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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


tHIEF / A Zavarelli
tHIEF / A Zavarelli

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Tanaka

Sou uma boa menina
Eu vivo por um código que não pode ser dobrado ou quebrado. É meu dever com a minha família permanecer inocente e pura. Casar com um homem
Mas Nikolai Kozlov reescreve meu destino com cinco palavras simples.
Você pertence a mim agora.
Ele é da máfia russa. Um ladrão. Um mentiroso qualificado sem limites morais. Ele é tudo que aprendi a odiar. Um homem que não representa nada. Um homem que leva o que ele quer sem um segundo pensamento.
E o que ele quer sou eu.
Ele acha que controla o meu destino, mas o que ele não sabe é que às vezes são com as boas garotas que você precisa ter cuidado.

Nikolai
Sou um homem perigoso.
Eu vivo por um código. O código Vory. É meu dever com a minha família proteger a irmandade. Destruir qualquer um que ameace o que representamos, incluindo ela.
Ela é uma dançarina. Uma linda bonequinha. Minha prisioneira e minha nova boneca favorita. Esta princesa mafiosa acha que ela me tem sob seu feitiço, mas no final, ela é simplesmente uma garantia.
É uma pena destruir coisas preciosas.
Mas isso é o que os homens maus fazem.

 

 

 

 

 

 

Deixe arruiná-la. É a única maneira.

As palavras correm entre meus lábios em um fôlego roubado e na minha mente, o rosto de Vivi ainda é tão lúcido como o dia em que ela pronunciou essas palavras. Ela foi clara e involuntariamente, poética. Sedosas mechas de cabelos negros, batom vermelho e óculos com armação gatinho. Estas eram apenas algumas das características que formavam minha mentora e minha inspiração.

Cada dançarina no Met esta noite iria vender suas almas por uma carreira como a de Vivi. Eu era uma das sortudas discípulas escolhidas para estudar com ela, mas eu duvidava que isso tivesse alguma coisa a ver com sorte. Ela tinha olhos de artista, sempre à procura de algo diferente. E em um rebanho de ovelhas pálidas, eu era o solitário lobo escuro. Vivi gostava disso. Desde o início de nossa convivência, ela falou de seu empenho para criar diversidade cultural em um mundo de dança que ainda mantinha estritos padrões antigos.

Minha herança de parte de sangue italiano e o traço de pele ébano de minha mãe me elegeram como a garota-propaganda para sua causa. Mas, independentemente do seu raciocínio, eu não deixei a oportunidade ir para o lixo. Eu não tinha a ilusão de que era especial e Vivi seria rápida para me lembrar disso se eu mantivesse essa noção em minha cabeça. Cada aluna de ballet queria pensar que era especial. Que ela era puro talento e graça natural. Que ela era a melhor. Mas a melhor de todas as dançarinas era apenas tão boa quanto a dançarina ao lado dela, que esperava para roubar seu brilho no centro das atenções. Vivi forneceu essa lição quando ela permitiu que outra dançarina fizesse exatamente isso. Sua prática era brutal, mas eficaz. Mais que estrutura e tempo, ela me ensinou como viver e respirar a minha arte. E o mais importante: ela me deu uma educação sobre o que acontece quando um dançarino se torna complacente.

Lembro-me dela calorosamente quando eu levava meu corpo através do inferno e eu sei que ela ficaria orgulhosa. Se ela estivesse aqui para testemunhar o estado mutilado dos meus pés, ela me diria que eu tinha ido para a guerra e tinha ganhado.

Flexionando os dedos dos pés, meus olhos varrem a paisagem desolada de minhas coxas enquanto eu me estico para a frente em um alongamento meditativo.

Não existe tal coisa como dor. Há apenas disciplina.

Hoje à noite, vou subir ao palco como solista da New York Ballet Company, atuando como Ceres em Sylvia. É um papel difícil de conquistar. Um papel que lutei e sangrei para conseguir. Os anos de estudo não foram gentis, mas não há tal coisa como misericórdia no ballet.

A vida útil de um bailarino é curta, e para mim, ainda mais curta. Tenho sorte que o ballet sempre agradou meu pai, porque é a única diversão que ele não iria me negar. Ele me disse, quando criança, que uma dançarina encarna tudo o que uma mulher deve ser. Quando ele me levou para o meu primeiro ballet, cheguei a uma rápida conclusão. As criaturas celestiais que flutuavam pelo palco em tons de rosa pálido e branco foram a mais bela vista que eu já tinha visto. Na idade de seis anos, resolvi que eu seria uma dessas dançarinas algum dia. Minhas aspirações elevadas trouxeram diversão para o rosto impetuoso de meu pai e ele declarou que, se eu quisesse ser uma verdadeira bailarina, isso significaria aceitar nada menos do que o primeiro lugar. Quando perguntei por que, ele explicou que, antigamente, apenas as melhores dançarinas poderiam ganhar a honra de serem chamadas de bailarinas.

Daquele dia em diante, decidi que eu iria ganhar o direito de ser chamada de uma verdadeira bailarina. E dezoito anos mais tarde, estou mais perto do que nunca do meu sonho. Além disso, mais perto do que nunca de tê-lo arrancado de mim.

Um sussurro silenciado me sacode da quietude e quando eu abro meus olhos, a calmaria antes da tempestade se dissolve.

O acordo permanente entre o meu pai e o diretor artístico do NYBC é que eu sempre devo ter meu próprio camarim, mesmo que seja apenas do tamanho de um armário. Meu pai gosta de dizer que o disfarce da religião pode comprar muitas coisas, mas a verdade é que é o seu nome, que proporciona tais luxos. O diretor artístico não pisca duas vezes para os guardas que seguem cada movimento meu. Infelizmente para mim, os outros dançarinos fazem.

Eu sou mantida separada. Escondida e proibida de socializar. As circunstâncias da minha situação não criaram a recepção calorosa dos meus pares, mas estou acostumada ao isolamento. É por isso que não é um pequeno choque descobrir que Gianni se infiltrou no meu camarim improvisado. Eu nem tenho certeza de como ele se esgueirou e quando eu olho para a porta, onde o guarda está esperando lá fora, forma-se um nó na minha garganta.

"O que você está fazendo? Meu pai estará aqui a qualquer...”

“Tanaka.” Ele se abaixa ao meu nível. Estamos olho no olho e não há dúvidas sobre a apreensão nos seus. Gianni é o garoto-propaganda de cada traje de gangster italiano que é produzido em massa próximo do dia das Bruxas. Cabelo preto alisado para trás (negríssimo), anéis em seus dedos (ouro) e o estereotipado sotaque de Nova Iorque. Eu não poderia levá-lo a sério no meu melhor dia, mas eu estou levando a sério agora.

“O que é?” Eu enrolo minhas pernas debaixo de mim e fico de pé, alongamento esquecido. Ele não pode ser visto aqui comigo e sabe disso. Então, se ele está aqui, só pode significar que algo está acontecendo. Eu tenho uma súbita vontade de vomitar e não é pela performance iminente. Meu estômago está uma profusão de nervos e é tudo culpa dele.

“Você me prometeu.” Minha coluna inclina para frente conforme eu seguro na minha cintura. “Você jurou que tudo ficaria bem.”

Tudo o que posso pensar é em meus sonhos virando fumaça. O principal não importa se estou morta. Nada importa se estou morta. Os anos de treinamento, os inúmeros obstáculos que eu superei, eles terão sido em vão.

Gianni olha para a porta. “Eu vim para avisá-la.”

“Avisar sobre o quê?”

A conversa tem uma parada abrupta quando há uma batida na porta. A batida que eu estive temendo desde a sua chegada. Eu sabia que viria, e não há tempo para terminar o que Gianni começou. Ele amaldiçoa em voz baixa, correndo para uma cadeira no centro da sala. Eu aceno para ele freneticamente enquanto ele puxa-se para cima através de uma telha deslocada no teto.

“Principessa” meu pai chama através da porta. “Você está decente?”

A telha desliza de volta no lugar e eu limpo minha garganta. “Sim, papai.”

O guarda abre a porta e meu pai entra. Eu o encontro no meio do caminho como um sinal de respeito e ele beija cada uma das minhas bochechas. O ritual é previsível e familiar, mas a inquietação em seus olhos escuros não é.

Impecável em um terno e sobretudo, meu pai continua firme em seus caminhos antigos. Ele sempre vai vestir o seu melhor e todos em torno dele devem fazer o mesmo. Mas mesmo ele não pode esconder a careta em seus passos conforme anda pelo perímetro da sala com um olho afiado. Isso pode significar uma de duas coisas: um acordo de negócios que foi mal ou as suas dívidas são piores do que eu tinha imaginado.

Eu não pergunto e ele não diz. Estas não são as coisas que um pai discute com sua filha. Pelo menos, não no nosso mundo. Meus dias, semanas e horas são escravos de um regime de bailarina, e os seus são consumidos por atividades criminosas.

À primeira vista, o homem é uma fonte improvável para os meus genes paternos. Ele é um regresso às suas raízes italianas, olhos e cabelos escuros. Minha aparência é muito mais acobreada e meus olhos, uma sombra mais indulgente de âmbar. Ele é robusto em estatura e sou esbelta como minha mãe.

Sou grata de ter herdado os traços dela, acreditando que, de alguma maneira, ela vive através de mim.

“Sei Bella.” Papai se senta na cadeira que Gianni usou para sua fuga apenas momentos atrás. “Hoje à noite, o público vai ver um anjo genuíno.”

Eu sorrio com o elogio, mas sob suas palavras, há uma corrente de desespero e isso me preocupa.

“Você sabe que deve deixar isso em breve, Principessa.”

Meu aceno de resposta é forte e obediente. “Sim, Papai, eu sei.”

Em breve soa mais rápido do que eu esperava, mas não é inteiramente surpreendente. Dante vem fazendo preparativos tranquilos para se casar comigo e no momento que eu concordar, minha vida vai mudar completamente. Prêmios de dançarina não têm significado em um mundo de homens. Uma esposa da máfia tem um único propósito e não é fora de casa. Eu fui criada para saber os desafios que me esperam. O propósito da minha vida só é tão grande por conta do nome do homem que eu levo.

“Dante gostaria de dar uma palavrinha com você” diz papai.

Eu respondo com um quieto, “tudo bem.”

Um curto comando do meu pai e Dante entra obedientemente. Ele me cumprimenta com um beijo respeitoso na bochecha e nada mais. É o tanto de contato que nós temos sob o olhar atento do meu pai. Devo permanecer pura para o meu marido e só na noite de núpcias minha virtude será tomada. Este é o caminho do meu mundo e uma das muitas razões para a minha guarda constante.

“Você parece uma deusa.” Dante aperta minha mão. “Eu imagino que você vai hipnotizar todo o teatro. Estou apenas decepcionado que não serei capaz de vê-la.”

Meu rosto enruga. “Você não vai ficar?”

Dante olha para o meu pai antes de responder. “Desejo que pudesse, mas os negócios me chamam.”

Eu aceno porque não é o meu lugar para discutir. Negócio é negócio.

“A coisa é,” Dante diz com amargura indisfarçada, “o negócio é no exterior. Eu poderei ficar fora por um par de meses.”

Um par de meses? Isso é novidade para mim e é a primeira vez que vi Dante ressentir-se de suas ordens. Ordens, sem dúvida, proferidas pelo meu pai. Em uma exposição ousada de propriedade, ele desliza a mão sobre minha bochecha e se inclina para sussurrar no meu ouvido. “Quando eu voltar, vou fazer de você minha esposa.”

Um tremor se move através de mim e Papai limpa a garganta. “Hora de ir, Dante.”

Um último beijo na minha bochecha e Dante faz o que ele disse.

Eu dou ao meu pai um sorriso fraco, esperando que ele vá agora. Há apenas um curto período antes do show e meus nervos não se aquietaram. Preciso de mais tempo para me aquecer. Eu preciso reenquadrar os meus pensamentos e acalmar o caos que tira o meu foco. O comportamento inquieto de meu pai. A advertência silenciosa de Gianni e agora a rápida saída de Dante. Uma energia atômica está se construindo no ar a cada segundo e eu não gosto disso.

Eu forço meu coração a se acalmar quando meu pai faz um gesto para seus homens do lado de fora e Gianni é o único a entrar. Ele está aqui como um guarda esta noite e seu rosto é completamente desprovido de emoção quando meus olhos piscam para os seus. Ele não dá pistas e sei que é importante que eu faça o mesmo.

“Tanaka” meu pai diz bruscamente. “Eu gostaria que você conhecesse um associado meu.”

Meus olhos movem-se para a porta, uma nova ameaça à espreita. O associado é apresentado como Nikolai, mas ele está longe de ser um associado pelo que posso ver. O homem é de um mundo completamente diferente.

A primeira coisa que eu sempre noto sobre uma pessoa é a sua postura. Fui criada para acreditar que uma boa postura transmite boas maneiras, bem como o respeito para aqueles que o rodeiam. Nikolai carrega sua postura como um ocasional 'foda-se'. Não há decoro em sua jaqueta de couro, jeans, ou suas botas de motociclista amarradas de qualquer jeito. Tudo o que ele usa é preto, mas o pequeno vislumbre de carne sob as roupas é uma profusão de cores. Tatuagens cobrem cada centímetro de sua pele exposta, incluindo a garganta. Eu não tenho certeza do que é mais ofensivo: a tinta ou o falso moicano em sua cabeça. Esta não é a maneira com que você assiste a um balé, nem ele é o tipo de homem que eu esperaria que meu pai mantivesse em sua companhia.

“Tanaka.” Ele pega a minha mão e a beija de uma forma que poucos homens jamais se atreveriam a fazer na presença do meu pai. “Você dança muito bem.”

As palavras são inequivocamente acentuadas. Russo. Minha compostura oscila enquanto eu me esforço para dar sentido a essa situação. Meu pai sempre foi protetor comigo. Seus homens sabem que não devem falar comigo ou olhar para mim, mas para esse estranho, de alguma forma, está tudo bem.

Pelo menos meus modos ainda estão intactos, então eu respondo como deveria. “Você me viu dançar?”

“Eu gosto de investir meu tempo nas artes.” O estranho pisca um sorriso de menino em contraste com a profundidade de seus olhos. Olhos azuis como um iceberg e tão enigmáticos quanto um também. Eles invocam uma sensação de superficialidade no meu peito. É uma sensação estranha, mas parece como se ele estivesse rindo para mim.

Olho para o meu pai, o homem mais poderoso que já conheci. Tudo muda quando ele está ao lado de Nikolai, de repente ofuscado. Eu quero saber o propósito desta reunião. Nikolai não é um associado italiano e ele não tem de estar aqui.

Uma assistente aparece para me alertar sobre a hora e os meus pensamentos rapidamente voltam ao foco. Eu tenho menos de cinco minutos para estar lá em cima. Papai pede desculpas por me atrasar e diz que vai me deixar para que eu me prepare. Mas Nikolai não presta atenção às palavras de meu pai. Ele permanece desnecessariamente, seus olhos examinando meu rosto com curiosidade inquietante.

“Tanaka?”

"Sim?"

Seus olhos cortam através de mim. “Quebre uma perna, não é?”

“Merde”, eu o corrijo. “Você não diz a uma dançarina para ela quebrar uma perna.”

Ele encolhe os ombros e com essa impressão notável, sai.

Meus dedos tremem quando eu chego até minhas sapatilhas. Passei horas preparando esses sapatos novos. Queimando, esmagando, costurando, alterando. E quando essa performance terminar, estarão prontos para o lixo.

Meus pés estão machucados, inchados, calejados e à beira da deformidade. A gravidade da minha prática não me deixou outra escolha senão usar ponteiras. Mas quando olho ao redor da sala, eu não consigo encontrá-las. Sei que estavam aqui e não as esqueci. Eu nunca venho despreparada. Mas elas não estão aqui agora e tenho menos de dez minutos até a cortina.

A decisão estava perdida. Eu não tenho outra alternativa senão ir sem, já que não há nem mesmo uma bola de algodão para ser encontrada em minha bolsa. As outras dançarinas certamente teriam alguma na mão, mas pedir para elas seria admitir fraqueza. Eu preferiria sofrer uma eternidade no inferno do que admitir que era fraca. Uma principal faria o que fosse preciso, não importava o quanto doesse.

E dói impiedosamente quando aperto meus pés na sapatilha. Eu tomo três respirações profundas e empurro até que meu pé esteja na posição. Os belos sapatos não tiram a minha dor, mas eles conseguem esconder a feiura do esporte. Eu corto a conexão mental com a agonia de meu corpo antes de me juntar ao resto do elenco. Meu guarda segue obedientemente atrás de mim, tecendo através do caos que é o Met. Ao longo das salas, a estrutura está viva e movimentada com a arte, nas suas muitas formas. No porão, a orquestra do Met ensaia a Mahler Symphony No. 1, enquanto em um nível separado, uma artesã pinta centenas de flores para Madama Butterfly. Em algum lugar entre a sala de perucas, a loja de fantasias e a sala onde a nossa mestra de ballet nos chicoteou em fila anteriormente, há cabelo e maquiagem, que eu pulei já que eu sempre opto por fazer isso sozinha. Em um ponto, passamos por uma estátua erguida para a Tosca e uma rapper/drag queen que é mais conhecida pelo seu papel como Prince Coffee.

Chegando ao nosso destino final, o palco já está repleto de energia. Dançarinos em seus trajes treinam os movimentos em que eles têm mais dificuldade, praticando incansavelmente enquanto ainda têm a chance. Também ocupados com trabalho estão o maestro, gerente de iluminação, mestre carpinteiro e gerente de palco. Apenas algumas das engrenagens que fazem esta máquina de ballet gigante funcionar.

Não há tempo suficiente para me preparar. A única fé em que posso me agarrar é minha prática inabalável. Eu vivi, respirei, comi e dormi com este ballet. Minhas manhãs são gastas com a companhia. Aquecimentos na barra. Ensaios e exercícios acompanhados com mais treinamento por todo o meu tempo. Yoga e Pilates para fortalecer qualquer um dos perseverantes pontos fracos na minha rotina. Eu tenho subsistido com a intenção de que este momento será a perfeição. Que cada chance que eu tenha para brilhar será a perfeição. Se fui escolhida como a principal, eu devo ser impecável. Cada papel, grande ou pequeno, é uma oportunidade para provar o meu valor. O tempo não é amigo de um dançarino e quando você é a filha de Manuel Valentini, só pode ser seu inimigo. Eu tenho um sonho, de curta duração, como talvez seja. Enquanto o sangue aquece minhas veias, vou lutar por ele.

Não há desculpas.

Então, quando sou chamada, flutuo no palco e danço. Às vezes, falsa bravata é tudo que você tem. Você pode apenas esperar e rezar para que você tenha feito tudo certo. Eu dormi por nove horas. Eu comi proteína leve. Eu alonguei, embora não tanto quanto gostaria. Agora, só tenho a minha habilidade para confiar.

O tiro inicial de adrenalina inundando minhas veias isola a dor, presenteando-me com falsa confiança. Mas, ao pisar em minha primeira posição croisé, eu tomo consciência de que algo não está certo. A caixa da sapatilha está estreita e eu me culpo. Eu deveria ter me preparado melhor. Deveria ter testado os sapatos mais uma vez nos bastidores para garantir que tudo estava correto. Mas o meu dever era com meu pai. Devo sempre fazer o que é certo.

A coreografia toma vida e assim faço eu. Independentemente da distração, meus movimentos são impecáveis, mas não me permito um pingo de arrogância. Cada posição é realizada com cuidado, cada passo preciso e leve. Meu pai está assistindo da plateia, disso não há dúvida. Eu não posso desapontá-lo. Cada performance é uma justificativa para os incontáveis anos que tenho dedicado à minha prática.

Eu preciso de ballet como preciso de ar para respirar. Isso é minha vida. Meu coração. Minha alma. E a coisa que eu mais temo é o que será de mim se não for mais uma dançarina. Estou no caminho certo. Por tanto quanto me lembro, este trem vem se movendo em uma direção. Eu estou indo para chegar lá. Está nos meus ossos. É a única coisa que sei com certeza.

Mas Vivi seria rápida para me dizer que nada na vida é certo.

O primeiro golpe vem quando eu subo en pointe. Agonia quente perfura através dos meus dedos sem aviso e sangue quente e pegajoso enche as caixas da sapatilha.

Eu fecho meus olhos e tento respirar através da dor, enquanto entro em acordo com uma certeza inabalável. Meus sapatos foram sabotados. Não há nada que eu possa fazer, além de continuar com o desempenho e orar para não sangrar no chão. O que quer que tenha rasgado minha carne já está embutido lá e não me importo. Devo terminar a qualquer custo.

Eu não devo vacilar.

É com esta grande intenção que meu mundo inteiro tomba em questão de segundos. Um salto e uma falha aterrissagem e está tudo acabado.

Conforme eu desabo no chão, o medo, no primeiro plano da minha mente, é da pressão que senti no meu tornozelo. Logicamente, estou ciente de que existe toda uma audiência presente para o pior momento da minha vida, mas me desliguei disso. Obscurecida por descrença, tento levantar-me, apenas para cair novamente. Meu tornozelo não funciona mais. Ele não se move.

Eu poderia pensar em mil maneiras que preferiria morrer até que alguém finalmente tem pena de mim e me leva para fora do palco.


“Tenha um pouco de misericórdia, está bem?” A figura sombreada de Papai sussurra por trás da cortina.

“Você tinha quaisquer ilusões de que isso poderia acabar de outra forma quando fez o acordo?”

“Ela é minha única filha.”

“Ahh, sim. Isso puxa as cordas do coração, eu suponho. Mas acredito que ela também era sua única filha, quando a questão da garantia foi explicada a você. Se você não está feliz com esta solução, então talvez você deva pagar a dívida e terminar com isso.”

“Você sabe muito bem que eu não posso” meu pai diz. “Ela está ferida. Pelo menos deixe-a se curar e então talvez possamos trabalhar algo—"

“Ela pode se curar muito bem sob a supervisão do meu médico.”

“Mas as contas” Papai protesta.

“Você não seria capaz de pagá-las de qualquer maneira. Elas serão adicionadas à sua dívida. E quando você vier para buscá-la, como sei que você vai, ela estará tão boa como nova.”

“Eu não posso concordar com isso. Esta não é a forma como ela foi criada. Ela é uma boa garota. Sua reputação será arruinad...”

“Que escolha você tem?”, pergunta o russo implacável. “É você ou sua filha. E suponho que tenho pouca utilidade para você.”

O silêncio segue.

Meus olhos ainda estão fechados, mas o sono me escapou. O trauma desta noite me drenou a vontade de pensar, sentir ou mesmo respirar. Eu implorei para cada divindade que poderia pensar em chamar. Orei. Chorei. Oscilei violentamente entre a esperança e o desespero.

Intelectualmente, estou ciente do que está tomando forma neste momento entre meu pai e Nikolai. Mas não posso encontrar a presença de espírito de que eu preciso para me importar. O que importa quando a única coisa que sempre quis foi tão violentamente tirada de mim?

Ainda parece como um pesadelo do qual não consigo acordar. Não importa quantas vezes vai e volta minha mente, eu não posso forçá-la a fazer sentido. Certamente, incidentes como estes não são desconhecidos. A vida no mundo do balé pode ser um esporte de sangue. A inveja é abundante e a concorrência é implacável. Mas eu nunca pensei que alguém na minha própria companhia seria capaz de tal crueldade. O pior que eu tinha sido vítima era um olhar sujo ou comentário malicioso. Tal medida extrema me pegou de surpresa e sou levada a pensar em como eu não vi nenhum sinal chegando.

Uma mão roça meu braço e quando abro os olhos, meu pai está ao meu lado, com o rosto sombrio. Ao lado dele está Nikolai, irritantemente calmo. Ele não está fora do contexto e eu não sei por que meu pai permitiu que ele permanecesse. Meu mundo sempre foi pequeno, mas a única coisa que sempre soube era que como meu Papai é poderoso. Seus homens fazem o que ele diz. Eu faço o que ele me diz. Todo mundo obedece quando ele fala. Mas não Nikolai. Nesta nova cadeia de eventos, Nikolai é o único a dar ordens.

“Tanaka.” A voz de papai não vacila, mas é mais suave do que eu já ouvi antes. “Houve uma mudança de planos. Você deve ser uma boa menina e fazer o que eu digo. Você entende?"

Minha única resposta é piscar. Estou muito entorpecida para discutir. Estou muito destruída para dar-lhe uma resposta verbal. Algo por que ele iria me castigar em qualquer outro momento.

“Nikolai tem graciosamente concordado em fornecer algumas acomodações para você, enquanto estou em viagem de negócios. Não há necessidade de se preocupar, porém, pequeno cordeiro. Será apenas por um curto tempo.”

Não tenho capacidade emocional para aceitar isso como a minha realidade agora. Durante anos, minha vida tem sido um curso reto que nunca se desviou. Primeiro lugar e Ballet. Aqueles eram os meus únicos objetivos e eu tinha tão pouco tempo para fazê-los acontecer. Era para eu casar com Dante. Isso é o que disseram para mim. Isso é para o que venho me preparando. Toda a minha vida fui protegida. Educada em casa. Proibida de ter amigos ou sair de casa. Eu não poderia estar sozinha com um homem, nunca. É como tenho sido ensinada. É o que sempre respeitei. Meu pai arranjou meu casamento e foi gravado na pedra. Mas agora, ele me diz que está enviando-me embora com um homem que eu não conheço. Aquele que não parece ter nenhum dos valores incutidos em mim.

Por um breve momento, eu me pergunto o que Dante vai dizer. E então meus pensamentos derivam gradualmente de volta para minha companhia. Uma lágrima escapa pela minha bochecha, seguida por outra. Eu não sei nada além de uma verdade inalterável. Sou uma dançarina. É tudo o que tenho. É tudo que sou.

Quando o médico retorna para discutir o meu destino, seu rosto é clínico. Imparcial. E ele mal olha para mim antes de abordar o meu pai como ele foi instruído a fazer.

"Sr. Valentini, sua filha rompeu dois ligamentos em seu tornozelo—”

“Não.” Eu tento me mover, mas um olhar de meu pai me para.

“Eu sinto muito.” O médico olha para mim agora. “Seus ferimentos vão exigir cirurgia para reparar os ligamentos e remover o vidro ainda cravado em seus dedos do pé.”

“Mas sou uma dançarina” sussurro.

Seus olhos dizem as palavras que suas maneiras não permitirão.

Não mais.


Dois

 


Kosmos — nosso clube propriedade da Vory — é um estabelecimento sem frescuras. Mulheres e bebida são as principais atrações na frente e na parte de trás correm as operações. Hoje é o terceiro dia do mês o que significa que eu sou esperado para comparecer em nossa reunião mensal.

Eu chego cedo para socializar, como é costume, mas o homem que realmente estou procurando está mais atrasado do que o habitual. Alexei tem andado ocupado com o seu novo brinquedo loiro ultimamente. Acho que todos nós temos que lhe dar alguma folga já que ele há muito esperava uma companheira do sexo feminino e Talia parece se adequar a ele.

Viktor se aproxima de mim durante a socialização, o rosto contraído e os olhos cansados. Houve muitas coisas pesando em sua mente nas últimas semanas e só posso esperar que eu não tenha contribuído para suas preocupações. O pakhan da nossa irmandade Vory, Viktor é o chefe e nosso líder. Ele é maduro em idade e duro em caráter, mas no geral, eu acho que ele é um homem justo.

“Kol'ka” ele me cumprimenta. "Como você está?"

"Estou bem. Como está sua família?"

Ele balança a cabeça e toma um gole de uísque. "Bem o suficiente."

Há um momento tenso de silêncio entre nós em que sei o que virá a seguir, mas não mostro fraqueza ou dou desculpas. Em nosso último encontro, fui promovido ao posto de Avtoritet no lugar do meu pai. Uma honra em qualquer outra ocasião, mas estou certo de que meu pai não vê dessa forma. Especialmente não depois que cortei sua orelha sob ordem de Viktor.

“Você ouviu falar de Sergei?” Viktor examina o cômodo até o homem em questão.

“Não, não temos falado desde o nosso último encontro.”

As sobrancelhas de Viktor se juntam. “Não presumi que os acontecimentos daquele dia criariam boa vontade entre pai e filho.”

“Eu entendo por que tinha de ser feito.”

“Não vou tolerar esse tipo de comportamento em nossa organização. Sergei tomou muitas liberdades com sua posição e ele não merecia o título que ele tinha.”

"Concordo."

Não estou dizendo isso para agradar a Viktor. Sergei sempre teve uma cabeça grande demais para seus ombros e isso toma o melhor dele muitas vezes. Sangue familiar ou não, minha lealdade está com a Vory. Se Sergei não pode viver com as nossas regras, então ele não merece as estrelas que carregamos.

“Qualquer palavra sobre o Rembrandt?” Viktor muda de assunto.

“Não”, eu admiti relutantemente. Ultimamente meu tempo tinha se destinado a outras atividades. Mais notavelmente, a aquisição de Tanaka Valentini. O tempo e o esforço que eu tenho gasto para trazê-la para minha posse tornou-se uma distração e meus deveres Vory caíram no esquecimento.

Há muitas maneiras pela qual eu poderia descrever o que eu faço, mas a verdade é a mais simplista. No fundo, sou um ladrão. Arte sendo minha especialidade, eu roubo, crio e, às vezes, até destruo. É um trabalho único para alguém com meus talentos. Os dias de gangster extorquindo empresas locais para ganhar um níquel ou dois estão acabados. No mundo moderno, os tempos mudaram, e assim as nossas práticas. Arte de valor inestimável tem um grande valor de garantia em organizações criminosas, e muitas vezes, é usada para troca. No entanto, com a bênção de Viktor, escolhi métodos menos primitivos de utilizar os itens em nosso poder para fazer lucro.

Normalmente, as peças com que lido são empreendimentos oportunistas, mas em certas ocasiões, não me importo com um desafio. Em algum momento, Viktor determinou que um Rembrandt roubado seria um belo presente para sua filha mais velha, que eu deveria ser capaz de rastreá-lo, mas recentemente, ele tornou-se mais persistente.

“Não acha que ela iria se contentar com uma falsificação?”

Viktor sorri. “Não seja idiota, Kol'ka. Ela nunca saberia a diferença, mas eu sim.”

“De fato,” respondo. Posso respeitar que ele só quer que ela tenha o melhor. Algo raro e precioso. E a caça sempre me emocionou. Encontrar algo que os rumores dizem estar perdido por tantos anos é uma descarga de adrenalina como nenhuma outra. Minhas viagens têm sido extensas e minhas recuperações dignas de um museu em minha honra. Mas minha posição me obriga a permanecer humilde, não importa quão grande seja o placar. Nossos clientes valorizam o anonimato e não iriam pagar tais preços íngremes por algo que qualquer um poderia possuir. Os estupidamente ricos são apenas outra forma de bandidos e eles começam a pensar em possuir obras de arte roubadas, também. Estar na posse de algo tão valioso que eles só podem compartilhar com seus amigos mais íntimos e confiáveis é uma emoção que não pode ser replicada com viagens caras ou carros chamativos.

Viktor olha para o relógio. A reunião está prevista para começar em alguns minutos, mas ele não terminou com esta conversa e já estou cansado do que vem a seguir.

“Tenho certeza que não será nenhuma surpresa, que tenho algumas perguntas para você” diz ele.

"Claro."

“Conte-me sobre a menina.”

Eu dreno o resto da minha vodka e limão e descarto o copo vazio na mesa. Sou Avtoritet há apenas algumas semanas. O que fiz foi corajoso e alguns podem dizer estúpido. Mas na minha visão, ganhei meu título e o poder que vem com ele. Esta não foi uma decisão de impulso. Eu tenho esperado toda a minha vida para obter respostas.

“Ela é a filha de Manuel Valentini.”

“Estou ciente” comenta Viktor. “Ele já solicitou várias reuniões comigo. O que eu quero saber é por que ela está com você .”

“O pai dela nos deve uma grande quantidade de dinheiro. Estou apenas o motivando a pagá-lo em tempo hábil.”

Os olhos escuros de Viktor passam para os meus, vendo diretamente através da meia-verdade. “Não brinque comigo, Kol'ka.”

Meus olhos se movem pela sala e pousam em Sergei, que finalmente fez uma aparição. Sua cabeça ainda está enfaixada, onde a orelha costumava estar e ele está sem a expressão presunçosa que normalmente usa. É seguro dizer que ele voltou com o rabo entre as pernas.

“Será que isso tem alguma relação com negócios de seu pai no passado?”

Eu volto minha atenção para Viktor, afrontado pela observação. A discrição é uma qualidade que tenho um grande orgulho em possuir e nunca passou pela minha cabeça que ele adivinharia tão claramente minhas intenções.

“Tem havido muitos rumores ao longo dos anos.” Viktor recupera um charuto do bolso da frente, franzindo-o entre seus lábios enquanto fala. “Uma vez ele mesmo disse que sua mãe fugiu com um italiano.”

“Isso não é verdade.” Meu tom é cuidadoso e deliberado, mas faz pouca diferença. O fato de que estou defendendo minha mãe é a resposta à sua pergunta. Quando ela desapareceu da minha vida quando eu tinha dez anos, a única explicação que me foi dada era que ela era uma mentirosa e prostituta e que eu nunca deveria falar seu nome novamente.

Viktor faz um gesto para meu isqueiro e entrego a ele. Ele acende e dá algumas baforadas no charuto, enquanto escolhe as palavras certas. “A verdade é que não estou certo do que aconteceu com sua mãe. Ela era uma boa mulher. Doce demais para ser pega com os gostos de seu pai. Se você descobrir a verdade, Kol'ka, eu também gostaria de saber.”

Suas palavras me aterram. Eu não pedi sua bênção, mas a sua própria maneira, Viktor a deu. Ele está consciente das minhas verdadeiras intenções e posso fazer o que é necessário agora que chegamos a um entendimento.

Viktor verifica seu relógio e de repente decide que esta conversa acabou. Ele anuncia que a reunião está prestes a começar e a socialização está terminada. Os irmãos enchem a sala de reunião e eu ando ao lado do pakhan. Antes de chegar à porta, um último pensamento lhe ocorre e ele me interrompe.

“Há apenas uma coisa na qual devo insistir.”

"Sim?"

Seu nariz enruga em desgosto. “A menina não é russa.”

"Estou ciente."

Ele retira rapidamente um fiapo do paletó, o gesto simbólico de um aviso. “Então, não se apegue a ela.”


"Você gosta?"

A dançarina russa se inclina para a frente para mostrar o seu novo par de seios, enquanto fumo um cigarro. Seu nome é Mara e eu a fodo às terças-feiras. Ultimamente, ela esteve fora do cargo por causa da cirurgia. Não a vi por um tempo e agora sei o porquê. Por baixo de sua pequena parte superior de biquíni, os implantes parecem como toranjas. Eles não se movem. Eu sei porque isso chamou minha atenção enquanto a fodi há dez minutos.

Mara está se perguntando por que não os toquei. Ela está apertando os lábios e eles parecem um pouco inchados também, se não me engano.

Uma nuvem de fumaça sai do canto da minha boca. “Eles são adoráveis.”

Às vezes é melhor mentir. Sou um homem que prefere os pecados da carne, não silicone. Esta será a última vez que Mara e eu nos encontramos. Mas enquanto ela está aqui e é fácil, eu faço um gesto para o meu pau, que está duro de novo.

A coisa bonita sobre uma mulher como Mara é que isso é tudo o que preciso. Nós estamos ambos muito cansados de acreditar no amor. Ela me usa para o vazio que o pai dela deixou e eu a uso porque é simples. Ela faz um bom trabalho sobre os joelhos e não há vergonha nisso.

Longas unhas vermelhas raspam minhas coxas. Enquanto ela chupa o meu pau, inclino-me para trás com um suspiro e termino o meu cigarro enquanto ela salta subindo e descendo entre as minhas pernas.

Gosto de um quarto com plateia, por isso que solicitei sua presença na academia hoje. Em torno de nós, seu trabalho é transmitido e refletido por espelhos em todos os quatro cantos. Mas meus olhos não estão nos espelhos ou mesmo nela. Estão na porta. E quando se abre exatamente às três horas, não estou desapontado.

Olhos cor de mel olham para mim com desprezo antes de descerem para a cabeça de Mara no meu colo. Tanaka faz questão de olhar para o meu pau e então faz questão de parecer não impressionada. Ela é uma mentirosa e uma esnobe. Quando meus olhos mergulham no seu peito, dois mamilos duros raspam contra o tecido fino de seu collant branco. Pura como sua buceta virgem. Eu estaria disposto a apostar minha bola esquerda que ela está molhada para mim, mas ela faz bem em esconder isso atrás de seu desdém.

Frustração me leva a empunhar o cabelo de Mara e enfiar meu pau tão profundo quanto ela pode me levar. Eu fodo sua boca enquanto meus olhos fodem a tensa bailarina do outro lado da sala. A liberação é violenta e acontece mais cedo do que eu teria gostado. Tanaka perdeu o interesse em meus jogos antes que eu pudesse começar.

Minha cabeça cai de volta contra a cadeira, enquanto meu pau convulsiona na boca de Mara. Ela tenta recomeçar, mas estou bem e verdadeiramente satisfeito.

Do outro lado da sala, Tanaka monta acampamento com sua garrafa de água e uma sacola, tornando evidente que ela não tem planos para sair dali. Para uma menina italiana obediente, ela parece não ter nenhum problema em me desafiar. Seu tornozelo está imobilizado com uma cinta e ela ainda está mancando com muletas, mas ela tenta manter um regime de exercícios dignos de um campo de concentração.

“O que ela está fazendo?” Mara faz uma careta de confusão quando ela espia o meu brinquedo novo alongando sua perna no chão almofadado.

“Quem sabe.” Eu fecho minha calça e jogo para Mara sua saia. “Mas tenho negócios para cuidar.”

Tanaka obedientemente ignora o espetáculo, enquanto Mara se veste descaradamente. Quando é hora de ir, não dou falsas garantias de outro encontro e ela não pergunta. Eu tiro algum dinheiro da minha carteira, não pelo sexo, mas porque ela está acostumada a homens que tomam conta dela. Ela me agradece em russo e sai.

Eu deveria ir também, mas encontro-me enraizado no lugar, olhos sobre Tanaka. Durante duas semanas, temos realizado esta rotina. Não há palavras trocadas entre nós. Eu passo meus dias com negócios da Vory e ela passa os dela perseguindo sonhos impossíveis neste ginásio.

Ela veio aqui sem uma luta, mas a cada dia sua determinação brilha mais forte. Ballet tem sido sua vida até agora e ela ainda não tinha aceitado que sua antiga vida estava morta.

Eu me inclino contra a moldura da porta e aperto a tampa do meu isqueiro entre os dedos. “Por que você não encontra um novo hobby?”

Seus olhos dourados brilham com fúria e para minha própria irritação, leva meu pau de volta à vida.

“Encontrar um novo hobby?” Ela vocifera.

"Sim."

“Você está realmente tão alheio ao quanto da minha vida dediquei a esse 'hobby'?”

Faço um gesto irreverente para seu tornozelo inútil. “Será que isso importa agora? Eu acho que é hora de parar de bater num cavalo morto.”

Seus mamilos estão duros novamente. Quase tão duros quanto sua mandíbula quando ela está irritada. Meus olhos esculpem um caminho pela curva do pescoço dela para o local onde seu pulso bate em ritmo rápido. Ela me pega olhando e faz um esforço inconsciente para permanecer modesta, puxando a saia para mais baixo e as tiras nos ombros superiores. Um sorriso curva o canto dos meus lábios e ela derrama em mim uma voz que parece um chicote.

“Desde os seis anos de idade, tenho treinado como uma dançarina. Você acha que sua máfia é seletiva? Experimente o ballet, Sr. Kozlov. Participei de programas intensivos de verão com os quais a maioria só poderia sonhar. Foi-me oferecido um contrato com o corpo de ballet antes mesmo de eu terminar o ensino médio. Enquanto outras crianças brincavam na rua e experimentavam tudo o que a infância tinha para oferecer, eu estava no estúdio. Subi as fileiras desta hierarquia, apesar das probabilidades significativas e se fôssemos comparar nossos mundos, então você e eu seríamos iguais. Toda a minha vida, tenho sangrado por este sonho e você acredita que é seu direito sugerir casualmente que eu encontre outro hobby?”

Seu discurso é concluído mediante um exalar forte que parece ter roubado sua energia preciosa junto com ele. Talvez seja a recuperação, mas independentemente do seu temperamento ardente, ela parece quase sem vida após o menor esforço. Seu estado atual está em desacordo com sua mente, considerando que a menina não é nada fraca.

Desde o momento em que ela colocou os olhos em mim, ela acreditou ser superior. Mas a realidade é que ela é uma vadia mimada que ficou trancada em seu castelo tempo demais. Essa menina que compara seu ballet a minha máfia é completamente ignorante do mundo e de quanta energia uso para segurar seu destino. Eu esperava isso dela.

O que não esperava era que ela seria tão agradável de se olhar. Quando Manuel ofereceu sua valorizada filha como garantia de uma dívida, eu tinha decididamente pintado uma gárgula à sua imagem. Mas, na verdade, ela não se parecia em nada com ela.

Ela é uma menina frágil. Magra demais para o meu gosto. Seu corpo é o testemunho de uma luta entre feminilidade e jeito de menina. Ela está presa nas garras de ambos, indecisa sobre o que ela quer ou precisa. Mas não há como negar a graça incomum que ela carrega. Se é o movimento sutil de sua mão ou a curva de sua perna, ela é quase desumanamente bonita. Ela é elegante, bem cuidada e bem preparada. Em suma, ela é tudo que eu não sou. E ainda assim, quando a vi pela primeira vez, fiquei reconhecidamente cativo pela beleza de sua voz suave de uma forma que não é familiar para mim. Ela não é nada como as meninas russas com as quais estou acostumado. Ela não é nada como qualquer garota com que estou acostumado.

Ela é, sem dúvida, inteligente, mas o nível de sua ingenuidade me dá chicotadas. Há uma inocência sobre ela que provoca dúvidas em mim. Dúvidas que estão em desacordo com todos os valores que defendo. Quanto mais tempo suporto sua presença, mais claro se torna. Eu faria bem em ficar longe dela. Ela não tem nenhuma importância para mim. E tão vergonhoso como pode ser ver algo tão adorável ser destruído, chegaremos a esse ponto no final. Devo me lembrar disso. Seja qual for o destino que se abateu sobre a minha mãe, assim também será o de Tanaka.


Três


Não existe tal coisa como dor. Há apenas disciplina.

Minha perna levanta do chão, só para entrar em colapso novamente um momento depois. O membro extinto falhou, assim como o russo insensível precipitadamente observou. Mesmo o menor movimento produz uma reação de agonia por todo o meu tornozelo. Os músculos que tenho cuidadosamente forjado ao longo dos anos estão morrendo. Depois de um tempo de vida de abuso, a conta finalmente chegou, e, por sua vez, a nuvem escura acima de mim fica maior.

Ilogicamente, meu maior medo se enraíza no meu íntimo. Uma visão minha aleijada, incapaz de me mover ou andar. Posso muito bem ficar assim, se eu nunca puder dançar novamente. Meus olhos queimam com emoção reprimida, mas não me deixo dominar. As lágrimas são uma fraqueza a que eu raramente me entrego e não estou prestes a começar agora.

“Tashechka.”

Nonna está na porta, mãos dobradas de cada lado de seu vestido cinza simples. A governanta de Nikolai é uma mulher modesta, quieta, que usa vestidos simplistas e lenços de cabeça para executar suas tarefas. Desde a minha chegada aqui, eu vim a entender que essas funções, aparentemente, também incluem a mim.

“Seu almoço está esperando por você no seu quarto.” Seu sotaque russo é forte, mas discernível.

Almoço, como ela o chama, provavelmente será sopa com algum tipo de prato de carne saudável e, às vezes, batatas. Muitas vezes, ela incluía um suco de frutas, o valor calórico que possuía eu não sabia, mas o sabor açucarado rapidamente me dissuadia de consumi-la. Apenas no tempo em que estava aqui eu já havia engordado dois quilos e os números na balança esta manhã ainda me assombravam.

"Não estou com fome."

Nonna franze a testa e eu desvio o olhar. Não quis desrespeitá-la. Ela tem sido neutra, mas atenciosa. Muito atenciosa, de fato, e é a única razão para a minha ira. Em casa, tenho uma rotina rigorosa com as minhas refeições. Isso me mantém centrada e focada, mas aqui, a comida se transformou em caos. Estou acostumada a providenciar minhas próprias refeições. Muitas vezes, eu seria esperada para cozinhar o jantar de meu pai. Era uma das muitas coisas que ele considerava necessárias para me preparar para o casamento. Mas meu pai se prendia ao negócio de comer o alimento fornecido e mal prestava atenção ao meu prato. Era um sistema que funcionava para nós dois. Mas desde que estou sob os cuidados de Nikolai, minhas refeições são fornecidas como um relógio. Refeições que não tenho o direito de desfrutar quando não estou dançando. Mesmo se estivesse, raramente me permitiria saciar tantas vezes.

Para meu alívio, Nonna desaparece sem luta e sou deixada para me concentrar em minha prática. É a única coisa que posso focar, considerando as atuais circunstâncias. Embora às vezes seja tentador em meus momentos de desespero, eu me recuso a refletir sobre a dura realidade da minha situação. Depois de apenas duas semanas, dançar parece como uma memória distante. O sangue, suor e lágrimas que tenho dedicado à minha arte não poderia ter sido para nada. Minha posição na companhia certamente iria estar em risco. Eu ficaria surpresa se ainda não tivessem me substituído. Mas estes são pensamentos dos quais eu não serei uma escrava. Abandonar a esperança agora, significaria sacrificar tudo a que eu tenho me dedicado simplesmente porque não possuo a força de vontade de que necessito para ter sucesso.

Faz pouca diferença que tenha sido trocada por uma dívida. É de nenhuma consequência que o meu pai tenha me traído e Nikolai provavelmente vá me matar se suas exigências não forem atendidas. Estou intimamente familiarizada com probabilidades impossíveis e sempre resolvi que, independentemente, eu iria prevalecer. Vivi sempre me disse que minha mente era a arma mais poderosa à minha disposição e ela estava certa.

É com esta intenção que termino a minha prática e saio do ginásio. Eu tento evitar Nikolai o quanto posso, e até agora, não foi difícil. É rara a ocasião em que entramos em contato desde que ele me deixou no meu quarto e me informou que seria do meu interesse que não tentasse escapar.

Ele deveria ter guardado o fôlego. Assim como meu pai, Nikolai vive sua vida a sete chaves. De tudo que eu tenho observado até agora, também é evidente que o seu sistema está anos luz à frente de meu pai, em relação à tecnologia. Entre os scanners de impressões digitais, códigos PIN e sistemas de reconhecimento de voz, não sou inteiramente certa de como alguém sai. Ao desafiar-me para escapar, ele estava apenas dando a si mesmo motivo para boas risadas às minhas custas.

Mesmo que essas coisas não estivessem no local, existem outras alternativas de segurança. Nonna está sempre me observando, consciente dos meus movimentos. Sua lealdade para com Nikolai é acima de qualquer dúvida e não duvido, nem por um segundo, que ela iria me jogar debaixo do ônibus no momento em que percebesse um sopro de problemas. Mais perigosos do que Nonna, há também os guardas que trabalham para ele. Membros da Vory que vêm e vão, falando uns com os outros em sua língua nativa e obedientemente me ignorando.

A vida nos domínios de Nikolai é parecida com a que eu sempre conheci. Ainda sou uma prisioneira. Em relação a isso, nada é novo. A única variação é o cenário.

A fortaleza de pedra de Nikolai encontra-se escondida no deserto conhecido como Berkshires, a apenas um pulo de Boston. É seguro. Decadente, mas construído para a função. Embora eu seja livre para vagar pela casa, não me aventuro muito longe do meu quarto ou do ginásio. Nikolai tem um escritório que muitas vezes utiliza no segundo andar e, até agora, eu fiz o possível para evitá-lo. Espalhados ao longo desse grande hall estão vários quartos, incluindo o meu, e dois banheiros. Curiosamente, estas são as áreas mais extravagantes da casa, com piso aquecido e chuveiros instalados em aberturas feitas nas pedras.

No geral, acho os gostos de Nikolai invulgarmente antiquados. Em contraste com a tecnologia moderna que rege sua segurança, as peças em sua casa são altamente individuais e antigas. Cada cadeira, luminária, mesa e tapete são solidamente construídos e bem utilizados com uma longa história por trás deles. Enquanto eu, dificilmente, quero creditar ao homem que ostenta um moicano falso e botas de motocicleta desordenadas a escolha de tais finos e artísticos móveis, de alguma forma, eu só sabia que a escolha era dele.

Evidentemente, há qualidades sobre ele que me pegaram de surpresa. Ele é uma presença autoritária. O tipo que poderia comandar uma audiência com uma varredura de seus olhos glaciais. Ao invés de usar este poder para o bem maior, parece que ele escolhe implantá-lo em uma grande porcentagem da população feminina como uma expressão de sua virilidade. Sua energia onipotente é um dom desperdiçado em uma alma desprovida de até mesmo uma partícula de luz dentro das sombras.

Estes são pensamentos que vou guardar para mim mesma. O que ele faz ou não faz com a sua vida não tem nenhuma importância para mim. Eu só desejava que eu não fosse forçada a testemunhar as conquistas tão casualmente transmitidas em toda a casa. Durante minha estadia aqui, já tinha estive a par de uma multidão. Uma coisa eu posso dizer com certeza: Nikolai não é singular em seus gostos. Morenas, loiras, ruivas, tem para todos os gostos. Por que ele escolhe exibir essas atividades, permanece abertamente um mistério que não tenho nenhuma ambição de resolver.

Eu posso ser intocada pelos pecados da carne, mas não sou ignorante dos caminhos dos homens. No meu mundo, é esperado que os homens se satisfaçam ao final de um longo dia. Dante não seria diferente e fui criada com o entendimento de que seria o meu lugar fechar os olhos quando o meu eventual marido satisfizesse seus desejos em outros lugares.

Não era uma tarefa difícil, talvez porque ele ainda não tivesse me tomado e eu não sentia nenhuma má vontade para com as mulheres que eu não tinha que ver. Mas Nikolai opta por exibir suas escapadas e por razões que não consigo entender, isso me incomoda mais do que deveria.

Hoje, no entanto, eu tenho sorte. Quando paro no limiar do seu escritório, não é uma mulher que encontro, mas outro homem. Um homem com olhos azuis surpreendentes e uma semelhança impressionante com Nikolai. Ele também está tatuado e é da Vory inequivocamente.

“Nakya.” Nikolai me trata com familiaridade dura. Diminutivos de nomes são comuns em sua cultura, e até mesmo Nonna me aborda assim, mas esta é a primeira ocasião que Nikolai faz isso. Em qualquer caso, ele deixa claro que esta nova terminologia não nos faz amigos. Seus olhos passam por cima de mim com pouco interesse na causa de minha intromissão. Ele apenas quer que eu vá.

“Eu gostaria de fazer um telefonema” anuncio.

O estranho de olhos azuis fala com Nikolai em russo e em troca Nikolai murmura uma resposta rápida. Desde tenra idade, eu fui ensinada em três línguas diferentes, todas as quais beneficiariam meu pai de alguma forma. Embora o russo fosse uma delas, minhas habilidades ainda deixavam muito a desejar. Sem falar frequentemente, só posso distinguir algumas das palavras entre os falantes nativos, que tendem a conversar muito mais rápido. Pelo que sou capaz de reunir, o estranho de olhos azuis está perguntando sobre mim. Ele parece surpreso com a minha existência, e por sua vez, Nikolai parece cada vez mais ansioso para livrá-los da minha presença.

“Nakya, este é Alexei,” Nikolai afirma superficialmente.

“Olá.” Eu me curvo um pouco, como fui treinada para fazer, apenas para perceber o absurdo um momento mais tarde. Estes homens não são da mesma cultura.

Alexei me perfura com um olhar implacável. Ocorre-me agora que na minha pressa para fazer o meu súbito pedido, eu não tive tempo para me trocar e pôr algo mais apropriado do que um collant e polainas. Em casa, minha agenda é tal que eu tendo a viver em minhas roupas de ballet, apenas me vestindo adequadamente à noite, antes de meu pai retornar. E na companhia, não é incomum ver muitas das dançarinas desfilando nuas. No ballet, você aprende rapidamente que a modéstia vem em segundo lugar. A maioria dos trajes mostra tudo de qualquer maneira.

Mas o súbito lampejo nos olhos de Nikolai avisa-me que estou no lugar errado. Apenas um momento atrás eu disse a mim mesma que não importava, agora não consigo acalmar as palpitações irregulares no meu peito. Por algum tipo de graça divina, eu mantenho minha compostura, esperando que Nikolai me dispense. A urgência do meu telefonema agora está esquecida. Estou ansiosa para voltar para o santuário do meu quarto.

Nikolai concede minha sentença com uma boa inflexão em seu tom. “Estou ocupado, pet1. Vá para o seu quarto e vamos discutir isso mais tarde.”

Eu recuo conforme fui ordenada. Mas por todo o caminho de volta, engulo bocados de ar, temendo o rumo dos acontecimentos que minhas ações trarão.


“Nakya.”

A frieza da voz de Nikolai me assusta e quando meus olhos sobem ao encontro dos seus, uma consciência pesada retorna para o meu peito.

“O que você pensa que está fazendo?”, ele exige.

A revista em minhas mãos cai. Eu estava certa em me preocupar. Sua energia é escura e claramente volátil. Estava fora de cogitação me intrometer em seu escritório quando ele estava em uma reunião, mas admitir isso seria um erro.

“Eu não estou fazendo nada.” Minha voz é muito suave, quase inaudível, mas não doma a dureza das características de Nikolai.

“O que você quer fazer, vindo em meu escritório vestida com...” ele aponta para a minha roupa. “Não é apropriado.”

Se ele não estivesse tão irritado, a ironia de sua declaração poderia ser bem-humorada, considerando que há mulheres que deixam esta casa em todas as horas da noite em vários estados de desordem. O crime indizível que cometi, vestindo um collant é um quebra-cabeça que só a sua mente pode resolver.

Quando ele segue em direção a mim, meu instinto diz para me proteger escapando para dentro de mim mesma. Meu coração está lento e as palmas das mãos úmidas enquanto espero o inevitável. Mas quando ele não vem, atrevo-me a espreitar para ele, só para encontrá-lo congelado no meio do caminho, sua expressão incerta e seus olhos aturdidos.

Suas ações estão em desacordo com a certeza que sinto no meu íntimo. A vida ensinou-me bem que quando a tempestade vem, você toma como abrigo qualquer um que possa encontrar. Quando ele não se move, atrevo-me a tentar.

Levantando-me da cadeira com membros febris, eu manco desesperadamente na direção do meu único santuário: o banheiro. Privada de minhas muletas e muito longe de alcançá-las, estou quase imóvel. Mesmo com o gesso, a dor espreita a cada passo e lágrimas picam meus olhos. Antes de chegar no meio da sala, minhas pernas cedem e eu caio de joelhos.

Nikolai assiste silenciosamente enquanto eu engatinho para a frente sobre os cotovelos, agarrando o tapete entre meus dedos, arrastando-me para longe como um animal ferido.

“Nakya” ele resmunga. "Pare. Pare com isso agora.”

Logicamente, sei que eu deveria. Mas não posso. Estou com muito medo do que vai acontecer se ele me pegar. E assim, continuo arrastando meu corpo para frente até que meus dedos cruzam o limiar do chão frio do banheiro. O mármore me dá algo concreto para agarrar, mas é de pouca utilidade quando o punho de ferro de Nikolai me pega ao redor do meu tornozelo são.

Um grito estrangulado sai dos meus pulmões quando ele me vira e me prende embaixo do peso arrogante de seu corpo poderoso. Não há uma chance sequer que eu possa lutar com ele agora. Seu pulso é firme e forte, seus músculos inflexíveis. Estou sem fôlego e sem esperança.

Sua mão paira sobre o meu rosto e eu balanço a cabeça freneticamente, implorando a um poder superior para me salvar. Dedos calejados vêm para descansar em minha mandíbula, contraindo em advertência.

“Pare” ele repete.

É outro comando perdido, considerando que eu não poderia me mover, mesmo se quisesse. A parede de seu peito me tem presa. Minha cabeça gira e meu pulso se debate em meus ouvidos. Cada respiração é uma luta dura e acho que posso desmaiar.

“Eu não vou te machucar, zvezda. Respire. Relaxe e respire.”

Minhas mãos vão para descansar em seus bíceps, determinadas a afastá-lo. Eu não posso tomar falso conforto em suas garantias melosas. Eu não quero. Mas agora, parece que isso é exatamente o que está acontecendo.

Ele é um mentiroso.

Mas se é verdade, ele é convincente. Talvez mais hábil do que eu mesma. Quando meus olhos se chocam com os seus, a luta em mim se dissolve.

Ele é azul. Azul nebuloso. Azul eletrizante. Azul como o mar, o céu e as tempestades que regem minha vida. E agora, o azul está governando sobre mim. Em questão de segundos, ele está me tornando uma serva do oceano em seus olhos. Eles são suaves em torno das bordas, intocados pelas linhas do tempo. Tudo sobre ele é duro, mas eu não sabia que seus olhos podiam ser tão tranquilizantes.

Estou hiper consciente dele agora. A maneira como ele cheira a tabaco, cravo e baunilha. Seu aroma é esfumaçado, misterioso e levemente doce. Seu corpo é quente e rígido. Tenho testemunhado homens em toda sua glória muscular no palco do balé, mas nunca estive tão perto de um. Eu nunca senti o peso de um homem pressionando meu corpo, fazendo-me sentir pequena e macia em contraste. Eu nunca olhei tão intimamente em olhos como estes, enquanto ele toca meu cabelo, desembaraçando-o de meu rosto do jeito que eu imagino que um amante faria.

Nunca tive um amante. Eu nunca fui tocada por um homem ou mesmo um menino. Mas não há dúvidas sobre em que categoria Nikolai se encaixa. Ele é todo homem. E sua dominação sobre minha condição menor e mais fraca me embriagou e me deixou um pouco desorientada. Um tronco batalhando com a maré, balançando contra as ondas, desesperada por terra firme. Ele me puxa cada vez para mais longe da costa. Eu vou me afogar em sua energia.

“Pare.” A palavra corre de meus lábios entreabertos, deixando transparecer meu desespero e confusão.

Nikolai para, a mão ainda emaranhada no meu cabelo. O ar entre nós é grosso e pegajoso. Quente e úmido como um verão na costa leste. Seus olhos de oceano esculpem um caminho até meus lábios e ele está tão perto que eu posso provar a canela em seu hálito. Eu acho que ele poderia me beijar e me horroriza que eu queira que ele faça.

Sinto como se tivesse sido mergulhada em água gelada quando ele se afasta abruptamente e sem explicação. No tempo que levo para piscar, seu rosto se neutraliza, a química perigosa entre nós é habilmente diluída.

“Eu vou levar você de volta para a cadeira.”

Sua voz é sem cor ou emoção. Um homem sem sentimento. De alguma forma, eu sou a única que está se sentindo destruída enquanto ele me levanta sem esforço e me deposita na cadeira como uma criança.

Isso não está certo. Nada disso é certo. Quando Nikolai sai pela porta sem dizer uma palavra, meu tornozelo lateja e meu peito, também.

Eu sabia que meu captor era perigoso.

Eu só não sabia quão perigoso ele era para mim.


Quatro

 

 

“Você conseguiu encontrar algo?”

Alexei olha para mim de sua mesa, seus olhos catalogando cada micro expressão no meu rosto. Nascido da necessidade, o hábito tornou-se uma segunda natureza para ele. É apenas um de seus talentos, mas eu ainda estou tentando encontrar algo em que Alexei não seja excelente. Impulsionado por uma fome insaciável para provar seu valor, ele ultrapassa o esperado em todas as coisas relacionadas a Vory, com o título de gênio ciber criminoso e mestre inigualável do tabuleiro de xadrez.

Enquanto suas realizações são muitas, seus sacrifícios são ainda maiores. Durante todos os anos que o conheço, vive como um recluso. Ele escolhe a segurança de sua casa a qualquer possibilidade de exposição do seu segredo. Apesar de sua reclusão não ser necessária, considerando que a maioria nunca suspeitaria que ele é praticamente surdo. Ele aprendeu a ler lábios depois que perdeu a audição quando era um menino, e se não fosse por Sergei me fazer ciente, eu nunca teria percebido. Mesmo assim, ele se justifica em esconder sua aflição. Tal deficiência é uma fraqueza em nossa linha de trabalho. E apesar de sua condição fazer pouca diferença para mim, Alexei não vê dessa forma.

A inimizade mancha nosso relacionamento há tanto tempo quanto me lembro, mas o nosso dever para com a irmandade Vory nos obriga a sermos civilizados. Qualquer um dos Vor sabe que o único elo comum entre nós são as estrelas que carregamos em nosso peito. Eles nunca suspeitariam que também compartilhamos o DNA. Acho que é difícil de acreditar nisso às vezes, mas a rivalidade que vive entre nós só poderia ter nascido a partir do nosso sangue. Ele sempre foi ciumento porque eu tive a aprovação de nosso pai e tenho sido bem sucedido em nutrir meu próprio ressentimento por conta de sua intimidade com Sergei. O amor fraternal entre nós não cresceu com o tempo, pelo contrário, especialmente depois da ofensa imperdoável que eu cometi contra ele.

“Suas respostas estão no arquivo” Alexei me diz.

Ele quer que eu saia. Ele não gostaria de nada melhor. E, talvez, eu devesse. É a coisa fácil a se fazer. Mas com cada encontro, eu só me lembro que não somos tão diferentes. Alexei não teria dado continuidade a esta coisa se todas as esperanças estivessem verdadeiramente perdidas.

O que meu orgulho não me permite admitir é que eu me arrependo das ações que romperam a confiança entre nós. Se soubesse o quanto isso iria machucá-lo, teria reconsiderado a minha posição sobre o assunto. Alguns podem dizer que é melhor ser alegremente ignorante, mas em nosso mundo, isso é um caro luxo. Se um Vor é desrespeitado, a ele deve ser dada a oportunidade de ter sua vingança. Algum dia, espero que Alexei veja dessa forma também. No entanto, hoje não é o dia para relembrar a história. Hoje, outra coisa pesa em minha mente.

“O que você descobriu sobre a mãe dela?”

A disposição de Alexei permanece inalterada. Ele poderia facilmente descartar minhas perguntas, já que ele havia me concedido mais do que eu esperava, mas há uma necessidade perturbadora em mim de discutir isso com alguém. E, independentemente do fato de que ele me odeia, sei que o meu segredo estará bem guardado com ele.

“Ela morreu quando Tanaka tinha doze anos” ele responde. "Suicídio."

Retirando os cigarros do meu bolso, eu bato o pacote contra a mesa. “Achei que ela tinha ido embora.”

“Você seria um tolo se acreditasse nisso,” zomba Alexei. “E você não pode fumar aqui.”

Enfio o pacote de volta no meu casaco para apaziguá-lo. "Talvez. Ou talvez tenha sido porque Manuel não se opôs quando eu ofereci para levar a filha ao invés de cortar sua garganta.”

As sobrancelhas de Alexei franzem conforme ele se inclina para a frente. “Diga-me sobre o que realmente é isso, assim você pode parar de desperdiçar meu tempo.”

A resposta se aloja na garganta. Não deveria importar o que aconteceu no passado de Tanaka. A única coisa que importa é o que aconteceu com minha mãe. Alexei está certo. Isso é um desperdício de tempo. Eu alcanço o arquivo e me levanto do assento.

“Para qual objetivo ela serve para você?” Sua pergunta me para e, quando olho para ele, uma preocupação inquieta se enraizou em seus olhos. Ele sempre foi suave quando se trata de mulheres. O mesmo aconteceu com Katya. Ela era uma prostituta mentirosa e Alexei não pôde ver isso por si mesmo até que eu o ajudei.

“Que diferença faz?” Pergunto.

Ele não responde, mas não precisa fazê-lo. Seus julgamentos ditaram há muito tempo que eu sou cortado do mesmo tecido que nosso pai. Sergei pode ser cruel e talvez eu seja como ele. Mas a verdade é que eu não sei.

“Ela é apenas uma garota,” digo a ele. “Garantia.”

Alexei move sua atenção para o tabuleiro de xadrez sempre presente em sua mesa enquanto contempla a minha resposta. Tenho pouca fé que ele acredite em mim, mas depois de apreciar seus pensamentos suspensos no espaço, coisa que ele sabe fazer com maestria, ele me dá o benefício da dúvida.

“Há um detalhe que não incluí no arquivo, se lhe interessa. Foi-me dito que a Sra. Valentini usava um lenço na cabeça para esconder o rosto.”

“E por que ela faria isso?”

“Acho que era porque ela estava terrivelmente desfigurada. Assim sua empregada me disse.”


Após o meu regresso para casa à meia-noite, estou surpreso em encontrar Nonna esperando por mim. Inconscientemente, meus olhos se movem até o teto, onde Tanaka deveria estar dormindo no segundo andar. O primeiro pensamento que vem à mente é que ela escapou. Seu espião e asqueroso pai veio até ela e ela escapou.

“Nika, lamento incomodá-lo” suspira Nonna. “Mas algo está me incomodando.”

"Qual é o problema?"

Ela aponta para o teto. “Esta menina, há algo de errado com ela.”

"O que está havendo?"

“Eu tento tudo.” Nonna franze os lábios. “Ela não come. Bica a comida como um pássaro durante todo o dia. Muito pouco. E, às vezes, eu a ouço no banheiro, vomitando.”

A veia em meu pescoço palpita, apunhalando contra a minha pele conforme o calor corre em meu sangue. Eu não vou tolerar esse comportamento. Ela pode ter escapado da punição sob a observação de seu pai, mas isso não vai ser tolerado aqui. Se alguém vai destruir a garota, serei eu.

“Vou cuidar dela, Nonna.”

Ela estende a mão para tocar no meu braço. “Que tal amanhã?”

A preocupação em seu rosto é decepcionante, mas também frustrante. “Você acredita que eu iria machucá-la?”

Sua boca cai aberta e ela balança a cabeça rapidamente. “Não, Nika. Eu não quis dizer nenhum desrespeito. É que ela se assusta tão facilmente—”

Eu a deixo no hall de entrada, suas palavras me afetando de uma forma que não deveriam. É, de fato, a intenção que eu tinha. Tomei posse de Tanaka com o entendimento de que poderia, eventualmente, tomar sua vida. Estas são as regras que nossa Vory respeita. O olho por olho é honesto e justo. Mas na verdade, eu não esperava que a filha de Manuel fosse tão inocente e pura. E a cada dia que passa, a beleza exótica parece infectar mais minha mente.

Ser um Vor significa nunca mostrar fraqueza e não penso em começar agora. Apesar do meu conflito, meu caminho não se desvia enquanto me movo até seu quarto. Quando abro a porta, ela se assusta exatamente como Nonna previu, atirando-se na cama e agarrando-se aos lençóis. Uma lasca de luar passa pela cortina, banhando-a em luz suave e isso me faz parar. Ela é bonita demais para destruir-se desta maneira e eu tenho a súbita vontade de questionar a autenticidade das palavras de Nonna. Mas, independentemente das minhas incertezas, os sinais não podem ser ignorados. Ela está fraca e muito magra. Algo que eu creditei às suas infinitas rotinas foi um equívoco da minha parte.

“Oi?” A voz dela é tímida e frágil conforme ela tenta focar na sombra em sua porta. Esta pequena princesa da máfia está sempre esperando lobos em sua porta e isso me deixa com a pergunta de quantas vezes ela encontrou homens como eu antes. Quando ativo o interruptor de luz, seus olhos sonolentos ajustam-se em fases, relaxando conforme eles se movem sobre as minhas feições.

Irritante o suficiente, seu súbito conforto em minha presença faz com que meu pau venha à vida. Ela não deveria ficar aliviada quando me vê. Mas o que é pior é que o calor de seu perfume feminino me tranquiliza também. Eu não poderia pensar em nada mais relaxante do que me banhar em seu perfume agora. Gostaria de me enterrar nela, foder ela e extinguir meu corpo com o fogo da sua pele para carregá-la sempre comigo.

Estes pensamentos são abandonados no momento em que percebo o absurdo deles.

“Até que você possa mostrar algum respeito por minha hospitalidade, você permanece neste quarto.”

Suas sobrancelhas se franzem e ela puxa o lençol apertado em torno dela, ocultando seus mamilos endurecidos e a camisola branca da minha vista. “O que eu fiz para desrespeitar você?”

“É o seu corpo que você está desrespeitando.” Aponto para sua forma esbelta debaixo dos cobertores. “Eu tenho provido três refeições nutritivas por dia e você opta por desperdiçá-las ou depositar o conteúdo no vaso sanitário?”

Seus olhos se arregalam e seu cabelo cai frouxamente em torno de seu rosto quando ela balança a cabeça. Ela está envergonhada e é uma mentirosa.

“Eu a proíbo de usar o ginásio até que você possa me mostrar que você aprendeu a comer corretamente.”

“Você não pode fazer isso”, ela grita. “Eu ainda estou me reabilitando.”

Desespero se agarra em suas feições, transformando-a de bela adormecida em uma criança birrenta. Seja qual for o alívio que existia antes já se transformou em ódio. É melhor assim. Ela deve me odiar e ela deve saber que isso é melhor do que me desafiar.

“O médico virá ao seu quarto para continuar a terapia de reabilitação física, mas você pode esquecer a dança até que esteja curada.”

Seu lábio treme e, pela primeira vez, eu acho que poderia ver lágrimas reais vindo da parte dela. Esta menina é hábil em esconder suas verdadeiras emoções, mas esta parece ser a única coisa que vai afetá-la. Como ela pode se apegar a algo tão violentamente, incomoda-me profundamente. Isso não é um comportamento normal. Certamente não para alguém que estava ciente de que seria obrigada a desistir de tudo, uma vez que se casasse. Sua reação só enche a minha cabeça com mais perguntas e dúvidas, mas não posso dar voz a elas.

Eu já estabeleci os limites e estou preparado para deixá-la com sua tristeza, mas ela não está disposta a me deixar ir tão facilmente.

“Foi você” ela zomba. “Não foi?”

Eu arqueio uma sobrancelha para ela, esperando pacientemente para ouvir o crime do qual sou acusado.

“Eu passei por isso tantas vezes” diz ela. “Os acontecimentos daquela noite. Não é coincidência que você apareceu para me levar embora no mesmo dia que alguém sabotou minhas sapatilhas.”

Sorrio com a sua ingenuidade. “Isso seria a coisa mais fácil de acreditar, eu suponho. Não é?”

“É verdade” ela insiste.

“Ahhh, mas, Nakya, a verdade é que acho que você sabe quem sabotou suas sapatilhas. Eu não tinha nada a ganhar com isso e teria levado você independentemente de qualquer coisa. Mas eu não era o único que queria que você desistisse de sonhos sem sentido para que pudesse se casar na maneira tradicional.”

Seus lábios se fecham e ela não diz uma palavra sobre o assunto. Mas está tudo bem.

Eu marquei o meu ponto.


Cinco

 


Com a luz da manhã vem um renovado sentimento de esperança. Quando escorrego da minha cama, a casa está tranquila e meu café da manhã está esperando em cima da penteadeira. Tudo está como deveria ser. Estou confiante de que quando eu andar até a porta e girar a maçaneta, vou rir do absurdo dos meus sonhos na noite passada.

Mas a maçaneta não se move, independentemente de como eu torço, porque não era um sonho e ele me trancou aqui. Minhas mãos se fecham em punhos ao meu lado e resisto ao impulso de batê-los contra a porta.

Eu sempre fui uma prisioneira, e, nesse sentido, nada mudou. Mas a crueldade reside no pequeno gosto de liberdade que Nikolai me concedeu antes que ele o tirasse de mim. Ele acha que pode alterar a minha força de vontade me desafiando desta forma, mas ele não sabe que eu já andei pelas ruas do inferno e tratei com demônios piores do que ele.

Sua tentativa de culpar meu pai ou Dante pelo que aconteceu é frágil e patética. Ele é um mentiroso, um ladrão e não há honra na sua palavra. Eu me recuso a acreditar em qualquer coisa além do que é óbvio. Como minha mãe sempre me dizia, a resposta mais simples é geralmente a correta.

O quarto não é o ideal, mas ainda posso fazer a situação funcionar. Eu posso continuar minha prática e trabalhar no fortalecimento do meu tornozelo. Mas agora que estou ciente das intenções de Nikolai, devo ficar à frente delas.

Pego o meu café da manhã para sujar o prato. É um truque que aprendi há muito tempo, e ainda não havia falhado. Quando termino, raspo alguns pequenos remanescentes na privada e dou descarga com um sentido retumbante de vitória. Esta sempre foi a única área da minha vida onde eu tive o controle completo e não estou prestes a deixá-lo mudar isso.

Com a farsa completa, vou para o chão me aquecer antes de passar para alguns exercícios de barra improvisados no armário. Para cumprir a meta do dia, é repetir e repetir. Trabalhar e descansar. Trabalhar e descansar. Quando meu corpo não pode ir mais longe, eu como uma pequena porção para me abastecer. Às vezes, quando vou longe demais, ponho tudo para fora com uma boa dose de ódio por mim mesma.

É um ciclo que aprendi observando minha mãe quando era uma criança. Uma vez a ouvi mencionar que meu pai achava que ela era gorda e era por isso que ele não a amava. Em um monte de palavras embriagadas, ela soltou algo que eu nunca poderia esquecer. Você tem que ficar bonita, Tana. Você deve ser bonita e magra, então o amor não vai fugir de você também. Assustava-me testemunhar suas falhas e eu decidi, em tenra idade, que ela provavelmente estava certa. As melhores bailarinas eram magras e bonitas e queria ser amada como elas.

Alguns podem dizer que não é saudável, mas até Nikolai, ninguém nunca reclamou sobre meus hábitos alimentares. Ele falsamente iludiu-se em uma reivindicação sobre o meu corpo. O corpo que eu tenho trabalhado tão duro para ter. Ele pode ter a minha vida. Minha liberdade. Mesmo minhas horas no dia. Mas nunca terá o meu corpo.

Como prova disso, estou preparada para continuar minha rotina da melhor forma possível dentro dos limites do meu quarto. Eu preciso aquecer os músculos do meu corpo antes de passar para alongamentos estáticos, os quais podem ser difíceis com o gesso. Alguns dos meus movimentos dinâmicos favoritos são o rolar de ombros e balanços de perna, agora auxiliados pela assistência da penteadeira. Mas antes que eu possa sequer começar, a fechadura se abre na porta.

Azul glacial é a primeira coisa que eu vejo, e, posteriormente, sinto quando calafrios rastejam sobre o meu corpo. Meu captor não precisa de palavras quando sua energia é nebulosa como esta. Ele enche a sala como fumaça e sufoca a vida de tudo que está ali dentro.

Correr não é uma opção e não esqueço rapidamente as lições difíceis aprendidas. Meu primeiro instinto é me encolher. Mas o lobo na minha porta não se move. Ele nem sequer parece respirar. Suas pernas estão abertas, suas narinas alargam e seus olhos são tão duros que estou desesperada pelo santuário da minha cama.

“Zvezda.” Suas íris rastreiam as linhas de meu corpo como um verdadeiro caçador, indexando as minhas fraquezas. “Seu pai teve o cuidado específico de me informar que você era uma boa menina, obediente. Ele disse que tinha sido criada para fazer o que lhe foi dito e não seria nenhum problema.”

Eu engulo e a mentira sai com uma tranquilidade engasgada. "Eu sou."

Nikolai inclina a cabeça para o lado, seus lábios se curvando em um sorriso cruel. "Tem certeza?"

"Sim."

“Boas meninas mentem, Nakya?”

Meu coração se debate contra minhas costelas e meu estômago se agita. Eu não sei o que ele sabe. Ele está brincando comigo e a imprevisibilidade me assusta mais do que qualquer coisa. Em meu próprio ambiente, eu saberia o que esperar. Mas este não é meu elemento natural e realmente não sei o que este homem é capaz de fazer.

“Não.” A palavra é um sussurro. A esperança de que o simples reconhecimento vai fazê-lo desaparecer.

“Não” ele concorda. "Elas não mentem."

O que paira entre nós permanece quieto. Nikolai não está com nenhuma pressa de quebrar o silêncio e o longo período de tempo só tensiona ainda mais os meus nervos.

“Você parece com a intenção de me desafiar” ele finalmente diz. “E, naturalmente, fiquei me perguntando por que você é obediente a seu pai, mas não a mim. Eu pareço o tipo de homem com quem você quer brincar?”

Balanço a cabeça.

“Use suas palavras, princesa.”

“Não” digo muito alto.

E novamente, meus instintos estão me pedindo para correr. Mas Nikolai não vai permitir e ele torna isso claro quando segue em minha direção. Eu aperto meus olhos fechados, porque é sempre melhor não ver o que está vindo. Mas ele se move atrás de mim e minha curiosidade é aguçada. Quando os abro novamente, ele desapareceu no meu armário.

Ele está tocando todas as minhas coisas. Eu tenho que testemunhar quando ele arranca minhas roupas de balé dos suportes e prende em seus braços.

“Elas são minhas!” Eu me movo no piloto automático, retirando o que posso dos suportes, jogando cada peça para o canto e protegendo-os com a minha vida.

Nikolai se vira e avalia minha pequena pilha patética de roupas que ele reivindicou. “Parece que não deixei claro, pet. Então, deixe-me fazer isso agora. Eu possuo você e posso fazer o que quero.”

Minha cabeça chocalha e me sinto perdida. Parece que ele está roubando a minha alma. Eu não sei como lidar com este tipo de insanidade. "Por favor—"

“Você me desobedeceu. Guarde sua súplica para alguém que possa ouvir. Por agora, você está desperdiçando sua respiração.”

“Eu não fiz nada de errado” declaro.

Seus olhos me dizem o contrário. “Você deu descarga no seu café da manhã pelo vaso sanitário, não foi?”

Eu estremeço e foi aí que me ocorre. Ele tem câmeras no meu quarto. Possivelmente no meu banheiro. E ele está me observando. Não posso acreditar que não pensei nisso antes.

A verdade é muito crua para aceitar. Eu não quero saber o que ele viu. Meus momentos privados. Meus exercícios extenuantes, seguidos pelas terríveis falhas. Minha obsessão por comida. Estes momentos são meus e eles são íntimos.

“Você é doente!” Eu grito. “Como você se atreve a me observar em meus momentos privados. Como se atreve a me espionar. Você é imundo e nojento e não é de admirar que você preencha sua vida com encontros sem sentido. Quem poderia querer você—”

Meu discurso é interrompido quando Nikolai joga minhas roupas no chão e pega um frasco do bolso do casaco. Eu assisto silenciosamente enquanto ele molha a pilha de meias e collants com o líquido e atinge-a com um fósforo.

Por alguns momentos, atordoada, eu permaneço imóvel, incapaz de compreender plenamente a visão diante de mim. Ele realmente é um louco. Ele está, impiedosamente, jogando o fósforo na pilha e inflamando a minha vida em chamas. Meus pensamentos estão dispersos e desligados, e toda razão havia me escapado quando arremesso meu corpo em direção às chamas em uma tentativa desesperada de salvar o que posso.

Nikolai intercepta, capturando-me pela minha cintura e prendendo-me contra a parede. Eu arranho suas mãos, e como isso não funciona, o seu rosto. Não estou pensando sobre as consequências. Só estou pensando sobre o crime que ele cometeu contra mim. Suas ações inexplicavelmente me partem ao meio, trazendo à tona a raiva latente que vive dentro de mim.

Quando vejo o sangue, sou rápida para descobrir que eu tenho a capacidade de provocar a ira de Nikolai também. Todos os homens querem ser poderosos e meu captor exerce o seu tomando posse da minha garganta com suas mãos grandes. Seus métodos são brutais e eficazes. Eu caio mole em seus braços, acenando uma bandeira branca metafórica. Ele conseguiu o que queria e aprendi minha lição. Mas ele não está satisfeito. Ele nem sequer é acessível agora. Seus olhos mortos estão olhando através de mim. Minhas mãos se movem até as suas, debilmente tentando remover o bloqueio contra a minha via aérea.

Ocorre-me que eu deveria implorar. Deveria suplicar. Continue lutando. Mas entre esses pensamentos, existem outros pensamentos, mais escuros. O que há para que eu lute? Meu tornozelo está arruinado. Minhas perdas e agonias tem sido maior do que qualquer contentamento que já conheci. Eu seria uma tola de manter a esperança de que posso controlar meu destino. Estou cansada. Estou exausta de enfrentar cada novo dia e os desafios que ele traz. E quando a escuridão se arrasta nas bordas da minha visão, minha decisão está tomada. Meu corpo não tem força para lutar, mesmo se eu quisesse. Tudo o que sou capaz agora é observar as brasas desaparecerem dos olhos do monstro diante de mim.


Fragmentos de realidade me puxam de volta ao mundo em um ritmo lento, roubando qualquer esperança que tive de uma morte pacífica. Minha boca está seca como algodão e minha cabeça confusa com a névoa. Luzes piscam dentro e fora da minha visão e quando vejo o azul do meu monstro, lágrimas ácidas queimam a parte de trás das minhas pálpebras. Como eu poderia acreditar no céu quando estou presa no inferno com ele?

Estou incerta de quanto tempo se passou desde que tudo escureceu, mas Nikolai ainda está aqui. Só que desta vez, ele está ao lado da minha cama, uma expressão torturada no rosto.

“Zvezda, eu-”

O que soa vagamente como o resultado de um pedido de desculpas vai diminuindo gradualmente até o nada. Assim como eu suspeitava, ele é um covarde. Não quero suas palavras desperdiçadas. Não quero ter mais nada a ver com ele e encontro uma satisfação amarga nas marcas de unhas que deixei no rosto brutalmente impressionante.

Encontro o olhar dele e o mantenho. “Você pode queimar minhas roupas, Sr. Kozlov e eu ainda vou dançar nua. Você pode me bater ou me tocar de uma forma que você não tem direito, e ainda assim, você não vai me arruinar. Estou lhe dizendo isso agora, então se é sua intenção, vá em frente e faça o que achar pior comigo.”

Nikolai não mostra nenhuma reação visível a minha declaração e se ele não estivesse olhando diretamente para o meu rosto, eu não poderia nem sequer ter a certeza de que ele me ouviu. Eu gostaria que ele apenas saísse para que eu pudesse voltar para o meu trabalho. Mas ele não sai. Ele permanece em silêncio, seus olhos se movendo sobre a minha garganta com precisão meticulosa.

É só quando eu tento sentar que a situação confusa se torna clara. Ele não tem nenhuma necessidade de discutir. Quando eu luto com as prisões em meus membros, sinto como se eu estivesse sendo estrangulada novo. Ele me impediu de me mover. Empurro contra as restrições em vão e Nikolai recua.

“Você não pode fazer isso!”

Mas ele pode e fez. Ele não olha para mim. Por que ele não olha para mim?

Ele emite uma solicitação moderada em russo e uma mulher com um jaleco branco rola um suporte para soro.

“O que você está fazendo?” Eu luto contra as restrições. “Você não pode fazer isso!”

Nikolai fala com a mulher em russo e não demora muito tempo para entender que ela é uma médica da Vory. Ele emite suas ordens e ela obedece.

Quando seus olhos caem sobre mim, balanço a cabeça e imploro por qualquer migalha de misericórdia que ela possa possuir. “Por favor, você não pode fazer isso.”

Ela franze os lábios e pega a maleta médica. “É para o seu próprio bem. Você verá."

Um som estridente vibra fora das paredes do quarto e o choque no rosto de Nikolai é a única indicação que tenho que o som é proveniente de mim. Estou gritando. Chorando, implorando e chutando, desesperada para me libertar.

Desta vez é a médica que emite um comando para Nikolai. Do outro lado da sala, seus olhos se movem para os meus e, por alguns segundos fugazes, ele oferece um vislumbre de sua humanidade. Ele está hesitante. É rápido, apenas um flash no tempo, e se eu piscasse, teria perdido. Mas não perdi. Eu vi o seu momento de fraqueza e estou desesperada para cultivá-lo.

“Por favor,” imploro.

Eu me torno inexistente para ele novamente quando ele obedece à ordem e segura meu braço firmemente no lugar enquanto a médica estabiliza o acesso. Eu paro de lutar, mas só porque estou com medo da agulha.

“O que você está me dando?”

Ambos optam por me ignorar, mas suas respostas não são necessárias. Os efeitos do sedativo se fazem conhecidos no momento em que a médica começa a fazer seus preparativos e compreensão vai surgindo lentamente em mim. Não é apenas um sedativo que estou recebendo hoje.

É um tubo de alimentação.


Seis

 

 

No bairro de Charlestown em Boston, meu Audi R8 marcha lentamente na rua estreita do endereço escrito no meu arquivo. Normal e despretensioso, o prédio de apartamentos em Essex é o que eu poderia esperar.

Meus dedos tamborilam sobre o volante enquanto considero voltar. Há outras maneiras. Eu poderia enviar Tanaka e sua bagagem emocional de volta para casa com o pai. Torturá-lo para obter respostas seria tão eficaz e menos de uma dor de cabeça do que lidar com seus problemas mentais óbvios. Ele iria me salvar da frustração constante que eu senti desde que ela entrou em minha vida.

Mas não seria justo. Manuel não poderia compreender o sofrimento até que ele experimentasse por si mesmo. Este é o ponto crucial da vingança. Desde que eu era um menino, tenho prometido que chegaria o dia em que descobriria a verdade sobre a minha mãe. Se ela era uma mentirosa e prostituta que nos abandonou, então que assim seja. Mas se ela não fosse, então eu iria vingá-la e saber com certeza a verdadeira natureza do meu pai.

Se Sergei soubesse das minhas intenções, ele iria rir na minha cara. Ele diria que eu nunca a perdoei por ter me deixado e que só estou me agarrando à esperança de que ela me amava quando ela nunca realmente fez isso. Como meu pai, ele me criou para acreditar que ele seria sempre honesto comigo, mesmo se isso me machucasse.

Suas palavras não inspiraram sentimentos calorosos, mas como um menino, aceitei a única explicação razoável para a partida abrupta da minha mãe de minha vida. Eu admirava meu pai por sua força, por sua capacidade de continuar sem ela, quando por dentro senti como se algo tivesse quebrado e nunca iria ser reconstruído novamente. Mas com a idade veio a percepção. Com o tempo, passei a entender que Sergei não era exatamente o herói que sempre lhe pintei para ser.

Continuar sem respostas não é mais uma opção para mim. Os sonhos torturantes que me visitam precisam ser resolvidos. Seu fantasma há muito tem me assombrado, contaminando todos os aspectos da minha vida. Provocando temores que nenhum homem adulto deve ter em seu interior.

Você é imundo, nojento e não é de admirar que você preencha sua vida com encontros sem sentido. Quem poderia te querer?

Talvez a pequena bela dançarina estivesse certa. Talvez houvesse verdade em suas palavras e era por isso que eu estava tão desesperado para silenciá-las.

Eu desligo o motor e olho para a rua.


O apartamento da empregada não fica muito longe dos aposentos de Nonna. Pequeno, com apenas o básico para uma vida confortável. O espaço está ausente da confusão costumeira em casas modernas e tem cheiro de chá e pão fresco.

Encontro-a balançando em uma cadeira no final do corredor, as mãos fazendo o trabalho rápido de duas agulhas de tricô e alguns fios. A mulher que estimo estar na casa dos setenta mal pisca quando ela me vê surgindo no limiar do seu quarto. A lâmpada de cabeceira ilumina o pijama e a pistola que ela mantém ao seu lado.

“O que você quer?”, ela pergunta.

Ela não se importa em saber quem sou e não imagino que esta é a primeira vez que ela teve um convidado inesperado. Nem provavelmente será a última. Se Manuel Valentini tivesse qualquer consideração por sua ex-funcionária, ele a enviaria para um clima mais quente, onde ninguém soubesse o nome dela e ela pudesse apreciar adequadamente a sua aposentadoria. Mas, tal como está, não parece que esta mulher recebeu muito de um acordo de indenização.

“Meu nome é Nikolai” digo a ela. “Você não tem nenhuma razão para me temer.”

Suas mãos pausam o suficiente para ela olhar para cima e estudar minhas feições. E mais notavelmente, minhas tatuagens visíveis.

“Você está na Vory” ela observa. “Ladrão na lei.”

Eu aceno, não me incomodo com sua acidez. Seus muitos anos de serviço a Manuel, sem dúvida, deram-lhe uma educação íntima das muitas e diferentes facções criminosas da costa leste. A resposta a ser determinada é o lugar onde a opinião dela recai sobre a minha fraternidade.

“Então, ladrão?” Ela aperta os olhos para mim na penumbra. “Vou perguntar de novo. O que você quer?"

“Respostas.”

Sua atenção está mais uma vez desviada para o tricô, efetivamente me dispensando. “Então você pode sair. Ou se você pretende tentar me matar, vou avisá-lo para não me julgar pelo meu tamanho ou idade. Eu tenho um saque rápido e não vou sucumbir à tortura, por mais que você tente.”

Suas respostas demandam respeito e pretendo demonstrá-lo. Há tempo e lugar para a violência e isso não é para as mulheres idosas. Ou as mulheres em geral... se eu puder evitar.

A bonita boneca quebrada assombra minhas memórias, seu corpo flácido em meus braços. Ela é tão forte de espírito que não imaginei que seu corpo fosse tão frágil. O incidente provou ainda mais a necessidade de corrigir seus comportamentos antes que ela esmaecesse sua própria luz para sempre. Também provou que sou incapaz de me defender contra as palavras tóxicas que ela arremessa em meu caminho de forma tão descuidada.

Imundo. Repugnante.

Quem poderia te querer?

Meus dedos coçam por um cigarro, mas não é o momento. Preciso mudar o foco. Preciso lembrar por que estou aqui.

“Seu nome é Aida, sim?”

A empregada não responde. Suas mãos estão absorvidas em seu tricô, mas não tenho dúvida que sua mente está consciente de cada movimento que faço.

“Acredito que você trabalhou para Manuel Valentini por alguns anos e tenho algumas perguntas sobre suas amantes.”

Ela bufa. “Então é melhor você perguntar a ele.”

O rangido de sua cadeira é o único som existente entre nós, mas isso não me detém. Entendo sua relutância em falar. Se tivesse até mesmo a simples ideia de dar informações sobre Manuel, ela poderia facilmente estar morta amanhã.

Não é sempre que eu mudo minha abordagem. Se um Vor quer respostas, ele simplesmente ordena por qualquer meio necessário. Mas as mulheres são mais suaves e sei que devo encontrar uma maneira de apelar para esse lado dela. Se eu tivesse que arriscar um palpite, esta mulher esteve na vida de Tanaka no momento que ela mais precisou de uma figura materna. Não é o assunto que quero discutir, mas por agora vou considerar essa hipótese.

“Talvez você possa me ajudar com uma outra coisa. Que tal Tanaka Valentini?”

Aida interrompe o tricô. "O que tem ela?"

“Ela é uma convidada temporária na minha casa” respondo. “Mas veio ao meu conhecimento que ela não gosta de comer.”

É mínima, mas não perco a mudança em suas feições. Tanaka era especial para ela. Havia uma conexão lá. E eu preciso dela para saber tudo sobre isso.

Ela deixa o tricô de lado para descansar as mãos no colo. “Como sei que você está me dizendo a verdade?”

Pego o telefone do bolso e acesso a transmissão ao vivo do quarto de Tanaka. O médico se foi e ela está descansando, o trauma de eventos anteriores esquecidos no sono. Ela se parece com uma deusa em seus lençóis de cetim branco, mas me dói ver o tubo colado ao nariz.

Eu mostro a imagem para Aida e ela a estuda por alguns momentos para ter certeza. Quando ela tira sua própria conclusão, sua atenção retorna para o meu rosto.

“O que ela está fazendo com você?”

“É só até seu pai pagar suas dívidas. Mas eu não posso, com a consciência tranquila, permitir que ela profane o corpo dela.”

Aida balança a cabeça. “Então você vai tentar até que esteja morto. Se você quer que ela coma, não sou a pessoa para lhe ajudar. Para ser franca, estou surpresa que ela tenha sobrevivido por tanto tempo.”

“Então talvez você pode me dizer por que ela faz isso.”

“Que diferença faria?” Ela encolhe os ombros. “A menina está doente. Ela precisa de ajuda. Mas seu pai nunca permitiu isso.”

Sua indiferença é forçada. Seria uma fraqueza admitir que ela se importa, mas ela está perto de se confessar. Eu preciso que ela continue falando.

“Por que ele não iria permitir? Fiquei com a impressão de que ela era especial para ele.”

Aida franze os lábios. “Ela é uma princesa da máfia. Você deve saber essas coisas, ladrão. Sua vida tem sido protegida. Não há influências externas. Essa é a única maneira, eu suponho, para mantê-la segura.”

"Estou aberto a sugestões."

A velha suspira, empurrando seus óculos de lentes grossas até a ponta de seu nariz. “Tente sopa grossa de vegetais e macarrão. Sua mãe costumava fazer isso para ela quando era criança. Ela sempre comeu quando eu fiz isso também.”

Meus pulmões se expandem e me sinto mais leve. Talvez seja alívio, mas cada pedaço de informação que reúno sobre Nakya apenas alimenta o fogo dentro de mim querendo saber mais.

“Você não pode forçá-la,” Aida acrescenta. “Não é a maneira certa com ela. Ela é obediente, mas teimosa. Se você disser que ela deve fazer algo, só irá incentivar sua resistência.”

Não há dúvida de que forcei o tubo de alimentação sobre ela. Mas após o exame e relatório do médico, ambos concordamos que era necessário. Eu não gosto de forçar a nutrição em Nakya, mas se é o que devo fazer para mantê-la viva, vou fazer.

“Você pode me dizer mais sobre sua mãe?”

As sobrancelhas de Aida franzem. “O que isso tem a ver com alguma coisa?”

“Eu ouvi rumores e estou curioso sobre o que aconteceu com ela.”

“A mesma coisa que vai inevitavelmente acontecer com Tanaka” diz ela. “É a maneira da máfia.”

“Sua mãe se matou,” argumento. “Tanaka não é de um temperamento tão fraco.”

“Se já sabe, então você não tem nenhuma necessidade de perguntar estas coisas para mim.”

“Eu só quero saber mais sobre ela para que eu possa ajudar.”

“Claro que sim.” Bufa Aida. “Você quer ajudar, desde que se beneficie.”

Ela está certa e negar seria um insulto à sua inteligência. Aida está farta com esta linha de perguntas e resolvo mudar minha estratégia. Há outros caminhos. Vai levar mais tempo, mas ela não é a única que pode conduzir a uma possível pista.

Eu me viro e sua voz preenche o silêncio.

“Sou uma mulher velha. Eu só quero viver o resto dos meus dias em paz.”

“Ninguém vai saber que estive aqui,” asseguro-a. "Você tem minha palavra."

“De que vale a palavra de um ladrão?”

Viro-me para encontrar seu olhar nublado. "Diga-me você."

Ela aponta para o corredor. “Vá para a cozinha e vou fazer uma xícara de chá para nós.”

Eu faço o que ela instrui e Aida não fica muito atrás, arrastando-se em seu roupão e chinelos. Ela ocupa-se com os preparativos, enquanto eu tomo um assento em uma cadeira de vinil desconfortavelmente pequena na mesa da cozinha.

Enquanto a chaleira aquece, Aida arruma a mesa para o chá. Xícaras, pires, cubos de açúcar e creme. Ela acrescenta um prato de pão de banana recém-assado do forno e eu como duas fatias enquanto espero. Durante todo o processo, seus olhos se movem para mim muitas vezes. Ela ainda está incerta dos meus motivos e quando ela vem para se sentar em frente a mim, acho que ela está indecisa sobre o quanto de verdade deve dizer.

“Tanaka era uma menina brilhante” ela me diz. “Inteligente e curiosa. Seus estudos lhe ensinavam tudo o que uma menina de seu tamanho devia saber, mas nunca era suficiente. Sua mente estava sempre cheia de perguntas. Essa curiosidade, às vezes, a deixava em apuros.”

Meu lábio se curva no canto, embora não devesse fazer nenhuma diferença para mim como a pequena dançarina era quando criança.

A chaleira assobia e Aida traz para a mesa, despejando-a sobre os sacos de chá antes de descansá-la em um descanso de panelas. Ela retoma seu assento, o vapor nublando seus óculos conforme ela olha para a xícara.

“Eu nunca, em todos os meus anos, testemunhei uma criança tão determinada. Quando ela iniciou no ballet, era a coisa que ela mais queria fazer e nada pôde cativar sua atenção daquele dia em diante. Nem mesmo os seus estudos. Ela queria montar sua própria escola. Ela queria aperfeiçoar cada movimento antes mesmo que ela aprendesse o básico.”

Eu removo o saco de chá da minha xícara e adiciono um cubo de açúcar. “Parece que muito pouco mudou. Ela não parece pensar em mais nada.”

Aida prepara seu próprio chá, com açúcar e creme. “Foi uma fuga para ela. No início, eu pensei que seria bom para ela ter um sonho de infância. Permitiria-lhe um espaço longe de sua vida. Eu podia ver em seu rosto quando ela dançava, que estava em outro mundo. Mas quando sua mãe morreu, tornou-se seu único mundo e ela se escondia lá muito frequentemente. Tentei encontrar outras saídas para ela, mas não funcionou. Nada nunca funcionou. Ela só estava feliz quando dançava.”

Atrevo-me em outra tentativa com a pergunta que continua a me atormentar. “O que aconteceu com sua mãe?”

Desta vez, Aida não segura. “Manuel aconteceu.”

“Ouvi dizer que ela sempre usava um véu.”

“Ela nunca tirou.” Ela balança a cabeça. “Não depois— dela ter sido horrivelmente desfigurada.”

“Por Manuel?” Eu pressiono.

Ela hesita, mas concorda. “Ele esculpiu seu rosto com uma faca, de modo que nenhum homem a seu serviço nunca iria ser tentado por sua beleza.”

Meu sangue queima e isso só serve para reforçar minha tese contra ele.

“E sobre Tanaka? A sua violência tocou nela também?”

As sobrancelhas de Aida se juntam e ela faz uma pausa para tomar um gole de chá. “Eu nunca testemunhei isso.”

“Ela recua ao menor movimento. Deve haver uma razão."

“Eu nunca testemunhei isso,” Aida reitera, “mas isso não significa que não aconteceu. Houve momentos em que ela ficava trancada em seu quarto por dias e eu não tinha permissão para vê-la. Mas via os hematomas e isso era suficiente. Ela culpava a dança.”

Sua resposta satisfaz as minhas suspeitas, mas não há satisfação em descobrir a verdadeira natureza do pai de Tanaka. Manuel Valentini destrói coisas belas. Manuel Valentini não merece respirar. E um dia, quando estiver certo de que tenha torcido cada pingo de sofrimento de sua alma, vou destruí-lo também.

“Você perguntou sobre suas amantes” observa Aida. “Deve haver uma razão para você ter mantido Tanaka viva. Então, quem é esta mulher que você procura?”

Termino o meu chá e movo o prato para longe. Não há razão para evitar o tema. Eu vim aqui para isto.

“O nome dela era Irina. Eu acredito que ela entrou na vida de Manuel cerca de quinze anos atrás.”

Aida dobra suas mãos enrugadas sobre a mesa e me estuda. “E quem é Irina para você?”

Eu poderia mentir e, provavelmente, deveria. Mas como eu, Aida não é uma mulher para brincadeiras. Ela valoriza a honestidade e eu a respeitei o suficiente para admitir a verdade.

“Ela era minha mãe.”

Seu rosto enruga e ela inclina para a frente em um suspiro que suspeito que ela tenha retido por anos. “Eu não sei de nenhuma Irina, mas isso não quer dizer nada. Manuel tinha muitas amantes que ele mantinha fora de casa. Eu só espero, por sua causa, que você esteja enganado ao supor que ela era uma delas.”

Meu pulso palpita conforme eu olho para ela por uma resposta. "Por quê?"

“Porque elas estão todas mortas agora.”


Sete

 


Durante sete dias, permaneci cativa do meu recém-adquirido tubo de alimentação. Todas as manhãs, às seis horas, sem falhar, a médica vem ao meu quarto para começar o calvário de todo o dia, que é o meu horário de alimentação. Num piscar de olhos, a minha vida foi reduzida a uma série de shakes nutricionais e nada mais. Hoje não é diferente e tenho o desejo de vomitar quando ela aparece com os substitutos de refeição e seringas que passei a odiar.

Dra. Shtein me diz que poderia ser pior. Ela explica que esta é a opção menos invasiva, com os tubos inseridos diretamente através de meu sistema nasal e passando pelo meu esôfago. Suas palavras vieram com um aviso de que se eu tivesse alguma ideia brilhante sobre puxá-lo para fora, o tubo poderia também ser inserido diretamente no estômago através de meios cirúrgicos. Desnecessário dizer que eu não tive a coragem de removê-lo.

O tubo irrita meu nariz e parece que tenho uma mangueira de jardim na minha garganta. O alimento líquido que ele força em meu estômago me enoja e me faz desejar que pudesse vomitar em cada refeição.

Não me foi permitida nenhuma outra escolha a não ser aceitar a completa perda de controle sobre o meu corpo. Como uma mentirosa hábil e manipuladora, eu pensei que tinha uma riqueza de táticas à minha disposição. Mas a Dra. Shtein não é facilmente influenciável. Meus apelos ficaram sem resposta e chantagens só fizeram a médica balançar a cabeça. Ela não pode ser vencida por meio de falsas alegações de doença e parece que não há uma circunstância no mundo que vai me tirar das alimentações constantes.

Desde a sua entrada abrupta em minha vida, eu tive pouca coisa para fazer, além de imaginar quem é esta mulher. A quantidade de tempo que ela gasta comigo durante todo o dia, indica que ela não tem outro posto. Ela é uma médica cujo o único propósito é estar na folha de pagamento Vory. A gama de equipamentos médicos à sua disposição, determina que ela tem autonomia quanto a gastos e despesas e desde o nosso primeiro encontro, eu me encontrei sujeita a uma série de exames sob sua supervisão.

Exteriormente, eu a odeio. Eu quero amaldiçoar seu nome e submetê-la a tanta dor quanto ela provoca em mim. Mas por dentro, ela é a única fonte de conforto que eu tenho. Nikolai não voltou. Em sua ausência, há apenas Nonna, que fala muito pouco. Quando ela vem ao meu quarto, ela não encontra meus olhos e sei que é porque ela traiu o meu segredo.

Estou inquieta, irritada e à beira de um esgotamento. Se eu permitir que meus pensamentos calculem o peso que ganhei ao longo da última semana, isso vai me quebrar. Se eu refletir sobre a duração do tempo que passou desde que treinei a última vez, vou perder todas as esperanças completamente.

Enquanto procuro asilo de minha própria mente, a médica verifica os meus sinais vitais. Pulso, coração, temperatura, pressão arterial. É mais do que já fui examinada quando era criança. Além das minhas vacinas da infância, nunca tive a oportunidade de visitar uma clínica de saúde regular. Eu só posso lembrar que quando estava doente, o médico na folha de pagamento do meu pai fazia uma prescrição, mesmo sem me ver. Meu pai governava seu reino com um punho de ferro e estranhos eram estritamente proibidos. Mas não parece ser o caso de Nikolai. Sua casa parece ser uma porta giratória de pessoas de fora, que já chegou a incluir minha fisioterapeuta e a Dra. Shtein.

“Quando estarei livre para comer sozinha de novo?” Eu pergunto.

Dra. Shtein olha para mim e seu rosto está neutro. Este é um assunto dela, pois eu sei da conversa que ouvi com Nikolai que era ideia dela.

“Quando você provar que é capaz de fazer isso por conta própria.” Ela responde.

“Como posso provar se estou imobilizada?” Discuto.

Ela puxa uma das máquinas para fora do caminho e puxa a cadeira mais perto da cama. “Há quanto tempo você tem esse comportamento em relação aos alimentos?”

“Eu não sei.” É uma mentira e ela sabe disso.

Seu telefone toca e ela o verifica discretamente antes de voltar sua atenção novamente para mim. “Se você não está pronta para ser honesta, então eu não tenho nenhuma razão para reconsiderar meu tratamento.”

Engulo e parece que há um monte de farinha alojado na minha garganta. Não quero viver mais um dia amarrada à cama e submetida à alimentação como uma criança. É desumano e humilhante. Ao longo de uma semana, perdi toda grama de dignidade que possuía.

“Não me lembro de quando começou.” Admito. “Mas eu era muito jovem quando aprendi a escolher os alimentos que tinham o menor número de calorias. Esses constituíam a minha dieta. Era o que minha mãe fazia.”

“Então, este é um comportamento aprendido.” Ela observa.

Não respondo porque não quero que ela pense mal de minha mãe. Minha mãe era uma boa pessoa. Ela fez o melhor que podia para me criar em suas circunstâncias.

“Você já foi tratada por um médico antes para resolver esta condição?” Ela pergunta.

"Não."

“Então, você não está ciente do dano que tem feito para o seu corpo?”

Eu tento engolir de novo, mas não posso. Minha garganta está seca demais e tenho medo de suas palavras cruéis. Não pode ser tão ruim. Eu me sinto bem.

“Você está apenas tentando me assustar.”

“Você sabe o que é osteopenia?” Ela retorna.

Balanço a cabeça e quero dizer a ela para parar, porque não importa o que é. Eu não tenho isso.

“Você não forneceu aos seus ossos cálcio adequado por um tempo muito longo.” Ela diz. “A progressão do dano é muito simples, a osteoporose será o próximo prêmio por sua desnutrição. Nesta fase, seria altamente improvável que você dançasse novamente.”

“Isso não é verdade.” Pelo menos, não quero que seja, mas ela não tem nenhuma misericórdia de mim.

“Você é uma atleta que não fornece ao seu corpo o combustível necessário para manter os músculos necessários para o seu esporte. Em essência, o seu corpo está comendo-se vivo. Seu coração está sob extrema restrição e o único resultado possível de tal comportamento contínuo será doença cardíaca e morte inevitável. Você entende que, sem tratamento, é muito possível que você possa estar morta antes de você completar seu trigésimo aniversário?”

Umidade enche meus olhos, mas não quero acreditar. Não é verdade. Não pode ser. Só para provar seu ponto de vista, a médica leva a discussão um passo além, mostrando-me os resultados de muitos exames que ela fez e explicando-os como se ela estivesse falando com uma criança.

"Sr. Kozlov não vai permitir que este comportamento continue enquanto estiver sob seus cuidados. Sem sua colaboração, posso fornecer a nutrição que você precisa, mas isso só vai durar enquanto os tratamentos estiverem sendo ministrados. No final, cabe a você. Você deve tomar a decisão se quer viver ou morrer.”

“Não pode ser assim tão simples.” Afirmo. "Eu me sinto bem."

“Você se sente bem porque seu corpo só tem conhecido fome. No interior, você não está bem. Você esteve desnutrida por tanto tempo que não sabe como é se sentir saudável.”

Se houvesse um argumento a ser encontrado para essa afirmação, o forneceria. Mas eu não conseguiria convencê-la, ou mesmo a mim, de que eu ainda estou certa.

A médica abandona sua cadeira e recolhe suas coisas. “Quando você estiver pronta para participar de sua recuperação, então poderemos seguir em frente. Até então, sugiro que você se acostume com a cama.”


No décimo dia da minha prisão, Nikolai finalmente faz uma aparição. Seu rosto está tenso e as sombras sob os olhos mais profundas do que me lembro, mas mesmo assim, sua presença tem uma maneira de comandar a minha atenção, independentemente de quanto eu o odeio. Quando olho para ele da maneira como está agora, calmo e pensativo, ele não se parece com o monstro que fez isso comigo. Ele não se parece com o homem que comanda a minha vida e me amarrou com cordas de fantoche.

Hoje, ele é apenas um homem com cabelos desgrenhados e barba o suficiente em sua mandíbula para fazê-lo parecer nervoso. Se o visse na rua, eu poderia até mesmo, por um fugaz momento, achar que ele era imprudentemente bonito. Ele não parece ter nenhum problema nesse departamento, então eu suponho que as mulheres o considerem bonito. Mas eu não deveria.

Eu tive mais de uma semana para preparar o meu argumento contra ele. Gritar e agir como uma criança não vai me levar a lugar nenhum. Minhas emoções me controlaram antes, mas agora é hora de usar o conhecimento que adquiri ao longo dos anos. Eu sou uma manipuladora hábil. Uma mentirosa ainda melhor. E talvez eu tenha excesso de confiança, mas acredito que este criminoso endurecido pode ser convencido das minhas boas intenções se ele me der a chance.

“Nakya.” Ele assente em minha direção. "Como você está se sentindo?"

"Muito melhor."

As palavras têm gosto de ácido, mesmo que sejam verdadeiras. As coisas que a médica me disse há apenas alguns dias estiveram rolando em minha mente, destruindo tudo o que achava que sabia.

Talvez eu estivesse um pouco desnutrida. É difícil argumentar o contrário, quando as mudanças no meu corpo se tornaram aparentes a cada dia que passou. O nevoeiro se dissipou e meus níveis de energia também, o que não é o ideal, considerando minha posição atual. Qual é a vantagem de ser saudável se sou incapaz de me mover?

Eu olho para Nikolai. Meu captor e meu salvador, dependendo do dia. Hoje, eu preciso que ele seja meu salvador. Seus olhos de oceano correm sobre mim, lavam-me e uma onda de calor inunda minhas veias. Seus olhos são claros, eletrizantes e inegavelmente cativantes. Sempre evoluindo como as nuvens no céu, eles nunca têm a mesma aparência de um momento para o outro.

“A médica relata que sua saúde está melhorando.” Ele diz.

"Está. Eu não percebi...” as palavras não vêm facilmente, e não é um ato. “Eu não estava ciente de quão ruim estava.”

Nikolai se instala na cadeira ao lado e reclina com suas pernas abertas, polegares brincando com um cigarro que ele ainda vai acender.

“Zvezda2, não sou um homem ignorante. Você acha que pode me ganhar com seus olhos de mel e doces mentiras açucaradas?”

Meu peito aperta e amargura domina sobre minha vulnerabilidade. Eu não estava mentindo. Foi talvez a primeira admissão honesta que fiz em anos e ele não acreditou em mim. Mas o que isso importa? Eu seria uma tola em esperar qualquer outra coisa de um monstro.

“Eu não seria obrigada a mentir se você apenas me deixasse sair desta prisão.” Estalo. “Sou humana, e não mereço ser tratada assim.”

“Não gosto de vê-la sendo tratada desta maneira.” Suas palavras são suaves e enganosamente genuínas, mas não posso acreditar nelas. Não posso acreditar em qualquer coisa que ele diz.

“Quando poderei telefonar para o meu pai? Quando ele virá me ver?”

Sua mandíbula se torna uma linha implacável e uma sensação de vazio se expande no meu estômago.

“Ele virá me ver.” Asseguro a ele.

Minha certeza é uma mentira, não para seu benefício, mas para o meu. Eu não estou pronta para aceitar que minha vida acabou, mesmo que a lógica diga que sim. Pertencer a Nikolai mudou toda a trajetória do meu destino. Eu deveria me casar com Dante. Eu tinha sido salva por ele. Eu tinha sido criada com o entendimento de que iria me casar com ele e seguir as regras como uma filha obediente.

Mas com um comando, Nikolai mudou tudo. Se eu fosse devolvida ao meu pai, Dante já não iria me querer. Eu seria considerada mercadoria danificada. Impura e contaminada. E a pergunta que permanece escondida nos recessos mais sombrios de minha mente é o que será de mim.

Nikolai retira um isqueiro do bolso, o cigarro apagado pendendo de seus lábios. “Eu acho que você sabe que, se for para casa, as coisas não serão as mesmas.”

Sua observação descuidada é feita enquanto ele acende o cigarro e não há um osso simpático em seu corpo com a situação que ele causou. “Dante não vai casar com você depois que esteve comigo.”

Suas palavras inflamam uma tempestade de imagens em minha mente. Nu. Gemendo. Dentro de mim. Minhas coxas apertam e um rubor arrasta-se sobre a minha pele.

“Eu não estive com você.”

“Ainda não.” Nikolai admite. “Mas Dante não sabe disso. De qualquer maneira, acha que ele acreditaria em você?”

Ainda não. Essa parece ser a única parte da sua declaração em que posso focar. Deveria me enojar. Nikolai é um amante ocasional que profana a ideia de intimidade entre os parceiros. O ato não significa nada para ele. E mesmo que eu esteja muito cansada de acreditar no amor, sempre pensei que Dante seria, no mínimo, um amante atencioso. Na fantasia que minha mente tinha evocado, eu gostava de acreditar que ele só iria me querer uma vez que nos casássemos. Mas com Nikolai, eu não seria nada mais do que alguns momentos de entretenimento que ele logo esqueceria.

“Você nunca vai tomar o meu corpo.” Digo a ele. “Estou noiva de Dante. Nada mudou."

“Exceto que você não está noiva.” Ele abre um sorriso frio. “Você nunca esteve. Mas não se incomode com mentiras superficiais, princesa. Você é magra demais para mim. Eu gosto de minhas mulheres macias. Femininas. Então, por agora, você está segura de meus desejos.”

Calor sobe até a base do meu pescoço e queima meu rosto enquanto meus lábios vomitam veneno. “E eu não iria querer seu imundo pau bem usado. Então, não se incomode, Sr. Kozlov, você está seguro de minha sedução também.”

Os lábios de Nikolai inclinam nos cantos, mas chamas flamejam em seus olhos. Acho difícil não reagir à sua competição verbal e não sei porquê. Minha educação me treinou para ser dócil e sei quando escolher minhas batalhas, mas com ele, eu simplesmente não posso.

Ele libera uma expiração profunda de seus pulmões, nublando o ar com o cheiro de cravo de seu cigarro preto. “Você acredita que Dante iria tratá-la como uma princesa?”

“Homens italianos valorizam suas mulheres. Dante não é diferente.”

“E quando ele escolher suas amantes a você, isso não te incomodaria?”

Minhas unhas mordem minhas mãos, mas eu faço todos os esforços para não deixar a irritação escoar em minha voz. “Eu não sou delirante. Homens têm necessidades. Ele poderia saciá-las fora de casa ocasionalmente, mas sempre voltaria para mim.”

“E tal comportamento em sua mente não é sujo?”

Eu não respondo. Ele fez o seu ponto e não posso discutir isso, tanto quanto gostaria.

“O que não consigo entender, zvezda, é que seus julgamentos têm obscurecido a sua própria visão. Eu posso molhar meu pau tanto quanto quiser, porque sou solteiro. Mas posso te assegurar que não há nada mais sagrado para um Vor do que sua esposa. Nosso código proíbe o adultério enquanto o seu simplesmente espera isso.”

“Você não sabe nada da minha família ou os valores que defendemos.”

“Não?” Ele ri. “Eu sei que seu pai teve muitas amantes fora de casa. Ele mergulhou seu pau em qualquer sujeira que desejou. Tudo, ao mesmo tempo em que manteve a sua mãe a sete chaves, desfigurada por sua fúria ciumenta.”

“Não fale da minha mãe!” Ameaço. “Você não sabe nada dela.”

É uma exposição rara de emoção para mim ficar tão exaltada, mas parece ser a reação que Nikolai queria.

“Meu pai virá me ver.” Eu repito. "Ele me ama. Ele vai encontrar uma maneira de pagar sua dívida e me tirar daqui.”

Nenhum de nós está convencido, mas o silêncio de Nikolai permite o assunto morrer por agora. Resolvo superar nossa disputa e focar no futuro, encontro seus olhos e endireito meus ombros.

“Eu gostaria de fazer um telefonema para o diretor da minha companhia.”

“A médica acredita que seria melhor para você ver um terapeuta.” Ele responde. “Ela também recomendou um nutricionista.”

E estamos de volta a isso de novo.

“Não preciso dessas coisas. A companhia tem um nutricionista com quem posso falar se quiser. E terapia é um desperdício de tempo.”

Nikolai dá de ombros, apagando o cigarro antes dele se levantar para sua altura máxima de bem mais de 1,83 metros. “Dra. Shtein me disse que você gostaria de se livrar desta cama. Deste tubo. Talvez ela estivesse enganada?”

Não é justo, este jogo que ele está jogando. Mas quando a vida alguma vez foi justa? "Claro que eu quero."

“Então prove para mim que você está tentando.” Nikolai diz. “E vou considerar isso.”


Oito

 


“Kolyan.”

A voz de Mischa desvia minha atenção do monitor na minha mesa. Ele está apoiado contra a moldura da porta usando um sorriso de lobo. Não estou certo sobre há quanto tempo ele está lá observando minhas distrações, mas é óbvio que ele está há algum tempo.

Na irmandade Vory, Mischa é um bratok. Um soldado. Mas ele também é um amigo próximo e depois de dez anos ao meu lado, tenho pouca chance de me livrar dele.

“O que foi?” Resmungo.

Ele aponta para a tela na minha frente. "Para o que você está olhando?"

Eu pressiono o botão no monitor e o vejo escurecer. "Nada."

Mischa ri. Ele sabe que não era nada. É a menina. Durante duas semanas eu tenho observado suas sessões de terapia, assistindo a maneira como ela deixa para trás uma camada de cada vez, revelando-se como uma flor de lótus. A tentação de conhecer os segredos dela era demais para resistir, mas ultimamente, decidi que é melhor que seus pensamentos sejam deixados para os profissionais e minha tela é melhor que seja deixada no mudo.

Mischa fica à vontade no assento vazio do outro lado da minha mesa, oferecendo sua própria teoria. "Pornô. Deve ser, considerando que as meninas do Kosmos me disseram que não te viram em quase um mês. Certamente, sua mão deve estar ficando cansada.”

“A seleção no Kosmos foi ladeira abaixo.” Eu minto.

Na verdade, as meninas são todas muito bonitas. O que pode ser melhor do que um russo possuir um clube de strip temático? Mas ultimamente, eu acho que o meu tempo é melhor gasto em casa. Uma declaração que não quero analisar muito de perto.

“Uma buceta é uma buceta.” Mischa dá de ombros. "Que diferença faz? Pegue a sua escolha e aproveite. Embora, se você quiser um conselho: fique longe das ruivas. Elas mordem."

Um suspiro demorado sai de meu peito. “O que você quer, Misch?”

“Você quer dizer além do prazer da sua companhia?” Ele ri. “Eu vim te dar um aviso.”

"Sobre?"

"O especialista do Sr. Buchanan estará aqui em breve para inspecionar a pintura.”

Eu me inclino para trás na cadeira e bufo. Nove em cada dez vezes, esses chamados peritos enviados pelos clientes são pouco mais conhecedores de arte do que um guia de museu no seu melhor dia.

“Não há necessidade de me avisar. A peça está pronta e eu tenho pouca dúvida de que estará de acordo com sua avaliação.”

“Eu nunca duvidei de sua satisfação.” Mischa responde. “Mas meu aviso é que Sergei irá escoltá-lo hoje.”

"Entendo."

Minha garganta comicha por uma bebida. O menos atraente de todos os itens da minha agenda é lidar com o meu pai. Será a primeira conversa genuína que teremos desde que cortei sua orelha e o superei na hierarquia. As tensões, sem dúvida, estarão altas.

Eu tenho um desejo ardente de sugerir quebrarmos um scotch de cinquenta anos de idade, quando Nonna entra e nos alerta para os visitantes. Apenas um aviso, olho para Mischa e ele dá de ombros.

“Eu vim assim que soube.”

“Ofereça-lhes uma bebida, Nonna. Em dez minutos, acompanhe-os até o cofre. Estarei pronto então.”

Ela assente e sai da sala.

“Encontre uma maneira de se entreter até eu terminar.” Instruo Mischa. “Mas fique fora da minha merda.”

Ele sorri e eu o deixo com suas próprias diversões enquanto subo as escadas até o cofre. É a área mais segura da minha casa e não leva menos de cinco minutos para cumprir as medidas de segurança. A lógica dita que essas operações não são realizadas na presença até mesmo dos meus homens mais confiáveis. No meu mundo, você nunca sabe quem pode se voltar contra você.

Apesar de todo o perigo, o cofre é consideravelmente aconchegante dentro. Paredes de concreto reforçadas de aço tomam a maior parte do espaço, enquanto o resto foi deixado para a loucura que infecta minha mente.

Em um determinado dia, o quarto pode abrigar um artefato verdadeiro que vale mais do que o salário médio de toda uma vida. Alguns dos itens são autênticos, são obras de arte roubadas ou recuperadas, mas em casos como o de hoje, há uma falsificação esperando lá dentro.

Para esta ocasião, o trabalho solicitado é Five Dancing Women por Edgar Degas. Se eu fosse um homem que acreditava no acaso, poderia ter pensado duas vezes no momento do pedido. Foi justamente depois da minha mais difícil aquisição até à data.

A dançarina Tanaka Valentini.

Mesmo no submundo do crime, há um lugar para as belas artes. Na maioria das máfias, a negociação é pelo valor, não pela beleza. Não é incomum ver pinturas inestimáveis utilizadas como garantia para drogas ou armas. Por isso, as obras muitas vezes são danificadas conforme elas são repassadas e deixadas para sofrer nas mãos de quem não tem verdadeira apreciação. Colecionadores de arte ficariam horrorizados se soubessem o que realmente aconteceu com alguns tesouros perdidos há muito tempo.

Há uma variedade de razões pelas quais eu poderia receber um pedido de uma falsificação. Às vezes, colecionadores querem reivindicar legalmente obras de arte perdidas ou roubadas. Mas, mais frequentemente, é um negociante do mercado negro que faz o pedido. Por sua vez, ele vai oferecer o trabalho a algum tolo desavisado com muito dinheiro para queimar e nenhum senso para saber a diferença. Quando eles querem levantar o valor da aposta, sou incumbido para adquirir valiosas obras de fontes autênticas. Seja por pincelada ou pela força, não há outra maneira de ser. Eu sou um ladrão, de verdade.

Mesmo que não tenha carinho por todas as obras que replico, a peça de Degas chamou a minha atenção. Five Dancing Women original foi roubada de um colecionador judeu-húngaro durante a Segunda Guerra Mundial. Enquanto as outras obras desta coleção estão com retorno pendente aos herdeiros do proprietário original, esta peça continua perdida. Olhando para a minha réplica, é fácil entender o porquê.

“Ela é realmente algo especial para olhar, não é?”

Viro-me para cumprimentar o perito que o Sr. Buchanan enviou e por ironia do destino, ele é um rosto familiar.

“Christophe?”

Ele joga as mãos para cima. “Sou culpado. Como vai você, velho... não tenho certeza de como lidar com você. É amigo ou inimigo?”

Sergei, que está de pé ao lado dele, observa-nos indignado, os olhos indo de um lado para o outro, enquanto ele tenta interpretar a nossa conexão.

“Eu estudei com Christophe na Brandeis antes que ele nos abandonasse para a real Ivy Leagues3.”

“Ah, sim.” Christophe responde. “E se bem me lembro, você era um dos piores alunos que já tive. Preguiçoso. Boca esperta. Totalmente insatisfeito com os mestres.”

“Nós não podemos todos ser Picasso.” Eu dou de ombros.

Christophe vira-se para Sergei. “Verdade seja dita, ele tem mais talento em seu dedo mindinho do que a maioria de nós jamais poderia sonhar possuir.”

“Não é uma comparação justa.” Argumento. “Considerando que eu não tenho uma memória fotográfica.”

“Um artista não precisa disso.” Ele diz. “Ele usa sua imaginação. É por isso que eu mesmo não sou um artista.”

Sergei não acrescenta à conversa e há uma pausa de silêncio constrangedor antes dele verificar o relógio. “Vou esperar lá embaixo.”

Sinto alívio quando ele sai e Christophe parece sentir o mesmo. “Companheiro agradável.”

“Realmente.” Eu respondo. “Basta ser grato porque você não tem que chamá-lo de pai.”

Christophe ri e gesticulo para dentro do quarto.

“Eu não acho que há alguma chance de que isso não vai levar o dia todo, não é?”

“Cinco ou seis horas deve bastar.” Ele brinca.

Gelo quebrado, ele se encarrega da tarefa de remover os seus instrumentos da bolsa que carrega. Lupa, luz negra, materiais de datação de tempo e madeira infestada de besouro sendo apenas alguns dos itens à sua disposição.

Ele começa a tarefa, examinando a peça sob todos os ângulos. Enquanto ele procura imperfeições, eu espero com uma garrafa de uísque de dez mil dólares que furtei de um colecionador em uma mostra de arte em Zurique. O cara era um canalha, mas ele tinha bom gosto para uísque.

Em um certo ponto, Christophe faz uma pausa e gesticula para a garrafa antes de pensar melhor.

“Acho que não devo beber no trabalho.”

Eu faço questão de saborear o próximo gole da bebida enquanto ele assiste. “Quando você começou a trabalhar como freelance? O campus do ouro não lhe garimpou?”

“Eu ainda sou um estudioso.” Ele responde. “Minhas credenciais são bastante impressionantes, realmente. Mamãe e papai estão felizes da vida e parecem determinados a jogar cada moça meio inglesa elegível no meu caminho em um ardil perversamente concebido para me seduzir de volta para casa permanentemente.”

“Não acho que mulheres inglesas iriam adaptar-se à sua merda.”

“Você está certo sobre isso.” Ele ri. “Tente dizer isso para minha mãe, porém.”

Christophe retorna ao seu trabalho, falando enquanto ele examina os tons pastéis. “Honestamente, a remuneração por trabalho freelance é melhor, especialmente neste negócio. Foi muito romântico ser um artista morto de fome quando eu era mais jovem, mas decidi que gostaria de me aposentar mais cedo. Comprar um iate. Navegar ao redor do mundo e dormir com mulheres lindamente exóticas em cada porto.”

“Não diga isso a sua mãe.” Eu aconselho.

“Por Deus, não.” Ele bufa. “A velha ave teria um ataque cardíaco.”

Ele faz uma pausa em um pedaço do sapato da dançarina. Uma sapatilha de balé, para ser exato. Depois de vários momentos de escrutínio tenso, ele balança a cabeça.

“Não sei como você faz isso.” Ele diz. "Magnífico. Você é um talento desperdiçado.”

“Você que está dizendo. Por você, eu poderia ser o verdadeiro Banksy.”

“Não, não, definitivamente não. Você não ouviu? Há um nome diferente nos jornais a cada duas semanas. O último foi algum tipo de dupla famosa de cantores.”

“Mantêm as pessoas imaginando.” Eu respondo.

“E você?” Ele troca a lupa por sua luz negra. “Como vai o negócio da padaria russa?”

Nós dois damos umas boas risadas com a ideia ridícula. Durante minha passagem na universidade, eu disse a ele que iria cuidar do negócio da padaria russa do meu pai quando saísse da universidade. Era uma capa fragilmente trabalhada que eu inventei quando estava muito entediado ou bêbado demais para chegar a algo mais criativo.

“Está bem o suficiente.” Faço um gesto para a casa. “Como você pode ver por si mesmo.”

“Na verdade, é um lugar agradável que você tem aqui no meio de um fodido nada.”

“Justamente como eu prefiro.”

Ele faz uma pausa para olhar para mim. “E um pequeno e bonito pêssego segregado no corredor.”

“Você viu a garota?”

“Eu presumo que deve ser ela, esta menina sem nome. Ela se desculpou quando esbarrou em nós no corredor. Alta como um salgueiro e suave como o mar. Seus lindos olhos cor de âmbar vão me assombrar por muito tempo.”

“Você deveria ter sido um poeta.” Eu desvio.

Christophe bufa e murmura algo como resposta, mas não ouço. Nunca me ocorreu que a consulta de Tanaka com o terapeuta terminaria por volta da hora da chegada deles. Eu tinha me acostumado a ela estar trancada em seu quarto, mas agora que ela está permitida a vagar pela casa sob supervisão da médica, Sergei a viu e é um desdobramento que eu temo. Ele fará perguntas. Ele fará muitas perguntas.

“Está pronto.” Christophe tira as luvas e olha para mim com curiosidade. "Ela é linda."

"A peça?"

“A garota. Mas a peça é notável também. Se eu pudesse comparar com o original, você faria valer o meu dinheiro.”

“Com certeza, eu o faria.”

Ele sorri e agarra a garrafa de minhas mãos, servindo-se de uma bebida enquanto examinamos as meninas dançando na imagem. “Degas disse que a arte não é o que você vê, mas o que você faz os outros verem.”

“E o que você vê?” Eu pergunto.

“É um esporte bonito, sangrento. Desvalorizado. Elas fazem algo impossível parecer ser feito sem esforço.”

Assinto em concordância. “Foi recentemente que eu passei a entender o trabalho horrível de um dançarino.”

Christophe assobia e balança a cabeça. “Você estava segurando esta peça. Este é o problema com reproduções. Você é forçado a colorir as linhas. Mas essa...” ele aponta para uma tela perdida na parte de trás da sala. “Essa é uma força da natureza.”

Na minha pressa para preparar a peça para ele, eu esqueci meus outros trabalhos deitados. Mais notadamente, aquele ao qual ele está se dirigindo. Ele se sente íntimo e eu quero impedi-lo. Mas isso só serviria para alimentar sua curiosidade.

“Ela é uma beleza.” Ele repete. “Você capturou todas as emoções no rosto. A fadiga, a agonia, a dor. Fall from Grace. É um título adequado. A cor me cativou.”

Não há como negar a musa para a minha peça. Na noite que Nakya caiu em desgraça, eu fiquei tão chocado quanto o resto do público. Enquanto a maioria dos espectadores educadamente escolheu desviar o olhar de sua vergonha e se concentrar no show, eu não era um deles. Sua luta para voltar novamente me segurou refém, e naquele momento, fiquei encantado com a beleza de coração partido.

“É uma pena.” Christophe comenta. “As maiores histórias de amor sempre terminam em tragédia.”

Uma garganta se limpa da porta e eu viro para encontrar Sergei esperando lá, já meio embriagado. Os aros de seus olhos estão vermelhos e vidrados e os vasos capilares quebrados em torno de seu nariz parecem mais óbvios do que o habitual.

“Você já terminou?” Ele pergunta bruscamente.

“Sim, receio que sim.” Christophe responde. “Ainda que eu pudesse ficar aqui e folhear o funcionamento interno de sua mente durante todo o dia, tenho um emprego de verdade esperando por mim na cidade.”

Aperto sua mão e ofereço-lhe um sorriso. “Nem todos nós podemos viver uma vida de luxo, cuidando de padarias russas.”

Ele remove um cartão de sua carteira. “Bem, se você alguma vez se cansar de vender doces, acho que faria bem vendendo suas próprias peças.”

Meus olhos se movem para Sergei, que parece se divertir com a ideia. Para ele, as minhas peças nunca valeriam mais que galinhas rabiscadas em papel. Foi Viktor que decidiu que eu deveria frequentar a faculdade para alimentar minhas habilidades. Agora, prática comum no mundo moderno de Vory, um Vor bem-educado é um bem valioso.

Christophe recolhe sua bolsa e me oferece um último adeus antes de Sergei dizer que há um carro esperando lá embaixo. Com sua partida, sou deixado apenas com a companhia de meu pai. Seus olhos se movem ao redor da sala, catalogando as minhas coisas em ordem sem sentido. Sei o que vem a seguir, mas eu só gostaria de ter mais álcool no meu sistema.

“O que há com a garota?” Ele pergunta.

Como Avtoritet, agora é o meu direito dizer a ele que não é nada da sua conta. Mas, como o meu pai, ainda estou inclinado a mostrar-lhe respeito. Quanto à Tanaka, não estou preocupado que ele vai ligar os pontos. Mesmo se ele descobrisse o nome do pai dela, faria pouca diferença para ele. Tanto quanto ele acredita, minha mãe estava morta para mim desde que me disse que ela fugiu com um homem italiano. Ele não teria nenhuma razão para suspeitar que procurei minha vida inteira por respostas.

Vou na direção da porta do cofre e Sergei segue meu exemplo. “A garota é apenas uma garantia.”

“Coisinha bonita.” Ele coça o queixo. “Ela tem uma bunda dura. Eu não me importaria de pegá-la emprestada...”

Meu punho colide com sua mandíbula tão rápido que eu tenho pouco tempo para entender o que veio sobre mim. Sergei retrocede com espanto, seus dentes sangrando e seus olhos furiosos. Eu ofereço um pedido de desculpas em russo, enquanto tento processar a minha ação. Seria do meu interesse passar por cima disso, mas tudo o que posso pensar é que acabei de dar a ele motivo para meter o nariz onde não é chamado.

“Ela é minha.” Declaro. E essa não era a coisa que eu deveria ter dito, porque agora ele está rindo.

"Sua? E Viktor aprovou isso?”

“Não é nada mais do que entretenimento.” Eu corrijo. “Uma distração temporária. Mas não me importo de compartilhá-la.”

Sergei me ataca como uma cobra, seus dedos envolvendo em torno de minha garganta. “Você pode ser o pequeno animal de estimação de Viktor agora, mas não se esqueça de onde você veio, syn4. Se você alguma vez me desrespeitar novamente, vou levar esta notícia a Viktor e vê-lo destruir o seu brinquedo depois que ela passar pela mão de todos os irmãos.”

Conforme a saliva sai de sua boca, assim aparece a verdadeira face de Sergei. Este não é o pai que se gaba interminavelmente de minhas realizações em um falso espetáculo. Este é o concorrente. O homem que define padrões impossíveis. O homem que vai oferecer a mão para salvá-lo, apenas para cortar sua garganta. E com um rosto tão parecido com o meu, eu me pergunto se ele é realmente capaz dos horrores que sempre questionei.

Ele não teve reservas em expulsar Alexei e sua mãe da casa da família após a tragédia ceifar sua audição. É difícil conceber que um homem que odeia seu primogênito poderia abrigar amor por seu segundo. Estas coisas eu sei que são verdade, mas ainda hesito em acreditar que ele mandou a minha mãe embora.

Seria mais fácil aceitar se ela tivesse partido por si mesma. Se ela me abandonou em lágrimas que valeram por um ano, eu poderia justificar qualquer destino que tivesse se abatido sobre ela. Mas Sergei não é o tipo de homem que iria permitir que uma mulher o envergonhasse por ir embora. Quando procurei seus olhos sem vida, cheguei à conclusão de que ele não é o tipo de homem que posso respeitar. E quando forço seus dedos na minha garganta, é com uma nova determinação.

Preciso encontrar minhas respostas e devo fazer isso rápido.


Nove

 


“Nika, a médica gostaria de conversar com você.”

Eu levanto um dedo para sinalizar a interrupção e Alexei acena da pequena tela de vídeo no meu telefone. Nonna está na porta com a terapeuta a reboque. Eu não quero lidar com isso agora. Não quero lidar com isso, absolutamente. Pago a ela um bom dinheiro para ajudar Nakya e ela não deveria estar me incomodando com isso quando eu fazia questão de evitar completamente a situação.

“Eu tenho alguns negócios que precisam da minha atenção.” Digo a Alexei. “Você virá amanhã à noite?”

Ele hesita, mas depois de um momento, concorda. Quando desligo a chamada, fico imaginando se é apenas por obrigação Vory ou familiar.

Meus olhos se movem para a porta novamente. "Qual é o problema?"

A terapeuta acena para Nonna, que fecha a porta atrás dela enquanto entra e toma um assento em frente à minha mesa. “Eu gostaria de discutir o progresso de Tanaka com você.”

“Essa é a sua preocupação.” Eu digo. "Não minha."

“Você está me pagando para dar a ela o melhor tratamento possível. Você não está interessado em saber se está funcionando?”

Eu tamborilo os dedos na mesa. Sinceramente, fico melhor se deixado no escuro. A menina não significa nada para mim, e, no final, ela é simplesmente uma garantia. A única garantia que tenho. Eu não deveria sequer estar desperdiçando meu tempo ou recursos para corrigir os problemas que seu pai, sem dúvida causou. Não faz qualquer sentido, considerando que eu disse a mim mesmo desde o início que poderia acabar com a vida dela.

Mas o problema pesa em minha mente. Mais do que deveria. Eu imagino se ela está comendo por conta própria. Eu me pergunto sobre o estado atual de sua saúde. Tenho tido o cuidado de evitá-la e me mantive ocupado, então não sou tentado pelas câmeras. Tudo para nada, porque agora a médica quer discutir comigo.

Eu me inclino para trás na cadeira e examino a terapeuta. Seu nome é Sarah, e embora ela tenha sido recomendada como uma fonte confiável pela Dr. Shtein, para mim, ela parece ser muito novata. Seu rosto é jovem e esperançoso e acho que ela faria melhor ao trabalhar com estudantes universitários do que com organizações criminosas.

“Você precisa de mais dinheiro?”

Ela suspira. “O valor não mudou. Essa não é a questão.”

"Então, o que é? Sou um homem muito ocupado.”

“Tanaka está progredindo bem.” Ela remexe a bainha de seu casaco, enquanto repete o discurso que preparou para mim. “Houve contratempos, é claro, o que é natural, mas ela está fazendo o seu melhor. Ela está totalmente envolvida no aspecto nutricional de suas refeições e tem se interessado em aprender o novo programa que a nutricionista criou para ela.”

“Então, qual é o problema?” Repito.

“Nós já fizemos todo o possível.” Sarah diz. “Tanaka precisa de um sistema de apoio além de seus profissionais médicos. Se você realmente quer que ela se recupere, acho que deveria dar-lhe a melhor chance.”

Meu pé bate um ritmo ansioso por baixo da mesa. “Então, o que você sugere?”

“Tanaka viveu sob um conjunto único de circunstâncias durante sua vida. Essencialmente, ela nunca experimentou rituais humanos e básicos de passagem. Ela nunca namorou um menino, foi ao cinema ou caminhou por um parque por conta própria. Sua escolaridade a isolou ainda mais, e até mesmo em sua companhia de balé, ela foi mantida separada dos outros dançarinos. Há uma profunda tristeza dentro dela que ela esconde bem, mas está lá. Cada aspecto de sua vida esteve fora de seu controle. Tudo, exceto sua comida e sua dança. Não é nenhuma surpresa que ela tenha levado isso ao extremo.”

Eu me inclino para frente, apoiando os cotovelos contra a mesa. “Então, ela está morrendo de fome para provar que ela pode?”

“Não é realmente tão preto no branco.” Sarah faz careta. "Mas sim. Sua capacidade de controlar algo, do seu próprio jeito, é uma coisa enorme para ela. A raiz do problema é o medo. Em sua mente, ela acha que se ganhar peso, vai perder a coisa que é mais importante para ela, que é dançar.”

“Sua carreira de dança acabou.” Eu digo. “Os médicos disseram a ela. Ela terminou.”

“Então ela terá de aceitar o fato em seu próprio tempo. É demais para ela entender agora. Mas com o tempo, estou confiante de que ela vai entender suas limitações. O gesso foi removido e ela está se sentindo muito animada com a perspectiva de se exercitar novamente.”

“Exercício limitado.” Eu corrijo.

“Claro.” Sarah concorda. “Dentro dos limites. Ela entende que a ela estão sendo concedidas pequenas liberdades, mas que poderiam ser perdidas se ela sair dos limites. O que me leva a minha questão. Ela precisa de algo mais para ocupar seu tempo. Ela mencionou que se sente isolada aqui e acredito que isso está contribuindo para seu estado obsessivo.”

“Eu disse a ela para encontrar outro hobby.”

“Hobbies são bons.” Sarah assente. “Mas fazê-la sentir-se útil, fazê-la sentir-se humana, isso é muito importante. Talvez o que seria benéfico para ela seria socializar mais com você e sua equipe.”

Eu pisco para ela e ainda estou tentando envolver minha cabeça em torno de como chegamos até isso. Tanaka não está de férias aqui. Ela é uma prisioneira. A médica está bem ciente de suas circunstâncias e aceitou livremente o pagamento por seus serviços, mas agora ela está tentando mudar as regras.

“Não é a forma como fazemos as coisas. Você poderia passar mais tempo com ela. Vou pagar-lhe extra.”

“Receio que minha agenda não vai permitir isso.” Ela diz.

Bem, porra. O que a faz pensar que a minha faz?

“Vou considerar isso.” Eu digo, principalmente para apaziguá-la.

Ela parece cética. “Apenas uma sugestão... Tanaka anseia por um gosto do mundo real, mas ela também teme isso. Talvez você pudesse levá-la para um passeio ocasional se você encontrar tempo. Ter uma rede de segurança para recorrer vai ajudá-la.”

Rede de segurança? Eu sou a coisa mais distante da rede de segurança de Tanaka. Agora, esta médica maluca está adicionando passeios à agenda. Eu resmungo uma resposta e digo a ela que tenho trabalho a fazer.

Sarah sai e olho para o monitor. Tenho tido o cuidado de evitá-lo, porque não preciso saber os detalhes de suas sessões.

Mas agora eu quero.


Dez

 


"Você está ocupada?"

O estrondo da voz de Nikolai me assusta. Estava tão absorta em meus alongamentos que não o ouvi entrar na academia. Com apenas uma hora por dia de exercício, sou forçada a fazer mais do mesmo. Sua interrupção é um obstáculo, mas também estou curiosa sobre o súbito aparecimento, considerando que ele não me vê há semanas.

Ele está vestido como se tivesse acabado de chegar: a jaqueta de couro preta e boné ainda postos. O leve tom de rosa em seu rosto trai o tempo frio, mas eu só posso imaginar. As estações mudaram desde a minha chegada aqui e não deixei as paredes da fortaleza desde então.

“Estou alongando.” Digo a ele. “Ainda tenho trinta minutos.”

“Eu não tenho nenhuma intenção de encurtar ainda mais o seu tempo, Nakya.” Ele se curva para dispor os sacos de compras em suas mãos. “Mas trouxe algo que pode ser útil para você.”

O gesto é inesperado e não tenho certeza do que fazer. Então, digo um simples ‘obrigada’.

Ele assente. “Eu pensei que talvez esta tarde você pudesse ajudar Nonna na cozinha. Após seus compromissos, é claro.”

"Na cozinha?"

“Sim.” Ele esfrega a mão sobre a barba por fazer em sua mandíbula. “Nós teremos um convidado para o jantar amanhã à noite e ela fará algum assado se você quiser se juntar a ela.”

Parece uma sugestão estranha, mas não é como se eu tivesse alguma coisa melhor para fazer. "Ok."

O silêncio é um oceano entre nós e eu não sei mais o que dizer. Nem Nikolai, aparentemente. Seus olhos são reféns da minha nova figura e sou excessivamente consciente de sua atenção. Antes, ele disse que eu era muito magra, mas talvez agora ele pense que o oposto é verdade.

“Você parece muito melhor.” Ele diz asperamente. "Saudável. Sua pele está brilhando.”

Não é o que eu esperava ouvir e minha resposta é tão estranha quanto me sinto atualmente.

"Obrigada. É todo o peixe. A médica disse que é bom para a pele... então sim.”

Esta conversa está indo a lugar nenhum rapidamente. Estou incomodada e não sei porquê, mas minhas bochechas aquecem quando os olhos de Nikolai traçam meus quadris. Estou na roupa menos lisonjeira que eu poderia imaginar usar: short folgado e uma camiseta, mas é tudo que me resta, além de um collant que ele não destruiu.

“Continue comendo o peixe.” Ele diz. “Ele te faz bem.”

E com essas palavras de sabedoria, ele sai abruptamente, deixando-me atordoada e desorientada.

Estou tentada a verificar as sacolas agora, mas vou esperar até a minha prática acabar. Quando o temporizador dispara no andar de baixo, Nonna vem me buscar e trancar a academia até o dia seguinte. Desde a minha libertação da cama, fui grata por voltar para a minha prática. Também fiquei surpresa ao descobrir que Nikolai tinha uma barra instalada. Algo que esqueci de mencionar ou de agradecê-lo enquanto estava aqui.

Parece um gesto ímpar de bondade de alguém que não tem interesse em minha volta aos palcos. Mas vou tomar qualquer pequena migalha que ele tem para oferecer, desde que meu ballet esteja em jogo.

“O tempo acabou.” Nonna entra na sala de acordo com sua programação.

"Ok."

Eu termino minha última série de pliés5 na barra e recolho minhas coisas, incluindo as sacolas que Nikolai deixou para mim. Nonna tranca a academia atrás de nós, mas não se preocupa em me acompanhar ao andar de cima. Estou livre para vaguear como gosto, a menos que eu quebre as regras novamente.

“A médica estará aqui em trinta minutos.” Ela me lembra.

"Obrigada. Estarei pronta.”

Eu marcho escada acima para o meu quarto e coloco as sacolas na cama. O mistério sobre o que está dentro me atrai e quando dou uma espiada, minha respiração vacila.

Roupas de balé.

Ele me comprou roupas de balé. Meias, collants, wraps6 e polainas. Tudo o que eu poderia precisar para voltar a minha prática com renovada atenção. Algo derrete dentro do meu peito e percebo quando uma onda de emoção cai sobre mim, já que esta é a coisa mais gentil que alguém já fez por mim.

Parece absurdo, quando ele foi o único a estragar minhas roupas, em primeiro lugar. Mas meu pai nunca me comprou roupas. Dante nunca me comprou roupas. Foi-me dado um subsídio para fazer compras online e cada item que eu tinha foi escolhido por mim pessoalmente. Nada jamais me foi presenteado. É uma nova experiência experimentar roupas que alguém escolheu para mim. Imagino o que passou pela sua mente quando ele pegou cada peça. Se ele imaginou a maneira como elas ficariam no meu corpo. Se sentiu alguma coisa quando ele pensou sobre cores, tamanhos ou tecidos.

As roupas são bonitas. Cada peça é cara e bem feita. Mas o meu favorito é o vestido collant rosa pálido de chiffon. É leve, fluido e bonito. Quando eu o experimento, não quero tirá-lo.

Dentro de outra sacola, encontro um par de sapatilhas de ponta com uma nota anexada nelas.

Para mais tarde.

Meu coração aperta e tenho que fazer uma pausa para processar o rumo dos acontecimentos. Eu não sou ingênua o suficiente para acreditar que Nikolai se importa de uma forma ou de outra, se eu alguma vez vou dançar profissionalmente novamente. Mas isso parece como esperança. Parece que alguém acredita em mim e não tive isso por um tempo muito longo.

Não sei como ele adivinhou meus tamanhos, mas parece que ele teve um monte de trabalho para fazer isso por mim. O mínimo que posso fazer é agradecê-lo adequadamente. Eu me sento na penteadeira e deslizo as sapatilhas para ter uma sensação delas antes de começar o meu trabalho. Cada par precisa ser modificado para se encaixar perfeitamente, mas nem todo par precisa dos mesmos ajustes. Eu só posso dizer andando nelas, que é o que pretendo fazer agora.

Viajando o comprimento do corredor, eu lanço um petit jeté7 ao longo do caminho. Meu tornozelo está fraco, o tônus se foi, ainda dói para pousar nele. Mas estou me sentindo muito mais confiante, novamente, apenas por sentir que o obstáculo desaparecera.

Nikolai está ausente de seu escritório, então eu uso a oportunidade de flutuar em torno do corredor, lançando pequenos movimentos conforme me movimento. As sapatilhas precisam de trabalho e eu também. Quando alcanço o final do tapete acarpetado, ocorre-me que pousei no limiar do seu quarto. Não deveria ser nenhuma surpresa quando o encontro lá me assistindo, mas é.

“Você deveria ir devagar.” Há uma sugestão de sorriso em seu rosto.

“Eu estava apenas testando-as. As sapatilhas terão que ser moldadas aos meus pés. Não tenho nenhuma intenção de ir muito rápido.”

“Espero que não.” Ele diz. “Outra lesão...”

“Obrigada pelas roupas.” Digo.

Seus olhos se movem sobre o tecido rosa antes de pausar para permanecer nos meus seios. Eles incharam desde o mês passado e estou, de repente, ciente da maneira como esticam meu collant. A casa é sempre fria, obviamente. Eu deveria ter usado um wrap, mas estava tão ansiosa para testar minhas sapatilhas que não me ocorreu, até agora.

“Você se esqueceu de remover a etiqueta.” Nikolai me informa com uma voz rouca. “Vire-se e eu tiro.”

Obedeço, mesmo que fosse fácil o suficiente fazer isso sozinha. Há uma pequena parte de mim que quer sentir seus dedos contra o tecido. Experimentar o toque de um homem. Não é algo que pensei que eu poderia querer, mas às vezes, imagino qual seria a sensação de ser tocada por um homem. Nikolai está no topo da classe de homens de sangue quente. Desde sua construção hercúlea, seu cabelo selvagem e as maçãs do rosto elegantes, ele é uma divindade entre as espécies do sexo masculino. Um mortal fundido na imagem de um deus grego.

E isso me faria sua concubina.

A ideia me faz tremer enquanto seus dedos fortes, calejados, roçam a bainha do tecido contra o meu ombro antes de mergulhar para remover a etiqueta. Eu não sinto um puxão, mas há um estalo audível. Consciente de que ele está usando uma faca contra a carne sensível das minhas costas, eu deveria ser cautelosa, mas acho que não sou.

A ação é feita, mas ele não tem nenhuma pressa para me dizer isso. Arrepios deslizam sobre meus braços quando ele varre meu cabelo comprido por cima do ombro e traça ao longo de uma das alças.

“Você não devia ter vindo aqui assim.” Sua respiração faz cócegas na base do meu pescoço, banhando-me em calor e canela.

Não consigo encontrar palavras. Não quando ele está atrás de mim, perto o suficiente para tocar. Perto o suficiente para que seu corpo esbarre contra o meu e seu aroma agite entre nós. Traços de couro quente e cravos inundam o ar... e outra coisa que eu não consigo identificar. Talvez, tinta acrílica?

Seus dedos roçam o comprimento do meu braço e não é acidentalmente. Não é acidental quando ele me aproxima, moldando-me ao seu corpo. Ele enterra seu nariz contra minha garganta, inspirando-me e isso abre uma enxurrada de calor entre as minhas coxas. Eu afundo nele, uma consciência embriagada sequestra meus sentidos. Estou em estado de coma, viciada em seus braços, e pela primeira vez na minha vida, eu não me importo. Eu quero mais.

Eu quero viver antes de morrer.

Ele vai ser o único a me atrair para a morte. Atrair-me para um sono eterno com seus beijos lânguidos contra o espaço onde meu sangue corre quente. Por agora, sou uma escrava do seu toque. Uma serva dos seus comandos. Outra boneca para sua coleção. Bonita e imaculada para mais ninguém além dele.

Dedos ásperos grudam no tecido contra o meu estômago e uma eletricidade ofuscante martela minhas sinapses. Suas mãos ciganas vagueiam livres, apertando a carne de meus quadris e dedilhando a carne macia da minha caixa torácica. Mas a fera em mim não está satisfeita. Ela continua gritando por mais e meu captor está tão disposto a saciá-la. Ele toma posse de meus seios inchados, pesados, mergulhando a mão dentro do tecido para raspar sobre os meus mamilos. Meu peito arqueia e eu grito como se tivesse acabado de ser surpreendida de volta à vida.

“Zvezda8.” Ele beija atrás da minha orelha. “Você é tão adorável. Tão suave e doce e pura. Eu quero acabar com você.”

Seu pau febril eleva-se ameaçadoramente contra a minha espinha, uma ameaça de advertência silenciosa às suas palavras faladas. Eu quero que ele acabe comigo também. Quero que ele me crucifique. E isso me faz uma mentirosa, porque sou a única que é suja, imunda e errada. Quando a mão dele vem para descansar entre as minhas coxas, a palavra já está em meus lábios. Venenosa e inebriante, quero dizer a ele sim.

Mas sim não é uma fantasia. Sim é para sempre. As consequências de uma decisão tomada em um momento de fraqueza não significariam nada para ele e tudo para mim. Se ele me enviar de volta para casa como uma mulher arruinada, ele pode fornecer um caixão também.

“Eu não posso.” As palavras correm dos meus lábios enquanto quebro o feitiço de seus braços. “Estou noiva de Dante.”

Não há outra palavra falada entre nós. Solidão é a sua resposta.

Solidão é minha vida.


Onze

 


Nonna é uma trabalhadora quieta, eficiente. Ela faz o seu trabalho sem reclamação ou emoção e eu esperava que ela proferisse opiniões sobre como ela vê o ajuste. Mas quando vou para a cozinha, ajudá-la como prometi, ela aponta para uma pilha de ingredientes na ilha central.

“Há frutas. Manteiga. Ovos. Ingredientes secos no armário.”

“O que faremos?”

“O que você escolher.” Ela responde. “É só um jantar. Então, algo agradável.”

Com estas instruções vagas, sou deixada para transformar os ingredientes no balcão. Penso em algumas sobremesas italianas tradicionais, mas no fim, eu escolho uma torta simples.

A nutricionista que Nikolai contratou tem dedicado muitas horas para ajustar meu sistema de crenças de alimentos. Sua abordagem é positiva. Nada está fora dos limites, mas o equilíbrio é fundamental. Enquanto eu raramente comia fruta antes devido ao teor de açúcar, recentemente descobri que adicioná-las as minhas refeições com uma pequena quantidade de proteína parece muito bom. Compreender a forma como os alimentos são utilizados pelo organismo ajudou a aliviar um pouco a ansiedade que eu enfrentava em expandir minha seleção de alimentos no geral.

Mas não estou curada, duvido que algum dia eu esteja. Cada escolha ainda é uma luta. Em cada refeição, vou para a guerra com o meu corpo, lutando contra o desejo de ceder aos meus demônios. Sou acompanhada de perto, e agora, provavelmente é a única coisa que me mantém no caminho certo. Aceitar que eu devo ganhar peso para ser saudável é uma batalha interminável. Eu me sinto melhor, mas odeio a maneira como eu pareço.

Quando olho no espelho agora, vejo uma figura mais feminina. Quadris redondos. O busto mais cheio. A cintura não tão definida. Isso me assusta. E, no fundo da minha mente, eu imagino o que o diretor vai dizer quando me ver. Eu ouvi seus comentários em relação à outras garotas antes, e no meu estado mental frágil, eu não acho que poderia lidar com sua crítica.

Para me distrair dos pensamentos tóxicos, concentro-me em minhas mãos. Enrolar a massa. Cortar frutas. Cozinhar. Limpar. Nonna olha por cima do ombro de vez em quando para me observar, provavelmente cautelosa em me ver com uma faca.

“Você já cozinhou antes?” Ela pergunta.

Eu espalho geleia na massa. "Sim. Eu cozinhei muitas vezes em casa, para o meu pai.”

Ela assente. Estamos novamente em silêncio enquanto despejo as frutas na torta preparada e polvilho com açúcar de confeiteiro. E só quando eu apresento o produto acabado, ela me dá o indício de um sorriso.

"Muito bom. Nika vai gostar. Figos são a sua fruta favorita.”

Eu sorrio também, mas bem fraco. Duvido que Nikolai vá se importar com o que eu fiz depois desta tarde.

“Você precisa de minha ajuda com qualquer outra coisa?”

“Não, isso é tudo.” Ela diz. “Talvez suba e descanse agora.”

Agradeço a ela e saio da cozinha. Mas ao entrar na sala principal, eu paro. Há uma mulher na porta da frente. Ela é alta, loira e bonita, com as pernas longas e uma confiança que eu só podia sonhar em possuir. Nikolai vem para cumprimentá-la no caminho de entrada e ela o beija. Ela beija o homem que teve as mãos por todo meu corpo e parece como se alguém tivesse acabado de prender um bloco de cimento ao redor do meu peito.

Estou imóvel. Ruídos de fundo. Eles não me veem enquanto se arrastam escada acima, mas mesmo se ele tivesse visto, não teria importância. Eu o afastei e agora ele estava me dando minha merecida sobremesa. Ele é um Vor no coração e está determinado a dar o golpe final. Sua mensagem foi recebida, alta e dolorosamente clara.

Eu não sou especial.

Eu sou substituível.

A tola em mim quer acreditar que isso não é verdade. Ele não faria isso. Não quando ele teve suas mãos no meu corpo hoje. Não quando ele sussurrou suas confissões no meu ouvido.

Ele me queria.

Não ela.

Meu corpo sobe pela escada como um zumbi. A terceira porta à direita é o meu quarto. Eu deveria entrar, fechar a porta, colocar meus fones de ouvido e pensar sobre quando eu voltarei aos palcos novamente. Porém, meus pés continuam se movendo por vontade própria, pelo corredor até seu escritório. Meus dedos frios descansam na maçaneta da porta e engulo o sabor amargo na minha boca.

Não tenho o direito de abrir esta porta. Não tenho o direito de me importar com o que ele está fazendo, e não deveria querer ver. Nikolai não é nada para mim e não sou nada para ele. Mas ele mudou isso quando me tocou e ele nunca deveria ter me tocado. Giro a maçaneta, prendendo a respiração. Eu não quero ver, mas meu cérebro exige o visual para o que já posso ouvir.

A porta se abre e não é melhor ou pior do que eu imaginava. É o que é. Um soco brutal no peito seria mais favorável do que testemunhá-lo desta forma. Pernas abertas, seu pau entre os lábios dela enquanto seus olhos encontram os meus.

Ela recebe o seu prazer e eu, a dor.

Eu estava errada em pensar que poderia me proteger dele. Ele não precisaria tomar o meu corpo para me arruinar.

Porque ele acabou de fazer isso.


Doze

 


Quando chego de volta da cidade, sou recepcionado pelo cheiro de assado e legumes. Um lembrete de que em breve meu irmão vai se juntar a nós para o jantar. Esta reunião é importante, mas me encontro lamentando que tenha marcado tal compromisso nesta noite. Ainda estou de ressaca das atividades de ontem à noite e entretenimento é a última coisa em que estou pensando.

Nonna me pega na entrada, apontando para o meu casaco e chapéu.

“Nakya está pronta?” Pergunto.

Ela assente. “Ajudei-a a se vestir mais cedo, agora ela está descansando.”

“Obrigado.” Eu me movo para as escadas. Um chuveiro quente e talvez um pouco de álcool para curar a ressaca. Mas Nonna não está preparada para me deixar ir.

“A médica queria que eu lhe repassasse uma mensagem.”

Faço uma pausa. “Qual é a mensagem?”

“A menina teve um revés hoje. Ela se recusou a tomar o café da manhã, vomitou o que ela comeu no almoço e não falou nada durante a sua sessão de terapia.”

Cada declaração é uma lâmina no meu estômago, mas Nonna não parece notar enquanto ela transmite suas palavras com eficiência deliberada. Ela continua a me dizer que Tanaka também não foi para a academia hoje, o que ela achou um pouco estranho.

“Vou resolver isso.”

Nonna assente e sai da sala e eu subo as escadas. Ela me disse que Nakya estava dormindo e estou tentado a ver por mim mesmo. Mas minha mão hesita na porta enquanto ouço um som vindo de dentro. Como um covarde, estou curioso o suficiente para abrir a porta.

Eu encontro o anjo quebrado deitado no centro da sua enorme cama. Ela está encolhida, com as mãos dobradas sobre o peito, e até mesmo durante o sono, ela parece atormentada. Eu deveria deixá-la sozinha. É o melhor, mas não posso me obrigar a fechar a porta. Não quando eu noto os arrepios em seus braços expostos. De acordo com a médica, é um sintoma de sua condição. Ela sempre está fria, porque não tem gordura corporal suficiente.

Recuperando o cobertor jogado do final da cama, tenho o cuidado de arrumá-lo sobre ela sem acordá-la. E então tenho o cuidado de observá-la sem uma boa razão, lamentando cada decisão que já tomei.

Seria insensato de minha parte imaginar que minhas ações tiveram qualquer efeito sobre ela. Eu não diria que é a primeira vez que machuco os sentimentos de uma mulher, mas é a primeira vez que tenho que ver seu rosto novamente. Este é um território inexplorado. Nakya estava presa aqui comigo e eu sabia que ela veria. Eu queria que ela visse. Eu queria que ela ouvisse.

Mesquinho, talvez, mas depois de sua rejeição fria no meu quarto, eu queria ser mesquinho. Desde o início ela foi aberta com seus sentimentos sobre mim. Ela acredita que eu também seja. Ela acredita que não sou digno de alguém como ela.

Quem poderia querer você?

Talvez ela esteja certa. Mas isso não me impediu de querê-la quando ela veio até mim, vestindo as roupas que comprei para ela. Flutuando como um anjo, até picar como uma abelha quando seus sentidos a alcançaram.

Desde sua chegada, tenho lutado para me manter à distância. Mulheres são uma mercadoria valiosa no meu mundo e raramente faço um esforço para conseguir o que quero com elas. Leva pouco mais do que um olhar. Um toque. Um sorriso. Sempre foi fácil para mim e seria falsamente humilde dizer o contrário.

Mas não tem sido uma prática comum eu trazer minhas conquistas aqui. Isso é algo novo. Algo que comecei por causa da minha própria diversão. Gosto de assistir Tanaka se contorcer. Gosto de ter meu pau chupado sabendo que ela está no final do corredor, ouvindo cada segundo disso.

Às vezes, eu me pego imaginando se ela pouparia um segundo pensamento sobre minhas atividades. Se ela desejava, mesmo por um segundo, ser a garota de joelhos, levando o que eu lhe oferecia. Eu imagino mais do que devia. Os pensamentos me devastam mesmo quando recorro a apertar meu pau com minhas próprias mãos como se eu fosse um adolescente novamente.

Ela não se afastou de mim na noite passada. Não a princípio. Eu senti o fogo em sua pele. A tensão de seus mamilos contra meus dedos. A buceta encharcada entre suas coxas quando esfreguei sua calcinha virgem. Por um breve momento, ela me quis também. E agora, ela só vai me ver como sujo novamente.

Seus cílios escuros vibram abertos e sou pego a encarando. O calor em seus olhos de mel se dissipa e ela visivelmente recua na distância estreita entre nós. Ela mal pode olhar para mim e não a culpo.

“Eu dormi demais?” A voz dela está fraca, seu belo rosto afligido com tristeza.

"Não. Nós ainda temos uma hora.”

Ela está quieta e eu também estou. Não tenho nenhuma explicação para estar aqui. Eu só sei que preciso sair antes de chegar mais perto. Ela não precisa sentir o cheiro do álcool ou perfume nas minhas roupas.

Ela não precisa de outro motivo para me odiar.

“Se você vier ao meu escritório agora, pode fazer o seu telefonema.”

Ela senta-se na cama.

E assim, todo o resto é esquecido.


Treze

 

Nikolai caminha pelo corredor, deixando um leve rastro de fumaça e perfume em seu caminho. Sua camisa está enrugada, seus olhos estão vermelhos e não quero considerar o que o manteve ocupado em sua ausência, mas não consigo parar de qualquer maneira.

Ele gesticula para eu entrar em seu escritório e aponta para a cadeira em frente a sua mesa. Eu faço como solicitado e me sento enquanto ele desliza um telefone fixo através da profunda extensão de madeira de cerejeira manchada.

“Cinco minutos.” Ele me diz. “Então Nonna virá até você.”

Uma quietude não natural cai sobre mim quando eu aceno. Ele está me dando cinco minutos com o telefone.

Sozinha.

Meus dedos tremem quando pego o fone. Ele quer que eu disque os números antes que ele vá. Os números para o diretor da minha companhia, que eu disse a ele que queria chamar. Talvez ele saiba o número, ou talvez não.

É uma chance que estou disposta a aproveitar.

Eu disco o número com falsa confiança. Exteriormente, sei que estou composta. Mas por dentro, meu coração está na minha garganta.

Ele não pode saber.

Ele não pode.

Eu tenho que gerenciar isso.

“Olá?” Gianni responde.

“Olá, Jean Claude. É Tanaka.”

Um momento de silêncio se segue e sei que depende de mim orientar a conversa. Mesmo quando Nikolai sai, minhas respostas provavelmente serão gravadas na câmera para serem estudadas mais tarde. Devemos agir com cuidado.

“Apenas estou ligando para dar notícias.” Eu digo despreocupadamente. “Se você tiver tempo, gostaria de informá-lo sobre minha reabilitação.”

“Percebo.” Gianni responde.

Da porta, os olhos de Nikolai encontram os meus e por uma fração de segundo, acho que ele sabe. Ele sabe e vai me matar aqui mesmo em seu escritório. Mas em vez disso, ele bate em seu relógio e emite um lembrete final.

"Cinco minutos."

E então ele se vai, levando meu fôlego com ele.

“Você está se recuperando bem, então?” Gianni pergunta do outro lado da linha.

O que ele está realmente perguntando é se estou bem.

“Estou totalmente focada em minha saúde.” Respondo. “E espero voltar para a companhia muito em breve, se ainda houver um lugar para mim.”

Gianni fica quieto por muito tempo e não gosto do som desse silêncio. Ele sabe o que estou perguntando. Minha posição está segura para mim? Ele falou com o diretor? O que ele pode me dizer?

“Neste momento, acreditamos que seria melhor para você se concentrar em sua recuperação. Podemos discutir sua posição com a companhia quando você estiver pronta para dançar de novo.”

Eu engulo e machuca. Tudo machuca. Não quero aceitar o que ele está me dizendo. Não quero acreditar nisso, embora eu soubesse que chegaria a isso.

“A companhia envia seu amor.” Gianni acrescenta. “Todos desejam a você uma recuperação completa.”

Acho que ele está tentando me dizer que ele quer me ajudar, mas suas mãos estão atadas. Eu não posso ter certeza, mas deve ser sobre o que ele veio me avisar naquela noite. Ele sabia que Nikolai estava vindo para mim. Ele sabia que minha vida estava prestes a ser destruída.

“Você já teve algum sucesso na investigação sobre minhas sapatilhas?” Eu pergunto.

“Muito pouco.” Ele responde. “Mas há um rumor de que foi um trabalho de fora. Alguém com o nome de il demone.”

Meu estômago torce. Ele deve estar confuso. Ou eu estou. Algo está se perdendo na tradução.

“Não sei quem é.” Eu respondo. E gostaria que fosse verdade. Eu desejo que não soubesse que il demone é o nome pelo qual meu pai é conhecido nas ruas.

“Onde você está hospedada durante a sua recuperação?” Gianni pergunta.

É uma questão ousada. E só posso esperar que minha resposta não me mate.

“Estou em casa. Em Massachusetts.”

Ele precisa saber que ainda estou no mesmo estado, assim ele poderá vir até mim. Então ele poderá me levar para longe deste lugar e de Nikolai.

“Espero visitá-la em breve.” Ele diz.

Nonna entra na sala e fecho meus olhos. "Eu também espero. Falo com você em breve, Jean Claude.”

“Em breve.” Ele ecoa.


Pouco depois da chegada do convidado no andar de baixo, Nikolai vem me buscar em meu quarto. Limpo, depois um longo banho, seu cabelo ainda está úmido, mas ele cheira como ele mesmo novamente. Cravos, fumaça e talvez um pouco de pós-barba picante. Ele fez um esforço para parecer apresentável, mas seu rosto ainda parece que ele passou uma noite no inferno. Em calça preta e uma camisa branca de botão engomada, ele parece dividido entre a luz e a escuridão. Pecador ou santo, é difícil dizer de um minuto para o outro.

Seus olhos fazem uma passagem rápida sobre o vestido vermelho abraçando a minha figura. “Nonna te vestiu bem.”

É o mesmo vestido que usei antes, mas ou ele não percebeu, ou ele está fornecendo elogios obrigatórios na esperança de que eu vá me comportar esta noite. Eu não estou certa de quem ele está esperando para jantar, mas parece estranho que ele queira me incluir. Por tudo o que Nikolai sabe, eu poderia estragar tudo. Mas suponho que ele está contando comigo para ser a garota rica treinada para ser respeitosa com os homens e os seus negócios.

“Nosso convidado está esperando.” Ele aponta para eu me aproximar e o faço, mas não perto o suficiente para ele tocar.

Depois da noite passada, não quero ter mais nada a ver com ele. Quero apenas o seu sofrimento e secretamente prometi que vou fazer tudo ao meu alcance para garantir isso. Eu ainda não sei como. Eu só sei que fui uma tola por ser influenciada por ele, mesmo que por um minuto.

Ele é um ladrão. Um mentiroso. E nunca vou esquecer essa imagem dele novamente.

Nós caminhamos lado a lado, saudados na parte inferior das escadas por Nonna, que prontamente forneceu a cada um de nós uma bebida. Vodca cranberry para mim e um uísque para Nikolai.

“Ele está na sala principal.” Ela anuncia.

Nikolai assente e engole o líquido âmbar em seu copo com um só gole. Nonna sai com a promessa de que vai voltar com outro e então estamos sozinhos novamente. Ele me guia para a sala principal onde nosso convidado está esperando. E uma vez que olhei para ele, reconheço que o vi antes.

Alexei.

Como Nikolai, ele é uma presença arrogante. Alto, magro e musculoso, com olhos azuis gelo. Ele se levanta para me cumprimentar e seus olhos nunca deixam meu rosto enquanto eu digo um tímido olá.

“Nakya, você me lembra Lyoshka.”

Eu assinto.

“Obrigado por ter vindo.” Nikolai diz a ele.

“Eu não posso ficar muito tempo.”

Ambos os homens estão rígidos, com características igualmente interessantes. A civilidade entre eles é forçada, embora eu não saiba por que. Mas quando Nonna nos direciona para a mesa de jantar, Nikolai oferece o assento principal a seu convidado de honra.

Talvez ele esteja tentando conquistá-lo, mas é mais que provável que seja uma questão de respeito. Há sempre uma hierarquia na máfia e, neste cenário em particular, parece que Alexei supera Nikolai.

Tomamos nossos assentos e por algum período de tempo, eles discutem negócios em russo, enquanto eu cutuco o primeiro prato. Em outras circunstâncias, eu adoraria minestrone9, mas acho que é uma escolha estranha para ser servido esta noite. De qualquer maneira, não estou com fome e meus pensamentos estão longe quando Nikolai ladra meu nome. Eu olho para cima.

“Coma.” Ele exige.

Eu faço questão de ignorá-lo, informando a Nonna que eu terminei quando ela vem para recolher os pratos. Ela franze a testa, mas remove a tigela.

A conversa continua sobre a mesa, mas parece ser cada vez mais unilateral. Quando olho para cima da minha salada, eu acho que a atenção de Alexei desviou para mim. Ele parece não ter consciência de que Nikolai ainda está falando quando ele interrompe.

"Quem é você?"

Não tenho nenhum motivo para ser rude com ele. Há, na verdade, uma pequena parte de mim que relaxa no poder que ele tem sobre o meu captor. Nikolai está assistindo à nossa interação de perto, seus olhos me desafiando a falar fora de hora.

“Meu nome é Tanaka Valentini.” Eu ofereço a Alexei um sorriso caloroso. “Estou aqui como garantia de uma dívida que meu pai deve.”

Se Alexei reage a minha honestidade, eu não vejo. Meus olhos estão fixos em Nikolai, levando uma pequena vitória na maneira como seus dedos endurecem em torno de seu copo conforme ele o leva aos seus lábios.

Eu viro minha atenção de volta a Alexei. “E posso perguntar quem é você?”

“Eu sou de pouca importância.” Ele responde. “Na verdade, intriga-me muito que o seu captor permita a um bastardo como eu estar em sua presença esta noite.”

Os olhos de Nikolai lampejam. “Eu não me preocupo com as relações sobre as quais você fala. Parece que você me confundiu com Sergei.”

Alexei dá de ombros. “É difícil, às vezes, saber a diferença entre vocês dois.”

Um rubor carmesim se move até o cume pulsante da garganta de Nikolai e meu estômago vira em resposta. Eu sei que provavelmente o empurrei longe demais, mas Alexei não está preocupado com seu papel, mesmo quando Nikolai se retira da sala.

Quando ele se foi e a sala está silenciosa, eu digo algo que seria melhor manter para mim mesma. “Você é realmente irmão dele?”

Alexei me perfura com os olhos. "Como você sabia?"

Meus olhos vagueiam sobre suas feições e mesmo que não seja evidente, existem algumas semelhanças. São, principalmente, suas maneiras que fizeram com que eu os conectasse. "Vocês se parecem. E você também sugeriu isso. Bastardo. Relações. Acho que o único ingrediente que falta é amor fraternal.”

Seus olhos me estudam curiosamente enquanto ele toma um gole de seu conhaque. “É difícil aquecer um homem como Nikolai.”

Eu acho que talvez ele esteja tentando me dizer que Nikolai não é um bom homem. Ele não precisa dizer isso. Meu coração ainda dói pela memória de ontem à noite.

“Ele a trata bem?” Alexei pergunta.

Encontro-me assentindo no piloto automático, embora não tenha certeza do porquê. Provavelmente não seria sábio dizer qualquer outra coisa. Se o ódio é profundo, mas garantido, a lealdade é mais profunda ainda. É a maneira da máfia.

“Por que você veio para jantar esta noite?” Eu pergunto. “Se você não se dá bem com ele?”

Alexei responde com um gesto irreverente de sua mão. "Não tenho certeza. Nós ainda temos negócios para discutir.”

Nonna retorna com outro prato de assado e legumes. Enquanto Nikolai está ausente, eu decido comer um pouco, porque cheira bem.

“Se você ficar aqui por muito tempo, talvez possa ir visitar minha esposa em algum momento.” Alexei sugere. “Ela poderia ser uma amiga.”

Meu garfo para e eu olho para ele.

Uma amiga.

Nunca tive uma amiga. Eu nem sequer sei o que essa relação implica, mas a oportunidade parece boa demais para deixar passar.

“Eu gostaria muito disso.” Respondo. "Qual é o nome dela?"

Pela primeira vez desde sua chegada, há um sinal de vida nos olhos de Alexei. “O nome dela é Talia.”

“Talia.” Eu repito. “É um nome bonito.”

“Ela é uma mulher bonita.” Ele sorri. “Mas ela ainda não está familiarizada com este mundo e temo que isso a faça um alvo fácil.”

Aceno em entendimento. Crescendo nesta vida, estou intimamente familiarizada com a bagagem que vem com ela. Mas para uma pessoa de fora, pode ser desorientador, tenho certeza.

Alexei recupera o telefone do bolso e liga a tela. “Eu tenho uma foto dela. Deixe-me te mostrar."

Provavelmente não é apropriado, mas eu me levanto e me movo para o outro lado da mesa. Estou ansiosa pela oportunidade de sair desta casa, mesmo que apenas temporariamente. A ideia de ter uma amiga enche meu coração de esperança.

Alexei me dá o telefone e olho para a foto, catalogando os detalhes da mulher na tela. Ela é linda, mas também há algo devastador sobre ela. Os olhos cinzentos olhando de volta para mim são assombrados e tristes e sou levada a imaginar se ela é feliz com seu marido. E então imagino por que eu iria sequer questionar isso.

Que esposa da máfia é sempre feliz?

Quero assegurar a ele que ela é linda, que é provavelmente o que ele quer ouvir. Mas em vez disso, digo a Alexei que ela, aparentemente, poderia ser uma amiga. Ele assente e leva algum tempo para arrastar seus olhos para longe da foto.

“Ela não teve uma vida fácil.” Ele admite. “E não sei se a faço feliz, mas eu tento.”

O nível profundo de tristeza em sua voz me provoca a fazer algo que provavelmente não deveria. Mas eu alcanço e toco sua mão, só para deixá-lo saber que sempre há esperança.

“Você vai me contar sobre ela?”

Pelo o restante da refeição, perdemo-nos na conversa. Ele fala sobre o passado de sua esposa, dando-me detalhes íntimos sobre alguém que eu ainda estou para conhecer. Mas posso ver que é o que ele precisava e quando ouço a história de partir o coração dela, sinto que já somos amigas.

Depois de um assunto tão profundo, a progressão natural é passar para tópicos mais leves. Alexei explica a sua posição dentro da Vory, sua hierarquia e alguns de seus costumes. As coisas que ele me diz não são tão diferentes dos códigos de minha própria família e estou surpresa ao saber que eu mesma acho algumas de suas práticas mais agradáveis.

É quando estamos no assunto das crianças que Nikolai escolhe retornar. O momento não é o ideal, considerando que ele nos deixou como estranhos e retorna me encontrando inclinada, estudando mais fotos no telefone de Alexei. O lampejo em seus olhos quando ele examina a distância estreita entre nós me avisa que seu humor apenas escureceu mais. Mas, pela primeira vez que me lembro, estou me divertindo e sei que ele está prestes a arruinar isso.

“Você está dispensada, Nakya.” Ele troveja. "Vá para o seu quarto."

Longe de discutir com seu tom, eu me movo para levantar, mas Alexei me interrompe com a mão no meu braço. “Ela pode ficar.”

Uma guerra silenciosa ruge entre os dois irmãos, enquanto eu permaneço na minha cadeira, com as mãos agarradas no meu colo. O jogo de tentar provocar Nikolai não é mais divertido, e no final do dia, será a ele que deverei responder.

“Talvez eu devesse ir para o meu quarto.” Eu me ofereço.

“Acho que talvez você devesse ficar aqui.” Alexei argumenta. “Não é um problema, não é, bratan? Você confia em mim, sim?”

As narinas de Nikolai dilatam e posso não ter certeza, mas estou começando a pensar que me tornei o cabo de guerra entre os dois.

“Com a minha vida.” Nikolai responde. “Como deve ser entre os irmãos de sangue.”

Um silêncio pegajoso desce sobre nós antes de Nonna sugerir que todos nós passemos à sala de estar para bebidas. Ela é rápida ao acompanhar os nossos movimentos, com bebidas frescas já preparadas. É a minha terceira vodca cranberry da noite e estou sentindo isso mais do que eu deveria.

Eu não bebo frequentemente. Houve algumas ocasiões em que roubei um gole de licor do armário do meu pai ou suguei uma bebida durante um jantar, mas, em geral, eu não me habituei a beber. No passado, era em parte porque meu pai tinha grandes expectativas sobre o meu comportamento, mas na maior parte, era porque havia muitas calorias.

Hoje à noite, no entanto, não estou pensando no conteúdo calórico. Estou apenas pensando na desgraça iminente que me espera, se essa tensão não se dissipar antes de Alexei se despedir.

Observando Nikolai enquanto ele fala com seu irmão em russo, começo a imaginar o que o deixou desta maneira. Volátil num minuto e tranquilo no próximo. Suas emoções não fluem e refluem como uma ondulação no mar. São ou um maremoto ou um silêncio estranhamente calmo antes de um desastre. Sei que ele é gentil e sei que ele é cruel. Mas é evidente que não sou a única destinatária das suas mudanças de humor imprevisíveis.

Ele é autodestrutivo por conta própria. Para alguém que está constantemente cercado por pessoas, seus relacionamentos são superficiais e sem sentido. Os únicos que possivelmente teriam uma chance de conexão mais profunda, ele parece ter sabotado. Eu tenho um desejo intenso de entender o que causou a rachadura entre esses dois irmãos e o mais importante: porque seu DNA compartilhado precisa ser mantido em segredo.

Enquanto estou tentando ordenar esses pensamentos, a atenção de Alexei deriva de volta para mim, para grande desgosto de Nikolai. É deliberada neste momento. Alexei quer provocar seu irmão e isso poderia ser divertido se eu não fosse a única que suportaria o peso dele.

“Chega.” Nikolai se move na minha frente, obscurecendo a visão de Alexei. “Eu pensei que nós poderíamos ser civilizados, mas é óbvio que você não pode deixar o passado para trás.”

“Talvez quando eu estiver morto.” Alexei responde. “Vou deixá-lo ir, então.”

Nikolai xinga seu descontentamento em russo. “Você nunca escuta. Você não quis ouvir quando eu disse que ela era uma prostituta. Você não quis ouvir quando disse que ela estava servindo seus irmãos Vory. Você precisava ver por si mesmo.”

“E você precisava tomar o que era meu.” Alexei zomba. “Porque você não podia me permitir ter nada. Você é exatamente como Sergei.”

Antes que eu possa compreender o que está acontecendo, os dois homens estão se atracando no chão. Raiva encharcada em insultos são lançados entre socos enquanto eu assisto com horror. Copos de bebidas quebram e os estilhaços da mesa de café atravessam a sala enquanto eu me abrigo atrás do sofá. Eu não sou imune à violência, mas isso é lamentável.

“Parem com isso!” Eu grito.

Nikolai é o único a virar e olhar para mim. Seus olhos me atravessam, perfurando-me com culpa.

“Venha.” Nonna puxa meu braço e eu nem tenho certeza de quando ela entrou na sala. “Deixe os homens com seus negócios.”


Quatorze

 

 

Qualquer esperança de um banho quente dissolver um pouco da tensão no meu corpo foi perdida quando subi nos lençóis. Meus músculos estão fatigados, meus olhos pesados e a dor tomou uma fortaleza sobre mim.

A casa está tranquila agora e me pergunto como a noite terminou. Isso deveria fazer pouca diferença para mim, mas estou curiosa para saber como Nikolai saiu-se na luta de gladiador no andar de baixo. O motivo racional diz que é porque ele é meu captor e está no comando do meu destino. Mas se for honesta comigo mesmo, sei que é mais complicado do que isso.

Não sou deixada a sós por muito tempo. Quando estou à beira do sono, a porta do quarto troveja aberta e Nikolai emerge das sombras. A luz do corredor acende e uma auréola laranja, ilumina uma mandíbula inchada e um olho roxo. Mas não é com seu rosto que estou preocupada.

Quando encontro o seu olhar irritado e nervoso, um sentimento rasteja sobre mim. Eu preciso ficar longe. Longe.

Ele espreita até a cama e corro para o outro lado. Eu tenho um pé no chão quando o seu braço vem ao redor da minha cintura e me captura por trás. Seus lábios vagueiam sobre a minha orelha, respirando fogo em minha pele.

“Onde você está indo, bonequinha?”

Aperto meus olhos fechados, procurando desesperadamente abrigo da sua tempestade. A força que preciso para suportar me abandonou e não vou sobreviver desta vez. Ele vai me destruir.

Ele me arrasta de volta para o meio da cama, imobilizando-me com o peso do seu corpo. Sua pele está febril e seu hálito misturado a uísque. Mas é a tensão ondulando através de seus músculos que mais me assusta.

“Talvez você prefira ir para casa com meu irmão. É isso, pet?”

“Não” sussurro.

“Você passou a noite flertando com ele.” Sua voz potente vibra contra o meu peito. “Então, por que eu não deveria mandar você para casa com ele?”

“Por favor.” Agarro-me a seus braços. “Isso não é o que eu quero.”

“Adivinha o quê, gatinha.” Suas palavras sopram sobre a minha garganta. “Eu não me importo com o que você quer.”

Uma lágrima cai na minha bochecha, Nikolai a recolhe com a língua. Seus dedos se apropriam do meu rosto e ele força a intimidade olhando nos meus olhos.

“Diga-me que você me quer.”

“Não.” É um protesto fraco, abafado por sua boca que colide com a minha. A primeira coisa que sinto é o gosto do seu sangue e a segunda é o uísque.

O meu primeiro beijo. Ele tomou meu primeiro beijo. O choque me ancora na cama, tornando-me prisioneira de seus lábios. Inflamado e áspero, ardente e insaciável. Ele tem a determinação de um lutador e a arte de um amante. Agora mesmo, ele é ambos. E sou uma escrava da minha fraqueza. Uma escrava para ele. Ele aperta minha mandíbula, abrindo-a e sua língua se choca contra a minha. É íntimo. É uma violação. E ainda tenho sede por isso.

“Você é meu anjo” ele murmura. “E se eu quiser minha puta também.”

Meu corpo arqueia contra ele e meus dedos emaranham em seus cabelos, desejando ter a força que não possuo. "Eu te odeio."

“Eu acho que você deseja me odiar.” Ele força sua perna entre as minhas coxas.

Não estou usando calcinha e minha camisola subiu sobre meus quadris durante a luta. Um rubor varre a parte de trás do meu pescoço e ao longo do meu rosto enquanto eu me esforço para me recompor novamente. O pensamento dele me ver com as pernas abertas é aterrorizante. Humilhante. Mas Nikolai não se preocupa com o meu pudor.

Seus lábios estão descansando sobre minha garganta agora, seu pau furioso esticando contra suas calças. Eu deveria permanecer pura. Havia um motivo, tenho certeza, mas não posso pensar nisso agora. Não quando ele está se esfregando em mim, lambendo, mordendo e beijando minha carne. Minhas unhas cravam em suas costas rígidas, em busca da minha sanidade. Minha respiração vem em ondas enquanto eu me pergunto se é isso. Se esta será a minha condenação. Sua boca atinge as ondulações dos meus seios e eu paro de respirar completamente.

“Caralho, esses peitos” ele resmunga enquanto os aperta juntos entre as palmas das mãos carnudas. “Porra, você e seus lindos peitos pequenos.”

A dureza de suas palavras é suavizada pelo chicoteamento de sua língua quando ele abaixa a cabeça para chupar meus mamilos através do tecido sedoso. Milhares de relâmpagos passam através de mim. Eu não quero desejá-lo, mas ele está me manipulando com seu toque, seus sons e o cheiro entorpecente do seu corpo.

Da mesma forma que ele manipulou todas as outras mulheres antes de mim.

“Nikolai.” Eu empurro contra ele. “Nós não podemos. Eu não posso. Você estava com ela. Você a escolheu.”

Meus protestos ficam paralisados quando seus dedos se movem entre minhas pernas e se arrastam contra meu sexo nu. O lugar que nenhum homem jamais tocou antes. O lugar que só o meu marido deveria tocar. Logicamente, eu sei disso. Mas estou tão molhada para ele que não importa o que minha mente diga que é melhor para mim. Meu corpo não quer o que é melhor para mim. Meu corpo quer se deitar em sacrifício por ele.

“Você é minha para eu brincar.” Ele puxa para baixo a camisola e beija cada um dos meus seios. “O meu brinquedo. E foda-se. Pronto para usar. E degradar. Você pertence a mim agora, zvezda, e vou deixar você saber disso.”

Minha cabeça chocalha contra o travesseiro, mas meus protestos acabaram. Ele está certo e sei que ele está certo. Ele pode fazer o que quiser comigo.

Para provar ainda mais o seu ponto, suas mãos agarraram a parte de trás das minhas coxas, empurrando meus joelhos até o meu peito. O ar frio passa sobre a minha parte mais íntima e o constrangimento colore meu rosto enquanto seus olhos me bebem assim. Estou exposta, assim como a boneca que ele diz que eu sou. É indecente, é sujo e eu tento apertar minhas coxas juntas novamente, mas elas não se movem.

“Nikolai.”

“Você pode me chamar de Nikolasha” ele me diz. “Sempre que eu comer a sua buceta.”

Sua boca cai sobre mim e eu gemo. Mas quando eu o sinto enterrar sua língua dentro de mim, os espasmos balançam meu corpo. Eu me contorço contra ele, lutando por cada respiração irregular enquanto ele me lambe sem restrição. Meus joelhos se dobram e sinto que estou caindo. Estou fora de controle, estou caindo e não há nada para me salvar.

Meus dedos serpenteiam em seu cabelo, torcendo com a intenção de afastá-lo, mas ao invés disso eu o puxo para mais perto como uma puta. Ele amassa a carne de minhas nádegas em suas mãos e bebe do meu corpo como se eu fosse o néctar mais doce que ele já provou. Estou hipnotizada. Atada. Embebida em um prazer que eu nunca percebi que existia. Mas sei que é uma mentira. Eu não sou o mais doce néctar que ele já provou. Toda vez que meus olhos se fecham, eu o vejo com ela. Eu o vejo com todas as outras que vieram antes de mim. E odeio isso. Eu o odeio.

Eu digo isso a ele.

Ele resmunga. “Você não vai me odiar quando sua buceta estiver inchada dos meus lábios.”

Dentes afiados beliscam a parte mais sensível da minha carne e eu reflexivamente puxo seu cabelo. Seu aperto me domina e paro de lutar contra ele enquanto ele me instrui na arte do controle. Eu agarro seus braços. Seus ombros. A parte de trás do seu pescoço. Eu digo a ele em uma respiração que o odeio e peço para ele não parar em seguida.

Nada disso importa. Nikolai tem seus próprios planos.

“Você vai gozar no meu rosto”, ele murmura. “E você ficara suja assim como eu.”

Não quero que isso seja verdade. Mas é. O ataque súbito é explosivo. Como um fantoche sendo puxado por suas cordas, o mestre desmembra a boa garota dentro de mim. Tudo o que resta na sequência da sua devastação é uma boneca inflável rasgada que sente cada grama de prazer vinda de sua boca antes de se esvaziar.

Estou arruinada. Não sinto remorso quando ele beija minha coxa e esfrega a excitação de seu rosto em minha pele. Amanhã vou me arrepender, mas por agora, o diabo está com suas mãos em mim.

Nikolai desabotoa suas calças e minha língua se lança para fora para molhar meus lábios enquanto seu pau fica livre. É uma monstruosidade violenta e pulsante. Eu olho em seu rosto enquanto ele o acaricia com sua mão. Com os olhos meio bêbados, ele absorve a visão diante dele. Eu ainda estou bem aberta, meu sexo molhado, inchado e macio dele.

Ele abaixa seu corpo entre minhas coxas separadas e eu tento apertá-las fechadas, mas ele simplesmente as abre novamente. Eu acho que é isso. É aqui que ele vai me arruinar. Este é o momento em que a minha vida vai acabar.

Ele arrasta meu corpo para mais perto do seu gigante pau latejante, e eu tremo. Vai doer. Eu poderia chorar. Não sei como meu corpo vai acomodá-lo. O calor penetra e empurra contra a minha carne sensível, encharcando seu pau na minha excitação. Eu respiro e o mundo não acaba.

Ele não viola a barreira sagrada, mesmo que eu desejasse secretamente que ele fizesse. Em vez disso, ele pega minha mão e a guia para baixo entre as minhas pernas, envolvendo a pesada carne. Ele me mostra o caminho, ensinando-me como tocá-lo. Como apertá-lo. Sons de agonia rasgam com força sua garganta. Convencendo-me do poder, o aluno supera rapidamente o professor. As marés mudaram e agora esse homem selvagem que é um escravo para mim.

Ele cai para frente, as palmas das mãos descansam em meus joelhos enquanto sua cabeça cai para trás em um entorpecimento. Seus quadris se movem desconexos, sacudindo seu pau na abertura minúscula dos meus dedos. Ele está transando com a minha mão e não o meu corpo. Mas isso não importa. Não importa, porque estou no controle e ele não pode parar a si mesmo.

Eu vejo seu rosto, analisando cada detalhe. A tensão fechando seus olhos. A sombra do relógio marcando cinco horas cai sobre as maçãs do seu rosto. O cabelo despenteado que eu ataquei. Ele não parecia dessa forma com ela. Ele não parecia assim com ninguém.

Eu deixei minha marca nele.

E agora, ele está determinado a deixar a sua em mim. Seu pau pulsa e ele o puxa do meu aperto, jatos quentes vêm pulverizando contra o meu sexo. Eu me desloco com a sensação inesperada e ele me oferece um sorriso preguiçoso enquanto espalha o líquido dentro de mim com os dedos.

“O que você está fazendo?” Eu exijo. “Você não pode fazer isso.”

Ele não reage aos meus protestos e eu nem tenho certeza de que ele ouviu. Seus olhos estão confusos e pesados enquanto ele aperta a cabeça do seu pau em minha abertura, apenas com a ponta dentro.

Eu estremeço com a intromissão estranha antes de ficar assustadoramente imóvel. Sua pele está na minha pele. Sua porra está dentro de mim e se eu mesmo respirasse, ele poderia ultrapassar de um ponto sem retorno.

Murmúrios de aprovação rugem de seu peito enquanto ele desliza para trás e para frente com o menor dos movimentos. Parece continuar até que meus pulmões estão prestes a estourar e somente quando o seu pau perde a ereção ele o retira e o guarda, afastando-se.

“Da próxima vez, zvezda, vou gozar dentro de você.”


Quinze

 

 

“Por que você não me diz o que espera do seu futuro,” Sarah sugere.

Nakya olha pela janela, batendo os dedos contra a garrafa de água nas mãos. Ela está enrolada em si mesma, tão pequena que a cadeira enche toda a sua roupa. Depois da birra da semana passada, eu temia que ela precisasse ser colocada no tubo de novo. Mas os médicos me garantiram que ela está de volta aos trilhos.

As sombras que escurecem seus olhos não inspiram confiança, mas não estou familiarizado com seu estado mental atual. A última vez que a vi foi na noite em que entrei em seu quarto e provei sua buceta virgem. Eu ainda posso sentir o gosto em meus lábios e contra o meu melhor julgamento, ainda quero mais.

“Eu não sei o que esperar do futuro,” Nakya diz finalmente. Sua voz é sombria e temo que a pequena dançarina perdeu a luz para sempre.

“Você se vê de volta aos palcos? Ou talvez apaixonada? Casada? Crianças? O que o futuro parece para você?”

Ela leva muito tempo para responder, eu não deveria me sentir tão desesperado para ouvir as palavras de seus lábios. Mas cada vez mais, acho que quero saber mais dela. Quero domar o caos em sua mente, e isso é um problema.

“Eu deveria me casar com um homem que trabalha para o meu pai.” Nakya puxa o canto da embalagem em sua garrafa. “Mas agora não acho que vou fazer isso.”

“Isso aborrece você?” Sarah pergunta.

É a pergunta que eu teria feito, se acreditasse que ela me daria uma resposta honesta. Nakya não é ingênua sobre o fato de que tenho a vigilância à minha disposição, mas independentemente disso, ela tem sido acessível durante suas sessões. Ela provavelmente acha que tenho coisas melhores para fazer do que vê-la, o que seria correto. E, no entanto, aqui estou eu.

“Já tomei a decisão” diz Nakya. “Mas eu não amo Dante como uma esposa deve amar seu marido.”

Sua resposta me faz questionar a sua autenticidade quando tantas vezes, ela optou por utilizar Dante como seu escudo invisível. Em cada oportunidade, ela o jogou na minha cara. Se ela não o ama, só posso tirar uma conclusão a partir de suas ações. Ela fará qualquer coisa para me manter longe.

“E como você acha que uma esposa deveria amar seu marido?”, Pergunta Sarah.

“No meu mundo, o amor não existe” Nakya responde suavemente. “Um casamento é um dever e nada mais. Significa permanecer devota ao seu marido enquanto fecha os olhos para suas atividades extracurriculares. Dedicar sua vida a ser pequena e insignificante, enquanto ele reina supremo. Como pode o amor ser nutrido em um ambiente como esse?”

Sarah fica quieta por um momento, batendo sua caneta contra o seu bloco de notas. Ela sabe que, nesse ponto, deve agir com cuidado. Estando na minha folha de pagamento, ela está consciente de tudo o que isso implica. Ela pode ajudar Tanaka a falar através de suas emoções, mas ela deve evitar fazer sugestões.

“Você acha que talvez gostaria de se casar com outra pessoa no futuro? Alguém que seja leal a você?”

“Não.” Minha pequena dançarina empurra o queixo reflexivamente. “Eu nunca quero me casar.”

Sua resposta é a de uma garota tola que não quer aceitar seu destino. Ela é uma princesa da máfia, e, como tal, ela não tem escolha, senão se casar.

“Ok.” Sarah toma um gole de sua própria água, provavelmente tentando determinar qual a direção orientar a conversa.

“Eu não gosto da minha vida.” As palavras saíram com força de Nakya, sem aviso, golpeando-me direito no estômago. “Eu nunca quis nada disso. Não escolhi viver como uma prisioneira. Eu não escolhi perder a minha mãe. Não há um lado bom nisso e não há futuro. Meu futuro está fora do meu controle, logo, essa é uma pergunta estúpida. A única coisa que eu queria fazer era dançar, mas agora isso foi tirado de mim também.”

Sempre esperançosa Sarah tenta permanecer positiva. “Você ainda dança. Disseram-me que a sua recuperação está indo muito bem. Mesmo que isso não seja como costumava ser, você ainda é uma dançarina.”

O cabelo de Nakya cai em seu rosto, seus ombros tremendo enquanto ela balança a cabeça. “Acabou para mim. Minha carreira está terminada. Meu tornozelo não pode sustentar a pressão da dança profissional, mesmo que eu conseguisse alcançar outra posição. E é tudo culpa dele. Ele fez isso para mim.”

“Quem?”, Pergunta Sarah.

“Meu pai” sussurra Nakya. “Foi o meu próprio pai.”

A verdade não foge dela, mas não traz nenhuma paz saber que ela não me culpa. Seu mundo foi rasgado pelo homem que era para protegê-la. Se ele fosse outro tipo de pai, ele a teria protegido de mim também.

Eu sofro para confortá-la. Eu sofro para confessar que entendo a sua dor. Mas não é por isso que eu a trouxe aqui. E tudo sobre esta situação está errado. Ela não devia odiar seu pai. Ela deveria ser preciosa para ele. Essa era a maneira como eu iria matá-lo lentamente. Seu calcanhar de Aquiles.

Eu só não esperava que sua fraqueza não fosse ela.


Após a desastrosa tentativa de jantar com o meu irmão, fui forçado a escolher outra via para obter informações. Apesar de Mischa não ser de nenhuma forma como Alexei, ele é muito bom com computadores e eu confio mais nele.

Na reunião da Vory desta noite, eu não estou surpreso de encontrá-lo espreitando perto do bar. A filha do meio de Viktor acaba de completar dezoito anos e todos os meus irmãos se reuniram para celebrar o marco.

“Eu preciso que você faça algo para mim” digo a ele.

Mischa não olha para mim. Ele está distraído com uma morena de tetas enormes pendurada nos braços de um Avtoritet que o supera por várias décadas.

“Ela parece familiar” diz ele.

“Ei, zadrota, você me ouviu?”

Ele relutantemente desloca sua atenção para mim e balança a cabeça. “Claro, Kolyan. O que você precisar."

Por um momento, duvido de mim mesmo. Admitir minhas intenções a qualquer um é um risco, mesmo que seja para Mischa. Um Vor nunca deve parecer vulnerável e sem provas sólidas contra meu pai, há muitas maneiras disso sair pela culatra se ele descobrir o que estou fazendo.

“O que é bratan?” Mischa me dá um tapa no meu ombro. “Pode confiar em mim, sim?”

Quando eu olho em seus olhos, sei que posso. Ele é meu amigo mais antigo e confio nele com a minha vida.

“Preciso que você faça algumas escavações ao redor,” digo. "Silenciosamente. E silenciosamente, eu quero dizer: se alguém descobrir vou cortar suas bolas fora.”

Mischa sorri. “Você sabe como eu gosto das minhas bolas. Não faria nada para prejudicá-las.”

“Pelo menos é uma coisa em que podemos confiar.”

“Então, o que é?”, Ele pergunta.

Não estou preparado para dizer o nome dela em voz alta. Eu fiz uma promessa de não o pronunciar desde o dia em que ela nos abandonou. E fazer isso agora seria como uma traição ao meu pai, a mim mesmo e a irmandade Vory. Se o que me disseram é verdade, ela nos abandonou. E ela não merece mais meu tempo ou meus pensamentos. Mas, independentemente de qualquer coisa, ela os tem.

Removo o pedaço de papel do bolso da minha camisa e o entrego a Mischa. Um olhar para o nome e é evidente que ele sabe.

“O que você gostaria que eu procurasse?" Ele pergunta baixo.

“Eu quero saber com quem ela fugiu. Nomes. Endereços. Datas. Eu quero saber o que ela comeu no café da manhã na semana passada.”

Ele assente. "Verei o que posso fazer."

Ambos drenamos nossos drinks e gesticulo para o barman para reabastecer.

“Isso tem algo a ver com a filha de Manuel Valentini?”, Pergunta Mischa.

Solto a fumaça do cigarro e observo seu olhar. Ele nunca viu Nakya na minha casa e não gosto que ele saiba sobre ela. “Como você ficou sabendo sobre ela?”

“As notícias correm.” Ele dá de ombros. “Manuel enviou seus homens para dar batidas em nossos clubes e Viktor não está feliz.”

Isso é novidade para mim. Eu não esperava tal comportamento tolo de Manuel quando sua filha está em nossa posse. Ele deve saber que Viktor não vai tolerar isso e seu descuido apresenta um novo problema. Na sequência destes novos acontecimentos, Viktor poderia facilmente decidir que Nakya não vale à pena. No grande esquema das coisas, meus planos não são importantes quando comparado com o bem maior da Vory. E Viktor sempre fará o que ele considera melhor para a irmandade.

“Você pode querer considerar opções alternativas” diz Mischa. “Antes que Viktor sugira ele mesmo. De um homem na sua disposição, estou certo que ele espera que você tome a iniciativa.”

Em qualquer outra circunstância, o que ele está sugerindo faria sentido. Tanaka é mais uma dor de cabeça para a irmandade do que realmente vale. A dívida de Manuel poderia ser tirada de sua própria carne e sangue e o problema estaria resolvido. Mas eu não levei a garota apenas para matá-la e terminar com isso. Eu tinha grandes intenções de fazê-la sofrer, da mesma forma que suspeito que minha mãe sofreu nas mãos do seu pai. Mas o pensamento de fazer isso agora me deixa doente. Eu provei dela. Eu anseio por ela. E mesmo que eu queira admitir ou não, ela está dentro de mim, infectando-me com seu veneno.

“Vou considerar isso” digo a Mischa. Uma mentira, provavelmente, mas um fim eficaz para a conversa.

“Kosmos.” Ele volta sua atenção para a morena novamente. “É de onde a conheço. Eu a fodi por trás enquanto chupava a sua irmã.”

“Você seria sábio em não dizer isso muito alto” sugiro. “O Avtoritet parece estar completamente apaixonado por ela.”

Mischa dá de ombros. “Isso é o que acontece quando você se apaixona por uma stripper. Todos antes de você tiveram uma prova.”

“Que diferença isso faz?” Pergunto. “Não lhe faria mal manter seu pau em suas calças de vez em quando.”

Ele ri. “Olha quem fala. Antes de você tomar a menina Valentini, eu me lembro de você visitar o clube, com muita frequência.”

Sua insinuação não passa despercebida por mim, mas escolho não confirmar. O Pakhan está vindo em nossa direção com sua filha a tiracolo e esse não é o tipo de conversa que ele gostaria que ela ouvisse.

“Kol'ka” Viktor me cumprimenta. “Eu gostaria de falar com você em particular.”

Mischa concorda e dá a aniversariante seus votos de felicidades antes de fazer uma saída rápida. Uma vez que ele se vai, eu me volto para Ana. A filha de Viktor é uma menina bonita. Jovem, com os olhos arregalados e sem mácula dos perigos deste mundo. Muito parecida com Tanaka, ela foi protegida para preservar nossa cultura e para a sua própria segurança. Mas agora que ela está florescendo uma jovem mulher e suas aparições em eventos sociais estão se tornando mais comuns, ela está rodeada por muitos dos Vory. Eu posso pensar em pelo menos dez homens que gostariam de garantir sua mão em casamento, juntamente com a inevitável subida no ranking que viria com isso. É bom estar ao lado do pakhan.

“Feliz aniversário, Anastasiya.” Aceno em sua direção.

Um rubor colore suas bochechas e ela inclina a cabeça submissamente. Ana foi criada para ser respeitosa à autoridade masculina. É um traço que os homens Vory cobiçam em uma mulher e que eu pensei que admirava muito. Mas isso foi antes de conhecer a pequena bailarina que desafiou cada palavra minha.

“Eu pensei que Ana poderia me acompanhar para jantar em sua casa esta semana” diz Viktor.

Forço um sorriso, enquanto isso, estou dissecando o significado por trás disso. "Claro. Escolha o dia e vou pedir a Nonna preparar um banquete digno de uma rainha.”

Viktor balança a cabeça e olha para sua filha. “Vá para junto de suas irmãs, Ana. Eu tenho alguns negócios para discutir.”

Ana hesita por um momento muito longo, seus olhos movendo-se sobre meu rosto no que só pode ser admiração. Eu trago meu copo aos lábios, mas está vazio. Viktor limpa a garganta em advertência e ela cambaleia, saindo como foi instruída.

O pakhan chama a atenção do barman para nós, e desta vez, ele não demora a preparar nossa bebida. “Minha Ana é uma menina bonita, não é?”

“Muito bonita” reconheço. Dizer qualquer outra coisa seria um desejo de morte. “Algum dia ela vai tornar um Vor um homem muito feliz."

“Ele será um homem de sorte” Viktor concorda. “Por ter uma esposa como Ana.”

O barman entrega meu uísque e eu o deslizo para fora do balcão, tomando-o em dois longos goles. Viktor está me observando muito de perto e não tenho que adivinhar a direção desta conversa. Já passou muito tempo para casar suas filhas elegíveis. E o casamento arranjado com um dos irlandeses desmoronou completamente. Se Viktor esperar muito tempo, ele se arrisca a rumores sobre as meninas serem impuras.

“Sergei sugeriu que talvez você fosse um bom par para ela.”

Claro que ele sugeriu. Não deveria ser nenhuma surpresa, dado o nosso último encontro. Ele queria fazer de Nakya seu brinquedo e esta é a sua maneira de provar que ele ainda está no controle, independentemente da classificação.

Eu limpo minha garganta e mordo um pedaço de gelo. “E o que você acha?”

“Eu tenho que concordar que você seria bom” comenta Viktor. “E Ana parece gostar de você o suficiente.”

“Ela ainda é muito jovem,” eu observo com cuidado. “Você tem certeza de que ela está pronta para o casamento?”

“Ela é um ano mais velha do que a minha própria esposa quando me casei com ela.”

Um silêncio inquietante cai entre nós enquanto eu contemplo meu próximo passo. Recusar a sugestão de Viktor seria considerado nada menos que um último insulto. Eu teria sorte de ficar vivo depois de tal observação. Não é incomum se casar por dever. Viktor me considerar digno de sua filha é uma honra que não mereço. Eu deveria estar orgulhoso e ser grato. Mas em vez disso, só posso pensar na minha cativa em casa.

Viktor parece ler os meus pensamentos e ele responde na mesma moeda. “É hora de você parar de brincar com a garota Valentini. Com a sua promoção vem responsabilidades. Você precisa dar o exemplo para seus irmãos. Se estabelecer e começar uma família. Mostrar-lhes o caminho que um Vor trilha nos assuntos de casa.”

Cada palavra parece mais um prego no meu caixão, mas há pouco que posso fazer, então aceno.

“Eu entendo que Manuel tem causando problemas e por isso peço desculpas. Eu não sabia que ele seria tão tolo.”

Viktor dá de ombros. “Ele é apenas uma mosca. Um estorvo. Um com que eu suponho você vai lidar em breve?”

“Será feito” asseguro-lhe. “Mas devo pedir um favor.”

Viktor ajusta a gravata e toma um gole de sua bebida. "O que é?"

“Você tinha razão em supor que eu tinha outros motivos para levar a menina,” confesso. “Mas ainda tenho que descobrir a verdade sobre a minha mãe. Estou pedindo a você que me conceda mais tempo para que quando as respostas forem reveladas, eu tenha vingança pelos crimes cometidos contra ela.”

As sobrancelhas de Viktor se unem, revelando sua dúvida. “Você está muito certo de que tais crimes foram cometidos, mas como posso ter certeza de que você não está se apaixonando pela menina?”

“Minha palavra é tudo o que tenho” respondo. “E as minhas garantias de que quando a verdade for revelada, a justiça será feita.”

Talvez seja uma mentira, mas estou muito ferrado para ver uma saída. Sou um Vor, e, como tal, deveria ter dentro de mim a lei de fazer o que é necessário. Admitir o contrário seria ganhar uma viagem desonrosa à minha própria sepultura.

“É hora de começar a tomar uma atitude” diz Viktor. “Se tivesse sido qualquer outra pessoa, ela já teria sido entregue a seu pai em pedaços.”

Suas palavras exalam verdade, mas não acabam com o desejo dentro de mim de cortar sua garganta por falar de Nakya dessa forma. Eu tenho o maior respeito por meu pakhan. Ele sempre foi justo comigo e sempre fez o bem por mim. Sentir essa hostilidade com ele é preocupante e isso prova que ele está certo. Nakya me deixa fraco e se eu não conseguir pôr os meus assuntos em ordem, a vida perdida será a minha.

“Vou concordar com o seu pedido, com uma condição:” Viktor resolve. “A menina ainda é virgem, não é?”

Sufoco uma afirmativa.

“Se você quer provar sua palavra” diz ele. “Então, permita Mischa ir para a cama dela. Eu quero entregar a Manuel os lençóis. Será a sua última chance de entrar na linha antes de começarmos a cortá-la em pedaços.”

Minha visão fica preta, mas assinto com a cabeça. "Será feito."


Dezesseis

 

 

“Nika disse que você pode cozinhar algo para esta noite,” Nonna me informa enquanto coloca o café da manhã em cima da mesa no meu quarto. “Terá que ser feito logo. Talvez depois de você comer.”

“O que vai acontecer esta noite?” Pergunto.

“Um jantar.”

Ela não dá nenhuma explicação adicional e sai. Não parece provável que Alexei voltaria para um jantar após o último fiasco, então estou apostando em outro membro Vory. Ao me dar tarefas sem sentido, como cozinhar, tenho certeza que Nikolai acha que pode me manter fora de problemas. Mas dado que ele está me evitando eu não sei ao certo. Suas ordens são transmitidas através de Nonna porque ele é muito covarde para me enfrentar.

Pretendia exigir o meu tempo no ginásio como de costume, mas como se vê, Nikolai tem outros planos. Quando Nonna retorna após o café, ela insiste para que eu a acompanhe até a cozinha antes mesmo de eu poder ter tomando banho. E, ao contrário da última vez, ela me dá uma longa lista de itens específicos que ela quer que eu faça.

“Isso vai levar o dia todo” protesto.

“Então é melhor começar agora” diz ela. “O jantar é às sete.”

Ela se afasta e se prepara para começar a trabalhar em suas próprias tarefas. Por mais frustrante que seja, sei que ela também está apenas seguindo ordens, por isso não há sentido em discutir. Trabalhamos juntas em silêncio e eu não estava enganada em minha estimativa. Levou o dia todo.

Meus pés doem e estou coberta de farinha quando finalmente retiro o último item do forno. Maçãs assadas com recheio doce. É apenas uma das quatro sobremesas que preparamos para esta noite, além dos pães, saladas e pratos de carne. Eu não tenho nenhuma ideia de quem poderia ser tão importante para merecer essa quantidade de comida que preparamos, mas espero que eles apreciem.

“Nakya.”

Viro-me para encontrar Nikolai me observando da porta e meu coração fica mais lento. Seu rosto é inexpressivo e o oceano em seus olhos se transformou em gelo. Já vi aquele olhar no rosto de um homem antes. Eu vi aquele olhar quando meu pai declarava ordens aos seus próprios homens. O mesmo entorpecimento vinha sobre eles quando havia um trabalho que precisava ser feito, mas não era algo que particularmente gostavam de fazer.

E agora, parece que Nikolai estava prestes a fazer um trabalho que ele não gostaria.

“É hora de você subir e se vestir” diz ele. "Venha."

Ele não espera que eu responda. Eu o sigo pela casa e subo as escadas, exausta e cansada para outro jantar formal. Ele já está vestido para a ocasião e não é seu habitual jeans ou botas de motociclista. Hoje à noite, ele está todo de preto, desde sua calça aos sapatos Oxford. Um estilo perigoso para um homem perigoso.

Enquanto isso, estou suja e bagunçada pelo trabalho do dia. Felizmente, ele parece estar muito distraído com seus próprios pensamentos para notar.

“Ali.” Ele aponta para um vestido já colocado na minha cama. Não é um que eu tenha visto antes, mas estou quase certa que poderia ser um da Nonna. É bege e é feio. “Coloque isso, rápido.”

“Eu tenho que tomar banho” protesto. “Não tive tempo para fazer o meu cabelo e maquiagem...”

“Não.” Seu tom é inflexível e estou perplexa. Tive todo o trabalho de cozinhar para uma festa digna da realeza e ainda assim ele acredita que minha aparência não é de importância. Meu pai nunca teria me permitido participar de um jantar no meu estado atual.

Eu cruzo meus braços e mantenho minha cabeça erguida, determinada a tomar uma posição. “Eu não vou para esse jantar sem me limpar primeiro.”

“Coloque o vestido,” Nikolai diz entre dentes. “Ou eu vou fazer isso por você.”

Bato meu pé no chão, principalmente porque não quero acreditar nele. Não vou usar esse vestido e não vou encontrar seus convidados neste estado. Mas meu captor tem outros planos, ele caminha em minha direção com tensão ondulando através de cada músculo visível. O instinto me faz encolher quando ele agarra meu braço e eu tento me afastar dele.

“Chega” ele ladra. “Eu não iria bater em você. Nunca bati em você.”

A tempestade está de volta e tenho medo de encontrar seus olhos por medo do que vou encontrar lá. Mas quando faço, o choque soca o ar dos meus pulmões. É uma tempestade de uma cor diferente. Tristeza muito profunda e violenta sufoca cada pedaço de azul em sua íris, transformando-as em cinza.

Apenas cinza.

Eu caio mole em seus braços quando ele me puxa e começa a me despir. Com a perspectiva de um mau tempo pela frente, a luta desaparece de mim. Alguma coisa ruim está chegando. Posso sentir isso.

Nikolai joga o tecido bege sobre minha cabeça e fecha na parte de trás. Mas não se adapta à forma do meu corpo. É apenas um saco solto, disforme, que me veste. Feia e desengonçada, do jeito que ele deve me ver.

"Sapatos."

Os sapatos pendurados em seus dedos são baixos. Barato e simples para combinar com o vestido. E como antes, ele é quem os coloca. Ajoelhando-se diante de mim, ele empurra cada pé para o sapato desconfortável.

Seus olhos ressurgiram, olhando através de mim. “Agora vamos lá para baixo.”

“Por favor, não me force, Nikolai. Assim não."

Eu não tenho um traço de maquiagem. Meu cabelo nem sequer esta penteado. Constrangimento brota dentro de mim, estou horrorizada que ele queira me apresentar a alguém neste estado. Mas sua única resposta é arrastar-me pelo braço do quarto.

Minha resistência está de volta e eu luto com ele a cada passo pelo caminho, desesperada para evitar tudo o que está por vir. No meio da escada, ele faz uma pausa, prendendo meu rosto com os dedos rígidos.

“Entenda isso, Nakya. Se sair dos limites hoje à noite, você só terá que se culpar pelo que acontecer depois. Caso o pakhan decida que você é a melhor diversão para passar pelas mãos dos irmãos, não haverá nada que eu possa fazer para salvá-la.”

O medo paralisa minha garganta e não posso respirar. Não posso sequer me mover. Porque desta vez, ele não está mentindo. O líder de sua máfia10 está vindo aqui esta noite. O homem a quem Nikolai responde. O homem que poderia de fato, decidir o meu destino.

Eu queria acreditar que estava a salvo aqui. Acreditei tolamente na noção de que eu poderia confiar neste homem. Mas essa confiança foi posta no lugar errado. Mesmo tão poderoso como Nikolai pode ser, ele não está no controle. E, no entanto, ele é a única esperança que tenho. Devo fazer o que ele me diz e devo acreditar que ainda há humanidade dentro dele. Ele não permitirá que esses animais me levem. Ele vai lutar em meu nome para me manter viva.

Uma vez que ele vê a aceitação no meu rosto, ele me empurra para frente novamente. Já posso ouvir as vozes dos nossos convidados. Mas antes de alcançá-los, encontramos outro homem no fim da escada. Ele é jovem, talvez mais jovem que eu. E mesmo que ele tenha as tatuagens Vory, suas feições não são tão duras como a do meu captor.

“Nakya, este é Mischa” Nikolai nos apresenta. “Você fará o que ele disser.”

Sou transferida para suas mãos sem pensar duas vezes e Nikolai me abandona com o estranho enquanto caminha pelo corredor.

“Venha comigo” diz Mischa. “Vamos para a sala de estar.”

Sigo desajeitada. Não parece certo. Eu acho que posso estar doente, mas, em seguida, ocorre-me que não almocei hoje. Isso por si só deveria ter me alertado para os perigos à espreita esta noite. Desde a remoção do tubo, Nikolai foi regimental sobre minhas refeições. Cada dia sem falha, elas são entregues no mesmo horário e não sou autorizada a fazer qualquer outra coisa até que a minha refeição esteja terminada.

Mas hoje ele esqueceu. Assim como ele se esqueceu de mim.

Um pensamento que só é agravado quando ele desfila com outra mulher para a sala principal. Não necessariamente uma mulher. Ela ainda é uma menina. Mal saída da adolescência a julgar por sua aparência e o rosto de criança. Independentemente da sua idade, não há dúvidas sobre sua superioridade. Nikolai se recusa a desviar sua atenção dela ou do homem ao seu lado nem por um segundo sequer. Minha intuição diz que este é o pakhan.

Os homens falam em sua língua materna e a menina toma demasiada liberdade permitindo que seus olhos enfeitiçados vaguem pelo rosto de Nikolai. Suas bochechas são pálidas e rosadas, seu rosto esperançoso e ingênuo enquanto ela flutua sobre cada palavra. Nikolai diz algo que a faz rir e ele sorri para ela. Não me lembro dele sorrindo para mim. Eu não posso desviar o olhar para longe do show de horror, embora eu saiba que deveria. Ela é muito inocente para odiar, mas eu a odeio. Eu a odeio quase tanto quanto o odeio.

“Sua noiva” diz Mischa. “Anastaysia.”

Ácido queima o fundo da minha garganta e outra onda de náusea rola sobre mim. Não pode ser verdade.

"Eles estão noivos?"

Mischa concorda. “Em breve, será oficial. Nika tem sorte, é uma honra pela qual muitos homens matariam. Ela é uma menina bonita, não é?”

Não posso dizer uma palavra a seu favor. Tenho certeza que ela é bonita, mas tudo que vejo é uma criatura vil roubar o que não pertence a ela. Não faz sentido que eu me sinta desta forma. Não quando ele continua a me jogar fora em cada oportunidade.

Mischa me observa muito de perto e tenho medo de me revelar. Mas quando ele se inclina para sussurrar no meu ouvido, é muito pior do que isso. “É melhor você esquecê-lo agora. No final, vai lhe poupar a dor. Por esta noite, você tem a mim e eu garanto a você que poderia ser muito pior entre meus irmãos.”

A pressão pesa sobre os meus ombros, e, como se estivesse atento, o olhar de Viktor move-se para mim. E ele pergunta a Nikolai em russo, quando será feito, e Nikolai assegura que é esta noite.

Olhos azuis colidem com os meus, mas eles não vão me salvar. Não esta noite, nem nunca.

“Mischa” Viktor chama. “Leve a menina lá para cima.”


Dezessete

 

 

O semblante de Nakya se desfaz sob o comando de Viktor e eu continuo naturalmente enquanto Mischa arranca seu peso morto do sofá e sobe as escadas.

Minha visão nubla vermelha e tento desesperadamente me concentrar na narrativa de Ana sobre suas provas de fim de ano. Os acontecimentos desta noite não são por acaso. Mischa vai levá-la enquanto nós jantamos e serei obrigado a suportar o jantar sem uma demonstração de emoção.

Meu melhor amigo será o único a arruiná-la.

Os métodos de Viktor são brutais, mas eficazes. Poderia ser pior. Eu sei que poderia ser pior. Mas qualquer um que não seja eu, não é uma opção. Mesmo agora, só posso pensar em como vou matá-lo quando acabar. Mas logicamente, ainda não muda nada.

Nakya nunca será capaz de me olhar de novo. E isso é um tipo diferente de assassinato.

Viktor faz um brinde e eu aceno distraído. Eu verifico o meu relógio. Já se passaram dois minutos. Ana não vai parar de olhar para mim. Ela está desesperada por minha atenção e ela deve tê-la. Não deve haver mais nada além dela. Ela é filha do pakhan.

Alguém mais se aproxima e através da minha visão embaçada, vejo o rosto de Alexei. Ele não foi convidado e até mesmo Viktor não consegue entender sua súbita aparição.

“Lyoshenka. O que você está fazendo aqui?"

“Eu ajudei Nika com a aquisição da peça que você pediu e estou ciente de que este não é o momento ideal, mas um contratempo acabou de acontecer. Você se importaria se eu roubá-lo por um curto tempo?”

É uma mentira e não é bem produzida. Alexei está se referindo ao Rembrandt11. Algo que ele sabe que Viktor não vai dizer não. Embora eu não tenha certeza de que ele negue a Alexei qualquer coisa que ele pedir.

“Negócios são negócios” diz Viktor. “Ana entende que sempre vêm em primeiro lugar. Vou tomar uma bebida com Franco, enquanto esperamos.”

Alexei balança a cabeça e eu o sigo calado enquanto ele me leva ao andar de cima. Ele está aqui por uma razão, mas o que quer que seja, não é minha principal preocupação no momento. Minha preocupação é a porta fechada do quarto de Nakya. Aquele para onde Mischa vai levá-la e fazê-la sua, antes que eu arranque sua garganta por obedecer ordens.

Alexei se vira para mim e estou ciente de que ele precisa da minha atenção, mas eu só posso me concentrar na porta, tentando ouvir o menor dos sons.

“Você não quer saber por que estou aqui?” Pergunta Alexei.

“Você quer dizer além de inspirar esperança de que vou encontrar o impossível Rembrandt de Viktor?”

“Eu soube das intenções de Viktor esta noite” ele responde. “E sei o que você está fazendo com a garota Valentini. Conheço as suas motivações para levá-la e por que você me solicitou aqueles arquivos.”

Eu arrasto minha atenção para ele, determinado a descobrir o propósito de sua declaração.

“Você quer a verdade sobre sua mãe” diz ele. “E posso ajudá-lo. Mas não vou permitir que você puna um inocente pelos pecados do seu pai.”

Minha consciência deriva de volta para a porta. Eu ainda não consigo ouvir nada e sei que violar essa barreira vai arruinar tudo o que fiz. Se Viktor descobrir que eu interferi nas suas ordens, ele pedirá minha cabeça. Mas também sei que não posso me conter.

“Vá” Alexei me diz. “Vou esperar no escritório.”

Ele não está fazendo isso por mim. Ele não acredita que eu seja capaz de qualquer ato altruísta e talvez ele esteja certo. Assisti sem protesto quando Mischa trouxe Nakya aqui com uma intenção. Mas minhas intenções mudaram quando giro a maçaneta para encontrá-lo segurando minha boneca destroçada, soluçando. Ela está ofegante em seus braços enquanto ele tenta consolá-la. Mas, pior ainda, ela está nua.

Meus olhos golpeiam Mischa. Ele está vestido e ainda não a tinha tomado, mas isso não faz diferença. Estou em busca de sangue quando eu o pego pelo colarinho e o arrasto da cama. Meu punho bate em seu rosto três vezes antes dele me empurrar para longe.

“Você sabia que isso iria acontecer, Kolyan. Você disse que estava tudo bem.”

“Não está bem” ameaço. “Você a fez chorar.”

Ele olha para mim e balança a cabeça. “Você a fez chorar. Ela está ligada a você e não me quer.”

Eu olho para Nakya, na cama, encolhida em si mesma como uma criança. Mischa está certo. Eu a destruí com minhas ações.

“Desculpe-me” sussurro.

Eu quero ir até ela. Quero confortá-la. Mas Mischa me para.

“Precisa ser feito” diz ele. "Você não tem escolha. É o corpo dela ou a vida dela.”

Suas palavras se assentam sobre mim e não posso negar a verdade. Não há outra opção. Ou eu tomo a garota e apresento a prova, ou Viktor irá exigir a prova de carne. Ela vai me odiar por arruiná-la. Ela nunca verá que estou tentando salvá-la também.

“Misch...”

“Podemos falar mais tarde” diz ele.

Ele sai do quarto e eu fico com a minha pequena dançarina. Ela ainda está chorando quando eu a pego em meus braços. Eu a abrigo com o meu corpo, destroçado para transmitir a profundidade do meu desespero em vê-la dessa forma.

“Perdoe-me, Nakya” sussurro em seu cabelo. "Perdoe-me."

“Você iria deixá-lo... me tocar” ela pronuncia entre soluços débeis.

Estendo a mão para seu rosto e a forço o olhar para o meu, então não poderá haver mais mal-entendidos entre nós.

“Serei o único a te tocar, zvezda. O único a tomá-la. E assim que eu fizer, receio que você não terá dúvidas sobre o assunto. Você será minha."


Alexei está esperando no meu escritório como prometeu, digitando uma mensagem em seu telefone. Sem dúvida, seria a sua esposa. Embora nunca a tenha conhecido por meu irmão ser um homem reservado, ele não pode esconder sua devoção à loira bonita que tem conseguido derreter seu coração congelado.

Eu alcanço a garrafa de conhaque que mantenho perto da minha mesa, estendendo-a a ele em oferta enquanto me sento. Ele recusa a hospitalidade com um aceno de cabeça.

“Obrigado” digo.

“Eu não fiz isso por você.”

“Eu sei” respondo. “Mas, ainda assim, obrigado.”

Se ele não tivesse vindo, não há como dizer como esta noite poderia ter acabado. Abro o conhaque e sacio-me com dois longos goles.

“É mais confuso do que eu pensava que seria.”

Alexei me examina com olhos implacáveis. Acho que é fácil para ele acreditar que sou cortado do mesmo tecido que Sergei. Tanto quanto posso dizer, ele está apenas me vendo da mesma forma.

“Sei que você acha que sou como ele,” digo. “Mas tenho dúvidas. Talvez eu não o conheça como você. Talvez tenha sido um pai diferente para mim do que ele foi para você. Para começar, é por isso que me propus a esta jornada. Para descobrir sua verdadeira natureza. Para descobrir a verdade.”

“Talvez ele tenha sido um pai diferente para mim?” Zomba Alexei. “Ele nunca foi um pai para mim.”

A ironia é que ele não vê como somos parecidos. Ele sempre desejou a aprovação de Sergei e eu sempre ansiei por sua liberdade da presença dominadora de Sergei. Ambos temos inveja do que o outro homem tem, mas orgulhosos demais para admitir isso.

“Eu não posso assumir a responsabilidade por aquilo que ele fez com você, Lyoshenka.”

“Eu não pedi isso para você” ele responde.

“Mas você está contra mim. Você o deixa ficar entre nós. O que aconteceu entre você e Sergei não está certo, mas não deve envenenar o nosso relacionamento também.”

“Você fez isso por conta própria.”

Eu esfrego a parte de trás do meu pescoço e escuto as vozes no andar de baixo. Preciso voltar em breve. Viktor não vai esperar muito tempo, apesar de seu bom humor esta noite.

“O que você pretende fazer com ela?” Pergunta Alexei.

A imagem do rosto manchado de lágrimas de Nakya me assombra ainda. Haverá pouca escolha sobre o assunto e isso já pesa sobre mim. “Vou devolvê-la a seu pai.”

“Isso não era sua intenção quando você começou isso. De que forma você pretende devolvê-la a seu pai?”

Ele quer a confirmação da certeza que ele tem sobre mim. Que sou um monstro como Sergei. Minha honestidade não vai influenciá-lo, mas eu ofereço a ele de qualquer maneira.

“Minhas intenções eram diferentes quando comecei. A este respeito, você está correto. Mas o tempo e as circunstâncias mudaram minha posição. O que aconteceu no passado, seu pai será o único a pagar.”

Alexei parece duvidoso. “Então, mesmo se você soubesse que Manuel foi o único responsável a causar a morte brutal e violenta de sua mãe, você não tem planos para prejudicá-la?”

Resisto à vontade de socá-lo de novo porque, tecnicamente, eu devo a ele. “Você está me dizendo que Manuel foi responsável pela morte de minha mãe?”

“Não” ele responde. “Eu quero a sua palavra de que não vai machucá-la.”

“Eu já disse que não,” resmungo.

“Mas você pretendia, quando a raptou.”

“Qual é o ponto disso?” Exijo. “O que você quer de mim, Lyoshenka? Devo ficar de joelhos e rastejar diante de você?”

“Um Vor nunca fica de joelhos para qualquer homem.”

“E não estou me oferecendo. Estou apenas perguntando o que é que você gostaria de me dizer.”

“Você se importa com ela?”

Suas palavras provocam um sentimento pesado afundando no meu estômago. Não consigo reconhecer a questão de qualquer maneira.

“Escute meu conselho,” Alexei sugere “Se você quiser mantê-la, então se case com ela. Viktor não será capaz de interferir com a santidade dos votos.”

“Eu não sou você” zombo. “Se eu me casar com a garota, ele simplesmente irá me matar. Ele quer que eu me case com Ana.”

Alexei se levanta e encolhe os ombros em sua jaqueta, aparentemente terminando com esta conversa.

“Então, case-se com Ana” diz ele. “E envie a garota de volta para seu pai como uma mulher arruinada. Tenho certeza que ele vai perdoá-la.”

Ele é um bastardo por dizer isso. Alexei sabe tão bem quanto eu, que Manuel jamais irá perdoá-la.


Dezoito

 

 

Limpo o vapor do espelho no banheiro, hesitante em ver a menina olhando para mim. Meu rosto está inchado de tanto chorar. Os brancos de meus olhos injetados de sangue. Minha pele está vermelha da água escaldante do banho e do esfregar da toalha. Ela cai da minha mão e olho para a minha forma nua no reflexo.

A terapeuta contratada por Nikolai para me ajudar, disse-me que eu deveria encontrar algo que ame em mim cada vez que eu olhar para o espelho. Mas esta noite, só há ódio. Eu odeio cada coisa em mim. Meus quadris estão muito grandes. Meu estômago que costumava ser fundo e plano está macio e minhas costelas estão sufocadas sob uma camada de carne que não estava lá antes. Estou mais cheia em muitos lugares e eu quero me punir por lhe permitir me controlar desta maneira.

Ele me fez feia, para não me desejar, mas não me impede de querer ele. Mischa estava certo. Há algo de errado comigo. Deve haver, por querer alguém que é tão ruim para mim. Alguém que me joga aos lobos sem pensar por um segundo.

Pensei não ter mais lágrimas para derramar, mas ainda assim elas descem pelo meu rosto. Eu nunca chorei tanto na minha vida. Meu pai nunca teria me permitido ser tão fraca. Mas eu posso sentir isso acontecendo e está fora do meu controle. Estou estilhaçada. Esmigalhada. Destruída. Ele tirou o meu vigor e me deixou apenas com a dor.

Seguro minhas mãos em punhos e arranco meus cabelos. A dor às vezes ajuda, mas não desta vez. Só me lembra que eu estou viva e indefesa.

Ando pelo banheiro, ainda nua e escuto os sons do andar de baixo. Não consigo ouvir nada, mas posso imaginar bem o suficiente. O jantar continua e Nikolai se senta ao lado de sua amada noiva enquanto eu sofro em silêncio.

O esgotamento se infiltra em meus ossos e meu coração se quebra mais a cada dia que passa. Estou cansada de lutar. Estou cansada de esperar por um futuro mais brilhante quando não há nenhum para ser encontrado. Ele pode ter sua esposa russa. E quando ele se cansar deste jogo, posso finalmente ter a única paz que este mundo tem para me oferecer.

A morte.

Sem me preocupar em vestir, abro a porta do quarto e caminho pelo corredor até seu escritório. Este é o único lugar que posso encontrar a cura para o que me aflige agora. Uma garrafa de conhaque me chama de sua mesa. Provavelmente cara.

Deslizo de volta para o meu quarto como um fantasma. Despercebida e imperceptível. Risos flutuam para cima vindos do andar de baixo e eu não me engano quanto a esse timbre. Nikolai está se divertindo e eu acho que deveria me divertir também.

A garrafa de conhaque se abre com um pop gratificante e eu bebo direto da garrafa. Queima a garganta e os olhos, e, eventualmente, o meu estômago também. Mas é uma boa ardência. Uma queimadura que faz tudo desaparecer.

Minha festa lamentavelmente é interrompida quando a porta se abre e Mischa está lá. Seus olhos se movem para a garrafa na minha mão e depois para o meu corpo nu.

No fundo da minha mente, há uma pequena voz distante que me diz que eu deveria me importar. Eu deveria ser uma boa garota. Tenho que ser adequada, recatada e reservada em todos os momentos. Mas esta noite, Nikolai decidiu me fazer imunda.

“Nakya.” Mischa faz uma carranca. “Você não sabe que nunca se deve beber só?”

Desabo contra os travesseiros, o álcool inundando meu cérebro e o meu sistema. Eu não me importo mais. E é isso que digo a ele enquanto cruzo as pernas e faço um gesto irreverente com a mão.

“Você está aqui para me violar?”

Ele esfrega a mão na parte de trás do seu pescoço e suspira. “Se não for eu, então alguém o fará. Foi ordenado e isso deve ser feito.”

“Por causa do meu pai” eu digo.

“Por causa do seu pai” ele concorda.

Ele não é o pior cara do mundo. Na verdade, agora, ele é superior a Nikolai em todos os sentidos. Porque ele está aqui e Nikolai não. Mesmo que ele não tenha a mesma aparência imponente ou os olhos azuis vivos, ele é um homem. E eu suponho que se estou prestes a ser arruinada, deveria ser capaz de escolher qual o homem vai fazer o trabalho.

Qualquer um, menos Nikolai.

Qualquer um, menos o traidor no andar de baixo.

“Eu quero que você faça isso” digo a Mischa. "Estou pronta agora."

Ele suspira como se já estivesse cansado deste jogo, mas vem se sentar ao meu lado na cama mesmo assim. Evidentemente, eu sinto que vou vomitar de novo. Mas talvez se eu fechar meus olhos acabará mais rápido e vou ter a última palavra.

A garrafa ainda está apertada entre minhas mãos enquanto eu imploro para que ele faça isso. Os olhos de Mischa me queimam e eu acho que ele quer. Mas por alguma razão, ele ainda hesita.

“Eu deveria falar com Nikolai primeiro.”

“Não ligo para o que Nikolai diz,” insisto. “Quero que você faça isso.”

Mischa ainda está em conflito, mas ele se despe de qualquer maneira. Ele tira o conhaque dos meus dedos e meu coração pulsa na minha garganta. Não tenho mais nada em minhas mãos quando ele se ajoelha na cama diante de mim.

Ele está nu e não posso olhar para ele.

“Eu só vou descansar meus olhos” sussurro. “Mas está tudo bem. Quero que você faça isso.”

Espero que se eu ficar repetindo a mentira será mais fácil. Mas não fica mais fácil quando ele se inclina e tenta beijar meu pescoço.

O cheiro dele... está errado. Seu corpo está errado. E não posso continuar fingindo que quero isso quando não quero. Então, eu me desligo e tento ir para outro lugar.

Nada pode me ferir se eu não estiver presente.

Parece que funciona por um tempo. Não posso sentir Mischa. Não posso sentir nada. Mas o meu santuário mental não é tão impenetrável quanto eu esperava. Uma agitação súbita estraga tudo e quando abro os olhos, ele está lá na minha frente. O diabo. O monstro que pensa que pode levar Mischa para longe de mim.

“Traga ele de volta!” Exijo.

Nikolai se transforma, seus olhos me esfolam. "O que você acabou de dizer?"

“Traga ele de volta” repito. “Eu quero que seja ele.”

Suas mãos se fecham em punhos em seus lados e suas narinas dilatam enquanto ele avança sobre mim. Uma voz me diz para correr. Talvez seja Mischa. Talvez seja a minha própria sanidade, desabafando. Então eu corro. Contorno a cama passando reto por Mischa, descendo o corredor. Nikolai dá início à sua perseguição.

Há apenas dois lugares para mim. Seu quarto ou seu escritório. O medo, não a lógica, está ditando minha direção, então eu escolho seu escritório. Trancando a porta atrás de mim, eu me abrigo embaixo de sua mesa e tento controlar a minha respiração.

A fechadura gira e a esperança me abandona.

Estou enrolada em mim mesma, tentando recuperar o fôlego quando ele se abaixa para encontrar meus olhos. Ele é frio e possessivo. Cruel e zombador.

“E agora, zvezda? Para onde vai correr agora?”

Eu não respondo, então ele me agarra pelo pulso e me puxa para longe do meu esconderijo.

“Por favor” sussurro.

Ele me arrasta de volta pelo corredor sem piedade. “Poupe sua mendicância para todos os homens que virão depois de mim.”

Um soluço salta do meu peito com a crueldade de suas palavras. Ele não pode querer dizer isso. Eu não quero acreditar no que elas significam. Ele está com raiva de mim por eu ter escolhido Mischa. Eu sei que é.

“Eu nunca o quis. Eu juro. Só queria acabar com isso.”

“Diga isso a ele,” Nikolai exige e me joga de volta na cama.

Mischa está quase totalmente vestido quando ele encontra meu olhar e eu imploro que me perdoe. "Sinto muito. Eu não quis dizer isso.”

"Eu sei."

Ele sai do quarto, abandonando-me com meu monstro e sua raiva. Tento me encolher, mas Nikolai não deixa. Ele me vira de bruços e utiliza as amarras da cama para prender minhas mãos acima da minha cabeça.

Balanço a cabeça freneticamente, implorando no travesseiro. “Por favor, não assim. Eu não quis dizer isso.”

O barulho metálico da fivela do cinto é tudo o que se ouve, seguido pelo fecho da calça. Ele está se despindo. E estou nesta posição, porque ele vai me violar virada para baixo, então não vai ter que olhar para mim.

Ele se move atrás de mim, erguendo minhas pernas e pressionando os dedos contra o meu sexo. Tudo se acalma atrás de mim e o único som no quarto é a sua respiração pesada.

“Você não está molhada” ele murmura.

Estico o pescoço para olhar para ele, mas sua resposta é empurrar o meu cabelo em meu rosto, obscurecendo minha visão. Seu pau empurra contra mim e eu soluço mais forte.

“Por favor,” grito. “Não assim, Nika.”

Ele congela. Eu nunca usei um termo tão carinhoso e íntimo com ele, mas estou usando agora. O tempo para enquanto escuto sua respiração forçada, esperando para ver que caminho ele vai tomar.

Quando suas mãos encontram a parte de trás das minhas coxas, são inesperadamente suaves e esmagadoramente grandes. Ele poderia facilmente me separar e nunca mais reunir meus pedaços, se ele quisesse. Mas em vez disso, seus polegares calejados pressionam contra a minha carne em círculos lentos e pouco profundos. Um arrepio corre até minha espinha e Nikolai segura os globos de minha bunda em suas mãos, emitindo, um gemido gutural baixo.

“Você é muito teimosa para o seu próprio bem” diz ele. “Você não merece uma gentileza minha.”

“Eu nunca o quis” sussurro novamente.

“Então, quem?” Ele exige. “Se não é Mischa. Ou será que você ainda insiste em se guardar para o seu precioso Dante?”

Quando eu não respondo, seus dedos se movem entre as minhas coxas e não há nenhuma dúvida do seu efeito sobre mim. Estou escorregadia e com desejo. Querendo coisas que eu nunca tive. Coisas que não são boas para mim.

Nikolai desliza sobre a umidade entre as minhas coxas separadas e mergulha um dedo dentro de mim, fazendo-me apertar em torno dele.

“Responda-me.” Ele aperta a bochecha da minha bunda com a outra mão.

Mas eu não posso. Porque agora seus dedos estão no meu clitóris, massageando-me em um padrão lento, circular. Meus quadris estão se inclinando para trás em direção a ele, abrindo-se sem vergonha. Eu quero mais.

Eu preciso de mais.

Ele pega um punhado do meu cabelo puxando, infligindo dor enquanto me dá prazer. “Eu não vou perguntar de novo, zvezda. Diga-me agora ou vou enterrar meu pau dentro de você, sem considerar sua frágil virtude.”

Eu gemo no travesseiro, derrotada contra ele. Isso não está certo. Nada disso está certo. Eu o odeio. Seu corpo não tem o direito de tomar a minha virtude. Ele não tem o direito de me dar prazer quando para ele não tem nenhum valor a santidade que estou lhe dando. Mas seria fraca em negar a verdade quando ele pode ver tão claramente, e sentir, por si mesmo.

“Deveria ser você” digo. “Mas você é um covarde egoísta que só pensa em si mesmo.”

Na próxima respiração, sou virada para as minhas costas e a mão de Nikolai vem a minha garganta enquanto ele respira no meu rosto.

“Diga isso de novo” ele desafia. “Diga na minha cara.”

“Você é um covarde,” cuspo as palavras para ele. “Vá e se case com a sua noiva russa e me liberte. Você não precisa de mim agora.”

Seus olhos se movem entre os meus e sou uma tola por revelar a corrente de ciúmes na minha voz. Eu sou uma tola por deixá-lo acreditar por um segundo que isso me incomoda. Mais importante, eu sou um tola por reagir da maneira que faço quando seus lábios caem nos meus quando ele me possui.

Eu suspiro separando meus lábios para os dele, permitindo que sua língua varra através de meus protestos e reivindique a minha boca. Seu corpo está nu e duro contra o meu estômago e sua carne está em chamas.

Minhas pernas enrolam em torno dele enquanto ele bebe de meus lábios e eu imploro entre as respirações por liberdade. Sua resposta é soltar minhas mãos das restrições e me arrastar sobre seu corpo. Enrolo meus dedos em seus cabelos e puxo, infligindo a dor que eu quero que ele sinta. Mas faz pouca diferença. Ele é uma máquina pulsante de gemidos.

“Diga que me quer” ele exige.

“Você me dá nojo.” Minhas unhas afundam em suas costas enquanto minhas palavras destroem seu ego. “Você não merece me ter quanto isso não significa nada para você.”

Ele geme e empurra seu pau latejante contra minha umidade. “Você é um pouco mentirosa e uma cadela arrogante” ele responde. “E vou me divertir em derrubar a sua coroa.”

“Então faça isso,” desafio.

Ele me beija para me calar enquanto me provoca com os dedos, para me deixar maleável. Eu o agarro. Eu o inspiro. Um contra o outro e eu o sinto por toda parte. Mas, principalmente, sinto minha força de vontade fora de controle, com a pressão aumentando dentro de mim.

“Goze nos meus dedos” ele provoca. “Mostre-me como uma princesa fica quando sai da graça, zvezda.”

Luzes explodem contra as minhas pálpebras como lava incandescente derretendo entre as minhas pernas. Sou envolvida por ele, girando e girando até que entro em colapso, torcida e inútil. Tudo volta lentamente. A consciência dele. A imagem de seu rosto tão perto do meu. Seus olhos de oceano são calmos e serenos, ausentes das mentiras que ele gosta de tecer.

Sua honestidade é brutal, mesmo em silêncio. E o devaneio em seu rosto me assusta mais do que qualquer uma de suas palavras já ditas.

“Acabe comigo” sussurro. “E nunca deixe ninguém me tocar de novo.”

Ele fecha os olhos e esfrega duramente seu pau contra mim. Esta é uma viagem com bilhete só de ida e não há reembolsos ou retornos. Ele vai tomar a minha virgindade. Ele vai me arruinar para todos os outros homens. Eu não lamento sobre isso. Só me sinto impaciente.

Ele empurra a cabeça do seu pau dentro de mim como ele fez antes, dando-me minúsculos impulsos. Seus olhos se fecham e ele parece embriagado antes mesmo de percorrer todo o caminho. É difícil imaginar que seja por minha causa.

Eu fiz isso.

“Respire, bonequinha” ele sussurra.

E eu respiro. Seu corpo cai para frente, enquanto ele faz seu pau se enraizar dentro do meu corpo, rompendo a minha virgindade e, possivelmente, a minha sanidade mental também.

Ele estremece, eu tremo, e, juntos, nós respiramos. Dói, como eu esperava. Mas, principalmente, eu me sinto completa. Cheia de Nikolai. E ele está cru. Não há nada entre nós e nunca me senti tão exposta.

Ele enterra o rosto no meu cabelo, inspirando-me. Os músculos em seus antebraços tremem. Ele está se segurando até que eu esteja pronta. E tenho a compreensão sufocante de que preciso dele. Preciso dele ao meu lado até que eu possa encontrar a saída. Isto é o que digo a mim mesma. Isto é no que tento focar para que meu coração permaneça enjaulado.

“Estou pronta” sussurro.

Seu quadril rola para trás e ele arrasta seu pau para longe, deixando-me vazia até que ele me enche de novo retornando. Eu toco seu cabelo, cheiro sua pele e observo seu rosto enquanto ele me fode. Vejo a forma como seus olhos abrem e fecham enquanto ele murmura como é bom me sentir ao seu redor.

Ele espreme meu rosto e me beija novamente. Ele beija minha garganta, minha mandíbula e meu cabelo.

“Tão doce” ele cantarola. “Por que você é tão doce?”

É o último pensamento que ele exala antes de seu corpo tensionar e ele enterrar-se profundamente, estremecendo a sua libertação. Nu. Ele está nu e está me enchendo com sua porra. Seus olhos estão saciados e pesados enquanto ele admira meu rosto, seu pau relaxando dentro de mim.

“Isso significa algo para mim” ele diz. “Esse presente que você me deu significa mais do que pode imaginar.”


Dezenove

 

 

Na luz sóbria da manhã, a pequena estrela não está mais sob o meu feitiço. Seus olhos âmbar e calmos encontram os meus no reflexo do espelho, desinteressados com a minha presença. Eu a deixei na escuridão da noite, voltando ao santuário do meu quarto. E agora, ela está vestindo sua armadura, mas ela deve saber que não vai protegê-la. Vou explodi-la ou queimá-la em cinzas. Tudo o que precise para mostrar que ela é minha.

Recém banhada, ela se prepara para o dia. Ela executa o mesmo ritual que assisto do monitor no meu escritório mais vezes do que posso contar. Ela penteia seus cabelos. Aplica maquiagem. E então ela se pune diante do espelho por vinte minutos, uma escrava de sua doença.

Não sei se ela deseja ser perfeita ou se é apenas a sua obsessão. Mas de qualquer forma, ela é perfeita para mim.

Esta manhã, um robe de seda preto pende solto em seus ombros. E, apesar da recepção fria em seu rosto, seus mamilos estão duros para mim. Espero que ela esteja dolorida. Espero que a cada vez que ela se mover hoje, sinta o meu pau dentro dela. Eu quero que ela deseje. Quero mais do que qualquer coisa, exigir que ela nunca mais pense em qualquer outro homem, além de mim.

“Onde estão os meus lençóis?”, ela pergunta.

"Foram-se."

Seus olhos se estreitam. "Para o meu pai?"

Eu não respondo. Se ela espera remorso, deveria saber que eu não tenho nenhum. Não me arrependo de tomá-la, nem lamento as provas entregues ao seu pai. É assim que as coisas são feitas e ela sabe disso.

Ela aperta o cinto do robe e cruza os braços. “É uma tradição repugnante.”

Eu quero fazer todo tipo de coisa repugnante com ela. Por exemplo, agora mesmo, gostaria de enfiar o meu pau em sua boca para calá-la. Eu poderia facilmente passar o dia enterrado dentro dela, maltratando sua buceta para lembrá-la do seu lugar. No entanto, tenho outros assuntos urgentes. Com isto em mente, jogo a pílula do dia seguinte em sua penteadeira, juntamente com pílulas anticoncepcionais que o médico prescreveu.

Ela pega e examina com alívio inundando seus olhos quando ela vê o primeiro pacote, apenas para ser tomada por pânico no segundo pacote.

Seus olhos disparam para os meus. “Eu não posso tomar pílula.”

"Por quê?"

“Isso causa ganho de peso.”

“O mesmo acontece quando se engravida.” Ando para a porta.

“Você cumpriu o seu dever” ela diz. "Não vejo mais necessidade de proteção...”

“Você pode tomar as pílulas ou pode engravidar, mas de qualquer forma, terá o meu pau, zvezda. Não se engane fingindo o contrário.”


Encontro Mischa no Kosmos, meio bêbado com uma stripper se esfregando em seu colo. Não são nem mesmo dez horas da manhã e seria difícil determinar se ele está aqui a noite toda ou se ele está apenas começando.

Ele vive a vida de eterno solteiro, desfrutando de todas as vantagens que a irmandade tem a oferecer. Bebidas ilimitadas e as mulheres satisfizeram muitos Vor, o que me inclui. Mas quando olho para ele esta manhã, não é inveja ou diversão que sinto. Há apenas piedade.

Ao longo dos últimos anos, frequentemente desfrutei dos meus desejos e com quem eu quisesse. Mas foi uma satisfação passageira. Nesta manhã sou um homem mudado. Eu provei do mel e não posso imaginar estar satisfeito com nada menos novamente. Saber que Nakya espera por mim em minha casa é um privilégio diferente de qualquer outro.

Considerando os fatos, é uma ideia tola. Em breve, estarei comprometido com Ana e Nakya será devolvida ao seu pai. É a única maneira de fazer isso funcionar. A única maneira como eu posso salvá-la. Nossos caminhos não foram feitos para estarem em paralelo para sempre. Logicamente sei que serei forçado a desistir dela. Mas isso não torna a decisão mais fácil de aceitar.

Como muitos dos Vor, o casamento é um passo natural para mim. Eu pensei sobre isso algumas vezes, acreditando que isso iria acontecer no seu tempo certo. Mas nunca imaginei o rosto da minha mulher ou dos meus futuros filhos porque não havia um encaixe instintivo. Os moldes estavam vazios, algo ainda a ser determinado. Mas agora, a pressão para formá-los estava caindo em cima de mim e não é o rosto de Ana que eu vejo como minha esposa ou até mesmo como a mãe dos meus filhos.

O rosto que vejo é mais nítido. Maçãs do rosto salientes e os olhos cor de mel. Após esta manhã, como eu não poderia imaginar Nakya inchada com os meus filhos? Eles teriam a sua tenacidade. Pele bronzeada e meus fortes genes russos. Eles seriam imbatíveis.

Como deve ser.

Mischa abre os olhos parcialmente e um sorriso de Cheshire se espalha por todo seu rosto.

“Kolyan.” Ele faz um gesto desleixado com a mão. “Veio se juntar a nós, não é?”

Eu olho para a stripper. Os seios nus saltam enquanto ela se remexe no colo de Mischa, sua minúscula tanga vermelha engolida pelas bochechas da sua bunda. Ela não causa nada em mim. Na verdade, quando olho em volta para a variedade de mulheres nuas prontas e dispostas, nenhuma delas me causa nada. Morenas, ruivas, loiras. Mulheres para todos os gostos e formas. Natural ou perfeitamente esculpida com silicone. Não existe um clube nesta cidade que possui uma melhor seleção de mulheres e ainda assim, nenhuma delas me inspira uma ereção. Só alimenta a minha frustração quando estalo os dedos para a stripper.

"Vá embora. Temos negócios.”

Ela faz beicinho, mas faz o que eu disse. Mischa ecoa alguns resmungos e puxa para fora seus cigarros, estendendo para mim em oferta. Eu acendo, permitindo que a tão necessária nicotina envolva meus pulmões.

“Você disse que queria me mostrar algo.”

Mischa dá uma longa tragada e acena com a cabeça, exalando pelo nariz. “Você ainda está zangado comigo?”

"Eu nunca estive."

Ele ri e quero dar um soco nele. Claro, que é uma mentira, mas é melhor do que a verdade.

“Você me disse para ir” diz ele. "Você disse que precisávamos seguir as ordens de Viktor.”

“Eu sei que porra eu disse.”

“Ela é problema, Kolyan” ele insulta. “Você deveria cortar os laços e correr agora, enquanto ainda pode. Antes que você se envolva ainda mais.”

“Não estou envolvido.”

Outra mentira, isso é inútil. Mischa pode me ler melhor do que a maioria.

“Você falou com Viktor?” Pergunto.

Mischa esmaga o cigarro e se levanta, fechando seus jeans. “Eu preciso da porra de um hambúrguer ou algo assim.”

Faço um gesto para a porta de trás e caminhamos para o meu carro em silêncio. Estou ansioso para ouvir sua resposta e depois da noite passada, não ficaria surpreso se ele me enrolasse. É o que mereço.

“Eu disse a ele que fiz o trabalho” diz Mischa.

Olho para ele, estou sem palavras. Ele mentiu para o pakhan por mim. Se eu cair, ele desmorona comigo e a pressão que sinto para protegê-lo só contribui para o meu estado mental atual.

“Obrigado, Misch. Sei que não mereço a sua lealdade, mas independente disso, sou grato.”

“Há uma ponta solta” ele responde. “A história pode funcionar agora, até que ele veja a garota e os sentimentos por você no rosto dela.”

Se Nakya tem quaisquer sentimentos óbvios por mim, sou incapaz de vê-los sozinhos. Ela está mais fechada do que uma cripta e como qualquer ladrão que se preze, quero abri-la e descobrir todos os seus segredos.

“Ele não vai vê-la” asseguro.

“Eu não contaria com isso” diz Mischa. “Considerando que ele me disse para dar-lhe um recado.”

“Que recado?”

“Ele a quer na festa de Natal.”

Meus dedos apertam em torno do volante. “Por que na festa de Natal?”

Mischa dá de ombros. “Eu não sei o motivo.”

Viktor ainda está me testando. Pode ser a única razão. Ele quer garantir a minha lealdade à Ana e eu temo o que esta festa possa acarretar.

Paro em um drive-thru, Mischa faz seu pedido entre as tragadas do seu cigarro, então estaciono enquanto ele come. Ele disse que tinha algo para mim e quero continuar com ele, mas também preciso dele sóbrio durante a conversa iminente.

O carro está silencioso, então ligo o rádio e fumo outro cigarro. Mischa come dois hambúrgueres e uma grande porção de batata frita antes de se inclinar para trás no banco e acariciar sua barriga. "Muito melhor."

“Eu não tenho o dia todo, Mischa.”

“Eu sei” diz ele. “Mas não fique chateado. Não é realmente sobre sua mãe.”

“Então o que diabos é isso?”

“Acontece que Manuel e um de seus guardas têm o mesmo gosto em relação às mulheres. Ou mais especificamente, em uma mulher. Ambos estavam fodendo a mesma mulher. Meu novo amigo Eduardo está altamente motivado para manter seu trabalho e seu pau.”

“Então, temos um infiltrado?”

“Temos.” Acena Mischa. “Mas o cara é um ninguém, de verdade. Ele não conseguiu me dar muito, apenas alguns vídeos de vigilância antigos do porão. Que, para registro, a sua mãe não estava em qualquer um deles.”

“Então, o que tem neles?” Pergunto.

Ele me lança seu telefone e eu desbloqueio a tela. Há um número infinito de arquivos prontos para exibição e nem tenho certeza de por onde começar.

O primeiro vídeo que abro contém uma imagem assombrosa da mãe de Nakya na cama tarde da noite. Avanço rapidamente através das horas e nada até que Manuel chega tropeçando no quarto, obviamente bêbado. Não há áudio, mas não é necessário. A imagem é suficiente e é uma que não vou esquecer tão cedo. Ele bate nela e fode seu corpo inconsciente, deixando-a em uma poça de sujeira quando sai da cama.

O próximo vídeo é de natureza semelhante, só que este ocorre na cozinha. Ele queima a mão dela no fogão e empurra o seu rosto em uma pia cheia de água suja. Quando ela emerge tentando recuperar o fôlego, uma necessidade doentia me motiva a congelar a imagem e dar zoom em seu rosto. Sem o véu, ela se parece muito com Nakya. E ocorre-me que isso é o que acontecerá com ela se eu mandá-la de volta para Manuel. Uma concha vazia com olhos mortos e sem alma.

“Quando isso aconteceu?”

“Cinco anos antes da sua morte,” Mischa responde.

A esposa de Manuel morreu muito antes de chegar ao túmulo. Ela foi uma vítima também e se ele pôde fazer isso com sua própria esposa, não há o que dizer o que aconteceu com suas amantes.

Ansiedade se instala em meu peito enquanto percorro as imagens. Há centenas de imagens de vídeo. Milhares de horas do seu abuso.

“Eduardo me disse que ele revê os vídeos muitas vezes quando está bêbado” diz Mischa.

Ele os guardou porque ele é doente. Ele os guardou porque ele é um desperdício vil de energia que não merece viver mais um dia nesta terra.

Estou tentado a acabar com ele agora e terminar com isso. Mas esses pensamentos param de forma abrupta quando outro vídeo me chama a atenção. Um que não é com a esposa de Manuel, mas com sua filha. Ácido ferve em meu estômago antes mesmo de abri-lo. Eu não deveria. Não tem nada a ver com minha decisão. O que aconteceu no passado de Nakya não pode ser alterado. Mas meu dedo paira sobre o botão play. Se eu assistir a este vídeo, as coisas vão mudar. Ele vai me mudar. Mischa sabe disso e não consigo entender seus motivos para fazer isso.

“Por que você está me mostrando isso?”

“Você queria saber do caráter de Manuel.”

“Eu sabia no momento em que o conheci, que Manuel Valentini não valia o tempo de fôlego para falar seu nome,” zombo. “Então, não me venha com besteira.”

“Fiquei curioso sobre a garota.” Ele encolhe os ombros. “Ela parece fodida.”

“Ela não é” ameaço.

É uma mentira e não é preciso uma equipe de psiquiatras para determinar isso. Mas, não quero que ele fale sobre ela dessa forma. Eu não quero ninguém falando sobre ela dessa forma. É o segredo que vou guardar. Ela é minha boneca quebrada a ser reparada e só minha.

“Apenas observe" insiste Mischa.

Clico no play e meu estômago dá uma guinada nas imagens granuladas na tela. Minhas suspeitas estavam certas e esta é a confirmação. Manuel não era apenas violento com sua esposa. Ele era violento com Nakya também. Ela derrama um copo de água sobre o tapete e sem pensar duas vezes, ele a empurra com tanta violência que ela cai inerte na mesa de centro.

Eu sei que deveria parar. Não devo me importar, porque não vai mudar suas circunstâncias. Mas não há nada tão íntimo como experimentar a dor dela e não consigo me afastar dos horrores que ela sofreu. Eu preciso compreendê-los. Preciso saber da sua vergonha mais sombria.

O primeiro vídeo se parece com o outro, até que é um fluxo interminável de selvageria que só fica pior. Manuel puxa seu cabelo. Empurra. Bate nela. Morde. O abuso progride ao longo do tempo, enquanto ela cresce, e, eventualmente, ela torna-se o alvo de seus punhos e pés quando ele a chuta.

Meus punhos estão tremendo com a compulsão gulosa de me banhar no sangue de Manuel. Quero drená-lo de sua força vital. Eu quero socar o seu rosto até que não haja mais nada. Mischa vê e sabiamente escolhe não me dizer que ele estava certo. Este vídeo só solidificou o que eu já sabia ser verdade.

Nakya está dentro de mim. Ela já superou o ladrão, roubando algo que não pertence a ela. E quando eu matar Manuel, não será por minha mãe.

Será por ela.


Vinte

 

 

Hesito no final da cama, cansada das roupas colocadas para fora por mim. A roupa que eu escolhi. São roupas bonitas. Roupas lindas. As mesmas que eu tenho usado muitas vezes.

Algo que meu pai me ensinou foi que sempre deveria me vestir modestamente. Modéstia traduzida em saias, blusas e vestidos. As únicas calças que eu poderia usar eram as leggings que vestia para as aulas. Mas durante um tempo, perguntei-me como seria vestir o que eu desejasse.

Eu costumava colecionar revistas, admirando as fotos brilhantes de mulheres em seus trajes arrojados. Jeans e camisetas rasgadas, peças da moda que meu pai nunca aprovaria. Sonhei com o dia que poderia usar algo assim, mesmo que eu duvidava que esse dia fosse chegar. Minha roupa sempre insistiu em uma verdade inflexível.

Sou uma boa garota que faz o que mandam.

Mas agora, os tons neutros sobre a cama estão me sufocando com suas mentiras. Porque não sou uma boa garota. Eu seria uma fraude, se usasse isso agora. E estou surpresa ao descobrir quão pouco me importo.

Algo quebrou dentro de mim quando Nikolai me tomou. A pressão que eu sentia em ser perfeita foi desinflada como um balão. Eu tenho carregado isso durante tanto tempo que não pensei que poderia ser libertada. Mas fui. O único tormento que sinto é que perdi a minha virtude para alguém que não se importa nem um pouco. Um homem como Nikolai que não pensa em nada além de me tomar no meio da noite e depois apenas me abandonar antes da luz da manhã.

De certa forma, gostaria de ser como ele. Eu queria simplesmente não me importar. Ele voltará para mim e vai me tomar novamente. Algo que anseio e igualmente tenho medo. Minha armadura deve permanecer intacta. E no ínterim, devo aprender a navegar neste mundo como o tipo de mulher que sempre quis ser.

Reunindo as roupas na cama, volto para o armário, jogando as roupas inúteis no chão. O ritual continua enquanto vasculho através das prateleiras de cores entorpecentes, aumentando a pilha do que não quero na minha vida. No final, tudo o que resta é a minha roupa de balé e algumas poucas caixas de sapatos no fundo do armário.

Em uma dessas caixas, encontro o que estou procurando. Calça jeans. Ainda com a etiqueta, comprei mais pelo simbolismo do que pela utilidade. Eu a comprei on-line quando estava me sentindo corajosa e a guardei por dois anos. Muitas vezes, eu a tirava do armário e a vestia, andando em círculos no meu quarto, da mesma forma que as modelos faziam.

Hoje, vou usá-las como uma mulher comum. Uma mulher com liberdade de escolha.

Visto o jeans com um collant branco e enrolo a bainha nos tornozelos. Ele tem um ajuste solto. Boyfriend é o que está escrito na etiqueta. E quando olho no espelho, não me reconheço, mas está bom. E decidi que não posso mais controlar meus dias contados, mas enquanto estou viva, vou viver.

No final do corredor, o escritório de Nikolai ainda está aberto. Eu descobri que ele raramente o tranca, mas provavelmente porque ele não tem nada a esconder lá dentro. É apenas uma mesa, computador, um telefone e seu uísque.

Dentro das gavetas da mesa, há algumas ferramentas essenciais de escritório, mas infelizmente não há uma tesoura. Há, no entanto, um abridor de cartas. É pesado e afiado, então acho que vai fazer o trabalho bem o suficiente.

Para minha satisfação, quando volto para o meu armário, descubro que faz. Ele rasga as blusas e vestidos com bastante facilidade, até o ponto em que começa a ficar maçante. Independentemente disso, eu não paro, até que o último pedaço esteja arruinado. E quando termino, olho para cima para encontrar Nikolai na porta, olhando-me com curiosidade.

“O que você está fazendo?” Ele pergunta.

“Quero roupas novas” digo a ele. “Você pode adicionar à conta do meu pai, certo?”

Espero uma briga com ele. O que não espero é o riso crescente e sorriso fácil que transforma seu rosto. É a primeira vez que o vejo tão sem defesa e isso me deixa sem equilíbrio.

“Sim, nós podemos adicionar à sua conta” diz ele. “Agora, venha aqui.”

Balanço meus joelhos e me levanto, movendo-me em direção a ele com uma consciência aguda de cada respiração sua. Ele parece cansado, mas tranquilo. Os olhos de céu azul me aquecem como o sol e mãos fortes, envolvem-me com conforto enquanto ele se aproxima.

“Eu gosto de você assim” ele murmura.

"Assim como?"

Seus olhos esculpem um caminho sobre o meu corpo. O corpo que sempre detestei. E mesmo que eu me sinta em casa em seus braços, não posso me sentir confortável. Eu tenho tantas dúvidas sobre o que ele vê quando olha para mim desta maneira. Ele é delirante ou sou eu?

Ele aperta meu queixo com os dedos, sua voz firme, mas gentil. "Pare."

"Parar o que?"

“Pare de pensar, zvezda” ele implora. “Acredite em mim uma vez, quando digo que você é bonita em todos os sentidos. Sim?"

“Ok” minto.

Sua respiração sopra sobre meu pescoço e ele beija o lugar onde meu pulso bate por ele. “Seria mais fácil se você me odiasse.”

Deixo meu rosto descansar contra seu peito quente, sentindo seu coração pulsar forte. “Você vai me arruinar, não é?”

“Pensei que já tivesse feito.”

Ambos ficamos quietos, então. Ele escolhe não aliviar meus medos e opto por não encará-los. Ele está certo de que seria mais fácil se eu o odiasse. Eu deveria odiá-lo por tudo que ele fez. Ele não pode me deixar ir e não posso fazê-lo.

Seus lábios encontram o oco da minha garganta e quando ele me beija, o fogo lambe ao longo da minha pele. Eu retribuo o favor, subindo na ponta dos pés para saborear a carne que é proibida. Aquela onde eu poderia deixar uma marca e espero fazer isso quando meus dentes roçam sua pele.

Ele resmunga quando sente e as coisas tomam um rumo rápido em seu favor. Prendendo-me à parede, ele agarra minha bunda e me levanta contra sua virilha latejante apunhalando calor contra minha barriga. As alças do meu collant descem, expondo meus seios como se ele fosse dono deles. Sua mão esfrega entre as minhas pernas e suas roupas raspam meus mamilos sensíveis. Eu pulo em cada toque, agarrando seus ombros e apertando minhas coxas em torno de seus quadris.

E aprendo algo novo, mas não surpreendente com meu captor. Ele morde de volta. Primeiro minha garganta e então, a minha clavícula e, finalmente, meus mamilos doloridos. No jogo de quem pode deixar a sua marca, é certo que ele ganhe, porque eu o sinto em todos os lugares. Manchas vermelhas cobrem minha pele onde ele me provou. Minha carne esta inchada e macia, uma prova de sua propriedade sobre mim.

Meus dedos torcem e puxam seu cabelo, tentando trazê-lo para mais perto para que eu possa fazer o mesmo. Quero mordê-lo. Quero marcá-lo. E mais importante, quero possuí-lo. Ele geme e morde minha orelha, seu hálito quente na minha pele.

“Você está se transformando em uma garota muito má” ele cantarola. “Algum dia, vou deixar você me marcar, pet.”

Algum dia.

O lembrete sempre presente de que isso é temporário. Eu tento empurrá-lo e ele me detém pelos pulsos, balançando a cabeça.

“Não fique zangada, meu doce. Será o seu corpo que vou tomar todas as noites.”

Para provar isso, ele puxa meu zíper para baixo e remove meu jeans. Em seguida, meu collant e num piscar de olhos, estou nua. Não é justo que ele não me dê a mesma cortesia, apenas me colocando no chão para abrir seu jeans e revelar seu pau. Mas quando vejo a carne bronzeada e pesada, minhas provações são logo esquecidas.

“Você está dolorida, zvezda?” Ele pergunta enquanto esfrega a cabeça inchada contra a minha pequena abertura.

“Sim” respondo.

Ele geme e empurra os quadris para frente, empalando-se dentro de mim. Eu grito e ele geme sua aprovação contra meu peito.

“Você deve sempre estar dolorida do meu pau” declara ele. “Você deve sempre lembrar quem é o seu dono.”

Ele aperta meus quadris, inclinando-os para atender às suas necessidades e minha cabeça cai contra a parede.

“Ponha as mãos para cima” diz ele. “E segure-me com suas pernas.”

Coloco minhas mãos para cima e ele as puxa para a parede junto com a dele. Minhas pernas pressionam em torno dele e é a única coisa que me segura enquanto ele balança os quadris para frente. Ele tortura meus mamilos com sua língua enquanto me fode e não há nada que eu possa fazer, além de suportá-lo.

“Esses peitos pertencem a mim.” Suas palavras são pontuadas por impulsos. “Assim como esta bunda. E esta buceta. Se você não entender mais nada, zvezda, então entenda isso. Você é minha."

Os impulsos dele se baseiam em cada declaração silenciosa, e confirmo que ele está certo quando o fogo do prazer corre pelo meu corpo. Espasmos me atravessam, forçando-me a me curvar e a contrair ao seu redor. Estamos ofegantes. Inebriados. Com fome de um para o outro. E não posso negar o quanto eu gosto disso. Ele está dentro de mim e por enquanto, ele também é meu.

Ele para embriagado, a confusão franze as suas sobrancelhas.

“Pare, pare” ele pede, mas não estou fazendo nada. Não posso fazer nada pela forma como ele me mantêm presa. Ainda assim, seus quadris que me pressionam, fazem uma parada e seus dedos beijam meu rosto. “Eu vou explodir se você continuar fazendo isso, zvezda.”

“Não estou fazendo nada” protesto.

“Está sim” ele insiste. “Você está me arruinando. Que porra você está fazendo?”

Mesmo no meu estado de espírito dopado, sou suficientemente consciente para reconhecer que é uma questão retórica. É uma pergunta para qual eu não tenho respostas. Então, fico quieta, observando-o enquanto ele alterna entre me foder e me amaldiçoar.

“Diga-me que você pertence a mim” diz ele.

Balanço a cabeça e aperto os olhos fechados, exausta.

“Diga que você pertence a mim e vou fazer você gozar todos os dias.”

Suas mentiras derramam sal na ferida amarga entre nós. Ele não tem o direito de dizer tais coisas.

“Eu não vou ser sua amante” digo a ele. "Eu prefiro morrer."

Dedos rígidos apertam meu rosto. "Olhe para mim."

Abro os olhos e os dele são chamas azuis. Ele empurra mais forte, mais rápido, determinado a provar que ainda está no controle enquanto goza dentro de mim. E no seu último suspiro, ele confirma o meu medo mais profundo.

“Você será o que eu quiser que você seja.”


Vinte e Um

 

 

"Kol'ka" a voz de Viktor me cumprimenta do outro lado da linha.

"Como você está?" Pergunto.

Não é incomum que ele me ligue, mas eu me sinto temendo mais esse momento a cada dia. Quanto mais minto para ele, mais perto estou de ser descoberto. Ele começará a fazer exigências em breve. Exigências que não tenho escolha senão obedecer. Esta é a vida que eu queria. Aquela em que nasci. E, no entanto, é sufocante.

"Estou bem." Ele responde. "Mas Ana tem perguntado sobre você. Ela está ansiosa para vê-lo na festa de Natal esta noite.”

Fecho meus olhos e me inclino para trás, grato por ele não estar aqui para testemunhar a tensão no meu rosto. "Estou ansioso para vê-la também."

As palavras parecem como uma traição para Nakya e é inquietante, para dizer o mínimo. Não lhe devo nada. O meu dever é que é importante.

"Ana pediu que você usasse uma gravata azul esta noite," diz Viktor. "Ela também estará de azul."

"Então vou pedir a Mischa que arranje uma."

"Eu creio que ele trará a moça?"

Sua declaração me pega desprevenido e parece que Mischa se esqueceu de mencionar esse detalhe.

"Ele vai" asseguro-lhe. "Vamos ir juntos."

"Muito bom." Diz ele. "Eu sei que ela não é russa, no entanto, talvez seja uma companheira adequada para ele. Um bom brinquedo de qualquer maneira."

Meus dentes se juntam tão violentamente que a força reverbera através do meu maxilar.

A linha está silenciosa e sei que cabe a mim, preenchê-la. A cortesia dita que eu deveria dizer amabilidades sobre suas filhas e apagar as suspeitas que ele possa ter sobre Nakya. Mas eu não posso forçar as palavras, por mais que tentasse.

Viktor aproveita para preencher a lacuna. "Suponho que devo dizer-lhe que Manuel não ficou satisfeito com o pacote entregue à sua porta."

"Não imaginei que ele ficaria."

"Se nada mais funcionar, isso irá motivá-lo a pagar sua dívida. Ou talvez eu apenas suponha o melhor dele. Imagino que também poderia provocar que ele escreva para sua filha."

"Eu não sei o que ele fará," admito. Mas nenhuma dessas opções é o melhor para Nakya.

"Como você está indo com sua busca por respostas?" Pergunta Viktor.

"Vou tê-las em breve." Eu minto.

Outro silêncio. Ele não acredita em mim e não deveria. Não é que eu fosse desonesto com ele. Não é que eu traía minha irmandade por conta de meus próprios desejos egoístas. Mas é a cama que fiz para mim.

"Espero que sim, Kol'ka" diz ele. "Você está ficando sem tempo.”


"Você pegou minha gravata?"

Mischa balança a cabeça, jogando uma sacola de compras na cama. Ele está usando calças novas e uma camisa social preta e não deixei de notar que seu cabelo está recém-cortado também. Embora possa ser costume usar o nosso melhor para a festa de Natal anual, não suprime a vontade de espancá-lo na cara.

Eu rasgo a sacola e pego minha gravata nova.

"Eu disse para você conseguir uma azul, seu doorak12.”

"Você especificamente me disse para conseguir uma vermelha." Ele responde.

Solto mais alguns insultos sobre sua inteligência enquanto respiro. Eu disse especificamente para ele conseguir uma vermelha, mas nunca o admitirei.

Não é culpa de Mischa ter sido colocado nesta situação. Não é culpa de ninguém, mas minha. Mas isso não significa que eu possa ser civilizado sobre isso.

O único consolo que tenho é que, enquanto Nakya estiver em seus braços esta noite, é o meu gozo que ainda estará escorrendo pelas suas pernas. Ela não teve tempo para questionar os meus motivos quando invadi seu quarto esta tarde e dobrei-a sobre a cama, fodendo-a duas vezes para provar meu ponto de vista.

Ela pertence a mim. E logo, ela irá reconhecê-lo com seus próprios lábios.

"Sabe, se isso incomoda você" diz Mischa, "eu poderia ser necessário em outro lugar esta noite. Uma situação inevitável aparece e podemos evitar esse problema por completo.”

"Que problema?" Encolho os ombros em meu terno, evitando seus olhos. "Não há um problema."

"Se você quiser minha opinião..."

"O que eu não quero."

"Como seu amigo, acho que precisa ser dito." Ele persiste. "Se você não conseguir lidar com esta situação agora, isso vai acabar mal para todos nós."

"O que há para lidar, Mischa?"

"Está escrito no seu rosto, Kolyan. E se eu posso ver sua obsessão por essa garota, você acha que vai demorar muito para que os outros também percebam? Viktor já tem dúvidas.”

"Cristo." Eu esfrego meus olhos cansados. "Preciso de um maldito cigarro."

Mischa finalmente se torna útil fornecendo-me um. Eu ando até a janela, descansando na borda enquanto sopro a fumaça no vazio escuro da noite.

"Se isso faz alguma diferença, deve saber que eu nunca a tocaria."

Encontro seu olhar e sorrio. "Eu sei. Porque eu iria matá-lo se você tocasse.”


Vinte e Dois

 


Como parte do meu exercício de libertação, eu tomo uma decisão muito séria de me atrever com minha maquiagem esta noite. O dourado sempre combinou bem com o tom da minha pele, mas meu pai sempre achou que era vulgar. Hoje à noite, aplico-o em camadas, cada uma um pouco mais arrojada do que a anterior. Eu já tinha usado delineador para performances de balé antes, então não demora muito para adicionar uma linha perfeita aos meus olhos. O último toque é uma tonalidade ousada de batom vermelho, que acabo aplicando e removendo várias vezes antes de encontrar a coragem de deixá-lo.

Não importa, mas levei as orientações de Nikolai para o coração. Depois que ele me fodeu como um selvagem esta tarde, ele me deu um vestido vermelho e me deixou com uma instrução para esta noite. Simplesmente, devo ser a mulher mais bonita da sala. Uma tarefa difícil e impossível de alcançar. Mas quando penso na alternativa, vale à pena todos os esforços.

A porta do meu quarto se abre e pela segunda vez hoje, Nikolai o invade. Desta vez, ele também tem Mischa a reboque. Eu olho para cima da minha penteadeira e sugo uma respiração. Os dois realmente são uma visão a contemplar, mas é Nikolai que rouba o espetáculo.

O terno preto sob medida é uma obra prima e tenho pena de qualquer homem que esteja ao lado dele esta noite. Mas pior, já invejo a mulher que vai estar nesse lugar.

Meu coração aperta e absorvo a dor, saindo do meu assento para cumprimentar os dois homens. A posse de Nikolai é sentida em cada centímetro da minha pele enquanto seus olhos me varrem, mas a satisfação é de curta duração.

"Você deve ficar perto de Mischa esta noite.”

Suas palavras me atingem profundamente e olho para Mischa, que parece tão em paz com a ideia como estou.

Não sei o que é melhor ou pior. Estar presente para testemunhar o encontro de Nikolai com Ana ou ser deixada para trás em casa. Independentemente disso, a decisão não é minha.

"Tudo bem."

"Você tem mais cinco minutos." Nikolai olha seu relógio. "Encontre-nos no andar de baixo quando terminar."

Ele sai e eu gasto todos os segundos dos próximos cinco minutos pensando em razões para odiá-lo.


A viagem de carro está tranquila. Mischa e Nikolai estão na frente e estou na parte de trás. Eles mal falam um com o outro ao longo do caminho e a inquietação latente entre nós é tão pegajosa que é difícil respirar.

Quando finalmente chegamos ao complexo, eu pulo do carro e pego bocados de ar fresco na primeira oportunidade. Nikolai se vira para me olhar brevemente antes de me guiar para mais perto de Mischa. É hora de entrar, mas nenhum de nós se move. A mão de Nikolai ainda está no meu braço e ele não está deixando ir.

"Kolyan." Mischa sussurra em voz baixa.

Seu tom é um aviso. As ações de Nikolai estão atraindo a atenção indesejada dos homens na porta e este é um jogo perigoso de alto risco que ele está jogando. Mas ele não parece estar ciente das consequências, ou mesmo consciente do que está acontecendo ao nosso redor. Seus olhos estão sobre mim, atordoados e incertos.

Levanto-me para me afastar de seu alcance, optando pelo braço de Mischa. Minhas motivações não são claras, mesmo para mim. Talvez seja rancor. Talvez seja ciúme. Ou talvez eu simplesmente não queira colocá-lo em perigo de forma alguma. Se for verdade, é uma missão tola. Eu deveria saber agora que a única em perigo sou eu.

A distância entre nós parece fazer Nikolai voltar a si e ele avança na nossa frente, deixando Mischa e eu para trás. Mischa não olha para mim e por isso, estou grata. Eu faria bem em apagar da minha memória à noite em que lhe ofereci minha virtude. Mas a vergonha não é apenas minha para suportar. Tenho certeza de que Mischa provavelmente se lembrará disso pela eternidade.

Os homens à porta nos param e trocam saudações e novamente me lembro da minha insignificância neste mundo da Vory. Eu não sou esposa ou mesmo uma namorada e, portanto, sou a presa fácil para seus olhos errantes.

Lá dentro, Viktor e sua filha são rápidos em nos cumprimentar. Ele parece estar de bom humor, mas o rosto de Ana cai e seu pai percebe rapidamente.

"Você está usando vermelho" observa Viktor, seus olhos observando a gravata de Nikolai.

Nikolai responde em russo, culpando Mischa pela confusão, mas não é o bastante para aliviar a infelicidade de Ana. Eu não percebi isso antes, ou talvez eu simplesmente deduzi que se tratava disso. Mischa e Nikolai estão usando gravatas vermelhas e estou usando um vestido vermelho. Viktor não parece pensar que é uma coincidência, enquanto seus olhos se movem de Nikolai para mim, seus lábios se curvando com desgosto. Ele diz que gostaria de falar com Nikolai em particular e eles desaparecem no corredor.

Quando somos chamados a jantar minutos depois, parece que, por enquanto, a questão foi resolvida. Viktor retorna com expressão festiva, um braço em torno de Ana e o outro em torno de Nikolai.

Mischa e eu estamos sentados mais abaixo da mesa, longe dos noivos. Eu me concentro na comida servida e me ocupo tentando identificar cada prato. É uma festa composta por alimentos e iguarias tradicionais russas. Alguns dos quais eu conheci no meu tempo com Nikolai, mas a maioria dos quais ainda estou conhecendo.

A refeição não é tão atraente como deveria ser. Eu gasto a maior parte do tempo empurrando a comida no meu prato e tentando desviar minha atenção do outro lado da mesa. Em mais de uma ocasião, sinto os olhos de Nikolai em mim, mas não me atrevo a olhar para cima. Com certeza, ele vai querer me punir por não comer, mas com certeza não me importo.

Quando os pratos estão limpos, o grupo é introduzido em outra sala para bebidas e conversas. Mischa e eu permanecemos um do lado do outro, sem palavras. Mas não demora muito para que Nikolai rapidamente emita uma ordem.

Devemos encontrá-lo perto dos banheiros em cinco minutos.

Meus membros estão rígidos e eu sinto a sensação distinta de que estou caminhando numa corda bamba enquanto cruzamos o corredor. Mischa também parece nervoso e quando Nikolai chega para nos encontrar, as palavras são trocadas entre eles.

Só posso capturar algumas conversas em sua língua nativa, uma vez que estão falando tão rápido. Mas da essência disso, entendo duas coisas. Uma é que Mischa acha que Nikolai está sendo um idiota e a segunda é que Nikolai está no comando, por isso não importa o que Mischa pensa.

Nikolai lhe ordena para ficar de guarda fora da porta e então ele me empurra para dentro. O bloqueio clica atrás de nós e eu tento me afastar. Dou dois passos antes que ele me detenha presa novamente.

"Por que você está fazendo isso mais difícil do que deve ser?" Ele exige.

"Eu não fiz nada" respondo em um estalo. "Você está com raiva porque não pode controlar essa situação."

O resto de minhas palavras é engolida pelos seus lábios. O beijo é violento e possessivo e o seu abraço é brutal. Em segundos, ele destrói o penteado que passei uma hora preparando quando seus dedos emaranham no meu cabelo. Eu deveria me importar que ele esteja agindo como uma criança, mas alívio é tudo o que sinto.

Ele me quer e não ela.

"Diga-me que você pertence a mim." Ele sussurra. "E vou te foder docemente."

Fecho meus olhos e respiro-o. Cravo, fumaça e perigo. Há tanto que ele já tirou de mim, mas não é suficiente. Ele quer tudo e não vai se contentar até que ele tenha minha alma também. Mas eu me recuso a cair nisso. Eu me recuso a dar-lhe tudo quando sou a única que perderá no final.

Quando ele reconhece a rejeição no meu rosto, seus olhos piscam e ele me abaixa em meus joelhos.

"Faça como quiser, então. Eu vou te deixar suja, meu pet.”

Ele desabotoa sua calça e me puxa para frente, segurando meu cabelo, esfregando meu rosto contra a protuberância em sua cueca. Ele já está duro como um tijolo e há um local pequeno e úmido onde seu pré-sêmen vazou. Evidência de que ele está pensando nisso desde o jantar.

"Chupe-me." Ele exige. "Mostre-me como uma bailarina bonita fica com um pau na garganta."

Não consigo me mover, mesmo se tentasse. O seu domínio sobre mim é inflexível e, no entanto, sua cueca ainda está no caminho. Ele não parece estar com pressa para removê-la enquanto se esfrega contra meu rosto. Em vez disso, ele desata o topo do meu vestido frente única, deixando as tiras de seda caírem para que meus seios fiquem expostos e disponíveis para ele. Eles já estão sensíveis e eu salto quando seus dedos raspam no meu mamilo.

Nikolai parece considerar isso uma vitória, pois ele oferece um sorriso cruel. "Consegue ver, pequena estrela? Não é tão ruim ser um brinquedo. Eu vou fodê-la sempre que quiser e você vai gostar porque é pervertida como eu.”

Tento balançar minha cabeça. Eu quero negar isso. Mas ele faz suas palavras serem verdadeiras quando ele puxa a cueca e empurra seu pau na minha cara. Eu posso cheirar sua excitação e isso me desperta. Eu não quero que ele esteja certo, mas preciso desse ato sujo e depravado com ele. Preciso que ele me foda neste banheiro para provar que sou tudo o que ele precisa. E ele vai me dar uma lição que não vou esquecer quando força seu pau na minha boca, até a parte de trás da garganta.

Eu engasgo e ele acaricia meu rosto.

"Minha bonequinha pervertida" ele elogia com a respiração irregular. "Você gosta desse pau em sua boca?"

É uma pergunta que não consigo responder por que minha boca está cheia dele. Ele não está procurando uma resposta de qualquer maneira. Ele só está querendo me foder.

E ele faz.

É rude e desleixado. Isso não serve para nenhum outro propósito além de trazer alívio imediato. Seus quadris balançam e rebolam enquanto ele se arrasta dentro e fora da minha boca. Ele é muito grande para se encaixar totalmente, mas não faz diferença. É o suficiente para ele.

Ele inala bruscamente e xinga a cada movimento. Eu posso estar ajoelhada aos seus pés, mas agora ele é meu escravo também. Quero suspender este momento no tempo. Quero mantê-lo pendurado no limite da agonia para sempre. Mas o controle sempre volta para ele.

Longos cílios escuros varrem suas bochechas enquanto ele se inclina para frente, segurando-me no lugar enquanto seu pau estremece na minha boca. Não há conversa sobre tirar. Ele não quer, e depois da minha rejeição, está determinado a provar que é meu dono.

Eu não estou disposta a ceder tão facilmente e quando ele tira da minha boca, eu cuspo no chão. Em face ao meu desafio, ele me oferece um sorriso preguiçoso.

"Eu deveria fazer você lamber isso."

"Você poderia tentar" eu o desafio.

"Acho que você gostaria muito," diz ele.

Usando o meu cabelo como uma âncora, ele limpa seu pau amolecido na minha bochecha, espalhando a última gota na minha pele. Olho para ele e ele me oferece sua mão. Ele me leva até a pia e vejo-me no espelho, chocada com o que vejo. Batom manchado e rímel escorrendo pelo meu rosto. Cabelo emaranhado e pele manchada.

Seja qual for a satisfação que eu tenha tido neste momento, está desaparecendo rapidamente. Em apenas alguns momentos, Nikolai retornará aos seus deveres como o futuro marido de Ana e esquecerá o que aconteceu aqui. E fico me perguntando se em breve ele me esquecerá também. Quando Ana usar seu anel e sua estrela, ele a tomará como quiser. Isso deixa um gosto amargo em meus lábios e já o odeio por isso.

"Você está bonita assim," Nikolai diz enquanto molha uma toalha. “Suja e usada por mim. Eu gosto muito disso, zvezda.”

"Suponho que sua esposa nunca parecerá assim," eu respondo. "Você provavelmente irá tratá-la de forma diferente, considerando que ela é filha de Viktor."

Ele esfrega a parte de trás do pescoço, sua tensão retornando. "Não fale de coisas que você não sabe."

“Eu sei mais do que você acha. Você se casará com ela e não faz sentido negar isso. Quanto mais tempo você me mantém, mais arrisca o seu futuro e meu. Então, estou implorando para você agora, Nika. Deixe-me ir antes que você se canse de mim. Deixe-me encontrar minha própria felicidade e me lembrar de você desse jeito antes que tudo se estrague."

"Você é uma menina corajosa." Ele se inclina para que suas palavras escovem meus lábios. "Mas você sabe que não posso deixá-la ir, Nakya. Eu roubei você e vou mantê-la até que esteja pronto para dizer adeus."

Não é uma admissão de seus sentimentos. Com toda a certeza, essas palavras podem significar qualquer coisa. Ele gosta de me quebrar para poder me juntar novamente.

A prova está em suas ações, que me enfraquecem golpe a golpe. Uma gentil carícia da toalha, o alisar no meu cabelo. A amarração do meu vestido e o beijo suave e delicado que ele deixa em meus lábios. Talvez sejam toques doces.

Ou talvez ele esteja apenas limpando as evidências.


Vinte e Três

 


Nikolai sai do banheiro primeiro, dando-me tempo para recobrar meus pensamentos e reforçar minha armadura emocional. Quando saio, Mischa está esperando por mim no corredor, seu rosto sem emoção. Como Nikolai, ele possui fortes características eslavas. Olhos pálidos e a estrutura facial de um Viking. Ele tem todos os atributos que o tornariam considerável para uma ampla audiência de mulheres, mas não sou uma delas. Parece que o sentimento é mútuo porque, enquanto está em pé, ele mal pode olhar para mim.

"Desculpe," digo a ele. "Sobre aquela noite..."

"Você não tem nada para se desculpar" ele responde. "E provavelmente será melhor se nunca mais falarmos disso."

Eu aceno com a cabeça e nós dois ficamos quietos novamente. No fim do corredor, parece que a dança teve início. Eu não sei se vou estar pronta para o que o resto desta noite reserva, mas prefiro acabar logo com isso e então me esconder. Mischa, no entanto, tem outras intenções. Quando achei que a conversa estava encerrada, ele toca meu braço para chamar minha atenção.

"Seus sentimentos por ele são genuínos?" Ele pergunta. "Ou você está fazendo o que acha melhor para sua própria situação?"

Sua insinuação me abala. Pensar que ele tem o direito de questionar meus motivos é além de risível.

"Você está me perguntando se eu o amo ou o odeio?" Eu reflito. "Então depende do dia. Da hora. Às vezes, do minuto.”

Mischa examina meu rosto. Não era minha intenção pronunciar aquela palavra horrível. Amor. Sua acusação me perturbou e eu não estava pensando direito. Mas, claro, Mischa não vê isso assim.

"Ele não pode ficar com você, Nakya," diz ele. "Você precisa saber disso. Tudo o que está acontecendo entre vocês dois, não importa. Ele nunca poderá ficar com você.”

Engulo a amargura na garganta e endireito minha espinha. "Eu sei."

"Se você realmente se preocupa com ele, então faça o melhor para ele. Saia enquanto ainda pode. Vá para algum lugar longe e esqueça seu nome. Esqueça sua vida antiga, sua família e qualquer mundo que tenha existido para você.”

"Essa é uma solução fácil para você" respondo. "Você vai me ajudar?"

Ele abaixa a cabeça. "Eu não posso."

"Então não me diga para escapar. Não tenho para onde ir. Sem dinheiro, sem recursos -”

"Encontre um caminho." Ele insiste. "Você é filha de um criminoso. Não deve ser tão difícil para você descobrir. Você teve uma criação difícil e é uma sobrevivente. Se quer viver, então vá embora.”

As verdades duras doem e desta vez não é exceção. Eu sei que Mischa está certo. Nikolai está muito cego por seu conflito pessoal para fazer o que é necessário nesta situação e, em breve, será muito tarde. Já o anseio. Eu sinto falta dele quando ele se vai e antecipo a menor interação que podemos ter. Não é saudável. Eu me apeguei à ilusão de que meu captor também pode ser meu salvador, mas não é possível.

Preciso ir embora. Mas algo ainda está me segurando. Não estou pronta para deixá-lo ir, e não posso admitir isso a Mischa agora.

"Eu tentarei encontrar um caminho" resmungo.

Mischa balança a cabeça. Pelo bem de seu amigo, ele quer acreditar em minhas palavras. Por causa da minha sanidade, quero acreditar nelas também.

Andamos pelo corredor juntos, entrando no campo de batalha. O riso e a música assaltam meus ouvidos e, ao nosso redor, a alegria está em pleno andamento. Entre o beber e o brindar, as conversas e as danças, tento encontrar meus propósitos. Eu não pertenço a esse lugar. Esta é uma ocasião para celebração e não tenho nada para comemorar. Todo mundo está felizmente embriagado, brilhando em suas roupas elegantes e a coisa mais chocante de tudo é que o amor está presente também. Há tantos casais apaixonados. Eu nunca teria acreditado se não tivesse visto por mim mesma, mas talvez o que Nikolai tenha dito é verdade. Não há nenhum homem que guarde sua esposa com maior consideração do que um Vory. E no epicentro de todo esse amor está o homem que nunca poderá me amar, dançando com sua futura esposa.

Vê-lo com ela depois que ele tinha acabado de me deixar me faz vacilar. Eu esperava isso. Pensei que estava preparada para isso. Mas só nutre a doença dentro de mim. A crença de que nunca serei suficiente. Meus braços ficam moles em cada lado do meu corpo e eu me sinto muito fraca para me mover.

O tormento me choca de volta à realidade. E esse é o lembrete que eu precisava de que é hora de ser forte. Talvez o que eu disse a Mischa não foi uma mentira depois de tudo. Talvez em breve, serei forte por conta própria. Longe deste mundo e longe da máfia.

"Não olhe" diz Mischa. "Só vai piorar."

Eu retiro meu olhar de Nikolai, grata que Mischa esteja aqui para me impedir de me fazer de tola.

"Dança comigo?" Pergunto.

Ele morde o lábio enquanto pensa em uma resposta. É uma pergunta perigosa, e provavelmente não é justa para ele. Mas quero fazer algo para tirar Nikolai de minha mente.

"Ele provavelmente vai me matar por isso." Ele me oferece sua mão. "Mas vale à pena dizer que dancei com a garota mais bonita do salão."

"Você está apenas tentando fazer com que eu me sinta melhor."

"Eu não mentiria sobre isso." Ele sorri. "Eu vi você nua, lembra?"

"Acho que você estava certo quando disse que seria melhor que nunca mais falássemos daquela noite.”

Ele ri. E nós dançamos. Por alguns minutos, sou apenas uma garota com um vestido vermelho. Não uma prisioneira. Não uma bailarina. Não uma princesa mafiosa. Mischa me faz sentir à vontade, mas ele não faz meu coração vibrar. Eu queria que ele fizesse. As coisas seriam mais fáceis se fosse ele. Mas não é ele e quando a sombra de Nikolai cai sobre nós, ele deixa isso muito claro.

"Mischa" ele fala. "Há negócios no Kosmos que requerem sua atenção."

Mischa balança a cabeça, renunciando a mim. "Certo."

Ele não pergunta que tipo de negócio exige sua atenção imediata porque eles não existem. Nikolai só queria que ele fosse embora. E uma vez que Mischa se despede, sou o próximo item em sua agenda.

"Sente-se com as mulheres." Ele ordena. "É hora de os homens fazerem negócios."

Eu deixo o homem das cavernas com um olhar penetrante e nada mais. Ele não merece minhas palavras ou a respiração que exigiria para pronunciá-las.

As mulheres estão reunidas em uma sala adjacente cheia de mesas e cadeiras. Divididas em pequenos grupos, elas bebem e fazem fofocas entre si. Atravesso a multidão e escolho uma área vazia na parte de trás onde posso estar sozinha com meus pensamentos.

No lado oposto do andar, os homens cuidam dos seus negócios, o que realmente significa beber uísque e fumar charutos. Isso, pelo menos, é o mesmo em toda cultura mafiosa.

"Tanaka."

Parece que meu santuário não está seguro de todos porque Alexei me encontrou. Ao lado dele, uma mulher fantasmagórica se apega ao braço dele. Pessoalmente, sua esposa parece mais assombrada do que eu imaginava. Trágica, é a única palavra que posso pensar para descrevê-la. Ela é linda e pálida, mas vazia.

Dou-lhe um sorriso reservado e Alexei suaviza as palmas das mãos sobre seus ombros. "Você vai ficar bem, Solnyshko. Você tem sua estrela, sim?”

Ela toca a tatuagem em sua mão onde seu marido deixou sua marca nela e um pequeno fogo de ciúme acende dentro de mim. Eu não quero ser uma propriedade. Mas a maneira como seus olhos se amolecem quando eles caem nela, torna óbvio que ele a ama. Ele faria qualquer coisa por ela. E isso é o que sua estrela significa.

"Estarei a poucos passos de distância se precisar de alguma coisa." Diz ele.

"Está bem."

Alexei a solta relutantemente e ela vem se sentar ao meu lado. Há uma lacuna de silêncio incomum na qual eu tento descobrir a melhor abordagem para esta situação. Alexei queria que eu fizesse amizade com ela. A menina passou por todos os nove círculos do inferno e ela precisa de uma aliada neste novo mundo estranho. Ela não nasceu na máfia e isso é evidente quando seus olhos vagueiam pela sala.

"Eu também não me encaixo aqui."

"O que você quer dizer?" Sua resposta é falada com uma voz suave e infantil.

Eu decido fazer uma abordagem honesta com ela. Alguém que passou por tantos traumas como ela passou, sem dúvida, dificilmente confia em alguém. Mas se eu equilibrar as coisas, ela pode se abrir.

"Eu sou simplesmente uma garantia" explico. "Meu pai deve uma grande quantia e estou em débito com Nikolai até que ele venha para resolver isso."

"Oh. Quando você acha que será?”

"Nunca" respondo. "Ele não pode pagar."

Os olhos dela se arregalam e ela parece atingida pelo pensamento. "Então, o que acontecerá com você?"

Eu olho para o outro lado da sala, procurando subconscientemente meu captor e parece que Ana não é a única candidata para o seu afeto. Há ainda outra mulher que não conheço caminhando e se aproximando dele. Forço minha atenção de volta a Talia e aperto minhas mãos no meu colo. "O que Nikolai decidir."

Ela fica calada por um tempo e acho que talvez eu tenha tomado uma abordagem errada depois de tudo.

"Eu também fui uma garantia" ela desabafa.

Ofereço-lhe um sorriso. "Eu sei."

"Sabe?"

Não quero manchar nossa amizade, então não mencionarei as coisas que Alexei me disse. Seria uma falácia dizer que suas intenções são a única razão pela qual nos encontramos reunidas nesta noite, quando realmente quero ser sua amiga. Ela seria a única verdadeira amiga que já tive.

"Ouvi Nikolai mencioná-la." Eu digo.

"Ah."

Nós caímos em um silêncio natural, observando o caos que nos rodeia. Mas é difícil ignorar o olhar flagrante de nossas companheiras femininas. Talia agita-se ao meu lado, a tensão penetrando em seus traços.

"Não se preocupe. Você vai se acostumar com isso. Elas não gostam de você porque nunca será você."

Suas sobrancelhas se franzem juntas. "Eu não entendo."

"Seu marido." Aceno para a outra sala. "Ele é o conselheiro de... Viktor. Ele supera os maridos delas em todos os sentidos, o que significa que você também.”

"Ah."

"Elas são muito tradicionais," explico. "Você vai começar uma família em breve, não é?"

"Isso é o que Alexei diz." Ela torce as mãos no colo.

"Ele é bonito. Você é sortuda. Nikolai fala muito bem dele."

"Ele fala?"

"Fala." Asseguro-lhe. "Eu acho estranho, porém, como eles parecem semelhantes em alguns aspectos, não é?"

Não tenho certeza de por que eu mencionei isso. Não é o meu lugar, mas sinto que pode ser importante para ela saber. A nova amiga em mim quer dar-lhe todas as vantagens possíveis para sobreviver a este mundo. E enquanto a rivalidade entre Alexei e Nikolai ainda vive e respira fogo, Talia faria bem em evitar cutucar o dragão.

Ela não tem a chance de responder ao meu pensamento. Uma sombra indomável cai sobre nós e, antes mesmo de olhar, eu sei que só poderia ser um homem.

"Nakya."

Nikolai se instala na minha frente, contrito. As sombras sob seus olhos são mais pronunciadas nesta luz, e eu me pergunto se ele dormiu bem. Mas então eu lembro que não devo me importar. Ele me diz que vamos sair em breve e depois volta à atenção para a minha nova amiga.

"Talia, não tive a chance de me apresentar adequadamente."

Ela olha para mim procurando aprovação e acho que ela está confusa com o gesto. Após sua experiência com os homens em geral, não é de admirar, mas estou surpresa com a suavidade de Nikolai. Percebendo seu medo, ele se ajoelha em nosso nível, tentando deixá-la à vontade.

"Eu preciso falar com você." Ele diz com uma voz baixa.

Seus olhos ainda estão no meu rosto e faço o melhor que posso para lhe assegurar que vai ficar bem. Nikolai pode ser muitas coisas, mas sei que ele não vai magoá-la e quero que Talia saiba disso também.

"Alexei não vai me ouvir." Ele começa. "Mas eu sei que ele vai te ouvir. Sergei não vai deixar isso passar. Muito menos Katya, nesse sentido. Vocês dois devem ter cuidado.”

Eu não sei do que ele está falando, mas parece que Talia sim. Ela não tem a chance de responder. Do outro lado da sala, Alexei nos vê e agora ele está determinado a dispensar Nikolai.

Nikolai ergue-se enfrentando seu irmão novamente. Eles continuam a argumentar em russo, a mesma questão de disputa entre eles. De alguma forma, ela sempre volta para Katya. Simpatizo com Alexei. Tal traição por seu irmão certamente deixaria uma cicatriz permanente e não posso imaginar, por mais que tente, porque Nikolai poderia machucá-lo dessa maneira.

Para não permitir que seus temperamentos arruínem outra noite, a discussão desaparece. Mas Nikolai não deve ser o único receptor das hostilidades de Alexei. Quando ele se vira para puxar sua esposa da cadeira, suas palavras são ásperas e injustas.

"Vá para o banheiro e recomponha-se. E quando você voltar, talvez possa passar a noite com uma melhor opinião.”

Talia se encolhe em face de sua explosão não provocada e sinto a necessidade de protegê-la.

"Eu vou acompanhá-la."

"Você não vai," responde Alexei. "Ela deve aprender como se comportar nestes eventos."

Talia sai e eu faço uma careta para seu marido. Pensei que ele fosse um homem respeitável, mas, assim como Nikolai, ele permite que seu orgulho teimoso governe sua vida. Ele é um tolo e eu gostaria de dizer isso a ele, mas se quiser ver Talia novamente, será melhor guardar meus pensamentos comigo.

Talia se foi há mais tempo do que eu esperava e quando ela finalmente retorna, seu rosto está com lágrimas e ela está visivelmente abalada. Mas quando ela procura o marido, só piora. Ele está do outro lado da sala com a mesma mulher que estava bajulando Nikolai anteriormente. Instintivamente, eu sei que deve ser Katya.

Sem aviso, Talia desmorona e corro para o seu lado. Nikolai não está muito atrás e antes que eu possa decidir o que fazer, ele a ergue em seus braços e a leva até o corredor. Encontramos uma espreguiçadeira vazia e ele a deixa tão confortável quanto pode enquanto sento ao lado dela, alcançando sua mão.

É o único suporte que tenho para oferecer. Quando tentamos conversar com ela, ela foi a outro lugar em sua mente. Nossas perguntas permanecem sem resposta e ela olha para o nada.

"Chame Alexei." Nikolai me instrui.

Não quero deixá-la, mas faço como me diz.


Vinte e Quatro

 


A esposa de Alexei está desanimada e obviamente traumatizada, mas há pouco que possa fazer por ela. Eu permaneço quieto ao seu lado, uma presença constante até Nakya retornar com Alexei. Ao invés de ver a situação que está ocorrendo, ele perde a linha assim que desce pelo corredor.

Eu me levanto para encontrá-lo, mas ele não está em estado de ouvir o que tenho a dizer. Ele reage com o punho primeiro. Eu me esquivo do golpe, mas não sou um homem para recuar. Estou preparado para colocá-lo em seu lugar quando Nakya se insere entre nós, palmas levantadas e rosto severo.

Em russo, ela calmamente nos informa que este não é o momento ou lugar, redirecionando nosso foco para Talia. Demora um minuto para eu registrar que está falando minha língua materna. Minha pequena mentirosa está bastante à vontade com a linguagem, mas articula-se como a maioria dos iniciantes, de forma lenta e sucinta. Ela escolheu um momento inoportuno para tirar o truque do chapéu, por enquanto, deixo isso para lá.

Ela estava certa em redirecionar nossa atenção de volta para Talia, e espero que Alexei veja isso também. Como eu, seu temperamento geralmente o tira do sério, e ele acha difícil admitir quando está errado. Não querendo irritar mais Talia, optamos por continuar nossa conversa em uma mistura de russo e inglês.

"Eu deveria matá-lo por ter se atrevido até mesmo a olhar para minha esposa," diz Alexei.

"Faça o que você deve." Suspiro. "Eu estava confortando-a como você deveria ter feito, em vez de fazer este jogo que continua a fazer."

Alexei olha para sua esposa e, ainda assim, sua reação padrão é duvidar de sua lealdade.

"Se você deseja punir alguém, Lyoshka, então tem que ser eu. Não ela. Ela não fez nada de errado, e ainda assim você a trata como se...”

"Não me diga como me comportar. Este é o meu casamento. Meu negócio."

"Eu não estou dizendo a você como um Vor" digo. "Estou lhe dizendo como seu irmão. Este não é o homem que eu conheço.”

O silêncio se instala sobre nós. Alexei parece confuso com minha admissão aberta do nosso DNA compartilhado. Ele acredita que é a maior vergonha de Sergei, mas ele deve saber que não é a minha.

"É hora de pôr fim a isso, bratan."

Ele estufa o peito e a boca se transforma em um sorriso desdenhoso. "Sim, eu acredito que sim."

Não há como confundir as palavras como uma ameaça. Ele me superou e tem Viktor a seu favor. Alexei precisaria falar muito pouco para mudar a opinião de Viktor sobre mim. Se ele alguma vez escolher divulgar minha indiscrição com Katya, o pakhan pediria minha morte sem um segundo pensamento.

"Sinto muito pelo jeito de fazer as coisas com Katya." Digo. "Mas eu não me arrependo de fazer isso, Lyoshka. Ela te enganou.”

"Não estamos discutindo isso." Ele responde.

"Você tem que saber que se você tivesse se casado com ela, teria arruinado sua reputação dentro da Vory."

"É sua reputação que deve ser arruinada" Alexei zomba. "Você pode ter a aprovação de Sergei, mas você não é um homem de honra. Você não merece as estrelas que tem.”

Se o insulto tivesse vindo de qualquer outro homem, eu teria cortado sua garganta. Mas este é o meu irmão e estou cansado dessa batalha entre nós. Estou cansado de nossas palavras desperdiçadas.

"Você sempre teve ciúmes de mim, bratan."

Alexei está preparado para entregar outro golpe igualmente vicioso com a língua quando levanto a mão. "E eu sempre tive ciúmes de você."

Ele não responde e duvido que ele acredite em mim. A pior parte das palavras cruéis que Sergei dirigiu ao seu primeiro filho é que Alexei acredita nelas. Se seu pai diz que ele é defeituoso, deve ser verdade. Se seu pai diz que ele não tem valor, como ele pode argumentar isso? Para agravar o problema, o carinho de Sergei por mim só aumentou seus problemas.

"Sinto muito por qualquer dor que lhe causei Lyoshka. Seja o que for que você escolher, eu respeitarei sua decisão como um homem e um Vor. Se você deve me enviar para morrer para que você possa ter paz, então imploro que faça isso. Mas eu terminei com essa guerra entre nós.”

O meu apelo é genuíno e espero que Alexei possa reconhecer isso. Mas ele não me responde e nós estamos sem uma resolução definitiva quando Katya faz uma aparição. Como sempre, o momento não é ideal. Mas eu recuso a dar-lhe um minuto do meu tempo ou atenção, então me junto a Nakya, ficando ao seu lado.

"Sua esposa parece doente,” observa Katya. "Você deve permitir que minha empregada cuide dela para que você possa voltar e curtir a festa, Lyoshka."

Ela balança a linha, mas Alexei não morde.

Ele olha para Talia e seus olhos se suavizam. "Vou levá-la para casa."

"Mas você não pode," insiste Katya. "Ainda há muito mais por vir. Trabalhei tanto no planejamento -”

"Minha esposa é mais importante do que a sua festa." Diz ele. "Ela é a mulher mais importante da minha vida."


A viagem de carro para casa com Nakya é tão agradável quanto eu esperava. Ela está cansada ou com raiva, mas se tivesse que arriscar um palpite, não seria difícil decidir onde os dados cairiam.

Não foi o meu melhor momento, usá-la no banheiro, apenas para abandoná-la por Ana momentos depois. Provavelmente há muitas coisas que devo dizer nesta situação, mas há apenas uma coisa que posso fazer.

Não posso dar-lhe esperança quando não existe. Não vou fazer com ela a desonra de mentir sobre nosso relacionamento condenado. Mas isso não muda o fato de que o pensamento dela com outra pessoa me cega com fúria. Ela tem todo o direito de me odiar. Ela ganhou esse direito. Mas talvez apenas uma vez, eu gostaria de ver afeto honesto em seus olhos.

Quando atravessamos a porta da frente, ela está preparada para seguir seu próprio caminho. Mas pego sua mão na minha, levando-a pelas escadas e corredor.

"O que você está fazendo?" Ela pergunta.

Seu corpo está cansado. Eu a tomei com violência hoje e ela provavelmente está dolorida, mas suspeito que ela provavelmente sofra com minha indiferença neste momento.

"Você ficará no meu quarto esta noite." Eu digo a ela.

"Por quê?"

Estendo a mão para tocar seu rosto. O rosto de uma feiticeira com os olhos de um anjo. Nunca vi uma beleza como a dela antes. Seus olhos se fecham quando meus dedos tocam a linha de seu maxilar e quando meu polegar se arrasta sobre seus lábios, sua respiração escapa dela.

"Se fosse minha esposa, eu adoraria você todos os dias."

"Mas não sou sua esposa." Diz ela. "E nunca serei."

"Por esta noite, vamos esquecer a verdade." Eu a coloco em meus braços e ela não discute.

Sua resistência desaparece à medida que os minutos passam e eu a beijo puramente por beijá-la. Quando meus dedos se movem para o nó de seda na sua nuca, ela estremece. Nós já passamos por isso esta noite, mas desta vez é diferente.

Solto as tiras e depois o zíper. A seda cai ao redor de seus pés e não conseguiria recriar essa imagem com toda a tinta do mundo. Ela parece bonita de vermelho. Mas ela é uma deusa divina quando está nua.

Seus seios são pequenos e firmes e sua prática de balé não deu serventia para o uso de sutiãs, o que eu gosto muito. Uma mulher deve estar disponível para o homem dela e minha Nakya está sempre disponível para mim. Suas pernas são longas e finas, fortes o suficiente para espremer a vida de mim quando estou fodendo com ela. Ela é uma tela diferente de qualquer uma que eu já tenha visto e dói que ela não saiba seu valor. Grandes peças de arte não podem ser apreciadas, mas esse não é o caso dela. Eu roubei muitas coisas inestimáveis na minha vida, mas nada tão inestimável como ela.

"Venha." Passo seus dedos pelos meus e a levo até a cama.

Puxando para trás as cobertas, eu gesticulo para ela subir, mas ela hesita, procurando o significado disso. Eu diria a ela, se soubesse.

"Fique comigo esta noite." Imploro.

Ela não cede com facilidade. Os olhos dela são afiados e sua armadura ainda está intacta.

"Quantas mulheres você trouxe aqui?" Ela pergunta.

Seu ciúme agita meu pau para a vida, mesmo que eu esteja muito cansado para tomá-la novamente. "Você será a primeira."

Ela faz beicinho e sei que não acredita em mim.

"Eu não trago as mulheres para esse quarto, Nakya. As únicas mulheres que estiveram neste quarto agora totalizam duas. Você e Nonna. Mas eu acho que tenho que divulgar que ela não aquece minha cama, ela só troca os lençóis.”

Por algumas longas respirações, ela fica completamente parada. Quando finalmente se arrasta na minha cama, estou tentado a amarrá-la e mantê-la aqui para sempre. Mas por agora, esta noite terá que servir.

Eu me dispo enquanto ela observa com o rosto apoiado em sua mão, o lençol parado logo acima de seus mamilos. Eu retiro tudo menos minha cueca e me deito ao lado dela.

Por um momento, não nos tocamos. Não nos movemos. Eu nem tenho certeza se ela está respirando, mas sei que não estou. É mais íntimo trazer uma mulher para minha cama sem a intenção de fazer sexo. Não sei como começar.

"Eu acho que foi bom o que você disse a seu irmão esta noite." Suas palavras enchem o espaço cavernoso e não é o que eu quero discutir, mas acho que é melhor do que ficar deitado como um cadáver junto a ela.

"Nós temos um relacionamento tenso. Duvido que vá se importar com o que eu disse.”

"Acho que ele vai te perdoar."

Eu não respondo por que não estou tão esperançoso.

"Sobre o que você estava tentando avisar Talia?" Ela pergunta.

Olho para ela. Ela é minha cativa e, com certeza, não precisa saber essas coisas. Mas não consigo pensar em nenhuma boa razão para não contar.

"Você entende esse mundo. Sabe que a honra vem acima de tudo, não é?”

"Sim."

"O pakhan não acreditava que meu pai fosse um homem honrado. Ele exigiu que eu cortasse a orelha dele e eu fiz. Mas meu pai está equivocado em sua raiva e em vez de se culpar ou mesmo a mim, ele colocou a culpa em Alexei."

"Oh." Nakya franziu o cenho. "Ele alguma vez machucou Talia?"

"Sergei?"

Ela assente com a cabeça.

"Gostaria de dizer que sei com certeza, mas não. Ele é um mentiroso habilidoso e, muitas vezes, questionei seu verdadeiro caráter."

"Ele oculta isso de você?"

"É difícil dizer às vezes."

A admissão é honesta e mais do que deveria dar a ela. Não posso confiar que ela não está apenas pescando informações para usar contra mim mais tarde, mas eu gostaria de acreditar que Nakya tem mais honra do que ela mesma.

"E quanto a Katya?"

"O que tem ela?"

"Você também fez questão de avisar Talia sobre ela."

"Somente porque ela tem interesse em Alexei. Ela está ávida por um marido Vory de alto nível e ela é louca o suficiente para acreditar que pode destruir seu casamento e tomá-lo para ela.”

"Parece que ele não era o único que ela estava interessada nesta noite."

Suas palavras são manchadas de posse e isso me encoraja a me inclinar e beijá-la de novo.

"Ela só me quer por minha posição" murmuro contra seus lábios. "Mas agora não faz diferença."

Seus olhos se fecham e eu disse a coisa errada.

"Não, suponho que não. Viktor não vai permitir que você se case com ela quando Ana está à disposição."

Conversa de travesseiro finalizada, o quarto está quieto novamente. Meus olhos estão pesados e não consigo pensar em nada mais para fazer. Então eu a puxo em meus braços e enterro meu rosto contra seu pescoço, inalando-a.

"Vá dormir zvezda. Amanhã é um novo dia."


Vinte e Cinco

 


Acordo nos braços de Nikolai. O único motivo lógico que posso encontrar por seu desejo de me abraçar é que seu juízo foi prejudicado por muitas bebidas na festa ontem à noite. Mas quando olho para o rosto dele, não está dormindo e ele não está sob nenhuma ilusão do que ocorreu.

Seus olhos são doces e quentes, viajando pelo meu rosto enquanto seus dedos deslizam sobre meu braço.

"Bom dia, zvezda."

Estou com o cheiro dele. Cravos-da-índia, charutos e loção pós-barba. Nossos corpos estão à vontade juntos, envoltos em calor e acho que é a melhor noite de sono que eu tive desde sempre.

"Por que você me chama assim?" Pergunto.

"Zvezda?"

Eu concordo.

"Por que não? Você é minha estrela. Minha bailarina. Minha luz do Norte. Acho que você me leva a ser melhor.”

Meu coração pula uma batida. Provavelmente é a coisa mais legal que ele já disse e ele continua envolvendo minha mão em torno de seu pau duro. Ele guia meus dedos subindo e descendo em sua ereção e seus olhos de oceano retrocedem como a maré.

"Eu quero você." Diz ele. "Monte-me. Deixe-me ver você.”

O pânico paralisa minha mão e tudo se acalma entre nós.

"Por favor, Nakya." Ele toma meu rosto na palma da mão. "Não pense nisso. Você deve permitir que a lógica vença às vezes. Eu não pediria isso a você se não achasse que você é perfeita em todos os sentidos."

Suas palavras fazem sentido, mas estou com medo. Minha confissão é quase inaudível e não consigo ver sua reação porque meus olhos estão fechados. Mas sinto sua respiração nos meus lábios. Seu corpo se aproximava do meu.

Às vezes, é melhor quando ele ordena e não preciso pensar. A livre vontade é a coisa mais temível de todas para alguém que só conheceu o cativeiro. E talvez Nikolai entenda isso. Ele me puxa em cima dele com pouco esforço, espalhando minhas pernas em seus quadris e pousando minha cabeça contra seu ombro.

"Mantenha sua mão aqui." Ele a coloca em seu peito, contra a gaiola onde seu coração vive. E eu sei agora que ele tem um porque posso sentir isso.

"Não se mexa," diz ele. "O coração não mente. Se você não pode acreditar nas minhas palavras, então acredite nisso.”

Forte e constante, seu pulso martela contra minha pele.

Mesmo seu coração é mentiroso.

Ele agarra a carne da minha bunda, arrastando-me contra seu pau. Não precisamos tirá-lo porque tudo o que fazemos são preliminares. Meu corpo já está molhado para ele. E quando ele agarra um punhado do meu cabelo, forçando meus lábios para os dele, ele entra em mim sem aviso. Este é o prelúdio, o ato principal e o bis juntos em um.

Meus sons são abafados pelos seus lábios e esse não é o tipo de sexo que eu já imaginei ter. É profano e é justo. Corrompido, mas abençoado. Maravilhosamente lascivo e sinceramente doce. E agora, não acredito no céu ou no inferno. Existe apenas o purgatório.

Ele empurra para dentro de mim, apunhalando-me com seu pau enquanto conduz minha bunda com as mãos. Seus sons sangram em mim e eu os inspiro como uma droga. Eu poderia me erguer para tirá-lo. Mas Nikolai quer me empurrar para o ponto de ruptura, mais ainda. Ele me faz gozar. Uma vez. Duas vezes. E uma terceira para garantir.

Ele me marca com os dentes, gemendo exclamações indecifráveis no meio. Nossa última foda foi rápida e suja, mas hoje dura para sempre. Cada parte de mim dói e acho que é o que ele mais gosta.

Talvez, eu também goste disso.

"Mais uma vez para mim." Ele insiste. "Goze em meu pau mais uma vez."

"Não tenho mais nada."

Estou exausta. Desmorono em cima dele enquanto ele me fode por baixo. Ele adora minha pele com as mãos e a boca e me pede que goze mais uma vez. Estou excessivamente sensível. Quebrada. Meus peitos estão sensíveis e estou cheia do seu pau grande.

Mas, inevitavelmente, Nikolai sempre consegue o que quer. O orgasmo é tão fraco quanto eu me sinto, mas gozo para ele. Justamente antes dele se enfiar tão profundamente quanto eu posso levá-lo e explodir em uma longa e torturante liberação.


Minha temporada em cativeiro me forçou a encontrar novos usos para o meu tempo. Antes, meus dias eram passados no estúdio, perseguindo meu corpo e aperfeiçoando minhas rotinas. Meu calendário girava em torno do cronograma da empresa e dos eventos sociais ocasionais em que meu pai me forçava a participar.

Mas quando olho para o calendário hoje, estou surpresa ao descobrir que passaram meses inteiros e luto para lembrar a data exata em que cheguei. O quadrado em branco na parede faz pouco para me ajudar a processar meus sentimentos. Embora Gianni já tenha insinuado isso, tenho certeza de que meu nome foi removido da companhia como se eu nunca tivesse existido. O balé não aguarda nenhum homem ou mulher. Cada uma dessas posições é cobiçada. Valorizada.

E uma vez, foi por mim também.

Mas minha prática diminuiu para pouco mais de uma hora por dia. Eu não sou tão forte quanto costumava ser. Seria fácil culpar Nikolai por minha falta de motivação, mas a verdade é que ele se tornou uma distração bem-vinda da verdade que ainda devo enfrentar.

O toque no alarme sinaliza a chegada do terapeuta e, em alguns momentos, Sarah está no meu quarto. Ela diz algo quando entra, mas meus olhos ainda estão no calendário e meus pensamentos estão muito longe para me concentrar nela.

"Tanaka?"

Conto os dias até o final do mês, perguntando-me quantas horas de dança eu posso fazer. Tem que haver uma maneira de voltar ao bom caminho. Conto e adiciono e planejo, mas é tudo para nada. Eventualmente, meu dedo cai longe dos quadrados ordenados. Os quadrados que costumavam dominar minha vida.

"Você está com raiva." Observa Sarah. "O que está passando em sua mente?"

Eu não me movi do meu assento na mesa, optando por me afastar dela. Ela não merece conhecer todos os meus pensamentos, mas talvez seja hora de eu finalmente dizer isso em voz alta.

"Acho que eu nunca mais quero dançar novamente."

Há um momento de silêncio e parece uma morte. O sofrimento me engoliu inteira e em um momento de luto, apenas o silêncio é apropriado. Talvez seja por isso que Sarah não é tão má. Eu falo com ela, não porque eu deveria, mas porque ela sabe quando fazer perguntas e sabe quando ficar quieta.

Toda semana, ela volta aqui. Ela investe seu tempo em mim. Ela me diz que acredita em mim e tenta me manter saudável. Falamos sobre imagem corporal, dança e tudo mais que eu quiser falar. Mas não tenho ilusão que é porque ela se importa. Nikolai a paga para me curar.

Como se ela pudesse.

"Durante nossas últimas visitas, tive a impressão de que sua prática estava melhorando de forma constante." Diz ela.

"Eu estava mentindo."

Outra rodada de silêncio segue minha admissão e aperto meus olhos para não chorar. Eu me sinto como uma criança novamente. Essa perda é tão grande para mim quanto a da minha própria mãe. Sou frágil e estou quebrada, mas isso eu sempre fui. Talvez eu esteja bem com isso, mesmo que Sarah não esteja.

"Você começou o balé em uma idade muito jovem," ela observa. "Eu sei que os estudos mostram que não é incomum que os dançarinos sofram ferimentos graves sob suas circunstâncias."

"Não me importo com o que os estudos dizem." Eu digo a ela. "É a única coisa que sempre quis fazer e agora não posso."

"Talvez, em vez de se concentrar na perda de sua carreira profissional, você pode adaptar suas expectativas. Você ainda pode usar essa paixão para o bem. Você poderia ensinar...”

Ela para a si mesma, percebendo seu erro. Sou uma prisioneira para a máfia e ensinar ou encontrar outra saída para dar continuidade ao balé está fora de questão.

"Às vezes, ficamos tão concentrados no que não podemos fazer que nos esquecemos do que ainda somos capazes," diz ela.

Não respondo a ela. O poder da positividade não vai funcionar para mim hoje. Meu sofrimento é um processo e, eventualmente, vou marcar passo de novo, mas farei isso em meu próprio tempo.

"Como estão seus hábitos alimentares esta semana?" Ela pergunta.

"Estão bem."

"Nikolai me disse o contrário."

A traição perfura meus pensamentos e eu viro para olhar para ela. Eu tenho sido boa. Tenho feito quase tudo bem. Mas sei que ele está se referindo à festa de Natal. Não é justo ele contar isso contra mim.

"Foi uma vez e só porque eu estava em uma situação desconfortável."

"Nonna também diz que você não está limpando seus pratos, mesmo que sejam pequenas porções. É uma inclinação muito escorregadia, Tanaka. Apenas mencionaram isso porque todos nós queremos que você tenha sucesso com seu programa.”

"Estou bem." Reitero. "Na verdade, tenho comido demais. Eu tive que acrescentar dois tamanhos na minha roupa e não gosto disso."

"Você está em um peso perfeitamente razoável." Diz ela. "O médico mencionou que você finalmente alcançou um índice de massa corporal saudável. Você se lembra de como nós discutimos mudando a maneira como você se vê versus controlar seus alimentos para manter sua zona de segurança? Devemos retomá-lo?”

"Não." Respondo.

"Como você se sente agora?" Ela pergunta. "Você se sente saudável? Você tem mais energia? Diga-me algo positivo sobre o seu novo plano de alimentação.”

Eu toco meus dedos contra a mesa. Sinto que tenho mais energia, mas não quero admitir isso, porque agora ela se parece como o inimigo. Parece que ela está conspirando com Nikolai e Nonna para me deixar miserável e estou com raiva de todos eles, por mais ilógico que seja. Decido que, já que não consigo controlar minha comida, ou meu corpo, ou minha dança, ainda há algo que eu possa controlar.

"Para mim, essa terapia acabou." Digo a ela. "Eu quero que você vá agora."

Não há uma resposta. Espero que ela discuta e estou preparando meu arsenal mental. Eu irei guerrear com ela, se me obrigar. Estou farta de soltar meus segredos como doces. Ela só precisa dizer uma coisa. Um protesto. Um argumento. E vou lhe dizer umas boas.

Mas ela não se importa com minhas táticas.

Em vez disso, ela me decepciona deixando a sala sem mais uma palavra.


Vinte e Seis

 


Encontro Nakya na academia, esticando sua perna contra a barra que eu providenciei. Ela está usando apenas um collant rosa e polainas hoje. Desde que eu lhe dei carta branca com meu cartão de crédito, houve uma mudança drástica em seu guarda-roupa. Ultimamente, gosto de vê-la com os jeans de cós alto e os bodys que ela comprou. Ela está uma garota diferente da pequena dançarina que conheci. Ela está mais selvagem, talvez.

Mas ela também está excessivamente consciente de seu novo corpo saudável. Eu gosto da maneira como sinto sua carne espessa contra mim. Não há nada como se perder na suavidade de uma mulher. Ela me acalma. E eu me perco em Nakya sempre que posso agora.

Vê-la saudável é importante para mim e enquanto ela estiver sob meus cuidados, farei o que for necessário para mantê-la assim.

"Sarah me disse que você acha que cabe a você demiti-la."

Ela retorna meu olhar no reflexo do espelho. "Não preciso mais de terapia. Estou melhor agora."

"Eu não iria tão longe."

Ela solta sua perna e se vira para me encarar, encontrando meus olhos em desafio. "Eu não tenho mais nada para dizer a ela. Ela está desperdiçando meu tempo.”

"Isso é para eu determinar. Além disso, o que mais você tem para fazer?”

"Você quer dizer além de ser seu brinquedo de foder?"

É a coisa mais vulgar que ela já disse e isso deixa meu pau duro. Mas não estou prestes a deixá-la se safar.

"Cuidado com sua boca, zvezda."

"Por que eu deveria?" Ela pergunta. "Você queria que eu fosse imunda, não é? Sua boneca suja. Então, vou dizer o quanto eu quiser, brinquedo de foder, brinquedo de foder..."

O fim de seu discurso é cortado quando eu fecho a distância entre nós e a puxo pelos cabelos. Um som fraco de protesto zumbe em sua garganta, mas ela vem a mim como deveria.

Inclino-me bem próximo para inspirar o cheiro dela antes que meus lábios descansem em seu ouvido.

"Se você realmente quer ser meu brinquedo de foda, vou amarrá-la na cama por três dias e usar cada orifício em seu corpo para minha diversão. Portanto, tenha cuidado com o que você deseja, princesa."

Seu peito arfa e o fogo dispara de seus olhos âmbar. Ela está ansiosa para brigar hoje e não tenho certeza do porquê. Sarah me avisou para esperar essas birras ocasionalmente. Com o progresso, sempre há regressão também.

"Por que você não me deixa ir?" Ela exige. "Mande-me de volta para o meu pai."

E voltamos a isso novamente. Estou cansado de suas palhaçadas e quero deixá-la saber disso. A minha mão mergulha em seu peito, tocando o mamilo por baixo do material fino.

"Você não é uma mentirosa muito boa." Eu digo a ela. "Nós dois sabemos que você não quer voltar para lá."

Ela tenta tirar minha mão longe de seu peito, então eu belisco seu mamilo e ela grita.

"Pare!" Ela bufa. "Não quero você. Estou cansada de ser sua prostituta enquanto faz planos para se casar com sua preciosa Ana."

"É disso que se trata?"

Parece que, não importa o quão longe chegamos, sempre voltamos para isso. Ela não pode superar e eu não posso lhe dar as respostas que ela quer.

"Eu só quero ir para casa." Diz ela. "Quero ir para casa e... casar com Dante."

Ela poderia ter dito qualquer coisa. Qualquer coisa, menos isso. Faço-a saber quando eu a viro e a obrigo a andar.

"O que você está fazendo?", ela choraminga enquanto solto os botões entre suas pernas, abrindo a buceta dela para mim.

Apesar de sua declaração de se casar com Dante, a mentirosa está molhada para mim. E acho que ela quer me obrigar a fazer isso. Ela quer que eu a foda como um animal, mas sua pequena boca certinha não vai admitir isso.

Eu abro meu jeans e ela tenta sair do meu controle. Na luta, tiro seu collant e espalmo seus seios. Ela ainda está em estado de choque, respirando ofegante enquanto gira seu pescoço para me olhar.

"Você é um monstro."

"E você é a prostituta dele."

Enfatizo o ponto, puxando-a de volta para o meu pau até que eu esteja fundo, até minhas bolas. Ela grita e agarra a esteira abaixo dela, ainda fazendo todos os esforços para me dizer o quanto ela me odeia entre as respirações quebradas.

Eu a fodo como um bárbaro, pontuando meus esforços com os insultos que ela está desesperada para ouvir. Digo a ela que é minha puta. Minha boneca imunda. E ela goza mesmo que não mereça.

Depois de uma promessa de puni-la por isso, retiro-me e gozo sobre seus seios vermelhos e inchados. E quando dou um passo para trás para examinar minha obra-prima, estou satisfeito com a visão do meu brinquedo selvagemente fodido, sem fôlego, exausto e coberto pelo meu gozo.

Não me incomodo em ajudá-la a se limpar. Tenho apenas um conselho para ela antes de ir.

"Pense nisso," digo a ela. "Quando você se casar com Dante. Pense no pau que tomou você primeiro. O pau que você vai desejar quando estiver fingindo para ele."


"O que você tem para mim?"

Pela primeira vez, Mischa não parece notar a stripper tentando atrair sua atenção pela sala. Odeio encontrá-lo aqui, mas é melhor do que tê-lo na minha casa. Não quero que ele veja Nakya lá, lembrando-me do jeito que ele quase a tomou.

"Você é meu irmão." Diz Mischa. "Nós carregamos as estrelas da Vory e, pelo tempo que me lembro, nós cuidamos um do outro. Confiamos um no outro. E nunca deixamos nada entre nós, pequeno ou grande.”

Escuto seu discurso apaixonado com olhos críticos. Seja o que for que venha, eu sei que não pode ser bom.

"Estou pedindo que você não deixe nada entrar entre nós agora, Kolyan. Não a garota. Não esta notícia que devo dar. Estou lhe dando o que você pediu com pouca esperança de que lhe dará paz. Eu me preocupo com o que você irá decidir, é claro. Que você não possa retornar e peço sua palavra que me permitirá aconselhá-lo como amigo e aliado em qualquer caminho que você escolher."

A pasta de papel marrom em suas mãos controla minha atenção e sei que é isso. Ele tem as respostas que procurei durante toda a vida. E, no entanto, não posso abri-la agora.

"Ela está morta, não é?"

Mischa hesita, então acena com a cabeça. "Não creio que você considere isso como o encerramento."

"Não."

"Então eu apelo para você agir agora, Kolyan. Antes que as coisas se tornem mais complicadas do que já são. Acho que você não deveria esperar outro dia.”

"Como você conseguiu essa informação?” Pergunto.

Seus olhos se afastam dos meus. "Eu tive alguma ajuda de Alexei."

Estou tentado a golpeá-lo na cara e Mischa sabe disso.

"Ele já sabia." Diz Mischa. "E foi ele que se aproximou de mim. Na verdade, ele que fez a maior parte do trabalho. Sou apenas o menino de recados porque ele mesmo prefere não lidar com você.”

Eu pego a pasta da mesa e me levanto. Não há mais nada a dizer. Mischa pode solicitar minha palavra tanto quanto quiser, mas não vou dar. Não até que eu saiba o que isso significa para mim.

Ou para Nakya.


Vinte e Sete

 


Algo que aprendi sobre Nikolai é que ele segura um insulto com dentes reforçados com aço. Nós mal falamos uma palavra em mais de duas semanas e eu sei que é por causa do meu comentário sobre Dante.

Não deveria me incomodar, considerando que ele me marcou como um cão e deixou uma flecha proverbial no meu coração. Eu não quero Dante, mas gosto de jogá-lo na cara de Nikolai porque é a única arma que parece penetrar em seu campo de força invisível.

Eu realmente não tinha uma boa razão para fazê-lo, mas estava com raiva. Tudo está saindo de controle na minha vida e não consigo encontrar meu equilíbrio. Quanto mais eu permaneço aqui, desempenhando qualquer papel que ele julgar adequado, mais difícil se torna me ver em qualquer outra realidade. Estou à mercê dele e ele não me dá as mentiras que preciso ouvir.

Eu quero que ele me diga que não vai se casar com Ana. Quero que ele diga que não estou mais quebrada e que tudo vai ficar bem. Mas sua verdade é amarga e amá-lo também. O ladrão roubou meu coração, apenas para segurá-lo na palma da mão, extorquindo minhas afeições quando lhe convém.

Muitas vezes, encontrei-me vagando pela casa à noite, aguardando seu retorno. Minha alma inquieta não me deixava dormir, e minha mente não desistia de imaginar onde ele estaria. Esta noite não é diferente. As angústias me encaram enquanto olho pela janela e traço as constelações com o dedo. Ele não me fodeu em duas semanas. Eu seria uma tola para acreditar que ele não esteve com ninguém. É a maneira mafiosa e esse é o destino que sou amaldiçoada a viver, seja com Nikolai, ou com Dante.

Fecho meus olhos e desejo dormir, mas ele me segue da mesma forma que o sol persegue a lua. Está escuro, ou é luz e não há nenhum eclipse no horizonte.

Eu começo a vagar novamente na casa. O quarto de Nikolai está vazio e eu adoro meu hábito de tocar suas coisas. Suas roupas, sua jaqueta, seu boné. Eles cheiram como ele e sua cama também. Tabaco doce e cravo da índia. Enrolo-me no travesseiro e respiro-o. Pergunto-me se ele se sente tão atormentado quanto eu. Eu me pergunto se ele fica aqui à noite e pensa em ir para o meu quarto para me roubar de novo.

Em resposta, uma melodia melancólica ecoa de cima como uma trilha sonora para minha loucura.

No começo, acho que é minha imaginação. Mas a melodia toca e quando olho para o teto, quase posso sentir sua energia atraindo-me para lá.

Nunca fui ao terceiro andar. Nonna me disse que estava fora dos limites e eu não queria descobrir o porquê. Mas nessa hora tardia, não consigo pensar em um único motivo para obedecer. Eu escorrego da cama e ando calmamente até o patamar. Nunca subi as escadas antes e sinto que é perigoso estar subindo, dessa vez.

Quando encontro uma porta no topo, minha aventura termina abruptamente. É uma porta sólida. Diferente das outras na casa. Parece pesada e segura e eu sei que não há como chegar, mas também sei que deve ser onde Nikolai mantém seus segredos. Eu quero coletar seus segredos como ele coletou minhas lágrimas. Quero dissecar os detalhes íntimos do homem que me assombra dia e noite. Mas há uma barreira no caminho.

Meus ombros caem e estou preparada para me despedir com minha decepção até ver a pequena luz que reflete no chão.

Está aberta. Apenas um pouco, mas está aberta.

Pressiono as pontas dos dedos contra a porta, mas não se move até que coloco meu corpo inteiro nela, criando uma lacuna grande o suficiente para eu escorregar. Meu pulso salta enquanto meus pés se movem para frente. Pode ser a última má decisão que eu já tomei, mas o desespero me deixa louca por respostas. E quando eu alcanço o limiar do que só pode ser descrito como um cofre, eu finalmente as tenho.

Duas coisas me atingem de uma só vez. A confusa percepção e subsequente alívio de que Nikolai não está fora com Ana ou com outra pessoa e que ele está de fato, aqui. Sem camisa e em nada mais do que uma calça jeans, bem gasta e salpicada de tinta, que pende livremente em seus quadris.

Há um momento suspenso de tempo onde eu tenho uma pausa para absorver tudo. Ele está cantarolando junto à música, vibrações profundas rugem de seu peito enquanto sua mão se move rapidamente e habilmente sobre a tela na frente dele. Ele está cercado por pelo menos uma dúzia de outras e sinto que estou em um sonho quando as vejo.

Bailarinas. Todas são bailarinas.

E são todas o meu retrato.

É demais para minha mente processar. O que estou presenciando não é o que eu sei dele. Ele é mafioso. Um ladrão. Não é um artista. Mas meus julgamentos não podem argumentar com o realismo. Eu o confinei em uma caixa dentro da minha mente e ele não apenas saiu, ele explodiu completamente.

Ele criou essas peças. Ele concebeu, projetou e trabalhou sobre essas obras.

Eu esperava encontrar muitas outras coisas. Morte. Câmaras de tortura. Violência. Dinheiro e armas. Mas não a arte. Não consigo entender isso. Agora, não quero. Quero fingir que nunca vi. É a única maneira de me proteger. Mas a chance se perdeu quando Nikolai se vira e me pega observando ele.

Estou preparada para fugir, mas um comando dele me interrompe.

"Pare."

Eu congelo.

Seus olhos me mantêm refém. "O que você pretendia fazer ao se esgueirar por aí?"

"Eu sinto muito."

"Isso não é uma resposta." Ele descarta o pincel em sua mão contra o cavalete. "Diga-me o que estava procurando."

Seu rosto e seu coração estão fechados. Protegidos. Ele não confia em mim. Eu também não confio nele, mas não precisamos de confiança para nos destruir.

"Estava procurando você." Eu toco meus dedos do pé contra o chão frio, desejando que pudesse criar um buraco para escapar de seu escrutínio.

A música tocando é o único som entre nós. A música clássica e bonita não é algo que eu esperaria de Nikolai. Mas, novamente, ele provou que eu sou uma idiota quando se trata de minhas expectativas.

Ele faz o primeiro movimento, caminhando para mim como um gato selvagem.

"Por que você estaria me procurando?" Ele força meu queixo com a mão dele. "Você veio fazer outra declaração do seu amor por Dante? Ou talvez um pedido inútil para voltar para casa para o seu pai amoroso?”

Suas palavras são atadas com amargura não disfarçada e um raio de esperança brilha bem dentro de mim.

"Não vim fazer nada." Eu digo a ele. "Eu vim por que..."

Não posso dizer as palavras. Não estou pronta para admitir o quanto estou empobrecida sem ele. Eu definitivamente não estou pronta para confessar que eu purguei minhas necessidades depravadas pensando nele enquanto eu me tocava.

Eu cedo e olho para ele. Meus valores me ensinaram que não cabe a mim avançar em um homem. Mas agora, é a única coisa que quero fazer. Quando estendo uma mão instável, ele não se move. Ele está rígido e não responde, mas a guerra fria cai quando as pontas dos meus dedos tocam seu rosto.

Seus olhos estão fechados e ele diminui a distância entre nós, arrastando-me contra seu corpo. Seu pau inchado está pesado contra minha barriga, já no ponto, com vontade. Meus lábios encontram os dele e estou pronta para me deixar perder na pele dele. Mas ainda há um pensamento que assola minha mente.

"Você esteve com outras?"

Nikolai me trava em seus braços para me impedir de me afastar. Os olhos dele estão mais suaves do que estavam há apenas um minuto, mas não menos lindos.

"Isso importa?" Ele brinca com a alça da minha blusa de seda. "Eu pensei que você estava apenas esperando até retornar para sua casa."

"Importa." Meu coração pulsa selvagemente. "Quero o seu tudo enquanto eu o tenho. Espere até eu ir embora e então você pode...”

"Nakya." Ele suga meu lábio inferior entre os dentes, forçando minha boca a abrir. O beijo que se segue é violento e possessivo, mas muito curto.

"Eu não quero mais ninguém." Ele respira. "Por que eu faria isso quando tenho você?"

Suas palavras são genuínas, mas ainda tenho dúvidas. E estou certa de que ele está cansado de me dar garantias que não precisa dar. Ele poderia me tomar de qualquer maneira. Ele poderia fazer o que quiser. Sua lealdade não é devida a mim. Mas, independentemente disso, é o que eu vejo nos seus olhos quando ele sussurra suas próximas palavras.

"Você se entregou a mim, meu doce. E não é uma tarefa difícil dar-lhe a minha lealdade em troca. Não tenho motivos para mentir quando digo que você me envenenou contra qualquer outra mulher.”

"Então, fique comigo." Imploro. "Mantenha-me e me faça sua, Nika. Marque sua estrela na minha pele e nunca me deixe ir.”

Ele me beija e não é uma promessa, mas uma admissão. Ele quer me manter, mas ele não fará uma promessa que será forçado a quebrar. Tanto quanto preciso dessas palavras, agora eu preciso dele.

Nós nos juntamos em uma combustão lenta. As mãos quentes e pegajosas despem um ao outro e exploram as telas de nossos corpos. Ele me puxa entre suas pernas e beija minha garganta. "De quem é essa buceta?"

"Sua."

Ele geme e mergulha seus dedos dentro de mim, brincando comigo enquanto ele suga a carne acima da minha nuca. "Diga-me que você é minha."

Ele quer isso. Precisa disso. Ele está implorando por isso. E estou cansada de joguinhos.

"Sou sua."

Nossos corpos nus colidem e caem no chão. Ele entra em mim com um suspiro e aperto-me em torno dele. Ele está em cima de mim e dentro de mim, fodendo-me embriagado enquanto luta para manter a conexão entre nossos olhos. Mas ele não está apenas me fodendo desta vez.

Ele está fazendo amor.

Eu me alimento do seu afeto, salpicando-o com beijos. As palavras sussurrantes destinadas apenas para seus ouvidos. Eu imploro que ele nunca pare. Peço-lhe uma e outra vez para me manter. Ele me suplica repetidamente para dizer novamente que sou dele.

Nós ficamos atordoados, cochilamos e acordamos, apenas para fazer tudo novamente.


Meus dedos pairam a centímetros da pintura, com a respiração suspensa. É lindo e horrível. Uma violação. Uma obsessão. Uma janela aberta para minha psiquê. E não posso desviar o olhar.

Nikolai limpa uma lágrima que nem percebi que tinha derramado antes de tirar meu cabelo do ombro e beijar meu pescoço por trás. "Diga-me o que você está pensando, zvezda."

"Por quê?" Sussurro.

Por que ele escolheu pintar o pior momento da minha vida? E como ele entrou na minha cabeça? Como ele me conheceu tão intimamente nesse momento? A perda destruidora que me deixou imobilizada. O desespero profundo e violento. Cada emoção é tão tangível que se parece mais como uma lembrança do que uma pintura. Fall from Grace, como ele a chama.

"Como eu não poderia?" Ele responde. "Não é todo o dia que você testemunha a queda de um anjo."

Eu soluço e ele me segura. É ridículo que eu esteja tão emocional por uma peça de arte, mas é muito mais do que isso. É a percepção de que desde o início ele me viu. Ele me conheceu.

A verdade está pintada em tantas telas como posso ver. Cada uma é diferente, mas em muitos aspectos, elas são as mesmas. São todas o meu retrato.

"Eu não posso acreditar que você fez isso." Digo. "Não posso acreditar no seu talento."

"Não é tão difícil quando você tem uma bela musa."

Ele me permite tempo para processar cada peça. Até que cada detalhe mergulhe no meu cérebro e se torne uma parte de mim. E então nos encontramos no chão novamente, tocando e beijando, mas também exaustos para ir além disso.

Um ao lado do outro, olhamos fixamente para o teto, a palma da sua mão patinando na curva do meu quadril enquanto ele acende um cigarro.

"Você deveria parar." Digo a ele.

"Eu vou." Ele exala. "Um dia."

Sorrio e balanço a cabeça. "Não faz mal para a arte?"

"Muito," ele responde. "Mas agora haverá uma pequena parte de mim em suas pinturas. Uma assinatura, se você quiser.”

Minhas pinturas. Ele diz isso como se pertencessem a mim, mas sei que elas não irão comigo quando eu for. Imagino-as daqui a cem anos, acumulando poeira em uma coleção, em algum lugar. O que as pessoas pensarão quando olhassem para elas? Será que saberão que a garota existiu ou acreditariam que ela era uma invenção da imaginação do artista?

"O que mais você pinta?" Pergunto.

"Falsificações, principalmente" Nikolai responde casualmente. "Mas elas não são todos pintadas. Algumas são feitas por outros meios.”

"Então é por isso que este quarto está tão trancado?"

Ele sorri. "Eu sou um ladrão, Zvezda. Como tal, sou conhecido por roubar algumas peças valiosas de vez em quando.”

Estou surpresa ao descobrir o quanto eu não me importo com sua admissão. Ele é honesto sobre si mesmo, pelo menos. E na minha mente, gosto da ideia de ser má com ele. Alcanço o cigarro e o deslizo de sua mão. Ele se vira para mim, curioso, observando enquanto eu o trago para os meus lábios.

Seus lábios se curvam nos cantos quando eu inalo um pouco e começo a tossir. "Isso é realmente bom." Estalo.

Ele ri e seus olhos são os mais claros que eu já vi quando se movem pelo meu rosto. "Minha boneca quer ser selvagem?"

Eu concordo.

"Em primeiro lugar, você está segurando isso como um baseado." Ele reposiciona o cigarro entre meus dedos. "Agora inspire, mas apenas um pouco. Deixe esfriar antes de inalar.”

Eu faço o que ele diz e é um pouco mais suave desta vez.

"Nós não vamos fazer disso um hábito." Ele diz como um aviso justo. "Mas, por enquanto, fique assim."

Eu o olho com curiosidade enquanto ele levanta e vai para outra tela em branco, reposicionando-a para que ele possa me ver. Quando suas intenções me ocorrem, isso me deixa nervosa.

"Imagine que não estou aqui." Diz ele.

É uma tarefa impossível, considerando que ele está nu. Mas acho mais fácil vê-lo do que me preocupar com meus medos. A maneira como suas coxas se agitam quando ele coloca um pincel entre os dedos. Quando seu braço varre sobre a tela, seu traseiro flexiona também. Pego outra inalação e ele pausa para vir consertar o lençol que está me cobrindo pela metade. Puxando minha perna e revelando a curva do meu quadril, ele o coloca logo abaixo dos meus seios. Agora está envolto em mim quase como uma toga e ele está de volta à sua tela.

Ele mergulha seu pincel na tinta, misturando cores e usando técnicas que mostram mãos experientes enquanto trabalha. É uma nova obsessão vê-lo dessa maneira. A concentração em seu rosto. O artista no trabalho. Não posso desviar o olhar e nunca quero que isso acabe. Mas, inevitavelmente, acontece.

Ele dá um passo atrás, examinando seu trabalho antes de me olhar.

"Você vai me mostrar?"

Ele volta para nossa cama improvisada, montando-me com um pau duro que espeta minha barriga. Nós nos beijamos e ele me toma de novo.

Quando ele goza, seu rosto desmorona em meus seios e eu acaricio seu cabelo.

"Como você vai chamá-lo?" Eu pergunto com sono.

"Inamorata." Diz ele.


Vinte e Oito

 

 

“Vejo que trouxe a menina Valentini com você esta noite.”

Viktor me encurrala no meu retorno do banheiro e seu humor azedou agora que as celebrações estão se acalmando.

“Alexei me pediu para trazê-la. Parece que a esposa dele adora ela e ele pensa que pode ser bom se tornarem amigas.”

“Então ela deveria estar aqui com Mischa,” diz Viktor. “Não parece certo, você trazê-la aqui assim. Na verdade, cansei de toda esta charada. Minha Ana está esperando por seu pedido e estou pronto para anunciar suas intenções com ela.”

“Sinto muito,” digo a ele. “Não foi minha intenção desrespeitar qualquer um de vocês. Pensei que tínhamos um acordo -”

“Tempo esgotado,” ameaça Viktor. “Você quer se casar com a minha filha ou não?”

Eu preciso de um cigarro. Ou dez. Qualquer resposta que possa lhe dar não será satisfatória. De qualquer maneira, as consequências vão significar pagar com minha vida. É morte se eu recusar, ou a morte se eu aceitar. Uma vida sem Nakya não é uma vida que eu possa imaginar. Não estou pronto para deixá-la ir, razão pela qual o arquivo da minha mãe ainda está sem ser lido no meu cofre em casa.

“Eu gostaria de mais tempo para conhecer Ana,” digo. “Para ambos termos certeza de que é a decisão certa.”

Viktor zomba. “O que mais há para saber? Ela é linda e foi criada para esta vida. Ela será leal e fiel. E o mais importante, ela é russa.”

Suas palavras servem a um propósito. Ele quer que eu saiba que Ana é tudo o que ele pensa que Tanaka não é. As palavras de um hipócrita, considerando que estamos aqui para celebrar a gravidez da esposa de Alexei. Ela não é russa, nem tem qualquer um dos traços que Viktor espera em uma mulher. Mas ele deu a Alexei sua bênção. Parece que sua boa vontade não é igualmente distribuída, afinal de contas.

“Ana é muito jovem,” comento. “Eu só me preocupo que ela vá se apressar e se arrependa mais tarde. Quero ter certeza de sua decisão.”

Viktor não responde. Alexei nos descobriu, espreitando no corredor e está vindo em nossa direção.

“As celebrações acabaram tão cedo?” Ele pergunta.

Viktor força um sorriso em seu benefício. "Claro que não. Nós estávamos discutindo alguns negócios, mas garanto a você, as comemorações vão continuar.”

Alexei assente e Viktor lhe dá um tapa no ombro. “Você será um excelente pai. Vamos pegar um charuto, não?”

Antes de saírem, Viktor emite seu ultimato final. "Um mês. Não mais, Kol'ka. Você terá suas respostas ou não. Mas de qualquer forma, irá se casar com minha filha.”


“Foi uma bela festa,” Nakya diz conforme passamos pela porta.

Ela fez várias tentativas de conversa fiada, sentindo que algo estava estranho. Depois da minha conversa com Viktor, meu humor azedou e para mim as celebrações acabaram. Eu bebi simplesmente por beber e agora não consigo ver direito.

Eu mando embora o bratok que nos trouxe e tranco a casa.

“Você deveria ir para a cama, zvezda.”

Ela se aproxima, tentando me atrair com seus lábios de mel. Durante uma semana, passamos todas as noites juntos. Eu não cuidei dos meus deveres com a Vory, abandonando tudo o que é importante por causa dela. E ainda assim, não é suficiente.

“Você não vem comigo?”

"Não."

Seus ombros caem, parte do seu cabelo caindo em volta do seu rosto enquanto ela abaixa o olhar. Acho que gosto mais dela quando se recusa a mostrar sua emoção.

"Fiz algo de errado?"

“Você não deveria ter ido lá.” As palavras saem da minha língua como um chicote e ela se encolhe. “Você não pode controlar suas emoções. Estão escritas em todo seu rosto para o mundo ver. Para Viktor ver.”

“Eu não achei-”

“Esse é exatamente o problema,” zombo. “Você não acha nada. E estou ficando cansado disso.”

Seu queixo treme e ela agarra a minha camisa. “Por favor, não faça isso, Nika. Eu sei que você se importa. Não é você falando.”

“Você está enganada, pet. Esse é exatamente eu falando. Estou cansado de você, então faça um favor a si mesma: saia da minha vista.”

Ela quebra como eu sabia que faria, afastando-se de mim com soluços. Ainda assim, não é suficiente. Quero que ela desapareça. Fora da minha vista e minha mente. Ela está complicando minha vida e tornando-a um inferno.

Mas isso não muda nada.

Porque mesmo quando ela vai, estou vazio.


Vinte e Nove

 

 

Ao longo de uma semana, eu bebi o meu armário todo de bebidas. Atualmente, descobri que não gosto muito de uísque Old Crow, mas ele faz o trabalho de qualquer forma.

Entre a sequência fumar e beber, eu não tenho realizado muita coisa. O arquivo Brown ainda está na minha gaveta, não lido, e Viktor liga para checar muitas vezes, perguntando do meu progresso. As mentiras saem dos meus lábios facilmente quando estou bêbado e se ele percebe o meu comportamento errático, ele não diz.

Duas vezes esta semana, fui forçado a sentar em jantares com Ana. O pakhan se tornou obcecado com o noivado em potencial no horizonte, encorajando todas as oportunidades para nós passarmos tempo juntos. Eu falo muito pouco durante nossos encontros, fazendo apenas perguntas sobre ela. Ela fica feliz em dar as respostas.

Diferente de Nakya, ela não é reservada. Ana é aberta e imatura, muitas vezes optando por se referir a fofocas de celebridades ou outros temas frívolos. Ela é feminina, risonha e muito ingênua para estar com alguém como eu. Mas isso não a impede de corar cada vez que eu olho em sua direção. A pior parte é que ela acredita que está apaixonada por mim, porque seu pai continua a nutrir a ideia.

Meu destino está selado. Viktor me verá casar com ela e eu preciso deixar de lado as coisas que não posso mudar. Eu tenho sido um covarde e mentiroso e Alexei está certo ao dizer que sou indigno das estrelas que carrego. Desamparei meus irmãos Vory e é hora de acabar com esta farsa.

A casa está silenciosa e todo mundo está dormindo quando resolvo sentar no meu escritório. Nakya voltou ao santuário do seu próprio quarto e decido não vê-la durante suas horas de vigília. Mas toda noite, eu a verifico na câmera. Observo seu sono agitado da tela do meu telefone e é o mais próximo a ela que posso chegar.

É melhor assim. E independentemente do que este arquivo pode conter, a minha decisão foi tomada. Se eu tenho direito a minha parte de carne, ela virá do próprio Manuel. E então Nakya voltará para sua vida, livre para fazer o que quiser. Livre para morrer de fome ou dançar até a morte, ou se casar com Dante se ela escolher.

O relógio na parede é a única trilha sonora para os meus pensamentos maníacos conforme olho para o papel pardo grosso. Tique, taque, tique. Por um momento, escolho acreditar que Mischa estava certo. Se eu quisesse, poderia deixar isso passar sem ler os detalhes. Que diferença faz agora? Ela está morta e nada vai trazê-la de volta.

Mas é apenas outra mentira.

Ela era minha mãe.

Seco o meu copo e fumo mais alguns cigarros enquanto ando pelo comprimento do meu escritório. Não pode ser tão ruim. Mischa é sempre excessivamente dramático, eu acho. São apenas alguns papéis e sou um homem crescido. Um Vor. E um Vor não recua de nada.

Eu sento e pego o arquivo que tentei abrir tantas vezes. É apenas papel. Nada mais.

Mas, ao abri-lo, descubro que estou errado. Não é apenas papel. Há fotografias também. Fotografias que eu pensei que gostaria de ver, mas estava enganado. As fotos granuladas são de um vídeo de vigilância. E antes que eu permita que meus olhos pairem sobre o assunto principal, examino cada detalhe do lugar. Um porão. Um sofá sujo. Um balde. Estas condições de vida não são adequadas para um animal, muito menos uma mulher.

E ainda assim lá está ela. Minha mãe. Amarrada e nua.

Eu sei que não deveria, mas olho para seu rosto. Olhos vagos e feições ocas são tudo o que resta. Um saco vazio, flácido de pele e ossos que uma alma há muito abandonou. Quando vou tocá-la, sinto sua angústia em cada centímetro cavernoso do meu corpo. Esta é a mesma mulher que me cobriu durante a noite e me beijou na testa. A mãe que cantava doces canções de ninar e lia histórias animadas antes de dormir.

Estas memórias são tudo que tenho dela e eu me odeio por ser muito jovem para parar isso. Quero voltar e corrigir. Quero voltar e matar todos os homens que já a tocaram. É tarde demais para salvá-la. A única coisa que posso fazer por ela agora é chover sangue e fogo sobre os animais que fizeram isso com ela.

O relatório que Alexei compilou é mais detalhado do que eu poderia ter imaginado. Tudo é categorizado e o trabalho foi feito para mim. Datas, horários e os nomes de todos que participaram.

Mas é o primeiro na lista que deixa uma cicatriz permanente na minha alma. A confirmação do que eu sempre suspeitei ser verdade.

Sergei.

Meu próprio pai é responsável por isso.

Seu ego sempre foi a coisa mais covarde nele. E, conforme a história segue, quando suspeitou que minha mãe o havia traído com um de seus próprios homens, ele a ofereceu como um presente para Manuel Valentini. Mas ela não era um presente. Ela era um sacrifício humano. Um bônus para adoçar um acordo de armas entre Manuel e meu pai.

Ele a deu como se ela fosse um pedaço de lixo. Sabendo o destino a que ele a entregou, ele permitiu que ela apanhasse e fosse usada por Manuel e seus homens por anos. E, no entanto, todas as noites, vinha para o meu quarto para me ver chorar a perda dela, insistindo que ela tinha me abandonado.

Eu me sirvo de outra bebida e fecho os olhos. As imagens me assombram e sei que nunca irão embora. Tenho sido um tolo. Permitindo que o meu pau me leve, ignorando a causa que eu mais acreditava. Durante meses, seus corações continuaram a bater. Eles continuaram a respirar o ar desta terra, quando já deveriam estar apodrecendo no chão.

Não é o pior. Essa parte ainda está para ser lida. E Alexei não poupou um único detalhe horrível.

Minha mãe deixou este mundo lutando. Lutando para escapar. Ela cortou o pau de Manuel Valentini com um caco de espelho quebrado.

E então ele a dissolveu em uma banheira de ácido.


Trinta

 

 

Crash.

Meu corpo pula na posição vertical. Sono borra minha visão e pisco rapidamente quando olho ao redor do quarto. Minha pele está pegajosa e meu coração está acelerado. Algo não está certo e meu primeiro instinto é me esconder.

Eu me arrasto para sair da cama, mas a dor paralisante dispara através da minha panturrilha e paralisa minha perna. Refém da cãibra, tenho pouca escolha a não ser esperar.

Barulhos explosivos reverberam pelo corredor. Vidro quebrando. Estilhaços de madeira. Mais animal do que homem, o gemido só pode ser proveniente de Nikolai.

Um novo medo floresce dentro de mim. Alguém está aqui. Alguém está o atacando.

Ele precisa de mim.

Tropeço no corredor, arrastando minha perna meio inútil atrás de mim. Estou vestindo nada mais que uma camisola e não sei como salvá-lo, mas sei que tenho que tentar.

Gritos de agonia emergem da porta aberta. Na curta distância, minha mente evoca tantos cenários diferentes. Mas quando eu alcanço a porta, nada poderia me preparar para a realidade.

Ele está sem camisa. Sangrando. O peito arfando conforme ele examina meticulosamente um recipiente aberto. Um cigarro ainda pende de sua boca e há uma garrafa vazia de uísque ao lado dele. Um por um, ele remove o vidro das fotos em porta-retratos, só para esmagá-los em pedaços, um momento depois.

Palavras murmuradas retumbam do seu peito enquanto ele identifica os rostos nos quadros. Afeição em um minuto e o ódio no próximo. E acho que um intruso seria mais fácil de lidar.

Não há manual para uma situação como esta. Ele está sofrendo e quero ajudá-lo. Só não sei como. Sabendo melhor do que ninguém, como deveria me aproximar de um animal ferido, eu o chamo da porta.

“Nika.”

Ele congela e um frio corre sobre mim. Sua cabeça gira tão lentamente na minha direção que é como assistir a um filme de terror.

“Você,” ele zomba.

Olhos azuis gelados cravam no meu rosto, anestesiando meu coração.

Tanto ódio. Nunca vi tanto ódio. E cada fragmento é dirigido a mim. Sei que Nikolai é muitas coisas, mas nunca isso. Nunca este monstro que se parece muito com meu próprio pai agora.

Eu sei que é tarde demais, mas corro de qualquer maneira.

Os passos atrás de mim são constantes e estrondosos e antes que eu possa colocar qualquer distância real entre nós, ele me pega pelos cabelos. Ele me puxa para trás e me prende na parede e eu me acovardo diante dele, encolhendo-me. Se algum amor por mim existiu nele, já tinha ido agora.

“Por favor, Nika-”

Como uma cobra, sua mão estica para envolver minha garganta. “Você não merece viver.”

Ele está bêbado. Eu posso sentir o cheiro de uísque em seu hálito. Posso ver isso em seus olhos injetados de sangue. Mas isso não diminui o golpe de suas palavras. Isso não me faz sentir menos morta por dentro. Ele me fez apaixonar por ele, apenas para me destruir.

Não sinto mais pena dele. Eu quero ele fora da minha vista. Fora da minha vida.

“Solte-me!” Grito. “Você é um selvagem. Eu te odeio!"

Ele corta o meu suprimento de ar e agarro suas mãos. Quando isso não funciona, arranho seu rosto. Minhas unhas rasgam qualquer carne que posso alcançar e isso só o torna mais volátil. Ele libera sua força sobre minha garganta, só para alcançar o cigarro na boca.

Eu observo horrorizada enquanto ele tira um fio de cabelo da minha garganta. Entre nós, sobem a fumaça e o calor produzido pelo cilindro vermelho de fogo conforme eu me esforço para ficar parada. Ele não pode fazer isso. Ele não vai me marcar como o meu pai marcava minha mãe.

Eu quero desesperadamente acreditar que há algo bom nele. Eu não me apaixonei por um sádico. A emoção sai dos meus olhos, forjando rios pelo meu rosto e traindo minha fraqueza.

Essa fraqueza é também a minha salvação. Minhas lágrimas são a única coisa para quebrar seu feitiço. Seu aperto em mim solta, mas seus lábios retransmitem seu desgosto com um sopro final de despedida.

“Seria o mínimo que você merece.”


Trinta e Um

 

 

"O que você acha?"

Talia me entrega um catálogo, apontando para a foto de um berço.

Eu lhe dou um sorriso gentil. “Parece que vai combinar com o tema.”

Ela balança a cabeça e fecha o catálogo com um suspiro. “Eu não sei o que estou fazendo, honestamente. Há tantas decisões a tomar e tanta coisa. Eu não sei o que é necessário e o que não é e não tenho ideia se qualquer um é seguro. Eu acho que vou ser uma péssima mãe.”

“Você não vai ser uma péssima mãe. Você vai aprender conforme for acontecendo. Isso é o que as mães fazem.”

Ela encolhe os ombros. "Eu acho que sim."

“Você está animada, não é?”

Ela bate os dedos no sofá ao lado dela. “Eu nunca pensei que queria ser mãe. Estou ansiosa e não sei se isso me faz uma pessoa horrível.”

“Não.”

Eu sei que isto não é fácil para ela. Esta cultura é totalmente nova para ela. Mas, mesmo para um veterano como eu, nunca era mais fácil.

“Você está bem?” Pergunta Talia.

Eu pisco para ela e concordo automaticamente. Não estou preparada para a pergunta. Estamos passando tempo juntas nas últimas duas semanas, mas não estamos na fase em que eu consideraria contar todos os meus segredos. Eu nunca tive uma amiga antes e mal sei o que é apropriado.

“Você parece diferente.” Sua voz é calma e posso dizer que este é um território estranho para ela também. Ela passou o último ano de sua vida lutando pela sobrevivência e tenho certeza que não foi uma transição fácil para a sua nova vida.

“Eu acho que estou cansada,” digo.

Na verdade, não é apenas exaustão. Estou com um pé na cova já. Quando olho no espelho, vejo um reflexo assombrado tão parecido com a minha mãe que me apavora. Faz duas semanas desde a explosão de Nikolai e se eu estivesse prendendo a respiração à espera de um pedido de desculpas, teria ficado sem oxigênio até agora. Até onde posso dizer, ele só esteve em casa tarde da noite e fez questão de me evitar.

Ele pode estar bem, mas eu não estou. Por dentro, estou fulminando. Uma morte lenta é tortura e posso sentir isso acontecendo. Todas as noites, eu repasso suas palavras. Não posso esquecê-las. E não posso continuar a viver assim.

Não vou me tornar minha mãe.

Mischa estava certo e eu deveria ter o escutado há muito tempo. Se eu não for embora agora, estou condenada a repetir a história.

O que Talia não sabe é que estas visitas com ela são a única coisa que salvam minha vida. Hoje será a última vez que eu a vejo e não é justo. Não quero abandoná-la neste mundo sem uma amiga, mas não tenho escolha.

A verdade dói para sair dos meus lábios. Ela merece isso. Mas não sou ingênua o suficiente para acreditar que cada movimento nosso não esteja sendo gravado. Talia foi rápida em apontar isso na nossa primeira visita. Eu acho que as câmeras a incomodam, mas também acho que ela estava tentando me alertar para não falar demais. A nossa amizade só pode ser tão profunda quanto as palavras que podemos admitir em voz alta.

“Solnyshko.” Alexei entra na sala, a mão entregando um pouco de chá para sua esposa. “Magda mandou isso para você.”

“Obrigada.” Ela sorri para ele e seu amor por ele não é falso. Ela se importa com ele. Ela o vê como seu salvador. E tão feliz quanto estou por ela, isso me machuca muito.

“Como Nika está te tratando?” Alexei se vira para mim, seus olhos azuis vagando sobre meu rosto com preocupação óbvia.

Há uma parte de mim que sente como se pudesse ser honesta com ele. Eu poderia dizer-lhe a verdade e ele não iria usá-la contra mim ou me trair. Mas seria uma traição com Nikolai, considerando como já estão tensas as relações com seu irmão. Por mais horrível que ele seja para mim, não posso fazer isso com ele.

Então, sorrio e forneço uma resposta padrão. “Ele está se mantendo ocupado. Honestamente, eu mal o vi em semanas. Mas está tudo bem.”

Alexei não parece acreditar em mim, mas Talia me poupa de novas investigações, interrompendo.

“Tanaka está muito cansada. Você se importaria de levá-la até o carro?”

“Claro.” Ele assente com a cabeça. “Vou levá-la lá fora.”

Todos nós levantamos e Talia e eu trocamos abraços. Ela não gosta deles, mas acho que de alguma forma ela sente as nuvens negras pairando sobre nós. Quando eu a abraço por um segundo a mais do que o necessário, ela não me solta também. Agradeço pela visita e ela me pede para voltar na próxima semana se eu puder.

“O carro está pronto,” Alexei me informa enquanto guarda seu telefone no bolso.

Ele me segue e desce as escadas comigo, como prometido. Quando chegamos à porta da frente, ele faz uma pausa.

“Eu sei que Nikolai pode ser difícil. Se você precisar de alguma coisa, não hesite em pedir. Você é amiga da minha esposa agora e há sempre um lugar seguro para você aqui.”

Minha garganta queima conforme eu lhe agradeço. É uma oferta agradável, mas a verdade é que não há nenhum lugar seguro para mim neste mundo.

Franco está esperando lá fora, como prometido, mas eu vacilo quando vejo Mischa parado lá. Eu não o vejo desde a festa de Natal e ele não deveria estar aqui agora.

“O que você está fazendo?” Pergunto.

Ele abre a porta e gesticula para eu entrar. Olho para Franco. Ele que me leva para casa, mas hoje, ele simplesmente balança a cabeça e caminha de volta para a casa.

“Apenas entre,” diz Mischa.

Hesito por apenas um segundo antes de ler a urgência em seus olhos. Ele não deveria estar aqui, mas o que quer que esteja acontecendo, eu confio nele. Entro no carro e coloco o cinto de segurança enquanto ele caminha para o lado do motorista. Ele liga e o carro desce o caminho sinuoso da propriedade de Alexei.

Estou esperando que ele me diga o que está acontecendo, mas ele não o faz. Seus dedos estão brancos contra o volante e todo o seu corpo está rígido.

“Mischa?”

Ele olha para mim do outro lado do carro e se eu não o conhecesse bem, pensaria que ele me odeia um pouco agora.

“Eu não deveria estar fazendo isso,” diz ele.

“Por que você me pegou?”

“Nikolai não sabe que estou aqui,” ele admite. “Se ele descobrir, vai me matar. Você tem uma chance, Nakya. Apenas esta. Se você não for embora hoje, então você assinou seu próprio atestado de óbito. Entende?"

Parece quase fácil demais, considerando a quantidade meticulosa de tempo que eu investi no planejamento da minha própria fuga. Franco deveria me levar hoje. Eu teria lhe pedido para parar no posto de gasolina, insistindo que tinha que usar o banheiro. Franco sempre acata meus pedidos e eu sabia que desta vez não seria diferente. Mas não ia usar o banheiro. Eu ia correr.

Essa era a extensão do meu plano. Não há realmente qualquer sequência, porque não tinha nenhuma. Eu só sei que tenho que ir. Mas agora Mischa está me oferecendo uma fuga numa bandeja de prata e ainda estou tentando discernir se ele é realmente tão confiável quanto acho.

“Você não tem escolha,” diz ele, lendo minha mente. “Sou a única opção que você tem.”

"Por que está fazendo isso?"

“Porque vai destruir Nikolai se alguma coisa acontecer com você por causa dele.”

Não acredito nisso, mas não há razão para argumentar. Meu foco está no futuro. Meu foco está na fuga.

“Como vamos fazer isso?” Pergunto.

“Há uma mala no porta-malas.” Ele inclina a cabeça para trás. “Um pouco de comida, dinheiro e um casaco. Vou parar em Pittsfield e deixá-la na rodoviária. Você compra uma passagem. Qualquer que seja o primeiro ônibus, não me importo, você entra nele. E então você continua seguindo em ônibus ou trens para chegar onde diabos você quiser ir, de preferência no lado oposto do país.”

"É isso?"

Ele olha para mim. “Que porra mais você quer? Não sou um agente de viagens.”

"Eu sei. Sinto muito. Estou apenas... estou enlouquecendo.”

“Basta ser inteligente,” diz ele. “Uma vez que você esteja fora da costa leste, estará bem.”

Eu gostaria de ter tanta confiança, mas apenas aceno.

A viagem é tensa e silenciosa. E quando Mischa para no meio-fio, eu realmente não acho que posso fazer isso. Nunca fui a qualquer lugar sozinha. Eu nem sei como comprar uma passagem de ônibus ou descobrir os horários ou escolher um lugar para ir.

“Nakya.” Mischa me tira dos meus pensamentos. “A rodoviária é acima dessa rua à esquerda. Eu não posso deixá-la mais perto. Você tem que ir agora."

Ele abre o porta-malas e deixa o carro funcionando. É isso. Ele não vai sair e estou sozinha a partir daqui. Eu sei o quanto ele está se arriscando ao fazer isso por mim. Ele já fez o suficiente e meu pânico não é o caminho para recompensá-lo.

Tiro o cinto e saio do carro, parando para olhar para ele mais uma vez. “Obrigada, Mischa.”

Ele engole e assente. “Não se esqueça da sua mala.”

Eu fecho a porta e pego a mala do porta-malas. Mischa se vai num piscar de olhos e estou de pé na calçada, sentindo-me mais perdida do que já estive.

Olho para a rua. A rodoviária não está longe, mas eu preciso chegar à faixa de pedestres. É um cruzamento movimentado e estamos no meio do dia, por isso o tráfego é pesado. Tentando me misturar, eu me junto aos outros pedestres esperando para atravessar. Meu coração está acelerado, mas tento fazer parecer que eu faço isso o tempo todo.

A luz acende e eu me movo com a multidão. Por enquanto, tudo bem. No outro lado da rua, nós dispersamos. Estou livre, mas me sinto mais vulnerável ao seguir a rua sozinha. O trânsito está parado, então mantenho minha cabeça para baixo e tento evitar chamar atenção conforme passo pelos carros.

Parece uma eternidade até que consigo chegar no edifício de forma estranha, mesmo que tenha sido uma curta distância. Estou quase na porta de vidro quando uma sensação estranha corre sobre a minha pele. Algo me faz olhar para cima e quando eu faço isso, meu coração para.

Há um carro esportivo azul em marcha lenta na rua, à espera do semáforo mudar à frente. E não é tanto o carro, mas o rosto atrás do volante que reconheço. Eu o vi na festa de Natal e me lembro dele porque era um dos homens me olhando com cobiça na porta. Ele olha duas vezes e sei que ele me viu também. As tatuagens saindo acima do colarinho da sua camisa apenas confirmam meus medos. Ele é um Vor.

Abaixo minha cabeça e vou para dentro do prédio, andando o mais rápido que posso. A cada poucos metros, faço uma pausa para olhar por cima do meu ombro. Ele não está lá. Mas ele me viu e estou certa de que ele me reconheceu. Não reconheceu?

Não sei o que fazer. Sempre iria ser um risco em qualquer uma dessas pequenas cidades. Os Berkshires estão cheios de Vory e eu deveria ter sabido melhor. Eu deveria ter ido mais rápido. Há um monte de coisas que gostaria de ter feito de forma diferente, mas agora, estou perdida.

Adrenalina, e não a razão, me faz caminhar até o balcão e olhar os horários de ônibus. É final da tarde e não há muitos ainda para o dia, mas eu preciso escolher. A decisão é sufocante, então pego o primeiro que vejo. Há um ônibus indo para Boston e está saindo em trinta minutos. De lá, eu posso conseguir outro.

Entro na fila para comprar minha passagem, segurando as alças da minha mala nas mãos. A cada poucos segundos, olho em volta e estou certa de que, provavelmente, atraio mais atenção. Tento me acalmar, esperando trinta segundos entre as passagens. As pessoas na minha frente estão demorando uma eternidade.

Outro olhar para fora da janela. É rápido e acho que estou bem. Mas então eu o vejo. Ele está no telefone e tem a mão no vidro, os olhos piscando enquanto procura os rostos na multidão.

Estou ferrada.

Estou muito ferrada.

Eu saio da fila e me forço a andar normalmente para o lado oposto da estação, movendo-me com o fluxo de outros viajantes e rezando para que ele não me veja.

Preciso sair daqui, então pego a primeira saída que encontro. De volta à calçada, ando na direção que eu vim, virando à direita na primeira rua transversal disponível. Eu preciso manter a calma. Correr só vai chamar a atenção, então eu ando. E, conforme faço, pego o casaco que Mischa colocou na minha bagagem, encolho meus ombros e arrumo minha mala novamente.

Eu não sei para onde estou indo. Existem negócios ao longo do caminho. Mercados, cafeterias e até mesmo um centro médico. Mas nenhum deles me deixa segura. Eu preciso chegar em algum lugar que possa me esconder. E depois de quinze minutos, finalmente acho.

É um parque de beisebol e é murado por árvores. O suficiente para que eu possa desaparecer e me recuperar enquanto penso em outro plano. A grama é fria e dura sob meus pés, mas agora que estou fora da rua principal, decido correr. Meu tornozelo dói a cada impacto dissonante e me preocupa que eu possa tropeçar, mas também temo que, se não correr, não vou chegar lá de qualquer forma.

Atrás do campo, encontro um grupo de árvores que são grandes e cheias. É a melhor cobertura que eu poderia esperar agora, então escolho a mais grossa que posso encontrar. Achatando meu corpo contra o chão, rastejo abaixo dela. Não é nem um pouco confortável, e uma coisa é evidente, agora que executei meu plano. Mesmo que eu consiga partir sem ser descoberta, não vou sobreviver por muito tempo com as roupas que estou. Minha única esperança é que eu seja capaz de sair desta área antes do amanhecer. Vou voltar para uma das lojas que passei ao longo do caminho e comprar algumas roupas diferentes e então vou voltar para a estação e pegar o primeiro ônibus para fora daqui.

Mas, primeiro, tenho que sobreviver à noite. E a cada segundo, uma nova dúvida enche minha cabeça. Não é a temporada de beisebol, mas o parque ainda é o lugar para cães e seus donos. Cada conjunto de passos faz a minha respiração parar. Isso continua conforme as horas passam, e, finalmente, a escuridão se instala.

Descanso meus olhos e me pergunto o que está acontecendo na propriedade de Nikolai. Ele sabe que eu não retornei até agora e contatou Alexei. Ocorre-me que seu irmão deveria saber disso. Franco simplesmente me deixou ir com Mischa sem pensar duas vezes. Eles devem ter tido algum tipo de plano para o que irão dizer a Nikolai. Ele esperava que Franco me levasse para casa, então suponho que eles vão dizer que consegui escapar do carro, assim como eu tinha planejado. Nikolai não vai saber que seu melhor amigo me ajudou e Alexei e seu guarda levarão a culpa.

É o melhor cenário possível para todos nós. Nikolai pode voltar à sua vida e espero que encontre a paz sem mim. Mas eu só tenho que me esforçar para não pensar em quem a vida irá incluir.

É o melhor.

Em algum momento, eu adormeço. Percebo isso quando acordo assustada por um outro som de passos. Tarde demais para ser um passeio de cachorro, eu acho. Está escuro e muito frio. Meu corpo inteiro parece que está congelado e isso só vai piorar.

Espero a pessoa desaparecer como todos os outros, mas isso não acontece. Os passos estão se aproximando. Tão perto, que em uma ocasião, posso ver sapatos debaixo da árvore. Eu prendo a respiração, certa que estou presa quando uma lanterna varre.

Uma voz chama a outra pessoa em russo e eu engulo em seco. Eles rastrearam os meus passos e esta é a conclusão mais lógica. Não tenho conexões, nem carro, nem ideia do que fazer. Então, onde mais eu poderia ir?

Eu espero o guarda dizer que me encontrou. É o minuto mais longo da minha vida enquanto ele fica lá, discutindo o que devem fazer. Mas apesar de tudo, torna-se claro que ele não tem ideia que estou aqui. E por agora, estou segura.

Eu não dou uma respiração completa até que ele se move de novo e então, engulo o ar fresco pela boca. Seus passos ficam distantes e, finalmente, desaparecem.

Frio entra em meus ossos e estou com muito medo de mexer os membros, mesmo depois de ter ficado silêncio. Espero eles voltarem. E então, espero um pouco mais. Pelo o que eu diria ser de duas horas, eu me deito tão imóvel quanto posso. Até eu saber que não tenho escolha.

É agora ou nunca.

Eu tenho que me mover. Tenho que ficar em segurança. Preciso de um espaço acolhedor, um telefone e todas as orações do mundo.


As luzes ao longe parecem perto, mas sei que elas estão longe. Esta cidade está provavelmente cheia de homens de Nikolai agora. Minha única esperança é encontrar um bom hotel onde possa me esconder no banheiro durante a noite. Pelo menos vou estar a salvo do frio lá fora.

Mas meus nervos estão disparados e meus membros estão duros conforme ando através do parque. Acho que ouvi um galho estalar atrás de mim e congelo. Três segundos se passam e depois mais quatro. Quero acreditar que é minha imaginação. Quero acreditar que eu não tinha chegado tão longe em vão.

Sigo e não há outro som. Nem um único. Mas as coisas que fazem barulho durante a noite não são os predadores mais perigosos. São os que estão em silêncio. São os ladrões que vêm roubar você, sem aviso prévio.

E não há nenhum ladrão mais hábil do que Nikolai Kozlov.

Eu entendo isso quando ele me prende em seus braços, sua respiração quente no meu ouvido.

“Onde você pensa que está indo, pet?”


Trinta e Dois

 

 

O pulso dela martela contra sua garganta enquanto eu a arrasto até as escadas para o meu quarto. Pequena mentirosa imunda. Coberta de sujeira e arranhões, tão desesperada para ficar longe de mim. Ela me chama de sádico e sorrio na cara dela.

“Você não tem ideia, zvezda. Tenho sido muito gentil com você. Mas se você quiser, posso te mostrar como um sádico realmente é.”

Seu lábio inferior treme e ela se recusa a olhar para mim conforme implora. “Só me deixe ir.”

A minha mão cobre a carne delicada de sua garganta. Eu poderia estrangulá-la agora. Eu poderia acabar com sua vida e este absurdo de uma vez por todas. Em vez disso, meus dedos envolvem sua mandíbula.

“Você não pode me deixar,” murmuro contra seus lábios. “A única maneira de você me deixar, pet, é através da morte.”

“Não,” ela protesta.

Eu a forço sobre a cama e fixo o corpo dela com as minhas pernas. Ela engasga quando pego meu canivete e se encolhe quando corto sua camisa ao meio. Com um ataque repentino e sem sentido de pudor, a princesa tenta cobrir os seios com as palmas das mãos.

Suas mãos são removidas com força e melhor seria se fossem amarradas na cabeceira da cama com os restos de sua camisa. Ela luta contra mim, mas os mamilos já estão duros e seus seios inchados para mim. Minha palma achata contra seu estômago e prendo-a no lugar enquanto meus dentes puxam seu mamilo.

Ela grita e chora quando eu lambo sua pele, acalmando a dor que causei. Seus olhos estão fechados com força, porque ela é orgulhosa demais para admitir sua derrota. Não é necessário, de qualquer forma. Eu já posso sentir o cheiro da excitação encharcando a calcinha dela.

Ela não merece a minha bondade. Ela não merece gozar. Mas vou lembrá-la a quem ela pertence. Vou manter esta boneca por tanto tempo quanto eu desejar, trancá-la e trazê-la para fora para brincar conforme eu achar melhor.

“Nika,” ela implora.

Eu bato em seus seios. Ela grita e isso agita meu pau, deixando-me inquieto. Estou desesperado para mergulhar dentro dela. Eu preciso foder com ela brutalmente, uma e outra vez, até que ela admita que é minha. É a única cura para minha doença. Ela é a única fonte de calma que tenho. Seu calor, seu cheiro e seus toques suaves.

Eu a odeio por me deixar fraco. Eu a odeio por foder tudo o que planejei. E acima de tudo, eu a odeio por ser a filha de Manuel Valentini. Fecho meus olhos e tento bloqueá-lo, mas não consigo.

Meus dedos vão para a garganta dela de novo, e desta vez, ela olha nos meus olhos.

“Faça isso,” ela sussurra. "Liberte-me."

Aperto-a e beijo-a com tanta violência que ela não consegue respirar. Meus dentes colidem com os dela e sinto o gosto de sangue. Eu lambo a doçura amarga, desesperado por mais.

Ela choraminga e empurro minha pélvis contra ela. Existem ainda muitas barreiras entre nós. Um problema resolvido quando arranco sua legging e abro minha calça.

“Você não pode me deixar.”

Abro as pernas dela e dou um tapa em seu clitóris. Ela puxa uma respiração entre os dentes, empurrando contra suas restrições com tudo o que ela tem. Esfrego meu pau inchado contra ela, revestindo-me de sua umidade.

Ela balança a cabeça em negação, e eu me arrasto até o comprimento do seu corpo, lambuzando a excitação que vaza do meu pau contra seus lábios. Eles estão selados tão apertados quanto podem estar e isso só me deixa mais forte. Minha bonequinha é teimosa. Minha bonequinha é bonita. E a minha bonequinha é uma selvagem para se negar a mim quando eu preciso dela dessa maneira.

“Chupe meu pau,” exijo.

“Peça para a sua preciosa Ana fazer isso.”

Eu belisco o mamilo e ela treme contra mim. “Não fale dela novamente.”

“Ana, Ana, Ana,” ela grita.

Eu aperto o queixo dela na minha mão. “Cuide do meu pau ou vou encontrar alguém que faça isso.”

Seus olhos se abrem e suas bochechas ficam vermelhas. Ela é ciumenta. Ela é possessiva. E Nakya quer meu pau só para ela.

“Eu te odeio,” diz ela.

Acaricio seu rosto e esfrego meu pau sobre seus lábios, gemendo. “Mas não tanto quanto você me ama.”

Ela se acalma e apesar do seu temperamento, uma lágrima escorre do canto do olho. “Por que você tem que me torturar? Por que você não pode simplesmente me deixar ir?”

"Porque eu preciso de você."

É a coisa mais brutalmente honesta que eu disse a ela e me odeio por isso. Mas, independentemente, é o que ela quer ouvir. Ela quer que eu seja fraco também.

“Nika” ela implora. “Deixe-me tocar em você.”

“Chupe meu pau.”

Ela abre a boca e me deixa entrar. É quente, molhada e é a porra do meu céu e inferno, tudo junto em uma coisa só. Ela tenta fazer o que disse, mas faz pouco quando eu começo a foder seu rosto e a usá-la para o meu prazer.

Relaxa-me ouvir seus engasgos com meu pau. Lágrimas salgadas borram o rímel em volta dos seus olhos, manchando-os com a evidência de que eu a tomei desta forma. Eu gosto dela quando fica pervertida e toda entregue.

“Este é o único pau que você irá experimentar, zvezda. Seus lábios são meus. Sua buceta é minha. E se alguma vez me negar de novo, vou foder a sua bunda para provar que ela também é minha.”

Ela geme e eu empurro mais profundo. Eu poderia gozar agora. Poderia derramar em sua garganta e fazê-la engolir tudo. Mas faz muito tempo desde que a última vez. Preciso sentir sua buceta em volta de mim. Eu preciso senti-la escorregadia de desejo por mim. Minhas bolas estão pesadas e quero esvaziá-las dentro do seu ventre.

Quando me afasto, ela lamenta. Eu acaricio seu rosto e, mesmo que não deva, inclino-me para beijá-la novamente. Ela arqueia contra o meu peito, seus mamilos apontando contra o tecido da minha camisa. Eu envolvo suas pernas em volta dos meus quadris.

“Deixe-me tocar você,” ela implora.

“Você fugiu de mim, pet. Meninas más não podem tocar. Elas não podem brincar.”

Empurro para dentro dela e suspiro. Sua buceta é apertada e perfeita, e o moleque presunçoso sabe disso. Eu fodo com ela como se estivesse meio bêbado e ela me observa bem de perto, orgulhosa de si mesma pelo que faz comigo. Estou meio tentado a cobrir seu rosto com um travesseiro, então, não teria que olhar para seu rosto. Ou, mais importante, de modo que ela não pudesse ver o meu.

Eu quero foder com ela como uma prostituta. Quero colocá-la em seu lugar, mas estou sem material para isso. Então, belisco e bato em seus seios algumas vezes porque posso. Eu mordo seu pescoço e destruo o cabelo dela, e então tento a ideia do travesseiro, mas não é a mesma coisa.

Eu preciso ver seu rosto.

“É para isso que você é boa,” resmungo. “Uma bonequinha que eu posso foder e gozar. Você deveria ser punida por pedir coisas impossíveis.”

“Você já me puniu,” ela chora. “Não há nada que você possa fazer que seja pior do que o que você já fez.”

O tremor em sua voz chega até mim, mesmo que não deva. Meu toque suaviza e os meus dedos passam sobre seu rosto quando caio em seu corpo. Em vez de transar com ela de maneira pervertida, eu acabo transando com ela de forma agradável. Meus lábios encontram os dela e ela suspira quando dou o que ela precisa. Meu carinho. Minha atenção. Meu gozo. Todas as coisas que não quero dar.

“Você é um veneno,” digo a ela. “Você vai me arruinar.”

“Então deixe-me arruinar você,” ela sussurra. "É a única maneira."


Trinta e Três

 

 

Chega a hora da nossa reunião mensal Vory e hoje Viktor exigirá suas respostas.

Ele vai querer um pedido de Ana e vai querer saber o destino da minha prisioneira. Se eu lhe contar a verdade sobre a minha mãe, ele vai esperar que Nakya pague. Mas a mentira significaria poupar Manuel da vingança que eu justamente mereço. Já esperei muito tempo. Ele deveria ter sido morto semanas atrás se as coisas não fossem tão complicadas.

Eu gostaria de acreditar que com o tempo, Nakya me perdoaria por ter assassinado seu pai. O relacionamento deles não é sem complicações. Ela o ama e o odeia, talvez igualmente. Seria difícil a princípio, mas ela viria a aceitar as minhas justificativas. Não só pela minha própria mãe, mas pela dela também.

Independentemente, isso deveria ser a menor das minhas preocupações. Por agora, devo navegar nas águas turbulentas com Viktor. Ele não vai me dar mais tempo. Meu tempo acabou e ainda não decidi o que lhe dizer.

Entrar na reunião no último segundo possível não é o melhor momento, mas me dá o benefício de mais tempo para tomar minha decisão. Viktor emite um olhar afiado quando chego, o último Vor a tomar seu lugar. Certamente haverá uma discussão a seguir, mas por agora, ele dirige um dos boevik para a frente da sala para iniciar a apresentação que Alexei preparou. A agenda de hoje não será diferente de todos os outros meses. Operações de jogo, os embarques de armas e qualquer outra coisa que faz o dinheiro da fraternidade.

Mas quando a apresentação carrega, não são os relatórios habituais que enchem a tela. É um vídeo de vigilância da casa de Alexei. Um vídeo que, pela expressão em seu rosto, ele não tinha visto antes. Sua governanta Magda está na escada e ao lado dela está Talia. Sua esposa o chama por trás, mas ele não vira, então ela tenta novamente.

Sussurros confusos começam a circular ao redor da sala, mas Alexei leva só um momento para entender o que está acontecendo. Alguém traiu o seu segredo, expondo sua deficiência auditiva para todos os irmãos Vory verem.

“Desligue isso,” ele exige.

O boevik se atrapalha com o computador, mas mesmo quando ele remove o pen drive, o vídeo não para. Alexei olha do outro lado da sala e seus olhos pousam em Sergei, a acusação clara. Seria a minha primeira suposição também, dado o sangue ruim entre eles. Mas o constrangimento não termina aí.

O que acontece em seguida é pior. Muito pior.

Uma apresentação sórdida de imagens surge do nada, piscando em toda a tela. Imagens da esposa de Alexei. Amarrada. Esquelética. Sem vida. E em cada imagem, ela está sendo fodida por um homem diferente. São de um tempo antes de Alexei tomar a posse dela, quando ainda era uma escrava. Logicamente, existem apenas duas pessoas que devem ter acesso a estas imagens. Talia e seu ex-captor.

É difícil assistir a este insulto ao meu irmão. Ele é um homem que ama a sua esposa mais do que qualquer outro e é um homem que acaba de ser traído. Um último slide aparece, o golpe final para todos verem.

Qual é a sensação de saber que seu amado Sovietnik é surdo e casado com uma prostituta?

Raiva cega leva Alexei a esmurrar o computador e não há uma única palavra falada entre nós. Viktor é quem esvazia a sala, instruindo a todos para esperarmos no bar. Eu sou o último a sair do meu lugar, ansioso para ajudar, mas entendendo que no estado mental presente de Alexei, ele não vai vê-lo dessa forma.

Viktor me para na porta. “Ninguém está autorizado a sair deste edifício.”

Eu aceno e fecho a porta atrás de mim. Meus irmãos Vory bebem e falam calmamente entre si enquanto esperamos por uma resolução. Meus olhos estão fixos em Sergei, reconhecendo a expressão satisfeita no seu rosto. Logo, aquela expressão presunçosa será substituída por uma sem vida.

Se tiver dedo dele nisso, ele cobriu bem seus rastros. Tenho testemunhado o amor genuíno entre Alexei e sua esposa e é difícil compreender se ela faria isso, mas é assim que parece.

Eu conheço meu irmão. Como eu, ele é rápido em acreditar no pior nos outros. E sei que quando ele sair da sala de controle com Viktor, ele vai acreditar no pior de sua esposa grávida.

Viktor se move para a frente da sala com Alexei atrás dele e não há nenhuma explicação necessária para o que acontece em seguida. A maneira Vory é simples, mas brutal. Ao esconder o seu segredo de seus irmãos Vory, Alexei cometeu uma traição. A irmandade não tolera segredos, mas Alexei manteve o seu por uma boa razão. Ele considera a surdez uma fraqueza.

Isso não vai salvá-lo da punição, independentemente. Esta é a maneira Vory. Ele tira a camisa e pega a bebida que Viktor oferece primeiro, bebendo de um gole só. Com um aceno de cabeça, ele sinaliza que está pronto para aceitar as consequências e Viktor tem a primeira honra de socá-lo.

Ele bate em Alexei no estômago e depois gesticula para o resto de seus irmãos Vory seguirem o exemplo. Todo homem tem sua vez. Sergei tem prazer no ato, esmurrando Alexei duas vezes. Quando a minha vez chega, peço desculpas antecipadamente e depois lhe bato onde espero que irá prejudicar o mínimo. Ele aceita como um homem e quando o calvário acaba, ele ganha outra tatuagem. Um símbolo de que ele ganhou o seu caminho de volta para a fraternidade com honra.

Mas não há nenhuma honra no que aconteceu com ele. Sou capaz de matar em seu nome, mas não sei o que posso fazer para ajudá-lo. Viktor chama Franco e envia Alexei casa para se recuperar.

É só quando ele vai que me ocorre que eu ainda tenho meus próprios problemas para lidar. E Viktor não está em um clima agradável agora. Quando ele se aproxima de mim, estou quase certo de que vai exigir a morte de Nakya ou a proposta para Ana até a meia-noite.

Em vez disso, ele me dá um tapa no ombro. “Vamos discutir o casamento mais tarde. Por agora, preciso que você faça o que puder para ajudar Alexei com isso. Prevejo um caminho difícil pela frente.”

Eu aceno, mas Viktor é rápido em me lembrar que isso não acabou.

"Em breve. Você fará o seu pedido em breve.”


As ordens de Viktor me dão um sentido renovado de propósito. É mais fácil se concentrar em problemas quando não são seus e eu pego como meu objetivo provar a Alexei que sua esposa não o traiu. No entanto, meu irmão prova ser mais teimoso do que inicialmente lhe dei crédito.

Ele está muito cego pela raiva para ouvir a razão e tenho pouca chance de salvar Talia sem prova de sua inocência. Mischa está no detalhe da vigilância, analisando o vídeo do clube naquele dia, mas o seu trabalho leva tempo. O tempo não é um luxo que tenho quando Alexei fica mais frio e mais resistente de um dia para o outro.

Ele passa horas trancado em seu escritório, obcecado sobre cada pedaço de evidência. Cognac tornou-se seu único aliado, porque ele não confia em ninguém. A progressão lógica e natural nesta situação é simples. Alexei não vai deixar isso passar. Correndo o risco com sua própria vida, ele vai determinar que as respostas estão com o ex-captor de Talia. O único fim possível para essa visita será sangrenta e confusa.

De muitas maneiras, sua situação é o reflexo da minha própria. Impossível e fadada ao fracasso.

Esta manhã, eu me lembro de um negócio deixado inacabado quando estudo as peças ainda à espera no meu cofre. Já faz muito tempo desde que pintei e é como se o tempo tivesse parado, preservando a memória daquele dia por uma eternidade. Sua imagem ainda repousa sobre o cavalete, intocada e acho que se pudesse, iria pendurá-la no meu quarto.

Ela me pega em um momento vulnerável quando entra no quarto, os olhos movem-se para a pintura e depois para mim. Eu desvio meu olhar para evitar o desconforto da situação.

“Tudo bem?” Limpo alguns fiapos para manter as mãos ocupadas.

“Você não esteve aqui.” Suas palavras são uma acusação e ela está além do ponto de escondê-la.

“Eu não estive com mais ninguém, zvezda. Tenho ajudado Alexei.”

“Talia está bem?” Ela pergunta.

“Ela está saudável, de acordo com Alexei. Mas imagino que, dadas as circunstâncias, ela poderia estar muito melhor.”

“Eu pensava melhor dele,” responde calmamente.

“É mais fácil acreditar no pior em alguém, não é?”

Quando ela não responde, não tenho escolha a não ser olhar. Ela sempre foi leve, mas hoje parece que está carregando o peso do mundo sobre seus ombros.

“O que vai acontecer com a gente, Nika?”

Solto uma respiração que não sabia que estava segurando. Ela merece saber a verdade. Ela esperou por ela por tanto tempo. Nakya não é ignorante sobre os caminhos do nosso mundo, mas isso não significa que ela vá entender. Não há como suavizar o golpe das únicas palavras que tenho para oferecer a ela.

“Eu tenho só duas escolhas, meu amor. E você não vai gostar de uma ou outra opção.”

“Diga-me,” ela insiste. "Eu dou conta disso. Quero saber."

Eu tento ficar longe dela, mas quando ela está perto o suficiente para eu cheirar sua doçura inebriante, não me lembro de por que preciso evitá-la em primeiro lugar. Quando gesticulo, ela vem e isso só piora as coisas.

“A verdade é, zvezda, que nunca foi nosso destino acabarmos juntos. As estrelas não estão a nosso favor e a única maneira como isso pode acabar é em tragédia.”

“Eu não acredito nisso.” Ela balança a cabeça, cabelo caindo solto em volta do seu rosto bonito.

“Você conhece este mundo. Nada é fácil e escolhas devem ser feitas. Eu posso abandonar você e me casar com Ana ou posso deixar você ir.”

“Renunciando a si mesmo,” ela acaba por mim.

Eu brinco com o cabelo dela e a beijo suavemente nos lábios. Seus olhos se fecham e ela inclina sua testa contra a minha, suave e triste.

“Por que não podemos mudar nosso destino? Vamos realinhar nossas estrelas, Nika. Nós podemos fazer isso juntos. Você pode usar seus talentos para seu próprio benefício. Você pode pintar e eu posso dançar, e-”

“Você fala de sonhos impossíveis.” Eu fecho os olhos e inspiro-a, afogando-me em sua inocência. “Esta não é a forma como os nossos mundos funcionam, pet.”

"Pode ser. Qualquer coisa que a gente tenha que fazer-”

“Vou matar o seu pai, Nakya. Vou torturá-lo lentamente e vou tirar o seu último suspiro. Então me diga agora que nós podemos ficar juntos.”

Seu corpo fica rígido em meus braços e assim como eu suspeitava, ela recua. Sinto a perda dela por toda parte, mas não a forço a voltar. Eu quero que ela saiba que quando seu pai morrer, será na minha mão.

O homem abusou dela e só por isso, ele merece morrer. Mas é seu sangue. E assim como estou tentando fazer as pazes com matar o meu próprio pai, não será fácil para ela encontrar a paz com a minha decisão.

“Por que?” Ela implora. “A dívida?”

“Nunca foi sobre a dívida.”

Ela anda o comprimento da sala, recolhendo seus pensamentos e balançando a cabeça. “Eu sabia que não podia ser apenas a dívida. Você sabia demais sobre a minha vida. Você estava tão zangado comigo, e... diga-me o porquê. Eu mereço saber.”

“Ele matou a minha mãe.”

Ela para e sua doçura se transforma em veneno. “A amante dele?”

“Sua escrava,” respondo. “Uma puta forçada.”

Ela empalidece e esfrega distraidamente os braços, visivelmente escolhendo a negação. É mais fácil para ela acreditar que as muitas mulheres que roubaram a atenção do seu pai longe de sua mãe doente eram por escolha. Ela transformou em uma obsessão o ressentimento delas. Sua infância a presenteou com um lugar na primeira fila para os danos da infidelidade, garantindo que ela iria permanecer firme em sua determinação de que nunca iria ser uma amante. Mas ela nunca viu o outro lado da moeda.

“Escolho a segunda opção.” Ela aperta os braços em torno de si. "Deixe-me ir. Tenha misericórdia, Nika. Deixe-me sair enquanto ainda tenho uma chance.”

“Nakya.” Dou um passo em sua direção e ela recua.

“Não,” ela diz. “Eu acho que isso deve parar por aqui. Por favor, vamos parar aqui. Não posso mais fazer isso.”


Trinta e Quatro

 

 

"Onde ele vai?"

Mischa mexe com o cigarro entre os dedos, batendo-o contra o fim do seu polegar antes de virá-lo e repetir a ação mais uma vez. Ele está relutante em responder e isso me deixa inquieta.

“Ele vai ajudar seu irmão.”

“Ele está ajudando seu irmão há semanas. O que torna esta vez diferente?”

Mischa coloca o cigarro de volta no pacote e se senta no sofá. Ele diz que veio me ver, mas na verdade, veio para entregar a mensagem que Nikolai não queria me dar.

“Por favor, diga-me,” insisto. "O que está acontecendo? Ele está bem?"

Mischa se inclina para trás contra o sofá, chutando a perna para cima e batendo o pé contra a mesa de café. “Contra meu conselho, Nikolai vai ajudar seu irmão a rastrear o ex-captor de Talia. É um lugar perigoso onde estão indo e estão apenas os dois. Há uma possibilidade de que ele não possa voltar.”

Faço um esforço para responder, mas nada sai da minha boca.

Mischa concorda. Estamos ambos quietos enquanto eu processo. Eu nem sequer olhei para Nikolai em semanas, mas a ideia de perdê-lo tira o pouco de calor do meu corpo.

“Ele poderia ter dito adeus.” A raiva escorre dos meus olhos.

Mischa solta uma risada. “E te dar a oportunidade de afastá-lo de novo? Esse não é o estilo dele, Nakya.”

“Eu não o afastei,” argumento. "É ele. Ele é quem não vai fazer uma escolha. Ele poderia ter evitado isso.”

Mischa balança a cabeça. “Nunca foi uma escolha dele. E se você ainda não sabe isso, então nunca vai sobreviver neste mundo.”

“Se você ama alguém, então acha um caminho. Pode não ser fácil, mas você pode, se quiser. E tornou-se claro para mim que Nikolai não quer.”

“Isso é apenas o que um hipócrita diria,” observa Mischa.

“Eu não sou uma hipócrita. Você mesmo me disse que eu tinha que ir embora.”

“Diga-me isso, princesa.” Ele se inclina para frente, humilhando-me com animosidade desenfreada. “Como acredita que essa relação de fantasia de vocês iria funcionar? Você voltaria a ser uma dançarina e Nikolai poderia pintar quadros de flores e pôneis, enquanto viajaria ao redor do mundo com você?”

"Claro que não. Eu sei que não seria assim-”

“Há a pequena questão da recompensa pelas cabeças de vocês a considerar. Além do fato de que, não importa onde no mundo você estivesse, não estaria segura. Mas você não pensa sobre estas coisas em sua fantasia, não é?”

“Não sou ignorante,” sufoco. “Eu sei que não é assim tão fácil.”

Mischa suaviza, como sempre faz. “Isso não significa que ele não se importa.”

Eu caio no sofá ao lado dele, tentando contemplar um mundo onde Nikolai não existe. Mas não consigo. E não sei como isso aconteceu. Um minuto, ele está me roubando para longe da minha vida e no próximo, estou me apaixonando por ele. Há tantas complicações entre nós que nunca poderemos superar. Seu casamento iminente. Minha morte iminente. Seu desejo de matar meu pai. Cada carta possível está contra nós, mas ainda assim, eu lutaria por ele, se ele lutasse também.

“Você sabe o que é perder a sua mãe,” Mischa interrompe meus pensamentos.

“O que isso tem a ver com alguma coisa?”

“Ele perdeu a mãe também, você sabe. Toda a sua vida, ele disse que ela se afastou dele. Nikolai é bom em se prender às coisas. Ele é bom em empurrar as pessoas para longe antes que elas possam feri-lo novamente. É por isso que ele é tão rápido em acreditar no pior das pessoas. É por isso que ele vai se virar para você quando menos esperar.”

“Se você está tentando me convencer de que ele não é bom para mim, pode guardar sua saliva. Eu já sei dessas coisas.”

“Não estou tentando convencê-la de qualquer coisa,” diz ele. “Eu só estou dizendo que até você, os relacionamentos dele eram inexistentes. Você foi a primeira mulher a entrar no coração dele. Pelo menos, deve saber que isso realmente significa alguma coisa.”

Eu lhe ofereço um sorriso fraco, mas não me faz sentir melhor.

“Sei que preciso ir,” digo a ele. “Eu não acho que você estaria disposto a me ajudar com isso de novo.”

“Depois do que aconteceu da última vez?” Ele balança a cabeça. “Sem a menor chance. Além disso, ele iria saber que era eu desta vez.”

Encolho os ombros. “Bastante justo, eu acho.”

Ele me dá um olhar de soslaio. “Você vai pensar em alguma coisa. Estou certo disso."


Durante a ausência de Nikolai, chegou ao meu conhecimento que há uma lacuna de duas horas durante todo o dia, em que estou sozinha com Nonna. Em todas as outras vezes, há um Vory nomeado guardando toda a casa. Um que não fala ou se atreve a olhar para mim.

Mischa aparece em geral a cada dois dias, mas suas visitas são imprevisíveis. Minha janela de oportunidade é pequena. Já que Nonna tem a casa trancada mais forte que o habitual, não sou capaz de chegar ao escritório para usar o telefone. Então, tenho duas opções. O guarda ou Mischa. Venho estudando todos seus movimentos, tentando prever o momento mais oportuno. Mas quando ele finalmente aparece, não estou preparada.

Isso acontece em um domingo, na parte da manhã, na ocasião que por acaso eu passo meu tempo na academia, porque meu tornozelo está me incomodando. Nonna sempre vem trancar quando o alarme toca, então eu não me preocupo em alertá-la. Mas quando saio da sala, eu topo com o guarda quando ele está correndo para o banheiro.

Tem a aparência do inferno e é evidente que ele não tinha nenhuma consideração com seus deveres esta manhã, porque ele ainda cheira a álcool da noite anterior. A porta do banheiro bate atrás dele e o som dele vomitando me segue pelo corredor.

Estou contente em continuar no meu caminho feliz até perceber que ele deixou suas coisas para trás no sofá. Especificamente, os cigarros, uma muda de roupa e o telefone.

Eu olho de volta para a porta no final do corredor. Ele poderia ficar lá por um tempo. Esta pode ser minha única oportunidade. Ou pode sair pela culatra espetacularmente. De qualquer maneira, sei que tenho que tentar.

Pego seu telefone e entro no armário, encolhendo-me no canto entre os casacos, esperando que possa ficar quieta o suficiente. Meus dedos tremem enquanto ligo para Gianni e parece tocar por uma eternidade antes que ele atenda.

"Alô?"

“Sou eu,” sussurro. "Preciso da sua ajuda. Você pode me tirar daqui?”

Ele fica quieto por um segundo e o ouço se mexendo do outro lado da linha conforme ele se move para algum lugar onde possa falar. “Tanaka?”

"Sim. Por favor, Gianni, eu não tenho muito tempo. Preciso da sua ajuda."

“Não posso ir à sua casa. Eu tenho tentado chegar a você de outra maneira, mas você precisa sair sozinha primeiro.”

“Como?” Sussurro. "Isso não vai acontecer. Eu já tentei.”

“Você tem que fazer isso, Tanaka,” ele implora. “Eu não posso ir aí. É muito arriscado. Muita vigilância. Você precisa sair primeiro. Basta chegar o mais longe da casa que você pode e irei até você.”

Eu quero gritar a minha frustração, mas no final do corredor a descarga faz barulho. “Quando, Gianni?”

“Amanhã,” ele responde. “Com Nikolai fora, não confio que você tenha muito mais tempo.”

Não sei como ele sabe que Nikolai se foi, mas ele está certo. Eu não confio que esteja segura aqui por mais tempo e sei que esta é a única maneira de salvar nós dois.

“Você tem que estar por perto,” digo a ele. "É a única maneira."

“Vou estar perto,” ele me assegura. “Basta sair da casa e eu irei até você.”

No final do corredor, a torneira fecha.

“Eu tenho que ir,” sussurro. "Amanhã."

“Amanhã,” Gianni concorda.

Pressiono o botão final freneticamente e corro para excluir a chamada, mas é tarde demais para devolver o telefone. A porta do banheiro se abre e quando ele caminha pelo corredor, sua sombra passa sobre a abertura na porta do armário.

Há um farfalhar e um xingamento baixo em russo antes que ele ande pelo corredor até o banheiro. Eu fujo do armário tão silenciosamente quanto posso e corro para o sofá, colocando o telefone na fenda entre as almofadas.

Eu não vou ter tempo para voltar e subir as escadas, então corro de volta para a academia. Eu mal tenho tempo para balançar a perna para cima da barra antes que o guarda pare na porta, olhando. Seus olhos estreitam, cheios de desconfiança, mas ele não fala. Eu devolvo seu olhar, esperando desesperadamente que não esteja entregando nada. Após dois dos segundos mais longos da minha vida, ele volta para a sala de estar. Eu espero por cinco respirações antes de espreitar ao virar do corredor para vê-lo da porta.

Depois de procurar, ele recupera seu telefone das almofadas e balança a cabeça, jogando-se no sofá. Eu caio contra a parede e engulo minha próxima lufada de ar.

Amanhã.

Eu só tenho que chegar até amanhã.


Trinta e Cinco

 

 

“Tashechka.”

A mão no meu braço é persistente e estou confusa quando acordo para descobrir que é Nonna me sacudindo. Eu sento ereta na cama, observando pela escuridão lá fora que ainda não amanheceu.

“O que há de errado?” Pergunto.

“Nikolai está perguntando por você.”

“Ele está aqui?” Esfrego o sono dos meus olhos e jogo o cobertor de lado.

Nonna não responde, mas me guia para o armário e me instrui a me vestir.

"Onde ele está?"

“Ele está esperando por você, mas você deve se apressar.”

Eu não entendo o que está acontecendo, mas visto as roupas que Nonna me dá e quando termino, ela me leva até as escadas e acena com a cabeça para o guarda.

“Ela está pronta.”

Ele abre a porta da frente e aponta para fora, mas eu hesito. Eu devo sair hoje. Gianni estará esperando por mim e não serei capaz de encontrá-lo, porque não sei para onde estamos indo.

“Onde está Nikolai?” Repito.

O guarda olha para Nonna e ela encolhe os ombros como se para dar permissão. Quando olho de volta, ele se aproxima. Tento me afastar dele, mas ele alcança e agarra meu braço.

“Nonna?” Eu olho para ela para me tranquilizar, mas não há nenhuma paz a ser encontrada.

“É hora de você ir,” diz ela. “Não torne isso mais difícil para si mesma. Nikolai quer que você vá.”

“Não.” Eu dou uma cotovelada e o guarda solta um gemido, mas sua mão aperta. A porta está aberta e se eu puder simplesmente passar, vou ficar bem. Posso correr e me esconder até a luz do dia quando Gianni virá para me salvar.

É a única esperança que posso agarrar e é arrebatada antes que tenha a chance de crescer raízes. O guarda me joga no chão e me prende para baixo com seu joelho, forçando meus pulsos juntos nas minhas costas. Ele aponta para Nonna e ela traz uma corda e fita adesiva que ele usa para me prender antes de me colocar na posição vertical.

“Por que está fazendo isso, Nonna?”

Esta mulher tem cuidado de mim. Ela forneceu as minhas refeições, fez a minha cama e mostrou sua preocupação quando eu não estava comendo. Não posso entender isso.

“Não sou eu,” diz ela. “É Nikolai. Eu só faço o que ele me diz. Ele não quer mais você. Se você aceitar isso, será mais fácil. Não lute.”

Eu não quero acreditar nela, mas como não posso? Nikolai foi embora e me deixou ao meu destino. O destino que ele me avisou que inevitavelmente acabaria em tragédia. E sei antes que o guarda coloque a fita sobre minha boca que é isso. Estão me levando para a morte.


O cascalho esmaga sob os pneus quando o carro vai para longe da casa. Em volta de nós, não há nada além de deserto. Mesmo se eu conseguisse sair, duvido que poderia correr mais que o guarda no meu estado atual. Mas sei que não posso desistir. Não posso perder a esperança até que eu tenha esgotado todas as opções. Eu mexo meus braços para trás e para frente para soltar a corda, mas faz muito barulho.

“Pare,” o guarda ordena. “Ou vou tornar tudo pior.”

Encontro seus olhos no espelho retrovisor. Ele é pouco mais que um soldado e sua posição dentro da Vory é insignificante. No entanto, este é o homem que Nikolai enviou para me trazer para a minha morte.

Talvez seja por isso que ele optou por não dizer adeus. Não há adeus quando é para sempre. Ele sabia que eu iria embora, quando ele voltou e estaria livre para se casar com Ana e cumprir seus deveres como um Vor leal. É a única solução para ele, porque ele simplesmente não pode me deixar ir, pensando que eu poderia ter uma vida sozinha sem ele.

Um soluço rasga meu peito e continuo a me debater contra as minhas cordas, independentemente das ameaças do guarda. Se eu devo morrer, então vou tombar lutando.

“Eu lhe disse para parar,” o guarda fala.

Ele para e deslizo para o outro lado do carro, enrolando meus joelhos no peito. Estou preparada para chutá-lo com tanta força quanto eu possa quando ele abre a porta e vem para mim. Minhas pernas vão em direção a ele, chocando-se em carne sólida. É um esforço cego, já que meu cabelo está uma bagunça e não posso ver além dele. Meus ouvidos, no entanto, ainda estão intactos.

Um som explosivo vibra através do meu crânio e algo espirra molhado em toda a minha pele. Eu deslizo para trás, mas não há nenhum lugar para ir e agora o peso nas minhas pernas é pesado demais para me deixar me mover.

“Tanaka.”

Uma voz baixa surge através do caos e eu balanço minha cabeça, tentando desesperadamente ver através do emaranhado de cabelo.

“Gianni?”

A porta se abre atrás de mim e braços fortes me arrastam para fora. Ainda não tenho certeza se é o inimigo ou meu salvador até que os cortes de faca através das cordas nos meus pulsos me liberam.

Eu tiro o cabelo do meu rosto e fungo quando vejo seu rosto.

Gianni.

Ele veio para mim. Ele veio como disse que faria. E não vou morrer hoje.

“Rápido.” Ele me agarra pelo braço e me leva para um jipe esperando.

Antes que eu possa até mesmo agradecê-lo, ele me iça dentro e toma seu lugar de motorista, ligando a ignição. O caminho é acidentado e cabe a mim remover a fita do meu rosto, que também está parcialmente emaranhada no meu cabelo. Dói, mas em comparação com o que poderia ter acontecido, não é nada.

“Quantos outros guardas estão na casa?” Gianni pergunta enquanto acelera pelo caminho de terra para a estrada.

“Era só ele."

Ele concorda.

"Ele está morto?"

Gianni olha para mim e, em seguida, volta para a estrada. "Sim."

Eu levo um momento para processar isso. "Como você sabia?"

“Eu vim cedo,” diz ele. “Fiquei acampado a noite toda, vigiando a casa. O pânico na sua voz ontem me preocupou. Eu não achei que havia muito tempo.”

“Não havia.” Engulo e olho para fora da janela. “Eles iam me matar. Nikolai me mandou para morrer.”

Gianni olha para mim, incrédulo. “Diga-me que você não se apaixonou por ele, Tanaka.”

"Claro que não."

Não é crível. Gianni balança a cabeça, mas não resolve discutir sobre isso. Há coisas mais importantes para discutir, como o meu futuro.

"Onde estamos indo?"

“Isso depende de você,” ele responde. “Suas opções são limitadas, Tanaka.”

"Eu sei."

“Isso significa que você está pronta?”

A realidade se instala em cima de mim e é pesada. O que ele está perguntando vai mudar tudo. Isso significa deixar minha antiga vida. Deixar de lado as memórias de Nikolai e qualquer amor que viva dentro do meu coração.

Eu fecho os olhos e inclino para trás contra o assento. As palavras não vêm facilmente, mas chegam. "Estou pronta."


Trinta e Seis

 

 

“Kol'ka.”

Viktor sai do seu SUV e saio do meu carro. Depois dessa semana, esta é a última coisa que eu quero fazer, mas sei por que ele está esperando aqui na minha casa.

“Como Alexei está?” Ele pergunta.

Eu me inclino para trás contra o carro e cruzo as pernas. “Tão bem quanto você poderia esperar. Ele não quer falar agora.”

“Imagino que não,” diz Viktor. “Isso muda tudo.”

A incerteza pesa sobre seu rosto. Como pakhan, cabe a ele decidir quando vamos para a guerra. E quando um pecado como este é cometido, não temos escolha a não ser ir para a guerra. Após o nosso regresso, temos a notícia de que a esposa grávida de Alexei foi assassinada em nossa ausência. É um crime horrível demais para imaginar e eu não tenho dúvida de que Alexei vai pintar a cidade com o sangue de nossos inimigos em pouquíssimo tempo.

“Você tem certeza de que ela está morta?”

Viktor suspira. "Eu não sei. Pode levar meses até que saibamos com certeza. Não há nada deixado para identificar, mas isso não vai parar Alexei. Ele terá de ser mantido sob controle.”

Ele acredita que sou capaz de manter Alexei sob controle, mas ele está errado. Não serei eu a ficar no caminho de sua vingança. Eu vou lhe entregar a arma.

“Preciso que você fique de olho nele,” diz Viktor. “Apenas o ajude a lidar com isso. Deixe-o matar quem ele quer, dentro da razão. Eu não preciso de uma guerra em nossas mãos até que saibamos exatamente quem é o responsável.”

“Vou fazer o que posso.”

Viktor balança a cabeça, mas ele não acabou. “Sobre Ana -”

Estou cansado dessa discussão e mais ainda dessa nuvem negra que paira sobre mim. Eu tive uma viagem muito longa, notícias difíceis e não estou no clima para alimentá-lo com mais mentiras. Se há qualquer coisa que aprendi com a dor de Alexei, é que a vida é muito curta. Precisa ser agora ou nunca.

Viktor quer a verdade e a coisa honrosa a fazer é dar a ele. Vou enfrentar quaisquer que sejam as consequências que ele julgue necessárias, mas não vou viver mais um dia sob essa opressão.

“Viktor, eu não posso me casar com sua filha.”

Seu rosto fica vermelho. “O que quer dizer que você não pode se casar com a minha filha?”

“Não seria justo com ela. Ela merece mais do que eu posso dar a ela. Ela merece um homem que a ame.”

“Você está me dizendo que minha filha não é digna de você?” Ele zomba.

"De modo nenhum. Na verdade, estou dizendo a você que sou indigno dela. Você teve suas suspeitas sobre a menina Valentini desde o início e lamento admitir que você estava certo. Ela não é russa, mas ela é minha.”

Há um momento em que eu acho que Viktor poderia me colocar uma bala entre os olhos aqui e agora. Eu não ficaria surpreso se ele o fizesse.

“Eu deveria cortar suas estrelas por desonrar minha família dessa maneira,” diz ele.

“Se é isso que você deve fazer, então eu aceito. Vou para a minha morte de boa vontade, contanto que você prometa deixar Tanaka intocada.”

Ele ri. “E por que eu iria prometer isso? A prostituta seduziu você. Ela te cegou. E agora você pede para deixar a minha filha de lado e poupar a vida da mulher que vai tomar seu lugar?”

“Você aceitou a escolha de Alexei. Agora estou pedindo para aceitar a minha.”

“Ana está apaixonada por você.”

“Ana não sabe nada de mim. Ela é jovem, Viktor. Jovem demais para se casar com alguém como eu. Ela deveria estar com alguém da sua idade. Alguém que possa dar a ela tudo o que ela precisa. Lamento se eu a machuco. Lamento que tenha a seduzido, mas eu não queria decepcioná-lo. Eu não quero insultar a honra que você concedeu a mim.”

Ele acende um cigarro e fuma em silêncio. Talvez não fosse o momento ideal para trazer isso, mas não lamento que tenha feito. Mesmo se isso signifique que eu não respire mais um dia nesta terra, não vou me arrepender.

“E Manuel?” Ele pergunta. “Você já encontrou as respostas que você procura?”

“Sim.” Eu chuto a sujeira debaixo do meu sapato. Esta é a parte que ele não vai gostar. “Eu estava certo. Ele bateu e torturou e matou minha mãe e Sergei deu-lhe a honra de fazer isso.”

Viktor balança a cabeça em desgosto visível. “E ainda assim você pede para poupar a vida de sua filha? Onde está a justiça nisso? E a sua mãe? Ela vai ter morrido em vão para que você possa agradar o seu pau?”

“Não,” forço a resposta. “Gostaria de pedir a sua bênção para matar Manuel eu mesmo, bem como qualquer um dos homens em seu serviço que a tocou.”

“E seu pai,” Viktor acrescenta.

“E o meu pai,” concordo com ar sombrio.

Viktor joga a ponta do seu cigarro no chão e pisa com seu sapato. “Seria um pedido razoável, se não fosse por uma questão pequena, Kol'ka.”

"Que questão?"

“Nonna ligou para informar que alguns dos homens de Manuel invadiram a casa enquanto você estava fora.”

Isso não é possível. Isso não faz muito sentido. Eu olho para a casa, mas Viktor continua.

“Eles pegaram a menina Valentini e destruíram seu sistema de segurança. É o que eu vim aqui para lhe dizer.”

Eu abandono Viktor na escada, determinado a ver por mim mesmo, mas o pakhan não acabou de dar as más notícias.

“Antes de pensar em invadir a casa de Manuel, você deve saber que os federais o pegaram. Tudo está isolado. Você não vai chegar lá e não vai chegar perto dele. Ela se foi, Nika.”


Trinta e Sete

 

 

Manuel ajusta o telefone mais perto de sua boca, respirando pesado na outra linha. “Você sabe onde minha está filha?”

Que piada do caralho. Ele é um fodido depravado e se não houvesse centímetros de vidro entre nós, eu iria enfiar este telefone pelo seu crânio até que seu cérebro decorasse o chão.

Ele quer bancar o estúpido, então vou brincar com o humor dele por agora.

“Diga-me, Manuel.”

Ele fecha os olhos e suspira. “Eu não posso acreditar que ela faria isso para mim. É você. Você virou-a contra mim.”

Estudo silenciosamente suas palavras, tentando encontrar lógica nelas. Mas sei que ele não pode estar certo. Ele não pode estar sugerindo o que eu acho que está.

“Um maldito rato. Minha própria filha.” Seu humor muda de violento para histérico no espaço de dois segundos.

“Você está tentando me dizer que Tanaka te traiu?”

Ele nivela os olhos vagos em mim. “Ela está transando com Gianni. Meu próprio homem. Eu confiei nele e ele é um maldito. Ele tem jogado comigo o tempo todo. Ambos têm."

Meus dedos ficam brancos ao redor do receptor enquanto Manuel perde o controle no outro lado da barreira. Ele está perdendo sua mente, mas ainda há alguma razão no que ele está me dizendo. Eu só não quero acreditar.

Eu bato no vidro. “Controle-se. Preciso saber onde ela está, Manuel. Quem levou ela?”

“Maldito Gianni,” ele ruge. “Tem que ser ele.”

Balanço minha cabeça. Ele não pode estar certo. Ele está fora de sua mente. Ele está delirando.

“Você é o próximo” diz ele. “Ela vai se virar contra você também.”

“Isso não vai acontecer.” Tanaka não iria se voltar contra mim. Ou talvez seja apenas o que eu quero acreditar.

“Você sabe o que tem que fazer,” Manuel diz. “Eu não posso pagar a dívida. Os federais levaram tudo, então você tem que tirar isso dela. Eu só lhe peço, seja misericordioso.”

Sorrio para ele com os dentes cerrados. “Tão misericordioso como você foi com minha mãe? Você se lembra dela, não é?”

Ele pisca, inquieto e posso ver as engrenagens girando em sua mente. Ele está tentando juntar as peças, qual delas era ela, mas estou contente em lembrá-lo.

“Irina Lemeza.”

A cor drena de seu rosto e sua palma descansa no vidro, pegajosa e desesperada. "Não."

“Sim, Manuel.” Inclino para ele. “Você sabe que os russos gostam de um olho por olho. Eu sei que você se preocupa com sua filha, mas não tem necessidade. Ela não vai ser a única a pagar a dívida. Acho que, uma vez em sua vida, é hora de fazer uma coisa honrosa, não é?”


“Nikolai está aqui para vê-lo” diz Magda.

Alexei cai contra sua mesa, bêbado de novo. E apesar de ter passado as últimas quatro semanas o ajudando a matar cada homem que ele considerava remotamente responsável pela morte de sua esposa, não fez nada para aliviar sua dor.

No entanto, vem como uma distração bem-vinda enquanto procuro Nakya.

“Mande-o embora” murmura Alexei.

“Tarde demais.” Eu entro em seu escritório para que ele possa me ver. “Eu tenho algo que acredito que você vai querer ver.”

Seus olhos se movem para o disco na minha mão e pela primeira vez em semanas, há uma centelha de vida dentro dele. Ele pega a minha oferta e o descanso de tela do computador traz inúmeras imagens de sua esposa.

Alexei olha para as imagens, assombrado, e desmorona de novo. Eu mesmo abro o vídeo de vigilância do clube. O mesmo vídeo do dia em que foi humilhado na frente de seus irmãos Vory. Quando começa, ele faz um esforço para assistir.

“Eu fiz Mischa dar uma olhada nisso.” Trago o cursor para o marcador de tempo na tela e clico sobre ele. “É um loop. Quem quer que fosse sabia o que estava fazendo. Foram rápidos e vieram preparados.”

“Quanto tempo?” Ele pergunta.

“Trinta segundos no máximo. Você não poderia ter notado, Lyoshka. Ele foi muito bem editado.”

Ele cai de volta contra sua cadeira de escritório quando a realidade cai sobre ele. Alguém queria que ele acreditasse que era Talia que o traía, mas, na verdade, era um dos seus próprios Vory.

Sento-me em frente a sua mesa. “Há outra coisa.”

"O que?"

“O guarda de Katya mencionou que ela visitou uma loja de segurança alguns meses atrás. Ele não sabia o que ela comprou, mas achou a viagem fora das características dela.”

“Então precisamos falar com ela.” Alexei quase tropeça sobre si mesmo quando tenta se levantar.

Eu sinalizo para ele voltar a sentar. “Eu já tentei. Ela foi encontrada morta esta manhã, bratan. Pendurada em uma viga no seu teto.”

Alexei cai para trás em sua cadeira e pega a garrafa de conhaque, apenas para perceber que está vazia.

“Ela não estava trabalhando sozinha,” digo a ele. “Alguém está ligando as pontas soltas. Katya não era inteligente o suficiente para configurar esse slide show e ela não estava no prédio naquele dia.”

Minhas palavras se acomodam sobre Alexei como uma nuvem escura e não demora muito para tirar a mesma conclusão que eu. Ele afunda de volta, os olhos escurecendo quando ele pronuncia o nome que ambos odiamos.

“Sergei.”


Trinta e Oito

 

 

“Niki.”

Gianni toma um assento no banco do parque ao meu lado, digitando uma mensagem em seu telefone antes que ele volte sua atenção para mim. Pego outro punhado de aveia do saco de plástico no meu colo, dividindo-o cuidadosamente entre os patos quando eu jogo.

“Está um belo dia” ele comenta.

Olho para as nuvens, claro e azul. O sol aquece o meu rosto, acho que sempre faz um lindo dia na Flórida. É um tipo diferente de calor. Abafado e pesado. É difícil me adaptar, como tudo da minha nova vida.

“Como você está?”, Pergunta Gianni. “Nada de novo para relatar?”

“Estou bem.” Encolho os ombros. “Nada de novo para relatar. Todo dia é igual."

E isso é. Vou para o trabalho e não falo com ninguém com mais de oito anos. Quando termino, vou direto para o meu apartamento e ligo a televisão ou o rádio só para evitar o silêncio entorpecente. Minha vida na proteção de testemunhas não é tão diferente do que era antes. Ainda é uma prisão, apenas um tipo diferente.

“É um ajuste” insiste Gianni. “Leva tempo, mas as coisas vão melhorar.”

“Eu pensei que seria diferente.” Amasso o saco vazio na minha mão e lanço para o lixo ao lado de nós.

“Todo mundo tem uma ideia de como vai ser, mas é importante seguir as regras. Elas estão em vigor por uma razão e mantém você segura.”

“Não estou falando sobre o programa,” murmuro. “Eu só estou falando sobre o mundo.”

Gianni toma um gole do seu copo descartável. Café preto, do jeito que ele sempre bebe. Eu aprendi isso sobre ele. Recentemente, aprendi um monte de coisas sobre ele. Por exemplo, ele mastiga com a boca aberta. E ele ainda usa uma corrente de ouro, mesmo quando não está fingindo ser um gangster. Mas a coisa mais óbvia que aprendi é que ele realmente só quer ser um herói.

Ele suspira e se inclina para trás, tamborilando os dedos sobre o banco do parque. “Acho que é sobre a grama do vizinho ser mais verde. No seu caso, porém, a grama é realmente mais verde. Mas vai levar tempo para ver isso.”

Não sei se acredito nisso. Meu novo mundo é tudo o que imaginei. Tenho liberdade para entrar e sair quando quero, dentro dos limites. Posso escolher minhas próprias refeições. Posso dançar quando quiser. Tenho um trabalho e tenho um propósito. Mas tive que vender meu pai para chegar aqui. Algo que, quando estava em casa, sofrendo em suas mãos, pareceu uma boa ideia. Gianni se aproximou de mim quando percebeu que estava no fundo do poço. Ele viu minha vulnerabilidade e me atingiu como uma cobra python, espremendo até que eu cedesse.

Será que meu pai merecia ir para a prisão? Sem dúvida. Mas eu quero ser a única a me levantar e testemunhar contra ele? Absolutamente não.

Estou vazia por dentro e a pior parte é que sinto que todo mundo que já amei me traiu.

“Precisamos conversar em particular” diz Gianni.

Eu já sabia daquilo. É por isso que ele está aqui, depois de tudo. Mas ele é impaciente e decidido, então andamos de volta para o meu apartamento para deixá-lo à vontade.

Depois de desbloquear as seis trancas na minha porta e introduzir o código de alarme, estamos a sós. Gianni está familiarizado com o espaço e sentindo-se em casa no sofá Ikea, enquanto vou para cozinha.

Na verdade, fiz muito pouco com este espaço. Não vejo razão, quando ele disse que eu poderia ter de me mudar novamente após o julgamento. Talvez eu precise me mudar de novo a qualquer momento que digam pelo resto da minha vida. É assim que funciona. Sou uma árvore sem raízes. Uma flor que não pode florescer onde foi plantada.

“Você quer um pouco de chá?” Pego a chaleira.

Ele acena com a cabeça.

Ocupo minhas mãos com a preparação, então tenho algo para fazer enquanto ele fala. Já espero o pior a cada vez que ele vem aqui. Eu espero que ele apareça no meio da noite para dizer que estão vindo me buscar.

“Estou pronta assim que estiver” digo a ele.

“Tem certeza de que não quer sentar?”

"Não. Estou bem onde estou.”

Ele suspira, mas relutantemente concorda. “Tanaka, não sei como te dizer isso. Mas é sobre o seu pai.”

"Ele está morto?"

“Talvez” ele se aventura. “Mas provavelmente não. O juiz o libertou sob fiança e ele fugiu.”

“Como isso pode acontecer?” Exijo. “Você me disse que não lhe daria fiança.”

“Eu não sei” ele admite, frustrado. “Mas se tivesse que adivinhar, alguém subornou o juiz. Ou ameaçou. Independentemente disso, é o que é. Eu tenho a obrigação de informá-la.”

“Só isso?” Fico olhando para ele. “Somente a obrigação de me informar?”

“Não foi apenas ele,” Gianni acrescenta. “Metade de sua equipe foi morta na prisão. O resto se escondeu. Algo está indo fundo e suspeito que sejam os russos.”

A chaleira ferve e retiro do fogão, derramando a água sobre o meu saco de chá e observando-o imergir.

“Suponho que você não sabe nada sobre isso, não é?”

Seu tom é acusatório e um pouco hostil e isso me irrita. Ele está tentando me fazer virar contra Nikolai desde que ele me levou sob o Programa de proteção às testemunhas.

“Como eu poderia?” Respondo. “Eu não estou lá, estou?”

“Isso muda as coisas” diz ele. “Você não vai ao julgamento agora, obviamente. E o DOJ13 provavelmente vai determinar que você não está mais em risco, considerando as circunstâncias. Você vai ser deixada para cuidar de si mesma.”

Deixo cair o saco de chá no lixo e suprimo o desejo de esbofeteá-lo. Na verdade, devo a Gianni um grande negócio. Minha vida, na verdade. Mas ele não fez nada disso para meu benefício. É sobre o seu nome. É sobre ser um herói e o que isso significa para sua carreira.

“Você pode manter sua respiração” digo a ele. “Eu não sei nada sobre o Vory. Eu já lhe disse. Já não sei quantas vezes eu lhe disse isso.”

“Tanaka, você viveu com ele por meses. Você deve saber alguma coisa. Eu não sei que tipo de lealdade equivocada você tem por Nikolai Kozlov, mas posso assegurar-lhe que ele não tem nenhuma com você. Se ele encontrar você, ele vai matá-la. Você entende isso?"

“Entendo” admito. “Entendo isso melhor do que você jamais poderia.”

Ele entra na cozinha para exigir suas respostas. “Então por que você está o protegendo?”

“Isso era tudo o que você veio me dizer?” Pergunto. “Posso ser desligada do programa?”

“Tanaka.” Ele estende a mão em uma tentativa de suavizar tocando minha mão. “Se você não fizer isso, eles vão matá-lo.”

“Então eu finalmente ficarei em paz.”

Seus lábios se crispam e sei que ele me culpa por não fazer isso por ele. Ele é um agente federal, mas estou honestamente começando a me perguntar se posso realmente confiar nele. Mas então percebo que realmente não importa tanto.

Eu cansei de correr.

Se algum dos homens do meu pai quiser vir até mim, ele vai. E se Nikolai ou Viktor me querem morta, então não há um lugar nesta terra onde eu possa me esconder.

Estou cansada de viver uma vida onde me preocupo a cada dia sobre minha sobrevivência. E se não existe um lugar seguro, neste mundo, então talvez não seja o mundo para mim.


Trinta e Nove

 

 

“A morte de Talia foi rápida” murmura Alexei. “Mas posso assegurar-lhe que a sua não vai ser.”

Os lábios de Sergei contraem nos cantos, oferecendo a seu filho primogênito um sorriso horrível sangrento. Mesmo à beira da morte, seu enorme ego vive.

Alexei aponta para o matador irlandês e Ronan lhe entrega a pequena caixa preta que inevitavelmente acabará com o reinado de terror de Sergei. Ele foi afogado, sufocado, e o trouxeram de volta à vida com pás de choque várias vezes. Seus olhos estão nublados e seu rosto está pálido, mas ele não vai admitir a derrota.

Se qualquer um de nós espera um pedido de desculpas, esse não está chegando. Mas não quero desperdício de palavras de Sergei. Eu só quero a sua morte.

Os dedos de Alexei prendem a maleta preta e sei que ele deseja ser o único a acabar com a vida do nosso pai. Com razão, ele provavelmente deveria. Embora Sergei seja o responsável pela morte da minha mãe, ele tomou muito mais do meu irmão.

No final, ele me dá o controle. “Você pode fazer as honras.”

Não é uma honra em tudo, acabar com a vida de um homem desonroso. Mas há um propósito para tudo e o objetivo deste é que vai doer mais em Sergei. Ele não se importa com Alexei e nunca se importou, mas ele se importa comigo, em algum nível, pelo menos. Eu sou o filho que era motivo de orgulho. Era o que ele dizia.

E sou o filho que o deixará descansar da maneira brutal que ele merece.

Não há nenhuma razão para não fazer isso mesmo que eu tivesse uma agenda cheia pela frente. Removo a seringa da maleta, sem alarde e por uma fração de segundo, não há medo nos olhos de Sergei. Não é igual ao medo que minha mãe sentiu como uma consequência de seus atos. E não é igual ao que a esposa de Alexei deve ter sentido antes de sua morte. Mas está lá e é suficiente.

Ronan me ajuda, instruindo-me onde injetar o veneno de cobra no braço de Sergei. É muito rápido e não é tão íntimo como teria sido esfolá-lo ao meio com uma lâmina, mas vai ser uma longa e dolorosa morte.

À medida que as neurotoxinas inundam o corpo de Sergei, ele começa a ter convulsões e espumar pela boca. Quando a paralisia começa, Alexei se inclina sobre ele para sussurrar em seu rosto. "Isso é apenas o começo."

Nós sentamos e durante horas, vemos o nosso pai morrer. O quarto é silencioso, além do corpo de Sergei tremendo sobre a mesa. Viktor está ao lado de Alexei, Ronan e eu. O evento é inteiramente curto demais e não traz ao meu irmão qualquer paz até que Sergei finalmente solta seu último suspiro.

Na verdade, não causa nada em mim também.

Deixo Alexei para processar sua dor e Viktor me segue para o corredor, fechando a porta atrás de nós.

“Sinto muito pela sua perda, Kol'ka.”

“Não é uma perda.”

“Mas isso não lhe traz alívio como você esperava, não é?”

“Não trará a minha mãe de volta” digo a ele. “Também não trará a esposa de Alexei de volta.”

“Não, não” ele concorda. “Vamos continuar com o próximo, então?”

Eu aceno e andamos. A casa de Alexei é vasta e bem protegida, mas para esta ocasião especial, o evento será realizado em um matagal isolado localizado na parte de trás da propriedade.

A caminhada não é curta, mas o ar é refrescante e apesar do que o espera, é um belo dia. Ronan já configurou tudo, e nós o encontramos esperando em um banco enquanto Manuel se contorce no chão na frente dele. Este é apenas mais um dia para o matador irlandês e não há ninguém mais qualificado na arte da tortura humana do que ele. É por isso que pedi sua ajuda e por causa da nossa aliança, ele está inclinado a fornecê-la.

Antes de poupar a Manuel um segundo olhar, a minha atenção é atraída para os cinquenta e cinco galões no centro da clareira. A curta distância, há também uma lareira debaixo de uma chaleira de ferro fundido diretamente dos livros de história. Esses itens são o futuro de Manuel e não muito longe está o seu passado: uma lona de plástico cheia de ferramentas eléctricas ensanguentadas. Na verdade, não tenho estômago para a tortura, mas ao longo das últimas vinte e quatro horas, cheguei a testemunhar muitas vezes o trabalho de Ronan.

Ele se aproxima de cada peça de forma diferente. Enquanto ele estava preso aos métodos testados e comprovados de tortura para Sergei, ele fica um pouco mais criativo com Manuel. Com uma broca, especificamente, ele parece ter algum divertimento. Eu o observo furar os joelhos de Manuel, o que é suficiente para mim e tomo a sua palavra de que ele também fez alguns novos buracos em seus quadris e cotovelos.

Isso não foi tudo. Um jato de areia fez um rápido trabalho na metade de seu rosto e uma pistola de grampo foi bem utilizada nas partes mais carnudas do seu corpo. Mas não posso esquecer a minha Nakya em tudo isso. Não posso esquecer a maneira pela qual ela sofreu. Por isso, eu mesmo quebro seus tornozelos com um martelo.

Manuel colheu o que ele semeou nesta vida e por isso, não tenho arrependimentos. Não posso trazer minha mãe de volta, mas posso enviar sua alma para o inferno.

“Você está pronto?” Pergunta Ronan.

Concordo com a cabeça na direção do grande caldeirão preto. “Para que serve a chaleira?”

“Eu não estava particularmente certo de como você gostaria de conduzir isso” diz ele. “Nós poderíamos fervê-lo ou atear fogo, deixando-o em chamas. É sua escolha, na verdade.”

Eu olho para Manuel, sujo, suado e coberto de sangue. Ele já está irreconhecível. Se Nakya soubesse a extensão do que fiz para ele, ela nunca me perdoaria.

“Qual dói mais?” Pergunta Viktor.

Ronan coça o queixo. “Ahh, eu diria que são quase iguais. Ebulição leva mais tempo, é claro, mas o fogo é mais eficaz se for punição que você deseja.”

Viktor olha para mim. É minha decisão e é fácil. Acabe com esse porco, é hora de enterrá-lo. “Vamos fazer um ensopado então.”

Ronan acena e gesticula com a cabeça para conseguir alguma ajuda. Nós três, levantamos o corpo mutilado de Manuel com bastante facilidade. Ele não pode se mover. Ele não pode lutar. Mas ele pode olhar para mim com seu globo ocular bom e ele olha.

“Ela vai delatá-lo também” ele fala. “Apenas espere.”

Estou tentado a enterrar sua cabeça no óleo fervente e mantê-la lá por alguns segundos antes de Viktor me parar.

“Isso é o que ele quer.”

Ele está certo, é claro. Manuel faria qualquer coisa neste momento para acabar com seu sofrimento da maneira mais fácil possível, inclusive tendo sua filha com ele.

“Fácil não é,” Ronan diz quando coloca Manuel na chaleira, pernas primeiro. “Nós queremos te espetar, pode doer um pouquinho.”

Na verdade, ele está bastante confortável com este método e tenho quase certeza que não é o primeiro homem que ele está cozinhando vivo. Com a instrução de Ronan, todos nos afastamos ao mesmo tempo e o peso natural do corpo de Manuel afunda na chaleira.

Seu rosto sobe e desce no óleo, com a boca aberta na forma de um grito silencioso. É uma imagem que nunca esquecerei e um cheiro que vai me assombrar pela eternidade também. Um preço que estou disposto a pagar por vingança.

Ao contrário de Sergei, a morte de Manuel é muito mais rápida. Um momento depois e toda sua cabeça desaparece completamente no líquido turvo e não há mais nada a fazer senão assistir as chamas.

Depois que passa tempo suficiente para ser considerado adequado, Viktor limpa a garganta.

“Você teve sua vingança, porque sou um homem de palavra. Você está pronto para provar que é um homem que honra a sua?”

“Sim” respondo.

Eu sabia que isso viria e estou preparado para enfrentar minha sentença, qualquer que seja a que Viktor tenha determinado. Hoje, ele me julgará digno de minhas estrelas ou digno da sepultura. É a maneira Vory.

Viktor concorda. "Muito bem. Tem sido um longo dia. Vamos para o clube. Os irmãos estão esperando.”


Quarenta

 

 

Viktor toma o seu lugar na frente da sala, o rosto solene quando ele olha para o público de irmãos Vory. Minhas ofensas foram descobertas e durante os últimos cinco minutos, o silêncio nos enterra quando eles consideram todas as punições possíveis. Algumas das quais incluem a remoção da minha língua, dedos, mãos ou outras partes. Outras opções estão inclusas como esculpir estrelas na minha pele, flagelação, agressão, queimaduras, marcações, e como se isso não bastasse, a sala está sempre aberta para sugestões.

É apenas o começo, e mesmo depois que minha punição for definida, eu ainda poderei ser condenado à morte. No final do dia, foi o pakhan que ofendi e é a ele que devo responder.

“Existe alguém que gostaria de falar em nome de Nika?” Pergunta Viktor.

Não me surpreende que Mischa seja o primeiro a se levantar. Seus olhos cortam para os meus enquanto ele atesta o meu caráter, oferecendo meus defeitos, características positivas e a lealdade que sente por mim como um irmão. Ele conta várias histórias que me retratam de uma forma positiva e não estou certo se mereço suas amáveis palavras, mas sou grato por elas, no entanto.

“Obrigado, Mischa.” Viktor gesticula para ele sentar.

O processo continua com depoimentos de vários dos meus irmãos Vory, aqueles com quem não consegui me irritar, de alguma forma ou de outra ao longo dos anos. Quando eles terminam, Viktor dirige a atenção para a frente da sala novamente.

“Existe alguém que gostaria de falar contra Nika?”

A sala está tranquila e meio que espero vários dos homens mostrarem sua aversão ao meu caráter, mas nenhum faz.

“Muito bem, então.” Viktor ajusta o relógio e solta o colarinho, já se preparando para o que vem a seguir. “Vocês já ouviram falar das leis que Nika tem quebrado. Ele fez uma paródia do nosso código, e, portanto, devemos fazer dele um exemplo. Cada Vor deve colocar o seu voto. Então, vamos começar com Boris.”

Boris aponta o queixo em minha direção, um sinal de respeito. “Eu voto flagelação.”

O homem ao lado dele, um Avtoritet, também acena com a cabeça em minha direção. “Flagelação.”

Os votos continuam em torno da mesa, unânimes em sua decisão.

Viktor sinaliza a um bratok, emitindo uma ordem para recuperar o dispositivo de madeira reservado para tais ocasiões. “A primeira punição será flagelação” diz ele. “Quaisquer indicações para uma segunda?”

Novamente, a sala está tranquila. Depois de um tempo, Viktor assente, e eu respiro. Flagelação não é um passeio no parque, mas poderia ser muito pior.

Vou para a roda bratok na estação de flagelação e tomo o meu lugar na parte da frente da sala. Removo minha camisa, jogando-a de lado e fico na posição, em frente ao crucifixo de madeira. O bratok é a única coisa que mantém meus pulsos para cada lado e meu rosto repousa contra a madeira quando Viktor leva o chicote na mão. Ele será o primeiro e provavelmente o pior.

Ele pisa atrás de mim e lança o chicote no ar duas vezes, testando a distância e soltando seu pulso. A terceira vez me atinge e sinto como se um galho de árvore quebrasse nas minhas costas. Meu corpo sacode para a frente com o impacto, mas a madeira me impede de escapar do golpe. A única coisa a fazer é cerrar os dentes, ciente de que isso também é um teste. Se mostrar qualquer emoção ou fraqueza, vou ser condenado à morte sem um segundo pensamento.

Mais duas vezes, o chicote vem para baixo nas minhas costas, abrindo a minha pele e chovendo fogo na ferida. Quando Viktor está satisfeito com o seu trabalho, ele chama o próximo homem para tomar seu lugar.

Exige uma mão hábil para operar um chicote, e por esta razão, o próximo Vor escolhe a cana de bambu para a sua vez. Mesmo que o som não seja tão impressionante quanto de um chicote, a cana ainda parece como um soco no rim.

O nível de força é diferente para cada homem que se esforça até estar satisfeito e tenho certeza de que não dura mais do que alguns minutos, mas parece uma eternidade. Quando sou finalmente solto do crucifixo, dói para respirar. Vários dos meus irmãos Vor me arrastam pelos meus pés e me ajudam a chegar até uma cadeira e tudo o que posso fazer é me inclinar para a frente e apoiar o peso em meus joelhos.

Não há tempo para recuperação. Viktor aparece na minha frente, ansioso para terminar o dia.

“Você me insultou, Kol'ka” diz ele. “Mas pior, você insultou a minha filha. E por esta razão, vou deixar que Ana decida se você vive ou morre.”

É uma decisão justa, mas não inspira nenhuma confiança que vou viver para respirar outro dia. Ana é jovem e ela acredita estar apaixonada por mim. Ela provavelmente me desprezará por minha rejeição e não há mais nada a fazer, senão esperar por sua decisão.

Viktor convoca o bratok para trazê-la, ele abre a porta, onde ela deve estar esperando lá fora. Lutando contra o desejo de trazer para fora a agonia nas minhas costas, eu olho para cima quando Ana entra na sala. Seu rosto está pálido e suas bochechas cor de rosa e ela se sente desconfortável com tantos olhos Vory sobre ela. Mas quando seus olhos encontram os meus, o desconforto se transforma em raiva.

Seus lábios curvam em desprezo quando ela anda em direção a mim e Viktor repete o que ele nos disse. Cabe a ela determinar o meu destino.

Por um longo tempo, ela só olha para mim. Não estou certo do que está passando em sua mente, é impossível falar, a menos que ela me peça. Então eu espero, juntamente com todos os irmãos para ouvir o que ela tem a dizer.

“Por que você fingiu?” Ela pergunta. “Por que você foi jantar comigo e deixou-me pensar...”

Sua garganta seca e ela engole a emoção.

“Sinto muito, Ana.” Eu abaixo minha cabeça com vergonha. “Nunca foi minha intenção magoar você. Eu só queria fazer o que era certo, mas deveria ter sido honesto com você desde o início.”

Seu queixo treme. “Meu pai me disse que você ama alguém.”

É uma questão volátil, mas respondo de qualquer maneira. A verdade é tudo que me resta para oferecer a ela. "É verdade. Desculpe-me por não ser você.”

Ela morde o lábio e aperta as mãos ao lado do seu corpo. “Eu odeio você pelo que fez. Estou humilhada. Você poderia ter me salvado dessa dor sendo honrado.”

“Eu sei” concordo.

Ela olha para o pai. “Eu não quero vê-lo novamente. Mas não é meu papel tirar sua vida. Por favor, não o mate, papai.”

Os olhos de Viktor viram para mim quando ele responde. “Muito bem, então. Nika vai viver para ver outro dia. Eu só espero que você possa apreciar este presente que minha Ana lhe deu.”


Viktor me entrega um copo de uísque e toma um assento em frente a mim enquanto o bratok limpa minhas feridas.

A sala foi limpa e agora há apenas um item final na nossa agenda. O item mais importante que ainda temos de discutir. Eu me afogo na minha bebida e pego a garrafa, servindo-me outra.

Viktor acende um charuto e se inclina para trás para me estudar. “Sua namorada Valentini é uma dedo-duro e quero vê-la morta.”

Eu estaria mentindo se o pensamento não me ocorresse. Todos os dias, quando esperei os federais aparecerem na minha porta e me prenderem. Ela teve todas as oportunidades para lhes dar a munição que precisavam. Eu tinha sido negligente durante o nosso tempo juntos, expondo muito de mim mesmo e das coisas que faço. Coloquei minha irmandade em risco, mas acreditei em sua lealdade. Talvez tenha sido falsamente dado, ou talvez isto é o que mereço.

“Eu posso ver como isso pode representar um problema para você.” Viktor joga suas cinzas no chão. “Dada a sua condição doente de amor.”

“Eu não posso permitir que você a mate.” É uma afirmação ousada, considerando as circunstâncias, mas Viktor ignora, no entanto.

“Ela denunciou você. Ela te traiu e ainda assim, você quer protegê-la?”

“Ela denunciou Manuel,” respondo. "Não eu."

“Isso fala como é o seu caráter” diz ele. “Um rato é um rato. E não iria proteger suas apostas ainda. Você não sabe o que ela disse a eles.”

É verdade, mas ainda não acredito que ela tenha me traído. Não é assim.

“Eu conheço seu caráter. Ela é leal àqueles que merecem. Manuel não.”

Viktor está quieto e me preocupo que estou muito atrasado. Não sei se ele sabe sua localização. Se ele já tem homens a observando. Seus recursos são vastos e os meus não são. Eu não deixaria pedra sobre pedra, mas pelo menos ela está na proteção a testemunhas. Ela tem um novo nome, uma nova vida e não é comigo.

Viktor suspira e sopra seu charuto, inclinando-se nos cotovelos. “Eu não acho que você merece tal bondade de mim, Kol'ka, mas se você está determinado a salvar sua vida, há uma outra opção.”

Eu aceno com a cabeça, ansioso pela resposta. "O que?"

“É um último recurso” ele pronuncia. “E, na verdade, você deve estar preparado para aceitar que ela não vai gostar.”


Quarenta e Um

 

 

“Você encontrou alguma coisa?”

Mischa resmunga uma resposta inútil do computador. “Eu não consigo encontrar nada quando você está constantemente pairando ao meu redor. A resposta é não. Eles foderam seu sistema de vigilância inteiro. Tudo foi destruído.”

Engulo mais dois analgésicos e tomo com vodka. Ainda não faz sentido. “Quanto tempo você acha que isso levaria para um novato?”

Ele bufa. “Não era um novato. Eles sabiam o que estavam fazendo."

“Nonna disse que levaram questão de minutos.”

Mischa olha por cima do computador, em direção ao corredor.

“Ela não está aqui” digo a ele. “Ela foi visitar sua irmã.”

“Por que você não me contou isso antes?”

"O que?"

“Quando Nonna foi visitar sua irmã?” Ele pergunta.

Tento lembrar, mas tudo tem sido borrado recentemente. "Eu não sei. Há um tempo atrás."

“Quanto tempo depois que você matou Sergei?”

A implicação faz meu estômago revirar, mas só há uma maneira de saber com certeza. Eu pego o calendário e procuro a última nota que Nonna deixou com mensagens para mim. Foi datado há duas semanas. No dia seguinte a morte de Sergei.

Quero acreditar que é uma coincidência, mas agora que Mischa apontou, eu não posso.

“O que ela disse é fisicamente impossível” diz ele. “Isso teria levado uma hora para destruir, no mínimo. Como você pode ter certeza que ela não estava trabalhando com Sergei? E o guarda também? É difícil saber quem ele corrompeu. Se conseguiu com que Katya instalasse câmeras na casa de Alexei, não há como dizer o que mais ele fez.”

“Porra.” Chuto a mesa e caio de volta para a cadeira. Ele tem razão. Tudo o que ele disse está certo e eu estava cego demais para ver por mim mesmo. “Se isso for verdade, ela estará longe agora.”

Mischa encolhe os ombros. “Ainda assim, não poderia fazer mal espalhar os avisos.”

Meu telefone emite um som, sinalizando uma mensagem de texto recebida de Alexei. Mischa tagarela sobre Nonna, mas não estou ouvindo. Meus olhos estão fixados sobre a mensagem. Eu leio três vezes para me certificar que não estou enganado.

“O que foi?” Pergunta Mischa.

Entrego-lhe o telefone. “O que ele diz?”

Ele lê em silêncio antes de olhar para cima, o rosto pálido. “Ele diz que Talia está viva.”


Mischa me encontra fora do quarto do hospital, seus olhos cortando na minha frente. "O que é isso?"

“O quê?” Olho para o presente nas minhas mãos.

“Você trouxe um mini carrinho Aston Martin?”

“Ele é um Vor.” Dou de ombros. “Deve andar em grande estilo.”

Mischa mexe o ursinho de pelúcia em suas próprias mãos. “Você faz meu presente parecer patético.”

“Isso porque ele é patético.” Eu bato no seu ombro.

“Vou levá-lo a uma stripper e um pouco de vodka em seu aniversário de dezoito anos para compensar isso” diz ele.

“Boa sorte com isso” murmuro.

Nós entramos no quarto. Talia já está rodeada por outros visitantes Vory e ao lado dela, Alexei segura seu filho. Faço uma pausa, quase sentindo como se estivesse invadindo este momento quando os novos pais falam uns com os outros em sussurros, sobre o seu primeiro filho.

A cadeia natural de pensamentos me faz pensar sobre Nakya. Penso em como ela estaria aqui ao meu lado, com meus bebês em seus braços. É uma fantasia vã e sou grato quando Alexei quebra o feitiço e me chama mais para dentro.

Viktor assobia quando vê o carrinho. “Muito bom, Kol'ka.”

“Edição limitada” digo. “Só o melhor para o nosso mais novo Vor.”

Alexei levanta para me cumprimentar e para minha surpresa, ele estende a mão para apertar a minha. “Obrigado por ter vindo, bratan. E obrigado pelo presente.”

"Claro."

Há um momento estranho de silêncio entre nós, mas é um momento de compreensão. Alexei não está apenas me agradecendo pelo presente, ele está me agradecendo por minha ajuda durante o último mês. Mas o mais importante, ele está me perdoando.


Quarenta e Dois

 

 

“Está pronta, Niki? Você entra em cinco minutos.”

Eu levanto para testar minhas sapatilhas. Uma lição duramente aprendida. "Estou pronta. Mais uma vez, obrigada por esta oportunidade.”

Louis balança a cabeça, seus olhos se movem para baixo no meu tornozelo. Eu sei que ele está preocupado que não vou aguentar e com toda a honestidade talvez não aguente mesmo. Mas sou grata por ele ter me dado uma chance, mesmo que seja pequena. Meus dias de solista acabaram, mas para esta noite, fui convidada pela companhia de balé local, para uma performance em Sonho de Uma Noite de Verão.

Uma última dança.

Os meus dias ensinando às crianças são divertidos, mas não é o mesmo e nunca mais será o mesmo. Meu amor pelo ballet não pode ser realizado através do ensino. Um dançarino que não pode dançar é tão bom quanto um artista que não pode criar. Não sei o que meu futuro reserva, mas sei que estou pronta para dizer adeus a este capítulo da minha vida.

“Niki?” Uma das estagiárias acena as mãos para chamar minha atenção.

"Sim?"

“Alguém deixou isso para você.”

Minha mão treme quando ela me oferece o solitário lírio branco. Ela sorri e acho que eu também sorrio, mas minha mente acaba de passar de zero a sessenta e acho que poderia vomitar. Quando ela desaparece de volta pelo corredor, abro a nota anexada, lendo as palavras com cuidado deliberado.

Brilhe pequena estrela, antes de queimar para sempre.

Uma sensação de formigamento se expande a partir do meu coração e para fora através de meus membros. Um único lírio. Uma vez Alexei mencionou para mim que é considerado má sorte dar qualquer coisa, em números ímpares de flores na cultura russa. A mensagem é enigmática e pode ser de qualquer um dos Vory. Mas a própria flor tem um significado que não pode ser ignorado.

Em apresentações de ballet, lírios brancos significam pureza. Só podia ser dele.

“Um minuto” alguém me diz.

Há tantas coisas que preciso pensar, mas não há tempo. Coloco o presente de lado e respiro. É minha vez e dizer que estarei nervosa quando fizer a minha entrada no palco seria um eufemismo. Na última vez que fiz isso, acabou terrivelmente. Mas não posso deixar aquela noite manchar essa memória. Antes de aposentar minhas sapatilhas para sempre, quero prestar uma homenagem a tudo o que o balé me deu. E se essa nota for alguma indicação, pode ser a última coisa que faça nesta terra.

Eu jogo tudo o que tenho na performance: corpo, coração e alma. A magia é real e ela existe no palco. Ao meu redor, borboletas e fadas giram. Alfaiates e tecelões entram na briga, chicoteando cabelos e braços balançando quando eles executam suas funções. Amantes discutem e uma floresta nasce. Estrelas se cruzam e o caos se instala. Reis e Rainhas caem, e eu aprendo a voar novamente. Pulando pelo ar com jetés, entro no palco com a leveza de uma pluma. É o desempenho mais doloroso que já fiz, mas também é o meu melhor.

Porque estou livre.

Lágrimas se agarram às minhas bochechas enquanto a cortina final cai e quando saio do palco, estou mancando, mas em paz. Eu caio na cadeira mais próxima que posso encontrar e aproveito a adrenalina alta. Várias das dançarinas me felicitam pelo bom trabalho quando saem do palco atrás de mim, todas zumbindo com a emoção do nosso esforço colaborativo.

“Parece que o anjo encontrou suas asas novamente.”

Olhos de oceano colidem com os meus e seu nome flui dos meus pulmões antes que eu possa pará-lo.

“Nika.”

Ele sorri e parece a luz do sol depois de um inverno eterno. Todo o resto cai e há apenas o caos em meu coração quando olho para ele.

“Venha.” Ele estende a mão para mim.

Meu alívio vacila. Não pode ser ele. Não posso olhar para aqueles olhos quando ele drenar a vida para fora de mim. Ele deveria ter enviado Viktor. Ele deveria ter enviado outra pessoa.

“Você não confia em mim?” Ele pergunta.

“Eu deveria confiar em você?”

“Será que isso importa neste momento?”

Balanço a cabeça. Não. Ele está aqui. Ele me encontrou. E tudo o que ele decidir, meu destino está selado.

“Vem, zvezda” insiste. "Está na hora."

“E se eu disser que não quero?”

Sua mão oscila, mas ele não recua. “Então, isso quebraria meu coração.”

“Eu não sabia que você tinha um coração para quebrar” sussurro.

“Mesmo os monstros ainda têm corações, meu doce.”

Eu sei que é verdade porque há um monstro que vive dentro de mim também. Ele pega a mão dele e seus dedos se fecham em torno dos meus.

“Você está ferida?”

Eu aceno e Nikolai envolve o braço livre em volta da minha cintura. Caminhamos juntos e ele me leva para a sala onde os adereços de palco são armazenados. Por trás das maiores árvores que já vi na vida e maquetes de edifícios, ele me encurrala.

Quando ele toca meu rosto, meus olhos se fecham e meu peito se ergue. Ele provavelmente vai me estrangular. É uma maneira íntima de morrer e Nikolai é nada além de íntimo. Ele vai querer ver o meu rosto. Queimar a minha pele com os dedos. Sentir o último baque surdo de meu coração batendo sob suas mãos. Seu perfume vai ser a última coisa que vou respirar. Seus lábios, a última coisa que vou provar. E sua pele, a última coisa que vou sentir.

Uma lágrima fresca corre do canto do meu olho, mas é agridoce. Tenho medo de que mesmo na morte, ele encontre uma maneira de me assombrar.

“Não chore, pet.” Ele enxuga a emoção salgada com o polegar, manchando a evidência na minha pele.

“Você vai fazer isso rápido e indolor?” Pergunto.

Seu corpo paira sobre o meu e seus lábios caem sobre os meus. “Vai ser indolor” ele murmura. “Mas não vai ser rápido.”

Meu coração pula na minha garganta quando ele me empurra e pressiona meu rosto contra a parede, suas mãos agarram corpo enquanto seus lábios descem na minha garganta.

“Nakya.” Ele roça sua ereção contra a minha bunda enquanto seus dedos deslizam para baixo entre as minhas pernas, agarrando-me através do collant.

“Diga-me que você é minha.”

“Você já sabe que eu sou,” provoco.

Seu polegar arrasta sobre o meu clitóris enquanto seus dentes passam pelo meu ombro. “Eu vou foder essa pequena e linda bailarina. É melhor ficar quieta, se não quer que ninguém ouça.”

O pensamento de alguém nos apanhar me deixa ofegante. A respiração irregular sai aos arrancos do meu peito quando ele puxa meu collant de lado, rasgando um buraco na meia calça. Estou com medo e tão inchada para ele que dói. Nikolai me puxa como uma boneca, forçando meus quadris para trás e arqueando minha espinha para a frente.

A posição arrasta meus mamilos contra o tecido do seu terno quando ele me empurra para frente, esfregando seu pau contra o buraco das minhas meias.

“Você ainda está pura para mim?” Ele pergunta. "Você ainda é minha?"

“Eu não estive com mais ninguém.”

“Boa menina, zvezda.” Ele acaricia meu rosto e envolve sua mão ao redor da minha garganta, forçando minha cabeça em um arco até que meus olhos encontrem os dele.

Nós ficamos assim enquanto ele aperta seu pau dentro de mim, e lamento quando meu corpo se ajusta ao tamanho dele novamente. Ele está impaciente e minhas terminações nervosas gritam quando ele se arrasta para fora só para me encher novamente.

“Por favor, Nika,” imploro, sem saber exatamente o que preciso.

“Não diga por favor” ele resmunga. “Não chore ou peça ou me diga que isso é errado. Basta ser doce e gozar no meu pau.”

Não tenho escolha quando ele me toca com os dedos. Eu gozo para ele e é sem misericórdia. O orgasmo me deixa em um estado de total devastação, segurando seus braços para ficar em pé quando ele entra em mim uma e outra vez.

“Minha buceta. Meus seios. Minha bailarina.” Ele pontua cada declaração com um impulso. "Diga-me sim."

“Sim” grito.

Ele geme e se enterra, tanto quanto eu posso levá-lo, os jatos pulsando do seu pau, quentes e profundos dentro do meu ventre. Suas mãos vêm de volta para minha cintura e ele continua a me foder, muito tempo depois dele ter gozado até que seu pau relaxa e ele também.

Suas mãos são gentis e os seus lábios estão cheios de adoração. Eu ainda estou prendendo a respiração, com medo do que acontecerá em seguida. Ele provavelmente vai me dizer que sente muito antes de tirar minha vida. Ele provavelmente vai dizer isso também.

“Nakya.” Ele beija meu ouvido. “Você está feliz com esta vida? Você está feliz com a liberdade que sempre quis?”

Suas perguntas me desequilibram e volto aos meus instintos protetores naturais. "Sim, estou feliz."

“Você não está cuidando de si mesma” ele murmura.

“Eu... estou bem.”

Ele se retira de mim e ajusta a nossa roupa para um estado mais apropriado antes de me virar em seus braços. Não há como me esconder dele agora. Não quando encaro seus olhos.

“Minta para mim de novo” ele me desafia.

“O que você quer de mim?” Pergunto. “Por que você veio aqui, Nika? Não é o suficiente me matar? Você tem que me torturar também?”

Ele me beija como se estivesse desarmando uma bomba e isso funciona.

“Você não me traiu” diz ele.

“Apenas o seu ego lhe permitiria dizer isso.”

“Não brinque comigo, Nakya. Você não pode desistir de mim, então apenas admita.”

“E veja o quão bom foi para mim. Você me encontrou de qualquer maneira. Você veio para levar o seu pedaço de carne.”

“Eu não estou aqui para te matar.” Ele pega a minha mão, apertando-a contra seu coração. “Estou aqui para salvá-la.”

“O que significa isso?” Eu retruco. “E quanto a Ana?”

“Diga-me a verdade, zvezda” diz ele. “É a única vez que vou pedir para você antes de sair da sua vida para sempre. Se você me ama, fale agora.”

Minha garganta queima. Meus olhos queimam. Tudo queima e tenho medo de que o que ele diz seja verdade. Ele vai se afastar para sempre, abandonando-me a essa existência sem ele. Mas o que ele está pedindo não é justo.

“Você me diz primeiro,” exijo.

Ele me agarra pela cintura. “Tão teimosa, pet. Você quer me ouvir admitir isso primeiro?”

Eu concordo.

“Muito bem, então. Eu amo você, meu amor. Eu te amo mais do que as estrelas no céu amam a lua. Eu te amo mais do que amo meus irmãos Vory e morreria para provar isso. É isso que você queria ouvir?”

Eu agarro sua camisa, desesperada por suas promessas. “Você disse que não era para ser. Que as estrelas não estavam a nosso favor.”

“Então talvez eu tenha reescrito nossas estrelas.”

“Não brinque comigo.” Minha voz oscila. “Eu não posso aceitar, Nika. Você está realmente aqui para me buscar?”

“Você deve saber que temos muitos costumes.” Ele me libera e afasta meus braços. “As estrelas ditaram que eu não deveria me curvar diante de nenhum homem.”

Nikolai abaixa até o joelho e pega a minha mão na sua. “Mas eu vou me curvar para você, Nakya, se isso significa que vai concordar em ser minha esposa.”

A emoção rouba minha voz. Rouba a minha capacidade de respirar ou pensar. O que ele está pedindo parece impossível. Esta é a vida da qual eu jurei que faria qualquer coisa para sair. Prometi a mim mesma que não seria uma esposa da máfia e que preferiria morrer a viver dessa maneira.

Mas quando eu busco os olhos de oceano de Nika, ele não é só um mafioso. Ele não é Dante ou meu pai, ou qualquer homem que eu já conheci antes. Ele é meu artista. A cor da minha vida. Meu ladrão e o ladrão do meu coração. E não sei como eu poderia ir adiante nesta vida sem a outra metade da minha alma.

Eu fico de joelhos para encontrá-lo e agarro seu rosto em minhas mãos. “Você promete ser leal a mim? Você promete que serei seu único calor? A única mulher em sua vida?”

“Você é a única mulher na minha cama, meu coração e minha vida” ele me assegura. “Minha lealdade é a você, agora e para sempre.

Seus olhos imploram pelos meus. Azul, âmbar. Até agora, eu não sabia que estava morrendo de sede, nunca soube que estava sedenta e ele é a água mais azul que já provei. Para a eternidade, eu poderia beber dele, e por toda a eternidade, nunca ficaria satisfeita.

“Diga-me que você é meu” eu sussurro.

Ele me arrasta contra ele, inclinando meu queixo para cima para que ele possa provar meus lábios. “Eu sou seu, Nakya.”

“E eu sou sua”, asseguro-lhe.


Quarenta e Três

 

 

“Como você me encontrou?” Pergunta Nakya.

Eu aperto o joelho dela, alcançando seus dedos. Ela não anda desde que deixamos seu apartamento. Vai levar um tempo para ela confiar que isso é real, mas eu só tenho tempo para dar.

“Gianni me disse onde você estava.”

“Ele disse?” Sua voz tem uma picada de traição.

“Pensei que você soubesse que nunca deve confiar em um federal.”

Ela olha pela janela do carro, observando o cenário desaparecer de vista quando a rodovia consome os quilômetros atrás de nós.

“Ele era a única opção que eu tinha com meu pai. E então você veio e destruiu esse plano.”

"Sorte para você."

Ela olha para mim e eu acho que é muito cedo para piadas. “Você me enviou para morrer. O que você esperava de mim, Nika? Ele salvou minha vida."

Mischa me olha no espelho retrovisor. E embora eu preferisse que ele não estivesse aqui para esta conversa, sou grata que ele está dirigindo agora.

“Foi isso que Nonna lhe disse?”

O pé de Nakya bate um ritmo ansioso contra o piso. “Ela disse que estava tudo terminado comigo e, em seguida, o guarda me pegou.”

Eu aperto sua mão, provavelmente muito forte. “E você acreditou neles?”

“Por que não?” Ela questiona. “Você não me deixou outra escolha senão acreditar neles. E se Gianni não tivesse vindo-”

Eu quero beijá-la, porque não posso permitir que ela diga isso. Não posso e, provavelmente, nunca serei capaz de aceitar que falhei com ela desta forma. Ela está certa sobre Gianni, em questão dele não ser completamente inútil. Se ele não estivesse lá, Sergei teria levado ela para longe de mim.

“Sinto muito” digo a ela. “Eu deveria ter feito mais para protegê-la, mas zvezda, você deveria saber que nunca teria deixado você ir.”

Ela se enrola no meu peito, respirando-me. “O que aconteceu com Nonna?”

“Ela se foi” respondo. “E ela não vai voltar. Ela me traiu por Sergei e também o guarda. Mas eles já se foram agora.”

Ela olha para mim com os olhos nublados. “Sergei está morto?”

Eu concordo. Algum dia, vamos falar sobre isso, mas não será hoje. Não tenho nenhuma intenção de convidar essa escuridão para o novo capítulo de nossas vidas. Mas Tanaka é rápida para me lembrar que ainda há uma escuridão entre nós.

“Meu pai está morto” diz ela. “Não está?”

Mentir para ela seria fácil, mas não é o que quero. Preciso que ela ame as partes mais escuras de mim. Preciso que ela me ame quando estou no meu pior.

“Sim, meu doce. Sinto muito, mas ele também está morto.”

“Imaginei isso” diz ela. “E você o matou?”

"Sim."

Eu acho que certamente haverá mais, mas em vez disso, ela deita a cabeça no meu peito e cai no sono.


Quarenta e Quatro

 

 

Encontro Nika na doca, olhando para o céu. Ele está observando as estrelas e eu daria qualquer coisa para saber o que ele está pensando neste momento. O mundo fica parado e acho que posso respirar novamente quando meus olhos se movem sobre o homem que entrou na minha vida como uma bola de demolição.

Ele está usando uma camisa de botão branca aberta, calça cinza e suas botas de motociclista. Uma risada silenciosa sacode meu peito quando penso sobre o quanto eu odiei essas botas na primeira vez que o vi. Agora, sei que é só Nika. Eu amo suas botas de motociclista, seus modos grosseiros e provavelmente sou louca por isso.

Eu respiro e pronuncio as palavras mais importantes da minha vida. "Estou pronta."

Ele se vira para me olhar, suas narinas inflam. O calor se espalha através de mim e aliso minhas mãos sobre o tecido branco transparente.

“É um belo vestido.” Eu giro de um lado para o outro.

“O vestido é bom” ele concorda. “Mas estou olhando para você, Nakya. Só você."

Ele insistiu para que eu vestisse branco e insisti que não queria um espalhafatoso. Este vestido é o nosso compromisso. Leve e alegre, é perfeito para as nossas núpcias na praia.

“Lamento que sou o único que consegue vê-lo” diz ele.

“O ministro vai vê-lo. E Mischa também.”

Nika se aproxima de mim, inclinando meu queixo para cima com os dedos. “Tentando me fazer ciúmes?”

“O que há para ter ciúmes?” Pergunto. “Você vai ser meu marido esta noite. Terei sua estrela na minha mão. Nós estaremos juntos e todos os outros serão apenas ruídos brancos.”

Ele geme na minha boca. Nikolai ama a ideia de ser meu marido, mas acho que ele ainda sente algum pesar também. A maneira Vory seria me mostrar. Ter um casamento grande, extravagante na frente de todos os seus irmãos. Mas quando ele confidenciou que seria necessário fazer nosso casamento antes do nosso retorno a Massachusetts, fiquei aliviada ao dizer-lhe, que eu não queria um grande casamento. Não para mais ninguém. Só nós. E não existe nada mais privado do que ter a nossa própria praia em Florida Keys. Nos próximos cinco dias, não faremos nada além de dormir, comer e fazer amor em nosso bangalô sobre a água. É perfeito e o mais importante é que sabia que eu não teria feito de nenhuma outra maneira. Não importa onde nós casamos. Não importa quando. Tudo o que importa é que fizemos. Quando voltarmos para casa, Viktor nos dará a sua aprovação e nossas vidas podem continuar.

Eu sei o que estou fazendo. A vida com Nikolai não será sempre um conto de fadas e uma vez dentro, não existem quaisquer saídas. Mas se vou passar por momentos difíceis, quero fazer isso com ele.

“Estou pronta” digo novamente.

Nikolai me acaricia antes de finalmente acenar para Mischa e o ministro para descerem para a praia.

Contra o pano de fundo da água e sob todas as estrelas no céu, nós falamos nossos votos. São simples e tradicionais, na maneira da máfia.

Nikolai promete proteger, valorizar, prover, e permanecer fiel a mim por todos os dias da sua vida. Ele promete não deixar nenhuma outra mulher entre nós e também acrescenta que vai garantir a minha saúde, mesmo quando eu não gostar. Quando brigarmos, e vamos brigar, ele declara que usaremos nossas palavras e não os nossos medos para resolver as coisas.

Em troca, eu prometo a minha lealdade, respeito e honra a ele. Eu digo a ele que a minha virtude sempre pertencerá a ele e que vou usar com orgulho a sua estrela na minha mão e no meu coração.

A cerimônia é completada pelo selo oficial do ministro de aprovação, seguida pela aplicação da minha nova tatuagem por Mischa. É uma coisa estranha, quando eu traço as letras do seu nome gravado na minha pele, o quanto eu gosto disso.

“Obrigado.” Nikolai despede o ministro e então se vira para Mischa. “Você pode ir agora também.”

Sorrio quando ele me pega em seus braços e começa a andar pelo cais em direção ao nosso bangalô, mas seu rosto nunca foi tão sério.

“É hora de consumar esse casamento.”


Epílogo

 

 

“Às mulheres fortes.” Sasha segura o copo no ar e todos nós brindando reunidos em torno dela hoje.

“Às mais fortes” Mack concorda. “Temos de ser, para tolerá-los.”

Nossos olhares se movem coletivamente pelo gramado, onde os nossos maridos estão reunidos com crianças pequenas beliscando seus pés como cães, implorando por sua atenção. Dois dos homens, Nikolai e Mischa, estão atualmente atualizando a mais recente adição de Mack ao sindicato irlandês.

“E pensar que eles ainda não sabem como trocar uma maldita fralda,” ela bufa.

Todas as mulheres gargalham e Talia se inclina para me tranquilizar. “Não se preocupe, eles descobrem isso, eventualmente.”

Minha mão descansa no topo da minha barriga e dou um sorriso relaxado. "Eu não estou preocupada. Já sei que Nikolai será um bom pai.”

“Pfft.” Mack derrama outra bebida. “Você ainda está na fase de lua de mel. Não o deixe escapar de seus deveres de pai só porque você tem os olhos brilhando agora. Confie em mim, você vai me agradecer por isso mais tarde. Você tem que colocar o pé no chão. Faça-o levantar no meio da noite. Deixe ele trocar algumas fraldas. E o mais importante, não lhe dê qualquer desconto a menos que ele carregue seu peso.”

“Não deixe ela te assustar” diz Sasha. “Ela não é tão resistente como soa. Um olhar de Lachlan e ela se transforma em mingau.”

Eu não estou assustada. Mas sou grata quando olho em volta de mim. Num espaço tão curto de tempo, a minha vida mudou muito. A coisa que eu mais tive medo acabou por ser a melhor coisa que já me aconteceu. Este não é apenas um grupo de mulheres e seus maridos. Eles são minha família. A família que nunca pensei que teria.

Nós olhamos umas para as outras. Nós rimos, choramos e implicamos uns com os outros. Embora eu ainda seja relativamente nova, eles me aceitaram de braços abertos.

Ronan, o matador irlandês, chega para buscar sua esposa Sasha e os outros homens são rápidos em seguir o exemplo. O almoço está pronto e há uma celebração para o aniversário do bebê de Franco. Mas enquanto os outros voltam para o jardim, a pedido de Alexei, Nikolai me segura, pegando a minha mão e nos esgueirando para dentro de casa.

“O que estamos fazendo?” Eu sussurro quando ele fecha a porta do banheiro atrás de nós.

Ele tem orgulho de si mesmo, suas mãos vagam sobre meu corpo. Ele mudou muito e ainda estou lutando para aceitá-lo. Todos os dias, minha barriga cresce e não apenas isso, meus seios e quadris também.

“Você é linda” murmura Nikolai quando ele toca em meus seios. “E estes estão magníficos.”

“Nós vamos ser pegos” sorrio.

“Então, vamos ser pegos.” Ele pega a protuberância em sua calça jeans e mostra com orgulho. “Eu quero foder minha esposa.”

“Mmmm.” Quero resistir a ele, mas é difícil já que ele conhece todas as minhas fraquezas. Especialmente quando ele beija minha garganta. E antes que eu perceba, ele tem o topo do meu vestido puxado para baixo, esfregando o rosto nos meus seios.

“Você está obcecado.”

“Grandes ou pequenos, eu nunca vou ter o suficiente deles, Nakya. Acostume-se com isso.”

“Em breve você terá que compartilhar.”

Ele resmunga e descansa a mão contra minha barriga onde seu filho cresce. “Nesse caso, não me importarei. Vai ser bom para eu aprender a moderar.”

Ele está certo, mas não expresso isso, porque só lhe ocorreu que suas oportunidades são limitadas e agora ele está de volta molestando meus seios novamente. Sugando, apertando e lambendo enquanto ele se atrapalha com seu zíper.

Ele está me tomando tantas vezes desde que eu disse a ele que estava grávida que brinquei que ele iria continuar acrescentando bebês se ele não parasse. Mas ele não tem intenção de parar. Ele me diz isso quando envolve minhas pernas em volta de sua cintura e mergulha dentro de mim.

“Zvezda” ele diz como uma oração. “Você está tendo meu bebê.”

“Eu sei.” Beijo sua garganta.

“Eu ainda não consigo acreditar” ele geme.

Ele diz isso a cada dia. E todos os dias, eu concordo. Tem sido um ajuste, aprender a amar o meu corpo enquanto ele muda com a maternidade. Nikolai é cuidadoso em não me deixar deslizar para os velhos padrões. Mas ele também é rápido em apontar tudo o que ele ama em mim muitas vezes e com paixão.

“Goze para mim, meu doce” ele implora.

Eu gozo duas vezes. Minhas terminações nervosas estão mais vivas do que nunca. Nikolai ama e eu também.

Alguém bate na porta do banheiro e Nikolai resmunga “Vou sair em um minuto.”

“É melhor não estar profanando minha casa,” Alexei chama através da porta.

Eu sorrio para Nikolai e ele estremece com sua libertação. Algo que eu vim a perceber é que ele gosta da emoção de ser pego. Ele aproveita qualquer oportunidade que pode para me tomar em locais públicos, incluindo a casa do seu próprio irmão.

“Só atendendo a minha esposa grávida” Nika diz, mesmo que Alexei não possa ouvi-lo. “Certo, pet?”

“Aparentemente, estou muito carente.”

Ele traz a minha mão aos lábios, beijando o lugar onde reside a sua estrela. “Você está feliz, zvezda? Eu lhe dei uma vida que vale à pena viver?”

“Você me deu uma vida que vale à pena amar” altero. “Sempre, Nika. Porque sou sua.”

No final, eu o deixei me arruinar. Era a única maneira.

 

 

                                                   A Zavarelli         

 

 

 

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