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Series & Trilogias Literarias
Enquanto o século dezoito anuncia uma nova rainha e um tratado que unirá os três reinos na Grã-Bretanha, os MacGregors de Skye vivem escondidos de seus inimigos, aninhados nas montanhas ao redor de Camlochlin. Eles são orgulhosos, ferozes, emergindo das brumas para atacar quando a honra e o dever para com a Escócia o chamam. Com o sangue do lendário laird da névoa fluindo em suas veias, os netos de Callum MacGregor não são menos problemáticos e aterrorizantes do que os guerreiros que vieram antes deles.
Na maioria das vezes, eles preferem lutar contra os clãs vizinhos e uma frota ocasional de corsários, em vez de cavalgar até a Inglaterra para chutar o traseiro de homens que usam perucas. Existem, no entanto, aqueles filhos mais audaciosos que são conhecidos por cavalgar arduamente pelos vales e ir direto para os bailes particulares de Londres ou bordéis espalhafatosos para atacar seus inimigos, enquanto suas cabeças nobres não usam peruca e seus traseiros não vestem calças. Plaids desafiadores tremulam sobre seus joelhos musculosos, e eles declaram seus nomes e fazem seus pontos na ponta de uma Claymore.
Ainda assim, alguns argumentariam que as filhas são piores.
Mas quer lutem no campo, no mar ou no quarto de dormir, eles vivem e amam com a paixão desenfreada e indomável que pertence apenas aos herdeiros das Highlands.
Um canalha irresistível...
O Highlander Patrick MacGregor gosta de sua vida do jeito que está. Lutando por suas moedas, desfrutando dos encantos de uma mulher e sem assumir nenhuma responsabilidade. Sim, essa é a vida para ele. Isto é, até que Patrick a veja — uma beleza de cabelos negros com olhos tão escuros quanto à meia-noite. Patrick jurou nunca se apaixonar. Nem mesmo por uma moça tão selvagem quanto ele... especialmente quando ela é de um clã rival.
...um desejo inegável
Charlotte Cunningham sabe que Patrick é um problema no momento em que põe os olhos nele. Seu único objetivo é escapar da possibilidade de casamento. Qualquer casamento. Mas conforme os dias de verão se transformam em noites abafadas, atraindo-a além da razão, Charlie é forçada a escolher entre a liberdade que anseia e o patife imprudente que ela não consegue esquecer.
South Ayrshire
Verão
Capítulo 01
Southern Ayrshire
Verão
— Você está me despindo com seus olhos, velhaco.
Patrick MacGregor, o novo Diabo das Terras Altas, inclinou a boca em um sorriso impenitente e com covinhas que fez as mãos da serva tremerem e a jarra de cerveja que ela carregava virasse e caísse no chão. Ele estendeu a mão para capturar com seus dedos seu pulso. Ela esteve provocando-o a noite toda com seus quadris se movendo e o olhando com olhos velados, para lá, para cá. Ele preferia conseguir um quarto e dormir pelos próximos dois dias, mas não era de rejeitar uma serva disposta.
Entrando no jogo, ele a puxou para seu colo e arrancou a jarra de sua mão sem derramar uma gota.
— Está muito além disso, moça. — Disse ele, mergulhando a boca na jarra e depois em seu pescoço. — Você já está nua em meus braços e estou prestes a me saciar com seu doce sabor.
Ela riu, gemeu e aninhou seu traseiro mais confortavelmente nas suas coxas.
— Eu deveria te dar um tapa por sua ousadia, estranho.
— Se é assim que você gosta de brincar. — Respondeu ele, enterrando o rosto nas mechas de seu cabelo ruivo em sua nuca.
Outra mulher na taverna captou seu olhar por um instante, talvez por um tempo mais enquanto ela se movia pelas luzes e sombras da taverna. Uma mecha perdida de cabelo, preto como ônix, caiu sobre uma bochecha alta e clara. Seus lindos olhos escuros o cativaram, guiando sua atenção enquanto passava por ele, se movia por ele e depois se afastava, impressionados. Ele pensou em se livrar da moça em seu colo pela que estava nas sombras. Mas ela se foi, levando a única faísca que restava na sala com ela.
A moça em seu colo puxou sua manga, chamando sua atenção de volta para ela. Ele obedeceu, gostando do pleno volume do lábio inferior da moça e da promessa de prazer em seus olhos semicerrados.
Mas o prazer foi passageiro quando a perseguição terminou antes de começar, render-se, era bastante aborrecido.
— O que ainda estamos fazendo sentados aqui, então? — Ela perguntou.
Sim, o que eles ainda estavam fazendo aqui? Ele bebeu sua cerveja, enxugou a boca e chamou o dono da taverna pedindo um quarto.
— Isto não é um bordel. — O taberneiro vociferou sob seu bigode castanho espesso. — Eu dirijo um estabelecimento respeitável.
— É uma coisa boa. — Patrick se levantou da cadeira com a moça no braço e deu um tapinha no ombro do taberneiro com a mão livre. — Tenho certeza que esta adorável moça custaria mais moedas do que as que carrego.
Ela se ergueu na ponta dos pés e sussurrou para Patrick que ele não precisava pagá-la e podia segui-la até seu quarto pelas escadas.
Ele o fez, dando uma piscadela para o taberneiro enquanto saía.
No caminho subindo as escadas, Patrick fixou seu olhar no traseiro bem arredondado da moça e pensou em todas as coisas que gostaria de fazer com ele. Não o surpreendeu quando ele só conseguia pensar em duas posições. Ele fez doze lutas hoje. Seus músculos ainda doíam de tensão. Ele sorriu para ela quando esta se virou, pegando a direção de seu olhar. Talvez ela entendesse se ele mudasse de ideia.
Quando chegaram ao segundo patamar, ela parou, enlaçou o braço no dele e se inclinou para perto.
— Eu estou pensando que seu gosto é o meu também.
Ele sentiu seu sangue esquentando suas veias. Ele tinha sido um tolo por reconsiderar.
— Lidere o caminho.
Dentro do quarto, ele a observou correr para a cama de penas mofadas e tirar os sapatos. Inferno, ele queria dormir em algo macio. Dormir em seu plaid ao ar livre deixou de ser agradável depois de três horas com seixos nas costas. Ele tirou o plaid e puxou seu léine1 sobre a cabeça, gemendo com os músculos doloridos enquanto se espreguiçava e jogava a camisa no chão.
Ele ouviu um pequeno som escapar de seus lábios. Ele olhou para ela por baixo dos pelos de seus cílios e encontrou seu olhar fixo nos músculos grossos de seus braços, seu abdômen rijo e ondulado. Ele se perguntou se poderia convencê-la a esfregá-lo com um pouco de óleo. Ele havia sido atingido algumas vezes nas costelas e na barriga, mas principalmente seus braços estavam cansados da defesa em que era especialista.
— Você não quer saber meu nome? — Ela perguntou, puxando os laços de seu espartilho.
— Não. — Ele disse, dando-lhe um meio sorriso lento enquanto se movia em direção a ela, desafivelando o cinto. — É algo a menos para esquecer.
Ela soltou os laços e seus seios saltaram como maçãs maduras de uma cesta.
Bem, isso ajudou a inflamar um pouco seu sangue. Eram maçãs de graça e ele estava com fome. Mas isso era tudo e, na verdade, ele estava começando a perder o apetite. Não houve perseguição, sem sedução e sem desafio. Não havia nada disso há muito tempo.
Até esta noite, quando ele foi atingido pelo olhar desdenhoso de uma moça tentando permanecer invisível nos cantos e recantos da taverna. Ele queria persegui-la.
Ela sorriu e ele se deu conta, como sempre, de como a maioria das garotas não se importava com seu distanciamento... por isso ele tentava não permanecer no mesmo lugar por muito tempo.
Ele tirou uma perna da calça de couro e parou para pensar no que estava fazendo aqui.
Ele queria dormir. Ele havia deixado Camlochlin com moedas suficientes para durar até chegar em Tarrick Hall de seu tio Cameron Fergusson. Mas mulheres e whiskie não eram baratos, e ele passara por quase todas as cidades, enquanto viajava para Colmonell, esgotando seu estoque.
Para ganhar moedas para comer, beber e se divertir, ele lutou nas últimas semanas em competições usando os punhos e em torneios com espadas. Ele lutou melhor do que a maioria, com ou sem arma, bem o suficiente para evitar ser golpeado com demasiada frequência no rosto ou na cabeça e para ganhar orçamento o suficiente para comer e dormir nas melhores pousadas. Normalmente ele gostava de desfrutar da delicadeza da bainha apertada de uma moça ao redor de seu eixo duro, seus braços e pernas enrolados ao redor dele como se seu corpo possuísse a solução para todas as suas ansiedades. Mas isso não acontecia agora. Com certeza não o ajudava com a sua habilidade sexual. Ultimamente, ele estava menos inclinado a provar isso para qualquer uma delas.
Ele realmente não queria estar aqui. Toda a sua bravata lá embaixo tinha sido apenas seu jogo usual de conseguir a garota. Ele estava cansado de sempre ser vitorioso. Inferno, mesmo a luta logo ficaria enfadonha se ele ganhasse todas as partidas.
— Moça, eu...
Ela o olhou como uma gata faminta e saltou sobre ele. Ele riu, pegando-a nos braços e inclinou a cabeça para roçar a boca na dela. Se ela o queria tanto...
O pequeno gemido que ele puxou dela fez seu sangue correr como fogo líquido para sua virilha. Ele a puxou para um abraço, separando os lábios e moldando sua boca faminta na dela para devorá-la com prazer.
Ela o empurrou na cama e ele sorriu, gostando de sua ousadia e de sua ânsia por ele.
Mas, inferno, a cama era boa embaixo dele.
Alguém bateu na porta. Patrick ignorou e continuou a beijá-la. Como ele suspeitava, seus lábios eram suaves, cedendo à sua língua magistral. Sim, ele sabia como beijar uma moça. Ele fazia isso desde que era um garoto de treze verões, praticando a arte quase com a mesma frequência que praticava a luta.
A batida veio de novo, mais forte do que antes. Patrick saltou da cama e puxou a calça pela perna nua.
Seguiu-se um chute, arrancando a porta das pequenas dobradiças. A moça gritou com a figura gigante de um homem bloqueando a porta.
— Solte-a antes que eu arranque a cabeça de seus ombros.
Patrick lançou à moça um olhar azedo. O intruso era seu marido ou irmão ou algum outro guardião maldito que ela não mencionou. Ele ergueu as mãos para afastar o bruto. Ele não queria lutar. Ele não tinha certeza se sua força iria aguentar.
— Tenho certeza que podemos...
O bruto não se importou em falar e veio para ele se lançando, dando a Patrick nenhuma escolha a não ser lutar.
Patrick se abaixou com facilidade e desferiu o primeiro golpe, depois o segundo. Ele torceu a boca em um sorriso selvagem quando sentiu o nariz do ogro estalar contra os nós dos dedos. Tudo bem, então, ele lutava ainda melhor do que beijava.
Ignorando a dor do nariz quebrado, o homem deu outro soco, trazendo uma leve brisa perto do rosto de Patrick enquanto se defendia do golpe.
Com as pernas plantadas, Patrick curvou-se para a esquerda e depois para trás, evitando mais dois socos no queixo.
Voltando para ele, Patrick desferiu um golpe de esquerda nas entranhas da fera e um golpe de direita na mandíbula, em seguida, encerrou a combinação com outro murro na barriga.
A dor parecia apenas enfurecer o bruto ainda mais.
Surpreso que seus golpes tivessem causado tão poucos danos, Patrick piscou e deu um soco na mandíbula que jogou sua cabeça para trás e soltou um dente.
Enquanto ele rolava a ponta da língua sobre os dentes, seus olhos se arregalaram e ficaram em um tom mais escuro de verde. Isso não funcionaria. Um nariz quebrado e ligeiramente torto era uma coisa. Um dente perdido e nenhum dano no oponente era tolice.
— Vamos conversar sobre isso. — Ele ergueu as mãos novamente, mas seu oponente não mostrou misericórdia e bateu com o punho na lateral de Patrick.
Inferno, ele pensou enquanto se curvava tentando recuperar o fôlego, o golpe poderia ter sido um pouco mais baixo.
— Hamish, chega! — A moça gritou.
Sem lhe dar atenção, Hamish o puxou pela clavícula, puxou-o para fora do quarto e, em seguida, pela varanda. As costas de Patrick bateram na mesa abaixo. Ele quase desmaiou, mas por mais tentador que fosse, ele lutaria para se segurar da vitória.
Em meio aos gritos assustados de algumas das mulheres presentes, ele gemeu e testou o movimento de seus braços. A dor era suportável, e foi bom porque Hamish estava descendo as escadas correndo e vindo para cima dele novamente.
Empurrando a madeira lascada de lado, Patrick se levantou e enfrentou o bastardo resiliente mais uma vez. Ele tinha uma adaga na bota, mas por que matar um homem quando era desnecessário? A voz de seu pai ecoou dentro dele. Hamish era grande e perigoso, mas Patrick não lhe daria a chance de lhe causar mal. Ele não mataria Hamish, mas teria que eliminá-lo rapidamente.
No instante em que o gigante o alcançou, Patrick acertou o punho esquerdo em seu rosto, seguido pelo direito. Ele lançou o punho para cima, levantando um pouco os pés de Hamish do chão com um soco arrancador de dentes. Outro homem teria sucumbido ao ataque de Patrick, mas não este.
Ele respondeu a Patrick com um soco no queixo que o fez balançar a cabeça para ficar de pé. Inferno, ele estava cansado de lutar o dia todo. Ele só queria uma maldita cama!
Com o canto do olho, ele viu a serva com quem estivera no quarto, correndo em direção a eles, com uma jarra de madeira quase colada contra seu espartilho atado casualmente. Patrick suspirou de alívio. Era exatamente o que ele precisava. Ele a tirou das mãos dela quando ela o alcançou e, ignorando seu grito de surpresa, jogou a jarra contra a têmpora de Hamish.
O desajeitado idiota caiu no chão com um estrondo que sacudiu as paredes. A moça correu para ele enquanto Patrick observava. Ele sabia que o jarro era para sua cabeça. Felizmente, seus reflexos foram rápidos. Ele não perguntou quem era o homem ou por que ele chutou a porta para chegar até ela. Patrick não se importava. Mas por que ela o levou para sua cama quando sabia que havia um bruto gigante rondando, esperando para protegê-la de patifes como ele? Ele quase teve um dente arrancado. E para quê? Um pouco de prazer e uma cama quentinha? Ele não teve nenhum. As mulheres eram problemas.
Ele contornou a moça e seu herói caído e olhou para os rostos na taverna. Cada um exibia a mesma expressão de descrença atordoada. Ele separou a multidão silenciosa com um passo em direção ao taberneiro, jogou-lhe algumas moedas para pagar a mesa e depois saiu, amaldiçoando os músculos doloridos. Não haveria cama para ele aqui esta noite.
Charlotte Cunningham, junto com os outros fregueses do Blind Jack's, ouviu a porta de Beth sendo arrancada das dobradiças quando Hamish a derrubou. Todos sabiam que Hamish amava Bethany. Bem, ela sabia e o provocava, o estranho não sabia. Ninguém se moveu enquanto ouvia os dois homens lutando nas escadas acima. Ela, junto com o pobre Ennis, o taberneiro, observou o estranho sair do quarto de Bethany e destruir a mesa embaixo dele.
Charlotte pensou que ele estava morto e ficou surpresa quando viu que não estava. O que a surpreendeu mais foi quando ele se levantou e se preparou para outro ataque de seu oponente maior. O plaid e o léine que ele usava por baixo foram descartados, provavelmente no chão do quarto de Bethany. Seu torso longo e nu ondulou com músculos volumosos. Seu peito largo era bem definido por uma camada de pelos alguns tons mais escuros do que sua cabeça ruiva. Ela gostou de sua coragem e ficou maravilhada com sua habilidade quando ele desferiu uma série de golpes brutais no rosto de Hamish. Ela se perguntava quem ele era. A notícia geralmente se espalhava rapidamente quando um estranho chegava a qualquer uma das aldeias vizinhas.
Ela não foi capaz de esperar para descobrir. Ela já estava lá há muito tempo. Se um de seus irmãos ou seu pai acordassem e descobrissem que ela havia saído, eles tornariam sua vida um inferno pelo próximo mês.
Ela deixou a taverna antes que o vencedor fosse coroado. Não demoraria muito para chegar em casa se apressasse o cavalo.
Enquanto cavalgava em direção a Pinwherry, ela se amaldiçoou por se demorar, observando o patife lutando. Ela o notou quando chegou em Blind Jack's. Era difícil não notar uma estrela caída iluminando a taverna escura. Totalmente à vontade com o ambiente, ele riu com alguns dos outros clientes e mostrou uma covinha marota para as servas. Suas mãos foram rápidas quando ele pegou Bethany em uma e sua jarra na outra.
Charlie admitiria, ela pensou enquanto cavalgava em direção a casa, que o estranho era sem dúvida o homem mais perversamente atraente que já cruzou seu caminho. Ele a tirou de sua mesa onde se sentara com o taberneiro que acabara de lhe dar uma informação que foi bem recebida.
Ela seguiu o som da risada do estranho. Ela o observou das sombras enquanto ele puxava Bethany para seu colo. Suspeitava que ele fosse o pior tipo de libertino, do tipo sobre o qual ela tinha sido avisada, mas se aproximou enquanto ele inclinava a boca para a garganta de Bethany. Ela não esperava que ele olhasse para cima e a visse nas sombras. Seus olhos ardiam, um fogo contido com controle medido. Seus lábios carnudos e inebriantes se inclinaram com arrogância e vitória quando ela fingiu desinteresse.
Ele era um patife e muito perigoso. Ela não pôde deixar de se perguntar como ele conseguiu derrotar um homem furioso que tinha o dobro do seu tamanho.
Ela não importava. Felizmente, ela nunca o veria novamente depois desta noite. Ela pararia de pensar nele agora.
No dia seguinte, Patrick viajou para o Sul em direção à aldeia de Pinwherry a caminho de Colmonell. A viagem por si só deu-lhe tempo para considerar as coisas que recentemente começaram a incomodá-lo. Por exemplo, quando as moças começaram a perder o brilho e o interesse dele? Por que, apesar da terra dura embaixo dele, ele se sentiu aliviado por dormir sozinho na noite anterior? Ele estava doente? O que mudou? Normalmente ele não teria pensado duas vezes em dormir com uma moça. A mudança era boa. Isso ajudava a crescer. Mas não desta vez.
Sua falta de interesse no casamento era algo que ele frequentemente tinha que explicar para seus parentes. Patrick sabia o que se esperava dele. Mas ele gostava de sua vida do jeito que era, sem ninguém a quem responder, ninguém por quem ser responsável a não ser ele mesmo. Ele não queria que isso mudasse.
À noite, sozinho nas camas pelas quais pagou, examinava mais profundamente sua vida. Sendo um proscrito MacGregor, ele não temia muito. Mas amor? Agora, havia um poder que ele confessaria que o assustava profundamente. O amor tem o poder de mudar um homem, de mudar o curso de sua vida. Ele tinha visto isso acontecer tantas vezes em casa. Os guerreiros poderosos foram reduzidos a amores-perfeitos empunhando urzes e flores para suas mulheres. Mesmo Malcolm e Darach haviam deixado de perseguir saias para perseguir seus filhos. Era realmente lamentável. Ele não queria viver uma vida ditada por compromissos e deveres para com ninguém. Ele não queria se apaixonar. Ele cresceu ouvindo histórias extraordinárias sobre isso, de ver os efeitos disso na vida de seus parentes. Não era porque ele não acreditava em seu poder. Era justo porque acreditava.
Se fosse para se apaixonar, ele teria que estar preparado para desistir não apenas de seu coração, mas de sua alma também. Ele não tinha interesse nesse tipo de vida. Ele era jovem e viril e estava gostando disso.
Ele alcançou o rio Stinchar quando o sol da tarde formou flashes dourados de luz na superfície ondulante... e em uma deusa molhando os dedos dos pés na água, suas saias subiam até as coxas.
Patrick não tinha certeza se ela era uma mera garota. Brincando nos riachos brilhantes, ela parecia mais uma fada da floresta autoindulgente iluminada pelo sol. Ela não usava camadas de lã pesada, nem mesmo uma jaqueta ou a túnica escocesa arisaid, mas um vestido de linho azul esvoaçante com fios de ouro costurados em volta do pescoço e das mangas. Os laços combinando mantinham o espartilho apertado em torno de sua cintura fina e seios fartos. Ele observou atrás de um grupo de árvores enquanto ela girava em um círculo com alegria a luz do dia, suas saias se alargando ligeiramente em seus quadris, o tecido fino o suficiente para expor a silhueta de suas pernas longas e bem torneadas. Ele se esqueceu de respirar quando seus cachos negros se espalharam ao redor dela, uma coroa de margaridas em sua testa.
Ele não conseguia se mover. Ele não conseguia pensar em nada além de se juntar a ela, mas suas pernas estavam pesadas, seus pensamentos confusos pela visão dela saltando sobre a água como se ela fosse um véu na brisa de verão. Seu coração saltou ao vê-la perdida em seus próprios devaneios, a liberdade personificada. Acontecia com ele algo sobrenatural, enviada para seduzir os homens a pecar com seus grandes olhos escuros e felinos e tornozelos delicados?
Ele se perguntava se seria seduzido por ela. O que ela poderia querer dele em troca de um tempo em sua cama? O que ele estaria disposto a dar a uma beleza tão delicada?
Sua irmã o teria repreendido por espionar a ninfa escondida. Ele quase riu, revelando sua posição. Ela era feita de mistério e capricho, de margaridas e escuridão. Como ele poderia não olhar para ela? Uma voz minúscula e irritante... provavelmente de um dos livros de Kate MacGregor sobre comportamento cavalheiresco... o compeliu a fazer sua presença conhecida, mas Patrick decidiu ir contra isso. Ele havia deixado Camlochlin e as noções pelas quais seus parentes viviam tão firmemente. A honra negaria seu desejo, o repreenderia.
Então ele a observou, sem vergonha e curioso para saber como ganhar o favor de uma ninfa da floresta.
Capítulo 02
Charlotte levantou os pés espirrando água para cima. Ela riu quando as gotas caíram em seu rosto.
Oh, que dia glorioso!
Ela ajustou o círculo de margaridas em volta da testa e inclinou o rosto em direção ao sol. A água do rio estava especialmente quente hoje, acalmando seus pensamentos ansiosos. Ela se deleitou com os sons da natureza ao seu redor e nada mais. O cantar dos pássaros nas árvores, as abelhas zumbiam enquanto pairavam sobre as margaridas, a água corria sobre as rochas. Ela aproveitou o tempo que passara sozinha, longe dos limites estritos, ou assim ele pensava, de seu pai.
Seu único arrependimento hoje foi não ter insistido em levar Elsie junto. Ela faria as pazes com a irmã mais tarde.
Ela ouviu um som à sua esquerda e levantou a saia para virar. Ela procurou nos galhos de uma velha bétula pela cotovia que pousara nele. Quando a encontrou, ela assobiou, sorriu e então voltou para o banco com uma música nos lábios.
Ela procurou por seus irmãos Duff e Hendry. Não que ela quisesse que eles se apressassem em sua caça. Adorava estar longe da companhia deles, livre para fazer o que bem entendesse, que era uma coroa de margaridas e entrar na água. Mas o pai deles ficaria com raiva se soubesse por quanto tempo eles a deixaram sozinha. Ela era uma filha problemática, muito mais desafiadora do que Elsie, mas odiava os medos do pai, as regras e ambições intermináveis. Ele tentou casá-la várias vezes para obter algum lucro ou outro. Mas ela conseguiu convencer todos os possíveis pretendentes, até agora, de que não era adequada para ser uma esposa. Ela tinha defeitos, e muitos. Sendo que ela gostava de tomar suas próprias decisões... uma ofensa hedionda para a maioria dos homens. Com seu último pretendente, Geoffrey, barão de Ardrossan, precisava ser um pouco mais convincente.
Ela se encostou em uma árvore e olhou para o rio brilhando contra seus olhos, as montanhas muito além. Um dia, ela iria viajar por eles com Elsie, ambas libertadas da tirania e das promessas vazias de homens que não podiam se comparar a um menino.
Ela ouviu outro som e enfiou a mão sob a saia para pegar a funda2. Ela poderia cuidar de si mesma. Uma moça não frequentava tavernas com seus decadentes frequentadores sem aprender a se proteger.
Por que seu coração estava batendo forte de repente? Ninguém em uma faixa de cem léguas era tolo o suficiente para invadir as terras de Allan Cunningham. Seu pai, como seus dois filhos, não se importava com quem matava, especialmente se o invasor fosse um Fergusson.
Mas assim que ela se convenceu de sua segurança, ouviu um farfalhar na folhagem. Pode ser um cervo. Oh, ela esperava que fosse. Ela procurou por uma pedra.
Seu coração quase parou quando ela olhou para cima e ver um homem erguendo-se de sua posição agachada nos arbustos espessos. E não qualquer homem, mas o aparente vencedor da briga da noite passada! Em plena luz do dia, vestido com nada além de um par de calças de lã justas, botas de couro e uma mandíbula roxa, ele parecia tão grande quanto Hamish e apto o suficiente para derrubá-la. As mãos que ele ergueu eram grandes o suficiente para matá-la com pouco esforço. Ela sabia o quão poderoso ele era, quão rápido. A leve inclinação de sua boca quase a convenceu de que custaria ainda menos esforço chegar a sua garganta para devorá-la como ele devorou Bethany.
Ela olhou em volta. Onde estavam seus irmãos? O que esse estranho estava fazendo aqui? Ele a tinha seguido? Deveria ter medo dele, mas ela tinha sua funda. Ela estava com mais medo dele contar aos irmãos que a vira na taverna.
— Fique onde está. — Ela gritou e ergueu a arma. O homem ficou imóvel, olhando a funda de couro em sua mão.
Algo em seu olhar brilhou com o reconhecimento. Droga!
— Moça, onde você...?
Ela não esperou que ele terminasse, mas girou a arma sobre a cabeça. Ela não sabia nada sobre ele, exceto que era forte, tinha se escondido nos arbustos e era um libertino. Ela não se arriscaria.
— Espere! — Ele gritou, levantando as mãos mais alto em rendição. A luz do sol gotejou sobre seus braços esculpidos. Seus ombros flexionaram, uma ondulação de movimento e uma promessa de poder puro e sólido. — Permita-me outro momento para vê-la e me convencer de que é real.
Ela não respirou na quietude de espera. Ela cresceu entre os homens, aprendendo com seu amado Kendrick a não confiar neles, com seu pai a temê-los e com seus irmãos a manter sua língua controlada. Ela sabia, por suas visitas a diferentes tavernas, como os homens eram quando queriam alguma coisa. Mas nenhum deles jamais havia falado com ela dessa maneira e com ousadia e audácia em percorrer seu olhar apreciativo sobre ela, desde a coroa de margaridas até os pés descalços e bronzeados.
Mesmo com a pequena clareira entre eles, Charlotte sentiu como se ele a tocasse com seus olhos verdes brilhantes como joias.
Ela ergueu a funda novamente. Ele não era nada mais do que um canalha de língua prateada que provavelmente estava aqui para forçá-la.
— Eu imploro sua misericórdia, Anjo. — Ele gritou, em seguida, baixou o queixo sobre o peito como um servo arrependido. — Mas se tiver de atirar, mire na minha cabeça e ore por mim para que, se eu acordar, não me lembre de você.
Ela sorriu para o idiota quando ele olhou para cima.
— Você é um canalha inteligente.
Ela desejou estar mais perto apenas para ver se seus cílios eram tão longos e exuberantes ao redor de seus olhos verdes quanto pareciam à distância.
Mas um rosto, por mais atraente que fosse, não significava nada para ela. Palavras floridas significavam ainda menos. Duff e Hendry eram demônios bonitos e usavam sua beleza para conseguir o que queriam das mulheres.
Ela não era tão tola.
— O que você quer? — Ela exigiu. — Meus irmãos estão logo acima daquela colina. — Ela apontou para a pequena colina à direita.
— Só mais um momento para contemplar sua beleza. — Seu sorriso escureceu com humor e algo mais que aprofundou sua voz cadenciada para um timbre rouco. Desceu por sua espinha e fez seu sangue ferver.
Patife. Ela o tinha visto atuando. Ele era um matador de corações, mas não teria o dela. Ninguém jamais teria. Ela tinha coisas mais importantes a fazer do que ser envolvida, como uma idiota, por um homem. Além disso, se ela atirasse nele agora, ele cairia nos arbustos e permaneceria invisível para seus irmãos quando eles voltassem por ela. Não havia razão para fazer com que o libertino fosse morto por admirá-la.
— Eu prefiro nocautear você. — Ela jogou a funda por sobre o ombro e deixou a pedra voar.
— Charlie! — Seu irmão Hendry, tendo finalmente chegado um momento antes da hora, gritou da sela. Ambos ouviram a rocha atingir o alvo e o subsequente baque de um corpo caindo no chão.
Charlotte mordeu o lábio observando seus irmãos levantarem o homem e colocá-lo sobre a sela.
— Quem é ele? — Hendry perguntou enquanto eles voltavam para casa. — E por que ele não usa camisa ou casaco?
— Como eu vou saber? — Ela fez o possível para manter a delação fora de seu questionamento. — Ele apareceu enquanto eu esperava que você e Duff viessem me buscar.
Isso o abalou, como ela esperava. Seus irmãos estavam com medo de seu pai.
— Por que você não chamou por nós? — Duff perguntou a ela enquanto uma brisa levantava seus cabelos escuros e os arrastava sobre os olhos prateados como o estanho. Ele não era tão vil quanto Hendry ou seu pai. O mais velho de seus irmãos com vinte e seis anos, tinha mais paciência... principalmente com ela e Elsie. Às vezes, seus olhos se aqueciam em Charlie e ela se lembrava de como ele a adorava quando criança... apesar dos ensinamentos de seu pai de nunca se tornar fraco por outra pessoa, mesmo parentes.
Embora ela nunca fosse voltar a ser criança, usou seu afeto por ela a seu favor.
— Eu chamei. — Ela mentiu, em seguida, fungou. — Papai vai ficar com raiva de mim por ter ficado sozinha, quando foi você e Hendry que me deixaram. — Ela não dava a mínima que seus irmãos a tivessem deixado sozinha, mas seu pai daria. — Eu pensei que vocês tinham me esquecido.
— Nós não esqueceríamos de você, Charlie. — Duff a tranquilizou, suavizando seu tom um pouquinho e movendo seu cavalo um pouco mais perto do dela.
O cabelo dourado de Hendry voou em seu sorriso dúbio.
— É por isso que você o derrubou no chão com sua funda?
A carranca da testa de Duff lançou sombras sobre seus olhos.
— Você usou sua funda?
— Sim, — ela confessou, — e se você e Hendry concordarem em manter minha funda em segredo, eu também concordarei em não contar a papai que me deixaram por tempo suficiente para que isso acontecesse.
Ela rezou para que ele concordasse. Seu pai a proibiu de usar sua funda. Ele não tinha nenhum problema que ela soubesse como se proteger de estranhos, mas não com sua funda. Tinha pertencido a um menino que ela amou mais do que a própria vida. Um menino em que ela pensava com frequência e nunca esqueceria. Ela tinha dez anos quando ele finalmente concordou em ensiná-la a usá-la. Ela praticou todos os dias desde a morte dele, cinco anos atrás, até que sua habilidade fosse incomparável.
Ela havia feito muitas cópias de sua funda ao longo dos anos, principalmente porque seu pai sempre exigia que a quebrasse sempre que descobria que a havia usado. Ela sempre dava a ele uma réplica. Ela nunca desistiria da original. Era tudo que ela tinha para se lembrar de Kendrick Fergusson.
— Que escolha eu tinha? Deixar ele me estuprar?
Duff lançou seu olhar negro sobre o estranho jogado sobre seu garanhão cinza.
— Ele tentou estuprar você?
Ela olhou para o Highlander, ainda inconsciente, e se lembrou de como seu olhar caiu sobre ela hoje e na noite anterior, quando ele olhou para cima devorando o pescoço de Bethany com aqueles olhos verdes ardentes, como se ela fosse um pedaço de carne de veado assada e ele não havia comido em quinze dias.
— Não. Eu quis dizer... — Droga! Hendry não tinha matado o estranho e ela queria mantê-lo assim. — Eu não sei o que ele queria. Eu não ficaria parada esperando para descobrir.
— Talvez, se você não se vestisse como uma vagabunda...
— Hendry. — Duff avisou em um rosnado baixo.
— Vamos, Duff. — Hendry argumentou como o idiota que era. — Ela é estranha e você sabe disso. Ela está sempre querendo vir caçar conosco, mas não caça. Em vez disso, ela foge para ficar sozinha e mergulha no rio como alguém...
— Isso é o suficiente. — Seu irmão mais velho avisou, desta vez com mais significado. — Você vai deixá-la em paz ou vou quebrar seu nariz de novo.
Charlie apertou a mandíbula para não contar a Hendry o que pensava dele. Não era culpa dela que trabalhar o dia todo nos celeiros de aveia e trigo, limpar os estábulos, plantar, colher e alimentar as galinhas bastasse para deixá-la exausta. Ela tinha dezenove anos e gostava de tomar sol e rir com os anciões.
— Você acha que ele é um Fergusson, Duff? — Hendry perguntou, mudando de assunto.
Ela gemeu interiormente, esperando que ele não fosse. Ela poderia ter apenas instigado outro ataque dos Fergussons.
Seu olhar caiu para o ousado canalha novamente e as cores quentes do outono em seu cabelo. Laranja e bronze queimados pelo sol, aninhados em tons de castanho mais para o terroso.
O cabelo de Kendrick era da mesma cor. Talvez um pouco mais vermelho. Ela sorriu lembrando-se do menino que ainda segurava seu coração, tornando impossível para qualquer outro tomar seu lugar. Assim que ele saiu de sua vida, seu pai se certificou de que ela nunca mais perderia seu coração para um Fergusson novamente. Ele os odiava por causa de alguma rixa ridícula cujo início nenhum dos clãs conseguia se lembrar. E depois que a coisa terrível foi feita, e quase toda sua família escapou ilesa, seu pai não confiava em nenhum estranho que aparecesse em suas terras para que não fosse um assassino enviado por Fergusson para terminar o que eles começaram. E se os Fergussons voltassem, quem os impediria desta vez?
— Vamos torcer para que ele não seja um Fergusson. — Duff disse em um tom neutro. Ele chutou sua montaria e murmurou ao passar por sua irmã. — Imbecil.
Charlie não respondeu, já que ele estava falando consigo mesmo e não com ela. Mas ela concordava com ele. Todos deveriam torcer para que ele não fosse um Fergusson, já que ela o feriu e provavelmente iniciaria outra guerra. E Hendry era um imbecil.
Enquanto eles cavalgavam em direção a Cunningham House, a paisagem se espalhava diante dela em colinas e vales rasos pontilhados com ovelhas pastando e cabanas com telhado de palha mais além.
Atravessando a antiga ponte levadiça, eles se aproximaram da casa de dois andares, que precisava de uma nova pintura de cal e algumas pedras para substituir as que estavam em ruínas. O estábulo e o galinheiro também precisavam de reparos, deveres geralmente desempenhados pelos servos de seu pai na aldeia, mas Allan Cunningham preferia que seus inquilinos pagassem pela pouca proteção ou ajuda que ele oferecia, com moedas em vez de trabalho. A maioria dos aldeões em Pinwherry era pobre ou doente, ou ambos.
Charlie olhou para Bhaltair e Kevin, os dois guardas vigiando de uma torre alta a oeste da casa. Outros dois patrulhavam o perímetro... certamente não havia homens suficientes para conter um ataque caso os Fergussons viessem. Eles vieram apenas uma vez, mas ninguém se esqueceu dos mortos que deixaram para trás. Principalmente Charlie. Os homens na zona rural circundante foram avisados para não proteger os Cunninghams. E quando Cameron, John e Tamas Fergusson avisaram um homem sobre algo, este ouvia. Cunningham House não tinha meirinho3, nem reeve4, e o único padre morava na aldeia.
Ao se aproximarem do pequeno portão externo, o intruso começou a se mover. Hendry percebeu e cavalgou até ele. O sangue de Charlie gelou quando seu irmão chutou o homem na cabeça, nocauteando-o novamente.
Ela recuou e olhou para ele.
— Sua violência desnecessária me deixa doente, Hendry. — Ela ignorou seu olhar assassino. Ele não tentaria atingi-la com Duff aqui. — Um dia alguém vai te dar a surra que você merece.
— Não é provável. — Ele falou lentamente e continuou.
Esquecendo o irmão por enquanto, Charlie acenou para Alice, a cozinheira dos Cunninghams, quando ela saiu da pequena casa dos servos construída dentro do portão interno, este — o portão — era feito com estacas curtas e arbustos.
Charlie conduziu seu cavalo em direção ao estábulo, mas Duff a chamou de volta.
— Hendry cuidará de sua montaria, Charlie.
— Por que eu tenho que cuidar do cavalo dela?
Ela lançou a Hendry outro olhar que aqueceu seus grandes olhos cor de carvão e desmontou.
Ela não discutiu, no entanto. Por que provocá-lo para que se vingasse dela mais tarde? Ela mordeu a língua até quase sangrar, pois aprendera que às vezes era melhor domesticar a língua do que manejá-la.
— Charlie. — Duff gritou novamente. — Sua funda.
Ela girou nos calcanhares e olhou para ele com os olhos arregalados.
— Você vai contar a papai e me desarmar então?
Ele balançou sua cabeça.
— Vou dar uma pistola a você pela manhã.
— Eu não quero uma pistola.
Ele estendeu a mão para a funda. Ela deu a ele um último olhar furioso, então levantou a saia sobre a perna esquerda e puxou a falsificação de onde estava presa. Depois de entregá-la, ela se virou, sorriu e caminhou com a funda de Kendrick ainda presa em sua perna direita.
Quando entrou na casa, ela viu sua irmã descendo escada abaixo, suas anáguas pesadas levantadas com as duas mãos.
— Graças a Deus, você voltou! Você se foi a manhã toda! — Elsie exclamou com sua paixão pelo drama. Suas ondas douradas saltavam sobre seus ombros diminutos, seus olhos azuis arregalados de apreensão. — Eu estava começando a temer que algo terrível pudesse ter acontecido.
— Eu te disse, querida. — Charlie arrulhou e pegou a mão de sua irmã. — Nada vai me tirar de você.
E nada iria. A mãe deles morrera cinco anos antes. Elsie era bebê de um ano e costumava ficar doente e precisava de cuidados maternos. Charlie felizmente assumiu o dever. O curandeiro da aldeia a tratou com várias misturas, mas nenhuma delas ajudou a melhorar o estado de Elsie. Na maioria das vezes, a pobre querida perdia o fôlego, às vezes ela lutava contra cada um. Foi difícil testemunhar, especialmente quando seus ataques a deixavam fraca e pálida por dias. Tinha que haver uma maneira de ajudá-la. Segundo o curandeiro, mantê-la dentro de casa e protegida das intempéries era tudo o que podiam fazer. Charlie se recusou a acreditar. Havia outros curandeiros lá fora. Ela encontrou alguns. Ela iria encontrar todos eles, e não iria parar de procurar até que encontrasse aquele com a cura. Até então, ela fazia o possível a cada dia para ensinar Elsie a ser uma mulher forte e confiante.
— Charlotte! — Seu pai gritou da sala. — Traga seu traseiro aqui, garota!
Charlie fechou os olhos. Malditos irmãos por lhe dizerem qualquer coisa. Ele sempre exagerava e ela estava cansada disso.
— Eu vou com você. — Elsie ofereceu, mordendo o lábio.
— Não, querida. — Charlie sorriu ternamente para ela. — Espere aqui por mim e faremos algo emocionante quando eu terminar com ele.
— Você quer dizer depois que ele terminar com você.
Charlie balançou a cabeça. Cinco anos de seus gritos a ensinaram que concordar com o pai era a melhor maneira de acalmá-lo. Ela iria lidar com ele, mas por enquanto preferia não perder mais tempo com o pai.
— Eu fiz isso para você. — Ela tirou a tiara de margarida e colocou-a sobre a testa da irmã, em seguida, deu um passo para trás para admirá-la. — Você parece uma fada rainha.
— Charlotte! Maldita seja! — Seu pai gritou.
Elsie a deteve quando Charlie se virou para responder ao seu palavrão estrondoso. Ela se aproximou e beijou a bochecha de Charlie.
— Eu fiz algo para você também. — Ela pegou a mão de Charlie e colocou uma pequena adaga com o cabo de couro no meio dela.
Charlie olhou para a lâmina curta e curva, negra como um céu sem lua.
— O que é isso? — Ela perguntou passando o dedo ao longo da borda. Ela recuou quando a lâmina cortou sua pele e tirou sangue.
— É um vidro muito duro. — Elsie disse a ela em sua voz suave e ofegante. — É chamado de obsidiana. Como seus olhos.
Elas sorriram uma para a outra, se beijaram novamente e então Charlie escondeu a adaga sob a saia e saiu correndo.
— Ele não me disse quem era, pai.
— Bem, o que ele disse a você, Charlotte?
Allan Cunningham sentou-se em frente a ela e à esquerda de seus irmãos na sala privada. A sala de visitas nada mais era do que uma câmara de pedra e madeira com uma pequena lareira e várias cadeiras almofadadas. Mas, de acordo com Lachlan Wallace, o curtidor da vila, a propriedade Tarrick Hall de Cameron Fergusson tinha uma sala de estar, então seu pai também tinha que ter uma.
— Ele não teve tempo de falar muito. — Disse Charlie ao pai, tentando ser paciente. Ela odiava ter que ficar diante dele em sua sala abafada e prestar contas de tudo que fazia. Ela preferia estar ao ar livre tomando banho de sol. — Ele me implorou para não bater nele. Duff está com minha funda, como você já sabe, e eu peço de volta.
— Eu não sabia. — Ele a informou, lançando a seu filho um olhar surpreso.
Charlie se virou para ele também. Ela não iria sorrir ou agradecer por não ter contado a seu pai, mas estava feliz por ele não ter contado. Ele ainda era leal a ela. Quebrou um pouco seu coração lembrar o quanto o amava. Que ela não só perdeu Kendrick, mas ele também. Ele sempre foi um irmão melhor para ela do que Hendry, que tinha ciúme de qualquer atenção que seu pai dava a qualquer pessoa que não fosse ele. Duff tinha sido uma pessoa melhor, ou assim ela acreditava. Sua parte na morte de Kendrick doía mais do que o resto. Ela não poderia perdoá-lo.
— Vou considerar isso. — Os olhos escuros de seu pai estreitaram-se sobre ela antes de falar novamente. — Você o derrubou depois que ele pediu sua misericórdia?
Ela assentiu com a cabeça, mantendo o que realmente pensava de seu pai escondido atrás de uma expressão impassível bem praticada.
— Você aprendeu bem, filha. — Ele sorriu. Ela não sorriu de volta. — As pessoas são implacáveis. Você também deve ser impiedosa. Ele disse mais alguma coisa?
Ela perguntou ao estranho o que ele queria. A inclinação conquistadora de seu sorriso tinha sido crivada com um magnetismo natural que a abalou um pouco.
Só mais um momento para contemplar sua beleza.
— Seu nome, talvez? — Seu pai pressionou.
O que ele faria com o estranho se ele fosse um Fergusson? Seu pai seria um tolo em machucar o homem e trazer Cameron Fergusson e seus irmãos de volta para a Cunningham House? Eles tinham quatro guardas. Quatro. O que quatro guardas fariam quando os Fergussons poderiam derrubar cinquenta?
— Não esperei que ele dissesse mais nada.
Seu pai riu e então ofereceu a ela um aceno de aprovação.
— Duff, devolva a funda para ela.
Ela ainda não sorriu. Eles poderiam ficar com a funda por tudo que ela se importasse. Ela tinha a original.
— Obrigada pai. — Ela baixou a cabeça e se virou para o irmão. Ele lhe deu a funda e o mais leve dos sorrisos.
— Você pode ir, Charlotte. — Seu pai gritou. — E tire essa pintura escura de kohl5 de seus olhos. Você parece uma mulher de bordel.
Ela permaneceu imperturbável por seu insulto enquanto se virava para encará-lo novamente.
— Os guerreiros costumavam pintar o rosto, pai. — E ela era uma guerreira, não era? Talvez não do tipo que ele preferiria, mas isso pouco importava. Ela fez tudo o que pôde para ajudar sua irmã e os outros. Desafiando seu pai e seus irmãos com suas visitas noturnas ao ar livre. Ela lutaria até a morte pela liberdade que perdeu cinco anos atrás devido do medo de seu pai pelos Fergussons. Às vezes, ela pintava os olhos para se lembrar de quem era.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Eles pintavam, não é? — Ele a olhou desde o seu manto de cabelos negros para suas saias longas e esvoaçantes que ela mesma costurou, para seus pés descalços, e fez uma careta no final.
— Você certamente não se parece com um. — Ele finalmente concluiu. — Eu preferiria que você se vestisse de forma aceitáveis e usasse seu earasaid6. Você parece desfrutável nessas saias transparentes.
Ele não a conhecia. Ele, antes, costumava conhecê-la, mas não mais. Não desde que sua mãe foi morta.
— As aparências enganam.
— Assim parece. — Ele a dispensou com um aceno.
Ela se virou para ir embora, recusando-se a se lembrar do pai feliz e gentil que a criou até que ela tinha quatorze anos, o ano, sem o seu conhecimento na época, que ele ordenou que seus irmãos assassinassem Kendrick.
Ela havia sofrido uma vida de cinco longos anos com ele e estava determinada a afastar Elsie de sua maneira envenenada de pensar e de sua língua fria e insensível.
Mas por hoje... Ela parou na porta. Havia algo que ela desejava fazer e precisava da permissão de seu pai, do contrário se encontraria trancada em seu quarto pela próxima semana.
— Posso levar Elsie para a aldeia? Eu acredito que o sol faz bem a ela.
Ele ergueu uma sobrancelha grisalha.
— Você pensa em saber mais do que Ennis Kennedy, o médico7?
Ela cruzou as mãos na frente dela, sua funda pendurada em uma mão, e se manteve firme.
— Eu conheço Elsie mais do que ele. Quanto a saber o que é melhor para ela, mamãe sempre dizia que rir era um bom remédio.
Ela segurou firme sua expressão estoica, mantendo um sorriso vitorioso escondido. Se houve alguém que Allan Cunningham amava, era sua esposa. Ele não discordaria de nada que sua querida Margaret tivesse acreditado.
Charlie nem mesmo teve que continuar. Ele iria conceder o que ela pedisse. Ela se sentia um pouco culpada por usar sua amada mãe para conseguir o que queria, mas sempre faria o que precisava ser feito.
— Elsie não ri quando está trancada dentro dessas paredes.
Ele olhou para o céu e bateu a palma da mão na coxa.
— Margaret, — ele lamentou dramaticamente, — por que você me deixou com uma criatura tão doente?
Charlie se afastou dele, odiando como ele se sentia sobre a doença de Elsie. Para ele, ela era fraca e um fardo.
— Vá. — Ele suspirou como se ela o exaurisse. — Não fique fora por muito tempo.
Charlie fechou a porta atrás dela, feliz por estar longe dele e de seus irmãos. Algum dia, quando os aldeões estivessem a salvo de seu pai e de Hendry, ela tiraria Elsie desta casa. Elas viveriam sozinhas em uma pequena cabana em algum lugar perto da água. Mas até então, havia coisas a serem feitas. Uma delas era encontrar uma cura para a doença respiratória de sua irmã. A outra era ainda mais impossível. Pensando nisso, ela rezou para que a bolsa de moedas que ela havia escondido no andar de cima em uma de suas botas de inverno permanecesse sem ser achada até que ela pudesse sair de casa esta noite.
Mas agora havia outro assunto que precisava de sua atenção.
Ela não perguntou a seu pai sobre seu prisioneiro. O estranho não tinha sido trazido para dentro de casa, então ele deve ter sido levado para o estábulo... que era para onde ela planejava ir.
Ela não tinha medo de estar perto do Highlander. Seus irmãos nunca o teriam deixado solto. Não se ele fosse um Fergusson. Ele era? Se fosse, ela achava que ele não seria sincero sobre isso, já que o único motivo pelo qual teria vindo aqui seria procurando problemas. Ela descobriria a verdade se pudesse, e possivelmente salvaria todas as suas vidas.
Ela não iria ajudá-lo porque gostava dele. Ela não o conhecia. Ela com certeza não gostava de libertinos. Eles eram o pior tipo de homem, versados em palavras floreadas, eles seduziam, pegavam o que queriam e depois partiam. Ela tinha visto os efeitos disso em primeira mão. Ela não queria que esse tipo de possível problema complicasse sua vida.
Se ele fosse um Fergusson, ela deveria odiá-lo como seu pai e seus irmãos odiavam. Mas ela não odiava o clã. Ela queria esquecê-los. Ela fez todo o possível para esquecê-los. Todos menos um.
Ela ajudaria porque se esse estranho fosse parente de Cameron Fergusson e seu pai e irmãos o matassem, ela não tinha dúvidas de que, desta vez, a retaliação incluiria a morte de todos em Cunningham House, não apenas de sua mãe. Se ele era um Fergusson, então tudo o que viesse a seguir seria culpa dela. Qualquer ato de agressão levaria ao derramamento de sangue para todos, e agora eles o mantinham prisioneiro! Se ele não era parente do inimigo de seu pai, provavelmente tinha acabado de vagar pelas terras de Cunningham e não era culpado de nada além de ter um coração inconstante e tolo.
Ajudaria porque era o que fazia, o que Kendrick sempre dizia para ela fazer, seguir seu coração. Seu coração dizia a ela para corrigir os erros de seu pai e irmão. Para devolver o que eles pegaram e ajudar a quem eles prejudicaram. Ela não era completamente impiedosa e não era frágil. Principalmente, ela não estava prestes a mudar agora, não importava quem era o homem no estábulo.
Ela encontrou sua irmã sentada na escada e finalmente sorriu.
— Eu disse que acabaria com ele rapidamente. — Ela disse com a vitória em sua voz. — Você quer ir comigo para os muirs?
— As urzes muirs? — Sua irmã respirou fundo enquanto um leve sorriso pairava sobre seus lábios. — É muito longe. Meu pai não aprovaria.
— Eu sei. — Disse Charlie, seus olhos brilhando à luz das velas. — Mas ele não vai descobrir. Eu disse a ele que a estava levando para a aldeia. Ele não vai nos procurar. Você virá?
O sorriso de Elsie cresceu e ela assentiu.
Sem esperar para refletir sobre o que estava prestes a fazer e talvez se convencer do contrário, ela pegou a mão de Elsie e a conduziu até a porta da frente.
— Venha. Preciso ver uma coisa antes de irmos.
Elsie não protestou quando Charlie a conduziu para fora, mas parou no caminho em direção ao estábulo.
— Vamos levar cavalos, Charlie? O pai notará se nós...
— Vou ajudar um homem que está lá dentro. Fique perto de mim. — Charlie avisou enquanto elas se aproximavam da antiga estrutura.
Ela sentiu o coração da irmã batendo forte contra suas costas quando entraram. Ou era o coração dela? Não importava. Ela havia prometido a Elsie algo emocionante. O que era mais emocionante do que o perigo que não era realmente perigoso?
Então, ponderando, se o estranho fosse um parente de Cameron Fergusson, ele era realmente perigoso.
Capítulo 03
Patrick abriu os olhos e ergueu a testa de algo frio. Um poste de madeira. Onde ele estava? Ele gemeu e murmurou uma maldição com a dor em sua cabeça. O cheiro de feno e estrume o dominou por um momento enquanto ele tentava clarear seus pensamentos. O relincho de um cavalo nas proximidades confirmou que ele estava em um estábulo. O que tinha acontecido? A moça do rio, ele lembrou. Ela o derrubou com uma funda e uma pedra! Ele não conhecia mais ninguém que usasse funda, exceto seu tio Tamas. Ele tentou perguntar onde ela conseguiu, mas a moça o atingiu na cabeça com uma pedra. Ela conhecia os Fergussons?
Ele pensou nos olhos dela, rodeados de sombras. Ele os tinha visto antes, sentiu o poder neles. Ontem à noite na taverna. A moça nas sombras. Era ela. Inferno, ela era ainda mais atraente à luz do dia. Ele deveria tê-la reconhecido no rio quando ela não apenas despertou seu desejo, mas despertou sua curiosidade. Mas o que diabos ela estava fazendo em Pinmore se morava aqui em Pinwherry?
Ele tentou se levantar, mas descobriu que seus movimentos estavam restritos. Ele olhou para a corda que prendia seus pulsos ao poste. Ela tinha feito isso? Onde diabos ele estava?
Ele olhou ao redor na luz inconstante. Havia feno debaixo de seu traseiro e sua cabeça latejava. Por que ele estava amarrado a um maldito poste?
Ele puxou as cordas sem sucesso. Quanto mais puxava, mais irritado ficava. Quem fez isso iria se arrepender.
Ele ainda estava puxando seus nós quando ouviu as portas do estábulo se abrindo.
— Ele é perigoso? — Uma voz feminina perguntou.
— Não, e tenho certeza que ele está preso. — Outra voz respondeu.
Era ela. Patrick se lembraria do tom de seda de sua voz pelo resto de seus dias. Ele não a culpava por atirar sua pedra e nocauteá-lo. Ela lhe fez um favor impedindo-o de proclamar sua beleza mais uma vez. Inferno, tinha sido como se ele tivesse caído sob um feitiço e quando deveria lutar por sua vida, ele a elogiava. O que diabos aconteceu com ele? Talvez fosse o sorriso que curvava seus lábios, zombando de suas palavras mais bonitas. Havia fogo nela.
Ele não tinha certeza se esqueceria a visão dela, seus belos cachos dançando em seu rosto, suas bochechas rosadas, seu braço levantado por cima do ombro enquanto ela balançava sua funda. Seu objetivo era preciso. Quem a ensinou?
Ela era gloriosa, vital e perigosa.
O que ela estava fazendo? Ela não poderia tê-lo arrastado aqui sozinha. Droga, ele se lembrou dela mencionando algo sobre seus irmãos estarem por perto. Ele deduziu o resto.
Ele ouviu os passos dela se aproximando e se endireitou... o mais reto que pôde com seus pulsos amarrados. Ele se recusava a parecer fraco e vulnerável para ela. Este era seu estábulo. Seus irmãos o capturaram, com que propósito, ele não sabia. Tinha que ser nefasto ou teria sido deixado onde havia caído. Ele encontrou a moça, e por isso ela quase o matou. Por que trazê-lo para casa?
Ele não se importava com o porquê. Ele sairia daqui vivo e a usaria para isso. Ele sabia como conseguir o que queria das mulheres.
Ela avançou para o feixe de luz da pequena janela atrás dele. Ela ofegou ao vê-lo ali... como se ela não soubesse.
— Você veio para me salvar? — Ele perguntou, surpreendendo-a com um sorriso irônico.
Ele notou outra garota respirando com dificuldade atrás da primeira e ofegando no ouvido de sua amiga. Seu cabelo dourado brilhou na luz por um momento, iluminando seu rosto pálido e angelical e a coroa familiar de margaridas agora colocada em sua testa. A morena a empurrou mais para trás.
Patrick deslizou seu olhar para a mulher mais uma vez. Os olhos dela já estavam nele, olhos grandes, curiosos e cautelosos, ainda mais escuros pela linha fina de kohl preto que os circundava.
— Então, o que vai acontecer agora? — Ele perguntou a ela. Ele sabia o que queria que acontecesse. Ela o desamarraria e mandaria sua amiga embora. Quaisquer que fossem as preocupações que ele tivera sobre ficar cansado de mulheres e problemas, desapareceram quando olhou para ela.
Ele podia ver suas curvas bem torneadas através das dobras transparentes de suas saias. Ela era delicadamente formada com braços longos e elegantes e seios fartos sob o delicado tecido de seu vestido.
— Isso depende de quem você é. — Ela disse a ele.
Ele sorriu olhando para seu lábio inferior carnudo. Ela não sorriu de volta.
Ele não tinha nenhuma intenção de dizer a ela quem era. O nome MacGregor era proscrito. Ser um poderia jogá-lo na prisão com uma recompensa paga a qualquer um que o denunciasse. Seus irmãos não podiam saber que ele era um MacGregor, então por que estava sendo mantido em cativeiro?
— Por que fui trazido aqui? — Ele perguntou.
Ela balançou a cabeça e olhou para ele.
— Já chega de perguntas, mas eu tenho uma para perguntar. O que você estava fazendo no rio?
Sua covinha brilhou quando seu sorriso se aprofundou junto com seu tom.
— Você sabe o que eu estava fazendo lá, moça. Mas se eu vou morrer por admirá-la, então fique onde está e deixe-me aproveitar desta vez.
Inferno, ele não conseguia parar. Claro, ele sabia que palavras usar para ganhar o favor de uma dama. Mas ele nunca usou tantas com uma garota. Estava tentado a pedir a ela para nocauteá-lo novamente.
Ela sorriu, mas não do jeito que outras garotas sorriam quando ele estava tentando seduzi-las. O dela era uma peculiaridade compassiva de sua boca, como se ele fosse o maior idiota que ela já encontrara se pensasse que a moça acreditasse em uma palavra do que Patrick dizia.
— Charlie, vamos desamarrá-lo e libertá-lo?
— Não, Elsie.
Charlie? Por que algum pai daria a essa beleza um nome de homem?
— Desamarre-me e nunca mais me verá. — Patrick prometeu. Por que ele voltaria para vê-la quando ela claramente não estava interessada nele? Ele achava isso um pouco insultuoso.
— Eu não posso. — Charlie disse a ele. Ela se aproximou, ficando fora do foco da luz, e se ajoelhou na escuridão perto dele. Ela cheirava a lavanda e ao vento e o fez querer se inclinar e respirar fundo.
— Mas eu vou te dizer isso. — Ela sussurrou, enviando sua respiração ao longo de sua nuca e o deixando tenso como uma corda de harpa esticada. — Se você é um Fergusson, não diga a eles. Se você fizer isso, eles o matarão.
— Por quê? — Ele perguntou. — E quem? — Mas ela já havia partido e procurava sua amiga nas sombras. Agarrando-a pelo pulso, puxou Elsie para fora do estábulo e fechou as portas.
Quem quer que fosse essa família, eles obviamente odiavam seus tios. Mas por quê?
Ele não teve muito mais tempo para refletir sobre isso quando as portas se abriram novamente. Desta vez, vozes masculinas encheram o estábulo.
— Ela molda você e papai como argila quente em suas mãos.
— Veja se ele está acordado, Hendry.
Ah, os irmãos chegaram.
Hendry apareceu na baia e parou onde Charlie estivera momentos antes. Ele era alto e magro, fácil para Patrick derrubar se, suas mãos estivessem livres.
— Ele está. — Ele gritou, e então chutou um pouco de feno mofado na direção de Patrick.
Patrick tossiu e Hendry riu.
— Deixe-me especular. — Patrick interrompeu a alegria com um sorriso sombrio. — Você costumava arrancar as asas de insetos, e adora dar um tapa nas moças. — Ele mostrou os dentes. — Estou correto?
Hendry respondeu com um punho na boca de Patrick.
— Sim. — Patrick disse baixinho e avançou para limpar o sangue de seu lábio nas cordas que o prendiam. — Eu pensei assim.
— Hendry! — O homem que havia entrado com ele gritou, aparecendo no foco da luz. — Haverá tempo para isso mais tarde. Você não consegue controlar o desgraçado que existe dentro de você por uma hora inteira?
Sim, Patrick queria concordar em voz alta, pelo menos com a parte sobre Hendry ser um desgraçado.
O outro homem avançou, elevando-se sobre Patrick, que não conseguia ficar em pé. Ao contrário de seu irmão, os ombros largos deste bloqueavam a luz atrás dele.
— Eu sou Duff Cunningham.
Patrick lançou-lhe um breve sorriso.
— Um prazer. Agora você pode fazer algo sobre esta corda? Está começando a desagradar a minha boa natureza.
— Quem é você? — Duff Cunningham disse tão rigidamente quanto o poste ao qual Patrick estava amarrado.
— Patrick Campbell de Breadalbane, e é melhor você ter um bom motivo para me tirar da estrada. Meu tio é o duque de Argyll. — Um tio muito distante, mas não era uma inverdade completa. Seu tio-avô Robert Campbell fora um conde.
— Você não estava na estrada. — O gigante sombrio respondeu. — Você caiu aos pés da minha irmã.
— Não tão perto, eu diria. Mais como um alvo a quinze metros.
Ele pensou ter visto uma sugestão de sorriso no rosto de Duff. Se houvesse um, havia sumido quando ele voltou a falar.
— O que você estava fazendo na margem do rio?
Essa parecia ser a questão importante do dia. Essas pessoas estavam brigando com seus tios?
— Eu estava perdido e pensei em refrescar meu cavalo, pelo qual você tem minha gratidão por trazê-lo aqui comigo.
— Não o trouxemos. — Disse Hendry. — Nós o deixamos...
— O meu está na terceira baia à esquerda.
Duff saiu da baia e olhou para a terceira à esquerda. Quando viu que Patrick estava certo, correu de volta ao posto e se abaixou para verificar os nós apertados em torno dos pulsos de seu prisioneiro. Quando se convenceu de que Patrick não poderia ter deixado o posto para descobrir onde estava seu cavalo, ele se ajoelhou e fixou o olhar nele.
— Como você sabia?
— Ele é meu cavalo.
Duff esperou por mais, mas quando nada veio, ele se endireitou novamente em toda a sua altura.
— Você está sempre em apuros e precisa saber onde seu cavalo está, caso uma saída rápida seja necessária.
Patrick ergueu os olhos e ofereceu-lhe um sorriso benigno.
— Você faz isso soar tão desagradável.
— Muito bem, então. — Disse Duff, ignorando o humor leve de Patrick e exibindo uma adaga. — Se você está dizendo a verdade, vai pegar seu cavalo de volta e sair daqui. — Ele cortou a corda do poste, mas deixou as mãos de Patrick amarradas.
— Quem decide se estou ou não dizendo a verdade? — Patrick perguntou enquanto se levantava.
— Meu pai. — Disse Duff, em seguida, o conduziu para fora do estábulo.
A luz do sol feriu os olhos de Patrick, então ele ergueu os punhos cerrados para protegê-los. Ele viu Charlie observando-os por trás de uma mureta e um campo mais além. Seus cabelos escuros batiam contra seu rosto e ela os afastava. Seu olhar permaneceu nele.
Ele sorriu para ela e caiu de joelhos quando Duff cravou o punho nas entranhas de Patrick.
Capítulo 04
Os músculos de Charlie se contraíram quando Duff o atingiu. Fergusson ou não, o libertino de cabelos ruivos com certeza era problema, mas ele não fez nada para merecer uma surra.
A menos que um simples olhar dele fosse considerado perigoso.
A julgar pelos joelhos fracos de Charlie, era. A confiança que ele possuía emanou de seus olhos e foi direto para a cabeça dela. Seus olhos perfuraram suas defesas e acenderam suas brasas. A peculiaridade despreocupada de sua boca a tentava a desafiá-lo. Ela não tinha ideia de como tal desafio terminaria, mas ele a tentava a se envolver. Problemas, como ela disse.
Com a luz do sol atrás dele, ela não tinha sido capaz de vê-lo com mais clareza no estábulo do que no rio... ou na taverna. Ainda bem, sua voz rouca, nas sombras, tinha sido o suficiente para agitar seu sangue e fazê-la se sentir excessivamente quente.
Agora, ela assistia de uma mureta separando o pátio do campo, enquanto ele se dobrava com a força do golpe de Duff.
— Ele é como uma cobra saindo do buraco. — Disse Elsie se levantando, uma das mãos na barriga dolorida.
Uma cobra? Charlie pensou enquanto ele se levantava e encarava Duff de frente, seus músculos nus tensos e prontos para responder. Mais como um garanhão selvagem em seu pico de raiva.
— Ora. — Elsie inalou, parecendo afetada pelo belo Highlander de uma forma que pouco tinha a ver com sua condição. — Ele é tão grande quanto Duff.
Sim, Charlie já tinha notado. E ele era forte. Ele havia ganhado de uma briga com Hamish.
— Você acha que o pai vai matá-lo? — Elsie perguntou de onde estava sentada na parede com as pernas balançando do outro lado, os muirs esquecidos em favor de um belo estranho.
— Eu não sei. — Charlie disse enquanto o prisioneiro falava palavras que ela não conseguia ouvir e seu irmão ria na cara dele. — Depende dele e de quem ele é.
— Eu sei que papai tem medo de sermos sequestradas por Fergussons. — Suspirou Elsie. — Você acha que o estranho pretendia sequestrar você na margem do rio?
Charlie contou a ela sobre o encontro enquanto Duff e Hendry estavam dentro do celeiro. Ela também disse a sua irmã que o viu na taverna na noite anterior.
— Acho que não. — Ela estava errada? Possivelmente. Ela desviou o olhar quando o trio chegou à casa. Tudo o que sabia sobre os homens aprendeu com aqueles que viviam com ela e com os tipos que frequentavam as tavernas. Se o estranho tivesse a intenção de sequestrá-la, ele teria usado de furtividade ou a força, não o charme.
— Estou feliz que você o ajudou, Charlie. — Sua irmã disse quando Charlie se juntou a ela na mureta.
— Se pudermos ajudar, devemos.
Elsie respirou fundo e acenou com a cabeça em concordância.
— Venha, — Charlie puxou a saia da irmã, — vamos dar um passeio ao sol. Isso ajudará sua respiração.
— Se ele for um Fergusson. — Elsie ignorou seu pedido. — Ainda podemos ajudá-lo? Eu sei o que os Fergussons fizeram, mas talvez nem todos sejam ruins...
— Eles vieram aqui porque nossos irmãos mataram Kendrick, só para que não se esqueça, Elsie.
— Eu não esqueci, mas se pudermos ajudar, devemos, Fergusson ou não?
Seria muito arriscado. Charlie fixou os olhos em sua irmã.
— Agora, querida, eu não quero que você faça nada que possa te colocar em problemas com papai.
— Mas você tem problemas com papai o tempo todo. — Argumentou a irmã.
— Isso é diferente.
— Por quê? — Os olhos azuis de Elsie se arregalaram.
Charlie balançou a cabeça. Ela não queria ter essa conversa novamente. Era diferente porque Charlie podia cuidar de si mesma. Duff a ensinou como. Ela o viu praticar todos os dias. Escondida atrás do galinheiro, ela imitava seus movimentos e os praticava com a mesma frequência com que fazia com a funda.
— Se o estranho for um Fergusson e contar a nosso pai, ele é um tolo e ajudá-lo ainda mais, só nos prejudicará.
— Claro, você está certa. — Elsie suspirou, soando um tanto desanimada. — Mas podemos pelo menos ir...
O restante de seu pedido foi interrompido por Hugh, um dos guardas de seu pai, a correr em seu cavalo em direção à mureta. Quase uma dúzia de outros homens montados cavalgavam atrás dele.
— Cavaleiros se aproximando! — Ele gritou para as meninas.
O quê? O coração de Charlie martelou em sua garganta quando ela saltou da mureta. Quem eram os cavaleiros? Eles eram Fergussons? Ela se virou para olhar para a casa. Eles tinham vindo atrás dele? Oh, o que ela fez?
Hugh parecia pálido quando as alcançou um instante depois. Suas pálpebras caíram.
— Entrem... — Ele disse fracamente, e então caiu da sela, o cabo de uma adaga projetando-se de suas costas e o sangue manchando sua túnica.
Kevin caiu da torre de vigia, com uma flecha projetada em seu peito. Bhaltair gritou, mas suas palavras foram interrompidas quando ele caiu em seguida.
Elsie gritou quando os cavaleiros trovejaram mais perto.
Charlie agarrou a mão de sua irmã e correu com ela em direção à casa. Ela procurou sua funda, mas os homens que mataram Hugh estavam perto demais. Ela ergueu a saia e agarrou a adaga de obsidiana.
— Duff! — Ela gritou o mais alto que pôde.
Em algum lugar atrás dela, ela ouviu os cavaleiros se aproximando. Ela quase alcançou a casa quando um homem cuja voz ela não conhecia gritou atrás dela.
— Pare, moça! Ou você vai compartilhar o destino dos guardas de seu pai.
Charlie parou e empurrou Elsie atrás dela quando ela se virou para encará-lo. Eles estavam perto da porta.
— Entre. — Charlie avisou sua irmã.
— Eu não vou te deixar! — Elsie insistiu.
Charlie apertou a mandíbula e fez uma nota rápida para estrangular sua irmã tolamente devotada mais tarde. Elsie não poderia ajudar. Ela não sabia usar uma funda. Ela nunca praticou arco e flecha ou qualquer tipo de luta. Mas ela sabia o que era necessário para permanecer segura. Charlie tocou na pequena adaga cabo de madeira em sua mão.
Charlie enfrentou os oito cavaleiros desmontando de seus cavalos, olhando para ela e Elsie com flagrantes intenções masculinas. Se tocassem Elsie, ela os matariam ou morreria tentando. Ela tinha certeza de que poderia derrubar pelo menos três deles antes de morrer. Eles eram Fergussons? Ao contrário do homem que provavelmente ainda estava preso enquanto ele enfrentava seu pai na sala de estar, os homens na frente dela claramente tinham intenções mais traiçoeiras.
— O que querem aqui? — Ela gritou, fazendo o seu melhor para manter a respiração estável. Ela nunca enfrentou tantos homens empenhados em ter problemas. Onde diabos estava Duff? Ela estava com medo, mas aprendeu bem como mascarar. — Eu te aviso, porém, que não há perdão por matar os guardas de meu pai, este dia provavelmente será o seu último.
Por um momento, os homens pareceram surpresos com sua ousadia e então riram.
— Você pretende me matar com sua beleza, então? — Falou arrastado aquele que ordenou que ela parasse.
Charlie esfregou os dedos sobre a obsidiana. Sua bajulação não significava nada. Ela não queria matar. Ela nunca tinha matado antes, mas o faria se precisasse. Se ele tocasse em sua irmã, ela cortaria sua garganta.
— Se você chegar mais perto, vai descobrir.
Um canto de sua boca barbuda se curvou em um sorriso malicioso enquanto ele erguia sua adaga.
— Parece que sou eu que estou com a arma.
— Parece que sim. — Ela permitiu dizê-lo, mantendo sua posição.
— Eu farei um trato com você. — Ele gritou, divertido. — Eu não vou chegar mais perto. Você virá até mim. — Ele acenou com sua lâmina. — Venha aqui ou mandarei meus homens matá-la. — Ele ergueu a adaga sobre o ombro e estava prestes a acenar para os homens atrás dele para avançarem.
Charlie se afastou de sua irmã e deu um passo à frente, com o coração batendo loucamente no peito. Se eles machucarem Elsie...
Ela quase o alcançou quando a porta da frente se abriu e Duff apareceu como um dragão furioso de sua caverna.
O cavaleiro agarrou seu pulso e puxou-a pelo resto do caminho. Ele a girou para enfrentar sua família e puxou sua coluna contra si. Ele trouxe sua lâmina fria para sua garganta e colocou seu hálito balsâmico em sua bochecha.
— Dê outro passo e ela morre. Seria uma pena, não? Eu sei que meu irmão ficaria desapontado.
Duff ficou imóvel. Seus olhos de aço queimaram com a promessa de retribuição. No instante seguinte, porém, ele foi empurrado para fora do caminho quando o pai dela saiu. Allan Cunningham rosnou um aviso para Elsie, que deu um passo para trás batendo no peito de Hendry quando ele também saiu da casa.
— Quem é você e o que está fazendo nas minhas terras? — Seu pai exigiu.
Charlie esperava que eles não fossem Fergussons porque certamente morreriam por vir aqui e ameaçar sua vida. Duff iria matá-los. Ela podia ver em seus olhos. Droga, mas quando essa rixa terminaria?
— Eu sou Archie Dunbar. — Seu captor gritou. — E vim aqui para buscar uma esposa para meu irmão Alistair. A beleza de sua filha é comentada em Galloway. Nós não sabíamos sobre a de cabelos dourado. Talvez a levemos também.
Não se Charlie pudesse evitar. Ela preferia morrer a se casar com o irmão desse porco bruto, e preferia estripá-lo bem no meio do que deixá-lo chegar a qualquer lugar perto de sua irmã.
— Você nunca vai sair daqui vivo. — Seu pai prometeu, ignorando seu prisioneiro, o homem da margem do rio, ainda amarrado pelos pulsos, ainda sem camisa quando ele também, apareceu nas portas.
— E quem vai nos impedir? — O captor de Charlie perguntou, seus lábios perto de sua orelha. — Seus guardas estão mortos. Se você tiver algum bom senso, vai voltar para dentro e deixá-la conosco.
— Se ele tivesse algum bom senso. — O prisioneiro de seu pai deu um passo à frente e ergueu seus pulsos amarrados. — Não teria feito um Campbell prisioneiro.
Um Campbell. O libertino encantador era um Campbell? Droga, se seus parentes o matassem, eles teriam todo o maldito reino em sua porta da frente. Charlie o observou lançar seu sorriso diabolicamente desarmante sobre a besta em suas costas.
— Eu sou Patrick Campbell. Me solte e eu lutarei ao seu lado.
Charlie percebeu a mudança sutil de seu olhar em sua direção quando ela olhou para ele, fazendo o possível para manter os olhos acima de seu queixo e ignorando seu corpo longo, esculpido e ombros largos. Ele estava falando com ela ou com seu captor?
Dunbar riu de sua oferta.
— Você nem carrega uma espada. — Ele o olhou. — Ou mesmo um lugar para esconder uma.
Era verdade. Charlie não tinha notado isso antes. Patrick Campbell falava como um Highlander e se vestia como um quando ela o vira pela primeira vez no Blind Jack's, mas não carregava armas óbvias.
— Eu não preciso de uma. — Ele afirmou, seu sorriso amável mudando ligeiramente para algo mais sinistro.
Charlie sabia que era verdade. Ele havia lutado com Hamish sem nenhuma outra arma além dos punhos. Que tipo de Highlander não carregava uma espada? Do tipo que não precisa de uma.
Campbell se aproximou dela e dos oito homens atrás de Charlie. Seu andar tinha facilidade e confiança enquanto seus irmãos e seu pai permaneciam quietos.
— Eu vou te matar por isso, Campbell. — Duff jurou.
— Isso é duvidoso. — Campbell gritou para trás sem se virar. Em vez disso, ele olhou para Charlie, agora a apenas alguns centímetros de distância, de pé entre ele e seu captor.
Se não houvesse uma lâmina em sua garganta, ela teria tomado um momento para admirá-lo e todos os seus ângulos rígidos.
— Desamarre-me. — Disse ele a Dunbar. — E lutarei contra todos sem ajuda ou risco de ferir você ou seus homens. — Ele ergueu os pulsos amarrados, perto do rosto de Charlie e da adaga em sua garganta. — O duque de Argyll ficará sabendo como você ajudou seu sobrinho.
Dunbar pareceu pensar por um momento e então afastou a adaga de seu pescoço para possivelmente soltar Campbell. Mas em vez de esperar para ser livre, o Highlander se moveu em um borrão de velocidade arrebatando a adaga da mão de Dunbar. Em um movimento fluido que Charlie quase perdeu ao piscar, Campbell, ainda amarrado e segurando o cabo em seus dedos, ergueu os braços e então os baixou para capturar a cabeça de Dunbar entre seus antebraços, e a cabeça de Charlie entre seus braços grossos.
Um instante se transformou em uma eternidade enquanto puxava Dunbar para mais perto, prendendo Charlie contra seu peito. O tempo desacelerou quando ela olhou para cima e ele inclinou a cabeça para encontrar seu olhar. Ela olhou em seus olhos verdes como a clareira no verão... cercado por cílios que eram longos... e as provas da ira de Hamish nos lábios. Seus ferimentos atuais e um mais antigo que quebrou seu nariz o salvaram de ser bonito. Sua boca se torceu levemente ... apenas o suficiente para mostrar sua covinha e confundi-la completamente. Um patife. Isso é o que ele era. Ele a estava ajudando. Mas por quê? Antes que ela tivesse que ponderar mais, o instante acabou.
Ele puxou Archie Dunbar um centímetro mais perto e o nocauteou com um golpe certeiro, testa contra testa. Ele se moveu rapidamente e ergueu os braços para liberar Dunbar de seu domínio, em seguida, deu-lhe um chute poderoso nas entranhas para derrubá-lo.
— Corra! — Ele empurrou Charlie para trás dele e enfrentou o resto dos Dunbars sozinho.
Duff os alcançou ao mesmo tempo e um instante antes que as expressões de espanto nos rostos dos homens de Dunbar se dissipassem e eles avançassem.
— Me dê suas mãos! — Charlie comandou, puxando o braço de Campbell. Quando ele obedeceu, ela o soltou usando sua lâmina obsidiana.
O idiota parou por um momento para sorrir antes que ela enfiasse a adaga de volta sob a saia.
Hendry finalmente entrou na luta, mas Charlie não conseguia tirar os olhos do Sr. Campbell no corpo a corpo. Ele derrubou três homens sozinho com nada além de seus punhos.
Charlie tinha certeza de que ela viu dentes voando.
Duff passou a espada no peito de outro homem e saltou por cima de seu cadáver para avançar para o próximo oponente.
— Charlotte.
Ela desviou o olhar de Campbell lutando junto com seus irmãos. Empurrando para trás os Dunbars e salvando ela e Elsie. Ela não sabia por que ele o fez, mas estava grata.
— Sim, pai?
Seus olhos sobre ela eram duros, como se isso fosse culpa dela.
— Leve Elsie para o quarto dela.
— Sim, pai. — Ela começara a sair, mas ele a chamou de volta.
— Encontre-nos na sala quando isso acabar. Estou curioso para saber como sua beleza é falada em Galloway quando você nunca sai de Pinwherry.
Capítulo 05
Patrick estava sentado na sala de estar, desamarrado, vestindo uma camisa emprestada e bebendo vinho.
Ele odiava vinho.
Graças aos Dunbars, que pegaram seus mortos e partiram, ele não era mais um prisioneiro em Cunningham House, mas um convidado bem-vindo. As coisas funcionaram bem, então, novamente, eles geralmente funcionavam bem no que dizia respeito a Patrick. Ele era um canalha sortudo, caso contrário já teria sido morto meia dúzia de vezes por irmãos e pais zangados. Ainda assim, ele não gostou que três Dunbars tivessem morrido hoje. Sim, os homens eram bastardos que vinham aqui para sequestrar uma esposa, mas Patrick sempre preferia não matar se não precisasse. Os Cunninghams não compartilhavam de seus sentimentos.
Como isso pressagiaria para seus tios Fergusson, morando perto? Patrick sabia que os dois clãs eram inimigos de longa data, mas o ódio com que Allan Cunningham falava parecia bastante recente. Seu anfitrião não disse o que manteve a rivalidade quando Patrick perguntou e preferiu não forçar o assunto. Ele iria embora e faria a seus tios todas as perguntas que tinha na mente.
— Nós poderíamos precisar de um homem como você aqui. — Cunningham disse a ele agora. — Nenhum dos meus guardas jamais lutou como você o fez hoje. Aquele canalha desgraçado poderia ter matado Charlotte, ou fugido com ela, se não fosse por você.
Patrick desviou o olhar para a filha de Cunningham sentada ao lado de Duff. Ele manteve sua expressão neutra, preferindo não entrar em outra briga com um de seus irmãos, embora quando confrontados com oito cavaleiros armados que pretendiam sequestrá-la, eles ficaram imóveis. Duff, pelo menos, não se moveu porque havia uma faca na garganta de sua irmã que poderia cortar rápido o suficiente se ele atacasse. Patrick entendeu e não o culpou por isso.
— Estou feliz por estar aqui para ajudar. — Ele respondeu. Foi o destino que o trouxe aqui para salvá-la? Nae8, ele pensou deslizando seu olhar para ela novamente, se ninguém a tivesse ajudado, Charlie teria se salvado. Ele se lembrou da pequena adaga preta que ela mantinha escondida sob as saias. Ele se perguntou que outras armas ela possuía.
Era difícil não apontar seu sorriso mais encantador para Charlie, pois ela era bela em todos os malditos aspectos. Aparentemente, ele não era o único que pensava assim. Quando seu pai a questionou sobre como os Dunbars sabiam dela, ela insistiu que não sabia e então disse o menos possível. Patrick adivinhou que seu pai não sabia sobre suas visitas noturnas ao Blind Jack.
Que outros segredos ela guardava? Patrick queria descobrir todos eles.
Ele pensou nela sendo esmagada contra si por um momento enquanto ele derrubava seu agressor, o medo e a raiva que faziam seus grandes olhos escuros brilharem como mares iluminados pela lua. Os mesmos olhos que atravessaram uma taverna lotado para matá-lo. O mesmo manto de cabelos cor de nimbo9 caindo por suas costas. Ela olhou diretamente para ele, mas se o reconheceu, não deu mostras disso, nem o mencionou.
— Por que você foi tão rápido em ajudá-la?
Patrick piscou, afastando seu olhar do dela e devolvendo-o ao seu anfitrião. Cunningham certamente era um bastardo suspeito.
— Porque havia um homem segurando uma lâmina em sua garganta e ninguém mais estava movendo seu traseiro rápido o suficiente para ajudá-la.
Patrick não dava a mínima para quem ele insultava. Ele não tinha esquecido os golpes infligidos a ele pelos filhos de Cunningham.
— Não tínhamos escolha. — Argumentou Hendry, um sujeito desagradável com lábios contraídos e um olhar beligerante, embora marcante. — Um movimento errado e ele a teria cortado.
— E, no entanto, — Patrick respondeu com uma voz cheia de sarcasmo, — ele não fez nada quando me aproximei dele.
— Para ser justo com meus filhos. — Disse Cunningham, atraindo a atenção de Patrick de volta para ele. — Dunbar pensou que você ficaria do lado dele.
Com seu bom humor restaurado, Patrick sorriu para ele.
— Eu fui muito crível.
Cunningham devolveu o sorriso, mas não havia nenhum sinal de humor em seus olhos.
— Você acha fácil enganar, Campbell?
Patrick deu de ombros e relaxou a boca enquanto corajosamente se virava para olhar para Charlie.
— Dependendo do propósito, sim.
Ele não perdeu a ligeira curva de sua boca tentadora antes que ela olhasse para baixo, protegendo seu olhar escuro como a noite sob cílios fuliginosos. Ele poderia seduzi-la? Talvez inicie uma verdadeira perseguição depois de anos? Ele não acreditava que ela seria uma vitória fácil e isso o deixava fora de controle. Ele teria que começar nas próximas horas, antes de partir novamente. Ele gostaria de chegar a Tarrick Hall esta noite. Ele voltaria outra vez aqui para terminar a sedução.
Hendry sorriu com desprezo e se levantou para pegar outra bebida.
— E você quer que acreditemos que é um homem de honra?
— Eu gostaria que você não acreditasse em tal coisa. — Patrick protestou olhando para ele. — Não, você saberia o que é honra se ela acertasse seu rosto e quebrasse seu nariz.
Hendry abriu os lábios apertados para dizer algo, mas Duff o deteve.
— Fique quieto, idiota. — Ele avisou e então se dirigiu a Patrick. — Campbell, você tem nossa gratidão por salvar nossa irmã.
Duff Cunningham era alguns anos mais jovem do que Patrick, tinha cabelos escuros, quase pretos, que usava soltos até os ombros, e olhos de aço temperado. Ele era alto e construído para deter as pessoas. A camisa emprestada de Patrick, dada a ele pela irmã bonita de Charlie, sem dúvida veio do próprio armário de Duff, já que ele era o mais próximo em seu tamanho. Algo sobre o corte de sua mandíbula e a tonalidade prateada de seus olhos lembrava Patrick de outra pessoa. Neste momento, ele não conseguia identificar quem era.
— É claro! — Allan Cunningham concordou. — E é por isso que você vai ficar alguns dias e desfrutar da minha comida e bebida.
— Vocês têm minha gratidão por isso. — Disse Patrick, aceitando a oferta. — Eu gostaria de um descanso de minhas viagens. Uma cama macia, talvez. — Que mal havia em ficar mais um dia? Ele não via seus tios há uma década. Mais um ou dois dias não faria mal. Havia coisas que ele queria descobrir, como o que fazia a Srta. Charlotte Cunningham sorrir? Ele não queria se apressar.
Ele levou sua taça de vinho quente aos lábios e voltou seu olhar para ela. Seu cabelo caía sobre os ombros e o decote como uma nuvem de tinta negra. Ele queria tocá-lo, tirar o peso dele de seu pescoço e beijar...
— Você está procurando uma esposa? — Seu pai perguntou, puxando-o de seus pensamentos mais uma vez.
Patrick quase ofegou com o vinho e se endireitou na cadeira.
— Nae.
— Porque eu devo te dizer. — Cunningham continuou. — Eu não seria contra um matrimônio com um Campbell. Eu poderia usar a influência e a força de seu clã para nos ajudar contra nossos inimigos.
— Pai! — Charlie saltou da cadeira parecendo mortificada e furiosa.
— Sente-se, Charlotte. Você vai fazer o que eu digo. Você poderia usar de uma mão firme e eu poderia usar...
— Eu não quero uma esposa. — Patrick interrompeu.
— Alguém precisa mantê-la em seu lugar, garota. — Seu pai disse a ela, ignorando seus olhos escuros e brilhantes e a recusa veemente de Patrick. — Você afugentou todos os pretendentes potenciais, exceto Alistair Dunbar. — Ele apontou para o irmão dela. — E Duff aqui se recusa a deixá-la ir a um homem que mandou o irmão sequestra-la. Um casamento com Campbell nos serviria bem e a você.
— Terá que ser com alguém diferente de mim. — Patrick disse, levantando-se de sua cadeira, exigindo ser ouvido.
Inferno, ele deveria ter dito que era um MacGregor.
— Por quê? — Seu pai fixou seu duro e insultante olhar nele. — O que há de errado com ela?
Essa parecia ser a gota d'água para ela. Sem outra palavra, ela levantou suas saias finas e saiu furiosa da sala.
Patrick esperou um momento e quando ninguém se moveu para ir atrás dela. Ele foi.
Ninguém impediu Patrick de segui-la porta a fora. Inferno, seu pai provavelmente estava pagando seu dote. Eles eram loucos. Todos eles, ele pensou, diminuindo o ritmo. Esta manhã, ele foi amarrado a um poste pelos Cunninghams e agora eles queriam que ele fosse parte da família. Loucura.
O que ele queria com uma moça que pintava os olhos de preto como uma rainha Picta e se vestia com um tecido feito para fadas? Quem se importava se ela fosse tão bonita que os homens arriscavam suas vidas para tentar capturá-la? Ele não se importava. Nem queria uma esposa. Ele riu entre suas passadas. Ele preferia enfiar uma adaga em sua têmpora do que ser amarrado a uma moça pelo resto de seus dias. Ele ganharia seu favor completamente e a levaria para a cama, provando a si mesmo de uma vez por todas que não estava se transformando em um idiota carente.
Ele a observou caminhar em direção ao vale com os pés descalços, o cabelo preto balançando atrás dela.
Que tipo de idiota era seu pai para mortificá-la do jeito que ele fez? Ela parecia zangada o suficiente para gritar, mas não disse uma palavra em sua defesa. Patrick duvidava que seu pai se importasse se ela dissesse. Estava claro que os Cunninghams eram uma família patriarcal. Onde estava a mãe de Charlie?
Ele não tinha feito perguntas quando os brutos dos irmãos o levaram para conhecer seu pai antes que os Dunbars aparecessem. Allan Cunningham queria saber uma coisa e apenas uma coisa. Seu prisioneiro era um Fergusson?
Charlie o avisou no estábulo para dizer não... e a julgar por seu pai excessivamente desconfiado e insensível, ela arriscou muito.
Por quê?
Ele acelerou o ritmo novamente, amaldiçoando em voz baixa. Ele queria dizer a ela para não se preocupar. Ele estava indo embora. Ele não queria uma esposa, mas se quisesse, poderia admitir que não consideraria algo terrível se fosse ela.
Onde diabos ela estava indo? Ela não diminuiu o ritmo e quando ele diminuiu a distância entre eles, pensou ter ouvido sua voz.
— Eu não quero perspectivas, seu estupido!
Sim, era sua voz. Patrick ouviu quando veio por trás dela silenciosamente.
— E nenhum homem jamais me colocará no meu lugar! Eu te digo isso!
Patrick sabia que eles estavam sozinhos, mas olhou em volta mesmo assim.
— Não há nada de errado comigo que um futuro sem você não pudesse curar. Como você ousa se oferecer para... — Suas palavras pararam e ela se virou para vê-lo atrás dela. As tempestades em seus olhos se dispersaram enquanto se alargavam de surpresa. Seu longo cabelo escuro roçou seu rosto na brisa fria de verão enquanto ela olhava além do ombro dele para ver se ele estava sendo seguido. Ele sabia que não estava. Quando seu olhar iluminado pelo sol escureceu fixo no campo vazio, ele também sabia que era de alguma forma mais insultante para ela que eles tivessem sido deixados sozinhos.
Ele ergueu as palmas das mãos como uma oferta de paz antes que ela voltasse a se expressar para ele.
— Eu estou com você, moça.
Ela soltou um pequeno suspiro perfeitamente feminino que acendeu algo completamente masculino nele.
— Eu não quis insultar dentro do salão, Sr. Campbell...
— Patrick. — Ele sorriu para ela. E foi um dos melhores. Ele gostava dessa moça. Ele deixou seu olhar vagar sobre o resto dela, observando a delicada elevação de seus seios enquanto ele se aproximava. Ele gostaria dela em sua cama.
Ele lhe ofereceu um sorriso impenitente quando ergueu os olhos para ela novamente. Ela era ainda mais bonita de perto, suas ondas negras cascateando por suas bochechas e ombros, desenfreadas pela ausência de sua tiara.
Ele se lembrou dela empunhando sua funda na margem do rio, imperturbável por suas palavras mais floridas. Quão difícil seria a seduzir?
— Eu não quis dizer nada, também. — Ele disse a ela, inclinando a cabeça para encontrar seu olhar.
A expressão dela se suavizou e ele teve a sensação de estar quase tocando a inclinação vulnerável de sua boca.
— Meu pai pode ser difícil às vezes.
Se isso era como ela considerava o bastardo, ele não iria discutir.
— Não se preocupe. Não será forçada a se casar comigo.
Ela baixou os olhos para os pés descalços, aparecendo por baixo da saia e tocando a grama.
— Não é você. — Ela disse baixinho, então se virou e continuou seu caminho.
O que era então? Ele se pegou pensando enquanto ela o deixava. Ele deveria se dirigir ao estábulo, pegar seu cavalo e ir embora. Compassividade não era o melhor para ele. Ele deveria ir embora porque queria tocá-la, beijá-la, desde o momento em que pôs os olhos nela. Quando o fizesse... e faria se ficasse... não se casaria na mira de uma pistola, fosse por sua ‘honra’ ou não.
Ainda assim, ela era mais do que bonita. Ela possuía um ar de mistério, um espírito de ousadia mesmo na ponta de uma lâmina e docilidade quando estava diante de seu pai. Ela despertou em Patrick o desejo de saber mais sobre ela.
Ele a alcançou e caminhou ao lado dela, apesar de todos os avisos que vinham em sua cabeça.
— Então o que é? — Ele perguntou, esperando que ela olhasse para cima novamente. Inferno, ele estava contando cada momento. Quando ela finalmente o fez, seus olhos perceberam o esplendor de seu rosto, a leve covinha em seu queixo.
— Um casamento tiraria você daqui. Não tiraria?
— E me colocaria nas mãos de um homem como Alistair Dunbar. — Ela apontou.
Sim, homens como os Dunbars não se importavam com pés descalços e grama, ou coroas de margarida e pontaria perfeita com uma funda. Ou o que isso significava sobre ela. Ele também não deveria se importar.
— Meu pai pode ser um demônio. — Ela continuou, virando-se para olhar para ele sob a sombra de seus cílios. — Mas eu o conheço. Eu sei como acalmá-lo.
Ah, então sua mansidão para com o patriarca era dada com astúcia. Esperta. Mas por que a necessidade? Ele poderia ter perguntado a ela, mas em vez disso se pegou dizendo:
— Mas e se casasse com um tipo diferente de homem?
— Não existem tipos diferentes de homens, Sr. Campbell.
Foi uma risada que ele ouviu vindo dela? Ele tinha falado a verdade. Ele conhecia os homens pessoalmente.
— Oh, você discorda? — Ela perguntou, deixando sua alegria suavizar em um sorriso desafiador em sua pergunta repentina. — Você acha que é diferente com seus olhos verdes cintilantes e covinhas diabólicas, que sabe como usar isso para seu maior proveito? Eu vi como você agraciou Alice, nossa cozinheira, quando ela trouxe sua caneca. Você até abriu seu sorriso imprudente para minha irmã. Se essa vantagem é levar uma mulher para sua cama, você acha que o tratamento que dispensa a ela é menos degradante? Você é um libertino, não é?
— Do pior tipo. — Ele admitiu, olhando em seus olhos escuros como a meia-noite. Ele deveria desviar o olhar, pois parecia que ela estava olhando para dentro dele, mexendo em lugares que traziam velhos ideais à tona. Ideais que ele não queria que fossem perturbados. — Mas eu posso garantir a você. — Ele acrescentou a verdade dita. Ele não negaria que era um libertino, mas não era um porco estúpido. — Eu não estava tentando fazer sua cozinheira ou sua irmã ir para a minha cama. Eu estava simplesmente sorrindo em saudação ao conhecê-las.
— Bem, então. — Ela murmurou. — Você é ainda mais perigoso do que eu pensava.
Inferno, mas sua língua era realmente vívida. Ele sorriu agora, embora tentasse não fazê-lo. Ela estava certa sobre ele.
— Eu não estava falando de mim mesmo quando falei de homens diferentes. Há muitos homens onde moro que nunca maltratariam uma moça.
Ela deu a ele um olhar irônico.
— Como você se desviou desse caminho digno?
— Och, moça. — Ele riu, seu bom humor voltou, e ergueu o rosto para o céu em busca de ajuda. Nenhuma veio. Ele sabia que não merecia nenhuma. — Você não tem misericórdia.
— Não, se você não merece. — Seu olhar fixou no dele e segurou. — Você merece?
Com seu sorriso impenitente intacto, ele balançou a cabeça.
— É duvidoso.
Era um sorriso que ele viu pairando sobre sua boca deliciosa?
— Você é sincero. — Ela admitiu. — Isso é alguma coisa.
Ele não sabia se continuava sorrindo ou encolhendo-se quando perguntou:
— Estamos procurando minhas virtudes, então?
— Eu duvido que haja tempo. — Ela atirou nele a resposta e se virou, seus quadris atrevidos se balançando sob suas saias finas.
— Tudo bem então. — Ele continuou sem saber por quê. Pode ter sido porque era um bom dia e andar com ela o deixava de bom humor. Ou que sua rejeição total desencadeou um desafio que ele raramente enfrentava e sentia falta. — Eu não me desviei, — ele admitiu quando ela parou e voltou sua atenção para ele. — Escolhi um caminho diferente.
— Você sabe que me dizer isso não ajuda.
Ele sorriu novamente em defesa de sua boca relaxada inclinada para ele.
— Não ajuda o quê? — Ele deixou seu olhar permanecer em sua boca, não para seduzi-la, mas porque tinha o desejo de beijá-la sem sentido.
Em vez de desviar o olhar com modéstia, falsa ou não, ela fixou os olhos luminosos em sua boca, combinando com sua ousadia. Ela desviou o olhar depois de apenas um ou dois segundos.
— Seus esquemas para ganhar meu favor e quaisquer noções tolas que você tenha sobre o que acontecerá depois que o ganhar. — Ela respondeu.
Ele balançou a cabeça e colocou as mãos atrás das costas.
— Eu não tenho intenção de tocar em você. — Ele queria fazer muito mais do que isso.
— É bom saber. Eu não gostaria de te machucar depois que você me ajudou hoje.
Ele queria rir de novo, mas não porque ela pensasse que poderia machucá-lo. Ela já tinha provado que podia. Ele gostava de sua boca atrevida e, apesar de sua rejeição por ele — ou por causa disso — ele encontrou seu interesse nela aguçado. Claro, nem todas as mulheres o achavam irresistível, mas nenhuma tinha sido tão clara sobre isso.
— Falando em me machucar, sua habilidade com uma funda é impressionante. Onde você aprendeu a usar essa arma?
Ela lançou-lhe um olhar tão suspeito quanto o de seu pai.
— Aprendi há muitos anos. — As linhas finas de kohl ao redor de seus olhos os faziam parecer maiores e mais insondáveis do que cem mares. — Meu pai não aprova.
Sim, porque ela aprendeu com um Fergusson, Patrick não tinha dúvidas. Tinha que ter sido um Fergusson. Seu tio Tamas era o único homem que ele conhecia que poderia manejar uma com perfeita precisão. Tamas, junto com o outro tio de Patrick, John, vivia com suas famílias na propriedade Cameron não muito longe daqui. Tamas a ensinou? Um de seus primos, talvez? Ela conhecia seus primos? Ela provavelmente os conhecia melhor do que ele. Afinal, o que diabos era todo o ódio contra sua família? Havia tantas coisas que ele queria saber, mas teria que ter cuidado para encontrar qualquer resposta. Ele não queria revelar sua identidade. Nem mesmo para ela. Ainda não.
— Por que você me disse não para admitir ser um Fergusson se eu fosse um?
— Os Cunninghams odeiam os Fergussons. — Ela parou e se virou para ele novamente. — Você enganou meus parentes, então?
Ele poderia dizer a ela a verdade, que sua mãe era uma Fergusson, mas estranhamente, a ideia de Charlotte Cunningham odiá-lo não o atraía.
— Nae, eu não os enganei. — Ele disse a ela. — Meu irmão Luke é Lorde de Campbell Keep em Glen Orchy.
A curva de sua boca e a inclinação brincalhona de seu queixo sacudiram seus sentidos e o tentaram a soltar as mãos atrás das costas e voltar atrás em sua palavra.
— Você tem um irmão? — Ela perguntou. — Ele é muito parecido com você?
— Não é muito parecido comigo. — Ele riu pensando o quão diferente ele era de Luke. — Ele vive de velhos ideais empoeirados.
— Oh? — Ela arqueou a sobrancelha. — Que ideais são esses?
— Apenas certos... valores que são muito... — Ele fez uma pausa e olhou para ela. O que ele se importava com o que ela pensava dele? Por que diabos ele estava se explicando... e pior, tropeçando nas palavras? — ...cavalheiresco em minhas 'maneiras de pensar'.
— Entendo. — Ela sorriu, mas voltou sua atenção para o sopé.
O que ela viu? Ela achava que ele carecia de quaisquer ideais? Ele não salvou a vida dela? Ele poderia ser cavalheiresco se precisasse ser.
— Talvez, — ele disse, fazendo o seu melhor para não se aproximar dela. — Eu devesse ficar por alguns dias depois de tudo. Os Dunbars provavelmente retornarão e seus guardas estão mortos. Você vai precisar de proteção.
Ele não esperava que ela risse. Foi um pouco insultuoso. Mas o som doce disso o obrigou a permanecer ao lado dela.
— Você foi corajoso e inteligente com os Dunbars, Sr. Campbell, mas não presuma que eu preciso de um protetor. — Seus olhos brilharam com humor quando ela os colocou sobre sua mandíbula. — E se você ficar para lutar. — Ela continuou deixando seu olhar se fixou em seus ombros e braços musculosos. — Você não está fazendo isso por mim. — Ela tirou as ondas de cabelo do ombro e se moveu para deixá-lo.
O sorriso de Patrick desapareceu, mas apenas por um momento antes de jogar a cabeça para trás e rir e então, pela segunda vez naquele dia, saiu correndo atrás dela.
Capítulo 06
Charlie parou diante do guarda-roupa do seu lado do quarto que dividia com Elsie e segurou um vestido contra o corpo. Ela olhou para as dobras cor de coral caindo suavemente até os dedos dos pés, escondendo-os de olhos críticos. Oh, mas ela amava este vestido. Isso a lembrava do orvalho da manhã, delicado e frio ao toque. Ela mesma costurara, usando várias saias finas e suaves das camisolas de sua mãe para criar camadas volumosas que capturavam a luz do sol, e então as tingiu para combinar. Claro, como a maioria de seus vestidos, o corpete ficou um pouco confortável. Isso ajudava a manter as coisas em seus lugares quando ela corria.
Mas não era o vestido certo para esta noite.
Ela escolheu anáguas de linho mais grosso, de cor azul escuro, uma saia combinando e um casaco com cinto na cintura fina. Ela se sentou na beira da cama e puxou as meias pelos pés antes de pegar as botas.
— Você é como dois seres diferentes.
Seres. Charlie sorriu ao ouvir a voz de sua irmã na porta. Elsie costumava acusá-la de ser de outro mundo.
— Eu sou apenas eu mesma. — Charlie assegurou-lhe, erguendo os olhos dos laços de seus cadarços. — Às vezes gosto de me sentir mais delicada e às vezes não.
Elsie deu um sorriso brilhante e foi em direção à cama.
— Você está usando suas botas feias para repelir qualquer um, dos avanços do Sr. Campbell?
Sr. Campbell. Charlie tentou não pensar nele enquanto ela se vestia. Ela tentou manter longe a lembrança de seu tamanho e todo aquele calor enquanto ele caminhava ao lado dela, sua risada fácil, boca cheia e sensual, fazendo seu interior aquecer.
Um patife em sua forma mais verdadeira. Ela sabia o que ele estava procurando e não iria conseguir. Por que ela iria querer uma vida miserável com um homem que não tinha um coração? Mas, inferno, ele era todo homem e bastante tentador em sua arrogância... e ele correu para resgatá-la dos Dunbars.
— Que avanços você quis dizer? — Ela terminou e olhou para a irmã quando Elsie se jogou na cama. — E minhas botas não são feias.
Elsie deu uma última olhada na pele de couro enlameada antes de esquecê-la.
— Só uma idiota não teria notado. — Ela fez uma pausa para respirar e então continuou. — O jeito que o olhar dele quase nunca te deixa quando você está na sua presença.
Charlie riu. Elsie era apenas um ano mais jovem do que ela, mas era muito mais inocente.
— E só alguém mais sábio veria a vaidade em seu olhar e saberia o que isso significa. Ele está muito apaixonado por si mesmo para realmente notar outra pessoa.
— Você o culpa?
Não, Charlie teve que admitir, mas não em voz alta. Ela também não disse a sua irmã o quão atraente o achou sem camisa, amarrado e apertado contra ela com Dunbar no meio.
— O que eu acho não tem nada a ver com isso. Conhecemos muitas mulheres que pensam o mesmo sobre nossos irmãos. E nós duas sabemos que não há ninguém mais importante para Hendry do que ele mesmo.
Elsie tirou os olhos do teto e olhou para ela.
— Você certamente não pode comparar os dois.
— Por que não? — Charlotte perguntou enquanto começava a trançar seus longos cabelos sobre o ombro. — Deus. Campbell usa sua boa aparência e charme magnético para conquistar o favor das mulheres. Ele mesmo admitiu para mim. Ele já teria ido se... — Sua voz sumiu ao perceber o que ela estava prestes a dizer. Ele alegou que queria ficar para protegê-la dos Dunbars, mas ela suspeitava que ele lutava com frequência e se tornara muito bom nisso, gostava até mesmo.
Elsie pensaria que era cavalheiresco quando era tudo menos isso.
— Se se casar com ele, posso viver com você?
Charlie suspirou e balançou a cabeça.
— Eu não vou casar com ele.
— É Kendrick? — Sua irmã insistiu. — Verdadeiramente, Charlie, você deve deixá-lo partir. Eu sei que você o amava e entendo por quê. Seu coração era forte e leal e seu rosto era o mais belo de todos. Ninguém jamais será tão bom quanto ele, mas...
Charlie ergueu a mão para impedi-la.
— El eu o deixei partir. — Ela prometeu. — Mas eu não posso deixar de procurar o que Kendrick tinha nos outros, e eles sempre ficam aquém. Ele sabia tudo. Ele sabia o que estava escondido no coração dos homens. Mas já chega de conversa sobre Kendrick e o Sr. Campbell. — Ela sorriu e pegou a mão da irmã, arrastando-a para fora da cama. — Se estamos atrasadas para o jantar, papai vai demorar uma hora.
— Você vai sair de novo esta noite? — Elsie a puxou de volta antes de chegarem à porta, seus olhos da cor da palha do milho arregalados com sua pergunta.
Elsie sabia que ela às vezes saía de casa sozinha à noite, mas sabia apenas metade da história.
— Eu posso, por favor, ir com você?
— Não. — Charlie disse a ela severamente. — Nunca me siga, El. Você nunca deve sair desta casa sozinha e à noite.
— Mas você sai?
— Eu posso lutar. Você não pode.
— Você também não pode. — Argumentou sua irmã enquanto Charlie saía do quarto. — Não contra um homem.
— Sim, minha querida. — Charlie parou e se virou para olhá-la de frente. — Eu posso.
Charlie entrou no grande salão e encontrou seu convidado sentado à longa mesa de jantar com seu pai e irmãos.
Ela fez uma pausa quando ele levou a caneca aos lábios e os olhos a ela. Elsie estava correta? Seu olhar permanecia nela? E daí se isso acontecesse? Não significava nada. Ela não queria mais nenhum homem em sua vida. Ela estava cansada de seu pai prometê-la aos barões e outros nobres, cansada de ter que planejar maneiras de fazer com que eles a recusassem como uma esposa adequada. Kendrick teve pouco a ver com isso. Amor e casamento, às vezes, eram duas coisas separadas. Um marido certamente pensaria em impedi-la de suas tarefas perigosas. E caramba, ela não seria impedida.
Ela também não seria forçada a se casar. A sugestão de seu pai esta tarde ainda a mortificava. Ela era um bem, oferecida para a proteção da propriedade Cunningham. Ele não precisava ter admitido na frente do homem a quem a estava oferecendo, mas Allan Cunningham carecia de simpatia.
Ela fixou o olhar sobre seus irmãos, que não tinham olhado para cima, antes de pousar no Highlander, seus longos e largos dedos embalando a asa de sua caneca. Inferno, mas ele era bom de se olhar com o brilho das chamas em seus cabelos e o calor do sol de verão em seus olhos. Seu olhar mergulhou em seus lábios, cheios e preparados para os empreendimentos mais decadentes. Ela se pegou pensando em alguns deles quando os olhos dele se deslizaram para ela. Um canto de sua boca se curvou para cima quando ele a pegou o admirando. Seu rosto enrubesceu e ela desviou o olhar e ocupou seu lugar à mesa ao lado de Elsie.
— Você está atrasada. — Seu pai disse olhando por cima de seu prato.
— A culpa é minha, pai. — Elsie admitiu rapidamente. — Eu...
— Não conseguia encontrar minha bota. — Charlie falou por cima dela. — E eu sei como você franze a testa com meus pés descalços. Devo considerar suas regras antes de seus sentimentos na próxima vez. Me perdoe.
Ela viu a sombra do sorriso de Duff com o canto do olho. Se havia uma coisa que seu irmão mais velho lhe ensinara bem, era como fingir submissão para sair dos problemas. Ele começou a ensiná-la logo depois que sua mãe morreu. Arrastando-a para seu quarto e trancando-a dentro de casa sempre que ela perdia a paciência com ele. Depois de um ou dois meses, Hendry começou a fazer o mesmo. Ela odiava o tratamento que dispensavam a ela, mas aprendeu a se controlar e a ter paciência.
— Charlotte. — Duff largou sua caneca e olhou para ela por trás de uma confusão de cachos negros. — Nós estávamos discutindo sobre você.
Não! De novo não!
— Oh? O que estavam discutindo? — Se eles estivessem discutindo seu casamento, ela não ficaria em silêncio sobre isso desta vez.
— Sr. Campbell estava perguntando sobre nossa mãe.
A mãe deles? Charlie desviou o olhar para o convidado. Por que ele perguntaria sobre sua mãe e o que isso tinha a ver com ela? Por que ele parecia tão relaxado em sua cadeira? Como se ele não tivesse nada a temer de sua família? Ela se lembrou do quão bem ele lutou contra os Dunbars e Hamish, e decidiu que ele provavelmente não tinha muito o que temer.
— Então o que sobre ela?
Agora que ele tinha um motivo para considerá-la sem incorrer na ira de Duff, ele fixou seu ardente olhar nela completamente e sorriu.
Ele a fez querer sorrir de volta. Ela não sorriu.
— Eu perguntei qual de suas filhas mais se parecia com ela. Mas quando seu pai me informou de sua grande beleza, eu sabia que suas duas filhas tinham muito a lhe agradecer.
Ao lado dela, Elsie respirou fundo, tossiu e agradeceu.
Ele era realmente inteligente, ela pensou o olhando. Se ele buscava ganhar qualquer tipo de favor com ela, Elsie era o caminho a seguir. Charlie ofereceu a ele seu mais leve sorriso.
— Minha Margaret era uma bela morena. — Seu pai corrigiu. A insinuação dele não passou despercebida por Elsie, que se mexeu na cadeira, embora não tenha dito nada.
— Com lindos olhos azuis como os de Elsie. — Charlie acrescentou, em seguida, apertou o queixo quando ela voltou o sorriso para seu pai.
— Sim. — Seu pai concedeu. — Hendry e Elsie têm os olhos dela, mas dos meus três filhos, só você compartilha o seu fascínio moreno.
— Três? — Patrick Campbell perguntou, felizmente, e talvez propositalmente mudando o assunto das irmãs e quem era mais bonita. — Duff não é seu filho?
— Não, ele não é. — Seu pai respondeu francamente, surpreendendo seu convidado o suficiente para fazê-lo pousar sua bebida na mesa e avançar sua cadeira, seu interesse aguçado.
— Minha mãe morreu quando eu tinha seis anos. — Duff disse a ele. — Deixando-me órfão.
— Você é pai? — O Highlander perguntou.
O irmão mais velho de Charlie deu de ombros musculosos.
— Eu nunca o conheci. Margaret Cunningham me encontrou pedindo moedas na estrada e me acolheu.
— Minha esposa tinha um maldito coração muito mole. — Disse o pai, relembrando. — Se deixada sozinha, ela teria acolhido cada criança desamparada que encontrou. Mas, no caso de Duff, ela fez a escolha correta ao trazê-lo para casa. Ele é como se fosse meu.
Exceto que ele não o incluiu quando falou de seus filhos, Charlie pensou e olhou para o irmão através da mesa. Seu coração se agitou, lembrando-se dele como um menino, encardido, magro e órfão com a tenra idade de seis anos. Ele era bem comportado, atencioso e divertido de brincar. Seu pai era cruel com ele quando sua esposa estava fora de sua presença, assim como Hendry, que era um ano mais novo que seu novo ‘irmão’. Duff nunca chorou e rapidamente passou a amar Charlie, com três verões na época. Ele passava um tempo com ela todas as manhãs antes de suas tarefas começarem e lhe dava um beijo de boa noite antes que ela fechasse os olhos para dormir. Ele a amava. Ele ainda a amava. Mesmo quando ele a trancava em seu quarto, era para ajudá-la a controlar seu temperamento com seu pai, ou Hendry, que a havia batido em algumas ocasiões por causa de sua língua afiada. Duff possuía um coração mais gentil sob seu exterior frio e duro. Que tipo de homem ele teria se tornado se sua mãe o tivesse deixado na estrada?
Não importa. Ele se transformaria em um monstro.
— Sua esposa parece uma mulher extraordinária, Cunningham. — Elogiou Patrick. Charlie lutou contra a vontade de se virar e sorrir para ele novamente. — Uma febre a tirou de você?
O olhar de Charlie disparou para seu pai. Ele contaria a verdade ao sobrinho do duque de Argyll? Que sob sua ordem, seus filhos mataram uma criança Fergusson e o pai do menino retaliou levando sua esposa? O que o sobrinho do conde de Argyll faria se descobrisse? Esse crime não ficaria impune. Ela e Elsie seriam punidas pelo que seu pai e irmãos fizeram?
— Sim, uma febre. — Seu pai disse. — Uma terrível. A levou dentro de uma semana, cinco anos atrás.
— Minhas condolências. — Disse Patrick baixinho, olhando primeiro para ela e depois para Elsie.
Quando o clima ficou ruim e Charlie se preparou para outro jantar rápido e silencioso, o Highlander se virou na cadeira e sorriu para Duff.
— Você lutou bem hoje. Você pratica frequentemente com a espada?
Duff acenou com a cabeça.
— Todos os dias.
— Eu gostaria de me juntar a você amanhã, se não se importa.
Assim então, Charlie pensou, ele estava hospedado. Por quanto tempo? Como isso a afetaria em seus deveres? Ela queria que ele continuasse a seduzi-la? Ele era perturbador e arrogante... e a fazia sorrir quando ela estava furiosa. Seu sorriso cruelmente encantador passou por seus pensamentos. Ela se perguntou como seria beijá-lo. Ela ergueu a caneca e bebeu o que restava dentro. Se ele ficasse, certamente tentaria passar mais tempo com ela. Como recusaria sua companhia sem insultar?
Realmente, não era da conta dela. Ela tinha outros assuntos a tratar. Assim que todos estivessem dormindo em suas camas, ela poderia cumprir sua tarefa.
Ela ouviu seu pai contar ao Highlander sobre os Fergussons impedindo que homens fisicamente aptos trabalhassem para ele. Claro, ele não mencionou que havia muitos poucos homens fisicamente aptos em Pinwherry, graças à sua ganância e punições por não terem moedas ou safras suficientes para pagá-lo.
Quando o convidado puxou a conversa e lhes contou histórias sobre pessoas que ele conheceu em sua jornada para Pinmore para um torneio, ela se pegou roubando alguns vislumbres dele.
— Você é um cavaleiro então? — Elsie perguntou em uma antecipação quase sem fôlego por sua resposta.
Charlie a olhou e decidiu que ela teria que proteger Elsie do canalha cativante.
Ele jogou a cabeça para trás e riu da pergunta de Elsie.
— Och, não, moça. Eu só sei lutar e vencer.
Observando-o, Charlie não duvidou de sua declaração. Cada movimento, mesmo levantando sua taça, foi intercalado com poder fluido, uma corrente de pura energia impossível de ignorar.
— Veremos sobre isso. — Disse Duff, levando a caneca aos lábios. — Eu não vou pegar leve com você.
— Bom. — Os olhos do Highlander vagaram pela mesa e pararam em Charlie. — A vitória é vazia sem um desafio.
Charlie chamou sua atenção, e embora sua declaração tenha feito sua barriga revirar, ela sustentou seu olhar por mais um momento. O pobre diabo não tinha ideia de como era um verdadeiro desafio. Se ele pensasse em fazer dela sua próxima conquista, descobriria isso em breve.
— Venha, Elsie, vamos nos recolher. — Sem esperar pela concordância da irmã, ela a colocou de pé. — Pai, podemos ir?
Ele enxotou ela e Elsie com um aceno de mão e então voltou sua atenção para Patrick Campbell. Charlie sabia que não deveria, mas seus olhos se moveram por vontade própria e encontraram o Highlander olhando para ela.
Ele lhe ofereceu um sorriso educado e um aceno de cabeça. Quando Elsie lhe deu boa noite, ele mostrou sua covinha para ela e ofereceu-lhe o mesmo.
Elsie gostava dele. Parecia que Duff e seu pai gostavam dele também. Hendry não tinha gosto para ninguém além de si mesmo, então não era surpresa encontrá-lo carrancudo.
Ah, agora havia outro desafio que o Highlander provavelmente não venceria.
Inferno, pensou enquanto saía do salão, ela odiava ter algo em comum com seu irmão.
Capítulo 07
Patrick parou na porta e observou Charlie caminhar no campo enluarado com as mãos cheias de suas saias que ela subira por cima de suas botas gastas.
Ele se perguntava para onde ela estava indo esta noite e saiu para segui-la. Era a segunda vez em um dia que ele se viu perseguindo-a. Mas desta vez era para a segurança dela... e ele admitiria, curiosidade. O que ela estava fazendo? Havia perigo à frente? Ela devia estar louca para se aventurar sozinha à noite. Novamente. Ela estava indo para outra taverna? O que diabos ela estava fazendo em Pinmore? Inúmeras catástrofes poderiam se abater sobre ela. Onde estavam seus irmãos? Como ela era capaz de escapar pela segunda noite consecutiva sem o conhecimento deles? Ela parecia submissa aos homens Cunningham na mesa de jantar. Era tudo um estratagema para parecer subserviente? Ele tinha certeza de que seus parentes não aprovariam que ela vagasse pelo terreno ao luar, do contrário seu pai teria adivinhado como sua beleza tinha sido falada em Galloway.
Era um homem desta vez, alguém na pequena aldeia para a qual ela estava indo encontrar? Que outra razão poderia haver para ela desafiar sua família e sua segurança mais uma vez?
Sua lealdade a um amante clandestino o picou nas entranhas por algum motivo. Ele não estava com ciúmes. Ele não tinha um gramo de ciúme nos ossos de seu corpo. Pelo menos, ele nunca teve antes. Inferno, pensou, passando a mão pelo cabelo, ele não podia estar com ciúme. Como ele poderia ter inveja e ciúmes de um homem que conseguia segurar o coração de uma mulher tão completamente que ela arriscaria tudo só para estar com ele, quando não era isso que ele queria? Seria isso?
Ele riu baixinho para si mesmo. Nae10, ele não precisava ou queria tal devoção. Ele queria? Então, novamente pensou, que ele conhecia homens de Camlochlin que pensavam que não precisavam também, até que o amor os atingiu como uma praga febril e os deixou indefesos.
Nae. Ele não! A impotência o assustava como o inferno. Admitir isso não ajudava. Ele fez uma parada para voltar. Já havia passado muito do dia pensando nela. Ela era um curioso punhado de véus em ousadia, obscuramente sensual e indescritível... com uma língua afiada como navalha. Ela possuía uma rara onda de confiança ao enfrentar inimigos, fosse ele, seu pai ou os Dunbars, que ele achava absolutamente irresistível. Melhor se ele fosse embora e nunca mais olhasse para trás. Mas queria conhecê-la, descobrir seus segredos... e ela parecia ter muitos.
Ele continuou, seguindo-a adiante. O que ele faria quando ela alcançasse seu amante? Ele era um canalha, admitia francamente, mas não tentaria roubar a mulher de outro homem deliberadamente. Se ela se encontrasse em algum problema, ele a protegeria Charlie quisesse ou não.
Ela parou de repente, e ele também. Ele olhou em volta procurando um lugar para se esconder. Não havia nenhum. O que diabos ela pensaria dele a seguindo? Ela se virou como se o sentisse atrás dela.
Inferno.
Ela se moveu em direção a ele, aparecendo, iluminada pelo luar. Ela parecia tão atraente banhada em luz perolada com uma mão levantando a bainha da saia e desaparecendo por baixo dela, que por um momento ele esqueceu o que ela mantinha escondido sob a bainha.
— Sou só eu, moça. — Disse ele antes que ela o acertasse com outra pedra.
— Sr. Campbell? — Ela soltou as saias e colocou as mãos nos quadris, a boca franzida de indignação.
— Patrick. — Ele corrigiu, dando um passo mais perto dela.
Ela recuou.
— O que você está fazendo aqui?
Ele com certeza não poderia dizer que esperava roubar um beijo dela, ou que sua simples visão o tentava a segui-la para a Inglaterra.
— Eu ia te perguntar a mesma coisa. — Ele disse. — Você foi atacada hoje, moça. Você não vê o perigo de vir aqui sozinha? — Ou viajando para Pinmore sozinha. Ele queria lhe perguntar o que ela estava fazendo na taverna na noite anterior, mas duvidava que ela lhe contasse a verdade.
— O que eu faço não é da sua conta. Volte para a casa, ou de onde quer que você veio. — Ela ofereceu a ele um breve sorriso, então se virou e foi embora, continuando em seu caminho.
Patrick a observou partir. Ela estava certa. Ela não era da conta dele, mas isso não significava que ele ficaria parado enquanto Charlie saía furiosa esta noite.
— Para onde você está indo? — Ele perguntou, pondo-se em caminho, determinado a descobrir seus segredos. Ela permaneceu calada... do jeito que ela ficou muda quando seu pai a questionou.
Ele tentou outro caminho.
— A caminho de encontrar um amante, então?
— Eu deveria dar um tapa na sua cara por sugerir que eu seja tão idiota. — Ela respondeu rispidamente, sem se virar para olhar para ele.
— Uma tola por deixar a segurança de sua casa para se encontrar com ele, ou por ter um amante?
— Ambos.
Ele desejou que fosse de manhã para que pudesse vê-la mais claramente, a inclinação atrevida de seu nariz, a forma sedutora de suas salientes maçãs do rosto, o formato sedutor de sua boca. Ele respirou fundo e deixou a fragrância do sopé forrado de urze e algo mais calmante... talvez lavanda... limpar seus pensamentos.
— Estou surpreso que seus irmãos não tenham conhecimento de suas saídas. Eles me parecem super protetores.
— Eles estão dormindo e assim permanecerão até de manhã.
Como ela sabia que eles dormiriam a noite toda? A menos que ela cuidasse que tivessem um sono garantido com uma infalível ajuda em seu vinho. Fazia sentido, já que ela teve que voltar para dentro de casa na noite anterior sem ser notada. Ele teria que observá-la mais de perto para garantir que não sucumbiria ao mesmo método amanhã à noite. Se ele permanecesse tanto tempo.
— Duff não deveria ter batido em você hoje. — Ela disse baixinho, cedendo um pouco à companhia dele, mas ainda mantendo o olhar no caminho.
— Eu entendo por que ele fez. Tenho irmãs. — Disse ele baixinho, pensando em Mailie e Violet em casa. Ele sentia falta delas. — Eu conheço o desejo de mantê-las protegidas do tipo errado de homem...
— Então por que você está aqui comigo em vez deles?
Ele sorriu apesar do fio de culpa que ela provocou.
— Elas têm meu pai e todos os outros homens em Camlochlin para cuidar delas. Eles não precisam de mim lá também. — Mas ele era irmão delas. Ele não deveria assumir a responsabilidade de protegê-las também? — Além disso, — ele deu de ombros, — minha irmã Mailie preferiria cair sobre uma espada do que por algo menos do que o cavaleiro perfeito.
— Pobrezinha vai ficar sozinha até que fique velha e morra.
Patrick sorriu com ela, mas não pôde deixar de se perguntar se algum homem poderia mudar a opinião de Charlie.
— Eu pensei que você acreditava nesses ideais. — Disse ele, lembrando-se de sua última caminhada juntos e da conversa que compartilharam.
Ela balançou a cabeça.
— Eu estava simplesmente curiosa para saber por que você não o faz, já que é você quem afirma conhecer os homens que vivem com elas. Os homens raramente são galantes, a menos que queiram algo em troca.
Patrick não vivia de acordo com o credo de sua família, mas sabia que ela estava errada. Ainda assim, ele não estava aqui para lhe provar isso.
— Você tem uma vida difícil com seus parentes. — Ele supôs ao invés.
— Não mais difícil do que qualquer outra garota da minha idade. Meu pai pode ser cruel, mas descobri maneiras de evitá-lo e me fazer feliz.
— Como é isso? — Patrick perguntou suavemente. — Esgueirando-se para sair sozinha?
— Possivelmente.
— Então, você vai me dizer para onde está indo?
— Se você for tão teimoso quanto penso que é. — Disse ela. — Logo descobrirá.
Ele era teimoso e ficaria perto dela.
— Minha irmã me disse que seus olhos estão fixos em mim.
Patrick piscou, despreparado para sua confissão. Mas ele não era de se preocupar com as pequenas surpresas que a vida lhe dava. Inferno, ele gostava de qualquer desafio que entrasse em seu caminho. A maior parte do tempo.
— Sua irmã é astuta.
Ela fez uma parada e se virou para ele. Sua grossa trança negra captava a luz da lua crescente, iluminando os ricos azuis e o ônix insondável.
— Vamos ver se entendi bem, Sr. Campbell...
— Patrick. — Ele corrigiu novamente com um sorriso.
— Não estou interessada em me tornar uma de suas conquistas. Não quero um homem cuja única ambição é ter certeza de que será feliz. Você está interessado apenas nas suas próprias necessidades e desejos, e tenho coisas muito maiores com que lutar.
Seu sorriso desapareceu.
— Você realmente não gosta de mim, não é?
Ela olhou para ele e deu de ombros.
— O que há para gostar? Você é agradável aos olhos.
Patrick às vezes era um bastardo sem coração. Ele sabia disso. Ele geralmente não deixava que as coisas o afetassem. Mas sentiu como se ela tivesse acabado de bater na lateral de sua cabeça com uma árvore, derrubando-o de traseiro no chão.
Ele era um rosto bonito e nada mais? Ela não conseguia pensar em outra coisa. Ele era sincero. Ele a salvou. Ela tinha se esquecido disso? Por que isso o atingiu com tanta força? Por que ele se importava?
Ela claramente não se deteve, mas continuou impiedosamente.
— Eu não tenho certeza do que você está acostumado, mas te prometo, eu não sou isso. Não preciso do que você oferece.
— Eu não ofereci nada. — Ele ressaltou, ferido, mas invicto.
Ela pareceu confusa por um momento. Ela sabia que ele estava certo e não teve uma resposta imediata. Ele considerou isso uma pequena vitória. Não durou muito.
— Bem, caso você mude de ideia então, minha resposta será a mesma até você ir embora.
Ele ergueu um lado da boca em um sorriso confiante e olhou para os escuros olhos dela.
— Tem certeza disso, moça?
— Sim, estou certa. Na verdade, eu prefiro que me matem e esquartejem do que me encontrar presa em um relacionamento indesejado.
Inferno, mas ela tinha uma língua cortante. Não que ele nunca tivesse sido rejeitado antes. Ele simplesmente nunca foi rejeitado de todo o coração. Morta e esquartejada? Bem... maldição. Isso certamente atrapalhava as coisas. Ele ainda queria beijá-la, mas agora, ele se sentia tolo por causa disso. E o que exatamente ela achava tão desagradável?
Ele olhou para trás em direção à casa, pensando que deveria voltar. Mas não quis fazê-lo. Ele não queria deixá-la. Ele quase riu alto. Que tipo de idiota ele estava se tornando? O que havia acontecido com ele? Ele mal a conhecia. Ele reconheceu quase instantaneamente que esse era o problema. Ele queria conhecê-la, droga. Ele queria saber para onde ela estava indo e que era tão importante que arriscaria tanto.
— Boa noite, Sr. Campbell. — Ela se afastou dele. Bem desse jeito.
Ele a deixou ir, com medo do que estava sentindo. Ele gostava dela. Ele gostava do som de sua voz, mesmo quando ela o estava insultando. Ele gostava da maneira como ela se movia, como se seus pés não estivessem tocando o chão, mas deslizando sobre ele. E gostava que ela não precisasse de um homem para fazê-la feliz e que fosse obstinada e forte. O que não gostava era que ela o achava indesejável, e que ele se importasse.
Patrick a observou desviar para a esquerda da aldeia e continuar em direção a um aglomerado de cabanas com telhado de palha.
Ela parou quando chegou a uma pequena cabana degradada e se virou para encontrá-lo atrás dela novamente.
— Você insiste em vir?
— É para lá que você está indo?
— Sim.
Quem estava lá dentro? Nesse ponto, ele precisava saber.
— Então, sim. Eu insisto.
— Você não vai contar ao meu pai ou aos meus irmãos, vai?
Ele balançou sua cabeça. Ele não faria nada para causar problemas a ela.
— Você tem uma razão para não lhes contar nada sobre suas aventuras, moça.
Ela respondeu à peculiaridade de sua boca com um olhar asqueroso e bateu na porta.
Eles esperaram em silêncio até a porta se abrir. Uma mulher alguns anos mais velha que Charlie estava do outro lado. Ela era baixa em estatura, com grandes olhos verdes injetados de sangue e cabelos loiros cuidadosamente presos em uma rede. Quando ela viu Patrick, pareceu assustada e se escondeu nas sombras sob a porta.
— Está tudo bem, Mary. — Charlie disse em uma voz reconfortante enquanto estendia a mão para ela e a envolvia em um rápido abraço. — Este é Patrick Campbell. Ele não quer te machucar.
Patrick ofereceu a Mary um sorriso que esperava que a reassegurasse da promessa de Charlie.
Ainda parecendo um pouco insegura, Mary deu um passo para o lado e permitiu que eles entrassem.
— Como está Robbie esta noite? — Charlie perguntou, seguindo-a para dentro.
— Ele está se sentindo melhor. Sua perna está se curando bem.
— E as crianças?
Patrick olhou em volta, em silêncio, enquanto Mary respondia. O interior da casa era pequeno e mal iluminado com velas colocadas por toda parte. O chão estava coberto de juncos e ervas frescas, as paredes sem tapeçaria para proteger do frio.
— Eles dormem, — Mary disse em voz baixa enquanto se aproximavam de um quarto onde havia uma cama atualmente ocupada por quatro crianças pequenas. O quarteto variava em tamanho, com os dois mais velhos nas bordas do colchão de palha e os mais novos no meio. Cabelos dourado espalhados por seus rostos angelicais e bochechas rosadas.
— Nonie ainda está tendo problemas com seu sono desde o incidente. — Mary disse a eles. — Ela finalmente conseguiu se acalmar. Wee11 Jamie passou o dia brincando com uma vara de madeira, fingindo que era uma espada. Ele tomou uma lasca desagradável em sua mão que me levou metade da noite para remover.
O olhar de Patrick pousou no menor dos quatro. Seu coração deu um salto ao ver a mão enfaixada da criança, um pequeno polegar rechonchudo descansando entre seus lábios relaxados.
— Ele não derramou uma lágrima, mas prometeu pegar o agressor de seu pai.
— Você deve mantê-lo longe de Hendry, Mary. — Charlie a advertiu gentilmente, seu olhar também fixo no menino. — Lembre-se do que eu disse a você.
Então, Patrick supôs, Hendry, sobre quem ele estava certo em suas conjecturaras no estábulo, atacou o marido de Mary... e na frente daqueles pequeninos. Por quê? E o que Charlie estava fazendo aqui com o inimigo de seu irmão?
— Venha, — a anfitriã acenou, principalmente para Charlie, mas Patrick foi junto. — Robbie está tomando sua caneca da meia-noite na cozinha. Ele vai querer vê-la.
Eles caminharam por um curto e escuro corredor até chegarem à cozinha, onde o marido de Mary estava sentado sozinho em uma longa mesa de madeira. A luz da lareira central revelou um homem nascido muito antes de sua esposa. Uma barba cobria a maior parte de seu rosto magro. Sua perna esquerda esticada para fora da cadeira, enfaixada do joelho para baixo. Seu olhar sombrio e surpreso brilhou à luz do fogo quando viu seus convidados.
— Quem é você? — Ele perguntou a Patrick enquanto bebia de sua caneca e lutava para se levantar. — Você não veio terminar o que Cunningham começou, não é? Como pode ver, eu não estou apto para lutar com você, mas se pretende me matar...
— Robbie, querido, — Mary correu para o lado dele e o acomodou de volta. — Charlie o trouxe. Tenho certeza de que ele é confiável.
Patrick deu um passo à frente e se apresentou, determinado a diminuir a apreensão do homem.
— Estou aqui como seu convidado e não quero te fazer mal.
Todos aqueles acima e abaixo dos Grampians conheciam a lei das Terras Altas do Murder Under Trust - Assassinato Sob Confiança. Era o crime mais grave matar ou ferir alguém que oferecesse hospitalidade.
Parecia que Robbie Wallace sabia disso também porque, depois de pegar sua caneca, ofereceu a Patrick e uma cadeira.
— Mary, vá buscar vinho para nosso convidado.
Patrick ergueu a palma da mão.
— Outra hora, talvez, senhora.
— Você não vai beber comigo? — Robbie semicerrou os olhos para ele como se estivesse reconsiderando sua primeira suposição.
— Qualquer coisa, menos vinho. — Patrick deu de ombros, sem querer ofender.
— Whiskie então?
Patrick devolveu o sorriso de seu anfitrião e recostou-se na cadeira, relaxando as costas contra ela.
— Isso eu vou aceitar.
— Não podemos ficar muito tempo. — Charlie olhou para ele e beliscou seu braço.
— Uma bebida. — Patrick ignorou a beliscada e continuou a se acomodar. — Você não veio até aqui apenas para desejar boa noite a essas boas pessoas, sim, anjo?
— Oh, ela é isso. — Mary correu de volta para a mesa com uma jarra e um prato de bolos de mel, colocou ambos na mesa e apertou a mão de Charlie. — Um anjo.
— Oh? — Patrick perguntou curioso, apreciando o rubor que tal título espalhou pela ponta do nariz de Charlie. Quem era ela? Por que os inimigos de seus irmãos a adoravam? — Tempo suficiente para duas histórias então?
Capítulo 08
— Eu devia algumas dívidas ao meu lorde Cunningham. — Robbie Wallace disse a Patrick enquanto tomava uma caneca de whiskie quente e bolo de mel doce. Charlie puxou um banquinho, provavelmente de um dos filhos, e sentou-se ao lado dele. Se a descrição de Robbie dos eventos que levaram Hendry Cunningham a espancá-lo na perna não estivesse chamando toda a atenção de Patrick, a proximidade dela e aquele maldito toque de lavanda o teriam distraído.
— Por quanto tempo você atrasou? — Patrick perguntou. Ele queria uma imagem dos Cunninghams o mais nítido que pudesse. Os inquilinos de Camlochlin às vezes pagavam a seu tio Rob, o chefe, mas muitas vezes atrasavam. Eles nunca se preocupavam com isso.
— Uma semana.
Patrick deu uma olhada de lado para Charlie, mas o olhar dela estava fixo nas mãos em seu colo e ela não viu. Ele não a culpava pelas ações de seus parentes. Ela claramente não teve nada a ver com isso.
— Ele vai voltar amanhã para pegá-lo. — Disse Mary.
— Você tem como pagar?
Robbie baixou o olhar para sua caneca. Sua esposa olhou para Charlie.
— Sim, ele tem. — Charlie disse ao inquilino de seu pai e mergulhou a mão em seu decote. O olhar de Patrick seguiu até que ela tirou uma pequena bolsa. Ela se levantou e colocou a bolsa na mesa diante de Robbie. — Desta vez, você o usará e salvará sua esposa e filhos da aflição e o seu orgulho.
Patrick a observou quando a compreensão total o atingiu e ele entendeu o que ela estava fazendo aqui... por que era tão importante para ela vir.
Mary fungou e levou a mão de Charlie aos lábios para uma série de beijos.
— Você vai me avisar se precisar de novo. — Disse ela à mulher que chorava. — Você não vai esperar até que seja tarde demais, sim?
— Mas é pedir demais de você. — Disse Robbie, apalpando a bolsa. — Você ajuda todo o pessoal de Pinwherry. Chegará um momento em que você deve cessar. Além disso, eu sou o provedor desta família...
— Como um pai, — disse Charlie cortando-o suavemente, — há muitas coisas que você fornece. Orientação, por exemplo. Você precisa estar aqui para ensinar seus filhos a serem o tipo de homem que devem ser. Não homens como Hendry ou seu suserano. Segurança, por outro lado. Você os mantém seguros pagando ao meu irmão.
Patrick estava imóvel, mal respirando. Ele tinha ouvido Robbie certo? Fazer isso, uma vez, por uma família necessitada era uma coisa, ajudar a todos em Pinwherry era outra. Era demais. Mais cedo ou mais tarde ela seria pega... ou morta. Ele sorriu para ela quando Charlie se virou para ele. Ele não podia fazer mais nada. Mary Wallace estava certa sobre ela. Charlie era um anjo. Quem era ele para dizer a um anjo para parar o que ela estava fazendo?
— Nós devemos ir.
Patrick assentiu. Eles saíram há muito tempo. Ele não era o tipo de homem que considerava matar levianamente, mas se seu pai ou um de seus irmãos colocasse o dedo nela, ele os matariam.
Depois de se despedir de Robbie, eles seguiram Mary de volta para fora.
— Você ajuda todos os aldeões? — Patrick perguntou a Charlie quando eles passaram pela porta do quarto das crianças.
— Quando eu posso. — Ela sussurrou de volta.
— Mamãe! — Uma das crianças gritou.
Era a garota. Nonie, como sua mãe a havia chamado mais cedo. Ela se sentou e gritou de novo, perturbando o sono seus irmãos adormecidos. Mary correu para o lado dela com Patrick seguindo logo atrás. Ele não pensou no por que foi, só sabia que o terror da criança o agarrou pelo coração. Ele sabia como eram os terrores noturnos. Ele os sofreu quando menino, depois de quase se afogar na baía de Camas Fhionnairigh. Muitos de seus parentes estavam brincando nas ondas naquela manhã, mas nenhum deles percebeu que ele tinha afundado. Pelo menos, parecia para ele que ninguém viu, porque engoliu goles de água antes de sua mãe o puxar para cima. Ele sofreu com a lembrança disso por um ano.
— Mamãe, eles estavam aqui! Eles voltaram! — Ela gritou, acordando seus irmãos. — Eles voltaram!
— Quem é aquele? — O mais jovem perguntou, tirando o polegar de entre os dentes. Ele se sentou e espalhou cachos dourados ao redor de seu rostinho redondo.
Ao ouvi-lo, a menina olhou por cima do ombro da mãe e choramingou ao ver Patrick.
Ele se ajoelhou ao lado da cama e tirou a vela da mesinha de cabeceira e a segurou entre ele e as crianças.
— Nonie, sua mãe estava me acompanhando.
— Quem... quem é você? — Perguntou a garota, profundamente enredada nos braços da mãe.
Inferno, mas ela era tão pequena e seus olhos eram tão grandes. Como poderia um rosto tão pequenino, um quarteto deles, na verdade, ter um efeito tão estrondoso em seu coração? Ele sorriu para eles. Eles sorriram de volta. Eles pareciam ter idades variando de três a seis, com Nonie em algum lugar no meio. Seus irmãos não o preocupavam. Nonie sim. Ela estava apavorada e ele daria qualquer coisa para aliviar seu medo.
— Eu sou Patrick, Protetor dos Sonhos.
Seus olhos se arregalaram.
— Você é?
Ele assentiu e sussurrou.
— Se seus sonhos a assustam, conte-os para mim e eu a ajudarei a vencê-los.
Seus olhos se arregalaram ainda mais. Nonie se aproximou um pouco mais e ele inclinou o ouvido para ela. Mas ela estendeu a mão pequena e passou os dedos pelo queixo ferido.
— Um ogro fez isso com você?
— Sim. — Ele disse a ela suavemente.
— E depois o que aconteceu? — Perguntou um de seus irmãos.
— E então eu o venci. — Disse Patrick a todos, em seguida, voltou sua atenção para Nonie. — Conte-me seu sonho.
— Eu estava brincando com Otis...
— Quem é este Otis?
— Ele é nosso gato. — Disse o menino mais velho, sentando-se.
— Ficou escuro, — sussurrou Nonie, — do jeito que fica quando uma tempestade está chegando.
Patrick assentiu, ouvindo.
— Eu os ouvi atrás de mim e olhei... olhei e...
Patrick esperou pacientemente enquanto ela enterrava o rosto no peito da mãe e lutava contra as lágrimas. Hendry Cunningham tinha feito muito mal para esta família. Patrick o veria punido.
— Eles eram grandes e feios e tentaram pegar Otis. — Nonie passou o pequeno punho pelo nariz para limpá-lo. — Eles queriam comê-lo. E então um deles o pegou e... — Ela não pôde ir mais longe e começou a chorar.
Patrick deduziu o resto. De fato, seria horrível assistir um monstro consumir um animal de estimação muito amado.
— Lass?12 — Ele sussurrou e puxou suavemente a mão dela para fazê-la olhar para ele. Quando ela fez isso, seus olhos brilharam com lágrimas. — Onde está Otis agora?
Ela apontou para um gato gordo e cinza enrolado em um banquinho próximo.
— Tem certeza de que Otis não comeu um deles? Ele parece ter se banqueteado bem.
Os meninos riram. Nonie sorriu por trás da saia da mãe.
— Você fala estranhamente.
— Nonie! — Sua mãe repreendeu baixinho.
— Mas ele fala, mamãe! — O segundo mais novo concordou veementemente.
— Todos os guerreiros em minha terra falam assim. — Disse Patrick. — Monstros odeiam isso. Eles dizem que a cadência da minha voz os faz chorar e correr para suas mães.
A risada dos meninos trouxe outro sorriso para Patrick, mas ele ficou muito grato ao ver o sorriso de Nonie.
— Eu gosto. — Disse ela.
— Bom. — Disse Patrick. — Então você não é nenhum deles disfarçado. — Ele a olhou mais de perto. — Você é? — Ele se virou para seus irmãos. — Algum de vocês, rapazes, são monstros?
Todos eles riram, balançando a cabeça.
— Então, — Patrick olhou para o gato. — Eles não comeram Otis de verdade. — Ele voltou sua atenção para Nonie. — Você sabe por quê?
— Não.
— Porque eles não são realmente grandes. Na verdade, eles são bastante pequenos, pequenos o suficiente para morar apenas aqui. — Ele apontou para a cabeça dela. — Eles não conseguiriam colocar um gato na boca, especialmente Otis.
— Como você sabe disso? — Ela perguntou suavemente.
— Eu sei muitas coisas. Você gostaria de conhecer algumas delas?
Ela assentiu com entusiasmo o que fez seu coração disparar.
— Você é maior e mais forte do que eles. Ora, você nem mesmo precisa de mim para lutar contra eles.
— Eu não preciso?
Ele balançou sua cabeça.
— Mas eu ainda vou te ajudar. Eu vou te contar seus segredos. Está ciente de que monstros e todos os tipos de ogros podem ser derrotados se você conhecer seus segredos, não é? — Ela acenou com a cabeça, embora ele tivesse acabado de inventar a coisa toda.
— Você quer conhecê-los, então?
— Sim, sim, eu quero!
Ele ergueu três dedos.
— Primeiro, eles nunca podem dizer a verdade. Se você conhece este segredo, eles nunca poderão mentir para você. Eles perdem todo o seu poder. A segunda maneira de derrotá-los. — Ele enrolou um dos dedos de volta em seu punho... — É saber que a razão deles serem tão horríveis é porque nunca tiveram um amigo. Afinal, eles são monstros. Quem gostaria de ser amigo de um monstro? — Ele parou por um momento para deixá-la pensar sobre isso. — Este segredo é bom saber, — ele continuou, — porque fazer um monstro seu amigo significa que ele nunca poderá assustá-la novamente.
Ele moveu a vela de volta para a mesa de cabeceira. Os olhos de Nonie, arregalados e curiosos, seguiram a luz... seguiram-no enquanto ele caminhava.
— Você quer saber a última maneira de derrotá-los?
— Sim. — Ela proferiu sem fôlego ansiosa por sua instrução.
Ambos os olhares observaram seu último dedo enrolar com o resto.
— Eles são muito pequenos. Como já te disse. É por isso que eles nunca virão ao lugar onde realmente residimos. Veríamos como eles são pequenos e riríamos. — Ele sorriu e se aproximou um pouco mais do rosto dela. — E rir é o que eles mais temem.
Ela ficou em silêncio por um momento. Ninguém se mexeu no quarto enquanto ela contava três de seus dedos. Ela fechou os olhos e os abriu novamente fixando em Patrick.
— Eu acho que posso fazer isso.
Ele sorriu enquanto seu lamentável coração se derretia entre suas costelas.
— Eu sei que você pode. E até que eles desapareçam, estarei por perto para ajudá-la se precisar de mim.
Ele não estava preparado para seus braços pequenos quando eles alcançaram seu pescoço ou seu suspiro delicado em sua bochecha. Ele olhou para a mãe dela e sorriu, arruinado por sua filha.
Se despedindo de Nonie, ele deixou a cabana com um sorriso de satisfação no rosto e Charlie ao seu lado.
— Você me surpreendeu, Sr. Campbell. — Ela ofereceu levemente e caminhou com ele em direção a Cunningham House. — O pecador tem um pouco de santo nele.
Patrick curvou a boca à luz leitosa da lua.
— Eu não sou um santo. Não sou uma multidão de coisas, moça. Faça sua escolha. Isso é o que venho tentando lhe dizer. — Seu sorriso se aprofundou nela e ele se aproximou para bater em seu ombro.
Patrick notou com uma palpitação no coração que ela saltou de volta para ele, ainda mais perto desta vez.
— Eu serei a juíza do que você não é. — Ela disse, dando a ele um pequeno empurrão que não o moveu um centímetro.
— E o que julgamos até agora? — Por que ele se importava? Ele nunca se importou antes.
— Você não é totalmente bárbaro como o resto. Você tem um jeito naturalmente fácil com as pessoas, seduzindo à vontade.
— Você me lisonjeia, moça.
— E a julgar pelo que você pensa de si mesmo, quer que eu prossiga.
Ele jogou a cabeça para trás e riu. Ele gostava de como ela dirigia seus insultos tão habilmente quanto arremessava suas pedras. Ela pensava que o conhecia. Afinal, ele era bastante transparente. Mas não ser totalmente bárbaro não era tão terrível. E ele tinha um jeito fácil com as pessoas. Ele preferia fazer amigos do que matar inimigos. Ele poderia matar se precisasse. Se Hendry Cunningham alguma vez fizesse mal a Nonie Wallace ou seu gato, ele o faria. Pensar em matar seu irmão acalmou seus pensamentos e ele permaneceu em silêncio enquanto caminhava.
— Vou prosseguir então. — Disse ela, quebrando o silêncio. — O que você fez pela Nonie foi gentil e muito inteligente. Meu irmão causou muita aflição aos Wallace e tenho certeza de que Hendry é um dos monstros de Nonie. Quando disse a ela que iria ajudá-la a derrotá-los, perguntei a mim mesmo como você poderia fazer isso. Não há como entrar em seus sonhos e salvá-la. Mas fez algo melhor. Você a ensinou como lutar contra eles sozinha. Você... — Sua voz doce ficou mais suave. — Fez de uma menina sua própria heroína. E talvez isso também o torne um herói.
Ele a olhou a luz do luar com suave. Agradou-lhe que ela o tivesse em alta conta, o suficiente para considerá-lo um herói. Ela estava errada, é claro, mas ele não via razão para lhe dizer isso.
— Devo começar por algum lado.
Ele ficou feliz em ouvir sua risada suave. Esta noite deve ter sido cansativa para ela. E provavelmente precisava de algumas risadas.
— Talvez, — ela sussurrou na escuridão. Sua doce respiração soprou em seu queixo. Ele apertou a mandíbula com o esforço de não se inclinar para beijá-la. — Há mais coisas em você do que eu pensava.
Havia. Mas revelar isso o deixaria vulnerável, necessitado. Como... afogar-se na água, precisar ser resgatado.
— Onde você conseguiu as moedas? — Ele perguntou, afastando-se um pouco. Ele não iria se expor mais a ela.
— Eu roubei de Hendry, é claro. Ele mantém suas bolsas em um baú em seu quarto. Ele pagou por muitos de seus erros e, felizmente, é muito estúpido para perceber isso.
— Se ele machucar...
Ela colocou a mão em seu braço. Ele olhou para baixo, desejando poder ver seus dedos finos.
— Ele estaria morto antes de você alcançá-lo. — Ela jurou.
— Você não compartilha nenhum afeto por ele então?
— Eu gostaria mais dele se ele fosse uma víbora.
Droga, ele não pôde deixar de sorrir. Ela possuía fogo sob seu olhar subserviente. Fogo para desafiar, enganar e salvar uma ou duas aldeias enquanto ela estivesse por lá. Ele nunca conheceu ninguém como ela. Ela era um problema. Do pior tipo.
— E Duff?
— Ele é diferente. — Ela disse depois de um momento para considerar suas palavras antes de pronunciá-las. — Ele não teve parte nisso. Mas ele não aprovaria o que estou fazendo, especialmente porque também tirei da bolsa dele.
Desta vez, eles riram juntos. Quando foi a última vez que ele caminhou com uma moça sob a lua e simplesmente falou e riu juntos? Era muito bom. Diferente. Melhor.
— Uma vez eu roubei a prostituta favorita de Hendry para pagar por uma cabra para que o novo bebê de Maeve Kennedy pudesse ter leite fresco. — Ela continuou, a diversão em sua voz soando como música em seus ouvidos. — A prostituta se recusou a dormir com Hendry novamente, chamando-o de ladrão. Ele meditou sobre isso por um mês.
— Och, moça. — Ele disse a ela. — Eu quero você ao meu lado em uma batalha. Você é tortuosa.
Eles continuaram a rir todo o caminho de volta para o perímetro da casa.
Ela não se desculpou por achar graça na desgraça de seu irmão. Hendry era um bastardo odioso que merecia o que recebeu. E graças a sua irmã, ele estava entendendo bem.
— Afinal, sua companhia não era tão terrível.
— Verdadeiramente, você deve parar com todas as suas palavras gentis.
Ela riu uma última vez, então se inclinou na ponta dos pés e antes que ele soubesse o que Charlie estava prestes a fazer, deu-lhe um beijo em sua bochecha.
— Boa noite, Sr. Campbell.
Ela se virou para ir sozinha para a casa, mas ele agarrou seu pulso e puxou-a de volta para seus braços. Ela se curvou para trás, lançando sua longa gloriosa trança negra sobre a dobra de seu cotovelo. Ele a seguiu, inclinando-se sobre ela, envolvendo-a com seu hálito quente. Quando Charlie parou de protestar, ele se inclinou sobre ela, uma mão segurando seu queixo para inclinar a cabeça para trás enquanto a puxava para mais perto. Seus lábios eram suaves, mas inflexíveis, querendo seu beijo, mas em negação. Ele passou a língua pelos lábios dela, persuadindo-a a se abrir para ele. Quando ela o fez, ele sentiu sua força deixar seu corpo em um turbilhão que o deixou fraco em seus próprios pés. Por um instante, o medo o dominou. Seu efeito sobre ele era muito indesejado, mas ela tinha gosto de desafio e mel e quando ele passou sua língua pela caverna quente de sua boca, ele soube que tinha que possui-la.
Seria uma tarefa difícil, ele foi lembrado disso quando, depois de um pequeno gemido que ele puxou de sua garganta, ela balançou a cabeça como se seus sentidos estivessem voltando. Ela se afastou de seu abraço e conseguiu, no escuro, dar um tapa forte na bochecha dele.
— Nunca faça isso de novo!
Inferno, ele pensou enquanto ela voltava para casa. Ele queria fazer muito mais do que isso.
Capítulo 09
Charlie sentou-se no parapeito da janela e olhou para Duff e Patrick Campbell lutando no jardim da frente.
Ela ficou surpresa por Duff ter se levantado da cama tão cedo. Ela colocava bastante erva Valeriana em sua taça de vinho todas as noites, o suficiente para manter três homens menores adormecido por pelo menos doze horas. Duff era um grande bruto e ela preferia prevenir do que remediar. Ela nunca quis correr o risco, dele segui-la à noite.
Mas lá estava ele, envolvido com o Sr. Campbell por pelo menos um quarto de hora agora, os dois homens lançando punhos e diferentes combinações de socos, além de bloquear e evitar muitos golpes. Eles não causaram nenhum dano real um ao outro, evitando a maioria dos golpes. Eles não usaram nenhuma arma em sua prática, exceto punhos, habilidade e inteligência.
Eles pareciam igualmente combinados, mas Charlie notou que seu irmão era mais lento e menos fluido em seus movimentos.
Ela também não pôde deixar de notar como o sol brilhava na coroa de cabelo ruivo de seu convidado e nos cabelos flamejantes em seus braços. Ele se movia como uma chama, penetrando todas as melhores defesas de Duff. O tamanho de seus braços chamava sua atenção de vez em quando. Eles eram bem musculosos e grossos, feitos para brigar. Se ele alguma vez lutasse com Hendry, o irmão dela não duraria dez respirações.
Eles fizeram uma pausa e se reuniram para discutir a partida. Patrick Campbell sorriu para algo que Duff disse. Ele sempre sorria, Charlie pensou. Ele sempre parecia calmo e sereno. Mesmo quando ele saiu de sua casa, amarrado pelos pulsos, e ficou cara a cara com os Dunbars, sua confiança suprema não vacilou. Ele ainda não tinha feito uma careta para ela por nocauteá-lo com sua funda e colocá-lo nisso tudo.
— Você vai ficar olhando para ele a manhã toda? — Elsie perguntou enquanto vestia suas anáguas e espartilhos de lã, tingidos no tom perfeito de azul para combinar com os olhos dela.
— Não estou olhando para ele. — Charlie se defendeu e saiu do peitoril. — Eu estava vendo eles lutarem.
Ela ignorou o sorriso duvidoso de sua irmã e foi direto para seu armário de roupa. Mas em vez de escolher o que vestir, seus pensamentos voltaram para ele.
O que ela deveria fazer com ele? Ontem à noite ele teve a audácia de colocar a boca nela sem permissão. Não que ela tivesse dado. Embora, queridos santos do céu, ela quase perdeu a consciência... ou algo tão vital... jogada em seus braços como uma garota imprudente. Se não fosse pela força de seu braço, ela teria caiado ali mesmo, a seus pés. Ele beijou com primoroso cuidado, moldando sua boca e seu corpo ao dele. Kendrick a beijou, mas eles eram jovens e sua boca estava estranha na dela, sem desejo e nem de perto tão apaixonada.
O Highlander também a fez rir, rir de verdade, e foi delicioso. Ela não fazia o mesmo com frequência.
Não havia muitos motivos para isso. Depois que seus irmãos mataram Kendrick, depois que os Fergusson mataram sua mãe, sua vida mudou drasticamente. Ela viu a verdade nos homens, do que eles eram realmente feitos. Os avisos de Kendrick eram verdadeiros. A primeira vez que seu pai tentou casá-la, ela tinha quinze anos. Hendry começou a enfrentá-la mais abertamente. Duff se retirou para uma caverna e rasgou a garganta de qualquer um que tentasse se aproximar... incluindo ela. Ela encontrou maneiras de se proteger e sua sanidade. Felizmente, ninguém queria Elsie com sua doença respiratória.
A única coisa boa que restou em sua vida depois que Kendrick e sua mãe partiram foi a lembrança. Ela não os deixaria ir. Ela não conseguia.
Mas Patrick Campbell estava preenchendo grande parte de seus pensamentos. Por mais que seu beijo e sua risada a assombrassem, o mesmo acontecia com a lembrança dele com os filhos Wallace, Robert, Nonie, Andrew e Jamie. Isso a fez pensar sobre ele com seus próprios filhos... e os dela. Ela se lembrava dele com Nonie, os rostos brilhando à luz das velas, os olhos fixos um no outro. Ele acalmou os medos de Nonie com inteligência, compaixão e autoridade.
Nonie erriçou as penas do Highlander. Ela o fez admitir coisas que Charlie tinha certeza de que odiaria confessar. Quanto mais havia em Patrick Campbell? Ela queria encontrar uma maneira de contornar seus sorrisos bem direcionados e olhos verdes convidativos, e suas palavras encantadoras e confiança relaxada.
Não. Ela não tinha absolutamente nenhum desejo de perder a única liberdade que restava por um homem. Especialmente um libertino autoproclamado cujo coração não era leal a ninguém. E Bethany da taverna? Certamente, ele não teve tempo de ir para a cama com ela antes de Hamish aparecer. Mas ele teria ido. Ela tinha visto a paixão em seus olhos. Ele iria voltar para a prostituta da taverna? Ou ela foi esquecida, assim como Charlie seria em breve? Não, Charlie não entregaria todas as suas esperanças e sonhos dela e Elsie a um homem que ela mal conhecia. Um homem que provavelmente partiria um dia. Um homem que não era nada como o homem que Kendrick teria sido.
Ela havia perdido muito tempo pensando nele. Ela tinha ovelhas para cuidar e galinhas para alimentar.
Pensando em seu dia, Charlie sorriu e puxou um vestido do armário. Era um de seus favoritos. Ela mesma o fizera com tiras de gaze esvoaçantes, tingidas peça por peça em um arranjo de azul claro, lavanda e pêssego. O espartilho era feito de lã fina e macia, também tingida de púrpura claro, com laços na frente, assim como todos os vestidos que ela fazia. Ela não gostava de depender de ninguém para amarrá-la nas costas. Mangas compridas se abriam em seus cotovelos e caíam em esplendor fluido em seus dedos. Ela ouviu Elsie suspirar atrás dela. Sua irmã não entendia por que Charlie sempre insistia em usar roupas tão leves em vez do espartilho de ossatura, saias grossas e rígidas que as outras garotas usavam.
— De que adianta o conforto, — Elsie costumava perguntar, — quando você está congelando?
Elsie estava sempre com frio. Pobre querida.
— E quanto ao seu earasaid?
— Oh, Elsie. — Charlie falou, girando nos calcanhares para encará-la e apreciando o balanço fácil de seu vestido. — É um lindo dia! Que necessidade há de uma túnica pesada?
Sua irmã deu um suspiro de frustração.
— Você está sempre cuidando de mim, Charlie. Por que você nunca me deixa cuidar de você?
Adorava que Elsie quisesse ajudá-la, mas não precisava que a irmã fizesse as coisas por ela.
— Vou usar uma fita no cabelo. — Charlie sorriu alcançando uma fina fita de lã branca comum. — Isso vai te agradar?
Elsie ergueu as mãos, cedendo.
— Com todo esse seu cabelo só vai se soltar e cair sobre a testa como o de uma égua selvagem. Porque se importar?
Charlie riu e amarrou o laço na cabeça. Ela puxou seus grossos cachos para fora da parte inferior e saiu do quarto sem os chinelos.
Ela ficou grata por não ver Hendry ou seu pai comendo jejum no salão. Eles provavelmente ainda estavam dormindo, graças a Valeriana.
Com Elsie ao seu lado, ela pegou um par de maçãs e entregou uma para sua irmã no caminho para fora de casa.
— Você vai cuidar das ovelhas na campina, El. Você sempre tem mais dificuldade para respirar em locais onde tenham penas. Fique onde Duff possa te ver.
— Mas e você? — Elsie protestou, não querendo deixá-la. — Você estará sozinha no galinheiro caso os Dunbars retornem.
— Os Dunbars não vão voltar. — Charlie tranquilizou suavemente. — Eles não podem ser tão tolos. Aposto que Duff e o Sr. Campbell poderiam lutar contra uma dúzia de Dunbars e vencer. Não se preocupe. Duff está quase na curva.
Com Patrick. Ela pensou em ir vê-los treinar. Ela decidiu contra isso. Ela certamente não queria que o malandro Highlander pensasse que ela gostava de olhar para ele, de estar perto dele. Ela não era como suas admiradoras anteriores. Sua aparência carnal significava pouco para ela. Ela sabia como os homens eram por dentro. Ela cresceu fatalmente ferida por seu orgulho e ódio. Eles eram selvagens em seus pensamentos. Nenhum deles era diferente, nem os Cunninghams, os Fergussons ou os Dunbars. Eles eram tolamente teimosos como Robbie Wallace, arrogantes e cruéis como seu pai e irmãos, sanguessugas lascivos que frequentemente estavam bêbados demais para lutar contra ela. Patrick Campbell era diferente?
Ele era diferente na noite anterior.
— Seria apenas um momento para Duff chegar até nós.
— E na metade desse tempo. — Elsie disse, sua voz soando mais leve enquanto ela se virava em direção ao pasto. — Para o Sr. Campbell salvá-la novamente.
Sim, Charlie pensou ao vê-la partir. O Highlander a salvou uma vez. Ela faria questão de não deixar isso acontecer novamente. A única razão pela qual ela percebeu que precisava ser resgatada quando Archie Dunbar pensou em levá-la foi porque Elsie estivera lá. Caso contrário, ela não teria hesitado em lutar. Normalmente, um golpe forte em algum lugar na virilha era o suficiente para colocar um homem de joelhos.
Ela mordeu sua maçã e persuadida pelo sol, traçou seu caminho para a casa de trigo onde ela pegaria a ração das galinhas. Uma brisa quente soprou sobre ela, levantando as delicadas camadas de seu vestido e se espalhando por seus cabelos.
Colocando a mão sobre os olhos para fazer sombra, ela se virou uma última vez para ver sua irmã alcançar a clareira ensolarada. Ninguém mais estava por perto. Seus olhos se voltaram para a aldeia além das colinas baixas.
Como estão Mary e Robbie esta manhã? Patrick tinha vencido os sonhos assustadores da pequena Nonie?
Charlie sorriu ao se lembrar de sua voz suave e compassiva. Ela nunca teria acreditado que ele tinha tanta consideração pelos medos de uma criança, mas ele foi para o lado da cama de Nonie como se sua paz de espírito fosse sua responsabilidade. Ela cantarolava enquanto caminhava, abrindo bem os braços e semicerrando os olhos para o sol. Parecia que ele era mais do que um rosto bonito.
Seus pensamentos voltaram, como haviam feito inúmeras vezes desde a noite anterior, ao beijo profundo e sensual, a sensação de seus ângulos duros pressionados contra suas formas suaves. Ela se amaldiçoou por pensar isso, mas desejou outra oportunidade para ele fazer isso de novo. Nenhum homem jamais tomou tal liberdade com ela antes. Ela provavelmente teria matado um se um homem tivesse tentado, mas em vez de levantar sua adaga para o Sr. Campbell, ela simplesmente o esbofeteou. E ela teve a sorte de poder fazer isso! O que ela realmente queria fazer era puxá-lo para mais um beijo.
Se ela fosse sincera, e Charlie se considerava verdadeira, devia admitir que só de pensar nele aquecia o sangue em suas veias.
Ela chegou à casa de trigo e enxugou a testa dos efeitos que o Highlander e o sol tinham sobre ela. Ela abanou o rosto quando uma brisa suave levantou alguns cachos de seu pescoço.
Honestamente, como Elsie usava tantas camadas de roupas?
Ela abriu a porta larga e entrou. A luz salpicou atrás dela através de sacos transbordando de trigo e outros grãos. Ela tirou dois baldes dos ganchos que estavam presos na parede de pinho rachada à sua direita e se dirigiu para os sacos.
Hoje à noite ela voltaria para Blind Jack's Tavern em Pinmore. De acordo com o Sr. Will Stewart... um patrono que ela conheceu lá durante sua última visita... um médico chamado Malcolm Lindsay estaria viajando pela cidade esta noite. Ela descobriu que a melhor maneira de obter informações era com as línguas soltas dos bêbados. Na verdade, muitas das mesmas línguas que tinham, no inverno passado, ajudado a descobrir a verdade sobre o desaparecimento de Kendrick cinco anos atrás.
Era arriscado dosar as bebidas de sua família três noites seguidas, mas ela estaria lá para encontrar o Dr. Lindsay e falar com ele sobre ajudar Elsie.
Fixada em sua causa, ela enfiou seu primeiro balde no grão e ouviu o jato de sementes transbordando para o chão. Ela colocou o recipiente cheio na mesa e encheu o próximo.
Pensamentos espontâneos retornaram a ela sobre a voz forte e segura do Highlander enquanto confortava uma garotinha. E então o seu abraço e beijo apaixonado sob a lua. Esbofeteá-lo foi difícil e satisfatório, porque a última coisa que ela queria que ele fizesse era parar, porque não era uma prostituta para ser usada e porque Patrick ganhava a vida lutando. Sua bochecha aguentaria. Ela imaginou que muitas mulheres o haviam esbofeteado.
Mas não havia lugar em seu futuro para um charmoso patife. Muitas pessoas precisavam dela. E como ela poderia trair a lembrança de Kendrick, deixando-se seduzir por um homem como Patrick? Seria melhor se ela o esquecesse agora.
Curvando-se para a primeira alça do balde, ela ergueu os dois e se virou para sair. Enquanto ia, pensou que poderia ter que aumentar a dose na bebida do Sr. Campbell hoje à noite para impedi-lo de segui-la.
Ela saiu e colocou os baldes no chão para que pudesse fechar a porta. Quando viu o Highlander encostado na parede externa, as mãos cruzadas sobre o peito, o rosto inclinado em direção ao sol, ela soltou um suspiro tenso.
O som chamou sua atenção e ele virou a cabeça para fixar os olhos nela.
— Eu não posso pensar em nada além do nosso beijo na última véspera. Como você está?
Seus joelhos ficaram um pouco fracos... antes dela se recompor novamente. Ele era um libertino ousado, com bastante prática na arte da sedução. A inclinação de seus escandalosos lábios provava isso. Ele esperava que ela desmaiasse. Em vez disso, ela endireitou os ombros.
— Você chama aquilo de beijo? — Ela tentou manter uma compostura séria enquanto ele ria. — O que realmente o toma para me seguir ao redor do vale, sem ser convidado?
Ele soltou os braços e os esticou para fora.
— Eu tenho me perguntado essa mesma pergunta.
— E? — Ela se virou e puxou a porta.
— E, — ele respondeu, se empurrando da parede e curvando-se sobre seus baldes, — a resposta ainda me escapa.
O que ele estava tentando dizer? O que havia de tão difícil em decidir por que ele a seguia? Ela o olhou furiosa e agarrou uma das alças. Ele a deixou pegar.
— A princípio pensei, — continuou ele, acelerando o passo para caminhar ao lado dela ao longo da trilha de volta ao galinheiro, — que era a maneira como o sol se derrama sobre você como se fosse criada para dançar na luz.
Oh, mas ele tinha uma língua magistral. Funcionava como uma pomada calmante para uma ferida que tinha sido aberta por muito tempo. Seus lábios doeram para formar um sorriso. Seu coração disparou, querendo se soltar e voar. Ela adorava voar.
— Eu considerei se era o desafio de ganhar a atenção de uma égua tão selvagem quanto o vento no inverno, ou uma aflição incômoda de querer saber quem você é, que me possuía para segui-la.
Aflição?
— Mas ainda estou indeciso.
Então, conhecê-la era uma aflição. Ela desviou os olhos para ele. Quanto à sua confissão de estar indeciso, ele poderia ser tão inocente quanto seu sorriso atual implicava? Oh, mas ele tinha outros sorrisos, alguns que estavam contaminados com problemas.
Isso a assustava. Permitindo que ele, ou qualquer outro homem, a distraísse de salvar Elsie. Ela não podia perder de vista sua tarefa. Nem mesmo por um homem cujo beijo curvou seus dedos dos pés e queimou seu sangue.
Ela tinha que manter a cabeça limpa e o coração bem protegido. Esse highlander, com seus olhos dançantes e boca carnuda e sensual, era a encarnação da tentação. Mas ela não queria ser tentada. Ela não queria notar a altura ou largura dele de tão perto, ou como seus sorrisos fáceis a deixavam à vontade. Ou como ele com o seu poder arrebatou dos monstros de Nonie e o devolveu a ela. Mas ele não queria uma esposa. Ele não disse isso a ela? Ele era um libertino da pior espécie. Ela o tinha visto com Bethany. Ele considerava integridade e honra ideais empoeirados.
— Você já considerou, — ela perguntou a ele, — que o motivo pelo qual deseja ganhar meu favor não tem nada a ver comigo, mas com você?
Ele ergueu a sobrancelha para ela, sua covinha aparecendo.
— Vitória, — ela explicou, — seria outro ponto para seu cinturão.
Ele fez uma pausa e olhou para o cinto. Ela continuou andando até chegar ao galinheiro e entrar. Quando a alcançou, ela deveria ter insistido para que ele saísse, pois, o pequeno local estava mal iluminado e ficar sozinha com Patrick Campbell não era sábio. Mas quando ela o ouviu entrar um momento depois, inalou satisfeita.
— Você acha que me conhece.
Sua voz era como penas caindo sobre sua pele quando ele falou atrás dela. Os pelos de sua nuca se arrepiaram enquanto as penas continuavam descendo até a barriga. Ela deu um passo para trás e se virou para encará-lo.
— Eu o conheço, Sr. Campbell, e muitos homens como você. Eu sei que seu objetivo final é fazer do seu jeito. Você pensa em me lisonjear até a submissão, mas não terá sucesso.
Ele sorriu, confundindo seus sentidos. O que diabos havia de errado com ela? Ele era um homem, assim como qualquer outro... só que não era.
— Discordo.
Talvez ela estivesse errada. Ela queria dar um tapa nele novamente.
— Você me acha fraca?
— Não. — Disse ele levantando os dedos para o rosto dela. — Na verdade, eu acho que você é bastante extraordinária.
Ele a hipnotizava. Essa era a única explicação lógica que ela poderia inventar para explicar por que permanecia em seu lugar, por que fechava os olhos ao toque de sua grande palma calejada contra seu rosto. Ele deve ter falado essas palavras para uma dúzia de outras mulheres. Ele provavelmente tinha falado a Bethany. Ela queria rir dele e de suas palavras bem treinadas e dizer que não era tola o suficiente para acreditar nelas, mas o pensamento dele com Bethany a fez cerrar os dentes. Por que ela se importava? Ele era um libertino e isso era o que os libertinos faziam. Em sua mente racional, Charlie sabia o que deveria fazer. Fique longe dele até que ele parta.
Mas não havia nada de racional sobre o coração, e ela temia que pudesse perder o dela para ele. Para um patife.
— Você me lisonjeia, Sr. Campbell. — Disse ela, reunindo suas forças e voltando sua atenção para as galinhas. — Você não precisa continuar. Eu não serei vencida.
— Por qualquer homem? — Ele perguntou, parecendo divertido ao lado dela.
Ela voltou seu olhar para ele. Ele não se incomodou em esconder seu sorriso sombrio e duvidoso.
— Nunca? — Ele perguntou.
Ela não sabia. Ela nunca tinha pensado nisso antes.
— Talvez com o tempo, depois de viver a vida do jeito que tenho sonhado com Elsie por muitos anos. Por quê? — Ela perguntou com o arquear de uma sobrancelha e um sorriso malicioso. — Você esperaria?
— Você me consideraria se eu esperasse? — Ele respondeu com um sorriso.
— Se você esperasse por mim tanto tempo. — Ela disse a ele deixando escapar uma risada suave. — Eu o consideraria um tolo.
Capítulo 10
Ele era um idiota.
Um tolo por ficar em Pinwherry, por ficar aqui... com ela. Por que ele não ia embora, mesmo agora, depois que ela professou seu profundo desejo de ser deixada em paz? De todas as mulheres na Escócia, ele queria uma moça que não queria ser submissa.
Ele a queria. Não apenas em sua cama. Ele ansiava por vê-la, pela interação com ela. Ele gostava de sua companhia e não queria deixá-la ainda.
Quanto mais ele ficaria?
As pontas dos dedos dela pousaram em sua orelha e tencionaram os músculos de seu abdômen.
— Você está sangrando.
— Duff é um bruto.
Ela sorriu e ele caiu cativado, como se estivesse sob algum tipo de feitiço. Como se ele não pudesse controlar seus próprios pensamentos, apenas suas ações. E por que ele estava se impedindo de tomá-la em seus braços e seduzi-la sem sentido? Porque ele não queria arriscar a vida com que ela sonhou.
Inferno, ele estava doente? Ele estava com febre? Ele estava delirando? Ele realmente não iria beijá-la?
Maldita honra e integridade!
Ele decidiu ficar com o tópico com o qual se sentia mais confortável. Seu irmão, por exemplo. Era mais seguro e havia algo em Duff que o incomodava, como uma urtiga na bota, espetando seus pensamentos. Brigar com ele esta manhã provou que Duff sabia como lutar. Não só isso, mas ele gostava, sorrindo quando seu punho colidiu com o corpo de Patrick enquanto eles lutavam. Foi aquele sorriso... aquele sorriso que Patrick tinha visto em algum lugar antes. Mas onde?
— Estou surpresa que Duff não quebrou sua mandíbula. — Disse ela, deixando cair os dedos para o lado e se voltando para as galinhas. — Ele gosta de quebrar mandíbulas.
— De quem? — Patrick perguntou, jogando as sementes de seu balde para as galinhas.
— Homens que merecem. — Ela concedeu. — Homens cujos nomes não vou falar, que fizeram mal a algumas das crianças na aldeia e na próxima. Duff quebrou suas mandíbulas antes de matá-los. Ele não mostra misericórdia.
Então, ele pensa como um Highlander.
— Você sabe quem é o pai dele? — Patrick perguntou a ela, imaginando se ele conhecia o homem.
— Se Duff quisesse que você soubesse o nome do pai dele, ele teria te contado.
Seu olhar captou o esplendor de seu perfil atraente enquanto ela negava a informação sob a luz brilhante.
— Você é leal a ele.
Ela balançou a cabeça, mas então sua dissidência vacilou.
— Duff não teve nenhuma participação nas circunstâncias de sua infância, nenhuma palavra sobre quem o gerou.
Havia misericórdia nela. Isso agradou Patrick. Ela não compartilhava nenhum carinho por seus irmãos. Ela deixou isso perfeitamente claro. O desdém dela por Hendry era compreensível, mas Duff não havia encostado um dedo em nenhum dos aldeões, pelo menos, de acordo com Duff quando Patrick lhe perguntou.
Ele admirava sua lealdade por amor à compaixão, mas queria saber mais.
— O pai dele era tão terrível a ponto de Duff envergonhar-se em reconhecê-lo como genitor?
Ela deu de ombros delicados e voltou-se para as galinhas.
— Terrível o suficiente para cavalgar por Pinwherry e ficar pelo tempo suficiente para fazer um filho e depois partir, uma criança que cresceu indefesa neste mundo impiedoso com apenas uma mãe para protegê-lo. Eu vi o que ter um pai desonesto fez com Duff. Ele luta bem porque foi forçado a aprender muito jovem.
Então, Patrick pensou, foi aí que nasceu seu desdém pelos libertinos. Era compreensível.
Ela recuou quando pensou que ele não compreendeu o que o pai de Duff tinha feito de errado. Ele não queria pensar nessas coisas antes. Ele estava pronto agora?
— Sim, você tem razão. — Ele admitiu. — Foi terrível deixar uma moça sozinha com seu filho.
Ela deslizou seu olhar para ele mais uma vez enquanto se curvava para as galinhas. Um fino feixe de luz caiu sobre ela, iluminando a peculiaridade cética de seus lábios.
— Algo que você teve o cuidado de evitar? — Ela perguntou.
Ele ia responder com um sonoro sim, mas se viu incapaz de seguir em frente.
Inferno. Ele não queria pensar em nenhum bebê que pudesse ter deixado para trás, que viveria suas vidas sem pai. Ele nunca tinha testemunhado as consequências de seu estilo de vida despreocupado e egoísta. De acordo com Charlie, ela viu isso com Duff.
— Na verdade, — ele confessou baixinho, baixando o olhar para as aves, — eu não sei ao certo o que deixei para trás.
O silêncio pairou entre eles por um momento que durou uma eternidade para Patrick e o deixou se sentindo pesado com remorso.
— Entendo. — A voz dela o tocou como uma brisa abafada sobre sua pele. — Você pensa tão pouco de mim para acreditar que eu me jogaria daquele precipício.
Ele sabia que deveria se sentir derrotado, mas dane-se, ela era rápida e genuína e não dava a mínima para ferir seus sentimentos. Ela o forçou por atos e por palavras a enfrentar o homem além dos sorrisos imprudentes. O homem que ele se permitiu ser. E enquanto o auto- exame o levava a um lugar mais sombrio que ele preferia evitar, ela perfurou a escuridão e o fez sorrir.
— Não penso pouco de você, Charlotte. — Disse ele, incapaz de se conter, e sem querê-lo. — Na verdade, penso mais em você do que em qualquer pessoa que já conheci. Você é forte, não é tola. Sua compaixão e sábio conselho para com seus vizinhos na última noite me convenceram de que é uma pessoa muito melhor do que eu.
Seu sorriso se suavizou em um riso? Era o som de sua respiração superficial que o tentava além da razão? Ele estendeu a mão e afastou uma mecha ondulada de seu cabelo da maçã de sua bochecha. Ele deixou seus dedos traçarem o contorno suave de seu rosto e sentiu seu peito se expandir sob sua túnica quando ele pensou que seu olhar era quente sobre si, sua respiração fraca. Ele queria abraçá-la, beijá-la. Ele nunca quis tanto nada. Ele olhou nos olhos dela, temendo que estivesse perto de perder tudo. Ela era tudo...
Mas ele pensava muito nela para levá-la para sua cama e depois ir embora. Ele pensava nela mais do que deveria.
— Eu... eu devo ir. — Ele negava a si mesmo seu desejo? Ele gaguejou fazendo isso? Inferno. O que ela estava fazendo com ele? Ele não queria que seu coração se agitasse por causa dela. Ele não sabia o que esperar e se sua condição atual fosse qualquer indicação, ele estava em sérios apuros. Ele não estava pronto para isso. Ele temia desistir de seu verniz e sucumbir aos deveres da devoção.
— Eu disse a Hendry que iria com ele até a aldeia para receber o aluguel de Robbie. Quero ter certeza de que ele não os aterrorize mais.
O pequeno suspiro dela o tentou a jogar seu medo ao vento, erguê-la em seus braços e beijá-la até perder o fôlego.
— Como você conseguiu que Hendry concordasse em deixá-lo acompanhá-lo?
Ele sorriu e se afastou, pousando no chão o balde vazio.
— Eu não pedi.
Seguindo-o para fora, ela o parou com uma mão em seu braço. Ele olhou para seus dedos delgados, capazes de lançar uma funda ou oferecer conforto. Ele sabia que não deveria, mas ergueu o olhar para o seu rosto iluminado pelo sol e, em seguida, para o resto dela gloriosamente vestido em um vestido que parecia ter sido feito por uma série de duendes.
Inferno, ela era bonita.
— O que vai fazer se Nonie ou os meninos virem você?
As crianças. Ele não tinha pensado nisso. Eles provavelmente mencionariam tê-lo visto ontem à noite e talvez a Charlie também. Hendry descobriria que ela havia escapado na noite.
— Talvez, eu não devo ir então. Não quero colocar você em perigo se... — Seus olhos se estreitaram sobre ela. — Ele colocaria as mãos em você? Duff ou em você?
— Você deve ir. — Ela disse a ele, ignorando sua pergunta. — Precisamos ter certeza de que ele não fará mais nenhum dano a eles. Deixe-me ir com vocês. Vou reunir Mary e as crianças e mantê-los dentro de casa.
Seu sorriso se alargou e antes que ele falasse, o sorriso dela combinou com o dele.
— É um bom plano.
Droga, mas ela estava radiante em plena luz do dia, deslumbrando-o com sua excitação.
— Mas você não precisa me pedir permissão, moça. Faça o que quiser.
— Hendry vai...
— ...não terá uma escolha.
— Você faria mal a ele?
— Não, se eu não precisar.
Seu sorriso permaneceu enquanto seus dedos acariciavam seu braço.
— Obrigado, Sr. Campbell.
Sim, ela o fez sorrir.
— Patrick. — Ele corrigiu.
Charlie pensou que ele tentaria beijá-la novamente, mas não o fez. Ela deveria estar agradecida, em vez disso, se sentiu decepcionada. Foi só porque ele lhe disse tudo o que o pensava. Não havia outra explicação, e nenhum outro motivo para insistir mais nisso.
Ela admitira que vê-lo assumir o controle de Hendry, tendo que insistir apenas uma vez para que ela pudesse acompanhá-los até a aldeia, a fazia querer sorrir. Hendry nunca permitiu que ela cavalgasse com ele quando ia cobrar o aluguel. Ela se perguntou se a aquiescência de seu irmão tinha alguma coisa a ver com os nós dos dedos ensanguentados de Patrick em sua luta com Duff antes.
Ela não se importou por quê. Ela ia perguntar. Seu coração bateu forte e rápido durante a excursão. Ela adorava aventuras inesperadas... mesmo que fosse apenas para ajudar a manter os pequeninos em silêncio e longe dos homens. Embora adorasse permitir a Nonie um vislumbre de seu destemido defensor, pronto e capaz de derrotar o monstro da garota, Charlie não poderia permitir que a criança o chamasse e despertasse as suspeitas de Hendry. Ela duvidava que houvesse algum problema com Hendry desta vez, graças à presença de Patrick, então realmente não era muito perigoso.
Ela percebeu que a última coisa que deveria fazer era passar mais tempo com Patrick Campbell. Ele estava encontrando uma maneira de contornar suas defesas. Ela não queria acabar como a mãe de Duff, mas seu coração ainda batia forte porque iria com ele.
Ela lançou-lhe um sorriso agradecido quando ele se virou para ela e sacudiu as rédeas para partirem. Sua piscadela a deixou sem fôlego.
Pela primeira vez desde que conheceu Patrick Campbell, ela não queria que ele fosse embora.
Ela trotou em seu cavalo um pouco mais perto de Patrick enquanto eles cavalgavam em um ritmo vagaroso. Ele se virou para ela, bloqueando a visão de seu rosto de Hendry que estava do outro lado, e sorriu.
Ele podia ler seus pensamentos em seus olhos? Na curva involuntária de seus lábios? Ela suspeitava que ele era um homem melhor do que a fazia acreditar. Ela queria acreditar nisso.
Mas sua mente lutava para negar, para não se tornar o tipo de idiota que detestava. Não havia homens melhores. O Sr. Campbell provavelmente teria algo a ganhar vindo com seu irmão. Ela pensou na primeira noite em que o viu... arrastando uma serva para seu colo e colocando sua boca em seu pescoço. Quantas mulheres ele havia seduzido com as facetas de seus olhos esmeralda, a inclinação diabólica de seu sorriso? Ou era sua polida prosa que as enganava?
Ela desprezava o pensamento de que poderia ser facilmente enganada e, pior, distraída. Quando seu olhar caiu para suas saias macias esvoaçando sobre suas coxas, ela suspeitou que estava certa o tempo todo.
— Você pensou mais em minha investigação? — Ele perguntou a ela em voz baixa.
Pena que ele não sabia que Hendry havia aperfeiçoado a arte de escutar durante suas muitas horas se escondendo atrás das cortinas.
— Que pergunta é essa? — Seu irmão perguntou, uma canção sarcástica manchando seu tom.
— Eu perguntei a ela o nome do pai de Duff.
Ele a surpreendeu novamente ao responder honestamente.
— Foi Will MacGregor13 quem o gerou. — Hendry forneceu sem nem um pingo de lealdade ao irmão.
— Hendry! — Charlie manteve a voz baixa, embora a luta para fazê-lo cerrasse os dentes. — Ele nunca te contou. Como você sabe disso?
— A voz de Duff ressoa pelos corredores, querida irmã. Ele é fácil de ouvir se você apontar o ouvido na direção certa.
Escutando, pequena doninha irritante, Charlie pensou, enquanto Patrick chamava sua atenção.
Ela não tinha certeza, mas ele se mexia na sela como se esta estivesse pegando fogo. Não era nenhum mistério que Campbells e MacGregors eram inimigos. Cada Campbell sabia sobre a proscrição contra o clã Highland. O que ele faria com esse conhecimento? Ele entregaria Duff como um fora-da-lei para receber uma recompensa?
— Por que você está curioso sobre o pai de Duff? — Hendry perguntou a ele, arrastando o olhar do Highlander para ele.
— Eu conheci muitos homens em minhas viagens. Ele tem uma forte semelhança com um homem que conheci em Argyll no mês passado. Mas meu conhecido atendia pelo nome de Alex MacLachlan.
Charlie espiou por cima do ombro de Patrick para Hendry. Ele parecia estar refletindo sobre a explicação, então deu de ombros e fixou os olhos azuis na estrada.
— Quer você o conheça ou não, Duff ainda continua sendo um bastardo.
Charlie queria atirar uma pedra em seu peito, mas era melhor não deixá-lo de mau humor antes de chegar à casa de Robbie Wallace.
Patrick não deve ter dado a mínima para o humor de seu irmão. Por que ele deveria? Ele havia obrigado Hendry a desistir da autoridade sobre ela, sem mencionar os segredos de família. Ele não tinha medo do que Hendry poderia fazer. Patrick simplesmente o pararia.
— Melhor ser um bastardo do que o filho tirano de um senhor feudal.
Hendry sorriu afetadamente.
— Se você pensa em vir sobre mim com sua indignação hipócrita, não se preocupe. Eu prefiro ser o tirano.
— Eu supus isso no momento em que te conheci.
— E, — Hendry enfrentou outro sorriso de escárnio virando-se para o Sr. Campbell, — você se lembra do meu punho em sua boca durante o mesmo encontro.
— Sim. — Patrick riu. — E minhas mãos estavam amarradas. Não estou amarrado agora. Quer tentar de novo? Eu te aviso, — ele disse, seu sorriso desaparecendo, — nos próximos meses, talvez um ano dependendo de quão forte eu te bata, você não será capaz de falar ou comer sem ajuda.
Atrás do ombro largo de Patrick Campbell, Charlie sorriu. Ninguém jamais se atreveu a falar assim com Hendry. Ela desejou tantas vezes que alguém o fizesse. As pessoas temiam seu irmão quase tanto quanto temiam seu pai.
Quando ficou claro que Hendry não tinha mais nada a dizer, o Sr. Campbell voltou sua atenção para ela, seu sorriso fácil retornando.
Ela teve o cuidado de esconder o que pensava dele neste momento. Deus a ajudasse, ele era tão bonito só de olhar que a fez duvidar de todas as suas convicções. Ela realmente queria passar a vida sem confiar em nenhum homem? Patrick poderia ser leal apenas a ela do jeito que Kendrick era? Morar sozinho com Elsie seria o suficiente?
Ela desviou o olhar e o espalhou sobre os chalés subindo a colina.
Ele não disse nada. Bom, ela não queria que ele falasse consigo. O que ele pensaria dela se jogando sobre ele do jeito que Bethany fez depois que um sorriso lhe foi dirigido? Ela tinha objetivos mais elevados do que estar na cama deste homem.
Eles cavalgaram o resto do caminho em silêncio.
Mas ela gostou do que ele fez com Hendry. Ela não mentiria.
Capítulo 11
Ele estava satisfeito.
Patrick esperava que ela não ficasse com raiva dele por ameaçar bater em seu irmão até fazê-lo perder os sentidos. Ele desejou não se importar. Mas ele se importava. Mas não o impediu de ameaçar fazer isso. Ele não gostava de Hendry Cunningham por mais razões do que poderia listar.
Ele iria refletir sobre o efeito de Charlotte Cunningham sobre ele mais tarde... e como ela parecia bonita com suas tranças negras saltando sobre seus ombros... ombros que ela endireitou como se preparando antes de desviar seu leve sorriso.
Will era o pai de Duff! Will MacGregor! Na verdade, Patrick não ficou surpreso. Agora que ele sabia que era Will, a semelhança deles era muito mais forte, as semelhanças mais aparentes e as diferenças também. Will estava frequentemente enchendo o salão de Camlochlin de risadas. Duff mal sorria. Inferno, Duff era seu primo. Como Patrick diria a ele? O rapaz tinha o direito de conhecer seu pai. Patrick poderia até levá-lo na volta para Camlochlin.
Eles chegaram à cabana de Robbie Wallace, não dando a Patrick mais tempo para pensar no que fazer. Ele estava aqui para proteger Robbie e sua família de qualquer tirania... ou pesadelos.
Ele não havia considerado no que a reação das crianças ao vê-lo implicaria. Charlie foi sábia ao se juntar a eles.
Ele a observou pular do cavalo e correr para a porta quando esta se abriu.
Patrick inalou uma respiração estável. Ele notou a aceleração de seu coração, o fluxo de sangue em suas veias, o mundo se movendo mais devagar. O que diabos estava acontecendo com ele? Ele enfrentou três MacPhersons vindo para ele com seus músculos salientes e ele não sentiu esse tipo de apreensão.
Mas esta não era uma luta entre oponentes dispostos.
Robbie Wallace avançou mancando, sua aflição causada pelo homem na sela ao lado de Patrick.
— Você está com o aluguel do seu lorde? — Hendry gritou por cima do nariz levantado.
— Eu estou. — Robbie gritou de volta, seus olhos deslizando brevemente para Patrick. Ele pegou a bolsa em seu cinto.
Hendry pareceu surpreso e um pouco derrotado, fazendo com que o coração de Patrick se aquecesse pela moça que acabara de entrar na casa pelo que ela tinha feito.
Com os olhos semicerrados e os lábios contraídos, Hendry perguntou:
— Como você conseguiu isso?
— O que isso importa para você? — Patrick se virou para ele em seu cavalo. — Está pago. Vamos embora.
— Ele provavelmente o roubou. — Argumentou Hendry.
Bem, ele acertou em parte. A moeda foi roubada...
— E meu pai não aceitará por bem os ladrões de suas terras.
— Nem eu aceitaria bem. — Patrick disse a ele, mantendo a voz uniforme, apesar de seu desejo de arrancar os dentes de Hendry. — Por qualquer dano a este homem.
— Que preocupação é essa sua? — Hendry rosnou para ele. — Quando você pediu para me acompanhar, alegou que estava interessado em realizar competições aqui para que pudesse lutar com os homens da aldeia com os olhos vendados.
— Eu nunca disse com os olhos vendados. — Patrick corrigiu levemente. — Com um braço preso atrás de minhas costas, foi o que eu disse.
— Então prossiga com sua tarefa, Campbell.
— Venha comigo. — Disse Patrick em voz baixa, trazendo sua montaria para mais perto de Hendry. — Ou eu o arrastarei para longe, amarrado ao meu próprio cavalo. — Ele piscou, virou-se para Robbie e abriu um sorriso para ele. — Só um momento e partiremos.
Robbie assentiu e olhou para trás. Sua família não estava lá.
Patrick voltou seu olhar para Hendry. Ele não se importava quantas vezes teria que ameaçar aquele javali que grunhia, mais cedo ou mais tarde Hendry não seria mais avisado.
— Mais um momento e devo insistir que lhe agradeça por pagar pelo pouco que deu a ele e a sua família.
Hendry queria desafiá-lo. Patrick podia ver os sinais disso em seus olhos sombrios, seu sorriso ainda malicioso. Mas ele não tinha coração.
— No próximo mês, não se atrase. — Ele avisou Robbie, em seguida, puxou as rédeas e partiu.
Patrick se certificaria de que Hendry recebesse o pagamento no mês seguinte.
— Bom dia para vocês. — Patrick lançou a Robbie um último sorriso antes de seguir seu anfitrião. Quando passaram pela frente da casa, Patrick gritou. — Srta. Cunningham!
Eles permaneceram mais um momento esperando que Charlie retornasse. Patrick não tinha certeza de quem escondia melhor o sorriso quando ele e a moça se olhavam. Ele suspeitou que falhou, já que nunca teve um motivo para esconder seu prazer antes.
— Vou voltar para casa. Tenho coisas para discutir com meu pai. — Declarou Hendry, de olho em Patrick, enquanto Charlie se voltava em sua sela. — Venha, Charlotte.
Ela lançou um olhar para Patrick.
— Você não vai vir?
Ele balançou sua cabeça.
— Eu tenho algo para ver primeiro.
— Oh? — Ela perguntou, lançando toda a potência de seu olhar sobre ele.
Ele hesitou em dar-lhe uma explicação mais completa apenas porque a visão dela era muito perturbadora. Hendry aproveitou a oportunidade para responder por ele.
— Ele quer arranjar brigas com os aldeões.
Patrick franziu a testa, mas voltou a sorrir para ela.
— Informação imprecisa. Por que não me acompanha e vê você mesma?
Um momento de indecisão passou por suas feições elegantemente contorcidas e depois desapareceu.
— Eu acho que vou.
— Eu acho que não! — Seu irmão exigiu, quebrando o feitiço que ela lançou sobre seu admirador.
Patrick virou o cavalo para encarar Hendry de frente. Inferno, mas ele teve o suficiente deste pequeno verme. Normalmente, o nariz de Cunningham, pelo menos, já estaria quebrado, mas ele não queria piorar ainda mais a rivalidade. E se ele fizesse o que queria, a rivalidade ficaria pior. O truque estava em esconder sua verdadeira hesitação e fazer Hendry acreditar em suas ameaças.
Felizmente para Patrick, ele era tão bom com as palavras quanto com os punhos.
— Ela estará segura comigo. Se não, e ela me acusar de tocar nela, vou tomá-la como minha esposa, dando a seu pai o que ele quer, uma aliança Campbell. Essa é uma oportunidade na qual você realmente deseja atrapalhar? O que ele vai pensar quando eu contar que sua desconfiança me fez ir embora?
Ele não achava que tudo acabaria tão rápido, mas Hendry saiu sem dizer mais nada. Satisfeito com seu trabalho, Patrick se voltou para Charlie... e a mão dela voando em direção ao rosto dele.
Ele poderia ter se abaixado e evitado. Ele era rápido o suficiente, mas se manteve firme. Sua palma estalou em sua bochecha, ardendo como o gume de uma lâmina.
— A chance de me molestar é uma oportunidade?
— E não é? — Ele perguntou a ela, esfregando o lado do rosto com a palma da mão. — Seu pai quer uma união entre nós. Que mal há em lançar essa possibilidade diante de sua cara?
— Para conseguir o que você quer. — Ela acusou.
— E para conseguir o que você quer, também. — Ele rebateu. — Você queria voltar para casa com Hendry ou vir comigo?
Ela baixou a cabeça e velou os olhos por trás dos longos cílios, mas ele podia ouvir em sua voz o sorriso que tentava esconder.
— Eu escolhi o que queria, não escolhi?
— Sim, moça, você escolheu. — Ele ansiava por beijá-la. Seus músculos se contraíram com desejo de agarrá-la em seus braços e dizer-lhe o quão forte e bonita ela era para ele.
— Agora você vai me dizer para onde estamos indo?
Ele queria perguntar para onde ela queria ir. Ele a teria levado a qualquer lugar. Ele reconhecia que estava em perigo. Ele sentia sua determinação vacilar cada vez que olhava e falava com ela. Ele se sentia como moldando para se tornar mais... digno dela. Era uma condição com a qual ele deveria se preocupar. Mas odiava se preocupar.
— Quero ganhar algumas moedas. — Disse ele, sacudindo as rédeas e trotando para longe.
— Por quê? — Ela gritou, trazendo de volta sua atenção. — Você está partindo?
Era decepção que ele ouviu em sua voz? E daí se fosse? Ele não poderia ficar indefinidamente, apenas o tempo para ganhar moedas suficiente para manter os Wallaces seguros por um tempo. Com lutas suficientes, ele poderia ganhar a moeda necessária em duas ou três noites.
— Em breve, provavelmente.
— Você é muito inteligente.
Ele ergueu a sobrancelha para ela.
— Como assim?
— Você sabe que eu não quero um marido. E acredita que se me maltratar, não direi a meu pai.
Seu olhar sobre ela suavizou.
— Eu não vou maltratá-la, moça.
— Boa, porque eu contaria a ele sem qualquer medo de um casamento. — Ela disse, erguendo o queixo e desviando o olhar. — Ele não me forçaria a casar com um cadáver.
Ele achou que nada era mais esplêndido do que o rosto dela, mas quando ela virou o perfil, ele ficou em transe. Como ela poderia ser tão delicada, mas tão forte? Como a urze de inverno que alinhava os campos em torno de Camlochlin.
— Por que você não me bateu ontem à noite, então? — Ontem à noite, quando ele provou o doce desejo em seu beijo.
Seus nós dos dedos se apertaram ao redor de suas rédeas. Sua lembrança era tão agradável? Para o inferno com o futuro. Ele queria saboreá-la mais, beijá-la até que suas defesas caíssem e ela caísse seus braços.
— Você me pegou desprevenida. — Ela disse, virando-se para encará-lo.
Ele viu o flash de aviso em seus olhos. Se ele tentasse beijá-la novamente, haveria consequências. Elas valeriam a pena. Inferno, ela era um deleite para seus sentidos, sua alma.
— E agora você lutaria comigo? — Ele perguntou com um sorriso feroz. — E ganharia?
— Sim. — Ela disse a ele com confiança. — Eu venceria.
Algo em sua declaração fez seu sangue ferver em suas veias, o fez querer pular de seu cavalo e arrastá-la do dela. O pensamento de derrubá-la e montar entre suas coxas o excitava.
— Eu gostaria de uma demonstração de sua habilidade mais tarde.
— Você a terá.
— Bom, agora me diga, onde fica a taverna mais próximo?
Ela se virou para ele. Seu rosto estava pálido.
— A taverna? — Charlie perguntou a ele, tentando engolir. Por que ele queria ir para lá? As pessoas a conheciam lá.
— Onde mais posso encontrar homens dispostos a lutar comigo?
— É assim que você pretende ganhar moedas? Lutando?
— Não se preocupe. — Ele a assegurou. — Não lutarei com ninguém, alguns anos mais velho do que eu.
Não! Eles não podiam ir a taverna. Se ele descobrisse que ela estivera lá muitas vezes e sozinha, poderia se lembrar de tê-la visto em Pinmore. Ele pode contar a seu pai. Ele certamente não a perderia de vista novamente.
— Há uma taverna na aldeia, sim, Charlie?
Ela assentiu com a cabeça e enxugou a testa. Ele gostaria de saber como ela conhecia todos os clientes. Ele gostaria de saber tudo. O que ela estava fazendo era extremamente perigoso. Ele tentaria impedi-la.
Pelo que ele precisava lutar, afinal? Se ele queria tanto partir, por que não poderia ganhar suas moedas construindo ou consertando as coisas, fazendo algo útil? Ela olhou para ele, montado em seu cavalo, iluminado pelo sol da tarde de primavera. O homem tinha uma constituição poderosa, com certeza. Sua força e resistência podiam fazer mais do que apenas lutar.
— Você não encontrará nenhum oponente digno na taverna ou nesta vila. — Ela disse a ele. — São mais doentios do que fortes. Seria melhor visitar fazendas. Na verdade, por que não começar com os Wallaces?
— Eu não lutaria com Robbie. — Ele insistiu com uma pontada de insulto em sua voz. Ela realmente pensava tão pouco dele?
— Eu sei que não. — Seus lábios se curvaram como um véu de seda na brisa. — Seu feno não é enfardado há quinze dias. Ele poderia usar sua força.
— Feno? — Ele parecia totalmente desapontado.
— Sim. — Seu sorriso se aprofundou quando ela desmontou e amarrou o cavalo ao poste em frente à pequena cabana dos Wallaces. — Devo bater, ou você vai?
— Como posso ganhar uma bolsa de moedas? — Disse ele, desmontando e amarrando seu cavalo também. — Eu não quero pagamento de homens que não têm nada.
Ela fez uma pausa para considerar como deveria entender o que ele acabou de dizer. Ela estava feliz que ele não aceitaria nada dos pobres, mas se pensava em ganhar uma bolsa para que se partiria em breve? Se sim, de que adiantaria bajulá-lo? E, se isso não fosse ruim o suficiente, Patrick nem mesmo considerou o que ela estava pedindo para ele fazer. Ela se virou e foi em direção à porta da frente.
— Você estará ajudando. — Ela declarou por cima do ombro.
Ele se juntou a ela rapidamente.
— Isso é o que estou tentando fazer.
Ela bateu, ignorando sua defesa.
— Tenho certeza de que essas boas pessoas podem usar sua ajuda.
— Vai levar o dia todo. Eu poderia ser...
Ela soltou um forte suspiro.
— Você pode aprimorar suas habilidades em homens mais fracos mais tarde, Sr. Campbell... — Ela fez uma pausa ao vê-lo olhar para o céu. — Patrick. — Ela emendou.
Seu sorriso voltou quase imediatamente.
— E só para você saber, os homens que escolhem lutar contra mim são fortes.
— De acordo com você, sempre ganha com frequência. — Ela disse a ele enquanto Mary Wallace abria a porta. — Então eles ainda são mais fracos do que você.
Seu sorriso com covinhas fez seus sentidos vacilarem e suas terminações nervosas em carne viva. Ela lançou para ele uma carranca mais sombria um instante antes de se virar para Mary e sorrir.
— Sr. Campbell veio oferecer sua ajuda.
— O quê? — Patrick perguntou seguindo-a para dentro de casa. — Por que você está com raiva? É errado eu estar satisfeito por você me achar mais forte do que qualquer outro homem?
Ela continuou andando, com os braços rígidos ao lado do corpo e o queixo ligeiramente inclinado para cima.
— Isso não foi o que eu disse. Minha presunção foi formada por sua reivindicação como campeão. — Ela se virou para que ele pudesse ver a verdade em seus olhos. Mas ele não estava lá.
Ele permaneceu perto da porta, agora de joelhos e segurando a mão da pequena Nonie Wallace na sua.
Capítulo 12
— O que o trouxe de volta, Sr. Campbell? — Robbie Wallace manteve-se firme agarrando-se às costas da cadeira. — O Cunningham...
— Não. — Patrick assegurou-lhe, erguendo as mãos enquanto entrava na cozinha. — Não tem nada a ver com ele. A senhorita Cunningham me pediu para oferecer meus serviços.
Robbie desviou o olhar para Charlie à direita de Patrick.
Patrick queria olhar para ela também. Ela ainda estava com raiva dele? Por que ele se preocupava com isso? O que ela tinha contra lutar quando se gabava de sua própria habilidade? Lutar... e vencer... enchia sua bolsa, e agora era o que ele desejava.
Mas, em vez disso, ele estava se preparando para trabalhar por nada, fazendo o que ela pediu simplesmente porque Charlie pediu. Ele não queria negar seu pedido. O desejo de agradá-la deveria tê-lo deixado se sentindo despojado e com medo de perder o controle de seus bons sentidos, mas estranhamente, ele se sentia bastante satisfeito consigo mesmo. Ajudar Robbie pelo simples fato de ajudá-lo parecia certo.
Talvez ele não fosse um bastardo egoísta, afinal.
A Srta. Nonie Wallace achava que não. Convencer Charlotte Cunningham seria um pouco mais difícil. E ele queria convencê-la. Droga. Ele queria protegê-la... embora não fosse tolo o suficiente para dizer a ela. Ele queria ficar e conhecê-la melhor. Ela era toda feita de fios finos de força e suavidade. Esses fios se enrolavam em torno dele como a hera se agarrava à pedra. Ele se perguntou quanto tempo permitiria que crescesse antes que nenhuma pedra pudesse ser vista.
— Seus serviços? — Robbie perguntou, surpreso e sorrindo agora para Charlie. — Você quer dizer fazer fardos de feno?
Patrick quase suspirou em voz alta.
— Sim, como fazer fardos de feno.
— Isso é muito gentil de sua parte, Sr. Campbell. — Os dedos de Robbie desenrolaram-se das costas da cadeira. — O terei bem alimentado por sua ajuda.
— Por favor, me chame de Patrick.
— Vou fazer ensopado de coelho! — Mary exclamou com entusiasmo. — E Charlotte, você vai ficar para o jantar também.
Parecia que não era uma ideia tão ruim, pensou Patrick, aceitando o convite. Uma boa refeição e um dia com Charlie...
— Receio que devo voltar para casa. — Charlie estragou seu devaneio. — Meu pai...
Ele se virou para ela.
— ...Sabe que você está comigo, um Campbell.
Ele sabia que suas palavras seriam cortadas pelo modo como ela velou o olhar. Seu valor para o pai baseava-se no que ela poderia dar a ele. Uma aliança com um clã poderoso. Patrick sentia muito, mas ela já sabia a verdade. Ela não era idiota.
— Use-o em yer14 vantagem. — Ele sussurrou, lembrando-a de seu poder para fazer sua própria escolha. — Fique aqui comigo.
Ele olhou para seus ombros delgados relaxando em volta do pescoço.
— Muito bem. — Ela ergueu os olhos para ele, seu olhar se suavizando e roubando-lhe o pensamento racional. — Eu ficarei então.
Ele teve apenas um breve momento para oferecer-lhe um sorriso puro e sincero antes de Mary desviar sua atenção com ofertas de lealdade e refrigério.
Seu olhar permaneceu em Charlie até que Robbie pigarreou.
— Sim. — Patrick concordou e bateu palmas voltando-se para o fazendeiro. — Por onde você quer que eu comece?
Charlie olhou pela janela da cozinha de Mary e viu Patrick entrar no celeiro. Robbie mancava atrás dele enquanto Nonie saltava na retaguarda.
O que ela deveria pensar do Sr. Patrick Campbell? Ele não queria passar o dia entrando e saindo de um celeiro. Ele poderia facilmente ter recusado. Ele teria recusado se não fosse nada além do canalha desapaixonado que pensava que Patrick fosse.
Ela se lembrou dele... como tinha certeza de que lembraria pelo próximo meio século... de joelhos diante de Nonie como uma espécie de campeão lendário diante de sua rainha. E embora ele não quisesse enfardar feno, ele estava disposto a fazer isso por Charlie. Que tipo de homem ele era sob todo esse charme?
Tinha que haver algo mais nele.
Se ele quisesse ganhar seu coração.
O que ele faria com se a conquistasse? Ela queria que ele continuasse tentando? Ela gostava de estar com ele, cortando suas defesas libertinas e observando-o receber os golpes com um queixo firme. Ele a beijou como se ela fosse a única moça no país e ele, aquele que a possuía. Ela queria mais de sua boca... mas o perigo estava em querer mais dele.
Ela poderia deixar de lado todas as conversas que teve com Kendrick sobre o pai de Duff e confiar que este autoproclamado libertino não faria o mesmo com ela? E se ela estivesse errada e ele fosse como todo o resto? E se ela estivesse certa e ele a tentasse a desistir de seus planos com a irmã?
— Charlie, você está derramando a água!
A atenção de Charlie voltou para o que ela estava fazendo. Derramando água fresca fora do copo. Ela corrigiu a inclinação de sua jarra e conseguiu colocar um pouco de água no copo.
— Oh, me perdoe, Mary!
— O que é que rouba a sua atenção e perturba o seu coração?
Charlie quis impedi-la quando Mary se inclinou e olhou pela janela.
Já era tarde demais. Mary o viu e sorriu.
— Entendo. — Disse ela, mal escondendo o sorriso e, em seguida, estendeu a mão para sua bandeja. — Ele é muito agradável aos olhos.
Sim, ele era.
— Isso é tudo? — Charlie não percebeu que ela tinha falado em voz alta até que Mary respondeu.
— Não, não é tudo, senão eu acho que você não teria ficado olhando.
Charlie sorriu. Haviam falado sobre isso tantas vezes que Mary a conhecia tão bem? Elas se tornaram amigas rapidamente muito antes da lesão de Robbie. Ela supôs que conhecia Mary tão bem. Pelo menos o suficiente para saber que sob o exterior afetado de Mary morava um espírito forte e ousado.
— Vejo um homem de bom coração. Um homem que ensinou minha Nonie a matar seus monstros e então apareceu aqui para impedi-los de voltar. É tudo o que sei sobre ele, mas é um bom começo.
Um bom começo para quê? Charlie agarrou sua bandeja, derramando ainda mais água, e seguiu Mary para fora.
— Gostaria que soubesse que não tenho sentimentos pelo Sr. Campbell.
Mary girou nos calcanhares para encará-la.
— Och, me perdoe por assumir isso. Se você não tem interesse nele, acho que seria um bom par para Eleanor Kennedy. A pobre moça não tem ajuda desde que seu marido morreu na primavera passada.
Charlie olhou para ela e piscou. O que ela deveria dizer? Eleanor Kennedy? Patrick gostaria da jovem viúva. Ela tinha longos cabelos ruivos e uma boca atrevida.
— Ele não vai ficar por aqui. Na verdade, ele está tentando ganhar moedas para sua jornada.
— Bem, Eleanor não tem muita riqueza, mas tenho certeza de que ela vai arranjar um jeito de pagá-lo se ele arar o solo antes de partir.
Arar seu solo?
Charlie olhou por cima do ombro de Mary para Patrick começando seu trabalho. Ele se curvou para um grande monte de feno e enfiou o garfo nele.
Ela engoliu em seco e levou a mão à garganta. Ela não queria que ele arasse o solo de Eleanor. E se se espalhasse a notícia de que ele trabalharia por moedas e o velho Ramsey o contratasse? O que ele pensaria de Bonnie e Brenda, as filhas gêmeas de Ramsey? Estavam em idade de casar e procuravam maridos. Caitriona Cunningham, prima de Charlie, também estava sem marido. Caitriona era linda, com cabelos cor de trigo e olhos azuis marcantes. Antes de Kendrick morrer, Cait mal saia do lado deles. Ela até aprendeu a manejar uma funda. Depois que os Fergussons atacaram, e Charlie se tornou uma prisioneira em suas próprias terras, ela mal se encontrou com Cait para um lazer.
Patrick a acharia agradável.
Ela não importava. Por que ela deveria? Ele não ia ficar.
Ela não se importava em quais campos Patrick Campbell araria.
— Muito bem, então, para a fazenda de Eleanor Kennedy amanhã! — Ela contornou Mary e foi em direção a ele, a bandeja tremendo nas mãos.
Ela não chegou até ele com uma caneca cheia. Nonie e seus irmãos, que surgiram de dentro do celeiro, agarraram as três canecas que ela carregava.
— Robert. — Seu pai chamou seu filho mais velho. — Pegue uma cadeira para a Srta. Cunningham.
— Sim, papai!
— Não há necessidade. — Charlie protestou enquanto o rapaz corria para sua tarefa. — Eu não vou sentar enquanto você estiver de pé, Robbie. Sente-se ou dê para sua esposa, eu ficarei aqui um pouco.
— Como quiser. — Robbie respondeu e aceitou uma caneca de sua esposa.
— Aqui, traga isso para o Sr. Campbell, está bem? — Mary entregou a Charlie uma caneca cheia e sorriu.
Charlie olhou para sua pequena amiga. Ela se perguntou se Robbie conhecia a intrépida que morava dentro de sua esposa. A julgar por sua crescente família, ela suspeitava que sim. Ela perguntaria a Mary na próxima vez que conversassem. Agora, ela demonstraria que seu fogo não seria apagado tão facilmente.
— É muita gentileza sua, Mary. — Ela agraciou seus anfitriões com um sorriso, aceitou a caneca e lhes deu as costas.
Sua compostura, porém, não resistiu à visão do Highlander tirando a camisa e jogando-a de lado. Iluminado pela luz do sol com o suor brilhando sobre seus músculos flexionados, ele parecia um guerreiro mítico feito de bronze. Seus olhos se deleitaram com a visão dele e a força de suas mãos e nós dos dedos machucados, a sombra que seus ombros lançavam quando ele se curvou para outro monte e enfiou o garfo profundamente. Ela deu um passo em direção a ele, tentando negar seu efeito hipnotizante, enquanto o observava levantar o feno no ar, se virar e sorrir para ela. Ele pegou o garfo pesado com uma das mãos e a caneca com a outra.
Ela tentou olhar para o terreno, mas seu olhar voltou para ele, levando a caneca aos lábios. Ela observou a inclinação de sua mandíbula enquanto ele bebia. Sua garganta era grossa e dura e a fez pensar em como seria mordê-lo. Ela ouviu algumas das prostitutas de seus irmãos falarem sobre coisas que gostavam de fazer aos homens. Ela mordeu o lábio inferior em vez disso.
Ele terminou rapidamente, tomando apenas um gole e, em seguida, devolvendo-lhe o copo.
— Esta vai ser uma longa tarde. Eu ouvi você dizer a Robbie que ia ficar um pouquinho de pé? Sim?
Ela assentiu, perguntando-se de que cor exatamente eram os olhos dele? Verde, como uma vida livre? Ou ouro polido, forjado de fogo líquido? Eles mudavam frequentemente. O humor saltou na superfície de seu olhar, mas algo mais primitivo se escondeu além das sombras lançadas por seus cílios escuros.
Ele curvou um canto da boca, junto com a sobrancelha acima dela.
— Charlie?
Ela piscou, e percebendo que ela estava olhando em seus olhos como uma idiota ela sentiu o sangue correr para seu rosto e depois para sua cabeça. Mas ela não conseguia desviar os olhos dos dele.
— Se você não se importa pode me trazer outra caneca mais tarde. — Ele disse com seu olhar quente sobre ela.
O desejo de sorrir para ele provou que sua astúcia poderia encantar até ela. Isso a assustou. Ela nunca teve um problema em controlar suas emoções antes. Na verdade, ela era uma mestra nisso. É o que manteve a paz em Cunningham House. Pior, porém, era que ela não tinha se sentido tentada a ceder a ninguém desde Kendrick. Ela estava com medo de ceder a Patrick. Ela tinha visto o resultado da sedução de um libertino.
Mas Patrick a deixava sem fôlego e com calor.
Muito quente. Ela tentou engolir, mas sua garganta parecia uma isca seca. Ela não podia entregar seu coração. Ela não iria.
— Você vai ficar e me trazer água?
O quê? O que ele perguntou? Ela estava no sol por muito tempo, lutando contra muitas emoções assustadoras. Ela estava tendo problemas para pensar com clareza. Ela queria assentir, mas sua cabeça estava girando e ela sentiu... Não! Ela não queria desabar a seus pés como uma ninfa obstinada. Mas seus joelhos se dobraram e ela sentiu a cabeça bater contra o peito dele e os seus braços se fecharem ao redor dela.
Muitas garotas caíram em seus braços com a mesma facilidade? Por um instante, Charlie entendeu por que qualquer mulher o faria, pois ele pairava sobre ela, brilhando com o sol atrás dele como uma divindade ganhando vida, suas mãos fortes a firmando.
Ela não deveria deixá-lo tocá-la. Ele era muito perigoso.
— Estou bem. Você pode deixar de...
A escuridão prevaleceu e acabou, por fim, com sua humilhação.
Ela acordou algum tempo depois na cadeira preferida de Robbie Wallace na cozinha, que era mais como um trono acolchoado, grande o suficiente para acomodar duas dela. Ela e a cadeira foram colocadas diante da porta dos fundos, que estava aberta e permitindo que uma brisa fresca e suave soprasse por seus cabelos.
Ela ouviu vozes ao seu redor e se sentou. Já era ruim o suficiente ela ter desmaiado, e não permaneceria caída como uma erva murcha. Oh, ela desmaiou, caiu nas botas de Patrick Campbell. Como ela o enfrentaria?
Mary vinha em sua direção com um pano úmido nas mãos. Seu marido entrou mancando atrás dela.
Charlie olhou ao redor em busca de Patrick e o encontrou encostado na parede, olhando para ela.
Seu rosto queimou de vergonha. Mortificada, ela se virou, mas não antes de ver preocupação em seu olhar.
— Você nos deixou preocupado. — Disse Mary suavemente enquanto se inclinava sobre a cadeira e enxugava o rosto de Charlie com o pano frio.
— Estou bem. — Charlie a tranquilizou suavemente. — Foi apenas o sol.
Mary se inclinou para o ouvido.
— Foi mais que isso.
Antes que Charlie pudesse fazer uma careta para ela, Mary se foi e Patrick apareceu em seu lugar... tão perto.
— É bom tê-la de volta.
— O sol... eu estava...
Quando sua covinha se aprofundou, ela lhe ofereceu a carranca que sentira falta de dar a Mary.
— Você não teve nada a ver com isso!
Seu sorriso maldito se curvou ainda mais. Inferno, mas ele era arrogante. O desmaio dela na frente dele apenas o convenceu de que o que ele pensava de si mesmo estava correto.
— Eu nunca vou falar sobre isso novamente. — Ele sussurrou em uma promessa de seda. Ele compartilhou um sorriso breve e furtivo com Mary antes que ela levasse o marido para fora da cozinha e depois o devolveu a Charlie, quando estiveram sozinhos. — Se você prometer que não vai me pedir para arar a fazenda de Eleanor Kennedy.
Capítulo 13
Satisfeito por que puxou um sorriso dela, Patrick relutantemente se afastou. Não para muito longe. Ainda não. Inferno, ele estava feliz que ela voltou para ele. Para todos eles. Os inquilinos de seu pai precisavam dela.
Foi necessário cada grama de controle que ele possuía para não se inclinar e beijar seus lábios carnudos e entreabertos. Mas dar um passo para trás deu a ele uma visão mais completa dela, afundada em uma cadeira estofada de grandes dimensões, alguns fios de seu cabelo preto levantando-se suavemente de seus ombros com a leve brisa. Ele ficaria feliz em ficar aqui e olhar para ela pela próxima semana.
— Quem sou eu, — ela perguntou com uma faísca de brincadeira cintilando em seus olhos escuros, — para impedir você de arar qualquer fazenda que desejar?
Sim, esta moça possuía fogo. Isso o atraiu, o cativou e o fez querer jogar junto.
— Por que eu iria querer ir para outro lugar, quando sou necessário onde estou?
Ela deu a ele um sorriso malicioso.
— O que te faz pensar que você é necessário?
Ele riu suavemente.
— Feno para enfardar? Você percebeu por que estamos aqui? — Sua alegria se transformou em um sorriso de incerteza.
— Você está falando da fazenda dos Wallaces, não é?
O lampejo de sua covinha provou que ele sabia exatamente a que ela se referia.
Ela o chutou no joelho.
— Você é um tolo se pensa que preciso de você.
Ele pegou o pé dela e o segurou. Corajosamente, ele passou os dedos sobre seu tornozelo nu e a contradisse com um sorriso preguiçoso.
O rosto dela corou e ele riu e a deixou sossegar antes que ela desmaiasse novamente.
— Quem você quer ser, Charlie? — Ele perguntou ficando sério novamente.
— Ninguém em especial. — Ela respondeu suavemente.
Ele ergueu uma sobrancelha cética ao estudá-la. Ela significava ninguém especial para ele ou para o mundo ao seu redor?
— Isso será um esforço difícil, moça. Você sempre será notada.
— Você possui uma língua de prata, Patrick Campbell. — Disse ela enquanto ele pegava um banquinho e o colocava diante dela. — Diga-me, onde você aprendeu a manejá-la tão perfeitamente?
— Em toda parte. — Ele disse enquanto se sentava, de frente para ela. — As palavras estão imbuídas no vento em Camlochlin...
— Camlochlin?
Ele percebeu seu erro tarde demais. Se ela soubesse que o nome dos MacGregors era proscrito e da herdade de Skye, então ele quase admitiu que era um deles. Ele esperou um instante para ver sua reação. Quando nenhum medo apareceu em suas feições, ele decidiu continuar.
— Minha casa nas Highlands.
Os olhos dela dançaram nele enquanto ela se acomodava mais fundo na cadeira de Robbie.
— Conte-me sobre isso.
Ele nunca tinha falado de Camlochlin com ninguém que não morasse lá. Pedir uma descrição o fez refletir sobre sua grandeza e história gloriosa.
— Foi construída nas brumas por um verdadeiro laird, determinado a manter seu clã seguro e escondido do mundo.
Possivelmente, ele poderia convencê-la dizendo que este clã não era composto de assassinos selvagens empenhados em fazer problemas. Se ela descobrisse quem ele era, talvez não o visse como um perigo.
— Ele construiu uma fortaleza de pedra com resiliência e trouxe a filha de seu inimigo para ser sua esposa.
Seus olhos se arregalaram e brilharam com interesse.
— Ele a tomou contra sua vontade?
— Não, — Patrick assegurou a ela. — Disseram que ela quase alcançou o castelo antes dele, de tão ansiosa que ela estava para chegar lá. Ela se tornou uma mãe para muitos e uma tutora para todos. Ela ensinou uma fera a ser galante e transformou os Highlanders em cavaleiros.
— Com velhos ideais empoeirados. — Ela brincou suavemente.
Ele sorriu. Como ele não poderia? Ela o arrastou para a luz novamente, o fez parecer um patife descuidado e imprudente.
Ele não desgostou de quem viu. Era ele... o homem que era, a pessoa que conhecia. Ele só não sabia se queria continuar sendo aquele homem. A ideia de tal mudança, porém, bem, droga, o assustava muito.
— Todos em Camlochlin aprenderam deles. Os ideais de honra eram tão profundamente plantados quanto o amor pelo país ou a esgrima. Que todos os seus filhos os pratiquem ou não, eles são impressos em todos nós.
Ao vê-la curvando os lábios, ele apertou a mandíbula para não se xingar. Ela tinha a boca mais deliciosa. O que diabos havia de errado com ele? Por que ele não estava lá? Beijando-a?
— Você terá que provar isso para mim, Sr. Campbell.
Seu sorriso se esquentou por um momento antes de rir e balançar a cabeça.
— Eu sei. Eu sei o que preciso.
Ele não se esquivou de seu desafio. Ela não seria fácil de vencer, e isso tornava a tentativa mais emocionante. Isto é, se ele decidisse tentar.
— Você ainda tem feno para enfardar.
Assentindo, ele se levantou.
— Vou resolver então. — Ele não queria ir embora. A febre estava obviamente piorando.
— Sr. Campbell? — Ela disse, parando-o enquanto ele contornava sua cadeira. — Antes de ir, conte-me um pouco mais de Camlochlin, onde o vento se infunde de poesia virtuosa. É agradável aos olhos?
Ele quase desejou que um dos bardos de Camlochlin estivesse presente para que ele pudesse cantar sua beleza. Ele nunca poderia fazer isso, mas suas palavras teriam que servir.
— Parece que a fúria e o esplendor de Deus colidiram na terra. É como a glória culminante do mundo. É inesquecível uma vez que é visto. É por isso que tão poucos o viram.
Ela olhou para ele com uma inclinação fantasiosa em seu sorriso e ele nunca mais queria desviar o olhar.
— Onde é esse lugar de cortar a alma?
— Longe... nas nuvens.
— Não parece real.
Ele sentiu as palavras borbulhando para a superfície. Antes que ele pensasse sobre e por que as pronunciaria, elas jorraram de sua boca.
— É. Eu posso provar isso para você também, moça.
Patrick deixou a cabana fazendo xingamentos silenciosos diante de si. Ele acabou de se oferecer para levá-la para casa? Como ele poderia ter falado tal coisa se não tinha intenção de fazer isso? Levá-la para casa significava que ele estava prometendo algo a ela... sua devoção e seu amor.
O que havia de errado nisso? Uma parte dele perguntou. Charlie era diferente. Inferno, ela era tão diferente de qualquer garota que ele já conheceu. Ela se enrolou em torno dele como tiras de véus coloridos, alguns pintados com compaixão e sabedoria, outros com coragem e confiança. Ela estava delicadamente envolta em vestes reais. Vê-la com Robbie Wallace na noite em que ela pagou o aluguel dele foi como ser pego pelo brilho de uma estrela... e na luz, ele foi desvelado.
Ele não se sentia satisfeito nem descontente consigo mesmo. Ele sabia que poderia ser um tipo diferente de homem se estivesse disposto a trabalhar nisso. Ele não sabia se estava disposto. E Charlie o faria trabalhar nisso.
Ele era um patife egoísta que pensava apenas em sua própria felicidade. Mesmo agora.
Droga, isso era difícil de admitir. Ele nunca teria feito o mesmo há alguns meses, tão envolvido na realização de seus desejos para se considerar mais. Ele sabia que havia algo diferente nele. Ele sentiu a mudança. O vazio. Mas ele não tinha realmente parado para examinar quem ele era até que conheceu Charlie. E agora que tinha, ele sabia que não era bom o suficiente para ela. Mas ele poderia ser?
Por que ela o fazia querer ser? Outra parte dele se rebelou enquanto alcançava os montes de feno. Ele queria desistir de tanta coisa tão cedo? Ele tinha acabado de conhecer a garota. O que ele sabia sobre ela, exceto que tinha uma boa pontaria e um bom coração? Ele ajudaria em sua missão tanto quanto pudesse e então estaria longe daqui com ou sem Duff, livre de preocupações e deveres, sem desejo de mudar por ninguém.
— Você vai morar aqui, Patrick?
Arrancado de seus pensamentos, ele olhou para baixo para encontrar Nonie o seguindo e sorriu. Ele deveria dizer o que ela queria ouvir, ou a verdade?
— Vou ficar até que os pesadelos e os monstros neles vão embora.
— Você não vai embora? — Ela perguntou. Seus grandes olhos azuis fixos nele.
— Não até que você me deixe ir.
— Você promete?
— Sim, eu prometo. — Ele se curvou como se ela o controlasse.
— Nonie, — sua mãe chamou, vindo em direção a eles. — Deixe-o com seu trabalho. O que seu pai disse a você sobre vagar pelo forcado enquanto o trabalho está sendo feito?
— Para ficar longe. — Nonie repetiu sombriamente. Ela olhou para Patrick uma última vez, devolveu o sorriso e se afastou.
— Ela gosta de você. — Disse Mary, alcançando-o.
— Como eu dela.
— Vai ser difícil para ela quando você partir.
Patrick baixou o olhar para as botas. Ele não queria pensar em deixar Nonie, pelo menos até que ela e sua família estivessem a salvo de Hendry Cunningham.
Não era um bom presságio para ele. Ele não queria perder seu coração para ninguém, especialmente uma moça. Ele não queria viver uma vida previsível ou ter um coração meloso. Se ele não fosse embora logo, poderia nunca querer ir. Ele deveria ir esta noite. Ele ergueu o olhar e olhou por cima do ombro para a cabana. Quanto antes ele partisse, mais fácil seria esquecer Charlie.
— Eu não posso ficar...
— Ela provavelmente vai se casar nesta época no próximo ano.
— Quem? — Ele perguntou, voltando-se para ela.
— Charlie.
Provavelmente Charlie se casaria nesta época no ano vindouro? Sim, ele percebeu, Mary estava certa. Patrick sabia em primeira mão como Allan Cunningham estava ansioso para entregar sua filha em troca de segurança.
O pensamento dela com outro homem agitou suas entranhas. E ela também não ficaria feliz com isso. Outro homem tentaria domar seu espírito. Que pena que seria.
— No mês passado, — Mary continuou impiedosamente, — seu pai a ofereceu ao Barão de Ardrossan quando ele passou por aqui. Agradeço ao bom Senhor que o barão não a achou do seu agrado. Claro, que homem acharia quando ela derrubasse uma tigela de sopa quente em seu colo e, em seguida, culpasse sua falta de força por sua doença? — Mary fez uma pausa para rir. — Ela me confidenciou que não foi por acaso e que ela gozava de perfeita saúde.
Patrick se pegou sorrindo. Moça inteligente, ele pensou, olhando por cima do ombro de Mary novamente.
— Ela está tão determinada a permanecer solteira, então? — Ele perguntou antes que pudesse parar.
— Por enquanto. — Mary disse a ele, trazendo seu olhar de volta para ela. — Mas eu suspeito que se o homem certo aparecer, ela pode mudar de ideia.
— O homem certo. — Ele riu sem qualquer traço de humor. Quem era digno de um prêmio tão radiante? Ele balançou a cabeça e espetou o garfo no feno. — Uma mulher como Charlotte Cunningham merece o Sir Lancelot de minha avó. Não eu.
Mary deu de ombros esguios e se virou para deixá-lo trabalhar.
— Não sei quem é Sir Lancelot. — Gritou ela. — Mas se ele for como Patrick, Protetor dos Sonhos, acho que Nonie discordaria de você.
Patrick carregou seu feno para o celeiro. Ele havia protegido Robbie hoje. Ele estava ajudando Robbie com seu trabalho. Ele já havia decidido lutar para ganhar algumas moedas para pagar o aluguel dos Wallaces no próximo mês. Talvez, ele não era tão terrível.
O resto do dia, enfardando feno, foi bastante agradável.
Capítulo 14
Depois de uma tarde mortificante, o dia tinha sido muito agradável para Charlie. Depois de garantir a sua graciosa anfitriã que estava completamente recuperada, Mary concordou em deixá-la ajudar a preparar o jantar. Elas compartilharam vinho e risadas enquanto trabalhavam. Charlie até corou uma ou duas vezes quando Mary zombou dela sobre a maneira como os olhos de Patrick a seguiam. Elsie disse a ela quase a mesma coisa.
Ela decidiu descobrir por si mesma e escolheu um banco em frente ao dele quando ele se sentou para comer.
Ele olhou para ela e sorriu, então, com a mesma rapidez, voltou seu sorriso para a tigela funda de ensopado de coelho quente que Mary colocou diante dele.
Ela percebeu rapidamente que se pretendia pegá-lo, isso significaria que tinha que vigiá-lo. Ela achava que não seria capaz de se conter se quisesse. Encoberto pela luz do fogo e pelas sombras, seus olhos verdes dançavam com paixão e vivacidade. Seu sorriso irresistível sugeria prazeres e confiança sem esforço. Como uma chama, a atraia à tentação de querer compartilhar sua vida com ele.
Robbie fez uma oração sobre a mesa e pediu o pão preto, assado, que sua esposa entregou em seguida. Ele arrancou a primeira fatia e então entregou o pão a Patrick, que fez o mesmo.
— Prove o ensopado, Sr. Campbell. — Ofereceu Mary, finalmente sentando-se e tirando o polegar de Jamie de sua boca. — Charlie me ajudou a prepará-lo.
— Devo avisá-los. — Disse ele, sua covinha piscando entre as sombras e a luz quando ele levou a colher aos lábios. — Minha mãe é conhecida como a melhor cozinheira de Dumfries até os confins do Norte.
— Oh? — Charlie ergueu uma sobrancelha. — Sua mãe é de Dumfries? — Sua mãe era de Kennedy, Gordon, Dunbar? Por que ele não disse a ela que sua mãe havia vivido nesta região?
— Glasgow. — Ele respondeu, baixando o olhar para seu ensopado.
Ele estava escondendo algo dela? Ela decidiu fazer mais perguntas. Ele ainda era praticamente um estranho... exceto que a beijou.
— Como você veio morar nas Highlands?
Ele largou a colher e pegou a caneca. Depois de uma bebida, ele voltou seus olhos para ela.
— Minha avó, uma Campbell, casou-se com o homem que construiu Camlochlin nas montanhas. Meus parentes moram lá há muitos anos.
— Bem, estamos felizes que você esteja aqui agora. — Disse Mary e se virou para ela. — Não é, Charlie?
Charlie corou até as raízes dos cabelos, não por causa da pergunta óbvia de Mary, mas porque ela estava feliz. Tão feliz. Ele trouxe uma rajada de ar fresco em sua vida.
— Até agora. — Charlie admitiu e percebeu seu sorriso suave e olhar persistente.
Conversa e pão foram compartilhados em meio a rodadas de risos e duas jarras de cerveja.
— Nonie me disse que você está aqui para ajudá-la em seus sonhos. — Disse Robbie, voltando-se para seu convidado.
Charlie olhou para Nonie sentada entre os irmãos e não pôde deixar de sorrir. A criança era muito bonita, com mechas de cabelos clareadas pelo sol caindo em torno de suas bochechas rosadas e com covinhas. Ela discutia com os irmãos e ria com facilidade, como uma menina deve fazer.
Na noite anterior, Patrick havia prometido a Nonie que permaneceria por perto. Quanto tempo ele ficaria?
— Mesmo que minha verdadeira identidade como protetor dos sonhos deva permanecer em segredo. — Patrick respondeu, colocando um dedo nos lábios e piscando para Nonie. Seus olhos se arregalaram e ela balançou a cabeça, silenciosamente prometendo manter seu segredo. — Vou lhe dizer uma coisa, Robbie. — Disse ele, voltando-se para o pai de Nonie. — Eu acho que ela não vai precisar muito de minha ajuda. Sua filha é corajosa.
— Sim, eu sou, papai! — Nonie gritou, coçou atrás da orelha e voltou para a tigela.
O sorriso de Patrick se alargou e ele voltou seu olhar para Charlie. Ela piscou culpada de sua avaliação, mas não antes de sentir um formigamento nas pernas.
Os outros estavam corretos, seu olhar voltava para ela frequentemente durante o jantar. Ela o pegou olhando uma e outra vez por baixo do véu de seus cílios, na inclinação de seu olhar. Ela não precisava ver, no entanto. Ela podia sentir sua atenção sobre ela, olhos alegres e travessos, e algo mais, algo mais profundo e primitivo voltado apenas para ela.
O que eles podem ou não ter notado é que Charlie olhava para ele com frequência. Ela não pôde evitar. Seu bom humor era contagiante, seu belo e robusto riso era convidativo. Até mesmo seu apetite e a maneira como sua boca se movia quando ele mastigava a distraíam. A luz suave da lareira se espalhou pelo corte de sua mandíbula ruiva. Uma mandíbula forte o suficiente para resistir aos punhos poderosos de Duff... e de Hamish. A curvatura de seu lábio inferior rechonchudo a provocava com lembranças de como era contra sua boca, seus dentes. Ela queria mais. Seu desejo a fez sentir-se enrubescida... ou era a cerveja?
Ela teve que se controlar. Ela se recusava a desmaiar novamente. Ela tinha que ficar focada, ver seus planos. Ela não queria...
— Há uma mulher esperando você voltar para casa? — Mary perguntou. Charlie parou para ouviu.
Ele embebeu o último pedaço de ensopado em uma rodela de pão preto e colocou na boca.
— Eu gostaria de acreditar que minha mãe e minhas irmãs, Maile e Violet me esperam. — Ele pausou suas palavras e sua mastigação por um momento, como se um pensamento tivesse acabado de surgir em sua cabeça. — Violet pelo menos. — Ele continuou, engolindo em seco. — Ficaria satisfeita com o meu retorno. Minha tias e primas, também, mas não há nenhuma moça que espera meu retorno.
— Você tem duas irmãs, então? — Charlie perguntou, sentindo-se extremamente aliviada e tentando esconder isso dele pelas perguntas sobre seus parentes. Por que sentar com ele ao redor da mesa de jantar de Wallace, compartilhando comida, bebida e risos, parecia que tudo finalmente estava no lugar? Como se ela se encaixasse. Ela queria isso? E os planos dela com Elsie?
— Por que Mailie não ficará satisfeita com o seu retorno? — Ela perguntou, sua pulsação acelerada em seus pensamentos.
Ele riu, e ela observou os músculos de sua garganta se flexionarem.
— Eu esperava que você não se lembrasse de minha menção a ela e nem me perguntasse isso.
— Agora você deve responder. — Disse Mary, levantando-se para servir mais cerveja ao marido.
Patrick cedeu, recostando-se para pensar mais sobre sua resposta.
— Mailie, — ele começou, — cresceu com a cabeça escondida em livros, onde os homens se comportam de uma certa maneira e a honra governa o dia. Não me comportei como esses homens e isso a aborrece muito. Confesso que me perdi no caminho para frustrá-la. Ela não perdeu as esperanças. Ela tem certeza de que pode me mudar.
— Ela pode? — Charlie perguntou a ele com um sorriso provocando seus lábios.
Ele olhou para ela com um brilho nos olhos que provou que o que disse a seguir era verdade.
— Eu não sou o tipo romântico.
Charlie já sabia disso. Ela não precisava dele para fazer qualquer confissão. Ele exalava sexo e sensualidade em tudo o que fazia, quer estivesse ganhando corações ou tentando ganhar o dela. Ele estava tendo sucesso? Ele deslumbrava os olhos dela com sua risada, o arco de sua sobrancelha brincalhona, a peculiaridade de sua boca sinistra... às vezes e ao mesmo tempo... tudo aparentemente sem importância, mas destinado exclusivamente a entrar, assim como suas lindas palavras. Ele era rude e impenitente, cativante em seus encantos.
E ele se recusava a ser domesticado. Assim como ela.
Quando o jantar acabou e a mesa limpa, Patrick agradeceu a Mary pela refeição que sua mãe teria gostado e prometeu a Robbie que voltaria amanhã.
— Você vai me levar para a cama, Patrick? — Nonie perguntou, esfregando os olhos com os nós dos dedos.
Ele não podia recusar, embora mal pudesse esperar para ficar sozinho com Charlie. Um momento ou dois não fariam diferença. A menina estava cansada demais para caminhar sozinha para a cama. Que escolha ele tinha? Curvando-se, ele a pegou em seus braços.
— Eu também! — Jamie insistiu e ergueu os braços curtos para ele.
Enquanto ele se abaixava para pegar o menino, seu irmão Andrew subiu nas costas de Patrick e passou os braços em volta do pescoço dele. Patrick deu uma demonstração de sua luta para recuperar sua estatura e as risadas ecoaram em seus ouvidos. Ele sorriu.
— E conte-nos uma história! — Robert insistiu, puxando a borda da manga de Patrick quando ele se endireitou.
Uma história? Ele pensou enquanto carregava os filhos de Robbie Wallace para a cama, com Charlie e Mary logo atrás.
Que histórias ele conhecia, exceto aquelas envolvendo travessuras que não cabiam nos ouvidos de crianças? Ele olhou por cima do ombro para Charlie. Ele certamente não queria que ela ouvisse nenhuma dessas histórias.
— Você não conhece nenhuma história? — Robert perguntou quando chegaram ao quarto e à cama.
— É claro que conheço histórias. — Respondeu Patrick e jogou as crianças na cama, rindo. — Estou simplesmente pensando na história certa. Vamos ver agora... — Ele bateu o dedo no queixo enquanto recuava para o assento mais próximo deles. Ele ergueu o dedo, lembrando-se de uma que seu pai costumava contar a ele.
— Tudo bem então. Esta história envolve uma velha e um lendário cavaleiro chamado Sir Gawain. Ele era sobrinho de um grande rei. Ele era conhecido em todo o país como um defensor formidável dos pobres e das donzelas, e o amigo mais confiável.
— Eu gosto de Sir Gawain. — Disse Nonie olhando para ele.
— Então você vai gostar desta história. — Patrick sorriu, olhando para Charlie na porta, observando, ouvindo.
— A história diz que em um Natal o grande rei foi abordado por um guerreiro muito perigoso. Para evitar uma luta, ele concordou em um desafio. Ele deveria retornar ao guerreiro em um ano com a resposta a esta pergunta: O que é que as meninas mais desejam? Se o rei não voltasse, ou se não pudesse responder à pergunta, ele perderia sua terra e a liberdade.
— O que é liberdade? — Robert perguntou, finalmente recostando-se na cama.
— Liberdade é liberdade. — Disse Patrick, depois continuou. — O ano passou e o rei ainda não tinha resposta. Mas ele manteve sua promessa e partiu para encontrar o guerreiro. No caminho, ele encontrou uma velha. Ah, mas ela era feia. Curvada, seu nariz comprido quase atingia o chão!
As crianças riram e Patrick demorou a falar sobre as feições infelizes da bruxa.
— O rei, por ser grande sábio como era, suspeitou que a bruxa sabia a resposta para a pergunta, então ele ofereceu a ela seu melhor cavaleiro e sobrinho Sir Gawain como marido em troca da resposta. Ela concordou e uma barganha foi fechada.
— Sir Gawain teve que se casar com a velha feia? — Robert perguntou, parecendo horrorizado. Jamie e Andrew responderam com gritos de nojo.
O sorriso de Patrick se aprofundou. Ele normalmente não gostava muito de crianças, mas gostava daquelas com quem estava agora. A visão e o som deles abriram caminho ao redor dele como um dos véus de Charlie.
— Eu mencionei, — respondeu Patrick, — que ela tinha uma ou duas verrugas, escuras com cabelos saindo para todos os lados.
Mais risadas. Ele sentiu outro par de olhos nele e inclinou a cabeça para pegar Charlie parecendo serenamente encantadora à luz suave das velas.
— O que ele fez então? — Andrew perguntou.
— Bem, — Patrick desviou o olhar dela e voltou sua atenção para as crianças. — Com sua terra e liberdade garantidas, o rei encontrou o guerreiro e deu sua resposta. O guerreiro estava com muita raiva porque a bruxa era sua irmã e ela ajudou o rei.
Patrick ficou surpreso com o quanto da história de seu pai ele se lembrava. Ele ficou satisfeito ao ver os rapazes esfregando os olhos sonolentos.
Ele sorriu para Nonie quando ela bocejou e perguntou baixinho.
— Então, Sir Gawain se casou com a velha?
— Vou terminar a história outra noite, moça. Esta noite, você vai sonhar com cavaleiros.
Ele esperou mais um momento até que ela adormecesse e depois seguiu Mary e Charlie para fora, onde eles deram boa noite à anfitriã.
O sol havia se posto, lançando uma leve tonalidade índigo nos campos e os pântanos muirs à distância. Os cavalos estavam onde os haviam deixado e ele se dirigiu para eles com Charlie ao seu lado. Ele queria beijá-la. Ele não conseguiu pensar em mais nada a noite toda. Cada vez que ela movia os lábios, fosse para comer, ou desse um gole em sua caneca, ou risse ou falasse, ele pensava em beijá-la.
Negar a tentação estava se tornando extremamente difícil.
— Sir Gawain honrou seu rei e se casou com a velha? — Ela perguntou, virando o rosto para ele.
— Ele casou, — ele disse quando eles alcançaram seus cavalos. Ele parou e olhou nos olhos dela, iluminados por um brilho da luz fraca. — E na noite do casamento deles ela se transformou em uma linda mulher.
Ela curvou os lábios e a sobrancelha escura para ele.
— Então ele foi abençoado por ter honrado seu rei?
— Não, moça. Porque ela não permaneceria bonita pela manhã. Ela foi amaldiçoada a passar metade de sua vida como uma velha. E apenas o homem que sabia a resposta para a grande questão poderia quebrá-la. O rei não disse ao cavaleiro a resposta.
Sua sobrancelha se curvou com decepção.
— Mas havia outra maneira. — Ele continuou, satisfeito com o interesse dela na história, e ainda mais em como ele gostava de lembrar dela. — Sua esposa o amava por se casar com ela, apesar de sua feiura. Ela o considerava um bom homem e esperava que ele resolvesse o enigma sozinho. Então ela perguntou se ele preferia que ela permanecesse assim durante o dia ou à noite. Ele respondeu que preferia que ela fosse bonita à noite. Mas sua esposa preferia sua beleza durante o dia. Sir Gawain então permitiu que ela escolhesse. Ao fazer isso, ele quebrou a maldição lançada sobre ela por outra bruxa. Ele havia respondido à pergunta do guerreiro. O que mais deseja é a liberdade de fazer suas próprias escolhas. Daquele dia... e noite em diante, a esposa de Sir Gawain era linda.
Nenhum dos dois falou por um momento enquanto ele se deleitava em seu suspiro suave.
— Eu acho, — ela disse, se aproximando dele e se levantando nas pontas dos pés descalços para beijá-lo, — que esta noite eu vou sonhar com cavaleiros, também.
Capítulo 15
Charlie não se permitiu pensar em todos os motivos pelos quais era errado fazer o que estava fazendo. O nobre cavaleiro deu a sua esposa a liberdade de escolha. Exatamente como Patrick havia feito com ela. Essa razão por si só foi suficiente para fazer tudo certo.
Ela lhe daria um beijo casto na boca e então montaria seu cavalo. Só um roçar. Ela fechou os olhos quando seus lábios tocaram os dele. Um... beijinho...
Ele levou as mãos ao rosto dela e segurou com ternura.
Ela suavizou, vindo mais perto, se pressionando mais profundamente contra seus lábios carnudos.
Puxando-a ainda mais para perto, ele acariciou seu rosto, em seguida, interrompeu o beijo para olhar profundamente em seus olhos.
— Que poder é esse que você tem sobre mim, moça? — Ele não esperou por uma resposta, mas aproximou sua boca da dela novamente.
Ele tinha o gosto doce de cerveja, sua língua devastando-a como uma marca quente. Seus braços envolveram as costas dela e a puxaram com força contra suas curvas e planos rígidos. Ela se sentiu perdida em seu abraço, abandonada ao seu poder. Ela queria isso, esperou o dia todo por isso desde o galinheiro. Seus lábios causavam estragos nela, moldando-a a ele em uma dança íntima que tocava com sua língua. Suas mãos se estenderam sobre suas costas, deslizando e saboreando sua forma até que ela se sentiu consumida pelas chamas.
Mas ela não estava pronta para abrir mão de todo o controle.
Com um sorriso lento que fez suas próprias entranhas queimarem com o prazer de provocá-lo, ela tomou seu lábio inferior carnudo entre os dentes.
Seus músculos cresceram mais contra ela. Ela ofegou com o movimento do desejo dele entre eles. Seu beijo se aprofundou puxando de seus pensamentos espontâneos de querer rasgar suas roupas, de...
— Charlie?
Ao som da voz rígida de Duff, Charlie saltou para longe de Patrick e parou por um momento para plantar seus pés firmemente na grama antes de enfrentar seu irmão.
— O que diabos está acontecendo? — Duff perguntou, fixando seu frio olhar de prata em Patrick e puxando sua espada da bainha. — Campbell, é melhor você começar a falar.
— Duff! — Charlie saltou entre os dois homens. — Guarde sua espada! Ele não fez nada de errado!
Os olhos de seu irmão se arregalaram de descrença.
— Se nosso pai tivesse visto isso em vez de mim, Campbell seria seu marido pela manhã.
— Mas o pai não viu. Você viu. — Ela não tinha certeza do que ele faria. Ela sabia que Hendry contaria se fosse ele quem os pegasse. Ela sabia que Elsie não iria. Suspeitava, em tempos como agora, quando desafiava o irmão sem perder a paciência, que ele gostava de quem ela havia se tornado. — Não desejo ser forçada a me casar, então peço que não fale sobre isso. Não vai acontecer novamente.
Duff lançou-lhe um olhar duvidoso, mas depois assentiu, cedendo a ela. Seus olhos pousaram em Patrick em seguida.
— Não, não vai. Campbell, vou dar a meu pai suas desculpas por não agradecê-lo por sua hospitalidade e partir esta noite.
— Eu não quero saber disso, Duff. — O sorriso treinado de Patrick brilhou, encantando pelo menos as meias de Charlie... se ela as estivesse usando. — Posso parecer um homem capaz de lutar contra um urso, mas sou um Campbell e os Campbells são bem educados. Vou ver seu pai.
— Muito bem, — seu irmão permitiu, — mas você faria bem em lembrar que eu não sou aquele urso.
O sorriso de Patrick permaneceu.
— Obrigado pelo aviso.
Tudo bem, Charlie estava farta dessa tolice. Ela colocaria um fim nisso agora.
— Duff, por que você está aqui procurando por mim? Hendry não contou a você e a papai nosso acordo?
— Ele contou, — Duff disse a ela quando eles começaram a cavalgar. — É por isso, que foi bom, tê-la encontrado antes de qualquer outra pessoa.
— Sim, — Charlie concordou, seus olhos encontrando os de Patrick enquanto ele conduzia seu cavalo atrás de Duff. — Uma coisa boa.
Ainda bem que a presença de Duff interrompeu o beijo, senão Deus sabia o que ela poderia ter feito a seguir. Patrick a tentava a abandonar sua virtude, seu destino e seu futuro, por ele. Patrick era perigoso para o bem-estar de Elsie porque os pensamentos de Charlie estavam muito ocupados com ele.
Ela puxou seu cavalo para frente.
Por mais que gostasse de seu dia com Patrick, exceto por desmaiar a seus pés, ela deveria ter voltado para Cunningham House com Hendry.
Talvez, dar a ela a liberdade de fazer suas próprias escolhas não tenha sido a melhor decisão. Ela ainda estaria no controle total de suas emoções se tivesse ido para casa.
Não. Ela não se importava com as consequências de suas decisões. Ela estava feliz por tê-las feito. Ela adorava estar no controle de sua própria vida. A segurança era precária desde que Cameron Fergusson acusou seu pai de matar Kendrick quando ela era jovem. Ela havia perdido a mãe nas mãos de um louco que perdera seu filho mais novo. Depois daquele dia, ela entendeu o que o medo e o ódio podem tornar um homem capaz de fazer.
Ela não precisava de outro homem em sua vida. Eles não a entendiam. Eles sorriam para ela com o desejo brilhando em seus olhos, mas nenhum deles poderia domesticá-la. Não mais. E eles queriam.
Mas... Ela olhou para Patrick novamente, cavalgando ao lado dela agora. Ele não parecia interessado em domesticá-la. Ele ria de suas opiniões sobre ele. Ele não parecia achar defeitos em sua maneira de se vestir, e não apenas ofereceu a ela escolhas que desafiavam seus irmãos e seu pai, mas a encorajou a fazê-las.
Quando Patrick se virou para olhá-la, talvez sentindo seu olhar, ela sorriu para ele e então, com a mesma rapidez, fez uma careta para o irmão quando ele falou seu nome com um estalo agudo.
— Avance com seu cavalo e volte para casa. — Ele comandou, virando-se totalmente para encará-la. — Eu sei que a curta viagem por si só não te assusta, então siga seu caminho. Eu gostaria de conversar com o Sr. Campbell.
— Duff, eu...
— Eu não vou discutir com você sobre isso, Charlotte. — Ele disse, seus olhos cinzas duros como espadas gêmeas sobre ela. — Vá para casa.
— Moça, se está preocupada comigo...
Ela se virou para fixar o olhar gelado que tinha oferecido a seu irmão em Patrick. O homem realmente achava que tudo tinha a ver com ele?
Ignorando seu olhar incrédulo, sua boca se curvou no mais sutil dos sorrisos.
— ...não esteja.
Ela deveria estar? Ela olhou para Duff novamente e mordeu o lábio. O que ele faria com Patrick quando ela se fosse? Ele voltaria pela manhã como Kendrick tinha feito? Ela tinha ficado tão furiosa por ter sido dispensada que não se lembrara da ameaça que seus irmãos eram para alguém que ela amava?
Ela amava Patrick Campbell? Ela levou a mão ao coração palpitante e tentou engolir. Foi difícil.
Ela se sentiu mal. Acima de tudo isso.
— Você não sabe do que ele é capaz. — Disse ela à Patrick, embora seus olhos permanecessem em seu irmão.
— Charlie. — Disse Duff, sem qualquer vestígio de raiva em sua voz. — Parece que você também não sabe.
Ela balançou a cabeça, mal o ouvindo. Não, Duff não o mataria. Patrick não era um Fergusson. Ele pertencia a um clã poderoso que se estendia pela metade da Escócia e da Inglaterra. Seu pai queria uma união com os Campbells. Duff iria exigir que Patrick se casasse com ela porque eles compartilharam um beijo e um sorriso?
— Se você quer provar que estou errada, não exija um casamento para mim e me deixe ficar.
— Eu farei um e não o outro. — sSeu irmão permitiu. — Boa noite, Charlie.
Och, mas ela queria chutá-lo. Ainda assim, ela não seria forçada a se casar. Embora... Ela mordeu a língua e assentiu.
— Boa noite. — Ela cutucou o cavalo e saiu cavalgando antes de dizer qualquer coisa que mudasse a opinião de Duff.
Além disso, ela tinha dezenas de outras coisas em que pensar, como estar em Pinmore antes da meia-noite.
E a forma como sentia o corpo duro de Patrick contra o dela.
— Você disse a Hendry que estava considerando Charlie como uma esposa. — Duff disse olhando para ele com um brilho de ameaça em seu olhar quando eles estiveram sozinhos.
Patrick suspirou. Duff iria tentar forçá-lo a se casar com Charlie? Ele esperava que não. Ele não queria bater e deixar seu primo sem sentidos.
— Sua irmã não queria voltar para casa com Hendry, então eu disse o que ele queria ouvir.
Duff riu movendo-se para o luar.
— Uma arte que você sem dúvida aperfeiçoou.
Seu primo era perceptivo, Patrick notou... com uma pontada no peito. Era quem ele realmente era? Um homem sem valores ou ideais? Um homem que usou uma língua enganosa para ganhar o favor do povo? Não era nada para se gabar, então ele não o fez.
— A única arte que aperfeiçoei foi com meus punhos. — Ele socou o ar à sua frente e então se virou para sorrir para o primo.
— Então você não a quer como esposa?
Patrick sabia que se queria ficar em Cunningham House, pelo menos por mais um pouco, não deveria fazer de Duff seu inimigo. Ele também não queria brigar com o primo. Ele queria conhecer o filho de Will MacGregor. Duff era parecido com seu pai?
— Não sei o que quero. — Respondeu Patrick. Não era mentira.
— Você a beijou. Você quer me dizer que não fará isso de novo?
— Isso é o que eu quero dizer, sim. — Ele concordou. — Mas diga-me, se seu pai a quer casada, como poderia um homem interessado, descobrir se seria uma esposa adequada se não pode ficar com ela?
O olhar de Duff era ainda mais ameaçador pelo brilho da luz da lua em seus olhos.
— Você está me dizendo que está interessado?
Não era o caminho que Patrick queria que a conversa tomasse, mas então, ele tinha que se lembrar que não era Hendry. O irmão mais velho de Charlie não era um tolo facilmente convencido. Ele também não estava tão preocupado com o que seu pai queria.
— Estou curioso. — Admitiu Patrick. — Sim, estou interessado nela. — Também não era uma mentira, mas Patrick não iria além disso. Não havia mais nada a fazer, não é? Ele não estava pronto para desistir de seu estilo de vida libertino por ela. Ele deveria ir embora. Inferno, ele deveria ter partido no instante em que seus pulsos foram soltos.
Mas então ele não teria conhecido o gosto de seus lábios. Ele já sentia falta e desejava beijá-la novamente. Apenas uma coisa estava em seu caminho.
Duff.
Ainda bem que Patrick tinha um talento especial para ganhar favores, mesmo com seus inimigos. Ainda bem que Duff era primo de Patrick ou o que ele estava prestes a dizer teria um gosto amargo.
— Eu gostaria de ficar aqui por mais alguns dias e conhecê-la um pouco mais, se você permitir.
Duff olhou para ele.
— Você não deveria estar pedindo isso ao meu pai e não a mim?
— Mas sabemos qual seria a resposta de seu pai. — Disse Patrick, olhando para trás quando começou a caminhar em direção à casa. Se eles não iam lutar, não havia razão para estar aqui. — Eu sou um Campbell. — Disse ele, ainda não pronto para lhe dizer seu nome verdadeiro e que Charlie se negou a dizê-lo por ser de seu pai. — Ele jogaria Charlie nos meus braços enquanto correria para conhecer o meu pai. Mas você se preocupa mais com ela do que isso. Portanto, procuro sua aprovação.
Silêncio novamente enquanto Duff o considerava. Patrick teve que sorrir, afastando-se dele. Ele adorava confundir as opiniões dos outros sobre ele, conquistando-os para o seu lado. Se isso era uma falha, ele não dava a mínima.
— Eu me importo com ela. — Duff confessou e começou a caminhar para casa. — Ela não quer um marido.
— Sim, ela e eu falamos sobre isso.
Duff olhou para ele.
— Sobre o que mais você falou com ela?
— Principalmente sobre Hendry. Ela tinha palavras duras para ele.
— E sobre mim?
O que Duff se importava com o que sua irmã tinha a dizer sobre ele? Poucas irmãs tinham algo favorável a dizer. Por que Duff a vigiava com tanto cuidado? Ele era um irmão protetor ou havia algo mais?
— Você a ama? — Ele não sabia por que perguntou. Sua boca tinha um jeito de tirar o melhor dele.
— Claro que a amo, seu tolo. Ela é minha irmã!
— Não por sangue.
Patrick mal o viu chegando e quando o fez, era tarde demais para fazer qualquer coisa, exceto se forçar a ficar de pé.
— Ela é minha irmã. — Duff apertou a mão que acabara de dar um soco na mandíbula de Patrick. — Se você sugerir algo diferente de novo, eu removerei sua cabeça. Entendeu?
Patrick apalpou o queixo para ter certeza de que não estava quebrado e então assentiu. Ele deixou o golpe sem resposta. Afinal, ele merecia por fazer uma pergunta tão insultuosa. Mas ele não era atingido no rosto com frequência e pretendia continuar assim. Se Duff tentasse de novo, Patrick o derrubaria no chão. Parente ou não.
— Minhas desculpas. — Ele ofereceu.
Duff assentiu e desviou o olhar. Eles caminharam com os cavalos em silêncio por um tempo antes de Duff falar, sua voz mais baixa, mais suave.
— Nossa vida ficou mais difícil depois da morte de nossa mãe. O dever de proteger minhas irmãs coube a mim, e nunca falhei nisso. Não vou começar agora. Eu não me importo quem você é. — Ele parou e olhou para Cunningham House à distância. — Eu tenho algumas perguntas para fazer a você, mas atualmente tenho negócios em uma taverna não muito longe daqui. Junte-se a mim e podemos discutir as coisas enquanto tomamos uma caneca de whiskie.
Capítulo 16
O que diabos eles estavam fazendo na Taverna Blind Jack? Patrick se perguntou, seguindo os passos apressados de Duff lá dentro.
A escolha de Duff de se sentar em uma mesa no canto longe da luz da lareira não atraiu nenhuma contestação de Patrick. Se as sombras o ocultassem de Hamish e de sua serva, Patrick preferiria que fosse ali. Não era uma boa ideia lutar contra o mesmo homem duas vezes. Hamish saberia o que esperar desta vez e provavelmente usaria táticas mais duras para garantir que ele não acordasse novamente no chão com um jarro quebrado em sua cabeça. A prostituta do bruto era provavelmente tão perigosa quanto qualquer tigela de barro que estivesse por perto.
Mas por que eles estavam aqui? Por que Duff estava se escondendo?
— Vamos nos encontrar com alguém? — Patrick perguntou, curioso com a forma como o olhar de Duff varreu os clientes, como se estivesse procurando por alguém em particular.
— Não. — Duff desviou o olhar das mesas e voltou-se para ele. — Nós estamos esperando.
Patrick ficou aliviado quando Duff chamou uma serva que não era aquela por quem ele quase perdeu um dente. Ele disse a Duff que seu interesse por Charlie foi despertado, que queria permanecer aqui para possivelmente ganhar o favor dela. O fato de Duff descobrir que esteve aqui algumas noites atrás, pronto para dormir com uma prostituta, não seria de seu interesse.
— Dois whiskies. — Duff disse e, então, a mandou embora antes que ela tivesse tempo de cair em qualquer um de seus colos.
— Agora, me diga, — disse ele, voltando o olhar para Patrick, — onde você esteve com minha irmã o dia todo?
A verdade foi a única resposta a lhe dar. Se não fosse visitar um inquilino, para onde ele a teria levado até a noite?
— Passamos o dia com os Wallaces.
— Os Wallaces? — O irmão de Charlie perguntou cético. — Que negócio você tem com Robbie Wallace que passou o dia com ele e minha irmã?
Patrick não poderia dizer a ele que eles haviam visitado a cabana de Wallace na noite anterior para ajudar a família a sobreviver a seu irmão. Duff não sabia que sua irmã fugia de casa à noite para ajudar os aldeões. Se Charlie quisesse que seu irmão soubesse de suas aventuras abnegadas, ela contaria a ele. Mas Patrick precisava dizer algo a ele.
— O feno dele precisa ser enfardado. — Ele disse com um encolher de ombros casual.
O sorriso de Duff era tão agudo quanto seu olhar.
— Por que você insistiu em Charlie te acompanhar quando ela deveria ter ido para casa com Hendry?
Droga. Quantas perguntas Duff iria fazer? Ele havia aprendido bem o interrogatório com Allan Cunningham. Patrick não culpava Duff por suas preocupações, mas estava ficando cansado de ter que encontrar as respostas certas. Ele deixou isso ser conhecido em sua exalação profunda antes de responder.
— Ela não ficou particularmente satisfeita em ir com ele. Sua presença foi intolerável no curto período de tempo que cavalgamos, e eu sei por quê.
— Hendry é desagradável. — Duff concordou e mal olhou para a serva quando ela voltou com as bebidas. — Às vezes me pergunto se tenho outros irmãos em algum lugar que não são...
Ele parou e bebeu de sua caneca. Patrick queria dizer algo. Duff tinha outros irmãos. Quatro deles.
— Charlie colocou você para enfardar o feno dele? — Duff perguntou, colocando sua caneca na mesa. — Ela não pensa assim, mas eu a conheço bem.
Quão bem? Ele sabia que ela o roubou para alimentar os outros?
— Ela tem o coração bondoso de sua mãe. — Duff disse a ele em um tom suave, seu amor por ela suavizando seu sorriso.
Ele a conhecia então. Ele saberia que Patrick estava mentindo se negasse seu envolvimento.
— Ela pediu. — Ele admitiu.
— E para ela, você concordou.
— Eu o fiz.
Duff acenou com a cabeça, parecendo satisfeito, mas fazendo o possível para disfarçar.
Patrick olhou para sua caneca e sorriu.
— O whiskie é um traço muito forte entre os Highlanders.
Duff sabia que tinha sangue das Highlands. Ele sabia que era um MacGregor. Patrick queria que ele se orgulhasse de usar o nome, mas que era proibido. E embora as leis contra seu clã não fossem seguidas tão estritamente como antes, MacGregor ainda era um nome perigoso com implicações desagradáveis. Duff não iria confessar ser um, não para um homem que ele conheceu há poucos dias.
— Highlanders são teimosos. — Patrick continuou. — E extremamente possessivos e protetores com seus parentes, como você.
Duff desviou o olhar.
— Os homens não costumam viajar por Pinwherry. O que sei sobre os Highlanders são coisas que me contaram. Nem sempre foram favoráveis.
Inferno, o pobre rapaz estava faminto por algum conhecimento de sua herança.
— O que você ouviu?
— Que eles são problemáticos. — Disse Duff. — Eles gostam de luta como um esporte. É por isso que tantos deles se comprometeram com a causa jacobita. Sei também que um deles visitou Pinwherry, foi meu pai e depois foi embora.
Sim, isso. Patrick olhou para sua caneca. Ele não podia discutir essa verdade.
Ele pensou em como diria a Duff enquanto levantava sua caneca. Ele tomou um gole e se encolheu.
— Inferno! Assim deve ser o gosto profano.
Duff deu a ele um leve sorriso.
— Temo que seja de má qualidade em comparação com o que você está acostumado.
Patrick assentiu, colocando a caneca na mesa.
— Eu vou me certificar de que você experimente a bebida de Angus mesmo que eu tenha que trazê-la sozinho.
— Angus? — Duff perguntou, uma sobrancelha negra arqueada sobre seu olho prateado.
— Sim. — Patrick disse a ele. Ele queria que Duff soubesse sobre seus parentes. Todo homem merecia saber sobre os seus. Ele queria que Duff soubesse que eles eram parentes. Duff sabia que os MacGregors estavam unidos aos Fergussons? Se Patrick dissesse a ele que era, na verdade, também um MacGregor, Duff não demoraria muito para deduzir que Patrick também era um Fergusson e que provavelmente estava indo para Colmonell para visitar Tarrick Hall no momento em que Charlie atacou ele com sua pedra.
O momento para essa confissão ainda não parecia certo. Primeiro, Patrick precisava saber mais sobre a rivalidade entre seus parentes e os Cunninghams... e o que Duff poderia fazer com ele por ser o inimigo e estar interessado em cortejar sua irmã.
Isso não significava que ele não pudesse contar a Duff sobre seu pai. Ele merecia saber.
— Sim, Angus. — Disse ele enquanto Duff erguia sua caneca para beber. — Angus MacGregor.
A caneca parou nos lábios de Duff, embora ele rapidamente se endireitasse, tomando cuidado para não revelar muito.
— Você conhece os MacGregors?
— Sim. — Respondeu Patrick, sorrindo, e então destruiu a determinação de Duff como uma bala de canhão na argamassa. — Mas o mais importante, eu o conheço, Will MacGregor.
Como esperava, Duff parecia prestes a se levantar de um salto ou limpar o conteúdo da barriga vomitando. Ele não fez nada, mas se sentou e olhou para Patrick com olhos como aço sendo martelado.
— Charlotte disse a você.
— Não, foi Hendry. — Patrick forneceu, em seguida, pediu mais whiskie. Duff iria precisar disso.
— Eu deveria quebrar a mandíbula de Hendry. — Duff rosnou, ignorando a serva e o decote que ela pendurava diante dele enquanto enchia sua caneca.
— Eu admito, — Patrick disse a ele quando a moça se virou para ele em seguida. — Frequentemente, encontro-me desejando fazer a mesma coisa.
— Posso pegar outra coisa? — A garota aproximou seu rosto do de Patrick.
Ela era bonita, com olhos intensamente azuis e cabelo loiro claro. Poucos dias atrás, Patrick teria notado o resto dela e, francamente, ele não estava satisfeito por não encontrar nenhum interesse nela.
Um sinal muito revelador, isso. Exatamente em quantos problemas ele estava metido?
— Como você o conhece? Meu pai? — Duff perguntou depois que Patrick dispensou a moça.
Para impedir Duff... e, finalmente, Charlie de descobrir que ele era um Fergusson, ele inventou uma história.
— Eu estava viajando de Dunvegan para casa no inverno passado quando uma nevasca violenta caiu. Fiquei ilhado por um mês com os MacGregors de Skye. Foi lá que o conheci.
— Skye? — Agora Duff reagiu. Sua cor desbotou na luz fraca até que ele parecia uma aparição. — Você está me dizendo que meu pai é do clã MacGregor de Skye? — Quando Patrick assentiu, Duff passou a mão no rosto e fez um juramento silencioso. — Os MacGregors de Skye são parentes dos Fergussons de Ayrshire.
Então, ele sabia.
— Eles são? — Patrick perguntou, fingindo surpresa. — Os Fergussons com quem você está brigando?
Duff acenou com a cabeça. Ele parecia estar revirando algo em sua mente, algo que o impelia a ir junto.
— Como você sabe que ele é meu pai, e não um homem com o mesmo nome? Tenho certeza de que há muitos Will MacGregors na Escócia.
Mas poucos com o mesmo traço acentuado no queixo e olhos frios e impiedosos.
— Você compartilha seu rosto e suas expressões. — Patrick disse a ele. — Inferno, suspeitei que você fosse dele no momento em que soube que Cunningham não era seu pai. Eu digo a verdade, você tem os mesmos traços do rosto dele.
Não parecia ser tão satisfatório para Duff quanto Patrick esperava. Sua cor não havia retornado. Na verdade, ele parecia um pouco doente.
— Não fale mais sobre isso. — Disse ele virando o rosto para as sombras.
Patrick desejou não ter mencionado isso em primeiro lugar. Mas inferno, se ele nunca conheceu seu pai e alguém aparecesse em sua vida que o conhecesse, ele iria querer saber. Ele podia apreciar as emoções que deviam estar surgindo em seu primo neste momento.
— Você quer saber alguma coisa sobre ele?
Duff permaneceu imóvel. Ele não estava pronto para saber essas coisas. Talvez Patrick não o culpasse. Se seu pai tivesse abandonado sua mãe, ele poderia não se interessar, afinal.
— Como ele é? — Duff perguntou, cedendo a todas as necessidades humanas.
Patrick pode ser um libertino descuidado e imprudente que por acaso aproveitou demais a vida, mas ele entendeu a magnitude de sua resposta. Ele tinha a tarefa de moldar a primeira impressão de Duff sobre seu pai. Isso foi ideia dele, não foi? Ele queria que Duff soubesse. Por que o dever de contar deveria recair sobre ele? Mas como alguém conta a um homem sobre seu pai? Ele deveria contar tudo a Duff, que havia alguns homens em Camlochlin que não aderiam particularmente ao seu apelo tácito ao cavalheirismo e que o pai de Duff era um deles. Pelo menos, ele tinha sido antes de também adoecer de amor quando conheceu sua esposa, Aileas MacLeod, e se tornou pai de quatro de seus próprios diabinhos desafiadores. Filhos que ele escolheu criar. Duff odiaria seu pai por abandoná-lo e não os outros?
— Ele é um mestre arqueiro... e ele é... — Patrick sorriu e revirou os olhos por sua incapacidade de falar. Ele ergueu sua caneca, como se o whiskie aguado fosse o motivo. Ele deveria dizer a Duff que Will gostava de agitar seus primos com sua língua afiada e seu sorriso brincalhão? — Ele é primo do chefe do clã MacGregor e amigo mais próximo. — Sim, era verdade, e parecia melhor. — Em sua juventude, ele era conhecido por ser imprudente com as moças e perigoso de se ter como inimigo. Apesar do cabelo salpicado de fios brancos, ele ainda é perigoso, mas menos imprudente desde que se casou. Ele ri frequentemente... e frequentemente às custas dos outros. Ele não teme nada, exceto a ira de sua esposa, e é o único homem de quem Brodie MacGregor, seu avô, sorri.
A expressão de Duff se iluminou. Ele poderia até ter sorrido na penumbra.
— Parece que você o conhece bem.
— Não se passa tempo com os MacGregors de Skye sem conhecer Will. Ele é amigo de todos.
Duff bebeu o restante de seu whiskie. Ele limpou a boca com as costas da mão e pediu mais. Finalmente, ele se voltou para Patrick.
— Ele tem outros filhos?
Inferno, Patrick precisava de uma bebida mais forte do que a que serviam aqui.
— Ele tem... quatro filhos.
Os olhos de Duff ficaram dolorosamente suaves.
— Entendo.
Mais uma vez, Patrick se arrependeu de ter contado qualquer coisa a ele. Não era bom saber que você poderia ter tido uma vida diferente, melhor, mais misericordiosa? Inferno.
— Uma hora atrás, eu não tinha irmãos. Agora, tenho quatro. Quais são os nomes deles?
Patrick fechou os olhos e deu um suspiro antes de abri-los novamente.
— Brodie, Beathan, Ailpein e Niall. Eles são todos mais jovens do que você e provavelmente será a morte dele.
Duff olhou para sua caneca e balançou a cabeça.
— Eu seria a morte dele.
Patrick se inclinou mais perto.
— O que é que isso? Você seria? Por que você seria?
O sorriso forçado de Duff à luz das velas tremulando ofereceu tudo, menos a garantia de sua sinceridade quando ele falou.
— Tenho certeza de que descobrir que ele teve um quinto filho, um do qual há quase uma vida ele nada sabe, o faria pelo menos desejar estar morto.
Ele tinha razão. Patrick riu e ergueu sua caneca com ele.
Eles conversaram enquanto tomavam mais dois drinques antes de Patrick se oferecer para levar Duff para conhecê-los, se ele quisesse. Patrick não tinha certeza do que diabos tinha acontecido com ele, mas sentia falta de sua casa. Era por causa de Charlie. Porque ela o lembrava de Camlochlin, indomável e tão firme e protegida como uma fortaleza. Seus parentes...
Isso era... Charlie que ele via entrando pela porta?
Esquecendo seus pensamentos, ele piscou para Duff e o encontrou rígido e alerta em sua cadeira, seus olhos fixos em sua irmã.
Então, Duff sabia sobre suas aventuras noturnas. O que diabos ela pensaria disso? O que ela estava fazendo aqui? O que ela estava fazendo aqui na primeira vez que ele a viu, vestida de negro e à luz de velas? Por que ele não perguntou a ela? Por que ele não lhe disse que a tinha visto naquela noite? Ele não queria se importar e especialmente não a ponto de começar a arrancar cabeças de qualquer homem que a tocasse.
— O que ela está fazendo aqui? — Ele perguntou, mantendo a voz baixa, firme e permanecendo nas sombras com o irmão dela.
— Ela está mantendo sua promessa.
— Uma promessa para quem?
— Para nossa mãe. — Duff disse a ele enquanto Charlie sorria e acenava para as servas e até mesmo para o taberneiro. Ela trocara o vestido por um de lã mais pesada e um earasaid cobrindo seus ombros delicados.
Patrick não se importava em respirar. Ela era tão bonita para ele, com suas longas tranças sedosas um pouco trançadas ao acaso e atraindo seu olhar para o seio onde caíam.
— Ela sabe que você a segue? — Patrick perguntou a ele.
— Não, e eu quero mantê-lo assim. Não faria diferença, porém, ela ainda viria, mas eu prefiro não brigar com ela sobre isso. — Duff deu um gole em sua caneca sem pestanejar. — Ela tem visitado tavernas nos últimos dezesseis meses, pelo menos.
Um ano e meio? Por quê? Ela estava aqui tentando encontrar uma maneira de ganhar moedas para pagar o aluguel de um inquilino? O que diabos ele iria fazer sobre isso?
— Qual é a promessa que ela fez a sua mãe?
— De cuidar de Elsie. Os outros, ela assumiu por conta própria.
— Então você sabe sobre os Wallaces.
Duff acenou com a cabeça.
— Eu sei que ela é amiga de Mary Wallace. — Duff olhou para ele por cima de sua bebida. — O que mais há para saber?
Que ela foge para visitá-los e pagar o aluguel? Patrick não disse seu pensamento em voz alta. Duff não sabia. Ele não poderia saber quantas vezes ele foi drogado ou ele não teria tolerado isso.
— Não há mais nada para saber. — Assegurou-lhe Patrick. — Presumi, por sua pergunta anterior sobre os Wallaces, que você não sabia que Charlie e Mary eram amigas.
— Hmm, — Duff murmurou e voltou sua atenção para sua irmã. — Enquanto você decide sobre ela, deve saber que ela sempre fará o que quiser. Ela usará todos os meios necessários para ver seus desejos realizados. Ela vai desafiar você como desafia meu pai, silenciosa e metodicamente. Por mais que eu gostasse de vê-la encontrar sua própria felicidade, não acho que ela seja uma boa candidata para...
— Ela é perfeita. — Concluiu Patrick. Sim, droga, foi sua voz que acabou de falar... e pior, parecia um idiota apaixonado.
— Eu não acho que ela será tão facilmente conquistada como você espera. — Duff a observou inclinar a orelha para dois clientes, sorrir e depois dar um tapinha em suas costas enquanto passava para outra pessoa.
— Não quero uma vitória fácil.
— É isso que ela é? — Duff perguntou, virando-se para olhar para ele. — Uma vitória?
— Sim, — Patrick disse candidamente, — uma vitória para mim ter conquistado o coração de tal moça. Uma vitória para meus parentes em recebê-la como se fosse deles. Uma vitória para seu pai porque sua irmã pertenceria ao clã mais poderoso da Escócia.
— E para Charlie? — Seu irmão perguntou, convencendo Patrick, por sua dedicação ao bem-estar dela, que o sangue das Terras Altas de fato corria por aquele rapaz.
Mas essa conversa estava indo longe demais. Patrick queria ficar mais alguns dias e com liberdade para estar com Charlie. Toda aquela conversa sobre casamento o estava deixando impaciente.
— Não sei o que ela pensaria disso... se eu decidisse me casar com ela.
— Bem, você a ouviu. — Duff disse a ele, pousando a caneca. — Ela não quer se casar. Ela recusou todos e os expulsou. Acho que ela nunca mais será feliz com ninguém.
Patrick sorriu ao se lembrar da história que Mary lhe contara sobre o último pretendente de Charlie.
Então seu sorriso se desvaneceu.
— Com ninguém?
Charlie já havia se apaixonado antes? Ele não sabia por que disparou uma onda de ciúme por dentro.
— Sim. — Duff disse a ele. — Ela não amou ninguém desde dele... e já faz muito tempo. — Seus olhos pousaram em sua irmã novamente e seu olhar assumiu um aspecto distante. Quando ele falou, sua voz era baixa e cheia de algo como arrependimento. — Faz muitos anos que não falo dele. Demasiado longo esse tempo.
— Quem era ele? — Patrick queria saber quem havia segurado seu coração por anos e a impedido de amar qualquer outra pessoa.
Duff desviou o olhar para ele e balançou a cabeça.
— Ninguém. Ele se foi, e seria melhor se você não o levasse até Charlotte.
Levar a quem? Como diabos Patrick não iria falar sobre ele se não sabia de quem estaria falando?
— Mas como você sabe que ela ainda o ama? — Patrick perguntou, implacável.
— Porque ela ainda carrega a funda dele como se fosse parte dele.
Patrick olhou para ele enquanto sua barriga afundava até as botas. Sua funda, dada a ela e ensinada a usar por um Fergusson. Ela amava um Fergusson. De acordo com seu irmão, ela ainda o queria.
Ela havia falado dele na primeira vez que caminharam pelo campo. Ela mencionou que aprendeu a usar a funda e seu pai desaprovou. Allan Cunningham havia proibido os dois de ficarem juntos? Seu coração pertencia a um de seus primos? Era um dos filhos de Cameron? Shaw, Tam ou talvez Kendrick? Certamente o filho mais novo de Tamas, Aidan, era muito jovem. John tinha somente filhas.
— Parece que ela encontrou quem ela veio ver.
Patrick seguiu o olhar de Duff para encontrar Charlie sentada à mesa de um homem mais velho e bem vestido. Eles estavam envolvidos no que parecia ser uma conversa séria.
O que ela estava fazendo dessa vez? Patrick se perguntou, olhando para ela, sem perceber que seu olhar tinha ficado suave.
— Você ainda a considerará depois de encontrá-la aqui em uma taverna na calada da noite?
Patrick entendeu que a maioria dos homens não gostaria de uma esposa tão problemática e desafiadora. Mas ele tinha que admitir, a ideia era agradável. Ela era uma rosa feita de muitas pétalas e ele gostava de assistir cada uma desabrochar.
— Não é aparente o suficiente para seus olhos. — Patrick perguntou, olhando para ele. — Que o meu interesse por ela foi despertado?
Mas qual de seus primos reivindicou seu coração?
— Você não me parece o tipo de homem que fica no mesmo lugar por muito tempo. — Rebateu Duff. — O que acontecerá com ela quando a faísca se apagar?
Patrick queria dizer a ele que não iria desaparecer. Mas como ele saberia? E se isso acontecesse? O que diabos ele estava fazendo? Seu coração estava perdido para um de seus primos. Ele não podia dizer a Duff quem ele era agora.
Seu olhar moveu-se de volta para ela e seu companheiro ainda falando. Ele olhou para o rosto de Charlie e o estudou o suficiente nos últimos dois dias para saber que ela não estava satisfeita com as palavras do homem.
— Quem é ele? — Patrick perguntou e se mexeu na cadeira. Que negócio estava sendo fechado entre eles? O que ela queria? O que ela tinha a oferecer? Ele queria sair de sua mesa e descobrir.
— Um médico, eu imagino. — Duff respondeu. — Muitos deles são. Nenhum deles ajuda, entretanto.
O que diabos Duff estava dizendo? Patrick se virou para ele.
— Por que ela precisa de um médico?
— Ela não precisa. Elsie, sim.
Capítulo 17
— Parece-me que sua irmã sofre de asma, um muco de catarro que ataca os órgãos respiratórios.
Charlie conteve um suspiro de frustração enquanto ela olhava para o teto. Ele não estava contando nada que ela já não soubesse. Elsie foi atendida por vários médicos desde tenra idade.
— Eu sei o que a aflige, doutor. Preciso saber o que pode ser feito para ajudá-la.
O Dr. Lindsay acenou pedindo outra caneca de vinho. Seu bigode pesado afundou em torno de seu queixo quando ela mais uma vez recusou sua oferta de se juntar a ele.
Ela veio atrás de uma cura, não um amante... ou uma luta. Ela precisava sabê-lo e ir para casa. Esgueirar-se sem acordar não dois homens, mas três, foi difícil.
Ela não tinha visto Patrick ou Duff antes de fingir que estava pronta para dormir. Ela esperava que nenhum dos dois estivesse ferido nos campos. Ou pior, acordado e ciente de sua ausência.
Mas ela tinha que vir para a taverna. Para esse momento. Os pequenos vilarejos próximos à costa de South Ayrshire não recebiam muitos visitantes e especialmente não verdadeiros médicos. Era preciso dedicação e tempo perfeito para garantir que ela tivesse a oportunidade de conhecer o Dr. Lindsay. Se houvesse novos medicamentos disponíveis para tratar a condição de sua irmã, Charlie os receberia.
— Já tentei muitas coisas, mas nada ajudou. Estou desesperada.
Ele a olhou com olhos escuros e penetrantes sob a testa com sobrancelhas cinza.
Charlie implorou aos céus novamente, rezando para que ela não tivesse que provar suas palavras matando-o.
— Eu tenho algo que vai ajudar.
— Oh? — Ela ergueu uma sobrancelha cética. — O que é?
— Um elixir feito de certas ervas que induzem o vômito.
O coração de Charlie afundou. Vômito? Nos últimos dois anos, ela tinha ouvido falar e havia tentado todos os tratamentos, de mel a tabaco, o último levando meio ano para obter. Ela experimentou diferentes tipos de óleos embebidos em casca de árvore e esfregados no peito de Elsie, junto com várias carnes e ervas. Ela passou a irmã sob a barriga de um cavalo e espalhou graxa de cervo nas solas dos pés de Elsie. Como o vômito a ajudaria a respirar? Tudo isso era em vão?
Ainda assim, ele não havia sugerido que Elsie estava possuída por demônios, como o charlatão anterior havia diagnosticado.
Para isso, ela ouviria sua explicação.
— Como o vômito a ajudaria?
Sua resposta soou convincente e inteligente. Algo estava realmente bloqueando as — vias respiratórias — de sua irmã. O que ela tinha a perder?
— Eu vou pagar.
— Está na minha bolsa. Acima das escadas em meu quarto.
A julgar pelo brilho faminto em seu olhar, essa troca não ia ser tranquila.
— Vá pegar. — Ela avisou impaciente. Ela não podia ficar aqui esta noite.
Sua boca se curvou em um sorriso malicioso de um homem que nunca tinha ouvido falar o que fazer antes deste momento. Ele cruzou uma perna, envolta em uma calça de lã fina, sobre a outra e deixou seu olhar vagar sobre ela com desejo ousado.
— E quanto ao pagamento?
Ela ergueu os braços sobre a cabeça e alcançou a nuca. Ela soltou o colar de pedra que sua mãe lhe dera e o ergueu para ele. Ela não queria se desfazer do presente, mas sua mãe teria entendido e ficado feliz com sua decisão.
— Isso é tudo que a boa saúde de sua irmã vale para você, minha querida?
Dane-se tudo. Ela estendeu a mão para as saias sob a mesa e encontrou a abertura e a pequena adaga que havia prendido em sua coxa.
— O que mais o senhor tem em mente, doutor?
Seu sorriso se aprofundou junto com sua voz.
— Um beijo. Talvez um pouco mais?
Ela deu a ele um sorriso gelado.
— Receio que não. Isso terá que ser suficiente.
— Não é.
Ela esperou para conhecê-lo por dias, esperando que ele fosse o único que poderia ajudar Elsie. Ela arriscou muito vindo aqui. Ela deveria partir antes de ser forçada a machucá-lo? Mas e se ele tivesse algo em sua bolsa que pudesse ajudar sua irmã? Quando outro médico viria? Poderia levar meses, um ano. Charlie não queria esperar tanto tempo.
Antes que ela parasse para considerar o que estava fazendo, ela puxou sua adaga e estendeu a mão sobre a mesa para segurar a ponta em sua garganta.
— Eu vou te pagar deixando você sair daqui vivo. Temos uma barganha?
Ele grunhiu quando ela o cutucou um pouco, picando sua pele. O mundo era um lugar duro e implacável. Ela poderia ser dura e impiedosa também.
— Eu quero o elixir. Você sob...
Ela foi interrompida por um homem... ou dois homens... saindo das sombras e então um corpo de constituição poderosa tirou o Dr. Lindsay de sua cadeira.
Ela ficou de pé e observou Patrick jogar o médico na parede.
O que ele estava fazendo aqui? Seu primeiro pensamento foi que ele tinha vindo visitar Bethany novamente, mas o fogo em suas veias esfriou quando ela viu Duff.
— O que diabos vocês dois estão fazendo aqui? — Ela voltou seu olhar para Patrick. — E por que você nocauteou o Dr. Lindsay?
Ele deu de ombros e se afastou do corpo mole do médico e se aproximou dela.
— Parecia que você tinha terminado com ele.
Por que o tom baixo de sua voz enviou arrepios por sua espinha? Ou foi sua proximidade que a fez perder temporariamente a cabeça? Patrick era quem ela deveria esfaquear, não o médico. Patrick foi quem a tentou a desistir de tudo.
— Eu não terminei com ele. — Ela disse. Ela não queria um protetor em sua vida. Ela queria que sua irmã ficasse bem e livre dos limites de sua respiração... ou da falta dela. — Ele tem algo que eu preciso.
— Ele carrega consigo o que quer que deseja? — Duff perguntou. Duff! Ela voltou seu olhar para ele em seguida.
— A maioria dos médicos que viajam trazem remédios. Agora me diga o que você está fazendo aqui. — Ela apontou para Patrick. — Ele trouxe você? — Oh, se ele tivesse, ela o atiraria com uma flecha na primeira chance que tivesse. Por que aqui, nesta noite de todas as noites?
— Eu o trouxe. — Duff admitiu. — Eu sabia que você estava vindo e não tinha vontade de sentar aqui sozinho de novo para esperá-la.
O que ele quis dizer de novo?
— Você quer dizer que me seguiu para aqui de propósito e esta não é a primeira vez?
Desta vez, ela achou que não seria capaz de controlar seu temperamento. O que ele faria se ela pegasse a caneca do Dr. Lindsay e a jogasse na cabeça dele? Se, uma vez iniciada a luta, ela não pudesse terminar até que o amaldiçoasse por sua parte na morte de Kendrick?
— Charlie. — Seu irmão começou e se sentou na cadeira do ocupante anterior. — Realmente acha que eu esqueceria minha promessa a nossa mãe de cuidar de você... a mesma promessa que você fez para Elsie?
Ele estendeu o braço, oferecendo a ela seu assento. Ela aceitou, olhando para Patrick enquanto se sentava. Naturalmente, ele sorriu.
Duff a estava seguindo todo esse tempo? Esperando sozinho, sem ser visto por ela, pelo menos, e então se certificando de que chegasse em casa em segurança? Ela frequentava tavernas há mais de um ano tentando encontrar curas. Há quanto tempo ele sabia? Por quanto tempo ele a deixou acreditar que não sabia de nada? Ele também sabia de suas visitas aos inquilinos de seu pai? Ou que ela o roubava? O que ele achava de tudo isso? Não mudava nada.
Sim, promessas foram feitas, mas Duff não entendia que ele já quebrou sua promessa quando seguiu as ordens de seu pai e matou Kendrick?
— O que você está tentando ganhar deste homem? — Seu irmão perguntou a ela, seus olhos brilhando como aço polido sob a linha de suas sobrancelhas negras.
Quando ela não respondeu, ele respondeu por ela.
— Remédio para Elsie.
Surpreendentemente, ele não parecia zangado. Não ia haver uma luta. Seu temperamento permaneceria controlado por outro dia. Ela ficou aliviada, mas ainda zangada com ele por não ter lhe contado.
— Se você já sabe, por que está me perguntando?
— Eu estava curioso sobre sua resposta. — Ele respondeu suavemente.
Ela se recostou e cruzou os braços sobre o peito. Ela podia sentir os olhos de Patrick sobre ela. Olhos verdes, brilhantes e divertidos que encontravam humor em tudo o que ela dizia e fazia... mesmo quando ela acordou de um desmaio na casa dos Wallace. Ela ficou tentada a olhar em sua direção, mas sua conversa com Duff teve precedência.
— O que você vai fazer sobre isso?
Ele estendeu os braços de cada lado do corpo.
— O mesmo que tenho feito. O que acha? — Ele perguntou quando a expressão dela escureceu. — Seguir você para ter certeza de que está segura é tão terrível?
— Onde mais você me seguiu?
Ele endireitou-se na cadeira e olhou para ela.
— Onde mais você foi?
Ela quase suspirou de alívio.
— Na taverna The Red Rooster em Pinwherry. — Não era uma mentira.
Ele sorriu e acenou com a cabeça. Ela sabia que ele se importava com ela. Isso nunca mudou, embora ele tenha ficado mais duro, como suas vidas. Mas o Duff que ela amava havia morrido com Kendrick. Depois que Kendrick desapareceu e antes que os Fergusson matassem sua mãe, Duff ficou quieto e mais distante. Ele piorou com o passar dos anos, repreendendo-a com frequência e quebrando o nariz de Hendry duas vezes. Melancólico, mesmo depois de anos, Duff raramente sorria.
No inverno passado, em uma movimentada taverna em Colmonell chamado Hecker's Muse, Charlie finalmente descobriu o porquê.
O povo daquela cidade conhecia bem o laird Cameron Fergusson. Eles conheciam seu filho e, de acordo com muitos, viram Kendrick cavalgando com seus irmãos... para nunca mais ser visto.
Até então, ela sempre se perguntou por que os Fergussons acusaram sua família do ato vil. Descobrir a verdade gelou seu coração em relação aos homens de sua família. Os homens que foram realmente responsáveis pela morte de sua mãe.
— Há quanto tempo você sabe o que estou fazendo? — Ela perguntou, recusando-se a se emocionar com a preocupação dele. — E por que você escondeu esse conhecimento de mim?
— Por cerca de um ano e meio e não havia razão para te contar. Depois de descobrir o que você fazia, eu sabia que não iria parar até que encontrasse a cura. Era simplesmente mais pacífico assim.
Ele tinha esse direito. Tentar impedi-la teria sido inútil e desgastante para os dois.
— Como você descobriu? — Não importava, mas ela estava curiosa da mesma forma. Ela foi descuidada e deixou que ele a visse sair de casa? Ela teria que ser mais cuidadosa.
— Elsie me contou. Ela disse que você sai a cada seis noites. Ela estava preocupada porque te ama.
Droga! Elsie! Ela deveria saber que sua irmã se preocuparia com ela. Mas pelo menos Elsie não disse a ele que ela sai com muito mais frequência do que a cada seis noites.
Ela ainda estava decidindo o quão zangada deveria estar com seu irmão quando Patrick tocou seu ombro.
Ela não tinha esquecido que ele estava ali. Sua presença exigia atenção, embora ele não tivesse falado uma palavra. Era difícil tentar dar a Duff toda a atenção com Patrick de pé perto da mesa o tempo todo.
— O que aflige Elsie? — Ele perguntou olhando para ela.
Seus olhos, mudando de verde para âmbar profundo à luz do fogo, a cativaram. Ou talvez tenha sido a curiosidade e a preocupação fazendo seus olhos brilharem por trás de seus longos cílios que a fez olhar para ele como uma idiota, incapaz de formar um pensamento lógico.
— Tem a ver com a maneira como ela respira?
Charlie piscou para sair de seu breve devaneio. Ele era simplesmente observador ou a doença de Elsie se tornara tão óbvia para um olho destreinado? Tinha piorado sem que Charlie notasse porque ela via a irmã o tempo todo e não percebia pequenas mudanças?
— De que maneira ela respira? — Charlie perguntou para que ela pudesse saber se o que ele viu era igual ao que ela via. Ou pior.
— Ela levanta os ombros para respirar fundo.
Ela assentiu.
— Você é observador.
Ele balançou sua cabeça.
— Não sou observador o suficiente ou eu saberia da gravidade de sua condição e poderia ter ajudado mais cedo.
Ajudado? Ela ouviu direito? Ele poderia ajudar? Seria este outro artifício para conquistá-la? Parecia muito providencial que Patrick Campbell fosse o homem que salvaria Elsie... que salvaria as duas.
— Como você sabe sobre esta doença o suficiente para ajudar Elsie? — Ela perguntou em dúvida. Afinal, ele não era médico.
— Seus sintomas parecem semelhantes a uma doença da qual minha mãe sofre. Felizmente, ela está quase curada, mas os invernos nas montanhas podem ser difíceis.
Charlie não podia mais permanecer em seu assento. Ela saltou e procurou em seu olhar a verdade.
— Você disse que ela está curada? De asma? Você disse que os invernos são difíceis. A condição da sua mãe piora nos meses mais frios, fazendo-a chiar?
— Sim.
Ele poderia realmente ajudar ou ela estava sonhando? Seria a mesma condição? Talvez a condição de sua mãe não fosse tão grave quanto a de Elsie.
— Sua mãe já teve crises até você temer que ela se transformasse em cinzas diante de seus olhos?
Seu olhar sobre ela era quente e suave, como uma carícia gentil.
— Ouvi histórias sobre eu quase perdê-la, mas foi há muitos anos. Agora, ela respira sem problemas por três estações inteiras do ano. A última vez que ela foi colocada na cama, eu tinha doze anos.
Charlie queria jogar os braços em volta do pescoço dele. Ela queria rir e chorar ao mesmo tempo. Havia esperança! Esperança real para a boa saúde de Elsie! Ela tinha jurado encontrar uma cura, mas ficou difícil acreditar que havia uma com todos os remédios que eles tentaram falhando. Mas se a mãe de Patrick sofria da mesma doença... e estava bem agora...
— Qual é a cura?
Seu coração batia tão forte que ela se sentiu um pouco tonta. Ela procurou por tanto tempo. Ela estava realmente prestes a obter a resposta certa?
— Existem várias maneiras de aliviar sua respiração. — Ele disse a ela, levando os dedos ao rosto dela enquanto uma lágrima caía. — Mas a principal fonte de alívio é o chá dela.
— Chá? — Seu coração afundou um pouco. Que tipo de chá pode curar a asma?
— Sim, chá de butterbur15. — Ele respondeu tão simplesmente como se estivesse falando sobre o tempo e não respondendo suas orações. — É uma planta que cresce em certas regiões entre Ayrshire e Dumfries. Uma dessas regiões não fica longe daqui.
Era só isso? Chá de uma única planta? Não era uma mistura de pós e elixires com um alto preço associado? Era realmente tão simples? Patrick Campbell acabara de lhe dar o que ela orou para encontrar durante toda a sua vida? Ela sorriu e então fez o que queria fazer e se jogou em seus braços.
Capítulo 18
Seus braços se fecharam ao redor dela e ela quase suspirou em voz alta com o prazer disso. Não houve sedução em seu abraço, apenas conforto, tornando-o ainda mais sensual, cativante e capturando-a em um turbilhão de emoções que ela nunca sentiu por ninguém, nem mesmo Kendrick.
Mas agora não era hora de ter medo, não com ele.
— Que região próxima cresce este butterbur? — Duff, que ela havia esquecido completamente, interrompeu.
Os braços de Patrick caíram quando ela abriu os olhos para o irmão. Ela o esfaqueou com um olhar penetrante antes de voltar seu olhar para Patrick. Era porque ela estava estudando cada nuance de sua beleza libertina que ela notou a hesitação sombreando seus olhos. O que ele resistia em dizer a eles?
— Onde ela cresce? — Ela perguntou, precisando que ele dissesse, sem reter nada para o pagamento.
— O mais próximo é em Colmonell. — Ele parou novamente e desviou o olhar por um breve momento antes de fixar seu olhar apreensivo de volta nela. — Seria melhor se eu viajasse sozinho para colher a planta. Seria muito perigoso para qualquer um de vocês ir.
— Não para mim. — Duff assegurou-lhe imediatamente com um sutil movimento de seus ombros puxando para trás.
Charlie queria declarar o mesmo, mas seria melhor se seu irmão não conhecesse todos os seus segredos.
— Não. — Patrick insistiu. — Eu irei sozinho.
— Por quê? — Duff pressionou, levantando-se. — Onde é que é tão perigoso?
Patrick encontrou seu olhar direto, parecendo determinado a desafiar a ponta de trepidação que ainda escurecia suas feições.
— A oeste de Tarrick Hall.
— A terra dos Fergussons? — Duff perguntou, parecendo tão atordoado quanto parecia.
— Sim.
— Como você sabe disso? — Duff perguntou, parecendo muito com seu pai quando o questionou. — O que mais você sabe sobre os Fergussons?
— Não muito além de que você está guerreando com eles. Você se importaria de me dizer por quê?
— Não. — Duff resmungou e começou a se virar. — Mas você está correto. Seria perigoso ir. Eu provavelmente mataria todos eles.
Charlie olhou para seu irmão. Ela sabia que Duff odiava os Fergusson tanto quanto seu pai. Mas matar todos eles? E se seus parentes, os MacGregors, descessem das colinas para se vingar?
Não foi isso que sua família sempre tentava evitar, desde o primeiro MacGregor, Tristan, conforme citado nas histórias que ela ouvira quando criança, havia ameaçado os irmãos de seu pai com retaliação depois que seus tios invadiram uma propriedade Fergusson?
Duff era realmente tão tolo?
Todos os traços de sua natureza gentil e habitual desapareceram da expressão de Patrick na declaração de Duff. Ele não fez nada para esconder desta vez enquanto colocava a mão no ombro de Duff, impedindo seu irmão de se levantar da cadeira.
— E ser enforcado por assassinato? — Ele perguntou. — Como você protegeria sua irmã dos perigos fora da Cunningham House e depois disso? Você não me parece o tipo de homem que se precipita em uma batalha que não pode vencer.
Charlie deu um suspiro de alívio porque finalmente Duff tinha um homem com algum bom senso para conversar.
Seu irmão riu, mas parecia tão melancólico como sempre. Ele se arrependia do que fez com Kendrick? Era seu arrependimento e vergonha a punição com a qual ele convivia por cinco anos? Fazia alguma diferença? Que tipo de homem, jovem ou velho, poderia tirar a vida de um garoto que mal tinha dezesseis anos?
— Ah, mas penso primeiro, Campbell. — Disse Duff. — É por isso que os Fergussons ainda respiram. — Ele pediu outra caneca de whiskie antes de se acomodar novamente em sua cadeira.
— Diga-me. — Disse Patrick, puxando uma cadeira e sentando-se entre ela e Duff. — O que eles fizeram para...
— Você tinha que voltar aqui, Highlander!
Maldição, era Hamish, escoltado por dois de seus amigos.
Charlie balançou a cabeça para ele. Trazer amigos para uma luta provava que ele não estava confiante em uma vitória sem ajuda.
— Você está sem coragem, Hamish. — Ela atacou enquanto Patrick se levantava da cadeira. Podia sentir seus olhos sobre ela como marcas quentes, mas seu olhar permaneceu fixo em Hamish e seus amigos.
— Fique fora disso, Charlie. — Hamish rosnou para ela. — A menos que você esteja aqui com ele na esperança de ser sua próxima conquista. Talvez, — Ele disse, seu olhar movendo-se para Duff. — Você esteja querendo os dois.
Patrick se moveu em um borrão de velocidade. Num momento ele estava parado perto dela e no próximo, ele estava arrancando uma perna da cadeira mais próxima com o salto da bota, e então se movendo na direção de Hamish com ela.
Ele não hesitou ou parou para dizer uma palavra. Ele caminhava com um propósito e, quando alcançou o gigante, balançou a perna de madeira com tanta força que Charlie não teve certeza se foi a madeira ou as costelas de Hamish que estalaram. Ela percebeu que foi as costelas quando o gigante agarrou seu lado e caiu de joelhos.
Patrick não terminou com ele, mas Charlie não teve tempo para ver mais quando um dos amigos de Hamish veio por ela.
Patrick jogou a madeira de lado, fincou os pés no chão e bateu com o punho na mandíbula de Hamish. Ele observou o bruto cair e ignorou a dor de sua mão. Tinha que ser rápido, do contrário Hamish poderia lhe arrancar um dente desta vez. Além disso, o aldeão musculoso teve a sorte de ainda estar respirando depois do insulto que causou a Charlie. Patrick poderia não viver de acordo com os ideais de Camlochlin, mas eles estavam dentro dele, arraigados nele e eram ideais corretos. Sim. Que tipo de homem ficaria de braços cruzados enquanto uma moça, e alguém que ele estava pensando em cortejar, era tão desprezada? Ele não ficaria.
Onde estavam os outros dois bastardos? Ele se virou para procurá-los e viu o punho de Duff voar chocando em carne e osso, e então, novamente, até que seu oponente desabasse a seus pés.
Patrick sorriu e olhou em volta em busca do terceiro homem.
Para seu horror, Patrick o encontrou lutando contra Charlie! Na verdade, não era bem uma luta. O canalha se lançou contra ela. Ela se abaixou e bateu com o joelho em sua virilha. Ele desabou instantaneamente e enquanto ele estava caindo, ela juntou as duas mãos e balançou... muito parecido com a forma como ele lançou a perna da cadeira em Hamish. A cabeça do homem estalou para trás e ele tropeçou o resto do caminho até o chão.
Ela ergueu os olhos da luta para ver Patrick a observando. Ele queria sorrir, correr para ela e tomá-la nos braços. Mulheres que sabiam lutar não eram novidade para Patrick. Suas primas sempre foram aceitas para praticar com os rapazes. Sua prima Caitrina era uma pirata, pelo amor de Deus! Ele nunca ergueu o nariz para as mulheres guerreiras. Nenhum homem em Camlochlin o fazia.
— Não acho que devamos ficar aqui. — Disse ela, arrastando-o de volta ao presente.
— Sim. — Ele concordou. Ela estava certa. — Venha, vamos embora.
Eles deixaram o Blind Jack's com pressa e foram até os cavalos.
— O que foi aquilo? — Duff perguntou a ele. — Quem era aquele homem?
Alcançando suas rédeas, Charlie balançou a cabeça e disse acidamente.
— Honestamente, Duff, você quer me dizer que não vê mais ninguém nas vezes que está me espionando?
— Não estou aqui para fazer conhecidos.
Sua irmã lançou-lhe um olhar de desaprovação e subiu na sela.
— O nome dele é Hamish. Ele é um aldeão de Pinmore que ama uma moça chamada Bethany. Uma moça que Patrick levou para um quarto.
— Onde nada aconteceu. — Se defendeu Patrick.
— Como você sabe sobre ele levar alguém para o quarto? — Duff perguntou a ela, o horror surgindo nele. — Você esteve aqui recentemente. Sem mim. Você colocou algo na minha bebida.
— Eu não tive escolha. — Ela confessou.
Então, Patrick pensou, dando à conversa metade de sua atenção e chegando à sua própria conclusão, ela o reconheceu todo esse tempo e não disse nada.
— Eu não queria Bethany. — Disse ele, sentindo a necessidade de explicar a ambos. — Eu nem sabia o nome dela até... agora.
Inferno, ele ponderou a verdade disso. Ele era tão ruim quanto Will, talvez pior. Talvez ele também tivesse filhos espalhados por toda a Escócia. A ideia o fez sentir-se mal. Crianças passando a vida sem ele. Assim como Duff.
— Bem, você precisará pôr fim a tal comportamento se quiser cortejar minha irmã, Campbell.
Charlie olhou para eles de sua sela.
— Cortejar-me? — Ela fixou seu olhar escuro sobre Patrick. — Você quer me cortejar?
Patrick olhou para Duff. Agora o que ele deveria dizer? Ele nunca cortejou uma moça antes. Inferno, ele não sabia como fazer isso. Ele não sabia se queria agora.
— Bem, eu...
— Você despertou o interesse dele, Charlotte. — Duff forneceu uma resposta.
— Oh, eu despertei? — Ela ergueu a sobrancelha para Patrick enquanto ele montava.
Era seguir com isso ou socar Duff no rosto. Patrick tinha lutado o suficiente por uma noite. Ele olhou para Charlie em vez disso, tendo uma bela visão dela. Lembrando-se da maneira como derrubou seu agressor, a razão pela qual ela estava aqui, a razão pela qual esteve aqui antes, e provavelmente por outras tavernas além desta, colocando-se em perigo. Por sua irmã. Sempre pelos outros. O que ela fazia por si mesma? O que fazia ela feliz?
— Diga-me, moça. — Ele disse, soando para seus próprios ouvidos perdido e doentio. — Você está realmente surpresa por despertar meu interesse? O interesse de algum homem para esse assunto?
Ela sorriu e seus músculos ficaram duros.
— Você maneja sua língua tão bem quanto seus punhos.
Ele balançou a cabeça.
— Não, acho que minha língua tem uma mente própria quando se trata de você.
Duff pigarreou.
— A minha não. — Ele voltou seu olhar de aço para sua irmã. — Vamos falar sobre suas habilidades de luta e onde você as aprendeu quando eu tiver a chance de considerar o que isso significa.
— Significa que posso cuidar de mim mesma, Duff. — Ela disse rigidamente, seu sorriso desaparecendo.
O silêncio se espalhou sobre eles enquanto cavalgavam para casa. Patrick ouviu o som estrondoso disso, mais alto do que qualquer desacordo. Duff parecia realmente tentar ganhar o favor de sua irmã, quase caindo de joelhos e implorando perdão por tudo o que ele tinha feito. A raiva de Charlie por ele era evidente em seus olhos, e em seu tom. Mas ela não o odiava. Ela permanecia leal ao segredo dele e nunca o equiparou a Hendry.
Mas a brecha entre eles era grande. O que Duff fez para causar isso?
— Quando você vai pegar o butterbur? — Ela perguntou, virando-se para ele e deixando Patrick grato por estar o apreciando. Ele nunca quis ver desdém em seus olhos quando ela o olhava. Inferno, ele se sentia febril quando olhava nos olhos dela.
O que ela fez com ele? O que ele iria fazer sobre isso?
— Amanhã. — Ele lhe disse.
Ela sorriu e ele temeu que não pudesse fazer muito.
Ele estava feliz por poder ajudar Elsie e, para falar a verdade, gostava de poder dar a Charlie algo tão importante. Ele esperava que assim que ela tivesse o que sua irmã precisava, parasse de visitar tabernas na calada da noite, mas suspeitava que ela não iria. Se outra necessidade surgisse, ela faria o que pudesse para cuidar disso. Ele olhou para ela cavalgando um pouco à frente. Como ela carregava tanto peso em seus ombros delicados? Ele a teria livre de tudo isso. Ele começaria com seu irmão. O que quer que Duff tenha feito, não poderia ter sido tão terrível a ponto de carregar o fardo de tanta raiva. Eles voltaram para Cunningham House e caminharam até o estábulo.
— Posso conversar a sós com sua irmã, Duff? — Duff parecia prestes a recusar, mas seus olhos pousaram nela. Devia estar claro para Duff que sua irmã gostava de Patrick. Ele lhe contou sobre butterbur, embora não tivesse ideia de que ela estava procurando por uma cura. Ela ofereceu a ele seus sorrisos, mais do que o pobre Duff poderia arrancar dela. Ele esperava que seu primo se lembrasse de suas palavras e lhe concedesse um tempo a sós com Charlie.
— Muito bem. — Duff resmungou. — Vou escovar os cavalos. Você tem até que eu termine e a leve para dentro.
Patrick sorriu para ele. Eles se dariam bem em Camlochlin.
— Vá. — Duff ordenou. — Antes que eu mude de ideia.
Patrick pegou a mão de Charlie e a conduziu para fora do estábulo.
— Como você fez isso? — Charlie perguntou quando eles estavam sozinhos.
— O quê? — Ele gostava de segurar a mão dela. Ele nunca tinha feito isso antes com qualquer garota. Ele nunca quis andar, falar e se contentar em simplesmente olhar para qualquer outra garota antes.
— Como você conseguiu que ele concordasse com isso? — Ela perguntou, movendo o dedo entre eles.
Como ele deveria responder? Com a verdade, por pior que parecesse?
— Eu perguntei a ele se podia passar um tempo sozinho com você para decidir se a quero como esposa.
Ele pensou que ela ficaria com raiva, mas ela jogou a cabeça para trás e riu.
— E ele acreditou em você?
Patrick queria rir com ela, mas de repente sentiu-se febril de novo. O que ela achava tão engraçado sobre ele querer... possivelmente se casar com ela? Ela não via nada além de um libertino quando olhava para ele? Por que a reação dela o fisgou nas entranhas? Ele não deixava as mulheres afetá-lo dessa forma. Ele estava se tornando outra pessoa por causa dela... o defensor de uma garotinha, um campeão dos pobres e doentes. Gostava de quem via agora, nem mais nem menos de quem o vira antes. Porém, este homem o preocupava. Pois ele não achava mais os ideais de Camlochlin empoeirados, mas brilhante no coração de uma moça. Nela, esses ideais adquiriram vida plena e radiante, atraindo-o, acenando-o para seguir com ela em seu caminho.
Até que ponto ele iria para conquistá-la? O que ele faria depois de conseguir? Ele certamente ponderaria essas questões, mas não agora.
— Não tema. — Ele a tranquilizou, seu sorriso brincalhão voltando. — Eu não estou aqui por uma esposa.
— Pena. — Ela suspirou e se aproximou dele enquanto caminhavam, sacudindo seus bons sentidos quando seu braço roçou o dele. — Acho que você e Eleanor Kennedy formariam um belo par.
Seus lábios se alargaram em um sorriso cheio de covinhas quando ele inclinou a cabeça para ela.
— Você me acha bonito então?
Ela deu de ombros e se separou dele, saltando para trás como uma égua brincalhona.
— Já vi coisas piores.
Ele não a perseguiu, mas continuou em direção à casa, confiante de que ela gostava do que via.
— Mas eu sou bonito o suficiente para Eleanor? Mary disse que ela é muito bonita. Talvez eu deva visitá-la.
O sorriso de Charlie ficou rígido e ela o encarou com um olhar furioso, todos os traços de leveza se foram.
— Você é livre para fazer o que quiser.
Ela estava com ciúmes. Isso o encantou.
Estendendo a mão, ele agarrou a dela e puxou-a com ele para o lado da entrada da cozinha. Escondida do estábulo... e de qualquer pessoa possivelmente olhando de lá, Patrick a puxou para perto dele. Ele enrolou um braço em volta de sua cintura esguia e traçou o contorno de seu pescoço elegante com a outra mão.
— Então eu acho, — ele sussurrou, mergulhando a cabeça em sua garganta, — que vou ficar aqui com você.
Sua boca pairou sobre a pulsação rápida em seu pescoço. Ele a beijou e ela estremeceu em seus braços. Ou talvez fosse seu corpo que tremia de desejo por ela. Ele encontrou os lábios dela, ansioso pelos seus, e colocando a mão em volta de sua nuca, inclinou sua cabeça para que pudesse tomar sua boca mais completamente. Ele engoliu seu suspiro e varreu seus medos e dúvidas com um golpe de sua língua.
Ela enrolou os braços em volta do seu pescoço e correu os dedos pelos seus cabelos, respondendo à demanda de prazer com um gemido apertado e uma mudança em seu corpo que o fez ficar com o pau duro.
Um som à sua esquerda alcançou seu ouvido e ele se retirou, esperando ver Duff.
Um lampejo de cabelo dourado provou que não foi o irmão de Charlie que os viu, mas sua irmã.
— Elsie?
— Elsie! — Charlie gritou, libertando-se do abraço de Patrick. — O que diabos você está fazendo aqui à noite! Você vai pegar...
— É bom ver você, Sr. Campbell. — Elsie olhou por cima do ombro e ofereceu a Patrick um sorriso agradável.
— Elsie. — Respondeu ele com um sorriso amigável.
— Charlie. — Sua irmã piscou para ela. — Eu não direi a papai se você não contar.
O queixo de Charlie caiu.
— O que eu não devo dizer a ele? — Ela olhou em volta, notando pela primeira vez a direção de onde sua irmã estava vindo. — Você estava na aldeia? — Ela perguntou, atordoada. — Você estava com alguém?
— Charlie, — respondeu a irmã, contornando-a, — pergunto quem você conhece quando desaparece à noite?
— Você sabe perfeitamente onde eu estava. Você disse a Duff! — Charlie se defendeu. — Que, aliás, está apenas dentro do estábulo e vai chegar a qualquer momento.
— Isso não impediu vocês dois de compartilharem um momento de paixão. — Elsie apontou com um sorriso suave. — Você vai se casar com o Sr. Campbell, Charlie?
— O quê? Não, eu... nós...
— Ficamos presos em um abraço dos mais apaixonados. — Elsie terminou por ela. — Se beijando.
— Não significou nada!
— Sr. Campbell. — Elsie ergueu seus olhos azuis brilhantes para ele. — Isso não significou nada para você, também?
Ela foi inteligente em desviar o assunto de si mesma. Se fosse dia, ele teria sorrido e jogado junto. O que havia de errado em uma garota fugir para encontrar seu amado para um beijo? Mas era noite e as duas deveriam estar em casa.
— Eu gostei. — Ele admitiu. — Mas sua irmã está certa em se preocupar. Você deveria ter uma escolta.
— Talvez. — Elsie respondeu com uma curva astuta de seus lábios. — E talvez Charlie devesse ter uma escolta também.
Sim, talvez ela devesse, Patrick concordou silenciosamente. Ele com certeza não era confiável para manter sua boca ou as mãos, longe dela. Mesmo agora, tudo em que ele conseguia pensar era no beijo docemente lascivo, no gosto de seu hálito, em sua língua ousada e curiosa. Ela o deixava louco de desejo e ele não tinha certeza de quanto tempo mais poderia controlar-se.
— Elsie. — Charlie disse agora, moderando sua reação com um tom firme. — Você sabe quem eu estava beijando, agora vai me dizer com quem você estava.
Quando Elsie tossiu em seu punho, Charlie empalideceu na penumbra.
— Você não está bem?
— Estou bem, irmã. — Elsie assegurou-lhe suavemente.
Não havia nada de gentil na voz de Charlie quando ela perguntou:
— Quem você estava encontrando? E se você tivesse ficado doente sob os cuidados dele?
— Na verdade, estou bem e você não o conhece. — Disse Elsie, baixando o olhar para as botas. Patrick reconheceu a mentira que ela tentava esconder. Ele olhou para Charlie, curioso se ela também viu. — Podemos voltar para a casa para que Duff não me veja? Se ele souber que estou escapando quando te segue, iria...
Charlie parecia horrorizado.
— Esta não é a primeira vez? É por isso que você contou a Duff sobre eu estar procurando sua cura? Para que ele não estivesse aqui para ver você fugindo?
— Não fique com raiva, Charlie. — Disse Elsie sem fôlego. Um ruído soou do estábulo. Ela olhou nervosamente para ele, então se virou para voltar para a casa. — Não diga a Duff, eu imploro.
Com as mãos nos quadris, Charlie observou sua irmã ir embora e então se virou para Patrick com uma descrença atordoada.
— Eu não acredito. Ela está fugindo!
Patrick sorriu para ela. Droga, ele não pôde evitar, apesar de sua fúria. Ela era absolutamente linda aos olhos dele, pobre de sua alma. Se ele nunca mais beijasse outra moça, ele ficaria satisfeito em se lembrar deste pelo resto de seus dias. Mas ele queria fazer mais do que se lembrar dela. Ele queria beijá-la novamente.
Ele acenou com a cabeça, fazendo o seu melhor para não sorrir da natureza super protetora dela em relação à irmã. Por um instante, ele se sentiu como se fossem pais de uma criança desobediente. Ele gostou da sensação.
— Ela não é uma criança, moça. — Ele disse suavemente, querendo aliviar sua apreensão.
— Mas tenho que cuidar dela. — Disse ela.
Patrick ficou quieto enquanto ela se afastava. Ela assumiu todas as responsabilidades sozinha, tão diferente dele, que fugia disso. Ele queria fugir agora que pensava em tudo, mas queria confortá-la muito mais.
Ele a alcançou com duas passadas largas e segurou a mão dela.
— Ela ficará bem, moça. Eu cuidarei disso pela manhã.
Capítulo 19
Patrick chegou a Colmonell no dia seguinte.
Ele cavalgou em direção à linha de árvores que separava a floresta esparsa da borda Oeste da grande fazenda dos Fergussons.
E se eles não cultivassem mais butterbur? Sua mãe não precisava disso há anos. Não, tinha que estar aqui. Sua lembrança estava correta e esta era a área onde a planta havia crescido anteriormente? Ele sabia como era a aparência do butterbur. Grandes folhas brancas, às vezes com um metro de diâmetro, em forma de coração com bordas recortadas no topo dos altos caules carnudos. Elas não devem ser muito difíceis de encontrar.
Seus pensamentos o trouxeram de volta, como fizeram durante toda a manhã, à noite anterior e ao beijo de Charlie. Patrick não queria deixá-la ir de seus braços. Seus lábios, tão suaves e docemente flexíveis, o deixavam louco. Ele a queria. Ele queria levá-la para casa ou ficar aqui com ela... ele não se importava com isso.
Mas o amanhecer frio trouxe consigo dúvidas. Ele queria prometer coisas que não tinha certeza se poderia dar a ela? Ele queria mudar sua vida tão drasticamente? Ele queria uma esposa? Ser marido era o mais alto dos deveres e, como aprendera ao longo da vida com seus parentes, o mais difícil.
Mas, inferno, ele estava pronto para uma luta difícil. Ele não tinha uma em muito tempo.
Mas ela queria outra coisa? Alguém?
Ela ainda amava qualquer um de seus primos que lhe dera a funda? Quem foi? E que tipo de idiota ele era por deixá-la? Patrick poderia cavalgar até Tarrick Hall e descobrir. Mas ele prometeu a Charlie que se apressaria depois que Elsie acordasse esta manhã com uma respiração difícil. Ele também não sabia como diria a seus tios, que não via há uma década... que estava se apaixonando pela filha de seu inimigo. A mesma moça por quem um de seus filhos se apaixonou. Inferno, ele mal conseguia admitir para si mesmo. E se seu primo, que a ensinou a usar uma funda, ainda amasse Charlie e ficasse longe para acabar com a rivalidade?
Era heroico ou covarde? Patrick teria que lutar com ele?
— Por que eu deveria? — Ele perguntou a si mesmo, movendo-se por um caminho desgastado em direção a grupos de plantas de caule altos que ele acreditava ser butterbur.
O que mais Patrick faria sobre perdê-la permanentemente? Ele realmente ponderaria sobre uma vida de precisar dela... e não ser capaz de tê-la porque ela pertencia a seu primo? Ele ponderou agora. Não seria agradável, com certeza. Como ele poderia parar os efeitos que seu sorriso, seu espírito tinha sobre ele?
Patrick avistou as folhas e deu um suspiro de alívio. Ele não perdeu tempo, reunindo o que precisava e empacotando tudo. Ele ficou surpreso por nenhum de seus tios estar patrulhando as fazendas... e ainda mais surpreso por não ter sido atingido na cabeça por uma pedra da funda de alguém.
Como estavam seus tios? O que aconteceu entre eles e os Cunninghams que fez Duff odiá-los? Ele faria questão de descobrir o porquê quando voltasse para Pinwherry. E então ele voltaria para visitar seus parentes.
Montando sua montaria, ele olhou para Tarrick Hall. Havia sido concluída na última visita que ele fez e MacGregors e Grants estiveram por toda parte. Agora, o Salão, completo com janelas de treliça de chumbo e chifre de animal, parecia uma forte fortaleza aninhada entre as colinas forradas de flores.
Estava silencioso.
Muito quieto.
O cabelo na nuca de Patrick estava ereto. Ele não estava sozinho. Ele olhou em volta e ergueu as mãos em sinal de rendição.
— Quem é você e o que está fazendo na minha terra? — Um homem gritou, aparecendo de um grupo restrito de árvores a poucos passos de distância.
Era seu tio Tamas... e um tiro de pedra era tudo que ele precisava para derrubar Patrick de traseiro no chão. Seu rosto e cabelo ruivo não haviam mudado. Nem a funda na mão. Considerado um dos filhos mais destemidos, desafiadores e diabólicos que os Fergussons já teve, Tamas fora criado em Camlochlin em uma tentativa da mãe de Patrick de incutir alguns modos nele.
Patrick fizera sua primeira incursão de gado em Sleat quando tinha sete anos, graças a Tamas tê-lo levado junto. Seu tio havia lutado para se livrar de muitos confrontos. Patrick tinha estado lá para testemunhar muitos deles.
— Sou eu, tio, Patrick MacGregor, filho de sua irmã, Isobel, e do marido dela, Tristan. Guarde sua funda, eu imploro.
— Patrick? O Pequeno Patrick? — Seu tio correu em sua direção e parou quando ele o alcançou para lhe dar uma boa olhada com olhos tão azuis quanto o céu. — Inferno, é você, rapaz. Você não é mais tão pequenino.
— Já faz muito tempo, tio. — Disse Patrick enquanto desmontava.
— Muito tempo. — Tamas concordou e se inclinou para oferecer ao sobrinho um abraço rápido e uma batida no ombro. — O que o traz aqui agora? É esse butterbur que você está pegando? É para Isobel? Minha irmã está doente?
— Nae, nae. — Patrick foi rápido em assegurar-lhe com uma mão no ombro de seu tio. — Minha mãe está com boa saúde. Isto é para... um amigo.
— Nada sério, espero.
— Não, eu...
— Bom, então venha cumprimentar seus tios. — Tamas lançou o braço em volta dele. — Cam acaba de voltar de uma visita ao seu tio Alex em Ballantrae. Nem ele nem John me deixariam em paz se eu deixasse você escapar sem cumprimentá-los. Você é filho de Isobel. Eles vão querer ver você, rapaz.
Ele queria vê-los também, mas não ficaria muito tempo. Ele não fazia promessas, mas as fizera a Charlie.
Isso era uma razão boa o suficiente para recusar um tempo com seus parentes e envergonhar seu pai?
Confrontado com a difícil tarefa de fazer a coisa certa, ele apreciou plenamente a força que seu pai tomou para viver de acordo com seus ideais. Ele também reconheceu que nenhum homem vivo significava mais para ele do que Tristan MacGregor. Ele educou bem seus filhos. Luke e Mailie eram prova disso. Violet, a mais jovem, tinha um lado rebelde, como ele. Patrick falaria com ela quando voltasse para casa. A resistência era inútil. Os ensinamentos, guiados pelo exemplo de seu pai, seus parentes, foram plantados no fundo de seus corações e, mais cedo ou mais tarde, o coração assume o controle.
Não que ele nunca quisesse imitar seu pai. Ele queria, mas estava com medo de falhar.
— Claro, tio. Desejo conhecer seus filhos também.
Tamas deu-lhe um golpe forte no ombro para mostrar sua satisfação e gritou para o outro lado do campo.
— Aidan! Vá buscar seus tios!
Aidan era muito jovem para ser aquele que dera a funda a Charlie. Aos treze anos, ele era um rapaz magricela de ossatura e cabelos cor de abóbora, sem os fios de cabelo mais compridos do que penugem no rosto.
Patrick observou o garoto correr para cumprir as ordens do pai e seguiu Tamas até a casa. Ele queria conhecer essa parte de sua família e percebeu, depois de conhecer os Cunninghams, que havia muito que ele não sabia.
Os próximos dois rapazes a deixarem o grande salão eram alguns anos mais velhos do que Patrick. Ele sorriu e cumprimentou os filhos de seu tio Cameron, Tam e Shaw. Ele se lembrava de brincar com eles quando crianças, mas nada depois disso.
Shaw, o mais jovem dos dois, olhou para ele, seus olhos demorando-se no cabelo de Patrick, a mesma cor de cobre que o dele.
— A gente se conhece? — Ele finalmente perguntou.
Como diabos Patrick poderia saber disso? Ele conheceu mais pessoas do que ele poderia contar. Antes que ele pudesse arriscar uma resposta, um homem saindo da casa gritou.
— É verdade?
Patrick se virou para sorrir para ele. Ele era mais alto do que Tamas e alguns anos mais velho. Seu cabelo tinha escurecido ao longo dos anos para um castanho dourado escuro, mas seus olhos, quando eles pegaram a cor do cabelo de Patrick, eram tão grandes e perceptivos quanto Patrick se lembrava.
— É bom ver você de novo, tio John.
— Sim. — Seu tio o puxou para um forte abraço. — Você é filho de Bel. Como está minha irmã? — Disse ele, afastando-se, mas mantendo as mãos nos ombros de Patrick. — Ela deu a seu pai mais filhos?
— Violet continua sendo a última. — Disse Patrick. — Eu sei por suas cartas para minha mãe que você tem cinco filhas.
Eles falaram de suas famílias enquanto entravam na casa. Patrick conheceu mais três de suas primas, Donella, Eithne e Izzy, duas das filhas de John e uma de Cameron.
Eles o sentaram à mesa principal e serviram-lhe comida e um bom whiskie. Logo, suas tias, Annie e Eleanor, juntaram-se a eles, a última recebendo um beijo de seu marido, John, antes de se sentar.
— Cameron deve chegar a qualquer momento. — Annie os informou. — Ele ainda não voltou de ver o novo telhado de Roddy Fergusson. Você sabe como ele gosta de se manter ocupado.
Patrick olhou ao redor da mesa para seus tios, que por um momento deixaram o silêncio reinar. Eram homens que sua mãe criou e cuidou depois que os MacGregors mataram seu pai e os tornaram órfãos. Ela os adorava e falava deles com frequência.
— O que o tio Patrick está fazendo hoje em dia? — Patrick perguntou a seu homônimo. Ele gostaria de levar notícias para sua mãe. Ele sentia saudades dela. Ele sentia falta de todos eles. Graças a Charlie. — E como estão Lachlan e Alex?
— Patrick ainda mora na fazenda de nossa família. — Disse John, chamando a atenção novamente. — Ele é marido e pai de oito filhos.
— Oito! — Patrick riu e ergueu sua caneca. — Por fazer tantas crianças então.
Ele não sabia por que Charlie surgiu em sua mente naquele momento, ou por que a ideia de ter oito filhos com ela não era totalmente desagradável.
— Lachlan mora em Girvan. — Tamas disse. — Nós o vemos de vez em quando. Na verdade, ele deve chegar aqui em uma semana ou mais.
Patrick fez uma nota mental para voltar para vê-lo.
— Alex ainda mora em Bran...
Todos ouviram a porta de entrada se abrir e os passos que se seguiram. Um homem entrou no salão, mas Patrick não o reconheceu imediatamente. Ele era alto e robusto, vestido com calças e um casaco. Seu cabelo ruivo estava raiado de cinza, seus olhos verdes opacos e sombreados pelo peso de sua vida.
— Cam. — John se levantou e pediu a Patrick que ficasse ao lado dele. — É Patrick MacGregor, filho de Bel.
Era seu tio Cameron. Patrick mal podia acreditar o quanto ele havia envelhecido. Ele carregara os fardos de todos os aldeões em seus ombros? Patrick tinha visto o que o mesmo peso custou a Rob, o chefe do clã MacGregor. Ele não queria ver Charlie carregando o mesmo fardo.
— Patrick. — Cameron cumprimentou com um sorriso caloroso, juntando-se a eles. — O que te traz aqui. Como está a sua mãe?
— Ela está bem. — Garantiu-lhe ele, depois explicou que tinha vindo buscar butterbur para um amigo e se encontrou com Tamas.
Eles beberam juntos e compartilharam histórias sobre a mãe de Patrick. Seus tios amavam muito sua única irmã e gostavam de ouvir sobre sua vida com Tristan. Uma hora passou rapidamente e Patrick pensou em ir embora.
Mas havia um primo que ele se lembrava e que ainda não conhecia, um rapaz um ou dois anos mais novo que ele.
Ele se virou para Cameron sentado ao lado dele.
— Seu filho Kendrick vai se juntar a nós?
O salão ficou em silêncio. As filhas de seus tios pediram licença e se retiraram da mesa. Suas esposas as seguiram logo em seguida, arrastando Aidan com eles.
O que diabos ele disse? Teria acontecido alguma tragédia ao filho mais novo de Cameron? Patrick fechou os olhos e rezou para não ter acabado de trazer lembranças do filho morto de um homem.
— Perdemos Kendrick há cinco anos. — A voz rouca de Cameron gelou o ar.
Nae.
— Perdoe- me. — Disse Patrick calmamente. — Eu não sabia. Você nunca escreveu para minha mãe sobre isso.
— Não havia razão para levar a ela notícias tão terríveis. — Explicou Cameron, seu tom superficial e vazio. Isso foi o que assombrou seu olhar. — Deixe que ela continue pensando que o sobrinho está vivo.
— Eu não direi nada se for...
Cinco anos atrás? A mãe de Charlie morreu há cinco anos? Allan Cunningham disse que sua esposa morreu de febre. Os dois tinham algo a ver um com o outro?
— Se você puder falar sobre isso. — Disse Patrick com temida hesitação. — O que aconteceu com ele?
— Os Cunninghams. — Respondeu Tamas, levando o coração de Patrick à ruína. — Eles o mataram.
Patrick teve vontade de pular de seu assento. Ele queria saber a história completa e, ao mesmo tempo, queria fugir da casa e nunca ouvir o resto. Os Cunninghams? Quais Cunninghams? Por quê? Por que eles matariam Kendrick? Ele era apenas um menino há cinco anos! Foi Duff? Charlie sabia?
— Por quê? — Ele deixou escapar. — Quem o tirou de você?
— Os filhos de Allan Cunningham. — Cameron disse a ele, engolindo o resto de seu whiskie e olhando para sua caneca vazia com os olhos enevoados. — Por ordem do pai deles. Eles o levaram e se desfizeram de seu corpo. Não sabemos aonde.
Nae. Patrick balançou a cabeça. Ele não podia estar ouvindo direito. Duff? Duff era seu primo! Primo de Kendrick! Eles deviam estar enganados. Mas... ele pensou passando os dedos pelos cabelos... Charlie sabia. Ela sabia o que seus irmãos tinham feito ao rapaz que a ensinou a usar a funda. O primo que ela amava. Kendrick era a razão do desprezo de Charlie por seus irmãos.
Inferno. Ele se sentiu mal. Isso era muito grande. Imperdoável demais para que a rivalidade acabasse.
— Houve testemunhas que viram Kendrick sendo levado pelos filhos de Cunningham. — John revelou como se pudesse ler os pensamentos ocultos de Patrick.
Testemunhas. Não havia dúvida então. Duff fez o impensável e matou o filho de um homem. Ele nunca deveria ter dito a ele que conhecia seu pai. Ele nunca diria a Will que eles se conheceram.
— Por que você não matou Allan Cunningham? Seus filhos? Quem foi o responsável? — Ele perguntou enquanto seu sangue fervia em suas veias.
— Eu queria. — Tamas respondeu, os nós dos dedos brancos enquanto ele segurava sua caneca. — O homem que ordenou a morte de Kendrick ainda vive.
— Eles deveriam morrer como Kendrick morreu. — Tam, o filho mais velho de Cameron falou. — Sozinho, em um túmulo não marcado.
Patrick fechou os olhos e rezou para que não ficasse pior do que já estava.
— Há moças envolvidas. — Shaw lembrou a eles. — Mesmo que não haja intenção, elas podem ser feridas ou mortas. Nada disso vai devolver nosso irmão para nós.
— Não, não vai. — O irmão de Shaw concordou. — Mas trará algum...
Cameron ergueu a palma da mão e fixou o olhar zangado no filho.
— Não vou mais falar sobre isso. Já está resolvido há anos. Já fizemos o suficiente. Já tornei crianças órfãs uma vez. Eu não farei isso novamente.
Patrick sabia do que seu tio estava falando. Traços de culpa que consumiram Cameron quando menino ainda envolviam sua voz. Ele era apenas uma criança quando atirou sua flecha em uma noite e matou o duque de Argyll, Robert Campbell, amado irmão do diabo MacGregor por lei, e trouxe a ira do chefe Highland para todo o seu clã. Archie Fergusson assumiu a culpa por matar Lorde Campbell e sofreu as consequências por isso.
O pai de Cameron foi morto diante de seus olhos por causa do que ele tinha feito.
Seria difícil para qualquer rapaz conviver com isso e o brilho sombrio dos olhos do tio sempre fora profundo.
Levando a caneca à boca, algo ocorreu a Patrick e ele fez uma pausa antes que a borda tocasse seus lábios. Seu tio disse que eles fizeram o suficiente?
O que eles fizeram? Por que Duff os odiava e os queria mortos?
— O que você fez? — Ele perguntou em uma voz tão baixa que foi convidado a repetir. — O que você fez aos Cunninghams?
Os olhos de Cameron eram grandes lagos de profundo pesar. Ele os abaixou para sua caneca e soltou um suspiro pesado.
— Eu matei Margaret Cunningham.
Capítulo 20
Já era noite quando Patrick deixou Tarrick Hall. Ele prometeu a seus parentes que voltaria em breve, mas não lhes disse nada sobre para onde estava indo. Ele não sabia por que ficou quieto. Ele deveria ter contado tudo a eles, incluindo quem era o pai de Duff. Ele deveria ter queimado o butterbur e ficado onde estava.
Por que ele estava voltando para Cunningham House? Seu tio Cameron não queria mais brigas. Não demoraria muito para ele lutar e matar Cunningham com seus dois filhos. Ele teria a bênção de seu tio Tamas se o fizesse. Ele poderia fazer isso sem machucar Charlie e Elsie. Mas como elas viveriam sem nenhum homem para protegê-los? Ele não se importava se Charlie soubesse como se defender contra um homem. E se os Dunbars ou homens como eles voltassem? Ele não poderia vingar Kendrick e deixar Charlie e sua irmã à mercê de selvagens. Outra razão pela qual ele não podia planejar matá-los era porque seu tio já vivia com muitos fardos. Patrick não queria ser a causa de outro.
Ele não voltava para matá-los, embora não pudesse prometer que não iria vencê-los até a morte deles. Ele estava voltando para obter respostas. Ele continuaria a ser Patrick Campbell até descobrir onde estava o corpo de Kendrick. Então ele iria buscá-lo e trazê-lo para casa, para seu pai, para um enterro adequado.
Ele voltaria porque Elsie precisava de butterbur, e pelos Wallaces e seus filhos pequeninos... e por Charlie.
Ele sabia que não poderia haver nada entre eles. Seus parentes aqui e em Skye nunca a aceitariam. Ele sabia que os MacGregor não eram averso em se casar com seus inimigos, mas nenhuma delas, jamais, foi irmã de um homem que matou um de seus filhos. Ele também sabia que Charlie nunca o perdoaria por enganá-la. Ainda assim, ele queria que ela soubesse a verdade sobre como sua mãe morreu e como o homem que a matou implorou seu perdão antes de matá-la. Talvez não fosse mais fácil de perdê-la, mas seu tio não era um monstro. Patrick diria a ela antes de partir, antes de dizer quem ele era e quem eram seus tios.
Ela o odiaria e ele suspeitava que sentiria sua falta, mas não havia nada a ser feito a respeito. Ele encontraria Kendrick e faria o que pudesse por Elsie e os Wallaces, e então iria embora e nunca mais pensaria em Charlie ou qualquer um deles novamente. Ele percebeu que não seria fácil e se culpou por ceder e se importar. Agora ele se lembrava por que havia evitado o fardo da responsabilidade.
Quando chegou à Cunningham House, estava se sentindo bastante infeliz. Ele não queria entrar. Ele não queria ver Duff. Ele estava com medo do que poderia fazer. Ele permaneceu na sela por muito tempo, dividido entre ficar e ir embora. Ele não sabia quanto tempo ficou sentado ali tentando decidir quando Charlie abriu a porta da frente e correu para ele.
— Onde você esteve, Patrick? — Perguntou ela, torcendo a saia nas mãos. Ela parecia quase sem sangue sob o luar pálido, seus olhos estavam arregalados e cheios de preocupação. — Você demorou demais.
— O que é isso? — Ele saltou de sua montaria. Ele esqueceu todo o resto quando olhou para a casa.
— É Elsie. — Ela respondeu com uma voz vazia. — A respiração dela piorou desde esta manhã. Ela ainda não me disse com quem se encontrou ontem à noite, mas eu só sei que está doente hoje por causa disso. Você pegou o butterbur?
Elsie estava pior. Se fosse tarde demais para ajudá-la, seria sua culpa. Ele sabia, sem dúvida, que o butterbur teria funcionado se ele o tivesse entregue antes.
Nae. Ele não permitiria que fosse tarde demais.
— Sim, está aqui. — Ele correu para mostrar a ela. — Volte para sua irmã. Eu vou cuidar das plantas.
— Duff está com ela. Eu quero ajudar.
Ele estendeu a mão para o saco. Ele não permitiria que o pensamento de Duff e o que ele tinha feito o distraísse agora.
Charlie o parou com a mão em seu braço.
— Isso vai ajudá-la? — Sua voz estava carregada de angústia e cansaço.
Ele não queria olhar para ela e ver a dor em seus olhos. Por que ele permaneceu em Tarrick Hall quando sabia que Elsie precisava da planta? Ele poderia ter se reunido com seus tios a qualquer momento depois que cuidasse de Elsie. Mas ele deixou que a lealdade ditasse, e pelo bem de Camlochlin, ele permaneceu e descobriu coisas que não queria que fossem verdade.
— Sim. — Disse ele, puxando o saco e jogando-o sobre o ombro. — Não tema.
— Você sabe como prepará-lo? — Ela perguntou seguindo-o para dentro de casa.
Ele rezou para se lembrar.
— Devemos limpar as raízes com água fria. Quando estiverem completamente secas, devemos deixá-las de molho por algumas horas.
— Quantas horas? — Ela puxou sua manga quando eles entraram na cozinha.
— Seis serão suficientes. — Ele jogou o saco na mesa de corte e o abriu.
— Mas seis horas até que ela possa ser ajudada? — Ela olhou para ele com olhos arregalados e aterrorizados. — Meus remédios não oferecem conforto a ela.
Inferno, deve haver algo. Ele pensou nos potes de sua mãe alinhados na parede da cozinha.
— Há alguma erva-estrela na cozinha?
— Não. — Ela mordeu o lábio.
Ele pensou um pouco mais sobre isso.
— Margaridas! — Ele deixou escapar.
— Porque elas?
— Elas não são tão fortes quanto o butterbur, mas vão ajudar até que o chá do butterbur esteja pronto.
— Margaridas? — Seus belos olhos se arregalaram junto com seu sorriso. — Elsie está com a tiara de margarida que dei a ela em nosso quarto!
Ela se virou para sair correndo, mas depois girou nos calcanhares e lançou os braços ao redor dele.
— Obrigada, Patrick.
Suas longas mechas soltas roçaram seus dedos quando ele esticou o braço em volta da cintura dela.
Deus o ajudasse, ele não queria deixá-la ir de seus braços. Eles não poderiam simplesmente fugir para algum lugar, longe de seus nomes, do dever e das responsabilidades? Ele era bom em fugir, mas e quanto a Elsie e Nonie? E o túmulo vazio de Kendrick? Ele não poderia fugir desta vez, mas teria que deixá-la ir.
Ela inclinou a cabeça para que ele pudesse sentir sua respiração em seu queixo, cheirando a especiarias quando falou novamente.
— Eu temia que você não voltasse.
O que ele iria dizer? Que ele considerou isso? Seu coração doeu porque ela não confiava nele. Por que ela iria? Ela foi criada com assassinos e se relacionava com bêbados e homens que colocavam o orgulho antes de suas famílias. Ela não acreditava que existia algum homem ‘diferente’ porque ela não conhecia nenhum.
— Perdoe-me. — Ele sussurrou, olhando em seus olhos, desejando beijá-la. Perdoe-me por tudo. — Não consegui encontrar o butterbur.
— Claro. — Ela respondeu e com um sorriso, se libertou de seu abraço e saiu correndo para pegar as margaridas.
Patrick a observou partir. Ele pensou que poderia ser um homem diferente, mas escolheu permanecer em Tarrick Hall, apesar de Elsie. Se Charlie descobrisse todas as coisas que escondeu dela, ela não o consideraria diferente... não, pior porque ele quebrou sua armadura. Ele sentiu em sua doce rendição quando a beijou. Ele penetrou em suas defesas e ela o deixou beijá-la. Ela nunca o perdoaria por isso.
Mas como ele poderia esconder a verdade dela, de Duff? Se ele contasse a um, o outro descobriria. Ele deveria partir agora, antes que tudo fosse revelado... com o pai deles provavelmente morto.
Seu olhar caiu para o butterbur que precisava ser cortado e limpo.
Ele pegou uma faca e cortou uma raiz na mesa. Por que Elsie era sua responsabilidade, afinal? Ou Nonie Wallace? Ele não se livrou desse tipo de fardo? A culpa? Inferno, ele nunca quis isso. Ele tinha que deixar Elsie bem, encontrar os restos mortais de Kendrick e exigir a vingança das Highlands sobre o culpado, e então ele tinha que dar o fora de Pinwherry.
Continue com o plano. Ele ouviu a voz de seu primo Cailean em sua cabeça avisando-o enquanto cortava e carregava os pedaços de raiz para uma panela. Como rapazes, eles haviam caído em tantas travessuras, mais que o resto de seus primos, mas apenas os dois escaparam com o mínimo de punição... porque sempre planejaram suas ações com cuidado.
Ele não se desviaria. Ele não iria...
Ela voltou para a cozinha e parou na entrada com a tiara de margarida na mão e um sorriso esperançoso nos lábios.
— Ela está se sentindo um pouco melhor.
Por um momento, Patrick esqueceu seus nomes, os inocentes e os culpados. Ele só podia ficar capturado e cativado pela visão dela em suas saias esvoaçantes e ondas de obsidiana caindo sobre seus ombros. Ele nunca quereria parar de olhar para ela, para seu rosto, seus ombros delgados que suportavam o peso de seu mundo. Ele poderia fazê-la feliz.
Sua triste condição durou apenas um momento antes que sua atenção fosse atraída para Duff aparecendo ao lado de sua irmã na entrada.
— Ela está dormindo. — Disse ele a Charlie, depois se virou para Patrick. — O que posso fazer para ajudar?
Você pode sair da cozinha antes que eu te livre de todos os seus dentes.
— Precisamos de água.
Duff correu para buscar dois baldes e se dirigiu ao poço. Observando-o, Patrick se perguntou se poderia acertá-lo com uma lâmina, se necessário.
— O que te incomoda? — Sua voz sedosa roçou seu ouvido quando ela se aproximou.
Ele desviou o olhar do caminho que Duff havia tomado e passou a palma da mão no queixo.
— Você pensou que eu não voltaria.
Ela se moveu ao redor dele como uma brisa e levou um pedaço da raiz ao nariz.
— O que o manteve longe?
— Não havia butterbur em Colmonell. — Ele disse, alargando a divisão entre eles com mais mentiras, mas não vendo outra escolha. Era isso ou a verdade... e isso só faria com que ela o odiasse mais cedo. — Eu tive que viajar para Craigneil.
Ela aceitou sua palavra sem mais perguntas.
— Perdoe-me então por duvidar de você. Me mostrou com Nonie...
— Nae. — Ele olhou para ela. Ele não podia deixá-la pensando que ele era algum tipo de herói. Ele não era. Isso era estranho, realmente. Ele havia encontrado uma certa facilidade com ela que nunca sentira com nenhuma outra moça, como se pudesse dizer qualquer coisa. E, no entanto, tudo o que ela sabia sobre ele era falso. — Não pense que sou alguém que não sou. Será mais fácil para você quando eu partir.
Ela ficou quieta e baixou o olhar para o chão.
— Não será difícil de qualquer maneira.
Ele sorriu para sua cabeça inclinada. Ele sentiria falta de sua língua afiada. Mas era melhor assim. Ver Duff provou a ele que queria vingança contra a família dela. Não havia esperança de nada entre eles. Quanto antes ele fosse embora, melhor.
Ainda assim, quando ela lhe deu as costas, ele estendeu a mão para detê-la. Seus dedos acariciaram o comprimento de seu cabelo.
Duff voltou com a água e, felizmente, saiu novamente para ver Elsie. Duff estava sendo generoso em deixar sua irmã sozinha com ele, mas Patrick estava feliz por tê-lo fora de sua vista.
Ele permaneceu com Charlie e ajudou-a a separar a água em potes menores e, em seguida, adicionar margaridas a um e raiz de butterbur ao outro.
— Não é que eu quero ir. — Ele começou enquanto acendia um pequeno fogo sob a panela com as margaridas secas. Ele não gostava desse silêncio entre eles, como se fossem estranhos.
— Sua mãe conhece muitos remédios? — Ela perguntou a ele, desviando do assunto.
Ele ficou feliz em obedecer.
— Minha mãe sabe tudo o que é preciso sobre folhagens de qualquer tipo. Não só ela tem um remédio para cada doença, mas sua experiência na cozinha é inigualável.
— Você aprendeu muito com ela?
— Eu aprendi tudo o que ela me ensinou sobre suas plantas medicinais. Enquanto meu irmão praticava a arte do comportamento cortês e minha prima aprendia a manejar uma colher, eu passava as noites acordado até tarde com minha mãe, aprendendo sobre seus remédios.
Ele sentia saudades dela. Isobel Fergusson era uma boa mulher e ensinou suas filhas a serem iguais. A boca atrevida de Mailie foi a única a lhe dizer o que achava de seus modos deploráveis. Ele também sentia falta dela. Ele queria contar a Charlie sobre as mulheres em Camlochlin... e sobre seu pai.
Mas com que propósito? Ele realmente deveria estar aliviado. Ele não tinha nenhuma razão para ficar depois de fazer o que queria. A decisão já foi tomada por ele.
Mas ele se sentia péssimo.
— Eu não vejo meus parentes há muito tempo. Eu quero...
— Você não tem obrigação de me explicar nada. — Ela o interrompeu, erguendo a palma da mão. — Você está livre para ir embora sem brigar comigo. — Ela cruzou os braços sobre o peito e se virou para olhar para o pote de margaridas, suas defesas voltando como uma torre ao seu redor.
Patrick olhou para o perfil dela iluminado pelas chamas e amaldiçoou a tentação de se desviar de seu plano.
— Você espera que eu acredite que não sentiria minha falta?
Ela piscou com o vapor subindo diante de seu rosto, e então lançou a ele um olhar incrédulo.
— Isso é tão difícil de imaginar?
— Sim. — Ele disse. — É. Você não demonstra desagrado na minha companhia.
— Ha! Ha! Ha! — Ela jogou a cabeça para trás e riu. — Você não teria acreditado em nada que eu te disse.
Ele inclinou a boca em um sorriso. Droga, ele não podia evitar. Ela o encantava. Ele gostava mais desse lado dela do que de seu silêncio raivoso.
— Você me disse que eu não era totalmente bárbaro como os outros. —Lembrou ele enquanto o chá de margaridas começava a ferver. — Que eu tinha um jeito naturalmente fácil com as pessoas, 'seduzir à vontade' foram suas palavras exatas. Você me disse que eu era gentil e muito inteligente, talvez até um herói, e acreditei em você.
— Claro que você acreditou! — Ela disse, todos os traços de diversão se foram. — Essas são todas boas qualidades!
Sua covinha se aprofundou.
— Nenhuma delas era verdadeira então?
— Nenhuma delas. — Ela disse friamente, rejeitando sua trégua. — Eu estava cansada e não no meu bom estado de espírito quando disse essas coisas.
— Agora não acredito em você.
Ela parecia querer bater nele. Ele sorriu para ela. Era tudo o que ele podia fazer para se impedir de jogar seu plano ao vento e beijá-la sem sentido. — O chá está pronto.
Capítulo 21
O chá de margaridas ajudou a respiração ofegante de Elsie... isso e a voz baixa de Duff ao lado da cama dela enquanto esperavam que o butterbur encorpasse.
— Não acredito que tivemos... — Elsie parou de tossir e então tomou mais um gole do chá. — ...margaridas aqui o tempo todo. Agradeço a Deus por você, Sr. Campbell.
Sim, Charlie agradecia a Deus muitas vezes quando a cor de Elsie voltava. Ela também perguntou por que Ele trouxe um homem como Patrick Campbell para sua vida, apenas para vê-lo partir.
Mas não era isso que ela queria? Ele não estava incluído em sua vida com Elsie. Além disso, ela sabia desde o início que seu coração não era verdadeiro com ninguém. Por que suas palavras criaram tal turbulência dentro dela? Então, ele estava planejando ir embora. Não era nenhuma surpresa. Então ele a beijou na última véspera e colocou seu coração na ruína. Foi sua própria culpa permitir isso.
Em vez de ficar zangada com ele, ela deveria agradecê-lo por ter cavalgado até Craigneil para trazer cura para Elsie.
Ela se virou para olhar para ele agora parado na porta. Sentindo-a, ele desviou seu duro olhar de Duff e o deixou suavizar nela e então em sua irmã.
— Você ficará bem logo, moça.
Ele realmente tinha feito isso? Ele trouxe uma cura para sua irmã? Respondeu suas orações?
Ela não quis dizer o que disse antes. Tudo o que ela pensava dele era verdade. Ele era sedutor. Ele era um herói... para Nonie, para Elsie... para ela.
— Você trouxe de volta uma boa quantidade de raízes. — Disse Duff, levantando-se para se esticar. — Quanto tempo até precisarmos de mais?
O que foi aquele flash nos olhos de Patrick quando ele olhou para Duff? Agora que Charlie pensava sobre isso, Patrick parecia zangado com Duff desde seu retorno esta noite. Ela se perguntou por quê.
— Você terá o suficiente. — Patrick respondeu e, em seguida, pediu licença e saiu do quarto.
Algo não estava certo. Charlie queria ir atrás dele e descobrir o que era, mas Duff foi até a porta e seguiu Patrick primeiro.
— Charlie? — Elsie perguntou, puxando a atenção de Charlie de volta para ela. — Estou feliz por Patrick ter vindo aqui, não é?
Os olhos azuis claros de Elsie estavam arregalados de expectativa. Suas bochechas e lábios voltaram ao tom rosa natural. Ela ficaria bem.
Por causa dele. Quer ele partisse ou não, Charlie sabia de uma coisa. Em breve, talvez dentro de um ano, Elsie estaria bem o suficiente para deixar Cunningham House. Graças a Patrick Campbell, um canalha com coração de cavaleiro, ela logo estaria livre para viver sua vida sozinha com Elsie.
Graças a ele, ela queria mais.
Sim, ela tremia onde estava sentada, estava feliz por Patrick ter vindo aqui.
Patrick se dirigiu para a porta da frente. Ele precisava respirar e clarear seus pensamentos antes de agir contra os homens de Cunningham sem encontrar os restos mortais de Kendrick primeiro. A visão de Duff e o som de sua voz enfureceram Patrick. Por que ele fez isso? Por que ele matou um jovem rapaz? Ele queria respostas. Ele estava grato por Allan e Hendry Cunningham terem ido para a cama antes de ele voltar de Tarrick Hall. Aparentemente, a condição de Elsie não os preocupava. Esta noite, se ele os visse, poderia matá-los.
Eram esses os homens por cujos padrões Charlie o julgava e a todos?
— Patrick.
Ele parou ao chamado de Duff e soltou um longo suspiro antes de começar a se virar para ele. Ele aprendera ao longo dos anos que a melhor maneira de evitar matar um homem era sorrir para ele.
— Eu estava indo verificar o butterbur. — Patrick disse e se virou em direção à cozinha.
— Posso me juntar a você?
Patrick resmungou seu consentimento e continuou andando. Duff com certeza não herdou as maneiras do pai.
— Eu queria agradecer a você por se preocupar com Elsie e trazer o butterbur. — Disse ele, apressando-se para alcançá-lo. — Este ataque foi pior do que os outros. Quando ouvi Charlie chorando no corredor...
Charlie havia chorado no corredor? Ele não queria se importar.
— ... Fiz o que pude para ajudar.
Patrick deu-lhe um rápido olhar de lado. Então, ele não era o mais cruel dos três.
— O que você fez?
— Acabei falando com ela. Eu mantive meu tom gentil, pois parecia acalmá-la, apesar do tópico de minhas palavras.
Patrick assentiu. Uma voz suave era o remédio para muitas coisas.
— O que você falou?
Eles entraram na cozinha e Duff pegou uma jarra de vinho e duas canecas.
— Eu disse a ela que não sou um monstro. — Ele olhou para baixo para servir as bebidas, lançando seu olhar solene nas sombras de seus cílios. — Embora eu não saiba se ela acreditou em mim. — Ele olhou para cima e entregou a Patrick sua bebida. — Ela ouviu coisas ao contrário.
Inferno. Duff iria confessar? Era muito cedo! Patrick não tinha certeza se conseguiria ouvir os detalhes sem perder o controle de seu temperamento. Ele poderia derrubar Duff bem aqui e depois ir cuidar dos outros dois.
— O que ela ouviu?
— Charlie, tem receios. Ela acredita que matei alguém que amava.
Patrick colocou sua caneca na mesa de corte. Estivesse pronto ou não, ele estava prestes a obter as informações que desejava. Ele tinha um plano. O que era isso? Fazer amigos e encontrar os restos mortais de seu primo. Uma coisa que ele sabia fazer bem era fazer amigos.
— Ela está errada em acreditar? — Ele perguntou calmamente.
— Não. — Duff disse a ele, olhando para baixo novamente e em sua caneca. — Embora eu não tivesse encostado um dedo nele. Não fiz nada para impedir.
O coração de Patrick trovejou em seu peito. Por que os Cunninghams? Por que foi Margaret Cunningham quem o acolheu e não outra família?
— O que o leva a me dizer isso?
Duff fechou os olhos, parecendo se recompor de algum lugar profundo antes de falar.
— Talvez, porque você sabe quem eu sou e que meu pai é parente dos Fergussons, entenda o peso que carrego. — Ele parou e balançou a cabeça. Patrick achou que ele não iria continuar. — Não só porque ele era meu parente... embora esse conhecimento torne minha vergonha ainda mais insuportável.
— Os Fergussons sabem que você é um MacGregor? — Patrick perguntou a ele.
Duff balançou a cabeça.
— Charlie disse a Kendrick, mas ele nunca disse a sua família. Ele era muito leal a ela. Ele era um rapaz atencioso. — Duff disse a ele, parecendo que ia começar a chorar. Patrick não sentiu pena dele. — Ele tinha um desdém especial por meu pai por me abandonar. Charlie descobriu com certeza no inverno passado que eu estava envolvido em sua morte. Tentei lhe dizer que não foi por minha mão, mas ela não quis ouvir. Talvez você deva considerar contar a ela o que estou lhe contando.
Patrick quase se recusava a acreditar no que estava ouvindo, era tão estranho. Duff queria que ele convencesse Charlie de que o que ele fez não foi tão ruim?
Patrick queria quebrar alguma coisa, de preferência uma mandíbula ou nariz. Mas ele queria direções.
— Quem era ele? — Ele queria ouvir Duff falar o nome completo do rapaz.
Duff bebeu o conteúdo de sua caneca e pegou mais.
— Foi uma coisa vil. — Ele disse, sobre o vinho.
Patrick concordou.
— Ele se chamava Kendrick... Kendrick Fergusson. Ele costumava visitar seu pai e tios. Nossas mães eram amigas. Meu pai sempre foi cordial pelo bem de minha mãe, mas não gostava deles e não confiava neles. O menino... — ele fez uma pausa e Patrick desviou o olhar. — Kendrick e minha irmã ficaram muito próximas durante essas visitas e seu amor era óbvio para todos. Meu pai era contra um casamento.
Então Kendrick foi morto para mantê-lo longe de Charlie.
— Ele era seu parente.
Duff abaixou a cabeça.
— Eu não sabia, embora não mude nada. Ele não tinha feito nada de errado. Ele era um rapaz.
— O que foi feito com ele? — Patrick não queria saber. Ele não queria ouvir o que o filho de Will tinha feito... ou deixou de fazer... ao filho de Cameron.
— Hendry e eu deveríamos levá-lo embora e... nos livrar dele. — Sua voz se tornou quase onírica e distante, como se suas lembranças estivessem perdidas em uma névoa.
Patrick se sentia como se estivesse na mesma névoa. Uma coisa era pensar sobre o assassinato de seu jovem primo, mas ouvir Duff descrevendo como eles deveriam “se livrar” dele o abalou profundamente. Ele lutou contra todo impulso de avançar e fechar as mãos em volta da garganta de Duff.
— Para onde vocês o levaram?
— Dumfries.
Dumfries. O coração de Patrick afundou. Levaria pelo menos dois dias para cavalgar até lá e mais tempo para encontrar o corpo de Kendrick.
— Quando chegamos, eu não pude fazer isso e deixei a tarefa para Hendry. Eu deveria tê-lo parado.
— Sim. — Patrick concordou, com o coração partido pelo rapaz e seus pais... e por Charlie, também. — Você deveria. — Se ao menos ele tivesse parado. As coisas seriam tão diferentes. Patrick poderia levar Duff para casa, para Skye e Charlie... ela provavelmente se casaria com Kendrick.
Ele tentou não pensar no que teria acontecido e como se sentia a respeito.
— Então Hendry o matou e deixou seu corpo em Dumfries?
— Sim.
— Ele recebeu um túmulo?
Duff ergueu o olhar, brilhando com lágrimas.
— Não sei.
Enojado, Patrick se virou. Ele estava feliz por Duff estar arrependido.
— Sou assombrado por seu rosto.
Patrick esperava que Kendrick o assombrasse para sempre.
— E ainda assim você odeia seu pai.
— Cameron Fergusson assassinou minha mãe com uma espada nas costas. Ela era inocente.
— Como Kendrick também era. — Patrick queria dizer a Duff quem ele era, que Cameron Fergusson era seu tio e que os Cunninghams haviam destruído a vida de seu tio. Ele queria dizer que havia passado o dia com os Fergusson e que a morte de Margaret foi um acidente terrível.
Mas os sentimentos de Duff podiam esperar. Ele falaria com Hendry primeiro e tentaria descobrir o que havia sido feito com o corpo de Kendrick.
— Eu não culpo Charlie por me odiar. — A voz suave e irregular de Duff atingiu o coração de Patrick. — Kendrick foi o amor da vida dela.
Och, inferno, Patrick era um monstro também? Por que ouvir o quanto Charlie amava seu primo fazia seu estômago doer?
— Acha que ela vai se sentir diferente em relação a você se ela acreditar que ficou parado e não fez nada enquanto Hendry o matava?
Duff balançou a cabeça e pousou a caneca.
— Não. Você está certo. Nada vai mudar.
Patrick o observou se mover em direção à porta. Ele não se importava se Duff vivesse com o peso de suas ações. A maioria dos homens viviam. Sua única preocupação era seu tio Cameron.
— Pode haver algo que vai ajudar. — Disse Patrick, impedindo Duff de sair.
— Você vai contar a ela minha parte na morte de Kendrick, então?
— Você é um bobo! — Charlie acusou, aparecendo na porta. Seus olhos estavam arregalados, lagos escuros de raiva que Patrick nunca tinha visto nela antes. Ele acreditou naquele momento que Charlie realmente odiava seu irmão. Loucamente, isso o fez sentir um pouco de pena de Duff.
— Você nunca deveria falar sobre isso com ninguém. — Ela disse a ele. — Você quer trazer os Fergussons aqui novamente?
Sem esperar por uma resposta, ela se virou e saiu correndo da casa.
Capítulo 22
Patrick foi atrás dela imediatamente. Ele não esperou pela aprovação de Duff. Ele não precisava mais disso. Ele não esperou para ver se seu irmão iria atrás dela primeiro. O que ele não fez.
— Charlie. — Ele gritou, seguindo-a para fora e na madrugada.
Ela parou e se virou para ele quando rajadas de luz dourada e laranja surgiram atrás dela. Ela usava suas grossas tranças pretas amarradas em um nó pesado no topo de sua cabeça. Raios dourados espalharam-se por seu pescoço nu, levando Patrick à distração com o pensamento de beijá-la ali.
— Duff lhe falou sobre ele. — Sua voz quebrada roubou seus ouvidos. — Ele não deveria. A história horrível de minha família não lhe diz respeito. Você deve partir e continuar sua jornada, esquecendo esta parte dela.
Mas isso o preocupava. Ele não podia dizer a ela por que isso acontecia. Pelo menos ainda não. Certamente ela pensaria que seu tio o tinha enviado aqui para ganhar seu favor e então se vingar de sua família. Ainda mais, ela o preocupava. Ele não tinha certeza se poderia esquecê-la e isso abalou todas as suas defesas. Ter seu coração controlando sua lógica era um território desconhecido para ele. Ela confundia seus pensamentos. Ele não sabia mais o que era a coisa certa a fazer... ou por que ele queria fazer isso.
Mas como ele poderia deixá-la aqui com homens que fizeram uma coisa tão hedionda? Ela nunca estaria segura.
— Eu sei o que devo fazer. — Ele disse em uma voz baixa enquanto se movia em direção a ela. — Mas eu continuo encontrando razões para ficar.
— Sim, razões como meu irmão ser um MacGregor, inimigo dos Campbells por quanto, duzentos anos agora? E que ele matou um menino? Ele vai lhe dar uma grande recompensa.
— Eu não tenho nenhuma intenção de entregá-lo a ninguém. Além disso, Duff afirma que não matou o rapaz. — As palavras jorraram antes que ele pudesse detê-las... e agora, quando tentou, sua língua continuou a desafiá-lo. Por que diabos ele estava defendendo Duff para Charlie? Ele fechou os olhos e apertou a mandíbula. Não sabia como se sentiria se Mailie ou Violet o odiasse e nunca o perdoasse por algo que ele lamentava. Ele abriu os olhos novamente para murmurar um juramento. — Embora admita não ter feito nada para impedir, eu acredito que ele está...
— Eu não me importo com o que ele admite. Isso não trará Kendrick de volta.
Nae, não traria. Ela desejou que trouxesse. Ela carregava sua funda. Ele estava realmente com ciúme de seu primo morto? Maldição, ele era realmente lamentável.
— Duff disse que você ainda o ama. — Claramente, ele ainda não tinha controle sobre sua língua. Mas ele queria saber.
— Eu sempre vou amá-lo. Ele era com quem eu pretendia me casar. Sinto muita falta dele todos os dias e nunca vou perdoar aqueles que o tiraram deste mundo, seja com a espada ou com o silêncio.
Ela se afastou dele e levantou a barra da saia enquanto caminhava em direção à casa de trigo.
— Se você me dá licença, as galinhas precisam ser alimentadas.
Patrick a observou ir, seu coração preso em algum lugar entre o peito e a boca. Não havia espaço em seu coração para mais ninguém então? E por que ele se sentia tão derrotado?
— Foi há cinco anos. — Ele disse, apressando seus passos para andar ao lado dela. — Por que permanece leal a... Mas foi ele que te deu essa funda, sim?
O brilho dela enquanto eles se aproximavam da casa de trigo o impediu de terminar.
Ele sabia que deveria dar a ela algum tipo de olhar arrependido, mas esperava que ela respondesse.
— É sua funda, sim?
— Sim. — Ela cedeu com um suspiro exasperado. — É sua funda.
Ele abriu a grossa porta de madeira e ofereceu-lhe a entrada na casa de trigo primeiro.
— Eu tenho outras que fiz para se parecerem com a funda de Kendrick. Eu dou essas quando sou pega usando. Eu nunca os deixaria tomar a dele.
Patrick tentou engolir. Parecia que algo dentro dele queria sair. Seria possível que de todas as moças pelas quais ele poderia ter se apaixonado, ele escolheu aquela que ainda estava apaixonada por seu primo falecido? Ela se deu ao trabalho de criar iscas apenas para não perder o presente de Kendrick.
Que tipo de idiota ele era?
Que tipo de idiota ela era? Quem amava uma lembrança? Isso era o que Kendrick era. Ficaria satisfeita em passar a vida sem nenhum homem ao seu lado porque ainda amava uma lembrança? Foi absurdo. Ainda mais absurdo foi como arranhou suas entranhas.
— Seu pai não queria uma união com os Fergussons. — Disse ele, entrando e pegando o balde que ela lhe entregou. — Você o teria desafiado se Kendrick vivesse?
— Sim. — Ela disse a ele, olhando-o nos olhos. — Eu teria. Eu o desafio a cada chance que tenho.
Patrick sorriu, apesar da ideia de ela se casar com Kendrick. Ele gostava de sua natureza espirituosa. Quase além de sua resistência, sentiu-se tentado a entrar na briga e reivindicá-la como sua.
— E agora, você viveria sua vida sozinha?
Ela fez uma pausa e olhou para ele como se uma alternativa mais brilhante tivesse surgido em seus pensamentos.
— Não. — Ela piscou para afastar o pensamento. — Eu teria a Elsie.
Sim, os sonhos de uma vida com Elsie que ela mencionou. Como ele poderia dizer a ela que achava que Elsie não era o suficiente para fazê-la feliz?
— Você tem um plano, então? — Ele perguntou enquanto eles enchiam seus baldes.
— Sim, deixar minha irmã bem o suficiente para irmos embora e em seguida partir.
Inferno, que idiota não se apaixonaria por ela? Ela tinha um plano!
— O que aconteceria com os aldeões que você tem ajudado? — Ele perguntou a ela, seguindo-a até a porta.
— Farei o que puder para ajudá-los, mas Elsie e eu temos que partir antes que ele nos case. Um marido me tiraria de Pinwherry e, se eu tivesse que ir, preferia ir com ela.
— Para onde você iria?
— Em algum lugar longe, onde poderíamos desaparecer.
Ele conhecia tal lugar. Maldito seja o Hades. Na verdade, ele se sentiu um pouco mais aquecido. Sair para a brisa fresca da manhã não ajudou.
— Elsie pode não querer ir agora que está apaixonada.
Charlie fez uma careta obviamente desaprovando.
— Eu vou falar com ela.
Ele assentiu.
— Vai ser perigoso para duas moças viajando sozinhas para algum lugar distante.
Ela pousou o balde e olhou para ele enquanto trancava a porta.
— Você está oferecendo escolta?
— Pode ser. — Ele só podia estar louco. Ele estava definitivamente louco.
— Achei que você estava com pressa de ir embora.
Sua covinha brilhou.
— Eu nunca disse que estava com pressa.
Quando ela sorriu, ele perdeu o fôlego, como se alguém o socasse nas entranhas. Ele tentou lutar contra isso. Ele não podia ficar e ela não iria querer, uma vez que lhe contasse a verdade.
Ele tinha que lutar contra isso. Mesmo se ela pudesse perdoá-lo por seus segredos, seus parentes nunca aceitariam uma Cunningham. Os MacGregors haviam recebido muitos no grupo, Campbells e Menzies, um pirata e até uma rainha! Mas compartilhar sangue com aqueles que matavam crianças era imperdoável.
E como se tudo isso não bastasse para mantê-los separados, seu coração se perdeu por Kendrick.
Ele poderia lutar contra isso. Lutar era o que ele fazia de melhor. Ele se virou e começou a curta caminhada até o galinheiro. Ele encheria o balde, em seguida, faria o seu melhor para manter distância dela até ir embora.
— Patrick? — Ela gritou.
— Sim?
Ele não parou e não se virou para olhar para ela. Ele temia que, se o fizesse, sorriria como um tolo cativado.
— Quando chegar a hora, você nos levaria ao sua Camlochlin?
O chão estava abrindo sob seus pés. Sim, Camlochlin. Ela seria feliz morando lá, escondida do mundo. Sua mãe a ajudaria a cuidar de Elsie até que ela estivesse completamente bem...
Ele parou e se virou para ela, apoiando os pés firmemente no chão, do jeito que fazia antes fugindo de qualquer bom casamento.
— Eu pensei que queria que eu esquecesse de você.
As pontas de seus lábios se curvaram para cima em um sorriso malicioso.
— Eu nunca disse a mim em particular.
Onde estava o mal em sorrir para ela? Dane-se tudo. Com que facilidade ela fez sua resiliência vacilar? Camlochlin era impossível. Diga a ela!
— Você acha que aguentaria me ver lá todos os dias?
— Provavelmente não. — Seus olhos escuros brilharam à luz do sol enquanto ela passava por ele. — Mas, felizmente para mim, você não fica em casa por muito tempo, fica?
Esquecendo seu plano e sua resistência, e seu primo, seu sorriso se alargou. Seu olhar avistou os quadris dela balançando sob as dobras transparentes de suas saias, os pés descalços aparecendo por baixo da bainha enquanto esvoaçavam para mais longe.
— Quando estiver pronto para voltar. — Ele gritou, seu bom humor totalmente restaurado. — Eu já poderia ter casado e me estabelecido.
Ela riu dele por cima do ombro.
— Isso é ainda menos provável.
Ele ficou feliz ao ouvir sua risada. Feliz por ter sido ele quem o trouxe para ela. Ele não negava sua suposição, mas a seguiu até o galinheiro.
— Então não acredita que meu coração pode ser conquistado?
Ela olhou para as galinhas e lhes deu um punhado de ração.
— Eu acho que você lutaria até o dia de sua morte.
Ele riu e balançou a cabeça para si mesmo.
— Não consigo esconder nada de você. Você entra corajosamente em meus pensamentos e me vê claramente.
Ela se virou para olhar para ele onde estava logo atrás dela e ofereceu-lhe um sorriso conhecedor e solene. Ela não queria estar certa sobre ele. Ela não queria que ele lutasse. Ele desejou que não precisasse. Ele poderia amar essa moça loucamente. Ele amava? Ele estava disposto a esquecer que seu coração pertencia a outra pessoa? Que o clã dela era o arquirrival dele?
Ele se aproximou dela e ela se virou para encará-lo totalmente. Ele queria beijá-la, roubá-la do abraço fantasmagórico de Kendrick e reivindicar seu coração, seu corpo. Ele queria levá-la para casa e desafiar qualquer um que o impedisse.
— Você também vê como torna difícil resistir a cada golpe?
O sorriso dela esquentou.
— Não tenho certeza do que vejo. Existem muitas facetas em você, Patrick. Você é atrevido com um charme libertino, tenho certeza que isso o livra de problemas. Você sabe as palavras certas a dizer e a maneira certa de olhar quando as pronuncia.
— Você não acredita que eu falo a sério? — Ele perguntou inclinando a cabeça para ela, sussurrando ao longo de sua têmpora, em seu ouvido. — Você não acredita que me fez duvidar de tudo que pensava que sabia?
— Maldita seja sua língua de prata, patife. — Ela suspirou quando sua boca desceu sobre ela e seus braços se fecharam em volta de sua cintura, puxando-a para perto.
Ele queria correr os lábios sobre cada centímetro dela. Por enquanto, ele se deliciaria com a doçura de sua boca. Ela tinha gosto de margaridas e, pelo mais louco de todos os momentos, ele temeu que seu coração pudesse estar completamente perdido. Ele poderia ter sucumbido à besta selvagem e incontrolável que era o amor. Isso o despojava de tudo e todos menos ela, aqui em seus braços.
Moldando seus lábios aos dela, ele a beijou até que ela caiu fraca contra ele. Segurando-a na dobra do braço, ele se retirou apenas o suficiente para olhá-la, pálpebras pesadas, lábios entreabertos e vermelhos de seu beijo. Ele queria mais dela. Tudo dela. Ele segurou sua nuca nua em sua mão e inclinou sua cabeça para recebê-lo mais completamente.
Ele passou a língua pelas cavernas quentes de sua boca em golpes lentos e lascivos que a fizeram tremer contra ele. Ele não queria soltá-la.
Mas ele precisava. Ele tinha que se lembrar de quem estava entre eles. Kendrick Fergusson. Mas primeiro, ele passou a língua, os lábios e os dentes pela longa coluna de seu pescoço. Ele aspirou o cheiro dela com uma inalação longa e profunda, e então se afastou.
Pela primeira vez em sua vida, as palavras o iludiram. Ele a observou se recuperar, tocando os lábios sorridentes com os dedos. Ele esperou seu coração desacelerar antes de abrir a boca para falar.
— Charlotte.
Ambos se viraram ao som da voz de Hendry quando ele entrou no galinheiro um momento depois de se separarem. Patrick estava feliz por ainda estar um pouco confuso por ter beijado Charlie. Isso o impediu de pular na garganta de Hendry.
Ele sorriu rigidamente em vez disso.
— Campbell. Que surpresa. — O pavão avançou, seu cabelo dourado combinando com a cor do palheiro em que Patrick queria jogá-lo. — Charlotte, papai quer você na mesa do café da manhã.
— Diga a ele que tive que alimentar as galinhas e agora vou voltar para El...
— Diga você mesmo. Já é suficiente que eu tive que vir buscá-la. Não serei seu mensageiro.
Charlie cerrou os punhos ao lado do corpo e saiu pisando forte.
— Hendry, — Patrick gritou, impedindo-o de seguir sua irmã. — Compartilhe uma palavra comigo.
Antes que Hendry pudesse recusar, Patrick passou o braço em volta do ombro dele. Ele poderia matar o bastardo agora, ou pelo menos quebrar algumas de suas costelas.
— Eu sei sobre Kendrick Fergusson. — Ele disse perto do ouvido de Hendry. — Você vai me encontrar aqui mais tarde e dizer o que fez com o corpo do rapaz.
— Não sei do que você está falando. — Hendry tentou se libertar, mas Patrick segurou firme.
— Você o matou. Em Dumfries. Do que mais você precisa lembrar?
A cor de Hendry se esvaiu tão rapidamente que Patrick achou que o verme chorão iria desmaiar.
— Quem te disse isso? Charlie? Ela é uma bruxa mentirosa que vai...
Patrick apertou a garganta de Hendry entre o bíceps e o antebraço e puxou-o para mais perto.
— Vais me dizer tudo o que quero saber ou vou contar que insultastes os meus parentes Campbell de tal forma que o meu único recurso é convocar o meu tio, o duque de Argyll, para Pinwherry.
— O que você quer saber? — Hendry cedeu após um momento de silêncio atordoado, com o rosto vermelho e sem fôlego por causa do aperto de Patrick.
— Mais tarde. — Patrick o soltou com um tapa nas costas. — Primeiro, — ele disse, fixando seu olhar na porta e na casa mais além. — Eu cuidarei de sua irmã.
Ele começou a andar, depois voltou. Havia algo que ele se esqueceu de contar ao verme.
— Se alguma vez causar dano a Robbie Wallace ou a seus parentes, partirei seu pescoço em dois. Entendeu?
Algo... Talvez no olhar mortal de Patrick, ou em suas mãos enroladas em punhos ao lado do corpo, obrigou Hendry a assentir e ficar quieto até que Patrick fosse embora.
Capítulo 23
— Duff. — Elsie puxou sua manga ao lado dela. — Conte a Patrick uma das histórias que você me contou enquanto eu estava na cama. Eu sei! Conte a ele sobre quando os irmãos Lamont tentaram roubá-lo!
Sentado em frente a ela na mesa de jantar, Charlie sorriu. Elsie estava bem. Seus olhos brilhavam como safiras à luz do fogo e até mesmo o balançar de seus cachos dourados havia retornado. Sua recuperação foi rápida depois de duas canecas de chá de butterbur, tomadas como Patrick prescreveu, durante algumas horas. Patrick permanecera ao lado da cama de Elsie, com ela, a tarde inteira, fazendo Elsie sorrir, como ele costumava fazer com as pessoas.
Mas nenhum deles conseguiu fazê-la confessar o nome do homem que ela encontrava cada vez que Charlie e Duff saíam de Pinwherry. Charlie ainda achava difícil de acreditar. A tímida e mansa Elsie fazendo algo tão ousado! Ela estava apaixonada por seu homem misterioso? Ela deveria estar, se estava disposta a desafiar seu pai. E os planos dela e de Charlie de partir? Charlie iria descobrir. Por enquanto, ela estava grata por Elsie estar bem e haver esperança para seu futuro... quer ela ficasse com Charlie ou não.
Charlie não a impediu quando ela insistiu em deixar sua cama esta noite e se vestir para o jantar, e Patrick concordou com sua decisão. Se Elsie se sentia bem o suficiente para se mover, ela deveria fazê-lo.
Sentado com ela agora, Charlie queria comemorar. Patrick tinha feito isso. Ele trouxe a Elsie o remédio correto. Ele salvou a vida dela.
Ela se virou para olhá-lo sentado ao lado dela, seu perfil iluminado no fogo da lareira atrás dele. Ele levou a caneca à boca e por trás da borda observou seu pai e seus irmãos como um lobo observa sua presa. Graças a Duff, Patrick sabia o que eles fizeram com Kendrick e seu desdém era evidente em seu olhar penetrante em seu pai e seu sorriso forçado quando Duff começou sua história.
Ele iria fazer algo a respeito? Ele voltaria por ela e levaria junto com Elsie para Camlochlin? Ela realmente queria viver onde ele morava? Ela suportaria estar perto dele, ouvir sua risada, vê-lo abrir os braços para outra mulher?
Suas perguntas sobre o amor dela por Kendrick a deixaram desconfortável. Não porque ela tivesse vergonha de amar uma lembrança, mas porque sabia que estava machucando Patrick ouvir isso... e porque ela não tinha mais certeza de que ainda estava apaixonada por Kendrick.
Sentindo o olhar dela, Patrick virou a cabeça e piscou para ela.
Seu coração deu um salto tão forte que ela quase ofegou. Ela queria sorrir para ele, mas sua atenção voltou para sua família. Ela fixou o olhar no formato de seus lábios, lembrando-se de como ela se rendeu a eles. Ela tinha pensado em seu beijo o dia todo. Por duas vezes ela teve que pedir à irmã para repetir a pergunta. Ela pensou em sua boca, e seu olhar íntimo envolto nas sombras de seus cílios. Ela se deleitou com seus sorrisos brincalhões e a melodia melódica em sua voz enquanto ele derretia sua irmã jogando-a fora de suas meias. Charlie não estava usando nenhuma ou ela teria derretido junto com ela. Ela não tinha pensado em ele partir. Ela não tinha pensado em Kendrick. Ela só pensava em beijar Patrick, em ser tomada em seus braços fortes e olhar em seu olhar significativo antes de beijá-la.
Ele respondeu a sua oração e trouxe risos para ela em meio a toda a preocupação. Ela sabia que uma parte dele vivia a vida de um canalha descuidado, sem consideração por quaisquer ideais nobres além de chutar a poeira de suas botas. Mas havia uma parte mais profunda dele que correu para ajudar uma criança e enfardou o feno de Robbie Wallace. Por ela. Ela não queria que ele fosse. Ele não a beijou no galinheiro como se quisesse ir embora.
Não acredita que meu coração pode ser conquistado, então?
Poderia? Ela queria ser a pessoa que fizesse isso? Ela não havia desconsiderado seus planos com Elsie, mas seria sensato morar com ele em sua casa se algo significativo entre eles nunca poderia existir? Ele a fez querer algo significativo, algo cheio de paixão física, comovente alma e amor transformador de vida.
Ele se inclinou e sem desviar o olhar de Duff e de sua história, falou baixinho em seu ouvido.
— Você também está se lembrando do nosso beijo, então?
Ela piscou e olhou em seus olhos quando ele se virou para ela.
— Nosso...?
— ...beijo. — Ele sussurrou e curvou um canto da boca. — No galinheiro. Todos eles, na verdade. Eles assombram meus pensamentos.
— Patrick. — Elsie desviou o olhar dele para ela e a respiração de Charlie junto com ele.
O beijo deles o assombrava também? Era possível?
— Você conhece algum Lamonts? — Elsie perguntou a ele.
— Não que me lembre.
— Campbell. — O pai de Charlie chamou sua atenção em seguida. — Você não acha que evitamos o assunto por tempo suficiente?
— Os Lamonts? — Patrick perguntou a ele. Seu tom era afiado, em vez de confuso.
— Não os Lamonts. — Seu pai disse largando sua caneca. — Você passou muitas horas sem supervisão com minha filha há um dia ou mais. Hendry me disse que depois de permitir que Charlotte os acompanhasse até a aldeia, você se recusou a deixá-la voltar para casa. Você mandou Hendry embora com a promessa de que se Charlotte o acusasse de tomar liberdades com ela, você a tomaria como sua esposa. — Seus olhos escuros pousaram em Charlie e brilharam com esperança e um aviso para que ela se cumprisse. — Eu entendi tudo certo, Campbell?
Charlie mordeu o lábio esperando que Patrick concordasse e não contasse a seu pai sobre sua escolha de ficar com ele. Seu pai saberia suas escolhas em breve, quando ela partisse com Elsie. Se ele pensasse que havia a menor chance de que, dada a escolha, ela pudesse fugir sem garantir um casamento próspero, ele a trancaria em seu quarto.
— Nae. Não foi isso tudo. — Disse Patrick, recostando-se na cadeira.
Ela deslizou a mão por baixo da mesa e beliscou sua coxa.
Ele se encolheu, mas esse foi o único sinal de sua distração.
— Mas é um pequeno detalhe, então não vou contestá-lo...
— A mensagem dele para mim foi correta? — Seu pai pressionou.
— Sim, foi. — Patrick disse a ele. — Foi feita uma acusação?
Seu pai a olhou, esperando que Charlie o acusasse de tomar liberdades com ela para que pudessem ser forçados a se casar e selar uma união com Campbell. Ela suspeitava que poderia se apaixonar profundamente por Patrick. Mas ela não queria suas promessas se viessem com uma pistola em sua cabeça.
— Não tenho nenhuma acusação contra ele, pai.
Sua expressão ficou fria. Charlie moveu o olhar para ele. Ela não mentiria e não seria forçada a se casar, nem mesmo com Patrick Campbell.
Seu pai estava com raiva. Deixe-o em paz, ela pensou, e então percebeu que sua mão ainda estava na coxa de Patrick.
Ela se moveu rapidamente e captou a sugestão de um sorriso nos lábios dele.
— Cunningham. — Ele disse enquanto seu pai ainda estava olhando para ela. — Vamos terminar essa discussão depois que eu passar o dia com Charlie amanhã.
Charlie prendeu a respiração e se amaldiçoou por fazer isso. Quando ela se tornou como todas as outras mulheres em cada uma das aldeias, bajulando o encantador Highlander? E daí se ele ficasse mais um dia? O que isso significava para ela? Se ele se recusasse a levá-la e Elsie para Camlochlin, ela nunca o veria novamente. Se era isso que ele queria, o que ela poderia fazer para impedir? Mas e se isso não fosse o que ele queria?
O que exatamente ele queria? Charlie pensou, sentindo-se um pouco corada. Outro beijo? Ou talvez ele tenha pensado em levá-la para as Highlands? Mas, e quanto a Elsie? Ela nunca partiria sem sua irmã.
Seus olhos se voltaram para Duff, que permaneceu curiosamente em silêncio. Então, ele a protegeria de clientes bêbados, mas sua promessa à mãe deles não importava quando uma união próspera estava em jogo.
Quando ele lhe sorriu, ela desviou o olhar.
— Você exige muito de mim, Campbell. — Disse o pai, atraindo a atenção de Charlie de volta para ele.
— Você pede muito em troca. — Respondeu Patrick. — Eu mencionei que tenho boas relações com a rainha?
Charlie não teve que esperar para expirar profundamente quando seu pai passou de zangado a radiante.
Vendido para um homem de boas relações com a rainha!
Charlie não sabia qual dos três homens na mesa ela deveria olhar primeiro, o confiante, o quieto ou aquele que a gerou? Ela não contou com Hendry, que permaneceu quieto e nervoso durante o jantar.
Seu pai merecia o maior desprezo, então ela o escolheu. Não que ela nunca tivesse considerado se tornar esposa de Patrick. Só o pensamento de estar em sua cama, carregando seus filhos, fez sua barriga torcer. Era porque Patrick poderia ter sido qualquer um. Ela não era nada mais do que um bem valioso para seu pai. Isso havia parado de partir seu coração anos atrás, mas nunca tinha deixado de ser mortificante.
— Isto é, — Patrick disse virando-se para ela, — se Charlie me conceder sua companhia.
— Claro que ela vai! — Seu pai gritou, sorrindo e erguendo sua caneca novamente.
— Ela é...
Charlie não ouviu o que seu pai estava dizendo. A escolha era dela.
— Sim. — Ela disse a Patrick suavemente. — Eu concordo.
Ele sorriu para ela e roçou os dedos em sua coxa sob a mesa.
Seu toque era tão quente como uma chama, queimando sua pele, suas bochechas. Seu sorriso se aprofundou para ela, como se achasse seu rosto corado cativante.
— Se Elsie quiser. — Disse ele, afastando a mão. — Ela pode vir também. Provavelmente precisaremos da ajuda dela com os rapazes.
— Rapazes? — Ela sussurrou de volta.
— Nonie e seus irmãos. — Ele esclareceu, voltando-se para o pai dela.
O coração de Charlie não poderia ter ficado mais suave. Ele iria levá-los para um passeio amanhã? Ela mal conseguia ficar parada. Oh, Elsie tinha que estar à altura disso.
— Então, está decidido! — Seu pai brilhava de satisfação.
Patrick balançou a cabeça, traços do sorriso que ele deu a Charlie ainda aparentes em seu rosto.
— Ainda há muito a ser feito. Por enquanto, porém, cuidarei de outras coisas.
Seu pai riu.
— Como fazer a rainha comparecer ao seu casamento. Você acha que ela viria?
Charlie olhou para ele desejando que ela pudesse jogar sua caneca nele. Ela nem havia se prometido ainda e ele já estava planejando o casamento. Ele não se importava se ela estava envergonhada, magoada ou com raiva. Ele só se importava em ganhar poder com um casamento Campbell. Poder que ele perdeu para os Fergussons.
Patrick não parecia nem um pouco perturbado com a ousadia de seu pai. Ele fixou seu olhar lapidado em Hendry, que respondeu tentando parecer ainda menor.
— Ela deve.
Patrick esperou perto do galinheiro a chegada de Hendry. Ele não tinha dúvidas de que o verme viria. A rainha? Patrick sorriu ao luar minguante. Ele gostou de usar a rainha como uma joia chamativa para atrair Cunningham.
Hendry faria o que Patrick queria porque sabia que seu pai o mataria se ele fizesse qualquer coisa para pôr em risco uma união com os poderosos Campbells... que conheciam a rainha.
Confiante, Patrick encostou-se na parede do galinheiro e assobiou. Logo, ele teria o que queria e poderia devolver Kendrick a seu pai. O que ele faria depois disso? Ele parou de assobiar e olhou para as estrelas.
Nunca houve um tempo em que a perspectiva de levar para casa uma moça o teria assustado como o inferno. Ou de volta para ele, como Mailie gostava de dizer.
Levar Charlie para casa não o fazia se sentir diferente. Avisos estavam disparando em sua cabeça desde que ele deixou Tarrick Hall. Eles ficaram mais altos quando ele a beijou esta manhã, mais consistentes esta tarde enquanto examinava a inclinação de sua sobrancelha negra, a peculiaridade de seus lábios carnudos e maduros quando ele deveria estar ouvindo Elsie. E esta noite, em meio a guerras opostas ocorrendo em sua cabeça sobre o que ele estava fazendo, e por que estava fazendo isso, fez planos para passar o dia com ela amanhã.
Charlie era o que ele temia. Ela era aquela que poderia controlá-lo, aquela por quem ele desistiria de tudo.
Mas ele continuou a ignorar todos os avisos, não importava o quão alto eles se tornassem, porque o pensamento de nunca mais vê-la o assustava ainda mais.
Capítulo 24
Charlie saiu de casa e puxou o manto sobre os ombros. Ela sabia que Patrick estava sozinho perto do galinheiro, pois ela o vira sob o luar de sua janela. O que ele estava fazendo ali sozinho, olhando para o céu noturno? Ele estava pensando nela? Sobre ir para casa em Camlochlin?
Afastando uma mecha de cabelo que havia escorregado de seu cabelo, ela fixou os olhos nele e partiu em sua direção.
Chegando mais perto, ela percebeu que ele não estava olhando para ela. Ela parou de se mover quando ouviu a voz de seu irmão do outro lado dele, escondido pelos ombros largos de Patrick.
— Você espera que eu me lembre de onde deixei o corpo dele depois de cinco anos?
— Sim. — Patrick rosnou para ele. — E você vai me levar até ele.
O coração de Charlie batia tão forte que ela tinha certeza de que eles ouviriam. Eles estavam falando de Kendrick. Oh, por que Duff disse a Patrick? Por que diabos Patrick queria seu corpo? Ele estava realmente falando sobre desenterrar Kendrick? Por quê? O que ele poderia querer com os ossos de um menino morto? Querido Deus, ela estava realmente pensando nos ossos de Kendrick? Ela se sentiu mal e, por um momento, ligeiramente tonta. Seus olhos ardiam por trás das pálpebras. Ela de alguma forma sempre se impediu de imaginar o corpo imóvel de seu amado. Ela sempre preferiu se lembrar de seu sorriso largo, brilhante e olhos azul safira brilhando ao sol, seus cachos bagunçados vivos com todas as cores do outono.
— Esteja pronto para partir pela manhã. — A voz nítida de Patrick interrompeu seus pensamentos.
— Não vamos encontrá-lo! — Hendry argumentou fracamente.
— É melhor encontrarmos.
Quando Patrick se virou para deixá-lo, Charlie não correu para se proteger, mas saiu ao luar. Ela queria respostas e sabia que não as obteria se não os pegasse em flagrante.
Patrick a viu primeiro e ficou imóvel.
Ela queria correr para ele ou nunca mais se mover. Parada na beira de um penhasco, ela olhava para uma vista desconhecida. Ela queria arriscar tudo e saltar em seus braços abertos e sorrisos despreocupados? Ela quase se convenceu, até alguns momentos atrás, que ganhar o coração dele poderia ser possível, mesmo que valesse o risco.
— Você está aqui há muito tempo, moça? — Ele perguntou, a olhando sob o luar suave como se ela fosse a única aqui com ele.
— Tempo suficiente. — Ela disse a ele suavemente. Tempo suficiente para se afastar da borda do penhasco.
— Então você ouviu essa noção bizarra dele! — Hendry se lançou contra ela. — Ele quer que eu encontre Kendrick!
Ela odiava admitir, mas Hendry estava certo. Era uma loucura. Ela assentiu com a cabeça, seu olhar em Patrick era duro.
— Por quê?
Patrick finalmente fixou Hendry com um olhar assassino e então voltou sua atenção para ela.
— Podemos falar a sós?
— Diga a ele para parar esta missão antes que ele mate a todos nos. — Hendry murmurou enquanto passava por ela e voltava para a casa.
Sozinha, ela inclinou a cabeça para Patrick e esperou. O que ele poderia querer com o corpo de Kendrick? Que tipo de miséria ele possuía? Ela queria perguntar a ele. Ela tinha que saber.
— Por favor, explique quais são suas intenções com o corpo de Kendrick.
Ela mal conseguia respirar. Ela não queria que ele fosse como o resto, com motivos secretos, às vezes, nefastos. Ela queria o homem que vira ao lado da cama de Nonie e Elsie. Aquele que poderia ser ainda melhor do que Kendrick.
— Ele era muito querido para mim, Patrick. — Ela continuou, tentando impedir as ondas de emoções que esta noite tinha causado uma erupção. — O que você poderia querer com o que resta dele? Por que você perturbaria seu descanso?
Foi um jogo do luar em seus olhos que os fez brilhar... ou algo mais?
— Ele não está descansando, moça.
— O quê? — Agora seus olhos se encheram de lágrimas. — Por que você diz isso? Eu sei o que meus irmãos fizeram com ele, mas certamente o Senhor...
Ele acenou com a cabeça em concordância, mas ergueu a mão para detê-la.
— Ele precisa ser devolvido ao pai.
Ela fechou a boca. O pai dele? Era por isso que Patrick o queria? Para devolvê-lo ao pai? Ela queria encontrar alívio em sua explicação, mas ele não entendia quem era o pai de Kendrick?
— Você pretende carregar o corpo do filho mais novo de Cameron Fergusson até a porta dele?
— Sim, moça.
Ela enxugou uma lágrima da bochecha. Deus a ajude, quem era ele por trás de seus sorrisos perversos e galanteria que vinham tão naturalmente que nem ele percebia que os possuía?
— Você está certo. — Ela admitiu. — Ele deve ser devolvido ao seu pai. Ele nunca deveria ter sido morto. Eu temo... Porém, temo que quando seu pai colocar os olhos nele, seu ódio contra nós será reacendido. Desta vez, ele não pode se deter sem matar todos nós.
— Ele não vai voltar aqui.
Quando ele chegou mais perto? Sua mão alcançou a dela. Seus dedos brincaram em suas juntas como um suspiro.
— Como você sabe? — Ela perguntou, olhando em seus olhos, seus dedos fechando involuntariamente em torno dos dele.
— Charlie, — disse ele, sua voz quebrando em uma respiração sedosa. — Eu... eu sei que qualquer homem que tivesse seu filho de volta ficaria grato, não seria vingativo. Direi a ele que seus parentes me ajudaram em meu esforço. Cameron Fergusson não vai voltar.
Ele parecia tão certo. Ela ousaria confiar nele? Não era apenas sua vida em risco, mas a de Elsie também. Se os Fergussons retornassem, Patrick ajudaria sua família a lutar contra eles? Isso importava? Kendrick deve ser devolvido à sua família. Ela certamente não se oporia a isso.
— Espero acabar com esta rixa. — Sua respiração acima de sua cabeça era quente e próxima.
— Por quê? — Ela perguntou inclinando a cabeça. — Por que você se preocupa com isso?
Sua boca se curvou em um sorriso terno que ela queria beijar.
— Você pensa tão pouco de mim, então, que não acredita que eu me importaria com essas coisas?
Não! Não, ela não pensava pouco nele. Ela não tinha entendido porque ele queria Kendrick, mas agora fazia sentido. Ele era aquele homem carinhoso e preocupado que ela vira com Nonie e Elsie. Ele era diferente dos outros. Depois de tudo que ele já tinha feito, agora queria devolver seu Kendrick ao seu lugar de descanso de direito e acabar com a rivalidade! Certamente Deus havia enviado Patrick Campbell até ela. Ela estava feliz por não o ter matado naquele dia no rio. Ela não sabia se poderia amá-lo do jeito que amava Kendrick. Ela estava com medo de amá-lo ainda mais. Mas ela queria tempo para descobrir. Ele a fez querer uma família, um marido, uma vida diferente daquela que ela planejou por anos. Ela não queria que ele se fosse, mas não iria implorar para ele ficar. Talvez, com ele, houvesse uma maneira melhor de conseguir o que ela queria.
— Você não é tão terrível, Sr. Campbell. — Disse ela se empurrando para cima e ficando na ponta dos pés. Ela queria beijá-lo. Ser devorada por uma fome, um desejo nele que só ela poderia satisfazer, mas quão diferente ela seria das outras antes dela se ela se entregasse a ele tão facilmente? Ela apertou os lábios em sua bochecha. — Boa noite. — Sorrindo, ela se afastou.
Quando ele agarrou seu pulso e a puxou de volta, ela quase murchou em seus braços. Mas não era como as outras garotas, e se ela o quisesse, tinha que parar de se comportar como elas.
Ela viu sua boca descendo, sentiu sua respiração, quente e superficial em seus lábios. Ela não queria lutar contra isso. Ela queria beijá-lo assim pelos próximos cinquenta anos, não apenas por alguns momentos, como Bethany. Se seu coração pudesse ser conquistado, ela o conquistaria.
Ela deixou sua boca cobrir a dela, e deixou seu corpo tremer contra ele por apenas um momento antes de ser completamente arrebatada, e então ela cortou o contato e deu um tapa na mesma bochecha que ela beijou.
— Se você for embora. — Ela disse enquanto ele esfregava o rosto. — Ou se você está planejando se casar com outra antes de levar Elsie e a mim para Camlochlin, não pode haver mais beijos entre nós.
— Você está me chantageando, então? — Ele perguntou, um canto de sua boca erguendo em um sorriso de admiração.
— Não seja ridículo. — Ela sorriu e se voltou para casa. — Estou apenas cuidando de mim mesma. Você não vai ficar muito mais tempo.
Ele não concordou ou contestou sua afirmação. Ele permaneceu em silêncio enquanto acompanhava seus passos e caminhava com ela... tempo suficiente para fazê-la se preocupar um pouco.
— Você é inteligente. — Disse ele finalmente, inclinando a cabeça para dar um sorriso para ela que minou a força de seus joelhos.
Ela percebeu naquele momento que uma de suas coisas favoritas a fazer era caminhar com ele. Desde aquela primeira noite, que ele a seguiu até a casa de Robbie Wallace e todos os passeios desde então. Ele mexia com ela por dentro e a fazia rir. Ela gostava dele. Era assim que ele a estava conquistando, estivesse tentando ou não.
— Mas não vou a lugar nenhum ainda, moça. E não esqueça que você concordou em sair comigo amanhã.
— Mas e Kendrick? — Ela perguntou a ele. Oh, mas parecia tão estranho falar dele com Patrick... com alguém. Ela não fazia isso há cinco anos. — Você disse a Hendry para estar pronto pela manhã.
— Sim. — Seu humor vacilou em sua voz. — Eu disse.
— Eu esperava passar o dia com você. — Ela enlaçou o braço no dele e se aconchegou um pouco mais perto. Ela gostava da altura dele, da largura dele ao lado dela. — Mas vou passar o dia todo sem você.
Ele riu acima dela, mas depois ficou sério novamente.
— Serão três ou quatro dias, dependendo de quão duro nós conduzirmos os cavalos. Kendrick está em Dumfries.
Ela acenou com a cabeça, lembrando-se de seus irmãos estarem longe por tanto tempo quando o menino desapareceu. Quatro dias poderia ser um pouco mais difícil.
— Vou sair para Dumfries amanhã à noite. — Ele anunciou. — Nada vai mudar em um dia.
Ela parou e se virou para ele.
— Você mudaria seu plano por minha causa?
— Meu plano? — Ele perguntou, seu tom, em algum lugar entre assustado e sombrio. — Meu plano não mudou. As crianças devem ter um dia longe de suas tarefas domésticas e precisarei de sua ajuda com elas.
Ele poderia levá-los ao rio a qualquer momento. Não, Charlie pensou, tentando esconder seu sorriso, esta rápida reviravolta tinha a ver com ela. Ele provavelmente não gostava do que estava acontecendo consigo no que dizia respeito a ela. E ela esperava que algo estivesse realmente acontecendo. Ele a beijou com significado e olhou para ela com um desejo mais profundo do que o puramente físico. Ele gostava dela e queria passar o dia com ela também. Se ele não quisesse admitir... bem, ela simplesmente o obrigaria.
— Se isso é tudo o que te incomoda. — Disse ela. — Vou pedir a Duff que tome o seu lugar. Tenho certeza de que as crianças não vão se importar com toda a agitação por vir. Ele cuidou carinhosamente de Elsie. Você não tem nada com que se preocupar. Vá trazer Kendrick para casa.
— Tanto ideal quanto isso parece, — ele respondeu com pesar fingido. — Duff precisa vir para Dumfries... no caso de Hendry ter esquecido que caminho seguir.
Charlie abandonou a tentativa de esconder seu sorriso e apontou para ele. Ela esperava que ele lutasse... até a morte, como ela lhe disse. Se seus motivos para querê-la com ele amanhã eram de natureza mais pessoal, em vez de precisar de sua ajuda com as crianças, ele não iria admitir facilmente. Sua mente e sua língua eram rápidas como seus punhos. Ele venceu. Esta noite.
— Muito bem então, Patrick. — Ela acelerou os passos e se inclinou para perto novamente. — Será uma batalha até o fim.
Capítulo 25
Se afastando de Cunningham House, Charlie olhou para o sol e sorriu. Era tão adorável fazer uma excursão com Patrick e Elsie, ao sol, livre para fazer o que quisessem, que Charlie não se importava onde eles iam parar.
Olhou para Patrick cavalgando à frente e o pegou olhando para ela por cima do ombro. Ele piscou e ela corou.
— Você gosta dele então? — Elsie lançou-lhe um olhar ansioso enquanto ela mantinha o passo ao lado dela no caminho para pegar as crianças Wallace.
— Sim, eu gosto. — Ela confessou, voltando seu olhar amoroso para sua irmã.
— E se ele fosse um Fergusson? Você ainda gostaria dele?
Charlie se virou para olhar para ela. Que pergunta estranha de se fazer. Por que Elsie mencionaria os Fergussons agora?
— Então? — Sua irmã perguntou com um suspiro impaciente. — Você iria? Ainda gostaria dele?
Imagens de Kendrick passaram pelos pensamentos de Charlie. Sim, ela ainda poderia gostar de um Fergusson, mas não seria seguro para qualquer Fergusson perder seu coração para um Cunningham. E a pobre mãe dela? Gostar de um Fergusson não trairia Margaret Cunningham? Oh, o que isso importava? Patrick não era um Fergusson.
— Sobre o que é toda essa conversa de Fergussons, El? Duff falou com você de novo sobre Kendrick?
Elsie abanou a cabeça.
— Não, mas acho que você deveria ouvir o que ele diria lhe sobre isso. — Sem esperar pela resposta de Charlie, ela chutou os flancos de seu cavalo e alcançou Patrick.
Ela não se importou quando Patrick concordou em deixar Duff acompanhá-los. Seu irmão provavelmente os teria seguido de qualquer maneira.
Sentindo o olhar de seu irmão sobre ela, Charlie se virou para olhar para Duff cavalgando por perto. Ele sorriu.
— Você realmente espera perdão de mim? — Ela perguntou baixinho.
— Não, eu não espero. — Ele protegeu os olhos com os cílios. — Eu sei que o que fiz foi além da redenção. Eu vivo com isso todos os dias. Não procuro nada de você. Eu apenas gostaria que soubesse que sinto muito por não ter salvado ele. Gostaria que você soubesse disso.
Charlie havia se esquecido de como Duff era quando menino. Sua risada era uma lembrança que também havia desaparecido desde o ano em que Kendrick havia desaparecido. Antes disso, ele era bem- humorado e um incômodo, sempre brincando com ela sobre Kendrick... ou como ela mastigava. Sempre pairando ao redor dela sempre que ela estava por perto, protegendo-a muito antes de ele prometer a sua mãe que o faria.
— Eu sinto falta do meu irmão. — Ela falou antes que pudesse parar.
— Eu também, Charlie. — Ele ergueu o olhar para ela, seu cabelo escuro batendo em seu rosto na brisa da manhã. — Perdi algo de mim mesmo que nunca mais poderei recuperar.
Algo em sua confissão tomou seu coração. Duff estava arrependido. Seria o suficiente?
— Se você tem certeza de que nunca conseguirá recuperar essa parte de si mesmo. — Ela disse a ele. — Então pare de lamentar isso e encontre uma maneira de viver sem isso. Se houver uma maneira de recuperá-lo, encontre-o.
Ele acenou com a cabeça para ela e sorriu. Ela sorriu de volta e então se foi.
Charlie suspeitava que a única razão pela qual o pequeno Jamie estava gritando era porque seus três irmãos mais velhos estavam. Ela não importou. Ele era adorável. Todos eles, estavam pulando e batendo palmas com os cachos louros caindo em torno de seus rostos quando Patrick os convidou para passar o dia no rio.
O rio! Ela poderia ter beijado Patrick quando ele anunciou.
— E. — Patrick se inclinou para mais perto de Mary. — Isso vai dar a você algum tempo a sós com Robbie. — Seu sorriso se alargou em um sorriso furtivo. — Eu tenho primos pequeninos em casa. Sei como o tempo a sós pode ser precioso para seus pais.
Charlie ouviu, perguntando-se que tipo de infância ele teve. Ele estava com medo de se casar e se tornar um pai sem mais tempo para realizar seus próprios desejos?
— Sim, como dormir. — Mary deu um tapa em seu braço com seu avental quando ele lançou a ela um olhar duvidoso. — Não tenho uma boa noite de sono desde que Robert apareceu, seis anos atrás.
Seu sorriso se alargou e diversão cintilou na superfície de seus olhos. Resplandecente, Charlie pensou o olhando, ele certamente era o mais charmoso dos libertinos. Ela se virou para devolver o sorriso às crianças.
— Durma então, — disse ele a Mary, — e não se preocupe com seus bairns16. Somos suficientes para garantir que nenhum deles se aventure na água sozinho.
— Sim. — Charlie validou com um corte brincalhão de seu olhar. — Patrick se sacrificou muito para conseguir toda a ajuda de que precisava.
— Ela embeleza. — Patrick mostrou sua covinha primeiro para ela e depois para Mary. — Não foi necessário nenhum sacrifício para passar o dia com seus filhos. — Ele se inclinou um pouco mais perto do ouvido de Mary. — E com ela.
Charlie esticou sua orelha. Ele acabou de dizer que não era nenhum sacrifício passar o dia com ela? Então ela acertou na última véspera! Ele sabia o que ela estava pescando e não tinha dado sinal de que sabia. O que o fez finalmente dar a entender agora? Ela realmente se importava por quê? Sua respiração ficou curta. Antes que ela tivesse tempo para refletir sobre por que isso fazia seu coração disparar, ela olhou para ele e sorriu.
Ele piscou em resposta. Ele piscou. Aquilo estava fazendo seus olhos verdes dançarem? O que diabos isso significa? Era mais um jogo de gato e rato? Ele estava brincando com ela?
Muito bem, ela estava pronta para isso, e agora que conhecia sua fraqueza, esta batalha iria ganhar. Seu sorriso permaneceu intacto quando ela falou.
— Por que, Patrick, você espera que Mary e eu acreditemos que posso estar domando seu coração selvagem?
Ele riu e olhou para o céu, mas não teve resposta imediata. Ela estava sugerindo que a ideia de que ele poderia realmente amar uma mulher era absurda demais para acreditar? Ou ela o estava desafiando ousadamente a admitir que estava perdendo a luta? Ele não tinha certeza. Charlie podia ver em seus olhos.
Antes que ele respondesse, ela piscou para ele e indicou que as crianças se preparassem para o passeio.
Havia muito peso na mente de Patrick enquanto ele cavalgava em direção ao rio Stinchar com o pequenino Jamie em seu colo, mas diabos o sol estava quente, a brisa fresca perfumada com prímula selvagem e samambaia, e os sons dos gritos das crianças encheram seus ouvidos quando eles viram um cervo observando-os das árvores. Ele queria aproveitar o dia, não o estragar pensando no que estava acontecendo com ele. Charlotte Cunningham encontrou uma maneira de invadir sua pele. Claro, ele queria passar o dia com ela. Claro que não tinha nada a ver com a necessidade de sua ajuda com as crianças. Ele havia levado seus primos pequeninos para nadar na baía do rio Camas Fhionnairigh muitas vezes sem incidentes. Mas ele não disse isso a ela. Inferno, mas ela era uma moça espirituosa, sempre o desafiando. Ela parecia conhecê-lo melhor do que ele mesmo... pelo menos ultimamente. Ele estava perdendo seu coração para ela e ela sabia disso e gostava de torturá-lo com esse conhecimento. Ele não queria nada mais do que tomá-la em seus braços, mas ela negou seus beijos com uma chantagem.
Ele sorriu enquanto viajavam por um caminho cheio de curvas e sombras da margem do rio até que chegaram a uma pequena clareira cercada por altos amieiros e bétulas felpudas. Se ela queria tanto que ele ficasse, ficaria, porque bem, ele perdeu a cabeça.
Ele poderia conquistá-la de Kendrick?
Amanhã. Ele se preocuparia com isso amanhã.
O rio corria para baixo como joias brilhando ao sol. Foi aqui que ela o apedrejou na cabeça. Possivelmente, ela tinha feito mais dano do que ele percebeu.
Eles pararam na beira do rio e depois de ajudar as crianças a descer das quatro selas, desfizeram a grande sacola amarrada ao cavalo de Patrick.
— Você sabia que este é um dos meus lugares favoritos?
Ele parou de ordenar a Jamie que ficasse perto e ofereceu a Charlie um sorriso que era mais ternura do que pretendia. Maldito seja, ele se tornou tão suave quanto seus primos.
— Eu não sabia disso. — Ele respondeu, notando a plenitude de seus lábios cor de coral e o sol refletindo em seus olhos escuros. — Vou me certificar de trazê-la aqui com mais frequência.
— Oh. — Ela perguntou, sua sobrancelha arqueada. — Você vai ficar então?
— Eu posso pensar em ficar. — Ele disse a ela desdobrando um grande cobertor de lã, que as crianças pularam no instante em que caiu na grama. — Se eu ganhar um beijo, considerarei. O que vocês acham, crianças? Charlie deveria me deixar ter um beijo?
— Ai, credo! — Andrew empacou e fez barulho de engasgo.
— Por que você quer beijá-la? — Perguntou Robert.
— Oh, Robert. — Disse Elsie ajudando Patrick a desempacotar o almoço de pão preto, frutas, vários queijos e carneiro assado. — Em apenas alguns anos, você não vai pensar em nada além de beijar.
Patrick riu do olhar desconfiado de Charlie para sua irmã e da negação veemente do rapaz. Ele pensou em como o riso só tinha piorado para ele desde que conheceu Charlie. Ele tinha dificuldade em tirar os olhos dela quando ela se abaixou para sentar no cobertor e colocar Nonie em seu colo. Ela seria uma boa mãe para seus filhos?
Maldição, mas ele estava disposto a permanecer aqui para receber um beijo dela! Por quanto tempo? E quanto a Camlochlin? Ele a levaria para casa com Elsie? E todos os seus segredos? E a morte de Kendrick?
— Podemos entrar na água, Patrick? — Andrew perguntou puxando sua mão e felizmente o tirando de seus pensamentos problemáticos.
— Podemos fazer o que quiser, rapaz. — Ele jogou uma pera para Robert. O rapaz o pegou e cravou os dentes nela.
— Há sapos aqui? — Jamie perdeu todo o interesse em comer e saltou sobre suas pernas rechonchudas, seu largo olhar azul já procurando a beira da água.
— Claro. — Respondeu Patrick fingindo incredulidade. — Você acha que eu o levaria para um lugar onde não haja sapos?
O rapaz balançou a cabeça e lançou um sorriso para ele que quase derreteu o coração de Patrick. Ele sentiria falta dessas crianças quando partisse.
E o que diabos ele deveria fazer com Duff? Seu primo vivia com uma grande vergonha e levá-lo para casa provavelmente traria vergonha para Will também. Ainda assim, a vida de Duff teria sido muito diferente se ele tivesse sido criado com seu pai em Camlochlin. Talvez fosse hora de Will enfrentar as consequências de suas ações.
Ele se sentou no cobertor com os outros e comeu, recusando-se a escurecer o dia com coisas que não conseguia resolver no momento.
Mais tarde, eles levaram as crianças até a beira da água e chutaram as ondas pequenas, espirrando água umas nas outras e rindo. Eles procuraram por sapos e ajudaram Nonie a escolher margaridas para seu cabelo, e o tempo todo o olhar de Patrick seguia Charlie, seu coração se deliciando com a forma como ela ganhou vida em sua liberdade, longe de Cunningham House. Ao contrário das vestes pesada de sua irmã, as saias finamente balançando de Charlie se ergueram com a brisa e dançaram em torno de seus pés descalços. Ela não usava nenhuma faixa florida acima da sobrancelha para segurar o cabelo solto, mas mantinha os cachos exuberantes atrás das orelhas com a ajuda de raminhos de sabugueiro. Ela era como algo saído de um conto de fadas, tanto terreno quanto etéreo. Seus olhos estavam levemente delineados em kohl para acentuar sua forma e a intensidade de seu olhar. Cada vez que encontrava o seu olhar, ele se sentia como se tivesse levado um golpe na barriga.
As crianças finalmente ficaram com sono no meio da tarde e adormeceram esparramadas no cobertor.
Olhando para elas, Patrick decidiu que o dia não poderia ficar melhor... a menos, é claro, que ele pudesse encontrar uma maneira de ficar sozinho com Charlie.
— Charlie. — Duff disse em meio ao barulho dos pássaros. — Patrick disse a você que conhece meu pai?
— Não, ele não disse isso. — O sorriso de Charlie desapareceu quando ela olhou para Patrick, as dúvidas substituindo seu bom humor. — O que mais você não me disse?
Capítulo 26
Charlie não sabia o que pensar da afirmação de Patrick de que conhecia o verdadeiro pai de Duff, Will MacGregor. Will MacGregor de Skye para ser mais precisa... daqueles MacGregors que eram parentes dos Fergussons, tornando-os parentes de Duff. O que seu irmão achou dessa notícia de que matou um de seus parentes?
Ela olhou para ele sentado em frente a ela no cobertor de Patrick, com a cabeça dourada de Elsie descansando em seu braço. As sombras obsessivas escurecendo seu olhar enquanto ele olhava para o rio eram prova suficiente de sua vergonha. Ele tinha vivido com isso por tanto tempo, tornou-se uma parte de quem ele era.
— Duff?
Ele piscou e olhou para os joelhos e não para ela.
— Eu não sei se isso vai te ajudar ou não, mas você tem o meu perdão.
Elsie sorriu e apertou seu irmão com mais força.
— Eu disse que ela perdoaria.
Duff ergueu os olhos por baixo dos cílios e acenou com a cabeça para Charlie, um traço de seu sorriso amoroso aparecendo em seus lábios.
— Isso ajuda.
Ela se inclinou e jogou os braços ao redor do pescoço dele. A princípio, o braço dele deslizou ao redor dela, e então ele a puxou e beijou seu cabelo abaixo do queixo. Oh, ela tinha esquecido o quanto ela sentia falta dele. Ela ficou impressionada com a sensação de se livrar daquele fardo de raiva e começou a chorar.
Ela o soltou e se levantou. Ela não queria chorar como uma idiota tagarela e acordar as crianças.
— Eu preciso esticar minhas pernas. — Ela disse a eles e se afastou antes de perder todo o controle de suas emoções.
Duff tinha família em outro lugar, pai, irmãos e primos. Algum deles o perdoaria? Ela o perdoou e isso a fez se sentir leve. Ela não sabia se iria rir ou chorar se abrisse a boca.
Ela quase alcançou a beira do rio quando sentiu alguém vindo atrás dela. Ela se virou para Patrick.
Ele curvou a boca em um meio sorriso suave.
— Eu precisava esticar minhas pernas também.
Com o poder de arrastar seus desejos mais profundos à superfície, ele era a última pessoa que ela queria ver... e o único que orou para nunca partir.
Ela não tinha certeza de quando tinha começado, mas de alguma forma ele conseguiu penetrar cada parede que construiu em defesa dos homens que conhecia e aqueles que nunca existiriam. Ela pensava que Patrick era como o resto, mas ele era muito mais. Ele irradiava luz como o sol e refrigério como uma brisa fresca em um dia de verão. Ela gostava de passar o tempo com ele, compartilhando sua risada despreocupada e o êxtase de seus beijos roubados... beijos que ninguém poderia esquecer.
Ele a tentou a querer mais do que a vida que ela planejou. Ele despertou uma esperança desconhecida de que mais era possível.
Ela admirou a força que tomou para negar seus sentimentos e viver uma vida unida a ninguém. Mas essa força estava começando a lhe dar nos nervos. Ele conhecia o pai de Duff e não tinha contado a ela. Ela queria confiar nele porque estava se apaixonando pelo teimoso Highlander, mas o fato de ele esconder informações tão importantes dela a deixava inquieta. O que mais ele escondeu dela?
— Eu não te disse, — ele disse como se lesse seus pensamentos como um pergaminho aberto em seu rosto, — porque eu pensei que Duff deveria saber antes de qualquer outra pessoa. É sobre ele e sua família.
Charlie olhou para ele sem saber o que dizer e sem saber se foram suas palavras ou a maneira como olhou para ela enquanto falava que a deixaram muda. Ela gostou da compaixão que viu em seus olhos. Seu sorriso pode ser descuidado, mas seu coração batia com o tambor constante de um ideal que Patrick alegava ser antiquado demais para gente como ele. Era o que todos os outros homens careciam. Compaixão.
— Eu suspeitava que ele fosse filho de Will antes mesmo de Hendry me contar. — Ele continuou e pegou a mão dela para caminhar com ela ao longo da margem. — Depois de sua demonstração de lealdade ao segredo de seu irmão no galinheiro naquele dia, eu sabia que você entenderia meu motivo para não lhe contar.
— Sim. — Charlie disse a ele, olhando para seus dedos entrelaçados. Ela não se afastou, muito perdida na intimidade de seu toque para separá-los. Ela já adorava caminhar com ele. A mais sutil das afirmações sobre o seu ser a emocionava até os ossos.
— E sobre os MacGregors? — Ela perguntou em um esforço para evitar que sua mente a abandonasse.
Sua mão ficou mais quente e um pouco úmida. Ele se virou para lhe oferecer um sorriso casual.
— O que há com eles?
— Eu entendo por que você não me contou sobre o pai de Duff, mas por que não me disse que conhecia os parentes dos Fergussons?
Ele se inclinou para mais perto e aproximou seu rosto do dela, seus olhos verdes vívidos penetrantes e poderosos, seu sorriso lento e cheio de charme natural.
— Quer que eu diga tudo o que sei?
Ela olhou para seus lábios carnudos e vermelhos enquanto ele falava, desejando que os pressionasse contra os dela. Ela ergueu o olhar, aproveitando para admirar a bela escultura de seu nariz. Quando ela alcançou seu olhar potente, olhou em seus olhos e respondeu com um sorriso desafiador.
— Você poderia me dizer?
Ele não vacilou, mas seu polegar se moveu sobre o dela.
— Você me faz querer.
Ele era sincero? Charlie queria acreditar nisso. Isso era um bom começo. Muito mais do que ela esperava.
Quando ele acompanhou seus passos novamente e começou a dizer mais a ela, as emoções de Charlie se agitaram dentro dela... decepção por ele não beijá-la. (Por que ele faria isso para que depois ela lhe desse um tapa?) E euforia por ele estar contando mais.
— Eu não sabia sobre Kendrick. — Ele disse a ela enquanto eles caminhavam perto de uma alta árvore freixo e faias, com o rio sinuoso correndo ao lado deles. — Eu não conhecia a conexão, então não havia razão para mencioná-la.
Ela acreditou nele. Ela não tinha razão para não acreditar. Ela não podia culpá-lo por nenhuma de suas decisões. Ela provavelmente teria feito o mesmo.
— Você acha que Duff vai querer ir para Skye depois do que aconteceu? — Ela perguntou a ele quando eles dobraram uma curva e se depararam com um veado bebendo água. Ele fugiu mesmo quando Charlie sorriu para ele.
— No começo eu pensei que ele deveria. — Patrick continuou. — Mas a escolha deve ser dele.
Charlie olhou para suas mãos novamente e depois para seu belo perfil contra o pano de fundo de árvores e céu, seu cabelo bronze em chamas ao sol.
— São muitos dias de viagem até Camlochlin?
Ele balançou a cabeça e fixou o olhar no rio.
— Não é muito longe.
Ela teve o desejo de sorrir para ele... e talvez chutá-lo nas pernas.
— Assusta-te pensar que vou para lá?
— Por que deveria? — Ele perguntou com uma peculiaridade sugestiva de seus lábios, e finalmente deslizando para ela um olhar de lado.
— Porque acha que eu vou querer ficar com você.
Ele se virou para encará-la totalmente. A sensualidade aprofundou o verde de seus olhos e suavizou sua boca, fazendo-a se sentir menos no controle de seus sentidos.
— E você não vai querer isso?
— Não, eu não vou. — Ela disse a ele, controlando uma inclinação arrogante de seu nariz. — Eu não quero um marido. Quantas vezes devo lembrá-lo?
— Eu sou conhecido por ser intenso. — Ele respondeu puxando-a pela mão para mais perto dele. — Então você está me dizendo que se eu pedisse sua mão, recusaria?
— Isso é o que estou lhe dizendo.
Sua risada baixa e masculina enviou um formigamento de fogo por sua espinha. Ela se afastou, largando a mão dele ao mesmo tempo.
— Você é o tipo de homem que consegue o que quer. — Ela disse, seus olhos brilhando como ônix polido enquanto sua risada se transformou em um sorriso. — É difícil não me ter?
Ele parou de sorrir completamente e a alcançou em dois passos.
— Sim, é isso. — Ele a puxou para seus braços, olhando-a nos olhos como se a desafiasse a detê-lo. Ela não disse nada. Ela deixou sua boca cobrir a dela com domínio total e exuberante. Seus braços se fecharam ao redor dela e a puxaram para mais perto enquanto seu beijo se aprofundava e ela ficava fraca em seu abraço.
Ele a beijou com abandono lento e excitante, sua boca movendo-se sobre a dela com prazer magistral. Ele esfregou as palmas das mãos sobre as nádegas volumosas, fazendo-a querer colocar seus quadris contra os dele e sentir seu membro se endurecendo. Ela se abriu uma e outra vez para sua língua saqueadora, passando as palmas das mãos nas laterais de seu rosto. Ela queria que ele nunca a soltasse, que a beijasse assim até que seus dias acabassem.
— Patrick. — Ela suspirou vigorosamente, interrompendo o beijo. Ela não diria a ele o que seu coração estava saltando. Proclamar seu amor por ele era a pior coisa que ela poderia fazer.
— Devíamos voltar. — Ela disse contra seus lábios, carnudos e vermelhos de tanto beijo.
Ela se encostou no peito dele, usando suas últimas reservas de energia para se endireitar.
— Duff estará procurando por nós.
Ele não tentou impedi-la quando ela se virou e começou a voltar para os outros. Ela desejou que ele o tivesse. Ela desejou que ele não se importasse se Duff os encontrasse em outro abraço e os acusasse diante de seu pai para que eles tivessem que se casar.
Mas aparentemente ele se importava.
Ela fez a curva e acenou para Elsie à distância. E a irmã dela? Quem era o homem misterioso de Elsie? Charlie precisava descobrir. Este homem sabia da doença de Elsie? Ele planejava cuidar dela?
— Seu irmão não estava olhando.
Ela olhou por cima do ombro para Patrick vindo por trás dela e então voltou seu olhar para o cobertor e para Duff sentado com as crianças reunidas ao redor dele.
Duff a estava seguindo às tavernas. Ele provavelmente sabia sobre o roubo e as visitas aos Wallaces.
— É estranho, — ela disse suavemente quando Patrick apareceu ao lado dela. — Ele nunca me perdeu de vista quando um dos candidatos a marido de meu pai tentou me cortejar. No entanto, ele confia em você sozinho comigo. — Ela lançou a Patrick um olhar curioso. — Por que seria isso?
Ele deu a ela um sorriso sincero.
— Minhas qualidades cativantes?
Ela revirou os olhos para ele, mas teve que rir. Ele certamente não tinha nenhuma confiança em si mesmo.
— Isso, — ele continuou enquanto caminhavam, — e porque perguntei a ele se eu poderia.
Ela diminuiu o passo e o dele também quando puxou sua léine17.
— Poderia o quê?
Ele olhou para ela e seu sorriso se transformou em algo mais significativo.
— Cortejar você, moça.
Capítulo 27
Eles permaneceram no rio por outro par de horas, escolhendo bagas, pulando pedras, e pegando vários insetos.
Patrick não questionou mais sua sanidade. Ele sabia que tinha perdido dias atrás. Ele estava surpreso com a rapidez com que a sanidade o abandonou. O suficiente para admitir para ela que ele havia pedido permissão a Duff para cortejá-la. O que quer que isso significasse no que dizia respeito a seu coração, ela sabia agora também. Ele estava perdendo rápido o coração.
Em vez disso, ele se deleitou com as risadas das crianças. Eles se revezavam montando em seus ombros ou o abordando quando ele tirava um momento de sua exuberante energia para descansar. Quando não estavam escalando nele, imploravam a Duff para girá-los em círculos ou subir com ele em galhos curtos. Jamie, pequeno como era, possuía uma reserva extra de bravata destemida enquanto lançava sua fina espada nas pernas de Duff. O irmão de Charlie parecia mais feliz do que Patrick o tinha visto até agora. Parecia que o perdão de Charlie havia lhe dado um pouco da redenção de que precisava.
Patrick observou Charlie e Elsie vagando pela grama, seguindo os calcanhares de Nonie enquanto ela perseguia uma borboleta amarela, e se perguntou como seria sua vida com eles ali. Qual seria a sensação de ter seus próprios filhos? Ele nunca tinha pensado em ser pai antes de conhecer Duff... e os fatos do que Patrick poderia ter deixado em seu rastro tornaram-se claros. Ou foi Charlie quem despertou nele esse desejo profundamente enraizado de gerar um filho? Se ele decidisse levá-la para Camlochlin, seus parentes a aceitariam? Eles poderiam perdoar os Cunninghams pelo que fizeram ao filho do irmão favorito de Isobel Fergusson?
Logo chegou a hora de levar os filhos de volta aos pais. Ele odiava ver o dia acabar, mas ele estava pronto para encontrar Kendrick e trazê-lo para seu pai.
Quaisquer decisões e confissões a serem feitas depois disso podiam esperar.
Ele estava colocando sobras em seu alforje quando ouviu uma mulher gritando ao longe.
— Mary? — Charlie largou o cobertor que estava dobrando e saiu correndo.
Inferno. Ela era Mary. Patrick deixou o que estava fazendo e apontou para Elsie.
— Mantenha os bairns aqui com você. Não deixe ninguém sair de sua vista.
Ele correu, ouvindo Duff fazer o mesmo. O que aconteceu para fazer Mary correr todo o caminho até aqui? Tinha que ser Robbie. Inferno. Patrick esperava que não fosse Robbie.
— É Robbie! — Mary confirmou gritando enquanto eles se aproximavam. — Meu Robbie está morto!
A respiração de Elsie diminuiu logo após a chegada de Mary. Duff a devolveu a Cunningham House com instruções estritas sobre como preparar seu chá de butterbur.
Por alguns momentos, na viagem de volta, Patrick pensou em ir embora. Ele passou o dia com essas crianças, observando-as rir e brincar. Agora, ele teria que vê-los chorar por seu pai.
Mas esse pensamento não durou muito antes que ele se sentisse grato por estar aqui com eles. Que Charlie estava aqui e Mary não estava sozinha. Eles ajudariam esta família com isso.
Ele ainda não sabia o que tinha acontecido. Ele soube por Mary, entre os soluços, que seu marido simplesmente desmaiou. Ele gritou, agarrou o peito e caiu morto no chão.
Segundo ela, ele ainda estava lá. Na cozinha, ao pé de sua cadeira.
Quando chegaram em casa, Patrick ajudou Mary e as crianças a desmontarem e informou a Charlie que estava entrando.
— Mantenha-os fora aqui com você um pouco, sim, moça?
Ela acenou com a cabeça e reuniu Mary e as crianças ao seu redor quando se sentou na grama.
Patrick entrou em casa e correu para a cozinha. Ele empurrou a mesa e se curvou para o corpo de Robbie. Havia uma chance de que ele ainda estivesse vivo. Patrick pressionou o ouvido contra o peito de Robbie, ouviu e amaldiçoou o silêncio estrondoso. Ele não queria que os filhos vissem o pai dessa maneira, então colocou os braços sob os ombros e joelhos de Robbie e o ergueu. Ele o carregou para o quintal e o colocou suavemente na grama. Maldição, ele pensou, enquanto se endireitava e se dirigia para uma linha de lençóis limpos soprando na brisa. Como essa família sobreviveria sem um marido e pai para cuidar deles?
Ele pegou um lençol, puxando-o da corda e cobriu o corpo de Robbie com ele. Ele pediria a ajuda de Duff para enterrá-lo amanhã.
Quando ele voltou para a cozinha, pressionou as mãos na mesa e deixou a cabeça afundar entre os ombros. Ele permaneceu assim enquanto uma onda de calor nauseante o percorria e roubava seu fôlego.
Ele pensou nas crianças do lado de fora da porta. Em Nonie e seus pesadelos, estimulados pela punição de Hendry ao pai. Ele fechou os olhos em defesa da sensação de queimação atrás dos olhos.
— Patrick?
Ele abriu os olhos e viu Charlie em pé do outro lado da mesa, seus olhos grandes brilharam com lágrimas não derramadas à luz das velas.
— Mary pede que você diga a eles. Ela não pode dizê-lo.
Ele balançou a cabeça, com medo de falar e ouvir o tremor em sua voz.
— Eu vou te ajudar, Patrick. — Ela disse, contornando a mesa e pegando seu braço. — Venha, Mary precisa de nós.
Ele apertou sua mandíbula e soltou um juramento sob sua respiração. Ele não era um campeão... um herói. Ele nunca quis esse tipo de peso em seus ombros.
— Patrick.
Ele balançou a cabeça e se afastou da mesa. Ele deixou seu coração se abrir para esta família. Nonie e seus irmãos o pegaram quando ele não estava prestando atenção.
Quando ele saiu, eles correram para ele. Patrick se sentou na pequena escada da entrada e fechou os braços em torno de Nonie e Jamie quando eles se sentaram sobre seus joelhos.
— Tenho tristes notícias para vocês, crianças. Agora eu sei que vocês são apenas bairns, mas sua mãe vai precisar que sejam fortes por ela, sim?
Quando todos concordaram, ele olhou para Charlie e apertou o queixo. Ela ofereceu-lhe o mais mínimo dos sorrisos. Isso lhe deu a força de que precisava para continuar.
As crianças não choraram tanto quanto ele temia e ele desconfiava que não entendiam totalmente. Ele carregou Nonie e Jamie para a cozinha, onde Charlie começou a preparar o jantar.
O crepúsculo havia baixado e ninguém se aventurou no pátio. As crianças poderiam se despedir no túmulo pela manhã. Não havia necessidade de vê-lo sob o lençol.
— Vamos ficar aqui com você esta noite, Mary. — Patrick disse a ela depois que as crianças dormiram e a casa ficou em silêncio. — Seu marido terá um enterro adequado amanhã. Vamos fazer isso.
Mary acenou com a cabeça e enxugou o nariz.
— Eu quero dizer adeus a ele agora. Leve-me até ele, por favor.
Patrick se levantou da cadeira e, depois de olhar para Charlie, acendeu uma lamparina e acompanhou Mary para fora.
Quando o corpo coberto de Robbie apareceu, Mary chorou e segurou o braço de Patrick. Ele a ajudou a ir até o marido e depois se afastou dela quando ela caiu de joelhos.
Iluminado por sua lamparina ao lado dela, Patrick a observou. Isso era o que o amor fazia. Isso quebrava uma pessoa em pedaços. Ele tinha visto isso antes. Seu pai quase enlouqueceu quando sua amada Isobel sofreu um ataque respiratório particularmente ruim e ela ficou cinza azulada em seus braços. E novamente quando sua tia Davina adoeceu e seu tio Rob carregou seu corpo frágil pelos corredores, expressando seu amor em sussurros silenciosos soprados em seus cabelos. Ninguém em Camlochlin acreditava que ele se recuperaria sem ela.
Mas ver Mary dar suas despedidas suaves ao marido perfurou seu coração como nada antes.
Ele ouviu a abordagem de Charlie e se virou para beijar sua testa quando ela descansou a cabeça em seu braço. Compartilhar este momento com ela parecia mais profundo e íntimo do que qualquer coisa que ele já sentiu antes. Isso fez suas mãos tremerem e suas entranhas doerem.
Eles permaneceram em silêncio enquanto Mary chorava e finalmente se despediu.
Ele deu um passo para trás quando Charlie abraçou sua amiga e a ajudou a voltar para casa.
Patrick as observou partir, o mundo, como ele o conhecia, mudando de seu lugar. Como ele poderia ir embora agora? O aluguel de Mary não era pago nem com marido vivo. Como ela administraria todas essas vidas, sozinha? Como Charlie iria embora se ela desse todas as moedas que tinha para ajudar?
Em que diabos ele se meteu? Era culpa dele ficar tanto tempo e se apegar a essas pessoas.
Ele sempre fugiu do dever de ser responsável pelos outros. Ele não tinha ideia de como reagir à mudança. Ele poderia fugir agora... apenas correr para seu cavalo e ir, deixando tudo para trás. Ou ele poderia voltar para a casa e enfrentar o desafio de frente. Sua decisão não afetaria apenas as seis pessoas lá dentro, mas o filho de Cameron nunca seria devolvido a ele se Patrick fosse embora. Duff nunca conheceria seu pai, ou Will, seu filho. Mas nada tornou sua decisão mais fácil do que pensar no que Hendry faria com aquelas mulheres. Com os bairns.
Ele endireitou os ombros e se moveu para ficar ao lado de Robbie Wallace.
— Eu cuidarei das coisas, Robbie. Você descansa agora.
Suas mãos ainda tremiam enquanto ele voltava.
Capítulo 28
Charlie saiu de casa e respirou fundo. Ela precisava fugir, apenas por alguns momentos. Ela se sentou com Mary em seu pequeno quarto ao lado da cozinha e acalmou-a por horas. Seu coração se partiu por sua amiga e ela sofreu os mesmos medos sobre Hendry que Patrick tinha. Ela tinha pensado nisso a noite toda. Ela precisava estar fora, sentir o cheiro do perfume das flores na noite e olhar as estrelas, lembrando que havia um Grande Plano para tudo.
Ela olhou para os campos à distância, entrou suavemente na luz do luar e começou a andar na direção deles.
Ela não via Patrick há horas e imaginou que ele dormia na cadeira ao lado da cama das crianças. Melhor. Ela não queria sobrecarregá-lo com seus pensamentos perturbadores. Por que ele não foi embora? Qualquer outro homem já teria ido.
Ela estava no meio do campo, pensando em como estava grata por ele ainda estar aqui quando o som dos cascos de um cavalo batendo na terra de repente caiu sobre ela.
— Inferno, moça! — Patrick puxou as rédeas, parando sua montaria a poucos centímetros de distância, e passou a perna por cima da sela. — Eu quase caí direto em você!
Ela abriu a boca em defesa e depois a fechou novamente quando ele se calou diante dela, perto o suficiente para dominar seus sentidos. O cheiro da terra saia dele e a saturou, o toque de sua respiração em sua bochecha empunhando uma chama em sua espinha.
— Onde você está indo desta vez? — Ele exigiu, seu olhar ardente queimando e fazendo buracos em todas as suas defesas.
Ela se manteve rígida, firme. Quando ela deu a ele tanto poder sobre ela?
— Não gosto do seu tom. — Ela contornou ele e continuou seu caminho.
Ele o alcançou, deixando seu cavalo onde o havia parado e bloqueando seu caminho.
— Você não gosta do tom de preocupação?
— Venho aqui, sozinha, à noite há anos, Patrick. — Ela tentou contorná-lo, mas ele se moveu com ela e Charlie se aproximou de seu peito. — Eu não vou parar por causa da sua desaprovação. — Ela disse se libertando.
— Não desaprovo sua coragem e firmeza em atender às necessidades de sua irmã e arriscar sua vida por um ano e meio. — Disse ele. — Só não acho que você usa de cautela em sua tão procurada liberdade, e isso me preocupa. Pode não parecer tão perigoso aqui quanto em outros lugares, mas você não se inteirou com o ataque dos Dunbars?
Que outros lugares? Charlie se perguntou. Patrick quis dizer onde ele pensou que ela estava indo quando deixasse Pinwherry para trás? Ele estava dizendo a ela que não era Camlochlin? A maneira como ele havia falado sobre isso naquele dia na cozinha de Robbie e Mary a fez imaginar uma fortaleza impenetrável nas nuvens, escondida do mundo. Sem dúvida ali, onde os valores e a integridade eram nutridos, uma moça não corria perigo andando sozinha à noite. Seus outros lugares não incluíam sua casa.
Ela tentou não deixar sua decepção escapar de seus lábios quando respondeu.
— Eu não iria vagar por lugares que não conheço. E, claro, me lembro do ataque dos Dunbars. Eu não sou uma imbecil. — Ela deu a ele um olhar penetrante e apoiou as mãos nos quadris. — Você se lembra do homem que eu derrubei no Blind Jack's?
— Och, inferno, você é teimosa.
Ela se moveu ao redor dele novamente e sentiu um sorriso rastejar em seus lábios na luz fraca. Ela o preocupava. Não havia esperança de ir para Camlochlin.
— De onde você está vindo? — Ela perguntou quando ele apareceu ao seu lado. — Você está indo para Dumfries buscá-lo?
— Nae. Kendrick... — Ele disse e parou para dar a ela um olhar penetrante. — ...Terá que esperar. De acordo com Duff, Hendry desapareceu.
— Desapareceu?
Patrick estendeu os braços.
— É o que me disseram. Ele saiu esta manhã e não voltou.
— Ele não quer trazê-lo de volta. — Ela murmurou em voz baixa. Hendry era muito parecido com o pai. — Por que ele iria querer te ajudar? Ele... — Ele tinha estado na casa? — Como está...
— Elsie está bem. — Disse ele. — Eu verifiquei ela primeiro.
Ela só podia ver seu sorriso irresistível sob as estrelas.
— Na verdade, ela é a razão de que eu volte. Era tarde e não vi razão para te acordar. Mesmo se Hendry não tivesse fugido, eu não teria ido para Dumfries esta noite, mas teria voltado para você.
Ele tinha ido saber de Elsie? Ele teria voltado para ela? Brilhante, como ela deveria resistir a se apaixonar por ele? Mas ele a amava? Por que ele iria? O que a tornou diferente das outras? Talvez ela não fosse diferente em tudo.
— Eu não conseguia dormir. — Ela disse suavemente, muito cansada para pensar em tudo agora. — Mary adormeceu há pouco tempo. Eu só precisava de um pouco de ar.
Patrick se virou e assobiou para seu cavalo. A besta veio sem hesitação. Charlie desejou que seu cavalo fizesse o mesmo, mas ela adivinhou que Patrick precisava de um animal sempre pronto para fazer fugas rápidas.
Ela o viu puxar algo do alforje e depois se virar para ela segurando o cobertor dobrado.
— Só nós desta vez.
Seu coração esquentou e quando ele se aproximou e fechou o braço em volta de seu ombro, ela afundou em seu braço forte e descansou a cabeça em seu peito.
— Você está com frio, moça?
Ela fechou os olhos, amando o som de sua voz, a sensação de seu braço ao redor dela, seu corpo a aquecendo.
— Não, eu não estou com frio.
Eles caminharam juntos pelo campo até os pântanos muirs forrados de urze mais além. Ela provavelmente não teria vindo tão longe sozinha no escuro. Viajar para tavernas em outras aldeias era uma necessidade. Ela não tinha escolha. Aventurar-se tão longe por prazer era diferente. Mas Patrick estava aqui e ela se sentia segura.
Na verdade, ela sentiu cada preocupação derreter quando uma brisa fresca encheu seus pulmões com a fragrância de urze. Raios de luar minguante lançavam a névoa tênue que pairava sobre os muirs e caíam em poças de flores roxas prateadas e gotas de orvalho brilhantes.
Ela tinha visto os muirs de urze à luz do dia, mas nunca à noite. Era um lugar tirado de seus sonhos e espalhado diante dela. Oh, mas estava feliz que lugares como este realmente existissem no mundo que ela conhecia.
Ela respirou fundo, deixando-a preenchê-la, limpá-la e, em seguida, ergueu os olhos para sorrir para Patrick.
— Eu me sinto viva novamente.
Ele olhou nos olhos dela por um momento, sem dizer uma palavra, e se Charlie não soubesse de nada, se ela não o conhecesse, teria pensado que ele estava a olhando como se a amasse. Ela esperava que ele lhe contasse algo que a convencesse de que um futuro com ele era possível. Mas ele se afastou e desdobrou o cobertor.
Com um estalo, ele o colocou em cima da urze e ofereceu a ela um assento na lã ondulada. Ele se sentou ao lado dela e falou baixinho em seu ouvido.
— Tem sido uma noite difícil. Descanse aqui em meus braços.
Charlie ficou tentada a chorar... e por muitos motivos. Por Mary e seus filhos. Por si mesma, se não pudesse fazer o suficiente para reivindicar o coração desse homem. Oh, como ela poderia ter se deixado apaixonar por um belo canalha cobiçado entre as mulheres? Mas esse não era o Patrick que ela conhecia. Claro, ele sabia todas as coisas certas a dizer e se elas não funcionassem, seu sorriso fácil e convidativo geralmente funcionava. Mas essa era apenas uma camada dele. Ele tinha muitas. E Charlie queria descascá-lo até que ela alcançasse seu coração.
Ela afundou em seu abraço e o deixou abraçá-la com nada entre eles, exceto o ar perfumado.
— O mundo, — ele finalmente disse contra sua testa, — não é sua responsabilidade. Às vezes, você não pode ajudar a todos. O peso dele ficará muito pesado.
Ela inclinou o rosto para ele.
— Sei que não posso ajudar a todos, mas vou ajudar a quantos puder. Como fazer isso é muito peso para carregar?
— Eu não sei, mas...
— É nisso que você realmente acredita, Patrick?
Ele exalou uma respiração pesada acima dela e parecia estar ponderando suas palavras antes de pronunciá-las.
— Somos muito diferentes, Charlie. — Ela era tudo o que ele não era e tudo o que ele queria ser. — Você se importa com todos, enquanto eu me importo com poucos.
Ela piscou. Ele estava lhe dizendo...?
— Você está entre os poucos, é claro.
Ela soltou um suspiro suave que não percebeu que estava segurando. Ele se importava com ela. Ele queria cortejá-la. O que isso significava? O que isso significa para um libertino? Ela ganhou seu coração?
Ela lhe sorriu, esperando que ele pudesse vê-la e como a fazia feliz sob o luar e a névoa.
— Conheço muitos, mas não gosto de todos. — Garantiu ela.
— E eu? — Ele perguntou com humor em sua voz.
Meu Deus, mas ele sempre a fazia sorrir.
— Gosto de você. É claro. Eu não gostaria de você, — ela acrescentou, erguendo a mão para sua bochecha eriçada com restolho de barba, — se você fosse um grosseiro indiferente. Você me provou com Nonie, Elsie e até mesmo Duff que não é. — Ela correu o polegar pelo lábio inferior dele. — Você se parece mais com o seu Sir Gawain do que imagina, Patrick. Isso te incomoda?
— Você me incomoda, moça. — Ele disse suavemente, sua respiração soprando em seu queixo. — Sim, e o que você está fazendo comigo.
— O que eu estou fazendo? — Ela sussurrou, inclinando a cabeça para encontrar a boca dele.
— Você está mudando meu mundo.
Ela não teve tempo de reagir à sua declaração. Sua boca desceu sobre a dela com a mesma urgência sem fôlego que ela sentia. Ela não teve tempo para pensar, apenas sentir, vibrar, exaltar em seu toque, em sua língua.
Ele segurou o rosto dela com as mãos, aprofundando o beijo e enviando fogos perversos por sua espinha. Quando ele a inclinou para baixo, ela não se opôs. A suave urze parecia nuvens sob suas costas. O corpo de Patrick era muito mais duro acima. Ela sabia que era uma posição perigosa para estar com ele, mas não se importava. Ela não se importava em provocá-lo com o que ele não poderia ter. Ela queria dar tudo a ele.
Sua mandíbula eriçada com restolho da barba arranhou seu rosto enquanto ele movia os lábios sobre os dela, sua língua tomando os cantos mais profundos de sua boca. Ela se contorceu, querendo mais e não sabendo o que fazer a respeito. Ele gemeu com o movimento dela embaixo dele e deslizou as mãos pelo seu pescoço e sobre o monte de seu seio. Ele a fez esquecer o beijo de Kendrick, suas mãos tímidas e inseguras, enquanto o fogo disparava por ela e teve o desejo de se sentar e arrancar as roupas de Patrick... ou fugir.
Ela não fez nada, mas deixou a sensação de sua mão áspera seduzi-la. O toque de sua mão apertou seu mamilo. Empurrou-o para cima roçando seu vestido, doendo, doendo por mais. Seus dedos encontraram e por um momento agonizante, Charlie quase gritou, ele baixou o rosto e fechou os lábios em torno do botão tenso.
Luzes, em tons pintados de prata e roxo, explodiram diante de seus olhos, enquanto o vermelho profundo tomava suas terminações nervosas.
Ele a fazia se sentir malvada, como alguma coisa selvagem que ele pegou e estava prestes a conquistar. E ela não podia esperar. Ela puxou sua camisa e ele, suas saias. Seu corpo doía em algum lugar abaixo do umbigo, por algo que ela não tinha certeza se sabia.
Ela tinha falado com Mary, brevemente, sobre a arte de fazer amor, mas elas acabaram rindo durante a maior parte do tempo. Certa vez, durante uma de suas visitas a uma taverna não muito longe dali, ela viu uma garçonete levantar a saia e montar em um cliente sentado em sua cadeira.
Ela pensou em montar em Patrick. Ela seria tão ousada? Não! Ela balançou a cabeça e puxou seu lábio inferior entre os dentes. Oh, para o inferno com a lógica, ela pensou enquanto as chamas queimavam seu sangue. Instintivamente, ela projetou os quadris para cima, em seguida, puxou a camisa dele novamente. Ela arqueou as costas quando ele moveu o rosto para o vale entre seus seios e puxou os laços de seu espartilho costurado à mão com os dentes. Eles se desfizeram com um último puxão e seu espartilho saltou fora de seu peito.
Ela ficou lá, exposta ao seu olhar faminto e pronta para se render a tudo.
Capítulo 29
O coração de Patrick golpeava contra as costelas enquanto ele olhava para ela, a curva bonita de sua mandíbula iluminada em raios de luar, seu negro cabelo espalhado como uma auréola em volta do rosto... o rosto de qualquer deusa teria inveja, e o pesado sobe e desce de seus seios nus, seus mamilos eretos ao alcance sua boca. Seu sangue correu por suas veias, como fazia antes de uma luta. Ela o intoxicava, o enchia de desejo de possuí-la, de preencher seus dias e noites com ela, e somente ela, para fazê-la sentir-se viva todos os dias.
Uma onda de nervosismo tomou conta dele e por um instante ele se sentiu como um jovem rapaz. Ele se sentou rápido o suficiente para puxar a camisa pela cabeça.
Ele queria devorá-la. Mas não se devorava a perfeição, se esbanjava dela.
— Você me honra, moça. — Ele sussurrou, abaixando seu corpo sobre o dela.
— Oh, Sir Gawain. — Ela respondeu suavemente, fechando os braços em volta do seu pescoço e baixando a cabeça para trás. — Você e seus velhos ideais empoeirados.
Inferno, ela o fazia rir, mesmo agora, quando ele estava pensando em arrebatar a garganta que ela lhe oferecia.
— Isso faria de você uma velha.
Ela riu com ele, mas o beliscou nas laterais. Ele pegou seu pulso e segurou-o sobre sua cabeça enquanto capturava sua risada com um beijo.
Ele adorava beijá-la. Seus lábios carnudos cederam a ele com resistência suficiente para fazê-lo explodir de desejo. Ela o acompanhava em fervor, não recuando quando ele envolveu sua língua sobre a dela ou parou para mordiscar seus lábios antes de retornar ao início como uma criança abandonada e faminta.
E pensar que ela teria escondido isso dele se ele tivesse decidido ir embora. Ela era inteligente. Pois ele achava que não poderia viver sem beijá-la nunca mais.
Ela gemeu em sua boca e ele foi com força contra sua coxa.
Quando ela tentou empurrá-lo, ele temeu que tivesse ido rápido demais. Ele rolou de cima dela e, para sua surpresa e deleite, ela rolou por cima dele e sentou-se escarranchada sobre ele.
Patrick sabia desde o início que, se tivesse feito o que queria com ela, Charlie não teria medo. Ela era como uma égua selvagem, sua crina caindo sobre seus ombros, seu olhar lânguido e seus seios balançando na frente dele. Ele se inclinou e tomou um em sua boca, chupando-o e lambendo seu botão sensível com a língua.
Quando ela permaneceu rígida em cima dele, ele percebeu, sorrindo a caminho de beijar sua garganta, que Charlie não sabia o que fazer.
O abalou profundamente que esta gloriosa donzela se oferecesse a ele. O que ele fez para ganhar um coração como o dela?
— Nós vamos ter que casar. — Ele brincou levemente enquanto corria as palmas das mãos pelas costas dela. Ele segurou suas nádegas firmes e redondas e a arrastou sobre o comprimento de seu pênis ereto, esfregando-a, que ainda não tinha a liberdade de suas breeches18 abertas.
Depois de um momento de surpresa, ela sorriu, fechou os olhos e então se moveu sobre ele como a dança de uma chama ardente.
— Nós não temos que casar.
Ela se inclinou perto de sua boca, ainda se movendo, se esfregando com sua boceta quente, para cima e para baixo em seu pênis até que ele pensou que fosse explodir.
— Não é tarde demais para parar.
Charlie parou seus movimentos e estava pronta para passar a perna por cima dele quando ele se sentou, tomou-a nos braços e trocou de lugar com ela.
— É para mim, moça. — Disse ele, inclinando-se para beijá-la.
Quando ela não protestou, ele se mexeu e puxou o cinto e as breeches. Ela puxou os laços na parte de trás da saia e se contorceu para se soltar embaixo dele.
— Vai doer? — Ela perguntou, soando como asas batendo ao vento.
— Sim, quer que eu pare?
— Não, não pare. Eu sou uma tola, Patrick? — Ela perguntou a ele, ficando sem fôlego quando Patrick mergulhou a boca em seu pescoço.
— Eu espero que sim, amor. — Ele murmurou e então correu sua língua pela carne enrugada do bico de seu seio. — Essa loucura não é algo que eu queira sofrer sozinho.
— Pobre libertino. — Ela murmurou, passando as palmas das mãos nas costas dele. — Como isso deve ser difícil para você.
Ele riu e beijou seu mamilo tenso, então se inclinou e olhou em seus olhos.
— Provavelmente será mais difícil para você. — Ele afastou as pernas dela com os joelhos. Ela ofegou com a lança inflexível posicionada acima de sua entrada. — Mas não tema. — Ele continuou em um sussurro rouco. — Eu sei o que estou fazendo.
Mas ele nunca fez isso antes. Não sabia nada sobre fazer amor com uma moça que significava mais para ele do que uma cama, sua próxima refeição ou qualquer aventura vazia subsequente.
O corpo nu dela envolto pela luz da lua o fez se sentir inexperiente, inseguro e desajeitado pela primeira vez em anos.
Ele aprenderia agora, pensou, descansando seu corpo rígido em cima dela. Ele não a assaltaria de vez, mas procederia com cuidado e cautela para causar-lhe o mínimo de dor possível. Ele levou os dedos aos lábios dela e os deslizou até o queixo, descendo pelo pescoço, beijando onde tocava. Ele descobriria o que a agradava. Ele inalou o cheiro dela e o deixou agitar o caldeirão escaldante profundamente entranhado em sua barriga. Seu corpo queimava e seu coração com ele enquanto abria caminho com sua língua, seus dentes, entre seus seios... sobre eles, atraídos por seus mamilos firmes e eretos.
Seu toque era a combinação perfeita de habilidade e sensualidade. Charlie não podia fazer mais nada além de ser arrebatada por ele, esquecendo, por um momento, o pensamento de sua assustadora ereção tão perto de sua vagina.
Ela nunca tinha feito nada assim antes. Ela nunca pensou que faria. Não só ela estava deitada nos recantos de urze com nada cobrindo-a, além da luz do luar, e estava deitada sob Patrick, agarrando-o a si, ansiosa por cada centímetro do membro dele.
Ela não estava com medo. Não dele. Ela se recusava a ter medo de qualquer coisa esta noite.
Quando ele se retirou de seus seios para lamber uma linha excitante em sua barriga, ela lutou para controlar o desejo de impedi-lo de ir mais longe. Julgando pelo caminho dele, ela suspeitava para onde ele estava indo. Mary nunca lhe contara nada sobre isso e nunca falara com nenhuma das garotas das tavernas sobre o que elas podiam ou não ter feito na cama de seus amantes.
— Patrick, — ela perguntou com apreensão medida, — você vai... me beijar... lá?
— Sim, moça. — Ele ergueu os olhos brevemente após beijá-la e passou as mãos nas coxas dela. Seus dedos pararam nas finas tiras de couro que prendiam sua lâmina e sua funda a perna. Ele os puxou e pressionou a boca em sua coxa. — Vou beijar você e muito mais.
Ela não tinha intenção de pará-lo, então esperou, confiando em sua promessa de que sabia o que estava fazendo.
Continuando para baixo, ele deslizou o peso de seu membro pronto para longe dela e pressionou seus lábios na carne sensível abaixo de seu umbigo, e então a espalhou mais amplamente em suas dobras. Movendo-se ainda mais baixo, ele disparou sua língua magistral sobre sua entrada e puxou seu ponto crucial com sua boca. Ele a puxou com terna insistência, beijando e lambendo suas dobras íntimas antes de retornar à pequena chama de sua vagina que ameaçava consumi-la.
Ela fechou os olhos e mordeu o lábio inferior quando a paixão a dominou. Seu corpo ficou tenso. Suas costas arquearam involuntariamente e suas mãos cerraram em punhados de seu cabelo enquanto ele bebia dela. Ela gritou, incapaz de se impedir de fazê-lo. Isso estava realmente acontecendo. Ela estava prestes a entregar sua virtude a um libertino. Sim, ele pode ser o homem mais honrado que ela já conheceu, mas quando se trata de mulheres, sua armadura precisava ser polida.
Ela queria ser a mulher que faria isso.
Ela tinha que ser. Ela estava apaixonada por ele, apesar de todos os nervos de seu corpo gritando para ter cuidado. Ela não queria perdê-lo também.
Seus dentes raspando contra ela enviaram fogo por sua espinha. Ela não conseguia imaginar o quão escandaloso isso era. Isso a fez sorrir e abrir mais suas coxas.
A língua dele correu sobre ela e deu pequenos golpes em seu botão inchado. Ela ficou mais quente, mais excitada, mais úmida, selvagem por mais.
Quando ela pensou que poderia chorar de necessidade, ele se levantou nas palmas das mãos espalmadas e inclinou os quadris. Ela podia ver a intensidade em seus olhos brilhantes quando a ponta de seu eixo pressionou contra sua entrada úmida. Ele empurrou, entrando nela com lenta deliberação.
Uma dor aguda a apunhalou e ela cerrou os dentes. Ele viu seu desconforto e a envolveu em seus braços.
— Você me deixa louco. — Ele sussurrou em seu ouvido. O poder de seu olhar quando a olhou nos olhos a deixou fraca e disposta, mas quando ele começou a se mover dentro dela novamente, ela se moveu com ele.
Logo, apenas a dolorosa pulsação de desejo permaneceu.
Instintivamente, ela levantou os joelhos e enrolou as pernas em volta da cintura dele.
Ele gemeu e empurrou mais fundo, observando-a enquanto a reclamava como sua. Ele recuou e voltou com golpes longos e lânguidos que arrancaram gritos de seus lábios entreabertos.
Ele a levou para as nuvens, flutuando com ela em asas feitas de paixão e intimidade. Ela fechou os olhos e o abraçou enquanto ondas de êxtase a invadiam, libertando-a de todos os outros pensamentos, exceto um. Dele. Ela correu as palmas das mãos por seus braços poderosos, o alargamento de suas costas tensas, e mais abaixo para suas nádegas tensas esticadas em seus impulsos poderosos. De olhos fechados, ela gemeu, deliciando-se com a maneira como ele a enchia.
Ela sentiu seus impulsos mais profundos e se contorceu embaixo dele enquanto espasmos de um prazer cegante e incontroláveis a percorriam. Ela jogou a cabeça para trás, desconhecendo a vista daquele precipício. Era uma terra de tentações tenebrosas e tentadoras. Ela não sabia aonde isso a iria levar e não se importava. Seu corpo estava muito bem. Com um grito final, ela se deixou cair no limite.
Ele a pegou em uma explosão de cores radiantes. Ela cravou as unhas em sua carne e segurou enquanto seu corpo se convulsionava, apertando e relaxando em torno de seu pênis grosso.
Ela ouviu um som tenso vindo dele e olhou para cima a tempo de vê-lo perdido em êxtase arrebatador enquanto ele se impulsionava para ela mais rápido, mais fundo. Finalmente, ele afundou nela uma última vez, enchendo-a até a última gota.
Ela percebeu seu peso quase instantaneamente. Seus músculos tremeram contra sua carne. Ela se deleitou com a sensação desse homem em seus braços. Ela o abraçou enquanto eles respiravam no pescoço um do outro.
Oh, como algo poderia ser tão estimulante? Como ela podia se sentir tão feliz a ponto de temer que pudesse se voar na próxima brisa? Especialmente depois de sua noite com a pobre Mary? Devia ser a onda de emoções que Patrick acabara de arrancar dela que a fez querer chorar agora.
Ele deve ter sentido as emoções turbulentas dentro dela. Erguendo o rosto, ele olhou para ela.
— O que é isso, moça? Eu te machuquei?
Ela balançou a cabeça e descansou em seu abraço quando ele rolou para o lado e a envolveu em seus braços. Ela estava realmente mudando seu mundo? O que isso significava? Ele estava brincando quando mencionou casamento? Oh, o que ela deveria pensar?
Ela não iria perguntar a ele. Ela não queria estragar o que eles tinham acabado de compartilhar parecendo carentes. Ela não tinha ideia de como deveria se comportar. Ela pulou do penhasco e agora não sabia onde estava. Ele iria procurá-la novamente? Ela se renderia a ele novamente?
— O que a incomoda, Charlie? — Ele correu os dedos por sua mandíbula, angulando seu rosto com o dele. — Diga-me.
— Eu estava apenas me lembrando de Mary. — Não era completamente falso.
— Sim, os dias que virão serão difíceis para ela.
— Eu devo ajudar.
— Sim, anjo. — Ele beijou sua testa. — Eu sei.
Ela não queria fazer isso sozinha. Pela primeira vez em sua vida, ela não tinha certeza se poderia assumir a responsabilidade sozinha.
— Patrick?
— Sim? — Ele sussurrou.
— Podemos ficar aqui mais um pouco? — Ela não queria que seu tempo com ele acabasse.
— Podemos ficar o tempo que você quiser.
Charlie queria ficar envolta nos braços de Patrick para sempre, mas eles tinham que voltar para casa pela manhã. Ela queria estar presente quando Mary e as crianças acordassem.
Quando Patrick se levantou para se vestir um pouco mais tarde, ela se deleitou com a visão dele, totalmente nu, vestido apenas com a luz do luar. Uma luz luminescente clara dançava sobre seus braços musculosos e as colinas e vales esculpidos de seu abdômen rígido. Uma leve camada de pelos espalhava-se por seu peito. Suas pernas eram longas, com coxas bem musculosas e panturrilhas bem torneadas ainda envoltas em suas botas de couro.
Ela fez o possível para não olhar para aquela parte dele que estivera dentro dela, mas inferno. Piscando para ele agora, ela se maravilhou que Patrick conseguiu empalá-la até o cabo. Ele era grande.
A dor surda entre suas pernas testemunhava que ele administrou tudo bem. E que bem.
Ele a pegou olhando enquanto amarrava as calças e sorriu. Ela corou, então percebeu que ele a estava olhando também.
Droga, ela estava nua. Instintivamente, ela ergueu os braços e cobriu os seios.
— Não esconda sua beleza de mim, moça. — Ele disse, sua voz um suspiro melífluo quando se curvou para pegar sua mão e puxá-la para colocar de pé. Ele a puxou para perto e beijou-a, colocando suas terminações nervosas em chamas novamente.
— Se dependesse de mim, eu nunca a teria vestida novamente.
Ela sorriu contra seus lábios. Ela sentia o mesmo por ele. Mas eles tinham que voltar. O amanhecer estava para romper e começar o dia. Duff chegaria em breve para ajudar Patrick a enterrar Robbie. Ao pensar nisso, seus olhos ficaram úmidos novamente. Ela se retirou de seu abraço e estendeu a mão para as saias.
Patrick a observou por um momento e então se moveu para amarrar os laços de seu espartilho. Sua respiração caiu suavemente em seu seio enquanto ela o olhava, observando a extensão de seus cílios grossos para baixo, as linhas retas e nobres de seu nariz.
Ele não falou. Ele não disse a ela para não chorar. Ele não tentou convencê-la de que tudo ficaria bem. Ele simplesmente a deixou chorar, as lágrimas caindo em seus dedos hábeis. Quando ele terminou com os laços, ele a puxou novamente e beijou as dobras de seu cabelo.
— Você está pronta para voltar?
Ela não queria voltar. Eles tinham que enterrar Robbie. Onde estava Hendry? Quem capturou o coração de Elsie? Patrick logo partiria para encontrar o corpo de Kendrick. Ela não queria enfrentar nada disso. Mas ela balançou a cabeça e enxugou as lágrimas.
— Sim, estou pronta.
Capítulo 30
Nuvens cor de estanho rolavam pelo céu claro, derramando chuva sobre a terra enevoada abaixo, e sobre as pessoas que vieram para se despedir de Robbie Wallace. Muitos dos aldeões seguiram Charlie enquanto ela conduzia Mary e as crianças em direção à encosta com vista para a pequena propriedade dos Wallace.
Tendo chegado a horas de enterrar Robbie no chão, Patrick e Duff já estavam lá esperando.
Patrick limpou a chuva dos olhos e observou a procissão. Ele ainda não tinha conhecido o povo de Pinwherry, mas uma olhada em suas roupas esfarrapadas e feições magras provava que suas vidas eram difíceis sob o comando de Allan Cunningham, que não estava presente.
Seu olhar correu sua lady, enchendo sua visão com ela, fazendo seus outros quatro sentidos ganharem vida.
De todas as moças que ele conheceu, nenhuma era como Charlie. Ela desafiava o perigo e sua família pela segurança dos outros. Ele se perguntava quantos deles ela ajudara no passado. Ela não poderia fazer tudo sozinha... mas ele hesitaria em dizer isso a ela novamente. A última vez que ele tentou, a resposta dela foi rápida e carregada de decepção com ele. A simples pergunta dela a ele de como ajudar a todos que ela podia era muito peso para carregar, doeu porque ele sempre deu de ombros caindo fora de qualquer peso. Também trouxe à luz as diferenças entre eles.
Ele viveu sua vida como um patife indolente, desafiando o vento e seus sussurros.
Mas os ventos estavam mudando e ela era a navegadora, buscando o melhor nele. Duff também estava lá, lembrando-o das possíveis consequências de seu estilo de vida.
Parecia que Charlie sabia exatamente para onde olhar.
Seu olhar caiu sobre Nonie. Ele piscou para ela e ganhou um sorriso em resposta.
Inferno, ele a amava. Ele amava seus irmãos. Seu olhar subiu de volta para Charlie.
Ele a amava.
Ele ficou em silêncio enquanto o padre recitava o Livro Sagrado, seus pensamentos em um estado de que nada se firmava. Ele a amava. Ele deixaria isso acontecer. Tinha que ser amor, ou algo ainda mais forte, mais selvagem e incontível do que qualquer coisa que ele já experimentou antes. Ela o consumia, tanto acordado quanto adormecido. Sempre que ela entrava no campo de sua visão, seu coração batia com uma força que às vezes o deixava um pouco tonto. Ele se sentia inepto e inábil em seus braços, intoxicado pelo desejo de conhecê-la em sua cama e fora dela.
Ele queria estar unido a ela pelo resto de seus dias?
Ele suspeitava que sim, já que o pensamento de viver sua vida sem ela o fazia querer gemer e socar alguém no rosto.
Como ele diria a ela? Quando ele brincou sobre isso na noite passada, ela não parecia muito animada. Primeiro ele tinha que dizer a ela quem ele realmente era. Um Fergusson. Primo de Kendrick. Um MacGregor fora da lei. Primo de Duff. Ela o perdoaria por esconder isso dela? E quanto a Kendrick? Ela continuaria a se agarrar a ele?
— Patrick? — O pequenino Jamie deu um tapinha na perna dele, felizmente puxando a atenção de Patrick para longe das coisas que o aborreciam. — Posso cavar em seguida?
— Outro dia, rapaz. — Patrick se abaixou para pegá-lo pelos braços.
Ele ficaria? Ele poderia deixar os bairns? Charlie poderia partir?
Ele saiu do caminho quando Mary pediu a Robert e Andrew que passassem por ele para jogar um punhado de terra no túmulo de seu pai. Ele observou Charlie se aproximar, seus longos cabelos negros agarrados ao corpo como um manto. Ela ergueu o rosto e seus olhares se encontraram. Ele queria contar a ela. Tudo isso, e ele queria confiar que poderia reconquistá-la depois disso. Ele acreditava que estava pronto para começar uma nova vida e queria vivê-la com ela. Ele estendeu a mão em direção à dela, querendo lhe dizer que não iria embora, não até que ela fosse com ele.
Uma mão muito menor se encaixou na dela. Ele sorriu para Nonie, sentindo-se privilegiado por ela ter escolhido a mão dele para segurar quando chegasse a vez de se despedir do pai.
O resto da manhã passou com mais oração, mais lágrimas da viúva e dos filhos de Robbie, que choraram principalmente porque sua mãe chorava. Patrick estava feliz por estar ali para confortá-los.
Finalmente, quando as nuvens se dissiparam, todos eles voltaram para a propriedade Wallace para comer, beber e ajudar Mary em seu dia que seria difícil.
Patrick voltou com Jamie nos ombros e Charlie ao seu lado.
— Como está Elsie esta manhã? — Ele perguntou a ela.
— Duff disse que ela está melhor, mas ele achou que ela não deveria sair na chuva, então não a deixou vir.
— Foi uma boa decisão.
— Sim. — Concordou ela, sorrindo para ele e depois para Jamie.
Agora parecia um momento tão bom quanto qualquer outro. Ele não sabia por que não havia contado a ela na noite anterior enquanto faziam amor. Inferno, ele não conseguiria parar de pensar nisso agora. Ele lutou no local onde estava o túmulo para não pensar nisso. Relembrar o prazer carnal que compartilharam durante um tempo como aquele não parecia certo.
— Diga-me, moça. — Ele disse, determinado a continuar. Ele se curvou ligeiramente para ela. — Você protestaria por eu ficar aqui?
Inferno, ele amava olhar em seus olhos e ver cada emoção que a possuía.
— Ficar aqui? Em Pinwherry?
— Sim. — Ele acenou com a cabeça, fazendo Jamie rir acima dele. — Com você.
Seus olhos gloriosos se arregalaram. Seus lábios se separaram, atraindo seus olhos para eles.
— Comigo? — Ela respirou.
Ele estava prestes a responder quando uma mulher em algum lugar à frente gritou. Patrick tirou Jamie dos ombros, entregou-o a Charlie e correu na frente.
Quase imediatamente, ele viu o motivo da explosão. Um homem, pelo menos Patrick pensava que era, tropeçou em direção à multidão. Ele não foi muito longe quando suas pernas bambas falharam e ele caiu no chão.
Patrick o alcançou, e com as pessoas se reunindo ao redor, curvou-se para o estranho. Seus olhos estavam fechados, sua respiração superficial. Ele estava coberto de sujeira e fuligem do topo da cabeça às solas dos pés descalços e ensanguentados. Ele parecia ter caminhado pelo inferno.
— Quem é ele? — Alguém perguntou.
— Ele está morto? — Perguntou outro.
Patrick encostou a orelha no peito do estranho. Sua bochecha atingiu o osso. A miserável alma respirava.
— Ele precisa de cuidados.
— Venha. — Mary deu um passo à frente. — Traga-o para minha casa. É mais próxima.
Patrick enfiou os braços sob o homem e o ergueu com pouco esforço. Não restava muito dele sob suas roupas rasgadas e incrustadas de sujeira.
— Temos que limpar seus pés. — Disse ele a Charlie, que manteve o ritmo ao seu lado, Jamie estava com outra pessoa.
— O que nós faremos? — Ela perguntou a ele, seus olhos olhando para o pobre estranho.
— Ponha roupa limpa na cama dos bairns. Precisamos de água escaldante e trapos. — Ele não se lembrava de ter visto nenhuma erva crescendo no quintal de Mary, mas havia outra maneira de destruir infecções. — Eu preciso de mel e erva mil-folhas.
Quando chegaram a casa, ela pegou Mary e correu com ela e algumas das outras moças para dentro.
Ele carregou o homem para a cama das crianças e removeu a camisa encharcada de lama do estranho enquanto lençóis limpos eram preparados e colocados na cama.
— Duff. — Disse ele, sem se virar quando colocou o estranho indiferente na cama. — Ele vai ter febre. Vou te dar uma lista de coisas que preciso da cozinha de Alice que vão ajudar.
— Não sei ler. — Duff disse a ele. — Mas me diga o que você precisa e eu o atenderei.
Patrick obedeceu enquanto Mary começava a ferver água e Charlie esperava por mais instruções.
— Precisamos de uma bacia. — Disse Patrick, arregaçando as mangas. — Seus pés devem ser limpos e cuidados, caso contrário ele os perderá.
— Ele não os perderá.
Patrick virou a cabeça para olhar para Charlie. Ela sorriu para ele. Ele sorriu de volta, apreciando sua confiança. Ele não era um curandeiro. Na verdade, ele deixou homens sangrando e quebrados depois de uma luta. Ele nunca tentou curar nenhum deles. Ele conhecia os remédios para muitas doenças, mas nunca havia colocado nenhum deles para funcionar antes do butterbur de Elsie.
Quando ele tinha tudo que precisava, começou a cortar as calças esfarrapadas do estranho e então começou a cuidar dele. O homem não reagiu ou respondeu durante seu atendimento, o que preocupou Patrick. Ainda assim, ele trabalhou enquanto Mary voltava para seus filhos e amigos. Charlie não tinha saído do seu lado, observando tudo o que ele fazia e o agraciando com mais sorrisos encorajadores. Quando ficou satisfeito de que os pés do pobre homem estavam tão limpos quanto poderia, ele aplicou o mel para combater a infecção e envolveu cada pé em trapos limpos.
— Parece que ele está caminhando há um bom tempo. — Disse ele, afastando-se do trabalho e lavando as mãos.
— Você acha que ele é um ladrão? — Charlie perguntou, gentilmente levantando a cabeça suja do homem para os travesseiros. Eles poderiam limpar o resto dele mais tarde.
— Eu acho que qualquer um que esteja tão magro quanto ele provavelmente teria que roubar comida. Ele não é bom nisso pela aparência de seus ossos.
— Não o reconhece de suas viagens?
Ela balançou a cabeça, dando a volta para o lado dele da cama.
— Devo cobri-lo?
— Sim, mas deixe seus pés descobertos. Nada é para tocá-los.
Ele caiu na cadeira ao lado da cama das crianças e exalou profundamente. Ele não estava cansado de não dormir à noite toda e cavar pela manhã. Estranhamente, seu corpo parecia revigorado, revivido. Ele olhou para a cama.
— Não sei se alguma dessas coisas o ajudará.
Ela veio até ele e se acomodou em seu colo.
— Quer isso aconteça ou não, você fez tudo o que podia.
Ele olhou para ela e acenou com a cabeça. Inferno, ele amava seu rosto, as curvas sensuais de sua boca. Ele queria que ela soubesse como se sentia. Mas ele tinha que contar a verdade primeiro.
— Dê um passeio comigo, moça. Há coisas que eu gostaria que você soubesse. Não há nada mais que possamos fazer por este homem agora.
Ela o seguiu para fora do quarto e, depois de informar o povo de Pinwherry sobre a condição do estranho, saiu de casa com ele.
— Você está se comportando de forma estranha. — Ela disse a ele enquanto caminhavam juntos pelo campo.
— Eu estou?
Ela assentiu e pegou sua mão.
— Você está solene. O que o incomoda?
— Coisas solenes. — Ele disse a ela calmamente. — Coisas que eu não contaria em um dia em que até o sol esconde seu rosto. Coisas que devo dizer a você agora, enquanto tenho coragem.
— Parece que seja lá o que for, eu não vou gostar.
— Você não vai. — Disse ele com voz rouca.
— Bem, vá em frente, então. — Ela segurou sua mão com um pouco mais de força. De alguma forma, fisgou Patrick mais do que as palavras do padre sobre Robbie Wallace.
Inferno, por onde ele deveria começar?
— Eu não fui sincero sobre como eu sei sobre o pai de Duff.
— Oh? — Ela perguntou nervosa. — Como você o conhece, então?
— Will MacGregor é... ele é meu primo. Ele mora em Camlochlin com o resto da minha família. — Pronto. Ele disse isso. Ela não largou a mão dele. Havia mais. Ele não conseguiria parar agora.
— Você disse que Will MacGregor era de Skye. — Ela interrompeu quando todo o peso da verdade começou a surgir nela. — Você está me dizendo que você é parente dos MacGregors de Skye?
— Não, moça. Eu sou um MacGregor de Skye. Camlochlin está em Skye. É onde todos nós vivemos.
Ela balançou a cabeça como se ainda estivesse confusa e soltou a mão dele.
— Não entendo. Você disse que é um Campbell.
— Sangue Campbell corre através de mim, mas eu sou um MacGregor.
Ela se afastou dele lentamente. Seu coração afundou quando ele a alcançou e ela ergueu as palmas das mãos para afastá-lo.
— Eu não entendo isso, Patrick. — Ela olhou em volta como se estivesse perdida, os olhos marejados de lágrimas. Ela os fechou para impedir que alguma caísse. — Eu não quero isso. — Disse ela, abrindo os olhos e fixando-os nele. — Você é um MacGregor de Skye, então você também me enganou sobre seus laços com os Fergussons.
Era o que ele queria dizer a ela, mas ouvir as palavras ditas em voz alta o fez querer se virar. Ele a enganou, não sobre coisas triviais, mas sobre verdades que poderiam tê-la levado a tomar decisões diferentes sobre ele. Patrick viu a acusação em seus olhos. A vergonha do que Charlie o deixou fazer com ela na noite passada. Ele era um canalha e nada mais. Uma onda escura e sombria o envolveu como nada que ele já sentiu antes. Ele temia que, se não corrigisse isso agora, talvez não tivesse a chance novamente.
— Patrick? — Sua voz estalou como um chicote. — Eu tenho esse direito? Você tem laços com os Fergussons?
— Charlie, deixe-me primeiro dizer que...
— Você quer dizer?
— Sim, eu quero, mas a razão pela qual eu escondi de você não é...
— Que tipo de laços, Patrick? — Ela exigiu. — Laços de Sangue?
Inferno, ele não deveria ter contado a ela. Nae, ele tinha que lhe dizer a verdade. Quaisquer que fossem as consequências, ele teria de fazer a coisa certa. Droga. E ele poderia muito bem cair de cabeça para baixo, do jeito que fez com os punhos. Quanto mais rápido terminasse, menos danos seriam causados.
— Sim, eles são meus laços de sangue. — Ele admitiu. — Minha mãe é irmã de Cameron Fergusson. — Ele se moveu em direção a ela novamente quando Charlie se afastou. — Eu realmente não sabia como dizer a você, moça. Minhas razões para mantê-lo escondido de você mudaram, mas as minhas razões atuais para dizer agora é que nunca mudará. Amo você, Charlie. Não quero esconder nada de você.
— Bem, então está tudo bem. — Ela disse secamente. — Um homem que não tem ideia do que o amor significa... — Sua voz aumentou de tom. — ...Me ama! Por que devo me importar se ele mentiu para mim sobre ser parente de homens que deixaram apenas seis pessoas vivas quando elas vieram pela última vez?
Ele ergueu a palma da mão.
— Eu quero falar com você sobre isso, moça.
Ela deu um passo à frente e deu um tapa na mão dele.
— Você acha que eu acreditaria em qualquer coisa que diga? Cameron Fergusson mandou você aqui para matar Duff e Hendry? Eu sei que você não se oporia a machucar este último.
— O meu desejo de machucar Hendry não tem nada a ver com os Fergussons. — Defendeu Patrick. — E quanto a eles me mandarem aqui, eu estava indo visitá-los pela primeira vez em dez anos quando sua pedra me atingiu naquela manhã.
Seu brilho sombrio vacilou quando outra terrível verdade surgiu nela... uma que ele não podia defender ou negar.
— Você é primo de Kendrick.
Finalmente, ele baixou o olhar para o desgosto em sua expressão.
— Te satisfaz saber que teve sucesso onde meu pai falhou?
— Charlie, não. Eu...
Ela puxou a mão quando ele a alcançou.
— Eu fui uma tola. A vitória é sua. Tenho certeza de que você vai exibi-la com orgulho em seu cinto.
Ela não esperou pela resposta dele, mas o deixou lá parado enquanto ela fugia.
Capítulo 31
Charlie não correu de volta para a casa de Mary, mas para sua irmã. Ela precisava de alguém a quem derramar seu coração, e a pobre Mary tinha suas próprias tristezas. Elsie ouviria e beijaria sua cabeça. Elsie diria que ela estava certa em odiar Patrick.
Ela apressou o passo enquanto as lágrimas brotavam de seus olhos.
Patrick era um Fergusson. Os homens em Tarrick Hall eram seus tios, e ele esperava que ela acreditasse que sua vinda para Pinwherry era uma coincidência? Ela não era tão idiota. Mas ela era! Ela se apaixonou por seu rosto bonito e galanteria bem praticada. Ele era um sedutor e ela o deixou seduzi-la. Pior de tudo, ela o deixou fixar residência em seu coração, onde seu primo pertencia. Ele sabia que Kendrick era seu primo. Ele sabia que Charlie o amava. Todo o tempo em que a deixou falar sobre ele, Patrick sabia e ainda tentava conquistá-la. Por quê?
Seu sangue ficaria quente em suas veias novamente? Seu coração pararia de se partir? Ele era primo de Kendrick. Ela traiu... não, os dois traíram a lembrança de Kendrick. O que o pai de Kendrick pensaria disso? Querido Deus, Patrick era sobrinho de Cameron Fergusson.
Ela teve que colocar a mão sobre a boca para parar de gritar. Ela estava certa o tempo todo e ainda assim se permitiu se apaixonar. Ela era uma idiota como as outras mulheres que acreditavam nas mentiras de uma cobra!
O propósito de cada homem era movido pela luxúria, ganância, poder ou orgulho. Patrick a havia tomado e, por isso... bem, para ser sincera, ela se lembraria disso pelo resto da vida. Mas ele não o fez por amor. A luxúria não o levou. Ninguém na aldeia tinha riqueza, então a ganância não era uma possibilidade. Ele não tinha nenhum poder a ganhar com o pai dela.
Orgulho.
Kendrick, seu primo, estava morto. O que ele faria depois de recuperar os restos mortais de Kendrick? Seu tio finalmente teria a prova de que precisava de que os Cunninghams haviam assassinado seu filho? Ele voltaria para terminar o que começou há cinco anos? Patrick estava aqui para vingar sua família?
O que ela poderia fazer a não ser avisar Duff e fugir com Elsie?
Ela enxugou uma lágrima amaldiçoada de sua bochecha, mas mais vieram quando ela se lembrou que Camlochlin estava em Skye. Ele nunca teve qualquer intenção de levá-la lá.
Ela parou por um momento para cobrir o rosto com as mãos e chorar por seu coração tolo. Alguma coisa sobre ele era real?
Ela ouviu um cavalo galopando em sua direção e olhou para cima para ver seu irmão voltando para casa e saltando da sela antes que a besta parasse.
— O que você está fazendo aqui? — Ele perguntou a ela com algo selvagem em seus olhos. — Por que você chora? Você ouviu alguma coisa?
Ela enxugou os olhos. Algo estava errado.
— Algo sobre o quê?
Ele parecia se despedaçar diante de seus olhos. Ela não o via em tanto desespero desde a noite em que ele e Hendry voltaram de sua viagem a Dumfries, cinco anos atrás.
— É Elsie? — Ela gritou enquanto a náusea a dominava.
— Ela...
Charlie piscou. Sua respiração vacilou. Ela o quê?
— ...Não estava em seu quarto quando eu a busquei antes de sair. Procurei em todos os lugares, mas não consigo encontrá-la.
O sangue de Charlie ferveu. Como sua irmã poderia fugir para seu admirador quando eles estavam enterrando Robbie?
— Eu não sou a única que estava fugindo, Duff. — Ela tentou tranquilizá-lo.
Ele balançou sua cabeça.
— Temo que os Fergussons a tenham levado.
Oh, que droga essa rixa estar sempre incluída em tudo.
— Por que os Fergussons a levariam?
— Hendry voltou, Charlie. — Ele disse a ela, visivelmente tentando se manter calmo. — Ele matou um homem. Um inquilino dos Fergussons.
Ela se recusava a desmaiar. Ela não faria isso. Ela também não desmoronaria. Se, Deus a livrasse, os Fergussons tivessem levado Elsie, Charlie sabia quem poderia resgatá-la. Patrick disse que a amava. Agora, ele poderia provar isso. Se ele recusasse, ela encontraria uma pedra grande o suficiente para matá-lo.
— Eu vou buscá-la, Charlie. — Seu irmão prometeu. — Eu ia te contar para que...
— Não! Você não pode ir! — Ela agarrou sua manga. — Você não terá chance contra todos eles. Não seja tolo, irmão! Você não será um herói. Você vai morrer, e também Elsie. Patrick deve ir.
— Charlie, estou indo. — Disse ele com firmeza e soltou os dedos de seu pulso. — Fique aqui, onde eu sei que você está segura com Patrick.
— Patrick é um Fergusson! — Ela gritou quando ele voltava para seu cavalo.
Ele parou e se virou para ela.
— O quê? Como você sabe disso?
— Ele acabou de me dizer. — Disse ela indo para ele. — Ele é sobrinho de Cameron. Agora você entende por que Patrick deve ir? — Ela procurou seu olhar e se afastou, esperando que ele a ouvisse. — Não há tempo para dizer mais nada. Patrick é o único que pode nos ajudar.
Antes que ele respondesse, ela se virou e saiu correndo para a casa.
Um momento depois, ela foi tirada do chão e colocada no colo de Duff enquanto ele cavalgava em direção a propriedade de Wallace.
Patrick tinha que ajudá-los, Charlie pensou, escorregando da sela do irmão quando chegaram em casa alguns momentos depois. Como eles trariam Elsie de volta se ele não o fizesse? Duff, Hendry e seu pai não conseguiriam lutar contra os Fergussons. Todos eles seriam mortos.
Ela irrompeu na casa e, ignorando os aldeões reunidos, ela correu para o quarto das crianças. Ela encontrou Patrick dormindo na cadeira, o estranho ainda sem reação na cama.
Sem perder tempo, Charlie correu para Patrick e caiu a seus pés.
— Acorde! Acorde, Patrick!
Ele acordou imediatamente e se sentou.
— Charlie, o que...
— Elsie se foi. Tememos que os Fergussons a tenham levado.
— Eles não fariam isso. — Ele se levantou da cadeira e a pôs de pé. Ela procurou a verdade em seu olhar. Ele olhou para Duff. — Eles não iriam.
— Eu acho que sim. — Duff rosnou para ele.
Charlie não os deixaria brigar agora. Ela correu para ficar entre eles e enfrentou Patrick.
— Pode ser porque Hendry matou um dos inquilinos do seu tio.
— Inferno.
Charlie concordou. Ele finalmente entendeu.
— Se ela estiver em Tarrick Hall, eu a trarei de volta.
Ela nem tinha pedido a ele ainda. Ela não precisava prometer nada a ele. Ele ia ajudar!
— Charlie? — Disse ele, incitando-a a olhar para ele. — Eu vou encontrá-la. Não tenha medo, certo?
Ele sorriu quando ela acenou com a cabeça e depois a contornou.
— Eu vou com você. — Duff insistiu, bloqueando seu caminho.
— Não. — Patrick disse a ele. — Eu não vou ter nenhuma matança. Eu estarei de volta antes do anoitecer com ela.
— E se você tiver algo a ver com isso. — Duff acusou, sem se mover. — Esta seria a oportunidade perfeita para escapar e nunca mais voltar. Nunca mais veríamos você ou Elsie.
— Mas você a verá novamente. Esta noite, se os Fergussons estiverem com ela. Você tem minha palavra.
— A palavra de uma cobra?
Patrick balançou a cabeça, sem se incomodar com o insulto de Duff, ou sabendo que era verdade e sem se preocupar em negar.
— A palavra de seu primo.
Maldição, ela havia se esquecido de contar essa parte a Duff.
— Eu também sou um MacGregor e, quando tudo isso acabar, irei te levar para casa para conhecer seus parentes. Agora, por favor, afaste-se e fique vivo para que eu possa manter minha palavra que dei para você. Estou tentando ser um homem melhor para reconquistar sua irmã.
Ele se virou e deu um sorriso confiante para ela, então saiu do quarto quando Duff se moveu para deixá-lo passar.
— Ele é meu primo? — Duff perguntou a ela quando eles eram os únicos no quarto.
— Sim, ele é. Falaremos mais sobre isso quando ele voltar. — Ela deu um tapinha no braço dele com o olhar fixo na partida de Patrick. — Sente-se e dê-se um momento para absorver tudo, irmão. Eu sei que é um choque. — Ela parou um momento para sorrir para ele. — Foi para mim também. Voltarei em um momento. — Ela se afastou. — Gostaria de lembrar a Patrick de nos deixar instruções para esse pobre estranho.
— Quem quer que seja Patrick. — Disse Duff, interrompendo-a. — Elsie é minha irmã. Devia ser eu quem a trouxesse para casa.
— Por quê? — Ela perguntou sucintamente. — Por que tem que ser você? — Ela suspirou olhando para ele e balançou a cabeça. — Você é tão orgulhoso quanto ele. — Era tão nobre. Sim, por mais preocupada que estivesse com a ida de Duff para Tarrick Hall, aqueceu seu coração em relação ao irmão que estava disposto a arriscar sua vida por sua irmã.
— Duff. — Ela o conduziu ternamente em direção à cadeira. — Fique aqui por mim. Perdemos muitos anos. Eu gostaria de tê-los de volta.
Ela se inclinou e beijou-o na bochecha, e então saiu correndo do quarto.
Ela avistou Patrick saindo do lado de Mary depois de uma palavra com ela. Esperançosamente, talvez, para dizer a ela como continuar tratando o homem na cama de seus filhos.
Ela o observou sair de casa e, sem se dar a conhecer, foi atrás dele. A ideia de segui-lo não passou por sua cabeça até que Duff tocou no assunto. E se ele estivesse correto? E se Patrick tivesse alcançado seu objetivo e agora estivesse escapando sem ferimentos?
Ela tinha que ir pelo bem de Elsie. Ela rezou para que uma vez que seu irmão descobrisse que ela tinha ido, não a seguisse. Mas se ele soubesse, e estivesse certo sobre Patrick, eles certamente nunca veriam Elsie novamente. Se os dois morressem lutando para resgatá-la, então que fosse.
Se Duff estivesse errado, com sorte eles já estariam tão à frente que quando percebesse que ela havia partido e entendesse que não poderia alcançá-la. E se os alcançasse, ela poderia pedir a Patrick para amarrá-lo a uma árvore.
Ela tinha que ir porque precisava saber quem era Patrick MacGregor. Não pelo nome ou pelo sangue, mas que tipo de homem ele realmente era. Era por isso que ela estava se arriscando a segui-lo direto para a porta do inimigo de seu pai. Ela tinha que saber, de uma vez por todas, se havia algo redimível sobre ele.
Ninguém a viu pular na sela e cavalgar na direção de Patrick, mantendo uma distância segura mais trás, enquanto os cascos de seu cavalo rasgavam o chão.
Duff não apareceu mesmo depois de uma hora, e Charlie não podia acreditar o quanto seu traseiro doía. Ela nunca esteve na sela por tanto tempo. Ela conseguiu ficar para trás em um ritmo uniforme sem ser descoberta, mas havia mais árvores à frente e ela não queria se perder ficando muito para trás.
Ela não teve escolha a não ser acelerar sua montaria. Ao mesmo tempo, ela captou um som atrás dela. Um cavalo. Ela se virou, esperando ver Duff, e não encontrou um, mas cinco cavalos vindo em sua direção.
Um em particular estava quase no flanco de seu cavalo. Ela não teve tempo de alcançar a funda, não teve tempo de fazer nada além de chutar o cavalo e voar em galope.
Capítulo 32
Patrick ouviu seu nome sendo trazido com o vento. Ele se virou e viu Charlie trovejando em galope em direção a ele com cinco cavaleiros nas costas.
Amaldiçoando, ele girou sua montaria e puxou as rédeas, puxando o cavalo para cima, ficando nas patas traseiras, chutando o ar com as patas dianteiras. No instante em que os quatro cascos estavam de volta ao solo, a fera disparou a galope.
Patrick viu Charlie passar por ele e voltar para ficar do lado dele. Em um movimento lindamente fluido, sua espinha se endireitou como uma rainha Picta se preparando para a batalha, sua bem usada e amada funda de couro balançando sobre sua cabeça. Não havia tempo para pensar em como ela era gloriosa para ele. O cavaleiro líder estava diminuindo a diferença de distância.
— Mire nas cabeças deles. — Ele disse a ela então correu para a luta. — Não na minha!
Ele preferia lutar em solo, mas a cavalo teria que servir. Ele iria precisar de uma espada. Seus olhos rápidos encontraram apenas dois homens carregando-as. O cavaleiro mais próximo não era um deles. Patrick não teria que perder tempo passando por ele primeiro.
Enquanto ele cavalgava mais perto sem nenhum sinal de diminuir a velocidade, seu oponente hesitou. Patrick se preparou para içar o ladrão da sela e estourar seu queixo.
Uma pedra passou voando por sua orelha e atingiu o ladrão entre os olhos, derrubando-o do cavalo. Este não era mais uma preocupação.
Patrick sorriu enquanto avançava em direção ao portador da espada. Quando parecia que eles estavam prestes a colidir, Patrick desviou para a esquerda para ultrapassá-lo. Ele largou as rédeas primeiro e estendeu a mão para agarrar o ladrão pelo pescoço. Sem diminuir o passo, ele logo segurou o homem suspenso alguns metros acima do solo. Ele não era tão forte que pudesse manter essa façanha por mais do que alguns instantes, menos ainda com uma mão. Mas isso foi todo o tempo que ele precisou para pegar a espada do ladrão e derrubá-lo.
Embora ele não sentisse o peso de uma lâmina assim, o cabo parecia familiar e seus músculos assumiram o controle. Ele alcançou o próximo cavaleiro e deu um poderoso golpe no peito do ladrão. O homem caiu jorrando sangue. Patrick se virou para o próximo e chutou os flancos de seu cavalo, avançando. O segundo cavaleiro com uma espada a segurou no alto, pronto para acertar a lâmina enferrujada na cabeça de Patrick.
Patrick bloqueou com sua lâmina, que não estava em melhor condição. Nenhuma pedra veio de Charlie. Isso não era um bom sinal.
Ansioso para vê-la, ele virou o punho da lâmina para a mão direita e desceu a espada contra a outra com um golpe poderoso que quebrou as duas lâminas. Seu oponente levou um momento para olhar o cotó da espada em seu punho. Patrick não. Ele largou a sua e moveu-se em um borrão de velocidade, agarrando o punho fechado do homem e usando o cabo para nocauteá-lo, junto com os poucos dentes que lhe restavam.
Livre, Patrick girou sua montaria e encontrou Charlie não muito longe de onde a havia deixado. Dois homens, incluindo o cavaleiro líder e o dono original de sua espada, estavam inconscientes ou mortos por uma das pedras de Charlie.
O último cavaleiro a tirou da sela e a segurou com uma lâmina enferrujada em sua garganta. Os ossos de Patrick tremeram ao pensar nela morrendo nas mãos de um bandido. Mas essa moça forte não queria nada disso. Ela enfiou a mão por baixo da saia. Quando reapareceu, seus dedos estavam fechados ao redor do cabo de sua pequena lâmina negra. Sem hesitar, ela afundou a lâmina na barriga de seu captor. Ele se afastou, contorcendo-se quando Charlie se virou, arrancou a lâmina de sua carne com a mão esquerda e deu um soco no rosto dele com a direita.
Patrick correu para frente, incapaz de ficar parado, não importava o quão boa ela fosse, mas ele estava muito atrasado. O chute forte e rápido de Charlie na virilha de seu captor o derrubou antes que Patrick pudesse chegar a ela.
Desmontando, ele foi até ela e deu uma lenta olhada nela.
— Você está ferida em algum lugar?
— Não. — Ela disse a ele, sem fôlego. — Você está?
Ele lhe deu um sorriso malicioso como se ela fosse louca. Então ele ficou sério novamente.
— O que você está fazendo aqui?
— Eu quero ver minha irmã, não me sentar e esperar.
Seu olhar encontrou o dela. Ele podia facilmente acreditar que ela não queria ficar sentada esperando para ouvir notícias de sua irmã, mas havia mais nisso. Ele viu quando ela desviou o olhar primeiro.
— Você não confia em mim.
— Você está me chamando de mentirosa. — Ela rebateu. — Você acima de todas as pessoas.
Inferno, ela tinha razão. Ainda assim...
— Se você estava decidida a vir, por que me seguiu em segredo?
Ela parecia estar pensando em sua resposta, então parou e fez uma careta para ele.
— Tudo bem então, se precisa saber toda a verdade sobre isso, direi. Não, não confio a ninguém a vida da minha irmã. Eu...
Ele acalmou suas palavras quando colocou a boca em seu ouvido.
— Você está segura comigo, moça. Assim como seus parentes. Você tem minha palavra.
Ela olhou para ele. Não havia nada quente em seu olhar.
— Sua palavra significa muito pouco para mim, Patrick MacGregor. Eu confiei em você.
— Você ainda pode. — Ele prometeu. Inferno, como ele a convenceria? Ele lamentou não ter contado a verdade. Ele entendia sua raiva, sua resistência. Ele ansiava por beijá-la, mas não o fez. Em vez disso, seu olhar se moveu sobre seu rosto, seu cabelo e de volta para ela. — Perdoe-me, Charlie.
Mas ela balançou a cabeça e se afastou dele.
— Espera que eu acredite em você agora que se importa comigo? Uma Cunningham?
— Não dou a mínima do que você é chamada. Você é uma moça que não tem problemas em me dizer o que pensa e sem qualquer pretensão açucarada. — Seu sorriso travesso voltou. — Eu gosto disso. Isso me mantém na ponta dos pés.
— Se você acha isso engraçado, então não tenho mais nada a dizer.
— Você me agrada. Isso é tão terrível?
— Você é insuportável. — Disse ela se movendo em direção a seu cavalo. — Você sai de tudo com charme?
— Eu costumava sair.
Ela enfiou o pé no estribo e se ergueu.
— Dê-me uma razão pela qual eu deveria confiar em você agora, quando não foi nada além de um enganador.
Ele subiu na sela e acenou com a cabeça, dando-lhe razão.
— Não, tudo era falso. — Disse ele, sem defesa sob sua responsabilidade nisso.
— O resto não importa. — Ela respondeu e foi embora.
Patrick a seguiu. Ele queria contar a ela tudo que estava em seu coração, mas que nunca disse a ninguém antes. Ele não sabia por onde começar ou se isso importaria mais para ela. Ele certamente não poderia dizer a ela de sua sela enquanto eles cavalgavam por Colmonell.
Colmonell.
O que seus tios pensariam dela? O que seus parentes em casa pensariam dela? Eles acreditariam que ele os traiu ao se apaixonar por ela? Ele queria levá-la de volta para os pântanos muirs de urze e esquecer o resto do mundo. Ele queria prometer a ela que nunca iria enganá-la novamente.
— Patrick. — Chamou ela, diminuindo a velocidade do cavalo e virando-se para ele, o rosto pálido. — Nós não trouxemos nenhum butterbur! E se Elsie estiver doente? Se ela foi sequestrada, pode precisar!
— Há uma abundância de butterbur em torno de Tarrick Hall. — Ele a acalmou, cavalgando para ela e parando ao seu lado. — As teremos se precisarmos. Se Elsie estiver lá.
Ela o olhou enquanto um momento passava para dois, como se esperasse que ele percebesse o que acabara de dizer. Quando ele não o fez, ela o lembrou.
— Você disse que não havia butterbur em Colmonell.
Inferno.
— Você não consegue se lembrar de todas as suas mentiras, não é? — Ela balançou a cabeça e partiu antes que ele tivesse tempo de responder.
— Charlie. — Ele a alcançou e aproximou seu cavalo. — Como eu ia te dizer onde estive sem revelar tudo o mais?
— Por que não... — Ela começou e então parou, seus olhos se arregalando em algo atrás dele.
Patrick descobriu o que... ou quem era um momento depois.
— O que você está fazendo nas minhas terras? Comece a explicar ou eu vou te matar onde você está.
Patrick deu uma piscadela para Charlie antes de se virar para enfrentar seu agressor.
Ele sorriu para o homem parado na linha das árvores, uma funda e uma pedra pronta para voar.
— Você fica aí parado todos os dias esperando alguém em quem jogar suas pedras, tio Tamas?
Tamas Fergusson.
Charlie não o via desde que ela era criança. Ele não mudou. Ele ainda tinha a mesma aparência perigosa, quase selvagem, e o mesmo cabelo de fogo de Kendrick.
E de repente ela estava lá, mergulhada em seu passado com a visão de Tamas e sua funda... uma jovem garota pulando pelo campo com Kendrick em seus calcanhares. A voz de Tamas chamando seu sobrinho. Ele fez algo para Kendrick. A funda do próprio Kendrick. A funda que Kendrick deu a ela mais tarde.
— Patrick? — Seu tio guardou sua arma e sorriu para ele. — O que o traz de volta tão cedo? E quem é essa?
Ele não a reconheceu. Então, Patrick não tinha contado a seus tios sobre ela, ou onde ele estava hospedado.
Ela ainda estava se recuperando da descoberta de que Patrick visitara seus tios no dia em que Elsie adoecera, quando ele supostamente fora para Craigneil. Sobre o que eles falaram? Kendrick, sem dúvida. Foi por isso que Patrick parecia tão zangado com Duff depois que ele voltou. Foi a primeira vez que Patrick ouviu sobre o que seus irmãos fizeram.
Provava, pelo menos, que sua chegada a Pinwherry naquela manhã perto do rio foi mera coincidência. Ele não ficou por nenhum propósito oculto. Ele tinha ficado por ela?
— Tio. — Patrick disse suavemente de sua montaria. — Eu vim buscar a garota.
Tamas olhou para ela novamente, desta vez seus olhos enrugados permaneceram nela como se seu rosto fosse familiar e ele estivesse tentando identificá-la. Ele balançou sua cabeça.
— O que você quer dizer com veio por ela?
— Ele está se referindo à minha irmã. — Charlie disse, seu olhar sobre ele, claro e sombrio. — Elsie. Elsie Cunningham.
Capítulo 33
Tamas Fergusson não teve muita reação à apresentação de Charlie. Ele parecia zangado, mas então, era assim que Charlie se lembrava dele.
— Charlotte Cunningham. — Disse ele, lembrando-se dela. — O que te faz pensar que sua irmã está em Tarrick Hall?
— Ela não está? — Charlie perguntou a ele, levantando a sobrancelha. Ela estava prestes a não dizer a ele o que seu irmão idiota tinha feito. Se os Fergussons não sabiam que Hendry havia matado um de seus inquilinos, ela não queria contar a eles e mandá-los cavalgando até Pinwherry para se vingar... se eles já não tivessem Elsie. Além disso, eles estavam perdendo tempo. — Minha irmã sofre de asma. Ela pode precisar de butterbur. Se você a tiver...
Ele fez uma careta como se um inseto tivesse acabado de voar em sua garganta.
— Os Fergussons não sequestram garotas. — Ele voltou seu olhar gelado para o sobrinho. — Você veio buscar butterbur da última vez que esteve aqui. Você tem vivido com os Cunninghams, então?
O coração de Patrick reverberou por ele, fazendo-o se sentir mal. Não havia para onde fugir da traição que manchava o olhar zangado de seu tio. Assim como não havia para onde fingir que não estava na casa de Charlie. Era isso o que custava a um homem tentar fazer a coisa certa? A honra era tão ruim quanto o amor.
Ainda assim, ele acabou de sempre fugir.
— Sim, tio, eu tenho. Eu deveria ter te contado, mas...
— Ele guarda muitos segredos. — Charlie interrompeu, lançando-lhe um olhar mordaz.
Ele ofereceu um aceno arrependido.
— Vou explicar tudo depois, tio Tamas. Elsie está em Tarrick Hall?
Tamas deu de ombros envoltos em plaid.
— Eu não sei. Não estive em casa o dia todo. — Ele girou nos calcanhares e foi para a casa. — Venha, encontraremos os outros, e então você pode nos dizer o que diabos está fazendo com eles.
A barriga de Charlie afundou. O ódio deles pela família dela ainda era forte, e por que não deveria ser? Hendry havia matado seu sobrinho mais novo. Ela estava caindo em uma armadilha? Os tios de Patrick também tentariam sequestrá-la? Patrick permitiria?
Não. Ela não era uma covarde. Se Elsie estivesse em Tarrick Hall, Charlie a levaria de volta ou morreria tentando.
Guardando suas dúvidas para si mesma, ela seguiu Tamas até a casa.
Eles foram recebidos na porta por Annie Fergusson, a mãe de Kendrick. Charlie mordeu a língua para não chorar ao vê-la, as lembranças dela rindo com a mãe de Charlie e sua provocação com ela sobre se casar com seu filho. Ela mudou muito em cinco anos do que Charlie esperava. Seu cabelo ainda tinha um belo tom de vermelho, mas seus olhos grandes e brilhantes haviam perdido o brilho.
De repente, Charlie se sentiu mal. Ela não queria estar aqui. Ela não queria ver o ódio terrível em seus olhos quando os colocassem sobre ela. Ela amou essas pessoas uma vez, pensava nelas como uma família.
Queria desviar o olhar de Annie enquanto ela estudava Charlie em seu cavalo. Seu sorriso vacilou apenas por um momento, mas depois voltou, mais caloroso do que antes.
— Charlie, que bom vê-la de novo.
Tamas resmungou algo ininteligível e entrou na casa.
— Sra. Fergusson. — Charlie disse suavemente depois que ela desmontou. O que ela deveria dizer? Ela deveria cair de joelhos e implorar perdão pelo que aconteceu? — Você é muito gentil.
— O que a traz aqui, minha querida? E com Patrick? — Annie olhou de soslaio para o sobrinho e depois de volta para ela.
— Nós viemos... — Charlie parou de falar quando Cameron Fergusson apareceu na porta e tomou seu lugar ao lado de sua esposa. Ela sufocou um soluço ao vê-lo e rezou para que suas lágrimas não caíssem. Este era o homem que matou sua mãe, não o pai de Kendrick que ela se lembrava com olhos verdes claros comoventes e um sorriso gentil. Ele envelheceu, mas ainda tinha o mesmo rosto bonito de Kendrick. Ele não sorriu, mas não fez uma carranca para ela como seu irmão tinha feito. Não, sua expressão era mais parecida com a de Charlie, cheia de culpa e tristeza.
— Senhorita Cunningham. — Ele a cumprimentou calmamente. — Por favor, entre.
Ele deu um passo para o lado para permitir que ela e sua esposa entrassem, em seguida, esperou por Patrick e cumprimentou-o no caminho.
Lembranças de estar aqui antes inundaram os pensamentos de Charlie. Tarrick Hall não se parecia em nada com Cunningham House. Espaçosa e bem iluminada com madeira e lustres de velas, tapeçarias coloridas penduradas nas paredes e enormes lareiras esculpidas, Tarrick Hall era um lar acolhedor e convidativo, salpicado com o riso delicado de mulheres e as brincadeiras roucas de homens poderosos.
Ela foi conduzida ao grande salão e a uma longa mesa de madeira polida, acompanhada um momento depois pela família Fergusson.
Era intimidante estar na presença dos homens que mataram tantos para vingar seu caçula. Charlie os tinha visto da escada naquele dia, levantando suas espadas ensanguentadas e fazendo chover terror sobre qualquer um em seu caminho. Ela tinha visto do que os homens eram capazes, e embora ela entendesse sua raiva, ela nunca mais queria estar perto disso novamente. Mas, com exceção de Tamas, os homens a receberam com reverências corteses e sorrisos calorosos. O whiskie era servido em pequenas canecas de madeira, que os homens engoliam de um só gole.
Por mais que Charlie soubesse que isso poderia ser necessário para acabar com a hostilidade entre os clãs, ela tinha vindo aqui por sua irmã. Ela estava prestes a falar, quando Patrick fez isso por ela.
— Tio Cameron, a irmã da senhorita Cunningham desapareceu.
— Sim, Tamas mencionou isso. — Disse seu tio, fixando seu olhar arrependido sobre ela. — Eu sinto muito, mas o que isso tem a ver conosco?
— Esperávamos que você soubesse onde ela está. — Charlie disse a ele.
Seu olhar rolou dela para seu irmão Tamas.
— Isso tem algo a ver com Hendry Cunningham matando Ennis Ogilvy na noite passada?
Tamas deu de ombros.
— Se isso aconteceu, eu não sei nada sobre isso.
O estômago de Charlie deu um nó. Então eles sabiam sobre seu inquilino morto.
— Meu irmão é um tolo! — Ela deixou escapar, seus medos voltando à vida. — Ele vai matar todos nós!
— Não. — Tamas respondeu. — Não a todos vocês.
— Certamente não sua irmã. — Cameron assegurou-lhe. — Ninguém aqui faria mal a ela, garanto-lhe. Eles responderiam a mim e não querem ter que fazer isso. Sua irmã não está aqui.
Charlie queria acreditar nele, mas onde estava Elsie? Ela estava machucada? Estava perdendo o fôlego? Ela não podia ficar, mas quando estava prestes a se levantar da cadeira para sair e continuar procurando, outro homem mais jovem entrou no salão depois de ter entrado na casa.
Ele era bonito, alto e de ombros largos, com cabelo cobre escuro e olhos verdes de verão. O sorriso que ele exibia desapareceu quando viu Charlie.
— Shaw. — Cameron chamou seu filho mais velho. — Venha cumprimentar a senhorita Cunningham. Você se lembra dela, sim?
O irmão mais velho de Kendrick, Charlie lembrou. Ele sempre foi gentil com ela e Elsie. Na verdade, Elsie gostava dele e... Um pensamento lhe ocorreu. Será que ele é o homem que Elsie estava se esgueirando para ver?
— É bom ver você de novo, Shaw. — Patrick se levantou de sua cadeira e ofereceu uma caneca a Shaw e um sorriso amigável. — Acabamos de chegar. Não o vimos na estrada. De que direção você veio?
Charlie entendeu a pergunta de Patrick e percebeu com orgulho de como ele realmente era astuto.
— De... ehm... — Seu olhar foi para seu pai, em seguida, de volta para Patrick. — Eu estava visitando um amigo.
Felizmente para Charlie, Shaw não tinha nem a metade da habilidade de enganar que seu primo. Ela não foi a única que percebeu que havia algo que ele não queria que soubessem.
— Oh? — Seu pai perguntou, levantando uma sobrancelha. — Quem você estava visitando?
Depois de um momento de silêncio, seu tio John falou.
— Você não viu, por acaso, Elsie Cunningham em sua cavalgada, viu? Ela está desaparecida.
— E a Cunningham aqui. — Tamas Fergusson a olhou de relance, — Acredita que tivemos algo a ver com isso.
Eles o derrubaram implacavelmente em três etapas únicas. Charlie estava agradecido.
— Nós não. Eu estava... — Shaw confessou. — Eu estava com ela.
O salão ficou em silêncio. Charlie podia ouvir seu coração batendo forte. Se Elsie estava com ele, então provavelmente ela estava segura.
— Onde ela está agora? — Charlie perguntou a ele.
— Casa. — Ele olhou em seus olhos e ela pôde ver seu coração ali. Ele se importava com Elsie. — Eu a levei para casa. Perdoe-me por causar preocupação.
Ela assentiu. Há quanto tempo eles estavam se encontrando? Charlie sorriu pensando que ela era tão esperta escapulindo à noite para visitar a vila e os tavernas vizinhas... quando Elsie estava fazendo a mesma coisa para encontrar um jovem, e ninguém suspeitava disso, nem mesmo Duff.
— É por isso que você sempre lutou conosco para ir ou não a Pinwherry terminar o que começamos. — Tamas acusou.
O sorriso de Charlie suavizou em Shaw, silenciosamente agradecendo por isso.
— Shaw. — Seu pai se levantou da cadeira. Sua mãe lançou-lhe um olhar preocupado. — Quão sério é isso? O que é que você fez?
Shaw empalideceu, mas endireitou os ombros e encontrou o olhar do pai.
— É sério, pai. Eu a amo.
Charlie fechou os olhos, meio exultante por sua irmã. A outra metade lamentando a vida que planejaram, a vida que Patrick MacGregor a fez duvidar que ela queria.
Tamas gritou um palavrão. John o acalmou.
— Você está me dizendo, — Cameron continuou, — que esteve cortejando secretamente uma Cunningham e escondeu isso de mim?
— Eu não queria que você pensasse que te traí. Eu sei o que eles tiraram de você.
— E de você, — seu pai o lembrou, mantendo seu temperamento sob controle. — De todos nós. Não vou perder outro filho para o traidor de Allan Cunningham. — Ele se virou para Charlie e seu olhar se suavizou por um momento antes de endurecer novamente. — Seu pai é um homem traiçoeiro. Diga a sua irmã que acabou.
— Eu não vou dizer. — Ela disse olhando para ele, não se importando com quem ele era. — Deixe seu filho partir o coração dela. Eu não vou fazer isso.
Ele parecia prestes a falar quando Annie entrou na frente de seu marido.
— Allan Cunningham também aceitará suas boas maneiras, Cam? E na frente do filho de Tristan?
Ele olhou por cima do ombro de Charlie para Patrick e então baixou o olhar.
— Todos vocês, — Annie falou para o resto deles. — Charlotte Cunningham está aqui como nossa convidada. Ela não teve nada a ver com a morte de Kendrick, e não vou deixá-la ser insultada em minha casa.
Como cachorrinhos castigados, eles desviaram o olhar ou baixaram a cabeça.
Kendrick adorava sua mãe, assim como Charlie. Ela ainda adorava.
Mas ela recusou quando Annie a convidou para ficar para o jantar. Eles ainda tinham pelo menos quatro horas de luz do dia e, depois de seu encontro com ladrões, ela preferia não viajar na escuridão da noite. Além disso, os Fergusson tinham assuntos familiares para discutir e Charlie não fazia parte de sua família.
Após um sincero pedido de desculpas de Cameron Fergusson na porta e um abraço com Annie, Charlie deixou Tarrick Hall com Patrick.
— Você acha que Elsie o ama? — Patrick perguntou a ela enquanto eles cavalgavam.
— Sim. Eu me preocupo em pensar como ela vai reagir. — Ela piscou a névoa de seus olhos. — Mas eu vou ajudá-la a superar isso.
— Eu sei.
Ela cometeu o erro de olhar para os seus olhos verdejantes. Oh, ela podia ver todas as cores do outono brilhando em seus restolhos de barba. Seus lábios sensuais se curvaram em um sorriso enquanto ela o admirava.
Ela tinha que manter a cabeça limpa. Ele mentiu para ela. Ele era parente do maior inimigo de sua família. O ódio ainda inflamava em ambos os lados. Seu tio provou isso. Sua família em Camlochlin também a odiaria.
— Você acha que sabe tudo sobre mim, não é?
Ele sorriu, fazendo seu coração disparar.
— Eu sei o que é importante. Que você é uma moça de bom coração e compassiva que pode derrubar um homem com seu sorriso ou sua pedra. Eu sei que você me faz querer ser um homem melhor.
Ela não tinha argumentos para isso, então chutou os flancos do cavalo e saiu cavalgando. Melhor não pensar em perdoá-lo quando havia tantos motivos pelos quais nunca poderiam ficar juntos.
Eles cavalgaram em direção a Pinwherry em silêncio. Quando Patrick saiu da estrada e entrou na floresta, Charlie o seguiu, chamando por ele.
— Por que estamos indo por aqui?
— É um atalho.
Ele os conduziu através da luz do sol filtrada de uma floresta viva com o cantar dos pássaros, dos insetos zumbindo e das criaturas que se precipitam para a amoreira de verão.
Charlie nunca tinha estado na floresta. Se ela tivesse que viajar para uma taverna, evitava as árvores. Este lugar era mágico. Ela queria pular da sela e caminhar descalça como uma ninfa da floresta, desfrutando de sua liberdade... liberdade que Patrick sempre proporcionou.
Logo, as árvores começaram a diminuir, finalmente levando-os a um lugar com que Charlie sempre sonhava.
Raramente cultivados, os muirs haviam crescidos e selvagens, arbustos emaranhados de amora preta e groselha alinhavam-se em quase todo o perímetro. Os coelhos descansavam entre os caules grossos, escondidos dos predadores na exuberante urze. Charlie parou um momento para se maravilhar com o tapete lilás estendido à sua frente, brilhando com respingos de luz do sol e libélulas.
Quando Patrick diminuiu a velocidade do cavalo e desmontou, ela quis correr livre. O que eles estavam fazendo aqui? O que ela faria se...
— Vamos caminhar um pouco, sim? — Ele ergueu a mão para ajudá-la a desmontar.
Ela aceitou e desceu ficando de pé.
— E discutir seus segredos?
Sua sobrancelha se ergueu, junto com um canto de sua boca.
— Se você quiser.
Ela assentiu e caminhou ao lado dele.
— Por onde você gostaria de começar? — Ele perguntou.
— Não sei. Não sei que diferença qualquer resposta faria. Você me disse que se importava comigo, mas como vou saber que não está me enganando de novo?
Ele pensou em sua resposta por um momento e então se virou para ela.
— Antes que meu tio Tamas viesse sobre nós, você disse que o que eu disse não importava. Mas é a única coisa que tem importância. Sei que deve ser um choque para você me ouvir dizer tais palavras. Imagine o que está acontecendo em minha cabeça. Tudo que eu quero é estar com você. — Ele sorriu e balançou a cabeça como se o que acabara de dizer fosse a coisa mais absurda que já saiu de sua boca. — Você é tudo que eu penso. — Ele disse, parecendo esquecer por que estava sorrindo. Seu olhar se intensificou, as cores mudando na luz dourada, rompendo todas as suas defesas. — Você impulsiona todas as minhas ambições, Charlie. Não sei como aconteceu. Existia eu, e agora só existe você.
Seus joelhos ameaçaram ceder sob ela. Ela acreditava nele e isso a atingiu como uma onda, puxando-a para baixo. Patrick estava dizendo a verdade. Ele estava perdendo seu coração por ela.
— Não estou aqui para trair você ou seus parentes. — Disse ele. — Eu quero ajudar a acabar com essa rixa. Não duvide de mim nisso.
Se ele pudesse acabar com isso, eles poderiam ficar juntos. Elsie e Shaw poderiam ter a vida que desejavam.
— Eu não duvido. — Ela respondeu com um suspiro ondulado.
Ele fazia seu interior queimar. Nenhum outro homem faria. Ela fez o possível para esconder o sorriso sonhador que queria oferecer a ele. Patrick mudaria seu futuro, de uma forma ou de outra, quer ficasse ou partisse sem ela.
O que ganhar seu coração significa para Charlie? Ele a levaria para Camlochlin? Aceitá-la-ia como esposa? Mas ela ainda não podia deixar os aldeões. Muitos ainda precisavam dela. Duff também iria embora. Não haveria ninguém aqui para protegê-los de seu pai e de Hendry.
Ela não queria viver sua vida sofrendo por ele se Patrick fosse embora. Mas ainda havia coisas que ela precisava saber.
— Por que você não me disse a verdade? — Ela perguntou, olhando para os muirs enquanto caminhavam. — Eu entendo que meu próprio aviso o impediu de revelar que era um Fergusson. — Ela se virou para ele. — Mas você sabia o que significava ser um Fergusson... sobre a rixa, sobre Kendrick, sobre tudo. Você deveria ter me contado. Você deveria ter contado a Duff que era primo dele. Nenhum de nós teria entregado você ao meu pai. E daí se o fizéssemos? O que ele poderia fazer com você?
— Seu pai não importava para mim. — Ele respondeu. — Sim. Não queria ser seu inimigo nem ser expulso de sua casa. Eu estava louco. Eu ainda estou. Quanto mais eu esperava para te dizer a verdade, mais difícil se tornava, e então quando eu descobri sobre Kendrick, sabia que te perderia se descobrisse meus segredos.
— Entendo. — Ela disse enquanto seu estômago dava um nó e seu sangue esquentava em suas veias. Por que suas explicações tomavam seu coração e a faziam esquecer tudo o mais?
— Você não tem razão para acreditar em mim, mas minhas palavras agora são verdadeiras. Eu vou provar isso. Você vai deixar?
Ele pegou a mão dela e ela a segurou, amando a intimidade disso.
— Sim, eu vou deixar.
Eles caminharam até um monte alto de urze, onde Charlie largou a mão e sentou na exuberante flora. Ela sorriu para Patrick com urze fazendo cócegas em seu rosto. Ela adorava estar aqui. Ela amava Patrick por trazê-la.
— Há urze em Camlochlin? — Ela perguntou a ele.
Ele acenou com a cabeça e sentou ao lado dela.
— Está em todo lugar, fora do castelo e dentro. Cada esposa tem vasos arrumados em sua mesinha de cabeceira, exceto uma, que prefere orquídeas.
— Cada esposa? — Charlie se virou para ele e se apoiou em seu cotovelo. — Diga-me o porquê? Quem apanha a urze?
— Seus maridos. — Ele disse a ela, deitado ao lado dela na mesma posição. — Meu avô começou a colher para minha avó quando a levou para Camlochlin como um símbolo de seu amor por ela. Outros maridos começaram a fazer isso, e logo todos os rapazes aprenderam essa arte.
— Arte?
— Sim, urze é muito difícil de colher. As flores são delicadas e as raízes fortes. Puxe com mão dura e você perderá as flores, com muita hesitação e as raízes não se moverão. Dizem que meu avô não perdeu uma pétala.
— É tudo muito romântico.
— Eles pensam assim.
— Você não pensa?
— O que há de tão romântico em flores?
— Nenhuma coisa. O romance está na escolha. Você não aprendeu nada vivendo entre esses homens?
Ele estendeu a mão para sua bochecha e passou os nós dos dedos sobre ela.
— Aprendi que é possível para o coração de um homem pertencer a uma mulher.
Ela deu a ele um sorriso brincalhão.
— E você rapidamente rejeitou essa noção.
— Eu rejeitei. — Ele riu, então deslizou a mão em torno de sua nuca e puxou sua boca para mais perto. — Até eu te conhecer.
Era tudo verdade? Charlie esperava que fosse quando Patrick pressionou os lábios nos dela. Ela dirigia suas ambições? Oh, mas se fosse verdade... se fosse verdade, ela iria perdoá-lo de qualquer coisa... prometer-lhe qualquer coisa.
Ela já havia pulado do precipício para ficar com ele. Era hora de ela começar a confiar nele.
Abandonando suas dúvidas, ela empurrou o cotovelo do chão e enrolou os braços em volta do pescoço dele. Ele se retirou apenas para beijar seus lábios novamente antes de devorá-la. Ah, mas ele sabia beijar. Sua boca acariciou a dela, moldada a ela, angulando para tomá-la mais profundamente. Ele a traçou com a língua e a mordiscou com os dentes.
Ela não fez nenhuma objeção quando eles se afundaram na urze em um abraço de paixão. Ela o queria em seus braços. Ela queria seu coração e tudo o que viesse com ele.
Ela se retirou e olhou em seus olhos.
— Você vai me levar para Camlochlin?
— Sim, moça. — Ele sorriu para ela e passou a ponta do polegar em seu lábio inferior. — Se você ainda quiser ir.
— Eu quero. — Ela disse a ele em uma respiração sussurrada. Ela não se importava onde ele a levasse, contanto que ficasse com ela.
Ele a despiu lentamente, expondo sua pele ao sol do fim da tarde e à brisa com cheiro de urze... e seus beijos. Modesta à luz do dia, ela tentou se cobrir com os braços, mas ele os puxou gentilmente, captando a visão dela com algo semelhante à adoração em seu olhar.
Isso a encorajou a se inclinar e puxá-lo para fora de sua camisa. Quando ele a ajudou a se livrar de suas calças e botas, ela o beijou passando as palmas das mãos sobre os planos duros de suas costas, emocionada e apreensiva por estarem nus sob o sol. Ela não se preocupou que eles fossem vistos. Ninguém da aldeia vinha aos muirs.
Eles estavam sozinhos, as únicas duas pessoas no mundo, e o mundo era deles.
Capítulo 34
Duff sentou na cadeira ao lado da cama, se perguntando se ele tinha cometido o maior erro de sua vida, deixando Patrick partir, e não ter ido atrás de Charlie quando percebeu que ela tinha ido atrás dele. Se os Fergussons estivessem segurando Elsie como resgate, ele poderia ter usado Patrick como peça de barganha.
Mas Charlie estava correta. O mais provável é que ela perderia os dois se ele fosse. Ele não tinha escolha a não ser colocar sua confiança em um homem que os havia enganado astutamente.
Ele estava pensando em mil maneiras de machucar Patrick se não voltasse com suas duas irmãs sãs e salvas. Duff iria até Skye para encontrá-lo se fosse necessário.
Skye.
Ele ainda estava pensando nisso e na promessa de Patrick de levá-lo lá quando o homem na cama pronunciou uma palavra em uma voz suave e crepitante.
— Ág... gua.
Duff ficou de pé. Água!
— Sim, sim, estou pegando. — Ele correu até uma jarra de água e serviu uma caneca. — Aqui está, amigo. — Ele levou a caneca aos lábios do homem e colocou a mão atrás da cabeça para apoiá-lo enquanto bebia.
— Não muito. — Duff disse a ele gentilmente e sorriu quando o homem o olhou. Seus olhos eram de um tom impressionante de azul contra a cor escura de sua pele.
Duff olhou para eles e sentiu sua barriga virar o suficiente para deixá-lo doente. Onde ele tinha visto...?
— Não. — O homem gritou e tentou mover seu magro corpo para longe. Seus olhos ficaram ainda mais azuis quando as lágrimas os encheram até a borda. — Não pode ser você, Duff Cunningham. Não pode ser você.
Duff engoliu em seco e desejou ter ido à igreja com mais frequência. Lá, ele poderia ter descoberto mais sobre um homem que desejava voltando à vida.
— Kendrick? — O coração de Duff disparou mesmo quando sua mente se recusou a acreditar com quem ele estava falando. Como isso era possível? — Kendrick, você está vivo. — Ele não estava morto!
Ele não estava morto!
O membro de Patrick estava duro e pronto para tomá-la, mas ele queria passar um tempo com ela. Ela era uma virgem inexperiente há apenas um dia. Ele não queria machucá-la ou fazer com que ela não gostasse de fazer amor. Ele pretendia fazer amor com ela frequentemente.
Agora, ele se deleitava com a plenitude flexível de seus seios, moldando-os em suas mãos, beijando cada um e puxando suavemente seus mamilos rígidos até que ela se contorceu embaixo dele.
Ela se deliciava dele também, beijando seu peito e mordendo seu ombro, tentando seu controle a vacilar.
Quando ela abriu os olhos luminosos e olhou para ele, ele sentiu seu coração vacilar também. Ele queria uma vida com ela. Somente ela.
— Eu realmente conduzo todas as suas ambições? — Ela perguntou em um suspiro.
— Sim, moça, sim.
— Mostre-me. — Ela sorriu e abriu as pernas em volta da cintura dele.
Seu controle estourou. Ele se levantou como uma fera lendária e ígnea e fez o que ela pediu.
Ele não tinha certeza se conseguiria se conter com ela. Um poder sobre o qual ele não tinha controle varreu seu coração como o vento pelos muirs. Isso o deixou bêbado de desejo por ela, disposto a desistir de tudo. Por ela.
Ele se afundou nela e se esticou sobre seu corpo, beijando sua boca faminta. Ele recuou e voltou a penetrar, então teve que se conter.
Isso era mais do que ele já tinha feito antes. Significava mais para ele. Tudo para ele. Ele queria respirar com ela, unir-se a ela, marcá-la como sua.
Ele mergulhou mais fundo. Ela ficou mais ardente e molhada ao redor do membro dele. Seu membro inchou mais dentro dela, à beira de estourar. Ele se atreveu a olhar para ela e encontrou sua gloriosa cabeça jogada para trás em êxtase, seus mamilos tensos e eretos pressionados contra seu peito. Inferno. Ele tinha que parar novamente.
Deitado sobre Charlie, ele sorriu quando ela levantou a cabeça. Ele se moveu sobre ela, entrando mais profundamente. Ele não conseguia se aprofundar o suficiente. Ele beijou seus lábios entreabertos uma, duas vezes.
— Você me dá prazer, moça, e estou achando cada vez mais difícil de conter.
Seus lábios sensuais se curvaram em um sorriso, cativando-o.
— Que poder é esse que tenho sobre você, MacGregor, apenas esse único movimento... — Ela ondulou os quadris embaixo dele. — Pode tentar você a gozar?
Ele a olhou, perguntando-se como havia sobrevivido todos esses anos sem ela.
— Deve ser amor. — Ele sussurrou, arrastando sua boca na dela, e respondendo seu impulso com um longo e lascivo de sua autoria.
— Sim. — Ela fechou os olhos e respirou perto dos lábios dele antes que ele a beijasse. — Deve ser.
Como isso aconteceu? Ele ponderou, puxando a cabeça para trás para olhar para ela. O amor, a coisa que ele temia, o havia encontrado. Estranhamente, ele não estava mais com medo.
— Você me anima, Charlie. Você é tudo que eu preciso. Tudo que eu quero.
Ele fez amor com ela mais duas vezes naquela tarde. Nada e ninguém existia, exceto ela, seu corpo flexível pressionado contra o dele enquanto a tomava por trás, com Charlie de joelhos e sua boca em sua garganta dela e seus seios em suas mãos.
Ele lhe provou que ela conduzia todas as suas ambições enquanto se movia, empalada ao máximo, em cima dele. Och, mas aquela posição tinha sido especialmente estimulante para ver sua emoção por estar no controle de seu prazer. Ela o mudou, mudou a ele e nunca mais queria voltar a ser como antes. Eles encontraram sua libertação juntos e riram quando tudo acabou.
Ele a segurou em seus braços, totalmente ciente do poder que seu coração sentia por ela.
As dúvidas persistentes que o atormentavam antes de conhecê-la se foram. Suas convicções mudaram e ele estava feliz. Na verdade, ele nunca se sentiu mais feliz... ou mais cansado. Nenhum deles dormiu muito na noite anterior.
Eles voltariam em breve, veriam o estranho, e então os dois poderiam dormir um pouco.
Mas ainda não. Ele não queria deixá-la ainda.
Como era possível se unir a outra pessoa e sentir-se tão leve? Ele já se sentiu tão vivo como agora? Inferno, se ele soubesse que o amor era assim, teria considerado isso antes. Mas não. Ele estava feliz por ter descoberto isso com ela.
— Charlie, você se tornou meu único amor.
Um momento depois, ele percebeu que ela estava dormindo. Ele a abraçou mais um pouco, mas não queria dormir também. Se eles dormissem a noite toda, Duff viria procurá-los, e Patrick não queria que eles fossem encontrados assim.
Sorrindo, ele beijou sua cabeça, então se desvencilhou dela e se sentou. Ele olhou em volta para todo o roxo das urzes e viu de uma forma um pouco diferente. Ele balançou a cabeça para si mesmo e riu. Que tipo de amor perfeito era esse que ele se tornou romântico para deixar a visão da urze sufocá-lo? Isso o lembrava de casa e dela. A visão disso em qualquer lugar sempre o traria de volta a este lugar.
Ele entendia agora por que seu avô sempre escolhia o arbusto perfumado para sua esposa.
Pondo-se de pé, ele se abaixou novamente para colher um broto do chão sem perder uma única flor. Quando menino, ele odiava suas lições nos vales atapetados de urze fora do castelo, mas ele aprendeu a maneira correta de quebrar a ramagem e dominou a arte até que não tivesse mais nada para aprender e fosse libertado para causar problemas com sua prima e primo.
Ele caminhou, pegando apenas os brotos mais completos, do lilás claro ao roxo profundo, até que ele tinha um grande pacote na mão.
Afinal, ele era um MacGregor.
Febril e tolo, talvez, mas ainda assim, um MacGregor.
Charlie mergulhou o rosto no orvalho de urze agarrado em seus braços e inalou. Ela tinha feito o mesmo pelo menos sete vezes no caminho de volta para a casa de Mary. Era uma tradição dos homens em Camlochlin colher urze como um símbolo de amor a suas esposas.
Era uma tradição adorável e se ela ouvisse outra palavra desagradável sobre os parentes de Patrick, ela se lembraria apenas das histórias que Patrick tinha contado a ela.
Patrick a amava, ela pensou, sorrindo para sua urze, amando a sensação de seu braço em volta de sua cintura, segurando-a firme devido o ritmo veloz de seu cavalo. Ele a amava e não encontrou dificuldade em dizer como isso o surpreendeu.
Pobre libertino. Ele era tão inocente sobre o amor quanto ela.
O que iria acontecer agora? Ela achava que deveria saber com certeza e evitar qualquer coisa inesperada mais tarde.
— Não posso ir com você para Camlochlin ainda. — Ela disse a ele, erguendo o rosto das pétalas. — Eu não posso deixar todos... Mary e as crianças, com Hendry.
Ele acenou com a cabeça, os olhos fixos na propriedade Wallace.
— Eu sei. Vamos esperar até encontrar uma maneira de mantê-los seguros.
— Vamos? — Ela olhou para ele. — Você vai ficar?
— Claro que eu vou. — Ele encontrou seu olhar e sorriu. — Acha que vou desistir de beijar você?
— E sua família? Eles não aprovarão.
— Eles irão com o tempo.
— E meu pai? — Ela perguntou, parando-o com a palma da mão no peito quando ele aproximou a boca da dela.
— A irmã de minha tia é a rainha. — Ele respondeu com um gesto em sua covinha. — Seu pai não fará objeções ao nosso casamento.
A irmã de sua tia era quem? Sua o quê?
Todos os outros pensamentos fugiram com seu beijo.
Capítulo 35
Patrick não levou Charlie diretamente para a casa de Mary, mas primeiro para Cunningham House para ver Elsie. Charlie não tinha visto sua irmã desde ontem. Elas nunca tinham passado tanto tempo sem estarem juntos. E havia muito que Charlie queria discutir com ela.
Mas sua irmã não estava em seu quarto, ou em qualquer outro lugar da casa. O pânico se apoderou de Charlie rapidamente. Shaw a enganou? Enquanto ela corria para a sala para encontrar seu pai, se perguntou como o dia mais feliz de sua vida poderia se tornar o pior.
Alice, a cozinheira, a deteve no salão.
— Aí está você, senhorita. — Disse ela, enxugando as mãos no avental. — Sua irmã disse para lhe dizer que ela está com Duff na propriedade Wallace, e para você se apressar para chegar lá.
— Por quê? O que aconteceu? — O coração de Charlie desacelerou um pouco, mas o simples pensamento de que sua irmã poderia ter sofrido algum dano a deixava doente.
Alice deu de ombros carnudos e se virou para voltar para a cozinha.
— Talvez seja o estranho. — Disse Patrick atrás dela. — Ele pode ter piorado. Nós devemos ir.
Sim. O estranho. Charlie assentiu, agradecida e culpada pelo alívio que a explicação sensata de Patrick proporcionou. Ela esperava que a condição do homem não tivesse piorado, mas estava feliz por Elsie estar com Duff.
Eles correram de volta para o estábulo e pegaram o garanhão de Patrick. Seu próprio cavalo demoraria muito para selar.
Ela não percebeu que ainda estava segurando uma dúzia de talos de urze em seus braços. Ela não estava disposta a deixá-las no estábulo para os cavalos comerem. Além disso, carregá-las a ajudava a lembrar a melhor parte de seu dia.
Ela realmente ia ter um marido? Ela nunca teria acreditado nisso. Ela não tinha amado ninguém desde Kendrick. Ela nunca pensou que amaria. Como ela poderia, quando o manteve vivo em seu coração, em seus pensamentos e convicções?
Ela não estava procurando um herói, um campeão. Ela não mais acreditava que existisse. Ela nunca esperou encontrá-lo em um patife com olhos sorridentes e uma língua prateada.
Em um MacGregor com sangue de Fergusson.
Mas, oh, aquela língua de prata falou as palavras mais sinceras que seus pobres ouvidos já ouviram. Quem poderia se comparar a Patrick MacGregor?
Eles chegaram à casa e a encontraram vazia. Os visitantes foram todos para casa. O silêncio os recebeu quando eles entraram. Onde estavam as crianças? Mary?
— Elsie? — Charlie gritou e correu para o quarto.
Sua irmã a encontrou na porta. Sua respiração não parecia estar difícil, mas ela olhou para Charlie com olhos arregalados e ansiosos.
— Onde você esteve? — Ela perguntou a Charlie, torcendo as mãos nas saias grossas de lã.
— Está tudo bem? — Charlie perguntou para ela em vez disso. — Onde estão Duff, Mary e as crianças? Você está doente?
— Estou bem. — Sua irmã respondeu, então mordeu o lábio. — Duff levou uma senhora idosa para casa e Mary e as crianças foram com ele.
— Eles deixaram você aqui com um homem que não conhecemos? — Charlie exigiu e contornou a irmã para verificar se o estranho estava acordado ou não. Era sua prima Caitriona de pé ao lado da cama?
— Nós o conhecemos. — Elsie disse a ela suavemente.
— Nós conhecemos? — Charlie perguntou a ela, movendo-se em direção à cama. Ela viu um movimento. A mão dele. Ele se moveu e a mão ficou descoberta.
Assim como o resto dele.
— Quem é ele? — Ela ouviu Patrick perguntar a sua irmã, seguindo-a para dentro da sala.
A pele do estranho estava pálida, seus lábios rachados e secos. Seu nariz parecia ter sido quebrado mais de uma vez. Ele estava acordado e quando ela se aproximou, ele voltou os olhos para ela. Eles se encheram de lágrimas quase que instantaneamente.
Quem era ele e por que choraria ao vê-la? Por que seu coração começou a bater contra o peito novamente? Ela mal estava ciente de Patrick vindo para ficar ao lado dela ou Cait se afastando.
— Charlie? — O homem disse com uma voz fraca e trêmula. — Estou sonhando?
Ela estava sonhando? Por que ela sentiu como se o tivesse ouvido falar seu nome centenas vezes antes?
— Sonhei com você. — Ele continuou. — Todos os dias, Charlie. Seu sorriso me manteve vivo.
Charlie olhou para ele e depois para Elsie. Sua irmã sorriu fracamente e enxugou uma lágrima de sua bochecha. Não, Charlie disse a si mesma olhando para ele novamente. Não, não poderia ser. Ele estava morto.
— Eu sei como devo parecer para você. — Ele continuou torturantemente. — Mas sou eu, Kendrick.
Charlie largou seu pacote de urze no chão e levou as mãos à boca. Era Kendrick!
O quarto estava girando. Um grito lutou para sair de sua garganta. Kendrick! Aqui. Vivo. Falando com ela. Ela nunca esperou ouvir sua voz novamente. Seu Kendrick não estava morto!
— Kendrick? — Era a voz dela falando com ele? Esperando que ele respondesse?
— Sim, Charlie. — Ele sorriu para ela e as lembranças de seu rosto inundaram seus pensamentos. — Sou eu.
Era ele. Seu Kendrick, de volta dos mortos. Deus a ajudasse, ela quase caiu na cama, mantendo-se em pé por pura força de vontade.
— Todos esses anos eu pensei em você, acreditando que se foi... e agora... aqui está você. Como... como é possível? — Ela se ouviu perguntando, olhando para ele, absorvendo sua visão. Era Kendrick! Ela simplesmente não conseguia absorver tudo. — Os meus irmãos. Hendry...
— Sim, ele me apunhalou e me deixou para morrer. Mas eu vivi.
— O quê?
Charlie olhou para Patrick quando ele falou. Ele parecia tão chocado e confuso quanto ela.
— Quem é você? — Kendrick perguntou a ele.
— Este é seu primo. — Charlie disse a ele, ainda atordoado por estar falando com ele novamente. — Patrick MacGregor.
— Lembro-me de ter ouvido falar deles quando estávamos sentados à mesa. — O sorriso de Kendrick era quase tão caloroso e acolhedor como o de Patrick normalmente era. — Minha tia Isobel se casou com um MacGregor.
— Sim, Isobel é minha mãe. — Disse Patrick, parecendo hesitante, difícil, como se o mundo tivesse acabado de desmoronar em torno de seus pés e deixá-lo parado nos escombros.
O sorriso de Charlie desapareceu. O amor de sua vida acabara de voltar para ela, e Patrick estava vendo tudo isso. Ela tinha dito a ele que o amava enquanto eles... Seu olhar se voltou culpado para Kendrick.
Kendrick!
Ela ainda não conseguia entender. Todos os anos que ela chorou por ele, ansiara por ele, acreditando que nunca poderia amar ninguém além dele... Mas ela amava outra pessoa. Ela amava Patrick.
— Você conhece meu pai, então? — Kendrick perguntou a ele, sua voz esperançosa e terrível ao mesmo tempo. — Ele está bem?
— Ele ficará melhor quando te ver. — Patrick assegurou-lhe em um tom mais gentil que Charlie não sabia como ele conseguiu. Sua expressão calma parecia prestes a se dissolver em algo insuportável. — Você está pronto para nos contar o que aconteceu?
Kendrick assentiu e tossiu em sua mão. Caitriona se apressou chegar perto com uma caneca de água, ou talvez chá, pois isso o acalmou e ele sorriu para ela.
Charlie observou Cait com um sorriso comedido. Ela mal a tinha visto nos últimos cinco anos e agora, que Kendrick voltou, Cait também apareceu. Ela se importava com Kendrick. Charlie sempre suspeitou disso, mas o coração de Kendrick tinha sido leal apenas a Charlie.
— Hendry me deixou em Dumfries, sangrando em uma vala. — Kendrick continuou. — Não sei quanto tempo fiquei lá antes de um velho passar e me levar para sua casa.
Charlie sentia como se não pudesse respirar. Como seu irmão poderia ter feito algo tão vil? Ela não tinha certeza se queria ouvir o resto, ouvir como ele acabou assim, quase sem carne nos ossos, sujo, doentio... Ela enxugou os olhos e pegou a mão dele, dolorida e querendo confortá-lo.
— Quando eu estava bem. — Disse ele. — Saí e comecei minha jornada para casa. Sem moedas, tive que roubar para comer. Fui preso e enviado para as colônias como um servo contratado. Fui colocado para trabalhar e espancado por quase todos os proprietários que eu tinha como meu dono.
Espancado por seus donos? Charlie não aguentou. Ela baixou a cabeça de vergonha pelo que sua família tinha feito e deixou que suas lágrimas caíssem livremente. Cinco anos de medo e tortura infligidos a ele apenas para impedi-la de se casar com um Fergusson. Ela enxugou os olhos e olhou para Patrick. Certamente, Allan Cunningham não poderia fazer a mesma coisa com ele. Patrick era um homem, não um menino, como Kendrick tinha sido.
— Pensar em você e nas risadas que compartilhamos me ajudou a continuar. — Confessou Kendrick, puxando o olhar triste de Charlie de volta para ele. — Jurei a mim mesmo que voltaria para casa e veria você de novo... veria meu pai e minha mãe novamente. Três meses atrás, consegui escapar das amarras da minha servidão e embarquei em um navio com destino à Escócia. Demorei muito para voltar, mas finalmente consegui.
Ele sorriu e foi como se nada tivesse mudado entre eles. Mas muito tinha mudado. Ele passou por tudo isso por causa dela e passou por mais para voltar para ela. Uma semana atrás, ela teria se alegrado, deitado na cama dele e prometido sua vida a ele... como fizera quando eles eram mais jovens. Mas então Patrick tropeçou em sua vida, varreu as teias de aranha e espalhou o riso e a vida nas câmaras fantasmagóricas de seu coração.
— Você está aqui agora. — Patrick disse a ele com outro sorriso forçado. — Você está seguro. Assim que você estiver bem o suficiente para viajar, eu o levarei para casa em Tarrick Hall.
— Você tem meus agradecimentos, primo. — Kendrick olhou para Charlie novamente e deu a ela um último sorriso antes de adormecer.
— Charlie. — Era Elsie. Ela estava ao lado de sua irmã e pousou a mão no ombro de Charlie. — Por que você não vai descansar? Cait e eu cuidaremos de Kendrick.
— Não. — Charlie balançou a cabeça. — Eu desejo ficar com ele. — Kendrick merecia isso, não era? Ele significava mais para ela do que qualquer pessoa em sua vida além de Elsie. Ele foi arrancado dos braços de sua família e enviado pelo mundo todo, onde foi forçado a ser um servo de homens abusivos por causa dela! Ela o veria de volta com boa saúde. Ela teria feito isso por qualquer um, e Kendrick era muito mais do que isso.
— Não há nada que você possa fazer por ele neste momento, amor. — Disse Patrick em um tom gentil. — Venha, compartilhe uma refeição comigo enquanto ele dorme.
Ela não conseguiria. E se ele a levasse a Camlochlin ou tivessem uma vida juntos? O que ela deveria dizer a ele? Como ela poderia deixar Kendrick depois de tudo que ele sofreu?
— Não estou com fome. — Disse ela, sem olhar para ele. — Você vai comer. Elsie vai arrumar algo para você. Não vai, Elsie?
— É claro.
Charlie observou sua irmã se virar para sair. Patrick acenou com a cabeça, mas depois parou e se abaixou para pegar a urze espalhada no chão. Sua barriga revirou e ela se sentiu enjoada por um momento com a expressão solene que ele tinha.
Ela se virou para falar uma palavra com ele. Ela entendia o que a urze representava. Não tinha a intenção de largá-la e jogá-la longe como se não significasse nada para ela. Ela tinha certeza de que ele sabia disso.
Seu olhar voltou para o homem na cama.
Kendrick. Ele voltou dos mortos. Oh, como ela sentiu falta dele. Quando ela pensava sobre a vida que ele sofreu, fungou e enxugou os olhos novamente.
Ela ouviu Duff voltar para a casa com Mary e as crianças. Ela iria cumprimentá-los mais tarde. Ela esperava que Duff fosse até ela, mas foi Elsie que apareceu ao lado dela.
— Perdoe-me, Charlie. Patrick me disse como você ficou apavorada por mim e como foi corajosa enfrentando ladrões e depois seus tios. — As lágrimas encheram os olhos grandes de Elsie. — Perdoe-me por fazer você passar por isso.
Charlie sorriu e pegou a mão dela.
— Primeiro, Duff sabe sobre Kendrick?
Sua irmã assentiu, lançando a Kendrick um olhar de pena.
Charlie se perguntou como se sentia por seu irmão saber que Kendrick estava vivo. Ele foi libertado de sua terrível culpa, ou simplesmente se lembrou dela?
Ela olhou para a porta, na esperança de vê-lo, mas ele provavelmente parou para falar com Patrick.
— Ele também sabe sobre Shaw. — Continuou Elsie. — Eu tive que dizer quando ele me encontrou em casa.
— Como ele está?
— Não sei. Ele não ficou acordado por tempo suficiente para falar.
Eles descobririam em breve. Com o sorriso restaurado, Charlie sorriu para a pessoa que ela mais amava no mundo, além de Patrick.
— Conte-me sobre Shaw.
— Oh, Charlie, ele é maravilhoso! Eu quis te dizer tantas vezes...
— É perigoso e imprudente sair sozinha.
— Ele sempre me encontra nos campos.
Charlie ouviu enquanto sua irmã lhe contava sobre o irmão de Kendrick. Shaw parecia um sujeito muito bom. Elsie parecia muito apaixonada. O coração de Charlie se partiu pensando no que Cameron havia dito. Ela deveria contar a ela? Seria mais fácil ouvir isso dela? Não. Kendrick estava vivo. Certamente isso mudava as coisas com os Fergussons, talvez até mesmo com os MacGregors.
Ela ficou com Kendrick muito depois que sua irmã foi embora. Pobre Kendrick. Ela queria ser a primeira coisa que ele visse quando acordasse. Era o mínimo que ela podia fazer.
Capítulo 36
Patrick não estava falando com Duff como Charlie havia presumido.
Ele precisava de ar e saiu para o pátio depois de falar com Elsie. Kendrick estava vivo. Ele estava grato, feliz pelo rapaz e por Cameron. Seria um bom reencontro. Era outro reencontro que o irritava agora.
O único homem que Charlie amou havia retornado dos mortos e ela se recusou a sair do seu lado. Felizmente, ele não teve mais tempo para pensar nisso quando alguém chamou seu nome de dentro de casa.
Patrick sorriu. As crianças voltaram e correram em sua direção quando ele voltou para dentro.
Ele tinha visto Duff por cima da cabeça de Nonie depois que abraçou ela e seus irmãos. Ele percebeu em um instante que Duff conhecia o homem no outro quarto. Eles falariam sobre isso mais tarde, isso e outras coisas. Patrick lhe devia explicações.
Mas as crianças insistiram que ele as colocasse na cama e contasse uma história, então ele seguiu Mary até o quarto dela, levando todos as crianças para a cama.
— Patrick? — Perguntou o jovem Andrew, pendurado no ombro de Patrick. — Todo mundo estava chorando por causa do papai. Ele não vai voltar?
— Nae. — Ele disse suavemente para eles. — Ele não vai voltar. Mas você o verá novamente algum dia. — Ele chamou a atenção de Mary e sorriu quando ela se virou para olhá-lo por cima do ombro. — E até então, vocês devem ouvir sua mãe e não irritá-la. Sim?
Todos eles assentiram e ele de alguma forma manteve seus corações unidos.
— Que história você vai nos contar? — Jamie perguntou enquanto sua mãe os despia.
Patrick pensou sobre isso. Eles mereciam uma boa história. Ele se lembrava apenas de uma.
— Vou lhe contar sobre o maior cavaleiro que já existiu.
— Sir Gawain!
— Não, Robert, não é Sir Gawain. — Patrick disse a ele. — Sir Galahad.
— O que há de tão bom nele?
Patrick sorriu, atraindo a atenção deles.
— Ele puxou uma espada de uma pedra.
Mais tarde, quando eles estavam dormindo, ele beijou cada cabeça, feliz por terem gostado de sua história do jovem Galahad e da espada que o esperava para ser retirada da pedra. Ele sempre gostou dessa história quando criança. Ele tinha esquecido. Ele tinha esquecido de muitas coisas. Era hora de ir para casa. E o lar era onde quer que Charlie estivesse.
Mas Kendrick havia retornado e Charlie tinha quase esquecido que Patrick estava aqui.
Todos esses anos pensei em você, acreditando que você se foi... e agora... aqui está você.
Aqui estava ele, de volta as suas lembranças e em carne e osso. Charlie gostaria de ficar com ele novamente? O que diabos Patrick faria se ela quisesse?
Ele deixou as crianças e correu direto para Duff. Ele olhou por cima do ombro de seu primo em busca de qualquer sinal de Charlie. Seus dentes cerraram-se. Ela ainda estava ao lado da cama de Kendrick?
Como Duff estava reagindo a isso?
— Como você está, primo?
Duff o encarou por um momento e então sorriu.
— Estou feliz por ele viver.
— Eu também. — Patrick concordou.
— Divida uma caneca de whiskie comigo, Patrick. — Ofereceu Duff. — Há muito o que discutir entre nós. Não se preocupe com Kendrick. Já firmei meus pés com a ajuda de Elsie e Caitriona.
Patrick não recusou e o seguiu até a cozinha. Eles discutiram segredos, Patrick e Elsie, e verdades, os MacGregors e até mesmo casamento.
Quando terminaram, Mary se ofereceu para preparar um prato de comida para todos. Eles não tinham muito para dar a ela, mas deram o que tinham. Patrick recusou. Ele estava exausto e queria verificar Kendrick.
Ele entrou no quarto e notou Charlie dormindo na cadeira. Kendrick não tinha acordado ainda.
Patrick verificou os pés de seu paciente e ficou impressionado com a forma como Duff e as moças os limparam e envolveram.
Seu olhar deslizou para Charlie. Ela estava feliz que Kendrick estava de volta? Claro que ela estava. Todos eles estavam. O que importava que ela o amou uma vez, muito tempo atrás?
Mas ela não saiu do lado dele. Ela mostraria a Kendrick sua funda tão cuidadosamente mantida em sua coxa?
Seus olhos permaneceram na curva de sua bochecha, a graça de sua mandíbula. Ele pensou sobre os muirs de urze e seus lindos sorrisos. O futuro deles. Ele queria um com ela. O retorno de Kendrick não mudaria isso.
Ele não permitiria.
Ele sentiu a testa de Kendrick. Sem febre. Aquilo era um bom sinal. Quanto mais rápido Patrick pudesse levá-lo para casa com seu pai, mais rápido a verdadeira cura poderia começar.
— Patrick?
Sua voz suave e sonolenta quase dobrou seus joelhos.
— Sim, amor? — Ele foi até ela.
— Ele acordou?
— Não, dormir é melhor para ele, assim como é para você. Venha, deixe-me levá-la para casa, para sua cama.
Ela balançou a cabeça.
— Não quero ir tão longe.
Dele. Não ir longe dele.
Patrick olhou para seu primo. Inferno, o que ele faria se ela escolhesse Kendrick?
— Mas eu admito. — Charlie continuou, atraindo seu olhar de volta para ela. — Eu estou cansada e preciso descansar. Não há espaço na cama de Mary. Você vai me levar para fora e dormir comigo, Patrick?
O alívio o inundou e ele a pegou antes que ela pudesse mudar de ideia. Ele a carregou, aninhada em seus braços pela casa, até a porta dos fundos da cozinha.
— Patrick?
— Sim, moça? — Ele sussurrou em seu cabelo enquanto a levava para fora.
— Ele não pode voltar para Colmonell assim, mal consegue se manter acordado. Ele vai ter que ficar aqui por enquanto.
Ele sabia que ela estava certa. O corpo de Kendrick não estava em condições para a viagem. Ele poderia morrer antes de chegarem a Tarrick Hall.
— Não posso deixar sua convalescença para Mary, quando ela acabou de perder o marido.
Novamente, ela estava certa. Ele se abaixou e a deitou na grama. Esse comportamento dela não era nada estranho, ele pensou enquanto pegava um lençol do varal e voltava para cobri-la. Era quem ela era, a moça que ele amava. Uma líder inata com um coração compassivo, que era responsável por todos os outros. Ela cuidava de sua irmã, dos aldeões e das galinhas. Era natural para ela querer cuidar de Kendrick.
Ele deslizou por baixo do lençol e a envolveu em seus braços.
— Nós cuidaremos dele.
Ela se aconchegou mais a ele e suspirou contra seu peito, fazendo seu coração inchar com as emoções dadas apenas a ela.
— Você falou com Duff?
— Sim, ele está feliz que o rapaz esteja vivo. Nós compartilhamos bebidas e eu acertei as coisas entre nós.
— Isso é bom. E as crianças? — Sua voz ficou mais suave, mais lenta. — Como eles estão hoje?
Patrick beijou sua testa. Mesmo meio adormecida, ela considerava os outros.
— Todos sonhando, espero, com espadas em pedras e... Charlie?
Um pequeno som escapou dela. Ela estava dormindo, e logo Patrick se juntou a ela, certo de que Charlie o amava.
Essa certeza começou a se desfazer nos três dias seguintes. Três dias ouvindo Charlie rir com Kendrick, ao lado da cama dele. Ela fazia todos os seus desejos e até disse a ele o quão bonito ele ainda era, depois que Patrick e Duff o banharam e limparam seu cabelo. Ela era a primeira ao lado da cama de manhã e a última a sair à noite. Sem mais nada para fazer por ele, até mesmo Caitriona foi para casa.
Patrick não poderia ter ficado mais feliz quando acordou na terceira manhã e encontrou Kendrick dando pequenos passos com seus próprios pés. Ele só desejou que Charlie não estivesse sob o braço de seu primo enquanto ele fazia isso.
Patrick tentou não ter ciúmes. Ele travou batalhas consigo mesmo que fez com que as que ele tivera fossem ridículas. Mesmo sabendo que Charlie era gentil e atenciosa com qualquer um que precisasse dela, sua atenção para Kendrick estava se tornando mais difícil de suportar. Ele pensou em contar a ela, perguntar se ela ainda nutria sentimentos por Kendrick. Mas ele não queria a resposta. E especialmente não queria que ela pensasse que ele era um idiota ciumento. Ele só queria que Kendrick fosse para casa e se sentia péssimo por isso. Ele não gostava desses sentimentos de ciúme. Ele nunca tinha sofrido nada parecido antes... a dor na boca do estômago, ficando acordado a noite toda com imagens de Charlie acenando adeus a ele enquanto ela partia para começar sua vida com seu primo, deixava seu coração partido.
— Você está indo bem. — Disse ele entrando no quarto e ficando cara a cara com seu primo ereto. Ele deslizou seu olhar para Charlie e piscou para ela, sentindo-se doente com o desejo de remover o braço de Kendrick de seu ombro.
— Estou me sentindo bem, graças a você, Charlie e os outros. Todos vocês são muito gentis.
Inferno, por que Patrick o limpou tão bem? Deveria ter pelo menos cortado os cachos cor de bronze de Kendrick para que eles não caíssem sobre seus olhos quando ele os virasse para Charlie. Ele estava magro, sua pele pálida, mas Charlie sorria para ele como se Kendrick fosse mais impressionante do que os vales de Camlochlin.
— Eu estou indo para Colmonell hoje. — Patrick anunciou, mantendo seu sorriso treinado e casual no lugar. Ele deveria ter ido direto para Colmonell para contar a seu tio a boa notícia no momento em que ele descobriu que era Kendrick. Ele não queria deixar Charlie sozinha. Tolo lamentável que ele era. — Não acho que você esteja bem o suficiente para partir ainda, mas devem saber que está vivo.
— Eu estarei em dívida com você, primo. — Kendrick disse a ele, seu braço ainda ao redor de Charlie.
Patrick assentiu, lembrando-se pela centésima vez que aquele era seu primo.
— Eu vou em breve. — Disse ele, oferecendo a ambos seu melhor sorriso e saiu do quarto.
Ele achava mais fácil nos últimos dias não ficar no quarto com eles por muito tempo. Ele poderia controlar seus pensamentos melhor sem os dois sorrindo e rindo juntos. Ele estava feliz por ir para Colmonell hoje. Um tempo longe era exatamente o que ele precisava. Se Charlie ainda amava Kendrick, o fato de Patrick estar aqui não iria mudar isso. Seu tio precisava ser informado.
Capítulo 37
— Não estávamos esperando você de volta tão cedo. — John, o tio de Patrick disse, conduzindo-o para Tarrick Hall. — Está tudo bem?
Não, nem tudo está bem, Patrick lamentou silenciosamente. Estou perdendo a única garota que amo.
— Muito bem, tio. — Disse ele em voz alta. — Traga seus irmãos, por favor. Eu tenho notícias.
Observando John assumir a tarefa, o coração de Patrick bateu forte em seu peito. Como ele deveria contar a Cameron? O choque seria demais para ele?
Ele esperou até que todos estivessem reunidos no grande salão e pediu que whiskie fosse servido. Haveria muita celebração.
— O que é isso? — John perguntou a ele. — Você parece prestes a explodir. São boas notícias de casa? Sua mãe?
— Provavelmente ela está grávida de novo. — Adivinhou Tamas, reclinando-se em uma cadeira ao lado de John.
— Você encontrou a Srta. Cunningham? — Annie perguntou.
— Por que não deixamos o rapaz falar. — Disse Cameron, sentando-se atrás de sua esposa. — Vá em frente, rapaz.
— Tio Cameron, — a voz de Patrick tremeu quando se virou para ele. — Pegue a mão de sua esposa. Ela provavelmente vai precisar.
— É sobre Shaw e Senhorita Cunningham? — Annie perguntou.
— Nae. — Patrick disse a ela, preparando-se. — É Kendrick. Ele vive.
Como ele suspeitava, o chão caiu. Todos ficaram de pé, exceto Cameron. Ele se sentava em sua cadeira olhando para Patrick, sua mão levantada com a de sua esposa enquanto ela se erguia. Patrick não tirou o olhar de seu tio na comoção.
— Espero que você tenha provas. — Cameron disse a ele. — Ou o que você fez aqui hoje é imperdoável.
— Eu o vi, falei com ele.
— Onde? — Agora Cameron se ergueu em toda sua estatura. — Leve-me até ele.
— Sim, leve-nos! — Seus tios e primos exigiram.
Patrick saltou da cadeira para afastá-los.
— Nae. Seu pai apenas, por enquanto.
— Patrick. — Cameron estava em cima dele com um único passo. — Onde ele está? Como você sabe que é ele?
Felizmente, Patrick havia se preparado para o redemoinho. Mas quem poderia se preparar para a emoção de descobrir que seu filho não estava morto?
Patrick fez o possível para permanecer calmo e firme enquanto falava.
— Ele está em Pinwherry.
— Eles estavam com ele o tempo todo! — O filho de Cameron, Tam acusou.
— Nae! — Patrick ergueu a mão. — Ele estava... Inferno, vou deixá-lo contar sua história. Eu o encontrei cambaleando em Pinwherry em péssimas condições. Seus pés estavam descalços, em carne viva e endurecidos por semanas de sujeira. Ele está sendo cuidado até que recupere a saúde na casa de Mary Wallace, por Charlie, Duff, Elsie e Caitriona Cunningham.
Seu tio Cameron o segurou pela gola da camisa.
— Você o deixou com eles?
— Sim. — Patrick disse a ele uniformemente. — Eu deixei. Charlie o perdeu também.
— E Duff? Aquele que...
— Kendrick vai lhe dizer que Duff não colocou um dedo nele. Foi Hendry, e ele desapareceu novamente. E Duff é um MacGregor. Filho de Will. — Patrick disse quando seu tio abriu a boca para falar e nada saiu. — Eles estão ajudando seu filho a se recuperar. Nunca deixam seu lado.
— Vamos buscá-lo agora. — Disse Tamas. — Chega de perder tempo.
— Ele não está bem o suficiente para viajar, ou eu o teria trazido comigo.
— Você não é um médico. — Tamas apontou.
— Tudo que sua irmã sabe sobre medicina, ela me ensinou.
Como Tamas não deu outra resposta, Patrick voltou sua atenção para Cameron.
— Allan Cunningham não sabe sobre Kendrick. Se todos vocês aparecerem em suas terras, é provável que ele comece a atirar com sua pistola. Eu sei que você pode querer matá-lo, mas tem seu filho de volta. Esta guerra precisa terminar antes que mais alguém morra.
Cameron o soltou e olhou para sua esposa.
— Nosso Kendrick pode estar vivo, Annie.
— Vá descobrir, meu amor. Volte para me contar.
Eles estavam indo agora. Virando-se para sair, Patrick parou e olhou para o resto de sua família.
— Confiem em mim. — Disse ele. — E comemorem o retorno de Kendrick.
Sua tia sorriu, assim como Shaw e John. Tamas o encarou com olhos estreitos.
— Veremos.
— Cinco anos, Patrick. — Seu tio exalou pesadamente enquanto desmontava na frente da propriedade Wallace. — Cinco anos eu acreditei que ele havia partido de mim. Pode ser isso?
— Sim, tio. — Patrick respondeu a ele. — Pode. Lembre-se, — Patrick o lembrou quando eles se aproximaram da porta. — Duff Cunningham não é uma ameaça.
Cam acenou com a cabeça e lançou-lhe um olhar ansioso.
— Acha que Kendrick vai me reconhecer? Vou reconhecê-lo?
Patrick sorriu e o conduziu para dentro.
— Você teve uma vida difícil, tio. — Disse ele, jogando o braço em volta do ombro de Cameron. Ele apontou para a porta no final do corredor. — Vá lá dentro e veja seu filho.
Cameron deu um passo à frente lentamente e depois correu. Ele parou na entrada, seus olhos fixos no homem sentado na cama.
— Kendrick?
Seu filho desviou o olhar do rosto sorridente de Charlie e seus olhos brilharam com lágrimas.
— Pai.
Cameron correu para ele e segurou o rosto de Kendrick em suas grandes mãos. Ele o observou, em seus olhos, olhos que ele conhecia. Lágrimas caíram por seu rosto na cama, no ombro de seu filho quando ele o puxou para seus braços.
Patrick enxugou os olhos e pegou Charlie sorrindo para ele. Ele piscou para ela, esquecendo que um instante atrás estava com raiva por ela estar aqui novamente.
Ela deixou sua cadeira e foi até ele.
— Há algo que eu gostaria de falar com você.
— Claro. — Ele disse e a levou para fora. Eles encontraram Mary no salão e Patrick se esqueceu do homem em sua cama e o que ele ainda significava para Charlie, graças às crianças correndo em volta de suas pernas. Ele queria isso. Ele olhou para Charlie. E ele queria isso com ela.
Eles seguiram as crianças até a cozinha, onde encontraram Duff e Elsie.
— Cameron está aqui. — Disse Patrick ao primo e se curvou para as crianças. — Vão brincar no quintal. Eu vou me juntar a vocês em breve. — Ele queria falar com Duff sobre qualquer luta que poderia haver e não queria que eles estivessem aqui para ouvir.
— Tenho sua palavra de que não tentará machucá-lo? — Perguntou ele quando as crianças correram para fora.
— Sim, você tem. — Disse seu primo. — Mas é difícil saber que ele matou minha mãe.
— Kendrick tem sede. — A voz de Cameron atraiu todos os olhares para onde ele estava na porta. Quando Charlie correu para buscar água para Kendrick, Cameron ergueu a mão e sorriu para ela. — Obrigado, Srta. Cunningham, mas deixe-me cuidar dele agora que estou aqui. Você tem minha mais profunda gratidão por tudo o que já fez.
Charlie assentiu e ele esperou enquanto ela enchia um copo.
— Sua mãe era minha amiga. — Disse ele em voz baixa e trêmula. Seu olhar caiu sobre Duff e Elsie. — Sei que não a trará de volta e assumo total responsabilidade por isso. A culpa é minha. Mas eu gostaria que soubessem que foi um acidente terrível. — Ele respirou fundo e continuou como se esperara anos para contar a eles. Patrick sabia que sim. — Viemos aqui para exigir vingança de seu pai. Por causa de minha amizade com sua mãe, decidi poupar seus filhos, e ela é claro. Mas ela não sabia. Quando atacamos, abrindo caminho para Allan Cunningham, sua mãe saltou na nossa frente, cortando nosso caminho para implorar pela vida de sua família.
— Mesmo coberto de sangue, eu não estava satisfeito. Eu vim matar o homem responsável por mandar matar meu filho. Nada iria me impedir. Ignorando os apelos de sua mãe, eu... eu a empurrei. Ela caiu em cima em um guarda já estendido no chão. Sua lâmina, exposta e inclinada sobre o peito...
Ele parou por um momento para tentar se recompor. Patrick sabia como isso era difícil para seu tio. Mas era hora de se curar.
— Quando vi o que tinha feito, fui até ela e a tirei da lâmina. Eu a carreguei para uma cadeira almofadada e caí a seus pés para implorar seu perdão. Não sei se ela teria dado. Deixei Cunningham House com vergonha da minha sede de sangue. — Ele ergueu o olhar do chão e fixou-o em Duff, depois em Charlie. — Fizemos coisas das quais lamentamos. Espero que algum dia vocês possam me perdoar.
Por um momento, ninguém falou. Patrick esperava que fosse o suficiente.
Duff avançou e Patrick se preparou para interromper a luta.
— Recebemos a ordem de levar seu filho até Dumfries e matá-lo. Gosto de pensar que foi a minha idade que me tornou tão tolo. — Duff o alcançou e se sentou na beira da mesa. — Eu queria agradar ao homem que me criou, ser finalmente aceito como seu filho, então concordei em fazê-lo. Eu o tirei de você e o lancei em uma vida pior que a morte. Se alguém implora perdão, sou eu.
Patrick sorriu olhando para ele. Duff era um bom homem, um MacGregor, com certeza. Will ficaria honrado em chamá-lo de filho.
— Você a tem. — Respondeu Cameron.
Charlie deu um passo à frente e entregou a Cameron o copo d'água que ela segurava contra o peito.
— Você vai ficar para o jantar então?
Cameron aceitou a caneca e sorriu.
— E mais tarde. — Acrescentou o tio de Patrick. — Podemos discutir a cerimônia de casamento.
Elsie correu para frente, seus olhos azuis brilhando. Patrick estava feliz que ela parecesse mais saudável do que quando ele chegou. E agora ela ia se casar com Shaw. Ela seria uma Fergusson. Ele estava feliz por ela.
— Serei uma boa esposa para seu filho, Sr. Fergusson. — Ela sorriu.
Cameron pareceu um pouco perdido por um instante e então seu sorriso se alargou.
— Sim, você e Shaw. Faremos uma cerimônia dupla. — Ele sorriu para todos eles e então se virou e seguiu pelo corredor.
O quê? O sorriso de Patrick desapareceu. Uma dupla cerimônia? De jeito nenhum...
— Tio! — Ele gritou, alcançando-o. — O que está acontecendo?
Cameron abriu a boca para falar e então repensou suas palavras. Finalmente ele disse com um suspiro.
— Eu entendo que Charlotte Cunningham pode ter chamado sua atenção, mas Kendrick a ama.
— Ele disse isso para você? — O coração de Patrick batia forte em seus ouvidos, o som de guerra. — Você mal ficou lá tempo suficiente para...
— Quando eu perguntei a ele como ele conseguiu sobreviver, sua resposta foi ela.
Patrick se virou para olhar para ela. Ela desviou o olhar, incapaz de encontrar seu olhar. Nae! Seu coração batia contra as costelas como se procurasse se libertar e voar para ela. Nae, sua mandíbula apertou. Ele não perderia Charlie para Kendrick.
— Você deve saber, — seu tio continuou, arrastando seu olhar de volta para ele, — que se seu amor por ela permaneceu verdadeiro depois de todo esse tempo, ele deve tê-la.
Nae. Patrick balançou a cabeça e passou as duas mãos no rosto. Nae. Ele não sabia disso. Tudo o que sabia era que estava pronto para abandonar seus modos descuidados e ser responsável por outra pessoa. Sua Charlie. Ele deu seu coração a ela, sua alma. Para quê? Para ter Kendrick de volta dos malditos mortos e reivindicá-la? Nae! Ele se virou para ela novamente com o coração nos olhos.
— O que você quer, Charlie?
Seus olhos eram grandes e líquidos à luz suave das velas. Ela não sabia dizer. Ela não precisava. Patrick tinha certeza de que seu coração estava prestes a parar para sempre e ele cairia no chão morto aos pés dela.
Cameron colocou a mão no ombro de Patrick. Seus olhos, sobre o filho de sua irmã, estavam cheios de amor e esperança que Patrick não tinha visto antes nele.
— Ela estava prestes a concordar com a proposta de Kendrick quando entramos.
Patrick deve ter parecido que estava prestes a ficar doente ou prestes a quebrar os maxilares porque seu tio se aproximou e segurou seu rosto com as duas mãos.
— Rapaz, ela não pode significar muito para você. Você não a conhece há muito tempo, não é? — Ele não esperou por uma resposta. — Eu o verei feliz, sobrinho. Faça este pequeno sacrifício por ele e com certeza escreverei a seu pai sobre isso. Pense nisso, por favor. Agora eu devo ir. Kendrick esperou o suficiente.
Patrick o observou entrar no quarto e se perguntou que tipo de monstro ele se tornou para odiar Kendrick.
Ele precisava ficar longe daqui. Ele precisava traçar seu curso de ação com a cabeça limpa.
Ele passou por Charlie, sem responder quando ela o chamou e se dirigiu para a porta. Ele não queria falar ou olhar para ela. Ele não poderia ter sido tão tolo. Ele não se importava com o que Cameron escreveria para o pai, mas era parente. Ele só poderia ir até certo ponto. Quão longe isso seria? Ele não queria falar. Ele queria lutar. Ele saiu de casa antes que pudesse pensar melhor e caminhou em direção aos campos. Ele não iria longe demais caso seu tio tentasse casá-los com o padre da aldeia.
O pensamento de Charlie passando sua vida com qualquer pessoa, que não ele o fez querer fazer mais do que apenas quebrar alguns ossos. Ele tentou planejar a melhor maneira de convencer Cameron de que não estava desistindo dela, mas não conseguia pensar direito. Sua cabeça parecia prestes a explodir, seu coração parecia o mesmo.
Era errado ele mantê-la longe de um homem que ela amou durante toda a vida? Ele ainda era nada além que um bastardo egoísta? Ele gostaria de poder falar com seu pai e talvez obter algumas dicas sobre o que diabos estava acontecendo com ele. Ele nunca havia sentido esse tipo de dor antes. O que seu pai teria a dizer a ele? Os homens de Camlochlin não haviam arriscado tudo por amor? Algum deles havia desistido de sua mulher? Seu pai lhe diria para lutar por ela. Mas quão longe lutaria?
E o que havia para lutar? Charlie queria Kendrick. Ela não conseguia nem olhar para ele. Patrick sabia que ela amava seu primo. Sua funda em sua coxa atestava isso. Ele deveria tê-la deixado com seu fantasma.
Ele caiu de joelhos com a torção de dor em suas entranhas, em seu peito.
Capítulo 38
Charlie observou Patrick sair e olhou para a entrada dos dormitórios. Sua indecisão sobre para onde deveria ir a manteve enraizada em seu lugar. Ela queria ir para o quarto e dizer a Cameron Fergusson que não havia futuro para ela e Kendrick. Mas como ela poderia dar as costas ao garoto que amava tão profundamente? Ele cresceu até a idade adulta em um mundo de espancamentos e correntes e lutou até a beira da morte, por ela. Como diabos ela deveria contar a verdade a ele? Ela realmente considerou concordar com sua proposta. Mas a culpa e o arrependimento eram prisões das quais ela não queria mais fazer parte. E Kendrick merecia mais.
Ela olhou para a porta da frente e pensou no homem que a libertou da solidão. Patrick estava indo embora? Ela se atreveria a persegui-lo?
Ela saiu correndo. Ele lhe disse que a amava, e ela acreditou nele. Então por que ele estava desistindo tão facilmente? Ele já tinha desistido? Ele raramente pedia sua companhia ultimamente. Quando ele verificava Kendrick, falava brevemente com ela e saia. Ela queria falar com ele sobre a proposta de Kendrick. Ele ainda a amava? Ela estava desistindo de seu amor de infância por um homem cujo coração inconstante havia mudado mais uma vez? Mas sabia que ele a amava quando olhou para ela, seu coração exposto diante dela. Por que ela não disse a ele então?
Quando ela saiu, ficou surpresa e totalmente aliviada ao ver o cavalo dele ainda amarrado ao pequeno poste. Ela olhou em volta. Ele não poderia estar muito longe. Ele tinha ido direto para a aldeia ou partido para os campos.
Ela levantou a barra de suas saias delicadas e correu para a esquerda.
Quando ela o viu ajoelhado na grama, parou e levou as mãos ao peito. Ele parecia angustiado e com uma dor terrível.
— Patrick? — Ela disse, alcançando-o. Ela caiu de joelhos diante dele e segurou seu rosto com as mãos. O longo véu de seus cílios estava escuro com a umidade ao redor de seu olhar sombrio. — Você não está bem?
Ele assentiu.
— É uma praga.
— O que você quer dizer com praga, por favor, fale sério. Estou preocupada.
Um canto de sua boca se curvou, mas estava vazio de qualquer humor.
— É amor. Aconteceu comigo.
Ela piscou e tirou as mãos do rosto dele para cruzar os braços sobre o peito.
— Aconteceu com você. Como uma maldição. Uma praga.
— Sim, eu...
Ela deu-lhe um empurrão para trás e pôs-se de pé.
— E eu aqui preocupada com você.
Ele se levantou e segurou o braço dela quando ela se afastou.
— Como você o chamaria quando esteve disposta a se afastar de todos os outros por causa de um? Ou com as garras retorcidas arranhando minhas entranhas e ameaçando me deixar em ruínas? Como você descreveria a sensação de se afogar sem ninguém por perto para ajudar, a cada maldito momento? Eu queria dizer, a escolha é sua. — Ele balançou a cabeça, seus olhos brilhando sob o sol. — Mas não posso falar as palavras. Eu quero lutar por você. Eu quero lutar com ele e isso me envergonha.
Ela voltou para ele, seus olhos arregalados, calorosos e cheios de adoração.
— Eu escolho você, Patrick MacGregor. O que acha que eu quis dizer quando disse que você teve sucesso onde meu pai falhou? — Quando ele balançou a cabeça, ela sorriu e estendeu a mão para correr os dedos sobre sua mandíbula forte. — Ele tentou matar Kendrick para me fazer parar de amá-lo. Sempre haverá amor em meu coração por Kendrick, mas você é o homem que eu quero na minha cama todas as noites. — Ela deu um passo para ir a seus braços. Seu sorriso fez a parte de trás de seus joelhos amolecer. — Você é o homem que desejo como pai de meus filhos e com quem quero envelhecer. É você que eu quero. Eu te amo, e só você. Deus e todos os seus anjos me ajudem.
Ela se perdeu em sua risada e seu beijo apaixonado.
Eles estavam na porta de entrada à beira de possivelmente começar outra rivalidade... ou terminar uma. Patrick rezou para que pudesse convencer seu tio do que Charlie significava para ele, e que ela pudesse ajudar Kendrick a entender. Eles iriam reivindicar seus futuros, desafiar qualquer coisa que viesse contra eles, juntos. Ela esteve ao seu lado durante todas as batalhas que ele enfrentou desde que chegou aqui, às vezes arrastando-o para a luz ofuscante do autoexame. Quando os ladrões os atacaram fora de Colmonell, as pedras dela voaram com extrema precisão, salvando seu traseiro. Olhando para ela, Patrick duvidou que fosse a última vez que eles ficariam unidos contra qualquer causa que Charlie assumisse em seguir.
Seu olhar atraiu o dela. Ele sorriu como um tolo, bebendo a visão de sua mandíbula delicada, o formato de seus lábios levemente inclinados para cima.
— Amo você, moça.
Ele viu a resposta dela em seus olhos antes de falar. Ele a ganhou.
— Eu também te amo, Patrick.
Ela se moveu contra ele com pressa e estendeu a mão para pressionar seus lábios nos dele. Ela se virou e entrou. Patrick ficou para trás, seu ouvido alertado por um som.
Ele se voltou para a cozinha. As crianças ainda estavam lá fora? Outro som gelou seu sangue.
O grito abafado de uma criança.
Ele chegou à cozinha antes que o choro terminasse e passou por Duff e Mary tentando sair.
— Crianças! — Patrick gritou, girando em um círculo enquanto seu olhar varria todas as direções.
— Jamie! — Mary gritou.
Patrick se virou para o garoto correndo do celeiro. Isso era... sangue nele? Patrick correu para ele.
— Não, não! — Ele rugiu em direção ao celeiro. — Robert!
Robert e Andrew correram chorando do celeiro, parando a respiração de Patrick quando ele os pegou em seus braços.
— Onde está Nonie? — Ele perguntou enquanto rapidamente examinava Jamie em busca de algum ferimento.
— Não é o sangue dele. — Robert fungou e enxugou os olhos.
— Nonie mordeu o monstro. — Gritou Andrew. — Ele a estava segurando e a Jamie e ela o mordeu.
— Hendry! — A voz de Duff ressoou nas árvores distantes e na alma de Patrick. — Que diabos está fazendo? Eu vou te matar, seu bastardo! Deixe-a ir!
Patrick se levantou de perto das crianças. Não, não. Hendry estava na porta do celeiro segurando Nonie pelos cabelos. Ante a ameaça de Duff, Hendry pegou uma faca e a levou até a garganta dela.
Patrick chamou a atenção de Nonie e ele piscou, embora sentisse que não tinha mais ar para respirar.
— O que você quer, Hendry? — Ele perguntou com uma calma mortal.
— Tenho de pagar uma dívida. Você sabe como eu gosto das mesas de cartas. — Ele sorriu para Duff e Patrick lutou para não correr para ele e quebrar todos os ossos de seu rosto. — Eu quero minha irmã. Ela deve se casar com Alistair Dunbar ou minha vida estará perdida. Então sabe? — Ele puxou a cabeça de Nonie pelos cabelos, expondo mais de sua garganta fina. — Farei o que for preciso para tê-la. Traga-a para mim agora.
— Você ofereceu nossa irmã em um jogo de cartas?
Patrick se virou para olhar para Duff. Ele mataria Nonie se tentasse qualquer coisa. Não era hora de perder a paciência com a forma como Charlie fora tratada. Hendry nunca a teria, nem os Dunbars. Não era algo com que se preocupar.
— Solte a menina, — ele gritou para Hendry e voltou seu olhar para ele, — e eu trarei Charlie para você.
— Por quê? Você já se cansou dela? — Hendry riu. — Toda a saudade dela pelo pobre Kendrick, morto, finalmente atingiu você?
Patrick deveria estar proclamando seu amor por ela, em vez disso, ele estava aqui, preparando-se para denunciá-la.
— Sim, eu...
— Você é um mentiroso, Monstro! — Nonie gritou. — Kendrick não está morto! — Ela cravou os dentes em seu braço pela segunda vez e o mordeu.
Hendry jogou a cabeça para trás com a dor em seu braço no mesmo instante em que a pedra de Charlie voou para sua cabeça. A pedra o atingiu na bochecha, arrancando a pele do osso.
Patrick aproveitou o momento de choque e dor de Hendry e saltou sobre ele.
— Corra para sua mãe! — Gritou ele para Nonie enquanto o aperto de Hendry sobre ela afrouxava e ele lutava para permanecer em pé.
A menina se soltou e correu enquanto Patrick alcançava Hendry e o segurava.
Patrick nunca quis tanto matar um homem, até agora. Agarrando a léine de Hendry, ele fechou a mão livre em um punho e o acertou. E de novo. Três golpes diretos no rosto foram suficientes para o verme, e suas pernas desabaram sob ele.
Patrick queria matá-lo. Mas ele se afastou e se virou para Charlie. Hendry ainda era seu irmão.
Ele se moveu em direção a ela e viu seu tio aparecer na porta, sua pistola erguida e apontada para Patrick.
O que nas chamas...
Patrick ouviu um som atrás dele e se abaixou. A bala da pistola de Cameron disparou acima de sua cabeça e atingiu o homem ensanguentado que se levantara do chão.
Hendry voltou a caiu no chão.
Felizmente, Mary levara as crianças para dentro enquanto Patrick socava Hendry. Charlie desviou o olhar do corpo de Hendry e desapareceu dentro de casa. Duff passou por ele, movendo-se em direção ao irmão.
— Tio? — Patrick foi até ele. Os olhos de Cameron estavam arregalados, a testa ainda franzida. Sua pistola ainda erguida, tremendo em sua mão. — Você está bem?
Cameron piscou e o olhou. Ele acenou com a cabeça, enfiando a arma sob o cinto.
— Eu estou agora.
Patrick segurava Charlie em seus braços deitados nos muirs iluminados pelas estrelas. O dia tinha sido longo e difícil e eles queriam ficar sozinhos. Ele havia falado brevemente com ela sobre a morte de seu irmão. Mas sua resposta solene estava correta. Hendry havia procurado isso sozinho.
— Você acha que Kendrick interpretou bem sua confissão? — Patrick perguntou apoiado contra sua sobrancelha.
— Eu acho que ele vai precisar de muito tempo para se curar de seu passado. — Ela respondeu suavemente. — Caitriona pediu para ir a Tarrick Hall para ver como ele está se curando. Ela o amou o tempo todo. Acho que sempre soube disso.
Patrick estava feliz. Eles estariam aqui também se Kendrick precisasse deles. Patrick permaneceria com Charlie em Pinwherry até que seu pai fosse devidamente levado para a prisão por conspirar para matar um menino. Patrick pediria a Daniel Marlow, um general do exército da rainha e seu primo por casamento, para ver isso feito.
Depois de saber que o povo de Pinwherry estava a salvo, ele levaria Charlie e Duff para Camlochlin para conhecer seus novos parentes e depois voltaria para cá.
— Você acha que seu tio vai me perguntar?
Foi ideia de Patrick dizer ao tio que ele se casou com Charlie na presença de um padre alguns dias atrás. Ele não se importava em dizer uma mentira de vez em quando. Era com Charlie que ele estava preocupado. Segundo ela, fez o possível para nunca mentir. Ele esperava que, se perguntado se eles estavam casados, ela não se culpasse tanto por mentir.
Ele não iria mantê-la desonesta por muito tempo. Se o padre estivesse aqui, ele a faria sua esposa agora. Se Duff quisesse permanecer em Camlochlin, Patrick ficaria aqui como liege.19
Significava responsabilidade. Dever para com cada um de seus inquilinos, o peso de uma aldeia sobre seus ombros. Mas, inferno, ele era forte. Feito para lutar. E ele não estava sozinho. Ele a tinha. Isso era o que ele queria... o desafio de uma nova vida com a única mulher que ele amava.
Epílogo
Patrick parou seu cavalo no topo de um vale profundo iluminado pelo sol, aninhado sob as vastas encostas da montanha Sgurr Na Sti. Seu olhar examinou o horizonte irregular das montanhas Cullians mais além e Bla Bheinn ao Norte. Muitos beijos foram compartilhados por muitas gerações nas encostas da montanha Bla Bheinn.
Ele se virou quando ouviu um som de Duff à sua esquerda. Seu primo estava olhando para o vale onde ovelhas e gado pastavam, e crianças brincavam em torno de casas com telhados de pedra.
— Facilite um pouco e afaste suas preocupações, primo. Tudo ficará bem lá.
— Não é isso. — Duff disse e espalhou seu olhar para o Oeste do vale e as ondas espumosas derramando-se em uma praia de seixos, onde uma moça parou para mergulhar os pés. — Esta poderia ter sido minha casa. — Ele disse, sua voz carregada de pesar.
Patrick não se preocupou muito com isso. Seu primo ficaria bem aqui. Camlochlin foi construída para curar.
— É sua casa agora.
Era a casa de Patrick e seu coração se encheu de amor por ela. Mais do que a fortaleza de pedra com torres subindo da montanha atrás dela, ou as casas espalhadas ao redor, construídas pelas mãos magistrais dos Grants, a terra o acenava recebendo de volta para casa.
Ele se virou para a moça na sela à sua direita. Ela cruzou os penhascos de Elgol em seu cavalo sem nem mesmo dar um pio, embora tenha vomitado seu almoço assim que eles estavam em solo firme.
— Sente-se melhor, meu amor?
Ela se virou e ele ficou surpreso ao ver seus olhos úmidos de lágrimas.
— Camlochlin?
Ele acenou com a cabeça e ela voltou para a vista à sua frente e sorriu.
— Você descreveu bem. Eu não quero andar por lá. — Ela decidiu e desmontou. — Eu quero correr.
Soltando as rédeas, ela ergueu a túnica earasaid e as saias onduladas por baixo, e saiu pelo cume em direção à colina atapetada de urze soprada pelo vento. Ela se virou para apontar seu sorriso mais radiante para ele e então continuou seu caminho.
Ela disparava seu sangue e fazia seu coração disparar.
— Leve os cavalos, sim? — Perguntou a Duff enquanto desmontava e entregava as rédeas ao primo. — Vou esperar por você lá embaixo.
Lançando-lhe um sorriso, Patrick saiu correndo atrás dela.
Ao ouvi-lo atrás dela, ela se virou e riu, ganhando velocidade. Ele a deixou correr até que ela se cansasse e então a pegou e a colocou sobre seu ombro.
Sua risada encheu as colinas e chamou a atenção de alguns habitantes de Camlochlin.
— Patrick, coloque-me no chão! — Ela gritou e bateu com os punhos nas costas dele. — Não vou conhecer sua família jogada sobre seu ombro como um saco de grãos! Agora, coloque-me no chão!
Ela aprendera um pequeno truque com Nonie e prontamente mordeu-o no ombro.
Ele uivou e tropeçou e os dois pousaram com um baque pesado no chão. Depois de recuperar o fôlego por que havia sido nocauteado, eles se sentaram e riram.
Eles perceberam o homem de pé sobre eles. Charlie olhou primeiro, de suas botas de pele de ovelha, para sua longa e mortal Claymore, pendurada em seu quadril, para o xadrez de seu plaid sobre a extensão de seus ombros. Ela engoliu em seco e piscou sob um olhar tão poderoso quanto os mares.
Patrick sorriu e ficou de pé, levando uma Charlie muda com ele. Callum MacGregor ainda tinha o mesmo efeito nas pessoas.
— É bom ver você, avô.
— Patrick? — Sua tia Davina correu para ele descalça, deixando as cristas espumosas das ondas para trás. — Isso é você?
A esposa de Rob, o atual laird, os alcançou ao mesmo tempo que Duff. Ao vê-la, o avô de Patrick passou o braço em volta dela.
Sempre a impassível Lady de Camlochlin, Davina voltou seu amplo olhar para Charlie.
— Devemos agradecer a esta adorável donzela por trazê-lo para casa e para nós?
— Sim. — Patrick disse a ela e apresentou Charlie a eles. — Minha esposa, Charlotte... e seu irmão, Duff.
Callum observou Duff desmontar com um olhar escrutinador. Patrick se perguntou, enquanto Davina pegava Charlie pela mão e sob sua asa, se seu avô via a semelhança total.
— O irmão dela? — Ele perguntou.
Patrick sorriu.
— Eu o encontrei em Pinwherry, adotado pelo pai de Charlie, Allan Cunningham.
O olhar de Callum deslizou para ele. O sorriso de Patrick desapareceu.
— É uma longa história, avô. Uma que explicarei a todos no jantar desta noite.
Apaziguado, o Diabo MacGregor voltou sua atenção para Duff.
— Seu pai ficará feliz em conhecê-lo.
Duff sorriu pela primeira vez em dias.
— Eu me pareço tanto com ele que você já sabe quem é meu pai?
Callum assentiu.
— Você é de Will. — Ele estendeu a dobra do cotovelo para Charlie. Ela aceitou, parecendo apropriadamente sobrecarregada. — Embora eu não saiba o que sinto por você se deixou sua irmã se casar com este velhaco errante.
— Não estou mais vagando. — Corrigiu Patrick, alcançando-o, Duff apenas um passo atrás. — Fui atingido pela febre do amor e acordo de cama todas as manhãs, delirando de novo.
Seu avô e sua esposa sorriram para ele.
Patrick entrou em Camlochlin da mesma forma que cada um de seus filhos que estiveram fora por muito tempo voltavam... com admiração por seu calor e familiaridade.
Mas se reunir ao pai era de longe a melhor parte de estar em casa. Patrick tinha muito a dizer a ele. Coisas que ele suspeitava que seu pai ficaria feliz em ouvir.
Sua mãe, tão bonita quanto no dia em que ele a deixou, adorara Charlie, assim como o resto das mulheres. Seus tios e primos os cumprimentaram e ficaram maravilhados com Duff, ansiosos para que Will chegasse já que um dos primos mais novos de Patrick foi enviado para buscá-lo em sua casa.
Duff estava compartilhando uma caneca de cerveja com Callum quando seu pai finalmente chegou.
Depois de cumprimentar Patrick com um grande abraço de urso e Charlie com um abraço mais delicado, Will se virou para Duff e sorriu.
Não havia nada de incomum na falta de interesse de Will pelas pessoas que se aglomeravam ao seu redor, olhando e esperando como se não tivessem sido alimentadas por uma semana e a comida estivesse a caminho.
— Will Mac... — Ele interrompeu sua apresentação e deu a Duff um olhar mais cuidadoso. — MacGregor, — ele terminou. — A gente se conhece?
— Sim. — Callum disse, e avistando sua esposa do outro lado do grande salão, empurrou-o contra a parede. — Ele é seu filho.
Charlie estava sentada a uma longa mesa polida no grande salão. À sua volta estavam MacGregors e Grants, jovens e velhos, rindo, discutindo, brindando com suas canecas a uma coisa ou outra.
Ela ouvia com um ouvido enquanto Patrick contava a história dela e de Duff e tudo o que tinha acontecido com Kendrick. Eles fizeram perguntas, mas logo a alegria voltou. Era como se nada além das lágrimas os preocupasse muito.
Ela observou o irmão sorrindo enquanto falava com o pai, Will MacGregor absorvendo cada palavra e sorrindo com ele. Ela sabia que tinha perdido o irmão para a família antes que ele dissesse que não queria voltar.
Ela não o culpava. Por que um bom homem iria querer viver em um mundo cruel? Patrick queria. Ele voltaria para Pinwherry com ela e a ajudaria a seguir seu coração e mudar a vida das pessoas que viviam lá.
E então eles voltariam para Camlochlin, talvez com Elsie e Shaw, e criariam seus filhos com uma família do tamanho de um exército. Ela sorriu pensando nisso e sentiu a boca do marido acariciar seu pescoço.
— Você está pensando em me beijar na urze?
Ela riu e deu um tapa em seu braço, mas se virou para ele, seus cílios baixos, seu sorriso, promissor. Ele fazia seu interior ardente. Nenhum outro homem faria.
— Quando podemos partir?
Notas
[1] Léine - A principal peça de roupa para homens e mulheres irlandeses era a Léine (pronuncia-se Laynuh), que se traduz para o inglês como uma camisa.
[2] Funda - Uma funda ou fundíbulo é uma arma de arremesso constituída por uma correia ou corda dobrada, em cujo centro é colocado o objeto que se deseja lançar. Também chamada de atiradeira, catapulta ou estilingue, embora alguns desses nomes possam remeter a tipos de armas de arremesso específicos.
[3] Meirinho era o magistrado encarregado de aplicar a Justiça e fiscalizar a aplicação da justiça nas terras senhoriais.
[4] Reeve - o presidente de uma aldeia ou conselho municipal.
[5] Kohl, kajal ou kajol é um cosmético para os olhos antigo, tradicionalmente feito por moagem de estibnita para fins semelhantes ao carvão usado em rímel.
[6] Um earasaid ou arasaid é uma peça de roupa usada na Escócia como parte do vestido tradicional das terras altas. Pode ser uma manta com cinto ou um invólucro sem cinto. Tradicionalmente, os earasaids podem ser simples, listrados ou tartan.
[7] No início do período, não havia uma orientação médica única e organizada. Se uma pessoa adoecesse devido a um trauma ou doença poderia buscar tratamento no curandeirismo, num benzedor, na astrologia, através de encantamentos e misticismo ou finalmente procurar um médico consagrado, se houvesse um disponível. Além disso, as fronteiras que separavam essas ocupações eram tênues e móveis. Textos médicos clássicos, tais como aqueles de Galeno eram amplamente usados (mais com base em sua autoridade e tradição do que baseados em confirmação experimental). A medicina medieval europeia se tornou mais desenvolvida no Renascimento quando inúmeros textos médicos árabes sobre medicina antiga grega e medicina islâmica foram traduzidos para latim. Os mais influentes entre esses textos era o Cânone da Medicina de Avicena, uma enciclopédia médica escrita por volta de 1030 o qual resumia a medicina dos gregos, a indiana e a islâmica até aquele momento. O Cânone se tornou um texto de autoridade na educação médica europeia até o início da Idade Moderna. Outros textos médicos traduzidos naquela época incluíam o Corpo Hipocrático atribuído a Hipócrates, Alquindo, De Gradibus o Liber Pantegni de Haly Abbas e Isaac ben Solomon, Abulcasis, Al-Tasrif e os escritos de Galeno.
[8] Nae – significa na língua gaélica: não.
[9] Nimbo - em meteorologia é uma nuvem escura, espessa, baixa no período de chuvas.
[10] Nae – não no idioma gaélico.
[11] Wee – significa pequeno.
[12] Lass – em gaélico significa moça.
[13] Will MacGregor – tem participação especial no livro Ravished by a Highlander ( Reivindicada pelo Highlander ) - Série Children of the Mist – Paula Quinn
[14] Yer – sua, seu.
[15] Butterbur, é um arbusto que cresce em todo o Reino Unido, mas raro no centro e no norte da Escócia, geralmente em solo úmido e pantanoso. O nome Butterbur é atribuído ao uso tradicional de suas folhas grandes para embrulhar manteiga em clima quente. Na idade Média era usado para peste e febre, e no século XVII era usado para tratar tosse, asma e feridas na pele.
[16] Bairns – crianças, filhos.
[17] Léine - camisa.
[18] Breeches – calças.
[19] Liege – suserano.
Paula Quinn
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