sua mãe, e com isto ele podia afinal estar em paz com seu passado. Por gerações por vir, os Lamonts de Ardlamont encheriam este castelo com amor e risos, dando a sua mãe e pai o legado que eles mereciam.
De mãos dadas, com suas crianças ao redor deles, Ewen a levou para dentro de seu abrigo e dentro de seu futuro.
Notas
[1] Típicas dos campos montanhosos da Escócia, as urzes, conhecidas também como Heather, são pequenos arbustos com florezinhas coloridas e perfumadas. A água da chuva escorre pelas urzes, se impregna de perfume e escorre sobre a turfa, proporcionando aromas e sabores muito especiais.
[2] Selvagem.
[3] Também escrito barmekin ou barnekin, é uma palavra escocesa que se refere a uma forma de cerco medieval e mais tarde defensiva, em torno de castelos menores na Escócia e norte da Inglaterra. O barmkin teria contido edifícios auxiliares, e poderia ser usado para proteger o gado durante os ataques.
[4] Do grego “ofegante”.
[5] “Eleitoras dos mortos caídos em combate”, eram consideradas deidades menores, servas de Odin. Eram belas jovens mulheres, usavam armaduras com elmos e lanças em seus cavalos alados, sobrevoavam os campos de batalha recolhendo os guerreiros escolhidos, ou seja, aqueles mais corajosos, que tinham sido mortos a pouco. Filhas do deus Odin, com a deusa da terra Edra, com quem teve um relacionamento nas profundezas e lá teriam gerado as nove virgens. Também exerciam a função de mensageiras, e dizem que quando isso acontecia, suas armaduras faiscavam causando o estranho fenômeno atmosférico conhecido como Aurora Boreal. Em lendas saxônicas, encontramos relatos de mulheres que apareciam cobertas por uma especie de bruma, auxiliando ou sendo amantes dos mais valentes guerreiros, e logo desapareciam, acreditavam ser estas mulheres as Valquírias.
[6] Proteção para o peito, como a que os gladiadores usavam.
[7] A casa dos mortos na mitologia grega - usado como uma maneira mais educada de dizer "inferno".
[8] Plaid ou Tartan: Um tecido de lã tradicional com um padrão de xadrez que é usado sobre o ombro como parte do traje nacional escocês.
[9] Arma medieval com lâmina combinando machado, martelo, e ponta de ferro no alto, usado para combates em pé.
[10] Birlinn é como os galeses e escoceses chamavam as antigas embarcações a vela.
[11] Termo usado antigamente como forma de tratamento de um homem de posição ou autoridade como um rei ou um lorde.
[12] Valhala, Valíala,Valhalla ou Walhala (do nórdico antigo Valhöll "Salão dos Mortos”), na mitologia nórdica é um majestoso e enorme salão situado em Asgard, dominado pelo deus Odin. Escolhidos por Odin, metade dos que morrem em combate são levados para Valhalla pelas Valquírias, enquanto que a outra metade vai para os campos Folkvang da deusa Freyja. Em Valhalla, os mortos se juntam às massas daqueles que morreram em combate conhecido como Einherjar, bem como vários heróis lendários da mitologia germânica, que se preparam para ajudar Odin durante os eventos do Ragnarök.
[13] Cavalos velozes para a batalha.
[14] É um corte perto do cabelo, geralmente arredondado, realizou uma cerimônia religiosa por parte do bispo, para dar o ordenando o primeiro grau no clero, também chamado de "tonsura cru." O significado original era a renúncia das vaidades mundanas. Ele caiu em desuso, com a aprovação tácita da autoridade eclesiástica de Paulo VI, que suprimiu a imprensa tonsura, passando a entrada no estado clerical para compensar o diaconato. No entanto, a Ordem Franciscana detém até hoje essa tradição.
[15] Título do primeiro oficial da coroa, que tinha o comando de todo o exército.
[16] A ilha de Bute (Eilean Bhòid em gaélico, Isle of Bute em Inglês) é uma pequena ilha costeira localizada na parte inferior do Firth of Clyde (Golfo cerca de 42 km de extensão, localizado na costa oeste da Escócia). Anteriormente foi parte do condado escocês Buteshire, é agora propriedade de Argyll e Bute distrito.
[17] Coloque no rio ou oceano, cuja profundidade lhe permite atravessar a pé ou em um cavalo; Ponto da travessia do rio. A falta de lugar.
[18] Um grande cão de uma raça rústica parecido com o galgo.
CAPÍTULO 14
— Cachorros droga! Como diabos captaram o nosso cheiro?
Ewen não teve tempo para pensar sobre isto. Eles precisavam se perder nas florestas e colinas de Lowther antes dos ingleses os alcançarem. Se ele podia ouvi-los, os cachorros deviam estar perto.
A Guarda das Highlands usava o interior como arma. Quanto mais densa a floresta, mais íngreme e hostil o terreno, mais eles podiam levar vantagem sobre os ingleses — superiores em número e armamento superior. A armadura pesada dos ingleses e os cavalos eram um fardo no campo, e Bruce aprendeu a usar aquilo em seu benefício.
Ewen não desperdiçou tempo tentando encobrir sinais de sua presença, levantando acampamento assim que puderam juntar seus pertences. O velho monte e forte tinham providenciado abrigo, mas forneceria pouca defesa. Pior, Janet estaria bem no meio disso.
Ela o fazia se sentir vulnerável de um modo que ele nunca se sentiu antes. Bàs roimh Gèill. Antes a morte que se render, era o lema da Guarda das Highlands. Ele nunca pensou que questionaria sobre isto. Mas se renderia mil vezes antes de deixar qualquer coisa acontecer a ela.
Não sabia o que isso queria dizer, mas sabia que era significativo. No calor do perigo, face a um ataque, ele não estava pensando em Bruce, Stewart, um castelo inacabado ou sua responsabilidade para seu clã, ele estava pensando nela — sua segurança era tudo que importava, e não só por causa da missão.
Preparando-se, Ewen virou para enfrentá-la. Mas nada podia tê-lo preparado para o punho que envolveu ao redor do seu coração e o puxou quando seus olhos se encontraram. Podia ver o medo, mas também a confiança de que não importa o quão desesperador isso pudesse parecer, ele a protegeria. Isso mexeu com ele. Humilhou-o. Quase o deixou de joelhos com a força de uma emoção que nunca sentiu antes. Deus, ele...
Ewen não terminou o pensamento.
Mas nada podia tê-lo impedido de estender a mão para envolver o rosto dela. Ela aninhou a bochecha no couro de sua mão enluvada, enterrando-se bem dentro do seu coração.
— Temos que correr. — Ele disse, sua voz irreconhecivelmente terna.
Ela acenou com a cabeça.
— Posso fazer isto.
Acreditou nela. Janet era forte e determinada. E pela primeira vez, Ewen percebeu que não iria querer que isto fosse de qualquer outro modo. Ele nunca pensou em uma mulher como nada mais que uma parceira de cama ou governanta. Uma criatura delicada e frágil que era seu trabalho proteger. Uma necessidade, mas nunca alguém para ficar ao seu lado, com quem conversar e discutir — sem falar deixá-lo louco. Mas Janet o fazia querer todas essas coisas.
Ele deslizou o polegar acima de sua boca ternamente.
— Não pare, não importa o que você escute. Eu te acharei.
O pequeno sorriso que curvou sua boca lhe roubou o fôlego.
— Eu sei.
E então eles correram. Correram tão rápido quanto Ewen podia empurrá-la dentro dos pântanos e colinas cobertas pela névoa e neve que assomavam ao longe. O exército de Bruce abrigou-se neles muitas vezes antes, mas seria demais esperar não achar ninguém por perto assim da aldeia. Era só até ele e Sutherland conseguir tirá-los dessa. Eles não seriam capazes de correr mais que seus perseguidores, não a pé, com cachorros e cavalos os perseguindo.
Eles não tinham tanto tempo quanto esperava. A sombra do forte atrás dele ao amanhecer ainda não tinha sumido quando ele capturou o primeiro vislumbre dos cavalos.
— O rio! — Ele gritou por cima do ombro para Janet. — Uns trinta metros adiante através das árvores. Siga-o até que alcance a borda da linha das árvores e então entre nas colinas. Lembre-se do que eu disse. Não pare. Não importa o que você escute.
O rosto dela estava enrubescido pelo esforço de correr, mas ele achou que ela empalideceu.
— Ewen, eu...
Ele não a deixou terminar.
— Vá!
Não podia ouvir isto. Não agora. Ewen esperou até que ela desaparecesse dentro da floresta antes de virar para Sutherland. Mas o mais novo membro do Guarda das Highlands já o antecipara.
— A travessia?
Ewen movimentou a cabeça. A garganta profunda e estreita do vale diminuiria a velocidade dos cavalos e daria a ele e Sutherland tempo para se posicionarem.
Mas não havia tempo. O inimigo já estava respirando em seu pescoço. Girou e puxou sua espada enquanto o primeiro braço armado arremetia balançando para baixo em direção a ele. Ele bloqueou o golpe da lança com uma torção rápida de sua espada que enviou a arma do inglês voando de suas mãos. Um momento mais tarde, a espada de Ewen desceu duramente na perna do cavaleiro, quase a decepando.
Ele ouviu o grito surpreso do homem antes de tombar no chão, sangue jorrando dele. Um rápido olhar disse a Ewen o que precisava saber: uma dúzia de homens armados, um cavaleiro, o braço direito de Beaumont e dois cachorros latindo de modo selvagem.
Então não foi surpresa que o outro cavaleiro estivesse quase sobre ele. Ewen sentiu uma onda de energia correr através do seu sangue enquanto o furor da batalha o atingia. Segurou sua espada com as duas mãos acima da cabeça e a baixou contra a lâmina do outro homem com força suficiente para tirá-lo de sua sela.
Um por um ele e Sutherland derrubaram o inimigo, trabalhando em conjunto enquanto se moviam para atacar os ingleses entrando em posição no estreito vale.
Exatamente assim, a batalha mudou. Os cavalos não podiam manobrar. Ao invés de agressores, o cavaleiro inglês e seus homens se tornaram arenques presos em barril. Com Ewen de um lado e Sutherland do outro, não havia nenhum lugar para eles irem. Forçados a abandonar seus cavalos ou morrer.
Morreriam de qualquer maneira.
O estrondo alto da batalha começou a embotar à medida que os ingleses caíam sob suas espadas. Os latidos pararam. Um dos cachorros parecia ter sido pisoteado ao fugir dos cavalos e o outro...
Ewen amaldiçoou, tirando o suor que se reuniu embaixo do elmo para limpar sua visão. Onde estava o outro cachorro?
Enquanto se desviava dos golpes, ele esquadrinhou a área ao redor deles, olhando por cima dos corpos dos homens e cavalos que caíram ao lado deles. Nada do segundo cachorro.
Uma onda fria atravessou seu sangue quando percebeu que havia um homem faltando também.
Ainda havia quatro soldados restando. Três deles convergiram para Sutherland, esperando dominá-lo, enquanto o outro tentava impedir Ewen de ajudá-lo. Sutherland não precisava de ajuda. E nem Ewen. Ele trocou golpes com o homem armado de pescoço grosso e peito largo, que conseguiu aterrissar um golpe sólido de sua espada no ombro do Ewen antes que a ponta da lâmina de Ewen pudesse encontrar o pescoço do oponente.
Sutherland percebeu o que aconteceu.
—Vá! — Ele gritou entre balanços de sua espada. — Vou acabar com eles.
Ewen não hesitou. Saltando em um dos cavalos remanescentes, ele saiu galopando na direção em que disse para que Janet corresse.
Ele se debruçou sobre a quina da sela para evitar os galhos e troncos que se espalhavam em todas as direções da floresta que circulava a base das colinas e rezou. Rezou para que tivesse contado errado. Rezou para que a alcançasse a tempo.
Mas um momento mais tarde ouviu um som penetrante que o assombraria para o resto de sua vida. Um grito estridente cheio de terror rasgou o ar do amanhecer nublado, parando seu coração e o catapultando adiante na escuridão, em um abismo pouco conhecido de medo.
Janet tinha toda a intenção de seguir suas ordens. Mas quando o estrondo penetrante de metal contra metal se espalhou pelo ar, sua cabeça instintivamente girou em direção ao som.
Ela parou para olhar por apenas um minuto, mas a visão que seus olhos encontraram não era uma que ela logo esqueceria. Era uma batalha em toda sua crueza e caos horroroso. Duas vezes antes ela viu a violência da guerra — em uma noite na ponte quando tentou salvar sua irmã e o dia na floresta com Marguerite quando encontrou Ewen pela primeira vez, — mas a ferocidade, a brutalidade disto, surpreendeu-a de novo. A visão de espadas balançando, sujeira voando, sangue derramando em uma confusão de homens e feras rosnando assustou-a horrivelmente. Como os sons. A própria barulheira disto. O brado violento de aço e morte.
Como uma praga de gafanhotos revestida de aço, os ingleses fervilhavam sobre os dois Highlanders. Pelo certo, deveria ter sido uma matança. Ela não podia respirar, temendo que Ewen fosse abatido com o primeiro golpe. Mas ela tinha esquecido, ou disse a si mesma que devia ter exagerado a habilidade dele. A força extraordinária e intenção mortal. O propósito brutalmente frio pelo qual ele realizava sua tarefa. Sir Kenneth lutava do mesmo modo, não como um cavaleiro, mas como um bárbaro. Não era difícil demais imaginá-los causando terror através dos mares em uma embarcação viking.
Os dois Highlanders podiam ter sido ultrapassados em número, mas eram de longe superiores em habilidade. Na primeira piscadela da luz do dia, em meio àquele caos e horror, com seus elmos e plaids esvoaçando como capas fantasmagóricos, eles mais pareciam com seres imortais e ameaçadores de outro mundo.
Eles pareciam com... Fantasmas.
A percepção a atordoou por um momento, entretanto, lembrando-se da advertência do Ewen, ela se virou e correu. Correu através das árvores e arbustos até que suas pernas doíam e seus pulmões pareciam que iam explodir ao longo da margem rochosa do rio e através da floresta.
Seguiu não mais do que uma milha quando ouviu latidos atrás dela. O medo apertou seu peito já mais do que apertado. Ela olhou por cima do ombro, viu o cão de caça correndo bem atrás dela, e contra cada instinto em seu corpo que gritava perigo — corra! — Ela se forçou a diminuir a velocidade.
O cachorro era treinado para caçar. Para perseguir. Não ia parar, e não podia correr mais que isso.
Ela não seria sua presa. Com a mão no cabo de sua lâmina, girou para encará-lo. Meio esperando que saltasse em cima dela, ficou surpresa quando ele parou a cerca de três metros de distância. Eles olharam fixamente um para o outro em uma muda encarada. Fera e homem. Ou neste caso, mulher.
Animais sempre gostaram dela. Tentou se lembrar disso enquanto ficava de pé perfeitamente quieta, exceto pelo pesado subir de seu tórax engolindo ar.
O Deerhound18 era grande, sua cabeça cinza aproximadamente no nível de sua cintura. Sua boca repuxada para trás, deixando-a ver todos seus dentes impressionantemente longos, mas seus olhos pretos estavam mais curiosos que enraivecidos. Um cachorro podia ser curioso?
Seu pelo felpudo estava sujo e emaranhado, e parecia estar precisando de um bom banho, mas era um animal de boa aparência, com as linhas longas e esguias de um caçador, talvez um pouco magro nas laterais.
Com a mão que não estava segurando o cabo da lâmina, ela alcançou a bolsa de couro em sua cintura e pegou um pedaço de carne seca. Cautelosamente estendeu murmurando sons suaves enquanto o cachorro a olhava de forma especuladora. Seu coração martelava à medida que o cachorro lentamente fez seu caminho para ela. Não querendo testar a sorte, ela pôs a carne seca no chão. O cachorro se lançou sobre a carne. Devorando-a em segundos, levantou o olhar para ela novamente, dando um pequeno latido de encorajamento.
Apesar das circunstâncias, ela riu. Era um diabinho fofo uma vez que você passava por cima o tamanho e os dentes.
De maneira hesitante, ela estendeu sua mão deixando o cachorro cheirar, murmurando desculpas.
— Sinto muito, isto é tudo que tenho.
Ele latiu novamente e então arquejou esperançosamente, sentando-se aos pés dela. Quando estendeu a mão para acariciar sua cabeça, ele choramingou.
Janet riu.
— Quer dizer que você não é tão apavorante...
De repente, um cavalo e cavaleiro atravessaram as árvores. Um ofego surpreso ficou preso em sua garganta, o brilho da cota de malha o identificou como inimigo. O homem a agarrou, obviamente pretendendo puxá-la sobre seu cavalo, quando de repente o cachorro saltou, seus dentes se fechando sobre o braço coberto pela cota de malha, tentando arrastá-lo para fora do cavalo. De alguma forma, cachorro e o brutamontes se embolaram debaixo das patas traseiras do cavalo, fazendo o cavalo se lançar adiante.
Ela ouviu um estalo horroroso e o uivo aflito do cachorro. Ela se virou depressa, mas imediatamente percebeu o que aconteceu: o cachorro tinha sido esmagado debaixo do cavalo, o cavalo quebrou sua perna e o cavaleiro... o cavaleiro tinha sido jogado para fora, mas estava lentamente ficando de pé. Xingando, ele puxou sua espada e a balançou na confusão entrelaçada de cachorro e cavalo.
Ela gritou e se virou.
— Maldito vira-lata estúpido — ele rosnou. Com o varrer de um golpe, o choro cheio de dor do cachorro parou. Ele seguiu com um segundo golpe e o ansioso resfolegar do cavalo enquanto ele tentou ficar de pé parou.
Sabendo que ele viria atrás dela a seguir tentou correr, gritando novamente quando a mão esticou e agarrou seu braço.
Ele a girou, sua espada erguida acima de sua cabeça.
— Onde você pensa que está indo, sua estúpida cadela rebelde...
Janet não pensou, reagiu. Ela tinha sorte que ele a agarrou por seu braço esquerdo, porque era do direito que precisava para puxar a lâmina de sua bainha e empurrar para cima com toda sua força entre as pernas dele, esperando achar um espaço entre a cota de malha.
Justo enquanto sua faca mergulhava, ouviu um ruído surdo apavorante. Os olhos dele arregalaram. Sua mão apertou o braço dela e então soltou enquanto caía aos seus pés, uma lança atravessando seu pescoço.
Ewen nunca experimentou esse tipo de ira. A visão de Janet sendo apertada de modo rude pelo cavaleiro fez algo com ele. Ela parecia com uma flor prestes a ser esmagada em um torno de aço, seus ossos delicados não era páreo para a força do grande guerreiro com armadura e a espada que podia a qualquer momento arrancar sua cabeça.
Uma raiva negra o tomou. Sede de sangue. Desejo de matar. Sua visão estreitou como se ele estivesse espreitando por um túnel escuro com um único objetivo em vista. Ajustou a lança em sua mão. Não se permitiu pensar que se falhasse, ela morreria. Ele não tinha tempo.
Doze, nove, seis metros de distância... ele lançou com toda sua força.
A lança rasgou através do ar com um zumbido, perfurando a alça da cota de malha do cavaleiro como se fosse manteiga.
Ewen atingiu o chão no mesmo instante que o soldado. Janet virou, o viu, e com um grito suave que rasgou seu coração, correu para dentro de seus braços.
Ele a segurou perto enquanto ela enterrava a cabeça no seu peito, saboreando cada maldita sensação que o tomava. Ela está a salvo, disse a si mesmo repetidas vezes. Salva. Mas seu maldito coração não parava de martelar.
As emoções clamando dentro dele eram diferentes de tudo que já tinha experimentado, e ele levou um tempo para colocá-las sob controle suficiente para falar.
— Você está bem?
Ela movimentou a cabeça acenando contra seu peito, mas ele precisava ver. Cuidadosamente inclinou o queixo dela para trás e olhou para dentro dos olhos cheios de lágrimas. A pele suave de bebê sob as pontas dos seus dedos estava muito pálida, parecia quase translúcida.
— Eu estava tão assustada. O cachorro... — Ela levantou o olhar para ele, atingida. — Foi horrível.
Uma onda de ternura subiu dentro dele com intensidade esmagadora.
— Acabou, meu bem. Acabou.
Ela acenou com a cabeça obedientemente — duvidava que ela tivesse feito isso desde que era criança, e provavelmente nunca mais desde então, — mas o horror do ataque obviamente ainda estava pesando nela. Ela tremia encostada nele, seus ombros esbeltos sacudindo, e uma onda feroz de proteção surgiu dentro dele. Tomou tudo que ele tinha não colocar sua boca na dela e beijá-la até que os dois esquecessem.
Mas não fez. O perigo estava terminado, e com sua ausência vinha a lembrança do seu dever.
Lentamente, relutantemente, a deixou ir.
Ela piscou levantando os olhos para ele, a princípio surpresa, e então com um olhar ferido que o rasgou impiedosamente.
Ele amaldiçoou a injustiça disso. Os deveres, as lealdades, as responsabilidades que tornava isto — eles — impossível.
De repente ela ofegou, seu olhar voando para o braço dele.
— Você está ferido!
Deu uma olhada para baixo, percebendo que a espada do inglês fatiou através de sua roupa e sangue estava derramando dele. Verdade seja dita, ele não sentiu. Embora não pudesse dizer o mesmo de sua perna, que latejava e queimava como se alguém tivesse jogado uísque e então tacado fogo.
— Estou bem. É só um arranhão.
Ela estragou isso com seu biquinho familiar. Quem iria imaginar que o aborrecimento podia parecer tão doce?
— Seu braço podia estar pendurado por um fio e você diria que estava bem.
Um canto de sua boca ergueu em um meio sorriso. Ela provavelmente estava certa.
— Vocês, guerreiros, são todos parecidos... — Ela parou e olhou ao redor ansiosamente. — Onde está Sir Kenneth?
— Não se preocupe. Ele estava acabando quando eu vim atrás de você. Deve estar chegando a qualquer minuto.
— Não posso acreditar que... eu não teria acreditado se não tivesse visto com meus próprios olhos. Dois homens contra tantos... — sua voz mantinha uma inconfundível reverência. Mas ele não podia apreciar isto. Ela estava chegando perto demais. De alguma maneira ele sabia o que ela iria dizer mesmo antes de seus olhos trancarem nos dele. — Você é parte disso, não é? Você é um dos fantasmas de Bruce?
Sangue de Deus, a moça cortejava problemas como um trovador apaixonado! Ela enxergava demais, e agora estava fazendo suposições — suposições perigosas que podiam pôr todos eles em risco. Ela já não estava correndo perigo suficiente? O conhecimento — inclusive a suspeita — como esta levaria a metade do exército inglês atrás dela. Identificar e capturar os membros do exército secreto de Bruce estava no topo da lista do comando inglês.
Sua expressão não deu a ela nenhuma sugestão da tempestade de emoções que sua pergunta soltou dentro dele. Ele fingiu diversão desinteressada.
— Seus pais não disseram a você que não existe tal coisa como fantasma?
Ela ergueu o queixo.
— Você nega ser parte do exército secreto que assolou com as tropas inglesas...
Ele a cortou com uma imprecação, pegando seu braço.
— Nós precisamos ir.
— Você não respondeu minha pergunta.
Mas mal as palavras deixaram sua boca quando ela ouviu algo também. O latido de um cachorro, e não muito atrás disso, o som de cavalos. Seus olhos arregalaram e ela enterrou os saltos dos seus sapatos no chão, impedindo-o de puxá-la em direção ao cavalo.
— Mas e Sir Kenneth? Nós não precisamos esperar por ele?
A boca de Ewen caiu em uma linha severa.
— Ele vai nos achar.
Assim esperava. Mas o som de cavaleiros se aproximando não era um bom presságio. Ele amaldiçoou novamente — silenciosamente, não querendo adicionar à sua preocupação. Mas a missão que tinha começado ruim só parecia estar ficando pior.
Ele estava prestes a ajudar a levantá-la para cima do cavalo quando ela se afastou novamente.
— Espera! Esqueci meu punhal.
Percebendo que ela deve tê-lo usado para tentar se defender, ele a impediu de ir atrás dele.
— Eu vou pegar.
Ele se aproximou do corpo do cavaleiro morto. Não levou muito tempo para localizar a faca.
Bem, estarei condenado. Se sua lança não tivesse acabado com a vida do maldito inglês, a lâmina dela, que estava mergulhada profundamente em sua perna, teria.
Sentiu inconfundivelmente seu peito inchar de orgulho. A moça era uma lutadora. Sua primeira impressão todos esses meses atrás de uma valquíria não estava tão longe.
Enxugando o sangue da lâmina na cota de malha de suas pernas, as quais já estavam manchadas de qualquer maneira de coisas nojentas, ele a estendeu de volta para ela.
Ela levantou o olhar para ele indecisamente.
— Eu fiz...
Ele sabia o que ela estava perguntando.
— Você se defendeu bem, moça. O teria deixado manco por toda vida. — Ele mentiu.
Ela suspirou, parecendo visivelmente aliviada.
— Eu não tinha certeza.
Ele tinha morte suficiente em sua alma para ambos. Ele podia protegê-la disso pelo menos.
Outro latido — este aqui discernívelmente mais próximo — pôs fim ao breve atraso.
Ajudando-a a subir no cavalo, ele montou atrás dela e foram embora, cavalgando curvados ao longo da margem do rio em direção às colinas. Eles montariam o cavalo o máximo que pudessem — ele esperava que tempo suficiente para interromper o cheiro e fazer mais difícil segui-los. Um dos melhores modos de fazer isto era com outro animal. Água também ajudaria. Já que era raso suficiente para fazer isso, ele guiou o cavalo para dentro do rio.
Eles continuaram naquele ritmo frenético por alguns quilômetros, até que os sons de seus perseguidores ficaram mais e mais distantes, eventualmente desaparecendo completamente.
Ele soltou um suspiro de alívio. Eles os perderam por enquanto e não cedo demais. Foi forçado a diminuir a velocidade do seu ritmo consideravelmente, quando o chão começou a subir, e a floresta e o rio do vale sumiam nas colinas cobertas de urze que acenavam para ele como a primeira visão de terra depois de dias no mar. Lar. Refúgio. Segurança.
Apesar do amanhecer ter rompido um tempo atrás, um cobertor espesso de névoa de inverno escondia de vista o topo da montanha estéril. Elas não só pareciam sinistras e assustadoras, também forneceriam bastante cobertura para eles desaparecerem. Mesmo que os ingleses seguissem a trilha deles novamente, pensariam duas vezes sobre segui-los em tal terreno ameaçador.
Mas ele não iria arriscar. Sabendo que o cavalo só dificultaria para eles a partir deste ponto, quando chegou a uma pequena ponte sobre o rio, ele disse a Janet para esperar enquanto ele a cruzava montado. Desmontando, ele bateu na anca do cavalo e o assistiu galopar descendo o caminho estreito. Com alguma sorte ele iria assim por algum tempo. Cuidadoso em esconder sua trilha, ele repassou seus passos até onde Janet permanecia observando-o.
Ela olhava fixamente no rio escuro abaixo com um nariz enrugado.
— Presumo que meus pés vão ficar molhados novamente, não é?
Ele sorriu perante sua expressão.
— Temo que sim.
Instruindo-a a andar em pedras ou chão mais duro sempre que pudesse, ele a ajudou a descer a margem e dentro d’água. Infelizmente, diferente do rio anterior, os bancos eram íngremes e a água espiralava quase até os joelhos dela.
Eles seguiram o rio subindo a colina até que o chão ficou muito íngreme e a água se tornou cachoeira. Marchando em cima na borda, ele apontou para uma pedra grande.
— Nós podemos descansar aqui durante algum tempo.
Não precisando de mais encorajamento, ela desmoronou. Encolhendo os ombros para tirar os sacos que ele levava, usou um deles como assento e juntou-se a ela. Felizmente, junto com os sacos de seus pertences, também estava levando a comida. Tentou não pensar em Sutherland, dizendo a si mesmo que seu novo recruta podia cuidar de si mesmo. Mas o ataque não devia ter acontecido. Era trabalho de Ewen garantir que não acontecesse. Se ele se sentia responsável, era porque era responsável. Ele falhou, droga, e não engolia bem o fracasso.
O que deu errado? Como diabos os cachorros capturaram seu cheiro? Aparentemente os pensamentos dela estavam correndo na mesma direção que os seus.
— Acha que nós os despistamos?
— Por enquanto. — Ele disse. — Com os cavalos e o rio, os cães terão dificuldade em seguir o cheiro.
— Mas como eles captaram?
— Não sei. Tive a maldita certeza que nós não deixamos nada...
Ele parou, seu olhar captou um vislumbre de um cacho de cabelo dourado que deslizou de sua trança. Até na névoa, sua cabeça dourada brilhava luminosa. Sua cabeça dourada nua. Sua boca caiu em uma linha dura, enquanto a explicação para o que aconteceu ficou clara. Ele xingou.
— Onde está sua touca?
CAPÍTULO 15
A mão de Janet foi para cabeça reflexivamente. Ficou surpresa por encontrar mechas suaves de cabelo debaixo de sua palma em vez de lã.
— Oh, não percebi — ela pensou em voz alta. — Deve ter caído ontem à noite quando deslizei do cavalo.
Ele amaldiçoou novamente, o que era redundante em sua opinião, já que só de olhar para cara dele dizia tudo. Ele estava furioso. Além de furioso, realmente. Irado. Tempestuoso. O tipo de tempestade de quarenta dias e quarenta noites.
— Deve ter sido como eles nos rastrearam.
— Eu sinto muito, não percebi...
Ele ficou de pé e a levantou arrastando. Ela ficou meia surpresa por não a ter agarrado pela orelha como um filhote de cachorro malcriado. — Maldição, eu disse a você que nós precisávamos ser cuidadosos. Não é de se espantar que eles nos seguissem tão depressa. Você os levou direto para nós.
Ele não precisava dizer isso, ela sabia o que estava pensando. É por isso que uma mulher não pertencia a este lugar. Uma mulher não tem que estar na guerra. Volte para sua agradável caixinha e fique fora disto.
Queria tanto impressioná-lo, mostrar lhe que podia ajudar tanto quanto ele — de um modo diferente talvez, mas de uma maneira que também fosse valiosa. Ao invés disso, ela provou o ponto dele. Como podia esperar que a visse de um certo modo se ela cometia erros tolos?
Janet queria discutir com ele. Seu instinto era se defender, tentar argumentar. Mas pelo menos uma vez ela não tinha uma desculpa ou explicação. Ele não estava sendo injusto, estava só falando a verdade — ainda que a maioria das pessoas não teria falado tão claramente. Mas evitar magoar não era o forte do Ewen. Não, ele era honrado e ia direto à falha.
Normalmente ela não se importaria. Mas estava assustada e cansada, tendo dormido só algumas horas nos últimos dois dias, e se sentindo anormalmente vulnerável depois do que tinha acontecido mais cedo. Eles compartilharam algo na floresta: uma honestidade de emoção que não o deixaria negar. Estava tão certa que a beijaria. Tão certa que ele poria de lado qualquer reserva que tivesse. Mas se afastou dela novamente. E agora...
Suas mãos se retorceram, um sentimento doente parecendo crescer em seu estômago.
— Foi um erro inocente.
— Um erro que poderia ter matado a todos nós.
Ela se encolheu tanto da dureza de aço em seu olhar quanto do chicote verbal que veio junto.
— Eu disse que sinto muito, não sei o que mais posso fazer.
— Nada. Mas da próxima vez que eu disser algo a você, tente seguir as ordens.
Janet chegou ao limite de sua aceitação passiva de culpa.
— Não sou um dos seus homens para que você possa mandar.
— Isso está dolorosamente claro. Meus homens são muito mais disciplinados.
Agora ele não era o único a perder seu temperamento, ela faiscou como uma fogueira. Suas mãos se retorcendo fecharam em punhos aos lados de seu corpo.
— Certo. Mulheres não têm lugar no campo de batalha, é o que você quer que eu diga?
Os olhos dele faiscaram. Ele se inclinou mais perto dela e rosnou.
— É um maldito bom começo.
Janet quis bater o pé em ultraje. Mas apesar disso sem dúvida daria a ele mais motivos para tratá-la como uma criança, ela jogou sua cabeça para trás com um alto bufo.
Ele era o homem mais exasperante, mandão, bruto e irracional que ela já conheceu!
E ainda assim, mesmo ele estando aqui de pé lhe passando um sermão — que infelizmente neste caso era merecido — uma parte tola dela ainda esperava que a tomasse nos braços e dissesse que estava tudo bem. Confortá-la como ele fez antes. Para um homem tão formidavelmente encorpado, ele fora surpreendentemente gentil.
Mas conforto era a última coisa na cabeça dele.
— Você vai ter que tirar suas roupas.
Ela recuou.
— Minhas roupas?
— Aye, todas elas. E entre no rio. Você fede a jacintos, esfregue cada pedacinho disso do seu cabelo e pele. Nós precisamos ter certeza que eles perderam o cheiro.
— Mas... — Ela olhou para laguinho abaixo da cachoeira. Mesmo daqui parecia gelado. E jacintos não fediam.
Ele apertou sua mandíbula como se lutando por paciência.
— Maldição, você pode apenas seguir ordens pelo menos uma vez?
Seus olhos se trancaram em uma batalha silenciosa de vontades. Ela já teve o suficiente de seus comandos rudes. Um sorriso secreto curvou seus lábios, enquanto o diabo dentro dela botava para fora sua cabeça feia.
Eu posso seguir ordens, tudo bem.
— Como você quiser.
Ela deixou o plaid escorregar de seus ombros e cair em uma poça escura aos seus pés.
Ele piscou.
Erguendo uma sobrancelha distintamente desafiadora, ela soltou seu gibão, que se juntou ao plaid aos seus pés um instante mais tarde.
Ele se arrumou para achar sua voz quando ela chutou suas botas e começou a puxar os calções de couro acima de seus quadris.
— O que você está fazendo? — Ele disse — bastante estupidamente na sua opinião.
Ela sorriu, removendo suas meias.
— Seguindo ordens — ela levantou o olhar para ele com ingenuidade. — Precisa de água?
— Água? Não, por quê?
— Sua garganta parece um pouco seca.
E com isto, ela ergueu a camisa por cima da cabeça.
Deve ter sido a batalha. Ou talvez o esgotamento físico dos últimos dias. Mas enquanto Ewen estava lá, assistindo-a, seus membros se transformaram em chumbo. Ele não podia se mover. Não teve a força para impedi-la.
Oh Deus, detenha-a.
Mas antes que alguma medida de autopreservação pudesse assumir, a camisa dela caiu no chão.
O mundo parou. Seu coração se esqueceu de bater. Sua boca estava seca mesmo. Uma secura que queimava. Chamuscando. Sua garganta estava tão esturricada quanto os desertos de Outremer, e ele sabia que não existia água suficiente nos oceanos deste mundo de meu Deus para extinguir a sede que ele tinha por ela.
Ela era perfeita. Membros longos, esbelta e curvilínea em todos os lugares certos, com centímetros e centímetros de pele impecável e cremosa. Os seios firmes e redondos que foram marcados a ferro em sua memória eram ainda mais espetaculares do que ele se lembrava, os pequenos mamilos cor de rosa enrijecidos e escuros, e o lugar suave e feminino entre suas pernas...
Meu Deus do céu! Ele gemeu. Desejo apertou sua virilha, quente e dolorido, puxando e apertando com necessidade.
Sua voz o trouxe de volta.
— É isso que você queria?
O desafio rouco da voz dela enviou uma bola de fogo de luxúria correndo por sua espinha abaixo. Juntou-se na base pulsando — não, tremendo — com necessidade.
Ele olhou dentro dos olhos dela.
Maldita! A moça não tinha um osso fraco ou vulnerável em seu corpo. Até nua como o dia que Deus a fez, era corajosa, desafiadora e forte.
Forte suficiente para quebrá-lo.
No espaço de dois longos segundos ele a teve em seus braços, sua pele suave como veludo esmagado contra ele.
Ela ofegou pela brusquidão do seu movimento, mas não resistiu. Não, ela pediu por isto, e por tudo que era santo, ela aceitaria.
Por uma fração de segundo, Janet sentiu um faiscar de medo e perguntou a si mesma se ela o empurrou muito longe. Entretanto estava em seus braços e sabia que ele nunca a machucaria. Mesmo fora de controle, Ewen a segurava com uma gentileza que era desmentida pelo corpo forte e duro contra ela.
O couro e aço de sua armadura contra sua carne nua era um choque, embora nem um pouco desagradável. Existia algo estranhamente sensual sobre ter todo aquele couro morno e metal frio apertado contra ela. Ou talvez fosse só que ela estava tão fria antes, o calor irradiando de seu corpo fez qualquer desconforto parecer pequeno.
Ela inclinou sua cabeça para trás, examinando seus olhos.
A ferocidade da expressão dele enviou uma excitação disparando por suas veias.
— Sua maldita — ele disse furiosamente, seu último ofego de protesto antes de se render.
Todos os pensamentos de gentileza foram esquecidos enquanto sua boca cobria a dela. Ele a beijou rudemente, seus lábios se movendo acima dos dela com uma possessividade feroz que a fez ofegar. E gemer. Mais de uma vez. Especialmente quando ele começou a usar sua língua. Os golpes fundos e penetrantes definitivamente produziram muitos gemidos nela. Gemidos baixos e urgentes que pareciam começar em algum lugar bem lá no fundo — bem sobre o lugar em que podia senti-lo duro contra ela. Estremeceu, seu corpo respondendo à primitiva evidência do desejo dele. Ela estava dolorosamente ciente de cada centímetro grossa daquela evidência.
Ele a puxou mais perto, curvando-a para trás, indo mais e mais fundo. Ela teve que lutar para acompanhá-lo, sua inocência não era páreo para a crua investida da paixão.
Sabia que ele estava castigando-a por forçá-lo a isso, tentando assustá-la com a intensidade de seu desejo. Mas Janet o encontrou golpe a golpe. Ela podia ser uma serva inocente, mas os instintos que ele despertou nela eram daqueles temerários. Ela queria isso. Cada pedaço tanto quanto ele, e a sensualidade crua da sua paixão apenas alimentava a dela.
Aye, ela estava quente, sua pele quase febril. Parecia estar derretendo, dissolvendo em uma poça de calor derretido. Ele removeu suas luvas e a sensação de suas mãos grandes e calosas vagando sobre sua pele nua — acariciando, apertando, não deixando nenhuma centímetro sem tocar — só aumentava aquele calor e produzia muito mais daqueles gemidinhos.
— Deus, você é tão gostosa. Sua pele é tão suave — o calor de sua respiração soprou em sua orelha, mas foram suas palavras que a fizeram estremecer. — Quero tocar em você por toda parte. Cada centímetro seu, mo chroí. — "Meu coração" — a expressão terna fez seu peito apertar. Janet não podia acreditar que era Ewen falando com ela desse jeito. As palavras suaves como seda não podiam ter estado mais em conflito com o guerreiro rude que falava sem pensar ou se importar com traquejos sociais. Era uma combinação arrojada, a paixão feroz e áspera misturada com as palavras suaves e sensuais. Suas mãos a possuíam, deslizando por suas costas abaixo, sobre sua bunda, erguendo-a um pouco mais forte contra ele, esfregando... Ave Maria! Ela podia ter saltado, seu corpo inteiro acendendo com uma energia não diferente de relâmpago engarrafado. Ela esqueceu de respirar, seu corpo tenso e esperando. Pelo que?
— Deus, você está me matando.
Normalmente ela não pensaria que era uma coisa tão boa, mas o modo como ele disse a fez pensar que poderia ser. Sua boca se movia para baixo e para cima de seu pescoço de maneira faminta, deixando sua pele em chamas pelo caminho. Seu coração estava martelando. Seus joelhos estavam bambeando. E o lugar entre suas pernas... uma onda fresca de calor subiu para suas bochechas. Ela não queria nem pensar sobre o que estava acontecendo lá. Estava quente e dolorida e... molhada, com estranhos pequenos tremores...
Oh! Ele se esfregou contra ela novamente e aqueles estranhos pequenos tremores começaram a pulsar. Ela o queria ali. Bem aí. A coluna de aço grossa cunhou alto e apertado, esfregando contra ela.
— Doce Jesus, você está me deixando selvagem — sua voz estava esfarrapada e apertada com restrição.
Janet conhecia a sensação.
— Eu quero estar dentro de você — ele sussurrou em sua orelha.
Ela quase gritou desapontada quando ele liberou seu aperto na bunda dela e a pressão gostosa foi embora. Mas sua decepção durou só um momento. A mão dele deslizou rapidamente por cima do seu estômago para cobrir um seio.
— Tão macia — ele gemeu, apertando, apalpando-a suavemente em sua mão. — Seus seios são incríveis. Sonhei em fazer isso desde a primeira vez que vi você.
Foi?
Janet ficou feliz por ele não parecer esperar uma resposta, enquanto ela estava tendo dificuldade em respirar. As sensações que as mãos dele causavam em seu corpo estavam comandando toda sua atenção. Instintivamente ela arqueou em sua mão, tendo descoberto bastante depressa que essa pressão aumentava as sensações.
Mas ela não antecipou a sensação dos dedos dele em seu mamilo. A ponta áspera de seu polegar acima do bico sensível e latejante quase a enviou saltando fora de sua pele novamente, enquanto outro relâmpago daqueles enviou um flash de energia disparando através do que pareceu ser cada terminação nervosa do seu corpo.
Ele fez um som rude antes de sua boca cobrir a dela novamente. Ela o sentiu alcançar a ponta do seu laço. Seu beijo não era mais punitivo, mas determinado. Cada golpe de sua língua, cada toque das mãos em seu corpo parecia calculado para aumentar sua paixão, trazê-la cada vez mais perto de algo que pairava justo fora do seu alcance. Ela estremeceu com antecipação.
Ele ergueu a cabeça.
— Está com frio?
Excitada além da medida. Ela sacudiu a cabeça, administrando a falta de fôlego:
— Quente.
— Bom — seus olhos escureceram. — Você está prestes a ficar muito mais quente.
Estremeceu novamente, ouvindo a promessa sensual em sua voz áspera. Ele era tão bom quanto sua palavra. Um momento mais tarde quando a boca achou seu seio, ela pensou que tinha caído nas entranhas ardentes do inferno, pois certamente deve ser um pecado se sentir tão bem.
Ela gritou quando sua língua circulou o mamilo e começou a chupar. Suavemente a princípio, e então um pouco mais duro, conforme ela arqueava mais fundo em sua boca. O calor. A raspadura de seu queixo. O escovar sedoso do seu cabelo na pele dela. Era demais. Não era suficiente.
Ela começou a se retorcer em frustração, e ele finalmente deu o alívio que ela sem saber buscava. Sua língua lavou e sacudiu contra seu mamilo ao mesmo tempo em que seus dedos deslizando entre a junção de suas coxas. Ficou imóvel, o instinto lhe dizendo o que ele estava prestes a fazer. Ela teve um momento de pânico. Vinte e sete anos de virgindade, de guardar sua castidade como uma relíquia sagrada não era renunciada sem uma pequena pontada de incerteza. Isso era errado? Quase como se ouvisse sua pergunta não dita, ele ergueu a cabeça. Seus olhos se encontraram, e qualquer incerteza que ela teve enfraqueceu na intensidade da emoção que viu refletido no olhar dele.
E então ele a tocou. Ali. No lugar que ela sem saber reservou para ele para este momento. Prazer floresceu bem no fundo dela como uma flor desabrochando suas pétalas aveludadas ao sol enquanto ele prendia seu olhar e a acariciava. Era mágico. Bonito. A coisa mais perfeita e natural no mundo. Como isso podia ser errado?
As sensações estavam se construindo mais rápido agora, correndo em um ritmo frenético em direção a um determinado fim. E momentos mais tarde quando ela olhou dentro de seus olhos enquanto ele a acariciava até o próprio cume da paixão, quando ficou sem fôlego, seu corpo apertou, e calor se espalhou por cada centímetro dela quebrando em uma luz ofuscante, Janet soube de mais uma coisa: estava muito contente que não era freira.
Ewen estava perdido no momento em que olhou dentro dos olhos dela. Vendo-a se desmanchar, assistindo a paixão espalhar sobre seu rosto em euforia sensual, lábios inchados separados, bochechas enrubescidas e olhos suaves com prazer, soltou algo dentro dele que não podia ser contido.
Luxúria o atravessou diferente de qualquer coisa que ele já experimentou. Era mais poderoso. Mais intenso. Mais profundo. Isso não encheu apenas seu membro — que estava tão duro quanto um pilar de mármore, — mas seus ossos, seu sangue, cada centímetro de seu corpo, inclusive uma parte dele que desejou que não fizesse: seu coração.
Sua necessidade por ela era elementar. Como água, comida e o ar que respirava, ele tinha que tê-la. O último refluxo da liberação dela ainda enfraquecia antes dele a colocar no chão, o plaid descartado debaixo dela. Ele se atrapalhou com suas calças. Da próxima vez, ele jurou. Da próxima vez ele faria isto perfeito. Desta vez teria sorte se durasse alguns minutos.
Estava fora de controle, passou do ponto da razão, seu corpo se movendo por vontade própria. Ele não queria se permitir pensar. Sangue martelava através do seu corpo, dentro de sua cabeça. Suor se reuniu em sua sobrancelha. Ele nunca quis nada tão intensamente na sua vida.
Ar frio abençoado atingiu sua pele quente quando se liberou de suas calças dolorosamente apertadas. Ele se moveu para se posicionar, alavancando seu corpo acima do dela, centímetros, segundos, do doce alívio. Ele estava duro como uma espiga, vermelho e pulsante. Pulsando dolorosamente. O tipo de latejar: preciso gozar nesse instante. Uma gota escapou em perversa antecipação.
Seus dentes apertaram. Mais alguns segundos...
Não podia esperar por esse primeiro momento maravilhoso de contato, quando a ponta quente e sensível encontraria a morna e feminina umidade. Ele podia quase senti-la apertada e quente ao redor dele, uma luva aveludada apertada, agarrando... apertando... ordenhando. Suas nádegas apertaram. Os olhos dela tremularam abertos. O sorriso que se espalhou por seu rosto espremeu seu peito como um torno, cortando sua respiração já trabalhosa. Tão bonito...
— Isso foi maravilhoso. Eu nunca imaginei que... — Ela olhou para ele. — Tem mais?
Moça gulosa! Ele sorriu.
— Aye, isto é só o começo. Vou fazer você...
Minha.
Ele ficou imóvel. A palavra chacoalhando algo dentro dele, despertando sua consciência de sua soneca drogada.
— Vai me fazer o que? — Ela disse resolutamente. Ela olhou para baixo, olhos arregalando à medida que caíam sobre ele. — Oh... Oh!
Os olhos dela dispararam de volta para ele de maneira incerta, e com mais do que um pouco de medo. Não era sem motivo. Ele foi feito para o prazer da mulher. Mas ela não era uma mulher, era uma serva.
É uma serva, ele se corrigiu.
Cada músculo em seu corpo flexionou com restrição. Seria tão fácil investir para dentro. Ele curvou sua cabeça, seu corpo tremendo, lutando para se controlar enquanto a necessidade de seu corpo guerreava com sua mente. Uma mente que ele queria calar.
Só termine. Você pode fazer isto bom para ela. Ela quer isso. É tarde demais, droga.
Mas não era tarde demais. Não ainda.
Ela não é sua. Mas pode ser. Mais alguns centímetros e você pode fazer isto.
Mas a que custo? Tudo que ele esteve lutando para alcançar? Ele era como seu pai afinal? Ele amaldiçoou, não percebendo que articulou o xingamento vil em voz alta até que ela ofegou.
— O que está errado? — Ela estendeu sua mão para cima e tocou em seu rosto tenso.
Ele encolheu os ombros para tirá-la e se afastou, cada instinto em seu corpo rugindo em protesto.
— Não posso fazer isso.
— Por que não?
Ele já estava de pé, afastando-se. Não podia olhar para ela, a emoção em sua voz estava corroendo-o suficiente. Ele precisava de um minuto — mais do que um minuto — para se colocar sob controle.
— Tem sabão e algumas roupas extras na minha bolsa. Lave essas malditas flores. Assim que você acabar nós podemos ir.
Afastar-se foi a coisa mais dura que Ewen já fez. Ele amaldiçoou cada passo que o levava para longe dela. Sua honra e lealdade foram empurradas a ponto de quebrarem, deixando-o sem lugar algum para ir.
CAPÍTULO 16
Janet não entendeu o que tinha acabado de acontecer. Num minuto estava ali com ela e estavam tão perto quanto duas pessoas podiam estar, no outro ele estava em outro lugar. Em algum lugar que não podia alcançá-lo. A ferocidade de sua expressão a alarmou. Ele parecia quebrado — torturado. Ela chamou atrás dele enquanto ia embora, mas agiu como se não a ouvisse e seguiu em frente.
Deixando-a deitada. Literalmente de costas. Se ela não estivesse tão confusa, poderia ter chorado. Como ele ousava deixá-la desse jeito! Estava pronta — ansiosa — para experimentar isso tudo. Ela se entregou a ele, e ele a rejeitou.
Sozinha e sem o calor do seu corpo, ela estremeceu. O frio da manhã nublada mais uma vez se infiltrou em seus ossos. Mas não era nada comparado ao que estava por vir. Sem escolha além de fazer o que ele disse, ela então passou dois, talvez três dos minutos mais desagradáveis de sua vida, banhando-se no lago de água gelada debaixo da cachoeira.
Forçar seus pés a sair da beirada rochosa não era nada fácil. Só de saber que ela era a culpada pelos ingleses estarem perseguindo-os a compelia adiante. Ela saltou. Dizer que a água era um choque era um eufemismo de proporções gigantescas. Isso filtrou cada pedacinho de sensação de seus ossos, tirando sua letargia e qualquer memória prolongada do que tinha acabado de acontecer com isto. Mas ela nunca esqueceria. Ele lhe mostrou um vislumbre do céu e nada podia levar isto. Nem ele, nem a água. Nada.
Rompendo a superfície, ela esfregou seu cabelo e membros com a lasca de sabão, não tentando apenas apagar o “fedor” dos jacintos, mas também manter o sangue se movendo assim não morreria congelada. Sair não forneceu muito alívio. Seus dentes ainda estavam chacoalhando minutos mais tarde quando ele retornou. Ela não teve que perguntar onde foi. Pelo seu cabelo úmido, percebeu que ele também tomou banho, embora mais abaixo no rio.
Seu olhar a varreu. Se ficou agradado ao ver que fez como ele disse, ela não podia dizer. Toda evidência da expressão torturada saiu de seu rosto, suas feições mais uma vez estampadas em uma máscara em branco. A falta de emoção a irritava. Como ele podia estar tão inalterado, quando ela estava tão afetada? Sua boca se comprimiu, raiva atravessando um pouco da confusão.
— Precisa de ajuda?
Aparentemente ele notou a dificuldade que estava tendo em se vestir. Embora tivesse conseguido vestir uma de suas camisas e calções de lã, a camisa já estava meio ensopada por seu cabelo molhado e seus dedos não estavam cooperando quando ela tentou puxar os calções.
Ela sacudiu a cabeça. Como uma oferta de paz — se é o que isso era — não foi o suficiente. Ele a rejeitou, deixando-a daquele jeito, e ela não o deixaria fingir que nada aconteceu. Como se a colocando nas suas roupas pudesse apagar a evidência da memória! Ela estava quase se embrulhando no plaid novamente quando ele a deteve.
— Você não pode vestir nada que usou antes. Deixaremos isto com as outras coisas.
— Mas isso pertence a Eoin e é quente.
Ela pensou que sua boca repuxou um pouco mais apertada.
— MacLean vai entender — Ewen tirou seu próprio plaid e o estendeu para ela. — Pode vestir o meu.
Seus olhos se prenderam por um longo minuto, como se existisse algum tipo de significado além do calor que isso ofereceria, mas então ele desviou o olhar e o momento se foi.
Ela tomou o plaid e depressa o envolveu ao redor de si mesma, incapaz de conter o suspiro de prazer quanto o calor envolvia seus membros congelados. O calor do corpo dele parecia capturado no intricado entrelace dos fios de lã. Se ela inalasse (o que ela fez), podia só pegar um leve cheiro do familiar pinho e couro.
Depois de alguns minutos ela estava aquecida suficiente para terminar de se vestir. Juntou as mechas ensopadas de seu cabelo em uma trança apertada na nuca e calçou as botas. Pelo menos ele não insistiu que ela fosse descalça. Ele estendeu um pedaço de corda, a qual ela olhou inexpressivamente.
— Para os calções — ele explicou. — As amarras não parecem estar funcionando muito bem.
Realmente, ela constantemente tinha que puxar as calças para cima para não escorregarem por seus quadris. Ainda assim, eram melhores que suas outras opções: seu hábito ou o belo vestido que Mary mandou buscar para ela apresentar-se na corte.
Ela enfiou a camisa de linho nos calções e juntou um bolo ao redor de sua cintura, usando a corda como cinto. Notando o modo que os olhos dele caíram em seus quadris, demorando com fome quase palpável por um momento, até que ele forçou seu olhar para longe, ela teve certeza de levar seu tempo. Vingança insignificante talvez, mas que se provou surpreendentemente satisfatória.
O cinto adicional ajudou, e alguns momentos mais tarde, depois que ele amarrou sua antiga roupa emprestada ao redor de uma pilha de pedras e a lançou no lago, ele juntou os pertences deles para irem embora.
Mas Janet não estava pronta para partir. Não sem uma explicação. Ela pegou seu braço antes dele poder ir embora.
— Por que você parou daquele jeito? Eu fiz algo errado?
Sua mandíbula apertou, seu olhar azul de aço se encontrou com o dela.
— Não agora, Janet. Precisamos nos mover mais alto nas colinas. Eles não desistirão da caça.
— Talvez não, mas a menos que você ache que eles estão bem atrás de nós, certamente pode me dar alguns minutos. Não mereço algum tipo de explicação?
A expressão dela se tornou aflita.
— Você não fez nada errado. Foi minha culpa. Nunca devia ter acontecido.
— Por que não?
Seus olhos faiscaram quentes.
— Porque não é certo. Sua inocência pertence ao seu marido, maldição.
Janet endureceu, tentando não exagerar ou ficar desapontada. Sua reação era compreensível — era como a maioria dos homens pensava. Mas ela não queria que ele pensasse como a maioria dos homens. Queria que a visse por ela mesma e não como uma posse ou acessório. Era demais pedir isso?
Às vezes ela podia quase se convencer que ele era diferente. Que sua irracionalidade era apenas resultado da inexperiência. Que ele não conhecia nada melhor, mas que uma vez que conseguisse conhecê-la a veria como… o que? Capaz. Certamente não uma virgem para ser trocada e vendida como uma vaca premiada.
— Minha inocência pertence a mim — ela disse firmemente. — É minha para perder ou não.
— Eu queria que fosse verdade. Mas não é tão simples, Janet. Você é a filha de um conde e cunhada do rei. Seu marido vai esperar...
— Que marido? Não sou casada, nem pretendo ser.
Sua veemência o levou para trás.
— Você soa tão certa.
Ela ergueu o queixo.
— Estou.
— Você está seriamente considerando se tornar freira?
Depois do que tinha acabado de acontecer, isso soou da mesma maneira improvável para ela. Mas faria o que devia.
— Se esta for minha única alternativa ao casamento.
— Você faz o casamento soar como uma sentença de morte. Realmente seria tão horrível?
Ela pensou em sua família. Sim, seria. Como ela podia explicar? Como podia fazê-lo entender o que para ele — para a maioria dos homens — deve parecer antinatural?
— Eu me perderia.
A sobrancelha dele franziu.
— Como?
— Eu não teria mais a capacidade de controlar minhas próprias ações. Tudo, até a menor decisão, seria controlada por meu marido. Minha vontade não seria mais minha. Não tenho nenhuma vontade de ser tratada como uma posse.
Ele franziu o cenho.
— Não é sempre assim.
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Então você conhece muitos homens quem tratam suas esposas como iguais?
Seu cenho franzido aprofundou.
— Alguns.
Seu coração saltou adiante. Isso o incluía?
— E você permitiria a sua esposa o poder de tomar suas próprias decisões ainda que elas não concordassem com as suas?
— Não estamos falando sobre mim.
— Não, não estamos — disse baixinho, seu coração apertando com inesperada decepção. Ela não podia ter estado pensando nele como marido, não é? — Mas queria saber minhas razões e você é um exemplo perfeito. Deixou seus pensamentos sobre o que estou fazendo bastante claro. Por que podia esperar que outro homem se sentisse de forma diferente? Pode imaginar um marido permitindo que eu continuasse meu trabalho?
Sua boca apertou teimosamente.
— Seu trabalho é perigoso.
— Então preciso ser protegida de mim mesma, é isso? — Não surpreendentemente, ele não respondeu. Ela decidiu devolver a pergunta a ele. — Por que está tão certo que eu não devia estar fazendo isto? Por que tem tão pouca consideração com as mulheres ou é só eu?
Ele pareceu chocado.
— Jesus, Janet, só porque não penso que é seguro para você vagar por toda parte da Escócia sozinha no meio de uma guerra, realizando algo que pode fazê-la ser morta se for descoberta não significa que penso menos de você. Diabos, já se provou para todo mundo depois de hoje. Você agiu tão bem quanto qualquer homem — o peito dela se ergueu ante suas palavras. Ele não fazia ideia do quanto elas significavam para ela. — Mas ser mulher a torna vulnerável de modos diferentes. Quando penso no que podia acontecer a você… — seu rosto escureceu e seus olhos tomaram uma cobertura assombrada. — Maldição, tem alguma ideia do que os ingleses fariam com você se descobrissem o que estava fazendo?
Existia algo mais no trabalho aqui do que simplesmente sua visão em papéis tradicionais para homens e mulheres. Obviamente ele estava falando de experiência pessoal.
— Diga-me o que aconteceu.
Sua mandíbula apertou tão firmemente que ela podia ver o músculo abaixo começando a repuxar.
— Foi há alguns anos, não muito depois que nós chegamos à Escócia depois de sermos forçados a nos refugiarmos nas Ilhas por alguns meses. — Ela engoliu em seco. Foi quando seu irmão Duncan tinha sido morto. — Nós estávamos sendo caçados, a maré ainda não tinha virado, e um punhado de aldeões, principalmente mulheres e crianças, ajudaram a nos esconder nas colinas. Os ingleses descobriram, e quando nós voltamos para agradecê-los — seus olhos encontraram os dela — não tinha restado ninguém para agradecer. As mulheres foram estupradas e espancadas antes de terem suas gargantas cortadas. Só uma moça sobreviveu.
Janet ofegou. Apesar dele ter falado com sua aspereza habitual, ela podia ouvir a emoção em sua voz e perceber o quanto deve ter sido horrível.
— Não foi culpa sua.
— Claro que foi — ele estalou. — Nós pedimos ajuda a eles, nunca imaginando o risco que estávamos pedindo que corressem.
— Mas eles teriam feito isto de qualquer maneira — ela disse suavemente. — Mesmo sabendo, eles teriam te ajudado.
— Como pode saber disso?
— Porque eu teria feito o mesmo.
Ele olhou fixamente para ela, não dizendo nada por um momento.
— Por que ser mensageira é tão importante para você?
— O porquê não devia importar. O fato em si deve ser suficiente — era demais esperar que um homem pudesse entender isto? — Não pergunto a você por que faz o que faz. Só porque não uso armadura e levo uma espada não faz o que faço menos importante. — Ela fez uma pausa. — Esta guerra não será ganha só pela espada, Ewen. Como você acha que os fantasmas de Bruce sabem o lugar certo para atacar? — Ele a estava observando atentamente. — Bons espiões passaram por mensageiros.
Ela deixou como estava, não querendo dizer mais.
Ele pareceu considerar o que disse, mas se deu a isto qualquer peso, ela não podia dizer.
— Isto é sobre sua irmã?
Ela endureceu.
— Sobre o que você está falando?
— Você não tem que se provar ou reconciliar pelo que aconteceu na ponte. Mary não te culpa. Se você só soubesse o quão desesperada ela esteve para te achar e quão ansiosa está para ter você de volta.
O coração de Janet devorou cada palavra. Era verdade? Ela queria acreditar nele e ansiava questioná-lo, mas isso significaria reconhecer para si mesma que suas palavras guardavam alguma verdade.
— Minha irmã não tem nada a ver com isso. Não é suficiente querer ajudar? Sempre tem que haver uma razão adicional? E você, por que está aqui, Ewen? O que fez você decidir ser um dos fantasmas de Bruce?
Ele fez uma cara feia, mas não mordeu a isca.
— Eu me juntei ao exército de Bruce porque meu suserano, e um homem que eu respeitava acima de todos os outros, pediu que o fizesse. Fiquei para livrar meu clã da extinção.
Os olhos dela se arregalaram pela honestidade cega. Nada de febre ou falas patrióticas de liberdade e tirania dele, somente ambição e recompensa.
— Seu pai? — Ela perguntou.
Levou um momento para perceber o que ela queria dizer. Quando entendeu, ele riu.
— Dificilmente. Meu pai não era homem de inspirar muita devoção. Não, falo do antigo Stewart, Sir James Stewart.
Janet não pode esconder a surpresa. Era este o senhor que ele falou quem o criou? Os Lordes Stewart de Bute eram um dos clãs mais importantes do país. — Você é conectado aos Stewarts?
Um sorriso torto virou sua boca, como se ele adivinhasse a direção de seus pensamentos.
— Não próximo. Minha mãe era prima de Sir James, sua prima favorita, quando isso aconteceu. — Vendo sua confusão, ele suspirou como se resignando a ter que dizer mais. — Minha mãe era noiva do Chefe dos Lamont quando ela conheceu meu pai, um dos seus comandantes, e decidiu casar com ele em vez do outro. Desnecessário dizer, o chefe dos Lamont não ficou muito feliz. Ele foi à guerra com meu pai e o teria destruído sem a ajuda de Sir James. — Ele sacudiu a cabeça. — Ironicamente foi meu pai sendo cortado do resto do clã que me deu a habilidade para salvar isto.
— O que você quer dizer?
— Tipo os MacDougalls, MacDowells e Comyns, meu primo, o chefe atual, e os membros do seu clã ficaram contra Bruce, foram exilados e tiveram as terras do clã desapropriadas, com exceção das minhas terras em Ardlamont. Se não fosse pela minha conexão com os Stewarts, e deste modo com Bruce, eu estaria com eles. Como isso está, sou o último Lamont em Cowal. Meu clã vive ou morre com a habilidade da minha espada, por assim dizer.
Janet estava atordoada. Não é de se espantar que ele parecia tão teimoso e com um único objetivo em mente sobre cada missão. O futuro do que foi uma vez um grande clã descansava em seus ombros largos. Mas outra coisa mais que ele disse deu a ela um sussurro de possibilidade.
— Você é um chefe?
Ele segurou seu olhar.
— Não fique muito impressionada, minha senhora. É só uma propriedade secundária, com metade de um castelo.
As sobrancelhas dela franziram, não entendendo o sarcasmo.
— Até o rei te recompensar com mais pelo seu serviço?
Ele deu de ombros.
— Se for da sua vontade.
Ela olhou-o especulativamente. Apesar de ele ter dito isto com indiferença, sentiu o quanto importava para ele. Era isso que o conduzia. Recompensa e uma posição para seu clã sob a monarquia de Bruce. Também fornecia outra explicação para o porquê dele ter parado. Despojar a cunhada do rei dificilmente agradaria a Robert.
Mas não havia nenhuma razão para que Robert algum dia descobrisse. Não que ela pensasse que isso provavelmente influenciaria Ewen. Estava provando ter uma raia de honra inconveniente nele.
Ela mordeu o lábio, perguntando-se se existia outro modo. Apesar de sua continuada rejeição e comportamento apavorantes em se afastar dela no meio do ato de amor, ela ainda o queria e não iria desistir.
Por que isso era tão importante para ela, não sabia. Ou era uma glutona por castigo ou existia algo verdadeiramente especial entre eles que valia a pena os golpes continuados no seu orgulho. E havia a paixão. A inegável atração que surgiu entre eles como uma fogueira. Ela não podia descontar isto.
Em todo caso — eu não posso fazer isto — não era uma resposta que ela tinha intenção de aceitar. Soava demais como não. Se a voz de Mary sussurrou um aviso, Janet empurrou isto de lado. Ela sabia o que estava fazendo. Além disso, não havia ninguém mais por perto para ser magoado.
Ele esquadrinhou a área atrás dela.
— Nós descansamos tempo suficiente.
Ela ergueu uma sobrancelha em questionamento. “Descansar” não era como descreveria o que eles fizeram. Se não estivesse certa que era impossível para ele corar, teria jurado que suas bochechas escureceram enquanto entendia o que ela estava querendo dizer.
— Aye, bem, você poderá dormir assim que tiver certeza que nós os despistamos.
— Acho que eu preferiria fazer um pouco mais de descanso.
Ele disparou a ela um olhar repreensivo.
— Janet…
Ele poderia estar dando bronca em um filhote malcriado. Ela piscou para ele inocentemente.
— O que?
— Não vai acontecer. Eu disse a você que foi um erro. Está acabado. Acabou.
Ela sorriu, sabendo que nenhum deles acreditou nisto. Não estava acabado, acabou de começar.
Ewen os empurrou impiedosamente, tanto para colocar o máximo de distância entre eles e os ingleses quanto para mantê-la ocupada demais para conspirar sua queda.
A moça era problema. E teimosa.
Audaciosa demais pro seu gosto. Também era inteligente.
Dolorosamente doce. E de longe mais forte do que ele esperava.
Não podia acreditar que ela ainda estava de pé. Até este momento foi caçada por cachorros, atacada por um cavaleiro inglês, matou o dito cavaleiro com um punhal bem colocado na perna, marchou por quilômetros afundada até os joelhos em um rio gelado, sofreu um banho naquela água gelada, e caminhou por quilômetros acima de colinas congeladas e cobertas de névoa. Como se não bastasse, também estava por um fio de cabelo da ruína.
Um orgasmo não podia compensar tudo aquilo. Apesar de ter sido um inferno de um orgasmo. Ele não achou que algum dia esqueceria o olhar de êxtase e surpresa em seu rosto enquanto seu corpo desintegrava debaixo dele. O fluxo de cor para suas bochechas, os olhos entreabertos e nebulosos de paixão, os lábios suavemente separados inchados do seu beijo.
Jesus. Calor inchava sua virilha penosamente abusada. O alívio que ele tomou em sua mão depois de deixá-la mal resolveu. Como ele manteria suas mãos fora dela até que alcançassem a costa, quando tudo que conseguia pensar era sobre terminar o que eles começaram?
A moça invadiu seus sentidos, penetrou suas defesas e deslizou debaixo de sua pele. A queria com cada fibra de seu ser. Mesmo exausto, sua perna queimando, com frio e faminto, ele não podia olhar para ela sem pensar sobre lançá-la no chão, entrelaçar aquelas pernas longas e esguias ao redor de sua cintura, e dar a ela exatamente o que estava pedindo.
Então ele fez o que qualquer guerreiro destemido faria: não olhou para ela.
Mas não sabia quanto mais disso podia aguentar. Mais descanso… diabos! Ela estava tentando matá-lo? Deus sabia por que, mas a moça enfiara na cabeça em entregar-lhe sua inocência. Ela tinha alguma ideia do quanto era difícil para ele recusar esse tipo de oferta?
Claro, ela não sabia, e depois de ouvir seu ponto de vista sobre o casamento, ele com toda certeza não iria iluminá-la. Não tinha nenhuma dúvida que teria que arrastá-la chutando e gritando a distância toda até Dunstaffnage. Bruce teria um inferno de uma batalha em suas mãos quando ela descobrisse sobre seus planos.
A pior parte era que ele não estava certo que a culparia por isso. Ele nunca considerou o casamento da perspectiva de uma mulher antes, mas tinha que admitir, suas preocupações não eram sem mérito. Sempre deu como garantido o papel do homem de autoridade absoluta. Para uma mulher como Janet que estava acostumada a tomar suas próprias decisões, seria sufocante. Ela se irritaria contra aquelas ligações a cada volta.
Mas qual era a alternativa? Ewen não era como MacKay, ele não podia deixar sua esposa segui-los na batalha. Franziu o cenho. Embora esteve agradecido mais de uma vez por ter uma curandeira qualificada à mão.
Helen é diferente, disse a si mesmo.
Mas Janet não era?
Eles escalaram um pequeno platô na colina e ele parou. Apesar de ser apenas algumas horas depois do meio-dia, a luz do dia já estava desvanecendo.
— Espere aqui — ele disse apontando para um rochoso afloramento. Como fez a cada pouco quilômetro, deixou-a recuperar o fôlego enquanto ele circulava de volta para tentar esconder a trilha deles. A neve no chão endurecia conforme a temperatura caía quanto mais alto que eles subiam na montanha, tornando mais fácil fazer isso. Mas onde o chão era muito suave, em vez de esconder, ele começaria a confundir seus perseguidores andando para trás, interrompendo em outras direções durante algum tempo ou fazendo várias pegadas em uma área. Quando retornou alguns minutos mais tarde, ela estava acomodada em uma das pedras, olhando para ele.
— Alguém está nos seguindo?
Ele sacudiu a cabeça. Mas algo a deixou curiosa.
— Por que você parou para olhar a samambaia lá atrás?
Ele se sentou ao lado dela e tirou seu odre. Depois de tomar um longo gole, ele entregou a ela.
— Alguns dos talos estavam quebrados por onde nós passamos.
Ela franziu o cenho.
— Pensei que você estava escondendo nossas pegadas.
— Estou escondendo nossa trilha.
— Não é a mesma coisa?
Ele balançou a cabeça.
— Estou procurando por qualquer perturbação na paisagem, não apenas pegadas. Qualquer sinal que alguém pode ter passado.
— E você pode dizer por alguns galhos quebrados que alguém passou.
Ele deu de ombros.
— É um sinal.
Ela deu a ele um longo olhar.
— Como você se tornou tão bom nisto?
— O escudeiro do meu pai era um rastreador. Costumava me levar com ele quando eu era pequeno e mais tarde quando voltei da guarda. Ele notou que possuía uma memória incomum para detalhes e me ensinou como usar essa habilidade para rastrear. Mas é principalmente experiência. — Anos e anos de saber pelo que procurar.
— Que tipo de detalhes?
— Olhe atrás de mim — ele esperou alguns momentos. — Agora feche os olhos e me diga o que você viu.
Ela olhou de volta para ele.
— Isto é um truque? Só tem uma área plana de charneca suja de neve, com algumas pedras espalhadas sobre ela.
— Olhe novamente — ele não virou, mas chamou a imagem de memória. — As pedras espalhadas sobre os pântanos são arenito Graywacke, mas cerca de vinte passos atrás de mim têm algumas pedras de granito empilhados que é provavelmente o início de cume de um monte de pedras. Justo à esquerda, você pode ver os contornos de um caminho estreito vindo do Norte onde a grama foi pisada, provavelmente por lebres da montanha, se a pilha de excrementos perto é qualquer indicação, e a neve é ligeiramente mais baixa. Próximo aos caminhos da grama do pântano púrpura se esticando através da neve no lado oeste da colina está a trilha de um grupo pequeno de cervos vermelhos. Diretamente acima do meu ombro esquerdo, mais ou menos cinco passos atrás de mim, tem uma pequena protuberância na neve. Se olhar de perto, você pode ver algumas penas castanhas espetando a neve. Suspeito que é a carcaça de uma perdiz trazida aqui para baixo por um tartaranhão azulado ou falcão peregrino.
Ela ficou boquiaberta.
— Você nem olhou.
— Fiz mais cedo. Eu disse a você, tenho uma memória incomum.
— Digo mais. Tem um olho agudo para detalhes — ela sorriu deleitada. — Pelo que mais você procura?
Ele não estava acostumado a um público tão ávido, mas como o assunto claramente a interessava e sabendo que isso ajudaria a passar o tempo, ele explicou alguns princípios básicos, tal como minimizar sua impressão na paisagem e ter certeza que nenhum sinal foi deixado para trás, táticas de engano para esquivar de seus perseguidores, tais como andar para trás, dar a volta, pular pedra e andar na ponta do pé. Como se mover com o vento para esconder seu odor, como evitar mudar de direção em lugares óbvios, e como quebrar uma trilha de odor como eles fizeram com os cachorros. Ela o escutou com a atenção extasiada, claramente fascinada.
— Cada vez que você dá um passo — ele disse — procure por pedras, chão duro, remendos de gelo, estradas ou caminhos existentes, musgos flexíveis, coisas assim. Seus passos serão menos visíveis.
— Achei difícil — ela disse.
Isso era um modo de colocar, mas ele tentava não pensar sobre — muito — dado seus problemas numa certa área.
Ela olhou para ele.
— Parece tão óbvio agora que você apontou, mas nunca percebi.
— A maior parte do que faço é bom senso. Você só tem que pensar sobre isto.
— Você está sendo modesto — ela inclinou sua cabeça para trás para olhar para ele. — Não é de espantar que Robert quisesse você para seu exército secreto. Posso imaginar que uma habilidade como a sua é útil para homens que querem parecer com fantasmas.
Podia sentir seus olhos nele, então teve cuidado de não reagir. Maldição, a moça era incansável! Ele devia ficar surpreso por ela ter descoberto, mas não estava. Ela podia encontrar problemas mesmo sem procurar por eles.
— Você não vai dizer nada?
Ele virou para olhar para ela, seus olhos mergulhados nos dela.
— Eu preciso te dizer quanto perigo você pode nos colocar só de mencionar o assunto, independente se é verdade?
O olhar dela nunca oscilou.
— Mas é verdade. Sei que é.
Claramente, não iria dissuadi-la. Sabia que devia tentar. Ele fez um juramento, e não era só sua própria vida em jogo, mas não queria mentir para ela. Então fez a segunda melhor coisa e disse: — Vamos. A hora de descanso acabou.
Ela gemeu.
— Mas nós acabamos de sentar. Você só está tentando evitar minhas perguntas — ele não negou. — Os ingleses não estarão nos perseguindo para sempre, Ewen. Um dia desses você não poderá evitar responder.
Ele não sabia, era bom para caramba em evitar coisas. Exceto com ela — o que era parte do problema. Não respondeu, simplesmente esticando sua mão ao invés disto. A ajudou a ficar de pé — com outro gemido dramático da parte dela — e partiram.
Embora estivesse bastante certo que eles despistaram seus perseguidores, ele queria alcançar o próximo cume ao anoitecer. Havia um velho campo de pedra onde eles podiam se abrigar. Era muito perigoso vagar ao redor destas montanhas na escuridão, especialmente com a neblina. De manhã, trataria de achar cavalos para levá-los para Ayr, onde com toda certeza esperavam MacKay e MacLean, e Sutherland os alcançaria.
Ensiná-la sobre rastreamento provou ser um modo efetivo de passar tempo, distraindo-os — ele de pensar sobre a dor em sua perna e o destino de seus amigos, e ela de fazer mais perguntas que ele não podia responder sobre a Guarda das Highlands. Era uma aluna ávida, surpreendendo-o com seu interesse, como também com quão rapidamente ela parecia aprender.
Foram capazes de se mover em um ritmo muito mais rápido desde que ela se tornou mais consciente dos sinais que estava deixando para trás conforme eles subiam, e deste modo ele não precisou passar tanto tempo voltando para cobri-los.
Devia tê-la instruído mais cedo. Por que não o fez? Essa era uma das primeiras coisas que fazia com os homens sob seu comando. Ele tinha pensado que os princípios eram muito difíceis de aprender ou que era somente para homens?
Ela estava certa, percebeu. Ele assumiu que porque não usava armadura e carregava armas, estava mal equipada para guerra. Mas Janet de Mar parecia estar mudando na cabeça dele muitas de suas noções preconcebidas sobre mulheres. Ela não era frágil ou impotente. Era forte e capaz. Capaz para caramba, na sua opinião.
Embora pudesse estar disposto a admitir que ele subestimou suas habilidades, não estava errado sobre o perigo. Ela pode ter se defendido do cavaleiro hoje, mas sem o elemento surpresa — ou se houvesse mais de um homem — estaria tão morta quanto aquelas mulheres em Lochmaben. Ainda que ela fosse a melhor maldita mensageira na Escócia, isso não anulava seu instinto de protegê-la.
Mas ela precisava de proteção?
Pensou na conversa deles sobre as mulheres em Lochmaben. Ele nunca acreditaria que uma mulher podia entender o perigo e ainda querer ser envolvida. Justo como ele, ela assinalou. Isso era ridículo, não era?
Quando a sombra do campo apareceu no horizonte, Ewen alcançou um de seus objetivos: a moça estava exausta. Exausta demais para fazer qualquer coisa além de entrar nas dobras do plaid que ele estendeu para ela como cobertor, depois de limpar totalmente os excrementos dos antigos ocupantes animais, e dormir.
A virtude — e a honra dela — estava segura. Por enquanto.
Mas quando subiu para pequena cabana de pedra deitando-se ao lado dela algumas horas mais tarde, e ela instintivamente encostou-se nele, enterrando-se em seus braços, algo duro e pesado se alojou no seu peito. O peso da inevitabilidade? A certeza pedregosa do destino? Porque nada nunca pareceu mais perfeito. Sozinho em uma montanha, abrigando-se em uma cabana de pedra destinada para ovelhas enquanto estavam sendo caçados por ingleses, ele nunca se sentiu mais contente.
Ele dobrou seu braço debaixo do peito dela, aconchegou sua bundinha na sua virilha, enterrou seu nariz na maciez sedosa dos cabelos dela, e saboreou cada minuto de segurar a mulher que não era dele, mas que com toda certeza se sentiu como se fosse.
CAPÍTULO 17
Janet despertou de estalo. Levou alguns apavorantes segundos para lembrar onde estava, mas eventualmente começou a respirar uniformemente de novo. O campo de pedra na montanha. Com Ewen.
Ela franziu o cenho. Ewen, que não estava em nenhum lugar por ali. Não precisou procurar pela cabaninha de pedra para ver que ele se fora, podia dizer pelo frio vazio atrás dela.
Ele dormiu ao lado dela. Instintivamente sabia disso. Não que pudesse lembrar, caramba. A última coisa de que se lembrava era estar enfiada debaixo das dobras quentes do seu plaid. Estava tão cansada que adormeceu no momento que seus olhos fecharam.
Ele provavelmente contaria com isto, o idiota. A fez marchar estas colinas acima até que estava cansada demais e com frio para fazer qualquer coisa além de desabar. Tudo que podia recordar era uma sensação de calor e satisfação. De estar perfeitamente relaxada e aquecida em sua cama, aliviada pelos eventos do dia.
Ele a segurou, ela percebeu.
Janet balançou a cabeça com moderado desgosto. A única vez que ele a tomou em seus braços e segurou, e ela nem esteve acordada para apreciar! Se não estivesse tão certa que existia algo especial entre eles, as tentativas dele para evitá-la poderiam ter sido desmoralizantes.
Ela tinha acabado de fechar o plaid quando o idiota em questão meteu a cabeça pela porta baixa da cabana. Ele teve que abaixar ligeiramente para ficar do lado de dentro, já que o telhado abobadado tinha só mais ou menos um metro e oitenta de altura no centro.
— Você está acordada? Não pensei que você se levantaria até o meio dia.
A princípio ela pensou que ele a estava criticando, mas então percebeu que a estava provocando. Ela deu a ele um olhar conhecedor.
— Fiquei com frio sem você ao meu lado.
O rosto dele ficou em branco — muito em branco.
— Fiquei lá fora a maior parte da noite, mantendo vigia — ele estendeu o odre antes que ela pudesse discutir. — Pode usar isto para se lavar até que alcancemos um regato.
Ela tomou a bolsa d’água agradecida. Seus olhos e dentes pareciam que estavam com areia. Tudo que precisava era um pente — que devia estar em uma das bolsas — e poderia até se sentir humana novamente. Ela pensou sobre cutucá-lo sobre o arranjo deles de dormir, mas decidiu deixar para lá — no momento. Ao invés disto, perguntou: — Que regato?
— Próximo à aldeia de Cuingealach. Precisamos de um cavalo. Os ingleses parecem ter desistido da perseguição, mas quero colocar o máximo possível de distância entre nós.
Um plano sábio. Mas algo a estava incomodando.
— Em primeiro lugar, por que você acha que eles estavam nos perseguindo?
Ele hesitou, aparentemente cuidadoso com suas palavras.
— Tivemos alguns problemas a caminho de encontrar você em Roxburgh.
— Então eles estavam procurando por você?
— Provavelmente.
O conhecimento aliviou sua consciência um pouco sobre perder a touca. Não tinha sido tudo culpa sua. Além disso, como ela esperava que fosse difícil convencer Robert a deixá-la retornar para Roxburgh depois do que tinha acontecido, o fato que os soldados tinham ido atrás de Ewen e dos outros, e não dela, ajudaria. Claro, não havia dúvida de Ewen a escoltaria de volta. Era perigoso demais para ele. Mas não seria para a Noviça Eleanor.
— Acha que estamos muito atrasados? Devo estar de volta a Roxburgh dentro de quinze dias.
Uma expressão estranha cruzou seu rosto. Ele desviou o olhar quase desconfortavelmente.
— Você vai ter bastante tempo. Mas devemos ir.
— E Sir Kenneth? Como ele vai saber como nos achar?
— Não se preocupe com Sutherland. Ele nos alcançará se puder.
Se. Ela captou algo em sua expressão que por estar assustada e chateada demais não notou antes. Um leve escurecimento dos olhos e aperto ao redor da boca.
Janet ficou quieta enquanto o horror lentamente caiu sobre ela.
— Você acha que algo aconteceu com o marido da minha irmã?
Como se Mary já não tivesse motivos suficientes para odiá-la.
Ela deve ter parecido tão atingida quanto soou porque ele amaldiçoou, passando os dedos por seu cabelo.
— Maldição, não foi isso que eu quis dizer. Tenho certeza que ele está bem.
— E se ele não estiver?
Ele pegou seu queixo e inclinou o rosto dela em direção ao seu.
— Se não estiver, não tem nada a ver com você. Isto é o que ele faz, e às vezes — a maior parte das vezes — é perigoso. Mary sabe disso.
Janet acenou com a cabeça, mas em seu coração não podia aceitar isto. Se qualquer coisa acontecesse ao marido de sua irmã, Janet nunca se perdoaria.
Uma touca. A porcaria de uma touca! Ele não podia ter morrido por causa de algo tão insignificante... podia?
Lágrimas encheram seus olhos. O polegar de Ewen acariciou sua bochecha, como se ele as enxugasse antes delas poderem cair. A gentileza entrou em seu coração e não foi embora.
Eu podia amá-lo.
Com o menor encorajamento, ela podia amá-lo. A realização do quão fácil seria se levantar e agarrá-la pela garganta, inspirava tanto temor quanto e pavor. Isso mudaria tudo.
Ele parecia que iria dizer algo mais, mas ao invés disso deixou a mão cair do seu rosto e se afastou.
— Prepare-se e coma alguma coisa enquanto dou outra olhada por aí. A névoa não está tão espessa esta manhã e quero estar fora destas montanhas antes que se levante.
Ele tinha quase atravessado a entrada quando ela gritou.
— Ewen!
Ele girou e olhou-a por cima do ombro. O coração dela apertou. Com seu cabelo escuro, olhos azuis como aço, feições rústicas e mandíbula com sombra de barba, ele parecia tão rudemente bonito que doía. Por que ele? Depois de todos esses anos, por que este homem tinha finalmente ameaçado seu coração?
— Obrigado.
— Pelo que?
Ela corou. Por estar aqui com ela. Por mantê-la a salvo e aquecida. Por segurá-la em seus braços. Por lhe trazer água para se lavar esta manhã. Por não a culpar e tentar fazê-la se sentir melhor.
— Por tudo — ela disse suavemente.
Confusas, as sobrancelhas dele franziram ligeiramente, mas ele assentiu.
Um pouco tempo depois eles estavam subindo mais as colinas, continuando em direção ao leste. Apesar de descansadas, suas pernas ainda estavam doloridas da véspera e ela ficou feliz que ele aliviou o ritmo um pouco.
Franzindo o cenho, perguntou-se se a perna dele o estava incomodando. Mas depois de observá-lo durante algum tempo, não descobriu qualquer sinal de dano ou dor e concluiu que o unguento deve ter funcionado.
Estava certo sobre a névoa. Não demorou, erguendo-se no meio da manhã, quase ao mesmo tempo em que eles alcançaram o riacho do qual ele tinha falado. O fluxo era mais ou menos de quase um metro de largura atravessando um desfiladeiro profundo. Era bonito, estabelecido na paisagem de musgo, pedra e uma leve camada de neve, mais precisamente, atalhos de neve, à medida que o sol morno já estava derretendo o fôlego gelado do inverno. Ela tomou seu tempo, lavando o rosto e as mãos, e apreciando o momento de paz. Ela devia saber que não duraria.
Ewen apertou os dentes pela batalha adiante. Ele devia saber que ela não iria gostar do seu plano. Deus, todas as mulheres tinham tantas opiniões? Pensando nas esposas dos seus soldados, suspeitou que elas tinham.
Diabos, o que estava acontecendo com ele? Tinha sido tão mais fácil quando não pensava sobre o que uma moça pensava ou queria. O olhar dela deslizou por cima dele em uma silenciosa zombaria que certo como o inferno não devia deixá-lo quente, mas seu membro não parecia notar seus olhos faiscantes.
— Uma muda de roupa não esconde o que você é, Ewen. Qualquer um que olhar para você vai ver que é um guerreiro — a observação o agradou muito mais do que devia. Como fez o modo que os olhos dela se demoraram de forma apreciativa em seus ombros e braços. — Deixe-me ir com você, eu posso ajudar. Você será menos óbvio com uma esposa a seu lado.
Lembrando o quão bem isso terminou na primeira vez, ele declinou.
— Estou comprando um cavalo, Janet. Fiz isso centenas de vezes antes. Não existe nada com que se preocupar. Estarei de volta antes de você sequer perceber que fui.
Ela balançou a cabeça.
— Mas e se tiverem soldados ali?
— Não haverá. Como você pode ver — ele apontou lá embaixo no vale para dúzia ou mais de construções e a igrejinha aninhada na ladeira, — é uma aldeia pequena. Nenhum castelo significa nenhum inglês.
— Eu posso te ajudar. Lembra o que aconteceu na pousada? Sou boa em falar com as pessoas.
E ele não era. Mas podia pechinchar bem para caramba por um cavalo. Sabendo que eles estariam de pé aqui para sempre se não fizesse algo, Ewen tentou um caminho diferente. Um que tinha mais verdade do que ele queria admitir.
— Não é por isso que não quero que vá. Sei que podia ajudar, mas tendo você comigo poria a ambos em perigo.
— Por quê?
— Eu estaria preocupado com você. Focado em você. Você me faz...
Ele não sabia como explicar. Fraco. Vulnerável. Palavras que ele nunca usou para descrever a si mesmo antes.
Cristo! Se ela notasse seu desconforto, isso não ia impedi-la de perguntar.
— Faz você o que?
Ele estabeleceu.
— Distraído.
Sua resposta não pareceu satisfazê-la. Ela enrugou o nariz delicadamente, franzindo-o.
— Vou ficar fora do caminho, você nem vai saber que estou lá.
Como se isso fosse possível.
— Sempre sei quando você está lá.
— Por quê?
— Por quê? — Ele repetiu, não tendo antecipado a pergunta.
— Aye, por que você sempre sabe que estou lá? Por que sou tão diferente?
Sua mandíbula endureceu.
— Você sabe por que.
Ela ergueu o queixo de uma maneira que disse a ele que pretendia dificultar as coisas.
— Não, receio que não.
Sabia o que ela estava tentando fazer, maldição. Mas se isso significasse mantê-la a salvo, ele diria o que diabos ela quisesse.
— Porque me importo com você. Porque o pensamento de algo te acontecendo me faz enlouquecer. É por isso que não quero você indo comigo.
Ela sorriu e ele jurou era como se o sol tivesse acabado de sair.
— Certo.
A aquiescência veio muito facilmente, ele não pensou que a ouviu direito.
— Certo?
Ela acenou com a cabeça.
— E só para que saiba, você me distrai também — ela deu a ele um sorrisinho. — Eu não tinha a menor ideia que você era tão romântico.
Romântico? Ele? Maldição! Ela estava lendo demais nisso tudo.
— Janet, você não entende...
Ela fez um gesto com as mãos despachando-o — realmente despachando-o. Achava que ninguém fez aquilo desde que o cozinheiro o espantou para longe da cozinha — e das tortas recentemente assadas — quando ele era garoto.
— Entendo bastante bem. Seria melhor você ir agora antes que eu reconsidere, enquanto ainda estou impaciente com a poética “me faz enlouquecer”.
Sua boca retorceu. Estava provocando-o. Ainda era difícil para ele acreditar o quão natural parecia. Devia corrigi-la e ter certeza que entendia que isto não mudava nada, mas estava certa: não queria dar a ela a oportunidade de mudar de ideia. Teria que esperar.
— Aye, bem não se acostume a isto. Temo que possuo um suprimento limitado de palavras poéticas. Não posso pensar em nada que rime com “maldição”.
Ela riu, e o som doce reverberou em seu tórax.
— Que tal “estábulo”? Ou talvez “lamacento”'?
Ele soltou uma risada aguda. Devia saber que ela pensaria em algo.
— Vou trabalhar nisto — ele ficou sério e o sorriso de lado deslizou do seu rosto. — Não vou demorar muito. Fique longe da vista. Se alguém se aproximar, pode deslizar atrás daquelas pedras.
Não era uma caverna, mas o espaço entre os grandes pedregulhos era largo o bastante para deslizar entre elas. Queria que não tivesse que deixá-la sozinha, mas não podia evitar. Se eles queriam chegar à costa logo, eles precisariam de um cavalo. Ele teria preferido dois, mas seria muito mais difícil de explicar.
Sua prioridade — sua única prioridade — era deixar Janet em segurança o mais rápido possível. Mas ele também concederia uma pitada de incerteza sobre sua perna. Algo não parecia certo. Todo o escalar de ontem deve ter agravado. Infelizmente, ele não pensou em pegar o unguento com MacKay antes de se separarem. Nada pareceu errado quando olhou para seu ferimento mais cedo enquanto tomava banho, realmente a hemorragia parecia ter diminuído — mas doía como o inferno cada vez que dava um passo. A dor era aguda e profunda — mordia. E ele estava cansado. Mais do que deveria estar. Quanto mais cedo Helen pudesse dar uma olhada, melhor.
— Vou ficar bem — ela o assegurou. — Se qualquer coisa der errado, tenho meu punhal.
Embora ele soubesse o quão bem ela podia usar o punhal, isso não exatamente aliviava sua mente de pensar sobre ela precisando fazer isso. Ele assentiu.
— Estarei de volta antes de você perceber.
Seus olhos se encontraram. Os pés dele não queriam se mover. Ela parecia tão doce e confiante. Tão bonita e forte. Ele queria agarrá-la com cada fibra do seu ser, como se fosse a coisa mais natural a fazer. Mas não fez. Forçou seus pés a ir embora.
— Ewen — ele virou. — Eu... — Ele podia ver algum tipo de tumulto em seu rosto, e uma emoção que não podia nomear. — Tenha cuidado.
Acenou com a cabeça, perguntando-se o que ela estava prestes a dizer. Realmente, ele parecia estar pensando nisso o caminho inteiro abaixo da colina até a aldeia. Pareceu prestes a dizer algo a ele. Algo que suspeitava que não queria ouvir, mas ansiava ouvir ao mesmo tempo. Seu peito ardia. Saber que ele só enlouqueceria pensando sobre coisas que não podiam ser, forçou sua mente para a tarefa à mão. Foco.
Seu plano era simples: ofereceria dinheiro suficiente para evitar qualquer pergunta. Normalmente quando a Guarda das Highlands precisava de cavalos nas fronteiras, eles faziam uso da rede de partidários de Bruce na área. Infelizmente, as lealdades desta aldeia escondida no alto das colinas de Galloway eram desconhecidas. Eles tinham partidários em Douglas, Lanarkshire, a mais ou menos vinte e quatro quilômetros de distância, mas como também era onde eles se meteram em problemas antes, queria evitar a área.
Como a aldeia não tinha uma pousada, ele começou com a propriedade mais próxima e trabalhou seu caminho, ficando cada vez mais frustrado a cada parada. Parecia não ter um único cavalo à venda na aldeia inteira, restando apenas um que era apropriado. Inferno, neste momento ele daria boas-vindas a um velho pangaré.
Depois de meia dúzia de paradas, sua frustração estava aparecendo. Mas quando se aproximou do próximo sítio, viu por um momento algo vagando no campo que o faria ir embora: um corcel belo, robusto e parecendo ágil.
Infelizmente, o dono estava se provando difícil.
— De onde você disse que era? — Ele perguntou.
Ewen olhou o velho fazendeiro, cujo rosto abatido pelo tempo escondia uma mente ágil e astuta. — Roxburgh — ele respondeu de forma curta. — Você está disposto a vender o cavalo? Ofereço dez libras.
Até para o belo animal era uma oferta generosa. O velho devia ter dado pulos. Ao invés disso, ele acariciou sua barba longa e grisalha de forma avaliadora.
— É muito dinheiro. Você realmente deve estar necessitado.
O temperamento de Ewen estava vindo à tona. O fazendeiro obviamente suspeitava de algo, e Ewen não gostou do modo que o estava empurrando com perguntas, mas queria aquele maldito cavalo. Deu a ele um olhar duro.
— Vai me vender o cavalo ou não?
— Ele não está à venda.
Ewen apertou seus dentes e contou até cinco.
— Por que não?
— Ele não é meu para vender. Estou cuidando dele. Eu era o chefe do estábulo do exército do Rei John. — Ah, Inferno, Balliol! Definitivamente não era um amigo de Bruce então. — Ainda cuido dos cavalos doentes quando posso. Este aqui pertence ao capitão da guarda em Sanquhar. — Maldição. Isto só ficava cada vez melhor. Sanquhar era um dos castelos agora guarnecidos de James Douglas pelos ingleses. Os olhos do velho cintilaram maldosamente. — Quem sabe você possa perguntar a ele?
Ewen não precisou perguntar o que queria dizer. Tinha acabado de ouvir o galope de cavalos se aproximando. Olhou por cima do ombro, pegando o reflexo da cota de malha na luz do sol enquanto meia dúzia de soldados ingleses entravam nos arredores da aldeia vindo do Oeste. Embora eles estivessem ainda a uma boa distância, estavam se aproximando de rápido.
Não poderia fugir sem ser visto. Quando não estava mancando pelo ferimento ele corria rápido — mas não mais rápido que um cavalo. Nestas colinas abertas, sem névoa para esconder sua direção, não podia ter certeza que poderia achar cobertura rápido suficiente para despistá-los.
E ainda havia Janet. E se na caça a ele, a achassem em vez disso? Não podia arriscar. Ele xingou inúmeras vezes na sua cabeça, mas só havia uma única coisa que podia fazer: apresentar uma boa história ou ser melhor que seis cavaleiros montados com não mais do que seu punhal.
Como ele não tinha a língua hábil de Janet, suspeitava que seria o último, e até para um dos guerreiros de elite da Guarda das Highlands isso não era tarefa fácil.
Sangue de Deus, isto podia ficar pior?
Alguns minutos mais tarde, quando o som de uma voz gritando seu nome enviou uma explosão de gelo por suas veias para congelar até o último osso em seu corpo, teve sua resposta: Aye, isto podia ficar um inferno de muito pior.
— Ewen! — Janet não deixou sua mortal cara feia detê-la. Sabia que ele estaria furioso, mas no momento viu a bandeira voando ao longe de seu poleiro na colina, e não deixaria nada impedi-la de tentar adverti-lo. Infelizmente, levou muito tempo para achá-lo e agora era muito tarde. Ela chegou ao sítio ao mesmo tempo em que os soldados. — Você está aí! Comecei a pensar que se esqueceu de mim.
Ela viu seus olhos arregalarem conforme ele observava seu surgimento. Com uma mão no quadril, como se apoiando suas costas pela exaustão, ela bateu levemente em sua barriga suavemente arredondada com a outra. — Você já achou um cavalo para a gente montar?
Seu rosto estava tão fechado e carregado quanto uma nuvem de tempestade, mas depois de um momento de pausa, ele percebeu sua parte e avançou para ajudá-la. Seus olhos cravaram nos dela prometendo vingança, enquanto deslizava o braço ao redor de sua cintura protetoramente.
— Pensei ter dito que esperasse por mim — disse, adicionando depois uma pausa que ele esperava que não soasse estranha, — mo chroí.
Ela riu como se acostumada à sua explosão masculina, o que surpreendentemente estava. Não havia dúvida que berraria e grunhiria como um leão bravo quando estivesse terminado, mas não se importava. Ele precisava de sua ajuda, quisesse admitir ou não. Estava praticamente desarmado. Não o assistiria sendo colocado a ferros e arrastado para longe daqui.
Levantando-se nas pontas dos pés, ela colocou um beijo suave em sua bochecha, como se o acalmando com um bálsamo sedativo. O aperto ao redor de sua cintura instintivamente aumentou. Ela sentiu um calafrio de consciência enquanto seus corpos se moldavam juntos.
— Fiquei cansada de esperar — ela disse, um pouco agitada pelo contato. — Tanto eu quanto o bebê estamos inquietos.
A parte do quase pai amoroso aparentemente não era uma que ele estava familiarizado. Levou um momento para fingir preocupação. Ele pôs a mão em sua barriga arredondada — ou neste caso, a almofada de roupas que estufou debaixo da túnica que Mary mandou que ela vestisse. O vestido de baixo ainda era fino demais para seja o que for que ele fingia ser, mas a lã marrom era melhor que o manto bordado de ouro que ia sobre ele.
— Está tudo bem com o bebê? — Ele perguntou.
Ciente de seu público interessado, ela refletiu a preocupação dele em seus próprios olhos e suspirou com um cansaço que não precisou fingir.
— Espero que sim. Não percebi o quanto seria cansativo. Estou tão exausta. Vou ficar contente quando nossa jornada terminar.
— O que está acontecendo aqui? — Uma voz autoritária trovejou. Um dos soldados — o líder, ela suspeitava — avançou, colocando-se entre Ewen e o velho, que permanecia na entrada de seu sítio de pedra retangular com seu telhado de relvas misturadas.
— Estou procurando um cavalo para minha, uh, esposa — Ewen explicou. — Ela está cansada e não pode caminhar muito mais longe.
— Você não me disse que era para uma moça — o velho homem disse com um franzido surpreso no rosto.
De sua posição dobrada contra o corpo dele, era fácil para Janet olhar para cima e dar a Ewen uma sacudida reprovadora de sua cabeça. Então ela deu uma olhada para o velho com outro suspiro cansado.
— Às vezes acho que ele esquece que tem uma esposa. Não queria que eu viesse, mas insisti e agora temo que causei todos os tipos de problemas.
O velho homem corajosamente saltou em sua defesa.
— Que tipo de problemas uma moça pequenina e fina como você podia causar?
— Você ficaria surpreso — Ewen disse baixinho, mas alto suficiente para eles ouvirem.
Janet deu uma cotovelada de lado e disparou uma cara feia para ele.
— Eu disse a você que sentia muito — ela virou para o velho pedindo ajuda. — Ele me culpa.
— Pelo que? — O soldado se meteu.
— Por perder nosso cavalo em primeiro lugar — ela retorceu as mãos ansiosamente. — Foi tudo minha culpa. Não amarrei as rédeas direito e ele vagou para longe na tempestade. Agora devemos usar o dinheiro que planejávamos dar à abadia para comprar outro. — Quando os homens olharam para ela em confusão, ela adicionou. — Ele não disse a você que estamos a caminho de Whithorn rezar pelo nascimento da criança?
O velho balançou a cabeça. Por alguma razão as lágrimas não foram difíceis de produzir. O pensamento de levar um filho de Ewen a encheu com todos os tipos de emoções estranhas. Emoções profundas. Ternas.
— Nós perdemos tantos — ela disse suavemente. — Eu só quero dar um filho a ele.
Ewen parecia ter sido pego na emoção também. Ele a colocou debaixo do seu braço novamente e a acalmou com tapinhas gentis na sua cabeça.
— Não se aflija, meu bem, tudo vai ficar bem.
Janet descansou a bochecha na parede sólida do seu peito e tomou um fôlego estremecido. Céus, era tão bom. Com a força dos seus braços ao redor dela, era fácil acreditar nele.
— Este cavalo não está à venda — Ewen adicionou, — mas vamos achar outro. Venha, amor.
Ele começou a levá-la para longe, mas uma voz os deteve. Uma voz inglesa irritada e anasalada.
— Espere. Alguém vai me explicar o que está acontecendo aqui, agora.
Janet murmurou baixinho uma das palavras de maldição favoritas de Ewen e levantou o olhar para o grande inglês assomando acima deles na sela. Surpreendentemente, não foi a armadura pesada e numerosas armas reluzindo na luz do sol que a preocupou, mas a acuidade do seu olhar. Embaixo do elmo de aço, ela podia dizer que o capitão de olhos azuis, cabelos escuros e barba bem aparada não era nenhum tolo. E estava muito claro que ele não os deixariam só ir embora.
CAPÍTULO 18
O modo que o soldado estava olhando para Ewen enviou arrepios de cima a baixo pela espinha de Janet. E Ewen — affe — não estava fazendo qualquer esforço para declinar a suspeita. Estava agindo a cada centímetro como o guerreiro feroz e formidável, usando seu corpo musculoso afiado pela guerra para protegê-la.
Templos de Jerusalém! Ele podia muito bem ter gritado sua ocupação. Parecia com um homem que nasceu com uma espada na mão e lutava até a morte para proteger o que era seu. Neste caso, ela. Seria bastante doce, se não conseguisse que eles fossem mortos.
— Minha esposa e eu estamos fazendo nosso caminho para a Abadia de Whithorn rezar pelo bebê — ele disse de forma curta, a autoridade de um comandante das Highlands fluindo em sua voz. Nossa Senhora, ele não podia pelo menos tentar fingir deferência? — Nós perdemos nosso cavalo e eu estava tentando comprar este aqui do fazendeiro. — Ele fez um gesto para o cavalo no pátio. — Não estava ciente que não pertencia a ele. Se você estivesse interessado em vender...
— Não estou — o capitão interrompeu. — Isto é verdade? — Ele perguntou ao fazendeiro.
O velho acenou.
— Aye, ele me ofereceu dez libras pelo animal.
Por trás do ombro largo de Ewen — que era impressionante, ela tinha que admitir — Janet não gostou do modo que os olhos do soldado estreitaram. Ele olhou como Ewen se vestia de forma simples.
— Que tipo de camponês anda por aí com tanto dinheiro?
Janet praticamente podia ouvir Ewen rangendo os dentes. Ele verdadeiramente era horrível nisso. Ser aprazível, amável, modesto e político não parecia estar em sua natureza. Era uma boa coisa que ele fosse um guerreiro tão bom, ele não duraria dois dias como mensageiro.
— O tipo que está indo para uma abadia rezar por um filho por nascer — ele estalou.
Janet gemeu ante o sarcasmo inconfundível em sua voz. Por que ele simplesmente não puxava sua espada? O efeito era o mesmo.
Isto levou tempo suficiente. Estava claro que ela precisava fazer alguma coisa, e rápido. Atrair a atenção do soldado para longe do Ewen, para começar. Esperava que isto funcionasse. Ela esteve fingindo ser uma freira por tanto tempo que estava um pouco sem prática. Felizmente, com nada melhor para fazer enquanto esteve esperando mais cedo, ela tomou algumas dores com sua aparência. Jogando seu cabelo recentemente penteado por cima do ombro, ela arrastou o decote do vestido para baixo um pouco e saiu atrás do seu “marido”. Ela sorriu docemente para o soldado irado (o tom de Ewen obviamente não passou batido).
— Meu marido não é um camponês, meu senhor — ela disse caminhando em direção a ele. Pensou que Ewen rosnou algo, mas ignorou seu aviso. — Ele é um mestre construtor. Pelos últimos dois anos, ele esteve trabalhando nas melhorias para o castelo em Roxburgh. — Isso devia explicar o físico fortemente musculoso, como também os calos em suas mãos, para onde o capitão olhava.
Ela era bastante aficionada por aqueles calos...
Sua pele formigou e teve que forçar sua mente a se afastar do porquê.
Antes que os ingleses pudessem fazer mais perguntas, soltou um suspiro cansado, não perdendo o modo que seu olhar caiu no corpete apertado do seu vestido. Ela levantou o olhar lacrimejante, dando a ele seu melhor olhar de donzela impotente em perigo. Isso levava um pouco de esforço.
— Meu marido... ele está preocupado comigo e o bebê — ela disse como desculpa pelos modos de Ewen. — Tem sido uma jornada difícil. — Sua voz ficou mais alta e mais rápida com sua angústia crescente. — A tempestade veio e então perdi o cavalo, e você vê, ele ficou tão bravo, com todo o direito, estou certa que você concordará.
O soldado disparou a Ewen um olhar como se ele não concordasse mesmo. Janet lamentou ter que lançá-lo no papel de tirano, mas era necessário para trazer para fora a natureza cavalheiresca do soldado.
— Tive que continuar parando a cada milha e então disse que não podia continuar — não até que encontrássemos outro cavalo. Estou certa que é horrível de minha parte, mas só de pensar em dar mais um passo por aquelas montanhas... estou muito pesada para carregar, você vê. Então ele me chamou de redonda! — Os homens ofegaram em compreensão. Uma única lágrima deslizou por sua bochecha a baixo. — Eu simplesmente não podia fazer isto. — Ela piscou levantando o olhar para ele, feliz de ver que parecia ter esquecido tudo sobre Ewen. — Eu só estou tão... — ela cambaleou dramaticamente, como se pudesse desmaiar — cansada.
Mal a palavra saiu da sua boca, o soldado saltou para pegar seu braço e estabilizá-la.
— Não se aflija, querida senhora. — Ele disparou uma cara feia para o velho fazendeiro. — Por que você só está aí parado? Rápido, pegue algo para a senhora beber. — Ele a levou até um tamborete ao lado da porta. — Descanse aqui, você não devia ficar tanto tempo de pé na sua condição. — Janet sorriu enquanto olhava para cima dentro do olhar preocupado do soldado, sabendo que ela o tinha.
Ewen não sabia se a estrangulava ou batia palma. Quando eles saíram da aldeia montados algumas horas mais tarde, não só tinham um cavalo, mas barrigas cheias também.
Assisti-la tinha sido algo revelador. Nenhum ator em cima do palco podia ter se apresentado melhor. Ela girou sua história com tal facilidade e confiança, que até mesmo ele começou a acreditar nela. Ele de fato se achou dizendo ao velho homem e sua esposa que a criança seria chamada de James se fosse menino, por causa do homem que ensinou tudo que sabia. James Stewart realmente ensinou tudo a ele. Claro, o fazendeiro não percebeu que Ewen não estava falando sobre construção, mas sobre ser um guerreiro e comandante.
Aye, ela foi bem, mas nunca podia esquecer o momento que seu coração parou ao vê-la ali. Foi um choque. Não só por que o desobedeceu e se pôs em perigo, mas também pela sua aparência. Ela não parecia nada com uma freira ou um rapaz. Vestida como uma dama pela primeira vez desde que a conheceu, ele ficou cravado no lugar pela sensualidade feminina de seu longo cabelo dourado caindo por cima de seus ombros em cachos soltos, e a doçura das curvas reveladas por seu vestido justo. Seus seios eram espetaculares. O vestido parecia ter sido feito para fazer um homem pensar que eles estavam sendo apresentados só para ele, como algum tipo de oferenda generosa aos deuses. Jesus, ele queria lançar seu plaid em volta dos ombros dela e enterrar sua cabeça neles ao mesmo tempo!
Claro, um grande desvio tinha sido uma enorme surpresa. Grávida. Sentiu como se um pedregulho tivesse batido no seu peito. Isso apertou. Apertou. Queimou com uma emoção que nunca sentiu antes. Uma espécie de feroz possessividade caiu sobre ele que diminuiu tudo que veio antes.
Ele não era tão qualificado quanto Raider ou Saint no combate mão a mão, mas enfrentaria cada um daqueles soldados de mãos nuas para protegê-la. Inferno, podia ter encarado todos eles de mãos nuas, como seu pai fez com os lobos para protegê-la.
Esteve quase louco de raiva — e provavelmente ciúme, maldição — quando ela tinha propositadamente começado a se ocupar do capitão inglês com seu charme feminino que ele ainda não acabou de admirar.
Só a realização que estava funcionando segurou sua mão. Mas levou cada pingo de auto restrição que tinha (e alguma que ele não possuía) para não ir para cima e socar seu punho no olhar apreciativo do canalha. O fato de o capitão perceber exatamente o quão Ewen estava bravo só parecia encaixar a parte que ela lançou nele como o marido severo, superprotetor e de temperamento curto. Quem no inferno podia entendê-lo mal por isto?
Então ele fumegou em silêncio, se não invisivelmente, enquanto Janet dispersava as suspeitas do soldado, alistando a ajuda do fazendeiro para achar um aldeão que pudesse ter um cavalo à venda, encantando a esposa rígida do fazendeiro em cozinhar para eles uma refeição quente, e de alguma maneira conseguir que saíssem de lá sem puxar uma lâmina. Ele não era tolo suficiente para desejar diferente, mas nesse instante, com o modo como seu corpo estava abundando com energia sem descanso, teria dado boas-vindas a uma luta.
Uma vez que estava certo que não estavam sendo seguidos, ele deu a volta para pegar sua armadura e armas de onde as deixou ao lado do regato. O desvio foi lamentável, mas mesmo com o peso de dois no cavalo, eles deviam ser capazes de alcançar Sundrum do lado de fora de Ayr ao anoitecer. Existia uma casa segura lá para eles passarem a noite, onde esperava que os outros os alcançariam.
Apesar dele estar segurando-a com firmeza pela cintura na frente dele, e seu corpo estar dolorosamente ciente dela, não disse uma palavra desde que deixaram a aldeia. Com todas as estranhas emoções torcendo dentro dele, não tinha certeza que confiava em si mesmo.
Eles estiveram cavalgando por mais ou menos uma hora quando ela finalmente quebrou o silêncio.
— Vá em frente. Sei que está com raiva. Só supere isto. Mas antes de começar a gritar, só quero que fique registrado que só deixei o regato porque vi as bandeiras e estava tentando te avisar. — Ele abriu a boca para responder, mas ela o cortou. — Também quero que fique registrado que você não estava exatamente fazendo amigos na aldeia. — Desta vez sua boca nem sequer abriu antes dela cortá-lo novamente. — Você só tinha um punhal. Sei que é um guerreiro excepcionalmente qualificado, mas teria que ter sido um fantasma de verdade para conseguir sair lutando disso.
Ele arqueou uma sobrancelha. Então pensava que era um guerreiro excepcional, não é? Ele gostou bastante de ouvi-la dizer isto.
— Posso falar agora ou você tem qualquer outra coisa para dizer?
Ela ergueu o queixo, encontrando seu olhar.
— Acabei. Por enquanto.
Ela parecia com uma penitente esperando o chicote. Ele sentia muito desapontá-la.
— Você agiu bem, moça. Obrigado.
Ele aparentemente fez o impossível: deixou-a sem fala. Ela podia pegar moscas com sua boca aberta assim.
— “Obrigado”?
Ele deu de ombros.
— O bebê foi um golpe brilhante.
— Brilhante? — Ela repetiu estupidamente.
— Vejo por que você é uma mensageira tão boa. Não posso decidir se está perdendo seu talento como oficial da lei ou como artista de palco.
— Quer dizer que você não está bravo?
Ele deu a ela um olhar de esguelha enquanto cavalgavam por uma estreita clareira de arbustos.
— Eu não disse isto. Você levou cinco anos da minha vida quando te vi descendo por aquela colina, e outros cinco quando começou a flertar com o capitão.
— Eu não estava flertando, o estava distraindo.
Ele deu a seu protesto toda a atenção que valia — em outras palavras, nenhuma.
— É um jogo perigoso brincar com um homem assim, mas tenho que admitir, você se nivelou muito bem. Ele tinha uma raia pesada de cavalheirismo inglês nele. Não que eu não estivesse pronto a cortar sua cabeça fora por olhar para você assim. Ela piscou para ele na luz do sol, parecendo tão bonita que seria capaz de cortar um membro para poder beijá-la novamente.
Ele pigarreou e se forçou a desviar o olhar.
Ela ficou tão quieta por um momento que quase podia ouvi-la pensando.
— Você realmente pensa que sou boa no que faço?
A felicidade na voz dela fez seu peito apertar. E o modo que estava olhando-o... era como se ele tivesse acabado de arrancar o sol do céu e entregasse para ela. Podia se acostumar a esse olhar.
— Depois do que acabou de acontecer, dificilmente posso negar isto.
Ela sacudiu a cabeça, estupefata.
— Não posso acreditar que você não vai berrar comigo.
— Aye, bem, não faça disto um hábito. Nem todos os homens são tão honrados quanto Sir Ranulf. — Este, conforme ele botava para fora, era o nome do capitão. Um pouco de sua raiva retornou. — Alguns podem ver um bater de cílios e uma exibição saudável de decote como um convite.
Ela deu a ele um olhar astuto por cima do ombro.
— Você estava com ciúme.
— Ciúme? — Ele explodiu, ultrajado. — Eu não estava com ciúme.
— É bastante compreensível, Sir Ranulf é um homem bastante bonito.
Se ele fosse capaz de enxergar direto, poderia ter notado a faísca maliciosa dentro do olho dela. Mas estava muito furioso.
— Bonito? Aquele papagaio? Eu me pergunto quanto tempo ele passou olhando dentro do espelho para aparar aquela barba dele. Não existia um maldito cabelo fora de lugar!
Apenas quando ela desatou a rir que a névoa limpou dos olhos dele. Seus olhos estreitaram, percebendo que o provocava num modo muito mais esclarecedor que sábio. A atrevida tremulou seus olhos e se debruçou adiante, dando a ele visão privilegiada daquele decote espetacular.
— E você, Ewen? Você é o tipo de homem que visualiza isto como um convite?
Por um momento tolo ele se permitiu olhar. Deixou seus olhos mergulharem nas profundezas perversas entre seus seios. Ele se fartou na abundância, no arredondamento, na maciez sedosa da pele branca cremosa. Ele podia quase saboreá-la...
Ele inalou fundo na força do calor que o agarrou. Na borda afiada da luxúria que rugiu pelo seu sangue. Como se adivinhando sua dor, ela deslizou seu traseiro para trás na sela contra ele. Aconchegando. Levou tudo que tinha para não agarrar seus quadris e esfregá-la mais forte contra ele. Só o desafio tácito em seus olhos aquietou suas mãos.
— Este não é um convite que estou livre para aceitar, maldição. E você sabe muito bem por que. Como acha que o rei reagiria, ou Stewart reagiria, ao descobrir que tomei sua inocência?
Ela franziu o cenho.
— Stewart? Você quer dizer o jovem Walter Stewart? Por que ele devia se importar?
Ah, inferno! Ewen fechou sua boca num estalo, percebendo seu erro.
— Ele é meu suserano. O pai dele garantiu minha lealdade e não pagarei envergonhando o filho.
Ela pareceu aplacada, sua explicação aparentemente satisfatória.
— Então é a reação de Robert que te preocupa? Acha que ele te puniria por estar comigo?
Achar? Ewen deu a ela um duro olhar fixo.
— Eu sei que ele iria. E teria todo o direito. Você é sua cunhada, pelo amor de Cristo! Sou o chefe de um clã desfavorecido com um dedo de terra restante do que uma vez foi uma grande propriedade. Meu clã está se segurando por um fio, Janet. Qualquer esperança que eu tenha de recuperar essas terras descansa com o rei.
Janet podia ver as emoções conflitantes guerreando em seu rosto e quase se sentiu mal por pressioná-lo. Quase. Entendia a fonte do seu dilema, só não via isto como um problema insuperável. Não depois do que ele disse.
Ela ainda não podia acreditar: não só a agradeceu, mas também tinha admitido que era boa no que fazia. Ele viu o que podia fazer e reconheceu como podia ser útil. Brilhante. A admiração em sua voz quase a fez soluçar.
Depois de dias se perguntando se tudo que ela estava fazendo era bater sua cabeça contra uma parede de pedra, finalmente teve sucesso. Não era como seu pai ou Duncan — ou a maior parte dos outros homens que ela conhecia. Ele era diferente. Ela estava certa: sua aparente falta de consideração com as mulheres era consequência da ignorância e inexperiência em vez de verdadeira crença. Não a via como um acessório impotente ou como serva, mas como alguém capaz, valorizada e merecedora de respeito — como a esposa de Magnus, Helen, a curandeira que ele mencionou. Era o que ela sempre quis de um homem, mas nunca sonhou encontrar. Estava mais segura do que nunca que isso era certo. Como ele podia segurá-la nos braços desse jeito, com seus corpos apertados intimamente juntos, e negar isto? Queria que ele a tocasse. Fizesse amor com ela. Queria sentir seu corpo conectado ao dela e saber como era experimentar a paixão. O problema era convencê-lo.
Era desanimador pensar que ela se segurou tão firmemente a algo por vinte e sete anos, e então quando finalmente estava pronta para soltar, estava tendo que persuadir um homem para aceitar.
— Isso é entre eu e você, Ewen. Não vejo nenhuma razão para Robert estar até mesmo envolvido. Se você me quer e eu o quero, por que qualquer outra coisa devia importar?
Ele deu uma risada severa, destituída até mesmo da ilusão de diversão.
— Você não pode ser tão ingênua. Sabe que não é assim que é feito. Compartilhar uma cama não é tão simples.
Ela ergueu o queixo, não gostando do seu tom.
— Devia ser.
— Talvez, mas até esse dia, uma mulher da nobreza não é livre para dar sua inocência quando quiser.
Janet sabia que falava a verdade, mas isso não significava que ela tinha que concordar com ele — ou cumprir.
— Não há nenhuma razão para que Robert precise saber.
Ele endureceu.
— Eu saberia. Não desonraria você assim.
Janet deu uma olhada para ele sentado atrás dela, vendo a expressão de aço estabelecida no seu rosto. Aquela nobreza infernal dele estava se provando problemática novamente.
— Porque não nos casamos?
O olhar que ele deu a ela foi feroz, ardente em sua intensidade. A mandíbula dele apertou ainda mais.
— Porque não podemos estar casados.
Sua veemência a fez recuar. Ficou em silêncio por um momento, absorvendo as implicações. Ele deve ter tomado seus protestos contra o casamento a sério. Ou era alguma outra coisa? Não podemos... Talvez ele estivesse aludindo às suas diferenças sociais?
Mas de alguma forma pareceu como se ele tivesse acabado de desistir. E apesar de sua recente epifania, não tinha certeza que queria levantar este assunto. Compartilhar uma cama, como ele colocou, era uma coisa, mas confiar em um homem para pôr seu destino em suas mãos era outro. Ela queria casar com ele?
CAPÍTULO 19
Depois de dias sendo caçados, a cavalgada de Cuingealach, a pequena aldeia nas colinas, para Ayrshire provou desconcertantemente calma. Eles cruzaram as colinas entre Douglas e Sanquhar, e seguiram em direção oeste através das Airds Moss. Pelo fim da tarde, eles chegaram a seu destino.
Apesar da presença inglesa ainda ser pesadamente sentida, este era o país de William Wallace, e muitos dos seguidores do patriota martirizado vieram atrás de Bruce. Vários parentes de Wallace viviam em Sundrum, inclusive um primo que a Guarda das Highlands usava em ocasiões como esta.
Ewen devia estar aliviado. Sua missão estava quase completa — ou estaria de manhã, quando eles encontrassem Hawk e Chef em Ayr no birlinn. Ele devolveria Janet para sua família e voltaria aos seus deveres com a Guarda, rastreando o próximo inimigo ou aliado perdido. Bruce estaria agradecido e Ewen a um passo mais perto de restabelecer o nome dos Lamont — e, ele esperava, as terras também. Era isto exatamente o que ele queria. Exatamente pelo que esteve lutando.
Então por que ele estava tentando arrastar cada minuto no seu cavalo? Por que sentia como se no momento em que a deixasse ir tudo isso estaria acabado?
Mas não havia “isso”. Nunca existiu. Não podia ser sua. Tinha deixado bem claro. Disse que não podia se casar com ela, e pelo silêncio dela desde então, parecia que finalmente tinha entendido.
Era o que ele queria.
Então por que estava desapontado que ela não protestou? Por que uma minúscula parte dele tinha esperado que a ideia de um casamento com ele não fosse tão inconcebível?
Parou em um pequeno regato no enorme bosque para dar água ao cavalo pela última vez antes de alcançar Sundrum. Sua perna tinha melhorado muito desde que conseguiram a montaria, mas ficou enrijecida sem movimento e parecia bom se mover. Ele não estava atrasado.
Janet retornou de atender suas necessidades e sentou numa pedra ao lado do riacho mordiscando um pedaço de carne seca, enquanto ele segurava o cavalo para beber água.
— Conte-me sobre Helen.
Ele levantou o olhar com surpresa. Não era exatamente a conversa que estava esperando depois de sua última. Ele endureceu ligeiramente, perguntando-se se ela notou alguma coisa a respeito de sua perna. Teve cuidado para não favorecer a outra, mas a moça era observadora demais.
— O que quer saber?
Ela deu de ombros.
— Ela é boa no que faz?
— É uma das melhores.
— Você disse que ela podia ser médica? Como isso pode ser? Ela é mulher.
— É raro, mas não impossível. O cunhado do seu irmão, o Conde de Sutherland, é casado com uma mulher que treinou em Edimburgo por um tempo em uma das academias estudantis até que se casou. Helen poderia ter ido também.
— Mas então ela casou com Magnus?
Ewen não estava certo onde ela estava querendo ir com isto.
— Aye, mas Helen nunca quis ir. Ela é feliz em fazer o que está fazendo.
— E é exatamente o que?
Ewen terminou de dar água para o cavalo e então o levou do riacho, amarrando a rédea ao redor de uma árvore. Ele cruzou os braços e olhou para ela, sabendo que estava andando em terreno perigoso. Ela estava sem dúvida jogando verde para colher alguma coisa sobre a Guarda ou confirmar o lugar dele nisto.
— Ela atende os doentes, o que mais faria?
— Vai para as batalhas com vocês?
— Não.
— Mas fica perto?
— Por que está tão interessada nisso?
Ela deu de ombros.
— Só estou. Você tem que admitir que não é comum para uma dama bem-nascida assumir tal papel.
— Helen é incomum.
— O marido dela também. Ele é um homem raro para permitir que sua esposa se coloque em tal perigo.
Ele riu.
— MacKay odeia cada maldito minuto disto.
Ela pareceu genuinamente perplexa.
— Então por que aceita isto?
— Porque sabe que ela é necessária. E...
Ele parou.
— E?
Ele deu de ombros desconfortavelmente.
— E porque ele a ama.
— Oh — obviamente não era a resposta que ela esperava.
A boca de Ewen se torceu em um sorriso.
— Certamente você ouviu falar disto?
Seus olhos se encontraram e um afiado frisson de consciência passou entre eles.
Ela corou, abaixando seu olhar.
— Aye, só não dentro do casamento.
O tom seco não escondeu a tristeza.
— Seus pais não tiveram um casamento feliz?
Ela fez um som afiado.
— Meu pai dava a minha mãe tanta consideração quanto teria dado a um servo. A maior parte do tempo esquecia que ela estava lá. Quando ela encontrava coragem para falar, ele a cortava tão cruelmente que eventualmente começou a acreditar que era tão estúpida quanto ele a fazia se sentir.
Ele se encolheu, tendo visto mais que sua parte de casamentos semelhantes.
— Nem todos os casamentos são assim, moça.
A boca de Janet se torceu com cinismo.
— Aye, alguns, como da minha irmã Mary, estão cheios de miséria, coração partido e infidelidade, e outros, como do meu irmão Duncan, são constantes campos de batalha de discussão e discórdia. Ele e Christina brigavam por horas. Ele estava constantemente a arrastando para seus aposentos para fazer Deus sabe o que com a pobre mulher.
Percebendo que ela estava falando sério, Ewen desatou a rir. Ela se eriçou.
— Não vejo o que é engraçado.
Vendo a mágoa em seu rosto, ele ficou sério.
— Eu sinto muito, moça. Não posso falar pelo primeiro casamento de sua irmã Mary. Conheci o Conde de Atholl, e embora ele fosse um inferno de um guerreiro, não prestei muita atenção em suas relações com mulheres que não eram sua esposa. Porém conheço Sutherland há algum tempo, e pelo que sei ele tem sido fiel à sua irmã desde que pôs seus olhos pela primeira vez nela. — Ele omitiu o quanto todos eles se divertiram por isto, já que Mary o rejeitou como pretendente. — Foi seu comentário sobre Duncan que me fez rir. A paixão dele por sua esposa era bem conhecida, tanto dentro quanto fora dos seus aposentos. Suspeito que eles faziam as pazes tão apaixonadamente quanto discutiam.
Os olhos de Janet se arregalaram e suas bochechas avermelharam conforme entendia o que ele queria dizer. Suas sobrancelhas se franziram.
— Como sabe tanto sobre meu irmão?
Maldição. Este não era exatamente um assunto que queria estar discutindo com ela.
— Lutei com ele durante algum tempo.
Ela pareceu atordoada.
— Lutou? Por que não me disse antes? — Ela pareceu perceber algo antes mesmo que as palavras deixassem sua boca. — Você estava com ele no Lago Ryan, não estava?
Ele assentiu.
Ela expirou lentamente. O modo que engatou dolorosamente fez seu peito apertar. Ele quis se estender para ela, mas forçou suas mãos para o lado. Ela ficou quieta por um momento, como se estabilizando suas emoções.
— Como ele morreu?
Ewen viu a lâmina faiscando na luz do sol antes de descer no pescoço de Duncan e forçou a imagem horrorosa para longe. Ela não precisava saber dos detalhes.
— Bravamente, moça. Como o feroz guerreiro das Highlands que ele era. Estava orgulhoso de lutar ao lado dele.
Ela sabia que ele não estava dizendo tudo, mas pelo menos uma vez ela não forçou a barra.
— Deve ter sido horrível — ela disse. — Todos aqueles homens que morreram. — Ela estremeceu. — Você teve sorte de sair disso vivo.
— Aye.
Foi um banho de sangue. Os MacDowells foram informados de sua chegada e esperaram por eles. Ewen esteve em um dos dois birlinns que conseguiram escapar. Quem os traiu tinha custado as vidas de quase setecentos homens. Um dia essa pessoa pagaria.
Janet viu as emoções sombrias cruzarem seu rosto e lamentou invocar as memórias dolorosas. Mas de alguma maneira a fez se sentir melhor saber que Ewen estava com Duncan quando ele morreu. Embora a perda do seu irmão sempre seria um buraco doloroso em seu coração, Ewen suavizou a dor um pouco.
Era verdade o que ele disse sobre Duncan e Christina? Ela esteve tão enganada a respeito dos sentimentos entre eles? O que aconteceu por trás daquelas portas fechadas? Aparentemente mais do que tinha percebido.
Subitamente, todas aquelas longas horas em seus aposentos tiveram um significado muito diferente — um sensual em vez de sinistro. Seu irmão sempre parecia tão apaziguado posteriormente. Ela achava que era remorso, mas e se fosse alguma outra coisa? Era desconcertante perceber o quão pouco ela sabia sobre algo que esteve acontecendo bem na sua cara antes.
Ela arqueou uma sobrancelha, observando como Ewen perdia tempo com um saco amarrado ao cavalo, eventualmente removendo um odre. Como ele sabia tanto?
Depois de tomar um longo gole, ele se abaixou sentando ao lado dela. Isso era bom, sentar aqui com ele sem uma nuvem de perigo em cima deles. Aparentemente, sem pressa de continuar a jornada, ela decidiu perguntar a ele.
— Seus pais se amavam?
Ele enrijeceu quase imperceptivelmente. Ela sentiu imediatamente que o assunto não era bem-vindo. Mas ele respondeu sua pergunta.
— Aye, porém não deviam.
— O que você quer dizer?
— Quando meu pai sequestrou minha mãe com a aprovação dela, levando-a para longe do Chefe dos Lamont, isso quase destruiu meu pai e nosso clã. Se não fosse por James Stewart isso teria acontecido.
— Ainda existe algo inegavelmente romântico a respeito disso. Seu pai deve tê-la amado de verdade para estar disposto a arriscar tanto.
O rosto do Ewen endureceu.
— Meu pai era um rufião irresponsável que fazia o que bem quisesse sem o menor bom senso e sem medir as consequências. Ele brigava muito, bebia muito e, aparentemente, amava muito. Dever e lealdade não significavam merda nenhuma para ele. Roubou a noiva do seu chefe, pelo amor de Deus, sabendo muito bem que haveria guerra.
Ouvi-lo falar do seu pai explicava muito. Parecia que Ewen fez tudo que podia para se distanciar do tipo de homem que seu pai fora. Sua disciplina, seu senso de honra e responsabilidade eram o oposto de seu pai. Onde seu pai tinha sido selvagem e irresponsável, Ewen era o soldado modelo, fazendo exatamente o que era esperado dele.
— E sua mãe?
Os dedos apertaram o odre que ainda segurava em sua mão.
— Sua irresponsabilidade a matou.
Ela ofegou.
— O que aconteceu?
— Ele não podia manter suas malditas mãos fora dela. Ela mal tinha acabado de dar à luz a mim antes dele deixá-la grávida novamente. Morreu no leito de parto dez meses depois do um nascimento. A criança, uma menininha, nasceu morta.
O modo que ele disse — a menininha — fez algo em seu coração doer.
— Oh Ewen, sinto muito. Isto é horrível. Crescer sem uma mãe... isso não deve ter sido fácil.
Ele deu de ombros.
— Nunca conheci nada diferente. Felizmente, os Stewarts me levaram em sua guarda ou eu poderia ter acabado tão selvagem e sem reputação quanto meu pai. Quando ele não estava brigando ou bebendo, estava tentando se matar com algum desafio tolo. Foi assim realmente que morreu. O chefe Lamont finalmente teve sua vingança, desafiando meu pai para escalar um penhasco próximo ao Castelo Dundonald na chuva.
— Deve ter ficado devastado depois da morte da sua mãe.
— Estava construindo um castelo para ela quando morreu. Por anos, tudo que ele falava era sobre terminar aquele castelo. Mas claro, ele nunca terminou. Quando menino, isso veio de forma que eu odiava a mera maldita visão daquelas paredes meio construídas.
Seu coração apertou. Deve ter sido uma lembrança dolorosa dos fracassos do seu pai. Ele balançou a cabeça.
— Mas sabe o que é pior? De alguma maneira deu um jeito para conseguir que eu fizesse isto para ele. Então agora, além de tentar recuperar umas terras Lamont, também preciso ganhar dinheiro suficiente para terminar essa maldita coisa.
Emoção se alojou em seu peito, e pela primeira vez admitiu para si mesma o que era: ela o amava. Ela o amava com cada fibra do seu ser. Como era estranho depois de todos esses anos finalmente perder seu coração.
Ele estava olhando fixamente à distância perdido em suas memórias, as linhas fortes de seu belo rosto captando os ardentes matizes laranja da luz do sol desvanecendo. Não, perder era errado. Ela achou. Seu coração sempre pertenceu a ele.
— Você é um bom homem, Ewen Lamont — ela disse suavemente.
Ele virou para olhar para ela e algo estranho faiscou em seus olhos. Parecia quase culpa. Mas aí ele sorriu melancolicamente.
— Sou um tolo sentimental e acho que você passou noites demais neste chão duro — ele ficou de pé e estendeu sua mão. — Venha. Tem um banho quente, uma refeição quente e uma cama confortável esperando por você.
Ela suspirou sonhadoramente, deslizando sua mão na dele e permitindo que a ajudasse a se levantar.
— Isso soa divino. Mas Ewen... — olhos azuis firmes encontraram os seus. — Nada disso vai fazer com que eu mude de ideia.
Ele segurou seu olhar por um longo tempo. E então disse algo que ela não entendeu, mas isso mantinha a vaga sensação de uma advertência.
— Espero que você sinta o mesmo em alguns dias.
A visão dos muros caiados da casa de fazenda de telhado de palha aconchegada numa pequena colina nos bancos do Lago Lochend devia ter sido causa para celebração. Esta era primeira parada no fim de sua jornada. Eles estariam seguros aqui.
Mas para Ewen representava um retorno amargo à realidade. Livre da visão estreitada de perigo, onde conseguir que Janet ficasse a salvo e a um passo à frente dos ingleses que os perseguiam era tudo que importava, ele podia ver claramente o que a culpa esteve tentando dizer a ele, a qual esteve crescendo desde que percebeu como era importante o lugar dela na rede do rei.
Ela o odiaria por não dizer a verdade. Por permitir que acreditasse que realmente podia estar retornando a Roxburgh em alguns dias. Por não dizer a ela sobre o noivado.
O que tinha parecido prudente e não era da conta dele no início, agora se sentia como uma traição. Era uma traição. Ele não podia fingir o contrário. Sua relação mudou. A atração pecaminosa que sentiu pela “Irmã Genna” se transformou em algo mais profundo, mais intenso, conforme conhecia — e se importava — com Janet. Em algum lugar ali dentro a coisa certa a fazer mudou, e se algum dia teve a oportunidade para corrigir o erro ele perdeu.
Terminar esta missão estava indo a um custo pessoal que ele nunca imaginou. Sabia que ela ficaria com raiva, só não tinha percebido o quanto importaria para ele. Parte dele queria dizer a verdade, mas sabia que provavelmente seria melhor deste modo.
Talvez se ela o odiasse não seria tão difícil para ele ir embora? Talvez o impedisse de pensar a respeito de coisas que não podiam ser? Talvez tornasse menos duro vê-la se casar com outra pessoa?
Seu peito ardia. Só o mero pensamento disso comia suas entranhas como ácido. Sua mão apertou as rédeas, e inconscientemente seu braço apertou mais ao redor da cintura dela.
Que diabo de escolha ele tinha? O rei não ia colocar o noivado com Stewart de lado para deixá-la se casar com um dos seus soldados — ainda por cima um Lamont — mesmo que Ewen pudesse convencê-la, o que ele não tinha certeza que podia. A única opção aberta era aquela que ele não podia considerar. Ele não era seu maldito pai. Não podia sequestrar a noiva do seu suserano. Não arriscaria tudo por uma mulher. Não importa quanto a quisesse.
E Deus, como a queria! Depois de tantas horas com ela em seus braços, cada centímetro de seu corpo queimava com necessidade. O cheiro do seu cabelo, sua cintura fina, o peso dos seus seios, a curva de sua bunda, infundia seus sentidos, imprimiu em sua consciência, invadiu sua alma. Ele não queria deixá-la ir embora. Ela virou para olhar para ele.
— Tem alguma coisa errada?
Ele se surpreendeu.
— Não, por quê?
— Você não vai descer? Assumo que este é nosso destino?
Ele amaldiçoou baixinho tentando encobrir seu embaraço. Quanto tempo eles estavam ali?
Ele retirou o braço que estava ao redor de sua cintura e pulou para o chão. Depois de ajudá-la a desmontar, amarrou as rédeas a um poste.
— Espere aqui enquanto me certifico que sejamos bem-vindos — ela acenou com a cabeça, contudo ele pensou sobre outra coisa. — É importante que você só me chame pelo meu primeiro nome.
Ela franziu o cenho.
— Por quê?
— Lamont não é um nome exatamente bem-vindo nestas partes. Existem alguns que ainda acreditam que meu clã teve uma mão no assassinato do pai de William Wallace — sem mencionar que seu primo, o chefe Lamont exilado, era um vassalo do Conde de Menteith, o homem que foi responsável por virar o próprio Wallace contra os ingleses.
Normalmente, ele simplesmente usaria seu nome de guerra, Hunter. Mas com Janet aqui isso não era uma opção. Ela já sabia demais.
Felizmente, a resposta pareceu satisfazê-la.
— Muito bem. E quem eu sou?
Ele sabia o que ela estava perguntando, mas de jeito nenhum fingiria estar casado com ela novamente. Não podia permanecer outra noite dormindo ao lado dela.
— Janet. Isto é tudo que eles precisam saber. Deixara-os desconfortáveis por saber que servem a cunhada do rei em seu humilde lar.
— Eu não deixaria ninguém desconfortável, mas passaram-se muitos anos desde que fui servida por alguém. Não espero, nem desejo isto. Asseguro a você, este humilde lar vai parecer um castelo comparado a alguns dos lugares que fiquei.
Ele não perdeu a repreensão suave. Se ela estivesse também tentando dizer que sua diferença de status não importava para ela, fingiu não entender. Podia não importar a ela, mas importaria ao rei. Disso estava mais do que certo.
Com um último olhar que pareceu suspeitosamente com um adeus, Ewen foi encontrar o fazendeiro. Uma vez que Janet percebeu a verdade dos seus sentimentos por Ewen, tudo pareceu se encaixar no lugar. Se ela teve qualquer dúvida sobre o que queria, elas foram logo postas de lado ao chegar à pequena fazenda.
Ela se sentou à mesa diante do fogo de turfa ardendo suavemente, apreciando o calor que a envolvia. Não era apenas o calor das chamas ou a satisfação de uma boa refeição, mas também a companhia. Os Wallaces eram anfitriões corteses e sua felicidade era contagiosa.
Ewen estava certo, nem todos os casamentos eram horríveis. Os Wallaces eram prova disto. Suas brincadeiras apaixonadas, sutis olhares amorosos e toques inconscientes falavam de possibilidades.
Robert Wallace era um primo distante de William Wallace. Ele lutou ao lado de seu ilustre parente até seis anos atrás quando Robert perdeu uma mão em uma briga em Earnside. Margaret era consideravelmente mais nova que seu marido, e de longe mais bonita. A moça delicada de cabelos escuros, com suas feições de fada e constituição esbelta parecia totalmente errada ao lado do guerreiro de cabelos grisalhos por volta dos quarenta anos, quem estava à altura de seu parente famoso e o tamanho imponente de um forjador. Mas de alguma maneira eles se encaixavam perfeitamente. A risada dela aberta e brilhante, e natureza ensolarada complementava a aspereza do seu marido e disposição taciturna. Estava claro que ele adorava sua jovem esposa. Sua jovem esposa grávida.
A estranha pontada que Janet sentiu no peito quando percebeu que Margaret estava esperando bebê se tornou mais identificável conforme a noite passava lentamente. Era desejo. Dolorido e agudo desejo.
Nos saltos de sua própria “gravidez”, Janet nunca sentiu a ausência de crianças em sua vida tão intensamente. Claro, houve vezes ao longo dos anos quando ela pensava sobre crianças — sobre o que estaria desistindo aceitando o véu, — mas já que uma criança exigia um marido, e considerando a importância do trabalho que estava fazendo, parecia um pequeno preço a pagar. Em teoria, talvez fosse. Mas não parecia tão pequeno agora, sentada com uma mulher grávida radiante de um lado e o homem a quem ela tinha acabado de perceber que amava do outro.
Isso se sentia como algo que ela queria. Com ele. Crianças. Noites confortáveis diante do fogo. Olhares amorosos e toques ternos. Queria o que os Wallaces tinham.
Ela sabia o que isso significava. Casamento.
Esperou alguns segundos para reagir à palavra, mas o gosto ruim habitual não subiu à sua boca. Deve ser amor, pensou com um sorriso torto. Com Ewen, um casamento feliz parecia possível.
Sabia que existiam complicações. O rei de um lado, seu trabalha por outro. Robert provavelmente era o mais fácil dos dois. Se Ewen estivesse realmente em sua guarda secreta como suspeitava, isso ajudaria. Ewen não gostaria da ideia dela continuando seu trabalho, mas entenderia o quanto era importante para ela. Ele não era como seu pai e irmão — não tentaria enfiá-la em alguma caixa. Ele a valorizava — disse muito isso. Se ele a amasse, eles achariam um modo de fazer isto funcionar — como Magnus e Helen.
Finalmente encontrou um homem que era forte suficiente para deixá-la ser ela mesma. Sua força de vontade poderia ser muito mais quieta que a dela, mas era tão forte quanto. Haveria brigas entre eles, aye, mas estaria esperando ansiosamente por elas.
Claro, não era ela quem precisava ser convencida que era uma boa ideia. Ele a queria, disso não tinha nenhuma dúvida, e ele se importava com ela — o admitiu tantas vezes. Mas queria se casar com ela? Ele disse que era impossível, mas e se não fosse?
Seu olhar deslizou para o homem em questão. Ele estava preso em uma conversa em voz baixa com Robert Wallace sobre a guerra, enquanto Janet e Margaret terminavam sua refeição — a última fingindo não escutar a discussão dos homens.
— Estamos falando alto suficiente para você, esposa? Não quero que você perca nada de nossa conversa particular — disse Robert, levantando o olhar. Sua expressão era provocadora, mas seus olhos eram suaves quando caíram em sua esposa. Margaret não perdeu um segundo.
— Isto é bastante considerado de sua parte, Robert. Tenho certeza que isso tudo está além da minha pobre compreensão de mulher, mas se você pudesse falar um pouquinho mais alto ajudaria.
Os olhos dela dançavam enquanto se inclinava e sussurrava para Janet.
— Embora eu dificilmente qualificasse a troca de algumas palavras e grunhido ocasional uma conversa. Não sei qual deles é pior.
Janet desatou a rir.
Os olhos de Robert estreitaram em sua esposa.
— O que é tão engraçado?
Margaret sorriu e deu a Janet uma piscada enquanto ficava de pé ao lado da mesa.
— Temo que seja particular.
Robert balançou a cabeça, mas Janet não perdeu o sorrisinho quando ele voltou à sua conversa com Ewen.
Margaret começou a limpar os pratos da refeição deles. Quando Janet se levantou para ajudar, ela mandou que voltasse para sua cadeira.
— Você é uma convidada — disse ela, e então em um sussurro. — Além disso, você deve me contar se eles disserem qualquer coisa interessante.
Janet sorriu de forma conspiradora.
— Vou fazer o melhor que puder. Mas “interessante” provavelmente é mais do que podemos esperar.
Margaret riu.
— Você provavelmente está certa. Que tal este: tente não dormir.
— Não me faça prometer — disse Janet. — Não posso me lembrar da última vez que me senti tão confortável. Você tem uma casa adorável, Margaret.
Ela podia ver quanto o comentário agradou a outra mulher.
— Acho que você viu a torta de maçã.
Janet riu.
— Posso ter visto.
Margaret foi para o outro lado da longa sala enquanto Janet relaxava. Olhou para os dois homens no fim da mesa sorrateiramente. Ela não devia ser tão versada em escutar quanto Margaret, porque podia entender muito pouco do que estava sendo dito. Embora estivesse acostumada a escassa conversa de Ewen, até mesmo para ele, parecia anormalmente subjugado hoje à noite. Algo estava errado.
Ele estava mais preocupado do que dizia por seus amigos não terem chegado? Ele parecia confiante que eles chegariam logo. Ou qualquer outra coisa o estava incomodando?
Ela franziu o cenho enquanto ele tornava a encher sua taça novamente. Parecia estar bebendo mais do que o habitual hoje à noite. Seu rosto parecia um pouco corado. Ela esperou para interromper a conversa dos homens.
— Está tudo bem com sua perna, Ewen?
Ele levantou o olhar para ela.
— Parece bem. Por que pergunta?
Ela enrubesceu, não querendo admitir que estivesse observando-o tomar sua cerveja.
— Você não a mencionou durante algum tempo e estava só me perguntando como estava sua recuperação.
— Está boa.
— Você foi ferido? — Margaret perguntou se aproximando da mesa.
— Um tempo atrás — ele respondeu.
— Mas não curou corretamente — Janet inseriu.
Ewen lhe atirou uma cara feia. Ela sorriu.
Margaret franziu o cenho.
— Eu tenho um pouco de unguento...
— Sério — Ewen disse. — Está tudo bem.
— Deixe o rapaz em paz, Margaret — Robert disse. — Ele tem idade suficiente para decidir por si mesmo se precisa de ajuda.
Margaret e Janet olharam uma para outra revirando os olhos. Não havia idade suficiente para os homens admitirem que eles precisavam de ajuda.
— Contudo estou bastante cansado — Ewen disse, empurrando-se para longe da mesa. — Acho que devo me retirar.
— Já? — Janet disse, não escondendo sua decepção. — Mas e a torta?
Não estava pronta para a noite terminar — ou para a jornada terminar, de fato. Sabia muito bem que Ewen podia ser chamado para outra missão assim que eles retornassem, e ela teria que partir quase imediatamente também, voltar para Roxburgh a tempo do Dia de St. Drostan.
As complicações com os ingleses que eles enfrentaram em sua jornada certamente faria com que persuadir Robert fosse mais difícil, mas pela importância das informações do seu contato, e o fato que Ewen e os outros fantasmas não estariam com ela para atrair a atenção dos ingleses, estava confiante que ele veria a necessidade.
E havia o outro assunto. O assunto deles.
Ewen olhou para Margaret.
— Esperarei ansiosamente uma fatia de manhã — seu olhar finalmente caiu nela. — Você devia descansar um pouco também. Nós sairemos cedo e teremos um longo dia à nossa frente.
Janet assentiu e o deixou ir. Por enquanto. Descansaria, mas só depois que falasse o que queria falar. Ele precisava saber como ela se sentia. Como o que tinha a dizer precisava ser dito em particular, ela esperaria seu tempo. Mas antes desta noite acabar, Ewen saberia o que estava em seu coração.
CAPÍTULO 20
Ewen se sentou pensativamente em um tamborete diante do braseiro de ferro que Margaret forneceu para seu calor no celeiro, passando a extremidade de sua lâmina acima da pedra de amolar lubrificada, com golpes longos, lentos e deliberados. Era algo que ele fazia antes da batalha, para se acalmar e manter sua mente fora do que estava adiante. Um ritual, ele supunha. Eles todos tinham. A maior parte dos soldados atendiam suas armas, mas MacSorley gostava de nadar um pouco, e Striker lia de um amarrado pequeno de couro que carregava por aí com ele como um talismã. Existiam sempre uns que oravam — e uns que bebiam longos goles de uísque.
Mas esta noite, como a cerveja e a natação no lago que vieram antes, o ritual não estava ajudando. Nada estava ajudando a manter sua mente fora de Janet e o que vinha adiante. E certo como o inferno não estava ajudando a aliviar a energia inquieta abundando dentro dele. Ele se sentia tão no limite quanto esta maldita espada.
Ewen queria que pudesse dizer que era apenas luxúria. Deus sabia, ele foi empurrado bem além do limite do que qualquer homem de sangue quente devia ser esperado suportar. Ele a queria tão intensamente que seus dentes doíam só de olhar para ela. Mas apesar de que o pau duro fosse uma parte disso — uma grande e dolorosa parte — não era tudo.
Luxúria não era o que fazia seu peito arder cada vez que seus olhos se encontraram esta noite. Ele não tinha perdido a reação dela à condição da Margaret e o desejo em seu rosto, assim como não perdeu o modo que ela olhou para ele a seguir.
Isso não era possível, maldição. Por que ela o estava atormentando com coisas que não podiam ser?
Porque ela não sabia que eles não podiam ser.
Mais um dia. Mais um dia e isso tudo estaria acabado. Ele teria a maldita certeza que ela não estaria olhando para ele assim depois de amanhã, e o que ele queria não faria diferença. Mas ele encontraria pouca alegria em saber que ela o odiaria, mesmo que fosse o melhor.
Fazer a coisa certa não devia ser tão difícil, maldição.
Ewen xingou quando sua mão deslizou e seu polegar encontrou a borda da lâmina. Uma linha de sangue esguichou da ponta do seu dedo, umas gotas caíram na pedra de amolar antes dele poder afasta-la.
Maldito inferno! Bom que ele não acreditava em presságios. Se acreditasse, este era um ruim.
A porta abriu de rompante assim que ele ficou de pé. Mesmo nas sombras ele a reconheceu.
— O que aconteceu, está tudo bem com você... — Janet parou, seus olhos arregalando à medida que via seu dedo ensanguentado. — Sua mão!
Ela deu um passo dentro do celeiro, mas ele a deteve.
— Não é nada. — Ele pegou um pedaço da bandagem que envolvia sua perna e a enrolou ao redor do seu polegar. — Eu me cortei na lâmina. Isso acontece o tempo todo. — Ele mentiu, embora fosse verdade que o corte era somente um incômodo.
Diferente de sua perna. Isso doía como se queimasse, o que era estranho já que não parecia pior. O pouco sangue que havia parecido fino — parecia aguado, realmente, — mas isso era alarmante. Depois de ir nadar no lago gelado mais cedo, envolveu o ferimento em linho limpo e se sentiu um pouco melhor. Mas tinha de admitir que estava preocupado. Não preocupado suficiente, porém, para tê-la tocando-o. Se era por isso que ela estava aqui — embora não visse nenhum unguento ou linho em suas mãos. Qualquer que fosse a razão para seu aparecimento, não era uma boa ideia.
— O que está fazendo aqui, Janet? Deve ser depois da meia-noite. Você devia estar dormindo. Volte para a casa.
Ela o ignorou.
— Nós precisamos conversar. — Fechando a porta suavemente, ela caminhou em direção a ele. Quando chegou mais perto, ela entrou na luz.
Sangue de Deus! Ele sentiu como se alguém tivesse acabado de dar um soco na sua barriga. Um soco de tentação. Ela era uma fantasia ambulante. Uma sereia enviava para levá-lo diretamente para o inferno. Ela parecia como se tivesse acabado de rolar da cama. Seu cabelo dourado caía pelos ombros em uma massa ligeiramente bagunçada — sensualmente bagunçada, — ondas que captavam o faiscar da luz das velas em um halo prateado. Seu plaid estava envolvido ao redor dos ombros dela e se juntava na frente, mas ele ainda podia ver a camisa de linho fino que ela vestia por baixo. Tudo que ela vestia por baixo. Por baixo da bainha podia ver uma sugestão de pernas e pés nus que ela apressadamente enfiou em seus sapatos sem meia.
Ela parou a alguns passos dele e Ewen tentou respirar, mas o ar em seus pulmões parecia ter se tornado sólido.
Pela primeira vez que em sua vida, o caçador experimentou como era ser pego. Como um cervo na mira do arqueiro, ele não podia se mover.
Ele viu o olhar dela ir para trás em direção ao estábulo escuro, onde seu cavalo e alguns outros animais estavam alojados, e então para o pequeno canto onde um pallet de aparência confortável tinha sido ajeitado para seu uso. Além do braseiro e do tamborete, havia uma mesinha com uma luminária a óleo. O cheiro era de terra por causa da turfa em vez de pungente, e o ar era abafado e morno.
Juntando com o modo que ela parecia, o fazia pensar sobre…
Inferno, tudo nela o fazia pensar sobre isto. Ele estava equilibrado na extremidade da espada. Apertou os punhos, uma mão formando uma bola em torno da bandagem.
— Você precisa partir, Janet, agora. Seja o que for que você tem a dizer pode esperar até amanhã. Isto não está certo. Você não deveria estar aqui comigo sozinha assim. E se os Wallaces acordarem e notarem que você se foi?
A ferocidade de seu tom não pareceu causar nenhuma impressão nela. Ela ergueu o queixo para encontrar seu olhar.
— Estivemos sozinhos por quase dois dias. Os Wallaces estão profundamente adormecidos, e ainda que acordem, suspeito que saberão exatamente onde eu fui, Margaret especialmente. — Ela deu outro passo em sua direção, e ele teve que se forçar a não dar um passo atrás. Mas sua pele ficou apertada sobre os ossos. Seu sangue disparou por suas veias, e seu coração estava martelando como um tambor. — O que tenho a dizer é importante e não pode esperar.
Ele franziu o cenho, uma pontada de preocupação penetrando através de sua raiva pela invasão e a urgência de conseguir tirá-la daqui.
— Algo está errado?
Ela sacudiu a cabeça.
— Então o que é?
Ela mordeu o lábio, como se não soubesse o que dizer. Já que ela sempre sabia o que dizer, sua preocupação aumentou.
— Eu mudei de ideia.
— Sobre o que?
— Não acho que eu quero ser uma freira.
Um pouco de sua raiva retornou.
— E isto é tão importante para que você escape sorrateiramente de sua cama no meio da noite para vir me encontrar?
Ela disparou uma cara feia para ele, apertando a boca.
— Isso significa que nas circunstâncias certas eu poderia considerar casamento.
Ele ficou imóvel. O ar parecia ter deixado seus pulmões. Realmente o ar, o sangue, os ossos, e quase tudo mais parecia tê-lo deixado também.
Ela estava tentando dizer que consideraria se casar com ele?
Pelo modo que ela abaixou seu olhar e o suave rubor rosa em suas bochechas, suspeitava que era exatamente o que ela queria dizer.
Jesus! Apesar dele estar vestindo só uma túnica e uma calça de lã fina, sentiu um brilho de suor se reunir em suas sobrancelhas. Que diabos ele devia dizer?
— Janet, você sabe que as circunstâncias certas serão decididas pelo rei. Se for seu desejo se casar, Bruce será quem irá encontrar um marido para você — um marido apropriado.
Sua boca apertou cheia de desgosto.
— Robert não é assim. Ele considerará meus desejos.
Ewen xingou baixinho. Como podia dizer a ela que “Robert” já tinha encontrado um marido sem considerar seus desejos afinal? Sem mencionar que o rei tinha avisado a Ewen para ficar longe dela.
Ele se mexeu desconfortavelmente, de repente sentindo como se estivesse caminhando por um jardim dos sacos de pólvora do Sutherland — com faíscas nas botas.
— Ele vai encontrar um marido que tenha mais que um dedo de terras e um castelo meio construído.
Em vez de desencorajá-la, suas palavras pareceram incentivá-la.
— Mas e se ele pudesse ser persuadido? Você não vê, eu podia te ajudar. Se você se casasse comigo, melhoraria sua posição com Robert. Ele com certeza devolveria algumas terras para você e...
— Pare! — Ele a pegou pelos ombros e sacudiu, não percebendo o que estava fazendo. — O que você está dizendo é impossível. Maldição, algum dia já ouviu a palavra “não”? Não vai acontecer.
Ela respirou fundo, olhando fixamente para ele com centenas de perguntas nos olhos.
— Por que não? Pensei que você… — Os olhos dela viraram para os seus, rasgando-o. — Pensei que se importasse comigo. Você não me quer?
Maldito inferno! Ewen a soltou tão de repente quanto a agarrou, não confiando em si mesmo. Ele a queria com cada fibra de seu ser. Ele a queria tão desesperadamente, levou tudo que tinha para não a puxar em seus braços agora mesmo.
— Não é tão simples, Janet.
— Por que não?
A dor em sua voz quase o quebrou. Sabia que haveria lágrimas em seus olhos se ele olhasse, então ao invés disso arrastou os dedos por seu cabelo e andou alguns passos diante do braseiro de ferro.
— Simplesmente não é.
— Mas eu amo você.
Seus pés pararam. Seu coração parou. Tudo pareceu parar. Levou alguns momentos para as palavras afundarem. Por um instante sentiu uma explosão de algo similar à felicidade pura — felicidade como nunca experimentou antes. Porém isso foi socado sob o peso amargo do dever e da lealdade. Pessoas estavam contando com ele, maldição. Ela pertencia a outro homem.
Ewen não seria como seu pai, mesmo se isso o matasse. Ele não faria isto. Disciplina.
Ele virou e se forçou a olhar para ela, cada músculo em seu corpo tão apertado quanto um arco. Sua mandíbula estava apertada, seus punhos estavam apertados, e a dor em seu peito abafou tudo que ele esteve sentindo em sua perna.
Ela olhou fixamente para ele com olhos arregalados, parecendo mais vulnerável do que ele já a viu.
— Você não vai dizer algo?
— O que você gostaria que eu dissesse? — Ele não queria que isso soasse tão duro quanto soou, mas nunca foi bom com palavras. Ele nunca foi bom com nada disso. Como a bagunça que ele fazia com tudo.
Ela se encolheu, seus dedos ficando brancos conforme ela apertava o plaid com mais força.
— Eu pensei... — Ela parou, sufocando um soluço mudo. — Pensei que você pudesse se sentir do mesmo modo. Mas posso ver que estava errada. — As primeiras lágrimas deslizaram de seus olhos, cada uma delas uma lança de dor através do seu coração. — Eu não devia ter te incomodado. Me d-desculpe.
Ele mal pode ouvir a última palavra pelo soluço minúsculo. Podia ver os ombros dela tremendo quando ela virou para partir.
Ele não podia fazer isto. Não podia deixá-la partir deste jeito.
— Janet, espere.
E foi quando ele cometeu seu erro. Ele a segurou.
Janet estava muito magoada para estar humilhada, embora tivesse certeza que isso viria mais tarde. Deus do Céu, ela praticamente pediu para ele se casar com ela! Ela deu a ele seu coração e ele não quis. Seu peito se sentia como se tivesse sido esmagado por um pedregulho — ou o chão debaixo de uma enorme bota pesada.
Ela não podia respirar — não ousava respirar — temendo que a onda quente de emoção constringindo sua garganta e peito se despejasse em uma torrente de soluços.
Algum dia já ouviu a palavra “não”?
Aye, ela ouviu. Em alto e bom som. Querido Deus, como ela pode ter estado tão enganada? Isto era só outro exemplo dela descendo montanha abaixo como uma pedra rolando? Ela tinha imaginado algo que não estava lá?
Seu lábio inferior tremeu. Seus ombros sacudiram. As lágrimas começaram a fluir. Oh Deus, ela tinha que sair dali!
Ela o ouviu chamar atrás dela e o teria ignorado se ele não pegasse seu braço.
— Solte-me! — Ela tentou encolher os ombros para escapar, não querendo que ele a visse chorar. Não querendo que ele visse o quanto a magoou. Ele não podia deixá-la com um fragmento de orgulho?
Aparentemente não. Ele não a soltou, a mão do seu grande guerreiro fechou ao redor da parte superior do braço dela como uma algema de aço. Ele a fez dar meia volta para que o enfrentasse, mas ela não levantou o olhar. Manteve o olhar fixo na gola bordada de sua túnica de linho. Mas até isso doía. Estava amarrado ao pescoço dele, e ela se achou olhando fixamente para o caminho de pele escura por baixo. A pele que ela ainda queria tocar.
O calor de seu corpo a envolveu. Cruelmente. Provocadoramente. Perseguindo-a com memórias de coisas que não podiam ser.
— Eu não quero magoar você.
Ela deu uma risada aguda que saiu mais como um soluço quebrado. Era tarde demais para isto.
— Então o que você quer, Ewen? — Ela levantou o olhar para dentro dos seus olhos, um flash de raiva temerária restabelecendo um pouco de sua coragem. — Oh, espera. Eu sei o que você quer. — Ela inclinou seu corpo no dele, suas terminações nervosas zumbindo ante o contato. Mas desejo não era amor. — Como eu posso ter confundido isso com qualquer outra coisa?
Ewen soltou um gemido áspero, torcendo o braço dela ao redor para aproximá-la muito mais apertada contra ele, embora não achasse que ele estava ciente do que fez.
— Pare com isso, Janet. Isto não é verdade.
Seu rosto era uma máscara escura e torturada. Sua boca uma linha dura, seus olhos tiras de aço, sua mandíbula apertada.
O coração dela tinha dono. Odiava-o por fazer com que ela o quisesse tanto. Por cada um dos músculos duros pressionados contra ela que faziam seu corpo esquentar, mesmo agora. Por ser tão bonito que fazia seu coração doer só de olhar para ele. Por fazê-la perder de vista seu plano e acreditar até por um momento em contos de fadas. E acima de tudo por não a amar de volta.
— O que não é verdade? — Ela provocou. — Que você não me quer? — Ela apertou seus quadris contra ele. — Eu diria que seu corpo discorda.
Seus olhos mergulharam nos dele. Estava tremendo de raiva, frustração e dor. Ela queria atacar. Queria machucá-lo tanto quanto ele a machucou.
— Mas quer saber, Ewen? Isso não é mais suficiente para mim. Não quero mais você. Então solte-me!
Pânico subiu duro e quente dentro dele. Ela estava falando sério. Ewen podia ver em seus olhos. Ela não o queria mais. Ele a empurrou para longe vezes demais. Era o que ele procurou, não era? Ele achou. Mas enquanto estavam lá tão colados, faíscas de raiva e desejo chocando entre eles em uma feroz batalha de vontades, soube que não podia deixá-la ir. Se ele a deixasse ir embora agora, seria muito tarde. Ele a perderia. Ela nunca voltaria. Estaria terminado.
Ele podia lutar com o desejo — poderia até mesmo ser capaz de ganhar, — mas não podia lutar com o medo forjado por pensamentos de um futuro sem ela. Ela jogou suas defesas abaixo até que ele simplesmente não podia mais lutar.
Pro inferno com isto. Sua boca cobriu a dela em um beijo quente e possessivo que era para não deixar nenhuma dúvida sobre suas intenções. Ele iria fazê-la pertencer a ele da única maneira que podia. Pela primeira vez, Ewen não segurou nada, dando rédea livre ao seu desejo.
Ele provou a ela a mentira com seus lábios e língua, pedindo — não, exigindo — com cada golpe hábil, até que ela estava retribuindo seu beijo com tanto calor e paixão que queimava dentro dele. Ela o queria.
O plaid que ela estava segurando — seu plaid — caiu numa poça aos seus pés conforme seus braços rodeavam o pescoço dele. O corpo minúsculo dela esticado contra o seu e ele afundou nela, respirando em seu quente e pesado calor.
Era incrível. Seu calor. Sua suavidade. O aroma inebriante de seu cabelo. Ele cavou mais fundo, ajustando o corpo seu corpo ao dele, cavando a mão através das mechas douradas para agarrar sua cabeça nas palmas dele, e afundar a língua cada vez mais fundo na doçura da caverna quente de sua boca.
Ele não podia ter o suficiente. Sua boca estava faminta pelo gosto dela, suas mãos ávidas para vagar por cada centímetro, e seu corpo doía por mais pressão.
Ela gemeu e estremeceu, seus dedos minúsculos embreando — cavando — em seus ombros, prova visceral do quanto ela o queria.
Um raio de calor atingiu duro em sua virilha, enchendo-o. Fazendo-o inchar. Pulsar. Latejar.
Ele não iria durar.
Varrendo-a para dentro de seus braços, carregou-a para cima da pallet. Interrompeu o beijo apenas tempo suficiente para descê-la e arrancar sua camisa antes de descer ao lado dela.
Os olhos dela arregalaram, viajando sobre planos de pele nua. Não, “viajando” não era bastante certo. “Banqueteando” talvez fosse mais preciso. Estava acostumado a mulheres admirando os efeitos da guerra em seu corpo, mas com ela era diferente. Com ela importava.
— Meu Deus, você é bonito — ela deixou escapar.
Ele sorriu.
— Guerreiros não são bonitos, moça. Pensei que você fosse boa com palavras.
Ela corou, embora soubesse que ele estava brincando com ela.
— Muito bem, “perfeito” então. — Seus olhos foram para o corte que ele sofreu na batalha com os ingleses na manhã anterior. — O ferimento não dói? — Ele sacudiu a cabeça. Como disse a ela, não era mais do que um arranhão. — O que é isto? — Ela perguntou, traçando a marca que o vinculava à Guarda das Highlands em seu outro braço com o dedo.
Ah, inferno.
— Nada.
Ela o ignorou.
— É o Leão Desenfreado com algum tipo de faixa e inscrição. — Ela espremeu os olhos para enxergar melhor na luz das velas. — Or inveniam viam. ”Eu devo achar um modo”. — Ela traduziu. — Isso se encaixa para um rastreador. Soa como a inscrição para uma espada.
— É. — Ele disse. Tinha a mesma marca em sua espada. A tatuagem do Leão Desenfreado rodeada com a faixa como um torniquete de uma teia de aranha, era a marca usada para identificar cada membro da Guarda das Highlands. Mas muitos dos guerreiros a personalizavam com armas ou lemas. Ewen fez ambos. Tinha duas lanças cruzadas atrás do leão e a inscrição em sua espada abaixo.
Seu braço flexionou debaixo da ponta do dedo dela, e agradecidamente ela continuou. Ela se estendeu e espalhou suas mãos por seu tórax e braços.
— Você parece como se fosse feito de aço. — Ela ergueu o olhar timidamente. — Sabe, nunca gostei de músculos antes, mas acho que aprendi a gostar bastante. — Sua palma espalhou sobre o músculo protuberante em seu braço superior e apertou. — Aye. — Ela disse, sua voz ficando um pouco mais rouca. — Aprecio bastante.
Outra explosão de calor correu através dele. Amaldiçoou e a beijou novamente antes que suas palavras pudessem deixá-lo mais louco.
Ele tinha toda intenção de levar isto devagar. Saborear cada minuto do que poderia ser a única vez...
Ele parou. Não pense nisso.
Ao invés disso se concentrou no quanto era boa a sensação dela bem enfiada debaixo dele. Segurou-a aconchegada ao seu lado, meio projetado em cima dela, para não a esmagar com seu peso. Isso também deixava sua mão livre para explorar, e teve a maldita certeza de não deixar nenhuma parte dela sem tocar. Ele segurou de forma côncava seu seio através do tecido fino da camisola, escovando o polegar acima do bico tenso, antes de deslizar a mão atrás sobre sua cintura e quadris, e então sua bunda, erguendo-a contra ele até que a perna dela envolveu ao redor do quadril dele.
Seus grunhidos e gemidos saíram de foco juntos quando ele começou a esfregar suavemente contra ela. Lentamente aumentou, imitando o ritmo com sua língua, enquanto os círculos lentos e gentis se tornavam um esfregar rápido e duro. Ele a deixou se acostumar ao seu tamanho. Deixou-a sentir cada centímetro de seu comprimento enquanto movia seu corpo acima do dela.
Mas a performance separada por algumas camadas de linho e lã não era suficiente para nenhum deles. A corrida frenética dos batimentos cardíacos dela e respiração acelerada, entre ofegos crescentemente urgentes e gemidos, combinavam com os seus.
Tensão latejava por seu corpo. Ele estava quente para cacete. Fervia. Seu corpo um inferno de necessidade. Suor reunia em sua sobrancelha enquanto ele lutava com os instintos pressionando dentro dele. Cada um dos seus músculos estava flexionado com força, tremendo pelo esforço para encontrar restrição. Para encontrar controle. Para fazer isto durar.
Mas não ia durar. Não desta vez. Estava tão gostoso e ele a queria tão intensamente. Desde o primeiro momento que a viu na floresta, meio nua e feroz como uma valquíria, ele esteve esperando por este momento. Não quis reconhecer nem para si mesmo, mas a verdade finalmente o alcançou. Ou talvez fosse o destino que o tenha alcançado.
Sabia que estava muito apressado. Apressado demais. Mas tinha que estar dentro dela. Agora.
Com uma mão, desabotoou os laços de seus calções e os deslizou de seus quadris. A explosão de ar frio sobre sua pele túrgida o fez gemer de alívio.
Sutileza estava além dele. Sua mão parecia grande e desajeitada enquanto agarrava a bainha da camisola dela, levantando-a só o suficiente para ele ter acesso. Ele se forçou a tirá-la. Deixou sua mão descansar na coxa dela um instante antes de tocá-la. Mas ela não deixou. Começou a se retorcer, gemer, erguer seus quadris para encontrá-lo.
Então deu a ela o que ambos queriam, varrendo seus dedos sobre a umidade dela, antes de deslizar no apertado calor feminino. Ele gemeu. Tão molhada. Tão quente.
Um afiado aperto de desejo formou uma bola na base de sua espinha. Queria estar dentro dela tão desesperadamente, levou tudo que tinha para não alavancar seu corpo acima do dela e investir duro para dentro. O conhecimento do quão bom se sentiria colidiu nele numa onda quente, quase o arrastando para baixo.
Mas tinha que deixá-la pronta para ele. Ela era inocente, maldição, e ele iria fazer isto bom para ela, ainda que o matasse.
E seria muito bom.
Erguendo a cabeça, interrompeu o beijo para ver seu rosto enquanto dava prazer a ela.
Sentiu algo apertar duro em seu peito. Ela era tão bonita. Presa na agonia da paixão, suas bochechas coradas com prazer, seu cabelo dourado espalhado atrás de sua cabeça numa desordem selvagem, seus olhos entrecerrados e seus lábios inchados pelo beijo suavemente separados, ela parecia com algum tipo de deusa sensual. Sabendo que ele estava fazendo isto para ela o humilhava. Foi seu beijo que inchou os lábios dela, sua barba de uma semana que avermelhou a pele sensível ao redor do queixo, e seu toque que estava deixando-a selvagem.
Mas não selvagem o bastante.
Janet se sentiu como se tivesse sido pega em um vendaval. Um vendaval quente, frenético e devastador. Ela foi do desespero absoluto até o êxtase em questão de minutos.
O que o tinha segurado se foi. Quando a beijou, ela soube que ele tomou sua decisão: ele a escolheu. Seu peito inchou com felicidade. Ela não esteve errada em entregar seu coração a ele.
Foi varrida pelo calor do seu abraço, entregou-se à paixão. Entregou-se à ele. A rendição nunca pareceu tão boa. A sensação de seus dedos dentro dela — acariciando-a, trazendo-a ao próprio pico do prazer…
Oh Deus, ela não podia aguentar isso! Ela gemeu, se retorceu, sentiu o desejo avassalador de pressionar seus quadris na mão dele. Um eco da memória do que ele fez com ela a provocou, enquanto a sensação cintilava mal fora do seu alcance.
— Não ainda, mo chroí. — Ele sussurrou em seu ouvido com uma risada malvada. — Quero te saborear primeiro.
Janet não queria tentar dizer a ele o que fazer, mas preferia esse negócio agora de beijar.
Ela soltou um pequeno choramingo de protesto quando ele diminuiu as carícias, e tentou não ficar irritada quando ele riu.
— Prometo que você gostará disto, moça.
Ela sentiu seu primeiro cintilar de premonição quando ele deslizou para baixo, não para cima. Meu Deus, seu rosto estava bem entre sua...
Uma súbita onda de embaraço esfriou um pouco do calor. O instinto fez suas pernas se juntarem com força.
— Não! Não faça isso! Você não pode!
Ele levantou os olhos para ela, um brilho malvado em seus olhos azuis acinzentados. Uma mecha espessa de cabelo escuro caía sobre sua sobrancelha, dando a ele uma distinta borda marota. Ele enterrou sua boca bem no ápice de suas pernas fechadas, o calor de sua respiração fazendo-a ofegar. Ele sorriu.
— Asseguro a você, eu posso. — Ele se aninhou nela novamente, suavemente cutucando suas pernas para se separarem. — Você vai gostar disso, amor. Só me deixe ter um gostinho.
Oh Deus! Ela estremeceu — e não com mortificação — quando ele se aninhou nela novamente, desta vez dando a ela um tremular de sua língua que enviou uma ondulação após a outra de sensação direto para os dedões do seu pé. Suas pernas relaxaram ainda mais, abrindo um pouco mais à medida que o embaraço rapidamente dava lugar para os desejos perversos do seu corpo.
Quando ele a beijou lá, apertando seus lábios quentes e firmes na sua parte mais íntima, ela gritou em choque e prazer tão agudos que deixou cada terminação nervosa no limite. Ou melhor, virou do avesso cada terminação nervosa. Ela era uma bola crua de terminações nervosas viradas do avesso. Quente, sensível e posicionada para seu toque.
Ele a provocou com estalidos gentis de sua língua e beijos suaves até que ela não pode aguentar mais. Começou a erguer seus quadris contra ele, querendo mais pressão.
— Gosta disso, amor?
Gostar disso? Céus, nunca imaginou gostar tanto de uma coisa. Esperava que ele não estivesse esperando que ela falasse, tudo que podia administrar era um ofego sem fôlego.
Esqueceu-se de estar envergonhada e não ofereceu um único protesto quando ele se instalou firmemente entre suas pernas, lançou as pernas dela por cima de seu ombro, e agarrou sua bunda com ambas as mãos para erguê-la mais completamente para sua boca maravilhosa e perversa.
O primeiro golpe amoroso de sua língua fez cada um daqueles terminais nervosos virados do avesso formigar. Mas foi a pressão de sua boca e o esfregar de mandíbula da barba por fazer contra a pele tenra entre suas coxas que a fez perder toda vergonha.
Ela começou a tremer. Começou a arquear as costas e erguer os quadris cada vez com mais força contra seus lábios e língua. Disse a ele para não parar. Implorou para fazer isso parar. Mais rápido. Mais fundo. Mais duro.
Oh Deus, sim… sim! Uma corrida de calor surgiu entre suas pernas para a sucção morna de sua boca. Ele a segurou ali, bebendo-a, enquanto ela se catapultava em um reino diferente, enquanto seu corpo se partia em onda após onda de prazer quente e ondulante.
Através da névoa desatenta, ela o ouviu praguejar.
— Não posso esperar mais… Tenho que estar dentro de você… Desculpe.
Sua voz soava quase estrangulada.
Por que ele estava se desculpando?
Não levou muito tempo para descobrir.
CAPÍTULO 21
Ewen chegou ao fim de sua restrição. Qualquer controle que ele pensou que tinha desapareceu após o clímax dela. Queria deixá-la louca e pronta para ele, só não tinha antecipado o que isso faria a ele.
Era experiência a mais erótica de sua vida. Nunca saboreou uma mulher tão completamente antes. Nunca teve sua boca nela enquanto ela se quebrava. Nunca se sentiu tão conectado enquanto os espasmos de prazer reverberavam pelo corpo dela. Ela se entregou tão livre e completamente.
Ele não podia esperar outro minuto.
Murmurando algum tipo de desculpa, alavancou seu corpo sobre o dela. Os músculos em seus braços e ombros flexionaram duros em antecipação enquanto ele lutava para se segurar firme. Para ir lentamente.
Os olhos dela se ergueram para os dele. Ele sentiu um clique. Era como se algo tivesse mudado em seu peito e trancado no lugar.
Seus olhos tremularam para baixo e arregalaram. Seguiu a linha de seu olhar e viu a mesma coisa que ela: uma ereção de tamanho muito intimidante. Queria dar a ela algum tipo de reafirmação, dizer que tudo ficaria bem, mas verdade seja dita, ainda que pudesse dar um jeito para grunhir algumas palavras agora, não estava certo quanto disso iria doer. Mesmo suave e molhada de seu orgasmo, ela ainda era pequena e apertada, e ele grande e duro. Muito grande e muito duro.
Só de pensar nisso o fez pulsar. Lutou com a urgência de lançar a cabeça para trás e investir para dentro dela.
Mas esta era uma batalha que ele perdeu.
Seu pau estava muito duro, sua entrada escorregadia e morna muito convidativa, e qualquer controle que ele tinha fugiu no momento em que esfregou a cabeça sensível contra sua umidade sedosa. Segurando seu olhar, ele começou a pressionar para dentro, centímetro por centímetro, mas a intimidade era intensa demais, as emoções muito poderosas. Era demais. O gentil cutuque se tornou um mergulho rápido enquanto ele a possuía completamente, ligando-a a ele de um modo que não podia ser desfeito.
Ele soltou um gemido de pura e primitiva satisfação, subjugado por uma sensação de alívio e mais alguma coisa. O único modo de descrever isso era retidão absoluta. Como se ele estivesse onde pertencia. Como se encontrasse seu destino.
O grito suave de dor atravessou um pouco da sua névoa. Mas era tarde demais. Tarde demais para recriminações. Tarde demais para mudar de ideia. Tarde demais para recuar — ele foi muito longe, não podia puxar de volta agora mesmo que quisesse. Ela era sua.
Pelo menos no momento.
Ewen cerrou os dentes, mantendo-se imóvel como uma pedra, querendo lhe dar tempo para ajustar à sensação dele. Mas era bom demais. Ela era apertada e quente, agarrando-o como uma maldita luva, e cada instinto em seu corpo gritava para se mover.
Ele roubou um olhar para baixo em sua direção, surpreso por ver seus olhos não fechados bem apertados, mas olhando para ele com a emoção que ela o forçou a reconhecer.
Amor. Seu peito apertou. Uma onda de ternura bateu nele em cheio. Ele se inclinou e deu-lhe um beijo suave.
— Eu sinto muito.
Ela sorriu.
— Por quê?
Por tantas coisas.
— Machuquei você.
— Não é tão ruim... agora.
Como se para provar suas palavras, ela se mexeu, enviando um inchaço quente de prazer surgindo até a ponta dele. Ele gemeu, incapaz de resistir ao primitivo instinto de responder com um movimento também. Uma investida apertada e rápida.
Ela se encolheu.
Ele praguejou.
— Maldição. Me desculpe. Estou tentando não me mexer, mas você é tão gostosa, isso está me matando.
Pela quantidade de dor em que ele estava no momento, o sorriso que se espalhou pelo rosto dela não foi exatamente apreciado.
— Eu estou? Eu sou?
Ele lhe um olhar afiado, seus dentes apertados firmemente.
— Não precisa estar tão contente com isto.
O sorriso dela se tornou ainda mais largo.
Ele se inclinou para beijá-la novamente, o movimento fazendo-o afundar mais profundamente.
Ela ofegou, mas desta vez não com dor. Seus olhos se encontraram.
— Oh! Essa sensação...
Ele sabia como se sentia. Parecia incrível. Ele se moveu novamente, tirando só um pouco e afundando de volta. Os olhos dela se arregalaram.
— Oh... — De novo. — Oh!
Quando ela circulou seus braços ao redor do pescoço dele para segurar mais apertado, foi todo o convite que ele precisava. Segurando seu olhar, ele investiu novamente. Observando por qualquer sinal de dor. Mas não era dor que trouxe um suave rubor rosa para suas bochechas.
Quando os quadris dela se levantaram para encontrá-lo, ele não pode se conter. Seus golpes prolongaram. Aprofundaram. Foi mais rápido e mais duro, ela ofegando gemidos que o incentivaram a continuar.
O prazer era intenso. Avassalador. Como nada que ele algum dia sequer imaginou. Ela era... tudo. E mais.
Tão apertada. Tão quente. Suor despejava dele, as punhaladas frenéticas cobrando seu preço. A pressão construiu na base de sua espinha, mais forte e mais poderosa que qualquer coisa que ele já sentiu antes. O corpo dela o agarrou, ordenhou, empurrou-o por cima da borda.
E ele a levou junto. Segurando os quadris dela, ele apunhalou duro e fundo, esfregando para dar prazer a ela em círculos duros e lentos, enquanto seu próprio prazer rugia em seus ouvidos.
Ele gozou com uma intensidade incandescente que o sacudiu em seu núcleo. Por um momento, o prazer foi tão aguçado que viu tudo preto. Novamente os espasmos o assolaram. Agarrando. Apertando. Deixando-o seco.
— Amo tanto você. — As palavras dela ecoaram inúmeras vezes em sua cabeça, em seu coração.
Quando o último jato diminuiu em sua virilha, ele desmoronou na cama ao lado dela, gasto e exausto, deleitando-se nas sensações e sentimentos estranhos. Ainda sentia como se estivesse voando. Sentiu a cabeça leve, sua mente um pouco suave e vaga. Quase como se tivesse tomado mais daquele uísque do que percebeu. Jesus! Nunca percebeu que isso podia ser... Assim.
Incrível. Surpreendente. Como nada que já experimentou antes. Eles estavam... conectados. Não apenas juntos, mas conectados. Nunca se sentiu mais perto de ninguém em sua vida como esteve no momento em que estava dentro dela, olhando no fundo dos seus olhos. Quando eles acharam o clímax juntos, não só seu corpo foi saciado, mas sua alma. E a euforia não terminou com o orgasmo. Ele se sentiu — o sentimento era tão estranho para ele que levou um momento para pôr um nome nisso — feliz. Como se pudesse deitar aqui com ela para sempre.
Era tão doce. Tão entregue. E ela o amava? Como teve tanta sorte?
Estava prestes a alcançá-la e colocá-la debaixo de seu braço quando ela falou.
— Se isto é o que casamento tem a oferecer, acho que devo estar bastante contente.
Ela podia ter jogado um balde da água fria nele, o choque de suas palavras era o mesmo. O atordoamento desapareceu. A euforia e felicidade viraram um frio gelado à medida que a realidade do que fez o atingiu rápido e duro.
Foda.
O palavrão estava bem colocado. Foi isso exatamente que ele fez — tanto literal quanto figurativamente. Não só ela, mas ele mesmo também.
Em vez de aconchegá-la contra ele, olhou fixamente para o teto de madeira do celeiro em atordoada descrença enquanto as ramificações o derrubaram implacavelmente.
Sangue de Deus, que diabos ele fez?
Ao tomar sua inocência, ele violou a confiança tanto do seu rei quanto do seu suserano, e pôs seu futuro, como também do seu clã, em risco. Um dedo de terra? Inferno, ele não teria um punhado de sujeira no seu nome quando Bruce descobrisse. O castelo meio terminado — um monumento à imprudência de seu pai — seria um flagelo na paisagem para sempre. Mas nada disso importava porque Ewen estaria morto. O rei o mataria.
Ewen tinha tentado manter sua cabeça baixa, fazer seu trabalho, distanciar-se de seu pai “selvagem” e seu primo rebelde, e não chamar atenção para si mesmo. Bem, Bruce certo como o inferno ia notar isto. Estava quase feliz que Sir James estava morto para que ele não tivesse que ver isto.
Destinado a ser. Retidão. Fatalidade. Destino. Realmente tinha usado tais desculpas fantásticas para justificar o indesculpável e perder de vista sua honra? Por esquecer o que importava? Que tal dever, lealdade e disciplina? Era nisso em que ele deveria pensar. Queria culpar o uísque, mas sabia que não era isto. Ficou com medo de perdê-la e reagiu sem pensar. Deixou a emoção controlá-lo. Maldição, ele não ficou sentimental. Isto não deveria acontecer com ele.
Era tão ruim quanto seu maldito pai! Sua vida inteira esteve lutando para ter certeza que não terminaria como o Selvagem Fynlay, e em questão de minutos desfez tudo isso.
Os Lamonts em Cowal não existiriam mais. Você decidiu. Deus, sentia-se doente.
A princípio Janet não percebeu nada de errado. Ainda formigando e fraca de prazer, ainda sentindo como se estivesse planando nas nuvens, estava tão presa na maravilha do que tinha acabado de acontecer que assumiu que Ewen estava se sentindo do mesmo modo.
Nem estava preocupada quando ele não respondeu ao seu gracejo. Provavelmente estava tão subjugado quanto ela.
Foi só quando ele se sentou jogando as pernas por cima da beirada do pallet (dando a ela uma boa visão de suas costas largas e bem musculosas), arrastou seus calções para cima e enfiou a cabeça em suas mãos que ela percebeu que algo estava errado.
Só percebeu o quanto estava errada quando ele murmurou um palavrão que ela nunca ouviu dele antes.
Seu peito apertou, mas tentou não reagir demais, exagerar. E daí se isto não foi exatamente como ela tinha imaginado o momento? Não importava que ele não a puxou em seus braços, acariciou seu cabelo e disse a ela o quanto era maravilhosa. Quanto a amava. Realmente não importava.
O aperto aumentou para uma pontada. Ela não era uma virgem de dezoito anos de idade. Era uma mulher madura. Não precisava de tais garantias, embora teria sido legal. Empurrou para trás a onda quente de emoção que subiu aos seus olhos.
Ignorando o desapontamento tolo e de mocinha em seu peito, tentou pensar racionalmente. Sua reação era compreensível. É claro que era. Ela conhecia Ewen, e sem dúvida que ele veria tomar sua virgindade como algum tipo da violação ao seu código de homem.
Ela podia pensar que era ridículo, mas ele não.
Sentando-se atrás dele, ela se esticou e pôs a mão no ombro dele. Os músculos enrijeceram sob de sua palma. Outra lasca de dor tentou fazer seu caminho através da felicidade em que ela se envolveu como um plaid, mas não deixaria.
— Por favor, não fiquei chateado. De verdade, não há nada com que se preocupar. Não fizemos nada de errado. — Ela sorriu. — Ou nada que não possa logo ser corrigido. Vou até Robert assim que chegarmos e explicar, bem, talvez não tudo. — Robert podia ser tão cavalheiresco sobre este tipo de coisa quanto Ewen. — Mas ele entenderá. Ficará muito feliz em me ver casada finalmente, e casar comigo vai ajudar seu clã, você vai ver.
Nada podia ter impedido a punhalada de dor quando ele se empurrou para longe do toque dela.
— Você não entende uma maldita coisa, o rei vai ficar furioso!
Janet piscou de volta para ele em choque, atordoada pela força de sua veemência. Não pensava em si mesma como possuindo ternos sentimentos, mas ele conseguiu achar um com suas palavras tipicamente cegas e afiadas como navalhas.
— Talvez isso não seja uma combinação ideal, mas tenho certeza que Robert pode ser persuadido...
Ele a agarrou pelo braço e a forçou a encará-lo.
— Maldição, Janet! Nem tudo pode ser manejado com uma língua hábil e um belo sorriso. Quando diabos você vai aprender isso? Você não tem ideia do que eu fiz.
Ela parou de dizer a si mesma para fazer pouco de sua reação. Seja o que for que estivesse fazendo com que ele agisse assim era sério.
Ele deixou a mão cair e pôs de volta a cabeça entre suas mãos.
De repente gelada, ela juntou o plaid deixado por Margaret aos pés do pallet, embrulhou-o ao redor de seus ombros e se posicionou ao lado dele.
— Então por que não me diz? — Ela disse suavemente.
Ela pensou que ele ignoraria seu pedido. Mas depois de alguns minutos às voltas com seus pensamentos, ele pareceu chegar a algum tipo de decisão.
— O rei já organizou um noivado para você.
Ela respirou fundo, olhando fixamente para ele em absoluto horror e descrença. Não podia se lembrar de como respirar. Sua mente estava ocupada correndo em milhares de direções. Esta era a última coisa que ela esperava. Robert nunca deu nenhuma indicação que ele planejava...
Traição a rasgou, estraçalhando aquele manto de felicidade em minúsculos fragmentos. Mas não era só de Robert. Encarou Ewen, procurando pelo homem que ela pensou que conhecia. Que pensou que a conhecesse.
Ele mentiu para mim.
— Quem? — Ela perguntou entorpecidamente.
— Walter Stewart.
O golpe tomou o restinho de ar que tinha no peito. Claro!
Ewen deixou o nome dele deslizar uma vez. Agora entendia o significado. Queria rir, mas tinha medo de que fosse chorar. Walter Stewart mal tinha idade suficiente para ter ganhado suas esporas.
— Meu suserano e o filho do homem a quem devo tudo. — Ele adicionou.
Ela poderia ter tentado entender sua culpa, as profundezas da desonra que ele devia estar sentindo por sua deslealdade e confiança quebrada, mas estava envolvida demais na própria dor e confiança quebrada. Olhou fixamente para seu rosto, buscando por algo em que se segurar. Algo para mudar a conclusão inevitável encarando-a.
Ela desviou o olhar, voltando os olhos para seus pés descalços. Em algum ponto ela deve ter chutado suas botas. Uma pontada aguda cortou seu coração. Foi apenas minutos atrás que ela pensou que ele era o único para ela?
— Você não me disse.
Não era uma pergunta. Não se importava com suas razões para o porquê, mas ele disse de qualquer maneira.
— O rei suspeitou que você não seria tão... uh, dócil para retornar se soubesse.
O choque estava começando a diminuir e raiva surgiu dentro dela. Ela devolveu seu olhar, a boca torcida com sarcasmo.
— Como ele me conhece bem. E você aceitou, claro. Provavelmente era mais fácil para você. “Não é sua batalha”, não foi isso que você disse? Por que deveria se envolver?
Sua boca afinou ante o sarcasmo dela.
— Quando percebi que eu estava envolvido nisso, era tarde demais. Eu sabia que você ficaria com raiva, e sei que isso não é desculpa, mas na época eu estava mais preocupado em nos manter vivos.
Sua admissão que ele estava envolvido também era tarde demais — e pequena demais.
— Você podia ter me dito hoje à noite. Deveria ter me dito mim hoje à noite.
— Aye, bem eu não pretendia exatamente que isto acontecesse. Pensei que seria mais fácil se o rei explicasse. Pensei que isso tornaria nossa separação menos... complicada.
— Se eu odiasse você?
Ele a encarou sem piscar.
Querido Deus! A cor lavou do rosto dela, era exatamente o que ele tinha pensado. Ele simplesmente a teria entregue a outro homem e não olhado para trás. Seu coração estraçalhou como vidro jogado no chão. Ele poderia muito bem ter feito exatamente aquilo.
De repente outra verdade a atingiu. Outra traição.
— Esta não é uma permanência temporária na Escócia. O rei não tem nenhuma intenção de me deixar retornar a Roxburgh, não é?
Ele não se esquivou da fria acusação em seu olhar.
— Não.
— Mas você me deixou pensar que eu poderia persuadi-lo. Você sabia o quanto isto era importante para mim e ainda assim me deixou acreditar que eu voltaria!
Ela o viu se encolher, mas sua culpa não era boa o suficiente.
Ele encolheu os ombros. Ombros nus que mesmo agora a provocavam com memórias. Podia ver as minúsculas impressões de suas unhas. Provas de sua estupidez.
— Pareceu mais fácil na época. Pensei que você poderia se recusar a ir e eu não queria ter que te perseguir novamente. O que você estava fazendo era perigoso...
— E é claro, isso não podia ser tão importante quanto o que você está fazendo.
Ela pensou que ele não podia magoá-la mais do que fez mentindo para ela. Estava errada. Ele nunca acreditou mesmo em mim.
Janet poderia ter tentado compreender sua tentativa de evitar o conflito, mas não a falta de consideração para com ela. Ewen sabia o quanto o que ela estava fazendo significava para ela, e em sua indulgência em deixá-la acreditar que a missão dela estava apenas sendo atrasada, mostrou o quão pouco ele a valorizava. O quão pouco ele pensava dela. Nunca lhe daria o que ela queria de um marido.
Ela ficou de pé para partir, mas ele pegou seu braço, detendo-a.
— Só porque você pode sair de uma situação com conversa não significa que deveria. Você é superconfiante a ponto do descuido. Como o que aconteceu com o padre em Roxburgh... era só questão de tempo antes de ser descoberta. Eu não vou me desculpar por não querer ver você em perigo.
— E quanto a mentir para mim? — E me fazer amar você?
Os olhos dele suavizaram. Mas ela se sentiu estranhamente indiferente a isto. Uma hora atrás poderia ter visto como um sinal de sentimento. Agora, ela sabia melhor.
— Lamento profundamente por isto. Estava apenas tentando fazer meu trabalho.
Um afiado som de deboche irrompeu de seu peito firmemente ferido.
— E a missão sempre vem em primeiro, não é certo? — Ele não disse nada. Ela olhou para seu belo rosto, vendo o mudo apelo por compreensão. Parte dela queria dar isto a ele. Parte dela queria pensar que ainda haveria um modo que isso não acabasse tão horrivelmente. — E agora, Ewen? O que acontece com sua missão agora?
Certamente ela não podia ter estado tão errada. Ele não merecia uma chance, mas ela lhe daria uma.
Ewen tinha estragado tudo. Era exatamente por esta razão que ele queria evitar isto. Ele não podia suportar o modo que ela estava olhando para ele. Ver a confiança quebrada em seus olhos. A traição. O coração partido.
Isso o rasgava.
Ele não queria perdê-la. Mas que diabos podia fazer? Tentaria se desdobrar para fazer isto direito, salvar o que podia de sua honra e seu lugar no exército de Bruce, mas não tinha ilusões.
— Explicarei tudo para Bruce quando retornarmos. Se ele concordar, nós nos casaremos assim que os proclamas forem lidos.
Ela olhou fixamente para ele, forçando seu olhar a encontrar o dela.
— Você realmente não acha que pode conseguir que ele concorde?
Ele não pensava que existia uma chance no inferno. Sua mandíbula apertou.
— Não era você que estava confiante que poderia persuadi-lo?
— Isso foi antes de ser notificada do noivado. Robert não vai te “recompensar” por interferir em seus planos.
— Direi a ele que não há escolha. É tarde demais. — Ele tomou sua inocência, maldição.
— Então você deveria se preparar para se defender com sua espada, porque ele vai querer te matar. Robert não vai ver com bons olhos você depreciar o valor do seu prêmio.
— Não fale disso assim. — Ele estalou furiosamente. — Não é assim que me sinto.
— Como você se sente, Ewen?
Como se estivesse tentando achar tração numa colina de gelo? Confuso? Rasgado? Como um homem que acabou de perder tudo e falhou com um clã inteiro?
— Como pode perguntar depois do que acabou de acontecer? Certamente deve perceber o quanto você significa para mim?
Ele podia dizer pela faísca de decepção que cruzou seu rosto que esta não era a declaração que ela queria ouvir. Mas devia ter sido suficiente. Ela pôs a mão no braço dele, virando aqueles grandes olhos verdes da cor do mar para ele implorando.
— Então fuja comigo. Vamos encontrar um padre em algum lugar para nos casar. Você sabe que este é o único modo. Robert nunca nos concederá permissão para casar.
Cada músculo no corpo dele se tornou tão rígido quanto aço, sua rejeição às palavras dela profundas até o osso.
Estava o destino brincando com algum tipo de piada horrorosa, forçando-o a enfrentar a mesma escolha que seu pai? Bem, pode apostar que não cometeria o mesmo erro.
— Eu não vou fugir.
Ela o observou, seus olhos tomando nota dos seus punhos apertados e músculos flexionados.
— Me amar não vai te transformar no seu pai, Ewen.
Ela ergueu o olhar para ele com tal compaixão e compreensão que por um momento ele vacilou. Queria puxá-la em seus braços e dizer que tudo ficaria bem.
Mas não iria. Seus sentimentos por ela não custariam isso a ele.
— Não vai? Talvez você esteja certa. Não me faria meu pai. Meu pai teve Stewart para ajudá-lo a juntar os pedaços, eu não terei ninguém.
— Você me terá.
Como se pudesse ser tão simples.
— Que tipo de vida viveríamos? Sem o apoio do rei e Stewart, eu não tenho nada para te oferecer. Nenhum dinheiro. Nenhum castelo. Só duzentas pessoas que dependem de mim para provê-los. Deveríamos nos juntar ao meu primo e parentes na Irlanda com os outros “rebeldes”?
Ela ergueu o queixo obstinadamente, sua boca apertada.
— Mary vai ajudar. Christina também.
— Você pediria isso a elas? Você as colocaria em problemas com Bruce.
Com isto, ele teve sucesso em aquietá-la.
— Fugir não é romântico, Janet, é irresponsável e tolo. Não resolverá nosso problema, vai torná-lo pior. Não, não existe nenhum outro modo. Nós nos arriscaremos com Bruce.
Ele se forçou a não ver o desapontamento cintilando em seus olhos, mas isso comia como ácido em seu peito.
— Então você fez sua escolha.
— Fiz.
— Mesmo que isso signifique que não podemos estar juntos? Mesmo que isso signifique que devo me casar com outro homem?
Ele a pegou pelo braço, arrastando seu rosto para o dele.
— Sim, maldição, sim!
Foi como se soprasse uma vela, a luz nos olhos dela simplesmente morreu. Sentiu o rápido agitar do pânico em seu peito. Instintivamente, estendeu a mão, mas ela se empurrou para longe.
Seus olhos verdes da cor do mar dispararam adagas para ele, afiadas o suficiente para tirar sangue.
— Não toque em mim novamente. Você tomou sua decisão, agora tomei a minha. Não casarei com você nem com Walter Stewart. Não casarei com ninguém. Vou tomar o véu antes que alguém tente me forçar a descer a nave da igreja.
A pulsação dele saltou, pânico não mais só agitando seu peito, mas saltando — não, ricocheteando — por toda parte.
— Você não quer dizer isto.
Ela não disse nada. Nem sequer olhou para ele. Seu olhar estava alfinetado na porta atrás dele.
— Ao contrário do que acredita, Ewen, sou capaz de conhecer minha própria mente.
Ele praguejou, sabendo que ela estava escapando dele, mas não sabendo como detê-la. Ficou de pé, cambaleando da dor em sua perna. Mas isso não era nada comparado à fogueira de emoções queimando em seu peito. Ele odiava se sentir assim. Fora de controle. Bravo. Apavorado. Impotente. Ela estava despedaçando-o.
Ele atacou cegamente, como uma besta encurralada.
— Que diabos quer de mim, Janet? Você percebe o que isso... — Ele sacudiu a cabeça em direção à cama bagunçada atrás deles. — Me custou? Tudo pelo que estive lutando. Isto não é suficiente ou devo cortar uma veia por você também?
Ela pareceu arrasada, cada pingo de cor deslizou de seu rosto. Sua voz tremia.
— Não percebi que havia um preço em algo que era livremente dado. Quis te agradar, sinto muito se não foi o suficiente. Mas não precisa se preocupar. Isso não precisa te custar nada. Como não estarei casando com ninguém, minha inocência, ou falta dela, não é importante. Você ofereceu casamento e eu recusei. Você fez seu dever, se houve qualquer dano à sua honra, foi amenizado. Não existe nenhuma razão para dizer qualquer coisa a Robert afinal. Sua posição no exército dele só estará em perigo se você escolher fazer isto.
Tão depressa quanto a raiva subiu, foi derrubada. Ele mal ouviu suas palavras dando a ele uma saída, tudo que podia ver era a dor que suas palavras descuidadas infligiram. Ele não devia estar culpando-a. Não era culpa dela. E ele certo como o inferno não quis fazer o que aconteceu entre eles parecer com algum tipo de transação.
— Maldição, sinto muito. Eu não quis dizer isto. Nunca quis que nada disso tivesse acontecido. Estava só tentando fazer meu trabalho.
— E eu entrei no caminho. Você era apenas um simples soldado tentando fazer seu dever e eu era, como você colocou? Uma complicação.
Ele franziu o cenho. Não foi o que ele quis dizer... foi? Ela era tão mais que isto.
— Eu sinto muito por tornar as coisas difíceis para você, Ewen. Se tivesse me contado a verdade, poderia não ter acontecido do modo que aconteceu. Mas como você assumiu tomar essas decisões por nós dois, temo que agora deva viver com elas. Você é um lutador, estou certa que achará uma maneira de ganhar tudo que deseja. Teria sido mais fácil, mais simples, se nunca tivéssemos nos encontrado. E se servir de consolo, nesse instante eu desejo o mesmo.
Jesus! O que ele fez?
— Você não quer dizer isto.
O olhar que ela lhe deu disse diferente. A pele dele, que esteve sentindo anormalmente quente, pareceu de repente coberta em uma camada de gelo.
— E é exatamente por isto que eu faço. Você me disse uma vez o que queria em uma esposa. Eu devia ter escutado você. Talvez isto seja muito mais culpa minha. Eu quis fazer de você algo que você não era. Você não é Magnus, e eu não sou Helen. Espero que um dia encontre uma mulher que fique feliz em deixar você mimá-la e protegê-la, pensar por ela. Mas essa não sou eu.
Ela ficou de pé e começou a caminhar em direção à porta.
Gostava mais quando ela estava com raiva dele. Essa estranha fria, calma e indiferente o apavorava. Estou perdendo-a. O que posso fazer?
Ele sentiu como se estivesse caindo — colidindo — de uma montanha sem uma corda. A colina era mais íngreme, o gelo mais duro e mais escorregadio, e ele não podia entrincheirar seus saltos para parar de escorregar.
— Espere.
Ela virou.
— Você não pode ir.
Para um tolo segundo, Janet pensou que ele quis chamá-la de volta porque mudou de ideia. Que ele lutaria por eles, tão duro quanto ela estava certa que ele lutaria pelo rei ou seu clã. Mas ela estava errada — novamente.
— Não posso me arriscar que você tente fugir. — Ele disse.
Na pilha de desapontamento que ele amontoou aos pés dela, mais uma pedra não devia fazer diferença. Mas fez. A missão. É claro, ele estava pensando na missão. Não nela.
Embora talvez ele a entendesse um pouco, afinal. Por ela não ter nenhuma intenção de retornar com ele para Dunstaffnage. Janet nunca devia ter deixado que ele a levasse para longe de Roxburgh em primeiro lugar. Tinha que voltar. Ela não arriscaria perder algo importante. Lidaria com seu ex-cunhado e seus “planos” para ela quando tivesse acabado.
Janet endireitou as costas, chamando cada gota de seu sangue de filha de conde. Apesar dele se elevar sobre ela, até a alguns passos de distância, ela ainda conseguiu dar a ele um olhar longo e majestoso empinando o nariz.
— Então serei tratada como uma prisioneira? — Ela estendeu as mãos e cruzou os pulsos. — Vai me amarrar com correntes ou uma corda será suficiente?
Ewen praguejou. Ela o viu se mexer e se encolher enquanto colocava peso na perna. Obviamente estava doendo mais do que dizia, mas ela mordeu de volta as palavras de preocupação que queriam saltar de sua língua. Ele não quis sua ajuda quando ela ofereceu. Ele não queria nada dela. Mas como sempre, ela não quis ouvir. Ela não quis ouvir “não”. Pensou que sabia o que era melhor.
Pelo menos desta vez, ela era a única machucada. Isto é, assumindo que ele não contasse a Robert. Esperava que ele não fosse tolo o suficiente para fazer isso agora. Não havia razão. Ele não precisava perder tudo por tomar o que ela deu livremente. Queria que pudesse dizer o mesmo. Por vinte e sete anos não sabia nada do que estava perdendo. Agora sabia.
— Jesus, Janet. Não é assim. Só não quero que você faça nada... precipitado.
Ele só continuava lançando uma pedra atrás da outra. Eventualmente esperava que elas parassem de doer.
— Como sou afortunada por ter você para cuidar de mim.
— Maldição. Eu não quis dizer isto assim. Você vai me dar sua palavra que não tentará partir?
— Sim.
Ele fez uma pausa, olhando fixamente para ela.
— Você vai fugir no momento que eu virar minhas costas.
Ela ergueu o queixo, não negando.
— Então sou sua prisioneira?
A boca de Ewen afinou.
— Você é a mulher cuja segurança me foi confiada. Não vou deixar você ir.
Um calafrio a percorreu ante suas palavras, mas sabia que era tolice atribuir qualquer coisa significante a elas. Deixá-la ir era exatamente o que ele estava fazendo.
— Vou lutar por nós, Janet. Só confie em mim.
Ela fez e olhe onde isso a trouxe. Ele estava deixando perfeitamente claro o que pensava dela: ela era uma missão — um dever — nada mais. Sua voz tremeu.
— Não vou dormir aqui com você.
Sua boca apertou.
— Sim, vai.
— Você vai ter que me arrastar para Dunstaffnage, pois não vou com você de boa vontade.
O músculo debaixo de sua mandíbula contraiu ameaçadoramente.
— Se é isso que precisa para manter você a salvo.
— Odiarei você por isto.
Seus olhos seguraram os dela, e se ele não a tivesse curado de suas ilusões, poderia ter pensado que viu emoção verdadeira neles.
— Espero que não o faça.
Janet sabia que a batalha estava perdida por enquanto. Ele não seria dissuadido. Era imutável — uma parede de pedra bloqueando seu caminho. De repente a força a deixou. Era como se os eventos do dia a alcançassem de repente. Danificada e machucada até as profundezas da sua alma, tudo que queria fazer era se curvar em uma bola e chorar até dormir. Mas ele nem sequer daria isto a ela.
Olhou para a cama, uma punhalada de dor esfaqueando-a. Ainda podia senti-lo entre suas pernas, a dor incômoda uma lembrança dolorosa do que eles compartilharam.
— Não pode esperar que eu compartilhe uma cama com você.
Ele balançou a cabeça, parecendo mais triste do que já o viu.
— Você pode dormir no pallet. Não acho que vou dormir muito.
— O custo do dever de guarda.
Ele não respondeu à sua cutucada, mas esfregou a perna inconscientemente, como se tentando conseguir um golpe final e estremeceu.
Ela virou se afastando assim não seria tentada a se importar.
— Sinto muito, Janet. Nunca quis te machucar.
Mas machucou. Irreparavelmente.
A caminho da cama, ela pegou sua camisa e lançou para ele. O tórax nu que apenas minutos atrás tinha dado tanto prazer a ela agora doía olhar. Ele pôs a camisa sem comentários.
Ela deitou na cama e ele se sentou diante do fogo, encostando-se à parede, com suas pernas esticadas à sua frente. Janet não tinha intenção de dormir. Ela rastejou debaixo do plaid e o observou com olhos entreabertos.
Ewen recuperou um odre antes de sentar, e pelo longo gole que ele tomou, ela suspeitava que era uísque.
Com alguma sorte, ele beberia até o esquecimento.
CAPÍTULO 22
Janet despertou de estalo e estremeceu. Bom Deus, estava congelando aqui!
Aqui. Ela piscou na escuridão, reconhecendo as paredes rústicas de madeira do celeiro. De repente tudo o que aconteceu voltou a ela em uma onda de dor e decepção.
Como ele podia ter feito isso?
Ela praguejou baixinho. Não devia ter adormecido. Graças a Deus pelo frio. O braseiro deve ter acabado...
De repente, a realização do que significava a atingiu. Seus olhos disparam para onde Ewen se posicionou contra a parede. Ele estava sentado com a cabeça caída para frente como um boneco de trapo. Ela não precisou ver o rosto por trás do véu sedoso de cabelo espesso e escuro para saber que estava adormecido. Dormindo como um morto. Ou melhor, desmaiado, se o odre de uísque descartado ao seu lado era qualquer indicação.
Janet não podia acreditar! O soldado perfeito dormiu no trabalho. Parecia tão completamente fora do personagem ele dar a ela uma pausa. Talvez alguém tivesse escutado suas orações, afinal. Mas rapidamente disse a si mesma para não contar suas bênçãos.
Cuidadosamente — muito cuidadosamente, — ela se levantou da cama provisória. Seu coração martelava o tempo inteiro, olhando para ele por qualquer sinal de movimento, mas Ewen não mexeu um único músculo.
Ela respirou fundo, com a respiração entrecortada. Menos cuidadosamente, para testá-lo, ela ficou de pé. Cada minúsculo som que ela fazia reverberava em seus ouvidos como um sino, mas mesmo assim ele não se moveu.
Deus do Céu, quanto ele tinha bebido? Ele estava todo dur...
Ela parou, lembrando a si mesma para não contar suas bênçãos.
Janet olhou para ele. Olhou para as botas dela. Olhou para o saco ao lado dele — um saco que ela sabia conter seus outros vestidos, dinheiro, e o que restava da comida deles. Olhou para o cavalo no estábulo atrás do celeiro.
Ela podia fazer isto?
Seu coração balançou, mas então continuou a bater. Sim. Sim, ela podia. Pelo menos, valia a pena tentar. Não podia ficar com ele.
Não sabia quanto tempo tinha, mas esperava que ainda tivesse algumas horas antes do amanhecer. Montar o cavalo tornaria mais fácil rastrear — e não tinha nenhuma dúvida que ele a seguiria, — mas isso daria a ela a velocidade que ele não teria estando a pé. E ela aprendeu algumas coisas dele que poderia ajudar.
Ela engoliu em seco, pensando na jornada que tinha adiante. Seria longa e perigosa, mas nada que ela não tenha feito incontáveis vezes antes. Então por que lhe deu uma pontada de medo agora? Por que o pensamento de o abandonar de repente a deixava inquieta?
Porque nos últimos dias, Janet se acostumou a tê-lo ao seu lado. Podia não querer sua proteção, mas veio a apreciá-la, e se não dependia dela, então pelo menos tinha conforto nela.
Seu coração apertou. Por que isso tinha que doer tanto? Como ele podia ter mentido para ela desse jeito? Não apenas pelo noivado, mas sobre sua volta a Roxburgh. Ele sabia o quanto isto era importante para ela. Até mesmo sua traição ela podia ter tentado entender — poderia ter tentado perdoá-lo — se ele a amasse.
Mas ele não amava — ou não o suficiente. Preferia vê-la se casar com outro homem do que arriscar uma comparação com o pai. O pior era que Janet entendia. Nem mesmo o culpava. Não de verdade. Mas também sabia que não era bom o suficiente para ela.
Lágrimas rolaram por suas bochechas. Maldito seja Ewen por fazer isto com ela! Até que ele entrou repentinamente em sua vida como um rolo compressor, ela esteve muito feliz sozinha. Contente com a vida que tinha planejado.
Janet enxugou as lágrimas com um movimento brusco de raiva, determinada a ser feliz novamente. Seu trabalho era a única coisa que importava agora. Era a única coisa que restava.
Ela era melhor sozinha. Não soube sempre disso?
Pondo de lado qualquer reserva que tivesse, Janet tomou sua decisão. Levou apenas alguns minutos para juntar o que precisava. Enquanto levava o cavalo do estábulo, ela deu um último olhar. Com lágrimas nublando os olhos, ela partiu sem olhar para trás.
Alguém estava gritando com ele. A cabeça de Ewen pendeu de um lado para o outro. Pare de me sacudir.
— Ewen! Acorde, rapaz!
Ele abriu os olhos. Levou um momento para reconhecer o homem diante dele. Grande. Cabelos grisalhos. Rosto maltratado pelo tempo e com cicatrizes da batalha. Robert Wallace.
Sua mente parecia com um pântano, seus pensamentos vagarosos.
E Deus, ele estava quente.
Ele gemeu e voltaria a dormir se Robert não o sacudisse novamente.
— A moça, onde ela está?
Isso o trouxe de volta rápido. Um pouco da névoa clareou de sua mente. Janet. Seu olhar disparou para o pallet. O pallet vazio.
Ewen praguejou, percebendo o que aconteceu. Ele adormeceu e ela fugiu.
Como diabos isso podia ter acontecido? Ele estava de serviço, maldição! Não cometia enganos assim.
Ele tentou se levantar, mas algo não estava certo. Não parecia que conseguia coordenar seus membros. Diabos, estava tão fraco quanto um potro recém-nascido.
— O que se passa com você, rapaz? — Robert disse, estendendo uma mão. — Você está queimando tanto quanto uma fogueira e aqui está frio.
— Eu não sei...
As palavras do Ewen morreram em uma punhalada de dor quando tentou pôr peso em sua perna ferida.
— É a perna. Deve estar pior do você pensava. — Robert fez uma pausa para chamar sua esposa com um grito. — Sente-se. — Ele ordenou. — Margaret vai dar uma olhada nela.
Ewen o afastou, procurando ao redor por suas coisas como um cego.
— Eu não posso. Tenho que ir atrás dela.
— Por que ela partiria? — Robert perguntou.
Porque ele era um tolo cego.
— Para se afastar de mim.
Se qualquer coisa acontecesse a ela, ele nunca se perdoaria.
Ele alcançou sua espada e quase caiu. Deus, sentia-se horrível! Não precisava que Helen dissesse a ele que algo estava muito errado com sua perna. Como as coisas podiam ficar tão ruins tão depressa? Pensou que estava ficando melhor, mas estava pior. Muito pior.
Engoliu a dor e a névoa da febre para se aprontar. Ele se arrumou para colocar a maior parte de sua armadura antes de Margaret aparecer.
Seu grito suave disse a ele que devia estar pior do que sentia.
— Você está doente! — Ela disse.
Ele não discutiu. Mas um olhar rápido na bolsa restante disse a ele que precisaria de algumas coisas.
— Vou precisar de alguma comida e bebida, e qualquer dinheiro que você tiver sobressalente.
Janet levou tudo. Ele praguejou novamente. Como pode ter sido tão negligente? Ele sabia que ela fugiria. Devia ter tomado precauções melhores. Devia tê-la amarrado, maldição. Devia ter feito o que fosse necessário para mantê-la a salvo.
Devia ter feito o que fosse necessário para mantê-la com ele.
Ah, inferno! Ele praguejou novamente. Nem mesmo a febre o impediria de ver a verdade.
— Você não pode ir a lugar nenhum assim. — Disse Margaret.
— Eu tenho que ir. — Ewen disse entredentes, lutando com a força poderosa que parecia estar tentando derrubá-lo. Cabia a ele. O sol da manhã já estava com força completa. — Ela pode ter ido já há algumas horas. — Não podia perder a trilha enquanto estivesse fresca.
Pegou a bolsa e começou a ir em direção aos fundos do celeiro. Sua perna fraquejou, e ele teria caído no chão se Robert não o tivesse segurado por baixo do braço.
— Firme, rapaz.
— O cavalo. — Disse Ewen, mordendo de volta a onda de náusea que subiu dentro dele. — Só me ajude a subir no cavalo.
— Foi embora. — Disse Robert.
A extensão de seu fracasso era humilhante. Enquanto ele estava supostamente em guarda, ela se esgueirou com um maldito cavalo passando por ele.
— Vou ter que ir a pé.
— Você não chegará até a próxima aldeia em sua condição. — Margaret disse.
Ele não chegou nem mesmo fora do celeiro. Escuridão se levantou como a boca de um dragão feroz e o engoliu inteiro.
Janet não parava de olhar por cima do ombro, esperando que Ewen viesse como uma tempestade estrada abaixo atrás dela como um demônio do inferno. Ou talvez, mais precisamente, como um fantasma do inferno.
Ela se lembrou como ele se parecia a primeira vez que o viu. A armadura de couro escuro pontilhada com rebites de aço, o plaid estranhamente adaptado envolvido ao redor dele, o elmo enegrecido e arsenal de armas amarrado com uma correia em seu tórax largo e bem musculoso. Seu coração apertou. Ela esteve assustada por uma boa razão, acabou estando certa. Deveria ter virado e corrido no primeiro instante que o viu.
Mas ou ele não estava vindo atrás dela ou ela era melhor em esconder seus rastros do que pensava. Lembrou de suas dicas: chão duro, água ou rios quando possível, andar em círculos, confundir e ofuscar. Ela se manteve na estrada, misturando e escondendo sua trilha o melhor que podia. Mas sabia que sua melhor arma era a velocidade, então não levou muito tempo escondendo-as como deveria.
Talvez o despistar tenha funcionado? Recordando o que Ewen fez quando a levou a primeira vez de Rutherford, Janet não refez seus passos a leste, mas direcionou-se ao norte em direção a Glasgow, esperando perder sua trilha na grande cidade antes de virar a para o leste na estrada principal.
Mas infelizmente, Ewen tinha a vantagem de saber o destino dela. Ainda que conseguisse se esquivar dele na estrada, ele a encontraria logo em Roxburgh. A menos que pudesse pensar num modo de fazer contato com sua fonte no castelo sem retornar a Rutherford.
Apesar do que ela disse a Ewen, a ideia de tomar o hábito novamente não sentava bem a ela. Tendo vindo para o celeiro apenas com um chemise — o sob vestido que Mary previdentemente providenciou ainda na casa — Janet foi forçada a escolher entre a veste extravagante que se sobrepunha ao vestido que era para ir sobre esta ou a saia de lã marrom-escuro “Noviça de Eleanor”. Embora tivesse escolhido a última — uma mulher em um vestido tão fino viajando sozinha seria muito mais difícil de explicar — ela não podia suportar colocar o escapulário branco e o véu. Em vez disso, envolveu o plaid ao redor de si mesma como uma capa com capuz — o que Margaret tinha deixado, não Ewen — e fez o melhor que pôde para evitar outros viajantes na estrada.
Nesta época do ano, nos dias frios e escuros próximos ao Natal, não tinham muitos viajantes. Aqueles com quem ela cruzou tinham a curiosidade satisfeita pela sua reivindicação de ser uma parteira, viajando para atender o nascimento do primeiro filho da sua irmã em alguma aldeia adiante.
Algumas vezes, ela se juntou a outros viajantes durante um tempo — inclusive um fazendeiro e sua esposa levando aves ao mercado em Glasgow e um velho viajando para Lanark para visitar seu filho — buscando segurança e conforto em números. Mas quando as perguntas se tornavam muito pessoais, ela era forçada a se separar da companhia.
Na maioria das vezes ela estava só com seus pensamentos, os quais ela tentava impedir que retornassem a Ewen. Nem sempre seria assim horrível, disse a si mesma. Mas pela primeira vez podia entender a miséria que sua irmã sofreu em seu primeiro casamento. Como era amar alguém e não ter a pessoa retribuindo esses sentimentos. Como se sentia ser traída pelo homem a quem você deu seu coração.
Era uma jornada longa e difícil. Mais difícil do que deveria ter sido especialmente comparada à anterior. Além de não ter os ingleses a perseguindo, a vantagem de ficar na estrada principal era que evitava as colinas que ela e Ewen foram forçados a atravessar. A desvantagem, claro, era a chance de encontrar acidentalmente uma patrulha inglesa.
Durante dois longos dias, através de Rutherglen, onde passou sua primeira noite, para Peebles, onde passou sua segunda, Janet conseguiu evitar tal perigo. No terceiro, porém, enquanto ela e um comerciante e sua esposa, com quem esteve viajando desde Innerleithen, aproximaram-se dos subúrbios de Melrose, onde encontrou Ewen na primeira vez, o destino interveio mais uma vez. Uma dúzia de soldados apareceu na estrada à frente dela.
Seu sangue correu frio. Cada instinto que tinha urgia que fugisse, embora soubesse que era ridículo. Não existia nenhuma razão para ela fugir. Não fez nada errado.
Ela forçou ar em seus pulmões em lentas e uniformes inalações. Quantas vezes fez isto antes? Muitas para contar. Com o tanto de tempo que passou nas estradas como mensageira, dar de encontro com soldados ingleses não era incomum. Por que estava tão nervosa?
Seguindo a dica do comerciante e sua esposa, fingiu não notar nada fora do comum e continuou no caminho adiante. Se o casal notou sua leve vacilação, não comentaram nada. Porém o comerciante, um homem velho o suficiente para ser seu pai, deixou seu olhar demorar no rosto dela um instante mais longo que o habitual. Ele viu sua pele empalidecer sob o capuz improvisado do seu plaid? O olhar dele caiu para as mãos dela. Percebendo que estava apertando as rédeas, forçou seus dedos a soltar. Mas isto, ele definitivamente notou.
Conforme a distância diminuía entre eles, o comerciante moveu sua carroça para o lado do caminho para deixar os soldados passarem. Janet seguiu o casal, aproveitando a oportunidade para angular sua própria montaria atrás deles, onde esperava que não estivesse tão visível.
O martelar do seu coração em seus ouvidos ficava mais alto conforme os poderosos cavalos de guerra se aproximavam. O chão começou a tremer, ela esperou que pudesse esconder seu próprio tremor.
O comerciante levantou sua mão em saudação quando o primeiro cavalo passou.
O martelar em seu coração acalmou. Continuem, ela rezou. Não parem.
Um… dois… três… passaram. Seu coração começou a bater novamente. Ia dar tudo certo. Mas então o martelar não parou — não seu coração, os cascos.
— Alto. — Uma dura voz inglesa disse. — Você aí. Qual o seu nome? Que negócios você tem na estrada?
Nenhuma razão para pânico, disse a si mesma. Nada fora do comum.
— Walter Hende, meu senhor. Sou um comerciante a caminho de Roxburgh, onde minha esposa e eu esperamos abrir uma loja.
— Que tipo de loja?
O comerciante fez um gesto para sua carroça.
— De tecidos, meu senhor. Tenho as roupas de lã mais finas de Edinburgh. Dê uma olhada se quiser.
Janet aventurou uma olhada no soldado. Seu coração caiu no chão. Ele não era um soldado, era um cavaleiro, embora não tivesse reconhecido os braços de seis heráldicas separadas por uma grossa curva de ouro. Ele era um homem de aparência imponente, e não só por causa de sua pesada armadura e a insígnia de correio. Ele era grande — alto e de ombros largos — com uma mandíbula dura e escura, olhos entrecerrados somente visíveis debaixo do elmo de aço.
Ele fez um gesto para um homem mais jovem ao seu lado, quem ela assumiu que devia ser seu escudeiro. O rapaz saltou e abordou a carroça. Erguendo o oleado de couro, ele acenou com a cabeça.
— Aye, Sir Thomas. Está cheio de pano.
Foi então que o desastre atingiu. O escudeiro olhou de relance em sua direção. Por causa de onde ele veio ficar de pé ao lado da carroça, ele teve uma visão clara de seu rosto.
Ele ofegou.
— Lady Mary! O que está fazendo aqui?
O sangue deslizou de seu rosto. Oh Deus, isto não podia estar acontecendo. O menino pensou que ela era sua irmã.
— Você conhece esta mulher, John? — Sir Thomas disse.
O rapaz franziu o cenho, olhando fixamente para ela. Ele deve ter visto algo que o fez questionar sua primeira impressão.
— Sou eu, Lady Mary. John Redmayne. Eu era amigo do seu filho na corte. Você se lembra, nós nos encontramos no Castelo de Bamburgh no ano passado. Eu vim com Sir Clifford.
Sir Robert Clifford era um dos principais comandantes de Edward na batalha contra os escoceses. O medo coalhou como leite azedo em seu estômago.
Depois de um momento, Janet finalmente encontrou sua voz.
— Temo que você está me confundindo com outra pessoa.
O cenho franzido do garoto foi de lado.
— Dê um passo adiante onde eu possa ver você — o cavaleiro ordenou. — Se você não é a mulher que meu escudeiro acredita, então quem você é?
— Kate, meu senhor — ela disse suavemente, usando o nome que deu ao comerciante.
Os olhos do cavaleiro estreitaram.
— Puxe seu capuz para trás.
Ela fez como ele mandou, esperava que sem mostrar tanta relutância quanto sentia. No momento que o plaid caiu para trás, um silêncio coletivo caiu sobre o cavaleiro e seus homens. Eles olharam fixamente para ela em choque e inconfundível admiração masculina.
Com exceção do escudeiro. Ele sorriu amplamente.
— É ela. Lady Mary, a Condessa de Atholl.
O garoto obviamente não tinha ouvido falar da deserção de sua irmã e seu segundo casamento. Mas o cavaleiro tinha. O modo que seus olhos escuros cintilaram enquanto sua boca curvava em um sorriso lento a gelou até o osso.
— E o que a rebelde Lady Mary está fazendo em Melrose?
Janet forçou um sorriso tímido em seu rosto.
— Temo que o menino está enganado, meu senhor. — Ela bateu seus cílios para ele com o que esperava ser apenas a quantidade certa de inocência. Mas alguma coisa disse a ela que este homem não seria um tolo fácil. — Eu sou...
— Nossa filha, meu senhor.
Janet se surpreendeu e esperava que não parecesse tão surpresa como se sentia quando o comerciante surgiu ao lado dela e a reclamou pelo braço.
Ewen lutou com a força da escuridão que o embalava, que lutava para arrastá-lo para baixo. Você não pode dormir. Ele tentou abrir os olhos, mas as pálpebras estavam muito pesadas. Alguém pôs um peso nelas.
Tente. Você tem uma coisa para fazer. Ele não sabia o que tinha que fazer, mas sabia que era importante. Muito importante. A coisa mais importante no mundo.
Levante. Você tem que ir atrás dela.
Oh Deus, Janet!
Ele se debateu cegamente na escuridão, tentando sentar. Mas algo o arrastava para baixo. Mãos poderosas e de aço apertaram seus pulsos e tornozelos, prendendo-o na cama.
Ele gritou, retorcendo em dor e frustração enquanto tentava lutar para se livrar. Mas as mãos firmes pareceram multiplicar como algum tipo de aranha horrorosa.
Tenho que levantar. Perigo. Ela precisa de mim. Oh, Deus, Janet… desculpe.
— …Prenda-o. — uma voz suave penetrou nas bordas da sua consciência. Uma voz de mulher. Uma voz de Angel. — …Ficando pior… corte a perna.
— Não! — Ele deu coices, lutando com tudo que tinha até a dor subjugá-lo e a escuridão o arrastar para baixo.
Ewen estava sonhando novamente, fugindo através da escuridão procurando por algo — por alguém.
Tem que encontrá-la…
Ele se assustou e abriu os olhos, rapidamente fechando-os novamente conforme a luz os atravessava como um punhal.
Ele gemeu, virando, surpreso por sentir seus braços se movendo livremente ao seu lado.
— Ele está acordado. — Uma voz familiar disse.
Oh Deus, Janet!
Ele abriu os olhos novamente, piscando para o rosto que assombrava seus sonhos.
Ele estendeu a mão para cima e embalou a bochecha dela em sua mão.
— Você está aqui. — Ele disse, sua voz áspera e fraca. Ela estava a salvo. Janet estava segura. — Deus, sinto muito.
Ela sorriu, e ele sentiu o primeiro pressentimento que algo não estava certo — uma pontada confusa cutucando as extremidades desfiadas da sua consciência.
— Como está se sentindo? — Ela perguntou.
Outro rosto apareceu ao lado dela, também familiar, mas fazendo uma careta. Apesar do modo que o homem estava olhando para ele, Ewen sabia que devia estar aliviado ao vê-lo por alguma razão.
— Eu sei que você quase morreu. — O homem disse. — Mas vai se achar perto da morte novamente se não tirar suas malditas mãos da minha esposa.
Sutherland, Ewen percebeu. Ele está vivo.
Ele deixou sua mão cair do rosto da mulher. O rosto de Mary, não de Janet.
Mary deu ao seu marido uma carranca afiada.
— Ele esteve inconsciente por quase quatro dias, você acha que pode colocar de lado sua primitiva possessividade só por alguns minutos?
Quatro dias?
Sutherland deu de ombros sem arrependimento.
— Não se ele olhar para você assim. Inferno, pensei que ele ia te arrastar para cima dele. Estava só o poupando de uma surra enquanto ele se recupera.
Ewen não estava grogue demais para debochar.
— Este será um dia frio no inferno, Ice.
Mary pigarreou.
— Obviamente, ele pensou que eu era minha irmã.
— Onde ela está? — Ewen disse, imediatamente alerta. — Onde está Janet?
Sutherland ficou sério.
— Nós estávamos esperando que você nos dissesse.
— Quer dizer que ela não está aqui? — Ele olhou ao redor, de repente percebendo que não sabia onde diabos ele estava.
Mary pareceu entender sua confusão.
— Dunstaffnage.
Sede de Bruce em Argyll, ganha do rebelde John MacDougall, Lorde de Lorn, anos atrás.
— Nós te encontramos não muito tempo depois que você desabou nos Wallaces. — Disse Sutherland. — Sinto muito por deixar você e a moça sozinhos lá fora, mas não podia ter ajudado. Quando os ingleses atacaram pela segunda vez, eu não quis me arriscar e levá-los até você. Alcancei MacKay e MacLean, que tinham encontrado Douglas. Nós estaríamos aqui mais cedo, mas Douglas teve alguns problemas que nós precisamos cuidar. — Ewen assumiu que eram problemas ingleses. A expressão de Sutherland se tornou sinistra. — Você estava mal. Não pensamos que você sairia dessa. Saint e Hawk te levaram para Angel na hora certa.
Angel. Foi quem o esteve atendendo quando ele despertou delirante...
Ewen congelou em horror quando o resto da memória retornou. Ele estava quase apavorado para olhar. Inferno, estava apavorado para olhar. Respirando fundo, abaixou seu olhar para o cobertor acima dele, lançando-o somente quando viu o amontoado de suas pernas — os dois amontoados de suas pernas.
— Você se lembra? — Mary perguntou.
Ele assentiu.
— Você teve sorte pelo local do ferimento. — Sutherland disse. — Angel decidiu que seria mais perigoso tirar sua perna por causa de onde o dano estava do que deixar você lutar com o pus no osso.
Mas não foi o fato que ele quase perdeu sua perna que esfriou seu sangue.
— Por que ninguém foi atrás dela?
— Striker e eu fomos. — Disse Sutherland. — Nós só retornamos ontem à noite. Pensamos ter pego sua trilha indo pro norte na estrada para Glasgow, mas então nós a perdemos.
— Glasgow? Por que diabos ela iria para lá? — Mas ele soube antes que até mesmo terminasse a pergunta. Diabos! Ela levou a sério suas lições.
Ele se sentou e teria perdido o conteúdo do seu estômago se existisse qualquer coisa dentro. Ele balançou enquanto a náusea e a vertigem lutavam para levá-lo de volta para baixo.
— Espere! — Mary gritou, tentando empurrá-lo de volta para baixo. — O que você está fazendo? Não pode levantar.
Ewen rangeu os dentes.
— Eu tenho que encontrá-la. É tudo minha culpa.
A porta abriu e três pessoas irromperam no quarto.
— Nós ouvimos vozes… — Helen ofegou, mas se recuperou depressa. Seus olhos estreitaram. — Vejo que foi um erro desamarrar você. — Ela atirou para seu marido, que surgiu ao lado dela, um olhar de “eu te disse”.
Mas foi a terceira pessoa que entrou no quarto que fez o coração de Ewen afundar e um brilho de suor doentio reunir em sua sobrancelha.
Robert, o Bruce, Rei da Escócia, fixou seu olhar escuro e afiado como uma navalha nele.
— Onde está Janet, e por que é sua culpa?
CAPÍTULO 23
Priorado de Rutherford, Fronteira Escocesa, 14 de dezembro de 1310
— Dê-me uma boa razão por que eu não deveria lançar você em uma no calabouço da prisão agora mesmo! — O rei exigiu.
— Porque você precisa de mim para encontrar Janet e garantir que ela está a salvo. — Ewen respondeu.
Mas ele podia nem sequer conseguir fazer isto. Cinco malditos dias! Por cinco dias ele vasculhou o interior do país, virando cada pedra — cada folha — sem avistá-la. Janet se provou uma pupila melhor do que podia ter imaginado, usando as habilidades que ele a ensinou contra ele.
Esta era sua última vantagem — inferno, era sua única. Com a aproximação de St. Drostan, ele estava de volta ao priorado em Rutherford, esperando que seja qual fosse a razão que ela teve para querer retornar, esta época a traria de volta.
Mas de sua posição nas árvores alguns metros da entrada até o priorado, ele mal podia decifrar os rostos das freiras passando por ele. Apertou seus punhos ao lado, lutando pela paciência que tinha desaparecido dias atrás.
— Não posso ver coisa nenhuma. Estou entrando lá.
MacLean entrou na frente dele.
— Você não fará nenhum bem a ela se for pego. Lembre-se do que o rei disse: fique longe da vista, observe e não interfira a menos que seja necessário. Eu não acho que despedaçar cada igreja entre Roxburgh e Berwick conta como necessário.
— Ou aterrorizar comerciantes desafortunados o suficiente para vender nozes açucaradas. — Sutherland brincou secamente de sua posição atrás dele.
Ewen fez uma careta. Isso tinha sido um engano. Mas o comerciante foi um bastardo provocador, e Ewen esteve de saco cheio de suas respostas engraçadinhas. Antes que percebesse, sua mão envolveu o pescoço do homem e o teve preso contra a parede de madeira da loja. Não surpreendentemente, o homem então tinha sido muito mais acessível em suas respostas para as perguntas de Ewen. Deselegante talvez, mas efetivo.
— Esta é minha última vantagem. — Ele disse entre dentes. — Não vou me arriscar a perdê-la. Saia do meu maldito caminho.
— Use sua cabeça, Hunter. — MacLean disse.
Mas Ewen estava além da razão. Ele deu passo ao redor de MacLean — em vez de empurrá-lo de lado como estava tentado a fazer, — mas outro de seus irmãos, ou seus antigos irmãos o bloquearam.
— Você não vai entrar lá. — Disse MacKay.
— Certo como o inferno que vou. — Disse Ewen, os músculos saltando com prontidão para a briga que MacKay ia conseguir se não saísse do seu caminho. Por cima do ombro do outro homem ele notou outro punhado de freiras saindo do priorado. Mas nenhuma delas era a freira que ele procurava.
— Que diabos você planeja fazer? — MacKay desafiou. — Entrar lá parecendo assim? As freiras vão dar uma olhada em você e correr gritando. Você parece tão feroz e selvagem quanto um lobo. — Ele sacudiu a cabeça. — Você podia tentar dormir um pouco ou comer alguma coisa que não venha de um odre. Sua perna está longe de estar curada e você não vai fazer à moça nenhum bem se cair e morrer. Estou começando a pensar que Helen estava certa. Nós devíamos ter mantido você preso.
Mesmo sabendo que ele falava a verdade, Ewen não estava nem aí. Ele passou sua vida inteira tentando evitar ser comparado ao seu pai, e agora era tão maluco e desequilibrado quanto o Selvagem Fynlay já fora.
— A menos que você queira colocar uma túnica e ter eu te chamando de Madre, meus hábitos de comer e dormir não são da sua conta. Não tenho tempo para isto!
MacLean assumiu que ele estava se referindo à chegada do rei para Selkirk para a conferência de paz.
— Nós teremos ido por alguns dias. As negociações não durarão muito tempo. Bruce exigirá ser reconhecido como rei, os lacaios de Edward recusarão e estaremos a caminho novamente. Se até lá a moça não tiver retornado, podemos tentar novamente.
Apesar da conferência ser mantida sob a sagrada bandeira da trégua, o Comandante queria que eles servissem como parte da escolta. Eles deveriam sair amanhã para alcançar os outros antes deles alcançarem Selkirk.
A boca de Ewen caiu em uma linha fina, mas não disse nada. Não explicaria que não estava indo para Selkirk e que não fazia mais parte da Guarda das Highlands.
Sutherland veio e deu a volta para ficar ao lado de seu cunhado. Deu a Ewen um olhar duro.
— Por que tenho a sensação que tem alguma coisa que você não está nos contando? O que exatamente fez você e o rei discutirem?
A conversa com o rei foi exatamente como Ewen tinha esperado que fosse. Uma vez que todo mundo deixou o quarto, ele explicou o que tinha acontecido. Bruce teria colocado uma lâmina em sua barriga — ou talvez uma área ligeiramente mais baixa — se Ewen não tivesse estado deitado, desarmado e fraco da febre. Em vez disso, seus piores medos tinham se realizado. O rei o despojou de sua terra, sua recompensa e seu lugar na Guarda, e teria tomado sua liberdade também se Ewen não o tivesse convencido a deixá-lo encontrar Janet para assegurar que ela não estava em perigo.
E levou algum tempo convencendo. O rei esteve inclinado a concordar com o julgamento de Janet: se ela pensou que era importante, ele não queria fazer nada para colocar em perigo o informante ou a informação que seu contato poderia passar. Não importa quanto Ewen o pressionasse, o rei não descobriria a identidade do informante — exceto dizer que era alguém em Roxburgh altamente conectado aos tenentes de Edward. Quem pensaria que Ewen trazendo a inteligência recente, habilitando a Guarda das Highlands, saberia exatamente onde atacar?
Ewen esteve atônito. Janet era responsável por isto? Ele subestimou sua importância e sabia disso. Ele lhe devia uma desculpa — uma de muitas — se ela pelo menos o escutasse novamente.
Mas descobrir exatamente quão envolvida nisso Janet estava só intensificava sua preocupação. Inferno, não era preocupação, era um medo entorpecente, de gelar o sangue e os ossos. As apostas seriam ainda maiores se os ingleses descobrissem seu papel.
Ele tinha tanta fé nela quanto Bruce, mas a fé de Ewen estava cega por algo que o rei não estava. Não foi até que Ewen perdeu tudo que pôde ver claramente o que dever e lealdade o impediram de reconhecer. A emoção queimando seu peito e despedaçando suas entranhas só podia ser uma coisa. Nada mais podia atingir este tipo de medo e miséria. Ele a amava. E ele tomou seu amor e o jogou de volta na cara dela.
Você terá a mim.
As palavras dela o comeram. Como ele pôde ter pensado que não seria suficiente? Ela era tudo. Sem ela, nada mais importava.
Pela primeira vez na sua vida, Ewen podia ver seu pai não com constrangimento, vergonha ou raiva, mas com admiração. Por ele ter feito o que Ewen não fez: Finlay teve a coragem de arriscar tudo e lutar pela mulher que amava.
E agora a mulher que Ewen amava estava Deus sabia onde, fazendo Deus sabia o que, porque ele foi tolo demais para fazer o que precisasse fazer para mantê-la. Quando pensava sobre como deu as costas depois de fazer amor com ela, como disse a ela que estava levando-a de volta e a entregaria a outro homem…
Não é de se espantar que ela fugisse. Ele passaria o resto de sua vida consertando isto, se ela deixasse.
Mas e se não tivesse a chance de explicar? E se algo acontecesse a ela e não pudesse dizer a ela o quanto a amava?
Ele tinha que encontrá-la, maldição. Ele rasgaria aos pedaços cada convento em ambos os lados da fronteira se tivesse que fazê-lo.
O perigo tinha finalmente feito Bruce ceder — mas só até certo ponto. Por isso, o papel de Ewen como observador. Quanto ao resto, a Guarda iria descobrir em breve.
— Isto é entre Bruce e eu. — Ele disse a Sutherland.
— Janet é minha irmã agora. — Disse Sutherland, seu temperamento notoriamente quente faiscando em seus olhos. — Se você fez alguma coisa para desonrá-la…
A boca do Ewen apertou. Sutherland teria que ficar na fila.
— Eu arruinei tudo, tudo bem. Mas estou tentando fazer isto direito. — Ele parou distraído, enquanto outra freira emergiu do priorado. Mas mesmo desta distância podia ver que o tipo físico não era certo. Precisava pelo menos chegar mais perto. Voltou-se para Sutherland impacientemente. — Não vou ter esta conversa agora. Assim que nós a encontrarmos, responderei a qualquer maldita pergunta que você queira. Agora, a menos que tente me deter, saia do meu caminho.
O desafio foi endereçado a todos os três homens bloqueando seu caminho. Eles olharam um para o outro e deviam ter reconhecido a determinação em seu olhar — ou talvez fosse o olhar selvagem, frenético, quase à beira da loucura que os convenceu.
MacLean balançou a cabeça e suspirou, dando um passo para o lado primeiro.
— É melhor você saber o que diabos está fazendo.
Ewen não sabia, mas tinha que fazer algo. Não podia ficar aqui e esperar outro minuto.
Seus olhos esquadrinharam a área diante dele enquanto se movia pelas árvores. O rio seguia para o lado leste do priorado. De lá ele teria uma visão mais próxima do pátio. Podia deixar sua armadura para trás e fingir ser um pescador...
De repente, ele parou. Seu olhar faiscou de volta para algo que ele tinha deixado passar mais cedo.
— O que é? — MacLean sussurrou, surgindo atrás dele.
— O rapaz. — Ewen disse. — Sentado nas pedras ao lado do rio.
— O que tem ele? — MacKay perguntou.
— Eu o vi antes. — Algo formigou na sua nuca. — A primeira vez que eu estive aqui e alguns dias atrás.
Sutherland franziu o cenho.
— O que é suspeito em um menino local pescando?
— Nada. — Ewen respondeu. — Se é isso que ele está fazendo. Mas olhe, sua linha não está na água, e sim na beirada do banco, e ele não está observando o peixe. — Ele estava vigiando a porta para o priorado, exatamente como Ewen estaria fazendo, embora bem menos evidente.
— O que você pensa que ele está fazendo? — MacLean perguntou.
— Eu não sei, mas pretendo descobrir.
Ewen continuou de olho na porta e no menino pelo resto da tarde. Toda vez que uma freira saía, o rapaz parecia estudar seu rosto tão atentamente quanto Ewen. Nenhuma vez o menino verificou a linha de pesca ao lado dele. Ou o rapaz era o pior pescador do mundo ou estava vigiando alguém. Mas quem?
Se fosse uma coincidência, era uma que deixava Ewen inquieto. Maldita inquietação. E não pensava que era coincidência.
Suas suspeitas foram confirmadas pouco tempo mais tarde, quando a porta do priorado fechou para a noite e o rapaz abandonou seu posto. Segui-lo foi fácil, mas a cada passo do caminho, o coração de Ewen acelerava mais um pouco.
O rapaz não estava indo para uma casa na vizinhança, estava indo para Roxburgh. Mais especificamente, estava indo para o castelo.
Ewen não precisou seguir o rapaz pelo portão do castelo. De seu ponto de vantagem no topo de uma colina perto, podia ver com clareza arrepiante diretamente no pátio. Antes mesmo que o menino abordasse o edifício, Ewen adivinhou para onde estava se dirigindo. Ah inferno, a capela!
Seu sangue ficou frio, recordando o confronto de Janet com o padre do castelo no mercado.
Se o padre tinha alguém vigiando o priorado, Ewen sabia o que isso significava. O monge encontrado na estrada para Berwick tinha falado antes deles o matarem. A identidade de Janet foi comprometida. Foi como os ingleses os seguiram tão facilmente do priorado umas semanas atrás.
Isso também significava que Ewen não era o único caçando-a, e se não a achasse primeiro, o perigo que ele temia se tornaria muito real.
Graças ao comerciante e sua esposa, Janet tinha uma maneira de fazer contato com sua fonte sem voltar para Rutherford, um lugar para ficar e uma nova identidade.
Seu véu e escapulário ficaram escondidos na bolsa. Em seu lugar, ela usava uma touca de linho e se tornou um membro do crescente número de homens de negócios e comerciantes que estavam fluindo para as cidades. Na sociedade altamente estruturada feudal, os comerciantes estavam em algum lugar abaixo da nobreza e acima do resto — diferente do clero. Como filha de um comerciante, ela aproveitava do mesmo tipo de liberdade que tinha como freira para caminhar por ali sem ser percebida.
Janet não sabia o que tinha feito o comerciante reclamá-la como filha, mas ele a salvou de uma situação que podia ter sido muito difícil e provavelmente ameaçara sua vida. Uma que ela podia muito bem não ter podido se livrar com conversa.
Mesmo com a reivindicação do comerciante, Sir Thomas estava suspeitando. Não foi até que a esposa do comerciante, Alice, avançou para brigar com ela por ficar olhando o bonito cavaleiro quando estava quase noiva de outro, e Janet rompeu em lágrimas, soluçando por que ela não queria se casar com um homem velho o suficiente para ser seu pai, que o escudeiro admitiu que ele podia estar errado, e Sir Thomas permitiu que eles partissem. Realmente, ele parecia querer escapar do drama de família e do olhar de Janet “me salve” o mais rápido possível.
Mas seu coração não parou de acelerar por dias, até bem depois que chegaram em segurança a Roxburgh. Ela agradeceu os Hendes pelo que fizeram e ficou aliviada quando eles não fizeram perguntas, mas simplesmente ofereceram a ela um lugar para ficar o tempo que precisasse.
Janet reembolsou sua generosidade com trabalho duro, ajudando-os a instalar sua loja no terreno mais baixo na Rua Alta, que também alojava uma loja de miudezas, negociante e ourives.
Em retrospecto, o enfrentamento com os soldados perto de Melrose provou ser um benefício inesperado. Isso deu a ela exatamente o que precisava: um modo de fazer contato com seu informante dentro do castelo, o que permitiu que ela evitasse lugares em que esteve antes. Ela levou as lições de Ewen a sério, não queria de nenhum modo conectar a Noviça Eleanor ou Irmã Genna a Kate, a filha do comerciante de lã.
No primeiro sábado de seu retorno, quando as damas do castelo passeavam pelas barracas do mercado, Janet estava pronta. Um rápido e acidental esbarrão, uma desculpa murmurada, e um olhar significativo fora toda a explicação necessária. Janet fez um ponto para caminhar lentamente de volta a loja dos Hendes, onde ela teve certeza que seu informante a veria entrar.
A culpa de Janet por qualquer perigo em potencial que ela pudesse ter posto os Hendes ficando com eles foi suavizada um pouco pelo sucesso imediato que o casal atraiu, depois que um número de homens e mulheres nobres do castelo entraram em sua loja e declararam sua lã a “melhor em Roxburgh”. Os Hendes estavam logo recebendo mais pedidos do que podiam dar conta, incluindo um dos próprios oficiais do Castelo Roxburgh, Sir Henry de Beaumont.
Em uma destas visitas, Janet deu um jeito de ter uma pequena conversa com sua informante enquanto mostrava a ela um tecido fino cor de rubi.
— Tem qualquer coisa que eu possa te ajudar, milady? — Ela perguntou, cuidadosa em manter suas palavras inócuas no caso de que estivessem sendo ouvidas.
A mulher sacudiu a cabeça.
— Temo que ainda não. Mas como tem muitas celebrações importantes por vir, estou certa de que pensarei em alguma razão para esta bela lã logo. — Ela sorriu. — Há muita excitação pelo castelo com o Natal chegando.
Janet traduziu a mensagem facilmente: nada ainda, mas algo grande estava definitivamente fermentando.
— Aye, milady. Até na aldeia, excitação está no ar. Devo estar no meu primeiro banquete de St. Drostan amanhã. Ouvi que é bastante celebrado.
— Aye, haverá um banquete no castelo também. — A dama disse.
Outra dama veio naquele ponto e as interrompeu. O grupo saiu logo em seguida, mas não antes de sua informante prometer que a veria no próximo sábado, dia de mercado, consequentemente daqui alguns dias.
Desapontada que ainda não houvesse nada para reportar e que sua curta estadia em Roxburgh se estenderia por pelo menos mais alguns dias, Janet fez o melhor que podia para se manter ocupada.
O trabalho duro manteve sua mente fora do seu coração partido e a conversa difícil que teria com Robert quando finalmente voltasse para as Highlands. Por mais que o prospecto de vestir um hábito novamente — desta vez de verdade — não fosse atraente para ela, um casamento arranjado era ainda menos.
Deus do Céu, Walter Stewart? Sangue nobre ou não, ela não se casaria com um rapaz que mal tinha idade suficiente para ter uma barbicha no queixo. Ela não podia suportar pensar em estar com ele… Intimamente.
Na maior parte do tempo, Janet tinha sucesso em manter sua mente fora da paixão que Ewen mostrou a ela no celeiro aquela noite — o modo que ele a fez sentir, o quanto foi incrível senti-lo dentro de seu corpo, a emoção avassaladora que a agarrou, — mas ficou lá.
Ela nunca compartilharia isso com outro homem. Sabia disso com cada fibra do seu ser e do fundo do seu coração sangrando, rasgado em pedacinhos e estraçalhado.
Contudo, aparentemente Janet não era uma perita em esconder sua aflição como ela pensava.
— O banquete fará bem a você. — Alice Hende insistiu depois de retornar da confusão do St. Drostan esta manhã. Ela olhou Janet de forma conhecedora. — Seja quem ele for, não vale a pena você trabalhar até a exaustão.
Conhecendo a astúcia da Alice, Janet não tentou negar. Mas também não queria falar sobre isto. Ainda estava muito crua.
— Você é amável, mas acho que é melhor se eu ficar para trás. Você e Mestre Walter vão e aproveitem a trupe de artistas. Você pode me contar tudo sobre isto.
Alice põe as mãos nos quadris largos.
— Não.
Janet piscou.
— Não?
— Aye, não. Você está indo para o banquete, se divertirá e pronto.
Atarracada e com rosto plano, a esposa do comerciante se assemelhava a cada babá com espinha de ferro que Janet já teve. Alice deu a luz a cinco filhas, todas já estabelecidas, e não havia uma desculpa ou explicação que já não tinha ouvido. Janet sabia que podia bajular ou pedir até o sol descer e nascer novamente, mas Alice Hende não ficaria balançada.
Uma emoção encheu seu peito. O que tinha na teimosia e dominação que se tornou tão cativante para ela?
Piscando para afastar as lágrimas, Janet acenou com a cabeça. Sabia quando perdia.
E na verdade, mais tarde aquela noite, ficou agradecida pela insistência de Alice Hende. Pela primeira vez em dias — semanas? — Janet riu, e pela primeira vez em anos, ela dançou.
A rua alta estava esfuziante em bom humor e luz da fogueira. Um palco tinha sido montado para a apresentação dos artistas, grandes mesas de cavalete estavam carregadas com comida e bebida, e músicos foram organizados para providenciar as danças.
Alice insistiu que Janet usasse a túnica de acabamento fino que Mary deu a ela, e a mulher mais velha arrumou seu cabelo em uma toquinha bordada que deixou uma cascata de cachos dourados caindo por suas costas.
Janet não sentia falta de parceiros, e rodando ao redor da fogueira, suas bochechas quentes e pulmões ofegando por ar, sentiu-se como uma menina novamente. Bonita e viva e, por um momento, despreocupada.
Não percebeu quanta atenção estava atraindo.
Ela escapuliu para longe por um momento na taverna para usar de privacidade — que era não mais do que um buraco na parede com um assento de madeira acima da fossa — quando uma figura encapuzada deu um passo no seu caminho quando ela saiu do prédio.
Seu coração parou. Mas levou apenas alguns segundos para reconhecer a figura esbelta e encapuzada na luz da tocha. Céus, era sua informante!
Janet imediatamente olhou de relance, procurando por um lugar para escapar da multidão, e se arremessou dentro na estreita passagem que corria ao lado da taverna. Era mais escuro lá e haveria menos chance de alguém vê-las.
Seu coração estava martelando, sabendo que devia ser algo importante para trazer sua informante aqui desse jeito.
— Temi que eu não pudesse achar você. — A dama disse. — Mas então eu vi você dançando. — A luz da tocha não se estendia para dentro da passagem, e seu rosto estava escondido na sombra escura do capuz coberto, mas Janet podia dizer pela sua voz que ela estava sorrindo. — Confesso que não reconheci você a princípio. A bonita e sorridente filha do comerciante está bem longe de uma freira italiana.
Janet estava contente que a outra mulher não podia ver seu rubor.
— Você assumiu um grande risco em vir aqui.
— Eu precisei. Isto não pode esperar. — Ela estendeu um pedaço dobrado de pergaminho para Janet, que Janet depressa deslizou na bolsa em sua cintura. — Você deve levar isto para ele a toda velocidade. Pode já ser tarde demais. As conversas são estabelecidas para depois de amanhã. Você deve achá-lo antes dele chegar a Selkirk amanhã.
Janet era só uma mensageira. Ela não era normalmente privada de informações, então sabia que devia ser sério para a mulher estar dizendo isso a ela.
— Selkirk?
— Aye, para as negociações de paz. — A mulher tomou o braço da Janet e a puxou mais perto. Janet podia ver o pânico cintilando em seus grandes olhos. — É uma armadilha. Os ingleses querem tomar Bruce.
Ela não estava aqui. Maldição, ele estava tão certo que ela estaria.
Tenho que voltar no Dia de St. Drostan, ela disse.
Então onde diabos ela estava? Não no priorado. Nem no hospital, de fato. Ewen deixou Sutherland vigiar o priorado e seguiu o grupo de freiras que caminhavam para o hospital depois das orações matutinas. Ordens ou não, seu papel como observador terminou ontem à noite no momento em que percebeu que o padre a estava vigiando. Posando como viajante na estrada, ele examinou cada pessoa naquele hospital: leproso, freira, viajante, o doente ou fraco — até o grupo de damas do castelo que chegaram para dar esmola no dia santo.
Mas ela não estava ali.
Ele estava ficando sem tempo. Ficando sem ideias. Nunca se sentiu tão impotente, nunca esteve tão perdido. Na única vez em que realmente precisou encontrar alguém, suas habilidades falharam.
Pior, não podia escapar da sensação que ele de alguma maneira devia saber. Como não percebeu que alguém estava observando-a? Devia ter percebido que os soldados de Douglas não podiam tê-los rastreado tão rápido. Culpou-a por descuido quando ele mesmo perdeu os sinais.
Era depois do escurecer quando deixou o hospital para se reunir com Sutherland no priorado. MacLean e MacKay partiram tarde na noite anterior, depois de atender alguns negócios na floresta e não sem alguma discussão.
— O rei não vai gostar disto. — Disse MacLean. — Ele ordenou que todos nós voltássemos amanhã. Você nem mesmo sabe se ela está aqui. Pode voltar amanhã à noite se cavalgar duro.
A boca do Ewen apertou. Desejou muito que ela não estivesse aqui, que estivesse em algum lugar seguro e longe. Mas conhecia Janet. Se ela pensasse que era importante, nada a manteria longe.
— Ela está aqui. — Disse de modo plano. — Não estou nem aí para ordens. — Seu companheiro ergueu a sobrancelha ao ouvir isso, mas Ewen o ignorou. — Vocês três vão e retornem quando puderem. Não vou deixá-la.
MacKay pareceu cético.
— Tem certeza que sabe o que está fazendo? Se estiver errado, o rei não vai ficar feliz.
O rei não estava feliz agora. E Ewen não estava errado.
— Você deixaria sua esposa?
MacKay não disse nada.
— Em um segundo. — MacLean disse de modo plano.
Ewen lançou a ele um olhar enojado.
— Bem, não vou deixá-la.
Nenhum dos homens declarou o óbvio: ela não era sua esposa e provavelmente nunca seria.
No fim, foi MacKay e MacLean que partiram para se juntar aos outros e relatar para o rei o que aconteceu. Sutherland insistiu em ficar com Ewen.
— Se eu partir e algo acontecer com ela, minha esposa nunca vai me perdoar. Acho que vou me arriscar com Bruce.
Conhecendo Mary, era provavelmente uma sábia decisão. Mas Ewen estava contente pela espada extra — e o par de olhos extra.
Ele assobiou para avisar Sutherland que se aproximava. O mais novo membro da Guarda das Highlands, o homem que podia preencher quase qualquer lugar e assumia o trabalho perigoso de trabalhar com o pó negro depois da morte de um de seus irmãos, respondeu com um assobio antes de saltar de uma árvore à frente dele.
— Alguma coisa? — Ewen perguntou.
— Não. A prioresa trancou cerca de uma hora atrás. Assumo pelo seu tom que você também não teve muita sorte.
Ewen balançou a cabeça sombriamente.
— O rapaz mostrou seu rosto?
Um flash de branco apareceu no luar enquanto Sutherland sorria.
— Depois de ontem à noite? Não acho que ele andaria dentro de uma milha deste lugar, mesmo se você não o estivesse pagando para ficar longe. — Ele riu. — Não percebi que tínhamos tantos admiradores nas fileiras dos espiões ingleses.
— O rapaz não sabia que diabos estava fazendo.
Na noite passada, antes de MacKay e MacLean partirem, eles esperaram que o rapaz deixasse o castelo, seguiram e o cercaram na floresta. Tinha vezes que sua reputação de fantasma vinha em bom uso. O rapaz, provavelmente de dezesseis ou dezessete, inicialmente ficou apavorado. Ele soltou o que estava fazendo para o padre quase antes deles terminarem de fazer a pergunta. Por mais de um mês ele ganhou um centavo por dia para vigiar a nova freira no priorado e relatar para o padre imediatamente se ela fosse a qualquer lugar ou fizesse qualquer coisa. O menino não entendeu por que ainda estava vigiando o lugar quando a freira partiu com um homem uma quinzena mais cedo, mas estava contente em coletar seu dinheiro pelo tempo que o padre quisesse pagar.
Ele ficou atônito ao saber que ele estava espionando para os ingleses.
— Não sou um traidor. — Ele insistiu. — Eu sou um escocês.
O rapaz esteve tão ofendido, tão envergonhado, que Sutherland estava certo, Ewen provavelmente não precisava pagar a ele. Mas achou que era melhor assegurar que o rapaz não tivesse segundos pensamentos.
Eles o instruíram a se ausentar do priorado, mas continuar relatando ao padre todas as noites como antes. Posteriormente era para ele encontrá-los e seria pago um xelim — mais do que sua família provavelmente ganhava em uma semana.
Uma vez que estava claro que eles não queriam lhe fazer qualquer dano, o rapaz agiu como se estivesse na presença de semideuses, polvilhando-os com perguntas até que foram forçados a mandá-lo embora.
Vocês realmente podem aparecer da névoa?
Suas espadas realmente vêm de Valhalla?
Vocês têm cabeças debaixo das máscaras ou seus olhos de demônio brilham do vazio?
Para onde vocês vão quando desaparecem?
— Quem sabe talvez devêssemos encontrar um novo recruta? — Sutherland disse.
Ewen teria rido se não estivesse pensando que estariam precisando de um logo.
— Você nunca sabe.
— E aí?
— Voltamos para Roxburgh e esperamos pelo rapaz reportar de volta para nós.
— E então?
Ewen desejou muito que ele soubesse. Estava fora da vantagem. Não percebeu quanto havia fixado suas esperanças no dia de hoje. Mas uma coisa era certa: não ia desistir até que a encontrasse.
Janet olhou fixamente para sua informante em atordoada descrença. Os ingleses queriam capturar Robert em Selkirk sob a proteção de uma negociação de paz? Desafiava cada noção de honra. Era uma violação de um código entre soldados em guerra — por uma longa tradição, negociações eram terreno sagrado sob a cobertura de uma trégua.
— Você tem certeza?
— Eu não arriscaria isto se não tivesse. Está tudo aí. — Sua informante disse, referindo-se ao pergaminho. — Fui somente sortuda que achei isso mais cedo hoje à noite. O banquete do dia da celebração tornou possível que eu escapasse sorrateiramente do castelo. Mas devo retornar antes de alguém notar que saí. Você pode levar isto para ele a tempo?
A mente de Janet já estava correndo com tudo que tinha para fazer. Ela se prepararia para partir imediatamente, ficando apenas tempo suficiente para dizer adeus aos Hendes, juntar seus pertences, e com um pouco de sorte conseguir um cavalo. O banquete ajudaria nesse sentido.
— Posso.
As palavras mal deixaram sua boca antes delas ouvirem passos e o som de vozes.
— Onde ela foi? — Um homem disse furiosamente.
Janet sentiu um flash de alarme, mas disse a si mesma que não era nada. Provavelmente seu próximo parceiro de dança procurando por ela.
Os olhos das duas mulheres se encontraram na escuridão.
— Vá. — Disse Janet. — Alguém está vindo.
A mulher assentiu.
— Boa viagem. — Ela sussurrou, e para surpresa de Janet, ela se inclinou para lhe dar um rápido abraço antes de virar e ir.
Mas a mulher mal deu alguns passos quando o desastre atingiu.
— Lá! — Um homem gritou. — Atrás dela! Não a deixe escapar.
Um homem veio correndo em direção a elas — um homem grande. Janet não teve tempo para pensar. Agiu por instinto, e seu primeiro era proteger a outra mulher. Bem quando o homem começou a correr passando por ela, entrou em seu caminho.
Sua intenção era fazê-lo tropeçar e dar um passo fora do caminho, mas isso não funcionou do modo que ela planejou. Sua saia embolou no seu pé e ele foi capaz de agarrá-la. Eles atingiram o chão juntos.
O golpe chacoalhou o ar de seus pulmões, mas ela se recuperou rápido e imediatamente se levantou. Infelizmente, o grande imbecil também. Ele era muito mais alto que Ewen, embora não cheirasse tão bem. Este homem fedia como se trabalhasse com porcos o dia todo.
Ela teria se contorcido para longe, mas as mãos dele eram como grandes e maciços grilhões.
— O que significa isto? Tire suas mãos de mim!
Surpreendentemente, ele fez. A autoridade de seu tom deve ter surpreendido o homem. Ele era grande e volumoso, com um rosto plano de camponês, feições bruscas e um pescoço que parecia triturado em seus ombros. Se fosse possível parecer estúpido, ele fez um bom trabalho.
Janet relaxou um pouco. Sair disto conversando não devia ser muito difícil.
— Como se atreve a me atacar assim! Olhe o que você fez. — Ela levantou a saia. — Você rasgou meu vestido. Percebe o quanto isto custa? Pode ter certeza que vou mandar a conta para você pagar pelo conserto.
Ele recuou um passo ou dois e ela tentou não rir.
— Eu não queria...
Ela não o deixou terminar, mantendo-o na defensiva.
— Você faz de seus negócios abordar mulheres inocentes em becos escuros?
— Não, fui informado que… Ele me disse...
Ele olhou em direção à rua e Janet deu uma olhada de relance no homem que estava se aproximando. Foi ele quem emitiu a ordem.
Ele estava mais ou menos a seis metros de distância e olhando direto para ela.
— Então é você. — Ele disse. — Pensei, mas não estava certo. Está bem longe da Itália, Irmã Genna.
O sangue drenou de seu rosto. Oh Deus, o padre do mercado! Ela não sairia dessa conversando.
Mas havia uma coisa que ela podia fazer. Antes do grande imbecil recolher seu juízo e agarrá-la novamente, ela correu.
CAPÍTULO 24
— Atrás dela! — O padre gritou. — Guardas! Não a deixem escapar.
Janet derrubou o imbecil tão rápido quanto suas pernas a carregaram.
Uma olhada por cima do ombro mandou sua pulsação saltando pela garganta. Figuras estavam sombreadas na boca do beco atrás dela. Uma meia dúzia de soldados, talvez mais. Eles estavam mais perto do que ela percebeu.
Ela tomou algum conforto no conhecimento que sua fonte provavelmente conseguiu escapar, mas isso foi atenuado pela realização do que estava em jogo. Se não saísse daqui, se não chegasse a Bruce a tempo, tudo podia estar acabado.
Sabendo que tinha somente alguns minutos para sair da aldeia antes deles bloquearem as estradas, dobrou a primeira esquina e mergulhou em outro beco escuro.
Podia ouvi-los perseguindo-a, mas não pensou sobre isto. Seus pulmões estavam estourando e suas pernas estavam enfraquecendo, mas não diminuiu a velocidade. Manteve a mente focada em sair da aldeia. Se pudesse fazer isto para a floresta, teria uma chance.
Mas eles estavam se espalhando atrás dela. Aproximando-se.
Ela precisava de um cavalo. Mas isso teria que esperar. Se pudesse apenas fazer isto para Rutherford, seria capaz de achar algo.
E talvez…
Seu coração apertou e não foi pela falta de ar nos pulmões. Ela não tinha nenhuma razão para pensar que ele estaria ali, mas se Ewen tivesse vindo atrás dela, Rutherford seria sua melhor chance de encontrá-lo. Eu vou encontrar você. As palavras dele de quando eles estavam sendo caçados voltaram para ela.
— Ela está indo para a floresta!
Seu estômago caiu no chão ouvindo cavalo e cavaleiro se aproximarem atrás dela.
Mas ela estava quase ali. Um momento mais tarde ela mergulhou em pesada escuridão. Isso a engoliu como uma tumba. Uma em sentido figurativo, ela esperava.
Experimentou uma nova explosão de energia com o conhecimento que as árvores diminuiriam a velocidade dos cavalos e os fariam correr por entre arbustos e samambaias, empurrando galhos fora do caminho quando ela podia vê-los, não notando os arranhões que rasgavam sua pele quando não podia.
Os sons atrás dela começaram a sumir. Manteve-se indo na mesma direção, rezando para que fosse a certa, mas a escuridão e árvores levaram seu senso de direção.
Após outro punhado de minutos, ela teve que parar. Curvando-se, ela engoliu ar como uma pessoa faminta. Podia ser capaz de caminhar por dias, mas correndo a toda velocidade por vinte minutos minou-a de cada pingo de energia.
Ainda tinha que continuar.
Mais lento agora, mas ainda correndo, ela trançou passando através das árvores. Por favor, deixe ser a direção certa.
Por tantas razões, ela desejou que tivesse Ewen com ela. Ele não se perderia, o que era mais do que ela podia dizer de si mesma. Com as nuvens, não havia nem estrelas para guiá-la. Estava indo pelo instinto agora, procurando por qualquer sinal de algo familiar. Era menos de oito quilômetros entre Roxburgh e Rutherford, com floresta entre elas na maior parte do caminho. A estrada era ao norte de onde esperava que estivesse.
Os sons se foram agora. Mas não se permitiu relaxar, sabendo que a floresta podia absorver som tão eficazmente quanto fazia com a luz.
Foi por isso que ela não o ouviu até que fosse tarde demais.
Um homem a agarrou por trás, prendendo seus braços ao lado com seu braço grande revestido de aço. Uma manopla de couro bateu em cima da sua boca antes que ela pudesse gritar. Seus pés chutaram de modo selvagem, mas inúteis no ar.
— Eu a peguei! — Ele berrou.
Algo não estava certo. A inquietação do Ewen começou a aumentar cerca de uma hora atrás. O rapaz estava atrasado.
— Ele devia estar aqui agora. — Ele disse.
— Talvez tenha sido atrasado pelos banquetes? — Sutherland sugeriu. — Parece ser uma grande celebração, se esses fogos são qualquer indicação.
De seu ponto de vantagem na colina, eles podiam ver o portão principal e dentro do pátio do castelo. O castelo de Roxburgh assentava na ponta de uma pequena península de terra na conjuntura dos rios Tweed e Teviot. A aldeia ficava atrás e sua maior parte estava bloqueada da vista, mas eles podiam ver o rugido dos fogos.
Nesta hora da noite, o portão para o castelo normalmente estaria fechado, mas devido ao banquete, as pessoas ainda estavam fluindo livremente dentro e fora.
— Vou entrar lá. — Ewen disse.
— Você está louco? O castelo de Roxburgh é um dos castelos mais fortemente defendidos nas fronteiras. Existem pelo menos quinhentos soldados ingleses guarnecidos ali nesse instante esperando retomar a guerra, onde um dos seus maiores objetivos é matar os membros do afamado exército secreto de Bruce. E você vai simplesmente caminhar direito para lá sem um plano e espera que eles não te notem?
Ewen cerrou os dentes.
— Aye. Estou certo como o inferno que não vou me manter de pé aqui. Com o banquete, isto pode ser minha melhor chance de entrar lá. E tenho um plano. Aliviarei um dos homens armados celebrando na aldeia de seu traje.
— Isso é um plano? É um maldito suicídio, isso que é.
— Se o contato dela está no castelo, Janet pode estar lá agora mesmo. O banquete seria uma oportunidade perfeita.
— Isto é um inferno de muito risco para uma possibilidade.
— Possibilidades são tudo que tenho agora. A menos que você tenha uma ideia melhor. — Ele desafiou furiosamente.
A mandíbula do Sutherland se tornou uma linha dura. Ele o encarou por um longo momento.
— Eu irei com você.
Ewen balançou a cabeça.
— Preciso de você aqui fora. Se algo der errado, posso precisar que você use aquele seu pó para uma distração.
Sutherland praguejou.
— Com toda maldita certeza queria que Viper estivesse aqui.
Ewen não podia discordar. Lachlan MacRuairi tinha uma habilidade única de entrar e sair de quase qualquer lugar. Mas agora Ewen estaria agradecido por qualquer um dos seus irmãos — ou ex-irmãos. Se alguma coisa acontecesse, duas espadas contra quinhentas não eram exatamente chances encorajadoras.
Maldição, era difícil acreditar que ele não seria uma parte disso mais. Lutar nesta equipe foi a maior coisa que ele já fez. E estes homens…
Eles eram os amigos mais próximos que ele já teve. Eram como irmãos para ele. Deixar isso tudo para trás seria mais duro do que ele queria pensar.
Ele e Sutherland tinham acabado de terminar os detalhes — não existiam muitos — de seu plano quando Sutherland pegou um movimento vindo do lado da colina.
— Tanto para ser discreto. — Sutherland disse ironicamente. — O rapaz não está exatamente tentando esconder sua ânsia de chegar aqui.
O pulso do Ewen acelerou enquanto o rapaz se aproximava suficiente para ele decifrar sua expressão.
— Não é somente ânsia, algo está errado.
Os olhos do rapaz estavam arregalados quando ele subiu cambaleando a extremidade da colina.
— Desculpe… Atrasado… Senhora… — ele ofegou e arfou entre grandes golpes de ar.
Ewen o agarrou pelos ombros e o forçou a se endireitar ante a menção de “senhora”.
— O que tem a senhora? Você a viu?
Os olhos do rapaz ficaram tão arregalados que Ewen pensou que eles estalariam para fora. Ele estava formando palavras, mas nenhum som estava saindo.
— Acalme-se. — Sutherland disse ao lado do Ewen. — Você o está assustando.
Ah inferno. Ewen o soltou e tentou moderar seu tom quando sentiu como se rugindo em voz altíssima.
— O que aconteceu?
O rapaz olhou para ele cautelosamente, ainda tentando pegar o fôlego. Finalmente articulou as palavras que enviaram cada gota de sangue correndo do corpo do Ewen.
— O p-padre… Ele achou a senhora.
Janet lutou com tudo que tinha, mas o soldado parecia mal notar enquanto a arrastava pela floresta. A estrada estava mais perto do que ela percebeu. Depois de mais ou menos cinquenta jardas, eles saíram das árvores e ele a empurrou adiante com força suficiente para colocá-la de joelhos. Ela olhou para cima e se viu rodeada por homens a cavalo. Além do padre e do imbecil que a pegou antes, ela contou meia dúzia de soldados.
Mas nenhum pareceu mais perigoso que o padre. Não havia nada de religioso no olhar ameaçador fixo nela.
— Teve uma agradável corrida, minha querida?
Janet sentiu uma pontada de pânico, mas forçou-a de lado. Tinha que pensar. Não desistiria sem lutar. Um punhado de explicações diferentes passou pela sua cabeça, mas não tinha tempo para pesar todas elas. Foi com a primeira coisa que veio à sua mente: fingir que não sabia quem ele era.
— Você é um padre? — Ela disse se levantando. — Graças a Deus! Pensei que você estava com este homem que estava me abordando. — Ela apontou para o imbecil.
O padre balançou a cabeça com um som de tsc.
— Você pode esquecer o fingimento, minha querida. Eu sei quem você é. Seu amigo, o monge, foi mais comunicativo, com um pouco de persuasão, claro.
O sorrisinho enviou calafrios percorrendo sua espinha cima a baixo. Pobre Thom.
— Eu conheço sua transformação da freira italiana para noviça Eleanor. Suspeitei que você estava ajudando o rei usurpador a passar mensagens, mas imagine minha surpresa e prazer quando nos levou direto a seu exército secreto. Estou mais interessado em saber os nomes dos homens com quem você esteve viajando.
— Não sei sobre o que você está falando. — Ela persistiu. — Você deve ter me confundido com outra pessoa.
Os olhos dele estreitaram. Os soldados moveram seus cavalos mais perto ao redor dela, e ela teve que lutar com o desejo opressivo de não tentar se arremessar entre eles e correr. O instinto de fugir do perigo se aproximando era primitivo.
— Você acha que remover um véu e colocar um vestido bonito vai me enganar? — O padre exigiu. — Levei um momento quando vi você dançando, mas não esqueço um rosto. Especialmente um tão bonito quanto o seu. É uma vergonha. Tanta beleza se perdendo.
Janet não gostou do som disto. Ela não sabia o que dizer. Sua língua pareceu embolar na sua boca. Ele não era o cavaleiro ou o escudeiro, e ela não tinha o comerciante e sua esposa para ajudá-la. Não tinha ninguém para ajudar. Deus, o que ela não faria por Ewen e seus amigos agora.
Tudo que tinha era sua genialidade — que parecia estar falhando com ela agora — e seu punhal. Teria que esperar pela hora certa para tentar escapar, o que com todos estes homens a rodeando, claramente não seria agora.
Ela tentou sua sorte com os soldados.
— Parece existir algum mal-entendido. — Ela disse para um deles. — Talvez fosse melhor se nós voltássemos para a cidade...
O padre não a deixou terminar.
— Não existe nenhum mal-entendido. O que você estava fazendo com a mulher no beco? E quem é ela?
— Mulher? — Janet repetiu, como se confusa. — Oh, você quer dizer a mendiga?
— Você normalmente abraça mendigas? — O padre perguntou, um brilho astuto em seus olhos.
Janet amaldiçoou seu erro, ela esqueceu do abraço.
— Eu mesma fiquei surpresa, Padre. Mas ela estava mais do que agradecida pela moeda que eu dei a ela.
— Acho que não, Genna ou Eleanor ou qualquer que seja o nome que você está usando agora. Mas não é sua identidade que me preocupa. — Obviamente o monge morto não teve conhecimento do seu nome real ou ela suspeitava que o padre estaria muito interessado. — Nós suspeitamos que alguém esteve vazando informações do castelo, e você vai nos dizer quem é, mas o importante primeiro. — Janet não gostou do sorrisinho no rosto dele quando virou para o soldado que a capturou. — Reviste-a.
As palavras dele enviaram um arrepio por sua espinha. Ela sabia que não levaria muito tempo para acharem o pergaminho na bolsa em sua cintura. E se eles achassem…
Não queria pensar sobre isto. Não era apenas sua vida em jogo, mas também a de sua informante, a do rei e o futuro da Escócia propriamente dito. Se Bruce fosse capturado agora a causa estaria perdida. Quem mais seria valente suficiente para se levantar contra o reino mais poderoso da cristandade? O rei Edward colocaria outra marionete no trono ou ele mesmo o tomaria.
Não podia deixá-los encontrar o pergaminho, tinha que escapar.
O tempo para conversa acabou. Ela agarrou seu punhal, mas não foi rápida o suficiente. O soldado agarrou seus braços em um aperto esmagador e rodou-a para encará-lo.
— Solte-me! — Ela conseguiu livrar uma de suas mãos e atacou o rosto dele. Uma de suas unhas pegou na bochecha dele, mas isso só o deixou com mais raiva.
Na luz da tocha ela conseguiu olhá-lo pela primeira vez e quase desejou a escuridão. Ele não era excepcionalmente alto como o homem que a pegou no beco, mas o que lhe faltava em altura, sobrava em largura e tamanho. Ele era largo como um carvalho, troncudo e forte. Embaixo da beirada do seu elmo, tudo que podia ver era um nariz espremido e torto que parecia que tinha sido curado na mesma posição em que foi esmurrado. Uma barba espessa e escura que cobria a metade inferior de seu rosto e uma boa porção do seu pescoço também, e olhos escuros penetrantes que estavam olhando fixamente para ela com raiva.
— Cadela! — Ele pegou o pulso dela em sua mão e apertou com tanta força que ela pensou que ele queria estalar o osso. Ele a soltou tempo suficiente para bater o punho na mandíbula dela.
Sua cabeça estalou para trás, e ela gritou de dor e do choque de ser golpeada. Ele bateu nela novamente, desta vez com as costas da mão na sua bochecha. O sangue escorreu por seu rosto enquanto lágrimas derramaram de seus olhos. Mas mesmo assim ela lutou de volta. Chutou selvagemente — instintivamente, — mas ele bloqueou seus golpes com facilidade. Atingiu-a repetidamente, batendo até sua submissão. Sua mandíbula… Sua bochecha… O lado de suas costelas. Sua cabeça nadou, a dor era avassaladora. Levou tudo que tinha só para ficar de pé.
— Já chega. — Um dos outros soldados disse, desgosto evidente em sua voz. Aparentemente nem todos os soldados eram brutos que gostavam de bater em mulheres. — Vamos ver se ela tem algo primeiro.
O soldado bruto a girou novamente, segurando seus dois pulsos em uma mão como um torno, enquanto o outro apalpava rudemente seu corpo com óbvio deleite.
— A bolsa. — O padre disse impacientemente. — Dê-me a bolsa.
Ela gritou e fez um último esforço frenético para proteger a missiva, mas ele estalou o cinto de couro de sua cintura e o lançou para o padre.
Através das lágrimas e sangue que borrou sua visão, ela viu quando o padre removeu o pergaminho da bolsa de couro. Um brilho de vitória apareceu em seu olhar enquanto um dos homens segurava uma tocha acima de sua cabeça para ele ler.
Ele voltou a dobrar a maldita evidência e a deslizou em suas vestes.
— Vejo que eu estava certo sobre você e a dama. Acho que com isto Lorde de Beaumont deve ser capaz de definir a fonte de seu vazamento. Embora não será metade da diversão que seria se Randolph estivesse aqui para retirar as informações de você. É um talento particular dele.
Entorpecida com a dor de seu espancamento, seu corpo contundido e machucado ainda conseguiu fica gelado. Tortura! Oh Deus, dê-me força. Embora soubesse do perigo desde o início — e sabia que algo assim podia acontecer — ela esperava nunca ter que enfrentar isto.
O padre deve ter lido o medo em seus olhos porque sorriu.
— Odeio privá-lo de sua diversão. — Ele olhou para Randolph. — Veja o que você pode descobrir. Se ela não te disser o que você perguntar, mate-a.
O coração de Janet pulou para sua garganta.
— Espere. Você não pode fazer isto. Você é um homem de Deus.
— E você é uma traidora. O homem que você chama de rei é um assassino e excomungado pelo papa. Deus não tem misericórdia de rebeldes.
Janet virou para o soldado que falou com ela antes.
— Por favor.
Mas ele deu as costas friamente, ignorando seu patético apelo. O cavalheirismo terminou com a descoberta da missiva.
Um momento mais tarde, o padre, seu assecla imbecil e os outros soldados estavam partindo, deixando-a com seu torturador e executor.
— Não leve muito tempo. — o padre disse por cima de seu ombro direito antes deles desaparecerem de vista.
O soldado bruto começou a arrastá-la de volta para dentro das árvores. O coração de Janet estava martelando contra suas costelas — suas costelas provavelmente quebradas — e cada instinto a urgia a usar o que restou de força para lutar de volta. Mas tinha que ser paciente e esperar pela oportunidade perfeita. Ela teria apenas uma chance de pegá-lo de surpresa. Então forçou a luta de seus músculos, tornando-os tão moles quanto uma marionete de trapos.
Quando eles alcançaram uma pequena clareira, ele a lançou sem cerimônia no chão. Ela olhou para ele assomando acima dela e tentou empurrar de volta o pânico rastejando subindo por sua garganta.
Seu estômago embrulhou.
Ele alcançou debaixo de sua cota de malha de mensageiro e começou a soltar as amarras de sua calça.
— Não se mova, sua cadela estúpida. Nunca fodi ninguém para me contar o que quero ouvir, mas nunca interroguei alguém tão bonita quanto você. Ou tão bonita quanto costumava ser. Seu rosto não parece muito bom agora. — Ele riu.
Janet tentou calar as palavras dele. Tentou não ouvir o que ele estava dizendo enquanto se concentrava na mão alcançando lentamente sua bota.
Só mais alguns centímetros…
Ela ofegou quando deu um passo acima dela. Ele teria esmagado suas pernas com o pé se ela não reagisse separando-as. Mas sem saber, espalhando suas pernas ele a ajudou. Sua mão achou seu objetivo.
Ela agarrou o cabo do seu punhal dentro da mão enquanto ele se ajoelhava no chão diante dela.
Tudo que podia ver na luz da lua era o frio cintilar de seu sorriso.
— Você não vai lutar comigo? É muito mais divertido desse modo.
Seu coração estava na garganta. Prendeu a respiração, esperando pelo momento perfeito.
Ele ergueu sua cota de malha. Os olhos de Janet foram para a protuberância massiva de carne, e ela estremeceu com nojo.
Ele viu sua reação.
— Aye, é impressionante, não é? — Ele abaixou os olhos e envolveu a mão ao redor de si mesmo, dando a isto um golpe duro.
Foi quando ela o atacou.
Deslizou a lâmina da bainha e mergulhou na sua perna.
Ele gritou de choque e dor. Seus olhos arregalaram e então as mãos dele rodearam seu pescoço, apertando…
Ela gritou até que ficou sem ar.
Ewen tomou o que o garoto disse a ele — que o padre viu por um momento a senhora na aldeia e enviou soldados para o castelo para prendê-la, mas a senhora foi embora antes dele poder pegá-la — e ser capaz de esconder sua trilha para o lugar em que os cavalos a perseguiram dentro da floresta.
Deixando o menino vigiar a estrada, ele e Sutherland seguiram a trilha pela floresta. Como estava escuro, ele não teve escolha a não ser usar uma tocha.
Ele foi para um lugar onde outro conjunto de rastros aparecia da estrada, e um frio úmido percorreu seu sangue. Alguns metros mais tarde seus temores foram confirmados: quem a seguiu conseguiu pegá-la. Ele mal tinha começado a seguir os rastros para onde o homem a arrastou, quando ouviu um som que parou seu coração: um grito de mulher.
Ele não hesitou. Mesmo depois que Sutherland deixou escapar um aviso para ter cuidado, ele mergulhou pelas árvores. O som foi perto. Tortuosamente perto. Rezou tanto quanto nunca rezou na sua vida. Por favor, deixe-me chegar ali a tempo. Não deixe ser tarde demais. Só mais alguns segundos…
Ele irrompeu na clareira com a espada erguida. Quando viu a pequena figura lutar para se levantar debaixo do corpo de um homem inclinado, tudo dentro dele pareceu parar subitamente.
Sua mão caiu.
— Janet?
Ela levantou o olhar e ele fez um som aflito. As emoções eram tão ferozes e intensas que cambaleou. Seu estômago se revoltou. Sentiu algo assim só uma vez antes, logo após sua primeira batalha, onde a visão de todo o sangue o deixou doente. Mas isso não era nada ante a visão da mulher que amava espancada e ensanguentada.
— Ewen? — Ela disse suavemente. — Você me achou.
Ela oscilou e ele se lançou adiante, pegando-a contra ele. O coração dele estava batendo tanto que ele nem pôde respirar. Embalou-a nele como um pássaro quebrado. O pensamento de quanto ele chegou perto de perdê-la deixou seus joelhos fracos.
— Oh, Deus, você está bem? O que aconteceu?
Ela enterrou a cabeça em seu tórax e se agarrou nele com força, segurando-o como um gatinho assustado. Mas um olhar para o corpo do homem aos seus pés disse a ele que seu gatinho tinha o coração de um leão. Ela foi espancada, mas não derrotada, e apesar das emoções apertando suas entranhas, ele sentiu seu peito inchar de orgulho.
Ele beijou a cabeça dela, saboreando a textura sedosa de seu cabelo e o cheiro de jacintos que o lembravam de casa. Ela era sua casa. Como ele pôde não saber disso?
— Está tudo bem agora. — Ele murmurou ternamente. — Estou com você. Tudo vai ficar bem. Prometo.
Sutherland surgiu atrás deles e praguejou, a luz da tocha possibilitando que ele visse seu rosto. Isso pareceu quebrar o transe que os envolveu.
Ela olhou para ele, seu rosto contundido e ensanguentado de repente intento.
— Vocês têm que pegá-los antes que alcancem o castelo.
— Quem? — Ele perguntou.
Antes que ela pudesse responder, o som de um assobio agudo perfurou a noite. Ele e Sutherland trocaram um olhar. Sutherland respondeu, e alguns momentos mais tarde eles tinham companhia.
Janet estava em estado de choque. Ainda podia sentir as mãos do homem apertando seu pescoço. Pensou que ele iria matá-la. Ele teria também, se sua lâmina não encontrasse o lugar perfeito. Antes que ele pudesse acabar com ela, desabou em cima dela, seu sangue ainda derramando de seu corpo.
Fora deste pesadelo, Ewen tinha aparecido como uma imagem de um sonho. Ela levou um momento para perceber que ele era real.
Ele a encontrou. Estava segurando-a e ela nunca queria soltá-lo.
Mas então se lembrou do padre. Eles tinham que encontrá-lo antes dele chegar ao castelo. A vida de sua informante estava em jogo.
Porém sua explicação foi interrompida pela chegada de mais três fantasmas de elmos. Sob circunstâncias normais ela poderia ter sentido um faiscar de apreensão, mesmo sabendo que eram amigos, mas Ewen a estava segurando.
— Nós ouvimos o grito. — Um dos homens disse a modo de explicação. Magnus, ela percebeu, reconhecendo sua voz.
Quando ela girou de sua posição apertada contra tórax do Ewen olhar para ele, o grande Highlander jurou.
Ela mordeu o lábio saboreando sangue, e percebeu que seu rosto devia parecer tão ruim quanto se sentia.
— O que aconteceu, moça? — Ele perguntou, sua voz mais gentil do que ela já ouviu.
Ela devia parecer realmente mal.
— Não tenho tempo para explicar. Tem um grupo de cinco soldados, um padre e outro homem voltando para o castelo. Vocês têm que pegá-los antes que eles cheguem. Eles têm uma missiva designada a Bruce. Uma nota que pode significar uma sentença de morte para alguém dentro do castelo.
Ela sentiu movimento de um dos homens ao lado de Magnus e instintivamente retrocedeu para a segurança do peito do Ewen. Até debaixo do elmo escurecido ele parecia mais cruel que o resto.
— Para trás, Viper. — Ewen disse por trás dela. — Que diabos há com você?
O guerreiro o ignorou, seus olhos fixos nela — os olhos mais estranhos que ela já vira.
— Quando eles partiram?
— Alguns minutos atrás. — Janet pensou bem. — Talvez cinco?
— Eu irei. — O homem que Ewen chamou de Viper disse.
Janet virou para Ewen.
— Você deve ir também. Tem que ter certeza que eles os encontrem e ninguém escape.
Ewen cerrou os dentes, parecendo tão maleável quanto uma parede de pedra.
— Não vou te deixar.
— Por favor. — Ela disse. — Você deve fazer isso por mim. Eu te imploro.
Os olhos dele buscaram os dela.
— Não me peça isto. Você está ferida. Jesus, Janet, você está coberta de sangue, e seu rosto… — Sua voz foi interrompida. O luar quase fez seus olhos parecerem brilhantes de lágrimas.
Ela se arrumou para dar um sorriso vacilante, porém isso doeu.
— Meu rosto vai curar e o sangue não é meu. — Pelo menos a maior parte não era. — Mas preciso achar Robert o mais cedo possível, e não posso fazer isso a menos que eu saiba que a pessoa dentro do castelo está a salvo.
— Viper vai cuidar disso. — Ewen disse. Mas ele deve ter lido alguma coisa no rosto dela. — Isto é importante para você?
Ela assentiu.
— O parlamento em Selkirk é uma armadilha. Os ingleses planejam romper a trégua.
Mais de um homem praguejou ao ouvir suas notícias.
— Você tem certeza? — Ewen perguntou. — O romper da paz em uma trégua está além inclusive do curso normal da deslealdade inglesa.
Ela acenou com a cabeça.
— Tenho certeza. A prova está naquela missiva.
O de aparência cruel com o nome apropriado de Viper interrompeu.
— Nós precisamos ir se esperarmos pegá-los antes deles chegarem. Não é longe do castelo.
Ainda assim, Ewen hesitou. Não queria deixá-la.
O coração dela apertou.
— Vai ficar tudo bem. — Ela disse suavemente. — Meu cunhado me manterá a salvo. Não é, Sir Kenneth?
O marido da Mary sorriu e avançou.
— Como eu faria com minha própria esposa, minha senhora.
Sir Kenneth estendeu a mão e Ewen relutantemente a liberou.
— Vou cobrar isso, Ice. — Ele disse ferozmente.
Ewen, Viper e um homem que ela reconheceu como MacLean começaram a se mover, mas Magnus os deteve.
— Bàs roimh Gèill. — A morte antes de se render, ela traduziu. — E Hunter. — Ewen virou para olhar para ele. — Volte depressa. Acho que tem uma coisa que você esqueceu de nos dizer.
A expressão de Ewen se tornou austera — Deus, como ela sentia falta disto! — E ele assentiu. Com um último olhar para ela que falava de coisas não ditas, os três homens montaram e partiram.
Egoisticamente, Janet quis chamá-lo de volta. Queria sua força ao redor dela. Queria enterrar sua cabeça no peito dele, enrolar em uma bola e deixá-lo fazer isso tudo ir embora.
Mas ambos tinham trabalho a fazer.
Quando isso estivesse acabado...
Pela primeira vez desde que o deixou aquela noite no estábulo, Janet teve esperança.
CAPÍTULO 25
Castelo de Dunstaffnage, Lorn, Highlands Escocesas
Véspera de Natal 1310
Janet se sentou no baú aos pés da cama. A criada tinha acabado de terminar de organizar seu cabelo em um anel de ouro quando ouviu uma batida na porta.
Mandou a pessoa entrar, e sua irmã gêmea, Mary, entrou no quarto. Seus olhos se encontraram. Mary balançou a cabeça em resposta à sua pergunta não dita e os ombros de Janet afundaram.
A estranha comunicação sem palavras que ela e sua irmã compartilharam quando crianças voltou horas após estarem juntas. Estar com sua irmã novamente…
Emoção inchou seu peito. Janet não percebeu quanta falta sentia de sua gêmea até Mary correr para dentro do quarto onde ela foi trazida na sua chegada para ser atendida por Lady Helen, Esposa de Magnus. Elas olharam uma para a outra e irromperam em lágrimas. Passou bastante tempo antes de Helen poder retomar seus cuidados no rosto, costelas e o osso quebrado no pulso de Janet.
Janet ainda não podia acreditar que sua irmã a perdoou. Realmente, se Mary fosse acreditar, ela nunca a culparia. Não percebeu quanto o perdão da sua irmã significava para ela. Sentiu como se um grande peso fosse levantado. Para surpresa de Janet, falar sobre o que aconteceu naquela noite — a explosão, as mortes de Cailin e dos membros do clã MacRuairi, o desaparecimento de Janet — fora estranhamente catártico. Ela choraria e lamentaria as mortes dessa noite pelo resto da sua vida, mas estava pronta para colocá-los para descansar.
Apesar de sua alegria em ver sua irmã, a balançada da cabeça da Mary fez seu peito apertar com desapontamento.
— Ainda não tem nenhum sinal dele?
Era menos uma pergunta que um apelo. Não muito depois de Janet interceptar o rei com sucesso apenas alguns quilômetros antes dele alcançar Selkirk, avisando-o da deslealdade que estava adiante, Viper — quem agora ela sabia era o nom de guerre para Lachlan MacRuairi — e Eoin MacLean os alcançaram. Sua missão foi um sucesso. Eles recuperaram a missiva para o rei e asseguraram a segurança de sua informante. Contudo, Ewen os deixou em Roxburgh rumo a um destino que ele não disse. Ele deu a eles uma mensagem para ela — que retornaria assim que possível, — mas depois de mais de uma semana Janet estava começando a perder a esperança.
Ela não entendia. Pensou que quando ele a encontrou na floresta, quando a segurou nos braços, quando olhou em seus olhos com tal emoção terna e pungente, que ele mudou de ideia. Que percebeu que gostava dela e tinha a intenção de lutar por eles.
Mas onde ele estava? Por que não veio até ela? Alguma coisa tinha acontecido?
Sabendo de sua perna e do quão perto ele chegou da morte a assombrava. Não podia acreditar que confundiu a febre dele com embriaguez e o deixou quando ele estava tão mal.
Mary balançou a cabeça novamente.
— Kenneth falou com o rei, mas ninguém sabe onde ele está. Nem mesmo Robert.
Janet fez uma cara e se encolheu, tendo esquecido seus ferimentos. Embora Helen tenha dito que ela curaria e nem se lembraria de sua provação além de algumas pequenas cicatrizes, os cortes e contusões ainda estavam sensíveis.
Mas Robert, o assunto que provocou sua reação, precisava ser lidado. Ela não tinha falado com ele desde que ela e os outros relataram as notícias da deslealdade inglesa. Ele ficou agradecido e furioso com o que aconteceu com ela, mas eles ainda discutiriam Ewen ou o futuro dela.
— Não posso acreditar que eles simplesmente o deixaram partir quando ele ainda estava se recuperando. — Disse Janet com as mãos se retorcendo nas saias. — E se ele está caído ali fora em algum lugar…
— Os homens disseram que ele estava bem. — Mary a assegurou. — E Bella não ficou muito contente com Lachlan também quando ela a descobriu. Mas Lachlan assinalou que não era uma “maldita babá” e Ewen insistiu.
— Ewen não disse a ninguém que o rei o chutou para fora da Guarda? — Ela perguntou.
Mary disse ao exército secreto do Bruce — ou os fantasmas, como ela os chamava — eram conhecidos como a Guarda das Highlands entre os homens. Embora Janet não tivesse conhecimento das identidades de todos os guerreiros, ela tinha suas suspeitas. Se o Rei Edward fosse esperto, ele começaria a olhar para cada homem das Highlands com mais de 1,80m de altura, constituído como uma pedra e com um rosto incomumente bonito.
— Não. — Mary respondeu, — mas assim que eles descobriram, os homens convenceram o rei a reconsiderar o assunto.
Sabendo o quanto Robert podia ser teimoso, Janet perguntou:
— Como eles fizeram isto?
Mary deu de ombros.
— Eu não sei, mas seja o que for, deve ter sido persuasivo.
— Isto é ridículo. — Janet jogou as mãos para cima e se levantou. Ela começou a ir para a porta.
Mary olhou para cima de onde estava sentada na beirada da cama.
— Onde você vai?
— Ver se Robert reconsidera corretamente.
Mesmo se Ewen não a quisesse, ele não perderia tudo por causa dela.
Os anos foram duros com Robert, o Bruce. Ele mudou muito do belo jovem cavaleiro que capturou o coração da irmã mais velha de Janet, Isabella. Ele ainda era bonito, mas parecia mais velho que seus trinta e seis anos. A guerra, a dificuldade que ele enfrentou depois da derrota catastrófica na Batalha de Methven, e sua destruição pouco depois, ficaram estampadas nas linhas profundas marcadas em seu rosto. Mas foi sua expressão o que mais mudou. O cavaleiro sociável, alegre e cavalheiresco se foi para sempre, substituído pelo sério rei guerreiro, formidável e endurecido pela batalha.
Sentada na frente dele em seu solário particular, os homens dele partindo a pedido dela, Janet sentiu uma pontada de apreensão inesperada. Ela podia pensar nele como Robert, mas o homem diante dela era inegavelmente um rei. Contudo, a preocupação nos escuros olhos que encontraram os dela lhe deu coragem.
— Você está se sentindo melhor? Helen atendeu a todas as suas necessidades? Eu disse a ela que você devia ter o que quisesse.
Ela pretendia segurá-lo nisto.
— Eu me sinto muito melhor, Alteza. Helen cuidou de mim como se eu fosse sua irmã. Mas tem uma coisa que eu pediria.
Ele sorriu, parecendo aliviado.
— O que você pedir é seu. Estou em dívida com você, Janet. Sei o que passou para trazer esta mensagem para mim, e ouvi como você protegeu nossa informante no castelo saltando na frente do homem no beco.
Seus olhos se encontraram e Janet pôde ver como ele estava mesmo agradecido. A informante era importante para ele e foi por isso que ele confiou nela em primeiro lugar. Mas se perguntou como ele ouviu as particularidades do que aconteceu em Berwick. Alguém deve ter falado com sua informante.
— Ainda não posso acreditar que os ingleses planejaram deslealdade em uma negociação de paz. — Ele continuou. — Tanto Gloucester quanto Cornwall me deram a sua palavra. Eu esperaria isto de Gaveston, mas não de um filho de Monthermer.
O Conde de Cornwall, Piers Gaveston, era o favorito de Edward. O Conde de Gloucester, Gilbert de Clare, era um forte partidário do rei, mas também era o enteado de um velho amigo de Robert, Ralph de Monthermer.
— Mas depois de Methven, eu não deveria mais ficar surpreso. — O rosto do Robert escureceu, dando a Janet um vislumbre de sua raiva e ira. — Pelo que eu li nessa missiva, eles poderiam ter sido bem-sucedidos. Planejaram nos cercar com uma guarnição inteira de Roxburgh enquanto dormíamos. — Ele fez uma pausa por um momento, recobrando-se antes de olhar de volta para ela. — O que você quer, Janet? Se estiver em meu poder, será seu.
Janet prendeu seu olhar e não hesitou.
— Eu quero Ewen.
Os olhos do Robert faiscaram.
— Não torça minhas palavras contra mim desta vez, Janet. Eu já dei minha resposta a Lamont quando ele veio a mim com o “pedido” dele.
Janet não deixou sua raiva a intimidar.
— Estou pedindo para você reconsiderar tendo em vista os eventos recentes. Nunca te pedi nada antes, Robert, mas estou pedindo agora.
Ele se sentou para trás em sua cadeira tipo trono, considerando-a com olhos atentos e duros.
— Pelo que exatamente você está pedindo?
— Não quero que Ewen seja punido pelo que aconteceu. Devolva suas terras, dê a ele seu lugar de volta na Guarda, e… — suas bochechas esquentaram.
— E? — Robert perguntou.
— E se ele ainda desejar se casar comigo, dê-nos sua permissão.
— Você não teria que me pedir isto?
Janet balançou a cabeça.
— Eu não o forçaria a um casamento sem seu consentimento, pois não gostaria de ser forçada.
O rei franziu o cenho, não tendo perdido sua reprovação corajosa.
— Ele tomou sua inocência. Não vou recompensá-lo por isto.
— Você não me conhece nem um pouco se pensa que ele tomou qualquer coisa que eu não desse de boa vontade.
— Ele se aproveitou de sua inocência. — Robert disse desconfortavelmente, obviamente ele não achava agradável o tema de tais assuntos íntimos com uma mulher que era como uma irmã para ele.
— Não sou uma menina, Robert. Sou uma mulher de vinte e sete anos que esteve esperando sua vida inteira por isto, por ele. Eu o amo.
— Amor não é razão para casamento. Ele não tem terra para oferecer, ou títulos ou fortuna.
— Então você pode dar mais a ele. — Disse Janet. — Se o que eu fiz não merece uma recompensa, então que tal o que ele fez? — Ela o deixou considerar aquilo por um momento. — Quanto ao amor, e seus casamentos, Robert? Certamente um sujeito não pode olhar mais alto que seu rei por direção?
A expressão do Robert não deu a menor pista que suas palavras penetraram, mas ela sabia que tinham. Era bem conhecido que Robert se casou com ambas as esposas por amor.
Um momento mais tarde ele balançou a cabeça, dando-lhe aquele seu olhar exasperado que ela se recordava do tempo que ela passou vivendo com ele e Isabella.
— Você devia ter sido um oficial da lei, Janet. Que pena que você não nasceu um homem, eu poderia te usar em meu conselho particular.
Janet sorriu, recordando palavras semelhantes de Ewen quando ela o conheceu. Também se lembrou de outra coisa. Lamont, oficial da lei.
— Talvez eu deva ser, Alteza.
As sobrancelhas dele franziram de forma pensativa. O cerne de outra ideia tinha acabado de criar raiz quando foram interrompidos por uma batida com força na porta. Logo depois, o feroz chefe a Oeste das Highlands que raramente deixava o lado de Robert, entrou na sala.
Imponente. Formidável. Intimidante. Autoritário. Assustador. Nada disso chegava perto de descrever Tor MacLeod. O líder da Guarda das Highlands parecia mais um nobre que um soldado, mesmo na presença de alguém tão majestoso quanto Robert, o Bruce.
— Imagino que se você está interrompendo, é algo importante. — Robert inquiriu.
— Aye. — Disse Tor. — Tem alguém aqui para ver você.
— Diga a ele para esperar.
Tor olhou para ela, um meio sorriso virando sua boca.
— Acho que você vai querer vê-lo.
Ele colocou a cabeça para fora da porta e acenou para alguém. Janet ofegou, seu coração saltando para a garganta quando Ewen entrou a passos largos pela porta.
— Você voltou! — Ela gritou, e teria corrido para os seus braços se não notasse o homem que surgiu atrás dele.
Seu coração, que saltou apenas um instante atrás, caiu no chão. Ela congelou, sua boca aberta em choque.
Apesar dele parecer consideravelmente mais velho que da última vez que o viu, Janet não teve dificuldade em reconhecer o desengonçado novo Stewart da Escócia, Walter Stewart.
Seu olhar disparou para Ewen em mudo horror, buscando reafirmação. Por que ele o trouxe aqui?
Ewen queria ir para Janet no momento em que entrou na sala, mas estava muito ciente do homem acomodado na cadeira tipo trono atrás da mesa. Ewen tinha feito tudo errado com o rei antes, tinha que fazer isto de forma correta desta vez.
O alívio em vê-la tão curada o atingiu com um golpe poderoso no peito. Disse a si mesmo repetidamente que Helen cuidaria dela, que ela estava em excelentes mãos, mas ela não estava em suas mãos, e não foi até que a viu cara a cara que pôde começar a relaxar.
Ele fez um inventário de seus ferimentos: a faixa envolvendo seu pulso, as volumosas bandagens ao redor de suas costelas por baixo do vestido e a pequena linha de pontos em sua bochecha. O inchaço em sua mandíbula e nariz diminuiu, deixando os remanescentes amarelados, pretos e azuis dos hematomas. As duas meias-luas pretas debaixo de seus olhos sugeriam que seu nariz foi quebrado, embora parecesse estar tão reto quanto antes.
Os olhos dela encontraram os seus, e o olhar de incerteza lançou suas boas intenções no inferno. Pro inferno com Bruce! Ele foi e estendeu sua mão. Ela deslizou sua minúscula palma na dele como se seu lugar fosse ali — o qual era — e a ajudou a se levantar.
Não liberou sua mão, mantendo-a envolvida pela dele. Com a outra ele inclinou sua cabeça para trás para examinar melhor seu rosto, virando-o para uma direção depois para outra.
— Está tudo bem com você?
Ela assentiu e ele se permitiu mais um terno varrer de seu polegar ao longo do contorno contundido de seu queixo antes de soltá-la, e virou para enfrentar seu rei. Não confiou em si mesmo para não a beijar, e pelo modo que o rei estava olhando para ele agora, já estava perto de sair daqui em correntes.
— Pensei que te ordenei que retornasse para o dia de St. Drostan com os outros. — Disse Bruce, olhando para ele furiosamente.
Ewen decidiu não assinalar que ele realmente ordenou que saísse de suas vistas.
— Tinha uma coisa importante que eu precisava cuidar.
O olhar do Bruce foi rapidamente para Walter antes de voltar para ele.
— Você parece estar tendo dificuldade em seguir todos os tipos de ordens ultimamente.
Ewen não discordou.
O rei segurou seu olhar por um longo tempo e então virou para Walter.
— Presumo que tenha uma razão para trazê-lo aqui.
— Ele tem, Alteza. — Walter disse, avançando com uma reverência. — Lamont veio a mim com um pedido bastante inesperado. Pediu para se casar com minha noiva.
Ele ouviu a inalada aguda de Janet e sentiu seus olhos nele, mas ele estava observando Bruce. O rei se recostou em sua cadeira, sua expressão não revelando nada.
— Ele fez, não é? Ele mencionou que recusei um pedido semelhante?
— Aye. — Walter disse. — Ele mencionou sim.
— E o que você disse a ele? — Bruce perguntou.
O olhar de Walter foi para Janet se desculpando antes de responder.
— Eu disse a ele que daria meu apoio e romperia o noivado se este fosse o desejo da dama também.
— É! — Janet teria corrido adiante para assegurá-lo, mas Bruce a fez recuar com um erguer de sua mão.
Ewen disse uma prece em silêncio de agradecimento. Até aquele momento não esteve cem por cento certo que ele não tinha discutido por nada com Walter Stewart (que apesar de sua jovem idade provou um oponente formidável) durante os dias passados. Ewen teve sorte de sair do Castelo de Rothesay sem ter que prometer a ele seu primogênito.
— Assumo que ele disse tudo a você. — Bruce inquiriu.
Stewart, que estava obviamente muito ciente da presença de Janet, enrubesceu.
— Disse.
O rei não disse nada por um minuto, mas então virou para Janet.
— MacLeod vai levá-la de volta para seu quarto. Lady Anna preparou um banquete esta noite da véspera de Natal. Nós falaremos mais tarde.
Janet começou a protestar.
— Mas...
Ewen a cortou, tomando suas mãos nas dele e dando a elas um gentil aperto.
— Vá agora. Encontrarei você. — Eu sempre vou te encontrar, disse a ela silenciosamente. — Lembra?
Ela acenou com a cabeça.
— Confie em mim. — Ele disse suavemente, prendendo seu olhar. — Não vou te desapontar. — Nunca mais.
Ela torceu seu nariz maltratado.
— Nem sempre serei assim obediente.
Ele sorriu.
— Tremo só de pensar nisso.
Ele trouxe uma de suas mãos até sua boca para um beijo antes de finalmente soltá-la, pelo que ele jurou seria a última vez.
Ela marchou bastante ofendida em direção à porta. Olhando de volta por cima do ombro, deu suas palavras de despedida para Bruce.
— Lembre-se de sua promessa, Robert.
— Não fiz nenhuma promessa. — O rei protestou.
— Aye, mas sei que você estava prestes a fazer. — Ela deu a ele um sorriso alegre, estremecendo quando pareceu causar dor nela.
Tanto Ewen quanto o rei foram em direção a ela com preocupação.
— Você está bem? — Eles perguntaram ao mesmo tempo.
O sorriso de Janet aprofundou.
— Vou ficar.
A pequena descarada! Aquele estremecimento foi uma lembrança. E ele não foi o único a perceber. Ewen suspeitava que por um longo tempo ele testaria usando um olhar exasperado e ligeiramente derrotado como o que estava no rosto do rei. Felizmente.
CAPÍTULO 26
Janet esperou tempo suficiente. Ewen deixou o solar do rei cerca de uma hora atrás. Lady Anna Campbell, a esposa de Arthur Campbell, quem era o guardião de Dunstaffnage para o rei (e também, se seu rosto bonito e físico musculoso fosse qualquer indicação, um dos homens da guarda), foi gentil suficiente para informá-la disto, como também onde Janet poderia encontrá-lo.
Ela tomou isto como um bom sinal que ele recebeu uma câmara no castelo, em vez de debaixo dele nas masmorras. Então por que não veio ao seu encontro?
O castelo estava zumbindo com excitação pela celebração da noite. Janet passou por vários servos desde sua câmara no terceiro andar descendo a caminho dos aposentos de Ewen no primeiro. Contudo, ela franziu o cenho quando notou uma jovem serva — e bastante bonita — indo em direção à mesma porta que ela com um enorme balde de água nas mãos.
A garota estava prestes a abrir a porta quando Janet a parou.
— Eu levo isto.
A serva pareceu horrorizada. Ela balançou a cabeça.
— Não seria certo, minha senhora. O lorde está… — suas bochechas esquentaram — se banhando.
— Ele está agora? — Janet esperava que não soasse tão rabugenta quanto se sentia.
A garota assentiu.
— Lady Helen insiste que ele ponha sua perna de molho pelo menos uma vez por dia. — Janet sentiu uma pontada de culpa por seu ciúme, mas esse ciúme foi instantaneamente reavivado quando a garota acrescentou: — Estou indo ajudar com seja o que for que ele precise enquanto Lady Helen atende o pequeno William.
Janet conheceu seu adorável sobrinho alguns dias atrás. A criança era danadinha, mal tendo começado a engatinhar.
— Tem algo errado?
— O pequenino bateu a cabeça no poste da cama, mas Lady Helen diz que ficará bom. Não tem nem um hematoma.
Janet acenou com a cabeça sem esconder seu alívio.
— Vou levar o balde para o lorde. Nós estamos para nos casar. — Pelo menos esperava que estivessem. — Mas se não se importa, tem algo que eu gostaria que você fizesse primeiro.
Quando Ewen respondeu a batida na porta, foi a jovem serva quem respondeu.
— Sua água, meu senhor. — Mas foi Janet quem entrou no quarto. Ela fechou a porta atrás dela e caminhou em direção ao homem espalhado nu na tina com suas costas na direção dela. Ela estava irritada o suficiente para olhar para ele sem vergonha, assistindo cada centímetro de pele dura e bronzeada.
— Devo lavar suas costas, meu senhor? — Ela disse em uma voz suave e cantante, completamente diferentemente da sua.
— Se você quiser — ele disse indiferente.
O safado! Ele devia se lavar! Foi com bastante satisfação que Janet esvaziou o balde inteiro de água na cabeça dele. Água fria, ela teve tempo de notar.
— Que diabos! — Ele saltou para fora da tina e virou para ela em choque e raiva. Vendo quem que era, a raiva sumiu. Ele franziu a testa. — Que diabos está fazendo aqui, Janet?
Ela apertou a boca, cruzou os braços e percorreu aquele corpo incrível lentamente, ligeiramente apaziguada quando uma parte bem grande dele começou a engrossar e levantar sob seu olhar firme.
Ele praguejou, agarrou um pano para se secar que estava na cama e o envolveu ao redor da cintura.
Mas se pensava em se cobrir, ele calculou mal. O linho úmido grudou em cada músculo e moldou cada centímetro desse negócio grosso. Meu Deus, estava agradavelmente quente e abafado aqui dentro.
— Pare de olhar para mim assim, maldição.
Seus olhos encontraram os dele.
— Prefere que eu chame a serva de volta?
Levou um momento, mas a ficha finalmente caiu. Ele sorriu. Amplamente. Pareceu tão bonito que fez seu peito apertar.
— Você está com ciúme.
Ela não negou.
— Você mesmo pode se lavar de agora em diante.
Ele sorriu, cruzando seus braços, provavelmente para distraí-la. Funcionou. Ela respirou fundo ante a impressionante exibição de músculos protuberantes. Santo Deus, ela tinha nova apreciação para a guerra!
— E se eu precisar de ajuda?
— Eu te ajudarei — ela disse entredentes, sabendo que estava sendo ridícula.
— Acho que gostaria de ver isto. Obediente e servil em um único dia. Ainda farei de você uma esposa adequada.
Os olhos dela foram para os seus. O ciúme, a brincadeira, a admiração dos músculos, tudo sumiu. Só uma coisa importava. Nada nunca importou mais.
— O rei concordou?
— Aye — ele disse roucamente. Em seu olhar ela pôde ver toda a emoção enchendo seu coração. — Mas ele tinha uma condição.
Janet de repente ficou cautelosa.
— Que tipo de condição?
— Eu devo ter seu consentimento.
Lágrimas encheram seus olhos quando ele caiu de joelho aos seus pés. Ele tomou sua mão e olhou dentro dos seus olhos.
— Eu sinto muito por mentir para você. Eu devia ter te contado a verdade. Sinto muito por não a segurar em meus braços depois que fizemos amor e dizer a você o quanto te amava. Sinto muito por não ter coragem suficiente por lutar por nós, por não fazer o que fosse preciso para te fazer minha esposa. Pensei que eu tinha perdido tudo, mas nada disso importava sem você. Eu sei que não posso mudar as coisas ou devolver isto para você, mas prometo que vou tentar pelo resto da minha vida se você concordar em ser minha esposa.
Janet ficou ali de pé em atordoado silêncio. Seus papéis pelo que parecia, foram invertidos. O homem que sempre disse a coisa errada se expressou graciosamente, e a mulher que sempre soube o que dizer parecia que não podia encontrar sua língua.
Ele começou a ficar um pouco preocupado olhando para ela com incerteza.
— Janet?
Tinha uma coisa que ela tinha que saber.
— E se eu desejar continuar meu trabalho?
Ele fez uma pausa.
— Você ainda faria mesmo depois do que aconteceu?
— E se eu fizesse?
— Eu tentaria conversar com você para sair disto. O padre pode estar morto, mas existem outros que eventualmente vão juntar as coisas como ele fez.
— E se não pudesse me convencer?
Ele parecia como se preferisse estar comendo unha.
— Eu deferiria, mas de má vontade, para seu julgamento. E provavelmente eu ficaria tão desagradável quanto MacKay quando Helen insiste em nos acompanhar.
Um sorriso largo se espalhou pelas feições dela. Se ela algum dia precisou de prova do seu amor, ela acabou de ouvir.
— Você, desagradável? Isso é inacreditável.
Ele deu um tapa na bunda dela e ela riu.
Mas então ela ficou séria.
— Eu gostaria de continuar a ajudar Robert, mas acho meus dias como mensageira estão terminados. Você estava certo, eu era confiante demais em minhas habilidades e talvez — ela concedeu — até um pouco ingênua sobre o que podia acontecer. Eu devia ter exercitado mais discrição. Depois de duas situações apertadas, acho que abusei das minhas boas-vindas nas fronteiras, sem falar que fiquei sem identidades.
— Duas situações apertadas? — Ele explodiu.
Ops.
— Será que esqueci de mencionar como vim a trabalhar em uma rouparia?
— Aye, eu diria que você esqueceu.
Janet deu uma rápida explanada, ignorando sua expressão se fechando quando ela mencionou o escudeiro e o cavaleiro, e concluiu com como foi forçada a partir sem dizer adeus para os Hendes.
— Você acha que pode haver um modo de conseguir falar com eles e ver que estão seguros?
— Considere isto feito — ele disse.
— Obrigada — ela disse, não percebendo o quanto esteve pesando nela.
— Não vou dizer que não estou contente que você não vai insistir em usar seu hábito novamente.
Janet sorriu.
— Eu não esperaria isso de você. Além disso, seria bastante inapropriado dadas as circunstâncias.
— Que circunstâncias?
Não estava pronta para dizer a ele ainda. Mas isso tinha sido seu copo de graça se Robert se provasse sem ser razoável.
— Porém não pense que eu acabei. Tenho outro plano em mente.
Ele gemeu.
— Não quero nem perguntar.
— Não se preocupe, não é nada muito ultrajante.
Ele fez um rosto aflito.
— Que alívio — ele disse secamente. — Janet, a menos que você tenha falhado em notar, ainda estou de joelhos. — Ele estremeceu desconfortavelmente.
Os olhos dela saltaram para sua perna.
— Oh Deus, esqueci da sua perna. — Ela o arrastou de pé. — Isso dói horrivelmente? Sinto tanto por deixar você assim, não percebi que você estava doente na noite que eu parti. Pensei que estava bêbado.
Ele alisou o cabelo dela para trás longe do seu rosto.
— Eu raramente me permito abusar do álcool.
Ela olhou para ele.
— Por causa de seu pai?
Ele assentiu.
— Eu devia saber.
Ele balançou a cabeça.
— Eu não quis que você soubesse. Inferno, nem eu mesmo percebi o quanto estava mal.
— Graças a Deus por Helen — ela disse.
Ele retornou o sentimento e cavou seu queixo, erguendo seu olhar para o dele.
— Você não respondeu minha pergunta.
Ela sorriu.
— Sim… Sim!
— Graças a Deus — ele gemeu, puxando-a em seus braços. O beijo terno era para selar a promessa de seu futuro, porém rapidamente se transformou em alguma outra coisa. Algo quente e exigente. Ela embrulhou os braços ao redor do seu pescoço, atraindo-o para mais perto, encostando seu corpo no dele.
O golpe morno da língua dele em sua boca a fez se arrepiar. O calor suavizou seus ossos, espalhando sobre ela em ondas derretidas pesadas. Deus, ela adorava beijá-lo.
Os círculos de sua língua ficaram mais profundos e mais quentes, mais rápido e mais carnal. Seu corpo ficou mais duro, rígido com a força do seu desejo.
Ela gemeu, e ele afastou.
— Ah inferno. Eu te machuquei? — Seu dedo deslizou acima do corte em sua bochecha e nas contusões em seu queixo.
Ela balançou a cabeça.
— Eu queria que você não o tivesse matado — ele disse. Ela olhou para ele com surpresa. Mas o rosto dele estava tão feroz como ela jamais viu. — Eu teria feito isto muito mais doloroso para ele por te machucar desse jeito.
Ela se levantou na ponta dos pés e pressionou um beijo nos lábios dele.
— Está no passado. E agora estou mais preocupada com o futuro, nosso futuro.
Não tão distraidamente, ela deixou sua mão cair entre eles, desenhando pequenos círculos no estômago dele com a ponta do dedo. Sua pele era tão morna e lisa, e quanto mais perto ela dançava para o vulto proeminente debaixo do pano, mais escuros seus olhos ficavam e mais duro as faixas de músculo cruzando seu estômago apertavam.
Ele teria agarrado seu pulso para detê-la, mas ela foi esperta o bastante para usar a mão ferida.
— Janet… — ele a advertiu roucamente. — Continue me tocando assim e eu posso esquecer minhas intenções honradas e seus ferimentos.
Ela sorriu e levantou a cabeça para olhar dentro de seus olhos.
— Bom. Estou bem, realmente estou. Por favor, eu quero isto. Quero você.
Justo para que não houvesse nenhum argumento, ela deixou sua mão cair um pouco mais baixo, esfregando seu pulso acima da ponta engorgitada.
Ele prendeu a respiração.
— Jesus, Janet, você não luta justo.
Um sorriso mal curvou sua boca.
— Você pode ser gentil, não pode?
Ele a puxou para cima e a levou para cama.
— Com toda certeza espero que sim.
Com seu pulso ferido, ela precisava de ajuda para tirar suas roupas — um dever que ele estava mais do que feliz em ajudar.
— Pensei que você não fosse uma “maldita donzela”— ela o provocou enquanto ele desabotoava sua túnica, lembrando a ele de um pedido semelhante que ela fez na cabana de pescador não muito tempo atrás.
Ele deu uma risada aguda.
— Acho que mudei de ideia. Se você pretende me ajudar com meus banhos, o mínimo que posso fazer é te ajudar com suas roupas.
— Seu esclarecimento na paridade do casamento é verdadeiramente incrível — ela disse secamente.
Ele riu.
— Sem mencionar interesseiro.
Quando o último artigo de vestuário foi removido, ele voltou a ficar de pé e olhou para ela por tanto tempo que ela começou a tentar se cobrir com as mãos. Mas ele suavemente as puxou para longe.
— Não faça isso — ele disse, sua voz áspera com emoção. — Você é tão bonita. — Ele começou a correr seus dedos por sua pele nua. — Quero tocar cada centímetro sua.
Parecia como se ele tivesse acabado de fazer isso. A respiração de Janet já estava vindo rápida quando ele finalmente se inclinou e deslizou um mamilo rígido em sua boca, arrastando-o suavemente e circulando-o com a língua. O cabelo escuro e sedoso dele caía para o lado, escovando em sua pele nua. Ela deslizou seus dedos através do cabelo dele, prendendo-o a ela. Ele segurou seu peito em forma de xícara com a palma, apertando e manipulando entre suas mãos enquanto a tomava cada vez mais fundo em sua boca.
Esquecendo tudo sobre suas costelas feridas, ela começou a arquear as costas, gemendo enquanto as sensações começavam a se construir.
Ele ergueu a cabeça.
— Você está tornando difícil ir lento.
— E de quem é a culpa?
Ele sorriu, e isso capturou seu coração.
— Eu amo ver você sorrir — ela disse suavemente. — Você não faz isso o bastante.
— Não tive muita razão para sorrir. Mas suspeito que isso vai mudar.
Ela sabia que iria, especialmente quando ele aprendesse...
Ele inclinou e a beijou, e o que ela estava prestes a dizer a ele ficou perdido na névoa sensual que a atingiu com toda a sutileza de uma onda relacionada a maré.
Seu calor, seu cheiro, a sensação de sua pele esfregando na dela a tomou, suprimindo tudo exceto as sensações poderosas se construindo por dentro.
Ele segurou seu tórax acima dela, cuidando para não apertar suas costelas feridas, mas ela o puxou para baixo, querendo sentir o contato. O calor de seu tórax nu e o peso sólido de seu corpo em cima dela.
Ele removeu o pano em volta de sua cintura e ela pôde sentir o comprimento igualmente sólido de sua ereção quente e pulsando contra sua barriga. Ela pressionou e circulou os quadris, tentando fazer com que ele chegasse mais perto.
Ele gemeu, aprofundando o beijo e os golpes longos de sua língua até que ela não podia suportar mais. Ela o queria dentro dela. Queria senti-lo a enchendo.
O coração dela estava martelando, sua respiração estava acelerando e o lugar entre suas pernas estava tremendo com necessidade.
— Por favor — ela gemeu.
Erguendo a cabeça, ele examinou seus olhos. Ela podia senti-lo se posicionando entre suas pernas.
— Diga se doer — ele disse firmemente, seus músculos apertados com restrição.
Ele pressionou dentro dela. Lento e gentil. Avançando. Esticando. Enchendo-a. Ela ofegou. Gemeu. Abriu ao redor dele.
Não doía. Não doía nem um pouco. Parecia incrível. Ela se sentiu cheia. Possuída. Amada.
Os olhos dele eram escuros e quentes.
— Você é tão gostosa.
— Você também — ela disse rouca.
— Eu amo você, mo chroí.
Ela sorriu, lágrimas de felicidade enchendo seus olhos.
— E eu amo você.
Lentamente, o corpo dele começou a mover dentro dela em golpes longos e suaves. Era avassalador, a coisa mais bonita que ela já experimentou. Ele reivindicava seu corpo mesmo quando seus olhos reivindicavam seu coração. O prazer era tão intenso quanto antes, mas mais profundo. Não era simplesmente o compartilhar de dois corpos, mas o compartilhar de duas almas. Ele fez amor com ela. Cada parte dela. Lentamente, suave e completamente. Ele era uma parte dela, e ela nunca o deixaria ir.
Finalmente, ela não podia tomar mais. Seus gemidos suaves ficaram mais urgentes. Ele ouviu seu mudo apelo e respondeu. Seus golpes começaram a prolongar. Afundar. Acelerar. Ficar mais duros. Ela podia sentir o corpo dele ficar tenso debaixo das pontas dos seus dedos até quando ela começou a se fragmentar. Ela tinha que se fragmentar. Não havia nenhum outro lugar para ir.
Ela gritou, o prazer quebrando acima dela em uma lenta e pulsante onda.
— Oh, Deus — ele gemeu, deixando-se ir. Ele gozou dentro dela num fluxo quente que se moldou com o dela. Pareceu continuar para sempre. Os espasmos reverberavam por cada centímetro dela, não deixando ir.
Isso foi justo como antes, exceto que desta vez, quando ele finalmente acabou, ele rolou para o lado, puxando-a contra ele e a segurou como se nunca a deixasse ir embora.
Foi muito tempo mais tarde quando Ewen achou a energia e as palavras para falar. Estava humilhado e um pouco aterrorizado pelo que tinha acabado de acontecer. Ele nunca soube que podia ser assim. Nunca se sentiu tão próximo de ninguém em sua vida. Ele tinha se deitado com muitas mulheres, mas só fez amor com uma: a mulher que seria sua esposa. Ainda não podia acreditar nisto.
Como se lendo sua mente, ela perguntou:
— Como você conseguiu que Robert concordasse?
Ela estava aconchegada contra ele com sua bochecha no peito dele, brincando com os cabelos escuros espalhados em um V em seu pescoço, mas para fazer sua pergunta, ela escorou o queixo nas costas de sua mão para olhar para ele.
— Você já tinha feito a maior parte do trabalho — ele disse, correndo os dedos sobre a pele nua de seu braço. — E meus irmãos também.
Ewen ainda não podia acreditar que eles recusaram continuar qualquer missão a menos que ele estivesse de volta. MacLeod lembrou a Bruce que ele deu a ele plena autoridade sobre a equipe. A Guarda das Highlands lutava por Bruce, mas eram homens de MacLeod.
— Como conseguiu que Walter viesse para Dunstaffnage te ajudar a pleitear seu caso?
— Não foi fácil. Mas eu o fiz ver que eu era mais valioso como seu homem do que não. Também posso ter dado ele a ideia de uma noiva alternativa.
Walter Stewart pode ser jovem, mas era tão ambicioso quanto seu parente James Douglas — e seu parente Robert, o Bruce, no que diz respeito a esse assunto.
Ela ergueu uma sobrancelha, intrigada.
— Uma mais impressionante que uma filha de Mar?
Ele riu de sua afronta. Mas neste caso, sim.
— Pensei que você quisesse cair fora do noivado, então achei que seria melhor não discutir suas partes boas — ele apertou a bunda dela — que são muitas.
Ela fez uma cara feia e então arruinou o efeito rindo.
Ele beijou sua cabeça e então a atraiu mais perto.
— O que você disse para o rei? — Ele perguntou.
Ela deu de ombros.
— Eu só o lembrei de tudo que nós fizemos a seu serviço.
— E?
— E o lembrei de seus próprios casamentos.
— Que é?
Ela deu de ombros novamente.
— Foi suficiente. Mas vim bem preparada para pleitear meu caso e estava confiante que ele enxergaria. Entretanto não fui forçada a usar isto, tive um argumento que asseguraria que ele veria as coisas do meu modo.
Ele olhou para ela ceticamente.
— Pensei que você acabou com essa história de ser confiante demais. O rei estava tão bravo como nunca vi.
— Ah, mas um bom oficial da lei sempre guarda o melhor argumento por último.
— E que argumento é?
Os olhos dela encontraram os seus e ele sentiu algo dentro dele mudar mesmo antes dela falar. Ela pôs a mão sobre seu estômago.
— Meu período está atrasado.
Ele ficou imóvel. Seu corpo sentiu a importância de suas palavras, mas sua mente levou um momento para captar.
— Um bebê?
Ela acenou com a cabeça, lágrimas brilhando em seus olhos.
— Acho que sim. Está… está tudo bem?
Jesus, como ela podia perguntar algo assim? Uma onda quente de emoção abateu sobre ele. Apertou seu peito e garganta. Ele não soube o que dizer. Nunca soube. Mas a diferença com Janet era que isso não importava. Ela o entendia de qualquer maneira.
Mas por via das dúvidas, ele disse a ela novamente. Desta vez com seu corpo.
Isso era melhor que tudo bem. Era tudo. Ela tinha dado tudo a ele. O caçador encontrou o que ele nem sabia que estava procurando, e ele nunca a deixaria ir embora novamente.
Epílogo
Ardlamont, Cowal, Escócia, dezembro de 1315.
Janet estava indo ter uma boa conversa com aquele diabinho de olhos azuis.
— James! James Fynlay Lamont, venha aqui agora mesmo! — Ela correu quarto por quarto, vindo a parar quando entrou no berçário e viu seu marido. Ele estava de pé a uns poucos passos longe dela com dois pacotinhos enfiados debaixo de seus braços e duas pernas magras espiando por trás dele.
Mesmo depois de cinco anos de casamento, seu coração ainda engatava ao vê-lo, como se parte dela ainda não pudesse acreditar que ele podia ser seu. Porém, apesar de seus sentimentos, ela aprendeu muito tempo atrás a não o deixar a distrair. Ela dobrou os braços por cima do peito e olhou fixamente para ele.
— Não adianta tentar escondê-lo. Eu posso ver você, James.
A cabecinha loira espiou por trás das pernas do Ewen. Ela não comprou o olhar inocente em seu rosto nem por um momento.
— Entrega, Jamie.
— Entregar o que, mãe?
— A carta que você tirou da minha escrivaninha. — Ela se curvou até o nível do garotinho, tentando manter a expressão dura em face de um lábio inferior muito trêmulo. — É uma carta muito importante, Jamie. Eu preciso devolvê-la para o rei.
Ele fez uma carinha, alcançou dentro de sua bota e puxou o pedaço de pergaminho agora amassado.
— Eu não me importo com esse estúpido rei velho. Não quero que você trabalhe mais hoje. Quero que você venha brincar comigo.
O teimoso e desconsolado olhar em seu rosto que se assemelhava muito a seu pai, ela teve que levantar o olhar para Ewen. Ele só deu de ombros.
— Não olhe para mim.
Janet suspirou e puxou seu filho de quatro anos de idade para seu colo. Algum dia isso ficaria mais fácil? Ela tentou equilibrar o trabalho que fazia para o rei como sua “conselheira” e de fato, se não exatamente publicamente reconhecida oficial da lei, mas tinha dias — como o de hoje — quando inevitavelmente essa balança inclinava.
Agora que a guerra tinha sido ganha com a Inglaterra, Robert estava ansioso para ter a Escócia aceita como um reino independente, e ela caiu dentro do trabalho preparando seus argumentos para as cartas cuidadosamente escritas que seriam enviadas para o rei francês e o papa, para quem eles também fossem simpáticos a ter erguida a excomunhão que foi colocada em Robert desde que ele apunhalou John Comyn — O Vermelho — na Igreja de Greyfriar quatro anos atrás. O latim que ela uma vez se desesperou tinha caído bem.
— Você não ia jogar bola lá fora com papai hoje? — Ela disse suavemente, acariciando sua cabeça.
— Nós fomos. Mas aí elas entraram no caminho. Elas sempre entram no caminho.
Janet tentou não sorrir e olhou para as meninas de dois anos de idade se retorcendo debaixo dos braços do seu pai. Diferente de Jamie, elas tinham o cabelo escuro como do Ewen.
— O que elas fizeram desta vez? — Ela perguntou a seu filho.
— Mary lançou a bola no lago e então Issy começou a chorar. Odeio quando ela chora.
Eu também, Janet pensou, e ela faz um monte terrível disto. Ela olhou para Ewen por ajuda.
— Estou tentando — ele disse. — Mas como pode ver, tenho minhas mãos cheias. Ele escapou de mim.
— Eu pareço me recordar de alguém me dizendo que isto seria fácil.
— Eu estava esperando uma, não duas — ele disse. — Acho que é hora de voltar para a guerra.
— A guerra está terminada.
— Não me lembre — ele disse com um revirar exagerado dos olhos. — Acho que ouvi Stewart me chamando.
— Walter pode esperar — Janet disse. — Além disso, ele tem uma nova noiva para pensar. — Ela ainda não podia acreditar que a nobre cuja mão o atraiu era sua sobrinha Marjory Bruce — filha de Robert e Isabella. Marjory foi mantida na Inglaterra por quase oito anos, mas foi liberada no ano passado depois da Batalha de Bannockburn. — Seja o que for que um homem semeia, ele também colherá — ela lembrou a seu marido.
Ele sorriu maldosamente.
— O semear foi divertido, é só o colher que não estou tão certo. — Ele desmentiu suas palavras, conferindo e beijando os dois pequenos querubins em seus braços até que elas ficaram selvagens com risadas.
— Nós estávamos indo encontrar você — Ewen disse quando as meninas finalmente desmoronaram na cama com exaustão. — Se tiver um minuto, tem algo que quero mostrar a você.
Ela olhou para ele. Depois de quase cinco anos de casamento, estava afinada a cada nota em sua voz — e ela ouviu a emoção espessa.
— Está feito? — Ela perguntou sem fôlego.
Seus olhos se encontraram e ele assentiu.
Sem palavras, ela o deixou tomar sua mão enquanto a levava e seus três filhos para fora da velha casa da torre.
— Não olhe ainda — ele disse quando ela tentou dar uma olhada na colina perto.
Finalmente, ele parou.
— Certo, vire-se.
Janet prendeu a respiração. O sol brilhante de final de tarde brilhava na pedra recém-cortada, fazendo o castelo cintilar e brilhar como uma joia recentemente cunhada. Tinha quatro torres, uma em cada canto, cercada por um muro formidável. Era uma fortaleza impressionante para qualquer padrão, mas não era isso o que a fazia importante.
Ela deslizou a mão na do homem que tornou sua vida aventureira como uma mensageira em outro tipo de aventura. Uma de risos, amor e alegria.
— É bonita — ela disse. — Ela teria adorado isto.
Ele olhou para ela e acenou com a cabeça, a emoção demais para ele falar. Ele terminou castelo da sua mãe, e com isto ele podia afinal estar em paz com seu passado. Por gerações por vir, os Lamonts de Ardlamont encheriam este castelo com amor e risos, dando a sua mãe e pai o legado que eles mereciam.
De mãos dadas, com suas crianças ao redor deles, Ewen a levou para dentro de seu abrigo e dentro de seu futuro.
Notas
[1] Típicas dos campos montanhosos da Escócia, as urzes, conhecidas também como Heather, são pequenos arbustos com florezinhas coloridas e perfumadas. A água da chuva escorre pelas urzes, se impregna de perfume e escorre sobre a turfa, proporcionando aromas e sabores muito especiais.
[2] Selvagem.
[3] Também escrito barmekin ou barnekin, é uma palavra escocesa que se refere a uma forma de cerco medieval e mais tarde defensiva, em torno de castelos menores na Escócia e norte da Inglaterra. O barmkin teria contido edifícios auxiliares, e poderia ser usado para proteger o gado durante os ataques.
[4] Do grego “ofegante”.
[5] “Eleitoras dos mortos caídos em combate”, eram consideradas deidades menores, servas de Odin. Eram belas jovens mulheres, usavam armaduras com elmos e lanças em seus cavalos alados, sobrevoavam os campos de batalha recolhendo os guerreiros escolhidos, ou seja, aqueles mais corajosos, que tinham sido mortos a pouco. Filhas do deus Odin, com a deusa da terra Edra, com quem teve um relacionamento nas profundezas e lá teriam gerado as nove virgens. Também exerciam a função de mensageiras, e dizem que quando isso acontecia, suas armaduras faiscavam causando o estranho fenômeno atmosférico conhecido como Aurora Boreal. Em lendas saxônicas, encontramos relatos de mulheres que apareciam cobertas por uma especie de bruma, auxiliando ou sendo amantes dos mais valentes guerreiros, e logo desapareciam, acreditavam ser estas mulheres as Valquírias.
[6] Proteção para o peito, como a que os gladiadores usavam.
[7] A casa dos mortos na mitologia grega - usado como uma maneira mais educada de dizer "inferno".
[8] Plaid ou Tartan: Um tecido de lã tradicional com um padrão de xadrez que é usado sobre o ombro como parte do traje nacional escocês.
[9] Arma medieval com lâmina combinando machado, martelo, e ponta de ferro no alto, usado para combates em pé.
[10] Birlinn é como os galeses e escoceses chamavam as antigas embarcações a vela.
[11] Termo usado antigamente como forma de tratamento de um homem de posição ou autoridade como um rei ou um lorde.
[12] Valhala, Valíala,Valhalla ou Walhala (do nórdico antigo Valhöll "Salão dos Mortos”), na mitologia nórdica é um majestoso e enorme salão situado em Asgard, dominado pelo deus Odin. Escolhidos por Odin, metade dos que morrem em combate são levados para Valhalla pelas Valquírias, enquanto que a outra metade vai para os campos Folkvang da deusa Freyja. Em Valhalla, os mortos se juntam às massas daqueles que morreram em combate conhecido como Einherjar, bem como vários heróis lendários da mitologia germânica, que se preparam para ajudar Odin durante os eventos do Ragnarök.
[13] Cavalos velozes para a batalha.
[14] É um corte perto do cabelo, geralmente arredondado, realizou uma cerimônia religiosa por parte do bispo, para dar o ordenando o primeiro grau no clero, também chamado de "tonsura cru." O significado original era a renúncia das vaidades mundanas. Ele caiu em desuso, com a aprovação tácita da autoridade eclesiástica de Paulo VI, que suprimiu a imprensa tonsura, passando a entrada no estado clerical para compensar o diaconato. No entanto, a Ordem Franciscana detém até hoje essa tradição.
[15] Título do primeiro oficial da coroa, que tinha o comando de todo o exército.
[16] A ilha de Bute (Eilean Bhòid em gaélico, Isle of Bute em Inglês) é uma pequena ilha costeira localizada na parte inferior do Firth of Clyde (Golfo cerca de 42 km de extensão, localizado na costa oeste da Escócia). Anteriormente foi parte do condado escocês Buteshire, é agora propriedade de Argyll e Bute distrito.
[17] Coloque no rio ou oceano, cuja profundidade lhe permite atravessar a pé ou em um cavalo; Ponto da travessia do rio. A falta de lugar.
[18] Um grande cão de uma raça rústica parecido com o galgo.
CAPÍTULO 14
— Cachorros droga! Como diabos captaram o nosso cheiro?
Ewen não teve tempo para pensar sobre isto. Eles precisavam se perder nas florestas e colinas de Lowther antes dos ingleses os alcançarem. Se ele podia ouvi-los, os cachorros deviam estar perto.
A Guarda das Highlands usava o interior como arma. Quanto mais densa a floresta, mais íngreme e hostil o terreno, mais eles podiam levar vantagem sobre os ingleses — superiores em número e armamento superior. A armadura pesada dos ingleses e os cavalos eram um fardo no campo, e Bruce aprendeu a usar aquilo em seu benefício.
Ewen não desperdiçou tempo tentando encobrir sinais de sua presença, levantando acampamento assim que puderam juntar seus pertences. O velho monte e forte tinham providenciado abrigo, mas forneceria pouca defesa. Pior, Janet estaria bem no meio disso.
Ela o fazia se sentir vulnerável de um modo que ele nunca se sentiu antes. Bàs roimh Gèill. Antes a morte que se render, era o lema da Guarda das Highlands. Ele nunca pensou que questionaria sobre isto. Mas se renderia mil vezes antes de deixar qualquer coisa acontecer a ela.
Não sabia o que isso queria dizer, mas sabia que era significativo. No calor do perigo, face a um ataque, ele não estava pensando em Bruce, Stewart, um castelo inacabado ou sua responsabilidade para seu clã, ele estava pensando nela — sua segurança era tudo que importava, e não só por causa da missão.
Preparando-se, Ewen virou para enfrentá-la. Mas nada podia tê-lo preparado para o punho que envolveu ao redor do seu coração e o puxou quando seus olhos se encontraram. Podia ver o medo, mas também a confiança de que não importa o quão desesperador isso pudesse parecer, ele a protegeria. Isso mexeu com ele. Humilhou-o. Quase o deixou de joelhos com a força de uma emoção que nunca sentiu antes. Deus, ele...
Ewen não terminou o pensamento.
Mas nada podia tê-lo impedido de estender a mão para envolver o rosto dela. Ela aninhou a bochecha no couro de sua mão enluvada, enterrando-se bem dentro do seu coração.
— Temos que correr. — Ele disse, sua voz irreconhecivelmente terna.
Ela acenou com a cabeça.
— Posso fazer isto.
Acreditou nela. Janet era forte e determinada. E pela primeira vez, Ewen percebeu que não iria querer que isto fosse de qualquer outro modo. Ele nunca pensou em uma mulher como nada mais que uma parceira de cama ou governanta. Uma criatura delicada e frágil que era seu trabalho proteger. Uma necessidade, mas nunca alguém para ficar ao seu lado, com quem conversar e discutir — sem falar deixá-lo louco. Mas Janet o fazia querer todas essas coisas.
Ele deslizou o polegar acima de sua boca ternamente.
— Não pare, não importa o que você escute. Eu te acharei.
O pequeno sorriso que curvou sua boca lhe roubou o fôlego.
— Eu sei.
E então eles correram. Correram tão rápido quanto Ewen podia empurrá-la dentro dos pântanos e colinas cobertas pela névoa e neve que assomavam ao longe. O exército de Bruce abrigou-se neles muitas vezes antes, mas seria demais esperar não achar ninguém por perto assim da aldeia. Era só até ele e Sutherland conseguir tirá-los dessa. Eles não seriam capazes de correr mais que seus perseguidores, não a pé, com cachorros e cavalos os perseguindo.
Eles não tinham tanto tempo quanto esperava. A sombra do forte atrás dele ao amanhecer ainda não tinha sumido quando ele capturou o primeiro vislumbre dos cavalos.
— O rio! — Ele gritou por cima do ombro para Janet. — Uns trinta metros adiante através das árvores. Siga-o até que alcance a borda da linha das árvores e então entre nas colinas. Lembre-se do que eu disse. Não pare. Não importa o que você escute.
O rosto dela estava enrubescido pelo esforço de correr, mas ele achou que ela empalideceu.
— Ewen, eu...
Ele não a deixou terminar.
— Vá!
Não podia ouvir isto. Não agora. Ewen esperou até que ela desaparecesse dentro da floresta antes de virar para Sutherland. Mas o mais novo membro do Guarda das Highlands já o antecipara.
— A travessia?
Ewen movimentou a cabeça. A garganta profunda e estreita do vale diminuiria a velocidade dos cavalos e daria a ele e Sutherland tempo para se posicionarem.
Mas não havia tempo. O inimigo já estava respirando em seu pescoço. Girou e puxou sua espada enquanto o primeiro braço armado arremetia balançando para baixo em direção a ele. Ele bloqueou o golpe da lança com uma torção rápida de sua espada que enviou a arma do inglês voando de suas mãos. Um momento mais tarde, a espada de Ewen desceu duramente na perna do cavaleiro, quase a decepando.
Ele ouviu o grito surpreso do homem antes de tombar no chão, sangue jorrando dele. Um rápido olhar disse a Ewen o que precisava saber: uma dúzia de homens armados, um cavaleiro, o braço direito de Beaumont e dois cachorros latindo de modo selvagem.
Então não foi surpresa que o outro cavaleiro estivesse quase sobre ele. Ewen sentiu uma onda de energia correr através do seu sangue enquanto o furor da batalha o atingia. Segurou sua espada com as duas mãos acima da cabeça e a baixou contra a lâmina do outro homem com força suficiente para tirá-lo de sua sela.
Um por um ele e Sutherland derrubaram o inimigo, trabalhando em conjunto enquanto se moviam para atacar os ingleses entrando em posição no estreito vale.
Exatamente assim, a batalha mudou. Os cavalos não podiam manobrar. Ao invés de agressores, o cavaleiro inglês e seus homens se tornaram arenques presos em barril. Com Ewen de um lado e Sutherland do outro, não havia nenhum lugar para eles irem. Forçados a abandonar seus cavalos ou morrer.
Morreriam de qualquer maneira.
O estrondo alto da batalha começou a embotar à medida que os ingleses caíam sob suas espadas. Os latidos pararam. Um dos cachorros parecia ter sido pisoteado ao fugir dos cavalos e o outro...
Ewen amaldiçoou, tirando o suor que se reuniu embaixo do elmo para limpar sua visão. Onde estava o outro cachorro?
Enquanto se desviava dos golpes, ele esquadrinhou a área ao redor deles, olhando por cima dos corpos dos homens e cavalos que caíram ao lado deles. Nada do segundo cachorro.
Uma onda fria atravessou seu sangue quando percebeu que havia um homem faltando também.
Ainda havia quatro soldados restando. Três deles convergiram para Sutherland, esperando dominá-lo, enquanto o outro tentava impedir Ewen de ajudá-lo. Sutherland não precisava de ajuda. E nem Ewen. Ele trocou golpes com o homem armado de pescoço grosso e peito largo, que conseguiu aterrissar um golpe sólido de sua espada no ombro do Ewen antes que a ponta da lâmina de Ewen pudesse encontrar o pescoço do oponente.
Sutherland percebeu o que aconteceu.
—Vá! — Ele gritou entre balanços de sua espada. — Vou acabar com eles.
Ewen não hesitou. Saltando em um dos cavalos remanescentes, ele saiu galopando na direção em que disse para que Janet corresse.
Ele se debruçou sobre a quina da sela para evitar os galhos e troncos que se espalhavam em todas as direções da floresta que circulava a base das colinas e rezou. Rezou para que tivesse contado errado. Rezou para que a alcançasse a tempo.
Mas um momento mais tarde ouviu um som penetrante que o assombraria para o resto de sua vida. Um grito estridente cheio de terror rasgou o ar do amanhecer nublado, parando seu coração e o catapultando adiante na escuridão, em um abismo pouco conhecido de medo.
Janet tinha toda a intenção de seguir suas ordens. Mas quando o estrondo penetrante de metal contra metal se espalhou pelo ar, sua cabeça instintivamente girou em direção ao som.
Ela parou para olhar por apenas um minuto, mas a visão que seus olhos encontraram não era uma que ela logo esqueceria. Era uma batalha em toda sua crueza e caos horroroso. Duas vezes antes ela viu a violência da guerra — em uma noite na ponte quando tentou salvar sua irmã e o dia na floresta com Marguerite quando encontrou Ewen pela primeira vez, — mas a ferocidade, a brutalidade disto, surpreendeu-a de novo. A visão de espadas balançando, sujeira voando, sangue derramando em uma confusão de homens e feras rosnando assustou-a horrivelmente. Como os sons. A própria barulheira disto. O brado violento de aço e morte.
Como uma praga de gafanhotos revestida de aço, os ingleses fervilhavam sobre os dois Highlanders. Pelo certo, deveria ter sido uma matança. Ela não podia respirar, temendo que Ewen fosse abatido com o primeiro golpe. Mas ela tinha esquecido, ou disse a si mesma que devia ter exagerado a habilidade dele. A força extraordinária e intenção mortal. O propósito brutalmente frio pelo qual ele realizava sua tarefa. Sir Kenneth lutava do mesmo modo, não como um cavaleiro, mas como um bárbaro. Não era difícil demais imaginá-los causando terror através dos mares em uma embarcação viking.
Os dois Highlanders podiam ter sido ultrapassados em número, mas eram de longe superiores em habilidade. Na primeira piscadela da luz do dia, em meio àquele caos e horror, com seus elmos e plaids esvoaçando como capas fantasmagóricos, eles mais pareciam com seres imortais e ameaçadores de outro mundo.
Eles pareciam com... Fantasmas.
A percepção a atordoou por um momento, entretanto, lembrando-se da advertência do Ewen, ela se virou e correu. Correu através das árvores e arbustos até que suas pernas doíam e seus pulmões pareciam que iam explodir ao longo da margem rochosa do rio e através da floresta.
Seguiu não mais do que uma milha quando ouviu latidos atrás dela. O medo apertou seu peito já mais do que apertado. Ela olhou por cima do ombro, viu o cão de caça correndo bem atrás dela, e contra cada instinto em seu corpo que gritava perigo — corra! — Ela se forçou a diminuir a velocidade.
O cachorro era treinado para caçar. Para perseguir. Não ia parar, e não podia correr mais que isso.
Ela não seria sua presa. Com a mão no cabo de sua lâmina, girou para encará-lo. Meio esperando que saltasse em cima dela, ficou surpresa quando ele parou a cerca de três metros de distância. Eles olharam fixamente um para o outro em uma muda encarada. Fera e homem. Ou neste caso, mulher.
Animais sempre gostaram dela. Tentou se lembrar disso enquanto ficava de pé perfeitamente quieta, exceto pelo pesado subir de seu tórax engolindo ar.
O Deerhound18 era grande, sua cabeça cinza aproximadamente no nível de sua cintura. Sua boca repuxada para trás, deixando-a ver todos seus dentes impressionantemente longos, mas seus olhos pretos estavam mais curiosos que enraivecidos. Um cachorro podia ser curioso?
Seu pelo felpudo estava sujo e emaranhado, e parecia estar precisando de um bom banho, mas era um animal de boa aparência, com as linhas longas e esguias de um caçador, talvez um pouco magro nas laterais.
Com a mão que não estava segurando o cabo da lâmina, ela alcançou a bolsa de couro em sua cintura e pegou um pedaço de carne seca. Cautelosamente estendeu murmurando sons suaves enquanto o cachorro a olhava de forma especuladora. Seu coração martelava à medida que o cachorro lentamente fez seu caminho para ela. Não querendo testar a sorte, ela pôs a carne seca no chão. O cachorro se lançou sobre a carne. Devorando-a em segundos, levantou o olhar para ela novamente, dando um pequeno latido de encorajamento.
Apesar das circunstâncias, ela riu. Era um diabinho fofo uma vez que você passava por cima o tamanho e os dentes.
De maneira hesitante, ela estendeu sua mão deixando o cachorro cheirar, murmurando desculpas.
— Sinto muito, isto é tudo que tenho.
Ele latiu novamente e então arquejou esperançosamente, sentando-se aos pés dela. Quando estendeu a mão para acariciar sua cabeça, ele choramingou.
Janet riu.
— Quer dizer que você não é tão apavorante...
De repente, um cavalo e cavaleiro atravessaram as árvores. Um ofego surpreso ficou preso em sua garganta, o brilho da cota de malha o identificou como inimigo. O homem a agarrou, obviamente pretendendo puxá-la sobre seu cavalo, quando de repente o cachorro saltou, seus dentes se fechando sobre o braço coberto pela cota de malha, tentando arrastá-lo para fora do cavalo. De alguma forma, cachorro e o brutamontes se embolaram debaixo das patas traseiras do cavalo, fazendo o cavalo se lançar adiante.
Ela ouviu um estalo horroroso e o uivo aflito do cachorro. Ela se virou depressa, mas imediatamente percebeu o que aconteceu: o cachorro tinha sido esmagado debaixo do cavalo, o cavalo quebrou sua perna e o cavaleiro... o cavaleiro tinha sido jogado para fora, mas estava lentamente ficando de pé. Xingando, ele puxou sua espada e a balançou na confusão entrelaçada de cachorro e cavalo.
Ela gritou e se virou.
— Maldito vira-lata estúpido — ele rosnou. Com o varrer de um golpe, o choro cheio de dor do cachorro parou. Ele seguiu com um segundo golpe e o ansioso resfolegar do cavalo enquanto ele tentou ficar de pé parou.
Sabendo que ele viria atrás dela a seguir tentou correr, gritando novamente quando a mão esticou e agarrou seu braço.
Ele a girou, sua espada erguida acima de sua cabeça.
— Onde você pensa que está indo, sua estúpida cadela rebelde...
Janet não pensou, reagiu. Ela tinha sorte que ele a agarrou por seu braço esquerdo, porque era do direito que precisava para puxar a lâmina de sua bainha e empurrar para cima com toda sua força entre as pernas dele, esperando achar um espaço entre a cota de malha.
Justo enquanto sua faca mergulhava, ouviu um ruído surdo apavorante. Os olhos dele arregalaram. Sua mão apertou o braço dela e então soltou enquanto caía aos seus pés, uma lança atravessando seu pescoço.
Ewen nunca experimentou esse tipo de ira. A visão de Janet sendo apertada de modo rude pelo cavaleiro fez algo com ele. Ela parecia com uma flor prestes a ser esmagada em um torno de aço, seus ossos delicados não era páreo para a força do grande guerreiro com armadura e a espada que podia a qualquer momento arrancar sua cabeça.
Uma raiva negra o tomou. Sede de sangue. Desejo de matar. Sua visão estreitou como se ele estivesse espreitando por um túnel escuro com um único objetivo em vista. Ajustou a lança em sua mão. Não se permitiu pensar que se falhasse, ela morreria. Ele não tinha tempo.
Doze, nove, seis metros de distância... ele lançou com toda sua força.
A lança rasgou através do ar com um zumbido, perfurando a alça da cota de malha do cavaleiro como se fosse manteiga.
Ewen atingiu o chão no mesmo instante que o soldado. Janet virou, o viu, e com um grito suave que rasgou seu coração, correu para dentro de seus braços.
Ele a segurou perto enquanto ela enterrava a cabeça no seu peito, saboreando cada maldita sensação que o tomava. Ela está a salvo, disse a si mesmo repetidas vezes. Salva. Mas seu maldito coração não parava de martelar.
As emoções clamando dentro dele eram diferentes de tudo que já tinha experimentado, e ele levou um tempo para colocá-las sob controle suficiente para falar.
— Você está bem?
Ela movimentou a cabeça acenando contra seu peito, mas ele precisava ver. Cuidadosamente inclinou o queixo dela para trás e olhou para dentro dos olhos cheios de lágrimas. A pele suave de bebê sob as pontas dos seus dedos estava muito pálida, parecia quase translúcida.
— Eu estava tão assustada. O cachorro... — Ela levantou o olhar para ele, atingida. — Foi horrível.
Uma onda de ternura subiu dentro dele com intensidade esmagadora.
— Acabou, meu bem. Acabou.
Ela acenou com a cabeça obedientemente — duvidava que ela tivesse feito isso desde que era criança, e provavelmente nunca mais desde então, — mas o horror do ataque obviamente ainda estava pesando nela. Ela tremia encostada nele, seus ombros esbeltos sacudindo, e uma onda feroz de proteção surgiu dentro dele. Tomou tudo que ele tinha não colocar sua boca na dela e beijá-la até que os dois esquecessem.
Mas não fez. O perigo estava terminado, e com sua ausência vinha a lembrança do seu dever.
Lentamente, relutantemente, a deixou ir.
Ela piscou levantando os olhos para ele, a princípio surpresa, e então com um olhar ferido que o rasgou impiedosamente.
Ele amaldiçoou a injustiça disso. Os deveres, as lealdades, as responsabilidades que tornava isto — eles — impossível.
De repente ela ofegou, seu olhar voando para o braço dele.
— Você está ferido!
Deu uma olhada para baixo, percebendo que a espada do inglês fatiou através de sua roupa e sangue estava derramando dele. Verdade seja dita, ele não sentiu. Embora não pudesse dizer o mesmo de sua perna, que latejava e queimava como se alguém tivesse jogado uísque e então tacado fogo.
— Estou bem. É só um arranhão.
Ela estragou isso com seu biquinho familiar. Quem iria imaginar que o aborrecimento podia parecer tão doce?
— Seu braço podia estar pendurado por um fio e você diria que estava bem.
Um canto de sua boca ergueu em um meio sorriso. Ela provavelmente estava certa.
— Vocês, guerreiros, são todos parecidos... — Ela parou e olhou ao redor ansiosamente. — Onde está Sir Kenneth?
— Não se preocupe. Ele estava acabando quando eu vim atrás de você. Deve estar chegando a qualquer minuto.
— Não posso acreditar que... eu não teria acreditado se não tivesse visto com meus próprios olhos. Dois homens contra tantos... — sua voz mantinha uma inconfundível reverência. Mas ele não podia apreciar isto. Ela estava chegando perto demais. De alguma maneira ele sabia o que ela iria dizer mesmo antes de seus olhos trancarem nos dele. — Você é parte disso, não é? Você é um dos fantasmas de Bruce?
Sangue de Deus, a moça cortejava problemas como um trovador apaixonado! Ela enxergava demais, e agora estava fazendo suposições — suposições perigosas que podiam pôr todos eles em risco. Ela já não estava correndo perigo suficiente? O conhecimento — inclusive a suspeita — como esta levaria a metade do exército inglês atrás dela. Identificar e capturar os membros do exército secreto de Bruce estava no topo da lista do comando inglês.
Sua expressão não deu a ela nenhuma sugestão da tempestade de emoções que sua pergunta soltou dentro dele. Ele fingiu diversão desinteressada.
— Seus pais não disseram a você que não existe tal coisa como fantasma?
Ela ergueu o queixo.
— Você nega ser parte do exército secreto que assolou com as tropas inglesas...
Ele a cortou com uma imprecação, pegando seu braço.
— Nós precisamos ir.
— Você não respondeu minha pergunta.
Mas mal as palavras deixaram sua boca quando ela ouviu algo também. O latido de um cachorro, e não muito atrás disso, o som de cavalos. Seus olhos arregalaram e ela enterrou os saltos dos seus sapatos no chão, impedindo-o de puxá-la em direção ao cavalo.
— Mas e Sir Kenneth? Nós não precisamos esperar por ele?
A boca de Ewen caiu em uma linha severa.
— Ele vai nos achar.
Assim esperava. Mas o som de cavaleiros se aproximando não era um bom presságio. Ele amaldiçoou novamente — silenciosamente, não querendo adicionar à sua preocupação. Mas a missão que tinha começado ruim só parecia estar ficando pior.
Ele estava prestes a ajudar a levantá-la para cima do cavalo quando ela se afastou novamente.
— Espera! Esqueci meu punhal.
Percebendo que ela deve tê-lo usado para tentar se defender, ele a impediu de ir atrás dele.
— Eu vou pegar.
Ele se aproximou do corpo do cavaleiro morto. Não levou muito tempo para localizar a faca.
Bem, estarei condenado. Se sua lança não tivesse acabado com a vida do maldito inglês, a lâmina dela, que estava mergulhada profundamente em sua perna, teria.
Sentiu inconfundivelmente seu peito inchar de orgulho. A moça era uma lutadora. Sua primeira impressão todos esses meses atrás de uma valquíria não estava tão longe.
Enxugando o sangue da lâmina na cota de malha de suas pernas, as quais já estavam manchadas de qualquer maneira de coisas nojentas, ele a estendeu de volta para ela.
Ela levantou o olhar para ele indecisamente.
— Eu fiz...
Ele sabia o que ela estava perguntando.
— Você se defendeu bem, moça. O teria deixado manco por toda vida. — Ele mentiu.
Ela suspirou, parecendo visivelmente aliviada.
— Eu não tinha certeza.
Ele tinha morte suficiente em sua alma para ambos. Ele podia protegê-la disso pelo menos.
Outro latido — este aqui discernívelmente mais próximo — pôs fim ao breve atraso.
Ajudando-a a subir no cavalo, ele montou atrás dela e foram embora, cavalgando curvados ao longo da margem do rio em direção às colinas. Eles montariam o cavalo o máximo que pudessem — ele esperava que tempo suficiente para interromper o cheiro e fazer mais difícil segui-los. Um dos melhores modos de fazer isto era com outro animal. Água também ajudaria. Já que era raso suficiente para fazer isso, ele guiou o cavalo para dentro do rio.
Eles continuaram naquele ritmo frenético por alguns quilômetros, até que os sons de seus perseguidores ficaram mais e mais distantes, eventualmente desaparecendo completamente.
Ele soltou um suspiro de alívio. Eles os perderam por enquanto e não cedo demais. Foi forçado a diminuir a velocidade do seu ritmo consideravelmente, quando o chão começou a subir, e a floresta e o rio do vale sumiam nas colinas cobertas de urze que acenavam para ele como a primeira visão de terra depois de dias no mar. Lar. Refúgio. Segurança.
Apesar do amanhecer ter rompido um tempo atrás, um cobertor espesso de névoa de inverno escondia de vista o topo da montanha estéril. Elas não só pareciam sinistras e assustadoras, também forneceriam bastante cobertura para eles desaparecerem. Mesmo que os ingleses seguissem a trilha deles novamente, pensariam duas vezes sobre segui-los em tal terreno ameaçador.
Mas ele não iria arriscar. Sabendo que o cavalo só dificultaria para eles a partir deste ponto, quando chegou a uma pequena ponte sobre o rio, ele disse a Janet para esperar enquanto ele a cruzava montado. Desmontando, ele bateu na anca do cavalo e o assistiu galopar descendo o caminho estreito. Com alguma sorte ele iria assim por algum tempo. Cuidadoso em esconder sua trilha, ele repassou seus passos até onde Janet permanecia observando-o.
Ela olhava fixamente no rio escuro abaixo com um nariz enrugado.
— Presumo que meus pés vão ficar molhados novamente, não é?
Ele sorriu perante sua expressão.
— Temo que sim.
Instruindo-a a andar em pedras ou chão mais duro sempre que pudesse, ele a ajudou a descer a margem e dentro d’água. Infelizmente, diferente do rio anterior, os bancos eram íngremes e a água espiralava quase até os joelhos dela.
Eles seguiram o rio subindo a colina até que o chão ficou muito íngreme e a água se tornou cachoeira. Marchando em cima na borda, ele apontou para uma pedra grande.
— Nós podemos descansar aqui durante algum tempo.
Não precisando de mais encorajamento, ela desmoronou. Encolhendo os ombros para tirar os sacos que ele levava, usou um deles como assento e juntou-se a ela. Felizmente, junto com os sacos de seus pertences, também estava levando a comida. Tentou não pensar em Sutherland, dizendo a si mesmo que seu novo recruta podia cuidar de si mesmo. Mas o ataque não devia ter acontecido. Era trabalho de Ewen garantir que não acontecesse. Se ele se sentia responsável, era porque era responsável. Ele falhou, droga, e não engolia bem o fracasso.
O que deu errado? Como diabos os cachorros capturaram seu cheiro? Aparentemente os pensamentos dela estavam correndo na mesma direção que os seus.
— Acha que nós os despistamos?
— Por enquanto. — Ele disse. — Com os cavalos e o rio, os cães terão dificuldade em seguir o cheiro.
— Mas como eles captaram?
— Não sei. Tive a maldita certeza que nós não deixamos nada...
Ele parou, seu olhar captou um vislumbre de um cacho de cabelo dourado que deslizou de sua trança. Até na névoa, sua cabeça dourada brilhava luminosa. Sua cabeça dourada nua. Sua boca caiu em uma linha dura, enquanto a explicação para o que aconteceu ficou clara. Ele xingou.
— Onde está sua touca?
CAPÍTULO 15
A mão de Janet foi para cabeça reflexivamente. Ficou surpresa por encontrar mechas suaves de cabelo debaixo de sua palma em vez de lã.
— Oh, não percebi — ela pensou em voz alta. — Deve ter caído ontem à noite quando deslizei do cavalo.
Ele amaldiçoou novamente, o que era redundante em sua opinião, já que só de olhar para cara dele dizia tudo. Ele estava furioso. Além de furioso, realmente. Irado. Tempestuoso. O tipo de tempestade de quarenta dias e quarenta noites.
— Deve ter sido como eles nos rastrearam.
— Eu sinto muito, não percebi...
Ele ficou de pé e a levantou arrastando. Ela ficou meia surpresa por não a ter agarrado pela orelha como um filhote de cachorro malcriado. — Maldição, eu disse a você que nós precisávamos ser cuidadosos. Não é de se espantar que eles nos seguissem tão depressa. Você os levou direto para nós.
Ele não precisava dizer isso, ela sabia o que estava pensando. É por isso que uma mulher não pertencia a este lugar. Uma mulher não tem que estar na guerra. Volte para sua agradável caixinha e fique fora disto.
Queria tanto impressioná-lo, mostrar lhe que podia ajudar tanto quanto ele — de um modo diferente talvez, mas de uma maneira que também fosse valiosa. Ao invés disso, ela provou o ponto dele. Como podia esperar que a visse de um certo modo se ela cometia erros tolos?
Janet queria discutir com ele. Seu instinto era se defender, tentar argumentar. Mas pelo menos uma vez ela não tinha uma desculpa ou explicação. Ele não estava sendo injusto, estava só falando a verdade — ainda que a maioria das pessoas não teria falado tão claramente. Mas evitar magoar não era o forte do Ewen. Não, ele era honrado e ia direto à falha.
Normalmente ela não se importaria. Mas estava assustada e cansada, tendo dormido só algumas horas nos últimos dois dias, e se sentindo anormalmente vulnerável depois do que tinha acontecido mais cedo. Eles compartilharam algo na floresta: uma honestidade de emoção que não o deixaria negar. Estava tão certa que a beijaria. Tão certa que ele poria de lado qualquer reserva que tivesse. Mas se afastou dela novamente. E agora...
Suas mãos se retorceram, um sentimento doente parecendo crescer em seu estômago.
— Foi um erro inocente.
— Um erro que poderia ter matado a todos nós.
Ela se encolheu tanto da dureza de aço em seu olhar quanto do chicote verbal que veio junto.
— Eu disse que sinto muito, não sei o que mais posso fazer.
— Nada. Mas da próxima vez que eu disser algo a você, tente seguir as ordens.
Janet chegou ao limite de sua aceitação passiva de culpa.
— Não sou um dos seus homens para que você possa mandar.
— Isso está dolorosamente claro. Meus homens são muito mais disciplinados.
Agora ele não era o único a perder seu temperamento, ela faiscou como uma fogueira. Suas mãos se retorcendo fecharam em punhos aos lados de seu corpo.
— Certo. Mulheres não têm lugar no campo de batalha, é o que você quer que eu diga?
Os olhos dele faiscaram. Ele se inclinou mais perto dela e rosnou.
— É um maldito bom começo.
Janet quis bater o pé em ultraje. Mas apesar disso sem dúvida daria a ele mais motivos para tratá-la como uma criança, ela jogou sua cabeça para trás com um alto bufo.
Ele era o homem mais exasperante, mandão, bruto e irracional que ela já conheceu!
E ainda assim, mesmo ele estando aqui de pé lhe passando um sermão — que infelizmente neste caso era merecido — uma parte tola dela ainda esperava que a tomasse nos braços e dissesse que estava tudo bem. Confortá-la como ele fez antes. Para um homem tão formidavelmente encorpado, ele fora surpreendentemente gentil.
Mas conforto era a última coisa na cabeça dele.
— Você vai ter que tirar suas roupas.
Ela recuou.
— Minhas roupas?
— Aye, todas elas. E entre no rio. Você fede a jacintos, esfregue cada pedacinho disso do seu cabelo e pele. Nós precisamos ter certeza que eles perderam o cheiro.
— Mas... — Ela olhou para laguinho abaixo da cachoeira. Mesmo daqui parecia gelado. E jacintos não fediam.
Ele apertou sua mandíbula como se lutando por paciência.
— Maldição, você pode apenas seguir ordens pelo menos uma vez?
Seus olhos se trancaram em uma batalha silenciosa de vontades. Ela já teve o suficiente de seus comandos rudes. Um sorriso secreto curvou seus lábios, enquanto o diabo dentro dela botava para fora sua cabeça feia.
Eu posso seguir ordens, tudo bem.
— Como você quiser.
Ela deixou o plaid escorregar de seus ombros e cair em uma poça escura aos seus pés.
Ele piscou.
Erguendo uma sobrancelha distintamente desafiadora, ela soltou seu gibão, que se juntou ao plaid aos seus pés um instante mais tarde.
Ele se arrumou para achar sua voz quando ela chutou suas botas e começou a puxar os calções de couro acima de seus quadris.
— O que você está fazendo? — Ele disse — bastante estupidamente na sua opinião.
Ela sorriu, removendo suas meias.
— Seguindo ordens — ela levantou o olhar para ele com ingenuidade. — Precisa de água?
— Água? Não, por quê?
— Sua garganta parece um pouco seca.
E com isto, ela ergueu a camisa por cima da cabeça.
Deve ter sido a batalha. Ou talvez o esgotamento físico dos últimos dias. Mas enquanto Ewen estava lá, assistindo-a, seus membros se transformaram em chumbo. Ele não podia se mover. Não teve a força para impedi-la.
Oh Deus, detenha-a.
Mas antes que alguma medida de autopreservação pudesse assumir, a camisa dela caiu no chão.
O mundo parou. Seu coração se esqueceu de bater. Sua boca estava seca mesmo. Uma secura que queimava. Chamuscando. Sua garganta estava tão esturricada quanto os desertos de Outremer, e ele sabia que não existia água suficiente nos oceanos deste mundo de meu Deus para extinguir a sede que ele tinha por ela.
Ela era perfeita. Membros longos, esbelta e curvilínea em todos os lugares certos, com centímetros e centímetros de pele impecável e cremosa. Os seios firmes e redondos que foram marcados a ferro em sua memória eram ainda mais espetaculares do que ele se lembrava, os pequenos mamilos cor de rosa enrijecidos e escuros, e o lugar suave e feminino entre suas pernas...
Meu Deus do céu! Ele gemeu. Desejo apertou sua virilha, quente e dolorido, puxando e apertando com necessidade.
Sua voz o trouxe de volta.
— É isso que você queria?
O desafio rouco da voz dela enviou uma bola de fogo de luxúria correndo por sua espinha abaixo. Juntou-se na base pulsando — não, tremendo — com necessidade.
Ele olhou dentro dos olhos dela.
Maldita! A moça não tinha um osso fraco ou vulnerável em seu corpo. Até nua como o dia que Deus a fez, era corajosa, desafiadora e forte.
Forte suficiente para quebrá-lo.
No espaço de dois longos segundos ele a teve em seus braços, sua pele suave como veludo esmagado contra ele.
Ela ofegou pela brusquidão do seu movimento, mas não resistiu. Não, ela pediu por isto, e por tudo que era santo, ela aceitaria.
Por uma fração de segundo, Janet sentiu um faiscar de medo e perguntou a si mesma se ela o empurrou muito longe. Entretanto estava em seus braços e sabia que ele nunca a machucaria. Mesmo fora de controle, Ewen a segurava com uma gentileza que era desmentida pelo corpo forte e duro contra ela.
O couro e aço de sua armadura contra sua carne nua era um choque, embora nem um pouco desagradável. Existia algo estranhamente sensual sobre ter todo aquele couro morno e metal frio apertado contra ela. Ou talvez fosse só que ela estava tão fria antes, o calor irradiando de seu corpo fez qualquer desconforto parecer pequeno.
Ela inclinou sua cabeça para trás, examinando seus olhos.
A ferocidade da expressão dele enviou uma excitação disparando por suas veias.
— Sua maldita — ele disse furiosamente, seu último ofego de protesto antes de se render.
Todos os pensamentos de gentileza foram esquecidos enquanto sua boca cobria a dela. Ele a beijou rudemente, seus lábios se movendo acima dos dela com uma possessividade feroz que a fez ofegar. E gemer. Mais de uma vez. Especialmente quando ele começou a usar sua língua. Os golpes fundos e penetrantes definitivamente produziram muitos gemidos nela. Gemidos baixos e urgentes que pareciam começar em algum lugar bem lá no fundo — bem sobre o lugar em que podia senti-lo duro contra ela. Estremeceu, seu corpo respondendo à primitiva evidência do desejo dele. Ela estava dolorosamente ciente de cada centímetro grossa daquela evidência.
Ele a puxou mais perto, curvando-a para trás, indo mais e mais fundo. Ela teve que lutar para acompanhá-lo, sua inocência não era páreo para a crua investida da paixão.
Sabia que ele estava castigando-a por forçá-lo a isso, tentando assustá-la com a intensidade de seu desejo. Mas Janet o encontrou golpe a golpe. Ela podia ser uma serva inocente, mas os instintos que ele despertou nela eram daqueles temerários. Ela queria isso. Cada pedaço tanto quanto ele, e a sensualidade crua da sua paixão apenas alimentava a dela.
Aye, ela estava quente, sua pele quase febril. Parecia estar derretendo, dissolvendo em uma poça de calor derretido. Ele removeu suas luvas e a sensação de suas mãos grandes e calosas vagando sobre sua pele nua — acariciando, apertando, não deixando nenhuma centímetro sem tocar — só aumentava aquele calor e produzia muito mais daqueles gemidinhos.
— Deus, você é tão gostosa. Sua pele é tão suave — o calor de sua respiração soprou em sua orelha, mas foram suas palavras que a fizeram estremecer. — Quero tocar em você por toda parte. Cada centímetro seu, mo chroí. — "Meu coração" — a expressão terna fez seu peito apertar. Janet não podia acreditar que era Ewen falando com ela desse jeito. As palavras suaves como seda não podiam ter estado mais em conflito com o guerreiro rude que falava sem pensar ou se importar com traquejos sociais. Era uma combinação arrojada, a paixão feroz e áspera misturada com as palavras suaves e sensuais. Suas mãos a possuíam, deslizando por suas costas abaixo, sobre sua bunda, erguendo-a um pouco mais forte contra ele, esfregando... Ave Maria! Ela podia ter saltado, seu corpo inteiro acendendo com uma energia não diferente de relâmpago engarrafado. Ela esqueceu de respirar, seu corpo tenso e esperando. Pelo que?
— Deus, você está me matando.
Normalmente ela não pensaria que era uma coisa tão boa, mas o modo como ele disse a fez pensar que poderia ser. Sua boca se movia para baixo e para cima de seu pescoço de maneira faminta, deixando sua pele em chamas pelo caminho. Seu coração estava martelando. Seus joelhos estavam bambeando. E o lugar entre suas pernas... uma onda fresca de calor subiu para suas bochechas. Ela não queria nem pensar sobre o que estava acontecendo lá. Estava quente e dolorida e... molhada, com estranhos pequenos tremores...
Oh! Ele se esfregou contra ela novamente e aqueles estranhos pequenos tremores começaram a pulsar. Ela o queria ali. Bem aí. A coluna de aço grossa cunhou alto e apertado, esfregando contra ela.
— Doce Jesus, você está me deixando selvagem — sua voz estava esfarrapada e apertada com restrição.
Janet conhecia a sensação.
— Eu quero estar dentro de você — ele sussurrou em sua orelha.
Ela quase gritou desapontada quando ele liberou seu aperto na bunda dela e a pressão gostosa foi embora. Mas sua decepção durou só um momento. A mão dele deslizou rapidamente por cima do seu estômago para cobrir um seio.
— Tão macia — ele gemeu, apertando, apalpando-a suavemente em sua mão. — Seus seios são incríveis. Sonhei em fazer isso desde a primeira vez que vi você.
Foi?
Janet ficou feliz por ele não parecer esperar uma resposta, enquanto ela estava tendo dificuldade em respirar. As sensações que as mãos dele causavam em seu corpo estavam comandando toda sua atenção. Instintivamente ela arqueou em sua mão, tendo descoberto bastante depressa que essa pressão aumentava as sensações.
Mas ela não antecipou a sensação dos dedos dele em seu mamilo. A ponta áspera de seu polegar acima do bico sensível e latejante quase a enviou saltando fora de sua pele novamente, enquanto outro relâmpago daqueles enviou um flash de energia disparando através do que pareceu ser cada terminação nervosa do seu corpo.
Ele fez um som rude antes de sua boca cobrir a dela novamente. Ela o sentiu alcançar a ponta do seu laço. Seu beijo não era mais punitivo, mas determinado. Cada golpe de sua língua, cada toque das mãos em seu corpo parecia calculado para aumentar sua paixão, trazê-la cada vez mais perto de algo que pairava justo fora do seu alcance. Ela estremeceu com antecipação.
Ele ergueu a cabeça.
— Está com frio?
Excitada além da medida. Ela sacudiu a cabeça, administrando a falta de fôlego:
— Quente.
— Bom — seus olhos escureceram. — Você está prestes a ficar muito mais quente.
Estremeceu novamente, ouvindo a promessa sensual em sua voz áspera. Ele era tão bom quanto sua palavra. Um momento mais tarde quando a boca achou seu seio, ela pensou que tinha caído nas entranhas ardentes do inferno, pois certamente deve ser um pecado se sentir tão bem.
Ela gritou quando sua língua circulou o mamilo e começou a chupar. Suavemente a princípio, e então um pouco mais duro, conforme ela arqueava mais fundo em sua boca. O calor. A raspadura de seu queixo. O escovar sedoso do seu cabelo na pele dela. Era demais. Não era suficiente.
Ela começou a se retorcer em frustração, e ele finalmente deu o alívio que ela sem saber buscava. Sua língua lavou e sacudiu contra seu mamilo ao mesmo tempo em que seus dedos deslizando entre a junção de suas coxas. Ficou imóvel, o instinto lhe dizendo o que ele estava prestes a fazer. Ela teve um momento de pânico. Vinte e sete anos de virgindade, de guardar sua castidade como uma relíquia sagrada não era renunciada sem uma pequena pontada de incerteza. Isso era errado? Quase como se ouvisse sua pergunta não dita, ele ergueu a cabeça. Seus olhos se encontraram, e qualquer incerteza que ela teve enfraqueceu na intensidade da emoção que viu refletido no olhar dele.
E então ele a tocou. Ali. No lugar que ela sem saber reservou para ele para este momento. Prazer floresceu bem no fundo dela como uma flor desabrochando suas pétalas aveludadas ao sol enquanto ele prendia seu olhar e a acariciava. Era mágico. Bonito. A coisa mais perfeita e natural no mundo. Como isso podia ser errado?
As sensações estavam se construindo mais rápido agora, correndo em um ritmo frenético em direção a um determinado fim. E momentos mais tarde quando ela olhou dentro de seus olhos enquanto ele a acariciava até o próprio cume da paixão, quando ficou sem fôlego, seu corpo apertou, e calor se espalhou por cada centímetro dela quebrando em uma luz ofuscante, Janet soube de mais uma coisa: estava muito contente que não era freira.
Ewen estava perdido no momento em que olhou dentro dos olhos dela. Vendo-a se desmanchar, assistindo a paixão espalhar sobre seu rosto em euforia sensual, lábios inchados separados, bochechas enrubescidas e olhos suaves com prazer, soltou algo dentro dele que não podia ser contido.
Luxúria o atravessou diferente de qualquer coisa que ele já experimentou. Era mais poderoso. Mais intenso. Mais profundo. Isso não encheu apenas seu membro — que estava tão duro quanto um pilar de mármore, — mas seus ossos, seu sangue, cada centímetro de seu corpo, inclusive uma parte dele que desejou que não fizesse: seu coração.
Sua necessidade por ela era elementar. Como água, comida e o ar que respirava, ele tinha que tê-la. O último refluxo da liberação dela ainda enfraquecia antes dele a colocar no chão, o plaid descartado debaixo dela. Ele se atrapalhou com suas calças. Da próxima vez, ele jurou. Da próxima vez ele faria isto perfeito. Desta vez teria sorte se durasse alguns minutos.
Estava fora de controle, passou do ponto da razão, seu corpo se movendo por vontade própria. Ele não queria se permitir pensar. Sangue martelava através do seu corpo, dentro de sua cabeça. Suor se reuniu em sua sobrancelha. Ele nunca quis nada tão intensamente na sua vida.
Ar frio abençoado atingiu sua pele quente quando se liberou de suas calças dolorosamente apertadas. Ele se moveu para se posicionar, alavancando seu corpo acima do dela, centímetros, segundos, do doce alívio. Ele estava duro como uma espiga, vermelho e pulsante. Pulsando dolorosamente. O tipo de latejar: preciso gozar nesse instante. Uma gota escapou em perversa antecipação.
Seus dentes apertaram. Mais alguns segundos...
Não podia esperar por esse primeiro momento maravilhoso de contato, quando a ponta quente e sensível encontraria a morna e feminina umidade. Ele podia quase senti-la apertada e quente ao redor dele, uma luva aveludada apertada, agarrando... apertando... ordenhando. Suas nádegas apertaram. Os olhos dela tremularam abertos. O sorriso que se espalhou por seu rosto espremeu seu peito como um torno, cortando sua respiração já trabalhosa. Tão bonito...
— Isso foi maravilhoso. Eu nunca imaginei que... — Ela olhou para ele. — Tem mais?
Moça gulosa! Ele sorriu.
— Aye, isto é só o começo. Vou fazer você...
Minha.
Ele ficou imóvel. A palavra chacoalhando algo dentro dele, despertando sua consciência de sua soneca drogada.
— Vai me fazer o que? — Ela disse resolutamente. Ela olhou para baixo, olhos arregalando à medida que caíam sobre ele. — Oh... Oh!
Os olhos dela dispararam de volta para ele de maneira incerta, e com mais do que um pouco de medo. Não era sem motivo. Ele foi feito para o prazer da mulher. Mas ela não era uma mulher, era uma serva.
É uma serva, ele se corrigiu.
Cada músculo em seu corpo flexionou com restrição. Seria tão fácil investir para dentro. Ele curvou sua cabeça, seu corpo tremendo, lutando para se controlar enquanto a necessidade de seu corpo guerreava com sua mente. Uma mente que ele queria calar.
Só termine. Você pode fazer isto bom para ela. Ela quer isso. É tarde demais, droga.
Mas não era tarde demais. Não ainda.
Ela não é sua. Mas pode ser. Mais alguns centímetros e você pode fazer isto.
Mas a que custo? Tudo que ele esteve lutando para alcançar? Ele era como seu pai afinal? Ele amaldiçoou, não percebendo que articulou o xingamento vil em voz alta até que ela ofegou.
— O que está errado? — Ela estendeu sua mão para cima e tocou em seu rosto tenso.
Ele encolheu os ombros para tirá-la e se afastou, cada instinto em seu corpo rugindo em protesto.
— Não posso fazer isso.
— Por que não?
Ele já estava de pé, afastando-se. Não podia olhar para ela, a emoção em sua voz estava corroendo-o suficiente. Ele precisava de um minuto — mais do que um minuto — para se colocar sob controle.
— Tem sabão e algumas roupas extras na minha bolsa. Lave essas malditas flores. Assim que você acabar nós podemos ir.
Afastar-se foi a coisa mais dura que Ewen já fez. Ele amaldiçoou cada passo que o levava para longe dela. Sua honra e lealdade foram empurradas a ponto de quebrarem, deixando-o sem lugar algum para ir.
CAPÍTULO 16
Janet não entendeu o que tinha acabado de acontecer. Num minuto estava ali com ela e estavam tão perto quanto duas pessoas podiam estar, no outro ele estava em outro lugar. Em algum lugar que não podia alcançá-lo. A ferocidade de sua expressão a alarmou. Ele parecia quebrado — torturado. Ela chamou atrás dele enquanto ia embora, mas agiu como se não a ouvisse e seguiu em frente.
Deixando-a deitada. Literalmente de costas. Se ela não estivesse tão confusa, poderia ter chorado. Como ele ousava deixá-la desse jeito! Estava pronta — ansiosa — para experimentar isso tudo. Ela se entregou a ele, e ele a rejeitou.
Sozinha e sem o calor do seu corpo, ela estremeceu. O frio da manhã nublada mais uma vez se infiltrou em seus ossos. Mas não era nada comparado ao que estava por vir. Sem escolha além de fazer o que ele disse, ela então passou dois, talvez três dos minutos mais desagradáveis de sua vida, banhando-se no lago de água gelada debaixo da cachoeira.
Forçar seus pés a sair da beirada rochosa não era nada fácil. Só de saber que ela era a culpada pelos ingleses estarem perseguindo-os a compelia adiante. Ela saltou. Dizer que a água era um choque era um eufemismo de proporções gigantescas. Isso filtrou cada pedacinho de sensação de seus ossos, tirando sua letargia e qualquer memória prolongada do que tinha acabado de acontecer com isto. Mas ela nunca esqueceria. Ele lhe mostrou um vislumbre do céu e nada podia levar isto. Nem ele, nem a água. Nada.
Rompendo a superfície, ela esfregou seu cabelo e membros com a lasca de sabão, não tentando apenas apagar o “fedor” dos jacintos, mas também manter o sangue se movendo assim não morreria congelada. Sair não forneceu muito alívio. Seus dentes ainda estavam chacoalhando minutos mais tarde quando ele retornou. Ela não teve que perguntar onde foi. Pelo seu cabelo úmido, percebeu que ele também tomou banho, embora mais abaixo no rio.
Seu olhar a varreu. Se ficou agradado ao ver que fez como ele disse, ela não podia dizer. Toda evidência da expressão torturada saiu de seu rosto, suas feições mais uma vez estampadas em uma máscara em branco. A falta de emoção a irritava. Como ele podia estar tão inalterado, quando ela estava tão afetada? Sua boca se comprimiu, raiva atravessando um pouco da confusão.
— Precisa de ajuda?
Aparentemente ele notou a dificuldade que estava tendo em se vestir. Embora tivesse conseguido vestir uma de suas camisas e calções de lã, a camisa já estava meio ensopada por seu cabelo molhado e seus dedos não estavam cooperando quando ela tentou puxar os calções.
Ela sacudiu a cabeça. Como uma oferta de paz — se é o que isso era — não foi o suficiente. Ele a rejeitou, deixando-a daquele jeito, e ela não o deixaria fingir que nada aconteceu. Como se a colocando nas suas roupas pudesse apagar a evidência da memória! Ela estava quase se embrulhando no plaid novamente quando ele a deteve.
— Você não pode vestir nada que usou antes. Deixaremos isto com as outras coisas.
— Mas isso pertence a Eoin e é quente.
Ela pensou que sua boca repuxou um pouco mais apertada.
— MacLean vai entender — Ewen tirou seu próprio plaid e o estendeu para ela. — Pode vestir o meu.
Seus olhos se prenderam por um longo minuto, como se existisse algum tipo de significado além do calor que isso ofereceria, mas então ele desviou o olhar e o momento se foi.
Ela tomou o plaid e depressa o envolveu ao redor de si mesma, incapaz de conter o suspiro de prazer quanto o calor envolvia seus membros congelados. O calor do corpo dele parecia capturado no intricado entrelace dos fios de lã. Se ela inalasse (o que ela fez), podia só pegar um leve cheiro do familiar pinho e couro.
Depois de alguns minutos ela estava aquecida suficiente para terminar de se vestir. Juntou as mechas ensopadas de seu cabelo em uma trança apertada na nuca e calçou as botas. Pelo menos ele não insistiu que ela fosse descalça. Ele estendeu um pedaço de corda, a qual ela olhou inexpressivamente.
— Para os calções — ele explicou. — As amarras não parecem estar funcionando muito bem.
Realmente, ela constantemente tinha que puxar as calças para cima para não escorregarem por seus quadris. Ainda assim, eram melhores que suas outras opções: seu hábito ou o belo vestido que Mary mandou buscar para ela apresentar-se na corte.
Ela enfiou a camisa de linho nos calções e juntou um bolo ao redor de sua cintura, usando a corda como cinto. Notando o modo que os olhos dele caíram em seus quadris, demorando com fome quase palpável por um momento, até que ele forçou seu olhar para longe, ela teve certeza de levar seu tempo. Vingança insignificante talvez, mas que se provou surpreendentemente satisfatória.
O cinto adicional ajudou, e alguns momentos mais tarde, depois que ele amarrou sua antiga roupa emprestada ao redor de uma pilha de pedras e a lançou no lago, ele juntou os pertences deles para irem embora.
Mas Janet não estava pronta para partir. Não sem uma explicação. Ela pegou seu braço antes dele poder ir embora.
— Por que você parou daquele jeito? Eu fiz algo errado?
Sua mandíbula apertou, seu olhar azul de aço se encontrou com o dela.
— Não agora, Janet. Precisamos nos mover mais alto nas colinas. Eles não desistirão da caça.
— Talvez não, mas a menos que você ache que eles estão bem atrás de nós, certamente pode me dar alguns minutos. Não mereço algum tipo de explicação?
A expressão dela se tornou aflita.
— Você não fez nada errado. Foi minha culpa. Nunca devia ter acontecido.
— Por que não?
Seus olhos faiscaram quentes.
— Porque não é certo. Sua inocência pertence ao seu marido, maldição.
Janet endureceu, tentando não exagerar ou ficar desapontada. Sua reação era compreensível — era como a maioria dos homens pensava. Mas ela não queria que ele pensasse como a maioria dos homens. Queria que a visse por ela mesma e não como uma posse ou acessório. Era demais pedir isso?
Às vezes ela podia quase se convencer que ele era diferente. Que sua irracionalidade era apenas resultado da inexperiência. Que ele não conhecia nada melhor, mas que uma vez que conseguisse conhecê-la a veria como… o que? Capaz. Certamente não uma virgem para ser trocada e vendida como uma vaca premiada.
— Minha inocência pertence a mim — ela disse firmemente. — É minha para perder ou não.
— Eu queria que fosse verdade. Mas não é tão simples, Janet. Você é a filha de um conde e cunhada do rei. Seu marido vai esperar...
— Que marido? Não sou casada, nem pretendo ser.
Sua veemência o levou para trás.
— Você soa tão certa.
Ela ergueu o queixo.
— Estou.
— Você está seriamente considerando se tornar freira?
Depois do que tinha acabado de acontecer, isso soou da mesma maneira improvável para ela. Mas faria o que devia.
— Se esta for minha única alternativa ao casamento.
— Você faz o casamento soar como uma sentença de morte. Realmente seria tão horrível?
Ela pensou em sua família. Sim, seria. Como ela podia explicar? Como podia fazê-lo entender o que para ele — para a maioria dos homens — deve parecer antinatural?
— Eu me perderia.
A sobrancelha dele franziu.
— Como?
— Eu não teria mais a capacidade de controlar minhas próprias ações. Tudo, até a menor decisão, seria controlada por meu marido. Minha vontade não seria mais minha. Não tenho nenhuma vontade de ser tratada como uma posse.
Ele franziu o cenho.
— Não é sempre assim.
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Então você conhece muitos homens quem tratam suas esposas como iguais?
Seu cenho franzido aprofundou.
— Alguns.
Seu coração saltou adiante. Isso o incluía?
— E você permitiria a sua esposa o poder de tomar suas próprias decisões ainda que elas não concordassem com as suas?
— Não estamos falando sobre mim.
— Não, não estamos — disse baixinho, seu coração apertando com inesperada decepção. Ela não podia ter estado pensando nele como marido, não é? — Mas queria saber minhas razões e você é um exemplo perfeito. Deixou seus pensamentos sobre o que estou fazendo bastante claro. Por que podia esperar que outro homem se sentisse de forma diferente? Pode imaginar um marido permitindo que eu continuasse meu trabalho?
Sua boca apertou teimosamente.
— Seu trabalho é perigoso.
— Então preciso ser protegida de mim mesma, é isso? — Não surpreendentemente, ele não respondeu. Ela decidiu devolver a pergunta a ele. — Por que está tão certo que eu não devia estar fazendo isto? Por que tem tão pouca consideração com as mulheres ou é só eu?
Ele pareceu chocado.
— Jesus, Janet, só porque não penso que é seguro para você vagar por toda parte da Escócia sozinha no meio de uma guerra, realizando algo que pode fazê-la ser morta se for descoberta não significa que penso menos de você. Diabos, já se provou para todo mundo depois de hoje. Você agiu tão bem quanto qualquer homem — o peito dela se ergueu ante suas palavras. Ele não fazia ideia do quanto elas significavam para ela. — Mas ser mulher a torna vulnerável de modos diferentes. Quando penso no que podia acontecer a você… — seu rosto escureceu e seus olhos tomaram uma cobertura assombrada. — Maldição, tem alguma ideia do que os ingleses fariam com você se descobrissem o que estava fazendo?
Existia algo mais no trabalho aqui do que simplesmente sua visão em papéis tradicionais para homens e mulheres. Obviamente ele estava falando de experiência pessoal.
— Diga-me o que aconteceu.
Sua mandíbula apertou tão firmemente que ela podia ver o músculo abaixo começando a repuxar.
— Foi há alguns anos, não muito depois que nós chegamos à Escócia depois de sermos forçados a nos refugiarmos nas Ilhas por alguns meses. — Ela engoliu em seco. Foi quando seu irmão Duncan tinha sido morto. — Nós estávamos sendo caçados, a maré ainda não tinha virado, e um punhado de aldeões, principalmente mulheres e crianças, ajudaram a nos esconder nas colinas. Os ingleses descobriram, e quando nós voltamos para agradecê-los — seus olhos encontraram os dela — não tinha restado ninguém para agradecer. As mulheres foram estupradas e espancadas antes de terem suas gargantas cortadas. Só uma moça sobreviveu.
Janet ofegou. Apesar dele ter falado com sua aspereza habitual, ela podia ouvir a emoção em sua voz e perceber o quanto deve ter sido horrível.
— Não foi culpa sua.
— Claro que foi — ele estalou. — Nós pedimos ajuda a eles, nunca imaginando o risco que estávamos pedindo que corressem.
— Mas eles teriam feito isto de qualquer maneira — ela disse suavemente. — Mesmo sabendo, eles teriam te ajudado.
— Como pode saber disso?
— Porque eu teria feito o mesmo.
Ele olhou fixamente para ela, não dizendo nada por um momento.
— Por que ser mensageira é tão importante para você?
— O porquê não devia importar. O fato em si deve ser suficiente — era demais esperar que um homem pudesse entender isto? — Não pergunto a você por que faz o que faz. Só porque não uso armadura e levo uma espada não faz o que faço menos importante. — Ela fez uma pausa. — Esta guerra não será ganha só pela espada, Ewen. Como você acha que os fantasmas de Bruce sabem o lugar certo para atacar? — Ele a estava observando atentamente. — Bons espiões passaram por mensageiros.
Ela deixou como estava, não querendo dizer mais.
Ele pareceu considerar o que disse, mas se deu a isto qualquer peso, ela não podia dizer.
— Isto é sobre sua irmã?
Ela endureceu.
— Sobre o que você está falando?
— Você não tem que se provar ou reconciliar pelo que aconteceu na ponte. Mary não te culpa. Se você só soubesse o quão desesperada ela esteve para te achar e quão ansiosa está para ter você de volta.
O coração de Janet devorou cada palavra. Era verdade? Ela queria acreditar nele e ansiava questioná-lo, mas isso significaria reconhecer para si mesma que suas palavras guardavam alguma verdade.
— Minha irmã não tem nada a ver com isso. Não é suficiente querer ajudar? Sempre tem que haver uma razão adicional? E você, por que está aqui, Ewen? O que fez você decidir ser um dos fantasmas de Bruce?
Ele fez uma cara feia, mas não mordeu a isca.
— Eu me juntei ao exército de Bruce porque meu suserano, e um homem que eu respeitava acima de todos os outros, pediu que o fizesse. Fiquei para livrar meu clã da extinção.
Os olhos dela se arregalaram pela honestidade cega. Nada de febre ou falas patrióticas de liberdade e tirania dele, somente ambição e recompensa.
— Seu pai? — Ela perguntou.
Levou um momento para perceber o que ela queria dizer. Quando entendeu, ele riu.
— Dificilmente. Meu pai não era homem de inspirar muita devoção. Não, falo do antigo Stewart, Sir James Stewart.
Janet não pode esconder a surpresa. Era este o senhor que ele falou quem o criou? Os Lordes Stewart de Bute eram um dos clãs mais importantes do país. — Você é conectado aos Stewarts?
Um sorriso torto virou sua boca, como se ele adivinhasse a direção de seus pensamentos.
— Não próximo. Minha mãe era prima de Sir James, sua prima favorita, quando isso aconteceu. — Vendo sua confusão, ele suspirou como se resignando a ter que dizer mais. — Minha mãe era noiva do Chefe dos Lamont quando ela conheceu meu pai, um dos seus comandantes, e decidiu casar com ele em vez do outro. Desnecessário dizer, o chefe dos Lamont não ficou muito feliz. Ele foi à guerra com meu pai e o teria destruído sem a ajuda de Sir James. — Ele sacudiu a cabeça. — Ironicamente foi meu pai sendo cortado do resto do clã que me deu a habilidade para salvar isto.
— O que você quer dizer?
— Tipo os MacDougalls, MacDowells e Comyns, meu primo, o chefe atual, e os membros do seu clã ficaram contra Bruce, foram exilados e tiveram as terras do clã desapropriadas, com exceção das minhas terras em Ardlamont. Se não fosse pela minha conexão com os Stewarts, e deste modo com Bruce, eu estaria com eles. Como isso está, sou o último Lamont em Cowal. Meu clã vive ou morre com a habilidade da minha espada, por assim dizer.
Janet estava atordoada. Não é de se espantar que ele parecia tão teimoso e com um único objetivo em mente sobre cada missão. O futuro do que foi uma vez um grande clã descansava em seus ombros largos. Mas outra coisa mais que ele disse deu a ela um sussurro de possibilidade.
— Você é um chefe?
Ele segurou seu olhar.
— Não fique muito impressionada, minha senhora. É só uma propriedade secundária, com metade de um castelo.
As sobrancelhas dela franziram, não entendendo o sarcasmo.
— Até o rei te recompensar com mais pelo seu serviço?
Ele deu de ombros.
— Se for da sua vontade.
Ela olhou-o especulativamente. Apesar de ele ter dito isto com indiferença, sentiu o quanto importava para ele. Era isso que o conduzia. Recompensa e uma posição para seu clã sob a monarquia de Bruce. Também fornecia outra explicação para o porquê dele ter parado. Despojar a cunhada do rei dificilmente agradaria a Robert.
Mas não havia nenhuma razão para que Robert algum dia descobrisse. Não que ela pensasse que isso provavelmente influenciaria Ewen. Estava provando ter uma raia de honra inconveniente nele.
Ela mordeu o lábio, perguntando-se se existia outro modo. Apesar de sua continuada rejeição e comportamento apavorantes em se afastar dela no meio do ato de amor, ela ainda o queria e não iria desistir.
Por que isso era tão importante para ela, não sabia. Ou era uma glutona por castigo ou existia algo verdadeiramente especial entre eles que valia a pena os golpes continuados no seu orgulho. E havia a paixão. A inegável atração que surgiu entre eles como uma fogueira. Ela não podia descontar isto.
Em todo caso — eu não posso fazer isto — não era uma resposta que ela tinha intenção de aceitar. Soava demais como não. Se a voz de Mary sussurrou um aviso, Janet empurrou isto de lado. Ela sabia o que estava fazendo. Além disso, não havia ninguém mais por perto para ser magoado.
Ele esquadrinhou a área atrás dela.
— Nós descansamos tempo suficiente.
Ela ergueu uma sobrancelha em questionamento. “Descansar” não era como descreveria o que eles fizeram. Se não estivesse certa que era impossível para ele corar, teria jurado que suas bochechas escureceram enquanto entendia o que ela estava querendo dizer.
— Aye, bem, você poderá dormir assim que tiver certeza que nós os despistamos.
— Acho que eu preferiria fazer um pouco mais de descanso.
Ele disparou a ela um olhar repreensivo.
— Janet…
Ele poderia estar dando bronca em um filhote malcriado. Ela piscou para ele inocentemente.
— O que?
— Não vai acontecer. Eu disse a você que foi um erro. Está acabado. Acabou.
Ela sorriu, sabendo que nenhum deles acreditou nisto. Não estava acabado, acabou de começar.
Ewen os empurrou impiedosamente, tanto para colocar o máximo de distância entre eles e os ingleses quanto para mantê-la ocupada demais para conspirar sua queda.
A moça era problema. E teimosa.
Audaciosa demais pro seu gosto. Também era inteligente.
Dolorosamente doce. E de longe mais forte do que ele esperava.
Não podia acreditar que ela ainda estava de pé. Até este momento foi caçada por cachorros, atacada por um cavaleiro inglês, matou o dito cavaleiro com um punhal bem colocado na perna, marchou por quilômetros afundada até os joelhos em um rio gelado, sofreu um banho naquela água gelada, e caminhou por quilômetros acima de colinas congeladas e cobertas de névoa. Como se não bastasse, também estava por um fio de cabelo da ruína.
Um orgasmo não podia compensar tudo aquilo. Apesar de ter sido um inferno de um orgasmo. Ele não achou que algum dia esqueceria o olhar de êxtase e surpresa em seu rosto enquanto seu corpo desintegrava debaixo dele. O fluxo de cor para suas bochechas, os olhos entreabertos e nebulosos de paixão, os lábios suavemente separados inchados do seu beijo.
Jesus. Calor inchava sua virilha penosamente abusada. O alívio que ele tomou em sua mão depois de deixá-la mal resolveu. Como ele manteria suas mãos fora dela até que alcançassem a costa, quando tudo que conseguia pensar era sobre terminar o que eles começaram?
A moça invadiu seus sentidos, penetrou suas defesas e deslizou debaixo de sua pele. A queria com cada fibra de seu ser. Mesmo exausto, sua perna queimando, com frio e faminto, ele não podia olhar para ela sem pensar sobre lançá-la no chão, entrelaçar aquelas pernas longas e esguias ao redor de sua cintura, e dar a ela exatamente o que estava pedindo.
Então ele fez o que qualquer guerreiro destemido faria: não olhou para ela.
Mas não sabia quanto mais disso podia aguentar. Mais descanso… diabos! Ela estava tentando matá-lo? Deus sabia por que, mas a moça enfiara na cabeça em entregar-lhe sua inocência. Ela tinha alguma ideia do quanto era difícil para ele recusar esse tipo de oferta?
Claro, ela não sabia, e depois de ouvir seu ponto de vista sobre o casamento, ele com toda certeza não iria iluminá-la. Não tinha nenhuma dúvida que teria que arrastá-la chutando e gritando a distância toda até Dunstaffnage. Bruce teria um inferno de uma batalha em suas mãos quando ela descobrisse sobre seus planos.
A pior parte era que ele não estava certo que a culparia por isso. Ele nunca considerou o casamento da perspectiva de uma mulher antes, mas tinha que admitir, suas preocupações não eram sem mérito. Sempre deu como garantido o papel do homem de autoridade absoluta. Para uma mulher como Janet que estava acostumada a tomar suas próprias decisões, seria sufocante. Ela se irritaria contra aquelas ligações a cada volta.
Mas qual era a alternativa? Ewen não era como MacKay, ele não podia deixar sua esposa segui-los na batalha. Franziu o cenho. Embora esteve agradecido mais de uma vez por ter uma curandeira qualificada à mão.
Helen é diferente, disse a si mesmo.
Mas Janet não era?
Eles escalaram um pequeno platô na colina e ele parou. Apesar de ser apenas algumas horas depois do meio-dia, a luz do dia já estava desvanecendo.
— Espere aqui — ele disse apontando para um rochoso afloramento. Como fez a cada pouco quilômetro, deixou-a recuperar o fôlego enquanto ele circulava de volta para tentar esconder a trilha deles. A neve no chão endurecia conforme a temperatura caía quanto mais alto que eles subiam na montanha, tornando mais fácil fazer isso. Mas onde o chão era muito suave, em vez de esconder, ele começaria a confundir seus perseguidores andando para trás, interrompendo em outras direções durante algum tempo ou fazendo várias pegadas em uma área. Quando retornou alguns minutos mais tarde, ela estava acomodada em uma das pedras, olhando para ele.
— Alguém está nos seguindo?
Ele sacudiu a cabeça. Mas algo a deixou curiosa.
— Por que você parou para olhar a samambaia lá atrás?
Ele se sentou ao lado dela e tirou seu odre. Depois de tomar um longo gole, ele entregou a ela.
— Alguns dos talos estavam quebrados por onde nós passamos.
Ela franziu o cenho.
— Pensei que você estava escondendo nossas pegadas.
— Estou escondendo nossa trilha.
— Não é a mesma coisa?
Ele balançou a cabeça.
— Estou procurando por qualquer perturbação na paisagem, não apenas pegadas. Qualquer sinal que alguém pode ter passado.
— E você pode dizer por alguns galhos quebrados que alguém passou.
Ele deu de ombros.
— É um sinal.
Ela deu a ele um longo olhar.
— Como você se tornou tão bom nisto?
— O escudeiro do meu pai era um rastreador. Costumava me levar com ele quando eu era pequeno e mais tarde quando voltei da guarda. Ele notou que possuía uma memória incomum para detalhes e me ensinou como usar essa habilidade para rastrear. Mas é principalmente experiência. — Anos e anos de saber pelo que procurar.
— Que tipo de detalhes?
— Olhe atrás de mim — ele esperou alguns momentos. — Agora feche os olhos e me diga o que você viu.
Ela olhou de volta para ele.
— Isto é um truque? Só tem uma área plana de charneca suja de neve, com algumas pedras espalhadas sobre ela.
— Olhe novamente — ele não virou, mas chamou a imagem de memória. — As pedras espalhadas sobre os pântanos são arenito Graywacke, mas cerca de vinte passos atrás de mim têm algumas pedras de granito empilhados que é provavelmente o início de cume de um monte de pedras. Justo à esquerda, você pode ver os contornos de um caminho estreito vindo do Norte onde a grama foi pisada, provavelmente por lebres da montanha, se a pilha de excrementos perto é qualquer indicação, e a neve é ligeiramente mais baixa. Próximo aos caminhos da grama do pântano púrpura se esticando através da neve no lado oeste da colina está a trilha de um grupo pequeno de cervos vermelhos. Diretamente acima do meu ombro esquerdo, mais ou menos cinco passos atrás de mim, tem uma pequena protuberância na neve. Se olhar de perto, você pode ver algumas penas castanhas espetando a neve. Suspeito que é a carcaça de uma perdiz trazida aqui para baixo por um tartaranhão azulado ou falcão peregrino.
Ela ficou boquiaberta.
— Você nem olhou.
— Fiz mais cedo. Eu disse a você, tenho uma memória incomum.
— Digo mais. Tem um olho agudo para detalhes — ela sorriu deleitada. — Pelo que mais você procura?
Ele não estava acostumado a um público tão ávido, mas como o assunto claramente a interessava e sabendo que isso ajudaria a passar o tempo, ele explicou alguns princípios básicos, tal como minimizar sua impressão na paisagem e ter certeza que nenhum sinal foi deixado para trás, táticas de engano para esquivar de seus perseguidores, tais como andar para trás, dar a volta, pular pedra e andar na ponta do pé. Como se mover com o vento para esconder seu odor, como evitar mudar de direção em lugares óbvios, e como quebrar uma trilha de odor como eles fizeram com os cachorros. Ela o escutou com a atenção extasiada, claramente fascinada.
— Cada vez que você dá um passo — ele disse — procure por pedras, chão duro, remendos de gelo, estradas ou caminhos existentes, musgos flexíveis, coisas assim. Seus passos serão menos visíveis.
— Achei difícil — ela disse.
Isso era um modo de colocar, mas ele tentava não pensar sobre — muito — dado seus problemas numa certa área.
Ela olhou para ele.
— Parece tão óbvio agora que você apontou, mas nunca percebi.
— A maior parte do que faço é bom senso. Você só tem que pensar sobre isto.
— Você está sendo modesto — ela inclinou sua cabeça para trás para olhar para ele. — Não é de espantar que Robert quisesse você para seu exército secreto. Posso imaginar que uma habilidade como a sua é útil para homens que querem parecer com fantasmas.
Podia sentir seus olhos nele, então teve cuidado de não reagir. Maldição, a moça era incansável! Ele devia ficar surpreso por ela ter descoberto, mas não estava. Ela podia encontrar problemas mesmo sem procurar por eles.
— Você não vai dizer nada?
Ele virou para olhar para ela, seus olhos mergulhados nos dela.
— Eu preciso te dizer quanto perigo você pode nos colocar só de mencionar o assunto, independente se é verdade?
O olhar dela nunca oscilou.
— Mas é verdade. Sei que é.
Claramente, não iria dissuadi-la. Sabia que devia tentar. Ele fez um juramento, e não era só sua própria vida em jogo, mas não queria mentir para ela. Então fez a segunda melhor coisa e disse: — Vamos. A hora de descanso acabou.
Ela gemeu.
— Mas nós acabamos de sentar. Você só está tentando evitar minhas perguntas — ele não negou. — Os ingleses não estarão nos perseguindo para sempre, Ewen. Um dia desses você não poderá evitar responder.
Ele não sabia, era bom para caramba em evitar coisas. Exceto com ela — o que era parte do problema. Não respondeu, simplesmente esticando sua mão ao invés disto. A ajudou a ficar de pé — com outro gemido dramático da parte dela — e partiram.
Embora estivesse bastante certo que eles despistaram seus perseguidores, ele queria alcançar o próximo cume ao anoitecer. Havia um velho campo de pedra onde eles podiam se abrigar. Era muito perigoso vagar ao redor destas montanhas na escuridão, especialmente com a neblina. De manhã, trataria de achar cavalos para levá-los para Ayr, onde com toda certeza esperavam MacKay e MacLean, e Sutherland os alcançaria.
Ensiná-la sobre rastreamento provou ser um modo efetivo de passar tempo, distraindo-os — ele de pensar sobre a dor em sua perna e o destino de seus amigos, e ela de fazer mais perguntas que ele não podia responder sobre a Guarda das Highlands. Era uma aluna ávida, surpreendendo-o com seu interesse, como também com quão rapidamente ela parecia aprender.
Foram capazes de se mover em um ritmo muito mais rápido desde que ela se tornou mais consciente dos sinais que estava deixando para trás conforme eles subiam, e deste modo ele não precisou passar tanto tempo voltando para cobri-los.
Devia tê-la instruído mais cedo. Por que não o fez? Essa era uma das primeiras coisas que fazia com os homens sob seu comando. Ele tinha pensado que os princípios eram muito difíceis de aprender ou que era somente para homens?
Ela estava certa, percebeu. Ele assumiu que porque não usava armadura e carregava armas, estava mal equipada para guerra. Mas Janet de Mar parecia estar mudando na cabeça dele muitas de suas noções preconcebidas sobre mulheres. Ela não era frágil ou impotente. Era forte e capaz. Capaz para caramba, na sua opinião.
Embora pudesse estar disposto a admitir que ele subestimou suas habilidades, não estava errado sobre o perigo. Ela pode ter se defendido do cavaleiro hoje, mas sem o elemento surpresa — ou se houvesse mais de um homem — estaria tão morta quanto aquelas mulheres em Lochmaben. Ainda que ela fosse a melhor maldita mensageira na Escócia, isso não anulava seu instinto de protegê-la.
Mas ela precisava de proteção?
Pensou na conversa deles sobre as mulheres em Lochmaben. Ele nunca acreditaria que uma mulher podia entender o perigo e ainda querer ser envolvida. Justo como ele, ela assinalou. Isso era ridículo, não era?
Quando a sombra do campo apareceu no horizonte, Ewen alcançou um de seus objetivos: a moça estava exausta. Exausta demais para fazer qualquer coisa além de entrar nas dobras do plaid que ele estendeu para ela como cobertor, depois de limpar totalmente os excrementos dos antigos ocupantes animais, e dormir.
A virtude — e a honra dela — estava segura. Por enquanto.
Mas quando subiu para pequena cabana de pedra deitando-se ao lado dela algumas horas mais tarde, e ela instintivamente encostou-se nele, enterrando-se em seus braços, algo duro e pesado se alojou no seu peito. O peso da inevitabilidade? A certeza pedregosa do destino? Porque nada nunca pareceu mais perfeito. Sozinho em uma montanha, abrigando-se em uma cabana de pedra destinada para ovelhas enquanto estavam sendo caçados por ingleses, ele nunca se sentiu mais contente.
Ele dobrou seu braço debaixo do peito dela, aconchegou sua bundinha na sua virilha, enterrou seu nariz na maciez sedosa dos cabelos dela, e saboreou cada minuto de segurar a mulher que não era dele, mas que com toda certeza se sentiu como se fosse.
CAPÍTULO 17
Janet despertou de estalo. Levou alguns apavorantes segundos para lembrar onde estava, mas eventualmente começou a respirar uniformemente de novo. O campo de pedra na montanha. Com Ewen.
Ela franziu o cenho. Ewen, que não estava em nenhum lugar por ali. Não precisou procurar pela cabaninha de pedra para ver que ele se fora, podia dizer pelo frio vazio atrás dela.
Ele dormiu ao lado dela. Instintivamente sabia disso. Não que pudesse lembrar, caramba. A última coisa de que se lembrava era estar enfiada debaixo das dobras quentes do seu plaid. Estava tão cansada que adormeceu no momento que seus olhos fecharam.
Ele provavelmente contaria com isto, o idiota. A fez marchar estas colinas acima até que estava cansada demais e com frio para fazer qualquer coisa além de desabar. Tudo que podia recordar era uma sensação de calor e satisfação. De estar perfeitamente relaxada e aquecida em sua cama, aliviada pelos eventos do dia.
Ele a segurou, ela percebeu.
Janet balançou a cabeça com moderado desgosto. A única vez que ele a tomou em seus braços e segurou, e ela nem esteve acordada para apreciar! Se não estivesse tão certa que existia algo especial entre eles, as tentativas dele para evitá-la poderiam ter sido desmoralizantes.
Ela tinha acabado de fechar o plaid quando o idiota em questão meteu a cabeça pela porta baixa da cabana. Ele teve que abaixar ligeiramente para ficar do lado de dentro, já que o telhado abobadado tinha só mais ou menos um metro e oitenta de altura no centro.
— Você está acordada? Não pensei que você se levantaria até o meio dia.
A princípio ela pensou que ele a estava criticando, mas então percebeu que a estava provocando. Ela deu a ele um olhar conhecedor.
— Fiquei com frio sem você ao meu lado.
O rosto dele ficou em branco — muito em branco.
— Fiquei lá fora a maior parte da noite, mantendo vigia — ele estendeu o odre antes que ela pudesse discutir. — Pode usar isto para se lavar até que alcancemos um regato.
Ela tomou a bolsa d’água agradecida. Seus olhos e dentes pareciam que estavam com areia. Tudo que precisava era um pente — que devia estar em uma das bolsas — e poderia até se sentir humana novamente. Ela pensou sobre cutucá-lo sobre o arranjo deles de dormir, mas decidiu deixar para lá — no momento. Ao invés disto, perguntou: — Que regato?
— Próximo à aldeia de Cuingealach. Precisamos de um cavalo. Os ingleses parecem ter desistido da perseguição, mas quero colocar o máximo possível de distância entre nós.
Um plano sábio. Mas algo a estava incomodando.
— Em primeiro lugar, por que você acha que eles estavam nos perseguindo?
Ele hesitou, aparentemente cuidadoso com suas palavras.
— Tivemos alguns problemas a caminho de encontrar você em Roxburgh.
— Então eles estavam procurando por você?
— Provavelmente.
O conhecimento aliviou sua consciência um pouco sobre perder a touca. Não tinha sido tudo culpa sua. Além disso, como ela esperava que fosse difícil convencer Robert a deixá-la retornar para Roxburgh depois do que tinha acontecido, o fato que os soldados tinham ido atrás de Ewen e dos outros, e não dela, ajudaria. Claro, não havia dúvida de Ewen a escoltaria de volta. Era perigoso demais para ele. Mas não seria para a Noviça Eleanor.
— Acha que estamos muito atrasados? Devo estar de volta a Roxburgh dentro de quinze dias.
Uma expressão estranha cruzou seu rosto. Ele desviou o olhar quase desconfortavelmente.
— Você vai ter bastante tempo. Mas devemos ir.
— E Sir Kenneth? Como ele vai saber como nos achar?
— Não se preocupe com Sutherland. Ele nos alcançará se puder.
Se. Ela captou algo em sua expressão que por estar assustada e chateada demais não notou antes. Um leve escurecimento dos olhos e aperto ao redor da boca.
Janet ficou quieta enquanto o horror lentamente caiu sobre ela.
— Você acha que algo aconteceu com o marido da minha irmã?
Como se Mary já não tivesse motivos suficientes para odiá-la.
Ela deve ter parecido tão atingida quanto soou porque ele amaldiçoou, passando os dedos por seu cabelo.
— Maldição, não foi isso que eu quis dizer. Tenho certeza que ele está bem.
— E se ele não estiver?
Ele pegou seu queixo e inclinou o rosto dela em direção ao seu.
— Se não estiver, não tem nada a ver com você. Isto é o que ele faz, e às vezes — a maior parte das vezes — é perigoso. Mary sabe disso.
Janet acenou com a cabeça, mas em seu coração não podia aceitar isto. Se qualquer coisa acontecesse ao marido de sua irmã, Janet nunca se perdoaria.
Uma touca. A porcaria de uma touca! Ele não podia ter morrido por causa de algo tão insignificante... podia?
Lágrimas encheram seus olhos. O polegar de Ewen acariciou sua bochecha, como se ele as enxugasse antes delas poderem cair. A gentileza entrou em seu coração e não foi embora.
Eu podia amá-lo.
Com o menor encorajamento, ela podia amá-lo. A realização do quão fácil seria se levantar e agarrá-la pela garganta, inspirava tanto temor quanto e pavor. Isso mudaria tudo.
Ele parecia que iria dizer algo mais, mas ao invés disso deixou a mão cair do seu rosto e se afastou.
— Prepare-se e coma alguma coisa enquanto dou outra olhada por aí. A névoa não está tão espessa esta manhã e quero estar fora destas montanhas antes que se levante.
Ele tinha quase atravessado a entrada quando ela gritou.
— Ewen!
Ele girou e olhou-a por cima do ombro. O coração dela apertou. Com seu cabelo escuro, olhos azuis como aço, feições rústicas e mandíbula com sombra de barba, ele parecia tão rudemente bonito que doía. Por que ele? Depois de todos esses anos, por que este homem tinha finalmente ameaçado seu coração?
— Obrigado.
— Pelo que?
Ela corou. Por estar aqui com ela. Por mantê-la a salvo e aquecida. Por segurá-la em seus braços. Por lhe trazer água para se lavar esta manhã. Por não a culpar e tentar fazê-la se sentir melhor.
— Por tudo — ela disse suavemente.
Confusas, as sobrancelhas dele franziram ligeiramente, mas ele assentiu.
Um pouco tempo depois eles estavam subindo mais as colinas, continuando em direção ao leste. Apesar de descansadas, suas pernas ainda estavam doloridas da véspera e ela ficou feliz que ele aliviou o ritmo um pouco.
Franzindo o cenho, perguntou-se se a perna dele o estava incomodando. Mas depois de observá-lo durante algum tempo, não descobriu qualquer sinal de dano ou dor e concluiu que o unguento deve ter funcionado.
Estava certo sobre a névoa. Não demorou, erguendo-se no meio da manhã, quase ao mesmo tempo em que eles alcançaram o riacho do qual ele tinha falado. O fluxo era mais ou menos de quase um metro de largura atravessando um desfiladeiro profundo. Era bonito, estabelecido na paisagem de musgo, pedra e uma leve camada de neve, mais precisamente, atalhos de neve, à medida que o sol morno já estava derretendo o fôlego gelado do inverno. Ela tomou seu tempo, lavando o rosto e as mãos, e apreciando o momento de paz. Ela devia saber que não duraria.
Ewen apertou os dentes pela batalha adiante. Ele devia saber que ela não iria gostar do seu plano. Deus, todas as mulheres tinham tantas opiniões? Pensando nas esposas dos seus soldados, suspeitou que elas tinham.
Diabos, o que estava acontecendo com ele? Tinha sido tão mais fácil quando não pensava sobre o que uma moça pensava ou queria. O olhar dela deslizou por cima dele em uma silenciosa zombaria que certo como o inferno não devia deixá-lo quente, mas seu membro não parecia notar seus olhos faiscantes.
— Uma muda de roupa não esconde o que você é, Ewen. Qualquer um que olhar para você vai ver que é um guerreiro — a observação o agradou muito mais do que devia. Como fez o modo que os olhos dela se demoraram de forma apreciativa em seus ombros e braços. — Deixe-me ir com você, eu posso ajudar. Você será menos óbvio com uma esposa a seu lado.
Lembrando o quão bem isso terminou na primeira vez, ele declinou.
— Estou comprando um cavalo, Janet. Fiz isso centenas de vezes antes. Não existe nada com que se preocupar. Estarei de volta antes de você sequer perceber que fui.
Ela balançou a cabeça.
— Mas e se tiverem soldados ali?
— Não haverá. Como você pode ver — ele apontou lá embaixo no vale para dúzia ou mais de construções e a igrejinha aninhada na ladeira, — é uma aldeia pequena. Nenhum castelo significa nenhum inglês.
— Eu posso te ajudar. Lembra o que aconteceu na pousada? Sou boa em falar com as pessoas.
E ele não era. Mas podia pechinchar bem para caramba por um cavalo. Sabendo que eles estariam de pé aqui para sempre se não fizesse algo, Ewen tentou um caminho diferente. Um que tinha mais verdade do que ele queria admitir.
— Não é por isso que não quero que vá. Sei que podia ajudar, mas tendo você comigo poria a ambos em perigo.
— Por quê?
— Eu estaria preocupado com você. Focado em você. Você me faz...
Ele não sabia como explicar. Fraco. Vulnerável. Palavras que ele nunca usou para descrever a si mesmo antes.
Cristo! Se ela notasse seu desconforto, isso não ia impedi-la de perguntar.
— Faz você o que?
Ele estabeleceu.
— Distraído.
Sua resposta não pareceu satisfazê-la. Ela enrugou o nariz delicadamente, franzindo-o.
— Vou ficar fora do caminho, você nem vai saber que estou lá.
Como se isso fosse possível.
— Sempre sei quando você está lá.
— Por quê?
— Por quê? — Ele repetiu, não tendo antecipado a pergunta.
— Aye, por que você sempre sabe que estou lá? Por que sou tão diferente?
Sua mandíbula endureceu.
— Você sabe por que.
Ela ergueu o queixo de uma maneira que disse a ele que pretendia dificultar as coisas.
— Não, receio que não.
Sabia o que ela estava tentando fazer, maldição. Mas se isso significasse mantê-la a salvo, ele diria o que diabos ela quisesse.
— Porque me importo com você. Porque o pensamento de algo te acontecendo me faz enlouquecer. É por isso que não quero você indo comigo.
Ela sorriu e ele jurou era como se o sol tivesse acabado de sair.
— Certo.
A aquiescência veio muito facilmente, ele não pensou que a ouviu direito.
— Certo?
Ela acenou com a cabeça.
— E só para que saiba, você me distrai também — ela deu a ele um sorrisinho. — Eu não tinha a menor ideia que você era tão romântico.
Romântico? Ele? Maldição! Ela estava lendo demais nisso tudo.
— Janet, você não entende...
Ela fez um gesto com as mãos despachando-o — realmente despachando-o. Achava que ninguém fez aquilo desde que o cozinheiro o espantou para longe da cozinha — e das tortas recentemente assadas — quando ele era garoto.
— Entendo bastante bem. Seria melhor você ir agora antes que eu reconsidere, enquanto ainda estou impaciente com a poética “me faz enlouquecer”.
Sua boca retorceu. Estava provocando-o. Ainda era difícil para ele acreditar o quão natural parecia. Devia corrigi-la e ter certeza que entendia que isto não mudava nada, mas estava certa: não queria dar a ela a oportunidade de mudar de ideia. Teria que esperar.
— Aye, bem não se acostume a isto. Temo que possuo um suprimento limitado de palavras poéticas. Não posso pensar em nada que rime com “maldição”.
Ela riu, e o som doce reverberou em seu tórax.
— Que tal “estábulo”? Ou talvez “lamacento”'?
Ele soltou uma risada aguda. Devia saber que ela pensaria em algo.
— Vou trabalhar nisto — ele ficou sério e o sorriso de lado deslizou do seu rosto. — Não vou demorar muito. Fique longe da vista. Se alguém se aproximar, pode deslizar atrás daquelas pedras.
Não era uma caverna, mas o espaço entre os grandes pedregulhos era largo o bastante para deslizar entre elas. Queria que não tivesse que deixá-la sozinha, mas não podia evitar. Se eles queriam chegar à costa logo, eles precisariam de um cavalo. Ele teria preferido dois, mas seria muito mais difícil de explicar.
Sua prioridade — sua única prioridade — era deixar Janet em segurança o mais rápido possível. Mas ele também concederia uma pitada de incerteza sobre sua perna. Algo não parecia certo. Todo o escalar de ontem deve ter agravado. Infelizmente, ele não pensou em pegar o unguento com MacKay antes de se separarem. Nada pareceu errado quando olhou para seu ferimento mais cedo enquanto tomava banho, realmente a hemorragia parecia ter diminuído — mas doía como o inferno cada vez que dava um passo. A dor era aguda e profunda — mordia. E ele estava cansado. Mais do que deveria estar. Quanto mais cedo Helen pudesse dar uma olhada, melhor.
— Vou ficar bem — ela o assegurou. — Se qualquer coisa der errado, tenho meu punhal.
Embora ele soubesse o quão bem ela podia usar o punhal, isso não exatamente aliviava sua mente de pensar sobre ela precisando fazer isso. Ele assentiu.
— Estarei de volta antes de você perceber.
Seus olhos se encontraram. Os pés dele não queriam se mover. Ela parecia tão doce e confiante. Tão bonita e forte. Ele queria agarrá-la com cada fibra do seu ser, como se fosse a coisa mais natural a fazer. Mas não fez. Forçou seus pés a ir embora.
— Ewen — ele virou. — Eu... — Ele podia ver algum tipo de tumulto em seu rosto, e uma emoção que não podia nomear. — Tenha cuidado.
Acenou com a cabeça, perguntando-se o que ela estava prestes a dizer. Realmente, ele parecia estar pensando nisso o caminho inteiro abaixo da colina até a aldeia. Pareceu prestes a dizer algo a ele. Algo que suspeitava que não queria ouvir, mas ansiava ouvir ao mesmo tempo. Seu peito ardia. Saber que ele só enlouqueceria pensando sobre coisas que não podiam ser, forçou sua mente para a tarefa à mão. Foco.
Seu plano era simples: ofereceria dinheiro suficiente para evitar qualquer pergunta. Normalmente quando a Guarda das Highlands precisava de cavalos nas fronteiras, eles faziam uso da rede de partidários de Bruce na área. Infelizmente, as lealdades desta aldeia escondida no alto das colinas de Galloway eram desconhecidas. Eles tinham partidários em Douglas, Lanarkshire, a mais ou menos vinte e quatro quilômetros de distância, mas como também era onde eles se meteram em problemas antes, queria evitar a área.
Como a aldeia não tinha uma pousada, ele começou com a propriedade mais próxima e trabalhou seu caminho, ficando cada vez mais frustrado a cada parada. Parecia não ter um único cavalo à venda na aldeia inteira, restando apenas um que era apropriado. Inferno, neste momento ele daria boas-vindas a um velho pangaré.
Depois de meia dúzia de paradas, sua frustração estava aparecendo. Mas quando se aproximou do próximo sítio, viu por um momento algo vagando no campo que o faria ir embora: um corcel belo, robusto e parecendo ágil.
Infelizmente, o dono estava se provando difícil.
— De onde você disse que era? — Ele perguntou.
Ewen olhou o velho fazendeiro, cujo rosto abatido pelo tempo escondia uma mente ágil e astuta. — Roxburgh — ele respondeu de forma curta. — Você está disposto a vender o cavalo? Ofereço dez libras.
Até para o belo animal era uma oferta generosa. O velho devia ter dado pulos. Ao invés disso, ele acariciou sua barba longa e grisalha de forma avaliadora.
— É muito dinheiro. Você realmente deve estar necessitado.
O temperamento de Ewen estava vindo à tona. O fazendeiro obviamente suspeitava de algo, e Ewen não gostou do modo que o estava empurrando com perguntas, mas queria aquele maldito cavalo. Deu a ele um olhar duro.
— Vai me vender o cavalo ou não?
— Ele não está à venda.
Ewen apertou seus dentes e contou até cinco.
— Por que não?
— Ele não é meu para vender. Estou cuidando dele. Eu era o chefe do estábulo do exército do Rei John. — Ah, Inferno, Balliol! Definitivamente não era um amigo de Bruce então. — Ainda cuido dos cavalos doentes quando posso. Este aqui pertence ao capitão da guarda em Sanquhar. — Maldição. Isto só ficava cada vez melhor. Sanquhar era um dos castelos agora guarnecidos de James Douglas pelos ingleses. Os olhos do velho cintilaram maldosamente. — Quem sabe você possa perguntar a ele?
Ewen não precisou perguntar o que queria dizer. Tinha acabado de ouvir o galope de cavalos se aproximando. Olhou por cima do ombro, pegando o reflexo da cota de malha na luz do sol enquanto meia dúzia de soldados ingleses entravam nos arredores da aldeia vindo do Oeste. Embora eles estivessem ainda a uma boa distância, estavam se aproximando de rápido.
Não poderia fugir sem ser visto. Quando não estava mancando pelo ferimento ele corria rápido — mas não mais rápido que um cavalo. Nestas colinas abertas, sem névoa para esconder sua direção, não podia ter certeza que poderia achar cobertura rápido suficiente para despistá-los.
E ainda havia Janet. E se na caça a ele, a achassem em vez disso? Não podia arriscar. Ele xingou inúmeras vezes na sua cabeça, mas só havia uma única coisa que podia fazer: apresentar uma boa história ou ser melhor que seis cavaleiros montados com não mais do que seu punhal.
Como ele não tinha a língua hábil de Janet, suspeitava que seria o último, e até para um dos guerreiros de elite da Guarda das Highlands isso não era tarefa fácil.
Sangue de Deus, isto podia ficar pior?
Alguns minutos mais tarde, quando o som de uma voz gritando seu nome enviou uma explosão de gelo por suas veias para congelar até o último osso em seu corpo, teve sua resposta: Aye, isto podia ficar um inferno de muito pior.
— Ewen! — Janet não deixou sua mortal cara feia detê-la. Sabia que ele estaria furioso, mas no momento viu a bandeira voando ao longe de seu poleiro na colina, e não deixaria nada impedi-la de tentar adverti-lo. Infelizmente, levou muito tempo para achá-lo e agora era muito tarde. Ela chegou ao sítio ao mesmo tempo em que os soldados. — Você está aí! Comecei a pensar que se esqueceu de mim.
Ela viu seus olhos arregalarem conforme ele observava seu surgimento. Com uma mão no quadril, como se apoiando suas costas pela exaustão, ela bateu levemente em sua barriga suavemente arredondada com a outra. — Você já achou um cavalo para a gente montar?
Seu rosto estava tão fechado e carregado quanto uma nuvem de tempestade, mas depois de um momento de pausa, ele percebeu sua parte e avançou para ajudá-la. Seus olhos cravaram nos dela prometendo vingança, enquanto deslizava o braço ao redor de sua cintura protetoramente.
— Pensei ter dito que esperasse por mim — disse, adicionando depois uma pausa que ele esperava que não soasse estranha, — mo chroí.
Ela riu como se acostumada à sua explosão masculina, o que surpreendentemente estava. Não havia dúvida que berraria e grunhiria como um leão bravo quando estivesse terminado, mas não se importava. Ele precisava de sua ajuda, quisesse admitir ou não. Estava praticamente desarmado. Não o assistiria sendo colocado a ferros e arrastado para longe daqui.
Levantando-se nas pontas dos pés, ela colocou um beijo suave em sua bochecha, como se o acalmando com um bálsamo sedativo. O aperto ao redor de sua cintura instintivamente aumentou. Ela sentiu um calafrio de consciência enquanto seus corpos se moldavam juntos.
— Fiquei cansada de esperar — ela disse, um pouco agitada pelo contato. — Tanto eu quanto o bebê estamos inquietos.
A parte do quase pai amoroso aparentemente não era uma que ele estava familiarizado. Levou um momento para fingir preocupação. Ele pôs a mão em sua barriga arredondada — ou neste caso, a almofada de roupas que estufou debaixo da túnica que Mary mandou que ela vestisse. O vestido de baixo ainda era fino demais para seja o que for que ele fingia ser, mas a lã marrom era melhor que o manto bordado de ouro que ia sobre ele.
— Está tudo bem com o bebê? — Ele perguntou.
Ciente de seu público interessado, ela refletiu a preocupação dele em seus próprios olhos e suspirou com um cansaço que não precisou fingir.
— Espero que sim. Não percebi o quanto seria cansativo. Estou tão exausta. Vou ficar contente quando nossa jornada terminar.
— O que está acontecendo aqui? — Uma voz autoritária trovejou. Um dos soldados — o líder, ela suspeitava — avançou, colocando-se entre Ewen e o velho, que permanecia na entrada de seu sítio de pedra retangular com seu telhado de relvas misturadas.
— Estou procurando um cavalo para minha, uh, esposa — Ewen explicou. — Ela está cansada e não pode caminhar muito mais longe.
— Você não me disse que era para uma moça — o velho homem disse com um franzido surpreso no rosto.
De sua posição dobrada contra o corpo dele, era fácil para Janet olhar para cima e dar a Ewen uma sacudida reprovadora de sua cabeça. Então ela deu uma olhada para o velho com outro suspiro cansado.
— Às vezes acho que ele esquece que tem uma esposa. Não queria que eu viesse, mas insisti e agora temo que causei todos os tipos de problemas.
O velho homem corajosamente saltou em sua defesa.
— Que tipo de problemas uma moça pequenina e fina como você podia causar?
— Você ficaria surpreso — Ewen disse baixinho, mas alto suficiente para eles ouvirem.
Janet deu uma cotovelada de lado e disparou uma cara feia para ele.
— Eu disse a você que sentia muito — ela virou para o velho pedindo ajuda. — Ele me culpa.
— Pelo que? — O soldado se meteu.
— Por perder nosso cavalo em primeiro lugar — ela retorceu as mãos ansiosamente. — Foi tudo minha culpa. Não amarrei as rédeas direito e ele vagou para longe na tempestade. Agora devemos usar o dinheiro que planejávamos dar à abadia para comprar outro. — Quando os homens olharam para ela em confusão, ela adicionou. — Ele não disse a você que estamos a caminho de Whithorn rezar pelo nascimento da criança?
O velho balançou a cabeça. Por alguma razão as lágrimas não foram difíceis de produzir. O pensamento de levar um filho de Ewen a encheu com todos os tipos de emoções estranhas. Emoções profundas. Ternas.
— Nós perdemos tantos — ela disse suavemente. — Eu só quero dar um filho a ele.
Ewen parecia ter sido pego na emoção também. Ele a colocou debaixo do seu braço novamente e a acalmou com tapinhas gentis na sua cabeça.
— Não se aflija, meu bem, tudo vai ficar bem.
Janet descansou a bochecha na parede sólida do seu peito e tomou um fôlego estremecido. Céus, era tão bom. Com a força dos seus braços ao redor dela, era fácil acreditar nele.
— Este cavalo não está à venda — Ewen adicionou, — mas vamos achar outro. Venha, amor.
Ele começou a levá-la para longe, mas uma voz os deteve. Uma voz inglesa irritada e anasalada.
— Espere. Alguém vai me explicar o que está acontecendo aqui, agora.
Janet murmurou baixinho uma das palavras de maldição favoritas de Ewen e levantou o olhar para o grande inglês assomando acima deles na sela. Surpreendentemente, não foi a armadura pesada e numerosas armas reluzindo na luz do sol que a preocupou, mas a acuidade do seu olhar. Embaixo do elmo de aço, ela podia dizer que o capitão de olhos azuis, cabelos escuros e barba bem aparada não era nenhum tolo. E estava muito claro que ele não os deixariam só ir embora.
CAPÍTULO 18
O modo que o soldado estava olhando para Ewen enviou arrepios de cima a baixo pela espinha de Janet. E Ewen — affe — não estava fazendo qualquer esforço para declinar a suspeita. Estava agindo a cada centímetro como o guerreiro feroz e formidável, usando seu corpo musculoso afiado pela guerra para protegê-la.
Templos de Jerusalém! Ele podia muito bem ter gritado sua ocupação. Parecia com um homem que nasceu com uma espada na mão e lutava até a morte para proteger o que era seu. Neste caso, ela. Seria bastante doce, se não conseguisse que eles fossem mortos.
— Minha esposa e eu estamos fazendo nosso caminho para a Abadia de Whithorn rezar pelo bebê — ele disse de forma curta, a autoridade de um comandante das Highlands fluindo em sua voz. Nossa Senhora, ele não podia pelo menos tentar fingir deferência? — Nós perdemos nosso cavalo e eu estava tentando comprar este aqui do fazendeiro. — Ele fez um gesto para o cavalo no pátio. — Não estava ciente que não pertencia a ele. Se você estivesse interessado em vender...
— Não estou — o capitão interrompeu. — Isto é verdade? — Ele perguntou ao fazendeiro.
O velho acenou.
— Aye, ele me ofereceu dez libras pelo animal.
Por trás do ombro largo de Ewen — que era impressionante, ela tinha que admitir — Janet não gostou do modo que os olhos do soldado estreitaram. Ele olhou como Ewen se vestia de forma simples.
— Que tipo de camponês anda por aí com tanto dinheiro?
Janet praticamente podia ouvir Ewen rangendo os dentes. Ele verdadeiramente era horrível nisso. Ser aprazível, amável, modesto e político não parecia estar em sua natureza. Era uma boa coisa que ele fosse um guerreiro tão bom, ele não duraria dois dias como mensageiro.
— O tipo que está indo para uma abadia rezar por um filho por nascer — ele estalou.
Janet gemeu ante o sarcasmo inconfundível em sua voz. Por que ele simplesmente não puxava sua espada? O efeito era o mesmo.
Isto levou tempo suficiente. Estava claro que ela precisava fazer alguma coisa, e rápido. Atrair a atenção do soldado para longe do Ewen, para começar. Esperava que isto funcionasse. Ela esteve fingindo ser uma freira por tanto tempo que estava um pouco sem prática. Felizmente, com nada melhor para fazer enquanto esteve esperando mais cedo, ela tomou algumas dores com sua aparência. Jogando seu cabelo recentemente penteado por cima do ombro, ela arrastou o decote do vestido para baixo um pouco e saiu atrás do seu “marido”. Ela sorriu docemente para o soldado irado (o tom de Ewen obviamente não passou batido).
— Meu marido não é um camponês, meu senhor — ela disse caminhando em direção a ele. Pensou que Ewen rosnou algo, mas ignorou seu aviso. — Ele é um mestre construtor. Pelos últimos dois anos, ele esteve trabalhando nas melhorias para o castelo em Roxburgh. — Isso devia explicar o físico fortemente musculoso, como também os calos em suas mãos, para onde o capitão olhava.
Ela era bastante aficionada por aqueles calos...
Sua pele formigou e teve que forçar sua mente a se afastar do porquê.
Antes que os ingleses pudessem fazer mais perguntas, soltou um suspiro cansado, não perdendo o modo que seu olhar caiu no corpete apertado do seu vestido. Ela levantou o olhar lacrimejante, dando a ele seu melhor olhar de donzela impotente em perigo. Isso levava um pouco de esforço.
— Meu marido... ele está preocupado comigo e o bebê — ela disse como desculpa pelos modos de Ewen. — Tem sido uma jornada difícil. — Sua voz ficou mais alta e mais rápida com sua angústia crescente. — A tempestade veio e então perdi o cavalo, e você vê, ele ficou tão bravo, com todo o direito, estou certa que você concordará.
O soldado disparou a Ewen um olhar como se ele não concordasse mesmo. Janet lamentou ter que lançá-lo no papel de tirano, mas era necessário para trazer para fora a natureza cavalheiresca do soldado.
— Tive que continuar parando a cada milha e então disse que não podia continuar — não até que encontrássemos outro cavalo. Estou certa que é horrível de minha parte, mas só de pensar em dar mais um passo por aquelas montanhas... estou muito pesada para carregar, você vê. Então ele me chamou de redonda! — Os homens ofegaram em compreensão. Uma única lágrima deslizou por sua bochecha a baixo. — Eu simplesmente não podia fazer isto. — Ela piscou levantando o olhar para ele, feliz de ver que parecia ter esquecido tudo sobre Ewen. — Eu só estou tão... — ela cambaleou dramaticamente, como se pudesse desmaiar — cansada.
Mal a palavra saiu da sua boca, o soldado saltou para pegar seu braço e estabilizá-la.
— Não se aflija, querida senhora. — Ele disparou uma cara feia para o velho fazendeiro. — Por que você só está aí parado? Rápido, pegue algo para a senhora beber. — Ele a levou até um tamborete ao lado da porta. — Descanse aqui, você não devia ficar tanto tempo de pé na sua condição. — Janet sorriu enquanto olhava para cima dentro do olhar preocupado do soldado, sabendo que ela o tinha.
Ewen não sabia se a estrangulava ou batia palma. Quando eles saíram da aldeia montados algumas horas mais tarde, não só tinham um cavalo, mas barrigas cheias também.
Assisti-la tinha sido algo revelador. Nenhum ator em cima do palco podia ter se apresentado melhor. Ela girou sua história com tal facilidade e confiança, que até mesmo ele começou a acreditar nela. Ele de fato se achou dizendo ao velho homem e sua esposa que a criança seria chamada de James se fosse menino, por causa do homem que ensinou tudo que sabia. James Stewart realmente ensinou tudo a ele. Claro, o fazendeiro não percebeu que Ewen não estava falando sobre construção, mas sobre ser um guerreiro e comandante.
Aye, ela foi bem, mas nunca podia esquecer o momento que seu coração parou ao vê-la ali. Foi um choque. Não só por que o desobedeceu e se pôs em perigo, mas também pela sua aparência. Ela não parecia nada com uma freira ou um rapaz. Vestida como uma dama pela primeira vez desde que a conheceu, ele ficou cravado no lugar pela sensualidade feminina de seu longo cabelo dourado caindo por cima de seus ombros em cachos soltos, e a doçura das curvas reveladas por seu vestido justo. Seus seios eram espetaculares. O vestido parecia ter sido feito para fazer um homem pensar que eles estavam sendo apresentados só para ele, como algum tipo de oferenda generosa aos deuses. Jesus, ele queria lançar seu plaid em volta dos ombros dela e enterrar sua cabeça neles ao mesmo tempo!
Claro, um grande desvio tinha sido uma enorme surpresa. Grávida. Sentiu como se um pedregulho tivesse batido no seu peito. Isso apertou. Apertou. Queimou com uma emoção que nunca sentiu antes. Uma espécie de feroz possessividade caiu sobre ele que diminuiu tudo que veio antes.
Ele não era tão qualificado quanto Raider ou Saint no combate mão a mão, mas enfrentaria cada um daqueles soldados de mãos nuas para protegê-la. Inferno, podia ter encarado todos eles de mãos nuas, como seu pai fez com os lobos para protegê-la.
Esteve quase louco de raiva — e provavelmente ciúme, maldição — quando ela tinha propositadamente começado a se ocupar do capitão inglês com seu charme feminino que ele ainda não acabou de admirar.
Só a realização que estava funcionando segurou sua mão. Mas levou cada pingo de auto restrição que tinha (e alguma que ele não possuía) para não ir para cima e socar seu punho no olhar apreciativo do canalha. O fato de o capitão perceber exatamente o quão Ewen estava bravo só parecia encaixar a parte que ela lançou nele como o marido severo, superprotetor e de temperamento curto. Quem no inferno podia entendê-lo mal por isto?
Então ele fumegou em silêncio, se não invisivelmente, enquanto Janet dispersava as suspeitas do soldado, alistando a ajuda do fazendeiro para achar um aldeão que pudesse ter um cavalo à venda, encantando a esposa rígida do fazendeiro em cozinhar para eles uma refeição quente, e de alguma maneira conseguir que saíssem de lá sem puxar uma lâmina. Ele não era tolo suficiente para desejar diferente, mas nesse instante, com o modo como seu corpo estava abundando com energia sem descanso, teria dado boas-vindas a uma luta.
Uma vez que estava certo que não estavam sendo seguidos, ele deu a volta para pegar sua armadura e armas de onde as deixou ao lado do regato. O desvio foi lamentável, mas mesmo com o peso de dois no cavalo, eles deviam ser capazes de alcançar Sundrum do lado de fora de Ayr ao anoitecer. Existia uma casa segura lá para eles passarem a noite, onde esperava que os outros os alcançariam.
Apesar dele estar segurando-a com firmeza pela cintura na frente dele, e seu corpo estar dolorosamente ciente dela, não disse uma palavra desde que deixaram a aldeia. Com todas as estranhas emoções torcendo dentro dele, não tinha certeza que confiava em si mesmo.
Eles estiveram cavalgando por mais ou menos uma hora quando ela finalmente quebrou o silêncio.
— Vá em frente. Sei que está com raiva. Só supere isto. Mas antes de começar a gritar, só quero que fique registrado que só deixei o regato porque vi as bandeiras e estava tentando te avisar. — Ele abriu a boca para responder, mas ela o cortou. — Também quero que fique registrado que você não estava exatamente fazendo amigos na aldeia. — Desta vez sua boca nem sequer abriu antes dela cortá-lo novamente. — Você só tinha um punhal. Sei que é um guerreiro excepcionalmente qualificado, mas teria que ter sido um fantasma de verdade para conseguir sair lutando disso.
Ele arqueou uma sobrancelha. Então pensava que era um guerreiro excepcional, não é? Ele gostou bastante de ouvi-la dizer isto.
— Posso falar agora ou você tem qualquer outra coisa para dizer?
Ela ergueu o queixo, encontrando seu olhar.
— Acabei. Por enquanto.
Ela parecia com uma penitente esperando o chicote. Ele sentia muito desapontá-la.
— Você agiu bem, moça. Obrigado.
Ele aparentemente fez o impossível: deixou-a sem fala. Ela podia pegar moscas com sua boca aberta assim.
— “Obrigado”?
Ele deu de ombros.
— O bebê foi um golpe brilhante.
— Brilhante? — Ela repetiu estupidamente.
— Vejo por que você é uma mensageira tão boa. Não posso decidir se está perdendo seu talento como oficial da lei ou como artista de palco.
— Quer dizer que você não está bravo?
Ele deu a ela um olhar de esguelha enquanto cavalgavam por uma estreita clareira de arbustos.
— Eu não disse isto. Você levou cinco anos da minha vida quando te vi descendo por aquela colina, e outros cinco quando começou a flertar com o capitão.
— Eu não estava flertando, o estava distraindo.
Ele deu a seu protesto toda a atenção que valia — em outras palavras, nenhuma.
— É um jogo perigoso brincar com um homem assim, mas tenho que admitir, você se nivelou muito bem. Ele tinha uma raia pesada de cavalheirismo inglês nele. Não que eu não estivesse pronto a cortar sua cabeça fora por olhar para você assim. Ela piscou para ele na luz do sol, parecendo tão bonita que seria capaz de cortar um membro para poder beijá-la novamente.
Ele pigarreou e se forçou a desviar o olhar.
Ela ficou tão quieta por um momento que quase podia ouvi-la pensando.
— Você realmente pensa que sou boa no que faço?
A felicidade na voz dela fez seu peito apertar. E o modo que estava olhando-o... era como se ele tivesse acabado de arrancar o sol do céu e entregasse para ela. Podia se acostumar a esse olhar.
— Depois do que acabou de acontecer, dificilmente posso negar isto.
Ela sacudiu a cabeça, estupefata.
— Não posso acreditar que você não vai berrar comigo.
— Aye, bem, não faça disto um hábito. Nem todos os homens são tão honrados quanto Sir Ranulf. — Este, conforme ele botava para fora, era o nome do capitão. Um pouco de sua raiva retornou. — Alguns podem ver um bater de cílios e uma exibição saudável de decote como um convite.
Ela deu a ele um olhar astuto por cima do ombro.
— Você estava com ciúme.
— Ciúme? — Ele explodiu, ultrajado. — Eu não estava com ciúme.
— É bastante compreensível, Sir Ranulf é um homem bastante bonito.
Se ele fosse capaz de enxergar direto, poderia ter notado a faísca maliciosa dentro do olho dela. Mas estava muito furioso.
— Bonito? Aquele papagaio? Eu me pergunto quanto tempo ele passou olhando dentro do espelho para aparar aquela barba dele. Não existia um maldito cabelo fora de lugar!
Apenas quando ela desatou a rir que a névoa limpou dos olhos dele. Seus olhos estreitaram, percebendo que o provocava num modo muito mais esclarecedor que sábio. A atrevida tremulou seus olhos e se debruçou adiante, dando a ele visão privilegiada daquele decote espetacular.
— E você, Ewen? Você é o tipo de homem que visualiza isto como um convite?
Por um momento tolo ele se permitiu olhar. Deixou seus olhos mergulharem nas profundezas perversas entre seus seios. Ele se fartou na abundância, no arredondamento, na maciez sedosa da pele branca cremosa. Ele podia quase saboreá-la...
Ele inalou fundo na força do calor que o agarrou. Na borda afiada da luxúria que rugiu pelo seu sangue. Como se adivinhando sua dor, ela deslizou seu traseiro para trás na sela contra ele. Aconchegando. Levou tudo que tinha para não agarrar seus quadris e esfregá-la mais forte contra ele. Só o desafio tácito em seus olhos aquietou suas mãos.
— Este não é um convite que estou livre para aceitar, maldição. E você sabe muito bem por que. Como acha que o rei reagiria, ou Stewart reagiria, ao descobrir que tomei sua inocência?
Ela franziu o cenho.
— Stewart? Você quer dizer o jovem Walter Stewart? Por que ele devia se importar?
Ah, inferno! Ewen fechou sua boca num estalo, percebendo seu erro.
— Ele é meu suserano. O pai dele garantiu minha lealdade e não pagarei envergonhando o filho.
Ela pareceu aplacada, sua explicação aparentemente satisfatória.
— Então é a reação de Robert que te preocupa? Acha que ele te puniria por estar comigo?
Achar? Ewen deu a ela um duro olhar fixo.
— Eu sei que ele iria. E teria todo o direito. Você é sua cunhada, pelo amor de Cristo! Sou o chefe de um clã desfavorecido com um dedo de terra restante do que uma vez foi uma grande propriedade. Meu clã está se segurando por um fio, Janet. Qualquer esperança que eu tenha de recuperar essas terras descansa com o rei.
Janet podia ver as emoções conflitantes guerreando em seu rosto e quase se sentiu mal por pressioná-lo. Quase. Entendia a fonte do seu dilema, só não via isto como um problema insuperável. Não depois do que ele disse.
Ela ainda não podia acreditar: não só a agradeceu, mas também tinha admitido que era boa no que fazia. Ele viu o que podia fazer e reconheceu como podia ser útil. Brilhante. A admiração em sua voz quase a fez soluçar.
Depois de dias se perguntando se tudo que ela estava fazendo era bater sua cabeça contra uma parede de pedra, finalmente teve sucesso. Não era como seu pai ou Duncan — ou a maior parte dos outros homens que ela conhecia. Ele era diferente. Ela estava certa: sua aparente falta de consideração com as mulheres era consequência da ignorância e inexperiência em vez de verdadeira crença. Não a via como um acessório impotente ou como serva, mas como alguém capaz, valorizada e merecedora de respeito — como a esposa de Magnus, Helen, a curandeira que ele mencionou. Era o que ela sempre quis de um homem, mas nunca sonhou encontrar. Estava mais segura do que nunca que isso era certo. Como ele podia segurá-la nos braços desse jeito, com seus corpos apertados intimamente juntos, e negar isto? Queria que ele a tocasse. Fizesse amor com ela. Queria sentir seu corpo conectado ao dela e saber como era experimentar a paixão. O problema era convencê-lo.
Era desanimador pensar que ela se segurou tão firmemente a algo por vinte e sete anos, e então quando finalmente estava pronta para soltar, estava tendo que persuadir um homem para aceitar.
— Isso é entre eu e você, Ewen. Não vejo nenhuma razão para Robert estar até mesmo envolvido. Se você me quer e eu o quero, por que qualquer outra coisa devia importar?
Ele deu uma risada severa, destituída até mesmo da ilusão de diversão.
— Você não pode ser tão ingênua. Sabe que não é assim que é feito. Compartilhar uma cama não é tão simples.
Ela ergueu o queixo, não gostando do seu tom.
— Devia ser.
— Talvez, mas até esse dia, uma mulher da nobreza não é livre para dar sua inocência quando quiser.
Janet sabia que falava a verdade, mas isso não significava que ela tinha que concordar com ele — ou cumprir.
— Não há nenhuma razão para que Robert precise saber.
Ele endureceu.
— Eu saberia. Não desonraria você assim.
Janet deu uma olhada para ele sentado atrás dela, vendo a expressão de aço estabelecida no seu rosto. Aquela nobreza infernal dele estava se provando problemática novamente.
— Porque não nos casamos?
O olhar que ele deu a ela foi feroz, ardente em sua intensidade. A mandíbula dele apertou ainda mais.
— Porque não podemos estar casados.
Sua veemência a fez recuar. Ficou em silêncio por um momento, absorvendo as implicações. Ele deve ter tomado seus protestos contra o casamento a sério. Ou era alguma outra coisa? Não podemos... Talvez ele estivesse aludindo às suas diferenças sociais?
Mas de alguma forma pareceu como se ele tivesse acabado de desistir. E apesar de sua recente epifania, não tinha certeza que queria levantar este assunto. Compartilhar uma cama, como ele colocou, era uma coisa, mas confiar em um homem para pôr seu destino em suas mãos era outro. Ela queria casar com ele?
CAPÍTULO 19
Depois de dias sendo caçados, a cavalgada de Cuingealach, a pequena aldeia nas colinas, para Ayrshire provou desconcertantemente calma. Eles cruzaram as colinas entre Douglas e Sanquhar, e seguiram em direção oeste através das Airds Moss. Pelo fim da tarde, eles chegaram a seu destino.
Apesar da presença inglesa ainda ser pesadamente sentida, este era o país de William Wallace, e muitos dos seguidores do patriota martirizado vieram atrás de Bruce. Vários parentes de Wallace viviam em Sundrum, inclusive um primo que a Guarda das Highlands usava em ocasiões como esta.
Ewen devia estar aliviado. Sua missão estava quase completa — ou estaria de manhã, quando eles encontrassem Hawk e Chef em Ayr no birlinn. Ele devolveria Janet para sua família e voltaria aos seus deveres com a Guarda, rastreando o próximo inimigo ou aliado perdido. Bruce estaria agradecido e Ewen a um passo mais perto de restabelecer o nome dos Lamont — e, ele esperava, as terras também. Era isto exatamente o que ele queria. Exatamente pelo que esteve lutando.
Então por que ele estava tentando arrastar cada minuto no seu cavalo? Por que sentia como se no momento em que a deixasse ir tudo isso estaria acabado?
Mas não havia “isso”. Nunca existiu. Não podia ser sua. Tinha deixado bem claro. Disse que não podia se casar com ela, e pelo silêncio dela desde então, parecia que finalmente tinha entendido.
Era o que ele queria.
Então por que estava desapontado que ela não protestou? Por que uma minúscula parte dele tinha esperado que a ideia de um casamento com ele não fosse tão inconcebível?
Parou em um pequeno regato no enorme bosque para dar água ao cavalo pela última vez antes de alcançar Sundrum. Sua perna tinha melhorado muito desde que conseguiram a montaria, mas ficou enrijecida sem movimento e parecia bom se mover. Ele não estava atrasado.
Janet retornou de atender suas necessidades e sentou numa pedra ao lado do riacho mordiscando um pedaço de carne seca, enquanto ele segurava o cavalo para beber água.
— Conte-me sobre Helen.
Ele levantou o olhar com surpresa. Não era exatamente a conversa que estava esperando depois de sua última. Ele endureceu ligeiramente, perguntando-se se ela notou alguma coisa a respeito de sua perna. Teve cuidado para não favorecer a outra, mas a moça era observadora demais.
— O que quer saber?
Ela deu de ombros.
— Ela é boa no que faz?
— É uma das melhores.
— Você disse que ela podia ser médica? Como isso pode ser? Ela é mulher.
— É raro, mas não impossível. O cunhado do seu irmão, o Conde de Sutherland, é casado com uma mulher que treinou em Edimburgo por um tempo em uma das academias estudantis até que se casou. Helen poderia ter ido também.
— Mas então ela casou com Magnus?
Ewen não estava certo onde ela estava querendo ir com isto.
— Aye, mas Helen nunca quis ir. Ela é feliz em fazer o que está fazendo.
— E é exatamente o que?
Ewen terminou de dar água para o cavalo e então o levou do riacho, amarrando a rédea ao redor de uma árvore. Ele cruzou os braços e olhou para ela, sabendo que estava andando em terreno perigoso. Ela estava sem dúvida jogando verde para colher alguma coisa sobre a Guarda ou confirmar o lugar dele nisto.
— Ela atende os doentes, o que mais faria?
— Vai para as batalhas com vocês?
— Não.
— Mas fica perto?
— Por que está tão interessada nisso?
Ela deu de ombros.
— Só estou. Você tem que admitir que não é comum para uma dama bem-nascida assumir tal papel.
— Helen é incomum.
— O marido dela também. Ele é um homem raro para permitir que sua esposa se coloque em tal perigo.
Ele riu.
— MacKay odeia cada maldito minuto disto.
Ela pareceu genuinamente perplexa.
— Então por que aceita isto?
— Porque sabe que ela é necessária. E...
Ele parou.
— E?
Ele deu de ombros desconfortavelmente.
— E porque ele a ama.
— Oh — obviamente não era a resposta que ela esperava.
A boca de Ewen se torceu em um sorriso.
— Certamente você ouviu falar disto?
Seus olhos se encontraram e um afiado frisson de consciência passou entre eles.
Ela corou, abaixando seu olhar.
— Aye, só não dentro do casamento.
O tom seco não escondeu a tristeza.
— Seus pais não tiveram um casamento feliz?
Ela fez um som afiado.
— Meu pai dava a minha mãe tanta consideração quanto teria dado a um servo. A maior parte do tempo esquecia que ela estava lá. Quando ela encontrava coragem para falar, ele a cortava tão cruelmente que eventualmente começou a acreditar que era tão estúpida quanto ele a fazia se sentir.
Ele se encolheu, tendo visto mais que sua parte de casamentos semelhantes.
— Nem todos os casamentos são assim, moça.
A boca de Janet se torceu com cinismo.
— Aye, alguns, como da minha irmã Mary, estão cheios de miséria, coração partido e infidelidade, e outros, como do meu irmão Duncan, são constantes campos de batalha de discussão e discórdia. Ele e Christina brigavam por horas. Ele estava constantemente a arrastando para seus aposentos para fazer Deus sabe o que com a pobre mulher.
Percebendo que ela estava falando sério, Ewen desatou a rir. Ela se eriçou.
— Não vejo o que é engraçado.
Vendo a mágoa em seu rosto, ele ficou sério.
— Eu sinto muito, moça. Não posso falar pelo primeiro casamento de sua irmã Mary. Conheci o Conde de Atholl, e embora ele fosse um inferno de um guerreiro, não prestei muita atenção em suas relações com mulheres que não eram sua esposa. Porém conheço Sutherland há algum tempo, e pelo que sei ele tem sido fiel à sua irmã desde que pôs seus olhos pela primeira vez nela. — Ele omitiu o quanto todos eles se divertiram por isto, já que Mary o rejeitou como pretendente. — Foi seu comentário sobre Duncan que me fez rir. A paixão dele por sua esposa era bem conhecida, tanto dentro quanto fora dos seus aposentos. Suspeito que eles faziam as pazes tão apaixonadamente quanto discutiam.
Os olhos de Janet se arregalaram e suas bochechas avermelharam conforme entendia o que ele queria dizer. Suas sobrancelhas se franziram.
— Como sabe tanto sobre meu irmão?
Maldição. Este não era exatamente um assunto que queria estar discutindo com ela.
— Lutei com ele durante algum tempo.
Ela pareceu atordoada.
— Lutou? Por que não me disse antes? — Ela pareceu perceber algo antes mesmo que as palavras deixassem sua boca. — Você estava com ele no Lago Ryan, não estava?
Ele assentiu.
Ela expirou lentamente. O modo que engatou dolorosamente fez seu peito apertar. Ele quis se estender para ela, mas forçou suas mãos para o lado. Ela ficou quieta por um momento, como se estabilizando suas emoções.
— Como ele morreu?
Ewen viu a lâmina faiscando na luz do sol antes de descer no pescoço de Duncan e forçou a imagem horrorosa para longe. Ela não precisava saber dos detalhes.
— Bravamente, moça. Como o feroz guerreiro das Highlands que ele era. Estava orgulhoso de lutar ao lado dele.
Ela sabia que ele não estava dizendo tudo, mas pelo menos uma vez ela não forçou a barra.
— Deve ter sido horrível — ela disse. — Todos aqueles homens que morreram. — Ela estremeceu. — Você teve sorte de sair disso vivo.
— Aye.
Foi um banho de sangue. Os MacDowells foram informados de sua chegada e esperaram por eles. Ewen esteve em um dos dois birlinns que conseguiram escapar. Quem os traiu tinha custado as vidas de quase setecentos homens. Um dia essa pessoa pagaria.
Janet viu as emoções sombrias cruzarem seu rosto e lamentou invocar as memórias dolorosas. Mas de alguma maneira a fez se sentir melhor saber que Ewen estava com Duncan quando ele morreu. Embora a perda do seu irmão sempre seria um buraco doloroso em seu coração, Ewen suavizou a dor um pouco.
Era verdade o que ele disse sobre Duncan e Christina? Ela esteve tão enganada a respeito dos sentimentos entre eles? O que aconteceu por trás daquelas portas fechadas? Aparentemente mais do que tinha percebido.
Subitamente, todas aquelas longas horas em seus aposentos tiveram um significado muito diferente — um sensual em vez de sinistro. Seu irmão sempre parecia tão apaziguado posteriormente. Ela achava que era remorso, mas e se fosse alguma outra coisa? Era desconcertante perceber o quão pouco ela sabia sobre algo que esteve acontecendo bem na sua cara antes.
Ela arqueou uma sobrancelha, observando como Ewen perdia tempo com um saco amarrado ao cavalo, eventualmente removendo um odre. Como ele sabia tanto?
Depois de tomar um longo gole, ele se abaixou sentando ao lado dela. Isso era bom, sentar aqui com ele sem uma nuvem de perigo em cima deles. Aparentemente, sem pressa de continuar a jornada, ela decidiu perguntar a ele.
— Seus pais se amavam?
Ele enrijeceu quase imperceptivelmente. Ela sentiu imediatamente que o assunto não era bem-vindo. Mas ele respondeu sua pergunta.
— Aye, porém não deviam.
— O que você quer dizer?
— Quando meu pai sequestrou minha mãe com a aprovação dela, levando-a para longe do Chefe dos Lamont, isso quase destruiu meu pai e nosso clã. Se não fosse por James Stewart isso teria acontecido.
— Ainda existe algo inegavelmente romântico a respeito disso. Seu pai deve tê-la amado de verdade para estar disposto a arriscar tanto.
O rosto do Ewen endureceu.
— Meu pai era um rufião irresponsável que fazia o que bem quisesse sem o menor bom senso e sem medir as consequências. Ele brigava muito, bebia muito e, aparentemente, amava muito. Dever e lealdade não significavam merda nenhuma para ele. Roubou a noiva do seu chefe, pelo amor de Deus, sabendo muito bem que haveria guerra.
Ouvi-lo falar do seu pai explicava muito. Parecia que Ewen fez tudo que podia para se distanciar do tipo de homem que seu pai fora. Sua disciplina, seu senso de honra e responsabilidade eram o oposto de seu pai. Onde seu pai tinha sido selvagem e irresponsável, Ewen era o soldado modelo, fazendo exatamente o que era esperado dele.
— E sua mãe?
Os dedos apertaram o odre que ainda segurava em sua mão.
— Sua irresponsabilidade a matou.
Ela ofegou.
— O que aconteceu?
— Ele não podia manter suas malditas mãos fora dela. Ela mal tinha acabado de dar à luz a mim antes dele deixá-la grávida novamente. Morreu no leito de parto dez meses depois do um nascimento. A criança, uma menininha, nasceu morta.
O modo que ele disse — a menininha — fez algo em seu coração doer.
— Oh Ewen, sinto muito. Isto é horrível. Crescer sem uma mãe... isso não deve ter sido fácil.
Ele deu de ombros.
— Nunca conheci nada diferente. Felizmente, os Stewarts me levaram em sua guarda ou eu poderia ter acabado tão selvagem e sem reputação quanto meu pai. Quando ele não estava brigando ou bebendo, estava tentando se matar com algum desafio tolo. Foi assim realmente que morreu. O chefe Lamont finalmente teve sua vingança, desafiando meu pai para escalar um penhasco próximo ao Castelo Dundonald na chuva.
— Deve ter ficado devastado depois da morte da sua mãe.
— Estava construindo um castelo para ela quando morreu. Por anos, tudo que ele falava era sobre terminar aquele castelo. Mas claro, ele nunca terminou. Quando menino, isso veio de forma que eu odiava a mera maldita visão daquelas paredes meio construídas.
Seu coração apertou. Deve ter sido uma lembrança dolorosa dos fracassos do seu pai. Ele balançou a cabeça.
— Mas sabe o que é pior? De alguma maneira deu um jeito para conseguir que eu fizesse isto para ele. Então agora, além de tentar recuperar umas terras Lamont, também preciso ganhar dinheiro suficiente para terminar essa maldita coisa.
Emoção se alojou em seu peito, e pela primeira vez admitiu para si mesma o que era: ela o amava. Ela o amava com cada fibra do seu ser. Como era estranho depois de todos esses anos finalmente perder seu coração.
Ele estava olhando fixamente à distância perdido em suas memórias, as linhas fortes de seu belo rosto captando os ardentes matizes laranja da luz do sol desvanecendo. Não, perder era errado. Ela achou. Seu coração sempre pertenceu a ele.
— Você é um bom homem, Ewen Lamont — ela disse suavemente.
Ele virou para olhar para ela e algo estranho faiscou em seus olhos. Parecia quase culpa. Mas aí ele sorriu melancolicamente.
— Sou um tolo sentimental e acho que você passou noites demais neste chão duro — ele ficou de pé e estendeu sua mão. — Venha. Tem um banho quente, uma refeição quente e uma cama confortável esperando por você.
Ela suspirou sonhadoramente, deslizando sua mão na dele e permitindo que a ajudasse a se levantar.
— Isso soa divino. Mas Ewen... — olhos azuis firmes encontraram os seus. — Nada disso vai fazer com que eu mude de ideia.
Ele segurou seu olhar por um longo tempo. E então disse algo que ela não entendeu, mas isso mantinha a vaga sensação de uma advertência.
— Espero que você sinta o mesmo em alguns dias.
A visão dos muros caiados da casa de fazenda de telhado de palha aconchegada numa pequena colina nos bancos do Lago Lochend devia ter sido causa para celebração. Esta era primeira parada no fim de sua jornada. Eles estariam seguros aqui.
Mas para Ewen representava um retorno amargo à realidade. Livre da visão estreitada de perigo, onde conseguir que Janet ficasse a salvo e a um passo à frente dos ingleses que os perseguiam era tudo que importava, ele podia ver claramente o que a culpa esteve tentando dizer a ele, a qual esteve crescendo desde que percebeu como era importante o lugar dela na rede do rei.
Ela o odiaria por não dizer a verdade. Por permitir que acreditasse que realmente podia estar retornando a Roxburgh em alguns dias. Por não dizer a ela sobre o noivado.
O que tinha parecido prudente e não era da conta dele no início, agora se sentia como uma traição. Era uma traição. Ele não podia fingir o contrário. Sua relação mudou. A atração pecaminosa que sentiu pela “Irmã Genna” se transformou em algo mais profundo, mais intenso, conforme conhecia — e se importava — com Janet. Em algum lugar ali dentro a coisa certa a fazer mudou, e se algum dia teve a oportunidade para corrigir o erro ele perdeu.
Terminar esta missão estava indo a um custo pessoal que ele nunca imaginou. Sabia que ela ficaria com raiva, só não tinha percebido o quanto importaria para ele. Parte dele queria dizer a verdade, mas sabia que provavelmente seria melhor deste modo.
Talvez se ela o odiasse não seria tão difícil para ele ir embora? Talvez o impedisse de pensar a respeito de coisas que não podiam ser? Talvez tornasse menos duro vê-la se casar com outra pessoa?
Seu peito ardia. Só o mero pensamento disso comia suas entranhas como ácido. Sua mão apertou as rédeas, e inconscientemente seu braço apertou mais ao redor da cintura dela.
Que diabo de escolha ele tinha? O rei não ia colocar o noivado com Stewart de lado para deixá-la se casar com um dos seus soldados — ainda por cima um Lamont — mesmo que Ewen pudesse convencê-la, o que ele não tinha certeza que podia. A única opção aberta era aquela que ele não podia considerar. Ele não era seu maldito pai. Não podia sequestrar a noiva do seu suserano. Não arriscaria tudo por uma mulher. Não importa quanto a quisesse.
E Deus, como a queria! Depois de tantas horas com ela em seus braços, cada centímetro de seu corpo queimava com necessidade. O cheiro do seu cabelo, sua cintura fina, o peso dos seus seios, a curva de sua bunda, infundia seus sentidos, imprimiu em sua consciência, invadiu sua alma. Ele não queria deixá-la ir embora. Ela virou para olhar para ele.
— Tem alguma coisa errada?
Ele se surpreendeu.
— Não, por quê?
— Você não vai descer? Assumo que este é nosso destino?
Ele amaldiçoou baixinho tentando encobrir seu embaraço. Quanto tempo eles estavam ali?
Ele retirou o braço que estava ao redor de sua cintura e pulou para o chão. Depois de ajudá-la a desmontar, amarrou as rédeas a um poste.
— Espere aqui enquanto me certifico que sejamos bem-vindos — ela acenou com a cabeça, contudo ele pensou sobre outra coisa. — É importante que você só me chame pelo meu primeiro nome.
Ela franziu o cenho.
— Por quê?
— Lamont não é um nome exatamente bem-vindo nestas partes. Existem alguns que ainda acreditam que meu clã teve uma mão no assassinato do pai de William Wallace — sem mencionar que seu primo, o chefe Lamont exilado, era um vassalo do Conde de Menteith, o homem que foi responsável por virar o próprio Wallace contra os ingleses.
Normalmente, ele simplesmente usaria seu nome de guerra, Hunter. Mas com Janet aqui isso não era uma opção. Ela já sabia demais.
Felizmente, a resposta pareceu satisfazê-la.
— Muito bem. E quem eu sou?
Ele sabia o que ela estava perguntando, mas de jeito nenhum fingiria estar casado com ela novamente. Não podia permanecer outra noite dormindo ao lado dela.
— Janet. Isto é tudo que eles precisam saber. Deixara-os desconfortáveis por saber que servem a cunhada do rei em seu humilde lar.
— Eu não deixaria ninguém desconfortável, mas passaram-se muitos anos desde que fui servida por alguém. Não espero, nem desejo isto. Asseguro a você, este humilde lar vai parecer um castelo comparado a alguns dos lugares que fiquei.
Ele não perdeu a repreensão suave. Se ela estivesse também tentando dizer que sua diferença de status não importava para ela, fingiu não entender. Podia não importar a ela, mas importaria ao rei. Disso estava mais do que certo.
Com um último olhar que pareceu suspeitosamente com um adeus, Ewen foi encontrar o fazendeiro. Uma vez que Janet percebeu a verdade dos seus sentimentos por Ewen, tudo pareceu se encaixar no lugar. Se ela teve qualquer dúvida sobre o que queria, elas foram logo postas de lado ao chegar à pequena fazenda.
Ela se sentou à mesa diante do fogo de turfa ardendo suavemente, apreciando o calor que a envolvia. Não era apenas o calor das chamas ou a satisfação de uma boa refeição, mas também a companhia. Os Wallaces eram anfitriões corteses e sua felicidade era contagiosa.
Ewen estava certo, nem todos os casamentos eram horríveis. Os Wallaces eram prova disto. Suas brincadeiras apaixonadas, sutis olhares amorosos e toques inconscientes falavam de possibilidades.
Robert Wallace era um primo distante de William Wallace. Ele lutou ao lado de seu ilustre parente até seis anos atrás quando Robert perdeu uma mão em uma briga em Earnside. Margaret era consideravelmente mais nova que seu marido, e de longe mais bonita. A moça delicada de cabelos escuros, com suas feições de fada e constituição esbelta parecia totalmente errada ao lado do guerreiro de cabelos grisalhos por volta dos quarenta anos, quem estava à altura de seu parente famoso e o tamanho imponente de um forjador. Mas de alguma maneira eles se encaixavam perfeitamente. A risada dela aberta e brilhante, e natureza ensolarada complementava a aspereza do seu marido e disposição taciturna. Estava claro que ele adorava sua jovem esposa. Sua jovem esposa grávida.
A estranha pontada que Janet sentiu no peito quando percebeu que Margaret estava esperando bebê se tornou mais identificável conforme a noite passava lentamente. Era desejo. Dolorido e agudo desejo.
Nos saltos de sua própria “gravidez”, Janet nunca sentiu a ausência de crianças em sua vida tão intensamente. Claro, houve vezes ao longo dos anos quando ela pensava sobre crianças — sobre o que estaria desistindo aceitando o véu, — mas já que uma criança exigia um marido, e considerando a importância do trabalho que estava fazendo, parecia um pequeno preço a pagar. Em teoria, talvez fosse. Mas não parecia tão pequeno agora, sentada com uma mulher grávida radiante de um lado e o homem a quem ela tinha acabado de perceber que amava do outro.
Isso se sentia como algo que ela queria. Com ele. Crianças. Noites confortáveis diante do fogo. Olhares amorosos e toques ternos. Queria o que os Wallaces tinham.
Ela sabia o que isso significava. Casamento.
Esperou alguns segundos para reagir à palavra, mas o gosto ruim habitual não subiu à sua boca. Deve ser amor, pensou com um sorriso torto. Com Ewen, um casamento feliz parecia possível.
Sabia que existiam complicações. O rei de um lado, seu trabalha por outro. Robert provavelmente era o mais fácil dos dois. Se Ewen estivesse realmente em sua guarda secreta como suspeitava, isso ajudaria. Ewen não gostaria da ideia dela continuando seu trabalho, mas entenderia o quanto era importante para ela. Ele não era como seu pai e irmão — não tentaria enfiá-la em alguma caixa. Ele a valorizava — disse muito isso. Se ele a amasse, eles achariam um modo de fazer isto funcionar — como Magnus e Helen.
Finalmente encontrou um homem que era forte suficiente para deixá-la ser ela mesma. Sua força de vontade poderia ser muito mais quieta que a dela, mas era tão forte quanto. Haveria brigas entre eles, aye, mas estaria esperando ansiosamente por elas.
Claro, não era ela quem precisava ser convencida que era uma boa ideia. Ele a queria, disso não tinha nenhuma dúvida, e ele se importava com ela — o admitiu tantas vezes. Mas queria se casar com ela? Ele disse que era impossível, mas e se não fosse?
Seu olhar deslizou para o homem em questão. Ele estava preso em uma conversa em voz baixa com Robert Wallace sobre a guerra, enquanto Janet e Margaret terminavam sua refeição — a última fingindo não escutar a discussão dos homens.
— Estamos falando alto suficiente para você, esposa? Não quero que você perca nada de nossa conversa particular — disse Robert, levantando o olhar. Sua expressão era provocadora, mas seus olhos eram suaves quando caíram em sua esposa. Margaret não perdeu um segundo.
— Isto é bastante considerado de sua parte, Robert. Tenho certeza que isso tudo está além da minha pobre compreensão de mulher, mas se você pudesse falar um pouquinho mais alto ajudaria.
Os olhos dela dançavam enquanto se inclinava e sussurrava para Janet.
— Embora eu dificilmente qualificasse a troca de algumas palavras e grunhido ocasional uma conversa. Não sei qual deles é pior.
Janet desatou a rir.
Os olhos de Robert estreitaram em sua esposa.
— O que é tão engraçado?
Margaret sorriu e deu a Janet uma piscada enquanto ficava de pé ao lado da mesa.
— Temo que seja particular.
Robert balançou a cabeça, mas Janet não perdeu o sorrisinho quando ele voltou à sua conversa com Ewen.
Margaret começou a limpar os pratos da refeição deles. Quando Janet se levantou para ajudar, ela mandou que voltasse para sua cadeira.
— Você é uma convidada — disse ela, e então em um sussurro. — Além disso, você deve me contar se eles disserem qualquer coisa interessante.
Janet sorriu de forma conspiradora.
— Vou fazer o melhor que puder. Mas “interessante” provavelmente é mais do que podemos esperar.
Margaret riu.
— Você provavelmente está certa. Que tal este: tente não dormir.
— Não me faça prometer — disse Janet. — Não posso me lembrar da última vez que me senti tão confortável. Você tem uma casa adorável, Margaret.
Ela podia ver quanto o comentário agradou a outra mulher.
— Acho que você viu a torta de maçã.
Janet riu.
— Posso ter visto.
Margaret foi para o outro lado da longa sala enquanto Janet relaxava. Olhou para os dois homens no fim da mesa sorrateiramente. Ela não devia ser tão versada em escutar quanto Margaret, porque podia entender muito pouco do que estava sendo dito. Embora estivesse acostumada a escassa conversa de Ewen, até mesmo para ele, parecia anormalmente subjugado hoje à noite. Algo estava errado.
Ele estava mais preocupado do que dizia por seus amigos não terem chegado? Ele parecia confiante que eles chegariam logo. Ou qualquer outra coisa o estava incomodando?
Ela franziu o cenho enquanto ele tornava a encher sua taça novamente. Parecia estar bebendo mais do que o habitual hoje à noite. Seu rosto parecia um pouco corado. Ela esperou para interromper a conversa dos homens.
— Está tudo bem com sua perna, Ewen?
Ele levantou o olhar para ela.
— Parece bem. Por que pergunta?
Ela enrubesceu, não querendo admitir que estivesse observando-o tomar sua cerveja.
— Você não a mencionou durante algum tempo e estava só me perguntando como estava sua recuperação.
— Está boa.
— Você foi ferido? — Margaret perguntou se aproximando da mesa.
— Um tempo atrás — ele respondeu.
— Mas não curou corretamente — Janet inseriu.
Ewen lhe atirou uma cara feia. Ela sorriu.
Margaret franziu o cenho.
— Eu tenho um pouco de unguento...
— Sério — Ewen disse. — Está tudo bem.
— Deixe o rapaz em paz, Margaret — Robert disse. — Ele tem idade suficiente para decidir por si mesmo se precisa de ajuda.
Margaret e Janet olharam uma para outra revirando os olhos. Não havia idade suficiente para os homens admitirem que eles precisavam de ajuda.
— Contudo estou bastante cansado — Ewen disse, empurrando-se para longe da mesa. — Acho que devo me retirar.
— Já? — Janet disse, não escondendo sua decepção. — Mas e a torta?
Não estava pronta para a noite terminar — ou para a jornada terminar, de fato. Sabia muito bem que Ewen podia ser chamado para outra missão assim que eles retornassem, e ela teria que partir quase imediatamente também, voltar para Roxburgh a tempo do Dia de St. Drostan.
As complicações com os ingleses que eles enfrentaram em sua jornada certamente faria com que persuadir Robert fosse mais difícil, mas pela importância das informações do seu contato, e o fato que Ewen e os outros fantasmas não estariam com ela para atrair a atenção dos ingleses, estava confiante que ele veria a necessidade.
E havia o outro assunto. O assunto deles.
Ewen olhou para Margaret.
— Esperarei ansiosamente uma fatia de manhã — seu olhar finalmente caiu nela. — Você devia descansar um pouco também. Nós sairemos cedo e teremos um longo dia à nossa frente.
Janet assentiu e o deixou ir. Por enquanto. Descansaria, mas só depois que falasse o que queria falar. Ele precisava saber como ela se sentia. Como o que tinha a dizer precisava ser dito em particular, ela esperaria seu tempo. Mas antes desta noite acabar, Ewen saberia o que estava em seu coração.
CAPÍTULO 20
Ewen se sentou pensativamente em um tamborete diante do braseiro de ferro que Margaret forneceu para seu calor no celeiro, passando a extremidade de sua lâmina acima da pedra de amolar lubrificada, com golpes longos, lentos e deliberados. Era algo que ele fazia antes da batalha, para se acalmar e manter sua mente fora do que estava adiante. Um ritual, ele supunha. Eles todos tinham. A maior parte dos soldados atendiam suas armas, mas MacSorley gostava de nadar um pouco, e Striker lia de um amarrado pequeno de couro que carregava por aí com ele como um talismã. Existiam sempre uns que oravam — e uns que bebiam longos goles de uísque.
Mas esta noite, como a cerveja e a natação no lago que vieram antes, o ritual não estava ajudando. Nada estava ajudando a manter sua mente fora de Janet e o que vinha adiante. E certo como o inferno não estava ajudando a aliviar a energia inquieta abundando dentro dele. Ele se sentia tão no limite quanto esta maldita espada.
Ewen queria que pudesse dizer que era apenas luxúria. Deus sabia, ele foi empurrado bem além do limite do que qualquer homem de sangue quente devia ser esperado suportar. Ele a queria tão intensamente que seus dentes doíam só de olhar para ela. Mas apesar de que o pau duro fosse uma parte disso — uma grande e dolorosa parte — não era tudo.
Luxúria não era o que fazia seu peito arder cada vez que seus olhos se encontraram esta noite. Ele não tinha perdido a reação dela à condição da Margaret e o desejo em seu rosto, assim como não perdeu o modo que ela olhou para ele a seguir.
Isso não era possível, maldição. Por que ela o estava atormentando com coisas que não podiam ser?
Porque ela não sabia que eles não podiam ser.
Mais um dia. Mais um dia e isso tudo estaria acabado. Ele teria a maldita certeza que ela não estaria olhando para ele assim depois de amanhã, e o que ele queria não faria diferença. Mas ele encontraria pouca alegria em saber que ela o odiaria, mesmo que fosse o melhor.
Fazer a coisa certa não devia ser tão difícil, maldição.
Ewen xingou quando sua mão deslizou e seu polegar encontrou a borda da lâmina. Uma linha de sangue esguichou da ponta do seu dedo, umas gotas caíram na pedra de amolar antes dele poder afasta-la.
Maldito inferno! Bom que ele não acreditava em presságios. Se acreditasse, este era um ruim.
A porta abriu de rompante assim que ele ficou de pé. Mesmo nas sombras ele a reconheceu.
— O que aconteceu, está tudo bem com você... — Janet parou, seus olhos arregalando à medida que via seu dedo ensanguentado. — Sua mão!
Ela deu um passo dentro do celeiro, mas ele a deteve.
— Não é nada. — Ele pegou um pedaço da bandagem que envolvia sua perna e a enrolou ao redor do seu polegar. — Eu me cortei na lâmina. Isso acontece o tempo todo. — Ele mentiu, embora fosse verdade que o corte era somente um incômodo.
Diferente de sua perna. Isso doía como se queimasse, o que era estranho já que não parecia pior. O pouco sangue que havia parecido fino — parecia aguado, realmente, — mas isso era alarmante. Depois de ir nadar no lago gelado mais cedo, envolveu o ferimento em linho limpo e se sentiu um pouco melhor. Mas tinha de admitir que estava preocupado. Não preocupado suficiente, porém, para tê-la tocando-o. Se era por isso que ela estava aqui — embora não visse nenhum unguento ou linho em suas mãos. Qualquer que fosse a razão para seu aparecimento, não era uma boa ideia.
— O que está fazendo aqui, Janet? Deve ser depois da meia-noite. Você devia estar dormindo. Volte para a casa.
Ela o ignorou.
— Nós precisamos conversar. — Fechando a porta suavemente, ela caminhou em direção a ele. Quando chegou mais perto, ela entrou na luz.
Sangue de Deus! Ele sentiu como se alguém tivesse acabado de dar um soco na sua barriga. Um soco de tentação. Ela era uma fantasia ambulante. Uma sereia enviava para levá-lo diretamente para o inferno. Ela parecia como se tivesse acabado de rolar da cama. Seu cabelo dourado caía pelos ombros em uma massa ligeiramente bagunçada — sensualmente bagunçada, — ondas que captavam o faiscar da luz das velas em um halo prateado. Seu plaid estava envolvido ao redor dos ombros dela e se juntava na frente, mas ele ainda podia ver a camisa de linho fino que ela vestia por baixo. Tudo que ela vestia por baixo. Por baixo da bainha podia ver uma sugestão de pernas e pés nus que ela apressadamente enfiou em seus sapatos sem meia.
Ela parou a alguns passos dele e Ewen tentou respirar, mas o ar em seus pulmões parecia ter se tornado sólido.
Pela primeira vez que em sua vida, o caçador experimentou como era ser pego. Como um cervo na mira do arqueiro, ele não podia se mover.
Ele viu o olhar dela ir para trás em direção ao estábulo escuro, onde seu cavalo e alguns outros animais estavam alojados, e então para o pequeno canto onde um pallet de aparência confortável tinha sido ajeitado para seu uso. Além do braseiro e do tamborete, havia uma mesinha com uma luminária a óleo. O cheiro era de terra por causa da turfa em vez de pungente, e o ar era abafado e morno.
Juntando com o modo que ela parecia, o fazia pensar sobre…
Inferno, tudo nela o fazia pensar sobre isto. Ele estava equilibrado na extremidade da espada. Apertou os punhos, uma mão formando uma bola em torno da bandagem.
— Você precisa partir, Janet, agora. Seja o que for que você tem a dizer pode esperar até amanhã. Isto não está certo. Você não deveria estar aqui comigo sozinha assim. E se os Wallaces acordarem e notarem que você se foi?
A ferocidade de seu tom não pareceu causar nenhuma impressão nela. Ela ergueu o queixo para encontrar seu olhar.
— Estivemos sozinhos por quase dois dias. Os Wallaces estão profundamente adormecidos, e ainda que acordem, suspeito que saberão exatamente onde eu fui, Margaret especialmente. — Ela deu outro passo em sua direção, e ele teve que se forçar a não dar um passo atrás. Mas sua pele ficou apertada sobre os ossos. Seu sangue disparou por suas veias, e seu coração estava martelando como um tambor. — O que tenho a dizer é importante e não pode esperar.
Ele franziu o cenho, uma pontada de preocupação penetrando através de sua raiva pela invasão e a urgência de conseguir tirá-la daqui.
— Algo está errado?
Ela sacudiu a cabeça.
— Então o que é?
Ela mordeu o lábio, como se não soubesse o que dizer. Já que ela sempre sabia o que dizer, sua preocupação aumentou.
— Eu mudei de ideia.
— Sobre o que?
— Não acho que eu quero ser uma freira.
Um pouco de sua raiva retornou.
— E isto é tão importante para que você escape sorrateiramente de sua cama no meio da noite para vir me encontrar?
Ela disparou uma cara feia para ele, apertando a boca.
— Isso significa que nas circunstâncias certas eu poderia considerar casamento.
Ele ficou imóvel. O ar parecia ter deixado seus pulmões. Realmente o ar, o sangue, os ossos, e quase tudo mais parecia tê-lo deixado também.
Ela estava tentando dizer que consideraria se casar com ele?
Pelo modo que ela abaixou seu olhar e o suave rubor rosa em suas bochechas, suspeitava que era exatamente o que ela queria dizer.
Jesus! Apesar dele estar vestindo só uma túnica e uma calça de lã fina, sentiu um brilho de suor se reunir em suas sobrancelhas. Que diabos ele devia dizer?
— Janet, você sabe que as circunstâncias certas serão decididas pelo rei. Se for seu desejo se casar, Bruce será quem irá encontrar um marido para você — um marido apropriado.
Sua boca apertou cheia de desgosto.
— Robert não é assim. Ele considerará meus desejos.
Ewen xingou baixinho. Como podia dizer a ela que “Robert” já tinha encontrado um marido sem considerar seus desejos afinal? Sem mencionar que o rei tinha avisado a Ewen para ficar longe dela.
Ele se mexeu desconfortavelmente, de repente sentindo como se estivesse caminhando por um jardim dos sacos de pólvora do Sutherland — com faíscas nas botas.
— Ele vai encontrar um marido que tenha mais que um dedo de terras e um castelo meio construído.
Em vez de desencorajá-la, suas palavras pareceram incentivá-la.
— Mas e se ele pudesse ser persuadido? Você não vê, eu podia te ajudar. Se você se casasse comigo, melhoraria sua posição com Robert. Ele com certeza devolveria algumas terras para você e...
— Pare! — Ele a pegou pelos ombros e sacudiu, não percebendo o que estava fazendo. — O que você está dizendo é impossível. Maldição, algum dia já ouviu a palavra “não”? Não vai acontecer.
Ela respirou fundo, olhando fixamente para ele com centenas de perguntas nos olhos.
— Por que não? Pensei que você… — Os olhos dela viraram para os seus, rasgando-o. — Pensei que se importasse comigo. Você não me quer?
Maldito inferno! Ewen a soltou tão de repente quanto a agarrou, não confiando em si mesmo. Ele a queria com cada fibra de seu ser. Ele a queria tão desesperadamente, levou tudo que tinha para não a puxar em seus braços agora mesmo.
— Não é tão simples, Janet.
— Por que não?
A dor em sua voz quase o quebrou. Sabia que haveria lágrimas em seus olhos se ele olhasse, então ao invés disso arrastou os dedos por seu cabelo e andou alguns passos diante do braseiro de ferro.
— Simplesmente não é.
— Mas eu amo você.
Seus pés pararam. Seu coração parou. Tudo pareceu parar. Levou alguns momentos para as palavras afundarem. Por um instante sentiu uma explosão de algo similar à felicidade pura — felicidade como nunca experimentou antes. Porém isso foi socado sob o peso amargo do dever e da lealdade. Pessoas estavam contando com ele, maldição. Ela pertencia a outro homem.
Ewen não seria como seu pai, mesmo se isso o matasse. Ele não faria isto. Disciplina.
Ele virou e se forçou a olhar para ela, cada músculo em seu corpo tão apertado quanto um arco. Sua mandíbula estava apertada, seus punhos estavam apertados, e a dor em seu peito abafou tudo que ele esteve sentindo em sua perna.
Ela olhou fixamente para ele com olhos arregalados, parecendo mais vulnerável do que ele já a viu.
— Você não vai dizer algo?
— O que você gostaria que eu dissesse? — Ele não queria que isso soasse tão duro quanto soou, mas nunca foi bom com palavras. Ele nunca foi bom com nada disso. Como a bagunça que ele fazia com tudo.
Ela se encolheu, seus dedos ficando brancos conforme ela apertava o plaid com mais força.
— Eu pensei... — Ela parou, sufocando um soluço mudo. — Pensei que você pudesse se sentir do mesmo modo. Mas posso ver que estava errada. — As primeiras lágrimas deslizaram de seus olhos, cada uma delas uma lança de dor através do seu coração. — Eu não devia ter te incomodado. Me d-desculpe.
Ele mal pode ouvir a última palavra pelo soluço minúsculo. Podia ver os ombros dela tremendo quando ela virou para partir.
Ele não podia fazer isto. Não podia deixá-la partir deste jeito.
— Janet, espere.
E foi quando ele cometeu seu erro. Ele a segurou.
Janet estava muito magoada para estar humilhada, embora tivesse certeza que isso viria mais tarde. Deus do Céu, ela praticamente pediu para ele se casar com ela! Ela deu a ele seu coração e ele não quis. Seu peito se sentia como se tivesse sido esmagado por um pedregulho — ou o chão debaixo de uma enorme bota pesada.
Ela não podia respirar — não ousava respirar — temendo que a onda quente de emoção constringindo sua garganta e peito se despejasse em uma torrente de soluços.
Algum dia já ouviu a palavra “não”?
Aye, ela ouviu. Em alto e bom som. Querido Deus, como ela pode ter estado tão enganada? Isto era só outro exemplo dela descendo montanha abaixo como uma pedra rolando? Ela tinha imaginado algo que não estava lá?
Seu lábio inferior tremeu. Seus ombros sacudiram. As lágrimas começaram a fluir. Oh Deus, ela tinha que sair dali!
Ela o ouviu chamar atrás dela e o teria ignorado se ele não pegasse seu braço.
— Solte-me! — Ela tentou encolher os ombros para escapar, não querendo que ele a visse chorar. Não querendo que ele visse o quanto a magoou. Ele não podia deixá-la com um fragmento de orgulho?
Aparentemente não. Ele não a soltou, a mão do seu grande guerreiro fechou ao redor da parte superior do braço dela como uma algema de aço. Ele a fez dar meia volta para que o enfrentasse, mas ela não levantou o olhar. Manteve o olhar fixo na gola bordada de sua túnica de linho. Mas até isso doía. Estava amarrado ao pescoço dele, e ela se achou olhando fixamente para o caminho de pele escura por baixo. A pele que ela ainda queria tocar.
O calor de seu corpo a envolveu. Cruelmente. Provocadoramente. Perseguindo-a com memórias de coisas que não podiam ser.
— Eu não quero magoar você.
Ela deu uma risada aguda que saiu mais como um soluço quebrado. Era tarde demais para isto.
— Então o que você quer, Ewen? — Ela levantou o olhar para dentro dos seus olhos, um flash de raiva temerária restabelecendo um pouco de sua coragem. — Oh, espera. Eu sei o que você quer. — Ela inclinou seu corpo no dele, suas terminações nervosas zumbindo ante o contato. Mas desejo não era amor. — Como eu posso ter confundido isso com qualquer outra coisa?
Ewen soltou um gemido áspero, torcendo o braço dela ao redor para aproximá-la muito mais apertada contra ele, embora não achasse que ele estava ciente do que fez.
— Pare com isso, Janet. Isto não é verdade.
Seu rosto era uma máscara escura e torturada. Sua boca uma linha dura, seus olhos tiras de aço, sua mandíbula apertada.
O coração dela tinha dono. Odiava-o por fazer com que ela o quisesse tanto. Por cada um dos músculos duros pressionados contra ela que faziam seu corpo esquentar, mesmo agora. Por ser tão bonito que fazia seu coração doer só de olhar para ele. Por fazê-la perder de vista seu plano e acreditar até por um momento em contos de fadas. E acima de tudo por não a amar de volta.
— O que não é verdade? — Ela provocou. — Que você não me quer? — Ela apertou seus quadris contra ele. — Eu diria que seu corpo discorda.
Seus olhos mergulharam nos dele. Estava tremendo de raiva, frustração e dor. Ela queria atacar. Queria machucá-lo tanto quanto ele a machucou.
— Mas quer saber, Ewen? Isso não é mais suficiente para mim. Não quero mais você. Então solte-me!
Pânico subiu duro e quente dentro dele. Ela estava falando sério. Ewen podia ver em seus olhos. Ela não o queria mais. Ele a empurrou para longe vezes demais. Era o que ele procurou, não era? Ele achou. Mas enquanto estavam lá tão colados, faíscas de raiva e desejo chocando entre eles em uma feroz batalha de vontades, soube que não podia deixá-la ir. Se ele a deixasse ir embora agora, seria muito tarde. Ele a perderia. Ela nunca voltaria. Estaria terminado.
Ele podia lutar com o desejo — poderia até mesmo ser capaz de ganhar, — mas não podia lutar com o medo forjado por pensamentos de um futuro sem ela. Ela jogou suas defesas abaixo até que ele simplesmente não podia mais lutar.
Pro inferno com isto. Sua boca cobriu a dela em um beijo quente e possessivo que era para não deixar nenhuma dúvida sobre suas intenções. Ele iria fazê-la pertencer a ele da única maneira que podia. Pela primeira vez, Ewen não segurou nada, dando rédea livre ao seu desejo.
Ele provou a ela a mentira com seus lábios e língua, pedindo — não, exigindo — com cada golpe hábil, até que ela estava retribuindo seu beijo com tanto calor e paixão que queimava dentro dele. Ela o queria.
O plaid que ela estava segurando — seu plaid — caiu numa poça aos seus pés conforme seus braços rodeavam o pescoço dele. O corpo minúsculo dela esticado contra o seu e ele afundou nela, respirando em seu quente e pesado calor.
Era incrível. Seu calor. Sua suavidade. O aroma inebriante de seu cabelo. Ele cavou mais fundo, ajustando o corpo seu corpo ao dele, cavando a mão através das mechas douradas para agarrar sua cabeça nas palmas dele, e afundar a língua cada vez mais fundo na doçura da caverna quente de sua boca.
Ele não podia ter o suficiente. Sua boca estava faminta pelo gosto dela, suas mãos ávidas para vagar por cada centímetro, e seu corpo doía por mais pressão.
Ela gemeu e estremeceu, seus dedos minúsculos embreando — cavando — em seus ombros, prova visceral do quanto ela o queria.
Um raio de calor atingiu duro em sua virilha, enchendo-o. Fazendo-o inchar. Pulsar. Latejar.
Ele não iria durar.
Varrendo-a para dentro de seus braços, carregou-a para cima da pallet. Interrompeu o beijo apenas tempo suficiente para descê-la e arrancar sua camisa antes de descer ao lado dela.
Os olhos dela arregalaram, viajando sobre planos de pele nua. Não, “viajando” não era bastante certo. “Banqueteando” talvez fosse mais preciso. Estava acostumado a mulheres admirando os efeitos da guerra em seu corpo, mas com ela era diferente. Com ela importava.
— Meu Deus, você é bonito — ela deixou escapar.
Ele sorriu.
— Guerreiros não são bonitos, moça. Pensei que você fosse boa com palavras.
Ela corou, embora soubesse que ele estava brincando com ela.
— Muito bem, “perfeito” então. — Seus olhos foram para o corte que ele sofreu na batalha com os ingleses na manhã anterior. — O ferimento não dói? — Ele sacudiu a cabeça. Como disse a ela, não era mais do que um arranhão. — O que é isto? — Ela perguntou, traçando a marca que o vinculava à Guarda das Highlands em seu outro braço com o dedo.
Ah, inferno.
— Nada.
Ela o ignorou.
— É o Leão Desenfreado com algum tipo de faixa e inscrição. — Ela espremeu os olhos para enxergar melhor na luz das velas. — Or inveniam viam. ”Eu devo achar um modo”. — Ela traduziu. — Isso se encaixa para um rastreador. Soa como a inscrição para uma espada.
— É. — Ele disse. Tinha a mesma marca em sua espada. A tatuagem do Leão Desenfreado rodeada com a faixa como um torniquete de uma teia de aranha, era a marca usada para identificar cada membro da Guarda das Highlands. Mas muitos dos guerreiros a personalizavam com armas ou lemas. Ewen fez ambos. Tinha duas lanças cruzadas atrás do leão e a inscrição em sua espada abaixo.
Seu braço flexionou debaixo da ponta do dedo dela, e agradecidamente ela continuou. Ela se estendeu e espalhou suas mãos por seu tórax e braços.
— Você parece como se fosse feito de aço. — Ela ergueu o olhar timidamente. — Sabe, nunca gostei de músculos antes, mas acho que aprendi a gostar bastante. — Sua palma espalhou sobre o músculo protuberante em seu braço superior e apertou. — Aye. — Ela disse, sua voz ficando um pouco mais rouca. — Aprecio bastante.
Outra explosão de calor correu através dele. Amaldiçoou e a beijou novamente antes que suas palavras pudessem deixá-lo mais louco.
Ele tinha toda intenção de levar isto devagar. Saborear cada minuto do que poderia ser a única vez...
Ele parou. Não pense nisso.
Ao invés disso se concentrou no quanto era boa a sensação dela bem enfiada debaixo dele. Segurou-a aconchegada ao seu lado, meio projetado em cima dela, para não a esmagar com seu peso. Isso também deixava sua mão livre para explorar, e teve a maldita certeza de não deixar nenhuma parte dela sem tocar. Ele segurou de forma côncava seu seio através do tecido fino da camisola, escovando o polegar acima do bico tenso, antes de deslizar a mão atrás sobre sua cintura e quadris, e então sua bunda, erguendo-a contra ele até que a perna dela envolveu ao redor do quadril dele.
Seus grunhidos e gemidos saíram de foco juntos quando ele começou a esfregar suavemente contra ela. Lentamente aumentou, imitando o ritmo com sua língua, enquanto os círculos lentos e gentis se tornavam um esfregar rápido e duro. Ele a deixou se acostumar ao seu tamanho. Deixou-a sentir cada centímetro de seu comprimento enquanto movia seu corpo acima do dela.
Mas a performance separada por algumas camadas de linho e lã não era suficiente para nenhum deles. A corrida frenética dos batimentos cardíacos dela e respiração acelerada, entre ofegos crescentemente urgentes e gemidos, combinavam com os seus.
Tensão latejava por seu corpo. Ele estava quente para cacete. Fervia. Seu corpo um inferno de necessidade. Suor reunia em sua sobrancelha enquanto ele lutava com os instintos pressionando dentro dele. Cada um dos seus músculos estava flexionado com força, tremendo pelo esforço para encontrar restrição. Para encontrar controle. Para fazer isto durar.
Mas não ia durar. Não desta vez. Estava tão gostoso e ele a queria tão intensamente. Desde o primeiro momento que a viu na floresta, meio nua e feroz como uma valquíria, ele esteve esperando por este momento. Não quis reconhecer nem para si mesmo, mas a verdade finalmente o alcançou. Ou talvez fosse o destino que o tenha alcançado.
Sabia que estava muito apressado. Apressado demais. Mas tinha que estar dentro dela. Agora.
Com uma mão, desabotoou os laços de seus calções e os deslizou de seus quadris. A explosão de ar frio sobre sua pele túrgida o fez gemer de alívio.
Sutileza estava além dele. Sua mão parecia grande e desajeitada enquanto agarrava a bainha da camisola dela, levantando-a só o suficiente para ele ter acesso. Ele se forçou a tirá-la. Deixou sua mão descansar na coxa dela um instante antes de tocá-la. Mas ela não deixou. Começou a se retorcer, gemer, erguer seus quadris para encontrá-lo.
Então deu a ela o que ambos queriam, varrendo seus dedos sobre a umidade dela, antes de deslizar no apertado calor feminino. Ele gemeu. Tão molhada. Tão quente.
Um afiado aperto de desejo formou uma bola na base de sua espinha. Queria estar dentro dela tão desesperadamente, levou tudo que tinha para não alavancar seu corpo acima do dela e investir duro para dentro. O conhecimento do quão bom se sentiria colidiu nele numa onda quente, quase o arrastando para baixo.
Mas tinha que deixá-la pronta para ele. Ela era inocente, maldição, e ele iria fazer isto bom para ela, ainda que o matasse.
E seria muito bom.
Erguendo a cabeça, interrompeu o beijo para ver seu rosto enquanto dava prazer a ela.
Sentiu algo apertar duro em seu peito. Ela era tão bonita. Presa na agonia da paixão, suas bochechas coradas com prazer, seu cabelo dourado espalhado atrás de sua cabeça numa desordem selvagem, seus olhos entrecerrados e seus lábios inchados pelo beijo suavemente separados, ela parecia com algum tipo de deusa sensual. Sabendo que ele estava fazendo isto para ela o humilhava. Foi seu beijo que inchou os lábios dela, sua barba de uma semana que avermelhou a pele sensível ao redor do queixo, e seu toque que estava deixando-a selvagem.
Mas não selvagem o bastante.
Janet se sentiu como se tivesse sido pega em um vendaval. Um vendaval quente, frenético e devastador. Ela foi do desespero absoluto até o êxtase em questão de minutos.
O que o tinha segurado se foi. Quando a beijou, ela soube que ele tomou sua decisão: ele a escolheu. Seu peito inchou com felicidade. Ela não esteve errada em entregar seu coração a ele.
Foi varrida pelo calor do seu abraço, entregou-se à paixão. Entregou-se à ele. A rendição nunca pareceu tão boa. A sensação de seus dedos dentro dela — acariciando-a, trazendo-a ao próprio pico do prazer…
Oh Deus, ela não podia aguentar isso! Ela gemeu, se retorceu, sentiu o desejo avassalador de pressionar seus quadris na mão dele. Um eco da memória do que ele fez com ela a provocou, enquanto a sensação cintilava mal fora do seu alcance.
— Não ainda, mo chroí. — Ele sussurrou em seu ouvido com uma risada malvada. — Quero te saborear primeiro.
Janet não queria tentar dizer a ele o que fazer, mas preferia esse negócio agora de beijar.
Ela soltou um pequeno choramingo de protesto quando ele diminuiu as carícias, e tentou não ficar irritada quando ele riu.
— Prometo que você gostará disto, moça.
Ela sentiu seu primeiro cintilar de premonição quando ele deslizou para baixo, não para cima. Meu Deus, seu rosto estava bem entre sua...
Uma súbita onda de embaraço esfriou um pouco do calor. O instinto fez suas pernas se juntarem com força.
— Não! Não faça isso! Você não pode!
Ele levantou os olhos para ela, um brilho malvado em seus olhos azuis acinzentados. Uma mecha espessa de cabelo escuro caía sobre sua sobrancelha, dando a ele uma distinta borda marota. Ele enterrou sua boca bem no ápice de suas pernas fechadas, o calor de sua respiração fazendo-a ofegar. Ele sorriu.
— Asseguro a você, eu posso. — Ele se aninhou nela novamente, suavemente cutucando suas pernas para se separarem. — Você vai gostar disso, amor. Só me deixe ter um gostinho.
Oh Deus! Ela estremeceu — e não com mortificação — quando ele se aninhou nela novamente, desta vez dando a ela um tremular de sua língua que enviou uma ondulação após a outra de sensação direto para os dedões do seu pé. Suas pernas relaxaram ainda mais, abrindo um pouco mais à medida que o embaraço rapidamente dava lugar para os desejos perversos do seu corpo.
Quando ele a beijou lá, apertando seus lábios quentes e firmes na sua parte mais íntima, ela gritou em choque e prazer tão agudos que deixou cada terminação nervosa no limite. Ou melhor, virou do avesso cada terminação nervosa. Ela era uma bola crua de terminações nervosas viradas do avesso. Quente, sensível e posicionada para seu toque.
Ele a provocou com estalidos gentis de sua língua e beijos suaves até que ela não pode aguentar mais. Começou a erguer seus quadris contra ele, querendo mais pressão.
— Gosta disso, amor?
Gostar disso? Céus, nunca imaginou gostar tanto de uma coisa. Esperava que ele não estivesse esperando que ela falasse, tudo que podia administrar era um ofego sem fôlego.
Esqueceu-se de estar envergonhada e não ofereceu um único protesto quando ele se instalou firmemente entre suas pernas, lançou as pernas dela por cima de seu ombro, e agarrou sua bunda com ambas as mãos para erguê-la mais completamente para sua boca maravilhosa e perversa.
O primeiro golpe amoroso de sua língua fez cada um daqueles terminais nervosos virados do avesso formigar. Mas foi a pressão de sua boca e o esfregar de mandíbula da barba por fazer contra a pele tenra entre suas coxas que a fez perder toda vergonha.
Ela começou a tremer. Começou a arquear as costas e erguer os quadris cada vez com mais força contra seus lábios e língua. Disse a ele para não parar. Implorou para fazer isso parar. Mais rápido. Mais fundo. Mais duro.
Oh Deus, sim… sim! Uma corrida de calor surgiu entre suas pernas para a sucção morna de sua boca. Ele a segurou ali, bebendo-a, enquanto ela se catapultava em um reino diferente, enquanto seu corpo se partia em onda após onda de prazer quente e ondulante.
Através da névoa desatenta, ela o ouviu praguejar.
— Não posso esperar mais… Tenho que estar dentro de você… Desculpe.
Sua voz soava quase estrangulada.
Por que ele estava se desculpando?
Não levou muito tempo para descobrir.
CAPÍTULO 21
Ewen chegou ao fim de sua restrição. Qualquer controle que ele pensou que tinha desapareceu após o clímax dela. Queria deixá-la louca e pronta para ele, só não tinha antecipado o que isso faria a ele.
Era experiência a mais erótica de sua vida. Nunca saboreou uma mulher tão completamente antes. Nunca teve sua boca nela enquanto ela se quebrava. Nunca se sentiu tão conectado enquanto os espasmos de prazer reverberavam pelo corpo dela. Ela se entregou tão livre e completamente.
Ele não podia esperar outro minuto.
Murmurando algum tipo de desculpa, alavancou seu corpo sobre o dela. Os músculos em seus braços e ombros flexionaram duros em antecipação enquanto ele lutava para se segurar firme. Para ir lentamente.
Os olhos dela se ergueram para os dele. Ele sentiu um clique. Era como se algo tivesse mudado em seu peito e trancado no lugar.
Seus olhos tremularam para baixo e arregalaram. Seguiu a linha de seu olhar e viu a mesma coisa que ela: uma ereção de tamanho muito intimidante. Queria dar a ela algum tipo de reafirmação, dizer que tudo ficaria bem, mas verdade seja dita, ainda que pudesse dar um jeito para grunhir algumas palavras agora, não estava certo quanto disso iria doer. Mesmo suave e molhada de seu orgasmo, ela ainda era pequena e apertada, e ele grande e duro. Muito grande e muito duro.
Só de pensar nisso o fez pulsar. Lutou com a urgência de lançar a cabeça para trás e investir para dentro dela.
Mas esta era uma batalha que ele perdeu.
Seu pau estava muito duro, sua entrada escorregadia e morna muito convidativa, e qualquer controle que ele tinha fugiu no momento em que esfregou a cabeça sensível contra sua umidade sedosa. Segurando seu olhar, ele começou a pressionar para dentro, centímetro por centímetro, mas a intimidade era intensa demais, as emoções muito poderosas. Era demais. O gentil cutuque se tornou um mergulho rápido enquanto ele a possuía completamente, ligando-a a ele de um modo que não podia ser desfeito.
Ele soltou um gemido de pura e primitiva satisfação, subjugado por uma sensação de alívio e mais alguma coisa. O único modo de descrever isso era retidão absoluta. Como se ele estivesse onde pertencia. Como se encontrasse seu destino.
O grito suave de dor atravessou um pouco da sua névoa. Mas era tarde demais. Tarde demais para recriminações. Tarde demais para mudar de ideia. Tarde demais para recuar — ele foi muito longe, não podia puxar de volta agora mesmo que quisesse. Ela era sua.
Pelo menos no momento.
Ewen cerrou os dentes, mantendo-se imóvel como uma pedra, querendo lhe dar tempo para ajustar à sensação dele. Mas era bom demais. Ela era apertada e quente, agarrando-o como uma maldita luva, e cada instinto em seu corpo gritava para se mover.
Ele roubou um olhar para baixo em sua direção, surpreso por ver seus olhos não fechados bem apertados, mas olhando para ele com a emoção que ela o forçou a reconhecer.
Amor. Seu peito apertou. Uma onda de ternura bateu nele em cheio. Ele se inclinou e deu-lhe um beijo suave.
— Eu sinto muito.
Ela sorriu.
— Por quê?
Por tantas coisas.
— Machuquei você.
— Não é tão ruim... agora.
Como se para provar suas palavras, ela se mexeu, enviando um inchaço quente de prazer surgindo até a ponta dele. Ele gemeu, incapaz de resistir ao primitivo instinto de responder com um movimento também. Uma investida apertada e rápida.
Ela se encolheu.
Ele praguejou.
— Maldição. Me desculpe. Estou tentando não me mexer, mas você é tão gostosa, isso está me matando.
Pela quantidade de dor em que ele estava no momento, o sorriso que se espalhou pelo rosto dela não foi exatamente apreciado.
— Eu estou? Eu sou?
Ele lhe um olhar afiado, seus dentes apertados firmemente.
— Não precisa estar tão contente com isto.
O sorriso dela se tornou ainda mais largo.
Ele se inclinou para beijá-la novamente, o movimento fazendo-o afundar mais profundamente.
Ela ofegou, mas desta vez não com dor. Seus olhos se encontraram.
— Oh! Essa sensação...
Ele sabia como se sentia. Parecia incrível. Ele se moveu novamente, tirando só um pouco e afundando de volta. Os olhos dela se arregalaram.
— Oh... — De novo. — Oh!
Quando ela circulou seus braços ao redor do pescoço dele para segurar mais apertado, foi todo o convite que ele precisava. Segurando seu olhar, ele investiu novamente. Observando por qualquer sinal de dor. Mas não era dor que trouxe um suave rubor rosa para suas bochechas.
Quando os quadris dela se levantaram para encontrá-lo, ele não pode se conter. Seus golpes prolongaram. Aprofundaram. Foi mais rápido e mais duro, ela ofegando gemidos que o incentivaram a continuar.
O prazer era intenso. Avassalador. Como nada que ele algum dia sequer imaginou. Ela era... tudo. E mais.
Tão apertada. Tão quente. Suor despejava dele, as punhaladas frenéticas cobrando seu preço. A pressão construiu na base de sua espinha, mais forte e mais poderosa que qualquer coisa que ele já sentiu antes. O corpo dela o agarrou, ordenhou, empurrou-o por cima da borda.
E ele a levou junto. Segurando os quadris dela, ele apunhalou duro e fundo, esfregando para dar prazer a ela em círculos duros e lentos, enquanto seu próprio prazer rugia em seus ouvidos.
Ele gozou com uma intensidade incandescente que o sacudiu em seu núcleo. Por um momento, o prazer foi tão aguçado que viu tudo preto. Novamente os espasmos o assolaram. Agarrando. Apertando. Deixando-o seco.
— Amo tanto você. — As palavras dela ecoaram inúmeras vezes em sua cabeça, em seu coração.
Quando o último jato diminuiu em sua virilha, ele desmoronou na cama ao lado dela, gasto e exausto, deleitando-se nas sensações e sentimentos estranhos. Ainda sentia como se estivesse voando. Sentiu a cabeça leve, sua mente um pouco suave e vaga. Quase como se tivesse tomado mais daquele uísque do que percebeu. Jesus! Nunca percebeu que isso podia ser... Assim.
Incrível. Surpreendente. Como nada que já experimentou antes. Eles estavam... conectados. Não apenas juntos, mas conectados. Nunca se sentiu mais perto de ninguém em sua vida como esteve no momento em que estava dentro dela, olhando no fundo dos seus olhos. Quando eles acharam o clímax juntos, não só seu corpo foi saciado, mas sua alma. E a euforia não terminou com o orgasmo. Ele se sentiu — o sentimento era tão estranho para ele que levou um momento para pôr um nome nisso — feliz. Como se pudesse deitar aqui com ela para sempre.
Era tão doce. Tão entregue. E ela o amava? Como teve tanta sorte?
Estava prestes a alcançá-la e colocá-la debaixo de seu braço quando ela falou.
— Se isto é o que casamento tem a oferecer, acho que devo estar bastante contente.
Ela podia ter jogado um balde da água fria nele, o choque de suas palavras era o mesmo. O atordoamento desapareceu. A euforia e felicidade viraram um frio gelado à medida que a realidade do que fez o atingiu rápido e duro.
Foda.
O palavrão estava bem colocado. Foi isso exatamente que ele fez — tanto literal quanto figurativamente. Não só ela, mas ele mesmo também.
Em vez de aconchegá-la contra ele, olhou fixamente para o teto de madeira do celeiro em atordoada descrença enquanto as ramificações o derrubaram implacavelmente.
Sangue de Deus, que diabos ele fez?
Ao tomar sua inocência, ele violou a confiança tanto do seu rei quanto do seu suserano, e pôs seu futuro, como também do seu clã, em risco. Um dedo de terra? Inferno, ele não teria um punhado de sujeira no seu nome quando Bruce descobrisse. O castelo meio terminado — um monumento à imprudência de seu pai — seria um flagelo na paisagem para sempre. Mas nada disso importava porque Ewen estaria morto. O rei o mataria.
Ewen tinha tentado manter sua cabeça baixa, fazer seu trabalho, distanciar-se de seu pai “selvagem” e seu primo rebelde, e não chamar atenção para si mesmo. Bem, Bruce certo como o inferno ia notar isto. Estava quase feliz que Sir James estava morto para que ele não tivesse que ver isto.
Destinado a ser. Retidão. Fatalidade. Destino. Realmente tinha usado tais desculpas fantásticas para justificar o indesculpável e perder de vista sua honra? Por esquecer o que importava? Que tal dever, lealdade e disciplina? Era nisso em que ele deveria pensar. Queria culpar o uísque, mas sabia que não era isto. Ficou com medo de perdê-la e reagiu sem pensar. Deixou a emoção controlá-lo. Maldição, ele não ficou sentimental. Isto não deveria acontecer com ele.
Era tão ruim quanto seu maldito pai! Sua vida inteira esteve lutando para ter certeza que não terminaria como o Selvagem Fynlay, e em questão de minutos desfez tudo isso.
Os Lamonts em Cowal não existiriam mais. Você decidiu. Deus, sentia-se doente.
A princípio Janet não percebeu nada de errado. Ainda formigando e fraca de prazer, ainda sentindo como se estivesse planando nas nuvens, estava tão presa na maravilha do que tinha acabado de acontecer que assumiu que Ewen estava se sentindo do mesmo modo.
Nem estava preocupada quando ele não respondeu ao seu gracejo. Provavelmente estava tão subjugado quanto ela.
Foi só quando ele se sentou jogando as pernas por cima da beirada do pallet (dando a ela uma boa visão de suas costas largas e bem musculosas), arrastou seus calções para cima e enfiou a cabeça em suas mãos que ela percebeu que algo estava errado.
Só percebeu o quanto estava errada quando ele murmurou um palavrão que ela nunca ouviu dele antes.
Seu peito apertou, mas tentou não reagir demais, exagerar. E daí se isto não foi exatamente como ela tinha imaginado o momento? Não importava que ele não a puxou em seus braços, acariciou seu cabelo e disse a ela o quanto era maravilhosa. Quanto a amava. Realmente não importava.
O aperto aumentou para uma pontada. Ela não era uma virgem de dezoito anos de idade. Era uma mulher madura. Não precisava de tais garantias, embora teria sido legal. Empurrou para trás a onda quente de emoção que subiu aos seus olhos.
Ignorando o desapontamento tolo e de mocinha em seu peito, tentou pensar racionalmente. Sua reação era compreensível. É claro que era. Ela conhecia Ewen, e sem dúvida que ele veria tomar sua virgindade como algum tipo da violação ao seu código de homem.
Ela podia pensar que era ridículo, mas ele não.
Sentando-se atrás dele, ela se esticou e pôs a mão no ombro dele. Os músculos enrijeceram sob de sua palma. Outra lasca de dor tentou fazer seu caminho através da felicidade em que ela se envolveu como um plaid, mas não deixaria.
— Por favor, não fiquei chateado. De verdade, não há nada com que se preocupar. Não fizemos nada de errado. — Ela sorriu. — Ou nada que não possa logo ser corrigido. Vou até Robert assim que chegarmos e explicar, bem, talvez não tudo. — Robert podia ser tão cavalheiresco sobre este tipo de coisa quanto Ewen. — Mas ele entenderá. Ficará muito feliz em me ver casada finalmente, e casar comigo vai ajudar seu clã, você vai ver.
Nada podia ter impedido a punhalada de dor quando ele se empurrou para longe do toque dela.
— Você não entende uma maldita coisa, o rei vai ficar furioso!
Janet piscou de volta para ele em choque, atordoada pela força de sua veemência. Não pensava em si mesma como possuindo ternos sentimentos, mas ele conseguiu achar um com suas palavras tipicamente cegas e afiadas como navalhas.
— Talvez isso não seja uma combinação ideal, mas tenho certeza que Robert pode ser persuadido...
Ele a agarrou pelo braço e a forçou a encará-lo.
— Maldição, Janet! Nem tudo pode ser manejado com uma língua hábil e um belo sorriso. Quando diabos você vai aprender isso? Você não tem ideia do que eu fiz.
Ela parou de dizer a si mesma para fazer pouco de sua reação. Seja o que for que estivesse fazendo com que ele agisse assim era sério.
Ele deixou a mão cair e pôs de volta a cabeça entre suas mãos.
De repente gelada, ela juntou o plaid deixado por Margaret aos pés do pallet, embrulhou-o ao redor de seus ombros e se posicionou ao lado dele.
— Então por que não me diz? — Ela disse suavemente.
Ela pensou que ele ignoraria seu pedido. Mas depois de alguns minutos às voltas com seus pensamentos, ele pareceu chegar a algum tipo de decisão.
— O rei já organizou um noivado para você.
Ela respirou fundo, olhando fixamente para ele em absoluto horror e descrença. Não podia se lembrar de como respirar. Sua mente estava ocupada correndo em milhares de direções. Esta era a última coisa que ela esperava. Robert nunca deu nenhuma indicação que ele planejava...
Traição a rasgou, estraçalhando aquele manto de felicidade em minúsculos fragmentos. Mas não era só de Robert. Encarou Ewen, procurando pelo homem que ela pensou que conhecia. Que pensou que a conhecesse.
Ele mentiu para mim.
— Quem? — Ela perguntou entorpecidamente.
— Walter Stewart.
O golpe tomou o restinho de ar que tinha no peito. Claro!
Ewen deixou o nome dele deslizar uma vez. Agora entendia o significado. Queria rir, mas tinha medo de que fosse chorar. Walter Stewart mal tinha idade suficiente para ter ganhado suas esporas.
— Meu suserano e o filho do homem a quem devo tudo. — Ele adicionou.
Ela poderia ter tentado entender sua culpa, as profundezas da desonra que ele devia estar sentindo por sua deslealdade e confiança quebrada, mas estava envolvida demais na própria dor e confiança quebrada. Olhou fixamente para seu rosto, buscando por algo em que se segurar. Algo para mudar a conclusão inevitável encarando-a.
Ela desviou o olhar, voltando os olhos para seus pés descalços. Em algum ponto ela deve ter chutado suas botas. Uma pontada aguda cortou seu coração. Foi apenas minutos atrás que ela pensou que ele era o único para ela?
— Você não me disse.
Não era uma pergunta. Não se importava com suas razões para o porquê, mas ele disse de qualquer maneira.
— O rei suspeitou que você não seria tão... uh, dócil para retornar se soubesse.
O choque estava começando a diminuir e raiva surgiu dentro dela. Ela devolveu seu olhar, a boca torcida com sarcasmo.
— Como ele me conhece bem. E você aceitou, claro. Provavelmente era mais fácil para você. “Não é sua batalha”, não foi isso que você disse? Por que deveria se envolver?
Sua boca afinou ante o sarcasmo dela.
— Quando percebi que eu estava envolvido nisso, era tarde demais. Eu sabia que você ficaria com raiva, e sei que isso não é desculpa, mas na época eu estava mais preocupado em nos manter vivos.
Sua admissão que ele estava envolvido também era tarde demais — e pequena demais.
— Você podia ter me dito hoje à noite. Deveria ter me dito mim hoje à noite.
— Aye, bem eu não pretendia exatamente que isto acontecesse. Pensei que seria mais fácil se o rei explicasse. Pensei que isso tornaria nossa separação menos... complicada.
— Se eu odiasse você?
Ele a encarou sem piscar.
Querido Deus! A cor lavou do rosto dela, era exatamente o que ele tinha pensado. Ele simplesmente a teria entregue a outro homem e não olhado para trás. Seu coração estraçalhou como vidro jogado no chão. Ele poderia muito bem ter feito exatamente aquilo.
De repente outra verdade a atingiu. Outra traição.
— Esta não é uma permanência temporária na Escócia. O rei não tem nenhuma intenção de me deixar retornar a Roxburgh, não é?
Ele não se esquivou da fria acusação em seu olhar.
— Não.
— Mas você me deixou pensar que eu poderia persuadi-lo. Você sabia o quanto isto era importante para mim e ainda assim me deixou acreditar que eu voltaria!
Ela o viu se encolher, mas sua culpa não era boa o suficiente.
Ele encolheu os ombros. Ombros nus que mesmo agora a provocavam com memórias. Podia ver as minúsculas impressões de suas unhas. Provas de sua estupidez.
— Pareceu mais fácil na época. Pensei que você poderia se recusar a ir e eu não queria ter que te perseguir novamente. O que você estava fazendo era perigoso...
— E é claro, isso não podia ser tão importante quanto o que você está fazendo.
Ela pensou que ele não podia magoá-la mais do que fez mentindo para ela. Estava errada. Ele nunca acreditou mesmo em mim.
Janet poderia ter tentado compreender sua tentativa de evitar o conflito, mas não a falta de consideração para com ela. Ewen sabia o quanto o que ela estava fazendo significava para ela, e em sua indulgência em deixá-la acreditar que a missão dela estava apenas sendo atrasada, mostrou o quão pouco ele a valorizava. O quão pouco ele pensava dela. Nunca lhe daria o que ela queria de um marido.
Ela ficou de pé para partir, mas ele pegou seu braço, detendo-a.
— Só porque você pode sair de uma situação com conversa não significa que deveria. Você é superconfiante a ponto do descuido. Como o que aconteceu com o padre em Roxburgh... era só questão de tempo antes de ser descoberta. Eu não vou me desculpar por não querer ver você em perigo.
— E quanto a mentir para mim? — E me fazer amar você?
Os olhos dele suavizaram. Mas ela se sentiu estranhamente indiferente a isto. Uma hora atrás poderia ter visto como um sinal de sentimento. Agora, ela sabia melhor.
— Lamento profundamente por isto. Estava apenas tentando fazer meu trabalho.
Um afiado som de deboche irrompeu de seu peito firmemente ferido.
— E a missão sempre vem em primeiro, não é certo? — Ele não disse nada. Ela olhou para seu belo rosto, vendo o mudo apelo por compreensão. Parte dela queria dar isto a ele. Parte dela queria pensar que ainda haveria um modo que isso não acabasse tão horrivelmente. — E agora, Ewen? O que acontece com sua missão agora?
Certamente ela não podia ter estado tão errada. Ele não merecia uma chance, mas ela lhe daria uma.
Ewen tinha estragado tudo. Era exatamente por esta razão que ele queria evitar isto. Ele não podia suportar o modo que ela estava olhando para ele. Ver a confiança quebrada em seus olhos. A traição. O coração partido.
Isso o rasgava.
Ele não queria perdê-la. Mas que diabos podia fazer? Tentaria se desdobrar para fazer isto direito, salvar o que podia de sua honra e seu lugar no exército de Bruce, mas não tinha ilusões.
— Explicarei tudo para Bruce quando retornarmos. Se ele concordar, nós nos casaremos assim que os proclamas forem lidos.
Ela olhou fixamente para ele, forçando seu olhar a encontrar o dela.
— Você realmente não acha que pode conseguir que ele concorde?
Ele não pensava que existia uma chance no inferno. Sua mandíbula apertou.
— Não era você que estava confiante que poderia persuadi-lo?
— Isso foi antes de ser notificada do noivado. Robert não vai te “recompensar” por interferir em seus planos.
— Direi a ele que não há escolha. É tarde demais. — Ele tomou sua inocência, maldição.
— Então você deveria se preparar para se defender com sua espada, porque ele vai querer te matar. Robert não vai ver com bons olhos você depreciar o valor do seu prêmio.
— Não fale disso assim. — Ele estalou furiosamente. — Não é assim que me sinto.
— Como você se sente, Ewen?
Como se estivesse tentando achar tração numa colina de gelo? Confuso? Rasgado? Como um homem que acabou de perder tudo e falhou com um clã inteiro?
— Como pode perguntar depois do que acabou de acontecer? Certamente deve perceber o quanto você significa para mim?
Ele podia dizer pela faísca de decepção que cruzou seu rosto que esta não era a declaração que ela queria ouvir. Mas devia ter sido suficiente. Ela pôs a mão no braço dele, virando aqueles grandes olhos verdes da cor do mar para ele implorando.
— Então fuja comigo. Vamos encontrar um padre em algum lugar para nos casar. Você sabe que este é o único modo. Robert nunca nos concederá permissão para casar.
Cada músculo no corpo dele se tornou tão rígido quanto aço, sua rejeição às palavras dela profundas até o osso.
Estava o destino brincando com algum tipo de piada horrorosa, forçando-o a enfrentar a mesma escolha que seu pai? Bem, pode apostar que não cometeria o mesmo erro.
— Eu não vou fugir.
Ela o observou, seus olhos tomando nota dos seus punhos apertados e músculos flexionados.
— Me amar não vai te transformar no seu pai, Ewen.
Ela ergueu o olhar para ele com tal compaixão e compreensão que por um momento ele vacilou. Queria puxá-la em seus braços e dizer que tudo ficaria bem.
Mas não iria. Seus sentimentos por ela não custariam isso a ele.
— Não vai? Talvez você esteja certa. Não me faria meu pai. Meu pai teve Stewart para ajudá-lo a juntar os pedaços, eu não terei ninguém.
— Você me terá.
Como se pudesse ser tão simples.
— Que tipo de vida viveríamos? Sem o apoio do rei e Stewart, eu não tenho nada para te oferecer. Nenhum dinheiro. Nenhum castelo. Só duzentas pessoas que dependem de mim para provê-los. Deveríamos nos juntar ao meu primo e parentes na Irlanda com os outros “rebeldes”?
Ela ergueu o queixo obstinadamente, sua boca apertada.
— Mary vai ajudar. Christina também.
— Você pediria isso a elas? Você as colocaria em problemas com Bruce.
Com isto, ele teve sucesso em aquietá-la.
— Fugir não é romântico, Janet, é irresponsável e tolo. Não resolverá nosso problema, vai torná-lo pior. Não, não existe nenhum outro modo. Nós nos arriscaremos com Bruce.
Ele se forçou a não ver o desapontamento cintilando em seus olhos, mas isso comia como ácido em seu peito.
— Então você fez sua escolha.
— Fiz.
— Mesmo que isso signifique que não podemos estar juntos? Mesmo que isso signifique que devo me casar com outro homem?
Ele a pegou pelo braço, arrastando seu rosto para o dele.
— Sim, maldição, sim!
Foi como se soprasse uma vela, a luz nos olhos dela simplesmente morreu. Sentiu o rápido agitar do pânico em seu peito. Instintivamente, estendeu a mão, mas ela se empurrou para longe.
Seus olhos verdes da cor do mar dispararam adagas para ele, afiadas o suficiente para tirar sangue.
— Não toque em mim novamente. Você tomou sua decisão, agora tomei a minha. Não casarei com você nem com Walter Stewart. Não casarei com ninguém. Vou tomar o véu antes que alguém tente me forçar a descer a nave da igreja.
A pulsação dele saltou, pânico não mais só agitando seu peito, mas saltando — não, ricocheteando — por toda parte.
— Você não quer dizer isto.
Ela não disse nada. Nem sequer olhou para ele. Seu olhar estava alfinetado na porta atrás dele.
— Ao contrário do que acredita, Ewen, sou capaz de conhecer minha própria mente.
Ele praguejou, sabendo que ela estava escapando dele, mas não sabendo como detê-la. Ficou de pé, cambaleando da dor em sua perna. Mas isso não era nada comparado à fogueira de emoções queimando em seu peito. Ele odiava se sentir assim. Fora de controle. Bravo. Apavorado. Impotente. Ela estava despedaçando-o.
Ele atacou cegamente, como uma besta encurralada.
— Que diabos quer de mim, Janet? Você percebe o que isso... — Ele sacudiu a cabeça em direção à cama bagunçada atrás deles. — Me custou? Tudo pelo que estive lutando. Isto não é suficiente ou devo cortar uma veia por você também?
Ela pareceu arrasada, cada pingo de cor deslizou de seu rosto. Sua voz tremia.
— Não percebi que havia um preço em algo que era livremente dado. Quis te agradar, sinto muito se não foi o suficiente. Mas não precisa se preocupar. Isso não precisa te custar nada. Como não estarei casando com ninguém, minha inocência, ou falta dela, não é importante. Você ofereceu casamento e eu recusei. Você fez seu dever, se houve qualquer dano à sua honra, foi amenizado. Não existe nenhuma razão para dizer qualquer coisa a Robert afinal. Sua posição no exército dele só estará em perigo se você escolher fazer isto.
Tão depressa quanto a raiva subiu, foi derrubada. Ele mal ouviu suas palavras dando a ele uma saída, tudo que podia ver era a dor que suas palavras descuidadas infligiram. Ele não devia estar culpando-a. Não era culpa dela. E ele certo como o inferno não quis fazer o que aconteceu entre eles parecer com algum tipo de transação.
— Maldição, sinto muito. Eu não quis dizer isto. Nunca quis que nada disso tivesse acontecido. Estava só tentando fazer meu trabalho.
— E eu entrei no caminho. Você era apenas um simples soldado tentando fazer seu dever e eu era, como você colocou? Uma complicação.
Ele franziu o cenho. Não foi o que ele quis dizer... foi? Ela era tão mais que isto.
— Eu sinto muito por tornar as coisas difíceis para você, Ewen. Se tivesse me contado a verdade, poderia não ter acontecido do modo que aconteceu. Mas como você assumiu tomar essas decisões por nós dois, temo que agora deva viver com elas. Você é um lutador, estou certa que achará uma maneira de ganhar tudo que deseja. Teria sido mais fácil, mais simples, se nunca tivéssemos nos encontrado. E se servir de consolo, nesse instante eu desejo o mesmo.
Jesus! O que ele fez?
— Você não quer dizer isto.
O olhar que ela lhe deu disse diferente. A pele dele, que esteve sentindo anormalmente quente, pareceu de repente coberta em uma camada de gelo.
— E é exatamente por isto que eu faço. Você me disse uma vez o que queria em uma esposa. Eu devia ter escutado você. Talvez isto seja muito mais culpa minha. Eu quis fazer de você algo que você não era. Você não é Magnus, e eu não sou Helen. Espero que um dia encontre uma mulher que fique feliz em deixar você mimá-la e protegê-la, pensar por ela. Mas essa não sou eu.
Ela ficou de pé e começou a caminhar em direção à porta.
Gostava mais quando ela estava com raiva dele. Essa estranha fria, calma e indiferente o apavorava. Estou perdendo-a. O que posso fazer?
Ele sentiu como se estivesse caindo — colidindo — de uma montanha sem uma corda. A colina era mais íngreme, o gelo mais duro e mais escorregadio, e ele não podia entrincheirar seus saltos para parar de escorregar.
— Espere.
Ela virou.
— Você não pode ir.
Para um tolo segundo, Janet pensou que ele quis chamá-la de volta porque mudou de ideia. Que ele lutaria por eles, tão duro quanto ela estava certa que ele lutaria pelo rei ou seu clã. Mas ela estava errada — novamente.
— Não posso me arriscar que você tente fugir. — Ele disse.
Na pilha de desapontamento que ele amontoou aos pés dela, mais uma pedra não devia fazer diferença. Mas fez. A missão. É claro, ele estava pensando na missão. Não nela.
Embora talvez ele a entendesse um pouco, afinal. Por ela não ter nenhuma intenção de retornar com ele para Dunstaffnage. Janet nunca devia ter deixado que ele a levasse para longe de Roxburgh em primeiro lugar. Tinha que voltar. Ela não arriscaria perder algo importante. Lidaria com seu ex-cunhado e seus “planos” para ela quando tivesse acabado.
Janet endireitou as costas, chamando cada gota de seu sangue de filha de conde. Apesar dele se elevar sobre ela, até a alguns passos de distância, ela ainda conseguiu dar a ele um olhar longo e majestoso empinando o nariz.
— Então serei tratada como uma prisioneira? — Ela estendeu as mãos e cruzou os pulsos. — Vai me amarrar com correntes ou uma corda será suficiente?
Ewen praguejou. Ela o viu se mexer e se encolher enquanto colocava peso na perna. Obviamente estava doendo mais do que dizia, mas ela mordeu de volta as palavras de preocupação que queriam saltar de sua língua. Ele não quis sua ajuda quando ela ofereceu. Ele não queria nada dela. Mas como sempre, ela não quis ouvir. Ela não quis ouvir “não”. Pensou que sabia o que era melhor.
Pelo menos desta vez, ela era a única machucada. Isto é, assumindo que ele não contasse a Robert. Esperava que ele não fosse tolo o suficiente para fazer isso agora. Não havia razão. Ele não precisava perder tudo por tomar o que ela deu livremente. Queria que pudesse dizer o mesmo. Por vinte e sete anos não sabia nada do que estava perdendo. Agora sabia.
— Jesus, Janet. Não é assim. Só não quero que você faça nada... precipitado.
Ele só continuava lançando uma pedra atrás da outra. Eventualmente esperava que elas parassem de doer.
— Como sou afortunada por ter você para cuidar de mim.
— Maldição. Eu não quis dizer isto assim. Você vai me dar sua palavra que não tentará partir?
— Sim.
Ele fez uma pausa, olhando fixamente para ela.
— Você vai fugir no momento que eu virar minhas costas.
Ela ergueu o queixo, não negando.
— Então sou sua prisioneira?
A boca de Ewen afinou.
— Você é a mulher cuja segurança me foi confiada. Não vou deixar você ir.
Um calafrio a percorreu ante suas palavras, mas sabia que era tolice atribuir qualquer coisa significante a elas. Deixá-la ir era exatamente o que ele estava fazendo.
— Vou lutar por nós, Janet. Só confie em mim.
Ela fez e olhe onde isso a trouxe. Ele estava deixando perfeitamente claro o que pensava dela: ela era uma missão — um dever — nada mais. Sua voz tremeu.
— Não vou dormir aqui com você.
Sua boca apertou.
— Sim, vai.
— Você vai ter que me arrastar para Dunstaffnage, pois não vou com você de boa vontade.
O músculo debaixo de sua mandíbula contraiu ameaçadoramente.
— Se é isso que precisa para manter você a salvo.
— Odiarei você por isto.
Seus olhos seguraram os dela, e se ele não a tivesse curado de suas ilusões, poderia ter pensado que viu emoção verdadeira neles.
— Espero que não o faça.
Janet sabia que a batalha estava perdida por enquanto. Ele não seria dissuadido. Era imutável — uma parede de pedra bloqueando seu caminho. De repente a força a deixou. Era como se os eventos do dia a alcançassem de repente. Danificada e machucada até as profundezas da sua alma, tudo que queria fazer era se curvar em uma bola e chorar até dormir. Mas ele nem sequer daria isto a ela.
Olhou para a cama, uma punhalada de dor esfaqueando-a. Ainda podia senti-lo entre suas pernas, a dor incômoda uma lembrança dolorosa do que eles compartilharam.
— Não pode esperar que eu compartilhe uma cama com você.
Ele balançou a cabeça, parecendo mais triste do que já o viu.
— Você pode dormir no pallet. Não acho que vou dormir muito.
— O custo do dever de guarda.
Ele não respondeu à sua cutucada, mas esfregou a perna inconscientemente, como se tentando conseguir um golpe final e estremeceu.
Ela virou se afastando assim não seria tentada a se importar.
— Sinto muito, Janet. Nunca quis te machucar.
Mas machucou. Irreparavelmente.
A caminho da cama, ela pegou sua camisa e lançou para ele. O tórax nu que apenas minutos atrás tinha dado tanto prazer a ela agora doía olhar. Ele pôs a camisa sem comentários.
Ela deitou na cama e ele se sentou diante do fogo, encostando-se à parede, com suas pernas esticadas à sua frente. Janet não tinha intenção de dormir. Ela rastejou debaixo do plaid e o observou com olhos entreabertos.
Ewen recuperou um odre antes de sentar, e pelo longo gole que ele tomou, ela suspeitava que era uísque.
Com alguma sorte, ele beberia até o esquecimento.
CAPÍTULO 22
Janet despertou de estalo e estremeceu. Bom Deus, estava congelando aqui!
Aqui. Ela piscou na escuridão, reconhecendo as paredes rústicas de madeira do celeiro. De repente tudo o que aconteceu voltou a ela em uma onda de dor e decepção.
Como ele podia ter feito isso?
Ela praguejou baixinho. Não devia ter adormecido. Graças a Deus pelo frio. O braseiro deve ter acabado...
De repente, a realização do que significava a atingiu. Seus olhos disparam para onde Ewen se posicionou contra a parede. Ele estava sentado com a cabeça caída para frente como um boneco de trapo. Ela não precisou ver o rosto por trás do véu sedoso de cabelo espesso e escuro para saber que estava adormecido. Dormindo como um morto. Ou melhor, desmaiado, se o odre de uísque descartado ao seu lado era qualquer indicação.
Janet não podia acreditar! O soldado perfeito dormiu no trabalho. Parecia tão completamente fora do personagem ele dar a ela uma pausa. Talvez alguém tivesse escutado suas orações, afinal. Mas rapidamente disse a si mesma para não contar suas bênçãos.
Cuidadosamente — muito cuidadosamente, — ela se levantou da cama provisória. Seu coração martelava o tempo inteiro, olhando para ele por qualquer sinal de movimento, mas Ewen não mexeu um único músculo.
Ela respirou fundo, com a respiração entrecortada. Menos cuidadosamente, para testá-lo, ela ficou de pé. Cada minúsculo som que ela fazia reverberava em seus ouvidos como um sino, mas mesmo assim ele não se moveu.
Deus do Céu, quanto ele tinha bebido? Ele estava todo dur...
Ela parou, lembrando a si mesma para não contar suas bênçãos.
Janet olhou para ele. Olhou para as botas dela. Olhou para o saco ao lado dele — um saco que ela sabia conter seus outros vestidos, dinheiro, e o que restava da comida deles. Olhou para o cavalo no estábulo atrás do celeiro.
Ela podia fazer isto?
Seu coração balançou, mas então continuou a bater. Sim. Sim, ela podia. Pelo menos, valia a pena tentar. Não podia ficar com ele.
Não sabia quanto tempo tinha, mas esperava que ainda tivesse algumas horas antes do amanhecer. Montar o cavalo tornaria mais fácil rastrear — e não tinha nenhuma dúvida que ele a seguiria, — mas isso daria a ela a velocidade que ele não teria estando a pé. E ela aprendeu algumas coisas dele que poderia ajudar.
Ela engoliu em seco, pensando na jornada que tinha adiante. Seria longa e perigosa, mas nada que ela não tenha feito incontáveis vezes antes. Então por que lhe deu uma pontada de medo agora? Por que o pensamento de o abandonar de repente a deixava inquieta?
Porque nos últimos dias, Janet se acostumou a tê-lo ao seu lado. Podia não querer sua proteção, mas veio a apreciá-la, e se não dependia dela, então pelo menos tinha conforto nela.
Seu coração apertou. Por que isso tinha que doer tanto? Como ele podia ter mentido para ela desse jeito? Não apenas pelo noivado, mas sobre sua volta a Roxburgh. Ele sabia o quanto isto era importante para ela. Até mesmo sua traição ela podia ter tentado entender — poderia ter tentado perdoá-lo — se ele a amasse.
Mas ele não amava — ou não o suficiente. Preferia vê-la se casar com outro homem do que arriscar uma comparação com o pai. O pior era que Janet entendia. Nem mesmo o culpava. Não de verdade. Mas também sabia que não era bom o suficiente para ela.
Lágrimas rolaram por suas bochechas. Maldito seja Ewen por fazer isto com ela! Até que ele entrou repentinamente em sua vida como um rolo compressor, ela esteve muito feliz sozinha. Contente com a vida que tinha planejado.
Janet enxugou as lágrimas com um movimento brusco de raiva, determinada a ser feliz novamente. Seu trabalho era a única coisa que importava agora. Era a única coisa que restava.
Ela era melhor sozinha. Não soube sempre disso?
Pondo de lado qualquer reserva que tivesse, Janet tomou sua decisão. Levou apenas alguns minutos para juntar o que precisava. Enquanto levava o cavalo do estábulo, ela deu um último olhar. Com lágrimas nublando os olhos, ela partiu sem olhar para trás.
Alguém estava gritando com ele. A cabeça de Ewen pendeu de um lado para o outro. Pare de me sacudir.
— Ewen! Acorde, rapaz!
Ele abriu os olhos. Levou um momento para reconhecer o homem diante dele. Grande. Cabelos grisalhos. Rosto maltratado pelo tempo e com cicatrizes da batalha. Robert Wallace.
Sua mente parecia com um pântano, seus pensamentos vagarosos.
E Deus, ele estava quente.
Ele gemeu e voltaria a dormir se Robert não o sacudisse novamente.
— A moça, onde ela está?
Isso o trouxe de volta rápido. Um pouco da névoa clareou de sua mente. Janet. Seu olhar disparou para o pallet. O pallet vazio.
Ewen praguejou, percebendo o que aconteceu. Ele adormeceu e ela fugiu.
Como diabos isso podia ter acontecido? Ele estava de serviço, maldição! Não cometia enganos assim.
Ele tentou se levantar, mas algo não estava certo. Não parecia que conseguia coordenar seus membros. Diabos, estava tão fraco quanto um potro recém-nascido.
— O que se passa com você, rapaz? — Robert disse, estendendo uma mão. — Você está queimando tanto quanto uma fogueira e aqui está frio.
— Eu não sei...
As palavras do Ewen morreram em uma punhalada de dor quando tentou pôr peso em sua perna ferida.
— É a perna. Deve estar pior do você pensava. — Robert fez uma pausa para chamar sua esposa com um grito. — Sente-se. — Ele ordenou. — Margaret vai dar uma olhada nela.
Ewen o afastou, procurando ao redor por suas coisas como um cego.
— Eu não posso. Tenho que ir atrás dela.
— Por que ela partiria? — Robert perguntou.
Porque ele era um tolo cego.
— Para se afastar de mim.
Se qualquer coisa acontecesse a ela, ele nunca se perdoaria.
Ele alcançou sua espada e quase caiu. Deus, sentia-se horrível! Não precisava que Helen dissesse a ele que algo estava muito errado com sua perna. Como as coisas podiam ficar tão ruins tão depressa? Pensou que estava ficando melhor, mas estava pior. Muito pior.
Engoliu a dor e a névoa da febre para se aprontar. Ele se arrumou para colocar a maior parte de sua armadura antes de Margaret aparecer.
Seu grito suave disse a ele que devia estar pior do que sentia.
— Você está doente! — Ela disse.
Ele não discutiu. Mas um olhar rápido na bolsa restante disse a ele que precisaria de algumas coisas.
— Vou precisar de alguma comida e bebida, e qualquer dinheiro que você tiver sobressalente.
Janet levou tudo. Ele praguejou novamente. Como pode ter sido tão negligente? Ele sabia que ela fugiria. Devia ter tomado precauções melhores. Devia tê-la amarrado, maldição. Devia ter feito o que fosse necessário para mantê-la a salvo.
Devia ter feito o que fosse necessário para mantê-la com ele.
Ah, inferno! Ele praguejou novamente. Nem mesmo a febre o impediria de ver a verdade.
— Você não pode ir a lugar nenhum assim. — Disse Margaret.
— Eu tenho que ir. — Ewen disse entredentes, lutando com a força poderosa que parecia estar tentando derrubá-lo. Cabia a ele. O sol da manhã já estava com força completa. — Ela pode ter ido já há algumas horas. — Não podia perder a trilha enquanto estivesse fresca.
Pegou a bolsa e começou a ir em direção aos fundos do celeiro. Sua perna fraquejou, e ele teria caído no chão se Robert não o tivesse segurado por baixo do braço.
— Firme, rapaz.
— O cavalo. — Disse Ewen, mordendo de volta a onda de náusea que subiu dentro dele. — Só me ajude a subir no cavalo.
— Foi embora. — Disse Robert.
A extensão de seu fracasso era humilhante. Enquanto ele estava supostamente em guarda, ela se esgueirou com um maldito cavalo passando por ele.
— Vou ter que ir a pé.
— Você não chegará até a próxima aldeia em sua condição. — Margaret disse.
Ele não chegou nem mesmo fora do celeiro. Escuridão se levantou como a boca de um dragão feroz e o engoliu inteiro.
Janet não parava de olhar por cima do ombro, esperando que Ewen viesse como uma tempestade estrada abaixo atrás dela como um demônio do inferno. Ou talvez, mais precisamente, como um fantasma do inferno.
Ela se lembrou como ele se parecia a primeira vez que o viu. A armadura de couro escuro pontilhada com rebites de aço, o plaid estranhamente adaptado envolvido ao redor dele, o elmo enegrecido e arsenal de armas amarrado com uma correia em seu tórax largo e bem musculoso. Seu coração apertou. Ela esteve assustada por uma boa razão, acabou estando certa. Deveria ter virado e corrido no primeiro instante que o viu.
Mas ou ele não estava vindo atrás dela ou ela era melhor em esconder seus rastros do que pensava. Lembrou de suas dicas: chão duro, água ou rios quando possível, andar em círculos, confundir e ofuscar. Ela se manteve na estrada, misturando e escondendo sua trilha o melhor que podia. Mas sabia que sua melhor arma era a velocidade, então não levou muito tempo escondendo-as como deveria.
Talvez o despistar tenha funcionado? Recordando o que Ewen fez quando a levou a primeira vez de Rutherford, Janet não refez seus passos a leste, mas direcionou-se ao norte em direção a Glasgow, esperando perder sua trilha na grande cidade antes de virar a para o leste na estrada principal.
Mas infelizmente, Ewen tinha a vantagem de saber o destino dela. Ainda que conseguisse se esquivar dele na estrada, ele a encontraria logo em Roxburgh. A menos que pudesse pensar num modo de fazer contato com sua fonte no castelo sem retornar a Rutherford.
Apesar do que ela disse a Ewen, a ideia de tomar o hábito novamente não sentava bem a ela. Tendo vindo para o celeiro apenas com um chemise — o sob vestido que Mary previdentemente providenciou ainda na casa — Janet foi forçada a escolher entre a veste extravagante que se sobrepunha ao vestido que era para ir sobre esta ou a saia de lã marrom-escuro “Noviça de Eleanor”. Embora tivesse escolhido a última — uma mulher em um vestido tão fino viajando sozinha seria muito mais difícil de explicar — ela não podia suportar colocar o escapulário branco e o véu. Em vez disso, envolveu o plaid ao redor de si mesma como uma capa com capuz — o que Margaret tinha deixado, não Ewen — e fez o melhor que pôde para evitar outros viajantes na estrada.
Nesta época do ano, nos dias frios e escuros próximos ao Natal, não tinham muitos viajantes. Aqueles com quem ela cruzou tinham a curiosidade satisfeita pela sua reivindicação de ser uma parteira, viajando para atender o nascimento do primeiro filho da sua irmã em alguma aldeia adiante.
Algumas vezes, ela se juntou a outros viajantes durante um tempo — inclusive um fazendeiro e sua esposa levando aves ao mercado em Glasgow e um velho viajando para Lanark para visitar seu filho — buscando segurança e conforto em números. Mas quando as perguntas se tornavam muito pessoais, ela era forçada a se separar da companhia.
Na maioria das vezes ela estava só com seus pensamentos, os quais ela tentava impedir que retornassem a Ewen. Nem sempre seria assim horrível, disse a si mesma. Mas pela primeira vez podia entender a miséria que sua irmã sofreu em seu primeiro casamento. Como era amar alguém e não ter a pessoa retribuindo esses sentimentos. Como se sentia ser traída pelo homem a quem você deu seu coração.
Era uma jornada longa e difícil. Mais difícil do que deveria ter sido especialmente comparada à anterior. Além de não ter os ingleses a perseguindo, a vantagem de ficar na estrada principal era que evitava as colinas que ela e Ewen foram forçados a atravessar. A desvantagem, claro, era a chance de encontrar acidentalmente uma patrulha inglesa.
Durante dois longos dias, através de Rutherglen, onde passou sua primeira noite, para Peebles, onde passou sua segunda, Janet conseguiu evitar tal perigo. No terceiro, porém, enquanto ela e um comerciante e sua esposa, com quem esteve viajando desde Innerleithen, aproximaram-se dos subúrbios de Melrose, onde encontrou Ewen na primeira vez, o destino interveio mais uma vez. Uma dúzia de soldados apareceu na estrada à frente dela.
Seu sangue correu frio. Cada instinto que tinha urgia que fugisse, embora soubesse que era ridículo. Não existia nenhuma razão para ela fugir. Não fez nada errado.
Ela forçou ar em seus pulmões em lentas e uniformes inalações. Quantas vezes fez isto antes? Muitas para contar. Com o tanto de tempo que passou nas estradas como mensageira, dar de encontro com soldados ingleses não era incomum. Por que estava tão nervosa?
Seguindo a dica do comerciante e sua esposa, fingiu não notar nada fora do comum e continuou no caminho adiante. Se o casal notou sua leve vacilação, não comentaram nada. Porém o comerciante, um homem velho o suficiente para ser seu pai, deixou seu olhar demorar no rosto dela um instante mais longo que o habitual. Ele viu sua pele empalidecer sob o capuz improvisado do seu plaid? O olhar dele caiu para as mãos dela. Percebendo que estava apertando as rédeas, forçou seus dedos a soltar. Mas isto, ele definitivamente notou.
Conforme a distância diminuía entre eles, o comerciante moveu sua carroça para o lado do caminho para deixar os soldados passarem. Janet seguiu o casal, aproveitando a oportunidade para angular sua própria montaria atrás deles, onde esperava que não estivesse tão visível.
O martelar do seu coração em seus ouvidos ficava mais alto conforme os poderosos cavalos de guerra se aproximavam. O chão começou a tremer, ela esperou que pudesse esconder seu próprio tremor.
O comerciante levantou sua mão em saudação quando o primeiro cavalo passou.
O martelar em seu coração acalmou. Continuem, ela rezou. Não parem.
Um… dois… três… passaram. Seu coração começou a bater novamente. Ia dar tudo certo. Mas então o martelar não parou — não seu coração, os cascos.
— Alto. — Uma dura voz inglesa disse. — Você aí. Qual o seu nome? Que negócios você tem na estrada?
Nenhuma razão para pânico, disse a si mesma. Nada fora do comum.
— Walter Hende, meu senhor. Sou um comerciante a caminho de Roxburgh, onde minha esposa e eu esperamos abrir uma loja.
— Que tipo de loja?
O comerciante fez um gesto para sua carroça.
— De tecidos, meu senhor. Tenho as roupas de lã mais finas de Edinburgh. Dê uma olhada se quiser.
Janet aventurou uma olhada no soldado. Seu coração caiu no chão. Ele não era um soldado, era um cavaleiro, embora não tivesse reconhecido os braços de seis heráldicas separadas por uma grossa curva de ouro. Ele era um homem de aparência imponente, e não só por causa de sua pesada armadura e a insígnia de correio. Ele era grande — alto e de ombros largos — com uma mandíbula dura e escura, olhos entrecerrados somente visíveis debaixo do elmo de aço.
Ele fez um gesto para um homem mais jovem ao seu lado, quem ela assumiu que devia ser seu escudeiro. O rapaz saltou e abordou a carroça. Erguendo o oleado de couro, ele acenou com a cabeça.
— Aye, Sir Thomas. Está cheio de pano.
Foi então que o desastre atingiu. O escudeiro olhou de relance em sua direção. Por causa de onde ele veio ficar de pé ao lado da carroça, ele teve uma visão clara de seu rosto.
Ele ofegou.
— Lady Mary! O que está fazendo aqui?
O sangue deslizou de seu rosto. Oh Deus, isto não podia estar acontecendo. O menino pensou que ela era sua irmã.
— Você conhece esta mulher, John? — Sir Thomas disse.
O rapaz franziu o cenho, olhando fixamente para ela. Ele deve ter visto algo que o fez questionar sua primeira impressão.
— Sou eu, Lady Mary. John Redmayne. Eu era amigo do seu filho na corte. Você se lembra, nós nos encontramos no Castelo de Bamburgh no ano passado. Eu vim com Sir Clifford.
Sir Robert Clifford era um dos principais comandantes de Edward na batalha contra os escoceses. O medo coalhou como leite azedo em seu estômago.
Depois de um momento, Janet finalmente encontrou sua voz.
— Temo que você está me confundindo com outra pessoa.
O cenho franzido do garoto foi de lado.
— Dê um passo adiante onde eu possa ver você — o cavaleiro ordenou. — Se você não é a mulher que meu escudeiro acredita, então quem você é?
— Kate, meu senhor — ela disse suavemente, usando o nome que deu ao comerciante.
Os olhos do cavaleiro estreitaram.
— Puxe seu capuz para trás.
Ela fez como ele mandou, esperava que sem mostrar tanta relutância quanto sentia. No momento que o plaid caiu para trás, um silêncio coletivo caiu sobre o cavaleiro e seus homens. Eles olharam fixamente para ela em choque e inconfundível admiração masculina.
Com exceção do escudeiro. Ele sorriu amplamente.
— É ela. Lady Mary, a Condessa de Atholl.
O garoto obviamente não tinha ouvido falar da deserção de sua irmã e seu segundo casamento. Mas o cavaleiro tinha. O modo que seus olhos escuros cintilaram enquanto sua boca curvava em um sorriso lento a gelou até o osso.
— E o que a rebelde Lady Mary está fazendo em Melrose?
Janet forçou um sorriso tímido em seu rosto.
— Temo que o menino está enganado, meu senhor. — Ela bateu seus cílios para ele com o que esperava ser apenas a quantidade certa de inocência. Mas alguma coisa disse a ela que este homem não seria um tolo fácil. — Eu sou...
— Nossa filha, meu senhor.
Janet se surpreendeu e esperava que não parecesse tão surpresa como se sentia quando o comerciante surgiu ao lado dela e a reclamou pelo braço.
Ewen lutou com a força da escuridão que o embalava, que lutava para arrastá-lo para baixo. Você não pode dormir. Ele tentou abrir os olhos, mas as pálpebras estavam muito pesadas. Alguém pôs um peso nelas.
Tente. Você tem uma coisa para fazer. Ele não sabia o que tinha que fazer, mas sabia que era importante. Muito importante. A coisa mais importante no mundo.
Levante. Você tem que ir atrás dela.
Oh Deus, Janet!
Ele se debateu cegamente na escuridão, tentando sentar. Mas algo o arrastava para baixo. Mãos poderosas e de aço apertaram seus pulsos e tornozelos, prendendo-o na cama.
Ele gritou, retorcendo em dor e frustração enquanto tentava lutar para se livrar. Mas as mãos firmes pareceram multiplicar como algum tipo de aranha horrorosa.
Tenho que levantar. Perigo. Ela precisa de mim. Oh, Deus, Janet… desculpe.
— …Prenda-o. — uma voz suave penetrou nas bordas da sua consciência. Uma voz de mulher. Uma voz de Angel. — …Ficando pior… corte a perna.
— Não! — Ele deu coices, lutando com tudo que tinha até a dor subjugá-lo e a escuridão o arrastar para baixo.
Ewen estava sonhando novamente, fugindo através da escuridão procurando por algo — por alguém.
Tem que encontrá-la…
Ele se assustou e abriu os olhos, rapidamente fechando-os novamente conforme a luz os atravessava como um punhal.
Ele gemeu, virando, surpreso por sentir seus braços se movendo livremente ao seu lado.
— Ele está acordado. — Uma voz familiar disse.
Oh Deus, Janet!
Ele abriu os olhos novamente, piscando para o rosto que assombrava seus sonhos.
Ele estendeu a mão para cima e embalou a bochecha dela em sua mão.
— Você está aqui. — Ele disse, sua voz áspera e fraca. Ela estava a salvo. Janet estava segura. — Deus, sinto muito.
Ela sorriu, e ele sentiu o primeiro pressentimento que algo não estava certo — uma pontada confusa cutucando as extremidades desfiadas da sua consciência.
— Como está se sentindo? — Ela perguntou.
Outro rosto apareceu ao lado dela, também familiar, mas fazendo uma careta. Apesar do modo que o homem estava olhando para ele, Ewen sabia que devia estar aliviado ao vê-lo por alguma razão.
— Eu sei que você quase morreu. — O homem disse. — Mas vai se achar perto da morte novamente se não tirar suas malditas mãos da minha esposa.
Sutherland, Ewen percebeu. Ele está vivo.
Ele deixou sua mão cair do rosto da mulher. O rosto de Mary, não de Janet.
Mary deu ao seu marido uma carranca afiada.
— Ele esteve inconsciente por quase quatro dias, você acha que pode colocar de lado sua primitiva possessividade só por alguns minutos?
Quatro dias?
Sutherland deu de ombros sem arrependimento.
— Não se ele olhar para você assim. Inferno, pensei que ele ia te arrastar para cima dele. Estava só o poupando de uma surra enquanto ele se recupera.
Ewen não estava grogue demais para debochar.
— Este será um dia frio no inferno, Ice.
Mary pigarreou.
— Obviamente, ele pensou que eu era minha irmã.
— Onde ela está? — Ewen disse, imediatamente alerta. — Onde está Janet?
Sutherland ficou sério.
— Nós estávamos esperando que você nos dissesse.
— Quer dizer que ela não está aqui? — Ele olhou ao redor, de repente percebendo que não sabia onde diabos ele estava.
Mary pareceu entender sua confusão.
— Dunstaffnage.
Sede de Bruce em Argyll, ganha do rebelde John MacDougall, Lorde de Lorn, anos atrás.
— Nós te encontramos não muito tempo depois que você desabou nos Wallaces. — Disse Sutherland. — Sinto muito por deixar você e a moça sozinhos lá fora, mas não podia ter ajudado. Quando os ingleses atacaram pela segunda vez, eu não quis me arriscar e levá-los até você. Alcancei MacKay e MacLean, que tinham encontrado Douglas. Nós estaríamos aqui mais cedo, mas Douglas teve alguns problemas que nós precisamos cuidar. — Ewen assumiu que eram problemas ingleses. A expressão de Sutherland se tornou sinistra. — Você estava mal. Não pensamos que você sairia dessa. Saint e Hawk te levaram para Angel na hora certa.
Angel. Foi quem o esteve atendendo quando ele despertou delirante...
Ewen congelou em horror quando o resto da memória retornou. Ele estava quase apavorado para olhar. Inferno, estava apavorado para olhar. Respirando fundo, abaixou seu olhar para o cobertor acima dele, lançando-o somente quando viu o amontoado de suas pernas — os dois amontoados de suas pernas.
— Você se lembra? — Mary perguntou.
Ele assentiu.
— Você teve sorte pelo local do ferimento. — Sutherland disse. — Angel decidiu que seria mais perigoso tirar sua perna por causa de onde o dano estava do que deixar você lutar com o pus no osso.
Mas não foi o fato que ele quase perdeu sua perna que esfriou seu sangue.
— Por que ninguém foi atrás dela?
— Striker e eu fomos. — Disse Sutherland. — Nós só retornamos ontem à noite. Pensamos ter pego sua trilha indo pro norte na estrada para Glasgow, mas então nós a perdemos.
— Glasgow? Por que diabos ela iria para lá? — Mas ele soube antes que até mesmo terminasse a pergunta. Diabos! Ela levou a sério suas lições.
Ele se sentou e teria perdido o conteúdo do seu estômago se existisse qualquer coisa dentro. Ele balançou enquanto a náusea e a vertigem lutavam para levá-lo de volta para baixo.
— Espere! — Mary gritou, tentando empurrá-lo de volta para baixo. — O que você está fazendo? Não pode levantar.
Ewen rangeu os dentes.
— Eu tenho que encontrá-la. É tudo minha culpa.
A porta abriu e três pessoas irromperam no quarto.
— Nós ouvimos vozes… — Helen ofegou, mas se recuperou depressa. Seus olhos estreitaram. — Vejo que foi um erro desamarrar você. — Ela atirou para seu marido, que surgiu ao lado dela, um olhar de “eu te disse”.
Mas foi a terceira pessoa que entrou no quarto que fez o coração de Ewen afundar e um brilho de suor doentio reunir em sua sobrancelha.
Robert, o Bruce, Rei da Escócia, fixou seu olhar escuro e afiado como uma navalha nele.
— Onde está Janet, e por que é sua culpa?
CAPÍTULO 23
Priorado de Rutherford, Fronteira Escocesa, 14 de dezembro de 1310
— Dê-me uma boa razão por que eu não deveria lançar você em uma no calabouço da prisão agora mesmo! — O rei exigiu.
— Porque você precisa de mim para encontrar Janet e garantir que ela está a salvo. — Ewen respondeu.
Mas ele podia nem sequer conseguir fazer isto. Cinco malditos dias! Por cinco dias ele vasculhou o interior do país, virando cada pedra — cada folha — sem avistá-la. Janet se provou uma pupila melhor do que podia ter imaginado, usando as habilidades que ele a ensinou contra ele.
Esta era sua última vantagem — inferno, era sua única. Com a aproximação de St. Drostan, ele estava de volta ao priorado em Rutherford, esperando que seja qual fosse a razão que ela teve para querer retornar, esta época a traria de volta.
Mas de sua posição nas árvores alguns metros da entrada até o priorado, ele mal podia decifrar os rostos das freiras passando por ele. Apertou seus punhos ao lado, lutando pela paciência que tinha desaparecido dias atrás.
— Não posso ver coisa nenhuma. Estou entrando lá.
MacLean entrou na frente dele.
— Você não fará nenhum bem a ela se for pego. Lembre-se do que o rei disse: fique longe da vista, observe e não interfira a menos que seja necessário. Eu não acho que despedaçar cada igreja entre Roxburgh e Berwick conta como necessário.
— Ou aterrorizar comerciantes desafortunados o suficiente para vender nozes açucaradas. — Sutherland brincou secamente de sua posição atrás dele.
Ewen fez uma careta. Isso tinha sido um engano. Mas o comerciante foi um bastardo provocador, e Ewen esteve de saco cheio de suas respostas engraçadinhas. Antes que percebesse, sua mão envolveu o pescoço do homem e o teve preso contra a parede de madeira da loja. Não surpreendentemente, o homem então tinha sido muito mais acessível em suas respostas para as perguntas de Ewen. Deselegante talvez, mas efetivo.
— Esta é minha última vantagem. — Ele disse entre dentes. — Não vou me arriscar a perdê-la. Saia do meu maldito caminho.
— Use sua cabeça, Hunter. — MacLean disse.
Mas Ewen estava além da razão. Ele deu passo ao redor de MacLean — em vez de empurrá-lo de lado como estava tentado a fazer, — mas outro de seus irmãos, ou seus antigos irmãos o bloquearam.
— Você não vai entrar lá. — Disse MacKay.
— Certo como o inferno que vou. — Disse Ewen, os músculos saltando com prontidão para a briga que MacKay ia conseguir se não saísse do seu caminho. Por cima do ombro do outro homem ele notou outro punhado de freiras saindo do priorado. Mas nenhuma delas era a freira que ele procurava.
— Que diabos você planeja fazer? — MacKay desafiou. — Entrar lá parecendo assim? As freiras vão dar uma olhada em você e correr gritando. Você parece tão feroz e selvagem quanto um lobo. — Ele sacudiu a cabeça. — Você podia tentar dormir um pouco ou comer alguma coisa que não venha de um odre. Sua perna está longe de estar curada e você não vai fazer à moça nenhum bem se cair e morrer. Estou começando a pensar que Helen estava certa. Nós devíamos ter mantido você preso.
Mesmo sabendo que ele falava a verdade, Ewen não estava nem aí. Ele passou sua vida inteira tentando evitar ser comparado ao seu pai, e agora era tão maluco e desequilibrado quanto o Selvagem Fynlay já fora.
— A menos que você queira colocar uma túnica e ter eu te chamando de Madre, meus hábitos de comer e dormir não são da sua conta. Não tenho tempo para isto!
MacLean assumiu que ele estava se referindo à chegada do rei para Selkirk para a conferência de paz.
— Nós teremos ido por alguns dias. As negociações não durarão muito tempo. Bruce exigirá ser reconhecido como rei, os lacaios de Edward recusarão e estaremos a caminho novamente. Se até lá a moça não tiver retornado, podemos tentar novamente.
Apesar da conferência ser mantida sob a sagrada bandeira da trégua, o Comandante queria que eles servissem como parte da escolta. Eles deveriam sair amanhã para alcançar os outros antes deles alcançarem Selkirk.
A boca de Ewen caiu em uma linha fina, mas não disse nada. Não explicaria que não estava indo para Selkirk e que não fazia mais parte da Guarda das Highlands.
Sutherland veio e deu a volta para ficar ao lado de seu cunhado. Deu a Ewen um olhar duro.
— Por que tenho a sensação que tem alguma coisa que você não está nos contando? O que exatamente fez você e o rei discutirem?
A conversa com o rei foi exatamente como Ewen tinha esperado que fosse. Uma vez que todo mundo deixou o quarto, ele explicou o que tinha acontecido. Bruce teria colocado uma lâmina em sua barriga — ou talvez uma área ligeiramente mais baixa — se Ewen não tivesse estado deitado, desarmado e fraco da febre. Em vez disso, seus piores medos tinham se realizado. O rei o despojou de sua terra, sua recompensa e seu lugar na Guarda, e teria tomado sua liberdade também se Ewen não o tivesse convencido a deixá-lo encontrar Janet para assegurar que ela não estava em perigo.
E levou algum tempo convencendo. O rei esteve inclinado a concordar com o julgamento de Janet: se ela pensou que era importante, ele não queria fazer nada para colocar em perigo o informante ou a informação que seu contato poderia passar. Não importa quanto Ewen o pressionasse, o rei não descobriria a identidade do informante — exceto dizer que era alguém em Roxburgh altamente conectado aos tenentes de Edward. Quem pensaria que Ewen trazendo a inteligência recente, habilitando a Guarda das Highlands, saberia exatamente onde atacar?
Ewen esteve atônito. Janet era responsável por isto? Ele subestimou sua importância e sabia disso. Ele lhe devia uma desculpa — uma de muitas — se ela pelo menos o escutasse novamente.
Mas descobrir exatamente quão envolvida nisso Janet estava só intensificava sua preocupação. Inferno, não era preocupação, era um medo entorpecente, de gelar o sangue e os ossos. As apostas seriam ainda maiores se os ingleses descobrissem seu papel.
Ele tinha tanta fé nela quanto Bruce, mas a fé de Ewen estava cega por algo que o rei não estava. Não foi até que Ewen perdeu tudo que pôde ver claramente o que dever e lealdade o impediram de reconhecer. A emoção queimando seu peito e despedaçando suas entranhas só podia ser uma coisa. Nada mais podia atingir este tipo de medo e miséria. Ele a amava. E ele tomou seu amor e o jogou de volta na cara dela.
Você terá a mim.
As palavras dela o comeram. Como ele pôde ter pensado que não seria suficiente? Ela era tudo. Sem ela, nada mais importava.
Pela primeira vez na sua vida, Ewen podia ver seu pai não com constrangimento, vergonha ou raiva, mas com admiração. Por ele ter feito o que Ewen não fez: Finlay teve a coragem de arriscar tudo e lutar pela mulher que amava.
E agora a mulher que Ewen amava estava Deus sabia onde, fazendo Deus sabia o que, porque ele foi tolo demais para fazer o que precisasse fazer para mantê-la. Quando pensava sobre como deu as costas depois de fazer amor com ela, como disse a ela que estava levando-a de volta e a entregaria a outro homem…
Não é de se espantar que ela fugisse. Ele passaria o resto de sua vida consertando isto, se ela deixasse.
Mas e se não tivesse a chance de explicar? E se algo acontecesse a ela e não pudesse dizer a ela o quanto a amava?
Ele tinha que encontrá-la, maldição. Ele rasgaria aos pedaços cada convento em ambos os lados da fronteira se tivesse que fazê-lo.
O perigo tinha finalmente feito Bruce ceder — mas só até certo ponto. Por isso, o papel de Ewen como observador. Quanto ao resto, a Guarda iria descobrir em breve.
— Isto é entre Bruce e eu. — Ele disse a Sutherland.
— Janet é minha irmã agora. — Disse Sutherland, seu temperamento notoriamente quente faiscando em seus olhos. — Se você fez alguma coisa para desonrá-la…
A boca do Ewen apertou. Sutherland teria que ficar na fila.
— Eu arruinei tudo, tudo bem. Mas estou tentando fazer isto direito. — Ele parou distraído, enquanto outra freira emergiu do priorado. Mas mesmo desta distância podia ver que o tipo físico não era certo. Precisava pelo menos chegar mais perto. Voltou-se para Sutherland impacientemente. — Não vou ter esta conversa agora. Assim que nós a encontrarmos, responderei a qualquer maldita pergunta que você queira. Agora, a menos que tente me deter, saia do meu caminho.
O desafio foi endereçado a todos os três homens bloqueando seu caminho. Eles olharam um para o outro e deviam ter reconhecido a determinação em seu olhar — ou talvez fosse o olhar selvagem, frenético, quase à beira da loucura que os convenceu.
MacLean balançou a cabeça e suspirou, dando um passo para o lado primeiro.
— É melhor você saber o que diabos está fazendo.
Ewen não sabia, mas tinha que fazer algo. Não podia ficar aqui e esperar outro minuto.
Seus olhos esquadrinharam a área diante dele enquanto se movia pelas árvores. O rio seguia para o lado leste do priorado. De lá ele teria uma visão mais próxima do pátio. Podia deixar sua armadura para trás e fingir ser um pescador...
De repente, ele parou. Seu olhar faiscou de volta para algo que ele tinha deixado passar mais cedo.
— O que é? — MacLean sussurrou, surgindo atrás dele.
— O rapaz. — Ewen disse. — Sentado nas pedras ao lado do rio.
— O que tem ele? — MacKay perguntou.
— Eu o vi antes. — Algo formigou na sua nuca. — A primeira vez que eu estive aqui e alguns dias atrás.
Sutherland franziu o cenho.
— O que é suspeito em um menino local pescando?
— Nada. — Ewen respondeu. — Se é isso que ele está fazendo. Mas olhe, sua linha não está na água, e sim na beirada do banco, e ele não está observando o peixe. — Ele estava vigiando a porta para o priorado, exatamente como Ewen estaria fazendo, embora bem menos evidente.
— O que você pensa que ele está fazendo? — MacLean perguntou.
— Eu não sei, mas pretendo descobrir.
Ewen continuou de olho na porta e no menino pelo resto da tarde. Toda vez que uma freira saía, o rapaz parecia estudar seu rosto tão atentamente quanto Ewen. Nenhuma vez o menino verificou a linha de pesca ao lado dele. Ou o rapaz era o pior pescador do mundo ou estava vigiando alguém. Mas quem?
Se fosse uma coincidência, era uma que deixava Ewen inquieto. Maldita inquietação. E não pensava que era coincidência.
Suas suspeitas foram confirmadas pouco tempo mais tarde, quando a porta do priorado fechou para a noite e o rapaz abandonou seu posto. Segui-lo foi fácil, mas a cada passo do caminho, o coração de Ewen acelerava mais um pouco.
O rapaz não estava indo para uma casa na vizinhança, estava indo para Roxburgh. Mais especificamente, estava indo para o castelo.
Ewen não precisou seguir o rapaz pelo portão do castelo. De seu ponto de vantagem no topo de uma colina perto, podia ver com clareza arrepiante diretamente no pátio. Antes mesmo que o menino abordasse o edifício, Ewen adivinhou para onde estava se dirigindo. Ah inferno, a capela!
Seu sangue ficou frio, recordando o confronto de Janet com o padre do castelo no mercado.
Se o padre tinha alguém vigiando o priorado, Ewen sabia o que isso significava. O monge encontrado na estrada para Berwick tinha falado antes deles o matarem. A identidade de Janet foi comprometida. Foi como os ingleses os seguiram tão facilmente do priorado umas semanas atrás.
Isso também significava que Ewen não era o único caçando-a, e se não a achasse primeiro, o perigo que ele temia se tornaria muito real.
Graças ao comerciante e sua esposa, Janet tinha uma maneira de fazer contato com sua fonte sem voltar para Rutherford, um lugar para ficar e uma nova identidade.
Seu véu e escapulário ficaram escondidos na bolsa. Em seu lugar, ela usava uma touca de linho e se tornou um membro do crescente número de homens de negócios e comerciantes que estavam fluindo para as cidades. Na sociedade altamente estruturada feudal, os comerciantes estavam em algum lugar abaixo da nobreza e acima do resto — diferente do clero. Como filha de um comerciante, ela aproveitava do mesmo tipo de liberdade que tinha como freira para caminhar por ali sem ser percebida.
Janet não sabia o que tinha feito o comerciante reclamá-la como filha, mas ele a salvou de uma situação que podia ter sido muito difícil e provavelmente ameaçara sua vida. Uma que ela podia muito bem não ter podido se livrar com conversa.
Mesmo com a reivindicação do comerciante, Sir Thomas estava suspeitando. Não foi até que a esposa do comerciante, Alice, avançou para brigar com ela por ficar olhando o bonito cavaleiro quando estava quase noiva de outro, e Janet rompeu em lágrimas, soluçando por que ela não queria se casar com um homem velho o suficiente para ser seu pai, que o escudeiro admitiu que ele podia estar errado, e Sir Thomas permitiu que eles partissem. Realmente, ele parecia querer escapar do drama de família e do olhar de Janet “me salve” o mais rápido possível.
Mas seu coração não parou de acelerar por dias, até bem depois que chegaram em segurança a Roxburgh. Ela agradeceu os Hendes pelo que fizeram e ficou aliviada quando eles não fizeram perguntas, mas simplesmente ofereceram a ela um lugar para ficar o tempo que precisasse.
Janet reembolsou sua generosidade com trabalho duro, ajudando-os a instalar sua loja no terreno mais baixo na Rua Alta, que também alojava uma loja de miudezas, negociante e ourives.
Em retrospecto, o enfrentamento com os soldados perto de Melrose provou ser um benefício inesperado. Isso deu a ela exatamente o que precisava: um modo de fazer contato com seu informante dentro do castelo, o que permitiu que ela evitasse lugares em que esteve antes. Ela levou as lições de Ewen a sério, não queria de nenhum modo conectar a Noviça Eleanor ou Irmã Genna a Kate, a filha do comerciante de lã.
No primeiro sábado de seu retorno, quando as damas do castelo passeavam pelas barracas do mercado, Janet estava pronta. Um rápido e acidental esbarrão, uma desculpa murmurada, e um olhar significativo fora toda a explicação necessária. Janet fez um ponto para caminhar lentamente de volta a loja dos Hendes, onde ela teve certeza que seu informante a veria entrar.
A culpa de Janet por qualquer perigo em potencial que ela pudesse ter posto os Hendes ficando com eles foi suavizada um pouco pelo sucesso imediato que o casal atraiu, depois que um número de homens e mulheres nobres do castelo entraram em sua loja e declararam sua lã a “melhor em Roxburgh”. Os Hendes estavam logo recebendo mais pedidos do que podiam dar conta, incluindo um dos próprios oficiais do Castelo Roxburgh, Sir Henry de Beaumont.
Em uma destas visitas, Janet deu um jeito de ter uma pequena conversa com sua informante enquanto mostrava a ela um tecido fino cor de rubi.
— Tem qualquer coisa que eu possa te ajudar, milady? — Ela perguntou, cuidadosa em manter suas palavras inócuas no caso de que estivessem sendo ouvidas.
A mulher sacudiu a cabeça.
— Temo que ainda não. Mas como tem muitas celebrações importantes por vir, estou certa de que pensarei em alguma razão para esta bela lã logo. — Ela sorriu. — Há muita excitação pelo castelo com o Natal chegando.
Janet traduziu a mensagem facilmente: nada ainda, mas algo grande estava definitivamente fermentando.
— Aye, milady. Até na aldeia, excitação está no ar. Devo estar no meu primeiro banquete de St. Drostan amanhã. Ouvi que é bastante celebrado.
— Aye, haverá um banquete no castelo também. — A dama disse.
Outra dama veio naquele ponto e as interrompeu. O grupo saiu logo em seguida, mas não antes de sua informante prometer que a veria no próximo sábado, dia de mercado, consequentemente daqui alguns dias.
Desapontada que ainda não houvesse nada para reportar e que sua curta estadia em Roxburgh se estenderia por pelo menos mais alguns dias, Janet fez o melhor que podia para se manter ocupada.
O trabalho duro manteve sua mente fora do seu coração partido e a conversa difícil que teria com Robert quando finalmente voltasse para as Highlands. Por mais que o prospecto de vestir um hábito novamente — desta vez de verdade — não fosse atraente para ela, um casamento arranjado era ainda menos.
Deus do Céu, Walter Stewart? Sangue nobre ou não, ela não se casaria com um rapaz que mal tinha idade suficiente para ter uma barbicha no queixo. Ela não podia suportar pensar em estar com ele… Intimamente.
Na maior parte do tempo, Janet tinha sucesso em manter sua mente fora da paixão que Ewen mostrou a ela no celeiro aquela noite — o modo que ele a fez sentir, o quanto foi incrível senti-lo dentro de seu corpo, a emoção avassaladora que a agarrou, — mas ficou lá.
Ela nunca compartilharia isso com outro homem. Sabia disso com cada fibra do seu ser e do fundo do seu coração sangrando, rasgado em pedacinhos e estraçalhado.
Contudo, aparentemente Janet não era uma perita em esconder sua aflição como ela pensava.
— O banquete fará bem a você. — Alice Hende insistiu depois de retornar da confusão do St. Drostan esta manhã. Ela olhou Janet de forma conhecedora. — Seja quem ele for, não vale a pena você trabalhar até a exaustão.
Conhecendo a astúcia da Alice, Janet não tentou negar. Mas também não queria falar sobre isto. Ainda estava muito crua.
— Você é amável, mas acho que é melhor se eu ficar para trás. Você e Mestre Walter vão e aproveitem a trupe de artistas. Você pode me contar tudo sobre isto.
Alice põe as mãos nos quadris largos.
— Não.
Janet piscou.
— Não?
— Aye, não. Você está indo para o banquete, se divertirá e pronto.
Atarracada e com rosto plano, a esposa do comerciante se assemelhava a cada babá com espinha de ferro que Janet já teve. Alice deu a luz a cinco filhas, todas já estabelecidas, e não havia uma desculpa ou explicação que já não tinha ouvido. Janet sabia que podia bajular ou pedir até o sol descer e nascer novamente, mas Alice Hende não ficaria balançada.
Uma emoção encheu seu peito. O que tinha na teimosia e dominação que se tornou tão cativante para ela?
Piscando para afastar as lágrimas, Janet acenou com a cabeça. Sabia quando perdia.
E na verdade, mais tarde aquela noite, ficou agradecida pela insistência de Alice Hende. Pela primeira vez em dias — semanas? — Janet riu, e pela primeira vez em anos, ela dançou.
A rua alta estava esfuziante em bom humor e luz da fogueira. Um palco tinha sido montado para a apresentação dos artistas, grandes mesas de cavalete estavam carregadas com comida e bebida, e músicos foram organizados para providenciar as danças.
Alice insistiu que Janet usasse a túnica de acabamento fino que Mary deu a ela, e a mulher mais velha arrumou seu cabelo em uma toquinha bordada que deixou uma cascata de cachos dourados caindo por suas costas.
Janet não sentia falta de parceiros, e rodando ao redor da fogueira, suas bochechas quentes e pulmões ofegando por ar, sentiu-se como uma menina novamente. Bonita e viva e, por um momento, despreocupada.
Não percebeu quanta atenção estava atraindo.
Ela escapuliu para longe por um momento na taverna para usar de privacidade — que era não mais do que um buraco na parede com um assento de madeira acima da fossa — quando uma figura encapuzada deu um passo no seu caminho quando ela saiu do prédio.
Seu coração parou. Mas levou apenas alguns segundos para reconhecer a figura esbelta e encapuzada na luz da tocha. Céus, era sua informante!
Janet imediatamente olhou de relance, procurando por um lugar para escapar da multidão, e se arremessou dentro na estreita passagem que corria ao lado da taverna. Era mais escuro lá e haveria menos chance de alguém vê-las.
Seu coração estava martelando, sabendo que devia ser algo importante para trazer sua informante aqui desse jeito.
— Temi que eu não pudesse achar você. — A dama disse. — Mas então eu vi você dançando. — A luz da tocha não se estendia para dentro da passagem, e seu rosto estava escondido na sombra escura do capuz coberto, mas Janet podia dizer pela sua voz que ela estava sorrindo. — Confesso que não reconheci você a princípio. A bonita e sorridente filha do comerciante está bem longe de uma freira italiana.
Janet estava contente que a outra mulher não podia ver seu rubor.
— Você assumiu um grande risco em vir aqui.
— Eu precisei. Isto não pode esperar. — Ela estendeu um pedaço dobrado de pergaminho para Janet, que Janet depressa deslizou na bolsa em sua cintura. — Você deve levar isto para ele a toda velocidade. Pode já ser tarde demais. As conversas são estabelecidas para depois de amanhã. Você deve achá-lo antes dele chegar a Selkirk amanhã.
Janet era só uma mensageira. Ela não era normalmente privada de informações, então sabia que devia ser sério para a mulher estar dizendo isso a ela.
— Selkirk?
— Aye, para as negociações de paz. — A mulher tomou o braço da Janet e a puxou mais perto. Janet podia ver o pânico cintilando em seus grandes olhos. — É uma armadilha. Os ingleses querem tomar Bruce.
Ela não estava aqui. Maldição, ele estava tão certo que ela estaria.
Tenho que voltar no Dia de St. Drostan, ela disse.
Então onde diabos ela estava? Não no priorado. Nem no hospital, de fato. Ewen deixou Sutherland vigiar o priorado e seguiu o grupo de freiras que caminhavam para o hospital depois das orações matutinas. Ordens ou não, seu papel como observador terminou ontem à noite no momento em que percebeu que o padre a estava vigiando. Posando como viajante na estrada, ele examinou cada pessoa naquele hospital: leproso, freira, viajante, o doente ou fraco — até o grupo de damas do castelo que chegaram para dar esmola no dia santo.
Mas ela não estava ali.
Ele estava ficando sem tempo. Ficando sem ideias. Nunca se sentiu tão impotente, nunca esteve tão perdido. Na única vez em que realmente precisou encontrar alguém, suas habilidades falharam.
Pior, não podia escapar da sensação que ele de alguma maneira devia saber. Como não percebeu que alguém estava observando-a? Devia ter percebido que os soldados de Douglas não podiam tê-los rastreado tão rápido. Culpou-a por descuido quando ele mesmo perdeu os sinais.
Era depois do escurecer quando deixou o hospital para se reunir com Sutherland no priorado. MacLean e MacKay partiram tarde na noite anterior, depois de atender alguns negócios na floresta e não sem alguma discussão.
— O rei não vai gostar disto. — Disse MacLean. — Ele ordenou que todos nós voltássemos amanhã. Você nem mesmo sabe se ela está aqui. Pode voltar amanhã à noite se cavalgar duro.
A boca do Ewen apertou. Desejou muito que ela não estivesse aqui, que estivesse em algum lugar seguro e longe. Mas conhecia Janet. Se ela pensasse que era importante, nada a manteria longe.
— Ela está aqui. — Disse de modo plano. — Não estou nem aí para ordens. — Seu companheiro ergueu a sobrancelha ao ouvir isso, mas Ewen o ignorou. — Vocês três vão e retornem quando puderem. Não vou deixá-la.
MacKay pareceu cético.
— Tem certeza que sabe o que está fazendo? Se estiver errado, o rei não vai ficar feliz.
O rei não estava feliz agora. E Ewen não estava errado.
— Você deixaria sua esposa?
MacKay não disse nada.
— Em um segundo. — MacLean disse de modo plano.
Ewen lançou a ele um olhar enojado.
— Bem, não vou deixá-la.
Nenhum dos homens declarou o óbvio: ela não era sua esposa e provavelmente nunca seria.
No fim, foi MacKay e MacLean que partiram para se juntar aos outros e relatar para o rei o que aconteceu. Sutherland insistiu em ficar com Ewen.
— Se eu partir e algo acontecer com ela, minha esposa nunca vai me perdoar. Acho que vou me arriscar com Bruce.
Conhecendo Mary, era provavelmente uma sábia decisão. Mas Ewen estava contente pela espada extra — e o par de olhos extra.
Ele assobiou para avisar Sutherland que se aproximava. O mais novo membro da Guarda das Highlands, o homem que podia preencher quase qualquer lugar e assumia o trabalho perigoso de trabalhar com o pó negro depois da morte de um de seus irmãos, respondeu com um assobio antes de saltar de uma árvore à frente dele.
— Alguma coisa? — Ewen perguntou.
— Não. A prioresa trancou cerca de uma hora atrás. Assumo pelo seu tom que você também não teve muita sorte.
Ewen balançou a cabeça sombriamente.
— O rapaz mostrou seu rosto?
Um flash de branco apareceu no luar enquanto Sutherland sorria.
— Depois de ontem à noite? Não acho que ele andaria dentro de uma milha deste lugar, mesmo se você não o estivesse pagando para ficar longe. — Ele riu. — Não percebi que tínhamos tantos admiradores nas fileiras dos espiões ingleses.
— O rapaz não sabia que diabos estava fazendo.
Na noite passada, antes de MacKay e MacLean partirem, eles esperaram que o rapaz deixasse o castelo, seguiram e o cercaram na floresta. Tinha vezes que sua reputação de fantasma vinha em bom uso. O rapaz, provavelmente de dezesseis ou dezessete, inicialmente ficou apavorado. Ele soltou o que estava fazendo para o padre quase antes deles terminarem de fazer a pergunta. Por mais de um mês ele ganhou um centavo por dia para vigiar a nova freira no priorado e relatar para o padre imediatamente se ela fosse a qualquer lugar ou fizesse qualquer coisa. O menino não entendeu por que ainda estava vigiando o lugar quando a freira partiu com um homem uma quinzena mais cedo, mas estava contente em coletar seu dinheiro pelo tempo que o padre quisesse pagar.
Ele ficou atônito ao saber que ele estava espionando para os ingleses.
— Não sou um traidor. — Ele insistiu. — Eu sou um escocês.
O rapaz esteve tão ofendido, tão envergonhado, que Sutherland estava certo, Ewen provavelmente não precisava pagar a ele. Mas achou que era melhor assegurar que o rapaz não tivesse segundos pensamentos.
Eles o instruíram a se ausentar do priorado, mas continuar relatando ao padre todas as noites como antes. Posteriormente era para ele encontrá-los e seria pago um xelim — mais do que sua família provavelmente ganhava em uma semana.
Uma vez que estava claro que eles não queriam lhe fazer qualquer dano, o rapaz agiu como se estivesse na presença de semideuses, polvilhando-os com perguntas até que foram forçados a mandá-lo embora.
Vocês realmente podem aparecer da névoa?
Suas espadas realmente vêm de Valhalla?
Vocês têm cabeças debaixo das máscaras ou seus olhos de demônio brilham do vazio?
Para onde vocês vão quando desaparecem?
— Quem sabe talvez devêssemos encontrar um novo recruta? — Sutherland disse.
Ewen teria rido se não estivesse pensando que estariam precisando de um logo.
— Você nunca sabe.
— E aí?
— Voltamos para Roxburgh e esperamos pelo rapaz reportar de volta para nós.
— E então?
Ewen desejou muito que ele soubesse. Estava fora da vantagem. Não percebeu quanto havia fixado suas esperanças no dia de hoje. Mas uma coisa era certa: não ia desistir até que a encontrasse.
Janet olhou fixamente para sua informante em atordoada descrença. Os ingleses queriam capturar Robert em Selkirk sob a proteção de uma negociação de paz? Desafiava cada noção de honra. Era uma violação de um código entre soldados em guerra — por uma longa tradição, negociações eram terreno sagrado sob a cobertura de uma trégua.
— Você tem certeza?
— Eu não arriscaria isto se não tivesse. Está tudo aí. — Sua informante disse, referindo-se ao pergaminho. — Fui somente sortuda que achei isso mais cedo hoje à noite. O banquete do dia da celebração tornou possível que eu escapasse sorrateiramente do castelo. Mas devo retornar antes de alguém notar que saí. Você pode levar isto para ele a tempo?
A mente de Janet já estava correndo com tudo que tinha para fazer. Ela se prepararia para partir imediatamente, ficando apenas tempo suficiente para dizer adeus aos Hendes, juntar seus pertences, e com um pouco de sorte conseguir um cavalo. O banquete ajudaria nesse sentido.
— Posso.
As palavras mal deixaram sua boca antes delas ouvirem passos e o som de vozes.
— Onde ela foi? — Um homem disse furiosamente.
Janet sentiu um flash de alarme, mas disse a si mesma que não era nada. Provavelmente seu próximo parceiro de dança procurando por ela.
Os olhos das duas mulheres se encontraram na escuridão.
— Vá. — Disse Janet. — Alguém está vindo.
A mulher assentiu.
— Boa viagem. — Ela sussurrou, e para surpresa de Janet, ela se inclinou para lhe dar um rápido abraço antes de virar e ir.
Mas a mulher mal deu alguns passos quando o desastre atingiu.
— Lá! — Um homem gritou. — Atrás dela! Não a deixe escapar.
Um homem veio correndo em direção a elas — um homem grande. Janet não teve tempo para pensar. Agiu por instinto, e seu primeiro era proteger a outra mulher. Bem quando o homem começou a correr passando por ela, entrou em seu caminho.
Sua intenção era fazê-lo tropeçar e dar um passo fora do caminho, mas isso não funcionou do modo que ela planejou. Sua saia embolou no seu pé e ele foi capaz de agarrá-la. Eles atingiram o chão juntos.
O golpe chacoalhou o ar de seus pulmões, mas ela se recuperou rápido e imediatamente se levantou. Infelizmente, o grande imbecil também. Ele era muito mais alto que Ewen, embora não cheirasse tão bem. Este homem fedia como se trabalhasse com porcos o dia todo.
Ela teria se contorcido para longe, mas as mãos dele eram como grandes e maciços grilhões.
— O que significa isto? Tire suas mãos de mim!
Surpreendentemente, ele fez. A autoridade de seu tom deve ter surpreendido o homem. Ele era grande e volumoso, com um rosto plano de camponês, feições bruscas e um pescoço que parecia triturado em seus ombros. Se fosse possível parecer estúpido, ele fez um bom trabalho.
Janet relaxou um pouco. Sair disto conversando não devia ser muito difícil.
— Como se atreve a me atacar assim! Olhe o que você fez. — Ela levantou a saia. — Você rasgou meu vestido. Percebe o quanto isto custa? Pode ter certeza que vou mandar a conta para você pagar pelo conserto.
Ele recuou um passo ou dois e ela tentou não rir.
— Eu não queria...
Ela não o deixou terminar, mantendo-o na defensiva.
— Você faz de seus negócios abordar mulheres inocentes em becos escuros?
— Não, fui informado que… Ele me disse...
Ele olhou em direção à rua e Janet deu uma olhada de relance no homem que estava se aproximando. Foi ele quem emitiu a ordem.
Ele estava mais ou menos a seis metros de distância e olhando direto para ela.
— Então é você. — Ele disse. — Pensei, mas não estava certo. Está bem longe da Itália, Irmã Genna.
O sangue drenou de seu rosto. Oh Deus, o padre do mercado! Ela não sairia dessa conversando.
Mas havia uma coisa que ela podia fazer. Antes do grande imbecil recolher seu juízo e agarrá-la novamente, ela correu.
CAPÍTULO 24
— Atrás dela! — O padre gritou. — Guardas! Não a deixem escapar.
Janet derrubou o imbecil tão rápido quanto suas pernas a carregaram.
Uma olhada por cima do ombro mandou sua pulsação saltando pela garganta. Figuras estavam sombreadas na boca do beco atrás dela. Uma meia dúzia de soldados, talvez mais. Eles estavam mais perto do que ela percebeu.
Ela tomou algum conforto no conhecimento que sua fonte provavelmente conseguiu escapar, mas isso foi atenuado pela realização do que estava em jogo. Se não saísse daqui, se não chegasse a Bruce a tempo, tudo podia estar acabado.
Sabendo que tinha somente alguns minutos para sair da aldeia antes deles bloquearem as estradas, dobrou a primeira esquina e mergulhou em outro beco escuro.
Podia ouvi-los perseguindo-a, mas não pensou sobre isto. Seus pulmões estavam estourando e suas pernas estavam enfraquecendo, mas não diminuiu a velocidade. Manteve a mente focada em sair da aldeia. Se pudesse fazer isto para a floresta, teria uma chance.
Mas eles estavam se espalhando atrás dela. Aproximando-se.
Ela precisava de um cavalo. Mas isso teria que esperar. Se pudesse apenas fazer isto para Rutherford, seria capaz de achar algo.
E talvez…
Seu coração apertou e não foi pela falta de ar nos pulmões. Ela não tinha nenhuma razão para pensar que ele estaria ali, mas se Ewen tivesse vindo atrás dela, Rutherford seria sua melhor chance de encontrá-lo. Eu vou encontrar você. As palavras dele de quando eles estavam sendo caçados voltaram para ela.
— Ela está indo para a floresta!
Seu estômago caiu no chão ouvindo cavalo e cavaleiro se aproximarem atrás dela.
Mas ela estava quase ali. Um momento mais tarde ela mergulhou em pesada escuridão. Isso a engoliu como uma tumba. Uma em sentido figurativo, ela esperava.
Experimentou uma nova explosão de energia com o conhecimento que as árvores diminuiriam a velocidade dos cavalos e os fariam correr por entre arbustos e samambaias, empurrando galhos fora do caminho quando ela podia vê-los, não notando os arranhões que rasgavam sua pele quando não podia.
Os sons atrás dela começaram a sumir. Manteve-se indo na mesma direção, rezando para que fosse a certa, mas a escuridão e árvores levaram seu senso de direção.
Após outro punhado de minutos, ela teve que parar. Curvando-se, ela engoliu ar como uma pessoa faminta. Podia ser capaz de caminhar por dias, mas correndo a toda velocidade por vinte minutos minou-a de cada pingo de energia.
Ainda tinha que continuar.
Mais lento agora, mas ainda correndo, ela trançou passando através das árvores. Por favor, deixe ser a direção certa.
Por tantas razões, ela desejou que tivesse Ewen com ela. Ele não se perderia, o que era mais do que ela podia dizer de si mesma. Com as nuvens, não havia nem estrelas para guiá-la. Estava indo pelo instinto agora, procurando por qualquer sinal de algo familiar. Era menos de oito quilômetros entre Roxburgh e Rutherford, com floresta entre elas na maior parte do caminho. A estrada era ao norte de onde esperava que estivesse.
Os sons se foram agora. Mas não se permitiu relaxar, sabendo que a floresta podia absorver som tão eficazmente quanto fazia com a luz.
Foi por isso que ela não o ouviu até que fosse tarde demais.
Um homem a agarrou por trás, prendendo seus braços ao lado com seu braço grande revestido de aço. Uma manopla de couro bateu em cima da sua boca antes que ela pudesse gritar. Seus pés chutaram de modo selvagem, mas inúteis no ar.
— Eu a peguei! — Ele berrou.
Algo não estava certo. A inquietação do Ewen começou a aumentar cerca de uma hora atrás. O rapaz estava atrasado.
— Ele devia estar aqui agora. — Ele disse.
— Talvez tenha sido atrasado pelos banquetes? — Sutherland sugeriu. — Parece ser uma grande celebração, se esses fogos são qualquer indicação.
De seu ponto de vantagem na colina, eles podiam ver o portão principal e dentro do pátio do castelo. O castelo de Roxburgh assentava na ponta de uma pequena península de terra na conjuntura dos rios Tweed e Teviot. A aldeia ficava atrás e sua maior parte estava bloqueada da vista, mas eles podiam ver o rugido dos fogos.
Nesta hora da noite, o portão para o castelo normalmente estaria fechado, mas devido ao banquete, as pessoas ainda estavam fluindo livremente dentro e fora.
— Vou entrar lá. — Ewen disse.
— Você está louco? O castelo de Roxburgh é um dos castelos mais fortemente defendidos nas fronteiras. Existem pelo menos quinhentos soldados ingleses guarnecidos ali nesse instante esperando retomar a guerra, onde um dos seus maiores objetivos é matar os membros do afamado exército secreto de Bruce. E você vai simplesmente caminhar direito para lá sem um plano e espera que eles não te notem?
Ewen cerrou os dentes.
— Aye. Estou certo como o inferno que não vou me manter de pé aqui. Com o banquete, isto pode ser minha melhor chance de entrar lá. E tenho um plano. Aliviarei um dos homens armados celebrando na aldeia de seu traje.
— Isso é um plano? É um maldito suicídio, isso que é.
— Se o contato dela está no castelo, Janet pode estar lá agora mesmo. O banquete seria uma oportunidade perfeita.
— Isto é um inferno de muito risco para uma possibilidade.
— Possibilidades são tudo que tenho agora. A menos que você tenha uma ideia melhor. — Ele desafiou furiosamente.
A mandíbula do Sutherland se tornou uma linha dura. Ele o encarou por um longo momento.
— Eu irei com você.
Ewen balançou a cabeça.
— Preciso de você aqui fora. Se algo der errado, posso precisar que você use aquele seu pó para uma distração.
Sutherland praguejou.
— Com toda maldita certeza queria que Viper estivesse aqui.
Ewen não podia discordar. Lachlan MacRuairi tinha uma habilidade única de entrar e sair de quase qualquer lugar. Mas agora Ewen estaria agradecido por qualquer um dos seus irmãos — ou ex-irmãos. Se alguma coisa acontecesse, duas espadas contra quinhentas não eram exatamente chances encorajadoras.
Maldição, era difícil acreditar que ele não seria uma parte disso mais. Lutar nesta equipe foi a maior coisa que ele já fez. E estes homens…
Eles eram os amigos mais próximos que ele já teve. Eram como irmãos para ele. Deixar isso tudo para trás seria mais duro do que ele queria pensar.
Ele e Sutherland tinham acabado de terminar os detalhes — não existiam muitos — de seu plano quando Sutherland pegou um movimento vindo do lado da colina.
— Tanto para ser discreto. — Sutherland disse ironicamente. — O rapaz não está exatamente tentando esconder sua ânsia de chegar aqui.
O pulso do Ewen acelerou enquanto o rapaz se aproximava suficiente para ele decifrar sua expressão.
— Não é somente ânsia, algo está errado.
Os olhos do rapaz estavam arregalados quando ele subiu cambaleando a extremidade da colina.
— Desculpe… Atrasado… Senhora… — ele ofegou e arfou entre grandes golpes de ar.
Ewen o agarrou pelos ombros e o forçou a se endireitar ante a menção de “senhora”.
— O que tem a senhora? Você a viu?
Os olhos do rapaz ficaram tão arregalados que Ewen pensou que eles estalariam para fora. Ele estava formando palavras, mas nenhum som estava saindo.
— Acalme-se. — Sutherland disse ao lado do Ewen. — Você o está assustando.
Ah inferno. Ewen o soltou e tentou moderar seu tom quando sentiu como se rugindo em voz altíssima.
— O que aconteceu?
O rapaz olhou para ele cautelosamente, ainda tentando pegar o fôlego. Finalmente articulou as palavras que enviaram cada gota de sangue correndo do corpo do Ewen.
— O p-padre… Ele achou a senhora.
Janet lutou com tudo que tinha, mas o soldado parecia mal notar enquanto a arrastava pela floresta. A estrada estava mais perto do que ela percebeu. Depois de mais ou menos cinquenta jardas, eles saíram das árvores e ele a empurrou adiante com força suficiente para colocá-la de joelhos. Ela olhou para cima e se viu rodeada por homens a cavalo. Além do padre e do imbecil que a pegou antes, ela contou meia dúzia de soldados.
Mas nenhum pareceu mais perigoso que o padre. Não havia nada de religioso no olhar ameaçador fixo nela.
— Teve uma agradável corrida, minha querida?
Janet sentiu uma pontada de pânico, mas forçou-a de lado. Tinha que pensar. Não desistiria sem lutar. Um punhado de explicações diferentes passou pela sua cabeça, mas não tinha tempo para pesar todas elas. Foi com a primeira coisa que veio à sua mente: fingir que não sabia quem ele era.
— Você é um padre? — Ela disse se levantando. — Graças a Deus! Pensei que você estava com este homem que estava me abordando. — Ela apontou para o imbecil.
O padre balançou a cabeça com um som de tsc.
— Você pode esquecer o fingimento, minha querida. Eu sei quem você é. Seu amigo, o monge, foi mais comunicativo, com um pouco de persuasão, claro.
O sorrisinho enviou calafrios percorrendo sua espinha cima a baixo. Pobre Thom.
— Eu conheço sua transformação da freira italiana para noviça Eleanor. Suspeitei que você estava ajudando o rei usurpador a passar mensagens, mas imagine minha surpresa e prazer quando nos levou direto a seu exército secreto. Estou mais interessado em saber os nomes dos homens com quem você esteve viajando.
— Não sei sobre o que você está falando. — Ela persistiu. — Você deve ter me confundido com outra pessoa.
Os olhos dele estreitaram. Os soldados moveram seus cavalos mais perto ao redor dela, e ela teve que lutar com o desejo opressivo de não tentar se arremessar entre eles e correr. O instinto de fugir do perigo se aproximando era primitivo.
— Você acha que remover um véu e colocar um vestido bonito vai me enganar? — O padre exigiu. — Levei um momento quando vi você dançando, mas não esqueço um rosto. Especialmente um tão bonito quanto o seu. É uma vergonha. Tanta beleza se perdendo.
Janet não gostou do som disto. Ela não sabia o que dizer. Sua língua pareceu embolar na sua boca. Ele não era o cavaleiro ou o escudeiro, e ela não tinha o comerciante e sua esposa para ajudá-la. Não tinha ninguém para ajudar. Deus, o que ela não faria por Ewen e seus amigos agora.
Tudo que tinha era sua genialidade — que parecia estar falhando com ela agora — e seu punhal. Teria que esperar pela hora certa para tentar escapar, o que com todos estes homens a rodeando, claramente não seria agora.
Ela tentou sua sorte com os soldados.
— Parece existir algum mal-entendido. — Ela disse para um deles. — Talvez fosse melhor se nós voltássemos para a cidade...
O padre não a deixou terminar.
— Não existe nenhum mal-entendido. O que você estava fazendo com a mulher no beco? E quem é ela?
— Mulher? — Janet repetiu, como se confusa. — Oh, você quer dizer a mendiga?
— Você normalmente abraça mendigas? — O padre perguntou, um brilho astuto em seus olhos.
Janet amaldiçoou seu erro, ela esqueceu do abraço.
— Eu mesma fiquei surpresa, Padre. Mas ela estava mais do que agradecida pela moeda que eu dei a ela.
— Acho que não, Genna ou Eleanor ou qualquer que seja o nome que você está usando agora. Mas não é sua identidade que me preocupa. — Obviamente o monge morto não teve conhecimento do seu nome real ou ela suspeitava que o padre estaria muito interessado. — Nós suspeitamos que alguém esteve vazando informações do castelo, e você vai nos dizer quem é, mas o importante primeiro. — Janet não gostou do sorrisinho no rosto dele quando virou para o soldado que a capturou. — Reviste-a.
As palavras dele enviaram um arrepio por sua espinha. Ela sabia que não levaria muito tempo para acharem o pergaminho na bolsa em sua cintura. E se eles achassem…
Não queria pensar sobre isto. Não era apenas sua vida em jogo, mas também a de sua informante, a do rei e o futuro da Escócia propriamente dito. Se Bruce fosse capturado agora a causa estaria perdida. Quem mais seria valente suficiente para se levantar contra o reino mais poderoso da cristandade? O rei Edward colocaria outra marionete no trono ou ele mesmo o tomaria.
Não podia deixá-los encontrar o pergaminho, tinha que escapar.
O tempo para conversa acabou. Ela agarrou seu punhal, mas não foi rápida o suficiente. O soldado agarrou seus braços em um aperto esmagador e rodou-a para encará-lo.
— Solte-me! — Ela conseguiu livrar uma de suas mãos e atacou o rosto dele. Uma de suas unhas pegou na bochecha dele, mas isso só o deixou com mais raiva.
Na luz da tocha ela conseguiu olhá-lo pela primeira vez e quase desejou a escuridão. Ele não era excepcionalmente alto como o homem que a pegou no beco, mas o que lhe faltava em altura, sobrava em largura e tamanho. Ele era largo como um carvalho, troncudo e forte. Embaixo da beirada do seu elmo, tudo que podia ver era um nariz espremido e torto que parecia que tinha sido curado na mesma posição em que foi esmurrado. Uma barba espessa e escura que cobria a metade inferior de seu rosto e uma boa porção do seu pescoço também, e olhos escuros penetrantes que estavam olhando fixamente para ela com raiva.
— Cadela! — Ele pegou o pulso dela em sua mão e apertou com tanta força que ela pensou que ele queria estalar o osso. Ele a soltou tempo suficiente para bater o punho na mandíbula dela.
Sua cabeça estalou para trás, e ela gritou de dor e do choque de ser golpeada. Ele bateu nela novamente, desta vez com as costas da mão na sua bochecha. O sangue escorreu por seu rosto enquanto lágrimas derramaram de seus olhos. Mas mesmo assim ela lutou de volta. Chutou selvagemente — instintivamente, — mas ele bloqueou seus golpes com facilidade. Atingiu-a repetidamente, batendo até sua submissão. Sua mandíbula… Sua bochecha… O lado de suas costelas. Sua cabeça nadou, a dor era avassaladora. Levou tudo que tinha só para ficar de pé.
— Já chega. — Um dos outros soldados disse, desgosto evidente em sua voz. Aparentemente nem todos os soldados eram brutos que gostavam de bater em mulheres. — Vamos ver se ela tem algo primeiro.
O soldado bruto a girou novamente, segurando seus dois pulsos em uma mão como um torno, enquanto o outro apalpava rudemente seu corpo com óbvio deleite.
— A bolsa. — O padre disse impacientemente. — Dê-me a bolsa.
Ela gritou e fez um último esforço frenético para proteger a missiva, mas ele estalou o cinto de couro de sua cintura e o lançou para o padre.
Através das lágrimas e sangue que borrou sua visão, ela viu quando o padre removeu o pergaminho da bolsa de couro. Um brilho de vitória apareceu em seu olhar enquanto um dos homens segurava uma tocha acima de sua cabeça para ele ler.
Ele voltou a dobrar a maldita evidência e a deslizou em suas vestes.
— Vejo que eu estava certo sobre você e a dama. Acho que com isto Lorde de Beaumont deve ser capaz de definir a fonte de seu vazamento. Embora não será metade da diversão que seria se Randolph estivesse aqui para retirar as informações de você. É um talento particular dele.
Entorpecida com a dor de seu espancamento, seu corpo contundido e machucado ainda conseguiu fica gelado. Tortura! Oh Deus, dê-me força. Embora soubesse do perigo desde o início — e sabia que algo assim podia acontecer — ela esperava nunca ter que enfrentar isto.
O padre deve ter lido o medo em seus olhos porque sorriu.
— Odeio privá-lo de sua diversão. — Ele olhou para Randolph. — Veja o que você pode descobrir. Se ela não te disser o que você perguntar, mate-a.
O coração de Janet pulou para sua garganta.
— Espere. Você não pode fazer isto. Você é um homem de Deus.
— E você é uma traidora. O homem que você chama de rei é um assassino e excomungado pelo papa. Deus não tem misericórdia de rebeldes.
Janet virou para o soldado que falou com ela antes.
— Por favor.
Mas ele deu as costas friamente, ignorando seu patético apelo. O cavalheirismo terminou com a descoberta da missiva.
Um momento mais tarde, o padre, seu assecla imbecil e os outros soldados estavam partindo, deixando-a com seu torturador e executor.
— Não leve muito tempo. — o padre disse por cima de seu ombro direito antes deles desaparecerem de vista.
O soldado bruto começou a arrastá-la de volta para dentro das árvores. O coração de Janet estava martelando contra suas costelas — suas costelas provavelmente quebradas — e cada instinto a urgia a usar o que restou de força para lutar de volta. Mas tinha que ser paciente e esperar pela oportunidade perfeita. Ela teria apenas uma chance de pegá-lo de surpresa. Então forçou a luta de seus músculos, tornando-os tão moles quanto uma marionete de trapos.
Quando eles alcançaram uma pequena clareira, ele a lançou sem cerimônia no chão. Ela olhou para ele assomando acima dela e tentou empurrar de volta o pânico rastejando subindo por sua garganta.
Seu estômago embrulhou.
Ele alcançou debaixo de sua cota de malha de mensageiro e começou a soltar as amarras de sua calça.
— Não se mova, sua cadela estúpida. Nunca fodi ninguém para me contar o que quero ouvir, mas nunca interroguei alguém tão bonita quanto você. Ou tão bonita quanto costumava ser. Seu rosto não parece muito bom agora. — Ele riu.
Janet tentou calar as palavras dele. Tentou não ouvir o que ele estava dizendo enquanto se concentrava na mão alcançando lentamente sua bota.
Só mais alguns centímetros…
Ela ofegou quando deu um passo acima dela. Ele teria esmagado suas pernas com o pé se ela não reagisse separando-as. Mas sem saber, espalhando suas pernas ele a ajudou. Sua mão achou seu objetivo.
Ela agarrou o cabo do seu punhal dentro da mão enquanto ele se ajoelhava no chão diante dela.
Tudo que podia ver na luz da lua era o frio cintilar de seu sorriso.
— Você não vai lutar comigo? É muito mais divertido desse modo.
Seu coração estava na garganta. Prendeu a respiração, esperando pelo momento perfeito.
Ele ergueu sua cota de malha. Os olhos de Janet foram para a protuberância massiva de carne, e ela estremeceu com nojo.
Ele viu sua reação.
— Aye, é impressionante, não é? — Ele abaixou os olhos e envolveu a mão ao redor de si mesmo, dando a isto um golpe duro.
Foi quando ela o atacou.
Deslizou a lâmina da bainha e mergulhou na sua perna.
Ele gritou de choque e dor. Seus olhos arregalaram e então as mãos dele rodearam seu pescoço, apertando…
Ela gritou até que ficou sem ar.
Ewen tomou o que o garoto disse a ele — que o padre viu por um momento a senhora na aldeia e enviou soldados para o castelo para prendê-la, mas a senhora foi embora antes dele poder pegá-la — e ser capaz de esconder sua trilha para o lugar em que os cavalos a perseguiram dentro da floresta.
Deixando o menino vigiar a estrada, ele e Sutherland seguiram a trilha pela floresta. Como estava escuro, ele não teve escolha a não ser usar uma tocha.
Ele foi para um lugar onde outro conjunto de rastros aparecia da estrada, e um frio úmido percorreu seu sangue. Alguns metros mais tarde seus temores foram confirmados: quem a seguiu conseguiu pegá-la. Ele mal tinha começado a seguir os rastros para onde o homem a arrastou, quando ouviu um som que parou seu coração: um grito de mulher.
Ele não hesitou. Mesmo depois que Sutherland deixou escapar um aviso para ter cuidado, ele mergulhou pelas árvores. O som foi perto. Tortuosamente perto. Rezou tanto quanto nunca rezou na sua vida. Por favor, deixe-me chegar ali a tempo. Não deixe ser tarde demais. Só mais alguns segundos…
Ele irrompeu na clareira com a espada erguida. Quando viu a pequena figura lutar para se levantar debaixo do corpo de um homem inclinado, tudo dentro dele pareceu parar subitamente.
Sua mão caiu.
— Janet?
Ela levantou o olhar e ele fez um som aflito. As emoções eram tão ferozes e intensas que cambaleou. Seu estômago se revoltou. Sentiu algo assim só uma vez antes, logo após sua primeira batalha, onde a visão de todo o sangue o deixou doente. Mas isso não era nada ante a visão da mulher que amava espancada e ensanguentada.
— Ewen? — Ela disse suavemente. — Você me achou.
Ela oscilou e ele se lançou adiante, pegando-a contra ele. O coração dele estava batendo tanto que ele nem pôde respirar. Embalou-a nele como um pássaro quebrado. O pensamento de quanto ele chegou perto de perdê-la deixou seus joelhos fracos.
— Oh, Deus, você está bem? O que aconteceu?
Ela enterrou a cabeça em seu tórax e se agarrou nele com força, segurando-o como um gatinho assustado. Mas um olhar para o corpo do homem aos seus pés disse a ele que seu gatinho tinha o coração de um leão. Ela foi espancada, mas não derrotada, e apesar das emoções apertando suas entranhas, ele sentiu seu peito inchar de orgulho.
Ele beijou a cabeça dela, saboreando a textura sedosa de seu cabelo e o cheiro de jacintos que o lembravam de casa. Ela era sua casa. Como ele pôde não saber disso?
— Está tudo bem agora. — Ele murmurou ternamente. — Estou com você. Tudo vai ficar bem. Prometo.
Sutherland surgiu atrás deles e praguejou, a luz da tocha possibilitando que ele visse seu rosto. Isso pareceu quebrar o transe que os envolveu.
Ela olhou para ele, seu rosto contundido e ensanguentado de repente intento.
— Vocês têm que pegá-los antes que alcancem o castelo.
— Quem? — Ele perguntou.
Antes que ela pudesse responder, o som de um assobio agudo perfurou a noite. Ele e Sutherland trocaram um olhar. Sutherland respondeu, e alguns momentos mais tarde eles tinham companhia.
Janet estava em estado de choque. Ainda podia sentir as mãos do homem apertando seu pescoço. Pensou que ele iria matá-la. Ele teria também, se sua lâmina não encontrasse o lugar perfeito. Antes que ele pudesse acabar com ela, desabou em cima dela, seu sangue ainda derramando de seu corpo.
Fora deste pesadelo, Ewen tinha aparecido como uma imagem de um sonho. Ela levou um momento para perceber que ele era real.
Ele a encontrou. Estava segurando-a e ela nunca queria soltá-lo.
Mas então se lembrou do padre. Eles tinham que encontrá-lo antes dele chegar ao castelo. A vida de sua informante estava em jogo.
Porém sua explicação foi interrompida pela chegada de mais três fantasmas de elmos. Sob circunstâncias normais ela poderia ter sentido um faiscar de apreensão, mesmo sabendo que eram amigos, mas Ewen a estava segurando.
— Nós ouvimos o grito. — Um dos homens disse a modo de explicação. Magnus, ela percebeu, reconhecendo sua voz.
Quando ela girou de sua posição apertada contra tórax do Ewen olhar para ele, o grande Highlander jurou.
Ela mordeu o lábio saboreando sangue, e percebeu que seu rosto devia parecer tão ruim quanto se sentia.
— O que aconteceu, moça? — Ele perguntou, sua voz mais gentil do que ela já ouviu.
Ela devia parecer realmente mal.
— Não tenho tempo para explicar. Tem um grupo de cinco soldados, um padre e outro homem voltando para o castelo. Vocês têm que pegá-los antes que eles cheguem. Eles têm uma missiva designada a Bruce. Uma nota que pode significar uma sentença de morte para alguém dentro do castelo.
Ela sentiu movimento de um dos homens ao lado de Magnus e instintivamente retrocedeu para a segurança do peito do Ewen. Até debaixo do elmo escurecido ele parecia mais cruel que o resto.
— Para trás, Viper. — Ewen disse por trás dela. — Que diabos há com você?
O guerreiro o ignorou, seus olhos fixos nela — os olhos mais estranhos que ela já vira.
— Quando eles partiram?
— Alguns minutos atrás. — Janet pensou bem. — Talvez cinco?
— Eu irei. — O homem que Ewen chamou de Viper disse.
Janet virou para Ewen.
— Você deve ir também. Tem que ter certeza que eles os encontrem e ninguém escape.
Ewen cerrou os dentes, parecendo tão maleável quanto uma parede de pedra.
— Não vou te deixar.
— Por favor. — Ela disse. — Você deve fazer isso por mim. Eu te imploro.
Os olhos dele buscaram os dela.
— Não me peça isto. Você está ferida. Jesus, Janet, você está coberta de sangue, e seu rosto… — Sua voz foi interrompida. O luar quase fez seus olhos parecerem brilhantes de lágrimas.
Ela se arrumou para dar um sorriso vacilante, porém isso doeu.
— Meu rosto vai curar e o sangue não é meu. — Pelo menos a maior parte não era. — Mas preciso achar Robert o mais cedo possível, e não posso fazer isso a menos que eu saiba que a pessoa dentro do castelo está a salvo.
— Viper vai cuidar disso. — Ewen disse. Mas ele deve ter lido alguma coisa no rosto dela. — Isto é importante para você?
Ela assentiu.
— O parlamento em Selkirk é uma armadilha. Os ingleses planejam romper a trégua.
Mais de um homem praguejou ao ouvir suas notícias.
— Você tem certeza? — Ewen perguntou. — O romper da paz em uma trégua está além inclusive do curso normal da deslealdade inglesa.
Ela acenou com a cabeça.
— Tenho certeza. A prova está naquela missiva.
O de aparência cruel com o nome apropriado de Viper interrompeu.
— Nós precisamos ir se esperarmos pegá-los antes deles chegarem. Não é longe do castelo.
Ainda assim, Ewen hesitou. Não queria deixá-la.
O coração dela apertou.
— Vai ficar tudo bem. — Ela disse suavemente. — Meu cunhado me manterá a salvo. Não é, Sir Kenneth?
O marido da Mary sorriu e avançou.
— Como eu faria com minha própria esposa, minha senhora.
Sir Kenneth estendeu a mão e Ewen relutantemente a liberou.
— Vou cobrar isso, Ice. — Ele disse ferozmente.
Ewen, Viper e um homem que ela reconheceu como MacLean começaram a se mover, mas Magnus os deteve.
— Bàs roimh Gèill. — A morte antes de se render, ela traduziu. — E Hunter. — Ewen virou para olhar para ele. — Volte depressa. Acho que tem uma coisa que você esqueceu de nos dizer.
A expressão de Ewen se tornou austera — Deus, como ela sentia falta disto! — E ele assentiu. Com um último olhar para ela que falava de coisas não ditas, os três homens montaram e partiram.
Egoisticamente, Janet quis chamá-lo de volta. Queria sua força ao redor dela. Queria enterrar sua cabeça no peito dele, enrolar em uma bola e deixá-lo fazer isso tudo ir embora.
Mas ambos tinham trabalho a fazer.
Quando isso estivesse acabado...
Pela primeira vez desde que o deixou aquela noite no estábulo, Janet teve esperança.
CAPÍTULO 25
Castelo de Dunstaffnage, Lorn, Highlands Escocesas
Véspera de Natal 1310
Janet se sentou no baú aos pés da cama. A criada tinha acabado de terminar de organizar seu cabelo em um anel de ouro quando ouviu uma batida na porta.
Mandou a pessoa entrar, e sua irmã gêmea, Mary, entrou no quarto. Seus olhos se encontraram. Mary balançou a cabeça em resposta à sua pergunta não dita e os ombros de Janet afundaram.
A estranha comunicação sem palavras que ela e sua irmã compartilharam quando crianças voltou horas após estarem juntas. Estar com sua irmã novamente…
Emoção inchou seu peito. Janet não percebeu quanta falta sentia de sua gêmea até Mary correr para dentro do quarto onde ela foi trazida na sua chegada para ser atendida por Lady Helen, Esposa de Magnus. Elas olharam uma para a outra e irromperam em lágrimas. Passou bastante tempo antes de Helen poder retomar seus cuidados no rosto, costelas e o osso quebrado no pulso de Janet.
Janet ainda não podia acreditar que sua irmã a perdoou. Realmente, se Mary fosse acreditar, ela nunca a culparia. Não percebeu quanto o perdão da sua irmã significava para ela. Sentiu como se um grande peso fosse levantado. Para surpresa de Janet, falar sobre o que aconteceu naquela noite — a explosão, as mortes de Cailin e dos membros do clã MacRuairi, o desaparecimento de Janet — fora estranhamente catártico. Ela choraria e lamentaria as mortes dessa noite pelo resto da sua vida, mas estava pronta para colocá-los para descansar.
Apesar de sua alegria em ver sua irmã, a balançada da cabeça da Mary fez seu peito apertar com desapontamento.
— Ainda não tem nenhum sinal dele?
Era menos uma pergunta que um apelo. Não muito depois de Janet interceptar o rei com sucesso apenas alguns quilômetros antes dele alcançar Selkirk, avisando-o da deslealdade que estava adiante, Viper — quem agora ela sabia era o nom de guerre para Lachlan MacRuairi — e Eoin MacLean os alcançaram. Sua missão foi um sucesso. Eles recuperaram a missiva para o rei e asseguraram a segurança de sua informante. Contudo, Ewen os deixou em Roxburgh rumo a um destino que ele não disse. Ele deu a eles uma mensagem para ela — que retornaria assim que possível, — mas depois de mais de uma semana Janet estava começando a perder a esperança.
Ela não entendia. Pensou que quando ele a encontrou na floresta, quando a segurou nos braços, quando olhou em seus olhos com tal emoção terna e pungente, que ele mudou de ideia. Que percebeu que gostava dela e tinha a intenção de lutar por eles.
Mas onde ele estava? Por que não veio até ela? Alguma coisa tinha acontecido?
Sabendo de sua perna e do quão perto ele chegou da morte a assombrava. Não podia acreditar que confundiu a febre dele com embriaguez e o deixou quando ele estava tão mal.
Mary balançou a cabeça novamente.
— Kenneth falou com o rei, mas ninguém sabe onde ele está. Nem mesmo Robert.
Janet fez uma cara e se encolheu, tendo esquecido seus ferimentos. Embora Helen tenha dito que ela curaria e nem se lembraria de sua provação além de algumas pequenas cicatrizes, os cortes e contusões ainda estavam sensíveis.
Mas Robert, o assunto que provocou sua reação, precisava ser lidado. Ela não tinha falado com ele desde que ela e os outros relataram as notícias da deslealdade inglesa. Ele ficou agradecido e furioso com o que aconteceu com ela, mas eles ainda discutiriam Ewen ou o futuro dela.
— Não posso acreditar que eles simplesmente o deixaram partir quando ele ainda estava se recuperando. — Disse Janet com as mãos se retorcendo nas saias. — E se ele está caído ali fora em algum lugar…
— Os homens disseram que ele estava bem. — Mary a assegurou. — E Bella não ficou muito contente com Lachlan também quando ela a descobriu. Mas Lachlan assinalou que não era uma “maldita babá” e Ewen insistiu.
— Ewen não disse a ninguém que o rei o chutou para fora da Guarda? — Ela perguntou.
Mary disse ao exército secreto do Bruce — ou os fantasmas, como ela os chamava — eram conhecidos como a Guarda das Highlands entre os homens. Embora Janet não tivesse conhecimento das identidades de todos os guerreiros, ela tinha suas suspeitas. Se o Rei Edward fosse esperto, ele começaria a olhar para cada homem das Highlands com mais de 1,80m de altura, constituído como uma pedra e com um rosto incomumente bonito.
— Não. — Mary respondeu, — mas assim que eles descobriram, os homens convenceram o rei a reconsiderar o assunto.
Sabendo o quanto Robert podia ser teimoso, Janet perguntou:
— Como eles fizeram isto?
Mary deu de ombros.
— Eu não sei, mas seja o que for, deve ter sido persuasivo.
— Isto é ridículo. — Janet jogou as mãos para cima e se levantou. Ela começou a ir para a porta.
Mary olhou para cima de onde estava sentada na beirada da cama.
— Onde você vai?
— Ver se Robert reconsidera corretamente.
Mesmo se Ewen não a quisesse, ele não perderia tudo por causa dela.
Os anos foram duros com Robert, o Bruce. Ele mudou muito do belo jovem cavaleiro que capturou o coração da irmã mais velha de Janet, Isabella. Ele ainda era bonito, mas parecia mais velho que seus trinta e seis anos. A guerra, a dificuldade que ele enfrentou depois da derrota catastrófica na Batalha de Methven, e sua destruição pouco depois, ficaram estampadas nas linhas profundas marcadas em seu rosto. Mas foi sua expressão o que mais mudou. O cavaleiro sociável, alegre e cavalheiresco se foi para sempre, substituído pelo sério rei guerreiro, formidável e endurecido pela batalha.
Sentada na frente dele em seu solário particular, os homens dele partindo a pedido dela, Janet sentiu uma pontada de apreensão inesperada. Ela podia pensar nele como Robert, mas o homem diante dela era inegavelmente um rei. Contudo, a preocupação nos escuros olhos que encontraram os dela lhe deu coragem.
— Você está se sentindo melhor? Helen atendeu a todas as suas necessidades? Eu disse a ela que você devia ter o que quisesse.
Ela pretendia segurá-lo nisto.
— Eu me sinto muito melhor, Alteza. Helen cuidou de mim como se eu fosse sua irmã. Mas tem uma coisa que eu pediria.
Ele sorriu, parecendo aliviado.
— O que você pedir é seu. Estou em dívida com você, Janet. Sei o que passou para trazer esta mensagem para mim, e ouvi como você protegeu nossa informante no castelo saltando na frente do homem no beco.
Seus olhos se encontraram e Janet pôde ver como ele estava mesmo agradecido. A informante era importante para ele e foi por isso que ele confiou nela em primeiro lugar. Mas se perguntou como ele ouviu as particularidades do que aconteceu em Berwick. Alguém deve ter falado com sua informante.
— Ainda não posso acreditar que os ingleses planejaram deslealdade em uma negociação de paz. — Ele continuou. — Tanto Gloucester quanto Cornwall me deram a sua palavra. Eu esperaria isto de Gaveston, mas não de um filho de Monthermer.
O Conde de Cornwall, Piers Gaveston, era o favorito de Edward. O Conde de Gloucester, Gilbert de Clare, era um forte partidário do rei, mas também era o enteado de um velho amigo de Robert, Ralph de Monthermer.
— Mas depois de Methven, eu não deveria mais ficar surpreso. — O rosto do Robert escureceu, dando a Janet um vislumbre de sua raiva e ira. — Pelo que eu li nessa missiva, eles poderiam ter sido bem-sucedidos. Planejaram nos cercar com uma guarnição inteira de Roxburgh enquanto dormíamos. — Ele fez uma pausa por um momento, recobrando-se antes de olhar de volta para ela. — O que você quer, Janet? Se estiver em meu poder, será seu.
Janet prendeu seu olhar e não hesitou.
— Eu quero Ewen.
Os olhos do Robert faiscaram.
— Não torça minhas palavras contra mim desta vez, Janet. Eu já dei minha resposta a Lamont quando ele veio a mim com o “pedido” dele.
Janet não deixou sua raiva a intimidar.
— Estou pedindo para você reconsiderar tendo em vista os eventos recentes. Nunca te pedi nada antes, Robert, mas estou pedindo agora.
Ele se sentou para trás em sua cadeira tipo trono, considerando-a com olhos atentos e duros.
— Pelo que exatamente você está pedindo?
— Não quero que Ewen seja punido pelo que aconteceu. Devolva suas terras, dê a ele seu lugar de volta na Guarda, e… — suas bochechas esquentaram.
— E? — Robert perguntou.
— E se ele ainda desejar se casar comigo, dê-nos sua permissão.
— Você não teria que me pedir isto?
Janet balançou a cabeça.
— Eu não o forçaria a um casamento sem seu consentimento, pois não gostaria de ser forçada.
O rei franziu o cenho, não tendo perdido sua reprovação corajosa.
— Ele tomou sua inocência. Não vou recompensá-lo por isto.
— Você não me conhece nem um pouco se pensa que ele tomou qualquer coisa que eu não desse de boa vontade.
— Ele se aproveitou de sua inocência. — Robert disse desconfortavelmente, obviamente ele não achava agradável o tema de tais assuntos íntimos com uma mulher que era como uma irmã para ele.
— Não sou uma menina, Robert. Sou uma mulher de vinte e sete anos que esteve esperando sua vida inteira por isto, por ele. Eu o amo.
— Amor não é razão para casamento. Ele não tem terra para oferecer, ou títulos ou fortuna.
— Então você pode dar mais a ele. — Disse Janet. — Se o que eu fiz não merece uma recompensa, então que tal o que ele fez? — Ela o deixou considerar aquilo por um momento. — Quanto ao amor, e seus casamentos, Robert? Certamente um sujeito não pode olhar mais alto que seu rei por direção?
A expressão do Robert não deu a menor pista que suas palavras penetraram, mas ela sabia que tinham. Era bem conhecido que Robert se casou com ambas as esposas por amor.
Um momento mais tarde ele balançou a cabeça, dando-lhe aquele seu olhar exasperado que ela se recordava do tempo que ela passou vivendo com ele e Isabella.
— Você devia ter sido um oficial da lei, Janet. Que pena que você não nasceu um homem, eu poderia te usar em meu conselho particular.
Janet sorriu, recordando palavras semelhantes de Ewen quando ela o conheceu. Também se lembrou de outra coisa. Lamont, oficial da lei.
— Talvez eu deva ser, Alteza.
As sobrancelhas dele franziram de forma pensativa. O cerne de outra ideia tinha acabado de criar raiz quando foram interrompidos por uma batida com força na porta. Logo depois, o feroz chefe a Oeste das Highlands que raramente deixava o lado de Robert, entrou na sala.
Imponente. Formidável. Intimidante. Autoritário. Assustador. Nada disso chegava perto de descrever Tor MacLeod. O líder da Guarda das Highlands parecia mais um nobre que um soldado, mesmo na presença de alguém tão majestoso quanto Robert, o Bruce.
— Imagino que se você está interrompendo, é algo importante. — Robert inquiriu.
— Aye. — Disse Tor. — Tem alguém aqui para ver você.
— Diga a ele para esperar.
Tor olhou para ela, um meio sorriso virando sua boca.
— Acho que você vai querer vê-lo.
Ele colocou a cabeça para fora da porta e acenou para alguém. Janet ofegou, seu coração saltando para a garganta quando Ewen entrou a passos largos pela porta.
— Você voltou! — Ela gritou, e teria corrido para os seus braços se não notasse o homem que surgiu atrás dele.
Seu coração, que saltou apenas um instante atrás, caiu no chão. Ela congelou, sua boca aberta em choque.
Apesar dele parecer consideravelmente mais velho que da última vez que o viu, Janet não teve dificuldade em reconhecer o desengonçado novo Stewart da Escócia, Walter Stewart.
Seu olhar disparou para Ewen em mudo horror, buscando reafirmação. Por que ele o trouxe aqui?
Ewen queria ir para Janet no momento em que entrou na sala, mas estava muito ciente do homem acomodado na cadeira tipo trono atrás da mesa. Ewen tinha feito tudo errado com o rei antes, tinha que fazer isto de forma correta desta vez.
O alívio em vê-la tão curada o atingiu com um golpe poderoso no peito. Disse a si mesmo repetidamente que Helen cuidaria dela, que ela estava em excelentes mãos, mas ela não estava em suas mãos, e não foi até que a viu cara a cara que pôde começar a relaxar.
Ele fez um inventário de seus ferimentos: a faixa envolvendo seu pulso, as volumosas bandagens ao redor de suas costelas por baixo do vestido e a pequena linha de pontos em sua bochecha. O inchaço em sua mandíbula e nariz diminuiu, deixando os remanescentes amarelados, pretos e azuis dos hematomas. As duas meias-luas pretas debaixo de seus olhos sugeriam que seu nariz foi quebrado, embora parecesse estar tão reto quanto antes.
Os olhos dela encontraram os seus, e o olhar de incerteza lançou suas boas intenções no inferno. Pro inferno com Bruce! Ele foi e estendeu sua mão. Ela deslizou sua minúscula palma na dele como se seu lugar fosse ali — o qual era — e a ajudou a se levantar.
Não liberou sua mão, mantendo-a envolvida pela dele. Com a outra ele inclinou sua cabeça para trás para examinar melhor seu rosto, virando-o para uma direção depois para outra.
— Está tudo bem com você?
Ela assentiu e ele se permitiu mais um terno varrer de seu polegar ao longo do contorno contundido de seu queixo antes de soltá-la, e virou para enfrentar seu rei. Não confiou em si mesmo para não a beijar, e pelo modo que o rei estava olhando para ele agora, já estava perto de sair daqui em correntes.
— Pensei que te ordenei que retornasse para o dia de St. Drostan com os outros. — Disse Bruce, olhando para ele furiosamente.
Ewen decidiu não assinalar que ele realmente ordenou que saísse de suas vistas.
— Tinha uma coisa importante que eu precisava cuidar.
O olhar do Bruce foi rapidamente para Walter antes de voltar para ele.
— Você parece estar tendo dificuldade em seguir todos os tipos de ordens ultimamente.
Ewen não discordou.
O rei segurou seu olhar por um longo tempo e então virou para Walter.
— Presumo que tenha uma razão para trazê-lo aqui.
— Ele tem, Alteza. — Walter disse, avançando com uma reverência. — Lamont veio a mim com um pedido bastante inesperado. Pediu para se casar com minha noiva.
Ele ouviu a inalada aguda de Janet e sentiu seus olhos nele, mas ele estava observando Bruce. O rei se recostou em sua cadeira, sua expressão não revelando nada.
— Ele fez, não é? Ele mencionou que recusei um pedido semelhante?
— Aye. — Walter disse. — Ele mencionou sim.
— E o que você disse a ele? — Bruce perguntou.
O olhar de Walter foi para Janet se desculpando antes de responder.
— Eu disse a ele que daria meu apoio e romperia o noivado se este fosse o desejo da dama também.
— É! — Janet teria corrido adiante para assegurá-lo, mas Bruce a fez recuar com um erguer de sua mão.
Ewen disse uma prece em silêncio de agradecimento. Até aquele momento não esteve cem por cento certo que ele não tinha discutido por nada com Walter Stewart (que apesar de sua jovem idade provou um oponente formidável) durante os dias passados. Ewen teve sorte de sair do Castelo de Rothesay sem ter que prometer a ele seu primogênito.
— Assumo que ele disse tudo a você. — Bruce inquiriu.
Stewart, que estava obviamente muito ciente da presença de Janet, enrubesceu.
— Disse.
O rei não disse nada por um minuto, mas então virou para Janet.
— MacLeod vai levá-la de volta para seu quarto. Lady Anna preparou um banquete esta noite da véspera de Natal. Nós falaremos mais tarde.
Janet começou a protestar.
— Mas...
Ewen a cortou, tomando suas mãos nas dele e dando a elas um gentil aperto.
— Vá agora. Encontrarei você. — Eu sempre vou te encontrar, disse a ela silenciosamente. — Lembra?
Ela acenou com a cabeça.
— Confie em mim. — Ele disse suavemente, prendendo seu olhar. — Não vou te desapontar. — Nunca mais.
Ela torceu seu nariz maltratado.
— Nem sempre serei assim obediente.
Ele sorriu.
— Tremo só de pensar nisso.
Ele trouxe uma de suas mãos até sua boca para um beijo antes de finalmente soltá-la, pelo que ele jurou seria a última vez.
Ela marchou bastante ofendida em direção à porta. Olhando de volta por cima do ombro, deu suas palavras de despedida para Bruce.
— Lembre-se de sua promessa, Robert.
— Não fiz nenhuma promessa. — O rei protestou.
— Aye, mas sei que você estava prestes a fazer. — Ela deu a ele um sorriso alegre, estremecendo quando pareceu causar dor nela.
Tanto Ewen quanto o rei foram em direção a ela com preocupação.
— Você está bem? — Eles perguntaram ao mesmo tempo.
O sorriso de Janet aprofundou.
— Vou ficar.
A pequena descarada! Aquele estremecimento foi uma lembrança. E ele não foi o único a perceber. Ewen suspeitava que por um longo tempo ele testaria usando um olhar exasperado e ligeiramente derrotado como o que estava no rosto do rei. Felizmente.
CAPÍTULO 26
Janet esperou tempo suficiente. Ewen deixou o solar do rei cerca de uma hora atrás. Lady Anna Campbell, a esposa de Arthur Campbell, quem era o guardião de Dunstaffnage para o rei (e também, se seu rosto bonito e físico musculoso fosse qualquer indicação, um dos homens da guarda), foi gentil suficiente para informá-la disto, como também onde Janet poderia encontrá-lo.
Ela tomou isto como um bom sinal que ele recebeu uma câmara no castelo, em vez de debaixo dele nas masmorras. Então por que não veio ao seu encontro?
O castelo estava zumbindo com excitação pela celebração da noite. Janet passou por vários servos desde sua câmara no terceiro andar descendo a caminho dos aposentos de Ewen no primeiro. Contudo, ela franziu o cenho quando notou uma jovem serva — e bastante bonita — indo em direção à mesma porta que ela com um enorme balde de água nas mãos.
A garota estava prestes a abrir a porta quando Janet a parou.
— Eu levo isto.
A serva pareceu horrorizada. Ela balançou a cabeça.
— Não seria certo, minha senhora. O lorde está… — suas bochechas esquentaram — se banhando.
— Ele está agora? — Janet esperava que não soasse tão rabugenta quanto se sentia.
A garota assentiu.
— Lady Helen insiste que ele ponha sua perna de molho pelo menos uma vez por dia. — Janet sentiu uma pontada de culpa por seu ciúme, mas esse ciúme foi instantaneamente reavivado quando a garota acrescentou: — Estou indo ajudar com seja o que for que ele precise enquanto Lady Helen atende o pequeno William.
Janet conheceu seu adorável sobrinho alguns dias atrás. A criança era danadinha, mal tendo começado a engatinhar.
— Tem algo errado?
— O pequenino bateu a cabeça no poste da cama, mas Lady Helen diz que ficará bom. Não tem nem um hematoma.
Janet acenou com a cabeça sem esconder seu alívio.
— Vou levar o balde para o lorde. Nós estamos para nos casar. — Pelo menos esperava que estivessem. — Mas se não se importa, tem algo que eu gostaria que você fizesse primeiro.
Quando Ewen respondeu a batida na porta, foi a jovem serva quem respondeu.
— Sua água, meu senhor. — Mas foi Janet quem entrou no quarto. Ela fechou a porta atrás dela e caminhou em direção ao homem espalhado nu na tina com suas costas na direção dela. Ela estava irritada o suficiente para olhar para ele sem vergonha, assistindo cada centímetro de pele dura e bronzeada.
— Devo lavar suas costas, meu senhor? — Ela disse em uma voz suave e cantante, completamente diferentemente da sua.
— Se você quiser — ele disse indiferente.
O safado! Ele devia se lavar! Foi com bastante satisfação que Janet esvaziou o balde inteiro de água na cabeça dele. Água fria, ela teve tempo de notar.
— Que diabos! — Ele saltou para fora da tina e virou para ela em choque e raiva. Vendo quem que era, a raiva sumiu. Ele franziu a testa. — Que diabos está fazendo aqui, Janet?
Ela apertou a boca, cruzou os braços e percorreu aquele corpo incrível lentamente, ligeiramente apaziguada quando uma parte bem grande dele começou a engrossar e levantar sob seu olhar firme.
Ele praguejou, agarrou um pano para se secar que estava na cama e o envolveu ao redor da cintura.
Mas se pensava em se cobrir, ele calculou mal. O linho úmido grudou em cada músculo e moldou cada centímetro desse negócio grosso. Meu Deus, estava agradavelmente quente e abafado aqui dentro.
— Pare de olhar para mim assim, maldição.
Seus olhos encontraram os dele.
— Prefere que eu chame a serva de volta?
Levou um momento, mas a ficha finalmente caiu. Ele sorriu. Amplamente. Pareceu tão bonito que fez seu peito apertar.
— Você está com ciúme.
Ela não negou.
— Você mesmo pode se lavar de agora em diante.
Ele sorriu, cruzando seus braços, provavelmente para distraí-la. Funcionou. Ela respirou fundo ante a impressionante exibição de músculos protuberantes. Santo Deus, ela tinha nova apreciação para a guerra!
— E se eu precisar de ajuda?
— Eu te ajudarei — ela disse entredentes, sabendo que estava sendo ridícula.
— Acho que gostaria de ver isto. Obediente e servil em um único dia. Ainda farei de você uma esposa adequada.
Os olhos dela foram para os seus. O ciúme, a brincadeira, a admiração dos músculos, tudo sumiu. Só uma coisa importava. Nada nunca importou mais.
— O rei concordou?
— Aye — ele disse roucamente. Em seu olhar ela pôde ver toda a emoção enchendo seu coração. — Mas ele tinha uma condição.
Janet de repente ficou cautelosa.
— Que tipo de condição?
— Eu devo ter seu consentimento.
Lágrimas encheram seus olhos quando ele caiu de joelho aos seus pés. Ele tomou sua mão e olhou dentro dos seus olhos.
— Eu sinto muito por mentir para você. Eu devia ter te contado a verdade. Sinto muito por não a segurar em meus braços depois que fizemos amor e dizer a você o quanto te amava. Sinto muito por não ter coragem suficiente por lutar por nós, por não fazer o que fosse preciso para te fazer minha esposa. Pensei que eu tinha perdido tudo, mas nada disso importava sem você. Eu sei que não posso mudar as coisas ou devolver isto para você, mas prometo que vou tentar pelo resto da minha vida se você concordar em ser minha esposa.
Janet ficou ali de pé em atordoado silêncio. Seus papéis pelo que parecia, foram invertidos. O homem que sempre disse a coisa errada se expressou graciosamente, e a mulher que sempre soube o que dizer parecia que não podia encontrar sua língua.
Ele começou a ficar um pouco preocupado olhando para ela com incerteza.
— Janet?
Tinha uma coisa que ela tinha que saber.
— E se eu desejar continuar meu trabalho?
Ele fez uma pausa.
— Você ainda faria mesmo depois do que aconteceu?
— E se eu fizesse?
— Eu tentaria conversar com você para sair disto. O padre pode estar morto, mas existem outros que eventualmente vão juntar as coisas como ele fez.
— E se não pudesse me convencer?
Ele parecia como se preferisse estar comendo unha.
— Eu deferiria, mas de má vontade, para seu julgamento. E provavelmente eu ficaria tão desagradável quanto MacKay quando Helen insiste em nos acompanhar.
Um sorriso largo se espalhou pelas feições dela. Se ela algum dia precisou de prova do seu amor, ela acabou de ouvir.
— Você, desagradável? Isso é inacreditável.
Ele deu um tapa na bunda dela e ela riu.
Mas então ela ficou séria.
— Eu gostaria de continuar a ajudar Robert, mas acho meus dias como mensageira estão terminados. Você estava certo, eu era confiante demais em minhas habilidades e talvez — ela concedeu — até um pouco ingênua sobre o que podia acontecer. Eu devia ter exercitado mais discrição. Depois de duas situações apertadas, acho que abusei das minhas boas-vindas nas fronteiras, sem falar que fiquei sem identidades.
— Duas situações apertadas? — Ele explodiu.
Ops.
— Será que esqueci de mencionar como vim a trabalhar em uma rouparia?
— Aye, eu diria que você esqueceu.
Janet deu uma rápida explanada, ignorando sua expressão se fechando quando ela mencionou o escudeiro e o cavaleiro, e concluiu com como foi forçada a partir sem dizer adeus para os Hendes.
— Você acha que pode haver um modo de conseguir falar com eles e ver que estão seguros?
— Considere isto feito — ele disse.
— Obrigada — ela disse, não percebendo o quanto esteve pesando nela.
— Não vou dizer que não estou contente que você não vai insistir em usar seu hábito novamente.
Janet sorriu.
— Eu não esperaria isso de você. Além disso, seria bastante inapropriado dadas as circunstâncias.
— Que circunstâncias?
Não estava pronta para dizer a ele ainda. Mas isso tinha sido seu copo de graça se Robert se provasse sem ser razoável.
— Porém não pense que eu acabei. Tenho outro plano em mente.
Ele gemeu.
— Não quero nem perguntar.
— Não se preocupe, não é nada muito ultrajante.
Ele fez um rosto aflito.
— Que alívio — ele disse secamente. — Janet, a menos que você tenha falhado em notar, ainda estou de joelhos. — Ele estremeceu desconfortavelmente.
Os olhos dela saltaram para sua perna.
— Oh Deus, esqueci da sua perna. — Ela o arrastou de pé. — Isso dói horrivelmente? Sinto tanto por deixar você assim, não percebi que você estava doente na noite que eu parti. Pensei que estava bêbado.
Ele alisou o cabelo dela para trás longe do seu rosto.
— Eu raramente me permito abusar do álcool.
Ela olhou para ele.
— Por causa de seu pai?
Ele assentiu.
— Eu devia saber.
Ele balançou a cabeça.
— Eu não quis que você soubesse. Inferno, nem eu mesmo percebi o quanto estava mal.
— Graças a Deus por Helen — ela disse.
Ele retornou o sentimento e cavou seu queixo, erguendo seu olhar para o dele.
— Você não respondeu minha pergunta.
Ela sorriu.
— Sim… Sim!
— Graças a Deus — ele gemeu, puxando-a em seus braços. O beijo terno era para selar a promessa de seu futuro, porém rapidamente se transformou em alguma outra coisa. Algo quente e exigente. Ela embrulhou os braços ao redor do seu pescoço, atraindo-o para mais perto, encostando seu corpo no dele.
O golpe morno da língua dele em sua boca a fez se arrepiar. O calor suavizou seus ossos, espalhando sobre ela em ondas derretidas pesadas. Deus, ela adorava beijá-lo.
Os círculos de sua língua ficaram mais profundos e mais quentes, mais rápido e mais carnal. Seu corpo ficou mais duro, rígido com a força do seu desejo.
Ela gemeu, e ele afastou.
— Ah inferno. Eu te machuquei? — Seu dedo deslizou acima do corte em sua bochecha e nas contusões em seu queixo.
Ela balançou a cabeça.
— Eu queria que você não o tivesse matado — ele disse. Ela olhou para ele com surpresa. Mas o rosto dele estava tão feroz como ela jamais viu. — Eu teria feito isto muito mais doloroso para ele por te machucar desse jeito.
Ela se levantou na ponta dos pés e pressionou um beijo nos lábios dele.
— Está no passado. E agora estou mais preocupada com o futuro, nosso futuro.
Não tão distraidamente, ela deixou sua mão cair entre eles, desenhando pequenos círculos no estômago dele com a ponta do dedo. Sua pele era tão morna e lisa, e quanto mais perto ela dançava para o vulto proeminente debaixo do pano, mais escuros seus olhos ficavam e mais duro as faixas de músculo cruzando seu estômago apertavam.
Ele teria agarrado seu pulso para detê-la, mas ela foi esperta o bastante para usar a mão ferida.
— Janet… — ele a advertiu roucamente. — Continue me tocando assim e eu posso esquecer minhas intenções honradas e seus ferimentos.
Ela sorriu e levantou a cabeça para olhar dentro de seus olhos.
— Bom. Estou bem, realmente estou. Por favor, eu quero isto. Quero você.
Justo para que não houvesse nenhum argumento, ela deixou sua mão cair um pouco mais baixo, esfregando seu pulso acima da ponta engorgitada.
Ele prendeu a respiração.
— Jesus, Janet, você não luta justo.
Um sorriso mal curvou sua boca.
— Você pode ser gentil, não pode?
Ele a puxou para cima e a levou para cama.
— Com toda certeza espero que sim.
Com seu pulso ferido, ela precisava de ajuda para tirar suas roupas — um dever que ele estava mais do que feliz em ajudar.
— Pensei que você não fosse uma “maldita donzela”— ela o provocou enquanto ele desabotoava sua túnica, lembrando a ele de um pedido semelhante que ela fez na cabana de pescador não muito tempo atrás.
Ele deu uma risada aguda.
— Acho que mudei de ideia. Se você pretende me ajudar com meus banhos, o mínimo que posso fazer é te ajudar com suas roupas.
— Seu esclarecimento na paridade do casamento é verdadeiramente incrível — ela disse secamente.
Ele riu.
— Sem mencionar interesseiro.
Quando o último artigo de vestuário foi removido, ele voltou a ficar de pé e olhou para ela por tanto tempo que ela começou a tentar se cobrir com as mãos. Mas ele suavemente as puxou para longe.
— Não faça isso — ele disse, sua voz áspera com emoção. — Você é tão bonita. — Ele começou a correr seus dedos por sua pele nua. — Quero tocar cada centímetro sua.
Parecia como se ele tivesse acabado de fazer isso. A respiração de Janet já estava vindo rápida quando ele finalmente se inclinou e deslizou um mamilo rígido em sua boca, arrastando-o suavemente e circulando-o com a língua. O cabelo escuro e sedoso dele caía para o lado, escovando em sua pele nua. Ela deslizou seus dedos através do cabelo dele, prendendo-o a ela. Ele segurou seu peito em forma de xícara com a palma, apertando e manipulando entre suas mãos enquanto a tomava cada vez mais fundo em sua boca.
Esquecendo tudo sobre suas costelas feridas, ela começou a arquear as costas, gemendo enquanto as sensações começavam a se construir.
Ele ergueu a cabeça.
— Você está tornando difícil ir lento.
— E de quem é a culpa?
Ele sorriu, e isso capturou seu coração.
— Eu amo ver você sorrir — ela disse suavemente. — Você não faz isso o bastante.
— Não tive muita razão para sorrir. Mas suspeito que isso vai mudar.
Ela sabia que iria, especialmente quando ele aprendesse...
Ele inclinou e a beijou, e o que ela estava prestes a dizer a ele ficou perdido na névoa sensual que a atingiu com toda a sutileza de uma onda relacionada a maré.
Seu calor, seu cheiro, a sensação de sua pele esfregando na dela a tomou, suprimindo tudo exceto as sensações poderosas se construindo por dentro.
Ele segurou seu tórax acima dela, cuidando para não apertar suas costelas feridas, mas ela o puxou para baixo, querendo sentir o contato. O calor de seu tórax nu e o peso sólido de seu corpo em cima dela.
Ele removeu o pano em volta de sua cintura e ela pôde sentir o comprimento igualmente sólido de sua ereção quente e pulsando contra sua barriga. Ela pressionou e circulou os quadris, tentando fazer com que ele chegasse mais perto.
Ele gemeu, aprofundando o beijo e os golpes longos de sua língua até que ela não podia suportar mais. Ela o queria dentro dela. Queria senti-lo a enchendo.
O coração dela estava martelando, sua respiração estava acelerando e o lugar entre suas pernas estava tremendo com necessidade.
— Por favor — ela gemeu.
Erguendo a cabeça, ele examinou seus olhos. Ela podia senti-lo se posicionando entre suas pernas.
— Diga se doer — ele disse firmemente, seus músculos apertados com restrição.
Ele pressionou dentro dela. Lento e gentil. Avançando. Esticando. Enchendo-a. Ela ofegou. Gemeu. Abriu ao redor dele.
Não doía. Não doía nem um pouco. Parecia incrível. Ela se sentiu cheia. Possuída. Amada.
Os olhos dele eram escuros e quentes.
— Você é tão gostosa.
— Você também — ela disse rouca.
— Eu amo você, mo chroí.
Ela sorriu, lágrimas de felicidade enchendo seus olhos.
— E eu amo você.
Lentamente, o corpo dele começou a mover dentro dela em golpes longos e suaves. Era avassalador, a coisa mais bonita que ela já experimentou. Ele reivindicava seu corpo mesmo quando seus olhos reivindicavam seu coração. O prazer era tão intenso quanto antes, mas mais profundo. Não era simplesmente o compartilhar de dois corpos, mas o compartilhar de duas almas. Ele fez amor com ela. Cada parte dela. Lentamente, suave e completamente. Ele era uma parte dela, e ela nunca o deixaria ir.
Finalmente, ela não podia tomar mais. Seus gemidos suaves ficaram mais urgentes. Ele ouviu seu mudo apelo e respondeu. Seus golpes começaram a prolongar. Afundar. Acelerar. Ficar mais duros. Ela podia sentir o corpo dele ficar tenso debaixo das pontas dos seus dedos até quando ela começou a se fragmentar. Ela tinha que se fragmentar. Não havia nenhum outro lugar para ir.
Ela gritou, o prazer quebrando acima dela em uma lenta e pulsante onda.
— Oh, Deus — ele gemeu, deixando-se ir. Ele gozou dentro dela num fluxo quente que se moldou com o dela. Pareceu continuar para sempre. Os espasmos reverberavam por cada centímetro dela, não deixando ir.
Isso foi justo como antes, exceto que desta vez, quando ele finalmente acabou, ele rolou para o lado, puxando-a contra ele e a segurou como se nunca a deixasse ir embora.
Foi muito tempo mais tarde quando Ewen achou a energia e as palavras para falar. Estava humilhado e um pouco aterrorizado pelo que tinha acabado de acontecer. Ele nunca soube que podia ser assim. Nunca se sentiu tão próximo de ninguém em sua vida. Ele tinha se deitado com muitas mulheres, mas só fez amor com uma: a mulher que seria sua esposa. Ainda não podia acreditar nisto.
Como se lendo sua mente, ela perguntou:
— Como você conseguiu que Robert concordasse?
Ela estava aconchegada contra ele com sua bochecha no peito dele, brincando com os cabelos escuros espalhados em um V em seu pescoço, mas para fazer sua pergunta, ela escorou o queixo nas costas de sua mão para olhar para ele.
— Você já tinha feito a maior parte do trabalho — ele disse, correndo os dedos sobre a pele nua de seu braço. — E meus irmãos também.
Ewen ainda não podia acreditar que eles recusaram continuar qualquer missão a menos que ele estivesse de volta. MacLeod lembrou a Bruce que ele deu a ele plena autoridade sobre a equipe. A Guarda das Highlands lutava por Bruce, mas eram homens de MacLeod.
— Como conseguiu que Walter viesse para Dunstaffnage te ajudar a pleitear seu caso?
— Não foi fácil. Mas eu o fiz ver que eu era mais valioso como seu homem do que não. Também posso ter dado ele a ideia de uma noiva alternativa.
Walter Stewart pode ser jovem, mas era tão ambicioso quanto seu parente James Douglas — e seu parente Robert, o Bruce, no que diz respeito a esse assunto.
Ela ergueu uma sobrancelha, intrigada.
— Uma mais impressionante que uma filha de Mar?
Ele riu de sua afronta. Mas neste caso, sim.
— Pensei que você quisesse cair fora do noivado, então achei que seria melhor não discutir suas partes boas — ele apertou a bunda dela — que são muitas.
Ela fez uma cara feia e então arruinou o efeito rindo.
Ele beijou sua cabeça e então a atraiu mais perto.
— O que você disse para o rei? — Ele perguntou.
Ela deu de ombros.
— Eu só o lembrei de tudo que nós fizemos a seu serviço.
— E?
— E o lembrei de seus próprios casamentos.
— Que é?
Ela deu de ombros novamente.
— Foi suficiente. Mas vim bem preparada para pleitear meu caso e estava confiante que ele enxergaria. Entretanto não fui forçada a usar isto, tive um argumento que asseguraria que ele veria as coisas do meu modo.
Ele olhou para ela ceticamente.
— Pensei que você acabou com essa história de ser confiante demais. O rei estava tão bravo como nunca vi.
— Ah, mas um bom oficial da lei sempre guarda o melhor argumento por último.
— E que argumento é?
Os olhos dela encontraram os seus e ele sentiu algo dentro dele mudar mesmo antes dela falar. Ela pôs a mão sobre seu estômago.
— Meu período está atrasado.
Ele ficou imóvel. Seu corpo sentiu a importância de suas palavras, mas sua mente levou um momento para captar.
— Um bebê?
Ela acenou com a cabeça, lágrimas brilhando em seus olhos.
— Acho que sim. Está… está tudo bem?
Jesus, como ela podia perguntar algo assim? Uma onda quente de emoção abateu sobre ele. Apertou seu peito e garganta. Ele não soube o que dizer. Nunca soube. Mas a diferença com Janet era que isso não importava. Ela o entendia de qualquer maneira.
Mas por via das dúvidas, ele disse a ela novamente. Desta vez com seu corpo.
Isso era melhor que tudo bem. Era tudo. Ela tinha dado tudo a ele. O caçador encontrou o que ele nem sabia que estava procurando, e ele nunca a deixaria ir embora novamente.
Epílogo
Ardlamont, Cowal, Escócia, dezembro de 1315.
Janet estava indo ter uma boa conversa com aquele diabinho de olhos azuis.
— James! James Fynlay Lamont, venha aqui agora mesmo! — Ela correu quarto por quarto, vindo a parar quando entrou no berçário e viu seu marido. Ele estava de pé a uns poucos passos longe dela com dois pacotinhos enfiados debaixo de seus braços e duas pernas magras espiando por trás dele.
Mesmo depois de cinco anos de casamento, seu coração ainda engatava ao vê-lo, como se parte dela ainda não pudesse acreditar que ele podia ser seu. Porém, apesar de seus sentimentos, ela aprendeu muito tempo atrás a não o deixar a distrair. Ela dobrou os braços por cima do peito e olhou fixamente para ele.
— Não adianta tentar escondê-lo. Eu posso ver você, James.
A cabecinha loira espiou por trás das pernas do Ewen. Ela não comprou o olhar inocente em seu rosto nem por um momento.
— Entrega, Jamie.
— Entregar o que, mãe?
— A carta que você tirou da minha escrivaninha. — Ela se curvou até o nível do garotinho, tentando manter a expressão dura em face de um lábio inferior muito trêmulo. — É uma carta muito importante, Jamie. Eu preciso devolvê-la para o rei.
Ele fez uma carinha, alcançou dentro de sua bota e puxou o pedaço de pergaminho agora amassado.
— Eu não me importo com esse estúpido rei velho. Não quero que você trabalhe mais hoje. Quero que você venha brincar comigo.
O teimoso e desconsolado olhar em seu rosto que se assemelhava muito a seu pai, ela teve que levantar o olhar para Ewen. Ele só deu de ombros.
— Não olhe para mim.
Janet suspirou e puxou seu filho de quatro anos de idade para seu colo. Algum dia isso ficaria mais fácil? Ela tentou equilibrar o trabalho que fazia para o rei como sua “conselheira” e de fato, se não exatamente publicamente reconhecida oficial da lei, mas tinha dias — como o de hoje — quando inevitavelmente essa balança inclinava.
Agora que a guerra tinha sido ganha com a Inglaterra, Robert estava ansioso para ter a Escócia aceita como um reino independente, e ela caiu dentro do trabalho preparando seus argumentos para as cartas cuidadosamente escritas que seriam enviadas para o rei francês e o papa, para quem eles também fossem simpáticos a ter erguida a excomunhão que foi colocada em Robert desde que ele apunhalou John Comyn — O Vermelho — na Igreja de Greyfriar quatro anos atrás. O latim que ela uma vez se desesperou tinha caído bem.
— Você não ia jogar bola lá fora com papai hoje? — Ela disse suavemente, acariciando sua cabeça.
— Nós fomos. Mas aí elas entraram no caminho. Elas sempre entram no caminho.
Janet tentou não sorrir e olhou para as meninas de dois anos de idade se retorcendo debaixo dos braços do seu pai. Diferente de Jamie, elas tinham o cabelo escuro como do Ewen.
— O que elas fizeram desta vez? — Ela perguntou a seu filho.
— Mary lançou a bola no lago e então Issy começou a chorar. Odeio quando ela chora.
Eu também, Janet pensou, e ela faz um monte terrível disto. Ela olhou para Ewen por ajuda.
— Estou tentando — ele disse. — Mas como pode ver, tenho minhas mãos cheias. Ele escapou de mim.
— Eu pareço me recordar de alguém me dizendo que isto seria fácil.
— Eu estava esperando uma, não duas — ele disse. — Acho que é hora de voltar para a guerra.
— A guerra está terminada.
— Não me lembre — ele disse com um revirar exagerado dos olhos. — Acho que ouvi Stewart me chamando.
— Walter pode esperar — Janet disse. — Além disso, ele tem uma nova noiva para pensar. — Ela ainda não podia acreditar que a nobre cuja mão o atraiu era sua sobrinha Marjory Bruce — filha de Robert e Isabella. Marjory foi mantida na Inglaterra por quase oito anos, mas foi liberada no ano passado depois da Batalha de Bannockburn. — Seja o que for que um homem semeia, ele também colherá — ela lembrou a seu marido.
Ele sorriu maldosamente.
— O semear foi divertido, é só o colher que não estou tão certo. — Ele desmentiu suas palavras, conferindo e beijando os dois pequenos querubins em seus braços até que elas ficaram selvagens com risadas.
— Nós estávamos indo encontrar você — Ewen disse quando as meninas finalmente desmoronaram na cama com exaustão. — Se tiver um minuto, tem algo que quero mostrar a você.
Ela olhou para ele. Depois de quase cinco anos de casamento, estava afinada a cada nota em sua voz — e ela ouviu a emoção espessa.
— Está feito? — Ela perguntou sem fôlego.
Seus olhos se encontraram e ele assentiu.
Sem palavras, ela o deixou tomar sua mão enquanto a levava e seus três filhos para fora da velha casa da torre.
— Não olhe ainda — ele disse quando ela tentou dar uma olhada na colina perto.
Finalmente, ele parou.
— Certo, vire-se.
Janet prendeu a respiração. O sol brilhante de final de tarde brilhava na pedra recém-cortada, fazendo o castelo cintilar e brilhar como uma joia recentemente cunhada. Tinha quatro torres, uma em cada canto, cercada por um muro formidável. Era uma fortaleza impressionante para qualquer padrão, mas não era isso o que a fazia importante.
Ela deslizou a mão na do homem que tornou sua vida aventureira como uma mensageira em outro tipo de aventura. Uma de risos, amor e alegria.
— É bonita — ela disse. — Ela teria adorado isto.
Ele olhou para ela e acenou com a cabeça, a emoção demais para ele falar. Ele terminou castelo da sua mãe, e com isto ele podia afinal estar em paz com seu passado. Por gerações por vir, os Lamonts de Ardlamont encheriam este castelo com amor e risos, dando a sua mãe e pai o legado que eles mereciam.
De mãos dadas, com suas crianças ao redor deles, Ewen a levou para dentro de seu abrigo e dentro de seu futuro.
Notas
[1] Típicas dos campos montanhosos da Escócia, as urzes, conhecidas também como Heather, são pequenos arbustos com florezinhas coloridas e perfumadas. A água da chuva escorre pelas urzes, se impregna de perfume e escorre sobre a turfa, proporcionando aromas e sabores muito especiais.
[2] Selvagem.
[3] Também escrito barmekin ou barnekin, é uma palavra escocesa que se refere a uma forma de cerco medieval e mais tarde defensiva, em torno de castelos menores na Escócia e norte da Inglaterra. O barmkin teria contido edifícios auxiliares, e poderia ser usado para proteger o gado durante os ataques.
[4] Do grego “ofegante”.
[5] “Eleitoras dos mortos caídos em combate”, eram consideradas deidades menores, servas de Odin. Eram belas jovens mulheres, usavam armaduras com elmos e lanças em seus cavalos alados, sobrevoavam os campos de batalha recolhendo os guerreiros escolhidos, ou seja, aqueles mais corajosos, que tinham sido mortos a pouco. Filhas do deus Odin, com a deusa da terra Edra, com quem teve um relacionamento nas profundezas e lá teriam gerado as nove virgens. Também exerciam a função de mensageiras, e dizem que quando isso acontecia, suas armaduras faiscavam causando o estranho fenômeno atmosférico conhecido como Aurora Boreal. Em lendas saxônicas, encontramos relatos de mulheres que apareciam cobertas por uma especie de bruma, auxiliando ou sendo amantes dos mais valentes guerreiros, e logo desapareciam, acreditavam ser estas mulheres as Valquírias.
[6] Proteção para o peito, como a que os gladiadores usavam.
[7] A casa dos mortos na mitologia grega - usado como uma maneira mais educada de dizer "inferno".
[8] Plaid ou Tartan: Um tecido de lã tradicional com um padrão de xadrez que é usado sobre o ombro como parte do traje nacional escocês.
[9] Arma medieval com lâmina combinando machado, martelo, e ponta de ferro no alto, usado para combates em pé.
[10] Birlinn é como os galeses e escoceses chamavam as antigas embarcações a vela.
[11] Termo usado antigamente como forma de tratamento de um homem de posição ou autoridade como um rei ou um lorde.
[12] Valhala, Valíala,Valhalla ou Walhala (do nórdico antigo Valhöll "Salão dos Mortos”), na mitologia nórdica é um majestoso e enorme salão situado em Asgard, dominado pelo deus Odin. Escolhidos por Odin, metade dos que morrem em combate são levados para Valhalla pelas Valquírias, enquanto que a outra metade vai para os campos Folkvang da deusa Freyja. Em Valhalla, os mortos se juntam às massas daqueles que morreram em combate conhecido como Einherjar, bem como vários heróis lendários da mitologia germânica, que se preparam para ajudar Odin durante os eventos do Ragnarök.
[13] Cavalos velozes para a batalha.
[14] É um corte perto do cabelo, geralmente arredondado, realizou uma cerimônia religiosa por parte do bispo, para dar o ordenando o primeiro grau no clero, também chamado de "tonsura cru." O significado original era a renúncia das vaidades mundanas. Ele caiu em desuso, com a aprovação tácita da autoridade eclesiástica de Paulo VI, que suprimiu a imprensa tonsura, passando a entrada no estado clerical para compensar o diaconato. No entanto, a Ordem Franciscana detém até hoje essa tradição.
[15] Título do primeiro oficial da coroa, que tinha o comando de todo o exército.
[16] A ilha de Bute (Eilean Bhòid em gaélico, Isle of Bute em Inglês) é uma pequena ilha costeira localizada na parte inferior do Firth of Clyde (Golfo cerca de 42 km de extensão, localizado na costa oeste da Escócia). Anteriormente foi parte do condado escocês Buteshire, é agora propriedade de Argyll e Bute distrito.
[17] Coloque no rio ou oceano, cuja profundidade lhe permite atravessar a pé ou em um cavalo; Ponto da travessia do rio. A falta de lugar.
[18] Um grande cão de uma raça rústica parecido com o galgo.
CAPÍTULO 14
— Cachorros droga! Como diabos captaram o nosso cheiro?
Ewen não teve tempo para pensar sobre isto. Eles precisavam se perder nas florestas e colinas de Lowther antes dos ingleses os alcançarem. Se ele podia ouvi-los, os cachorros deviam estar perto.
A Guarda das Highlands usava o interior como arma. Quanto mais densa a floresta, mais íngreme e hostil o terreno, mais eles podiam levar vantagem sobre os ingleses — superiores em número e armamento superior. A armadura pesada dos ingleses e os cavalos eram um fardo no campo, e Bruce aprendeu a usar aquilo em seu benefício.
Ewen não desperdiçou tempo tentando encobrir sinais de sua presença, levantando acampamento assim que puderam juntar seus pertences. O velho monte e forte tinham providenciado abrigo, mas forneceria pouca defesa. Pior, Janet estaria bem no meio disso.
Ela o fazia se sentir vulnerável de um modo que ele nunca se sentiu antes. Bàs roimh Gèill. Antes a morte que se render, era o lema da Guarda das Highlands. Ele nunca pensou que questionaria sobre isto. Mas se renderia mil vezes antes de deixar qualquer coisa acontecer a ela.
Não sabia o que isso queria dizer, mas sabia que era significativo. No calor do perigo, face a um ataque, ele não estava pensando em Bruce, Stewart, um castelo inacabado ou sua responsabilidade para seu clã, ele estava pensando nela — sua segurança era tudo que importava, e não só por causa da missão.
Preparando-se, Ewen virou para enfrentá-la. Mas nada podia tê-lo preparado para o punho que envolveu ao redor do seu coração e o puxou quando seus olhos se encontraram. Podia ver o medo, mas também a confiança de que não importa o quão desesperador isso pudesse parecer, ele a protegeria. Isso mexeu com ele. Humilhou-o. Quase o deixou de joelhos com a força de uma emoção que nunca sentiu antes. Deus, ele...
Ewen não terminou o pensamento.
Mas nada podia tê-lo impedido de estender a mão para envolver o rosto dela. Ela aninhou a bochecha no couro de sua mão enluvada, enterrando-se bem dentro do seu coração.
— Temos que correr. — Ele disse, sua voz irreconhecivelmente terna.
Ela acenou com a cabeça.
— Posso fazer isto.
Acreditou nela. Janet era forte e determinada. E pela primeira vez, Ewen percebeu que não iria querer que isto fosse de qualquer outro modo. Ele nunca pensou em uma mulher como nada mais que uma parceira de cama ou governanta. Uma criatura delicada e frágil que era seu trabalho proteger. Uma necessidade, mas nunca alguém para ficar ao seu lado, com quem conversar e discutir — sem falar deixá-lo louco. Mas Janet o fazia querer todas essas coisas.
Ele deslizou o polegar acima de sua boca ternamente.
— Não pare, não importa o que você escute. Eu te acharei.
O pequeno sorriso que curvou sua boca lhe roubou o fôlego.
— Eu sei.
E então eles correram. Correram tão rápido quanto Ewen podia empurrá-la dentro dos pântanos e colinas cobertas pela névoa e neve que assomavam ao longe. O exército de Bruce abrigou-se neles muitas vezes antes, mas seria demais esperar não achar ninguém por perto assim da aldeia. Era só até ele e Sutherland conseguir tirá-los dessa. Eles não seriam capazes de correr mais que seus perseguidores, não a pé, com cachorros e cavalos os perseguindo.
Eles não tinham tanto tempo quanto esperava. A sombra do forte atrás dele ao amanhecer ainda não tinha sumido quando ele capturou o primeiro vislumbre dos cavalos.
— O rio! — Ele gritou por cima do ombro para Janet. — Uns trinta metros adiante através das árvores. Siga-o até que alcance a borda da linha das árvores e então entre nas colinas. Lembre-se do que eu disse. Não pare. Não importa o que você escute.
O rosto dela estava enrubescido pelo esforço de correr, mas ele achou que ela empalideceu.
— Ewen, eu...
Ele não a deixou terminar.
— Vá!
Não podia ouvir isto. Não agora. Ewen esperou até que ela desaparecesse dentro da floresta antes de virar para Sutherland. Mas o mais novo membro do Guarda das Highlands já o antecipara.
— A travessia?
Ewen movimentou a cabeça. A garganta profunda e estreita do vale diminuiria a velocidade dos cavalos e daria a ele e Sutherland tempo para se posicionarem.
Mas não havia tempo. O inimigo já estava respirando em seu pescoço. Girou e puxou sua espada enquanto o primeiro braço armado arremetia balançando para baixo em direção a ele. Ele bloqueou o golpe da lança com uma torção rápida de sua espada que enviou a arma do inglês voando de suas mãos. Um momento mais tarde, a espada de Ewen desceu duramente na perna do cavaleiro, quase a decepando.
Ele ouviu o grito surpreso do homem antes de tombar no chão, sangue jorrando dele. Um rápido olhar disse a Ewen o que precisava saber: uma dúzia de homens armados, um cavaleiro, o braço direito de Beaumont e dois cachorros latindo de modo selvagem.
Então não foi surpresa que o outro cavaleiro estivesse quase sobre ele. Ewen sentiu uma onda de energia correr através do seu sangue enquanto o furor da batalha o atingia. Segurou sua espada com as duas mãos acima da cabeça e a baixou contra a lâmina do outro homem com força suficiente para tirá-lo de sua sela.
Um por um ele e Sutherland derrubaram o inimigo, trabalhando em conjunto enquanto se moviam para atacar os ingleses entrando em posição no estreito vale.
Exatamente assim, a batalha mudou. Os cavalos não podiam manobrar. Ao invés de agressores, o cavaleiro inglês e seus homens se tornaram arenques presos em barril. Com Ewen de um lado e Sutherland do outro, não havia nenhum lugar para eles irem. Forçados a abandonar seus cavalos ou morrer.
Morreriam de qualquer maneira.
O estrondo alto da batalha começou a embotar à medida que os ingleses caíam sob suas espadas. Os latidos pararam. Um dos cachorros parecia ter sido pisoteado ao fugir dos cavalos e o outro...
Ewen amaldiçoou, tirando o suor que se reuniu embaixo do elmo para limpar sua visão. Onde estava o outro cachorro?
Enquanto se desviava dos golpes, ele esquadrinhou a área ao redor deles, olhando por cima dos corpos dos homens e cavalos que caíram ao lado deles. Nada do segundo cachorro.
Uma onda fria atravessou seu sangue quando percebeu que havia um homem faltando também.
Ainda havia quatro soldados restando. Três deles convergiram para Sutherland, esperando dominá-lo, enquanto o outro tentava impedir Ewen de ajudá-lo. Sutherland não precisava de ajuda. E nem Ewen. Ele trocou golpes com o homem armado de pescoço grosso e peito largo, que conseguiu aterrissar um golpe sólido de sua espada no ombro do Ewen antes que a ponta da lâmina de Ewen pudesse encontrar o pescoço do oponente.
Sutherland percebeu o que aconteceu.
—Vá! — Ele gritou entre balanços de sua espada. — Vou acabar com eles.
Ewen não hesitou. Saltando em um dos cavalos remanescentes, ele saiu galopando na direção em que disse para que Janet corresse.
Ele se debruçou sobre a quina da sela para evitar os galhos e troncos que se espalhavam em todas as direções da floresta que circulava a base das colinas e rezou. Rezou para que tivesse contado errado. Rezou para que a alcançasse a tempo.
Mas um momento mais tarde ouviu um som penetrante que o assombraria para o resto de sua vida. Um grito estridente cheio de terror rasgou o ar do amanhecer nublado, parando seu coração e o catapultando adiante na escuridão, em um abismo pouco conhecido de medo.
Janet tinha toda a intenção de seguir suas ordens. Mas quando o estrondo penetrante de metal contra metal se espalhou pelo ar, sua cabeça instintivamente girou em direção ao som.
Ela parou para olhar por apenas um minuto, mas a visão que seus olhos encontraram não era uma que ela logo esqueceria. Era uma batalha em toda sua crueza e caos horroroso. Duas vezes antes ela viu a violência da guerra — em uma noite na ponte quando tentou salvar sua irmã e o dia na floresta com Marguerite quando encontrou Ewen pela primeira vez, — mas a ferocidade, a brutalidade disto, surpreendeu-a de novo. A visão de espadas balançando, sujeira voando, sangue derramando em uma confusão de homens e feras rosnando assustou-a horrivelmente. Como os sons. A própria barulheira disto. O brado violento de aço e morte.
Como uma praga de gafanhotos revestida de aço, os ingleses fervilhavam sobre os dois Highlanders. Pelo certo, deveria ter sido uma matança. Ela não podia respirar, temendo que Ewen fosse abatido com o primeiro golpe. Mas ela tinha esquecido, ou disse a si mesma que devia ter exagerado a habilidade dele. A força extraordinária e intenção mortal. O propósito brutalmente frio pelo qual ele realizava sua tarefa. Sir Kenneth lutava do mesmo modo, não como um cavaleiro, mas como um bárbaro. Não era difícil demais imaginá-los causando terror através dos mares em uma embarcação viking.
Os dois Highlanders podiam ter sido ultrapassados em número, mas eram de longe superiores em habilidade. Na primeira piscadela da luz do dia, em meio àquele caos e horror, com seus elmos e plaids esvoaçando como capas fantasmagóricos, eles mais pareciam com seres imortais e ameaçadores de outro mundo.
Eles pareciam com... Fantasmas.
A percepção a atordoou por um momento, entretanto, lembrando-se da advertência do Ewen, ela se virou e correu. Correu através das árvores e arbustos até que suas pernas doíam e seus pulmões pareciam que iam explodir ao longo da margem rochosa do rio e através da floresta.
Seguiu não mais do que uma milha quando ouviu latidos atrás dela. O medo apertou seu peito já mais do que apertado. Ela olhou por cima do ombro, viu o cão de caça correndo bem atrás dela, e contra cada instinto em seu corpo que gritava perigo — corra! — Ela se forçou a diminuir a velocidade.
O cachorro era treinado para caçar. Para perseguir. Não ia parar, e não podia correr mais que isso.
Ela não seria sua presa. Com a mão no cabo de sua lâmina, girou para encará-lo. Meio esperando que saltasse em cima dela, ficou surpresa quando ele parou a cerca de três metros de distância. Eles olharam fixamente um para o outro em uma muda encarada. Fera e homem. Ou neste caso, mulher.
Animais sempre gostaram dela. Tentou se lembrar disso enquanto ficava de pé perfeitamente quieta, exceto pelo pesado subir de seu tórax engolindo ar.
O Deerhound18 era grande, sua cabeça cinza aproximadamente no nível de sua cintura. Sua boca repuxada para trás, deixando-a ver todos seus dentes impressionantemente longos, mas seus olhos pretos estavam mais curiosos que enraivecidos. Um cachorro podia ser curioso?
Seu pelo felpudo estava sujo e emaranhado, e parecia estar precisando de um bom banho, mas era um animal de boa aparência, com as linhas longas e esguias de um caçador, talvez um pouco magro nas laterais.
Com a mão que não estava segurando o cabo da lâmina, ela alcançou a bolsa de couro em sua cintura e pegou um pedaço de carne seca. Cautelosamente estendeu murmurando sons suaves enquanto o cachorro a olhava de forma especuladora. Seu coração martelava à medida que o cachorro lentamente fez seu caminho para ela. Não querendo testar a sorte, ela pôs a carne seca no chão. O cachorro se lançou sobre a carne. Devorando-a em segundos, levantou o olhar para ela novamente, dando um pequeno latido de encorajamento.
Apesar das circunstâncias, ela riu. Era um diabinho fofo uma vez que você passava por cima o tamanho e os dentes.
De maneira hesitante, ela estendeu sua mão deixando o cachorro cheirar, murmurando desculpas.
— Sinto muito, isto é tudo que tenho.
Ele latiu novamente e então arquejou esperançosamente, sentando-se aos pés dela. Quando estendeu a mão para acariciar sua cabeça, ele choramingou.
Janet riu.
— Quer dizer que você não é tão apavorante...
De repente, um cavalo e cavaleiro atravessaram as árvores. Um ofego surpreso ficou preso em sua garganta, o brilho da cota de malha o identificou como inimigo. O homem a agarrou, obviamente pretendendo puxá-la sobre seu cavalo, quando de repente o cachorro saltou, seus dentes se fechando sobre o braço coberto pela cota de malha, tentando arrastá-lo para fora do cavalo. De alguma forma, cachorro e o brutamontes se embolaram debaixo das patas traseiras do cavalo, fazendo o cavalo se lançar adiante.
Ela ouviu um estalo horroroso e o uivo aflito do cachorro. Ela se virou depressa, mas imediatamente percebeu o que aconteceu: o cachorro tinha sido esmagado debaixo do cavalo, o cavalo quebrou sua perna e o cavaleiro... o cavaleiro tinha sido jogado para fora, mas estava lentamente ficando de pé. Xingando, ele puxou sua espada e a balançou na confusão entrelaçada de cachorro e cavalo.
Ela gritou e se virou.
— Maldito vira-lata estúpido — ele rosnou. Com o varrer de um golpe, o choro cheio de dor do cachorro parou. Ele seguiu com um segundo golpe e o ansioso resfolegar do cavalo enquanto ele tentou ficar de pé parou.
Sabendo que ele viria atrás dela a seguir tentou correr, gritando novamente quando a mão esticou e agarrou seu braço.
Ele a girou, sua espada erguida acima de sua cabeça.
— Onde você pensa que está indo, sua estúpida cadela rebelde...
Janet não pensou, reagiu. Ela tinha sorte que ele a agarrou por seu braço esquerdo, porque era do direito que precisava para puxar a lâmina de sua bainha e empurrar para cima com toda sua força entre as pernas dele, esperando achar um espaço entre a cota de malha.
Justo enquanto sua faca mergulhava, ouviu um ruído surdo apavorante. Os olhos dele arregalaram. Sua mão apertou o braço dela e então soltou enquanto caía aos seus pés, uma lança atravessando seu pescoço.
Ewen nunca experimentou esse tipo de ira. A visão de Janet sendo apertada de modo rude pelo cavaleiro fez algo com ele. Ela parecia com uma flor prestes a ser esmagada em um torno de aço, seus ossos delicados não era páreo para a força do grande guerreiro com armadura e a espada que podia a qualquer momento arrancar sua cabeça.
Uma raiva negra o tomou. Sede de sangue. Desejo de matar. Sua visão estreitou como se ele estivesse espreitando por um túnel escuro com um único objetivo em vista. Ajustou a lança em sua mão. Não se permitiu pensar que se falhasse, ela morreria. Ele não tinha tempo.
Doze, nove, seis metros de distância... ele lançou com toda sua força.
A lança rasgou através do ar com um zumbido, perfurando a alça da cota de malha do cavaleiro como se fosse manteiga.
Ewen atingiu o chão no mesmo instante que o soldado. Janet virou, o viu, e com um grito suave que rasgou seu coração, correu para dentro de seus braços.
Ele a segurou perto enquanto ela enterrava a cabeça no seu peito, saboreando cada maldita sensação que o tomava. Ela está a salvo, disse a si mesmo repetidas vezes. Salva. Mas seu maldito coração não parava de martelar.
As emoções clamando dentro dele eram diferentes de tudo que já tinha experimentado, e ele levou um tempo para colocá-las sob controle suficiente para falar.
— Você está bem?
Ela movimentou a cabeça acenando contra seu peito, mas ele precisava ver. Cuidadosamente inclinou o queixo dela para trás e olhou para dentro dos olhos cheios de lágrimas. A pele suave de bebê sob as pontas dos seus dedos estava muito pálida, parecia quase translúcida.
— Eu estava tão assustada. O cachorro... — Ela levantou o olhar para ele, atingida. — Foi horrível.
Uma onda de ternura subiu dentro dele com intensidade esmagadora.
— Acabou, meu bem. Acabou.
Ela acenou com a cabeça obedientemente — duvidava que ela tivesse feito isso desde que era criança, e provavelmente nunca mais desde então, — mas o horror do ataque obviamente ainda estava pesando nela. Ela tremia encostada nele, seus ombros esbeltos sacudindo, e uma onda feroz de proteção surgiu dentro dele. Tomou tudo que ele tinha não colocar sua boca na dela e beijá-la até que os dois esquecessem.
Mas não fez. O perigo estava terminado, e com sua ausência vinha a lembrança do seu dever.
Lentamente, relutantemente, a deixou ir.
Ela piscou levantando os olhos para ele, a princípio surpresa, e então com um olhar ferido que o rasgou impiedosamente.
Ele amaldiçoou a injustiça disso. Os deveres, as lealdades, as responsabilidades que tornava isto — eles — impossível.
De repente ela ofegou, seu olhar voando para o braço dele.
— Você está ferido!
Deu uma olhada para baixo, percebendo que a espada do inglês fatiou através de sua roupa e sangue estava derramando dele. Verdade seja dita, ele não sentiu. Embora não pudesse dizer o mesmo de sua perna, que latejava e queimava como se alguém tivesse jogado uísque e então tacado fogo.
— Estou bem. É só um arranhão.
Ela estragou isso com seu biquinho familiar. Quem iria imaginar que o aborrecimento podia parecer tão doce?
— Seu braço podia estar pendurado por um fio e você diria que estava bem.
Um canto de sua boca ergueu em um meio sorriso. Ela provavelmente estava certa.
— Vocês, guerreiros, são todos parecidos... — Ela parou e olhou ao redor ansiosamente. — Onde está Sir Kenneth?
— Não se preocupe. Ele estava acabando quando eu vim atrás de você. Deve estar chegando a qualquer minuto.
— Não posso acreditar que... eu não teria acreditado se não tivesse visto com meus próprios olhos. Dois homens contra tantos... — sua voz mantinha uma inconfundível reverência. Mas ele não podia apreciar isto. Ela estava chegando perto demais. De alguma maneira ele sabia o que ela iria dizer mesmo antes de seus olhos trancarem nos dele. — Você é parte disso, não é? Você é um dos fantasmas de Bruce?
Sangue de Deus, a moça cortejava problemas como um trovador apaixonado! Ela enxergava demais, e agora estava fazendo suposições — suposições perigosas que podiam pôr todos eles em risco. Ela já não estava correndo perigo suficiente? O conhecimento — inclusive a suspeita — como esta levaria a metade do exército inglês atrás dela. Identificar e capturar os membros do exército secreto de Bruce estava no topo da lista do comando inglês.
Sua expressão não deu a ela nenhuma sugestão da tempestade de emoções que sua pergunta soltou dentro dele. Ele fingiu diversão desinteressada.
— Seus pais não disseram a você que não existe tal coisa como fantasma?
Ela ergueu o queixo.
— Você nega ser parte do exército secreto que assolou com as tropas inglesas...
Ele a cortou com uma imprecação, pegando seu braço.
— Nós precisamos ir.
— Você não respondeu minha pergunta.
Mas mal as palavras deixaram sua boca quando ela ouviu algo também. O latido de um cachorro, e não muito atrás disso, o som de cavalos. Seus olhos arregalaram e ela enterrou os saltos dos seus sapatos no chão, impedindo-o de puxá-la em direção ao cavalo.
— Mas e Sir Kenneth? Nós não precisamos esperar por ele?
A boca de Ewen caiu em uma linha severa.
— Ele vai nos achar.
Assim esperava. Mas o som de cavaleiros se aproximando não era um bom presságio. Ele amaldiçoou novamente — silenciosamente, não querendo adicionar à sua preocupação. Mas a missão que tinha começado ruim só parecia estar ficando pior.
Ele estava prestes a ajudar a levantá-la para cima do cavalo quando ela se afastou novamente.
— Espera! Esqueci meu punhal.
Percebendo que ela deve tê-lo usado para tentar se defender, ele a impediu de ir atrás dele.
— Eu vou pegar.
Ele se aproximou do corpo do cavaleiro morto. Não levou muito tempo para localizar a faca.
Bem, estarei condenado. Se sua lança não tivesse acabado com a vida do maldito inglês, a lâmina dela, que estava mergulhada profundamente em sua perna, teria.
Sentiu inconfundivelmente seu peito inchar de orgulho. A moça era uma lutadora. Sua primeira impressão todos esses meses atrás de uma valquíria não estava tão longe.
Enxugando o sangue da lâmina na cota de malha de suas pernas, as quais já estavam manchadas de qualquer maneira de coisas nojentas, ele a estendeu de volta para ela.
Ela levantou o olhar para ele indecisamente.
— Eu fiz...
Ele sabia o que ela estava perguntando.
— Você se defendeu bem, moça. O teria deixado manco por toda vida. — Ele mentiu.
Ela suspirou, parecendo visivelmente aliviada.
— Eu não tinha certeza.
Ele tinha morte suficiente em sua alma para ambos. Ele podia protegê-la disso pelo menos.
Outro latido — este aqui discernívelmente mais próximo — pôs fim ao breve atraso.
Ajudando-a a subir no cavalo, ele montou atrás dela e foram embora, cavalgando curvados ao longo da margem do rio em direção às colinas. Eles montariam o cavalo o máximo que pudessem — ele esperava que tempo suficiente para interromper o cheiro e fazer mais difícil segui-los. Um dos melhores modos de fazer isto era com outro animal. Água também ajudaria. Já que era raso suficiente para fazer isso, ele guiou o cavalo para dentro do rio.
Eles continuaram naquele ritmo frenético por alguns quilômetros, até que os sons de seus perseguidores ficaram mais e mais distantes, eventualmente desaparecendo completamente.
Ele soltou um suspiro de alívio. Eles os perderam por enquanto e não cedo demais. Foi forçado a diminuir a velocidade do seu ritmo consideravelmente, quando o chão começou a subir, e a floresta e o rio do vale sumiam nas colinas cobertas de urze que acenavam para ele como a primeira visão de terra depois de dias no mar. Lar. Refúgio. Segurança.
Apesar do amanhecer ter rompido um tempo atrás, um cobertor espesso de névoa de inverno escondia de vista o topo da montanha estéril. Elas não só pareciam sinistras e assustadoras, também forneceriam bastante cobertura para eles desaparecerem. Mesmo que os ingleses seguissem a trilha deles novamente, pensariam duas vezes sobre segui-los em tal terreno ameaçador.
Mas ele não iria arriscar. Sabendo que o cavalo só dificultaria para eles a partir deste ponto, quando chegou a uma pequena ponte sobre o rio, ele disse a Janet para esperar enquanto ele a cruzava montado. Desmontando, ele bateu na anca do cavalo e o assistiu galopar descendo o caminho estreito. Com alguma sorte ele iria assim por algum tempo. Cuidadoso em esconder sua trilha, ele repassou seus passos até onde Janet permanecia observando-o.
Ela olhava fixamente no rio escuro abaixo com um nariz enrugado.
— Presumo que meus pés vão ficar molhados novamente, não é?
Ele sorriu perante sua expressão.
— Temo que sim.
Instruindo-a a andar em pedras ou chão mais duro sempre que pudesse, ele a ajudou a descer a margem e dentro d’água. Infelizmente, diferente do rio anterior, os bancos eram íngremes e a água espiralava quase até os joelhos dela.
Eles seguiram o rio subindo a colina até que o chão ficou muito íngreme e a água se tornou cachoeira. Marchando em cima na borda, ele apontou para uma pedra grande.
— Nós podemos descansar aqui durante algum tempo.
Não precisando de mais encorajamento, ela desmoronou. Encolhendo os ombros para tirar os sacos que ele levava, usou um deles como assento e juntou-se a ela. Felizmente, junto com os sacos de seus pertences, também estava levando a comida. Tentou não pensar em Sutherland, dizendo a si mesmo que seu novo recruta podia cuidar de si mesmo. Mas o ataque não devia ter acontecido. Era trabalho de Ewen garantir que não acontecesse. Se ele se sentia responsável, era porque era responsável. Ele falhou, droga, e não engolia bem o fracasso.
O que deu errado? Como diabos os cachorros capturaram seu cheiro? Aparentemente os pensamentos dela estavam correndo na mesma direção que os seus.
— Acha que nós os despistamos?
— Por enquanto. — Ele disse. — Com os cavalos e o rio, os cães terão dificuldade em seguir o cheiro.
— Mas como eles captaram?
— Não sei. Tive a maldita certeza que nós não deixamos nada...
Ele parou, seu olhar captou um vislumbre de um cacho de cabelo dourado que deslizou de sua trança. Até na névoa, sua cabeça dourada brilhava luminosa. Sua cabeça dourada nua. Sua boca caiu em uma linha dura, enquanto a explicação para o que aconteceu ficou clara. Ele xingou.
— Onde está sua touca?
CAPÍTULO 15
A mão de Janet foi para cabeça reflexivamente. Ficou surpresa por encontrar mechas suaves de cabelo debaixo de sua palma em vez de lã.
— Oh, não percebi — ela pensou em voz alta. — Deve ter caído ontem à noite quando deslizei do cavalo.
Ele amaldiçoou novamente, o que era redundante em sua opinião, já que só de olhar para cara dele dizia tudo. Ele estava furioso. Além de furioso, realmente. Irado. Tempestuoso. O tipo de tempestade de quarenta dias e quarenta noites.
— Deve ter sido como eles nos rastrearam.
— Eu sinto muito, não percebi...
Ele ficou de pé e a levantou arrastando. Ela ficou meia surpresa por não a ter agarrado pela orelha como um filhote de cachorro malcriado. — Maldição, eu disse a você que nós precisávamos ser cuidadosos. Não é de se espantar que eles nos seguissem tão depressa. Você os levou direto para nós.
Ele não precisava dizer isso, ela sabia o que estava pensando. É por isso que uma mulher não pertencia a este lugar. Uma mulher não tem que estar na guerra. Volte para sua agradável caixinha e fique fora disto.
Queria tanto impressioná-lo, mostrar lhe que podia ajudar tanto quanto ele — de um modo diferente talvez, mas de uma maneira que também fosse valiosa. Ao invés disso, ela provou o ponto dele. Como podia esperar que a visse de um certo modo se ela cometia erros tolos?
Janet queria discutir com ele. Seu instinto era se defender, tentar argumentar. Mas pelo menos uma vez ela não tinha uma desculpa ou explicação. Ele não estava sendo injusto, estava só falando a verdade — ainda que a maioria das pessoas não teria falado tão claramente. Mas evitar magoar não era o forte do Ewen. Não, ele era honrado e ia direto à falha.
Normalmente ela não se importaria. Mas estava assustada e cansada, tendo dormido só algumas horas nos últimos dois dias, e se sentindo anormalmente vulnerável depois do que tinha acontecido mais cedo. Eles compartilharam algo na floresta: uma honestidade de emoção que não o deixaria negar. Estava tão certa que a beijaria. Tão certa que ele poria de lado qualquer reserva que tivesse. Mas se afastou dela novamente. E agora...
Suas mãos se retorceram, um sentimento doente parecendo crescer em seu estômago.
— Foi um erro inocente.
— Um erro que poderia ter matado a todos nós.
Ela se encolheu tanto da dureza de aço em seu olhar quanto do chicote verbal que veio junto.
— Eu disse que sinto muito, não sei o que mais posso fazer.
— Nada. Mas da próxima vez que eu disser algo a você, tente seguir as ordens.
Janet chegou ao limite de sua aceitação passiva de culpa.
— Não sou um dos seus homens para que você possa mandar.
— Isso está dolorosamente claro. Meus homens são muito mais disciplinados.
Agora ele não era o único a perder seu temperamento, ela faiscou como uma fogueira. Suas mãos se retorcendo fecharam em punhos aos lados de seu corpo.
— Certo. Mulheres não têm lugar no campo de batalha, é o que você quer que eu diga?
Os olhos dele faiscaram. Ele se inclinou mais perto dela e rosnou.
— É um maldito bom começo.
Janet quis bater o pé em ultraje. Mas apesar disso sem dúvida daria a ele mais motivos para tratá-la como uma criança, ela jogou sua cabeça para trás com um alto bufo.
Ele era o homem mais exasperante, mandão, bruto e irracional que ela já conheceu!
E ainda assim, mesmo ele estando aqui de pé lhe passando um sermão — que infelizmente neste caso era merecido — uma parte tola dela ainda esperava que a tomasse nos braços e dissesse que estava tudo bem. Confortá-la como ele fez antes. Para um homem tão formidavelmente encorpado, ele fora surpreendentemente gentil.
Mas conforto era a última coisa na cabeça dele.
— Você vai ter que tirar suas roupas.
Ela recuou.
— Minhas roupas?
— Aye, todas elas. E entre no rio. Você fede a jacintos, esfregue cada pedacinho disso do seu cabelo e pele. Nós precisamos ter certeza que eles perderam o cheiro.
— Mas... — Ela olhou para laguinho abaixo da cachoeira. Mesmo daqui parecia gelado. E jacintos não fediam.
Ele apertou sua mandíbula como se lutando por paciência.
— Maldição, você pode apenas seguir ordens pelo menos uma vez?
Seus olhos se trancaram em uma batalha silenciosa de vontades. Ela já teve o suficiente de seus comandos rudes. Um sorriso secreto curvou seus lábios, enquanto o diabo dentro dela botava para fora sua cabeça feia.
Eu posso seguir ordens, tudo bem.
— Como você quiser.
Ela deixou o plaid escorregar de seus ombros e cair em uma poça escura aos seus pés.
Ele piscou.
Erguendo uma sobrancelha distintamente desafiadora, ela soltou seu gibão, que se juntou ao plaid aos seus pés um instante mais tarde.
Ele se arrumou para achar sua voz quando ela chutou suas botas e começou a puxar os calções de couro acima de seus quadris.
— O que você está fazendo? — Ele disse — bastante estupidamente na sua opinião.
Ela sorriu, removendo suas meias.
— Seguindo ordens — ela levantou o olhar para ele com ingenuidade. — Precisa de água?
— Água? Não, por quê?
— Sua garganta parece um pouco seca.
E com isto, ela ergueu a camisa por cima da cabeça.
Deve ter sido a batalha. Ou talvez o esgotamento físico dos últimos dias. Mas enquanto Ewen estava lá, assistindo-a, seus membros se transformaram em chumbo. Ele não podia se mover. Não teve a força para impedi-la.
Oh Deus, detenha-a.
Mas antes que alguma medida de autopreservação pudesse assumir, a camisa dela caiu no chão.
O mundo parou. Seu coração se esqueceu de bater. Sua boca estava seca mesmo. Uma secura que queimava. Chamuscando. Sua garganta estava tão esturricada quanto os desertos de Outremer, e ele sabia que não existia água suficiente nos oceanos deste mundo de meu Deus para extinguir a sede que ele tinha por ela.
Ela era perfeita. Membros longos, esbelta e curvilínea em todos os lugares certos, com centímetros e centímetros de pele impecável e cremosa. Os seios firmes e redondos que foram marcados a ferro em sua memória eram ainda mais espetaculares do que ele se lembrava, os pequenos mamilos cor de rosa enrijecidos e escuros, e o lugar suave e feminino entre suas pernas...
Meu Deus do céu! Ele gemeu. Desejo apertou sua virilha, quente e dolorido, puxando e apertando com necessidade.
Sua voz o trouxe de volta.
— É isso que você queria?
O desafio rouco da voz dela enviou uma bola de fogo de luxúria correndo por sua espinha abaixo. Juntou-se na base pulsando — não, tremendo — com necessidade.
Ele olhou dentro dos olhos dela.
Maldita! A moça não tinha um osso fraco ou vulnerável em seu corpo. Até nua como o dia que Deus a fez, era corajosa, desafiadora e forte.
Forte suficiente para quebrá-lo.
No espaço de dois longos segundos ele a teve em seus braços, sua pele suave como veludo esmagado contra ele.
Ela ofegou pela brusquidão do seu movimento, mas não resistiu. Não, ela pediu por isto, e por tudo que era santo, ela aceitaria.
Por uma fração de segundo, Janet sentiu um faiscar de medo e perguntou a si mesma se ela o empurrou muito longe. Entretanto estava em seus braços e sabia que ele nunca a machucaria. Mesmo fora de controle, Ewen a segurava com uma gentileza que era desmentida pelo corpo forte e duro contra ela.
O couro e aço de sua armadura contra sua carne nua era um choque, embora nem um pouco desagradável. Existia algo estranhamente sensual sobre ter todo aquele couro morno e metal frio apertado contra ela. Ou talvez fosse só que ela estava tão fria antes, o calor irradiando de seu corpo fez qualquer desconforto parecer pequeno.
Ela inclinou sua cabeça para trás, examinando seus olhos.
A ferocidade da expressão dele enviou uma excitação disparando por suas veias.
— Sua maldita — ele disse furiosamente, seu último ofego de protesto antes de se render.
Todos os pensamentos de gentileza foram esquecidos enquanto sua boca cobria a dela. Ele a beijou rudemente, seus lábios se movendo acima dos dela com uma possessividade feroz que a fez ofegar. E gemer. Mais de uma vez. Especialmente quando ele começou a usar sua língua. Os golpes fundos e penetrantes definitivamente produziram muitos gemidos nela. Gemidos baixos e urgentes que pareciam começar em algum lugar bem lá no fundo — bem sobre o lugar em que podia senti-lo duro contra ela. Estremeceu, seu corpo respondendo à primitiva evidência do desejo dele. Ela estava dolorosamente ciente de cada centímetro grossa daquela evidência.
Ele a puxou mais perto, curvando-a para trás, indo mais e mais fundo. Ela teve que lutar para acompanhá-lo, sua inocência não era páreo para a crua investida da paixão.
Sabia que ele estava castigando-a por forçá-lo a isso, tentando assustá-la com a intensidade de seu desejo. Mas Janet o encontrou golpe a golpe. Ela podia ser uma serva inocente, mas os instintos que ele despertou nela eram daqueles temerários. Ela queria isso. Cada pedaço tanto quanto ele, e a sensualidade crua da sua paixão apenas alimentava a dela.
Aye, ela estava quente, sua pele quase febril. Parecia estar derretendo, dissolvendo em uma poça de calor derretido. Ele removeu suas luvas e a sensação de suas mãos grandes e calosas vagando sobre sua pele nua — acariciando, apertando, não deixando nenhuma centímetro sem tocar — só aumentava aquele calor e produzia muito mais daqueles gemidinhos.
— Deus, você é tão gostosa. Sua pele é tão suave — o calor de sua respiração soprou em sua orelha, mas foram suas palavras que a fizeram estremecer. — Quero tocar em você por toda parte. Cada centímetro seu, mo chroí. — "Meu coração" — a expressão terna fez seu peito apertar. Janet não podia acreditar que era Ewen falando com ela desse jeito. As palavras suaves como seda não podiam ter estado mais em conflito com o guerreiro rude que falava sem pensar ou se importar com traquejos sociais. Era uma combinação arrojada, a paixão feroz e áspera misturada com as palavras suaves e sensuais. Suas mãos a possuíam, deslizando por suas costas abaixo, sobre sua bunda, erguendo-a um pouco mais forte contra ele, esfregando... Ave Maria! Ela podia ter saltado, seu corpo inteiro acendendo com uma energia não diferente de relâmpago engarrafado. Ela esqueceu de respirar, seu corpo tenso e esperando. Pelo que?
— Deus, você está me matando.
Normalmente ela não pensaria que era uma coisa tão boa, mas o modo como ele disse a fez pensar que poderia ser. Sua boca se movia para baixo e para cima de seu pescoço de maneira faminta, deixando sua pele em chamas pelo caminho. Seu coração estava martelando. Seus joelhos estavam bambeando. E o lugar entre suas pernas... uma onda fresca de calor subiu para suas bochechas. Ela não queria nem pensar sobre o que estava acontecendo lá. Estava quente e dolorida e... molhada, com estranhos pequenos tremores...
Oh! Ele se esfregou contra ela novamente e aqueles estranhos pequenos tremores começaram a pulsar. Ela o queria ali. Bem aí. A coluna de aço grossa cunhou alto e apertado, esfregando contra ela.
— Doce Jesus, você está me deixando selvagem — sua voz estava esfarrapada e apertada com restrição.
Janet conhecia a sensação.
— Eu quero estar dentro de você — ele sussurrou em sua orelha.
Ela quase gritou desapontada quando ele liberou seu aperto na bunda dela e a pressão gostosa foi embora. Mas sua decepção durou só um momento. A mão dele deslizou rapidamente por cima do seu estômago para cobrir um seio.
— Tão macia — ele gemeu, apertando, apalpando-a suavemente em sua mão. — Seus seios são incríveis. Sonhei em fazer isso desde a primeira vez que vi você.
Foi?
Janet ficou feliz por ele não parecer esperar uma resposta, enquanto ela estava tendo dificuldade em respirar. As sensações que as mãos dele causavam em seu corpo estavam comandando toda sua atenção. Instintivamente ela arqueou em sua mão, tendo descoberto bastante depressa que essa pressão aumentava as sensações.
Mas ela não antecipou a sensação dos dedos dele em seu mamilo. A ponta áspera de seu polegar acima do bico sensível e latejante quase a enviou saltando fora de sua pele novamente, enquanto outro relâmpago daqueles enviou um flash de energia disparando através do que pareceu ser cada terminação nervosa do seu corpo.
Ele fez um som rude antes de sua boca cobrir a dela novamente. Ela o sentiu alcançar a ponta do seu laço. Seu beijo não era mais punitivo, mas determinado. Cada golpe de sua língua, cada toque das mãos em seu corpo parecia calculado para aumentar sua paixão, trazê-la cada vez mais perto de algo que pairava justo fora do seu alcance. Ela estremeceu com antecipação.
Ele ergueu a cabeça.
— Está com frio?
Excitada além da medida. Ela sacudiu a cabeça, administrando a falta de fôlego:
— Quente.
— Bom — seus olhos escureceram. — Você está prestes a ficar muito mais quente.
Estremeceu novamente, ouvindo a promessa sensual em sua voz áspera. Ele era tão bom quanto sua palavra. Um momento mais tarde quando a boca achou seu seio, ela pensou que tinha caído nas entranhas ardentes do inferno, pois certamente deve ser um pecado se sentir tão bem.
Ela gritou quando sua língua circulou o mamilo e começou a chupar. Suavemente a princípio, e então um pouco mais duro, conforme ela arqueava mais fundo em sua boca. O calor. A raspadura de seu queixo. O escovar sedoso do seu cabelo na pele dela. Era demais. Não era suficiente.
Ela começou a se retorcer em frustração, e ele finalmente deu o alívio que ela sem saber buscava. Sua língua lavou e sacudiu contra seu mamilo ao mesmo tempo em que seus dedos deslizando entre a junção de suas coxas. Ficou imóvel, o instinto lhe dizendo o que ele estava prestes a fazer. Ela teve um momento de pânico. Vinte e sete anos de virgindade, de guardar sua castidade como uma relíquia sagrada não era renunciada sem uma pequena pontada de incerteza. Isso era errado? Quase como se ouvisse sua pergunta não dita, ele ergueu a cabeça. Seus olhos se encontraram, e qualquer incerteza que ela teve enfraqueceu na intensidade da emoção que viu refletido no olhar dele.
E então ele a tocou. Ali. No lugar que ela sem saber reservou para ele para este momento. Prazer floresceu bem no fundo dela como uma flor desabrochando suas pétalas aveludadas ao sol enquanto ele prendia seu olhar e a acariciava. Era mágico. Bonito. A coisa mais perfeita e natural no mundo. Como isso podia ser errado?
As sensações estavam se construindo mais rápido agora, correndo em um ritmo frenético em direção a um determinado fim. E momentos mais tarde quando ela olhou dentro de seus olhos enquanto ele a acariciava até o próprio cume da paixão, quando ficou sem fôlego, seu corpo apertou, e calor se espalhou por cada centímetro dela quebrando em uma luz ofuscante, Janet soube de mais uma coisa: estava muito contente que não era freira.
Ewen estava perdido no momento em que olhou dentro dos olhos dela. Vendo-a se desmanchar, assistindo a paixão espalhar sobre seu rosto em euforia sensual, lábios inchados separados, bochechas enrubescidas e olhos suaves com prazer, soltou algo dentro dele que não podia ser contido.
Luxúria o atravessou diferente de qualquer coisa que ele já experimentou. Era mais poderoso. Mais intenso. Mais profundo. Isso não encheu apenas seu membro — que estava tão duro quanto um pilar de mármore, — mas seus ossos, seu sangue, cada centímetro de seu corpo, inclusive uma parte dele que desejou que não fizesse: seu coração.
Sua necessidade por ela era elementar. Como água, comida e o ar que respirava, ele tinha que tê-la. O último refluxo da liberação dela ainda enfraquecia antes dele a colocar no chão, o plaid descartado debaixo dela. Ele se atrapalhou com suas calças. Da próxima vez, ele jurou. Da próxima vez ele faria isto perfeito. Desta vez teria sorte se durasse alguns minutos.
Estava fora de controle, passou do ponto da razão, seu corpo se movendo por vontade própria. Ele não queria se permitir pensar. Sangue martelava através do seu corpo, dentro de sua cabeça. Suor se reuniu em sua sobrancelha. Ele nunca quis nada tão intensamente na sua vida.
Ar frio abençoado atingiu sua pele quente quando se liberou de suas calças dolorosamente apertadas. Ele se moveu para se posicionar, alavancando seu corpo acima do dela, centímetros, segundos, do doce alívio. Ele estava duro como uma espiga, vermelho e pulsante. Pulsando dolorosamente. O tipo de latejar: preciso gozar nesse instante. Uma gota escapou em perversa antecipação.
Seus dentes apertaram. Mais alguns segundos...
Não podia esperar por esse primeiro momento maravilhoso de contato, quando a ponta quente e sensível encontraria a morna e feminina umidade. Ele podia quase senti-la apertada e quente ao redor dele, uma luva aveludada apertada, agarrando... apertando... ordenhando. Suas nádegas apertaram. Os olhos dela tremularam abertos. O sorriso que se espalhou por seu rosto espremeu seu peito como um torno, cortando sua respiração já trabalhosa. Tão bonito...
— Isso foi maravilhoso. Eu nunca imaginei que... — Ela olhou para ele. — Tem mais?
Moça gulosa! Ele sorriu.
— Aye, isto é só o começo. Vou fazer você...
Minha.
Ele ficou imóvel. A palavra chacoalhando algo dentro dele, despertando sua consciência de sua soneca drogada.
— Vai me fazer o que? — Ela disse resolutamente. Ela olhou para baixo, olhos arregalando à medida que caíam sobre ele. — Oh... Oh!
Os olhos dela dispararam de volta para ele de maneira incerta, e com mais do que um pouco de medo. Não era sem motivo. Ele foi feito para o prazer da mulher. Mas ela não era uma mulher, era uma serva.
É uma serva, ele se corrigiu.
Cada músculo em seu corpo flexionou com restrição. Seria tão fácil investir para dentro. Ele curvou sua cabeça, seu corpo tremendo, lutando para se controlar enquanto a necessidade de seu corpo guerreava com sua mente. Uma mente que ele queria calar.
Só termine. Você pode fazer isto bom para ela. Ela quer isso. É tarde demais, droga.
Mas não era tarde demais. Não ainda.
Ela não é sua. Mas pode ser. Mais alguns centímetros e você pode fazer isto.
Mas a que custo? Tudo que ele esteve lutando para alcançar? Ele era como seu pai afinal? Ele amaldiçoou, não percebendo que articulou o xingamento vil em voz alta até que ela ofegou.
— O que está errado? — Ela estendeu sua mão para cima e tocou em seu rosto tenso.
Ele encolheu os ombros para tirá-la e se afastou, cada instinto em seu corpo rugindo em protesto.
— Não posso fazer isso.
— Por que não?
Ele já estava de pé, afastando-se. Não podia olhar para ela, a emoção em sua voz estava corroendo-o suficiente. Ele precisava de um minuto — mais do que um minuto — para se colocar sob controle.
— Tem sabão e algumas roupas extras na minha bolsa. Lave essas malditas flores. Assim que você acabar nós podemos ir.
Afastar-se foi a coisa mais dura que Ewen já fez. Ele amaldiçoou cada passo que o levava para longe dela. Sua honra e lealdade foram empurradas a ponto de quebrarem, deixando-o sem lugar algum para ir.
CAPÍTULO 16
Janet não entendeu o que tinha acabado de acontecer. Num minuto estava ali com ela e estavam tão perto quanto duas pessoas podiam estar, no outro ele estava em outro lugar. Em algum lugar que não podia alcançá-lo. A ferocidade de sua expressão a alarmou. Ele parecia quebrado — torturado. Ela chamou atrás dele enquanto ia embora, mas agiu como se não a ouvisse e seguiu em frente.
Deixando-a deitada. Literalmente de costas. Se ela não estivesse tão confusa, poderia ter chorado. Como ele ousava deixá-la desse jeito! Estava pronta — ansiosa — para experimentar isso tudo. Ela se entregou a ele, e ele a rejeitou.
Sozinha e sem o calor do seu corpo, ela estremeceu. O frio da manhã nublada mais uma vez se infiltrou em seus ossos. Mas não era nada comparado ao que estava por vir. Sem escolha além de fazer o que ele disse, ela então passou dois, talvez três dos minutos mais desagradáveis de sua vida, banhando-se no lago de água gelada debaixo da cachoeira.
Forçar seus pés a sair da beirada rochosa não era nada fácil. Só de saber que ela era a culpada pelos ingleses estarem perseguindo-os a compelia adiante. Ela saltou. Dizer que a água era um choque era um eufemismo de proporções gigantescas. Isso filtrou cada pedacinho de sensação de seus ossos, tirando sua letargia e qualquer memória prolongada do que tinha acabado de acontecer com isto. Mas ela nunca esqueceria. Ele lhe mostrou um vislumbre do céu e nada podia levar isto. Nem ele, nem a água. Nada.
Rompendo a superfície, ela esfregou seu cabelo e membros com a lasca de sabão, não tentando apenas apagar o “fedor” dos jacintos, mas também manter o sangue se movendo assim não morreria congelada. Sair não forneceu muito alívio. Seus dentes ainda estavam chacoalhando minutos mais tarde quando ele retornou. Ela não teve que perguntar onde foi. Pelo seu cabelo úmido, percebeu que ele também tomou banho, embora mais abaixo no rio.
Seu olhar a varreu. Se ficou agradado ao ver que fez como ele disse, ela não podia dizer. Toda evidência da expressão torturada saiu de seu rosto, suas feições mais uma vez estampadas em uma máscara em branco. A falta de emoção a irritava. Como ele podia estar tão inalterado, quando ela estava tão afetada? Sua boca se comprimiu, raiva atravessando um pouco da confusão.
— Precisa de ajuda?
Aparentemente ele notou a dificuldade que estava tendo em se vestir. Embora tivesse conseguido vestir uma de suas camisas e calções de lã, a camisa já estava meio ensopada por seu cabelo molhado e seus dedos não estavam cooperando quando ela tentou puxar os calções.
Ela sacudiu a cabeça. Como uma oferta de paz — se é o que isso era — não foi o suficiente. Ele a rejeitou, deixando-a daquele jeito, e ela não o deixaria fingir que nada aconteceu. Como se a colocando nas suas roupas pudesse apagar a evidência da memória! Ela estava quase se embrulhando no plaid novamente quando ele a deteve.
— Você não pode vestir nada que usou antes. Deixaremos isto com as outras coisas.
— Mas isso pertence a Eoin e é quente.
Ela pensou que sua boca repuxou um pouco mais apertada.
— MacLean vai entender — Ewen tirou seu próprio plaid e o estendeu para ela. — Pode vestir o meu.
Seus olhos se prenderam por um longo minuto, como se existisse algum tipo de significado além do calor que isso ofereceria, mas então ele desviou o olhar e o momento se foi.
Ela tomou o plaid e depressa o envolveu ao redor de si mesma, incapaz de conter o suspiro de prazer quanto o calor envolvia seus membros congelados. O calor do corpo dele parecia capturado no intricado entrelace dos fios de lã. Se ela inalasse (o que ela fez), podia só pegar um leve cheiro do familiar pinho e couro.
Depois de alguns minutos ela estava aquecida suficiente para terminar de se vestir. Juntou as mechas ensopadas de seu cabelo em uma trança apertada na nuca e calçou as botas. Pelo menos ele não insistiu que ela fosse descalça. Ele estendeu um pedaço de corda, a qual ela olhou inexpressivamente.
— Para os calções — ele explicou. — As amarras não parecem estar funcionando muito bem.
Realmente, ela constantemente tinha que puxar as calças para cima para não escorregarem por seus quadris. Ainda assim, eram melhores que suas outras opções: seu hábito ou o belo vestido que Mary mandou buscar para ela apresentar-se na corte.
Ela enfiou a camisa de linho nos calções e juntou um bolo ao redor de sua cintura, usando a corda como cinto. Notando o modo que os olhos dele caíram em seus quadris, demorando com fome quase palpável por um momento, até que ele forçou seu olhar para longe, ela teve certeza de levar seu tempo. Vingança insignificante talvez, mas que se provou surpreendentemente satisfatória.
O cinto adicional ajudou, e alguns momentos mais tarde, depois que ele amarrou sua antiga roupa emprestada ao redor de uma pilha de pedras e a lançou no lago, ele juntou os pertences deles para irem embora.
Mas Janet não estava pronta para partir. Não sem uma explicação. Ela pegou seu braço antes dele poder ir embora.
— Por que você parou daquele jeito? Eu fiz algo errado?
Sua mandíbula apertou, seu olhar azul de aço se encontrou com o dela.
— Não agora, Janet. Precisamos nos mover mais alto nas colinas. Eles não desistirão da caça.
— Talvez não, mas a menos que você ache que eles estão bem atrás de nós, certamente pode me dar alguns minutos. Não mereço algum tipo de explicação?
A expressão dela se tornou aflita.
— Você não fez nada errado. Foi minha culpa. Nunca devia ter acontecido.
— Por que não?
Seus olhos faiscaram quentes.
— Porque não é certo. Sua inocência pertence ao seu marido, maldição.
Janet endureceu, tentando não exagerar ou ficar desapontada. Sua reação era compreensível — era como a maioria dos homens pensava. Mas ela não queria que ele pensasse como a maioria dos homens. Queria que a visse por ela mesma e não como uma posse ou acessório. Era demais pedir isso?
Às vezes ela podia quase se convencer que ele era diferente. Que sua irracionalidade era apenas resultado da inexperiência. Que ele não conhecia nada melhor, mas que uma vez que conseguisse conhecê-la a veria como… o que? Capaz. Certamente não uma virgem para ser trocada e vendida como uma vaca premiada.
— Minha inocência pertence a mim — ela disse firmemente. — É minha para perder ou não.
— Eu queria que fosse verdade. Mas não é tão simples, Janet. Você é a filha de um conde e cunhada do rei. Seu marido vai esperar...
— Que marido? Não sou casada, nem pretendo ser.
Sua veemência o levou para trás.
— Você soa tão certa.
Ela ergueu o queixo.
— Estou.
— Você está seriamente considerando se tornar freira?
Depois do que tinha acabado de acontecer, isso soou da mesma maneira improvável para ela. Mas faria o que devia.
— Se esta for minha única alternativa ao casamento.
— Você faz o casamento soar como uma sentença de morte. Realmente seria tão horrível?
Ela pensou em sua família. Sim, seria. Como ela podia explicar? Como podia fazê-lo entender o que para ele — para a maioria dos homens — deve parecer antinatural?
— Eu me perderia.
A sobrancelha dele franziu.
— Como?
— Eu não teria mais a capacidade de controlar minhas próprias ações. Tudo, até a menor decisão, seria controlada por meu marido. Minha vontade não seria mais minha. Não tenho nenhuma vontade de ser tratada como uma posse.
Ele franziu o cenho.
— Não é sempre assim.
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Então você conhece muitos homens quem tratam suas esposas como iguais?
Seu cenho franzido aprofundou.
— Alguns.
Seu coração saltou adiante. Isso o incluía?
— E você permitiria a sua esposa o poder de tomar suas próprias decisões ainda que elas não concordassem com as suas?
— Não estamos falando sobre mim.
— Não, não estamos — disse baixinho, seu coração apertando com inesperada decepção. Ela não podia ter estado pensando nele como marido, não é? — Mas queria saber minhas razões e você é um exemplo perfeito. Deixou seus pensamentos sobre o que estou fazendo bastante claro. Por que podia esperar que outro homem se sentisse de forma diferente? Pode imaginar um marido permitindo que eu continuasse meu trabalho?
Sua boca apertou teimosamente.
— Seu trabalho é perigoso.
— Então preciso ser protegida de mim mesma, é isso? — Não surpreendentemente, ele não respondeu. Ela decidiu devolver a pergunta a ele. — Por que está tão certo que eu não devia estar fazendo isto? Por que tem tão pouca consideração com as mulheres ou é só eu?
Ele pareceu chocado.
— Jesus, Janet, só porque não penso que é seguro para você vagar por toda parte da Escócia sozinha no meio de uma guerra, realizando algo que pode fazê-la ser morta se for descoberta não significa que penso menos de você. Diabos, já se provou para todo mundo depois de hoje. Você agiu tão bem quanto qualquer homem — o peito dela se ergueu ante suas palavras. Ele não fazia ideia do quanto elas significavam para ela. — Mas ser mulher a torna vulnerável de modos diferentes. Quando penso no que podia acontecer a você… — seu rosto escureceu e seus olhos tomaram uma cobertura assombrada. — Maldição, tem alguma ideia do que os ingleses fariam com você se descobrissem o que estava fazendo?
Existia algo mais no trabalho aqui do que simplesmente sua visão em papéis tradicionais para homens e mulheres. Obviamente ele estava falando de experiência pessoal.
— Diga-me o que aconteceu.
Sua mandíbula apertou tão firmemente que ela podia ver o músculo abaixo começando a repuxar.
— Foi há alguns anos, não muito depois que nós chegamos à Escócia depois de sermos forçados a nos refugiarmos nas Ilhas por alguns meses. — Ela engoliu em seco. Foi quando seu irmão Duncan tinha sido morto. — Nós estávamos sendo caçados, a maré ainda não tinha virado, e um punhado de aldeões, principalmente mulheres e crianças, ajudaram a nos esconder nas colinas. Os ingleses descobriram, e quando nós voltamos para agradecê-los — seus olhos encontraram os dela — não tinha restado ninguém para agradecer. As mulheres foram estupradas e espancadas antes de terem suas gargantas cortadas. Só uma moça sobreviveu.
Janet ofegou. Apesar dele ter falado com sua aspereza habitual, ela podia ouvir a emoção em sua voz e perceber o quanto deve ter sido horrível.
— Não foi culpa sua.
— Claro que foi — ele estalou. — Nós pedimos ajuda a eles, nunca imaginando o risco que estávamos pedindo que corressem.
— Mas eles teriam feito isto de qualquer maneira — ela disse suavemente. — Mesmo sabendo, eles teriam te ajudado.
— Como pode saber disso?
— Porque eu teria feito o mesmo.
Ele olhou fixamente para ela, não dizendo nada por um momento.
— Por que ser mensageira é tão importante para você?
— O porquê não devia importar. O fato em si deve ser suficiente — era demais esperar que um homem pudesse entender isto? — Não pergunto a você por que faz o que faz. Só porque não uso armadura e levo uma espada não faz o que faço menos importante. — Ela fez uma pausa. — Esta guerra não será ganha só pela espada, Ewen. Como você acha que os fantasmas de Bruce sabem o lugar certo para atacar? — Ele a estava observando atentamente. — Bons espiões passaram por mensageiros.
Ela deixou como estava, não querendo dizer mais.
Ele pareceu considerar o que disse, mas se deu a isto qualquer peso, ela não podia dizer.
— Isto é sobre sua irmã?
Ela endureceu.
— Sobre o que você está falando?
— Você não tem que se provar ou reconciliar pelo que aconteceu na ponte. Mary não te culpa. Se você só soubesse o quão desesperada ela esteve para te achar e quão ansiosa está para ter você de volta.
O coração de Janet devorou cada palavra. Era verdade? Ela queria acreditar nele e ansiava questioná-lo, mas isso significaria reconhecer para si mesma que suas palavras guardavam alguma verdade.
— Minha irmã não tem nada a ver com isso. Não é suficiente querer ajudar? Sempre tem que haver uma razão adicional? E você, por que está aqui, Ewen? O que fez você decidir ser um dos fantasmas de Bruce?
Ele fez uma cara feia, mas não mordeu a isca.
— Eu me juntei ao exército de Bruce porque meu suserano, e um homem que eu respeitava acima de todos os outros, pediu que o fizesse. Fiquei para livrar meu clã da extinção.
Os olhos dela se arregalaram pela honestidade cega. Nada de febre ou falas patrióticas de liberdade e tirania dele, somente ambição e recompensa.
— Seu pai? — Ela perguntou.
Levou um momento para perceber o que ela queria dizer. Quando entendeu, ele riu.
— Dificilmente. Meu pai não era homem de inspirar muita devoção. Não, falo do antigo Stewart, Sir James Stewart.
Janet não pode esconder a surpresa. Era este o senhor que ele falou quem o criou? Os Lordes Stewart de Bute eram um dos clãs mais importantes do país. — Você é conectado aos Stewarts?
Um sorriso torto virou sua boca, como se ele adivinhasse a direção de seus pensamentos.
— Não próximo. Minha mãe era prima de Sir James, sua prima favorita, quando isso aconteceu. — Vendo sua confusão, ele suspirou como se resignando a ter que dizer mais. — Minha mãe era noiva do Chefe dos Lamont quando ela conheceu meu pai, um dos seus comandantes, e decidiu casar com ele em vez do outro. Desnecessário dizer, o chefe dos Lamont não ficou muito feliz. Ele foi à guerra com meu pai e o teria destruído sem a ajuda de Sir James. — Ele sacudiu a cabeça. — Ironicamente foi meu pai sendo cortado do resto do clã que me deu a habilidade para salvar isto.
— O que você quer dizer?
— Tipo os MacDougalls, MacDowells e Comyns, meu primo, o chefe atual, e os membros do seu clã ficaram contra Bruce, foram exilados e tiveram as terras do clã desapropriadas, com exceção das minhas terras em Ardlamont. Se não fosse pela minha conexão com os Stewarts, e deste modo com Bruce, eu estaria com eles. Como isso está, sou o último Lamont em Cowal. Meu clã vive ou morre com a habilidade da minha espada, por assim dizer.
Janet estava atordoada. Não é de se espantar que ele parecia tão teimoso e com um único objetivo em mente sobre cada missão. O futuro do que foi uma vez um grande clã descansava em seus ombros largos. Mas outra coisa mais que ele disse deu a ela um sussurro de possibilidade.
— Você é um chefe?
Ele segurou seu olhar.
— Não fique muito impressionada, minha senhora. É só uma propriedade secundária, com metade de um castelo.
As sobrancelhas dela franziram, não entendendo o sarcasmo.
— Até o rei te recompensar com mais pelo seu serviço?
Ele deu de ombros.
— Se for da sua vontade.
Ela olhou-o especulativamente. Apesar de ele ter dito isto com indiferença, sentiu o quanto importava para ele. Era isso que o conduzia. Recompensa e uma posição para seu clã sob a monarquia de Bruce. Também fornecia outra explicação para o porquê dele ter parado. Despojar a cunhada do rei dificilmente agradaria a Robert.
Mas não havia nenhuma razão para que Robert algum dia descobrisse. Não que ela pensasse que isso provavelmente influenciaria Ewen. Estava provando ter uma raia de honra inconveniente nele.
Ela mordeu o lábio, perguntando-se se existia outro modo. Apesar de sua continuada rejeição e comportamento apavorantes em se afastar dela no meio do ato de amor, ela ainda o queria e não iria desistir.
Por que isso era tão importante para ela, não sabia. Ou era uma glutona por castigo ou existia algo verdadeiramente especial entre eles que valia a pena os golpes continuados no seu orgulho. E havia a paixão. A inegável atração que surgiu entre eles como uma fogueira. Ela não podia descontar isto.
Em todo caso — eu não posso fazer isto — não era uma resposta que ela tinha intenção de aceitar. Soava demais como não. Se a voz de Mary sussurrou um aviso, Janet empurrou isto de lado. Ela sabia o que estava fazendo. Além disso, não havia ninguém mais por perto para ser magoado.
Ele esquadrinhou a área atrás dela.
— Nós descansamos tempo suficiente.
Ela ergueu uma sobrancelha em questionamento. “Descansar” não era como descreveria o que eles fizeram. Se não estivesse certa que era impossível para ele corar, teria jurado que suas bochechas escureceram enquanto entendia o que ela estava querendo dizer.
— Aye, bem, você poderá dormir assim que tiver certeza que nós os despistamos.
— Acho que eu preferiria fazer um pouco mais de descanso.
Ele disparou a ela um olhar repreensivo.
— Janet…
Ele poderia estar dando bronca em um filhote malcriado. Ela piscou para ele inocentemente.
— O que?
— Não vai acontecer. Eu disse a você que foi um erro. Está acabado. Acabou.
Ela sorriu, sabendo que nenhum deles acreditou nisto. Não estava acabado, acabou de começar.
Ewen os empurrou impiedosamente, tanto para colocar o máximo de distância entre eles e os ingleses quanto para mantê-la ocupada demais para conspirar sua queda.
A moça era problema. E teimosa.
Audaciosa demais pro seu gosto. Também era inteligente.
Dolorosamente doce. E de longe mais forte do que ele esperava.
Não podia acreditar que ela ainda estava de pé. Até este momento foi caçada por cachorros, atacada por um cavaleiro inglês, matou o dito cavaleiro com um punhal bem colocado na perna, marchou por quilômetros afundada até os joelhos em um rio gelado, sofreu um banho naquela água gelada, e caminhou por quilômetros acima de colinas congeladas e cobertas de névoa. Como se não bastasse, também estava por um fio de cabelo da ruína.
Um orgasmo não podia compensar tudo aquilo. Apesar de ter sido um inferno de um orgasmo. Ele não achou que algum dia esqueceria o olhar de êxtase e surpresa em seu rosto enquanto seu corpo desintegrava debaixo dele. O fluxo de cor para suas bochechas, os olhos entreabertos e nebulosos de paixão, os lábios suavemente separados inchados do seu beijo.
Jesus. Calor inchava sua virilha penosamente abusada. O alívio que ele tomou em sua mão depois de deixá-la mal resolveu. Como ele manteria suas mãos fora dela até que alcançassem a costa, quando tudo que conseguia pensar era sobre terminar o que eles começaram?
A moça invadiu seus sentidos, penetrou suas defesas e deslizou debaixo de sua pele. A queria com cada fibra de seu ser. Mesmo exausto, sua perna queimando, com frio e faminto, ele não podia olhar para ela sem pensar sobre lançá-la no chão, entrelaçar aquelas pernas longas e esguias ao redor de sua cintura, e dar a ela exatamente o que estava pedindo.
Então ele fez o que qualquer guerreiro destemido faria: não olhou para ela.
Mas não sabia quanto mais disso podia aguentar. Mais descanso… diabos! Ela estava tentando matá-lo? Deus sabia por que, mas a moça enfiara na cabeça em entregar-lhe sua inocência. Ela tinha alguma ideia do quanto era difícil para ele recusar esse tipo de oferta?
Claro, ela não sabia, e depois de ouvir seu ponto de vista sobre o casamento, ele com toda certeza não iria iluminá-la. Não tinha nenhuma dúvida que teria que arrastá-la chutando e gritando a distância toda até Dunstaffnage. Bruce teria um inferno de uma batalha em suas mãos quando ela descobrisse sobre seus planos.
A pior parte era que ele não estava certo que a culparia por isso. Ele nunca considerou o casamento da perspectiva de uma mulher antes, mas tinha que admitir, suas preocupações não eram sem mérito. Sempre deu como garantido o papel do homem de autoridade absoluta. Para uma mulher como Janet que estava acostumada a tomar suas próprias decisões, seria sufocante. Ela se irritaria contra aquelas ligações a cada volta.
Mas qual era a alternativa? Ewen não era como MacKay, ele não podia deixar sua esposa segui-los na batalha. Franziu o cenho. Embora esteve agradecido mais de uma vez por ter uma curandeira qualificada à mão.
Helen é diferente, disse a si mesmo.
Mas Janet não era?
Eles escalaram um pequeno platô na colina e ele parou. Apesar de ser apenas algumas horas depois do meio-dia, a luz do dia já estava desvanecendo.
— Espere aqui — ele disse apontando para um rochoso afloramento. Como fez a cada pouco quilômetro, deixou-a recuperar o fôlego enquanto ele circulava de volta para tentar esconder a trilha deles. A neve no chão endurecia conforme a temperatura caía quanto mais alto que eles subiam na montanha, tornando mais fácil fazer isso. Mas onde o chão era muito suave, em vez de esconder, ele começaria a confundir seus perseguidores andando para trás, interrompendo em outras direções durante algum tempo ou fazendo várias pegadas em uma área. Quando retornou alguns minutos mais tarde, ela estava acomodada em uma das pedras, olhando para ele.
— Alguém está nos seguindo?
Ele sacudiu a cabeça. Mas algo a deixou curiosa.
— Por que você parou para olhar a samambaia lá atrás?
Ele se sentou ao lado dela e tirou seu odre. Depois de tomar um longo gole, ele entregou a ela.
— Alguns dos talos estavam quebrados por onde nós passamos.
Ela franziu o cenho.
— Pensei que você estava escondendo nossas pegadas.
— Estou escondendo nossa trilha.
— Não é a mesma coisa?
Ele balançou a cabeça.
— Estou procurando por qualquer perturbação na paisagem, não apenas pegadas. Qualquer sinal que alguém pode ter passado.
— E você pode dizer por alguns galhos quebrados que alguém passou.
Ele deu de ombros.
— É um sinal.
Ela deu a ele um longo olhar.
— Como você se tornou tão bom nisto?
— O escudeiro do meu pai era um rastreador. Costumava me levar com ele quando eu era pequeno e mais tarde quando voltei da guarda. Ele notou que possuía uma memória incomum para detalhes e me ensinou como usar essa habilidade para rastrear. Mas é principalmente experiência. — Anos e anos de saber pelo que procurar.
— Que tipo de detalhes?
— Olhe atrás de mim — ele esperou alguns momentos. — Agora feche os olhos e me diga o que você viu.
Ela olhou de volta para ele.
— Isto é um truque? Só tem uma área plana de charneca suja de neve, com algumas pedras espalhadas sobre ela.
— Olhe novamente — ele não virou, mas chamou a imagem de memória. — As pedras espalhadas sobre os pântanos são arenito Graywacke, mas cerca de vinte passos atrás de mim têm algumas pedras de granito empilhados que é provavelmente o início de cume de um monte de pedras. Justo à esquerda, você pode ver os contornos de um caminho estreito vindo do Norte onde a grama foi pisada, provavelmente por lebres da montanha, se a pilha de excrementos perto é qualquer indicação, e a neve é ligeiramente mais baixa. Próximo aos caminhos da grama do pântano púrpura se esticando através da neve no lado oeste da colina está a trilha de um grupo pequeno de cervos vermelhos. Diretamente acima do meu ombro esquerdo, mais ou menos cinco passos atrás de mim, tem uma pequena protuberância na neve. Se olhar de perto, você pode ver algumas penas castanhas espetando a neve. Suspeito que é a carcaça de uma perdiz trazida aqui para baixo por um tartaranhão azulado ou falcão peregrino.
Ela ficou boquiaberta.
— Você nem olhou.
— Fiz mais cedo. Eu disse a você, tenho uma memória incomum.
— Digo mais. Tem um olho agudo para detalhes — ela sorriu deleitada. — Pelo que mais você procura?
Ele não estava acostumado a um público tão ávido, mas como o assunto claramente a interessava e sabendo que isso ajudaria a passar o tempo, ele explicou alguns princípios básicos, tal como minimizar sua impressão na paisagem e ter certeza que nenhum sinal foi deixado para trás, táticas de engano para esquivar de seus perseguidores, tais como andar para trás, dar a volta, pular pedra e andar na ponta do pé. Como se mover com o vento para esconder seu odor, como evitar mudar de direção em lugares óbvios, e como quebrar uma trilha de odor como eles fizeram com os cachorros. Ela o escutou com a atenção extasiada, claramente fascinada.
— Cada vez que você dá um passo — ele disse — procure por pedras, chão duro, remendos de gelo, estradas ou caminhos existentes, musgos flexíveis, coisas assim. Seus passos serão menos visíveis.
— Achei difícil — ela disse.
Isso era um modo de colocar, mas ele tentava não pensar sobre — muito — dado seus problemas numa certa área.
Ela olhou para ele.
— Parece tão óbvio agora que você apontou, mas nunca percebi.
— A maior parte do que faço é bom senso. Você só tem que pensar sobre isto.
— Você está sendo modesto — ela inclinou sua cabeça para trás para olhar para ele. — Não é de espantar que Robert quisesse você para seu exército secreto. Posso imaginar que uma habilidade como a sua é útil para homens que querem parecer com fantasmas.
Podia sentir seus olhos nele, então teve cuidado de não reagir. Maldição, a moça era incansável! Ele devia ficar surpreso por ela ter descoberto, mas não estava. Ela podia encontrar problemas mesmo sem procurar por eles.
— Você não vai dizer nada?
Ele virou para olhar para ela, seus olhos mergulhados nos dela.
— Eu preciso te dizer quanto perigo você pode nos colocar só de mencionar o assunto, independente se é verdade?
O olhar dela nunca oscilou.
— Mas é verdade. Sei que é.
Claramente, não iria dissuadi-la. Sabia que devia tentar. Ele fez um juramento, e não era só sua própria vida em jogo, mas não queria mentir para ela. Então fez a segunda melhor coisa e disse: — Vamos. A hora de descanso acabou.
Ela gemeu.
— Mas nós acabamos de sentar. Você só está tentando evitar minhas perguntas — ele não negou. — Os ingleses não estarão nos perseguindo para sempre, Ewen. Um dia desses você não poderá evitar responder.
Ele não sabia, era bom para caramba em evitar coisas. Exceto com ela — o que era parte do problema. Não respondeu, simplesmente esticando sua mão ao invés disto. A ajudou a ficar de pé — com outro gemido dramático da parte dela — e partiram.
Embora estivesse bastante certo que eles despistaram seus perseguidores, ele queria alcançar o próximo cume ao anoitecer. Havia um velho campo de pedra onde eles podiam se abrigar. Era muito perigoso vagar ao redor destas montanhas na escuridão, especialmente com a neblina. De manhã, trataria de achar cavalos para levá-los para Ayr, onde com toda certeza esperavam MacKay e MacLean, e Sutherland os alcançaria.
Ensiná-la sobre rastreamento provou ser um modo efetivo de passar tempo, distraindo-os — ele de pensar sobre a dor em sua perna e o destino de seus amigos, e ela de fazer mais perguntas que ele não podia responder sobre a Guarda das Highlands. Era uma aluna ávida, surpreendendo-o com seu interesse, como também com quão rapidamente ela parecia aprender.
Foram capazes de se mover em um ritmo muito mais rápido desde que ela se tornou mais consciente dos sinais que estava deixando para trás conforme eles subiam, e deste modo ele não precisou passar tanto tempo voltando para cobri-los.
Devia tê-la instruído mais cedo. Por que não o fez? Essa era uma das primeiras coisas que fazia com os homens sob seu comando. Ele tinha pensado que os princípios eram muito difíceis de aprender ou que era somente para homens?
Ela estava certa, percebeu. Ele assumiu que porque não usava armadura e carregava armas, estava mal equipada para guerra. Mas Janet de Mar parecia estar mudando na cabeça dele muitas de suas noções preconcebidas sobre mulheres. Ela não era frágil ou impotente. Era forte e capaz. Capaz para caramba, na sua opinião.
Embora pudesse estar disposto a admitir que ele subestimou suas habilidades, não estava errado sobre o perigo. Ela pode ter se defendido do cavaleiro hoje, mas sem o elemento surpresa — ou se houvesse mais de um homem — estaria tão morta quanto aquelas mulheres em Lochmaben. Ainda que ela fosse a melhor maldita mensageira na Escócia, isso não anulava seu instinto de protegê-la.
Mas ela precisava de proteção?
Pensou na conversa deles sobre as mulheres em Lochmaben. Ele nunca acreditaria que uma mulher podia entender o perigo e ainda querer ser envolvida. Justo como ele, ela assinalou. Isso era ridículo, não era?
Quando a sombra do campo apareceu no horizonte, Ewen alcançou um de seus objetivos: a moça estava exausta. Exausta demais para fazer qualquer coisa além de entrar nas dobras do plaid que ele estendeu para ela como cobertor, depois de limpar totalmente os excrementos dos antigos ocupantes animais, e dormir.
A virtude — e a honra dela — estava segura. Por enquanto.
Mas quando subiu para pequena cabana de pedra deitando-se ao lado dela algumas horas mais tarde, e ela instintivamente encostou-se nele, enterrando-se em seus braços, algo duro e pesado se alojou no seu peito. O peso da inevitabilidade? A certeza pedregosa do destino? Porque nada nunca pareceu mais perfeito. Sozinho em uma montanha, abrigando-se em uma cabana de pedra destinada para ovelhas enquanto estavam sendo caçados por ingleses, ele nunca se sentiu mais contente.
Ele dobrou seu braço debaixo do peito dela, aconchegou sua bundinha na sua virilha, enterrou seu nariz na maciez sedosa dos cabelos dela, e saboreou cada minuto de segurar a mulher que não era dele, mas que com toda certeza se sentiu como se fosse.
CAPÍTULO 17
Janet despertou de estalo. Levou alguns apavorantes segundos para lembrar onde estava, mas eventualmente começou a respirar uniformemente de novo. O campo de pedra na montanha. Com Ewen.
Ela franziu o cenho. Ewen, que não estava em nenhum lugar por ali. Não precisou procurar pela cabaninha de pedra para ver que ele se fora, podia dizer pelo frio vazio atrás dela.
Ele dormiu ao lado dela. Instintivamente sabia disso. Não que pudesse lembrar, caramba. A última coisa de que se lembrava era estar enfiada debaixo das dobras quentes do seu plaid. Estava tão cansada que adormeceu no momento que seus olhos fecharam.
Ele provavelmente contaria com isto, o idiota. A fez marchar estas colinas acima até que estava cansada demais e com frio para fazer qualquer coisa além de desabar. Tudo que podia recordar era uma sensação de calor e satisfação. De estar perfeitamente relaxada e aquecida em sua cama, aliviada pelos eventos do dia.
Ele a segurou, ela percebeu.
Janet balançou a cabeça com moderado desgosto. A única vez que ele a tomou em seus braços e segurou, e ela nem esteve acordada para apreciar! Se não estivesse tão certa que existia algo especial entre eles, as tentativas dele para evitá-la poderiam ter sido desmoralizantes.
Ela tinha acabado de fechar o plaid quando o idiota em questão meteu a cabeça pela porta baixa da cabana. Ele teve que abaixar ligeiramente para ficar do lado de dentro, já que o telhado abobadado tinha só mais ou menos um metro e oitenta de altura no centro.
— Você está acordada? Não pensei que você se levantaria até o meio dia.
A princípio ela pensou que ele a estava criticando, mas então percebeu que a estava provocando. Ela deu a ele um olhar conhecedor.
— Fiquei com frio sem você ao meu lado.
O rosto dele ficou em branco — muito em branco.
— Fiquei lá fora a maior parte da noite, mantendo vigia — ele estendeu o odre antes que ela pudesse discutir. — Pode usar isto para se lavar até que alcancemos um regato.
Ela tomou a bolsa d’água agradecida. Seus olhos e dentes pareciam que estavam com areia. Tudo que precisava era um pente — que devia estar em uma das bolsas — e poderia até se sentir humana novamente. Ela pensou sobre cutucá-lo sobre o arranjo deles de dormir, mas decidiu deixar para lá — no momento. Ao invés disto, perguntou: — Que regato?
— Próximo à aldeia de Cuingealach. Precisamos de um cavalo. Os ingleses parecem ter desistido da perseguição, mas quero colocar o máximo possível de distância entre nós.
Um plano sábio. Mas algo a estava incomodando.
— Em primeiro lugar, por que você acha que eles estavam nos perseguindo?
Ele hesitou, aparentemente cuidadoso com suas palavras.
— Tivemos alguns problemas a caminho de encontrar você em Roxburgh.
— Então eles estavam procurando por você?
— Provavelmente.
O conhecimento aliviou sua consciência um pouco sobre perder a touca. Não tinha sido tudo culpa sua. Além disso, como ela esperava que fosse difícil convencer Robert a deixá-la retornar para Roxburgh depois do que tinha acontecido, o fato que os soldados tinham ido atrás de Ewen e dos outros, e não dela, ajudaria. Claro, não havia dúvida de Ewen a escoltaria de volta. Era perigoso demais para ele. Mas não seria para a Noviça Eleanor.
— Acha que estamos muito atrasados? Devo estar de volta a Roxburgh dentro de quinze dias.
Uma expressão estranha cruzou seu rosto. Ele desviou o olhar quase desconfortavelmente.
— Você vai ter bastante tempo. Mas devemos ir.
— E Sir Kenneth? Como ele vai saber como nos achar?
— Não se preocupe com Sutherland. Ele nos alcançará se puder.
Se. Ela captou algo em sua expressão que por estar assustada e chateada demais não notou antes. Um leve escurecimento dos olhos e aperto ao redor da boca.
Janet ficou quieta enquanto o horror lentamente caiu sobre ela.
— Você acha que algo aconteceu com o marido da minha irmã?
Como se Mary já não tivesse motivos suficientes para odiá-la.
Ela deve ter parecido tão atingida quanto soou porque ele amaldiçoou, passando os dedos por seu cabelo.
— Maldição, não foi isso que eu quis dizer. Tenho certeza que ele está bem.
— E se ele não estiver?
Ele pegou seu queixo e inclinou o rosto dela em direção ao seu.
— Se não estiver, não tem nada a ver com você. Isto é o que ele faz, e às vezes — a maior parte das vezes — é perigoso. Mary sabe disso.
Janet acenou com a cabeça, mas em seu coração não podia aceitar isto. Se qualquer coisa acontecesse ao marido de sua irmã, Janet nunca se perdoaria.
Uma touca. A porcaria de uma touca! Ele não podia ter morrido por causa de algo tão insignificante... podia?
Lágrimas encheram seus olhos. O polegar de Ewen acariciou sua bochecha, como se ele as enxugasse antes delas poderem cair. A gentileza entrou em seu coração e não foi embora.
Eu podia amá-lo.
Com o menor encorajamento, ela podia amá-lo. A realização do quão fácil seria se levantar e agarrá-la pela garganta, inspirava tanto temor quanto e pavor. Isso mudaria tudo.
Ele parecia que iria dizer algo mais, mas ao invés disso deixou a mão cair do seu rosto e se afastou.
— Prepare-se e coma alguma coisa enquanto dou outra olhada por aí. A névoa não está tão espessa esta manhã e quero estar fora destas montanhas antes que se levante.
Ele tinha quase atravessado a entrada quando ela gritou.
— Ewen!
Ele girou e olhou-a por cima do ombro. O coração dela apertou. Com seu cabelo escuro, olhos azuis como aço, feições rústicas e mandíbula com sombra de barba, ele parecia tão rudemente bonito que doía. Por que ele? Depois de todos esses anos, por que este homem tinha finalmente ameaçado seu coração?
— Obrigado.
— Pelo que?
Ela corou. Por estar aqui com ela. Por mantê-la a salvo e aquecida. Por segurá-la em seus braços. Por lhe trazer água para se lavar esta manhã. Por não a culpar e tentar fazê-la se sentir melhor.
— Por tudo — ela disse suavemente.
Confusas, as sobrancelhas dele franziram ligeiramente, mas ele assentiu.
Um pouco tempo depois eles estavam subindo mais as colinas, continuando em direção ao leste. Apesar de descansadas, suas pernas ainda estavam doloridas da véspera e ela ficou feliz que ele aliviou o ritmo um pouco.
Franzindo o cenho, perguntou-se se a perna dele o estava incomodando. Mas depois de observá-lo durante algum tempo, não descobriu qualquer sinal de dano ou dor e concluiu que o unguento deve ter funcionado.
Estava certo sobre a névoa. Não demorou, erguendo-se no meio da manhã, quase ao mesmo tempo em que eles alcançaram o riacho do qual ele tinha falado. O fluxo era mais ou menos de quase um metro de largura atravessando um desfiladeiro profundo. Era bonito, estabelecido na paisagem de musgo, pedra e uma leve camada de neve, mais precisamente, atalhos de neve, à medida que o sol morno já estava derretendo o fôlego gelado do inverno. Ela tomou seu tempo, lavando o rosto e as mãos, e apreciando o momento de paz. Ela devia saber que não duraria.
Ewen apertou os dentes pela batalha adiante. Ele devia saber que ela não iria gostar do seu plano. Deus, todas as mulheres tinham tantas opiniões? Pensando nas esposas dos seus soldados, suspeitou que elas tinham.
Diabos, o que estava acontecendo com ele? Tinha sido tão mais fácil quando não pensava sobre o que uma moça pensava ou queria. O olhar dela deslizou por cima dele em uma silenciosa zombaria que certo como o inferno não devia deixá-lo quente, mas seu membro não parecia notar seus olhos faiscantes.
— Uma muda de roupa não esconde o que você é, Ewen. Qualquer um que olhar para você vai ver que é um guerreiro — a observação o agradou muito mais do que devia. Como fez o modo que os olhos dela se demoraram de forma apreciativa em seus ombros e braços. — Deixe-me ir com você, eu posso ajudar. Você será menos óbvio com uma esposa a seu lado.
Lembrando o quão bem isso terminou na primeira vez, ele declinou.
— Estou comprando um cavalo, Janet. Fiz isso centenas de vezes antes. Não existe nada com que se preocupar. Estarei de volta antes de você sequer perceber que fui.
Ela balançou a cabeça.
— Mas e se tiverem soldados ali?
— Não haverá. Como você pode ver — ele apontou lá embaixo no vale para dúzia ou mais de construções e a igrejinha aninhada na ladeira, — é uma aldeia pequena. Nenhum castelo significa nenhum inglês.
— Eu posso te ajudar. Lembra o que aconteceu na pousada? Sou boa em falar com as pessoas.
E ele não era. Mas podia pechinchar bem para caramba por um cavalo. Sabendo que eles estariam de pé aqui para sempre se não fizesse algo, Ewen tentou um caminho diferente. Um que tinha mais verdade do que ele queria admitir.
— Não é por isso que não quero que vá. Sei que podia ajudar, mas tendo você comigo poria a ambos em perigo.
— Por quê?
— Eu estaria preocupado com você. Focado em você. Você me faz...
Ele não sabia como explicar. Fraco. Vulnerável. Palavras que ele nunca usou para descrever a si mesmo antes.
Cristo! Se ela notasse seu desconforto, isso não ia impedi-la de perguntar.
— Faz você o que?
Ele estabeleceu.
— Distraído.
Sua resposta não pareceu satisfazê-la. Ela enrugou o nariz delicadamente, franzindo-o.
— Vou ficar fora do caminho, você nem vai saber que estou lá.
Como se isso fosse possível.
— Sempre sei quando você está lá.
— Por quê?
— Por quê? — Ele repetiu, não tendo antecipado a pergunta.
— Aye, por que você sempre sabe que estou lá? Por que sou tão diferente?
Sua mandíbula endureceu.
— Você sabe por que.
Ela ergueu o queixo de uma maneira que disse a ele que pretendia dificultar as coisas.
— Não, receio que não.
Sabia o que ela estava tentando fazer, maldição. Mas se isso significasse mantê-la a salvo, ele diria o que diabos ela quisesse.
— Porque me importo com você. Porque o pensamento de algo te acontecendo me faz enlouquecer. É por isso que não quero você indo comigo.
Ela sorriu e ele jurou era como se o sol tivesse acabado de sair.
— Certo.
A aquiescência veio muito facilmente, ele não pensou que a ouviu direito.
— Certo?
Ela acenou com a cabeça.
— E só para que saiba, você me distrai também — ela deu a ele um sorrisinho. — Eu não tinha a menor ideia que você era tão romântico.
Romântico? Ele? Maldição! Ela estava lendo demais nisso tudo.
— Janet, você não entende...
Ela fez um gesto com as mãos despachando-o — realmente despachando-o. Achava que ninguém fez aquilo desde que o cozinheiro o espantou para longe da cozinha — e das tortas recentemente assadas — quando ele era garoto.
— Entendo bastante bem. Seria melhor você ir agora antes que eu reconsidere, enquanto ainda estou impaciente com a poética “me faz enlouquecer”.
Sua boca retorceu. Estava provocando-o. Ainda era difícil para ele acreditar o quão natural parecia. Devia corrigi-la e ter certeza que entendia que isto não mudava nada, mas estava certa: não queria dar a ela a oportunidade de mudar de ideia. Teria que esperar.
— Aye, bem não se acostume a isto. Temo que possuo um suprimento limitado de palavras poéticas. Não posso pensar em nada que rime com “maldição”.
Ela riu, e o som doce reverberou em seu tórax.
— Que tal “estábulo”? Ou talvez “lamacento”'?
Ele soltou uma risada aguda. Devia saber que ela pensaria em algo.
— Vou trabalhar nisto — ele ficou sério e o sorriso de lado deslizou do seu rosto. — Não vou demorar muito. Fique longe da vista. Se alguém se aproximar, pode deslizar atrás daquelas pedras.
Não era uma caverna, mas o espaço entre os grandes pedregulhos era largo o bastante para deslizar entre elas. Queria que não tivesse que deixá-la sozinha, mas não podia evitar. Se eles queriam chegar à costa logo, eles precisariam de um cavalo. Ele teria preferido dois, mas seria muito mais difícil de explicar.
Sua prioridade — sua única prioridade — era deixar Janet em segurança o mais rápido possível. Mas ele também concederia uma pitada de incerteza sobre sua perna. Algo não parecia certo. Todo o escalar de ontem deve ter agravado. Infelizmente, ele não pensou em pegar o unguento com MacKay antes de se separarem. Nada pareceu errado quando olhou para seu ferimento mais cedo enquanto tomava banho, realmente a hemorragia parecia ter diminuído — mas doía como o inferno cada vez que dava um passo. A dor era aguda e profunda — mordia. E ele estava cansado. Mais do que deveria estar. Quanto mais cedo Helen pudesse dar uma olhada, melhor.
— Vou ficar bem — ela o assegurou. — Se qualquer coisa der errado, tenho meu punhal.
Embora ele soubesse o quão bem ela podia usar o punhal, isso não exatamente aliviava sua mente de pensar sobre ela precisando fazer isso. Ele assentiu.
— Estarei de volta antes de você perceber.
Seus olhos se encontraram. Os pés dele não queriam se mover. Ela parecia tão doce e confiante. Tão bonita e forte. Ele queria agarrá-la com cada fibra do seu ser, como se fosse a coisa mais natural a fazer. Mas não fez. Forçou seus pés a ir embora.
— Ewen — ele virou. — Eu... — Ele podia ver algum tipo de tumulto em seu rosto, e uma emoção que não podia nomear. — Tenha cuidado.
Acenou com a cabeça, perguntando-se o que ela estava prestes a dizer. Realmente, ele parecia estar pensando nisso o caminho inteiro abaixo da colina até a aldeia. Pareceu prestes a dizer algo a ele. Algo que suspeitava que não queria ouvir, mas ansiava ouvir ao mesmo tempo. Seu peito ardia. Saber que ele só enlouqueceria pensando sobre coisas que não podiam ser, forçou sua mente para a tarefa à mão. Foco.
Seu plano era simples: ofereceria dinheiro suficiente para evitar qualquer pergunta. Normalmente quando a Guarda das Highlands precisava de cavalos nas fronteiras, eles faziam uso da rede de partidários de Bruce na área. Infelizmente, as lealdades desta aldeia escondida no alto das colinas de Galloway eram desconhecidas. Eles tinham partidários em Douglas, Lanarkshire, a mais ou menos vinte e quatro quilômetros de distância, mas como também era onde eles se meteram em problemas antes, queria evitar a área.
Como a aldeia não tinha uma pousada, ele começou com a propriedade mais próxima e trabalhou seu caminho, ficando cada vez mais frustrado a cada parada. Parecia não ter um único cavalo à venda na aldeia inteira, restando apenas um que era apropriado. Inferno, neste momento ele daria boas-vindas a um velho pangaré.
Depois de meia dúzia de paradas, sua frustração estava aparecendo. Mas quando se aproximou do próximo sítio, viu por um momento algo vagando no campo que o faria ir embora: um corcel belo, robusto e parecendo ágil.
Infelizmente, o dono estava se provando difícil.
— De onde você disse que era? — Ele perguntou.
Ewen olhou o velho fazendeiro, cujo rosto abatido pelo tempo escondia uma mente ágil e astuta. — Roxburgh — ele respondeu de forma curta. — Você está disposto a vender o cavalo? Ofereço dez libras.
Até para o belo animal era uma oferta generosa. O velho devia ter dado pulos. Ao invés disso, ele acariciou sua barba longa e grisalha de forma avaliadora.
— É muito dinheiro. Você realmente deve estar necessitado.
O temperamento de Ewen estava vindo à tona. O fazendeiro obviamente suspeitava de algo, e Ewen não gostou do modo que o estava empurrando com perguntas, mas queria aquele maldito cavalo. Deu a ele um olhar duro.
— Vai me vender o cavalo ou não?
— Ele não está à venda.
Ewen apertou seus dentes e contou até cinco.
— Por que não?
— Ele não é meu para vender. Estou cuidando dele. Eu era o chefe do estábulo do exército do Rei John. — Ah, Inferno, Balliol! Definitivamente não era um amigo de Bruce então. — Ainda cuido dos cavalos doentes quando posso. Este aqui pertence ao capitão da guarda em Sanquhar. — Maldição. Isto só ficava cada vez melhor. Sanquhar era um dos castelos agora guarnecidos de James Douglas pelos ingleses. Os olhos do velho cintilaram maldosamente. — Quem sabe você possa perguntar a ele?
Ewen não precisou perguntar o que queria dizer. Tinha acabado de ouvir o galope de cavalos se aproximando. Olhou por cima do ombro, pegando o reflexo da cota de malha na luz do sol enquanto meia dúzia de soldados ingleses entravam nos arredores da aldeia vindo do Oeste. Embora eles estivessem ainda a uma boa distância, estavam se aproximando de rápido.
Não poderia fugir sem ser visto. Quando não estava mancando pelo ferimento ele corria rápido — mas não mais rápido que um cavalo. Nestas colinas abertas, sem névoa para esconder sua direção, não podia ter certeza que poderia achar cobertura rápido suficiente para despistá-los.
E ainda havia Janet. E se na caça a ele, a achassem em vez disso? Não podia arriscar. Ele xingou inúmeras vezes na sua cabeça, mas só havia uma única coisa que podia fazer: apresentar uma boa história ou ser melhor que seis cavaleiros montados com não mais do que seu punhal.
Como ele não tinha a língua hábil de Janet, suspeitava que seria o último, e até para um dos guerreiros de elite da Guarda das Highlands isso não era tarefa fácil.
Sangue de Deus, isto podia ficar pior?
Alguns minutos mais tarde, quando o som de uma voz gritando seu nome enviou uma explosão de gelo por suas veias para congelar até o último osso em seu corpo, teve sua resposta: Aye, isto podia ficar um inferno de muito pior.
— Ewen! — Janet não deixou sua mortal cara feia detê-la. Sabia que ele estaria furioso, mas no momento viu a bandeira voando ao longe de seu poleiro na colina, e não deixaria nada impedi-la de tentar adverti-lo. Infelizmente, levou muito tempo para achá-lo e agora era muito tarde. Ela chegou ao sítio ao mesmo tempo em que os soldados. — Você está aí! Comecei a pensar que se esqueceu de mim.
Ela viu seus olhos arregalarem conforme ele observava seu surgimento. Com uma mão no quadril, como se apoiando suas costas pela exaustão, ela bateu levemente em sua barriga suavemente arredondada com a outra. — Você já achou um cavalo para a gente montar?
Seu rosto estava tão fechado e carregado quanto uma nuvem de tempestade, mas depois de um momento de pausa, ele percebeu sua parte e avançou para ajudá-la. Seus olhos cravaram nos dela prometendo vingança, enquanto deslizava o braço ao redor de sua cintura protetoramente.
— Pensei ter dito que esperasse por mim — disse, adicionando depois uma pausa que ele esperava que não soasse estranha, — mo chroí.
Ela riu como se acostumada à sua explosão masculina, o que surpreendentemente estava. Não havia dúvida que berraria e grunhiria como um leão bravo quando estivesse terminado, mas não se importava. Ele precisava de sua ajuda, quisesse admitir ou não. Estava praticamente desarmado. Não o assistiria sendo colocado a ferros e arrastado para longe daqui.
Levantando-se nas pontas dos pés, ela colocou um beijo suave em sua bochecha, como se o acalmando com um bálsamo sedativo. O aperto ao redor de sua cintura instintivamente aumentou. Ela sentiu um calafrio de consciência enquanto seus corpos se moldavam juntos.
— Fiquei cansada de esperar — ela disse, um pouco agitada pelo contato. — Tanto eu quanto o bebê estamos inquietos.
A parte do quase pai amoroso aparentemente não era uma que ele estava familiarizado. Levou um momento para fingir preocupação. Ele pôs a mão em sua barriga arredondada — ou neste caso, a almofada de roupas que estufou debaixo da túnica que Mary mandou que ela vestisse. O vestido de baixo ainda era fino demais para seja o que for que ele fingia ser, mas a lã marrom era melhor que o manto bordado de ouro que ia sobre ele.
— Está tudo bem com o bebê? — Ele perguntou.
Ciente de seu público interessado, ela refletiu a preocupação dele em seus próprios olhos e suspirou com um cansaço que não precisou fingir.
— Espero que sim. Não percebi o quanto seria cansativo. Estou tão exausta. Vou ficar contente quando nossa jornada terminar.
— O que está acontecendo aqui? — Uma voz autoritária trovejou. Um dos soldados — o líder, ela suspeitava — avançou, colocando-se entre Ewen e o velho, que permanecia na entrada de seu sítio de pedra retangular com seu telhado de relvas misturadas.
— Estou procurando um cavalo para minha, uh, esposa — Ewen explicou. — Ela está cansada e não pode caminhar muito mais longe.
— Você não me disse que era para uma moça — o velho homem disse com um franzido surpreso no rosto.
De sua posição dobrada contra o corpo dele, era fácil para Janet olhar para cima e dar a Ewen uma sacudida reprovadora de sua cabeça. Então ela deu uma olhada para o velho com outro suspiro cansado.
— Às vezes acho que ele esquece que tem uma esposa. Não queria que eu viesse, mas insisti e agora temo que causei todos os tipos de problemas.
O velho homem corajosamente saltou em sua defesa.
— Que tipo de problemas uma moça pequenina e fina como você podia causar?
— Você ficaria surpreso — Ewen disse baixinho, mas alto suficiente para eles ouvirem.
Janet deu uma cotovelada de lado e disparou uma cara feia para ele.
— Eu disse a você que sentia muito — ela virou para o velho pedindo ajuda. — Ele me culpa.
— Pelo que? — O soldado se meteu.
— Por perder nosso cavalo em primeiro lugar — ela retorceu as mãos ansiosamente. — Foi tudo minha culpa. Não amarrei as rédeas direito e ele vagou para longe na tempestade. Agora devemos usar o dinheiro que planejávamos dar à abadia para comprar outro. — Quando os homens olharam para ela em confusão, ela adicionou. — Ele não disse a você que estamos a caminho de Whithorn rezar pelo nascimento da criança?
O velho balançou a cabeça. Por alguma razão as lágrimas não foram difíceis de produzir. O pensamento de levar um filho de Ewen a encheu com todos os tipos de emoções estranhas. Emoções profundas. Ternas.
— Nós perdemos tantos — ela disse suavemente. — Eu só quero dar um filho a ele.
Ewen parecia ter sido pego na emoção também. Ele a colocou debaixo do seu braço novamente e a acalmou com tapinhas gentis na sua cabeça.
— Não se aflija, meu bem, tudo vai ficar bem.
Janet descansou a bochecha na parede sólida do seu peito e tomou um fôlego estremecido. Céus, era tão bom. Com a força dos seus braços ao redor dela, era fácil acreditar nele.
— Este cavalo não está à venda — Ewen adicionou, — mas vamos achar outro. Venha, amor.
Ele começou a levá-la para longe, mas uma voz os deteve. Uma voz inglesa irritada e anasalada.
— Espere. Alguém vai me explicar o que está acontecendo aqui, agora.
Janet murmurou baixinho uma das palavras de maldição favoritas de Ewen e levantou o olhar para o grande inglês assomando acima deles na sela. Surpreendentemente, não foi a armadura pesada e numerosas armas reluzindo na luz do sol que a preocupou, mas a acuidade do seu olhar. Embaixo do elmo de aço, ela podia dizer que o capitão de olhos azuis, cabelos escuros e barba bem aparada não era nenhum tolo. E estava muito claro que ele não os deixariam só ir embora.
CAPÍTULO 18
O modo que o soldado estava olhando para Ewen enviou arrepios de cima a baixo pela espinha de Janet. E Ewen — affe — não estava fazendo qualquer esforço para declinar a suspeita. Estava agindo a cada centímetro como o guerreiro feroz e formidável, usando seu corpo musculoso afiado pela guerra para protegê-la.
Templos de Jerusalém! Ele podia muito bem ter gritado sua ocupação. Parecia com um homem que nasceu com uma espada na mão e lutava até a morte para proteger o que era seu. Neste caso, ela. Seria bastante doce, se não conseguisse que eles fossem mortos.
— Minha esposa e eu estamos fazendo nosso caminho para a Abadia de Whithorn rezar pelo bebê — ele disse de forma curta, a autoridade de um comandante das Highlands fluindo em sua voz. Nossa Senhora, ele não podia pelo menos tentar fingir deferência? — Nós perdemos nosso cavalo e eu estava tentando comprar este aqui do fazendeiro. — Ele fez um gesto para o cavalo no pátio. — Não estava ciente que não pertencia a ele. Se você estivesse interessado em vender...
— Não estou — o capitão interrompeu. — Isto é verdade? — Ele perguntou ao fazendeiro.
O velho acenou.
— Aye, ele me ofereceu dez libras pelo animal.
Por trás do ombro largo de Ewen — que era impressionante, ela tinha que admitir — Janet não gostou do modo que os olhos do soldado estreitaram. Ele olhou como Ewen se vestia de forma simples.
— Que tipo de camponês anda por aí com tanto dinheiro?
Janet praticamente podia ouvir Ewen rangendo os dentes. Ele verdadeiramente era horrível nisso. Ser aprazível, amável, modesto e político não parecia estar em sua natureza. Era uma boa coisa que ele fosse um guerreiro tão bom, ele não duraria dois dias como mensageiro.
— O tipo que está indo para uma abadia rezar por um filho por nascer — ele estalou.
Janet gemeu ante o sarcasmo inconfundível em sua voz. Por que ele simplesmente não puxava sua espada? O efeito era o mesmo.
Isto levou tempo suficiente. Estava claro que ela precisava fazer alguma coisa, e rápido. Atrair a atenção do soldado para longe do Ewen, para começar. Esperava que isto funcionasse. Ela esteve fingindo ser uma freira por tanto tempo que estava um pouco sem prática. Felizmente, com nada melhor para fazer enquanto esteve esperando mais cedo, ela tomou algumas dores com sua aparência. Jogando seu cabelo recentemente penteado por cima do ombro, ela arrastou o decote do vestido para baixo um pouco e saiu atrás do seu “marido”. Ela sorriu docemente para o soldado irado (o tom de Ewen obviamente não passou batido).
— Meu marido não é um camponês, meu senhor — ela disse caminhando em direção a ele. Pensou que Ewen rosnou algo, mas ignorou seu aviso. — Ele é um mestre construtor. Pelos últimos dois anos, ele esteve trabalhando nas melhorias para o castelo em Roxburgh. — Isso devia explicar o físico fortemente musculoso, como também os calos em suas mãos, para onde o capitão olhava.
Ela era bastante aficionada por aqueles calos...
Sua pele formigou e teve que forçar sua mente a se afastar do porquê.
Antes que os ingleses pudessem fazer mais perguntas, soltou um suspiro cansado, não perdendo o modo que seu olhar caiu no corpete apertado do seu vestido. Ela levantou o olhar lacrimejante, dando a ele seu melhor olhar de donzela impotente em perigo. Isso levava um pouco de esforço.
— Meu marido... ele está preocupado comigo e o bebê — ela disse como desculpa pelos modos de Ewen. — Tem sido uma jornada difícil. — Sua voz ficou mais alta e mais rápida com sua angústia crescente. — A tempestade veio e então perdi o cavalo, e você vê, ele ficou tão bravo, com todo o direito, estou certa que você concordará.
O soldado disparou a Ewen um olhar como se ele não concordasse mesmo. Janet lamentou ter que lançá-lo no papel de tirano, mas era necessário para trazer para fora a natureza cavalheiresca do soldado.
— Tive que continuar parando a cada milha e então disse que não podia continuar — não até que encontrássemos outro cavalo. Estou certa que é horrível de minha parte, mas só de pensar em dar mais um passo por aquelas montanhas... estou muito pesada para carregar, você vê. Então ele me chamou de redonda! — Os homens ofegaram em compreensão. Uma única lágrima deslizou por sua bochecha a baixo. — Eu simplesmente não podia fazer isto. — Ela piscou levantando o olhar para ele, feliz de ver que parecia ter esquecido tudo sobre Ewen. — Eu só estou tão... — ela cambaleou dramaticamente, como se pudesse desmaiar — cansada.
Mal a palavra saiu da sua boca, o soldado saltou para pegar seu braço e estabilizá-la.
— Não se aflija, querida senhora. — Ele disparou uma cara feia para o velho fazendeiro. — Por que você só está aí parado? Rápido, pegue algo para a senhora beber. — Ele a levou até um tamborete ao lado da porta. — Descanse aqui, você não devia ficar tanto tempo de pé na sua condição. — Janet sorriu enquanto olhava para cima dentro do olhar preocupado do soldado, sabendo que ela o tinha.
Ewen não sabia se a estrangulava ou batia palma. Quando eles saíram da aldeia montados algumas horas mais tarde, não só tinham um cavalo, mas barrigas cheias também.
Assisti-la tinha sido algo revelador. Nenhum ator em cima do palco podia ter se apresentado melhor. Ela girou sua história com tal facilidade e confiança, que até mesmo ele começou a acreditar nela. Ele de fato se achou dizendo ao velho homem e sua esposa que a criança seria chamada de James se fosse menino, por causa do homem que ensinou tudo que sabia. James Stewart realmente ensinou tudo a ele. Claro, o fazendeiro não percebeu que Ewen não estava falando sobre construção, mas sobre ser um guerreiro e comandante.
Aye, ela foi bem, mas nunca podia esquecer o momento que seu coração parou ao vê-la ali. Foi um choque. Não só por que o desobedeceu e se pôs em perigo, mas também pela sua aparência. Ela não parecia nada com uma freira ou um rapaz. Vestida como uma dama pela primeira vez desde que a conheceu, ele ficou cravado no lugar pela sensualidade feminina de seu longo cabelo dourado caindo por cima de seus ombros em cachos soltos, e a doçura das curvas reveladas por seu vestido justo. Seus seios eram espetaculares. O vestido parecia ter sido feito para fazer um homem pensar que eles estavam sendo apresentados só para ele, como algum tipo de oferenda generosa aos deuses. Jesus, ele queria lançar seu plaid em volta dos ombros dela e enterrar sua cabeça neles ao mesmo tempo!
Claro, um grande desvio tinha sido uma enorme surpresa. Grávida. Sentiu como se um pedregulho tivesse batido no seu peito. Isso apertou. Apertou. Queimou com uma emoção que nunca sentiu antes. Uma espécie de feroz possessividade caiu sobre ele que diminuiu tudo que veio antes.
Ele não era tão qualificado quanto Raider ou Saint no combate mão a mão, mas enfrentaria cada um daqueles soldados de mãos nuas para protegê-la. Inferno, podia ter encarado todos eles de mãos nuas, como seu pai fez com os lobos para protegê-la.
Esteve quase louco de raiva — e provavelmente ciúme, maldição — quando ela tinha propositadamente começado a se ocupar do capitão inglês com seu charme feminino que ele ainda não acabou de admirar.
Só a realização que estava funcionando segurou sua mão. Mas levou cada pingo de auto restrição que tinha (e alguma que ele não possuía) para não ir para cima e socar seu punho no olhar apreciativo do canalha. O fato de o capitão perceber exatamente o quão Ewen estava bravo só parecia encaixar a parte que ela lançou nele como o marido severo, superprotetor e de temperamento curto. Quem no inferno podia entendê-lo mal por isto?
Então ele fumegou em silêncio, se não invisivelmente, enquanto Janet dispersava as suspeitas do soldado, alistando a ajuda do fazendeiro para achar um aldeão que pudesse ter um cavalo à venda, encantando a esposa rígida do fazendeiro em cozinhar para eles uma refeição quente, e de alguma maneira conseguir que saíssem de lá sem puxar uma lâmina. Ele não era tolo suficiente para desejar diferente, mas nesse instante, com o modo como seu corpo estava abundando com energia sem descanso, teria dado boas-vindas a uma luta.
Uma vez que estava certo que não estavam sendo seguidos, ele deu a volta para pegar sua armadura e armas de onde as deixou ao lado do regato. O desvio foi lamentável, mas mesmo com o peso de dois no cavalo, eles deviam ser capazes de alcançar Sundrum do lado de fora de Ayr ao anoitecer. Existia uma casa segura lá para eles passarem a noite, onde esperava que os outros os alcançariam.
Apesar dele estar segurando-a com firmeza pela cintura na frente dele, e seu corpo estar dolorosamente ciente dela, não disse uma palavra desde que deixaram a aldeia. Com todas as estranhas emoções torcendo dentro dele, não tinha certeza que confiava em si mesmo.
Eles estiveram cavalgando por mais ou menos uma hora quando ela finalmente quebrou o silêncio.
— Vá em frente. Sei que está com raiva. Só supere isto. Mas antes de começar a gritar, só quero que fique registrado que só deixei o regato porque vi as bandeiras e estava tentando te avisar. — Ele abriu a boca para responder, mas ela o cortou. — Também quero que fique registrado que você não estava exatamente fazendo amigos na aldeia. — Desta vez sua boca nem sequer abriu antes dela cortá-lo novamente. — Você só tinha um punhal. Sei que é um guerreiro excepcionalmente qualificado, mas teria que ter sido um fantasma de verdade para conseguir sair lutando disso.
Ele arqueou uma sobrancelha. Então pensava que era um guerreiro excepcional, não é? Ele gostou bastante de ouvi-la dizer isto.
— Posso falar agora ou você tem qualquer outra coisa para dizer?
Ela ergueu o queixo, encontrando seu olhar.
— Acabei. Por enquanto.
Ela parecia com uma penitente esperando o chicote. Ele sentia muito desapontá-la.
— Você agiu bem, moça. Obrigado.
Ele aparentemente fez o impossível: deixou-a sem fala. Ela podia pegar moscas com sua boca aberta assim.
— “Obrigado”?
Ele deu de ombros.
— O bebê foi um golpe brilhante.
— Brilhante? — Ela repetiu estupidamente.
— Vejo por que você é uma mensageira tão boa. Não posso decidir se está perdendo seu talento como oficial da lei ou como artista de palco.
— Quer dizer que você não está bravo?
Ele deu a ela um olhar de esguelha enquanto cavalgavam por uma estreita clareira de arbustos.
— Eu não disse isto. Você levou cinco anos da minha vida quando te vi descendo por aquela colina, e outros cinco quando começou a flertar com o capitão.
— Eu não estava flertando, o estava distraindo.
Ele deu a seu protesto toda a atenção que valia — em outras palavras, nenhuma.
— É um jogo perigoso brincar com um homem assim, mas tenho que admitir, você se nivelou muito bem. Ele tinha uma raia pesada de cavalheirismo inglês nele. Não que eu não estivesse pronto a cortar sua cabeça fora por olhar para você assim. Ela piscou para ele na luz do sol, parecendo tão bonita que seria capaz de cortar um membro para poder beijá-la novamente.
Ele pigarreou e se forçou a desviar o olhar.
Ela ficou tão quieta por um momento que quase podia ouvi-la pensando.
— Você realmente pensa que sou boa no que faço?
A felicidade na voz dela fez seu peito apertar. E o modo que estava olhando-o... era como se ele tivesse acabado de arrancar o sol do céu e entregasse para ela. Podia se acostumar a esse olhar.
— Depois do que acabou de acontecer, dificilmente posso negar isto.
Ela sacudiu a cabeça, estupefata.
— Não posso acreditar que você não vai berrar comigo.
— Aye, bem, não faça disto um hábito. Nem todos os homens são tão honrados quanto Sir Ranulf. — Este, conforme ele botava para fora, era o nome do capitão. Um pouco de sua raiva retornou. — Alguns podem ver um bater de cílios e uma exibição saudável de decote como um convite.
Ela deu a ele um olhar astuto por cima do ombro.
— Você estava com ciúme.
— Ciúme? — Ele explodiu, ultrajado. — Eu não estava com ciúme.
— É bastante compreensível, Sir Ranulf é um homem bastante bonito.
Se ele fosse capaz de enxergar direto, poderia ter notado a faísca maliciosa dentro do olho dela. Mas estava muito furioso.
— Bonito? Aquele papagaio? Eu me pergunto quanto tempo ele passou olhando dentro do espelho para aparar aquela barba dele. Não existia um maldito cabelo fora de lugar!
Apenas quando ela desatou a rir que a névoa limpou dos olhos dele. Seus olhos estreitaram, percebendo que o provocava num modo muito mais esclarecedor que sábio. A atrevida tremulou seus olhos e se debruçou adiante, dando a ele visão privilegiada daquele decote espetacular.
— E você, Ewen? Você é o tipo de homem que visualiza isto como um convite?
Por um momento tolo ele se permitiu olhar. Deixou seus olhos mergulharem nas profundezas perversas entre seus seios. Ele se fartou na abundância, no arredondamento, na maciez sedosa da pele branca cremosa. Ele podia quase saboreá-la...
Ele inalou fundo na força do calor que o agarrou. Na borda afiada da luxúria que rugiu pelo seu sangue. Como se adivinhando sua dor, ela deslizou seu traseiro para trás na sela contra ele. Aconchegando. Levou tudo que tinha para não agarrar seus quadris e esfregá-la mais forte contra ele. Só o desafio tácito em seus olhos aquietou suas mãos.
— Este não é um convite que estou livre para aceitar, maldição. E você sabe muito bem por que. Como acha que o rei reagiria, ou Stewart reagiria, ao descobrir que tomei sua inocência?
Ela franziu o cenho.
— Stewart? Você quer dizer o jovem Walter Stewart? Por que ele devia se importar?
Ah, inferno! Ewen fechou sua boca num estalo, percebendo seu erro.
— Ele é meu suserano. O pai dele garantiu minha lealdade e não pagarei envergonhando o filho.
Ela pareceu aplacada, sua explicação aparentemente satisfatória.
— Então é a reação de Robert que te preocupa? Acha que ele te puniria por estar comigo?
Achar? Ewen deu a ela um duro olhar fixo.
— Eu sei que ele iria. E teria todo o direito. Você é sua cunhada, pelo amor de Cristo! Sou o chefe de um clã desfavorecido com um dedo de terra restante do que uma vez foi uma grande propriedade. Meu clã está se segurando por um fio, Janet. Qualquer esperança que eu tenha de recuperar essas terras descansa com o rei.
Janet podia ver as emoções conflitantes guerreando em seu rosto e quase se sentiu mal por pressioná-lo. Quase. Entendia a fonte do seu dilema, só não via isto como um problema insuperável. Não depois do que ele disse.
Ela ainda não podia acreditar: não só a agradeceu, mas também tinha admitido que era boa no que fazia. Ele viu o que podia fazer e reconheceu como podia ser útil. Brilhante. A admiração em sua voz quase a fez soluçar.
Depois de dias se perguntando se tudo que ela estava fazendo era bater sua cabeça contra uma parede de pedra, finalmente teve sucesso. Não era como seu pai ou Duncan — ou a maior parte dos outros homens que ela conhecia. Ele era diferente. Ela estava certa: sua aparente falta de consideração com as mulheres era consequência da ignorância e inexperiência em vez de verdadeira crença. Não a via como um acessório impotente ou como serva, mas como alguém capaz, valorizada e merecedora de respeito — como a esposa de Magnus, Helen, a curandeira que ele mencionou. Era o que ela sempre quis de um homem, mas nunca sonhou encontrar. Estava mais segura do que nunca que isso era certo. Como ele podia segurá-la nos braços desse jeito, com seus corpos apertados intimamente juntos, e negar isto? Queria que ele a tocasse. Fizesse amor com ela. Queria sentir seu corpo conectado ao dela e saber como era experimentar a paixão. O problema era convencê-lo.
Era desanimador pensar que ela se segurou tão firmemente a algo por vinte e sete anos, e então quando finalmente estava pronta para soltar, estava tendo que persuadir um homem para aceitar.
— Isso é entre eu e você, Ewen. Não vejo nenhuma razão para Robert estar até mesmo envolvido. Se você me quer e eu o quero, por que qualquer outra coisa devia importar?
Ele deu uma risada severa, destituída até mesmo da ilusão de diversão.
— Você não pode ser tão ingênua. Sabe que não é assim que é feito. Compartilhar uma cama não é tão simples.
Ela ergueu o queixo, não gostando do seu tom.
— Devia ser.
— Talvez, mas até esse dia, uma mulher da nobreza não é livre para dar sua inocência quando quiser.
Janet sabia que falava a verdade, mas isso não significava que ela tinha que concordar com ele — ou cumprir.
— Não há nenhuma razão para que Robert precise saber.
Ele endureceu.
— Eu saberia. Não desonraria você assim.
Janet deu uma olhada para ele sentado atrás dela, vendo a expressão de aço estabelecida no seu rosto. Aquela nobreza infernal dele estava se provando problemática novamente.
— Porque não nos casamos?
O olhar que ele deu a ela foi feroz, ardente em sua intensidade. A mandíbula dele apertou ainda mais.
— Porque não podemos estar casados.
Sua veemência a fez recuar. Ficou em silêncio por um momento, absorvendo as implicações. Ele deve ter tomado seus protestos contra o casamento a sério. Ou era alguma outra coisa? Não podemos... Talvez ele estivesse aludindo às suas diferenças sociais?
Mas de alguma forma pareceu como se ele tivesse acabado de desistir. E apesar de sua recente epifania, não tinha certeza que queria levantar este assunto. Compartilhar uma cama, como ele colocou, era uma coisa, mas confiar em um homem para pôr seu destino em suas mãos era outro. Ela queria casar com ele?
CAPÍTULO 19
Depois de dias sendo caçados, a cavalgada de Cuingealach, a pequena aldeia nas colinas, para Ayrshire provou desconcertantemente calma. Eles cruzaram as colinas entre Douglas e Sanquhar, e seguiram em direção oeste através das Airds Moss. Pelo fim da tarde, eles chegaram a seu destino.
Apesar da presença inglesa ainda ser pesadamente sentida, este era o país de William Wallace, e muitos dos seguidores do patriota martirizado vieram atrás de Bruce. Vários parentes de Wallace viviam em Sundrum, inclusive um primo que a Guarda das Highlands usava em ocasiões como esta.
Ewen devia estar aliviado. Sua missão estava quase completa — ou estaria de manhã, quando eles encontrassem Hawk e Chef em Ayr no birlinn. Ele devolveria Janet para sua família e voltaria aos seus deveres com a Guarda, rastreando o próximo inimigo ou aliado perdido. Bruce estaria agradecido e Ewen a um passo mais perto de restabelecer o nome dos Lamont — e, ele esperava, as terras também. Era isto exatamente o que ele queria. Exatamente pelo que esteve lutando.
Então por que ele estava tentando arrastar cada minuto no seu cavalo? Por que sentia como se no momento em que a deixasse ir tudo isso estaria acabado?
Mas não havia “isso”. Nunca existiu. Não podia ser sua. Tinha deixado bem claro. Disse que não podia se casar com ela, e pelo silêncio dela desde então, parecia que finalmente tinha entendido.
Era o que ele queria.
Então por que estava desapontado que ela não protestou? Por que uma minúscula parte dele tinha esperado que a ideia de um casamento com ele não fosse tão inconcebível?
Parou em um pequeno regato no enorme bosque para dar água ao cavalo pela última vez antes de alcançar Sundrum. Sua perna tinha melhorado muito desde que conseguiram a montaria, mas ficou enrijecida sem movimento e parecia bom se mover. Ele não estava atrasado.
Janet retornou de atender suas necessidades e sentou numa pedra ao lado do riacho mordiscando um pedaço de carne seca, enquanto ele segurava o cavalo para beber água.
— Conte-me sobre Helen.
Ele levantou o olhar com surpresa. Não era exatamente a conversa que estava esperando depois de sua última. Ele endureceu ligeiramente, perguntando-se se ela notou alguma coisa a respeito de sua perna. Teve cuidado para não favorecer a outra, mas a moça era observadora demais.
— O que quer saber?
Ela deu de ombros.
— Ela é boa no que faz?
— É uma das melhores.
— Você disse que ela podia ser médica? Como isso pode ser? Ela é mulher.
— É raro, mas não impossível. O cunhado do seu irmão, o Conde de Sutherland, é casado com uma mulher que treinou em Edimburgo por um tempo em uma das academias estudantis até que se casou. Helen poderia ter ido também.
— Mas então ela casou com Magnus?
Ewen não estava certo onde ela estava querendo ir com isto.
— Aye, mas Helen nunca quis ir. Ela é feliz em fazer o que está fazendo.
— E é exatamente o que?
Ewen terminou de dar água para o cavalo e então o levou do riacho, amarrando a rédea ao redor de uma árvore. Ele cruzou os braços e olhou para ela, sabendo que estava andando em terreno perigoso. Ela estava sem dúvida jogando verde para colher alguma coisa sobre a Guarda ou confirmar o lugar dele nisto.
— Ela atende os doentes, o que mais faria?
— Vai para as batalhas com vocês?
— Não.
— Mas fica perto?
— Por que está tão interessada nisso?
Ela deu de ombros.
— Só estou. Você tem que admitir que não é comum para uma dama bem-nascida assumir tal papel.
— Helen é incomum.
— O marido dela também. Ele é um homem raro para permitir que sua esposa se coloque em tal perigo.
Ele riu.
— MacKay odeia cada maldito minuto disto.
Ela pareceu genuinamente perplexa.
— Então por que aceita isto?
— Porque sabe que ela é necessária. E...
Ele parou.
— E?
Ele deu de ombros desconfortavelmente.
— E porque ele a ama.
— Oh — obviamente não era a resposta que ela esperava.
A boca de Ewen se torceu em um sorriso.
— Certamente você ouviu falar disto?
Seus olhos se encontraram e um afiado frisson de consciência passou entre eles.
Ela corou, abaixando seu olhar.
— Aye, só não dentro do casamento.
O tom seco não escondeu a tristeza.
— Seus pais não tiveram um casamento feliz?
Ela fez um som afiado.
— Meu pai dava a minha mãe tanta consideração quanto teria dado a um servo. A maior parte do tempo esquecia que ela estava lá. Quando ela encontrava coragem para falar, ele a cortava tão cruelmente que eventualmente começou a acreditar que era tão estúpida quanto ele a fazia se sentir.
Ele se encolheu, tendo visto mais que sua parte de casamentos semelhantes.
— Nem todos os casamentos são assim, moça.
A boca de Janet se torceu com cinismo.
— Aye, alguns, como da minha irmã Mary, estão cheios de miséria, coração partido e infidelidade, e outros, como do meu irmão Duncan, são constantes campos de batalha de discussão e discórdia. Ele e Christina brigavam por horas. Ele estava constantemente a arrastando para seus aposentos para fazer Deus sabe o que com a pobre mulher.
Percebendo que ela estava falando sério, Ewen desatou a rir. Ela se eriçou.
— Não vejo o que é engraçado.
Vendo a mágoa em seu rosto, ele ficou sério.
— Eu sinto muito, moça. Não posso falar pelo primeiro casamento de sua irmã Mary. Conheci o Conde de Atholl, e embora ele fosse um inferno de um guerreiro, não prestei muita atenção em suas relações com mulheres que não eram sua esposa. Porém conheço Sutherland há algum tempo, e pelo que sei ele tem sido fiel à sua irmã desde que pôs seus olhos pela primeira vez nela. — Ele omitiu o quanto todos eles se divertiram por isto, já que Mary o rejeitou como pretendente. — Foi seu comentário sobre Duncan que me fez rir. A paixão dele por sua esposa era bem conhecida, tanto dentro quanto fora dos seus aposentos. Suspeito que eles faziam as pazes tão apaixonadamente quanto discutiam.
Os olhos de Janet se arregalaram e suas bochechas avermelharam conforme entendia o que ele queria dizer. Suas sobrancelhas se franziram.
— Como sabe tanto sobre meu irmão?
Maldição. Este não era exatamente um assunto que queria estar discutindo com ela.
— Lutei com ele durante algum tempo.
Ela pareceu atordoada.
— Lutou? Por que não me disse antes? — Ela pareceu perceber algo antes mesmo que as palavras deixassem sua boca. — Você estava com ele no Lago Ryan, não estava?
Ele assentiu.
Ela expirou lentamente. O modo que engatou dolorosamente fez seu peito apertar. Ele quis se estender para ela, mas forçou suas mãos para o lado. Ela ficou quieta por um momento, como se estabilizando suas emoções.
— Como ele morreu?
Ewen viu a lâmina faiscando na luz do sol antes de descer no pescoço de Duncan e forçou a imagem horrorosa para longe. Ela não precisava saber dos detalhes.
— Bravamente, moça. Como o feroz guerreiro das Highlands que ele era. Estava orgulhoso de lutar ao lado dele.
Ela sabia que ele não estava dizendo tudo, mas pelo menos uma vez ela não forçou a barra.
— Deve ter sido horrível — ela disse. — Todos aqueles homens que morreram. — Ela estremeceu. — Você teve sorte de sair disso vivo.
— Aye.
Foi um banho de sangue. Os MacDowells foram informados de sua chegada e esperaram por eles. Ewen esteve em um dos dois birlinns que conseguiram escapar. Quem os traiu tinha custado as vidas de quase setecentos homens. Um dia essa pessoa pagaria.
Janet viu as emoções sombrias cruzarem seu rosto e lamentou invocar as memórias dolorosas. Mas de alguma maneira a fez se sentir melhor saber que Ewen estava com Duncan quando ele morreu. Embora a perda do seu irmão sempre seria um buraco doloroso em seu coração, Ewen suavizou a dor um pouco.
Era verdade o que ele disse sobre Duncan e Christina? Ela esteve tão enganada a respeito dos sentimentos entre eles? O que aconteceu por trás daquelas portas fechadas? Aparentemente mais do que tinha percebido.
Subitamente, todas aquelas longas horas em seus aposentos tiveram um significado muito diferente — um sensual em vez de sinistro. Seu irmão sempre parecia tão apaziguado posteriormente. Ela achava que era remorso, mas e se fosse alguma outra coisa? Era desconcertante perceber o quão pouco ela sabia sobre algo que esteve acontecendo bem na sua cara antes.
Ela arqueou uma sobrancelha, observando como Ewen perdia tempo com um saco amarrado ao cavalo, eventualmente removendo um odre. Como ele sabia tanto?
Depois de tomar um longo gole, ele se abaixou sentando ao lado dela. Isso era bom, sentar aqui com ele sem uma nuvem de perigo em cima deles. Aparentemente, sem pressa de continuar a jornada, ela decidiu perguntar a ele.
— Seus pais se amavam?
Ele enrijeceu quase imperceptivelmente. Ela sentiu imediatamente que o assunto não era bem-vindo. Mas ele respondeu sua pergunta.
— Aye, porém não deviam.
— O que você quer dizer?
— Quando meu pai sequestrou minha mãe com a aprovação dela, levando-a para longe do Chefe dos Lamont, isso quase destruiu meu pai e nosso clã. Se não fosse por James Stewart isso teria acontecido.
— Ainda existe algo inegavelmente romântico a respeito disso. Seu pai deve tê-la amado de verdade para estar disposto a arriscar tanto.
O rosto do Ewen endureceu.
— Meu pai era um rufião irresponsável que fazia o que bem quisesse sem o menor bom senso e sem medir as consequências. Ele brigava muito, bebia muito e, aparentemente, amava muito. Dever e lealdade não significavam merda nenhuma para ele. Roubou a noiva do seu chefe, pelo amor de Deus, sabendo muito bem que haveria guerra.
Ouvi-lo falar do seu pai explicava muito. Parecia que Ewen fez tudo que podia para se distanciar do tipo de homem que seu pai fora. Sua disciplina, seu senso de honra e responsabilidade eram o oposto de seu pai. Onde seu pai tinha sido selvagem e irresponsável, Ewen era o soldado modelo, fazendo exatamente o que era esperado dele.
— E sua mãe?
Os dedos apertaram o odre que ainda segurava em sua mão.
— Sua irresponsabilidade a matou.
Ela ofegou.
— O que aconteceu?
— Ele não podia manter suas malditas mãos fora dela. Ela mal tinha acabado de dar à luz a mim antes dele deixá-la grávida novamente. Morreu no leito de parto dez meses depois do um nascimento. A criança, uma menininha, nasceu morta.
O modo que ele disse — a menininha — fez algo em seu coração doer.
— Oh Ewen, sinto muito. Isto é horrível. Crescer sem uma mãe... isso não deve ter sido fácil.
Ele deu de ombros.
— Nunca conheci nada diferente. Felizmente, os Stewarts me levaram em sua guarda ou eu poderia ter acabado tão selvagem e sem reputação quanto meu pai. Quando ele não estava brigando ou bebendo, estava tentando se matar com algum desafio tolo. Foi assim realmente que morreu. O chefe Lamont finalmente teve sua vingança, desafiando meu pai para escalar um penhasco próximo ao Castelo Dundonald na chuva.
— Deve ter ficado devastado depois da morte da sua mãe.
— Estava construindo um castelo para ela quando morreu. Por anos, tudo que ele falava era sobre terminar aquele castelo. Mas claro, ele nunca terminou. Quando menino, isso veio de forma que eu odiava a mera maldita visão daquelas paredes meio construídas.
Seu coração apertou. Deve ter sido uma lembrança dolorosa dos fracassos do seu pai. Ele balançou a cabeça.
— Mas sabe o que é pior? De alguma maneira deu um jeito para conseguir que eu fizesse isto para ele. Então agora, além de tentar recuperar umas terras Lamont, também preciso ganhar dinheiro suficiente para terminar essa maldita coisa.
Emoção se alojou em seu peito, e pela primeira vez admitiu para si mesma o que era: ela o amava. Ela o amava com cada fibra do seu ser. Como era estranho depois de todos esses anos finalmente perder seu coração.
Ele estava olhando fixamente à distância perdido em suas memórias, as linhas fortes de seu belo rosto captando os ardentes matizes laranja da luz do sol desvanecendo. Não, perder era errado. Ela achou. Seu coração sempre pertenceu a ele.
— Você é um bom homem, Ewen Lamont — ela disse suavemente.
Ele virou para olhar para ela e algo estranho faiscou em seus olhos. Parecia quase culpa. Mas aí ele sorriu melancolicamente.
— Sou um tolo sentimental e acho que você passou noites demais neste chão duro — ele ficou de pé e estendeu sua mão. — Venha. Tem um banho quente, uma refeição quente e uma cama confortável esperando por você.
Ela suspirou sonhadoramente, deslizando sua mão na dele e permitindo que a ajudasse a se levantar.
— Isso soa divino. Mas Ewen... — olhos azuis firmes encontraram os seus. — Nada disso vai fazer com que eu mude de ideia.
Ele segurou seu olhar por um longo tempo. E então disse algo que ela não entendeu, mas isso mantinha a vaga sensação de uma advertência.
— Espero que você sinta o mesmo em alguns dias.
A visão dos muros caiados da casa de fazenda de telhado de palha aconchegada numa pequena colina nos bancos do Lago Lochend devia ter sido causa para celebração. Esta era primeira parada no fim de sua jornada. Eles estariam seguros aqui.
Mas para Ewen representava um retorno amargo à realidade. Livre da visão estreitada de perigo, onde conseguir que Janet ficasse a salvo e a um passo à frente dos ingleses que os perseguiam era tudo que importava, ele podia ver claramente o que a culpa esteve tentando dizer a ele, a qual esteve crescendo desde que percebeu como era importante o lugar dela na rede do rei.
Ela o odiaria por não dizer a verdade. Por permitir que acreditasse que realmente podia estar retornando a Roxburgh em alguns dias. Por não dizer a ela sobre o noivado.
O que tinha parecido prudente e não era da conta dele no início, agora se sentia como uma traição. Era uma traição. Ele não podia fingir o contrário. Sua relação mudou. A atração pecaminosa que sentiu pela “Irmã Genna” se transformou em algo mais profundo, mais intenso, conforme conhecia — e se importava — com Janet. Em algum lugar ali dentro a coisa certa a fazer mudou, e se algum dia teve a oportunidade para corrigir o erro ele perdeu.
Terminar esta missão estava indo a um custo pessoal que ele nunca imaginou. Sabia que ela ficaria com raiva, só não tinha percebido o quanto importaria para ele. Parte dele queria dizer a verdade, mas sabia que provavelmente seria melhor deste modo.
Talvez se ela o odiasse não seria tão difícil para ele ir embora? Talvez o impedisse de pensar a respeito de coisas que não podiam ser? Talvez tornasse menos duro vê-la se casar com outra pessoa?
Seu peito ardia. Só o mero pensamento disso comia suas entranhas como ácido. Sua mão apertou as rédeas, e inconscientemente seu braço apertou mais ao redor da cintura dela.
Que diabo de escolha ele tinha? O rei não ia colocar o noivado com Stewart de lado para deixá-la se casar com um dos seus soldados — ainda por cima um Lamont — mesmo que Ewen pudesse convencê-la, o que ele não tinha certeza que podia. A única opção aberta era aquela que ele não podia considerar. Ele não era seu maldito pai. Não podia sequestrar a noiva do seu suserano. Não arriscaria tudo por uma mulher. Não importa quanto a quisesse.
E Deus, como a queria! Depois de tantas horas com ela em seus braços, cada centímetro de seu corpo queimava com necessidade. O cheiro do seu cabelo, sua cintura fina, o peso dos seus seios, a curva de sua bunda, infundia seus sentidos, imprimiu em sua consciência, invadiu sua alma. Ele não queria deixá-la ir embora. Ela virou para olhar para ele.
— Tem alguma coisa errada?
Ele se surpreendeu.
— Não, por quê?
— Você não vai descer? Assumo que este é nosso destino?
Ele amaldiçoou baixinho tentando encobrir seu embaraço. Quanto tempo eles estavam ali?
Ele retirou o braço que estava ao redor de sua cintura e pulou para o chão. Depois de ajudá-la a desmontar, amarrou as rédeas a um poste.
— Espere aqui enquanto me certifico que sejamos bem-vindos — ela acenou com a cabeça, contudo ele pensou sobre outra coisa. — É importante que você só me chame pelo meu primeiro nome.
Ela franziu o cenho.
— Por quê?
— Lamont não é um nome exatamente bem-vindo nestas partes. Existem alguns que ainda acreditam que meu clã teve uma mão no assassinato do pai de William Wallace — sem mencionar que seu primo, o chefe Lamont exilado, era um vassalo do Conde de Menteith, o homem que foi responsável por virar o próprio Wallace contra os ingleses.
Normalmente, ele simplesmente usaria seu nome de guerra, Hunter. Mas com Janet aqui isso não era uma opção. Ela já sabia demais.
Felizmente, a resposta pareceu satisfazê-la.
— Muito bem. E quem eu sou?
Ele sabia o que ela estava perguntando, mas de jeito nenhum fingiria estar casado com ela novamente. Não podia permanecer outra noite dormindo ao lado dela.
— Janet. Isto é tudo que eles precisam saber. Deixara-os desconfortáveis por saber que servem a cunhada do rei em seu humilde lar.
— Eu não deixaria ninguém desconfortável, mas passaram-se muitos anos desde que fui servida por alguém. Não espero, nem desejo isto. Asseguro a você, este humilde lar vai parecer um castelo comparado a alguns dos lugares que fiquei.
Ele não perdeu a repreensão suave. Se ela estivesse também tentando dizer que sua diferença de status não importava para ela, fingiu não entender. Podia não importar a ela, mas importaria ao rei. Disso estava mais do que certo.
Com um último olhar que pareceu suspeitosamente com um adeus, Ewen foi encontrar o fazendeiro. Uma vez que Janet percebeu a verdade dos seus sentimentos por Ewen, tudo pareceu se encaixar no lugar. Se ela teve qualquer dúvida sobre o que queria, elas foram logo postas de lado ao chegar à pequena fazenda.
Ela se sentou à mesa diante do fogo de turfa ardendo suavemente, apreciando o calor que a envolvia. Não era apenas o calor das chamas ou a satisfação de uma boa refeição, mas também a companhia. Os Wallaces eram anfitriões corteses e sua felicidade era contagiosa.
Ewen estava certo, nem todos os casamentos eram horríveis. Os Wallaces eram prova disto. Suas brincadeiras apaixonadas, sutis olhares amorosos e toques inconscientes falavam de possibilidades.
Robert Wallace era um primo distante de William Wallace. Ele lutou ao lado de seu ilustre parente até seis anos atrás quando Robert perdeu uma mão em uma briga em Earnside. Margaret era consideravelmente mais nova que seu marido, e de longe mais bonita. A moça delicada de cabelos escuros, com suas feições de fada e constituição esbelta parecia totalmente errada ao lado do guerreiro de cabelos grisalhos por volta dos quarenta anos, quem estava à altura de seu parente famoso e o tamanho imponente de um forjador. Mas de alguma maneira eles se encaixavam perfeitamente. A risada dela aberta e brilhante, e natureza ensolarada complementava a aspereza do seu marido e disposição taciturna. Estava claro que ele adorava sua jovem esposa. Sua jovem esposa grávida.
A estranha pontada que Janet sentiu no peito quando percebeu que Margaret estava esperando bebê se tornou mais identificável conforme a noite passava lentamente. Era desejo. Dolorido e agudo desejo.
Nos saltos de sua própria “gravidez”, Janet nunca sentiu a ausência de crianças em sua vida tão intensamente. Claro, houve vezes ao longo dos anos quando ela pensava sobre crianças — sobre o que estaria desistindo aceitando o véu, — mas já que uma criança exigia um marido, e considerando a importância do trabalho que estava fazendo, parecia um pequeno preço a pagar. Em teoria, talvez fosse. Mas não parecia tão pequeno agora, sentada com uma mulher grávida radiante de um lado e o homem a quem ela tinha acabado de perceber que amava do outro.
Isso se sentia como algo que ela queria. Com ele. Crianças. Noites confortáveis diante do fogo. Olhares amorosos e toques ternos. Queria o que os Wallaces tinham.
Ela sabia o que isso significava. Casamento.
Esperou alguns segundos para reagir à palavra, mas o gosto ruim habitual não subiu à sua boca. Deve ser amor, pensou com um sorriso torto. Com Ewen, um casamento feliz parecia possível.
Sabia que existiam complicações. O rei de um lado, seu trabalha por outro. Robert provavelmente era o mais fácil dos dois. Se Ewen estivesse realmente em sua guarda secreta como suspeitava, isso ajudaria. Ewen não gostaria da ideia dela continuando seu trabalho, mas entenderia o quanto era importante para ela. Ele não era como seu pai e irmão — não tentaria enfiá-la em alguma caixa. Ele a valorizava — disse muito isso. Se ele a amasse, eles achariam um modo de fazer isto funcionar — como Magnus e Helen.
Finalmente encontrou um homem que era forte suficiente para deixá-la ser ela mesma. Sua força de vontade poderia ser muito mais quieta que a dela, mas era tão forte quanto. Haveria brigas entre eles, aye, mas estaria esperando ansiosamente por elas.
Claro, não era ela quem precisava ser convencida que era uma boa ideia. Ele a queria, disso não tinha nenhuma dúvida, e ele se importava com ela — o admitiu tantas vezes. Mas queria se casar com ela? Ele disse que era impossível, mas e se não fosse?
Seu olhar deslizou para o homem em questão. Ele estava preso em uma conversa em voz baixa com Robert Wallace sobre a guerra, enquanto Janet e Margaret terminavam sua refeição — a última fingindo não escutar a discussão dos homens.
— Estamos falando alto suficiente para você, esposa? Não quero que você perca nada de nossa conversa particular — disse Robert, levantando o olhar. Sua expressão era provocadora, mas seus olhos eram suaves quando caíram em sua esposa. Margaret não perdeu um segundo.
— Isto é bastante considerado de sua parte, Robert. Tenho certeza que isso tudo está além da minha pobre compreensão de mulher, mas se você pudesse falar um pouquinho mais alto ajudaria.
Os olhos dela dançavam enquanto se inclinava e sussurrava para Janet.
— Embora eu dificilmente qualificasse a troca de algumas palavras e grunhido ocasional uma conversa. Não sei qual deles é pior.
Janet desatou a rir.
Os olhos de Robert estreitaram em sua esposa.
— O que é tão engraçado?
Margaret sorriu e deu a Janet uma piscada enquanto ficava de pé ao lado da mesa.
— Temo que seja particular.
Robert balançou a cabeça, mas Janet não perdeu o sorrisinho quando ele voltou à sua conversa com Ewen.
Margaret começou a limpar os pratos da refeição deles. Quando Janet se levantou para ajudar, ela mandou que voltasse para sua cadeira.
— Você é uma convidada — disse ela, e então em um sussurro. — Além disso, você deve me contar se eles disserem qualquer coisa interessante.
Janet sorriu de forma conspiradora.
— Vou fazer o melhor que puder. Mas “interessante” provavelmente é mais do que podemos esperar.
Margaret riu.
— Você provavelmente está certa. Que tal este: tente não dormir.
— Não me faça prometer — disse Janet. — Não posso me lembrar da última vez que me senti tão confortável. Você tem uma casa adorável, Margaret.
Ela podia ver quanto o comentário agradou a outra mulher.
— Acho que você viu a torta de maçã.
Janet riu.
— Posso ter visto.
Margaret foi para o outro lado da longa sala enquanto Janet relaxava. Olhou para os dois homens no fim da mesa sorrateiramente. Ela não devia ser tão versada em escutar quanto Margaret, porque podia entender muito pouco do que estava sendo dito. Embora estivesse acostumada a escassa conversa de Ewen, até mesmo para ele, parecia anormalmente subjugado hoje à noite. Algo estava errado.
Ele estava mais preocupado do que dizia por seus amigos não terem chegado? Ele parecia confiante que eles chegariam logo. Ou qualquer outra coisa o estava incomodando?
Ela franziu o cenho enquanto ele tornava a encher sua taça novamente. Parecia estar bebendo mais do que o habitual hoje à noite. Seu rosto parecia um pouco corado. Ela esperou para interromper a conversa dos homens.
— Está tudo bem com sua perna, Ewen?
Ele levantou o olhar para ela.
— Parece bem. Por que pergunta?
Ela enrubesceu, não querendo admitir que estivesse observando-o tomar sua cerveja.
— Você não a mencionou durante algum tempo e estava só me perguntando como estava sua recuperação.
— Está boa.
— Você foi ferido? — Margaret perguntou se aproximando da mesa.
— Um tempo atrás — ele respondeu.
— Mas não curou corretamente — Janet inseriu.
Ewen lhe atirou uma cara feia. Ela sorriu.
Margaret franziu o cenho.
— Eu tenho um pouco de unguento...
— Sério — Ewen disse. — Está tudo bem.
— Deixe o rapaz em paz, Margaret — Robert disse. — Ele tem idade suficiente para decidir por si mesmo se precisa de ajuda.
Margaret e Janet olharam uma para outra revirando os olhos. Não havia idade suficiente para os homens admitirem que eles precisavam de ajuda.
— Contudo estou bastante cansado — Ewen disse, empurrando-se para longe da mesa. — Acho que devo me retirar.
— Já? — Janet disse, não escondendo sua decepção. — Mas e a torta?
Não estava pronta para a noite terminar — ou para a jornada terminar, de fato. Sabia muito bem que Ewen podia ser chamado para outra missão assim que eles retornassem, e ela teria que partir quase imediatamente também, voltar para Roxburgh a tempo do Dia de St. Drostan.
As complicações com os ingleses que eles enfrentaram em sua jornada certamente faria com que persuadir Robert fosse mais difícil, mas pela importância das informações do seu contato, e o fato que Ewen e os outros fantasmas não estariam com ela para atrair a atenção dos ingleses, estava confiante que ele veria a necessidade.
E havia o outro assunto. O assunto deles.
Ewen olhou para Margaret.
— Esperarei ansiosamente uma fatia de manhã — seu olhar finalmente caiu nela. — Você devia descansar um pouco também. Nós sairemos cedo e teremos um longo dia à nossa frente.
Janet assentiu e o deixou ir. Por enquanto. Descansaria, mas só depois que falasse o que queria falar. Ele precisava saber como ela se sentia. Como o que tinha a dizer precisava ser dito em particular, ela esperaria seu tempo. Mas antes desta noite acabar, Ewen saberia o que estava em seu coração.
CAPÍTULO 20
Ewen se sentou pensativamente em um tamborete diante do braseiro de ferro que Margaret forneceu para seu calor no celeiro, passando a extremidade de sua lâmina acima da pedra de amolar lubrificada, com golpes longos, lentos e deliberados. Era algo que ele fazia antes da batalha, para se acalmar e manter sua mente fora do que estava adiante. Um ritual, ele supunha. Eles todos tinham. A maior parte dos soldados atendiam suas armas, mas MacSorley gostava de nadar um pouco, e Striker lia de um amarrado pequeno de couro que carregava por aí com ele como um talismã. Existiam sempre uns que oravam — e uns que bebiam longos goles de uísque.
Mas esta noite, como a cerveja e a natação no lago que vieram antes, o ritual não estava ajudando. Nada estava ajudando a manter sua mente fora de Janet e o que vinha adiante. E certo como o inferno não estava ajudando a aliviar a energia inquieta abundando dentro dele. Ele se sentia tão no limite quanto esta maldita espada.
Ewen queria que pudesse dizer que era apenas luxúria. Deus sabia, ele foi empurrado bem além do limite do que qualquer homem de sangue quente devia ser esperado suportar. Ele a queria tão intensamente que seus dentes doíam só de olhar para ela. Mas apesar de que o pau duro fosse uma parte disso — uma grande e dolorosa parte — não era tudo.
Luxúria não era o que fazia seu peito arder cada vez que seus olhos se encontraram esta noite. Ele não tinha perdido a reação dela à condição da Margaret e o desejo em seu rosto, assim como não perdeu o modo que ela olhou para ele a seguir.
Isso não era possível, maldição. Por que ela o estava atormentando com coisas que não podiam ser?
Porque ela não sabia que eles não podiam ser.
Mais um dia. Mais um dia e isso tudo estaria acabado. Ele teria a maldita certeza que ela não estaria olhando para ele assim depois de amanhã, e o que ele queria não faria diferença. Mas ele encontraria pouca alegria em saber que ela o odiaria, mesmo que fosse o melhor.
Fazer a coisa certa não devia ser tão difícil, maldição.
Ewen xingou quando sua mão deslizou e seu polegar encontrou a borda da lâmina. Uma linha de sangue esguichou da ponta do seu dedo, umas gotas caíram na pedra de amolar antes dele poder afasta-la.
Maldito inferno! Bom que ele não acreditava em presságios. Se acreditasse, este era um ruim.
A porta abriu de rompante assim que ele ficou de pé. Mesmo nas sombras ele a reconheceu.
— O que aconteceu, está tudo bem com você... — Janet parou, seus olhos arregalando à medida que via seu dedo ensanguentado. — Sua mão!
Ela deu um passo dentro do celeiro, mas ele a deteve.
— Não é nada. — Ele pegou um pedaço da bandagem que envolvia sua perna e a enrolou ao redor do seu polegar. — Eu me cortei na lâmina. Isso acontece o tempo todo. — Ele mentiu, embora fosse verdade que o corte era somente um incômodo.
Diferente de sua perna. Isso doía como se queimasse, o que era estranho já que não parecia pior. O pouco sangue que havia parecido fino — parecia aguado, realmente, — mas isso era alarmante. Depois de ir nadar no lago gelado mais cedo, envolveu o ferimento em linho limpo e se sentiu um pouco melhor. Mas tinha de admitir que estava preocupado. Não preocupado suficiente, porém, para tê-la tocando-o. Se era por isso que ela estava aqui — embora não visse nenhum unguento ou linho em suas mãos. Qualquer que fosse a razão para seu aparecimento, não era uma boa ideia.
— O que está fazendo aqui, Janet? Deve ser depois da meia-noite. Você devia estar dormindo. Volte para a casa.
Ela o ignorou.
— Nós precisamos conversar. — Fechando a porta suavemente, ela caminhou em direção a ele. Quando chegou mais perto, ela entrou na luz.
Sangue de Deus! Ele sentiu como se alguém tivesse acabado de dar um soco na sua barriga. Um soco de tentação. Ela era uma fantasia ambulante. Uma sereia enviava para levá-lo diretamente para o inferno. Ela parecia como se tivesse acabado de rolar da cama. Seu cabelo dourado caía pelos ombros em uma massa ligeiramente bagunçada — sensualmente bagunçada, — ondas que captavam o faiscar da luz das velas em um halo prateado. Seu plaid estava envolvido ao redor dos ombros dela e se juntava na frente, mas ele ainda podia ver a camisa de linho fino que ela vestia por baixo. Tudo que ela vestia por baixo. Por baixo da bainha podia ver uma sugestão de pernas e pés nus que ela apressadamente enfiou em seus sapatos sem meia.
Ela parou a alguns passos dele e Ewen tentou respirar, mas o ar em seus pulmões parecia ter se tornado sólido.
Pela primeira vez que em sua vida, o caçador experimentou como era ser pego. Como um cervo na mira do arqueiro, ele não podia se mover.
Ele viu o olhar dela ir para trás em direção ao estábulo escuro, onde seu cavalo e alguns outros animais estavam alojados, e então para o pequeno canto onde um pallet de aparência confortável tinha sido ajeitado para seu uso. Além do braseiro e do tamborete, havia uma mesinha com uma luminária a óleo. O cheiro era de terra por causa da turfa em vez de pungente, e o ar era abafado e morno.
Juntando com o modo que ela parecia, o fazia pensar sobre…
Inferno, tudo nela o fazia pensar sobre isto. Ele estava equilibrado na extremidade da espada. Apertou os punhos, uma mão formando uma bola em torno da bandagem.
— Você precisa partir, Janet, agora. Seja o que for que você tem a dizer pode esperar até amanhã. Isto não está certo. Você não deveria estar aqui comigo sozinha assim. E se os Wallaces acordarem e notarem que você se foi?
A ferocidade de seu tom não pareceu causar nenhuma impressão nela. Ela ergueu o queixo para encontrar seu olhar.
— Estivemos sozinhos por quase dois dias. Os Wallaces estão profundamente adormecidos, e ainda que acordem, suspeito que saberão exatamente onde eu fui, Margaret especialmente. — Ela deu outro passo em sua direção, e ele teve que se forçar a não dar um passo atrás. Mas sua pele ficou apertada sobre os ossos. Seu sangue disparou por suas veias, e seu coração estava martelando como um tambor. — O que tenho a dizer é importante e não pode esperar.
Ele franziu o cenho, uma pontada de preocupação penetrando através de sua raiva pela invasão e a urgência de conseguir tirá-la daqui.
— Algo está errado?
Ela sacudiu a cabeça.
— Então o que é?
Ela mordeu o lábio, como se não soubesse o que dizer. Já que ela sempre sabia o que dizer, sua preocupação aumentou.
— Eu mudei de ideia.
— Sobre o que?
— Não acho que eu quero ser uma freira.
Um pouco de sua raiva retornou.
— E isto é tão importante para que você escape sorrateiramente de sua cama no meio da noite para vir me encontrar?
Ela disparou uma cara feia para ele, apertando a boca.
— Isso significa que nas circunstâncias certas eu poderia considerar casamento.
Ele ficou imóvel. O ar parecia ter deixado seus pulmões. Realmente o ar, o sangue, os ossos, e quase tudo mais parecia tê-lo deixado também.
Ela estava tentando dizer que consideraria se casar com ele?
Pelo modo que ela abaixou seu olhar e o suave rubor rosa em suas bochechas, suspeitava que era exatamente o que ela queria dizer.
Jesus! Apesar dele estar vestindo só uma túnica e uma calça de lã fina, sentiu um brilho de suor se reunir em suas sobrancelhas. Que diabos ele devia dizer?
— Janet, você sabe que as circunstâncias certas serão decididas pelo rei. Se for seu desejo se casar, Bruce será quem irá encontrar um marido para você — um marido apropriado.
Sua boca apertou cheia de desgosto.
— Robert não é assim. Ele considerará meus desejos.
Ewen xingou baixinho. Como podia dizer a ela que “Robert” já tinha encontrado um marido sem considerar seus desejos afinal? Sem mencionar que o rei tinha avisado a Ewen para ficar longe dela.
Ele se mexeu desconfortavelmente, de repente sentindo como se estivesse caminhando por um jardim dos sacos de pólvora do Sutherland — com faíscas nas botas.
— Ele vai encontrar um marido que tenha mais que um dedo de terras e um castelo meio construído.
Em vez de desencorajá-la, suas palavras pareceram incentivá-la.
— Mas e se ele pudesse ser persuadido? Você não vê, eu podia te ajudar. Se você se casasse comigo, melhoraria sua posição com Robert. Ele com certeza devolveria algumas terras para você e...
— Pare! — Ele a pegou pelos ombros e sacudiu, não percebendo o que estava fazendo. — O que você está dizendo é impossível. Maldição, algum dia já ouviu a palavra “não”? Não vai acontecer.
Ela respirou fundo, olhando fixamente para ele com centenas de perguntas nos olhos.
— Por que não? Pensei que você… — Os olhos dela viraram para os seus, rasgando-o. — Pensei que se importasse comigo. Você não me quer?
Maldito inferno! Ewen a soltou tão de repente quanto a agarrou, não confiando em si mesmo. Ele a queria com cada fibra de seu ser. Ele a queria tão desesperadamente, levou tudo que tinha para não a puxar em seus braços agora mesmo.
— Não é tão simples, Janet.
— Por que não?
A dor em sua voz quase o quebrou. Sabia que haveria lágrimas em seus olhos se ele olhasse, então ao invés disso arrastou os dedos por seu cabelo e andou alguns passos diante do braseiro de ferro.
— Simplesmente não é.
— Mas eu amo você.
Seus pés pararam. Seu coração parou. Tudo pareceu parar. Levou alguns momentos para as palavras afundarem. Por um instante sentiu uma explosão de algo similar à felicidade pura — felicidade como nunca experimentou antes. Porém isso foi socado sob o peso amargo do dever e da lealdade. Pessoas estavam contando com ele, maldição. Ela pertencia a outro homem.
Ewen não seria como seu pai, mesmo se isso o matasse. Ele não faria isto. Disciplina.
Ele virou e se forçou a olhar para ela, cada músculo em seu corpo tão apertado quanto um arco. Sua mandíbula estava apertada, seus punhos estavam apertados, e a dor em seu peito abafou tudo que ele esteve sentindo em sua perna.
Ela olhou fixamente para ele com olhos arregalados, parecendo mais vulnerável do que ele já a viu.
— Você não vai dizer algo?
— O que você gostaria que eu dissesse? — Ele não queria que isso soasse tão duro quanto soou, mas nunca foi bom com palavras. Ele nunca foi bom com nada disso. Como a bagunça que ele fazia com tudo.
Ela se encolheu, seus dedos ficando brancos conforme ela apertava o plaid com mais força.
— Eu pensei... — Ela parou, sufocando um soluço mudo. — Pensei que você pudesse se sentir do mesmo modo. Mas posso ver que estava errada. — As primeiras lágrimas deslizaram de seus olhos, cada uma delas uma lança de dor através do seu coração. — Eu não devia ter te incomodado. Me d-desculpe.
Ele mal pode ouvir a última palavra pelo soluço minúsculo. Podia ver os ombros dela tremendo quando ela virou para partir.
Ele não podia fazer isto. Não podia deixá-la partir deste jeito.
— Janet, espere.
E foi quando ele cometeu seu erro. Ele a segurou.
Janet estava muito magoada para estar humilhada, embora tivesse certeza que isso viria mais tarde. Deus do Céu, ela praticamente pediu para ele se casar com ela! Ela deu a ele seu coração e ele não quis. Seu peito se sentia como se tivesse sido esmagado por um pedregulho — ou o chão debaixo de uma enorme bota pesada.
Ela não podia respirar — não ousava respirar — temendo que a onda quente de emoção constringindo sua garganta e peito se despejasse em uma torrente de soluços.
Algum dia já ouviu a palavra “não”?
Aye, ela ouviu. Em alto e bom som. Querido Deus, como ela pode ter estado tão enganada? Isto era só outro exemplo dela descendo montanha abaixo como uma pedra rolando? Ela tinha imaginado algo que não estava lá?
Seu lábio inferior tremeu. Seus ombros sacudiram. As lágrimas começaram a fluir. Oh Deus, ela tinha que sair dali!
Ela o ouviu chamar atrás dela e o teria ignorado se ele não pegasse seu braço.
— Solte-me! — Ela tentou encolher os ombros para escapar, não querendo que ele a visse chorar. Não querendo que ele visse o quanto a magoou. Ele não podia deixá-la com um fragmento de orgulho?
Aparentemente não. Ele não a soltou, a mão do seu grande guerreiro fechou ao redor da parte superior do braço dela como uma algema de aço. Ele a fez dar meia volta para que o enfrentasse, mas ela não levantou o olhar. Manteve o olhar fixo na gola bordada de sua túnica de linho. Mas até isso doía. Estava amarrado ao pescoço dele, e ela se achou olhando fixamente para o caminho de pele escura por baixo. A pele que ela ainda queria tocar.
O calor de seu corpo a envolveu. Cruelmente. Provocadoramente. Perseguindo-a com memórias de coisas que não podiam ser.
— Eu não quero magoar você.
Ela deu uma risada aguda que saiu mais como um soluço quebrado. Era tarde demais para isto.
— Então o que você quer, Ewen? — Ela levantou o olhar para dentro dos seus olhos, um flash de raiva temerária restabelecendo um pouco de sua coragem. — Oh, espera. Eu sei o que você quer. — Ela inclinou seu corpo no dele, suas terminações nervosas zumbindo ante o contato. Mas desejo não era amor. — Como eu posso ter confundido isso com qualquer outra coisa?
Ewen soltou um gemido áspero, torcendo o braço dela ao redor para aproximá-la muito mais apertada contra ele, embora não achasse que ele estava ciente do que fez.
— Pare com isso, Janet. Isto não é verdade.
Seu rosto era uma máscara escura e torturada. Sua boca uma linha dura, seus olhos tiras de aço, sua mandíbula apertada.
O coração dela tinha dono. Odiava-o por fazer com que ela o quisesse tanto. Por cada um dos músculos duros pressionados contra ela que faziam seu corpo esquentar, mesmo agora. Por ser tão bonito que fazia seu coração doer só de olhar para ele. Por fazê-la perder de vista seu plano e acreditar até por um momento em contos de fadas. E acima de tudo por não a amar de volta.
— O que não é verdade? — Ela provocou. — Que você não me quer? — Ela apertou seus quadris contra ele. — Eu diria que seu corpo discorda.
Seus olhos mergulharam nos dele. Estava tremendo de raiva, frustração e dor. Ela queria atacar. Queria machucá-lo tanto quanto ele a machucou.
— Mas quer saber, Ewen? Isso não é mais suficiente para mim. Não quero mais você. Então solte-me!
Pânico subiu duro e quente dentro dele. Ela estava falando sério. Ewen podia ver em seus olhos. Ela não o queria mais. Ele a empurrou para longe vezes demais. Era o que ele procurou, não era? Ele achou. Mas enquanto estavam lá tão colados, faíscas de raiva e desejo chocando entre eles em uma feroz batalha de vontades, soube que não podia deixá-la ir. Se ele a deixasse ir embora agora, seria muito tarde. Ele a perderia. Ela nunca voltaria. Estaria terminado.
Ele podia lutar com o desejo — poderia até mesmo ser capaz de ganhar, — mas não podia lutar com o medo forjado por pensamentos de um futuro sem ela. Ela jogou suas defesas abaixo até que ele simplesmente não podia mais lutar.
Pro inferno com isto. Sua boca cobriu a dela em um beijo quente e possessivo que era para não deixar nenhuma dúvida sobre suas intenções. Ele iria fazê-la pertencer a ele da única maneira que podia. Pela primeira vez, Ewen não segurou nada, dando rédea livre ao seu desejo.
Ele provou a ela a mentira com seus lábios e língua, pedindo — não, exigindo — com cada golpe hábil, até que ela estava retribuindo seu beijo com tanto calor e paixão que queimava dentro dele. Ela o queria.
O plaid que ela estava segurando — seu plaid — caiu numa poça aos seus pés conforme seus braços rodeavam o pescoço dele. O corpo minúsculo dela esticado contra o seu e ele afundou nela, respirando em seu quente e pesado calor.
Era incrível. Seu calor. Sua suavidade. O aroma inebriante de seu cabelo. Ele cavou mais fundo, ajustando o corpo seu corpo ao dele, cavando a mão através das mechas douradas para agarrar sua cabeça nas palmas dele, e afundar a língua cada vez mais fundo na doçura da caverna quente de sua boca.
Ele não podia ter o suficiente. Sua boca estava faminta pelo gosto dela, suas mãos ávidas para vagar por cada centímetro, e seu corpo doía por mais pressão.
Ela gemeu e estremeceu, seus dedos minúsculos embreando — cavando — em seus ombros, prova visceral do quanto ela o queria.
Um raio de calor atingiu duro em sua virilha, enchendo-o. Fazendo-o inchar. Pulsar. Latejar.
Ele não iria durar.
Varrendo-a para dentro de seus braços, carregou-a para cima da pallet. Interrompeu o beijo apenas tempo suficiente para descê-la e arrancar sua camisa antes de descer ao lado dela.
Os olhos dela arregalaram, viajando sobre planos de pele nua. Não, “viajando” não era bastante certo. “Banqueteando” talvez fosse mais preciso. Estava acostumado a mulheres admirando os efeitos da guerra em seu corpo, mas com ela era diferente. Com ela importava.
— Meu Deus, você é bonito — ela deixou escapar.
Ele sorriu.
— Guerreiros não são bonitos, moça. Pensei que você fosse boa com palavras.
Ela corou, embora soubesse que ele estava brincando com ela.
— Muito bem, “perfeito” então. — Seus olhos foram para o corte que ele sofreu na batalha com os ingleses na manhã anterior. — O ferimento não dói? — Ele sacudiu a cabeça. Como disse a ela, não era mais do que um arranhão. — O que é isto? — Ela perguntou, traçando a marca que o vinculava à Guarda das Highlands em seu outro braço com o dedo.
Ah, inferno.
— Nada.
Ela o ignorou.
— É o Leão Desenfreado com algum tipo de faixa e inscrição. — Ela espremeu os olhos para enxergar melhor na luz das velas. — Or inveniam viam. ”Eu devo achar um modo”. — Ela traduziu. — Isso se encaixa para um rastreador. Soa como a inscrição para uma espada.
— É. — Ele disse. Tinha a mesma marca em sua espada. A tatuagem do Leão Desenfreado rodeada com a faixa como um torniquete de uma teia de aranha, era a marca usada para identificar cada membro da Guarda das Highlands. Mas muitos dos guerreiros a personalizavam com armas ou lemas. Ewen fez ambos. Tinha duas lanças cruzadas atrás do leão e a inscrição em sua espada abaixo.
Seu braço flexionou debaixo da ponta do dedo dela, e agradecidamente ela continuou. Ela se estendeu e espalhou suas mãos por seu tórax e braços.
— Você parece como se fosse feito de aço. — Ela ergueu o olhar timidamente. — Sabe, nunca gostei de músculos antes, mas acho que aprendi a gostar bastante. — Sua palma espalhou sobre o músculo protuberante em seu braço superior e apertou. — Aye. — Ela disse, sua voz ficando um pouco mais rouca. — Aprecio bastante.
Outra explosão de calor correu através dele. Amaldiçoou e a beijou novamente antes que suas palavras pudessem deixá-lo mais louco.
Ele tinha toda intenção de levar isto devagar. Saborear cada minuto do que poderia ser a única vez...
Ele parou. Não pense nisso.
Ao invés disso se concentrou no quanto era boa a sensação dela bem enfiada debaixo dele. Segurou-a aconchegada ao seu lado, meio projetado em cima dela, para não a esmagar com seu peso. Isso também deixava sua mão livre para explorar, e teve a maldita certeza de não deixar nenhuma parte dela sem tocar. Ele segurou de forma côncava seu seio através do tecido fino da camisola, escovando o polegar acima do bico tenso, antes de deslizar a mão atrás sobre sua cintura e quadris, e então sua bunda, erguendo-a contra ele até que a perna dela envolveu ao redor do quadril dele.
Seus grunhidos e gemidos saíram de foco juntos quando ele começou a esfregar suavemente contra ela. Lentamente aumentou, imitando o ritmo com sua língua, enquanto os círculos lentos e gentis se tornavam um esfregar rápido e duro. Ele a deixou se acostumar ao seu tamanho. Deixou-a sentir cada centímetro de seu comprimento enquanto movia seu corpo acima do dela.
Mas a performance separada por algumas camadas de linho e lã não era suficiente para nenhum deles. A corrida frenética dos batimentos cardíacos dela e respiração acelerada, entre ofegos crescentemente urgentes e gemidos, combinavam com os seus.
Tensão latejava por seu corpo. Ele estava quente para cacete. Fervia. Seu corpo um inferno de necessidade. Suor reunia em sua sobrancelha enquanto ele lutava com os instintos pressionando dentro dele. Cada um dos seus músculos estava flexionado com força, tremendo pelo esforço para encontrar restrição. Para encontrar controle. Para fazer isto durar.
Mas não ia durar. Não desta vez. Estava tão gostoso e ele a queria tão intensamente. Desde o primeiro momento que a viu na floresta, meio nua e feroz como uma valquíria, ele esteve esperando por este momento. Não quis reconhecer nem para si mesmo, mas a verdade finalmente o alcançou. Ou talvez fosse o destino que o tenha alcançado.
Sabia que estava muito apressado. Apressado demais. Mas tinha que estar dentro dela. Agora.
Com uma mão, desabotoou os laços de seus calções e os deslizou de seus quadris. A explosão de ar frio sobre sua pele túrgida o fez gemer de alívio.
Sutileza estava além dele. Sua mão parecia grande e desajeitada enquanto agarrava a bainha da camisola dela, levantando-a só o suficiente para ele ter acesso. Ele se forçou a tirá-la. Deixou sua mão descansar na coxa dela um instante antes de tocá-la. Mas ela não deixou. Começou a se retorcer, gemer, erguer seus quadris para encontrá-lo.
Então deu a ela o que ambos queriam, varrendo seus dedos sobre a umidade dela, antes de deslizar no apertado calor feminino. Ele gemeu. Tão molhada. Tão quente.
Um afiado aperto de desejo formou uma bola na base de sua espinha. Queria estar dentro dela tão desesperadamente, levou tudo que tinha para não alavancar seu corpo acima do dela e investir duro para dentro. O conhecimento do quão bom se sentiria colidiu nele numa onda quente, quase o arrastando para baixo.
Mas tinha que deixá-la pronta para ele. Ela era inocente, maldição, e ele iria fazer isto bom para ela, ainda que o matasse.
E seria muito bom.
Erguendo a cabeça, interrompeu o beijo para ver seu rosto enquanto dava prazer a ela.
Sentiu algo apertar duro em seu peito. Ela era tão bonita. Presa na agonia da paixão, suas bochechas coradas com prazer, seu cabelo dourado espalhado atrás de sua cabeça numa desordem selvagem, seus olhos entrecerrados e seus lábios inchados pelo beijo suavemente separados, ela parecia com algum tipo de deusa sensual. Sabendo que ele estava fazendo isto para ela o humilhava. Foi seu beijo que inchou os lábios dela, sua barba de uma semana que avermelhou a pele sensível ao redor do queixo, e seu toque que estava deixando-a selvagem.
Mas não selvagem o bastante.
Janet se sentiu como se tivesse sido pega em um vendaval. Um vendaval quente, frenético e devastador. Ela foi do desespero absoluto até o êxtase em questão de minutos.
O que o tinha segurado se foi. Quando a beijou, ela soube que ele tomou sua decisão: ele a escolheu. Seu peito inchou com felicidade. Ela não esteve errada em entregar seu coração a ele.
Foi varrida pelo calor do seu abraço, entregou-se à paixão. Entregou-se à ele. A rendição nunca pareceu tão boa. A sensação de seus dedos dentro dela — acariciando-a, trazendo-a ao próprio pico do prazer…
Oh Deus, ela não podia aguentar isso! Ela gemeu, se retorceu, sentiu o desejo avassalador de pressionar seus quadris na mão dele. Um eco da memória do que ele fez com ela a provocou, enquanto a sensação cintilava mal fora do seu alcance.
— Não ainda, mo chroí. — Ele sussurrou em seu ouvido com uma risada malvada. — Quero te saborear primeiro.
Janet não queria tentar dizer a ele o que fazer, mas preferia esse negócio agora de beijar.
Ela soltou um pequeno choramingo de protesto quando ele diminuiu as carícias, e tentou não ficar irritada quando ele riu.
— Prometo que você gostará disto, moça.
Ela sentiu seu primeiro cintilar de premonição quando ele deslizou para baixo, não para cima. Meu Deus, seu rosto estava bem entre sua...
Uma súbita onda de embaraço esfriou um pouco do calor. O instinto fez suas pernas se juntarem com força.
— Não! Não faça isso! Você não pode!
Ele levantou os olhos para ela, um brilho malvado em seus olhos azuis acinzentados. Uma mecha espessa de cabelo escuro caía sobre sua sobrancelha, dando a ele uma distinta borda marota. Ele enterrou sua boca bem no ápice de suas pernas fechadas, o calor de sua respiração fazendo-a ofegar. Ele sorriu.
— Asseguro a você, eu posso. — Ele se aninhou nela novamente, suavemente cutucando suas pernas para se separarem. — Você vai gostar disso, amor. Só me deixe ter um gostinho.
Oh Deus! Ela estremeceu — e não com mortificação — quando ele se aninhou nela novamente, desta vez dando a ela um tremular de sua língua que enviou uma ondulação após a outra de sensação direto para os dedões do seu pé. Suas pernas relaxaram ainda mais, abrindo um pouco mais à medida que o embaraço rapidamente dava lugar para os desejos perversos do seu corpo.
Quando ele a beijou lá, apertando seus lábios quentes e firmes na sua parte mais íntima, ela gritou em choque e prazer tão agudos que deixou cada terminação nervosa no limite. Ou melhor, virou do avesso cada terminação nervosa. Ela era uma bola crua de terminações nervosas viradas do avesso. Quente, sensível e posicionada para seu toque.
Ele a provocou com estalidos gentis de sua língua e beijos suaves até que ela não pode aguentar mais. Começou a erguer seus quadris contra ele, querendo mais pressão.
— Gosta disso, amor?
Gostar disso? Céus, nunca imaginou gostar tanto de uma coisa. Esperava que ele não estivesse esperando que ela falasse, tudo que podia administrar era um ofego sem fôlego.
Esqueceu-se de estar envergonhada e não ofereceu um único protesto quando ele se instalou firmemente entre suas pernas, lançou as pernas dela por cima de seu ombro, e agarrou sua bunda com ambas as mãos para erguê-la mais completamente para sua boca maravilhosa e perversa.
O primeiro golpe amoroso de sua língua fez cada um daqueles terminais nervosos virados do avesso formigar. Mas foi a pressão de sua boca e o esfregar de mandíbula da barba por fazer contra a pele tenra entre suas coxas que a fez perder toda vergonha.
Ela começou a tremer. Começou a arquear as costas e erguer os quadris cada vez com mais força contra seus lábios e língua. Disse a ele para não parar. Implorou para fazer isso parar. Mais rápido. Mais fundo. Mais duro.
Oh Deus, sim… sim! Uma corrida de calor surgiu entre suas pernas para a sucção morna de sua boca. Ele a segurou ali, bebendo-a, enquanto ela se catapultava em um reino diferente, enquanto seu corpo se partia em onda após onda de prazer quente e ondulante.
Através da névoa desatenta, ela o ouviu praguejar.
— Não posso esperar mais… Tenho que estar dentro de você… Desculpe.
Sua voz soava quase estrangulada.
Por que ele estava se desculpando?
Não levou muito tempo para descobrir.
CAPÍTULO 21
Ewen chegou ao fim de sua restrição. Qualquer controle que ele pensou que tinha desapareceu após o clímax dela. Queria deixá-la louca e pronta para ele, só não tinha antecipado o que isso faria a ele.
Era experiência a mais erótica de sua vida. Nunca saboreou uma mulher tão completamente antes. Nunca teve sua boca nela enquanto ela se quebrava. Nunca se sentiu tão conectado enquanto os espasmos de prazer reverberavam pelo corpo dela. Ela se entregou tão livre e completamente.
Ele não podia esperar outro minuto.
Murmurando algum tipo de desculpa, alavancou seu corpo sobre o dela. Os músculos em seus braços e ombros flexionaram duros em antecipação enquanto ele lutava para se segurar firme. Para ir lentamente.
Os olhos dela se ergueram para os dele. Ele sentiu um clique. Era como se algo tivesse mudado em seu peito e trancado no lugar.
Seus olhos tremularam para baixo e arregalaram. Seguiu a linha de seu olhar e viu a mesma coisa que ela: uma ereção de tamanho muito intimidante. Queria dar a ela algum tipo de reafirmação, dizer que tudo ficaria bem, mas verdade seja dita, ainda que pudesse dar um jeito para grunhir algumas palavras agora, não estava certo quanto disso iria doer. Mesmo suave e molhada de seu orgasmo, ela ainda era pequena e apertada, e ele grande e duro. Muito grande e muito duro.
Só de pensar nisso o fez pulsar. Lutou com a urgência de lançar a cabeça para trás e investir para dentro dela.
Mas esta era uma batalha que ele perdeu.
Seu pau estava muito duro, sua entrada escorregadia e morna muito convidativa, e qualquer controle que ele tinha fugiu no momento em que esfregou a cabeça sensível contra sua umidade sedosa. Segurando seu olhar, ele começou a pressionar para dentro, centímetro por centímetro, mas a intimidade era intensa demais, as emoções muito poderosas. Era demais. O gentil cutuque se tornou um mergulho rápido enquanto ele a possuía completamente, ligando-a a ele de um modo que não podia ser desfeito.
Ele soltou um gemido de pura e primitiva satisfação, subjugado por uma sensação de alívio e mais alguma coisa. O único modo de descrever isso era retidão absoluta. Como se ele estivesse onde pertencia. Como se encontrasse seu destino.
O grito suave de dor atravessou um pouco da sua névoa. Mas era tarde demais. Tarde demais para recriminações. Tarde demais para mudar de ideia. Tarde demais para recuar — ele foi muito longe, não podia puxar de volta agora mesmo que quisesse. Ela era sua.
Pelo menos no momento.
Ewen cerrou os dentes, mantendo-se imóvel como uma pedra, querendo lhe dar tempo para ajustar à sensação dele. Mas era bom demais. Ela era apertada e quente, agarrando-o como uma maldita luva, e cada instinto em seu corpo gritava para se mover.
Ele roubou um olhar para baixo em sua direção, surpreso por ver seus olhos não fechados bem apertados, mas olhando para ele com a emoção que ela o forçou a reconhecer.
Amor. Seu peito apertou. Uma onda de ternura bateu nele em cheio. Ele se inclinou e deu-lhe um beijo suave.
— Eu sinto muito.
Ela sorriu.
— Por quê?
Por tantas coisas.
— Machuquei você.
— Não é tão ruim... agora.
Como se para provar suas palavras, ela se mexeu, enviando um inchaço quente de prazer surgindo até a ponta dele. Ele gemeu, incapaz de resistir ao primitivo instinto de responder com um movimento também. Uma investida apertada e rápida.
Ela se encolheu.
Ele praguejou.
— Maldição. Me desculpe. Estou tentando não me mexer, mas você é tão gostosa, isso está me matando.
Pela quantidade de dor em que ele estava no momento, o sorriso que se espalhou pelo rosto dela não foi exatamente apreciado.
— Eu estou? Eu sou?
Ele lhe um olhar afiado, seus dentes apertados firmemente.
— Não precisa estar tão contente com isto.
O sorriso dela se tornou ainda mais largo.
Ele se inclinou para beijá-la novamente, o movimento fazendo-o afundar mais profundamente.
Ela ofegou, mas desta vez não com dor. Seus olhos se encontraram.
— Oh! Essa sensação...
Ele sabia como se sentia. Parecia incrível. Ele se moveu novamente, tirando só um pouco e afundando de volta. Os olhos dela se arregalaram.
— Oh... — De novo. — Oh!
Quando ela circulou seus braços ao redor do pescoço dele para segurar mais apertado, foi todo o convite que ele precisava. Segurando seu olhar, ele investiu novamente. Observando por qualquer sinal de dor. Mas não era dor que trouxe um suave rubor rosa para suas bochechas.
Quando os quadris dela se levantaram para encontrá-lo, ele não pode se conter. Seus golpes prolongaram. Aprofundaram. Foi mais rápido e mais duro, ela ofegando gemidos que o incentivaram a continuar.
O prazer era intenso. Avassalador. Como nada que ele algum dia sequer imaginou. Ela era... tudo. E mais.
Tão apertada. Tão quente. Suor despejava dele, as punhaladas frenéticas cobrando seu preço. A pressão construiu na base de sua espinha, mais forte e mais poderosa que qualquer coisa que ele já sentiu antes. O corpo dela o agarrou, ordenhou, empurrou-o por cima da borda.
E ele a levou junto. Segurando os quadris dela, ele apunhalou duro e fundo, esfregando para dar prazer a ela em círculos duros e lentos, enquanto seu próprio prazer rugia em seus ouvidos.
Ele gozou com uma intensidade incandescente que o sacudiu em seu núcleo. Por um momento, o prazer foi tão aguçado que viu tudo preto. Novamente os espasmos o assolaram. Agarrando. Apertando. Deixando-o seco.
— Amo tanto você. — As palavras dela ecoaram inúmeras vezes em sua cabeça, em seu coração.
Quando o último jato diminuiu em sua virilha, ele desmoronou na cama ao lado dela, gasto e exausto, deleitando-se nas sensações e sentimentos estranhos. Ainda sentia como se estivesse voando. Sentiu a cabeça leve, sua mente um pouco suave e vaga. Quase como se tivesse tomado mais daquele uísque do que percebeu. Jesus! Nunca percebeu que isso podia ser... Assim.
Incrível. Surpreendente. Como nada que já experimentou antes. Eles estavam... conectados. Não apenas juntos, mas conectados. Nunca se sentiu mais perto de ninguém em sua vida como esteve no momento em que estava dentro dela, olhando no fundo dos seus olhos. Quando eles acharam o clímax juntos, não só seu corpo foi saciado, mas sua alma. E a euforia não terminou com o orgasmo. Ele se sentiu — o sentimento era tão estranho para ele que levou um momento para pôr um nome nisso — feliz. Como se pudesse deitar aqui com ela para sempre.
Era tão doce. Tão entregue. E ela o amava? Como teve tanta sorte?
Estava prestes a alcançá-la e colocá-la debaixo de seu braço quando ela falou.
— Se isto é o que casamento tem a oferecer, acho que devo estar bastante contente.
Ela podia ter jogado um balde da água fria nele, o choque de suas palavras era o mesmo. O atordoamento desapareceu. A euforia e felicidade viraram um frio gelado à medida que a realidade do que fez o atingiu rápido e duro.
Foda.
O palavrão estava bem colocado. Foi isso exatamente que ele fez — tanto literal quanto figurativamente. Não só ela, mas ele mesmo também.
Em vez de aconchegá-la contra ele, olhou fixamente para o teto de madeira do celeiro em atordoada descrença enquanto as ramificações o derrubaram implacavelmente.
Sangue de Deus, que diabos ele fez?
Ao tomar sua inocência, ele violou a confiança tanto do seu rei quanto do seu suserano, e pôs seu futuro, como também do seu clã, em risco. Um dedo de terra? Inferno, ele não teria um punhado de sujeira no seu nome quando Bruce descobrisse. O castelo meio terminado — um monumento à imprudência de seu pai — seria um flagelo na paisagem para sempre. Mas nada disso importava porque Ewen estaria morto. O rei o mataria.
Ewen tinha tentado manter sua cabeça baixa, fazer seu trabalho, distanciar-se de seu pai “selvagem” e seu primo rebelde, e não chamar atenção para si mesmo. Bem, Bruce certo como o inferno ia notar isto. Estava quase feliz que Sir James estava morto para que ele não tivesse que ver isto.
Destinado a ser. Retidão. Fatalidade. Destino. Realmente tinha usado tais desculpas fantásticas para justificar o indesculpável e perder de vista sua honra? Por esquecer o que importava? Que tal dever, lealdade e disciplina? Era nisso em que ele deveria pensar. Queria culpar o uísque, mas sabia que não era isto. Ficou com medo de perdê-la e reagiu sem pensar. Deixou a emoção controlá-lo. Maldição, ele não ficou sentimental. Isto não deveria acontecer com ele.
Era tão ruim quanto seu maldito pai! Sua vida inteira esteve lutando para ter certeza que não terminaria como o Selvagem Fynlay, e em questão de minutos desfez tudo isso.
Os Lamonts em Cowal não existiriam mais. Você decidiu. Deus, sentia-se doente.
A princípio Janet não percebeu nada de errado. Ainda formigando e fraca de prazer, ainda sentindo como se estivesse planando nas nuvens, estava tão presa na maravilha do que tinha acabado de acontecer que assumiu que Ewen estava se sentindo do mesmo modo.
Nem estava preocupada quando ele não respondeu ao seu gracejo. Provavelmente estava tão subjugado quanto ela.
Foi só quando ele se sentou jogando as pernas por cima da beirada do pallet (dando a ela uma boa visão de suas costas largas e bem musculosas), arrastou seus calções para cima e enfiou a cabeça em suas mãos que ela percebeu que algo estava errado.
Só percebeu o quanto estava errada quando ele murmurou um palavrão que ela nunca ouviu dele antes.
Seu peito apertou, mas tentou não reagir demais, exagerar. E daí se isto não foi exatamente como ela tinha imaginado o momento? Não importava que ele não a puxou em seus braços, acariciou seu cabelo e disse a ela o quanto era maravilhosa. Quanto a amava. Realmente não importava.
O aperto aumentou para uma pontada. Ela não era uma virgem de dezoito anos de idade. Era uma mulher madura. Não precisava de tais garantias, embora teria sido legal. Empurrou para trás a onda quente de emoção que subiu aos seus olhos.
Ignorando o desapontamento tolo e de mocinha em seu peito, tentou pensar racionalmente. Sua reação era compreensível. É claro que era. Ela conhecia Ewen, e sem dúvida que ele veria tomar sua virgindade como algum tipo da violação ao seu código de homem.
Ela podia pensar que era ridículo, mas ele não.
Sentando-se atrás dele, ela se esticou e pôs a mão no ombro dele. Os músculos enrijeceram sob de sua palma. Outra lasca de dor tentou fazer seu caminho através da felicidade em que ela se envolveu como um plaid, mas não deixaria.
— Por favor, não fiquei chateado. De verdade, não há nada com que se preocupar. Não fizemos nada de errado. — Ela sorriu. — Ou nada que não possa logo ser corrigido. Vou até Robert assim que chegarmos e explicar, bem, talvez não tudo. — Robert podia ser tão cavalheiresco sobre este tipo de coisa quanto Ewen. — Mas ele entenderá. Ficará muito feliz em me ver casada finalmente, e casar comigo vai ajudar seu clã, você vai ver.
Nada podia ter impedido a punhalada de dor quando ele se empurrou para longe do toque dela.
— Você não entende uma maldita coisa, o rei vai ficar furioso!
Janet piscou de volta para ele em choque, atordoada pela força de sua veemência. Não pensava em si mesma como possuindo ternos sentimentos, mas ele conseguiu achar um com suas palavras tipicamente cegas e afiadas como navalhas.
— Talvez isso não seja uma combinação ideal, mas tenho certeza que Robert pode ser persuadido...
Ele a agarrou pelo braço e a forçou a encará-lo.
— Maldição, Janet! Nem tudo pode ser manejado com uma língua hábil e um belo sorriso. Quando diabos você vai aprender isso? Você não tem ideia do que eu fiz.
Ela parou de dizer a si mesma para fazer pouco de sua reação. Seja o que for que estivesse fazendo com que ele agisse assim era sério.
Ele deixou a mão cair e pôs de volta a cabeça entre suas mãos.
De repente gelada, ela juntou o plaid deixado por Margaret aos pés do pallet, embrulhou-o ao redor de seus ombros e se posicionou ao lado dele.
— Então por que não me diz? — Ela disse suavemente.
Ela pensou que ele ignoraria seu pedido. Mas depois de alguns minutos às voltas com seus pensamentos, ele pareceu chegar a algum tipo de decisão.
— O rei já organizou um noivado para você.
Ela respirou fundo, olhando fixamente para ele em absoluto horror e descrença. Não podia se lembrar de como respirar. Sua mente estava ocupada correndo em milhares de direções. Esta era a última coisa que ela esperava. Robert nunca deu nenhuma indicação que ele planejava...
Traição a rasgou, estraçalhando aquele manto de felicidade em minúsculos fragmentos. Mas não era só de Robert. Encarou Ewen, procurando pelo homem que ela pensou que conhecia. Que pensou que a conhecesse.
Ele mentiu para mim.
— Quem? — Ela perguntou entorpecidamente.
— Walter Stewart.
O golpe tomou o restinho de ar que tinha no peito. Claro!
Ewen deixou o nome dele deslizar uma vez. Agora entendia o significado. Queria rir, mas tinha medo de que fosse chorar. Walter Stewart mal tinha idade suficiente para ter ganhado suas esporas.
— Meu suserano e o filho do homem a quem devo tudo. — Ele adicionou.
Ela poderia ter tentado entender sua culpa, as profundezas da desonra que ele devia estar sentindo por sua deslealdade e confiança quebrada, mas estava envolvida demais na própria dor e confiança quebrada. Olhou fixamente para seu rosto, buscando por algo em que se segurar. Algo para mudar a conclusão inevitável encarando-a.
Ela desviou o olhar, voltando os olhos para seus pés descalços. Em algum ponto ela deve ter chutado suas botas. Uma pontada aguda cortou seu coração. Foi apenas minutos atrás que ela pensou que ele era o único para ela?
— Você não me disse.
Não era uma pergunta. Não se importava com suas razões para o porquê, mas ele disse de qualquer maneira.
— O rei suspeitou que você não seria tão... uh, dócil para retornar se soubesse.
O choque estava começando a diminuir e raiva surgiu dentro dela. Ela devolveu seu olhar, a boca torcida com sarcasmo.
— Como ele me conhece bem. E você aceitou, claro. Provavelmente era mais fácil para você. “Não é sua batalha”, não foi isso que você disse? Por que deveria se envolver?
Sua boca afinou ante o sarcasmo dela.
— Quando percebi que eu estava envolvido nisso, era tarde demais. Eu sabia que você ficaria com raiva, e sei que isso não é desculpa, mas na época eu estava mais preocupado em nos manter vivos.
Sua admissão que ele estava envolvido também era tarde demais — e pequena demais.
— Você podia ter me dito hoje à noite. Deveria ter me dito mim hoje à noite.
— Aye, bem eu não pretendia exatamente que isto acontecesse. Pensei que seria mais fácil se o rei explicasse. Pensei que isso tornaria nossa separação menos... complicada.
— Se eu odiasse você?
Ele a encarou sem piscar.
Querido Deus! A cor lavou do rosto dela, era exatamente o que ele tinha pensado. Ele simplesmente a teria entregue a outro homem e não olhado para trás. Seu coração estraçalhou como vidro jogado no chão. Ele poderia muito bem ter feito exatamente aquilo.
De repente outra verdade a atingiu. Outra traição.
— Esta não é uma permanência temporária na Escócia. O rei não tem nenhuma intenção de me deixar retornar a Roxburgh, não é?
Ele não se esquivou da fria acusação em seu olhar.
— Não.
— Mas você me deixou pensar que eu poderia persuadi-lo. Você sabia o quanto isto era importante para mim e ainda assim me deixou acreditar que eu voltaria!
Ela o viu se encolher, mas sua culpa não era boa o suficiente.
Ele encolheu os ombros. Ombros nus que mesmo agora a provocavam com memórias. Podia ver as minúsculas impressões de suas unhas. Provas de sua estupidez.
— Pareceu mais fácil na época. Pensei que você poderia se recusar a ir e eu não queria ter que te perseguir novamente. O que você estava fazendo era perigoso...
— E é claro, isso não podia ser tão importante quanto o que você está fazendo.
Ela pensou que ele não podia magoá-la mais do que fez mentindo para ela. Estava errada. Ele nunca acreditou mesmo em mim.
Janet poderia ter tentado compreender sua tentativa de evitar o conflito, mas não a falta de consideração para com ela. Ewen sabia o quanto o que ela estava fazendo significava para ela, e em sua indulgência em deixá-la acreditar que a missão dela estava apenas sendo atrasada, mostrou o quão pouco ele a valorizava. O quão pouco ele pensava dela. Nunca lhe daria o que ela queria de um marido.
Ela ficou de pé para partir, mas ele pegou seu braço, detendo-a.
— Só porque você pode sair de uma situação com conversa não significa que deveria. Você é superconfiante a ponto do descuido. Como o que aconteceu com o padre em Roxburgh... era só questão de tempo antes de ser descoberta. Eu não vou me desculpar por não querer ver você em perigo.
— E quanto a mentir para mim? — E me fazer amar você?
Os olhos dele suavizaram. Mas ela se sentiu estranhamente indiferente a isto. Uma hora atrás poderia ter visto como um sinal de sentimento. Agora, ela sabia melhor.
— Lamento profundamente por isto. Estava apenas tentando fazer meu trabalho.
Um afiado som de deboche irrompeu de seu peito firmemente ferido.
— E a missão sempre vem em primeiro, não é certo? — Ele não disse nada. Ela olhou para seu belo rosto, vendo o mudo apelo por compreensão. Parte dela queria dar isto a ele. Parte dela queria pensar que ainda haveria um modo que isso não acabasse tão horrivelmente. — E agora, Ewen? O que acontece com sua missão agora?
Certamente ela não podia ter estado tão errada. Ele não merecia uma chance, mas ela lhe daria uma.
Ewen tinha estragado tudo. Era exatamente por esta razão que ele queria evitar isto. Ele não podia suportar o modo que ela estava olhando para ele. Ver a confiança quebrada em seus olhos. A traição. O coração partido.
Isso o rasgava.
Ele não queria perdê-la. Mas que diabos podia fazer? Tentaria se desdobrar para fazer isto direito, salvar o que podia de sua honra e seu lugar no exército de Bruce, mas não tinha ilusões.
— Explicarei tudo para Bruce quando retornarmos. Se ele concordar, nós nos casaremos assim que os proclamas forem lidos.
Ela olhou fixamente para ele, forçando seu olhar a encontrar o dela.
— Você realmente não acha que pode conseguir que ele concorde?
Ele não pensava que existia uma chance no inferno. Sua mandíbula apertou.
— Não era você que estava confiante que poderia persuadi-lo?
— Isso foi antes de ser notificada do noivado. Robert não vai te “recompensar” por interferir em seus planos.
— Direi a ele que não há escolha. É tarde demais. — Ele tomou sua inocência, maldição.
— Então você deveria se preparar para se defender com sua espada, porque ele vai querer te matar. Robert não vai ver com bons olhos você depreciar o valor do seu prêmio.
— Não fale disso assim. — Ele estalou furiosamente. — Não é assim que me sinto.
— Como você se sente, Ewen?
Como se estivesse tentando achar tração numa colina de gelo? Confuso? Rasgado? Como um homem que acabou de perder tudo e falhou com um clã inteiro?
— Como pode perguntar depois do que acabou de acontecer? Certamente deve perceber o quanto você significa para mim?
Ele podia dizer pela faísca de decepção que cruzou seu rosto que esta não era a declaração que ela queria ouvir. Mas devia ter sido suficiente. Ela pôs a mão no braço dele, virando aqueles grandes olhos verdes da cor do mar para ele implorando.
— Então fuja comigo. Vamos encontrar um padre em algum lugar para nos casar. Você sabe que este é o único modo. Robert nunca nos concederá permissão para casar.
Cada músculo no corpo dele se tornou tão rígido quanto aço, sua rejeição às palavras dela profundas até o osso.
Estava o destino brincando com algum tipo de piada horrorosa, forçando-o a enfrentar a mesma escolha que seu pai? Bem, pode apostar que não cometeria o mesmo erro.
— Eu não vou fugir.
Ela o observou, seus olhos tomando nota dos seus punhos apertados e músculos flexionados.
— Me amar não vai te transformar no seu pai, Ewen.
Ela ergueu o olhar para ele com tal compaixão e compreensão que por um momento ele vacilou. Queria puxá-la em seus braços e dizer que tudo ficaria bem.
Mas não iria. Seus sentimentos por ela não custariam isso a ele.
— Não vai? Talvez você esteja certa. Não me faria meu pai. Meu pai teve Stewart para ajudá-lo a juntar os pedaços, eu não terei ninguém.
— Você me terá.
Como se pudesse ser tão simples.
— Que tipo de vida viveríamos? Sem o apoio do rei e Stewart, eu não tenho nada para te oferecer. Nenhum dinheiro. Nenhum castelo. Só duzentas pessoas que dependem de mim para provê-los. Deveríamos nos juntar ao meu primo e parentes na Irlanda com os outros “rebeldes”?
Ela ergueu o queixo obstinadamente, sua boca apertada.
— Mary vai ajudar. Christina também.
— Você pediria isso a elas? Você as colocaria em problemas com Bruce.
Com isto, ele teve sucesso em aquietá-la.
— Fugir não é romântico, Janet, é irresponsável e tolo. Não resolverá nosso problema, vai torná-lo pior. Não, não existe nenhum outro modo. Nós nos arriscaremos com Bruce.
Ele se forçou a não ver o desapontamento cintilando em seus olhos, mas isso comia como ácido em seu peito.
— Então você fez sua escolha.
— Fiz.
— Mesmo que isso signifique que não podemos estar juntos? Mesmo que isso signifique que devo me casar com outro homem?
Ele a pegou pelo braço, arrastando seu rosto para o dele.
— Sim, maldição, sim!
Foi como se soprasse uma vela, a luz nos olhos dela simplesmente morreu. Sentiu o rápido agitar do pânico em seu peito. Instintivamente, estendeu a mão, mas ela se empurrou para longe.
Seus olhos verdes da cor do mar dispararam adagas para ele, afiadas o suficiente para tirar sangue.
— Não toque em mim novamente. Você tomou sua decisão, agora tomei a minha. Não casarei com você nem com Walter Stewart. Não casarei com ninguém. Vou tomar o véu antes que alguém tente me forçar a descer a nave da igreja.
A pulsação dele saltou, pânico não mais só agitando seu peito, mas saltando — não, ricocheteando — por toda parte.
— Você não quer dizer isto.
Ela não disse nada. Nem sequer olhou para ele. Seu olhar estava alfinetado na porta atrás dele.
— Ao contrário do que acredita, Ewen, sou capaz de conhecer minha própria mente.
Ele praguejou, sabendo que ela estava escapando dele, mas não sabendo como detê-la. Ficou de pé, cambaleando da dor em sua perna. Mas isso não era nada comparado à fogueira de emoções queimando em seu peito. Ele odiava se sentir assim. Fora de controle. Bravo. Apavorado. Impotente. Ela estava despedaçando-o.
Ele atacou cegamente, como uma besta encurralada.
— Que diabos quer de mim, Janet? Você percebe o que isso... — Ele sacudiu a cabeça em direção à cama bagunçada atrás deles. — Me custou? Tudo pelo que estive lutando. Isto não é suficiente ou devo cortar uma veia por você também?
Ela pareceu arrasada, cada pingo de cor deslizou de seu rosto. Sua voz tremia.
— Não percebi que havia um preço em algo que era livremente dado. Quis te agradar, sinto muito se não foi o suficiente. Mas não precisa se preocupar. Isso não precisa te custar nada. Como não estarei casando com ninguém, minha inocência, ou falta dela, não é importante. Você ofereceu casamento e eu recusei. Você fez seu dever, se houve qualquer dano à sua honra, foi amenizado. Não existe nenhuma razão para dizer qualquer coisa a Robert afinal. Sua posição no exército dele só estará em perigo se você escolher fazer isto.
Tão depressa quanto a raiva subiu, foi derrubada. Ele mal ouviu suas palavras dando a ele uma saída, tudo que podia ver era a dor que suas palavras descuidadas infligiram. Ele não devia estar culpando-a. Não era culpa dela. E ele certo como o inferno não quis fazer o que aconteceu entre eles parecer com algum tipo de transação.
— Maldição, sinto muito. Eu não quis dizer isto. Nunca quis que nada disso tivesse acontecido. Estava só tentando fazer meu trabalho.
— E eu entrei no caminho. Você era apenas um simples soldado tentando fazer seu dever e eu era, como você colocou? Uma complicação.
Ele franziu o cenho. Não foi o que ele quis dizer... foi? Ela era tão mais que isto.
— Eu sinto muito por tornar as coisas difíceis para você, Ewen. Se tivesse me contado a verdade, poderia não ter acontecido do modo que aconteceu. Mas como você assumiu tomar essas decisões por nós dois, temo que agora deva viver com elas. Você é um lutador, estou certa que achará uma maneira de ganhar tudo que deseja. Teria sido mais fácil, mais simples, se nunca tivéssemos nos encontrado. E se servir de consolo, nesse instante eu desejo o mesmo.
Jesus! O que ele fez?
— Você não quer dizer isto.
O olhar que ela lhe deu disse diferente. A pele dele, que esteve sentindo anormalmente quente, pareceu de repente coberta em uma camada de gelo.
— E é exatamente por isto que eu faço. Você me disse uma vez o que queria em uma esposa. Eu devia ter escutado você. Talvez isto seja muito mais culpa minha. Eu quis fazer de você algo que você não era. Você não é Magnus, e eu não sou Helen. Espero que um dia encontre uma mulher que fique feliz em deixar você mimá-la e protegê-la, pensar por ela. Mas essa não sou eu.
Ela ficou de pé e começou a caminhar em direção à porta.
Gostava mais quando ela estava com raiva dele. Essa estranha fria, calma e indiferente o apavorava. Estou perdendo-a. O que posso fazer?
Ele sentiu como se estivesse caindo — colidindo — de uma montanha sem uma corda. A colina era mais íngreme, o gelo mais duro e mais escorregadio, e ele não podia entrincheirar seus saltos para parar de escorregar.
— Espere.
Ela virou.
— Você não pode ir.
Para um tolo segundo, Janet pensou que ele quis chamá-la de volta porque mudou de ideia. Que ele lutaria por eles, tão duro quanto ela estava certa que ele lutaria pelo rei ou seu clã. Mas ela estava errada — novamente.
— Não posso me arriscar que você tente fugir. — Ele disse.
Na pilha de desapontamento que ele amontoou aos pés dela, mais uma pedra não devia fazer diferença. Mas fez. A missão. É claro, ele estava pensando na missão. Não nela.
Embora talvez ele a entendesse um pouco, afinal. Por ela não ter nenhuma intenção de retornar com ele para Dunstaffnage. Janet nunca devia ter deixado que ele a levasse para longe de Roxburgh em primeiro lugar. Tinha que voltar. Ela não arriscaria perder algo importante. Lidaria com seu ex-cunhado e seus “planos” para ela quando tivesse acabado.
Janet endireitou as costas, chamando cada gota de seu sangue de filha de conde. Apesar dele se elevar sobre ela, até a alguns passos de distância, ela ainda conseguiu dar a ele um olhar longo e majestoso empinando o nariz.
— Então serei tratada como uma prisioneira? — Ela estendeu as mãos e cruzou os pulsos. — Vai me amarrar com correntes ou uma corda será suficiente?
Ewen praguejou. Ela o viu se mexer e se encolher enquanto colocava peso na perna. Obviamente estava doendo mais do que dizia, mas ela mordeu de volta as palavras de preocupação que queriam saltar de sua língua. Ele não quis sua ajuda quando ela ofereceu. Ele não queria nada dela. Mas como sempre, ela não quis ouvir. Ela não quis ouvir “não”. Pensou que sabia o que era melhor.
Pelo menos desta vez, ela era a única machucada. Isto é, assumindo que ele não contasse a Robert. Esperava que ele não fosse tolo o suficiente para fazer isso agora. Não havia razão. Ele não precisava perder tudo por tomar o que ela deu livremente. Queria que pudesse dizer o mesmo. Por vinte e sete anos não sabia nada do que estava perdendo. Agora sabia.
— Jesus, Janet. Não é assim. Só não quero que você faça nada... precipitado.
Ele só continuava lançando uma pedra atrás da outra. Eventualmente esperava que elas parassem de doer.
— Como sou afortunada por ter você para cuidar de mim.
— Maldição. Eu não quis dizer isto assim. Você vai me dar sua palavra que não tentará partir?
— Sim.
Ele fez uma pausa, olhando fixamente para ela.
— Você vai fugir no momento que eu virar minhas costas.
Ela ergueu o queixo, não negando.
— Então sou sua prisioneira?
A boca de Ewen afinou.
— Você é a mulher cuja segurança me foi confiada. Não vou deixar você ir.
Um calafrio a percorreu ante suas palavras, mas sabia que era tolice atribuir qualquer coisa significante a elas. Deixá-la ir era exatamente o que ele estava fazendo.
— Vou lutar por nós, Janet. Só confie em mim.
Ela fez e olhe onde isso a trouxe. Ele estava deixando perfeitamente claro o que pensava dela: ela era uma missão — um dever — nada mais. Sua voz tremeu.
— Não vou dormir aqui com você.
Sua boca apertou.
— Sim, vai.
— Você vai ter que me arrastar para Dunstaffnage, pois não vou com você de boa vontade.
O músculo debaixo de sua mandíbula contraiu ameaçadoramente.
— Se é isso que precisa para manter você a salvo.
— Odiarei você por isto.
Seus olhos seguraram os dela, e se ele não a tivesse curado de suas ilusões, poderia ter pensado que viu emoção verdadeira neles.
— Espero que não o faça.
Janet sabia que a batalha estava perdida por enquanto. Ele não seria dissuadido. Era imutável — uma parede de pedra bloqueando seu caminho. De repente a força a deixou. Era como se os eventos do dia a alcançassem de repente. Danificada e machucada até as profundezas da sua alma, tudo que queria fazer era se curvar em uma bola e chorar até dormir. Mas ele nem sequer daria isto a ela.
Olhou para a cama, uma punhalada de dor esfaqueando-a. Ainda podia senti-lo entre suas pernas, a dor incômoda uma lembrança dolorosa do que eles compartilharam.
— Não pode esperar que eu compartilhe uma cama com você.
Ele balançou a cabeça, parecendo mais triste do que já o viu.
— Você pode dormir no pallet. Não acho que vou dormir muito.
— O custo do dever de guarda.
Ele não respondeu à sua cutucada, mas esfregou a perna inconscientemente, como se tentando conseguir um golpe final e estremeceu.
Ela virou se afastando assim não seria tentada a se importar.
— Sinto muito, Janet. Nunca quis te machucar.
Mas machucou. Irreparavelmente.
A caminho da cama, ela pegou sua camisa e lançou para ele. O tórax nu que apenas minutos atrás tinha dado tanto prazer a ela agora doía olhar. Ele pôs a camisa sem comentários.
Ela deitou na cama e ele se sentou diante do fogo, encostando-se à parede, com suas pernas esticadas à sua frente. Janet não tinha intenção de dormir. Ela rastejou debaixo do plaid e o observou com olhos entreabertos.
Ewen recuperou um odre antes de sentar, e pelo longo gole que ele tomou, ela suspeitava que era uísque.
Com alguma sorte, ele beberia até o esquecimento.
CAPÍTULO 22
Janet despertou de estalo e estremeceu. Bom Deus, estava congelando aqui!
Aqui. Ela piscou na escuridão, reconhecendo as paredes rústicas de madeira do celeiro. De repente tudo o que aconteceu voltou a ela em uma onda de dor e decepção.
Como ele podia ter feito isso?
Ela praguejou baixinho. Não devia ter adormecido. Graças a Deus pelo frio. O braseiro deve ter acabado...
De repente, a realização do que significava a atingiu. Seus olhos disparam para onde Ewen se posicionou contra a parede. Ele estava sentado com a cabeça caída para frente como um boneco de trapo. Ela não precisou ver o rosto por trás do véu sedoso de cabelo espesso e escuro para saber que estava adormecido. Dormindo como um morto. Ou melhor, desmaiado, se o odre de uísque descartado ao seu lado era qualquer indicação.
Janet não podia acreditar! O soldado perfeito dormiu no trabalho. Parecia tão completamente fora do personagem ele dar a ela uma pausa. Talvez alguém tivesse escutado suas orações, afinal. Mas rapidamente disse a si mesma para não contar suas bênçãos.
Cuidadosamente — muito cuidadosamente, — ela se levantou da cama provisória. Seu coração martelava o tempo inteiro, olhando para ele por qualquer sinal de movimento, mas Ewen não mexeu um único músculo.
Ela respirou fundo, com a respiração entrecortada. Menos cuidadosamente, para testá-lo, ela ficou de pé. Cada minúsculo som que ela fazia reverberava em seus ouvidos como um sino, mas mesmo assim ele não se moveu.
Deus do Céu, quanto ele tinha bebido? Ele estava todo dur...
Ela parou, lembrando a si mesma para não contar suas bênçãos.
Janet olhou para ele. Olhou para as botas dela. Olhou para o saco ao lado dele — um saco que ela sabia conter seus outros vestidos, dinheiro, e o que restava da comida deles. Olhou para o cavalo no estábulo atrás do celeiro.
Ela podia fazer isto?
Seu coração balançou, mas então continuou a bater. Sim. Sim, ela podia. Pelo menos, valia a pena tentar. Não podia ficar com ele.
Não sabia quanto tempo tinha, mas esperava que ainda tivesse algumas horas antes do amanhecer. Montar o cavalo tornaria mais fácil rastrear — e não tinha nenhuma dúvida que ele a seguiria, — mas isso daria a ela a velocidade que ele não teria estando a pé. E ela aprendeu algumas coisas dele que poderia ajudar.
Ela engoliu em seco, pensando na jornada que tinha adiante. Seria longa e perigosa, mas nada que ela não tenha feito incontáveis vezes antes. Então por que lhe deu uma pontada de medo agora? Por que o pensamento de o abandonar de repente a deixava inquieta?
Porque nos últimos dias, Janet se acostumou a tê-lo ao seu lado. Podia não querer sua proteção, mas veio a apreciá-la, e se não dependia dela, então pelo menos tinha conforto nela.
Seu coração apertou. Por que isso tinha que doer tanto? Como ele podia ter mentido para ela desse jeito? Não apenas pelo noivado, mas sobre sua volta a Roxburgh. Ele sabia o quanto isto era importante para ela. Até mesmo sua traição ela podia ter tentado entender — poderia ter tentado perdoá-lo — se ele a amasse.
Mas ele não amava — ou não o suficiente. Preferia vê-la se casar com outro homem do que arriscar uma comparação com o pai. O pior era que Janet entendia. Nem mesmo o culpava. Não de verdade. Mas também sabia que não era bom o suficiente para ela.
Lágrimas rolaram por suas bochechas. Maldito seja Ewen por fazer isto com ela! Até que ele entrou repentinamente em sua vida como um rolo compressor, ela esteve muito feliz sozinha. Contente com a vida que tinha planejado.
Janet enxugou as lágrimas com um movimento brusco de raiva, determinada a ser feliz novamente. Seu trabalho era a única coisa que importava agora. Era a única coisa que restava.
Ela era melhor sozinha. Não soube sempre disso?
Pondo de lado qualquer reserva que tivesse, Janet tomou sua decisão. Levou apenas alguns minutos para juntar o que precisava. Enquanto levava o cavalo do estábulo, ela deu um último olhar. Com lágrimas nublando os olhos, ela partiu sem olhar para trás.
Alguém estava gritando com ele. A cabeça de Ewen pendeu de um lado para o outro. Pare de me sacudir.
— Ewen! Acorde, rapaz!
Ele abriu os olhos. Levou um momento para reconhecer o homem diante dele. Grande. Cabelos grisalhos. Rosto maltratado pelo tempo e com cicatrizes da batalha. Robert Wallace.
Sua mente parecia com um pântano, seus pensamentos vagarosos.
E Deus, ele estava quente.
Ele gemeu e voltaria a dormir se Robert não o sacudisse novamente.
— A moça, onde ela está?
Isso o trouxe de volta rápido. Um pouco da névoa clareou de sua mente. Janet. Seu olhar disparou para o pallet. O pallet vazio.
Ewen praguejou, percebendo o que aconteceu. Ele adormeceu e ela fugiu.
Como diabos isso podia ter acontecido? Ele estava de serviço, maldição! Não cometia enganos assim.
Ele tentou se levantar, mas algo não estava certo. Não parecia que conseguia coordenar seus membros. Diabos, estava tão fraco quanto um potro recém-nascido.
— O que se passa com você, rapaz? — Robert disse, estendendo uma mão. — Você está queimando tanto quanto uma fogueira e aqui está frio.
— Eu não sei...
As palavras do Ewen morreram em uma punhalada de dor quando tentou pôr peso em sua perna ferida.
— É a perna. Deve estar pior do você pensava. — Robert fez uma pausa para chamar sua esposa com um grito. — Sente-se. — Ele ordenou. — Margaret vai dar uma olhada nela.
Ewen o afastou, procurando ao redor por suas coisas como um cego.
— Eu não posso. Tenho que ir atrás dela.
— Por que ela partiria? — Robert perguntou.
Porque ele era um tolo cego.
— Para se afastar de mim.
Se qualquer coisa acontecesse a ela, ele nunca se perdoaria.
Ele alcançou sua espada e quase caiu. Deus, sentia-se horrível! Não precisava que Helen dissesse a ele que algo estava muito errado com sua perna. Como as coisas podiam ficar tão ruins tão depressa? Pensou que estava ficando melhor, mas estava pior. Muito pior.
Engoliu a dor e a névoa da febre para se aprontar. Ele se arrumou para colocar a maior parte de sua armadura antes de Margaret aparecer.
Seu grito suave disse a ele que devia estar pior do que sentia.
— Você está doente! — Ela disse.
Ele não discutiu. Mas um olhar rápido na bolsa restante disse a ele que precisaria de algumas coisas.
— Vou precisar de alguma comida e bebida, e qualquer dinheiro que você tiver sobressalente.
Janet levou tudo. Ele praguejou novamente. Como pode ter sido tão negligente? Ele sabia que ela fugiria. Devia ter tomado precauções melhores. Devia tê-la amarrado, maldição. Devia ter feito o que fosse necessário para mantê-la a salvo.
Devia ter feito o que fosse necessário para mantê-la com ele.
Ah, inferno! Ele praguejou novamente. Nem mesmo a febre o impediria de ver a verdade.
— Você não pode ir a lugar nenhum assim. — Disse Margaret.
— Eu tenho que ir. — Ewen disse entredentes, lutando com a força poderosa que parecia estar tentando derrubá-lo. Cabia a ele. O sol da manhã já estava com força completa. — Ela pode ter ido já há algumas horas. — Não podia perder a trilha enquanto estivesse fresca.
Pegou a bolsa e começou a ir em direção aos fundos do celeiro. Sua perna fraquejou, e ele teria caído no chão se Robert não o tivesse segurado por baixo do braço.
— Firme, rapaz.
— O cavalo. — Disse Ewen, mordendo de volta a onda de náusea que subiu dentro dele. — Só me ajude a subir no cavalo.
— Foi embora. — Disse Robert.
A extensão de seu fracasso era humilhante. Enquanto ele estava supostamente em guarda, ela se esgueirou com um maldito cavalo passando por ele.
— Vou ter que ir a pé.
— Você não chegará até a próxima aldeia em sua condição. — Margaret disse.
Ele não chegou nem mesmo fora do celeiro. Escuridão se levantou como a boca de um dragão feroz e o engoliu inteiro.
Janet não parava de olhar por cima do ombro, esperando que Ewen viesse como uma tempestade estrada abaixo atrás dela como um demônio do inferno. Ou talvez, mais precisamente, como um fantasma do inferno.
Ela se lembrou como ele se parecia a primeira vez que o viu. A armadura de couro escuro pontilhada com rebites de aço, o plaid estranhamente adaptado envolvido ao redor dele, o elmo enegrecido e arsenal de armas amarrado com uma correia em seu tórax largo e bem musculoso. Seu coração apertou. Ela esteve assustada por uma boa razão, acabou estando certa. Deveria ter virado e corrido no primeiro instante que o viu.
Mas ou ele não estava vindo atrás dela ou ela era melhor em esconder seus rastros do que pensava. Lembrou de suas dicas: chão duro, água ou rios quando possível, andar em círculos, confundir e ofuscar. Ela se manteve na estrada, misturando e escondendo sua trilha o melhor que podia. Mas sabia que sua melhor arma era a velocidade, então não levou muito tempo escondendo-as como deveria.
Talvez o despistar tenha funcionado? Recordando o que Ewen fez quando a levou a primeira vez de Rutherford, Janet não refez seus passos a leste, mas direcionou-se ao norte em direção a Glasgow, esperando perder sua trilha na grande cidade antes de virar a para o leste na estrada principal.
Mas infelizmente, Ewen tinha a vantagem de saber o destino dela. Ainda que conseguisse se esquivar dele na estrada, ele a encontraria logo em Roxburgh. A menos que pudesse pensar num modo de fazer contato com sua fonte no castelo sem retornar a Rutherford.
Apesar do que ela disse a Ewen, a ideia de tomar o hábito novamente não sentava bem a ela. Tendo vindo para o celeiro apenas com um chemise — o sob vestido que Mary previdentemente providenciou ainda na casa — Janet foi forçada a escolher entre a veste extravagante que se sobrepunha ao vestido que era para ir sobre esta ou a saia de lã marrom-escuro “Noviça de Eleanor”. Embora tivesse escolhido a última — uma mulher em um vestido tão fino viajando sozinha seria muito mais difícil de explicar — ela não podia suportar colocar o escapulário branco e o véu. Em vez disso, envolveu o plaid ao redor de si mesma como uma capa com capuz — o que Margaret tinha deixado, não Ewen — e fez o melhor que pôde para evitar outros viajantes na estrada.
Nesta época do ano, nos dias frios e escuros próximos ao Natal, não tinham muitos viajantes. Aqueles com quem ela cruzou tinham a curiosidade satisfeita pela sua reivindicação de ser uma parteira, viajando para atender o nascimento do primeiro filho da sua irmã em alguma aldeia adiante.
Algumas vezes, ela se juntou a outros viajantes durante um tempo — inclusive um fazendeiro e sua esposa levando aves ao mercado em Glasgow e um velho viajando para Lanark para visitar seu filho — buscando segurança e conforto em números. Mas quando as perguntas se tornavam muito pessoais, ela era forçada a se separar da companhia.
Na maioria das vezes ela estava só com seus pensamentos, os quais ela tentava impedir que retornassem a Ewen. Nem sempre seria assim horrível, disse a si mesma. Mas pela primeira vez podia entender a miséria que sua irmã sofreu em seu primeiro casamento. Como era amar alguém e não ter a pessoa retribuindo esses sentimentos. Como se sentia ser traída pelo homem a quem você deu seu coração.
Era uma jornada longa e difícil. Mais difícil do que deveria ter sido especialmente comparada à anterior. Além de não ter os ingleses a perseguindo, a vantagem de ficar na estrada principal era que evitava as colinas que ela e Ewen foram forçados a atravessar. A desvantagem, claro, era a chance de encontrar acidentalmente uma patrulha inglesa.
Durante dois longos dias, através de Rutherglen, onde passou sua primeira noite, para Peebles, onde passou sua segunda, Janet conseguiu evitar tal perigo. No terceiro, porém, enquanto ela e um comerciante e sua esposa, com quem esteve viajando desde Innerleithen, aproximaram-se dos subúrbios de Melrose, onde encontrou Ewen na primeira vez, o destino interveio mais uma vez. Uma dúzia de soldados apareceu na estrada à frente dela.
Seu sangue correu frio. Cada instinto que tinha urgia que fugisse, embora soubesse que era ridículo. Não existia nenhuma razão para ela fugir. Não fez nada errado.
Ela forçou ar em seus pulmões em lentas e uniformes inalações. Quantas vezes fez isto antes? Muitas para contar. Com o tanto de tempo que passou nas estradas como mensageira, dar de encontro com soldados ingleses não era incomum. Por que estava tão nervosa?
Seguindo a dica do comerciante e sua esposa, fingiu não notar nada fora do comum e continuou no caminho adiante. Se o casal notou sua leve vacilação, não comentaram nada. Porém o comerciante, um homem velho o suficiente para ser seu pai, deixou seu olhar demorar no rosto dela um instante mais longo que o habitual. Ele viu sua pele empalidecer sob o capuz improvisado do seu plaid? O olhar dele caiu para as mãos dela. Percebendo que estava apertando as rédeas, forçou seus dedos a soltar. Mas isto, ele definitivamente notou.
Conforme a distância diminuía entre eles, o comerciante moveu sua carroça para o lado do caminho para deixar os soldados passarem. Janet seguiu o casal, aproveitando a oportunidade para angular sua própria montaria atrás deles, onde esperava que não estivesse tão visível.
O martelar do seu coração em seus ouvidos ficava mais alto conforme os poderosos cavalos de guerra se aproximavam. O chão começou a tremer, ela esperou que pudesse esconder seu próprio tremor.
O comerciante levantou sua mão em saudação quando o primeiro cavalo passou.
O martelar em seu coração acalmou. Continuem, ela rezou. Não parem.
Um… dois… três… passaram. Seu coração começou a bater novamente. Ia dar tudo certo. Mas então o martelar não parou — não seu coração, os cascos.
— Alto. — Uma dura voz inglesa disse. — Você aí. Qual o seu nome? Que negócios você tem na estrada?
Nenhuma razão para pânico, disse a si mesma. Nada fora do comum.
— Walter Hende, meu senhor. Sou um comerciante a caminho de Roxburgh, onde minha esposa e eu esperamos abrir uma loja.
— Que tipo de loja?
O comerciante fez um gesto para sua carroça.
— De tecidos, meu senhor. Tenho as roupas de lã mais finas de Edinburgh. Dê uma olhada se quiser.
Janet aventurou uma olhada no soldado. Seu coração caiu no chão. Ele não era um soldado, era um cavaleiro, embora não tivesse reconhecido os braços de seis heráldicas separadas por uma grossa curva de ouro. Ele era um homem de aparência imponente, e não só por causa de sua pesada armadura e a insígnia de correio. Ele era grande — alto e de ombros largos — com uma mandíbula dura e escura, olhos entrecerrados somente visíveis debaixo do elmo de aço.
Ele fez um gesto para um homem mais jovem ao seu lado, quem ela assumiu que devia ser seu escudeiro. O rapaz saltou e abordou a carroça. Erguendo o oleado de couro, ele acenou com a cabeça.
— Aye, Sir Thomas. Está cheio de pano.
Foi então que o desastre atingiu. O escudeiro olhou de relance em sua direção. Por causa de onde ele veio ficar de pé ao lado da carroça, ele teve uma visão clara de seu rosto.
Ele ofegou.
— Lady Mary! O que está fazendo aqui?
O sangue deslizou de seu rosto. Oh Deus, isto não podia estar acontecendo. O menino pensou que ela era sua irmã.
— Você conhece esta mulher, John? — Sir Thomas disse.
O rapaz franziu o cenho, olhando fixamente para ela. Ele deve ter visto algo que o fez questionar sua primeira impressão.
— Sou eu, Lady Mary. John Redmayne. Eu era amigo do seu filho na corte. Você se lembra, nós nos encontramos no Castelo de Bamburgh no ano passado. Eu vim com Sir Clifford.
Sir Robert Clifford era um dos principais comandantes de Edward na batalha contra os escoceses. O medo coalhou como leite azedo em seu estômago.
Depois de um momento, Janet finalmente encontrou sua voz.
— Temo que você está me confundindo com outra pessoa.
O cenho franzido do garoto foi de lado.
— Dê um passo adiante onde eu possa ver você — o cavaleiro ordenou. — Se você não é a mulher que meu escudeiro acredita, então quem você é?
— Kate, meu senhor — ela disse suavemente, usando o nome que deu ao comerciante.
Os olhos do cavaleiro estreitaram.
— Puxe seu capuz para trás.
Ela fez como ele mandou, esperava que sem mostrar tanta relutância quanto sentia. No momento que o plaid caiu para trás, um silêncio coletivo caiu sobre o cavaleiro e seus homens. Eles olharam fixamente para ela em choque e inconfundível admiração masculina.
Com exceção do escudeiro. Ele sorriu amplamente.
— É ela. Lady Mary, a Condessa de Atholl.
O garoto obviamente não tinha ouvido falar da deserção de sua irmã e seu segundo casamento. Mas o cavaleiro tinha. O modo que seus olhos escuros cintilaram enquanto sua boca curvava em um sorriso lento a gelou até o osso.
— E o que a rebelde Lady Mary está fazendo em Melrose?
Janet forçou um sorriso tímido em seu rosto.
— Temo que o menino está enganado, meu senhor. — Ela bateu seus cílios para ele com o que esperava ser apenas a quantidade certa de inocência. Mas alguma coisa disse a ela que este homem não seria um tolo fácil. — Eu sou...
— Nossa filha, meu senhor.
Janet se surpreendeu e esperava que não parecesse tão surpresa como se sentia quando o comerciante surgiu ao lado dela e a reclamou pelo braço.
Ewen lutou com a força da escuridão que o embalava, que lutava para arrastá-lo para baixo. Você não pode dormir. Ele tentou abrir os olhos, mas as pálpebras estavam muito pesadas. Alguém pôs um peso nelas.
Tente. Você tem uma coisa para fazer. Ele não sabia o que tinha que fazer, mas sabia que era importante. Muito importante. A coisa mais importante no mundo.
Levante. Você tem que ir atrás dela.
Oh Deus, Janet!
Ele se debateu cegamente na escuridão, tentando sentar. Mas algo o arrastava para baixo. Mãos poderosas e de aço apertaram seus pulsos e tornozelos, prendendo-o na cama.
Ele gritou, retorcendo em dor e frustração enquanto tentava lutar para se livrar. Mas as mãos firmes pareceram multiplicar como algum tipo de aranha horrorosa.
Tenho que levantar. Perigo. Ela precisa de mim. Oh, Deus, Janet… desculpe.
— …Prenda-o. — uma voz suave penetrou nas bordas da sua consciência. Uma voz de mulher. Uma voz de Angel. — …Ficando pior… corte a perna.
— Não! — Ele deu coices, lutando com tudo que tinha até a dor subjugá-lo e a escuridão o arrastar para baixo.
Ewen estava sonhando novamente, fugindo através da escuridão procurando por algo — por alguém.
Tem que encontrá-la…
Ele se assustou e abriu os olhos, rapidamente fechando-os novamente conforme a luz os atravessava como um punhal.
Ele gemeu, virando, surpreso por sentir seus braços se movendo livremente ao seu lado.
— Ele está acordado. — Uma voz familiar disse.
Oh Deus, Janet!
Ele abriu os olhos novamente, piscando para o rosto que assombrava seus sonhos.
Ele estendeu a mão para cima e embalou a bochecha dela em sua mão.
— Você está aqui. — Ele disse, sua voz áspera e fraca. Ela estava a salvo. Janet estava segura. — Deus, sinto muito.
Ela sorriu, e ele sentiu o primeiro pressentimento que algo não estava certo — uma pontada confusa cutucando as extremidades desfiadas da sua consciência.
— Como está se sentindo? — Ela perguntou.
Outro rosto apareceu ao lado dela, também familiar, mas fazendo uma careta. Apesar do modo que o homem estava olhando para ele, Ewen sabia que devia estar aliviado ao vê-lo por alguma razão.
— Eu sei que você quase morreu. — O homem disse. — Mas vai se achar perto da morte novamente se não tirar suas malditas mãos da minha esposa.
Sutherland, Ewen percebeu. Ele está vivo.
Ele deixou sua mão cair do rosto da mulher. O rosto de Mary, não de Janet.
Mary deu ao seu marido uma carranca afiada.
— Ele esteve inconsciente por quase quatro dias, você acha que pode colocar de lado sua primitiva possessividade só por alguns minutos?
Quatro dias?
Sutherland deu de ombros sem arrependimento.
— Não se ele olhar para você assim. Inferno, pensei que ele ia te arrastar para cima dele. Estava só o poupando de uma surra enquanto ele se recupera.
Ewen não estava grogue demais para debochar.
— Este será um dia frio no inferno, Ice.
Mary pigarreou.
— Obviamente, ele pensou que eu era minha irmã.
— Onde ela está? — Ewen disse, imediatamente alerta. — Onde está Janet?
Sutherland ficou sério.
— Nós estávamos esperando que você nos dissesse.
— Quer dizer que ela não está aqui? — Ele olhou ao redor, de repente percebendo que não sabia onde diabos ele estava.
Mary pareceu entender sua confusão.
— Dunstaffnage.
Sede de Bruce em Argyll, ganha do rebelde John MacDougall, Lorde de Lorn, anos atrás.
— Nós te encontramos não muito tempo depois que você desabou nos Wallaces. — Disse Sutherland. — Sinto muito por deixar você e a moça sozinhos lá fora, mas não podia ter ajudado. Quando os ingleses atacaram pela segunda vez, eu não quis me arriscar e levá-los até você. Alcancei MacKay e MacLean, que tinham encontrado Douglas. Nós estaríamos aqui mais cedo, mas Douglas teve alguns problemas que nós precisamos cuidar. — Ewen assumiu que eram problemas ingleses. A expressão de Sutherland se tornou sinistra. — Você estava mal. Não pensamos que você sairia dessa. Saint e Hawk te levaram para Angel na hora certa.
Angel. Foi quem o esteve atendendo quando ele despertou delirante...
Ewen congelou em horror quando o resto da memória retornou. Ele estava quase apavorado para olhar. Inferno, estava apavorado para olhar. Respirando fundo, abaixou seu olhar para o cobertor acima dele, lançando-o somente quando viu o amontoado de suas pernas — os dois amontoados de suas pernas.
— Você se lembra? — Mary perguntou.
Ele assentiu.
— Você teve sorte pelo local do ferimento. — Sutherland disse. — Angel decidiu que seria mais perigoso tirar sua perna por causa de onde o dano estava do que deixar você lutar com o pus no osso.
Mas não foi o fato que ele quase perdeu sua perna que esfriou seu sangue.
— Por que ninguém foi atrás dela?
— Striker e eu fomos. — Disse Sutherland. — Nós só retornamos ontem à noite. Pensamos ter pego sua trilha indo pro norte na estrada para Glasgow, mas então nós a perdemos.
— Glasgow? Por que diabos ela iria para lá? — Mas ele soube antes que até mesmo terminasse a pergunta. Diabos! Ela levou a sério suas lições.
Ele se sentou e teria perdido o conteúdo do seu estômago se existisse qualquer coisa dentro. Ele balançou enquanto a náusea e a vertigem lutavam para levá-lo de volta para baixo.
— Espere! — Mary gritou, tentando empurrá-lo de volta para baixo. — O que você está fazendo? Não pode levantar.
Ewen rangeu os dentes.
— Eu tenho que encontrá-la. É tudo minha culpa.
A porta abriu e três pessoas irromperam no quarto.
— Nós ouvimos vozes… — Helen ofegou, mas se recuperou depressa. Seus olhos estreitaram. — Vejo que foi um erro desamarrar você. — Ela atirou para seu marido, que surgiu ao lado dela, um olhar de “eu te disse”.
Mas foi a terceira pessoa que entrou no quarto que fez o coração de Ewen afundar e um brilho de suor doentio reunir em sua sobrancelha.
Robert, o Bruce, Rei da Escócia, fixou seu olhar escuro e afiado como uma navalha nele.
— Onde está Janet, e por que é sua culpa?
CAPÍTULO 23
Priorado de Rutherford, Fronteira Escocesa, 14 de dezembro de 1310
— Dê-me uma boa razão por que eu não deveria lançar você em uma no calabouço da prisão agora mesmo! — O rei exigiu.
— Porque você precisa de mim para encontrar Janet e garantir que ela está a salvo. — Ewen respondeu.
Mas ele podia nem sequer conseguir fazer isto. Cinco malditos dias! Por cinco dias ele vasculhou o interior do país, virando cada pedra — cada folha — sem avistá-la. Janet se provou uma pupila melhor do que podia ter imaginado, usando as habilidades que ele a ensinou contra ele.
Esta era sua última vantagem — inferno, era sua única. Com a aproximação de St. Drostan, ele estava de volta ao priorado em Rutherford, esperando que seja qual fosse a razão que ela teve para querer retornar, esta época a traria de volta.
Mas de sua posição nas árvores alguns metros da entrada até o priorado, ele mal podia decifrar os rostos das freiras passando por ele. Apertou seus punhos ao lado, lutando pela paciência que tinha desaparecido dias atrás.
— Não posso ver coisa nenhuma. Estou entrando lá.
MacLean entrou na frente dele.
— Você não fará nenhum bem a ela se for pego. Lembre-se do que o rei disse: fique longe da vista, observe e não interfira a menos que seja necessário. Eu não acho que despedaçar cada igreja entre Roxburgh e Berwick conta como necessário.
— Ou aterrorizar comerciantes desafortunados o suficiente para vender nozes açucaradas. — Sutherland brincou secamente de sua posição atrás dele.
Ewen fez uma careta. Isso tinha sido um engano. Mas o comerciante foi um bastardo provocador, e Ewen esteve de saco cheio de suas respostas engraçadinhas. Antes que percebesse, sua mão envolveu o pescoço do homem e o teve preso contra a parede de madeira da loja. Não surpreendentemente, o homem então tinha sido muito mais acessível em suas respostas para as perguntas de Ewen. Deselegante talvez, mas efetivo.
— Esta é minha última vantagem. — Ele disse entre dentes. — Não vou me arriscar a perdê-la. Saia do meu maldito caminho.
— Use sua cabeça, Hunter. — MacLean disse.
Mas Ewen estava além da razão. Ele deu passo ao redor de MacLean — em vez de empurrá-lo de lado como estava tentado a fazer, — mas outro de seus irmãos, ou seus antigos irmãos o bloquearam.
— Você não vai entrar lá. — Disse MacKay.
— Certo como o inferno que vou. — Disse Ewen, os músculos saltando com prontidão para a briga que MacKay ia conseguir se não saísse do seu caminho. Por cima do ombro do outro homem ele notou outro punhado de freiras saindo do priorado. Mas nenhuma delas era a freira que ele procurava.
— Que diabos você planeja fazer? — MacKay desafiou. — Entrar lá parecendo assim? As freiras vão dar uma olhada em você e correr gritando. Você parece tão feroz e selvagem quanto um lobo. — Ele sacudiu a cabeça. — Você podia tentar dormir um pouco ou comer alguma coisa que não venha de um odre. Sua perna está longe de estar curada e você não vai fazer à moça nenhum bem se cair e morrer. Estou começando a pensar que Helen estava certa. Nós devíamos ter mantido você preso.
Mesmo sabendo que ele falava a verdade, Ewen não estava nem aí. Ele passou sua vida inteira tentando evitar ser comparado ao seu pai, e agora era tão maluco e desequilibrado quanto o Selvagem Fynlay já fora.
— A menos que você queira colocar uma túnica e ter eu te chamando de Madre, meus hábitos de comer e dormir não são da sua conta. Não tenho tempo para isto!
MacLean assumiu que ele estava se referindo à chegada do rei para Selkirk para a conferência de paz.
— Nós teremos ido por alguns dias. As negociações não durarão muito tempo. Bruce exigirá ser reconhecido como rei, os lacaios de Edward recusarão e estaremos a caminho novamente. Se até lá a moça não tiver retornado, podemos tentar novamente.
Apesar da conferência ser mantida sob a sagrada bandeira da trégua, o Comandante queria que eles servissem como parte da escolta. Eles deveriam sair amanhã para alcançar os outros antes deles alcançarem Selkirk.
A boca de Ewen caiu em uma linha fina, mas não disse nada. Não explicaria que não estava indo para Selkirk e que não fazia mais parte da Guarda das Highlands.
Sutherland veio e deu a volta para ficar ao lado de seu cunhado. Deu a Ewen um olhar duro.
— Por que tenho a sensação que tem alguma coisa que você não está nos contando? O que exatamente fez você e o rei discutirem?
A conversa com o rei foi exatamente como Ewen tinha esperado que fosse. Uma vez que todo mundo deixou o quarto, ele explicou o que tinha acontecido. Bruce teria colocado uma lâmina em sua barriga — ou talvez uma área ligeiramente mais baixa — se Ewen não tivesse estado deitado, desarmado e fraco da febre. Em vez disso, seus piores medos tinham se realizado. O rei o despojou de sua terra, sua recompensa e seu lugar na Guarda, e teria tomado sua liberdade também se Ewen não o tivesse convencido a deixá-lo encontrar Janet para assegurar que ela não estava em perigo.
E levou algum tempo convencendo. O rei esteve inclinado a concordar com o julgamento de Janet: se ela pensou que era importante, ele não queria fazer nada para colocar em perigo o informante ou a informação que seu contato poderia passar. Não importa quanto Ewen o pressionasse, o rei não descobriria a identidade do informante — exceto dizer que era alguém em Roxburgh altamente conectado aos tenentes de Edward. Quem pensaria que Ewen trazendo a inteligência recente, habilitando a Guarda das Highlands, saberia exatamente onde atacar?
Ewen esteve atônito. Janet era responsável por isto? Ele subestimou sua importância e sabia disso. Ele lhe devia uma desculpa — uma de muitas — se ela pelo menos o escutasse novamente.
Mas descobrir exatamente quão envolvida nisso Janet estava só intensificava sua preocupação. Inferno, não era preocupação, era um medo entorpecente, de gelar o sangue e os ossos. As apostas seriam ainda maiores se os ingleses descobrissem seu papel.
Ele tinha tanta fé nela quanto Bruce, mas a fé de Ewen estava cega por algo que o rei não estava. Não foi até que Ewen perdeu tudo que pôde ver claramente o que dever e lealdade o impediram de reconhecer. A emoção queimando seu peito e despedaçando suas entranhas só podia ser uma coisa. Nada mais podia atingir este tipo de medo e miséria. Ele a amava. E ele tomou seu amor e o jogou de volta na cara dela.
Você terá a mim.
As palavras dela o comeram. Como ele pôde ter pensado que não seria suficiente? Ela era tudo. Sem ela, nada mais importava.
Pela primeira vez na sua vida, Ewen podia ver seu pai não com constrangimento, vergonha ou raiva, mas com admiração. Por ele ter feito o que Ewen não fez: Finlay teve a coragem de arriscar tudo e lutar pela mulher que amava.
E agora a mulher que Ewen amava estava Deus sabia onde, fazendo Deus sabia o que, porque ele foi tolo demais para fazer o que precisasse fazer para mantê-la. Quando pensava sobre como deu as costas depois de fazer amor com ela, como disse a ela que estava levando-a de volta e a entregaria a outro homem…
Não é de se espantar que ela fugisse. Ele passaria o resto de sua vida consertando isto, se ela deixasse.
Mas e se não tivesse a chance de explicar? E se algo acontecesse a ela e não pudesse dizer a ela o quanto a amava?
Ele tinha que encontrá-la, maldição. Ele rasgaria aos pedaços cada convento em ambos os lados da fronteira se tivesse que fazê-lo.
O perigo tinha finalmente feito Bruce ceder — mas só até certo ponto. Por isso, o papel de Ewen como observador. Quanto ao resto, a Guarda iria descobrir em breve.
— Isto é entre Bruce e eu. — Ele disse a Sutherland.
— Janet é minha irmã agora. — Disse Sutherland, seu temperamento notoriamente quente faiscando em seus olhos. — Se você fez alguma coisa para desonrá-la…
A boca do Ewen apertou. Sutherland teria que ficar na fila.
— Eu arruinei tudo, tudo bem. Mas estou tentando fazer isto direito. — Ele parou distraído, enquanto outra freira emergiu do priorado. Mas mesmo desta distância podia ver que o tipo físico não era certo. Precisava pelo menos chegar mais perto. Voltou-se para Sutherland impacientemente. — Não vou ter esta conversa agora. Assim que nós a encontrarmos, responderei a qualquer maldita pergunta que você queira. Agora, a menos que tente me deter, saia do meu caminho.
O desafio foi endereçado a todos os três homens bloqueando seu caminho. Eles olharam um para o outro e deviam ter reconhecido a determinação em seu olhar — ou talvez fosse o olhar selvagem, frenético, quase à beira da loucura que os convenceu.
MacLean balançou a cabeça e suspirou, dando um passo para o lado primeiro.
— É melhor você saber o que diabos está fazendo.
Ewen não sabia, mas tinha que fazer algo. Não podia ficar aqui e esperar outro minuto.
Seus olhos esquadrinharam a área diante dele enquanto se movia pelas árvores. O rio seguia para o lado leste do priorado. De lá ele teria uma visão mais próxima do pátio. Podia deixar sua armadura para trás e fingir ser um pescador...
De repente, ele parou. Seu olhar faiscou de volta para algo que ele tinha deixado passar mais cedo.
— O que é? — MacLean sussurrou, surgindo atrás dele.
— O rapaz. — Ewen disse. — Sentado nas pedras ao lado do rio.
— O que tem ele? — MacKay perguntou.
— Eu o vi antes. — Algo formigou na sua nuca. — A primeira vez que eu estive aqui e alguns dias atrás.
Sutherland franziu o cenho.
— O que é suspeito em um menino local pescando?
— Nada. — Ewen respondeu. — Se é isso que ele está fazendo. Mas olhe, sua linha não está na água, e sim na beirada do banco, e ele não está observando o peixe. — Ele estava vigiando a porta para o priorado, exatamente como Ewen estaria fazendo, embora bem menos evidente.
— O que você pensa que ele está fazendo? — MacLean perguntou.
— Eu não sei, mas pretendo descobrir.
Ewen continuou de olho na porta e no menino pelo resto da tarde. Toda vez que uma freira saía, o rapaz parecia estudar seu rosto tão atentamente quanto Ewen. Nenhuma vez o menino verificou a linha de pesca ao lado dele. Ou o rapaz era o pior pescador do mundo ou estava vigiando alguém. Mas quem?
Se fosse uma coincidência, era uma que deixava Ewen inquieto. Maldita inquietação. E não pensava que era coincidência.
Suas suspeitas foram confirmadas pouco tempo mais tarde, quando a porta do priorado fechou para a noite e o rapaz abandonou seu posto. Segui-lo foi fácil, mas a cada passo do caminho, o coração de Ewen acelerava mais um pouco.
O rapaz não estava indo para uma casa na vizinhança, estava indo para Roxburgh. Mais especificamente, estava indo para o castelo.
Ewen não precisou seguir o rapaz pelo portão do castelo. De seu ponto de vantagem no topo de uma colina perto, podia ver com clareza arrepiante diretamente no pátio. Antes mesmo que o menino abordasse o edifício, Ewen adivinhou para onde estava se dirigindo. Ah inferno, a capela!
Seu sangue ficou frio, recordando o confronto de Janet com o padre do castelo no mercado.
Se o padre tinha alguém vigiando o priorado, Ewen sabia o que isso significava. O monge encontrado na estrada para Berwick tinha falado antes deles o matarem. A identidade de Janet foi comprometida. Foi como os ingleses os seguiram tão facilmente do priorado umas semanas atrás.
Isso também significava que Ewen não era o único caçando-a, e se não a achasse primeiro, o perigo que ele temia se tornaria muito real.
Graças ao comerciante e sua esposa, Janet tinha uma maneira de fazer contato com sua fonte sem voltar para Rutherford, um lugar para ficar e uma nova identidade.
Seu véu e escapulário ficaram escondidos na bolsa. Em seu lugar, ela usava uma touca de linho e se tornou um membro do crescente número de homens de negócios e comerciantes que estavam fluindo para as cidades. Na sociedade altamente estruturada feudal, os comerciantes estavam em algum lugar abaixo da nobreza e acima do resto — diferente do clero. Como filha de um comerciante, ela aproveitava do mesmo tipo de liberdade que tinha como freira para caminhar por ali sem ser percebida.
Janet não sabia o que tinha feito o comerciante reclamá-la como filha, mas ele a salvou de uma situação que podia ter sido muito difícil e provavelmente ameaçara sua vida. Uma que ela podia muito bem não ter podido se livrar com conversa.
Mesmo com a reivindicação do comerciante, Sir Thomas estava suspeitando. Não foi até que a esposa do comerciante, Alice, avançou para brigar com ela por ficar olhando o bonito cavaleiro quando estava quase noiva de outro, e Janet rompeu em lágrimas, soluçando por que ela não queria se casar com um homem velho o suficiente para ser seu pai, que o escudeiro admitiu que ele podia estar errado, e Sir Thomas permitiu que eles partissem. Realmente, ele parecia querer escapar do drama de família e do olhar de Janet “me salve” o mais rápido possível.
Mas seu coração não parou de acelerar por dias, até bem depois que chegaram em segurança a Roxburgh. Ela agradeceu os Hendes pelo que fizeram e ficou aliviada quando eles não fizeram perguntas, mas simplesmente ofereceram a ela um lugar para ficar o tempo que precisasse.
Janet reembolsou sua generosidade com trabalho duro, ajudando-os a instalar sua loja no terreno mais baixo na Rua Alta, que também alojava uma loja de miudezas, negociante e ourives.
Em retrospecto, o enfrentamento com os soldados perto de Melrose provou ser um benefício inesperado. Isso deu a ela exatamente o que precisava: um modo de fazer contato com seu informante dentro do castelo, o que permitiu que ela evitasse lugares em que esteve antes. Ela levou as lições de Ewen a sério, não queria de nenhum modo conectar a Noviça Eleanor ou Irmã Genna a Kate, a filha do comerciante de lã.
No primeiro sábado de seu retorno, quando as damas do castelo passeavam pelas barracas do mercado, Janet estava pronta. Um rápido e acidental esbarrão, uma desculpa murmurada, e um olhar significativo fora toda a explicação necessária. Janet fez um ponto para caminhar lentamente de volta a loja dos Hendes, onde ela teve certeza que seu informante a veria entrar.
A culpa de Janet por qualquer perigo em potencial que ela pudesse ter posto os Hendes ficando com eles foi suavizada um pouco pelo sucesso imediato que o casal atraiu, depois que um número de homens e mulheres nobres do castelo entraram em sua loja e declararam sua lã a “melhor em Roxburgh”. Os Hendes estavam logo recebendo mais pedidos do que podiam dar conta, incluindo um dos próprios oficiais do Castelo Roxburgh, Sir Henry de Beaumont.
Em uma destas visitas, Janet deu um jeito de ter uma pequena conversa com sua informante enquanto mostrava a ela um tecido fino cor de rubi.
— Tem qualquer coisa que eu possa te ajudar, milady? — Ela perguntou, cuidadosa em manter suas palavras inócuas no caso de que estivessem sendo ouvidas.
A mulher sacudiu a cabeça.
— Temo que ainda não. Mas como tem muitas celebrações importantes por vir, estou certa de que pensarei em alguma razão para esta bela lã logo. — Ela sorriu. — Há muita excitação pelo castelo com o Natal chegando.
Janet traduziu a mensagem facilmente: nada ainda, mas algo grande estava definitivamente fermentando.
— Aye, milady. Até na aldeia, excitação está no ar. Devo estar no meu primeiro banquete de St. Drostan amanhã. Ouvi que é bastante celebrado.
— Aye, haverá um banquete no castelo também. — A dama disse.
Outra dama veio naquele ponto e as interrompeu. O grupo saiu logo em seguida, mas não antes de sua informante prometer que a veria no próximo sábado, dia de mercado, consequentemente daqui alguns dias.
Desapontada que ainda não houvesse nada para reportar e que sua curta estadia em Roxburgh se estenderia por pelo menos mais alguns dias, Janet fez o melhor que podia para se manter ocupada.
O trabalho duro manteve sua mente fora do seu coração partido e a conversa difícil que teria com Robert quando finalmente voltasse para as Highlands. Por mais que o prospecto de vestir um hábito novamente — desta vez de verdade — não fosse atraente para ela, um casamento arranjado era ainda menos.
Deus do Céu, Walter Stewart? Sangue nobre ou não, ela não se casaria com um rapaz que mal tinha idade suficiente para ter uma barbicha no queixo. Ela não podia suportar pensar em estar com ele… Intimamente.
Na maior parte do tempo, Janet tinha sucesso em manter sua mente fora da paixão que Ewen mostrou a ela no celeiro aquela noite — o modo que ele a fez sentir, o quanto foi incrível senti-lo dentro de seu corpo, a emoção avassaladora que a agarrou, — mas ficou lá.
Ela nunca compartilharia isso com outro homem. Sabia disso com cada fibra do seu ser e do fundo do seu coração sangrando, rasgado em pedacinhos e estraçalhado.
Contudo, aparentemente Janet não era uma perita em esconder sua aflição como ela pensava.
— O banquete fará bem a você. — Alice Hende insistiu depois de retornar da confusão do St. Drostan esta manhã. Ela olhou Janet de forma conhecedora. — Seja quem ele for, não vale a pena você trabalhar até a exaustão.
Conhecendo a astúcia da Alice, Janet não tentou negar. Mas também não queria falar sobre isto. Ainda estava muito crua.
— Você é amável, mas acho que é melhor se eu ficar para trás. Você e Mestre Walter vão e aproveitem a trupe de artistas. Você pode me contar tudo sobre isto.
Alice põe as mãos nos quadris largos.
— Não.
Janet piscou.
— Não?
— Aye, não. Você está indo para o banquete, se divertirá e pronto.
Atarracada e com rosto plano, a esposa do comerciante se assemelhava a cada babá com espinha de ferro que Janet já teve. Alice deu a luz a cinco filhas, todas já estabelecidas, e não havia uma desculpa ou explicação que já não tinha ouvido. Janet sabia que podia bajular ou pedir até o sol descer e nascer novamente, mas Alice Hende não ficaria balançada.
Uma emoção encheu seu peito. O que tinha na teimosia e dominação que se tornou tão cativante para ela?
Piscando para afastar as lágrimas, Janet acenou com a cabeça. Sabia quando perdia.
E na verdade, mais tarde aquela noite, ficou agradecida pela insistência de Alice Hende. Pela primeira vez em dias — semanas? — Janet riu, e pela primeira vez em anos, ela dançou.
A rua alta estava esfuziante em bom humor e luz da fogueira. Um palco tinha sido montado para a apresentação dos artistas, grandes mesas de cavalete estavam carregadas com comida e bebida, e músicos foram organizados para providenciar as danças.
Alice insistiu que Janet usasse a túnica de acabamento fino que Mary deu a ela, e a mulher mais velha arrumou seu cabelo em uma toquinha bordada que deixou uma cascata de cachos dourados caindo por suas costas.
Janet não sentia falta de parceiros, e rodando ao redor da fogueira, suas bochechas quentes e pulmões ofegando por ar, sentiu-se como uma menina novamente. Bonita e viva e, por um momento, despreocupada.
Não percebeu quanta atenção estava atraindo.
Ela escapuliu para longe por um momento na taverna para usar de privacidade — que era não mais do que um buraco na parede com um assento de madeira acima da fossa — quando uma figura encapuzada deu um passo no seu caminho quando ela saiu do prédio.
Seu coração parou. Mas levou apenas alguns segundos para reconhecer a figura esbelta e encapuzada na luz da tocha. Céus, era sua informante!
Janet imediatamente olhou de relance, procurando por um lugar para escapar da multidão, e se arremessou dentro na estreita passagem que corria ao lado da taverna. Era mais escuro lá e haveria menos chance de alguém vê-las.
Seu coração estava martelando, sabendo que devia ser algo importante para trazer sua informante aqui desse jeito.
— Temi que eu não pudesse achar você. — A dama disse. — Mas então eu vi você dançando. — A luz da tocha não se estendia para dentro da passagem, e seu rosto estava escondido na sombra escura do capuz coberto, mas Janet podia dizer pela sua voz que ela estava sorrindo. — Confesso que não reconheci você a princípio. A bonita e sorridente filha do comerciante está bem longe de uma freira italiana.
Janet estava contente que a outra mulher não podia ver seu rubor.
— Você assumiu um grande risco em vir aqui.
— Eu precisei. Isto não pode esperar. — Ela estendeu um pedaço dobrado de pergaminho para Janet, que Janet depressa deslizou na bolsa em sua cintura. — Você deve levar isto para ele a toda velocidade. Pode já ser tarde demais. As conversas são estabelecidas para depois de amanhã. Você deve achá-lo antes dele chegar a Selkirk amanhã.
Janet era só uma mensageira. Ela não era normalmente privada de informações, então sabia que devia ser sério para a mulher estar dizendo isso a ela.
— Selkirk?
— Aye, para as negociações de paz. — A mulher tomou o braço da Janet e a puxou mais perto. Janet podia ver o pânico cintilando em seus grandes olhos. — É uma armadilha. Os ingleses querem tomar Bruce.
Ela não estava aqui. Maldição, ele estava tão certo que ela estaria.
Tenho que voltar no Dia de St. Drostan, ela disse.
Então onde diabos ela estava? Não no priorado. Nem no hospital, de fato. Ewen deixou Sutherland vigiar o priorado e seguiu o grupo de freiras que caminhavam para o hospital depois das orações matutinas. Ordens ou não, seu papel como observador terminou ontem à noite no momento em que percebeu que o padre a estava vigiando. Posando como viajante na estrada, ele examinou cada pessoa naquele hospital: leproso, freira, viajante, o doente ou fraco — até o grupo de damas do castelo que chegaram para dar esmola no dia santo.
Mas ela não estava ali.
Ele estava ficando sem tempo. Ficando sem ideias. Nunca se sentiu tão impotente, nunca esteve tão perdido. Na única vez em que realmente precisou encontrar alguém, suas habilidades falharam.
Pior, não podia escapar da sensação que ele de alguma maneira devia saber. Como não percebeu que alguém estava observando-a? Devia ter percebido que os soldados de Douglas não podiam tê-los rastreado tão rápido. Culpou-a por descuido quando ele mesmo perdeu os sinais.
Era depois do escurecer quando deixou o hospital para se reunir com Sutherland no priorado. MacLean e MacKay partiram tarde na noite anterior, depois de atender alguns negócios na floresta e não sem alguma discussão.
— O rei não vai gostar disto. — Disse MacLean. — Ele ordenou que todos nós voltássemos amanhã. Você nem mesmo sabe se ela está aqui. Pode voltar amanhã à noite se cavalgar duro.
A boca do Ewen apertou. Desejou muito que ela não estivesse aqui, que estivesse em algum lugar seguro e longe. Mas conhecia Janet. Se ela pensasse que era importante, nada a manteria longe.
— Ela está aqui. — Disse de modo plano. — Não estou nem aí para ordens. — Seu companheiro ergueu a sobrancelha ao ouvir isso, mas Ewen o ignorou. — Vocês três vão e retornem quando puderem. Não vou deixá-la.
MacKay pareceu cético.
— Tem certeza que sabe o que está fazendo? Se estiver errado, o rei não vai ficar feliz.
O rei não estava feliz agora. E Ewen não estava errado.
— Você deixaria sua esposa?
MacKay não disse nada.
— Em um segundo. — MacLean disse de modo plano.
Ewen lançou a ele um olhar enojado.
— Bem, não vou deixá-la.
Nenhum dos homens declarou o óbvio: ela não era sua esposa e provavelmente nunca seria.
No fim, foi MacKay e MacLean que partiram para se juntar aos outros e relatar para o rei o que aconteceu. Sutherland insistiu em ficar com Ewen.
— Se eu partir e algo acontecer com ela, minha esposa nunca vai me perdoar. Acho que vou me arriscar com Bruce.
Conhecendo Mary, era provavelmente uma sábia decisão. Mas Ewen estava contente pela espada extra — e o par de olhos extra.
Ele assobiou para avisar Sutherland que se aproximava. O mais novo membro da Guarda das Highlands, o homem que podia preencher quase qualquer lugar e assumia o trabalho perigoso de trabalhar com o pó negro depois da morte de um de seus irmãos, respondeu com um assobio antes de saltar de uma árvore à frente dele.
— Alguma coisa? — Ewen perguntou.
— Não. A prioresa trancou cerca de uma hora atrás. Assumo pelo seu tom que você também não teve muita sorte.
Ewen balançou a cabeça sombriamente.
— O rapaz mostrou seu rosto?
Um flash de branco apareceu no luar enquanto Sutherland sorria.
— Depois de ontem à noite? Não acho que ele andaria dentro de uma milha deste lugar, mesmo se você não o estivesse pagando para ficar longe. — Ele riu. — Não percebi que tínhamos tantos admiradores nas fileiras dos espiões ingleses.
— O rapaz não sabia que diabos estava fazendo.
Na noite passada, antes de MacKay e MacLean partirem, eles esperaram que o rapaz deixasse o castelo, seguiram e o cercaram na floresta. Tinha vezes que sua reputação de fantasma vinha em bom uso. O rapaz, provavelmente de dezesseis ou dezessete, inicialmente ficou apavorado. Ele soltou o que estava fazendo para o padre quase antes deles terminarem de fazer a pergunta. Por mais de um mês ele ganhou um centavo por dia para vigiar a nova freira no priorado e relatar para o padre imediatamente se ela fosse a qualquer lugar ou fizesse qualquer coisa. O menino não entendeu por que ainda estava vigiando o lugar quando a freira partiu com um homem uma quinzena mais cedo, mas estava contente em coletar seu dinheiro pelo tempo que o padre quisesse pagar.
Ele ficou atônito ao saber que ele estava espionando para os ingleses.
— Não sou um traidor. — Ele insistiu. — Eu sou um escocês.
O rapaz esteve tão ofendido, tão envergonhado, que Sutherland estava certo, Ewen provavelmente não precisava pagar a ele. Mas achou que era melhor assegurar que o rapaz não tivesse segundos pensamentos.
Eles o instruíram a se ausentar do priorado, mas continuar relatando ao padre todas as noites como antes. Posteriormente era para ele encontrá-los e seria pago um xelim — mais do que sua família provavelmente ganhava em uma semana.
Uma vez que estava claro que eles não queriam lhe fazer qualquer dano, o rapaz agiu como se estivesse na presença de semideuses, polvilhando-os com perguntas até que foram forçados a mandá-lo embora.
Vocês realmente podem aparecer da névoa?
Suas espadas realmente vêm de Valhalla?
Vocês têm cabeças debaixo das máscaras ou seus olhos de demônio brilham do vazio?
Para onde vocês vão quando desaparecem?
— Quem sabe talvez devêssemos encontrar um novo recruta? — Sutherland disse.
Ewen teria rido se não estivesse pensando que estariam precisando de um logo.
— Você nunca sabe.
— E aí?
— Voltamos para Roxburgh e esperamos pelo rapaz reportar de volta para nós.
— E então?
Ewen desejou muito que ele soubesse. Estava fora da vantagem. Não percebeu quanto havia fixado suas esperanças no dia de hoje. Mas uma coisa era certa: não ia desistir até que a encontrasse.
Janet olhou fixamente para sua informante em atordoada descrença. Os ingleses queriam capturar Robert em Selkirk sob a proteção de uma negociação de paz? Desafiava cada noção de honra. Era uma violação de um código entre soldados em guerra — por uma longa tradição, negociações eram terreno sagrado sob a cobertura de uma trégua.
— Você tem certeza?
— Eu não arriscaria isto se não tivesse. Está tudo aí. — Sua informante disse, referindo-se ao pergaminho. — Fui somente sortuda que achei isso mais cedo hoje à noite. O banquete do dia da celebração tornou possível que eu escapasse sorrateiramente do castelo. Mas devo retornar antes de alguém notar que saí. Você pode levar isto para ele a tempo?
A mente de Janet já estava correndo com tudo que tinha para fazer. Ela se prepararia para partir imediatamente, ficando apenas tempo suficiente para dizer adeus aos Hendes, juntar seus pertences, e com um pouco de sorte conseguir um cavalo. O banquete ajudaria nesse sentido.
— Posso.
As palavras mal deixaram sua boca antes delas ouvirem passos e o som de vozes.
— Onde ela foi? — Um homem disse furiosamente.
Janet sentiu um flash de alarme, mas disse a si mesma que não era nada. Provavelmente seu próximo parceiro de dança procurando por ela.
Os olhos das duas mulheres se encontraram na escuridão.
— Vá. — Disse Janet. — Alguém está vindo.
A mulher assentiu.
— Boa viagem. — Ela sussurrou, e para surpresa de Janet, ela se inclinou para lhe dar um rápido abraço antes de virar e ir.
Mas a mulher mal deu alguns passos quando o desastre atingiu.
— Lá! — Um homem gritou. — Atrás dela! Não a deixe escapar.
Um homem veio correndo em direção a elas — um homem grande. Janet não teve tempo para pensar. Agiu por instinto, e seu primeiro era proteger a outra mulher. Bem quando o homem começou a correr passando por ela, entrou em seu caminho.
Sua intenção era fazê-lo tropeçar e dar um passo fora do caminho, mas isso não funcionou do modo que ela planejou. Sua saia embolou no seu pé e ele foi capaz de agarrá-la. Eles atingiram o chão juntos.
O golpe chacoalhou o ar de seus pulmões, mas ela se recuperou rápido e imediatamente se levantou. Infelizmente, o grande imbecil também. Ele era muito mais alto que Ewen, embora não cheirasse tão bem. Este homem fedia como se trabalhasse com porcos o dia todo.
Ela teria se contorcido para longe, mas as mãos dele eram como grandes e maciços grilhões.
— O que significa isto? Tire suas mãos de mim!
Surpreendentemente, ele fez. A autoridade de seu tom deve ter surpreendido o homem. Ele era grande e volumoso, com um rosto plano de camponês, feições bruscas e um pescoço que parecia triturado em seus ombros. Se fosse possível parecer estúpido, ele fez um bom trabalho.
Janet relaxou um pouco. Sair disto conversando não devia ser muito difícil.
— Como se atreve a me atacar assim! Olhe o que você fez. — Ela levantou a saia. — Você rasgou meu vestido. Percebe o quanto isto custa? Pode ter certeza que vou mandar a conta para você pagar pelo conserto.
Ele recuou um passo ou dois e ela tentou não rir.
— Eu não queria...
Ela não o deixou terminar, mantendo-o na defensiva.
— Você faz de seus negócios abordar mulheres inocentes em becos escuros?
— Não, fui informado que… Ele me disse...
Ele olhou em direção à rua e Janet deu uma olhada de relance no homem que estava se aproximando. Foi ele quem emitiu a ordem.
Ele estava mais ou menos a seis metros de distância e olhando direto para ela.
— Então é você. — Ele disse. — Pensei, mas não estava certo. Está bem longe da Itália, Irmã Genna.
O sangue drenou de seu rosto. Oh Deus, o padre do mercado! Ela não sairia dessa conversando.
Mas havia uma coisa que ela podia fazer. Antes do grande imbecil recolher seu juízo e agarrá-la novamente, ela correu.
CAPÍTULO 24
— Atrás dela! — O padre gritou. — Guardas! Não a deixem escapar.
Janet derrubou o imbecil tão rápido quanto suas pernas a carregaram.
Uma olhada por cima do ombro mandou sua pulsação saltando pela garganta. Figuras estavam sombreadas na boca do beco atrás dela. Uma meia dúzia de soldados, talvez mais. Eles estavam mais perto do que ela percebeu.
Ela tomou algum conforto no conhecimento que sua fonte provavelmente conseguiu escapar, mas isso foi atenuado pela realização do que estava em jogo. Se não saísse daqui, se não chegasse a Bruce a tempo, tudo podia estar acabado.
Sabendo que tinha somente alguns minutos para sair da aldeia antes deles bloquearem as estradas, dobrou a primeira esquina e mergulhou em outro beco escuro.
Podia ouvi-los perseguindo-a, mas não pensou sobre isto. Seus pulmões estavam estourando e suas pernas estavam enfraquecendo, mas não diminuiu a velocidade. Manteve a mente focada em sair da aldeia. Se pudesse fazer isto para a floresta, teria uma chance.
Mas eles estavam se espalhando atrás dela. Aproximando-se.
Ela precisava de um cavalo. Mas isso teria que esperar. Se pudesse apenas fazer isto para Rutherford, seria capaz de achar algo.
E talvez…
Seu coração apertou e não foi pela falta de ar nos pulmões. Ela não tinha nenhuma razão para pensar que ele estaria ali, mas se Ewen tivesse vindo atrás dela, Rutherford seria sua melhor chance de encontrá-lo. Eu vou encontrar você. As palavras dele de quando eles estavam sendo caçados voltaram para ela.
— Ela está indo para a floresta!
Seu estômago caiu no chão ouvindo cavalo e cavaleiro se aproximarem atrás dela.
Mas ela estava quase ali. Um momento mais tarde ela mergulhou em pesada escuridão. Isso a engoliu como uma tumba. Uma em sentido figurativo, ela esperava.
Experimentou uma nova explosão de energia com o conhecimento que as árvores diminuiriam a velocidade dos cavalos e os fariam correr por entre arbustos e samambaias, empurrando galhos fora do caminho quando ela podia vê-los, não notando os arranhões que rasgavam sua pele quando não podia.
Os sons atrás dela começaram a sumir. Manteve-se indo na mesma direção, rezando para que fosse a certa, mas a escuridão e árvores levaram seu senso de direção.
Após outro punhado de minutos, ela teve que parar. Curvando-se, ela engoliu ar como uma pessoa faminta. Podia ser capaz de caminhar por dias, mas correndo a toda velocidade por vinte minutos minou-a de cada pingo de energia.
Ainda tinha que continuar.
Mais lento agora, mas ainda correndo, ela trançou passando através das árvores. Por favor, deixe ser a direção certa.
Por tantas razões, ela desejou que tivesse Ewen com ela. Ele não se perderia, o que era mais do que ela podia dizer de si mesma. Com as nuvens, não havia nem estrelas para guiá-la. Estava indo pelo instinto agora, procurando por qualquer sinal de algo familiar. Era menos de oito quilômetros entre Roxburgh e Rutherford, com floresta entre elas na maior parte do caminho. A estrada era ao norte de onde esperava que estivesse.
Os sons se foram agora. Mas não se permitiu relaxar, sabendo que a floresta podia absorver som tão eficazmente quanto fazia com a luz.
Foi por isso que ela não o ouviu até que fosse tarde demais.
Um homem a agarrou por trás, prendendo seus braços ao lado com seu braço grande revestido de aço. Uma manopla de couro bateu em cima da sua boca antes que ela pudesse gritar. Seus pés chutaram de modo selvagem, mas inúteis no ar.
— Eu a peguei! — Ele berrou.
Algo não estava certo. A inquietação do Ewen começou a aumentar cerca de uma hora atrás. O rapaz estava atrasado.
— Ele devia estar aqui agora. — Ele disse.
— Talvez tenha sido atrasado pelos banquetes? — Sutherland sugeriu. — Parece ser uma grande celebração, se esses fogos são qualquer indicação.
De seu ponto de vantagem na colina, eles podiam ver o portão principal e dentro do pátio do castelo. O castelo de Roxburgh assentava na ponta de uma pequena península de terra na conjuntura dos rios Tweed e Teviot. A aldeia ficava atrás e sua maior parte estava bloqueada da vista, mas eles podiam ver o rugido dos fogos.
Nesta hora da noite, o portão para o castelo normalmente estaria fechado, mas devido ao banquete, as pessoas ainda estavam fluindo livremente dentro e fora.
— Vou entrar lá. — Ewen disse.
— Você está louco? O castelo de Roxburgh é um dos castelos mais fortemente defendidos nas fronteiras. Existem pelo menos quinhentos soldados ingleses guarnecidos ali nesse instante esperando retomar a guerra, onde um dos seus maiores objetivos é matar os membros do afamado exército secreto de Bruce. E você vai simplesmente caminhar direito para lá sem um plano e espera que eles não te notem?
Ewen cerrou os dentes.
— Aye. Estou certo como o inferno que não vou me manter de pé aqui. Com o banquete, isto pode ser minha melhor chance de entrar lá. E tenho um plano. Aliviarei um dos homens armados celebrando na aldeia de seu traje.
— Isso é um plano? É um maldito suicídio, isso que é.
— Se o contato dela está no castelo, Janet pode estar lá agora mesmo. O banquete seria uma oportunidade perfeita.
— Isto é um inferno de muito risco para uma possibilidade.
— Possibilidades são tudo que tenho agora. A menos que você tenha uma ideia melhor. — Ele desafiou furiosamente.
A mandíbula do Sutherland se tornou uma linha dura. Ele o encarou por um longo momento.
— Eu irei com você.
Ewen balançou a cabeça.
— Preciso de você aqui fora. Se algo der errado, posso precisar que você use aquele seu pó para uma distração.
Sutherland praguejou.
— Com toda maldita certeza queria que Viper estivesse aqui.
Ewen não podia discordar. Lachlan MacRuairi tinha uma habilidade única de entrar e sair de quase qualquer lugar. Mas agora Ewen estaria agradecido por qualquer um dos seus irmãos — ou ex-irmãos. Se alguma coisa acontecesse, duas espadas contra quinhentas não eram exatamente chances encorajadoras.
Maldição, era difícil acreditar que ele não seria uma parte disso mais. Lutar nesta equipe foi a maior coisa que ele já fez. E estes homens…
Eles eram os amigos mais próximos que ele já teve. Eram como irmãos para ele. Deixar isso tudo para trás seria mais duro do que ele queria pensar.
Ele e Sutherland tinham acabado de terminar os detalhes — não existiam muitos — de seu plano quando Sutherland pegou um movimento vindo do lado da colina.
— Tanto para ser discreto. — Sutherland disse ironicamente. — O rapaz não está exatamente tentando esconder sua ânsia de chegar aqui.
O pulso do Ewen acelerou enquanto o rapaz se aproximava suficiente para ele decifrar sua expressão.
— Não é somente ânsia, algo está errado.
Os olhos do rapaz estavam arregalados quando ele subiu cambaleando a extremidade da colina.
— Desculpe… Atrasado… Senhora… — ele ofegou e arfou entre grandes golpes de ar.
Ewen o agarrou pelos ombros e o forçou a se endireitar ante a menção de “senhora”.
— O que tem a senhora? Você a viu?
Os olhos do rapaz ficaram tão arregalados que Ewen pensou que eles estalariam para fora. Ele estava formando palavras, mas nenhum som estava saindo.
— Acalme-se. — Sutherland disse ao lado do Ewen. — Você o está assustando.
Ah inferno. Ewen o soltou e tentou moderar seu tom quando sentiu como se rugindo em voz altíssima.
— O que aconteceu?
O rapaz olhou para ele cautelosamente, ainda tentando pegar o fôlego. Finalmente articulou as palavras que enviaram cada gota de sangue correndo do corpo do Ewen.
— O p-padre… Ele achou a senhora.
Janet lutou com tudo que tinha, mas o soldado parecia mal notar enquanto a arrastava pela floresta. A estrada estava mais perto do que ela percebeu. Depois de mais ou menos cinquenta jardas, eles saíram das árvores e ele a empurrou adiante com força suficiente para colocá-la de joelhos. Ela olhou para cima e se viu rodeada por homens a cavalo. Além do padre e do imbecil que a pegou antes, ela contou meia dúzia de soldados.
Mas nenhum pareceu mais perigoso que o padre. Não havia nada de religioso no olhar ameaçador fixo nela.
— Teve uma agradável corrida, minha querida?
Janet sentiu uma pontada de pânico, mas forçou-a de lado. Tinha que pensar. Não desistiria sem lutar. Um punhado de explicações diferentes passou pela sua cabeça, mas não tinha tempo para pesar todas elas. Foi com a primeira coisa que veio à sua mente: fingir que não sabia quem ele era.
— Você é um padre? — Ela disse se levantando. — Graças a Deus! Pensei que você estava com este homem que estava me abordando. — Ela apontou para o imbecil.
O padre balançou a cabeça com um som de tsc.
— Você pode esquecer o fingimento, minha querida. Eu sei quem você é. Seu amigo, o monge, foi mais comunicativo, com um pouco de persuasão, claro.
O sorrisinho enviou calafrios percorrendo sua espinha cima a baixo. Pobre Thom.
— Eu conheço sua transformação da freira italiana para noviça Eleanor. Suspeitei que você estava ajudando o rei usurpador a passar mensagens, mas imagine minha surpresa e prazer quando nos levou direto a seu exército secreto. Estou mais interessado em saber os nomes dos homens com quem você esteve viajando.
— Não sei sobre o que você está falando. — Ela persistiu. — Você deve ter me confundido com outra pessoa.
Os olhos dele estreitaram. Os soldados moveram seus cavalos mais perto ao redor dela, e ela teve que lutar com o desejo opressivo de não tentar se arremessar entre eles e correr. O instinto de fugir do perigo se aproximando era primitivo.
— Você acha que remover um véu e colocar um vestido bonito vai me enganar? — O padre exigiu. — Levei um momento quando vi você dançando, mas não esqueço um rosto. Especialmente um tão bonito quanto o seu. É uma vergonha. Tanta beleza se perdendo.
Janet não gostou do som disto. Ela não sabia o que dizer. Sua língua pareceu embolar na sua boca. Ele não era o cavaleiro ou o escudeiro, e ela não tinha o comerciante e sua esposa para ajudá-la. Não tinha ninguém para ajudar. Deus, o que ela não faria por Ewen e seus amigos agora.
Tudo que tinha era sua genialidade — que parecia estar falhando com ela agora — e seu punhal. Teria que esperar pela hora certa para tentar escapar, o que com todos estes homens a rodeando, claramente não seria agora.
Ela tentou sua sorte com os soldados.
— Parece existir algum mal-entendido. — Ela disse para um deles. — Talvez fosse melhor se nós voltássemos para a cidade...
O padre não a deixou terminar.
— Não existe nenhum mal-entendido. O que você estava fazendo com a mulher no beco? E quem é ela?
— Mulher? — Janet repetiu, como se confusa. — Oh, você quer dizer a mendiga?
— Você normalmente abraça mendigas? — O padre perguntou, um brilho astuto em seus olhos.
Janet amaldiçoou seu erro, ela esqueceu do abraço.
— Eu mesma fiquei surpresa, Padre. Mas ela estava mais do que agradecida pela moeda que eu dei a ela.
— Acho que não, Genna ou Eleanor ou qualquer que seja o nome que você está usando agora. Mas não é sua identidade que me preocupa. — Obviamente o monge morto não teve conhecimento do seu nome real ou ela suspeitava que o padre estaria muito interessado. — Nós suspeitamos que alguém esteve vazando informações do castelo, e você vai nos dizer quem é, mas o importante primeiro. — Janet não gostou do sorrisinho no rosto dele quando virou para o soldado que a capturou. — Reviste-a.
As palavras dele enviaram um arrepio por sua espinha. Ela sabia que não levaria muito tempo para acharem o pergaminho na bolsa em sua cintura. E se eles achassem…
Não queria pensar sobre isto. Não era apenas sua vida em jogo, mas também a de sua informante, a do rei e o futuro da Escócia propriamente dito. Se Bruce fosse capturado agora a causa estaria perdida. Quem mais seria valente suficiente para se levantar contra o reino mais poderoso da cristandade? O rei Edward colocaria outra marionete no trono ou ele mesmo o tomaria.
Não podia deixá-los encontrar o pergaminho, tinha que escapar.
O tempo para conversa acabou. Ela agarrou seu punhal, mas não foi rápida o suficiente. O soldado agarrou seus braços em um aperto esmagador e rodou-a para encará-lo.
— Solte-me! — Ela conseguiu livrar uma de suas mãos e atacou o rosto dele. Uma de suas unhas pegou na bochecha dele, mas isso só o deixou com mais raiva.
Na luz da tocha ela conseguiu olhá-lo pela primeira vez e quase desejou a escuridão. Ele não era excepcionalmente alto como o homem que a pegou no beco, mas o que lhe faltava em altura, sobrava em largura e tamanho. Ele era largo como um carvalho, troncudo e forte. Embaixo da beirada do seu elmo, tudo que podia ver era um nariz espremido e torto que parecia que tinha sido curado na mesma posição em que foi esmurrado. Uma barba espessa e escura que cobria a metade inferior de seu rosto e uma boa porção do seu pescoço também, e olhos escuros penetrantes que estavam olhando fixamente para ela com raiva.
— Cadela! — Ele pegou o pulso dela em sua mão e apertou com tanta força que ela pensou que ele queria estalar o osso. Ele a soltou tempo suficiente para bater o punho na mandíbula dela.
Sua cabeça estalou para trás, e ela gritou de dor e do choque de ser golpeada. Ele bateu nela novamente, desta vez com as costas da mão na sua bochecha. O sangue escorreu por seu rosto enquanto lágrimas derramaram de seus olhos. Mas mesmo assim ela lutou de volta. Chutou selvagemente — instintivamente, — mas ele bloqueou seus golpes com facilidade. Atingiu-a repetidamente, batendo até sua submissão. Sua mandíbula… Sua bochecha… O lado de suas costelas. Sua cabeça nadou, a dor era avassaladora. Levou tudo que tinha só para ficar de pé.
— Já chega. — Um dos outros soldados disse, desgosto evidente em sua voz. Aparentemente nem todos os soldados eram brutos que gostavam de bater em mulheres. — Vamos ver se ela tem algo primeiro.
O soldado bruto a girou novamente, segurando seus dois pulsos em uma mão como um torno, enquanto o outro apalpava rudemente seu corpo com óbvio deleite.
— A bolsa. — O padre disse impacientemente. — Dê-me a bolsa.
Ela gritou e fez um último esforço frenético para proteger a missiva, mas ele estalou o cinto de couro de sua cintura e o lançou para o padre.
Através das lágrimas e sangue que borrou sua visão, ela viu quando o padre removeu o pergaminho da bolsa de couro. Um brilho de vitória apareceu em seu olhar enquanto um dos homens segurava uma tocha acima de sua cabeça para ele ler.
Ele voltou a dobrar a maldita evidência e a deslizou em suas vestes.
— Vejo que eu estava certo sobre você e a dama. Acho que com isto Lorde de Beaumont deve ser capaz de definir a fonte de seu vazamento. Embora não será metade da diversão que seria se Randolph estivesse aqui para retirar as informações de você. É um talento particular dele.
Entorpecida com a dor de seu espancamento, seu corpo contundido e machucado ainda conseguiu fica gelado. Tortura! Oh Deus, dê-me força. Embora soubesse do perigo desde o início — e sabia que algo assim podia acontecer — ela esperava nunca ter que enfrentar isto.
O padre deve ter lido o medo em seus olhos porque sorriu.
— Odeio privá-lo de sua diversão. — Ele olhou para Randolph. — Veja o que você pode descobrir. Se ela não te disser o que você perguntar, mate-a.
O coração de Janet pulou para sua garganta.
— Espere. Você não pode fazer isto. Você é um homem de Deus.
— E você é uma traidora. O homem que você chama de rei é um assassino e excomungado pelo papa. Deus não tem misericórdia de rebeldes.
Janet virou para o soldado que falou com ela antes.
— Por favor.
Mas ele deu as costas friamente, ignorando seu patético apelo. O cavalheirismo terminou com a descoberta da missiva.
Um momento mais tarde, o padre, seu assecla imbecil e os outros soldados estavam partindo, deixando-a com seu torturador e executor.
— Não leve muito tempo. — o padre disse por cima de seu ombro direito antes deles desaparecerem de vista.
O soldado bruto começou a arrastá-la de volta para dentro das árvores. O coração de Janet estava martelando contra suas costelas — suas costelas provavelmente quebradas — e cada instinto a urgia a usar o que restou de força para lutar de volta. Mas tinha que ser paciente e esperar pela oportunidade perfeita. Ela teria apenas uma chance de pegá-lo de surpresa. Então forçou a luta de seus músculos, tornando-os tão moles quanto uma marionete de trapos.
Quando eles alcançaram uma pequena clareira, ele a lançou sem cerimônia no chão. Ela olhou para ele assomando acima dela e tentou empurrar de volta o pânico rastejando subindo por sua garganta.
Seu estômago embrulhou.
Ele alcançou debaixo de sua cota de malha de mensageiro e começou a soltar as amarras de sua calça.
— Não se mova, sua cadela estúpida. Nunca fodi ninguém para me contar o que quero ouvir, mas nunca interroguei alguém tão bonita quanto você. Ou tão bonita quanto costumava ser. Seu rosto não parece muito bom agora. — Ele riu.
Janet tentou calar as palavras dele. Tentou não ouvir o que ele estava dizendo enquanto se concentrava na mão alcançando lentamente sua bota.
Só mais alguns centímetros…
Ela ofegou quando deu um passo acima dela. Ele teria esmagado suas pernas com o pé se ela não reagisse separando-as. Mas sem saber, espalhando suas pernas ele a ajudou. Sua mão achou seu objetivo.
Ela agarrou o cabo do seu punhal dentro da mão enquanto ele se ajoelhava no chão diante dela.
Tudo que podia ver na luz da lua era o frio cintilar de seu sorriso.
— Você não vai lutar comigo? É muito mais divertido desse modo.
Seu coração estava na garganta. Prendeu a respiração, esperando pelo momento perfeito.
Ele ergueu sua cota de malha. Os olhos de Janet foram para a protuberância massiva de carne, e ela estremeceu com nojo.
Ele viu sua reação.
— Aye, é impressionante, não é? — Ele abaixou os olhos e envolveu a mão ao redor de si mesmo, dando a isto um golpe duro.
Foi quando ela o atacou.
Deslizou a lâmina da bainha e mergulhou na sua perna.
Ele gritou de choque e dor. Seus olhos arregalaram e então as mãos dele rodearam seu pescoço, apertando…
Ela gritou até que ficou sem ar.
Ewen tomou o que o garoto disse a ele — que o padre viu por um momento a senhora na aldeia e enviou soldados para o castelo para prendê-la, mas a senhora foi embora antes dele poder pegá-la — e ser capaz de esconder sua trilha para o lugar em que os cavalos a perseguiram dentro da floresta.
Deixando o menino vigiar a estrada, ele e Sutherland seguiram a trilha pela floresta. Como estava escuro, ele não teve escolha a não ser usar uma tocha.
Ele foi para um lugar onde outro conjunto de rastros aparecia da estrada, e um frio úmido percorreu seu sangue. Alguns metros mais tarde seus temores foram confirmados: quem a seguiu conseguiu pegá-la. Ele mal tinha começado a seguir os rastros para onde o homem a arrastou, quando ouviu um som que parou seu coração: um grito de mulher.
Ele não hesitou. Mesmo depois que Sutherland deixou escapar um aviso para ter cuidado, ele mergulhou pelas árvores. O som foi perto. Tortuosamente perto. Rezou tanto quanto nunca rezou na sua vida. Por favor, deixe-me chegar ali a tempo. Não deixe ser tarde demais. Só mais alguns segundos…
Ele irrompeu na clareira com a espada erguida. Quando viu a pequena figura lutar para se levantar debaixo do corpo de um homem inclinado, tudo dentro dele pareceu parar subitamente.
Sua mão caiu.
— Janet?
Ela levantou o olhar e ele fez um som aflito. As emoções eram tão ferozes e intensas que cambaleou. Seu estômago se revoltou. Sentiu algo assim só uma vez antes, logo após sua primeira batalha, onde a visão de todo o sangue o deixou doente. Mas isso não era nada ante a visão da mulher que amava espancada e ensanguentada.
— Ewen? — Ela disse suavemente. — Você me achou.
Ela oscilou e ele se lançou adiante, pegando-a contra ele. O coração dele estava batendo tanto que ele nem pôde respirar. Embalou-a nele como um pássaro quebrado. O pensamento de quanto ele chegou perto de perdê-la deixou seus joelhos fracos.
— Oh, Deus, você está bem? O que aconteceu?
Ela enterrou a cabeça em seu tórax e se agarrou nele com força, segurando-o como um gatinho assustado. Mas um olhar para o corpo do homem aos seus pés disse a ele que seu gatinho tinha o coração de um leão. Ela foi espancada, mas não derrotada, e apesar das emoções apertando suas entranhas, ele sentiu seu peito inchar de orgulho.
Ele beijou a cabeça dela, saboreando a textura sedosa de seu cabelo e o cheiro de jacintos que o lembravam de casa. Ela era sua casa. Como ele pôde não saber disso?
— Está tudo bem agora. — Ele murmurou ternamente. — Estou com você. Tudo vai ficar bem. Prometo.
Sutherland surgiu atrás deles e praguejou, a luz da tocha possibilitando que ele visse seu rosto. Isso pareceu quebrar o transe que os envolveu.
Ela olhou para ele, seu rosto contundido e ensanguentado de repente intento.
— Vocês têm que pegá-los antes que alcancem o castelo.
— Quem? — Ele perguntou.
Antes que ela pudesse responder, o som de um assobio agudo perfurou a noite. Ele e Sutherland trocaram um olhar. Sutherland respondeu, e alguns momentos mais tarde eles tinham companhia.
Janet estava em estado de choque. Ainda podia sentir as mãos do homem apertando seu pescoço. Pensou que ele iria matá-la. Ele teria também, se sua lâmina não encontrasse o lugar perfeito. Antes que ele pudesse acabar com ela, desabou em cima dela, seu sangue ainda derramando de seu corpo.
Fora deste pesadelo, Ewen tinha aparecido como uma imagem de um sonho. Ela levou um momento para perceber que ele era real.
Ele a encontrou. Estava segurando-a e ela nunca queria soltá-lo.
Mas então se lembrou do padre. Eles tinham que encontrá-lo antes dele chegar ao castelo. A vida de sua informante estava em jogo.
Porém sua explicação foi interrompida pela chegada de mais três fantasmas de elmos. Sob circunstâncias normais ela poderia ter sentido um faiscar de apreensão, mesmo sabendo que eram amigos, mas Ewen a estava segurando.
— Nós ouvimos o grito. — Um dos homens disse a modo de explicação. Magnus, ela percebeu, reconhecendo sua voz.
Quando ela girou de sua posição apertada contra tórax do Ewen olhar para ele, o grande Highlander jurou.
Ela mordeu o lábio saboreando sangue, e percebeu que seu rosto devia parecer tão ruim quanto se sentia.
— O que aconteceu, moça? — Ele perguntou, sua voz mais gentil do que ela já ouviu.
Ela devia parecer realmente mal.
— Não tenho tempo para explicar. Tem um grupo de cinco soldados, um padre e outro homem voltando para o castelo. Vocês têm que pegá-los antes que eles cheguem. Eles têm uma missiva designada a Bruce. Uma nota que pode significar uma sentença de morte para alguém dentro do castelo.
Ela sentiu movimento de um dos homens ao lado de Magnus e instintivamente retrocedeu para a segurança do peito do Ewen. Até debaixo do elmo escurecido ele parecia mais cruel que o resto.
— Para trás, Viper. — Ewen disse por trás dela. — Que diabos há com você?
O guerreiro o ignorou, seus olhos fixos nela — os olhos mais estranhos que ela já vira.
— Quando eles partiram?
— Alguns minutos atrás. — Janet pensou bem. — Talvez cinco?
— Eu irei. — O homem que Ewen chamou de Viper disse.
Janet virou para Ewen.
— Você deve ir também. Tem que ter certeza que eles os encontrem e ninguém escape.
Ewen cerrou os dentes, parecendo tão maleável quanto uma parede de pedra.
— Não vou te deixar.
— Por favor. — Ela disse. — Você deve fazer isso por mim. Eu te imploro.
Os olhos dele buscaram os dela.
— Não me peça isto. Você está ferida. Jesus, Janet, você está coberta de sangue, e seu rosto… — Sua voz foi interrompida. O luar quase fez seus olhos parecerem brilhantes de lágrimas.
Ela se arrumou para dar um sorriso vacilante, porém isso doeu.
— Meu rosto vai curar e o sangue não é meu. — Pelo menos a maior parte não era. — Mas preciso achar Robert o mais cedo possível, e não posso fazer isso a menos que eu saiba que a pessoa dentro do castelo está a salvo.
— Viper vai cuidar disso. — Ewen disse. Mas ele deve ter lido alguma coisa no rosto dela. — Isto é importante para você?
Ela assentiu.
— O parlamento em Selkirk é uma armadilha. Os ingleses planejam romper a trégua.
Mais de um homem praguejou ao ouvir suas notícias.
— Você tem certeza? — Ewen perguntou. — O romper da paz em uma trégua está além inclusive do curso normal da deslealdade inglesa.
Ela acenou com a cabeça.
— Tenho certeza. A prova está naquela missiva.
O de aparência cruel com o nome apropriado de Viper interrompeu.
— Nós precisamos ir se esperarmos pegá-los antes deles chegarem. Não é longe do castelo.
Ainda assim, Ewen hesitou. Não queria deixá-la.
O coração dela apertou.
— Vai ficar tudo bem. — Ela disse suavemente. — Meu cunhado me manterá a salvo. Não é, Sir Kenneth?
O marido da Mary sorriu e avançou.
— Como eu faria com minha própria esposa, minha senhora.
Sir Kenneth estendeu a mão e Ewen relutantemente a liberou.
— Vou cobrar isso, Ice. — Ele disse ferozmente.
Ewen, Viper e um homem que ela reconheceu como MacLean começaram a se mover, mas Magnus os deteve.
— Bàs roimh Gèill. — A morte antes de se render, ela traduziu. — E Hunter. — Ewen virou para olhar para ele. — Volte depressa. Acho que tem uma coisa que você esqueceu de nos dizer.
A expressão de Ewen se tornou austera — Deus, como ela sentia falta disto! — E ele assentiu. Com um último olhar para ela que falava de coisas não ditas, os três homens montaram e partiram.
Egoisticamente, Janet quis chamá-lo de volta. Queria sua força ao redor dela. Queria enterrar sua cabeça no peito dele, enrolar em uma bola e deixá-lo fazer isso tudo ir embora.
Mas ambos tinham trabalho a fazer.
Quando isso estivesse acabado...
Pela primeira vez desde que o deixou aquela noite no estábulo, Janet teve esperança.
CAPÍTULO 25
Castelo de Dunstaffnage, Lorn, Highlands Escocesas
Véspera de Natal 1310
Janet se sentou no baú aos pés da cama. A criada tinha acabado de terminar de organizar seu cabelo em um anel de ouro quando ouviu uma batida na porta.
Mandou a pessoa entrar, e sua irmã gêmea, Mary, entrou no quarto. Seus olhos se encontraram. Mary balançou a cabeça em resposta à sua pergunta não dita e os ombros de Janet afundaram.
A estranha comunicação sem palavras que ela e sua irmã compartilharam quando crianças voltou horas após estarem juntas. Estar com sua irmã novamente…
Emoção inchou seu peito. Janet não percebeu quanta falta sentia de sua gêmea até Mary correr para dentro do quarto onde ela foi trazida na sua chegada para ser atendida por Lady Helen, Esposa de Magnus. Elas olharam uma para a outra e irromperam em lágrimas. Passou bastante tempo antes de Helen poder retomar seus cuidados no rosto, costelas e o osso quebrado no pulso de Janet.
Janet ainda não podia acreditar que sua irmã a perdoou. Realmente, se Mary fosse acreditar, ela nunca a culparia. Não percebeu quanto o perdão da sua irmã significava para ela. Sentiu como se um grande peso fosse levantado. Para surpresa de Janet, falar sobre o que aconteceu naquela noite — a explosão, as mortes de Cailin e dos membros do clã MacRuairi, o desaparecimento de Janet — fora estranhamente catártico. Ela choraria e lamentaria as mortes dessa noite pelo resto da sua vida, mas estava pronta para colocá-los para descansar.
Apesar de sua alegria em ver sua irmã, a balançada da cabeça da Mary fez seu peito apertar com desapontamento.
— Ainda não tem nenhum sinal dele?
Era menos uma pergunta que um apelo. Não muito depois de Janet interceptar o rei com sucesso apenas alguns quilômetros antes dele alcançar Selkirk, avisando-o da deslealdade que estava adiante, Viper — quem agora ela sabia era o nom de guerre para Lachlan MacRuairi — e Eoin MacLean os alcançaram. Sua missão foi um sucesso. Eles recuperaram a missiva para o rei e asseguraram a segurança de sua informante. Contudo, Ewen os deixou em Roxburgh rumo a um destino que ele não disse. Ele deu a eles uma mensagem para ela — que retornaria assim que possível, — mas depois de mais de uma semana Janet estava começando a perder a esperança.
Ela não entendia. Pensou que quando ele a encontrou na floresta, quando a segurou nos braços, quando olhou em seus olhos com tal emoção terna e pungente, que ele mudou de ideia. Que percebeu que gostava dela e tinha a intenção de lutar por eles.
Mas onde ele estava? Por que não veio até ela? Alguma coisa tinha acontecido?
Sabendo de sua perna e do quão perto ele chegou da morte a assombrava. Não podia acreditar que confundiu a febre dele com embriaguez e o deixou quando ele estava tão mal.
Mary balançou a cabeça novamente.
— Kenneth falou com o rei, mas ninguém sabe onde ele está. Nem mesmo Robert.
Janet fez uma cara e se encolheu, tendo esquecido seus ferimentos. Embora Helen tenha dito que ela curaria e nem se lembraria de sua provação além de algumas pequenas cicatrizes, os cortes e contusões ainda estavam sensíveis.
Mas Robert, o assunto que provocou sua reação, precisava ser lidado. Ela não tinha falado com ele desde que ela e os outros relataram as notícias da deslealdade inglesa. Ele ficou agradecido e furioso com o que aconteceu com ela, mas eles ainda discutiriam Ewen ou o futuro dela.
— Não posso acreditar que eles simplesmente o deixaram partir quando ele ainda estava se recuperando. — Disse Janet com as mãos se retorcendo nas saias. — E se ele está caído ali fora em algum lugar…
— Os homens disseram que ele estava bem. — Mary a assegurou. — E Bella não ficou muito contente com Lachlan também quando ela a descobriu. Mas Lachlan assinalou que não era uma “maldita babá” e Ewen insistiu.
— Ewen não disse a ninguém que o rei o chutou para fora da Guarda? — Ela perguntou.
Mary disse ao exército secreto do Bruce — ou os fantasmas, como ela os chamava — eram conhecidos como a Guarda das Highlands entre os homens. Embora Janet não tivesse conhecimento das identidades de todos os guerreiros, ela tinha suas suspeitas. Se o Rei Edward fosse esperto, ele começaria a olhar para cada homem das Highlands com mais de 1,80m de altura, constituído como uma pedra e com um rosto incomumente bonito.
— Não. — Mary respondeu, — mas assim que eles descobriram, os homens convenceram o rei a reconsiderar o assunto.
Sabendo o quanto Robert podia ser teimoso, Janet perguntou:
— Como eles fizeram isto?
Mary deu de ombros.
— Eu não sei, mas seja o que for, deve ter sido persuasivo.
— Isto é ridículo. — Janet jogou as mãos para cima e se levantou. Ela começou a ir para a porta.
Mary olhou para cima de onde estava sentada na beirada da cama.
— Onde você vai?
— Ver se Robert reconsidera corretamente.
Mesmo se Ewen não a quisesse, ele não perderia tudo por causa dela.
Os anos foram duros com Robert, o Bruce. Ele mudou muito do belo jovem cavaleiro que capturou o coração da irmã mais velha de Janet, Isabella. Ele ainda era bonito, mas parecia mais velho que seus trinta e seis anos. A guerra, a dificuldade que ele enfrentou depois da derrota catastrófica na Batalha de Methven, e sua destruição pouco depois, ficaram estampadas nas linhas profundas marcadas em seu rosto. Mas foi sua expressão o que mais mudou. O cavaleiro sociável, alegre e cavalheiresco se foi para sempre, substituído pelo sério rei guerreiro, formidável e endurecido pela batalha.
Sentada na frente dele em seu solário particular, os homens dele partindo a pedido dela, Janet sentiu uma pontada de apreensão inesperada. Ela podia pensar nele como Robert, mas o homem diante dela era inegavelmente um rei. Contudo, a preocupação nos escuros olhos que encontraram os dela lhe deu coragem.
— Você está se sentindo melhor? Helen atendeu a todas as suas necessidades? Eu disse a ela que você devia ter o que quisesse.
Ela pretendia segurá-lo nisto.
— Eu me sinto muito melhor, Alteza. Helen cuidou de mim como se eu fosse sua irmã. Mas tem uma coisa que eu pediria.
Ele sorriu, parecendo aliviado.
— O que você pedir é seu. Estou em dívida com você, Janet. Sei o que passou para trazer esta mensagem para mim, e ouvi como você protegeu nossa informante no castelo saltando na frente do homem no beco.
Seus olhos se encontraram e Janet pôde ver como ele estava mesmo agradecido. A informante era importante para ele e foi por isso que ele confiou nela em primeiro lugar. Mas se perguntou como ele ouviu as particularidades do que aconteceu em Berwick. Alguém deve ter falado com sua informante.
— Ainda não posso acreditar que os ingleses planejaram deslealdade em uma negociação de paz. — Ele continuou. — Tanto Gloucester quanto Cornwall me deram a sua palavra. Eu esperaria isto de Gaveston, mas não de um filho de Monthermer.
O Conde de Cornwall, Piers Gaveston, era o favorito de Edward. O Conde de Gloucester, Gilbert de Clare, era um forte partidário do rei, mas também era o enteado de um velho amigo de Robert, Ralph de Monthermer.
— Mas depois de Methven, eu não deveria mais ficar surpreso. — O rosto do Robert escureceu, dando a Janet um vislumbre de sua raiva e ira. — Pelo que eu li nessa missiva, eles poderiam ter sido bem-sucedidos. Planejaram nos cercar com uma guarnição inteira de Roxburgh enquanto dormíamos. — Ele fez uma pausa por um momento, recobrando-se antes de olhar de volta para ela. — O que você quer, Janet? Se estiver em meu poder, será seu.
Janet prendeu seu olhar e não hesitou.
— Eu quero Ewen.
Os olhos do Robert faiscaram.
— Não torça minhas palavras contra mim desta vez, Janet. Eu já dei minha resposta a Lamont quando ele veio a mim com o “pedido” dele.
Janet não deixou sua raiva a intimidar.
— Estou pedindo para você reconsiderar tendo em vista os eventos recentes. Nunca te pedi nada antes, Robert, mas estou pedindo agora.
Ele se sentou para trás em sua cadeira tipo trono, considerando-a com olhos atentos e duros.
— Pelo que exatamente você está pedindo?
— Não quero que Ewen seja punido pelo que aconteceu. Devolva suas terras, dê a ele seu lugar de volta na Guarda, e… — suas bochechas esquentaram.
— E? — Robert perguntou.
— E se ele ainda desejar se casar comigo, dê-nos sua permissão.
— Você não teria que me pedir isto?
Janet balançou a cabeça.
— Eu não o forçaria a um casamento sem seu consentimento, pois não gostaria de ser forçada.
O rei franziu o cenho, não tendo perdido sua reprovação corajosa.
— Ele tomou sua inocência. Não vou recompensá-lo por isto.
— Você não me conhece nem um pouco se pensa que ele tomou qualquer coisa que eu não desse de boa vontade.
— Ele se aproveitou de sua inocência. — Robert disse desconfortavelmente, obviamente ele não achava agradável o tema de tais assuntos íntimos com uma mulher que era como uma irmã para ele.
— Não sou uma menina, Robert. Sou uma mulher de vinte e sete anos que esteve esperando sua vida inteira por isto, por ele. Eu o amo.
— Amor não é razão para casamento. Ele não tem terra para oferecer, ou títulos ou fortuna.
— Então você pode dar mais a ele. — Disse Janet. — Se o que eu fiz não merece uma recompensa, então que tal o que ele fez? — Ela o deixou considerar aquilo por um momento. — Quanto ao amor, e seus casamentos, Robert? Certamente um sujeito não pode olhar mais alto que seu rei por direção?
A expressão do Robert não deu a menor pista que suas palavras penetraram, mas ela sabia que tinham. Era bem conhecido que Robert se casou com ambas as esposas por amor.
Um momento mais tarde ele balançou a cabeça, dando-lhe aquele seu olhar exasperado que ela se recordava do tempo que ela passou vivendo com ele e Isabella.
— Você devia ter sido um oficial da lei, Janet. Que pena que você não nasceu um homem, eu poderia te usar em meu conselho particular.
Janet sorriu, recordando palavras semelhantes de Ewen quando ela o conheceu. Também se lembrou de outra coisa. Lamont, oficial da lei.
— Talvez eu deva ser, Alteza.
As sobrancelhas dele franziram de forma pensativa. O cerne de outra ideia tinha acabado de criar raiz quando foram interrompidos por uma batida com força na porta. Logo depois, o feroz chefe a Oeste das Highlands que raramente deixava o lado de Robert, entrou na sala.
Imponente. Formidável. Intimidante. Autoritário. Assustador. Nada disso chegava perto de descrever Tor MacLeod. O líder da Guarda das Highlands parecia mais um nobre que um soldado, mesmo na presença de alguém tão majestoso quanto Robert, o Bruce.
— Imagino que se você está interrompendo, é algo importante. — Robert inquiriu.
— Aye. — Disse Tor. — Tem alguém aqui para ver você.
— Diga a ele para esperar.
Tor olhou para ela, um meio sorriso virando sua boca.
— Acho que você vai querer vê-lo.
Ele colocou a cabeça para fora da porta e acenou para alguém. Janet ofegou, seu coração saltando para a garganta quando Ewen entrou a passos largos pela porta.
— Você voltou! — Ela gritou, e teria corrido para os seus braços se não notasse o homem que surgiu atrás dele.
Seu coração, que saltou apenas um instante atrás, caiu no chão. Ela congelou, sua boca aberta em choque.
Apesar dele parecer consideravelmente mais velho que da última vez que o viu, Janet não teve dificuldade em reconhecer o desengonçado novo Stewart da Escócia, Walter Stewart.
Seu olhar disparou para Ewen em mudo horror, buscando reafirmação. Por que ele o trouxe aqui?
Ewen queria ir para Janet no momento em que entrou na sala, mas estava muito ciente do homem acomodado na cadeira tipo trono atrás da mesa. Ewen tinha feito tudo errado com o rei antes, tinha que fazer isto de forma correta desta vez.
O alívio em vê-la tão curada o atingiu com um golpe poderoso no peito. Disse a si mesmo repetidamente que Helen cuidaria dela, que ela estava em excelentes mãos, mas ela não estava em suas mãos, e não foi até que a viu cara a cara que pôde começar a relaxar.
Ele fez um inventário de seus ferimentos: a faixa envolvendo seu pulso, as volumosas bandagens ao redor de suas costelas por baixo do vestido e a pequena linha de pontos em sua bochecha. O inchaço em sua mandíbula e nariz diminuiu, deixando os remanescentes amarelados, pretos e azuis dos hematomas. As duas meias-luas pretas debaixo de seus olhos sugeriam que seu nariz foi quebrado, embora parecesse estar tão reto quanto antes.
Os olhos dela encontraram os seus, e o olhar de incerteza lançou suas boas intenções no inferno. Pro inferno com Bruce! Ele foi e estendeu sua mão. Ela deslizou sua minúscula palma na dele como se seu lugar fosse ali — o qual era — e a ajudou a se levantar.
Não liberou sua mão, mantendo-a envolvida pela dele. Com a outra ele inclinou sua cabeça para trás para examinar melhor seu rosto, virando-o para uma direção depois para outra.
— Está tudo bem com você?
Ela assentiu e ele se permitiu mais um terno varrer de seu polegar ao longo do contorno contundido de seu queixo antes de soltá-la, e virou para enfrentar seu rei. Não confiou em si mesmo para não a beijar, e pelo modo que o rei estava olhando para ele agora, já estava perto de sair daqui em correntes.
— Pensei que te ordenei que retornasse para o dia de St. Drostan com os outros. — Disse Bruce, olhando para ele furiosamente.
Ewen decidiu não assinalar que ele realmente ordenou que saísse de suas vistas.
— Tinha uma coisa importante que eu precisava cuidar.
O olhar do Bruce foi rapidamente para Walter antes de voltar para ele.
— Você parece estar tendo dificuldade em seguir todos os tipos de ordens ultimamente.
Ewen não discordou.
O rei segurou seu olhar por um longo tempo e então virou para Walter.
— Presumo que tenha uma razão para trazê-lo aqui.
— Ele tem, Alteza. — Walter disse, avançando com uma reverência. — Lamont veio a mim com um pedido bastante inesperado. Pediu para se casar com minha noiva.
Ele ouviu a inalada aguda de Janet e sentiu seus olhos nele, mas ele estava observando Bruce. O rei se recostou em sua cadeira, sua expressão não revelando nada.
— Ele fez, não é? Ele mencionou que recusei um pedido semelhante?
— Aye. — Walter disse. — Ele mencionou sim.
— E o que você disse a ele? — Bruce perguntou.
O olhar de Walter foi para Janet se desculpando antes de responder.
— Eu disse a ele que daria meu apoio e romperia o noivado se este fosse o desejo da dama também.
— É! — Janet teria corrido adiante para assegurá-lo, mas Bruce a fez recuar com um erguer de sua mão.
Ewen disse uma prece em silêncio de agradecimento. Até aquele momento não esteve cem por cento certo que ele não tinha discutido por nada com Walter Stewart (que apesar de sua jovem idade provou um oponente formidável) durante os dias passados. Ewen teve sorte de sair do Castelo de Rothesay sem ter que prometer a ele seu primogênito.
— Assumo que ele disse tudo a você. — Bruce inquiriu.
Stewart, que estava obviamente muito ciente da presença de Janet, enrubesceu.
— Disse.
O rei não disse nada por um minuto, mas então virou para Janet.
— MacLeod vai levá-la de volta para seu quarto. Lady Anna preparou um banquete esta noite da véspera de Natal. Nós falaremos mais tarde.
Janet começou a protestar.
— Mas...
Ewen a cortou, tomando suas mãos nas dele e dando a elas um gentil aperto.
— Vá agora. Encontrarei você. — Eu sempre vou te encontrar, disse a ela silenciosamente. — Lembra?
Ela acenou com a cabeça.
— Confie em mim. — Ele disse suavemente, prendendo seu olhar. — Não vou te desapontar. — Nunca mais.
Ela torceu seu nariz maltratado.
— Nem sempre serei assim obediente.
Ele sorriu.
— Tremo só de pensar nisso.
Ele trouxe uma de suas mãos até sua boca para um beijo antes de finalmente soltá-la, pelo que ele jurou seria a última vez.
Ela marchou bastante ofendida em direção à porta. Olhando de volta por cima do ombro, deu suas palavras de despedida para Bruce.
— Lembre-se de sua promessa, Robert.
— Não fiz nenhuma promessa. — O rei protestou.
— Aye, mas sei que você estava prestes a fazer. — Ela deu a ele um sorriso alegre, estremecendo quando pareceu causar dor nela.
Tanto Ewen quanto o rei foram em direção a ela com preocupação.
— Você está bem? — Eles perguntaram ao mesmo tempo.
O sorriso de Janet aprofundou.
— Vou ficar.
A pequena descarada! Aquele estremecimento foi uma lembrança. E ele não foi o único a perceber. Ewen suspeitava que por um longo tempo ele testaria usando um olhar exasperado e ligeiramente derrotado como o que estava no rosto do rei. Felizmente.
CAPÍTULO 26
Janet esperou tempo suficiente. Ewen deixou o solar do rei cerca de uma hora atrás. Lady Anna Campbell, a esposa de Arthur Campbell, quem era o guardião de Dunstaffnage para o rei (e também, se seu rosto bonito e físico musculoso fosse qualquer indicação, um dos homens da guarda), foi gentil suficiente para informá-la disto, como também onde Janet poderia encontrá-lo.
Ela tomou isto como um bom sinal que ele recebeu uma câmara no castelo, em vez de debaixo dele nas masmorras. Então por que não veio ao seu encontro?
O castelo estava zumbindo com excitação pela celebração da noite. Janet passou por vários servos desde sua câmara no terceiro andar descendo a caminho dos aposentos de Ewen no primeiro. Contudo, ela franziu o cenho quando notou uma jovem serva — e bastante bonita — indo em direção à mesma porta que ela com um enorme balde de água nas mãos.
A garota estava prestes a abrir a porta quando Janet a parou.
— Eu levo isto.
A serva pareceu horrorizada. Ela balançou a cabeça.
— Não seria certo, minha senhora. O lorde está… — suas bochechas esquentaram — se banhando.
— Ele está agora? — Janet esperava que não soasse tão rabugenta quanto se sentia.
A garota assentiu.
— Lady Helen insiste que ele ponha sua perna de molho pelo menos uma vez por dia. — Janet sentiu uma pontada de culpa por seu ciúme, mas esse ciúme foi instantaneamente reavivado quando a garota acrescentou: — Estou indo ajudar com seja o que for que ele precise enquanto Lady Helen atende o pequeno William.
Janet conheceu seu adorável sobrinho alguns dias atrás. A criança era danadinha, mal tendo começado a engatinhar.
— Tem algo errado?
— O pequenino bateu a cabeça no poste da cama, mas Lady Helen diz que ficará bom. Não tem nem um hematoma.
Janet acenou com a cabeça sem esconder seu alívio.
— Vou levar o balde para o lorde. Nós estamos para nos casar. — Pelo menos esperava que estivessem. — Mas se não se importa, tem algo que eu gostaria que você fizesse primeiro.
Quando Ewen respondeu a batida na porta, foi a jovem serva quem respondeu.
— Sua água, meu senhor. — Mas foi Janet quem entrou no quarto. Ela fechou a porta atrás dela e caminhou em direção ao homem espalhado nu na tina com suas costas na direção dela. Ela estava irritada o suficiente para olhar para ele sem vergonha, assistindo cada centímetro de pele dura e bronzeada.
— Devo lavar suas costas, meu senhor? — Ela disse em uma voz suave e cantante, completamente diferentemente da sua.
— Se você quiser — ele disse indiferente.
O safado! Ele devia se lavar! Foi com bastante satisfação que Janet esvaziou o balde inteiro de água na cabeça dele. Água fria, ela teve tempo de notar.
— Que diabos! — Ele saltou para fora da tina e virou para ela em choque e raiva. Vendo quem que era, a raiva sumiu. Ele franziu a testa. — Que diabos está fazendo aqui, Janet?
Ela apertou a boca, cruzou os braços e percorreu aquele corpo incrível lentamente, ligeiramente apaziguada quando uma parte bem grande dele começou a engrossar e levantar sob seu olhar firme.
Ele praguejou, agarrou um pano para se secar que estava na cama e o envolveu ao redor da cintura.
Mas se pensava em se cobrir, ele calculou mal. O linho úmido grudou em cada músculo e moldou cada centímetro desse negócio grosso. Meu Deus, estava agradavelmente quente e abafado aqui dentro.
— Pare de olhar para mim assim, maldição.
Seus olhos encontraram os dele.
— Prefere que eu chame a serva de volta?
Levou um momento, mas a ficha finalmente caiu. Ele sorriu. Amplamente. Pareceu tão bonito que fez seu peito apertar.
— Você está com ciúme.
Ela não negou.
— Você mesmo pode se lavar de agora em diante.
Ele sorriu, cruzando seus braços, provavelmente para distraí-la. Funcionou. Ela respirou fundo ante a impressionante exibição de músculos protuberantes. Santo Deus, ela tinha nova apreciação para a guerra!
— E se eu precisar de ajuda?
— Eu te ajudarei — ela disse entredentes, sabendo que estava sendo ridícula.
— Acho que gostaria de ver isto. Obediente e servil em um único dia. Ainda farei de você uma esposa adequada.
Os olhos dela foram para os seus. O ciúme, a brincadeira, a admiração dos músculos, tudo sumiu. Só uma coisa importava. Nada nunca importou mais.
— O rei concordou?
— Aye — ele disse roucamente. Em seu olhar ela pôde ver toda a emoção enchendo seu coração. — Mas ele tinha uma condição.
Janet de repente ficou cautelosa.
— Que tipo de condição?
— Eu devo ter seu consentimento.
Lágrimas encheram seus olhos quando ele caiu de joelho aos seus pés. Ele tomou sua mão e olhou dentro dos seus olhos.
— Eu sinto muito por mentir para você. Eu devia ter te contado a verdade. Sinto muito por não a segurar em meus braços depois que fizemos amor e dizer a você o quanto te amava. Sinto muito por não ter coragem suficiente por lutar por nós, por não fazer o que fosse preciso para te fazer minha esposa. Pensei que eu tinha perdido tudo, mas nada disso importava sem você. Eu sei que não posso mudar as coisas ou devolver isto para você, mas prometo que vou tentar pelo resto da minha vida se você concordar em ser minha esposa.
Janet ficou ali de pé em atordoado silêncio. Seus papéis pelo que parecia, foram invertidos. O homem que sempre disse a coisa errada se expressou graciosamente, e a mulher que sempre soube o que dizer parecia que não podia encontrar sua língua.
Ele começou a ficar um pouco preocupado olhando para ela com incerteza.
— Janet?
Tinha uma coisa que ela tinha que saber.
— E se eu desejar continuar meu trabalho?
Ele fez uma pausa.
— Você ainda faria mesmo depois do que aconteceu?
— E se eu fizesse?
— Eu tentaria conversar com você para sair disto. O padre pode estar morto, mas existem outros que eventualmente vão juntar as coisas como ele fez.
— E se não pudesse me convencer?
Ele parecia como se preferisse estar comendo unha.
— Eu deferiria, mas de má vontade, para seu julgamento. E provavelmente eu ficaria tão desagradável quanto MacKay quando Helen insiste em nos acompanhar.
Um sorriso largo se espalhou pelas feições dela. Se ela algum dia precisou de prova do seu amor, ela acabou de ouvir.
— Você, desagradável? Isso é inacreditável.
Ele deu um tapa na bunda dela e ela riu.
Mas então ela ficou séria.
— Eu gostaria de continuar a ajudar Robert, mas acho meus dias como mensageira estão terminados. Você estava certo, eu era confiante demais em minhas habilidades e talvez — ela concedeu — até um pouco ingênua sobre o que podia acontecer. Eu devia ter exercitado mais discrição. Depois de duas situações apertadas, acho que abusei das minhas boas-vindas nas fronteiras, sem falar que fiquei sem identidades.
— Duas situações apertadas? — Ele explodiu.
Ops.
— Será que esqueci de mencionar como vim a trabalhar em uma rouparia?
— Aye, eu diria que você esqueceu.
Janet deu uma rápida explanada, ignorando sua expressão se fechando quando ela mencionou o escudeiro e o cavaleiro, e concluiu com como foi forçada a partir sem dizer adeus para os Hendes.
— Você acha que pode haver um modo de conseguir falar com eles e ver que estão seguros?
— Considere isto feito — ele disse.
— Obrigada — ela disse, não percebendo o quanto esteve pesando nela.
— Não vou dizer que não estou contente que você não vai insistir em usar seu hábito novamente.
Janet sorriu.
— Eu não esperaria isso de você. Além disso, seria bastante inapropriado dadas as circunstâncias.
— Que circunstâncias?
Não estava pronta para dizer a ele ainda. Mas isso tinha sido seu copo de graça se Robert se provasse sem ser razoável.
— Porém não pense que eu acabei. Tenho outro plano em mente.
Ele gemeu.
— Não quero nem perguntar.
— Não se preocupe, não é nada muito ultrajante.
Ele fez um rosto aflito.
— Que alívio — ele disse secamente. — Janet, a menos que você tenha falhado em notar, ainda estou de joelhos. — Ele estremeceu desconfortavelmente.
Os olhos dela saltaram para sua perna.
— Oh Deus, esqueci da sua perna. — Ela o arrastou de pé. — Isso dói horrivelmente? Sinto tanto por deixar você assim, não percebi que você estava doente na noite que eu parti. Pensei que estava bêbado.
Ele alisou o cabelo dela para trás longe do seu rosto.
— Eu raramente me permito abusar do álcool.
Ela olhou para ele.
— Por causa de seu pai?
Ele assentiu.
— Eu devia saber.
Ele balançou a cabeça.
— Eu não quis que você soubesse. Inferno, nem eu mesmo percebi o quanto estava mal.
— Graças a Deus por Helen — ela disse.
Ele retornou o sentimento e cavou seu queixo, erguendo seu olhar para o dele.
— Você não respondeu minha pergunta.
Ela sorriu.
— Sim… Sim!
— Graças a Deus — ele gemeu, puxando-a em seus braços. O beijo terno era para selar a promessa de seu futuro, porém rapidamente se transformou em alguma outra coisa. Algo quente e exigente. Ela embrulhou os braços ao redor do seu pescoço, atraindo-o para mais perto, encostando seu corpo no dele.
O golpe morno da língua dele em sua boca a fez se arrepiar. O calor suavizou seus ossos, espalhando sobre ela em ondas derretidas pesadas. Deus, ela adorava beijá-lo.
Os círculos de sua língua ficaram mais profundos e mais quentes, mais rápido e mais carnal. Seu corpo ficou mais duro, rígido com a força do seu desejo.
Ela gemeu, e ele afastou.
— Ah inferno. Eu te machuquei? — Seu dedo deslizou acima do corte em sua bochecha e nas contusões em seu queixo.
Ela balançou a cabeça.
— Eu queria que você não o tivesse matado — ele disse. Ela olhou para ele com surpresa. Mas o rosto dele estava tão feroz como ela jamais viu. — Eu teria feito isto muito mais doloroso para ele por te machucar desse jeito.
Ela se levantou na ponta dos pés e pressionou um beijo nos lábios dele.
— Está no passado. E agora estou mais preocupada com o futuro, nosso futuro.
Não tão distraidamente, ela deixou sua mão cair entre eles, desenhando pequenos círculos no estômago dele com a ponta do dedo. Sua pele era tão morna e lisa, e quanto mais perto ela dançava para o vulto proeminente debaixo do pano, mais escuros seus olhos ficavam e mais duro as faixas de músculo cruzando seu estômago apertavam.
Ele teria agarrado seu pulso para detê-la, mas ela foi esperta o bastante para usar a mão ferida.
— Janet… — ele a advertiu roucamente. — Continue me tocando assim e eu posso esquecer minhas intenções honradas e seus ferimentos.
Ela sorriu e levantou a cabeça para olhar dentro de seus olhos.
— Bom. Estou bem, realmente estou. Por favor, eu quero isto. Quero você.
Justo para que não houvesse nenhum argumento, ela deixou sua mão cair um pouco mais baixo, esfregando seu pulso acima da ponta engorgitada.
Ele prendeu a respiração.
— Jesus, Janet, você não luta justo.
Um sorriso mal curvou sua boca.
— Você pode ser gentil, não pode?
Ele a puxou para cima e a levou para cama.
— Com toda certeza espero que sim.
Com seu pulso ferido, ela precisava de ajuda para tirar suas roupas — um dever que ele estava mais do que feliz em ajudar.
— Pensei que você não fosse uma “maldita donzela”— ela o provocou enquanto ele desabotoava sua túnica, lembrando a ele de um pedido semelhante que ela fez na cabana de pescador não muito tempo atrás.
Ele deu uma risada aguda.
— Acho que mudei de ideia. Se você pretende me ajudar com meus banhos, o mínimo que posso fazer é te ajudar com suas roupas.
— Seu esclarecimento na paridade do casamento é verdadeiramente incrível — ela disse secamente.
Ele riu.
— Sem mencionar interesseiro.
Quando o último artigo de vestuário foi removido, ele voltou a ficar de pé e olhou para ela por tanto tempo que ela começou a tentar se cobrir com as mãos. Mas ele suavemente as puxou para longe.
— Não faça isso — ele disse, sua voz áspera com emoção. — Você é tão bonita. — Ele começou a correr seus dedos por sua pele nua. — Quero tocar cada centímetro sua.
Parecia como se ele tivesse acabado de fazer isso. A respiração de Janet já estava vindo rápida quando ele finalmente se inclinou e deslizou um mamilo rígido em sua boca, arrastando-o suavemente e circulando-o com a língua. O cabelo escuro e sedoso dele caía para o lado, escovando em sua pele nua. Ela deslizou seus dedos através do cabelo dele, prendendo-o a ela. Ele segurou seu peito em forma de xícara com a palma, apertando e manipulando entre suas mãos enquanto a tomava cada vez mais fundo em sua boca.
Esquecendo tudo sobre suas costelas feridas, ela começou a arquear as costas, gemendo enquanto as sensações começavam a se construir.
Ele ergueu a cabeça.
— Você está tornando difícil ir lento.
— E de quem é a culpa?
Ele sorriu, e isso capturou seu coração.
— Eu amo ver você sorrir — ela disse suavemente. — Você não faz isso o bastante.
— Não tive muita razão para sorrir. Mas suspeito que isso vai mudar.
Ela sabia que iria, especialmente quando ele aprendesse...
Ele inclinou e a beijou, e o que ela estava prestes a dizer a ele ficou perdido na névoa sensual que a atingiu com toda a sutileza de uma onda relacionada a maré.
Seu calor, seu cheiro, a sensação de sua pele esfregando na dela a tomou, suprimindo tudo exceto as sensações poderosas se construindo por dentro.
Ele segurou seu tórax acima dela, cuidando para não apertar suas costelas feridas, mas ela o puxou para baixo, querendo sentir o contato. O calor de seu tórax nu e o peso sólido de seu corpo em cima dela.
Ele removeu o pano em volta de sua cintura e ela pôde sentir o comprimento igualmente sólido de sua ereção quente e pulsando contra sua barriga. Ela pressionou e circulou os quadris, tentando fazer com que ele chegasse mais perto.
Ele gemeu, aprofundando o beijo e os golpes longos de sua língua até que ela não podia suportar mais. Ela o queria dentro dela. Queria senti-lo a enchendo.
O coração dela estava martelando, sua respiração estava acelerando e o lugar entre suas pernas estava tremendo com necessidade.
— Por favor — ela gemeu.
Erguendo a cabeça, ele examinou seus olhos. Ela podia senti-lo se posicionando entre suas pernas.
— Diga se doer — ele disse firmemente, seus músculos apertados com restrição.
Ele pressionou dentro dela. Lento e gentil. Avançando. Esticando. Enchendo-a. Ela ofegou. Gemeu. Abriu ao redor dele.
Não doía. Não doía nem um pouco. Parecia incrível. Ela se sentiu cheia. Possuída. Amada.
Os olhos dele eram escuros e quentes.
— Você é tão gostosa.
— Você também — ela disse rouca.
— Eu amo você, mo chroí.
Ela sorriu, lágrimas de felicidade enchendo seus olhos.
— E eu amo você.
Lentamente, o corpo dele começou a mover dentro dela em golpes longos e suaves. Era avassalador, a coisa mais bonita que ela já experimentou. Ele reivindicava seu corpo mesmo quando seus olhos reivindicavam seu coração. O prazer era tão intenso quanto antes, mas mais profundo. Não era simplesmente o compartilhar de dois corpos, mas o compartilhar de duas almas. Ele fez amor com ela. Cada parte dela. Lentamente, suave e completamente. Ele era uma parte dela, e ela nunca o deixaria ir.
Finalmente, ela não podia tomar mais. Seus gemidos suaves ficaram mais urgentes. Ele ouviu seu mudo apelo e respondeu. Seus golpes começaram a prolongar. Afundar. Acelerar. Ficar mais duros. Ela podia sentir o corpo dele ficar tenso debaixo das pontas dos seus dedos até quando ela começou a se fragmentar. Ela tinha que se fragmentar. Não havia nenhum outro lugar para ir.
Ela gritou, o prazer quebrando acima dela em uma lenta e pulsante onda.
— Oh, Deus — ele gemeu, deixando-se ir. Ele gozou dentro dela num fluxo quente que se moldou com o dela. Pareceu continuar para sempre. Os espasmos reverberavam por cada centímetro dela, não deixando ir.
Isso foi justo como antes, exceto que desta vez, quando ele finalmente acabou, ele rolou para o lado, puxando-a contra ele e a segurou como se nunca a deixasse ir embora.
Foi muito tempo mais tarde quando Ewen achou a energia e as palavras para falar. Estava humilhado e um pouco aterrorizado pelo que tinha acabado de acontecer. Ele nunca soube que podia ser assim. Nunca se sentiu tão próximo de ninguém em sua vida. Ele tinha se deitado com muitas mulheres, mas só fez amor com uma: a mulher que seria sua esposa. Ainda não podia acreditar nisto.
Como se lendo sua mente, ela perguntou:
— Como você conseguiu que Robert concordasse?
Ela estava aconchegada contra ele com sua bochecha no peito dele, brincando com os cabelos escuros espalhados em um V em seu pescoço, mas para fazer sua pergunta, ela escorou o queixo nas costas de sua mão para olhar para ele.
— Você já tinha feito a maior parte do trabalho — ele disse, correndo os dedos sobre a pele nua de seu braço. — E meus irmãos também.
Ewen ainda não podia acreditar que eles recusaram continuar qualquer missão a menos que ele estivesse de volta. MacLeod lembrou a Bruce que ele deu a ele plena autoridade sobre a equipe. A Guarda das Highlands lutava por Bruce, mas eram homens de MacLeod.
— Como conseguiu que Walter viesse para Dunstaffnage te ajudar a pleitear seu caso?
— Não foi fácil. Mas eu o fiz ver que eu era mais valioso como seu homem do que não. Também posso ter dado ele a ideia de uma noiva alternativa.
Walter Stewart pode ser jovem, mas era tão ambicioso quanto seu parente James Douglas — e seu parente Robert, o Bruce, no que diz respeito a esse assunto.
Ela ergueu uma sobrancelha, intrigada.
— Uma mais impressionante que uma filha de Mar?
Ele riu de sua afronta. Mas neste caso, sim.
— Pensei que você quisesse cair fora do noivado, então achei que seria melhor não discutir suas partes boas — ele apertou a bunda dela — que são muitas.
Ela fez uma cara feia e então arruinou o efeito rindo.
Ele beijou sua cabeça e então a atraiu mais perto.
— O que você disse para o rei? — Ele perguntou.
Ela deu de ombros.
— Eu só o lembrei de tudo que nós fizemos a seu serviço.
— E?
— E o lembrei de seus próprios casamentos.
— Que é?
Ela deu de ombros novamente.
— Foi suficiente. Mas vim bem preparada para pleitear meu caso e estava confiante que ele enxergaria. Entretanto não fui forçada a usar isto, tive um argumento que asseguraria que ele veria as coisas do meu modo.
Ele olhou para ela ceticamente.
— Pensei que você acabou com essa história de ser confiante demais. O rei estava tão bravo como nunca vi.
— Ah, mas um bom oficial da lei sempre guarda o melhor argumento por último.
— E que argumento é?
Os olhos dela encontraram os seus e ele sentiu algo dentro dele mudar mesmo antes dela falar. Ela pôs a mão sobre seu estômago.
— Meu período está atrasado.
Ele ficou imóvel. Seu corpo sentiu a importância de suas palavras, mas sua mente levou um momento para captar.
— Um bebê?
Ela acenou com a cabeça, lágrimas brilhando em seus olhos.
— Acho que sim. Está… está tudo bem?
Jesus, como ela podia perguntar algo assim? Uma onda quente de emoção abateu sobre ele. Apertou seu peito e garganta. Ele não soube o que dizer. Nunca soube. Mas a diferença com Janet era que isso não importava. Ela o entendia de qualquer maneira.
Mas por via das dúvidas, ele disse a ela novamente. Desta vez com seu corpo.
Isso era melhor que tudo bem. Era tudo. Ela tinha dado tudo a ele. O caçador encontrou o que ele nem sabia que estava procurando, e ele nunca a deixaria ir embora novamente.
Epílogo
Ardlamont, Cowal, Escócia, dezembro de 1315.
Janet estava indo ter uma boa conversa com aquele diabinho de olhos azuis.
— James! James Fynlay Lamont, venha aqui agora mesmo! — Ela correu quarto por quarto, vindo a parar quando entrou no berçário e viu seu marido. Ele estava de pé a uns poucos passos longe dela com dois pacotinhos enfiados debaixo de seus braços e duas pernas magras espiando por trás dele.
Mesmo depois de cinco anos de casamento, seu coração ainda engatava ao vê-lo, como se parte dela ainda não pudesse acreditar que ele podia ser seu. Porém, apesar de seus sentimentos, ela aprendeu muito tempo atrás a não o deixar a distrair. Ela dobrou os braços por cima do peito e olhou fixamente para ele.
— Não adianta tentar escondê-lo. Eu posso ver você, James.
A cabecinha loira espiou por trás das pernas do Ewen. Ela não comprou o olhar inocente em seu rosto nem por um momento.
— Entrega, Jamie.
— Entregar o que, mãe?
— A carta que você tirou da minha escrivaninha. — Ela se curvou até o nível do garotinho, tentando manter a expressão dura em face de um lábio inferior muito trêmulo. — É uma carta muito importante, Jamie. Eu preciso devolvê-la para o rei.
Ele fez uma carinha, alcançou dentro de sua bota e puxou o pedaço de pergaminho agora amassado.
— Eu não me importo com esse estúpido rei velho. Não quero que você trabalhe mais hoje. Quero que você venha brincar comigo.
O teimoso e desconsolado olhar em seu rosto que se assemelhava muito a seu pai, ela teve que levantar o olhar para Ewen. Ele só deu de ombros.
— Não olhe para mim.
Janet suspirou e puxou seu filho de quatro anos de idade para seu colo. Algum dia isso ficaria mais fácil? Ela tentou equilibrar o trabalho que fazia para o rei como sua “conselheira” e de fato, se não exatamente publicamente reconhecida oficial da lei, mas tinha dias — como o de hoje — quando inevitavelmente essa balança inclinava.
Agora que a guerra tinha sido ganha com a Inglaterra, Robert estava ansioso para ter a Escócia aceita como um reino independente, e ela caiu dentro do trabalho preparando seus argumentos para as cartas cuidadosamente escritas que seriam enviadas para o rei francês e o papa, para quem eles também fossem simpáticos a ter erguida a excomunhão que foi colocada em Robert desde que ele apunhalou John Comyn — O Vermelho — na Igreja de Greyfriar quatro anos atrás. O latim que ela uma vez se desesperou tinha caído bem.
— Você não ia jogar bola lá fora com papai hoje? — Ela disse suavemente, acariciando sua cabeça.
— Nós fomos. Mas aí elas entraram no caminho. Elas sempre entram no caminho.
Janet tentou não sorrir e olhou para as meninas de dois anos de idade se retorcendo debaixo dos braços do seu pai. Diferente de Jamie, elas tinham o cabelo escuro como do Ewen.
— O que elas fizeram desta vez? — Ela perguntou a seu filho.
— Mary lançou a bola no lago e então Issy começou a chorar. Odeio quando ela chora.
Eu também, Janet pensou, e ela faz um monte terrível disto. Ela olhou para Ewen por ajuda.
— Estou tentando — ele disse. — Mas como pode ver, tenho minhas mãos cheias. Ele escapou de mim.
— Eu pareço me recordar de alguém me dizendo que isto seria fácil.
— Eu estava esperando uma, não duas — ele disse. — Acho que é hora de voltar para a guerra.
— A guerra está terminada.
— Não me lembre — ele disse com um revirar exagerado dos olhos. — Acho que ouvi Stewart me chamando.
— Walter pode esperar — Janet disse. — Além disso, ele tem uma nova noiva para pensar. — Ela ainda não podia acreditar que a nobre cuja mão o atraiu era sua sobrinha Marjory Bruce — filha de Robert e Isabella. Marjory foi mantida na Inglaterra por quase oito anos, mas foi liberada no ano passado depois da Batalha de Bannockburn. — Seja o que for que um homem semeia, ele também colherá — ela lembrou a seu marido.
Ele sorriu maldosamente.
— O semear foi divertido, é só o colher que não estou tão certo. — Ele desmentiu suas palavras, conferindo e beijando os dois pequenos querubins em seus braços até que elas ficaram selvagens com risadas.
— Nós estávamos indo encontrar você — Ewen disse quando as meninas finalmente desmoronaram na cama com exaustão. — Se tiver um minuto, tem algo que quero mostrar a você.
Ela olhou para ele. Depois de quase cinco anos de casamento, estava afinada a cada nota em sua voz — e ela ouviu a emoção espessa.
— Está feito? — Ela perguntou sem fôlego.
Seus olhos se encontraram e ele assentiu.
Sem palavras, ela o deixou tomar sua mão enquanto a levava e seus três filhos para fora da velha casa da torre.
— Não olhe ainda — ele disse quando ela tentou dar uma olhada na colina perto.
Finalmente, ele parou.
— Certo, vire-se.
Janet prendeu a respiração. O sol brilhante de final de tarde brilhava na pedra recém-cortada, fazendo o castelo cintilar e brilhar como uma joia recentemente cunhada. Tinha quatro torres, uma em cada canto, cercada por um muro formidável. Era uma fortaleza impressionante para qualquer padrão, mas não era isso o que a fazia importante.
Ela deslizou a mão na do homem que tornou sua vida aventureira como uma mensageira em outro tipo de aventura. Uma de risos, amor e alegria.
— É bonita — ela disse. — Ela teria adorado isto.
Ele olhou para ela e acenou com a cabeça, a emoção demais para ele falar. Ele terminou castelo da sua mãe, e com isto ele podia afinal estar em paz com seu passado. Por gerações por vir, os Lamonts de Ardlamont encheriam este castelo com amor e risos, dando a sua mãe e pai o legado que eles mereciam.
De mãos dadas, com suas crianças ao redor deles, Ewen a levou para dentro de seu abrigo e dentro de seu futuro.
Notas
[1] Típicas dos campos montanhosos da Escócia, as urzes, conhecidas também como Heather, são pequenos arbustos com florezinhas coloridas e perfumadas. A água da chuva escorre pelas urzes, se impregna de perfume e escorre sobre a turfa, proporcionando aromas e sabores muito especiais.
[2] Selvagem.
[3] Também escrito barmekin ou barnekin, é uma palavra escocesa que se refere a uma forma de cerco medieval e mais tarde defensiva, em torno de castelos menores na Escócia e norte da Inglaterra. O barmkin teria contido edifícios auxiliares, e poderia ser usado para proteger o gado durante os ataques.
[4] Do grego “ofegante”.
[5] “Eleitoras dos mortos caídos em combate”, eram consideradas deidades menores, servas de Odin. Eram belas jovens mulheres, usavam armaduras com elmos e lanças em seus cavalos alados, sobrevoavam os campos de batalha recolhendo os guerreiros escolhidos, ou seja, aqueles mais corajosos, que tinham sido mortos a pouco. Filhas do deus Odin, com a deusa da terra Edra, com quem teve um relacionamento nas profundezas e lá teriam gerado as nove virgens. Também exerciam a função de mensageiras, e dizem que quando isso acontecia, suas armaduras faiscavam causando o estranho fenômeno atmosférico conhecido como Aurora Boreal. Em lendas saxônicas, encontramos relatos de mulheres que apareciam cobertas por uma especie de bruma, auxiliando ou sendo amantes dos mais valentes guerreiros, e logo desapareciam, acreditavam ser estas mulheres as Valquírias.
[6] Proteção para o peito, como a que os gladiadores usavam.
[7] A casa dos mortos na mitologia grega - usado como uma maneira mais educada de dizer "inferno".
[8] Plaid ou Tartan: Um tecido de lã tradicional com um padrão de xadrez que é usado sobre o ombro como parte do traje nacional escocês.
[9] Arma medieval com lâmina combinando machado, martelo, e ponta de ferro no alto, usado para combates em pé.
[10] Birlinn é como os galeses e escoceses chamavam as antigas embarcações a vela.
[11] Termo usado antigamente como forma de tratamento de um homem de posição ou autoridade como um rei ou um lorde.
[12] Valhala, Valíala,Valhalla ou Walhala (do nórdico antigo Valhöll "Salão dos Mortos”), na mitologia nórdica é um majestoso e enorme salão situado em Asgard, dominado pelo deus Odin. Escolhidos por Odin, metade dos que morrem em combate são levados para Valhalla pelas Valquírias, enquanto que a outra metade vai para os campos Folkvang da deusa Freyja. Em Valhalla, os mortos se juntam às massas daqueles que morreram em combate conhecido como Einherjar, bem como vários heróis lendários da mitologia germânica, que se preparam para ajudar Odin durante os eventos do Ragnarök.
[13] Cavalos velozes para a batalha.
[14] É um corte perto do cabelo, geralmente arredondado, realizou uma cerimônia religiosa por parte do bispo, para dar o ordenando o primeiro grau no clero, também chamado de "tonsura cru." O significado original era a renúncia das vaidades mundanas. Ele caiu em desuso, com a aprovação tácita da autoridade eclesiástica de Paulo VI, que suprimiu a imprensa tonsura, passando a entrada no estado clerical para compensar o diaconato. No entanto, a Ordem Franciscana detém até hoje essa tradição.
[15] Título do primeiro oficial da coroa, que tinha o comando de todo o exército.
[16] A ilha de Bute (Eilean Bhòid em gaélico, Isle of Bute em Inglês) é uma pequena ilha costeira localizada na parte inferior do Firth of Clyde (Golfo cerca de 42 km de extensão, localizado na costa oeste da Escócia). Anteriormente foi parte do condado escocês Buteshire, é agora propriedade de Argyll e Bute distrito.
[17] Coloque no rio ou oceano, cuja profundidade lhe permite atravessar a pé ou em um cavalo; Ponto da travessia do rio. A falta de lugar.
[18] Um grande cão de uma raça rústica parecido com o galgo.
CAPÍTULO 14
— Cachorros droga! Como diabos captaram o nosso cheiro?
Ewen não teve tempo para pensar sobre isto. Eles precisavam se perder nas florestas e colinas de Lowther antes dos ingleses os alcançarem. Se ele podia ouvi-los, os cachorros deviam estar perto.
A Guarda das Highlands usava o interior como arma. Quanto mais densa a floresta, mais íngreme e hostil o terreno, mais eles podiam levar vantagem sobre os ingleses — superiores em número e armamento superior. A armadura pesada dos ingleses e os cavalos eram um fardo no campo, e Bruce aprendeu a usar aquilo em seu benefício.
Ewen não desperdiçou tempo tentando encobrir sinais de sua presença, levantando acampamento assim que puderam juntar seus pertences. O velho monte e forte tinham providenciado abrigo, mas forneceria pouca defesa. Pior, Janet estaria bem no meio disso.
Ela o fazia se sentir vulnerável de um modo que ele nunca se sentiu antes. Bàs roimh Gèill. Antes a morte que se render, era o lema da Guarda das Highlands. Ele nunca pensou que questionaria sobre isto. Mas se renderia mil vezes antes de deixar qualquer coisa acontecer a ela.
Não sabia o que isso queria dizer, mas sabia que era significativo. No calor do perigo, face a um ataque, ele não estava pensando em Bruce, Stewart, um castelo inacabado ou sua responsabilidade para seu clã, ele estava pensando nela — sua segurança era tudo que importava, e não só por causa da missão.
Preparando-se, Ewen virou para enfrentá-la. Mas nada podia tê-lo preparado para o punho que envolveu ao redor do seu coração e o puxou quando seus olhos se encontraram. Podia ver o medo, mas também a confiança de que não importa o quão desesperador isso pudesse parecer, ele a protegeria. Isso mexeu com ele. Humilhou-o. Quase o deixou de joelhos com a força de uma emoção que nunca sentiu antes. Deus, ele...
Ewen não terminou o pensamento.
Mas nada podia tê-lo impedido de estender a mão para envolver o rosto dela. Ela aninhou a bochecha no couro de sua mão enluvada, enterrando-se bem dentro do seu coração.
— Temos que correr. — Ele disse, sua voz irreconhecivelmente terna.
Ela acenou com a cabeça.
— Posso fazer isto.
Acreditou nela. Janet era forte e determinada. E pela primeira vez, Ewen percebeu que não iria querer que isto fosse de qualquer outro modo. Ele nunca pensou em uma mulher como nada mais que uma parceira de cama ou governanta. Uma criatura delicada e frágil que era seu trabalho proteger. Uma necessidade, mas nunca alguém para ficar ao seu lado, com quem conversar e discutir — sem falar deixá-lo louco. Mas Janet o fazia querer todas essas coisas.
Ele deslizou o polegar acima de sua boca ternamente.
— Não pare, não importa o que você escute. Eu te acharei.
O pequeno sorriso que curvou sua boca lhe roubou o fôlego.
— Eu sei.
E então eles correram. Correram tão rápido quanto Ewen podia empurrá-la dentro dos pântanos e colinas cobertas pela névoa e neve que assomavam ao longe. O exército de Bruce abrigou-se neles muitas vezes antes, mas seria demais esperar não achar ninguém por perto assim da aldeia. Era só até ele e Sutherland conseguir tirá-los dessa. Eles não seriam capazes de correr mais que seus perseguidores, não a pé, com cachorros e cavalos os perseguindo.
Eles não tinham tanto tempo quanto esperava. A sombra do forte atrás dele ao amanhecer ainda não tinha sumido quando ele capturou o primeiro vislumbre dos cavalos.
— O rio! — Ele gritou por cima do ombro para Janet. — Uns trinta metros adiante através das árvores. Siga-o até que alcance a borda da linha das árvores e então entre nas colinas. Lembre-se do que eu disse. Não pare. Não importa o que você escute.
O rosto dela estava enrubescido pelo esforço de correr, mas ele achou que ela empalideceu.
— Ewen, eu...
Ele não a deixou terminar.
— Vá!
Não podia ouvir isto. Não agora. Ewen esperou até que ela desaparecesse dentro da floresta antes de virar para Sutherland. Mas o mais novo membro do Guarda das Highlands já o antecipara.
— A travessia?
Ewen movimentou a cabeça. A garganta profunda e estreita do vale diminuiria a velocidade dos cavalos e daria a ele e Sutherland tempo para se posicionarem.
Mas não havia tempo. O inimigo já estava respirando em seu pescoço. Girou e puxou sua espada enquanto o primeiro braço armado arremetia balançando para baixo em direção a ele. Ele bloqueou o golpe da lança com uma torção rápida de sua espada que enviou a arma do inglês voando de suas mãos. Um momento mais tarde, a espada de Ewen desceu duramente na perna do cavaleiro, quase a decepando.
Ele ouviu o grito surpreso do homem antes de tombar no chão, sangue jorrando dele. Um rápido olhar disse a Ewen o que precisava saber: uma dúzia de homens armados, um cavaleiro, o braço direito de Beaumont e dois cachorros latindo de modo selvagem.
Então não foi surpresa que o outro cavaleiro estivesse quase sobre ele. Ewen sentiu uma onda de energia correr através do seu sangue enquanto o furor da batalha o atingia. Segurou sua espada com as duas mãos acima da cabeça e a baixou contra a lâmina do outro homem com força suficiente para tirá-lo de sua sela.
Um por um ele e Sutherland derrubaram o inimigo, trabalhando em conjunto enquanto se moviam para atacar os ingleses entrando em posição no estreito vale.
Exatamente assim, a batalha mudou. Os cavalos não podiam manobrar. Ao invés de agressores, o cavaleiro inglês e seus homens se tornaram arenques presos em barril. Com Ewen de um lado e Sutherland do outro, não havia nenhum lugar para eles irem. Forçados a abandonar seus cavalos ou morrer.
Morreriam de qualquer maneira.
O estrondo alto da batalha começou a embotar à medida que os ingleses caíam sob suas espadas. Os latidos pararam. Um dos cachorros parecia ter sido pisoteado ao fugir dos cavalos e o outro...
Ewen amaldiçoou, tirando o suor que se reuniu embaixo do elmo para limpar sua visão. Onde estava o outro cachorro?
Enquanto se desviava dos golpes, ele esquadrinhou a área ao redor deles, olhando por cima dos corpos dos homens e cavalos que caíram ao lado deles. Nada do segundo cachorro.
Uma onda fria atravessou seu sangue quando percebeu que havia um homem faltando também.
Ainda havia quatro soldados restando. Três deles convergiram para Sutherland, esperando dominá-lo, enquanto o outro tentava impedir Ewen de ajudá-lo. Sutherland não precisava de ajuda. E nem Ewen. Ele trocou golpes com o homem armado de pescoço grosso e peito largo, que conseguiu aterrissar um golpe sólido de sua espada no ombro do Ewen antes que a ponta da lâmina de Ewen pudesse encontrar o pescoço do oponente.
Sutherland percebeu o que aconteceu.
—Vá! — Ele gritou entre balanços de sua espada. — Vou acabar com eles.
Ewen não hesitou. Saltando em um dos cavalos remanescentes, ele saiu galopando na direção em que disse para que Janet corresse.
Ele se debruçou sobre a quina da sela para evitar os galhos e troncos que se espalhavam em todas as direções da floresta que circulava a base das colinas e rezou. Rezou para que tivesse contado errado. Rezou para que a alcançasse a tempo.
Mas um momento mais tarde ouviu um som penetrante que o assombraria para o resto de sua vida. Um grito estridente cheio de terror rasgou o ar do amanhecer nublado, parando seu coração e o catapultando adiante na escuridão, em um abismo pouco conhecido de medo.
Janet tinha toda a intenção de seguir suas ordens. Mas quando o estrondo penetrante de metal contra metal se espalhou pelo ar, sua cabeça instintivamente girou em direção ao som.
Ela parou para olhar por apenas um minuto, mas a visão que seus olhos encontraram não era uma que ela logo esqueceria. Era uma batalha em toda sua crueza e caos horroroso. Duas vezes antes ela viu a violência da guerra — em uma noite na ponte quando tentou salvar sua irmã e o dia na floresta com Marguerite quando encontrou Ewen pela primeira vez, — mas a ferocidade, a brutalidade disto, surpreendeu-a de novo. A visão de espadas balançando, sujeira voando, sangue derramando em uma confusão de homens e feras rosnando assustou-a horrivelmente. Como os sons. A própria barulheira disto. O brado violento de aço e morte.
Como uma praga de gafanhotos revestida de aço, os ingleses fervilhavam sobre os dois Highlanders. Pelo certo, deveria ter sido uma matança. Ela não podia respirar, temendo que Ewen fosse abatido com o primeiro golpe. Mas ela tinha esquecido, ou disse a si mesma que devia ter exagerado a habilidade dele. A força extraordinária e intenção mortal. O propósito brutalmente frio pelo qual ele realizava sua tarefa. Sir Kenneth lutava do mesmo modo, não como um cavaleiro, mas como um bárbaro. Não era difícil demais imaginá-los causando terror através dos mares em uma embarcação viking.
Os dois Highlanders podiam ter sido ultrapassados em número, mas eram de longe superiores em habilidade. Na primeira piscadela da luz do dia, em meio àquele caos e horror, com seus elmos e plaids esvoaçando como capas fantasmagóricos, eles mais pareciam com seres imortais e ameaçadores de outro mundo.
Eles pareciam com... Fantasmas.
A percepção a atordoou por um momento, entretanto, lembrando-se da advertência do Ewen, ela se virou e correu. Correu através das árvores e arbustos até que suas pernas doíam e seus pulmões pareciam que iam explodir ao longo da margem rochosa do rio e através da floresta.
Seguiu não mais do que uma milha quando ouviu latidos atrás dela. O medo apertou seu peito já mais do que apertado. Ela olhou por cima do ombro, viu o cão de caça correndo bem atrás dela, e contra cada instinto em seu corpo que gritava perigo — corra! — Ela se forçou a diminuir a velocidade.
O cachorro era treinado para caçar. Para perseguir. Não ia parar, e não podia correr mais que isso.
Ela não seria sua presa. Com a mão no cabo de sua lâmina, girou para encará-lo. Meio esperando que saltasse em cima dela, ficou surpresa quando ele parou a cerca de três metros de distância. Eles olharam fixamente um para o outro em uma muda encarada. Fera e homem. Ou neste caso, mulher.
Animais sempre gostaram dela. Tentou se lembrar disso enquanto ficava de pé perfeitamente quieta, exceto pelo pesado subir de seu tórax engolindo ar.
O Deerhound18 era grande, sua cabeça cinza aproximadamente no nível de sua cintura. Sua boca repuxada para trás, deixando-a ver todos seus dentes impressionantemente longos, mas seus olhos pretos estavam mais curiosos que enraivecidos. Um cachorro podia ser curioso?
Seu pelo felpudo estava sujo e emaranhado, e parecia estar precisando de um bom banho, mas era um animal de boa aparência, com as linhas longas e esguias de um caçador, talvez um pouco magro nas laterais.
Com a mão que não estava segurando o cabo da lâmina, ela alcançou a bolsa de couro em sua cintura e pegou um pedaço de carne seca. Cautelosamente estendeu murmurando sons suaves enquanto o cachorro a olhava de forma especuladora. Seu coração martelava à medida que o cachorro lentamente fez seu caminho para ela. Não querendo testar a sorte, ela pôs a carne seca no chão. O cachorro se lançou sobre a carne. Devorando-a em segundos, levantou o olhar para ela novamente, dando um pequeno latido de encorajamento.
Apesar das circunstâncias, ela riu. Era um diabinho fofo uma vez que você passava por cima o tamanho e os dentes.
De maneira hesitante, ela estendeu sua mão deixando o cachorro cheirar, murmurando desculpas.
— Sinto muito, isto é tudo que tenho.
Ele latiu novamente e então arquejou esperançosamente, sentando-se aos pés dela. Quando estendeu a mão para acariciar sua cabeça, ele choramingou.
Janet riu.
— Quer dizer que você não é tão apavorante...
De repente, um cavalo e cavaleiro atravessaram as árvores. Um ofego surpreso ficou preso em sua garganta, o brilho da cota de malha o identificou como inimigo. O homem a agarrou, obviamente pretendendo puxá-la sobre seu cavalo, quando de repente o cachorro saltou, seus dentes se fechando sobre o braço coberto pela cota de malha, tentando arrastá-lo para fora do cavalo. De alguma forma, cachorro e o brutamontes se embolaram debaixo das patas traseiras do cavalo, fazendo o cavalo se lançar adiante.
Ela ouviu um estalo horroroso e o uivo aflito do cachorro. Ela se virou depressa, mas imediatamente percebeu o que aconteceu: o cachorro tinha sido esmagado debaixo do cavalo, o cavalo quebrou sua perna e o cavaleiro... o cavaleiro tinha sido jogado para fora, mas estava lentamente ficando de pé. Xingando, ele puxou sua espada e a balançou na confusão entrelaçada de cachorro e cavalo.
Ela gritou e se virou.
— Maldito vira-lata estúpido — ele rosnou. Com o varrer de um golpe, o choro cheio de dor do cachorro parou. Ele seguiu com um segundo golpe e o ansioso resfolegar do cavalo enquanto ele tentou ficar de pé parou.
Sabendo que ele viria atrás dela a seguir tentou correr, gritando novamente quando a mão esticou e agarrou seu braço.
Ele a girou, sua espada erguida acima de sua cabeça.
— Onde você pensa que está indo, sua estúpida cadela rebelde...
Janet não pensou, reagiu. Ela tinha sorte que ele a agarrou por seu braço esquerdo, porque era do direito que precisava para puxar a lâmina de sua bainha e empurrar para cima com toda sua força entre as pernas dele, esperando achar um espaço entre a cota de malha.
Justo enquanto sua faca mergulhava, ouviu um ruído surdo apavorante. Os olhos dele arregalaram. Sua mão apertou o braço dela e então soltou enquanto caía aos seus pés, uma lança atravessando seu pescoço.
Ewen nunca experimentou esse tipo de ira. A visão de Janet sendo apertada de modo rude pelo cavaleiro fez algo com ele. Ela parecia com uma flor prestes a ser esmagada em um torno de aço, seus ossos delicados não era páreo para a força do grande guerreiro com armadura e a espada que podia a qualquer momento arrancar sua cabeça.
Uma raiva negra o tomou. Sede de sangue. Desejo de matar. Sua visão estreitou como se ele estivesse espreitando por um túnel escuro com um único objetivo em vista. Ajustou a lança em sua mão. Não se permitiu pensar que se falhasse, ela morreria. Ele não tinha tempo.
Doze, nove, seis metros de distância... ele lançou com toda sua força.
A lança rasgou através do ar com um zumbido, perfurando a alça da cota de malha do cavaleiro como se fosse manteiga.
Ewen atingiu o chão no mesmo instante que o soldado. Janet virou, o viu, e com um grito suave que rasgou seu coração, correu para dentro de seus braços.
Ele a segurou perto enquanto ela enterrava a cabeça no seu peito, saboreando cada maldita sensação que o tomava. Ela está a salvo, disse a si mesmo repetidas vezes. Salva. Mas seu maldito coração não parava de martelar.
As emoções clamando dentro dele eram diferentes de tudo que já tinha experimentado, e ele levou um tempo para colocá-las sob controle suficiente para falar.
— Você está bem?
Ela movimentou a cabeça acenando contra seu peito, mas ele precisava ver. Cuidadosamente inclinou o queixo dela para trás e olhou para dentro dos olhos cheios de lágrimas. A pele suave de bebê sob as pontas dos seus dedos estava muito pálida, parecia quase translúcida.
— Eu estava tão assustada. O cachorro... — Ela levantou o olhar para ele, atingida. — Foi horrível.
Uma onda de ternura subiu dentro dele com intensidade esmagadora.
— Acabou, meu bem. Acabou.
Ela acenou com a cabeça obedientemente — duvidava que ela tivesse feito isso desde que era criança, e provavelmente nunca mais desde então, — mas o horror do ataque obviamente ainda estava pesando nela. Ela tremia encostada nele, seus ombros esbeltos sacudindo, e uma onda feroz de proteção surgiu dentro dele. Tomou tudo que ele tinha não colocar sua boca na dela e beijá-la até que os dois esquecessem.
Mas não fez. O perigo estava terminado, e com sua ausência vinha a lembrança do seu dever.
Lentamente, relutantemente, a deixou ir.
Ela piscou levantando os olhos para ele, a princípio surpresa, e então com um olhar ferido que o rasgou impiedosamente.
Ele amaldiçoou a injustiça disso. Os deveres, as lealdades, as responsabilidades que tornava isto — eles — impossível.
De repente ela ofegou, seu olhar voando para o braço dele.
— Você está ferido!
Deu uma olhada para baixo, percebendo que a espada do inglês fatiou através de sua roupa e sangue estava derramando dele. Verdade seja dita, ele não sentiu. Embora não pudesse dizer o mesmo de sua perna, que latejava e queimava como se alguém tivesse jogado uísque e então tacado fogo.
— Estou bem. É só um arranhão.
Ela estragou isso com seu biquinho familiar. Quem iria imaginar que o aborrecimento podia parecer tão doce?
— Seu braço podia estar pendurado por um fio e você diria que estava bem.
Um canto de sua boca ergueu em um meio sorriso. Ela provavelmente estava certa.
— Vocês, guerreiros, são todos parecidos... — Ela parou e olhou ao redor ansiosamente. — Onde está Sir Kenneth?
— Não se preocupe. Ele estava acabando quando eu vim atrás de você. Deve estar chegando a qualquer minuto.
— Não posso acreditar que... eu não teria acreditado se não tivesse visto com meus próprios olhos. Dois homens contra tantos... — sua voz mantinha uma inconfundível reverência. Mas ele não podia apreciar isto. Ela estava chegando perto demais. De alguma maneira ele sabia o que ela iria dizer mesmo antes de seus olhos trancarem nos dele. — Você é parte disso, não é? Você é um dos fantasmas de Bruce?
Sangue de Deus, a moça cortejava problemas como um trovador apaixonado! Ela enxergava demais, e agora estava fazendo suposições — suposições perigosas que podiam pôr todos eles em risco. Ela já não estava correndo perigo suficiente? O conhecimento — inclusive a suspeita — como esta levaria a metade do exército inglês atrás dela. Identificar e capturar os membros do exército secreto de Bruce estava no topo da lista do comando inglês.
Sua expressão não deu a ela nenhuma sugestão da tempestade de emoções que sua pergunta soltou dentro dele. Ele fingiu diversão desinteressada.
— Seus pais não disseram a você que não existe tal coisa como fantasma?
Ela ergueu o queixo.
— Você nega ser parte do exército secreto que assolou com as tropas inglesas...
Ele a cortou com uma imprecação, pegando seu braço.
— Nós precisamos ir.
— Você não respondeu minha pergunta.
Mas mal as palavras deixaram sua boca quando ela ouviu algo também. O latido de um cachorro, e não muito atrás disso, o som de cavalos. Seus olhos arregalaram e ela enterrou os saltos dos seus sapatos no chão, impedindo-o de puxá-la em direção ao cavalo.
— Mas e Sir Kenneth? Nós não precisamos esperar por ele?
A boca de Ewen caiu em uma linha severa.
— Ele vai nos achar.
Assim esperava. Mas o som de cavaleiros se aproximando não era um bom presságio. Ele amaldiçoou novamente — silenciosamente, não querendo adicionar à sua preocupação. Mas a missão que tinha começado ruim só parecia estar ficando pior.
Ele estava prestes a ajudar a levantá-la para cima do cavalo quando ela se afastou novamente.
— Espera! Esqueci meu punhal.
Percebendo que ela deve tê-lo usado para tentar se defender, ele a impediu de ir atrás dele.
— Eu vou pegar.
Ele se aproximou do corpo do cavaleiro morto. Não levou muito tempo para localizar a faca.
Bem, estarei condenado. Se sua lança não tivesse acabado com a vida do maldito inglês, a lâmina dela, que estava mergulhada profundamente em sua perna, teria.
Sentiu inconfundivelmente seu peito inchar de orgulho. A moça era uma lutadora. Sua primeira impressão todos esses meses atrás de uma valquíria não estava tão longe.
Enxugando o sangue da lâmina na cota de malha de suas pernas, as quais já estavam manchadas de qualquer maneira de coisas nojentas, ele a estendeu de volta para ela.
Ela levantou o olhar para ele indecisamente.
— Eu fiz...
Ele sabia o que ela estava perguntando.
— Você se defendeu bem, moça. O teria deixado manco por toda vida. — Ele mentiu.
Ela suspirou, parecendo visivelmente aliviada.
— Eu não tinha certeza.
Ele tinha morte suficiente em sua alma para ambos. Ele podia protegê-la disso pelo menos.
Outro latido — este aqui discernívelmente mais próximo — pôs fim ao breve atraso.
Ajudando-a a subir no cavalo, ele montou atrás dela e foram embora, cavalgando curvados ao longo da margem do rio em direção às colinas. Eles montariam o cavalo o máximo que pudessem — ele esperava que tempo suficiente para interromper o cheiro e fazer mais difícil segui-los. Um dos melhores modos de fazer isto era com outro animal. Água também ajudaria. Já que era raso suficiente para fazer isso, ele guiou o cavalo para dentro do rio.
Eles continuaram naquele ritmo frenético por alguns quilômetros, até que os sons de seus perseguidores ficaram mais e mais distantes, eventualmente desaparecendo completamente.
Ele soltou um suspiro de alívio. Eles os perderam por enquanto e não cedo demais. Foi forçado a diminuir a velocidade do seu ritmo consideravelmente, quando o chão começou a subir, e a floresta e o rio do vale sumiam nas colinas cobertas de urze que acenavam para ele como a primeira visão de terra depois de dias no mar. Lar. Refúgio. Segurança.
Apesar do amanhecer ter rompido um tempo atrás, um cobertor espesso de névoa de inverno escondia de vista o topo da montanha estéril. Elas não só pareciam sinistras e assustadoras, também forneceriam bastante cobertura para eles desaparecerem. Mesmo que os ingleses seguissem a trilha deles novamente, pensariam duas vezes sobre segui-los em tal terreno ameaçador.
Mas ele não iria arriscar. Sabendo que o cavalo só dificultaria para eles a partir deste ponto, quando chegou a uma pequena ponte sobre o rio, ele disse a Janet para esperar enquanto ele a cruzava montado. Desmontando, ele bateu na anca do cavalo e o assistiu galopar descendo o caminho estreito. Com alguma sorte ele iria assim por algum tempo. Cuidadoso em esconder sua trilha, ele repassou seus passos até onde Janet permanecia observando-o.
Ela olhava fixamente no rio escuro abaixo com um nariz enrugado.
— Presumo que meus pés vão ficar molhados novamente, não é?
Ele sorriu perante sua expressão.
— Temo que sim.
Instruindo-a a andar em pedras ou chão mais duro sempre que pudesse, ele a ajudou a descer a margem e dentro d’água. Infelizmente, diferente do rio anterior, os bancos eram íngremes e a água espiralava quase até os joelhos dela.
Eles seguiram o rio subindo a colina até que o chão ficou muito íngreme e a água se tornou cachoeira. Marchando em cima na borda, ele apontou para uma pedra grande.
— Nós podemos descansar aqui durante algum tempo.
Não precisando de mais encorajamento, ela desmoronou. Encolhendo os ombros para tirar os sacos que ele levava, usou um deles como assento e juntou-se a ela. Felizmente, junto com os sacos de seus pertences, também estava levando a comida. Tentou não pensar em Sutherland, dizendo a si mesmo que seu novo recruta podia cuidar de si mesmo. Mas o ataque não devia ter acontecido. Era trabalho de Ewen garantir que não acontecesse. Se ele se sentia responsável, era porque era responsável. Ele falhou, droga, e não engolia bem o fracasso.
O que deu errado? Como diabos os cachorros capturaram seu cheiro? Aparentemente os pensamentos dela estavam correndo na mesma direção que os seus.
— Acha que nós os despistamos?
— Por enquanto. — Ele disse. — Com os cavalos e o rio, os cães terão dificuldade em seguir o cheiro.
— Mas como eles captaram?
— Não sei. Tive a maldita certeza que nós não deixamos nada...
Ele parou, seu olhar captou um vislumbre de um cacho de cabelo dourado que deslizou de sua trança. Até na névoa, sua cabeça dourada brilhava luminosa. Sua cabeça dourada nua. Sua boca caiu em uma linha dura, enquanto a explicação para o que aconteceu ficou clara. Ele xingou.
— Onde está sua touca?
CAPÍTULO 15
A mão de Janet foi para cabeça reflexivamente. Ficou surpresa por encontrar mechas suaves de cabelo debaixo de sua palma em vez de lã.
— Oh, não percebi — ela pensou em voz alta. — Deve ter caído ontem à noite quando deslizei do cavalo.
Ele amaldiçoou novamente, o que era redundante em sua opinião, já que só de olhar para cara dele dizia tudo. Ele estava furioso. Além de furioso, realmente. Irado. Tempestuoso. O tipo de tempestade de quarenta dias e quarenta noites.
— Deve ter sido como eles nos rastrearam.
— Eu sinto muito, não percebi...
Ele ficou de pé e a levantou arrastando. Ela ficou meia surpresa por não a ter agarrado pela orelha como um filhote de cachorro malcriado. — Maldição, eu disse a você que nós precisávamos ser cuidadosos. Não é de se espantar que eles nos seguissem tão depressa. Você os levou direto para nós.
Ele não precisava dizer isso, ela sabia o que estava pensando. É por isso que uma mulher não pertencia a este lugar. Uma mulher não tem que estar na guerra. Volte para sua agradável caixinha e fique fora disto.
Queria tanto impressioná-lo, mostrar lhe que podia ajudar tanto quanto ele — de um modo diferente talvez, mas de uma maneira que também fosse valiosa. Ao invés disso, ela provou o ponto dele. Como podia esperar que a visse de um certo modo se ela cometia erros tolos?
Janet queria discutir com ele. Seu instinto era se defender, tentar argumentar. Mas pelo menos uma vez ela não tinha uma desculpa ou explicação. Ele não estava sendo injusto, estava só falando a verdade — ainda que a maioria das pessoas não teria falado tão claramente. Mas evitar magoar não era o forte do Ewen. Não, ele era honrado e ia direto à falha.
Normalmente ela não se importaria. Mas estava assustada e cansada, tendo dormido só algumas horas nos últimos dois dias, e se sentindo anormalmente vulnerável depois do que tinha acontecido mais cedo. Eles compartilharam algo na floresta: uma honestidade de emoção que não o deixaria negar. Estava tão certa que a beijaria. Tão certa que ele poria de lado qualquer reserva que tivesse. Mas se afastou dela novamente. E agora...
Suas mãos se retorceram, um sentimento doente parecendo crescer em seu estômago.
— Foi um erro inocente.
— Um erro que poderia ter matado a todos nós.
Ela se encolheu tanto da dureza de aço em seu olhar quanto do chicote verbal que veio junto.
— Eu disse que sinto muito, não sei o que mais posso fazer.
— Nada. Mas da próxima vez que eu disser algo a você, tente seguir as ordens.
Janet chegou ao limite de sua aceitação passiva de culpa.
— Não sou um dos seus homens para que você possa mandar.
— Isso está dolorosamente claro. Meus homens são muito mais disciplinados.
Agora ele não era o único a perder seu temperamento, ela faiscou como uma fogueira. Suas mãos se retorcendo fecharam em punhos aos lados de seu corpo.
— Certo. Mulheres não têm lugar no campo de batalha, é o que você quer que eu diga?
Os olhos dele faiscaram. Ele se inclinou mais perto dela e rosnou.
— É um maldito bom começo.
Janet quis bater o pé em ultraje. Mas apesar disso sem dúvida daria a ele mais motivos para tratá-la como uma criança, ela jogou sua cabeça para trás com um alto bufo.
Ele era o homem mais exasperante, mandão, bruto e irracional que ela já conheceu!
E ainda assim, mesmo ele estando aqui de pé lhe passando um sermão — que infelizmente neste caso era merecido — uma parte tola dela ainda esperava que a tomasse nos braços e dissesse que estava tudo bem. Confortá-la como ele fez antes. Para um homem tão formidavelmente encorpado, ele fora surpreendentemente gentil.
Mas conforto era a última coisa na cabeça dele.
— Você vai ter que tirar suas roupas.
Ela recuou.
— Minhas roupas?
— Aye, todas elas. E entre no rio. Você fede a jacintos, esfregue cada pedacinho disso do seu cabelo e pele. Nós precisamos ter certeza que eles perderam o cheiro.
— Mas... — Ela olhou para laguinho abaixo da cachoeira. Mesmo daqui parecia gelado. E jacintos não fediam.
Ele apertou sua mandíbula como se lutando por paciência.
— Maldição, você pode apenas seguir ordens pelo menos uma vez?
Seus olhos se trancaram em uma batalha silenciosa de vontades. Ela já teve o suficiente de seus comandos rudes. Um sorriso secreto curvou seus lábios, enquanto o diabo dentro dela botava para fora sua cabeça feia.
Eu posso seguir ordens, tudo bem.
— Como você quiser.
Ela deixou o plaid escorregar de seus ombros e cair em uma poça escura aos seus pés.
Ele piscou.
Erguendo uma sobrancelha distintamente desafiadora, ela soltou seu gibão, que se juntou ao plaid aos seus pés um instante mais tarde.
Ele se arrumou para achar sua voz quando ela chutou suas botas e começou a puxar os calções de couro acima de seus quadris.
— O que você está fazendo? — Ele disse — bastante estupidamente na sua opinião.
Ela sorriu, removendo suas meias.
— Seguindo ordens — ela levantou o olhar para ele com ingenuidade. — Precisa de água?
— Água? Não, por quê?
— Sua garganta parece um pouco seca.
E com isto, ela ergueu a camisa por cima da cabeça.
Deve ter sido a batalha. Ou talvez o esgotamento físico dos últimos dias. Mas enquanto Ewen estava lá, assistindo-a, seus membros se transformaram em chumbo. Ele não podia se mover. Não teve a força para impedi-la.
Oh Deus, detenha-a.
Mas antes que alguma medida de autopreservação pudesse assumir, a camisa dela caiu no chão.
O mundo parou. Seu coração se esqueceu de bater. Sua boca estava seca mesmo. Uma secura que queimava. Chamuscando. Sua garganta estava tão esturricada quanto os desertos de Outremer, e ele sabia que não existia água suficiente nos oceanos deste mundo de meu Deus para extinguir a sede que ele tinha por ela.
Ela era perfeita. Membros longos, esbelta e curvilínea em todos os lugares certos, com centímetros e centímetros de pele impecável e cremosa. Os seios firmes e redondos que foram marcados a ferro em sua memória eram ainda mais espetaculares do que ele se lembrava, os pequenos mamilos cor de rosa enrijecidos e escuros, e o lugar suave e feminino entre suas pernas...
Meu Deus do céu! Ele gemeu. Desejo apertou sua virilha, quente e dolorido, puxando e apertando com necessidade.
Sua voz o trouxe de volta.
— É isso que você queria?
O desafio rouco da voz dela enviou uma bola de fogo de luxúria correndo por sua espinha abaixo. Juntou-se na base pulsando — não, tremendo — com necessidade.
Ele olhou dentro dos olhos dela.
Maldita! A moça não tinha um osso fraco ou vulnerável em seu corpo. Até nua como o dia que Deus a fez, era corajosa, desafiadora e forte.
Forte suficiente para quebrá-lo.
No espaço de dois longos segundos ele a teve em seus braços, sua pele suave como veludo esmagado contra ele.
Ela ofegou pela brusquidão do seu movimento, mas não resistiu. Não, ela pediu por isto, e por tudo que era santo, ela aceitaria.
Por uma fração de segundo, Janet sentiu um faiscar de medo e perguntou a si mesma se ela o empurrou muito longe. Entretanto estava em seus braços e sabia que ele nunca a machucaria. Mesmo fora de controle, Ewen a segurava com uma gentileza que era desmentida pelo corpo forte e duro contra ela.
O couro e aço de sua armadura contra sua carne nua era um choque, embora nem um pouco desagradável. Existia algo estranhamente sensual sobre ter todo aquele couro morno e metal frio apertado contra ela. Ou talvez fosse só que ela estava tão fria antes, o calor irradiando de seu corpo fez qualquer desconforto parecer pequeno.
Ela inclinou sua cabeça para trás, examinando seus olhos.
A ferocidade da expressão dele enviou uma excitação disparando por suas veias.
— Sua maldita — ele disse furiosamente, seu último ofego de protesto antes de se render.
Todos os pensamentos de gentileza foram esquecidos enquanto sua boca cobria a dela. Ele a beijou rudemente, seus lábios se movendo acima dos dela com uma possessividade feroz que a fez ofegar. E gemer. Mais de uma vez. Especialmente quando ele começou a usar sua língua. Os golpes fundos e penetrantes definitivamente produziram muitos gemidos nela. Gemidos baixos e urgentes que pareciam começar em algum lugar bem lá no fundo — bem sobre o lugar em que podia senti-lo duro contra ela. Estremeceu, seu corpo respondendo à primitiva evidência do desejo dele. Ela estava dolorosamente ciente de cada centímetro grossa daquela evidência.
Ele a puxou mais perto, curvando-a para trás, indo mais e mais fundo. Ela teve que lutar para acompanhá-lo, sua inocência não era páreo para a crua investida da paixão.
Sabia que ele estava castigando-a por forçá-lo a isso, tentando assustá-la com a intensidade de seu desejo. Mas Janet o encontrou golpe a golpe. Ela podia ser uma serva inocente, mas os instintos que ele despertou nela eram daqueles temerários. Ela queria isso. Cada pedaço tanto quanto ele, e a sensualidade crua da sua paixão apenas alimentava a dela.
Aye, ela estava quente, sua pele quase febril. Parecia estar derretendo, dissolvendo em uma poça de calor derretido. Ele removeu suas luvas e a sensação de suas mãos grandes e calosas vagando sobre sua pele nua — acariciando, apertando, não deixando nenhuma centímetro sem tocar — só aumentava aquele calor e produzia muito mais daqueles gemidinhos.
— Deus, você é tão gostosa. Sua pele é tão suave — o calor de sua respiração soprou em sua orelha, mas foram suas palavras que a fizeram estremecer. — Quero tocar em você por toda parte. Cada centímetro seu, mo chroí. — "Meu coração" — a expressão terna fez seu peito apertar. Janet não podia acreditar que era Ewen falando com ela desse jeito. As palavras suaves como seda não podiam ter estado mais em conflito com o guerreiro rude que falava sem pensar ou se importar com traquejos sociais. Era uma combinação arrojada, a paixão feroz e áspera misturada com as palavras suaves e sensuais. Suas mãos a possuíam, deslizando por suas costas abaixo, sobre sua bunda, erguendo-a um pouco mais forte contra ele, esfregando... Ave Maria! Ela podia ter saltado, seu corpo inteiro acendendo com uma energia não diferente de relâmpago engarrafado. Ela esqueceu de respirar, seu corpo tenso e esperando. Pelo que?
— Deus, você está me matando.
Normalmente ela não pensaria que era uma coisa tão boa, mas o modo como ele disse a fez pensar que poderia ser. Sua boca se movia para baixo e para cima de seu pescoço de maneira faminta, deixando sua pele em chamas pelo caminho. Seu coração estava martelando. Seus joelhos estavam bambeando. E o lugar entre suas pernas... uma onda fresca de calor subiu para suas bochechas. Ela não queria nem pensar sobre o que estava acontecendo lá. Estava quente e dolorida e... molhada, com estranhos pequenos tremores...
Oh! Ele se esfregou contra ela novamente e aqueles estranhos pequenos tremores começaram a pulsar. Ela o queria ali. Bem aí. A coluna de aço grossa cunhou alto e apertado, esfregando contra ela.
— Doce Jesus, você está me deixando selvagem — sua voz estava esfarrapada e apertada com restrição.
Janet conhecia a sensação.
— Eu quero estar dentro de você — ele sussurrou em sua orelha.
Ela quase gritou desapontada quando ele liberou seu aperto na bunda dela e a pressão gostosa foi embora. Mas sua decepção durou só um momento. A mão dele deslizou rapidamente por cima do seu estômago para cobrir um seio.
— Tão macia — ele gemeu, apertando, apalpando-a suavemente em sua mão. — Seus seios são incríveis. Sonhei em fazer isso desde a primeira vez que vi você.
Foi?
Janet ficou feliz por ele não parecer esperar uma resposta, enquanto ela estava tendo dificuldade em respirar. As sensações que as mãos dele causavam em seu corpo estavam comandando toda sua atenção. Instintivamente ela arqueou em sua mão, tendo descoberto bastante depressa que essa pressão aumentava as sensações.
Mas ela não antecipou a sensação dos dedos dele em seu mamilo. A ponta áspera de seu polegar acima do bico sensível e latejante quase a enviou saltando fora de sua pele novamente, enquanto outro relâmpago daqueles enviou um flash de energia disparando através do que pareceu ser cada terminação nervosa do seu corpo.
Ele fez um som rude antes de sua boca cobrir a dela novamente. Ela o sentiu alcançar a ponta do seu laço. Seu beijo não era mais punitivo, mas determinado. Cada golpe de sua língua, cada toque das mãos em seu corpo parecia calculado para aumentar sua paixão, trazê-la cada vez mais perto de algo que pairava justo fora do seu alcance. Ela estremeceu com antecipação.
Ele ergueu a cabeça.
— Está com frio?
Excitada além da medida. Ela sacudiu a cabeça, administrando a falta de fôlego:
— Quente.
— Bom — seus olhos escureceram. — Você está prestes a ficar muito mais quente.
Estremeceu novamente, ouvindo a promessa sensual em sua voz áspera. Ele era tão bom quanto sua palavra. Um momento mais tarde quando a boca achou seu seio, ela pensou que tinha caído nas entranhas ardentes do inferno, pois certamente deve ser um pecado se sentir tão bem.
Ela gritou quando sua língua circulou o mamilo e começou a chupar. Suavemente a princípio, e então um pouco mais duro, conforme ela arqueava mais fundo em sua boca. O calor. A raspadura de seu queixo. O escovar sedoso do seu cabelo na pele dela. Era demais. Não era suficiente.
Ela começou a se retorcer em frustração, e ele finalmente deu o alívio que ela sem saber buscava. Sua língua lavou e sacudiu contra seu mamilo ao mesmo tempo em que seus dedos deslizando entre a junção de suas coxas. Ficou imóvel, o instinto lhe dizendo o que ele estava prestes a fazer. Ela teve um momento de pânico. Vinte e sete anos de virgindade, de guardar sua castidade como uma relíquia sagrada não era renunciada sem uma pequena pontada de incerteza. Isso era errado? Quase como se ouvisse sua pergunta não dita, ele ergueu a cabeça. Seus olhos se encontraram, e qualquer incerteza que ela teve enfraqueceu na intensidade da emoção que viu refletido no olhar dele.
E então ele a tocou. Ali. No lugar que ela sem saber reservou para ele para este momento. Prazer floresceu bem no fundo dela como uma flor desabrochando suas pétalas aveludadas ao sol enquanto ele prendia seu olhar e a acariciava. Era mágico. Bonito. A coisa mais perfeita e natural no mundo. Como isso podia ser errado?
As sensações estavam se construindo mais rápido agora, correndo em um ritmo frenético em direção a um determinado fim. E momentos mais tarde quando ela olhou dentro de seus olhos enquanto ele a acariciava até o próprio cume da paixão, quando ficou sem fôlego, seu corpo apertou, e calor se espalhou por cada centímetro dela quebrando em uma luz ofuscante, Janet soube de mais uma coisa: estava muito contente que não era freira.
Ewen estava perdido no momento em que olhou dentro dos olhos dela. Vendo-a se desmanchar, assistindo a paixão espalhar sobre seu rosto em euforia sensual, lábios inchados separados, bochechas enrubescidas e olhos suaves com prazer, soltou algo dentro dele que não podia ser contido.
Luxúria o atravessou diferente de qualquer coisa que ele já experimentou. Era mais poderoso. Mais intenso. Mais profundo. Isso não encheu apenas seu membro — que estava tão duro quanto um pilar de mármore, — mas seus ossos, seu sangue, cada centímetro de seu corpo, inclusive uma parte dele que desejou que não fizesse: seu coração.
Sua necessidade por ela era elementar. Como água, comida e o ar que respirava, ele tinha que tê-la. O último refluxo da liberação dela ainda enfraquecia antes dele a colocar no chão, o plaid descartado debaixo dela. Ele se atrapalhou com suas calças. Da próxima vez, ele jurou. Da próxima vez ele faria isto perfeito. Desta vez teria sorte se durasse alguns minutos.
Estava fora de controle, passou do ponto da razão, seu corpo se movendo por vontade própria. Ele não queria se permitir pensar. Sangue martelava através do seu corpo, dentro de sua cabeça. Suor se reuniu em sua sobrancelha. Ele nunca quis nada tão intensamente na sua vida.
Ar frio abençoado atingiu sua pele quente quando se liberou de suas calças dolorosamente apertadas. Ele se moveu para se posicionar, alavancando seu corpo acima do dela, centímetros, segundos, do doce alívio. Ele estava duro como uma espiga, vermelho e pulsante. Pulsando dolorosamente. O tipo de latejar: preciso gozar nesse instante. Uma gota escapou em perversa antecipação.
Seus dentes apertaram. Mais alguns segundos...
Não podia esperar por esse primeiro momento maravilhoso de contato, quando a ponta quente e sensível encontraria a morna e feminina umidade. Ele podia quase senti-la apertada e quente ao redor dele, uma luva aveludada apertada, agarrando... apertando... ordenhando. Suas nádegas apertaram. Os olhos dela tremularam abertos. O sorriso que se espalhou por seu rosto espremeu seu peito como um torno, cortando sua respiração já trabalhosa. Tão bonito...
— Isso foi maravilhoso. Eu nunca imaginei que... — Ela olhou para ele. — Tem mais?
Moça gulosa! Ele sorriu.
— Aye, isto é só o começo. Vou fazer você...
Minha.
Ele ficou imóvel. A palavra chacoalhando algo dentro dele, despertando sua consciência de sua soneca drogada.
— Vai me fazer o que? — Ela disse resolutamente. Ela olhou para baixo, olhos arregalando à medida que caíam sobre ele. — Oh... Oh!
Os olhos dela dispararam de volta para ele de maneira incerta, e com mais do que um pouco de medo. Não era sem motivo. Ele foi feito para o prazer da mulher. Mas ela não era uma mulher, era uma serva.
É uma serva, ele se corrigiu.
Cada músculo em seu corpo flexionou com restrição. Seria tão fácil investir para dentro. Ele curvou sua cabeça, seu corpo tremendo, lutando para se controlar enquanto a necessidade de seu corpo guerreava com sua mente. Uma mente que ele queria calar.
Só termine. Você pode fazer isto bom para ela. Ela quer isso. É tarde demais, droga.
Mas não era tarde demais. Não ainda.
Ela não é sua. Mas pode ser. Mais alguns centímetros e você pode fazer isto.
Mas a que custo? Tudo que ele esteve lutando para alcançar? Ele era como seu pai afinal? Ele amaldiçoou, não percebendo que articulou o xingamento vil em voz alta até que ela ofegou.
— O que está errado? — Ela estendeu sua mão para cima e tocou em seu rosto tenso.
Ele encolheu os ombros para tirá-la e se afastou, cada instinto em seu corpo rugindo em protesto.
— Não posso fazer isso.
— Por que não?
Ele já estava de pé, afastando-se. Não podia olhar para ela, a emoção em sua voz estava corroendo-o suficiente. Ele precisava de um minuto — mais do que um minuto — para se colocar sob controle.
— Tem sabão e algumas roupas extras na minha bolsa. Lave essas malditas flores. Assim que você acabar nós podemos ir.
Afastar-se foi a coisa mais dura que Ewen já fez. Ele amaldiçoou cada passo que o levava para longe dela. Sua honra e lealdade foram empurradas a ponto de quebrarem, deixando-o sem lugar algum para ir.
CAPÍTULO 16
Janet não entendeu o que tinha acabado de acontecer. Num minuto estava ali com ela e estavam tão perto quanto duas pessoas podiam estar, no outro ele estava em outro lugar. Em algum lugar que não podia alcançá-lo. A ferocidade de sua expressão a alarmou. Ele parecia quebrado — torturado. Ela chamou atrás dele enquanto ia embora, mas agiu como se não a ouvisse e seguiu em frente.
Deixando-a deitada. Literalmente de costas. Se ela não estivesse tão confusa, poderia ter chorado. Como ele ousava deixá-la desse jeito! Estava pronta — ansiosa — para experimentar isso tudo. Ela se entregou a ele, e ele a rejeitou.
Sozinha e sem o calor do seu corpo, ela estremeceu. O frio da manhã nublada mais uma vez se infiltrou em seus ossos. Mas não era nada comparado ao que estava por vir. Sem escolha além de fazer o que ele disse, ela então passou dois, talvez três dos minutos mais desagradáveis de sua vida, banhando-se no lago de água gelada debaixo da cachoeira.
Forçar seus pés a sair da beirada rochosa não era nada fácil. Só de saber que ela era a culpada pelos ingleses estarem perseguindo-os a compelia adiante. Ela saltou. Dizer que a água era um choque era um eufemismo de proporções gigantescas. Isso filtrou cada pedacinho de sensação de seus ossos, tirando sua letargia e qualquer memória prolongada do que tinha acabado de acontecer com isto. Mas ela nunca esqueceria. Ele lhe mostrou um vislumbre do céu e nada podia levar isto. Nem ele, nem a água. Nada.
Rompendo a superfície, ela esfregou seu cabelo e membros com a lasca de sabão, não tentando apenas apagar o “fedor” dos jacintos, mas também manter o sangue se movendo assim não morreria congelada. Sair não forneceu muito alívio. Seus dentes ainda estavam chacoalhando minutos mais tarde quando ele retornou. Ela não teve que perguntar onde foi. Pelo seu cabelo úmido, percebeu que ele também tomou banho, embora mais abaixo no rio.
Seu olhar a varreu. Se ficou agradado ao ver que fez como ele disse, ela não podia dizer. Toda evidência da expressão torturada saiu de seu rosto, suas feições mais uma vez estampadas em uma máscara em branco. A falta de emoção a irritava. Como ele podia estar tão inalterado, quando ela estava tão afetada? Sua boca se comprimiu, raiva atravessando um pouco da confusão.
— Precisa de ajuda?
Aparentemente ele notou a dificuldade que estava tendo em se vestir. Embora tivesse conseguido vestir uma de suas camisas e calções de lã, a camisa já estava meio ensopada por seu cabelo molhado e seus dedos não estavam cooperando quando ela tentou puxar os calções.
Ela sacudiu a cabeça. Como uma oferta de paz — se é o que isso era — não foi o suficiente. Ele a rejeitou, deixando-a daquele jeito, e ela não o deixaria fingir que nada aconteceu. Como se a colocando nas suas roupas pudesse apagar a evidência da memória! Ela estava quase se embrulhando no plaid novamente quando ele a deteve.
— Você não pode vestir nada que usou antes. Deixaremos isto com as outras coisas.
— Mas isso pertence a Eoin e é quente.
Ela pensou que sua boca repuxou um pouco mais apertada.
— MacLean vai entender — Ewen tirou seu próprio plaid e o estendeu para ela. — Pode vestir o meu.
Seus olhos se prenderam por um longo minuto, como se existisse algum tipo de significado além do calor que isso ofereceria, mas então ele desviou o olhar e o momento se foi.
Ela tomou o plaid e depressa o envolveu ao redor de si mesma, incapaz de conter o suspiro de prazer quanto o calor envolvia seus membros congelados. O calor do corpo dele parecia capturado no intricado entrelace dos fios de lã. Se ela inalasse (o que ela fez), podia só pegar um leve cheiro do familiar pinho e couro.
Depois de alguns minutos ela estava aquecida suficiente para terminar de se vestir. Juntou as mechas ensopadas de seu cabelo em uma trança apertada na nuca e calçou as botas. Pelo menos ele não insistiu que ela fosse descalça. Ele estendeu um pedaço de corda, a qual ela olhou inexpressivamente.
— Para os calções — ele explicou. — As amarras não parecem estar funcionando muito bem.
Realmente, ela constantemente tinha que puxar as calças para cima para não escorregarem por seus quadris. Ainda assim, eram melhores que suas outras opções: seu hábito ou o belo vestido que Mary mandou buscar para ela apresentar-se na corte.
Ela enfiou a camisa de linho nos calções e juntou um bolo ao redor de sua cintura, usando a corda como cinto. Notando o modo que os olhos dele caíram em seus quadris, demorando com fome quase palpável por um momento, até que ele forçou seu olhar para longe, ela teve certeza de levar seu tempo. Vingança insignificante talvez, mas que se provou surpreendentemente satisfatória.
O cinto adicional ajudou, e alguns momentos mais tarde, depois que ele amarrou sua antiga roupa emprestada ao redor de uma pilha de pedras e a lançou no lago, ele juntou os pertences deles para irem embora.
Mas Janet não estava pronta para partir. Não sem uma explicação. Ela pegou seu braço antes dele poder ir embora.
— Por que você parou daquele jeito? Eu fiz algo errado?
Sua mandíbula apertou, seu olhar azul de aço se encontrou com o dela.
— Não agora, Janet. Precisamos nos mover mais alto nas colinas. Eles não desistirão da caça.
— Talvez não, mas a menos que você ache que eles estão bem atrás de nós, certamente pode me dar alguns minutos. Não mereço algum tipo de explicação?
A expressão dela se tornou aflita.
— Você não fez nada errado. Foi minha culpa. Nunca devia ter acontecido.
— Por que não?
Seus olhos faiscaram quentes.
— Porque não é certo. Sua inocência pertence ao seu marido, maldição.
Janet endureceu, tentando não exagerar ou ficar desapontada. Sua reação era compreensível — era como a maioria dos homens pensava. Mas ela não queria que ele pensasse como a maioria dos homens. Queria que a visse por ela mesma e não como uma posse ou acessório. Era demais pedir isso?
Às vezes ela podia quase se convencer que ele era diferente. Que sua irracionalidade era apenas resultado da inexperiência. Que ele não conhecia nada melhor, mas que uma vez que conseguisse conhecê-la a veria como… o que? Capaz. Certamente não uma virgem para ser trocada e vendida como uma vaca premiada.
— Minha inocência pertence a mim — ela disse firmemente. — É minha para perder ou não.
— Eu queria que fosse verdade. Mas não é tão simples, Janet. Você é a filha de um conde e cunhada do rei. Seu marido vai esperar...
— Que marido? Não sou casada, nem pretendo ser.
Sua veemência o levou para trás.
— Você soa tão certa.
Ela ergueu o queixo.
— Estou.
— Você está seriamente considerando se tornar freira?
Depois do que tinha acabado de acontecer, isso soou da mesma maneira improvável para ela. Mas faria o que devia.
— Se esta for minha única alternativa ao casamento.
— Você faz o casamento soar como uma sentença de morte. Realmente seria tão horrível?
Ela pensou em sua família. Sim, seria. Como ela podia explicar? Como podia fazê-lo entender o que para ele — para a maioria dos homens — deve parecer antinatural?
— Eu me perderia.
A sobrancelha dele franziu.
— Como?
— Eu não teria mais a capacidade de controlar minhas próprias ações. Tudo, até a menor decisão, seria controlada por meu marido. Minha vontade não seria mais minha. Não tenho nenhuma vontade de ser tratada como uma posse.
Ele franziu o cenho.
— Não é sempre assim.
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Então você conhece muitos homens quem tratam suas esposas como iguais?
Seu cenho franzido aprofundou.
— Alguns.
Seu coração saltou adiante. Isso o incluía?
— E você permitiria a sua esposa o poder de tomar suas próprias decisões ainda que elas não concordassem com as suas?
— Não estamos falando sobre mim.
— Não, não estamos — disse baixinho, seu coração apertando com inesperada decepção. Ela não podia ter estado pensando nele como marido, não é? — Mas queria saber minhas razões e você é um exemplo perfeito. Deixou seus pensamentos sobre o que estou fazendo bastante claro. Por que podia esperar que outro homem se sentisse de forma diferente? Pode imaginar um marido permitindo que eu continuasse meu trabalho?
Sua boca apertou teimosamente.
— Seu trabalho é perigoso.
— Então preciso ser protegida de mim mesma, é isso? — Não surpreendentemente, ele não respondeu. Ela decidiu devolver a pergunta a ele. — Por que está tão certo que eu não devia estar fazendo isto? Por que tem tão pouca consideração com as mulheres ou é só eu?
Ele pareceu chocado.
— Jesus, Janet, só porque não penso que é seguro para você vagar por toda parte da Escócia sozinha no meio de uma guerra, realizando algo que pode fazê-la ser morta se for descoberta não significa que penso menos de você. Diabos, já se provou para todo mundo depois de hoje. Você agiu tão bem quanto qualquer homem — o peito dela se ergueu ante suas palavras. Ele não fazia ideia do quanto elas significavam para ela. — Mas ser mulher a torna vulnerável de modos diferentes. Quando penso no que podia acontecer a você… — seu rosto escureceu e seus olhos tomaram uma cobertura assombrada. — Maldição, tem alguma ideia do que os ingleses fariam com você se descobrissem o que estava fazendo?
Existia algo mais no trabalho aqui do que simplesmente sua visão em papéis tradicionais para homens e mulheres. Obviamente ele estava falando de experiência pessoal.
— Diga-me o que aconteceu.
Sua mandíbula apertou tão firmemente que ela podia ver o músculo abaixo começando a repuxar.
— Foi há alguns anos, não muito depois que nós chegamos à Escócia depois de sermos forçados a nos refugiarmos nas Ilhas por alguns meses. — Ela engoliu em seco. Foi quando seu irmão Duncan tinha sido morto. — Nós estávamos sendo caçados, a maré ainda não tinha virado, e um punhado de aldeões, principalmente mulheres e crianças, ajudaram a nos esconder nas colinas. Os ingleses descobriram, e quando nós voltamos para agradecê-los — seus olhos encontraram os dela — não tinha restado ninguém para agradecer. As mulheres foram estupradas e espancadas antes de terem suas gargantas cortadas. Só uma moça sobreviveu.
Janet ofegou. Apesar dele ter falado com sua aspereza habitual, ela podia ouvir a emoção em sua voz e perceber o quanto deve ter sido horrível.
— Não foi culpa sua.
— Claro que foi — ele estalou. — Nós pedimos ajuda a eles, nunca imaginando o risco que estávamos pedindo que corressem.
— Mas eles teriam feito isto de qualquer maneira — ela disse suavemente. — Mesmo sabendo, eles teriam te ajudado.
— Como pode saber disso?
— Porque eu teria feito o mesmo.
Ele olhou fixamente para ela, não dizendo nada por um momento.
— Por que ser mensageira é tão importante para você?
— O porquê não devia importar. O fato em si deve ser suficiente — era demais esperar que um homem pudesse entender isto? — Não pergunto a você por que faz o que faz. Só porque não uso armadura e levo uma espada não faz o que faço menos importante. — Ela fez uma pausa. — Esta guerra não será ganha só pela espada, Ewen. Como você acha que os fantasmas de Bruce sabem o lugar certo para atacar? — Ele a estava observando atentamente. — Bons espiões passaram por mensageiros.
Ela deixou como estava, não querendo dizer mais.
Ele pareceu considerar o que disse, mas se deu a isto qualquer peso, ela não podia dizer.
— Isto é sobre sua irmã?
Ela endureceu.
— Sobre o que você está falando?
— Você não tem que se provar ou reconciliar pelo que aconteceu na ponte. Mary não te culpa. Se você só soubesse o quão desesperada ela esteve para te achar e quão ansiosa está para ter você de volta.
O coração de Janet devorou cada palavra. Era verdade? Ela queria acreditar nele e ansiava questioná-lo, mas isso significaria reconhecer para si mesma que suas palavras guardavam alguma verdade.
— Minha irmã não tem nada a ver com isso. Não é suficiente querer ajudar? Sempre tem que haver uma razão adicional? E você, por que está aqui, Ewen? O que fez você decidir ser um dos fantasmas de Bruce?
Ele fez uma cara feia, mas não mordeu a isca.
— Eu me juntei ao exército de Bruce porque meu suserano, e um homem que eu respeitava acima de todos os outros, pediu que o fizesse. Fiquei para livrar meu clã da extinção.
Os olhos dela se arregalaram pela honestidade cega. Nada de febre ou falas patrióticas de liberdade e tirania dele, somente ambição e recompensa.
— Seu pai? — Ela perguntou.
Levou um momento para perceber o que ela queria dizer. Quando entendeu, ele riu.
— Dificilmente. Meu pai não era homem de inspirar muita devoção. Não, falo do antigo Stewart, Sir James Stewart.
Janet não pode esconder a surpresa. Era este o senhor que ele falou quem o criou? Os Lordes Stewart de Bute eram um dos clãs mais importantes do país. — Você é conectado aos Stewarts?
Um sorriso torto virou sua boca, como se ele adivinhasse a direção de seus pensamentos.
— Não próximo. Minha mãe era prima de Sir James, sua prima favorita, quando isso aconteceu. — Vendo sua confusão, ele suspirou como se resignando a ter que dizer mais. — Minha mãe era noiva do Chefe dos Lamont quando ela conheceu meu pai, um dos seus comandantes, e decidiu casar com ele em vez do outro. Desnecessário dizer, o chefe dos Lamont não ficou muito feliz. Ele foi à guerra com meu pai e o teria destruído sem a ajuda de Sir James. — Ele sacudiu a cabeça. — Ironicamente foi meu pai sendo cortado do resto do clã que me deu a habilidade para salvar isto.
— O que você quer dizer?
— Tipo os MacDougalls, MacDowells e Comyns, meu primo, o chefe atual, e os membros do seu clã ficaram contra Bruce, foram exilados e tiveram as terras do clã desapropriadas, com exceção das minhas terras em Ardlamont. Se não fosse pela minha conexão com os Stewarts, e deste modo com Bruce, eu estaria com eles. Como isso está, sou o último Lamont em Cowal. Meu clã vive ou morre com a habilidade da minha espada, por assim dizer.
Janet estava atordoada. Não é de se espantar que ele parecia tão teimoso e com um único objetivo em mente sobre cada missão. O futuro do que foi uma vez um grande clã descansava em seus ombros largos. Mas outra coisa mais que ele disse deu a ela um sussurro de possibilidade.
— Você é um chefe?
Ele segurou seu olhar.
— Não fique muito impressionada, minha senhora. É só uma propriedade secundária, com metade de um castelo.
As sobrancelhas dela franziram, não entendendo o sarcasmo.
— Até o rei te recompensar com mais pelo seu serviço?
Ele deu de ombros.
— Se for da sua vontade.
Ela olhou-o especulativamente. Apesar de ele ter dito isto com indiferença, sentiu o quanto importava para ele. Era isso que o conduzia. Recompensa e uma posição para seu clã sob a monarquia de Bruce. Também fornecia outra explicação para o porquê dele ter parado. Despojar a cunhada do rei dificilmente agradaria a Robert.
Mas não havia nenhuma razão para que Robert algum dia descobrisse. Não que ela pensasse que isso provavelmente influenciaria Ewen. Estava provando ter uma raia de honra inconveniente nele.
Ela mordeu o lábio, perguntando-se se existia outro modo. Apesar de sua continuada rejeição e comportamento apavorantes em se afastar dela no meio do ato de amor, ela ainda o queria e não iria desistir.
Por que isso era tão importante para ela, não sabia. Ou era uma glutona por castigo ou existia algo verdadeiramente especial entre eles que valia a pena os golpes continuados no seu orgulho. E havia a paixão. A inegável atração que surgiu entre eles como uma fogueira. Ela não podia descontar isto.
Em todo caso — eu não posso fazer isto — não era uma resposta que ela tinha intenção de aceitar. Soava demais como não. Se a voz de Mary sussurrou um aviso, Janet empurrou isto de lado. Ela sabia o que estava fazendo. Além disso, não havia ninguém mais por perto para ser magoado.
Ele esquadrinhou a área atrás dela.
— Nós descansamos tempo suficiente.
Ela ergueu uma sobrancelha em questionamento. “Descansar” não era como descreveria o que eles fizeram. Se não estivesse certa que era impossível para ele corar, teria jurado que suas bochechas escureceram enquanto entendia o que ela estava querendo dizer.
— Aye, bem, você poderá dormir assim que tiver certeza que nós os despistamos.
— Acho que eu preferiria fazer um pouco mais de descanso.
Ele disparou a ela um olhar repreensivo.
— Janet…
Ele poderia estar dando bronca em um filhote malcriado. Ela piscou para ele inocentemente.
— O que?
— Não vai acontecer. Eu disse a você que foi um erro. Está acabado. Acabou.
Ela sorriu, sabendo que nenhum deles acreditou nisto. Não estava acabado, acabou de começar.
Ewen os empurrou impiedosamente, tanto para colocar o máximo de distância entre eles e os ingleses quanto para mantê-la ocupada demais para conspirar sua queda.
A moça era problema. E teimosa.
Audaciosa demais pro seu gosto. Também era inteligente.
Dolorosamente doce. E de longe mais forte do que ele esperava.
Não podia acreditar que ela ainda estava de pé. Até este momento foi caçada por cachorros, atacada por um cavaleiro inglês, matou o dito cavaleiro com um punhal bem colocado na perna, marchou por quilômetros afundada até os joelhos em um rio gelado, sofreu um banho naquela água gelada, e caminhou por quilômetros acima de colinas congeladas e cobertas de névoa. Como se não bastasse, também estava por um fio de cabelo da ruína.
Um orgasmo não podia compensar tudo aquilo. Apesar de ter sido um inferno de um orgasmo. Ele não achou que algum dia esqueceria o olhar de êxtase e surpresa em seu rosto enquanto seu corpo desintegrava debaixo dele. O fluxo de cor para suas bochechas, os olhos entreabertos e nebulosos de paixão, os lábios suavemente separados inchados do seu beijo.
Jesus. Calor inchava sua virilha penosamente abusada. O alívio que ele tomou em sua mão depois de deixá-la mal resolveu. Como ele manteria suas mãos fora dela até que alcançassem a costa, quando tudo que conseguia pensar era sobre terminar o que eles começaram?
A moça invadiu seus sentidos, penetrou suas defesas e deslizou debaixo de sua pele. A queria com cada fibra de seu ser. Mesmo exausto, sua perna queimando, com frio e faminto, ele não podia olhar para ela sem pensar sobre lançá-la no chão, entrelaçar aquelas pernas longas e esguias ao redor de sua cintura, e dar a ela exatamente o que estava pedindo.
Então ele fez o que qualquer guerreiro destemido faria: não olhou para ela.
Mas não sabia quanto mais disso podia aguentar. Mais descanso… diabos! Ela estava tentando matá-lo? Deus sabia por que, mas a moça enfiara na cabeça em entregar-lhe sua inocência. Ela tinha alguma ideia do quanto era difícil para ele recusar esse tipo de oferta?
Claro, ela não sabia, e depois de ouvir seu ponto de vista sobre o casamento, ele com toda certeza não iria iluminá-la. Não tinha nenhuma dúvida que teria que arrastá-la chutando e gritando a distância toda até Dunstaffnage. Bruce teria um inferno de uma batalha em suas mãos quando ela descobrisse sobre seus planos.
A pior parte era que ele não estava certo que a culparia por isso. Ele nunca considerou o casamento da perspectiva de uma mulher antes, mas tinha que admitir, suas preocupações não eram sem mérito. Sempre deu como garantido o papel do homem de autoridade absoluta. Para uma mulher como Janet que estava acostumada a tomar suas próprias decisões, seria sufocante. Ela se irritaria contra aquelas ligações a cada volta.
Mas qual era a alternativa? Ewen não era como MacKay, ele não podia deixar sua esposa segui-los na batalha. Franziu o cenho. Embora esteve agradecido mais de uma vez por ter uma curandeira qualificada à mão.
Helen é diferente, disse a si mesmo.
Mas Janet não era?
Eles escalaram um pequeno platô na colina e ele parou. Apesar de ser apenas algumas horas depois do meio-dia, a luz do dia já estava desvanecendo.
— Espere aqui — ele disse apontando para um rochoso afloramento. Como fez a cada pouco quilômetro, deixou-a recuperar o fôlego enquanto ele circulava de volta para tentar esconder a trilha deles. A neve no chão endurecia conforme a temperatura caía quanto mais alto que eles subiam na montanha, tornando mais fácil fazer isso. Mas onde o chão era muito suave, em vez de esconder, ele começaria a confundir seus perseguidores andando para trás, interrompendo em outras direções durante algum tempo ou fazendo várias pegadas em uma área. Quando retornou alguns minutos mais tarde, ela estava acomodada em uma das pedras, olhando para ele.
— Alguém está nos seguindo?
Ele sacudiu a cabeça. Mas algo a deixou curiosa.
— Por que você parou para olhar a samambaia lá atrás?
Ele se sentou ao lado dela e tirou seu odre. Depois de tomar um longo gole, ele entregou a ela.
— Alguns dos talos estavam quebrados por onde nós passamos.
Ela franziu o cenho.
— Pensei que você estava escondendo nossas pegadas.
— Estou escondendo nossa trilha.
— Não é a mesma coisa?
Ele balançou a cabeça.
— Estou procurando por qualquer perturbação na paisagem, não apenas pegadas. Qualquer sinal que alguém pode ter passado.
— E você pode dizer por alguns galhos quebrados que alguém passou.
Ele deu de ombros.
— É um sinal.
Ela deu a ele um longo olhar.
— Como você se tornou tão bom nisto?
— O escudeiro do meu pai era um rastreador. Costumava me levar com ele quando eu era pequeno e mais tarde quando voltei da guarda. Ele notou que possuía uma memória incomum para detalhes e me ensinou como usar essa habilidade para rastrear. Mas é principalmente experiência. — Anos e anos de saber pelo que procurar.
— Que tipo de detalhes?
— Olhe atrás de mim — ele esperou alguns momentos. — Agora feche os olhos e me diga o que você viu.
Ela olhou de volta para ele.
— Isto é um truque? Só tem uma área plana de charneca suja de neve, com algumas pedras espalhadas sobre ela.
— Olhe novamente — ele não virou, mas chamou a imagem de memória. — As pedras espalhadas sobre os pântanos são arenito Graywacke, mas cerca de vinte passos atrás de mim têm algumas pedras de granito empilhados que é provavelmente o início de cume de um monte de pedras. Justo à esquerda, você pode ver os contornos de um caminho estreito vindo do Norte onde a grama foi pisada, provavelmente por lebres da montanha, se a pilha de excrementos perto é qualquer indicação, e a neve é ligeiramente mais baixa. Próximo aos caminhos da grama do pântano púrpura se esticando através da neve no lado oeste da colina está a trilha de um grupo pequeno de cervos vermelhos. Diretamente acima do meu ombro esquerdo, mais ou menos cinco passos atrás de mim, tem uma pequena protuberância na neve. Se olhar de perto, você pode ver algumas penas castanhas espetando a neve. Suspeito que é a carcaça de uma perdiz trazida aqui para baixo por um tartaranhão azulado ou falcão peregrino.
Ela ficou boquiaberta.
— Você nem olhou.
— Fiz mais cedo. Eu disse a você, tenho uma memória incomum.
— Digo mais. Tem um olho agudo para detalhes — ela sorriu deleitada. — Pelo que mais você procura?
Ele não estava acostumado a um público tão ávido, mas como o assunto claramente a interessava e sabendo que isso ajudaria a passar o tempo, ele explicou alguns princípios básicos, tal como minimizar sua impressão na paisagem e ter certeza que nenhum sinal foi deixado para trás, táticas de engano para esquivar de seus perseguidores, tais como andar para trás, dar a volta, pular pedra e andar na ponta do pé. Como se mover com o vento para esconder seu odor, como evitar mudar de direção em lugares óbvios, e como quebrar uma trilha de odor como eles fizeram com os cachorros. Ela o escutou com a atenção extasiada, claramente fascinada.
— Cada vez que você dá um passo — ele disse — procure por pedras, chão duro, remendos de gelo, estradas ou caminhos existentes, musgos flexíveis, coisas assim. Seus passos serão menos visíveis.
— Achei difícil — ela disse.
Isso era um modo de colocar, mas ele tentava não pensar sobre — muito — dado seus problemas numa certa área.
Ela olhou para ele.
— Parece tão óbvio agora que você apontou, mas nunca percebi.
— A maior parte do que faço é bom senso. Você só tem que pensar sobre isto.
— Você está sendo modesto — ela inclinou sua cabeça para trás para olhar para ele. — Não é de espantar que Robert quisesse você para seu exército secreto. Posso imaginar que uma habilidade como a sua é útil para homens que querem parecer com fantasmas.
Podia sentir seus olhos nele, então teve cuidado de não reagir. Maldição, a moça era incansável! Ele devia ficar surpreso por ela ter descoberto, mas não estava. Ela podia encontrar problemas mesmo sem procurar por eles.
— Você não vai dizer nada?
Ele virou para olhar para ela, seus olhos mergulhados nos dela.
— Eu preciso te dizer quanto perigo você pode nos colocar só de mencionar o assunto, independente se é verdade?
O olhar dela nunca oscilou.
— Mas é verdade. Sei que é.
Claramente, não iria dissuadi-la. Sabia que devia tentar. Ele fez um juramento, e não era só sua própria vida em jogo, mas não queria mentir para ela. Então fez a segunda melhor coisa e disse: — Vamos. A hora de descanso acabou.
Ela gemeu.
— Mas nós acabamos de sentar. Você só está tentando evitar minhas perguntas — ele não negou. — Os ingleses não estarão nos perseguindo para sempre, Ewen. Um dia desses você não poderá evitar responder.
Ele não sabia, era bom para caramba em evitar coisas. Exceto com ela — o que era parte do problema. Não respondeu, simplesmente esticando sua mão ao invés disto. A ajudou a ficar de pé — com outro gemido dramático da parte dela — e partiram.
Embora estivesse bastante certo que eles despistaram seus perseguidores, ele queria alcançar o próximo cume ao anoitecer. Havia um velho campo de pedra onde eles podiam se abrigar. Era muito perigoso vagar ao redor destas montanhas na escuridão, especialmente com a neblina. De manhã, trataria de achar cavalos para levá-los para Ayr, onde com toda certeza esperavam MacKay e MacLean, e Sutherland os alcançaria.
Ensiná-la sobre rastreamento provou ser um modo efetivo de passar tempo, distraindo-os — ele de pensar sobre a dor em sua perna e o destino de seus amigos, e ela de fazer mais perguntas que ele não podia responder sobre a Guarda das Highlands. Era uma aluna ávida, surpreendendo-o com seu interesse, como também com quão rapidamente ela parecia aprender.
Foram capazes de se mover em um ritmo muito mais rápido desde que ela se tornou mais consciente dos sinais que estava deixando para trás conforme eles subiam, e deste modo ele não precisou passar tanto tempo voltando para cobri-los.
Devia tê-la instruído mais cedo. Por que não o fez? Essa era uma das primeiras coisas que fazia com os homens sob seu comando. Ele tinha pensado que os princípios eram muito difíceis de aprender ou que era somente para homens?
Ela estava certa, percebeu. Ele assumiu que porque não usava armadura e carregava armas, estava mal equipada para guerra. Mas Janet de Mar parecia estar mudando na cabeça dele muitas de suas noções preconcebidas sobre mulheres. Ela não era frágil ou impotente. Era forte e capaz. Capaz para caramba, na sua opinião.
Embora pudesse estar disposto a admitir que ele subestimou suas habilidades, não estava errado sobre o perigo. Ela pode ter se defendido do cavaleiro hoje, mas sem o elemento surpresa — ou se houvesse mais de um homem — estaria tão morta quanto aquelas mulheres em Lochmaben. Ainda que ela fosse a melhor maldita mensageira na Escócia, isso não anulava seu instinto de protegê-la.
Mas ela precisava de proteção?
Pensou na conversa deles sobre as mulheres em Lochmaben. Ele nunca acreditaria que uma mulher podia entender o perigo e ainda querer ser envolvida. Justo como ele, ela assinalou. Isso era ridículo, não era?
Quando a sombra do campo apareceu no horizonte, Ewen alcançou um de seus objetivos: a moça estava exausta. Exausta demais para fazer qualquer coisa além de entrar nas dobras do plaid que ele estendeu para ela como cobertor, depois de limpar totalmente os excrementos dos antigos ocupantes animais, e dormir.
A virtude — e a honra dela — estava segura. Por enquanto.
Mas quando subiu para pequena cabana de pedra deitando-se ao lado dela algumas horas mais tarde, e ela instintivamente encostou-se nele, enterrando-se em seus braços, algo duro e pesado se alojou no seu peito. O peso da inevitabilidade? A certeza pedregosa do destino? Porque nada nunca pareceu mais perfeito. Sozinho em uma montanha, abrigando-se em uma cabana de pedra destinada para ovelhas enquanto estavam sendo caçados por ingleses, ele nunca se sentiu mais contente.
Ele dobrou seu braço debaixo do peito dela, aconchegou sua bundinha na sua virilha, enterrou seu nariz na maciez sedosa dos cabelos dela, e saboreou cada minuto de segurar a mulher que não era dele, mas que com toda certeza se sentiu como se fosse.
CAPÍTULO 17
Janet despertou de estalo. Levou alguns apavorantes segundos para lembrar onde estava, mas eventualmente começou a respirar uniformemente de novo. O campo de pedra na montanha. Com Ewen.
Ela franziu o cenho. Ewen, que não estava em nenhum lugar por ali. Não precisou procurar pela cabaninha de pedra para ver que ele se fora, podia dizer pelo frio vazio atrás dela.
Ele dormiu ao lado dela. Instintivamente sabia disso. Não que pudesse lembrar, caramba. A última coisa de que se lembrava era estar enfiada debaixo das dobras quentes do seu plaid. Estava tão cansada que adormeceu no momento que seus olhos fecharam.
Ele provavelmente contaria com isto, o idiota. A fez marchar estas colinas acima até que estava cansada demais e com frio para fazer qualquer coisa além de desabar. Tudo que podia recordar era uma sensação de calor e satisfação. De estar perfeitamente relaxada e aquecida em sua cama, aliviada pelos eventos do dia.
Ele a segurou, ela percebeu.
Janet balançou a cabeça com moderado desgosto. A única vez que ele a tomou em seus braços e segurou, e ela nem esteve acordada para apreciar! Se não estivesse tão certa que existia algo especial entre eles, as tentativas dele para evitá-la poderiam ter sido desmoralizantes.
Ela tinha acabado de fechar o plaid quando o idiota em questão meteu a cabeça pela porta baixa da cabana. Ele teve que abaixar ligeiramente para ficar do lado de dentro, já que o telhado abobadado tinha só mais ou menos um metro e oitenta de altura no centro.
— Você está acordada? Não pensei que você se levantaria até o meio dia.
A princípio ela pensou que ele a estava criticando, mas então percebeu que a estava provocando. Ela deu a ele um olhar conhecedor.
— Fiquei com frio sem você ao meu lado.
O rosto dele ficou em branco — muito em branco.
— Fiquei lá fora a maior parte da noite, mantendo vigia — ele estendeu o odre antes que ela pudesse discutir. — Pode usar isto para se lavar até que alcancemos um regato.
Ela tomou a bolsa d’água agradecida. Seus olhos e dentes pareciam que estavam com areia. Tudo que precisava era um pente — que devia estar em uma das bolsas — e poderia até se sentir humana novamente. Ela pensou sobre cutucá-lo sobre o arranjo deles de dormir, mas decidiu deixar para lá — no momento. Ao invés disto, perguntou: — Que regato?
— Próximo à aldeia de Cuingealach. Precisamos de um cavalo. Os ingleses parecem ter desistido da perseguição, mas quero colocar o máximo possível de distância entre nós.
Um plano sábio. Mas algo a estava incomodando.
— Em primeiro lugar, por que você acha que eles estavam nos perseguindo?
Ele hesitou, aparentemente cuidadoso com suas palavras.
— Tivemos alguns problemas a caminho de encontrar você em Roxburgh.
— Então eles estavam procurando por você?
— Provavelmente.
O conhecimento aliviou sua consciência um pouco sobre perder a touca. Não tinha sido tudo culpa sua. Além disso, como ela esperava que fosse difícil convencer Robert a deixá-la retornar para Roxburgh depois do que tinha acontecido, o fato que os soldados tinham ido atrás de Ewen e dos outros, e não dela, ajudaria. Claro, não havia dúvida de Ewen a escoltaria de volta. Era perigoso demais para ele. Mas não seria para a Noviça Eleanor.
— Acha que estamos muito atrasados? Devo estar de volta a Roxburgh dentro de quinze dias.
Uma expressão estranha cruzou seu rosto. Ele desviou o olhar quase desconfortavelmente.
— Você vai ter bastante tempo. Mas devemos ir.
— E Sir Kenneth? Como ele vai saber como nos achar?
— Não se preocupe com Sutherland. Ele nos alcançará se puder.
Se. Ela captou algo em sua expressão que por estar assustada e chateada demais não notou antes. Um leve escurecimento dos olhos e aperto ao redor da boca.
Janet ficou quieta enquanto o horror lentamente caiu sobre ela.
— Você acha que algo aconteceu com o marido da minha irmã?
Como se Mary já não tivesse motivos suficientes para odiá-la.
Ela deve ter parecido tão atingida quanto soou porque ele amaldiçoou, passando os dedos por seu cabelo.
— Maldição, não foi isso que eu quis dizer. Tenho certeza que ele está bem.
— E se ele não estiver?
Ele pegou seu queixo e inclinou o rosto dela em direção ao seu.
— Se não estiver, não tem nada a ver com você. Isto é o que ele faz, e às vezes — a maior parte das vezes — é perigoso. Mary sabe disso.
Janet acenou com a cabeça, mas em seu coração não podia aceitar isto. Se qualquer coisa acontecesse ao marido de sua irmã, Janet nunca se perdoaria.
Uma touca. A porcaria de uma touca! Ele não podia ter morrido por causa de algo tão insignificante... podia?
Lágrimas encheram seus olhos. O polegar de Ewen acariciou sua bochecha, como se ele as enxugasse antes delas poderem cair. A gentileza entrou em seu coração e não foi embora.
Eu podia amá-lo.
Com o menor encorajamento, ela podia amá-lo. A realização do quão fácil seria se levantar e agarrá-la pela garganta, inspirava tanto temor quanto e pavor. Isso mudaria tudo.
Ele parecia que iria dizer algo mais, mas ao invés disso deixou a mão cair do seu rosto e se afastou.
— Prepare-se e coma alguma coisa enquanto dou outra olhada por aí. A névoa não está tão espessa esta manhã e quero estar fora destas montanhas antes que se levante.
Ele tinha quase atravessado a entrada quando ela gritou.
— Ewen!
Ele girou e olhou-a por cima do ombro. O coração dela apertou. Com seu cabelo escuro, olhos azuis como aço, feições rústicas e mandíbula com sombra de barba, ele parecia tão rudemente bonito que doía. Por que ele? Depois de todos esses anos, por que este homem tinha finalmente ameaçado seu coração?
— Obrigado.
— Pelo que?
Ela corou. Por estar aqui com ela. Por mantê-la a salvo e aquecida. Por segurá-la em seus braços. Por lhe trazer água para se lavar esta manhã. Por não a culpar e tentar fazê-la se sentir melhor.
— Por tudo — ela disse suavemente.
Confusas, as sobrancelhas dele franziram ligeiramente, mas ele assentiu.
Um pouco tempo depois eles estavam subindo mais as colinas, continuando em direção ao leste. Apesar de descansadas, suas pernas ainda estavam doloridas da véspera e ela ficou feliz que ele aliviou o ritmo um pouco.
Franzindo o cenho, perguntou-se se a perna dele o estava incomodando. Mas depois de observá-lo durante algum tempo, não descobriu qualquer sinal de dano ou dor e concluiu que o unguento deve ter funcionado.
Estava certo sobre a névoa. Não demorou, erguendo-se no meio da manhã, quase ao mesmo tempo em que eles alcançaram o riacho do qual ele tinha falado. O fluxo era mais ou menos de quase um metro de largura atravessando um desfiladeiro profundo. Era bonito, estabelecido na paisagem de musgo, pedra e uma leve camada de neve, mais precisamente, atalhos de neve, à medida que o sol morno já estava derretendo o fôlego gelado do inverno. Ela tomou seu tempo, lavando o rosto e as mãos, e apreciando o momento de paz. Ela devia saber que não duraria.
Ewen apertou os dentes pela batalha adiante. Ele devia saber que ela não iria gostar do seu plano. Deus, todas as mulheres tinham tantas opiniões? Pensando nas esposas dos seus soldados, suspeitou que elas tinham.
Diabos, o que estava acontecendo com ele? Tinha sido tão mais fácil quando não pensava sobre o que uma moça pensava ou queria. O olhar dela deslizou por cima dele em uma silenciosa zombaria que certo como o inferno não devia deixá-lo quente, mas seu membro não parecia notar seus olhos faiscantes.
— Uma muda de roupa não esconde o que você é, Ewen. Qualquer um que olhar para você vai ver que é um guerreiro — a observação o agradou muito mais do que devia. Como fez o modo que os olhos dela se demoraram de forma apreciativa em seus ombros e braços. — Deixe-me ir com você, eu posso ajudar. Você será menos óbvio com uma esposa a seu lado.
Lembrando o quão bem isso terminou na primeira vez, ele declinou.
— Estou comprando um cavalo, Janet. Fiz isso centenas de vezes antes. Não existe nada com que se preocupar. Estarei de volta antes de você sequer perceber que fui.
Ela balançou a cabeça.
— Mas e se tiverem soldados ali?
— Não haverá. Como você pode ver — ele apontou lá embaixo no vale para dúzia ou mais de construções e a igrejinha aninhada na ladeira, — é uma aldeia pequena. Nenhum castelo significa nenhum inglês.
— Eu posso te ajudar. Lembra o que aconteceu na pousada? Sou boa em falar com as pessoas.
E ele não era. Mas podia pechinchar bem para caramba por um cavalo. Sabendo que eles estariam de pé aqui para sempre se não fizesse algo, Ewen tentou um caminho diferente. Um que tinha mais verdade do que ele queria admitir.
— Não é por isso que não quero que vá. Sei que podia ajudar, mas tendo você comigo poria a ambos em perigo.
— Por quê?
— Eu estaria preocupado com você. Focado em você. Você me faz...
Ele não sabia como explicar. Fraco. Vulnerável. Palavras que ele nunca usou para descrever a si mesmo antes.
Cristo! Se ela notasse seu desconforto, isso não ia impedi-la de perguntar.
— Faz você o que?
Ele estabeleceu.
— Distraído.
Sua resposta não pareceu satisfazê-la. Ela enrugou o nariz delicadamente, franzindo-o.
— Vou ficar fora do caminho, você nem vai saber que estou lá.
Como se isso fosse possível.
— Sempre sei quando você está lá.
— Por quê?
— Por quê? — Ele repetiu, não tendo antecipado a pergunta.
— Aye, por que você sempre sabe que estou lá? Por que sou tão diferente?
Sua mandíbula endureceu.
— Você sabe por que.
Ela ergueu o queixo de uma maneira que disse a ele que pretendia dificultar as coisas.
— Não, receio que não.
Sabia o que ela estava tentando fazer, maldição. Mas se isso significasse mantê-la a salvo, ele diria o que diabos ela quisesse.
— Porque me importo com você. Porque o pensamento de algo te acontecendo me faz enlouquecer. É por isso que não quero você indo comigo.
Ela sorriu e ele jurou era como se o sol tivesse acabado de sair.
— Certo.
A aquiescência veio muito facilmente, ele não pensou que a ouviu direito.
— Certo?
Ela acenou com a cabeça.
— E só para que saiba, você me distrai também — ela deu a ele um sorrisinho. — Eu não tinha a menor ideia que você era tão romântico.
Romântico? Ele? Maldição! Ela estava lendo demais nisso tudo.
— Janet, você não entende...
Ela fez um gesto com as mãos despachando-o — realmente despachando-o. Achava que ninguém fez aquilo desde que o cozinheiro o espantou para longe da cozinha — e das tortas recentemente assadas — quando ele era garoto.
— Entendo bastante bem. Seria melhor você ir agora antes que eu reconsidere, enquanto ainda estou impaciente com a poética “me faz enlouquecer”.
Sua boca retorceu. Estava provocando-o. Ainda era difícil para ele acreditar o quão natural parecia. Devia corrigi-la e ter certeza que entendia que isto não mudava nada, mas estava certa: não queria dar a ela a oportunidade de mudar de ideia. Teria que esperar.
— Aye, bem não se acostume a isto. Temo que possuo um suprimento limitado de palavras poéticas. Não posso pensar em nada que rime com “maldição”.
Ela riu, e o som doce reverberou em seu tórax.
— Que tal “estábulo”? Ou talvez “lamacento”'?
Ele soltou uma risada aguda. Devia saber que ela pensaria em algo.
— Vou trabalhar nisto — ele ficou sério e o sorriso de lado deslizou do seu rosto. — Não vou demorar muito. Fique longe da vista. Se alguém se aproximar, pode deslizar atrás daquelas pedras.
Não era uma caverna, mas o espaço entre os grandes pedregulhos era largo o bastante para deslizar entre elas. Queria que não tivesse que deixá-la sozinha, mas não podia evitar. Se eles queriam chegar à costa logo, eles precisariam de um cavalo. Ele teria preferido dois, mas seria muito mais difícil de explicar.
Sua prioridade — sua única prioridade — era deixar Janet em segurança o mais rápido possível. Mas ele também concederia uma pitada de incerteza sobre sua perna. Algo não parecia certo. Todo o escalar de ontem deve ter agravado. Infelizmente, ele não pensou em pegar o unguento com MacKay antes de se separarem. Nada pareceu errado quando olhou para seu ferimento mais cedo enquanto tomava banho, realmente a hemorragia parecia ter diminuído — mas doía como o inferno cada vez que dava um passo. A dor era aguda e profunda — mordia. E ele estava cansado. Mais do que deveria estar. Quanto mais cedo Helen pudesse dar uma olhada, melhor.
— Vou ficar bem — ela o assegurou. — Se qualquer coisa der errado, tenho meu punhal.
Embora ele soubesse o quão bem ela podia usar o punhal, isso não exatamente aliviava sua mente de pensar sobre ela precisando fazer isso. Ele assentiu.
— Estarei de volta antes de você perceber.
Seus olhos se encontraram. Os pés dele não queriam se mover. Ela parecia tão doce e confiante. Tão bonita e forte. Ele queria agarrá-la com cada fibra do seu ser, como se fosse a coisa mais natural a fazer. Mas não fez. Forçou seus pés a ir embora.
— Ewen — ele virou. — Eu... — Ele podia ver algum tipo de tumulto em seu rosto, e uma emoção que não podia nomear. — Tenha cuidado.
Acenou com a cabeça, perguntando-se o que ela estava prestes a dizer. Realmente, ele parecia estar pensando nisso o caminho inteiro abaixo da colina até a aldeia. Pareceu prestes a dizer algo a ele. Algo que suspeitava que não queria ouvir, mas ansiava ouvir ao mesmo tempo. Seu peito ardia. Saber que ele só enlouqueceria pensando sobre coisas que não podiam ser, forçou sua mente para a tarefa à mão. Foco.
Seu plano era simples: ofereceria dinheiro suficiente para evitar qualquer pergunta. Normalmente quando a Guarda das Highlands precisava de cavalos nas fronteiras, eles faziam uso da rede de partidários de Bruce na área. Infelizmente, as lealdades desta aldeia escondida no alto das colinas de Galloway eram desconhecidas. Eles tinham partidários em Douglas, Lanarkshire, a mais ou menos vinte e quatro quilômetros de distância, mas como também era onde eles se meteram em problemas antes, queria evitar a área.
Como a aldeia não tinha uma pousada, ele começou com a propriedade mais próxima e trabalhou seu caminho, ficando cada vez mais frustrado a cada parada. Parecia não ter um único cavalo à venda na aldeia inteira, restando apenas um que era apropriado. Inferno, neste momento ele daria boas-vindas a um velho pangaré.
Depois de meia dúzia de paradas, sua frustração estava aparecendo. Mas quando se aproximou do próximo sítio, viu por um momento algo vagando no campo que o faria ir embora: um corcel belo, robusto e parecendo ágil.
Infelizmente, o dono estava se provando difícil.
— De onde você disse que era? — Ele perguntou.
Ewen olhou o velho fazendeiro, cujo rosto abatido pelo tempo escondia uma mente ágil e astuta. — Roxburgh — ele respondeu de forma curta. — Você está disposto a vender o cavalo? Ofereço dez libras.
Até para o belo animal era uma oferta generosa. O velho devia ter dado pulos. Ao invés disso, ele acariciou sua barba longa e grisalha de forma avaliadora.
— É muito dinheiro. Você realmente deve estar necessitado.
O temperamento de Ewen estava vindo à tona. O fazendeiro obviamente suspeitava de algo, e Ewen não gostou do modo que o estava empurrando com perguntas, mas queria aquele maldito cavalo. Deu a ele um olhar duro.
— Vai me vender o cavalo ou não?
— Ele não está à venda.
Ewen apertou seus dentes e contou até cinco.
— Por que não?
— Ele não é meu para vender. Estou cuidando dele. Eu era o chefe do estábulo do exército do Rei John. — Ah, Inferno, Balliol! Definitivamente não era um amigo de Bruce então. — Ainda cuido dos cavalos doentes quando posso. Este aqui pertence ao capitão da guarda em Sanquhar. — Maldição. Isto só ficava cada vez melhor. Sanquhar era um dos castelos agora guarnecidos de James Douglas pelos ingleses. Os olhos do velho cintilaram maldosamente. — Quem sabe você possa perguntar a ele?
Ewen não precisou perguntar o que queria dizer. Tinha acabado de ouvir o galope de cavalos se aproximando. Olhou por cima do ombro, pegando o reflexo da cota de malha na luz do sol enquanto meia dúzia de soldados ingleses entravam nos arredores da aldeia vindo do Oeste. Embora eles estivessem ainda a uma boa distância, estavam se aproximando de rápido.
Não poderia fugir sem ser visto. Quando não estava mancando pelo ferimento ele corria rápido — mas não mais rápido que um cavalo. Nestas colinas abertas, sem névoa para esconder sua direção, não podia ter certeza que poderia achar cobertura rápido suficiente para despistá-los.
E ainda havia Janet. E se na caça a ele, a achassem em vez disso? Não podia arriscar. Ele xingou inúmeras vezes na sua cabeça, mas só havia uma única coisa que podia fazer: apresentar uma boa história ou ser melhor que seis cavaleiros montados com não mais do que seu punhal.
Como ele não tinha a língua hábil de Janet, suspeitava que seria o último, e até para um dos guerreiros de elite da Guarda das Highlands isso não era tarefa fácil.
Sangue de Deus, isto podia ficar pior?
Alguns minutos mais tarde, quando o som de uma voz gritando seu nome enviou uma explosão de gelo por suas veias para congelar até o último osso em seu corpo, teve sua resposta: Aye, isto podia ficar um inferno de muito pior.
— Ewen! — Janet não deixou sua mortal cara feia detê-la. Sabia que ele estaria furioso, mas no momento viu a bandeira voando ao longe de seu poleiro na colina, e não deixaria nada impedi-la de tentar adverti-lo. Infelizmente, levou muito tempo para achá-lo e agora era muito tarde. Ela chegou ao sítio ao mesmo tempo em que os soldados. — Você está aí! Comecei a pensar que se esqueceu de mim.
Ela viu seus olhos arregalarem conforme ele observava seu surgimento. Com uma mão no quadril, como se apoiando suas costas pela exaustão, ela bateu levemente em sua barriga suavemente arredondada com a outra. — Você já achou um cavalo para a gente montar?
Seu rosto estava tão fechado e carregado quanto uma nuvem de tempestade, mas depois de um momento de pausa, ele percebeu sua parte e avançou para ajudá-la. Seus olhos cravaram nos dela prometendo vingança, enquanto deslizava o braço ao redor de sua cintura protetoramente.
— Pensei ter dito que esperasse por mim — disse, adicionando depois uma pausa que ele esperava que não soasse estranha, — mo chroí.
Ela riu como se acostumada à sua explosão masculina, o que surpreendentemente estava. Não havia dúvida que berraria e grunhiria como um leão bravo quando estivesse terminado, mas não se importava. Ele precisava de sua ajuda, quisesse admitir ou não. Estava praticamente desarmado. Não o assistiria sendo colocado a ferros e arrastado para longe daqui.
Levantando-se nas pontas dos pés, ela colocou um beijo suave em sua bochecha, como se o acalmando com um bálsamo sedativo. O aperto ao redor de sua cintura instintivamente aumentou. Ela sentiu um calafrio de consciência enquanto seus corpos se moldavam juntos.
— Fiquei cansada de esperar — ela disse, um pouco agitada pelo contato. — Tanto eu quanto o bebê estamos inquietos.
A parte do quase pai amoroso aparentemente não era uma que ele estava familiarizado. Levou um momento para fingir preocupação. Ele pôs a mão em sua barriga arredondada — ou neste caso, a almofada de roupas que estufou debaixo da túnica que Mary mandou que ela vestisse. O vestido de baixo ainda era fino demais para seja o que for que ele fingia ser, mas a lã marrom era melhor que o manto bordado de ouro que ia sobre ele.
— Está tudo bem com o bebê? — Ele perguntou.
Ciente de seu público interessado, ela refletiu a preocupação dele em seus próprios olhos e suspirou com um cansaço que não precisou fingir.
— Espero que sim. Não percebi o quanto seria cansativo. Estou tão exausta. Vou ficar contente quando nossa jornada terminar.
— O que está acontecendo aqui? — Uma voz autoritária trovejou. Um dos soldados — o líder, ela suspeitava — avançou, colocando-se entre Ewen e o velho, que permanecia na entrada de seu sítio de pedra retangular com seu telhado de relvas misturadas.
— Estou procurando um cavalo para minha, uh, esposa — Ewen explicou. — Ela está cansada e não pode caminhar muito mais longe.
— Você não me disse que era para uma moça — o velho homem disse com um franzido surpreso no rosto.
De sua posição dobrada contra o corpo dele, era fácil para Janet olhar para cima e dar a Ewen uma sacudida reprovadora de sua cabeça. Então ela deu uma olhada para o velho com outro suspiro cansado.
— Às vezes acho que ele esquece que tem uma esposa. Não queria que eu viesse, mas insisti e agora temo que causei todos os tipos de problemas.
O velho homem corajosamente saltou em sua defesa.
— Que tipo de problemas uma moça pequenina e fina como você podia causar?
— Você ficaria surpreso — Ewen disse baixinho, mas alto suficiente para eles ouvirem.
Janet deu uma cotovelada de lado e disparou uma cara feia para ele.
— Eu disse a você que sentia muito — ela virou para o velho pedindo ajuda. — Ele me culpa.
— Pelo que? — O soldado se meteu.
— Por perder nosso cavalo em primeiro lugar — ela retorceu as mãos ansiosamente. — Foi tudo minha culpa. Não amarrei as rédeas direito e ele vagou para longe na tempestade. Agora devemos usar o dinheiro que planejávamos dar à abadia para comprar outro. — Quando os homens olharam para ela em confusão, ela adicionou. — Ele não disse a você que estamos a caminho de Whithorn rezar pelo nascimento da criança?
O velho balançou a cabeça. Por alguma razão as lágrimas não foram difíceis de produzir. O pensamento de levar um filho de Ewen a encheu com todos os tipos de emoções estranhas. Emoções profundas. Ternas.
— Nós perdemos tantos — ela disse suavemente. — Eu só quero dar um filho a ele.
Ewen parecia ter sido pego na emoção também. Ele a colocou debaixo do seu braço novamente e a acalmou com tapinhas gentis na sua cabeça.
— Não se aflija, meu bem, tudo vai ficar bem.
Janet descansou a bochecha na parede sólida do seu peito e tomou um fôlego estremecido. Céus, era tão bom. Com a força dos seus braços ao redor dela, era fácil acreditar nele.
— Este cavalo não está à venda — Ewen adicionou, — mas vamos achar outro. Venha, amor.
Ele começou a levá-la para longe, mas uma voz os deteve. Uma voz inglesa irritada e anasalada.
— Espere. Alguém vai me explicar o que está acontecendo aqui, agora.
Janet murmurou baixinho uma das palavras de maldição favoritas de Ewen e levantou o olhar para o grande inglês assomando acima deles na sela. Surpreendentemente, não foi a armadura pesada e numerosas armas reluzindo na luz do sol que a preocupou, mas a acuidade do seu olhar. Embaixo do elmo de aço, ela podia dizer que o capitão de olhos azuis, cabelos escuros e barba bem aparada não era nenhum tolo. E estava muito claro que ele não os deixariam só ir embora.
CAPÍTULO 18
O modo que o soldado estava olhando para Ewen enviou arrepios de cima a baixo pela espinha de Janet. E Ewen — affe — não estava fazendo qualquer esforço para declinar a suspeita. Estava agindo a cada centímetro como o guerreiro feroz e formidável, usando seu corpo musculoso afiado pela guerra para protegê-la.
Templos de Jerusalém! Ele podia muito bem ter gritado sua ocupação. Parecia com um homem que nasceu com uma espada na mão e lutava até a morte para proteger o que era seu. Neste caso, ela. Seria bastante doce, se não conseguisse que eles fossem mortos.
— Minha esposa e eu estamos fazendo nosso caminho para a Abadia de Whithorn rezar pelo bebê — ele disse de forma curta, a autoridade de um comandante das Highlands fluindo em sua voz. Nossa Senhora, ele não podia pelo menos tentar fingir deferência? — Nós perdemos nosso cavalo e eu estava tentando comprar este aqui do fazendeiro. — Ele fez um gesto para o cavalo no pátio. — Não estava ciente que não pertencia a ele. Se você estivesse interessado em vender...
— Não estou — o capitão interrompeu. — Isto é verdade? — Ele perguntou ao fazendeiro.
O velho acenou.
— Aye, ele me ofereceu dez libras pelo animal.
Por trás do ombro largo de Ewen — que era impressionante, ela tinha que admitir — Janet não gostou do modo que os olhos do soldado estreitaram. Ele olhou como Ewen se vestia de forma simples.
— Que tipo de camponês anda por aí com tanto dinheiro?
Janet praticamente podia ouvir Ewen rangendo os dentes. Ele verdadeiramente era horrível nisso. Ser aprazível, amável, modesto e político não parecia estar em sua natureza. Era uma boa coisa que ele fosse um guerreiro tão bom, ele não duraria dois dias como mensageiro.
— O tipo que está indo para uma abadia rezar por um filho por nascer — ele estalou.
Janet gemeu ante o sarcasmo inconfundível em sua voz. Por que ele simplesmente não puxava sua espada? O efeito era o mesmo.
Isto levou tempo suficiente. Estava claro que ela precisava fazer alguma coisa, e rápido. Atrair a atenção do soldado para longe do Ewen, para começar. Esperava que isto funcionasse. Ela esteve fingindo ser uma freira por tanto tempo que estava um pouco sem prática. Felizmente, com nada melhor para fazer enquanto esteve esperando mais cedo, ela tomou algumas dores com sua aparência. Jogando seu cabelo recentemente penteado por cima do ombro, ela arrastou o decote do vestido para baixo um pouco e saiu atrás do seu “marido”. Ela sorriu docemente para o soldado irado (o tom de Ewen obviamente não passou batido).
— Meu marido não é um camponês, meu senhor — ela disse caminhando em direção a ele. Pensou que Ewen rosnou algo, mas ignorou seu aviso. — Ele é um mestre construtor. Pelos últimos dois anos, ele esteve trabalhando nas melhorias para o castelo em Roxburgh. — Isso devia explicar o físico fortemente musculoso, como também os calos em suas mãos, para onde o capitão olhava.
Ela era bastante aficionada por aqueles calos...
Sua pele formigou e teve que forçar sua mente a se afastar do porquê.
Antes que os ingleses pudessem fazer mais perguntas, soltou um suspiro cansado, não perdendo o modo que seu olhar caiu no corpete apertado do seu vestido. Ela levantou o olhar lacrimejante, dando a ele seu melhor olhar de donzela impotente em perigo. Isso levava um pouco de esforço.
— Meu marido... ele está preocupado comigo e o bebê — ela disse como desculpa pelos modos de Ewen. — Tem sido uma jornada difícil. — Sua voz ficou mais alta e mais rápida com sua angústia crescente. — A tempestade veio e então perdi o cavalo, e você vê, ele ficou tão bravo, com todo o direito, estou certa que você concordará.
O soldado disparou a Ewen um olhar como se ele não concordasse mesmo. Janet lamentou ter que lançá-lo no papel de tirano, mas era necessário para trazer para fora a natureza cavalheiresca do soldado.
— Tive que continuar parando a cada milha e então disse que não podia continuar — não até que encontrássemos outro cavalo. Estou certa que é horrível de minha parte, mas só de pensar em dar mais um passo por aquelas montanhas... estou muito pesada para carregar, você vê. Então ele me chamou de redonda! — Os homens ofegaram em compreensão. Uma única lágrima deslizou por sua bochecha a baixo. — Eu simplesmente não podia fazer isto. — Ela piscou levantando o olhar para ele, feliz de ver que parecia ter esquecido tudo sobre Ewen. — Eu só estou tão... — ela cambaleou dramaticamente, como se pudesse desmaiar — cansada.
Mal a palavra saiu da sua boca, o soldado saltou para pegar seu braço e estabilizá-la.
— Não se aflija, querida senhora. — Ele disparou uma cara feia para o velho fazendeiro. — Por que você só está aí parado? Rápido, pegue algo para a senhora beber. — Ele a levou até um tamborete ao lado da porta. — Descanse aqui, você não devia ficar tanto tempo de pé na sua condição. — Janet sorriu enquanto olhava para cima dentro do olhar preocupado do soldado, sabendo que ela o tinha.
Ewen não sabia se a estrangulava ou batia palma. Quando eles saíram da aldeia montados algumas horas mais tarde, não só tinham um cavalo, mas barrigas cheias também.
Assisti-la tinha sido algo revelador. Nenhum ator em cima do palco podia ter se apresentado melhor. Ela girou sua história com tal facilidade e confiança, que até mesmo ele começou a acreditar nela. Ele de fato se achou dizendo ao velho homem e sua esposa que a criança seria chamada de James se fosse menino, por causa do homem que ensinou tudo que sabia. James Stewart realmente ensinou tudo a ele. Claro, o fazendeiro não percebeu que Ewen não estava falando sobre construção, mas sobre ser um guerreiro e comandante.
Aye, ela foi bem, mas nunca podia esquecer o momento que seu coração parou ao vê-la ali. Foi um choque. Não só por que o desobedeceu e se pôs em perigo, mas também pela sua aparência. Ela não parecia nada com uma freira ou um rapaz. Vestida como uma dama pela primeira vez desde que a conheceu, ele ficou cravado no lugar pela sensualidade feminina de seu longo cabelo dourado caindo por cima de seus ombros em cachos soltos, e a doçura das curvas reveladas por seu vestido justo. Seus seios eram espetaculares. O vestido parecia ter sido feito para fazer um homem pensar que eles estavam sendo apresentados só para ele, como algum tipo de oferenda generosa aos deuses. Jesus, ele queria lançar seu plaid em volta dos ombros dela e enterrar sua cabeça neles ao mesmo tempo!
Claro, um grande desvio tinha sido uma enorme surpresa. Grávida. Sentiu como se um pedregulho tivesse batido no seu peito. Isso apertou. Apertou. Queimou com uma emoção que nunca sentiu antes. Uma espécie de feroz possessividade caiu sobre ele que diminuiu tudo que veio antes.
Ele não era tão qualificado quanto Raider ou Saint no combate mão a mão, mas enfrentaria cada um daqueles soldados de mãos nuas para protegê-la. Inferno, podia ter encarado todos eles de mãos nuas, como seu pai fez com os lobos para protegê-la.
Esteve quase louco de raiva — e provavelmente ciúme, maldição — quando ela tinha propositadamente começado a se ocupar do capitão inglês com seu charme feminino que ele ainda não acabou de admirar.
Só a realização que estava funcionando segurou sua mão. Mas levou cada pingo de auto restrição que tinha (e alguma que ele não possuía) para não ir para cima e socar seu punho no olhar apreciativo do canalha. O fato de o capitão perceber exatamente o quão Ewen estava bravo só parecia encaixar a parte que ela lançou nele como o marido severo, superprotetor e de temperamento curto. Quem no inferno podia entendê-lo mal por isto?
Então ele fumegou em silêncio, se não invisivelmente, enquanto Janet dispersava as suspeitas do soldado, alistando a ajuda do fazendeiro para achar um aldeão que pudesse ter um cavalo à venda, encantando a esposa rígida do fazendeiro em cozinhar para eles uma refeição quente, e de alguma maneira conseguir que saíssem de lá sem puxar uma lâmina. Ele não era tolo suficiente para desejar diferente, mas nesse instante, com o modo como seu corpo estava abundando com energia sem descanso, teria dado boas-vindas a uma luta.
Uma vez que estava certo que não estavam sendo seguidos, ele deu a volta para pegar sua armadura e armas de onde as deixou ao lado do regato. O desvio foi lamentável, mas mesmo com o peso de dois no cavalo, eles deviam ser capazes de alcançar Sundrum do lado de fora de Ayr ao anoitecer. Existia uma casa segura lá para eles passarem a noite, onde esperava que os outros os alcançariam.
Apesar dele estar segurando-a com firmeza pela cintura na frente dele, e seu corpo estar dolorosamente ciente dela, não disse uma palavra desde que deixaram a aldeia. Com todas as estranhas emoções torcendo dentro dele, não tinha certeza que confiava em si mesmo.
Eles estiveram cavalgando por mais ou menos uma hora quando ela finalmente quebrou o silêncio.
— Vá em frente. Sei que está com raiva. Só supere isto. Mas antes de começar a gritar, só quero que fique registrado que só deixei o regato porque vi as bandeiras e estava tentando te avisar. — Ele abriu a boca para responder, mas ela o cortou. — Também quero que fique registrado que você não estava exatamente fazendo amigos na aldeia. — Desta vez sua boca nem sequer abriu antes dela cortá-lo novamente. — Você só tinha um punhal. Sei que é um guerreiro excepcionalmente qualificado, mas teria que ter sido um fantasma de verdade para conseguir sair lutando disso.
Ele arqueou uma sobrancelha. Então pensava que era um guerreiro excepcional, não é? Ele gostou bastante de ouvi-la dizer isto.
— Posso falar agora ou você tem qualquer outra coisa para dizer?
Ela ergueu o queixo, encontrando seu olhar.
— Acabei. Por enquanto.
Ela parecia com uma penitente esperando o chicote. Ele sentia muito desapontá-la.
— Você agiu bem, moça. Obrigado.
Ele aparentemente fez o impossível: deixou-a sem fala. Ela podia pegar moscas com sua boca aberta assim.
— “Obrigado”?
Ele deu de ombros.
— O bebê foi um golpe brilhante.
— Brilhante? — Ela repetiu estupidamente.
— Vejo por que você é uma mensageira tão boa. Não posso decidir se está perdendo seu talento como oficial da lei ou como artista de palco.
— Quer dizer que você não está bravo?
Ele deu a ela um olhar de esguelha enquanto cavalgavam por uma estreita clareira de arbustos.
— Eu não disse isto. Você levou cinco anos da minha vida quando te vi descendo por aquela colina, e outros cinco quando começou a flertar com o capitão.
— Eu não estava flertando, o estava distraindo.
Ele deu a seu protesto toda a atenção que valia — em outras palavras, nenhuma.
— É um jogo perigoso brincar com um homem assim, mas tenho que admitir, você se nivelou muito bem. Ele tinha uma raia pesada de cavalheirismo inglês nele. Não que eu não estivesse pronto a cortar sua cabeça fora por olhar para você assim. Ela piscou para ele na luz do sol, parecendo tão bonita que seria capaz de cortar um membro para poder beijá-la novamente.
Ele pigarreou e se forçou a desviar o olhar.
Ela ficou tão quieta por um momento que quase podia ouvi-la pensando.
— Você realmente pensa que sou boa no que faço?
A felicidade na voz dela fez seu peito apertar. E o modo que estava olhando-o... era como se ele tivesse acabado de arrancar o sol do céu e entregasse para ela. Podia se acostumar a esse olhar.
— Depois do que acabou de acontecer, dificilmente posso negar isto.
Ela sacudiu a cabeça, estupefata.
— Não posso acreditar que você não vai berrar comigo.
— Aye, bem, não faça disto um hábito. Nem todos os homens são tão honrados quanto Sir Ranulf. — Este, conforme ele botava para fora, era o nome do capitão. Um pouco de sua raiva retornou. — Alguns podem ver um bater de cílios e uma exibição saudável de decote como um convite.
Ela deu a ele um olhar astuto por cima do ombro.
— Você estava com ciúme.
— Ciúme? — Ele explodiu, ultrajado. — Eu não estava com ciúme.
— É bastante compreensível, Sir Ranulf é um homem bastante bonito.
Se ele fosse capaz de enxergar direto, poderia ter notado a faísca maliciosa dentro do olho dela. Mas estava muito furioso.
— Bonito? Aquele papagaio? Eu me pergunto quanto tempo ele passou olhando dentro do espelho para aparar aquela barba dele. Não existia um maldito cabelo fora de lugar!
Apenas quando ela desatou a rir que a névoa limpou dos olhos dele. Seus olhos estreitaram, percebendo que o provocava num modo muito mais esclarecedor que sábio. A atrevida tremulou seus olhos e se debruçou adiante, dando a ele visão privilegiada daquele decote espetacular.
— E você, Ewen? Você é o tipo de homem que visualiza isto como um convite?
Por um momento tolo ele se permitiu olhar. Deixou seus olhos mergulharem nas profundezas perversas entre seus seios. Ele se fartou na abundância, no arredondamento, na maciez sedosa da pele branca cremosa. Ele podia quase saboreá-la...
Ele inalou fundo na força do calor que o agarrou. Na borda afiada da luxúria que rugiu pelo seu sangue. Como se adivinhando sua dor, ela deslizou seu traseiro para trás na sela contra ele. Aconchegando. Levou tudo que tinha para não agarrar seus quadris e esfregá-la mais forte contra ele. Só o desafio tácito em seus olhos aquietou suas mãos.
— Este não é um convite que estou livre para aceitar, maldição. E você sabe muito bem por que. Como acha que o rei reagiria, ou Stewart reagiria, ao descobrir que tomei sua inocência?
Ela franziu o cenho.
— Stewart? Você quer dizer o jovem Walter Stewart? Por que ele devia se importar?
Ah, inferno! Ewen fechou sua boca num estalo, percebendo seu erro.
— Ele é meu suserano. O pai dele garantiu minha lealdade e não pagarei envergonhando o filho.
Ela pareceu aplacada, sua explicação aparentemente satisfatória.
— Então é a reação de Robert que te preocupa? Acha que ele te puniria por estar comigo?
Achar? Ewen deu a ela um duro olhar fixo.
— Eu sei que ele iria. E teria todo o direito. Você é sua cunhada, pelo amor de Cristo! Sou o chefe de um clã desfavorecido com um dedo de terra restante do que uma vez foi uma grande propriedade. Meu clã está se segurando por um fio, Janet. Qualquer esperança que eu tenha de recuperar essas terras descansa com o rei.
Janet podia ver as emoções conflitantes guerreando em seu rosto e quase se sentiu mal por pressioná-lo. Quase. Entendia a fonte do seu dilema, só não via isto como um problema insuperável. Não depois do que ele disse.
Ela ainda não podia acreditar: não só a agradeceu, mas também tinha admitido que era boa no que fazia. Ele viu o que podia fazer e reconheceu como podia ser útil. Brilhante. A admiração em sua voz quase a fez soluçar.
Depois de dias se perguntando se tudo que ela estava fazendo era bater sua cabeça contra uma parede de pedra, finalmente teve sucesso. Não era como seu pai ou Duncan — ou a maior parte dos outros homens que ela conhecia. Ele era diferente. Ela estava certa: sua aparente falta de consideração com as mulheres era consequência da ignorância e inexperiência em vez de verdadeira crença. Não a via como um acessório impotente ou como serva, mas como alguém capaz, valorizada e merecedora de respeito — como a esposa de Magnus, Helen, a curandeira que ele mencionou. Era o que ela sempre quis de um homem, mas nunca sonhou encontrar. Estava mais segura do que nunca que isso era certo. Como ele podia segurá-la nos braços desse jeito, com seus corpos apertados intimamente juntos, e negar isto? Queria que ele a tocasse. Fizesse amor com ela. Queria sentir seu corpo conectado ao dela e saber como era experimentar a paixão. O problema era convencê-lo.
Era desanimador pensar que ela se segurou tão firmemente a algo por vinte e sete anos, e então quando finalmente estava pronta para soltar, estava tendo que persuadir um homem para aceitar.
— Isso é entre eu e você, Ewen. Não vejo nenhuma razão para Robert estar até mesmo envolvido. Se você me quer e eu o quero, por que qualquer outra coisa devia importar?
Ele deu uma risada severa, destituída até mesmo da ilusão de diversão.
— Você não pode ser tão ingênua. Sabe que não é assim que é feito. Compartilhar uma cama não é tão simples.
Ela ergueu o queixo, não gostando do seu tom.
— Devia ser.
— Talvez, mas até esse dia, uma mulher da nobreza não é livre para dar sua inocência quando quiser.
Janet sabia que falava a verdade, mas isso não significava que ela tinha que concordar com ele — ou cumprir.
— Não há nenhuma razão para que Robert precise saber.
Ele endureceu.
— Eu saberia. Não desonraria você assim.
Janet deu uma olhada para ele sentado atrás dela, vendo a expressão de aço estabelecida no seu rosto. Aquela nobreza infernal dele estava se provando problemática novamente.
— Porque não nos casamos?
O olhar que ele deu a ela foi feroz, ardente em sua intensidade. A mandíbula dele apertou ainda mais.
— Porque não podemos estar casados.
Sua veemência a fez recuar. Ficou em silêncio por um momento, absorvendo as implicações. Ele deve ter tomado seus protestos contra o casamento a sério. Ou era alguma outra coisa? Não podemos... Talvez ele estivesse aludindo às suas diferenças sociais?
Mas de alguma forma pareceu como se ele tivesse acabado de desistir. E apesar de sua recente epifania, não tinha certeza que queria levantar este assunto. Compartilhar uma cama, como ele colocou, era uma coisa, mas confiar em um homem para pôr seu destino em suas mãos era outro. Ela queria casar com ele?
CAPÍTULO 19
Depois de dias sendo caçados, a cavalgada de Cuingealach, a pequena aldeia nas colinas, para Ayrshire provou desconcertantemente calma. Eles cruzaram as colinas entre Douglas e Sanquhar, e seguiram em direção oeste através das Airds Moss. Pelo fim da tarde, eles chegaram a seu destino.
Apesar da presença inglesa ainda ser pesadamente sentida, este era o país de William Wallace, e muitos dos seguidores do patriota martirizado vieram atrás de Bruce. Vários parentes de Wallace viviam em Sundrum, inclusive um primo que a Guarda das Highlands usava em ocasiões como esta.
Ewen devia estar aliviado. Sua missão estava quase completa — ou estaria de manhã, quando eles encontrassem Hawk e Chef em Ayr no birlinn. Ele devolveria Janet para sua família e voltaria aos seus deveres com a Guarda, rastreando o próximo inimigo ou aliado perdido. Bruce estaria agradecido e Ewen a um passo mais perto de restabelecer o nome dos Lamont — e, ele esperava, as terras também. Era isto exatamente o que ele queria. Exatamente pelo que esteve lutando.
Então por que ele estava tentando arrastar cada minuto no seu cavalo? Por que sentia como se no momento em que a deixasse ir tudo isso estaria acabado?
Mas não havia “isso”. Nunca existiu. Não podia ser sua. Tinha deixado bem claro. Disse que não podia se casar com ela, e pelo silêncio dela desde então, parecia que finalmente tinha entendido.
Era o que ele queria.
Então por que estava desapontado que ela não protestou? Por que uma minúscula parte dele tinha esperado que a ideia de um casamento com ele não fosse tão inconcebível?
Parou em um pequeno regato no enorme bosque para dar água ao cavalo pela última vez antes de alcançar Sundrum. Sua perna tinha melhorado muito desde que conseguiram a montaria, mas ficou enrijecida sem movimento e parecia bom se mover. Ele não estava atrasado.
Janet retornou de atender suas necessidades e sentou numa pedra ao lado do riacho mordiscando um pedaço de carne seca, enquanto ele segurava o cavalo para beber água.
— Conte-me sobre Helen.
Ele levantou o olhar com surpresa. Não era exatamente a conversa que estava esperando depois de sua última. Ele endureceu ligeiramente, perguntando-se se ela notou alguma coisa a respeito de sua perna. Teve cuidado para não favorecer a outra, mas a moça era observadora demais.
— O que quer saber?
Ela deu de ombros.
— Ela é boa no que faz?
— É uma das melhores.
— Você disse que ela podia ser médica? Como isso pode ser? Ela é mulher.
— É raro, mas não impossível. O cunhado do seu irmão, o Conde de Sutherland, é casado com uma mulher que treinou em Edimburgo por um tempo em uma das academias estudantis até que se casou. Helen poderia ter ido também.
— Mas então ela casou com Magnus?
Ewen não estava certo onde ela estava querendo ir com isto.
— Aye, mas Helen nunca quis ir. Ela é feliz em fazer o que está fazendo.
— E é exatamente o que?
Ewen terminou de dar água para o cavalo e então o levou do riacho, amarrando a rédea ao redor de uma árvore. Ele cruzou os braços e olhou para ela, sabendo que estava andando em terreno perigoso. Ela estava sem dúvida jogando verde para colher alguma coisa sobre a Guarda ou confirmar o lugar dele nisto.
— Ela atende os doentes, o que mais faria?
— Vai para as batalhas com vocês?
— Não.
— Mas fica perto?
— Por que está tão interessada nisso?
Ela deu de ombros.
— Só estou. Você tem que admitir que não é comum para uma dama bem-nascida assumir tal papel.
— Helen é incomum.
— O marido dela também. Ele é um homem raro para permitir que sua esposa se coloque em tal perigo.
Ele riu.
— MacKay odeia cada maldito minuto disto.
Ela pareceu genuinamente perplexa.
— Então por que aceita isto?
— Porque sabe que ela é necessária. E...
Ele parou.
— E?
Ele deu de ombros desconfortavelmente.
— E porque ele a ama.
— Oh — obviamente não era a resposta que ela esperava.
A boca de Ewen se torceu em um sorriso.
— Certamente você ouviu falar disto?
Seus olhos se encontraram e um afiado frisson de consciência passou entre eles.
Ela corou, abaixando seu olhar.
— Aye, só não dentro do casamento.
O tom seco não escondeu a tristeza.
— Seus pais não tiveram um casamento feliz?
Ela fez um som afiado.
— Meu pai dava a minha mãe tanta consideração quanto teria dado a um servo. A maior parte do tempo esquecia que ela estava lá. Quando ela encontrava coragem para falar, ele a cortava tão cruelmente que eventualmente começou a acreditar que era tão estúpida quanto ele a fazia se sentir.
Ele se encolheu, tendo visto mais que sua parte de casamentos semelhantes.
— Nem todos os casamentos são assim, moça.
A boca de Janet se torceu com cinismo.
— Aye, alguns, como da minha irmã Mary, estão cheios de miséria, coração partido e infidelidade, e outros, como do meu irmão Duncan, são constantes campos de batalha de discussão e discórdia. Ele e Christina brigavam por horas. Ele estava constantemente a arrastando para seus aposentos para fazer Deus sabe o que com a pobre mulher.
Percebendo que ela estava falando sério, Ewen desatou a rir. Ela se eriçou.
— Não vejo o que é engraçado.
Vendo a mágoa em seu rosto, ele ficou sério.
— Eu sinto muito, moça. Não posso falar pelo primeiro casamento de sua irmã Mary. Conheci o Conde de Atholl, e embora ele fosse um inferno de um guerreiro, não prestei muita atenção em suas relações com mulheres que não eram sua esposa. Porém conheço Sutherland há algum tempo, e pelo que sei ele tem sido fiel à sua irmã desde que pôs seus olhos pela primeira vez nela. — Ele omitiu o quanto todos eles se divertiram por isto, já que Mary o rejeitou como pretendente. — Foi seu comentário sobre Duncan que me fez rir. A paixão dele por sua esposa era bem conhecida, tanto dentro quanto fora dos seus aposentos. Suspeito que eles faziam as pazes tão apaixonadamente quanto discutiam.
Os olhos de Janet se arregalaram e suas bochechas avermelharam conforme entendia o que ele queria dizer. Suas sobrancelhas se franziram.
— Como sabe tanto sobre meu irmão?
Maldição. Este não era exatamente um assunto que queria estar discutindo com ela.
— Lutei com ele durante algum tempo.
Ela pareceu atordoada.
— Lutou? Por que não me disse antes? — Ela pareceu perceber algo antes mesmo que as palavras deixassem sua boca. — Você estava com ele no Lago Ryan, não estava?
Ele assentiu.
Ela expirou lentamente. O modo que engatou dolorosamente fez seu peito apertar. Ele quis se estender para ela, mas forçou suas mãos para o lado. Ela ficou quieta por um momento, como se estabilizando suas emoções.
— Como ele morreu?
Ewen viu a lâmina faiscando na luz do sol antes de descer no pescoço de Duncan e forçou a imagem horrorosa para longe. Ela não precisava saber dos detalhes.
— Bravamente, moça. Como o feroz guerreiro das Highlands que ele era. Estava orgulhoso de lutar ao lado dele.
Ela sabia que ele não estava dizendo tudo, mas pelo menos uma vez ela não forçou a barra.
— Deve ter sido horrível — ela disse. — Todos aqueles homens que morreram. — Ela estremeceu. — Você teve sorte de sair disso vivo.
— Aye.
Foi um banho de sangue. Os MacDowells foram informados de sua chegada e esperaram por eles. Ewen esteve em um dos dois birlinns que conseguiram escapar. Quem os traiu tinha custado as vidas de quase setecentos homens. Um dia essa pessoa pagaria.
Janet viu as emoções sombrias cruzarem seu rosto e lamentou invocar as memórias dolorosas. Mas de alguma maneira a fez se sentir melhor saber que Ewen estava com Duncan quando ele morreu. Embora a perda do seu irmão sempre seria um buraco doloroso em seu coração, Ewen suavizou a dor um pouco.
Era verdade o que ele disse sobre Duncan e Christina? Ela esteve tão enganada a respeito dos sentimentos entre eles? O que aconteceu por trás daquelas portas fechadas? Aparentemente mais do que tinha percebido.
Subitamente, todas aquelas longas horas em seus aposentos tiveram um significado muito diferente — um sensual em vez de sinistro. Seu irmão sempre parecia tão apaziguado posteriormente. Ela achava que era remorso, mas e se fosse alguma outra coisa? Era desconcertante perceber o quão pouco ela sabia sobre algo que esteve acontecendo bem na sua cara antes.
Ela arqueou uma sobrancelha, observando como Ewen perdia tempo com um saco amarrado ao cavalo, eventualmente removendo um odre. Como ele sabia tanto?
Depois de tomar um longo gole, ele se abaixou sentando ao lado dela. Isso era bom, sentar aqui com ele sem uma nuvem de perigo em cima deles. Aparentemente, sem pressa de continuar a jornada, ela decidiu perguntar a ele.
— Seus pais se amavam?
Ele enrijeceu quase imperceptivelmente. Ela sentiu imediatamente que o assunto não era bem-vindo. Mas ele respondeu sua pergunta.
— Aye, porém não deviam.
— O que você quer dizer?
— Quando meu pai sequestrou minha mãe com a aprovação dela, levando-a para longe do Chefe dos Lamont, isso quase destruiu meu pai e nosso clã. Se não fosse por James Stewart isso teria acontecido.
— Ainda existe algo inegavelmente romântico a respeito disso. Seu pai deve tê-la amado de verdade para estar disposto a arriscar tanto.
O rosto do Ewen endureceu.
— Meu pai era um rufião irresponsável que fazia o que bem quisesse sem o menor bom senso e sem medir as consequências. Ele brigava muito, bebia muito e, aparentemente, amava muito. Dever e lealdade não significavam merda nenhuma para ele. Roubou a noiva do seu chefe, pelo amor de Deus, sabendo muito bem que haveria guerra.
Ouvi-lo falar do seu pai explicava muito. Parecia que Ewen fez tudo que podia para se distanciar do tipo de homem que seu pai fora. Sua disciplina, seu senso de honra e responsabilidade eram o oposto de seu pai. Onde seu pai tinha sido selvagem e irresponsável, Ewen era o soldado modelo, fazendo exatamente o que era esperado dele.
— E sua mãe?
Os dedos apertaram o odre que ainda segurava em sua mão.
— Sua irresponsabilidade a matou.
Ela ofegou.
— O que aconteceu?
— Ele não podia manter suas malditas mãos fora dela. Ela mal tinha acabado de dar à luz a mim antes dele deixá-la grávida novamente. Morreu no leito de parto dez meses depois do um nascimento. A criança, uma menininha, nasceu morta.
O modo que ele disse — a menininha — fez algo em seu coração doer.
— Oh Ewen, sinto muito. Isto é horrível. Crescer sem uma mãe... isso não deve ter sido fácil.
Ele deu de ombros.
— Nunca conheci nada diferente. Felizmente, os Stewarts me levaram em sua guarda ou eu poderia ter acabado tão selvagem e sem reputação quanto meu pai. Quando ele não estava brigando ou bebendo, estava tentando se matar com algum desafio tolo. Foi assim realmente que morreu. O chefe Lamont finalmente teve sua vingança, desafiando meu pai para escalar um penhasco próximo ao Castelo Dundonald na chuva.
— Deve ter ficado devastado depois da morte da sua mãe.
— Estava construindo um castelo para ela quando morreu. Por anos, tudo que ele falava era sobre terminar aquele castelo. Mas claro, ele nunca terminou. Quando menino, isso veio de forma que eu odiava a mera maldita visão daquelas paredes meio construídas.
Seu coração apertou. Deve ter sido uma lembrança dolorosa dos fracassos do seu pai. Ele balançou a cabeça.
— Mas sabe o que é pior? De alguma maneira deu um jeito para conseguir que eu fizesse isto para ele. Então agora, além de tentar recuperar umas terras Lamont, também preciso ganhar dinheiro suficiente para terminar essa maldita coisa.
Emoção se alojou em seu peito, e pela primeira vez admitiu para si mesma o que era: ela o amava. Ela o amava com cada fibra do seu ser. Como era estranho depois de todos esses anos finalmente perder seu coração.
Ele estava olhando fixamente à distância perdido em suas memórias, as linhas fortes de seu belo rosto captando os ardentes matizes laranja da luz do sol desvanecendo. Não, perder era errado. Ela achou. Seu coração sempre pertenceu a ele.
— Você é um bom homem, Ewen Lamont — ela disse suavemente.
Ele virou para olhar para ela e algo estranho faiscou em seus olhos. Parecia quase culpa. Mas aí ele sorriu melancolicamente.
— Sou um tolo sentimental e acho que você passou noites demais neste chão duro — ele ficou de pé e estendeu sua mão. — Venha. Tem um banho quente, uma refeição quente e uma cama confortável esperando por você.
Ela suspirou sonhadoramente, deslizando sua mão na dele e permitindo que a ajudasse a se levantar.
— Isso soa divino. Mas Ewen... — olhos azuis firmes encontraram os seus. — Nada disso vai fazer com que eu mude de ideia.
Ele segurou seu olhar por um longo tempo. E então disse algo que ela não entendeu, mas isso mantinha a vaga sensação de uma advertência.
— Espero que você sinta o mesmo em alguns dias.
A visão dos muros caiados da casa de fazenda de telhado de palha aconchegada numa pequena colina nos bancos do Lago Lochend devia ter sido causa para celebração. Esta era primeira parada no fim de sua jornada. Eles estariam seguros aqui.
Mas para Ewen representava um retorno amargo à realidade. Livre da visão estreitada de perigo, onde conseguir que Janet ficasse a salvo e a um passo à frente dos ingleses que os perseguiam era tudo que importava, ele podia ver claramente o que a culpa esteve tentando dizer a ele, a qual esteve crescendo desde que percebeu como era importante o lugar dela na rede do rei.
Ela o odiaria por não dizer a verdade. Por permitir que acreditasse que realmente podia estar retornando a Roxburgh em alguns dias. Por não dizer a ela sobre o noivado.
O que tinha parecido prudente e não era da conta dele no início, agora se sentia como uma traição. Era uma traição. Ele não podia fingir o contrário. Sua relação mudou. A atração pecaminosa que sentiu pela “Irmã Genna” se transformou em algo mais profundo, mais intenso, conforme conhecia — e se importava — com Janet. Em algum lugar ali dentro a coisa certa a fazer mudou, e se algum dia teve a oportunidade para corrigir o erro ele perdeu.
Terminar esta missão estava indo a um custo pessoal que ele nunca imaginou. Sabia que ela ficaria com raiva, só não tinha percebido o quanto importaria para ele. Parte dele queria dizer a verdade, mas sabia que provavelmente seria melhor deste modo.
Talvez se ela o odiasse não seria tão difícil para ele ir embora? Talvez o impedisse de pensar a respeito de coisas que não podiam ser? Talvez tornasse menos duro vê-la se casar com outra pessoa?
Seu peito ardia. Só o mero pensamento disso comia suas entranhas como ácido. Sua mão apertou as rédeas, e inconscientemente seu braço apertou mais ao redor da cintura dela.
Que diabo de escolha ele tinha? O rei não ia colocar o noivado com Stewart de lado para deixá-la se casar com um dos seus soldados — ainda por cima um Lamont — mesmo que Ewen pudesse convencê-la, o que ele não tinha certeza que podia. A única opção aberta era aquela que ele não podia considerar. Ele não era seu maldito pai. Não podia sequestrar a noiva do seu suserano. Não arriscaria tudo por uma mulher. Não importa quanto a quisesse.
E Deus, como a queria! Depois de tantas horas com ela em seus braços, cada centímetro de seu corpo queimava com necessidade. O cheiro do seu cabelo, sua cintura fina, o peso dos seus seios, a curva de sua bunda, infundia seus sentidos, imprimiu em sua consciência, invadiu sua alma. Ele não queria deixá-la ir embora. Ela virou para olhar para ele.
— Tem alguma coisa errada?
Ele se surpreendeu.
— Não, por quê?
— Você não vai descer? Assumo que este é nosso destino?
Ele amaldiçoou baixinho tentando encobrir seu embaraço. Quanto tempo eles estavam ali?
Ele retirou o braço que estava ao redor de sua cintura e pulou para o chão. Depois de ajudá-la a desmontar, amarrou as rédeas a um poste.
— Espere aqui enquanto me certifico que sejamos bem-vindos — ela acenou com a cabeça, contudo ele pensou sobre outra coisa. — É importante que você só me chame pelo meu primeiro nome.
Ela franziu o cenho.
— Por quê?
— Lamont não é um nome exatamente bem-vindo nestas partes. Existem alguns que ainda acreditam que meu clã teve uma mão no assassinato do pai de William Wallace — sem mencionar que seu primo, o chefe Lamont exilado, era um vassalo do Conde de Menteith, o homem que foi responsável por virar o próprio Wallace contra os ingleses.
Normalmente, ele simplesmente usaria seu nome de guerra, Hunter. Mas com Janet aqui isso não era uma opção. Ela já sabia demais.
Felizmente, a resposta pareceu satisfazê-la.
— Muito bem. E quem eu sou?
Ele sabia o que ela estava perguntando, mas de jeito nenhum fingiria estar casado com ela novamente. Não podia permanecer outra noite dormindo ao lado dela.
— Janet. Isto é tudo que eles precisam saber. Deixara-os desconfortáveis por saber que servem a cunhada do rei em seu humilde lar.
— Eu não deixaria ninguém desconfortável, mas passaram-se muitos anos desde que fui servida por alguém. Não espero, nem desejo isto. Asseguro a você, este humilde lar vai parecer um castelo comparado a alguns dos lugares que fiquei.
Ele não perdeu a repreensão suave. Se ela estivesse também tentando dizer que sua diferença de status não importava para ela, fingiu não entender. Podia não importar a ela, mas importaria ao rei. Disso estava mais do que certo.
Com um último olhar que pareceu suspeitosamente com um adeus, Ewen foi encontrar o fazendeiro. Uma vez que Janet percebeu a verdade dos seus sentimentos por Ewen, tudo pareceu se encaixar no lugar. Se ela teve qualquer dúvida sobre o que queria, elas foram logo postas de lado ao chegar à pequena fazenda.
Ela se sentou à mesa diante do fogo de turfa ardendo suavemente, apreciando o calor que a envolvia. Não era apenas o calor das chamas ou a satisfação de uma boa refeição, mas também a companhia. Os Wallaces eram anfitriões corteses e sua felicidade era contagiosa.
Ewen estava certo, nem todos os casamentos eram horríveis. Os Wallaces eram prova disto. Suas brincadeiras apaixonadas, sutis olhares amorosos e toques inconscientes falavam de possibilidades.
Robert Wallace era um primo distante de William Wallace. Ele lutou ao lado de seu ilustre parente até seis anos atrás quando Robert perdeu uma mão em uma briga em Earnside. Margaret era consideravelmente mais nova que seu marido, e de longe mais bonita. A moça delicada de cabelos escuros, com suas feições de fada e constituição esbelta parecia totalmente errada ao lado do guerreiro de cabelos grisalhos por volta dos quarenta anos, quem estava à altura de seu parente famoso e o tamanho imponente de um forjador. Mas de alguma maneira eles se encaixavam perfeitamente. A risada dela aberta e brilhante, e natureza ensolarada complementava a aspereza do seu marido e disposição taciturna. Estava claro que ele adorava sua jovem esposa. Sua jovem esposa grávida.
A estranha pontada que Janet sentiu no peito quando percebeu que Margaret estava esperando bebê se tornou mais identificável conforme a noite passava lentamente. Era desejo. Dolorido e agudo desejo.
Nos saltos de sua própria “gravidez”, Janet nunca sentiu a ausência de crianças em sua vida tão intensamente. Claro, houve vezes ao longo dos anos quando ela pensava sobre crianças — sobre o que estaria desistindo aceitando o véu, — mas já que uma criança exigia um marido, e considerando a importância do trabalho que estava fazendo, parecia um pequeno preço a pagar. Em teoria, talvez fosse. Mas não parecia tão pequeno agora, sentada com uma mulher grávida radiante de um lado e o homem a quem ela tinha acabado de perceber que amava do outro.
Isso se sentia como algo que ela queria. Com ele. Crianças. Noites confortáveis diante do fogo. Olhares amorosos e toques ternos. Queria o que os Wallaces tinham.
Ela sabia o que isso significava. Casamento.
Esperou alguns segundos para reagir à palavra, mas o gosto ruim habitual não subiu à sua boca. Deve ser amor, pensou com um sorriso torto. Com Ewen, um casamento feliz parecia possível.
Sabia que existiam complicações. O rei de um lado, seu trabalha por outro. Robert provavelmente era o mais fácil dos dois. Se Ewen estivesse realmente em sua guarda secreta como suspeitava, isso ajudaria. Ewen não gostaria da ideia dela continuando seu trabalho, mas entenderia o quanto era importante para ela. Ele não era como seu pai e irmão — não tentaria enfiá-la em alguma caixa. Ele a valorizava — disse muito isso. Se ele a amasse, eles achariam um modo de fazer isto funcionar — como Magnus e Helen.
Finalmente encontrou um homem que era forte suficiente para deixá-la ser ela mesma. Sua força de vontade poderia ser muito mais quieta que a dela, mas era tão forte quanto. Haveria brigas entre eles, aye, mas estaria esperando ansiosamente por elas.
Claro, não era ela quem precisava ser convencida que era uma boa ideia. Ele a queria, disso não tinha nenhuma dúvida, e ele se importava com ela — o admitiu tantas vezes. Mas queria se casar com ela? Ele disse que era impossível, mas e se não fosse?
Seu olhar deslizou para o homem em questão. Ele estava preso em uma conversa em voz baixa com Robert Wallace sobre a guerra, enquanto Janet e Margaret terminavam sua refeição — a última fingindo não escutar a discussão dos homens.
— Estamos falando alto suficiente para você, esposa? Não quero que você perca nada de nossa conversa particular — disse Robert, levantando o olhar. Sua expressão era provocadora, mas seus olhos eram suaves quando caíram em sua esposa. Margaret não perdeu um segundo.
— Isto é bastante considerado de sua parte, Robert. Tenho certeza que isso tudo está além da minha pobre compreensão de mulher, mas se você pudesse falar um pouquinho mais alto ajudaria.
Os olhos dela dançavam enquanto se inclinava e sussurrava para Janet.
— Embora eu dificilmente qualificasse a troca de algumas palavras e grunhido ocasional uma conversa. Não sei qual deles é pior.
Janet desatou a rir.
Os olhos de Robert estreitaram em sua esposa.
— O que é tão engraçado?
Margaret sorriu e deu a Janet uma piscada enquanto ficava de pé ao lado da mesa.
— Temo que seja particular.
Robert balançou a cabeça, mas Janet não perdeu o sorrisinho quando ele voltou à sua conversa com Ewen.
Margaret começou a limpar os pratos da refeição deles. Quando Janet se levantou para ajudar, ela mandou que voltasse para sua cadeira.
— Você é uma convidada — disse ela, e então em um sussurro. — Além disso, você deve me contar se eles disserem qualquer coisa interessante.
Janet sorriu de forma conspiradora.
— Vou fazer o melhor que puder. Mas “interessante” provavelmente é mais do que podemos esperar.
Margaret riu.
— Você provavelmente está certa. Que tal este: tente não dormir.
— Não me faça prometer — disse Janet. — Não posso me lembrar da última vez que me senti tão confortável. Você tem uma casa adorável, Margaret.
Ela podia ver quanto o comentário agradou a outra mulher.
— Acho que você viu a torta de maçã.
Janet riu.
— Posso ter visto.
Margaret foi para o outro lado da longa sala enquanto Janet relaxava. Olhou para os dois homens no fim da mesa sorrateiramente. Ela não devia ser tão versada em escutar quanto Margaret, porque podia entender muito pouco do que estava sendo dito. Embora estivesse acostumada a escassa conversa de Ewen, até mesmo para ele, parecia anormalmente subjugado hoje à noite. Algo estava errado.
Ele estava mais preocupado do que dizia por seus amigos não terem chegado? Ele parecia confiante que eles chegariam logo. Ou qualquer outra coisa o estava incomodando?
Ela franziu o cenho enquanto ele tornava a encher sua taça novamente. Parecia estar bebendo mais do que o habitual hoje à noite. Seu rosto parecia um pouco corado. Ela esperou para interromper a conversa dos homens.
— Está tudo bem com sua perna, Ewen?
Ele levantou o olhar para ela.
— Parece bem. Por que pergunta?
Ela enrubesceu, não querendo admitir que estivesse observando-o tomar sua cerveja.
— Você não a mencionou durante algum tempo e estava só me perguntando como estava sua recuperação.
— Está boa.
— Você foi ferido? — Margaret perguntou se aproximando da mesa.
— Um tempo atrás — ele respondeu.
— Mas não curou corretamente — Janet inseriu.
Ewen lhe atirou uma cara feia. Ela sorriu.
Margaret franziu o cenho.
— Eu tenho um pouco de unguento...
— Sério — Ewen disse. — Está tudo bem.
— Deixe o rapaz em paz, Margaret — Robert disse. — Ele tem idade suficiente para decidir por si mesmo se precisa de ajuda.
Margaret e Janet olharam uma para outra revirando os olhos. Não havia idade suficiente para os homens admitirem que eles precisavam de ajuda.
— Contudo estou bastante cansado — Ewen disse, empurrando-se para longe da mesa. — Acho que devo me retirar.
— Já? — Janet disse, não escondendo sua decepção. — Mas e a torta?
Não estava pronta para a noite terminar — ou para a jornada terminar, de fato. Sabia muito bem que Ewen podia ser chamado para outra missão assim que eles retornassem, e ela teria que partir quase imediatamente também, voltar para Roxburgh a tempo do Dia de St. Drostan.
As complicações com os ingleses que eles enfrentaram em sua jornada certamente faria com que persuadir Robert fosse mais difícil, mas pela importância das informações do seu contato, e o fato que Ewen e os outros fantasmas não estariam com ela para atrair a atenção dos ingleses, estava confiante que ele veria a necessidade.
E havia o outro assunto. O assunto deles.
Ewen olhou para Margaret.
— Esperarei ansiosamente uma fatia de manhã — seu olhar finalmente caiu nela. — Você devia descansar um pouco também. Nós sairemos cedo e teremos um longo dia à nossa frente.
Janet assentiu e o deixou ir. Por enquanto. Descansaria, mas só depois que falasse o que queria falar. Ele precisava saber como ela se sentia. Como o que tinha a dizer precisava ser dito em particular, ela esperaria seu tempo. Mas antes desta noite acabar, Ewen saberia o que estava em seu coração.
CAPÍTULO 20
Ewen se sentou pensativamente em um tamborete diante do braseiro de ferro que Margaret forneceu para seu calor no celeiro, passando a extremidade de sua lâmina acima da pedra de amolar lubrificada, com golpes longos, lentos e deliberados. Era algo que ele fazia antes da batalha, para se acalmar e manter sua mente fora do que estava adiante. Um ritual, ele supunha. Eles todos tinham. A maior parte dos soldados atendiam suas armas, mas MacSorley gostava de nadar um pouco, e Striker lia de um amarrado pequeno de couro que carregava por aí com ele como um talismã. Existiam sempre uns que oravam — e uns que bebiam longos goles de uísque.
Mas esta noite, como a cerveja e a natação no lago que vieram antes, o ritual não estava ajudando. Nada estava ajudando a manter sua mente fora de Janet e o que vinha adiante. E certo como o inferno não estava ajudando a aliviar a energia inquieta abundando dentro dele. Ele se sentia tão no limite quanto esta maldita espada.
Ewen queria que pudesse dizer que era apenas luxúria. Deus sabia, ele foi empurrado bem além do limite do que qualquer homem de sangue quente devia ser esperado suportar. Ele a queria tão intensamente que seus dentes doíam só de olhar para ela. Mas apesar de que o pau duro fosse uma parte disso — uma grande e dolorosa parte — não era tudo.
Luxúria não era o que fazia seu peito arder cada vez que seus olhos se encontraram esta noite. Ele não tinha perdido a reação dela à condição da Margaret e o desejo em seu rosto, assim como não perdeu o modo que ela olhou para ele a seguir.
Isso não era possível, maldição. Por que ela o estava atormentando com coisas que não podiam ser?
Porque ela não sabia que eles não podiam ser.
Mais um dia. Mais um dia e isso tudo estaria acabado. Ele teria a maldita certeza que ela não estaria olhando para ele assim depois de amanhã, e o que ele queria não faria diferença. Mas ele encontraria pouca alegria em saber que ela o odiaria, mesmo que fosse o melhor.
Fazer a coisa certa não devia ser tão difícil, maldição.
Ewen xingou quando sua mão deslizou e seu polegar encontrou a borda da lâmina. Uma linha de sangue esguichou da ponta do seu dedo, umas gotas caíram na pedra de amolar antes dele poder afasta-la.
Maldito inferno! Bom que ele não acreditava em presságios. Se acreditasse, este era um ruim.
A porta abriu de rompante assim que ele ficou de pé. Mesmo nas sombras ele a reconheceu.
— O que aconteceu, está tudo bem com você... — Janet parou, seus olhos arregalando à medida que via seu dedo ensanguentado. — Sua mão!
Ela deu um passo dentro do celeiro, mas ele a deteve.
— Não é nada. — Ele pegou um pedaço da bandagem que envolvia sua perna e a enrolou ao redor do seu polegar. — Eu me cortei na lâmina. Isso acontece o tempo todo. — Ele mentiu, embora fosse verdade que o corte era somente um incômodo.
Diferente de sua perna. Isso doía como se queimasse, o que era estranho já que não parecia pior. O pouco sangue que havia parecido fino — parecia aguado, realmente, — mas isso era alarmante. Depois de ir nadar no lago gelado mais cedo, envolveu o ferimento em linho limpo e se sentiu um pouco melhor. Mas tinha de admitir que estava preocupado. Não preocupado suficiente, porém, para tê-la tocando-o. Se era por isso que ela estava aqui — embora não visse nenhum unguento ou linho em suas mãos. Qualquer que fosse a razão para seu aparecimento, não era uma boa ideia.
— O que está fazendo aqui, Janet? Deve ser depois da meia-noite. Você devia estar dormindo. Volte para a casa.
Ela o ignorou.
— Nós precisamos conversar. — Fechando a porta suavemente, ela caminhou em direção a ele. Quando chegou mais perto, ela entrou na luz.
Sangue de Deus! Ele sentiu como se alguém tivesse acabado de dar um soco na sua barriga. Um soco de tentação. Ela era uma fantasia ambulante. Uma sereia enviava para levá-lo diretamente para o inferno. Ela parecia como se tivesse acabado de rolar da cama. Seu cabelo dourado caía pelos ombros em uma massa ligeiramente bagunçada — sensualmente bagunçada, — ondas que captavam o faiscar da luz das velas em um halo prateado. Seu plaid estava envolvido ao redor dos ombros dela e se juntava na frente, mas ele ainda podia ver a camisa de linho fino que ela vestia por baixo. Tudo que ela vestia por baixo. Por baixo da bainha podia ver uma sugestão de pernas e pés nus que ela apressadamente enfiou em seus sapatos sem meia.
Ela parou a alguns passos dele e Ewen tentou respirar, mas o ar em seus pulmões parecia ter se tornado sólido.
Pela primeira vez que em sua vida, o caçador experimentou como era ser pego. Como um cervo na mira do arqueiro, ele não podia se mover.
Ele viu o olhar dela ir para trás em direção ao estábulo escuro, onde seu cavalo e alguns outros animais estavam alojados, e então para o pequeno canto onde um pallet de aparência confortável tinha sido ajeitado para seu uso. Além do braseiro e do tamborete, havia uma mesinha com uma luminária a óleo. O cheiro era de terra por causa da turfa em vez de pungente, e o ar era abafado e morno.
Juntando com o modo que ela parecia, o fazia pensar sobre…
Inferno, tudo nela o fazia pensar sobre isto. Ele estava equilibrado na extremidade da espada. Apertou os punhos, uma mão formando uma bola em torno da bandagem.
— Você precisa partir, Janet, agora. Seja o que for que você tem a dizer pode esperar até amanhã. Isto não está certo. Você não deveria estar aqui comigo sozinha assim. E se os Wallaces acordarem e notarem que você se foi?
A ferocidade de seu tom não pareceu causar nenhuma impressão nela. Ela ergueu o queixo para encontrar seu olhar.
— Estivemos sozinhos por quase dois dias. Os Wallaces estão profundamente adormecidos, e ainda que acordem, suspeito que saberão exatamente onde eu fui, Margaret especialmente. — Ela deu outro passo em sua direção, e ele teve que se forçar a não dar um passo atrás. Mas sua pele ficou apertada sobre os ossos. Seu sangue disparou por suas veias, e seu coração estava martelando como um tambor. — O que tenho a dizer é importante e não pode esperar.
Ele franziu o cenho, uma pontada de preocupação penetrando através de sua raiva pela invasão e a urgência de conseguir tirá-la daqui.
— Algo está errado?
Ela sacudiu a cabeça.
— Então o que é?
Ela mordeu o lábio, como se não soubesse o que dizer. Já que ela sempre sabia o que dizer, sua preocupação aumentou.
— Eu mudei de ideia.
— Sobre o que?
— Não acho que eu quero ser uma freira.
Um pouco de sua raiva retornou.
— E isto é tão importante para que você escape sorrateiramente de sua cama no meio da noite para vir me encontrar?
Ela disparou uma cara feia para ele, apertando a boca.
— Isso significa que nas circunstâncias certas eu poderia considerar casamento.
Ele ficou imóvel. O ar parecia ter deixado seus pulmões. Realmente o ar, o sangue, os ossos, e quase tudo mais parecia tê-lo deixado também.
Ela estava tentando dizer que consideraria se casar com ele?
Pelo modo que ela abaixou seu olhar e o suave rubor rosa em suas bochechas, suspeitava que era exatamente o que ela queria dizer.
Jesus! Apesar dele estar vestindo só uma túnica e uma calça de lã fina, sentiu um brilho de suor se reunir em suas sobrancelhas. Que diabos ele devia dizer?
— Janet, você sabe que as circunstâncias certas serão decididas pelo rei. Se for seu desejo se casar, Bruce será quem irá encontrar um marido para você — um marido apropriado.
Sua boca apertou cheia de desgosto.
— Robert não é assim. Ele considerará meus desejos.
Ewen xingou baixinho. Como podia dizer a ela que “Robert” já tinha encontrado um marido sem considerar seus desejos afinal? Sem mencionar que o rei tinha avisado a Ewen para ficar longe dela.
Ele se mexeu desconfortavelmente, de repente sentindo como se estivesse caminhando por um jardim dos sacos de pólvora do Sutherland — com faíscas nas botas.
— Ele vai encontrar um marido que tenha mais que um dedo de terras e um castelo meio construído.
Em vez de desencorajá-la, suas palavras pareceram incentivá-la.
— Mas e se ele pudesse ser persuadido? Você não vê, eu podia te ajudar. Se você se casasse comigo, melhoraria sua posição com Robert. Ele com certeza devolveria algumas terras para você e...
— Pare! — Ele a pegou pelos ombros e sacudiu, não percebendo o que estava fazendo. — O que você está dizendo é impossível. Maldição, algum dia já ouviu a palavra “não”? Não vai acontecer.
Ela respirou fundo, olhando fixamente para ele com centenas de perguntas nos olhos.
— Por que não? Pensei que você… — Os olhos dela viraram para os seus, rasgando-o. — Pensei que se importasse comigo. Você não me quer?
Maldito inferno! Ewen a soltou tão de repente quanto a agarrou, não confiando em si mesmo. Ele a queria com cada fibra de seu ser. Ele a queria tão desesperadamente, levou tudo que tinha para não a puxar em seus braços agora mesmo.
— Não é tão simples, Janet.
— Por que não?
A dor em sua voz quase o quebrou. Sabia que haveria lágrimas em seus olhos se ele olhasse, então ao invés disso arrastou os dedos por seu cabelo e andou alguns passos diante do braseiro de ferro.
— Simplesmente não é.
— Mas eu amo você.
Seus pés pararam. Seu coração parou. Tudo pareceu parar. Levou alguns momentos para as palavras afundarem. Por um instante sentiu uma explosão de algo similar à felicidade pura — felicidade como nunca experimentou antes. Porém isso foi socado sob o peso amargo do dever e da lealdade. Pessoas estavam contando com ele, maldição. Ela pertencia a outro homem.
Ewen não seria como seu pai, mesmo se isso o matasse. Ele não faria isto. Disciplina.
Ele virou e se forçou a olhar para ela, cada músculo em seu corpo tão apertado quanto um arco. Sua mandíbula estava apertada, seus punhos estavam apertados, e a dor em seu peito abafou tudo que ele esteve sentindo em sua perna.
Ela olhou fixamente para ele com olhos arregalados, parecendo mais vulnerável do que ele já a viu.
— Você não vai dizer algo?
— O que você gostaria que eu dissesse? — Ele não queria que isso soasse tão duro quanto soou, mas nunca foi bom com palavras. Ele nunca foi bom com nada disso. Como a bagunça que ele fazia com tudo.
Ela se encolheu, seus dedos ficando brancos conforme ela apertava o plaid com mais força.
— Eu pensei... — Ela parou, sufocando um soluço mudo. — Pensei que você pudesse se sentir do mesmo modo. Mas posso ver que estava errada. — As primeiras lágrimas deslizaram de seus olhos, cada uma delas uma lança de dor através do seu coração. — Eu não devia ter te incomodado. Me d-desculpe.
Ele mal pode ouvir a última palavra pelo soluço minúsculo. Podia ver os ombros dela tremendo quando ela virou para partir.
Ele não podia fazer isto. Não podia deixá-la partir deste jeito.
— Janet, espere.
E foi quando ele cometeu seu erro. Ele a segurou.
Janet estava muito magoada para estar humilhada, embora tivesse certeza que isso viria mais tarde. Deus do Céu, ela praticamente pediu para ele se casar com ela! Ela deu a ele seu coração e ele não quis. Seu peito se sentia como se tivesse sido esmagado por um pedregulho — ou o chão debaixo de uma enorme bota pesada.
Ela não podia respirar — não ousava respirar — temendo que a onda quente de emoção constringindo sua garganta e peito se despejasse em uma torrente de soluços.
Algum dia já ouviu a palavra “não”?
Aye, ela ouviu. Em alto e bom som. Querido Deus, como ela pode ter estado tão enganada? Isto era só outro exemplo dela descendo montanha abaixo como uma pedra rolando? Ela tinha imaginado algo que não estava lá?
Seu lábio inferior tremeu. Seus ombros sacudiram. As lágrimas começaram a fluir. Oh Deus, ela tinha que sair dali!
Ela o ouviu chamar atrás dela e o teria ignorado se ele não pegasse seu braço.
— Solte-me! — Ela tentou encolher os ombros para escapar, não querendo que ele a visse chorar. Não querendo que ele visse o quanto a magoou. Ele não podia deixá-la com um fragmento de orgulho?
Aparentemente não. Ele não a soltou, a mão do seu grande guerreiro fechou ao redor da parte superior do braço dela como uma algema de aço. Ele a fez dar meia volta para que o enfrentasse, mas ela não levantou o olhar. Manteve o olhar fixo na gola bordada de sua túnica de linho. Mas até isso doía. Estava amarrado ao pescoço dele, e ela se achou olhando fixamente para o caminho de pele escura por baixo. A pele que ela ainda queria tocar.
O calor de seu corpo a envolveu. Cruelmente. Provocadoramente. Perseguindo-a com memórias de coisas que não podiam ser.
— Eu não quero magoar você.
Ela deu uma risada aguda que saiu mais como um soluço quebrado. Era tarde demais para isto.
— Então o que você quer, Ewen? — Ela levantou o olhar para dentro dos seus olhos, um flash de raiva temerária restabelecendo um pouco de sua coragem. — Oh, espera. Eu sei o que você quer. — Ela inclinou seu corpo no dele, suas terminações nervosas zumbindo ante o contato. Mas desejo não era amor. — Como eu posso ter confundido isso com qualquer outra coisa?
Ewen soltou um gemido áspero, torcendo o braço dela ao redor para aproximá-la muito mais apertada contra ele, embora não achasse que ele estava ciente do que fez.
— Pare com isso, Janet. Isto não é verdade.
Seu rosto era uma máscara escura e torturada. Sua boca uma linha dura, seus olhos tiras de aço, sua mandíbula apertada.
O coração dela tinha dono. Odiava-o por fazer com que ela o quisesse tanto. Por cada um dos músculos duros pressionados contra ela que faziam seu corpo esquentar, mesmo agora. Por ser tão bonito que fazia seu coração doer só de olhar para ele. Por fazê-la perder de vista seu plano e acreditar até por um momento em contos de fadas. E acima de tudo por não a amar de volta.
— O que não é verdade? — Ela provocou. — Que você não me quer? — Ela apertou seus quadris contra ele. — Eu diria que seu corpo discorda.
Seus olhos mergulharam nos dele. Estava tremendo de raiva, frustração e dor. Ela queria atacar. Queria machucá-lo tanto quanto ele a machucou.
— Mas quer saber, Ewen? Isso não é mais suficiente para mim. Não quero mais você. Então solte-me!
Pânico subiu duro e quente dentro dele. Ela estava falando sério. Ewen podia ver em seus olhos. Ela não o queria mais. Ele a empurrou para longe vezes demais. Era o que ele procurou, não era? Ele achou. Mas enquanto estavam lá tão colados, faíscas de raiva e desejo chocando entre eles em uma feroz batalha de vontades, soube que não podia deixá-la ir. Se ele a deixasse ir embora agora, seria muito tarde. Ele a perderia. Ela nunca voltaria. Estaria terminado.
Ele podia lutar com o desejo — poderia até mesmo ser capaz de ganhar, — mas não podia lutar com o medo forjado por pensamentos de um futuro sem ela. Ela jogou suas defesas abaixo até que ele simplesmente não podia mais lutar.
Pro inferno com isto. Sua boca cobriu a dela em um beijo quente e possessivo que era para não deixar nenhuma dúvida sobre suas intenções. Ele iria fazê-la pertencer a ele da única maneira que podia. Pela primeira vez, Ewen não segurou nada, dando rédea livre ao seu desejo.
Ele provou a ela a mentira com seus lábios e língua, pedindo — não, exigindo — com cada golpe hábil, até que ela estava retribuindo seu beijo com tanto calor e paixão que queimava dentro dele. Ela o queria.
O plaid que ela estava segurando — seu plaid — caiu numa poça aos seus pés conforme seus braços rodeavam o pescoço dele. O corpo minúsculo dela esticado contra o seu e ele afundou nela, respirando em seu quente e pesado calor.
Era incrível. Seu calor. Sua suavidade. O aroma inebriante de seu cabelo. Ele cavou mais fundo, ajustando o corpo seu corpo ao dele, cavando a mão através das mechas douradas para agarrar sua cabeça nas palmas dele, e afundar a língua cada vez mais fundo na doçura da caverna quente de sua boca.
Ele não podia ter o suficiente. Sua boca estava faminta pelo gosto dela, suas mãos ávidas para vagar por cada centímetro, e seu corpo doía por mais pressão.
Ela gemeu e estremeceu, seus dedos minúsculos embreando — cavando — em seus ombros, prova visceral do quanto ela o queria.
Um raio de calor atingiu duro em sua virilha, enchendo-o. Fazendo-o inchar. Pulsar. Latejar.
Ele não iria durar.
Varrendo-a para dentro de seus braços, carregou-a para cima da pallet. Interrompeu o beijo apenas tempo suficiente para descê-la e arrancar sua camisa antes de descer ao lado dela.
Os olhos dela arregalaram, viajando sobre planos de pele nua. Não, “viajando” não era bastante certo. “Banqueteando” talvez fosse mais preciso. Estava acostumado a mulheres admirando os efeitos da guerra em seu corpo, mas com ela era diferente. Com ela importava.
— Meu Deus, você é bonito — ela deixou escapar.
Ele sorriu.
— Guerreiros não são bonitos, moça. Pensei que você fosse boa com palavras.
Ela corou, embora soubesse que ele estava brincando com ela.
— Muito bem, “perfeito” então. — Seus olhos foram para o corte que ele sofreu na batalha com os ingleses na manhã anterior. — O ferimento não dói? — Ele sacudiu a cabeça. Como disse a ela, não era mais do que um arranhão. — O que é isto? — Ela perguntou, traçando a marca que o vinculava à Guarda das Highlands em seu outro braço com o dedo.
Ah, inferno.
— Nada.
Ela o ignorou.
— É o Leão Desenfreado com algum tipo de faixa e inscrição. — Ela espremeu os olhos para enxergar melhor na luz das velas. — Or inveniam viam. ”Eu devo achar um modo”. — Ela traduziu. — Isso se encaixa para um rastreador. Soa como a inscrição para uma espada.
— É. — Ele disse. Tinha a mesma marca em sua espada. A tatuagem do Leão Desenfreado rodeada com a faixa como um torniquete de uma teia de aranha, era a marca usada para identificar cada membro da Guarda das Highlands. Mas muitos dos guerreiros a personalizavam com armas ou lemas. Ewen fez ambos. Tinha duas lanças cruzadas atrás do leão e a inscrição em sua espada abaixo.
Seu braço flexionou debaixo da ponta do dedo dela, e agradecidamente ela continuou. Ela se estendeu e espalhou suas mãos por seu tórax e braços.
— Você parece como se fosse feito de aço. — Ela ergueu o olhar timidamente. — Sabe, nunca gostei de músculos antes, mas acho que aprendi a gostar bastante. — Sua palma espalhou sobre o músculo protuberante em seu braço superior e apertou. — Aye. — Ela disse, sua voz ficando um pouco mais rouca. — Aprecio bastante.
Outra explosão de calor correu através dele. Amaldiçoou e a beijou novamente antes que suas palavras pudessem deixá-lo mais louco.
Ele tinha toda intenção de levar isto devagar. Saborear cada minuto do que poderia ser a única vez...
Ele parou. Não pense nisso.
Ao invés disso se concentrou no quanto era boa a sensação dela bem enfiada debaixo dele. Segurou-a aconchegada ao seu lado, meio projetado em cima dela, para não a esmagar com seu peso. Isso também deixava sua mão livre para explorar, e teve a maldita certeza de não deixar nenhuma parte dela sem tocar. Ele segurou de forma côncava seu seio através do tecido fino da camisola, escovando o polegar acima do bico tenso, antes de deslizar a mão atrás sobre sua cintura e quadris, e então sua bunda, erguendo-a contra ele até que a perna dela envolveu ao redor do quadril dele.
Seus grunhidos e gemidos saíram de foco juntos quando ele começou a esfregar suavemente contra ela. Lentamente aumentou, imitando o ritmo com sua língua, enquanto os círculos lentos e gentis se tornavam um esfregar rápido e duro. Ele a deixou se acostumar ao seu tamanho. Deixou-a sentir cada centímetro de seu comprimento enquanto movia seu corpo acima do dela.
Mas a performance separada por algumas camadas de linho e lã não era suficiente para nenhum deles. A corrida frenética dos batimentos cardíacos dela e respiração acelerada, entre ofegos crescentemente urgentes e gemidos, combinavam com os seus.
Tensão latejava por seu corpo. Ele estava quente para cacete. Fervia. Seu corpo um inferno de necessidade. Suor reunia em sua sobrancelha enquanto ele lutava com os instintos pressionando dentro dele. Cada um dos seus músculos estava flexionado com força, tremendo pelo esforço para encontrar restrição. Para encontrar controle. Para fazer isto durar.
Mas não ia durar. Não desta vez. Estava tão gostoso e ele a queria tão intensamente. Desde o primeiro momento que a viu na floresta, meio nua e feroz como uma valquíria, ele esteve esperando por este momento. Não quis reconhecer nem para si mesmo, mas a verdade finalmente o alcançou. Ou talvez fosse o destino que o tenha alcançado.
Sabia que estava muito apressado. Apressado demais. Mas tinha que estar dentro dela. Agora.
Com uma mão, desabotoou os laços de seus calções e os deslizou de seus quadris. A explosão de ar frio sobre sua pele túrgida o fez gemer de alívio.
Sutileza estava além dele. Sua mão parecia grande e desajeitada enquanto agarrava a bainha da camisola dela, levantando-a só o suficiente para ele ter acesso. Ele se forçou a tirá-la. Deixou sua mão descansar na coxa dela um instante antes de tocá-la. Mas ela não deixou. Começou a se retorcer, gemer, erguer seus quadris para encontrá-lo.
Então deu a ela o que ambos queriam, varrendo seus dedos sobre a umidade dela, antes de deslizar no apertado calor feminino. Ele gemeu. Tão molhada. Tão quente.
Um afiado aperto de desejo formou uma bola na base de sua espinha. Queria estar dentro dela tão desesperadamente, levou tudo que tinha para não alavancar seu corpo acima do dela e investir duro para dentro. O conhecimento do quão bom se sentiria colidiu nele numa onda quente, quase o arrastando para baixo.
Mas tinha que deixá-la pronta para ele. Ela era inocente, maldição, e ele iria fazer isto bom para ela, ainda que o matasse.
E seria muito bom.
Erguendo a cabeça, interrompeu o beijo para ver seu rosto enquanto dava prazer a ela.
Sentiu algo apertar duro em seu peito. Ela era tão bonita. Presa na agonia da paixão, suas bochechas coradas com prazer, seu cabelo dourado espalhado atrás de sua cabeça numa desordem selvagem, seus olhos entrecerrados e seus lábios inchados pelo beijo suavemente separados, ela parecia com algum tipo de deusa sensual. Sabendo que ele estava fazendo isto para ela o humilhava. Foi seu beijo que inchou os lábios dela, sua barba de uma semana que avermelhou a pele sensível ao redor do queixo, e seu toque que estava deixando-a selvagem.
Mas não selvagem o bastante.
Janet se sentiu como se tivesse sido pega em um vendaval. Um vendaval quente, frenético e devastador. Ela foi do desespero absoluto até o êxtase em questão de minutos.
O que o tinha segurado se foi. Quando a beijou, ela soube que ele tomou sua decisão: ele a escolheu. Seu peito inchou com felicidade. Ela não esteve errada em entregar seu coração a ele.
Foi varrida pelo calor do seu abraço, entregou-se à paixão. Entregou-se à ele. A rendição nunca pareceu tão boa. A sensação de seus dedos dentro dela — acariciando-a, trazendo-a ao próprio pico do prazer…
Oh Deus, ela não podia aguentar isso! Ela gemeu, se retorceu, sentiu o desejo avassalador de pressionar seus quadris na mão dele. Um eco da memória do que ele fez com ela a provocou, enquanto a sensação cintilava mal fora do seu alcance.
— Não ainda, mo chroí. — Ele sussurrou em seu ouvido com uma risada malvada. — Quero te saborear primeiro.
Janet não queria tentar dizer a ele o que fazer, mas preferia esse negócio agora de beijar.
Ela soltou um pequeno choramingo de protesto quando ele diminuiu as carícias, e tentou não ficar irritada quando ele riu.
— Prometo que você gostará disto, moça.
Ela sentiu seu primeiro cintilar de premonição quando ele deslizou para baixo, não para cima. Meu Deus, seu rosto estava bem entre sua...
Uma súbita onda de embaraço esfriou um pouco do calor. O instinto fez suas pernas se juntarem com força.
— Não! Não faça isso! Você não pode!
Ele levantou os olhos para ela, um brilho malvado em seus olhos azuis acinzentados. Uma mecha espessa de cabelo escuro caía sobre sua sobrancelha, dando a ele uma distinta borda marota. Ele enterrou sua boca bem no ápice de suas pernas fechadas, o calor de sua respiração fazendo-a ofegar. Ele sorriu.
— Asseguro a você, eu posso. — Ele se aninhou nela novamente, suavemente cutucando suas pernas para se separarem. — Você vai gostar disso, amor. Só me deixe ter um gostinho.
Oh Deus! Ela estremeceu — e não com mortificação — quando ele se aninhou nela novamente, desta vez dando a ela um tremular de sua língua que enviou uma ondulação após a outra de sensação direto para os dedões do seu pé. Suas pernas relaxaram ainda mais, abrindo um pouco mais à medida que o embaraço rapidamente dava lugar para os desejos perversos do seu corpo.
Quando ele a beijou lá, apertando seus lábios quentes e firmes na sua parte mais íntima, ela gritou em choque e prazer tão agudos que deixou cada terminação nervosa no limite. Ou melhor, virou do avesso cada terminação nervosa. Ela era uma bola crua de terminações nervosas viradas do avesso. Quente, sensível e posicionada para seu toque.
Ele a provocou com estalidos gentis de sua língua e beijos suaves até que ela não pode aguentar mais. Começou a erguer seus quadris contra ele, querendo mais pressão.
— Gosta disso, amor?
Gostar disso? Céus, nunca imaginou gostar tanto de uma coisa. Esperava que ele não estivesse esperando que ela falasse, tudo que podia administrar era um ofego sem fôlego.
Esqueceu-se de estar envergonhada e não ofereceu um único protesto quando ele se instalou firmemente entre suas pernas, lançou as pernas dela por cima de seu ombro, e agarrou sua bunda com ambas as mãos para erguê-la mais completamente para sua boca maravilhosa e perversa.
O primeiro golpe amoroso de sua língua fez cada um daqueles terminais nervosos virados do avesso formigar. Mas foi a pressão de sua boca e o esfregar de mandíbula da barba por fazer contra a pele tenra entre suas coxas que a fez perder toda vergonha.
Ela começou a tremer. Começou a arquear as costas e erguer os quadris cada vez com mais força contra seus lábios e língua. Disse a ele para não parar. Implorou para fazer isso parar. Mais rápido. Mais fundo. Mais duro.
Oh Deus, sim… sim! Uma corrida de calor surgiu entre suas pernas para a sucção morna de sua boca. Ele a segurou ali, bebendo-a, enquanto ela se catapultava em um reino diferente, enquanto seu corpo se partia em onda após onda de prazer quente e ondulante.
Através da névoa desatenta, ela o ouviu praguejar.
— Não posso esperar mais… Tenho que estar dentro de você… Desculpe.
Sua voz soava quase estrangulada.
Por que ele estava se desculpando?
Não levou muito tempo para descobrir.
CAPÍTULO 21
Ewen chegou ao fim de sua restrição. Qualquer controle que ele pensou que tinha desapareceu após o clímax dela. Queria deixá-la louca e pronta para ele, só não tinha antecipado o que isso faria a ele.
Era experiência a mais erótica de sua vida. Nunca saboreou uma mulher tão completamente antes. Nunca teve sua boca nela enquanto ela se quebrava. Nunca se sentiu tão conectado enquanto os espasmos de prazer reverberavam pelo corpo dela. Ela se entregou tão livre e completamente.
Ele não podia esperar outro minuto.
Murmurando algum tipo de desculpa, alavancou seu corpo sobre o dela. Os músculos em seus braços e ombros flexionaram duros em antecipação enquanto ele lutava para se segurar firme. Para ir lentamente.
Os olhos dela se ergueram para os dele. Ele sentiu um clique. Era como se algo tivesse mudado em seu peito e trancado no lugar.
Seus olhos tremularam para baixo e arregalaram. Seguiu a linha de seu olhar e viu a mesma coisa que ela: uma ereção de tamanho muito intimidante. Queria dar a ela algum tipo de reafirmação, dizer que tudo ficaria bem, mas verdade seja dita, ainda que pudesse dar um jeito para grunhir algumas palavras agora, não estava certo quanto disso iria doer. Mesmo suave e molhada de seu orgasmo, ela ainda era pequena e apertada, e ele grande e duro. Muito grande e muito duro.
Só de pensar nisso o fez pulsar. Lutou com a urgência de lançar a cabeça para trás e investir para dentro dela.
Mas esta era uma batalha que ele perdeu.
Seu pau estava muito duro, sua entrada escorregadia e morna muito convidativa, e qualquer controle que ele tinha fugiu no momento em que esfregou a cabeça sensível contra sua umidade sedosa. Segurando seu olhar, ele começou a pressionar para dentro, centímetro por centímetro, mas a intimidade era intensa demais, as emoções muito poderosas. Era demais. O gentil cutuque se tornou um mergulho rápido enquanto ele a possuía completamente, ligando-a a ele de um modo que não podia ser desfeito.
Ele soltou um gemido de pura e primitiva satisfação, subjugado por uma sensação de alívio e mais alguma coisa. O único modo de descrever isso era retidão absoluta. Como se ele estivesse onde pertencia. Como se encontrasse seu destino.
O grito suave de dor atravessou um pouco da sua névoa. Mas era tarde demais. Tarde demais para recriminações. Tarde demais para mudar de ideia. Tarde demais para recuar — ele foi muito longe, não podia puxar de volta agora mesmo que quisesse. Ela era sua.
Pelo menos no momento.
Ewen cerrou os dentes, mantendo-se imóvel como uma pedra, querendo lhe dar tempo para ajustar à sensação dele. Mas era bom demais. Ela era apertada e quente, agarrando-o como uma maldita luva, e cada instinto em seu corpo gritava para se mover.
Ele roubou um olhar para baixo em sua direção, surpreso por ver seus olhos não fechados bem apertados, mas olhando para ele com a emoção que ela o forçou a reconhecer.
Amor. Seu peito apertou. Uma onda de ternura bateu nele em cheio. Ele se inclinou e deu-lhe um beijo suave.
— Eu sinto muito.
Ela sorriu.
— Por quê?
Por tantas coisas.
— Machuquei você.
— Não é tão ruim... agora.
Como se para provar suas palavras, ela se mexeu, enviando um inchaço quente de prazer surgindo até a ponta dele. Ele gemeu, incapaz de resistir ao primitivo instinto de responder com um movimento também. Uma investida apertada e rápida.
Ela se encolheu.
Ele praguejou.
— Maldição. Me desculpe. Estou tentando não me mexer, mas você é tão gostosa, isso está me matando.
Pela quantidade de dor em que ele estava no momento, o sorriso que se espalhou pelo rosto dela não foi exatamente apreciado.
— Eu estou? Eu sou?
Ele lhe um olhar afiado, seus dentes apertados firmemente.
— Não precisa estar tão contente com isto.
O sorriso dela se tornou ainda mais largo.
Ele se inclinou para beijá-la novamente, o movimento fazendo-o afundar mais profundamente.
Ela ofegou, mas desta vez não com dor. Seus olhos se encontraram.
— Oh! Essa sensação...
Ele sabia como se sentia. Parecia incrível. Ele se moveu novamente, tirando só um pouco e afundando de volta. Os olhos dela se arregalaram.
— Oh... — De novo. — Oh!
Quando ela circulou seus braços ao redor do pescoço dele para segurar mais apertado, foi todo o convite que ele precisava. Segurando seu olhar, ele investiu novamente. Observando por qualquer sinal de dor. Mas não era dor que trouxe um suave rubor rosa para suas bochechas.
Quando os quadris dela se levantaram para encontrá-lo, ele não pode se conter. Seus golpes prolongaram. Aprofundaram. Foi mais rápido e mais duro, ela ofegando gemidos que o incentivaram a continuar.
O prazer era intenso. Avassalador. Como nada que ele algum dia sequer imaginou. Ela era... tudo. E mais.
Tão apertada. Tão quente. Suor despejava dele, as punhaladas frenéticas cobrando seu preço. A pressão construiu na base de sua espinha, mais forte e mais poderosa que qualquer coisa que ele já sentiu antes. O corpo dela o agarrou, ordenhou, empurrou-o por cima da borda.
E ele a levou junto. Segurando os quadris dela, ele apunhalou duro e fundo, esfregando para dar prazer a ela em círculos duros e lentos, enquanto seu próprio prazer rugia em seus ouvidos.
Ele gozou com uma intensidade incandescente que o sacudiu em seu núcleo. Por um momento, o prazer foi tão aguçado que viu tudo preto. Novamente os espasmos o assolaram. Agarrando. Apertando. Deixando-o seco.
— Amo tanto você. — As palavras dela ecoaram inúmeras vezes em sua cabeça, em seu coração.
Quando o último jato diminuiu em sua virilha, ele desmoronou na cama ao lado dela, gasto e exausto, deleitando-se nas sensações e sentimentos estranhos. Ainda sentia como se estivesse voando. Sentiu a cabeça leve, sua mente um pouco suave e vaga. Quase como se tivesse tomado mais daquele uísque do que percebeu. Jesus! Nunca percebeu que isso podia ser... Assim.
Incrível. Surpreendente. Como nada que já experimentou antes. Eles estavam... conectados. Não apenas juntos, mas conectados. Nunca se sentiu mais perto de ninguém em sua vida como esteve no momento em que estava dentro dela, olhando no fundo dos seus olhos. Quando eles acharam o clímax juntos, não só seu corpo foi saciado, mas sua alma. E a euforia não terminou com o orgasmo. Ele se sentiu — o sentimento era tão estranho para ele que levou um momento para pôr um nome nisso — feliz. Como se pudesse deitar aqui com ela para sempre.
Era tão doce. Tão entregue. E ela o amava? Como teve tanta sorte?
Estava prestes a alcançá-la e colocá-la debaixo de seu braço quando ela falou.
— Se isto é o que casamento tem a oferecer, acho que devo estar bastante contente.
Ela podia ter jogado um balde da água fria nele, o choque de suas palavras era o mesmo. O atordoamento desapareceu. A euforia e felicidade viraram um frio gelado à medida que a realidade do que fez o atingiu rápido e duro.
Foda.
O palavrão estava bem colocado. Foi isso exatamente que ele fez — tanto literal quanto figurativamente. Não só ela, mas ele mesmo também.
Em vez de aconchegá-la contra ele, olhou fixamente para o teto de madeira do celeiro em atordoada descrença enquanto as ramificações o derrubaram implacavelmente.
Sangue de Deus, que diabos ele fez?
Ao tomar sua inocência, ele violou a confiança tanto do seu rei quanto do seu suserano, e pôs seu futuro, como também do seu clã, em risco. Um dedo de terra? Inferno, ele não teria um punhado de sujeira no seu nome quando Bruce descobrisse. O castelo meio terminado — um monumento à imprudência de seu pai — seria um flagelo na paisagem para sempre. Mas nada disso importava porque Ewen estaria morto. O rei o mataria.
Ewen tinha tentado manter sua cabeça baixa, fazer seu trabalho, distanciar-se de seu pai “selvagem” e seu primo rebelde, e não chamar atenção para si mesmo. Bem, Bruce certo como o inferno ia notar isto. Estava quase feliz que Sir James estava morto para que ele não tivesse que ver isto.
Destinado a ser. Retidão. Fatalidade. Destino. Realmente tinha usado tais desculpas fantásticas para justificar o indesculpável e perder de vista sua honra? Por esquecer o que importava? Que tal dever, lealdade e disciplina? Era nisso em que ele deveria pensar. Queria culpar o uísque, mas sabia que não era isto. Ficou com medo de perdê-la e reagiu sem pensar. Deixou a emoção controlá-lo. Maldição, ele não ficou sentimental. Isto não deveria acontecer com ele.
Era tão ruim quanto seu maldito pai! Sua vida inteira esteve lutando para ter certeza que não terminaria como o Selvagem Fynlay, e em questão de minutos desfez tudo isso.
Os Lamonts em Cowal não existiriam mais. Você decidiu. Deus, sentia-se doente.
A princípio Janet não percebeu nada de errado. Ainda formigando e fraca de prazer, ainda sentindo como se estivesse planando nas nuvens, estava tão presa na maravilha do que tinha acabado de acontecer que assumiu que Ewen estava se sentindo do mesmo modo.
Nem estava preocupada quando ele não respondeu ao seu gracejo. Provavelmente estava tão subjugado quanto ela.
Foi só quando ele se sentou jogando as pernas por cima da beirada do pallet (dando a ela uma boa visão de suas costas largas e bem musculosas), arrastou seus calções para cima e enfiou a cabeça em suas mãos que ela percebeu que algo estava errado.
Só percebeu o quanto estava errada quando ele murmurou um palavrão que ela nunca ouviu dele antes.
Seu peito apertou, mas tentou não reagir demais, exagerar. E daí se isto não foi exatamente como ela tinha imaginado o momento? Não importava que ele não a puxou em seus braços, acariciou seu cabelo e disse a ela o quanto era maravilhosa. Quanto a amava. Realmente não importava.
O aperto aumentou para uma pontada. Ela não era uma virgem de dezoito anos de idade. Era uma mulher madura. Não precisava de tais garantias, embora teria sido legal. Empurrou para trás a onda quente de emoção que subiu aos seus olhos.
Ignorando o desapontamento tolo e de mocinha em seu peito, tentou pensar racionalmente. Sua reação era compreensível. É claro que era. Ela conhecia Ewen, e sem dúvida que ele veria tomar sua virgindade como algum tipo da violação ao seu código de homem.
Ela podia pensar que era ridículo, mas ele não.
Sentando-se atrás dele, ela se esticou e pôs a mão no ombro dele. Os músculos enrijeceram sob de sua palma. Outra lasca de dor tentou fazer seu caminho através da felicidade em que ela se envolveu como um plaid, mas não deixaria.
— Por favor, não fiquei chateado. De verdade, não há nada com que se preocupar. Não fizemos nada de errado. — Ela sorriu. — Ou nada que não possa logo ser corrigido. Vou até Robert assim que chegarmos e explicar, bem, talvez não tudo. — Robert podia ser tão cavalheiresco sobre este tipo de coisa quanto Ewen. — Mas ele entenderá. Ficará muito feliz em me ver casada finalmente, e casar comigo vai ajudar seu clã, você vai ver.
Nada podia ter impedido a punhalada de dor quando ele se empurrou para longe do toque dela.
— Você não entende uma maldita coisa, o rei vai ficar furioso!
Janet piscou de volta para ele em choque, atordoada pela força de sua veemência. Não pensava em si mesma como possuindo ternos sentimentos, mas ele conseguiu achar um com suas palavras tipicamente cegas e afiadas como navalhas.
— Talvez isso não seja uma combinação ideal, mas tenho certeza que Robert pode ser persuadido...
Ele a agarrou pelo braço e a forçou a encará-lo.
— Maldição, Janet! Nem tudo pode ser manejado com uma língua hábil e um belo sorriso. Quando diabos você vai aprender isso? Você não tem ideia do que eu fiz.
Ela parou de dizer a si mesma para fazer pouco de sua reação. Seja o que for que estivesse fazendo com que ele agisse assim era sério.
Ele deixou a mão cair e pôs de volta a cabeça entre suas mãos.
De repente gelada, ela juntou o plaid deixado por Margaret aos pés do pallet, embrulhou-o ao redor de seus ombros e se posicionou ao lado dele.
— Então por que não me diz? — Ela disse suavemente.
Ela pensou que ele ignoraria seu pedido. Mas depois de alguns minutos às voltas com seus pensamentos, ele pareceu chegar a algum tipo de decisão.
— O rei já organizou um noivado para você.
Ela respirou fundo, olhando fixamente para ele em absoluto horror e descrença. Não podia se lembrar de como respirar. Sua mente estava ocupada correndo em milhares de direções. Esta era a última coisa que ela esperava. Robert nunca deu nenhuma indicação que ele planejava...
Traição a rasgou, estraçalhando aquele manto de felicidade em minúsculos fragmentos. Mas não era só de Robert. Encarou Ewen, procurando pelo homem que ela pensou que conhecia. Que pensou que a conhecesse.
Ele mentiu para mim.
— Quem? — Ela perguntou entorpecidamente.
— Walter Stewart.
O golpe tomou o restinho de ar que tinha no peito. Claro!
Ewen deixou o nome dele deslizar uma vez. Agora entendia o significado. Queria rir, mas tinha medo de que fosse chorar. Walter Stewart mal tinha idade suficiente para ter ganhado suas esporas.
— Meu suserano e o filho do homem a quem devo tudo. — Ele adicionou.
Ela poderia ter tentado entender sua culpa, as profundezas da desonra que ele devia estar sentindo por sua deslealdade e confiança quebrada, mas estava envolvida demais na própria dor e confiança quebrada. Olhou fixamente para seu rosto, buscando por algo em que se segurar. Algo para mudar a conclusão inevitável encarando-a.
Ela desviou o olhar, voltando os olhos para seus pés descalços. Em algum ponto ela deve ter chutado suas botas. Uma pontada aguda cortou seu coração. Foi apenas minutos atrás que ela pensou que ele era o único para ela?
— Você não me disse.
Não era uma pergunta. Não se importava com suas razões para o porquê, mas ele disse de qualquer maneira.
— O rei suspeitou que você não seria tão... uh, dócil para retornar se soubesse.
O choque estava começando a diminuir e raiva surgiu dentro dela. Ela devolveu seu olhar, a boca torcida com sarcasmo.
— Como ele me conhece bem. E você aceitou, claro. Provavelmente era mais fácil para você. “Não é sua batalha”, não foi isso que você disse? Por que deveria se envolver?
Sua boca afinou ante o sarcasmo dela.
— Quando percebi que eu estava envolvido nisso, era tarde demais. Eu sabia que você ficaria com raiva, e sei que isso não é desculpa, mas na época eu estava mais preocupado em nos manter vivos.
Sua admissão que ele estava envolvido também era tarde demais — e pequena demais.
— Você podia ter me dito hoje à noite. Deveria ter me dito mim hoje à noite.
— Aye, bem eu não pretendia exatamente que isto acontecesse. Pensei que seria mais fácil se o rei explicasse. Pensei que isso tornaria nossa separação menos... complicada.
— Se eu odiasse você?
Ele a encarou sem piscar.
Querido Deus! A cor lavou do rosto dela, era exatamente o que ele tinha pensado. Ele simplesmente a teria entregue a outro homem e não olhado para trás. Seu coração estraçalhou como vidro jogado no chão. Ele poderia muito bem ter feito exatamente aquilo.
De repente outra verdade a atingiu. Outra traição.
— Esta não é uma permanência temporária na Escócia. O rei não tem nenhuma intenção de me deixar retornar a Roxburgh, não é?
Ele não se esquivou da fria acusação em seu olhar.
— Não.
— Mas você me deixou pensar que eu poderia persuadi-lo. Você sabia o quanto isto era importante para mim e ainda assim me deixou acreditar que eu voltaria!
Ela o viu se encolher, mas sua culpa não era boa o suficiente.
Ele encolheu os ombros. Ombros nus que mesmo agora a provocavam com memórias. Podia ver as minúsculas impressões de suas unhas. Provas de sua estupidez.
— Pareceu mais fácil na época. Pensei que você poderia se recusar a ir e eu não queria ter que te perseguir novamente. O que você estava fazendo era perigoso...
— E é claro, isso não podia ser tão importante quanto o que você está fazendo.
Ela pensou que ele não podia magoá-la mais do que fez mentindo para ela. Estava errada. Ele nunca acreditou mesmo em mim.
Janet poderia ter tentado compreender sua tentativa de evitar o conflito, mas não a falta de consideração para com ela. Ewen sabia o quanto o que ela estava fazendo significava para ela, e em sua indulgência em deixá-la acreditar que a missão dela estava apenas sendo atrasada, mostrou o quão pouco ele a valorizava. O quão pouco ele pensava dela. Nunca lhe daria o que ela queria de um marido.
Ela ficou de pé para partir, mas ele pegou seu braço, detendo-a.
— Só porque você pode sair de uma situação com conversa não significa que deveria. Você é superconfiante a ponto do descuido. Como o que aconteceu com o padre em Roxburgh... era só questão de tempo antes de ser descoberta. Eu não vou me desculpar por não querer ver você em perigo.
— E quanto a mentir para mim? — E me fazer amar você?
Os olhos dele suavizaram. Mas ela se sentiu estranhamente indiferente a isto. Uma hora atrás poderia ter visto como um sinal de sentimento. Agora, ela sabia melhor.
— Lamento profundamente por isto. Estava apenas tentando fazer meu trabalho.
Um afiado som de deboche irrompeu de seu peito firmemente ferido.
— E a missão sempre vem em primeiro, não é certo? — Ele não disse nada. Ela olhou para seu belo rosto, vendo o mudo apelo por compreensão. Parte dela queria dar isto a ele. Parte dela queria pensar que ainda haveria um modo que isso não acabasse tão horrivelmente. — E agora, Ewen? O que acontece com sua missão agora?
Certamente ela não podia ter estado tão errada. Ele não merecia uma chance, mas ela lhe daria uma.
Ewen tinha estragado tudo. Era exatamente por esta razão que ele queria evitar isto. Ele não podia suportar o modo que ela estava olhando para ele. Ver a confiança quebrada em seus olhos. A traição. O coração partido.
Isso o rasgava.
Ele não queria perdê-la. Mas que diabos podia fazer? Tentaria se desdobrar para fazer isto direito, salvar o que podia de sua honra e seu lugar no exército de Bruce, mas não tinha ilusões.
— Explicarei tudo para Bruce quando retornarmos. Se ele concordar, nós nos casaremos assim que os proclamas forem lidos.
Ela olhou fixamente para ele, forçando seu olhar a encontrar o dela.
— Você realmente não acha que pode conseguir que ele concorde?
Ele não pensava que existia uma chance no inferno. Sua mandíbula apertou.
— Não era você que estava confiante que poderia persuadi-lo?
— Isso foi antes de ser notificada do noivado. Robert não vai te “recompensar” por interferir em seus planos.
— Direi a ele que não há escolha. É tarde demais. — Ele tomou sua inocência, maldição.
— Então você deveria se preparar para se defender com sua espada, porque ele vai querer te matar. Robert não vai ver com bons olhos você depreciar o valor do seu prêmio.
— Não fale disso assim. — Ele estalou furiosamente. — Não é assim que me sinto.
— Como você se sente, Ewen?
Como se estivesse tentando achar tração numa colina de gelo? Confuso? Rasgado? Como um homem que acabou de perder tudo e falhou com um clã inteiro?
— Como pode perguntar depois do que acabou de acontecer? Certamente deve perceber o quanto você significa para mim?
Ele podia dizer pela faísca de decepção que cruzou seu rosto que esta não era a declaração que ela queria ouvir. Mas devia ter sido suficiente. Ela pôs a mão no braço dele, virando aqueles grandes olhos verdes da cor do mar para ele implorando.
— Então fuja comigo. Vamos encontrar um padre em algum lugar para nos casar. Você sabe que este é o único modo. Robert nunca nos concederá permissão para casar.
Cada músculo no corpo dele se tornou tão rígido quanto aço, sua rejeição às palavras dela profundas até o osso.
Estava o destino brincando com algum tipo de piada horrorosa, forçando-o a enfrentar a mesma escolha que seu pai? Bem, pode apostar que não cometeria o mesmo erro.
— Eu não vou fugir.
Ela o observou, seus olhos tomando nota dos seus punhos apertados e músculos flexionados.
— Me amar não vai te transformar no seu pai, Ewen.
Ela ergueu o olhar para ele com tal compaixão e compreensão que por um momento ele vacilou. Queria puxá-la em seus braços e dizer que tudo ficaria bem.
Mas não iria. Seus sentimentos por ela não custariam isso a ele.
— Não vai? Talvez você esteja certa. Não me faria meu pai. Meu pai teve Stewart para ajudá-lo a juntar os pedaços, eu não terei ninguém.
— Você me terá.
Como se pudesse ser tão simples.
— Que tipo de vida viveríamos? Sem o apoio do rei e Stewart, eu não tenho nada para te oferecer. Nenhum dinheiro. Nenhum castelo. Só duzentas pessoas que dependem de mim para provê-los. Deveríamos nos juntar ao meu primo e parentes na Irlanda com os outros “rebeldes”?
Ela ergueu o queixo obstinadamente, sua boca apertada.
— Mary vai ajudar. Christina também.
— Você pediria isso a elas? Você as colocaria em problemas com Bruce.
Com isto, ele teve sucesso em aquietá-la.
— Fugir não é romântico, Janet, é irresponsável e tolo. Não resolverá nosso problema, vai torná-lo pior. Não, não existe nenhum outro modo. Nós nos arriscaremos com Bruce.
Ele se forçou a não ver o desapontamento cintilando em seus olhos, mas isso comia como ácido em seu peito.
— Então você fez sua escolha.
— Fiz.
— Mesmo que isso signifique que não podemos estar juntos? Mesmo que isso signifique que devo me casar com outro homem?
Ele a pegou pelo braço, arrastando seu rosto para o dele.
— Sim, maldição, sim!
Foi como se soprasse uma vela, a luz nos olhos dela simplesmente morreu. Sentiu o rápido agitar do pânico em seu peito. Instintivamente, estendeu a mão, mas ela se empurrou para longe.
Seus olhos verdes da cor do mar dispararam adagas para ele, afiadas o suficiente para tirar sangue.
— Não toque em mim novamente. Você tomou sua decisão, agora tomei a minha. Não casarei com você nem com Walter Stewart. Não casarei com ninguém. Vou tomar o véu antes que alguém tente me forçar a descer a nave da igreja.
A pulsação dele saltou, pânico não mais só agitando seu peito, mas saltando — não, ricocheteando — por toda parte.
— Você não quer dizer isto.
Ela não disse nada. Nem sequer olhou para ele. Seu olhar estava alfinetado na porta atrás dele.
— Ao contrário do que acredita, Ewen, sou capaz de conhecer minha própria mente.
Ele praguejou, sabendo que ela estava escapando dele, mas não sabendo como detê-la. Ficou de pé, cambaleando da dor em sua perna. Mas isso não era nada comparado à fogueira de emoções queimando em seu peito. Ele odiava se sentir assim. Fora de controle. Bravo. Apavorado. Impotente. Ela estava despedaçando-o.
Ele atacou cegamente, como uma besta encurralada.
— Que diabos quer de mim, Janet? Você percebe o que isso... — Ele sacudiu a cabeça em direção à cama bagunçada atrás deles. — Me custou? Tudo pelo que estive lutando. Isto não é suficiente ou devo cortar uma veia por você também?
Ela pareceu arrasada, cada pingo de cor deslizou de seu rosto. Sua voz tremia.
— Não percebi que havia um preço em algo que era livremente dado. Quis te agradar, sinto muito se não foi o suficiente. Mas não precisa se preocupar. Isso não precisa te custar nada. Como não estarei casando com ninguém, minha inocência, ou falta dela, não é importante. Você ofereceu casamento e eu recusei. Você fez seu dever, se houve qualquer dano à sua honra, foi amenizado. Não existe nenhuma razão para dizer qualquer coisa a Robert afinal. Sua posição no exército dele só estará em perigo se você escolher fazer isto.
Tão depressa quanto a raiva subiu, foi derrubada. Ele mal ouviu suas palavras dando a ele uma saída, tudo que podia ver era a dor que suas palavras descuidadas infligiram. Ele não devia estar culpando-a. Não era culpa dela. E ele certo como o inferno não quis fazer o que aconteceu entre eles parecer com algum tipo de transação.
— Maldição, sinto muito. Eu não quis dizer isto. Nunca quis que nada disso tivesse acontecido. Estava só tentando fazer meu trabalho.
— E eu entrei no caminho. Você era apenas um simples soldado tentando fazer seu dever e eu era, como você colocou? Uma complicação.
Ele franziu o cenho. Não foi o que ele quis dizer... foi? Ela era tão mais que isto.
— Eu sinto muito por tornar as coisas difíceis para você, Ewen. Se tivesse me contado a verdade, poderia não ter acontecido do modo que aconteceu. Mas como você assumiu tomar essas decisões por nós dois, temo que agora deva viver com elas. Você é um lutador, estou certa que achará uma maneira de ganhar tudo que deseja. Teria sido mais fácil, mais simples, se nunca tivéssemos nos encontrado. E se servir de consolo, nesse instante eu desejo o mesmo.
Jesus! O que ele fez?
— Você não quer dizer isto.
O olhar que ela lhe deu disse diferente. A pele dele, que esteve sentindo anormalmente quente, pareceu de repente coberta em uma camada de gelo.
— E é exatamente por isto que eu faço. Você me disse uma vez o que queria em uma esposa. Eu devia ter escutado você. Talvez isto seja muito mais culpa minha. Eu quis fazer de você algo que você não era. Você não é Magnus, e eu não sou Helen. Espero que um dia encontre uma mulher que fique feliz em deixar você mimá-la e protegê-la, pensar por ela. Mas essa não sou eu.
Ela ficou de pé e começou a caminhar em direção à porta.
Gostava mais quando ela estava com raiva dele. Essa estranha fria, calma e indiferente o apavorava. Estou perdendo-a. O que posso fazer?
Ele sentiu como se estivesse caindo — colidindo — de uma montanha sem uma corda. A colina era mais íngreme, o gelo mais duro e mais escorregadio, e ele não podia entrincheirar seus saltos para parar de escorregar.
— Espere.
Ela virou.
— Você não pode ir.
Para um tolo segundo, Janet pensou que ele quis chamá-la de volta porque mudou de ideia. Que ele lutaria por eles, tão duro quanto ela estava certa que ele lutaria pelo rei ou seu clã. Mas ela estava errada — novamente.
— Não posso me arriscar que você tente fugir. — Ele disse.
Na pilha de desapontamento que ele amontoou aos pés dela, mais uma pedra não devia fazer diferença. Mas fez. A missão. É claro, ele estava pensando na missão. Não nela.
Embora talvez ele a entendesse um pouco, afinal. Por ela não ter nenhuma intenção de retornar com ele para Dunstaffnage. Janet nunca devia ter deixado que ele a levasse para longe de Roxburgh em primeiro lugar. Tinha que voltar. Ela não arriscaria perder algo importante. Lidaria com seu ex-cunhado e seus “planos” para ela quando tivesse acabado.
Janet endireitou as costas, chamando cada gota de seu sangue de filha de conde. Apesar dele se elevar sobre ela, até a alguns passos de distância, ela ainda conseguiu dar a ele um olhar longo e majestoso empinando o nariz.
— Então serei tratada como uma prisioneira? — Ela estendeu as mãos e cruzou os pulsos. — Vai me amarrar com correntes ou uma corda será suficiente?
Ewen praguejou. Ela o viu se mexer e se encolher enquanto colocava peso na perna. Obviamente estava doendo mais do que dizia, mas ela mordeu de volta as palavras de preocupação que queriam saltar de sua língua. Ele não quis sua ajuda quando ela ofereceu. Ele não queria nada dela. Mas como sempre, ela não quis ouvir. Ela não quis ouvir “não”. Pensou que sabia o que era melhor.
Pelo menos desta vez, ela era a única machucada. Isto é, assumindo que ele não contasse a Robert. Esperava que ele não fosse tolo o suficiente para fazer isso agora. Não havia razão. Ele não precisava perder tudo por tomar o que ela deu livremente. Queria que pudesse dizer o mesmo. Por vinte e sete anos não sabia nada do que estava perdendo. Agora sabia.
— Jesus, Janet. Não é assim. Só não quero que você faça nada... precipitado.
Ele só continuava lançando uma pedra atrás da outra. Eventualmente esperava que elas parassem de doer.
— Como sou afortunada por ter você para cuidar de mim.
— Maldição. Eu não quis dizer isto assim. Você vai me dar sua palavra que não tentará partir?
— Sim.
Ele fez uma pausa, olhando fixamente para ela.
— Você vai fugir no momento que eu virar minhas costas.
Ela ergueu o queixo, não negando.
— Então sou sua prisioneira?
A boca de Ewen afinou.
— Você é a mulher cuja segurança me foi confiada. Não vou deixar você ir.
Um calafrio a percorreu ante suas palavras, mas sabia que era tolice atribuir qualquer coisa significante a elas. Deixá-la ir era exatamente o que ele estava fazendo.
— Vou lutar por nós, Janet. Só confie em mim.
Ela fez e olhe onde isso a trouxe. Ele estava deixando perfeitamente claro o que pensava dela: ela era uma missão — um dever — nada mais. Sua voz tremeu.
— Não vou dormir aqui com você.
Sua boca apertou.
— Sim, vai.
— Você vai ter que me arrastar para Dunstaffnage, pois não vou com você de boa vontade.
O músculo debaixo de sua mandíbula contraiu ameaçadoramente.
— Se é isso que precisa para manter você a salvo.
— Odiarei você por isto.
Seus olhos seguraram os dela, e se ele não a tivesse curado de suas ilusões, poderia ter pensado que viu emoção verdadeira neles.
— Espero que não o faça.
Janet sabia que a batalha estava perdida por enquanto. Ele não seria dissuadido. Era imutável — uma parede de pedra bloqueando seu caminho. De repente a força a deixou. Era como se os eventos do dia a alcançassem de repente. Danificada e machucada até as profundezas da sua alma, tudo que queria fazer era se curvar em uma bola e chorar até dormir. Mas ele nem sequer daria isto a ela.
Olhou para a cama, uma punhalada de dor esfaqueando-a. Ainda podia senti-lo entre suas pernas, a dor incômoda uma lembrança dolorosa do que eles compartilharam.
— Não pode esperar que eu compartilhe uma cama com você.
Ele balançou a cabeça, parecendo mais triste do que já o viu.
— Você pode dormir no pallet. Não acho que vou dormir muito.
— O custo do dever de guarda.
Ele não respondeu à sua cutucada, mas esfregou a perna inconscientemente, como se tentando conseguir um golpe final e estremeceu.
Ela virou se afastando assim não seria tentada a se importar.
— Sinto muito, Janet. Nunca quis te machucar.
Mas machucou. Irreparavelmente.
A caminho da cama, ela pegou sua camisa e lançou para ele. O tórax nu que apenas minutos atrás tinha dado tanto prazer a ela agora doía olhar. Ele pôs a camisa sem comentários.
Ela deitou na cama e ele se sentou diante do fogo, encostando-se à parede, com suas pernas esticadas à sua frente. Janet não tinha intenção de dormir. Ela rastejou debaixo do plaid e o observou com olhos entreabertos.
Ewen recuperou um odre antes de sentar, e pelo longo gole que ele tomou, ela suspeitava que era uísque.
Com alguma sorte, ele beberia até o esquecimento.
CAPÍTULO 22
Janet despertou de estalo e estremeceu. Bom Deus, estava congelando aqui!
Aqui. Ela piscou na escuridão, reconhecendo as paredes rústicas de madeira do celeiro. De repente tudo o que aconteceu voltou a ela em uma onda de dor e decepção.
Como ele podia ter feito isso?
Ela praguejou baixinho. Não devia ter adormecido. Graças a Deus pelo frio. O braseiro deve ter acabado...
De repente, a realização do que significava a atingiu. Seus olhos disparam para onde Ewen se posicionou contra a parede. Ele estava sentado com a cabeça caída para frente como um boneco de trapo. Ela não precisou ver o rosto por trás do véu sedoso de cabelo espesso e escuro para saber que estava adormecido. Dormindo como um morto. Ou melhor, desmaiado, se o odre de uísque descartado ao seu lado era qualquer indicação.
Janet não podia acreditar! O soldado perfeito dormiu no trabalho. Parecia tão completamente fora do personagem ele dar a ela uma pausa. Talvez alguém tivesse escutado suas orações, afinal. Mas rapidamente disse a si mesma para não contar suas bênçãos.
Cuidadosamente — muito cuidadosamente, — ela se levantou da cama provisória. Seu coração martelava o tempo inteiro, olhando para ele por qualquer sinal de movimento, mas Ewen não mexeu um único músculo.
Ela respirou fundo, com a respiração entrecortada. Menos cuidadosamente, para testá-lo, ela ficou de pé. Cada minúsculo som que ela fazia reverberava em seus ouvidos como um sino, mas mesmo assim ele não se moveu.
Deus do Céu, quanto ele tinha bebido? Ele estava todo dur...
Ela parou, lembrando a si mesma para não contar suas bênçãos.
Janet olhou para ele. Olhou para as botas dela. Olhou para o saco ao lado dele — um saco que ela sabia conter seus outros vestidos, dinheiro, e o que restava da comida deles. Olhou para o cavalo no estábulo atrás do celeiro.
Ela podia fazer isto?
Seu coração balançou, mas então continuou a bater. Sim. Sim, ela podia. Pelo menos, valia a pena tentar. Não podia ficar com ele.
Não sabia quanto tempo tinha, mas esperava que ainda tivesse algumas horas antes do amanhecer. Montar o cavalo tornaria mais fácil rastrear — e não tinha nenhuma dúvida que ele a seguiria, — mas isso daria a ela a velocidade que ele não teria estando a pé. E ela aprendeu algumas coisas dele que poderia ajudar.
Ela engoliu em seco, pensando na jornada que tinha adiante. Seria longa e perigosa, mas nada que ela não tenha feito incontáveis vezes antes. Então por que lhe deu uma pontada de medo agora? Por que o pensamento de o abandonar de repente a deixava inquieta?
Porque nos últimos dias, Janet se acostumou a tê-lo ao seu lado. Podia não querer sua proteção, mas veio a apreciá-la, e se não dependia dela, então pelo menos tinha conforto nela.
Seu coração apertou. Por que isso tinha que doer tanto? Como ele podia ter mentido para ela desse jeito? Não apenas pelo noivado, mas sobre sua volta a Roxburgh. Ele sabia o quanto isto era importante para ela. Até mesmo sua traição ela podia ter tentado entender — poderia ter tentado perdoá-lo — se ele a amasse.
Mas ele não amava — ou não o suficiente. Preferia vê-la se casar com outro homem do que arriscar uma comparação com o pai. O pior era que Janet entendia. Nem mesmo o culpava. Não de verdade. Mas também sabia que não era bom o suficiente para ela.
Lágrimas rolaram por suas bochechas. Maldito seja Ewen por fazer isto com ela! Até que ele entrou repentinamente em sua vida como um rolo compressor, ela esteve muito feliz sozinha. Contente com a vida que tinha planejado.
Janet enxugou as lágrimas com um movimento brusco de raiva, determinada a ser feliz novamente. Seu trabalho era a única coisa que importava agora. Era a única coisa que restava.
Ela era melhor sozinha. Não soube sempre disso?
Pondo de lado qualquer reserva que tivesse, Janet tomou sua decisão. Levou apenas alguns minutos para juntar o que precisava. Enquanto levava o cavalo do estábulo, ela deu um último olhar. Com lágrimas nublando os olhos, ela partiu sem olhar para trás.
Alguém estava gritando com ele. A cabeça de Ewen pendeu de um lado para o outro. Pare de me sacudir.
— Ewen! Acorde, rapaz!
Ele abriu os olhos. Levou um momento para reconhecer o homem diante dele. Grande. Cabelos grisalhos. Rosto maltratado pelo tempo e com cicatrizes da batalha. Robert Wallace.
Sua mente parecia com um pântano, seus pensamentos vagarosos.
E Deus, ele estava quente.
Ele gemeu e voltaria a dormir se Robert não o sacudisse novamente.
— A moça, onde ela está?
Isso o trouxe de volta rápido. Um pouco da névoa clareou de sua mente. Janet. Seu olhar disparou para o pallet. O pallet vazio.
Ewen praguejou, percebendo o que aconteceu. Ele adormeceu e ela fugiu.
Como diabos isso podia ter acontecido? Ele estava de serviço, maldição! Não cometia enganos assim.
Ele tentou se levantar, mas algo não estava certo. Não parecia que conseguia coordenar seus membros. Diabos, estava tão fraco quanto um potro recém-nascido.
— O que se passa com você, rapaz? — Robert disse, estendendo uma mão. — Você está queimando tanto quanto uma fogueira e aqui está frio.
— Eu não sei...
As palavras do Ewen morreram em uma punhalada de dor quando tentou pôr peso em sua perna ferida.
— É a perna. Deve estar pior do você pensava. — Robert fez uma pausa para chamar sua esposa com um grito. — Sente-se. — Ele ordenou. — Margaret vai dar uma olhada nela.
Ewen o afastou, procurando ao redor por suas coisas como um cego.
— Eu não posso. Tenho que ir atrás dela.
— Por que ela partiria? — Robert perguntou.
Porque ele era um tolo cego.
— Para se afastar de mim.
Se qualquer coisa acontecesse a ela, ele nunca se perdoaria.
Ele alcançou sua espada e quase caiu. Deus, sentia-se horrível! Não precisava que Helen dissesse a ele que algo estava muito errado com sua perna. Como as coisas podiam ficar tão ruins tão depressa? Pensou que estava ficando melhor, mas estava pior. Muito pior.
Engoliu a dor e a névoa da febre para se aprontar. Ele se arrumou para colocar a maior parte de sua armadura antes de Margaret aparecer.
Seu grito suave disse a ele que devia estar pior do que sentia.
— Você está doente! — Ela disse.
Ele não discutiu. Mas um olhar rápido na bolsa restante disse a ele que precisaria de algumas coisas.
— Vou precisar de alguma comida e bebida, e qualquer dinheiro que você tiver sobressalente.
Janet levou tudo. Ele praguejou novamente. Como pode ter sido tão negligente? Ele sabia que ela fugiria. Devia ter tomado precauções melhores. Devia tê-la amarrado, maldição. Devia ter feito o que fosse necessário para mantê-la a salvo.
Devia ter feito o que fosse necessário para mantê-la com ele.
Ah, inferno! Ele praguejou novamente. Nem mesmo a febre o impediria de ver a verdade.
— Você não pode ir a lugar nenhum assim. — Disse Margaret.
— Eu tenho que ir. — Ewen disse entredentes, lutando com a força poderosa que parecia estar tentando derrubá-lo. Cabia a ele. O sol da manhã já estava com força completa. — Ela pode ter ido já há algumas horas. — Não podia perder a trilha enquanto estivesse fresca.
Pegou a bolsa e começou a ir em direção aos fundos do celeiro. Sua perna fraquejou, e ele teria caído no chão se Robert não o tivesse segurado por baixo do braço.
— Firme, rapaz.
— O cavalo. — Disse Ewen, mordendo de volta a onda de náusea que subiu dentro dele. — Só me ajude a subir no cavalo.
— Foi embora. — Disse Robert.
A extensão de seu fracasso era humilhante. Enquanto ele estava supostamente em guarda, ela se esgueirou com um maldito cavalo passando por ele.
— Vou ter que ir a pé.
— Você não chegará até a próxima aldeia em sua condição. — Margaret disse.
Ele não chegou nem mesmo fora do celeiro. Escuridão se levantou como a boca de um dragão feroz e o engoliu inteiro.
Janet não parava de olhar por cima do ombro, esperando que Ewen viesse como uma tempestade estrada abaixo atrás dela como um demônio do inferno. Ou talvez, mais precisamente, como um fantasma do inferno.
Ela se lembrou como ele se parecia a primeira vez que o viu. A armadura de couro escuro pontilhada com rebites de aço, o plaid estranhamente adaptado envolvido ao redor dele, o elmo enegrecido e arsenal de armas amarrado com uma correia em seu tórax largo e bem musculoso. Seu coração apertou. Ela esteve assustada por uma boa razão, acabou estando certa. Deveria ter virado e corrido no primeiro instante que o viu.
Mas ou ele não estava vindo atrás dela ou ela era melhor em esconder seus rastros do que pensava. Lembrou de suas dicas: chão duro, água ou rios quando possível, andar em círculos, confundir e ofuscar. Ela se manteve na estrada, misturando e escondendo sua trilha o melhor que podia. Mas sabia que sua melhor arma era a velocidade, então não levou muito tempo escondendo-as como deveria.
Talvez o despistar tenha funcionado? Recordando o que Ewen fez quando a levou a primeira vez de Rutherford, Janet não refez seus passos a leste, mas direcionou-se ao norte em direção a Glasgow, esperando perder sua trilha na grande cidade antes de virar a para o leste na estrada principal.
Mas infelizmente, Ewen tinha a vantagem de saber o destino dela. Ainda que conseguisse se esquivar dele na estrada, ele a encontraria logo em Roxburgh. A menos que pudesse pensar num modo de fazer contato com sua fonte no castelo sem retornar a Rutherford.
Apesar do que ela disse a Ewen, a ideia de tomar o hábito novamente não sentava bem a ela. Tendo vindo para o celeiro apenas com um chemise — o sob vestido que Mary previdentemente providenciou ainda na casa — Janet foi forçada a escolher entre a veste extravagante que se sobrepunha ao vestido que era para ir sobre esta ou a saia de lã marrom-escuro “Noviça de Eleanor”. Embora tivesse escolhido a última — uma mulher em um vestido tão fino viajando sozinha seria muito mais difícil de explicar — ela não podia suportar colocar o escapulário branco e o véu. Em vez disso, envolveu o plaid ao redor de si mesma como uma capa com capuz — o que Margaret tinha deixado, não Ewen — e fez o melhor que pôde para evitar outros viajantes na estrada.
Nesta época do ano, nos dias frios e escuros próximos ao Natal, não tinham muitos viajantes. Aqueles com quem ela cruzou tinham a curiosidade satisfeita pela sua reivindicação de ser uma parteira, viajando para atender o nascimento do primeiro filho da sua irmã em alguma aldeia adiante.
Algumas vezes, ela se juntou a outros viajantes durante um tempo — inclusive um fazendeiro e sua esposa levando aves ao mercado em Glasgow e um velho viajando para Lanark para visitar seu filho — buscando segurança e conforto em números. Mas quando as perguntas se tornavam muito pessoais, ela era forçada a se separar da companhia.
Na maioria das vezes ela estava só com seus pensamentos, os quais ela tentava impedir que retornassem a Ewen. Nem sempre seria assim horrível, disse a si mesma. Mas pela primeira vez podia entender a miséria que sua irmã sofreu em seu primeiro casamento. Como era amar alguém e não ter a pessoa retribuindo esses sentimentos. Como se sentia ser traída pelo homem a quem você deu seu coração.
Era uma jornada longa e difícil. Mais difícil do que deveria ter sido especialmente comparada à anterior. Além de não ter os ingleses a perseguindo, a vantagem de ficar na estrada principal era que evitava as colinas que ela e Ewen foram forçados a atravessar. A desvantagem, claro, era a chance de encontrar acidentalmente uma patrulha inglesa.
Durante dois longos dias, através de Rutherglen, onde passou sua primeira noite, para Peebles, onde passou sua segunda, Janet conseguiu evitar tal perigo. No terceiro, porém, enquanto ela e um comerciante e sua esposa, com quem esteve viajando desde Innerleithen, aproximaram-se dos subúrbios de Melrose, onde encontrou Ewen na primeira vez, o destino interveio mais uma vez. Uma dúzia de soldados apareceu na estrada à frente dela.
Seu sangue correu frio. Cada instinto que tinha urgia que fugisse, embora soubesse que era ridículo. Não existia nenhuma razão para ela fugir. Não fez nada errado.
Ela forçou ar em seus pulmões em lentas e uniformes inalações. Quantas vezes fez isto antes? Muitas para contar. Com o tanto de tempo que passou nas estradas como mensageira, dar de encontro com soldados ingleses não era incomum. Por que estava tão nervosa?
Seguindo a dica do comerciante e sua esposa, fingiu não notar nada fora do comum e continuou no caminho adiante. Se o casal notou sua leve vacilação, não comentaram nada. Porém o comerciante, um homem velho o suficiente para ser seu pai, deixou seu olhar demorar no rosto dela um instante mais longo que o habitual. Ele viu sua pele empalidecer sob o capuz improvisado do seu plaid? O olhar dele caiu para as mãos dela. Percebendo que estava apertando as rédeas, forçou seus dedos a soltar. Mas isto, ele definitivamente notou.
Conforme a distância diminuía entre eles, o comerciante moveu sua carroça para o lado do caminho para deixar os soldados passarem. Janet seguiu o casal, aproveitando a oportunidade para angular sua própria montaria atrás deles, onde esperava que não estivesse tão visível.
O martelar do seu coração em seus ouvidos ficava mais alto conforme os poderosos cavalos de guerra se aproximavam. O chão começou a tremer, ela esperou que pudesse esconder seu próprio tremor.
O comerciante levantou sua mão em saudação quando o primeiro cavalo passou.
O martelar em seu coração acalmou. Continuem, ela rezou. Não parem.
Um… dois… três… passaram. Seu coração começou a bater novamente. Ia dar tudo certo. Mas então o martelar não parou — não seu coração, os cascos.
— Alto. — Uma dura voz inglesa disse. — Você aí. Qual o seu nome? Que negócios você tem na estrada?
Nenhuma razão para pânico, disse a si mesma. Nada fora do comum.
— Walter Hende, meu senhor. Sou um comerciante a caminho de Roxburgh, onde minha esposa e eu esperamos abrir uma loja.
— Que tipo de loja?
O comerciante fez um gesto para sua carroça.
— De tecidos, meu senhor. Tenho as roupas de lã mais finas de Edinburgh. Dê uma olhada se quiser.
Janet aventurou uma olhada no soldado. Seu coração caiu no chão. Ele não era um soldado, era um cavaleiro, embora não tivesse reconhecido os braços de seis heráldicas separadas por uma grossa curva de ouro. Ele era um homem de aparência imponente, e não só por causa de sua pesada armadura e a insígnia de correio. Ele era grande — alto e de ombros largos — com uma mandíbula dura e escura, olhos entrecerrados somente visíveis debaixo do elmo de aço.
Ele fez um gesto para um homem mais jovem ao seu lado, quem ela assumiu que devia ser seu escudeiro. O rapaz saltou e abordou a carroça. Erguendo o oleado de couro, ele acenou com a cabeça.
— Aye, Sir Thomas. Está cheio de pano.
Foi então que o desastre atingiu. O escudeiro olhou de relance em sua direção. Por causa de onde ele veio ficar de pé ao lado da carroça, ele teve uma visão clara de seu rosto.
Ele ofegou.
— Lady Mary! O que está fazendo aqui?
O sangue deslizou de seu rosto. Oh Deus, isto não podia estar acontecendo. O menino pensou que ela era sua irmã.
— Você conhece esta mulher, John? — Sir Thomas disse.
O rapaz franziu o cenho, olhando fixamente para ela. Ele deve ter visto algo que o fez questionar sua primeira impressão.
— Sou eu, Lady Mary. John Redmayne. Eu era amigo do seu filho na corte. Você se lembra, nós nos encontramos no Castelo de Bamburgh no ano passado. Eu vim com Sir Clifford.
Sir Robert Clifford era um dos principais comandantes de Edward na batalha contra os escoceses. O medo coalhou como leite azedo em seu estômago.
Depois de um momento, Janet finalmente encontrou sua voz.
— Temo que você está me confundindo com outra pessoa.
O cenho franzido do garoto foi de lado.
— Dê um passo adiante onde eu possa ver você — o cavaleiro ordenou. — Se você não é a mulher que meu escudeiro acredita, então quem você é?
— Kate, meu senhor — ela disse suavemente, usando o nome que deu ao comerciante.
Os olhos do cavaleiro estreitaram.
— Puxe seu capuz para trás.
Ela fez como ele mandou, esperava que sem mostrar tanta relutância quanto sentia. No momento que o plaid caiu para trás, um silêncio coletivo caiu sobre o cavaleiro e seus homens. Eles olharam fixamente para ela em choque e inconfundível admiração masculina.
Com exceção do escudeiro. Ele sorriu amplamente.
— É ela. Lady Mary, a Condessa de Atholl.
O garoto obviamente não tinha ouvido falar da deserção de sua irmã e seu segundo casamento. Mas o cavaleiro tinha. O modo que seus olhos escuros cintilaram enquanto sua boca curvava em um sorriso lento a gelou até o osso.
— E o que a rebelde Lady Mary está fazendo em Melrose?
Janet forçou um sorriso tímido em seu rosto.
— Temo que o menino está enganado, meu senhor. — Ela bateu seus cílios para ele com o que esperava ser apenas a quantidade certa de inocência. Mas alguma coisa disse a ela que este homem não seria um tolo fácil. — Eu sou...
— Nossa filha, meu senhor.
Janet se surpreendeu e esperava que não parecesse tão surpresa como se sentia quando o comerciante surgiu ao lado dela e a reclamou pelo braço.
Ewen lutou com a força da escuridão que o embalava, que lutava para arrastá-lo para baixo. Você não pode dormir. Ele tentou abrir os olhos, mas as pálpebras estavam muito pesadas. Alguém pôs um peso nelas.
Tente. Você tem uma coisa para fazer. Ele não sabia o que tinha que fazer, mas sabia que era importante. Muito importante. A coisa mais importante no mundo.
Levante. Você tem que ir atrás dela.
Oh Deus, Janet!
Ele se debateu cegamente na escuridão, tentando sentar. Mas algo o arrastava para baixo. Mãos poderosas e de aço apertaram seus pulsos e tornozelos, prendendo-o na cama.
Ele gritou, retorcendo em dor e frustração enquanto tentava lutar para se livrar. Mas as mãos firmes pareceram multiplicar como algum tipo de aranha horrorosa.
Tenho que levantar. Perigo. Ela precisa de mim. Oh, Deus, Janet… desculpe.
— …Prenda-o. — uma voz suave penetrou nas bordas da sua consciência. Uma voz de mulher. Uma voz de Angel. — …Ficando pior… corte a perna.
— Não! — Ele deu coices, lutando com tudo que tinha até a dor subjugá-lo e a escuridão o arrastar para baixo.
Ewen estava sonhando novamente, fugindo através da escuridão procurando por algo — por alguém.
Tem que encontrá-la…
Ele se assustou e abriu os olhos, rapidamente fechando-os novamente conforme a luz os atravessava como um punhal.
Ele gemeu, virando, surpreso por sentir seus braços se movendo livremente ao seu lado.
— Ele está acordado. — Uma voz familiar disse.
Oh Deus, Janet!
Ele abriu os olhos novamente, piscando para o rosto que assombrava seus sonhos.
Ele estendeu a mão para cima e embalou a bochecha dela em sua mão.
— Você está aqui. — Ele disse, sua voz áspera e fraca. Ela estava a salvo. Janet estava segura. — Deus, sinto muito.
Ela sorriu, e ele sentiu o primeiro pressentimento que algo não estava certo — uma pontada confusa cutucando as extremidades desfiadas da sua consciência.
— Como está se sentindo? — Ela perguntou.
Outro rosto apareceu ao lado dela, também familiar, mas fazendo uma careta. Apesar do modo que o homem estava olhando para ele, Ewen sabia que devia estar aliviado ao vê-lo por alguma razão.
— Eu sei que você quase morreu. — O homem disse. — Mas vai se achar perto da morte novamente se não tirar suas malditas mãos da minha esposa.
Sutherland, Ewen percebeu. Ele está vivo.
Ele deixou sua mão cair do rosto da mulher. O rosto de Mary, não de Janet.
Mary deu ao seu marido uma carranca afiada.
— Ele esteve inconsciente por quase quatro dias, você acha que pode colocar de lado sua primitiva possessividade só por alguns minutos?
Quatro dias?
Sutherland deu de ombros sem arrependimento.
— Não se ele olhar para você assim. Inferno, pensei que ele ia te arrastar para cima dele. Estava só o poupando de uma surra enquanto ele se recupera.
Ewen não estava grogue demais para debochar.
— Este será um dia frio no inferno, Ice.
Mary pigarreou.
— Obviamente, ele pensou que eu era minha irmã.
— Onde ela está? — Ewen disse, imediatamente alerta. — Onde está Janet?
Sutherland ficou sério.
— Nós estávamos esperando que você nos dissesse.
— Quer dizer que ela não está aqui? — Ele olhou ao redor, de repente percebendo que não sabia onde diabos ele estava.
Mary pareceu entender sua confusão.
— Dunstaffnage.
Sede de Bruce em Argyll, ganha do rebelde John MacDougall, Lorde de Lorn, anos atrás.
— Nós te encontramos não muito tempo depois que você desabou nos Wallaces. — Disse Sutherland. — Sinto muito por deixar você e a moça sozinhos lá fora, mas não podia ter ajudado. Quando os ingleses atacaram pela segunda vez, eu não quis me arriscar e levá-los até você. Alcancei MacKay e MacLean, que tinham encontrado Douglas. Nós estaríamos aqui mais cedo, mas Douglas teve alguns problemas que nós precisamos cuidar. — Ewen assumiu que eram problemas ingleses. A expressão de Sutherland se tornou sinistra. — Você estava mal. Não pensamos que você sairia dessa. Saint e Hawk te levaram para Angel na hora certa.
Angel. Foi quem o esteve atendendo quando ele despertou delirante...
Ewen congelou em horror quando o resto da memória retornou. Ele estava quase apavorado para olhar. Inferno, estava apavorado para olhar. Respirando fundo, abaixou seu olhar para o cobertor acima dele, lançando-o somente quando viu o amontoado de suas pernas — os dois amontoados de suas pernas.
— Você se lembra? — Mary perguntou.
Ele assentiu.
— Você teve sorte pelo local do ferimento. — Sutherland disse. — Angel decidiu que seria mais perigoso tirar sua perna por causa de onde o dano estava do que deixar você lutar com o pus no osso.
Mas não foi o fato que ele quase perdeu sua perna que esfriou seu sangue.
— Por que ninguém foi atrás dela?
— Striker e eu fomos. — Disse Sutherland. — Nós só retornamos ontem à noite. Pensamos ter pego sua trilha indo pro norte na estrada para Glasgow, mas então nós a perdemos.
— Glasgow? Por que diabos ela iria para lá? — Mas ele soube antes que até mesmo terminasse a pergunta. Diabos! Ela levou a sério suas lições.
Ele se sentou e teria perdido o conteúdo do seu estômago se existisse qualquer coisa dentro. Ele balançou enquanto a náusea e a vertigem lutavam para levá-lo de volta para baixo.
— Espere! — Mary gritou, tentando empurrá-lo de volta para baixo. — O que você está fazendo? Não pode levantar.
Ewen rangeu os dentes.
— Eu tenho que encontrá-la. É tudo minha culpa.
A porta abriu e três pessoas irromperam no quarto.
— Nós ouvimos vozes… — Helen ofegou, mas se recuperou depressa. Seus olhos estreitaram. — Vejo que foi um erro desamarrar você. — Ela atirou para seu marido, que surgiu ao lado dela, um olhar de “eu te disse”.
Mas foi a terceira pessoa que entrou no quarto que fez o coração de Ewen afundar e um brilho de suor doentio reunir em sua sobrancelha.
Robert, o Bruce, Rei da Escócia, fixou seu olhar escuro e afiado como uma navalha nele.
— Onde está Janet, e por que é sua culpa?
CAPÍTULO 23
Priorado de Rutherford, Fronteira Escocesa, 14 de dezembro de 1310
— Dê-me uma boa razão por que eu não deveria lançar você em uma no calabouço da prisão agora mesmo! — O rei exigiu.
— Porque você precisa de mim para encontrar Janet e garantir que ela está a salvo. — Ewen respondeu.
Mas ele podia nem sequer conseguir fazer isto. Cinco malditos dias! Por cinco dias ele vasculhou o interior do país, virando cada pedra — cada folha — sem avistá-la. Janet se provou uma pupila melhor do que podia ter imaginado, usando as habilidades que ele a ensinou contra ele.
Esta era sua última vantagem — inferno, era sua única. Com a aproximação de St. Drostan, ele estava de volta ao priorado em Rutherford, esperando que seja qual fosse a razão que ela teve para querer retornar, esta época a traria de volta.
Mas de sua posição nas árvores alguns metros da entrada até o priorado, ele mal podia decifrar os rostos das freiras passando por ele. Apertou seus punhos ao lado, lutando pela paciência que tinha desaparecido dias atrás.
— Não posso ver coisa nenhuma. Estou entrando lá.
MacLean entrou na frente dele.
— Você não fará nenhum bem a ela se for pego. Lembre-se do que o rei disse: fique longe da vista, observe e não interfira a menos que seja necessário. Eu não acho que despedaçar cada igreja entre Roxburgh e Berwick conta como necessário.
— Ou aterrorizar comerciantes desafortunados o suficiente para vender nozes açucaradas. — Sutherland brincou secamente de sua posição atrás dele.
Ewen fez uma careta. Isso tinha sido um engano. Mas o comerciante foi um bastardo provocador, e Ewen esteve de saco cheio de suas respostas engraçadinhas. Antes que percebesse, sua mão envolveu o pescoço do homem e o teve preso contra a parede de madeira da loja. Não surpreendentemente, o homem então tinha sido muito mais acessível em suas respostas para as perguntas de Ewen. Deselegante talvez, mas efetivo.
— Esta é minha última vantagem. — Ele disse entre dentes. — Não vou me arriscar a perdê-la. Saia do meu maldito caminho.
— Use sua cabeça, Hunter. — MacLean disse.
Mas Ewen estava além da razão. Ele deu passo ao redor de MacLean — em vez de empurrá-lo de lado como estava tentado a fazer, — mas outro de seus irmãos, ou seus antigos irmãos o bloquearam.
— Você não vai entrar lá. — Disse MacKay.
— Certo como o inferno que vou. — Disse Ewen, os músculos saltando com prontidão para a briga que MacKay ia conseguir se não saísse do seu caminho. Por cima do ombro do outro homem ele notou outro punhado de freiras saindo do priorado. Mas nenhuma delas era a freira que ele procurava.
— Que diabos você planeja fazer? — MacKay desafiou. — Entrar lá parecendo assim? As freiras vão dar uma olhada em você e correr gritando. Você parece tão feroz e selvagem quanto um lobo. — Ele sacudiu a cabeça. — Você podia tentar dormir um pouco ou comer alguma coisa que não venha de um odre. Sua perna está longe de estar curada e você não vai fazer à moça nenhum bem se cair e morrer. Estou começando a pensar que Helen estava certa. Nós devíamos ter mantido você preso.
Mesmo sabendo que ele falava a verdade, Ewen não estava nem aí. Ele passou sua vida inteira tentando evitar ser comparado ao seu pai, e agora era tão maluco e desequilibrado quanto o Selvagem Fynlay já fora.
— A menos que você queira colocar uma túnica e ter eu te chamando de Madre, meus hábitos de comer e dormir não são da sua conta. Não tenho tempo para isto!
MacLean assumiu que ele estava se referindo à chegada do rei para Selkirk para a conferência de paz.
— Nós teremos ido por alguns dias. As negociações não durarão muito tempo. Bruce exigirá ser reconhecido como rei, os lacaios de Edward recusarão e estaremos a caminho novamente. Se até lá a moça não tiver retornado, podemos tentar novamente.
Apesar da conferência ser mantida sob a sagrada bandeira da trégua, o Comandante queria que eles servissem como parte da escolta. Eles deveriam sair amanhã para alcançar os outros antes deles alcançarem Selkirk.
A boca de Ewen caiu em uma linha fina, mas não disse nada. Não explicaria que não estava indo para Selkirk e que não fazia mais parte da Guarda das Highlands.
Sutherland veio e deu a volta para ficar ao lado de seu cunhado. Deu a Ewen um olhar duro.
— Por que tenho a sensação que tem alguma coisa que você não está nos contando? O que exatamente fez você e o rei discutirem?
A conversa com o rei foi exatamente como Ewen tinha esperado que fosse. Uma vez que todo mundo deixou o quarto, ele explicou o que tinha acontecido. Bruce teria colocado uma lâmina em sua barriga — ou talvez uma área ligeiramente mais baixa — se Ewen não tivesse estado deitado, desarmado e fraco da febre. Em vez disso, seus piores medos tinham se realizado. O rei o despojou de sua terra, sua recompensa e seu lugar na Guarda, e teria tomado sua liberdade também se Ewen não o tivesse convencido a deixá-lo encontrar Janet para assegurar que ela não estava em perigo.
E levou algum tempo convencendo. O rei esteve inclinado a concordar com o julgamento de Janet: se ela pensou que era importante, ele não queria fazer nada para colocar em perigo o informante ou a informação que seu contato poderia passar. Não importa quanto Ewen o pressionasse, o rei não descobriria a identidade do informante — exceto dizer que era alguém em Roxburgh altamente conectado aos tenentes de Edward. Quem pensaria que Ewen trazendo a inteligência recente, habilitando a Guarda das Highlands, saberia exatamente onde atacar?
Ewen esteve atônito. Janet era responsável por isto? Ele subestimou sua importância e sabia disso. Ele lhe devia uma desculpa — uma de muitas — se ela pelo menos o escutasse novamente.
Mas descobrir exatamente quão envolvida nisso Janet estava só intensificava sua preocupação. Inferno, não era preocupação, era um medo entorpecente, de gelar o sangue e os ossos. As apostas seriam ainda maiores se os ingleses descobrissem seu papel.
Ele tinha tanta fé nela quanto Bruce, mas a fé de Ewen estava cega por algo que o rei não estava. Não foi até que Ewen perdeu tudo que pôde ver claramente o que dever e lealdade o impediram de reconhecer. A emoção queimando seu peito e despedaçando suas entranhas só podia ser uma coisa. Nada mais podia atingir este tipo de medo e miséria. Ele a amava. E ele tomou seu amor e o jogou de volta na cara dela.
Você terá a mim.
As palavras dela o comeram. Como ele pôde ter pensado que não seria suficiente? Ela era tudo. Sem ela, nada mais importava.
Pela primeira vez na sua vida, Ewen podia ver seu pai não com constrangimento, vergonha ou raiva, mas com admiração. Por ele ter feito o que Ewen não fez: Finlay teve a coragem de arriscar tudo e lutar pela mulher que amava.
E agora a mulher que Ewen amava estava Deus sabia onde, fazendo Deus sabia o que, porque ele foi tolo demais para fazer o que precisasse fazer para mantê-la. Quando pensava sobre como deu as costas depois de fazer amor com ela, como disse a ela que estava levando-a de volta e a entregaria a outro homem…
Não é de se espantar que ela fugisse. Ele passaria o resto de sua vida consertando isto, se ela deixasse.
Mas e se não tivesse a chance de explicar? E se algo acontecesse a ela e não pudesse dizer a ela o quanto a amava?
Ele tinha que encontrá-la, maldição. Ele rasgaria aos pedaços cada convento em ambos os lados da fronteira se tivesse que fazê-lo.
O perigo tinha finalmente feito Bruce ceder — mas só até certo ponto. Por isso, o papel de Ewen como observador. Quanto ao resto, a Guarda iria descobrir em breve.
— Isto é entre Bruce e eu. — Ele disse a Sutherland.
— Janet é minha irmã agora. — Disse Sutherland, seu temperamento notoriamente quente faiscando em seus olhos. — Se você fez alguma coisa para desonrá-la…
A boca do Ewen apertou. Sutherland teria que ficar na fila.
— Eu arruinei tudo, tudo bem. Mas estou tentando fazer isto direito. — Ele parou distraído, enquanto outra freira emergiu do priorado. Mas mesmo desta distância podia ver que o tipo físico não era certo. Precisava pelo menos chegar mais perto. Voltou-se para Sutherland impacientemente. — Não vou ter esta conversa agora. Assim que nós a encontrarmos, responderei a qualquer maldita pergunta que você queira. Agora, a menos que tente me deter, saia do meu caminho.
O desafio foi endereçado a todos os três homens bloqueando seu caminho. Eles olharam um para o outro e deviam ter reconhecido a determinação em seu olhar — ou talvez fosse o olhar selvagem, frenético, quase à beira da loucura que os convenceu.
MacLean balançou a cabeça e suspirou, dando um passo para o lado primeiro.
— É melhor você saber o que diabos está fazendo.
Ewen não sabia, mas tinha que fazer algo. Não podia ficar aqui e esperar outro minuto.
Seus olhos esquadrinharam a área diante dele enquanto se movia pelas árvores. O rio seguia para o lado leste do priorado. De lá ele teria uma visão mais próxima do pátio. Podia deixar sua armadura para trás e fingir ser um pescador...
De repente, ele parou. Seu olhar faiscou de volta para algo que ele tinha deixado passar mais cedo.
— O que é? — MacLean sussurrou, surgindo atrás dele.
— O rapaz. — Ewen disse. — Sentado nas pedras ao lado do rio.
— O que tem ele? — MacKay perguntou.
— Eu o vi antes. — Algo formigou na sua nuca. — A primeira vez que eu estive aqui e alguns dias atrás.
Sutherland franziu o cenho.
— O que é suspeito em um menino local pescando?
— Nada. — Ewen respondeu. — Se é isso que ele está fazendo. Mas olhe, sua linha não está na água, e sim na beirada do banco, e ele não está observando o peixe. — Ele estava vigiando a porta para o priorado, exatamente como Ewen estaria fazendo, embora bem menos evidente.
— O que você pensa que ele está fazendo? — MacLean perguntou.
— Eu não sei, mas pretendo descobrir.
Ewen continuou de olho na porta e no menino pelo resto da tarde. Toda vez que uma freira saía, o rapaz parecia estudar seu rosto tão atentamente quanto Ewen. Nenhuma vez o menino verificou a linha de pesca ao lado dele. Ou o rapaz era o pior pescador do mundo ou estava vigiando alguém. Mas quem?
Se fosse uma coincidência, era uma que deixava Ewen inquieto. Maldita inquietação. E não pensava que era coincidência.
Suas suspeitas foram confirmadas pouco tempo mais tarde, quando a porta do priorado fechou para a noite e o rapaz abandonou seu posto. Segui-lo foi fácil, mas a cada passo do caminho, o coração de Ewen acelerava mais um pouco.
O rapaz não estava indo para uma casa na vizinhança, estava indo para Roxburgh. Mais especificamente, estava indo para o castelo.
Ewen não precisou seguir o rapaz pelo portão do castelo. De seu ponto de vantagem no topo de uma colina perto, podia ver com clareza arrepiante diretamente no pátio. Antes mesmo que o menino abordasse o edifício, Ewen adivinhou para onde estava se dirigindo. Ah inferno, a capela!
Seu sangue ficou frio, recordando o confronto de Janet com o padre do castelo no mercado.
Se o padre tinha alguém vigiando o priorado, Ewen sabia o que isso significava. O monge encontrado na estrada para Berwick tinha falado antes deles o matarem. A identidade de Janet foi comprometida. Foi como os ingleses os seguiram tão facilmente do priorado umas semanas atrás.
Isso também significava que Ewen não era o único caçando-a, e se não a achasse primeiro, o perigo que ele temia se tornaria muito real.
Graças ao comerciante e sua esposa, Janet tinha uma maneira de fazer contato com sua fonte sem voltar para Rutherford, um lugar para ficar e uma nova identidade.
Seu véu e escapulário ficaram escondidos na bolsa. Em seu lugar, ela usava uma touca de linho e se tornou um membro do crescente número de homens de negócios e comerciantes que estavam fluindo para as cidades. Na sociedade altamente estruturada feudal, os comerciantes estavam em algum lugar abaixo da nobreza e acima do resto — diferente do clero. Como filha de um comerciante, ela aproveitava do mesmo tipo de liberdade que tinha como freira para caminhar por ali sem ser percebida.
Janet não sabia o que tinha feito o comerciante reclamá-la como filha, mas ele a salvou de uma situação que podia ter sido muito difícil e provavelmente ameaçara sua vida. Uma que ela podia muito bem não ter podido se livrar com conversa.
Mesmo com a reivindicação do comerciante, Sir Thomas estava suspeitando. Não foi até que a esposa do comerciante, Alice, avançou para brigar com ela por ficar olhando o bonito cavaleiro quando estava quase noiva de outro, e Janet rompeu em lágrimas, soluçando por que ela não queria se casar com um homem velho o suficiente para ser seu pai, que o escudeiro admitiu que ele podia estar errado, e Sir Thomas permitiu que eles partissem. Realmente, ele parecia querer escapar do drama de família e do olhar de Janet “me salve” o mais rápido possível.
Mas seu coração não parou de acelerar por dias, até bem depois que chegaram em segurança a Roxburgh. Ela agradeceu os Hendes pelo que fizeram e ficou aliviada quando eles não fizeram perguntas, mas simplesmente ofereceram a ela um lugar para ficar o tempo que precisasse.
Janet reembolsou sua generosidade com trabalho duro, ajudando-os a instalar sua loja no terreno mais baixo na Rua Alta, que também alojava uma loja de miudezas, negociante e ourives.
Em retrospecto, o enfrentamento com os soldados perto de Melrose provou ser um benefício inesperado. Isso deu a ela exatamente o que precisava: um modo de fazer contato com seu informante dentro do castelo, o que permitiu que ela evitasse lugares em que esteve antes. Ela levou as lições de Ewen a sério, não queria de nenhum modo conectar a Noviça Eleanor ou Irmã Genna a Kate, a filha do comerciante de lã.
No primeiro sábado de seu retorno, quando as damas do castelo passeavam pelas barracas do mercado, Janet estava pronta. Um rápido e acidental esbarrão, uma desculpa murmurada, e um olhar significativo fora toda a explicação necessária. Janet fez um ponto para caminhar lentamente de volta a loja dos Hendes, onde ela teve certeza que seu informante a veria entrar.
A culpa de Janet por qualquer perigo em potencial que ela pudesse ter posto os Hendes ficando com eles foi suavizada um pouco pelo sucesso imediato que o casal atraiu, depois que um número de homens e mulheres nobres do castelo entraram em sua loja e declararam sua lã a “melhor em Roxburgh”. Os Hendes estavam logo recebendo mais pedidos do que podiam dar conta, incluindo um dos próprios oficiais do Castelo Roxburgh, Sir Henry de Beaumont.
Em uma destas visitas, Janet deu um jeito de ter uma pequena conversa com sua informante enquanto mostrava a ela um tecido fino cor de rubi.
— Tem qualquer coisa que eu possa te ajudar, milady? — Ela perguntou, cuidadosa em manter suas palavras inócuas no caso de que estivessem sendo ouvidas.
A mulher sacudiu a cabeça.
— Temo que ainda não. Mas como tem muitas celebrações importantes por vir, estou certa de que pensarei em alguma razão para esta bela lã logo. — Ela sorriu. — Há muita excitação pelo castelo com o Natal chegando.
Janet traduziu a mensagem facilmente: nada ainda, mas algo grande estava definitivamente fermentando.
— Aye, milady. Até na aldeia, excitação está no ar. Devo estar no meu primeiro banquete de St. Drostan amanhã. Ouvi que é bastante celebrado.
— Aye, haverá um banquete no castelo também. — A dama disse.
Outra dama veio naquele ponto e as interrompeu. O grupo saiu logo em seguida, mas não antes de sua informante prometer que a veria no próximo sábado, dia de mercado, consequentemente daqui alguns dias.
Desapontada que ainda não houvesse nada para reportar e que sua curta estadia em Roxburgh se estenderia por pelo menos mais alguns dias, Janet fez o melhor que podia para se manter ocupada.
O trabalho duro manteve sua mente fora do seu coração partido e a conversa difícil que teria com Robert quando finalmente voltasse para as Highlands. Por mais que o prospecto de vestir um hábito novamente — desta vez de verdade — não fosse atraente para ela, um casamento arranjado era ainda menos.
Deus do Céu, Walter Stewart? Sangue nobre ou não, ela não se casaria com um rapaz que mal tinha idade suficiente para ter uma barbicha no queixo. Ela não podia suportar pensar em estar com ele… Intimamente.
Na maior parte do tempo, Janet tinha sucesso em manter sua mente fora da paixão que Ewen mostrou a ela no celeiro aquela noite — o modo que ele a fez sentir, o quanto foi incrível senti-lo dentro de seu corpo, a emoção avassaladora que a agarrou, — mas ficou lá.
Ela nunca compartilharia isso com outro homem. Sabia disso com cada fibra do seu ser e do fundo do seu coração sangrando, rasgado em pedacinhos e estraçalhado.
Contudo, aparentemente Janet não era uma perita em esconder sua aflição como ela pensava.
— O banquete fará bem a você. — Alice Hende insistiu depois de retornar da confusão do St. Drostan esta manhã. Ela olhou Janet de forma conhecedora. — Seja quem ele for, não vale a pena você trabalhar até a exaustão.
Conhecendo a astúcia da Alice, Janet não tentou negar. Mas também não queria falar sobre isto. Ainda estava muito crua.
— Você é amável, mas acho que é melhor se eu ficar para trás. Você e Mestre Walter vão e aproveitem a trupe de artistas. Você pode me contar tudo sobre isto.
Alice põe as mãos nos quadris largos.
— Não.
Janet piscou.
— Não?
— Aye, não. Você está indo para o banquete, se divertirá e pronto.
Atarracada e com rosto plano, a esposa do comerciante se assemelhava a cada babá com espinha de ferro que Janet já teve. Alice deu a luz a cinco filhas, todas já estabelecidas, e não havia uma desculpa ou explicação que já não tinha ouvido. Janet sabia que podia bajular ou pedir até o sol descer e nascer novamente, mas Alice Hende não ficaria balançada.
Uma emoção encheu seu peito. O que tinha na teimosia e dominação que se tornou tão cativante para ela?
Piscando para afastar as lágrimas, Janet acenou com a cabeça. Sabia quando perdia.
E na verdade, mais tarde aquela noite, ficou agradecida pela insistência de Alice Hende. Pela primeira vez em dias — semanas? — Janet riu, e pela primeira vez em anos, ela dançou.
A rua alta estava esfuziante em bom humor e luz da fogueira. Um palco tinha sido montado para a apresentação dos artistas, grandes mesas de cavalete estavam carregadas com comida e bebida, e músicos foram organizados para providenciar as danças.
Alice insistiu que Janet usasse a túnica de acabamento fino que Mary deu a ela, e a mulher mais velha arrumou seu cabelo em uma toquinha bordada que deixou uma cascata de cachos dourados caindo por suas costas.
Janet não sentia falta de parceiros, e rodando ao redor da fogueira, suas bochechas quentes e pulmões ofegando por ar, sentiu-se como uma menina novamente. Bonita e viva e, por um momento, despreocupada.
Não percebeu quanta atenção estava atraindo.
Ela escapuliu para longe por um momento na taverna para usar de privacidade — que era não mais do que um buraco na parede com um assento de madeira acima da fossa — quando uma figura encapuzada deu um passo no seu caminho quando ela saiu do prédio.
Seu coração parou. Mas levou apenas alguns segundos para reconhecer a figura esbelta e encapuzada na luz da tocha. Céus, era sua informante!
Janet imediatamente olhou de relance, procurando por um lugar para escapar da multidão, e se arremessou dentro na estreita passagem que corria ao lado da taverna. Era mais escuro lá e haveria menos chance de alguém vê-las.
Seu coração estava martelando, sabendo que devia ser algo importante para trazer sua informante aqui desse jeito.
— Temi que eu não pudesse achar você. — A dama disse. — Mas então eu vi você dançando. — A luz da tocha não se estendia para dentro da passagem, e seu rosto estava escondido na sombra escura do capuz coberto, mas Janet podia dizer pela sua voz que ela estava sorrindo. — Confesso que não reconheci você a princípio. A bonita e sorridente filha do comerciante está bem longe de uma freira italiana.
Janet estava contente que a outra mulher não podia ver seu rubor.
— Você assumiu um grande risco em vir aqui.
— Eu precisei. Isto não pode esperar. — Ela estendeu um pedaço dobrado de pergaminho para Janet, que Janet depressa deslizou na bolsa em sua cintura. — Você deve levar isto para ele a toda velocidade. Pode já ser tarde demais. As conversas são estabelecidas para depois de amanhã. Você deve achá-lo antes dele chegar a Selkirk amanhã.
Janet era só uma mensageira. Ela não era normalmente privada de informações, então sabia que devia ser sério para a mulher estar dizendo isso a ela.
— Selkirk?
— Aye, para as negociações de paz. — A mulher tomou o braço da Janet e a puxou mais perto. Janet podia ver o pânico cintilando em seus grandes olhos. — É uma armadilha. Os ingleses querem tomar Bruce.
Ela não estava aqui. Maldição, ele estava tão certo que ela estaria.
Tenho que voltar no Dia de St. Drostan, ela disse.
Então onde diabos ela estava? Não no priorado. Nem no hospital, de fato. Ewen deixou Sutherland vigiar o priorado e seguiu o grupo de freiras que caminhavam para o hospital depois das orações matutinas. Ordens ou não, seu papel como observador terminou ontem à noite no momento em que percebeu que o padre a estava vigiando. Posando como viajante na estrada, ele examinou cada pessoa naquele hospital: leproso, freira, viajante, o doente ou fraco — até o grupo de damas do castelo que chegaram para dar esmola no dia santo.
Mas ela não estava ali.
Ele estava ficando sem tempo. Ficando sem ideias. Nunca se sentiu tão impotente, nunca esteve tão perdido. Na única vez em que realmente precisou encontrar alguém, suas habilidades falharam.
Pior, não podia escapar da sensação que ele de alguma maneira devia saber. Como não percebeu que alguém estava observando-a? Devia ter percebido que os soldados de Douglas não podiam tê-los rastreado tão rápido. Culpou-a por descuido quando ele mesmo perdeu os sinais.
Era depois do escurecer quando deixou o hospital para se reunir com Sutherland no priorado. MacLean e MacKay partiram tarde na noite anterior, depois de atender alguns negócios na floresta e não sem alguma discussão.
— O rei não vai gostar disto. — Disse MacLean. — Ele ordenou que todos nós voltássemos amanhã. Você nem mesmo sabe se ela está aqui. Pode voltar amanhã à noite se cavalgar duro.
A boca do Ewen apertou. Desejou muito que ela não estivesse aqui, que estivesse em algum lugar seguro e longe. Mas conhecia Janet. Se ela pensasse que era importante, nada a manteria longe.
— Ela está aqui. — Disse de modo plano. — Não estou nem aí para ordens. — Seu companheiro ergueu a sobrancelha ao ouvir isso, mas Ewen o ignorou. — Vocês três vão e retornem quando puderem. Não vou deixá-la.
MacKay pareceu cético.
— Tem certeza que sabe o que está fazendo? Se estiver errado, o rei não vai ficar feliz.
O rei não estava feliz agora. E Ewen não estava errado.
— Você deixaria sua esposa?
MacKay não disse nada.
— Em um segundo. — MacLean disse de modo plano.
Ewen lançou a ele um olhar enojado.
— Bem, não vou deixá-la.
Nenhum dos homens declarou o óbvio: ela não era sua esposa e provavelmente nunca seria.
No fim, foi MacKay e MacLean que partiram para se juntar aos outros e relatar para o rei o que aconteceu. Sutherland insistiu em ficar com Ewen.
— Se eu partir e algo acontecer com ela, minha esposa nunca vai me perdoar. Acho que vou me arriscar com Bruce.
Conhecendo Mary, era provavelmente uma sábia decisão. Mas Ewen estava contente pela espada extra — e o par de olhos extra.
Ele assobiou para avisar Sutherland que se aproximava. O mais novo membro da Guarda das Highlands, o homem que podia preencher quase qualquer lugar e assumia o trabalho perigoso de trabalhar com o pó negro depois da morte de um de seus irmãos, respondeu com um assobio antes de saltar de uma árvore à frente dele.
— Alguma coisa? — Ewen perguntou.
— Não. A prioresa trancou cerca de uma hora atrás. Assumo pelo seu tom que você também não teve muita sorte.
Ewen balançou a cabeça sombriamente.
— O rapaz mostrou seu rosto?
Um flash de branco apareceu no luar enquanto Sutherland sorria.
— Depois de ontem à noite? Não acho que ele andaria dentro de uma milha deste lugar, mesmo se você não o estivesse pagando para ficar longe. — Ele riu. — Não percebi que tínhamos tantos admiradores nas fileiras dos espiões ingleses.
— O rapaz não sabia que diabos estava fazendo.
Na noite passada, antes de MacKay e MacLean partirem, eles esperaram que o rapaz deixasse o castelo, seguiram e o cercaram na floresta. Tinha vezes que sua reputação de fantasma vinha em bom uso. O rapaz, provavelmente de dezesseis ou dezessete, inicialmente ficou apavorado. Ele soltou o que estava fazendo para o padre quase antes deles terminarem de fazer a pergunta. Por mais de um mês ele ganhou um centavo por dia para vigiar a nova freira no priorado e relatar para o padre imediatamente se ela fosse a qualquer lugar ou fizesse qualquer coisa. O menino não entendeu por que ainda estava vigiando o lugar quando a freira partiu com um homem uma quinzena mais cedo, mas estava contente em coletar seu dinheiro pelo tempo que o padre quisesse pagar.
Ele ficou atônito ao saber que ele estava espionando para os ingleses.
— Não sou um traidor. — Ele insistiu. — Eu sou um escocês.
O rapaz esteve tão ofendido, tão envergonhado, que Sutherland estava certo, Ewen provavelmente não precisava pagar a ele. Mas achou que era melhor assegurar que o rapaz não tivesse segundos pensamentos.
Eles o instruíram a se ausentar do priorado, mas continuar relatando ao padre todas as noites como antes. Posteriormente era para ele encontrá-los e seria pago um xelim — mais do que sua família provavelmente ganhava em uma semana.
Uma vez que estava claro que eles não queriam lhe fazer qualquer dano, o rapaz agiu como se estivesse na presença de semideuses, polvilhando-os com perguntas até que foram forçados a mandá-lo embora.
Vocês realmente podem aparecer da névoa?
Suas espadas realmente vêm de Valhalla?
Vocês têm cabeças debaixo das máscaras ou seus olhos de demônio brilham do vazio?
Para onde vocês vão quando desaparecem?
— Quem sabe talvez devêssemos encontrar um novo recruta? — Sutherland disse.
Ewen teria rido se não estivesse pensando que estariam precisando de um logo.
— Você nunca sabe.
— E aí?
— Voltamos para Roxburgh e esperamos pelo rapaz reportar de volta para nós.
— E então?
Ewen desejou muito que ele soubesse. Estava fora da vantagem. Não percebeu quanto havia fixado suas esperanças no dia de hoje. Mas uma coisa era certa: não ia desistir até que a encontrasse.
Janet olhou fixamente para sua informante em atordoada descrença. Os ingleses queriam capturar Robert em Selkirk sob a proteção de uma negociação de paz? Desafiava cada noção de honra. Era uma violação de um código entre soldados em guerra — por uma longa tradição, negociações eram terreno sagrado sob a cobertura de uma trégua.
— Você tem certeza?
— Eu não arriscaria isto se não tivesse. Está tudo aí. — Sua informante disse, referindo-se ao pergaminho. — Fui somente sortuda que achei isso mais cedo hoje à noite. O banquete do dia da celebração tornou possível que eu escapasse sorrateiramente do castelo. Mas devo retornar antes de alguém notar que saí. Você pode levar isto para ele a tempo?
A mente de Janet já estava correndo com tudo que tinha para fazer. Ela se prepararia para partir imediatamente, ficando apenas tempo suficiente para dizer adeus aos Hendes, juntar seus pertences, e com um pouco de sorte conseguir um cavalo. O banquete ajudaria nesse sentido.
— Posso.
As palavras mal deixaram sua boca antes delas ouvirem passos e o som de vozes.
— Onde ela foi? — Um homem disse furiosamente.
Janet sentiu um flash de alarme, mas disse a si mesma que não era nada. Provavelmente seu próximo parceiro de dança procurando por ela.
Os olhos das duas mulheres se encontraram na escuridão.
— Vá. — Disse Janet. — Alguém está vindo.
A mulher assentiu.
— Boa viagem. — Ela sussurrou, e para surpresa de Janet, ela se inclinou para lhe dar um rápido abraço antes de virar e ir.
Mas a mulher mal deu alguns passos quando o desastre atingiu.
— Lá! — Um homem gritou. — Atrás dela! Não a deixe escapar.
Um homem veio correndo em direção a elas — um homem grande. Janet não teve tempo para pensar. Agiu por instinto, e seu primeiro era proteger a outra mulher. Bem quando o homem começou a correr passando por ela, entrou em seu caminho.
Sua intenção era fazê-lo tropeçar e dar um passo fora do caminho, mas isso não funcionou do modo que ela planejou. Sua saia embolou no seu pé e ele foi capaz de agarrá-la. Eles atingiram o chão juntos.
O golpe chacoalhou o ar de seus pulmões, mas ela se recuperou rápido e imediatamente se levantou. Infelizmente, o grande imbecil também. Ele era muito mais alto que Ewen, embora não cheirasse tão bem. Este homem fedia como se trabalhasse com porcos o dia todo.
Ela teria se contorcido para longe, mas as mãos dele eram como grandes e maciços grilhões.
— O que significa isto? Tire suas mãos de mim!
Surpreendentemente, ele fez. A autoridade de seu tom deve ter surpreendido o homem. Ele era grande e volumoso, com um rosto plano de camponês, feições bruscas e um pescoço que parecia triturado em seus ombros. Se fosse possível parecer estúpido, ele fez um bom trabalho.
Janet relaxou um pouco. Sair disto conversando não devia ser muito difícil.
— Como se atreve a me atacar assim! Olhe o que você fez. — Ela levantou a saia. — Você rasgou meu vestido. Percebe o quanto isto custa? Pode ter certeza que vou mandar a conta para você pagar pelo conserto.
Ele recuou um passo ou dois e ela tentou não rir.
— Eu não queria...
Ela não o deixou terminar, mantendo-o na defensiva.
— Você faz de seus negócios abordar mulheres inocentes em becos escuros?
— Não, fui informado que… Ele me disse...
Ele olhou em direção à rua e Janet deu uma olhada de relance no homem que estava se aproximando. Foi ele quem emitiu a ordem.
Ele estava mais ou menos a seis metros de distância e olhando direto para ela.
— Então é você. — Ele disse. — Pensei, mas não estava certo. Está bem longe da Itália, Irmã Genna.
O sangue drenou de seu rosto. Oh Deus, o padre do mercado! Ela não sairia dessa conversando.
Mas havia uma coisa que ela podia fazer. Antes do grande imbecil recolher seu juízo e agarrá-la novamente, ela correu.
CAPÍTULO 24
— Atrás dela! — O padre gritou. — Guardas! Não a deixem escapar.
Janet derrubou o imbecil tão rápido quanto suas pernas a carregaram.
Uma olhada por cima do ombro mandou sua pulsação saltando pela garganta. Figuras estavam sombreadas na boca do beco atrás dela. Uma meia dúzia de soldados, talvez mais. Eles estavam mais perto do que ela percebeu.
Ela tomou algum conforto no conhecimento que sua fonte provavelmente conseguiu escapar, mas isso foi atenuado pela realização do que estava em jogo. Se não saísse daqui, se não chegasse a Bruce a tempo, tudo podia estar acabado.
Sabendo que tinha somente alguns minutos para sair da aldeia antes deles bloquearem as estradas, dobrou a primeira esquina e mergulhou em outro beco escuro.
Podia ouvi-los perseguindo-a, mas não pensou sobre isto. Seus pulmões estavam estourando e suas pernas estavam enfraquecendo, mas não diminuiu a velocidade. Manteve a mente focada em sair da aldeia. Se pudesse fazer isto para a floresta, teria uma chance.
Mas eles estavam se espalhando atrás dela. Aproximando-se.
Ela precisava de um cavalo. Mas isso teria que esperar. Se pudesse apenas fazer isto para Rutherford, seria capaz de achar algo.
E talvez…
Seu coração apertou e não foi pela falta de ar nos pulmões. Ela não tinha nenhuma razão para pensar que ele estaria ali, mas se Ewen tivesse vindo atrás dela, Rutherford seria sua melhor chance de encontrá-lo. Eu vou encontrar você. As palavras dele de quando eles estavam sendo caçados voltaram para ela.
— Ela está indo para a floresta!
Seu estômago caiu no chão ouvindo cavalo e cavaleiro se aproximarem atrás dela.
Mas ela estava quase ali. Um momento mais tarde ela mergulhou em pesada escuridão. Isso a engoliu como uma tumba. Uma em sentido figurativo, ela esperava.
Experimentou uma nova explosão de energia com o conhecimento que as árvores diminuiriam a velocidade dos cavalos e os fariam correr por entre arbustos e samambaias, empurrando galhos fora do caminho quando ela podia vê-los, não notando os arranhões que rasgavam sua pele quando não podia.
Os sons atrás dela começaram a sumir. Manteve-se indo na mesma direção, rezando para que fosse a certa, mas a escuridão e árvores levaram seu senso de direção.
Após outro punhado de minutos, ela teve que parar. Curvando-se, ela engoliu ar como uma pessoa faminta. Podia ser capaz de caminhar por dias, mas correndo a toda velocidade por vinte minutos minou-a de cada pingo de energia.
Ainda tinha que continuar.
Mais lento agora, mas ainda correndo, ela trançou passando através das árvores. Por favor, deixe ser a direção certa.
Por tantas razões, ela desejou que tivesse Ewen com ela. Ele não se perderia, o que era mais do que ela podia dizer de si mesma. Com as nuvens, não havia nem estrelas para guiá-la. Estava indo pelo instinto agora, procurando por qualquer sinal de algo familiar. Era menos de oito quilômetros entre Roxburgh e Rutherford, com floresta entre elas na maior parte do caminho. A estrada era ao norte de onde esperava que estivesse.
Os sons se foram agora. Mas não se permitiu relaxar, sabendo que a floresta podia absorver som tão eficazmente quanto fazia com a luz.
Foi por isso que ela não o ouviu até que fosse tarde demais.
Um homem a agarrou por trás, prendendo seus braços ao lado com seu braço grande revestido de aço. Uma manopla de couro bateu em cima da sua boca antes que ela pudesse gritar. Seus pés chutaram de modo selvagem, mas inúteis no ar.
— Eu a peguei! — Ele berrou.
Algo não estava certo. A inquietação do Ewen começou a aumentar cerca de uma hora atrás. O rapaz estava atrasado.
— Ele devia estar aqui agora. — Ele disse.
— Talvez tenha sido atrasado pelos banquetes? — Sutherland sugeriu. — Parece ser uma grande celebração, se esses fogos são qualquer indicação.
De seu ponto de vantagem na colina, eles podiam ver o portão principal e dentro do pátio do castelo. O castelo de Roxburgh assentava na ponta de uma pequena península de terra na conjuntura dos rios Tweed e Teviot. A aldeia ficava atrás e sua maior parte estava bloqueada da vista, mas eles podiam ver o rugido dos fogos.
Nesta hora da noite, o portão para o castelo normalmente estaria fechado, mas devido ao banquete, as pessoas ainda estavam fluindo livremente dentro e fora.
— Vou entrar lá. — Ewen disse.
— Você está louco? O castelo de Roxburgh é um dos castelos mais fortemente defendidos nas fronteiras. Existem pelo menos quinhentos soldados ingleses guarnecidos ali nesse instante esperando retomar a guerra, onde um dos seus maiores objetivos é matar os membros do afamado exército secreto de Bruce. E você vai simplesmente caminhar direito para lá sem um plano e espera que eles não te notem?
Ewen cerrou os dentes.
— Aye. Estou certo como o inferno que não vou me manter de pé aqui. Com o banquete, isto pode ser minha melhor chance de entrar lá. E tenho um plano. Aliviarei um dos homens armados celebrando na aldeia de seu traje.
— Isso é um plano? É um maldito suicídio, isso que é.
— Se o contato dela está no castelo, Janet pode estar lá agora mesmo. O banquete seria uma oportunidade perfeita.
— Isto é um inferno de muito risco para uma possibilidade.
— Possibilidades são tudo que tenho agora. A menos que você tenha uma ideia melhor. — Ele desafiou furiosamente.
A mandíbula do Sutherland se tornou uma linha dura. Ele o encarou por um longo momento.
— Eu irei com você.
Ewen balançou a cabeça.
— Preciso de você aqui fora. Se algo der errado, posso precisar que você use aquele seu pó para uma distração.
Sutherland praguejou.
— Com toda maldita certeza queria que Viper estivesse aqui.
Ewen não podia discordar. Lachlan MacRuairi tinha uma habilidade única de entrar e sair de quase qualquer lugar. Mas agora Ewen estaria agradecido por qualquer um dos seus irmãos — ou ex-irmãos. Se alguma coisa acontecesse, duas espadas contra quinhentas não eram exatamente chances encorajadoras.
Maldição, era difícil acreditar que ele não seria uma parte disso mais. Lutar nesta equipe foi a maior coisa que ele já fez. E estes homens…
Eles eram os amigos mais próximos que ele já teve. Eram como irmãos para ele. Deixar isso tudo para trás seria mais duro do que ele queria pensar.
Ele e Sutherland tinham acabado de terminar os detalhes — não existiam muitos — de seu plano quando Sutherland pegou um movimento vindo do lado da colina.
— Tanto para ser discreto. — Sutherland disse ironicamente. — O rapaz não está exatamente tentando esconder sua ânsia de chegar aqui.
O pulso do Ewen acelerou enquanto o rapaz se aproximava suficiente para ele decifrar sua expressão.
— Não é somente ânsia, algo está errado.
Os olhos do rapaz estavam arregalados quando ele subiu cambaleando a extremidade da colina.
— Desculpe… Atrasado… Senhora… — ele ofegou e arfou entre grandes golpes de ar.
Ewen o agarrou pelos ombros e o forçou a se endireitar ante a menção de “senhora”.
— O que tem a senhora? Você a viu?
Os olhos do rapaz ficaram tão arregalados que Ewen pensou que eles estalariam para fora. Ele estava formando palavras, mas nenhum som estava saindo.
— Acalme-se. — Sutherland disse ao lado do Ewen. — Você o está assustando.
Ah inferno. Ewen o soltou e tentou moderar seu tom quando sentiu como se rugindo em voz altíssima.
— O que aconteceu?
O rapaz olhou para ele cautelosamente, ainda tentando pegar o fôlego. Finalmente articulou as palavras que enviaram cada gota de sangue correndo do corpo do Ewen.
— O p-padre… Ele achou a senhora.
Janet lutou com tudo que tinha, mas o soldado parecia mal notar enquanto a arrastava pela floresta. A estrada estava mais perto do que ela percebeu. Depois de mais ou menos cinquenta jardas, eles saíram das árvores e ele a empurrou adiante com força suficiente para colocá-la de joelhos. Ela olhou para cima e se viu rodeada por homens a cavalo. Além do padre e do imbecil que a pegou antes, ela contou meia dúzia de soldados.
Mas nenhum pareceu mais perigoso que o padre. Não havia nada de religioso no olhar ameaçador fixo nela.
— Teve uma agradável corrida, minha querida?
Janet sentiu uma pontada de pânico, mas forçou-a de lado. Tinha que pensar. Não desistiria sem lutar. Um punhado de explicações diferentes passou pela sua cabeça, mas não tinha tempo para pesar todas elas. Foi com a primeira coisa que veio à sua mente: fingir que não sabia quem ele era.
— Você é um padre? — Ela disse se levantando. — Graças a Deus! Pensei que você estava com este homem que estava me abordando. — Ela apontou para o imbecil.
O padre balançou a cabeça com um som de tsc.
— Você pode esquecer o fingimento, minha querida. Eu sei quem você é. Seu amigo, o monge, foi mais comunicativo, com um pouco de persuasão, claro.
O sorrisinho enviou calafrios percorrendo sua espinha cima a baixo. Pobre Thom.
— Eu conheço sua transformação da freira italiana para noviça Eleanor. Suspeitei que você estava ajudando o rei usurpador a passar mensagens, mas imagine minha surpresa e prazer quando nos levou direto a seu exército secreto. Estou mais interessado em saber os nomes dos homens com quem você esteve viajando.
— Não sei sobre o que você está falando. — Ela persistiu. — Você deve ter me confundido com outra pessoa.
Os olhos dele estreitaram. Os soldados moveram seus cavalos mais perto ao redor dela, e ela teve que lutar com o desejo opressivo de não tentar se arremessar entre eles e correr. O instinto de fugir do perigo se aproximando era primitivo.
— Você acha que remover um véu e colocar um vestido bonito vai me enganar? — O padre exigiu. — Levei um momento quando vi você dançando, mas não esqueço um rosto. Especialmente um tão bonito quanto o seu. É uma vergonha. Tanta beleza se perdendo.
Janet não gostou do som disto. Ela não sabia o que dizer. Sua língua pareceu embolar na sua boca. Ele não era o cavaleiro ou o escudeiro, e ela não tinha o comerciante e sua esposa para ajudá-la. Não tinha ninguém para ajudar. Deus, o que ela não faria por Ewen e seus amigos agora.
Tudo que tinha era sua genialidade — que parecia estar falhando com ela agora — e seu punhal. Teria que esperar pela hora certa para tentar escapar, o que com todos estes homens a rodeando, claramente não seria agora.
Ela tentou sua sorte com os soldados.
— Parece existir algum mal-entendido. — Ela disse para um deles. — Talvez fosse melhor se nós voltássemos para a cidade...
O padre não a deixou terminar.
— Não existe nenhum mal-entendido. O que você estava fazendo com a mulher no beco? E quem é ela?
— Mulher? — Janet repetiu, como se confusa. — Oh, você quer dizer a mendiga?
— Você normalmente abraça mendigas? — O padre perguntou, um brilho astuto em seus olhos.
Janet amaldiçoou seu erro, ela esqueceu do abraço.
— Eu mesma fiquei surpresa, Padre. Mas ela estava mais do que agradecida pela moeda que eu dei a ela.
— Acho que não, Genna ou Eleanor ou qualquer que seja o nome que você está usando agora. Mas não é sua identidade que me preocupa. — Obviamente o monge morto não teve conhecimento do seu nome real ou ela suspeitava que o padre estaria muito interessado. — Nós suspeitamos que alguém esteve vazando informações do castelo, e você vai nos dizer quem é, mas o importante primeiro. — Janet não gostou do sorrisinho no rosto dele quando virou para o soldado que a capturou. — Reviste-a.
As palavras dele enviaram um arrepio por sua espinha. Ela sabia que não levaria muito tempo para acharem o pergaminho na bolsa em sua cintura. E se eles achassem…
Não queria pensar sobre isto. Não era apenas sua vida em jogo, mas também a de sua informante, a do rei e o futuro da Escócia propriamente dito. Se Bruce fosse capturado agora a causa estaria perdida. Quem mais seria valente suficiente para se levantar contra o reino mais poderoso da cristandade? O rei Edward colocaria outra marionete no trono ou ele mesmo o tomaria.
Não podia deixá-los encontrar o pergaminho, tinha que escapar.
O tempo para conversa acabou. Ela agarrou seu punhal, mas não foi rápida o suficiente. O soldado agarrou seus braços em um aperto esmagador e rodou-a para encará-lo.
— Solte-me! — Ela conseguiu livrar uma de suas mãos e atacou o rosto dele. Uma de suas unhas pegou na bochecha dele, mas isso só o deixou com mais raiva.
Na luz da tocha ela conseguiu olhá-lo pela primeira vez e quase desejou a escuridão. Ele não era excepcionalmente alto como o homem que a pegou no beco, mas o que lhe faltava em altura, sobrava em largura e tamanho. Ele era largo como um carvalho, troncudo e forte. Embaixo da beirada do seu elmo, tudo que podia ver era um nariz espremido e torto que parecia que tinha sido curado na mesma posição em que foi esmurrado. Uma barba espessa e escura que cobria a metade inferior de seu rosto e uma boa porção do seu pescoço também, e olhos escuros penetrantes que estavam olhando fixamente para ela com raiva.
— Cadela! — Ele pegou o pulso dela em sua mão e apertou com tanta força que ela pensou que ele queria estalar o osso. Ele a soltou tempo suficiente para bater o punho na mandíbula dela.
Sua cabeça estalou para trás, e ela gritou de dor e do choque de ser golpeada. Ele bateu nela novamente, desta vez com as costas da mão na sua bochecha. O sangue escorreu por seu rosto enquanto lágrimas derramaram de seus olhos. Mas mesmo assim ela lutou de volta. Chutou selvagemente — instintivamente, — mas ele bloqueou seus golpes com facilidade. Atingiu-a repetidamente, batendo até sua submissão. Sua mandíbula… Sua bochecha… O lado de suas costelas. Sua cabeça nadou, a dor era avassaladora. Levou tudo que tinha só para ficar de pé.
— Já chega. — Um dos outros soldados disse, desgosto evidente em sua voz. Aparentemente nem todos os soldados eram brutos que gostavam de bater em mulheres. — Vamos ver se ela tem algo primeiro.
O soldado bruto a girou novamente, segurando seus dois pulsos em uma mão como um torno, enquanto o outro apalpava rudemente seu corpo com óbvio deleite.
— A bolsa. — O padre disse impacientemente. — Dê-me a bolsa.
Ela gritou e fez um último esforço frenético para proteger a missiva, mas ele estalou o cinto de couro de sua cintura e o lançou para o padre.
Através das lágrimas e sangue que borrou sua visão, ela viu quando o padre removeu o pergaminho da bolsa de couro. Um brilho de vitória apareceu em seu olhar enquanto um dos homens segurava uma tocha acima de sua cabeça para ele ler.
Ele voltou a dobrar a maldita evidência e a deslizou em suas vestes.
— Vejo que eu estava certo sobre você e a dama. Acho que com isto Lorde de Beaumont deve ser capaz de definir a fonte de seu vazamento. Embora não será metade da diversão que seria se Randolph estivesse aqui para retirar as informações de você. É um talento particular dele.
Entorpecida com a dor de seu espancamento, seu corpo contundido e machucado ainda conseguiu fica gelado. Tortura! Oh Deus, dê-me força. Embora soubesse do perigo desde o início — e sabia que algo assim podia acontecer — ela esperava nunca ter que enfrentar isto.
O padre deve ter lido o medo em seus olhos porque sorriu.
— Odeio privá-lo de sua diversão. — Ele olhou para Randolph. — Veja o que você pode descobrir. Se ela não te disser o que você perguntar, mate-a.
O coração de Janet pulou para sua garganta.
— Espere. Você não pode fazer isto. Você é um homem de Deus.
— E você é uma traidora. O homem que você chama de rei é um assassino e excomungado pelo papa. Deus não tem misericórdia de rebeldes.
Janet virou para o soldado que falou com ela antes.
— Por favor.
Mas ele deu as costas friamente, ignorando seu patético apelo. O cavalheirismo terminou com a descoberta da missiva.
Um momento mais tarde, o padre, seu assecla imbecil e os outros soldados estavam partindo, deixando-a com seu torturador e executor.
— Não leve muito tempo. — o padre disse por cima de seu ombro direito antes deles desaparecerem de vista.
O soldado bruto começou a arrastá-la de volta para dentro das árvores. O coração de Janet estava martelando contra suas costelas — suas costelas provavelmente quebradas — e cada instinto a urgia a usar o que restou de força para lutar de volta. Mas tinha que ser paciente e esperar pela oportunidade perfeita. Ela teria apenas uma chance de pegá-lo de surpresa. Então forçou a luta de seus músculos, tornando-os tão moles quanto uma marionete de trapos.
Quando eles alcançaram uma pequena clareira, ele a lançou sem cerimônia no chão. Ela olhou para ele assomando acima dela e tentou empurrar de volta o pânico rastejando subindo por sua garganta.
Seu estômago embrulhou.
Ele alcançou debaixo de sua cota de malha de mensageiro e começou a soltar as amarras de sua calça.
— Não se mova, sua cadela estúpida. Nunca fodi ninguém para me contar o que quero ouvir, mas nunca interroguei alguém tão bonita quanto você. Ou tão bonita quanto costumava ser. Seu rosto não parece muito bom agora. — Ele riu.
Janet tentou calar as palavras dele. Tentou não ouvir o que ele estava dizendo enquanto se concentrava na mão alcançando lentamente sua bota.
Só mais alguns centímetros…
Ela ofegou quando deu um passo acima dela. Ele teria esmagado suas pernas com o pé se ela não reagisse separando-as. Mas sem saber, espalhando suas pernas ele a ajudou. Sua mão achou seu objetivo.
Ela agarrou o cabo do seu punhal dentro da mão enquanto ele se ajoelhava no chão diante dela.
Tudo que podia ver na luz da lua era o frio cintilar de seu sorriso.
— Você não vai lutar comigo? É muito mais divertido desse modo.
Seu coração estava na garganta. Prendeu a respiração, esperando pelo momento perfeito.
Ele ergueu sua cota de malha. Os olhos de Janet foram para a protuberância massiva de carne, e ela estremeceu com nojo.
Ele viu sua reação.
— Aye, é impressionante, não é? — Ele abaixou os olhos e envolveu a mão ao redor de si mesmo, dando a isto um golpe duro.
Foi quando ela o atacou.
Deslizou a lâmina da bainha e mergulhou na sua perna.
Ele gritou de choque e dor. Seus olhos arregalaram e então as mãos dele rodearam seu pescoço, apertando…
Ela gritou até que ficou sem ar.
Ewen tomou o que o garoto disse a ele — que o padre viu por um momento a senhora na aldeia e enviou soldados para o castelo para prendê-la, mas a senhora foi embora antes dele poder pegá-la — e ser capaz de esconder sua trilha para o lugar em que os cavalos a perseguiram dentro da floresta.
Deixando o menino vigiar a estrada, ele e Sutherland seguiram a trilha pela floresta. Como estava escuro, ele não teve escolha a não ser usar uma tocha.
Ele foi para um lugar onde outro conjunto de rastros aparecia da estrada, e um frio úmido percorreu seu sangue. Alguns metros mais tarde seus temores foram confirmados: quem a seguiu conseguiu pegá-la. Ele mal tinha começado a seguir os rastros para onde o homem a arrastou, quando ouviu um som que parou seu coração: um grito de mulher.
Ele não hesitou. Mesmo depois que Sutherland deixou escapar um aviso para ter cuidado, ele mergulhou pelas árvores. O som foi perto. Tortuosamente perto. Rezou tanto quanto nunca rezou na sua vida. Por favor, deixe-me chegar ali a tempo. Não deixe ser tarde demais. Só mais alguns segundos…
Ele irrompeu na clareira com a espada erguida. Quando viu a pequena figura lutar para se levantar debaixo do corpo de um homem inclinado, tudo dentro dele pareceu parar subitamente.
Sua mão caiu.
— Janet?
Ela levantou o olhar e ele fez um som aflito. As emoções eram tão ferozes e intensas que cambaleou. Seu estômago se revoltou. Sentiu algo assim só uma vez antes, logo após sua primeira batalha, onde a visão de todo o sangue o deixou doente. Mas isso não era nada ante a visão da mulher que amava espancada e ensanguentada.
— Ewen? — Ela disse suavemente. — Você me achou.
Ela oscilou e ele se lançou adiante, pegando-a contra ele. O coração dele estava batendo tanto que ele nem pôde respirar. Embalou-a nele como um pássaro quebrado. O pensamento de quanto ele chegou perto de perdê-la deixou seus joelhos fracos.
— Oh, Deus, você está bem? O que aconteceu?
Ela enterrou a cabeça em seu tórax e se agarrou nele com força, segurando-o como um gatinho assustado. Mas um olhar para o corpo do homem aos seus pés disse a ele que seu gatinho tinha o coração de um leão. Ela foi espancada, mas não derrotada, e apesar das emoções apertando suas entranhas, ele sentiu seu peito inchar de orgulho.
Ele beijou a cabeça dela, saboreando a textura sedosa de seu cabelo e o cheiro de jacintos que o lembravam de casa. Ela era sua casa. Como ele pôde não saber disso?
— Está tudo bem agora. — Ele murmurou ternamente. — Estou com você. Tudo vai ficar bem. Prometo.
Sutherland surgiu atrás deles e praguejou, a luz da tocha possibilitando que ele visse seu rosto. Isso pareceu quebrar o transe que os envolveu.
Ela olhou para ele, seu rosto contundido e ensanguentado de repente intento.
— Vocês têm que pegá-los antes que alcancem o castelo.
— Quem? — Ele perguntou.
Antes que ela pudesse responder, o som de um assobio agudo perfurou a noite. Ele e Sutherland trocaram um olhar. Sutherland respondeu, e alguns momentos mais tarde eles tinham companhia.
Janet estava em estado de choque. Ainda podia sentir as mãos do homem apertando seu pescoço. Pensou que ele iria matá-la. Ele teria também, se sua lâmina não encontrasse o lugar perfeito. Antes que ele pudesse acabar com ela, desabou em cima dela, seu sangue ainda derramando de seu corpo.
Fora deste pesadelo, Ewen tinha aparecido como uma imagem de um sonho. Ela levou um momento para perceber que ele era real.
Ele a encontrou. Estava segurando-a e ela nunca queria soltá-lo.
Mas então se lembrou do padre. Eles tinham que encontrá-lo antes dele chegar ao castelo. A vida de sua informante estava em jogo.
Porém sua explicação foi interrompida pela chegada de mais três fantasmas de elmos. Sob circunstâncias normais ela poderia ter sentido um faiscar de apreensão, mesmo sabendo que eram amigos, mas Ewen a estava segurando.
— Nós ouvimos o grito. — Um dos homens disse a modo de explicação. Magnus, ela percebeu, reconhecendo sua voz.
Quando ela girou de sua posição apertada contra tórax do Ewen olhar para ele, o grande Highlander jurou.
Ela mordeu o lábio saboreando sangue, e percebeu que seu rosto devia parecer tão ruim quanto se sentia.
— O que aconteceu, moça? — Ele perguntou, sua voz mais gentil do que ela já ouviu.
Ela devia parecer realmente mal.
— Não tenho tempo para explicar. Tem um grupo de cinco soldados, um padre e outro homem voltando para o castelo. Vocês têm que pegá-los antes que eles cheguem. Eles têm uma missiva designada a Bruce. Uma nota que pode significar uma sentença de morte para alguém dentro do castelo.
Ela sentiu movimento de um dos homens ao lado de Magnus e instintivamente retrocedeu para a segurança do peito do Ewen. Até debaixo do elmo escurecido ele parecia mais cruel que o resto.
— Para trás, Viper. — Ewen disse por trás dela. — Que diabos há com você?
O guerreiro o ignorou, seus olhos fixos nela — os olhos mais estranhos que ela já vira.
— Quando eles partiram?
— Alguns minutos atrás. — Janet pensou bem. — Talvez cinco?
— Eu irei. — O homem que Ewen chamou de Viper disse.
Janet virou para Ewen.
— Você deve ir também. Tem que ter certeza que eles os encontrem e ninguém escape.
Ewen cerrou os dentes, parecendo tão maleável quanto uma parede de pedra.
— Não vou te deixar.
— Por favor. — Ela disse. — Você deve fazer isso por mim. Eu te imploro.
Os olhos dele buscaram os dela.
— Não me peça isto. Você está ferida. Jesus, Janet, você está coberta de sangue, e seu rosto… — Sua voz foi interrompida. O luar quase fez seus olhos parecerem brilhantes de lágrimas.
Ela se arrumou para dar um sorriso vacilante, porém isso doeu.
— Meu rosto vai curar e o sangue não é meu. — Pelo menos a maior parte não era. — Mas preciso achar Robert o mais cedo possível, e não posso fazer isso a menos que eu saiba que a pessoa dentro do castelo está a salvo.
— Viper vai cuidar disso. — Ewen disse. Mas ele deve ter lido alguma coisa no rosto dela. — Isto é importante para você?
Ela assentiu.
— O parlamento em Selkirk é uma armadilha. Os ingleses planejam romper a trégua.
Mais de um homem praguejou ao ouvir suas notícias.
— Você tem certeza? — Ewen perguntou. — O romper da paz em uma trégua está além inclusive do curso normal da deslealdade inglesa.
Ela acenou com a cabeça.
— Tenho certeza. A prova está naquela missiva.
O de aparência cruel com o nome apropriado de Viper interrompeu.
— Nós precisamos ir se esperarmos pegá-los antes deles chegarem. Não é longe do castelo.
Ainda assim, Ewen hesitou. Não queria deixá-la.
O coração dela apertou.
— Vai ficar tudo bem. — Ela disse suavemente. — Meu cunhado me manterá a salvo. Não é, Sir Kenneth?
O marido da Mary sorriu e avançou.
— Como eu faria com minha própria esposa, minha senhora.
Sir Kenneth estendeu a mão e Ewen relutantemente a liberou.
— Vou cobrar isso, Ice. — Ele disse ferozmente.
Ewen, Viper e um homem que ela reconheceu como MacLean começaram a se mover, mas Magnus os deteve.
— Bàs roimh Gèill. — A morte antes de se render, ela traduziu. — E Hunter. — Ewen virou para olhar para ele. — Volte depressa. Acho que tem uma coisa que você esqueceu de nos dizer.
A expressão de Ewen se tornou austera — Deus, como ela sentia falta disto! — E ele assentiu. Com um último olhar para ela que falava de coisas não ditas, os três homens montaram e partiram.
Egoisticamente, Janet quis chamá-lo de volta. Queria sua força ao redor dela. Queria enterrar sua cabeça no peito dele, enrolar em uma bola e deixá-lo fazer isso tudo ir embora.
Mas ambos tinham trabalho a fazer.
Quando isso estivesse acabado...
Pela primeira vez desde que o deixou aquela noite no estábulo, Janet teve esperança.
CAPÍTULO 25
Castelo de Dunstaffnage, Lorn, Highlands Escocesas
Véspera de Natal 1310
Janet se sentou no baú aos pés da cama. A criada tinha acabado de terminar de organizar seu cabelo em um anel de ouro quando ouviu uma batida na porta.
Mandou a pessoa entrar, e sua irmã gêmea, Mary, entrou no quarto. Seus olhos se encontraram. Mary balançou a cabeça em resposta à sua pergunta não dita e os ombros de Janet afundaram.
A estranha comunicação sem palavras que ela e sua irmã compartilharam quando crianças voltou horas após estarem juntas. Estar com sua irmã novamente…
Emoção inchou seu peito. Janet não percebeu quanta falta sentia de sua gêmea até Mary correr para dentro do quarto onde ela foi trazida na sua chegada para ser atendida por Lady Helen, Esposa de Magnus. Elas olharam uma para a outra e irromperam em lágrimas. Passou bastante tempo antes de Helen poder retomar seus cuidados no rosto, costelas e o osso quebrado no pulso de Janet.
Janet ainda não podia acreditar que sua irmã a perdoou. Realmente, se Mary fosse acreditar, ela nunca a culparia. Não percebeu quanto o perdão da sua irmã significava para ela. Sentiu como se um grande peso fosse levantado. Para surpresa de Janet, falar sobre o que aconteceu naquela noite — a explosão, as mortes de Cailin e dos membros do clã MacRuairi, o desaparecimento de Janet — fora estranhamente catártico. Ela choraria e lamentaria as mortes dessa noite pelo resto da sua vida, mas estava pronta para colocá-los para descansar.
Apesar de sua alegria em ver sua irmã, a balançada da cabeça da Mary fez seu peito apertar com desapontamento.
— Ainda não tem nenhum sinal dele?
Era menos uma pergunta que um apelo. Não muito depois de Janet interceptar o rei com sucesso apenas alguns quilômetros antes dele alcançar Selkirk, avisando-o da deslealdade que estava adiante, Viper — quem agora ela sabia era o nom de guerre para Lachlan MacRuairi — e Eoin MacLean os alcançaram. Sua missão foi um sucesso. Eles recuperaram a missiva para o rei e asseguraram a segurança de sua informante. Contudo, Ewen os deixou em Roxburgh rumo a um destino que ele não disse. Ele deu a eles uma mensagem para ela — que retornaria assim que possível, — mas depois de mais de uma semana Janet estava começando a perder a esperança.
Ela não entendia. Pensou que quando ele a encontrou na floresta, quando a segurou nos braços, quando olhou em seus olhos com tal emoção terna e pungente, que ele mudou de ideia. Que percebeu que gostava dela e tinha a intenção de lutar por eles.
Mas onde ele estava? Por que não veio até ela? Alguma coisa tinha acontecido?
Sabendo de sua perna e do quão perto ele chegou da morte a assombrava. Não podia acreditar que confundiu a febre dele com embriaguez e o deixou quando ele estava tão mal.
Mary balançou a cabeça novamente.
— Kenneth falou com o rei, mas ninguém sabe onde ele está. Nem mesmo Robert.
Janet fez uma cara e se encolheu, tendo esquecido seus ferimentos. Embora Helen tenha dito que ela curaria e nem se lembraria de sua provação além de algumas pequenas cicatrizes, os cortes e contusões ainda estavam sensíveis.
Mas Robert, o assunto que provocou sua reação, precisava ser lidado. Ela não tinha falado com ele desde que ela e os outros relataram as notícias da deslealdade inglesa. Ele ficou agradecido e furioso com o que aconteceu com ela, mas eles ainda discutiriam Ewen ou o futuro dela.
— Não posso acreditar que eles simplesmente o deixaram partir quando ele ainda estava se recuperando. — Disse Janet com as mãos se retorcendo nas saias. — E se ele está caído ali fora em algum lugar…
— Os homens disseram que ele estava bem. — Mary a assegurou. — E Bella não ficou muito contente com Lachlan também quando ela a descobriu. Mas Lachlan assinalou que não era uma “maldita babá” e Ewen insistiu.
— Ewen não disse a ninguém que o rei o chutou para fora da Guarda? — Ela perguntou.
Mary disse ao exército secreto do Bruce — ou os fantasmas, como ela os chamava — eram conhecidos como a Guarda das Highlands entre os homens. Embora Janet não tivesse conhecimento das identidades de todos os guerreiros, ela tinha suas suspeitas. Se o Rei Edward fosse esperto, ele começaria a olhar para cada homem das Highlands com mais de 1,80m de altura, constituído como uma pedra e com um rosto incomumente bonito.
— Não. — Mary respondeu, — mas assim que eles descobriram, os homens convenceram o rei a reconsiderar o assunto.
Sabendo o quanto Robert podia ser teimoso, Janet perguntou:
— Como eles fizeram isto?
Mary deu de ombros.
— Eu não sei, mas seja o que for, deve ter sido persuasivo.
— Isto é ridículo. — Janet jogou as mãos para cima e se levantou. Ela começou a ir para a porta.
Mary olhou para cima de onde estava sentada na beirada da cama.
— Onde você vai?
— Ver se Robert reconsidera corretamente.
Mesmo se Ewen não a quisesse, ele não perderia tudo por causa dela.
Os anos foram duros com Robert, o Bruce. Ele mudou muito do belo jovem cavaleiro que capturou o coração da irmã mais velha de Janet, Isabella. Ele ainda era bonito, mas parecia mais velho que seus trinta e seis anos. A guerra, a dificuldade que ele enfrentou depois da derrota catastrófica na Batalha de Methven, e sua destruição pouco depois, ficaram estampadas nas linhas profundas marcadas em seu rosto. Mas foi sua expressão o que mais mudou. O cavaleiro sociável, alegre e cavalheiresco se foi para sempre, substituído pelo sério rei guerreiro, formidável e endurecido pela batalha.
Sentada na frente dele em seu solário particular, os homens dele partindo a pedido dela, Janet sentiu uma pontada de apreensão inesperada. Ela podia pensar nele como Robert, mas o homem diante dela era inegavelmente um rei. Contudo, a preocupação nos escuros olhos que encontraram os dela lhe deu coragem.
— Você está se sentindo melhor? Helen atendeu a todas as suas necessidades? Eu disse a ela que você devia ter o que quisesse.
Ela pretendia segurá-lo nisto.
— Eu me sinto muito melhor, Alteza. Helen cuidou de mim como se eu fosse sua irmã. Mas tem uma coisa que eu pediria.
Ele sorriu, parecendo aliviado.
— O que você pedir é seu. Estou em dívida com você, Janet. Sei o que passou para trazer esta mensagem para mim, e ouvi como você protegeu nossa informante no castelo saltando na frente do homem no beco.
Seus olhos se encontraram e Janet pôde ver como ele estava mesmo agradecido. A informante era importante para ele e foi por isso que ele confiou nela em primeiro lugar. Mas se perguntou como ele ouviu as particularidades do que aconteceu em Berwick. Alguém deve ter falado com sua informante.
— Ainda não posso acreditar que os ingleses planejaram deslealdade em uma negociação de paz. — Ele continuou. — Tanto Gloucester quanto Cornwall me deram a sua palavra. Eu esperaria isto de Gaveston, mas não de um filho de Monthermer.
O Conde de Cornwall, Piers Gaveston, era o favorito de Edward. O Conde de Gloucester, Gilbert de Clare, era um forte partidário do rei, mas também era o enteado de um velho amigo de Robert, Ralph de Monthermer.
— Mas depois de Methven, eu não deveria mais ficar surpreso. — O rosto do Robert escureceu, dando a Janet um vislumbre de sua raiva e ira. — Pelo que eu li nessa missiva, eles poderiam ter sido bem-sucedidos. Planejaram nos cercar com uma guarnição inteira de Roxburgh enquanto dormíamos. — Ele fez uma pausa por um momento, recobrando-se antes de olhar de volta para ela. — O que você quer, Janet? Se estiver em meu poder, será seu.
Janet prendeu seu olhar e não hesitou.
— Eu quero Ewen.
Os olhos do Robert faiscaram.
— Não torça minhas palavras contra mim desta vez, Janet. Eu já dei minha resposta a Lamont quando ele veio a mim com o “pedido” dele.
Janet não deixou sua raiva a intimidar.
— Estou pedindo para você reconsiderar tendo em vista os eventos recentes. Nunca te pedi nada antes, Robert, mas estou pedindo agora.
Ele se sentou para trás em sua cadeira tipo trono, considerando-a com olhos atentos e duros.
— Pelo que exatamente você está pedindo?
— Não quero que Ewen seja punido pelo que aconteceu. Devolva suas terras, dê a ele seu lugar de volta na Guarda, e… — suas bochechas esquentaram.
— E? — Robert perguntou.
— E se ele ainda desejar se casar comigo, dê-nos sua permissão.
— Você não teria que me pedir isto?
Janet balançou a cabeça.
— Eu não o forçaria a um casamento sem seu consentimento, pois não gostaria de ser forçada.
O rei franziu o cenho, não tendo perdido sua reprovação corajosa.
— Ele tomou sua inocência. Não vou recompensá-lo por isto.
— Você não me conhece nem um pouco se pensa que ele tomou qualquer coisa que eu não desse de boa vontade.
— Ele se aproveitou de sua inocência. — Robert disse desconfortavelmente, obviamente ele não achava agradável o tema de tais assuntos íntimos com uma mulher que era como uma irmã para ele.
— Não sou uma menina, Robert. Sou uma mulher de vinte e sete anos que esteve esperando sua vida inteira por isto, por ele. Eu o amo.
— Amor não é razão para casamento. Ele não tem terra para oferecer, ou títulos ou fortuna.
— Então você pode dar mais a ele. — Disse Janet. — Se o que eu fiz não merece uma recompensa, então que tal o que ele fez? — Ela o deixou considerar aquilo por um momento. — Quanto ao amor, e seus casamentos, Robert? Certamente um sujeito não pode olhar mais alto que seu rei por direção?
A expressão do Robert não deu a menor pista que suas palavras penetraram, mas ela sabia que tinham. Era bem conhecido que Robert se casou com ambas as esposas por amor.
Um momento mais tarde ele balançou a cabeça, dando-lhe aquele seu olhar exasperado que ela se recordava do tempo que ela passou vivendo com ele e Isabella.
— Você devia ter sido um oficial da lei, Janet. Que pena que você não nasceu um homem, eu poderia te usar em meu conselho particular.
Janet sorriu, recordando palavras semelhantes de Ewen quando ela o conheceu. Também se lembrou de outra coisa. Lamont, oficial da lei.
— Talvez eu deva ser, Alteza.
As sobrancelhas dele franziram de forma pensativa. O cerne de outra ideia tinha acabado de criar raiz quando foram interrompidos por uma batida com força na porta. Logo depois, o feroz chefe a Oeste das Highlands que raramente deixava o lado de Robert, entrou na sala.
Imponente. Formidável. Intimidante. Autoritário. Assustador. Nada disso chegava perto de descrever Tor MacLeod. O líder da Guarda das Highlands parecia mais um nobre que um soldado, mesmo na presença de alguém tão majestoso quanto Robert, o Bruce.
— Imagino que se você está interrompendo, é algo importante. — Robert inquiriu.
— Aye. — Disse Tor. — Tem alguém aqui para ver você.
— Diga a ele para esperar.
Tor olhou para ela, um meio sorriso virando sua boca.
— Acho que você vai querer vê-lo.
Ele colocou a cabeça para fora da porta e acenou para alguém. Janet ofegou, seu coração saltando para a garganta quando Ewen entrou a passos largos pela porta.
— Você voltou! — Ela gritou, e teria corrido para os seus braços se não notasse o homem que surgiu atrás dele.
Seu coração, que saltou apenas um instante atrás, caiu no chão. Ela congelou, sua boca aberta em choque.
Apesar dele parecer consideravelmente mais velho que da última vez que o viu, Janet não teve dificuldade em reconhecer o desengonçado novo Stewart da Escócia, Walter Stewart.
Seu olhar disparou para Ewen em mudo horror, buscando reafirmação. Por que ele o trouxe aqui?
Ewen queria ir para Janet no momento em que entrou na sala, mas estava muito ciente do homem acomodado na cadeira tipo trono atrás da mesa. Ewen tinha feito tudo errado com o rei antes, tinha que fazer isto de forma correta desta vez.
O alívio em vê-la tão curada o atingiu com um golpe poderoso no peito. Disse a si mesmo repetidamente que Helen cuidaria dela, que ela estava em excelentes mãos, mas ela não estava em suas mãos, e não foi até que a viu cara a cara que pôde começar a relaxar.
Ele fez um inventário de seus ferimentos: a faixa envolvendo seu pulso, as volumosas bandagens ao redor de suas costelas por baixo do vestido e a pequena linha de pontos em sua bochecha. O inchaço em sua mandíbula e nariz diminuiu, deixando os remanescentes amarelados, pretos e azuis dos hematomas. As duas meias-luas pretas debaixo de seus olhos sugeriam que seu nariz foi quebrado, embora parecesse estar tão reto quanto antes.
Os olhos dela encontraram os seus, e o olhar de incerteza lançou suas boas intenções no inferno. Pro inferno com Bruce! Ele foi e estendeu sua mão. Ela deslizou sua minúscula palma na dele como se seu lugar fosse ali — o qual era — e a ajudou a se levantar.
Não liberou sua mão, mantendo-a envolvida pela dele. Com a outra ele inclinou sua cabeça para trás para examinar melhor seu rosto, virando-o para uma direção depois para outra.
— Está tudo bem com você?
Ela assentiu e ele se permitiu mais um terno varrer de seu polegar ao longo do contorno contundido de seu queixo antes de soltá-la, e virou para enfrentar seu rei. Não confiou em si mesmo para não a beijar, e pelo modo que o rei estava olhando para ele agora, já estava perto de sair daqui em correntes.
— Pensei que te ordenei que retornasse para o dia de St. Drostan com os outros. — Disse Bruce, olhando para ele furiosamente.
Ewen decidiu não assinalar que ele realmente ordenou que saísse de suas vistas.
— Tinha uma coisa importante que eu precisava cuidar.
O olhar do Bruce foi rapidamente para Walter antes de voltar para ele.
— Você parece estar tendo dificuldade em seguir todos os tipos de ordens ultimamente.
Ewen não discordou.
O rei segurou seu olhar por um longo tempo e então virou para Walter.
— Presumo que tenha uma razão para trazê-lo aqui.
— Ele tem, Alteza. — Walter disse, avançando com uma reverência. — Lamont veio a mim com um pedido bastante inesperado. Pediu para se casar com minha noiva.
Ele ouviu a inalada aguda de Janet e sentiu seus olhos nele, mas ele estava observando Bruce. O rei se recostou em sua cadeira, sua expressão não revelando nada.
— Ele fez, não é? Ele mencionou que recusei um pedido semelhante?
— Aye. — Walter disse. — Ele mencionou sim.
— E o que você disse a ele? — Bruce perguntou.
O olhar de Walter foi para Janet se desculpando antes de responder.
— Eu disse a ele que daria meu apoio e romperia o noivado se este fosse o desejo da dama também.
— É! — Janet teria corrido adiante para assegurá-lo, mas Bruce a fez recuar com um erguer de sua mão.
Ewen disse uma prece em silêncio de agradecimento. Até aquele momento não esteve cem por cento certo que ele não tinha discutido por nada com Walter Stewart (que apesar de sua jovem idade provou um oponente formidável) durante os dias passados. Ewen teve sorte de sair do Castelo de Rothesay sem ter que prometer a ele seu primogênito.
— Assumo que ele disse tudo a você. — Bruce inquiriu.
Stewart, que estava obviamente muito ciente da presença de Janet, enrubesceu.
— Disse.
O rei não disse nada por um minuto, mas então virou para Janet.
— MacLeod vai levá-la de volta para seu quarto. Lady Anna preparou um banquete esta noite da véspera de Natal. Nós falaremos mais tarde.
Janet começou a protestar.
— Mas...
Ewen a cortou, tomando suas mãos nas dele e dando a elas um gentil aperto.
— Vá agora. Encontrarei você. — Eu sempre vou te encontrar, disse a ela silenciosamente. — Lembra?
Ela acenou com a cabeça.
— Confie em mim. — Ele disse suavemente, prendendo seu olhar. — Não vou te desapontar. — Nunca mais.
Ela torceu seu nariz maltratado.
— Nem sempre serei assim obediente.
Ele sorriu.
— Tremo só de pensar nisso.
Ele trouxe uma de suas mãos até sua boca para um beijo antes de finalmente soltá-la, pelo que ele jurou seria a última vez.
Ela marchou bastante ofendida em direção à porta. Olhando de volta por cima do ombro, deu suas palavras de despedida para Bruce.
— Lembre-se de sua promessa, Robert.
— Não fiz nenhuma promessa. — O rei protestou.
— Aye, mas sei que você estava prestes a fazer. — Ela deu a ele um sorriso alegre, estremecendo quando pareceu causar dor nela.
Tanto Ewen quanto o rei foram em direção a ela com preocupação.
— Você está bem? — Eles perguntaram ao mesmo tempo.
O sorriso de Janet aprofundou.
— Vou ficar.
A pequena descarada! Aquele estremecimento foi uma lembrança. E ele não foi o único a perceber. Ewen suspeitava que por um longo tempo ele testaria usando um olhar exasperado e ligeiramente derrotado como o que estava no rosto do rei. Felizmente.
CAPÍTULO 26
Janet esperou tempo suficiente. Ewen deixou o solar do rei cerca de uma hora atrás. Lady Anna Campbell, a esposa de Arthur Campbell, quem era o guardião de Dunstaffnage para o rei (e também, se seu rosto bonito e físico musculoso fosse qualquer indicação, um dos homens da guarda), foi gentil suficiente para informá-la disto, como também onde Janet poderia encontrá-lo.
Ela tomou isto como um bom sinal que ele recebeu uma câmara no castelo, em vez de debaixo dele nas masmorras. Então por que não veio ao seu encontro?
O castelo estava zumbindo com excitação pela celebração da noite. Janet passou por vários servos desde sua câmara no terceiro andar descendo a caminho dos aposentos de Ewen no primeiro. Contudo, ela franziu o cenho quando notou uma jovem serva — e bastante bonita — indo em direção à mesma porta que ela com um enorme balde de água nas mãos.
A garota estava prestes a abrir a porta quando Janet a parou.
— Eu levo isto.
A serva pareceu horrorizada. Ela balançou a cabeça.
— Não seria certo, minha senhora. O lorde está… — suas bochechas esquentaram — se banhando.
— Ele está agora? — Janet esperava que não soasse tão rabugenta quanto se sentia.
A garota assentiu.
— Lady Helen insiste que ele ponha sua perna de molho pelo menos uma vez por dia. — Janet sentiu uma pontada de culpa por seu ciúme, mas esse ciúme foi instantaneamente reavivado quando a garota acrescentou: — Estou indo ajudar com seja o que for que ele precise enquanto Lady Helen atende o pequeno William.
Janet conheceu seu adorável sobrinho alguns dias atrás. A criança era danadinha, mal tendo começado a engatinhar.
— Tem algo errado?
— O pequenino bateu a cabeça no poste da cama, mas Lady Helen diz que ficará bom. Não tem nem um hematoma.
Janet acenou com a cabeça sem esconder seu alívio.
— Vou levar o balde para o lorde. Nós estamos para nos casar. — Pelo menos esperava que estivessem. — Mas se não se importa, tem algo que eu gostaria que você fizesse primeiro.
Quando Ewen respondeu a batida na porta, foi a jovem serva quem respondeu.
— Sua água, meu senhor. — Mas foi Janet quem entrou no quarto. Ela fechou a porta atrás dela e caminhou em direção ao homem espalhado nu na tina com suas costas na direção dela. Ela estava irritada o suficiente para olhar para ele sem vergonha, assistindo cada centímetro de pele dura e bronzeada.
— Devo lavar suas costas, meu senhor? — Ela disse em uma voz suave e cantante, completamente diferentemente da sua.
— Se você quiser — ele disse indiferente.
O safado! Ele devia se lavar! Foi com bastante satisfação que Janet esvaziou o balde inteiro de água na cabeça dele. Água fria, ela teve tempo de notar.
— Que diabos! — Ele saltou para fora da tina e virou para ela em choque e raiva. Vendo quem que era, a raiva sumiu. Ele franziu a testa. — Que diabos está fazendo aqui, Janet?
Ela apertou a boca, cruzou os braços e percorreu aquele corpo incrível lentamente, ligeiramente apaziguada quando uma parte bem grande dele começou a engrossar e levantar sob seu olhar firme.
Ele praguejou, agarrou um pano para se secar que estava na cama e o envolveu ao redor da cintura.
Mas se pensava em se cobrir, ele calculou mal. O linho úmido grudou em cada músculo e moldou cada centímetro desse negócio grosso. Meu Deus, estava agradavelmente quente e abafado aqui dentro.
— Pare de olhar para mim assim, maldição.
Seus olhos encontraram os dele.
— Prefere que eu chame a serva de volta?
Levou um momento, mas a ficha finalmente caiu. Ele sorriu. Amplamente. Pareceu tão bonito que fez seu peito apertar.
— Você está com ciúme.
Ela não negou.
— Você mesmo pode se lavar de agora em diante.
Ele sorriu, cruzando seus braços, provavelmente para distraí-la. Funcionou. Ela respirou fundo ante a impressionante exibição de músculos protuberantes. Santo Deus, ela tinha nova apreciação para a guerra!
— E se eu precisar de ajuda?
— Eu te ajudarei — ela disse entredentes, sabendo que estava sendo ridícula.
— Acho que gostaria de ver isto. Obediente e servil em um único dia. Ainda farei de você uma esposa adequada.
Os olhos dela foram para os seus. O ciúme, a brincadeira, a admiração dos músculos, tudo sumiu. Só uma coisa importava. Nada nunca importou mais.
— O rei concordou?
— Aye — ele disse roucamente. Em seu olhar ela pôde ver toda a emoção enchendo seu coração. — Mas ele tinha uma condição.
Janet de repente ficou cautelosa.
— Que tipo de condição?
— Eu devo ter seu consentimento.
Lágrimas encheram seus olhos quando ele caiu de joelho aos seus pés. Ele tomou sua mão e olhou dentro dos seus olhos.
— Eu sinto muito por mentir para você. Eu devia ter te contado a verdade. Sinto muito por não a segurar em meus braços depois que fizemos amor e dizer a você o quanto te amava. Sinto muito por não ter coragem suficiente por lutar por nós, por não fazer o que fosse preciso para te fazer minha esposa. Pensei que eu tinha perdido tudo, mas nada disso importava sem você. Eu sei que não posso mudar as coisas ou devolver isto para você, mas prometo que vou tentar pelo resto da minha vida se você concordar em ser minha esposa.
Janet ficou ali de pé em atordoado silêncio. Seus papéis pelo que parecia, foram invertidos. O homem que sempre disse a coisa errada se expressou graciosamente, e a mulher que sempre soube o que dizer parecia que não podia encontrar sua língua.
Ele começou a ficar um pouco preocupado olhando para ela com incerteza.
— Janet?
Tinha uma coisa que ela tinha que saber.
— E se eu desejar continuar meu trabalho?
Ele fez uma pausa.
— Você ainda faria mesmo depois do que aconteceu?
— E se eu fizesse?
— Eu tentaria conversar com você para sair disto. O padre pode estar morto, mas existem outros que eventualmente vão juntar as coisas como ele fez.
— E se não pudesse me convencer?
Ele parecia como se preferisse estar comendo unha.
— Eu deferiria, mas de má vontade, para seu julgamento. E provavelmente eu ficaria tão desagradável quanto MacKay quando Helen insiste em nos acompanhar.
Um sorriso largo se espalhou pelas feições dela. Se ela algum dia precisou de prova do seu amor, ela acabou de ouvir.
— Você, desagradável? Isso é inacreditável.
Ele deu um tapa na bunda dela e ela riu.
Mas então ela ficou séria.
— Eu gostaria de continuar a ajudar Robert, mas acho meus dias como mensageira estão terminados. Você estava certo, eu era confiante demais em minhas habilidades e talvez — ela concedeu — até um pouco ingênua sobre o que podia acontecer. Eu devia ter exercitado mais discrição. Depois de duas situações apertadas, acho que abusei das minhas boas-vindas nas fronteiras, sem falar que fiquei sem identidades.
— Duas situações apertadas? — Ele explodiu.
Ops.
— Será que esqueci de mencionar como vim a trabalhar em uma rouparia?
— Aye, eu diria que você esqueceu.
Janet deu uma rápida explanada, ignorando sua expressão se fechando quando ela mencionou o escudeiro e o cavaleiro, e concluiu com como foi forçada a partir sem dizer adeus para os Hendes.
— Você acha que pode haver um modo de conseguir falar com eles e ver que estão seguros?
— Considere isto feito — ele disse.
— Obrigada — ela disse, não percebendo o quanto esteve pesando nela.
— Não vou dizer que não estou contente que você não vai insistir em usar seu hábito novamente.
Janet sorriu.
— Eu não esperaria isso de você. Além disso, seria bastante inapropriado dadas as circunstâncias.
— Que circunstâncias?
Não estava pronta para dizer a ele ainda. Mas isso tinha sido seu copo de graça se Robert se provasse sem ser razoável.
— Porém não pense que eu acabei. Tenho outro plano em mente.
Ele gemeu.
— Não quero nem perguntar.
— Não se preocupe, não é nada muito ultrajante.
Ele fez um rosto aflito.
— Que alívio — ele disse secamente. — Janet, a menos que você tenha falhado em notar, ainda estou de joelhos. — Ele estremeceu desconfortavelmente.
Os olhos dela saltaram para sua perna.
— Oh Deus, esqueci da sua perna. — Ela o arrastou de pé. — Isso dói horrivelmente? Sinto tanto por deixar você assim, não percebi que você estava doente na noite que eu parti. Pensei que estava bêbado.
Ele alisou o cabelo dela para trás longe do seu rosto.
— Eu raramente me permito abusar do álcool.
Ela olhou para ele.
— Por causa de seu pai?
Ele assentiu.
— Eu devia saber.
Ele balançou a cabeça.
— Eu não quis que você soubesse. Inferno, nem eu mesmo percebi o quanto estava mal.
— Graças a Deus por Helen — ela disse.
Ele retornou o sentimento e cavou seu queixo, erguendo seu olhar para o dele.
— Você não respondeu minha pergunta.
Ela sorriu.
— Sim… Sim!
— Graças a Deus — ele gemeu, puxando-a em seus braços. O beijo terno era para selar a promessa de seu futuro, porém rapidamente se transformou em alguma outra coisa. Algo quente e exigente. Ela embrulhou os braços ao redor do seu pescoço, atraindo-o para mais perto, encostando seu corpo no dele.
O golpe morno da língua dele em sua boca a fez se arrepiar. O calor suavizou seus ossos, espalhando sobre ela em ondas derretidas pesadas. Deus, ela adorava beijá-lo.
Os círculos de sua língua ficaram mais profundos e mais quentes, mais rápido e mais carnal. Seu corpo ficou mais duro, rígido com a força do seu desejo.
Ela gemeu, e ele afastou.
— Ah inferno. Eu te machuquei? — Seu dedo deslizou acima do corte em sua bochecha e nas contusões em seu queixo.
Ela balançou a cabeça.
— Eu queria que você não o tivesse matado — ele disse. Ela olhou para ele com surpresa. Mas o rosto dele estava tão feroz como ela jamais viu. — Eu teria feito isto muito mais doloroso para ele por te machucar desse jeito.
Ela se levantou na ponta dos pés e pressionou um beijo nos lábios dele.
— Está no passado. E agora estou mais preocupada com o futuro, nosso futuro.
Não tão distraidamente, ela deixou sua mão cair entre eles, desenhando pequenos círculos no estômago dele com a ponta do dedo. Sua pele era tão morna e lisa, e quanto mais perto ela dançava para o vulto proeminente debaixo do pano, mais escuros seus olhos ficavam e mais duro as faixas de músculo cruzando seu estômago apertavam.
Ele teria agarrado seu pulso para detê-la, mas ela foi esperta o bastante para usar a mão ferida.
— Janet… — ele a advertiu roucamente. — Continue me tocando assim e eu posso esquecer minhas intenções honradas e seus ferimentos.
Ela sorriu e levantou a cabeça para olhar dentro de seus olhos.
— Bom. Estou bem, realmente estou. Por favor, eu quero isto. Quero você.
Justo para que não houvesse nenhum argumento, ela deixou sua mão cair um pouco mais baixo, esfregando seu pulso acima da ponta engorgitada.
Ele prendeu a respiração.
— Jesus, Janet, você não luta justo.
Um sorriso mal curvou sua boca.
— Você pode ser gentil, não pode?
Ele a puxou para cima e a levou para cama.
— Com toda certeza espero que sim.
Com seu pulso ferido, ela precisava de ajuda para tirar suas roupas — um dever que ele estava mais do que feliz em ajudar.
— Pensei que você não fosse uma “maldita donzela”— ela o provocou enquanto ele desabotoava sua túnica, lembrando a ele de um pedido semelhante que ela fez na cabana de pescador não muito tempo atrás.
Ele deu uma risada aguda.
— Acho que mudei de ideia. Se você pretende me ajudar com meus banhos, o mínimo que posso fazer é te ajudar com suas roupas.
— Seu esclarecimento na paridade do casamento é verdadeiramente incrível — ela disse secamente.
Ele riu.
— Sem mencionar interesseiro.
Quando o último artigo de vestuário foi removido, ele voltou a ficar de pé e olhou para ela por tanto tempo que ela começou a tentar se cobrir com as mãos. Mas ele suavemente as puxou para longe.
— Não faça isso — ele disse, sua voz áspera com emoção. — Você é tão bonita. — Ele começou a correr seus dedos por sua pele nua. — Quero tocar cada centímetro sua.
Parecia como se ele tivesse acabado de fazer isso. A respiração de Janet já estava vindo rápida quando ele finalmente se inclinou e deslizou um mamilo rígido em sua boca, arrastando-o suavemente e circulando-o com a língua. O cabelo escuro e sedoso dele caía para o lado, escovando em sua pele nua. Ela deslizou seus dedos através do cabelo dele, prendendo-o a ela. Ele segurou seu peito em forma de xícara com a palma, apertando e manipulando entre suas mãos enquanto a tomava cada vez mais fundo em sua boca.
Esquecendo tudo sobre suas costelas feridas, ela começou a arquear as costas, gemendo enquanto as sensações começavam a se construir.
Ele ergueu a cabeça.
— Você está tornando difícil ir lento.
— E de quem é a culpa?
Ele sorriu, e isso capturou seu coração.
— Eu amo ver você sorrir — ela disse suavemente. — Você não faz isso o bastante.
— Não tive muita razão para sorrir. Mas suspeito que isso vai mudar.
Ela sabia que iria, especialmente quando ele aprendesse...
Ele inclinou e a beijou, e o que ela estava prestes a dizer a ele ficou perdido na névoa sensual que a atingiu com toda a sutileza de uma onda relacionada a maré.
Seu calor, seu cheiro, a sensação de sua pele esfregando na dela a tomou, suprimindo tudo exceto as sensações poderosas se construindo por dentro.
Ele segurou seu tórax acima dela, cuidando para não apertar suas costelas feridas, mas ela o puxou para baixo, querendo sentir o contato. O calor de seu tórax nu e o peso sólido de seu corpo em cima dela.
Ele removeu o pano em volta de sua cintura e ela pôde sentir o comprimento igualmente sólido de sua ereção quente e pulsando contra sua barriga. Ela pressionou e circulou os quadris, tentando fazer com que ele chegasse mais perto.
Ele gemeu, aprofundando o beijo e os golpes longos de sua língua até que ela não podia suportar mais. Ela o queria dentro dela. Queria senti-lo a enchendo.
O coração dela estava martelando, sua respiração estava acelerando e o lugar entre suas pernas estava tremendo com necessidade.
— Por favor — ela gemeu.
Erguendo a cabeça, ele examinou seus olhos. Ela podia senti-lo se posicionando entre suas pernas.
— Diga se doer — ele disse firmemente, seus músculos apertados com restrição.
Ele pressionou dentro dela. Lento e gentil. Avançando. Esticando. Enchendo-a. Ela ofegou. Gemeu. Abriu ao redor dele.
Não doía. Não doía nem um pouco. Parecia incrível. Ela se sentiu cheia. Possuída. Amada.
Os olhos dele eram escuros e quentes.
— Você é tão gostosa.
— Você também — ela disse rouca.
— Eu amo você, mo chroí.
Ela sorriu, lágrimas de felicidade enchendo seus olhos.
— E eu amo você.
Lentamente, o corpo dele começou a mover dentro dela em golpes longos e suaves. Era avassalador, a coisa mais bonita que ela já experimentou. Ele reivindicava seu corpo mesmo quando seus olhos reivindicavam seu coração. O prazer era tão intenso quanto antes, mas mais profundo. Não era simplesmente o compartilhar de dois corpos, mas o compartilhar de duas almas. Ele fez amor com ela. Cada parte dela. Lentamente, suave e completamente. Ele era uma parte dela, e ela nunca o deixaria ir.
Finalmente, ela não podia tomar mais. Seus gemidos suaves ficaram mais urgentes. Ele ouviu seu mudo apelo e respondeu. Seus golpes começaram a prolongar. Afundar. Acelerar. Ficar mais duros. Ela podia sentir o corpo dele ficar tenso debaixo das pontas dos seus dedos até quando ela começou a se fragmentar. Ela tinha que se fragmentar. Não havia nenhum outro lugar para ir.
Ela gritou, o prazer quebrando acima dela em uma lenta e pulsante onda.
— Oh, Deus — ele gemeu, deixando-se ir. Ele gozou dentro dela num fluxo quente que se moldou com o dela. Pareceu continuar para sempre. Os espasmos reverberavam por cada centímetro dela, não deixando ir.
Isso foi justo como antes, exceto que desta vez, quando ele finalmente acabou, ele rolou para o lado, puxando-a contra ele e a segurou como se nunca a deixasse ir embora.
Foi muito tempo mais tarde quando Ewen achou a energia e as palavras para falar. Estava humilhado e um pouco aterrorizado pelo que tinha acabado de acontecer. Ele nunca soube que podia ser assim. Nunca se sentiu tão próximo de ninguém em sua vida. Ele tinha se deitado com muitas mulheres, mas só fez amor com uma: a mulher que seria sua esposa. Ainda não podia acreditar nisto.
Como se lendo sua mente, ela perguntou:
— Como você conseguiu que Robert concordasse?
Ela estava aconchegada contra ele com sua bochecha no peito dele, brincando com os cabelos escuros espalhados em um V em seu pescoço, mas para fazer sua pergunta, ela escorou o queixo nas costas de sua mão para olhar para ele.
— Você já tinha feito a maior parte do trabalho — ele disse, correndo os dedos sobre a pele nua de seu braço. — E meus irmãos também.
Ewen ainda não podia acreditar que eles recusaram continuar qualquer missão a menos que ele estivesse de volta. MacLeod lembrou a Bruce que ele deu a ele plena autoridade sobre a equipe. A Guarda das Highlands lutava por Bruce, mas eram homens de MacLeod.
— Como conseguiu que Walter viesse para Dunstaffnage te ajudar a pleitear seu caso?
— Não foi fácil. Mas eu o fiz ver que eu era mais valioso como seu homem do que não. Também posso ter dado ele a ideia de uma noiva alternativa.
Walter Stewart pode ser jovem, mas era tão ambicioso quanto seu parente James Douglas — e seu parente Robert, o Bruce, no que diz respeito a esse assunto.
Ela ergueu uma sobrancelha, intrigada.
— Uma mais impressionante que uma filha de Mar?
Ele riu de sua afronta. Mas neste caso, sim.
— Pensei que você quisesse cair fora do noivado, então achei que seria melhor não discutir suas partes boas — ele apertou a bunda dela — que são muitas.
Ela fez uma cara feia e então arruinou o efeito rindo.
Ele beijou sua cabeça e então a atraiu mais perto.
— O que você disse para o rei? — Ele perguntou.
Ela deu de ombros.
— Eu só o lembrei de tudo que nós fizemos a seu serviço.
— E?
— E o lembrei de seus próprios casamentos.
— Que é?
Ela deu de ombros novamente.
— Foi suficiente. Mas vim bem preparada para pleitear meu caso e estava confiante que ele enxergaria. Entretanto não fui forçada a usar isto, tive um argumento que asseguraria que ele veria as coisas do meu modo.
Ele olhou para ela ceticamente.
— Pensei que você acabou com essa história de ser confiante demais. O rei estava tão bravo como nunca vi.
— Ah, mas um bom oficial da lei sempre guarda o melhor argumento por último.
— E que argumento é?
Os olhos dela encontraram os seus e ele sentiu algo dentro dele mudar mesmo antes dela falar. Ela pôs a mão sobre seu estômago.
— Meu período está atrasado.
Ele ficou imóvel. Seu corpo sentiu a importância de suas palavras, mas sua mente levou um momento para captar.
— Um bebê?
Ela acenou com a cabeça, lágrimas brilhando em seus olhos.
— Acho que sim. Está… está tudo bem?
Jesus, como ela podia perguntar algo assim? Uma onda quente de emoção abateu sobre ele. Apertou seu peito e garganta. Ele não soube o que dizer. Nunca soube. Mas a diferença com Janet era que isso não importava. Ela o entendia de qualquer maneira.
Mas por via das dúvidas, ele disse a ela novamente. Desta vez com seu corpo.
Isso era melhor que tudo bem. Era tudo. Ela tinha dado tudo a ele. O caçador encontrou o que ele nem sabia que estava procurando, e ele nunca a deixaria ir embora novamente.
Epílogo
Ardlamont, Cowal, Escócia, dezembro de 1315.
Janet estava indo ter uma boa conversa com aquele diabinho de olhos azuis.
— James! James Fynlay Lamont, venha aqui agora mesmo! — Ela correu quarto por quarto, vindo a parar quando entrou no berçário e viu seu marido. Ele estava de pé a uns poucos passos longe dela com dois pacotinhos enfiados debaixo de seus braços e duas pernas magras espiando por trás dele.
Mesmo depois de cinco anos de casamento, seu coração ainda engatava ao vê-lo, como se parte dela ainda não pudesse acreditar que ele podia ser seu. Porém, apesar de seus sentimentos, ela aprendeu muito tempo atrás a não o deixar a distrair. Ela dobrou os braços por cima do peito e olhou fixamente para ele.
— Não adianta tentar escondê-lo. Eu posso ver você, James.
A cabecinha loira espiou por trás das pernas do Ewen. Ela não comprou o olhar inocente em seu rosto nem por um momento.
— Entrega, Jamie.
— Entregar o que, mãe?
— A carta que você tirou da minha escrivaninha. — Ela se curvou até o nível do garotinho, tentando manter a expressão dura em face de um lábio inferior muito trêmulo. — É uma carta muito importante, Jamie. Eu preciso devolvê-la para o rei.
Ele fez uma carinha, alcançou dentro de sua bota e puxou o pedaço de pergaminho agora amassado.
— Eu não me importo com esse estúpido rei velho. Não quero que você trabalhe mais hoje. Quero que você venha brincar comigo.
O teimoso e desconsolado olhar em seu rosto que se assemelhava muito a seu pai, ela teve que levantar o olhar para Ewen. Ele só deu de ombros.
— Não olhe para mim.
Janet suspirou e puxou seu filho de quatro anos de idade para seu colo. Algum dia isso ficaria mais fácil? Ela tentou equilibrar o trabalho que fazia para o rei como sua “conselheira” e de fato, se não exatamente publicamente reconhecida oficial da lei, mas tinha dias — como o de hoje — quando inevitavelmente essa balança inclinava.
Agora que a guerra tinha sido ganha com a Inglaterra, Robert estava ansioso para ter a Escócia aceita como um reino independente, e ela caiu dentro do trabalho preparando seus argumentos para as cartas cuidadosamente escritas que seriam enviadas para o rei francês e o papa, para quem eles também fossem simpáticos a ter erguida a excomunhão que foi colocada em Robert desde que ele apunhalou John Comyn — O Vermelho — na Igreja de Greyfriar quatro anos atrás. O latim que ela uma vez se desesperou tinha caído bem.
— Você não ia jogar bola lá fora com papai hoje? — Ela disse suavemente, acariciando sua cabeça.
— Nós fomos. Mas aí elas entraram no caminho. Elas sempre entram no caminho.
Janet tentou não sorrir e olhou para as meninas de dois anos de idade se retorcendo debaixo dos braços do seu pai. Diferente de Jamie, elas tinham o cabelo escuro como do Ewen.
— O que elas fizeram desta vez? — Ela perguntou a seu filho.
— Mary lançou a bola no lago e então Issy começou a chorar. Odeio quando ela chora.
Eu também, Janet pensou, e ela faz um monte terrível disto. Ela olhou para Ewen por ajuda.
— Estou tentando — ele disse. — Mas como pode ver, tenho minhas mãos cheias. Ele escapou de mim.
— Eu pareço me recordar de alguém me dizendo que isto seria fácil.
— Eu estava esperando uma, não duas — ele disse. — Acho que é hora de voltar para a guerra.
— A guerra está terminada.
— Não me lembre — ele disse com um revirar exagerado dos olhos. — Acho que ouvi Stewart me chamando.
— Walter pode esperar — Janet disse. — Além disso, ele tem uma nova noiva para pensar. — Ela ainda não podia acreditar que a nobre cuja mão o atraiu era sua sobrinha Marjory Bruce — filha de Robert e Isabella. Marjory foi mantida na Inglaterra por quase oito anos, mas foi liberada no ano passado depois da Batalha de Bannockburn. — Seja o que for que um homem semeia, ele também colherá — ela lembrou a seu marido.
Ele sorriu maldosamente.
— O semear foi divertido, é só o colher que não estou tão certo. — Ele desmentiu suas palavras, conferindo e beijando os dois pequenos querubins em seus braços até que elas ficaram selvagens com risadas.
— Nós estávamos indo encontrar você — Ewen disse quando as meninas finalmente desmoronaram na cama com exaustão. — Se tiver um minuto, tem algo que quero mostrar a você.
Ela olhou para ele. Depois de quase cinco anos de casamento, estava afinada a cada nota em sua voz — e ela ouviu a emoção espessa.
— Está feito? — Ela perguntou sem fôlego.
Seus olhos se encontraram e ele assentiu.
Sem palavras, ela o deixou tomar sua mão enquanto a levava e seus três filhos para fora da velha casa da torre.
— Não olhe ainda — ele disse quando ela tentou dar uma olhada na colina perto.
Finalmente, ele parou.
— Certo, vire-se.
Janet prendeu a respiração. O sol brilhante de final de tarde brilhava na pedra recém-cortada, fazendo o castelo cintilar e brilhar como uma joia recentemente cunhada. Tinha quatro torres, uma em cada canto, cercada por um muro formidável. Era uma fortaleza impressionante para qualquer padrão, mas não era isso o que a fazia importante.
Ela deslizou a mão na do homem que tornou sua vida aventureira como uma mensageira em outro tipo de aventura. Uma de risos, amor e alegria.
— É bonita — ela disse. — Ela teria adorado isto.
Ele olhou para ela e acenou com a cabeça, a emoção demais para ele falar. Ele terminou castelo da sua mãe, e com isto ele podia afinal estar em paz com seu passado. Por gerações por vir, os Lamonts de Ardlamont encheriam este castelo com amor e risos, dando a sua mãe e pai o legado que eles mereciam.
De mãos dadas, com suas crianças ao redor deles, Ewen a levou para dentro de seu abrigo e dentro de seu futuro.
Notas
[1] Típicas dos campos montanhosos da Escócia, as urzes, conhecidas também como Heather, são pequenos arbustos com florezinhas coloridas e perfumadas. A água da chuva escorre pelas urzes, se impregna de perfume e escorre sobre a turfa, proporcionando aromas e sabores muito especiais.
[2] Selvagem.
[3] Também escrito barmekin ou barnekin, é uma palavra escocesa que se refere a uma forma de cerco medieval e mais tarde defensiva, em torno de castelos menores na Escócia e norte da Inglaterra. O barmkin teria contido edifícios auxiliares, e poderia ser usado para proteger o gado durante os ataques.
[4] Do grego “ofegante”.
[5] “Eleitoras dos mortos caídos em combate”, eram consideradas deidades menores, servas de Odin. Eram belas jovens mulheres, usavam armaduras com elmos e lanças em seus cavalos alados, sobrevoavam os campos de batalha recolhendo os guerreiros escolhidos, ou seja, aqueles mais corajosos, que tinham sido mortos a pouco. Filhas do deus Odin, com a deusa da terra Edra, com quem teve um relacionamento nas profundezas e lá teriam gerado as nove virgens. Também exerciam a função de mensageiras, e dizem que quando isso acontecia, suas armaduras faiscavam causando o estranho fenômeno atmosférico conhecido como Aurora Boreal. Em lendas saxônicas, encontramos relatos de mulheres que apareciam cobertas por uma especie de bruma, auxiliando ou sendo amantes dos mais valentes guerreiros, e logo desapareciam, acreditavam ser estas mulheres as Valquírias.
[6] Proteção para o peito, como a que os gladiadores usavam.
[7] A casa dos mortos na mitologia grega - usado como uma maneira mais educada de dizer "inferno".
[8] Plaid ou Tartan: Um tecido de lã tradicional com um padrão de xadrez que é usado sobre o ombro como parte do traje nacional escocês.
[9] Arma medieval com lâmina combinando machado, martelo, e ponta de ferro no alto, usado para combates em pé.
[10] Birlinn é como os galeses e escoceses chamavam as antigas embarcações a vela.
[11] Termo usado antigamente como forma de tratamento de um homem de posição ou autoridade como um rei ou um lorde.
[12] Valhala, Valíala,Valhalla ou Walhala (do nórdico antigo Valhöll "Salão dos Mortos”), na mitologia nórdica é um majestoso e enorme salão situado em Asgard, dominado pelo deus Odin. Escolhidos por Odin, metade dos que morrem em combate são levados para Valhalla pelas Valquírias, enquanto que a outra metade vai para os campos Folkvang da deusa Freyja. Em Valhalla, os mortos se juntam às massas daqueles que morreram em combate conhecido como Einherjar, bem como vários heróis lendários da mitologia germânica, que se preparam para ajudar Odin durante os eventos do Ragnarök.
[13] Cavalos velozes para a batalha.
[14] É um corte perto do cabelo, geralmente arredondado, realizou uma cerimônia religiosa por parte do bispo, para dar o ordenando o primeiro grau no clero, também chamado de "tonsura cru." O significado original era a renúncia das vaidades mundanas. Ele caiu em desuso, com a aprovação tácita da autoridade eclesiástica de Paulo VI, que suprimiu a imprensa tonsura, passando a entrada no estado clerical para compensar o diaconato. No entanto, a Ordem Franciscana detém até hoje essa tradição.
[15] Título do primeiro oficial da coroa, que tinha o comando de todo o exército.
[16] A ilha de Bute (Eilean Bhòid em gaélico, Isle of Bute em Inglês) é uma pequena ilha costeira localizada na parte inferior do Firth of Clyde (Golfo cerca de 42 km de extensão, localizado na costa oeste da Escócia). Anteriormente foi parte do condado escocês Buteshire, é agora propriedade de Argyll e Bute distrito.
[17] Coloque no rio ou oceano, cuja profundidade lhe permite atravessar a pé ou em um cavalo; Ponto da travessia do rio. A falta de lugar.
[18] Um grande cão de uma raça rústica parecido com o galgo.
Monica McCarty
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