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Series & Trilogias Literarias
Ano de nosso Senhor 1313
Depois de quase sete anos de guerra, Robert Bruce empreendeu um regresso improvável, de uma derrota quase certa, para retomar quase todo seu reino dos compatriotas ingleses e escoceses que se opuseram a ele.
O último desafio dos ingleses virá em breve, mas na Escócia ainda há pontos de resistência ao homem que se chamaria Rei Robert I. Entre eles está a problemática província a Sudoeste de Galloway, governada pelo homem mais procurado da Escócia. Dugald MacDowell, o chefe implacável do Clã MacDowell.
Ver derrotado Dugald MacDowell é algo pessoal para Bruce, já que os MacDowells foram os responsáveis por um dos momentos mais escuros na busca de Bruce pelo trono.
Para dirigir essa importante missão, Bruce chama Eoin MacLean, um dos famosos guerreiros da elite de combate e força secreta conhecida como a Guarda das Highlanders, que tem suas próprias razões para ver a destruição dos MacDowells.
Mas a vingança nunca é tão fácil como parece, e Eoin finalmente terá que enfrentar o passado que o persegue e voltar aos dias antes que Bruce fizesse sua oferta pelo trono.
Capítulo 1
Igreja da Santa Maria perto do castelo de Barnard, Durham, Inglaterra, 17 de janeiro de 1313
Era um maldito bom dia para se ocorrer um casamento. Eoin MacLean, o homem que tinha idealizado o plano para usá-lo como uma armadilha para capturar o homem mais procurado da Escócia, apreciou a ironia.
O sol, que se escondeu atrás das nuvens de tempestade durante semanas, tinha eleito esta manhã em meio do inverno para ressurgir e brilhar intensamente no campo inglês encharcado, fazendo brilhar os grossos pastos ao redor da pequena igreja e a folhagem restante nas árvores que brilhavam de âmbar e ouro. Também, infelizmente, resplandecia em seu cotun1 de aço, o que tornava difícil mesclar-se no campo. A cota de aço era uma armadura incomum para os homens de Bruce, que preferiam os cotuns de couro negro mais leve, mas neste caso, era necessário.
De seu ponto de visão na ladeira da floresta, além da igreja, a pequena aldeia no rio Tees na sombra do grande castelo de Barnard parecia bonita e pitoresca. Um cenário perfeito para a noiva igualmente bonita e seu noivo inglês cavalheiresco.
A boca de Eoin caiu em uma linha dura, uma pequena demonstração que revelava o ácido produzindo dentro dele. Era quase uma vergonha arruiná-lo. Quase. Mas esteve esperando este dia por quase seis anos, e nada, com certeza, nem a felicidade da noiva e do noivo, lhe impediriam de capturar o homem responsável pelo pior desastre que se abateu sobre Robert Bruce em um reinado com um monte deles para escolher.
Ele ia pagar. Dugald MacDowell, o Laird do antigo reino celta de Galloway, o último da oposição escocesa ao reinado de Bruce e o responsável pelo massacre de mais de setecentos homens, entre eles dois irmãos de Bruce. O bastardo tinha evitado a captura durante anos, mas finalmente cometeu um erro.
Que seu erro fosse uma debilidade pela noiva o fez ainda mais apropriado, já que era a tola fraqueza de Eoin pela mesma mulher que tinha estabelecido todo o movimento do desastre.
Sentiu por um instante o pedaço de marfim esculpido em seu sporran2. Estava ali, como estava o pedaço de pergaminho lido muitas vezes junto a ele. Uma espécie de talismãs, avisos de outrora, mas que nunca ia à batalha sem eles.
— Têm certeza de que ele estará aqui?
Eoin se virou para o homem que tinha falado. Ewen Lamont, seu companheiro na Guarda das Highlanders, e um dos doze homens que o acompanhou nesta missão perigosa atrás das linhas inimigas. Embora o próprio Bruce tivesse atacado ao redor de Durham no verão passado, o rei tinha tido um exército de apoio. Se a dúzia de homens de Eoin tivesse problemas, eles estavam a cem milhas da fronteira escocesa. É óbvio, era seu trabalho se assegurar de que não se topassem com mais problemas.
Opugnate acriter. Lutar ferozmente. Isso era o que ele fazia, por isso tinha ganhado o nome de guerra de Atacante entre os guerreiros da elite secreta de Bruce, a Guarda das Highlanders. Como o ferreiro que atacava e que exercia golpes poderosos do martelo na ferraria, as audazes táticas "piratas" de Eoin, que beiravam à loucura, golpeavam duramente seus inimigos.
Hoje não seria diferente, exceto que este plano poderia ser ainda mais audaz — e mais louco — que de costume. O que, certamente, queria dizer algo.
Eoin encontrou o olhar de seu amigo, que era apenas visível sob a viseira do elmo completo.
— Sim, tenho certeza. Nada impedirá MacDowell de participar do casamento de sua filha.
A informação sobre as núpcias planejadas por Maggie — Margaret — caiu em suas mãos por casualidade. Eoin, Lamont, Robbie Boyd e James Douglas tinham estado com Edward Bruce, o único irmão vivo do rei, em Galloway durante o mês passado fazendo tudo o que podiam para interromper a comunicação e as rotas de abastecimento entre as fortalezas de MacDowell na província Sudoeste de Galloway, e o castelo de Carlisle na Inglaterra, que os abastecia. Durante uma dessas "interrupções", tinham capturado um pacote de missivas, que incluía uma carta de Sir John Conyers, o conselheiro do Castelo de Barnard para o Conde de Warwick, confirmando a data do matrimônio de Conyers com a "amada" filha de MacDowell. Dugald tinha oito filhos, mas só uma filha, por isso não havia engano quanto à identidade da noiva.
Lamont lhe dirigiu um largo e sábio olhar.
— Suspeito que o mesmo poderia dizer de você.
O lábio de Eoin se curvou em um sorriso que estava bordeado com muito mais raiva do que diversão.
— Têm razão sobre isso.
Este era um casamento que ele não perderia por nada no mundo. O fato de que isso levaria à captura de seu inimigo mais odiado só tornou mais satisfatório. Duas dívidas, uma longa espera para cobrar, tudo seria pago hoje.
Mas diabos, quanto tempo mais ia durar isto? Sempre estava nervoso antes de uma missão, mas isto era pior do que o habitual.
Pelo amor de Deus, suas mãos estavam praticamente tremendo!
Riria, se não soubesse o porquê. O fato de que ela pudesse chegar até ele depois de todos esses anos — depois do que tinha feito — enfurecia-o o suficiente para acabar imediatamente com qualquer tremedeira. Estava tão frio como o gelo. Tão duro como o aço. Nada penetrava. Não tinha feito em muito tempo.
Finalmente, o aparecimento dos cavaleiros na ponte levadiça, um dos quais sustentava uma bandeira azul e branca, apontou a chegada do noivo.
Eoin baixou a viseira do seu elmo, ajustou a pesada e incômoda camisa do cotun e vestiu a túnica roubada, que por acaso era idêntica as de azul e branco.
— Esteja pronto — disse a seu companheiro. — Certifique-se de que os outros saibam o que fazer, e espere pelo meu sinal.
Lamont assentiu com a cabeça, mas não lhe desejou sorte. Eoin não a necessitava. Quando se tratava de estratégias e planos, ninguém os fazia melhor. Despistar, jogar melhor, passar a perna, ser mais hábil, e quando era necessário, derrotar e ganhar. MacDowell podia ter conseguido ganhar dele há seis anos, mas hoje Eoin igualaria o placar.
— Bàs roimh Gèill — disse Lamont. “Morte antes da rendição”, o lema da Guarda das Highlanders e, se tivessem sorte, também de Dugald MacDowell.
Ela estava fazendo a coisa certa. Margaret sabia disso. Tinham passado quase seis anos. Chorou e lamentou tempo suficiente. Ela merecia a oportunidade de ser feliz. E o mais importante, seu filho merecia a oportunidade de crescer sob a influência de um bom homem. Um homem amável. Um homem que não tinha sido amargurado pela derrota.
Nada explicava por que ficou acordada desde o amanhecer, inquieta a manhã toda, incapaz de permanecer imóvel. Ou por que seu coração palpitava como se estivesse em pânico. O pânico que superava a ansiedade normal do dia do casamento.
Não ficou nem um pouco nervosa em seu primeiro casamento. Seu peito se contraiu só por um momento, um minúsculo momento que ela permitiu que seus pensamentos retornassem a esse período a mais de seis anos atrás, quando tudo parecia tão perfeito. Tinha estado tão feliz. Tão apaixonada e cheia de esperança para o futuro. Seu peito se apertou fortemente antes de soltar um suspiro pesado.
Deus, que néscia e ingênua tinha sido. Tão descarada e atrevida. Tão convencida de que tudo daria certo do jeito que ela queria. Talvez um pouco de ansiedade teria sido melhor.
Tinha sido tão ingênua, muito jovem. Apenas dezoito anos. Se pudesse voltar no tempo e fazer tudo de novo agora com a perspectiva da idade...
Suspirou. Não, já era muito tarde para mudar o passado. Mas não o futuro. Seus pensamentos retornaram ao presente onde deviam ficar, e se concentrou, como sempre, na melhor coisa para sair desse momento doloroso. A única coisa que a tirava da escuridão e a obrigava a viver de novo. Seu filho de cinco anos, Eachann, ou como eles o chamavam na Inglaterra, Heitor.
Eachann tinha uma pequena câmara ao lado da dela na mansão que foi sua casa na Inglaterra durante os últimos quatro anos, desde que seu pai tinha sido forçado a fugir da Escócia. Mas ela e seu filho estariam saindo de Temple Couton para sempre esta manhã. Depois da cerimônia de casamento, iam mudar para o castelo de Barnard com seu prometido, seu marido, corrigiu, tratando de ignorar a confusão de seu estômago e o aumento de sua pulsação — duas coisas que definitivamente não deveriam acontecer simultaneamente.
Em vez disso, forçou um sorriso em seu rosto e olhou com carinho para seu filho, que estava sentado em sua cama, suas pernas esbeltas penduradas para o lado e sua cabeça loira inclinada para frente.
Os suaves e sedosos cachos se escureciam já que o loiro quase branco da infância cedia lugar ao loiro mais escuro da juventude. Tal como o seu pai. Ele era como seu pai, de muitas formas, olhar para ele deveria lhe causar dor. Mas isso não acontecia. Ele só trouxe alegria. Em Eachann ela tinha um pedaço de seu marido que a morte não poderia reivindicar. Seu filho era dela completamente, de uma forma que seu marido nunca tinha sido.
Sorriu, seu coração inchando como sempre fazia quando o olhava.
— Você já arrumou tudo? — Ele olhou para cima. Os agudos olhos azuis se encontraram com os dela, surpreendendo-a novamente em sua semelhança com o homem que tinha lhe dado seu sangue, e nada mais. Eachann assentiu sombriamente. Ele era como seu pai nesse aspecto também, sério e contemplativo.
— Acredito que sim.
Passeando ao redor dos dois grandes troncos de madeira, Margaret olhou ao redor do quarto para ter certeza. Logo abaixo de seu pequeno sapato, divisou o canto de um pedaço de madeira escura.
Seguindo a direção de seu olhar, Eachann tratou de chutá-lo discretamente para debaixo da cama. Franzindo o cenho, Margaret se sentou na cama ao seu lado. Ele não olhava para ela. Mas não precisava ver seu rosto para saber que ele estava chateado.
— Existe uma razão para você não querer ter o seu tabuleiro de xadrez? Eu pensei que era o seu jogo favorito?
Suas bochechas se ruborizaram.
— O avô disse que eu sou velho demais para brincar com bonecos. Preciso praticar com minhas espadas ou acabarei sendo um bastardo traidor como meu pai. — A boca do menino puxou uma linha dura, implacável e desumana, a expressão parecia semelhantemente com a de seu pai. Por que é que ela nunca tinha notado os aspectos negativos de seu pai até que apareceram em seu filho?
— Não sou um traidor! Verei esse usurpador fora do trono, e o bom rei John restaurar sua coroa, mesmo que seja a última coisa que eu faça. — Outro arrepio percorreu através dela. Pelos ossos de São Columba3, soava exatamente igual a seu pai. Sua cabeça se inclinou para a frente. — Mas, o que é um bastardo?
— Nada do que você jamais poderia ser, meu amor — disse, abraçando-o com força. Essa era uma palavra que ela não ia se preocupar com a correção.
Se ela precisava de uma prova de por que ela estava fazendo a coisa certa, acabava de receber. Amava seu pai, mas não queria que seu filho se corrompesse por suas decepções. Ela não veria Eachann convertido em um homem amargurado e zangado que pensava que o mundo se voltou contra ele. Que se deleitava em ser o último — verdadeiro — patriota da reivindicação de Balliol ao trono, e o único nobre escocês que ainda não se inclinou ante — o usurpador — Robert Bruce.
Margaret compreendia o aborrecimento de seu pai — e talvez inclusive se mostrasse agradada com ele pela ajuda, mas isso não significava que quisesse que seu filho se convertesse em uma versão em miniatura dele. Dugald MacDowell amava seu único neto Eachann, apesar do — bastardo traidor — de seu pai. De fato, foi graças a menção de seu pai de que Eachann podia se criar com Tristan MacCan, seu fiel guarda-costas, para que o menino pudesse estar perto dele, o que deu a Margaret o empurrão para aceitar a proposta de Sir John Conyers.
Quando chegasse o ano seguinte para que seu filho deixasse seus cuidados para treinar para ser escudeiro, que Deus lhe desse forças para enfrentar esse dia! Sir John se ocuparia de arrumar sua colocação e não seu pai. Ser escudeiro de um cavaleiro inglês era muito mais preferível a ser fomentado por um homem que estava completamente sob a influência de seu pai, inclusive um que era um amigo da infância. A segurança de seu filho estava acima de tudo.
— As peças de xadrez não são bonecos, meu amor — tirou debaixo da cama o tabuleiro gravado com linhas de grades e as peças de madeira esculpidas e pintadas com amor. Parte da pintura tinha começado a descamar nas bordas, e os rostos cuidadosamente pintados haviam desaparecido com o uso. Ela ensinou Eachann a jogar quando tinha três anos. Ele jogava contra si mesmo, a maioria das vezes, pois apesar dos esforços prodigiosos e contraditórios ela nunca teve paciência para isso. Mas ele sim. O filho dela era brilhante, e estava muito orgulhosa dele. — É o jogo dos reis — disse com um sorriso agridoce. — Seu pai jogava.
Isso o surpreendeu. Ela raramente mencionava seu pai, por várias razões, incluindo que as recordações doíam e a menção dele atraia a ira de sua família. Todos eles tentaram fingir que o —bastardo traidor — nunca existiu em torno de Eachann, mas se o olhar ansioso no rosto do menino era qualquer indicação, talvez estivesse errada em fazer isso.
— Ele jogava? — Perguntou Eachann.
Ela assentiu com a cabeça.
— Foi ele quem me ensinou a jogar. Seu avô nunca aprendeu, é por isso... — pensou em como dizê-lo. — Por isso não entende quão útil pode ser para um guerreiro.
Ele olhou para ela como se estivesse louca.
— Como?
Ela sorriu.
— Bom, poderia lançar o tabuleiro como um disco, ou usar as peças em uma funda4.
Ele revirou os olhos. Não conseguiria mais nada dele, embora só tivesse cinco anos. Ele sempre sabia quando ela estava brincando.
— Não seja ridícula, mãe. Não seria uma boa arma.
Sua expressão era tão reminiscente com a de seu pai que teve que rir para não chorar. Se alguém precisasse de provas de que o perfil e maneirismos eram herdados, Eachann era a prova.
— Tudo bem, você tem razão. Eu estava brincando. Você leu o resto do pergaminho que o padre Christopher encontrou para você?
Tinham estado lendo juntos, mas tinha se impacientado esperando-a. Como no xadrez, seu filho rapidamente ultrapassou suas habilidades de leitura.
Ele assentiu.
Ela continuou.
— O rei Leônidas era um grande espadachim, mas isso não foi o que o converteu em um grande líder, e nem o que manteve tantos persas em Termópilas5. Foi sua mente. Planejou e idealizou estratégias, aproveitando o terreno para sua vantagem.
Um amplo sorriso iluminou o pequeno rosto de Eachann.
— Assim como você planeja e cria estratégias de xadrez.
Margaret assentiu com a cabeça.
— Isso era o que seu pai fazia excepcionalmente. Era um dos homens mais inteligentes que conheci. Da mesma maneira que você pode olhar para o tabuleiro de xadrez e "ver" o que fazer, ele podia olhar um exército no campo de batalha e ver o que fazer. Podia derrotar o inimigo antes que, inclusive, agarrasse uma espada.
Embora o pai de Eachann tivesse sido favorecido na arte de guerrear com um machado de batalha, como seu ilustre avô, que recebeu o nome de Gillean of Tuardhe, Gill Eoin — o servo de São João — do machado de guerra. Ele tinha sido exímio com isso também. Mas não queria mencionar.
Apesar do auspicioso nome de seu filho, pois escutara que Heitor de Troya fora um dos maiores guerreiros dos tempos antigos, Eachann era pequeno e ainda não demonstrou nenhuma habilidade — ou amor — pelas armas. Seu pai começou a notar e essa era outra razão pela qual tinha que tirar seu filho dali. Ela não se importava que Eachann nunca pegasse em uma arma e se enterrasse em livros para o resto de sua vida. Mas Dugald MacDowell não veria seu neto com bons olhos se ele não fosse um guerreiro feroz. Outro MacDowell dedicando sua vida a uma guerra que nunca terminaria.
Mas não deixaria que isso acontecesse. O conflito constante que dominou sua vida — que esmigalhou sua vida — não afetaria seu filho.
Levantou-se.
— Por que não pega seu jogo, enquanto vou dizer a seu avô que estamos prontos?
Assentiu com a cabeça e saltou da cama. Estava quase à porta antes que sentisse um par de pequenos braços ao redor de suas pernas.
— Eu te amo mãe.
Lágrimas encheram seus olhos enquanto lhe devolvia o abraço com um forte aperto.
— Eu também te amo, querido.
A certeza encheu seu coração. Estava fazendo o certo.
Três horas mais tarde, Margaret teve que recordar-se disso. Quando estava frente à porta da igreja, seu pai, seu filho e seis de seus oito irmãos reunidos a sua esquerda, e Sir John a sua direita, ladeado pelo que parecia ser toda a guarnição do Castelo Barnard, começou a não se sentir muito bem. De fato, sentia-se muito, muito mal.
Se não fosse pelo firme braço sob sua mão que a sustentava, poderia ter caído; suas pernas pareciam geleia.
Sir John deve ter percebido algo. Ele cobriu sua mão descansando na curva de seu cotovelo com a sua.
— Você está bem? Parece um pouco pálida.
Ela teve que inclinar a cabeça para trás para olhá-lo. Era alto, embora não tão alto como seu primeiro marido, e a parte superior de sua cabeça mal alcançava seu queixo. Ele era tão bonito quanto o ex-marido. Talvez até mais, se preferisse a perfeição lisa, aguda e cinzelada. E Sir John gostava de sorrir. Ele sorria com muita frequência. Ao contrário de seu primeiro marido — surrupiar um sorriso dele tinha sido um desafio constante. Mas quando conseguiu, havia se sentido como se houvesse sido recompensada com o resgate de um rei. A vida de Sir John tampouco girava em torno de batalhas: pensar em batalha, planejar a batalha, falar da batalha. Sir John tinha muitos outros interesses, incluindo — zelosamente — a ela. Falava com ela, compartilhava seus pensamentos com ela, e não a tratava como se fosse um erro.
Então, por que se sentia assim? Por que um casamento muito apropriado, com o homem aparentemente perfeito, sentia-se tão diferente da imprópria, com o homem equivocado que tinha vindo antes dele?
Porque você não o ama.
Mas o amaria. Por tudo o que era bom e santo no céu, amá-lo-ia! Desta vez ela cresceria, ao invés de definhar na negligência de querer morrer. Ele estava lhe dando uma segunda oportunidade de felicidade, e ela iria aceitá-la, precisava!
Respirou fundo e sorriu, desta vez de verdade.
— Estava muito emocionada para comer algo esta manhã. Temo que estou um pouco tonta. Mas estou bem. Ou estarei, logo que cheguemos à festa.
Sir John lhe devolveu o sorriso, com alívio.
— Então não devemos atrasar este momento. — Ele se inclinou e cochichou mais perto de seu ouvido. — Não quero que minha esposa desmaie antes da noite de núpcias.
Seus olhos se arregalaram. Ela captou o brilho travesso e riu.
— Então, espera que eu desmaie depois?
— Eu consideraria o maior elogio se você desmaiasse. É a esperança de todo noivo superar-se ao ponto de que sua noiva na noite de núpcias desmaie — assentiu com a cabeça para indicar os guerreiros atrás dele. — De que outra maneira poderei impressionar os homens por uma jarra de cerveja?
— Você é terrível. — Ela disse com um sorriso. Era por isso que ela estava se casando com ele. Era por isso que eles seriam felizes.
Ele a fazia rir de uma maneira que não ria em muito tempo. Seu humor era tão perverso quanto o dela tinha sido. Uma vez.
Seguindo a direção de seu olhar, observou o grande grupo de guerreiros vestidos com cotun.
— É isso o que falam quando estão todos juntos? Não está rompendo um código secreto masculino me dizendo isso?
Ele sorriu.
— Provavelmente. Mas espero que não me traia.
Não me traia...
Um calafrio percorreu sua espinha. Seu olhar se cravou em algo entre a multidão. Sua pele arrepiou, e o cabelo da parte posterior de seu pescoço se levantou durante um longo pulsar do coração antes que a sensação passasse.
Deve ter sido as palavras de Sir John, sem saber, mexeu em suas lembranças, agitando sua culpa.
Não diga a ninguém de minha presença...
A dor que nem sequer esses seis anos pôde parar, apunhalou seu coração. “Deus, como pôde ter sido tão tola?” O único bem disso tudo foi que seu marido morrera e ela não teria que conviver com o conhecimento do quanto ele a teria desprezado por trai-lo.
— Margaret? — A voz de Sir John a retirou das lembranças.
— Eles estão esperando por nós.
O sacerdote e seu pai, que tinham estado conversando, olhavam para ela agora, o sacerdote com olhar interrogante, seu pai com um cenho fechado. Ignorando ambos, voltou-se para Sir John.
— Então, vamos começar.
Junto a eles, pararam diante da porta da igreja e repetiram publicamente os votos que os uniriam.
Se as lembranças de outra troca de votos tentassem surgir, apenas se negaria a se lembrar. Claro que era diferente desta vez. Desta vez, ela estava fazendo isso direito. As admoestações. A troca pública de votos fora da porta da igreja. A única coisa que não fariam era a missa depois. Como ela era viúva, não estava permitido.
Se em segredo não se importava em perder uma longa missa, era o suficientemente inteligente para não o admitir. Agora. Não era a selvagem, irreverente "pagã" de "o Deus Abandonado" de Galloway nunca mais. Nunca daria a Sir John uma razão para se envergonhar ou se prejudicar por ela.
Quando o sacerdote perguntou se havia alguém que objetava ou sabia de uma razão pela qual eles não podiam se unir, seu coração quase parou. O silêncio parecia estender-se intoleravelmente. Seguramente que foi tempo suficiente para esperar.
— Eu faço.
A voz soou forte e clara, mas por um momento confuso, pensou que tinha imaginado. O incômodo murmúrio da multidão, e as cabeças voltadas na direção da voz, entretanto, disse a si mesma que não.
Sir John praguejou.
— Se isso for algum tipo de brincadeira, alguém vai se arrepender.
— Você, — disse o sacerdote em voz alta. — Dê um passo à frente se tiver algo a dizer.
A multidão se afastou, revelando um guerreiro, um guerreiro excepcionalmente alto e poderosamente construído. Estranhamente, a viseira do seu elmo estava abaixada.
Ele deu alguns passos para frente e Margaret ficou imóvel. Aturdida, a respiração presa na garganta enquanto observava os poderosos passos que pareciam tão familiar. Apenas um homem andava com esse tipo de impaciência, como se estivesse esperando que o mundo o alcançasse.
Não. Não. Não pode ser.
Todos os olhos estavam sobre o guerreiro que usava o casaco azul e branco de Conyers. Notou o movimento de alguns outros guerreiros, circulando em torno da multidão no adro da igreja, mas não se importou. Como todos os outros, seu olhar estava cravado no homem caminhando, propositadamente, para frente.
Ele parou a alguns poucos passos de distância.
Ele ficou imóvel, com a cabeça voltada em sua direção. Era ridículo — fantástico — seus olhos estavam ocultos na sombra do elmo de aço, mas de alguma forma podia senti-los arder nela. Condenando. Acusando. Desprezando.
Suas pernas já não podiam sustentá-la. Começaram a oscilarem.
— O que significa isto, Conyers? — Perguntou seu pai zangado, aparentemente, culpando Sir John pela conduta de um de seus homens.
— Fale — disse o sacerdote com impaciência ao homem. — Há algum impedimento de que tenha conhecimento?
O guerreiro levantou a viseira e, depois de um momento angustiante, de cortar o coração, olhos azul-escuros encontraram os dela. Olhos que ela nunca poderia esquecer. A dor a atravessou em uma explosão devastadora. Uma queimadura branca, sugou cada último pedacinho de ar de seus pulmões. Sua cabeça começou a girar. Ela mal ouviu as palavras que iriam chocar à multidão.
— Sim, há um impedimento.
Oh Deus, essa voz. Sonhou com essa voz tantas noites. Uma voz grave e dura com o brilho gaélico. “Oh Deus, Maggie, isso é tão bom. Vou...”
— A moça já é casada.
— Com quem? — Perguntou o sacerdote furioso, obviamente acreditando que o homem estava fazendo algum tipo de brincadeira.
Mas não era.
Eoin estava vivo.
— Comigo.
Margaret já estava caindo enquanto ele falava. Por desgraça, Sir John não ia conseguir seu desejo. A noiva desmaiara antes da noite de núpcias, depois de tudo.
Capítulo 2
Castelo de Stirling, Escócia. Final de setembro de 1305
— Têm certeza disto, Maggie?
Margaret tomou isso como uma pergunta retórica. Ela tinha certeza de tudo, como bem sabia sua melhor amiga.
— Alguma vez viu algo assim, Brige?
A pergunta de Margaret era também retórica. É óbvio que sua amiga não tinha visto. Assim como Margaret, Brigid não viajou mais de vinte milhas de sua casa em Rhins de Galloway no remoto canto Sudoeste da Escócia. Um lugar que estava tão longe que parecia quase outro mundo. Pelo amor de Deus, levou quase duas semanas viajar para aqui com carroças, e não era uma viagem que estava ansiosa por repetir tão cedo.
Se tivesse êxito, se ela fosse bem-sucedida, talvez não retornasse. Embora a reunião em Stirling fosse um intento de fazer alianças entre os clãs rivais da Escócia para que a coroa formasse uma força unificada contra a Inglaterra, seu pai tinha outro propósito ao estar aqui. Tinha a intenção de propor uma aliança matrimonial entre Margaret e o jovem John Comyn, filho de John "Comyn Vermelho", Lorde de Badenoch. Era seu trabalho conquistar o jovem senhor e torná-lo ansioso pelo compromisso. Como conquistar homens era algo que tinha feito desde que começou a falar, provavelmente estaria comprometida em algumas semanas.
Margaret girou ao redor.
— Não é magnífico? Olhe como as vigas são altas! O vestíbulo é tão grande que me surpreende que o teto não caia. Como acredita que o construíram para que se mantivesse lá em cima assim? — Não se incomodou em esperar uma resposta, já estava correndo através da sala para examinar a enorme lareira. — Posso ficar de pé dentro! — Disse, agachando-se sob o manto pintado de cores.
Brigid se pôs a rir enquanto olhava para trás.
— Cuidado — advertiu sua amiga, de repente sóbria. — As brasas ainda estão brilhando do uso desta manhã. Colocará fogo em suas saias.
— Isso chamaria um pouco a atenção, não? — Disse Margaret com um sorriso travesso. — Ninguém me esqueceria, então. A moça que deixou suas saias em chamas.
— Ninguém a esquecerá de qualquer maneira — disse Brigid com um tom agudo, embora ligeiramente exasperada, sacudindo a cabeça.
Mas Margaret não escutava; ela já havia se mudado para a próxima descoberta. Desde que eles chegaram ao castelo de Stirling algumas horas atrás, parecia que cada minuto tinha sido preenchido com elas. Ela mal teve tempo de lavar-se na melhor banheira que tinha visto, trocar de roupa e passar um pente por seu cabelo ainda úmido, antes de arrastar Brigid para ir explorar os locais. Poderiam descansar a noite.
Margaret pôs sua mão em uma das paredes.
— É gesso! Não estava segura. A pintura dos braços é tão requintada que eu pensei que poderia realmente ser um escudo! Você pode acreditar que eles pintaram toda a sala com este tijolo e padrão de videira? Não há uma superfície que não tenha sido decorada aqui. Nunca vi uma sala mais colorida. E olhe estas cortinas — aproximou-se de uma das janelas e puxou o pesado veludo escarlate ao redor dela. — São o suficientemente boas para fazer um vestido — deu uma olhada para sua túnica de lã marrom escuro e sorriu. — Em realidade é mais fino que qualquer um dos meus vestidos. O que pensa? Alguém notará se o pegarmos?
Brigid sacudiu a cabeça com espanto.
— Pode imaginar usar tecidos tão finos como o das cortinas? — De repente, seu rosto se encheu de consternação. — Acredita que nossas vestimentas serão muito diferentes das outras damas?
— Espero que sim — disse Margaret com uma orgulhosa quadratura de ombros. — Estamos usando algumas das melhores lãs de toda Escócia. Não há tecelões mais finos que os de Galloway. Deveríamos pensar que as outras damas ficarão muito invejosas.
Brigid mordeu o lábio, não parecia convencida. Desta vez foi Margaret quem negou com a cabeça. Sua amiga estava preocupada com coisas ridículas. Só eram vestidos, pelo amor de Deus!
Margaret passou junto à tela de madeira do estrado de um hall.
— Olhe isto, Brigid. É uma espécie de câmara privada. Santa Cruz! Vê estes candelabros? Devem ser de ouro maciço — deixou-se cair em um dos bancos ao redor da habitação. — Não há uma cadeira sem um travesseiro neste lugar. Diabos, acredito que vou estar ocupada quando retornar a Garthland Tower fazendo almofadas para todos os bancos.
— Não deve blasfemar Maggie, e não sabe costurar.
Margaret respondeu a este pequeno detalhe mostrando a língua. Deixou que Brigid lhe apontasse a realidade. Mas talvez por isso fossem tão boas amigas. Brigid era os freios de sua vela. Não deixava que ela se empolgasse. Bom, não muito. Quanto às blasfêmias, seus irmãos diziam coisas muito piores. Se alguém iria ao inferno, seriam eles.
— Muito bem, farei com que Marsaili os faça então.
— Não acredito que goste de costurar mais que você.
— Bom, pelo menos sabe como fazê-lo — disse Margaret, sorrindo.
Levantou-se e caminhou para uma mesa. Nela havia uma espécie de tabuleiro quadrado com pequenas peças esculpidas. Recolheu uma das figuras para examiná-la, notando que parecia ser feita de marfim. Havia todo tipo de figuras de diferentes tamanhos em duas cores. Alguns estavam dispostos no tabuleiro, e alguns estavam fora do tabuleiro em lados opostos da mesa.
— Talvez esta sala seja para os bairns6 — disse. — Parece uma espécie de jogo.
— É um bom jogo para uma criança? — Brigid franziu o cenho quando Margaret agarrou outra peça.
— Você acha que deve estar tocando isso, Maggie? E se alguém ficar chateado?
Margaret olhou para sua amiga como se fosse tola.
— É só um jogo, Brige. Por que alguém se preocuparia com isso? — Recolheu duas das peças maiores. — Olhe como são adoráveis. Parece que têm coroas. Devem ser um rei e uma rainha.
Brigid enrugou o nariz.
— Dão-me medo.
Margaret negou com a cabeça.
— Devem estar no meio — dando-se conta de que não havia um espaço no centro do tabuleiro quadriculado, ela improvisou e pôs à rainha no centro dos quatro espaços. — Bom, a rainha irá no meio e o rei terá que estar a sua esquerda — sorriu e moveu as peças ao redor. — Com todos esses homens montados a cavalo ao redor deles.
— Acho que a rainha é você? — Brigid se pôs a rir. — Decidindo sobre os homens como você faz em Garthland?
— Bom, alguém tem que fazê-lo — disse Margaret com naturalidade. — Quando meu pai e meus irmãos estão ausentes, nada seria feito se eu não cuidasse de todos aqueles “pequenos detalhes”.
Olharam-se e puseram-se a rir, sabendo que Margaret dirigia muito mais que os “pequenos detalhes” pelos quais seu pai gostava de dar crédito.
Brigid pegou algumas das peças para examiná-las e, em seguida, uma pequena peça plana de madeira que Margaret não notou antes. Tinha algo escrito nele.
— O que acha que diz? — Perguntou.
Margaret olhou as letras e deu de ombros. Como sua amiga, não tinha nem ideia. Sem saber como jogar, riam enquanto se alternavam para arrumar as peças em formações humorísticas.
— Você escutou alguma coisa? — Disse Brigid. — Acredito que alguém está vindo — ofegou horrorizada. — Não pode ser hora para a festa do meio-dia? Nós não estamos prontas!
— Tenho certeza de que ainda temos muito tempo. Não pode ser tão tarde...
Margaret se deteve, voltando-se enquanto um grupo de homens entrava no hall. Havia pelo menos meia dúzia, mas pareciam estar seguindo a um homem. Pelo menos assumiu que deviam lhe seguir, já que ele tinha o nobre porte de um rei e era um dos homens mais ricamente vestido que ela já vira.
Provavelmente dez anos mais velho que seus dezoito anos, usava um manto de veludo verde escuro forrado com peles, preso por um enorme broche de prata com joias. Sua túnica estava tão ricamente bordada, que também parecia uma joia. Era alto, de mais ou menos dois metros de altura, e musculoso, com o cabelo escuro e uma barba escura e bem aparada.
— Amigas suas, Carrick? — Perguntou um dos homens com uma elevação especulativa de sua testa. Olhava fixamente para Margaret com um interesse descarado, com os olhos fixos em seu cabelo. — Não é o entretenimento que esperava, mas não vou me queixar.
Margaret não percebeu o que o homem queria dizer ao princípio. Estava muito surpresa ao ouvir a identidade do jovem nobre. Este era o infame Conde de Carrick e Senhor de Annandale, Robert Bruce? Pela descrição de seu pai, estava esperando uma língua bifurcada e os chifres do diabo, não este jovem impressionante e bonito.
Entretenimento? Seus olhos se estreitaram contra o homem que tinha falado. O homem era mais velho que o Conde, mais baixo, e não tão bonito, embora houvesse uma força bruta nele. Seus olhos estavam fixos especulativamente em seus seios. Não podia pensar...
Sim! O homem pensava que eram prostitutas! Ela quase caiu na gargalhada. Espere até seu irmão Duncan ouvir isso! Sempre lhe dizia que ela era tão perversa como uma prostituta francesa.
Carrick lançou a seu companheiro um olhar de repreensão e se voltou para Margaret e Brigid.
— Estão perdidas, moças? Afastaram-se... Eh, separaram-se de alguém? Uma das damas, por acaso?
Obviamente, o jovem Conde também estava surpreso por encontrá-las aqui, mas foi mais sutil ao perguntar quem eram. Se não estava enganada, pensou que eram donzelas à serviço de uma das nobres damas que atendiam, o que a ofendia muito mais que ser chamada de prostituta.
Os MacDowells eram um dos clãs mais antigos da Escócia. Tinham governado este país — pelo menos a parte Sudoeste dele — antes que estes senhores normandos cruzassem o canal da Inglaterra.
Mas precisava admitir que Brigid poderia ter razão sobre seus vestidos.
Endireitou a coluna, levantou o queixo e encontrou o olhar do jovem Conde com um desafio audaz.
— Não nos perdemos, meu senhor. Estávamos explorando o castelo antes da festa. Acabamos de chegar, esta manhã, com meu pai.
Arqueou uma sobrancelha, obviamente, surpreso.
— E quem é seu pai?
— Dugald MacDowell, Laird de MacDowell de Galloway — disse com orgulho, sabendo exatamente que tipo de reação provocaria.
Não estava errada. Mais de um homem murmurou depois da revelação de que era a filha de seu inimigo. O Conde ocultou bem sua surpresa, embora soubesse que ele estava.
— Lady Margaret — disse, com um breve sorriso.
Margaret não foi tão hábil em esconder sua surpresa.
— Você sabe de mim?
Sua boca pareceu estremecer, como se estivesse lutando para ocultar um sorriso.
— Suspeito que há muito poucos que não tenham ouvido falar da "Bela Donzela de Galloway".
Margaret franziu o cenho. Certamente ela não. E por que tinha a sensação de que ele ouviu falar muito mais do que sobre sua beleza?
O homem que a confundiu com uma prostituta falou.
— Ah, diabos, Carrick. Olhe para isso.
Quando apontou na direção do jogo, e todos os homens começaram a amaldiçoar, Margaret suspeitou que Brigid tivesse razão sobre outra coisa também. Mordeu o lábio. Talvez tocar no jogo não tivesse sido uma boa ideia.
O venceria! Eoin sabia o que precisava fazer para ganhar.
Não sorria muito, mas não pôde evitar enquanto caminhava com propósito pelo pátio e entrou no Grande Salão do Castelo de Stirling.
Durante dois dias esteve disputando uma feroz batalha de inteligência com Robert Bruce, o jovem Conde de Carrick, sobre um tabuleiro de xadrez, mas a resposta surgiu ontem à noite e a vitória logo seria dele.
Uma vitória que lhe deixaria um passo mais perto da verdadeira recompensa.
Ainda não podia acreditar. Seu ilustre parente — ele e a mãe de Bruce eram meio irmãos — estava considerando Eoin para a guarda secreta de elite, que Bruce estava formando no caso de que fizesse uma oferta pelo trono.
Ter sido selecionado e eleito por Bruce era uma honra para qualquer jovem guerreiro, e maior ainda para o terceiro filho de um Laird das Highlanders de vinte e quatro anos, já que o pai de Eoin, Gillemore MacLean, Laird de MacLean, apressou-se a apontar com um sopro de orgulho.
Mas não era por isso que Eoin estava tão emocionado pela oportunidade. Seu parente não lhe deu muitos detalhes, mas aqueles que ele falou eram como estender doces para um bairn. Um guarda da elite secreta e altamente especializado era utilizado para reconhecimento, inteligência, estratégia e missões especiais — em outras palavras, as mais perigosas. Para um homem que viveu, respirou e inclusive dormiu pela guerra como um "pirata", desde que tinha sete anos e ajudou seus irmãos mais velhos a recuperar algumas redes de pesca roubadas por rapazes de um clã vizinho — depois que os meninos tinham sido o suficientemente bons para enchê-las de peixe para eles, é óbvio, — a perspectiva de trazer esse estilo de guerra para lutar contra o exército mais poderoso da cristandade foi um desafio muito grande para resistir. Eoin estaria lutando junto a um grupo dos guerreiros mais qualificados da Escócia, eleito à mão, e era como orvalhar o açúcar em cima de uma bagatela de pão doce, acumulando o doce em cima do doce.
Estava decidido a ganhar uma posição na Guarda Secreta como um tático de batalha, e superar seu parente no xadrez — Bruce era conhecido por sua habilidade no jogo — ajudar-lhe-ia nesse sentido. Que o jogo fosse relativamente novo para Eoin, e Bruce tivesse jogado durante anos, não lhe preocupava. Pensar dois, três ou quatro passos adiante era algo que Eoin fazia o tempo todo no campo de batalha. Quando aprendeu as regras, podia olhar o tabuleiro e ver os movimentos jogados em sua cabeça. Novamente, assim como com a batalha, exceto que, no caso da guerra nas Highlanders, não havia regras.
Sorriu outra vez.
— Pelo amor de Deus, Eoin, mais devagar! — Seu irmão adotivo, Finlaeie MacFinnon, correu ao seu lado. — Não via um sorriso assim em seu rosto desde que MacDonald caiu na fossa.
O sorriso de Eoin se aprofundou, recordando como afrouxou as tábuas do assento de madeira sobre a latrina do quartel só o suficiente para que o tirano a quem tinha sido dada a responsabilidade de treiná-lo desde criança por seu pai, Angus de MacDonald e que tinha feito cada minuto de sua vida por dois anos miseráveis, caísse. Quase melhor que ver Iain MacDonald coberto de merda era o fato de que ele nunca soube o que de fato ocorrera. Eoin foi o responsável.
— Por que está tão feliz?
Eoin sacudiu a cabeça.
— Nada.
A parte mais difícil deste grupo que Bruce estava formando era que era secreta. Nem sequer podia confiar em seu amigo mais próximo. Olhou a Fin, contemplando os olhos avermelhados, o cabelo revolto e a roupa desalinhada. O nariz de Eoin se enrugou pelo forte cheiro de suor.
— Noite longa?
Fin sorriu.
— Pode-se dizer assim. E uma manhã ainda mais longa. As moças da corte são muito acolhedoras. Não que isso iria lhe interessar.
Eoin lhe disse que fizesse algo fisicamente impossível. Gostava das moças tanto quanto seu irmão adotivo, quando tinha tempo para elas. Por exemplo, nesse momento tinha coisas muito importantes em mente.
— Talvez esteja se reservando para sua prometida?
— Caralho, Fin, não é minha prometida.
— Ainda não, mas não me diga que seu pai não está trabalhando nisso.
Eoin não podia; isso era certo. Seu pai estava fazendo tudo o que podia para garantir um compromisso entre ele e Lady Barbara Keith.
— Você é um bastardo sortudo, Eoin. Daria minha bola esquerda para ter à filha do Marechal da Escócia como minha esposa. Com suas habilidades e uma ligação conjugal com o máximo comandante militar da Escócia, estará em uma posição fantástica se a guerra recomeçar.
“Quando a guerra recomeçar”, pensou Eoin. Apesar das intenções de Edward da Inglaterra, em vez de pôr Fin à "rebelião" escocesa com o brutal assassinato de William Wallace há algumas semanas, tudo o que fez foi incitá-la.
Por isso estavam aqui. Os grandes Senhores e magnatas da Escócia se reuniram em Stirling para "unirem -se" para ver o que poderia ser feito em resposta a este último ato de Edward.
Mas a probabilidade de que Bruce e Comyn — que representava seu tio exilado, o Rei John Balliol — unissem-se para concordar sobre qualquer coisa por qualquer período de tempo era tão provável quanto o sultão Mameluco e o Papa concordarem em compartilhar Jerusalém.
Eoin sabia que a reunião era mais a respeito dos dois aliados temporários reunindo apoio e fazendo um balanço de aliados potenciais quando a próxima guerra pelo poder viesse. E viria, não havia a menor dúvida disso. O ódio corria muito profundo entre os dois ramos dos descendentes do príncipe Fergus para algum dia se reconciliarem.
Os MacLeans se encontravam em uma posição difícil. Embora o pai de Eoin tivesse toda a intenção de lutar junto a seu parente Bruce, também estava tratando de evitar mais problemas com os MacDougalls — o Senhor de Argyll era tecnicamente o suserano de suas terras em Lorn — que estavam firmemente alinhados com os Comyns, parecendo indecisos.
— Lady Barbara é uma dama encantadora — disse. — Qualquer homem teria a sorte de tê-la como esposa.
As palavras saíram tão decoradas como precipitadas. Mas também verdadeiras. Barbara Keith era bonita, bem-educada, recatada e modesta. Uma mulher de verdade, e era tudo o que admirava em uma mulher, igual a sua mãe. Se não fosse por Rignach, filha do antigo senhor de Carrick, seu pai nunca teria se convertido em um dos mais importantes e respeitados Lairds das Highlands.
Seu pai gostava de brincar que sem ela seriam tão selvagens e incivilizados como os bárbaros e atrasados MacDowells, que provavelmente ainda viviam com seus animais em longas casas e adoravam deuses pagãos.
Tendo a desgraça de cruzar o caminho com Dugald MacDowell uma vez, Eoin não duvidava disso. Ele poderia ensinar aos Vikings uma lição de crueldade e barbárie.
— Sim, tenho certeza de que ela será uma esposa perfeita — disse Fin com secura.
O olhar de Eoin se afiou.
— O que se supõe que significa isso?
Fin deu de ombros.
— Você não quer ser incomodado, e ela não vai incomodá-lo. Mas é melhor você usar um manto quente quando a levar para à cama.
Lançou-lhe um olhar de advertência. Eoin estava acostumado ao falatório de seu amigo sobre as mulheres com as quais estava se deitando, ou queria se deitar. Embora fosse desagradável, geralmente o ignorava. Mas especular sobre a mulher que poderia ser a futura esposa de Eoin era outra questão. Inclusive se ele tivesse razão. Lady Barbara era um pouco... Gelada.
Fin levantou a mão.
— Não fique de mau humor. Não quero dizer nada com isso. Não se pode ter tudo, suponho. É por isso que tantos homens têm amantes. Uma esposa para o dinheiro, a posição, as alianças, e os herdeiros, e uma amante bonita para foder e chupar seu pênis. Lástima que as duas coisas nunca apareçam juntas.
Eoin estremeceu.
— Cristo, Fin, têm que falar assim?
Fin se limitou a rir e sacudiu a cabeça.
— Você é mais puritano que uma freira em um harém, Eoin. Se você relaxasse alguma vez por tempo suficiente para se sentar ao redor de uma fogueira no acampamento conosco, em vez de se debruçar sobre uma lâmpada a óleo com esses seus mapas, você saberia que é como a maioria dos homens fala.
Estava concentrado, caralho, não era tímido
— Relaxarei quando terminar a guerra.
Fin fez um som agudo.
— Duvido. Tudo o que pensa é em batalha. Simplesmente estará planejando a próxima.
Seu amigo provavelmente tinha mais razão do que Eoin queria admitir. Entretanto, salvou-se de uma resposta quando passaram do Grande Salão ao solar onde ele e Bruce estavam jogando e notou uma parede de homens bloqueando a porta. Pareciam reunir-se ao redor de algo de maneira protetora.
— O que é tudo isso? — Perguntou Fin.
Eoin franziu o cenho.
— Vamos descobrir.
Eles empurraram os primeiros homens quando Neil Campbell, um dos amigos e conselheiros mais próximos de Bruce, disse algo para o Conde e balançou a cabeça em direção a eles.
Bruce se voltou.
Havia uma estranha expressão em seu rosto. Parecia estar tentando prepará-lo para algo.
— Primo, temo que...
Eoin não sabia se era a expressão de Bruce ou o fato de que o chamasse de primo, coisa que não fazia habitualmente, o que lhe fez girar e olhar à esquerda onde estava o jogo. Ou pelo menos onde o jogo tinha estado.
Bruce estava dizendo algo, mas Eoin estava muito ocupado atravessando a sala para escutar.
— Caralho! — Olhou com incredulidade o jogo destruído. As peças tinham sido movidas. Seus olhos se estreitaram. Não só tinham sido movidas, mas também colocadas no formato de um coração. Voltou-se indignado para seus parentes. — Por Deus, quem fez isto? Se isto for uma espécie de brincadeira...
Ele mataria. Dois dias, porra. E esteve a poucos passos da vitória. Imaginou as peças em sua cabeça, tentando recordar onde tinham sido colocadas.
— Foi um acidente — disse Bruce.
— Acidente? — Eoin recolheu a peça de madeira gravada com as palavras "Não tocar". — O idiota não leu o que estava escrito?
Um silêncio incômodo caiu sobre a sala. Vagamente, Eoin sabia que alguém havia parado ao lado de Bruce.
Seu olhar se moveu, e ele recebeu o segundo golpe da manhã. Esse foi muito mais devastador. Sentia como se tivessem golpeado sua cabeça com um machado. Atordoado e mais do que um pouco confuso, olhava, provavelmente, a uma das criaturas mais sensuais que já tinha visto.
Ela sorriu, e essa sensação de ser golpeado por uma alabarda7 caiu sobre seu peito.
— Acho que sou a idiota. Não vi o aviso até que fosse muito tarde.
Ah, porra. O mal-estar na sala se fez evidente. Embora ela parecesse estar levando as palavras ofensivas com surpreendente bom humor. A maioria das moças que conhecia estariam afetadas pela vergonha. Em troca, foi ele quem sentiu o calor em seu rosto.
— Peço desculpas por minhas palavras mal-educadas.
Ela acenou para ele com uma risada profunda e rouca que fez que seu peito se apertar.
— Meus irmãos me chamaram de coisas muito piores. Nunca tinha visto esse tipo de jogo antes, e não sabia que era tão importante.
Sentindo que ela estava se divertindo com esse fato, franziu o cenho.
Seu primo, sempre o cavaleiro galante, correu para tranquilizá-la.
— E eu estava assegurando a Lady Margaret que não era nada.
Eoin esperava que seus olhos não se arregalassem tanto quando ouviu a palavra "Lady". Por seu aspecto, tinha assumido outra coisa completamente diferente.
Muito pouco sobre a moça evocou a imagem de uma dama. Seu vestido era singelo, simples e de corte baixo, o suficientemente ajustado ao redor do corpete, para fazer uma moça da taberna se sentir orgulhosa.
Sua beleza não era tranquila e contida como a de uma dama, mas audaz e dramática. Muito audaz e dramática, a moça chamaria a atenção, particularmente a atenção masculina, onde quer que fosse. Seus lábios eram muito vermelhos, sua boca muito larga, seus olhos de tons dourados muito sedutoramente inclinados, seus seios muito grandes — não que pudesse apreciar esse excesso em particular — e seu cabelo era vermelho. Um vermelho escuro e vibrante que não estava trançado modestamente atrás de um véu, mas sim, o deixava cair sobre seus ombros em uma desordem selvagem que era mais apropriado para o quarto do que a sala de um castelo real. Sim, o quarto, que era exatamente o que pensava enquanto a olhava.
Mas provavelmente a coisa mais infeliz sobre ela era a audácia em seus olhos. Não havia reserva, nem modéstia, e em uma sala cheia de homens importantes, ela estava perfeitamente à vontade, como se pertencesse aquele lugar. Era desconcertante.
— Lady Margaret é a filha de Dugald MacDowell — acrescentou Bruce.
A Bela Donzela de Galloway? Cristo, isso explicava tudo. Eoin ouviu falar da moça, que tinha fama de ser selvagem, rebelde e ultrajante como o resto de seu clã. Apesar de sua juventude, dominava as terras de seu pai como uma rainha quando ele se ausentava e o tinha feito durante anos desde que sua mãe morreu. Frequentemente se dizia "Donzela" com ironia, já que a moça tinha a reputação de ser livre com seus favores.
De algum modo, se recuperou o suficiente para inclinar-se e murmurar.
— Lady Margaret.
— Este é o jovem parente do qual eu estava falando, minha lady — explicou Bruce.
Respondeu a Bruce com um sorriso torcido, mas seus olhos não deixaram Eoin.
— Acho que o jogo era um pouco mais sério do que me fizeram acreditar, meu Lorde Carrick.
Eoin tinha certeza de que seu rubor estava se aprofundando. Bruce se pôs a rir.
— Tudo é sério para meu jovem primo aqui. Não faça conta. Além disso, deveria agradecer-lhe.
Rompeu a conexão com Eoin e girou seus olhos puxados de gato para Bruce. Uma sobrancelha delicadamente arqueada se elevou.
— Me agradecer?
Bruce sorriu amplamente.
— Sim, por salvá-lo da vergonha de perder. Eu o fiz rebater, embora ainda não soubesse.
Lady Margaret riu e se virou para Eoin. Ele sentiu como se cada terminação nervosa em seu corpo estivesse na borda quando seus olhos voltaram a cair sobre ele.
— É verdade? — Se alguma vez tinha escutado uma voz mais rouca em uma mulher, não podia recordar. — E está de acordo, meu lorde?
Margaret não sabia o que pensar do jovem guerreiro que estava diante dela. Tinha que admitir que ficou surpresa quando ele entrou na sala da mesma maneira que os outros homens, e que estes tinham estado fazendo todo o possível para lhe assegurar que tocar no jogo e nas peças de xadrez não foi "nada". Ela não sabia se era sua fúria ou seu rosto lindo, mas algo tinha feito seu coração bater um pouco mais rápido. Está bem, muito mais rápido.
Ele estava vestido com um casaco de veludo fino, como os outros nobres da sala, mas bem poderia usar um cotun e uma longa espada. Tudo a respeito deste homem dizia que era um guerreiro. Não era só seu tamanho, que era formidável, — era inclusive mais alto e mais fortemente construído que o Conde de Carrick — a não ser a intensidade feroz que parecia irradiar dele. Quando caminhava, era com os longos e poderosos passos de um homem preparado para a batalha. Com oito irmãos, que eram ou seriam guerreiros, e um pai que passou a maior parte dos últimos vinte anos no campo de batalha, reconheceu o arquétipo no rapaz suficientemente bem.
Os homens — inclusive ferozes e zangados— não estavam acostumados a intimidá-la. Geralmente. Mas algo sobre ver todos esses músculos e a fúria ardendo em seus olhos azuis penetrantes fazia seu pulso acelerar.
Embora enquanto o olhava, esperando que respondesse, percebeu que o acelerar podia ser o resultado de algo mais. Como talvez os surpreendentes cabelos castanhos sedosos com um toque loiro por parte do sol, recordando que deve ter sido loiro na juventude e que caía em ondas descuidadas por um maxilar limpo, mandíbula quadrada com dente perfeitos, aqueles olhos chamativos situados debaixo de uma testa aparentemente sulcada pelo cenho franzido, — como se estivesse sempre concentrado — e características afiadas e cuidadosamente desenhadas tão finamente esculpidas que poderiam ter sido cinzeladas em granito.
Senhor, era lindo. Sempre tinha pensado no irmão de Brigid, Tristan, como o homem mais bonito que conhecia, mas ele nunca tinha feito que o ritmo de seu pulso acelerasse assim. Mesmo quando Tristan lhe roubava um beijo, o que acontecera em mais de uma ocasião. Tampouco tinha feito que sua pele se arrepiasse com um estranho calor. Na verdade, todo o seu corpo parecia ter subido alguns graus de temperatura desde que ele entrou na sala.
O jovem guerreiro parecia estar medindo cuidadosamente suas palavras. Claramente, não estava de acordo com o júbilo do jovem conde, mas tampouco o contradizia na frente dela e seus homens.
— Estou de acordo em que o jogo estava quase terminado — disse finalmente.
Senhor, essa voz! Profunda e áspera, parecia esfregar-se sobre sua pele e afundar em seus ossos.
Bruce riu e lhe deu uma palmada nas costas.
— Uma resposta muito política, primo. Mas suspeito que sabe muito bem que me apanhou. Aposto que você está reconstruindo o tabuleiro em sua cabeça agora mesmo.
O jovem guerreiro era Eoin MacLean, Bruce lhe havia dito... Ele simplesmente deu de ombros.
Bruce riu novamente e balançou a cabeça.
— Sabe a parte verdadeiramente atroz, minha lady? Estive jogando xadrez desde que era um garoto, e MacLean acaba de aprender. Ainda assim é um dos melhores jogadores com os quais eu competi.
— Eu gostaria de saber como se joga este 'Jogo de Reis', não é assim como o chamaram? — Perguntou a Bruce com inocência, embora o indício de malícia em seu olhar lhe disse que sabia exatamente por que tinha feito isso, assinalando-o antes. Jogo de Reis — ele sendo o rei.
O Conde de Carrick era tão audaz quanto ela ouviu. Gostava, embora nunca o admitiria para seu pai. Ele morreria antes de ver um Bruce no trono. O sorriso igualmente impertinente de Bruce disse a Margaret que ele sabia sobre sua intenção.
Voltou-se para MacLean.
— Talvez você me ensine algum dia?
A surpresa naqueles olhos azuis que lhe picavam a pele, e o silêncio repentino na sala, disse-lhe que mais uma vez, ela fez algo errado.
Diabo, o que foi desta vez? Mal havia estado no Castelo de Stirling por algumas horas, mas já estava claro que era muito diferente da Torre de Garthland. Não importava, logo encontraria sua base. Margaret nunca duvidou disso nem por um segundo.
Capítulo 3
— Todo mundo está olhando para nós — Brigid sussurrou quando elas entraram no salão um pouco mais tarde.
Margaret notou o repentino silêncio na sala movimentada e sentiu que os olhos também se voltaram para elas, mas sua reação foi oposta à de sua amiga. Acostumada a presidir muitas mesas em Garthland como anfitriã, ela não hesitou em prestar atenção. Em realidade, gostava. Entreter — ser entretida — era parte de seus deveres como castelã, e se assegurava de que ninguém saísse do castelo sem apreciá-la. Isso ajudou que caminhasse naturalmente pelo salão.
Infelizmente, não podia dizer o mesmo de sua amiga. Brigid era tímida e reservada. Duas palavras que provavelmente não lhe seriam aplicáveis, pensou Margaret com diversão.
Depois da parada inicial, a conversa retornou, por isso Margaret foi capaz de responder a sua amiga em um tom normal enquanto caminhava através da multidão em busca de seu pai e seus dois irmãos mais velhos, Dougal e Duncan. Dada a importância de seu clã, sabia que seus assentos estariam perto do estrado.
Pegou o braço de sua amiga e a apertou contra o seu lado.
— É óbvio que sim! Não é maravilhoso? Já causamos uma impressão. Vamos nos divertir, Brigid.
Brigid, entretanto, não compartilhava a facilidade de Margaret de ser o centro das atenções, e a expressão de sua amiga sugeriu que diversão não era definitivamente algo que estivesse tendo.
Margaret deu no braço de Brigid um aperto alentador.
— Oh, vamos, Brigid, — sorria. —Não há nada com que se preocupar. Somos recém-chegadas. É natural que tenham curiosidade.
Brigid não parecia acreditar.
— Talvez devêssemos ter usado véus como sugeriu Beth?
A serva que tinha sido designada para ajudá-las a se vestir para a festa ficou surpresa quando Margaret havia dito que só usariam ornamentos em forma de círculo.
Margaret não lhe deu muita atenção. Ela só usava véu quando ia à igreja, e mesmo assim, não gostava. Mas olhando ao redor da sala, entendeu por que ela sugerira. Eram as únicas mulheres que tinham a cabeça descoberta.
— Então, poderíamos nos misturar com todos os outros? — Margaret deu a sua amiga um sorriso malicioso. — Que diversão haveria se fôssemos todos iguais? Desta maneira, nos destacaremos.
— Acredito que estamos fazendo isso de qualquer maneira com nossos vestidos — Brigid disse com tristeza.
Margaret tinha que admitir que as roupas das damas da corte superavam com acréscimo suas expectativas. Nunca havia visto semelhantes tecidos luxuosos e bordados finos. Mas eram só batas. Embora tivessem muitos adornos... só eram isso: adornos.
— Você está linda, Brig. Poderia estar usando um casaco e ainda eclipsar a todos nesta sala. Mesmo vestida com veludo e joias, ou com um pano de lã e plaid escocês, é o que há dentro que importa — Brigid a olhou como se não soubesse de onde tirava suas estranhas ideias. — Terá uma seleção de pretendentes. Você já viu alguém que lhe interessa?
Assim que seu pai falou de sua intenção de levá-la a Stirling para assegurar uma aliança com John Comyn, Margaret pediu que lhe permitisse trazer Brigid com ela como sua companheira.
O Senhor sabia que havia muito poucos homens para escolher como potenciais maridos perto de seu lar. Exceto os irmãos de Margaret, é óbvio, mas eles não contavam. Esta era a oportunidade perfeita para encontrar alguém para Brigid, e Margaret não ia desperdiçá-la.
O rubor se elevou nas bochechas de sua amiga, e seu olhar baixou.
— Acabamos de chegar, Maggie.
— Entretanto, já conhecemos a uma dúzia de jovens — a imagem de um alto guerreiro de cabelo loiro chegou a sua mente, mas rapidamente a afastou. Poderia ter atraído sua atenção, mas seu interesse devia fixar-se em outra parte. — Embora, espero que não tenha posto seus olhos no Conde de Carrick, já que ele está casado.
Brigid soltou uma risada aguda, o que tinha sido a intenção de Margaret.
— Você é terrível, Maggie. Você pode imaginar o que diria papai e Tristan?
A família de Brigid era fielmente leal ao rei John Balliol como Margaret, o que significa que nenhum dos homens que tinham conhecido hoje, caso estivessem a favor de Bruce, eram pretendentes adequados.
— Imagino exatamente o que diria meu pai e meus irmãos. Está louca, moça? Antes veria você atravessar o fogo no corredor do inferno para se casar com o próprio Lúcifer — disse em uma imitação simulada da voz de seu pai.
Quando se aproximaram do estrado, pôde ver que tinha razão. Sua família estava sentada na mesa, a esquerda.
Elas ainda estavam rindo quando os homens se levantavam para cumprimentá-las. Quando seu irmão mais velho, Dougal, perguntou o que era tão engraçado, Brigid não pôde olhá-lo no rosto, mas Margaret, sabendo que seu irmão - sem humor - não entenderia, respondeu que não era nada.
Imaginou que sua família iria ouvir sobre seu breve encontro anterior.
Foi então que ela notou o jovem de pé ao lado de seu pai. Percebeu a moda do cabelo e da cor, ele a olhou com uma expressão que só poderia ser descrita como perplexidade. Um pouco mais alto do que seu pai, que estava a poucos centímetros abaixo de dois metros, era apenas uma fração de sua musculatura, com a solidez dos longos membros da juventude. Por causa da falta de barba na mandíbula, ela supôs que ele era um ano ou dois mais novo do que ela - ela tinha dezoito anos.
Sua identidade surgiu quando seu pai estava fazendo as apresentações. John Comyn. Este era o filho e herdeiro do senhor de Badenoch, e o homem com quem seu pai queria desposá-la. Sabia que era jovem, mas...
Escondendo rapidamente qualquer decepção que pudesse estar sentindo - e daí se ele não parecia muito mais velho que seu irmão de dezesseis anos, Uchtred? Era um jovem de boa aparência e, o que era mais importante, filho de um dos maiores Lairds da Escócia. Sentou no lugar que havia sido estabelecido para ela entre o jovem cavaleiro e seu pai e passou a maior parte da refeição tentando relaxar.
Ele era tímido e parecia um pouco atordoado, mas Margaret era boa em atrair pessoas. Perguntou-lhe sobre sua família. Tinha duas irmãs, Elizabeth e Joan, que estavam aqui, e tinha servido como escudeiro para seu tio-avô, o rei John Balliol, antes de ser exilado na França, mas agora estava com seu pai no Castelo de Dalswinton. Descobriu que compartilhavam o amor pelos cavalos e, ao descrever o premiado cavalo Jennet que tinha sido presente em seu décimo oitavo aniversário, — ela ocultou sua surpresa ao saber — e encontrou-se genuinamente interessada e curtindo.
Não foi até que os pratos de aves assadas foram retirados para a segunda rodada da refeição que sentiu o peso de um olhar sobre ela. Virando-se para a mesa diretamente na frente deles, logo abaixo do estrado à direita, encontrou os olhos azuis penetrante de Eoin MacLean.
Sentiu uma sacudida como se algo acabasse de apoderar-se dela. Correu por sua espinha e se estendeu sobre sua pele em um calor agudo. Não era a primeira vez que Margaret capturava a atenção de um homem, mas era a primeira vez que se encontrava ruborizada em resposta.
Não era vergonha pelo que ocorreu antes... exatamente. Em Garthland não havia nada de errado com uma mulher pedindo a um homem que lhe ensinasse a jogar. Senhor, não era como se tivesse pedido a ele que lhe ensinasse a nadar nua! No entanto, era assim que todos os homens da sala a olhavam.
Embora possivelmente nua não era algo no que deveria estar pensando quando olhava para Eoin MacLean, porque não podia deixar de perguntar-se como seria seu peito quando não estivesse coberto de veludo e linho. Seus ombros eram tão largos e seus braços eram muito grandes. Ele deve ser muito musculoso.
O calor de suas bochechas se intensificou. Suspeitava que eram pensamentos indecentes como esse que a tinham feito ruborizar em primeiro lugar. Não era vergonha, era algo mais parecido à consciência. Sim, definitivamente consciência.
E se a intensidade de seu olhar era qualquer indicação, sentia-o também.
A conexão era tão forte que parecia que não precisavam falar para se comunicar. Ela sorriu descaradamente, elevou a sobrancelha e deu de ombros para dizer que também não entendia. Por desgraça, Margaret havia esquecido que não eram as únicas duas pessoas no salão.
Eoin a notou no momento em que entrou no salão. Não era o único. Parecia que toda a sala conteve a respiração quando as duas jovens apareceram na entrada. Mas era para a ruiva indecentemente sensual para quem todos os olhos se voltaram. A bonita e pálida loira ao seu lado parecia desvanecer-se no fundo. Era incomparável.
Mas Margaret MacDowell era diferente. Como uma flor silvestre em um jardim de rosas, não pertencia a este lugar. E não era só pela suave queda de cabelo que fluía por suas costas ao invés de estar coberto por um véu, ou porque em uma sala cheia de damas vestidas de veludo e joias ela se arrumou para parecer mais real em um vestido de lã simples e plaid escocês brilhantemente colorido. Não, era muito mais elementar. Estava despreocupada e alegre em uma sala de modéstia e reserva. Ela era selvagem e indômita em um mar de restrição e conformidade.
Mas ela não estava ciente das atenções ou não se importava. Ela encontrou-se com o silêncio do salão — a metade era de admiração e a outra a estava condenando— e não respondeu com um olhar abatido e um rubor virginal de timidez por ser o centro das atenções para muitos, mas com o sorriso confiante de um capitão pirata apoderando-se de um navio, com um ritmo feliz e confiante.
Mas se os comentários que escutou até agora era qualquer indicação, ganhar essa tripulação — pelo menos a metade da equipe feminina — não ia ser fácil. As intrigas sobre o que aconteceu antes já haviam atravessado o vestíbulo, e estavam claramente desaprovando-a.
Ele teve que rejeitar meia dúzia de perguntas de sua irmã Marjory, antes da chegada da primeira bandeja de comida. Mesmo sua mãe reservada e acima das fofocas ouviu atentamente suas respostas.
Mas ele deixou claro que o assunto terminou. Não ia ensinar à moça a jogar qualquer coisa. Embora Eoin não pudesse deixar de admirar a confiança impetuosa de Lady Margaret e, inegavelmente, sua beleza audaciosa manteve certo atrativo — tudo bem, muito atrativo — uma moça como essa causava problemas. O tipo de problemas que não tinha interesse em perseguir, por mais que certas partes dele se agitassem.
Isso tinha sido uma surpresa. Sua reação à moça foi tão feroz, primitiva e física, como inesperada. Usualmente tinha melhor controle. Franziu o cenho. Em realidade, sempre tinha um melhor controle. Nenhuma moça que conhecesse moveu seu sangue com um olhar e um sorriso que lhe fazia perguntar-se se era tão travessa quanto parecia.
Mas, mesmo que ela não fosse a filha de um homem que provavelmente seria seu inimigo em breve — isso já era razão suficiente para olhar para outro lado — Margaret MacDowell com seu sorriso, que prometia travessuras e a atitudes diabólicas poderia ser indubitavelmente, muito exigente. E as mãos de Eoin estavam firmemente envoltas ao redor de seu machado de guerra.
Entretanto, à medida que avançava a refeição, seu olhar se deslizava em sua direção mais de uma vez. Deus, esse cabelo era incrível. E sua pele era perfeita, tão suave e cremosa que parecia irreal.
Mas eram esses olhos conscientes, puxados e a boca sensual o que o provocava.
Ele ficou um pouco surpreso ao vê-la sentada ao lado do jovem Comyn. Logo ficou claro o motivo, entretanto, a moça circulou para encantar e deslumbrar ao jovem claramente incômodo e fora de seu elemento. Não que Eoin pudesse culpar o garoto. Eoin tinha vinte e quatro anos, definitivamente não era um garoto que corria atrás de moças, e suas bolas se apertavam cada vez que escutava aquela risada rouca por todo o salão.
Mas se o bárbaro de seu pai pensava que o senhor de Badenoch, o homem mais poderoso da Escócia, amarraria seu precioso herdeiro a um MacDowell, estava ainda mais louco do que pensava Eoin. Badenoch poderia considerar o clã antigo em alta estima no campo de batalha e valorá-los como aliados, mas procuraria uma noiva para seu herdeiro entre a mais alta nobreza da Escócia, inferno, provavelmente na Inglaterra.
Entretanto, se a expressão de amor no rosto do jovem Comyn era uma indicação, o filho poderia ter outras ideias. O cenho franzido no rosto de Badenoch enquanto olhava seu filho do estrado, parecia ter notado também.
Eoin não pôde evitar perguntar-se do que estavam falando. A moça estava falando tão animadamente, e essa risada era... uma maldita distração.
Não se deu conta de que estava olhando-a até que seus olhos se encontraram. Deveria ter afastado o olhar. Deveria ter lhe virado as costas. E ela certamente não deveria ter chamado a atenção lhe dando esse adorável, mas muito íntimo, encolhimento de ombros.
Ele sabia exatamente o que queria dizer, porque ele sentia isso também, mas os outros podiam interpretar errado. E foi exatamente o que eles fizeram
— Acaba de piscar o olho para você?
Eoin olhou duramente para Lady Margaret, sua irmã mais nova, cujos olhos se expandiram para proporções extraordinárias.
— É óbvio que não — disse ele. — Era mais como um levantar de testa e um encolher de ombros.
— Ela fez isso! — Marjory disse com uma estranha mescla de horror e júbilo. — Essa descarada criatura flertou do outro lado da sala! Depois do que ela propôs. Deve ser tão perversa como dizem.
— Baixe a voz, Marjory — disse Eoin com severidade. — Eu disse que não era nada.
Mas já era muito tarde, sua mãe tinha ouvido. Olhou com uma aversão quase velada para Lady Margaret, e depois de novo para ele com um olhar duro que não precisava interpretar.
— Cuidado, — ela disse. — Há muito mais por trás de tudo isso — uma mudança de seu olhar para Lady Barbara, que estava sentada alguns lugares adiante ao lado de seu pai e que, felizmente, não tinha notado o intercâmbio, disse-lhe o que queria dizer.
Mas não necessitava de aviso. O olhar de Eoin não voltou a cruzar o salão. Embora com a crescente multidão de homens ao redor de Lady Margaret, provavelmente não teria podido vê-la de todos os modos.
— Por todos os infernos, o que estava fazendo, filha?
Apanhada na troca de olhar com Eoin MacLean por seu pai, Margaret se viu obrigada a explicar como o conheceu. Sua descrição de como estragou acidentalmente a partida de xadrez de dois dias de duração entre o Conde de Carrick e seu parente fez com que seu pai e seus irmãos rissem — muito — da bagunça. Ela achou engraçado que os homens pudessem colocar muito interesse em um jogo infantil.
— Pelo sopro de Deus, eu teria gostado de ver seus rostos. Deve ser uma lição para Bruce ver como é fácil ser derrotado por um MacDowell.
John Comyn, que jogava, embora afirmasse ter pouca paciência para isso — o que Margaret interpretou como que não era muito bom nele, — também riu, especialmente quando mencionou como as peças foram movidas na forma de uma flor e, em seguida, um coração.
Seu pai chamou a alguns de seus amigos — muitos dos quais eram novos para ela — e se viu obrigada a repetir o conto várias vezes durante a refeição. Não se importava, já que estava acostumada entreter, e isso fez com que a atmosfera formal e estranha de Stirling a fizesse se sentir um pouco mais como em casa. Estava encontrando seu equilíbrio.
Pelo menos com os homens.
Ela percebeu que os olhares reprovadores estavam sendo dirigidos por mais do que algumas mulheres, mas não a incomodava. Elas levariam mais tempo para vencer, isso era tudo.
Em sua recontagem da história, deixou de lado o papel de pedir a Eoin MacLean que lhe ensinasse a jogar, mas aproveitou a oportunidade enquanto os servos limpavam as mesas de cavalete para dançar e perguntar a seu pai sobre ele.
Aparentemente, embora Eoin fosse jovem e só o terceiro filho do Laird, já tinha feito um nome como tático brilhante, levando uma série de incursões audazes contra os ingleses em Carrick.
Foi educado nas Terras Baixas e apesar dos antepassados nórdicos das ilhas ocidentais de seu clã, tinha fama de ser tão erudito como um monge. Margaret não pôde evitar pensar que esperava que fosse a única comparação com os monges.
Um olhar agudo de seu pai a fez se perguntar se seus pensamentos tinham sido muito transparentes. Não a repreendia por maldade nem por sua irreverência, ou por que se importava, mas sim por seu interesse nele.
Os MacLeans eram formidáveis guerreiros, continuou, e apesar de seus laços de parentesco com os Bruce, ainda estavam dando sinais de indecisão se lutariam por ele se a guerra começasse. Seu olhar se tornou muito especulativo. Embora seu pai não tivesse muita educação e tinha tanta ideia de como jogar xadrez quanto ela, era ardiloso, e o olhar que posteriormente dirigiu a John Comyn recordou-lhe o que se esperava dela.
Não tinha por que se preocupar. Margaret conhecia sua parte. Gostava bastante do jovem nobre, e quando começou o baile, surpreendeu-se ao descobrir que era um bom dançarino, embora ligeiramente rígido. Quando outro homem a reclamou para a seguinte dança, ele estava claramente relutante em deixá-la ir, o que Margaret tomou como um bom sinal.
Após o baile e três copos de cerveja — o vinho adoçado tinha subido à cabeça — levou um tempo para perceber que Brigid estava tentando chamar sua atenção. Quando ela finalmente ficou livre, sua amiga a arrastou fora do vestíbulo para um pequeno corredor.
Brigid parecia que estava a ponto de chorar.
— O que aconteceu? — Perguntou Margaret.
— Eu as escutei — Respondeu Brigid, retorcendo as mãos com ansiedade.
— Ouviu quem?
— A todas elas — sua voz se rompeu. — As damas.
Margaret franziu os lábios. Poderia ter a pele dura quando se tratava de intrigas, mas Brigid não. Se alguém tivesse ferido seus sentimentos, Margaret se encarregaria de que se arrependessem.
— O que disseram?
— Nos chamaram de pagãs — disse em voz baixa.
— Isso é tudo? — Margaret riu e negou com a cabeça. — Isso é ridículo, Brigid. Você não pode permitir que as pessoas a incomodem assim.
Brigid sacudiu a cabeça.
— Isso não é tudo. Estão dizendo... Coisas horríveis.
Margaret franziu o cenho. Era evidente que essas coisas horríveis deviam referir-se a ela, já que Brigid parecia relutante a dizer mais.
— Está tudo bem. Não vão magoar meus sentimentos.
Brigid mordeu nervosamente seu lábio inferior.
— Não é de você... Exatamente. É mais de seu clã. Os MacDowells não têm a melhor reputação.
Margaret franziu o cenho. Ferozmente orgulhosa, foi criada para pensar nos MacDowells como se fossem reis. Tinham governado Galloway como reis e rainhas durante centenas de anos.
— O que quer dizer?
— Acreditam que os MacDowells são... uh... Um pouco incivilizados. Um pouco selvagens.
Margaret estava indignada.
— Porque não agimos como ingleses? Porque nos mantemos fiéis a nossa antiga cultura do Gàidheal e às leis de Brehon mais que ao jugo feudal dos reis ingleses?
— Elas nos acham atrasados.
— Você nos acha atrasados.
Brigid deu de ombros com indiferença, mas Margaret sabia que se importava. Por mais que quisesse ignorar, sabia que não era tão fácil para Brigid fazê-lo.
— Elas têm seus costumes e nós temos os nossos. Só porque fazemos as coisas de forma diferente não significa que as fazemos errado.
— Eu sei — disse Brigid, seus olhos nadando em lágrimas. — Não é tão fácil para mim ignorá-las como é para você.
Um sorriso torto virou sua boca.
— Nem sempre é fácil.
Brigid pareceu surpresa por sua admissão.
— Não é? Mas você sempre parece tão confiante. Nunca aceita desaforo de ninguém, nem sequer de seu pai.
Margaret sempre pensou que sua amiga se intimidava com seu pai, mas nesse momento sua voz tinha algo mais parecido ao medo.
— Sou a única mulher em um lar de nove homens dominantes — disse. — Quanto tempo acredita que eu teria sobrevivido se tivesse mostrado alguma debilidade? Parecer confiante era uma questão de sobrevivência. Aprendi cedo que, se eu não me afirmasse, estaria perdida. Tive que gritar muito alto para ser escutada por todas essas vozes masculinas — disse com um sorriso. — Mas finalmente aprendi a me fazer ouvir sem levantar a voz — fez uma parada e disse com suavidade. — Não pode deixar que a intimidem, Brig. Pessoas como essas mulheres, se virem que agitam o sangue, entram para matar. O truque é não lhes deixar ver que suas palavras a ferem.
Brigid a olhou cética.
— E como posso fazer isso? Não sou como você. Não tenho uma natureza rebelde.
Tinha? Margaret nunca pensou nisso, mas talvez Brigid tivesse razão. Era uma MacDowell, e os MacDowells sempre estavam preparados para lutar.
— Sorrindo em sua descortesia e lembrando quem você é — respondeu. — Uma MacCan. Um membro orgulhoso de um clã antigo e respeitado. Não têm vergonha de sua família, não é?
Pela primeira vez desde que chegaram, sua amiga mostrou um brilho do espírito que Margaret sabia que estava espreitando por baixo. Ela parecia indignada com a mera sugestão.
Brigid endireitou sua coluna e deu a Margaret um olhar longo e orgulhoso.
— É óbvio que não.
Margaret sorriu.
— Mantenha esse olhar, Brig e sorria. É perfeito. Não terão nenhuma oportunidade. E uma vez que tenhamos mostrado isso, não podem nos intimidar com suas intrigas, as mataremos com nossa arma mais poderosa.
Um lento sorriso se deslizou pelas delicadas feições de sua amiga, ao perceber de que tinha sido enganada.
— Que arma é essa?
Margaret uniu seu braço com o dela.
— A amabilidade, é óbvio. Uma vez que nos conheçam, verão que não somos tão diferentes. Podemos não vestir o mesmo, e nossos costumes podem não ser os mesmos, mas por dentro é o que conta, e todos somos iguais.
Brigid sacudiu a cabeça e pôs-se a rir.
— Todos iguais? Têm as ideias mais estranhas, Maggie. Não sei de onde as consegue.
Margaret também não sabia. Mas sua certeza deve ter convencido sua amiga. Um momento depois, quando voltaram a entrar no salão, Brigid sorria tão amplamente quanto Margaret.
Capítulo 4
Uma semana depois, o sorriso de Margaret começou a vacilar. Desanimada, estava tendo dificuldade em seguir seu próprio conselho. Por Deus, essas mulheres eram tão sensíveis quanto São Pedro nos portões de pérolas!
Por mais que sorrisse e tentasse ser amável, seus esforços eram rechaçados. Em todo caso, os olhares de desaprovação se tornaram menos velados e mais francamente hostis, e os sussurros se tornaram mais fortes e mais cruéis.
Desde ser chamada de "idiota" pelo acontecido com o tabuleiro de xadrez, a ser confundida com uma serva e uma desavergonhada, que ela sem saber acrescentou com suas tentativas aparentemente avançadas de "seduzir" Eoin MacLean — primeiro lhe pedindo que ensinasse xadrez e depois "piscando o olho", não era uma piscada, e o que era pior — seus vestidos e cabelo descoberto, aparentemente a tinham julgado por todos os ridículos mal-entendidos que tinham sobre ela e seu clã.
Mas se negava a deixar que chegassem até ela. Não tinha nada do que se envergonhar, e não pretendia ser mansa e muda para um grupo de mulheres de mente estreita e mesquinha. Os MacDowells não eram o grupo indisciplinado de pagãos que todos faziam parecer. Poderiam ter-lhe permitido mais liberdade que a maioria das mulheres, sendo criada em uma casa de homens tão longe da sociedade e, depois de uma semana de estar em Stirling com estas mulheres fez com que Margaret pensasse que algumas freiras que conhecia parecessem ser mais divertidas, mas isso não a tornava imoral.
Elas não podiam ver o quão ridículo eram? Aparentemente não.
Antes de cada refeição tinha que ficar de joelhos e pedir a Brigid que saísse de seu quarto. Não sabia por que se incomodava, quando encontrava a hostilidade fria da metade dos convidados no castelo. Inclusive sua própria e notória alegria começou a diminuir.
Felizmente, se não tinha causado uma impressão — pelo menos boa — sobre as mulheres, seu ostracismo não se estendia aos homens. Nunca lhe faltou um acompanhante de baile, e os homens enchiam os bancos em sua mesa para cada refeição.
Eles riram de suas brincadeiras, escutaram suas histórias e não pareciam se importar quando dava um "passo em falso". Os homens aceitavam muito mais as diferenças.
Pelo menos a maioria parecia fazê-lo, mas se perguntava pelo Senhor de Badenoch. Seu pai lhe dissera que não se preocupasse, que o filho de Badenoch estava completamente "encantado", mas Margaret pensava que não poderia dizer o mesmo de seu pai. Tinha a sensação de que assim como sua esposa e filhas, o Senhor de Badenoch não a aprovava. Esperava que estivesse imaginando isso, mas quanto mais tempo John passava ao seu lado, mais a expressão irritada de seu ilustre pai parecia aumentar. Impressioná-lo seria o seu verdadeiro desafio.
Brigid teve dor de cabeça durante a refeição do meio-dia, e Margaret voltava ao Salão depois de visitá-la, quando se deteve em seco ao ouvir uma voz. Uma voz profunda que parecia afundar-se em seus ossos.
Apesar da multidão reunida perto da entrada, ela soube imediatamente. Como aconteceu muitas vezes durante a semana passada, seu olhar pousou diretamente sobre a conhecida cabeça loira escura.
Sentiu aquele estranho toque em seu peito — como se alguém tivesse agarrado seu coração e o tivesse sacudido — e então uma rajada de calor que ilogicamente fez sua pele se arrepiar como se estivesse com frio.
Sua atração não tinha sentido. Gostava dos homens que sorriam e zombavam... Como Tristan. Mas algo sobre toda essa intensidade silenciosa e fervente, algo sobre esses olhos perspicaz de "nada passa por mim", era incrivelmente atraente. Visceralmente atraente.
Santa Cruz, isto era ridículo! Estava piorando. Tudo o que tinha que fazer era lhe olhar fixamente e seu corpo reagia. Seus sentidos aumentaram repentinamente — o ar parecia mais puro e os sons mais agudos — e seu pulso saltava com algo que se sentia como antecipação. Como não havia nada que antecipar, entretanto, fazia todo o possível por ignorar tanto sua reação como a ele. Vendo a maneira que ele evitou seu olhar quando seus olhos se encontraram, se perguntava se ele estava fazendo a mesma coisa.
Era difícil dizer. Sua expressão era sempre tão inexoravelmente inescrutável. Mas algo sobre a forma como as linhas enrugadas entre suas sobrancelhas se aprofundavam quando seu olhar aterrissou sobre ela, e a forma como seus olhos pareciam um pouco mais azul-escuros antes de se virar, a fez pensar que ele estava lutando contra esta atração tanto quanto ela.
Seus motivos eram claros, mas o que acontecia com os dele? Tinham algo a ver com Lady Barbara Keith?
Sentiu um estranho aperto em seu peito enquanto olhava através da multidão e observava a bonita jovem loira que estava a poucos passos de distância onde ele estava, tão frequentemente em sua companhia.
Não em sua companhia exatamente, a não ser sua mãe e sua irmã, que estavam invariavelmente perto. Em realidade, as pessoas mais frequentemente em sua companhia eram seu irmão adotivo, Finlaeie MacFinnon, e seus irmãos, Donald e Neil, mas algo sobre a maneira como a filha do marechal o olhava — corretamente, é óbvio — baixando o olhar quando ele a olhava, tímida e recatadamente, fazia Margaret suspeitar que havia algo entre eles.
E por que isso a incomodava tanto quando não podia ter nada a ver com ele, não tinha nem ideia.
Aproveitando todas as pessoas que estavam de pé ao redor da sala enquanto as mesas de cavalete estavam sendo guardadas para o baile, aproximou-se mais de onde ele estava para ver se podia ouvir algo.
Falava com Finlaeie, provavelmente algo sobre velhas batalhas, já que as poucas vezes que o tinha ouvido falar era sobre guerra, mas não podia distinguir suas palavras.
Infelizmente, a sua irmã podia ouvir claramente.
— Viram esse vestido? Eu não ficaria surpresa se começasse a distribuir cerveja no meio da refeição.
Margaret se calou, e embora não quisesse, seu peito se apertou. Não tinha dúvida de a quem estavam se referindo. Olhou para baixo para o que ela pensava ser um bonito vestido de lã azul. Uma serva de ale8? Embora as intrigas e rumores não a incomodassem da mesma maneira que Brigid, isso não significava que fosse completamente imune a seus sarcasmos.
— Não é tão ruim — disse Lady Barbara brandamente, quase com amabilidade. O que rapidamente foi arruinado pela risada. — Se esse é o “adorno” de Galloway, eu não gostaria de ver o que usam os camponeses. Possivelmente não usam mais que folhas e urzes?
Aparentemente, a pequena gatinha tinha garras.
— Talvez ela simplesmente goste de mostrar seu corpo a qualquer um que tome conhecimento — disse Marjory MacLean. — Espero que não tenhamos que suportar mais algumas horas vendo-a dançar como uma pagã em Beltane. Surpreende-me que tenha encontrado homens dispostos a associar-se com ela e estarem sujeitos a tal... Exposição.
Margaret ouviu o suficiente, sua dor esquecida, seu rosto esquentando-se de ira, já não era capaz de forçar um sorriso em seu rosto. Não havia nada de errado com seu vestido ou com sua dança. E ela ia dizer a elas exatamente isso.
— Ela estava olhando para você de novo — sussurrou Fin.
Eoin apertou a mandíbula e afastou seu amigo o lado. Não precisava perguntar a quem se referia. Fin e alguns de seus outros amigos se deram conta da estranha corrente que corria entre Eoin e Lady Margaret e não podiam resistir a insistência dela, cada vez que a moça o olhava, o que era malditamente frequentemente!
Mas quando ele se viu fazendo a mesma maldita coisa, quase não podia culpá-la. Cristo, sua atração pela moça era um maldito inconveniente, e ela tão certa como o inferno, não estava fazendo tudo mais fácil.
— Feche sua boca, caralho, Fin. Uma das mulheres vai ouvir você.
— Não sei por que você hesita. Se me olhasse assim, eu daria a ela exatamente o que estava pedindo e a deixaria sem sentido. Não é como se fosse a primeira vez. — Seu amigo sorriu maliciosamente. — Para qualquer um de vocês.
Eoin não tinha um temperamento a perder, então, quando um flash de raiva disparou através dele, retesando todos os músculos de seu corpo e o deixando na eminência de afundar seu punho no sorriso de Fin, ficou surpreso. Assombrado também. Retrocedeu instintivamente, com as sobrancelhas juntas.
— Que demônios está acontecendo, MacLean? Está atuando como um pretendente ciumento. Cristo, não pode estar pensando seriamente em perseguir à moça.
— Não estou considerando nada — disse Eoin com calma. — Mas não ouvirei intrigas repetidas e maliciosas sobre nenhuma lady.
E não importava o que tivesse ouvido, acreditava que Margaret MacDowell era uma lady.
A fúria que surgiu através dele se acalmou com a mesma rapidez. De repente se sentiu envergonhado pela exibição da emoção, que nunca sentiu antes, já que nunca se emocionava. Ele deve estar ficando louco. Provavelmente de tédio. Estando encerrados em longas e tensas negociações durante todo o dia, tratando de evitar que Bruce e o Senhor de Badenoch, John "O vermelho" Comyn, matassem-se um ao outro, e depois sendo obrigado a assistir o baile e fugir de dançar com Lady Barbara, além de escutar como sua irmã brincava nas refeições, estava o levando ao limite.
— Acredito que necessito dessa caçada mais do que me dava conta — adicionou. — As paredes estão começando a me sufocar.
Fin continuou a estudá-lo muito de perto, mas aceitou a explicação com um golpe nas suas costas.
— Acredito que eu gosto mais quando você fala de vanguardas, emboscadas e sítios.
Eoin fez um movimento da boca. Seu amigo tinha razão. Nisso deveria concentrar-se. Mas teria a oportunidade de impressionar Bruce amanhã. A caçada seria uma oportunidade para provar a si mesmo. Voltou-se para as damas bem a tempo de ouvir o sarcástico comentário de sua irmã sobre a dança de Lady Margaret.
Sua boca se apertou com desgosto. Os comentários não eram agradáveis antes, quando os tinha perdoado pela insensibilidade juvenil quando Marjory tinha apenas dezesseis anos, três anos depois começavam a soar rancorosos e mesquinhos. Sua irmã precisava aprender a conter essa língua ácida.
Infelizmente, os de Marjory não eram om únicos comentários indolentes que ele tinha ouvido sobre Lady Margaret durante a semana passada. Ele se sentiu mal, sabendo que era parcialmente culpado de proporcionar a forragem. Ele poderia ter rido pela sua desafortunada escolha de palavras, mas o resto da corte não tinha feito. As intrigas não pareciam incomodá-la, e não pôde evitar admirar a forma como ela sorria ante a descortesia. Sua irmã estaria em lágrimas se estivesse sujeita à metade das más palavras que ouviu falar de Lady Margaret.
Estava prestes a repreender sua irmã quando percebeu que a lady em questão estava se movendo em sua direção. A cor intensa de suas bochechas não deixava dúvida de que Lady Margaret ouviu o que sua irmã havia dito, e pela determinação em sua expressão, sentiu que não se preocupava mais em rir.
Não queria saber se estava tratando de proteger sua irmã ou Lady Margaret, mas sem pensar ficou diante dela.
— Você me honraria com a primeira dança, minha lady?
Podia ouvir a surpresa de sua irmã por trás dele. Odiava dançar, e até agora tinha evitado. Lady Margaret o olhou fixamente, seus olhos dourados como esfinges queimando os dele. Por um momento pensou que ela poderia negar-se. Claramente queria dar a sua irmã uma lição. E embora fosse merecido, não faria bem a nenhuma delas.
O último que Lady Margaret precisava era uma atenção mais negativa para alimentar os fogos das intrigas da corte. Possivelmente também se deu conta. Depois de uma longa e incômoda parada, assentiu.
Sua irmã poderia agradecer-lhe mais tarde, porque sabia sem sombra de dúvidas que a salvou de uma situação que não seria esquecida tão cedo.
Mas no momento em que a mão suave de Lady Margaret deslizou na sua, Eoin sabia que cometeu um engano. Deveria ter deixado que sua irmã levasse os açoites públicos. Em vez disso, abriu a caixa de Pandora, soltando algo que nunca mais seria contido novamente.
O choque que lhe atravessou com o contato era similar a um raio. Um raio magnético. Reuniu-os de uma maneira que não podia ser negada.
Algo percorreu seu peito. Seus pulmões pareciam ter parado de funcionar. Mas seu coração compensou golpeando freneticamente. Estava retorcido, completamente enfeitiçado. Eoin se esqueceu de que estava dançando, esqueceu que nem sequer gostava de dançar, esqueceu a música e se esqueceu das outras pessoas ao seu redor. Enquanto a conduzia através da pista de dança, não podia afastar o olhar de seu rosto. A delicada pele de sua bochecha, o suave ponto de seu queixo, o nariz ligeiramente para cima. A sensual curva de sua boca.
Porra, era tão linda que quase doía olhá-la. Algumas partes de seu corpo se feriram. Seu peito, e outra parte que inchou de calor e era duro como uma rocha, inconsciente do fato de que eles estavam em um salão de baile lotado de gente.
Mas estava além de toda razão, apanhado em um transe quase de sonho. Um transe quente, de poderosa atração que enviava fogo por suas veias. Seus corpos se moviam juntos como um só. Não havia necessidade de falar. O que foi dito entre eles era em cada olhar, cada toque, cada batida do coração.
O feitiço os manteve juntos até que a música parou. A música parou. Maldição. Soltou-a tão de repente que ela deu um pequeno e sobressaltado suspiro.
Ela se afastou, olhando-o tão aturdida quanto ele.
— Obrigada — sussurrou, seu fôlego saindo irregularmente de debaixo de seus lábios entreabertos. Deus, eram tão vermelhos e doces. Uma enorme onda de desejo se elevou dentro dele. O impulso de cobri-los com os seus era tão poderoso — tão elementar — que não podia pensar em outra coisa. Baixou a cabeça alguns centímetros antes que uma chama de prudência recordasse seus arredores, e se deteve.
Porra. Poderia havê-lo dito em voz alta. O que aconteceu? Não era uma pergunta que o homem que deveria ser o mais inteligente da sala se perguntava muito frequentemente. Mas não podia pensar corretamente, ou em qualquer outra direção. Sua mente estava cambaleando.
Com um gesto que era mais agudo do que pretendia, afastou-se. Enquanto ainda podia.
O coração de Margaret estava batendo tão rápido que pensou que poderia explodir. Parecia que não podia respirar nem deixar de tremer.
O que aconteceu?
Além de sentir como se cada um de seus sentidos acabasse de ganhar vida, não saberia dizer. A deixou nervosa, quase assustada.
Precisava recompor-se, fugiu do salão.
Sentia-se a ponto de chorar, como se acabasse de passar por um tremendo transtorno emocional. O que possivelmente foi o que ocorreu. O que acabava de experimentar não tinha sido um suave despertar de emoção, tinha sido como um gigantesco sino de igreja sendo tocado em um pequeno armário. Alto, clamando, reverberando... Devastador.
Os sentimentos tinham sido tão intensos. Muito poderosos. Tão esmagadores... Havia se sentido ligada a ele. Conectada. Como se fossem as duas únicas pessoas no mundo.
Seu corpo ainda doía. Seu estômago continuava girando. Seu pulso continuava correndo. Ainda podia sentir a sensação de sua mão apoiada em sua cintura, seus dedos envoltos ao redor de seu braço, sua palma calosa envolvendo sua mão. Ainda podia sentir o calor que emanava de seu corpo, um corpo grande e musculoso, seu peito, seus ombros largos que tinham estado tão perto, seu corpo se modelou para ser pressionado contra ele. As pontas de seus seios palpitavam.
Ele cheirava tão bem. O pinho de seu sabão, a hortelã de sua respiração... Sua boca tinha estado tão perto. Pensou que...
Conteve a respiração com um pequeno grito.
Como poderia um homem que disse tão pouco provocar tal impacto?
Não sabia para onde estava indo, só sabia que precisava escapar. De pé ali, sentiu-se exposta, vulnerável, como se alguém que a observasse pudesse saber como se sentia. Sua confiança, sua bravura, aparentemente, a abandonaram.
Ela fugiu pela entrada principal do vestíbulo e tinha seguido o corredor até a torre do rei, longe do ruído. Necessitava tranquilidade. Embora fosse apenas algumas horas depois do meio-dia, o corredor já estava sombreado. Ao chegar à velha torre que uma vez serviu como alojamento real para Guillermo, o Leão, mas que agora estava em mal estado, procurou a solidão de uma pequena sala no extremo mais afastado do edifício. Provavelmente serviu como câmara de espera ou solar privado para o rei, mas agora era uma biblioteca. Não tinha nenhum uso para os livros, somente para a tranquilidade.
Alguns dos homens devem ter desfrutado da sala antes, já que ainda havia brasas no braseiro, mas não o suficiente para fornecer calor. A jarra que estava próximo do fogão, entretanto, serviria. Levando-a ao nariz, inalou o aroma ligeiramente doce, mas penetrante do conhaque inglês.
Ela preferia o bom uisge beatha escocês, mas sob as circunstâncias não podia permitir-se discriminar. Jogou-o em uma das taças, engoliu-o com um longo gole. Quase imediatamente os efeitos calmantes do conhaque começaram a estender-se através de seu corpo.
O batimento do coração começou a diminuir, o ar encheu seus pulmões e suas mãos se estabilizaram. O mais importante, sua cabeça clareou. Reagiu exageradamente. Era só uma dança. Era só um homem, uma atração inegável, mas ainda só um homem. Exagerou o efeito de seu toque.
Então, por que ainda podia sentir a impressão de seus dedos sobre sua pele? Por que seu corpo ainda tremia?
Estava inclinada sobre o conhaque, agarrando-se a ponta da mesa para se estabilizar, quando ouviu um barulho atrás dela.
Voltando-se, seu coração se afundou, vendo quem era... E sua expressão. Nunca notou uma semelhança com seu pai antes, mas agora podia ver o Senhor de Aviñón na dureza do olhar de John Comyn e na torta petulância de sua boca.
Não se incomodou com cortesia.
— O que há entre você e o filho do chefe de MacLean?
Margaret se endireitou e o olhou nos olhos, sua voz era muito mais constante do que sentia, inclusive com o conhaque.
— Nada.
Seus olhos se estreitaram, e deu alguns passos para ela.
— Isso não é o que parecia. Eu não sou um tolo, minha lady.
Com oito irmãos com idades entre onze e vinte anos, Margaret sabia muito bem quão sensível podia ser o orgulho de um jovem e se apressou a acalmá-lo.
— Eu quase não disse mais do que uma dúzia de palavras para o homem. Disse-lhe o que aconteceu a primeira vez que nos conhecemos. — Ela sorriu. — Não acredito que o fato de que tenha me chamado de "idiota" o faça parecer elegante diante de mim.
Diminuiu a distância entre eles, e suas palavras ou sua proximidade pareciam lhe haver acalmado. Parcialmente. Franziu o cenho.
— Então, por que você dançou com ele?
Não sabia. Mordeu o lábio, considerando quanto lhe dizer. Decidindo que seria melhor ser honesta, respondeu.
— Ouvi sua irmã dizer algo desagradável. Ele me pediu para dançar para me impedir de enfrentá-la e fazer uma cena.
O leve rubor e o desconforto lhe disseram que provavelmente ouviu algo das intrigas.
— Você não deve prestar atenção nelas. São só ciúmes.
Margaret deu-lhe um longo olhar, vendo além da juventude, o homem em que se converteria.
— Obrigada. Isso é muito amável.
Ruborizou-se mais intensamente, e remexeu-se sobre os pés. Sem a raiva, ele voltou a ser o mesmo de antes.
— Deveria ir. Não deveríamos estar sozinhos assim. Eu não deveria ter seguido você, mas estava com ciúmes — seus olhos se encontraram com os dela. — Pensei que ele ia beijar você, e esse beijo deveria ser meu.
— Eu também gostaria.
Ela não quis dizer isso como um convite, mas ele entendeu como um. Com mais destreza do que ela teria pensado ser capaz, ele agarrou seu queixo em sua mão e inclinou a boca para a dela. Ela quase não sentiu a calidez do contato antes que terminasse.
O beijo foi doce e casto. O brilho em seus olhos não era. Queria-a, e embora o beijo não tivesse sido desagradável, não queria encorajar outro. Felizmente, não era inexperiente em frear as rédeas na paixão de um jovem.
Deu um passo atrás, desejando distância entre eles.
Foi então que ela olhou para a câmera da parede: o banco largo construído na parede grossa do castelo, que poderia ser fechado com uma cortina não estava vazio, percebeu quando ela viu uma bota.
Capítulo 5
A princípio, pensou que ela o seguiu. Sentado no banco da câmara da parede com uma jarra de uísque e um pergaminho que pegou sem sequer olhar o título: — As Regras de São Benedicto, em latim, pelo amor de Deus! — A ouviu entrar e esteve perto de falar com ela quando apareceu o jovem Comyn. Dando-se conta de que provavelmente pioraria a situação se deixasse sua presença ser conhecida, Eoin se viu obrigado a sentar-se ali meio oculto à sombra do quarto e escutar a conversa.
Uma conversa que fazia seu sangue correr mais quente, e Eoin já estava no limite, e era como atirar azeite em um fogo em fúria. Que diabos ela estava fazendo? Não sabia que estar tão perto de Comyn assim, levantando sua boca à sua, e dizendo que desejava que ele fosse o único a beijá-la era praticamente um convite para que fizesse exatamente isso?
Quando o cachorrinho aceitou, pondo sua mão em seu queixo e inclinando sua boca, Eoin havia sentido uma onda primitiva de emoção, diferente de tudo o que experimentara antes. Tudo o que podia ver era vermelho. Seu peito ardia, seus músculos se flexionavam, e cada instinto que possuía clamava para chocar seu punho com a boca do jovem por tocá-la.
Mas sua ira não estava reservada só para o moço. Em todo caso, o que sentia em relação a dama era muito pior. Se não soubesse que ela havia sentido exatamente o mesmo durante a dança, talvez não tivesse sido tão ruim. Mas sentiu. E, de alguma forma, racional ou não, esquecendo-se daqueles minutos antes de entrar na sala, ele estava negando tudo: viu aquilo como uma traição.
Não saberia quanto tempo mais poderia conter-se. Mas soube no momento em que ela se deu conta de que não estavam sozinhos. Comyn confundiu o assustado ofego e a súbita perda de cor em suas bochechas por um choque inocente do beijo, que no estado mental atual de Eoin, pensou, era irônico.
Talvez Fin tivesse razão. Talvez os rumores fossem certos. Talvez soubesse exatamente o que estava fazendo quando olhava para Eoin assim. "Daria a ela exatamente o que estava pedindo e a deixaria sem sentido." Agora mesmo se perguntava o que lhe detinha.
— Provavelmente, deveria me desculpar — disse Comyn ao vê-la retroceder.
Ela lançou um olhar de ansiedade na direção de Eoin e rapidamente se voltou para o moço, obviamente, distraído.
— Por quê?
— Por me aproveitar de sua inocência dessa maneira.
Eoin viu um pequeno cenho franzido entre suas sobrancelhas antes de perceber do que ele estava falando.
— Ah, sim, é óbvio, o beijo — mordeu o lábio e baixou o olhar. — Acredito que é melhor que vá agora. Não seria bom que nos descobrissem assim.
Se Eoin ouviu a ligeira inflexão em sua voz, significando uma pergunta, Comyn não o entendeu.
— Têm razão — ele sorriu. — Embora talvez fosse mais fácil se o fizessem.
Ela franziu o cenho de novo, claramente não entendendo. Mas Eoin sim. O moço estava obviamente consciente dos sentimentos de seu pai e procurava uma maneira de revertê-los. Ser apanhado em uma situação comprometedora poderia bastar. Embora Comyn não fosse ainda um cavaleiro, tinha toda a honra e nobreza de um. Eoin, por outra parte, não era um cavaleiro e não tinha pretensões de querer manter-se sob controle.
Com um breve sorriso, Comyn deixou a sala. Assim que fechou a porta atrás de si, Lady Margaret se voltou e cruzou os braços sobre o peito.
— Sei que está aí, pode sair, também.
Fez soar como se ele fosse um bairn — menino — escondido ou deliberadamente oculto nas sombras para lhe espionar. Nenhum deles era verdade, maldição. Tinha estado sentado ali quando entrou na sala e foi direto ao conhaque. Mas de algum jeito, a moça conseguiu colocá-lo na defensiva.
Embora ela não pôde ver seu rosto de onde estava sentado de costas à parede de pedra do quarto, não pareceu surpreender-se ao ver que era ele quando esteve de pé.
— Se soubesse o que ia interromper, teria feito conhecer minha presença antes.
— Você fala! — Disse com fingida surpresa. — Não estava segura se esse escuro, intenso e tenebroso olhar era uma extensão de suas habilidades de comunicação.
Maldição.
Seus olhos se cravaram nos dela implacavelmente.
— Não sabia que tínhamos algo a dizer — sustentou seu olhar durante um longo momento antes de voltar-se.
— Talvez tenha razão.
Sua voz continha uma nota de tristeza que fez com que algo dentro dele se encolhesse. Muito dentro dele. Deveria haver-se ido. Deveria ter aproveitado a oportunidade que lhe deu e se afastar. Em vez disso, ele cruzou a distância entre eles em alguns passos. O cheiro suave das flores que notou durante sua dança provocou seus sentidos. Mas ainda estava muito zangado para tomar cuidado
— Comyn não é para você.
Ela elevou as sobrancelhas, obviamente surpresa pela arrogância de seu tom.
— Você parece muito certo disso.
Estava tentando protegê-la, droga. Badenoch nunca deixaria que seu filho se casasse com ela.
— Estou. E deixar que ele tome algumas liberdades não mudará nada.
— Liberdades? — Suas sobrancelhas se juntaram. — Refere-se a esse beijo? — Ela riu. — Senhor, isso não significa nada.
Ele não sabia se era o riso ou o modo como ela o rejeitava, como se fosse nada, que acendeu as chamas de sua raiva como foles de um ferreiro.
— E têm tanta experiência para saber a diferença?
Algo em seu tom fez que seus olhos se estreitassem.
— Você já beijou uma mulher, meu lorde?
— O que isso tem a ver com alguma coisa?
Olhou-o durante um longo momento, como se estivesse disposta a ver algo, e depois negou com a cabeça.
— O que sei ou não sei não é da sua conta.
Tinha razão, e, entretanto, estava muito errado.
— Nem todos os homens são dóceis como Comyn, minha lady, para serem tão facilmente rechaçados quando tiver terminado com eles. Alguns poderiam ver seu beijo como um convite para algo mais.
O rubor de suas bochechas lhe disse que não ignorava sua reputação. Ela ainda não tinha percebido o quão perto que estavam até que endireitou a coluna e as pontas de seus mamilos lhe roçaram o peito.
Seus joelhos quase se dobraram. Apertou os dentes contra o gemido gutural de prazer que enviou uma inundação de calor a sua virilha.
Levantou o queixo, inclinando a cabeça para trás para encontrar-se com seu olhar furioso.
— Refere-se a um homem como você?
Se era sarcasmo ou desafio, não sabia, mas o controle de Eoin se rompeu. Queria castigá-la, ensinar uma lição. Queria lhe demonstrar que seu jogo era perigoso.
Mas, principalmente, queria beijá-la tanto que não conseguia enxergar direito.
— Sim, isso é exatamente o que quero dizer — deslizou seu braço ao redor de sua cintura e a puxou contra ele. Era tão perfeito que não poderia haver se afastado mesmo se quisesse. Todas aquelas exuberantes e femininas curvas moldadas contra ele eram incríveis. Seu pênis estava duro contra ela. Golpeando. Palpitante. Mesmo quando era um garoto não havia sentido um desejo tão intenso. A necessidade chegou até ele e o agarrou pelo pau, acariciando, lambendo, com mais habilidade do que a língua de um libertino. Aproveitou seu suspiro e baixou a boca para a dela. O primeiro toque, o primeiro gosto dela foi como um incêndio. O calor o envolveu. O prazer o atravessou em um frenesi abrasador. Qualquer racionalidade que ainda possuía se incendiou quando abriu a boca e lhe devolveu o beijo.
Margaret tinha rido quando seu irmão Duncan a pegou beijando Tristan em uma das cavernas sob o Castelo de Dunskey no ano passado e lhe advertiu que tomasse cuidado. Estava brincando com fogo, havia dito. Um beijo era uma coisa, mas poderia facilmente acabar em outra. Além do fato de que ele estava se referindo à fornicação, ela não tinha entendido e pensou que ele estava exagerando.
Fora de controle? Perigoso? Do que ele estava falando? Não havia nada de perigoso em beijar Tristan. Era encantador e agradável, mas era plenamente consciente do que estava acontecendo. Não ia terminar com os pés sobre as orelhas, grunhindo com entusiasmo, como teve a desgraça de presenciar mais de uma vez quando os visitantes se deitavam de noite no pouco privativo Hall de Garthland.
Mas Margaret já não ria. Subestimou o perigo. Curiosidade e experimento poderia não ser perigosos, mas a paixão certamente era. E no momento em que Eoin MacLean a puxou para seus braços sentiu a diferença até o fundo de sua alma.
O desejo virtualmente explodiu entre eles. Todas as sensações preparadas e despertadas por sua dança voltaram ainda mais poderosas. Uma rajada de calor se derramou sobre ela em uma onda fundida. A força de seus braços, o poderoso e musculoso corpo contra o dela a fez débil. Sentia-se aturdida, desorientada, como se tivesse caído em um pântano de sensações e não pudesse tirar a si mesmo dali. Ou melhor, ela não queria se livrar porque se sentia muito bem. Sentia-se extremamente bem.
Não queria que parasse. Nunca.
Tinha a boca quente e possessiva. Beijou-a como se pertencesse a ele. E para falar a verdade, sentia-se como se fosse.
Experimentou uma embriagadora mescla de hortelã e uísque, e ela o bebeu, abrindo seus lábios para prová-lo mais profundamente. Os hábeis movimentos de sua língua não eram tentativos e sondáveis como esperava, a não ser ferozes e exigentes. O primeiro golpe poderoso sentiu todo o caminho entre suas pernas e quase a fez cair.
Sentiu uma estranha revoada em seu estômago que a fez gemer de prazer. Respondeu com um grunhido áspero que soou quase como uma maldição. Qualquer restrição que tivesse existido entre eles nesses primeiros momentos desapareceu.
Sua mão mergulhou em seus cabelos para cobrir a parte de atrás de sua cabeça e seu beijo se converteu em um castigo, arrebatador, desesperado. Entendeu porque também o sentia. Devolvia-lhe o beijo com uma paixão que parecia surgir do nada, mais por instinto que por experiência. Nas cinco ou seis vezes que permitiu que Tristan a beijasse, nunca havia sentido uma pequena fração deste tipo de ardor. Nunca sentiu algo assim.
Tudo o que ela sabia era que ela o queria, mais do que ela jamais quis algo em sua vida. Seus dedos se agarraram aos duros músculo de seus ombros como se nunca pudesse soltá-lo. Era ainda maior e mais alto do que ela percebeu de perto, fazendo-a sentir estranhamente vulnerável.
Queria beijá-lo, sentir sua língua em sua boca, suas mãos em seu corpo, e seu grande e duro corpo de batalha envolto ao redor dela. Queria inalar o delicioso perfume masculino de pinho e sabão. Queria sentir seus seios esmagados contra seu peito e seus quadris pressionados contra os dele. Não sabia quanto queria isso até que sentiu seu pênis grosso contra seu ventre. Bom Senhor! E então não podia pensar em outra coisa.
O desejo caiu sobre ela em uma onda arrebatadora, arrastando-a para baixo. Sentia-se tão pesada. Especialmente seus seios e o lugar íntimo entre suas pernas. Gemeu ante cada nova sensação enquanto ele a beijava cada vez mais, pedindo silenciosamente que lhe desse muito mais.
Ele respondeu com um gemido e mais pressão. Seus corpos pareciam fundidos. Ela podia sentir a flexibilidade dos músculos pelo braço enquanto ele a puxava cada vez mais forte. Suas línguas rodeavam e lutavam em uma desesperada batalha de desejo e urgência. No entanto, ela nunca se sentiu ameaçada.
Mesmo no meio deste violento ataque de paixão, havia uma emoção subjacente que ela não reconheceu, mas confiou. Sentia-se quase como ternura, que parecia tolo dado ao frenesi do beijo. Mas estava ali, apertando seu peito e flutuando sobre ela como uma sentinela quente, silenciosa e protetora.
Sua mandíbula arranhou a tenra pele de seu queixo, mas não se importou. Perto... Mais forte... Queria ser consumida. Queria fundir-se com ele. Para converterem-se em um.
Sua mão já não estava em seu cabelo. Estava em sua parte inferior, levantando-a...
Seu ventre se agitou. Uma corrente de calor líquido se alagou entre suas pernas. Podia senti-lo, seu pau duro moldado intimamente contra ela. Sentia-se... Grande. Poderoso. E realmente, muito bom.
Especialmente quando começou a mover seus quadris em pequenos círculos insistentes. Seu ventre se agitou de novo, e o lugar entre suas pernas se fez mais quente e mais necessitado. Seu corpo tremia. Ela sofria para pressionar de volta. E o teria feito, se o barulho da porta abrindo não os tivesse separado.
Ele a soltou tão de repente que ela tropeçou e poderia ter caído se não tivesse batido no suporte de pedra da parede atrás dela.
— MacLean, estão... — o homem se deteve, e ao vê-los, resmungou. Ainda em um deslumbramento induzido pela luxúria, Margaret demorou um momento em reconhecer o irmão adotivo de Eoin parado na porta. — Oh diabos, eu não tinha a intenção de... Interromper.
Embora em seu tom não houvesse nada claramente lascivo ou sugestivo, a forma como seus olhos deslizavam sobre sua boca machucada e seu peito ainda imóvel quando ele disse aquilo à fez enrijecer.
Eoin se recuperou mais rápido do que ela. Ficou frente a ela. O gesto instintivamente protetor — como se pudesse protegê-la da vergonha de ser descoberta em um abraço tão íntimo— era surpreendentemente doce. Sentiu que uma estranha quebra de onda de calor lhe enchia o peito.
— Vou me reunir contigo em um momento, Fin — disse com brutalidade.
Fin lhe dedicou um sorriso lento. Desta vez, não houve erro na sugestão:
— Leve todo o tempo que precisar.
Margaret não podia ver a expressão de Eoin, mas por causa da rapidez com que seu amigo saiu da sala, suspeitou que tivesse sido uma de ameaça. Com o tempo se voltou para ela, entretanto, o brilho se foi substituído pela máscara inescrutável.
— Devo-lhe uma desculpa. Isso nunca deveria ter acontecido.
Olhando para seus traços duros e implacáveis, era difícil acreditar que este era o mesmo homem que a beijou tão apaixonadamente alguns minutos antes.
O que foi que a atraiu para Eoin MacLean? Conhecia homens bonitos, e inclusive alguns que eram altos e poderosamente construídos. Também conheceu homens sérios, embora possivelmente nenhum que fosse tão intenso. Mas nunca conheceu um homem cujo olhar pudesse nivelar-se sobre o seu e fazê-la sentir como se soubesse o que estava pensando.
Inclinou a cabeça, estudando-o contemplativamente.
— O que aconteceu?
Durante um breve instante seus olhos se conectaram e sentiu a força dele como um torno de aço ao redor de suas costelas.
— Não tenho ideia.
A contundente admissão a encantou, e ela não conseguiu resistir em dar-lhe um sorriso zombeteiro:
— Bom, em caso de você estar se perguntando, acredito que isso significa tomar algumas “liberdades”.
Surpreendeu-a com uma risada aguda, e depois um sorriso, um meio curvado de sua boca que a golpeou no peito. As linhas enrugadas entre suas sobrancelhas desapareceram, e o sorriso transformou seus traços, fazendo-o parecer jovem, encantador e tão bonito que pensou que poderia se contentar em encará-lo para sempre.
— Ah, sim, eu posso ver a diferença agora — ele disse secamente.
— Pensei que poderia. E posso ver o que queria dizer com o “débil”. — Seu sorriso ficou torto. — Embora não quis oferecer um convite tão grande.
Ele se tornou instantaneamente sério.
— Não quis dizer o que disse. Falei por causa da raiva. Você não fez nada de errado. O que aconteceu foi minha culpa.
— O que aconteceu, já passou. Não foi culpa de ninguém — respondeu ela com um sorriso. — Congratulo-me por saber que não fiz nada de errado, no entanto. No caso de você se perguntar, eu também não tenho nenhuma reclamação sobre o final.
Ele tentou parar uma risada aguda e sacudiu a cabeça, como se não pudesse acreditar que ela estava se divertindo com algo tão íntimo.
— É bom saber.
Compartilharam um momento de silêncio que resultou surpreendentemente cômodo. Percebeu que ele gostava disso. Este jovem guerreiro sereno, sério e intenso. Gostava de ver as brechas de sua reserva e o senso de humor seco que surgia. Gostava de lhe fazer sorrir, e ver essas linhas entre suas sobrancelhas desaparecer. Gostava da forma como a olhava, a aguda inteligência em seus olhos, a forma como ele a abraçava enquanto a beijava, e a forma como ele saltou para protegê-la na pista de baile e quando Fin os interrompeu.
Gostava... Muito.
Talvez seus pensamentos fossem mais transparentes do que se dava conta. Seu meio sorriso caiu, e seus olhos se suavizaram quase imperceptivelmente.
— Engano ou não, não pode voltar a acontecer.
Queria discutir, mas como podia fazê-lo? Ele estava certo.
— Você deve ir — ele disse. — Comyn provavelmente está se perguntando por que não voltou para o Hall.
Se houvesse algo em sua voz que lhe sugerisse que se importava, talvez tivesse vacilado. Em vez disso, assentiu com a cabeça e fez o que ele pediu. Mas seu peito doía enquanto se afastava. Havia algo sobre Eoin MacLean que a atraía, que parecia especial, que a fazia querer aferrar-se a ele e nunca o deixar ir.
Disse a si mesmo que estava sendo tão tola como Annie, a garota da manteiga, de treze anos de idade, que acompanhara Padraig do estábulo, de dezesseis anos, com olhos de lua por quase um mês no ano passado, pensando que estava apaixonada.
As filhas de Lairds poderosos não se apaixonavam.
Mordeu o lábio. pelo menos esperava que não se apaixonassem.
Capítulo 6
Eoin sabia que devia estar tratando de pensar em maneiras de impressionar Bruce, mas estava muito distraído. Enquanto o grupo de caça de uma dúzia de homens percorria o vale arborizado ao sudoeste, abaixo da colina do castelo conhecido como o Parque do Rei em uma manhã fria e cinza, não pensava em armadilhas, estratégias, terreno ou inclusive o cervo que tinha sido trazido para o campo. Não podia pensar em outra coisa que não fosse o beijo que devia esquecer.
O que diabos aconteceu? Sua debilidade física pela moça era inquietante. Não era absolutamente ele. Nunca fez algo assim em sua vida. Tinha estado a poucos minutos de empurrá-la para esse banco na câmara da parede e fazer algo estúpido. Algo muito estúpido. Algo que lhe causaria muitos problemas. Com Bruce, com seu pai e com os MacDowell.
Ela teria deixado. Isso era o que não podia tirar de sua maldita mente. Poderia havê-la tido, e o conhecimento o provocava — e o tentava — muito mais do que deveria.
Ainda não sabia como perdeu o controle dessa maneira. Em um minuto estava beijando-a e ela estava respondendo — de uma maneira que deixava claro que não era a primeira vez que a beijavam — e no próximo tinha seu pênis encravado entre suas pernas e eles praticamente estavam fodendo com as roupas postas. A sensação desse traseiro brandamente curvado em suas mãos e a pressão de seu quadril enquanto se esfregava contra ele não era algo que logo esqueceria.
Diabos, era algo que jamais esqueceria. Provavelmente iria para tumba pensando nesse beijo e nesses doces gemidos insistentes.
Acomodou-se pelo que sentiu como a décima segunda vez desde que eles haviam começado a cavalgar esta manhã, enquanto ele crescia com a lembrança.
Enquanto o caminho através do bosque se alongava, Fin se aproximou do seu lado.
— O que há de errado com você? — Perguntou seu irmão adotivo em voz baixa. — Não disse uma palavra toda à manhã — lançou-lhe um olhar de soslaio. — Ou possivelmente não precise perguntar. De sua expressão escura, entendo que não terminaram depois de lhes interromper ontem? A maneira como a moça gemia, pensei que não poderia esperar.
A mandíbula de Eoin endureceu, sua boca se apertou pela ira e o desagrado. Enviou a Fin um olhar sombrio.
— Eu lhe disse ontem à noite que nada aconteceu. O que você viu foi um erro.
Fin riu.
— Pode ter sido um erro, mas se isso não era “nada”, não me importaria em prová-lo. Onde consigo uma oportunidade?
Se não estivessem montando, Fin estaria de costas no chão. Como estava, Eoin o contemplou imaginado se inclinar e envolver sua mão ao redor de seu pescoço. Em vez disso, seus dedos se apertaram ao redor das rédeas até que seus nódulos ficaram brancos.
— Mantenha-se afastado dela, Fin. Falo sério.
Fin lhe dirigiu um longo olhar através dos olhos entrecerrados, como se soubesse o perto que estava Eoin de golpeá-lo.
— Você está agindo um pouco possessivo por “nada”. Têm certeza de que não há mais nessa história do que está mostrando? Pelo amor de Deus, não me diga que em realidade você gosta da moça?
Os dentes de Eoin doíam, sua mandíbula estava muito apertada. Gostava. Esse era o problema. Ela era... Diferente. Confiante, de bom humor e adorável com um sentido de humor irônico, autodepreciativo, ligeiramente perverso que o fazia perguntar-se que coisa escandalosa ia sair de sua boca a seguir. "Eu também não tenho nenhuma reclamação sobre o final.
A moça era incorrigível. E divertida. Não podia recordar a última vez que tinha rido assim com uma mulher. Provavelmente porque nunca o tinha feito.
Fin deve ter adivinhado seus pensamentos.
— Não é para você, MacLean. Conheço-lhe, e uma cadela tão descarada como Margaret MacDowell o faria esquecer o que tem em mente com suas palhaçadas. Você realmente quer perder seu tempo para moldar uma esposa adequadamente, mesmo supondo que isso possa ser feito? Pode ser audaz e criativo no campo de batalha, mas é reservado e convencional sobre todo o resto. Eu vou lhe dizer, há algo diferente e sedutor sobre a moça em todo seu esplendor primitivo, mas quer uma esposa que corra pelo campo tão selvagem quanto um pagão e parece um pêssego maduro à espera de ser colhido? Não se contentará em sentar e esperar aquecida pelo fogo doméstico enquanto você faz o que quiser. Uma moça como essa exige atenção. A sua está fixada em outro lugar e sempre esteve. Quanto tempo acredita que levará para encontrar essa atenção em outro lugar? — Fez uma pausa deixando que pensasse. — Acredita que compartilhará suas atividades intelectuais? Provavelmente, nem consegue ler e escrever seu próprio nome — Fin lhe dirigiu um olhar duro e inflexível. — Se deite com ela se quiser, mas não perca de vista o que é importante. Têm um futuro brilhante pela frente. A moça lhe reterá. Esquece-se de Lady Barbara?
— É óbvio que não — disse Eoin. — Não necessito um maldito aviso, e está muito errado sobre as minhas intenções.
— Estou? — Respondeu Fin.
Eoin fechou a boca. Seu irmão adotivo podia ser um asno às vezes, mas o conhecia muito bem. Eoin podia ter tido um ou dois pensamentos na direção de Lady Margaret depois desse beijo, mas Fin tinha razão em mais de uma forma. Lady Margaret era uma distração temporária, — era linda — mas não a sofisticada e erudita classe de mulher que o contentaria a longo prazo.
Para isso necessitava uma mulher como Lady Barbara. Para um guerreiro ambicioso não podia haver melhor conexão que com um Keith. Além disso, Lady Barbara sabia o que se esperava dela. Discreta e circunspeta, não chamaria a atenção em qualquer lugar que fosse. Não faria brincadeiras inapropriadas nem daria motivos sem fim às intrigas da corte. Fin tinha razão. Um homem não teria um momento de paz em sua vida com uma esposa como Margaret.
Mas nunca haveria um momento de tédio.
E seria divertido.
E emocionante.
Apaixonante.
Nunca quis isso antes, mas lhe deram uma amostra disso, e tinha que admitir que era mais atraente do que esperava. Atraente e uma distração.
Ainda furioso com seu amigo, Eoin se salvou de ter que responder quando Bruce o chamou para frente.
Durante o resto da viagem, Eoin se concentrou no que mais gostava, a guerra e convencer a seu parente de que era o melhor homem do lugar para seu exército secreto. Esta era sua oportunidade, e não ia desperdiçá-la.
Estavam encerrados em um feroz debate a respeito de William Wallace quando chegaram ao topo da íngreme colina e cruzaram a porta principal para o exterior do castelo. No alto de uma colina rochosa, inacessível por três lados pelo muro de rocha, Stirling não tinha uma, mas duas muralhas que protegiam as torres e os edifícios.
— Wallace falhou porque não pôde reunir os nobres da Escócia para se posicionar como um contra Edward — disse Bruce, desmontando.
— Em parte — conveio Eoin. Desmontando de seu cavalo, entregou o corcel a um dos moços do estábulo que correu para encontrá-los. — Mas teria uma melhor oportunidade se tivesse ficado com seu tipo de guerra e não tivesse confiado nos nobres em batalha.
Bruce ficou rígido, obviamente sensível com o assunto, embora Eoin não se referisse a ele, mas à deserção de Comyn em Falkirk. A decisão do Senhor de Badenoch de que sua cavalaria se retiraria do campo de batalha tinha deixado à infantaria desprotegida e levado a desastrosa derrota de Wallace. Inclusive com a cavalaria de Badenoch, a vitória não teria se assegurado, mas sem ele a perda tinha sido quase garantida.
Eoin se apressou a esclarecer.
— Wallace estava em seu melhor momento quando evitou a batalha campal, quando fez a luta inglesa em seus próprios termos. Era sua guerra não convencional — os ataques surpresa e a emboscada — o que lhe dava uma oportunidade contra os militares ingleses. Ganhar a Escócia — e seus nobres — politicamente era outro assunto.
A boca de Bruce se arqueou. Eoin tomou isso como uma concessão, enquanto seguia seu parente até a muralha que dava à cidade abaixo. A maior parte do resto do grupo não os seguiu, retirando-se aos quartéis ou ao Hall, mas Fin, Campbell e alguns outros ficaram.
— Fala de táticas furtivas de "pirata" — disse Bruce. — Entretanto, aqui estamos à sombra da maior vitória de Wallace, e pela qual sempre será lembrado — apontou a ponte na distância abaixo para o nordeste. — A batalha campal da Ponte de Stirling.
— Sim, não foi uma escaramuça ou um encontro repentino, mas inclusive então lutou sua guerra, usando táticas pouco convencionais, enganosas. Aproveitou sua posição e atraiu os ingleses ao terreno de sua escolha. Uma estreita ponte onde podia apanhá-los no rio e logo cortá-los à medida que cruzavam para diminuir o poder de seu maior número. Isso certamente está muito longe de dois exércitos se encontrarem cara a cara e deixar cavaleiros e força de armas batalharem — Eoin fez uma parada. — Não estou dizendo que nunca possamos lutar uma batalha campal e ganhar. Estou dizendo que não devemos lutar contra um a menos que seja no lugar e em cenário de nossa escolha onde possamos calcular inclusive as chances. Até então, muitas pequenas vitórias podem ser tão desmoralizadoras e tão efetivas como uma grande. Não são as vanguardas e as formações, nem os arcos, nem a cavalaria, nem os schiltrons9 os que derrotarão os ingleses, a não ser nosso conhecimento do terreno, nosso engenho e nossa habilidade para superá-los utilizando todas as armas de nosso arsenal, torturando, ou infringindo medo.
Bruce sorriu.
— Esse é provavelmente o discurso mais longo que já ouvi você me dar, primo. De fato, não acho que tenha ouvido falar com tanto entusiasmo sobre qualquer coisa.
— Vive por essa merda, meu senhor — interrompeu Fin. — Não deixe que essa reputação séria e erudita o engane. MacLean pode ser inteligente, mas ele também é o bastardo mais desonesto que conheço no campo de batalha. Você não sabe o quão feliz eu era em tê-lo ao meu lado quando éramos jovens. Quase senti pena dos filhos de John de Lorn, quando todos estávamos sendo criados em Islay. Não posso lhes dizer quantas vezes MacLean tirou o melhor deles depois de alguma brincadeira que jogou. É como um jogo para ele. Mas ele é o único inteligente o suficiente para jogar.
Como os MacDougalls eram inimigos compartilhados, Bruce parecia apreciar o exemplo. Também parecia muito intrigado, como se esse fosse exatamente o tipo de informação sobre Eoin que queria ouvir.
Eoin se surpreendeu, mas apreciou o elogio de Fin depois dos quase golpes que eles tiveram antes. Ele estava mais perto de Fin do que de qualquer outro e não gostava de discórdia entre eles. A forma como seu irmão adotivo falava das mulheres sempre o deixava desconfortável, mas Eoin nunca o havia sentido tão pessoalmente.
Entretanto, não era só o grosseiro comentário sobre Lady Margaret, mas também a fria e dura verdade que tinha transmitido. A verdade que Eoin não queria ouvir.
— Bom, se lutar a metade de como joga xadrez, eu gostaria de vê-lo — disse Bruce. Antes que Eoin pudesse lhe perguntar o que tinha em mente, Fin interpôs.
— Falando de xadrez...
Assentiu com a cabeça em direção às duas mulheres que acabavam de cruzar a porta atrás dele. Eoin ficou rígido, quase como se estivesse se preparando. Não foi suficiente para amortecer o impacto.
Pelo sangue de Deus, era impressionante. Dilaceradora. Colocava qualquer um de joelhos. Bela Donzela? Que eufemismo. Atraente, encantadora, sereia, sedutora, Beleza de Bronze, eram adjetivos mais apropriados para ela.
O que havia dito Fin? Esplendor primitivo? Certamente se ajustava a essa descrição agora mesmo. Seus cabelos de fogo flutuavam ao redor de seus ombros em uma desordem selvagem, suas bochechas estavam rosadas pelo esforço, e seus olhos brilhavam de tanto rir. Contra o pano de fundo do campo polido e paredes cinzentas do castelo, ela parecia vibrante e viva. Como uma parte da vida que ele estava perdendo. Queria respirá-la, deixá-la lavar-se sobre ele, e desfrutar de todo esse alegre resplendor.
Podia ser um problema, totalmente "incorreta" para ele, e não mostrar a moderação e modéstia de uma mulher nobre, mas o fez querer se incomodar.
Seus olhos se encontraram por um longo pulsar do coração. Disse a si mesmo que estava aliviado quando afastou o olhar. Mas a mão que se envolveu ao redor de seu peito não parecia deixá-la ir.
Queria-a. Tanto que pela primeira vez não confiou em si mesmo para fazer algo mais inteligente.
Ele teria se afastado, mas Bruce nunca conheceu uma mulher que ele não queria encantar, nem mesmo a filha de seu inimigo.
— Ah, é sua pequena Donzela — brincou Bruce baixinho. Cristo, até mesmo seu primo notou?
Eoin tentou cobrir seu constrangimento enquanto Bruce lhe dava um sorriso galante.
— Lady Margaret, Lady Brigid, vejo que não fomos os únicos em desfrutar de um passeio esta manhã — Ele olhou para trás e franziu a testa. — Mas onde estão suas escoltas? — Margaret e sua amiga se olharam, tratando claramente de não estourar em gargalhadas.
— Atrás de nós, — disse Margaret. — Muito longe de nós, espero já que era uma corrida.
Deu ao Conde de Carrick um sorriso descarado enquanto desmontava com a ajuda de um dos moços do estábulo e caminhava para eles. Inclusive seu passo era sedutor, o suave balanço de seus quadris era uma promessa sedutora. Eoin não podia afastar a vista.
— Com quem? — Perguntou Fin.
— Meus irmãos — replicou Margaret com um olhar na direção de Fin que parecia extremamente cauteloso. — Eu até dei a eles cinco minutos de vantagem.
As duas mulheres trocaram olhares de novo, e desta vez as duas caíram na gargalhada.
Eoin poderia dizer que Margaret era responsável por algo, mas Fin parecia confuso.
— Você quer dizer que eles lhe deram cinco minutos de vantagem.
Seu olhar endureceu quase imperceptivelmente.
— Não, eu falei corretamente.
Fin não ocultou sua incredulidade.
— E vocês ganharam?
— Bom, somos amazonas rápida — sua boca se retorceu. — Estávamos na estrada de Cornton a poucos quilômetros do vau10 de Kildean quando decidimos competir.
Eoin franziu o cenho.
— Mas esse vau não é transitável até a maré baixa. Teriam que cruzar o rio Forth na Ponte de Stirling para chegar ao castelo a partir daí.
Voltou-se para ele com pura travessura brilhando em seus olhos dourados.
— É assim? Agora que penso, lembro que alguém mencionou isso. Pergunto-me se meus irmãos sabem. Espero que não tenham viajado até o vau antes de perceber de que teriam que dar a volta.
Ele não pôde evitar, pôs-se a rir. Como Bruce e outros. A moça não era só linda e escandalosa, era inteligente.
Que Deus o ajudasse.
Margaret olhou para frente e para trás entre os dois parentes. Seu coração ainda estava pulsando com aquela risada. Profunda e áspera pelo desuso, tinha varrido sua pele como uma carícia calosa, pondo cada terminação nervosa no limite. Maggie pensou que era o som mais sensual que já escutou e temia fazer qualquer coisa para ouvi-lo novamente.
— Possivelmente não seja o único bom neste jogo, primo — disse Robert Bruce. — Talvez devesse pedir à moça que jogue com você?
— Que jogo? — Perguntou ela.
Bruce explicou do que estavam falando, e sacudiu a cabeça. Ela perguntou-se por que Eoin parecia tão animado quando ela e Brigid apareceram pela primeira vez. Deveria ter adivinhado. Quanto mais velha ficava, mais percebia que os homens eram apenas crianças grandes contentes em brincar na terra, construir fortalezas e planejar maneiras de se matar.
Elevou a sobrancelha e se voltou para Eoin.
— Quando era jovem meus irmãos e eu costumávamos brincar de um jogo chamado Cristãos e Bárbaros. Talvez você esteja interessado em um concurso?
Houve uma ligeira elevação da boca de Eoin — só o toque de um sorriso — que disparou diretamente em seu coração.
— Nós costumávamos chamá-lo de Highlanders e Vikings.
Sorriu-lhe de novo.
— O mesmo conceito, apostaria.
— E em que lado jogava, Lady Margaret? — Perguntou o Conde de Carrick.
Pelo brilho de seus olhos, suspeitou que podia adivinhar sua resposta. Embora seu pai se horrorizasse, Margaret tinha que admitir que gostava do jovem nobre. Seu senso de humor era tão perverso quanto o dela.
— Pelos Bárbaros, é óbvio — deu-lhe um sorriso sabendo a que ele se referia. — Eles se divertem muito mais.
Ele riu entredentes.
— É melhor não deixar o padre Bertram ouvir você dizer isso ou ficará de joelhos dizendo a Ave Maria pelo resto da semana.
Margaret estremeceu, mas não tão exagerado. De sua breve exposição ao severo sacerdote do castelo, não duvidou:
— Devo admitir que passei mais tempo de joelhos que a maioria das pessoas.
Pareceu haver um momento agudo de silêncio. O Conde de Carrick lhe dirigiu um estranho olhar, como se não estivesse seguro de havê-la ouvido bem. Ela franziu o cenho e olhou para Eoin, que afastou a vista com desconcerto. Seu rosto estava um pouco vermelho, quase como se estivesse sofrendo ou talvez com vergonha, ela não podia dizer o que era.
Ela estava prestes a perguntar que horrível erro cometeu desta vez, quando Dougal e Duncan entraram galopando pela porta.
Deu uma olhada às expressões desgostadas de seus irmãos e explodiu em um amplo sorriso.
— Fizeram um bom passeio, moços? Brig e eu nos perguntávamos o que lhes tinha acontecido. Espero que não tiveram nenhum problema... Possivelmente no vau?
Dougal, que nunca teve muito senso de humor, parecia que queria estrangulá-la, mas Duncan, que compartilhava seu temperamento mais tranquilo, parecia mais irritado que zangado. Orgulhava-se de ser o esperto da família e não gostava de ser enganado.
Ambos saltaram e se aproximaram dela. Embora não fossem tão altos e de cabelos mais escuros que Eoin, seus irmãos eram severos, musculosos, tinham o aspecto áspero e arenoso de bandidos, e eram guerreiros formidáveis. Mas se manteve firme, acostumada a seus intentos de intimidação. O que funcionou até os cinco anos quando ela percebeu que nunca a machucariam.
— Você não é muito velha para estar inclinada sobre meu joelho, pequena Maggie — disse Duncan em voz baixa. Pequena Maggie. Quando era jovem, estava acostumado a odiar quando a chamava assim. Agora que era mais velha, não se importava tanto. De todos os seus irmãos estava mais perto do Duncan.
— Tentem e sentirão meu joelho — respondeu docemente. Como foi ele quem lhe ensinou esse método particular de se defender, sabia que não era uma promessa ociosa e fez uma careta. — Por sinal, devem um xelim para cada uma de nós — estendeu-lhe a mão. — E não tentem negar nossa aposta desta vez. Tomei cuidado com minha redação. Chegamos ao castelo antes que vocês, então ganhamos.
Duncan se voltou para Dougal para pedir ajuda.
— Não me olhe — disse seu irmão mais velho. — Eu disse para você não aceitar o desafio, mesmo com o cavalo e a vantagem inicial.
Duncan meteu a mão em seu sporran, recolheu as moedas e, com um olhar que prometeu retribuição, deixou-as cair em sua mão aberta.
Margaret se voltou para dar uma a Brigid, mas se deu conta de que sua amiga olhava Dougal com um estranho olhar em seu rosto, que a sua vez olhava aos homens atrás dela. Margaret amaldiçoou em silêncio, tendo esquecido que ela estava se divertindo com o inimigo... pelo menos assim veria sua família, apesar desse suposto encontro de aliados temporários.
Apressou-se em dissipar um pouco da tensão.
— O Conde e seu grupo retornavam ao castelo de sua caçada pouco antes que o fizéssemos. Temo que Brigid e eu os interrompemos com nosso entusiasmo pela corrida — deu um olhar de conspiração ao Conde de Carrick. — Embora felizmente o jogo que interrompemos desta vez não implicou figuras esculpidas — Robert Bruce sorriu, o que nenhum de seus irmãos parecia apreciar.
— Jogo? — Perguntou Dougal.
— Uma brincadeira — deu um aceno de desprezo.
Duncan olhou para frente e para trás entre ela e o Conde algumas vezes e pareceu satisfeito. Ele relaxou e confrontou Robert Bruce com uma hostilidade ligeiramente menos externa. Dougal, entretanto, olhava para Bruce como se não pudesse decidir se o executava com uma espada ou um machado de guerra.
— Não apostem contra ela — disse Duncan. — Não se quiserem sair daqui com moeda em seu sporran. Nossa pequena Maggie nunca encontrou um desafio que não goste. Ela tirou dez xelins de John de Lorn a última vez que esteve em Garthland.
— Por quê? — Perguntou o Conde de Carrick, claramente impressionado pela quantidade.
— Disse-lhe que uma mulher não podia beber uma caneca de cerveja mais rápido do que podia ele, e estava errado.
Margaret sorriu. Embora os MacDougalls fossem aliados importantes de seu pai, não gostava muito de John de Lorn e gostava de vê-lo afogar-se em suas palavras, literalmente.
Embora Robert Bruce levantasse uma sobrancelha em sua direção, não havia nada impressionado na expressão de Eoin MacLean. Embora inescrutável como de costume, sentiu que não aprovava sua aposta.
Ela se absteve de revirar os olhos... Somente. Realmente precisava relaxar e divertir-se mais. Apostar era quase tão divertido como ganhar.
— Isso é bem... Uma façanha — disse Bruce com ar brincalhão.
Deu de ombros.
— É fácil se você souber abrir a garganta.
Por alguma razão, Duncan explodiu em uma risada histérica, Dougal estremeceu, Bruce e Eoin tiveram aquele olhar aflito e desconcertado novamente. Olhou para Duncan para que lhe explicasse algo, mas ele só sacudiu a cabeça entre risadas, como se dissesse que explicaria mais tarde.
Finalmente, Duncan conseguiu se controlar.
— Foi minha culpa. Eu deveria ter pensado melhor antes de aceitar um desafio com cavalos envolvidos.
— Por quê? — Perguntou Finlaeie. — Ganhou por trapaça.
Duncan começou a explicar, mas Margaret o reteve com um olhar que lhe disse que esperasse, isto poderia ser divertido. Voltou-se para o irmão adotivo de Eoin. Era, sem dúvida, um guerreiro de boa aparência. Alto e bem construído como Eoin, mas com cabelo castanho escuro ondulado e profundos olhos verdes da cor das esmeraldas. A princípio o considerou como uma possibilidade para Brigid. Brigid não demonstrou muito interesse - em ninguém na verdade - e agora ela estava feliz. Havia algo nele que a incomodava. Não sabia o porquê, mas ela não gostava dele.
— Você não acha que eu poderia ter vencido de outra maneira?
Havia uma camada de aço sob o tom alegre. Brigid o reconheceu, embora Finlaeie não o reconhecesse. Ela colocou a mão no braço de Margaret.
— Está quase na hora da refeição do meio-dia. Talvez devêssemos ir...
— É óbvio que não — disse Finlaeie, cortando a tentativa de Brigid de se afastar.
— E por quê? — Perguntou Margaret.
— Você é uma moça — respondeu, como se a resposta fosse óbvia.
Ela olhou para Duncan e Dougal, que pareciam divertir-se, adivinhando para onde ele estava se dirigindo.
— Que amável de sua parte notar isso. — Disse com mais diversão que sarcasmo.
Eoin tratou de intervir, como se ele também se desse conta de que algo estava prestes a acontecer.
— Fin não quis desrespeitá-la, Lady Margaret. Tenho certeza de que você é uma excelente amazona.
Era. Mas por que tinha a sensação de que estava sendo levada na brincadeira? Sorriu, pensando que a piada poderia acabar sendo eles.
Forçou seu olhar de Eoin a seu irmão adotivo.
— Pode surpreender você saber que as mulheres podem ser tão boas quanto os homens - melhor ainda - em algumas coisas.
— Talvez coisas como ter bebês, costurar e garantir que a comida de um homem esteja na mesa — disse Finlaeie com um sorriso paternalista. — Mas... Uh... Tarefas físicas e mentais, as mulheres são inferiores.
Maggie cruzou os braços.
— Segundo quem?
— Deus. A Igreja. A parte mais débil, sabe?
Desta vez, ela não pôde evitar que seus olhos revirassem.
— Não o argumento "a parte mais débil" e "a queda do homem é culpa da Eva" novamente? — Esteve escutando coisas como essa que era a razão pela qual ela evitava a igreja tanto quanto podia, o que reconhecidamente era muito mais difícil fazer aqui do que em Garthland. Parecia que todas as mulheres o faziam em Stirling indo e vindo da capela. — Parece-me que a parte mais fraca não foi a que foi enganada por Satanás, mas aquele que pôde ser levado a comer a maçã — sorriu ante sua surpresa. Desta vez, pelo menos, ela não precisava se perguntar o porquê.
A irreverência era irreverência, inclusive em Garthland.
— Mas no caso de montar a cavalo, e talvez navegar, posso dizer com certeza que estão equivocados.
Conforme se informou, o rei Edward tinha uma coleção de animais em seu castelo da torre de Londres, onde seus convidados podiam olhar e admirar às estranhas e exóticas criaturas de terras longínquas.
Margaret suspeitava que sabia exatamente como se sentiam esses animais agora. Ela não tinha certeza se era seu próprio pronunciamento ou a heresia de questionar a doutrina da igreja, mas os homens do Conde, incluindo Eoin, ficaram inegavelmente surpresos.
Ela encolheu os ombros sem pedir desculpas.
— É a verdade. Eu venci muitos homens em uma corrida.
O irmão adotivo de Eoin falou sem pensar.
— Talvez você nunca tenha enfrentado uma concorrência adequada.
Como Margaret só podia escolher a um irmão para ficar na frente e detê-lo, escolheu o mais temperamental, Dougal. Mas ele e Duncan fizeram um som baixo e ameaçador em suas gargantas e instintivamente se apoderaram de suas espadas.
Sabendo que tinha que agir rapidamente para evitar o derramamento de sangue, disse.
— Que ideia maravilhosa! Aceito seu desafio.
Finlaeie, que não parecia reconhecer o perigo que correu com seus irmãos, a quem ele tão casualmente foi indiferente, olhava-a como se estivesse louca.
— Eu, competir com você?
Ele parecia tão horrorizado que ela teve que rir.
— Por que não? Será divertido — lançou um olhar afiado ao irmão que não tinha sido capaz de deter e, que tinha dado um passo para ele e estava inclinado ligeiramente para frente como se estivesse preparado para atacar. — Você não concorda, Duncan?
Trocaram um longo olhar. Finalmente, aproximou-se dele, e seu irmão relaxou, embaindo sua espada. Podia sentir a ameaça atrás dela dissipando-se e também de Dougal. O que planejava iria mais do que adequadamente vingar o golpe ao orgulho de MacDowell, sem interromper a paz das negociações.
— Sim, acredito que é uma ideia brilhante — concedeu Duncan. — Poderíamos ter um pouco mais de emoção por aqui.
Eoin parecia estar consciente do potencial conflito que ela acabava de evitar. Olhou para seus irmãos, para assegurar-se de que a ameaça desapareceu, antes de voltar a olhar para ela.
— Fin não pretendia ofender. Só estava brincando. Mas temo que não foi completamente sincero com você, provavelmente ele seja o melhor cavaleiro daqui.
Maggie elevou uma sobrancelha, olhando o guerreiro de cabelo castanho com especulação.
— É? Então isto será ainda mais divertido do que pensei. Eu gosto de um desafio.
Finlaeie obviamente se esquentou ante a ideia. Sorriu. Um sorriso lento e presumido que a deixou ansiosa para vê-lo apagado.
— Quando?
— Agora se quiser. A menos que esteja muito cansado e prefira esperar.
— Agora está bem — Seu olhar se tornou calculista. — O que devemos apostar?
Ela encolheu os ombros com indiferença. A vitória seria suficiente.
— O que você quiser.
O brilho lascivo de seu olhar fez que ela quisesse retirar suas palavras. Estava claro o que ele queria. Ele deve ter percebido seu desagrado porque seu olhar endureceu.
— O cavalo negro de espírito jovem que seu irmão Duncan estava montando.
Houve alguns suspiros de choque. O garanhão que Duncan cavalgava valia o que um cavaleiro ganhava em um ano.
Eoin parecia que estava prestes a explodir.
Ela ficou rígida e Duncan começou a objetar.
— Não é meu...
— Tudo bem, — ela concordou, cortando-o. Finlaeie não precisava saber que ela e Duncan tinham trocado de cavalo antes da corrida. O garanhão era dela. John Comyn não foi o único a receber um cavalo valoroso no dia de seu décimo oitavo aniversário. — E se eu ganhar, reclamarei o cavalo que você vai montar na corrida.
Ficou claro que ele não levava a ameaça a sério. Ele sorriu.
— O que a dama desejar.
Sim, ela ia gostar de apagar aquele sorriso presunçoso de seu rosto, muito.
Eoin observou os preparativos para a corrida com crescente frustração. Bruce se negou a intervir, alegando que Fin teve sorte de que a moça tivesse impedido que seus irmãos o desafiassem em seu lugar.
Eoin também suspeitava que seu parente não se importasse de ver os MacDowells humilhados, mesmo que uma dama estivesse envolvida.
Fin não recuou, com a intenção de fazer algum tipo de ponto para Eoin sobre Lady Margaret e sua inadequação, algo que Eoin estava muito ciente mesmo sem a corrida. Ela era ultrajante mesmo quando não queria ser. "De joelhos" e "abrir a garganta "... Deus do céu, estava tentando matá-lo?
E a própria dama parecia inclinada a um curso de destruição do qual nada — e com certeza não a racionalidade — interviria. Entretanto, tinha que tentar. O pátio estava se enchendo de curiosos enquanto Eoin ia em busca dela. Tinha afirmado que necessitava algo de sua câmara e tinha ido para uma das torres, enquanto que seu irmão Duncan finalizava os detalhes da corrida com Fin.
Seria um circuito de cerca de 2000 metros na estrada da abadia de St. Mary's até o castelo, começando nos terrenos planos e férteis do leito do rio Forth e terminando com a subida íngreme da colina do castelo. O primeiro a entrar pela ponte levadiça e passar através do pátio seria o ganhador.
Quando Eoin chegou à torre, teve que atravessar uma multidão de pessoas. Caralho, já era um maldito espetáculo! A palavra da aposta devia ter se espalhado através do castelo como uma praga. Os abutres são incapazes de resistir ao aroma da morte. Lady Margaret — embora parecesse alheia à ameaça de condenação — devia colocar um fim nisto.
Ele esperou no fundo da escada para ela emergir. Quando o fez, temeu que seus olhos corressem perigo de sair de sua cabeça.
Ela parou quando o viu e arqueou a boca com um sorriso que conseguiu parecer adorável e sedutor ao mesmo tempo. O nó que se formava em seu peito cada vez que ela estava por perto estava apertando cada vez mais
— Se você está aqui para “me fazer entrar em razão” como começou a dizer antes, está perdendo seu tempo.
Eoin estava muito chocado com sua roupa para dar uma resposta adequada.
— Você não pode usar isso!
Ele olhou para as calças de couro marrom apertadas, uma camisa de linho enfiada na cintura e o colete de couro sem mangas igualmente ajustado que ia até a cintura. Tinha trocado as botas de couro macio pelas sapatilhas que estava usando antes, e por uma vez suas madeixas flamejantes foram domadas em uma trança grossa enrolada na parte de trás do seu pescoço.
Estava vestida como um moço, mas nunca tinha visto nada mais feminino. Era mais esbelta do que percebeu, com as calças ajustadas e o colete que revelava os contornos da curvilínea figura que estava oculta pelas saias de seus vestidos. Suas pernas eram elegantemente musculosas e longas, seus quadris ligeiramente curvados, seu traseiro arredondado e sua cintura pequena. Seus seios eram generosos, mas bem arredondados e firmes sobre a linha plana de seu estômago.
Não precisava imaginar muito como ela ficaria nua, e uma vez formada, a imagem não desapareceria.
Eoin estava com problemas, e sabia.
— Eu sei que não é convencional, mas você não pode esperar que eu corra com saias pesadas, elas vão me atrapalhar e eu vou cair e quebrar meu pescoço.
— Você não deve competir, absolutamente, e certamente não nisso. Parece estar nua!
Ela elevou uma sobrancelha em diversão — provavelmente — porque ele soava tão agitado como se sentia.
— Não me dei conta de que tantos homens caminham por aí em tal estado de nudez. Terei que prestar mais atenção.
Deixou cair o olhar de seus olhos sobre seu peito duro e abaixo em suas pernas vestidas de couro, e ele aguardou pelo endurecimento de seu pênis no confinamento entre suas pernas. Parecia havê-lo acariciado, pois o calor inflamou cada terminação nervosa em seu corpo. Ficou tão duro quanto uma maldita rocha.
Quando levantou esses olhos dourados de gata inclinando para os seus, sentiu-se apanhado na atração sedutora. Queria jogá-la por cima de seu ombro e levá-la para cima para violá-la como um de seus ancestrais saqueadores vikings.
De onde veio isso, inferno! O que o fazia se sentir tão primitivo? Para um homem que sempre se orgulhou da racionalidade, esta reação básica e impensada foi um duro golpe. Sem mencionar confuso. Ela era um problema que ele não conseguia resolver, e pela primeira vez, não conseguia ver uma maneira de contornar isso em sua cabeça.
— E, entretanto, você usa roupas semelhantes e não parece nu absolutamente — apontou.
Havia um matiz de decepção em sua voz? Pelo fôlego de Deus, estava tentando matá-lo!
— Você é uma moça — disse, como se a distinção fosse óbvia.
— Como essa é a segunda vez que me disseram isso hoje, acredito que já está estabelecido — deu um sorriso. — Agora, se tivermos terminado de discutir meu traje, tenho uma corrida para ganhar.
Tentou passar por ele, mas a agarrou pelo braço. Não era o suficientemente tolo para aproximá-la mais que um braço, mas ainda estava o suficientemente perto para causar estragos em seus sentidos. Podia estar vestida como um homem, mas certamente não cheirava como um.
— Isso é tudo, não pode ganhar. Você não vê? Mesmo que consiga batê-lo e ganhar, você perderá. Franziu o cenho.
— Do que você está falando?
— As damas não organizam uma corrida pública com homens e certamente não ganham. Não é assim — Cristo, soava cada vez mais puritano e tenso quanto o monge que Fin o acusou de ser. E ela também sabia, porque parecia lutar contra mais risadas.
— Talvez não aqui, mas eu faço todo o tempo em casa e ninguém olha para mim. Eles vão superar. É um pouco de diversão inofensiva — sorriu-lhe. — Leva as coisas muito a sério. É muito doce de sua parte, mas sei o que estou fazendo.
Doce? Não era doce. Merda, não queria lhe fazer machucar, mas precisava dizer.
— Nunca a aceitarão, se fizer isto.
O sorriso dela ficou torto.
— Não tenho certeza de que seja provável que me aceitem de qualquer maneira. Mas realmente você está fazendo as coisas mais complicadas do que são.
Sim? Talvez. Só estava tentando protegê-la porque... Não queria terminar esse pensamento.
— Olhe, embora quisesse, minha família não me deixaria sair disso agora. É muito tarde.
Percebendo a verdade nessa declaração, e que sua mente foi feita, ele recuou e soltou. O que mais podia fazer? Essa não era sua batalha. Não era dele.
Já estava fora quando a chamou.
— Fin é um dos melhores cavaleiros que conheci. De verdade acredita que pode ganhar? — Sua família devia acreditar que podia, já que ia deixá-la passar por isso.
— Não teria aceito o desafio se não acreditasse.
Não pôde evitar sorrir, enquanto a moça lhe lançava um sorriso brincalhão antes de atravessar o pátio.
Certamente não lhe faltava confiança. E porra se não a admirava por isso.
Capítulo 7
A confiança de Margaret foi bem merecida. A corrida terminou em menos de cinco minutos. Apesar do choque — que se ‘acalmou’ logo — por seu incomum traje, já que a multidão estava mais atordoada por sua roupa dramática do que pelo que ela planejava quando atravessava o portão do castelo.
Em primeiro lugar, graças a Deus.
Mas ele tinha estado mais perto do que ela gostaria. Finlaeie tinha estado na frente dela até que subiu a colina. Ele desacelerou no canto afiado e ela pegou a linha mais reta saltando. Ela teve que desviar algumas pedras para fazer isso, mas Dubh estava mais do que pronto para o desafio.
O cavalo era sua arma secreta, e a razão pela qual estava tão segura. Dubh nunca a decepcionou — embora necessitava um conjunto de nervos de aço, já que gostava dela precisasse de um conjunto de nervos de aço, já que gostava de ficar para trás até o final da corrida. A habilidade do eochaidh, ou o que os ingleses chamavam "eochy" ou cavaleiro, só representava uma pequena parte de uma corrida.
Não é que não fosse uma amazona habilidosa — ela era. Duncan sempre disse que tinha uma maneira misteriosa com os cavalos. Mesmo garanhões selvagens como Dubh, que não seriam considerados montarias adequadas para uma mulher, pareciam ficar em silêncio quando ela se aproximava.
Sorriu quando pensou na expressão de surpresa de Finlaeie quando o "selvagem cavalo negro" foi conduzido para que ela pudesse cavalgá-lo. Devia admitir que sofreu um momento de dúvida ou dois quando ele trouxe seu próprio cavalo. Qualquer que seja o motivo de sua aversão por ele, não podia culpar o gosto dele com cavalos. A besta era tão magnífica quanto Dubh.
Também não podia culpar seu cavalo. Provavelmente estavam igualados nisso. Mas o tamanho era sua outra vantagem, e uma das razões pela qual ele pensava que as mulheres não podiam competir com os homens quando se tratava de velocidade, especialmente contra os grandes guerreiros enviados à guerra. Como ela era menor e provavelmente metade do peso de Finlaeie — ou mais peso com toda essa armadura — Dubh tinha muito menos peso para levar. Se Finlaeie MacFinnon tivesse sido um homem menor e mais leve, e se tivesse tirado sua armadura, poderia tê-la superado.
Ela mal parou antes que seus exuberantes irmãos a tirassem do cavalo e a abraçassem.
— Inferno, pequena Maggie, que salto! — Disse Duncan, fazendo-a virar. — Não tinha certeza de que ganharia.
Para falar a verdade, ela também não tinha certeza.
— Você quase parou meu coração, — disse seu pai severamente, mas com inegável orgulho em seus olhos. — Pensei que disse para você parar de saltar ou mataria um de nós.
— Disse, pai, e prometi que pararia. Simplesmente não disse quando.
Brigid se aproximou e lhe deu um rápido abraço. Houve mais felicitações dos homens de seu pai e de alguns de seus aliados, mas depois que a excitação inicial diminuiu, Margaret percebeu que era bastante silencioso - especialmente em comparação com ocorrências semelhantes em Garthland. Ela franziu o cenho, olhando ao redor do pátio e dando-se conta de que as pessoas haviam dispersado.
Sentiu o primeiro estalo de incerteza, mas rapidamente o afastou. Era de esperar. As pessoas eram muito mais reservadas em Stirling, e muito menos inclinadas a celebrações prolongadas. Em Garthland algo assim levaria toda a noite para celebrar.
Sentiu uma pontada no peito, reconhecendo por um momento o quanto sentia saudades de seu lar, e a vida que conhecia. Uma vida em que não sentia como se estivesse pisando em ovos o tempo todo.
Supôs que também estava a delicadeza da situação que poderia explicar a falta de entusiasmo, dada a tendência de que tudo na Escócia reduzia-se a Bruce ou Comyn. Embora a corrida não teve nada a ver com isso, alguns veriam como uma vitória para Comyn sobre Bruce.
Finlaeie MacFinnon, como Eoin, poderiam não estarem alinhados publicamente na campanha de Bruce, mas tinha sido parte da partida de caça do Conde. Muito animando por um lado pode ser entendido errado no que deveria ser um encontro para definições.
Finalmente olhou o grupo muito menos enlevado que se encontrava a curta distância. Finlaeie a olhava com uma expressão em seu rosto que lhe gelava o sangue. Escuro, tempestuoso e fervendo de ressentimento, não seria muito extravagante dizer que parecia como se quisesse matá-la. Eoin estava de costas para ela e claramente tratava de dizer algo a seu amigo, mas Finlaeie não escutava. Estava encarando-a muito duramente.
Com o que ele havia dito antes da corrida, não deveria se importar. — “Quando eu vencer, talvez você me dê algo do que deu a MacLean ontem à noite”. Ficou furiosa e ainda mais decidida a vê-lo humilhado. Mas seria uma tola se não tivesse um pouco de medo.
Tinha visto homens zangados ante a perda de seu orgulho antes, mas nunca tinha sido a destinatária de tal animosidade tão virulenta.
Qualquer satisfação e alegria na vitória que tinha estado sentindo fazia momentos, desapareceu. Ganhou, mas conseguiu um perigoso inimigo. Um que não queria. Talvez não gostasse de Finlaeie, mas era amigo de Eoin. E por alguma razão, importava-se.
Finlaeie disse algo bruscamente a Eoin — se lera os lábios corretamente, poderia dizer que era uma maldição a respeito do que ele poderia fazer para si mesmo — e se afastou. Com a boca branca, dirigiu-se para ela, levando o magnífico garanhão castanho atrás dele. Quando Eoin começou a andar depois dele, seus olhos se encontraram. Parecia irritado, preocupado, e algo mais que não podia identificar.
Seus irmãos e seu pai tinham visto a aproximação de Finlaeie e instintivamente formaram um muro protetor de ambos os lados dela. Ele parou a poucos metros de distância e sorriu, apesar de ser o sorriso mais estranho que ela já havia visto.
— Minha lady — ele disse de uma maneira que a fez sentir como se fosse um insulto. — Felicito-lhe por sua vitória. Parece que subestimei sua capacidade de montar a cavalo. Escutei que era boa. Muita prática, suponho.
Não havia nada específico em sua voz, mas algo a respeito do que disse fez que os homens ao seu lado se retesassem, e o rosto de Eoin ficasse vermelho de fúria.
— Foi uma corrida difícil — ela disse apressadamente. — Qualquer um poderia ter ganho.
Por alguma razão, seu intento de graça foi recebido com mais raiva por Finlaeie.
— Mas a vencedora foi você — disse com aprumo. — Por causa desse salto.
Margaret pensou que havia outras razões também, mas francamente só queria terminar a conversa.
— Sim, tive muita sorte. Agora, se me der licença, receio que estamos terrivelmente atrasados para a refeição do meio-dia, e provavelmente devo mudar de roupa a menos que queira que metade do salão desmaie em estado de choque.
Ninguém sorriu ante a brincadeira.
— Você não esqueceu a nossa aposta? — Disse Finlaeie, puxando o cavalo.
Margaret captou o olhar de Eoin e nesse momento soube exatamente o que precisava fazer.
— Aposta? — Repetiu, como se não soubesse do que ele estava falando. — Oh, refere-se à brincadeira sobre o cavalo. Não vou reter seu cavalo, é óbvio, — seus irmãos exploraram, expressando suas objeções, mas ela os ignorou — se tivesse ganho, sei que não teria levado Dubh.
Ambos sabiam que teria feito exatamente isso. Mas tinha lhe dado uma saída. Uma maneira de manter o cavalo que não poderia se dar ao luxo de perder. A perda de um animal deste tipo seria um grande golpe para um guerreiro tentando se elevar. Deus sabia, o garanhão devia ter custado uma pequena fortuna.
Forçado a concordar, Finlaeie inclinou a cabeça como se aceitasse à verdade de sua declaração.
— Bem, — disse ela. — Então não falemos mais sobre o assunto.
Sabia que teria que ouvir um inferno de admoestações com seu pai e irmãos mais tarde. Estariam furiosos de que tivesse rechaçado um animal tão fino, mas valeria a pena se o gesto entorpecia algo da picada de sua vitória.
Um olhar na direção de Finlaeie, entretanto, disse-lhe que poderia ter diminuído ligeiramente sua raiva, mas seu ressentimento aumentou. Eoin, entretanto, parecia aliviado. Capturou seu olhar e quis aferrar-se a ele, mas consciente de seu público, desculpou-se de novo.
Brigid estava inusitadamente calada, enquanto se lavavam e se trocavam rapidamente para a refeição, mas perdida em seus próprios pensamentos, Margaret não a pressionou por uma explicação.
A reação da multidão ante a corrida a incomodava mais do que queria admitir. Não podia evitar a pontada de temor de que Eoin estivesse certo. Mas, o que podia ter feito? Deveria deixar explodir uma guerra entre seus irmãos e os homens de Bruce em meio de uma trégua para as negociações de paz?
Era tão diferente aqui, com todas essas regras e convenções que pareciam tão ridículas. Disse-se a si mesma que a boa opinião destas pessoas não lhe importava, mas isso não era de tudo verdade. A opinião de Eoin era importante. E embora ela quisesse esquecer, ela estava aqui por um motivo. A opinião de John Comyn também deveria ser importante para ela. Havia também Brigid. Sabia que sua amiga estava passando um momento difícil, e ela jurou fazer todo o possível para tentar melhorar sua situação.
Não haveria mais corridas, prometeu. E talvez uma vez que o aborrecimento de seu pai por perder o cavalo esfriasse, poderia lhe convencer de que aliviasse seu sporran e comprasse alguns vestidos novos. Talvez, inclusive um véu ou dois? Isso deveria fazer Brigid feliz.
De fato, quando as moças se dirigiram ao Hall e Margaret confessou seus planos, Brigid pareceu um pouco mais brilhante.
Até que entraram no Salão.
Era pior do que Eoin tinha previsto. A condenação e o desprezo em relação a Margaret MacDowell por algumas das mulheres nunca tinham sido sutis, mas agora repercutia bastante em toda a sala.
O vestíbulo parecia ter sido subjugado de sons antes que ela e sua amiga entrassem, mas havia tomado um ar santo de uma abadia tranquila no momento em que entraram.
Não foi só a corrida, a não ser a suposta razão disso. Levou um tempo para Eoin perceber do que as pessoas estavam zumbindo, mas finalmente seu irmão Neil explicou. Parecia surpreso que Eoin não soubesse. Margaret tinha sido vista deixando a velha torre ontem à noite depois de Fin toda desgrenhada. Desafiou Fin para corrida — e depois " o enganou" saltando a cavalo — para tomar represálias por ele desprezá-la. Quando Eoin ouviu a história de Bruce outra vez perto do final da refeição, ela e Fin não foram apenas vistos saindo da torre, mas foram vistos no ato de fornicar.
Eoin negou tudo e tentou dissipar os rumores, mas as pessoas pareciam inclinadas a acreditar no pior dela. Era diferente, muito atrevida, muito confiada, muito indiferente as suas aprovações, e estavam a fazendo pagar.
Eoin estava furioso, com a pessoa que iniciou o rumor falso, mas também com ele mesmo. Isso era culpa dele. Ele que a beijou. Se parecia desgrenhada, era por causa dele.
Alguém deve ter visto Fin sair da sala depois que eles foram descobertos, e então ele viu Margaret sair antes de Eoin. Sabia que podia ter sido ele tão facilmente, em lugar de Fin, o assunto dos rumores.
Não parecia que Fin se importasse. Eoin olhou para o amigo, cujo temperamento parecia melhorar consideravelmente à medida que a refeição avançava e o boato se espalhava. Eoin compreendia a raiva de seu amigo pelo golpe que causava em seu orgulho a corrida. Fin sentiu que tinha sido humilhado, mas Eoin não entendia a alegria que parecia ter neste momento por sua rejeição.
Especialmente depois do que tinha feito com o cavalo. Tinha todo o direito de reclamar o garanhão de Fin como seu prêmio. Apesar da afirmação de "engano" com o salto, superou Fin. Fácil e simplesmente.
Eoin nunca tinha visto nada parecido. Maggie parecia se afundar na sela, desaparecer na besta até que eram um só. Não tivera medo. Ligeira. Ágil. Selvagem e desenfreada.
Tinha sido uma visão para se contemplar.
Embora ainda pudesse sentir o nó em seu peito onde seu coração tinha saído de seu corpo quando ela saltou no canto sobre todas as rochas.
A moça era selvagem. Escandalosa. Muito corajosa para seu próprio bem. E era magnífica. Se fazia cada vez mais difícil escutar as razões pelas quais não era para ele.
Não percebeu o quanto a estava observando durante a refeição até o termino quando a procurou e não conseguiu encontrá-la.
Havia algo errado? Ouviu algo? Alguém tinha sido cruel com ela?
Não podia suportar a ideia de que alguém a machucasse e desejou ir ao inferno para poder protegê-la de tudo isto. Pensando que poderia estar com Comyn, Eoin o buscou inutilmente. Estava a ponto de ir procurá-la quando sua irmã correu para a mesa.
Parecia pronta para explodir.
— Escutaram isso?
Antecipando-se ao que estava a ponto de dizer, levantou-se e a atirou para um lado.
— Espero que não esteja repetindo intrigas, Marjory.
Enrugou o nariz.
— Deveria se considerar afortunado — suspirou. — Pobre Fin.
Sua irmã estava apaixonada por seu amigo, mas isto era ridículo. Fin não era o que merecia simpatia.
— Pobre Fin?
Assentiu.
— Sim, por ter escapado da teia da prostituta. Ela o seduziu e depois tentou fazê-lo casar com ela!! — Eoin já tinha ouvido o suficiente. Já não podia escutar mais. Pegou o braço de sua irmã e a obrigou a olhá-lo com um movimento que esperava que colocasse um pouco de sentido nessa linda cabeça escura.
— Fin não tem nada a ver com isso. Fui eu. Eu estava na torre com ela e não aconteceu nada. Nada. Não vou ouvir você repetir nada disto outra vez. Entendeu-me?
Com os olhos abertos, assentiu.
— Você?
— Sim, eu. Assim se alguém é responsável por esses rumores, sou eu — parecia horrorizada. Mas também arrependida.
— Você a viu? — Perguntou. Marjory sacudiu a cabeça. — E ao jovem Comyn?
Ela sacudiu sua cabeça outra vez.
— Eu vi suas irmãs de pé na entrada alguns minutos atrás.
Eoin fez uma careta. Não gostava muito das irmãs de Comyn. Francamente, recordavam-lhe muito à sua. Zangada, crítica e fofoqueira. Ele e Marjory iriam ter um longa conversa mais tarde. Já não podia fingir que iria crescer com isso.
Havia uma seção pequena e protegida do vestíbulo entre a entrada principal e o corredor da cozinha. Com o armário próximo, as damas reuniam-se ali para esperar em grupos. Ali foi onde as encontrou.
Ele parou perto da entrada e não viu nenhum sinal de que Margaret estava prestes a sair de algum lugar quando ouviu seu nome. Pensou que era Elizabeth Comyn quem falava, a irmã mais velha de John.
Além de Joan, a outra irmã de Comyn, havia outras mulheres que Eoin não reconhecia.
— Margaret MacDowell? Pensaram errado! Meu irmão nunca pensaria em casar-se com uma mulher assim. Se seu pai for tolo para pensar que meu irmão se casaria com alguém tão completamente com falta de dignidade, maneiras e moral, isso é culpa dele. Viram-na? Poderia muito bem levar o capuz amarelo de uma rameira pela maneira que se veste e age. Não me surpreendeu saber que seduziu Finlaeie MacFinnon — uma mulher que deveria ter falado pela primeira vez tentou argumentar, mas a irmã de Comyn a cortou. — Foram vistos. Que mais prova necessita? Se houve alguma dúvida antes, o que não havia, — enfatizou — não há mais agora. Meu irmão não se casará com mercadoria suja.
Se Eoin fosse do tipo de homem que ataca uma mulher, Elizabeth Comyn estaria em grave perigo agora mesmo. Sem confiar em si mesmo para escutar outro minuto dessa merda sem dizer algo para endireitar a essas harpias — algo que só pioraria as intrigas — e estava quase a partir quando uma das mulheres se queixou.
— Quem está demorando tanto?
A porta do armário se abriu e uma mulher saiu.
— A mercadoria suja — disse Margaret.
Merda, foi então quando Eoin soube o que estava errado com ele. Ele sabia agora o que tentava negar. Ele sabia por que, em vez de concentrar todos os seus esforços em impressionar seu parente por um trabalho que podia ser seu sonho, estava perseguindo uma mulher que estava dentro do armário.
Seu sangue foi drenado para o chão. A verdade lhe golpeou no peito, enquanto ela permanecia ali como uma maldita rainha, enfrentando a sua condenação com desafio e um olhar em seu rosto que lhes dizia que todas fossem ao inferno.
Estou apaixonada por ela.
Caralho, como deixou isso acontecer? Não tinha nenhum sentido! Não queria acreditar que pudesse fazer algo tão completamente estúpido.
Mas o tinha feito. Era selvagem, escandalosa, e não se vestia nem atuava como uma nobre, mas vendo-a ali de pé, frente a essas mulheres, com mais orgulho e dignidade em seu diminuto pé de sapatilha, que aquelas mulheres jamais poderiam esperar ter, sabia que a amava.
Deus sabia que não entendia, com certeza não estava feliz por isso, e não sabia o que ia fazer a respeito, mas tampouco podia negá-lo.
Regiamente, com a cabeça erguida, cruzou a pequena sala. As mulheres pareceram aturdidas — e nem um pouco envergonhadas — e se separaram instintivamente ante ela. O orgulho de Margaret, sua bravata, nunca vacilava. Até que dobrou a esquina da divisória e o viu.
Seus olhos se encontraram, e pôde ver que sabia que ouviu cada palavra. Seus olhos dourados se alongaram. Sua pele loira empalideceu. E então seu rosto orgulhoso e lindo simplesmente se enrugou.
Ele vislumbrou algo que nunca pensou ver em sua expressão: vulnerabilidade, e ela o cortou com rapidez.
Alcançou-a.
— Margaret, sinto muito... — Não conseguiu terminar.
— Oh Deus, por favor... Por favor, me deixe em paz! — Com um grito suave e um soluço que lhe atravessou o peito, afastou-se dele e fugiu do Hall como se o diabo estivesse em seus calcanhares.
Tinha ouvido. Ouviu cada palavra horrível, cada mentira que diziam dela.
Margaret sentiu as lágrimas deslizando-se por suas bochechas enquanto corria pelo pátio. Pela primeira vez em sua vida, queria fugir. Queria arrastar-se em um buraco e se esconder. A vergonha era uma nova emoção para ela, mas ardia em cada membro, cada osso e cada canto de seu corpo.
Pensaram que seduziu Finlaeie MacFinnon. Pensavam que se vestia como uma puta assim devia ser uma? É isso o que pensava Eoin? Deus sabia que com o que aconteceu na biblioteca tinha todas as razões para fazê-lo.
Ouviu-o chamar seu nome, mas só a fez correr mais rápido. Não sabia aonde ia, só que precisava escapar. Dirigiu-se aos estábulos sem perceber. Um solitário moço estava sentado na entrada. Jogou uma olhada a seu rosto e se afastou.
Foi então quando Eoin a alcançou. A pegou de novo pelo braço. Esta vez seu agarre foi firme. Quando tentou encolher os ombros, manteve-se firme. Agarrou-a, era forte, e neste momento odiava todos esses músculos que tanto admirava.
— Se afaste de mim! — Gritou, entre soluços que rasgavam seus pulmões como fogo.
— Margaret. Maggie, me olhe — não queria, mas havia algo em sua voz que não podia negar. — Maggie? — Levantou o olhar. Escuros e aveludados olhos azuis se encontraram com os seus. Não com condenação, a não ser com compreensão. E algo mais. Algo que parecia ternura. — Não vou a lugar nenhum até conversarmos — disse com uma voz firme, mas gentil.
Não queria falar, queria chorar. Queria entrar em uma bola e esquecer que qualquer coisa disso havia acontecido.
— Aonde ia? — Perguntou.
— Não sei — resmungou. — Só quero cavalgar.
— Irei com você.
Estava muito ansiosa por sair para discutir com ele. Deus sabia que sua reputação não podia sofrer mais. E se ele não se importava de ser visto com a Prostituta da Babilônia, não iria detê-lo.
Ajudou-a a montar em Dubh, e depois selou seu próprio cavalo antes de cavalgarem. Passaram juntos aos guardas no portão sem fazer comentários, e logo estavam descendo pela colina do castelo até o terreno plano que tinha corrido nesse mesmo dia. Passaram junto à abadia e continuaram ao longo das bordas do rio Forth até que o castelo sobre a rocha, os estreitos blocos de casas de pedra e de argila e barro, e a cidade de Stirling ficaram atrás deles.
Só então se diminuiu, dando-se conta de quão rápidos estavam cavalgando. Dubh havia sentido sua urgência de se afastar e respondeu aos comandos.
Era tarde, e nesta época do ano significava que o sol já começava a se pôr no horizonte. Era também, percebeu, muito tarde, estava extremamente frio e úmido. As escuras nuvens oscilavam ameaçadoras sobre eles.
— Aqui, tome isso.
Eram as primeiras palavras que tinha falado desde o estábulo. Virou-se para encontrá-lo montado ao seu lado, sustentando o plaid escocês que tinha envolto ao redor de seus ombros.
Sacudiu a cabeça para negar, mas ele deu um olhar duro que lhe disse que seria teimoso.
— Mas parece que vai chover — protestou. — Sua túnica fina será arruinada.
Parecia uma peça de roupa cara, um veludo azul-escuro com um padrão de folhas e rolos intrincadamente bordados em fio de ouro.
— Sim, bem, talvez da próxima vez que você decida dar um passeio antes de uma tempestade, você poderia trazer uma capa? — Uma ligeira elevação de um lado de sua boca, apareceu.
— Você está me provocando? — Perguntou, incapaz de manter a surpresa de sua voz.
— Talvez, — deu de ombros, como se também se surpreendesse. — Agarre o plaid, Lady Margaret. Sobreviverei.
— Você me chamou de Maggie antes.
— Chamei? — Deu-lhe um olhar de soslaio. — Muito bem, pegue, Maggie.
Fez o que ele pediu, envolvendo a grossa lã verde e azul ao redor de seus ombros. Uma sensação de calor se instalou instantaneamente ao seu redor. Ele se estabeleceu ao redor dela, ela percebeu, porque o plaid seguia retendo o calor de seu corpo. E cheirava a ele, quente e acolhedor com apenas o mais leve indício de urze. Respirando profundamente, suspirou com satisfação.
— Está cômoda? — Ele perguntou secamente, enquanto as primeiras gotas de chuva começavam a cair.
Seus olhos se encontraram. Provavelmente deveria haver se sentido culpada, mas algo a respeito de suas brincadeiras a fazia feliz. Notou que não revelava este lado de si mesmo muito frequentemente. Então, em vez disso, sua boca se arqueou.
— Muito.
Eoin se pôs a rir e sacudiu a cabeça.
— Poderia pelo menos fingir um pouco de preocupação por meu sofrimento.
Ela revirou os olhos.
— E se decidir brincar de cavaleiro errante de novo, deve tentar não se queixar. Isso arruína o efeito.
— Por não falar de um bom casaco.
Desta vez foi ela que riu. Levou-lhe um momento perceber o que ele tinha feito. A fez se sentir melhor.
— Você é muito inteligente, não é?
Sua boca se arqueou.
— Nem sempre, aparentemente.
Levou um momento para perceber que se referia a ela, mas não tinha certeza do que significava. Arrependia-se de estar aqui com ela?
— Podemos retornar agora, se quiser — disse.
Negou com a cabeça, olhando as nuvens escuras.
— Acredito que será melhor se sairmos da tempestade — apontou um edifício de pedra em ruínas ao longo do rio que parecia ser uma cabana de pescadores. Há muito abandonada pela aparência dela. — Podemos tentar ali. Metade de um telhado é melhor que nenhum.
Em realidade era mais da metade. Só o canto mais longínquo do edifício de pedra tinha perdido seu teto. Suficiente para deixar entrar o frio e a umidade, mas pelo menos estariam relativamente secos.
Enquanto Eoin cuidava dos cavalos, Margaret fazia todo o possível para varrer o pó e as teias de aranhas com uma velha vassoura de palha que, embora um pouco mofada, seguia sendo útil. Havia poucos móveis. Uma mesa, alguns tamboretes e uma cama cheia de palha e coberta por um velho tecido velho e empoeirado. O chão era de terra e pedra, mas também estava coberto por uma grossa e bem batida capa de palha ligeiramente mofada. Estava agradecida por isso. O mofo era preferível a ter os pés no barro.
Eoin entrou pouco depois que ela e se sentou em um dos tamboretes, esquadrinhando a casinha.
— Não diria que é cômodo, mas é melhor do que eu esperava.
Fechando a porta atrás dele, entrou na habitação. Não, dele dominou a sala. A casinha pequena ficou ainda menor.
Frio? Que frio? Sentia-se como se alguém tivesse aceso um fogo. Dentro dela.
O ar parecia mover-se, e cada minúsculo pelo em seus braços e pescoço estava arrepiado. Seu coração pulsava com força e seu estômago revirou novamente.
Não sabia onde procurar, o que dizer, sentindo-se repentinamente incômoda, quase tímida. O que era que a fazia se sentir assim? Incerta? Tão afetada? Tão confusamente vulnerável?
Ele pegou um banquinho e sentou ao lado dela.
— Está pronta para conversar?
Seu peito estava comprimido. Não queria falar disso absolutamente.
— O que se pode dizer? Você as ouviu — riu duramente. — Mas não foi uma surpresa para você. Deus sabe que depois do ocorrido na biblioteca, não lhe dei nenhuma razão para pensar de outra maneira — de repente, sua valentia desapareceu. Quando o olhou foi com seus sentimentos expostos. — Mas não quero que pense isso de mim.
Parecia quase zangado com ela.
— Não penso. É óbvio que não. Como você pôde pensar que eu poderia?
— Como não pensaria depois do que aconteceu na biblioteca? Deixei que o irmão de Brigid me beijasse algumas vezes, mas juro que nunca fiz algo assim antes.
Ele sustentou seu olhar, sua mandíbula pareceu apertar-se um pouco mais.
— O que ocorreu foi minha culpa — sua boca se curvou.
— Pensei que havíamos dito que ninguém tinha culpa.
Mas desta vez não pôde tirar um sorriso dele. Sua expressão era dolorosamente séria enquanto a olhava fixamente nas sombras crescentes.
— Não brinque, Maggie, não sobre isso.
Tinha que brincar. O que mais poderia fazer? Pela misericórdia de Deus, o que ele queria dela? Não tinham tirado suficiente sangue por hoje?
— Por que estamos aqui, Eoin?
Parecia sobressaltado por sua pergunta. Depois de um momento negou com a cabeça.
— Não sei.
— Eu duvido que sua família aprovará — fez uma parada. — Ou Lady Barbara.
— Provavelmente não.
Sentiu outra espetada. Essa mais profunda e mais persistente. Não soltaria até que seu peito começou a doer. Acaso uma pequena parte dela esperava que ele discordasse?
Ela afastou o olhar.
— Eu acho que você deveria ir.
— Essa seria a coisa mais inteligente.
O beliscão se retorcia agora com dor. Ficou olhando os úmidos sapatos de couro que apareciam sob a bainha de seu vestido azul acinzentado, e esperou ouvi-lo empurrar o tamborete.
Em vez disso, sentiu os ásperos calos de seus dedos em seu queixo enquanto inclinava seu rosto para o seu.
— Mas isso não é o que desejo.
— E o que deseja?
— Você.
Havia algo violento em seus olhos que ela não entendia. Tortura? Indecisão? Resolução?
O que quer que fosse, perdeu-se quando seus lábios tocaram os dela.
Capítulo 8
Eoin sabia que era uma má ideia. Se não teve nenhum controle quando estava a trinta metros de distância de um castelo cheio de gente, como demônios acreditava que ia se controlar quando estivessem sozinhos em uma casa isolada?
Mas como iria descobrir, saber e parar eram duas coisas muito diferentes. Esteve desejando pegá-la em seus braços desde que a encontrou nos estábulos, e no momento em que entrou nesta cabana e a tinha visto sentada ali, sabia que estava lutando uma batalha perdida para não a tocar. Precisava tocá-la. Precisava lhe mostrar quanto se preocupava com ela. E precisava lhe fazer saber que tudo ficaria bem.
Então pela segunda vez em alguns dias, não fez a coisa mais inteligente. Não pensou. Deixou-se sentir... E foi incrível.
A paixão que explodiu entre eles na biblioteca não se apagou. Tinha crescido mais, de fato. Suas línguas sabiam exatamente como encontrarem-se, seus corpos como se encaixarem, e suas mãos como tocarem.
Bom, talvez não exatamente como tocar, porque se fosse por ele, não agarraria os músculos duros de seus braços neste momento, agarraria outra parte dura dele. Só pensar em sua mão envolta em torno de seu pau o fez latejar, aprofundar o beijo, e dobrar suas costas na curva de seu corpo.
Adorava o sabor dela, a suave sensação de seus lábios e os apaixonados impulsos de sua língua circulando contra os dele.
Era boa beijando. Afastou esse pensamento antes que ele pudesse se firmar, não querendo pensar no que ela disse sobre o irmão de Brigid. Entretanto, uma onda de possessividade surgiu dentro dele, e seu beijo se fez um pouco mais feroz. Um pouco mais áspero. E muito mais carnal.
Estava tentando surpreendê-la? Não sabia, mas com cada chupada, cada dentada, cada impulso rítmico de sua língua — que imitava outro empurrão rítmico — saboreava os ofegos de surpresa que lhe diziam que isso era algo novo.
Ele violou, saqueou, reclamou sua boca, e então reivindicou muito mais. Sua boca deslizou sobre sua mandíbula, desceu por sua garganta, tirou o tecido de seus ombros, e baixou o corpete de seu vestido.
Ela permaneceu relaxada em seus braços, com a cabeça para trás, respirando agitada, como se lhe oferecesse a abundância de seus seios. E que festim eles eram. Cheios e generosos, mas firmes e perfeitamente arredondados, era tudo o que sonhou nas noites quando era um menino inexperiente.
A pressão em sua virilha era cada vez mais insuportável. Gemeu enquanto deslizava sua mão para cobrir seus seios, enquanto sua boca deslizava sobre a cremosa pele suave por cima de seu corpete.
Só o peso de toda essa carne suave em suas mãos enviou um inchaço de calor em sua virilha que foi quase suficiente para levá-lo ao limite. Quando ela arqueou as costas e começou a pressionar de encontro a palma de sua mão, ele perdeu o controle.
Margaret não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que não queria que ele parasse. Eoin tomou o controle de seu corpo, e ela não queria de volta. Não quando podia fazê-la se sentir tão bem. A sensação de suas mãos sobre seus seios era diferente a tudo o que imaginou. Tristan, tentou tocá-la ali uma vez, mas tinha lhe dado uma joelhada tão forte entre as pernas que ele não pôde caminhar direito durante uma semana, isso foi o que ele disse. Mas com Eoin...
Queria sua mão ali. E quanto mais baixo seus lábios desciam sobre seu seio, mais sua língua dançava sob a borda de seu vestido, mais queria sua boca ali também.
Uma febre se apoderava de seu corpo. Sua pele estava quente, seu fôlego desigual, seu batimento cardíaco irregular. Seus membros eram tão fracos que mal podia sustentar-se. Mas ela precisava. A força de seu corpo era como uma corda de salvamento, uma âncora para aferrar-se enquanto o redemoinho chicoteava ao redor deles.
Ainda assim não era suficiente. O turbilhão não estava ao redor deles, estava dentro dela, e ela precisava encontrar uma maneira de liberá-lo. Instintivamente, sabia o que queria, e a pressão de seu corpo movendo-se contra ele se fez mais insistente. Mais exigente.
E ele respondeu. O calor de sua boca através do tecido de seu vestido enquanto cobria seu seio a deixou fraca. A sensação de seu pau apertado entre suas pernas a fez úmida. Gritou de prazer enquanto suas mãos seguravam seus seios sensíveis, enquanto sua boca chupava, e seus quadris empurravam. Estava despedaçando. Derretendo. Entregou-se ao prazer correndo por suas veias.
Mas queria mais.
Ela disse isso em voz alta?
Ouviu-o xingar, a maldição aguda uma resposta gutural ao seu pedido. No momento seguinte, sentiu a parede rochosa da cabana contra suas costas. Levantou sua saia, envolveu uma de suas pernas ao redor de seus quadris e começou a procurar os laços em sua cintura.
Poderia tê-lo detido, mas não queria. Queria isso tanto quanto ele.
Entretanto, tanto quanto o queria dentro dela, ainda era um choque sentir a ponta de seu pênis encravada na fenda entre suas pernas, e ela ofegou.
Por um momento, a neblina se dissipou, e seus olhos se encontraram em silenciosa lucidez. Pelo firme agarre que tinha sobre seus ombros, podia sentir a tensão reverberando através de seu corpo.
Ele estava tremendo, cada músculo de seu corpo flexionado com restrição.
— Diga-me que você quer isso — disse bruscamente, seus olhos azuis tão escuros que quase pareciam negros. Se afastaria se ela desejasse. Estava lhe dando a oportunidade de mudar de opinião. Mas não ia fazê-lo.
— Quero isso — disse brandamente.
— Graças a Deus — grunhiu. — Me desculpe...
Não entendeu o pedido de desculpa até que sentiu o golpe da parede nas costas, enquanto ele empurrava dentro dela. Ela gritou enquanto uma aguda dor a atravessava.
— Sinto muito — murmurou. — Oh Deus, minha pequena. Sinto muito. Será melhor daqui a pouco.
Esperava que não fosse uma nota de incerteza o que ouviu em sua voz. Como não poderia ficar muito pior, não estava disposta a discutir. Seu corpo estava estirado e tão apertado quanto um arco. Não conseguia respirar, e muito menos falar. Mas vendo a preocupação em seus olhos, e a súplica gentil, fez o melhor que pôde e assentiu.
Ele a beijou então. Um beijo lento e terno como nunca antes lhe tinha dado. Era como se estivesse tentando acalmar o impacto — a dor — com sua boca e língua. Não, percebeu. Era mais que isso. Ele a estava cortejando. Mostrava-lhe com seu beijo o quanto se importava.
Podia sentir seu coração abrandar. Sentir o amor que agora sabia que sentia por esse homem florescer dentro dela. Era a única explicação do que estava acontecendo. Amava-lhe.
Amava esse sério e bonito guerreiro com toda sua intensidade silenciosa, que era tão instruído quanto um monge, mas beijava com a crua e agressiva paixão de um homem que sabia ser perverso. Adorava o senso de humor seco que parecia estar reservado só para ela. Adorava provoca-lo, adorava lhe fazer sorrir até que o vinco entre suas sobrancelhas desaparecesse, e adorou a inesperada gentileza e ternura em seus olhos quando a olhou.
Seu corpo respondeu a essa emoção. Relaxada. Soltou o aperto que tinha sobre sua dor.
Foi então que ela percebeu o que a dor a havia impedido de sentir: ele dentro dela. Grande, grosso e duro, enchendo-a com seu calor. Possuindo-a. Estavam conectados, unidos de uma maneira que nunca imaginou.
Não é que não soubesse os detalhes da fornicação, o que ela sabia. Ela sabia o suficiente de seus irmãos — e aquelas pessoas no Salão — para saber que podia ser agradável. Mas pensou que seria embaraçoso e estranho. O que não esperava era a incrível proximidade e o vínculo que se forjaria entre eles.
Ele levantou a cabeça de sua boca.
— Você está bem?
Ao ver a autorrecriminação e o silencioso pedido de desculpas em seus olhos, seu coração pulou. Recordaria esse momento pelo resto de sua vida e o apreciaria.
Ela levantou a mão para segurar seu queixo mal barbeado.
— Estou perfeita.
E estava. Margaret sabia que estava exatamente onde deveria estar. Unida a esse homem na maneira que Deus pretendia. Ela não se importava com o que os sacerdotes disseram, isso não podia ser um pecado. Era o paraíso.
Os dentes de Eoin estavam apertados pelo impulso de empurrar. O desejo era tão primitivo e poderoso quanto qualquer coisa que ele já experimentou. Ele fez isso antes. Talvez não tantas vezes quanto Fin, — concentrou-se em outras coisas além de perseguir mulheres — mas o suficiente para saber que isso era diferente.
E não era só porque Margaret era uma donzela inocente — mesmo que tivesse que continuar lembrando desse fato pela maneira apaixonada pela qual ela respondeu. Cristo, ele não esperava muita dor. O susto fez diminuir seu tesão. Embora, infelizmente só por um minuto. Ele veio rugindo de volta com força total quando percebeu a opressão de sua vagina apertando-se ao redor dele.
O que fazia isso diferente não eram só as sensações que se aferravam a seu corpo, a não ser as emoções que agarravam seu coração. Eoin não acreditava na merda dos bardos que falavam de destino e sua outra metade, mas ao olhar esses incríveis olhos dourados enquanto estava dentro dela, as palavras lhe vieram à mente. Sentiu que algo em seu peito se movia com a intensidade da emoção que se elevava dentro dele. Queria protegê-la, acariciá-la e, principalmente, amá-la com tudo o que possuía.
Infelizmente, os instintos básicos clamando dentro dele como tambor tinham outras ideias. A pressão que golpeava na base de sua espinha o advertiu que não tinha muito tempo.
Estava no limite de seu controle.
Assim que sentiu que ela relaxar, já não podia mais segurar. Tinha que se mover. Lentamente a princípio, e então a respiração dela acelerou, e gritos suaves encheram a cabana, então se moveu mais rápido.
Sua resposta tornou-o louco. As costas arqueadas... A perna ao redor de sua cintura ficou tensa, e ele se perdeu. Seus quadris empurraram, circularam e mergulharam. Mais profundo, mais duro, mais rápido, até que o prazer se desenrolou dentro dele.
— Oh Deus, Maggie, você é deliciosa. Vou...
Não conseguiu terminar. Ficou rígido, estremeceu e gritou quando a força de seu orgasmo explodiu dele em onda após onda de poderosas rajadas.
Quando terminou, tudo o que pôde fazer para relaxar, foi desmoronar contra ela e lentamente a deixou deslizar de seu corpo enquanto lutava por recuperar um pouco de sua força e respiração.
Estava completamente esgotado. Gasto. Espremido de toda sua energia. Quando tinha sete anos, pouco antes de partir para ser pajem, tinha estado nadando no mar ao redor do castelo de Gylen e ficou preso na correnteza. Quase se afogou, lutando durante mais de uma hora, antes de arrastar-se finalmente à margem e desmoronar em um monte da areia, morto de cansado. Essa era a mesma quantidade de energia que tinha agora.
Até que sua voz abafada penetrou na neblina eufórica.
— Eoin, uh, você está bem?
Ah, inferno. Inclinou-se para trás com uma maldição, dando-se conta de que provavelmente a esmagou. Também percebeu outras coisas, como o fato de que acabava de tomar sua virgindade com um pouco mais de delicadeza que um moço de dezoito anos.
Provavelmente estava confusa, preocupada, perguntando-se que diabos aconteceria agora. Em outras palavras, sentia o mesmo que ele. A desvinculação de jovens de sua virgindade não era precisamente algo com que ele tivesse muita experiência.
Não se incomodou em perguntar que diabos acabava de fazer, sabia exatamente o que acabava de fazer. Rapidamente. Contra uma parede, pelo amor de Deus.
— Deus, sinto muito — disse, passando os dedos pelo cabelo. — Não quis que acontecesse dessa maneira. Merecia algo melhor.
Ela parecia ferida.
— Você se arrepende do que...
Deteve-a.
— Não. Deus sabe que provavelmente deveria, mas não me arrependo.
Era muito tarde para se arrepender. Tarde demais para se recriminar. Muito tarde para dizer que cometeu um erro. Muito tarde para dizer a si mesmo que nunca deveria tê-la trazido aqui.
Mesmo que ele quisesse ficar com raiva de si mesmo por fazer algo tão incrivelmente estúpido, — para não falar desonroso — algo garantido para causar a ambos um monte de problemas, e algo que poderia comprometer seu lugar na guarda secreta de seu parente, ele sabia isso não mudaria nada. O que foi feito, feito estava. Se estava certo ou errado para ele, já não importava. Ela era dele. E caralho se isso não o fazia feliz.
Inclinando-se, ele segurou seu rosto em sua mão, acariciando suavemente a curva suave de sua bochecha com o polegar. Era tão linda que tirava o fôlego, e ainda mais agora quando carregava o selo de sua paixão em seus lábios inchados e sua pele raspada pelo restolho.
Eoin estava descobrindo que não deixou suas atrasadas raízes de vikings para trás como ele pensava.
— Tudo o que eu quis dizer — explicou — é que merece muito mais que uma parede na casa de um pescador em sua primeira vez, e se eu tivesse alguma aparência de honra e controle, eu teria dado a você, junto com muito mais prazer.
O alívio se estendeu sobre seus traços delicados em um sorriso brilhante.
— Mas você me deu prazer.
Ele percebeu, ficou surpreso com isso por ela ser uma virgem. De tudo o que ouviu, a primeira vez para uma moça sempre era horrível. Mas Margaret gostou. Só de pensar em como seu corpo respondeu, como pressionou seus seios contra seu peito e apertava forte suas pernas ao redor de seu quadril, aproximando-o mais, fez o que teria pensado impossível. Desafiando todas as leis da natureza, sentiu-se endurecer de novo.
Olhou-a nos olhos e continuou passando o polegar pelo seu lábio inferior.
— Há mais, pequena — disse roucamente. — Muito mais.
— Sério?
A faísca de antecipação em seus olhos foi diretamente para seu pau. Ainda estava de pé diante da parede, e ele estava lembrando muito bem como ela parecia pressionada contra isso. Quando seus olhos pesaram de paixão, sua respiração acelerou e suas bochechas coraram. Tinha toda a intenção de ver isso de novo, mas desta vez, ia fazer o certo.
— Sim, sério. Mas antes de mostrar exatamente o que quero dizer, você deve concordar com uma coisa.
Um pequeno cenho franzido se desenhou entre suas sobrancelhas.
— O quê?
— Ser minha esposa.
A expressão de choque em seu rosto teria sido engraçada se não tivesse sido à custa da honra que havia permanecido nele.
— O que... o quê?
Franziu o cenho. Certamente sabia tão bem quanto ele o que isso significava. Ela era dele, porra. Entregou-se a ele, e não tinha intenção de deixá-la ir.
— Eu quero que você se case comigo, Maggie. Aqui e agora.
A cabeça de Margaret estava girando.
Mal se recuperou do medo de que ela pudesse tê-lo matado — o olhar em seu rosto antes dele desabar contra ela tinha sido tão perto de um homem que vislumbrava o paraíso como ela já tinha visto — então ela estava se recuperando por pensar que ele se arrependeu do que havia acontecido. Agora estava propondo matrimônio? E a menos que estivesse enganada, o que estava propondo era igualmente surpreendente.
— Um matrimônio clandestino? — Perguntou.
Ele assentiu sombriamente.
— Não é o ideal. E se houvesse outra maneira, eu não sugeriria. Mas sabe tão bem quanto eu que nossas famílias não querem uma aliança entre nós. Pode ser que à igreja não goste de cerimônias informais feitas sem as admoestações, mas será válida e vinculativa.
Seus olhos se encontraram, e sabia exatamente o que ele queria dizer. Mesmo que suas famílias quisessem tentar desfazê-lo, não conseguiriam. Se eles concordassem em se casar agora, proferissem seus votos, e consumassem o casamento, aos olhos da igreja eles seriam tão casados como se tivessem colocado as admoestações para os próximos três domingos e depois tivessem trocado votos ante a porta da igreja com um sacerdote.
— Mas, uma vez que lhes expliquemos o que aconteceu...
— Você realmente quer arriscar? O que você acha que seu pai vai dizer?
Seu pai ficaria furioso. Não queria pensar no que ia dizer, mas era o que faria que a preocupava. Não saberia dizer o que seu pai faria quando seu orgulho estava envolvido. Ele queria que ela se casasse com o filho do Senhor de Badenoch — por mais improvável que fosse agora — não se conformaria com um parente de Bruce, e um terceiro filho. Seu pai a amava, mas faria o que fosse necessário para mantê-los separados, virgindade ou não.
Eoin tinha razão, se não se casassem agora, não teriam outra oportunidade.
Mas algo a impedia de dizer sim. Inclinou a cabeça, estudando esse guerreiro sério e bonito, que abriu caminho em seu coração.
— Por que quer se casar comigo, Eoin?
Ele ficou rígido.
— Acredito que isso é óbvio.
Era exatamente esse o problema. Margaret não era romântica. Não pensava que os sentimentos de seu marido por ela importassem quando se casasse. Era desconcertante perceber que importavam. A honra deveria ser suficiente, mas neste caso não era.
— Não há razão para alguém saber o que acaba de acontecer — disse baixinho.
Sua mandíbula se fechou com raiva, seus olhos se obscureceram como a meia-noite. Ele retificou cada palavra.
— Eu saberei — seus olhos a esquadrinharam como se recordasse cada momento. Uma emoção inconfundível se estendeu sobre sua pele. — Você se entregou a mim, Margaret, e se acredita que fingirei que não aconteceu nada, não me conhece muito bem.
Não o conhecia. Isso era parte do problema.
O perigoso brilho em seus olhos a fez estremecer. Se não estivesse apoiada contra uma parede, poderia ter dado um passo atrás. Mas não deixaria que a intimidasse.
— Não têm que empunhar sua espada pelo bem de minha reputação, Eoin. Receio que seja muito tarde para isso. Casar comigo não mudará o que pensam.
Seus olhos se estreitaram. Santa Cruz, podia parecer ameaçador!
— Isso não é o que estou fazendo.
— Não é? Sou forte o suficiente para aguentar a tempestade. Não deixarei que me derrotem tão facilmente. Eu não me importo com o que eles dizem. Eu sei a verdade — dedicou-lhe um sorriso irônico. — Acredite ou não, em casa, as pessoas realmente gostam de mim.
Sustentou seu olhar durante tanto tempo que pensou que não ia dizer nada. Mas como de costume, sua expressão não continha nenhum indício de seus pensamentos.
— Acredito. E é por isso que quero me casar com você.
Levou um momento para compreender o que queria dizer. Quando finalmente o fez, parecia que o sol acabava de sair de trás de uma nuvem.
— Você se importa comigo.
Atraiu-a para ele.
— Sim, eu me preocupo com você, moça.
A profunda e áspera rouquidão de sua voz provocou estremecimentos em sua pele. Colocou as mãos ao redor de seu pescoço como se pertencessem ali.
— Eu também me preocupo com você.
Como suas mãos já se moviam possessivamente sobre seu corpo, claramente ele adivinhou isso.
— Bom. Agora, se você terminou com as perguntas, têm cinco segundos para me dar uma resposta antes de levá-la para cama. Pode ser minha esposa na segunda ou na terceira vez que estiver dentro de você, mas, de qualquer forma, estarei dentro de você e será minha esposa.
Ela arregalou os olhos. Era um lado feroz e primitivo dele que nunca viu antes, e algo sobre isso fez com que seu pulso acelerasse e seu sangue esquentasse. Ou talvez fosse por que ele estava duro contra ela.
Arqueou uma sobrancelha.
— Será assim?
Ele pôs a mão sobre seu peito. Ela conteve o fôlego enquanto seu polegar rodeava o bico de seu seio lentamente. Quando ele fez isso, puxou-o entre seus dedos e o beliscou brandamente. Ofegou enquanto o prazer alagava seus sentidos e alagou outro lugar também. Tremia de prazer.
— E Maggie? — Sua boca estava junto a sua orelha, seu fôlego quente e sua sedosa língua a faziam estremecer.
Estava tão aturdida que levou um momento para perceber que ele estava falando com ela.
— O quê?
Levantou-a em seus braços.
— Seus cinco segundos terminaram.
Capítulo 9
Eoin não sabia o que lhe ocorreu, mas sabia que não ia sair daqui sem que Margaret MacDowell fosse sua esposa.
A moça fez algo com ele, além de transformá-lo em um menino louco pela luxúria. Trouxe a luz um lado feroz e possessivo de si mesmo que nunca exibiu antes. Não tinha certeza se gostava disso, e com certeza não era muito civilizado, mas não podia negar que a levava para cama com toda a intenção de arrebatá-la de novo.
Sustentou seu olhar enquanto cruzava os poucos degraus até a pequena cama. Tinha que soltá-la para recolher o plaid escocês que tirou de seus ombros e colocá-lo sobre o colchão de palha. A próxima vez haveria plumas e lençóis de seda, mas por enquanto isso teria que servir. Pelo menos era melhor que a parede.
Com qualquer outra mulher não teria pensado em perguntar o que faria a seguir. Mas Margaret era diferente. Era ousada e confiante, e não se chocava facilmente.
— Quero lhe ver, mo' leanbh11. Toda você.
Levou um momento para compreender o que queria dizer. Seus olhos se arregalaram um pouco antes de enfrentá-lo como um desafio.
— E se desejar o mesmo?
Sorriu. Esperava que dissesse isso. Percebeu que havia algumas coisas boas a respeito de uma esposa que não podia resistir a um desafio.
— Eu dificilmente poderia recusar.
— Você primeiro — disse ela, sua voz um pouco rouca.
Ele tirou a roupa na frente de mais de uma mulher, mas nunca esteve tão consciente do efeito de sua nudez em alguma delas. Ela observou cada um de seus movimentos com a atenção de um falcão, sem perder nenhum detalhe, enquanto ele rapidamente tirava suas roupas
Com cada centímetro de pele que revelava, sua respiração acelerava, até que finalmente ele tirou a túnica de linho para revelar seu peito, e então parou completamente. Se a maneira como seus olhos pareciam devorar seus braços e estômago era uma indicação, era uma dessas moças que gostava muito de músculos.
Como se os sons ofegantes de sua excitação não fossem suficientes, jurou que também podia senti-la cada vez mais quente. E isso, por sua vez, o deixou mais quente.
No momento em que tirou seu braie12, estava tão duro quanto uma rocha. E ficou cada vez mais duro a cada minuto enquanto seus olhos devoravam aquela parte dele, provocando um pequeno suspiro que separou seus lábios em um pequeno O perfeito, o que era malditamente sugestivo. Era muito fácil imaginar sua suave boca rosada se fechar ao redor dele, sugando, ordenhando, levando-o profundamente pela garganta.
"Se souber como abrir a garganta..."
Ah, Cristo. Ele gemeu, e seus olhos voaram para os dele.
— Você é grande em todos os lugares — disse quase acusadoramente. — Não é de admirar que doesse.
Eoin sorriu. Não podia evitar. Seu pau era grande e grosso, algo pelo qual não ia se desculpar. Certamente ela apreciaria mais tarde, embora duvidasse que acreditaria agora.
— Vai ser melhor desta vez, prometo — elevou uma sobrancelha em desafio silencioso. — Sua vez.
Olhou-o de novo, cheirou como se quisesse dizer “veremos”, e começou a tirar a roupa. Era sua vez de assistir como um falcão. Diabos, não desviaria o olhar mesmo que os ingleses estivessem chutando a porta.
Seus movimentos eram rápidos e irrefletidos, sem nenhum indício de sedução, mas isso era exatamente o que ela estava fazendo. Havia uma sensualidade natural que não podia ser negada. Isso permeava o ar ao seu redor.
Cada movimento parecia um sinal silencioso, uma atração para que a tocasse. Suas mãos coçavam para arrancar suas roupas, mas forçou seus punhos a permanecerem parados.
Ela desceu lentamente, se inclinou, estendeu a mão e puxou. Era tentadora. Inflamando seu desejo com a habilidade de Salomé e seus véus.
Quando finalmente Margaret levantou a regata sobre sua cabeça para revelar um corpo que teria feito com que Vênus chorasse de inveja, pensou que ia explodir. Inconscientemente, fechou a mão ao redor de seu pau e estava bombeando sem ter noção do que estava fazendo.
Quando seus olhos seguiram a direção de sua mão e se arregalaram com curiosidade descarada, xingou e soltou seu pau.
Definitivamente ia matá-lo.
Era irreal. Seu corpo era mais incrível do que imaginou... e tinha uma imaginação muito detalhada. Pernas longas e elegantes, quadris curvos, cintura estreita, seios exuberantes e redondos, com mamilos rosados que se balançavam sedutoramente enquanto sacudia seus longos cabelos sobre os ombros e mostrava centímetro após centímetro de pele branca cremosa e perfeita.
Ela ficou parada, orgulhosa, sem um pingo de vergonha, enquanto ele se embriagava dela. Por que não? Não tinha nada do que se envergonhar. Era perfeita.
E era dele. Sua pequena e selvagem feiticeira.
Segurando seu olhar, estendeu a mão para escovar as costas de seu dedo sobre um mamilo perolado tão primorosamente formado que não parecia real.
— Você é linda, leanbh13. Linda.
Ela sorriu.
— Você também — levantou a mão para rodear seu pescoço, colocando em contato pela primeira vez seus corpos nus.
Gemeu ante a sensação, deslizando seu braço ao redor de suas costas aveludadas para aproximá-la.
— Guerreiros não são lindos. Terá que pensar em outra palavra.
Conteve sua respiração quando ele começou a deslizar sua boca pelo lado de seu pescoço perto de sua orelha.
— Ou o quê?
Seus dentes se fecharam ao redor do pequeno lóbulo.
— Ou terei que lhe castigar — podia sentir o salto animado de seu coração contra o dele.
— Como?
Moça travessa.
— Assim, — mordiscou sua orelha e deslizou sua mão ao redor para pegar seu mamilo entre os dedos e começar a beliscar. Podia dizer o quanto gostava pelos gemidos suaves e a marca profunda de seu pênis em seu ventre.
Com cuidado, desceu-a sobre a estreita cama. Como não havia muito espaço, teve que se apoiar de lado e inclinar-se sobre ela. Mas como isso lhe dava acesso a esse bonito corpo, não se importava.
Margaret estava agradecida por sentir a palha do colchão a suas costas, já que isso significava que não precisava pensar para permanecer de pé. Podia concentrar-se completamente no que ele estava fazendo.
Tudo era tão novo e incrível. A forma como sua boca roçava seu pescoço, os dedos que roçavam os mamilos, e até mesmo a sensação de seu corpo grande e duro se esticando contra ela. Todos os pequenos detalhes a fascinavam. O calor de sua pele, quão bronzeado era pelo sol do verão, o pequeno V de cabelos dourados em seu peito e o atalho ainda mais atrativo que tinha desde seu estômago até seu pênis.
Ela queria tocá-lo. Especialmente depois de ver como ele se segurava com sua mão, enquanto a observava. Isso a deixou curiosa. E excitado. Apenas olhar para ele a deixou excitada. Estava errado antes. Era lindo. Alto e de ombros largos, seu corpo foi espremido por uma laje de músculo esbelto, tão claramente delineado que poderia ter sido esculpido em pedra. Não havia uma grama de gordura nele. Bom Senhor, seu abdômen estava tão definido que a lavadeira poderia até bater as roupas!
Quando se inclinou para beijá-la, não pôde resistir em deslizar a palma de sua mão sobre alguns desses gomos antes de se apoiar na grande rocha de músculo na parte superior de seu braço.
Adorava senti-lo inclinando-se sobre ela. A solidez. O peso. A conexão.
Ele beijou sua boca, sua garganta e, finalmente, seus seios. O quente e úmido calor de sua boca que se fechava sobre ela e a chupava a fez querer gritar. Arqueou-se contra ele descaradamente, suplicando por mais, enquanto ele chupava mais forte, e sua língua rodeava seu mamilo e o puxava suavemente entre os dentes.
Uma estranha sensação se apoderou dela. Construiu-se. Intensificando-se. Sua pele estava quente, seus membros fracos, o lugar entre suas pernas suave e dolorido.
Não sabia o que queria até que ele a tocou. Até que seus dedos encontraram esse lugar quente e começaram a acariciá-lo. Suavemente a princípio, com pequenos círculos suaves que faziam seu corpo chorar de prazer. Mas logo não foi suficiente. Começou a tremer. Seus quadris começaram a levantar-se contra sua mão, pressionando... Implorando por mais.
Ele grunhiu, possivelmente murmurou uma espécie de maldição contra seu seio e chupou mais forte. Chupou até que uma agulha de prazer conectou sua boca com seu seio e a mão entre suas pernas. Finalmente, seu dedo deslizou dentro dela e lhe deu o que não sabia que queria. Acariciando-a. Mergulhando cada vez mais rápido. Cada vez mais forte. A palma de sua mão se apertou contra ela, lhe dando a pressão que desejou inconscientemente. Era maravilhoso...
Estava retorcendo-se, gemendo, perdida em sensações que não entendia. Seu corpo parecia estar lutando, lutando contra algo.
Vagamente percebeu o frio do ar contra seu seio úmido quando ele levantou a cabeça para olhá-la nos olhos. Nunca esqueceria sua aparência, seu rosto uma máscara apertada de contenção, seu olhar tão feroz e intenso como nunca tinha visto.
— Está tudo bem, querida. Apenas solte-se. Eu vou pegar você.
Se foi simplesmente o som de sua voz, o olhar em seus olhos, ou por que seu corpo simplesmente não podia mais lutar, suas palavras romperam os últimos fios de resistência. Entregou-se às sensações e sentiu seu corpo levantar voo.
O voo dos anjos. Pois de que outra forma poderia descrever a catapulta para o céu, o rompimento das estrelas e, em seguida, a suave flutuação nas nuvens enquanto os espasmos do prazer lentamente se dissipavam.
E quando finalmente caiu de novo à terra, ele estava ali para apanhá-la exatamente como prometeu.
Observar o prazer de sua liberação sobre suas feições era a coisa mais linda que Eoin já vira, e também a mais erótica. Precisava estar dentro dela.
Beijando carinhosamente em sua boca, moveu-se sobre ela. Com as mãos plantadas a cada lado de seus ombros, ele a olhou nos olhos até que a neblina se desvaneceu.
— Preciso do seu voto, Margaret.
Sua boca se curvou em um lento sorriso que se envolveu ao redor de seu peito e o apertou.
— Eu, Margaret, te aceito, Eoin, para que seja meu marido, e te prometo ser fiel até que a morte nos separe.
Ele repetiu o voto e, com um único impulso, consumou os votos que acabaram de pronunciar.
E então se deteve. Saboreando as sensações. Saboreando o momento de plenitude e retidão.
Estava feito. Estavam casados. Abençoados por Deus como marido e mulher.
A urgência do momento não se perdeu para nenhum dos dois. Parecia estar no ar... e no peito dele.
Olhou-a nos olhos, procurando seu rosto por um longo momento. Podia ver a emoção em seus olhos e se perguntou se refletiam as suas.
— Não há volta — disse ela.
— Não há volta — ele concordou. Maggie sorriu.
— Você tinha razão.
— Tinha?
Assentiu.
— Não dói tanto na segunda vez — mordeu o lábio. — Você é maravilhoso.
— Você também, querida — grunhiu. — Deus, você também.
Começou a mostrar a ela o quão maravilhoso era, com movimentos largos e lentos que davam voz às emoções dentro dele. Amava-a, e o disse com cada beijo, cada toque, cada impulso. E quando a levou ao êxtase e a seguiu, disse também com palavras.
— Tha gaol agam ort. – Eu amo você.
Demorou muito até que algum deles falasse. Eoin estava ali com sua esposa aconchegada contra ele. Sua bochecha macia pressionada contra seu peito, seus cabelos derramados sobre sua pele como um véu de seda, seu braço sustentando-a estreitamente, sentindo-se mais contente do que já se sentiu em toda sua vida, vendo a cabana escurecer e desejando que nunca tivessem que partir.
Mas precisavam voltar. O sol que filtrava através do buraco no teto estava quase desaparecendo. Por muito que quisesse ficar aqui e atrasar o que ia ser uma desagradável volta ao castelo, saíram por duas horas e alguém já teria notado seu desaparecimento. As pessoas comentariam sobre isso, que era a última coisa que ela precisava. E logo alguém — sua família provavelmente — viria procurá-los.
Para sua família, encontrá-los aqui, tornaria uma situação ruim muito mais difícil. Eoin não enganou a si mesmo. Apesar de seu matrimônio, teria sorte de sair disso sem uma adaga nas costas. Se não fosse Dugald MacDowell, então um de seus oito irmãos. Embora o mais jovem deles provavelmente ainda fosse só um menino, eram um grupo sanguinário.
Não queria pensar na reação de sua própria família.
Margaret apoiou o queixo em seu peito para olhá-lo.
— Você quis dizer isso?
Ele não fingiu não entender, afastou alguns fios de cabelo vermelho que se enroscaram em seus cílios grossos para um lado, mas era só uma desculpa para passar seus dedos sobre a curva de sua bochecha. Perguntou-se se alguma vez se acostumaria a suavidade de sua pele.
— Sim — disse. — Eu quis dizer isso.
A felicidade que brilhava em seus olhos e o sorriso que iluminava seu rosto aqueceram o frio que se infiltrou na cabana escura com seus pensamentos pelo que estava por vir.
— Eu também te amo.
Embora tivesse adivinhado, escutar as palavras lhe encheu de prazer e não uma pequena quantidade de satisfação.
— Estou feliz por isso, leanbh – e era verdade. Seus sentimentos ajudariam que a tempestade de merda que acabavam de desatar valesse a pena.
Ou, pelo menos, isso ele esperava.
Mas vendo seus membros nus entrelaçados, seu cabelo caindo ao redor de seus ombros em uma desordem selvagem, e as feições ousadas e belas viradas para ele, não pôde evitar sentir uma pontada de dúvida.
As palavras de Fin voltaram para ele. Atenção... Exigente... Selvagem.
Não. Seu amigo estava errado. Margaret podia falar e atuar escandalosamente às vezes, mas isso era simplesmente porque não sabia nada mais. Apesar da incomum liberdade em que se criou, havia algo estranhamente protegido nela, quase inocente.
Ignorava os costumes sociais, isso não era errado. Bem, talvez um pouco perverso, mas como ele suspeitava que isso o tornaria bem satisfeito no quarto, não se importava.
Com o resto, sua mãe ajudaria. Uma vez que Margaret passasse algum tempo em sua casa com sua mãe e suas irmãs, aprenderia o que era apropriado e o que se esperava dela como sua esposa.
Se algo sobre isso não se encaixasse, ele empurrou de lado. Tudo daria certo.
Ela baixou o rosto para seu peito e estava riscando pequenos círculos através do cabelo de seu peito com a ponta do dedo.
— Eu gostaria que pudéssemos ficar aqui assim para sempre — ela disse. Pensou que ela poderia ter percebido algumas de suas preocupações até que ela riu. — Pensei muitas vezes... e imaginei como seria meu casamento, mas nunca assim.
— Você queria um grande casamento? — É óbvio que sim. Não querem isso todas as moças? Maldição. — Sinto muito.
Sacudiu sua cabeça.
— Não foi isso que eu quis dizer. Nunca pensei que meu matrimônio seria tão romântico... ou que poderia ser tão feliz sendo tão perversa — sorriu maliciosamente. — Embora poderíamos contar uma história diferente para nossos filhos — seu coração ficou preso. Crianças? — Não acredito que contar como “papai fodeu a mamãe contra uma parede então ele teve que se casar com ela” seja exatamente o tipo de lição de cortejo que queremos transmitir.
Não podia evitar. Ele riu. Ela era escandalosa e caralho, se não gostava.
— Embora eu suspeite que eu teria dificuldade em convencer alguém sobre isso — adicionou.
Suas sobrancelhas se juntaram.
— O que quer dizer?
Revirou os olhos.
— Quase nunca dá um sorriso, Eoin. Eu duvido que alguém pense que você foi levado pela paixão.
— Olhando para você agora eles poderiam — disse com ironia.
Ela sorriu sem arrependimento.
— Eu pareço tão maravilhosa e completamente pervertida como me sinto?
— Eu acho que deveria ser aquele que parece orgulhoso sobre isso, mas sim, você faz.
— Oh, eu gostaria de ter um espelho.
Desejava poder pintar um quadro. Ele levaria consigo para sempre, e não se cansaria de olhá-lo. Cristo, estava convertendo-o em um trovador apaixonado. Logo estaria compondo sonetos e cantando canções sobre sua beleza.
Deslizando-a por seu corpo, baixou a cabeça e a beijou nos lábios mais uma vez, e depois na testa.
— Temos que ir embora.
Seu olhar se cravou no dele.
— Temos? — Ele assentiu. A súbita apreensão em seus olhos fez com que ele pensasse que ela não era tão alheia ao conhecimento do que lhes esperava. — Você acha que será muito horrível? — Perguntou.
Mentiu-lhe pela primeira vez.
— Assim que o choque inicial passar, tenho certeza de que tudo ficará bem.
Capítulo 10
Eoin estava errado. Não havia nada bom nisso. Inclusive mais de uma semana depois, Margaret seguia sentindo as consequências de sua volta ao castelo.
A felicidade sonhadora da cabana tinha sido decididamente deixada para trás no momento em que passaram pela escotilha e confrontou seus irmãos, que se preparavam para ir em sua busca.
Margaret não sabia o que tinha sido pior, ver seus irmãos chegar a golpes físicos com o homem que amava, ou mais tarde, vendo a fúria fria de seu pai e a dela, enquanto ela e Eoin — com o sangue correndo por seu nariz pela briga com seus irmãos — apresentaram-se ante eles na câmara do rei e anunciarem o que tinham feito.
A guerra entre os dois clãs poderia ter sido ali mesmo, a mãe de Eoin não interveio. Enquanto os homens gritavam, emitiam ameaças e ultimatos e trocavam nomes de parentes, com a esperança de encontrar uma conexão que constituísse um impedimento para poder anular o matrimônio, Rignach MacLean lhes havia dito com calma que já era muito tarde para isso.
Margaret já poderia estar carregando um filho, e seu primeiro neto não seria qualificado de bastardo. Teriam que fazer o melhor de uma situação "desafortunada".
Apesar de sua intervenção, entretanto, Margaret não enganou a si mesma de que a mãe de Eoin seria sua amiga. Lady Rignach não pôde ocultar seu desdém enquanto seu olhar a atravessava rapidamente, como se pudesse desintegrá-la. Olhou para Margaret como se estivesse abaixo dela, como se tivesse seduzido seu filho e o tivesse obrigado a única coisa honrada.
Margaret desejava poder dizer que uma vez que o choque inicial e a ira tinham passado, tudo ficou melhor. Mas não foi assim. A decepção de sua família foi má, ou inclusive pior. Não importava quão extravagante fosse a ideia de um compromisso com John Comyn, sentia-se como se tivesse abandonado seu pai. Tentou o fazer entender, mas ele não escutou suas explicações. De fato, apenas lhe disse três palavras nos dias prévios a sua partida.
Mesmo Duncan a olhava como se ela fosse uma traidora, casando-se com "o inimigo". Mas Eoin não ia lutar contra eles agora... Iria? Era a única coisa que não tinha considerado plenamente nesses momentos de sonho na cabana, e a ideia de estar no lado oposto de sua família na próxima guerra era terrível demais para contemplar. Comprometeu-se com eles de fazer todo o possível para convencê-lo a lutar com seu clã e Comyn se o problema surgisse. A perspectiva de ter os talentos consideráveis de seu marido ao seu lado tinha sido a única coisa para tranquilizar um pouco mais a sua família.
A mãe de Eoin sugeriu que era melhor que Margaret e Eoin se retirassem da corte e retornassem ao castelo de Gylen na Ilha de Kerrera assim que fosse possível para sossegar as intrigas. Margaret suspeitava que tinha mais a ver com sua mãe não podendo suportar a vergonha de Eoin casar-se com uma criatura "atrasada", "pagã" do canto esquecido da Escócia.
Embora Margaret concordasse que seria melhor para ela e Eoin partirem, não foi fácil dizer adeus.
Só Brigid demonstrou felicidade por ela. Mas algo acontecia com sua amiga, e não importava quantas vezes Margaret perguntasse, não confiava nela. Tinha uma pista, quando Brigid disse que a admirava por "seguir seu coração" e "não deixar que ninguém se interpusesse no caminho quando amasse a alguém".
Brigid se apaixonou sem que Margaret percebesse? Queria estar ali com sua amiga, mas em vez disso estava se despedindo, sabendo que passaria algum tempo antes que voltassem a se ver.
Se voltassem a se ver.
A tristeza de perder sua família e melhor amiga de uma só vez, de ser enviada para longe de tudo o que conheceu, poderia ter sido mais fácil de suportar se Margaret pudesse compartilhá-la com Eoin.
Mas desde o dia na cabana passaram pouco tempo junto. Esteve trancado a maior parte dos dias com seu pai... e o Conde de Carrick, não podia deixar de notar. Tampouco compartilharam uma cama de noite. Não se podia arrumar uma câmara privada em Stirling, e todos, além dela, aparentemente, pensaram que era melhor não acrescentar isso ao "escândalo".
Margaret não deu a mínima para o escândalo. Só queria saber se Eoin estava bem, e se não se arrependia de se casar com ela depois de tudo.
Entretanto, qualquer esperança de que tivessem tempo a sós na viagem para o Oeste desapareceu quando se inteirou de que sua mãe, irmã e irmão adotivo os acompanhariam, junto com a metade dos homens de seu pai para protegê-los.
Ao final do terceiro dia de viagem, quando estava claro que mais uma vez se veria obrigada a compartilhar uma tenda com sua mãe e sua irmã, e não com seu marido, que estava deitado junto ao fogo com alguns dos outros homens — não sabia se devia chorar ou estrangulá-lo. — Era o mais indiferente dos noivos ou o mais obtuso. Fosse o que fosse, não ia deixar que continuasse. Nunca havia se sentido tão perdida em sua vida e precisava saber que não tinha sido um terrível engano.
Deixando sua mãe e a sua irmã para perguntar aos servos onde estava seus baús na tenda de lona, — que era maior que a habitação que ela e Brigid tinham compartilhado com algumas das outras mulheres em Stirling — Margaret se desculpou para ir em busca de seu marido.
Envolvendo sua capa ao redor dela para evitar o frio do outono no ar, abriu caminho através dos membros do clã que se apressavam em montar acampamento à luz do entardecer.
Até agora eles suportaram longos dias na sela, levantando-se ao amanhecer para estar a caminho logo que o sol nascia e se detinham pouco antes do anoitecer. O ritmo, entretanto, era agonizantemente lento, inclusive mais lento que a viagem de Garthland a Stirling. Dubh estava ficando tão louco quanto ela, mastigando parte dos arreios.
Como as carruagens eram raras e impraticáveis em todas as antigas ruas romanas, todas as mulheres estavam a cavalo, mas a mãe e a irmã de Eoin estavam viajando com muito mais carroças que ela e Brigid. Os dois baús de Margaret pareciam insignificantes para seus quatro ou cinco.
Além dos baús de roupa de cama e roupas, havia caixas para suas joias, outra para seus véus e adornos, e outra para seus sapatos. Mas não era só roupa. Margaret ficou surpresa pela quantidade de pratos e móveis que os acompanhavam. Sem dúvida pelo tempo que retornou à tenda, estavam tão confortáveis quanto em um quarto em Stirling, repleto de camas, lençóis finos, cadeiras, mesas — uma utilizada unicamente para a escrita de Lady Rignach — Margaret perguntou erroneamente se viajava com um servo, o que supôs ser uma grande diversão para a irmã de Eoin, que lhe informou que só as pessoas da vila e os camponeses de Kerrera não sabiam ler nem escrever, — uma enorme tina de bronze e dois braseiros.
No caminho para Stirling, Margaret e Brigid dormiram em sacos de dormir e estiveram contentes de comer com os homens ao redor da fogueira. Mas inclusive uma noite no bosque não era uma desculpa para desviar-se dos acertos de vida "civilizada", segundo Lady Rignach. Margaret tinha certeza de que a palavra foi uma indireta para ela.
Mas lady Rignach não precisava lhe recordar. Margaret era dolorosamente consciente de suas insuficiências cada vez que pegavam um livro para ler ou um pedaço de pergaminho para escrever.
Ela só desejava que ser civilizada não demorasse tanto. Nesse ritmo, eles não chegaram a Oban, onde iriam ser transportados de balsa até Kerrera, por mais uma semana. Nas Ilhas Ocidentais, viajar de navio era geralmente muito mais rápido e muito mais eficiente, mas Lady Rignach não gostava do mar.
Encontrou Eoin no lado oposto do acampamento, perto dos cavalos com um punhado de seus homens, incluindo Finlaeie MacFinnon. Eoin estava de costas para ela, e os homens pareciam estarem discutindo sobre algo.
Finlaeie olhou para cima e a viu primeiro. Ela ficou rígida reflexivamente, mas se obrigou a sorrir. Pelo bem de Eoin estava fazendo um esforço para esquecer o que aconteceu em Stirling e ser amiga de seu irmão adotivo. Mas não era fácil quando Finlaeie a olhava como se ela pertencesse às classes mais baixas de Londres.
Nunca esqueceria o que ele disse antes da corrida, mas disse a si mesma que podia tentar perdoá-lo. É óbvio, tinha que querer ser perdoado primeiro, e até o momento não deu nenhuma indicação de que ele sentia arrependimento por qualquer coisa.
Entretanto, parecia haver alguma frieza entre os irmãos adotivos, e pelo hematoma desagradável na mandíbula de Finlaeie, suspeitava que ela tinha algo a ver com isso. Pela intensidade da conversa, pôde perceber que não era um bom momento e teria se afastado, mas Finlaeie deu uma cotovelada em Eoin, disse algo em voz baixa e assentiu com a cabeça em direção a ela.
Eoin se voltou, viu-a e deu-lhe um agradável "minha lady", mas estava muito preocupado para ocultar por completo que sua interrupção — não era bem-vinda.
Era um olhar que uma boa esposa teria lido, inventado alguma desculpa, e corrido para longe. Infelizmente para ele, não era uma boa esposa, na verdade, agora não se sentia como uma esposa, e o seu olhar só alimentava sua frustração, dor e aborrecimento.
Deixou a única família que conhecia há mais de três dias, e o "bem-vinda" dele a recebendo com tanto entusiasmo quanto a um leproso, será que não podia lhe dar alguns minutos?
— Há algo que você precisa, Margaret? — Perguntou Eoin.
— Eu gostaria de falar com você. Sozinho.
— Pode esperar? Estávamos a ponto de sair...
— É importante — disse firmemente, negando-se a retroceder.
Tinha que averiguar por que a estava evitando, e aquele olhar que ela havia pego a deixou sem dúvida de que estava fazendo exatamente isso.
Eoin disse a seus homens que voltaria em poucos minutos e se dirigiu a sua esposa, ignorando o olhar depreciativo de Fin que dizia "Eu te avisei".
Só porque ela o interrompeu, não significa que exigia e precisava de atenção, porra.
Fin teve sorte de que Eoin estivesse conversando com ele, depois do que havia dito sobre seu matrimônio.
“Por que diabos você se casou com ela? A moça provavelmente nem era virgem. Espero que tenha verificado nela as marcas de cortes recentes quando viu o sangue.”
Eoin o golpeou com mais força que já golpeou outra pessoa em sua vida. Tinha o atirado ao chão acertando punho em sua mandíbula e teve as mãos ao redor de sua garganta um minuto depois. "Se voltar a dizer algo assim", jurou, "eu vou te matar".
Ele quis dizer isso também. Margaret era sua esposa, e Eoin não permitiria que nenhum homem falasse mal dela, nem sequer o homem que era como um irmão para ele.
Só desejava que Fin não houvesse dito isso. Eoin nem sequer pensou no sangue, ou na ausência dele.
Maldito Fin, que ele fosse para o inferno. Só porque não havia sangue, não significava nada. Tinha sido óbvio que era virgem.
Por que estava pensando nisto?
Segurando-a pelo braço, conduziu-a através das árvores até a beira do rio, onde alguns dos moços estavam pegando baldes de água fresca para o acampamento.
Apontou uma rocha baixa para que se sentasse, mas ela negou com a cabeça e se voltou para ele.
— Há algo errado? — Ela perguntou.
— Não é nada para você se preocupar. Um dos exploradores descobriu que uma ponte foi destruída na nossa frente. Estamos saindo para ver qual será a melhor rota para as carroças.
— Isso não é o que quis dizer — ele achava que não, mas tinha esperança que fosse. — Você está irritado comigo por alguma razão?
— É óbvio que não.
— Então, por que está me evitando?
— Não estou evitando você — mas mesmo enquanto dizia, sabia que era uma mentira. Esteve evitando-a. Inconscientemente, talvez, mas isso não era uma desculpa. A promessa que fez a Bruce não era certa, e se arrependia. Mesmo que tenha sido a única maneira de salvar a oportunidade que seu parente estava dando.
A reação de sua família tinha sido pior do que previu. As negociações para um acordo de esponsais com os Keiths tinham ido muito além do que Eoin percebeu e suas ações desafiaram a honra e o orgulho do clã. Seu pai tinha sido humilhado e obrigado a se desculpar e reparar. Mas Eoin arruinou qualquer oportunidade que tinha de trabalhar com o grande Marechal da Escócia e provavelmente seria melhor evitar cruzar o caminho de Robert Keith no futuro.
Eoin suspeitou que a decepção de seu pai era pior porque as ações de Eoin foram inesperadas. A diferença de seus dois irmãos mais velhos, Eoin nunca fez nada imprudente ou inesperado. Era calculista. Reflexivo. Inteligente.
Mas não desta vez. Seu pai não podia acreditar que ele tivesse atirado um futuro brilhante por uma aventura com uma moça. "Ela o reterá," havia dito, suas palavras era um estranho eco das de Fin.
As palavras pareciam muito proféticas quando seu pai lhe disse que Bruce se negava a considerar Eoin para a guarda secreta. O Conde não arriscaria ter um homem tão estreitamente ligado ao inimigo, especialmente a Dugald MacDowell. Perder a oportunidade com o Keith era ruim o suficiente, mas a ideia de se perder um lugar na guarda secreta de Bruce era impensável.
Levou dias de discussões, — implorando — mas finalmente Bruce cedeu. Entretanto, só depois de ter exigido uma promessa de Eoin de não dizer a Margaret nada do que estivesse fazendo, aonde ia ou de que fazia parte da guarda secreta. Ela seria mantida completamente no escuro sobre essa parte de sua vida.
Teria que mentir para ela.
E talvez por isso a estava evitando. Era quase como se soubesse que quanto mais tempo passava com ela, e quanto mais se aproximavam, mais traição seria quando ela soubesse a verdade. Apesar de que manteria seu voto a Bruce, Eoin não tinha nenhuma dúvida de que se isso progredisse como eles esperavam, um dia ela descobriria.
Entretanto, sua jovem e bela esposa não parecia feliz com ele neste momento. Olhou-o com os olhos entrecerrados.
— Estamos casados ou não?
A pergunta o surpreendeu.
— Do que está falando? É óbvio que estamos casados.
— Eu não tinha certeza, já que pareço estar compartilhando a cama com todos, menos você!
Sua voz aumentou em sua ira, e a afastou de alguns de seus homens, que por suas expressões de choque ouviram o que ela disse.
Ainda assim, sua boca se curvou.
— Eu não acho que você quis dizer isso assim.
Pensou por um momento, e então corou.
— É óbvio que não quis dizer isso. Simplesmente queria dizer que... Só esperava... — seus olhos apanharam os dele, e sentiu que seu peito se apertava. — Eu sinto sua falta — disse suavemente.
Eoin xingou e a puxou para seus braços. Era um idiota. Esteve tão preso em sua própria culpa pela promessa que fez a Bruce que não considerou o que sua evasão lhe estava fazendo. Sentia-se abandonada, compreensivelmente.
E só pioraria. Mas ele afastou esse pensamento preocupante por enquanto.
Deus sabia que a última semana e meia provavelmente tinha sido tão horrível para ela como foi para ele. Nada disso era culpa dela, mas estava agindo como se a culpasse. E não era verdade.
Ele só se preocupava demais com ela e temia que o pedágio que pagaria quando se juntasse ao exército secreto de seu primo fosse enfraquecê-los.
Mas o que Bruce lhe ofereceu era o sonho de toda uma vida e um desafio que não podia resistir. Isso lhe daria a oportunidade de testar a si mesmo e operar no nível mais alto e de elite. Não podia se afastar disso. Esteve trabalhando por isso durante quase toda sua vida. E estava lutando por algo que acreditava profundamente. Seu primo era o rei legítimo e a melhor oportunidade da Escócia de acabar com a soberania de Edward. Não podia afastar-se disso. Nem mesmo pela esposa que amava.
Não seria fácil, mas estava decidido a ter Margaret e um lugar na Guarda.
— Sinto muito, leanbh. Eu estive... preocupado.
Fazia dez dias desde aquele dia na cabana, e seu corpo reagia a sua proximidade. Era suave e doce e cheirava como se acabasse de sair de um banho de flores silvestres. Provavelmente, ele era o responsável pelo vapor. O calor de seu corpo aumentou cerca de cem graus apenas a segurando, mas como demônios seu cabelo ainda cheirava a flores depois de um longo dia na sela, ele não tinha nem ideia.
Deixou descansar sua bochecha contra seu peito empoeirado e vestido de couro por um momento antes de se afastar para olhá-lo.
— Então você não mudou de idéia?
— A respeito do quê?
— Ter uma esposa.
— Por todos os infernos! É óbvio que não.
Maggie examinou seu rosto, como se estivesse procurando alguma hesitação.
— Então, por que não compartilhamos a cama?
Que Deus tivesse misericórdia, as coisas que saíam de sua boca!
— Cristo, Maggie, como se houvesse muita privacidade — ele a soltou, pensando que o calor devia estar aumentando muito nele. Seu rosto estava muito quente. Não podia estar ruborizado, droga. Tirando o elmo, passou os dedos pelo cabelo e tentou não gaguejar. — Eu não vou chutar minha mãe e minha irmã para fora de sua tenda.
Estudou-o até que se sentiu como um inseto sob uma rocha.
— Não estou sugerindo isso. Mas não há razão para que não possa dormir na tenda conosco.
Seu rosto já não estava quente. Na verdade, sentia-se como se cada gota de sangue tivesse escorrido dele enquanto a observava com um horror mudo.
Ela manteve um rosto sério durante o tempo que pôde e depois pôs-se a rir.
— Eu estava apenas brincando. Bem, gostaria que pudesse ter visto seu rosto.
Sacudiu a cabeça e riu mais algumas vezes, enquanto ele franzia o cenho. Sem nenhum efeito, ele percebeu. Maldição.
— Eu sei que não há muita privacidade na estrada, — explicou — mas a serva de sua mãe dorme perto do fogo com seu marido, e também alguns dos criados casados. Não temos que fazer... — não precisou terminar, o rosa em suas bochechas disse exatamente o que estava pensando. Mordeu o lábio várias vezes e voltou a olhá-lo. — Seria suficiente poder dormir ao seu lado.
A suave súplica lhe chegou ao coração.
— Só pensava em sua comodidade.
Ela sorriu.
— Bem, a tenda é certamente para isso. Não posso imaginar que haja muito mobiliário em seu castelo com tudo o que há nessas carroças. Mas não preciso de tudo isso. Estarei perfeitamente confortável ao seu lado.
Pelo menos um deles estaria. Ele não conseguia pensar em nada mais insuportavelmente desconfortável do que dormir ao lado dela noite após noite e não poder tocá-la... ou tocá-la da maneira que quisesse.
Mas tinha razão sobre sua mãe.
— Queria que minha mãe e irmã pensassem como você, tornaria essa viagem muito mais rápida.
— É um pouco lento, não é? — Disse com um eufemismo exagerado. — Mas talvez possamos aproveitar o tempo para nos conhecer melhor? — Ante a objeção que esteve a ponto de fazer, acrescentou. — Sei que você está ocupado, mas pensei que quando terminasse o dia, ou tivesse um pouco de tempo, poderia fazer o que prometeu.
Sua testa enrugou. Tinha feito uma promessa que esqueceu?
Ao ver sua expressão, sorriu.
— Possivelmente isso refresque sua memória. — Ela tirou algo da bolsa amarrada ao cinto e colocou em sua mão. — Infelizmente, não podia trazer o conjunto completo. Mas a maneira como ele estava franzindo a testa me recordou você.
Ele estava muito surpreso para opor-se ao comentário da testa franzida. Olhou ao cavaleiro de marfim finamente esculpido com incredulidade.
— Você roubou uma das peças de xadrez do conjunto de Stirling? Cristo, provavelmente pertencera ao rei Guilherme, o Leão!
Sorriu-lhe sem se arrepender.
— Roubar é uma palavra áspera para uma peça de um de jogo de criança, não? Simplesmente queria uma lembrança da primeira vez que nos conhecemos. Havia outra desta cor, assim supus que que seria bom tê-la.
Não tinha coração para corrigi-la. Ela descobriria em breve. Mas Eoin teve que sorrir pensando na maneira em que seu parente xingaria na próxima vez que se sentasse para jogar.
Eoin ainda estava sorrindo quando se juntou aos seus homens e cavalgou em busca de um caminho alternativo através das colinas arborizadas de Callander. Ele também estava surpreendentemente calmo, dado o desconforto que estava destinado a sentir, esperando pela noite que vinha.
Pela primeira vez desde o anúncio do casamento, ele sentiu um pouco da esperança pelo futuro que tinha tido na cabana. Tudo ficaria bem. O que ele e Margaret tinham valia a pena todos os desafios que enfrentariam.
Se apenas esse primeiro desafio não acontecesse tão cedo.
— Xeque...
Com incredulidade, Margaret olhou fixamente o tabuleiro improvisado e terminou por ele.
— Mate — e acrescentou um juramento muito grosseiro.
Tentada a virar a mesa inteira, ela conseguiu exercitar alguma moderação e olhou o bonito cavalo ao invés disso.
Eoin só sorriu.
— Oh, vamos, Maggie, é só um "jogo de crianças", você não está irritada?
Seus olhos se estreitaram.
— Se ele não fosse tão irritantemente grande, ela o derrubaria no lugar da mesa.
— É o jogo do diabo, isso é o que é! — Negou com a cabeça, olhando-o acusadoramente. — Deixou-me pensar que o encurralei dessa vez.
Era sábio não dizer nada e se limitou a encolher os ombros, demonstrando que, embora não tivessem sido capazes de fazer amor, seis noites dormindo ao lado dele junto à fogueira não foram completamente inúteis para convertê-lo em um bom marido.
Mas o faria pagar por esse encolhimento de ombros. Esta noite.
Não levou muito tempo para perceber de que sua proximidade à noite causava um pouco de angústia ao marido. Queria-a. E se o tamanho da ereção pressionada contra seu traseiro era qualquer indicação, a queria muito. Não resistiu em provocá-lo. Senhor, recordando como se ruborizava de vergonha ante a palavra "privacidade", ainda a fazia rir. A como a maldição abafada na primeira vez que se pressionou contra essa dureza.
Mas Eoin estava à altura de sua brilhante reputação tática. Se a última semana de lições de xadrez não tivesse lhe demonstrado que tinha uma mente desonesta, a tortura que exigiu de seu corpo certamente o tinha.
Quando moveu seus quadris contra ele provocativamente na noite seguinte, ele moveu a mão que tinha colocado brandamente ao redor de sua cintura até seu seio, onde seu dedo rodeou o mamilo levemente – frustrantemente — leve. No momento em que ela fez um som, ele parou.
— Privacidade — sussurrou.
Os dois levaram muito tempo para dormir naquela noite. Mas acordar na manhã seguinte envolvida em seu abraço, sentindo-se quente, segura e incrivelmente feliz, fez a frustração valer a pena.
A noite seguinte, entretanto, quando não a atraiu para seus braços como tinha feito na noite anterior, mas sim se virou para o outro lado, decidiu que ele teria que pagar um pouco. Rodeou sua cintura com o braço por detrás e deslizou sua mão sob a bainha de sua túnica, onde roçou suavemente os redemoinhos de pelos sobre os rígidos gomos de seu estômago. Os gomos que não podia deixar de notar se fizeram mais e mais tensos. Quando seu polegar acidentalmente roçou a grossa cabeça de seu pênis e ele fez um forte som gutural, ela parou.
— Privacidade — ela lembrou presunçosamente.
Infelizmente, ela não contava como a sensação rígida e excitada de seu corpo contra o dela a afetaria. Seu coração batia tão rápido quanto o dele. Levara ainda mais tempo para dormir naquela noite. Mas, novamente, acordar em seus braços fez tudo valer a pena.
Entretanto, não estava tão segura essa mesma noite, quando ele deitou sob o plaid atrás dela, seus dedos deslizaram entre suas pernas. Acariciou-a até que esteve meio enlouquecida de desejo, parando quando não pôde se impedir de fazer um som. Quase gritou de qualquer, em frustração.
Tinha sido uma noite longa e inquieta.
A noite seguinte ele se deitou tarde, o covarde, mas ela estava preparada. No momento em que ele tirou o plaid escocês de cima dela, encontrou-o com a mão, rodeando a rígida coluna de aço aveludado da mesma maneira que o tinha visto fazer, bombando-se aquele dia na cabana. Ele fechou a mão sobre a dela e silenciosamente mostrou-lhe como acariciá-lo.
Ela segurou seu olhar na escuridão quando o levou até o limite do prazer.
Estava tão tenso que pensou que poderia ganhar a sensual batalha que surgiu entre eles. Mas ele respirou fundo — fazendo um som — e ela parou.
Depois de quase uma semana de acariciar e tocar, estava tão atormentada quanto ele. Não podia esperar até que pudessem voltar a fazer o amor. Amanhã de noite, graças a Deus! Eoin disse que chegariam a balsa em Oban no final da tarde do dia seguinte. A menos de meia milha do Castelo de Gylen, separado do continente ao Sul de Oban, o rápido passeio de barco a levaria à sua nova casa bem antes do anoitecer.
Apesar da promessa de prazer que a esperava, das noites atormentadoras, o ritmo lento da viagem e do tempo chuvoso que os atingiu nos últimos dias, parte dela estava triste por saber que a viagem chegava ao fim.
Estava nervosa pela nova vida que a esperava em Kerrera. Não sabia o que esperar, como se encaixaria ou o que esperariam dela. O castelo de Gylen era o desconhecido. No caminho, podia fingir que as coisas seriam as mesmas.
Também estava gostando de conhecer seu marido. Desde que o confrontou faz uma semana, Eoin fazia um esforço para passar mais tempo com ela, e não só as noites. Cavalgava ao seu lado quando podia, e cada noite depois de terminar de comer, tirava o pedaço de madeira que tinha gravado com uma faca e as pilhas de pedras de diferentes cores para lhe ensinar a jogar xadrez.
Ela entendeu as regras do jogo com suficiente rapidez, estava perdendo — com bastante facilidade — essa era a parte difícil de aceitar.
— Quem teria pensado que um jogo de criança poderia ser um golpe tão grande no orgulho? — Disse. — Acredite ou não, até que eu te conheci, estava acostumada a pensar em mim mesma como relativamente inteligente.
Ele sorriu.
— Acredito que seu orgulho é o suficientemente forte para aguentar o golpe, e não é a sua inteligência que a faz se perder em seu caminho.
Ela levantou a sobrancelha.
— Então o que é?
— Você fica muito impaciente para que o jogo termine. Ataca muito cedo. Têm que esperar seu tempo.
Ela levantou a sobrancelha, surpresa com a perspectiva. Ele estava correto. Estava impaciente e se aborrecia com facilidade. Também não era do tipo de ficar na espera. Gostava do desafio direto. Maggie suspeitava que uma batalha de dois dias sobre um tabuleiro nunca estaria em seu futuro.
— É isso que você faz? — Perguntou.
Encolheu os ombros. Para um homem que falava tanto sobre batalha com todos os outros, evitava completamente o assunto com ela. Esperava que não houvesse uma razão. Ainda não tinha abordado o assunto da guerra, mas talvez agora fosse o momento.
Olhou ao seu redor, vendo que, como em noites anteriores, os outros lhes deram espaço.
— O que você vai fazer se a guerra explodir novamente? — Perguntou em voz baixa.
Poderia ter sido um truque da luz das tochas, mas jurou que ele ficou rígido, na defensiva.
— O que você quer dizer?
— Meu pai quer que você lute com ele. Disse que suas habilidades seriam valorizadas por aqueles leais ao rei John.
Desta vez não se enganou. Sua expressão tornou-se rígida. Havia um brilho de aço em seu olhar que nunca tinha visto antes.
— Meu dever é com meu pai.
— E o seu é para seu senhor, Alexander MacDougall, o senhor de Argyll, e para seu rei. Não para seu parente — adicionou, referindo-se a Bruce.
Esperou uma reação, mas não a teve. Sua expressão não traiu um pingo de seus pensamentos.
Ele usava a mesma expressão séria e intensa em seu rosto que sempre tinha quando estava com todos os outros. Mas geralmente não com ela.
— Meu pai sabe bem onde está seu dever, Margaret.
A esperança saltou em seu peito.
— Isso quer dizer que...?
Ele levantou-se.
— Significa que é uma conversa inútil. Quando chegar o momento e se chegar ele fará o que deve ser feito. Assim como eu.
Começou a afastar-se, mas ela o deteve com uma mão em seu braço.
— Espere, por que não fala sobre isso comigo?
— Não há nada a discutir, e isso não tem nada a ver com você.
— Eu sou sua esposa! É óbvio que tem algo a ver comigo.
Sustentou seu olhar, sem dizer nada, mas desafiando-a ao mesmo tempo. Não o entendia. Por que estava fazendo isso? Por que estava se fechando? Não valorizava sua opinião? Talvez não fosse tão inteligente quanto ele, ou soubesse ler e escrever, mas isso não significava que ela não entenderia.
— Tenho que ir — disse com impaciência.
Deixou cair a mão, sem saber ou entender como a conversa poderia ter dado tão errado.
— Aonde?
— É minha noite de guarda — fez uma parada. — Eu não vou dormir até o meio da manhã. Talvez fosse melhor se você dormisse na tenda esta última noite?
Estava ferida.
— Por que você está agindo assim?
Sua expressão mudou, e uma vez mais era o homem que amava. Atraiu-a para seus braços.
— Ah, sinto muito. Mas é sua culpa — olhou-o interrogativamente. — Você me empurrou para o limite da loucura. Não aguentarei outra noite.
Ele estava brincando com ela, mas apenas parcialmente. De repente, ela franziu o cenho.
— Você se ofereceu como guarda, não é?
Ele estremeceu, mas não se preocupou em mentir.
— É apenas mais uma noite.
Ou isso ele pensava. Mas na noite seguinte, depois que finalmente se retiraram para a câmara privada que havia sido arrumada para eles, — sua mãe insistiu em mostrar todas os cômodos da torre belamente decorada — Margaret tinha uma surpresa para ele.
— Seu o quê?
— Shhh — ela disse. — Quer que o castelo inteiro o ouça? Meu período. Só serão alguns dias.
Ela pensou que ele acharia o momento divertidamente irônico, mas aparentemente não o fez. Estava estranhamente calado, sua expressão quase doía.
Sua testa se enrugou.
— Não tenho exatamente muito controle sobre estas coisas, Eoin — sorriu maliciosamente e deslizou contra ele, cobrindo seu pênis com sua mão. — Além disso, aqui há muita privacidade, e não há razão para você ficar quieto.
Ele afastou sua mão:
— Porra, Margaret. Pare com isso. Você não entende.
Mais do que um pouco ferida pela rejeição, ela recuou alguns passos para olhá-lo.
— Então, por que não me explica? — Ela disse suavemente
Uma estranha sensação de desgraça se instalou ao redor dela como uma espessa névoa cinzenta.
Ele aproximou-se da janela de cristal, olhou durante alguns minutos antes de se virar para responder.
— Estou indo embora.
Por um momento não acreditou que o ouviu corretamente. Seu coração pulsava muito forte em seus ouvidos.
— Você vai embora?
— Há algo que preciso fazer. Devo partir no sábado.
Margaret o olhou, atônita. Sábado era em dois dias.
— Quando voltará? — Ela conseguiu dizer apesar da estar sufocando, uma bola de emoção quente parecia ter ficado presa em sua garganta.
— Não sei.
Ela estremeceu como se tivesse sido golpeada.
— O que quer dizer com "não sei"? Alguns dias? Semanas? — Ele não disse nada. — Natal? — Mal podia respirar.
— Espero que sim.
Esperava isso? Ainda faltava quase duas semanas até o Dia de Todos os Santos! O Natal estava a mais de dois meses de distância. Isso não estava acontecendo. Por favor, que alguém lhe diga que isso não estava acontecendo. A sala parecia estar balançando como se estivessem ainda na balsa.
— Aonde você vai?
— Eu... — passou os dedos pelo cabelo, como fazia quando estava preocupado ou desconfortável. — Não posso explicar. É algo que preciso fazer, tudo bem?
— É óbvio que não está tudo bem. Como poderia estar bem? Estamos casados apenas há duas semanas, ainda não dividimos um teto, muito menos um quarto para passar a noite, e vai me deixar em dois dias, sem me dizer nada sobre onde vai, o que estará fazendo e quanto tempo ficará longe, e se supõe que está "tudo bem"? — Ao ouvir a crescente histeria em sua voz, ela se forçou a tentar se acalmar. Mas como ela poderia estar calma? Como podia fazer isso com ela? — Há quanto tempo você sabia?
Ele teve a vergonha de desviar o olhar.
— Desde o dia antes de sairmos de Stirling — sentiu como a apunhalava em seu peito.
— E não pensou em me dizer?
— Eu pretendia, droga, simplesmente não consegui.
— Então quando? Depois de ter feito amor comigo, até que estivesse exausta demais para discutir? — Ofegou, seus olhos se arregalaram ante sua expressão culpada. — Meu Deus, isso era exatamente o que pretendia, não era?
— Ah, demônios, Maggie, sei que deveria ter dito algo antes. Mas sabia que você ficaria irritada, e...
Endireitou sua coluna, sua raiva foi a única coisa que a impediu de colapsar em uma bola e soluçar.
— E pensou que seria mais fácil dessa maneira.
— Não, isso não é o que ia dizer. Estava muito feliz. Não queria fazer nada para arruinar isso.
— E você pensou que isso seria melhor? — Ele não disse nada. Olhou-o fixamente. — Por favor, não faça isso. Não vá.
— Tenho que fazer.
— Então espere mais alguns dias. Pelo menos, me dê isso.
— Não posso. Estou atrasado.
Ele estendeu a mão para ela e, pela primeira vez, ela se encolheu. Também pela primeira vez, não queria que a tocasse.
— Então vá, Eoin. Apenas parta.
E para seu total desespero e miséria, dois dias depois, ele fez exatamente isso.
Capítulo 11
O Natal veio e foi. Mas Eoin tinha a esperança de que pudesse sair da Ilha de Skye, onde estava treinando com os outros guerreiros de elite recrutados para a guarda secreta de Bruce, e retornar para Margaret durante alguns dias em janeiro.
Quando ele se afastou dela todas aquelas semanas atrás, ele tinha sua raiva para se segurar. Durante dois dias tentou explicar que isso era o que fazia. Era um guerreiro. Ia aonde e quando seu chefe mandava. Mas ela se negou a escutar qualquer explicação. Quando ficou claro que não se atrasaria nem mudaria seus planos tornou-se tão fria quanto gelo e mal o olhava.
Esperava lágrimas e súplicas, mas talvez devesse saber melhor. Margaret MacDowell poderia não ser tão refinada e sofisticada como as mulheres nobres que conhecia, mas tinha o aço em sua espinha e o ferro em seu sangue de antepassados reais e gerações de orgulhosos chefes celtas que tinham vindo antes dela.
A frustração com a situação e a reação dela se converteram em raiva. Mas durante as longas semanas de treinamento, incluindo quase duas semanas de inferno que tinha sido apropriadamente chamada de "Perdição", essa raiva se converteu em culpa. A mágoa em seus olhos — o olhar de traição — perseguia-o. Não podia evitar a sensação de que cada dia que estavam separados, a estava perdendo cada vez mais.
E então, havia os sonhos torturados de ela procurar outro homem em sua ausência — Fin, seus irmãos, inclusive o infame Tristan MacCan, a quem nunca conheceu. — Só deixou que MacCan a beijasse, droga... Não era assim? Ele ficou tão mal que nem sequer queria fechar os olhos para dormir.
Não ouviu falar nada de sua esposa desde o dia em que partiu. Tinha escrito para ela, mas ou se negava a recorrer ao servo de seu pai por uma resposta ou decidiu ignorá-lo. Somente através da menção ocasional nas missivas de seu pai ou mãe tinha notícias dela. “Margaret viajou para Oban novamente na segunda-feira, pegando o esquife14 de seu pai sem permissão.” Podia ouvir a desaprovação de sua mãe até em Skye. Piorou com "Mathilda segue-a por toda a Ilha." Sua irmã de dezesseis anos era tão impulsiva que não era de se estranhar que ela tivesse gostado de sua nova cunhada. Tampouco era surpreendente que sua mãe não aprovasse.
Nenhuma comunicação, juntamente com a frequente menção de viagens a Oban para ajudar as freiras no convento. — Margaret? — Atormentavam-no junto com cada dúvida e medo que tinha na cabeça. Mas era aí onde o guardava.
Alguns dos outros guardas, especialmente Erik MacSorley — cuja personalidade lembrava um pouco a de Margaret — e o companheiro de Eoin, Ewen Lamont, ficaram curiosos sobre sua esposa. Mas, além do fato de que era uma MacDowell, da qual eles provavelmente tiraram suas próprias conclusões, ele se negou a falar dela. Não era só que não queria dar a eles uma razão para não confiar nele, — a cautela de Bruce em torno dele era difícil o suficiente — mas como diabos poderia Eoin explicar como um matrimônio poderia funcionar entre eles, quando ele nem sequer conhecia a si mesmo?
No final de Hogmanay, ele estava ansioso para ir para casa. Mas tudo mudou quando Christina MacLeod foi capturada pelos ingleses e Tor MacLeod, o líder da guarda secreta, lançou um ataque contra a guarnição inglesa no castelo de Dumfries para recuperá-la.
Foi a primeira oportunidade de Eoin para provar seu lugar entre os guerreiros de elite, e seu plano tinha sido um sucesso retumbante.
Também desencadeou uma cadeia de eventos que ninguém poderia ter previsto. Depois de um mês de libertar Christina MacLeod e tomar o castelo, John "o vermelho" Comyn, o senhor de Badenoch, estava morto pela mão de Bruce, e seu parente lançou uma oferta pelo trono.
Depois de semanas de reunir apoio, e de enfrentar às escaramuças contra partidários de Comyn, a princípios de março — Março, porra! — As preparações estavam em marcha para a coroação de Bruce em Scone. Edward da Inglaterra já tinha ordenado a detenção de Bruce pelo assassinato de Comyn, mas todos os homens de Bruce sabiam que a coroação seria um ato de rebelião que traria Edward e seu exército à porta de casa mais uma vez.
A guerra estava chegando e Eoin sabia que se ele não fosse para casa agora, poderia levar meses até que ele tivesse outra chance.
O problema era que Bruce se recusou a lhe dar permissão. Eoin não poderia estar ausente tão perto da coroação. E se os MacDougalls tivessem notado sua ausência e suspeitado de seu envolvimento com Bruce, uma viagem a Kerrera em Lorn também poderia ser perigosa.
Eoin rompeu seu silêncio sobre a preocupação com sua esposa e levou seu caso ao único homem que poderia ser capaz de mudar a mente de Bruce.
Não havia muitos homens que dessem uma oportunidade a Eoin, mas Tor MacLeod era um deles. Conhecido como o maior espadachim de Escócia, — e provavelmente o mais feroz — era tão alto quanto Eoin, com seis anos de músculo acrescentado nele, e cada quilo do que ganhava no campo de batalha.
Se havia alguém mais difícil de ler que Eoin, era MacLeod. Enquanto Eoin se encontrava do outro lado da mesa ante o orgulhoso chefe da ilha e apresentava seu caso, era impossível saber o que pensava o outro homem.
— Não nos separamos nos melhores termos — explicou Eoin. — Minha esposa é jovem, tem apenas dezoito anos e nos casamos menos de três semanas antes que eu viesse embora. Uma semana é tudo que estou pedindo. Eu voltarei antes de partirmos para Scone.
— Você pretende voar? Levaria, pelo menos, quatro ou cinco dias de cavalgada sem parar para alcançar Oban daqui.
Estavam no Castelo de Bruce, em Lochmaben desde o resgate de Christina MacLeod do castelo de Dumfries.
— Encontrarei um navio.
— Você também encontrará a marinha inglesa, — disse MacLeod — eles estão patrulhando a costa até Ayr.
Eoin apertou a boca.
— Sou um ilhéu, vou conseguir — MacLeod o olhou com atenção.
— Isto é importante para você?
— Sim. — Ela é.
MacLeod parecia entender, talvez melhor do que ele imaginava. O chefe também tinha uma jovem esposa que ele quase perdeu.
— Verei o que posso fazer.
O estômago de Margaret caiu de medo quando seu pequeno barco se aproximou da borda, e percebeu a forma familiar do homem que a esperava. Depois de baixar a vela, deixou que a correnteza a levasse com segurança ao cais, mas desejava poder voltar.
Enquanto um casal de moços a ajudava com as amarrações, Fin estava ao pé do atalho rochoso que conduzia ao castelo olhando-a. Não podia evitá-lo, e seu coração pulsava com uma pequena trepidação enquanto caminhava em direção a ele.
Ela não tinha motivos para ter medo dele e, no entanto, não podia negar que pela primeira vez em sua vida um homem a fazia se sentir desconfortável, e sim, um pouco assustada. Ela havia tentado, — verdadeiramente tinha — mas nos cinco meses desde que Eoin a abandonou nesta miserável rocha, não podia obrigar-se a gostar de Fin MacFinnon.
Não tinha feito nada específico que pudesse apontar, talvez seria mais fácil se tivesse feito, mas havia algo em seus olhos quando a olhava que fazia com que sua pele arrepiasse. Algo que a fez sentir que ele estava apenas esperando o tempo... esperando. Mas não sabia o quê. Não podia dizer se a odiava ou a desejava, talvez os dois.
Parecia estar sempre ali, à espreita nas sombras dos corredores, nos cantos escuros dos estábulos ou dependências, e agora, aparentemente, pelos escarpados rochosos. Sabia que não era casualidade que ele estivesse no lugar perfeito para bloquear seu caminho, onde ela não poderia se locomover sem correr o risco de cair sobre as rochas.
— Onde estava? — Ele perguntou.
Apesar da trepidação golpeando em seu peito, negou-se a deixar que a intimidasse. Não se atreveria a lhe machucar fisicamente. Ou isso esperava.
— Não é da sua conta.
Pegou-a pelo braço e a atraiu para ele. Qualquer um que o visse parecia que se preparava para guiá-la pelo caminho das rochas. Mas seus dedos a agarraram com muita força, e a puxou um pouco perto demais.
— Estou fazendo meu trabalho. Você espera que eu acredite que você realmente ajuda as freiras do convento?
Seu olhar caiu sobre seus seios como se o tamanho deles de algum jeito explicasse seu raciocínio.
Agora seu coração pulsava em sua garganta.
— Eu não me importo com o que você acredita, é a verdade — Em realidade eram as freiras que a estavam ajudando. — Como ousa me tocar? Solte-me ou...
Olhou para os homens do cais, mas estavam ocupados com o barco e se voltaram na outra direção. Como estava segura de que Fin sabia. Não a teria tocado de outra maneira. Não que os homens viessem em seu socorro. Toda a ilha parecia olhá-la com receio e desconfiança.
Não pertencia a este lugar. Nunca pertenceria a este lugar. Não era nada como em casa. Tudo o que fazia era censurado. Não podia montar, navegar nem caminhar a nenhuma parte sem que alguém perguntasse para onde estava indo ou por que não estava acompanhada. Não havia mais desafios, não havia mais uísque — aparentemente era a bebida de um homem — e não havia mais brincadeiras com seus irmãos. O que usava, como comia, inclusive como orava — ou melhor, com que frequência orava — tudo estava era examinado.
Deus, como odiava isso.
— Ou o quê? — Fin zombou, mas, pelo menos, soltou seu braço. — Para quem você vai correr? Lady Rignach? O Laird? Acredito que estarão mais interessados em saber onde foi depois do convento, e o que há na bolsa em sua cintura.
Olhou-o surpresa.
— Estava me espionando!
Ele sorriu.
— Só estou cumprindo com meu dever. Você é minha responsabilidade. Eoin deixou você para mim. — Margaret suspeitava que a explicação era intencional, e fez seu coração pulsar mais rápido.
De todas as queixas que ela tinha com o marido — e havia muitas— talvez essa fosse a pior. Ele fez Fin jurar vigiá-la e protegê-la com sua vida. Em outras palavras, ele colocou Fin na posição certa para atormentá-la.
— Eu me pergunto o que ele faria com sua esposa se soubesse que ela esteve vagando por toda a cidade com outro homem, e depois desaparecendo por horas juntos em um edifício.
Os dentes de Margaret estavam apertados tão duramente com indignação que mal conseguia pronunciar as palavras.
— Com um homem de hábito da reitoria!
O jovem padre teve a gentileza de deixá-la usar suas pinturas.
Fin deu uma risada áspera.
— Não seria a primeira vez que um sacerdote não leva a sério seus votos.
Margaret já teve o suficiente.
— Não lhe devo nenhuma explicação. Se meu marido tiver perguntas quando retornar, pode me perguntar ele mesmo.
— Depois de cinco meses, acredito que é seguro dizer que seu marido encontrou coisas mais importantes para mantê-lo ocupado.
As palavras eram cruéis e dolorosas, principalmente porque eram verdades, mas algo na voz de Fin lhe dizia que ela não era a única que sentia a ferroada. Fin também estava no escuro a respeito das atividades de Eoin, e nesse ponto talvez poderiam compadecer-se um pelo outro.
Cinco meses. Como Eoin podia deixá-la durante cinco meses com apenas uma palavra? As duas notas curtas que recebeu dele, que as freiras tiveram a bondade de ler para ela, não tinham devotado explicação nem desculpa, apenas palavras vagas de arrependimento como "eles tiveram que se separar muito cedo", e ainda mais vagas promessas de que voltaria para ela "assim que pudesse". Até então, esperava que "fizesse um esforço" para se "encaixar" em Gylen com a ajuda de sua mãe.
Obviamente, Lady Rignach esteve expressando suas queixas.
Talvez se Margaret pudesse fazer por sua conta, teria respondido. Talvez teria derramado sua miséria, sua cólera e seu coração despedaçado em escuras manchas de tinta por todo aquele pedaço de pergaminho.
Mas ela não pediria às freiras que escrevessem sobre o quanto ela odiava esse lugar. Como nunca se "encaixaria". Como todos a tratavam como uma pária, assim teve que fugir para Oban para encontrar alguém que a ajudasse. Como esperava manter-se ocupada como o tinha feito em Garthland, ajudando com a casa, mas sua mãe deixou bem claro que sua ajuda não era necessária, nem desejada.
Margaret ainda sentia uma pontada ante aquela decepção. Talvez ela não soubesse ler, escrever, se vestir ou agir como uma mulher nobre, mas sabia como administrar um castelo e queria que ele visse isso. Que soubesse que não se casou com uma bárbara inexperiente e atrasada, mas com uma esposa de quem poderia se orgulhar.
Diria a ele que nunca se sentiu tão inútil em sua vida. Como a única coisa que fez a mãe dele e o desdém de Marjory sobre sua educação "desagradável" e as intermináveis comparações com a Santa Lady Barbara suportável foi Tilda. Sua irmã mais nova era a única pessoa na ilha que não acreditava que ele tinha cometido um erro, incluída ela.
E isso é o que ela diria a ele por último. Como ela temia ter cometido um erro. Como toda a felicidade e o amor que sentiu por ele naquela cabana pareciam muito distantes. Como olhou ao seu redor e se perguntou como chegou a estar aqui e como podia escapar. Como desesperadamente sentia falta de sua casa e estar rodeada de pessoas que de verdade gostavam dela e não se envergonhavam de seu jeito. Como ela não queria mais ser um erro.
Dizer qualquer outra coisa para ele teria sido uma mentira.
Assim como as freiras trabalharam pacientemente com ela em suas letras, de vez em quando perguntando se queria responder à missiva de seu marido, Margaret declinava. As rudimentares habilidades de leitura e escritura que adquiriu com esmero nos últimos meses — ela não iria envergonhá-lo com sua falta de educação — não podiam competir com o torvelinho de emoção esperando ser desatado quando — se — ele voltasse.
— Talvez ele estivesse certo — disse a Fin. — Agora, se você me der licença, eu preciso me trocar antes do jantar.
Deus sabia, Lady Rignach não aprovaria seu kirtle15 de lã simples. Mas Margaret não queria arriscar sujar de tinta em um de seus novos vestidos.
Ela não deveria se surpreender quando no dia seguinte à saída de Eoin, sua mãe chamou a costureira de Oban, que a mediu para comprar suas novas camisas, mantos, sobretudos, mantos e véus, muitos deles. Lady Rignach também deve ter dado instruções ao pai de Eoin, porque quando o chefe de MacLean chegou ao castelo de Gylen com os dois irmãos de Eoin semanas depois que ele partiu, seu pai estava carregado de tecidos finos, ornamentos de pele e bordados de Edimburgo.
Fin a deixou passar apenas com um arco zombeteiro, mas a seguiu de perto. A princípio ela atribuiu o estranho zumbido que percorreu seu pescoço quando eles entraram na muralha a ele. Mas era um tipo diferente de consciência. Um que não experimentou em muito tempo, e tinha esquecido.
Notou uma multidão em pé ao lado do portão. Foi quando Tilda a viu. A moça era o único ponto brilhante nestes últimos meses. Era doce e amável e não se importava que Margaret fosse uma "selvagem" MacDowell.
— Oh, Maggie, aí está você. Eu procurei por você em todos os lugares, veja quem...
Margaret não ouviu o resto de suas palavras, porque nesse momento um homem saiu da multidão, e ela congelou.
Estava empoeirado, sujo, com mais cabelo cinza que nunca, com a mandíbula cheia de barba e cabelos até os ombros, e ele parecia ter aumentado seus músculos, mas quando aqueles intensos olhos azuis se fixaram nela, reconheceu-o imediatamente.
Toda a emoção, toda a dor, toda a miséria dos últimos cinco meses a alcançaram em um batimento do coração perdido. Tinha o peito apertado. Sua garganta se apertou. Seus olhos se encheram de calor.
Ela fez um som que era um grito meio de dor, meio de alívio, e correu.
Imediatamente estava em seus braços. Eoin a sustentava, enterrando seu rosto em seu véu, murmurando palavras tranquilizadoras contra seu ouvido, e então sua boca estava sobre a dela.
Eoin nunca esqueceria o medo e a incerteza do momento em que sua esposa o tinha visto e pareceu converter-se em pedra. Tampouco esqueceria o alívio e a felicidade que sentiu quando ela se lançou em seus braços momentos agonizantes depois.
Desejava poder esquecer o que veio depois. Como começou a beijá-la ali mesmo no pátio, sem prestar atenção à multidão que os rodeava, que incluía sua mãe e suas irmãs, maldição! — E então, como se isso não bastasse, como ele a levantou e levou para o seu quarto no meio do maldito dia.
Ninguém naquele pátio viu o que acontecera depois, mas tinha certeza de que todos haviam adivinhado. Ele mal teve tempo de remover as armas e armadura antes de segui-la para a cama e fazer amor com ela com cinco meses de paixão.
Não foi bonito. Tinha sido apressado, frenético e rápido demais, embora tivesse se assegurado de que encontrasse seu prazer primeiro. Mas foi tão poderoso quanto ele se lembrava. E talvez tenha sido exatamente o que eles precisavam. Um momento de conexão física antes das perguntas e recriminações que seu retorno inevitavelmente traria.
Ela desabou em seu peito e permaneceu em silêncio após. Sua bochecha descansava contra sua camisa, mas seu rosto se afastou dele, e tudo o que pôde ver foram as tranças sedosas de cabelo vermelho enroladas cuidadosamente na parte superior de sua cabeça. Ela estava usando um véu quando a viu, e levou um momento para reconhecê-la sem as ondas selvagens de vermelho vivo que caíam sobre seus ombros como uma nuvem de seda.
— Você está bem? — Ele perguntou.
Não respondeu por um longo tempo. Finalmente, levantou-se de seu peito e de seu abraço para uma posição sentada onde podia olhá-lo. Muito tarde recordou as palavras de sua última conversa.
— Não, Eoin, não estou bem, não me sinto bem desde o dia em que se foi — Seus olhos dourados o seguraram firmemente. Ele esqueceu a inclinação sensual e o brilho felino. Como a sensação daqueles olhos sobre ele poderia fazer sua pele aquecer e sangue correr em suas veias. — Mas se você está se referindo ao prazer que você acabou de dar ao meu corpo, então sim, acho que vou me recuperar.
Não havia nenhuma só nota de brincadeira em sua voz, um brilho malicioso em seus olhos, ou uma curva impertinente de sua linda boca vermelha.
Não esperava ser recebido pela moça sorridente, alegre e travessa que entrou no Grande Salão do Castelo de Stirling — e em sua vida — há cinco meses, tomando-o como um pirata saqueador. Mas tampouco esperou encontrar essa jovem séria e submissa.
O que ele fez com ela?
— Não tenho certeza se eu vou — ele disse com ironia. Ele pegou a mão dela, espantado com o quão suave e delicado parecia no seu, e a levou à boca. — Se passou bastante tempo.
— Ah, sim? De verdade?
Ele franziu o cenho.
— O que se supõe que isso quer dizer?
Maggie deu de ombros, olhando para o outro lado.
— Não sei. Algo parecia diferente.
Eoin xingou interiormente, feliz por ela não poder ver a culpa em seu rosto. Ele nem percebeu o que estava fazendo até que se retirou no último segundo. Não podia acreditar que realmente tivesse a presença de espírito para fazer isso. Por mais que ele quisesse deixá-la com seu filho, sabia que não seria justo para ela, sabendo que poderia não sobreviver para vê-lo nascer.
Mas sabia também que não era sobre isso que ela estava falando. Levantou a mão para cobrir seu queixo e girar seu rosto para ele.
— Eu não olhei para outra mulher desde o dia em que te conheci, Maggie. Foi e sempre será você. — Ela segurou seu olhar e deve ter ficado satisfeita com o que viu lá porque mudou de assunto. — Você parece diferente.
Inconscientemente, esfregou a mandíbula que não tinha visto uma navalha em semanas. Sabia que estava horrível. Tinha passado pelo inferno para chegar até ela.
— Eu não tive muito tempo para me lavar depois de ver você.
A moça que ele conhecera pela primeira vez não teria resistido a provocá-lo sobre sua ansiedade e sua exibição pública incomum, mas ignorou-o.
— Como você chegou? Eu não vi um barco no cais.
Não quis chamar a atenção para sua presença. O navio e os homens que tinham navegado com ele estavam esperando em uma enseada no lado oeste de Kerrera. Tudo bem, MacLeod quem tinha feito isso por ele. Arranjou para que o melhor marinheiro da Escócia levasse Eoin para casa. Sem as habilidades de MacSorley, Eoin provavelmente estaria morto, fosse pelos ingleses que os perseguiram no meio da Irlanda ou pela tempestade que quase os derrubou e os forçou a se refugiarem em uma pequena ilha por quase dois dias até que passou.
Os poucos dias que esperava ficar com ela se reduziram a menos de vinte e quatro horas.
Como ele iria fazê-la entender em menos de um dia?
— Cheguei pelo outro lado da ilha — esperando cortar mais perguntas, perguntou. — É onde você estava? No cais? Minha mãe disse que você vai a Oban algumas vezes por semana para ajudar as freiras do convento?
Olhou-o fixamente como se tentasse avaliar se havia alguma coisa por trás da pergunta. Não havia nada... exceto curiosidade.
— Se quer saber o que estive fazendo durante cinco meses, Eoin, cinco meses, é só me perguntar. Porque isso é exatamente o que quero saber de você.
Eoin praguejou. Maldito Bruce, para o inferno por fazê-lo concordar com esse voto!
Diria a ela o que podia. Ela saberia parte da verdade em breve, quando as notícias da coroação se espalharam.
— Farei todo o possível para responder suas perguntas, e sei que temos muito o que conversar, mas me deixe tomar um banho e comer alguma coisa primeiro.
Também sabia que seu pai, seus irmãos e Fin estariam ansiosos por um relatório. Quando o chamado de Bruce para a batalha chegasse, eles responderiam.
Ele podia dizer que ela queria discutir, mas sentia pena dele. Ele deve parecer mais golpeado pelos últimos dias do que percebeu.
— Agora que você está em casa, acho que há tempo. Mas estou esperando por respostas.
Não sabia o que estava menos ansioso para dizer: que estava indo de novo ou dizer o porquê
Capítulo 12
— Foi tão romântico... embora eu achasse que minha mãe ia desmaiar ali mesmo, ela ficou tão vermelha.
Tilda riu ao seu lado no banco. Margaret sabia que deveria estar sentada ao lado de seu marido, mas tomou seu assento habitual abaixo da mesa alta junto a Tilda. Pensou que seria mais fácil sentar-se junto a alguém com quem pudesse falar e não com alguém que não pudesse. Sua mãe e seu pai ficaram muito felizes em aceitar sua oferta de terem seu filho só para eles, sem sua lamentável nora por perto.
Mas pela primeira vez, Margaret não estava com disposição para a alegre conversa de Tilda. Ela estava muito preocupada com a conversa que se aproximava e com a tentativa do marido de explicar o inexplicável.
Necessitava de respostas. Mas o mais importante, ela precisava que ele provasse que ela não cometera o maior erro de sua vida.
Deu uma olhada à mesa e se alegrou de ver que depois do banho, fazer a barba e comer, os círculos escuros sob os olhos e as linhas de cansaço gravadas em seu rosto haviam desaparecido.
Mas ainda havia algo diferente nele, além do volume adicional e do que pareciam ser uma ou duas novas cicatrizes em seu rosto. Ele parecia mais duro de alguma forma. Mais feroz. Mais sombrio. Mais intenso do que recordava. Diferente do homem com quem se casou.
Tilda não notou sua incomum quietude. Sacudiu sua linda cabeça dourada. Tinha a mesma coloração que Eoin e Neil. Os outros dois irmãos, Marjory e Donald, eram mais morenos como sua mãe.
— Nunca vi Eoin fazer algo assim, — disse — eu sabia que deveria amar muito você. Ele teria que afastar a cabeça do campo de batalha ou de um daqueles velhos pergaminhos aborrecidos durante alguns minutos. Espero que algum dia me case com um homem que me dê uma olhada como aquela e me leve até o quarto como ele fez — suspirou dramaticamente. — Você é tão afortunada.
Afortunada? Margaret teve sorte de não estar bebendo seu vinho doce — a mistura era um xarope muito doce, mas era adequada para uma lady — ou ela poderia haver salpicado "brutalmente" por toda a bonita toalha de linho. Murmurou algo inteligível em resposta, o qual deve ter satisfeito Tilda, porque reatou seu monólogo sobre os "românticos" acontecimentos anteriores.
Margaret desejava poder vê-lo da mesma maneira que Tilda. Mas para ela, o amor frenético pareceu mais um grito de desespero e, uma liberação de emoção e dor reprimidas do que uma expressão romântica de amor.
Nunca negaria a paixão que sentia por ele, mas a luxúria não era romance. Romance não era compartilhar uma cama, mas compartilhar uma vida. Era confiar em alguém. Ter a alguém para compartilhar os pensamentos. Sabendo que a pessoa que estava ao seu lado faria algo por você, porque você faria o mesmo por ele.
Não era desaparecer durante cinco meses sem explicação alguma. Não era ocultar coisas. E não era deixá-la só e miserável entre as pessoas que pensavam que não era suficientemente boa ou suficientemente inteligente para o jovem guerreiro "brilhante" com um futuro tão promissor.
Talvez algo dessa desgraça apareceu em seu rosto que chamou a atenção de Eoin, disse algo ao seu pai e se levantou. Lady Rignach olhou em sua direção, e pela primeira vez Margaret pensou que detectou simpatia.
Descobriu por que pouco tempo depois. Margaret se sentou na beira da cama, enquanto o homem a quem deu seu coração parou frente a ela e pisou em cima dela. Ele calmamente explicou que esteve em Lochmaben em Dumfries com o Conde de Carrick e virou seu mundo de cabeça para baixo.
— Mas você disse que estava fazendo algo pelo seu pai.
— E estava — disse. — Bruce é o rei legítimo da Escócia. Meu pai acredita nisso tanto quanto eu.
Rei legítimo da Escócia? Só porque se livrou de seu rival matando-o em uma igreja! A notícia do assassinato do Senhor de Badenoch no mês passado se estendeu pela Escócia como um incêndio florestal. Estava surpresa, horrorizada, e triste por seu filho. John Comyn era muito jovem para ter tanto peso sobre seus ombros. Mas, ironicamente, pensou que o ato assassino ajudaria Eoin a tomar a decisão de lutar junto a seu clã. Nunca imaginou que Eoin...
— Oh Deus! Por favor, me diga que não têm nada a ver com isso.
Sua boca ficou tensa.
— Não estava ali quando aconteceu. Foi lamentável, mas Bruce foi provocado.
Margaret não podia acreditar que isso estivesse acontecendo. O pesadelo só piorava. Seu marido ausente retornou a casa, mas o tinha feito em plena rebelião. Tinha eleito lutar não só contra sua família, mas também contra o homem mais poderoso da cristandade. Como ele poderia ter mantido isso escondido dela?
— Não pode fazer isso, Eoin. Têm que reconsiderar. Pense no que aconteceu com Wallace. O rei Edward fará algo muito pior a Robert Bruce, um homem em quem confiava, e a seus seguidores. Será caçado como um cão. E a minha família? Haverá uma guerra civil, e meu pai nunca o perdoará se lutar com o assassino de Comyn. Pensei que me amava. Como pode escolher Bruce antes do nosso matrimônio?
Ele franziu o cenho.
— Isto não tem nada a ver com você nem com nosso matrimônio. Minha decisão foi tomada muito antes que a conhecesse.
Olhou-o com os olhos arregalados.
— Mas pensei... Nós discutimos... — olhou-o. — Você me deixou pensar que consideraria lutar com minha família.
Ele balançou a cabeça.
— Não a deixei pensar isso. Eu te disse que não queria falar sobre isso.
Isso deveria ser algum tipo de desculpa?
— Então não devo dizer nada a respeito? Fará de minha família inimigos, colocará sua vida em risco, e eu não tenho mais opções?
— Você fez sua escolha quando concordou em ser minha esposa — aliviou a aspereza de suas palavras ajoelhando-se ante ela e pegando suas mãos geladas. Grande e quentes, com mais calos do que ela recordava, elas pareciam engolir as dela. — Sei que isso é difícil para você, e nunca quis te machucar, mas você é minha esposa. Sua lealdade me pertence agora.
Seu coração formava redemoinhos no peito, como se estivesse sendo torcido em duas direções diferentes. Mas ele tinha razão. Não importava quanto não quisesse ouvi-lo, fizera sua escolha quando se casou com ele. Mas nunca percebeu o quanto teria que renunciar. Sem discussão nem palavra.
— Amo minha família. Não pode esperar que eu os esqueça.
Ele balançou a cabeça.
— Nunca pediria isso a você. Mas estou pedindo seu apoio e lealdade. Peço-lhe que confie que sei o que estou fazendo. Realmente acredito que isso é o melhor para Escócia.
— Mais guerra é o melhor?
— Se ela colocar o legítimo rei da Escócia no trono e o fim da soberania de Eduardo, sim.
— E acredita que Robert Bruce é esse rei legítimo? A metade de Escócia — incluindo seu clã — descordaria.
— Acredito. Eu não estou pedindo para você acreditar nele, estou pedindo para acreditar em mim.
Seu coração se apertou.
— Acredito.
A política não era o que lhe importava, era manter todos aqueles que ela amava vivos.
— Eu não sabia que isso aconteceria assim — disse seriamente. — Eu pensei que teríamos mais tempo juntos antes da guerra começar. Acredite, se eu não tivesse que partir...
Ele parou de repente, como se percebesse o que acabara de dizer.
— Partir? — Ela repetiu em voz baixa, através dos pulmões que tinham acabado de ter todo o ar sugado deles.
Sua expressão ficou sombria.
— Amanhã. Eu esperava ter mais tempo, mas nós estamos inevitavelmente atrasados. Cavalgaremos através da Escócia para chegarmos a tempo.
Estava muito surpresa para questioná-lo sobre o "nós". Negou com a cabeça.
— Não — sacudiu a cabeça furiosamente, o pânico se elevou em seu peito. — Não pode ir. Não pode me deixar aqui sozinha.
— Não estará sozinha, minha mãe...
— Sua mãe me despreza. Ela e Marjory mal podem estar no mesmo ambiente que eu. Você não entende o quão horrível tem sido desde que você saiu. Todo mundo me odeia aqui.
Parecia realmente surpreso.
— Sei que deve ser difícil se adaptar a uma nova casa, e pode parecer assim, mas...
— Não me diga que estou exagerando ou imaginando coisas, não estou fazendo isso. Pensam que sou uma espécie de malvada prostituta que o obrigou a se casar comigo.
As circunstâncias de seu matrimônio, desgraçadamente, os seguiram a Kerrera, como às histórias depreciativas de seu clã e da Bela “Donzela” de Galloway.
Franziu o cenho, claramente surpreso.
— Se alguém houver dito algo que a tenha ofendido...
— Ninguém me disse nada. É a forma como me olham. A forma como deixam de falar assim que entro em algum lugar. Sou uma MacDowell, Eoin. Para eles eu poderia muito bem dançar nua ao redor das fogueiras de Beltane. Nem sequer posso ir a um convento sem intrigas nem especulações. A metade das pessoas aqui, incluindo a sua mãe, pensa que estou fazendo algo ilícito. Sabe que Fin me seguiu hoje? Praticamente me acusou de seduzir um sacerdote!
Eoin franziu o cenho.
— Tenho certeza de que você entendeu errado. Fin me contou o que aconteceu. Só estava fazendo o que lhe pedi. Não deveria ir e vir de Oban sozinha.
Margaret tentou controlar seu temperamento, mas isso escapava rapidamente entre seus dedos.
— Não o entendi errado. Sinto muito, mas não posso gostar dele, Eoin. Tentei, mas há algo a respeito de seu irmão adotivo... que me deixa nervosa.
Seus olhos brilharam com o primeiro sinal real de ira.
— Se Fin disse ou fez alguma coisa para te machucar, eu vou matá-lo. Porra, pensei que o assunto com a corrida tinha sido esquecido. Mas se ele está guardando rancor...
— Não é isso. Não fez nem disse nada. Eu simplesmente não confio nele.
— É meu melhor amigo, Maggie. Conheço-o desde que tinha sete anos. Confiaria nele com minha vida
— E, entretanto, tampouco lhe disse para onde estava indo.
Sua boca caiu em uma linha dura e sombria. Claramente não estava contente em ter apontado isso. Estava escondendo alguma coisa. Ela sabia disso e agora tinha provas.
— Falarei com ele. Mas não precisa se preocupar com Fin.
— Por quê?
— Partirá com meu pai e meus irmãos assim que a guerra começar.
O olhar de alívio em seu rosto lhe disse que talvez houvesse mais do que solidão de uma jovem e o excesso de trabalho.
Maldito Fin. Eoin suspeitava que seu irmão adotivo tinha tanto respeito por sua esposa quanto ela por ele. Talvez tenha sido uma má ideia ter mandado Fin vigiá-la, mas esperava que pudessem ser amigos.
Que desastre. Eoin nunca havia se sentido tão indefeso em sua vida. Exagerada ou não, as pessoas não a odiavam, simplesmente não a conheciam, não podia negar que Margaret era infeliz e acreditava que era verdade.
Odiava que não estava aqui para ajudar a facilitar a transição. Odiava que ela tivesse que passar seus primeiros meses em Gylen sozinha. Mas, que demônios se supunha que devia fazer? Era uma situação impossível. Ele nem deveria estar aqui agora.
Arriscou-se em vir, se levantou sobre seus joelhos para sentar-se ao seu lado na cama. Quando não se afastou dele, pôs seu braço ao redor dela e a atraiu contra ele. Derretia-se em seu peito, envolvendo seu braço ao redor de sua cintura, e Eoin sentiu o primeiro lampejo de esperança.
— Eu gostaria de poder tornar isso mais fácil para você, — disse ele. — Diga-me o que posso fazer para melhorar.
Olhou para ele, seus lindos olhos frágeis.
— Não vá.
Surpreendeu-se com o quanto a suave súplica o comovia, e o quanto desejava poder ficar com ela.
— Se não tivesse absolutamente que ir, não o faria. Mas eu sou necessário.
— É mais do que isso, não é? — Acusou-o. — Você quer ir.
A moça era muito perspicaz.
— Ficaria aqui com você se pudesse, mas se você me perguntar se isso é algo que eu quero fazer, a resposta é sim. Você sabia quem eu era quando se casou comigo. Eu sou um guerreiro, Maggie. Os guerreiros lutam. E essa oportunidade... — deteve-se, dando-se conta de que estava se aproximando muito da verdade. — Isto é algo para o qual estive me preparando toda minha vida. Haverá desafios e a oportunidade de fazer algo diferente. A oportunidade de fazer a diferença.
— Então, você está escolhendo a guerra ao invés de mim?
Porra, isso não era o que estava fazendo absolutamente. Não tinha que ser assim a menos que ela quisesse.
— Não estou escolhendo nada. O que você quer que eu faça? Ignore meu dever? Você pediria a seu pai ou seus irmãos que fizessem o mesmo? Sua mãe teria pedido a seu pai que ficasse com ela em vez de lutar pelo rei John?
Podia ver a resposta brilhando furiosamente em seus olhos.
Ele pegou o queixo dela, inclinando-a para o dele.
— Ama-me, Maggie?
Não esperava que ela vacilasse. Quando respondeu, percebeu o quão perto estava de perdê-la, seu intestino retorcendo-se com força. Demônios, isso o assustou muito.
— Sim — disse finalmente.
— Então não desista de mim. Sei que foi difícil para você, mas se pudesse tentar um pouco mais, sei que vai conquista-los — sorriu ironicamente. — Não me diga que todos esses vestidos novos e véus a deixaram suave.
Um sulco apareceu entre suas sobrancelhas finamente gravadas.
— Suave?
Deu de ombros.
— Pensei que você não se importasse com o que as pessoas diziam e não seria derrotada tão facilmente. O que aconteceu com a moça que vestia roupa de homens e superou um dos melhores cavaleiros que conheço em uma corrida? Foi todo esse orgulho MacDowell pura arrogância?
Ele sentia-se como se tivesse pendurado a maldita lua no céu quando uma das comissuras de sua boca se elevou.
— Está sugerindo que eu use calças para romper meu jejum amanhã de manhã?
Ele riu.
— Meu Deus, não. Não quero que minha mãe expire de choque. Sei que pode ser difícil às vezes, mas uma vez que a conheça, verá que só quer o melhor para meus irmãos, irmãs e para mim.
— Qual é exatamente o problema.
— Você é o melhor para mim. Ela só não percebeu isso ainda.
Ela sorriu, e não era como se tivesse pendurado a lua, era como se tivesse pendurado o sol no céu. O calor se estendeu sobre ele como um brilhante dia de verão. Por isso a amava. Era divertida e alegre, escandalosa, sabia como fazê-lo rir, e lembrou-lhe que nem tudo eram as apostas de vida ou morte da guerra. Por isso a necessitava em sua vida. Era a luz em um mundo que às vezes ficava muito escuro.
Os últimos meses de fazer — pensar — nada mais que em batalha desapareceram.
— De verdade?
— De verdade.
E se dispôs a provar isso para ela. Devagar. Com um beijo que lhe disse exatamente o quanto ela significava para ele. Tinham a noite toda, e ele ia assegurar-se de que soubesse o quanto a amava. Não queria pensar em quanto tempo isso duraria.
Seguindo seu exemplo, respondeu aos longos e lentos golpes de sua língua com uma delicada ternura que fez seu peito doer. Nunca imaginou que um beijo pudesse conter tanta emoção... ou expressar tanto sentimento. Mas sentiu o desejo, e o amor que se igualavam os dele, com cada suspiro, cada golpe e cada carícia suave.
Quando terminou de adorar sua boca com seus lábios e língua, continuou adorando ao resto dela. Beijou-lhe a mandíbula, a garganta, o lugar macio abaixo da orelha, e finalmente, quando que ele parou por tempo suficiente para remover suas roupas, as pontas rosadas de seus mamilos. Sim, levou muito tempo com eles, rodeando sua língua ao redor das bordas enrugadas, agitando os pontos rígidos, e sugando-os profundamente em sua boca até que ela se contorceu e gemeu.
Ela tentou retirar o seu casaco, mas ele a impediu.
— Ainda não, querida. Se me tocar, vai acabar cedo demais. Eu quero te dar prazer. Deixe-me fazer isso.
Assentiu, e ele continuou explorando. Seu corpo era uma fantasia, e ele lentamente saboreou cada centímetro dela, seu pênis endurecia cada vez mais. Não podia ter o suficiente dela. Era tão suave e doce, sua pele dissolvendo-se contra sua boca como mel. Ela era tão deliciosa que ele queria experimentar tudo.
Queria lhe dar o tipo de prazer que nunca deu a outra mulher antes. Queria colocar sua boca entre suas pernas, deslizar a língua dentro dela, e senti-la desmoronar contra seus lábios. E se a forma como que estava pressionando seus quadris contra ele era qualquer indicação, ela estava perto.
Passou a mão pela curva de sua cintura fina até o quadril.
— Me diga o que quer, Maggie.
Seus olhos entrecerrados se encontraram com os dele em uma sensual bruma de paixão tão escura e profunda que ameaçava arrastá-lo. Deus, ela era linda. Ele lentamente removeu não só o véu, mas os alfinetes de suas tranças e seu cabelo espalhado no travesseiro atrás de sua cabeça como um resplendor ardente.
— Você. Quero você, Eoin. Dentro de mim.
Uma furiosa onda de satisfação surgiu através dele; adorava a audácia com que lhe dizia o que queria. Margaret não tinha nenhuma falsa modéstia.
Ele correu os dedos entre suas pernas, sentindo a sedosa umidade deslizando entre seus dedos como mel quente.
— Quer minhas mãos, meu pau, ou talvez minha boca?
Ela ofegou, a névoa limpou de seus olhos quando se encontraram com os dele. Estava claramente surpresa, mas também estava claramente excitada pela ideia, se a nova corrente de umidade que se estendia através de seus dedos significasse algo. Tão quente e sedoso.
— Eu deveria te beijar bem aqui? — Ela ofegou de novo quando ele pressionou contra sua boceta. — Deveria deslizar minha língua dentro de você assim? — Ela gemeu quando o dedo dele mergulhou e circulou. — Devo fazer isso, Maggie?
Já não o olhava. Seus olhos estavam fechados, sua cabeça movendo-se de um lado para o outro no travesseiro.
— Sim. Oh Deus, por favor, sim.
Deu-lhe o que ela queria. O que seu corpo estava suplicando. Mas o fez lentamente, provocando todas as sensações, cada gota de prazer, enquanto ele beijava em uma trilha lenta por seu ventre.
Quando ele alcançou o lugar delicado entre suas pernas, levantou seus quadris, envolveu suas pernas ao redor de seu pescoço, e ele escovou beijos molhados ao longo do interior de suas coxas até que ela começou a tremer. Finalmente, ele a acariciou brandamente com a boca, aplicando a pressão mais suave onde sentia que ela mais necessitava dele. Só quando suas coxas começaram a apertar e seus calcanhares cravaram em suas costas, ele deu a pressão que ela queria. Delicadamente a princípio, e depois mais forte quando seu prazer chagou ao máximo. Quando seu corpo começou a tremer e contrair.
Ela tinha um gosto tão bom que ele não conseguia o suficiente. Sua língua mergulhou mais e mais fundo, sua boca sugou mais forte, e finalmente ele teve sua recompensa quando sentiu os fortes espasmos de sua liberação contra seus lábios.
Mas ele não deu tréguas, trazendo-a ao pico uma e outra vez. Durante toda a noite e no dia seguinte, entre curtos períodos de descanso e refeição, fez amor com ela com suas mãos, sua boca e seu pênis. A única vez que a realidade se intrometeu foi quando tirou a camisa e ela notou a bandagem que enrolou ao redor de seu braço para encobrir a nova tatuagem que devia esconder dela, e quando gozou fora de seu corpo ao invés de dentro.
Pouco antes de partir, ele a despertou pela última vez. Parecia um anjo caído, com os lençóis serpenteando ao redor de seus membros nus, seu cabelo ardente flutuando ao redor de seus ombros, e sua pele rosada — completamente — do raspar de sua barba, e estava claramente esgotada, mas não podia esperar. Deus sabia quanto tempo estariam separados, e agora que conhecia o prazer, tinha que se assegurar de que sabia como encontrá-lo sem ele.
Pegando sua mão, moveu-a entre suas pernas e lhe disse o que queria que fizesse.
Ela arregalou os olhos. Sacudiu a cabeça e tentou afastar a mão.
— Não posso — ruborizou. — Está errado.
— Não está errado — disse com firmeza, mantendo a mão onde ele queria. — Quero que pense em mim. Imagine que é a minha mão que está tocando você. Meus dedos que a acariciam — com suavidade, moveu seus dedos sob os dele, mostrando-lhe o que queria. — Isso é o que vou estar pensando.
Ela parecia surpresa e talvez um pouco intrigada.
— Você vai pensar nisso?
Ele assentiu.
— Isso vai me deixar louco, pensar em você tocando a si mesma. Por favor, querida, me deixe ver. Me dê algo para recordar.
Lentamente, tirou sua mão.
Ela o olhou com atenção, com um suave rubor manchando suas bochechas.
— Não sei o que fazer.
— O que sentir como bom. Feche os olhos — ela fez o que lhe pediu e ele quase gemeu nos primeiros movimentos hesitantes de seus dedos delicados contra aqueles lindos lábios rosados. Só percebeu que estava segurando seu pau quando ela abriu os olhos, e seu olhar o seguiu até lá. Lentamente, ele começou a acariciar-se, igualando o ritmo dos hesitantes dedos que se moviam entre as pernas dela.
— Isso, assim, querida. Um pouco mais rápido agora. Esfregue-se um pouco mais forte — Ele apertou ainda mais seu pau e começou a bombear mais rápido. — Deus, isso não é bom? Veja o que você está fazendo comigo — seu pau estava grande, vermelho, e tenso em seu punho. — Você ainda está molhada? Esses lábios rosados e suaves estão pingando?
Ele foi recompensado com um gemido suave e a descida gradual de suas pálpebras quando o pesado véu de desejo começou a descer. Ele também sentiu a intimidade erótica do momento envolvendo-o. Ele os envolvia em um manto de prazer, conversando com ela a cada momento enquanto assumia o controle de seu desejo, e lhe dava o poder de conhecer seu próprio prazer.
— Quando fechar os olhos, quero que se lembre de como se sentiu com a minha boca em você. Como você sentiu minha língua dentro de você — os movimentos dela se intensificavam agora. Seu corpo se esforçava por liberar-se, suas costas arqueadas, seus quadris apertando contra sua mão. — Pensem em minha mão em seu seio — Eoin gemeu quando sua mão seguiu seu comando inconsciente, acariciando seu próprio seio e apertando-o. — Aperte seu mamilo, querida. Oh Deus, isso, assim — sentiu a pressão na base de sua espinha e não pôde se conter. Seus dentes apertaram quando sua bunda e os músculos de seu estômago endureceram. — Eu vou gozar. Meu Deus, Maggie, vou gozar.
Ele sentiu o primeiro jato assim que se afastou. Ele caiu ao lado dela, seu corpo contraído em espasmos que combinavam com os dele. Quando terminou, tomou-a nos braços e segurou-a até que a luz do sol que entrava pelas janelas se suavizou.
Saindo da cama, começou a vestir suas roupas.
Maggie rolou de lado para olhá-lo, trazendo o lençol de acima para colocar debaixo de seu queixo. Não disse nada. Não precisava. Seus olhos nadaram com uma dilaceradora combinação de desejo e desespero.
Quando ele terminou de amarrar sua armadura, a culpa era tão intensa que parecia que uma pedra estava em seu peito. Porra, por que isso tem que ser tão difícil? Por que eles não poderiam ter mais tempo?
Ele se inclinou para lhe dar um último beijo. Por um momento, seus braços se fecharam ao redor de seu pescoço e seguraram com tanta força que ele não sabia se ela o soltaria. Mas o fez.
Ele removeu uma lágrima que deslizou pela esquina de seu olho, desejando que fosse fácil de apagar o ácido que fazia caminho através de seu peito.
Ele inclinou seu queixo para olhá-la.
— Voltarei assim que puder.
Ela estava lutando para controlar suas emoções e só podia assentir com a cabeça. Merda, como poderia deixá-la assim?
— Será melhor, Maggie. Confie em mim. Apenas dê uma chance. Prometa-me que você vai tentar. Você pode fazer isso por mim?
— Tentarei — sussurrou. — Se prometer voltar. Não importa o que aconteça, só volte para mim.
Era uma promessa que ambos sabiam que não podia fazer. Deus e o campo de batalha poderiam ter outras ideias.
— Farei tudo o que esteja ao meu alcance para voltar para você assim que puder.
Era o melhor que podia fazer, e ela parecia entender isso. Com um último olhar que levaria pelos longos meses à frente, ele foi embora.
Capítulo 13
Margaret tentou... As primeiras semanas depois que Eoin partiu foram as mais difíceis que qualquer outra coisa que tivesse acontecido antes. O alívio e a alegria de vê-lo, por mais breve que fosse, fazia o contraste de quando ele partiu, ainda mais nítido. Todo o amor que sentia por seu marido chegou em uma onda torrencial, e sua partida a deixou se sentindo esmagada por tudo aquilo. Mas lhe deu sua palavra e enfrentou os membros de Kerrera com uma renovada determinação para conquistá-los.
Sorriu ante sua rudeza, fingiu não ouvir os sussurros, e fez um esforço por ser útil e amigável. Assegurava-se de usar um véu onde quer que fosse, mantinha sua opinião oculta nas refeições, inclusive quando a conversa se voltou para a guerra e as mentiras descaradas sobre seu clã e seus aliados ameaçaram sufocá-la, e não discutiu quando Lady Rignach sugeriu que levasse a um guarda para acompanhá-la quando saísse ao redor da ilha ou viajasse de esquife por Oban.
Inclusive tentou desfrutar dos bordados, unindo-se a Marjory, Tilda, Lady Rignach e alguns de suas assistentes nas tardes para trabalhar na bandeira de MacLean que acompanharia os homens à batalha. Mas quando percebeu os diminutos buracos no tecido nas seções onde trabalhara e percebeu que muitos de seus pontos estavam sendo removidos durante a noite, que estava usando as tardes costurando ao invés de terminar o projeto que a manteve ocupada durante os primeiros cinco meses, por nada. Mas a última peça tinha sido esculpida, a pintura tinha sido aplicada, e o jogo de xadrez que fez como um presente para seu marido estava acumulando pó em uma mesa esperando sua volta, como ela.
Mas nada do que fez pôde atravessar a parede de preconceito contra ela. Era uma "selvagem e perversa" MacDowell. Uma forasteira e, pior ainda, depois que a guerra explodisse e sua família se aliasse com os Comyns e Edward da Inglaterra contra Robert Bruce, ela seria uma inimiga. Ao desdém, desconfiança e desprezo, ela poderia acrescentar ódio.
Margaret passava cada vez mais tempo em Oban. Nunca seria uma erudita como seu marido, mas já não era uma analfabeta. Podia ler um pouco de gaélico e francês e inclusive algumas palavras de inglês e latim. Sua escrita era indubitavelmente grosseira para os padrões de Lady Rignach e Marjory, mas podia escrever uma nota simples.
O que impressionava às freiras, entretanto, não era sua leitura e escrita, a não ser sua memória e facilidade com as habilidades numéricas que aperfeiçoou quando seu pai a deixou a cargo do castelo. Quando ouviu um dos comerciantes que estava fazendo uma grande entrega de mantimentos ler uma longa série de números fazendo um engano no cálculo, e o corrigiu sem olhar às contas — esperava que ele não estivesse tentando enganar às freiras! — A abadessa ficou aturdida. Ela recebeu a ajuda de Margaret com a administração do convento. Não só lhe deu algo para fazer, mas também uma maneira de pagar às freiras por toda sua ajuda.
Mas, por mais que apreciasse o que todas as freiras tinham feito, elas não eram substitutas das amizades que conheceu em Garthland. Sentia falta de Brigid desesperadamente. Sentia falta de sua risada. Sentia falta das brincadeiras, das conversas animadas que duravam até tarde da noite. E sentia saudades de ter a alguém em quem confiar, alguém que compartilhasse suas alegrias e suas angústias. Deus sabia que havido muitas
Tampouco o convento era um substituto de um lar. Era tranquilo e pacífico, mas o ambiente moderado não era nada como o salão animado, escandaloso de Garthland, onde sempre havia visitantes para entreter ou irmãos para lutar e repreender. Sentia falta do barulho, da emoção e da energia da vida que conheceu.
Mas possivelmente mais do que tudo, sentia falta de liberdade. Sentia falta do galopar através do campo com o vento balançando seu cabelo. Sentia falta de poder ir onde quisesse e dizer o que quisesse sem ter que se preocupar se ia ofender a alguém ou fazer algo errado.
Ela era selvagem, ela percebeu. E agora se sentia enjaulada. Margaret não sabia quanto mais podia suportar. Estava morrendo nesta ilha. Cada dia estava perdendo mais e mais de si mesma.
Sua única fuga era à noite. De noite se aferrava às lembranças de seu marido e o amor que sentia por ele, enquanto tocava seu corpo como ele ensinou. Nesse momento ele parecia mais próximo. Mas quando despertava, a solidão era ainda pior.
O único ponto brilhante nas semanas que se seguiram depois da saída de Eoin foi um dia não muito depois do dia primeiro de maio, quando Fin saiu com o pai e os irmãos de Eoin para unir-se à chamada da bandeira de Bruce. Não a seguiu de novo desde o dia em que Eoin tinha vindo para casa, mas, ainda assim, estava aliviada ao vê-lo partir.
Marjory, por outro lado, tinha o coração partido. Pensando que talvez sua dor compartilhada e medo sobre os homens que tinham ido à batalha poderia as aproximar, Margaret tentou se aproximar de sua cunhada. Mas foi duramente rechaçada. Parecia que Margaret não era a única consciente da atenção indesejada de Fin com ela. Marjory, entretanto, sofreu sob a ilusão de que essa atenção foi solicitada. Acusou Margaret de "flertar" e "brincar" com Fin em seu tédio e "da necessidade de ela ter todos os homens adulando-a".
Margaret protestou e tentou gentilmente a advertir a respeito de Fin, mas Marjory estava cega pelo amor e se negava a aceitar qualquer crítica ao jovem e bonito guerreiro. Margaret a deixou com suas ilusões, mas esperou pelo bem de Marjory que ela soubesse a verdade antes de atar-se a um homem que Margaret estava segura que só lhe causaria mágoa.
Inclusive Tilda parecia diferente. Margaret se inteirou disso por que uma semana depois da saída de Eoin, quando perguntou a Tilda se queria sair no esquife — a moça adorava navegar quase tanto quanto Margaret — e ela sacudiu a cabeça sem olhá-la. Finalmente, lhe deu uma explicação.
— Meu irmão disse que as damas bem-educadas não navegam sozinhas.
Margaret discutiu com ela, até que percebeu que não foi Neil ou Donald, a não ser Eoin quem falou com ela. Aparentemente, Lady Rignach ameaçou casar Tilda com o filho de um laird vizinho se ela continuava com sua "selvageria".
Não deveria ter doído tanto, mas o fez. Margaret era tão má influência que Tilda tinha que arriscar ser enviada para longe em vez de passar tempo com ela? É isso que Eoin também pensava?
Mas, de longe, a pior parte das semanas intoleráveis que se passaram foi não saber o que estava acontecendo, e o medo constante que vinha de saber que o marido estava em perigo. Sem saber nada dele desde que se foi, não tinha nem ideia de onde estava, o que estava fazendo, ou se estava deitado em algum lugar machucado — ou, Deus não o queira, pior, — morto.
Não lhe disse nada a respeito de seus planos, e se Lady Rignach sabia mais, não compartilhava com a mulher de seu filho, a selvagem MacDowell. As notícias dos movimentos de "Rei" Robert eram escassas e levavam um tempo interminável até que chegassem. No começo de julho souberam da desastrosa derrota de Bruce em Methven, duas semanas antes. As forças de Bruce tinham sido dizimadas, esmagadas sob o poderoso rei inglês, Edward I, o autodenominado Martelo dos Escoceses. E foi outra agonizante semana de espera e imaginação antes que Lady Rignach recebesse notícias de seu marido lhe dizendo que tinham sobrevivido, embora Neil tinha sofrido uma séria ferida de flecha em seu ombro.
Durante semanas Margaret olhou pela janela, procurando um navio, rezando para que Eoin pudesse ver a inutilidade da causa de Bruce e voltasse para ela. Ninguém, nem sequer o carismático cavaleiro que conheceu em Stirling, poderia derrotar Edward da Inglaterra. E certamente não, com somente metade da Escócia junto com ele.
Somente no final de agosto que viu um birlinn16 de guerreiros se aproximando de Oban. Correu pelas escadas da casa da torre até a baía justo quando os homens começavam a desembarcar, tropeçando através da ponte do cais como se fossem mortos ambulantes. Embora nem todos estivessem andando. Alguns estavam mancando, alguns sendo ajudados por homens apenas mais capazes, e alguns eram transportados em macas.
Com o coração na garganta, Margaret esquadrinhou os rostos imundos e ensanguentados dos homens em busca de alguém familiar. Mas assustou-se quando viu o rosto ensanguentado do homem falando com Lady Rignach que reconheceu como um dos capitães do Laird. Ele perdeu parte de seu braço, que estava envolto em uma bandagem ensanguentada e suja o suficiente para fazer com que o estômago de Margaret revirasse.
Mas seu coração cambaleou um momento depois, quando a mãe de Eoin empalideceu e deu um grito de dor que se elevou acima do ruído do caos.
Margaret a alcançou no momento que as pernas de Lady Rignach cediam. O olhar no rosto da dama orgulhosa seria um que Margaret jamais esqueceria. Sua formidável sogra parecia destroçada e repentinamente muito frágil.
Margaret ajudou Lady Rignach a entrar, pediu vinho e a sentou em um banco do Hall. Marjory e Tilda se uniram a elas. As irmãs de Eoin ficaram de lado, parecendo tão ansiosas e assustadas quanto Margaret. Pela primeira vez, Marjory ficou feliz em deixá-la assumir o comando.
Logo que a ama de chave trouxe o vinho, Margaret lhe pediu que reunisse os servos e começassem a prepararem camas, comida e mandasse buscar alguém com conhecimento de cura. Os homens que alagavam o pátio teriam que ser atendidos.
Quando se voltou para Lady Rignach, a outra mulher tinha deixado de tremer e parecia um pouco mais composta. Margaret se obrigou a fazer a pergunta.
— O que aconteceu?
As lágrimas brotaram no canto dos olhos de Lady Rignach.
— Acabou-se. A causa de meu sobrinho está perdida — respirou fundo e tremeu. — O exército de Bruce quase foi destruído ontem em Dal Righ pelos MacDougalls.
Tilda e Marjory gritaram em desespero, enquanto Margaret lutava por estabilizar seus joelhos cambaleantes.
— Oh Deus, Eoin! Por favor, não diga... — Seu peito, seus olhos, e seu coração ardiam.
— Pai? Nossos irmãos? — Perguntou Tilda.
Lady Rignach sacudiu a cabeça.
— Connach não tem certeza. Ele acha que eles escaparam com o rei, mas foi caótico quando eles foram forçados a fugir do campo de batalha e desapareceram nas colinas. Os homens que estavam muito feridos para seguir foram deixados para voltar para casa. O exército foi dissolvido, e os MacDougalls e seus aliados estão procurando o que fica de Bruce e seus partidários.
— Fin? — Perguntou Marjory sem fôlego.
Lady Rignach negou com a cabeça.
— Não sei.
Algo em Marjory pareceu explodir. Voltou-se para Margaret, com os olhos cheios de fúria.
— Espero que esteja feliz. Você e sua traidora família ganharam. Talvez seu pai esteja dançando no túmulo de meu irmão?
Margaret ofegou, olhando à moça horrorizada.
— Marjory, isso é o suficiente! — Disse Lady Rignach. — Margaret é a esposa de seu irmão. Não é sua culpa que seu clã tenha eleito o lado de nossos inimigos ingleses.
O mascaramento sutil da alfinetada como uma defesa rompeu os últimos fios de seu controle.
— Meu pai escolheu lutar por seu rei, o legítimo rei John, e não pelo homem que assassinou seu parente. — Ela se virou de uma Lady Rignach atordoada para a filha. — Amo seu irmão, e quando me casei lhe dei minha lealdade. Você já pensou por um momento como isso é difícil para mim? Você pode imaginar como é saber que meu marido está lutando contra meu pai e meus irmãos, e com a tortura com que vivo todos os dias imaginando se eles estão se encontrando em algum campo de batalha? Eu não escolhi nada disso, e estou fazendo o melhor que posso em circunstâncias difíceis. Eu sei que você me odeia e acha que eu não sou boa o suficiente para Eoin, e talvez você esteja certa, mas ele me escolheu. Ele queria se casar comigo, você querendo aceitar isso ou não, e talvez se você não puder me dar o benefício da dúvida, você deveria dar a ele.
A encararam em choque, até mesmo Tilda.
Margaret sabia que provavelmente cometeu um erro, mas não podia permanecer ali nem um minuto mais e manter sua língua controlada. Nunca iria se encaixar aqui de qualquer maneira. Não importava o que seu marido quisesse pensar.
Sem dizer mais nada, se virou e foi embora. Os homens do pátio precisavam dela, e isso a ajudaria a manter sua mente longe de Eoin e a incerteza de saber se vivia ou morra.
Chega de tentar se dar bem com eles. Só orou para que seu marido cumprisse sua promessa melhor que ela.
— Espero que você saiba o que está fazendo. O chefe ficará furioso quando descobrir que você se foi.
Eoin olhou fixamente o homem que tinha sido seu companheiro na Guarda da Highlanders desde o primeiro dia de treinamento na Ilha do Skye há nove meses. Ele e Lamont — conhecido pelo nome de guerra como Caçador — tinham passado pelo inferno e retornado nos últimos três meses. Eles salvaram a vida um do outro mais do que eles queriam lembrar. Não havia ninguém em quem ele confiasse mais, e é por isso que ele confiava nele.
Tor MacLeod não ia ficar furioso, ele ia matá-lo. O líder da Guarda nunca concederia uma licença a Eoin neste momento, por isso não pediu permissão. Mas Eoin não podia sair da Escócia, pois Deus sabia quanto tempo ele estava sem ver a sua esposa. Exceto por MacLeod, cuja esposa estava à corrente de tudo e segura na Ilha de Skye, Eoin era o único da Guarda que estava casado. Em momentos como este, podia entender o porquê. Isso deu a ele uma responsabilidade que os outros não tinham.
— Irei em dois dias, não mais. Eu vou alcançá-lo em Tarbert. O Chefe mal terá tempo de perceber que eu parti.
Nenhum dos dois acreditava nisso. O Chefe estaria amaldiçoando-o assim que acordasse e descobrisse que Eoin tinha ido embora. Ele não queria pensar sobre sua punição quando retornasse.
— Como acha que conseguirá passar pelos MacDougalls. Eles patrulharão cada centímetro de veio de água daqui até Dunaverty.
Após a perda em Dal Righ nas mãos dos MacDougalls, Bruce e o que sobrou de seus homens estavam fugindo. Depois de fugir do campo de batalha, eles se refugiaram em uma caverna na costa Norte de Loch Voil, em Balquhidder — MacGregor. Mas com os MacDougalls caçando no Oeste, o Conde de Ross no Norte e os ingleses que se aproximavam do Leste e o Sul, não havia nenhum lugar seguro para se esconder. Tinham que sair da Escócia. Dali chegariam a Dunaverty, no extremo mais meridional de Kintyre, onde esperavam que Erik MacSorley, o melhor marinheiro do reino marítimo da Ilha Ocidental, pudesse deslizar um navio mais à frente do bloqueio inglês.
— É por isso que pretendo navegar a curta distância de Oban a Kerrera amanhã de noite. Retornarei antes do amanhecer e abrirei caminho por Argyll. Não procurarão um homem a cavalo.
Lamont não pareceu convencido, mas assentiu com a cabeça.
— Bàs roimh Gèill — disse ao separar-se. “Morte antes da rendição” — o lema da Guarda das Highlanders, e a maneira de Lamont lhe desejar boa sorte.
As palavras estavam com Eoin na traiçoeira viagem de mais de cinquenta milhas em terreno acidentado, cheio de mais de grupos de guerra do que previu. Mas menos de vinte e quatro horas mais tarde, estava subindo à colina de Kerrera. Encharcado e frio, mas tinha conseguido.
Não tinha certeza do que ia encontrar, aproximou-se cautelosamente do portão de trás do escuro castelo. Os MacDougalls chegariam eventualmente, mas por enquanto, esperava que estivessem muito ocupados tentando pegar Bruce.
O sino para o toque de recolher havia sido executado horas atrás, e os portões do castelo estavam fechados. Mas reconhecendo os guerreiros de guarda, Eoin se arriscou e se aproximou. O homem chamou o porteiro, e pouco depois a porta foi aberta. Eoin estava em casa.
Acordou primeiro sua mãe. Depois que ela se recuperou do choque e lhe assegurou de seu bem-estar, ela pegava roupas secas, enquanto ele contava o que podia de seus planos. Sabendo que seu tempo era curto, pediu-lhe para que se despedisse de suas irmãs e foi despertar sua esposa.
O soluço de alívio que se rasgou da garganta de Margaret, e a sensação dela em seus braços um momento mais tarde, fez com que o risco que correu por vir valesse a pena.
— Graças a Deus, está vivo — soluçou contra seu peito. — Estava tão assustada. Mas o pesadelo terminou. Retornou. Senti tanto sua falta. Não sabia quanto mais poderia aguentar.
Ele amaldiçoou as palavras que deveria falar, sabendo o quão difícil seria para ela ouvi-las. Ela sentou-se para jogar os braços em volta do pescoço dele e agora, ele a empurrava brandamente para trás para que pudesse olhá-la.
— Não terminou, Maggie. Mas não podia partir sem lhe dizer que estava vivo... sem dizer adeus.
Ela piscou, como se tivesse entendido errado.
— O que quer dizer com adeus? É óbvio que acabou. Bruce foi derrotado. Sua causa está perdida.
Eoin sacudiu a cabeça.
— Não terminou. Bruce foi derrotado, sim, mas não perdeu. Vamos nos reagrupar e retornaremos quando estivermos preparados para lutar de novo.
Olhou-o como se estivesse louco.
— Reagrupar? Não pode estar falando sério. Bruce não pode ter mais que um punhado de partidários. Seu exército foi dissolvido. Aqueles que não morreram na batalha renunciaram a sua lealdade a Bruce e se renderam a John MacDougall, o Conde de Ross ou ao Conde de Buchan.
A mandíbula de Eoin endureceu. Era muito consciente dos homens que abandonaram o rei. Seu irmão adotivo estava entre eles. A traição doeu, mas confiava em Fin para proteger sua família.
— Ele não fez isso. E eu também não vou.
— Mas têm que fazer! — Havia um selvagem pânico em seus olhos que ele nunca tinha visto antes. — Não pode ficar com ele, será caçado como um cão e executado. Todo mundo sabe o que aconteceu com William Wallace... você quer morrer assim? — A mão dela se aferrava ao seu braço, como se quisesse fazê-lo escutá-la. — Meu pai nos ajudará. Se formos até ele agora, ajudará para que não seja castigado.
Ele cuidadosamente retirou sua mão.
— Não vou até seu pai, Maggie. Nem agora, nem nunca. Meu lugar é com Bruce, e seguirei com ele enquanto houver um sopro de liberdade em seus pulmões.
— O que não demorará muito quando o rei Edward se apoderar dele. Não há rocha grande o suficiente para ocultar Bruce e seus homens. O rei Edward terá cada homem de Ross nas fronteiras lhes buscando — era por isso que eles estavam fugindo do continente, se refugiando nas centenas de ilhas nos mares ocidentais. — Onde vão?
Ele a olhou em silêncio.
— Você não vai me dizer? — Ela perguntou, o vazio de dor ecoando em sua voz. — É óbvio que não.
Ele amaldiçoou, passando seus dedos por seu cabelo, frustrado. Caralho, maldito Bruce por fazer isso com eles.
— Não posso, Maggie. Não é só meu segredo. Fiz uma promessa.
— E não tem nada a ver com eu ser uma MacDowell? — Quando ele não negou, não podia negar sua expressão endureceu. — Não seja tolo, Eoin. Não faça isso. Não entregue sua vida a uma causa perdida.
Eoin tentou controlar seu temperamento. Não esperava que o entendesse, mas tampouco esperava que o chamassem de tolo. Depois de lutar junto ao seu primo durante meses, a crença de Eoin na causa de Bruce se fortaleceu. Mas Eoin sabia que isso era a última coisa que sua mulher queria ouvir. Só queria que ele estivesse a salvo.
— Não vim para discutir com você, Maggie. Vim me despedir. Não sei quanto tempo levará, mas voltarei.
Ela sacudiu a cabeça freneticamente.
— Não, não pode me deixar aqui. Se não escuta à razão, então me leve com você. Não posso mais ficar aqui sem você.
Seu peito puxou, escutando o desespero em sua voz.
— Faria-o se pudesse, mas é impossível. Aonde vamos não há lugar para uma mulher. Bruce enviou a sua própria esposa, irmã e filha para a segurança. Lachlan MacRuairi, chamado de Víbora, está levando elas e à Condessa de Buchan para o Leste ao castelo de Kildrummy.
— Não me importo. Juro que não vou ser uma carga. Não me deixe sozinha aqui. Por favor, — gritou. — Eu não suporto isso.
Vir aqui foi um erro. Só piorava a situação. Sua voz estava quase histérica. Tentou aliviar seu pânico pegando-a em seus braços, mas ela estava rígida e inflexível.
— Faria-o se pudesse. Tem que acreditar nisso.
Ela arrancou-se de seus braços com um puxão forte.
— Estou cansada de acreditar. Estou cansada de esperar aqui, enquanto desaparece durante meses sem me dizer nada. Estamos casados há quase um ano, e passamos menos de três semanas juntos e compartilhamos a cama, uma noite. Uma noite, Eoin. Não pode me deixar aqui. Não permitirei. Ou você fica ou me leva junto...
Eoin sabia que estava chateada, e estava tentando ser compreensivo, mas não gostava de ultimatos.
— Ou o que, Maggie? Que opção têm? É assim que deve ser.
Sua boca se franziu obstinadamente, e ela afastou a cabeça para longe dele sob a luz das velas. Quase podia ouvir o que estava pensando, e isso o enfureceu. As palavras de advertência de Fin voltaram para ele. Por que ela tinha que ser assim? Isso tampouco era fácil para ele. Não poderia pelo menos tentar entender sem fazer exigências? Lady Barbara saberia seu dever. Isso era a guerra, droga.
Mas era jovem e impaciente, ele sabia. Pegando seu queixo, ele forçou seu olhar de volta ao dele.
— Você é minha esposa, Margaret. Ficará aqui e esperará por mim, onde você pertence.
— Não pertenço aqui! Não sem você. Já não posso mais fazer isto.
Seu peito pulsava pelo golpe. Não queria estar casada com ele. Sua mandíbula estava cerrada tão forte que ele podia sentir o pulso em seu pescoço.
— Talvez sim, mas como é tarde demais para pensar duas vezes, sugiro que faça o melhor para viver com isso. Quem sabe, talvez você tenha sorte, e o rei Edward vai tirar você da sua miséria.
Ela ofegou, olhando para ele com uma expressão de espanto no rosto. Lágrimas encheram seus olhos, mas ele estava zangado demais para oferecer conforto.
— Como pode dizer algo assim? O medo de que algo aconteça com você me assombrava a cada hora de cada dia desde que nos separamos. Eu te amo, é só que não posso...
Mas tinha que fazê-lo. Ambos sabiam. Era sua esposa. Olhou-o com impotência, com lágrimas correndo por suas bochechas.
Sua raiva se esvaiu. Ele a atraiu de novo para seus braços e, como não pôde dizer nada para consolá-la, abraçou-a enquanto ela soluçava. Fizeram amor quase com desespero, mas isso só pareceu aumentar o abismo entre eles.
Quando ele partiu pouco depois, apenas o olhou. Ele sentiu como se estivesse se despedaçando. Veio para casa para melhorar as coisas e só as piorou. E temia que o tempo e a distância estivessem separando-os de uma maneira que nunca seria capaz de superar.
Não querendo piorar as coisas, não contou a ela sobre Fin.
O que estou fazendo aqui?
Margaret estava nas muralhas olhando fixamente o mar, perguntando-se como sua vida poderia ter mudado tanto em um ano. Já não era a "Bela Donzela" de Galloway, era a esposa abandonada de um proscrito. Não vivia com um pai e oito irmãos que a amavam, era uma pária entre estranhos, a maioria hostis. Não era a anfitriã risonha e alegre que tinha presidido a mesa de seu pai com confiança, era o "desafortunado" engano que se sentava na mesa debaixo do salão e raramente falava com alguém que não fosse Tilda. E não era a lady do castelo que estava ocupada ajudando a administrar um feudo para seu pai, era a moça irreverente que trabalhava em um convento e era a única coisa que lhe impedia de enlouquecer de tédio.
E para que tudo isso? Estava esperando aqui por nada? Onde estava Eoin? Quando voltaria?
Voltaria?
Depois da forma que se afastou da última vez, não estava segura de que quisesse voltar. Tinha passado quase um mês desde aquela horrível noite em que seu marido apareceu como um fantasma na escuridão para lhe contar seus planos. Lamentou profundamente algumas das coisas que havia dito, e a forma como ele respondeu às suas demandas exigentes. Mas estava irritada, frustrada e desesperada para que não a abandonasse mais uma vez neste miserável lugar onde estava separada de todos e de tudo o que amava, inclusive do marido que a trouxe para este lugar.
Mas foram suas palavras que a assombraram. Como poderia sugerir — até mesmo com raiva — que ela desejava sua morte para que assim escapasse deste matrimônio? Amava-o. Só queria estar com ele. Mas tinha razão. Que opção tinha? Afastou-se do mar para retornar à torre. Não importava o quanto o mar a chamasse, não podia sair.
Ela não entendia como tudo poderia ter dado tão errado. Como poderia um matrimônio que pareceu tão romântico e perfeito ser um erro? Parecia como se nada tivesse dado certo desde o momento em que tinham feito seus votos na cabana. O mundo se voltou contra eles. E não havia nada romântico em casar-se com um homem cuja lealdade extraviada o tinha afastado de seu lado durante um ano.
Tudo por uma causa perdida. Ainda não podia acreditar que tivesse decidido ficar com Bruce. Inclusive o irmão adotivo de Eoin se rendeu ao Senhor de Lorn. Fin, o último bajulador de John MacDougall, tinha chegado a Gylen Castle como seu guardião fazia uma semana. Com o Laird MacLean e seus filhos declarados rebeldes foragidos, as terras do clã tinham sido perdidas para a coroa inglesa. Como xerife de Argyll — a autoridade do rei inglês na região — Lorn tinha dado o comando do castelo a Fin.
No princípio, Margaret se horrorizou pela notícia da volta de Fin, até que se inteirou da razão. Marjory tinha sido dada a Fin como noiva. O matrimônio que a irmã de Eoin sempre desejou ocorreria assim que se pudessem ler as admoestações.
Margaret tentou ficar feliz por ela. Desejava desesperadamente que se equivocasse com respeito a Fin. Ele parecia fazer todo o possível para evitá-la, por isso estava agradecida... e aliviada.
Não foi até a noite da celebração do noivado que Margaret aprendeu que ele só estava ganhando tempo. Apesar da felicidade da futura esposa, a ausência do laird e de seus filhos, que não se ouviu falar desde que Eoin partira, deixou escapar uma ocasião de alegria.
Embora os membros do clã tinham sido obrigados a jurarem a seu novo senhor, sua lealdade seguia sendo de seu Laird, e eles viam Fin como algo entre um oportunista e um traidor.
Fin lhes assegurou que só tinha feito isso para protegê-los, — e que Eoin entendia — mas Margaret não acreditou completamente. Sentia que Lady Rignach também não acreditou, mas escolheu fazer o melhor da situação fingindo acreditar.
A celebração era um assunto complicado e desajeitado que continuou até altas horas da noite por dever, não desejo. Sentindo a ausência de seu marido e achando difícil ocultar sua miséria, Margaret saiu do asfixiante salão para os estábulos para dar a Dubh um tratamento especial. Uma maçã roubada da festa.
Não percebeu de que a tinham seguido.
— O que faz aqui?
Ela se assustou com o som da voz atrás dela, e reconhecendo como Fin, seu coração imediatamente começou a correr. Corrida que ele estimulou quando olhou ao seu redor e percebeu que a encurralou na baia e se livrou do moço do estábulo que estava sentado perto da porta. A porta que agora estava fechada.
Endireitando a coluna, enquadrou os ombros para enfrentá-lo.
— Vim dar para Dubh um presente. Agora, se me desculpar, — disse, tentando passar por ele— disse a Tilda que voltaria em rápido.
Agarrou-a pelo braço.
— Não tão rápido. Temos algumas coisas a discutir, você e eu.
O palpitar de seu coração ressonou no abismo crescente de seu estômago. Podia cheirar o aroma pesado de uísque em seu fôlego, e seus olhos estavam selvagens com uma bruma bêbada. Cada instinto de seu corpo parecia tocar alarmado.
Estar sozinha com Fin sempre a deixava nervosa, mas estar sozinha com um bêbado a deixava aterrorizada.
Seus olhos esquadrinharam seu rosto e logo caíram sobre seus seios, onde permaneceram com um inconfundível brilho de luxúria antes de retornar a sua boca.
— Como conseguiu que ele se casasse tão cedo? Você é linda, mas ele nunca se distraiu com um rosto bonito. Deve ser outra coisa. Você ficou de joelhos? Ele sempre teve uma fraqueza por uma garota que chupa seu pau. Mas então, o que é que um homem não faz por isso?
Margaret ofegou, tão surpresa e indignada que não soube o que dizer. Fez as mulheres...?
Afastou o braço.
— Como você se atreve! Quando Eoin voltar...
— Voltar? — Pôs-se a rir mais forte. — Eoin não retornará. Não se deu conta disso ainda? Se vier aqui, é um homem morto. Caralho, provavelmente já está morto.
A raiva espantou um pouco de seu medo. Odiava ouvir seus próprios temores ecoados.
— Como pode dizer isso? É seu amigo.
Fin ficou um pouco sóbrio.
— Sim, mas ele fez sua escolha. Eu fiz a minha. Nós dois temos que viver com isso. Surpreende-me que siga defendendo-o, considerando...
— Considerando-se o quê?
Margaret esperava que sua voz não tremesse, mas tinha o coração na garganta. Ele bloqueou a única saída do estábulo com seu corpo e agora a apoiava contra a parede traseira.
Ele sorriu, mas nunca alcançou seus olhos enlouquecidos pela bebida.
— Considerando que ele a deixou aqui desprotegida. — Ele se inclinou e ela estremeceu quando sua respiração carregada de uísque rastejou sobre sua pele. — Você é uma mulher linda. Muitos homens seriam tentados...
— Então seriam tolos — disse ela, ficando em pé corretamente, negando-se a acovardar-se. — Se meu marido não voltar para vingar minha honra, eu asseguro-lhe que meu pai e irmãos o farão.
Isso o fez deter-se. Mas então seus olhos se estreitaram sobre ela mais uma vez, como um falcão com sua presa à vista. Parecia que já não estava esperando o tempo certo.
— Seu pai e irmãos estão muito longe, mas talvez se olhasse ao seu redor, haja alguém mais perto de casa em quem pode confiar.
— Quem?
— Eu poderia ser convencido. Com as seduções adequadas — se o olhar que varreu sobre seu corpo lhe deixou alguma dúvida do que queria dizer, o movimento seguinte não deixou margem.
Alcançou-a, atraindo-a tão rapidamente que ela não teve tempo de reagir antes que sua boca a esmagasse.
Saboreou seu uísque e a luxúria, e teria vomitado se tivesse podido respirar. Era tão grande e musculoso como seu marido, e o assalto de um homem tão poderoso como esse a encheu de terror, mas estava preparada. Prometendo que pagaria a seus irmãos se tivesse a oportunidade por eles terem insistido que aprendesse a se defender, Margaret levantou o joelho e o golpeou entre as pernas. Duramente.
Ele se encolheu como um punhado de trapos, gritando de dor. Ela não perdeu tempo, tirou sua faca de comer da bainha em sua cintura e a segurou em seu pescoço.
— Se voltar a me tocar assim, eu vou te matar.
A luxúria desapareceu. Era um ódio puro que agora via em seus olhos.
— Você vai se arrepender, vadia.
Não duvidava que ele dizia a sério. Não querendo lhe dar a oportunidade de se recuperar, correu para longe de seu lado, para fora do estábulo. Não havia mais nada a fazer. Tinha que ir até Lady Rignach.
Ela teria - se não tivesse corrido direto para uma Marjory atordoada que estava parada do lado de fora da baia. Pelo olhar ferido no rosto da garota, se ela não tivesse visto tudo, viu o suficiente.
Quando se voltou e correu, Margaret a perseguiu.
— Espere, — disse, agarrando-a no fundo da escada da torre. — Oh, Deus, Marjory, sinto muito que você tenha visto isso. Mas talvez seja melhor que você descubra a verdade agora.
— Saber que verdade? — Repetiu ela com aborrecimento. — Que você traiu meu irmão e tentou seduzir meu noivo? Eu vi você beijá-lo— a fachada de ira desmoronou como uma parede seca. — Como você pôde?
Vendo a devastação nos olhos da outra mulher, Margaret lutou por paciência, mas tratou de explicar com calma. Marjory estava ferida, mas não havia nenhuma interpretação que pudesse ser mais errada que os fatos que acabavam de ocorrer pondo a culpa em Margaret.
— Fin me atacou, Marjory. Estava bêbado. Quando tentou me beijar, vi-me obrigada a me defender. Você deve ter visto a faca.
— Atacada? Quer dizer que você o provocou. O que esperava quando você zombou dele, seduzindo-o por semanas, meses? Então, quando finalmente decide aceitar sua oferta, se finge de inocente e tira sua faca — as lágrimas começaram a cair e Marjory soluçava incontrolavelmente. — Deus sabe, você fez todo o possível para confundi-lo. Mas Fin me ama e todo mundo sabe que você é uma puta.
O som de uma bofetada destroçou o ar fresco da noite. Margaret não sabia qual delas estava mais surpresa. Mas não ia deixar que ninguém dissesse algo assim, nem sequer uma mulher que supostamente fosse sua irmã.
Olharam-se à luz das tochas.
— Eu te odeio — disse Marjory, sustentando sua bochecha em sua palma. — Todo mundo a odeia. Ninguém a quer aqui. Gostaria que meu irmão nunca tivesse se casado com você, então poderia partir daqui.
Desta vez quando ela fugiu, Margaret não a perseguiu.
Subiu as escadas para sua câmara, colocou uma capa escura, alguns pertences em uma bolsa — incluindo o jogo de xadrez no qual trabalhou tão duro— e saiu pela porta dos fundos em meio à multidão de foliões sem que ninguém se desse conta.
Deixou para trás um coração partido, seu adorável cavalo com o qual não poderia escapar sem ser vista, e uma nota para seu marido, caso ele retornasse. Ele tinha feito o que precisava fazer e agora ela estava fazendo o mesmo.
Margaret MacDowell já teve o suficiente: ela estava indo para casa.
Capítulo 14
Perto de Garthland Castle, Galloway, Escócia, Dia de São Valentin, 1307
O vento arrastava os laços de suas tranças, enviando o cabelo para trás, enquanto Margaret abaixava a cabeça para o pescoço do garanhão e corria através das árvores sombreadas. Podia ouvir o grito de seu companheiro atrás dela, mas não a alcançou até que ela se deteve no lago.
— Pelo amor de Deus, pequena Maggie, que diabos acredita que está fazendo? — Aproximou-se e agarrou as rédeas, obrigando seu cavalo a deter-se completamente. — Está tentando se matar, cavalgando pelas árvores assim? Deveria lhe pôr em cima de meus joelhos.
Margaret olhou para o rosto bonito e familiar, embora não estivesse voltado para ela com tanta fúria muitas vezes. Senhor, quase acreditava em todas as histórias que ouviu de sua ferocidade no campo de batalha. Mas Tristan MacCan era seu amigo desde que se lembrava. Seria preciso mais do que um olhar sombrio para intimidá-la.
Ela estreitou os olhos imediatamente.
— Estava correndo — e ganhando — voltou a apontar. E a última vez que nos vimos, não era meu pai nem meu marido, Tristan MacCan, então não tente mandar em mim.
Com um movimento de sua cabeça, desmontou, saltando com uma exclamação. Caminhou para a beira da água.
Mas ele estava bem atrás dela. Tomando-a pelo braço, Tristan a fez girar para olhá-lo.
— Ainda não, talvez. Mas quando eu for, a colocarei em cima de meus joelhos, se alguma vez voltar a fazer algo assim. Poderia se machucar na escuridão, correndo tão rápido. Você assustou meu coração.
Ele sempre fazia isso, destroçava-a. Não podia zangar-se com ele quando dizia coisas tão doces como essa. O assustou e sua reação tinha sido motivo de preocupação.
Mas era mais que isso. Tristan cuidava dela, mais do que imaginou. Mas foi só quando voltou da casa de Kerrera que notou as sutis mudanças. A forma como a olhava com desejo, e talvez uma leve beira de possessividade quando pensava que ela não estava olhando. O modo como já não seguia todas as lindas moças que batiam seus cílios para ele porta afora. A maneira como ele tentou facilitar a transição de seu retorno para casa com seu pai e irmãos.
Tristan sempre assumiu — como ela mesma — que seu matrimônio seria político. Seu matrimônio com Eoin tinha mudado tudo. Agora que estava de volta, ele achou que recebeu uma segunda chance, graças a seu pai. Mas a preocupava muito lhe dar esperança onde não a havia. Seu coração pertencia a um homem, e até que aprendesse a viver de outra maneira, o esperaria.
Quatro meses depois de voltar para casa, Margaret se perguntou se cometeu um erro. O episódio com Fin e Marjory a abalou muito, seu único pensamento tinha sido escapar. Tinha renunciado muito facilmente? Lady Rignach a teria escutado? Acaso Eoin tinha voltado para casa para descobrir que estava sozinho?
Não ouviu nada dele diretamente, só os rumores que Bruce e um punhado de homens estava fugindo às ilhas ocidentais. Era como se tivessem desaparecido na névoa há cinco meses.
Recentemente ouviu rumores sobre a volta do "rei" — e seu pai certamente estava sendo reservado sobre algo, com mensageiros indo e vindo a todas as horas, — mas os guerreiros que tinham guarnecido os castelos próximos tinham permanecido inativos durante meses. Por isso ela se sentiu aliviada. Deus sabia que ela não queria rei Edward, mas tampouco queria que a guerra recomeçasse. Só queria que Eoin retornasse para casa em segurança. Não importava o que lhe dissesse seu pai, negava-se a acreditar que ele estava morto.
Voltou-se para Tristan, que relaxou o aperto em seu braço, mas ainda estava de pé perto dela.
— Sei o que meu pai quer, Tristan. Mas não estou de acordo com seus planos para dissolver meu matrimônio com a pretensão de um pré-contrato. Você e eu não estávamos prometidos em segredo, e não direi que estávamos.
Ainda não estava o suficientemente escuro para mascarar a expressão de Tristan, e pôde ver o brilho de irritação em seus olhos ridiculamente verdes — Senhor, ele envergonharia as esmeraldas!
— Não posso acreditar que continue amando um homem que você mal conhece, que lhe abandonou entre estranhos, e então esperava que você se sentasse perto da lareira esperando por ele. Se você fosse minha esposa, eu teria levado você comigo. Nada teria me impedido de ter você ao meu lado.
Margaret sentiu uma pontada no peito, sabendo que Tristan dizia a sério. A teria levado consigo, e não podia evitar pensar na ideia de que se Eoin a tivesse amado de verdade, teria feito o mesmo.
Ele sustentou seu olhar.
— Ele provavelmente está morto, você sabe, não é?
Ela não disse nada, mas desviou o olhar. Saberia se ele estivesse... Não?
Ele forçou seu rosto de volta para ele com a mão no seu queixo.
— Mas mesmo que ele tenha sobrevivido nos últimos meses, você não acha que ele virá até aqui, não é? Você o deixou, Maggie.
A dor se intensificou, as palavras de Tristan ecoando seus medos.
— Eu te disse por que o... — disse ela, sua voz embargada.
— Sim, mas duvido que se incomode em vir perguntar. Deixou clara sua escolha quando voltou para sua família, onde você pertence.
Mas esse era o ponto. Não estava segura de que pertencesse a nenhuma parte. Garthland era o mesmo, mas também era diferente. Ou talvez era ela que estava diferente. Ria e brincava, falava sem pensar, e fazia o que queria sem pedir permissão. Seus dias estavam ocupados e cheios de propósito. Voltou para seu papel de dama do Castelo e organizou inumeráveis festas desde que retornou. Já não era tão infeliz.
Mas tampouco era feliz. Como podia ser quando Eoin estava em perigo? E como em Gylen, não havia ninguém com quem falar em Garthland sobre seus temores por seu marido. Nem sequer Brigid. A distância que havia sentido de sua amiga antes de sair de Stirling se alargou na volta de Margaret. Normalmente, Brigid teria acompanhado Margaret e Tristan no passeio ao lago, mas tudo o que Brigid parecia querer fazer, desde que ela e seu irmão tinham chegado era sentar-se junto à janela e observar os homens no pátio enquanto costurava. Margaret estava ainda mais convencida de que Brigid se apaixonou, mas cada vez que perguntava a sua amiga, ela ficava com uma expressão de dor no rosto e se recusava a falar sobre isso.
Assim como no castelo de Gylen, Margaret estava entre duas lealdades. Não cabia mais em lugar algum, não pertencia a nenhum dos clãs completamente e ambos desconfiavam dela.
— Eoin me ama — disse Margaret ao irmão de Brigid, tentando se desvencilhar de seu agarre. — Virá por mim quando puder.
Devia parecer mais segura do que se sentia, porque a expressão de Tristan endureceu.
— E em quanto tempo será isso? — Ele a atraiu mais perto, então seus olhos estavam separados só alguns centímetros na escuridão. —Você é uma linda jovem, Maggie. Está preparada para esperar anos para que seja seguro o suficiente para que MacLean tente se esgueirar até aqui para buscá-la? Esgueirar-se é o que ele terá que fazer. Enquanto seu pai viver, enquanto um dos parentes do Senhor de Badenoch viver, nunca será seguro para Bruce e seus homens na Escócia. Matou-o diante de um altar, pelo amor de Deus — ignorando sua própria blasfêmia, baixou a voz. — E se esquece de que a tive em meus braços antes. Sei o quanto você é apaixonada. Quer passar meses e anos sem isso?
Sempre tinha sido bom em surpreendê-la, e o fez de novo quando inclinou a cabeça e a beijou. Seus lábios eram quentes e suaves, e sua boca tinha sabor de cravo. Era instantaneamente familiar, mas também estava, instantaneamente errado.
Ele tentou embalar sua cabeça na mão e aproximar a boca da sua para deslizar a língua como estava acostumado a fazer, mas ela o afastou com força. Ele tropeçou para trás, xingando.
— Chega Tristan, pare! — Colocou as mãos nos quadris e o olhou furiosamente. — O que acredita que está fazendo?
Seus olhos brilhavam ardentemente... mas com outra coisa.
— Mostrando o que lhe falta. Provando que seria tola em esperar um homem que nunca voltará, quando têm um aqui que a ama.
Deu um passo mais perto dela, mas ela o segurou.
— Pare, Tristan! Não quero isso.
Seus olhos se tornaram ferozes, inclinou-se para ela, como se pudesse atraí-la para seus braços.
— Posso fazer você querer.
Havia uma poderosa vantagem em sua voz que ela não reconheceu. Isso lançou-lhe um calafrio de temor por sua espinha. Mas Tristan não era Fin MacFinnon. Nunca faria mal a ela.
— Não, não pode — disse com firmeza. — Somos amigos há muito tempo, mas se persistir nisso, já seremos mais.
Por um momento pareceu como se ele pudesse pressionar o caso, mas então suas palavras pareceram penetrar nele. Podia ver o aborrecimento e a frustração em guerra em suas características perfeitas.
— Está cometendo um erro, Maggie. Espero que quando perceber, eu não tenha me cansado de esperar. Não vou dormir sozinho para sempre. Mas continue com essa teimosia e posso ir atrás de outra.
Tomando seu cavalo pela brida, dirigiu-se para a escuridão. Queria chamá-lo, mas sabia que era melhor lhe dar tempo para esfriar seu temperamento. O castelo estava só a um grito de distância.
Um momento depois, reconsiderou. Escureceu de repente, e as sombras do bosque tinham assumido um tom sinistro. Algo parecia errado. O ruído das folhas agitava um calafrio que corria por sua espinha. Olhou ao seu redor, olhando a escuridão.
É só o vento, disse-se.
Mas não foi assim. Os cabelos da parte posterior de seu pescoço se arrepiaram. Ela podia sentir alguma coisa. Alguém estava ali.
Começou a gritar por Tristan, quando uma mão deslizou sobre sua boca, e um homem a agarrou bruscamente por trás.
Não deveria estar aqui. Eoin prometeu a Lamont que daria uma olhada no castelo e se reuniria no ponto de encontro em uma hora. Supunha-se que não devia permitir que ninguém soubesse que estava aqui, nem sequer sua esposa fugitiva. Muitas coisas dependiam dele.
Depois de cinco meses nas ilhas ocidentais enquanto Bruce reunia o apoio necessário para retomar seu reino, estavam preparados. Amanhã à noite, o rei e trezentos homens liderariam um ataque a Turnberry, na costa, e a maior parte de suas forças, mais de novecentos homens, sob o comando dos dois irmãos de Bruce, Alexander e Thomas, liderariam um ataque contra Galloway na costa sul.
Tudo estava preparado, e os guerreiros da Guarda das Highlanders recebiam a perigosa tarefa de explorar as áreas de desembarque na noite anterior. Em Galloway, estava Eoin e Lamont. Em Ayrshire estava MacSorley, MacLeod e MacGregor. A outra metade da Guarda estava em algum lugar a noroeste da Escócia, levando às mulheres de Bruce à segurança.
A missão de Eoin e Lamont era simples. Reconhecimento da força e posição do inimigo, e assegurar-se de que ninguém os esperava. O lugar eleito para seu desembarque era menos que ideal. De fato, Eoin argumentou contra. A profunda e estreita enseada em Loch Ryan poderia permitir ao inimigo atacá-los da borda como peixes apanhados em um barril. Mas com as correntezas marítimas, era o único lugar para desembarcar tantos homens com segurança, e perdeu na discussão. Seu êxito dependeria da surpresa.
Entretanto, ali estava ele, na missão mais importante de sua vida, arriscando tudo porque estava muito furioso, muito consumido pelo ciúme, para tomar cuidado.
Tinha estado no alto de uma árvore, nos subúrbios das muralhas do castelo, tentando ver o pátio para ter uma ideia do número de homens que havia no interior — e com a esperança de ver sua esposa — quando a mulher e o homem saíram pela porta. A lua estava baixa, e ela usava uma capa sobre a cabeça, mas a reconheceu imediatamente. A risada por cima de seu ombro e a forma como tinha saído disparada através das árvores com seu cavalo só o confirmou. Desceu e os seguiu.
Não podia acreditar. Ele esteva se repreendendo durante meses sobre como ele a deixou, para descobrir que sua esposa o deixou com apenas uma explicação em uma nota — não precisava olhar a nota, como aprendeu a escrever?— que estava em seu sporran para recordar as palavras, escritas: "Eu te amo, mas não posso ficar aqui sem você por mais tempo, estarei esperando por você em Garthland. Me perdoe." — Mas quando finalmente a encontrou, estava passeando através do campo com outro homem.
Um homem a quem não demorou muito em perceber que devia ser Tristan MacCan. O bastardo que provavelmente lhe deu seu primeiro beijo. E seu segundo. E quantos mais? Quantos?
Pensamentos perniciosos o assaltaram na escuridão. O ciúme se enrolava dentro dele como uma serpente, esperando a oportunidade. Não ajudou o fato de que MacCan pudesse se defender no campo de batalha e dar a ele um bom combate cara a cara. Quando o bastardo a beijou, Eoin se enfureceu. Teve que se segurar para não arrancar MacCan dela e destroçá-lo membro a membro.
Se ela não tivesse afastado MacCan, Eoin poderia havê-lo feito. Mas a prudência interveio.
Pelo menos por um momento. Até que sentiu sua presença e abriu a boca para gritar. Sabendo que não podia deixar que advertisse o castelo de sua presença, os homens que patrulhavam por toda a zona era uma possibilidade que não podia vencer, viu-se obrigado a se revelar.
— Shhh — sussurrou ao seu ouvido. Sentiu o ar penetrante sob sua mão, enquanto seu corpo se avermelhava de choque e reconhecimento. — A menos que queira trazer os homens de seu pai a mim, esposa.
Inclusive em sua ira percebeu a pressão de seu corpo contra o dele. Todas aquelas suaves curvas que amava se encaixavam perfeitamente contra ele, e reagia como uma besta faminta, endurecendo, enquanto o sangue corria para todas as partes de seu corpo em contato com ela.
Assim que ele soltou seu aperto, ela se virou e o abraçou.
— Eoin! — Soluçou. — Veio. — Ele afastou-a dele.
— Sim, e bem a tempo, para o que acabo de ver.
Algo em sua voz deve havê-la alertado. Olhou-o com ansiedade, embora pudesse ter algo a ver com sua aparência. Todos esses meses fugindo cobraram seu preço. Não apenas nisso, mas também a parte de proscrito. Recordando que usava o elmo nasal enegrecido, usado pela Guarda das Highlanders, ele a soltou e para tirá-lo. Atirou-o ao chão e esperou.
Ela mordeu o lábio, claramente envergonhada.
— Não foi nada, Eoin.
— Nada? — Ele explodiu, sua mente voltando para aquele dia no castelo de Stirling, e com que facilidade ela descartou o beijo do jovem John Comyn. — Ele tinha a boca sobre você, Margaret, e com certeza é algo, desde que você é minha esposa, um fato que parece ter esquecido.
— É óbvio que não esqueci.
— Não? — Ele a puxou contra ele. Seus sentidos explodiram, mas a ira lhe impediu de esmagar sua boca contra a dela. — Então, que demônios fazia aqui sozinha com ele? Ou talvez não precise perguntar? Você e eu fomos cavalgar sozinhos.
Ela ofegou de indignação, seus olhos se estreitaram com aborrecimento.
— O que está insinuando?
— Não estou insinuando nada, estou perguntando. Que porra de relação você tem com Tristan MacCan?
— Não tenho uma relação com ele — ela deve ter visto algo em sua expressão. — O quê?
— Você não sangrou.
Levou um momento para compreender o que ele queria dizer. Dirigiu-lhe um olhar que o fez querer esconder-se sob uma rocha.
— Você quer dizer que por isso eu não era virgem? — Soltou uma risada dura. — Os ciúmes o têm feito tolo e idiota. Nem todas as mulheres sangram em sua primeira vez, Eoin. Até eu sei disso. Eu era virgem quando o conheci, e fui fiel a você todos os dias após, embora agora estou me perguntando por que — fez uma pausa, como se lutando para acalmar seu temperamento. — Tristan estava errado ao me beijar, e sinto que você tivesse que ver isso, mas não sou uma puta. E só porque terminei na cama com você não significa que farei com outro homem.
Porra, ela estava fazendo com que ele se sentisse um idiota. Mas não era ele quem estava beijando outra mulher no bosque. Não era ele quem estava discutindo como terminar seu matrimônio.
— Por que diabos a encontro aqui? Minha esposa deveria estar em Gylen. MacCan é a razão pela qual me deixou? Você se cansou de esperar por um marido e decidiu tomar outro?
— Talvez deveria havê-lo feito! Não fui eu quem te deixou sozinho e desprotegido. Não fui eu quem desapareceu por meses sem te dizer nada. Eu não sou aquele que mantém você no escuro. Não fui eu quem saltou da escuridão, e me assustou até a morte, lançando acusações como um selvagem, quando não o vejo há meses. Meses em que não sabia se você estava vivo ou não. Isto não é um matrimônio, Eoin, ou, pelo menos, não um do qual eu faça parte.
Desprotegida? O que queria dizer? Teria perguntado, mas se afastou e sabia que não podia deixá-la partir. Parte dele temia que já a tivesse perdido.
Apoiou seu rosto contra o dela, de modo que apenas alguns centímetros separavam seus olhos.
— Enquanto haja respiração em meu corpo me pertence. Se MacCan ou seu pai pensam que vão mudar isso com alguma afirmação falsa de pré-contrato, eles podem ir para o inferno. Eu mesmo os colocarei lá.
Seus olhos brilharam.
— Não pertenço a ninguém. Não sou uma posse pela qual lutar, supõe-se que devo ser sua esposa. Mas se esta é sua ideia de como tratar alguém que você deveria amar, então já tive o suficiente, e é você quem pode ir para o inferno, ou voltar para a guerra, que é tão importante para você.
Mas Deus, amava-a. Esse era o problema. Não podia deixá-la ir, embora merecesse mais do que poderia lhe dar agora. Tinha que segurá-la. Tinha que encontrar uma maneira de recuperar a conexão perdida de volta.
Então ele fez a única coisa em que conseguiu pensar. A única coisa que ela não podia negar. A única coisa que ele sabia que poderia acalmar a tempestade furiosa dentro de ambos. Cobriu sua boca com a dele e a beijou com toda a paixão reprimida, toda a ira desenfreada, todo o medo açoitando dentro dele. Sua necessidade por ela era crua e poderosa, feroz em sua intensidade. Como uma tempestade de relâmpagos, cintilou e trovejou, açoitando os elementos que os rodeavam, ambos em um violento frenesi de luxúria e desejo.
Sua boca estava aberta, sua língua se empurrava contra a dela com a mesma fome, a mesma necessidade, o mesmo desespero frenético. Estava agarrando seus ombros, apertando seus braços, movendo suas mãos sobre seu corpo com o mesmo ardor. Adorava quando ela o tocava, adorava a sensação de suas ambiciosas mãos sobre ele.
Sua boca estava em sua garganta, suas mãos em seus seios, em seu traseiro.
Ela estendeu a mão para ele, moldando a mão em torno de seu pênis. Parecia tão bom, ele pensou que ia explodir. Eles estavam puxando a roupa um do outro. Seus sapatos estavam desatados, seu braie desatado, e sua ereção solta.
O ar frio da noite não aliviava o calor que pulsava em suas veias. Estava ardendo. Estava em chamas. Ele a apertou contra uma árvore, levantou suas saias, e deslizou a mão entre suas pernas.
Jesus. Já estava pronta para ele, e não podia esperar um segundo mais para estar dentro dela. Fazia tanto tempo...
Entrou nela com um impulso que surpreendeu a ambos. Um impulso de posse. Um impulso de afirmação. E um impulso que não poderia ser negado.
Eles pertenciam um ao outro.
Repetidas vezes ele demonstrou isso, enquanto seus quadris se balançavam de um lado a outro, primeiro lentamente, e então quando seus gritos se tornaram mais insistentes, mais rápidos. Ele bombeou com mais força. Penetrando mais profundo com um desejo feroz e uma necessidade primitiva.
Sim. Oh, Deus, sim. Era maravilhoso.
Estava construindo o prazer. Cercando eles. Clamando pela liberação.
Podia sentir a pressão na base de sua espinha. Implacável, consumidora e irreprimível. O som de seus gritos o envolveu.
— Oh Deus, Maggie... eu te amo muito.
As palavras ecoaram repetidas vezes em sua cabeça enquanto seu corpo se apoderava dela e as poderosas emoções o separavam. Encheu-a com a prova desse amor, explodindo profundamente dentro dela.
Só quando o rugido das chamas se apagou notou o silêncio.
Algo tinha sido diferente. Desde aquela primeira vez na cabana, Margaret soube que havia algo diferente no amor de seu marido. Sentiu que ele estava se contendo. Mas só agora percebeu o que era.
Ele se empurrou para trás, seu pênis saindo dela — de dentro dela — onde encontrou sua liberação. Sentiu a frieza e se perguntou como podia ter perdido algo tão significativo. Exceto por aquela primeira vez, cada vez que tinha feito amor com ela, retirou-se dela antes do êxtase.
— Oh, Deus, Maggie, sinto muito. — Retirou a mão de seu desalinhado cabelo que estava muito mais curto do que ela lembrava. Parecia muito diferente. Todos os vestígios da juventude tinham desaparecido. Era um homem e de aspecto muito perigoso. Este homem pertencia às sombras, vivia nas sombras. Não era o homem com quem se casou. — Não quis que isso acontecesse assim.
Ela não se moveu de seu lugar contra a árvore, enquanto ele voltava a vestir-se.
Por quê? Por quê? A pergunta soou em seu ouvido. Temia que não queria escutar a resposta, mas perguntou de todos os modos.
— Não quis que acontecesse assim? Por que, você esqueceu de fazer alguma coisa? — Ele olhou-a, obviamente confuso. — Existe alguma razão pela qual você escolheu ter seu prazer fora de mim até agora?
Ele não se afastou da acusação em seus olhos.
— Pensei que era o melhor — seus punhos apertados ao seu lado, sua voz estridente.
— O que era o melhor?
— Há menos possibilidades de ter um filho.
Olhou-o fixamente na escuridão, incapaz de respirar, sentindo-se como se a tivesse chutado no peito.
— Você não quer uma criança comigo — sussurrou. Seu erro selvagem, uma esposa atrasada.
Ele pegou sua mão gelada, mas temeu que nunca mais voltaria a sentir-se quente outra vez.
— É óbvio que sim, mas não agora. Não sabia se estaria vivo de um dia para o outro durante o último ano, Maggie. Pensei que seria mais fácil para você
— Como você é atencioso — sua voz soou tão aborrecida e longínqua quanto parecia.
Ele estava se escondendo dela de muitas maneiras, por que deveria surpreender-se? Não lhe disse nada sobre seus planos de lutar por Bruce, tinha desaparecido durante meses, não sabia aonde ia e o que estava fazendo. Negou-se a levá-la com ele, e a deixou com um homem que a odiava e que poderia tê-la ferido — para "protegê-la". E só agora ele veio para ela?
— Por que você está aqui, Eoin? Por que veio me buscar só agora? — Sua mandíbula apertada foi sua resposta. Conteve sua respiração, o apertar em seu peito era uma dor cruel, ardente. — Já entendi — disse brandamente. — Você não veio me buscar, não é?
Ele estendeu a mão, mas ela se encolhe.
— Esperava vê-la, mas não posso levá-la comigo. Ainda não.
— Por que não?
Não esperava uma resposta, e ele não lhe deu uma.
— Não seria seguro. Nem deveria estar aqui agora. Não pode dizer a ninguém de minha presença.
— Está planejando algo, não é? Por isso está aqui.
Ele não traiu nada por sua expressão, mas sua voz se intensificou.
— Falo sério, Maggie, ninguém deve saber. Em qualquer circunstância. Estou confiando em você. Minha vida e a de outros dependem disso. Assim que estiver seguro, mandarei que Fin envie seus homens para que a leve de volta a Gylen.
— Não.
A suavidade de sua voz pareceu surpreendê-lo.
— Como assim não?
— Não voltarei para Gylen, especialmente com Fin. Não lhe interessa saber por que parti? Seu irmão adotivo me atacou, Eoin. Beijou-me, e acredito que ele teria tentado me forçar, se eu não tivesse conseguido escapar.
Eoin parecia absolutamente aturdido.
— Porra, Maggie. Você tem certeza? Possivelmente houve algum tipo de mal-entendido? Agora ele está casado com Marjory.
— É óbvio que tenho certeza, e não houve nenhum mal-entendido. Sua irmã viu tudo, embora se convenceu de que fui eu que o beijei.
Ele não disse nada, mas por um momento — por uma fração de segundo — viu a pergunta em seus olhos, e parecia como se a tivesse apunhalado com uma adaga, tão agudo e penetrante era o golpe.
Ela olhou para ele, incrédula. Como poderia alegar amá-la sem acreditar nela, mesmo que por um instante? Parecia o golpe final. Estava cansada dos ciúmes, cansada das suspeitas, cansada das desconfianças, mas principalmente estava cansada de estar sozinha. Ele nunca se comprometeu realmente com ela nem com seu matrimônio.
— Vá para o inferno, Eoin. E não se incomode em voltar.
Seu cenho se voltou feroz e zangado.
— O que isso quer dizer?
— Significa que cansei que esperar que confie em mim. Cansei de tentar provar tudo a você. Como pôde pensar por um momento... — deteve-se, respirando fundo através da bola de dor que ardia em seu peito. — Já não me defenderei ante você nem ninguém mais. Não serei a metade de uma esposa. Não serei um pequeno e sujo segredo para me esconder em algum castelo para que possa voltar quando desejar. Isso foi um erro.
Havia uma nota de finalidade em sua voz que deveria ter o alertado.
— Isso não é assim, Margaret. Se tentasse ver as coisas da minha perspectiva. Fiz promessas. Tenho um dever.
— E seus votos e deveres comigo? Diz que me ama, mas isso não é amor, Eoin. Isso é solidão, segredos e suspeitas intercalados com momentos de prazer físico.
Ele a olhou fixamente. A impotência de seus olhos a rasgou, mas se manteve firme.
— Estou fazendo o melhor que posso, Maggie. Sei que isso é difícil, mas por favor, tente ser um pouco mais paciente.
— Não, — disse, e depois repetiu com mais firmeza. — Não. Já cansei de ser paciente. Quero tudo de você. Se sair agora sem mim, não se incomode em voltar.
Sabia que não gostava de ultimatos, mas não voltou atrás. Não dessa vez. Eles não podiam continuar assim. Não sobraria nada. Talvez já não houvesse mais nada. Sua expressão se converteu em gelo, frio e duro.
— É isso o que realmente quer? — Suas entranhas amarradas.
— Sim.
Queria retirar a palavra assim que a disse, mas sabia que precisava ser dito. Ele precisava escolher.
Simplesmente não acreditava que escolhesse deixá-la.
Capítulo 15
Margaret perdeu a noção do tempo. Não sabia quanto tempo se sentou na base da árvore soluçando. Um minuto? Dois? Dez? Mas de repente, Brigid estava ali.
— Maggie! Graças a Deus, te encontrei! Não me escutou te chamar?
Margaret elevou a cabeça e se encontrou com o olhar de sua amiga à luz da lua.
Brigid empalideceu, seus olhos se arregalaram de horror. Correu para frente para ajoelhar-se junto a ela.
— Querido Deus no céu, o que aconteceu?
Margaret piscou através das lágrimas de seus olhos inchados e sacudiu sua cabeça, sua garganta muito apertada para responder.
— Tristan fez isso com você? — Disse Brigid. — Estava preocupada quando o vi retornar ao castelo sem você com o temperamento que tem. Oh Deus, por favor me diga que meu irmão não a forçou...
Só então Margaret percebeu o estado de sua roupa. Não tinha amarrado os cordões de seu vestido onde Eoin os soltou, e provavelmente tinha sua marca onde ele devastou sua boca e pescoço com o beijo. Seguindo a direção do olhar de Brigid, olhou para baixo e viu o arranhão acima de seu corpete que devia ser de sua barba.
Sacudiu sua cabeça.
— N-não foi T-Tristan.
Margaret pôde ver o alívio no rosto de sua amiga, antes de endurecer como aço.
— Então quem? Quem lhe fez isso? Temos que retornar ao castelo para dizer ao seu pai.
Margaret se aferrou a ela para impedir que ficasse de pé.
— Não — disse. — Não, não deve.
— É óbvio que devemos. O demônio ainda poderia estar na área.
— Não, Brigid. Falo sério. Não pode — disse freneticamente. — Não é o que pensa. Não podem saber...
Margaret se deteve, sem querer dizer muito. Eoin poderia ter partido seu coração, mas isso não significava que quisesse que morresse por isso. Obrigou-se a ficar de pé, embora suas pernas cambaleassem, e tentou se recompor. Sua amiga a observava cada vez que Margaret fazia o que podia com sua aparência.
— Foi ele, não foi? — Perguntou Brigid. — Seu marido. Ele foi quem fez isso. É ele que está tentando proteger.
Margaret tentou negar, mas era uma mentirosa horrível, e Brigid a conhecia muito bem. No final se viu obrigada a admitir, ou Brigid jurou que iria diretamente ao pai de Margaret.
— Mas deve jurar não dizer nada, Brigid, a ninguém. Pode ter terminado, mas ainda o amo — as lágrimas quentes encheram seus olhos outra vez. — Acabou, Brig. Acabou de verdade.
Sua amiga a envolveu em seu abraço e fez todo o possível por consolá-la. Mas Brigid não poderia refazer o que tinha sido destroçado.
— Tem certeza? — Perguntou Brigid.
Havia algo no olhar de sua amiga que Margaret não entendia. Uma intensidade — uma veemência— com a qual fez a pergunta.
Margaret assentiu com a cabeça.
— Sim. Tenho certeza — sua voz se deteve com um soluço. — Não me ama.
Mais uma vez estava envolta nos braços de sua amiga. Brigid a apertou e a balançou para frente e para trás.
— Então é um tolo, pequena Maggie, e não a merece. Talvez... um final definitivo seja o melhor.
Quase soava como uma pergunta, mas Margaret estava muito devastada para prestar atenção à advertência.
Margaret não percebeu seu erro até a manhã seguinte, quando se levantou depois de uma noite de insônia e tentou abrir a porta de seu quarto. Talvez o único benefício de ser a única mulher na família era que recebeu uma pequena habitação privada no solar do segundo piso da casa da torre.
Puxou duas vezes o trinco, mas estava fechado pelo lado de fora. No começo pensou que era um erro e gritou, chamando a atenção de alguém. Mas quando um dos guerreiros de seu pai lhe trouxe comida para romper o jejum, percebeu de que não era um erro.
Ela o encheu de perguntas, que ficaram sem resposta, e exigiu que a libertasse, o qual ele recusou desconfortavelmente. Quando estava claro que não chegaria a nenhuma parte com ele, pediu para ver seu pai.
Durante longas horas seu pai a manteve esperando, viu-se obrigada a considerar a possibilidade de que sua melhor amiga a tivesse traído.
Um fato que se confirmou minutos depois que Dugald MacDowell entrou no quarto. Parecia um gato que acabava de comer um rato grande e gordo enquanto tirava o elmo, jogou-o sobre a mesa e se sentou em sua cadeira favorita diante do braseiro.
Ela ficou na frente dele, virtualmente tremendo de frustração.
— Qual é o significado disso, pai? Por que estive presa em meu quarto o dia todo?
Seus olhos se estreitaram um pouco com seu tom, e talvez em outro dia ele a teria castigado, mas hoje estava muito contente consigo mesmo.
— É para sua própria proteção.
— Para minha o quê?
Seu sorriso ficou um pouco frio.
— Eu não quero que seu dever confunda você.
Então ele disse a ela quão horrivelmente ela foi traída. Brigid disse a ele, na verdade, contou tudo a Dougal. Ela olhou para seu pai com incredulidade.
— Mas por quê? Por que Brigid faria isso?
Ele deu de ombros com indiferença.
— Por que eu deveria me importar? Mas eu suspeito que seja uma paixão tola por seu irmão. Sempre esteve olhando para ele.
Tinha? Como Margaret não notou? Mas ainda não fazia sentido.
— Eu teria preferido que tivesse sido minha própria filha que me trouxesse notícias da presença do rebelde.
Não perdeu a sutil reprovação. Mas mesmo seu pai não podia negar que ela devia a Eoin sua lealdade.
— É meu marido, pai.
— Não por muito tempo.
Sua certeza enviou um calafrio ao seu coração.
— Por favor, pai, deve acreditar que não tenho nem ideia de onde ele está. Tenho certeza de que Eoin já desapareceu há muito tempo.
— Tenho certeza de que não é nada disso. Estivemos esperando um ataque, e a presença de seu marido na área confirmou isso. Loch Ryan é o lugar perfeito para desembarcar com segurança um número significativo de navios. Não notou todos os homens que tenho mobilizado na zona durante o último mês? Eu os espalhei entre os castelos próximos para impedir que os rebeldes conhecessem nossa força. Nós teremos uma surpresa maravilhosa esperando por eles. Esta noite, eu apostaria.
Oh Deus... não. Margaret se deixou cair na cama, incapaz de ficar de pé. O quarto parecia girar. Sua cabeça estava palpitando com suas palavras. Não diga a ninguém de minha presença.
Ela não queria. Mas Brigid adivinhou, e pensou que o estava protegendo confirmando. Achou que podia confiar nela. Nunca imaginou que sua amiga poderia fazer algo assim.
Mas não importava. Inconscientemente ou não, Margaret revelou sua presença aqui, e ao fazê-lo, traiu-o. Mas não podia permitir que seu erro lhe custasse a vida.
— Por favor, pai, não entende bem. Veio para me ver, isso é tudo. Discutimos. Viu-me com Tristan e interpretou mal.
Seu pai parou, seu olhar endureceu.
— Perguntava-me por que ele seria tão tolo para ter um encontro contigo. Morto pelo ciúme — Ele riu, sacudindo a cabeça. — Se estiver dizendo a verdade, não têm nada com o que se preocupar. Mas se estiver mentindo... — sua boca caiu em uma linha plana. — Se estiver mentido, nada o salvará de todas as maneiras, porque nada me impedirá de exigir vingança dos homens que mataram meu parente. E se esse é o retorno "glorioso" de Bruce para retomar seu reino, finalmente conseguiremos o reconhecimento que merece nosso clã. Você pode imaginar como Eduardo vai recompensar o homem que trouxer a cabeça do rei traiçoeiro e assassino?
Margaret defendeu seu caso, mas sabia que não adiantava. Seu pai definiu seu rumo, e sua felicidade era um pequeno preço a pagar pela vingança e a ambição.
Sua tentativa equivocada de proteger seu marido poderia acabar lhe custando a vida. Ele a avisou. "Não conte a ninguém... Sob qualquer circunstância."
Oh Deus, como não pôde o escutar? Tinha que fazer alguma coisa.
Foi uma matança. O estômago de Eoin revirou enquanto lutava contra os guerreiros MacDowell enquanto rolava o sangue de seus compatriotas. Centenas de corpos, a maioria deles homens de Bruce, estavam espalhados pela praia e flutuando de barriga para baixo no lago que à luz do amanhecer veria um vermelho espantoso.
Eles perceberam que estavam presos tarde demais. A frota de navios e o exército que Robert Bruce levou cinco meses para juntar — dois terços deles mercenários de Gallowglass da Irlanda— tinham navegado para o lago sob o céu sem lua e sem o elemento vital da surpresa. O inimigo os estava esperando. Muito mais do que sua inteligência os levou a acreditar.
Eoin fez uma careta com uma fonte de sangue salpicado em seu rosto depois de cravar sua espada no pescoço de seu oponente. Não teve tempo de apagar a imundície de seu rosto... ou pensar em como MacDowell tivesse podido encontrar sua inteligência... antes que o enxame de guerreiros Gallovidianos caísse sobre ele. Dois, três, às vezes quatro homens de uma vez. Os homens de MacDowell saíam das árvores onde se esconderam como gafanhotos cobertos de xadrez.
MacDowell era um bastardo ardiloso, Eoin lhe daria isso. O chefe de Galloway e seus homens estavam esperando até que uma grande parte do exército de Bruce arrastou seus birlinns à praia antes de atacar, e então, com apenas uma pequena força destinada a atrair mais exército mais do exército de Bruce para ajudá-los.
Funcionou. Pensando que estavam navegando ao resgate, a tripulação da segunda nave foi pega de surpresa e, em seguida, subjugados quando uma força muito maior dos homens de MacDowell apareceu de repente.
Como parte da vanguarda, Eoin e Lamont estavam entre os primeiros homens na praia. Ao perceber o que estava acontecendo, Eoin tentou advertir os navios que se encontravam atrás deles para que voltassem, mas seus gritos não podiam ser ouvidos por cima do ruído da batalha e não podia se afastar de seus atacantes por tempo suficiente para fazer outra coisa. Entre os balanços de sua grande espada entre suas mãos, Eoin observou como os homens com os quais lutou ao longo de meses estavam sendo derrotados sob a violenta investida.
Seu único golpe de sorte veio quando alguém acendeu um farol destinado a guiar os marinhos na boca do lago. Alertou os últimos navios do perigo, e dois conseguiram escapar antes que entrassem na armadilha. Dos dezoito navios e novecentos homens que navegaram para Loch Ryan para lançar o ataque de Bruce pela coroa, somente um pouco mais de cem homens não tinham sido apanhados na armadilha de MacDowell.
O resto deles foram deixados para lutar por sua fuga ou morrer. Eoin lutou como um homem possuído, mas não foi suficiente. Superado em número, Thomas Bruce, um dos comandantes, deu a ordem de recuar, que em efeito era um chamado para fugir por qualquer meio possível. Um momento depois, Eoin observou com horror como Thomas e seu irmão mais novo, Alexander, foram rodeados pelos MacDowells e obrigados a se renderem.
Com seus comandantes tomados, converteu-se em um caos — com cada homem por si — enquanto o que restava do exército de Bruce correu para as árvores, sua única esperança era fugir da captura pelo bosque.
Por cima do estrondo do caos, Lamont gritou para chamar a atenção de Eoin e fez sinal para que o seguisse. Eoin assentiu com um gesto de compreensão e acertou um dos dois espadachins que o atacava com um golpe de sua espada em suas pernas, seguido por um mortal em seu pescoço. Abriu passagem através de alguns guerreiros inimigos, forjando lentamente o seu caminho até a praia em direção ao seu companheiro.
Estava a poucos metros de distância de Lamont quando um grande guerreiro se meteu em seu caminho. Pela qualidade de sua armadura e armamento, Eoin sabia que não era um homem de armas regular, mas foi quando suas espadas se encontraram no primeiro choque de aço que Eoin reconheceu o rosto sob o elmo e a sujeira. Dougal MacDowell, O irmão mais velho de sua esposa.
Eoin amaldiçoou e recuou. Estava furioso com Margaret, mas não havia como voltar para ela sendo o homem que matou seu irmão. Apesar de seu ultimato, ele tinha toda a intenção de reivindicar sua esposa na primeira oportunidade. Não se livraria dele com tanta facilidade, mas não ia seguir discutindo com ela quando estava sendo tão irracional.
— Me deixe passar, Dougal.
— Entregue-se — respondeu o herdeiro de MacDowell — e meu pai pode ser persuadido a salvar sua vida. Depois de tudo, merece um pouco de crédito por isso.
Eoin baixou o estômago. Seus ossos se converteram em gelo.
— Não.
Dougal sorriu, lendo sua surpresa.
— Sua devoção à minha irmã foi surpreendentemente útil para nós.
Pôs-se a rir, e Eoin sentiu como se acabasse de tomar uma adaga no estômago. Não, nas costas. Não podia acreditar. Ela disse a alguém a respeito de sua presença. Soube que cometeu um erro quando a seguiu e se viu obrigado a revelar-se, mas nenhuma só vez pensou que ia trai-lo
Ela o traiu. As palavras ressoavam uma e outra vez em sua cabeça, mas ainda assim não podiam acreditar.
— MacLean, cuide das suas costas!
Ouviu a advertência de seu companheiro muito tarde. Sua desatenção — sua comoção pela traição de sua esposa — havia custado a ele de muitas maneiras. Enquanto se afastava de Dougal, outro guerreiro MacDowell tinha surgido ao seu lado. Voltou-se a tempo de ver o brilho de aço prateado pouco antes de a lâmina bater na parte de trás de sua cabeça com um golpe fatal.
Quando Eoin caiu no chão, ele estava quase feliz por não ter que viver com o conhecimento do que sua fraqueza por sua esposa tinha feito.
Margaret ainda estava a quilômetros de distância de Stranraer e da praia de Loch Ryan quando começou a ouvir os sons. Sons horríveis. O violento choque e ruído de metal, os gritos de vozes zangadas e os gritos horrendos dos moribundos.
Já era muito tarde. Levou muito tempo para escapar e chegar ao antigo farol de Kirkcolm. Sua advertência não funcionou. Os navios deviam estar à frente dela.
— Oh Deus, por favor, não deixe nada acontecer com ele!
Se não tivesse demorado tanto em acender o farol. Ela trouxe uma caixa de isca e conseguiu acender uma pequena fogueira, mas o último guardião não havia deixado a cesta pronta, e demorou algum tempo para recolher a madeira e os galhos e depois subir e descer os degraus para colocá-los na cesta de fogo de ferro.
Seu coração parecia ter deixado de pulsar enquanto cavalgava tão rápido quanto se atrevia para percorrer o caminho escuro da floresta — rezando, implorando, negociando a cada passo do caminho.
Mas os sons da praia só pioraram à medida que se aproximava. O violento estrépito de espadas que tinha reverberado no ar se apagou quando a batalha perdeu sua intensidade e os gritos se fizeram forte. Eram gritos diferentes de todos os que ela já ouvira, e assombrariam seus sonhos durante anos, mas instintivamente ela sabia o que significava: era o som de um massacre.
O mundo parecia um borrão, ou por causa das lágrimas que saíam de seus olhos ou por causa das imagens horríveis que passavam por sua mente. Mas quando chegou a Stranraer, saltou de seu cavalo, e abriu caminho através das centenas de membros do clã, Margaret parecia ter perdido todo o sentido da realidade. Sentia-se como se estivesse em um horrível pesadelo, um mundo lento de descrença e horror, enquanto corria pela praia, seu caminho iluminado pelas tochas que pareciam ter surgido ao seu redor.
Alguns dos homens a reconheceram; ela ouviu mais de um surpreso “minha lady”, mas ninguém tentou detê-la. Soube o motivo no momento em que rompeu através das árvores e a praia em forma de meia lua se estendeu ante ela. A batalha tinha terminado.
O estômago lhe doía ao olhar ao redor. Os corpos — ou partes de corpos— estavam por toda parte. Algumas manchas de areia clara era tudo o que restava no mar de areia e sangue. Ela vomitou, o aroma doentio e acobreado era esmagador.
Quando levantou a cabeça, olhou às cegas, sem saber para onde olhar, sem saber como olhar, muito assustada com o que pudesse encontrar.
Eoin. Por favor, não Eoin.
Os homens de seu pai arrastavam corpos aos montes. O repentino rugido de fogo e os primeiros sopros ardentes de carne queimada que atingiram seu nariz explicaram o porquê.
Com um agudo grito de desespero, começou a procurar freneticamente entre os corpos. A bile subiu de sua garganta mais de uma vez ante as imagens horripilantes, os rostos mutilados além do reconhecimento, o sangue, os olhos arregalados, giravam na frente dela, enquanto abria caminho entre os mortos.
Muitos eram jovens e poucos usavam cotun. Dos tecidos tingidos de açafrão e algodão acolchoado, ela percebeu que a maioria era irlandesa. Entretanto, nenhum usava elmo nasal enegrecido e cotun de couro preto acolchoado.
— Margaret, que diabos está fazendo aqui? — Duncan se aproximou por trás dela, e a fez girar pelo cotovelo para enfrentá-lo. — Porra, como se tivesse que perguntar! Não podia acreditar quando um dos homens disse que a viu. Deve estar louca vindo aqui. Poderia ser perigoso. Pai ficará furioso se vê-la aqui.
— Onde ele está, Duncan? Onde está o pai? — Implorou desesperadamente. — Eu preciso ver se ele sabe alguma coisa sobre Eoin.
Sua respiração ficou presa quando algo piscou em sua expressão - simpatia?
— MacLean está morto, Maggie. Dougal o viu cair.
— Não! — Cambaleou. — Não! — Agarrou o braço de Duncan para estabilizar-se. Eoin não podia estar morto. — Onde ele está? Se estiver morto, me mostre seu corpo.
— Provavelmente é tarde demais.
— O que quer dizer com muito tarde?
Seus olhos varreram até o extremo da praia, onde podia ver as chamas de uma fogueira além de uma grande multidão de homens. Seu coração congelou. O pânico corria grosseiramente através das veias geladas.
Começou a correr. Duncan gritou que se detivesse, mas suas palavras foram omitidas pelo martelar de seu coração em seus ouvidos.
Apanhou-a quando ainda estava a poucos metros de distância.
— Não pode ir lá — disse furiosamente, levantando-a por trás, pela cintura. — Jesus, Maggie, confie em mim, não vai querer ver isso.
— Por que não? O que estão...
Um brilho de prata sobre a cabeça dos homens, seguido de um rugido de aplausos interrompeu a pergunta em sua garganta. Ela parou de bater nos braços do irmão e virou para olhá-lo.
— Alguns dos rebeldes estão sendo executados — ele explicou.
Seus olhos se arregalaram de horror. Seu pai exigia sua vingança com desumana brutalidade que seria recordada por séculos.
— Não é seu marido — assegurou-lhe. — Ele foi morto no campo de batalha.
Sua mente gritou, negando-se a acreditá-lo. Tinha que ver por si mesmo.
— Se estiver nessa pira, preciso vê-lo, Duncan.
Deve ter ouvido o desespero em sua voz. Depois de um momento a soltou.
— Não diga que não te avisei.
Deveria ter lhe escutado. Chegou à beira da multidão bem a tempo de ver a espada do verdugo fazer um arco mortal através do pescoço de um homem que reconheceu. Duncan de Mar, irmão mais novo do anterior Conde de Mar, e cunhado de Robert Bruce duas vezes. Bruce estava casado com a irmã de Duncan, Isabella, e a irmã de Bruce, Christina, estava casada com o irmão de Duncan, Gartnait, o ex-Conde. Afastou a vista, mas não foi rápida o suficiente.
Margaret tinha visto homens morrerem, mas isso era diferente. Desta vez participou disso. A náusea se levantou de novo. Meu Deus, estes homens morreram por causa dela?
Empurrou a multidão até que viu seu pai. Estava observando de lado quando o corpo de Duncan de Mar foi arrojado sobre a pira e outro homem foi trazido para frente. Este parecia ser um chefe irlandês.
Seu pai não pareceu surpreso por vê-la, mas poderia dizer que não estava satisfeito com a interrupção.
— Filha, — disse bruscamente enquanto ela se aproximava. — Da próxima vez a encerrarei no sótão.
Ignorou a ameaça. Teria escapado também, embora tinha que admitir, usar o ferro do braseiro como uma barra em de sua janela, amarrando um dos lençóis a ele, e só ter que descer quatro metros tinha sido muito mais fácil.
— Onde ele está, pai? Onde está meu marido?
O laranja avermelhado das chamas se refletia em seus olhos escuros enquanto seu olhar se voltava para o fogo.
— Na metade do caminho para o inferno, se o fogo tiver feito seu trabalho.
Apontou um corpo consumido em chamas perto da parte superior da pilha. Perto dela, viu o elmo que deve ter caído. Um elmo nasal enegrecido, assim como Eoin usava.
Margaret olhou fixamente para as chamas e sentiu a luz de dentro dela se apagar. O mundo escureceu. Afundou-se nos joelhos, um grito suave e quebrado, o único som da dor lancinante que as palavras de seu pai haviam desencadeado.
Eoin estava morto.
Por causa dela.
Deus, me perdoe.
Capítulo 16
Igreja da Santa Maria perto do castelo de Barnard, Durham, Inglaterra, 17 de janeiro de 1313
Eoin não esperava que ela desmaiasse. E certamente ele não esperava ser o único com a presença de espírito para apanhá-la antes que caísse ao chão.
Mas ali estava ele segurando a esposa nos braços novamente, imaginando por que não a deixou cair. Não era mais do que ela merecia. E não ficaria com o cheiro dela no nariz, o peso de seus seios no braço que serpenteava ao redor de sua cintura, o corpo suave e mole, eroticamente — curvado — que assombrou seus sonhos durante quase seis anos pressionado confortavelmente contra ele.
Tampouco se veria obrigado a olhar de perto o rosto que nunca conseguiu esquecer, embora Deus soubesse que ele havia tentado.
Lamentava ver que ainda era bela, seus traços aparentemente não estavam marcados pela passagem do tempo. Seus lábios seguiam sendo o mesmo carmesim vibrante, os olhos inclinados de sua sereia ainda emoldurados por cílios longos e escuros, sua pele cremosa ainda tinha um aspecto juvenil, e o cabelo que aparecia pelos lados do véu ainda um vermelho audaz e ardente.
Não parecia muito mais velha que a última vez que a tinha visto, há quase seis anos, quando ele assistiu da segurança da floresta onde Lamont o arrastou, após o golpe na parte de trás da cabeça que deveria tê-lo matado, enquanto ela se ajoelhava em aparente arrependimento diante do fogo que poderia ter sido sua pira fúnebre.
Mesmo de longe, podia ver sua devastação, mas já era muito tarde. Seu coração já se endurecera. Alegrou-se de que pensasse que estava morto, porque estava morta para ele. Ele se virou e nunca olhou para trás.
Ou tentou não olhar. Às vezes de noite, em momentos de debilidade, perguntou-se o que acontecera com a mulher que quase lhe custara tudo. Onde ela estava? Com quem estava?
Casada, pensou amargamente. Surpreendeu-se que tivesse esperado tanto tempo.
Mas talvez tenha sido em parte culpa dele. Ele deveria ter lidado com seu casamento impulsivo há muito tempo. Era hora de deixar Margaret MacDowell para trás para sempre.
Mas quando seu olhar permaneceu por mais um momento no rosto que ele pensara em olhar pelo resto de sua vida, sua mandíbula endureceu diante da injustiça. Certamente seu rosto deveria mostrar algo da escuridão de sua alma, não? Ela parecia mais um anjo do que a cadela traidora que o traiu e enviou tantos homens para morte.
Claro, Eoin sabia o que Lamont e o resto de seus irmãos da Guarda das Highlanders disseram. Que MacDowell estava preparado para eles. Que os rumores sobre o ataque planejado de Bruce já tinham chegado até ele. Que as guarnições do chefe de Galloway estavam cheias e seus homens estavam preparados. Que sua própria inteligência tinha sido defeituosa. O erro de Eoin não foi o culpado pelo que aconteceu. Que não foi culpa dele.
Quando ele podia pensar racionalmente sobre isso - o que era raro - ele provavelmente até concordou com eles, mas não mudou o que ela fez. Ou o que ele fez. Sua fraqueza por sua esposa lhe custara sua alma. Ela te reterá. Fin e seu pai tinham razão. Tinha perdido a confiança de seu parente e seu lugar na Guarda por um curto tempo, embora o Chefe tivesse feito com que Bruce reconsiderasse rapidamente.
Eoin nunca teria um lugar no governo de Bruce. Não importava quantos planos bem-sucedidos ocorressem a Eoin, nenhum poderia compensar o desastre em Loch Ryan. Sabia que o rei sentia que parte da culpa pela morte de seus irmãos era de Eoin. Aceitava isso, mas Dugald MacDowell, finalmente, pagaria pelo resto.
Recordando seu propósito, Eoin desviou o olhar da mulher em seus braços e para os homens que estavam de pé diante da porta da igreja, que ainda estavam cambaleando pelo impacto de seu anúncio e ainda não se moveram.
O que era exatamente com o que Eoin contava. Uma rápida exploração ao redor do pátio lhe disse que seus homens estavam quase em posição. Mais alguns instantes e o cemitério estaria cercado.
Imaginou como isso aconteceria em sua cabeça, antecipando como MacDowell e os ingleses reagiriam e responderiam com todos os movimentos possíveis. Ele poderia ter tentado o simples e surpreendente ataque "pirata" pelo qual Bruce e seus homens se tornaram conhecidos, — cavalgando com espadas atraídas pelo feroz ataque — mas isso teria deixado muito a desejar. MacDowell tinha se mostrado tão escorregadio quanto uma serpente. Confiar nos disfarces poderia ser mais arriscado se alguém os notasse muito cedo, mas ao rodear o cemitério, MacDowell não teria para onde ir. Uma espera e um rápido cerco, e Eoin e seus homens voltariam para a Escócia antes que os ingleses e a guarnição do castelo soubessem o que os havia atingido.
Conyers e seus homens teriam que ser neutralizados, mas o objetivo de Eoin era o chefe de MacDowell e seus filhos — o maior número que pudessem levar. — Eoin reconheceu os dois mais velhos de pé, junto a Conyers e seu pai com um menino. Seu olhar deslizou sobre o garoto de pé com as costas para ele, era muito jovem para ser um dos irmãos de Margaret. O menino deveria ser de Dougal.
O irmão mais velho de Margaret se casara com uma herdeira inglesa pouco depois de Loch Ryan, uma das recompensas de Edward da Inglaterra a MacDowell pelo serviço que tinham prestado nesse dia ao capturar os irmãos de Bruce e esmagar o ataque sulino. Felizmente para Bruce, a ponta norte do ataque em Turnberry teve mais êxito, e apesar da perda de quase dois terços de seu exército em Loch Ryan, Bruce desafiou todas as probabilidades contra ele e tinha ressuscitado das cinzas da derrota para estabelecer um ponto de apoio em seu reino. Uma posição que nos últimos anos se tornou entrincheirada. MacDowell e seu clã eram os últimos da significativa resistência escocesa.
E Eoin seria o único a acabar com isso capturando-o, assim que pudesse descarregar a carga — literal e figurativamente— de seus braços. Começou a empurrar Margaret para Conyers, que como o noivo nessa farsa de casamento estava mais perto dele, quando seus olhos se abriram.
Seus olhares se trancaram, e nem sequer seis anos de amargura e ódio o fizeram desviar o olhar. Não esperava ser afetado. Não esperava sentir nada. Não esperava que o ar saísse de seus pulmões e seu coração se sentisse como se estivesse queimando um buraco em seu peito.
Mas era como se estivesse de novo nesse campo de batalha, escutando seu irmão provocá-lo com sua traição, e tudo voltou correndo. Todo o aborrecimento, toda a raiva, toda a dor, e principalmente, todas as perguntas.
O motivo não deveria importar. Isso era irrelevante? Confiou nela, e o traiu. Isso deveria ser suficiente. Mas porra, como poderia ter dito a alguém, quando deveria saber o que isso significaria? Desejava desfazer-se dele tanto assim? O casamento que começou com tanta felicidade se tornou tão insuportável? Será que o amor dela, uma vez testado, não provou ser mais profundo do que a fantasia irresponsável de uma jovem garota?
Uma onda de fúria e raiva se elevou quente e pesada dentro dele. Seu sangue fervia. Seu corpo tremia. Queria atacar a injustiça. Como podia ter feito isso com eles? Por que não pudera ter sido mais paciente? Por que não podia ter cumprir seu dever e tentar entender? Por que não podia ter sido como as outras esposas? Desde Loch Ryan, sete de seus irmãos se casaram, e nenhuma de suas esposas se queixou do que faziam ou de quanto tempo ficavam desaparecido.
Margaret não percebeu nada da tempestade de emoção que estava ocorrendo dentro dele. Seus olhos se suavizaram. Os lábios que ele ainda podia saborear em seus sonhos se curvaram em um sorriso sonhador e delicioso.
Ela elevou sua mão, colocando-a em seu rosto, detendo seu coração.
— Você voltou! Não foi um sonho. Está vivo. Graças a Deus, está vivo.
Nem sequer o mentiroso mais talentoso poderia fingir essa reação. Não poderia duvidar de que estivesse feliz em vê-lo. Ela fez uma parada, mas um movimento com o canto do olho o deixou frio.
Os preciosos segundos de desatenção — os poucos segundos que tinha passado encerrado em transe com sua esposa— haviam-lhe custado. Caralho. Onde estava MacDowell?
Não de novo, droga.
Margaret não podia acreditar. Realmente era ele. Eoin estava de pé diante dela vivo, e por sua aparência, perfeitamente são.
Possivelmente mais que são. Da amplitude de seus ombros e o tamanho dos braços rochosos ao redor dela, estava em boa forma. Um estremecimento de consciência a atravessou enquanto seus surdos sentidos começavam a se concentrar e aguçar. Em muito boa forma. Bem saudável, estava em forma e muito bem construído.
Seis anos de guerra o tinham endurecido. Era maior, mais feroz e mais aterrador. Ele não só parecia forte o suficiente para dizimar todo um exército, seus olhos possuíam a fria crueldade para fazê-lo. Havia um brilho forte no azul da meia-noite que não existia antes, e as linhas gravadas em seu rosto eram mais profundas e mais furiosas, pontuadas por mais algumas cicatrizes. Nenhum sorriso apagaria o sulco entre a testa dele agora.
O jovem e sério guerreiro que se lembrava precisava ser lembrado de rir. O sombrio e imponente bandoleiro vestido de cotun diante ela parecia incapaz de fazê-lo.
Mas não importava o quanto mudasse, ela estava apenas feliz em vê-lo, não pôde resistir a tocá-lo. Sua mandíbula endureceu sob sua mão, mas a aspereza do restolho sob sua palma enviou um calafrio de lembrança derrubando sua espinha. Ela adorava sentir o arranhão de sua barba em sua pele quando a beijava.
Mas se a forma como de repente a empurrou de seus braços para Sir John era uma indicação, seu marido não compartilhava as mesmas lembranças de seu toque.
— Pegue-a — disse com um sorriso de desprezo.
Então recordou o que tinha feito e como ele devia desprezá-la. Seu peito foi apunhalado por uma faca empunhada por sua própria mão.
— Está bem? — Sir John perguntou, enxugando sua testa com uma carícia suave do polegar.
Foi um gesto irrefletido que ela não teria notado há uma hora, mas que, na presença de seu marido, subitamente ressuscitado dos mortos, parecia errado. Ela não precisava se preocupar. Um olhar de soslaio a Eoin disse-lhe que ele já tinha esquecido tudo sobre ela.
Murmurando garantias a Sir John, ela rapidamente saiu de seus braços onde tinha sido jogada sem cerimônia como um saco de grão indesejado.
Mas foi quando Sir John tirou sua espada e a empurrou para atrás dele que percebeu o que estava acontecendo. O movimento que havia sentido antes eram os homens de Eoin, que usavam a armadura dos cavaleiros ingleses que rodeavam o cemitério.
Como ele ainda tinha o poder de machucá-la depois de todos estes anos? Isso não era sobre seu casamento, percebeu. Eoin não veio por causa dela. Não era sobre ela absolutamente. Era sobre seu pai e seus irmãos. Devia ter descoberto que estariam aqui e esperava usar suas bodas como uma armadilha.
Ele fez tudo certo. Enquanto todos ficaram boquiabertos ante Eoin, atônitos por sua declaração, seus homens se moveram em silêncio.
Mas a diversão terminou, e todo o inferno desatou. Talvez também tivesse contado com isso? Talvez esperasse prender seu pai e seus irmãos rapidamente no caos resultante?
Se esse fosse o plano, não funcionou. Era certamente caótico. Os convidados às bodas perceberam pouco a pouco que algo não estava certo e fugiam em todas direções; mas, como Sir John, seus irmãos tinham tirado suas espadas e se preparavam para lutar.
Isto era uma loucura. Com todas essas pessoas neste espaço confinado, pessoas inocentes seriam... Seu coração caiu. Oh Deus, Eachann. Onde estava seu filho?
Seu olhar se dirigiu ao último lugar onde o tinha visto. Estava entre seu pai e Dougal do outro lado do sacerdote perto da porta da igreja quando começou a dizer seus votos. Podia ver Dougal e Duncan com as espadas desembainhadas de pé na frente da porta, mas seu filho, o sacerdote, e seu pai não estavam com eles.
Eoin deve ter percebido de que seu pai também não estava ali e o ouviu gritar uma ordem a um de seus homens para encontrar MacDowell. Ele provavelmente teria feito isso sozinho, exceto que estava se defendendo da ameaça de Sir John.
— Você deveria ter morrido, MacLean — disse Sir John com uma voz ameaçadora que ela nunca ouviu antes.
— E você deveria ter encontrado uma noiva que não estivesse casada — respondeu Eoin. — Mas eu não vim aqui por você... ou por ela — acrescentou com um olhar desdenhoso em sua direção. — Nenhum de seus convidados precisa ser ferido. Quero MacDowell. Não interfira e eu mesmo escreverei ao Papa. Tenho certeza de que minha esposa pode pensar em dezenas de razões pelas quais nosso casamento pode ser dissolvido.
Margaret não perdeu a insinuação de sua conversa com Tristan que Eoin ouviu há tantos anos, nem seu evidente desejo de desfazer-se dela, não sem uma pitada dolorosa ou duas (ou punhado) no peito, mas seu foco era em seu filho. Onde ele estava?
Tentou olhar por cima da multidão, mas havia muitas pessoas no caminho, incluindo Sir John e Eoin. Tinha que rodeá-los. Sir John a empurrou para atrás dele na igreja, pensando que a estava protegendo, mas agora ela estava presa.
— A escrita para o Papa não será necessária — disse Sir John com um tom significativo. — Não quando eu terminar.
Ele pontuou suas palavras com uma torção esmagadora de sua espada, que Eoin desviou com a sua. O choque da batalha enviou uma onda de pânico através da multidão, e uma mulher gritou.
O ato de Sir John havia quebrado o impasse silencioso e o choque de mais espadas se seguiu. Margaret amaldiçoou, sabendo que o derramamento de sangue era inevitável. Mas ela não permitiria que seu filho fosse apanhado na confusão. Isso era tudo o que esperava evitar. Mas seu marido levou a guerra à porta de sua casa. Ela iria amaldiçoá-lo... depois de encontrar Eachann.
Caso Sir John não matasse Eoin primeiro. Seu agora ex-noivo era um dos melhores espadachins do rei Edward. Mas um rápido olhar aos homens que trocavam golpes de espada lhe disse que Sir John era quem deveria preocupar-se.
Nunca tinha visto Eoin lutar antes, e a primitiva ferocidade disso a surpreendeu e a perturbou. Não esperava que fosse tão hábil com uma espada. Desviava os golpes sem esforço, quase como se estivesse brincando com o poderoso cavaleiro. Quando Sir John se impacientou e se aproximou muito, Eoin não só utilizou sua espada, mas também utilizou o cotovelo para golpeá-lo no nariz e seu pé para girar atrás do tornozelo do outro homem e derrubá-lo.
Ele ficou tão quieto, que Margaret rezou para que Eoin não o tenha matado.
Ela teria ido até ele para se certificar de que ele estava bem, mas Eoin tinha lhe dado uma oportunidade. Ela avançou para a igreja onde seus dois irmãos mais velhos tinham derrotado alguns homens de Eoin e estavam no processo de mandarem seus irmãos mais novos para dentro. Esperavam refugiar-se na igreja? Por alguma razão, duvidava que Eoin e seus homens obedecessem às leis do santuário.
Duncan a viu e lhe fez gestos.
— Depressa, Maggie, não há muito tempo.
— Onde está Eachann?
— Seguro — disse Duncan. — Pai está com ele.
Margaret soltou um enorme suspiro de alívio e murmurou uma oração de agradecimento. Seguindo seu irmão para dentro, imediatamente percebeu que não era um santuário que eles procuravam. A igreja tinha uma porta traseira.
Fique sempre preparada, Maggie. Sempre há um meio de escapar.
Quantas vezes seu pai lhe disse isso ao longo dos anos? Evitou ser capturado todos esses anos seguindo essas regras. Hoje não era diferente. A parte traseira da igreja era onde tinham colocado os cavalos.
Seu pai acabava de montar em um cavalo e jogou Eachann atrás dele quando ela e o resto de seus irmãos foram para o lado de fora. Havia somente um punhado de cavalos assim que alguns deles teriam que montar juntos.
— Pai, espere! — Gritou ela. — Quero meu filho.
Ele se virou e olhou nos olhos dela.
— Tenho-o. Vá com Duncan. Rápido.
Ele assumiu que ela iria sair com ele. É isso que ela faria? E quanto a Eoin?
Não teve tempo de pensar nisso. O olhar de seu pai se moveu para trás dela, e quando seu rosto escureceu de raiva, soube que era tarde demais para ela. Em um momento de pânico, começou a chorar para que seu pai esperasse, e para que deixasse seu filho com ela, mas ele já havia partido.
Colocando Eachann mais perto de sua cintura, seu pai moveu as rédeas e explodiu os calcanhares nos flancos do animal. O cavalo disparou como uma flecha, rasgando o pátio em direção as árvores.
Ouviu a voz de Eoin gritar atrás dela.
— Atirem nele agora, droga. Ele está escapando.
O rosto de Margaret ficou rígido de horror. Ela se virou e viu Eoin e outro homem a poucos metros de distância. O outro homem estava segurando um arco, com uma flecha apontando...
Não pensou antes de reagir.
— Não! — Gritou e se lançou para frente, ficando entre a flecha e a fuga de seu pai.
O arqueiro não poderia ter parado o tiro mesmo se quisesse. Seu movimento tinha sido muito oportuno. Já estava soltando os dedos enquanto ela se movia. A flecha deveria alcançar seu peito em um instante. Mas com uma vil maldição, Eoin golpeou o arco para o lado, fazendo com que a flecha deslizasse sem perigo ao chão.
Estava junto dela um momento depois, levantando-a por seu braço para lhe gritar furiosamente.
— Pequena tola! Eu deveria ter deixado ele matá-la. O que diabos você achou que estava fazendo? — Virou para o arqueiro antes que ela pudesse responder. — Dispare outra vez. Não se preocupe com os outros, atinja MacDowell antes que ele desapareça.
— Não! — Ela nunca tinha visto Eoin tão zangado, e dadas as circunstâncias provavelmente deveria ter mostrado mais sensibilidade. Mas seu coração ainda pulsava de pânico, e sentiu que seu próprio temperamento se elevava. Seu olhar se voltou para ele. — O que eu estava fazendo? Estava impedindo que disparasse em seu filho, isso era o que estava fazendo!
Como um membro do grupo de elite de guerreiros jamais montada antes na cristandade, escolhido por Bruce para as missões mais perigosas e difíceis, Eoin tinha sofrido sua cota de golpes devastadores que o deixaram aturdido e cambaleante, a maioria delas no pátio de treinamento pelas mãos do Chefe e do Corsário. Mas nenhum golpe na cabeça ou golpe no peito o tinha deixado completamente aturdido.
Sentia-se como se o chão tivesse sido tirado de debaixo de seus pés, como se o mundo tivesse se inclinado, como se tudo o que soubesse — ou o que acreditava saber — tivesse mudado em um instante.
Seu filho.
O menino era dele? Tentou recordar como ele era, mas a memória era um borrão. Eoin não prestou muita atenção, nunca considerou... Ficou olhando os olhos brilhantes e dourados, viu a desafiante inclinação do seu queixo e a furiosa linha de sua boca, e sentiu que uma onda de fúria se elevava dentro dele, teve que lutar para evitar que seus dedos apertassem mais forte ao redor de seu braço.
— Diga de novo — ele rosnou lentamente.
Se pensou que ia intimidá-la, se esqueceu de com quem estava falando. Margaret MacDowell não se intimidava, nem sequer quando deveria. Ergueu esse queixo mais para cima e estreitou seu olhar no seu.
— O menino que seu arqueiro poderia ter matado é nosso filho, Eachann.
O menino recebeu o nome de um dos maiores guerreiros de todos os tempos, Heitor de Tróia, que também era conhecido como um domador de cavalos. A ode17 perfeita para... eles?
Atraiu-a para ele, seus rostos só a centímetros de distância.
— Se estiver mentindo, Maggie, juro por tudo o que é sagrado, que farei com que se arrependa.
Se afastou dele com um empurrão.
— É óbvio que não estou mentindo para você. Eachann completou cinco anos em novembro passado. Eu suponho que sua mente brilhante pode contar rápido o suficiente, sua visita aquela noite me deixou com mais do que um coração partido. Irônico, não? Tanto para evitar uma criança e um lapso foi o suficiente. — Ela fez um som agudo e zombeteiro. — Não é segredo quem é seu pai. Pergunte a qualquer um.
Ela olhou ao seu redor, obviamente dando-se conta do que ele já sabia. Seus irmãos tinham desaparecido. Eles tinham ido sem ela.
Um filho? Infernos, um filho de cinco anos? Como poderia ter feito isso com ele? Se pudesse pensar racionalmente, poderia perceber de que isso não era um pecado que pudesse culpá-la, mas estava muito zangado para ser racional.
— Seu pai usou meu filho como escudo para poder escapar? Vou matar o bastardo com minhas próprias mãos.
Margaret parecia indignada.
— Ele não estava usando-o como escudo, apenas mantendo-o seguro. — Eoin estava tão furioso que não percebeu que ela estava gritando com ele.
— Seguro? Pondo-o no alvo de meu arqueiro? Estava contando com o fato de que eu não ia disparar com o menino atrás dele.
Ela sacudiu sua cabeça.
— Ele não faria isso. Ama Eachann. É seu único neto. Nunca lhe faria mal. Sei que você tem motivos para odiar meu pai, mas o que quer que diga dele, não é um covarde, e morreria antes de deixar que acontecesse algo ao meu filho. Eu estava aqui, vi o que aconteceu. Queria-o com ele, nada mais.
Eoin ouviu a convicção em sua voz e apertou os dentes. Mesmo que tivesse razão na estimativa das ações de seu pai dessa vez, nunca iriam se se entender quanto a isso. Havia pouco do que Dugald MacDowell não fosse capaz.
Mas tinha terminado de discutir com ela. Precisava concentrar-se em salvar a missão. Não só deixou que MacDowell escapasse da armadilha, como diabos não perceberam a porta traseira da igreja quando exploraram a zona ontem à noite? Agora tinha um filho que lhe tinham roubado por cinco anos.
O fracasso não era uma opção. Ele pegaria os dois de volta, porra.
Esquecendo-se de Margaret, disse ao arqueiro que o seguisse, e retornaram ao cemitério, onde o Caçador e o resto dos homens acabavam de dominar os ingleses.
Eles já haviam excedido a cota de boas-vindas. Eoin ficou de olho no castelo que sabia que poderia abrir-se a qualquer momento para liberar uma avalanche de mais soldados.
— O que aconteceu? — Perguntou Hunter.
— Eu vou explicar mais tarde — disse Eoin. — Temos que chegar aos cavalos. MacDowell e seus filhos — e meu filho — entraram no bosque.
— Eles estão indo para o castelo?
Eoin sacudiu a cabeça. Ele havia se preparado para isso, colocando alguns homens na estrada, caso MacDowell pudesse escapar do pátio da igreja. Mas não planejou essa porta traseira. Eoin não cometia erros assim. Pelo menos não tinha cometido em seis anos.
— Eu suspeito que eles estão indo para a costa.
Lamont xingou, sabendo, assim como Eoin, que se MacDowell tomasse um navio não seriam capazes de apanhá-lo. Se estivessem na Escócia com Falcão, poderiam ter a chance de escapar pelo coração das forças navais inglesas, mas sem o famoso marinheiro seria suicídio.
— Não se preocupe — disse Lamont. — Nós vamos pegá-lo.
Eoin não precisava assentir com a cabeça, seu olhar sombrio dizia tudo. Porra, eles iriam pegá-lo. Lamont assobiou e gesticulou para os homens seguirem.
Teria ido atrás deles, mas Margaret o deteve.
— Espere — disse, agarrando seu braço.
Ele olhou para baixo e disse a si mesmo que a torção em seu peito, a sensação de que ele estava saindo de sua própria pele, era porque estava com raiva. Seu toque havia perdido o poder de afetá-lo anos atrás. Mas não havia como negar o pesado tambor do seu coração.
Possivelmente, ela sentindo as emoções perigosas fervendo dentro dele, deixou cair sua mão.
— Vou com você.
Ele quase riu. Dando uma olhada, ela notou que Sir John estava começando a se mexer.
— Não acredito que seu noivo goste muito disso. Além disso, há seis anos perdi o gosto por ruivas traiçoeiras.
Ela corou com raiva, mas se recusou a ser provocada.
— Isto não tem nada a ver com você. Meu filho precisa de mim.
Seu olhar se voltou tão invernal como seu sangue.
— Meu filho terá seu pai.
— Ele não te conhece, Eoin. Ele ficará com medo. Eu sei que você me odeia, mas não desconte seus sentimentos por mim em nosso filho. Ele é apenas um garotinho. Por favor, você precisa de mim. Eu juro que não vou atrapalhar.
Ele deu uma risada dura. Como se isso fosse possível. Ela estava em seu caminho desde o primeiro dia em que a conheceu.
— Você não precisa se preocupar que eu não consiga acompanhar — insistiu. — Sei como montar.
Ele deu-lhe um longo olhar.
— Eu lembro. — E caralho, isso o enfureceu.
Ela ruborizou de novo, percebendo o que ele estava se referindo.
Sua mandíbula endureceu, negando-se a deixar que a abalasse.
— O menino ficará bem. Embora o mesmo não possa dizer de seu pai quando o alcançar.
— Posso ajudar você a encontrá-lo.
Isso foi algo que chamou sua atenção. Seus olhos se estreitaram sobre ela, avaliando. Se ela estivesse mentindo....
— Sabe para onde ele está indo?
— Não exatamente, mas...
Cortou-a com um som áspero. Não acreditava nela.
— Não preciso da sua ajuda. Vou encontrá-lo sozinho. — Lamont era o melhor rastreador da Escócia.
— E se você não o fizer? Pense nisso, Eoin. Se você quer pegar meu pai, é melhor me levar com você ou me deixar aqui? Eu tenho o conhecimento que você precisa.
Tinha razão. Mas isso não significava que ele pensasse que ela daria a informação... de boa vontade. Tortura, agora isso era tentador. Sua boca se curvou.
— Você se oferece para trair seu pai tão facilmente? Por que não estou surpreso?
Suas bochechas coraram de raiva, mas ela não tentou se defender. Como poderia? Ambos sabiam o que ela tinha feito. Levantou o queixo.
— Não há nada que eu não faça para ver meu filho seguro, nada.
Ela poderia ser uma mentirosa, mas não estava mentindo sobre isso. Poderia ser capaz de usá-la. Para chantagear seu pai. MacDowell trocaria sua vida pela de sua filha? Ele teria tanta sorte.
Ele se virou para um de seus homens.
— Encontrem um cavalo para a dama. Pode ser de alguma utilidade para nós. — Ele se voltou para sua esposa enganadora, certificando-se de que ela entendesse as apostas. — Minta ou faça qualquer coisa que me faça me arrepender, Margaret, e juro que farei tudo o que esteja ao meu alcance para garantir que nunca mais volte a ver o menino.
Capítulo 17
Suas frias palavras a seguiram por horas. Ele não queria dizer isso, Margaret disse a si mesma. Eoin estava zangado. Ele não tentaria levar seu filho embora... Levaria?
Anos atrás, diria que era impossível. O homem com o que se casou não seria tão cruel, por mais zangado que estivesse com ela. Mas Eoin já não era o homem com quem se casou, e adivinhar o que este frio e imponente desconhecido poderia fazer, parecia uma tolice. O jovem sério pelo qual se apaixonou se converteu em um estranho cáustico.
Mas talvez esse tenha sido o problema todo esse tempo. Em realidade nunca o conheceu. Tudo tinha ocorrido muito rápido. Amor, matrimônio, paixão... e nem sequer nessa ordem. A proximidade física que compartilharam aumentou a ilusão. Não tinham tido tempo de aprender a confiar um no outro antes que a guerra os separasse.
Olhando para trás com a perspectiva do tempo e a maturidade, pôde ver que nunca tiveram uma chance. Eram muito jovens. Muito apaixonados. Muito inseguros um do outro. Tinha sido toda uma emoção ardente e atração, com alguns preciosos momentos um pouco mais profundos. Algo que poderia ter florescido se tivesse a oportunidade de crescer. Talvez se a guerra não estourasse, teria sido diferente. Mas a guerra começou, e os laços frágeis entre eles tinham sido tensos até o ponto de ruptura. O amor, como todo o resto, necessitava de alimento. Sem isso, morria.
De muitas maneiras, o matrimônio deles foi um erro. Eram muito diferentes. Ele queria que ela fosse algo que ela não era. Mas também tinha razão. Nunca se sentiu sobre outro homem como se sentia com Eoin. Ela tentou... Deus sabia, ela tentou... mas ele a fez sentir coisas que nunca sentiu antes. Uma paixão que nunca sentiu antes. Quando estavam juntos, tinha sido insuportavelmente feliz. O que fez com que sua separação fosse ainda mais difícil.
Erro ou não, arrependia-se da forma como se separaram da última vez. Nunca deveria tê-lo dispensado daquela forma, com ultimatos e exigências, mas ele deveria ter lhe dado alguma coisa.
As palavras e as promessas não foram suficientes. O feroz ato de amor não foi suficiente. Necessitava ternura e amor, não desejo. Precisava de confiança e fé, não duvida e suspeita.
Precisava saber que era importante para ele. Que se importava com ela. Que não era simplesmente uma distração na hora de deitar-se depois de vir da guerra que sempre o definiu.
Não podia acreditar que ele estivesse vivo. Mas o salto inicial de esperança em seu coração, pelo que isso poderia significar, tinha sido rapidamente esmagado pelo conhecimento de que tinha retornado por seu pai, não por ela. É óbvio, não queria ter nada a ver com ela. E ela... não sabia o que pensar. Aceitou a morte de Eoin e deixou seu amor por ele para atrás. Mas vê-lo novamente trouxe tudo de volta.
Estavam cavalgando duramente por cerca de três horas, diminuindo a velocidade apenas quando eram forçados a desviar da estrada perto de um dos maiores castelos ou, como agora, quando tinham que fazer uma parada para determinar que bifurcação seu pai tinha tomado. Embora estivesse claro que seu pai se dirigia à costa de Cumbria, havia muitos caminhos diferentes para levá-lo ali. Pela extremidade do olho, aproveitou-se da rara pausa em sua perseguição para observar seu marido, que tinha desmontado antes dela para falar com o bonito e estoico guerreiro que parecia estar liderando o rastreamento de seu pai.
Seu marido poderia ter mudado; o bandido excessivamente musculoso e assustador não era o jovem guerreiro de quem se lembrava, mas ainda era, sem dúvida, bonito. Talvez ainda mais, o tempo e a batalha colocaram mais algumas arestas em suas feições ferozes.
Mas isso nunca foi o que a atraiu. Tinha sido algo mais profundo, algo muito mais elementar. Era a nitidez de sua mente, a aura de força que o rodeava e a forma como a olhava. Toda aquela intensidade que tinha sido impossível de resistir. Tinha-o amado. Queria saber no que estava pensando. Ela queria ser o que ele estava pensando. E como uma mariposa atraída para a chama, tinha sido atraída até que ambos se incendiaram.
Ele naquela pira e ela nos poços do inferno que tinha atravessado nos dias seguintes. Chorou durante dias, incapaz de dormir ou comer. Culpou a si mesma e queria morrer, pensando que merecia morrer. Se não fosse pela descoberta de sua gravidez, poderia ter feito isso.
Eachann lhe dera uma razão para viver, e ela seria amaldiçoada se deixasse o marido que a deixou pensar que ele estava morto por seis anos, tirá-lo dela.
Não importa o que ela tenha feito.
Tinha cometido um erro, um terrível erro, mas não foi intencional. Ela não achou que tivesse escolha. Mas ele tinha. Eoin havia escolhido deixá-la pensar que ele estava morto e, ao fazê-lo, custara ao filho um pai por cinco anos. Se Eoin não conhecia seu filho, não era por causa dela.
Quase como se soubesse o que ela estava pensando, seus olhos se moveram para os dela. Seus olhares se sustentaram por um longo pulsar do coração, antes que sua expressão escurecesse e reatasse a conversa — se a troca afiada de palavras pudesse ser considerada uma conversa — com o outro guerreiro no que parecia ser uma discussão desagradável.
Eoin não falou com ela desde que deixaram a igreja, e parecia que estava fazendo todo o possível para fingir que ela não existia. Devia ser bom nisso, com seis anos de prática. Agora que o impacto de sua sobrevivência havia diminuído, Margaret se sentia irritada.
Como ele pôde ter feito isso com ela?
Sua raiva só piorou quando a perseguição recomeçou. Apesar do ritmo cansativo, seu pai escapou deles. Margaret não sabia se devia ficar triste ou feliz. Mesmo com o aumento da amargura de seu pai durante os últimos anos, ela ainda o amava e não queria vê-lo capturado. Depois do massacre em Loch Ryan e execução dos dois irmãos de Bruce no período, ela não queria pensar sobre que tipo de vingança daria o rei ao homem que era responsável. Embora "O Bruce", como as pessoas o chamavam, tinha sido notavelmente conciliador com alguns dos homens que haviam se oposto a ele, incluído o Conde de Ross, que tinha violado o santuário para capturar sua esposa, filha, e a formidável Condessa de Buchan... faria o mesmo com o homem que tinha entregue seus dois irmãos ao rei Edward para que os executassem?
Poderia. O que era mais um pecado pelo qual seu marido podia culpá-la. Bruce tinha vivido à altura da fé que Eoin colocava nele. O rei e sua "causa perdida" foram bons para a Escócia. Margaret deveria ter tido mais fé em seu marido. Mas na época parecia impossível e a tinha aterrorizado o que aconteceria com ele se o rei Edward os alcançasse.
Não era diferente do medo que sentia agora. Seu medo por seu pai lutava contra o medo por seu filho. Seu garotinho devia estar aterrorizado e exausto. Seu pai deve estar segurando-o na sela agora.
Quando o céu escureceu, seu temor piorou. Onde estavam? Certamente já deveriam havê-los alcançado. Se continuavam assim através da escuridão, alguém se machucaria.
Antes, quando eles fizeram uma pausa para um dos seus — dolorosamente curtos — descansos para os cavalos, Margaret já não podia reter a língua. Encontrou Eoin, falando com o mesmo guerreiro. Ambos os homens ficaram calados enquanto ela se aproximava.
Olhou para trás e para frente entre eles, pensando que havia algo similar neles. Ambos eram altos, de ombros largos e construídos como um par de máquinas de cerco do Rei Edward, mas era mais do que isso. Era o modo como se erguiam, a aura de invencibilidade e a quietude de suas expressões.
Entretanto, se tivesse esperado encontrar simpatia por parte de um desses homens, não seria do rastreador. A hostilidade nos olhos azuis escuros de Eoin era só marginalmente menor no rastreador.
De seu silêncio contínuo, parecia que o outro homem também compartilhava a grosseria dos modos do marido e a propensão ao silêncio. Eles deveriam ser grandes amigos.
Franziu os lábios e inclinou a cabeça para o guerreiro desconhecido.
— Meu senhor. Suponho que sabe quem sou. Mas desde que ‘Lázaro18’ decidiu prescindir as apresentações, temo que não sei a quem estou me dirigindo.
Ele arqueou uma sobrancelha e olhou para Eoin antes de se virar para ela.
— Ewen Lamont, minha lady. — Sorriu como se dissesse: Agora isso não foi muito difícil, foi?
Eoin deve ter se oposto ao sorriso porque disse:
— O que você quer, Margaret?
Além desta conversa cintilante? Além de uma explicação de onde demônios esteve durante quase seis anos? Apertou os dentes para que as palavras amargas não saíssem voando e forçou a moderação de seu tom.
— Temos que parar.
— Há muitos castelos na área. Se você está cansada demais para seguir em frente, tenho certeza que eles abrirão as portas para a filha de Dugald MacDowell.
Ela ficou tentada a dizer que talvez não recebessem a esposa de Eoin MacLean.
— Não estou cansada. Mas está escurecendo. Se continuar pressionando assim, alguém vai se machucar — Eachann pode se machucar.
Ele ficou rígido e o outro homem, Ewen Lamont, voltou-se para olhá-lo.
— Eachann?
— Meu filho — explicou ela. — Nosso filho.
Lamont murmurou o que pensou que era uma maldição bastante forte, e seu olhar foi para Eoin para a confirmação.
Eoin apertou a boca.
— Ela diz que o menino que está com MacDowell é meu filho.
Lamont deu um assobio longo e baixo e sacudiu a cabeça, sua expressão aparentemente de simpatia por Eoin.
Margaret teve que morder a língua para não discutir sobre as "reivindicações".
— Sei que você quer apanhar meu pai, mas se continuar insistindo assim, meu pai continuará pressionando a cavalgar, e Eachann é quem vai sofrer. Você já pensou em como esse ritmo deve ser para ele?
Eoin respondeu com uma flexão de sua mandíbula que fez um músculo começar a se contorcer.
— O que sugere que façamos? Deixar seu pai escapar? Se chegar à costa e pegar um navio, não teremos a oportunidade de apanhá-los antes que chegue a qualquer castelo fortemente fortificado que decidir invadir. Eles não podem estar a mais de um ou dois quilômetros à frente. Já os teríamos pego se não tivéssemos que evitar os grupos de guerreiros ingleses que seu pai enviou atrás de nós. Mas não há maneira no inferno de que me detenha agora.
Margaret não podia acreditar que este homem brutal e intransigente fosse seu marido. Era mais como... Fez uma careta. Ele parecia mais com seu pai.
— Então você colocará em perigo a vida de seu filho para evitar que meu pai escape por entre seus dedos?
Eoin manteve a rédea fechada sobre seu temperamento. Não precisava defender-se nem dar explicações. Nem frente a ela, nem a ninguém.
— Não fui eu quem colocou sua vida em perigo, a não ser seu pai — olhou para Lamont. — Venha. Já descansamos o suficiente.
Eoin se afastou. Mas pouco antes de Ewen Lamont ir atrás dele, ela pensou que ele olhou para ela com um vislumbre de simpatia.
— Seu filho, Atacante? Cristo, por que não me disse isso? Pensei que a tinham trazido conosco para obter informações.
Eoin montou em seu cavalo.
— Fiz, e não houve tempo.
Lamont lhe lançou um olhar como se soubesse que a explicação era uma merda, o que era. Mas descobrir que tinha um filho — um filho de cinco anos de idade — o deixara em tal estado de choque e confusão, a única coisa em que ele conseguira se concentrar era a missão. Encontraria MacDowell e depois tentaria chegar a um acordo com o conhecimento de ter um filho. Ele com certeza não estava pronto para falar sobre isso. Ainda não estava.
— A moça tem razão — disse seu companheiro. — Isto poderia ser perigoso para o menino. Se for seu...
— É meu — disse Eoin, cortando-o com raiva.
Lamont levantou uma sobrancelha.
— Não parecia tão seguro há minutos — Eoin grunhiu uma maldição. — Mais uma maneira de se vingar, é isso?
Eoin o fulminou com o olhar.
— Você me culpa? Você sabe tão bem quanto eu o que ela fez — seu companheiro reconheceu a verdade com um gesto sombrio.
— Sim. Mas...
O olhar de Eoin se estreitou.
— Mas o quê?
Lamont deu de ombros.
— Não sei. Ela simplesmente não é o que eu esperava.
— Esconda as serpentes sob o véu.
Lamont ignorou o sarcasmo.
— Ela não pode ter mais de vinte e três anos.
— Fez vinte e cinco em junho passado.
— Parece que realmente se preocupa com o menino. E eu vi seu rosto quando o viu na igreja. Ela não se parece com alguém que te enviou feliz até a sua morte.
A boca de Eoin desenhou uma linha dura.
— Mas isso foi exatamente o que fez. — Lamont o olhou com atenção.
— Tampouco mencionou que ela era tão... atraente.
Eoin sentiu que seus músculos se retesavam de uma maneira que não tinham feito em muito tempo. Sua mulher sempre chamou atenção, a atenção masculina. Talvez, mais agora, do que aos dezoito. Como Fin disse? Amadurece como pêssego? Ela estava ainda mais madura.
— Não acreditei que isso tivesse importância.
— Não tem. Mas ainda é uma surpresa. Não acreditava que alguém pudesse rivalizar com a esposa de MacLeod.
Eoin lhe lançou um olhar.
— O que acha de ficar na sua?
Lamont elevou a sobrancelha com um olhar malicioso, e Eoin xingou, percebendo que seu companheiro o enganou para que admitisse mais do que queria. Eoin já não se importava com ela, como diabos podia seguir sentindo ciúmes?
— Se você tiver terminado, quero voltar à pista antes de perdê-la de novo — disse Eoin bruscamente.
MacDowell era um bastardo difícil. Também era bom para dissimular suas pistas. Mas Lamont era o melhor rastreador da Escócia. "Se havia um rastro, Caçador o encontraria. Mesmo na escuridão."
Mas à medida que corriam através do campo, entrando mais profundamente no bosque envolto pela luz da lua, Eoin não podia deixar de pensar quão fácil seria para um cavalo cair. Uma queda que poderia enviar um cavaleiro e o jovem cavalgando com ele pelo ar à terra dura. Que fácil seria quebrar um pescoço fino. Por que havia tantos ramos que se sobressaíam? Esta era uma maldita "estrada". Um desses ramos podia arrancar um olho ou...
Deteve-se. Porra, ele aproximou-se dela. Tinha enchido sua cabeça com um desfile de coisas horríveis para lhe fazer cumprir sua promessa. Não podiam parar, caralho. MacDowell fugiria com seu filho. Um cerco poderia durar meses. Além disso, não havia garantia, mesmo que parassem, que MacDowell seguiria seu exemplo. Seu filho ainda poderia estar em perigo, mesmo se Eoin parasse a perseguição.
Mas a decisão foi tirada de suas mãos pouco tempo depois. Tinham parado para que Lamont revistasse os rastros, quando ele xingou e pediu uma tocha.
— Qual o problema? — Perguntou Eoin.
Lamont meneou a cabeça.
— Acredito que se separaram.
Eoin sentiu que a fúria se elevava dentro dele.
— Por quê?
— Não parece haver tantos rastros. Desmontou para subir e descer pelo atalho, contando as pegadas dos cascos dos cavalos.
Depois de sete anos e meio como companheiros, Eoin o conhecia o suficiente para saber que Lamont podia identificar cada cavalo por alguma marca que os definia — não importava o quão aparentemente trivial — em sua pegada. Contou quatro. MacDowell e seus filhos tinham partido com cinco cavalos.
— Há um desaparecido — respondeu Eoin, xingando quando Lamont assentiu.
— Onde?
Lamont meneou a cabeça.
— Provavelmente no último cruzamento. Caralho, não posso acreditar que o perdemos.
— Não é sua culpa.
Era de Eoin. Com sua presa à vista, tinha-os feito cavalgar muito rápido. Foi ele quem apressou Lamont no último cruzamento perto de Cockermouth.
— Não importa. Nós vamos pegá-los.
Mas não o pegaram. Voltaram ao cruzamento anterior e percorreram somente uma milha ou duas antes de chegar a uma grande aldeia onde MacDowell trocou de cavalo. No momento em que rastrearam o novo cavalo, era muito tarde. A costa da Cumbria, em Wyrkinton ficava a apenas alguns quilômetros de distância, assim como a torre da fortaleza, fortemente guarnecida de Sir Gilbert de Curwen. Eles não podiam fugir dos soldados ingleses e chegar a MacDowell a tempo.
Eles os haviam perdido.
— E agora? — Perguntou Lamont.
— Nós vamos encontrá-los em Galloway.
— Posso pensar em, pelo menos, seis castelos nos quais ele possa refugiar-se. Pode levar semanas até que possamos encontrá-lo.
Eoin não percebeu de que Margaret estava ao seu lado.
— Ele irá para Dumfries — ela disse. — É o mais forte e fácil de acessar pelo rio.
— Você parece muito segura — disse Eoin.
— Tão segura quanto posso estar. É onde penso que estava planejando ir depois do... — Ela deteve-se. — Quando ele voltou da Inglaterra.
Depois do casamento. Eoin sentiu que seus dentes se apertavam de novo.
— E se supõe que devo confiar em sua palavra? Poderia ir facilmente a Buittle. Também é de fácil acesso pelo rio e está fortemente defendido.
— Sim, poderia, mas acredito que irá a Dumfries. É seu castelo favorito, e o guardião é um de seus homens mais confiáveis.
— Quem?
Mesmo sob o nevoeiro da lua, ele pôde ver o rubor rosado subindo até suas bochechas.
— Tristan MacCan — Eoin sentiu que cada músculo de seu corpo se retesava, mas não disse nada, e ela continuou. — Não espero que confie em mim, nunca o fez antes, mas pensei que queria meu conselho.
— Eu quero. E eu confiei em você uma vez.
Seus olhos se sustentaram, e ele pôde ver a culpa que a escuridão não podia esconder completamente. Parecia que queria dizer algo, mas depois de olhar para Lamont e os outros homens que fingiam não escutar, respirou fundo.
— Não tenho nenhuma razão para mentir, Eoin. Eu disse que faria o que fosse necessário para recuperar meu filho. Eu o quero tanto quanto você quer meu pai. É por isso que você me trouxe, não é? Mas se acredita que conhece meu pai melhor que eu, faça o que quiser. Mas eu vou pra Dumfries.
Algumas coisas não mudaram. Externamente, ela poderia parecer a dama apropriada — ficou surpreso pela diferença em sua aparência e forma reservada — mas a moça que entrou no Grande Salão do Castelo de Stirling como um pirata que se apoderava de um navio e, que tinha confiança e ousadia demais, ainda estava ali. Ela nunca fugiu de um desafio antes, e certamente, não estava fazendo isso agora. Sabia que ela seria um problema desde o começo. Nunca imaginou o quanto.
Voltou-se para Lamont.
— Diga aos homens para descansarem algumas horas. Nós iremos para a fronteira ao amanhecer.
— Vamos dormir aqui? — Perguntou Margaret enquanto seu companheiro se afastava.
— Os acertos para dormir rústicos não costumavam incomodá-la.
Ele não perdeu o lembrete pontudo daquelas noites que eles compartilharam na fogueira anos atrás. Por que demônios estava atuando como se lembrasse deles?
Ela levantou seu queixo.
— Referia-me ao fato de que estamos a poucos quilômetros de distância de Wyrkinton.
Ele deu uma risada aguda.
— Os ingleses não têm coragem de atacar os homens de Bruce à noite no bosque. Não se separarão da segurança das muralhas do castelo até o amanhecer. Não deve temer por sua segurança — fez uma parada. — Embora poderia ter frio com esse vestido tão fino, então se fosse você ficaria perto do fogo.
Ela corou de raiva com o sarcasmo que ele não conseguia esconder. Ela estava a ponto de se casar. Não deveria incomodá-lo.
— Eu não estaria usando um vestido de noiva se soubesse que ainda tinha um marido. Como você pode, Eoin? Prometeu que voltaria para mim, se pudesse. Como pôde me deixar pensar que estava morto todos estes anos? Você não acha que eu tinha o direito de saber que meu marido vivia?
Seis anos de fúria reprimida, seis anos de infecção em uma ferida que não tinha cicatrizado, seis anos fingindo que não se importava que sua esposa o tivesse traído, não puderam permanecer enterrados nesse momento. Tinha-o prometido, sim, mas isso foi antes que ela tentasse colocá-lo em uma tumba.
Deu um passo ameaçador para ela, mostrando seus dentes.
— Depois do que você fez, perdeu o “direito” de saber alguma coisa. Lembre-se que também fez uma série de promessas. Não te devo nada, Maggie.
— E quanto a Eachann? O que você deve a ele? — Ele ficou parado.
— Não sabia nada dele.
— De quem é a culpa? — Ela falou suavemente, mas o desafio golpeou duramente.
Apertou as mãos ao seu lado para não a tocar. Que demônios tinha esta mulher que o fazia querer arrastá-la para seus braços e beijar essa boca? Mas sua raiva diminuiu tão rapidamente quanto emergiu. Ela parecia triste e derrotada e, de alguma forma, isso o perturbava ainda mais.
— Talvez você não me deva nada, mas não pense que não me culpei pelo que lhe aconteceu ou o que eu pensava que tinha acontecido com você. Nunca quis lhes trair, Eoin. Amava-o.
Amava-o tanto que o abandonou. Amava-o tanto que estava discutindo a dissolução de seu matrimônio com seu suposto noivo antes que a beijasse. Amava-o tanto que o expulsara e lhe dissera para nunca mais voltar.
— Então tudo foi um grande erro, não é? Seu irmão mentiu para mim? Não disse a alguém de minha presença naquela noite?
Ela negou com a cabeça, com os olhos rígidos.
— Não, não foi um erro. Eu disse a alguém, mas estava tentando protegê-lo.
— Me traindo?
Ignorou seu sarcasmo.
— Brigid me encontrou no bosque depois que você saiu e ameaçou dizer ao meu pai que eu havia sido estuprada se não lhe contasse o que havia ocorrido. Cometi um erro confiando em alguém que era como uma irmã para mim, mas não tive escolha.
— Que tal a opção de manter a boca fechada? — Aproximou-se dela, a ira golpeando através dele. — Quanto mais claro eu deveria ser? “Ninguém”, “sob nenhuma circunstância”, e “minha vida” está sujeito a interpretações? Confiei em você, porra. Eu disse como era importante não contar a ninguém que eu estava ali. Decepcionei a cada um daqueles homens naquela praia porque confiei em minha esposa, a moça que amei mais do que qualquer outra pessoa no mundo, saberia manter sua maldita boca fechada. Suas intenções não fazem a mínima diferença para todos os homens que morreram naquela praia.
Ela parecia angustiada. Seus olhos se encheram de lágrimas enquanto tentava explicar.
— Sinto muito. Eu não tinha ideia do que você estava planejando. Eu não queria arriscar que os homens do meu pai o perseguissem. Eu pensei que dizendo a ela eu estava te protegendo. Eu nunca imaginei que ela diria a meu irmão.
Sua boca caiu em uma linha dura. Ele supôs que se alegraria por ela não ter ido ao seu pai. Que se alegraria de que não tivesse sido uma pequena forma de vingança por todos os erros que ele cometeu. Mas seis anos de ódio tinham formado uma grossa capa de aço ao redor de seu pensamento no que se referia a sua esposa, que agora não era fácil penetrar. Ela havia dito a alguém. Importava a quem?
E o resultado não mudou.
Entretanto, surpreendeu-se ao saber da parte de sua amiga.
— Por que ela o fez? — Perguntou.
— Estava apaixonada por Dougal e pensou que aquilo seria o suficiente para que meu pai permitisse um matrimônio entre eles. Ironicamente, Dougal recebeu uma noiva pelo que aconteceu, simplesmente não foi Brigid.
Uma pontada de dor atravessou seu rosto e ele se viu perguntando.
— O que aconteceu?
Margaret o olhou fixamente.
— Brigid se atirou pelo penhasco do castelo Dunskey, pouco depois do matrimônio de Dougal. Nunca se perdoou pelo que aconteceu naquela noite. Todos aqueles homens... — estremeceu-se e então o olhou. — Não percebeu o que ia acontecer, e eu tampouco — quando ele não disse nada, adicionou. — Não espero que me perdoe. Confiou que eu guardasse seu segredo, e não o fiz. Deveria ter deixado que Brigid dissesse que tinham me atacado e talvez... — deteve-se e se endireitou. — Cometi um erro, mas foi por confiar em uma amiga quando não deveria tê-lo feito. Tentei ajudar quando percebi o que Brigid fez, mas já era tarde demais.
— O que quer dizer com tentou ajudar?
— Meu pai me trancou em minha câmara, mas fugi da torre e acendi o velho farol perto de Kirkcolm. Mas seus navios já tinham chegado à praia.
Ele ficou em silêncio, surpreso pelo que ela revelou. Ela acendeu o farol? Sempre se perguntou a respeito do misterioso ajudante do farol.
— Não foi muito tarde para todos os navios — ele admitiu. — Dois conseguiram escapar a tempo.
Disse-lhe, mas sua expressão de aço revelava que era tudo o que ele concederia. Fosse quais fossem suas intenções, ela traiu sua confiança dizendo a sua amiga.
— Estou feliz — ela disse suavemente.
Ele acreditou. Não que mudasse alguma coisa. Muito aconteceu entre eles. Muitos anos se passaram. Para um homem conhecido por ver tudo em um campo de batalha, ironicamente ele nunca percebeu que isso acontecer.
Margaret o tinha feito sentir algo que não havia sentido antes ou desde então. A paixão era incomparável. Mas era mais que físico. Por muito tempo sua vida girou em torno da guerra, sendo o melhor guerreiro não apenas fisicamente, mas também mentalmente. Ele amava o desafio de pensar além e superar o inimigo desde que ele era um garoto. Era tudo o que ele pensava, e se preocupava, até que a conheceu. Por um tempo, ela tornou seu mundo um pouco maior que o campo de batalha. Ele havia se importado com algo mais.
E isso lhe custara caro. Fizera coisas estúpidas para vê-la. Fez coisas arriscadas quando não devia.
Talvez esse era o verdadeiro problema. Por muito que a culpasse pelo ocorrido, culpava-se ainda mais. Nunca deveria tê-la enfrentado essa noite. Talvez nada tivesse mudado, mas, ainda assim, foi um erro. Não deveria ter confiado nela com algo tão importante. Bruce sabia disso, e ele também sabia. Não podia culpar seu parente por questionar seu julgamento. Quando se tratava de Margaret MacDowell, Eoin nunca parecia tê-lo.
Mesmo agora, apenas olhando para ela era o suficiente para deixá-lo duro. As lembranças o inundaram. Podia recordar cada centímetro de pele cremosa debaixo desse vestido que queria rasgar. Recordou ter enterrado seu rosto entre os generosos seios expostos a uma perfeição tentadora nas camadas de seda justa. Recordou o aroma de sua pele, o mel sedoso de seu prazer, e o som de seus gemidos quando a tinha feito gozar. Recordou a forma como seus quadris se elevavam para encontrá-lo enquanto ele empurrava, levando-o mais fundo, mais forte, mais rápido.
Caralho.
Ele deu um passo para trás. Quanto mais cedo isso acabasse, melhor. A rápida dissolução de seu matrimônio seria complicada pelo descobrimento de um filho, mas seu desejo de terminar tudo não mudou. O fim da guerra se aproximava, e Bruce já tinha insinuado que terras seria sua recompensa. Terras e uma noiva, se Eoin quisesse uma. Surpreendentemente, queria. Ver seus irmãos com suas esposas o fizera perceber o que estava perdendo. Tinha estado sozinho durante muito tempo.
Demônios, até Lachlan MacRuairi estava feliz. Como Eoin, o guarda com a disposição da Víbora que lhe dera seu nome de guerra teve um primeiro casamento desastroso com uma mulher que o traíra. Mas ele havia encontrado a felicidade com o segundo, e Eoin tinha alguma esperança disso.
Quase como se soubesse o que ele estava pensando, ela perguntou:
— O que acontece agora, Eoin? — Ele a olhou fixamente.
— O que você acha? Certamente não podemos voltar atrás.
— Poderíamos tentar mais uma vez.
Enfurecido pelo inconfundível gancho em seu peito, sua resposta saiu mais dura do que pretendia.
— Qual seria o sentido disso? Parece que você achou a Inglaterra muito mais do seu agrado do que Kerrera.
O leve rubor nas bochechas e o franzido da boca eram os únicos sinais de que ela ouviu a crítica não muito sutil. Mas ela sempre soube revisar.
— Sim, Sir John garantiu que sempre me sentisse bem-vinda e fez todo o possível para ver minha felicidade. Ele queria compartilhar sua vida comigo, apenas isso.
A adaga deslizou entre suas costelas e se retorceu. A nitidez da dor quase o fez estremecer. Porra, não deveria doer tanto. Depois de todos esses anos, nada do que pudesse dizer ou fazer deveria ser capaz de chegar até ele.
— Tenho certeza de que sim.
Tentou se afastar, mas ela agarrou seu braço. O choque de seu toque o fez estremecer dessa vez.
— Eu sei que não era o tipo de mulher que você queria, Eoin. Mas se queria alguém como Lady Barbara, por que não se casou com ela? Teria sido muito mais fácil para nós dois.
— Sim, teria.
Era verdade, embora ele não pretendesse atacar tão forte. Pelo olhar dela, não havia dúvida de que tinha feito isso.
Já não queria mais fazer isso, nada disso. Quanto mais tempo estivessem juntos, mais eles se machucariam.
Ele olhou para as belas feições banhadas ao luar da mulher que perseguiu seus sonhos por muito tempo.
— Acredito que será melhor para nós se você e eu nos separássemos permanentemente quando isso terminar.
Maggie endireitou-se rigidamente com uma respiração forte. Seus olhos examinaram seu rosto, como se ela estivesse procurando por uma abertura.
— Se isso for o que você quer
Agora o que ele queria era puxá-la contra ele e beijá-la até que não pudesse senti-la batendo através de seu sangue, invadindo seus ossos, e obcecando seus sonhos. Em vez disso, ele respondeu com um aceno de cabeça e foi embora.
Capítulo 18
Eles deviam separar-se definitivamente...
Depois de todo esse tempo, não deveria doer tanto. É óbvio que não queria ter mais nada com ela. Mas ouvi-lo falar tão inequivocamente de terminar o casamento, — Deus sabe como pretendia fazê-lo sem fazer de seu filho um bastardo — tinha-lhe ferido profundamente.
Durante a longa noite sem dormir por causa do frio, — dormir fora não era tão confortável sem Eoin junto a ela — e a viagem ainda mais longa rumo ao Norte da Escócia, Margaret se perguntou como poderia pensar, mesmo que por um momento, que Eoin iria querer alguma coisa com ela. Odiava-a, como ela sabia que ele faria se vivesse. O que esperava? Perdão?
Alguns erros eram imperdoáveis. Ela o deixou, disse que nunca retornasse, e traiu sua confiança, levando a morte muitos homens. Mesmo se achasse que não tinha escolhas, ela tinha. Olhando para trás, dadas as consequências, parece como se não tivesse tomado as decisões certas, mas tinha feito o que acreditava ser melhor naquele momento. Evidentemente, Eoin não estava de acordo e, dadas as consequências, como podia culpá-lo?
Mas enquanto dava voltas e voltas contra o duro chão tremendo de frio e sentindo-se miserável, pensando como teria sido sua noite de núpcias, com um homem que cuidava dela, um bom homem que só tinha sido amável com ela e seu filho... a amargura em relação a Eoin só aumentou.
Poderia merecer isso, mas Sir John não, e tampouco Eachann. Por que Eoin a deixou pensar que estava morto durante seis anos, chorando por ele, sofrendo, culpando-se, criando seu filho sozinha, só para aparecer de repente no dia do seu casamento, quando ela finalmente tentou ser feliz, era imperdoável.
Ela poderia ter sido feliz também, ou, pelo menos, poderia ter tentado... Pobre Sir John. Sentia-se horrível pela rapidez com que teve que abandoná-lo. Ela mal teve a oportunidade de murmurar uma desculpa precipitada antes que saltasse sobre o cavalo para tentar alcançar Eoin, que já se afastava.
Escreveria a Sir John o quanto antes possível e diria... O quê? Que lamentava não poder casar-se com ele porque o marido pelo qual chorou durante seis anos, o marido que a desprezava, tinha decidido voltar e destroçar sua vida? Fazendo-a infeliz? Divorciando-se?
Tinha o peito apertado. Mas mesmo que ele dissolvesse seu casamento, Margaret sabia que não havia como voltar atrás com Sir John. Não seria justo para ele. Se Eoin tivesse realmente morrido naquele dia horrível, eles teriam uma chance. Mas enquanto seu marido vivesse... Como ela poderia contemplar uma vida com outra pessoa?
Ele estragou tudo!
Sim, foi uma noite miserável cheia de ira, frustração, decepção e angústia.
Ela teria gostado de dizer que encontrou conforto ao despertar e saber que se dirigiam para Dumfries.
Mas ela suspeitava que não era Eoin confiando nela tanto quanto ele chegando à mesma conclusão por conta própria.
Quando chegaram tarde, na noite seguinte, Margaret estava exausta. Ela mal fez objeções quando Eoin a deixou com as freiras beneditinas na Abadia de Lincluden durante a noite, enquanto ele e os outros homens iam para um lugar que ele não compartilharia com ela para se encontrar com mais homens de Bruce.
Na primeira oportunidade, ela escreveu seu bilhete para Sir John. Tinha sido mais difícil do que previra, e ficara grata pela solidão ao tentar encontrar as palavras para expressar seu arrependimento e desapontamento, mas ainda deixar claro que o relacionamento deles deveria terminar.
Mas com sua tarefa completa, tinha começado a temer que a solidão fosse permanente, e Eoin não retornaria. Finalmente, na terceira manhã, a Madre Superiora chegou à pequena câmara que lhe tinham dado para anunciar que tinha um visitante.
Eoin a esperava no jardim do claustro. Tentou acalmar seu pulso, que repentinamente batia rápido. Como ela, estava banhado e trocou de roupa. Ele não usava mais a cota de malha de um soldado inglês, mas um cotun de couro preto cravejado de remendos. Seus sapatos também eram feitos de couro escuro. Ilogicamente, parecia ainda mais imponente sem a pesada armadura.
Meu Deus, quem era esse homem? Aquela fortaleza de guerreiro terrível e de aparência feroz era realmente a mais séria, mas ainda seria capaz de fazer sorrir o jovem guerreiro com quem ela se casara? Seu marido poderia estar vivo, mas ele não era o homem de quem se lembrava. Ele era um estranho, e a dor disso queimava em seu peito.
Seu olhar deslizou sobre ela quando se aproximou, e ela não perdeu a ligeira elevação de sua testa por seu traje.
— Vejo que está sendo bem cuidada.
Como era fácil para ele cutucar velhas feridas.
— As freiras tiveram a amabilidade de me emprestar outra bata. Eu sei que você acha que o capuz amarelo de uma prostituta é mais apropriado, mas temo que o hábito preto era a única coisa que elas tinham.
Ele franziu o cenho, claramente surpreso.
— Nunca pensei isso.
— Não? — Ela riu asperamente, lembrando-se das acusações daquela noite, mesmo que Eoin não quisesse ter dito aquilo. — Não sangrei, não se lembra de que me preguntou se eu era virgem? E sobre todas aquelas viagens que fiz a Oban? E tentei seduzir seu amigo, com certeza sua irmã lhe contou isso tudo.
Pela primeira vez desde que reapareceu em sua vida, a fachada impenetrável de ódio caiu. Parecia realmente desconcertado.
— Naquela noite, Margaret, eu estava louco de ciúmes. Eu não estava pensando racionalmente. Tudo o que podia ver era a mulher que me abandonou nos braços de outro. Nunca duvidei de sua inocência... não de verdade. Tampouco pensei que fosse infiel. Devo-lhe uma desculpa. Deveria ter acreditado em você a respeito de Fin, não queria pensar que meu amigo mais antigo pudesse... — Ele se levantou e olhou em seus olhos. — Ele admitiu ter beijado você no celeiro. Disse que estava bêbado e nunca quis assustá-la. Me desculpe pelo que aconteceu. Você era minha esposa e eu deveria tê-la protegido.
Margaret sentiu um nó em sua garganta e os olhos ardendo. Essas eram as palavras que queria desesperadamente ouvir, seis anos mais tarde. Afastou o olhar.
— Você não estava. Não poderia ter feito nada.
Ele pegou o braço dela e forçou-a a olhar para ele. Seus dedos pareciam queimar sua pele. Mesmo agora, depois de todos esses anos, seu coração ainda dava um salto quando ele a tocava e sua pele arrepiava.
— Poderia ter escutado você quando falou pela primeira vez de seus problemas com Fin. Poderia ter me assegurado de que minha mãe fosse consciente da situação. Poderia ter tentado impedir que ele se casasse com minha irmã.
Viu a raiva e a autorrecriminação em seus olhos e instintivamente quis acalmá-lo. Ela, de todas as pessoas, poderia entender. Como ela, ele confiou em um amigo.
— Foi há muito tempo, Eoin. Tenho certeza de que há coisas que faríamos de maneira diferente se soubéssemos o que aconteceria. Têm razão. Não faz sentido tentar voltar.
Ele parecia querer dizer algo mais, mas soltou o braço dela e deu um passo para trás.
— Sim, você se defendeu bem. Seu joelho fez algum dano. Pelo que ouvi, ele ficou na cama durante dias. — Ele estremeceu ligeiramente como se o pensamento lhe causasse dor. — Me recorde de nunca a deixar com raiva.
Embora ela não gostasse de pensar em alguém que sofresse, no caso de Fin faria uma exceção. Sua boca se torceu em um sorriso.
— Eu vou.
Devolveu-lhe o sorriso por um momento, e então pareceu lembrar-se de algo e isso rompeu o momento da conexão.
— Vim lhe dizer que tinha razão. Seu pai se refugiou no castelo de Dumfries.
— E Eachann? — Perguntou com ansiedade. — Está tudo bem?
— Um menino estava com seu pai. Isso é tudo o que sabemos. Seus irmãos se refugiaram em Buittle.
Ela assentiu com a cabeça, não surpresa por eles terem se separado.
— Você tentou se comunicar com meu pai?
Eoin assentiu.
— Ele se recusou a libertar o menino.
Embora suspeitasse da resposta, o coração de Margaret se apertou.
— Não vai machucá-lo, Eoin.
Não respondeu. Claramente, não estava inclinado a confiar em seu julgamento. Maggie não o culpava, mas ela dizia a sério. Seu pai amava Eachann. Não lhe faria mal... intencionalmente.
Seu coração se apertou de medo.
— O que acontece agora? — Ela perguntou.
Sua boca caiu em uma linha sombria.
— Edward Bruce está procurando sitiar o castelo.
O sangue escoou de seu rosto quando o pânico saltou em seu pulso.
— Não! Não pode deixar que faça isso. Nosso filho sofrerá junto com eles.
Podia ver o medo em seus olhos que coincidia com o dela, e algo mais: raiva.
— Não há nada que eu possa fazer. — Obviamente, ele tinha tentado. — Agora que encurralamos seu pai, não lhe permitirá escapar. O assédio em Perth terminou, o castelo caiu, e o rei está a caminho daqui.
Ela teria empalidecido se houvesse algum sangue em seu rosto.
— Bruce está vindo?
Ele assentiu.
— Os castelos de Galloway serão os próximos. Os antigos esconderijos de Balliol e MacDowell de Dumfries, Buittle, Dalswinton e Caerlaverock.
Um por um Robert Bruce estava recuperando os castelos da Escócia do controle inglês e destruindo-os para que não fossem utilizados contra ele de novo. Mas Eachann... estremeceu, pensando no que um longo cerco faria a ele.
— Me deixe falar com meu pai. Ele vai me ouvir.
Eoin sacudiu a cabeça.
— Carrick não o permitirá — ele disse, usando o título (junto com Lorde of Galloway) que Robert Bruce tinha dado a seu irmão mais novo, Edward. Tentou consolá-la. — Tente não se preocupar. Não durará muito. O castelo não foi provido adequadamente em meses. Seu pai concordará em falar em breve.
Ela negou com a cabeça.
— Não conhece meu pai. Nunca se renderá a Bruce. Primeiro morrerá de fome.
Ele não disse nada e, pelo olhar sombrio de seu rosto, suspeitou que conhecia seu pai e concordou.
— Devo ir — ele disse. — Só queria te manter informada. Vou tentar enviar notícias a cada poucos dias.
— Você não pode esperar que eu fique aqui!
Isso era exatamente o que esperava que ela fizesse. Eoin olhou fixamente à mulher indignada que poderia usar um saco e ainda conseguir mover seu sangue. A prova estava entre suas pernas, duro como pedra. O que diabos estava errado com ele?
— Onde você espera ir? — Perguntou com impaciência.
— Com você.
Em sua tenda? Pelo sangue de Deus! Quase estremeceu.
— Isso é impossível.
— Por quê?
Porque aparentemente seis anos não deixaram seu pênis mais inteligente.
— O acampamento não é lugar para uma dama.
— Talvez não, mas não existem algumas mulheres? — Ela continuou antes que ele pudesse objetar o tipo de mulheres que estavam no campo, aproximando-se dele para fazer valer seu ponto de vista. Provavelmente mais perto do que ele percebeu. Seus corpos estavam virtualmente se tocando, e cada músculo de seu corpo endureceu. — Por favor, Eoin. Não ficarei no caminho. Juro que não lhe envergonharei. Eu mudei.
Ele franziu o cenho.
— Do que está falando?
Seus olhos caíram dos dele quando um tom delicado de rosa subiu para suas bochechas.
— Não sou a moça ignorante que era quando nos casamos. Não vou dizer a coisa errada ou fazer algo tolo como mover as peças de um jogo de xadrez. Agora posso ler e escrever. Não vou desafiar seu amigo para uma corrida ou ver quem pode beber uma jarra de cerveja mais rápido. Não uso calções há muito tempo. Já não sou a moça irreverente e atrasada que você precisa mudar para convertê-la na esposa adequada.
Eoin a olhou surpreso. Era isso o que ela pensava?
— Isso não é o que eu... — Ah inferno. Foi exatamente o que ele tentou fazer. Mas nunca quis que ela pensasse que ele tinha vergonha dela. Só queria que não se destacasse tanto. Que não fosse tão escandalosa. Que não o olhasse como se não pudesse esperar para chegar ao quarto. Queria que mostrasse um pouco de moderação e decoro. Fosse mais como as outras damas.
Mas se desejou alguém como Lady Barbara, por que se casou com Margaret? Porque era diferente. Porque ela era fresca e doce, e sim, escandalosa. Porque o fez sorrir. Porque tinha brincado e o desafiado, e o deixou louco pela luxúria. Porque entrou em uma sala como se fosse a proprietária, com seu cabelo solto flutuando selvagemente ao redor de seus ombros, e soube que nunca haveria outra mulher para ele.
Era a ela que desejava. Por que tentou convertê-la em outra pessoa? A culpa se retorcia em suas vísceras.
— Nunca me envergonhou — disse com voz rouca.
Ela deu um sorriso torto que dizia que não acreditava nele.
— Foi há muito tempo, Eoin. Já não importa.
Ela tentou afastar seu rosto, mas sem perceber o que estava fazendo, alargou a mão e pegou seu queixo para obrigá-la a olhá-lo. Foi um erro. Sua pele era tão cálida e suave como recordava. Queria passar seu polegar sobre a suave curva de sua bochecha e o delicado ponto de seu queixo.
— Sim importa. Sinto muito se eu fiz você se sentir assim. Pensei que seria mais fácil para você se encaixar se fosse...
— Como todas as demais? — Ela terminou.
Eoin assentiu, envergonhado.
— Não têm que se desculpar. Apenas por favor, me leve com você. Eu não posso ficar aqui sem saber o que está acontecendo. Eu preciso estar lá, Eoin. Prometo-lhe que nem sequer saberá que estou ali.
Como se fosse possível. Sempre tinha sido muito consciente dela. Inclusive agora, quando por todos os direitos não deveria querer nada com ela. Mas compreendeu sua urgência.
Estava preocupada com o menino.
Ela deve ter sentido sua hesitação.
— Posso ajudar. Conheço o castelo, e sei como pensa meu pai. Posso ajudar a recuperar Eachann, sei que posso.
Ele balançou a cabeça.
— Você não é desejada, Margaret. Sua presença tornaria as coisas difíceis.
Ela interpretou mal, prendeu a respiração como se suas palavras a tivessem apunhalado.
— Você deixou seus sentimentos claros para mim, Eoin. Eu sei que você não me ama. Eu não vou interferir se... — Ela olhou para baixo, suas bochechas pálidas. — Se você já tem uma mulher em sua tenda. Dormirei do lado de fora se quiserem privacidade.
Sabia que não lhe devia nenhuma explicação. Era ela que estava a ponto de se casar com outro homem. Não deveria se importar com o que pensava. Demônios, talvez fosse até mais fácil se ele tivesse uma mulher em sua tenda.
Mas não era dele que estava falando, e sim dos outros no acampamento de Bruce. Muitas pessoas sabiam o que ela tinha feito. Seus irmãos, o rei, alguns de seus homens. Ela era filha de Dugald MacDowell e do inimigo. Ele de todas as pessoas não precisava de um lembrete.
Endureceu a mandíbula, negando-se a deixar que lhe abalasse.
— Ficará aqui por enquanto. Enviarei notícias assim que tiver algo a informar.
— Mas...
— Não é um pedido, Margaret — disse, cortando-a.
Seus olhos ardiam como o fogo. Endireitou sua coluna e levantou seu queixo da maneira desafiante que ele recordava.
— Aparentemente, todo esse músculo extra o converteu em um valentão. Não têm direito de me ordenar nada.
— Não? — Ele desafiou. — Ainda sou seu marido — fez uma parada significativa. — Pelo menos por enquanto.
Ela ruborizou-se com raiva.
— Um fato que parece ter esquecido durante seis anos.
Ele não esqueceu. Esse era o problema. E estar perto dela o debilitava. Não podia abrandar, droga. Ele a odiava, não?
Ele achava que sim, mas talvez "o porquê" tivesse importado mais do que queria. Tinha pensado nela como uma cadela traidora durante seis anos, mas não podia pensar dessa maneira agora, não depois de escutar sua explicação. Não era tão preto e branco como pensava. Não o traiu intencionalmente. Ela não tinha tentando se vingar dele revelando sua presença na área a seu pai. Não tinha procurado deliberadamente vê-lo capturado ou assassinado. E sabê-lo fez com que sua raiva e ódio diminuíssem.
Sim, o que estava sentindo neste momento definitivamente não era ódio. Estava quente e ardente, elevava-se através de seu sangue, colocava seus nervos no limite, e o fazia querer atacar, não com ira, a não ser com outra coisa. Seis anos ou sessenta, achava que não haveria diferença. Ainda a amaria.
Porra. O palavrão era dolorosamente apropriado.
Dirigiu-lhe um olhar duro para ocultar as emoções que gotejavam dentro dele.
— Sim, bem, não fui o primeiro a esquecer. Possivelmente desta vez possa recordar que está casada e ficar onde a deixei.
Sem querer ouvir o que tinha certeza de que seria sua furiosa resposta, ele se virou e saiu.
Talvez isso não fosse uma boa ideia. Consciente do número de olhos que a seguiam, Margaret apertou o manto mais firmemente em torno dela. Desejava ter um capuz. As longas e onduladas ondas vermelhas que fluíam por suas costas sob o véu dourado e sedoso, repentinamente, estavam reluzentes.
Talvez ela não deveria ter trocado a bata e o véu? O hábito de freira teria desencorajado certamente os olhares descarados. Mas quando o pacote chegou ontem ao convento, Margaret presumiu que o vestido e o véu eram um presente de seu marido — um pedido de desculpas por sua atitude arrogante no convento há alguns dias.
Muito bem, não acreditava realmente que o vestido fosse um pedido de desculpas — Eoin tinha estado muito seguro em seu papel de "senhor e mestre", — mas era uma desculpa tão boa quanto qualquer outra para que viesse procurá-lo.
Deus sabe como ele conseguiu algo tão bom em tão pouco tempo. Teria pensado que o vestido de veludo verde musgo estava costurado com bordados de ouro e que o véu de seda dourado tinha sido feito especialmente para ela, — se não fosse muito pequeno no corpete e quadris.
Em qualquer caso, pensou que o mínimo que podia fazer era colocá-lo, já que ele não ficaria feliz em encontrá-la aqui. Mas se pensava que ficaria de lado discretamente e faria sua vontade...
Ela cerrou as mãos ao lado do corpo e apertou a boca, lembrando-se de sua ordem imperiosa de permanecer ali. Ela não mudou muito.
Entretanto, não pensou que seria tão difícil encontrá-lo; o acampamento era muito maior do que imaginava. Centenas de homens se reuniram para o cerco, transformando os charcos da zona rural ao redor do castelo de Dumfries em uma aldeia improvisada de tendas, carretas, cozinhas e currais para o gado e os cavalos.
Ela foi forçada a caminhar com uma guarnição de homens — homens bem grandes, não pôde deixar de notar— enquanto percorria o movimentado campo.
Embora seu impulso fosse morder o lábio, olhar para baixo e tentar não fazer contato visual com o grupo de guerreiros que estavam sentados fora das tendas, Margaret sabia que era melhor não mostrar debilidade. Em vez disso, ela encontrou os olhares atrevidos e tentou fingir não escutar os comentários sugestivos que a seguiram. Como Eoin a havia avisado, estava claro pelos "convites" que lançavam em sua direção, que tipo de mulher frequentava o acampamento de um exército.
Os homens de Bruce tinham fama de serem bandidos, e devia admitir que tinham esse aspecto. A maioria deles pareciam não ter visto uma navalha ou um banho em meses e pareciam muito mais familiarizados com o ferro cauterizador de um barbeiro que com sua navalha. Rostos ferozes, com cicatrizes e bocas duras e sem sorrisos estavam meio escondidos atrás de barbas desalinhadas e cabelos longos e descuidados. Eles eram grandes, homens imponentes ainda maiores por causa da abundância de armaduras e armas que os rodeavam. A maioria usava cotuns de couro, alguns dos quais estavam cravejados de metal, e parecia ter chegado exatamente no momento de prepararem as armas, já que muitos homens estavam sentados fora de suas tendas limpando ou amolando suas diversas espadas, tochas, lanças e martelos.
Pena que ela não chegou na hora da sesta.
Para falar a verdade, não pareciam tão diferentes dos guerreiros de seu pai. A diferença era que os homens de seu pai sabiam quem ela era e não a olhavam com tanta brutalidade, — ou grosseiramente — por isso.
Os olhares licenciosos não eram nada com que ela não tivesse que lidar antes - se em uma escala menor e menos intimidadora. Ainda assim, estava ansiosa para chegar as tendas dos líderes. Eoin poderia ter sido um homem de armas comum para seu pai quando o conheceu tantos anos atrás, mas estava claro que ele havia subido de hierarquia nos anos seguintes. Não podia dizer que estava surpresa. Inclusive seu pai estava consciente de seu potencial. Sempre foi o que importava para ele, talvez fosse tudo o que importava para ele.
Ao ver as tendas maiores no topo, começou a caminhar nessa direção quando um braço serpenteou ao redor de sua cintura por detrás, e seu fôlego bloqueou quando foi sacudida contra um corpo duro, vestido de cotun.
Deu uma rápida olhada ao rosto grisalho de um guerreiro de cabelo e olhos escuro, e suor masculino. O fedor era entristecedor, e instintivamente tentou se libertar.
Sua respiração quente e carregada de ale soou em seu ouvido.
— Não tão rápido, moça. Porra, você é um bom pedaço de carne.
Bem, estava bêbado. Podia sentir sua mão movendo-se para seu seio e tentou se retorcer para fugir do contato, mas ele conseguiu agarrá-la de qualquer maneira.
— Malcolm e eu conseguimos uma pequena companhia. Não é assim, Malcolm?
Um guerreiro mais alto e magro ficou diante dela. Não parecia menos grisalho, e lhe faltava alguns dentes, mas parecia cheirar um pouco melhor. Ou talvez fosse porque o primeiro guerreiro cheirava terrivelmente que abafava todo o resto. Ela tinha o estômago revolto e corria perigo de perder seu conteúdo se não respirasse ar fresco logo.
— Sim, — disse Malcolm avaliador. — Faz muito tempo que não tenho uma companhia como você. Cristo — disse com um olhar em seus seios, que já não estavam ocultos atrás de sua capa graças ao aperto do primeiro guerreiro. O novo vestido com seu corpete muito apertado mostrava seus seios bem mais... Proeminentemente. — Você já notou o tamanho dessas tetas? — Ele franziu o cenho. — Olhe esse vestido. É muito bom para uma prostituta.
— Isso é porque não sou uma prostituta — disse Margaret com raiva, tentando usar seu cotovelo para se afastar do miserável. Mas foi como tentar entalhar aço. — Me solte — disse.
— O que está acontecendo aqui? — Disse uma voz profunda. — Acredito que a moça não está interessada, capitão.
— Fique fora disso, MacGowan. Não é da sua conta.
— Estou tornando isso da minha conta. — O homem entrou em vista, pisando entre Malcolm e o homem que ele identificou como um capitão. Margaret tinha visto sua cota de homens bonitos, mas seu fôlego ainda chispava um pouco. Se ela não fosse apaixonada por cabelos louros escuros, olhos azul-escuro e misteriosos, esse homem poderia tê-la convencido a considerar o cabelo escuro, quase preto, olhos azuis duros e perigosos. Deus, ele era muito bonito, possuindo a boa aparência sombria que evocava todos os tipos de maldade. Talvez alguns centímetros mais alto que Eoin com um corpo musculoso, esse homem certamente poderia manter-se no campo de batalha. — Solte-a, capitão.
— Você esquece com quem está falando, MacGowan. Eu dou as ordens, não ao contrário. Saia daqui, antes que eu te jogue em um buraco ou você seja açoitado por insubordinação.
Os olhos do homem se encontraram com os seus.
— Você está disposta, moça?
— É óbvio que não — disse.
Sem dúvida, ouvindo o tom refinado de seu discurso, que em sua luxúria bêbeda os outros dois aparentemente haviam perdido, MacGowan franziu o cenho.
— Como se chama, minha lady?
Quase — orgulhosamente — disse que era Margaret MacDowell, filha do chefe de MacDowell. Ao perceber de que essa poderia não ser a melhor audiência para essa informação, trocou rapidamente sua resposta.
— A esposa de Eoin MacLean.
O capitão a soltou tão depressa que quase tropeçou.
— MacLean não é casado.
MacGowan deve ter ouvido a mesma incerteza em sua voz e respondeu ao capitão.
— É melhor que não seja.
O rosto de Malcolm adquiriu um tom decididamente cinzento.
— Não queríamos ofender, minha lady. Foi um mal-entendido.
Margaret estava disposta a deixá-lo ir, se o capitão não tivesse decidido vingar seus planos frustrados em seu salvador. Sem prévio aviso, o punho do capitão se cravou na mandíbula de MacGowan. Um segundo aterrissou em suas costelas. E logo um terceiro. Entre os socos, o capitão estava murmurando a respeito de "conhecer seu lugar", e "camponês".
Como estava claro que MacGowan não iria lutar, Margaret tentou impedi-lo ela mesma. Por desgraça, o capitão estava muito zangado, muito beligerante e talvez muito bêbado para notar que seu seguinte golpe se dirigia para seu rosto e não ao ombro do jovem guerreiro.
Maggie gritou quando sua cabeça foi golpeada com a força do soco e a dor explodiu em sua cabeça. A última coisa que ela ouviu antes de cair foi um grande rugido.
Capítulo 19
Os sons de um distúrbio no exterior interromperam a reunião.
— Que demônios está acontecendo lá fora? — Perguntou Edward Bruce a seu escudeiro. — Averíguem.
O moço saiu correndo e Eoin tentou que o irmão do rei voltasse para a conversa. Dos quatro irmãos de Bruce, Edward era o único que ainda vivia e o único de quem Eoin nunca gostou. Sua aversão só tinha crescido depois de lutar junto a ele durante a maior parte dos cinco anos.
Quando o rei enviou seu irmão como seu tenente para tentar combater o conturbado Sul e a fronteira em submissão, além de Sir James Douglas e Sir Thomas Randolph, quatro membros da Guarda das Highlanders tinham vindo. Eoin, Lamont, Boyd, e — até que ele desertou para o inimigo — Seton. Apesar de que às vezes eram chamados a outras partes para várias missões, e às vezes o resto da Guarda se unia a eles, Eoin passou a maior parte de seu tempo desde sua volta a Escócia, no Sul com Edward.
Na melhor das hipóteses, Edward Bruce era um dissimulado, arrogante, impetuoso e mercurial. Era ferozmente leal a seu irmão e profundamente ciumento dele. O amor que "O Bruce" inspirava em seus homens estava visivelmente faltando em seu irmão. Não era difícil ver por que. Edward não era a metade do líder que seu irmão era. Não gostava de conselhos ou deixar que alguém mais obtivesse os créditos, o que frequentemente o colocava em desvantagem direta com os membros da Guarda das Highlanders, como agora.
— Podemos entrar lá — disse Eoin com uma uniformidade forçada. — Que mal há em, pelo menos, nos deixar tentar?
— O mal é ter você morto. O que acredita que diria meu irmão se eu ordenasse uma missão que matasse alguns de seus preciosos guerreiros? Não. Prosseguiremos com o cerco. MacDowell não aguentará por muito tempo. Você e seus irmãos viram isso. Não houve remessa de suprimentos que chegasse em meses.
A paciência de Eoin se estava esgotando rapidamente. Não se tratava de que fossem assassinados, mas sim de que Edward tivesse o crédito por derrubar MacDowell. Mal conseguiu esconder sua alegria quando Eoin retornou da Inglaterra sem ele.
Mas havia mais do que capturar MacDowell agora.
— Meu filho está lá — disse Eoin.
O olhar do Edward se afiou, ouvindo a advertência — ou ameaça— na voz de Eoin.
— Isso é lamentável. Mas tenho certeza de que o menino não será ferido. Depois de tudo, é neto de MacDowell.
O desprezo era inconfundível. Edward nunca deixaria que Eoin se esquecesse de que sua esposa e sua família foram responsáveis pela morte de dois de seus irmãos. Eoin nunca o culpou pelo sentimento, mas alguma coisa o incomodou agora. Ele se salvou do que provavelmente teria sido uma troca de palavras feia com seu parente pelo retorno do escudeiro.
— É uma briga, meu lorde — disse o moço. — Entre o capitão e um de seus homens de armas por uma moça.
— Uma moça? — Perguntou Edward.
O menino assentiu com a cabeça.
— Sim, uma linda com o cabelo vermelho.
O sangue de Eoin esfriou. Não podia ser. Havia um monte de lindas moças com cabelo vermelho. Mas não podia convencer-se de que não era ela. Tinha esperado que Margaret o desafiasse. Porra, estava mais surpreso por ter levado três dias para fazê-lo.
Problemas.
Saiu da tenda sem dizer uma palavra. Assim que ele parou do lado de fora, pôde ouvi-los. Mas foi o que viu que fez cair seu coração como uma pedra aos seus pés. Era Margaret, metida no meio de uma briga. A fúria se elevou dentro dele. Que diabos estava fazendo? Ela ia se matar!
Eoin viu o punho do homem voar para trás, mas estava muito longe para detê-lo. Tudo o que pôde fazer foi rugir quando uma raiva primitiva o invadiu. Observou com impotência e angústia quando a cabeça de Margaret se afastou, e voou para o chão pela força do punho que golpeou sua mandíbula.
Ela não se mexeu.
Eoin cruzou a distância de cinquenta metros em segundos. Não podia pensar. Uma nuvem vermelha se formava em redemoinhos diante de seus olhos. Como seus antepassados vikings antes dele, ficou louco. Estrelou o punho contra o capitão uma e outra vez. O teria matado se Boyd, Lamont e Douglas não o tivessem parado.
Precisou os três para detê-lo.
— Que demônios está acontecendo aqui, MacGowan? — Douglas se dirigiu ao guerreiro alto, de cabelo escuro momentos depois. Por seu tom penetrante, estava claro que Douglas não gostava do homem.
Lentamente a neblina vermelha começou a se dissipar. A cabeça de Eoin clareou. Vagamente percebeu que MacGowan estivera lutando contra o capitão até que Eoin interveio. Agora, entretanto, Eoin estava evidentemente consciente de que MacGowan tinha ido ajudar Margaret e estava cuidando dela. De repente, simpatizava com a animosidade de Douglas.
Mas Margaret não olhava para o jovem guerreiro. Estava olhando para Eoin. Seus olhos se encontraram e ele podia ver seu medo, sua preocupação e sua ansiedade.
Por ele.
— Estou bem — ela sussurrou.
A boca de Eoin se fechou com força. Não estava bem, droga. Estava ferida. Inclusive agora podia ver o hematoma se formando em sua mandíbula. Deus, poderia estar morta.
Apertou os punhos. Deve ter parecido que ele ia terminar o trabalho porque ela insistentemente acrescentou:
— Foi um mal-entendido, Eoin.
— Alguém pode me dizer o que está acontecendo aqui? — Edward Bruce demandou. — Quem é esta mulher?
— Minha esposa — disse Eoin sem duvidar, embora soubesse o que a resposta provocaria.
O rosto do Edward Bruce ficou lívido. Seu olhar deslizou sobre Margaret com um ódio desenfreado antes de retornar para Eoin.
— O que você está fazendo aqui? Como diabos você pôde trazer um espião para o acampamento?
Margaret cambaleou enquanto se levantava, e Eoin teria corrido para ela, mas MacGowan a estabilizou.
— Não sou uma espiã — disse. — Estou aqui para ajudar a libertar meu filho.
Edward a ignorou. Voltou-se para o Eoin com fúria nos olhos.
— Tire a cadela daqui. Ela é a responsável pela morte de meus irmãos. É uma maldita MacDowell.
Edward Bruce não estava dizendo nada que Eoin não tivesse pensado cem vezes nos últimos seis anos. Mas ouvir as palavras de outra pessoa — especialmente de Edward — irritou cada terminação nervosa em seu corpo. Estava errado, e Eoin não podia deixar isso de lado.
Deu um passo ameaçador em direção ao segundo em comando de Bruce.
— Ela também é minha esposa, primo, e enquanto ela permanecer assim, você lhe dará o respeito que a posição merece. O que aconteceu não foi culpa de Margaret. Ela cometeu um erro, mas não pretendia nos trair. Se você quer alguém para culpar, me culpe.
Estava claro pela expressão em seu rosto que Edward estava fazendo isso. Mas ela viu Eoin lutar e foi sábia o suficiente para segurar a língua, ou Douglas segurou para ela, afastando Margaret da conversa.
— Então o que aconteceu? — Douglas voltou o olhar para MacGowan com uma animosidade mal contida. — Sabe que pode ser castigado por golpear a um superior? Talvez Carrick deva mandar você para casa?
— Fique fora disso, Jamie — MacGowan falou. Eoin nunca ouviu alguém chamar Douglas de Jamie antes. — Além disso, achei que você ficaria feliz em me ver longe de Douglas.
Douglas apertou os punhos e pareceu que poderia golpear o outro homem quando Edward interveio.
— Eu já lhe disse antes para parar de interferir, Douglas. MacGowan é meu homem e um bom guerreiro. Não me importa seu passado, deixe como está — voltou-se para MacGowan. — Mas neste caso, estou de acordo com ele. Será melhor que tenha uma maldita boa desculpa.
— Tem, — disse Margaret. — Estava me protegendo.
Eoin não gostou de como isso soou. Douglas não foi o único que cerrou os punhos.
— Do quê? — Ele perguntou.
Margaret mordeu os lábios e um rubor suave subiu por suas bochechas. Um tipo diferente de inchaço cresceu dentro dele.
— Esses homens me confundiram com outra pessoa. MacGowan os corrigiu, e o capitão se ofendeu. Como MacGowan não se defendia — voltou-se para Edward. — Suponho que era porque estava seguindo o protocolo de não lutar com um comandante, tentei pará-lo e atrapalhei. Foi só depois que o capitão me golpeou que ele lutou. Espero que não seja punido pelo meu erro.
Todos compreenderam por quem a tinham confundido. Eoin estaria furioso, se não estivesse ocupado demais sendo orgulhoso. Depois da maneira como Edward a atacara verbalmente minutos antes, sem mencionar ter que admitir que tinha sido confundida com uma prostituta, Eoin não pôde deixar de admirar com quanta confiança e com que naturalidade enfrentou a seu caluniador. Era um vislumbre da moça por quem se apaixonou. A garota escandalosa que sabia seu próprio valor e não se importava se as pessoas ao seu redor concordavam.
Inclusive Edward pareceu surpreso. Não era completamente diferente de seu irmão, e ele também, estava mergulhado no cavalheirismo durante a maior parte de sua vida. Agora reapareceu.
— Não castigaria um homem por defender a honra de uma mulher. Qualquer mulher — adicionou.
Margaret não parecia se importar, embora Eoin sim. Ela se iluminou.
— Então acredito que é melhor que nos esqueçamos de tudo isso.
Ela deve ter percebido o olhar de Eoin nela. Ela se virou e seus olhos se encontraram. Quando mordeu o lábio de novo, sabia que ela tinha recebido a mensagem. Não havia nenhuma maneira no inferno que ele iria esquecer isso.
Margaret tentou dizer-se a si mesmo que não significava nada. Mas como podia ignorar o que Eoin havia feito? Tinha vindo em sua defesa. Não só praticamente matou o vil capitão por golpeá-la, — decidiu que era prudente não mencionar como o capitão a tocou — o miserável pagou o suficiente em ossos quebrados e contusões, Eoin também havia dito a Edward Bruce que não era sua culpa.
Ele quis dizer isso mesmo?
Infelizmente, sabia que ia haver um inferno a pagar antes que pudesse descobrir. Não confundiu a calma com que a conduzia a sua tenda. Uma tempestade estava se formando dentro dele, e ela estava bem no centro dela. Por que isso a fazia sentir alguma emoção... ela não sabia.
Pelo amor de Deus, deveria estar aterrorizada. Mas grande e aterrador, ou pensativo e sério, isso não importava. Ela sabia que nunca iria machucá-la.
Mal a aba da tenda caiu atrás deles quando se virou.
— Que diabos acreditava que estava fazendo quando veio para cá sozinha?
— Supus que você tinha mudado de ideia.
— Supôs o quê?
Ela estremeceu ante o som de sua voz elevada.
— Não acostumava gritar tanto.
Pelas linhas brancas que se formavam ao redor de sua boca, sentiu que rapidamente estava ficando sem paciência.
— Eu diria que você não costumava ser tão problemática, mas isso não seria verdade, não é?
Não pôde evitar sorrir.
— Provavelmente não. Embora eu afirme — apenas para ficar claro — que eu não sou mais um problema.
Ele fez um agudo som de descrença.
— Que demônios a fez pensar que mudei de opinião?
Empurrou as bordas da capa que escondia o vestido e sorriu.
— Por esse lindo bonito, é óbvio. Supus que era sua maneira de se desculpar por ser tão idiot... — Deteve-se, como se a palavra tivesse sido um deslize, que ambos sabiam que não era. Sorriu. — Um valentão.
Ele não parecia apreciar a palavra alterada melhor do que a primeira.
— Sabe muito bem que não foi um pedido de desculpas.
— Não foi? — Arqueou uma sobrancelha fingindo surpresa. — Bem, deveria ter sido. — Ele deu-lhe um longo olhar. — Está tudo bem? Você parece um pouco tenso.
Seus olhos brilharam e ela quase se arrependeu de incomodá-lo. Mas não se divertira tanto... Seu coração se apertou. Em quase sete anos e meio. Desde os primeiros dias de seu matrimônio.
— Eu deveria ter deixado você vestida como uma freira. Talvez assim, não teria a cada homem a menos de cem metros ofegando por você.
Ela deu de ombros com indiferença.
— Talvez. — Havia apenas um homem de quem ela queria esse tipo de atenção. Mas já não a amava.
Ou amava?
Olhando por cima de seu controle forjado e seu corpo tenso, ela se perguntou isso.
— Vou te levar de volta ao convento.
Ela balançou a cabeça.
— Vou continuar voltando. Você vai ter que me trancar.
— Não me tente — ele disse bruscamente.
Margaret tinha jogado uma rápida olhada à tenda de lona com moldura de madeira, assustada do que pudesse ver. Respirou fundo e se obrigou a olhar mais de perto e estava mais aliviada do que queria admitir, que não via sinais de presença feminina.
Simples era um eufemismo. Nos lados opostos da tenda havia duas camas básicas de madeira, que estavam atadas com cordas a um colchão, com algumas mantas de lã e peles de animais na parte superior para dar calor e comodidade. Em um canto, que ela supôs pertencer a Eoin, havia uma mesa cheia de rolos de pergaminho. Além de dois baús, outra mesa, dois tamboretes19, algumas lamparinas a óleo e um braseiro de pedra, havia pouco mais em términos de comodidade ou decoração.
Sua mãe ficaria horrorizada.
— Não está compartilhando sua tenda com uma mulher, não é?
Não pensou que ele responderia, mas no final sua boca caiu em uma linha dura, e negou com a cabeça.
— Com Lamont.
Ela sorriu.
— Por favor, deixe que eu fique, Eoin. Prometo não incomodar. Posso ajudar, se deixar.
Não percebeu que estava tocando nele, até que os olhos dele baixaram para a mão que havia caído em seu braço.
— Como? — Ela imaginou a rouquidão em sua voz? Algo fez sua pele arrepiar.
— Me deixe falar com meu pai. Eu sei que posso convencê-lo a deixar Eachann sair.
— Absolutamente não. É muito perigoso. — Ela recuou.
— Meu pai não me machucaria.
— Seu pai está desesperado. Não há nada que você possa dizer para me convencer a colocá-la na frente dele. — Talvez fosse cedo demais para pressioná-lo, mas a oferta era muito tentadora.
— Não acho que se importaria se algo me acontecesse. Seria mais fácil para você se desfazer de mim.
O tique saltou em sua mandíbula, sua reação visceral, mesmo que, um momento depois, ele o tenha escondido.
— É o perigo adicional para o menino o que me preocupa.
Sustentou seu olhar por um momento e assentiu.
— É óbvio, — mas não acreditou nele. Preocupava-se com ela, pelo menos um pouco, mesmo que não quisesse.
Por mais de uma razão ela tinha que ficar.
— Por favor, Eoin, não pode me mandar de volta para o convento.
Ele não disse nada por um longo momento, mas apenas a estudou cuidadosamente.
— Se fosse inteligente, isso seria exatamente o que eu faria.
Sua esperança aumentou.
— Mas...
Terminou como ele esperava que ela fizesse.
— Mas Deus sabe que tipo de problemas você teria se eu não a vigiasse.
Sem pensar no que estava fazendo, Margaret o abraçou.
— Oh Eoin, obrigada!
No momento em que seu corpo se pressionou contra o dele, Eoin soube que cometeu um erro.
Como diabos ia compartilhar uma tenda com ela, quantos dias aguentaria sem tocá-la, sem beijá-la, sem fazer amor, quando todos os ossos de seu corpo clamavam para fazer exatamente isso?
Porra, como era bom. Ele havia esquecido como era bom. Quente e macio, seu corpo moldado contra o dele como uma luva apertada. Ele amaldiçoou interiormente. Era a coisa errada para estar pensando quando seu pênis estava pressionado contra outro tipo de luva apertada. Mas já havia percorrido esse caminho antes. Seu desejo por ela obscureceu sua razão. Ele não deixaria isso acontecer novamente. Não importava o quanto ele a quisesse.
Muito decididamente, a afastou.
— Haverá algumas regras.
Piscou para ele, aparentemente ainda sofrendo a ilusão de que ele estava a ponto de beijá-la.
— Regras?
— Sim. Você não vai interferir, não vai bisbilhotar, fará tudo o que eu pedir, e não se jogará sobre mim. Eu te disse que não estava mais interessado em ruivas.
Seus olhos brilharam.
— Eu não estava me jogando em você. — Seu olhar se estreitou e percorreu seu corpo com familiaridade que negava uma separação de seis anos, demorando-se por um momento no lugar que provava que ele era um mentiroso. — E você não parece tão desinteressado.
Sua boca se tornou uma linha fina.
— Eu ouço as freiras chamando, Margaret.
Parecia que queria dizer algo. Mas pela primeira vez, a discrição prevaleceu. Seu sorriso era muito agradável para o seu gosto.
— Eu prometo que não vou me “jogar” em você, interferir ou espionar. Eu serei a esposa perfeita e farei o que você pedir.
Ele não acreditou nela nem por um momento, mas sorriu, sabendo o quanto isso deveria ter lhe custado. Ele sorriu? Inferno, quanto tempo passou desde que fez isso?
— Então, bem-vinda ao seu novo alojamento. Mandarei alguém pegar suas coisas no convento.
— Não se incomode. Não voltarei a usar aquele vestido, e não tinha mais nada lá que me pertencesse.
Ele não comentou sobre o vestido, mas só de pensar fez com que seus dentes se apertassem.
— Faça uma lista de tudo o que necessita, e enviarei um moço à cidade para ver o que se pode conseguir.
— Não tenho muita moeda comigo. Só o que estava carregando na minha bolsa para as oferendas da igreja.
Ele fez um gesto com a mão.
— Eu me encarregarei disso.
— Obrigada. Eu vou te pagar de volta.
Como se ele aceitasse.
Olhou ao redor da tenda.
— Onde devo dormir?
Apontou sua cama à direita. Ele iria dormir na cama de Lamont. Não queria analisar por que não a queria na cama de seu companheiro.
Ela franziu o cenho.
— E o seu amigo?
— Dormirá em uma das outras tendas.
Maggie mordeu o lábio com força.
— Não queria forçá-lo a sair de sua cama.
— Lamont não se importará — assegurou-lhe. — Eu faço o mesmo quando sua esposa está com ele.
— Ele é casado?
— Parece surpresa.
Ela deu de ombros.
— Ele não fala muito.
Eoin não pôde evitar sorrir, pensando na esposa de Lamont, Janet de Mar. A moça não conhece uma palavra da qual não goste.
— Sua esposa o compensa. Quando a conhecer...
Ele deteve-se, de repente dando-se conta de que era muito improvável. Vidas separadas permanentemente. Isso era exatamente o que ele queria.
Seguiu-se uma pausa desconfortável. Eoin não perdeu o lampejo de dor nos olhos de Margaret, antes de romper o silêncio perguntando:
— Alguém sabe alguma coisa sobre Eachann?
Agradecido pela mudança de assunto, Eoin negou com a cabeça.
— Não.
— Como planeja recuperá-lo? — Surpreendeu-lhe a pergunta.
— Por que acredita que tenho um plano? — Ela revirou os olhos.
— Talvez não seja capaz de manter seu ritmo o tempo todo, mas sei como funciona sua mente. Sempre têm um plano.
— Sim, mas não vai adiantar dessa vez — não pôde ocultar sua amargura. — Carrick se negou a considerá-lo.
— Do que se trata?
Não disse nada. Não ia lhe contar os detalhes. Não só porque não confiava nela, mas também porque quanto menos dissesse a respeito da Guarda das Highlanders, melhor.
O recente desmascaramento de MacGregor e o sequestro de sua noiva pelos ingleses foi um lembrete para todos sobre a importância de manter suas identidades em segredo.
Não queria que ela fizesse muitas perguntas, o que estava obrigada a fazer se falava de um pequeno grupo de guerreiros altamente treinados que tentariam um ataque furtivo contra toda uma guarnição. As notícias de suas façanhas se espalharam demais.
Seria mais difícil quando Bruce e o resto da Guarda chegassem. O resto, quer dizer, com a exceção de MacGregor. O atirador perito — e o homem conhecido como o mais bonito de Escócia — aparentemente tinha alguma dificuldade com sua prometida. Acostumado a ver as mulheres se jogarem no famoso arqueiro, Eoin estava ansioso para conhecer a moça que tinha prendido o imperturbável.
Mas a iminente chegada de seus irmãos era a única coisa que Eoin não tinha considerado quando concordou em deixá-la permanecer aqui. Margaret era muito observadora. Isso iria complicar-se, como se já não fosse complicado o suficiente.
— Prefiro não dizer — respondeu finalmente. — Mas terei uma melhor oportunidade quando o rei chegar.
Ela piscou. Inferno, ele esperava que não houvesse umidade em seus olhos, porque descobriu que seu peito estava um pouco mais pesado.
— Eu entendo — disse suavemente. — Quando o espera?
— Em breve.
Ela assentiu e se virou. Ela parecia tão desanimada que ele a alcançou antes de se controlar e puxar sua mão de volta bruscamente. Caralho. O que havia nela que o fazia atuar como um idiota mesmo quando sabia o que era melhor para si?
Onde demônios estava todo esse ódio e essa amargura quando precisava? Sem isso ele era fraco. Nunca poderia esquecer. Loch Ryan sempre estaria entre eles. Podia não ser a cadela traidora que pensou durante anos, mas seu erro, havia custado muito.
Era melhor que encontrasse algum maldito autocontrole ou os próximos dias — semanas — seriam uma tortura.
Capítulo 20
Chamar de tortura era pouco. Mesmo que Eoin encontrasse todas as desculpas possíveis para fugir, toda vez que ela entrava na tenda e a via — ou captava o leve aroma de qualquer mistura floral que ela tivesse decidido usar esse dia — era como se alguém estivesse perfurando um buraco através de sua resolução. Muito em breve, não restaria nada além de buracos.
Dois dias atrás, ele cometeu o erro de voltar para a tenda depois de tomar o desjejum da manhã para encontrá-la na banheira. De alguma forma, falou com o rapaz que estava servindo como seu escudeiro para "pegar emprestado" a banheira de madeira de alguém. Infelizmente, não escondia muito dela, e o tom rosado de sua pele que vislumbrou antes de girar sobre seus calcanhares e partir — tudo bem, fugir — vinha o assombrando desde então. Noite e dia.
Estava tendo dificuldade para recordar por que tocá-la era uma má ideia. A pequena voz que seguia lhe dizendo que poderia tê-la e ainda ir embora estava cada vez mais forte. Era só luxúria. Não precisava ser outra coisa. A emoção não precisava atrapalhar, não se ele não permitisse. Depois de seis anos ele ganhou, não foi?
Mas mesmo que ela o recebesse em sua cama, não estava tão certo de que ela iria — já não o olhava como se fosse uma guloseima que não podia esperar para devorar, pelo qual estava agradecido, porra! — sabia que só complicaria as coisas entre eles.
A anulação já não era uma opção. Não faria de seu filho um bastardo. Mas isso lhe deixou com a difícil perspectiva de buscar o divórcio. Não seria fácil de obter, — e poderia levar anos — mas não tinha outra opção. Não se ele quisesse se livrar dela. E ele queria isso, não? Não pensou em outra coisa durante seis anos.
Mas voltar a vê-la...
Era mais difícil do que imaginou. Mais difícil do que deveria ser, porra. E Eachann tornou isso mais difícil. Queria conhecer seu filho. Não podia afastar-se dele, mas tampouco podia afastá-lo de sua mãe.
Caralho.
Quando Bruce e o resto da Guarda chegaram três dias depois que ela se colocou em sua tenda, Eoin estava no limite. Seu temperamento — que certamente, tornou-se pior desde Loch Ryan — era decididamente negro. Pela falta de uma descrição melhor. Inclusive Lamont o evitou nos últimos dias.
Eoin estava ansioso para colocar seu plano em movimento. Quanto antes terminasse o cerco, mais cedo seu filho estaria a salvo, e poderia livrar-se da mulher que estava deixando-o louco de tentação.
Apesar de Edward Bruce chegar primeiro ao seu irmão, e a fúria do rei ao saber que Margaret estava no acampamento, Eoin foi capaz de convencer Bruce a deixar a Guarda tentar tomar o castelo por subterfúgio. Depois de sucessos semelhantes nos castelos de Douglas, Linlithgow e Perth, o rei confiou no julgamento de seus guerreiros de elite. Bruce não agostava de sitiar castelos, e estava quase tão ansioso quanto Eoin para ver o fim do cerco. Assim que Dumfries caísse, os outros castelos em Galloway o seguiriam, e o rei estava ansioso para direcionar seu olhar para os maiores prêmios: os castelos de Stirling, Edimburgo e Roxburgh. Com os castelos tomados, o domínio inglês sobre Escócia se romperia e o reino seria dele.
Mas primeiro precisava capturar MacDowell em Galloway. O plano de Eoin era simples, e não demorou muito para que todos os detalhes fossem resolvidos. Margaret tinha proporcionado algumas informações adicionais sobre o castelo, mas era como ele se lembrava.
Um pouco mais tarde, os guerreiros deixaram a tenda do rei para conseguirem alguma comida e descansarem antes de fazer sua tentativa mais tarde, esta noite. Além de nove dos dez guardas restantes, MacLeod, MacSorley, Campbell, MacRuairi, MacKay, Sutherland, Lamont, Boyd e Eoin — Douglas e Randolph também participariam do ataque.
Eoin caminhava ao lado de Douglas quando ouviu MacSorley soltar um assobio baixo.
— Porra, Atacante, é ela?
Eoin olhou para cima e seguiu a direção do olhar de MacSorley. Ficou rígido, vendo os familiares e profundos cabelos vermelhos brilhando como ouro e cobre na luz do sol. Mas não foi a ausência do véu o que esfriou seu sangue, a não ser a proximidade dessa cabeça com outra. Seus olhos se estreitaram sobre o guerreiro de cabelo escuro ao seu lado.
— Sim, — disse bruscamente. — É ela.
Pela primeira vez o marinheiro sempre pronto a fazer piada não estava brincando. De fato, o olhar que MacSorley lhe deu foi cheio de simpatia.
— Caralho, não parece o que é. É difícil acreditar que enviou tantos homens para morte.
Eoin teve que anular o impulso de defendê-la. Sabia que seus amigos não entenderiam. Porra, ele não tinha certeza se entendia.
— Com quem ela está? — Perguntou Boyd. — Ele parece familiar.
Douglas ficou tenso ao seu lado e respondeu.
— Thom MacGowan.
A sobrancelha de Boyd se elevou.
— O amigo de infância que sua irmã mencionou a minha esposa?
Não havia muitos homens que se atrevessem a lançar um olhar fulminante para o homem mais forte da Escócia, mas James Douglas, O Negro, fez precisamente isso.
— Sim, é o filho do ferreiro de nossa aldeia. Erámos amigos antes de eu ir como escudeiro para Lamberton, mas agora não é meu amigo, nem de minha irmã.
A veemência de Douglas dizia mais do que pretendia. Eoin suspeitava que a irmã de Douglas, Elizabeth, tinha algo a ver com sua animosidade em relação ao outro homem.
— O filho de um ferreiro? — Perguntou Randolph. — Como chegou a ser um homem de armas para Edward?
— Thom nunca conheceu seu maldito lugar — replicou Douglas com raiva. Mas depois de uma parada, respondeu à pergunta. — Sua mãe era filha de um cavaleiro. Acredito que lhe deixou algumas moedas quando morreu.
Eoin não se importava que diabos ele era, só queria saber por que MacGowan estava com sua esposa de novo. E o que estava fazendo Margaret fora da tenda? Tanto para sua adesão às suas regras. A advertiu de que não se movesse sozinha pelo acampamento. Supunha-se que não devia chamar a atenção, como se isso fosse possível. Sua esposa sempre era o centro das atenções, boas ou más.
Deve ter sentido o olhar negro que estava lhe dando. Levantou a vista. Seus olhos se encontraram e se sustentaram. Algo passou entre eles. Algo quente e penetrante, e perigoso.
Ela pareceu entender a mensagem. Maggie estremeceu — culpada — disse algo a MacGowan, e correu em direção à tenda que não deveria ter saído.
Eoin estava tão envolvido em sua esposa que não percebeu que o rei havia se movido atrás dele. O olhar semicerrado de Bruce expressou sua raiva.
— O que ela está realmente fazendo aqui, Atacante?
Eoin escutou a pergunta subjacente. Mas uma reconciliação não era o que ele queria.
— Como eu disse, ela está preocupada com o menino e quer ajudar se puder.
Raramente seu parente soltava sua raiva com o preço pessoal que essa guerra exigia, mas ele o fez agora. Os olhos de Bruce brilhavam como aço.
— Assim como ela “ajudou” a matar meus irmãos?
Eoin o olhou nos olhos.
— Isso foi tanto minha culpa quanto dela.
Bruce não discordou. Pelo menos de imediato. Mas depois de um momento, ele pareceu se recuperar. Era o rei de novo e não o homem que perdeu três irmãos e incontáveis amigos pela espada do verdugo, e sua esposa, irmã e filha para o cativeiro inglês.
— MacDowell estava preparado e sabia que iríamos. A informação de sua esposa só confirmou isso — fez uma parada por um momento, considerando. — Estou disposto a aceitar o que você me disse que ela não nos traiu intencionalmente, mas isso não significa que confio nela. Lembre-se da sua promessa e certifique-se de que ela não saiba nada que possa pôr em perigo nossa missão aqui. Ela é sua responsabilidade, primo.
A lembrança de seu parentesco foi o pedido de desculpas do rei por mostrar a raiva e o ressentimento que Eoin sabia que estava arraigado, apesar de tudo o que tinha feito desde então. Ele nunca repararia o que tinha feito.
Assentiu, mas se perguntou se com isso assumiu mais do que ele poderia aguentar.
Margaret esperava que Eoin invadisse a tenda a qualquer momento, por isso se surpreendeu quando caiu a noite e ele ainda não tinha retornado. Era óbvio que estava furioso por encontrá-la com Thom MacGowan, e estava pronta com uma explicação, mas ele não apareceu para dar-lhe.
Não aparecer parecia ser uma ocorrência comum desde que ela se mudou para a tenda. Eoin entrava e saía com frequência durante o dia, mal lhe dando tempo para perguntar sobre o progresso do cerco. Removeu o seu baú junto com o de seu amigo, então assumiu que se vestia e lavava em outro lugar.
Teria pensado que dormia em outro lugar também, mas na noite anterior fingiu dormir e esperou para ver se ele iria entrar. Finalmente entrou, no que deve ter sido horas depois da meia-noite. Aproximou-se o suficiente de sua cama para que ela sentisse o ar frio da noite em sua pele, e ela teve que se controlar para não abrir os olhos, sabendo que ele estava olhando-a. Ele permaneceu ali por alguns minutos até que temeu que a calma de sua respiração a tivesse entregue.
Murmurando uma maldição, ele saiu.
Ela queria chamá-lo de volta, mas pela primeira vez não queria pressioná-lo. Seu marido estava lutando com seus sentimentos em relação a ela, e sabia que um movimento errado poderia empurrá-lo ao limite. Qual limite era o problema. Ele a enviaria ou se renderia ao desejo se soubesse que ela também estava lutando?
O que ela queria? Para falar a verdade, Margaret não sabia. Estava lutando com seus próprios sentimentos. Não fazia duas semanas que estava se preparando para se casar com outro homem. Um homem que mesmo sabendo que ela não o amava, cuidou dela.
Já não estava segura de que o amor era a única coisa que importava. Anos atrás amou Eoin com todo seu jovem coração e não foi suficiente. Nunca tinha feito parte de sua vida. Nunca se comprometeu realmente com ela ou com seu matrimônio. A manteve na escuridão e lhe mostrou em todos os sentidos que não confiava nela.
Se tivesse confiado, talvez o que ocorreu não teria acontecido. Se tivesse confiado nela e dissesse o que estava em jogo, ela nunca teria contado a Brigid. Teria permitido que sua amiga acreditasse que tinha sido atacada em vez de dar qualquer indício de que Eoin estava na área.
Traiu sua confiança, e não havia dúvida de que as consequências haviam sido horríveis, mas ela tomou a melhor decisão possível com as informações que tinha na época.
Foi uma epifania. Uma parte da culpa e horror que a assombrou durante anos a deixou. Não era tudo culpa dela. Ela o traiu naquele dia, mas ele a traiu e ao casamento deles cada vez que partiu sem dizer nada. A traiu novamente deixando-a pensar que estava morto durante seis anos.
Ainda o amava, suspeitava que sempre amaria, mas não era suficiente. Aos dezoito anos ela não conhecia nada diferente, mas agora sim. Sir John lhe mostrou como poderia ser. Acreditou nela e compartilhou sua vida com ela. Não se contentaria com mais nada.
Mas agora que Eoin tinha ainda menos motivos para confiar nela, isso era possível?
Não sabia, mas pretendia descobrir assim que seu filho estivesse livre.
Era o pensamento do que estava acontecendo naquele castelo, e o possível sofrimento de seu filho, que dominava seus pensamentos. Até que Eachann estivesse a salvo, seus sentimentos por seu marido teriam que esperar.
Esperava que a chegada de Robert Bruce os levasse um passo mais perto de ver seu filho retornar para ela. Embora ela tivesse se concentrado em seu marido, ela não havia perdido de vista o homem que veio atrás dele. O ex-Conde de Carrick envelhecera desde que se declarara rei, mas o reconheceria em qualquer lugar.
Era difícil acreditar em tudo o que este homem realizou, mas não foi sem sofrimento. Tinha perdido três irmãos e sua esposa, irmãs e filha estavam em mãos inglesas; uma de suas irmãs tinha sido pendurada em uma jaula.
Saber da chegada de Bruce valia a repreensão que ela certamente receberia por quebrar uma de suas chamadas "regras". Ansiosa por saber o que estava acontecendo, estava a ponto de romper o confinamento novamente e ir procurá-lo, quando finalmente seu marido se dignou a presenteá-la com sua presença.
Ele ficou parado dentro da aba olhando para ela, claramente tentando intimidá-la com aquele olhar pensativo e pesado que ele aperfeiçoou. Sempre tinha sido intenso, mas essa intensidade adquiriu uma dureza nos anos seguintes. Estremeceu. Uma aresta assustadora.
Como estava vestido da cabeça aos pés em couro preto e aço, e tinha o que devia ser cada arma de aspecto mortal já conhecida pelo homem amarrada a ele, o olhar não era totalmente ineficaz.
Mas suspeitando que demorou tanto em ir até ela era porque sabia quão ansiosa estaria, — fez isso como uma espécie de castigo — ela levantou o queixo e lhe devolveu o olhar.
Sua boca ficou tensa e a maior parte do impressionante número de músculos de seu corpo se retesou.
Bom! Que aspecto teria agora seu torso e seus braços? Sentiu um revoo abaixo de seu ventre e a inundação familiar de calor. Provavelmente era melhor não pensar nisso.
Ele deu alguns passos para ela. Obviamente estava preparado para lutar, e ela não tinha intenção de decepcioná-lo.
— Seja o que for que precise dizer, diga — disse com um indiferente aceno de sua mão.
Seus olhos se tornaram positivamente predatórios.
— O que a faz dizer isso, Margaret? Será que eu especificamente lhe disse para não sair da tenda, e, entretanto, a encontro circulando ao redor do acampamento com MacGowan?
A forma em que virtualmente cuspiu o nome do outro lhe deu uma ideia do porquê ele estava tão furioso.
— Eu não estava circulando — esclareceu ela. — Simplesmente estava me assegurando de que Thom se recuperou de seus ferimentos depois de vir em meu socorro no outro dia. Espero que não se importe, mas eu usei parte das moedas que você me deixou para comprar-lhe uma faca nova.
— Você fez o quê?
Ela estremeceu com a reverberação em seus ouvidos.
— Eu vou te pagar.
— Não quero seu maldito dinheiro! E pelo que ouvi, ele pode fazer muito bem suas próprias facas. Você não deve comprar coisas para Thom ou qualquer outro homem.
Ela ergueu a sobrancelha, escondendo o sorriso que vinha pela forma como ele havia dito Thom.
— Por que não?
— Porque não está certo, porra.
Não pôde resistir em provocar um pouco. Ele a fez esperar durante horas.
— Não há motivos para estar com ciúmes dele.
Não acreditava ser possível que olhos azuis pudessem ficar negros.
— Não estou com ciúmes dele — grunhiu.
— Não está? Oh, isso é bom. Embora seja compreensível se você estivesse. Ele realmente é muito bonito. Aquele cabelo escuro com os olhos azuis é realmente uma combinação espantosa — pareceu pensar nisso enquanto Eoin lutava para não explodir. — Eu sempre gostei de homens altos — levantou sua mão uma ou duas polegadas sobre sua cabeça como se estivesse calibrando. — Deve ter, pelo menos, um metro e noventa, não acha?
Quando ele soltou um grunhido baixo e deu outro passo na direção dela, Margaret decidiu que o pressionou o bastante. Parecia que estava pensando em estrangulá-la ou jogá-la de volta na cama. Não importava o quanto quisesse esse último, — e a emoção que corria ao longo de sua pele lhe dizia que ela o desejava muito — ela não estava pronta para isso. A paixão tinha uma maneira de confundir as coisas. Aprendeu isso da primeira vez.
— Bruce concordou com o seu plano? — Perguntou, surpreendendo-o claramente pela rápida mudança de assunto. — É por isso que está vestido para a batalha?
A expressão em branco em seu rosto respondeu à sua pergunta, mesmo que ele não quisesse. Embora não pudesse esperar que confiasse nela, seu coração ainda se retorcia.
Procurou em sua feição endurecida por qualquer sinal de abertura.
— Apenas me diga se é perigoso.
Entretanto, não disse nada, e seu coração se retorceu de novo.
— É óbvio que é perigoso — disse, respondendo a sua própria pergunta. — Como não seria?
Ela estava dividida. Queria que seu filho fosse libertado, mas não queria que Eoin fosse ferido no processo. Renovou sua súplica.
— Você não vai me deixar pelo menos tentar primeiro...
— Não. Já passamos por isso antes. Não arriscarei você nem o menino. Isso é o que eu faço, Margaret. Deixe-me fazer o meu trabalho.
Ela olhou para ele e sentiu um desejo tão forte que lhe roubou o fôlego. As lágrimas brotaram de seus olhos. Não estava segura do porquê. Medo? Desejo? Pela vida que perderam ou o amor que compartilhavam? Ele parecia querer dizer alguma coisa, mas inclinou a cabeça e se virou para sair.
— Espere, — disse, correndo atrás dele. Alcançou-o quando afastou a aba da tenda.
— O quê?
— Isso — e sem vacilar, ficou nas pontas dos pés e lhe deu um beijo nos lábios. Foi casto e breve, mas tempo o suficiente para despertar lembranças. Ela havia esquecido a suavidade surpreendente, o sabor sutil de especiarias e o modo como seu coração saltava com o contato. A forma como seu corpo inteiro reagia.
Precisou de toda a sua força de vontade para recuar. Mas quando o olhou, pôde ver que o surpreendeu.
— Se mantenha vivo desta vez — disse, rompendo o silêncio. — E a propósito, isso não foi eu me jogando em você.
Um canto de sua boca se elevou. Ele sacudiu a cabeça.
— Obrigado pelo esclarecimento, e farei o meu melhor para me manter vivo.
— Eu sei.
Ele assentiu e, um momento depois, desapareceu na escuridão da noite. Não sabia dizer quanto tempo permaneceu observando-o.
Melhor seguirmos caminhos separados...
Como ia deixá-lo ir embora de novo?
Robert “O Bruce” não tinha máquinas trabucos com nomes intimidantes como Warwolf, tinha algo melhor. Os guerreiros da Guarda das Highlanders eram tão destrutivos quanto as poderosas maquinas de assédio da Inglaterra, mas eram muito mais ágeis e não necessitavam de dezenas de carroças para movê-los ou meses de escavação e espera.
Depois de sete anos e meio de lutar lado a lado nas piores trincheiras desta guerra, a Guarda operava como um instrumento de guerra perfeitamente afinado. Comunicavam-se em silêncio e se antecipavam mutuamente. Mas sempre estavam preparados para o inesperado. Ao contrário das lendas que os proclamavam super-homens ou fantasmas, não eram indestrutíveis, — a morte de William Gordon, o Templário, os recordou disso — nem eram infalíveis e o fracasso em tomar o castelo de Berwick no ano passado ainda ardia neles.
Mas esta noite tudo estava indo de acordo com o plano de Eoin.
A fortaleza de pedra do castelo de Dumfries estava sobre uma alta colina. Os lados íngremes da colina em si eram uma forma de defesa, impedindo os atacantes de se aproximarem rapidamente. A paliçada20 de madeira que rodeava o torreão e a muralha tinha sido substituída e fortificada pelos ingleses com um muro de pedra, depois que a Guarda das Highlanders resgataram à esposa de MacLeod há sete anos, iniciando a cadeia de eventos que conduziria à candidatura de Bruce ao trono. A defesa adicional foi proporcionada pela profunda e úmida trincheira que fazia limite com a parede.
O castelo tinha dois portões. Um portão interno sobre o fosso úmido em torno da muralha que guardava as escadas que levavam ao castelo, e um portão muito mais forte com a ponte levadiça que protegia a entrada principal no pátio. Para tomar a fortaleza, os atacantes precisariam passar pelo portão externo e pelo portão interno.
A Guardas das Highlanders contornou ambos. Sob o manto da noite, Eoin e seus irmãos se aproximaram da torre pela parte de trás da colina. Com a trincheira úmida, a colina íngreme e a imponente muralha que rodeava a fortaleza, este lado do castelo era o ponto de acesso mais impenetrável e pouco provável de ser tomada — era exatamente por isso que estavam ali. — Impenetrável significava levemente vigiado.
Um exército nunca seria capaz de lançar um ataque surpresa sobre o castelo daqui. Mas uma pequena força de homens poderia. Como tinham feito quando resgataram Christina MacLeod, os guardas nadaram através da trincheira úmida cheia de sujeira e se rastejaram pela colina. O alto muro de pedra, entretanto, requeria algo mais que cordas. Felizmente, Douglas tinha desenvolvido recentemente um artefato engenhoso que lhes permitia escalar muros ainda mais altos que a barricada de seis metros ao redor de Dumfries. As escadas de corda, equipadas com estribos e ganchos de segurança, foram bem utilizadas nos castelos de Berwick e Perth. Um cão latindo frustrou o ataque em Berwick, mas as escadas tinham sido utilizadas com êxito há algumas semanas em Perth.
Uma vez que todos os homens estavam seguros sobre a parede, dividiram-se em grupos. Eoin e MacRuairi iriam em busca do menino, Lamont, MacSorley, o irmão de MacGregor, John, Boyd, MacLeod e Douglas vigiariam e proveriam defesa se fosse necessário, e os outros abririam as portas interiores e exteriores para deixarem entrar o restante do exército de Bruce, que se escondia no bosque para tomar o castelo.
A missão de Eoin era tirar seu filho da zona de perigo antes que o grito soasse e caos da batalha se seguisse. A cautela e a surpresa eram fundamentais, por isso MacRuairi estava com ele. O bastardo desgraçado ganhou seu nome de guerra — Víbora — por sua disposição. Como uma serpente que podia mover-se de um lugar a outro sem deixar rastro.
Tendo neutralizado os guerreiros guardavam a porta com relativa facilidade, Eoin persuadiu um deles — com sua adaga — para que lhe mostrasse onde estava o menino. Tendo experiência com MacDowells, Eoin não se surpreendeu quando o homem tentou levá-los para uma sala cheia de guerreiros adormecidos. Entretanto, depois de algumas cutucadas encorajadoras, o homem subiu as escadas.
Eoin podia sentir seu peito palpitar com antecipação. Seu filho estava perto, e logo estaria a salvo. Ao sair da escada no terceiro andar, passaram por uma pequena antecâmara antes que seu resistente guia se detivesse diante de uma porta e assentisse, indicando que era ali. Eoin o golpeou rapidamente na parte de trás da cabeça. Com uma olhada a MacRuairi para ficar preparado em caso de que isso fosse outra surpresa, respirou fundo e abriu a porta.
A sala estava escura, e demorou um momento para que seus olhos se ajustassem. Um brilho de luz das tochas do corredor se derramou no ambiente, lhe permitindo distinguir uma pequena forma aconchegada em uma cama sob uma grossa capa de pele. A forma virou e uma pequena cabeça apareceu.
Eoin reagiu como um raio, avançando e pondo sua mão sobre a boca do menino para amortecer o grito que estava a ponto de arrancar de seus pulmões. Seus olhos se encontraram na penumbra, e viu o reconhecimento no olhar do menino que, sem dúvida, se refletia no seu.
“Cristo, ele parece comigo.”
Não havia dúvida de que este era seu filho.
Eoin se sentiu aturdido, como se alguém tivesse golpeado com um aríete em seu peito. Saber que tinha um filho era muito diferente de ver-se confrontado com a prova viva. A prova viva de cinco anos.
Arrependimento e uma centena de emoções apertaram sua garganta.
— Sabe quem eu sou? — Perguntou em voz baixa.
O menino assentiu, mas depois arregalou os olhos e tentou gritar de novo.
Eoin olhou por cima do ombro com raiva.
— Cristo, Víbora, você o assustou — disse em um sussurro áspero. MacRuairi parecia o bicho-papão com seus misteriosos olhos verdes brilhando sob o escuro metal do elmo nasal. Seu rosto parecia desaparecer na escuridão.
— Sua reunião terá que esperar — disse MacRuairi. — Temos que sair daqui. Certifique-se de que ele fique quieto.
Eoin não perdeu tempo discutindo. MacRuairi tinha razão. Ainda sustentando sua mão ao redor de sua boca, Eoin tirou o menino da cama como se não pesasse nada — o que não estava tão longe da verdade— e o levou para fora da câmara. Embora Eachann não resistisse, Eoin não queria arriscar até que estivessem fora da fortaleza. Só então o desceu e o olhou diretamente nos olhos.
— Vou tirar a mão da sua boca, mas se fizer um som, terei que lhe pôr uma mordaça. Você entende? — O menino, seu menino, assentiu. Eoin o estudou atentamente, vendo algo nos olhos do menino. — Tenho sua promessa?
Seu filho assentiu de novo, desta vez com muito menos entusiasmo, e Eoin tentou não sorrir. Não era difícil imaginar o que ele estava pensando. Mas o fato de que Eachann não gostasse de ser obrigado a prometer deu suficiente razão a Eoin para pensar que a manteria, e soltou seu agarre sobre sua boca.
O menino respirou profundamente algumas vezes enquanto olhava para Eoin — que se abaixara sobre um joelho — cautelosamente.
Eoin tirou uma pele de seu ombro e entregou a ele.
— Quer água? — Eachann não vacilou, tomando a oferenda com um assentimento ansioso.
Eoin xingou quando o menino engoliu a água como se não tivesse bebido em Deus sabe quanto tempo. A situação era obviamente mais grave do que tinham pensado, e a ideia de que seu filho sofresse...
Alegrou-se de que Dugald MacDowell não estivesse aqui neste momento.
MacRuairi lhe deu um empurrão, mas Eoin o afastou.
— Tem sede e provavelmente também fome. — Procurou em seu sporran e tirou um pedaço de carne seca. — Pegue isso. Deveria ter trazido mais, mas assim que voltarmos para o acampamento, pode ter o que quiser.
Os olhos do menino se arregalaram com suas palavras, e Eoin sentiu como se acabasse de lhe oferecer um reino. O menino mastigou a carne com gosto, cada mordida fazendo com que Eoin se sentisse mais irritado e furioso.
Olhou bruscamente para Lamont e MacSorley enquanto se aproximavam deles.
— Algum problema? — Perguntou ao seu companheiro.
Lamont meneou a cabeça.
—Está calmo. Há cerca de cinquenta homens na torre.
— Bem, menos do que pensávamos. Vamos.
Estavam prestes a continuar descendo a colina quando os outros subiram as escadas em direção a eles. Eachann recuou instintivamente, aterrorizado ao seu lado, e Eoin pôs a mão em seu ombro para confortá-lo.
— Está tudo bem, são amigos.
O menino pareceu ofender-se e ficou rígido.
— Não estou com medo — disse com orgulho. — Os MacDowells não se assustam.
A mandíbula de Eoin se apertou, e o teria corrigido — o menino era um MacLean — se não tivesse visto a expressão de Douglas.
— Há um problema — disse o grande guerreiro. Além de Eoin, que não tinha querido assustar o menino, Douglas era o único que não usava um elmo nasal. Douglas não se importava que todo mundo soubesse quem ele era. — Não podemos abrir a porta.
— Por que não? — Perguntou MacRuairi com impaciência.
Para surpresa de Eoin, seu filho respondeu.
— O guarda não tem as chaves. Meu avô as tem.
MacLeod olhou para o menino e depois se voltou para Eoin.
— Não importa. Podemos nadar através da vala por enquanto para abrir o portão principal. O Gelo pode pegar uma de suas bolsas de pólvora preparadas para este portão.
Todo mundo começou a se mover para as escadas, exceto Eoin. Ainda olhava para seu filho. Havia algo... Caralho.
— A porta exterior tampouco funcionará, não é? — Disse. Eachann não disse nada, mas um canto de sua boca se elevou. — Também faltam essas chaves?
Eachann assentiu.
— E as cordas para a ponte levadiça.
Os outros também se detiveram, e como Eoin olhou fixamente para seu filho.
— Quem disse ao seu avô para fazer isso? —Eoin perguntou, já adivinhando a resposta.
Eachann não disse nada, mas o sorriso de sua boca o entregou. Lamont soltou uma gargalhada e disse a Eoin.
— É seu filho, com certeza.
Ele seria um condenado. Eoin não podia tirar os olhos do menino. O fluxo de orgulho que se elevava dentro dele ameaçava estourar seu peito.
Por um momento, Eachann pareceu inchar-se também, e começou a lhe dar um sorriso hesitante. Mas então pareceu se lembrar de algo e se afastou dele como se estivesse escaldado. Seu rostinho se contorceu de raiva.
— Não sou seu filho — disse com aborrecimento. — Sou um MacDowell, e você é um bastardo traidor! Eu te odeio e desejo que você nunca mais volte!
Eoin deu um passo para trás como se o menino acabasse de golpeá-lo.
O choque de Eoin deu a Eachann sua abertura. Antes que alguém pudesse detê-lo, correu em direção a torre. E, obviamente, pensando melhor em sua promessa, gritou.
Capítulo 21
Sabendo que não poderia dormir, Margaret não se incomodou em tentar. Quanto tempo tinha passado desde que Eoin se foi? Uma hora? Duas? Caminhou pela pequena tenda, a chama das lamparinas de óleo piscava, e de vez em quando se detinha para abrir a aba e dar uma olhada fora.
Da posição da tenda na pequena elevação, podia facilmente distinguir o castelo em uma distância não tão longínqua. O escuro castelo que...
Seu coração saltou a sua garganta quando o castelo de repente tomou vida. As tochas se moviam por toda parte e os sons de gritos e clamores de homens despertados para a batalha destroçaram o ar da noite.
Eoin foi descoberto ou fazia parte do seu plano? Oh Deus, o que estava acontecendo? Por que não o obrigou a confiar nela?
Observou com horror como os homens de seu pai começavam a se alinharem nas muralhas. Não só seus homens, percebeu um momento depois, mas também seus arqueiros.
As flechas se desdobraram na escuridão, aparentemente apontando para objetivos mais abaixo.
Não Eachann. Não Eoin. Por favor!
Alguns momentos depois, o acampamento ao seu redor respondeu, tomando vida também. Os homens corriam por toda parte. Homens em armadura completa preparados para atacar. Mas não estavam atacando. Algo estava errado. Seu coração pulsava com força na garganta. Tentou interrogar os homens que corriam ao seu lado, mas a ignoraram.
Os arqueiros de Bruce começaram a devolver o fogo, atrasando a saraivada de flechas nos alvos abaixo. Por favor...
Demorou pelo menos mais cinco minutos para que suas preces fossem atendidas, quando, na outra extremidade do acampamento viu pelo menos uma dúzia de guerreiros saindo da escuridão. Eoin! Tinha que ser. Examinou as figuras extraordinariamente imponentes. Seu coração se deteve no homem que estava sendo carregando por outros dois. Mesmo à distância, reconheceu-o.
Inconsciente das advertências de Eoin sobre sair da tenda, Margaret correu. Não se deteve até que chegou aos homens, e teve que abrir caminho entre a multidão para vê-lo. Quando o fez, um grito escapou de onde o havia segurado firmemente em seu peito. Teria se arrojado para ele, se não tivesse sido detida por dois homens.
— Está ferido — disse ela, dando um passo mais hesitante em direção a ele.
— Estou bem, — disse ele, mas estremeceu quando tentou se apoiar em suas próprias pernas para provar isso. — Eu machuquei meu joelho.
Só então notou que os dois guerreiros que o sustentavam usavam elmos nasais enegrecidos como o que Eoin tinha usado seis anos atrás. Da dúzia de guerreiros que estavam com Eoin, apenas alguns usavam elmos como ele, mas todos os homens estavam de preto da cabeça aos pés. Casacos de guerra de couro preto, camisas de malha enegrecidas, elmos enegrecidos, botas de couro preto, inclusive alguns dos rostos debaixo das máscaras pareciam enegrecidos. Pareciam se misturar com a noite.
Havia algo sobre eles que fez com que o cabelo de seu pescoço se arrepiasse. Quem — o que — eles eram?
Mas sua atenção foi atraída para um dos homens que sustentavam Eoin. Soava muito irritado.
— Poderia estar torto ou quebrado, por isso não tente ficar de pé até que Helen tenha a chance de olhá-lo.
De repente, o que — ou quem — estava faltando penetrou. Seus olhos encontraram os de Eoin.
Quando ele deu uma sacudida de cabeça, ela sabia que tinha entendido sua pergunta silenciosa. Não funcionou. Não conseguiu libertar Eachann.
— O que aconteceu?
Margaret reconheceu a voz como a de Robert Bruce, embora o guerreiro vestido de cotun que estava na multidão de homens que os rodeava era indistinguível. Percebeu que nenhum dos homens usava cores nos braços. A guerra secreta de Bruce, um exército de piratas e bandidos, disseram. Não era difícil entender o porquê.
— O menino nos enganou — um dos homens brincou secamente.
O coração de Margaret saltou quando seu olhar se encontrou com o de Eoin. Eachann?
Ele assentiu e explicou ao rei obviamente impaciente.
— Não conseguimos abrir nenhum dos dois portões. As chaves tinham sido retiradas, assim como as cordas para levantar a ponte. MacDowell antecipou um ataque furtivo e sabia que inclusive se conseguíssemos colocar alguns homens no interior, não poderíamos conseguir que o resto do exército entrasse rápido o suficiente para tomar o castelo. Foi uma defesa simples, mas eficaz — a nota de orgulho na voz de Eoin esquentou um pouco o frio de seus ossos. — Foi ideia de meu filho — acrescentou.
Bruce estava incrédulo.
— Deve estar brincando. Você disse que o menino tem apenas cinco anos.
— Não está brincando — disse um dos homens que segurava Eoin. Reconheceu a voz como a de Lamont. — Todos nós ouvimos o menino.
Margaret sentiu o olhar do rei nela, olhava-a como se fosse sua culpa. Maggie lhe sorriu docemente.
— Meu filho também sabe jogar xadrez, meu lorde.
Por um momento ninguém disse nada, e de repente Bruce deixou escapar uma gargalhada.
— Vou me lembrar disso.
Margaret se voltou para Eoin, cuja boca tremia suspeitosamente. Era o primeiro olhar de leveza que tinha visto nele desde que retornou dos mortos. Esses sorrisos duros sempre foram sua fraqueza. O problema é que eles ainda eram.
Desatando o punho que se fechara ao redor de seu coração, se forçou a acalmar suas emoções e perguntou.
— Mas por que ele não está com você, se falaram com ele? — Uma sombra de dor cruzou seu rosto.
— Fugiu de mim.
Um dos outros se apressou a cobrir a pausa desajeitada.
— Tivemos que sair dali da mesma maneira que entramos. MacLean machucou a perna quando teve que pular, e Randolph foi atingido no ombro com uma flecha, mas tivemos sorte.
O homem que mencionou a curandeira grunhiu e reajustou seu domínio sobre o Eoin.
— Precisamos deitá-lo, senhor. O Chefe pode informá-lo do resto.
— Helen está por perto? — Perguntou o rei.
— Perto o suficiente. Eu vou buscá-la hoje à noite.
Bruce olhou para Margaret.
— Suponho que pode atendê-lo até que chegue a curandeira.
— Estou bem, caralho — reclamou Eoin.
Tanto ela como o rei o ignoraram. Maggie assentiu.
— Sim.
— Muito bem — o rei se dirigiu a Lamont. — Se assegure que tenha tudo o que necessite.
Bruce voltou sua atenção para um dos guerreiros mais imponentes que estava ao lado deles, enquanto os dois homens levavam Eoin para sua tenda. Estavam todos encharcados, ela percebeu, e cheiravam levemente a um pântano. Ela franziu o nariz. Eles devem ter nadado na sarjeta.
Estavam a ponto de colocá-lo na cama quando os deteve.
— Esperem! — Agarrou um plaid velho e o estendeu sobre a cama para proteger as cobertas da cama. Ao perceber que todos a olhavam com diversão — não eram exatamente linhos finos — levantou o queixo. — Vai ter frio.
Peter, o escudeiro de Eoin, correu para a tenda, e Lamont o enviou para procurar roupa e água limpa.
Rapidamente ficou claro que seu marido não ia ser um paciente fácil. As reclamações começaram assim que ele estava na cama. Não necessitava de uma curandeira, Eoin amaldiçoou, mas o guerreiro que ela não sabia o nome saiu de qualquer maneira para buscá-la. Quando Lamont perguntou se ele queria ajuda com sua armadura, a reação espinhosa de Eoin fez seus ouvidos queimarem. E ela estava acostumada a lidar com a linguagem de seus irmãos!
Depois de alguns minutos tentando fazê-lo se sentir confortável, Lamont desistiu.
— Divirta-se, minha lady. Farei com que o rapaz traga uísque para a dor.
— Não preciso de nenhum maldito uísque — disse Eoin.
— Não é para você, é para ela — respondeu Lamont.
Margaret começou a rir.
— Obrigada, mas isso não será necessário. Eu vou ficar bem, apesar de tudo.
Lamont a olhou como se não tivesse tanta certeza, mas partiu com um breve aceno momentos depois. Peter deve ter sido advertido por Lamont sobre o mau gênio de Eoin, porque o rapaz entrou correndo logo depois com um balde de água e uma muda de roupa, e então voltou a sair correndo.
Eoin tinha se sentado um pouco para começar a tirar suas armas e a armadura, e ela silenciosamente se aproximou para ajudá-lo. Deteve-a quando tentou lhe ajudar a tirar a túnica.
Seus olhos se encontraram.
— Eu farei isso — ele disse rispidamente.
O calor subiu para suas bochechas e ela assentiu. Ajudá-lo a tirar a camisa provavelmente não era uma boa ideia para nenhum deles, a situação atual já era bastante íntima. Quando ela se virou, ele lavou o pior da sujeira e colocou uma nova túnica.
Não protestou, entretanto, quando lhe ajudou com suas botas, sem dúvida dando-se conta de que não seria capaz de tirar por sua conta com sua perna lesionada. Inclusive com sua ajuda, era óbvio que tirá-la causou uma dor considerável.
— Sinto muito — ela disse. — Você tem... Você está...? — Ela cedeu, seu medo por ele a deixando nervosa.
Ele inclinou seu rosto para ele. As lágrimas marcavam seus olhos.
— Estou bem, Margaret, de verdade. Dói um pouco — seus olhos se estreitaram através das lágrimas. Sua boca se curvou. — Tudo bem, dói muito, mas tenho certeza de que estará muito melhor em alguns dias.
— Tem certeza? — Ela sussurrou com voz rouca.
Eoin assentiu.
E então, como se fosse natural, ele recostou-se na cama e puxou-a contra si para que sua bochecha pressionasse contra seu peito vestido de linho. Quantas vezes ela se encolheu contra ele dessa maneira anos atrás? Ela nunca se sentiu mais calma ou mais segura do que quando seus braços estavam enrolados em volta dela assim e o ritmo constante de seu coração ressoava em seu ouvido.
Oh Eoin, por quê? Por que isso aconteceu com eles? A emoção queimava em seus olhos e garganta. Poderiam ter sido tão felizes. Todos eles.
— Você o viu — ela sussurrou.
Ele ficou em silêncio um momento e depois disse.
— Sim.
Ouviu algo em sua voz e levantou a vista.
— É seu, Eoin. Certamente você notou. Eachann é igual a você.
— Ele fugiu de mim, Margaret. Sabia quem eu era e fugiu.
Parecia tão consternado que seu coração acelerou.
— Certamente ele estava com medo.
Eoin sacudiu a cabeça.
— Não foi isso. Odeia-me. Eu vi em seus olhos. E como posso culpá-lo? Eu deixei minha raiva tomar conta, e isso me custou meu filho — olhou-a com os olhos sérios. — Você estava certa, eu não tenho ninguém para culpar além de mim mesmo.
— É um menino, Eoin. Não odeia você, ele não te conhece. O que ele sabe sobre você vem principalmente da minha família. É minha culpa. Deveria ter falado mais, mas doía muito. Isto foi um choque para ele. Quando ele conhecer, você, será diferente. Apenas dê tempo a ele. Ele não guarda rancor como meu pai.
— Ou como o pai dele? — Seus olhos se encontraram.
Surpresa, Margaret não sabia o que pensar. Era apenas sobre Eachann ou Eoin estava admitindo algo mais? Arrependia-se do rancor que os manteve separados durante tanto tempo?
Eoin sabia que o arrependimento não servia para nada, mas ao ver pela primeira vez o pequeno rosto do menino, — o rosto que se parecia muito com o dele — afligiu-o tanto que podia haver-se afogado nele.
Cinco anos. Perdeu cinco anos da vida de seu filho porque estava muito cheio de ódio e raiva para encarar a mulher cuja traição cortou tão profundamente e que lhe custou tanto.
E agora, como justiça cruel, seu filho o odiava. Ódio gerava ódio.
Era sua maldita culpa. Deveria ter voltado há anos. Mas ele estava com medo de que a raiva e o ódio não fossem suficientes. Assustado que ele iria vê-la novamente e ser fraco. Assustado de que o que ela fizera — ou o que pensava que tinha feito — não tivesse apagado completamente o amor que sentiu por ela. Então ele ficou longe como um maldito covarde.
E o que conseguiu? Todas as emoções confusas por sua esposa que tentou evitar, e um filho que o odiava tanto que preferia morrer de fome a vir com ele.
Eoin queria acreditar no que Margaret disse, mas ele olhou nos olhos do menino. Ele viu a intensidade da emoção e a reconheceu. Como poderia esperar pelo perdão de seu filho, quando ele não poderia perdoar a si mesmo?
Ela desviou o olhar primeiro.
— Você teve seus motivos, Eoin.
Ele pegou seu pulso e a obrigou a olhar para ele.
— Tenho? Não parece tão preto e branco como antes. Eu deveria ter lhe dado a oportunidade de explicar.
— Teria feito alguma diferença?
Naquela época, provavelmente não. Suas emoções estavam muito cruas. Suas intenções não teriam importado. Sem perspectiva, as consequências de seu erro eram horríveis demais para seu entendimento.
— Não sei. Mas saberia que tinha um filho. E não pensaria que o abandonei.
— Não fez. E ele não vai pensar. Apenas dê a ele uma chance.
Nenhum dos dois disse nada. Finalmente, ele assentiu com a cabeça. Faria todo o possível para compensar o menino. Assim que o tirasse daquele castelo.
A linha sombria de sua boca deve ter afastado seus pensamentos.
Ela ficou rígida, como se estivesse se preparando para algo.
— Como ele estava, Eoin? Você viu se ele estava... — a respiração dela ficou presa — bem?
Seu peito torceu e ele afastou os pensamentos da maneira ansiosa como o menino tomou a água e comeu a carne.
— Ele está bem, Margaret — disse com firmeza. — Perfeitamente saudável até onde pude ver.
Esquadrinhou seu rosto intensamente, como se desesperadamente quisesse acreditar nele.
— Então não está sofrendo? É tão pequeno, temo... — voltou-se para encontrar seu olhar. — Tem suficiente para comer?
Não respondeu diretamente.
— O castelo esteve sob cerco por um curto período de tempo. Tenho certeza de que qualquer alimento que exista irá para o nosso filho. Não está sofrendo.
Ainda. Mas, durante quanto tempo aguentaria?
Ela assentiu com a cabeça, como se estivesse satisfeita, mas ele se perguntou se havia notado sua cuidadosa resposta.
Ele se moveu um pouco na cama, estremecendo quando a dor atravessou sua perna. Não doía tanto... até que se movia. Mas podia sentir o forte tamborilar da dor inchando sua perna. Apesar de todos os seus protestos em contrário, não estava completamente seguro de que não tivesse fraturado ou quebrado a perna.
Margaret soltou uma exclamação de horror que soou um pouco como um grito.
— Esqueci de atar seu joelho! O homem que foi procurar à curandeira me disse o que fazer. Receio que não estou dando uma boa impressão de minhas habilidades de enfermagem.
— Magnus MacKay — ele disse, antes que pudesse se conter. Mas ele supôs que ela iria descobrir em breve de qualquer maneira, quando o grande Highlander retornasse com Helen. — Helen, a curandeira, é sua esposa.
Ela assentiu e depois inclinou a cabeça para ele, contemplativa.
— Deveria ter adivinhado que era um Highlander, pelo seu tamanho. O resto dos homens que estavam com vocês eram Highlanders também? — Ela estremeceu e riu. — Senti como se um fantasma tivesse caminhado atrás de mim na primeira vez em que vi todos.
Eoin amaldiçoou interiormente. Suas brincadeiras estavam muito perto da verdade. Ela ver seus irmãos em seus elmos e armaduras tinha sido infeliz. Ele queria que o filho o reconhecesse, então ele tirou o elmo nasal. Mas a armadura enegrecida se tornou muito ligada aos "Fantasmas" de Bruce, como as pessoas os chamavam.
Não querendo arriscar-se a mais perguntas, ele mudou de posição novamente. O estremecimento resultante que ele fez por causa da dor a fez ofegar de novo, desta vez com um xingamento abafado, e se apressou a pegar o tecido para amarrar em seu joelho.
Voltou rapidamente, mas depois parou, olhando fixamente sua perna. Mordeu o lábio e o olhou com incerteza.
— Você vai ter que tirar os chausses21. Precisa de ajuda?
Ele resistiu à vontade de gritar: não, não — em vez disso, sacudiu a cabeça.
— Eu posso lidar com isso.
A dor que isso lhe causaria seria preferível à dor de ter suas mãos sobre ele. O oferecimento de ajudá-lo a tirar a túnica tinha sido ruim, — embora também quisesse impedi-la de ver sua tatuagem — mas ter suas mãos tão perto... Ele estremeceu.
Apertando os dentes contra a dor, sentou-se e começou a trabalhar nos laços das chausses. Teve que mover-se um pouco para tirá-las, mas em poucos minutos tudo o que estava entre ele e um monte de problemas era sua túnica e um fino par de meias de linho.
Ele não achava que a lesão parecia tão ruim até que ela exclamou:
— Parece horrível. É quase o dobro do tamanho e já está descolorido com hematomas. Deve doer terrivelmente. Têm certeza de que não quer algo para a dor?
O que ele queria neste momento só causaria mais dor. Sacudiu a cabeça.
— Apenas o envolva.
Ela fez, mas nem isso foi uma boa ideia. Teve que sentar na beira da cama para inclinar-se sobre ele, e cada vez que se movia seus seios roçavam tentadoramente perto de seu pênis, e seu cabelo sedoso deslizou para frente sobre seu peito. Ansiava por enterrar o rosto em ambos. Ele estava segurando com tanta força que esqueceu de respirar.
— Você está bem? — Perguntou, voltando o rosto para encontrar-se com o dele enquanto terminava de prender as ataduras de linho ao redor de seu joelho. — Estou te machucando?
— Sim, — ele disse com uma careta — mas não da maneira que pensa — ela claramente, não entendia. — Não é meu joelho, Maggie.
Levou um momento, mas então seus olhos se arregalaram e percebeu o que ele queria dizer, o que só lhe causou mais dor. E um gemido.
— Oh, — disse brandamente. Seus olhos se encontraram. Podia ver as perguntas em seus olhos. Perguntas que ele não poderia responder. — Eoin, eu... — ouviu sua hesitação, e entendeu porque também sentia o mesmo. —Provavelmente não seja uma boa ideia — ela terminou.
Ele balançou a cabeça em concordância, ignorando o desapontamento em sua voz.
— Provavelmente não.
— Só complicaria as coisas, não é? — Olhou-o como se estivesse esperando que ele discordasse. Mas não podia.
— Sim.
Isto confundiria as coisas, e já estava bastante confuso. Mas isso não significava que cada terminação nervosa em seu corpo não estava clamando para discordar. Para puxá-la para cima dele e enterrar-se tão profundamente dentro dela que nada poderia separá-los novamente.
Cristo, ela estava muito perto. Quase podia prová-la em sua língua. Quase sentia a suavidade de sua pele sob suas mãos. Quase cheirava o aroma de seu prazer enquanto a acariciava para sua liberação.
Recordou a forma como seus olhos se fechavam, seus lábios se separavam e sua respiração acelerava. Recordou o rubor rosado de suas bochechas e o grito que sempre parecia tingido de surpresa quando ela gozava.
Não sabia se alguma vez poderia esquecer. Já não estava tão seguro de que queria esquecer.
Não sabia o que dizer, então não disse nada. Em vez disso, puxou-a para o seu lado na cama. Ela enrolou-se ao seu lado como se nunca tivesse saído, descansando a bochecha e a palma da mão em seu peito.
Ele olhou para o teto, acariciando seus cabelos e pensando por um longo tempo.
Margaret despertou antes que Eoin e saiu da tenda, precisando escapar por um momento. Caminhou para o riacho do outro lado da colina e recolheu um pouco de água fria para salpicar seu rosto. Se esperava por clareza repentina, não ajudou. O que isso significava?
Fazer amor teria sido confuso, mas o que aconteceu era ainda mais. A proximidade da paixão poderia ser facilmente descartada como luxúria, como um momento temporário de loucura. Mas a proximidade — a ternura— que ela sentiu ao passar uma noite nos braços de seu marido não podia descartar.
Era difícil não se deixar levar por suas emoções, mas se obrigou a ser realista. Uma noite de ternura não era melhor que uma noite de paixão para construir um matrimônio.
Se fosse possível, ela teria que esperar até que Eachann estivesse livre. Seu coração apertou, dando lugar ao desapontamento na tentativa fracassada que ela não queria que Eoin visse. Estava chateado o suficiente pelo que aconteceu.
Eachann está bem, disse a si mesma. Mas não podia evitar a sensação de que Eoin não tinha sido completamente sincero com ela. Estava escondendo algo e ela sabia que tinha que fazer alguma coisa.
Sentou-se junto à água, saboreando o silêncio da madrugada e observando a luz fraca do amanhecer iluminar a paisagem rural de inverno. Assim que os homens começaram a se levantar e os sons agitados do acampamento interromperam sua solidão, Margaret se levantou da rocha em que estava sentada e caminhou lentamente para a tenda.
Parou ao ouvir as vozes elevadas, e acelerou o passo. Os três homens olharam-na fixamente enquanto ela passava através da aba. Eoin estava furioso, mas foi Magnus MacKay quem falou.
— Nós o pegamos tentando sair da cama.
Margaret não conheceu Eoin quando era um menino, mas Eachann obviamente herdou o olhar teimoso, descontente quando se metia em problemas.
— Onde você estava? — Ele perguntou. Talvez percebendo que tinha ido longe demais, ele tentou esconder isso. — Deixou-me sozinho com eles.
Margaret olhou para a mulher que estava junto à cama e se surpreendeu de que não a tivesse notado antes. Era linda. O suave e fino cabelo vermelho, a pele clara, os olhos verdes e as feições delicadas a faziam parecer uma duendezinha, mesmo que sua expressão a fizesse parecer uma comandante de batalha.
A mulher, era a curandeira, presumiu Margaret, e dirigiu-lhe um olhar decididamente frio antes de voltar-se para Eoin. Ela empurrou uma taça em direção a sua boca.
— Não sejam tão criança. Apenas beba. Isso fará você se sentir melhor.
Eoin recuou com desgosto.
— Cheira mal, e eu te disse, me sinto bem. Você disse que não estava quebrado.
A curandeira colocou as mãos nos quadris, parecendo como se estivesse convocando a paciência do alto.
— Eu disse que ele não parecia estar esmigalhado, mas não posso ter certeza. E eu sei que dói, então você pode parar com essa rotina de guerreiro comigo — revirou os olhos para seu marido. — O Senhor sabe, eu tenho o suficiente disso.
Eoin o empurrou para longe.
— Então, deixe que ele beba isso.
Magnus estremeceu e recuou.
— De jeito nenhum, não. Cheira como esterco. Toda vez que eu fungo, ela tenta forçar uma dessas misturas na minha garganta.
A curandeira Helen — Margaret recordou seu nome — levantou as mãos exasperada.
— Meu Deus, todos vocês nasceram com alguma predileção perversa por sofrer dor? Você sabe como isso é ridículo? — Ela olhou para Eoin. — Eu pensei que você fosse o inteligente.
Magnus limpou a garganta, dirigindo um olhar a Margaret, e sua esposa franziu os lábios. Margaret franziu o cenho, imaginando o que não deveria ter dito, mas depois voltou sua atenção para Eoin.
— Você confia nesta mulher? — Ela perguntou.
Eoin pareceu completamente surpreso.
— Com minha vida. É uma das melhores curandeiras que conheci.
Margaret não disse nada, aproximou-se da cama, pegou a taça da curandeira, sentou-se tranquilamente na beira da cama e esperou. Eoin era inteligente. Ele entenderia tudo sozinho. Não demorou muito. Xingando, pegou a taça de sua mão, e bebeu em um longo gole. O rosto que fez depois foi quase cômico, mas Margaret se obrigou a não sorrir.
Helen a olhou interrogativamente e Margaret deu de ombros.
— Só o fiz perceber que você era quem estava em posição de saber o que era melhor para ele, e que se você queria que ele bebesse, era para o seu próprio bem.
Eoin lhe lançou um olhar, como se não estivesse feliz por ela o conhecer tão bem.
— Eu gostaria que todos os meus pacientes fossem tão razoáveis — Helen disse com um olhar significativo para seu imponente marido.
O olhar da curandeira quando se virou para ela foi avaliador, e talvez um pouco menos frio. Margaret não podia culpar a outra mulher por sua reserva, assumindo que sabia de sua parte na batalha em Loch Ryan. Deveria esperar hostilidade dos seguidores de Bruce e dos amigos de Eoin, — como era óbvio que esses dois eram — mas isso não tornava menos desconfortável.
Eoin deve ter percebido também.
— Helen, Magnus — disse a modo de apresentação. — Esta é minha esposa, Margaret.
A linda curandeira elevou uma sobrancelha, obviamente tão surpresa quanto Margaret estava com a maneira como ele enfatizou minha esposa.
— Ouvi falar um pouco sobre você — disse de uma maneira que estava definitivamente aberta à interpretação.
Magnus franziu a testa para a esposa e Eoin parecia como se estivesse prestes a intervir, mas Margaret sacudiu a cabeça. Precisava lutar suas próprias batalhas.
— Tenho certeza de que ouviu. E tenho certeza de que a maioria disso é verdade.
— Só a maioria? — Perguntou Helen.
— É uma questão de perspectiva. Mas espero que obtenha todos os fatos antes de julgar.
Helen sorriu e se voltou para seu marido.
— Acredito que fui cortesmente posta em meu lugar — quando Margaret tentou falar, fez-lhe um gesto com a mão. — Não, tem razão. Vou formar minha própria opinião, e além disso, pelo que vi, você pode pelo menos ser razoável, o que é mais do que posso dizer sobre ele.
Eoin franziu o cenho, mas Helen o ignorou e começou a dar instruções a Margaret sobre como cuidar dele, o que envolvia principalmente forçá-lo a beber isso durante alguns dias para que descansasse e não deixar que colocasse peso sobre a perna.
— Quanto a seu mau humor — a curandeira deu de ombros. — Bom, temo que não há nada que possa fazer a respeito. Todos são assim quando estão feridos.
— Todos? — Perguntou Margaret.
Helen parecia momentaneamente surpresa pela pergunta, mas se recuperou rapidamente.
— Guerreiros. Highlanders. A maioria deles.
Margaret mordeu o lábio para não sorrir.
— Entretanto, têm seus benefícios.
As duas mulheres compartilharam um olhar, e Margaret soube que compreendia quando o olhar da curandeira deslizou sobre o peito amplo de seu marido.
— Sim, têm razão sobre isso.
Magnus franziu o cenho, obviamente confuso. Margaret suspeitava que Eoin também teria ficado assim, mas ele já estava dormindo.
— A beberagem pode deixá-lo um pouco sonolento — disse Helen.
Fez exatamente isso. E alguns dias depois, com o cerco se arrastando sem fim à vista, também deu uma ideia a Margaret.
Embora Eoin estivesse muito melhor e tivesse até começado a andar com a ajuda de um longo bastão em forma de cruz colocado debaixo de seu braço para apoiar-se, ela colocou um pouco mais da beberagem de Helen em sua taça esta noite. Embora ele tenha protestado, só cedeu quando ela lhe assegurou que era a última vez.
Quando ele estava dormindo, ela foi à procura de Bruce.
Capítulo 22
Eoin despertou sentindo-se mais aturdido que de costume. Tinha que admitir que a beberagem de Helen o ajudava com a dor, mas odiava a confusão que lhe dava. Agora que se sentia melhor, não ia permitir que Margaret o forçasse a tomar outra gota. Não só cheirava a esterco, mas também tinha um gosto ruim.
Espreguiçando-se, olhou ao redor da tenda e se perguntou aonde ela estava. Ele estava surpreendentemente acostumado com a esposa preocupada com ele. Ela também estava surpreendentemente acostumada a ignorar sua regra de não sair da tenda.
Sabia que não ia muito longe e os homens sabiam quem ela era agora, mas continuou preocupado quando ela não apareceu quando Peter chegou com o pão, o queijo e a fruta para tomar o café da manhã.
— Viu Lady Margaret? — Perguntou Eoin.
O rapaz parecia decididamente incômodo, e Eoin sentiu seu primeiro pico de alarme.
— Não desde ontem à noite.
— Ontem à noite?
Ele assentiu.
— Pediu-me que a levasse ao rei.
O coração de Eoin parou. Ele xingou e saltou da cama, esquecendo seu joelho. Deu de ombros e agarrou o bastão que MacKay lhe fez e ordenou ao rapaz que o ajudasse a se vestir.
Com um esforço considerável, um par de tropeços enquanto tentava passar pelo terreno acidentado, e algumas maldições, Eoin irrompeu na tenda do rei menos de um quarto de hora mais tarde.
— Onde ela está? — Perguntou.
Os homens sentados ao redor da mesa — o móvel maior da tenda do rei — não pareciam surpresos em vê-los. Eram os conselheiros mais próximos do rei. Tor MacLeod, Neil Campbell, Edward Bruce, Douglas e Randolph.
— Tenha cuidado, Atacante — advertiu-lhe MacLeod, presumivelmente por causa do seu tom.
Mas Eoin não se preocupava com quem ele estava falando. Só queria sua esposa. Sua esposa que nunca fez o que se supunha que devia fazer, droga. O que aconteceu com sua regra de não interferir?
— Suponho que você está se referindo à sua esposa? — Perguntou Bruce.
— Sim.
— Está no castelo.
Ouvir o que já suspeitava não fazia com que fosse mais fácil suportar ou deixá-lo menos furioso. Eoin se esqueceu de sua lesão, da formalidade e da deferência real. Inclinou-se sobre a mesa e olhou fixamente para o homem que era seu primo muito mais tempo do que ele era rei, embora Bruce nem sempre gostasse de ser lembrado disso.
— Por que diabos ela está lá?
Bruce não recuou, levantando a mão para impedir que os outros fizessem objeções.
— Deixe-nos — ele disse. Seus cães de guarda não pareciam felizes, mas obedeceram à ordem do rei. Quando eles saíram, Bruce respondeu sua pergunta. — Porque me pediu que lhe desse a oportunidade de acabar com o cerco negociando a rendição de seu pai.
O sangue de Eoin estava fervendo, literalmente. Sentia que sua cabeça estava a ponto de explodir.
— E você a deixou entrar lá sem qualquer proteção?
— Não sabia que precisava de proteção. MacDowell é seu pai. — Ele fervilhava, o ar se movendo forte e pesado através de seus pulmões.
— MacDowell é um cão encurralado. Sabe tão bem quanto eu que não há nada que esse bastardo não seja capaz de fazer, o que com certeza inclui o uso de sua filha e meu filho se pensar que ajudará a sua maldita causa.
O ar de certeza no comportamento do rei diminuiu.
— Ela foi muito insistente. Pensa que seu pai a escutará. Disse que queria ajudar, para reparar o que aconteceu antes.
— E ela fará isso, mesmo que isso a machuque ou morra de fome. Caralho, Rob — o velho apelido escorregou. — Ela não sabia o que aconteceria. Não procurou a morte de Thomas e Alexander mais do que eu. Você a conhecia. Ela era apenas uma menina jovem, um pouco selvagem e um pouco imprudente, talvez, mas não era capaz de intencionalmente mandar esses homens para a morte.
O rei sustentou seu olhar.
— E, no entanto, era o que você pensava. — Eoin aceitou o disparo, o que estava justificado.
— Eu estava errado.
Ele ficou louco de ciúmes, magoado com sua partida e depois destruído pelo massacre em Loch Ryan. Não foi racional. Ele estava com raiva e amargurado, e tão amarrado em sua própria culpa que não podia ver além disso.
Ele desabou em uma das cadeiras e colocou a cabeça entre as mãos. Pelo sangue de Deus, que diabos ele fez?
— Tenho certeza de que ela vai ficar bem, — disse Bruce depois de um minuto.
Eoin levantou a cabeça.
— Espero que tenha razão — respondeu ele com as mesmas palavras de seu parente. — Eu vou te responsabilizar se alguma coisa acontecer com ela.
— Eu pensei que não se importava com o que acontecesse com ela.
— Eu também pensei.
Era uma espécie de declaração, embora Eoin não soubesse. Mas o pensamento do que podia acontecer naquele castelo o fazia se sentir como se estivesse começando a enlouquecer.
Dois dias depois estava enlouquecendo com as possibilidades.
Na terceira noite, quando o portão finalmente se abriu e ele a viu saindo, ficou completamente desequilibrado.
Margaret sabia que Eoin ficaria zangado, mas isso... Isso estava muito além de suas expectativas.
Sentiu o olhar de seu marido nela no momento em que cruzou a ponte levadiça além do pátio do castelo. Quente, penetrante e praticamente irradiando raiva, seus olhos contemplavam cada detalhe de sua aparência.
Calor aqueceu suas bochechas. Golpeada por seu pai e seu maldito gênio forte! O hematoma em sua mandíbula ia tornar as coisas muito mais... difíceis.
Ela esperava que Eoin fosse o primeiro dos homens de Bruce a encontrá-la enquanto caminhava para o acampamento. Que não se adiantasse, mas sim mantivesse sua posição na periferia da multidão de homens que a esperavam, era um pouco desconcertante.
Possivelmente isso fosse um eufemismo. A abordagem de serpente enrolada era uma provocação de ansiedade direta - estressante ao extremo.
Recusando-se a ser intimidada, ela levantou o queixo e encontrou seu olhar desafiador. Ela fez o que se propôs a fazer. Eachann estaria seguro. Seu desafio não durou muito. Seus olhos mal se encontraram por uma fração de segundo que a assustou e ela rapidamente baixou o olhar.
Bom Deus! Sabia como se sentia um camundongo. Um camundongo gordo e suculento na visão predatória de um falcão faminto.
Margaret não estava acostumada a recuar, mas havia algo nos olhos de Eoin que lhe dizia que agora provavelmente não era o momento para desafios. Algo que dizia que não estava disposto a ser racional sobre isso. Algo que fez com que seu pulso disparasse, sua pele arrepiasse, e sua respiração acelerasse. Algo que francamente a fazia querer correr para o outro lado.
Por isso se sentiu aliviada quando foi levada imediatamente à tenda do rei para dar seu relatório. Tentou ignorar seu marido, mas suspeitou que suas mãos não estavam tremendo e as palmas das mãos não estavam quentes por ter que enfrentar o rei.
Sentiu que o olhar de Bruce lhe percorria a mandíbula.
— Você está bem, minha lady?
Margaret se endireitou.
— Não é nada, senhor. Uma reação infeliz ao mensageiro, receio, mas estou bem.
Ela não tinha certeza se foi um som ou um movimento do canto do olho que fez seu coração congelar. Mas a fúria fria e assassina nos olhos do marido disparou gelo em suas veias. Se não fosse por Lamont de um lado e um homem que ela não reconheceu, mas parecia estar no comando, do outro, suspeitava que a restrição incomum do marido poderia ter chegado ao fim. No entanto, como correntes, os dois homens ao seu lado pareciam mais do que equipados para o trabalho.
O rei lançou um olhar de advertência a Eoin antes de voltar-se para ela.
— O que aconteceu?
— Era como suspeitavam. A guarnição está muito baixa em provisões. Estão sobrevivendo com pedaços de grãos, carne de cachorros e gatos e a última cerveja. Os homens estão sofrendo, meu senhor.
Ela se absteve de olhar significativamente para Eoin. Ele subestimou enormemente a condição do castelo. Eachann poderia não estar sofrendo tanto quanto os outros, mas era só questão de tempo. Dias. Seu coração se apertou ante a lembrança de ver seu rosto pálido pela primeira vez. Não queria deixar seu filho, mas sabia que devia ser ela a trazer a mensagem de seu pai.
— Meu pai não estava disposto a me escutar no começo. Mas eventualmente consegui convencê-lo de que não havia saída desta vez. Podia assistir seus homens morrerem ou poderia se submeter e vê-los vivos.
— Então ele concordou?
Ao ouvir a incredulidade na voz do rei, ela assentiu.
— Sim. Pode enviar seus homens para que resolvam os termos da rendição esta noite, e ele entregará o castelo pela manhã e se submeterá a sua autoridade como rei. Mas como você e eu discutimos, ele e seus homens terão permissão para ir para o exílio.
Provavelmente, Bruce ficou aliviado que teve a submissão de seu pai sem ter que tentar receber o assassino de seus irmãos de volta ao rebanho. Tinha esperado alívio, e talvez um pouco de exuberância. Mas a tenda cheia de quinze homens — a maioria deles eram tão altos e poderosamente construídos como seu marido — estava estranhamente silenciosa. O rei expressou o que deveria ser a preocupação coletiva.
— Como podemos ter certeza de que isso não é um truque?
— Você não pode — ela levantou seu queixo. — Mas acredito que meu pai estava falando sério, meu lorde. Não teria deixado meu filho ali se fosse o contrário. Se você quiser, eu mesmo guiarei seus homens.
A boca do rei se retorceu com ironia.
— Isso não será necessário. Eu não gostaria de parecer ingrato, de fato, estou muito agradecido por tudo o que têm feito.
Margaret assentiu com a cabeça. De repente, o esgotamento dos últimos dias a afligiu.
— Se tivermos terminado, eu gostaria de voltar para minha tenda. Temo que não dormi muito nas últimas noites.
Definitivamente havia um som dessa vez. Um som agudo e severo de indignação que fez seu coração pulsar erraticamente e sua respiração parou superficialmente. Desta vez, ela não olhou em sua direção, talvez um pouco assustada com o que poderia ver. O rei assentiu e ela precisou se controlar para manter sua dignidade e não sair correndo da tenda.
Ele a teria pego de qualquer maneira.
Podia sentir sua presença atrás dela enquanto atravessava o acampamento. Estava praticamente correndo, mas os passos dele eram lentos e regulares. Thump. Thump. Bom Deus, o chão não poderia estar tremendo. Ela escutou muitos contos de fadas sobre gigantes famintos.
Ele não deveria estar mancando? Como poderia estar caminhando tão rápido com um bastão? Sabia que não havia escapatória, mas ainda desejava que a tenda tivesse uma porta — de preferência uma com uma grande barra de ferro. Embora de algum jeito, não pensava que isso o mantivesse fora esta noite.
O camundongo estava encurralado.
Temeu que estivesse chiando quando finalmente se voltou para ele para explicar.
— Agora, Eoin, sei que está irritado...
Algo que soou suspeitosamente como um grunhido a interrompeu.
Ele estava de pé na abertura da tenda fervendo, e apertando os punhos como um louco. Na verdade, estava apertando tudo. Cada músculo de seu corpo parecia tenso e queimando, como um animal esperando para atacar.
Ela mordeu o lábio. Talvez não o conhecesse tão bem quanto acreditava. Não parecia tão civilizado como recordava. Em realidade, parecia bastante incivilizado. Claramente, não era a única que não tinha dormido nem comido muito nos últimos dias. Tampouco encontrou tempo para se barbear, embora tivesse que admitir que o perigoso olhar de bandido enviava um pequeno pulso de excitação disparando através de certas partes dela.
Mas não podia negar seu nervosismo. Sua voz tremia quando disse.
— Possivelmente deveríamos deixar esta discussão para amanhã, quando ambos estivermos descansados e sejamos um pouco mais racionais.
Onde estava essa mente brilhante quando precisava?
Foi a coisa errada a dizer. Ele estava em cima dela muito mais rápido do que um homem com um joelho lesionado deveria fazê-lo. Ele pairou sobre ela, ameaçando, mas não a tocando — quase como se não confiasse em si mesmo para fazê-lo.
— Eu não penso assim, leanbh. Isso não é o que tenho em mente para você agora.
A escuridão rouca de sua voz a fez estremecer, não deixando dúvidas sobre o que ele queria dizer.
— Eu pensei que nós dois concordamos que não seria uma boa ideia.
— Para o inferno com a boa ideia, Maggie. Tire suas malditas roupas, porque estou a dois segundos de arrancá-las e a cinco segundos de estar dentro de você. Se você tiver sorte, chegaremos a sessenta antes de estarmos ambos gritando.
Oh, querida, isso não deveria deixá-la tão quente e ardente, deveria?
— Eoin...
Ele se inclinou mais perto, fixando seu olhar no dela, sem deixar dúvidas do que queria dizer:
— Um.
— Você não vai tentar...?
Não terminou. O som de seu corpete rasgado foi abafado pelo gemido baixo em sua garganta quando sua boca desceu sobre a dela.
Um gosto dela, e ele estava perdido. Tudo o que Eoin podia pensar era estar dentro dela. Precisava estar dentro dela. Precisava dela mais do que precisou de qualquer coisa em toda sua vida.
Beijou-a como um homem faminto, ou talvez como um homem que passou os últimos três dias, preocupado.
Ele tirou suas roupas, despindo-a para poder olhar cada centímetro dela e certificar-se de que não havia outro hematoma que estivesse escondendo.
Quando pensava no rosto dela...
Beijou-a mais forte, mais profundamente, deixando que a sensação de sua língua deslizasse contra a dele. Gemeu enquanto o calor e a sensação o afogavam. Ele tinha esquecido como isso era incrível. Quão incrível ela era. Com mais gentileza do que acreditava capaz neste momento, deitou-a na cama, rompendo o beijo tempo suficiente para poder olhá-la.
Murmurou uma maldição. Um punho fechou seu coração e o apertou. Era tão linda que lhe tirava o fôlego.
Quantas vezes imaginou toda essa pele suave e cremosa? Essas pernas longas e esbeltas? Esses seios incríveis. Sim, tinha imaginado muito sobre ele. Imaginou suas mãos sobre eles, apertando-os, com a boca sobre eles, chupando, e seu rosto enterrado entre eles, inalando o doce aroma de sua pele.
Mas as lembranças da menina empalideceram em comparação com a mulher que tinha diante dele. Ela estava um pouco mais suave, um pouco mais cheia e mais sensual do que antes.
Ele não sabia se amaldiçoava ou ficava de joelhos em gratidão. Como podia culpar os homens por ofegar atrás dela? Era uma feiticeira com um corpo feito para o prazer.
Seu prazer, porra. Ela era dele.
E o demonstrou, em apenas alguns segundos a mais do que ele havia prometido.
Ele tirou a roupa com um pouco menos de impaciência do que ele deu a ela e se abaixou em cima dela. No instante seguinte, as pernas dela estavam enroladas na cintura dele e ele estava profundamente enterrado dentro dela. Era como se seus corpos estivessem juntos por conta própria. Instinto, lembrança, não sabia. Tudo o que ele sabia era que se sentia perfeito e natural, como se seis anos não tivessem se interposto entre eles.
Ele olhou nos olhos dela e sentiu uma sensação esmagadora de silêncio. De paz e destino.
Não disse nada. Não precisava. Suas emoções eram cruas e estavam ali, na superfície para ela ver. Ele a amava. Sempre a amou e sempre a amaria.
A enxurrada de emoções que o levaram a um frenesi nos últimos dias começou a se desdobrar quando ele empurrou. Devagar no começo e depois mais rápido quando seus gemidos o incitavam. A pressão atingiu a base de sua espinha como um martelo. Insistente. Exigente. Forte.
Sessenta segundos poderiam ser demais, para ambos. O único bálsamo para seu orgulho foi que ela gritou primeiro.
Quando Eoin rolou de cima dela, levou-a com ele, colocando-a ao seu lado. Margaret demorou alguns minutos para estabilizar sua respiração antes que pudesse falar. Apoiando o queixo em seu peito, olhou-o fixamente.
— Melhor agora?
Ele levantou uma sobrancelha.
— Querida, se você acha que isso foi o suficiente para me fazer sentir melhor, está equivocada. Isso dificilmente me ajudou em alguma coisa — sua mão deslizou sobre seu traseiro nu, pressionando-a mais perto de sua perna.
Sua perna! Ela levantou-se de um salto.
— Seu joelho! Esqueci de seu joelho. Oh Deus, doeu?
Sua boca se arqueou.
— Posso lhe assegurar que a última coisa em que estava pensando era em meu joelho. Mas está bem. — Ele fez uma parada, nivelando seu olhar sobre o dela. — A poção de Helen fez sua magia.
Ela ruborizou, dando-se conta do que ele estava falando.
— Sinto muito, mas foi a única maneira na qual pude pensar para evitar que me impedisse de ir.
— Me drogando?
Ela deu de ombros.
— Eu sabia que você não estava me contando tudo, e eu sabia que não tinha muito tempo. Era apenas um pouco mais do que você deveria tomar — quando pareceu que seu temperamento poderia retornar, acrescentou. — Além disso, não é como se estivesse sendo racional sobre o assunto.
— Com um bom motivo, droga — pegou seu queixo, inclinando seu rosto para a luz de uma das lamparinas a óleo. — Eu vou matá-lo.
— Você não vai fazer isso. É meu pai, Eoin. Não estou arrumando desculpas para ele. Bem, talvez esteja, mas ele não está exatamente no melhor estado de ânimo. Ele não come há dias, dando toda a sua comida para seus homens e Eachann. Cheguei muito forte, dizendo o que ele não queria ouvir, e ele reagiu sem pensar.
— Isso não é desculpa.
— Não, não é — ela admitiu. — Mas se sentiu tão culpado que isso me ajudou a convencê-lo de que só havia uma maneira. Eachann também ajudou. Realmente ele ama o menino, Eoin. Não podia suportar pensar nele sofrendo.
— O que ele fará?
— Vai para a Irlanda ou à Ilha de Man, suspeito. Inglaterra está fora de questão por um tempo. Edward não estará contente por ter renunciado a um de seus castelos mais importantes — fez uma pausa, vacilante ao abordar o assunto, mas sabia que devia fazê-lo. — Quer levar Eachann com ele.
Todo seu corpo ficou rígido.
— Sobre meu cadáver.
Não pensou que fosse sábio dizer que isso era exatamente o que seu pai tinha proposto.
Mas então um raio de pânico saltou em seu peito com o que ele queria dizer:
— E será sobre o meu antes que eu o deixe tirá-lo de mim.
Ele elevou uma sobrancelha, mas não estava sendo dramática, falava sério.
Entretanto, a emissão de ameaças não ajudaria em nada. Precisava raciocinar com ele.
— Você não pode simplesmente levá-lo embora. Ele nem te conhece, Eoin.
— Eu sei, e tenho a intenção de mudar isso. Mas não tenho a intenção de afastá-lo de você. — Ela ficou sem fôlego.
— E nossos caminhos separados?
Seu olhar deslizou sobre seu corpo nu e os lençóis jogados no final da cama.
— Isso não funcionou muito bem, não é?
Ela mal podia respirar.
— O que você está dizendo?
— Estou dizendo que eu gostaria que voltasse para Kerrera comigo e com nosso filho.
Kerrera. Ela ficou rígida ante a menção do lugar onde sentiu tanta infelicidade.
— Desta vez será diferente, Margaret — ele disse, sentindo sua reação. — Estarei com você. Por um tempo, pelo menos. O rei me deu licença até que meu joelho esteja curado. Mas mesmo depois disso não será como a última vez. Poderei voltar para você, para vocês dois, com mais frequência. O final se aproxima.
Ela ficou calada, não querendo perguntar, mas sabendo que precisava fazer.
— Isto significa que me perdoou?
Ele assentiu, passando o polegar sobre seu rosto como se fosse a porcelana mais rara.
— Sim, ambos cometemos erros. Não podemos voltar atrás, mas podemos tentar seguir em frente.
Margaret não podia acreditar. Ele a perdoou. Deixou de lado o desconforto e a ansiedade provocados pela ideia de retornar ao lugar de onde tinha fugido anos atrás. Era a casa dele, e se queria ser parte de sua vida, — para dar ao seu matrimônio outra oportunidade— também teria que convertê-lo em seu lar. Pelo bem de Eachann, assim como o seu próprio, assentiu.
O sorriso que ele lhe deu aqueceu seu coração.
— Então está resolvido, — levantou-a em cima dele. — Mas outras questões não foram — uma mão serpenteou ao redor da parte posterior de seu pescoço e a outra ao redor de seu traseiro para atraí-la. — Desta vez vai me ajudar a me sentir melhor lentamente. Muito, muito lentamente. E vai levar muito tempo.
E então ela fez, varias vezes.
Capítulo 23
Na metade do dia, o castelo de Dumfries pertencia a Bruce, seu pai engoliu seu orgulho tempo suficiente para expressar as palavras submetidas à autoridade do "rei" Robert, e Margaret se despediu dele sob o olhar fulminante de seu marido, que apesar de suas súplicas não fez nenhum esforço para ocultar seus sentimentos pelo o homem que a golpeou.
Com Dugald MacDowell vencido, o rei e seus homens estavam celebrando a vitória sobre a última resistência escocesa com uma festa no Grande Salão do castelo que seria destruído no dia seguinte. Dumfries — como todas as outras fortalezas que Bruce retirou dos ingleses — seria destruído para evitar que o inimigo o obtivesse novamente.
Dadas as circunstâncias, Margaret não tinha vontade de celebrar e decidiu ficar no quarto reservado para ela e Eachann.
Embora o dia pudesse ser considerado como um grande sucesso para Bruce e tivesse ocorrido tudo tão bem quanto se poderia esperar, tinha sido um dia difícil para ela. Não apenas o antagonismo virulento de seu pai ao ouvir que ela pretendia ficar com o marido era difícil de suportar, havia também a reação de Eachann.
Uma reação que não tinha mostrado sinais de diminuição. Mesmo depois de uma refeição abundante de seus pratos favoritos — incluindo o cordeiro da própria tenda do rei e as ameixas açucaradas adquiridas por Eoin como que por magia— e um banho quente, o menino ainda estava perto das lágrimas e, ao colocá-lo na cama, seguia com as perguntas que esteve fazendo desde que saiu do castelo com seu pai.
— Mas por que temos que ir com ele? Por que não podemos ir com o avô à Ilha de Man ou voltar para a Inglaterra com Sir John? Eu pensei que queria se casar com ele?
— Queria — tentou explicar, temendo que não estivesse fazendo melhor do que tinha feito na nota que escreveu a Sir John. Esperava que ele tivesse entendido. — Mas isso foi quando pensava que seu pai tinha morrido. Ele é meu marido, Eachann, e mesmo que eu quisesse, o que não faço, não posso me casar com mais ninguém.
O rosto que se parecia tanto a Eoin estava enormemente zangado.
— Eu gostaria que ele estivesse morto. É um bastardo traidor e o odeio!
Aparentemente aprendeu a pronunciar a palavra corretamente. Margaret não queria ser dura com seu filho depois de tudo o que tinha passado, mas sabia que não podia permitir que esses sentimentos se apoderassem dele. Sua expressão endureceu, transmitindo a seriedade do que estava a ponto de dizer.
— Sei que está confuso e chateado, mas desejar a morte de alguém é um assunto sério. Seu avô estava errado ao falar de seu pai assim, e eu estava errada em permitir. Seu pai nunca foi um traidor. Sempre lutou pelo que acreditava, mesmo que seu avô não concordasse com ele. Tenho vergonha de pensar que você condenaria um homem sem lhe dar uma chance.
O rosto que olhava para ela estava tão pálido quanto o travesseiro atrás dele. Ele piscou, seus olhos redondos e azuis-escuros cheios de lágrimas.
— Mas por que ele me quer agora, quando não me quis antes?
Margaret ofegou horrorizada.
— Quem lhe disse isso? — Como se precisasse perguntar. Sua boca caiu em uma linha plana. — Seu avô estava enganado. Seu pai o ama muito. Ficou longe porque estava zangado comigo, por algo que eu fiz — seus olhos se arregalaram. — Seu pai confiou em mim e eu o traí dizendo a alguém o que não devia. Muitos homens morreram e seu pai esteve prestes a morrer por isso. Ele não sabia nada sobre você. Se ele soubesse, nada o teria impedido de ficar sem você.
Ele parecia aceitar o que dizia, mas como sempre, ele entendia mais do que ela pretendia. Sua expressão ficou séria.
— Se você fez isso, por que a quer de volta?
Não tinha certeza de que a quisesse, mas o menino estava confuso o suficiente.
— Porque seu pai é um homem justo, Eachann, e está me dando outra oportunidade. Espero que faça o mesmo por ele.
Considerou por um momento e assentiu. Margaret lançou um suspiro de alívio, sorrindo ante a pequena vitória, e se inclinou para pressionar um beijo em sua testa. Entretanto, antes que pudesse lhe desejar boa noite, ele perguntou.
— O que é uma prostituta?
O sorriso caiu de seu rosto.
— Onde ouviu essa palavra?
Ele corou desconfortavelmente, parecendo perceber que disse algo que não deveria.
— Um dos homens do avô.
— O que ele disse?
Ele olhou para os pés sob as mantas da cama.
— Nada.
— Está tudo bem, querido — disse gentilmente. — Não vai ferir os meus sentimentos.
— Ele disse que você não era mais leal que uma prostituta que cobra meio penique22 por seus serviços — fez uma parada. — Não é uma palavra muito agradável, não é?
Ela balançou a cabeça.
— Não, não é, mas ele está errado, Eachann. Amo seu avô e sempre serei sua filha, mas minha lealdade pertence ao seu pai desde que me casei com ele, assim como a sua agora — a lealdade dividida havia interferido em seu matrimônio antes. Não deixaria que acontecesse outra vez. — Você entendeu?
Ele assentiu solenemente.
Ela sorriu.
— Bem, então tente dormir um pouco. Nós teremos um longo dia pela frente.
Pressionou outro beijo em sua testa e fechou a porta do pequeno quarto que estava ao lado do quarto dela.
Sobressaltou-se ante a figura escura que estava no quarto, relaxando quando reconheceu Eoin. Algum dia se acostumaria ao seu tamanho? Em voz baixa para que Eachann não ouvisse, perguntou:
— Há quanto tempo você está aí?
— Tempo o bastante. — Seus punhos estavam fortemente apertados. — Deveria ter matado o bastardo. Como pôde dizer ao meu filho que não o queria?
Margaret não sabia. Nem daria nenhuma desculpa.
— Eachann sabe a verdade agora. Isso é o que importa.
Mas Eoin não seria tão facilmente pacificado.
— Seu pai o envenenou contra mim. Deus sabe que outras mentiras ele terá contado!
Margaret não queria pensar.
— Eachann verá que são mentiras. Só lhe dê tempo.
— Eu perdi muito tempo — ela podia ouvir a emoção em sua voz enquanto ele passava os dedos por seu cabelo. — Tem cinco anos, Maggie. Cinco.
Margaret olhou a devastação em seu rosto e soube que precisava fazer alguma coisa.
— Ele chorou horrivelmente quando era criança, e sempre no meio da noite. Eu não dormi por quase um ano. Ele gritava tanto que meus ouvidos doíam e achei que ia enlouquecer.
Eoin franziu o cenho, claramente surpreso.
— Sério?
Ela assentiu.
— Sim, foi horrível. Mas não tão ruim quanto todos aqueles panos sujos — o cenho franzido se tornou confuso.
— Panos?
— Sim. — Ela estremeceu. — Era incrível que um cheiro tão ruim pudesse vir de uma pequena criança. — Sua boca torceu com diversão.
— Isso é nojento.
— Não era tão repugnante limpar quando sua babá estava por perto, garanto-lhe.
Ele sustentou seu olhar, um sorriso torcido curvando sua boca.
— Está tentando me fazer sentir melhor.
Sua boca se arqueou.
— Talvez um pouco. Mas eu estou apenas apontando que nem tudo foi embalado e enfeitado, e rosto de bebê fofos. Houve muitos dias que eu queria puxar meus cabelos. E tenho certeza que haverá muito mais para você.
— Obrigado, eu acho.
Ela riu e perguntou:
— Você queria algo? Pelos sons abaixo, a celebração acaba de começar.
— Isso mesmo, mas eu queria ter certeza de que ambos tinham tudo o que precisavam.
Ela sorriu.
— Estamos bem, Eoin. Não é necessário que venha verificar. Aproveite sua comemoração. Sei que deve estar esperando por isso há muito tempo.
Tendo em conta o que tinha acontecido anos atrás, não reprovaria sua vitória, embora fosse às custas de seu pai e os membros do clã. Mas, o que seria do outrora orgulhoso e antigo clã de MacDowell? Eoin tinha sua lealdade indivisa, mas isso não significava que deixasse de amar sua família.
Ele se aproximou dela, e não pôde evitar a aceleração de seus batimentos cardíacos ou que sua respiração acelerasse.
A paixão que tinham compartilhado na noite anterior só intensificou a reação de seu corpo a ele. Cada terminação nervosa parecia acender-se com consciência e antecipação.
Ela esqueceu tudo. Esqueceu como era bom entre eles. Esqueceu como era experimentar o tipo de prazer que consumia e te prendia. Esqueceu como era sentir seu peso em cima dela, como era tê-lo dentro de si, enchendo-a. E, principalmente, esqueceu como se sentia ao quebrar em um milhão de minúsculos pedaços de felicidade.
Seis anos de abstinência não estariam saciados em uma noite. Primeiro Tristan, e depois, quando cansou de esperar que seu luto terminasse, Sir John, tentou estabelecer um relacionamento íntimo entre eles, mas parecia errado, de alguma forma desleal, até mesmo a um marido que julgava estar morto.
Irônico, dado que...
Tentou afastar o pensamento que se alojou em sua cabeça pela noite anterior, quando percebeu a diferença ao fazer amor com seu marido. Fez amor como um homem, um homem experiente. Com toda a confiança e delicadeza de alguém que sabia exatamente como trazer prazer a uma mulher.
Seu peito apertou. Não tinha direito a esperar seis anos de abstinência dele, mas ser confrontada com a prova a feria.
Olhou-a fixamente.
— Eu tenho esperado por este dia por um longo tempo, mas estranhamente eu não tenho vontade de celebrá-lo — sorriu um pouco torto para alguém normalmente tão sério. — Pelo menos, não com os homens abaixo.
O olhar que percorreu seu corpo não deixou dúvida do que queria dizer. Mas Margaret estava decidida a não voltar a cair na armadilha da paixão. Queria estar perto dele, não só fisicamente, e sentia que havia algo sobre os guerreiros com quem estava o tempo todo que era importante.
Ela deu um passo atrás.
— Me fale sobre eles. — Ele franziu a testa.
— Quem?
— Os homens com quem você está sempre. Ewen Lamont, Magnus MacKay... — estava prestes a dizer o homem bonito com quem está sempre, MacKay, mas percebeu de que não era exatamente assim que descreveria, já que teria que ser cega para não perceber que seus amigos eram todos bonitos — todos. — O guerreiro de cabelo escuro com quem ele está sempre, Robbie Boyd e os três homens de aparência assustadora — possivelmente haviam um ou dois mais, mas só se lembrava desses.
Se ela não estivesse observando-o de perto, teria perdido a surpresa que cruzou seu olhar antes que a máscara em branco caísse sobre seu rosto. Ele estava escondendo alguma coisa.
— O que deseja saber?
Ela encolheu os ombros.
— Não sei, parecem estranhamente próximos, isso é tudo. É estranho ver homens de diferentes clãs lutando juntos ao invés de com os seus — franziu o cenho; A maioria dos homens da comitiva de Robert Bruce eram bem conhecidos. Douglas, Randolph, Edward Bruce, James Steward, Robert Keith, Neil Campbell, Alexander Lindsay, David Barclay e Hugh de Ross. — Você faz parte do séquito do rei?
— Não exatamente, embora frequentemente lute com eles — percorreu a distância entre eles, não por acaso, suspeitou ela, apoiando-a no móvel mais dominante da pequena habitação: a cama. — Por que está tão curiosa sobre eles, Maggie? — Sua voz era rouca enquanto roçava a parte posterior de seu dedo sobre a curva de sua bochecha. Quando deixou cair sobre sua garganta, sobre seu pulso, até a curva de seus seios, e se inclinou mais perto, sua respiração acelerou. — Tenho motivos para ficar com ciúmes?
O calor rugiu por suas bochechas.
— É óbvio que não!
— Bem. De todos os modos, todos estão casados e felizes.
— Não queria...
Ele cortou seu protesto com um beijo. Um beijo longo, lento, distraindo-a completamente.
Embora suspeitasse que fosse intencional, decidiu deixá-lo escapar. Tinha que ser paciente. Queria saber sobre ele, o que fazia, mas compartilhar e confiar não viria da noite para o dia. E enquanto isso...
Ele era muito bom em distrair.
Os músculos da nuca ficaram tensos com o som de risadas. Eoin teve que se forçar a não virar de novo. Sabia o que veria.
Caralho, pensou, com uma quantidade insignificante de irritação. Talvez devessem ter ido para Kerrera depois de tudo. Quando Falcão se ofereceu para levá-los a Gylen quando estava a caminho de Spoon Island para ver sua própria família, Eoin aproveitou a oportunidade para evitar o cansaço de viajar por terra e longos dias na sela — especialmente com o joelho machucado. Em navio, a viagem que poderia levar semanas dependendo das estradas seria só questão de dias. Apesar de que as estradas marítimas entre Dumfries e a costa de Argyll poderiam ser perigosas, — e Eoin não teria enfrentado por sua conta — mas com o melhor marinheiro de um reino de uma Armada Marítima no comando, Eoin estava confiante de que seria capaz de superar qualquer problema.
MacSorley o salvou mais vezes do que podia contar, e Eoin confiava no impetuoso líder das Terras Altas Ocidentais não apenas com sua vida, mas também com a de sua esposa e filho. Mas por que diabos ele tinha que ser tão encantador?
MacSorley era perversamente engraçado, podia encantar o hábito de uma freira, e nunca levar nada muito a sério. Em resumo, ele era tudo o que Eoin não era. Era por isso que olhava para seu filho, — o filho que apenas lhe disse três palavras — pendurado em cada palavra de seu amigo, cativado pelo grande Gall-Gaedhil23 — que parecia mais Viking que Gael24.
Margaret não ajudava. Ela ria das brincadeiras de Falcão tanto quanto o menino, caramba.
Por que estava surpreso? Falcão e Margaret eram duas caras da mesma moeda. Franziu o cenho. Pelo menos costumavam ser. Quando ele conheceu Falcão, Eoin tinha sido atingido por suas personalidades similares. Mas Margaret mudou, ele percebeu. Ela já não entrava na sala com a confiança impetuosa e arrogante de um pirata que se apoderava de um navio. Não dizia coisas extravagantes nem fazia brincadeiras irreverentes. E se vestia tão bem quanto qualquer mulher da nobreza inglesa, com seus atrevidos e dramáticos cabelos escondidos cuidadosamente e modestamente atrás de um véu, embora estivesse tendo vários problemas por causa do vento. Sorriu, olhando-a lutar para domar os fios vermelhos que açoitavam grosseiramente ao redor de sua cabeça.
Era muito mais tranquila e reservada, e embora sua beleza sempre a fazia se destacar, já não permanecia como um pavão em um bando de aves simples. Era a classe de nobreza que faria qualquer homem orgulhoso. O que era exatamente o que ele queria não?
Virando-se, viu seu rosto cintilando de riso, e o golpeou no peito com a força de um aríete. Era um idiota. Havia se sentido atraído por ela precisamente porque era tão diferente, porque era tão especial. Trouxe a luz um lado dele que ninguém tinha visto antes. Havia se sentido mais leve quando estava com ela. Mais feliz. O mundo não parecia tão duro e nem tudo era tão horrível. Sua vida parecia mais ampla que o estreito campo de batalha.
Não era de estranhar que estivesse tão infeliz em Kerrera. Ele a obrigou a entrar em um modelo convencional e a fez sentir que não era boa o suficiente para ele. Mas ela foi perfeita.
Ele queria a garota com quem ele casou de volta. Ele queria que ela fosse feliz novamente. Queria-a travessa e um pouco escandalosa. Queria ver seu cabelo cair por suas costas e sua cabeça inclinar-se sobre um cavalo enquanto se divertia desinibida pelo campo. Queria que o olhasse como se não pudesse esperar para estar na cama com ele.
A forma como estava rindo agora o fazia pensar que não era muito tarde. Mas assim que seus olhos se encontraram, pareceu se conter. O sorriso de menina caiu de seu rosto e sua risada pareceu subitamente mais contida.
A culpa o apunhalou e jurou que faria o que pudesse para compensá-la. Coloque sua família em ordem — disse o rei antes dele partir. Eoin pretendia fazer exatamente isso.
Mas seria muito mais fácil se pudesse confiar nela sobre seu papel no exército de Bruce. Odiava mantê-la no escuro, e se suas perguntas a respeito da Guarda fossem qualquer indicação, sua percepção tornaria isso difícil.
Quando a costa de Galloway desapareceu na névoa da manhã, ele teve sua vez com os remos, concentrando-se no ritmo constante da folha que cortava as ondas, em vez dos acontecimentos na parte traseira da nave. Mas podia ouvi-los.
— Tenho um filho de sua idade — soou a voz profunda de MacSorley.
— Você? — Perguntou Eachann. — Quantos anos ele tem?
— Fará cinco anos depois do verão.
— Eu já tenho cinco anos — disse Eachann orgulhoso. — Meu aniversário foi no Dia de Todos os Santos. — O intestino de Eoin se contraiu. Nem sequer sabia disso.
— Deveria ter adivinhado — disse MacSorley, com uma gargalhada na voz. — Você é muito maior que Duncan.
— Sou? — Eachann não pôde ocultar sua surpresa. — Meu avô disse que tinha que comer mais ou nunca cresceria grande e forte o suficiente para ser um guerreiro.
— Você pode ser o que quiser, Eachann — interveio Margaret firmemente. — Não têm que ser tão alto quanto o capitão para ser um guerreiro, se é isso que você quer ser.
Pela maneira como Margaret se apressou a responder, Eoin percebeu que o tamanho do menino era um ponto sensível. Ele era pequeno? Eoin não tinha muita experiência com meninos de sua idade, mas supôs que poderia ser. Eachann estava constituído como seu irmão Donald.
Donald era dois anos mais velho que Eoin, mas Eoin tinha uma cabeça mais alta que ele quando tinham treze anos. Donald era magro e baixo, diferente do corpo com músculos de Eoin e seu irmão mais velho, Neil.
Também tinha incomodado a Donald até que encontrou sua força. Como MacSorley, seu irmão se sobressaía na navegação.
MacSorley deve ter percebido o ponto dolorido também.
— Sua mãe tem razão, garoto. De fato, eu até conheço uma moça que pode me derrubar em meu traseiro. E ela fez isso... mais de uma vez — ele rosnou.
— Deve ser uma moça grande — disse Eachann, claramente sem ter certeza se acreditava.
MacSorley começou a rir.
— Receio que não. É do tamanho de Peter — apontou para o jovem, que tinha apenas alguns centímetros acima de um metro e meio.
— Agora sei que está brincando — disse Eachann.
— Seu nome é Cate e está comprometida com meu amigo, pelo menos estavam prometidos até então — fez um gesto com a mão. — Não importa. Também é a filha do rei.
— Mas a filha do rei está em um convento inglês — disse Eachann.
— Acredito que se refere à filha natural do rei — disse Margaret.
— Quer dizer que é bastarda? — Perguntou Eachann.
Eoin apertou a boca. Não precisava se virar para sentir o olhar do menino pousar em suas costas.
Maldito Dugald MacDowell, por todos os Infernos!
— Eachann... — Margaret começou.
Mas MacSorley apenas riu.
— Sim, suponho que sim. Mas eu não a chamaria assim se fosse você, ou ela poderia te colocar no seu traseiro.
Eoin ouviu falar de como a prometida de Gregor MacGregor tinha a intenção de ser treinada na guerra e tinha conseguido derrubar o grande viking, sempre pronto e com uma brincadeira, enquanto praticava. Os outros guardas vinham incomodando MacSorley desde que ela o derrubara. Eoin teria dado um mês de salário para ter visto isso.
Cansado de assistir de longe enquanto Falcão entretinha seu filho, Eoin se afastou dos remos. Ele ia ver se Eachann queria ajudá-lo com a navegação, quando ouviu MacSorley perguntar.
— Você quer segurar as cordas por um tempo?
— Eu? De verdade?
Eoin se sentou rapidamente com a empolgação na voz de seu filho. Os mapas ásperos da linha da costa e uma bússola do sol dificilmente poderiam competir com a manutenção de navegação. Não percebeu que estava franzindo o cenho até que Margaret se sentou ao seu lado.
— Seu amigo é divertido. Recorda-me alguém, embora eu não consiga pensar em quem.
Eoin escondeu um sorriso, imaginando quanto tempo levaria para perceber que era ela mesma. Maggie baixou a voz.
— Eachann está com medo. Ele não está deliberadamente tentando ferir você. Ele simplesmente não sabe o que dizer. Seu amigo MacSorley é mais fácil, não há nada em jogo com ele.
Cristo. Era tão fácil de ler? Não se incomodou em negar.
— Eu tentei falar com ele esta manhã antes de sairmos, mas ele não conseguia fugir rápido o suficiente.
— Sobre o que você falou com ele?
Ele encolheu os ombros.
— Nada em particular. Perguntei se ele tinha uma arma favorita que gostava de praticar e disse que iniciaria seu treinamento quando chegássemos a Kerrera.
Ela não disse nada.
— Eu disse algo errado?
Ela mordeu o lábio como se debatesse com alguma coisa. Depois de um minuto, ela chegou a uma decisão. Seu olhar deteve um toque de desafio quando disse:
— Eu não acho que Eachann esteja muito interessado em guerra.
Suas palavras o surpreenderam.
— Acreditava que todo menino se interessava pela guerra. Eu não pensava em outra coisa.
Sua boca ficou tensa quase imperceptivelmente.
— Não Eachann.
Sentiu uma ligeira atitude defensiva e adivinhou que, pelo tamanho do menino, o assunto era sensível. Não foi difícil entender o porquê. Dugald MacDowell só gerou guerreiros. Mas, francamente, já que era tudo o que Eoin pensava, — pelo menos até que conheceu a Margaret — supôs que geraria também.
Pensou por um momento.
— No que ele está interessado?
— Livros. Lê tudo o que consegue colocar as mãos. Gosta de construir coisas. — Apontou para a bússola. — Ele provavelmente estaria interessado nisso, gosta de saber como as coisas funcionam.
O começo de um sorriso elevou um canto de sua boca. Talvez seu filho era como ele de outras maneiras.
— O menino é inteligente?
Sua boca se contraiu.
— Você poderia dizer isso. Ele já está me ganhando no xadrez.
— Bom, isso não quer dizer muito.
— Eoin! — Ela empurrou o ombro dele. — Isso foi grosseiro.
Ele riu.
— Talvez, mas é verdade. A paciência nunca foi seu forte, mas têm outros... Uh, talentos.
O olhar significativo que ele lhe deu emitiu um rubor rugindo em suas bochechas, mas ela olhou para ele primorosamente.
— Sim, você também nunca foi muito paciente quando se trata de certas coisas.
Ele riu novamente. Tinha razão. Ainda não era paciente quando se tratava dela. Tinham que recuperar seis anos de atraso, e não podia esperar para levá-la de volta a Kerrera para começar. Sua risada chamou a atenção de seu filho. Assim que o olhar de Eoin encontrou o dele, o menino se virou. Eoin suspirou, dando-se conta de que precisaria de um pouco de paciência quando se tratasse de seu filho.
Margaret estava triste por ter que dizer adeus do povo do mar. Não era só porque gostava de Erik MacSorley — o que fazia de engraçado — não tinha rido assim há anos— também significava que tinham chegado ao seu destino.
À medida que as encostas planas e verdes e as escuras e rochosas costas da Ilha de Kerrera surgiam, tinha que admitir que sentiu mais do que uma pontada de apreensão e dúvida.
Mas qualquer preocupação de que estivesse fazendo a coisa certa desapareceu quando recordou ter visto aquelas duas cabeças loiras escuras juntas pela primeira vez. Sua garganta ainda ficou apertada só de pensar nisso.
Quando eles deixaram a pequena ilha na costa da Irlanda, onde passaram a noite, Eoin seguiu seu conselho e perguntou se ele queria aprender a navegar no navio. Embora hesitante, seu filho curioso demais não conseguiu resistir à tentação do pedaço de madeira com as marcas curvas da sombra do sol em um ponteiro vertical. Ele havia feito dezenas de perguntas, que Margaret rapidamente perdeu o interesse, mas Eoin não pareceu se importar. Ela tinha que admitir que era bom ter alguém para responder às perguntas intermináveis de Eachann, com foco crescente nos mínimos detalhes, que às vezes sobrecarregavam a paciência maternal de Margaret.
Quase podia ver a mente do menino trabalhando enquanto tratava de encontrar uma maneira de melhorar a precisão do instrumento bruto. Eachann gostava de construir coisas. Não fortes e castelos de barro e paus como os outros meninos, mas coisas úteis. Coisas que faziam as tarefas mais fáceis para as pessoas. Nunca esqueceria quando leu sobre o grande relógio na Catedral de Canterbury que marcava o tempo com os sinos. Usava pesos em vez de água e, antes de suas fracassadas bodas, o menino estava experimentando a construção de seu próprio cloc, a palavra gaélica para sino. Ele estava tão empolgado que havia falado sem parar sobre isso durante dias.
Ele era assim agora. A diferença desta vez era que tinha um público igualmente intrigado. Sua boca torceu com um sorriso. Talvez não seja uma audiência, mas uma corte entusiasmada.
Eoin ficou surpreso ao ouvir que seu filho não parecia ter muito interesse em ser um guerreiro, mas se recuperou mais rápido do que esperara. Surpreendentemente, não parecia decepcionado. Em realidade, à medida que a conversa se intensificava, o orgulho de Eoin pelo menino se fez evidente. Estava fazendo a coisa certa. Seu filho precisava disso. Um pai que se sentisse orgulhoso dele — que o entendia— não importava o que decidisse fazer, valia qualquer risco para seu coração.
Animada pelos primeiros sinais de amolecimento na atitude de seu filho com seu pai, Margaret se despediu do bonito marinheiro com sorriso diabólico, que estava ansioso em voltar para sua esposa e filhos, e segurou a mão de Eachann estreitamente enquanto seguiam Eoin junto ao mar — a porta das escadas com a pedra quadrada guardando o castelo de Gylen, onde se sentou encolhida no escarpado com vista para o mar. — Necessitava toda sua coragem enquanto olhava para cima e via o casal esperando para saudá-los. Os batimentos de seu coração se aceleraram, e um temor familiar se estendeu sobre ela como uma mancha molhada, o incômodo peso dela arrastando-a para baixo.
Margaret sabia que Eoin enviou uma missiva a seus pais, lhes informando da existência de Eachann, mas não teve tempo de informá-los de sua chegada. Não albergava ilusões por conta própria, os pais de Eoin dificilmente a receberiam de braços abertos, mas pelo bem de Eachann, esperava que eles ocultassem seu desdém.
A ideia de que seu filho pudesse pensar menos dela era algo que não podia suportar.
Eoin estava alguns passos à frente, presumivelmente para dar a seus pais uma advertência rápida, mas era desnecessário. O olhar de Lady Rignach pareceu encontrar o seu imediatamente. Sob a surpresa, Margaret poderia jurar que viu o que pareceu alívio antes que os olhos da outra mulher se movessem para o lado. Seu rosto perdeu todos os vestígios de cor, e ela poderia ter caído no chão se o marido não a tivesse pego pelo braço.
O orgulhoso Laird parecia quase tão abalado quanto ela, quando percebeu por que sua esposa quase desmaiou.
Eachann não era um menino tímido, mas quando as duas imponentes figuras o olharam como se fosse uma estranha criatura de um zoológico, aproximou-se dela. Os dedos de Lady Rignach se aproximaram de seus lábios. Os olhos escuros que se voltaram para Eoin brilhavam com lágrimas.
— Meu Deus, ele parece com você. Temia... — sua voz se apagou.
Margaret ficou rígida, percebendo o que ela temia. Que o menino não fosse dele.
Mas um momento depois, perguntou-se se teria se enganado. O olhar que a encontrou agora, não estava cheio de zombaria ou animosidade, mas de gratidão.
— Obrigada por trazê-lo aqui. Depois do que aconteceu, temi que nada pudesse fazer você voltar.
Margaret teria pensado que Lady Rignach consideraria isso uma coisa boa, se não a olhasse com evidente alívio.
Margaret não sabia o que dizer, sentindo como se tivesse acabado de entrar em algum tipo de Conto de fadas. Mas com sua mão perdendo a sensibilidade por ser apertada tão forte e o pequeno corpo pressionando contra o dela, em perigo de lhe causar hematomas, se livrou de sua inquietação.
— Eachann — ela disse ao menino. — Estes são seus avós, Lady Rignach e Laird Gillemore, chefe dos MacLean.
Eachann, muito sério, dirigiu-lhes uma breve e formal reverência, murmurando que se alegrava de conhecê-los. Lady Rignach olhava o menino com tanto carinho que Margaret pensou que poderia tentar puxá-lo para seus braços.
Aparentemente, Eoin pensou o mesmo. Para salvar o menino de estar mais afligido do que já estava, Eoin parou na frente dele.
— Deveríamos entrar? Foi uma longa jornada e estamos todos cansados.
— É óbvio, — disse o Laird. — Sua mãe tem alguns quartos preparados.
— Quarto, — disse Eoin firmemente. — Minha esposa e eu compartilharemos minha câmara, e meu filho vai dormir na antecâmara — se havia alguma dúvida sobre seu lugar, não havia mais. Até mesmo Margaret ficou surpresa com o tom que deixava claro.
Arqueou uma sobrancelha, mas sua única resposta foi um cenho franzido, que ela assumiu ser sua maneira de lhe dizer que se comportasse.
Tentando não rir, seguiu Eoin e seus pais ao Grande Salão. Não tinha mudado muito em todos esses anos, desde que esteve aqui pela última vez. O salão poderia rivalizar com qualquer um de um palácio real. Havia finas tapeçarias penduradas nas paredes limpas recentemente, tecidos coloridos que cobriam as filas de mesas de cavalete e a mesa no estrado elevado estava adornada com candelabros de prata e outros pratos ricos.
Como era tarde e a refeição do meio-dia já tinha passado, o Salão estava relativamente tranquilo. Não estavam esperando eles, então uma festa não tinha sido preparada, mas Lady Rignach prometeu que isso seria retificado no dia seguinte. Os membros do clã estariam desejosos de conhecer o neto do Laird. Seu primeiro neto, Margaret percebeu. Aparentemente, Marjory ainda não tinha um filho. Sentindo que o assunto era doloroso, não fez mais perguntas.
Eoin lhe falou de sua irmã e de seu irmão adotivo, Fin fez as pazes com “O Bruce” e agora estava servindo como o sequaz do Laird. Ele e Marjory viveriam em uma torre nova que seria adicionada ao castelo, mas por enquanto eles estavam residindo em uma casa na aldeia.
Margaret admitiu que quis desistir quando Eoin lhe falou de sua presença na ilha na primeira noite de sua viagem, mas o orgulho a impediu. Não deixaria que Fin a vencesse. Talvez não estivesse tão convencida como Eoin de que Fin mudou, mas estava disposta a tentar deixar o passado no passado.
Embora estivesse agradecida por não precisar fazê-lo agora mesmo. Só havia poucos membros do clã reunidos no salão, e Fin não estava entre eles.
Sem pensar, Margaret quase se sentou na mesa abaixo do estrado, onde tão frequentemente se sentou com Tilda — que se casou e se mudou há alguns anos. — Mas Eoin a levou para o lugar onde sua mãe a esperava no estrado. Sentou-se entre Eoin e Eachann enquanto eles se sentavam no extremo do longo banco. Lady Rignach parecia que estava pensando em se espremer ao lado deles, mas o Laird a levou para o meio da mesa.
Eoin e seu pai encheram a maior parte da conversa, enquanto desfrutavam de uma refeição leve de aves assadas e carne de cordeiro, queijo e pão. Eachann ficou muito contido, embora tenha reanimado um pouco quando algumas tortas e bolos foram trazidos para ele provar.
Margaret riu de si mesma quando percebeu que ele e Eoin escolheram o mesmo bolo de ameixa e bolo temperado, quando levantou a vista e captou as lágrimas e também o olhar divertido de sua sogra. Claramente, tinha notado também, e pela primeira vez as duas mulheres que podiam ser tão diferentes compartilharam um momento de compreensão.
Margaret não sabia o que pensar. Tinha esperado cortesia da orgulhosa mãe de Eoin, mas isso parecia ser algo mais. Será que talvez ela não fosse a única tentando colocar o passado no passado?
Parecia que sim. Antes de se retirar para o quarto, Lady Rignach puxou Margaret para o lado.
— Eu lhe devo uma desculpa — disse a mulher mais velha. Embora já se passaram mais de seis anos desde que Margaret a vira, Lady Rignach não mudou muito. Ela ainda era uma mulher atraente, embora devesse estar alguns anos mais velha, além dos cinquenta. Margaret estava muito confusa para responder.
— Você era a esposa do meu filho, e eu deveria ter feito você se sentir bem-vinda. Deveria ter feito você se sentir bem para que pudesse vir a mim com qualquer problema que tivesse com Finlaeie — seu rosto endureceu com desgosto. — Eu sabia que algo estava errado. Nunca deveria ter deixado que Marjory se casasse com ele, mas ela tinha tanta certeza que ele a amava — abraçou-se como se houvesse dito muito e voltou a olhar Margaret. — Meu maior pesar é que você sentisse que sua única opção era partir. Eu... — sua voz se reduziu a um sussurro. — Fui uma tola e fiz caso às intrigas. Tinha razão, devia ter confiado no julgamento do meu filho — seu olhar se dirigiu para onde Eachann estava com Eoin e o carinho ali era evidente. — Quase me custou meu filho e meu neto.
Aparentemente, Eoin fez sua mãe parcialmente responsável pela partida de Margaret. Ver a orgulhosa e humilhada dama poderia ter sido um momento satisfatório, mas a mãe de Eoin não foi a única perseguida por arrependimentos. Margaret também cometeu erros. Não soube como se relacionar com a grande dama e Lady Rignach não soube como se relacionar com a moça selvagem e atrasada que ela tinha sido. Margaret entrou na vida deles sem prestar atenção a regras ou costumes. Fazia o que queria sem pensar em como isso refletiria em seu marido ou sua família.
Duvidava que pudessem ser amigas, mas talvez pudessem aprender a se aceitar mutuamente. Além disso, tinham duas pessoas importantes em comum. Eoin e Eachann.
— Isso foi há muito tempo — disse Margaret. — Ambas fizemos coisas que lamentamos, mas como não podemos mudar o passado, poderíamos tentar começar de novo?
— Eu adoraria — disse Lady Rignach solenemente.
— Mãe — disse Eoin com uma nota inconfundível de advertência em sua voz. — Há algum problema?
Margaret não percebeu que ele estava atrás dela. Para um homem tão grande, movia-se como um gato. Era um pouco desconcertante.
Antes que Lady Rignach pudesse responder, Margaret pôs a mão no braço dele para tranquilizá-lo.
— Está tudo bem — não precisava que a resgatasse, embora apreciasse o esforço. — Ia perguntar a sua mãe se gostaria de ir comigo e Eachann a Oban na segunda-feira. Eu gostaria que ele conhecesse as freiras do convento.
— Eu poderia levá-la — disse Eoin, possivelmente antecipando a objeção de sua mãe.
Mas Lady Rignach não estava disposta a objetar. Ela aproveitou a chance de estar com seu neto.
— Eu ficaria honrada em acompanhá-la.
Margaret assentiu com a cabeça. Tinham um longo caminho a percorrer, mas era um começo.
Virou-se para seu marido e sentiu o coração apertar de desejo. Um início. Agora, isso era tudo o que podia pedir.
Capítulo 24
Margaret gemeu, retorcendo-se em seu sono. Seu corpo parecia tão pesado, tão lânguido. Ofegou, arqueando-se, em um delicioso lampejo de sensações entre as pernas. O longo e lento círculo, um empurrão suave, e as carícias...
Seus olhos se abriram. Uma língua!
Os raios suaves da luz do sol atravessavam as rachaduras, permitindo-lhe distinguir a cabeça loiro-escuro do homem que a despertou de seu sono. Não que ela estivesse reclamando, especialmente quando ele...
Gemeu novamente enquanto sua língua empurrava profundamente dentro dela. Tão profundo que podia sentir o arranhão de sua mandíbula contra ela. E então a estava lambendo novamente, acariciando meigamente, com avidez.
Era tão bom...
Seu corpo começou a tremer. Seus mamilos esticaram sob os lençóis, — ele a despiu ontem à noite — com as costas arqueadas e os quadris levantados descaradamente para seu beijo íntimo. Redemoinhos quentes de prazer correram através dela. Podia sentir as sensações crescendo...
Intensificando.
— Oh Deus, vou... — Não percebeu que gritou até que levantou a cabeça.
— Privacidade, recorda?
Não se atreveria a parar.
— Eoin! — Olhou-o com vontade de matá-lo. Apesar de que estava muito escuro para que ele pudesse ver sua expressão, mas deve ter adivinhado pelo seu tom e começou a rir.
— Não queremos despertar Eachann.
— Ele dorme de qualquer jeito.
— Espero que tenha razão porque vou fazê-la gritar.
E fez. Segurando seu traseiro, levando-a a boca e a devorou. Em golpes longos e malvados... Beijou-a mais forte, chupando e lambendo até que pensou que enlouqueceria de tanto prazer.
E quando a levou até o limite, sustentou-a ali, forçando os espasmos mais profundos, mais lentos, mais fortes. Ela sentiu a liberação através dela, e depois explodiu.
Pegou o travesseiro que Eoin lhe deu para amortecer seus gritos. E quando terminou, entregou a ele.
Ele ia precisar disso.
Eoin não percebeu o que ela estava fazendo imediatamente. Não era exatamente o que um homem esperava de sua esposa.
Quando lhe entregou o travesseiro e o pegou na mão, ele se divertiu. Seus jogos no bosque depois de casarem foi há muito tempo. Uma mão, até mesmo sua mão lhe dando prazer, não faria ele perder o controle o suficiente para gritar.
Mas seu sorriso morreu quando os lábios salpicando beijos sobre sua boca e mandíbula começaram a descer por seu peito e estômago.
E eles não pararam.
O que ela estava fazendo?
Ele endureceu, sentindo algo quase como alarme. A mão que estava segurando seu pau parou de bombear e seu pênis estava latejando
Deteve-se quando sua boca estava a centímetros da ponta latejante e olhou para cima. Mal havia luz suficiente espreitando através das sombras para ele distinguir seu sorriso malicioso e felino.
Ele sabia exatamente o que ela estava fazendo, — e ela também.
Ele estava se segurando com tanta força que não percebeu que suas mãos estavam segurando os lençóis, até que ela riu.
— Eu acho que você pode precisar desse travesseiro depois de tudo.
Não conseguia falar. Sua boca estava muito perto e ele estava tão malditamente tenso com antecipação que não sabia quantas brincadeiras poderia aguentar antes que começasse a implorar. Antes de agarrar sua nuca e mover sua boca sobre ele.
Chupe-me...
Só o pensamento de sua cálida boca se fechando sobre ele fez seu pênis empurrar em sua mão e uma gota de prazer se filtrasse pela ponta. Lambeu-o. Com um movimento lento da língua lambeu e girou a cabeça grossa e sensível como se fosse uma ameixa suculenta.
O prazer o atravessou como uma flecha. Quase saiu da maldita cama. Mas não era nada comparado com a incrível sensação quando sua boca finalmente se envolveu ao redor dele, esses sensuais lábios carmesins que se estendiam para levá-lo para dentro. Mais profundo.
Oh Deus. Quantas vezes imaginou isso? Mas nunca chegaria perto da realidade. Queria empurrar. Tinha que empurrar. Seu corpo tremeu quando a sensação se formou na base de sua espinha.
Quando já não podia mais suportar a tortura de seus inocentes beijos, disse-lhe o que fazer. Disse-lhe como tirar seu sêmen com a língua e sua mão, e como chupá-lo profundamente e com força.
Não precisava de muita instrução. Não precisou de muito tempo levá-lo ao limite. Teria se retirado, mas ela não deixou. Tomou-o profundamente em sua garganta, persuadindo a veia grossa com sua língua, e não pôde se conter. Ele começou a gozar em ondas quentes, ferozes e pulsantes que o rasgaram em um rugido de prazer tão intenso que provavelmente poderia ter usado dois travesseiros.
Como ela sabia...?
Eoin não se permitiu terminar a pergunta que não tinha o direito de perguntar. Ele a deixou pensar que estava morto. Não tinha direito a esperar fidelidade dela. Tinha sido prometida de outro homem, pelo amor de Deus.
Nada bom viria se soubesse ou perguntasse. Seria melhor para ambos se apagassem esses seis anos de dor e nunca falassem disso. Mas não ia ser fácil. Os ciúmes e a irracionalidade que sempre foram sua fraqueza no que se referia a sua esposa não escutavam a razão.
Margaret não deveria ter reclamações. Os primeiros dias em Gylen foram muito melhores do que poderia esperar. A cautela natural de Eachann havia diminuído um pouco, e parecia que ele estava se dando bem com a ideia dos novos avós, especialmente uma avó que não escondia a intenção de satisfazê-lo além de toda a boa medida.
Ver Lady Rignach com Eachann mostrou a Margaret um lado diferente da formidável mãe de Eoin. Deu a Margaret uma ideia de como deve ter sido com seus próprios filhos. Deve tê-los amado ferozmente, protegendo-os como uma leoa faz com seus filhotes. Margaret saindo do nada, lançando a vida de seu filho em um tumulto, teria sido recebida como uma ameaça. Possivelmente não desculpasse toda sua frieza, mas explicava algumas coisas.
Com Eoin, Eachann ainda era reservado, — ou um pouco cauteloso — mas isso diminuiu consideravelmente depois que Eoin lhe mostrou sua biblioteca pessoal e prometeu arranjar um tutor para que o instruísse até que estivesse preparado para a escola. A emoção do menino não tinha limites.
Inclusive tinha relaxado o suficiente para unir-se a alguns dos outros meninos no pátio para treinar um dia.
A parede de animosidade e suspeita que confrontara Margaret em Gylen pela primeira vez não parecia tão espessa, embora restassem vestígios dela. Alguns membros do clã ainda estavam sussurrando e olhando, e havia lembranças sutis de seu status como a filha de um dos maiores inimigos de Bruce. Uma manta que ela deixou para trás, tecida de lã de Galloway, de alguma forma chegou a tampa de seu baú. Um dos guardas luchd-taighe25 do Laird a olhava cada vez que se falava a palavra "traidor"; E outro a olhava cada vez que se mencionava John de Lorn e sua corte de rebeldes. Aparentemente, o Laird de MacDougall exilado havia sido encarregado da frota inglesa e estava tornando difícil para Bruce obter suprimentos da Irlanda e da França.
Sua breve viagem a Oban com Lady Rignach e Eachann tinha ido tão bem como se podia esperar. Depois da partida de Margaret, a mãe de Eoin soube a verdade sobre o que ela estava fazendo ali e tinha feito um presente substancial ao convento que — apropriadamente — tinha sido utilizado para fazer uma escola para as crianças da aldeia. Como desculpas, foi satisfatória.
O momento mais difícil até agora tinha sido quando Margaret se viu obrigada a confrontar Fin na festa. Como era marido de Marjory, dificilmente poderia evitá-lo. Mas depois de uma saudação incômoda, a irmã de Eoin e seu marido mantiveram distância. Margaret sabia que tinha que agradecer a Eoin por isso.
O joelho de Eoin melhorou o suficiente para caminhar sem o bastão que Magnus fez para ele, e prometeu levá-la a cavalo pela ilha em breve.
Embora estivesse encerrado com seu pai e seus homens durante a maior parte dos dias, as noites haviam lhe pertencido. Como sempre, sua paixão era explosiva. Fizeram amor feroz e meigamente, com uma intimidade que ela nunca tinha sonhado.
Era quase perfeito. Mas não conseguia escapar da sensação de que algo o incomodava. Na quarta manhã de sua chegada a Gylen tinha que saber. Como sempre, Eoin se levantou cedo, antes que a luz do amanhecer fosse forte o suficiente para iluminar completamente a câmara. Já tinha colocado sua túnica e acabava de atar os calções a sua cintura enquanto falava.
— Eu fiz alguma coisa errada?
Ele voltou-se para ela surpreso.
— É óbvio que não. Por que pergunta?
Colocou o lençol sobre seu peito e se levantou para apoiar-se na cabeceira de madeira esculpida.
— Parece que algo está lhe incomodando — fez uma pausa. — Está assim desde a primeira noite que chegamos — pensou por um momento, a repentina compreensão do que poderia ser lhe iluminou. — Desde que eu... — sua voz baixou cair com vergonha. — Fiz algo que você não gostou?
Ele sentou-se na beira da cama, pegando o sporran que tinha recolhido para atar a seu cinturão. Sua mão encontrou sua bochecha.
— Está louca? É óbvio que eu gostei. Não poderia duvidar depois de todos aqueles gritos, não é?
Quase deixou que o sorriso juvenil a detivesse. Ele parecia tão bonito e relaxado, tão diferente do homem sombrio e irritado que apareceu na igreja há quatro semanas. Mas sabia que não estava imaginando coisas.
— Não faça isso, Eoin. Por favor, não faça isso novamente. Se houver algo errado, me diga. Eu não quero que haja segredos entre nós desta vez. Você não vê? Não pode funcionar de outra maneira.
Ele recuou, sua expressão endurecendo.
— Alguns segredos estão melhor escondidos. A verdade nem sempre é uma grande panaceia. Às vezes a verdade pode machucar. Às vezes é melhor não saber.
— O que isso tem a ver comigo? Não tenho segredos para você...
— Não? — Ele estava com raiva agora, seus olhos duros e sua boca branca. — Então deveria lhe perguntar como sabia fazer aquilo? Devo ouvir sobre os homens com que compartilhou a cama? Devo saber todos os detalhes lascivos? Isso será bom para mim?
Margaret prendeu a respiração, olhando para ele em estado de choque. Ele pensou que...
Querido Senhor! O que o incomodava era a mesma coisa que estava tentando não imaginar. Talvez ele tivesse razão. Alguns segredos só poderiam machucar.
Mas estava errado a respeito dela.
— Eu aprendi com Fin.
— O quê? — Ele explodiu. — Por que não me disse isso? Pelo amor de Deus, eu vou matá-lo, sendo meu cunhado ou não.
Agarrou-o pelo braço antes que ele pudesse saltar da cama.
— Eu só quis dizer que ele me disse que você gostava disso. Ele me perguntou se foi isso que eu usei para convencê-lo a se casar comigo. Eu nunca fiz isso com outro homem, Eoin.
Sustentou seu olhar durante um longo momento. Podia ver um pouco da ira diminuindo.
— Eu deixei você pensar que estava morto. Você era uma mulher livre. Você não me deve nenhuma explicação.
— Talvez não, mas terá uma. Ao contrário de meu primeiro matrimônio, estava esperando até que estivesse casada para compartilhar uma cama com meu segundo marido. Se tivesse chegado um dia mais tarde, possivelmente eu não poderia dizer isso, mas só há um homem com o que tive essa intimidade, e esse é você.
Seus olhos seguraram os dela.
— Você não precisa me dizer isso. Não mudaria nada se você tivesse feito. Eu odiaria, mas superaria.
Ela o entendia muito bem.
— Talvez sim, mas é a verdade de qualquer maneira. Minhas lembranças de você eram fortes demais. Eu estava quase com medo de tentar. Eu te amava tanto. — Sorriu tristemente. — O que era diferente para você. Odiava-me.
Ele franziu a testa e, em seguida, parecendo entender o que ela queria dizer, balançou a cabeça ironicamente.
— Nem tudo foi diferente. Além disso, ao contrário de você, sabia que ainda estávamos casados.
Margaret não entendeu.
— Mas você quebrou seus votos?
— Eu estava tentando te dizer que não.
— Mas deve ter feito isso! — Exclamou.
Olhou-a como se estivesse louca.
— Por quê?
— Porque... — podia sentir suas bochechas avermelhar. — Porque você é muito diferente agora.
No começo não parecia entender o que queria dizer, mas depois sorriu.
— Eu pratiquei muito.
Seu coração afundou, como a cor desapareceu de seu rosto.
— Pensei que disse...
— Não é esse tipo de prática. O tipo de prática que lhe ensinei — de repente, ela compreendeu. Pensou nela enquanto se tocava. — Pensei em como queria tocá-la, onde queria tocá-la, em vívidos detalhes. Pratiquei com você várias vezes durante seis anos.
Sua respiração permaneceu, não se atrevendo a esperar.
— Você alguma vez... com outra mulher?
Ele deu de ombros, quase como se tivesse vergonha de admitir isso.
— Eu queria. Odiava-lhe, e me enfurecia porque ainda te amava. Tentei uma vez. Mas não chegou muito longe.
Margaret não sabia o que dizer. Estava surpresa, atônita, e inegavelmente aliviada. Ela estava disposta a aceitar o que deveria, mas estava feliz por não precisar.
— Estou feliz.
Ele deu-lhe um olhar fulminante.
— Foi humilhante.
— Você não vai esperar que eu tenha pena de você?
Sua boca se torceu.
— Sob estas circunstâncias, talvez não.
— Têm algum outro segredo que queira me confiar? — Ela disse em tom de brincadeira, mas seu rosto se estendeu na máscara sem expressão que odiava. A máscara que a deixava de fora. Ele está escondendo alguma coisa.
— Como o quê?
Seu olhar caiu em seu braço, onde pôde distinguir uma sombra escura sob o fino tecido.
— O que você está escondendo sob essa camisa, e por que você não me deixa te ver sem ela na luz?
Xingou entredentes e passou os dedos por seu cabelo.
— Não é nada.
— Então por que não me deixa ver? — Ele não lhe respondeu diretamente. Estava envergonhado? Era disso que se tratava?
— É algo que fiz um tempo atrás. É uma marca.
Suas sobrancelhas se uniram.
— Você quer dizer uma tatuagem? — Ele assentiu.
— Foi algo que eu e alguns amigos fizemos.
Era a brincadeira de um jovem? Algo que agora desejava não ter feito? Bem, o que tatuou em si mesmo? Sua mente encheu de todos os tipos de possibilidades tolas.
— Posso ver?
Ele tirou a camisa e ela ofegou, nem mesmo olhando para a tatuagem. Bom Deus. Vê-lo nas sombras não era nada como vê-lo na luz. Seus olhos se agitaram ante a impressionante exibição de músculos protuberantes diante dela. Era tão grande. Forte.
Seu torso... seus braços...
Deus no céu, era bonito. Queria passar suas mãos sobre cada centímetro desses músculos esculpidos, queria...
Ele limpou a garganta, claramente divertido, lembrando-a do que ela deveria fazer. Não que olhar para o braço dele fosse uma dificuldade. Ele tinha dobrado o braço para mostrar a ela, e a flexão do músculo fez sua respiração acelerar e seu corpo aquecer com excitação inconfundível.
Para falar a verdade, ela mal notou o leão feroz e as estranhas linhas que rodeavam seu braço como um punho. Entretanto, notou as mesmas palavras que estavam gravadas em sua espada, — Opugnate acriter — já que estavam bem na beira do maior volume de músculos, cujas marcadas demarcações a deixavam bastante fascinada.
— Continue olhando para mim assim, querida, e Eachann vai receber um tipo muito diferente de educação quando ele chegar aqui em poucos minutos.
Ela ruborizou.
— O que significam essas palavras?
— É latim. A tradução é lutar ferozmente.
Ela pensou por um momento.
— É o que faz no campo de batalha.
Ele parecia surpreso.
— De certa forma, — inclinou-se para beijar seu nariz. — Agora, se sua curiosidade está apaziguada no momento, devo partir — levantou-se e procurou seu sporran. — Você pode me entregar ele?
Agarrou-o, sentindo em seu interior algum tipo de objeto pequeno e duro.
— O que têm aqui?
— Nada — tentou arrancar dela, mas já estava tirando o objeto.
Ao perceber o que era, sustentou na palma de sua mão e olhou para ele incrédula.
— Droga, Maggie. Você não pode seguir qualquer uma das minhas regras? Eu te disse para não bisbilhotar.
Ignorou a referência a suas regras ridículas, — não podia honestamente ter pensado que realmente as seguiria — sentindo que seu peito inchava de emoção enquanto pegava a peça de xadrez que roubou anos atrás no castelo de Stirling.
— Você guardou. — Seus olhos se encontraram com os dele. — Você guardou todo esse tempo.
Ele pode tê-la odiado, mas também a amava. Ele sempre manteve uma parte dela, um símbolo do amor deles, com ele sempre.
Ele resmungou alguma coisa, claramente envergonhado pelo sentimentalismo, e então, como se aceitando, encolheu os ombros e procurou outra coisa no sporran.
— E isto. Lia-o cada vez que entrava em uma batalha.
Reconheceu o pergaminho enrugado como a nota que ela deixou. Dando uma olhada a escrita grosseira e as palavras mau escritas, foi sua vez de sentir vergonha.
— Você deveria ter jogado isso fora — ela tentou rir. — Ou talvez fosse um lembrete da menina ignorante com quem você se casou por engano e como teve sorte de se livrar dela.
Sua reação foi instantânea e feroz. Ele pegou seu queixo em sua mão e voltou seu rosto para o dele.
— Era um aviso de que eu era um maldito idiota. Era um lembrete da garota que me amava tanto que ela resistiu a rumores, fofocas e insinuações para aprender a escrever e ler porque achava que isso me agradaria. Porque eu a fiz pensar que ela não era boa o suficiente. Mas eu estava errado, Maggie. Era perfeita, tal como era, e odeio que a tenha feito acreditar que precisava mudar por mim. Ler, escrever, nada disso importava. Nunca foi o importante.
Ela afastou o olhar, encolhendo-se com as lembranças.
— Era uma pequena pagã selvagem e atrasada. Não sei o que viu em mim.
Ele forçou seu olhar para o dele.
— Você era forte, bonita, engraçada, extravagante e sensual como o pecado, e eu te amei desde o momento em que te vi.
— Você amou?
Ele assentiu.
— Eu nunca parei de amar. Deus sabe que teria sido mais fácil se eu tivesse feito, mas você está no meu coração, Maggie, e é aí que você vai ficar.
— Eu também te amo.
Ele sorriu e a beijou tão meigamente que ela sabia que desta vez seria diferente.
Capítulo 25
Com o Neil segurando o castelo de Tarbert para Bruce e Donald servindo como comandante das galeras do rei, seu pai olhava cada vez mais para seu filho mais novo como seu tanaiste26 de fato. Assim que Eoin chegou a Gylen, foi acossado por uma multidão de problemas que requeriam sua atenção, incluindo o maior, John de Lorn, agora Laird de MacDougall e possível Senhor de Argyll, que com certeza estava causando problemas novamente.
Eoin tinha certeza de que não era o único que desejava que Arthur Campbell não tivesse deixado Lorn fugir depois da Batalha de Brander quatro anos e meio atrás. Campbell — ou Guardião como era conhecido entre seus companheiros da Guarda — apaixonou-se pela filha de Lorn e o deixou fugir do exílio por ela. Eoin podia entender o conflito possivelmente melhor do que qualquer um, — tendo esperado ver o pai de sua própria esposa na ponta de sua espada mais de uma vez — mas a demonstração de misericórdia de Campbell tinha sido castigada muitas vezes durante os últimos anos. Se Bruce o apanhasse de novo, Lorn não teria uma segunda oportunidade.
— Como pode estar seguro de que era ele? — Fin perguntou ao pescador que veio até eles com o último relatório. — Eles se identificaram?
Eoin tentou não trincar os dentes quando seu irmão adotivo falou, mas fracassou. Por causa de sua irmã, Eoin tentou perdoar Fin pelo que fizera a Margaret, ele parecia muito arrependido e sincero em suas desculpas, mas as últimas revelações de Margaret reacenderam sua raiva. Eoin queria matá-lo novamente, não só por tocá-la, mas por falar com ela de maneira tão grosseira. Estava tentando manter seu gênio sob controle a manhã toda, enquanto eles se reuniam na câmara do Laird com os outros membros de confiança de seu pai.
— Eu sei que era — disse o ancião obstinadamente, não deixando que Fin o intimidasse. O que, dado o tamanho do sequaz, era uma impressionante amostra de coragem. Fin tinha acrescentado volume considerável — a maioria músculo — à sua estrutura alta e se tornara o espadachim mais mortal do Laird. — Reconheci um dos homens que me capturaram.
— Eu pensei que você disse que todos usavam elmo — disse Fin, obviamente tentando apanhar o homem em uma mentira.
— Eles usavam, mas um tinha uma cicatriz. — O pescador desenhou uma longa linha por sua bochecha e por seu nariz. — Pude ver quando levantou sua viseira enquanto se afastava.
Eoin deu a Fin um olhar penetrante e fez mais algumas perguntas antes de agradecer e mandá-lo embora.
Embora vários guerreiros de seu pai, incluindo Fin, pensassem que deviam esperar mais "provas" do que as lembranças de um velho pescador, afirmando que os homens eram provavelmente irlandeses, o pai de Eoin insistiu em enviar notícias a Bruce. Se os homens de Lorn tinham sido avistados no extremo norte, tão perto de sua antiga fortaleza de Dunstaffnage, o rei gostaria de saber. Quando foi decidido que alguém deveria ir ao castelo de Dunstaffnage para ver se o Guardião ouviu alguma coisa, seu pai pareceu aliviado quando Eoin se ofereceu voluntariamente.
Seu pai era o único na mesa que sabia que o Guardião do antigo bastião de MacDougall — Arthur Campbell — era um dos irmãos de Eoin na Guarda das Highlanders. Juntos, Eoin e Campbell poderiam enfrentar qualquer ameaça do homem que outrora tinha sido o mais poderoso no "Reino" das Ilhas.
A reunião terminou e os guerreiros foram se ocupar de seus deveres. Depois de se oferecer para escrever a nota a Bruce, Eoin não percebeu que alguém ficou até que falou.
— Irei com você — disse Fin.
Eoin olhou para cima, sua expressão uma máscara dura.
— Isso não será necessário.
— Mas e o seu joelho?
— Remarei um esquife, não correndo. Além disso, está quase curado.
— Isso significa que você vai pegar uma espada novamente em breve? — Exclamou Fin com um sorriso. — Estive esperando nossa revanche.
Eoin agarrou a pluma até que seus dedos ficaram brancos. A atitude de Fin de “tudo está bem” estava levando-o ao limite de seu temperamento.
— Você vai ter — prometeu Eoin sombriamente. A última vez se reteve, mas desta vez ele teria seu amigo caído no chão.
— Que porra está errado com você? Isso tem alguma coisa a ver com a sua esposa? Eu fiquei longe dela como você me pediu. Eu pensei que nós já tínhamos passado por isso. Eu te disse que sentia muito. Estava bêbado. Eu não sabia o que estava fazendo.
— E o que você estava dizendo? — Exclamou Eoin. Mas ao ver a confusão de Fin e percebendo que Margaret não gostaria que falasse sobre isso, negou com a cabeça. — Apenas deixe isso.
Fin permaneceu ali um minuto olhando-o fixamente.
— Faria, mas não acredito que você possa. Não o entendo. Depois do que ela fez, como pode perdoá-la? Como pôde trazê-la aqui quando ela te traiu?
Os dentes de Eoin estavam rangendo novamente. Sabia que Fin só estava expressando o que muitos pensavam. Levou alguns dias para Eoin notar a sutil frieza em relação a sua esposa por parte dos membros de seu clã. Os Highlanders tinham lembranças longas e não esqueceriam tão cedo que ela era uma MacDowell e que o abandonou. E como Fin, vários membros de confiança da casa de seu pai sabiam que o tinha traído em Loch Ryan.
— O mesmo se poderia dizer de você e, entretanto, está aqui.
Era sua esposa, droga. E seu melhor amigo tentou fazer o que queria com ela.
O rosto de Fin avermelhou e algo brilhou em seus olhos.
— Ela obteve sua vingança, entretanto, não é? Você não estava aqui, eu quase perdi as bolas por causa ela.
— Você teria perdido elas se eu estivesse aqui.
Fin o olhou fixamente, sua mandíbula apertada firmemente como se estivesse lutando para segurar alguma coisa.
— Eu disse que estava bêbado.
Era uma desculpa? Talvez não o tivesse perdoado tanto quanto ele disse. Eoin respirou fundo. Embora não devesse a seu irmão adotivo uma explicação, deu-lhe uma.
— Foi mais complicado do que percebi. Margaret pensou que estava me ajudando.
Fin não ocultou sua descrença.
— Então confia nela outra vez?
Eoin não respondeu. Não tinha uma resposta.
— É minha esposa e a mãe de meu filho.
Fin ficou rígido, embora Eoin não tinha querido dizê-lo como uma ofensa. O recente aborto de Marjory depois de anos de não poder ter um filho tinha sido dilacerador para todos eles, mas Fin sentiu mais. Parecia se ofender se inclusive a palavra "criança" ou "bebê" era mencionada, como se houvesse alguma crítica implícita a ele.
— Então é perdoar e esquecer, é isso? Bom, tome cuidado para que a moça não descubra algo e lhe traia de novo. O que você vai dizer a ela sobre Campbell?
Os olhos de Eoin se estreitaram. Sabia que Fin era curioso a respeito de seu lugar no exército de Bruce e todos os desaparecimentos que se negava a explicar, mas quanto tinha adivinhado? Suspeitava o que ele e Campbell faziam ou era só uma pergunta geral?
— O que quer dizer?
— Nada. Apenas tenha cuidado. Seu pai provavelmente se uniu a Lorn.
Aparentemente, era só uma advertência geral desta vez. Mas Eoin podia jurar que Fin suspeitava a verdade.
Margaret não foi a única ferida por Eoin mantendo-a no escuro. Também tinha afetado sua amizade com Fin. Talvez tanto quanto Margaret havia se interposto entre os irmãos adotivos, a vida secreta de Eoin também.
E isso era culpa dele.
As palavras de Margaret, esta manhã, ressoaram em sua cabeça. Não quero que haja segredos entre nós... Não pode funcionar de outra maneira.
A conversa deles o incomodara mais do que queria admitir. Sabia que tinha razão, mas que diabos ia fazer a respeito? Como ia seguir mantendo-a no escuro a respeito de seu lugar no exército de Bruce? Os segredos os tinham separado todos esses anos atrás. Estavam destinados a repetir os mesmos erros?
Maldito Bruce. Como poderia Eoin arrumar seu matrimônio se não podia lhe dizer nada? Todas as outras esposas sabiam o que faziam seus maridos. Ela não tinha o direito também? Poderia guardar algo que era tão importante para ele?
Como antes, estava em uma posição insustentável. A diferença era que desta vez sabia que não poderia funcionar. Não podia partir por semanas e esperar que não fizesse perguntas. Não podia esperar sua confiança, amor e lealdade e não lhe dar nada em troca.
Mas podia confiar nela depois do que aconteceu? Surpreendentemente, queria confiar. Olhando para trás, percebeu que, assim como ele, ela estava em uma situação impossível. Ele deu informação suficiente para estar em perigo, mas não o suficiente para tomar a decisão correta. Desejava que não tivesse admitido sua presença para sua amiga? Sem dúvida. Tinha sido claro em suas instruções, mas não podia culpá-la por fazer o que fez, suas motivações tinham sido puras.
Se alguém era culpado, era ele. A colocou nessa posição impossível não dizendo a ela o que estava fazendo ali. Mas seu maldito primo lhe deu escassas possibilidades.
— Deixe que eu me preocupo com minha esposa — disse Eoin, sentindo culpa com suas palavras. Fin tinha posto uma parede entre sua amizade, mas Eoin colocou outra. — Além disso, ela não pode exatamente entrar em contato com seu pai... se ela soubesse onde ele está.
Antes que Fin pudesse responder, Eoin olhou para a porta e viu Eachann observando-os.
Há quanto tempo ele estava parado ali?
— Sinto muito, — disse o menino. — O Laird — até agora tinha se negado a chamá-lo avô — disse que a reunião terminou. Eu posso voltar mais tarde se você quiser jogar novamente.
Caralho, o jogo! Eoin quase o esqueceu.
— Não, — disse rapidamente, e provavelmente muito ansioso — terminamos aqui.
A missiva para Bruce podia esperar.
Fin assentiu com a cabeça para Eoin e saudou Eachann com um sorriso e uma alegre saudação. Mas Eoin não perdeu o brilho de dor — e algo mais? — que cruzou seu rosto quando viu pela primeira vez o menino de pé ali.
Houve um momento incômodo de silêncio depois de que Fin partiu, onde Eoin tentou averiguar o que dizer. Não queria dizer nada de errado ou muito intenso. O menino estava tão assustado quanto um potro.
Não era o único. Porra, como poderia um menino de cinco anos tê-lo amarrado?
O menino arrastou os pés e Eoin percebeu que estava olhando para ele. Ele se levantou e foi até o aparador para pegar o jogo.
— Sua mãe disse que era um bom jogador — colocou o tabuleiro debaixo do braço e as peças em suas mãos. — Ela disse que pode vencê-la.
Quando Eachann não disse nada imediatamente, Eoin se voltou para encontrá-lo aparentemente ponderando suas palavras.
— Sim, mas... — deixou morrer suas palavras. — Ela pode fazer mais soma que eu em sua cabeça. Só posso recordar cinco ou seis. Pode fazer até dez.
Eoin sorriu. Seu filho tinha os ingredientes de um bom político. Baixou o tabuleiro e começou a colocar as peças.
— Não acredito que sua mãe realmente tenha aptidão para o jogo.
Eachann encontrou seu olhar conspiratório, e o sorriso que ele deu um momento depois fez o peito de Eoin apertar como se fosse esmagado por um torno.
— É muito impaciente — disse Eachann. — E...
— Sempre quer ir ao ataque — terminou Eoin por ele.
A tentativa de sorriso de Eachann se converteu em um sorriso, e Eoin sentiu como se acabasse de engolir um raio de sol.
— Mamãe também fez um jogo para você? — Perguntou Eachann, recolhendo uma das peças belamente esculpidas e pintadas.
— Não, eu achei isso em... — Oban, concluiu para si mesmo, quando a verdade o atingiu. Tinha visto o jogo em uma tenda em Oban uns seis meses depois que Margaret se foi. Era o único do gênero, havia dito o proprietário. Um sacerdote o levou para trocar por alguns bens.
Foi assim que ela partiu, percebeu. Sempre se perguntou como encontrou o dinheiro para partir tão rápido. Eoin agarrou uma das peças, vendo cada golpe carinhoso que tinha posto nisso, sentindo que sua garganta apertava.
— Sim — disse bruscamente depois de uma longa parada, notando que Eachann o olhava com um olhar de perplexidade em seu rosto. — Fez para mim.
Ele simplesmente nunca esteve aqui para que o desse.
— Há algo errado? — Ele perguntou.
Eoin respirou profundamente e sacudiu a cabeça, tentando limpar a emoção de seus pulmões e de sua garganta. Mas o arrependimento queimou. Perguntou-se se alguma vez pararia.
— Não, agora... está preparado para me mostrar o que você sabe? Eu não vou facilitar para você.
Um rosto tão sério quanto o dele o olhou de volta.
— Eu também não vou facilitar para você.
Eoin sorriu.
— É bom saber. Eu acho que fui avisado.
Depois de uma dúzia de movimentos, Eoin percebeu de que ele era muito bom, e seria melhor que se concentrasse se não quisesse ser derrotado por um menino de cinco anos.
— As roupas de cama são trocadas às sextas-feiras e lavadas aos sábados — disse a serva inutilmente. — Será verificado se existem traças e remendados se necessário.
Margaret tentou reprimir seu temperamento, mas por que cada petição, por menor que fosse, enfrentava resistência?
Ela sorriu.
— Só pensei que desde que notei uma pequena traça no lençol, poderia pegar emprestado linhas que coincidisse com a cor e tentar fazê-lo agora.
— Hoje é quarta-feira — disse a mulher obstinadamente.
Margaret apertou os dentes, seu sorriso vacilante.
— Sim, sou consciente disso.
— Há algum problema?
Ambas as mulheres saltaram um pouco ao ouvir a voz de Eoin atrás delas. Aparentemente tinha se materializado no corredor do nada. Ela franziu o cenho para ele por esgueirar-se, mas então notou sua expressão. Pondo uma mão no seu braço, rogou-lhe silenciosamente que não interferisse.
— Não — disse brilhantemente, olhando à serva ruborizada. — Não há problemas. Morag e eu estávamos discutindo a programação da troca de roupa de cama.
Claramente Eoin quis dizer algo mais, mas com um endurecimento furioso de sua boca aceitou sua vontade. Assentiu com a cabeça, o que Morag tomou como uma ordem para sair, descendo as escadas correndo como se não pudesse escapar rápido o suficiente.
— Acho que você a assustou — disse Margaret com ironia.
— Bom, — disse com um olhar sombrio para a escada, onde Morag tinha desaparecido. Seu olhar se voltou para o dela. — Realmente foram horríveis para você, não foram?
Não era tanto uma pergunta, e sim uma afirmação.
Um meio sorriso voltou a sua boca.
— Cresci com uma pele grossa. Foi mais fácil quando percebi que eles não me odiavam, odiavam que eu fosse uma MacDowell.
— Você era minha esposa — disse amargamente.
Não tinha sido suficiente, então.
— É melhor agora. Sua mãe está fazendo um esforço por Eachann.
— E por você — fez uma pausa. — Não estava exatamente contente quando soube você tinha ido embora. Quando ela sugeriu que talvez fosse o melhor, deixei-a saber, em termos inequívocos, como estava errada — sacudiu a cabeça. — Cristo, sinto muito, Maggie. Não queria acreditar. Demônios, talvez não pudesse acreditar.
Suas sobrancelhas franzidas.
— Não entendo.
— Tinha tantas coisas me puxando para o outro lado, como eu poderia tê-la deixado? Necessitava que estivesse em um lugar onde pensava que estaria segura. — Assim poderia se concentrar no que tinha que fazer. Estranhamente compreendeu.
— Agora é diferente — ela disse. — Eachann ajudará. Nós dois precisamos dar tempo a eles.
Parecia compreender que estava lhe pedindo que não interferisse. Assentiu, mas não parecia feliz com isso.
— Falando de nosso filho — ele disse. — Têm razão sobre sua habilidade com um tabuleiro de xadrez. É notável para alguém tão jovem.
— Derrotou você também? — Não pôde ocultar sua alegria com a perspectiva.
Ele elevou uma sobrancelha.
— É óbvio que não. Mas tive que prestar atenção.
— O que é mais do que pode dizer que faz comigo, é isso?
Ele deu-lhe um sorriso torto que teria tirado seu fôlego, se ela não estivesse tão indignada.
— Eu não disse isso.
Ela franziu a testa.
— Mas você estava pensando isso.
Ele deu de ombros e seu sorriso se alargou.
— Ele gostou do meu jogo de xadrez. Na verdade, ele disse que se parecia com o dele — tirou algo de seu sporran e entregou a ela. — É familiar para você?
Ela permaneceu imóvel, contemplando com espanto a figura pintada que ele lhe dera. Era um pedaço do jogo que ela trabalhou tão duro para ele há tantos anos.
— Onde você conseguiu?
— Na cidade. Um sacerdote deu a um comerciante para vendê-lo. Pensei que era magnífico. Não posso acreditar que fez isso, Maggie. O artesanato é extraordinário — ele pegou a peça. — O rei— ele o sustentou, torcendo-o na mão. — Sou eu, não é?
Ela assentiu.
Ele balançou a cabeça.
— Deveria saber que havia uma razão pela qual a rainha tinha cabelo vermelho. — Ela riu.
— Queria me assegurar de que sabia quem estava no comando.
Ele a pegou nos braços.
— Você está bem?
Ele assentiu, e cobriu sua boca com um longo beijo antes de soltá-la.
— Hmm. Temos que falar sobre isso. Pode demonstrar isso esta noite. Mas primeiro há alguém que acredito que está ansioso para ver você.
Margaret não podia pensar em ninguém de Kerrera que estivesse ansioso para vê-la. Mesmo quando ele a levou para os estábulos e lhe disse para esperar, não adivinhou. Então, quando ele puxou o grande garanhão preto, seus joelhos tremeram e o sangue deslizou para seus pés em choque absoluto.
— Dubh?
Ao ouvir sua voz, as orelhas do cavalo se elevaram. Ela correu para frente e jogou os braços ao redor do animal assustado. E murmurou palavras tranquilizadoras contra seu sedoso pelo para acalmá-lo... e a si mesma. Quando finalmente levantou o rosto para encontrar com o divertido olhar de seu marido, seus olhos estavam úmidos.
— Você o manteve?
— Em realidade, Fin fez — isso não a surpreendeu. Fin nunca ocultou que queria o animal. — Devolveu-o quando voltei.
— Quer dizer quando os MacDougalls foram derrotados, e trocou de lealdade a Bruce?
Ele assentiu, e Margaret deixou que o assunto terminasse. Não queria falar de Fin nem de seu oportunismo. Estava muito contente de ter seu cavalo de volta.
— Deveríamos estirar as pernas? — Ele perguntou.
Ela duvidou.
— Seu joelho está forte o suficiente?
— Você é tão ruim quanto Helen.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Isso é uma resposta?
Ele revirou os olhos.
— Está bem. Eu prometo que vou pegar leve.
Foi uma tarde perfeita. Cavalgaram pelo extremo Norte da ilha e se sentaram em um afloramento de rocha por um tempo vendo os navios de pesca passarem em sua rota de volta do mar. Pela primeira vez, viu a beleza da ilha. Cada vez que passavam por alguém no caminho, Eoin fazia questão de parar e apresentá-la como sua esposa. Com o olhar terno e a mão colocada em seu cotovelo, estava se assegurando de que não houvesse nenhuma dúvida sobre sua importância para ele.
Estavam rindo enquanto subiam as escadas até a câmara da torre para mudarem de roupa para o jantar. Margaret zombava dele sobre o joelho subitamente dolorido que era o culpado por perder a corrida de volta para o castelo.
Foi Margaret quem abriu a porta, e foi ela quem soltou um grito com o que viu na cama.
Capítulo 26
O sangue de Eoin escorreu de seu rosto quando ouviu o grito de Margaret, mas se converteu em gelo quando viu a razão pela qual tinha gritado
Sua mandíbula se fechou com uma fúria invernal quando rapidamente tirou a manta — e o pássaro morto que estava nela — da câmara. Pediu a um dos servos que se desfizesse de ambos. Interrogaria a todos mais tarde, mas primeiro tinha que cuidar de sua esposa.
Ainda estava pálida quando entrou no quarto. Foi ao aparador e lhe serviu uma taça de uísque. Entregando-lhe disse:
— Beba isso.
Não discutiu e fez o que ele ordenou. Foi recompensado com um rubor em suas bochechas. Entregando-lhe a taça, riu nervosamente.
— Pelo menos, não precisamos adivinhar para quem era.
Eoin apertou a boca com fúria. Não, não havia nenhuma dúvida. Não tinha sido qualquer pássaro morto, tinha sido um corvo, o símbolo dos MacDowells.
— Vou averiguar quem foi o responsável.
A ameaça em sua voz deve tê-la preocupado. Pôs uma mão apaziguadora em seu braço, seus olhos dourados arregalados de preocupação.
— Tenho certeza de que não foi uma ameaça real. Provavelmente foi uma má ideia de alguma brincadeira ou uma maneira de me encorajar a voltar para casa. Mas esta é minha casa, Eoin, e não deixarei que me intimidem desta vez. Simplesmente me assustei. Não fez nenhum dano real. Isso só tornaria as coisas mais difíceis.
— Pelo amor de Deus, Maggie. Não pode pensar que vou ignorar isto? Chame como quiser, mas alguém queria assustá-la.
— Talvez, mas não sou tão facilmente assustada — um sorriso irônico virou sua linda boca. — Conheço-lhe muito bem para pensar que não fará nada. Só lhe peço que não reaja exageradamente. Não ganharei amigos se você submeter a todos em uma inquisição.
Sua boca caiu em uma linha sombria.
— Sei por onde começar.
Era óbvio a quem se referia.
— Duvido que Fin fizesse algo tão descarado.
Ele também não achava, mas ninguém ficou mais descontente ao saber da volta de Margaret.
O incidente lançou uma mortalha pelo resto da noite. Eoin explicou a seus pais o que tinha acontecido, e pareciam quase tão indignados quanto ele — especialmente sua mãe, que apontou como poderia ter sido fácil para Eachann encontrar o pássaro morto. Na verdade, ela parecia ter tomado a "mensagem" pessoalmente, e insistiu em interrogar os servos depois que Eoin tivesse terminado eles.
Seu pai mandou chamar Fin e seus outros guardas. Um por um, Eoin os interrogou, mas a maioria dos homens de seu pai, incluindo Fin, estavam ausentes toda a tarde patrulhando os mares do Norte e do Oeste. Não tinham retornado até o primeiro prato da refeição. O interrogatório foi inútil. Ninguém tinha visto nada.
Eoin vigiava de perto Margaret e Eachann — felizmente, o menino não estava ciente do que tinha acontecido — nos dias seguintes, raramente os deixava sozinhos, mas nada parecia errado. Sem dúvida, o covarde tinha sido alertado e voltou para seu esconderijo.
Margaret tinha razão. Eoin duvidava de que fosse uma ameaça real, mas sim algo que a fizesse se sentir incômoda, mas não se arriscaria. Sabendo que já não podia atrasar sua viagem a Dunstaffnage, estava debatendo se devia levá-los consigo, mesmo que ver de novo Campbell provocasse mais perguntas de Margaret, quando já se solucionou o problema. Embora não de uma maneira que seria mais fácil.
Respondendo a uma convocação de seu pai que o afastou do treinamento, Eoin se surpreendeu ao encontrar Campbell esperando-o na câmara. Embora o estimado explorador fosse conhecido por seus instintos ardilosos, quase misteriosos, Eoin percebeu imediatamente que não era uma visita de vizinhos. Os membros da Guarda das Highlanders se conheciam muito bem, por isso, mesmo que a expressão de Campbell não revelava nada, Eoin percebeu o nervosismo de seu amigo.
Para assegurar sua privacidade, e o que eles tinham a dizer não seria ouvido, o pai de Eoin pôs um guarda fora da porta.
Assim que ele saiu, a expressão de Campbell ficou séria.
— Eu sei que você deveria estar de licença, mas preciso da sua ajuda.
— Tem algo a ver com seu sogro?
— Como você sabia? — Perguntou com sarcasmo seco.
Eoin relatou a história do pescador. A mandíbula de Campbell estava apertada com tanta força que Eoin se perguntou se estava duvidando de sua decisão durante todos esses anos.
— Isso com certeza soa como ele. Tivemos alguns relatos de ataques de 'piratas' nas últimas semanas, bem como relatos de seus homens na área exigindo rendas de seus antigos inquilinos.
Eoin não se surpreendeu. Quando Bruce tinha sido exilado no outono de 1306, tinha financiado sua volta para reclamar seu reino enviando Eoin, Lamont, Boyd e MacGregor em missões similares para cobrar os aluguéis de seus inquilinos — ou antigos inquilinos segundo o rei Edward— em Ayr. Na época, eram auxiliados em seus movimentos pelo Campbell, que estava atuando como um informante no campo inglês, como agora, confiaram na informação de uma fonte secreta no castelo de Roxburgh que chamavam simplesmente como o Fantasma.
— Por isso estou aqui — explicou Campbell. — Eu precisava de você para me ajudar a preparar uma armadilha para eles. — Ele tinha um relatório confiável de que os MacDougalls estavam indo para Appin, a pequena península costeira entre Loch Linnhe e Loch Creran, e queria estar lá esperando por eles.
Os MacDougall tinham uma pequena fortaleza em uma ilhota ao largo da costa, em Loch Linnhe, chamado Stalker, com muitos membros leais do clã na área. Apesar da vitória de Bruce em Brander alguns anos atrás, e que tinha feito Dunstaffnage sua sede real nas Highlanders, ainda havia um monte de membros de clãs na área que simpatizavam com os antigos senhores de Argyll MacDougalls, que reinaram nessa parte da Escócia durante séculos. Antes da guerra, os MacDougalls eram o clã mais poderoso do Oeste. Mas sua infeliz decisão de apoiar os Comyns em vez de Bruce abriu uma brecha entre os MacDonalds e os Campbells.
— Quão rápido você pode estar pronto? — Perguntou Campbell.
Eoin começou a responder, depois hesitou. Margaret. Não era só porque ele não descobrira quem havia deixado o corvo, mas também sabia que sua partida provocaria perguntas. Perguntas que não queria responder, ou melhor, que não poderia responder.
Campbell confundiu seu silêncio.
— É seu joelho? Não se recuperou o suficiente para lutar?
Eoin sacudiu a cabeça.
—Voltei a treinar ontem.
— Então, está resistente em deixar sua esposa? — A percepção de Campbell deixou de surpreendê-lo faz tempo. — Vai querer uma explicação, e você não pode dar uma a ela.
Não era uma pergunta, e Eoin não precisava explicar. Tinha certeza de que Bruce não era o único que não queria que Margaret soubesse o que ele fazia. Eoin poderia estar disposto a confiar nela de novo, mas isso não significava que seus irmãos sentissem o mesmo.
Amaldiçoou, passando os dedos pelo cabelo. Por que diabos tudo tinha que ser tão complicado?
— Não deveria ter vindo — disse Campbell. — Necessitam de mais tempo. Posso encontrar outra pessoa. Talvez Falcão...
— Você não tem tempo para ir encontrar Falcão e estar em posição ao anoitecer — disse Eoin categoricamente.
— Eu tenho meus irmãos. Eles e alguns outros guardas serão suficientes.
Eoin sabia que Arthur se referia a seus irmãos Dugald e Gillespie, que serviram ao rei com Arthur em Dunstaffnage. Ambos eram guerreiros formidáveis.
Mas não eram a Guardas das Highlanders.
Este era seu trabalho — sua responsabilidade— e ele com certeza não deixaria um de seus irmãos sair sem uma boa causa. Uma ameaça hipotética e o desejo de evitar conflitos não eram suficientes. Se algo acontecesse porque ele não estava lá, seria o responsável.
Eram apenas alguns dias no máximo. Seu pai protegeria Margaret e Eachann com sua vida. E se Margaret queria saber aonde se dirigia...
Caralho, ia ter que lidar com isso em algum momento. Poderia ser agora.
— Me dê meia hora e estarei pronto.
— Mas e sua esposa?
— Eu vou resolver. — Só desejava saber como.
Não outra vez.
Margaret olhava para Eoin em choque, dizendo a si mesma que não reagisse exageradamente. Mas não podia escapar da sensação de que tudo estava acontecendo de novo. O chão da câmara de repente pareceu como se fosse um navio que balançava no oceano. Sua cabeça estava girando.
— Tenho que partir.
Ela sabia que algo assim aconteceria quando reconheceu o homem passando pela porta como um dos guerreiros de Dumfries. Durante o cerco, ele estava mais calmo do que os outros e parecia se misturar ao fundo, então não o notou imediatamente. Arthur Campbell, lembrou-se de Eoin chamando-o. Era o irmão mais novo de Neil Campbell, o Laird que estava com Robert Bruce anos atrás no Castelo de Stirling e que ainda estava ao seu lado agora.
Margaret sentiu uma pontada de inquietação deslizar pelo pescoço, sentindo que o mundo real estava prestes a se intrometer. Mas se essa era sua primeira prova, tinha sido um fracasso até agora. Ela percebeu que ele não lhe disse nada sobre onde ia ou o que estava fazendo. No escuro...
Eoin parecia nervoso.
— Deus, Maggie, não me olhe assim. Eu odeio sair assim, mas tenho que ir. São só alguns dias no máximo. Estará a salvo. Meu pai se encarregará pessoalmente de que você e Eachann estejam protegidos.
— Isso não será necessário.
— Sei que pensa que não foi nada, mas não vou me arriscar...
— Foi Marjory — era sua vez de ficar chocado. Ele se inclinou para olhar para ela. — Eu estava vindo lhe contar, mas seu pai disse que você estava em uma reunião e não podia ser incomodado. — Agora ela sabia o porquê. Mais segredos.
— Como você sabe?
— Eachann a viu entrando na habitação com um "presente." Ele perguntou a ela sobre isso hoje, quando Marjory veio passar a tarde com a mãe trabalhando na nova tapeçaria.
Eoin xingou.
— Sua mãe teve a mesma reação, embora não tão claramente. Nunca a tinha visto tão zangada. Tirei Eachann da sala, mas Marjory partiu pouco depois chorando. Tenho certeza de que não se repetirá o incidente.
— Sinto muito, Maggie — negou com a cabeça, furioso. — Droga, minha própria irmã!
— Não têm nada para se desculpar. Marjory não é sua responsabilidade.
— Falarei com Fin quando voltar.
— Não. Isso só vai piorar. Além disso, suspeito que o matrimônio de sua irmã não precisa de mais desafios.
Talvez o mesmo pudesse ser dito sobre ela. Ela queria desesperadamente que Eoin confiasse nela, mas talvez estivesse perguntando demais. Talvez o perdão fosse tudo o que poderia esperar?
Isso seria suficiente?
Em seu coração sabia que não. Não precisava saber todos os detalhes, mas não podia cortá-la da metade de sua vida como fizera antes. Não agora que ela sabia a diferença. Havia algo que ele estava escondendo. Alguma coisa importante. Mas não podia forçá-lo a confiar nela.
Ela se virou.
— Eu te vejo quando você voltar.
Agarrou-a pelo cotovelo para virá-la de costas.
— Não seja assim, Maggie. Eu quero te dizer, mas eu não posso.
Ela escondeu seu rosto para que ele não visse sua decepção e dor.
— Eu entendo.
— Não, você não entende — disse, voltando seu rosto para o dele. — Nem deveria. É só... Droga, é complicado.
Ela assentiu, não confiando em si mesma para falar. Não sabia se começaria a chorar ou começaria a lançar demandas e acusações contra ele. Mas nenhum dos dois faria nenhum bem. Só seria pior.
Paciência, recordou-se. Mas por quanto tempo?
Eoin chegou até o cais antes de se virar. Não podia fazer isso. Não podia deixá-la assim.
Parecia muito com a última vez, exceto que talvez dessa vez fosse pior. Ele não tinha acusações e exigências para alimentar sua raiva, para se distrair e se convencer de que estava fazendo a coisa certa.
Não estava fazendo a coisa certa. Tudo o que podia pensar era na dor e na decepção em seus olhos quando ele havia dito. Um pedaço de pedra se formou em seu peito, e só se tornou mais pesado quando a deixou de pé na escada junto com seus pais, agarrando a mão de Eachann como uma tábua de salvação. Vê-la tão vulnerável o comia por dentro. Margaret era forte, confiante, irreprimível. Estava rompendo seu coração, droga. Exatamente como fez há seis anos.
"Não pode funcionar... "
Tinha razão, se quisessem ter uma oportunidade, precisava confiar nela.
— Tenho que voltar — ele disse. Campbell já tinha saltado no birlinn e estava preparando o navio para a viagem. Curiosamente, não parecia surpreso pelo pronunciamento de Eoin.
— Você esqueceu alguma coisa?
— Sim, de dizer a minha esposa aonde vou — a admissão contundente provocou só uma sobrancelha arqueada de Campbell. — Têm alguma objeção?
O outro homem encolheu os ombros.
— Não, se você não tiver.
Em outras palavras, Campbell confiava em seu julgamento. Eoin sabia que todos eles tiveram suas vidas nas mãos um do outro em algum momento durante os últimos sete anos e meio, mas de alguma forma isso parecia diferente. Reconheceu a demonstração de fé com um movimento de cabeça.
A boca de Campbell se elevou em um sorriso irônico.
— Casar com a filha do inimigo não é fácil, não é?
Eoin lhe devolveu o sorriso, apreciando a compreensão que só podia provir de alguém na mesma posição.
— Totalmente de acordo. Me dê alguns minutos.
Subiu as escadas de dois em dois, com a esperança de apanhá-la no pátio, mas o pequeno grupo que se despediu do que supostamente era uma curta viagem a Dunstaffnage já se dispersara.
Quase tropeçou em seu pai quando subia as escadas para a casa da torre.
— Você esqueceu alguma coisa, filho?
Eoin sacudiu a cabeça.
— Viu Margaret?
— Ela foi para os estábulos. Acho que ela disse que ia dar uma volta.
Seu peito apunhalou com uma pontada de culpa. Caralho, realmente deve tê-la magoado. Ele se lembrava que cavalgar foi seu primeiro impulso quando a irmã de Comyn a havia magoado tantos anos atrás.
Encontrou-a no estábulo de Dubh e com um dos moços do estábulo, prendendo a sela ao redor do cavalo.
Ela pulou quando o ouviu subir atrás dela.
— Eoin, eu pensei que você tinha... Me assustou — pensou que vislumbrou uma pontada de medo em sua expressão antes que se convertesse em preocupação. — Há algo de errado?
— Sim — ele disse ao moço que trouxesse uma cenoura para o cavalo e lhes desse alguns minutos de privacidade. Assim que o moço se foi, a surpreendeu novamente, puxando-a para seus braços. — Esqueci de te dizer uma coisa.
Piscou, evidentemente confusa por seu estranho comportamento. A luz através da janela aberta projetava sombras suaves sobre suas feições delicadas. Sua pele era tão suave e pálida que quase parecia translúcida.
— Sim?
— Não me perguntou aonde eu ia.
Sustentou seu olhar durante um longo pulsar do coração.
— Pensei que era um segredo.
— É. Mas confio em você. — Ela arregalou os olhos.
— Confia?
Ele tinha vergonha da surpresa em sua voz.
— Sim. Quero que seja diferente desta vez — queria fazer dela parte de sua vida, toda sua vida.
— Eu também — ela disse, a surpresa tornando-se suave com a felicidade.
Ele respirou profundamente. Não era fácil compartilhar coisas que estava acostumado a guardar para si mesmo.
— John de Lorn está causando problemas de novo. Há rumores de que seus homens estão na área, tentando recolher algumas moedas. Temos razões para pensar que vão chegar a suas antigas terras em Appin. Vamos preparar uma armadilha para eles e ver se podemos descobrir o que planejaram.
Não precisava saber os detalhes, a ideia era suficiente. Mais que suficiente. Embora não estivesse rompendo tecnicamente sua promessa a Bruce, não tinha lhe falado da Guarda das Highlanders, sabia que seu primo não aprovaria que ele revelasse sobre suas atividades.
Mas Eoin tinha a intenção de ter uma conversa séria com Bruce a próxima vez que o visse. Ou ele deixava romper sua promessa, ou deixaria a Guarda. O segredo de seu papel no exército de Bruce era muito grande para manter escondido dela. Talvez não precisasse conhecer todos os detalhes operacionais, mas precisava saber no que estava envolvido.
Margaret tinha razão. Devia-lhe um dever tanto como devia a seu primo. Eoin não tinha feito de sua esposa uma prioridade antes, mas isso ia mudar.
Assegurou-se de transmitir a seriedade do que lhe dizia.
— Ninguém que não esteja envolvido na missão sabe, exceto você, Margaret — nem sequer havia dito ao seu pai. — Essa é a forma em que nós trabalhamos — quanto menos pessoas souberem, menor a possibilidade de algo dar errado.
Ela mordeu o lábio, a preocupação obscurecendo suas feições.
— Será muito perigoso?
— Não é nada que eu não tenha feito cem vezes antes. Eu não vou mentir para você, há sempre um elemento de perigo, mas é muito reduzido por termos o elemento surpresa. — Ele sorriu.
— É melhor ser o pirata, recorda?
A brincadeira a fez sorrir.
— Acreditava que você era Vikings e Highlanders. Qual deles é o pirata? — Ele sorriu de novo.
— Ambos.
Ela riu e ele deu um beijo suave nos lábios dela. Um beijo suave que quase se converteu em algo mais, quando suas mãos se envolveram ao redor de seu pescoço e seus seios estiveram contra seu peito. Ele se esforçou para fugir do contato, seu pênis instintivamente procurando a doce junção entre suas pernas.
Ele segurou seu traseiro, levantando-a contra ele, enquanto sua língua acariciava cada vez mais profundamente em sua boca. Mas não foi o suficiente. Queria estar dentro dela. Queria sentir suas pernas ao redor de sua cintura enquanto entrava e saía dela.
Era só encaixar um pouco seus quadris e jogá-la na pilha de feno atrás dela. Mas Campbell estava esperando por ele.
Recuou, com um pouco de esforço.
— Tenho que ir.
Ela assentiu um pouco aturdida, suas feições ainda exibindo a marca de excitação. Seus olhos estavam pesados, suas pupilas escuras, seus lábios vermelhos e inchados, sua respiração irregular... Cristo, ia matá-lo. Ele começou a sair, mas ela o chamou.
— Eoin — olhou por cima do ombro. — Obrigada — seus olhos nos dele, e o sorriso que se espalhava por seu rosto ele nunca esqueceria. Era tão brilhante como um diamante raro, mas mil vezes mais precioso para ele. — Eu te amo — ela disse suavemente.
Um poderoso calor se estendeu por seu peito, enchendo-o de uma sensação de alegria que nunca experimentou antes. Ele fez a coisa certa.
— Eu também te amo, leanbh.
Alguns momentos depois, ele saiu, deixando as sombras do estábulo — e sua janela aberta — para trás.
Capítulo 27
As emoções de Margaret tinham passado do desespero e angústia à alegria e felicidade em questão de minutos. Se não fosse pelo perigo e a preocupação que acompanhavam à revelação, sua felicidade teria sido completa.
Pela primeira vez desde os primeiros dias de seu matrimônio, tinha esperança no futuro. A proximidade além do quarto que ela desejava parecia possível. Ela e Eoin tinham dado um passo importante. Sua paciência tinha sido recompensada, e ele confiou nela. Talvez não com tudo, — sabia que havia algo maior e mais significativo que não estava lhe contando — mas era um primeiro passo importante.
Confiou, e prometeu ser digna dessa confiança. É óbvio, não esperava que esse voto fosse posto à prova menos de vinte e quatro horas depois.
Tinha passado a manhã com Lady Rignach e o administrador, enquanto Eachann trabalhava com seu novo tutor. Margaret ficou surpresa ao ser incluída na reunião, e ficou ainda mais surpresa quando Lady Rignach pediu sua opinião sobre algumas compras. Aparentemente, ela descobriu como Margaret pagou às freiras do convento por ensiná-la a ler e escrever.
Margaret não acreditava que a orgulhosa dama renunciasse ao seu papel de dama do Castelo, mas o fato de que estivesse disposta a incluir Margaret em tudo mostrava uma clara intenção de sua parte de fazer ela se sentir como parte da casa. E talvez, algum dia, como parte da família.
A pessoa mais resistente a isso pediu para vê-la depois da refeição do meio-dia. Enquanto Lady Rignach levava Eachann ao estábulo para ver um novo potro, Marjory sentou-se com Margaret no jardim para se desculpar.
Embora Marjory fosse apenas um ano mais velha do que os vinte e cinco anos de Margaret, os últimos anos tinham cobrado seu preço. Poucos vestígios de beleza juvenil permaneceram atrás das linhas de decepção e falta de amor. Margaret não sabia o motivo, se era seu casamento ou sua incapacidade de ter um filho até agora o responsável por isso. Talvez ambos. Mas a bela jovem mimada e orgulhosa era agora uma sombra abandonada.
— Não queria assustá-la — disse Marjory, com as mãos no colo. — Eu somente queria... — seus olhos se encheram de lágrimas. — Que fosse embora. Como da última vez.
— Foi tão perfeito para você quando eu parti?
Margaret falou baixinho, mas os olhos de Marjory se arregalaram como se as palavras fossem uma explosão. Ela parecia quase surpresa. A primeira lágrima deslizou por sua bochecha e seu lábio inferior tremeu quando ela balançou a cabeça.
— Não. Não foi perfeito absolutamente. Fin nunca me amou. Acho que ele se casou comigo só para estar mais perto de Eoin. Quando você se foi, ele me culpou.
Margaret franziu a boca.
— Isso é ridículo. Você sabe por que parti — era um desafio, não uma pergunta.
Marjory assentiu com a cabeça, agora as lágrimas caíam livremente.
— Sim, eu vi tudo, exceto que não queria acreditar. Pensei que ele me amava. Convenci-me de que você deveria ter feito algo para que a beijasse. Mas em meu coração sabia.
Margaret suspirou profundamente, quase sentindo pena dela.
— Então por que se casou com ele?
A outra mulher encolheu os ombros, seu peito se elevou com seus soluços, e secou algumas lágrimas com o dorso de sua mão.
— Pensei que uma vez que você tivesse ido, poderia fazer com que ele me amasse. Pensei que quando lhe desse um filho... — sua voz caiu. — Fin disse que sou estéril, mas sei que este bebê foi um sinal e da próxima vez...
O coração de Margaret doeu pela outra mulher, mas temia que Marjory estivesse depositando todas suas esperanças na coisa errada. Um bebê não faria com que seu marido a amasse. Nem sequer estava segura de que Fin fosse capaz desse tipo de emoção. Não estava surpresa de que ele tivesse jogado a culpa pela falta de um filho em sua esposa.
Marjory olhou para ela.
— Mas então você voltou e ele quer você novamente.
Margaret negou com a cabeça.
— Talvez ele quisesse uma vez, mas isso foi há muito tempo. Eu acho que ele me despreza mais do que qualquer outra coisa. Ele não me olha assim agora.
Agora olhava para ela como se não pudesse esperar para vê-la partir. Havia algo frio em seus olhos... Ela deu um arrepio involuntário, mas não tinha intenção de deixá-lo assustá-la dessa vez.
Marjory a olhou fixamente com o rosto cheio de lágrimas.
— E se for melhor em esconder?
Margaret negou com a cabeça.
— Não acredito — mas se fosse verdade ou só estava na imaginação de Marjory, não importava. Isso nunca aconteceria. — Amo seu irmão, Marjory. Sempre o amei. Não há mais ninguém para mim desde o primeiro momento em que o vi.
A outra mulher a olhou nos olhos, talvez vendo a verdade pela primeira vez. Margaret não era uma ameaça. Se queria culpar alguém por seu infeliz matrimônio, teria que procurar outra pessoa. Margaret, com a sensação de ter transformado uma parte importante em sua cunhada, abandonou o jardim com uma sensação ainda maior de otimismo para o futuro.
Mas quando parecia que finalmente estava encontrando uma forma de se encaixar em sua nova vida, sua vida antiga voltou ameaçando destruir todas as incursões que tinha feito.
Estava a caminho dos estábulos no final da tarde quando notou um monge caminhando em direção a ela através do pátio do portão do mar. Usava o manto marrom de um frade e, embora o céu estivesse limpo, um capuz cobria sua cabeça, escondendo o rosto. Mas isso não foi o que chamou sua atenção. Foi o jeito que ele andava. Ereto. Orgulhoso. Como um guerreiro, não um pobre e humilde eclesiástico.
Curiosa, mas também um pouco incômoda, olhou ao seu redor para assegurar-se de que não estavam sozinhos. O pátio não estava cheio, mas meia dúzia de guardas do Laird estavam praticando a pouca distância.
Tranquilizada pela presença deles, começou a saudar o recém-chegado, que agora estava só a alguns metros de distância.
— Bem-vindo, Padre, poderia ajudá-lo... — sua voz se apagou quando pôde ver seu rosto. Seu fôlego ficou preso no peito.
— Irmão — corrigiu seu irmão Duncan em voz baixa, tomando suas mãos nas suas como se estivesse abençoando. — Não sou padre.
Margaret estava muito atônita para reagir. Congelou no lugar.
— Cristo, pequena Maggie. Quer que me joguem no calabouço? Finja que você está me dando instruções para a igreja.
Soltou suas mãos, e se recuperou o suficiente para perceber de que tinha pressionado uma nota em sua palma. Deslizando-a nas saias com uma mão, apontou a porta com a outra.
— O que faz aqui? — Ela sussurrou.
Mas ele já estava indo em direção à porta.
— Resgatando você — disse ele na despedida. — Esteja preparada.
O coração de Margaret seguia tremendo descontroladamente enquanto cuidadosamente desdobrava o pergaminho em sua câmara alguns minutos depois. As letras apressadamente arranhadas de tinta negra se misturavam em sua cabeça. Teve que ler várias vezes para perceber que seu irmão e seus homens estariam ancorados do outro lado da ilha amanhã, pouco depois do crepúsculo para "resgatá-la" e a Eachann e levá-los a Ilha de Man, onde poderiam reunir-se com sua família.
Aparentemente, seus irmãos se renderam no Castelo de Buittle a Bruce e se juntariam ao seu pai no exílio. Duncan estava obviamente com a impressão de que ela e Eachann tinham sido forçados a vir com Eoin.
Margaret amaldiçoou seu pai, sabendo que ele era o responsável por isso. Perguntou-se se Dugald MacDowell perceberia o perigo que tinha posto seu filho lhe dando essa impressão... e os problemas que causaria a ela. Embora Margaret estava comovida pelo risco que assumiu seu irmão para vir em sua ajuda, sua aparição ia fazer as coisas difíceis.
Agora, Eoin não era o único com segredos.
Poucas horas antes do amanhecer, Eoin subiu pelas escadas do portão do mar. Seu joelho gritava em agonia a cada passo, mas não se importava. Tinha a sorte de estar vivo e sabia disso. Entretanto, estava furioso. Mal trocou uma palavra com Campbell todo o caminho de volta. Mas podia perceber a pergunta do outro, uma pergunta que Eoin não queria ouvir.
Não foi ela, droga!
Mas, como tudo tinha dado tão errado? Não só o plano perfeito de Eoin de pegar os homens de Lorn foi frustrado, eles quase foram pegos em uma armadilha.
Eoin e Campbell, junto com uma equipe dos melhores guerreiros de Campbell, cerca de quinze homens no total, estavam esperando em posição na cordilheira ocidental de Glen Stockdale, com vista para Loch Linnhe e o forte de Stalker ao anoitecer, depois de deixar Gylen. Dali podiam ver os homens de Lorn desembarcar na costa de Appin e então estarem prontos para um ataque surpresa quando os MacDougalls se dirigissem para seus inquilinos em Glenamuckrach.
Eoin e a equipe de guerreiros ficaram esperando a primeira noite sem resultado. Aproveitando algumas cavernas próximas para descansar durante o dia, emergiram ao anoitecer para tomar posição para a segunda noite.
Os MacDougalls estavam esperando por eles. Uma chuva de flechas tinha caído sobre eles pelas costas. Os homens de guarda estavam olhando para o Oeste, mas os MacDougalls tinham tomado uma rota tortuosa pelo Leste, aproximando-se de Appin por terra e não por mar. Quase como se soubessem que alguém os estava esperando.
Cinco dos homens de Campbell foram mortos nos primeiros minutos. Campbell levou uma flecha nas costas, mas o grosso couro e os pregos de aço providencialmente situados em seu cotun impediram de afundar em sua carne. Eoin teve a sorte de usar um elmo de aço e uma cota de malha, ou a flecha que o atingiu logo abaixo da orelha o teria matado.
Mesmo que sua pequena força de combate tenha sido reduzida em mais de um terço nos primeiros minutos, eles se reuniram e lutaram contra os atacantes, que estavam em menor número, eram pelo menos dois para um. Os MacDougalls acabaram por recuar, mas com mais três homens de Campbell mortos e outros quatro feridos, a perseguição não era uma opção.
Nem todos eram MacDougalls, uma voz lembrou a ele. Desejava que essa voz se calasse. Não precisava recordar que tinha visto Duncan, o irmão de Margaret e, pelo menos, a uma dúzia de MacDowells lutando ao lado de seus longínquos parentes.
Não significava nada. Dificilmente poderia ser considerado uma surpresa que os MacDowells se uniram aos MacDougalls. Todos sabiam que a “obediência” de MacDowell não duraria.
Ele e Campbell tinham reunido seus homens e navegado de retorno a Gylen, se não em derrota, então era algo malditamente perto disso.
Como caralho tudo tinha dado tão errado?
Alguém havia avisado? Mas isso não era possível. Ninguém conhecia o plano deles. Exceto...
Eoin sabia o que pensava Campbell, porque pensava o mesmo, caralho, mas Margaret não podia tê-los traído. Mesmo que ele acreditasse que ela fosse capaz, o que não fazia, a menos que tivesse asas e aprendido a voar, não houve tempo para ela contar a ninguém.
Tinha que haver outra explicação. Ele encontraria. Tanto por Campbell quanto para sua própria paz mental.
Seu pai devia ter seus homens esperando por ele, quando o portão trancado foi aberto no momento em que Eoin chegou ao topo da escada. Teria ido direto a cozinha para livrar-se de toda a imundície e sangue da batalha, mas seu pai o esperava em sua câmara. Não estava sozinho, Fin estava com ele. O olhar de seu pai varreu-o, absorvendo todos os detalhes da aparência de Eoin.
— Você está ferido?
Eoin negou com a cabeça. A dor no joelho era de esperar, e não era nada que não pudesse suportar. Tinha lutado estando muito pior.
— O sangue não é meu.
Seu pai assentiu, seu rosto ficando sombrio.
— Pela sua expressão, suponho que sua viagem não foi bem-sucedida.
Eoin franziu o cenho, com um olhar em Fin.
— Realmente.
A careta de seu pai se aprofundou. Compreendendo a comunicação silenciosa de Eoin, explicou.
— Fin está aqui por uma razão. Tem uma informação complicada. — Eoin se voltou para seu irmão adotivo para obter uma explicação.
— Você não vai gostar — disse Fin sem rodeios. — Pode ser que haja uma explicação.
Dormir algumas horas em uma caverna, ser emboscado e quase morto não era propício à paciência.
— Seja o que for que você tenha para dizer, Fin, apenas diga.
— Sua mulher foi vista conversando com um monge ontem.
Cristo, aonde Fin queria chegar com isso?
— E o que tem isso de importante?
— Havia algo estranho no homem. Segui-o até a igreja da aldeia, mas me golpeou por trás. Quando despertei, ele se foi — pela forma em que Fin e seu pai o olhavam, Eoin sabia que não ia gostar do que Fin diria a seguir. — Vi-o antes que me golpeasse. Era Duncan MacDowell.
A expressão de Eoin não deu indício algum do golpe que Fin lhe deu, mas em seu interior se sentia como se todos os ossos de seu corpo estivessem quebrados, se fragmentando em um milhão de pedaços. Permaneceu de pé por pura força de vontade, mas poderiam tê-lo derrubado com um empurrão.
Não significava nada.
A menos que isso acontecesse.
Margaret despertou com o calor do sol que fluía através das janelas. Ela se estirou preguiçosamente, sentindo-se um pouco satisfeita como gato, e abriu os olhos.
Deu um salto repentino quando viu o homem sentado no canto olhando-a, mas depois sorriu quando percebeu quem era. O alívio a invadiu.
— Eoin! Está de volta! — Ela franziu o cenho, olhando para ele nas sombras. — Por que está sentado aí? Você me assustou.
Ele permaneceu perfeitamente quieto, não reagindo às palavras dela.
— Vendo você dormir. Parece um anjo.
Havia algo estranho, quase acusatório, em sua voz que fez sua pele arrepiar. Ele se levantou e caminhou para a cama.
Ofegou por sua aparência e se sentou rapidamente. O sangue e a sujeira estavam respingados por todo o rosto e roupa. Parecia um homem que acabava de sair das fossas do inferno.
— Meu Deus, o que há de errado? Você está ferido?
Tentou alcançá-lo, mas ele pegou seu pulso e levou sua mão firmemente de novo para um lado.
— Estou bem.
Seu coração pulou. Apesar de suas palavras, ela soube pela intensidade de seu olhar, que algo estava errado, muito errado. Margaret estava acostumada a ficar presa no porão daqueles olhos azuis-escuros penetrantes, mas isso era diferente. Parecia um inseto sob uma lente de aumento, como se todo movimento estivesse sendo examinado.
— O que aconteceu?
— Isso é exatamente o que quero saber.
— Você encontrou os MacDougalls?
— Pode dizer-se que sim. E você, Margaret? — Ele mudou de assunto. — O que fez enquanto eu não estava?
Parecia haver um propósito para sua pergunta que ela não entendia. Respondeu hesitante: Tudo a respeito dele a fazia ser hesitante. Estava tão tenso quanto um arco. Os músculos de seus braços e ombros tensos.
— Sua mãe pediu minha ajuda ontem com o administrador, enquanto Eachann trabalhava com seu novo tutor. Acredito que estava no céu — ela riu, mas ele estava estranhamente silencioso.
— Algo mais?
A pergunta parecia inofensiva, mas ela sabia que não era. Tentou não pensar na nota que havia sido reduzida em brasas em seu braseiro.
— Falei com o Marjory. Desculpou-se. Acredito que realmente sente muito.
Uma vez mais, nenhuma reação, exceto que ele continuou observando, examinando, com uma intensidade inquietante. Seu coração começou a pulsar mais rápido. Sabia alguma coisa ou era a culpa que a fazia imaginar?
Odiava seu pai por colocá-la nesta posição! O dever e a lealdade com seu marido lutaram com a lealdade para com seu irmão. Queria contar a Eoin sobre Duncan, mas não queria pôr em perigo seu irmão.
Poderia confiar em Eoin para que não fizesse nada com a informação de que Duncan estava na área?
Sabia a resposta. Se dissesse a Eoin ele estaria na mesma posição que ela. Apanhado entre lealdades divididas. Se ele usasse o conhecimento, ele a trairia, mas se ele não o fizesse, e Duncan fizesse algo contra Bruce, ele se sentiria como se tivesse desapontado o rei.
Margaret não o colocaria nessa posição de ter que escolher entre duas lealdades. Diria a ele, mas quando Duncan se fosse.
— Nada mais?
Se era sua persistência ou, por seu tom, não sabia, mas todos os seus instintos se ativaram. Entretanto, não prestou atenção à advertência e sacudiu a cabeça.
Seus olhos nunca saíram de seu rosto.
— Os homens de Lorn nos atacaram ontem à noite.
— Oh, Eoin! — Ela moveu-se de joelhos, desejando lançar seus braços ao redor dele pelo alívio de que não tinha sido machucado ou pior, mas ele se retirou rigidamente.
— Acredito que foram avisados.
Ela arregalou os olhos.
— Mas como? Pensei que disse que ninguém conhecia seus planos.
— Ninguém sabia.
Foi então quando compreendeu sua fria saudação.
Ela afastou-se, olhando-o com horror.
— Não acreditará que eu disse algo? — Mas estava claro que era exatamente o que ele pensava. Uma onda de dor se estrelou contra ela, ameaçando arrastá-la para baixo, mas se obrigou a se manter calma. — Não fui eu, Eoin. Conheço o perigo, nunca trairia sua confiança.
Seus olhos exploraram os seus.
— Quero acreditar nisso — ela levantou o queixo.
— Então faça isso. É a verdade.
— E a visita de seu irmão ontem? A visita que não mencionou. Qual é a verdade sobre isso, Margaret?
O sangue deslizou de seu rosto. Ele sabia. Oh Deus, deveria ter contado. Ele devia estar pensando o pior. Como poderia fazê-lo entender?
— Eu queria te dizer, mas eu não queria colocá-lo em uma posição desconfortável.
Ele fez um som agudo.
— Você deve estar brincando. Você não pode reivindicar seriamente que mentiu para mim pelo “meu próprio bem”?
Margaret se encolheu ante seu tom.
— Não menti. Eu ia contar quando meu irmão saísse da área. Mas é meu irmão, Eoin. Eu não quero vê-lo machucado. Eu fiz o que achei melhor sob estas circunstâncias. O que você teria feito se eu tivesse contado? Você teria traído minha confiança e ido atrás dele ou teria ignorado seu dever para com Bruce e o deixado partir?
Sua boca caiu em uma linha plana — claramente não gostava de sua pergunta — nem de ser colocado em dúvida.
— Não é tão simples assim. Tampouco se trata do que eu fiz — agarrando-a pelo cotovelo, afastou-a para longe cama para que se levantasse, diante dele. — O que você disse para Duncan, Margaret?
— Nada — manteve seu olhar fixo. — Não lhe disse nada — seus olhos lhe suplicavam que acreditasse nela, mas sua expressão era como pedra impenetrável.
— Então é apenas uma coincidência que seu irmão apareceu aqui um dia e naquela mesma noite os MacDougalls não apenas evitam a armadilha que temos para eles, mas revidam contra nós? Uma armadilha, devo acrescentar, que ninguém sabia além de você.
Ela levantou o queixo.
— Alguém mais devia saber, porque eu não contei a ele. O propósito de meu irmão aqui não era lhe espionar ou reunir informação. Estava aqui para oferecer a Eachann e a mim uma maneira de sair daqui. Tinha a impressão de que não estávamos aqui por nossa própria vontade e que talvez precisássemos de ajuda.
Seus olhos se afiaram em pontos azuis duros.
— E o que você disse?
— Não tive a oportunidade de lhe dizer nada. Nós mal trocamos duas palavras. Mas eu teria dito a ele que nós éramos muito felizes aqui e não precisávamos de um resgate — agora já não estava tão segura. — De verdade não compartilhei nada sobre aonde ia ou o que estava planejando. Por que eu faria isso? Não faz sentido.
— Não sei. Por que você não me conta? Eu tenho tentado descobrir. Você deixou escapar acidentalmente? Ele ameaçou você ou Eachann?
— Eu te disse que não disse nada. É tão difícil acreditar? — Ele não respondeu, só a olhou friamente.
Margaret sentiu seu próprio temperamento explodir. Pensou que tinham superado isso. Mas talvez nunca seriam capazes de superá-lo. A nova confiança pela qual estava tão empolgada desmoronou no primeiro teste.
— Então é assim que vai ser? Vou ser a primeira suspeita cada vez que algo der errado, não importa o que eu disser? E todas aquelas coisas que você me contou, Eoin — elas não significam nada? Eu pensei que você confiasse em mim.
— Confiei... ou nunca teria contado meus planos.
— E agora?
Sua boca se enfureceu.
— Agora eu malditamente gostaria de ter mantido minha boca fechada.
Ela se encolheu, suas bochechas ardendo como se ele a tivesse esbofeteado.
— Então não só sou a suspeita, mas também fui julgada e condenada?
Ele passou-se os dedos pelo cabelo.
—Droga, Maggie, olhe os fatos. O que supõe que devo pensar?
— Eu acho que é demais pensar que eu posso estar dizendo a verdade.
Seu silêncio foi resposta suficiente.
— Eu não vou fazer isso, Eoin. De novo não. Cometi um erro seis anos atrás, mas eu não fui a única culpada. Você não compartilhou o suficiente comigo para que eu tomasse a decisão certa. Se eu soubesse no que estavam envolvidos e tivesse o real sentido do perigo, nunca teria admitido a Brigid que esteve ali. Para que nosso matrimônio funcione, não pode haver segredos entre nós. Não serei a metade de uma esposa. Eu te amo, mas não vou viver minha vida sob suspeita. Preciso que confie em mim. Aqui e agora. Mesmo quando todos os "fatos" dizem o contrário.
— Ou o quê? — Ele disse furiosamente. — Segue emitindo ultimatos? É fé cega ou nada? Não é assim, Margaret. É minha esposa, não meu sacerdote.
Um golpe na porta sobressaltou a ambos. Eoin respondeu, pegou a missiva do homem que a trouxe, um dos guardas de seu pai, e a leu rapidamente antes de se voltar para ela.
Sabia o que ele ia dizer antes de falar.
— Tenho que ir — ele disse sombrio. — Teremos que terminar essa discussão mais tarde.
Claro. Sempre era mais tarde com ele. Nunca a colocava em primeiro lugar. Tenho que ir. Só tenha paciência, Margaret. Fique aqui, Margaret. Não faça perguntas, Margaret. Seja uma boa moça, e compensarei você na cama.
Bom, já não podia mais fazer isso.
— É óbvio — respondeu em tom apagado. — Sem dúvida é importante.
Ele franziu o cenho, talvez tenha ouvindo algo em sua voz.
— Não demorarei muito.
— E se eu perguntasse aonde você está indo?
Sua boca caiu em uma linha dura. A resposta era óbvia. Não diria.
— Não se preocupe — ela disse, não deixando transparecer que ele estava partindo seu coração em pedaços — de novo. — Não perguntarei.
Ela se virou, sentindo uma enorme sensação de desesperança. Amava-o, mas não era suficiente. A dor e a decepção a apunhalaram. Não podia fazer mais nada. Talvez em outros seis anos, perceberia que ela estava dizendo a verdade, mas não ia esperar que esse dia chegasse. Uma vez mais, a paixão a enganou para que acreditasse que as coisas tinham mudado. Mas não era diferente do que tinha sido antes. Compartilhava sua cama com ela, nada mais.
Ela fez todo o possível para tentar recuperar sua confiança, mas nunca seria bom o suficiente. Ela nunca seria boa o suficiente. Era uma malvada MacDowell. A inimiga e uma forasteira.
Tinha terminado de tentar provar a si mesma. Ao diabo com ele. Ao inferno com todos eles.
Capítulo 28
Campbell estava esperando por ele em Dunstaffnage. Seu amigo chegou em casa pouco depois de deixar Eoin em Gylen para descobrir que os aldeões queriam falar com ele imediatamente. Assim que ouviu o que a anciã tinha a dizer, mandou chamá-lo.
A mensagem tinha sido curta e direta. Um dos homens de MacDougall estava na aldeia.
Parecia que a anciã tinha uma neta que estava envolvida com um dos guerreiros MacDougall antes dele ser forçado ao exílio. Às vezes ele voltava para vê-la quando estava na área. A última vez ele a deixou com um bebê e um olho roxo, e ganhou a inimizade da velha senhora, que estava muito feliz em se vingar, informando sua presença ao Guardião do rei.
Eoin, Campbell e um punhado de homens de Campbell tinham a pequena cabana rodeada no final da manhã quando o guerreiro MacDougall finalmente saiu para urinar. Apanhado com as calças abaixadas — literalmente — e sem uma arma, não pôs muita resistência. Horas mais tarde, entretanto, mostrou-se menos colaborador em proporcionar respostas ao seu interrogatório. Eles o deixaram no cárcere para contemplar suas opções enquanto comiam. Mas apesar de Eoin não ter feito uma refeição em quase vinte e quatro horas, estava muito inquieto para forçar mais do que algumas mordidas. Não podia evitar o sentimento de temor que o perseguia desde que deixou Gylen.
A princípio, ele atribuiu isso à sua raiva em relação a esposa, mas quanto mais ele se afastava e quanto mais pensava nisso, mais crescia o desconforto.
— Precisamos de Víbora — disse Eoin, um pouco mais tarde enquanto esperavam na sala do guarda que o homem fosse trazido de volta. Lachlan MacRuairi era um perito em extração — tanto de pessoas quanto de informações.
Campbell o olhou com atenção.
— Ansioso pela confirmação? Pensei que estava convencido de que sua esposa deixou que algo escapasse para seu irmão.
— É a única coisa que faz sentido.
— Mas?
Eoin passou os dedos pelo cabelo duramente.
— Eu não sei. Algo sobre isso não parece certo.
Não importava quantas vezes repetisse a conversa com Margaret em sua cabeça, não conseguia se convencer de que ela tinha sido outra coisa além de magoada e humilhada por suas acusações. Tinha visto sua culpa, sim, mas só por ocultar a verdade da presença de seu irmão. Pelo resto, estava mortalmente ofendida.
Ele estava preparado demais para tirar conclusões precipitadas?
Pronto demais para culpá-la?
Um canto da boca do Campbell se elevou.
— Eu sempre achei que meus instintos me serviam bem.
Isso era um eufemismo. Campbell se converteu no melhor explorador da Escócia confiando em seus instintos.
— E o que acontece quando se trata de sua esposa?
Seu amigo sorriu.
— Sim, bem, eles tendem a ficar um pouco confusos quando se trata dela. Eu só tenho que ouvir um pouco mais.
— Margaret não disse nada a ninguém — disse Eoin repentinamente. — Eu apostaria minha vida nisso.
Campbell assentiu com a cabeça, quando o guerreiro MacDougall foi levado de volta ao quarto.
— Então, vamos descobrir quem fez isso.
Foi mais fácil do que esperavam. MacDougall não dizia nada contra os homens de seu clã, mas ele não era tão corajoso quando se tratava de falar sobre o traidor que deu informações a Duncan MacDowell sobre Kerrera. O homem tinha sido um traidor para eles antes.
Diante da enormidade de seu erro, Eoin correu para Kerrera. Já estava escuro quando a sombra da torre apareceu no penhasco. Que seus instintos sobre a esposa haviam se provado corretos era um pequeno conforto, apesar da percepção de que ele poderia ter chegado tarde demais.
"Preciso que confie em mim. Aqui e agora."
Uma mistura de medo e pânico caiu sobre ele. Seu pulso estava acelerado e um suor frio gelou sua pele. Ele se sentiu mal. Que porra ele fez? Ele estava tão irritado com o ultimato que não pensou no que ela fez no passado. O "ou o que" que ele respondeu para ela — e o fato de que ela o abandonou, e poderia ter lhe dado todos os motivos para fazê-lo de novo.
— Para onde estamos indo?
Margaret olhou para a pequena figura caminhando ao lado dela e tentou dar-lhe um sorriso tranquilizador, temendo que as lágrimas não derramadas que ardiam em seus olhos fossem tudo menos uma choradeira.
— É uma surpresa — disse com sorriso forçado.
Mesmo na crescente escuridão, ela podia ver a pequena carranca no rosto do filho.
— Eu não gosto de surpresas.
Muito parecido com o pai dele...
Seu peito apertou, tentando não pensar em quanto doía. Poderia fazer isto. Tinha feito antes, não é?
— Eu sei, mas espero que você goste dessa. — Virando-se e vendo que a torre tinha desaparecido de vista, ela decidiu que eles estavam longe o suficiente. O ponto de ancoragem ficava do outro lado da ilhota de Eilean Orasaig, na baía. — Quanto você gostaria de ver seu tio favorito?
— Tio Duncan? — Perguntou animadamente. — Aqui? — Ele franziu o cenho e olhou para ela com uma sobrancelha franzida. — Ele decidiu lutar pelo maldito usurpador também?
Margaret estremeceu ao perceber que o curto tempo transcorrido em Kerrera não apagou todos os rastros da ira de seu pai.
— Não. Ele está com seu avô e o resto de seus tios na Ilha de Man. Mas veio nos buscar para uma visita.
Ele parou, soltando a mão dela.
— Mas o que... O que acontecerá com meu pai?
Ela se ajoelhou para encará-lo. Sobre o ombro, o sol estava escondido no horizonte. Estava quase anoitecendo. Sabia quão confuso devia ser para ele, — era confuso para ela — mas jurou que faria o que fosse necessário para que Eachann não fosse magoado por sua decisão. Mesmo que isso significasse que ela devia se separar dele às vezes... que Deus a ajudasse.
— Você pode voltar e vê-lo quando quiser, mas eu... — Sua voz baixou. O que ela poderia dizer? — Eu não posso mais ficar aqui.
Não poderia ser metade de uma esposa, nem sequer por seu filho. Queria compartilhar a vida de Eoin, não só fazer parte dela. Mas os segredos entre eles ainda estavam ali.
O rosto de Eachann ficou tão sério que ela quis apertá-lo com força e nunca mais soltá-lo.
— Ele não nos ama mais?
Ela o abraçou fortemente.
— É óbvio que sim, querido. Ele te ama muito.
— Então por que estamos fugindo?
— Não estamos... — parou, olhando-o. Tinha razão. Estava fugindo. Exatamente como antes. Talvez eles estivessem condenados a repetir os mesmos erros depois de tudo. Todos eles.
Estava tentando descobrir o que dizer quando foi salva por um ponto branco à distância. Uma vela. Ela se levantou e pegou sua mão.
— Vamos, filho, temos que nos apressar. Seu tio está aqui.
Eoin chegou tarde demais. Eles foram embora.
Ele subiu correndo a escada da torre até o quarto que dividia com Margaret, apenas para encontrá-lo escuro e vazio. Não precisava olhar na antecâmara para saber que Eachann também tinha ido embora.
Sentia como se uma parede de pedra houvesse caído contra ele ao perceber tudo o que tinha perdido. Foi como da última vez, quando ele voltou para casa para perceber que ela se foi, exceto que possivelmente agora, era ainda mais devastador. Perdeu sua esposa e seu filho.
Eles fugiram e não demorou muito tempo para perceber como: seu irmão. Eoin estava tão zangado com a falha da armadilha que não lhe perguntou os detalhes de como seu irmão planejava "resgatá-la". Ele deve ter planejado pegá-la no caminho de volta de Appin, hoje.
Um rápido interrogatório aos guardas de serviço no portão confirmou que ele tinha razão. A lady e o pequeno Eachann tinham saído fazia mais de uma hora para um passeio curto pela aldeia. Não a aldeia na realidade, Eoin sabia, mas uma das outras ancoragens da ilha. Havia três, incluindo a do castelo. A do lado noroeste, em frente a Oban, estaria muito ocupado, inclusive a esta hora, mas a que estava no lado leste da ilha seria facilmente acessível para um navio de saqueadores MacDowells navegando pelo Firth of Lorn que não gostaria de atrair muita atenção.
O ancoradouro era uma curta caminhada. Vinte a trinta minutos no máximo. Se eles tivessem saído há mais de uma hora, sabia que provavelmente já tinham desaparecido há muito tempo. Mas precisava ter certeza. Sabendo que seria mais rápido cavalgando, dirigiu-se para o estábulo quando alguém bloqueou seu caminho.
— Ela se foi — disse Fin.
Precisou se controlar para não o matar. Só o fato de que Fin estivesse casado com sua irmã impediu que o antigo sangue de seu avô e o lendário machado de batalha caíssem sobre sua cabeça. Mas ainda assim, sua mão coçava para chegar ao seu lado e puxar seu machado.
Não sabendo do perigo iminente, Fin acrescentou.
— Eu a vi, ela e o menino subiram a bordo de um navio no píer de Bar-nam-boc.
Eoin deu um passo ameaçador para ele, com as mãos cravadas aos lados. Nunca quis tanto golpear alguém.
— E não fez nada para detê-los?
Fin deu de ombros, obviamente confundindo a fonte da ameaça, já que ele era muito bom guerreiro para não ter percebido.
— Pensei que era o melhor. Ela o traiu novamente. É melhor que a cadela traidora se vá com seus parentes.
— Não quis dizer que era melhor ela longe para que não se descobrisse a verdade?
A confiança de Fin diminuiu, mas apenas por um momento. Ele, no entanto, endireitou sua postura relaxada para algo um pouco mais defensivo.
— Você sabe a verdade.
— Sim, eu sei — Eoin disse sombriamente, seus músculos tensos quando ele deu um passo mais perto.
— Eu te disse que seu irmão Duncan estava aqui em Gylen.
— Sim, você disse — disse Eoin, fervendo. — Mas esqueceu de mencionar que foi você quem lhe contou meus planos. Você estava no celeiro, não é?
Era a única explicação, e aquela que Eoin não considerou quando ele estava tão focado em condenar sua esposa. Alguém os ouviu. Foi culpa dele, droga. Estava com pressa e não verificou.
Fin vacilou. Ele parecia pesar se deveria mentir. Aparentemente reconhecendo a futilidade, ele deu de ombros novamente. Como se não fosse nada. Como se sua traição não tivesse custado tudo a Eoin.
— Fortuitamente estava na janela. Eu vi você voltar e decidi ficar.
— Então você me espionou e decidiu me trair? — Eoin não pôde conter sua raiva. Golpeou-o contra a parede de pedra da cavalariça. — Confiava em você. Era como um irmão para mim.
A expressão de Fin escorregou, revelando raiva e amargura que deviam estar fervendo há anos.
— Éramos como irmãos, até que se casou com ela. Você se casou com ela! — Ele zombou com descrença. — Surpreendeu-me. Com todos aqueles rumores circulando... Nunca pensei que seria o tipo de cavaleiro andante que cavalgava em seu resgate.
Eoin demorou um momento para perceber o que ele queria dizer.
— Foi você. Você começou os rumores sobre o que aconteceu na biblioteca.
Fin não se incomodou em negar.
— Não era mais do que ela merecia. A moça era uma desavergonhada e totalmente errada para você. Mas você não percebeu — sua boca endureceu. — Mas nunca lhe espionei. Eu estava curioso e achei que ela estava tentando me mandar embora depois do que Marjory fez. Eu nunca teria dito nada, mas quando vi MacDowell no dia seguinte...
— Decidiu se aproveitar disso, sabendo que culparia Margaret, não é? — Filho da puta oportunista. Fin fizera a mesma coisa na guerra. Eoin tinha inventado desculpas para ele, mas não faria mais isso. Segurou-o pelo pescoço como o cão que era e o sacudiu. — Homens morreram. Bons homens. Eu poderia ter morrido, porra. Para que você pudesse tirar seu ódio equivocado a uma mulher que teria sido sua amiga, se você tivesse lhe dado uma chance?
— Amizade? — Fin zombou, ignorando a mão que apertava seu pescoço. — Não queria sua amizade. Só queria fodê-la — o punho de Eoin golpeou a mandíbula de Fin antes que as palavras ofensivas tivessem saído de sua boca. O sangue correu pelo queixo de seu irmão adotivo enquanto ele sorria. — Ela deve ser tão boa quanto parece para que tenha se voltado contra mim tão rápido.
Eoin mal ouviu. Ele estava muito ocupado batendo em seu velho amigo com toda sua força. O rosto. O intestino. As costelas. Levou um minuto para perceber que Fin não estava lutando. Ele estava curvado, meio de joelhos.
O sangue ainda estava pulsando nas veias de Eoin enquanto se inclinava sobre ele, sustentando-o reto pelo seu cotovelo, com o punho preparado para um último golpe.
— Ela nunca tentou me virar contra você. Ela não precisava fazer isso. Você fez tudo sozinho quando você a atacou.
Os olhos de Fin ficaram pretos de raiva.
— Sim, mas isso me custou, não é? Essa cadela me fez pagar.
Assumindo que Fin estava se referindo a sua amizade, Eoin disse:
— Então você tenta me matar?
— Eu sabia que você e Campbell não estavam em perigo. Os fantasmas indestrutíveis de Bruce? — Fin riu do choque de Eoin. — Acredita que sou um completo idiota? Você não acha que eu adivinhei depois de todos esses anos?
Eoin olhou fixamente ao homem que tinha sido seu amigo mais íntimo e sentiu sua raiva amortecida pelo desgosto e uma incrível sensação de tristeza pela perda de algo que tinha sido importante para ele.
Baixou a mão, sabendo que não poderia matá-lo. Mas nunca voltariam a ser amigos.
— Saia daqui. Vou recuperar minha esposa e meu filho, e quero que você e Marjory tenham ido quando eu voltar.
Ele ouviu uma mulher suspirar atrás dele. Ele se virou para encontrar sua irmã olhando para ele fixamente. Mas isso não foi o que o distraiu. Foram as duas pessoas que estavam ao seu lado.
— Estamos aqui, Eoin.
O sorriso no rosto de sua esposa e a forma em que o olhava lhe fizeram imaginar o quanto tinham ouvido.
Ele estava surpreso.
— Eu pensei que você tinha ido embora.
Sua boca se curvou com ironia. Olhou para seu filho e deu um aperto carinhoso em sua mão.
— Bem, alguém me recordou que fugir nunca resolveu nenhum problema, e que os MacDowells são lutadores.
— Até contra teimosos, mal-humorados, inteligentes demais para seus próprios cavalos — disse Eachann com orgulho.
Margaret ofegou, olhando seu filho com horror.
— Você não deveria ouvir isso. — Ela deu um encolher de ombros envergonhado para Eoin. — Eu estava falando sozinha.
O alívio e uma manifestação de felicidade que ele nunca sentiu inchou dentro dele. Sorriu.
— Obviamente, mais alto do que você percebeu.
Tão focado em sua esposa, Eoin não viu a ameaça até ser muito tarde. Espancado e ensanguentado, Fin se lançou contra Margaret.
Um brilho de prata cintilou à luz das tochas.
Oh Deus, ele tinha uma adaga!
Eoin gritou uma advertência, mas já era muito tarde. Fin rodeou sua cintura com seu braço e segurou a lâmina em sua garganta.
— Você já me roubou um filho, agora estou sendo expulso...
As palavras de Fin foram cortadas quando seus olhos se arregalaram de horror. Um momento depois, ele caiu no chão, aterrissando com um baque mortal. Só então Eoin viu o cabo da faca de sua irmã preso em sua nuca.
Capítulo 29
Era noite antes que Margaret tivesse a chance de conversar com Eoin sozinha. Precisava cuidar de sua irmã chocada e traumatizada, enquanto Margaret estava fazendo o seu melhor para aliviar os temores de seu filho, que quase tinha testemunhado a morte de sua mãe antes de ver sua tia matar seu tio.
Sabia que passaria algum tempo antes que se esquecesse dos acontecimentos do dia, mas um leite quente, um bolo de manteiga com açúcar e canela, e muitos abraços tinham ajudado muito para aliviar a angústia do menino. Eachann dormia pacificamente quando Eoin entrou em seu quarto.
Um olhar na direção da antecâmara foi sua primeira pergunta.
— Ele vai ficar bem — respondeu Margaret. — Não tenho certeza de que entendesse exatamente o que estava acontecendo. Francamente, nem eu.
Eoin parecia exausto. Tirou suas armas e lançou seu cotun em um banco antes de se sentar na beira da cama em frente à sua cadeira diante do braseiro.
— Quanto você ouviu?
— O bastante para saber que você iria por mim — olhou-o com os olhos arregalados à luz do fogo. — Você percebeu que eu estava dizendo a verdade?
— Se eu estivesse pensando racionalmente, teria percebido antes. Mas pensar racionalmente nunca funcionou muito bem quando estamos juntos — ele explicou o que tinha acontecido quando chegou a Dunstaffnage e a parte de Fin na história.
— Como está Marjory?
Eoin encolheu os ombros.
— Em estado de choque, o que é de esperar. Mas acredito que é um alívio. Ela entendia as profundezas do ressentimento e da amargura de Fin melhor do que nós. Vivia com ele todos os dias e não se surpreendeu que isso se manifestasse em violência. Ainda pensava nele como o amigo que me encorajava a vencer, mas a guerra, o tempo e as decepções o converteram em uma pessoa diferente.
— Não posso acreditar que me odiasse tanto — ela reprimiu um calafrio, e depois franziu o cenho, recordando o que ele disse. — O que ele queria dizer quando falou que eu roubei seu filho?
— Acredito que devia te culpar por não ter um filho. Você sabe, sua joelhada.
— Mas disse à Marjory que ela era estéril — ela mordeu o lábio. — Você acha que é verdade?
— Suspeito que estava mais em sua cabeça do que na realidade. Eu acho que você era um alvo fácil para a raiva dele.
— Ele me culpou por ficar entre vocês.
Ele reconheceu a verdade com um aceno de cabeça.
— O que estava errado, já que teríamos nos distanciado de qualquer maneira.
Ela deu-lhe um longo olhar, arqueando uma sobrancelha.
— Por causa dos fantasmas? — A boca de Eoin se retorceu.
— Você ouviu isso, não é?
— É por isso que você nunca me contou o que estava fazendo? Você é realmente parte dos infames fantasmas de Bruce?
Ele soltou um suspiro pesado.
— Eu fiz um voto de silêncio. Eu não estava apenas protegendo você, mas também os outros. Mas planejava contar a você depois de conversar com Bruce.
Era a peça do quebra-cabeça que finalmente fez tudo se encaixar. Este era o grande segredo que ele estava guardando dela. Não era de estranhar.
— Os homens no acampamento. Aqueles que eu perguntei — ele não confirmou ou negou, mas ela já havia adivinhado. — Sabia que havia algo estranho em todos vocês! Mas nunca tinha imaginado... — ela deteve-se, olhando-o acusadoramente. — Eu deveria saber que você iria se inscrever para o trabalho mais perigoso. Sem dúvida, você esteve na linha de frente de tudo. Você poderia ter morrido. Eu deveria estar furiosa com você. Mas... — olhou-o, seus olhos se encheram de emoção.
Ele inclinou seu queixo com a parte posterior de seu dedo para seu rosto.
— Mas?
— Estou muito orgulhosa de você.
Ele sorriu amplamente e com um pouco de presunção.
— Você está?
Empurrou seu peito.
— Você não precisa parecer tão satisfeito consigo mesmo. Eu não disse que perdoo você.
Ele pegou a mão dela e levou-a à boca, pressionando as pontas dos dedos nos lábios em um atemporal gesto romântico.
— Mas você vai fazer isso? — Ele segurou seu olhar. — Sinto muito, Maggie. Eu deveria saber que não importa o quão ruim pareça, você não trairia minha confiança. Eu sabia disso, mas demorei um pouco para perceber.
Ela assentiu.
— Acho que posso ver agora porque você sentiu que precisava me manter no escuro. É perigoso, — ela pensou nisso um minuto. — Suponho que terei que confiar em você para falar do que possa comigo. Nunca foi a respeito dos detalhes. Tratava-se de ser parte de sua vida e de sentir que você se importava comigo.
Ele parecia surpreso.
— É óbvio que me importava. Só pensava em você, era por isso que estava sempre querendo chegar em casa, era você que me impedia de afundar na escuridão da guerra. Sem você nada mais importava.
Maggie deve ter mostrado seu ceticismo porque ele riu.
— Se não acredita, pergunte a Lamont. Ele pode atestar minha disposição menos que ensolarada nos últimos seis anos. Sem você — fez uma pausa — o mundo era mais escuro. Você é minha luz.
Ela sorriu.
— Isso é doce.
Ele parecia assustado e olhou ao redor, como se tivesse preocupado que alguém pudesse ter ouvido.
— Deus, Maggie, não diga essas coisas, especialmente perto de Falcão.
— Quem?
Ele não vacilou.
— MacSorley.
Ela entendeu.
— Nomes de guerra! Você também tem um?
— Atacante.
Ela se lembrou das palavras em seu braço. Apenas alguns amigos e eu...
— A tatuagem? — Ele assentiu e mudou de assunto.
— O que fez você voltar?
Sua boca se arqueou.
— Eu acho que Eachann gosta de você. Ele não queria ir embora e percebi, quando pensei nisso, que eu também não — ela fez uma pausa. — Não queria seguir cometendo os mesmos erros, e tinha a intenção de retornar aqui e colocar um pouco de senso comum nessa sua mente que supostamente é brilhante.
— Nem sempre. Recorda o que te disse uma vez, quando você está em causa eu não sou nada inteligente.
Seus olhos se encontraram, recordando aquele dia, quando tinham se apaixonado, casado e consumado esse amor — não necessariamente nessa ordem — tudo em uma tarde chuvosa. Sorriu com os olhos lacrimejantes.
— Eu gostaria que não tivéssemos demorado sete anos e meio para resolvermos tudo.
Ele a puxou para seus braços.
— Sim. Mas nós temos a vida inteira para compensar isso — ele sorriu. — Começando agora mesmo.
Ela sorriu, deixando-se levar para cama.
— Talvez você seja muito esperto, afinal.
Epílogo
Garthland Castle, Galloway, 15 de fevereiro de 1315
Eoin não queria estar aqui. As lembranças eram muito agudas, a dor muito recente, os fantasmas muito vívidos. Oito anos não foi tempo suficiente para esquecer. Caralho, uma vida não seria suficiente para esquecer. Mas ele sabia o quanto era importante para Maggie voltar para casa, então ele concordou em voltar ao lugar de tanta morte e desespero.
Ele olhou para a juba de cabelos ardentes em seus braços e sentiu uma enorme sensação de gratidão. Tinha muita sorte, e tudo o que precisava fazer era olhar os rostos de sua família para recordar.
Margaret, seu filho de sete anos de idade, o anjinho ruivo de quinze meses de idade, em seus braços que, se em sua infância fosse algo para julgar, poderia ser a morte para ele em alguns anos.
— Vocês estão aqui— disse Margaret, entrando no quarto atrás dele. — Deveria ter adivinhado — inclinou-se, seus cabelos de fogo caindo sobre seu ombro. Tinha renunciado ao véu e agora parecia-se muito mais a jovem descarada, sem limites que recordava.
— Ela parece tão doce quando está dormindo, não é? — Sussurrou suavemente. Seus olhos se encontraram, e sorriu. — Quase faz você esquecer como ela é o resto do tempo.
Ele fez uma careta.
— Quase. A pequena tirana jogou uma das peças de xadrez pela janela da torre novamente esta manhã.
Margaret tentou esconder seu sorriso, sem êxito.
— Deixe-me adivinhar? O bispo novamente? Ela mostra uma falta de respeito terrível pelo seu jogo.
— E pelos clérigos — disse Eoin secamente. — Me pergunto onde ela aprendeu isso?
Margaret pôs a mão sobre seu ventre inchado. Seu terceiro filho nasceria no verão. Se fosse um menino, Margaret ameaçava chamá-lo como Víbora, — por alguma razão desconhecida ela gostava.
— Possivelmente terá mais sorte com este, e Eachann encontrará um novo competidor.
Ele deu-lhe um olhar duro.
— Ele só me derrotou uma vez. Eu te disse que ele era uma aberração.
Seus olhos se encontraram e ambos começaram a rir. Não era uma aberração. Eachann era quase espantosamente brilhante como ele. Um solucionador de problemas, Eoin o chamava assim. Estava convencido de que o menino inventaria algo grandioso um dia.
— De todos os modos, é um jogo infantil e aborrecido — ele disse. — Ou isso me disseram uma vez.
Ela riu, pegou a filha de seus braços e a colocou de volta no berço que ele havia providenciado para ela.
— Vamos — ela disse. — Marsaili vai cuidar dela.
— Como ela tomou conta de você? — Eoin levantou os olhos. — Deus me ajude.
Ele esfregou o braço quando um punho o atingiu.
— Ai! — Ele disse. — Isso dói.
— Bom — ela respondeu duramente. — Mas como um dos lendários guerreiros de Bruce, achei que você seria um pouco mais resistente.
— Você não ouviu? A guerra acabou. Agora eu sou apenas o guardião de um castelo real em Sael.
Ela fez um som estridente e zombeteiro.
— E Laird dos MacLeans — seu pai o tinha eleito oficialmente fazia alguns meses. Eoin sabia o quão incomum era para um terceiro filho ser nomeado herdeiro e se sentia honrado. — Além disso, — ela acrescentou com astúcia. — Eu vi você cochichando com Erik e Lachlan antes. Você não me engana, sei que está tramando algo. E descobrirei isso mais tarde.
Ele levantou uma sobrancelha muito intrigado.
— E como pensa fazer isso?
— Tenho meus meios — ele disse presunçosamente.
Claro que sim, e ele não poderia esperar até aquela noite, quando inevitavelmente ela o deixasse de joelhos. Muitas coisas mudaram entre eles, mas a paixão ardia tão quente quanto há muitos anos. Inferno, pensando em como ele acordou com a sensação de seu traseiro pressionando contra ele insistentemente esta manhã, talvez ainda mais quente.
Ele a seguiu descendo as escadas, atravessou o corredor e saiu para o pátio.
— Pensei que poderíamos caminhar — ela disse.
Ele assentiu e se dirigiram para o portão. Ele olhou por cima do ombro e ela deve ter percebido seus pensamentos.
— Eles vão ficar bem — ela disse. — Duncan cuidará deles enquanto estivermos longe — ele deve ter feito uma careta e ela sacudiu a cabeça. — Não se esqueça, agora somos todos uma grande família feliz.
Embora o irmão de Margaret tenha feito as pazes com Bruce após o fim da guerra e tornou-se o encarregado do castelo de Garthland em troca, Eoin que era hóspede de seu antigo inimigo, precisava ainda de algum tempo para acostumar-se. Mas sabia quão importante era para Margaret estar aqui, especialmente depois da morte de seu irmão mais velho na batalha do ano passado. Seu pai se negou obstinadamente a aceitar Bruce e lutava na Irlanda.
— Como posso esquecer isso? Você me lembrou todos os dias nos últimos seis meses para tentar me convencer a vir aqui.
Ela apertou a mão dele, de repente séria.
— Obrigada. Eu sei que não foi fácil para você, mas eu queria fazer alguma coisa.
Pouco tempo depois, quando chegaram ao lago, descobriu o que ela queria dizer. Ele se virou para ela surpreso.
— Você fez tudo isso?
Ela assentiu com a cabeça, seus olhos movendo-se incertos sobre seu rosto enquanto tentava avaliar sua reação. Estava aturdido, e depois incrivelmente emocionado pelo que ela preparou.
Seus irmãos estavam à beira da água, ladeando dois homens no centro. O primeiro usava uma coroa, e o segundo, uma mitra do bispo: o rei Robert Bruce e o clérigo mais importante do país — e aliado de Bruce por um longo tempo, — William Lamberton, o bispo de St. Andrews. Atrás deles, as águas calmas do lago não estavam cheias do vermelho que ele tinha visto da última vez em que esteve aqui, mas pequenas flores brancas, campânula-branca ou como eram conhecidas devido ao seu uso em Candlemas27, Our Lady’s Bells — Sinos de Nossa Senhora28.
— Deve haver milhares delas — ele disse em voz alta.
Margaret negou com a cabeça.
— Setecentos e oitenta e quatro. Contei cada uma delas.
Seus olhos se fixaram em uma compreensão compartilhada. Sua garganta se apertou com o significado. Cada flor representava um homem que morreu como resultado da missão fracassada em Loch Ryan oito anos atrás, no dia de hoje.
— Chegou a hora, Eoin — ela implorou. — É hora de deixá-los descansar em paz.
Ele assentiu. Ela estava certa. Era hora de fazer uma oração pelos homens que haviam morrido aqui e deixar de lado os fantasmas do passado, todos eles. Ele nunca esqueceria o que aconteceu aqui, mas ele perdoou Maggie, talvez agora fosse o momento de tentar se perdoar.
— Obrigado, — ele disse, sua voz vacilando. Ele apertou a mão dela, lutando contra a emoção. — Eu amo você.
Ela deu-lhe um daqueles sorrisos que rivalizavam com o sol.
— E nunca se esqueça disso.
Nunca esqueceria. Com um movimento de cabeça, Eoin deixou que sua esposa pegasse sua mão e o levasse para frente, onde seus amigos esperavam para ajudá-lo a enterrar o passado para sempre.
Nota da Autora
O personagem de Eoin é vagamente baseado em John Dubh MacLean, que era o terceiro filho de Gilliemore ou Malcolm MacLean e neto (ou bisneto) Gillian famoso machado de batalha, que é considerado o primeiro Laird do Clã MacLean.
John Dubh (John Black) lutou com seu pai e dois irmãos por Bruce. Foi dito que sua mãe, Rignach, era parente de Bruce. Uma teoria — e a que fazia mais sentido para mim — era que ela era filha de Neil de Carrick e, portanto, de uma irmã da mãe de Bruce, Marjory.
Os MacLeans foram recompensados por Bruce após a guerra por sua lealdade, com John Dubh nomeado guardião do castelo real "Sael" (Ilha Seil?), seu irmão Donald nomeado comandante das galeras do rei, e seu irmão Neil também nomeado guardião de um castelo real, provavelmente Tarbert. Excepcionalmente, no entanto, apesar de ter dois irmãos mais velhos, John Dubh foi nomeado Laird quando seu pai morreu. Nenhuma explicação foi dada, mas a ideia do meu brilhante estrategista nasceu.
Os dois filhos de John Dubh, Heitor (Heitor Eachann Reaganach ou Stern) e Lachlan (Lachainn Lachlan Lubanach ou Cunning / Wily), são os famosos pais dos dois ramos de Maclean / MacLaines. Como meus leitores devem se lembrar Highlander Unchained também causam confusão interminável de nomes — um problema recorrente para mim — para fornecer o nome de incontáveis gerações de líderes. Serão mais de trezentos anos depois que John Dubh antes de Duart MacLeans ter um Laird que não se chamasse Heitor ou Lachlan.
Diz-se que John Dubh designou suas terras de Lochbuie para Heitor e Duart para Lachlan. Os MacLeans se tornam mais importantes quando Lachlan se casou com uma filha de John MacDonald, o primeiro Lorde das Ilhas. Heitor, curiosamente, se casou com Christina, uma filha de Harris MacLeod. Aqueles de vocês que leram The Boss poderiam sorrir agora. Eu sei que não poderia deixar de me perguntar se essa Christina era descendente de Tor e Christina. Eu adoro quando fatos e ficção se entrelaçam de maneira casual.
Como na maioria dos livros, eu me inspiro bastante nos gráficos genealógicos. Há sempre toneladas de grandes forragens nas notas. Embora os compromissos sejam às vezes escassos e geralmente existam discrepâncias, muitas vezes é o lugar onde encontro informações que não encontro em nenhum outro. Foi o caso de quando eu estava tentando descobrir onde as terras MacLean estavam antes da guerra (depois de associar-se com as ilhas de Mull, Tiree, Coll, Morvern e Lochbuie no continente). Geralmente é pensado que poderia ter sido de Lorn, como vassalos do Senhor de Argyll, mas não teve sentido até que encontrei um registro genealógico de "Eoin Dubh Mac Gilliemore" (John Dubh) quando encontrei uma referência ao Castelo Gylen na Ilha Kerrera como o lugar de seu nascimento. Desde Gylen Castle que era um castelo de MacDougall, e isso parecia se encaixar.
O mesmo registro também serviu como inspiração para o personagem Fin, já que as notas se referem a uma tentativa de Mackinnons (anteriormente MacFinnons) para matar os filhos de John Dubh, transformando-os em clãs inimigos endurecidos.
Finalmente, algumas cartas genealógicas colocam Eoin possivelmente casado com uma Comyn, fornecendo minha inspiração para a esposa que é a filha do inimigo.
O personagem de Margaret MacDowell é fictício, mas Dugald / Duegald MacDowell / MacDowall / Macdowyl / MacDouall / Macdougall (estas são apenas algumas das muitas maneiras como o seu nome está escrito) foi dito que teve oito filhos. Como geralmente é o caso, não foi mencionado se teve filhas.
MacDowells afirmam descenderem de Gaels originais que vieram da Irlanda do Norte para Galloway no oitavo ou nono século, e estudos de DNA recentes parecem apoiar isso ( www.scottishorigenes.com/content/medieval-ethnicity-map-scotland ). Como seus parentes Balliol e Comyn, eles eram inimigos de sangue de Bruce. E como os MacDougalls, que também eram parentes de Comyns, os MacDowells provaram ser o maior e mais consistente dos espinhos no lado de Bruce durante a sua longa luta pelo trono.
Bruce obriga MacDowell a fugir para a Inglaterra em 1308-09, onde ele aparece em registros públicos em 8 de abril de 1309, como "odiado pelo inimigo" e dando “a casa senhorial de Temple-Couton em York” pelo Rei Edward II para a residência de sua família. Mas Dugald retorna à Escócia alguns anos depois, ocupando a importante fortaleza de Dumfries em Galloway.
De longe, o maior espinho que Dugald pregou em Bruce foi o desastre em Loch Ryan em 9 de fevereiro de 1307 (seis dias antes do que eu descrevi). Os leitores dos livros anteriores sabem que esta não é a primeira vez que menciono o lago de Loch Ryan (ou seja, aparecem no Falcão, no Caçador e no Arqueiro), e quando você pensa em como devastador foi a batalha, torna o retorno de Bruce ainda mais incrível. Depois de ser forçado ao exílio por quase cinco meses depois de sua oferta malsucedida para o trono em 1306, viu um irmão e muitos amigos mortos e sua esposa e sua família presa (alguns em gaiolas), Bruce coleciona homens suficientes para fazer o seu grande xeque para retomar ao reino, e pela maioria dos relatos, uma grande parte de suas forças é aniquilada antes que eles possam ir além da praia em Loch Ryan, graças a Dugald MacDowell.
Os números exatos são impossíveis de determinar, mas a maioria dos historiadores parece colocar as forças de Carrick sob o comando de Bruce para algumas centenas, (o que eu chamo de extremidade Norte do ataque, que aparece em O Falcão) e as forças em Loch Ryan sob o comando de seus dois irmãos em torno de setecentos e novecentos.
Havia dezoito galeras em Loch Ryan, das quais apenas duas conseguiram escapar. Uma galera medieval provavelmente tinha de dezoito a vinte e quatro remos, que com dois homens por remo seria consistente com setecentos a novecentos homens no total. A vasta maioria desses homens, talvez setecentos, eram irlandeses. Alguns dos capturados, como o rei irlandês como Margaret testemunhou, foram sumariamente decapitados, enquanto outros, como dois irmãos de Bruce foram levados para Carlisle Castle na Inglaterra para serem executado por Edward. Thomas e Alexander Bruce foram enforcados e decapitados após serem "arrastados pela cauda de um cavalo" por oito milhas ( http://brucetrust.co.uk/places-events.html ). Suas cabeças foram, então, colocadas no topo dos portões do castelo como um aviso medieval bastante grotesco.
Tanto quanto posso dizer, Bruce teve talvez mil e duzentos homens quando tentou retomar seu reino em fevereiro de 1307. Destes, possivelmente oitocentos foram mortos imediatamente em Loch Ryan. Ele voltou a Carrick com suas poucas centenas de homens, e junto com os sobreviventes do Lago Ryan, ele tem cerca de quatrocentos homens para tomar um reino. Você pode ver porque eu disse que MacDowell deu-lhe um golpe devastador. Eu não posso imaginar como até mesmo os seguidores mais dedicados poderiam ter dado mais uma chance a Bruce depois de Loch Ryan.
Pelo seu serviço à coroa Inglesa em Loch Ryan, dizem-se que MacDowell recebeu o título de cavaleiro, prata e uma herdeira Inglesa (filha de Hugh de Champagne) para seu herdeiro Dougal, que mais tarde morreu em Bannockburn em 1314.
John Comyn, o filho do assassinado Red Comyn (e ex-pretendente de Margaret), também morre em Bannockburn.
O cerco do Castelo de Dumfries durou mais tempo do que eu descrevi no livro — possivelmente seis ou mais semanas — com os ocupantes morrendo de fome. Que Bruce permitisse que Dugald MacDowell rendesse Dumfries depois que ele entregou seus irmãos para o rei Edward para uma execução certa é bastante impressionante, demonstrando os sacrifícios que Bruce estava disposto a fazer para unir a Escócia. Claro que, com John de Lorn, a paciência Bruce não foi recompensada, e pouco tempo depois da rendição, MacDowell lutará contra as forças do Bruce novamente em Isle of Man. MacDowell sofre uma derrota lá também e ele é forçado a se render à Bruce pela segunda vez em alguns meses. Mais uma vez, no entanto, Bruce permite que ele seja libertado.
MacDowell permanecerá a serviço do rei inglês até sua morte em algum momento de 1327-28. Ele será sucedido por seu segundo filho, Duncan, que continuará com o hábito familiar de lutar contra Bruce. Na década de 1330, Duncan levantará forças algumas vezes na tentativa de levar os Balliols de volta ao trono.
A dificuldade que Bruce deve ter tido ao levar Galloway nos calcanhares é evidente até para os visitantes de hoje. A área é remota, não é facilmente acessível e certamente está fora da rota turística. Eu visitei a maioria das regiões da Escócia, e Galloway definitivamente dá uma sensação diferente, onde muito pouco do mundo exterior parece penetrar. Pode-se imaginar o que deve ter sido setecentos anos atrás.
Se os MacDowells eram mais "bárbaros" que os outros clãs, só posso especular, mas dado o afastamento do Castelo Garthland no lugar mais distante dos Rhins of Galloway, então parecia plausível que Margaret pudesse parecer um pouco selvagem e atrasada, para os nobres de Stirling.
Os Gallowegians em si tinham uma reputação inicial do período medieval como sendo os “escoceses selvagens”. Para apoiar seus costumes e leis antigas, bem como a sua capacidade de luta. Eles tinham a fama de terem o direito de dirigir a força do exército da Escócia nas primeiras batalhas militares, como a Batalha do Padrão em 1138. Sir Walter Scott resume da seguinte forma: “Alguns historiadores dizem que vieram da raça dos antigos pictos. Alguns os chamam de escoceses selvagens de Galloway. Todos concordam que eram de homens ferozes e ingovernáveis, que lutavam seminus e cometeram grandes crueldades contra os habitantes do país invadido.” (Scott, Sir Walter, a história da Escócia, Charles Black, 1864, página 26).
Apesar de não ser codificado como na Irlanda, a influência de antigas leis irlandesas Brehon na Escócia parece claro para cerca de século XI (quando o feudalismo foi introduzido após a conquista normanda da Inglaterra) e Galloway, talvez, até o século XIII. Evidências dos antigos "tribunais" que os senhores de Brehon dispensavam à justiça ainda estão espalhadas por toda a Escócia.
Um dos mais interessantes (e sucintos) resumos eu li sobre as Guerras da Independência foi na Wikipedia: “De muitas maneiras, as Guerras pela Independência da Escócia foram apenas uma guerra civil galega, com os Bruce, os sucessores de Gille Brigt MacFergus e os Balliols os sucessores de Uchtred MacFergus.” (http://en.wikipedia.org/wiki/Galwegian_Gaelic).
Embora uma simplificação excessiva — a soberania e o governo inglês estivessem no centro da guerra — há muita verdade nisso. Pensamos em guerras como os escoceses contra o rei Inglês, mas era muito mais complicado do que isso, e como já referi anteriormente, grande parte das primeiras disputas Bruce, Comyn, e assim por diante, pode ser explicado pelo olhar de quem estava do outro lado lateral. Os ingleses foram muitas vezes lançados no papel de “o amigo do meu inimigo é meu inimigo”. Acham que Dugald MacDowell tinha um grande amor por Edward da Inglaterra? Não. Mas ele odiava mais Bruce.
Como já mencionado resumidamente no romance, as duas facções da Escócia eram descendentes de dois Filhos do Príncipe Fergus, Senhor de Galloway: Uchtred (Balliols e MacDowells) e Gille Brigte (Bruces). Gille Brigte matou seu irmão Uchtred em um exemplo bastante odioso de fratricídio, cegando-o, castrando-o e cortando sua língua.
Talvez esse assassinato tenha dado o tom do ódio que irromperia entre seus descendentes mais de cem anos depois.
No que diz respeito ao casamento medieval, os leitores dos meus livros anteriores saberão que este é um assunto que me perseguiu repetidamente. É muito difícil tentar determinar como as "regras" (leis canônicas) foram aplicadas na vida real e como era algo comum, por exemplo, o casamento clandestino. Parece que uma declaração de intenção presente era tudo o que era necessário para ter um casamento medieval válido. Em outras palavras, o “Eu tomo você” os votos de Margaret e Eoin falaram seriam o suficiente, mesmo sem consumação. Uma declaração de intenção futura (como um contrato de compromisso) e consumação, no entanto, também faz de um casamento válido. Mas, como as regras eram provavelmente tão confusas para os participantes medievais quanto para esta pesquisadora e advogada do século XXI, eu decidi errar no lado de exagerar o que era necessário. O que seria um casamento sem consumação? Este é um romance, afinal.
Finalmente, a abadia de Santa Maria mencionada em Stirling é agora chamada de Cambuskenneth.
Monica McCarty
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