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TOQUE DE TENTAÇÃO / Rhyannon Byrd
TOQUE DE TENTAÇÃO / Rhyannon Byrd

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

Biblioteca Virtual do Poeta Sem Limites

 

 

TOQUE DE TENTAÇÃO

 

Clãs Antigos: Raças não humanas cuja existência foi mantida em segredo da maioria dos seres humanos há milhares de anos, suas capacidades diferindo tão amplamente quanto sua fisiologia. Alguns se alteram apenas parcialmente quando em suas formas primitivas, como o Merrick. Outros se transformam totalmente, capazes de assumir a forma de um animal, semelhantes aos que compõem os Sentinelas.

Estes são apenas alguns dos vários clãs antigos que continuam a existir hoje:

Merrick: Um dos mais poderosos dos clãs antigos, os Merrick foram obrigados a se acasalar com humanos depois que anos de guerra contra os Casus dizimaram seus números. Sua linhagem eventualmente se tornou latente, habitando em seus descendentes humanos até o retorno dos Casus e o tempo do seu despertar. Para alimentar as partes primitivas de sua natureza o Merrick recém-despertado deve consumir sangue simultaneamente ao sexo. Características: Quando na forma de Merrick os machos tem presas, garras, nariz achatado e volumoso, constituição física muito musculosa. As fêmeas tem presas e garras.

Tempo de despertar: Cada vez que uma sombra Casus retorna a este mundo faz com que o sangue primitivo dentro de um dos descendentes Merrick cresça neles, ou desperte, para que eles possam lutar contra seu inimigo antigo.

Os Buchanans: Uma das mais poderosas linhagens Merrick, os Buchanans não foram apenas os primeiros dos Merrick a despertar, mas também cada um possui um poder incomum ou "dom". Ian tem uma estranha sensação de premonição que lhe vem em sonhos, Saige podem "ouvir" coisas de objetos físicos quando ela os toca e os poderes telecinéticos de Riley permitem que ele controle objetos físicos com sua mente.

Casus: Significando morte violenta, os Casus são uma raça de monstros imortais sobrenaturais que foram presos pelos Merrick e o Consórcio mais de mil anos atrás por suas farras assassinas sem sentido. Recentemente, no entanto, eles começaram a fugir de sua prisão, retornando a este mundo e assumindo os corpos de "hospedeiros humanos" que tem sangue Casus latente correndo em suas veias. Os Casus que escaparam agora caçam os Merrick recém despertados, alimentando-se de sua carne para obter poder, assim como por vingança. Características: Quando em forma Casus eles tem faces com focinhos, cabeças em forma de lobo, pele cinza dura, costas sulcadas e longas garras curvadas. Os machos tem olhos azul-gelo, enquanto as fêmeas tem olhos que são verdes pálidos.

Meridian: Domínio metafísico onde os Casus foram aprisionados por seus crimes contra os outros clãs... assim como com a humanidade. Embora tenha sido criado pelo Consórcio original, ninguém sabe como encontrá-lo até que num diário é descoberto alegações de que os Marcadores das Trevas não são somente as chaves que irão abrir os portais para Meridian, mas que também irão formar um mapa que leva a localização oculta da prisão.

Sombras: Por causa da sua imortalidade, os Casus não podem morrer em Meridian. Eles simplesmente se enfraqueceram em “sombras” das criaturas poderosas que uma vez foram, razão pela qual são forçados a tomar hospedeiros humanos quando retornam a este mundo.

Os Deschanel: Também conhecidos como vampiros, o Deschanel são um dos mais poderosos dos clãs antigos, rivalizando com a força dos Merrick e dos metamorfos. Embora a dualidade é uma característica comum entre muitos dos clãs, a característica é especialmente forte nos Deschanel, cujas próprias naturezas são uma dicotomia de opostos - ambos escuridão e luz, o que os torna amigos Complexos ... e inimigos perigosos. Características: Pálidos, olhos puramente cinzentos que brilham depois de terem se alimentado de sangue. Apesar de seu poder e força eles se movem com graça, sem esforço, que é incomum entre os machos humanos do seu tamanho. Eles também tem duração de vida incrivelmente longa, até ao momento em que, finalmente, tomam um companheiro.

A Queima: O corpo de um homem Deschanel não acasalado é frio até que ele encontre sua companheira. O fenômeno é referido como sendo "o calor" ou "queima", já que seu corpo começa a aquecer a partir do momento em que ele a encontra.

Os Förmyndares: Os Förmyndares: como protetores dos Deschanel, é dever desses guerreiros destruírem qualquer ameaça aos clãs de vampiros.

Terras de Ninhos: Antigas e vastas comunidades como castelos onde as famílias Deschanels vivem por segurança, ou ninhos, que são protegidos pela poderosa magia que os mantêm escondidos do mundo exterior. As terras estão localizadas em toda a Escandinávia e em outras partes da Europa.

As Bruxas: Embora ainda existam muitos clãs de bruxa, os seus poderes variam muito de um clã para outro.

Os Boudreaux: Um clã despreocupado de bruxas cuja especialidade é feitiços de beleza.  

Os Mallory: Um poderoso clã de bruxas cujos diversos poderes foram atados por uma maldição. Por causa da maldição centenária, eles agora ampliam as emoções das pessoas em sua presença a níveis extremos.

Os Reavess: Um clã de bruxas que pode se comunicar mentalmente com os de sua família. Eles acessam seu considerável poder através do uso de magias, e ligarão seus amores verdadeiros a eles através do sexo. Eles também são capazes de assumir as características possuídas por seus companheiros durante a "união".

Os Saville: Um clã esnobe de bruxas que tem pouco poder.  

Os Regan: Um clã agressivo responsável pela caça de vários clãs rivais à beira da extinção. Características: narizes longos, orelhas pontudas e queixos profundamente fendidos.

Os Kenly: Um clã residente nas montanhas quase caçado até a extinção pelos Regan. Características: Pequena estatura e largos, olhos como os de corça.

Os Feardacha: Um dos vários clãs antigos que residem na Irlanda. Eles são extremamente supersticiosos, acreditando que os mortos nunca devem ficar desmarcados. Como medida de precaução eles tatuam símbolos pagãos em suas mãos e braços, acreditando que os símbolos atrairão para si qualquer alma maligna que conseguiu escapar do inferno, para que possam matá-las mais uma vez. Características: tatuagens, pele cor de café e pálidos olhos verdes.

Os Vassayre: Um dos clãs mais reclusos, eles raramente saem das cavernas subterrâneas onde moram. Características: manchas escuras em torno de seus olhos encovados. 

Os Deuchar: Um dos mais violentos dos clãs antigos, eles são inimigos mortais dos Shaevan.

Os Shaevan: Um dos vários clãs antigos que residem na França.

Os Metamorfos: Uma enorme diversidade, poderosa coleção dos clãs cujos membros podem assumir qualquer forma de um animal, completa ou parcial.

Os Predadores Primitivos: Consistem nas espécies de animais predadores mais perigosos que são as raças mais agressivas de metamorfos, bem conhecidas por seus lendários impulsos sexuais e sua devoção inquestionável a seus companheiros. Para poder reivindicar um companheiro, um Primitivo deve morder a pessoa que detém o seu coração, marcando-a com suas presas enquanto toma seu sangue em seu corpo. Eles também são conhecidos por sua habilidade inigualável como guerreiros e suas fortes habilidades de cura. Exemplos: os tigres, jaguares e licantropos.

Os Licantropos: Também conhecidos como lobisomens, eles são guerreiros formidáveis ​​que podem realmente mudar humanos para sua espécie com o poder de sua mordida se eles estiverem em forma de lobo. No entanto, para marcar seus companheiros eles devem dar uma mordida com suas presas enquanto ainda estão em forma humana.

Os Raptores: Umas das raças mais raras de metamorfos, o Raptores são conhecidos por serem guerreiros implacáveis ​​e possessivos e amantes totalmente devotados. Apesar de não mudarem completamente sua forma, são capazes de liberar asas poderosas de suas costas que lhes permitem voar, assim como garras afiadas dos seus dedos para lutar.

Os Charteris: Dragões metamorfos que possuem a capacidade de controlar o fogo e cujos corpos queimam com um calor perigoso quando fazem amor com uma mulher que tem seu coração. Acredita-se que não exista nenhum Charteris puro sangue. 

Os Arquivos: Os registros que pertenciam ao Consórcio original que se acredita armazenarem informações vitais sobre os clãs antigos. Embora o novo consórcio passasse anos procurando por eles, os arquivos caíram nas mãos do Exército Coletivo.

O Exército Coletivo: Uma organização militante de mercenários humanos dedicados a purgarem o mundo da vida sobrenatural. Em uma reviravolta irônica o Exército Coletivo encontra-se agora em parceria com os Kraven e os Casus, em troca de informações que acreditam os capacitará a exterminar as demais espécies não humanas.

O Consórcio: Um órgão de autoridades formado por representantes de cada um dos clãs antigos remanescentes, o Consórcio é uma espécie de Nações Unidas sobrenaturais. Seu propósito é resolver disputas e manter a paz entre as diferentes espécies, enquanto trabalham para ocultar a existência dos clãs remanescentes do mundo humano. Mais de mil anos atrás o Consórcio original ajudou os Merrick a aprisionar os Casus, depois que as incessantes matanças de humanos pelos Casus ameaçaram expor a existência das raças não humanas. O Conselho forjou os Marcadores das Trevas para destruir os assassinos imortais apenas para ser assassinado pelo recém-criado Exército Coletivo antes que pudesse completar a tarefa. Anos mais tarde, o Consórcio foi novamente formado, mas então seus arquivos originais foram perdidos... todos os vestígios dos marcadores das Trevas supostamente foram destruídos durante os ataques impiedosos do Coletivo que quase levaram à destruição dos clãs.

Os Marcadores das Trevas: Cruzes metálicas de enorme poder que foram misteriosamente criadas pelo Consórcio original, elas são as únicas armas conhecidas capazes de matar um Casus enviando sua alma diretamente para o inferno. Eles também funcionam como um talismã para quem os usa, oferecendo proteção contra os Casus. Embora não se sabe quantos marcadores das Trevas ainda existam, há um conjunto de mapas criptografados que levam à suas localizações. Os Sentinelas e os Buchanans estão usando esses mapas para ajudá-los a encontrar os marcadores antes que caiam em mãos inimigas.

"Braço de Fogo": modo de arma para um Marcador das Trevas. Quando segurado contra a palma, um Marcador das Trevas detém o poder de mudar o braço da pessoa em um "Braço de Fogo." Quando a cruz é colocada contra a nuca de um Casus, o braço coberto de chamas afundará no corpo do monstro, queimando-o de dentro para fora.

Os Mapas Criptografados: Quando Saige Buchanan descobriu o primeiro Marcador das Trevas na Itália, ela achou um conjunto de mapas criptografados enterrados ao lado da cruz. Os mapas, que levam às localizações escondidas dos Marcadores das Trevas, foram embrulhados em um oleado e preservados por algum tipo de magia.  

Os Caminhantes da Morte: As almas dementes dos membros dos clãs e mulheres que foram enviados para o inferno por seus crimes sádicos, e que agora estão conseguindo retornar ao nosso mundo. Não se sabe como matá-los, mas eles podem ser queimados por uma combinação de água benta e sal. Levados à loucura por seu tempo no inferno, eles são uma força extraordinária de maldade, procurando criar o caos e guerras entre os clãs remanescentes simplesmente porque querem assistir o mundo sangrar.

Características: Embora eles retenham certas características de sua espécie original, cada um dos Caminhantes da Morte possui pele branca cadavérica e chifres pequenos que se projetam de suas têmporas, bem como dentes e garras mortais.  

"O Efeito Eva": Um fenômeno que afeta várias raças de metamorfos, fazendo com que sejam atraídos para certas fêmeas que tocam a fome primitiva tanto do homem quanto da besta. Se um homem se apaixona por uma dessas mulheres e a morde, ela estará ligada a ele como sua companheira para o resto de suas vidas.

Os Infettato: Humanos que foram infectados pela mordida de um Caminhante da Morte. Uma vez transformados, eles se tornam os "mortos-vivos", e lhes é impossível recuperar sua humanidade. Vivem apenas para consumir carne, rastreando suas presas pelo cheiro, e cegamente obedecer às ordens de quem os fez. Quando se alimentam eles se tornam mais fortes, e só podem ser mortos quando seus corações são removidos do seu peito e queimados. Características: Pele amarelada e manchada, rostos esqueléticos e olhos encovados. Pele negra que parece como se tivesse sido queimada cerca seus olhos e bocas.

Os Kraven: Descendentes de vampiras Deschanel que foram estupradas por machos Casus antes de sua prisão. Tratados pouco melhor do que escravos e considerados um símbolo vergonhoso de fraqueza, os Kraven têm sido um segredo tão bem guardado dentro do clã Deschanel que os Sentinelas apenas recentemente ficaram cientes de sua existência. Embora sua motivação ainda não esteja clara, os Kraven estão trabalhando para facilitar o retorno dos Casus. Características: Acredita-se que tenham vida longa e suas presas podem ser liberadas apenas à noite, fazendo com que seus olhos brilhem numa profunda cor vermelho sangue. Eles também podem passar facilmente por humanos, mas só podem ser mortos quando uma estaca de madeira é introduzida em seu coração.  

Wasteland: Uma região fria, desolada e perigosa, que foi criada por poderosa magia, onde "ninhos" Deschanel ou núcleos familiares exilados são forçados a viver uma vez que o Consórcio aprovou sentença contra eles. Protegida por magia que a torna invisível para os seres humanos, esta vasta região "compartilha" espaço físico com as florestas escandinavas que a rodeiam.

Os Sentinelas: Uma organização de metamorfos cujo trabalho é vigiar os clãs antigos remanescentes, eles são considerados os "olhos e ouvidos" do Consórcio. Monitoram as várias espécies não humanas, bem como as linhagens dos clãs que se tornaram latentes. Antes dos recentes despertares dos Merrick, as linhagens mais poderosas Merrick estiveram sob supervisão dos Sentinelas. Há Complexos de Sentinelas situados ao redor do mundo, com cada unidade composta de quatro a seis guerreiros. Características: traços físicos variam de acordo com a raça específica de metamorfo.

 

 

Tentações sombrias levam a prazeres mais sombrios…

Domingo de manhã

O problema em tentar agir como um bom sujeito era que bons sujeitos jogam pelas regras. Eles não cobiçam aqueles que precisam de sua ajuda. Eles não agem com seus instintos mais básicos. Não pensam em estar entre as pernas de uma mulher quando pretendiam estar salvando sua vida.

Desde o momento em que Kellan Scott botou seus olhos na bruxa Harcourt mais jovem, ele lutou para ser bom. Mas Jesus, ele queria ser mau.

Mau. Dominante. Sujo. Se fosse explícito e sexual, ele queria com ela. Não importava o quanto ele tentasse lutar contra isso, ou o quanto estivesse determinado a se manter na linha. Ele ainda a queria. E a novidade não teria chocado ninguém que o conhecia. De fato, era exatamente o que eles teriam esperado de um sujeito cuja existência poderia ser definida por quatro palavras.

Sentinela. Lobisomem. E um fodedor de categoria mundial.

O primeiro era fácil o suficiente para explicar se a pessoa tivesse uma mente aberta. Entretanto a maioria dos humanos era ignorante sobre essas coisas, a verdade era que muitas espécies paranormais viviam escondidas entre eles. Eram chamados de os “clãs antigos” e na sua maior parte, as várias espécies viviam em paz com a humanidade. Mas… nem sempre. E era aí onde os Sentinelas entravam. Uma organização altamente qualificada de metamorfos, e era trabalho dos Sentinelas manterem “vigilância” sobre os membros e mulheres do clã. Embora a maior parte do seu trabalho consistisse em tarefas de vigilância assegurando o segredo e a segurança dos clãs, tinham vezes em que eles eram chamados pelos seus superiores para matar qualquer coisa que precisasse ser morto — que era o motivo de Kellan ser um inferno de um soldado, treinado tanto em combate com armas quanto com as mãos.

E a parte lobisomem — bem, isto é praticamente auto-explicativo. Talvez o único esclarecimento que poderia ser feito era que ele podia controlar as mudanças em seu corpo, em vez de tê-las ditadas pelos ciclos da lua. E ao contrário das crenças modernas ele não poderia ser morto por uma bala de prata, embora isso doesse como uma cadela sempre que ele conseguia ser baleado. Ainda, apesar do fato das habilidades curativas dos lobisomens serem algumas das mais fortes entre os clãs metamorfos, ele poderia morrer antes de alcançar o fim natural de sua vida se ele sangrasse demais. Por isso, o modo mais simples de matar um Lycan — um lobisomem — era cortar seu abdomem, derramando suas vísceras. Um destino que Kellan teve sorte o suficiente para evitar.

Mas enquanto as duas primeiras distinções eram coisas que ele podia se orgulhar, infelizmente aquela última — fodedor — era a que melhor definia a verdadeira essência do seu caráter. Nisso Kellan era mais largamente conhecido… e isso era a única coisa em que ele verdadeiramente se destacava.

Tanto quanto fosse verdade, uma amarga de engolir, razão pela qual estava entalada na garganta de Kellan poucos meses antes… e ele ainda não conseguiu engolí-la.

De fato, era aquela sensação sufocante de culpa que fez Kellan embarcar nessa situação atual. Esta situação sendo o seu encarceramento no esconderijo secreto de um psicopata furioso que estava para tornar o mundo um inferno vivo para humanos e membros de clã, igualmente.

Quando a ideia para este descuidado resgate veio a ele no começo do mês, após ele finalmente rastrear uma pista de onde Chloe Harcourt estava sendo mantida prisioneira, pareceu tão simples. Encontrar a bruxa. Proteger a bruxa. Salvar a bruxa. Suicida, sem dúvida, mas um belo plano em sua simplicidade — até que a luxúria saltou para complicar tudo que nem um inferno. Ainda assim Kellan viu a situação como a resposta perfeita para a pergunta urgente sobre o que ele pretendia fazer com o embaraçoso resto da sua vida. Era difícil corresponder às expectativas quando seu irmão mais velho era um dos durões mais justos ao redor, mas esse era Kierland. Kellan amava o cara como louco, mas estaria mentindo se dissesse que não estava cansado de se sentir como o notório camponês idiota quando comparado ao seu irmão exemplar.

Então novamente, ele não precisava ser comparado a Kierland para parecer um tolo. Não, ele conseguiu esta embaraçosa distinção sozinho.

No meio de uma guerra ele fez a última asneira: escutou seu pau em vez do seu cérebro e sem saber fodeu com um dos seus inimigos. Para piorar, Kellan nem percebeu isso até que fosse tarde demais. Até que quase custou a vida de uma mulher inocente — uma mulher que agora estava comprometida com um de seus melhores amigos.

Falando sobre um erro que você nunca se redimirá...

Reprimindo um grunhido áspero, ele usou o seu antebraço para enxugar o brilho de suor da sua testa, estreitou seus olhos e continuou com sua missão, seus músculos queimando enquanto lutava para forçar uma abertura na porta de sua cela. Embora já tivesse quebrado o cadeado, a porta que era feita de barras de ferro, estava equipada com um contrapeso que precisaria de pelo menos três machos humanos para levantar e Kellan estava fazendo isso sozinho. O ar frio arrepiava sua pele, as chamas trêmulas do fogo numa lareira próxima faziam pouco para tirar o frio do ar, e ainda assim ele continuava a suar pelo esforço. Continuando a se empurrar até o ponto da agonia, uma careta ondulando sua boca enquanto sua mente agitada pensava naquela fatídica noite no outono passado quando as coisas deram tão erradas.

Sim, nada como pôr em perigo as vidas de pessoas inocentes para dar a um sujeito um quebra-cabeça num abrir de olhos. Meses mais tarde ele estava se recuperando do golpe. Ainda coberto com a película pegajosa da vergonha que se esgueirou sobre ele como um tipo de manto tóxico.

Isso o fez se sentir como um idiota, mas até aquele momento quando a merda bateu no ventilador em Pureza, Washington, Kellan viveu sua vida para um propósito específico — sendo esse propósito o prazer. Conhecido como o despreocupado “playboy” de sua unidade de Sentinelas, ele ganhou muito cedo uma reputação por permitir que seus apetites sexuais o colocassem em apuros. Por um tempo malditamente longo, deslizar entre um par de pernas quentes fora seu modo de liberar sua frustração reprimida com a vida. Seu mecanismo de defesa para uma infância menos-que-estelar e altos e baixos emocionais profundamente enraizados. Ou pelo menos foi o que contaram para ele. As coisas estavam abaladas ultimamente na sua unidade de Sentinelas, com vários de seus amigos mergulhados em felicidade romântica, e a súbita influência feminina estava mostrando suas marcas.

Agora frases como autoconhecimento e bagagem emocional eram lançadas ao redor como punhados de terapia de confete. E as novas companheiras dos amigos de Kellan deixaram suas opiniões relativas ao seu estilo de vida devasso dolorosamente claras.

Você está se vendendo por pouco.

Você está usando sexo sem sentido como uma distração.

Você está agindo como um vagabundo desmiolado.

— Malditas pequenas harpias. — ele murmurou afetuosamente, sabendo malditamente bem que elas estavam certas sobre ele. Elas não estavam dizendo nada que ele já não tivesse compreendido sozinho.

Depois do seu erro colossal com aquela odiosa morena de olhos verdes com quem ele esteve jogando, Kellan foi forçado a dar uma boa olhada no espelho. Não teria sido tão ruim, exceto que ele não tinha se importado com o homem que o olhava. É verdade que poderia ter sido pior. Ele podia ter sido um assassino ou um estuprador ou alguma outra peste imunda que merecia apodrecer na danação eterna. Ao invés disso ele era apenas... inferno. Ele era um garoto que nunca teve tempo para perceber que seu rabo cresceu. Que suas ações tinham consequências.

Algumas que tiveram sérias implicações quando seus amigos e colaboradores estavam lutando por suas vidas

Fora um golpe duro para o seu orgulho, mas um que Kellan acreditou que devia ter previsto. Os sinais formigaram na borda da sua consciência por um tempo, tornando-o cada vez mais inquieto. Desconfortável. Pequenas pontadas de consciência que sussurraram insultos em seus ouvidos. Na maioria das vezes eram apenas xingamentos, mas às vezes… às vezes aqueles insultos sussurrados ficavam pessoais, censurando-o sobre suas escolhas.

Advertindo-lhe que não importava quantas mulheres bem constituídas e deslumbrantes ele tomasse sob seu corpo, ele ainda não acharia a única coisa que ele precisava.

Advertindo-lhe que era hora de parar de agir como um inútil e realmente fazer alguma coisa com a sua vida.

Uma vez que ele concordou, Kellan finalmente decidiu tomar uma atitude. E sem dúvida ele definitivamente começou o ano novo com um pontapé.

No movimento mais grosseiro que já fez, trocou sua liberdade por uma cela. Tinha propositalmente se deixado ser capturado pelo inimigo, o que resultou em seu subsequente espancamento, tortura e prisão.

E tudo pela pequena bruxa dormindo na cela próxima a sua. A fêmea delicada que virou completamente seu mundo de cabeça para baixo. Que era uma completa estranha. Uma mulher que nunca sequer tinha encontrado.

E uma com quem ele estava decidido a falar, que era o porquê dele estar fazendo o seu melhor para conseguir abrir aquela maldita porta.

Embora Kellan já estivesse no local por dois dias, ele só teve alguns breves vislumbres de Chloe enquanto os guardas a levaram de sua cela aos andares superiores, e depois novamente para baixo.

Mas ele recolheu o máximo de informações que pôde. Flashes de uma pele pálida perfeitamente suave. Cabelo escuro e liso. Rosto de fada. Ele tinha pensado nos detalhes até que a lembrança deles estava queimada em seu cérebro como uma marca, deixando uma cicatriz em sua sanidade.

Ela foi levada para cima novamente no começo daquela manhã, mas finalmente foi trazida de volta ao nível subterrâneo há duas horas. Duas horas que pareceram como um verdadeiro inferno, enquanto Kellan lutou para manter suas tumultuosas emoções sob controle e focar na tarefa em suas mãos.

— Tudo que importa é conseguir tirá-la deste lugar. — ele murmurava baixinho, o mesmo que ele vinha fazendo desde que colocou os pés em Wasteland (área deserta), onde o Complexo inimigo estava escondido. Uma região mística criada por magia poderosa, Wasteland era um reino frio, perigoso, desolado onde “os ninhos” ou unidades de família de vampiros eram exilados depois de um julgamento proferido contra eles. A maioria dos vampiros, também conhecidos como o clã de Deschanel, residia em “ninhais” localizados ao longo da Escandinávia e Europa Oriental. As terras eram antigas, imensas comunidades em castelos onde as extensas famílias viviam por segurança, as terras protegidas por feitiços que as mantinham escondidas do mundo. Mas as famílias Deschanel exiladas eram forçadas a ir para Wasteland, onde cada homem ou vampiro era cada um por si.

Depois de viajar pela região Kellan podia garantir que era praticamente uma droga para Lycans, também. E, no entanto, ele teria feito isto novamente num piscar de olhos.

Ele não sabia como explicar isso, então desistiu de tentar. Ele só sabia que parecia certo. Que ele estava onde estava destinado a estar.

Desde o primeiro momento que viu a fotografia de Chloe Harcourt, ela esteve em todos os seus pensamentos, impossível de esquecer.

E num momento ele estava olhando para a imagem da morena atraente, e a próxima coisa que soube, foi que estava fazendo tudo o que podia para encontrá-la. Se essa fosse a última coisa que ele fizesse, Kellan pretendia levar esta mulher de volta para sua família e ter pelo menos uma ação abnegada, que valesse a pena ser listada entre toda uma vida de erros.

Mas enquanto a necessidade de provar a si mesmo poderia ter soado como uma explicação razoável para suas ações suicidas, ainda não explicava sua obsessão.

E não há nenhum argumento com Eu estou obcecado.

Durante os últimos dois meses em que Kellan conheceu a meia-irmã humana de Chloe, Olivia — desde então ela acabou com Aiden, seu companheiro Sentinela — ele fazia constantemente perguntas sobre a pequena bruxa, desesperado para saber tudo o que podia. E embora soubesse muitas das informações básicas — que ela era metade Merrick, metade bruxa Mallory, solteira, um pouco solitária, independente, tinha um diploma em design e gostava de arte e culinária — não era suficiente. Ele queria saber todos os detalhes íntimos.

O que a fazia gargalhar? Ou a fazia sorrir? O que a fazia chorar ou deixava louca? Quais eram seus cheiros favoritos e se ela preferia sol ou chuva? Os deslumbrantes raios do amanhecer… ou as sugestivas sombras da noite de luar?

E ele queria tocá-la. Mas essa era a única coisa que ele não podia fazer. Não depois dos erros que cometeu… ou o perigo podia representar para ela em sua condição atual.

No início da semana, enquanto lutava para chegar até este lugar esquecido por Deus, Kellan foi infectado por um vampiro maligno chamado Asa Reyker, cuja família estava entre os muitos ninhos Deschanel que foram exilados em Wasteland.

Como um Lycan com habilidades curativas extraordinárias, o corpo de Kellan estava atualmente conseguindo lidar com o veneno poluindo seu sistema, desde que ele ficasse calmo. Mas sua capacidade de superação não duraria… e permanecer calmo não era fácil. O perfume da bruxa chamava aquelas partes mais perigosas e viscerais dele.

Partes que ele mal conseguia controlar depois de viajar por tantos dias em sua forma primitiva de lobo.

Ele sabia que estava se arriscando ficando completamente em estado de besta por tanto tempo, mas ele teve pouca escolha. Wasteland era um lugar traiçoeiro — ainda mais quando você está viajando sozinho. Se ele não tivesse dado mais de si ao lobo, nunca teria conseguido.

Mas isso não significa que não posso controlar você, ele rosnou ao animal predador rondando os limites do seu corpo, a besta desesperada para colocar suas mãos na bruxa e saciar sua luxúria.

Quer apostar? O bastardo sorrateiro provocou buscando por qualquer sinal de fraqueza que pudesse explorar. Eu não vou machucá-la. Eu só quero... brincar.

Sim, certo.

As mãos de Kellan tremiam enquanto ele enrolava seus dedos em torno das grossas barras de ferro da porta e puxava, suas narinas queimando enquanto ele aspirava impotente mais do luxuriante e intoxicante perfume de Chloe. Ele podia saboreá-lo em sua língua do modo que só um animal podia, o sabor provocativo dando água na boca.

A fome o montou duro, golpeando contra sua razão, mas ele travou sua mandíbula se esforçando para apertar as rédeas sobre o lobo...

— Você está se perdendo Lycan. Precisa respirar fundo e se acalmar. — As palavras suaves, faladas com voz rouca pertenciam a Raine Spenser. Ela era outra prisioneira — e uma que sofreu muito mais que Kellan. Parte vampiro, parte psíquica, Raine fora capturada várias semanas atrás por Ross Westmore, o psicopata furioso que os estava mantendo… e que forçou Raine a usar seus poderes contra os companheiros Sentinelas de Kellan matando sua irmã e sequestrando seu irmãozinho.

Pelo que Kellan e seus amigos souberam, Westmore estava por trás do recente retorno dos casus imortais, um dos mais violentos dos clãs antigos. Nos últimos mil anos, toda a raça Casus esteve apodrecendo dentro de Meridian, uma terra de propriedades metafísicas onde eles foram encarcerados por seus crimes contra a humanidade… e um clã rival chamado Merrick. Entretanto o Merrick eventualmente procriou com outros, e a linhagem do clã ficou latente, o retorno recente de mais do que alguns Casus deu lugar a uma reação em cadeia, despertando o sangue primitivo de muitos dos descendentes Merrick, a maioria dos quais eram agora aliados dos Sentinelas. Tornou-se um daqueles clássicos conflitos do tipo bem contra o mal, e agora todo o inferno estava solto, com a segurança do mundo na balança.

O Casus queria destruir o Merrick e liberar os seus apetites sádicos sobre o mundo, os Sentinelas estavam determinados a impedí-los, e todos eles estavam atrás de algumas pequenas cruzes elegantes chamadas de Marcadores das Trevas. Como as únicas armas conhecidas que podiam matar a alma de um Casus e enviá-la para o inferno, os Marcadores das Trevas eram os bilhetes quentes que todo mundo queria um pedaço. Os Sentinelas também suspeitavam que os Marcadores pudessem de alguma forma serem usados para provocar “a inundação”— um cenário no qual os portais de Meridiam seriam abertos, permitindo aos monstros escapar. Se eles estivessem certos explicaria por que Westmore e o Casus estavam buscando as armas com a mesma seriedade quanto Kellan e seus amigos. Mas eles não sabiam com certeza… e embora os poderes de Raine fossem fortes, ela alegou que Westmore era um de seus pontos cegos, o que tornava impossível para ela dizer a Kellan por que o bastardo os queria. Também significava que ela não podia dizer a ele o que Westmore planejou para o seu futuro.

Kellan estava no Complexo desde a última quinta-feira. Se ele não encontrasse uma saída até a próxima sexta-feira, ele estava confiante de que seu irmão lançaria um ataque contra o Complexo para resgatá-lo.

Kierland sabia onde ele estava, e de acordo com Raine seu irmão fez aliados improváveis em Wasteland que estavam prontos para ajudá-los. Mas até sexta-feira restavam longos cinco dias e Kellan queria a ambas, Chloe e Raine, fora dali antes disso. Embora Raine conseguisse negociar a liberdade de seu irmãozinho, assim como a suspensão de sua tortura ao ameaçar reter informações que Westmore queria, e Chloe foi considerada fora dos limites para os homens de Westmore, ele ainda se preocupava sobre elas estarem cercadas por tais monstros.

E quanto a Chloe, Kellan não podia excluir o risco que ele próprio representava para sua segurança. O lobo poderia ser uma parte dele, mas quando se tratava da bruxinha ele não confiava nele mais do que teria confiado em um animal ferido. Estava com dor pelo veneno, fervilhando de fome por ela, e como qualquer animal selvagem, não se importava com nada além de seus desejos e necessidades. Razão pela qual ele tinha que ficar bem longe dela quando escapassem, deixando-a sob a proteção de Kierland e dos outros.

Mas primeiro ele tinha que conseguir libertá-la, e se eles acabassem tendo que lutar para escapar, então precisaria da cooperação da bruxinha. Eles precisavam conversar, e de uma forma ou de outra, ele conseguiria seu reconhecimento.

— Kellan, você me ouviu? — As palavras suaves de Raine eram afiadas com um toque de impaciência.

— Sim, ouvi você. — ele disse com cuidado em manter sua voz tão silenciosa quanto possível. Embora a cela de Kellan estivesse entre as delas e as paredes entre cada cela fossem feitas de chapas sólidas de metal — o que significava que Raine não podia ver a cela de Chloe — ele sabia que a psíquica estava monitorando Chloe para ele com seus poderes.

— Ela ainda está fora?

— As drogas que eles deram a ela para acalmá-la eram muito potentes. Ela ainda está sedada com os efeitos, mas deve estar bastante lúcida quando finalmente acordar.

O pensamento daquelas drogas sendo injetadas em seu sistema por Westmore e seu médico charlatão fez Kellan amaldiçoar baixinho, seus dedos cavando as barras de ferro com força suficiente para ter estalado.

Embora a mãe de Chloe tivesse sido uma bruxa Mallory, seu pai que morreu quando ela era jovem, fora um descendente direto do clã Merrick. Quando Kellan foi capturado três dias atrás ele descobriu que o sangue primitivo Merrick dentro da bruxa já estava despertando, desesperada pela sua primeira alimentação, sua fome a debilitando mais a cada dia. Já que mantê-la saudável era parte do plano de Westmore — pelo menos nesse momento — ele tinha seu médico tentando melhorar sua condição “alimentando” sangue em seu sistema por uma IV[1]. Para mantê-la tranquila eles a sedavam antecipadamente, o que significava que ela esteve bastante fora do ar desde a chegada de Kellan.

E o pensamento do que eles poderiam estar fazendo a ela enquanto estava tão indefesa o fazia enxergar vermelho. Literalmente.

— Você tem certeza que eles não a tocaram? — Ele forçou entre dentes cerrados. — Não a prejudicaram de qualquer forma?

— Tenho certeza. Eu ouvi Westmore advertir aos outros que ela deveria ser deixada sozinha. Ele fica furioso até se eles olham para ela do modo errado, porque ela está destinada a ser o presente de Calder quando ele escapar de Meridiam.

Graças a seus confrontos anteriores com o Casus, Kellan e os outros Sentinelas sabiam que Calder era o nome do monstro que assumiu a responsabilidade das coisas em Meridiam e que agora estava trabalhando com Westmore para conseguir a fuga do Casus.

Raine adicionou.

— Calder foi inflexível de que ela não deveria ser tocada — ou despertada com uma alimentação real — até que ele estivesse aqui para reivindicá-la. — Em outras palavras, até que ele estivesse lá para executar seu estupro e assassinato.

Queria rasgar a garganta do bastardo, seu lobo rosnou e Kellan assentiu, desta vez em pleno acordo com sua parte selvagem. A única verdadeira benção para todo este pesadelo era que Calder aparentemente não planejava escapar de Meridiam em breve, o que significava que ele não representava qualquer perigo imediato para Chloe.

Infelizmente, o mesmo não podia ser dito sobre Kellan.

— Ela está com medo de mim. — ele disse para Raine, e mesmo com sua raiva e esgotamento o montando com força, o arrependimento em seu tom era claro.

— Por que você acha isso?

Kellan bufou.

— Você ouviu o que acontece quando tento conversar com ela através da parede que separa nossas celas. Sei que ela pode me ouvir, mas ela nem mesmo responde.

— Não é nada pessoal. Ela é só… cautelosa com todos os homens, mas não assustada. Ela simplesmente não confia em seu efeito sobre eles.

Ele se interrompeu surpreso, considerando cuidadosamente o que Raine disse. Ele assumiu que a reticência de Chloe fora simples medo por causa do que ele era. Um estranho. Pra não mencionar um lobisomem. E um que estava procurando cada pedacinho do predador depois do que ele passou para chegar até ela.

Mas aparentemente ele estava errado.

Sacudindo sua cabeça, ele perguntou.

— Você está dizendo que ela não falará comigo porque tem medo que a maldição Mallory vai me afetar?

— Isto é exatamente o que ela não quer que aconteça. Já se sente culpada o suficiente por que você arriscou sua vida para vir aqui por causa dela. A última coisa que ela quer fazer é começar a mexer com suas emoções.

Como uma bruxa Mallory, Chloe possuía um poder incomum que exaltava as emoções daqueles ao redor dela em níveis extremos. Embora Kellan ouvisse falar disso antes, Olivia explicou sobre a maldição Mallory em mais detalhes, descrevendo como tinha bloqueado os diferentes poderes do outrora poderoso clã de bruxas Mallory e canalizando-os na mãe de todas as magias.

— Eu não vim atrás dela por causa de alguma porcaria de maldição. — ele murmurou.

— Eu sei e você sabe disso. Mas Chloe… bem, ela não sabe no que acreditar.

Ele grunhiu em resposta, deslocando a abertura da porta outra polegada, a abertura quase larga o suficiente para que ele pudesse passar. Mas ele tinha que ser cuidadoso. Para que seu plano funcionasse, Kellan tinha que sair de sua cela sem realmente danificar a porta, não deixando Westmore e seus capangas ter conhecimento.

— Como está indo a porta?

— Eles não estavam brincando quando construíram estas celas, mas estou quase conseguindo.

Pelo que Kellan podia dizer, a equipe de Westmore tomou o que originalmente foi algum tipo de fortaleza antiga enterrada no coração de Wasteland e a transformou em um Complexo quase impenetrável. O local foi concebido para ser ultra secreto, mas Kellan conseguiu encontrá-lo graças a uma grande quantia de dinheiro que ele descarregou em alguns repugnantes vampiros Deschanel que ouviram rumores sobre o local do Complexo — e que não gostavam de ninguém entrando em seu território. Kellan esperava que a fortaleza fosse difícil de entrar, razão pela qual ele pra começar se permitiu ser capturado — mas isso significava que o lugar seria igualmente difícil de sair.

Ele tinha esperança de encontrar algum tipo de fraqueza que pudesse explorar uma vez que ele estivesse dentro... e o irritou seriamente que não tinha.

Ainda assim Kellan não podia reclamar que ele esteve completamente sem sorte, considerando que eles não o mataram. Ao invés disso eles o mantiveram vivo, justamente como suspeitou que fizessem, acreditando que ele poderia ser útil quando decidissem seguir os Marcadores das Trevas que os Sentinelas já acharam. Claro, o Casus o espancou por umas vinte e quatro horas, querendo que ele admitisse que estava lá pelos três Marcadores em poder deles, e Kellan finalmente fez uma confissão falsa. Então eles o lançaram no mesmo bloco de celas que Chloe, não percebendo que ela era a razão verdadeira dele estar ali.

Kellan não sabia se os homens de Westmore construíram o calabouço ou se era parte da estrutura original, mas conseguiu usar suas garras para abrir a fechadura da porta. E depois disso, tudo o que restava fazer era puxar. Forte.

— Ela está começando a acordar. — Raine disse a ele. — Então, assim que acabar com essa porta, eu vou me colocar em Transsi.

— Que diabo é isso?

— É uma espécie de estado de transe leve que psíquicos podem entrar quando precisam de descanso, mas não querem estar completamente em estado de sono. Então você, uh, não terá que se preocupar comigo escutando qualquer coisa.

— Escutar o que? Eu só quero conversar com ela, Raine. Não vou começar a atormentá-la para obter informações particulares. E se você pode “lê-la”, não é como se ela tivesse algum segredo para você de qualquer maneira, né?

— Pense nisso, Kellan. Você precisa estar pronto para o que está vindo. Seu Merrick está em pleno despertar agora e ela está sofrendo fome por sangue fresco. Pra não mencionar sexo.

— E o que isso tem a ver comigo? — Ele exigiu, todos os músculos do seu corpo ficando rígidos com a tensão.

Um curto e pesado silêncio se seguiu até que Raine fez um som suave baixinho que soou suspeitosamente como riso.

— Posso não ser capaz de ver o futuro. — ela murmurou. — Mas algo me diz que a bruxa Merrick vai dar uma olhada em você e ver mais do que o cara que arriscou sua vida para salvá-la. Se ela está confortável com a ideia ou não, Kell, ela vai ver você como o homem que pode dar a ela aqui mesmo o que precisa.

 

No momento em que Chloe conseguiu abrir seus olhos que pareciam estar cheios de areia, ela se encontrou com a visão atordoante de Kellan Scott de pé do lado de fora das barras de ferro que cobriam a frente de sua cela.

E enquanto havia uma parte sua que estava pasma que ela não gritou imediatamente de choque, as outras partes estavam ainda muito ocupadas assimilando sua deliciosa beleza sombria e perigosa.

Até com as recentes contusões curando em seu rosto e tórax, como também uma mordida de má aparência na lateral de sua garganta, Chloe percebeu que ele era o homem mais bonito em que ela já tinha posto os olhos. Ela o encarava de seu lugar na cama estreita da cela, seu corpo tremendo embaixo de um cobertor fino, enquanto ele a fitava do outro lado das barras, um ombro largo escorado contra as pesadas barras cinzas de metal. Ele vestia nada além de jeans de cintura baixa manchados de sangue, seus pés longos e largos, o tórax meio suado completamente nu. Com os dedos polegares casualmente enganchados em seus bolsos dianteiros, ela tinha a sensação que ele estava tentando parecer tão inofensivo quanto possível, e isso quase a fez sorrir.

Boa tentativa, Lycan. Mas não está funcionando.

Não, esse definitivamente não era nenhum cordeiro. Chloe podia praticamente sentir a força bruta de sua masculinidade explodindo contra ela, e soube que sua má reputação — aquela da qual Raine lhe disse quando a psíquica o “viu” viajando através de Wasteland enquanto ele se dirigia para o Complexo — fora bem merecida. O cara praticamente vazava uma vibração do tipo “eu sou um fodão lindo de morrer” com aquelas características ásperas, mandíbula sombreada e um corpo que era verdadeiramente de dar água na boca. Com aproximadamente 1,90m, ele tinha músculos bem definidos e duros, que estavam perfeitamente formados embaixo do brilho moreno de sua pele, as veias saltadas e longas filas de tendões adicionados ao seu já impressionante físico.

Ele era mais que uma aparência um pouco perigosa, mas também sensual como o inferno.

E os cílios espessos, os olhos azul-esverdeados... Deus, eles eram simplesmente de matar.

As drogas que lhe deram ainda deixavam seu cérebro meio nebuloso, mas Chloe se ergueu em um cotovelo e se esforçou para formar as palavras que queria.

— Como… — Ela tossiu e tentou novamente. — Quanto tempo você está de pé aí?

— Só alguns minutos. Eu me mantive quieto porque não queria te assustar enquanto você estava acordando. — Com um fantasma de um sorriso, ele adicionou. — Levou uns bons cinco minutos para que você conseguisse abrir seus olhos.

— Eu não entendo. — ela murmurou, sua testa se franzindo em confusão. — Quero dizer, como você saiu da sua cela?

— Consegui abrir a porta. — ele respondeu, passando a mão nos escuros e sedosos fios do seu cabelo ruivo que quase alcançava seus ombros, seus bíceps inchando enquanto o tufo masculino debaixo de seu braço era revelado.

Chloe esfregou seus olhos.

— Mas… os contrapesos nestas portas são maciços! Sem falar do fato que as portas estão trancadas!

O canto de sua boca se contorceu, como se ele achasse sua reação um tanto quanto engraçada.

— Você sabe que não sou humano, Chloe. Eu não acho que eles planejaram segurar um Lycan quando construíram estas celas. Ou isso, ou eles não tem nenhuma ideia do quanto somos fortes. — Sua cabeça um pouco inclinada para o lado, seu olhar enfocado nela com uma intensidade enervante. — A parte mais dura foi abrir a fechadura. — Ele deu de ombros, acrescentando. — Depois disso, eu só agarrei a extremidade da porta e puxei.

— Você puxou. — Sua voz soou estranhamente desinteressada, sem dúvida pelo choque. — Você só puxou quase meia tonelada[2] de contrapeso e abriu a porta.

Algo estranho cintilou naqueles olhos de cílios espessos, mas seu tom era enganosamente leve à medida que ele disse.

— Eu prefiro usar minha cabeça quando há uma resposta lógica para um problema. Mas você não pode discutir que há vezes em que alguns músculos também são úteis.

Um sorriso torto tocou os lábios dela.

— Então fazer algo assim não é grande coisa para você?

Outro encolher daqueles ombros duros, maciços, desta vez um pouco tenso.

— Viajei em forma de lobo para chegar até aqui, então agora estou funcionando com excesso de adrenalina.

— Sem mencionar o fato que você é… enorme. — Ela olhou para o modo em que suas mãos poderosas descansavam contra o jeans desbotado de sua calça, os polegares enganchados nos bolsos e se sentiu estranhamente consumida pela fome de um modo como nunca teve antes, como se o desejo fosse uma coisa viva enrolada dentro do seu corpo.

Engolindo em seco, Chloe pigarreou e continuou falando.

— Sabe, provavelmente é uma coisa estranha para dizer a um homem que eu nem mesmo conheço, mas não acho que já vi mãos tão grandes quanto as suas.

Ele não disse nada em resposta, apenas usou uma daquelas mãos morenas pelo sol para esfregar a sua nuca, enquanto uma onda quente de cor rastejou através da ponte do seu nariz e suas acentuadas maças do rosto. Paralisada, Chloe viu a forma como seus olhos ficaram com pálpebras pesadas, esforçando-se para se lembrar por que ela estava tão determinada a ignorar esse sujeito.

Não devia estar pensando direito. Ele é muito bonito para se ignorar. Deve ter sido as drogas….

Ela sabia que provavelmente estava sendo rude, mas não podia parar de olhar fixamente para suas mãos, hipnotizada por elas. Seus dedos estavam marcados, mas bonitos de um jeito que só algo num cara poderia ser. Não bonitos, mas longos e perfeitamente esculpidos, com unhas cortadas bem curtas que foram clareadas pelo sol.

Então, com sua próxima respiração, ela se lembrou do velho ditado sobre mãos grandes, pés grandes, grande…

Ela deu uma rápida olhada para a protuberância pesada atrás do zíper da sua calça jeans… e droga, agora ela estava corando junto com ele.

— Bom. — ele finalmente se deslocou, sem dúvida salvando-a de cometer outra gafe embaraçosa. — A razão pela qual estou aqui é porque temos de conversar. — As palavras eram profundas e deliciosamente roucas, criando uma imediata reação física no corpo de Chloe. Ela notou o leve rastro de um sotaque britânico em suas palavras, misturado com a pronúncia americana mais dura, uma aspereza básica que sem dúvida vinha do fato dele não ser mais humano do que ela. Se ela tivesse que descrever, diria que ele tinha uma daquelas vozes roucas que soavam como um homem dizendo coisas sujas na orelha de uma mulher enquanto ondulava bem fundo em seu corpo. O tipo de voz de sexo áspero que estrelava todas as fantasias favoritas de Chloe.

E agora esse homem estava ali, em carne e osso, observando-a com a expressão mais fascinante em seu rosto, olhando como se quisesse comê-la viva...

Devo estar sonhando….

Raine disse que o Lycan estava vindo, mas Chloe não acreditou realmente.Depois de tudo que Raine passou — traumas que Chloe sabia que assombrariam as memórias da psíquica pelo resto da sua vida — ela tinha medo que a mulher estivesse se consolando com algum tipo de resgate imaginário. Então, dois dias atrás, quando Chloe foi devolvida à sua cela depois de ser examinada pelo médico de Westmore, o lobisomem de repente estava lá, andando atrás das grades de ferro de sua própria cela, lembrando-a de um animal enjaulado. Ele parecia alguém que tinha acabado de ser arrastado para fora de uma zona de guerra, mas mesmo voando alto pelas drogas, ela achou que ele era... lindo.

E agora o senhor lindo escapou sorrateiramente de sua cela, colocando-se perto dela, e oh … droga. Com um gemido baixo, Chloe de repente se lembrou por que ela o estava ignorando nos últimos dois dias. Por que ela continuava se recusando a responder às suas perguntas.

Mais de uma vez, o Lycan se moveu para o canto da frente de sua cela mais próximo da dela e tentou conversar, mas ela nunca tomou conhecimento dele fingindo estar adormecida. Claro, com todas as drogas que bombearam seu sistema, realmente passou a maior parte dos últimos dois dias nocauteada. Mas estava finalmente acordada e ele obviamente se cansou de esperar.

E isto era uma ideia muito ruim. Eu tenho uma Merrick faminta dentro de mim e a qualquer segundo ela vai acordar e ver algo bom demais para resistir.

Como se sentisse sua tensão, ele parecia um pouco ameaçador enquanto corria o olhar escuro sobre sua forma coberta por um cobertor.

— Eles não machucaram você, não é?

— Não. — ela murmurou, forçando seu corpo fraco a se sentar. Cuidadosa em manter o cobertor sobre a parte inferior de seu corpo, já que estava vestindo nada além de uma calcinha e uma enorme camisa masculina, ela se encostou na parede e puxou os joelhos contra o peito. Deram a camisa a ela depois que a última ficou encharcada de sangue durante as tentativas de seus capturadores de “alimentá-la” através de uma transfusão, a calcinha e o sutiã um conjunto limpo que eles obviamente tiraram da bagagem que ela estava viajando quando a sequestraram vários meses atrás.

Ele estreitou seus olhos estudando seu rosto, quase como se estivesse tentando determinar se ela estava dizendo a verdade sobre seu tratamento… ou não.

— Você sabe por que estou aqui, certo?

Ela respirou fundo — enchendo suas narinas com seu cheiro quente e masculino — e isso não ajudou a acalmar seus nervos.

— Sim, eu sei. Mas talvez você pudesse me explicar. Em suas próprias palavras.

Com um forte aceno com a cabeça, ele disse.

— Eu vim para salvar você.

— Mas… por quê?

Cruzando seus braços volumosos no seu tórax, ele falou em outro estrondo sombrio e sensual que a fez tremer.

— Porque alguém tinha que fazer.

— Mas porque você? Por que se arriscar dessa forma por alguém que você nem conhece?

Ele passou a mão sobre o rosto, um decidido som de frustração vibrando em sua garganta.

— Se você estiver procurando por uma explicação lógica, eu não posso te dar uma. Tudo que posso dizer é que é algo que eu tinha que fazer.

— Bem, eu não partirei sem Raine. — ela disse, não sabendo o que mais dizer. O sujeito estava claramente doido.

— Nem eu. Nós três vamos sair deste lugar juntos. E se nós mesmos não conseguirmos achar uma saída até sexta-feira, então meu irmão e meus amigos nos ajudarão.

Esfregando as mãos sobre os joelhos, ela disse.

— Raine me disse que a namorada do seu irmão pode te localizar aqui, e que eles não estão longe.

Ele assentiu novamente, e um cacho do seu brilhante cabelo ruivo caiu sobre um de seus olhos, fazendo com que os dedos dela coçassem para empurrá-lo de volta. Por um segundo Chloe se viu perguntando se sua pele seria tão quente ao toque quanto parecia, e então ela sacudiu sua cabeça, forçando a si mesma a prestar atenção ao que ele estava dizendo.

— Eles não irão nos deixar apodrecer aqui. Acho que será mais seguro para todos nós se fizermos isso até então.

Ela não pôde evitar a explosão do riso amargo que saiu da sua garganta.

— E como faremos isso? Você pode ter conseguido sair da sua cela, mas há guardas por este lugar todo.

— Raine disse a você sobre Gregory DeKreznick, certo?

Desta vez foi Chloe quem assentiu.

— Ela disse que ele é um Casus que quer matar Westmore. Ele está até planejando alguma maneira de atacar o Complexo.

Observando-a atentamente, ele continuou dizendo.

— Ele também é o Casus responsável por seu despertar, e a razão inicial pela qual você foi capturada.

— Eu sei. — ela murmurou, já familiarizada com o fato de que cada vez que um casus consegue escapar de Meridian, sua volta a este mundo faz com que o sangue primitivo dentro de um dos descendentes Merrick se levante, dando o pontapé inicial de seu despertar. O Casus recebe uma carga de energia maciça quando eles matam e se alimentam de um Merrick completamente desperto. Uma carga tão grande que eles realmente podiam puxar outro Casus através da parede divisória de volta a este mundo, o que fazia da morte de um Merrick um prêmio cobiçado.

E de acordo com as regras que foram estabelecidas para manter os monstros na linha, eles tinham os direitos exclusivos ao Merrick que eles pessoalmente causassem o “despertar”. Até onde Chloe sabia, era considerado um sério tabu mexer com o Merrick de outro Casus.

E foi por isso que ela foi tomada.

— Quando fui sequestrada, Westmore me disse que fui tomada simplesmente para trazer de volta este Gregory por desobedecer suas ordens. Então as coisas mudaram. — ela explicou, lembrando de como se sentiu mal quando descobriu porque Westmore pretendia oferecê-la como um presente para Anthony Calder. Com a morte de Monica, sua irmã mais velha, os monstros Casus aprenderam que os prazeres que eles encontravam em estuprar e matar — um ato que Raine disse que eles chamavam de uma “foda de sangue”— eram aumentados pela maldição dos Mallory. Agora uma “foda de sangue” com uma bruxa Mallory que também era parte Merrick era considerada de intensidade máxima, o que fazia dela uma mercadoria quente para os bastardos depravados.

Pigarreando, ela acrescentou.

— Agora eles já não se preocupam em provocar Gregory. Em vez disso eles decidiram me dar a...

Ele a cortou, o olhar e seu rosto perturbadoramente selvagem.

— Eu sei sobre Calder. — ele rosnou, seus olhos começando a arder com um fogo estranho, predador. E então, como se de repente percebesse o quanto soou bravo, respirou várias vezes profundamente e num tom mais tranquilo, disse. — Quando Gregory atacar o Complexo vai criar todos o tipo de caos, o que pode nos dar a oportunidade que precisamos para escapar. Então você será libertada muito antes dos planos com Calder serem colocados em ação.

— Você realmente acredita nisso?

A voz dele caiu, o azul dos seus olhos ainda queimando com aquele brilho estranho enquanto dizia.

— Não vou deixá-los te machucar, Chloe.

— Então, eu acho que isso significa que você é muito íntegro, huh? — Ela perguntou depois de vários momentos de silêncio pesado, seus olhares travados um no outro com crepitante intensidade. — Um daqueles raros heróis que ninguém ainda pensa que existe.

Ele deu uma deliciosa gargalhada áspera que fez seus dedos do pé enrolarem.

— Não. — Ele falou com voz arrastada, esfregando uma palma contra sua mandíbula coberta pela barba. — Eu não iria tão longe. Meu irmão, Kierland — ele é o íntegro.

— Então o que você é? — Ela perguntou, erguendo suas sobrancelhas. — O durão?

— Sim, algo assim. — ele respondeu em outro quieto balbuciar, a fome em seus olhos ardentes sexy demais para ser real. Chloe piscou e esfregou seus olhos novamente se perguntando se ela ainda estava um pouco fora de si. Ela tinha que estar, porque parecia que o cara estava realmente… interessado nela, e sabia que não podia estar certo. Raine foi bem clara sobre o tipo de mulher com que Kellan Scott se envolvia… e elas não eram nada como ela. Seria como comparar a noite e o dia. Uma chamativa Ferrari vermelha com um pouco imaginativo Mini Clubman[3].

Alô? Terra para Chloe, a voz tão familiar da sua consciência sussurrou em seu ouvido. Você não está esquecendo a maldição?

Oh. Meu. Deus. Por alguns segundos ela realmente se esqueceu, o que era ridículo — mas vamos lá. Este pedaço de homem magnífico honestamente afirmou que arriscou sua vida para salvar a dela. Que mulher não ficaria um pouco confusa depois de ouvir algo assim?

Além do mais, ela esqueceu do quanto precisava ser cuidadosa perto dos homens, porque no momento em que ela começasse a conversar com um cara, passar um tempo com ele, a maldição que atormentou as bruxas Mallory durante séculos iria começar a afetá-lo. Se ele tivesse inclusive o mais leve interesse casual nela a maldição sopraria aquele interesse fora de proporção, exaltando-o a um nível extremo, antinatural. Ela viu acontecer antes e estava acontecendo novamente…

Certo. Neste. Momento.

Chloe ouviu coisas sobre o apetite sexual Lycan — sem falar a reputação de Kellan Scott. O sujeito gostava de mulheres, e com toda aquela adrenalina que disse estar queimando pelo seu sistema, ele provavelmente estava queimando em excesso de atração sexual[4], e aqui estava ela, aumentando isso ainda mais.

Embora todas as mulheres do lado materno de sua árvore genealógica sofreram com a maldição Mallory, Chloe foi afetada mais fortemente que qualquer outra em sua família, e nunca foi capaz de compreender por que.

Talvez fosse porque ela sempre tentou duramente contê-la, determinada a controlá-la, que parecia funcionar muito mais contra ela? Ou talvez fosse apenas um desses caprichos podres da natureza que não poderiam ser explicados?

Qualquer que fosse a razão, ela era como um para-raios que andava e falava quando se tratava das emoções dos outros. Se alguém a odiasse como o Casus, então aquele ódio se intensificava até que eles fervessem com ele.

E o mesmo podia ser dito para o desejo. Para a luxúria. Mas não era real. Era só uma ilusão. Como o amor à primeira vista e o “felizes para sempre”. Pelo menos para ela. Chloe viu sua mãe ter sorte com o pai de Olivia, e agora Olivia aparentemente achou seu próprio botão de sonhos. O que significava que suas chances foram dizimadas. De nenhum maldito jeito um raio iria cair três vezes numa mesma família.

Embora isto soasse piegas, ela sempre soube que viveria sua vida sozinha. Assim, sua maneira de lidar com esse conhecimento foi se retirar do mundo, com exceção de sua família e um punhado de amigos que ela fez na faculdade. Ela trabalhava em casa, conduzindo sua própria companhia de web design e fez uma boa vida.

Por segurança, o rancho da família Harcourt em Kentucky foi remodelado em alojamentos separados, permitindo que Chloe e suas irmãs vivessem perto umas das outras, e ainda mantivessem certo grau de privacidade.

Enquanto seus olhos se fechavam ela inspirou profundamente, e por um momento quase pode sentir o cheiro dos aromas familiares que lembravam sua casa. Cheiros que ela sentia tanta falta que era como uma dor física dentro do seu coração. Os biscoitos quentes de açúcar de Liv assando no forno. A mistura esfumaçada do perfume favorito de Monica. A espuma de banho de morango da sua sobrinha.

Ela sentia tanta saudade de sua família que podia sentir a dor como uma ferida. Rasgada, sangrando e aberta, que tempo algum iria curar.

Depois da morte de seus pais as três só tiveram uma a outra, e seus laços fraternais cresceram para uma verdadeira amizade. Raine contou o que aconteceu a Monica, mas Chloe mal podia se permitir acreditar.

Seu coração se partiu por sua irmã mais velha e sua sobrinha Jamie, que tinha absolutamente adorado sua mãe.

A tristeza que Chloe sentiu com a perda de sua irmã teria ofuscado tudo o mais — seu medo, sua raiva, suas preocupações — se não fosse a mudança se formando dentro dela. Essa tristeza poderia ter crescido tanto que a consumiria, mas a criatura primitiva lutando para sair dela estava determinada a manter seu foco na sobrevivência, recusando-se a deixá-la desistir.

Como se a chamando com seus pensamentos, uma explosão afiada de calor começou a ondular embaixo de sua pele, e Chloe podia sentir o Merrick se estirar dentro dela. Podia sentir sua fome escorregando por seu corpo. Chegando ainda mais forte do que jamais esteve antes. Ela queria continuar conversando, perguntando a Kellan sobre sua família e confirmando as histórias que Raine lhe disse sobre Liv e Jamie, mas ela não podia mais se enfocar quando a presença da Merrick tomou o comando. Palavras que ela nunca teria coragem de dizer começaram a fazer cócegas na ponta da sua língua. Pelo menos não quando ela estava em seu juízo perfeito. Mas ela ainda se sentia apavorada, preocupando-se que o Lycan poderia ser capaz de ler seus pensamentos sujos, sexuais, só olhando para ela, sentindo como se eles fossem gravados em luzes de neon brilhantes na sua testa.

Nervosamente colocando seu cabelo atrás da sua orelha ela lutou para se acalmar, dolorosamente ciente de que tinha que fazer algo. Que tinha que conseguir que ele voltasse para sua cela, antes dela fazer de si mesma uma completa e absoluta idiota.

Se ele não fosse, ela faria algo embaraçoso. Era inevitável. Porque a Merrick finalmente achou algo que queria, sua fome aumentando quando avistou a aparência sombria e perigosa do lobisomem, a necessidade arranhando suas entranhas como um animal selvagem determinado a se libertar da sua gaiola.

— Kellan — ela disse trêmula se esforçando para tomar bastante ar. —, você… uh, você precisa voltar.

— O que está errado? — Suas feições ásperas estavam gravadas com preocupação quando ele olhou pra ela através das grades de ferro. — Você está tremendo como uma folha. — ele murmurou, suas mãos se enrolando em torno das barras de ferro num aperto poderoso, como se tivesse intenção de abri-las.

— Não! — Ela ofegou, levantando suas mãos como uma barreira. — Por favor, não ... não entre aqui!

Por um momento ele pareceu ferido, mas afastou a emoção com um lupino sacudir de seus ombros e cabeça, endurecendo sua expressão.

— Não vou machucar você, droga. Eu vim para o Complexo para ajudar você, Chloe.

— Eu sei disso. — ela ofegou lambendo seu lábio inferior, sua Merrick ronronando em antecipação enquanto ele seguia o movimento de sua língua com os olhos. — É só que… só que eu estou…

— O que? — Ele exigiu num tom muito mais rouco, suas mãos se enrolando mais apertado em torno das barras, e ela teve a estranha sensação que ele estava tentando se conter por causa dela.

— Eu preciso… droga. Não posso fazer isso. Eu preciso… — As palavras pareciam estranhas na sua boca, como se não fossem suas, e uma vertigem a inundou. Sua pulsação aumentou, profunda e ensurdecedora, seu coração batendo mais rápido… e mais rápido. Uma onda de calor escaldante subiu por sua pele, tornando o ar ao seu redor como se estivesse carregado. Vivo.

Ela não podia respirar.

Não podia ver.

E então, tudo cresceu num único impressionante e eletrizante momento de conscientização, sua visão instantaneamente apurada, sua audição tão aguda que podia contar as batidas pesadas e irregulares do seu coração — e Chloe soube que a Merrick de repente estava compartilhando seu corpo, como se ela tivesse duas entidades separadas vivendo dentro dela.

A amaldiçoada e introvertida bruxa que se esquivava das relações sexuais.

E a Merrick primitiva que queria Kellan Scott enterrado duro e bem fundo nela, montando-a com toda a ferocidade selvagem de sua besta.

Com uma risada gutural Chloe sentiu suas mãos jogando o cobertor para longe enquanto suas pernas nuas deslizavam do lado da cama. Sinuosamente ficando de pé, sua voz era nada mais do que um sedoso ronronar quando ela disse.

— Arrebente a fechadura da porta, Lycan. Preciso de você dentro de mim. Agora.

As palavras caíram entre eles com a força dissonante da explosão de uma bomba, e ambos congelaram em reação, seus olhos ficando comicamente maiores.

C-certo. Ela, uh, obviamente estava errada. Aparentemente tinha coragem para dizer as palavras embaraçosas que estavam coçando na sua língua. Ou melhor, a Merrick tinha.

E ela claramente deixou Kellan chocado. Seus olhos ainda estavam arregalados, a cor em seu rosto tão escura que parecia como se tivesse sido queimado pelo sol. Ele abriu sua boca. Fechou. Finalmente conseguiu coaxar seu nome.

— Chloe?

— Eu sei, sinto muito! — Cada sílaba era uma luta pra sair, os músculos da sua garganta apertados de emoção. — Eu não quis dizer isso. Eu só... Deus. Está quente aqui, não? — Ofegando e queimando, ela começou a arrancar os botões da camisa que lhe deram, revelando a delicada renda branca do seu sutiã.

— Merda. — ele engasgou, dando um passo para trás e depois outro, enquanto suas mãos poderosas se enrolavam em punhos duros do lado do seu corpo, as veias salientes debaixo da pele. — Você está tentando me matar, não é?

— Eu não quero matar você. — a Merrick falou pausadamente, lutando com ela pelo controle. Ela não ficaria satisfeita até que desse a elas o que precisavam… e queria agora. — Eu só quero fo...

— Chega! — Ele estalou e ela vacilou com a aspereza de sua voz, seu lábio inferior tremendo. Ele parecia furioso, excitado e preocupado, tudo ao mesmo tempo, seu peito arfante.

O azul de seus olhos superando o verde, ardendo com um brilho quente e predatório.

— Você precisa lutar contra isso, Chloe. Eu aprendi o suficiente sobre você para saber que isto… isto não é o que você quer.

Ela tentou dar sentido a suas palavras, mas a febre em seu cérebro estava queimando ainda mais … mais brilhante, tornando impossível pensar. Talvez fosse a mistura de seu sangue Mallory e Merrick, ou talvez fosse simplesmente pelo fato de que ela lutou com a fome por tanto tempo, mas ela não podia se controlar. Depois de todo este tempo, finalmente tinha uma saída para a necessidade visceral a rasgando em pedaços. Um herói alto, magnífico, de dar água na boca que veio salvá-la — que poderia dar tudo o que a Merrick voraz queria.

— Por favor, Kellan? Eu preciso tanto disso. — Ela se abraçou tentando controlar seus tremores, seu corpo variando do quente para o frio. — Por favor me ajude.

— Porra. — ele rosnou, enquanto um músculo pulsava com força em sua mandíbula. — Isto é só sua Merrick falando. A fome causada pelo seu despertar.

— Mas é...

Uma pancada alta de repente soou acima deles, como se algo pesado tivesse sido lançado no chão, e Kellan inclinou sua cabeça para trás, dando um olhar duro em direção ao teto. Havia vozes altas e gritos, barulho cada vez mais alto seguido de passos pesados.

— Volte para a cama e finja estar adormecida. — ele de repente latiu, seu olhar escuro bloqueado com o dela enquanto ele abaixava sua cabeça.

— Mas o que você vai fazer?

— Tenho que voltar para minha cela. — ele disse, sua expressão sombria. — Eles podem estar descendo com nossa água e se me pegarem aqui fora, eles nos separarão. Não posso deixar que isso aconteça.

— Você está voltando agora? — Ela quase soluçou, abrindo seus braços. — Você vai… me deixar assim?

— Bem, certo como o inferno que não vou tocar você com público. Eu prometi a mim mesmo não tocar em você de nenhum modo! — Ele rosnou, percorrendo seu olhar ardente sobre a tira exposta de carne revelada por sua camisa aberta. Ele parecia quase paralisado pelas curvas suaves do interior de seus seios, o algodão branco mal cobrindo os mamilos. Então ele se sacudiu em outro movimento que parecia incontestavelmente lupino, antes de murmurar algo baixinho que ela não entendeu completamente.

— Kellan?

Ele ousou outro breve olhar para o seu rosto, depois apertou sua mandíbula e se virou voltando para sua cela, a pesada porta dando um gemido baixo de protesto enquanto ele a abria e então deixando fechar atrás dele.

Carregada de frustração, Chloe pegou seu travesseiro e o atirou na parede de metal que separava as celas, antes de entrar embaixo do cobertor em sua cama e puxar a lã fina sobre a cabeça.

Eu não vou implorar a ele novamente, ela jurou, tremendo tanto que seus dentes batiam. Eu vou superar isso.

Chloe repetiu as palavras repetidamente, motivada tanto pela forma humilhante como ela agiu quanto pela dor ainda rasgando seu corpo. É que apenas… apenas a pegou de surpresa desta vez. Mas da próxima vez… da próxima vez ela estaria preparada. Se ele tentasse visitá-la novamente exigiria que ele partisse. Resistiria com todas as suas forças às tentativas da Merrick de atraí-lo para alimentá-la.

Você pode fazer isso. Se você enfocar e lutar, pode fazer isso.

Afinal, eles tinham no máximo apenas alguns dias para viver, certo? Apesar da determinação do Lycan, ela não achava que eles tinham realmente nenhuma chance de escapar de lá. Ela poderia fazer isso por muito tempo, não importa o quanto doesse negar à Merrick suas necessidades.

Mas quando outra onda acentuada de desejo visceral a atravessou, ela gemeu de agonia, apavorada por quanto a fome poderia se tornar intensa.

No instante seguinte, o cheiro de sangue subjugou seus sentidos e ela levou a mão à boca, tocando com os dedos seu latejante lábio inferior. Os dedos saíram molhados de sangue, mas não podia acreditar.

Como eu fiz…

Passando rapidamente sua língua sobre os dentes da frente, Chloe encontrou a fonte. Pela primeira vez que desde que seu despertar começou as presas da Merrick desceram.

Ela tinha presas!

Pensamentos vertiginosos de afundar aquelas pontas afiadas na base da forte garganta de Kellan Scott encheram sua cabeça, e ela gemeu de novo, o som baixo e lamentoso.

As vozes podiam ser ouvidas, vindo do topo da escada em caracol que levava às suas celas, mas não se importava. Tudo em que podia enfocar era em tentar se controlar. Tentando impedir a si mesma de gritar para o lobisomem voltar… suplicando para dar o que ela precisava. Ela realmente não tinha nenhuma ideia que a fome podia ser tão exigente, até o senhor Alto, Sombrio e Delicioso chamar a atenção da Merrick. Seu corpo estava ansiando por ele… Deus, era intolerável. Um ácido liso rasgando seu ventre, abrindo caminho por suas veias.

Lâminas minúsculas cortando seu interior, rasgando-a em pedaços.

Você só tem que lutar contra isso….

Só tem que lutar….

Enrolando seus braços acima da sua cabeça, Chloe se enrolou numa bola apertada e começou a se balançar — sua mandíbula travada, os dentes cerrados — enquanto aquela fome ardente e cortante lentamente a consumia.

 

Domingo à noite

Outro dia infernal.

Outro exercício torturante de autocontrole que deixou Kellan mais apertado que um saca-rolhas.

Ele andou de um lado para outro em sua cela por horas, tentando envolver sua mente em torno do que aconteceu mais cedo naquele dia com Chloe. Sim, ele sabia que depois da obsessão com a fotografia que Olivia lhe entregou que Chloe Harcourt era bonita e que ele a queria. Pensou nela constantemente. Sonhou com ela de uma forma que só poderia ser classificado como insanamente erótica, para não falar suja como o inferno.Mas ele ainda não estava preparado para a intensidade da luxúria que disparou através do seu sistema no segundo em que ela levantou a cabeça do travesseiro e olhou nos olhos dele.

Uma fome pura cem por cento resistente na sua forma mais crua, mais visceral que ele já experimentou. Potente. Devastadora. E o modo que o delicioso cheiro dela embrulhou ao redor dele… Cristo, ele ainda estava se contorcendo com a necessidade de levá-la nua e molhada debaixo dele.

Em vez de ficar acostumado, o cheiro dela o estava chamando de uma forma que estava ficando mais forte a cada segundo que passava. Tentando-o. Desafiando-o a agir.

Ele não sabia o que significava — e não queria pensar nisso muito de perto, porque nada de bom poderia vir disso.

Você sabe disso, seu filho da puta idiota!

Sim, ele sabia. Mas agora o dano estava feito. Agora ele queria fazer muito mais do que sexo com ela. O que ele queria provavelmente a teria assustado como um inferno, se não fosse pela Merrick despertando dentro dela.

A Merrick quer o que eu tenho para dar, o lobo rosnou, sua voz gutural ressoando de antecipação. Nós jogamos os mesmos joguinhos.

Passando a mão sobre a boca Kellan quase sorriu, pensando que a besta estava ou se tornando delirante... ou sucumbindo a algum tendencioso pensamento pesado.

Chloe querendo as mesmas coisas que seu lobo em seu estado mais selvagem? Ha. Não é malditamente provável, não importa o quanto Merrick estava rondando dentro dela.

Sendo um licantropo, seu estilo sexual era agressivo no melhor dos casos, mas agora… droga, era uma loucura para ele até mesmo estar pensando em tocá-la. Ele sabia que era muito perigoso — sabia que ele podia muito facilmente perder o controle e realmente machucá-la. Seus instintos primitivos estavam rugindo depois de passar tanto tempo na sua forma de lobo. Até agora ele conseguiu mantê-los sob controle, mas ele estava tentando o destino.

Por mais que tentasse agir dentro da razão, mais cedo ou mais tarde a fera combateria seu controle. Enquanto o veneno continuasse a desgastá-lo, ele se tornaria muito fraco para lutar contra isso. Então todo o inferno se soltaria, deixando-o à mercê daqueles sombrios e predatórios desejos.

E além do mais ele não podia ficar longe dela. Não quando estar perto dela parecia tão bom. Tão… certo. Quando ele esteve do lado da fora sua cela mais cedo, o sentimento de vazio e frio persistente em seu peito por tanto tempo tinha simplesmente desaparecido. Em vez disso, houve uma sensação quente e estranha de conforto. De... paz. E fora malditamente incrível.

Tão surpreendente que ele tinha que voltar por mais.

Enquanto apoiava o ombro contra as barras no canto da cela, sua voz o alcançou, vinda do outro lado do pequeno compartimento onde ela estava deitada na cama, encolhida sob o seu cobertor.

— O que você está fazendo?

Kellan passou seu olhar sobre ela, certificando-se que estava bem.

— Sem declarar o óbvio — ele falou lentamente. —, mas eu vim para te ver de novo.

— Por quê? — Ela gemeu, puxando o cobertor pra cima de sua cabeça.

Com as mãos enfiadas nos bolsos ele se moveu pela frente de sua cela até que ele alcançou o meio, onde a porta estava, o mais perto da cama que ele ousava. As pedras cinzas ásperas estavam frias sob seus pés, mas seu corpo estava ardendo, a pele que ele lavou antes quando os guardas trouxeram água fresca e comida já brilhava com suor.

— Posso te ouvir gemendo da minha cela — disse com voz áspera. — e isso está me deixando insano. Não posso parar de me preocupar com você.

— Eu disse a você que estava bem. — veio a resposta abafada dela. — Todas as malditas vinte vezes que me perguntou na última hora.

— Sim, bem, eu precisava ver por mim mesmo que você estava bem.

— Pela vigésima primeira vez então, estou bem. B-E-M. Agora vá embora antes que eu nos envergonhe de novo.

Suavemente ele disse.

— Você não me envergonhou, Chloe.

Espreitando por cima do cobertor, ela abriu um olho.

— Mesmo? Porque de onde eu estava, parecia que sua avó tinha acabado de tirar sua calcinha e te pediu para fazer algo que seria ilegal em pelo menos quarenta e nove estados. Sem mencionar seriamente desnorteado.

Ele deu uma gargalhada que retumbou no fundo do seu peito, achando-a engraçada como o inferno.

— Você me pegou de surpresa, só isso.

— Ha. Aposto que sim. — ela resmungou, finalmente se movendo para uma posição sentada na cama.

Enquanto ela apoiava suas costas contra a parede, a luz do fogo bruxuleante da lareira continuamente em chamas no lado mais distante do nível subterrâneo tocou seus traços femininos, e Kellan foi novamente surpreendido por quanto ela era bonita.

Não era a aparência em-seu-rosto tipo estrela pornô como a maioria das mulheres com quem ele dormiu, mas funcionava para ele. Ela tinha um tipo de beleza etérea, serena, como algo que você espera ver nas páginas de um conto de fadas. Ela era pequena e esguia, sua pele clara suave e fina, sua boca exuberante num rosto com um nariz delicado e fino, as sobrancelhas arqueadas sobre os olhos mais fascinantes que ele já vira.

Eles eram grandes e com cílios longos, com um raro anel negro cercando as íris esfumaçadas. Seu cabelo era tão escuro que quase parecia azul na luz dourada do fogo, os fios brilhantes ainda um pouco úmidos onde ela os lavou.

Eu a quero agora, o lobo insistiu. Não quero esperar...

A besta ainda estava trabalhando nele, tentando mais do que nunca consumí-lo. Continuamente sussurrando em sua mente num sussurro gutural as frases eróticas centradas em como ela parecia desejável. Tão pálida e macia. Ele observou a inclinação dos ombros delicados sob o fino algodão branco. A forma tentadora de seus seios pequenos. A curva sensual de sua garganta quando inclinou a cabeça para o lado.

E o provocava com imagens de suas presas rompendo a superfície daquela carne suave e vulnerável. Com a promessa provocante de seu sangue quente bombeando na sua língua, liso, quente e delicioso.

Sem mencionar o momento intensamente erótico quando as presas dela romperiam a garganta dele, a doce boca trabalhando enquanto ela sugava sobre a mordida mais duro... e mais duro.

Sua cabeça começou a girar tanto que Kellan não conseguia pensar direito, suas resoluções balançando de um extremo a outro colidindo com a força de uma bola de demolição.

Você a está matando, não dando o que ela precisa.

Não!

Sim, ele sibilou. Olhe para os olhos dela. As sombras escuras debaixo deles. Tão magra. Tão faminta... e desesperada.

Maldição, o que em nome de Deus ele pretendia fazer aqui? Não estava tentando ser um canalha, mas não queria machucá-la também. Sim, ela necessitava alimentar a criatura despertando dentro dela, e ele podia dar o que ela precisava.

Mas… e se ele a machucasse mais do que ela já estava se machucando no processo?

E então lá estava a sua reputação de menos-que-estelar para considerar. Não importa como olhasse pra isso, Kellan não conseguia deixar de pensar que mesmo que não representasse um grande perigo para sua segurança por causa do seu lobo, ainda não seria certo tocá-la quando ela estava tão vulnerável.

Não quando ela obviamente teria escolhido outro sujeito se tivesse escolha. Um que não fosse um fodido tão grande. Que não tinha agarrado tantas mulheres, cujos nomes podiam encher um maldito livro. E o fato de que elas não significaram nada para ele, foram apenas um meio para um fim, só piorava a situação.

Idiota melodramático, o lobo rosnou. Você acha que ela se importa onde seu pau esteve? Pare de agir como um idiota.

Kellan rosnou em resposta, o som gutural fazendo-a estremecer, mas ela imediatamente se recompôs erguendo o queixo, como se determinada a não mostrar sequer o mais leve toque de medo na frente dele.

Ele pensou que ela o mandaria embora novamente, mas ao invés disso, ela disse.

—Eu ouvi Spark te visitar hoje.

Seu pescoço se eriçou com o seu tom, e ele sentiu... problemas.

Spark era uma assassina para o Exército Coletivo e uma das novas favoritas de Westmore.

Embora os dois devessem ser inimigos estavam trabalhando juntos agora, a parceria entre Westmore e o Exército Coletivo ainda era outra estranha reviravolta na guerra que os Sentinelas e seus amigos estavam lutando. Uma organização composta por pessoas fanáticas, que tinham a intenção de livrar o mundo de toda a vida sobrenatural, o Coletivo operava com um único objetivo: matar aqueles que não fossem parte da raça humana.

Não fazia sentido para eles serem parceiros de Westmore e o Casus, mas eles eram.

E tudo por causa da cobiça. Não por dinheiro… mas por sangue.

O Coletivo possuía determinados ítens, bem como ilimitados recursos monetários e de pessoal que Westmore queria colocar suas mãos, e então ele foi até os Generais do Coletivo e fez uma proposta que eles estavam pouco dispostos a recusar. Em troca de suas exigências, Westmore deu ao Exército os locais secretos de quatro ninhos Deschanel com a promessa de mais locais de clãs por vir. O negócio resultou na matança horrível de centenas de vampiros, inclusive muitas mulheres e crianças. Também significava que um bom número de soldados humanos do Coletivo estava agora trabalhando diretamente para Westmore — entretanto Kellan e seus amigos ouviram rumores que o negócio não estava mais caindo bem para o Exército, e os generais estavam lamentando no que eles tinham entrado.

Embora Westmore tivesse garantido ao Coletivo que ele usaria o Casus para impedir um momento perigoso de anarquia que estava chegando para os clãs e então eventualmente destruí-los, estava se tornando óbvio para todos que ele havia mentido.

E isso é o que você consegue quando faz negócios com o mal e enlouquecido, Kellan pensou.

Ele não sentia nenhuma simpatia pelo Coletivo, e ele com toda certeza não estava interessado em Spark. Ela era uma das cadelas mais cruéis que havia conhecido, e ela obviamente estava delirando se achava que ele realmente alguma vez colocaria uma mão nela. O que era ainda mais evidente foi que Chloe não gostou do que ouviu naquela tarde.

— O que? Você pensa que é muito bom pra mim agora? — Spark falou lentamente numa voz exaltada depois que Kellan recusou sua oferta de sexo. — Ou não quer que suas novas amiguinhas de prisão aqui saibam que já tive você?

Quando ele lhe disse para calar a boca ela adquiriu um brilho dissimulado nos olhos verdes e teve um prazer perverso em falar sobre quanto foi obsceno entre eles, descrevendo detalhadamente todas as coisas enquanto ele a penetrava por trás.Tudo mentira, uma vez que Kellan nunca encostou um dedo nela, mas sabia que ela só estava tentando ferrar com sua mente, provocando-o com a sugestão de que ele dormiria com o inimigo... já que foi exatamente o que ele fez em Washington.

Mesmo assim ele tinha que ter cuidado de como reagia para que a assassina não pegasse a verdade.

A verdade é que o incomodava demais que Chloe pudesse acreditar em qualquer coisa que saísse da boca de Spark. E ele tinha razão em se preocupar, pois parecia que ela acreditou.

— O que sobre a visita? — ele suspirou, rolando um ombro.

Ela deu de ombros.

— Eu só fiquei surpresa. Quer dizer, sei que você esteve por aí, mas imaginei que tivesse um gosto melhor do que isso.

Cruzando seus braços, Kellan apoiou seu ombro contra as barras novamente e a olhou com os olhos apertados.

— Diga-me que você não está realmente comprando essa besteira. Vamos lá, Chloe. Pensei que fosse mais esperta do que isso.

— Como você pode pensar qualquer coisa? — ela perguntou, mudando sua atitude num piscar de olhos.

Seu rosto ficou corado, os olhos cinzentos brilhando como fogo prateado e ele sabia que a Merrick estava voltando à superfície, tão forte e rápida quanto um torpedo.

— Deus, Kellan. Nós somos estranhos! Você não sabe nada sobre mim. Eu poderia ser uma cadela furiosa por tudo que você sabe. Uma idiota. Uma burra desmiolada! — Apesar de sua preocupação e irritação ele bufou, o que claramente a incomodou. — Você está... você está rindo de mim? — ela disse, as palavras baixas vibrando com indignação.

— Pare de falar besteira — ele murmurou, lentamente levantando uma de suas sobrancelhas. — e eu vou parar de rir.

Isso obviamente a irritou ainda mais porque ela rosnou para ele. Literalmente rosnou.

E o estado rígido do seu pau disse que ele gostou disso. Muito.

— E não que isso importe — ele disse —, mas nunca encostei um dedo na cadela ruiva. E com certeza não começaria agora.

Revirando seus olhos, ela disse.

— Sim, bem, pelo que tenho ouvido falar de você Kellan, a personalidade de uma mulher não está exatamente no topo da lista dos pré-requisitos para suas parceiras de cama. Você sempre teve preocupações mais válidas, como o tamanho dos seios e o quanto as pernas de uma mulher são longas. E Spark tem uma tremenda aparência.

Ele não disse nada a princípio. Apenas se afastou das barras e começou a andar na frente da sua cela, suas mãos enfiadas de volta nos seus bolsos, sua mandíbula trancada tão apertada que estava surpresa por ele não quebrar um dente.

— Eu posso ser muitas coisas — ele finalmente murmurou, forçando as palavras ásperas para fora. —, mas masoquista não é uma delas, Chloe. Estou tentando mudar e sei que isso soa como um monte de besteira, mas não sou o idiota que era há alguns meses. Tento pensar com a minha cabeça estes dias ao invés do meu pau. Não que o meu pau teria alguma vez se interessado por essa cadela psicótica. Inclusive eu tenho padrões, embora retorcidos.

Ele não olhou pra ela enquanto continuava andando, os segundos passando em câmera lenta, o tempo se alongando, o calor do olhar dela queimando contra o seu corpo enquanto ele se movia.

Ele estava pronto para lançar outra lenga-lenga sobre como estava tentando limpar suas ações, quando ela finalmente disse.

— Entendo que esta é uma questão totalmente pessoal, mas você sempre fala sobre seu órgão sexual como se fosse um ser consciente?

Sua própria gargalhada rouca o pegou completamente de surpresa e ele parou, seus ombros curvados quando ele asperamente passou a mão na sua nuca.

— Bem? — Ela o incitou.

— Eu, uh, eu não sei. — Com uma sacudida lenta da sua cabeça, ele lhe deu um olhar torto de canto de olho. — Nunca pensei nisso antes.

Alisando o cobertor sobre as pernas, ela disse.

— Só pra você saber, provavelmente deveria pensar em parar.

Um sorriso apareceu num canto da sua boca.

— Eu vou manter isso em mente.

Ela virou a cabeça para o lado, mas não antes dele pensar ter visto os lábios tremerem na iminência de um sorriso. Como eles se pegaram sorrindo um para o outro novamente, ele não sabia. Mas era óbvio que os seus humores estavam por todo lado, mudando tão rapidamente como as areias do deserto.

Passando uma mão pelo cabelo, ele disse.

— Por favor, só não dê ouvidos a Spark, ok? Ela é foda em mexer com a mente das pessoas, mas é tudo um monte de asneiras.

Seus dedos tirando nervosamente grãos imaginários do cobertor cinzento, seu perfil... triste. Tenso. Olhando de lado o lábio inferior estava um pouco inchado, como se ela estivesse nervosamente mordiscando-o com seus dentes, e ela o golpeou com a língua antes de dizer.

— Escute Kell, não é realmente da minha conta o que você faz com Spark ou com qualquer outra mulher, no que diz respeito a esse assunto. Eu não estou julgando você, e se quer saber, estou provavelmente apenas com ciúmes de toda a liberdade que você teve, quando isso realmente não foi uma opção pra mim por causa da maldição. Mas isso foi escolha minha. As Mallory sempre foram vistas como manipuladoras do mal que torcem sujeitos aos nossos caprichos, e eu nunca quis ter alguém jogando essas acusações na minha cara. Além disso, dificilmente seria agradável me enganchar com um cara e passar o tempo todo preocupada que ele só estivesse interessado em mim por causa de um feitiço estúpido. — Ela trouxe seu olhar de volta ao seu, sua voz um pouco rouca quando acrescentou. — De qualquer maneira acho que seria melhor se você não viesse aqui novamente. Pelo menos não até que nós estejamos prontos para morrer tentando sair deste lugar.

— Não diga isso. Você não vai morrer. — Ele forçou as palavras através de seus dentes cerrados, surpreso com a veemência de sua reação.

Cuidadosamente ela disse.

— Eu não quero brigar com você, Kellan. Então por favor, apenas vá.

Com o queixo cerrado ele passeou fora da sua cela antes de parar novamente e envolver os dedos ao redor das barras de metal frio.

—Eu não quero ir. — ele murmurou, segurando-a com seu olhar fixo. — O olhar dela queimava com frustração, mas antes dela poder dizer qualquer coisa ele continuou a falar. — Sei que você se sente um lixo, e para ser honesto, não estou me sentindo tão bem assim também. Mas faz ... eu me sinto melhor estando com você. E antes que me peça para explicar o que isso significa, não faça. Porque não tenho nenhuma ideia. Só sei que é assim.

Ela estudou seu rosto, sem dúvida observando os efeitos devastadores do veneno em seu sistema.

—Você ... você não parece bem. Você está doente?

— Não. — Ele raspou uma palma contra o queixo mal barbeado. — Só um pouco de veneno que tenho que tirar do meu sistema.

— Veneno? — Ela disse devagar, a palavra tremendo em seus lábios. — Eles envenenaram você? Quando? Como? — Ela começou a falar mais rápido. — Por que eles fariam isto? Será que pretendia ser algum tipo de tortura? Raine disse que eles ainda pensam que você veio aqui para roubar de volta os três Marcadores das Trevas que estão em seu poder. Será que tem algo a ver com isso?

Sacudindo sua cabeça, ele disse.

— O envenenamento de fato aconteceu antes que eu chegasse ao Complexo.

Seu olhar deslizou imediatamente para a ferida da mordida queimando na lateral da sua garganta e ela engoliu visivelmente, sua fisionomia pálida tingida com preocupação.

— É disso que se trata a mordida? Um Deschanel infectado? Eu já ouvi falar disso, mas realmente não sei muito a respeito.

— Foi minha própria estúpida culpa. — ele rugiu, mantendo seu tom leve. — Eu não estava prestando atenção suficiente enquanto estava atravessando Wasteland e acabei me chocando com um vampiro venenoso chamado Asa Reyker, que achou que eu era gostoso.

— Então este é outro pesadelo que pode ser lançado aos meus pés. — ela disse baixinho, deixando cair a cabeça para trás até que bateu contra a parede com um baque.

— Isso é ridículo. — ele resmungou, sua reação reforçando sua decisão de não contar a verdade completa sobre o veneno. — Você não me pediu para vir aqui, Chloe. Foi minha escolha.

— Estou tão cansada disso! — ela explodiu, batendo suas mãos pequenas em punhos contra a cama enquanto erguia a cabeça e olhava para ele. — Quero sair deste lugar, mas não às custas da sua vida, Kellan! Não queria que ninguém se ferisse!

— Eu não estou ferido, porra.

— Sim? Porque ser envenenado não soa exatamente como algo que parece bom!

— Eu vou ficar bem. — mentiu tentando acalmá-la, embora soubesse muito bem que estava morrendo. — O veneno não pode me matar, então pare de pirar. Vai ficar tudo bem.

— Bem? Olhe ao seu redor, Kellan. — Ela arremessou as palavras nele. — Nada nesta situação está bem!

Em outra mudança repentina, pode ver a preocupação dela se transformando em algo primitivo e cru, e ela começou a tremer. Seus olhos ficaram pesados enquanto olhava para ele da cama, o peito subindo e descendo com a respiração rápida, ofegante.

Densamente, ele disse.

— Sua Merrick está emergindo novamente.

Num gesto que ele estava começando a reconhecer como um dos favoritos da bruxa, ela revirou os olhos para ele novamente.

— Puxa, você acha?

Gostava de sua boca atrevida, embora tivesse a sensação de que ela estava mais do que um pouco surpresa com as coisas que dizia a ele, como se não esperasse ser tão corajosa quando confrontava um Lycan perigoso.

— O sangue que eles estão te dando está ajudando mesmo? — Ele perguntou.

— Eles o empurraram em minhas veias. — ela disse, sua voz tensa. — Até me fizeram beber de uma xícara. Mas nada disso ajudou.

— Chloe, quero que saiba que te ajudaria com isso se achasse que era a coisa certa a fazer. Mas sei que não é.

— E eu pararia de olhar para você como se fosse minha próxima refeição, mas agora pareço ter essa coisa toda de dupla personalidade acontecendo que torna isso impossível. Então você realmente deve simplesmente ir.

— Às vezes sei que pode não parecer, mas será capaz de controlar a fome da Merrick até que estejamos fora daqui. — ele disse. — Não estou dizendo que será fácil, mas sei que é forte o suficiente para fazê-lo.

— Kellan, não estou brincando. — ela gemeu, obviamente lutando para se segurar. — Você precisa ir. Imediatamente.

Os músculos dele estavam tensos de frustração.

— Não quero que você fique sozinha. Não quando parece como se estivesse com dor.

— Droga, estou com dor! E você ficando aqui está tornando isso pior! — Deixando a cabeça cair pra frente, ela respirou profundamente estremecendo e lambeu seus lábios, sua voz rouca enquanto dizia. — Eu não entendo nada disso. É ... é por causa do veneno? É por isso que você não vai me alimentar? Você tem medo dele me machucar?

Observando o modo que ela estava torcendo seus dedos juntos em seu colo, ele se obrigou a ser honesto.

— Não. Um ninho de Deschanel pode se tornar venenoso por muitas razões, dependendo do que eles fizeram. Para alguns é porque foram amaldiçoados, e em outros casos, porque quebraram uma das convenções sagradas dos Deschanel. Há todos os tipos de venenos e nem todos são letais, embora alguns possam provavelmente fazer com que você desejasse estar morto. Inferno, alguns podem até mesmo causar a loucura, e alguns só fazem você se sentir como se tivesse sido submetido a um espremedor. O veneno é algo que vive no corpo dos vampiros que muitas vezes podem passar para suas vítimas, dependendo da cepa específica — mas com a maioria dos ninhos infectados, quando o ciclo então é interrompido. O tipo de veneno dos Reykers é um que não é mais contagioso uma vez que se espalha através de suas vítimas. Assim, mesmo que esteja dentro de mim, o veneno não é algo que eu possa passar para outro.

— Oh. — Ela inspirou profundamente outra vez, trêmula. — Então por que você não me ajuda? Quero dizer, sei que não estou nem perto do seu tipo habitual, mas isto é… isto não é uma situação normal.

Ele odiava que ela olhasse isso dessa forma, como se alguma vez ele tivesse preferido o seu tipo usual a ela.

— Chloe, juro que não estou tentando ser um imbecil. A verdade é... — gemeu, querendo dizer que tinha medo do seu lobo tomar o controle e machucá-la, mas porra, ele não a queria com medo dele. Então disse outra verdade em vez disso. — A verdade é que não há nada que eu gostasse mais do que... dar o que você precisa, mas não posso fazer isso. Não sou o tipo de cara com quem você quer se meter, querida. Mesmo por algo a curto prazo. — Porque ele sabia malditamente bem que uma vez que ela soubesse sobre toda a merda estúpida que ele fez ... sobre a maneira como ele foi para a cama com uma das fêmeas Casus e quase conseguiu que seus amigos fossem assassinados, estaria tão enojada que jamais permitiria que ele a tocasse, muito menos tomar seu sangue em seu corpo para alimentar a Merrick.

Kellan achou que poderia ser mais as bordas afiadas de suas palavras do que as palavras propriamente ditas que a fez levantar a cabeça e olhar para ele.

— O que você quer dizer?

Sua boca retorceu num sorriso irônico.

— Estou fodido. Inferno, meus assuntos tem problemas. Uns grandes, desagradáveis e peludos que você realmente não quer ter nada a ver.

As sobrancelhas dela se juntaram num pequeno V.

— Você não estava aqui no início da nossa conversa? Já sei sobre as mulheres, Kellan. Raine disse que você é conhecido como um playboy de proporções épicas. Um conquistador implacável.

Ele não podia acreditar no rubor ardendo em seu rosto, como se estivesse realmente envergonhado que ela soubesse sobre sua reputação promíscua.

— Sim, bem, isso é parte disso. Olivia diria que é meu “mecanismo de defesa”.

De repente ela riu, embora o som leve contivesse uma afiada fragilidade.

— Perdi alguma coisa? — ele perguntou.

Sacudindo sua cabeça, ela disse.

— Apenas que é assim que olho para o meu estilo de vida. O modo como me isolo das outras pessoas é meu próprio pequeno “mecanismo de defesa”.

Kellan franziu o cenho.

— E qual a graça disso?

— Bem, pense nisso. Nós nos “defendemos” de maneira completamente diferente. Você pregando[5] tudo que se mexe, desde que seja linda e vistosa, enquanto que as únicas coisas que venho pregando são quadros na parede, e todos sozinha. — Ela bufou, dizendo — De nós dois, aposto que você tem se divertido muito mais do que eu.

Com uma explosão áspera de riso Kellan lentamente sacudiu sua cabeça, não sabendo o que dizer.

Então seu sorriso desvaneceu e ficou tenso quando ela disse calmamente.

— Não estou pedindo que se case comigo, Kellan. Não estou pedindo nem para ser meu namorado. Além do sangue, só estou pedindo que me dê o que centenas de outras mulheres obtiveram de você.

Ele engoliu o nó de pesar alojado no fundo da sua garganta, e de alguma forma conseguiu dizer.

— Eu não posso fazer isso.

— Por que não? — Ela perguntou, claramente confusa por sua recusa contínua.

— É… complicado. — ele murmurou, enquanto seu lobo rugia com frustração crua, o som selvagem tão alto dentro da sua cabeça que ele estremeceu.

Embora quisesse tanto ceder, Kellan sabia que não importava o quanto Chloe Harcourt estivesse miserável naquele momento, ela poderia conseguir o que precisava de um de seus amigos solteiros uma vez que estivessem livres... e então ela ficaria bem. Sem falar muito mais segura do que se ela o deixasse tocá-la.

— Complicado? — ela repetiu, sua expressão uma mistura de perplexidade e mágoa verdadeira. — Como malditamente complicado pode ser? Não é como se estivesse te pedindo para explicar mecânica quântica. Se a ideia é tão repulsiva pra você, então pare de me torturar e apenas vá embora!

Quando a última palavra deixou seus lábios ela estava tremendo de novo, ainda mais do que antes, os olhos cintilando do cinza ao prateado como faíscas de luz.

Sentindo-se como um idiota inútil, ele disse.

— Apenas respire fundo, querida, e tente se acalmar.

Seus olhos se estreitaram com surpresa ardente.

— Você acha que já não tentei isso? Deus, pensei que você era supostamente uma espécie de gênio com um QI furioso! Pensei... — Ela suspirou se inclinando para frente, seus braços esguios se agarravam em torno do seu corpo enquanto ela balançava. — Oh, inferno. — ela gemeu, rangendo os dentes. — Isso é uma merda tão ruim.

Incapaz de ficar longe dela, Kellan se ajoelhou em frente das barras que estavam mais próximas à sua cama e colocou uma mão dentro, agarrando um punhado do cobertor, seu punho rígido apenas alguns centímetros do seu pequeno corpo esbelto.

— Chloe. — ele respondeu asperamente, dividido entre o que ele queria fazer... e o que ele sabia que estava certo. — Chloe, querida, olhe para mim.

Ela não disse nada a princípio. Simplesmente continuou balançando pra frente e pra trás, e desta distância Kellan realmente podia sentir a força potente trabalhando dentro dela.

Sentir a hipnotizante ascensão do poder dentro dela pulsando contra ele. Quando ela virou a cabeça e o perfurou com ardentes olhos prateados, Kellan sentiu o poder dela chegar até seus ossos. O ar estava elétrico chiando contra sua pele, e percebeu que ser parte Mallory poderia causar um sério efeito sobre seu despertar — um que ele de maneira tola não antecipou.

— Está ficando pior — ela sussurrou, as pontas afiadas das presas Merrick mal visíveis sob a curva sensual do seu lábio superior. — e está me assustando demais. Eu não... não acho que posso mais controlar isso.

— Apenas pare. Por favor. — A exigência rouca, áspera.

— Se você… se você soubesse o quanto isso foi difícil para mim, Kellan, você não me faria implorar. — Ela lambeu os lábios mais uma vez, seus olhos brilhando com lágrimas prateadas. Não posso continuar...

— Só um pouco mais e conseguirei te tirar daqui, Chloe. Então poderemos te levar a algum lugar… — As palavras ficaram presas em sua garganta, mas ele forçou sua saída. — Quando estivermos livres você poderá achar alguém para se alimentar. Alguém de sua escolha.

— Você alimentou Raine. — Ele abriu sua boca, mas antes dele poder explicar, ela continuou. — Não estou reclamando. Quero dizer, depois de tudo que ela passou, precisa de um campeão. — Sua cabeça inclinou um pouco de lado, os olhos líquidos e brilhantes. — Só não entendo por que não pode fazer o mesmo por mim.

Westmore usou abuso físico, assim como a família de Raine, para forçá-la a cooperar, assassinando brutalmente a irmã mais nova da psíquica. Seu irmãozinho teria sofrido o mesmo destino se Raine não tivesse tomado vantagem, usando sua "visão" sobre Gregory DeKreznick para chantagear Westmore a deixar seus entes queridos em paz.

Mas para mantê-la fraca Westmore a deixou continuamente faminta, nunca permitindo que ela tivesse sangue, apenas a alimentando com migalhas de comida. Sabendo que ela precisava de sustento ou morreria, Kellan empurrou o braço através das grades de sua cela e deu a Raine seu pulso.

Embora ela tivesse o cuidado de não tomar demais, o que teria sido óbvio para Westmore e os outros, Kellan tinha certeza que ela tomou sangue suficiente para anestesiar a dor corroendo suas entranhas, e para ajudá-la com os danos internos que sofreu.

Mas isso não significava que poderia fazer o mesmo com Chloe, uma vez que suas necessidades eram muito mais complicadas... e era em Chloe que sua besta interior queria colocar as mãos.

— O que aconteceu com Raine foi diferente e você sabe disso. — ele disse, sua voz profunda realmente tremendo de emoção. — Tudo que fiz foi dar o meu pulso.

E como uma fêmea Merrick despertando, Chloe precisaria de muito mais do que isso.

As lágrimas corriam pelo seu rosto enquanto olhava para ele, a respiração tremulando seus lábios enquanto ela disse calmamente.

— Dê-me... dê-me seu pulso então, e farei o restante sozinha. Você nem terá que olhar para mim ou vir para dentro da minha cela.

Ah, inferno, pensou, suas palavras suaves ecoando dolorosamente em sua cabeça enquanto ele rapidamente ficou de pé.

Sem dúvida Kellan sabia que essa mulher o expulsaria de sua mente sempre amorosa.

E o perigo só estava ficando mais profundo a cada segundo.

 

Com uma mão enfiada no fundo do seu bolso, Kellan passou a outra mão trêmula pelo seu cabelo e se esforçou para lembrar de sua missão.

Achar a bruxa.

Proteger a bruxa.

Salvar a bruxa.

Infelizmente pregar a pequena bunda maravilhosa da bruxa na parede não estava em qualquer lugar na pauta, não importando o quanto ela implorasse docemente. Não importava o quanto ela fosse tentadora. O quanto ele estivesse desesperado para tocá-la.

Não aconteceria, pois mesmo sem o seu lobo ferrando perigosamente com seu controle, Kellan não estava mentindo quando disse que não era bom o suficiente para ela. Merda, ele não estava apto nem a limpar os malditos sapatos dela, muito menos confiar nele com seu corpo. Ela era uma deslumbrante deusa incandescente com uma boca atrevida e rubores encantadores, e ele era… bem, ele certo como o inferno não era um deus. Cristo, no momento ele era mais animal do que homem. E não confiava no animal para controlar a si mesmo com ela. Um golpe acidental de suas garras ou uma mordida de suas presas e ela poderia ser seriamente ferida... se não morta.

O que significava que ele tinha que manter suas patas imundas para si mesmo ... e longe da deliciosa e inebriante pequena Merrick.

Mas não seria fácil. Ela estava muito pálida, as olheiras escuras sob os olhos cheios de lágrimas ficando mais escuras, e suas entranhas se retorcendo com culpa. Droga, ela precisava de sangue, muito, mas era muito perigoso, sua besta lutando duramente para se libertar a cada segundo que passava.

E não era como se só o sangue fosse aliviar o seu sofrimento. Como uma fêmea Merrick despertando ela precisava de sangue fresco... e um orgasmo de abalar a terra.

— Isso está errado. — ele gemia, estremecendo ao som cru e rouco de sua voz. Que detinha muito do lobo, do animal fervendo com desejo primitivo, incitando-o a esquecer o que era certo e errado e apenas seguir seus instintos básicos. — Você não quer fazer isso, Chloe. Confie em mim.

— Por favor, Kellan. — Um rubor vívido queimando embaixo de sua pele macia e ele podia dizer o quanto estava lhe custando pedir algo tão íntimo. — Estou morrendo de fome.

Um tremor passou por seus músculos enrijecidos, um brilho fresco de suor irrompendo a superfície da sua pele, apesar das baixas temperaturas na cela. Sabendo que se cedesse poderia estar colocando-a em sério perigo, ele tentou novamente fazê-la entender por que não podia acontecer.

— Eu não vim aqui para tirar vantagem de sua situação, droga. Vim aqui para mantê-la segura.

— Você quer fazer algo altruísta? — ela lançou de volta pra ele, deslizando suas pernas esguias para o lado da cama. — Ser herói? Então me dê o que preciso!

— Não é tão simples!

Ela fez um som estrangulado, enxugando as lágrimas de suas bochechas com os dedos.

— Se você está esperando por uma solução mais fácil, Kellan, não existe uma.

Soando quebrado, no limite e desesperado, ele cuidadosamente disse.

— Um pouco mais de tempo Chloe, e vou tirar você daqui.

— Você não está escutando? — Ela chorou. — Eu não tenho mais tempo!

— Porra, não diga isso!

Respirações ofegantes passavam por seus lábios, seguidas por uma série de palavras suaves e instáveis.

— Eu quis dizer o que disse antes, Kellan. Se você não me ajudar, tenho medo do que farei. — Ela passou sua língua contra o brilho do seu lábio inferior inchado, e ele pegou o breve vislumbre de suas presas — a única mudança física que as fêmeas Merrick experimentavam — apenas a coisa mais sensual que ele já tinha visto. — E não quero outro homem. Não um de seus amigos ou as pessoas que os estão ajudando. Eu quero você.

Embora Kellan tivesse usado cada grama de suas forças para manter seu desgastado controle, aquelas últimas três palavras foram o que o quebraram, estilhaçando completamente sua resistência.

Praguejando e tremendo de desejo sexual, ele rapidamente pegou as chaves penduradas na parede distante e apertou o interruptor do contrapeso para a porta de Chloe. Então, ele se deixou entrar na cela dela, soltou as chaves no chão e cruzou a distância entre eles.

No instante seguinte, ele passou um braço sob sua bunda, levantando-a contra seu corpo enquanto empurrava a cama pra fora do seu caminho, fazendo-a bater nas barras de ferro. Então ele se lançou pra frente fixando-a contra a parede, incapaz de ouvir as palavras que podia ver seus lábios formando acima do rugido de sua pulsação.

Calor rastejou ao longo de suas costas e ombros se espalhando para o seu rosto, enquanto sua mão livre se fechava em torno do seu pescoço em um aperto dominador, o coração martelando numa enevoada batida predadora.

Ela ergueu os olhos para ele, seus cintilantes olhos arregalados, brilhantes e… esperançosos, e com outra maldição afiada, Kellan cobriu sua boca com a dele, lambendo seu caminho por aqueles lábios macios e suaves como pétalas buscando o calor sedoso. E Deus, ela tinha um gosto delicioso. Irresistível. Completamente viciante. Cada detalhe suculento um assalto devastador aos seus sentidos.

Ele usou cada gota de sua força de vontade para lhe dar tempo de decidir se queria ou não ir mais longe com ele, mas no instante em que ela agitou sua língua contra a dele, ele se perdeu.

— Kellan. — ela ofegou, seus dedos finos agarrando seu cabelo enquanto ela lutava para puxá-lo para mais perto, as pernas embrulhadas em torno da sua cintura. O beijo se transformou em algo selvagemente explícito, molhado, cru e violento, a paixão entre eles perigosamente explosiva. — Mais. Dê-me mais!

Com um rugido feroz Kellan a ergueu ainda mais, moendo seu pênis duro como granito contra seu monte, seu jeans raspando contra o algodão da calcinha.

— É isso que você quer? — Sua voz era sombria e áspera enquanto inclinava a cabeça dela para que pudesse arrastar sua boca aberta pela coluna delgada de sua garganta, o sabor inebriante de sua pele deixando seu pênis ainda mais duro.

Suas pequenas mãos seguravam seus ombros nus, as unhas cavando a ramificação de músculos lisos e ele podia ouvir seu lobo o instigando enquanto encontrava sua boca de novo, beijando mais forte... mais fundo... a luxúria crua queimando suas veias

Toque-a. Saboreie. Em todos os lugares…

Um som grosso como de um animal retumbou no fundo de sua garganta enquanto lutava para liberar suas garras e presas, e soube que a assustou quando ela tremeu em seus braços. Embora o lobo pediu a ele para continuar apreciando aquele tremor de medo provocante, Kellan de algum modo encontrou a força necessária para interromper o beijo viciante e pressionou sua testa à dela.

— Está tudo bem. — ele ofegou, seu peito levantando enquanto afastava o cabelo dela do rosto com uma mão trêmula, esperando como o inferno que o que estivesse dizendo fosse verdade. — Eu não vou te machucar, Chloe.

— Eu sei. — ela sussurrou, tocando a pele quente do rosto dele com as pontas dos dedos inquisitivas, como se estivesse o conhecendo pelo toque, o calor de sua respiração batendo contra o rosto febril dele, mergulhando calor com calor, fazendo-o queimar. — Eu confio você, Kell.

— Você não deveria. — ele murmurou, alcançando entre eles e arrancando os botões da camisa dela, incapaz de se deter. — Você não deveria confiar nem um pouco em mim. Cristo, você não tem ideia do quanto estou perto de me perder.

— Então se perca nisso. — ela o persuadiu, sua respiração presa enquanto ele empurrava as taças do sutiã rendado para baixo e a erguia mais, avidamente raspando a almofada de sua língua áspera por um mamilo deliciosamente doce e frizado. Gritando, ela apoiou seus braços contra seus ombros... e ele deu o que ela queria, sugando o broto tenro entre seus lábios, prendendo-o no calor escaldante e molhado de sua boca.

Conforme sua necessidade ficava mais intensa, seu aroma se tornou mais rico, mais doce ... o calor febril de sua pele se tornando mais quente, encantando-o, chamando seu lobo, seu pau latejante martelando a cada batida do seu coração.

Sua respiração áspera enquanto ele mudava para outro seio, a boca se arrastando pelo seu peito até que outro delicado e doce mamilo rosado tocasse seus lábios.

A realidade em volta deles desapareceu, todo o seu ser focado em seu sentido de toque... de paladar.

Ele precisava tocá-la inteira. Precisava saborear seus gritos de prazer em sua boca enquanto a fazia gozar, mais profundo e longo do que ela jamais fez antes.

Envolvendo os braços ao redor do seu corpo, Kellan a esmagou contra ele enquanto trazia sua boca de volta a dele. Ela mordiscou seu lábio inferior, então deslizou sua língua contra a dele, sua agressividade crescente alimentando a dele.

Suas gengivas queimando devido à pressão de suas presas, seu peito vibrando com outro grunhido primitivo enquanto ela alcançou entre seus corpos, pressionando a mão contra a extensão rígida de seu pênis. Ela o apertou por cima do seu jeans, testando seu comprimento... sua largura imensa, suas respirações vindo duras e apressadas.

Então sua mão virou vagando entre suas próprias pernas, seus quadris empurrando pra frente em uma grosseira e sensual necessidade de realização, e ele agarrou seu pulso, empurrando sua mão sobre a cabeça enquanto ele arrancava sua boca da dela.

— Isso é meu. — ele advertiu em um estrondo sombrio e áspero, fechando a mão sobre todo seu antebraço, prendendo-o contra a superfície áspera da parede. — Da próxima vez deitarei você numa cama e porei suas mãos entre suas pernas, Chloe. — Ela se contorceu em seu aperto, seus belos olhos nebulosos com luxúria. — Vou me masturbar enquanto observo você tocar a si mesma, e vou adorar cada segundo disso. Mas agora é minha vez. — ele rosnou, empurrando sua mão dentro da sua calcinha, seus dedos buscando aquela parte perfeitamente suave e sensível dela. E o que ele achou era muito melhor do que imaginava. Ela estava escaldante ao toque, as dobras do seu sexo encharcadas com umidade, a carne tenra já escorregadia e inchada com a necessidade.

— Estou tão perto. — ela chorou se movendo contra sua palma, sua selvagem e desinibida busca pelo prazer quase o enviando para a borda, a pressão construindo em seu eixo beirando a dor.

Tenho que entrar nela, pensou ele, esfregando a mão entre suas pernas. Quero estar em toda parte dela. Quero cada parte dela...

— Coloque seus pés de volta no chão. — ele ordenou.

No segundo em que ela desenganchou suas pernas de sua cintura, Kellan pegou seus ombros e rapidamente a girou, colocando-a de frente para a parede.

— Agora, apoie suas mãos contra a pedra. — ele chiou, suas próprias mãos vagando urgentemente em seu corpo, tocando cada curva feminina e cavidade que podia alcançar.

Ela seguiu o comando rouco, as costas arqueando enquanto se inclinava para a frente, suas mãos suaves espalmadas contra a superfície rochosa.

Debruçando-se sobre ela Kellan tocou sua boca na lateral da sua garganta, onde seu pulso zumbia com entusiasmo.

Com um pequeno suspiro, ela inclinou a cabeça para lhe dar melhor acesso, sua camisa escorregando de um ombro pálido e suave, e Kellan arrastou sua boca mais pra baixo, sua pele como seda sob seus lábios, língua e dentes. As mãos dele roçando sobre a curva estreita de sua cintura, agarrando seus quadris mais forte do que queria, e ele rangeu os dentes, furioso consigo mesmo por sua perda de controle.

Calma, seu filho da puta, ele rosnou silenciosamente, mas o lobo foi rápido em responder.

Você quer calma? ele zombou. Então comece a foder!

Kellan queria discutir com o filho da puta, mas ele estava longe demais, suas orelhas rugindo enquanto passava a mão sobre a curva feminina do seu traseiro, seu pau tão duro pulsando dentro do confinamento de sua calça jeans.

Com um som sombrio nos lábios, ele afastou sua calcinha para o lado e encontrou a entrada escorregadia e inchada do seu corpo.

Sua respiração sibilou por entre seus dentes enquanto empurrava um dedo longo dentro dela... quase morrendo por sentir seus músculos se fechando sobre ele. Tão apertados… e ávidos, eles o cercaram com o calor líquido e o ritmo pesado da pulsação dela; os suaves gritos roucos derramando de seus lábios dizendo a ele o quanto ela gostava do seu toque.

— Deus, é tão bom. — ele soprou em seu ouvido.

— Não tão bom quanto você. — ela gemeu montando seu dedo, seu corpo flexível queimando com calor.

Quando uma nuvem vermelha e nebulosa começou a encher sua visão, Kellan lutou para se lembrar do perigo. Sabia que não deveria fodê-la. Que deveria apenas fazê-la gozar. Dar a ela o sangue que precisava. Droga, ele sabia disso. Mas era impossível naquele momento recordar as razões.

— Você pode levar dois? — ele disse com voz áspera, empurrando mais fundo, necessitando deixá-la pronta.

— Oh sim. — ela suspirou, pressionando seu pequeno traseiro firme em sua virilha.

Torcendo os dedos no algodão úmido de sua calcinha, Kellan mal tinha sanidade remanescente suficiente para saber que não podia arrancá-la como ele queria, pois ela não tinha nenhuma outra. E de jeito nenhum ele a teria andando por aí com o traseiro nu na frente dos guardas que traziam comida e água. Em vez disso puxou a calcinha minúscula pelas suas coxas deixando-a cair no chão, depois voltou entre suas pernas e enfiou dois dedos grossos dentro dela, arrancando um grito rouco de seus lábios.

Deslizando sua outra mão dentro da abertura da sua blusa, ele correu a ponta calejada de seu polegar sobre um mamilo maravilhosamente rechonchudo e endurecido, ao mesmo tempo em que esfregava a base de sua palma contra o nó inchado de seu clitóris, e ela apoiou sua testa contra um do braços erguidos, ofegante, prestes a gozar para ele.

Tão bonita. Tão doce…

Como se pudesse abrigá-la contra os pesadelos que os rodeavam, Kellan curvou seu corpo em torno dela a envolvendo com sua força, desesperado para que ela se sentisse segura.

Dar prazer a ela. Dar algo que os bastardos não poderiam tomar dela, quando eles já a despiram de tudo o que importava em sua vida.

Ele era um substituto de merda para sua família, amigos e casa, mas porra, ele a faria gozar tão duro que por aqueles poucos momentos fora do ar, ela não se importaria.

Enquanto aquele prazer gritante cru e primário estivesse bombeando por ela, escancarando-a, ela não se preocuparia com nada a não ser como malditamente bem se sentia. Não se importaria com nada além do que ele podia lhe dar.

— Você quer meu pau, Chloe? — Ele sussurrou as palavras rasgadas na concha tenra de sua orelha, suas narinas inflando enquanto ele puxava respirações mais profundas de seu perfume inebriante. Ele queria sua pele coberta com isto. Queria estar encharcado nisso.

— Sim. — ela silvou. — Tomarei tudo que tem, Kell. Tudo.

— Eu vou queimar no inferno por isso. — ele murmurou, mas não podia se impedir de levar sua mão entre eles e abrir sua calça jeans, um som áspero retumbando no fundo de sua garganta enquanto seu pênis pesado saltou contra a curva acetinada do traseiro dela.

Agarrando o eixo amplo em seu punho, os olhos de Kellan quase rolaram para trás de sua cabeça enquanto dobrava um pouco os joelhos, esfregando a coroa esticada por suas dobras encharcadas.

Tão quente. Tão molhada.

Deus, ele queria sua boca nela. Queria levá-la para o chão, abrí-la com seus dedos e memorizar cada detalhe delicado e suculento. Ele a lamberia, enrolaria-se nela… empurrando sua língua dentro dela até que ela estivesse gritando, chorando e pronta para dar tudo que ele queria. Que ele precisava.

Da próxima vez, prometeu a si mesmo. Quando eu conseguir tirá-la daqui, passarei horas com meu rosto empurrado contra ela, fazendo-a gozar para mim de novo ... e de novo ... e mais uma vez.

Bêbado de luxúria e fervendo com sua própria fome primitiva, Kellan apoiou sua mão esquerda contra a parede logo acima de Chloe, sua mão direita correndo pelo centro de suas costas, empurrando-a para frente, então se enrolando possessivamente em torno do seu quadril.

Ele mal estava começando a pensar que talvez pudesse, afinal, dominar a besta… quando as garras mortais de sua mão esquerda se liberaram, cavando no fundo da pedra antiga. Lascas de cinza flutuaram para o chão como nuvens de fumaça, e ele sacudiu a cabeça, chocado por que não foi capaz de controlar a mudança em seu corpo. Apavorado de que pudesse acidentalmente machucá-la assim como temia que fizesse, Kellan começou a se afastar, mas ela se inclinou e cobriu a mão sem garras em seu quadril, segurando-o contra ela.

— O que você está fazendo? — ele rosnou, todo o seu corpo tremendo de emoção violenta, visceral. — Meu lobo quer você, Chloe. Porra, isso não é seguro!

— Se ele quisesse me machucar suas garras estariam rasgando minha carne nesse instante, mas elas não estão. Ele só precisava deixar sair um pouco de vapor. — ela sussurrou.

E então ela o chocou se erguendo nas pontas dos pés e pressionando um beijo na parte traseira da ponta dos dedos de sua garra monstruosa, então mais abaixo, contra as costas de sua mão cheia de cicatrizes.

Deus, ela é muito boa para ser real.

Alguma coisa de repente capturou a borda da consciência de Kellan, como uma mão o apertando na escuridão e tentando puxá-lo de volta para a luz.

Ruídos? Vozes? As sobrancelhas dele se juntaram enquanto forçava a intrusão irritante para longe, concentrando-se na sensação empolgante de seus lábios contra sua pele.

Na perfeita sensação de derreter os ossos de seu sexo tenro deslizando de encontro a seu eixo pesado enquanto ele empurrava entre suas pernas. O suor porejou sua testa, uma gota salgada escorregando para um olho quando ele trancou sua mandíbula e lutou contra o impulso de descer e se posicionar, e bater dentro dela com tudo o que tinha.

Não! Não posso machucá-la. Nunca machucá-la...

Esforçando-se para se concentrar, Kellan lutou para se lembrar de seu propósito, mas não era fácil.

Chloe beijava caminho abaixo pelo braço dele, pela grossura do seu pulso, os músculos desenhados em seu antebraço, até que ela estava encostando o nariz na protuberância dura e redonda de seu bíceps.

— Morda. — ele rosnou, empurrando ainda mais o músculo contra os lábios dela, querendo a picada daqueles dentinhos afiados em sua carne. Ele estava mais do que feliz em abrir mão de seu sangue por ela enquanto a fazia gozar, não mais capaz de recordar por que aquilo era tão errado.

Não é errado, o lobo rosnou. Finalmente conseguindo o que eu quero. O que nós precisamos...

Suas pequenas presas rasparam sua carne, justamente quando curvava seus joelhos um pouco mais, a cabeça pesada de seu pênis cutucando dentro daquela pequena abertura escorregadia aconchegada dentro de suas dobras, sua respiração sibilando entre seus dentes no contato devastador.

Tão suave. Tão apertada.

Flexionando seus quadris, empurrou a cabeça de seu pênis um pouco mais profundo dentro dela trabalhando contra sua resistência natural, o confortável beijo liso do seu sexo a mais doce, a coisa mais alucinante que Kellan já tinha experimentado.

Ela tinha acabado de raspar suas presas em sua pele um pouco mais, preparando-se para afundá-las profundamente, um zumbido baixo de antecipação ronronando na parte de trás da sua garganta, seu corpo tremendo à beira da libertação… quando aquela mão invisível o apertou novamente, advertindo-o que existia um problema.

Ele balançou a cabeça com força tentando se concentrar, e então captou. Um burburinho de vozes provenientes do nível superior. Apesar de estarem ficando cada vez mais altas, seu lobo rosnou que não era nada... apenas ignore.

Mas as vozes ficaram mais próximas, até que estavam vindo de fora do porta trancada no topo da escada, e Kellan foi imediatamente trazido de volta aos seus sentidos, a realidade da situação batendo nele como um balde de água gelada.

— Filho da puta! — Ele cambaleou pra trás, o peito arfante, enquanto lutava por uma respiração mais profunda, seus braços tremendo dos seus lados enquanto suas garras retraíam.

— Kell?

— Droga, não podemos fazer isso! Não aqui. — ele rosnou, raspando ambas as mãos pelos cabelos com tanta força que seu couro cabeludo ardeu. — Não assim. Se eles nos acharem juntos, seremos separados. Eu não posso deixar que aconteça.

Com um som lamentoso de frustração, Chloe se amassou contra a parede.

— Você está parando? — Ela sussurrou, a voz embargada enquanto se virava para ele, sua expressão sombreada com dor e confusão.

— Nós não temos outra escolha senão parar. — Ele empurrou as palavras entre dentes, rapidamente fechando seu jeans sobre a primitiva e irritante dor em seu pênis.

Agarrando sua calcinha do chão, ele a lançou pra ela, dizendo.

— Coloque-a de volta.

Ela começou a discutir enquanto a pegava, mas ele estendeu a mão, agarrando-a pela nuca e puxando-a contra si, para que ele pudesse tomar sua boca com outro profundo beijo saqueador que a deixou atordoada e sem fôlego. Então ele a ergueu em seus braços, chutou a cama contra a parede e a deitou.

Fixando seus braços em ambos os lados da sua cabeça, Kellan inclinou seu rosto perto do dela, a calcinha ainda agarrada em sua mão.

— Eu não estou dando para trás. — ele resmungou, as palavras ásperas espessas com a frustração. —Mas temos que ser espertos.

— Eu não acredito nisso. — ela engasgou, os olhos piscando de repente prateados enquanto a furiosa Merrick dentro de si enrijecia contra seu aperto.— Não posso acreditar que você faria isso comigo! Eu estava tão perto!

— Chloe — ele deu uma sacudida cuidadosa em seus braços — me escute, droga.

— Eu não quero escutar. — ela gemeu, arqueamento seu pescoço enquanto lutava contra ele, suas pequenas presas cintilando no brilho dourado da luz do fogo.

Ele a sacudiu um pouco mais forte.

— Eles estão descendo até aqui novamente, e só Deus sabe o que querem. Pense nisso, Chloe. Sei que você está sofrendo, mas tenho um mau pressentimento sobre isso.

O corpo dela lentamente se acalmou, o medo gradativamente substituindo a fome em seu olhar enquanto piscava para ele.

— Oh Deus. — ela finalmente sussurrou, molhando seus lábios. — Raine! Acha que estão vindo para machucá-la novamente? Westmore tem esperado que ela lhe dê o local do próximo Marcador das Trevas, mas está ficando impaciente.

— Eu não deixarei nada acontecer a ela. — ele prometeu, prendendo um fio escuro de cabelo atrás da sua orelha. — Apenas fique nesta cama e finja estar adormecida. Não importa o que você ouvir, não atraia atenção para si mesma. Vou manter quem está chegando longe de Raine, mas quero que você fique quieta.

Sabendo que ele precisava cair fora de lá antes que fosse flagrado em sua cela, Kellan rapidamente pegou as chaves e trancou a porta da cela atrás dele.

Movendo-se com passos rápidos, ele colocou as chaves de volta em seu gancho enferrujado e apertou o botão para abrir o contrapeso em sua porta, então fez o seu caminho de volta para sua própria cela, a adrenalina alimentando sua força enquanto lutava com a porta pesada.

Depois de ter certeza que a fechadura não mostrava nenhum sinal que foi mexida, ele foi em direção ao canto direito frontal do compartimento sombrio, o coração ainda martelando com um batimento profundo e ressonante.

Jesus, a mulher quase o queimou vivo e ele não tinha nem acabou com ela. A enormidade do que eles quase fizeram finalmente começou a desabar sobre ele, que gemeu esfregando as mãos pelo rosto.

Um dia. Ele nem sequer durou um maldito dia antes de pôr suas patas nela.

Eu quero você….

Ridiculamente patético o jeito que ele fora arrastado por aquelas três simples palavras. Kellan só podia agradecer a Deus que foi trazido de volta aos seus sentidos a tempo. Ele sabia o que poderia ter acontecido. Mesmo entendendo muito bem que deveria manter as mãos longe dela, ele foi mais do que susceptível de ir até o fim. Inferno, mais dez segundos e ele estaria enterrado um quilômetro dentro dela, embebido naquele calor escorregadio, cravando seu doce traseiro contra qualquer superfície que pudesse encontrar — e o fato que não tinham nada para o controle da natalidade não o teria impedido.

Um tremor percorreu seu longo corpo e Kellan correu outra mão trêmula pelo rosto, um músculo pulsando no conjunto rígido de sua mandíbula.

Eu não acredito nisso. Você está se cagando de medo.

Ele queria dizer ao bastardo para se calar, mas seu lobo estava certo. Ele estava assustado.

De falhar com ela. De se tornar mais obcecado por ela do que já estava. Porque quanto mais forte seu desejo de mantê-la crescia, mais isso acabaria com ele quando chegasse o fim. Porque quanto mais forte seu desejo de esperar por ela crescesse, pior seria quando terminasse. E terminaria.

A menos que ele conseguisse tirar a porra de um milagre do seu traseiro, não havia como contornar o fato de que ele era um homem morto ambulante.

A vozes ficaram mais altas no topo da escada e Kellan pressionou seu rosto nas barras, sabendo que tinha pouco tempo.

— Raine, você está acordada?

Imediatamente ela respondeu, dizendo.

— Estou aqui. — sem dúvida sentindo quem se preparava para lhes fazer uma visita.

— Esteja pronta.

— Estou. — ela murmurou e então numa voz mais baixa acrescentou.

— Você mentiu pra ela, Lycan.

Kellan endureceu com o choque, seu tom de voz era gutural quando disse.

— Nunca encostei a mão naquela ruiva em minha vida. Spark está apenas tentando causar problemas.

A voz de Raine era suave.

— Não estou falando da assassina. Estou falando do veneno.

Merda, pensou, passando a língua sobre os dentes. Ele pediu a Raine para tentar obter uma "leitura" de Asa Reyker para ele, pra descobrir se a alegação do bastardo sobre um antídoto era verdade, mas quando ela tentou disse que a mente do vampiro estava muito devastada pelo veneno para que ela pudesse ver alguma coisa com clareza.

Ainda assim ela estava tão em dúvida quanto Kellan, ambos conscientes que antídotos eram praticamente inexistentes quando se tratava de cepas de veneno existentes em Wasteland.

A psíquica sabia que Kellan estava morrendo… e ela obviamente pensou que Chloe deveria saber também.

— Olhe. — disse mantendo sua voz baixa. — Não quero ser rude, Raine. Mas isto não é da sua conta.

— Considero você meu amigo, Kellan, então sim, é da minha conta. E Chloe é minha amiga também. Ela precisa saber a verdade.

Ela não precisava droga nenhuma. A última coisa que ele queria era adicionar mais coisa a sua culpa. E com certeza não queria que ela o olhasse com pena ou pensando que ele não era forte o bastante para tirá-la de lá.

— Terminaremos essa discussão mais tarde. Nesse exato momento temos companhia. Você pode dizer quem é?

— Spark. Tenha cuidado e não faça nenhuma loucura.

Com um bufar, ele perguntou.

— Você quer dizer tipo irritar a cadela?

Raine fez um som afiado de frustração.

— É isso exatamente o que quero dizer!

— Eu não posso prometer nada.

— Você devia tentar. — ela murmurou.

— Sim, mas você viu como eu sou, Raine. — Kellan sabia que havia mais do que um pouco de lobo em seu sorriso quando que ele falou lentamente. — Acredite ou não, irritar pessoas é normalmente o que eu faço melhor.

 

Chloe não mentiu quando disse a Kellan que estava assustada, porque estava. Saía do seu maldito crânio em pânico, rompendo numa espécie de suor frio de medo... era a única justificativa que tinha para o que fez.

Sim, estava desesperada. Mas ainda se sentia como uma aproveitadora, porque sabia que quando ele finalmente cedeu não foi real.

De jeito nenhum ele estaria tocando-a assim sem… ajuda.

A verdade é que ele provavelmente só reagiu da forma que fez — o toque agressivo e desesperado, os beijos e a conversa de sexo do tipo que te faz derreter por causa da maldição. Por causa do jeito que ela estava levantando sua fome primitiva. Mas que escolha tinha?

Ela odiava fazer isso, mas se ele não a ajudasse, estava ficando verdadeiramente assustada com o que a Merrick poderia empurrá-la a fazer em seu desespero. Se ela não fosse cuidadosa, temia que poderia se encontrar pedindo o que precisava de quem pudesse lhe dar.

Westmore.

Um Casus.

Bile subiu pela sua garganta com a ideia nauseante e inspirou profundamente pelo nariz enquanto arrumava sua calcinha, desejando que tivesse mais roupas para se cobrir.

Inquieta e preocupada, levantou-se e começou a andar de um lado para o outro de sua cela.

Ela podia ouvir diversos passos na escada agora e sabia que havia um grupo se dirigindo até o calabouço, assim como Kellan temia. Seus sequestradores finalmente desistiram de tentar "alimentá-la" e Kellan já foi interrogado até a exaustão.

O que significava que provavelmente vieram pela Raine. O coração de Chloe bateu com medo pela psíquica, suas palmas das mãos frias de suor.

Quando a luz do fogo captou o brilho do cabelo vermelho escuro de Spark, Chloe sentiu ao mesmo tempo uma explosão de esperança — já que Spark nunca esteve presente durante as vezes em que Raine foi abusada – e uma onda de ira, sabendo que a mulher provavelmente faria outro movimento para Kellan.

Ela não conseguia impedir seu lábio de enrolar enquanto se movia para perto das grades, onde poderia ver o que estava acontecendo, a Merrick nela só querendo colocar suas mãos sobre a puta ruiva e lhe ensinar uma lição. Sem nunca ter sido de comprar briga antes, Chloe estava mais que um pouco surpresa com a veemência de sua reação, mas então nunca conheceu pessoas tão vis quanto seus sequestradores.

As botas de salto alto da assassina clicavam irritantemente contra o piso enquanto se dirigia para o calabouço, um sorriso malicioso curvando os lábios pintados de vermelho quando voltou seu olhar verde em direção a Kellan.

À primeira vista era fácil ver por que tantos homens foram vítimas dos seus encantos. Mas se olhasse para ela perto o suficiente, poderia ver a assassina fria e calculista escondida por trás da fachada de fogo.

Embora o ciúme tivesse levado vantagem sobre Chloe quando ela acreditou na tentativa anterior da mulher em fazer com pensassem que ela e Kellan foram íntimos no passado, ela acreditava em sua negação.

Sim, sabia que o passado de Kellan fora indiscriminado, mas não podia deixar de sentir que ele teria evitado Spark.

Enquanto a assassina passeava pela sala em direção às celas, um grupo de soldados Casus desceu atrás dela, seus estranhos olhos azul-gelo entregando sua espécie, embora ainda estivessem em forma humana.

Aquele chamado Seton não estava com eles e Chloe deu um suspiro de alívio. Pelo que sabia toda vez que Raine foi violentada sexualmente, Seton era aquele executando as coisas. Ele também foi o que causou o maior dano.

Com seus quadris balançando num jeans apertado, os seios expostos em um suéter preto decotado, Spark parou diante da cela de Kellan.

— Ei, você aí filhote.

A voz profunda de Kellan gotejava escárnio quando ele falou lentamente.

— O mesmo pra você, puta.

— Diga uma coisa, Sentinela. Quando Lycans tem bebês eles tem aparência humana? Ou saem como lindos cachorrinhos? Um pensamento vil. E ainda... — um sorriso lento levantou o canto da sua boca. — quando um cara é bem dotado como você, estaria mentindo se dissesse que não estou tentada.

— Dá um tempo. — ele murmurou, parecendo cansado. — Eu disse que não estou interessado.

Desafio cintilou no fundo de seus olhos brilhantes.

— Eu poderia tornar você interessado, lobo. Confie em mim. Mas esta não é uma visita social. Estou aqui pela psíquica. — Olhando em direção a Raine ela disse. — Westmore está de saco cheio do seu jogo de espera. Ele acha que está na hora de ver se podemos conseguir um pouco mais de você.

Numa voz cansada, Raine disse.

— Não posso dizer o que não sei.

— Isso é verdade. — Spark murmurou. — Infelizmente não confiamos em você. Razão pela qual você está vindo conosco por algum tempo.

— Nem pense nisso. — Kellan rosnou.

Spark lhe dirigiu um beicinho exagerado.

— Desculpe lindo cachorrinho, mas você não dá as ordens por aqui.

Chloe podia ouvi-lo enchendo os pulmões profundamente, sem dúvida tentando descobrir a melhor maneira de chegar até a assassina, e então ele disse cuidadosamente.

— Eu não posso entender você, Spark. Como pode ter estômago para o que esses idiotas fazem com as mulheres? O que eles fizeram com Raine? Você não deveria ser uma espécie de feminista furiosa?

— Não tenho prazer algum com o que eles fazem. — respondeu ela, seus cílios abaixados protegendo seus olhos. — No entanto há momentos em que é necessário colocar de lado nossas convicções pessoais.

— E vê o estupro e tortura de Raine como necessário? — ele murmurou. — Huh, você é uma puta doente.

Ódio queimou nos olhos da humana, um sorriso cruel torcendo sua boca enquanto o crepitar do fogo refletia nos fios vermelho-fogo de seus cabelos.

— Só por causa disso acho que vou fazer você assistir. Vamos ver sua arrogância quando ela estiver chorando por ajuda Lycan, e não há nada que você possa fazer sobre isso.

Um dos Casus pegou o aro de chaves pendurado na parede e Kellan sacudiu as barras da cela com tanta força que o calabouço inteiro vibrou com sua raiva.

— Deixe-a em paz, porra!

— Kellan, não. Eu sei que está tentando ajudar, mas por favor, não faça isto. — Raine implorou, sua voz espessa com as lágrimas. — Não vale a pena.

— Uma merda que não. — ele rosnou. — Você quer torturar alguém Spark, experimente eu.

A assassina deslizou um sorriso condescendente, os olhos brilhantes preenchidos com riso.

— Você não tem nada que queremos.

— Quer apostar?

O grupo inteiro olhou para ele com expressões sarcásticas, como se perguntando o que ele poderia ter para oferecer.

— Raine pode pensar que vocês são todos uns perdedores, mas confia em mim. Foi por isso que ela falou comigo sobre tudo o que ela viu. — ele disse a eles. — Eu sei...

— Kellan, pare com isso! — Raine gritou, interrompendo-o.

Ignorando a interrupção, sua voz baixou quando ele disse.

— Eu sei onde Gregory está. E sei onde o próximo Marcador está enterrado.

Oh meu Deus, Chloe pensou. Será que ele está mentindo?

Ela realmente não ouviu Raine contar a Kellan onde seus amigos estariam procurando o próximo Marcador das Trevas, mas sabia que a resposta estava em poder da psíquica.

Usando sua “visão” Raine esteve espiando Saige Buchanan, uma Merrick que estava comprometida com um dos Sentinelas na unidade de Kellan, um metamorfo raptor chamado Michael Quinn.

Uma antropóloga experiente, Saige fez uma descoberta surpreendente no ano anterior, quando descobriu um misterioso conjunto de mapas criptografados que levavam ao locais secretos dos Marcadores das Trevas. Usando um poder incomum que permitiu que os objetos físicos "se comunicassem" com ela, Saige foi a única que fora capaz de decifrar os complicados códigos dos mapas.

Após ter sido submetida à chantagem e abusos, Raine já disse a Westmore o que Saige soube com os dois últimos mapas, e os Casus conseguiram se apossar das antigas cruzes antes que os amigos de Kellan pudessem recuperá-las. Se ela tivesse decifrado outro mapa e Raine dissesse a eles onde o próximo marcador poderia ser encontrado, as consequências poderiam ser devastadoras para os Sentinelas.

Enquanto Spark se aproximava da cela de Kellan, Chloe apertou sua mandíbula lutando contra o desejo de dizer à ruiva para ficar longe dele.

— Você tem certeza que quer fazer isso? — a humana perguntou a ele numa voz rouca arrastada, seu olhar uma mistura de desejo, contemplação e surpresa. — Porque se estiver mentindo pra mim vai se arrepender.

— Não estou mentindo. Vou contar tudo, mas deixe-a em paz.

Os olhos de Spark se estreitaram com suspeita.

— Por que se importa com o que acontece com ela?

— Porque vim para este lugar para achar os Marcadores. — ele rosnou. — Não ficar aqui e ver mulheres inocentes serem abusadas.

Spark parecia estar considerando sua oferta, e o medo de Chloe assumiu uma nova borda enquanto se perguntava que diabos ele estava planejando.

— Ela está a ponto de se quebrar. — acrescentou Kellan. — Pense nisso, Spark. Westmore poderia ter te enviado aqui embaixo para fazer o trabalho sujo, mas quem você acha que ele vai responsabilizar se as coisas derem errado e ela quebrar? Uma vez que um psíquico tão poderoso quanto Raine chega ao extremo, não há como voltar atrás.

As narinas da humana alargaram quando respirou profundamente e então sacudiu o queixo em direção ao Casus musculoso à sua esquerda.

— Abra sua cela. Descobriremos de uma forma ou de outra se está nos contando a verdade.

— Vamos levar isto lá para cima. — Kellan grunhiu assim que um dos Casus apertou o botão do contrapeso para a porta dele, enquanto outro inseria a chave na fechadura. Depois que a porta foi aberta, os outros dois bastardos apertaram um punho musculoso em cada um de seus braços e o puxaram para fora de sua cela.

— Traga aquela cadeira perto da lareira para o meio da sala. — disse ela ao Casus que apertou o botão, antes de olhar de volta para Kellan.

— Receio que vamos ficar aqui. — ela disse com voz arrastada. — Parece que você e eu teremos um pouco de diversão, e acontece que gosto de plateia enquanto trabalho.

Ele nem sequer tentou esconder seu desprezo quando disse.

— Eu sabia que você era doente.

A assassina sorriu.

— Eu deveria deixar o Casus ter uma chance com você? — ela ronronou se aproximando e escavando o lado de seu rosto com a palma da mão, um anel de prata volumoso circundando um de seus dedos. — Eu quero dizer, realmente ter você? Você não é tão bonito quanto a psíquica, mas eles farão tudo que eu disser.

Kellan afastou o rosto de seu toque e olhou em volta.

— Onde estão todos os seus espertos soldadinhos do coletivo? — Ele perguntou enquanto o empurravam na cadeira, então usaram um par de algemas para prender seus braços musculosos atrás das costas. — Eles se cansaram de aceitar sua merda?

Dando de ombros, ela disse.

— Westmore prefere os Casus.

Kellan riu baixinho.

— Na sua cama? Inferno, não admira que esteja tão ansioso para libertá-los de Meridian. Parece que ele está planejando a mãe de todas as org...

Sem aviso um punho enorme bateu no meio do rosto de Kellan, sangue vermelho borrifando enquanto seu nariz quebrava sob a força do golpe.

Chloe ofegou em reação, mas antes que pudesse gritar ao Casus para deixá-lo em paz, Kellan a cortou com um rápido olhar de advertência. Foi a primeira vez que ele olhou em sua direção desde que eles o tiraram de sua cela, e o olhar em seus olhos azul esverdeados a fez prender o fôlego enquanto começava a compreender. Ele estava irritando-os de propósito, pensando que se pudesse manter sua raiva focada nele não se voltariam para Raine.

— Você sabe — Spark disse com uma risada. — essa sua boca espertinha vai te trazer problemas um dia, cachorrinho.

Kellan moveu sua mandíbula.

— Parece que já trouxe. — ele murmurou, num tom seco.

Andando atrás dele, ela correu os dedos em toda a largura dos ombros brilhantes.

— Se você apenas fosse um bom lobinho — ela disse com voz arrastada. —, isso tudo poderia ser muito mais fácil.

Um sorriso torto surgiu no canto de sua boca.

— Sim, e estou realmente preocupado em facilitar sua vida.

O olhar no rosto de Spark se voltou gelado enquanto ela andava para o seu lado, seu tom ainda mais gélido.

— As informações sobre o Marcador, Lycan, antes que eu os faça fodê-la.

Virando a cabeça, Kellan a olhou diretamente nos olhos enquanto dizia.

— Você sabe o que eles fazem com mulheres como você no inferno, Spark? Eles a suspendem e descascam a pele de seus corpos, enquanto deixam os demônios usá-las de todas as formas. Acho que acreditam que se a tortura é o que garotas como você tiram desta vida, então isso irá servi-los bem para a eternidade.

Sua boca se afinou numa linha dura, apertada.

— A psíquica estaria bem se ela apenas aprendesse a cooperar. — ela disse a ele andando para a frente da cadeira, seu corpo inclinado de forma que Chloe podia simplesmente imaginar sua silhueta.

— Sim, vamos culpá-la por não ser uma traidora barata como você. — Kellan usou seu ombro para afastar o sangue gotejando sobre seu queixo. — Diga-me, você está deixando Westmore foder você também?

Antes da última palavra passar pelos seus lábios, a mão da assassina estava estalando no seu rosto, empurrando-o duro para o lado. Quando ele jogou seus cabelos para trás e olhou para a cadela, Chloe podia ver que o canto do seu lábio se abriu, a contar pelo novo banho de sangue cobrindo sua boca e queixo.

— Isso é o melhor que você tem? — Ele bufou, dando a ela um sorriso aberto. — Você bate como uma menina.

Recuando Spark olhou para o Casus à espera e retrucou.

— Acho que está na hora do lobo aprender algumas maneiras.

O Casus sorriu em antecipação, dois deles liberando suas garras e Chloe tentou gritar a eles para parar, mas sua garganta estava muito apertada para fazer qualquer som. Lágrimas de raiva queimaram seus olhos enquanto assistia as garras rasgando o peito de Kellan, seu sangue se espalhando num arco amplo. O som de ossos se quebrando se seguiu e ela podia ver que seu nariz foi quebrado em um segundo lugar.

— Deixe-o em paz!— Ela finalmente conseguiu gritar.

— O que é isto? Uma pequena campeã? — Com um sorriso sarcástico, a ruiva deslizou um olhar de riso dela para Kellan. — Eu acho que a bruxa está apaixonada.

— Não toque nele! — Chloe sibilou, expondo as pequenas, mas mortais presas Merrick.

— Oh, querida. — Spark falou lentamente, andando mais perto de sua cela. — Você sinceramente acha que poderia ser suficiente para ele? Ele provavelmente adormeceria no meio disso.

Enrolando suas mãos em torno das barras de ferro que a prendiam, Chloe sorriu e disse.

— Eu te desafio a se aproximar.

A assassina realmente riu.

— E o que você vai fazer? Mesmo se eu deixar você sair, eu não acho que conseguiria fazer muito estrago com esses seus dentinhos de gatinho.

— Então traga seu traseiro aqui. Ou está com medo?

— Chloe! — A voz áspera de Kellan soou como o estalido de um chicote. — Cale a boca e deixa quieto!

Dando as costas à Chloe, Spark girou em direção ao local onde estava o corpo espancado de Kellan, agora esparramado pelo chão, a cadeira em que ele esteve sentado chutada para um dos cantos mais distantes.

— Chega de besteira. — ela disse bruscamente. — Acredito que você tinha algo que queria me dizer.

Chloe viu quando Kellan piscou para afastar o sangue e suor escorrendo em seus olhos, a expressão de repulsa tangível em seu rosto espancado enquanto ele erguia os olhos para Spark.

— Agora, ou o acordo está acabado. — ela retrucou, jogando um rápido olhar em direção a Raine.

—Tudo bem. — ele rosnou, parecendo tão furioso quanto soava, os músculos em seus braços algemados salientes sob a superfície brilhante de sua pele. — Está no Canadá. Enterrado lá em cima nas Montanhas Rochosas canadenses. O nome da cidade é Houghton e o Marcador está a alguns quilômetros ao norte do centro da cidade.

Spark indicou a dois dos Casus que o levantassem, cavando suas garras em seus braços musculosos enquanto o suspendiam entre eles. Aproximando-se, Spark pegou seu queixo coberto de sangue em sua mão, sua voz enganosamente suave quando disse.

— Se estiver mentindo, Kellan, vou fazer o Casus cortá-lo em cubos de carne, lento e preciso, como eles gostam.

— Estou dizendo a verdade, mas não importa. — respondeu asperamente. — Há uma unidade de Sentinelas não muito longe de onde a cruz está enterrada e eles já foram mobilizados. Não há nenhuma maneira de você chegar lá rápido o suficiente.

— Então vamos roubá-la deles.

Um riso, gutural balançou seu peito ensanguentado e ombros, o canto da boca ondulando com humor arrogante.

— Você pode tentar.

— E Gregory?— Ela murmurou.

— O que tem ele?

A humana o atingiu no rosto novamente com força e velocidade surpreendente, fazendo Chloe estremecer. Mas Kellan apenas parecia irritado.

Cuspindo um bocado de sangue no chão próximo a suas botas, ele rosnou.

— Gregory vai estar aqui logo.

— Quando?— Ela apertou.

Curvando seus lábios ele a olhou fixamente abaixo, dizendo.

— Você tem que me explicar, Spark. Porque simplesmente não entendo. Quero dizer, sei que o velho Gregory é um canalha retorcido e tudo, mas Westmore não tinha medo dele antes. Se esse fosse o caso, ele não teria coragem de tomar Chloe. Então, o que ele tanto teme de Gregory agora?

Spark bufou.

— Como se eu fosse te dizer.

—Ah. — Kellan deu um sorriso arrogante. — Você não sabe, hein? Westmore não deve confiar em você tanto quanto você acha que ele confia.

— Cale a boca.

Empurrando-a, ele disse.

— Você é apenas sua criada, hein?

— Ele me conta tudo! — ela devolveu para ele, mordendo a isca.

Soando como se estivesse começando a se divertir, o sotaque de Kellan se tornou mais pronunciado.

— Obviamente, não.

Spark praticamente vibrava de raiva quando rosnou.

— O hospedeiro humano de DeKreznick foi mortalmente ferido durante aquela pequena batalha que vocês tiveram no outono passado, o que significa que a sombra de Gregory deveria ter retornado para Meridian. Mas ela não voltou.

— Ah. Então Westmore está preocupado sobre como ele foi capaz de sobreviver. Cara esperto. Ele deveria estar preocupado. — Abaixando a voz, acrescentou. — Você sabe, talvez devesse estar preocupada também, Spark. Tenho a impressão que o velho Gregory vai tomar gosto por você. Você é o seu tipo de vagabunda.

Dando dois passos para trás, sua voz tremia de fúria quando ela olhou para o Casus e deu um único comando.

— Faça-o sofrer.

Os monstros desceram sobre ele desta vez com uma chuva violenta de socos e chutes, seu corpo caindo ao chão enquanto eles o atacavam. Raine estava gritando para eles pararem, para Kellan parar de ser estúpido e revidar, mas Chloe não fez um som, suas narinas chamejando enquanto se segurava nas barras de ferro da cela e esperava que Spark se aproximasse.

Ela não conseguiu o sangue que precisava dele. E não gozou. Mas no momento, ela e a Merrick estavam muito irritadas para se importar.

Enquanto sua fúria subia, a Merrick subia com ela, seus sentidos afiando até que podia sentir o cheiro do sangue e suor que brilhava na pele de Kellan, o bruxulear maníaco das chamas do fogo formando cores e matizes que nenhum olho humano jamais poderia discernir.

Ela podia ouvir o bater furioso de cada coração no quarto, bem como os gemidos abafados que Kellan estava tentando segurar.

Chocante em sua intensidade, a raiva da Merrick era diferente de tudo o que Chloe já conheceu. Mais visceral que qualquer raiva. Mais exigente que qualquer fome. Prosperava nas emoções que ela sempre tentou tão arduamente manter bloqueadas debaixo de controle apertado, mas elas estavam fervendo dentro dela agora. Ela não podia atingir sua força total sem uma alimentação adequada, mas podia sentir aquela criatura antiga se rebelando dentro dela, seu poder pulsando por seu corpo, potente e quente.

Quando um dos Casus emitiu um pontapé brutal às costelas de Kellan que o enviou derrapando pelo chão, Chloe finalmente conseguiu o que estava esperando.

Spark deu um passo súbito para trás para evitar ser atingida e a Merrick silenciosamente uivou de satisfação. Estendendo suas mãos através das barras da cela, Chloe rapidamente fechou-as no longo cabelo vermelho da assassina e deu um puxão cruel, sacudindo a humana e tirando-a do chão, a parte de trás de sua cabeça batendo dolorosamente nas barras de ferro.

Indignada, Spark lutou para se livrar enquanto gritava.

— Largue-me, sua putinha! — Com a boca perto do ouvido da mulher, Chloe disse.

— Quem você está chamando de gatinha agora, vagabunda?

— Abra esta cela! — Spark gritou para os Casus, que pararam de bater em Kellan e agora estavam assistindo as duas com olhares quase cômicos de choque.

— E o que? — Chloe perguntou com uma risada baixa, sentindo-se bastante chocada. — Westmore terá seu traseiro se alguém me tocar.

— Ela está certa. — um do Casus grunhiu, seu cabelo loiro caindo em sua sobrancelha conforme movimentava a cabeça.

— Viu? — Chloe disse asperamente. — Agora diga a eles para soltar as algemas de Kellan e colocá-lo de volta em sua cela, e então deixarei você ir. E antes mesmo de pensar em discutir, deve saber que se ele tiver outro arranhão, vou mentir e dizer a Westmore que você tentou fazer os Casus me estuprar. E você pode, com toda a certeza, apostar que serei convincente.

— Foda-se! — a humana cuspiu.

Em resposta, Chloe puxou os cabelos da humana tão forte que se surpreendeu que não o arrancou.

— Tudo certo! Bem. — rosnou Spark, a voz embargada. — Faça isso! Faça o que ela diz.

Chloe esperou até que um Kellan quase inconsciente foi solto, em seguida jogado de volta para sua cela. Quando os Casus se reuniram na base da escada esperando, ela liberou seu aperto do cabelo de Spark, empurrando-a para longe.

— Agora, dê o fora daqui.

Dando-lhe um olhar mortal por cima do ombro, a assassina disse.

— Você vai pagar por isso, Merrick.

Apesar de Chloe estar doente de medo em seu interior, a Merrick simplesmente sorriu e soprou um beijo para a mulher, apreciando o olhar de fúria no rosto da vadia enquanto ela girava e subia a escadaria sinuosa.

 

Segunda-feira de manhã

Sentimento de culpa é uma droga.

Depois de ver o que Kellan fez para proteger Raine de Spark e dos Casus, a emoção suja estava comendo o interior de Chloe como uma úlcera. Ela sabia que ele podia ter virado lobo e matado todos aqueles bastardos se estivesse sozinho. Como um Lycan ele era mortal o suficiente para fazer isto.

Ela podia só assumir que ele não fez porque assim que fosse dado o alarme, ele não seria capaz de tirar a ela e Raine do Complexo de forma segura.

Mas embora seu espancamento aumentava um pouco a sua culpa, ainda havia a questão da maldição ... e a fome da Merrick.

Chloe teve poucas horas de sono durante a noite, mas nada mais. Muito agitada, na maior parte do tempo ela se debateu e virou de um lado para o outro, dividida entre querer chamar Kellan para se certificar de que ele estava bem... e o impulso torturante de arrombar sua cela e tomar o que ela precisava dele, fosse errado ou não.

Você sabe que é errado. Não importa o quanto você fique desesperada, sabe que usá-lo te faz tão retorcida quanto aquela cadela ruiva.

Estremecendo, Chloe passou as mãos pelos cabelos e continuou andando... e andando, até que as solas dos seus pés ficassem doloridas. Seu confronto com Spark a deixou esgotada, a breve labareda do poder Merrick escoando rapidamente, fazendo-a ainda mais fraca.

Ela estava operando em nada mais que energia nervosa no momento, seus pensamentos e emoções tão caóticos quanto as cores rodopiantes de um caleidoscópio.

Eu não posso acreditar em que fiz isso. Eu quase manipulei[6] o pobre rapaz a fazer sexo comigo.

Deus, o que estava errado com ela? Era tão difícil pensar claramente quando seus medos e necessidades a consumiam — mas ela deveria saber, droga.

Assim que Spark e os Casus retornaram lá para cima e sua fúria se acalmou, Chloe começou a ver a situação com um pouco mais de clareza, e o que ela descobriu não foi nada animador. Quando ela implorou que Kellan a tocasse, ela se aproveitou de um cara que estava sob a influência de um veneno doloroso, e cujo traseiro estava neste lugar horrível por causa dela. E ela fodidamente o usou, como se suas necessidades estúpidas fossem a coisa mais importante. Como se a fome da Merrick fosse a única coisa que importava.

Não havia nenhuma chance que Kellan Scott estivesse tão quente por ela em circunstâncias normais. Ela sabia muito bem que não era nada como as mulheres com quem ele normalmente se enrolava. E Chloe tinha um mau pressentimento que a situação era ainda pior do que temia, porque as coisas que ele disse sobre ela foram muito pessoais.

Ela não havia percebido no momento, mas vê-lo espancado como uma massa fez com que ficasse sóbria rapidamente. Embora ele dissesse uma vez atrás da outra que não a tocaria, ele de repente estava em toda parte, como se ela fosse a mulher mais desejável do mundo, suas palavras e ações temperadas com posse, ao invés de desejo meramente físico.

E se aconteceu alguma coisa com o despertar da Merrick? E se o sangue primitivo dentro dela estava de alguma forma usando a maldição para projetar sua própria fome para aqueles ao redor dela?

Bem como acionando o apetite sexual dele, a Merrick estava de alguma forma o forçando a desejá-la tão desesperadamente como ela o queria?

Ao longo da evolução, foi provado que as espécies podem se adaptar e mudar para assegurar sua existência. Poderia a Merrick, em sua sede de sobrevivência, de alguma forma se introduzir nos elementos básicos da maldição Mallory e torcê-los ao seu propósito? Isso era possível?

Claro que é possível. Tudo é possível!

Desde que Chloe atacou Spark podia sentir a Merrick dentro dela, persistente, crescendo continuamente em influência. Se o Lycan chegasse perto dela agora, não confiava em si mesma para manter o controle. Mesmo tão fraca quanto estava, faria algo louco e imperdoável, como atacá-lo. E com essa imagem constrangedora queimando em sua mente, o absurdo de toda essa bagunça ferrada a abateu e ela apertou a mão contra a boca, sufocando um som que estava em algum lugar entre um soluço e um riso.

Droga, isso não é justo! E o destino é uma cadela cruel e maliciosa, em que eu adoraria colocar minhas mãos!

Desde o primeiro momento em que Chloe fora velha o bastante para entender como a maldição teria impacto em sua vida, nunca foi capaz de suportar quando outras mulheres reclamavam e choramingavam sobre algum grande e deslumbrante galã oferecendo a elas um caso quente ... sem a promessa de um futuro.

Sempre a fazia revirar os olhos e querer colocar um pouco de bom senso nas idiotas, pois elas não sabiam a sorte que tinham até mesmo em ter essa escolha. Por ter a liberdade de dizer sim se quisessem, sem se preocupar que o homem estava só interessado nelas por causa de alguma maldição estúpida ou que seriam tratadas com desprezo como “aproveitadora” e “manipuladora”.

Deus, ainda podia se lembrar como um clã local de bruxas Saville foi cruel para Monica depois que ela ficou grávida de Jamie e seu namorado a deixou, dizendo a Monica que ela conseguiu exatamente o que merecia ... e que uma Mallory como ela foi feita para estar sozinha.

Se as circunstâncias fossem diferentes e Chloe fosse uma mulher normal, sem essa maldição sangrenta pairando sobre sua cabeça e Kellan Scott a parasse na rua ou em um café e a convidasse para sair, ela não teria se preocupado sobre ser muito pequena ou sem peito ou muito qualquer coisa.

Não teria lamentado sobre o fato que ela não era o tipo de mulher que normalmente chamava sua atenção ou que pudesse prendê-lo para sempre. Ela teria concordado antes que as palavras tivessem sequer deixado a boca dele e agradeceria a Deus pela oportunidade. Mesmo sem esperar que isso desse em alguma coisa — o que não teria.

Ela saberia que ele apenas a estava usando. Mas teria sido felizmente usada. Teria apreciado cada momento com ele, sabendo que ele valeria por qualquer lamento que viesse depois.

Foi a maldição que ferrou a fantasia e a enviou de volta para o inferno — porque não importava o quanto o quisesse, Chloe não podia suportar a ideia dela mesma ser uma aproveitadora.

Não quando havia uma chance que não estivesse apenas ampliando seu desejo, mas o criando em primeiro lugar. Ela estava ferrando com a cabeça dele e isso estava errado.

Então não importa o quanto eu esteja desesperada, vou ficar no controle. E manter minhas mãos para mim!

Um som à sua esquerda de repente a fez saltar, e ela se virou para encontrá-lo de pé dentro da porta aberta da cela, olhando para ela com aquele olhar abertamente sexual, enganosamente preguiçoso, como um grande animal faminto se preparando para atacar.

Ela estava tão consumida por seus pensamentos, que nem sequer notou ele abrir a porta e entrar em sua cela. Mas ele estava lá agora e enquanto ela olhava, ele fechou a porta atrás dele, em seguida atravessou o piso e se virou, inclinando suas costas contra a parede divisória com os braços poderosos cruzados sobre aquele largo e musculoso peito.

Seu rosto esquentou, sua mente instantaneamente se encheu com a lembrança das coisas que ela disse antes que Spark os interrompesse... para não mencionar as coisas que fez, mas empurrou os pensamentos pra longe, focando em Kellan.

Ele já estava se curando, graças aos seus genes Lycan, mas ainda parecia que foi muito espancado. Sua bochecha direita estava esfolada, o canto da boca ainda um pouco inchado, seu peito todo coberto com marcas de garras quase sumindo e manchas de contusões.

— Você está se sentindo bem? — ela perguntou, nervosamente correndo suas palmas contra seus quadris cobertos pela camisa, desejando que houvesse alguma coisa que pudesse fazer para ajudá-lo.

— Já estive melhor. — Sua voz estava um pouco mais áspera que o habitual, um sorriso meio irônico moldando sua boca sensual. — E você?

— O que tem eu?

  Algo em sua expressão tornou impossível para ela desviar o olhar.

— Eu estava meio confuso no momento — ele disse a ela. —, mas tenho uma vaga lembrança de você dando uma surra em Spark.

Ela lambeu os lábios, as bochechas queimando com calor.

— Eu, hum, apenas perdi minha paciência um pouco. — ela murmurou, logo em seguida mudou de assunto, perguntando: — Foi uma mentira sobre o próximo marcador estar enterrado no Canadá?

— Sim. Raine me disse que com todo o tumulto causado pela minha captura, o trabalho de Saige sobre os mapas diminuiu um pouco. Ela ainda não sabe onde o próximo marcador está escondido.

— Então mentiu para eles e escolheu um local tão remoto pensando que não serão capazes de chegar lá e terminar sua busca antes de sexta-feira, certo?

Outro sorriso sexy meio torto tocou sua boca.

— É isso mesmo. E espero que eles congelem seus traseiros em toda aquela neve canadense.

Chloe tentou controlar o tremor em sua voz enquanto dizia.

— Você estava provocando-os de própósito.

Ele estremeceu, raspando uma palma contra os pelos ruivos cobrindo seu queixo.

— Sinto muito que teve que ver isso, mas eu sabia que eles precisavam de alguém em quem bater ou não ficariam satisfeitos.

— É por isso que você queria que ela te levasse lá em cima? Porque planejava ser atacado?

O canto de sua boca estremeceu, sua expressão tão irônica quanto seu tom.

— Bem, não estava esperando ansiosamente que você visse meu traseiro sendo chutado por uma garota. Estou tentando construir uma reputação de grande herói, lembra?

Ela sufocou uma risada suave e ele acrescentou:

— Além disso, estava esperando para dar outra olhada nas coisas do andar superior. Raine me deu uma boa ideia do traçado, mas ajudaria ver as coisas com meus próprios olhos.

— Estive lá em cima mais do que Raine. — ela disse a ele, sentando de pernas cruzadas no meio do catre, tomando cuidado em manter a bainha da blusa cobrindo sua calcinha. — Eu posso te contar um pouco sobre o que há lá em cima.

— Não achei que se lembraria de nada disso.

Com um dar de ombros, ela admitiu:

— Apenas pedaços, realmente. Mas vou te contar o que sei.

Ao longo dos quinze minutos seguintes ele a questionou sobre a planta do andar, onde ela viu guardas postados e que tipo de armamento notou. Chloe contou tudo que podia lembrar, então perguntou.

— Raine está indo bem?

Uma sombra de raiva escureceu seu olhar.

— Tão bem quanto pode depois do que passou. O pouco de sangue que dei a ela ajudou com seus ferimentos físicos, mas psicologicamente ...

Ele sacudiu sua cabeça, obviamente relutante em verbalizar seu medo de que Raine poderia nunca se recuperar do abuso que sofreu.

Calmamente, ela disse:

— Gostaria que houvesse algo que pudesse ter feito para ajudá-la todas as vezes que eles a machucaram. — Ela afastou seu olhar dos seus olhos hipnotizantes, e fitou o brilho em espiral alaranjado das chamas na lareira. — Não posso deixar de pensar que se eu fosse mais esperta, teria descoberto uma maneira de detê-los.

— Para com essa merda. O que aconteceu com Raine foi horrível, mas não é culpa sua Chloe. Não há nada que você pudesse ter feito para impedir aqueles idiotas.

Ela pensou sobre o que ele disse por alguns momentos, esperando que estivesse certo e então percebeu que ele havia censurado a sua linguagem.

— Para com essa merda? — ela riu, voltando seu olhar ao dele. — Desde quando grandes tipos alfa como você usam palavras como merda?

— Desde que uma pequena precoce de três anos de idade se juntou aos Sentinelas, repetindo tudo o que dizemos. — ele rugiu com uma risada gutural, os olhos franzindo sensualmente nos cantos. — E se pensa que sou engraçado censurando a mim mesmo, então deveria ver Ade. Ele é ainda maior do que eu.

Com um sorriso confuso, ela disse:

— Eu honestamente não posso acreditar nisso.

— Acredite. — ele retrucou com um sorriso, coçando preguiçosamente seu peito, e ela não podia deixar de observar o movimento hipnótico de seus dedos longos, lembrando o que sentiu quando eles a tocaram. Enterrados dentro dela de forma dura, áspera e perversa.

Pigarreando Chloe forçou sua mente para fora do sexo e de volta a algo neutro.

— Então, uh... é verdade que Aiden já pediu para Olivia se casar com ele? Raine me disse que eles estavam envolvidos, mas eu... não acho que realmente acreditei nela.

E ela tinha razão. Confiança não era fácil para as mulheres Harcourt e Olivia já foi queimada uma vez por um um namorado totalmente idiota.

Chloe não podia imaginar sua meia-irmã excessivamente tímida se expondo a esse tipo de risco novamente.

— É verdade. — ele disse, e ela estava mais do que um pouco surpresa ao descobrir que estava errada.

—Aiden comprou para ela uma pedra no Natal que quase cega qualquer um que chegue muito perto.

— E Jamie?

A expressão dele suavizou à menção de sua sobrinha de três anos de idade, sua boca se curvando com um sorriso fácil.

— Eles vão criá-la como deles. Ade já está entrando em seu papel de pai, parece que nasceu para isso.

— Parece muito surreal que você realmente possa conhecer a nossa pequena Jamie. — ela pensou em voz baixa.

— Conhecê-la? Inferno — ele falou com voz arrastada. —, nós somos amigos de Disney. Eu assisti a Hércules com ela provavelmente dez vezes agora.

— Você está falando sério? — Seu sorriso cintilou diante de seu tom incrédulo, revelando uma covinha numa das esculpidas bochechas sombreadas.

— Você quer que eu cite isto? Cante uma das canções? Porque provavelmente sei de cor até agora.

Ela cobriu a boca com uma mão enquanto lutava para segurar o riso.

— Oh, Deus, sei que é errado rir, considerando as circunstâncias em que estamos, mas não posso fazer nada.

— Ei, Jamie é uma sedutora. — ele disse a ela, deslizando pela parede até que se sentou no chão, o jeans macio da calça abraçando os músculos rígidos de suas coxas. A pose era casual, os braços apoiados sobre os joelhos flexionados, suas mãos soltas e descontraídas e ainda assim, ela ainda podia sentir a selvagem energia crepitante que era tanto uma parte dele vibrando logo abaixo da superfície. — Pra ser sincero — acrescentou —, ela tem a todos nós enrolados em seu dedo mindinho. Especialmente Noah.

— Noah? Raine o mencionou, também. Ele… não é o que tem sangue de Casus?

Desde que os monstros imortais definharam em meras "sombras" dos seres poderosos que foram uma vez, depois de tantos anos presos em Meridian, os Casus eram forçados a tomar hospedeiros humanos assim que escapassem. Graças a Raine, Chloe também sabia que Noah Winston, uma adição recente à unidade de Sentinelas de Kellan, era descendente de uma fêmea humana que foi estuprada por um dos Casus antes de seu confinamento, o que significava que sua família poderia ser usada como hospedeira pelas sombras Casus fugitivas.

— Isso mesmo. — ele disse em resposta à sua pergunta sobre a linhagem de Noah. — Isso o deixa motivado como o inferno para acabar com essa coisa. Está determinado a impedir sua família de se tornar o que ele chama de "padaços de carne" para aqueles Casus idiotas .

Com mais do que uma pequena dúvida em seu tom, ela perguntou:

— E você confia nele?

Ele nem sequer hesitou.

— Com a minha vida.

— E ele é bom para Jamie?

— Noah a estraga quase tanto quanto eu.

O sorriso lento, sexy que acompanhou suas palavras era muito lindo para resistir então ela nem sequer tentou.

— Bem, se Jamie gosta de vocês então acho que os dois são bons.

— Gostar? — ele zombou. — Aquela criança nos adora. A mim especialmente. Ela chora como uma banshee[7] toda vez que saio de casa.

— Ok, ok, estou convencida. — ela disse , levantando suas mãos. — Você e Noah são santos. E Aiden também, por fazer minha irmã feliz. Ele a faz feliz, certo?

— Se ele a fizer mais feliz — ele falou com voz arrastada —, teríamos que colocar revestimento a prova de som em todo o andar, em vez de apenas no quarto deles.

Chloe corou, mas riu também. E parecia ... bom.

— Eu sinto falta disso. — ela suspirou, apoiando seus ombros contra a parede às suas costas.

— O que?

— Rir.

Soando estranhamente fascinado, ele perguntou.

— O que mais você sente falta?

Ela pensou por um momento, olhando através das grades da cela novamente, então disse:

— Estar aquecida. À noite este lugar é tão frio, e o fogo não emite calor suficiente.

— Eu te daria a minha cama — ele respondeu com voz áspera, — se eu tivesse uma.

Ela girou seu olhar de volta ao seu, os olhos arregalados com raiva.

— Eles nem sequer te deram um cobertor?

— Não, mas fico aquecido.

Chloe começou a discutir, então lembrou o calor febril de seu corpo quando ele estava pressionado contra ela e percebeu que era verdade.

— Sim, acho que você fica.

— Então me diga o que mais sente falta. — Sua voz era suave, seus olhos se fechando enquanto ele inclinava a cabeça para trás, os hematomas no rosto sombreado apenas intensificando sua masculinidade áspera em vez de diminuí-la. — Gosto de ouvir você falar.

— Hum, bem, acho que sinto falta de macchiatos[8] de caramelo do Starbucks perto de casa e meu iPod e meu Wii. — Tristemente ela acrescentou: — Eu tinha quase alcançado o status de profissional em snowboarding com minha amiga Cara.

Ele riu, o som rico e rouco fazendo seus dedos enrolarem.

— Quem é Cara?

—Ela é uma amiga de faculdade e uma bruxa Boudreaux. Sua especialidade são feitiços de beleza.

Ele abriu um olho.

— Ela colocou algum em você?

— Apenas um feitiço de remoção de pelos. Graças a Cara, não tenho mais que comprar lâminas de barbear.

— Eu me perguntei como você as mantinha tão suaves. — ele murmurou, correndo o olhar quente sobre as pernas cruzadas.

— Eu teria pedido para aumentar os seios — ela acrescentou ligeiramente —, mas ela nunca conseguiria nada menor do que Ds duplos[9], e eu estava preocupada em manter minha capacidade de ficar de pé se fizesse isso.

Ele bufou, então a surpreendeu, dizendo:

— Estou feliz por que não mudou seu corpo. É perfeito do jeito que está.

— Uh, obrigada. — ela sussurrou, seu rosto queimando.

— De nada. — ele ofereceu com uma voz suave, sua boca se contraindo com mais um daqueles sorrisos tortos de menino, como se soubesse o quanto suas palavras a afetaram facilmente.

— Então, hum, do que você sente falta? — Ela perguntou, brincando com um dos botões em sua camisa.   Rolando um ombro, ele disse:

— Não muito. Não estou aqui tanto quanto você.

— Não, mas com uma guerra acontecendo, duvido que sua vida tenha sido a mesma que era antes. Então me diga do que sente falta daquela época.

— Acho que eu sinto falta de jogar futebol com meus amigos no Colorado. — ele disse, depois de pensar nisso por alguns momentos. — Sinto falta dos waffles de pecan de Ade e o som dele tocando piano. Inferno, até sinto falta dos sermões de Kierland e dos Buchanans, e ter meu traseiro chutado sempre que eu jogava videogame com Quinn.

— Você é muito próximo aos rapazes da sua unidade, não é? Quero dizer, eles são como sua família.

Secamente, ele disse.

— Nós, com toda certeza, brigamos como uma.

— E vocês todos vivem juntos, certos?

Com um aceno de cabeça, ele levantou a cabeça, dizendo:

— Temos um Complexo no Colorado chamado Ravenswing, mas para nossa segurança, tivemos que nos mover rapidamente para a Inglaterra. Agora estamos ficando numa propriedade em Lake District chamada Harrow House, onde Kierland e eu fomos criados pelo nosso avô.

— Como é?

Ele virou uma das mãos para cima estudando as linhas na palma, perdido em pensamentos. Finalmente soltou uma respiração áspera e disse:

— É lindo, apesar de ter sido abandonada por um longo tempo, já que nenhum de nós quis nada a ver com isso depois que o velho faleceu. Mas estamos colocando o lugar em forma novamente. Há muito espaço, se você precisar disso. Mas, você nunca se sente sozinho, e não importa o quanto as coisas fiquem sombrias, lá sempre tem um monte de risadas enchendo seus quartos.

— Estou contente por Jamie e Olivia terem isso. Desde que nossos pais morreram foi duro. E agora com Monica morta, elas devem ter se sentido tão sozinhas.

— Bem, elas com certeza não estão mais sozinhas. E o mesmo vale pra você, Chloe. Quando sairmos daqui você terá um lar ali, como elas tem.

Com a as costas de seu pulso, ela secou as lágrimas em seus olhos e decidiu que era hora de tirá-lo de lá, antes que suas emoções ... ou sua fome ... levasse a melhor sobre ela.

— Não leve a mal Sr. Scott, mas parece que você tem que dar uma cochilada.

— Sr. Scott? — Sua testa franziu com uma carranca. — Cristo, não me chame assim. Não é apenas ridículo considerando as circunstâncias, mas faz com que eu me sinta velho.

Ela deu de ombros.

— Você é mais velho que eu.

— Um pouco, Chloe. — Seu tom seco deixou claro que pensou que ela estava sendo absurda.

— Realmente? Uau, teria dado a você uns trinta e poucos anos, pelo menos.

Ele manteve aqueles lindos olhos azul-esverdeados fixos em seu rosto, então lentamente arqueou uma sobrancelha arrogante.

— Você está brincando comigo, certo?

Lutando contra um sorriso, ela adivinhou.

— Trinta e quatro? Trinta e cinco?

— Tenho vinte e seis anos. — ele forçou entre os dentes cerrados, então parou por um instante e murmurou: — Que dia é hoje?

Pensando nisso por um minuto, ela disse:

— Acho que é primeiro de janeiro.

— Merda. É o meu aniversário. O que me deixa com vinte e sete. Mas isso ainda não é velho.

Um segundo pequeno dar de ombros dela, só para mexer com ele.

— E eu tenho vinte e quatro anos. Mas em termos de experiência, você é mais velho que eu.

Seus olhos se estreitaram em fendas quentes e brilhantes.

— O que isso quer dizer?

— O que acha que quer dizer?

Tossindo, ele meio que sufocou:

— Você está falando de sexo, certo? — Antes dela poder responder, ele agitou sua cabeça e adicionou. — Mas não estou engolindo isso. De jeito nenhum você ainda é virgem.. não alguém… como você.

— Obrigada... eu acho. — ela murmurou perguntando a si mesma se ele estava pensando em ações, em vez de aparência. Não que pudesse culpá-lo, já que ela caiu em cima do cara. — E não, não sou virgem. Eu tenho experiência.

Ele murmurou um sincero — Graças a Deus — esfregou suas mãos pelo rosto e em seguida fez uma pergunta muito pessoal.

— De quanta experiência estamos falando?

Seus olhos se arregalaram.

— O que faz você pensar que vou te contar isso?

Sem qualquer traço de suas brincadeiras despreocupadas de antes, ele disse:

— Porque preciso saber com o que estou lidando.

— Comigo, Kellan. Você está lidando comigo.

Ele só encarou esperando, e ela grunhiu de frustração.

— Deus, você é tão teimoso. Houve um, ok?

— Apenas um? — Ele soou como se ela tivesse acabado de admitir um pecado imperdoável. — Você namorou com ele por um longo tempo, então?

— Eu não o namorei. — ela murmurou, cruzando os braços sobre o peito. — Ele não era um namorado. Ele era mais um ... bem, ele é meu melhor amigo. Era meu melhor amigo.

— Era? O que aconteceu?

Com um rolar de seu ombro e um suspiro, ela disse.

— História longa e chata.

— Julgarei isso. — Ele inclinou a cabeça para trás novamente, esticando suas longas pernas diante dele e fez um movimento de “me dê mais” com a mão. — Então comece a soltar.

Chloe pensou em dizer a ele para deixá-la em paz — para se f....! — Mas sabia que ele era muito teimoso para escutar. Apenas querendo acabar logo com aquilo ela olhou para seu colo, e com relutância deu uma versão reduzida.

— O nome dele é Pete e eu o conheço desde o ensino médio. Esperava que nossa amizade pudesse amortecer a maldição, que nunca foi realmente um problema para nós, então fomos para a cama juntos. Eu tinha dezoito anos e cansada de ser virgem, e sendo parte Fae, Pete gostava de sexo o suficiente para me saciar. — ela explicou, puxando seu cobertor para o seu colo, seus dedos arrancando suas extremidades desfiadas. — Mas a amizade não amorteceu nada, e depois de algumas vezes ele começou a agir de forma... diferente.

Ela o observava com o canto do olho quando ele franziu a testa.

— Então você balançou seu mundo na cama, e ele mudou a maneira como se sentia sobre você?

— Eu dificilmente balancei o seu mundo. — ela respondeu, revirando os olhos. — Eu não era experiente, o que significa que provavelmente a coisa toda foi muito ruim. — A agitação encrespou sua voz. — Mas qualquer prazer que Pete teve no ato, a maldição ... bem, ela explodiu sua razão.

— Ahh. Então o que ele fez?

Mantendo sua voz tão leve quanto foi possível, ela disse.

— Já que sua mãe era Fae, ela ouviu sobre a maldição. Quando seus pais perceberam o quanto ele estava se tornando obsessivo, eles o convenceram a deixar a cidade. Pete mudou para Seattle, encontrou uma mulher e se casaram. Eles eventualmente voltaram pra casa em Kentucky, mas sua esposa realmente não queria que ele ficasse perto de mim. Não que eu a culpe. Já faz quase três anos que não o vejo.

— Isso é péssimo. — Ele parecia chateado, como se pudesse dizer o quanto toda a situação a machucou.

— Sim, foi. — ela suspirou. — Mas já superei.

— Azar dele. — ele murmurou.

Chloe não sabia o que dizer àquilo, assim que ficou em silêncio. A trapalhada toda com Pete era apenas mais um episódio patético em sua longa lista de momentos socialmente desajeitados, e dificilmente seria o último.

— Então é isso? — ele perguntou. — Apenas um? Você nunca deu a outro cara uma chance?

Secamente, ela disse.

— Depois do que aconteceu com Pete eu não estava muito ansiosa para sequer tentar de novo.

— Isso é um pouco exagerado, não é?

— Dificilmente. — ela disse a ele, puxando os joelhos para seu peito e envolvendo seus braços em torno deles. — Cresci vendo Monica passar por um relacionamento fracassado após o outro, e prometi a mim mesma que não faria a mesma coisa. Pensei que as coisas poderiam ser diferentes com Pete porque éramos amigos por tanto tempo, mas estava errada. E se as coisas ficaram tão estranhas com alguém que eu conhecia tão bem, imagine o quanto seria estranho com alguém que eu não conhecia. Além disso, temos uma reputação muito ruim entre os outros clãs bruxos. Eles nos chamam de Manipuladoras Mallory. E embora eu realmente não dou a mínima para o que as outras pessoas dizem, sempre jurei que jamais faria qualquer coisa para provar que o julgamento daquelas cadelas estava certo.

Porém houve uma coisa boa que veio com a experiência. Embora ela e Pete não tinham exatamente incendiado os lençóis, Chloe experimentou prazer o suficiente para acreditar que o tipo de paixão descrito nos livros de romance poderia realmente existir.

Saber que não eram apenas palavras numa página. Tudo um monte de excitação exagerada. Com o parceiro certo, ela não tinha dúvida que o sexo poderia ser explosivo. Mesmo a vida mudando. Imagine como seria o sexo com um tipo como Kellan. Ela fez uma careta, sabendo muito bem que era a Merrick que sussurrou esse pensamento perigoso em sua mente.

— Pare com isso. — ela sussurrou de volta, tensa demais para encontrar humor no fato de que ela   estava falando consigo mesma. Mas o dano já estava feito, porque agora não conseguia parar de pensar nisso.

Sem dúvida, Chloe sabia que Kellan Scott era um homem que foi feito para o prazer. Praticamente escorria de seus poros, seu cheiro, como um feromônio de acasalamento, projetado para fazer as mulheres implorar pelo seu toque.

Era assim que ela se sentia naquele instante, algo primitivo e selvagem nela lutando contra a mulher que sempre foi tão cautelosa e cuidadosa.

— É uma maldição estranha. — Sua voz era baixa. — Você pode me dizer como aconteceu?

— Posso dizer o que ouvi, embora pela maneira como histórias são embelezadas com o tempo, não há como dizer o quanto seja verdadeira. Mas segundo a lenda, havia uma bruxa Mallory que se apaixonou por um homem casado. Ele não amava sua esposa, que era uma feiticeira poderosa, e fora realmente induzido a se casar com ela. Quando a feiticeira soube de seu amor eterno pela bruxa ela amaldiçoou a linhagem da jovem, a punição concebida para tornar difícil os outros ficarem perto dela.

Ele amaldiçoou baixinho.

— Então, isso foi feito para fazer você viver sua vida sozinha?

Chloe assentiu com a cabeça, estudando o tecido grosso do cobertor enquanto o esticava sobre os joelhos.

— E é malditamente eficaz. Nós temos sérios problemas para confiar e somos muito desgastantes para a maioria dos homens. É por isso que o pai de Jamie não deu certo com Monica. Ele não podia lidar com a forma como tudo sempre foi tão intenso, quando ele estava perto dela.

— E não há nada que possa... parar isto?

A respiração encheu o silêncio, o único som era o crepitar do fogo e então ela lentamente respondeu:

— Dizem que a maldição chegará a um fim natural, mas meus antepassados esperaram centenas de anos e não houve sinal de enfraquecimento da maldição. Mas alguns dizem...

— O que?

Sua voz era suave.

— Se você acreditar em contos de fada, alguns dizem que o amor verdadeiro pode trazer paz para a vida de um Mallory. Isso é muito poderoso para a maldição manipular.

— Você acredita nisso?

É minha imaginação, ela pensou, ou sua voz ficou mais rouca?

— Chloe?

Limpando sua garganta, ela levantou o olhar da forma provocativa da boca dele, olhando para aqueles olhos hipnóticos, e de algum modo conseguiu dizer.

— Eu provavelmente não faria, se não tivesse visto como as coisas eram entre minha mãe e o pai de Olívia. Ele não a adorava por causa da maldição, mas ele ... ele a amava. Loucamente. E foi um amor saudável, com altos e baixos e as discordâncias habituais. Um que era forte o suficiente para vencer a maldição que a cadela feiticeira nos submeteu.

Gentilmente, ele disse:

— Parece que eles eram bastante surpreendentes.

— Eles eram. Quase nos matou quando os perdemos. — Embora tentasse manter a voz firme, ela se partiu no final.

— Eu acho que Olivia mencionou que seu pai teve um ataque de coração?

Chloe assentiu com a cabeça novamente.

— E minha mãe morreu uma semana depois. Monica acreditava que foi a dor de perdê-lo. — Ela parou por um momento respirando seu perfume irresistível, em seguida lentamente acrescentou: — Acho que eu meio que acredito nisso também.

Sua admissão a surpreendeu, e ela escorregou da cama, caminhando para o canto da frente mais distante da cela. Ela descansou sua testa contra as frias barras de ferro, chocada com tudo o que acabara de revelar. Na honestidade que continuava dando a esse cara, quando era normalmente tão defensiva e reservada.

Então novamente, talvez honestidade era exatamente o que eles precisavam aqui. Só Deus sabia que ela não podia confiar em si mesma para ficar longe dele. Ela tinha que tomar medidas. Aplicar medidas defensivas.

— Falando da maldição. — ela murmurou, mantendo suas costas para ele. — Preciso te dizer que eu… eu acho que é isso que está acontecendo entre nós. Você precisa se afastar de mim porque está sendo afetado por isso.

Outro pesado silêncio e então.

— Você está brincando, certo?

Olhando por cima do ombro, ela disse:

— Estou falando sério, Kellan.

Ele fez um som como um bufar arrogante.

— Besteira.

Chloe fez uma careta.

— Você não pode simplesmente dizer besteira. — ela argumentou. — Tenho certeza. Eu estive me aproveitando de você!

— Como o inferno que você esteve.

— Oh, Deus. — Ela juntou as sobrancelhas. — Você não é como um daqueles homens das cavernas que sempre pensam que sabem mais do que todos os outros, não é?

Parecia que ele estava se esforçando para segurar o riso.

— Como um homem das cavernas?

Ignorando-o, ela se virou e apoiou as costas contra as grades, os braços cruzados fortemente sobre o peito enquanto ela disse.

— Apenas me ouça, Kellan. Você precisa de sexo e a maldição irá ampliar isso. E por causa da Merrick eu preciso disso também. O que eu disse faz sentido. Há algum tipo de encanto mau acontecendo entre nós brincando com nossos corpos, e nada disso é real. É apenas uma ilusão.

— E que tal a boa e antiquada luxúria?

— Entre um cara como você e alguém como eu? Vamos. — ela retrucou. — Abra seus malditos olhos.

O canto de sua boca se curvou com outro daqueles sorrisos lentos, preguiçosos.

— Você é fofa pra caramba quando se irrita. Você sabe disso?

Um som agudo de frustração agitou sua garganta.

— É isso. Eu sou uma gracinha. E você é ... bem, você já se olhou num espelho. Você sabe o que é. Não faz sentido, não importa o quanto pudesse desejar que fizesse. O que significa que precisa ficar longe de mim e parar de vir aqui.

— E você só precisa respirar fundo e se acalmar. — ele respondeu em um sotaque arrastado.

Seus olhos se estreitaram.

— O que faz você pensar que não estou calma?

— Você está ouvindo a si mesma? — Ele inclinou sua cabeça para o lado, a luz do fogo pegando nas luzes vermelhas dos grossos fios vinho-escuros de seu cabelo enquanto olhava para ela por entre seus cílios. — Em um segundo você está me implorando para alimentá-la. No próximo, está gritando para mim...

—Eu não gritei. — ela protestou. — Nem mesmo uma vez.

Ele continuou como se ela não tivesse acabado de interrompê-lo.

— E reclamando para eu deixá-la sozinha,porque não quer se aproveitar de mim.

Em um profundo estrondo áspero como whisky ele acrescentou:

— Você está se enrolando Chloe, e não há necessidade.

Puxando seu lábio inferior com os dentes, ela baixou seu olhar.

— Entre a Merrick e a maldição, é demais. Eu só... preciso que fique longe de mim — ela disse densamente. — porque não gosto de me sentir assim, ou estar fora de controle.

— Então eu irei. — ele disse em voz baixa.

Ela suspirou audivelmente.

— Obrigada.

—Mas antes que eu vá, há algo que preciso te dizer.

— O que é? — ela perguntou, erguendo a cabeça bem a tempo de vê-lo se levantar, os músculos rígidos enrolando e flexionando sob toda aquela pele dourada numa exibição de poder de cair o queixo, os cortes e contusões apenas sendo um acréscimo a sua masculinidade crua.

Enfiando as mãos nos bolsos, ele apoiou um ombro contra a parede de metal e disse:

— Sua irmã e alguns dos outros em nossa unidade estão começando a achar que a maldição pode finalmente estar chegando ao fim.

De todas as coisas que ele poderia ter dito, aquela era a última que ela esperava.

— O quê? Por quê?

— Por causa de Jamie.

Balançando a cabeça, ela disse.

— Jamie? Eu não entendo.

— Raine contou a você sobre o ataque que foi feito a nosso grupo quando estávamos tentando alcançar Harrow House?

— Não.

Ele balançou a cabeça como se fosse a resposta que ele esperava.

— Ela provavelmente não queria preocupá-la.

— Por que isso me preocuparia?— Sua voz estava subindo. — O que aconteceu?

— Nós estávamos em desvantagem numérica e as coisas estavam parecendo bem sombrias. Então sua sobrinha ficou toda Arquivo X e começou a brilhar com esta estranha luz, poder faiscando dela como um gerador. A próxima coisa que soubemos foi que ela virou os bandidos uns contra os outros e fomos capazes de escapar.

O choque tornou sua voz mais áspera.

— Ela salvou vocês?

O canto de sua boca levantou num sorriso torto.

— Acredite ou não, todos nós devemos nossas vidas à tampinha. Ela é uma séria pequena chutadora de traseiros.

— Mas… por que não me disse antes?

— Eu não queria que se preocupasse com ela. — ele disse em voz baixa, coçando sua nuca. — Ela está muito bem desde aquela noite.

— E você acha que isto significa que a maldição poderia estar terminando? — Ela perguntou, seu coração rugindo em suas orelhas.

— É o que os outros especularam. E ainda tem o seu despertar.

— Eu não entendo. — ela repetiu.

— Chloe, se Westmore pegou você para chegar a Gregory, então isso significa que o retorno dele começou o seu despertar meses atrás. Eu sei que você está em má forma, mas ainda está saudável. Ainda respirando. Não vejo como isso poderia ser possível, a menos que seus verdadeiros poderes Mallory, aqueles que a maldição teria limitado, não estejam de alguma forma trabalhando para mantê-la viva. Eles podem não ser muito fortes ainda, mas te impediram de desaparecer.

Ela não disse nada a princípio. Só olhava fixamente para um ponto distante no frio chão cinza, considerando cuidadosamente tudo o que ele disse, seu tórax subindo e descendo com a cadência lenta e profunda de sua respiração. Quando ela finalmente forçou seu olhar de volta ao dele, perguntou.

— Você está atraído por mim, Kellan?

O calor em seus olhos deveria tê-la derretido no local.

— Eu acho que é bastante óbvio, considerando como não posso ficar longe de você.

— Então ainda está funcionando. Tem que estar.

Ele se afastou da parede, a frustração o montando com força.

— Cristo, Chloe. Por que está sendo tão malditamente teimosa sobre isso? É tão difícil para você acreditar que eu poderia te querer apenas por você, sem a influência dessa maldição sangrenta ferrando com a minha mente?

— Pra ser honesta, sim. É isso. — ela disse erguendo seu queixo. — E não me sinto diferente. Se o que disse é verdade, acho que teria sentido o enfraquecimento da maldição, e eu não senti.

Os músculos grossos e marcados de seus ombros e braços se agruparam com a tensão.

— Você também está sob muita tensão. — ele discutiu, enfiando suas mãos mais fundas em seus bolsos. — E a Merrick está te dando tanta merda que duvido que estivesse ciente de qualquer mudança que pudesse ser causada pelo desvanecimento da maldição.

Recusando-se a concordar com ele, ela disse.

— Ainda digo que é a maldição.

— Sim? — Suas sobrancelhas se ergueram num arco arrogante. — Bem, continuo a dizer que você está chei disso.

— Você não estava saindo? — ela retrucou.

— Sim, eu vou, por enquanto — ele se moveu para ela. —, se você me der um beijo.

— Você está louco. — ela disse com voz rouca, segurando as mãos na frente dela, enquanto o desejo se estabelecia como uma chama derretida no âmago de sua barriga. — E eu não quero dizer por mal, Kellan. Estou falando fora do eixo. Meio doido!

Embora o canto de sua boca se contorceu ele não riu, sua voz um ronco sensual rouco quando disse.

— Apenas um beijo, Chloe.

— Por que? — ela sussurrou, forçada a empurrar a cabeça para trás enquanto ele chegava ainda mais perto, as mãos achatando contra a pele quente esticada sobre todo aquele peitoral duro de tirar o fôlego.

O calor ardente em seus olhos roubou sua respiração.

— Porque não consigo parar de pensar em como é sentir você. O quanto seu gosto é doce. Porque tocar você ontem foi melhor do que qualquer coisa que senti em ... inferno, desde que posso me lembrar.

Ela não teria pensado que era possível se sentir tão miserável e excitada, tudo ao mesmo tempo.

— É isso o que eu quero dizer, Kellan. É a maldição. Está atraindo você para mim. Fazendo com que faça essas coisas.

Ele cobriu as últimas poucas polegadas que os separava prendendo-a contra as barras de ferro da cela, com as mãos envolvendo todo o metal frio em ambos os lados da cabeça dela, prendendo-a.

— Se estivesse me obrigando a fazer coisas — disse ele com voz áspera, olhando profundamente em seus olhos. —, então nós dois sabemos que eu estaria dentro de você agora, bruxinha. Porque é onde você me quer. E é onde quero estar. Mas estou me forçando a me contentar com um beijo.

— Você gosta de me torturar? — As palavras roucas, quase muito suaves para ouvir.

A luxúria endureceu suas feições e ela sentiu o tremor que pulsava por todos esses deliciosamente duros músculos.

— Confie em mim, gatinha. Estou me machucando mil vezes mais do que a você.

— Spark me chamou de gatinha.

— Eu sei. — Uma risada baixa deslizou preguiçosamente de seus lábios enquanto ele os pressionou na maçã do seu rosto. — Eu acho que é meio fofo.

Chloe começou a discutir, mas ele a deteve com sua boca, o beijo cru e deliciosamente explícito, a lingua dele esfregando contra a dela de uma forma que fez algum tipo de ruído ronronante vindo do fundo de sua garganta, seu rugido de resposta a coisa mais sexy que ela já ouviu. Derreteu seus ossos, seu cérebro, puxando gritos ásperos do núcleo de seu corpo.

Ele engoliu o som rouco, o cume pesado de seu pau pressionado duramente contra sua barriga. As barras de ferro escavadas em suas costas quando o beijo se tornou mais áspero ... mais cru, picante e úmido e absolutamente devastador. Bem quando ela poderia dizer que ele estava à beira de se perder completamente, ele arrancou sua boca da dela.

— Viu? — Ele respondeu asperamente, esforçando-se para recuperar o fôlego enquanto descansava sua bochecha contra o topo da cabeça dela, as mãos ainda embrulhadas em torno das barras com tanta força que ela ficou surpresa que não tinham estalado. — Nenhum dano, nenhuma infração.

— Você sabe o que nunca fui capaz de suportar? — Ela perguntou vacilante, tremendo de fome e luxúria e uma massa de confusão. — Homens que pensam que sabem tudo. Que gostam de fazer uma mulher se sentir fraca.

Ele bufou enquanto puxava a cabeça para trás o suficiente para que pudesse olhar para baixo em seu rosto.

— Eu não acho que tenha qualquer coisa fraca em você. — ele murmurou, esfregando seu polegar no canto de sua boca inchada pelos beijos enquanto colocava sua mão em concha ao lado do seu rosto. — Inferno, você me apavora toda vez que abre sua boca. Nunca sei o que vai sair daí. Outro insulto? Outra exigência para te foder? Para deixar você sozinha? Você mantém minha cabeça rodando, senhora.

As palavras sugeriam frustração, bem como uma grande quantidade de irritação. Mas o sorriso com inclinação para o pecado no rosto do Lycan enquanto se virava para sair quase parecia como se ele estivesse realmente apreciando o passeio.

 

Província de Auvergne, França

Segunda-feira, 10:00 da noite

Uma parceria com dois vampiros sanguessugas.

Malditamente inacreditável.

Seis meses atrás se alguém tentasse dizer a ele que era isso o que o aguardava no futuro, Seth McConnell teria dito a eles que precisavam ter suas cabeças examinadas. Porque seis meses atrás se ele ficasse cara a cara com dois vampiros machos no meio da noite, teria feito o seu melhor para separar suas cabeças de seus ombros, considerando que era a única maneira infalível para matar um Deschanel.

Se você enfiasse uma lâmina através das entranhas de um Licantropo, normalmente os mataria — mas vampiros podiam mais frequentemente se curar de algum ferimento de faca. E embora queimar uma bruxa normalmente asseguraria que elas não estariam mais ao redor, vampiros poderiam sobreviver às chamas.

Não, se você quisesse matar um sanguessuga tinha que ser um corte rápido e limpo de suas cabeças arrancando-as dos ombros. Como um antigo tenente-coronel do Exército Coletivo, Seth fez esse tipo de matança mais de uma vez — e ele provavelmente teria continuado a fazê-las, se não fosse pelo retorno dos Casus.

Embora Seth devesse ser inimigo daqueles com quem estava trabalhando agora, o destino tinha outros planos. Numa reviravolta irônica, Seth, junto com um pequeno grupo de soldados do Coletivo que permaneceram leais a ele, agora estavam lutando ao lado dos Sentinelas e dos Merrick. O oficial desiludido rompeu com o Exército quando soube que os generais do Coletivo fizeram um acordo com os Casus e seus aliados.

Por causa daquele acordo, os olhos de Seth finalmente foram abertos para a verdade horrível sobre as crenças que ele tinha dedicado toda sua vida adulta e agora estava aqui, colaborando com dois homens que bebiam sangue para sobreviver.

Era uma situação surreal para um soldado se encontrar, e ainda mais, teria mentido se dissesse que não se sentia mais em paz com suas ações agora do que há anos.

Depois de passar a semana passada nos Estados Unidos, Seth e seu segundo em comando, Tyler Garrick, acabaram de voar para Bruxelas naquela manhã, onde se encontraram com Michael Quinn, um Sentinela que Seth inerentemente confiava, apesar de sua complicada história juntos.

Enquanto a maioria dos outros homens na unidade de Quinn se dirigiram diretamente a Wasteland para se encontrar com Kierland Scott, que estava mantendo vigilância no Complexo onde seu irmão estava preso, Quinn ficou para trás para ajudar os irmãos Granger a investigar uma pista importante.

Uma vez que acabaram todos estavam se dirigindo para Wasteland juntos, correndo para se encontrar com os outros.

Quando Quinn encontrou Seth e Garrick no aeroporto, o Sentinela alto de olhos escuros expressou preocupação sobre Seth trabalhar com os Grangers, sabendo que ele manteve por muito tempo um ódio pessoal contra os Deschanel, já que foi um ninho de vampiros desonestos que massacrou a família de Seth quando ele tinha apenas quinze anos — essa foi a causa do seu impulso para aderir ao Coletivo. Como Förmyndares ou Protetores do clã Deschanel, os Grangers eram uns importantes chutadores de traseiros, mas provaram sua lealdade para a causa dos Sentinelas na semana passada, e então Seth prometeu a Quinn que se daria bem com os vampiros e não causaria nenhum problema. Uma coisa boa também, já que parecia que havia problemas mais do suficientes ao redor.

Enquanto Ashe Granger, o irmão mais velho, passou a semana passada ajudando Kierland Scott e uma Sentinela chamada Morgan Cantrell a procurar o irmão de Kierland em Wasteland, Gideon seguiu uma pista perturbadora sobre os Caminhantes da Morte.

Como se esse conflito ferrado realmente precisasse de um outro elemento bizarro, os Sentinelas descobriram a existência dos Caminhantes da Morte em dezembro passado, quando Aiden Shrader estava tentando proteger a pequena Jamie Harcourt de ser raptada pelos Casus.

Graças a Gideon Granger que aproveitou suas conexões no Tribunal Deschanel, eles aprenderam que quando um Casus era morto com um Marcador das Trevas, um portal abria na parte do inferno que detinha as almas contaminadas dos clãs antigos.

Como Gideon tinha aparentemente colocado “Sempre que uma porta se abre, há sempre a chance de que algo mais possa vazar”. Neste caso, aquele "algo" eram os Caminhantes da Morte, e eles estavam causando um inferno de um monte de problemas.

Seth ainda não tinha enfrentado os bastardos desprezíveis, uma vez que, no momento, eles estavam especificamente visando os Sentinelas, seu plano era remover os mutantes que mantinham a paz entre os vários clãs e criar um período de caos... então eventualmente espalhar esse caos pelo mundo, simplesmente porque soava como diversão para suas psiques deformadas. Seu tempo no inferno deteriorou suas mentes e Seth não tinha dúvidas do perigo que representavam. Um perigo que estava crescendo, agora que eles seguiram a pista de Gideon até esta remota vila humana no interior da França

Pouco antes de Kierland e Morgan partirem em direção a Wasteland, Gideon os avisou que tinha tropeçado em algo grande, dizendo que precisava verificar. Depois de seguir sua pista na última semana ele finalmente descobriu onde alguns dos Caminhantes da Morte poderiam ser encontrados, então trouxe Seth e os outros para a aldeia com a intenção de descobrir exatamente o que as criaturas dementes estavam fazendo.

Eles já encontraram cerca de quarenta cadáveres espalhados ao longo da estrada de paralelepípedos que levava à vila rústica que estava enterrada dentro de hectares de terras agrícolas, os corpos mutilados e drenados com marcas de mordidas ferozes, lembrando a Seth as matanças de Deschanel desonestos...

No entanto a aldeia em si parecia estar estéril, nenhuma alma à vista e Seth não tinha um bom pressentimento sobre o que iriam encontrar. Eles precisavam fazer uma varredura das ruas, mas no momento estavam reunidos numa pequena colina que se erguia na periferia da aldeia, tentando reunir mais informação antes de entrar em só Deus sabia em que tipo de situação.

Enquanto Seth, Garrick e Quinn esperavam nas sombras de um carvalho retorcido congelado, os Grangers escalaram a vasta extensão tentando obter uma visão melhor do coração da aldeia enluarada.

Os dois irmãos eram semelhantes na aparência, atraentes dessa maneira fria e mortífera como só um vampiro poderia ser, e Seth não tinha dúvida que eles eram populares com as mulheres de todas as espécies.

Ele podia ouvi-los conversando enquanto inspecionavam ​​as construções e as ruas da aldeia por meio de binóculos de alta tecnologia, procurando por sinais de vida.

— Então. — Gideon murmurou. — Você está bem, cara?

— Por que não estaria? — Ashe respondeu, seu tom de improviso sugerindo que seu foco estava claramente sobre o que ele estava fazendo e não na conversa.

— Oh, não sei. Talvez porque a mulher com quem você esteve enrolado na última década agora está acasalada com um cara que você costumava dizer era o maior idiota que você já conheceu? Eu sei que você é durão, mas inferno, Ashe, tem que doer.

Seth se encolheu por dentro com as palavras bruscas de Gideon. Os outros o informaram da história turbulenta entre Ashe e Morgan Cantrell, bem como Scott Kierland, que queria Morgan pra ele.

Embora Ashe e Morgan foram um casal, eles romperam e permaneceram bons amigos, e foi realmente Ashe que ajudou Morgan e Kierland a chegar em Wasteland para que pudessem rastrear o irmão de Kierland. Durante a viagem, Kierland finalmente admitiu seus sentimentos e reivindicou Morgan como sua companheira — um fato que Gideon obviamente pensou que teria um efeito em seu irmão mais velho.

— Você não sabe o que está falando. — Ashe murmurou, soando como se preferisse ter brotos de bambu espetados nas unhas do que discutir o que aconteceu.

— Sim? — Gideon murmurou. — Então me ilumine.

— Eu amo Morgan como amigo. — As palavras de Ashe estavam carregadas de irritação. — E estou feliz pra caramba que ela tem o que sempre quis. Então, deixe pra lá, Gid.

Com um suspiro afiado, o vampiro disse.

— Se isso é verdade, então você é um cara melhor do que eu.

Seu irmão bufou.

— Me diga algo que não sei.

— Então acho que você vai continuar dormindo desse jeito através...

— Não querendo ser rude — Quinn latiu pra eles, cortando Gideon. —, mas que diabos estamos esperando?

Com aquela mesma preguiçosa graça enganosa tipo animal inerente a todos os Deschanel, Gideon saltou da árvore, pousando sem esforço de pé ao lado de Quinn.

— Lembra quando disse que estávamos vindo pra cá para confirmar um rumor que eu ouvi?

— Sim. Mas você ainda não compartilhou esse rumor. — Estava claro pelo tom do Sentinela que ele estava perdendo a paciência.

Segurando o olhar escuro de Quinn, o vampiro de olhos cinzentos disse.

— Enquanto eu estava passeando pelo lado pobre da Corte Deschanel caçando informações sobre os Caminhantes da Morte, ouvi algo que me assustou como o inferno. Rumores que os Caminhantes da Morte começariam a fazer seu próprio pequeno exército. E lá embaixo naquela aldeia está a prova de que o que eu ouvi era verdade. — Ele entregou o binóculo. — Olhe você mesmo.

Alguns segundos mais tarde com os binóculos grudados ainda nos seus olhos, Quinn pareceu surpreso quando perguntou:

— Que diabos são essas coisas?

Ashe saltou da árvore próxima a Seth, sua expressão tão sombria quanto seu tom.

— Nosso mais novo pesadelo.

— Eles parecem com algum tipo de… zumbi.

— Oh inferno. — O banho leitoso do luar revelou a carranca de Garrick enquanto ele abaixou seus próprios binóculos. — Você está brincando comigo. Vi um monte de coisas estranhas na minha vida, mas este tipo de merda não é certo.

Agarrando os binóculos de Garrick, Seth focou as lentes sobre a aldeia lá embaixo e sentiu o coração cair até o estômago.

Quase vinte machos humanos estavam se arrastando lá embaixo, no centro da estrada principal, a sua pele cor de cera à luz do luar manchada com o que pareciam contusões amareladas. Os olhos escuros pareciam afundados em suas faces magras, a pele ao redor enegrecida quase como se tivesse sido queimada. Seus lábios estavam cercados por manchas pretas semelhantes, suas bocas abertas como mandíbulas escancaradas, lábios e queixos cobertos de sangue como se tivessem comido algo cru. Em vez de lutar para fugir, eles pareciam estar seguindo qualquer ordem que foi dada, seus corpos se movendo num ritmo lento e sem energia, as mãos amarradas atrás das costas.

Os humanos estavam sendo conduzidos por dois Caminhantes da Morte que flanqueavam o grupo, os seres espectrais tão grotescos como os Sentinelas descreveram.

As criaturas tinham os corpos cadavericamente pálidos sem pelos, com pequenos chifres se projetando de suas testas, garras e presas de aparência sinistra, suas longas formas nuas flutuando assustadoramente sobre o chão. Já que os Caminhantes da Morte consistiam em membros de todos os clãs do inferno, suas espécies originais variavam. Pelo que Seth podia dizer as duas criaturas na aldeia foram Deuchar, um dos mais violentos dos clãs antigos e um inimigo mortal dos Shaevan.

Mas enquanto apunhalar uma faca em sua testa poderia matar um Deuchar, esses idiotas foram para o inferno e voltaram, o que mudou as regras. Embora Gideon tivesse trabalhado arduamente para conseguir uma resposta, ainda não sabiam como matar um caminhante da Morte. Porém eles sabiam que uma combinação de sal e água benta lhes dava uma puta de uma queimadura, enviando-os correndo para se esconder, e era por isso que todos os seus companheiros estavam carregando frascos da solução.

— Odeio dizer isso — Quinn disse ainda olhando fixamente pelos binóculos. —, mas aqueles Caminhantes da Morte parecem mais encorpados do que os últimos que vi.

— Qual é o plano?

— Nós descemos até lá — Gideon respondeu. — e descobrimos o que está acontecendo.

— Temia que ele fosse dizer isso. — O tom irônico de Garrick arrancou um sombrio e ofegante latido de riso de Seth.

Dez minutos depois o grupo fez seu caminho para a aldeia se mantendo nas sombras para evitar ser detectado, embora soubessem que era apenas questão de tempo antes que os Caminhantes da Morte cheirassem sua presença. Como Deschanel, os Grangers podiam mascarar seu cheiro, mas seria fácil para os bastardos captarem Seth, Garrick e Quinn.

À medida que abriram caminho por um beco lateral se movendo mais próximo do local onde viram os moradores, Seth pegou sua primeira lufada de carne podre dos Caminhantes da Morte e quase vomitou. Ele não tinha estômago fraco, mas o cheiro deles era como algo deixado para apodrecer no sol quente.

— Mantenham seus frascos prontos. — Quinn falou à esquerda de Seth, enquanto Garrick começou a tomar posição à sua direita, os vampiros deram a volta para o outro lado da estrada para que pudessem apanhar o grupo entre eles.

— Acha que eles nos sentiram? — Garrick perguntou em voz baixa, e um segundo depois teve sua resposta.

— Mmm. Eu cheiro companhia. — uma das criaturas balbuciou, erguendo seu nariz achatado para o ar.

— Três, pelo menos. — O olhar amarelo do outro se acendeu com malícia quando olhou para as sombras que ladeavam a estrada.

—Vocês vieram ver nossa obra, então? — O primeiro gritou, acenando para os aldeões pararem.

Embora ele soubesse que não adiantaria nada contra os Caminhantes da Morte, Seth moveu o frasco para sua mão esquerda e sacou sua arma, não sabendo o que esperar dos moradores de aparência sombria que claramente tinham algo errado.

— Esteja pronto. — Quinn murmurou, e no instante seguinte o Caminhante da Morte atacou.

Movendo-se mais rápido do que Seth teria pensado que fosse possível, eles correram para o beco. O vento soprou contra o rosto de Seth enquanto uma forma borrada passou acelerada e deixou sua coxa queimando das garras afiadas que cortaram claramente por seu jeans.

— Filho da puta. — ele sussurrou baixinho, sacudindo o conteúdo do frasco quando sentiu outra rajada de vento forte em sua direção. Ele soube que atingiu um dos Caminhantes da Morte quando um grito furioso ecoou pela escuridão e o cheiro de carne queimada encheu seu nariz. Quinn e Garrick estavam por perto, xingando e rosnando enquanto os Caminhantes da Morte continuavam vindo para eles, todos os três trabalhando para chegar a rua enluarada, onde poderiam ter as criaturas em campo aberto.

Enquanto se movia para a estrada, Seth jogou seu frasco vazio de lado, trocou sua arma para a mão esquerda e usou a direita para esmurrar uma das criaturas no rosto quando ela acelerou em sua direção, o luar refletindo em sua pele pálida. Satisfação queimou pelas veias dele quando seu punho fez contato quebrando o nariz, e um líquido espesso e negro escorreu pelo rosto da criatura.

Quando os Sentinelas enfrentaram pela primeira vez os Caminhantes da Morte em dezembro passado, disseram que foi como atingir uma névoa pegajosa, seus socos e chutes tendo pouco efeito.

Mas os bastardos tinham substância agora, mesmo que ainda fossem capazes de acelerar pelo ar como vapor, e Seth tinha intenção de infligir tantos danos quanto pudesse.

O caminhante da Morte que ele atingiu ainda estava vindo atrás dele, provavelmente imaginando que como um humano ele seria um dos elos mais fracos do grupo. Com seus dentes irregulares descobertos ele bateu nele com suas longas garras. Arqueando para trás, Seth conseguiu evitar por pouco as garras mortais, virando-se depressa e trazendo a perna direita girando em um chute de quebrar ossos que bateu contra a mandíbula do Caminhante da Morte. Ambos os vampiros aderiram à luta e a criatura cambaleou em direção a Gideon, que já tinha liberado suas garras.

O vampiro bateu em seu peito, puxando um spray espesso de névoa preta que cobriu a frente de Gideon. Enquanto ainda se recuperava do golpe, Seth enfiou sua arma na parte de trás da calça e sacou suas algemas. Torcendo os braços do Caminhante da Morte atrás das costas, ele bateu as algemas em seus punhos e o jogou contra o prédio mais próximo.

— O outro apenas fugiu. — Ashe murmurou, usando sua manga para limpar um spray de lodo preto que pegou em seu rosto durante a luta. — Não acho que estavam esperando que pudéssemos machucá-los.

— Certifique-se que os habitantes da aldeia não se movam. — Quinn disse a Garrick, que ainda tinha sua arma na mão, antes de se aproximar do Caminhante da Morte que Seth capturou. — O que há com as mudanças em seus corpos? — Ele exigiu duramente.

— Nós temos nos alimentado. — ele rosnou, lutando contra o aperto de Seth enquanto ele segurava a criatura presa contra a frente da igreja da vila, seus longos dedos apertando sua garganta. — Toda vez que matamos ficamos mais fortes.

— Vimos os corpos de suas vítimas em nosso caminho para a aldeia. — disse Gideon, de pé ao lado de seu irmão. — Pensei que vocês idiotas estavam apenas caçando Sentinelas.

— Oops. — ele balbuciou, seus lábios se espalhando num sorriso largo e maníaco. — Acho que quando explicamos nosso propósito a seus amigos omitimos alguns detalhes importantes.

— Você acha? — Gideon estalou, sacudindo a cabeça em direção aos humanos presos.

— Você pode estar ficando mais forte — Seth rosnou, apertando seu punho na garganta da criatura. — mas agora podemos segurá-lo.

— É verdade. — ele riu, seus olhos amarelos brilhantes com loucura. — Mas você ainda não pode me matar.      Seth apertou até que sentiu algo estalar.

— Diga-nos do que diabos se trata isso.

— Foda-se. — ele ofegou, embora não parecia estar lutando para respirar. Inferno, por tudo o que sabiam, os Caminhantes da Morte nem mesmo precisavam respirar.

— O que vocês queriam com esta aldeia? — Ashe exigiu num rosnado gutural profundo, chegando um pouco mais perto. — Por que se preocupar com os humanos quando deveriam vir atrás dos Sentinelas?

— Nossas mordidas só funcionam em humanos. — O Caminhante da Morte sorriu, o que o tornou ainda mais feio. — Mas primeiro precisamos ter um pouco de carne em nossos ossos. Você não pode dar nova vida a algo até que você mesmo tenha alguma substância.

— Nova vida? — Quinn grunhiu, apontando para os moradores. — Você matou aquelas pessoas!

— Não. Realmente apenas os pegamos emprestados.

— Você quer dizer que os destruiu.

Humor dançou nas profundezas de seus olhos amarelos.

— Ajudaria se eu dissesse que não tínhamos escolha? — Ele perguntou com uma risada rouca.

Seth bateu a parte de trás de sua cabeça contra o edifício e ele riu ainda mais alto.

— Ok. Certo. A verdade pura e simples é que o seu lado está demorando muito. Os Merrick estão se movendo muito lentamente contra os Casus, e somos muito poucos para fazer o que precisa ser feito. Portanto, não tínhamos escolha a não ser começar a construir um pequeno exército.

Seth considerou assinalar o fato que as coisas só se moveriam mais lentamente se estes idiotas continuassem matando os Sentinelas, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Quinn chegou um pouco mais perto, sua forma musculosa e alta tremendo de raiva.

— Que diabos você fez com eles?

— Nós os mordemos. Nossas mordidas, embora sejam ineficazes contra os clãs, tem um efeito interessante em humanos.

— Então vocês fizeram o que? Os transformaram em seus próprios pequenos soldados zumbis?

— O que eles deveriam fazer, afinal? — Seth exigiu. —Eles mal podem se mover, muito menos lutar.

— Seu nome é Infettato ou o Infectado, e eles não estão destinados a lutar. Eles foram feitos para comer. E como seus criadores, quanto mais eles comem, mais fortes se tornarão. — explicou naquela áspera voz lírica. — É genial, na verdade. Basta imaginar o tipo de caos que um exército de comedores de carne fará com os humanos!

— Vocês são ainda piores do que os Casus. — disse Ashe, enfurecido. — Eles podem ser um grupo de idiotas sádicos, mas pelo menos tem algo pelo que estão lutando. Vocês... vocês estão apenas fodidamente loucos.

— Oh, sim? — ele estalou. — Tente passar uma eternidade no inferno, vampiro, e veja o que isso faz para sua estabilidade mental.

— Onde estão as mulheres e crianças? — A pergunta de Quinn chamou a atenção do Caminhante da Morte. — Os corpos lá na estrada são todos machos.

— Isso é porque esta aldeia, embora humana, tem ligações com o clã Shaevan através de casamentos. Eles mantêm uma constante vigia para coisas que rondam a noite. Quando eles viram que estávamos chegando foram os homens que vieram lutar. Mas a maioria deles era muito fraca para nossas necessidades. Os mais fortes… bem, você mesmo pode ver. — Ele apontou com o olhar em direção aos aldeãos.

— Você não respondeu a minha pergunta. — Quinn rosnou, forçando as palavras por entre os dentes cerrados. — Onde estão as crianças?

Com olhos arregalados, a criatura perguntou.

— Isto é uma pergunta retórica?

— Oh, inferno não. — Gideon grunhiu, enquanto o resto deles amaldiçoava.

— Onde elas estão?

Ele riu, o luar refletindo em seu crânio careca, disforme.

—Por que iríamos querer soldados bebês?

— Você os matou? — Quinn ferveu, parecendo pronto para matar — e Seth sabia exatamente como o sentinela se sentia. Em resposta à pergunta, os dentes afiados do Caminhante da Morte brilharam em um sorriso sarcástico.

— É isso aí. O tempo de conversa acabou. — Ashe murmurou, puxando um pequeno frasco do bolso dianteiro da calça jeans. — Todo mundo pra trás. Eu acabei com este idiota.

— O que é essa coisa? — Seth perguntou, liberando seu controle sobre o pescoço da coisa e se afastando com os outros.

— Depois de enfrentar esses bastardos em Wasteland, resolvi tentar algo novo. Este é um diamante modificado, uma arma que pode ser usada para matar Deschanels desonestos. — Deslizando um sorriso torto em direção a Seth, o vampiro acrescentou. — Uma que tivemos certeza que o Coletivo nunca tivesse conhecimento. Não prejudicará nenhum de nós, mas estou esperando que a combinação da explosão e da água benta salgada será suficiente para matar este imbecil.

— Realmente acha que vai funcionar? — Quinn perguntou, lançando um olhar de dúvida ao frasco de vidro inócuo.

Ashe revirou os ombros.

— Não, mas vale a pena tentar. Até descobrirmos uma maneira de matá-los, temos que continuar tentando coisas novas.

Erguendo o punho fechado no ar, o vampiro arremessou o frasco contra o chão e para surpresa de Seth, detonou numa grande explosão de energia e som, e o que deveria ser perto de cinquenta litros de água benta salgada bateu contra eles com força suficiente para derrubar a todos com seus traseiros no chão. Enxugando a água dos seus olhos, Seth observou enquanto o Caminhante da Morte se contorcia contra a parede, gritos violentos saindo de sua garganta, sua pele derretendo como rios de cera arrastando nas laterais de uma vela. As algemas deslizaram de seus pulsos caindo no chão, e ele curvou para frente, enrolando seus braços sobre sua cabeça, fragmentos de crânio mostrando onde a pele foi queimada.

— Isso ainda não acabou! — Ele gritou e no instante seguinte disparou em linha reta para o ar desaparecendo na noite estrelada com uma explosão furiosa de velocidade.

Retirando o cabelo molhado do rosto, Gideon foi o primeiro a quebrar o silêncio chocado que se seguiu com um eloquente:

— Merda.

— Acho que isso os irrita — disse Quinn. —, mas não os mata.

Levantando-se Seth se aproximou e pegou as algemas do chão.

— Pode não tê-lo matado, mas não virá atrás de nós tão cedo. Deve nos dar tempo suficiente para chegar aonde estamos indo sem nenhum problema.

— Estive pensando. — Quinn murmurou ficando de pé.

— Sim? — Todos resmungaram ao mesmo tempo.

— Este plano que os Caminhantes da Morte tem de criar o caos entre os clãs... — O Sentinela esfregou a sua nuca. — Se aquele bastardo não estava mentindo quando disse que esta aldeia tem ligações com os Shaevan, então isso significa que o clã protegerá aqueles que vivem aqui. E os Caminhantes da Morte fizeram parecer que os cadáveres na estrada foram mortos por Deschanel.

Ashe amaldiçoou.

— Se os Shaevan descobrirem procurarão vingança.

Quinn assentiu.

— Que é exatamente o que os Caminhantes da Morte estão procurando esse tempo todo. Eles querem virar os clãs uns contra os outros e com os Sentinelas ocupados lutando uma guerra, não seremos capazes de manter a paz. Os conflitos irão aumentar. Especialmente agora que estão alvejando os humanos também.

Seth enfiou as mãos nos bolsos, dizendo:

— E se isso acontecer as coisas vão se tornar mais difíceis de conter. Se não formos cuidadosos, há uma chance extremamente boa da mídia capturar um sopro de algo que não deveria.

— Pra não mencionar o que aconteceria se os Caminhantes da Morte continuarem fazendo o seu horripilante pequeno exército de humanos zumbis .

— Não há como dizer o quanto isto poderia chegar a ser ruim. — A voz de Gideon estava agitada. — O mundo não está pronto para saber sobre os clãs. Jesus, eles não podem sequer lidar com diferentes sistemas de crenças. O que acha que eles fariam se soubessem que há não-humanos andando entre eles? Estamos falando de uma guerra de proporções bíblicas.

— Precisamos começar a espalhar isso, alertando os outros do que está vindo. — disse Quinn. — Nem todos irão ouvir, mas precisamos fazer o que pudermos.

— Não mudando de assunto — Garrick chamou. —, mas ainda temos o maldito grupo morto logo ali.

Esfregando as mãos no rosto Quin perguntou:

— Alguma ideia? — Seth balançou a cabeça.

— Eu nem saberia por onde começar.

— Ashe, você tem alguma coisa? — O sentinela perguntou.

— Uma dor de cabeça. — murmurou o vampiro. — Mas isso é tudo.

Eles passaram os próximos minutos discutindo o que fazer com os aldeões “infectados”, e finalmente concordaram que deveriam saber mais sobre o que foi feito com os homens antes de tentar matá-los, no caso de existir um modo das vítimas recuperarem sua humanidade. Quinn deu um telefonema para uma unidade de Sentinelas próxima que concordou em proteger os chamados “infectados”como também cuidar dos corpos na estrada.

Quando o último dos zumbis foi levado para um dos celeiros da aldeia, Garrick trancou a porta, trancando-os dentro. Então todo mundo ficou em silêncio e ainda sob o peso esmagador das trevas ouvindo os sons de dentro, mas tudo o que podiam ouvir era um gemido baixo, estranho, que arrepiou a pele de Seth.

— Aqueles pobres filhos da puta. — ele murmurou, surpreso de como foi fácil prender os habitantes da aldeia no celeiro. Eles estavam desorientados, os músculos fracos demais para torná-los um perigo para alguém. Mas não tinha dúvidas que se tornariam mais fortes com o tempo, assim como o Caminhante da Morte tinha afirmado. — Acham que vão tentar lutar para fugir?

— Quem sabe? — Quinn respondeu, parecendo cansado. — Mas para estar seguro, vamos esperar até que a unidade esteja aqui antes de sair.

Escorando seu ombro contra o celeiro antigo, Garrick perguntou:

— E depois?

— Continuamos com o plano original — Ashe respondeu. — e nos encontramos com Kierland e os outros em Wasteland.

— E depois disso? — perguntou o soldado.

— Apenas continuamos o que estamos fazendo. — Seth disse a ele, curvando seus ombros contra o vento brutal, os cortes em sua perna começando a doer como uma cadela.

— E o que exatamente você tem feito? — Gideon perguntou, erguendo suas sobrancelhas.

Com um sorriso sombrio, Seth encontrou o olhar curioso do vampiro.

— O que quer que seja preciso para sobreviver.

 

Complexo Casus/Kraven, Wasteland

Terça-feira à tarde

O tempo deles se esgotou.

Desde que Raine disse a eles que Gregory DeKreznick estava vindo atrás de Westmore, Kellan estava esperando que o Casus se apressasse e fizesse seu movimento para que pudessem usar o ataque como uma distração enquanto fugiam. Mas não podiam esperar mais. Naquela manhã Raine o informou que o Casus estava finalmente se aproximando do Complexo... e que ele não estava sozinho. De acordo com a psíquica, havia uma presença sombria viajando com Gregory que ela não captou antes e não conseguia uma leitura clara. Kellan não gostava desse novo desenvolvimento, incerto do que significava para Chloe... ou como isso afetaria a capacidade de Raine em manter uma "leitura" sobre Gregory, e isso o deixou ainda mais nervoso.

Então houve a visita de Westmore.

Aconteceu uma hora ou mais depois que Raine contou a ele sobre Gregory. Ele estava andando pra lá e pra cá, tentando resolver as coisas em sua cabeça quando Westmore — o próprio — de repente fez uma aparição. Embora Kellan esperava que ele fosse um homem grande e bruto, o cara era na verdade de aparência mediana, constituição leve, sua cabeça nem mesmo atingindo o ombro de Kellan.

Mas o que o bastardo não tinha em estatura, mais do que compensava em absoluta perversidade. Com o cabelo castanho claro e bochechas rosadas, Westmore poderia ter passado por qualquer macho humano andando na rua — mas ele não era humano.

E ele não era Casus, também.

Apesar de sua determinação em ver os monstros livres de Meridian, Westmore não era um deles. Ele era realmente um Kraven, a descendência de uma fêmea Deschanel que fora estuprada por um Casus gerações atrás antes da prisão do clã. Visto como uma abominação pelos Deschanel, os Kraven foram mantidos em segredo durante séculos, sua existência só recentemente revelada aos Sentinelas.

A partir do primeiro momento que eles descobriram seus planos, Kellan e seus amigos se perguntaram exatamente o que Westmore esperava conseguir trazendo de volta os Casus, mas seus objetivos permaneciam obscuros.

Os Deschanel foram os senhores dos Kraven por séculos, e alguns pensaram que talvez o Kraven decidiu negociar a "proteção" dos vampiros por aquela mais poderosa dos Casus. Não era segredo que os Kraven odiavam os vampiros, que os consideravam pouco melhores do que escravos. Mas se esse era o plano de Westmore, Kellan não tinha dúvida que ele ficaria muito desapontado, considerando que os Casus não se importavam com ninguém além deles mesmos.

Claro, se Kellan algum dia realmente colocasse as mãos em Ross Westmore o cara ficaria mais do que apenas decepcionado, estaria morto. E depois do que ele ouviu naquela manhã, Kellan estava pronto para fazer do evento o mais lento e doloroso possível.

Quando o Kraven desceu até a cela, Kellan temera que Westmore tivesse vindo com algum novo plano para "alimentar" Chloe. Mas esse não foi o propósito da visita do bastardo. Westmore basicamente veio tripudiar, e suas novidades deixaram Kellan gelado até os ossos.

Em vez de salvar Chloe para Anthony Calder em sua fuga de Meridian, Westmore decidiu aplacar a irritação do líder Casus com um presente precoce — este presente sendo Chloe. O Kraven iria realmente tentar mandá-la para Meridian durante a lua cheia na noite de quarta-feira. Westmore acreditava que se pudesse transportar Chloe diretamente para Meridian, então Calder seria capaz de usar seu assassinato para adquirir energia suficiente para se regenerar completamente, negando sua necessidade de um hospedeiro humano assim que retornasse a este mundo.

Ele a estupraria então consumiria sua carne, tudo por um chute de energia. E quanto mais ela lutasse contra ele, mais poder o filho da puta doente tiraria da alimentação.

Só de pensar nisso fazia as presas de Kellan queimar para serem ser liberadas, suas garras picando nas pontas dos seus dedos. Não posso deixar isso acontecer. Não vou deixar isso acontecer...

Determinado a fazer tudo que podia para mantê-la segura, Kellan finalmente chegou a um plano de ação, motivo pelo qual ele tinha acabado de voltar furtivamente para a cela de Chloe poucos minutos atrás.

Esperando que ela estivesse uma pilha de nervos, franziu a testa quando a encontrou dormindo, sabendo que sua exaustão era um mau sinal. A Merrick estava obviamente a desgastando, drenando-a mais a cada hora que passava. Depois do que eles souberam recentemente de Westmore, ela deveria estar extremamente ansiosa para dormir.

Em pé ao lado da sua cama, Kellan olhou a confusão sedosa dos cabelos escuros espalhados pelo seu travesseiro e não podia negar que queria tocá-la, acariciar seu calor de seda, peneirar os fios brilhantes por entre os dedos. Sua mão estava enrolada inocentemente em repouso ao lado deo seu rosto, e ele olhou... incapaz de fazer qualquer outra coisa. Ele queria se ajoelhar e colocar sua face contra sua pele pálida e perfeita. Respirar profundamente seu perfume quente e precioso e deixar que o aliviasse, relaxar o aperto firme de tensão e medo que torceram suas entranhas em nós.

Como ela conseguia parecer tão bonita no meio de tal pesadelo? Palavras reprimidas em sua garganta, sufocantes e secas, lutando para serem ditas. Havia tantas coisas que Kellan queria lhe dizer. Coisas loucas, possessivas que nunca antes disse a ninguém. Mas eram palavras que não tinham lugar entre ele e essa mulher. Umas que era melhor deixar trancadas do lado de dentro, onde não poderiam complicar o que já era um inferno de uma situação de merda.

Droga, qual era o ponto em fazer promessas que nunca teria a chance de manter? E mesmo se ele não estivesse correndo contra o tempo, ainda teria uma batalha em suas mãos, convencê-la que era digno de sua confiança... e muito menos qualquer tipo de emoção mais profunda. Teria que lutar com unhas e dentes apenas para fazê-la acreditar nele, uma vez que ela sabia sobre os erros vis e indesculpáveis ​​que ele cometeu. Do perigo em que ele colocou seus amigos. E mesmo assim... era um desafio que ele teria aceitado de bom grado.

Impossível explicar o quanto o deixava furioso que ele não tinha essa escolha, e enquanto Kellan cerrava os punhos se viu desejando que o destino fosse uma coisa física em que ele pudesse colocar suas garras, rasgando-a em pedaços, assim como estava fazendo com ele.

Durante meses ele esteve bastante enciumado do que seus amigos encontraram, desejando que ele mesmo pudesse encontrar. Aquela sensação de retidão e paz, sabendo que não importa o que a vida jogasse em você, não estava mais sozinho. Sim, poderia estar cercado por familiares e amigos em Harrow House, mas eles não eram seus.

A maioria deles já encontrou aquela mulher perfeita que poderia torná-los completos, e se tornaram parte de algo novo. E agora que ele achou a mesma coisa, não podia tê-la. Não poderia tê-la. O destino estava apenas o insultando, caramba. Brincando com ele. E isso o irritava.

Mas posso ter isso, ele pensou, correndo o olhar sobre a forma doce e feminina de seu corpo embaixo do cobertor grosso. Ele tinha, porque não havia mais nenhuma dúvida do que ela precisava para construir sua força. E já não tinham tempo para esperar.

Kellan odiava o perigo que ainda podia representar para ela se não conseguisse controlar seu lobo, mas se sentia estranhamente confortado pelo fato que a besta estava tão preocupada com ela quanto ele. O animal ficou atordoado com o que ouviu de Westmore, sua fome selvagem não suavizada, mas agora combinada com seu medo pela segurança dela.

Não a melhor situação... mas talvez uma que ele tinha a chance de controlar. Ambos, animal e o homem, entendiam que as estacas acabaram de ser levantadas.

Agora a fuga ficaria ainda mais perigosa do que temia, o que significava que Chloe precisaria estar o mais forte possível.

E Deus nos livre se algo acontecesse e eles a levassem para longe dele, Kellan precisava saber que ele lhe dera todas as vantagens que ela poderia ter contra esses canalhas para que pudesse matá-los antes que eles a matassem.

Então vamos fazer isso, o lobo rosnou. Vamos dar o que ela precisa.

Com seu coração batendo num ritmo duro, doloroso e seu pulso trovejando em seus ouvidos, Kellan se abaixou e tocou o lado de seu rosto.

— Chloe, querida. Acorde.

Ela gemeu, aninhando a bochecha contra sua palma, sua respiração suave e doce.

— Isso aí. — ele sussurrou se ajoelhando ao lado da cama. — Vamos lá, gatinha. Abra os olhos.

Suas pálpebras tremeram e então ele estava olhando para profundas piscinas luminosas de cinza esfumaçado, os cílios espessos e escuros lançando sombras contra seu rosto.

— Kellan? O que está fazendo aqui?

— Sabe, você está sempre me fazendo a mesma pergunta.

O canto de sua boca se contorceu num sorriso suave e sonolento.

— Isso é porque continuo te dizendo para ficar longe.

Ele forçou um sorriso, mas ela deve ter sido capaz de perceber a tensão vibrando debaixo de sua superfície, porque perguntou.

— O que está acontecendo?

— Vamos, Chloe. — Sua voz ficou mais áspera quando ele disse. — Você sabe por que estou aqui.   Ela piscou e seus olhos se arregalaram.

— Eu sei?

— Você ouviu o que Westmore disse hoje. — Sua voz era instável, as palavras àsperas o fizeram soar mais gutural. — Vamos ter que seguir em frente e nos mover hoje, lutando por nossa saída. Não há outra maneira e preciso de você... preciso de você forte para isso.

Os olhos dela ficaram ainda maiores.

—Você quer dizer...

— Sim. — Ela começou a dizer algo, mas ele apertou seus dedos em seus lábios. — Por favor — ele sussurrou —, apenas me ouça. Sei que comecei esta luta com unhas e dentes, mas só porque achei que era melhor pra você. Eu ainda não acho que estou apto a tocar em você e antes que pergunte, não falaremos no porquê. A verdade é que o que eu penso não importa mais. Isso tem que acontecer.

— Mas...

Ele a interrompeu mais uma vez, um sorriso levantando o canto de sua boca quando ele disse.

— Nem tente isso. Ninguém disse que você não pode discutir com um cara no seu aniversário?

Ela bufou uma risada suave baixinha e desviou o olhar, seu belo perfil no brilho nebuloso do fogo.

— Eu esqueci. — disse ela em voz baixa. — Feliz aniversário.

— Obrigado. — ele respondeu asperamente. — Mas nem sequer pense em me chamar de velho.

Outra risada suave e ela levou seu olhar de volta ao seu, olhando tão profundamente em seus olhos que ele sentiu como se estivesse tentando ver em sua alma.

— Tem certeza que quer fazer isso, Kell?

Teria sido impossível esconder a luxúria que engrossou sua voz, então nem sequer tentou.

— Eu queria fazer isso pelo que parece uma eternidade.

Kellan podia dizer que ela não acreditou nele — que ela estava pensando naquela maldição sangrenta — mas ela entenderia o quanto ele estava faminto por ela no segundo que eles começassem. Se fosse a última coisa que fizesse, teria certeza que esta mulher compreenderia exatamente o quanto ele a queria.

— O que Raine está fazendo? — Ela sussurrou, sua respiração começando a ficar um pouco mais rápida. Um rubor rosado de cor aquecia seu rosto, seu cheiro inebriante e provocativo enchendo a cabeça dele, levantando-se com o calor de seu corpo.

Ela estava esperando por uma resposta sobre Raine, e ele de alguma forma conseguiu fazer seu cérebro funcionar o suficiente para raspar.

— Ela se colocou em um transe leve, já que será uma longa noite.

Com um roçar cuidadoso das pontas dos dedos contra o seu rosto machucado, ela sussurrou.

— Você teve uma droga de aniversário, não é mesmo?

— Está ficando tremendamente melhor. — ele retumbou num áspero e rouco deslizamento de palavras. Agarrando o cobertor Kellan o empurrou para o lado, precisando ver seu corpo... desesperado por suas doces curvas delicadas.

Os olhos dela se fecharam quando ele estendeu a mão para os botões da sua camisa, sua respiração acelerando quando rapidamente começou a abri-los, empurrando os lados separados e puxando pra baixo as taças de seu sutiã, revelando toda aquela pele lisa, pálida e seus seios perfeitos.

— Cristo, você é linda. — ele suspirou, inclinando-se para baixo e tocando sua língua num mamilo enrijecido e protuso.

As costas dela arquearam quando ele apertou o botão rosa entre os lábios, chupando e lambendo, querendo comê-la viva. Suas pernas se moviam inquietas contra a cama, as mãos se enrolaram em seus cabelos enquanto ele se movia para o outro seio, trabalhando a ponta suculenta contra o céu da boca, seu grito gutural fazendo-o enxergar vermelho.

Arrancando sua calcinha, Kellan a ergueu em seus braços e girou para se sentar na cama. Os olhos dela abriram quando ele a puxou para o seu colo, embalando seus ombros em seu braço esquerdo, sua mão direita fixada na parte baixa de sua barriga.

— O que está fazendo? Pensei que iríamos...

— Shh. Só me deixe cuidar de você.

— Cuidar de mim? — Ela sufocou as palavras. — Pensei que teríamos sexo!

Colocando a mão no interior de sua coxa, Kellan balançou a cabeça.

— Estou preocupado que eu não possa ouvir se eles vierem para cá. Preciso tentar ficar o mais concentrado possível. Mas ainda posso dar o que você precisa.

Ela começou a discutir, mas ele cortou suas palavras novamente, desta vez com sua boca, engolindo os sons conforme ele aprofundava sua língua, esfregando contra a dela. Seu gosto sacudiu seu sistema, exuberante e doce e ele a beijou mais duramente, beliscando o inchaço macio de seu lábio inferior enquanto sussurrava.

— Abra suas pernas para mim, Chloe.

Ela estremeceu, mas fez como ele disse, afastando suas coxas, revelando seu sexo brilhante e a respiração de Kellan sibilou por entre seus dentes quando a abriu com o polegar e o dedo indicador.

Ele olhou fixamente, extasiado, sua respiração ficando mais áspera enquanto estudava todos os detalhes deliciosamente rosa e delicados — e foi quando ele sentiu a Merrick crescendo dentro dela, explodindo seu poder contra ele como um vento quente, queimando sua carne. Os olhos dela se arregalaram e ele podia ver seu medo enquanto ela lutava para lidar com a presença da Merrick, a sensação de tê-la lá dentro dela provavelmente mais como seu lobo do que ele teria imaginado.

— Está tudo bem. — ele sussurrou, afagando as pontas dos dedos contra suas dobras suaves e escorregadias. — Vai ficar tudo bem, Chloe. Não lute contra isso. Vamos dar à Merrick tudo que ela necessita.

Gemendo ela se arqueou contra sua mão, suas pernas se espalhando ainda mais enquanto ele tocava aquelas mais íntimas e extremamente sensíveis partes dela. Ela estava quente e escorregadia e ele rangeu os dentes, forçando-se a ser gentil enquanto empurrava em seu interior, afundando um longo dedo dentro dela.

— Tão apertada. — ele gemeu, puxando cuidadosamente o seu dedo.

Brilhava com seus sucos e ele empurrou dois, trabalhando-os nela enquanto pressionava seu polegar contra o clitóris, esfregando o pequeno nó inchado de nervos em um movimento lento circular que tirou um grito rouco de sua garganta.

— Suas pequenas presas saíram?

— Sim. — ela gemeu, os olhos dilatados pela fome sob o peso esmagador de seus cílios, sua respiração ofegante, irregular.

— Deixe-me vê-las. — Ela abriu a boca e ele podia simplesmente capturar os pontos delicados de suas presas cintilando sob a curva sensual de seu lábio superior, seus lábios se tornando mais vermelhos... mais cheios. Ele fez um som rouco no fundo da sua garganta e tocou seus lábios nos dela, passando a língua sobre uma das pontas afiadas e a dor em seu eixo dobrou, seu sangue correndo forte e rápido.

Preciso das presas dela, o lobo fervia, rondando sob sua pele enquanto Kellan a levantou contra o peito, o rosto dela aninhado do lado de sua garganta, onde a ferida feita pelo Deschanel envenenado tinha finalmente se curado. Preciso dela forte.

— Faça. — ele rosnou, querendo tanto isso que podia saboreá-lo. — Morda, Chloe.

Ela gemeu em resposta sacudindo sua língua contra sua carne quente, então afundou suas presas profundamente, a sensação penetrante fazendo todo o caminho até a cabeça de seu pênis.

Kellan sufocou um grito áspero, aprofundando seus dedos, seus músculos internos o puxando mais apertado... e mais apertado

Ela gritou contra a lateral de sua garganta, seu corpo enrijecendo enquanto ela cerrava suas mãos em seus cabelos, e então ela colidiu com força total em um orgasmo violento, devastador, o profundo aperto rítmico em torno de seus dedos malditamente perto de puxá-lo junto com o dela.

Seus dedos estavam encharcados com seus sucos e ele continuava bombeando dentro dela, sua boca puxando forte e doce contra sua veia, ávida para a corrida quente do seu sangue.

Com a mandíbula travada Kellan afundou seu polegar contra o clitóris, prolongando os espasmos trêmulos, e a cama começou a tremer debaixo dele como se estivessem no meio de um terremoto, um vento quente e impetuoso correndo pela cela fria chicoteando seus cabelos. O ar ficou carregado com o poder da Merrick, espesso e elétrico, como se houvesse uma corrente física na sala que pulsava contra sua pele, levantando todos os pelos em seu corpo.

Com um suspiro afiado ela puxou suas presas da garganta dele, as costas arqueadas sobre seu braço enquanto estremecia e balançava, sacudindo seus quadris contra sua mão, montando seus grossos e encharcados dedos, perdida em abandono sexual.

Kellan gemeu, baixo e fundo com a visão deslumbrante, pensando que ela era a coisa mais linda que ele já viu. Ele apertou seu braço, puxando-a contra as furiosas batidas do seu coração, seus olhos fechados espremidos enquanto enterrava o rosto em seus cabelos sedosos, lutando contra o impulso de empurrá-la de costas e se enfiar dentro dela até que estivesse tão fundo que poderia sentir sua alma.

Finalmente os espasmos do orgasmo dela diminuiram e ele puxou seus dedos do aperto delicado de seu corpo, seus músculos internos lutando para segurá-lo, protestando contra a perda... tornando muito mais difícil para ele parar antes que fosse longe demais.

Envolvendo ambos os braços em volta dela, Kellan apertou enquanto lutava para se firmar, seu controle devastado pela crua e caótica corrida de emoções o rasgando.

Você está sendo patético, seu maldito idiota. Pare de brincadeiras e se certifique que ela está bem.

Certo. Porra, ele podia fazer isso. Pela primeira vez na sua vida de merda ele poderia ser altruísta e ignorar suas próprias necessidades, fazendo o que era certo pra variar.

Com algumas respirações profundas e trêmulas, Kellan finalmente relaxou o aperto, até que ela estava deitada na base de seu braço esquerdo novamente.

— Como você se sente? — Ele perguntou, afastando seu cabelo do rosto com uma mão trêmula.

— Incrível. —Ela se espreguiçou em seus braços, sua voz um ronronar baixo e provocativo. — É como se alguém abrisse o topo da minha cabeça e me enchesse de energia quente e crepitante.

— Isso é bom, querida. — Ele tentou um tom normal, mas não conseguiu, sua voz muito áspera. Muito tensa. — Estou... feliz que você se sente bem.

— Eu me sinto melhor do que bem. — ela murmurou sorrindo para ele. — É como se meu corpo inteiro fosse preenchido com algum tipo de luz cintilante. Estou surpresa que não tenho raios de sol disparando pelos meus dedos das mãos e dos pés.

Ele começou a rir, mas ela balançou... e a sensação do seu traseiro firme se esfregando contra seu pau tirou uma maldição confusa do seu peito.

Ela se calou imediatamente, preocupação se misturando com o brilho de prazer queimando em seus olhos.

— Kellan?

— Só… — Um músculo pulsava na lateral de sua mandíbula, sua testa salpicada de gotas de suor. —Apenas não se mova por um segundo, ok?

 Observando-o atentamente Chloe podia ver que Kellan estava em mau estado, seus músculos enrolados com a tensão, salientes sob o brilho reluzente da sua pele. Sulcos profundos estavam gravados nos lados de sua boca, seus olhos brilhantes de febre sob a barra escura de suas sobrancelhas e ela percebeu que embora a Merrick pudesse ter obtido o que precisava... Kellan não tinha.

— E você? — ela perguntou baixinho, fixando-se um pouco mais fundo contra sua ereção volumosa, o brim da calça jeans esticando em torno da protuberância grossa e rígida.

— Não se preocupe comigo. — ele disse numa voz áspera, uma mão segurando seu quadril para mantê-la quieta. — Eu viverei.

— Está falando sério? — ela não podia acreditar no que estava ouvindo. — Vamos, Kellan. Se você vai se deixar ser usado, pelo menos deve receber algo em troca.

Ele pegou seu pulso em um aperto firme, detendo-a quando tentava agarrar o botão de sua calça jeans.

— Eu vou dizer isto pela última vez para ter certeza que está me ouvindo, Chloe. Você não está me usando. O que aconteceu entre nós... sim, você precisava. Mas não pense nem por um segundo que eu não queria que isso acontecesse. Eu queria tudo o que aconteceu entre nós e mil vezes mais do que isso.

— Então me deixe tocar em você. — Ela puxou o pulso de seu aperto e desceu do seu colo ficando de joelhos ao seu lado, depois pegou sua braguilha com ambas as mãos desesperada para chegar até ele.

Ele amaldiçoou algo cru e áspero, mas ela sabia que ele cedeu quando se inclinou para trás, apoiando seus ombros contra a parede.

Com o peito arfando, ele observou enquanto ela desajeitadamente puxava o botão e o zíper, os dedos tremendo com antecipação, sua visão ficando nebulosa com a luxúria quando conseguiu sua primeira boa olhada para ele. Seu pau era escuro e pesado, mais grosso e mais longo do que ela teria imaginado mesmo em suas mais sujas fantasias, mas ela não estava reclamando.

Como uma mulher poderia se queixar de algo tão sugestivamente masculino e incrivelmente belo? Ele fez um som grosso, gemeu quando ela embrulhou seus dedos ao redor dele em um aperto ganancioso, a Merrick praticamente ronronando com excitação.

— Oh, uau. — ela sussurrou, lambendo seu lábio inferior. — Eu não consegui uma boa olhada em você no domingo. Mas isto… só uau.

Ele soltou um latido rouco de riso que a fez sorrir, seu coração batendo num ritmo furioso enquanto ela cuidadosamente o explorava, hipnotizada pelos detalhes deliciosamente masculinos.

Um pesado arabesco de veias estava mapeado sob a pele de camurça suave que foi esticada sobre o eixo de duro como granito, e enquanto ela o tinha em suas mãos Chloe podia sentir a batida forte de seu coração pulsando contra as palmas das mãos.

— Merda. — disse ele espessamente, suas mãos apertando o fino cobertor da cama. — Mais apertado, Chloe. Você não vai me machucar. Aperte o mais forte que puder.

Ela fez como ele disse e era sexy como o inferno o jeito que ele começou a levantar seus quadris, empurrando seu pau através do rígido aperto das mãos dela.

Ela tentou não se permitir pensar sobre como sentiu no domingo quando ele pôs somente a cabeça dentro dela antes de se afastar, sabendo que ela enlouqueceria. Mas agora ela não podia parar, seu corpo contraindo, querendo desesperadamente ser preenchido.

Os lábios dele puxaram para trás sobre seus dentes revelando as pontas afiadas de suas presas, e ao contrário das dela, aquelas eram longas e grossas... e insanamente sexy. Chloe podia senti-lo ficando mais grosso em seu aperto, provando que mais um dos rumores que ela ouviu sobre os machos Lycans era verdade. Ela também podia cheirá-lo, tão quente, masculino e maravilhoso, aquela mistura deliciosa de sexo, suor e almíscar enriquecendo sua própria excitação. Ela passou sua língua em seu lábio inferior novamente, desesperada pelo toque e gosto dele. Incapaz de lutar por mais tempo, Chloe o agarrou firmemente na base larga e simplesmente foi para ela, seu grito áspero enchendo a cela quando ela se curvou sobre ele e passou a língua sobre a esticada cabeça molhada.

— Filha da puta. — ele gemeu, sua voz trêmula e rouca, e ela teria sorrido se pudesse, amando que estivesse dando prazer a ele.

Ela estava intoxicada pelo seu gosto e a sensação de sua carne rígida contra sua língua, emocionada pela forma como ele cerrava uma mão em seus cabelos, segurando-os para trás para que pudesse assistir. Ela não tinha ideia do que estava fazendo, sua experiência nesse departamento um patético zero, mas isso não importava. Entregando-se à Merrick, Chloe se moveu inteiramente por instinto, seus movimentos sensuais e felinos, como se tivesse instintos animais primitivos trabalhando dentro dela também.

— Porra. — ele rosnou, tremendo tanto que quase a derrubou da cama. — Chloe, Jesus. Eu não posso... não posso suportar isso.

Ela apertou a sucção de sua boca, silenciosamente dizendo que podia ter e ele pulsava em seu aperto, tão sexy, lindo e incrivelmente masculino, ela não podia suportar. Seus olhos queimavam enquanto ele a observava. Ela podia sentir a intensidade deliciosa de seu olhar como um toque físico e se perguntou se isso era uma coisa de lobisomem... ou uma coisa de Kellan. Ela não sabia... mas adorava. Amou as arremetidas que ele dava, o prazer vibrando sob a pele, cativante e escuro.

— Não vou durar. — ele respondeu asperamente, sua voz trêmula, suas coxas e abdomen tão rígidos que podia ver o contorno de cada músculo deslumbrante. — Tem certeza que está pronta para isso?

Chloe respondeu chupando-o ainda mais fundo e ele gozou numa onda de energia e calor escaldante, numa intensidade diferente de tudo que ela poderia ter imaginado, afogando seus sentidos em prazer.

Ela esperou até que os impulsos afiados finalmente se acalmassem, então pressionou um beijo carinhoso na tensa coroa inchada e levantou a cabeça, olhando para ele. Ele estendeu a mão, esfregando o polegar contra o canto de sua boca, as pálpebras pesadas, seus olhos nebulosos com satisfação enquanto ronronava.

— Acho que você acabou de fazer deste o meu melhor aniversário. Não há nem mesmo um segundo melhor.

Ela riu, mas o som suave desvaneu e desviou o olhar, corando.

— Agora você cora. — ele murmurou com uma risada rouca, acariciando seus cabelos.

Ela engoliu, querendo dizer algo... qualquer coisa, mas não sabendo que palavras escolher.

O silêncio se estendeu, o ar formigando contra sua pele e ela podia sentir o calor de seu olhar enquanto ele corria seu olhar na frente do seu corpo, tudo em exibição flagrante entre os lados escancarados de sua camisa.

Quando ela começou a tremer ele finalmente quebrou a tensão, dizendo:

— Eu gostaria de poder ficar aqui com você. Só te abraçar e dormir a noite toda.

— Eu também. — ela sussurrou, desejando que estivessem em qualquer lugar do mundo, menos ali, dolorosamente consciente que as próximas horas poderiam ser suas últimas.

Ela não se permitiu pensar sobre o que Westmore dissera antes, sabendo que iria pirar se o fizesse, mas não podia deixar de se preocupar com Kellan e Raine, aterrorizada que eles fossem machucados quando os três tentassem fugir.

Os músculos irresistíveis em seu abdômen se agruparam quando ele sentou, sua voz uma lima baixa e gutural quando disse.

— Estamos indo pra fora por volta das 4 horas da madrugada, já que parece ser quando há menos segurança. Não devemos ver ninguém antes disso, mas se alguma coisa acontecer e alguém vier aqui não deixe que vejam que já se alimentou.

— Certo.

— Quis dizer isso, Chloe.

— Não se preocupe. — ela murmurou, fechando sua camisa enquanto enrolava suas pernas ao lado. Querendo fazê-lo sorrir, baixou os cílios e provocantemente disse: — Você ficaria surpreso em como eu posso fingir bem.

Ele estava rindo quando se debruçou em sua direção colocando seu rosto perto do dela, sua grande mão enrolando em torno de sua nuca.

— Você não estava fingindo, querida, e tenho você pela minha mão toda para provar isso. E se estivéssemos em algum lugar seguro agora, em algum lugar privado, estaria por todo o meu rosto.

— Você é tão cheio de si. — ela riu, sabendo muito bem que ele provavelmente nunca a tocaria novamente agora que a Merrick foi alimentada. Mas isso não significava que seu desejo por ele era menos intenso.

Sua pele aqueceu sob o toque quente de seus lábios e ela sabia que ele podia ouvir o aumento da sua frequência cardíaca enquanto sussurrava em seu ouvido.

— Você gostaria de estar cheia de mim, não é, Chloe? Gostaria de saber qual a sensação de me ter embalado dentro de você, onde eu pudesse sentir cada arrepio e pulsar quando você gozasse. Issoo não é verdade, querida?

A Merrick silenciosamente ronronou de fome e ela sabia que estava perto de se perder.

— Se você... se você não quiser fazer sexo — ela disse vacilante. —, então precisa ficar longe de mim, Kell.

— Eu vou, mas só porque sei que é o melhor para você. — Ele pressionou um beijo carinhoso ao lado de sua garganta, em seguida se afastou dela, levantando-se enquanto erguia sua calça jeans e ela prendeu a respiração quando lhe deslizou um olhar ardente. — Mas assim que estivermos fora daqui, você não estará mais me afastando. Eu vou foder você a cada chance que tivermos.

Uau. O cara sexy era insano. Só de ouvir as palavras deslizando de seus lábios sensuais quase a fez gozar. Chloe apertou suas coxas tentando esconder sua reação, sabendo que ele estava certo sobre não ser a hora ou lugar, com Westmore e seus subordinados podendo estar com eles a qualquer momento.

E com o pensamento de seus inimigos sua excitação sumiu, substituída pela raiva, medo e repulsa. Ela desejou que fosse o tipo de bruxa que pudesse usar magia como uma arma, porque teria adorado nada além de fritar a bunda bajuladora de Westmore.

— Kellan! — ela gritou, enquanto ele atravessava a cela.

Olhando para trás por cima do ombro, ele disse.

— Sim?

— Se nós morrermos, eu só… quero que saiba o quanto apreciei o que fez por mim e minha família.

Suas sobrancelhas se juntaram sobre os olhos da cor do mar caribenho, a luz do fogo tocando lindamente entre os fios vinhos escuros de seus cabelos.

— Nós não vamos morrer. — disse ele em voz baixa.

— Sinto muito. Não pretendia parecer rude. Sei que você fará o seu melhor, mas se há uma coisa que aprendi durante os últimos meses é que nada nunca é garantido.

Ele olhou para ela através da distância da cela, sua expressão uma mistura de frustração... e algo que parecia incrivelmente com determinação profunda da alma.

— Você não tem muita fé em mim e entendo isso. Quer dizer, nunca fui o tipo de cara que inspira muita fé nas pessoas. Mas isso mudou. Não vou desapontar você, Chloe. Sou algo que se pode contar e tudo sairá bem. Vai ser melhor do que bem. Você entendeu isso?

Sentindo-se como se estivesse em transe, ela balançou a cabeça, olhando-o enquanto ele fazia o seu caminho para fora de sua cela — e apesar da temperatura congelante, o calor de seu olhar ficou com ela por muito tempo depois que ele se foi.

 

Acampamento base dos Sentinelas, Wasteland

Terça-feira, 9 horas da noite

— Dekreznick está finalmente pronto para fazer sua jogada no Complexo.

Kierland Scott desceu do galho grosso que estava usando para seus levantamentos e virou o rosto para Aiden Shrader, um de seus amigos mais antigos e um companheiro Sentinela da unidade de Kierland. Tomando a toalha que Aiden lhe ofereceu, ele limpou o suor de seu rosto e perguntou:

— Quanto tempo?

— Achamos que ele irá atingí-los em algum momento entre três e cinco da manhã.

Havia uma ponta de tensão na voz do seu amigo que Kierland sabia que vinha mais do que apenas das notícias sobre Gregory DeKreznick. Aiden deixou Olivia e Jamie Harcourt, as duas mulheres mais importantes na sua vida, na segurança de Harrow House, na Inglaterra e veio sozinho. Deixar suas garotas para trás foi uma decisão difícil para o Sentinela tomar, mas Ade prometeu a Olivia que estaria lá para ajudar no resgate de sua irmã.

Claro, o fato de que os feitiços lançados sobre a região tornavam a tecnologia ineficaz e os celulares inúteis ali dentro só deixava Aiden muito mais frustrado, já que não podia ligar pra casa para verificá-las.

Isso também significava que todo mundo lá no acampamento base estava completamente desligado do resto do mundo, tornando impossível entrar em contato com Quinn e os outros.

— Você está certo que é Gregory? — Kierland perguntou, esfregando a toalha contra sua nuca.

A boca do metamorfo de tigre estava curvada com um sorriso, mas um que só Aiden conseguiria fazer, parecendo ao mesmo tempo meio malvado e feliz.

— Tenho certeza.

Antecipação ondulava pelas terminações nervosas de Kierland e ele lutou para manter a calma. Os últimos dias quase o mataram, enquanto ele e Morgan esperavam Kellan escapar do Complexo com a bruxa Merrick. Eles estavam observando por Gregory, depois que fora relatado que um Casus que correspondia a sua descrição estava viajando pela região, e presumiram que DeKreznick decidiu fazer sua própria jogada contra Westmore, já que o Kraven tentou mandá-lo de volta para Meridian.

Sabendo como seu irmão pensava, Kierland não tinha dúvidas que Kellan usaria o ataque do Casus contra o Complexo para fugir, e quando isso acontecesse eles estariam lá prontos para ajudá-lo.

— Quando você acha que devemos partir? — Ele perguntou, indo em direção a tenda de tamanho grande que dividia com Morgan.

Eles tinham uma estação de vigilância instalada num cume alto a poucos quilômetros a sudeste do Complexo que usavam para monitorar a fortaleza, mas o acampamento base estava mais ao sul, assegurando-lhes mais segurança. Agrupadas em torno de uma cabana que era usada pelos Förmyndares, tendas foram instaladas para uso individual no acampamento, deixando a cabana funcionar como uma área central de reunião.

Seguindo-o para dentro da tenda, Aiden disse.

— Deveríamos nos planejar para irmos ao Complexo em poucas horas. Teremos que manter a posição até que Gregory se revele, mas a neve ajudará a cobrir nosso cheiro.

— Parece bom. — Kierland tirou sua camisa suada, jogando-a no saco que reservaram para lavanderia. — Você pode pedir aos outros para se prepararem?

— Já fiz. — Aiden falou lentamente, sua expressão ansiosa como se estivesse realmente ansioso para a luta que viria.

Além de Aiden, eles também tinham Noah Winston e um jovem Lycan chamado Jamison Haley, bem como a ajuda da exilada família Sabin que residia em Wasteland. Juliana Sabin recentemente se tornou amiga de Kierland e Morgan e a vampira lhes ofereceu seu apoio total, até mesmo usando seus guardas pessoais como batedores para que pudessem reunir mais informações. E se tivessem sorte, Quinn e Seth estariam se juntando a eles em breve, bem como os irmãos Granger, o que significava que seus números seriam ainda maiores.

Juntos, eles montariam uma tremenda ofensiva contra Westmore e seus homens, mas ainda parecia que faltava algo sem Kellan lá.

Usando seus poderes, Saige Buchanan procurou pelas coisas de Kellan em seu quarto lá em Harrow House assim que ele desapareceu, tentando ver se podia saber alguma coisa para onde ele foi. A fêmea Merrick sentiu a inquietação de Kellan com sua vida e seu desejo de se redimir, assim como sua preocupação por todos eles, o que fez Kierland e os outros se sentirem uns merdas.

Eles estavam dando a ele um tempo duro desde sua trapalhada em Washington, e todo o tempo ele fora muito mais duro consigo mesmo. Agora, olhando para trás, Kierland não podia evitar sentir que ele deveria ter sido mais encorajador, em vez de um idiota tão agressivo e duro. Se tivesse, Kellan poderia ter confiado a ele seus planos para resgatar Chloe Harcourt e os irmãos poderiam ter trabalhado juntos, em vez de Kellan sair por conta própria e colocar sua vida nas mãos de um louco.

— Eu ouvi sobre Gregory. — Morgan disse de repente, arrancando Kierland de seus pensamentos quando entrou na tenda, o cheiro dela quente e exuberante instantaneamente atingindo seu sistema, aliviando sua tensão com uma ridícula facilidade.

Ela seguiu direto para ele, e seu coração gaguejou da mesma maldita forma que sempre fazia quando ela entrava num quarto.

Considerando que sempre foi um homem que trabalhou para manter um perfeito controle sobre suas emoções, poderia ter realmente estado preocupado sobre a Sentinela ter um efeito tão poderoso sobre ele, se não estivesse tão apaixonado por ela.

Enquanto ela se aninhava contra a lateral de Kierland, ela olhou para Aiden, dizendo:

— É uma coisa boa que você trouxe vários dos Marcadores com você. Com alguma sorte, vamos cuidar desse bastardo de uma vez por todas.

— Há outra coisa. — Aiden retumbou. — Juliana acabou de receber notícias de seus batedores que Seth, Garrick e Quinn estão em Wasteland. Eles os avistaram numa das montanhas. Parece que ainda estão há algumas horas de distância, mas devem chegar antes de sairmos.

Sentindo a tensão de Morgan, Kierland a puxou com mais força contra o seu lado, seu braço curvado em volta de sua cintura num aperto possessivo.

— Ashe e Gideon não estão com eles?

Aiden balançou sua cabeça e pelos próximos 10 minutos os três discutiram o que precisava ser feito antes que pudessem partir, então Aiden saiu para coordenar com os demais, deixando Kierland e Morgan sozinhos.

Pegando sua expressão perturbada, o Lycan perguntou:

— O que está errado, meu anjo?

Seus longos cabelos se espalharam sobre os ombros quando ela balançou a cabeça.

— Nada.

— Diga. — ele insistiu, puxando-a contra o peito.

Ela fechou seus olhos por um momento, então os abriu e disse.

— A verdade é que estou assustada.

Kierland correu a mão pra baixo em sua coluna num movimento suave, enquanto seu lobo ficou tenso de agitação, odiando vê-la chateada tanto quanto o homem.

— Do que você está com medo?

— No momento — ela suspirou, seus olhos cinzas perturbados e sombrios enquanto as palavras saíam dela numa pressa ofegante — parece que com tudo. Estou preocupada com Kellan e com o que aconteceu com Ashe, já que ele não está com Quinn. Estou preocupada sobre como todos estão indo lá na Inglaterra. Mas principalmente estou preocupada com você, esta guerra, os Marcadores e o que está pensando em fazer com eles assim que finalmente tivermos todos.

Mordendo de volta um sorriso, ele disse.

— Adoro isso de que se preocupe comigo, mas querida, se acontecer dos marcadores realmente serem as chaves que abrem o portal para Meridian como você sugeriu na semana passada, então não temos nenhuma escolha sobre o que fazer. — Ele levantou sua mão, enfiando um cacho de cabelo escuro atrás da curva delicada de sua orelha. — Nós os usaremos para entrar em Meridian e matar os bastardos, do jeito que deveriam ter sido mortos antes.

— Mas nem sequer sabemos onde Meridian está. — ressaltou ela em voz baixa.

Totalmente confiante ele murmurou.

— Nós o acharemos.

Ela abaixou os olhos para seu queixo e deu uma respiração profunda e instável.

— Então provavelmente deve saber que irei com você.

Só sobre o meu cadáver, pensou, seu maxilar endurecendo quando ela levantou o olhar e ele leu a determinação queimando em seus olhos.

— Não estou nem um pouco feliz sobre você indo comigo esta noite. — ele rosnou. — Então confie em mim quando digo que não existe uma chance no inferno que eu deixaria você entrar em Meridian para o confronto contra toda a raça Casus!

Ela ergueu seu queixo daquele modo desafiante que sempre o deixava duro e dolorido, embora ele soubesse que seria teimosa como o inferno.

— Podemos discutir sobre isso o quanto você quiser Kier, mas não fará nenhuma diferença. Planejo estar lá para ficar de olho em você, e não há nada que possa dizer para me fazer mudar de ideia.

— Isso não acontecerá. — ele respondeu asperamente, secretamente amando que ela era forte o suficiente para enfrentá-lo, mesmo que às vezes o expulsasse de sua mente sempre amorosa. — Estou totalmente preparado para brigar com você sobre isso, Morgan.

Seus lábios macios se curvaram num sorriso lento e provocante.

—Eu ainda vou ganhar.

Uma ova que irá, ele pensou, inclinando-se para reivindicar sua boca com um beijo duro e dominante, mas ela o deteve pressionando suas mãos contra o seu peito e Kierland podia dizer pela sua expressão que ela de repente se agarrou numa nova preocupação.

Respirando fundo, ele esperou enquanto ela perguntava.

— O que acha que o Consórcio vai fazer quando perceberem qual é o seu plano?

O Consórcio era uma espécie de Nações Unidas sobrenatural composta por líderes de cada um dos clãs remanescentes antigos, seu propósito era governar os clãs e manter a paz — e era para o Consórcio que os Sentinelas realmente trabalhavam. Ultimamente, porém, o Consórcio se tornou extremamente atolado na política e burocracia para fazer o que precisava ser feito. Embora eles devessem ter estado liderando a guerra contra os Casus, realmente decidiriam fechar os olhos para a situação e as tensões entre os líderes e unidade Sentinela de Kierland se mantinham elevadas.

Respondendo a sua pergunta ele disse.

— Pra ser honesto, eles provavelmente me despedirão.

— Isso não é justo!

— Não acho que a justiça seja algo que realmente lhes diz respeito. — Kierland apontou num tom seco.

A frustração amarrou suas palavras quando ela disse.

— Mas simplesmente não entendo, Kier. Por que eles não tomarão medidas contra os Casus?

— Porque estão preocupados com seus próprios traseiros? — Ele falou lentamente, dando de ombros. — Esperando para ver quem sai por cima? Inferno, neste momento, quem sabe o que estão pensando?

— Eles são idiotas. — ela murmurou. — A situação toda é ridícula.

— Estou começando a pensar a mesma coisa. — ele admitiu em voz baixa.

Ela olhou fixamente em seus olhos, estudando sua expressão.

— Conheço esse olhar. O que está pensando, Kier?

Imaginando como ela tomaria o que ele estava prestes a dizer, já que ela dedicou sua vida inteira à causa Sentinela, Kierland exalou uma respiração trêmula.

— estou cheio de dúvidas sobre o papel que estamos jogando. O Consórcio se tornou algo diferente do que era para ser.

— Oh, meu Deus. — A compreensão surgiu em seus olhos e ela ergueu as sobrancelhas. — Vamos começar uma revolução?

Ele amou o som daquele nós, sabendo que ela estaria sempre lá ao lado dele, nos bons e maus momentos.

— Precisamos conversar com os outros, mas pode ser a hora de rompermos os vínculos e seguirmos nosso próprio caminho. Inferno, não estamos seguindo as suas ordens como está. E temos capital para nos manter. Poderíamos também assumir o controle.

— Kellan nunca acreditará nisso. — Morgan murmurou com um sorriso. — Seu irmão perfeito planejando um motim. Eu sempre soube que lá no fundo você era um rebelde.

Kierland riu, embrulhando- a num abraço apertado e ela aninhou sua cabeça sob o queixo dele, seu tom se tornando grave quando ela disse.

— Sei que fui eu quem falou com você sobre impedi-lo de completar seu plano de ser capturado, mas quero Kellan fora daquele lugar.

— Eu também. — ele disse, descansando o queixo no topo de sua cabeça. — Confio em Deus que ele esteja pronto.

— Ele estará pronto. Eu só queria que pudéssemos ir atrás dele agora.

Escavando seu belo traseiro com as mãos, ele disse persuasivo.

— Sabe, já que ainda temos que esperar por um tempo, acho que deveria fazer algo para te ajudar a relaxar.

Ela tremeu, sua respiração saindo um pouco mais rápida, o cheiro quente e sensual do seu desejo inundando seus sentidos.

— Você sempre gosta de fazer amor antes de seguir para uma luta? — ela sussurrou e ele podia ouvir o sorriso em sua voz quando ela passou as mãos em suas costas, os músculos se contorcendo sob seu toque.

— Você me conhece. — ele respirou na concha macia de sua orelha. — Vou tomar cada desculpa que existe para colocar minhas mãos em você.

Envolvendo os braços em volta do seu pescoço, ela se levantou na ponta dos pés para trazer sua boca próxima à dele, seus olhos cinzentos pesados com luxúria e amor.

— Você não precisa de desculpa, Kier.

— Mas preciso de você. — ele gemeu em um sombrio e rouco deslizar de palavras, erguendo-a em seus braços e deitando-a abaixo em seu estrado. — Preciso de você mais a cada maldito dia, Morgan.

— Então é uma boa coisa que você me tem. A pergunta é, o que vai fazer comigo?

Ele agarrou a frente de sua calça jeans, seu lobo dançando de excitação quando ele arrancou-as do corpo dela.

— Podíamos falar sobre isso — ele rosnou, empurrando sua mão dentro da sua calcinha, seu pulso latejando quando ele a encontrou quente, escorregadia e molhada. —, mas acho que prefiro te mostrar em vez disso.

— Mmm. Amo o modo que você pensa. — ela gemeu sorrindo para ele, e com um riso estrondando baixo e perverso, Kierland baixou seu corpo sobre o dela…

 

Complexo Casus/Kraven, Wasteland

Quarta-feira, 4:00 da manhã

Por que algumas palavras vinham tão facilmente, enquanto outras eram tão difíceis?

Enquanto eles se preparavam para a fuga, havia tantas coisas que Chloe teria gostado de dizer ao Lycan andando em sua cela, mas as palavras estavam todas presas em sua garganta e ela não conseguia soltá-las.

A qualquer momento iriam partir. Kellan passou horas falando com ela e Raine sobre o plano, cobrindo uma contingência atrás da outra. Também informou às duas sobre como matar as coisas que eles provavelmente enfrentariam fugir. Já que os Kraven só podiam ser mortos por uma estaca de madeira através do coração, ele rasgou sua cama em pedaços, quebrou a madeira em pontas resistentes que podiam fazer o serviço. Foi um espetáculo de deixar o queixo caído, observar os músculos dos braços e ombros de Kellan destender e flexionar pelo trabalho físico, movendo-se sob a superfície lisa de suor de sua pele dourada esticada, e por aqueles poucos momentos felizes Chloe realmente esqueceu seu medo.

Isso rugiu de volta, entretanto, quando ele começou a falar sobre os Casus. Embora um Marcador das Trevas fosse a única forma de destruir a alma de um Casus, os corpos hospedeiros que ocupavam podiam ser mortos, enviando a sombra do Casus de volta para Meridian. Mas eles ainda eram incrivelmente fortes e as probabilidades eram altas que os monstros liberariam suas garras e presas mortais ao primeiro sinal de problemas, ou mesmo mudar completamente em sua verdadeira forma Casus.

Para tornar as coisas mais complicadas, Raine os alertou que Gregory logo estaria fazendo sua jogada — a notícia colocando Kellan ainda mais no limite, desde que Raine ainda não podia conseguir uma leitura clara sobre quem estava viajando com o Casus. Seu único consolo foi o fato de Raine ter visto o irmão e os amigos de Kellan próximos ao Complexo também, o que significava que teriam alguns guerreiros durões lutando do seu lado quando as coisas ficassem feias.

Sabendo que estes eram provavelmente os últimos momentos de privacidade que ela e Kellan teriam, Chloe finalmente respirou fundo e forçou as palavras que queria dizer.

— Tenho pensado sobre o que você disse ontem e existe algo que quero te dizer.

— Vá em frente. — Ele usava o seu habitual sorriso arrogante, sua posição casual quando parou no meio do piso e enfiou as mãos nos bolsos, mas ela podia ver a tensão que apertava os músculos de seu rosto como se estivesse mentalmente se preparando para um golpe.

Obrigando-se a manter seu olhar afiado e brilhante, ela disse.

— Você está errado sobre não inspirar fé nas pessoas. Pode ter sido egocêntrico no passado, mas você não é mais assim.

Um sorriso estremeceu o canto de sua boca enquanto ela observava uma onda de choque tocar sua expressão, seus olhos queimando mais brilhantes dentro da escuridão sombria.

— Em algum lugar ao longo do caminho acho que você cresceu, Kell. E fez um bom trabalho com isso também.

Ele continuou olhando para ela, sua expressão mudando constantemente, e ela podia dizer que queria dizer alguma coisa... mas não conseguia soltá-las, como se as palavras fossem difíceis para ele também.

Finalmente ele deu uma sacudida lupina de cabeça, como se livrando do momento e estendeu a mão, agarrando o cobertor que ele adaptou como um saco improvisado para levar as estacas de madeira.

— Você está pronta pra sair daqui? — ele perguntou numa voz baixa, jogando o saco por sua cabeça e ombro de forma que pendurasse diagonalmente através de suas costas.

Chloe assentiu com a cabeça e ele caminhou até a porta, perguntando.

— Raine, você está pronta?

— Oh sim. — a psíquica murmurou de sua cela.

Kellan empurrou a porta aberta e Chloe rapidamente abriu caminho em direção ao fogo crepitante na lareira, enrolando-se no chão frio a poucos metros diante dele. Usando as chaves ele abriu a cela de Raine, e no instante seguinte a psíquica começou a gritar para os guardas de pé do lado de fora da porta pedindo ajuda. Assim que a porta se abriu, Kellan se moveu para o canto nas sombras mais próximas debaixo da escada, esperando enquanto os homens desciam os degraus. Graças a Raine eles sabiam que dois soldados do Coletivo estavam de serviço aquela noite, e apesar do seu treinamento, os humanos não eram páreo para um Lycan de sangue puro.

— A Merrick está fora de sua cela! Peça apoio! — O primeiro soldado gritou indo em direção a ela, mas Kellan já estava agarrando a cabeça do sujeito. Com um puxão rápido, ele torceu a cabeça do guarda e quebrou seu pescoço. O segundo guarda começou a levantar sua arma, mas Raine correu atrás dele e quebrou a tigela de água sobre sua cabeça. Embora o golpe não o nocauteou, o surpreendeu os poucos segundos que Kellan precisava para chutar a arma de sua mão.

Resmungando uma maldição o soldado pegou a faca amarrada na coxa, mas antes que pudesse livrar sua lâmina, Kellan rapidamente agarrou sua cabeça e torceu, quebrando seu pescoço tão facilmente como fez com o primeiro. Pegando as armas dos guardas, Kellan enfiou uma na parte de trás da calça jeans mantendo a outra em sua mão.

— Vamos. — ele grunhiu, sacudindo a cabeça em direção as escadas. — Vamos embora.

Estava incrivelmente silencioso enquanto eles abriam caminho até as escadas e para um corredor escuro cuja única iluminação vinha de arandelas mal iluminadas que ladeavam a passagem, suas chamas lançando sombras estranhas contra as paredes de pedra. Chloe estava apenas começando a respirar um pouco mais fácil, pensando que realmente poderiam fugir sem qualquer problema, quando a súbita explosão de tiros e passos martelando deteve seu trajeto. Kellan empurrou ambas contra a parede, colocando seu corpo na frente delas, sua arma levantada e pronta para disparar.

— O que está acontecendo? — ela sussurrou.

Kellan ouviu por mais meio minuto e depois sacudiu a cabeça.

— Eu não acredito nisso.

— O que?

— Parece que Gregory está aqui.

— Ele está certo. — disse Raine, seu frágil corpo coberto com nada mais do que uma camisola fina, seus grandes olhos escuros de exaustão. — É ele.

— Você pode ter uma leitura de onde ele está? — Kellan perguntou a psíquica, mantendo sua atenção focada no ambiente.

Raine fechou seus olhos, sua testa franziu com concentração.

— Ele está atacando do oeste. — O Complexo era na verdade a forma de uma cruz, o nível subterrâneo onde eles foram mantidos localizado no braço sul, o que significava que Gregory não estava longe de sua posição atual.

— Então iremos para leste. — Kellan disse em voz baixa. — Vamos. Precisamos nos apressar.

Eles mudaram de direção, correndo através do que parecia um labirinto interminável de corredores. O tiroteio continuava a ecoar pelo Complexo, vindo agora de todas as direções e Raine disse a eles que os amigos de Kellan entraram na briga.

Eles tinham acabado de fazer mais uma volta num largo corredor de teto baixo quando se depararam com um grupo de homens de Westmore, e Chloe sabia pelos seus olhos azul-gelo que pelo menos três deles eram Casus. O outro tinha os olhos que estavam ardendo como brasas de fogo vermelho-sangue, e Kellan agarrou as estacas penduradas em suas costas.

— Pra trás de mim! — ele latiu justo quando o Kraven veio para ele, suas presas gotejando com saliva, e sangue espalhou quando ele apunhalou uma das estacas de madeira no centro do seu peito. Quando o corpo do Kraven caiu no chão os Casus liberaram suas garras e atacaram. Kellan conseguiu atirar num deles direto no centro de sua testa antes de um outro derrubar a arma de sua mão. Chloe assistiu em choque quando ele liberou suas próprias presas e garras, cravando-as na garganta do monstro e rasgando-o. Então ele girou pronto para acertar o último Casus, o sangue escorrendo de suas garras e cobrindo seu tórax.

Ela deveria estar apavorada à vista de violência tão brutal, mas sua parte Merrick estava muito orgulhosa para a reação humana tão fracote. Ela se regozijava na selvageria primitiva da proteção do Lycan, mais faminta que nunca por ele.

Ele ainda estava enredado na luta quando outro Kraven veio de direção oposta, seus olhos vermelhos ardendo com sede de sangue quando atacou Raine, abordando-a com tanta força que ela bateu no chão.

Friccionando seus dentes, Chloe agarrou uma das estacas de madeira que estavam agora espalhadas pelo chão e correu para o bastardo quando ele se agachou sobre Raine, sua Merrick em pleno vigor quando soltou um grito sanguinário e dirigiu a madeira fundo em suas costas, apontando para o coração.

Ele caiu sobre a psíquica prendendo-a ao chão, e Chloe ainda estava tentando empurrá-lo para o lado quando Raine gritou um aviso de que havia um outro Kraven atrás dela.

Antes dela poder girar, o Kraven agarrou o braço de Chloe, quase arrancando-o do lugar quando a rodou, seu sorriso sádico revelando as pontas de suas presas quando a puxou contra o seu peito.

— Estive te observando. — Sua respiração fétida quase a fez engasgar.

— Westmore te matará se me tocar! — ela rosnou, mantendo um olho em Kellan que ainda estava trocando golpes cruéis com o último Casus.

— Se eu matar você quando estiver farto — o Kraven disse com uma risada baixa. —, então Westmore nunca irá...

Seu regozijo foi interrompido quando Chloe puxou seu joelho para cima tão duro quanto pode, apontando direto para a virilha do bastardo.

— Sua putinha! — ele rugiu, batendo com as costas da mão em seu rosto e a mandando deslizando pelo chão. Sentindo gosto de sangue em sua boca, ela afastou os cabelos dos olhos bem a tempo de ver Raine afundar uma estaca nas costas da coisa, exatamente como Chloe fez momentos antes quando ela matou o outro Kraven.

Os passos trovejavam em cima deles, o som de tiros cada vez mais alto quando Chloe se levantou e procurou por Kellan. Quando seus olhares se encontraram, Chloe tentou gritar para ele para que soubesse que estava bem, mas antes dela ter uma chance o Complexo inteiro balançou com um tremor violento, o rugido aterrorizante de uma explosão vindo direto acima de suas cabeças e o teto cedeu entre eles.

Ela começou a gritar seu nome, mas um clarão de luz ofuscante encheu o corredor, e a próxima coisa que Chloe soube foi que ela estava voando pelo ar, o barulho ensurdecedor do som enchendo sua cabeça.

Em um torpor, ela se virou, apertando os olhos contra as nuvens de poeira enquanto lutava para enxergar.

— Oh, Deus. Por favor, estejam bem. — ela sussurrou, apavorada de que Kellan e Raine pudessem ter sido prejudicados pela explosão. Eles não estavam tão perto quanto ela, já que eles estavam no outro extremo do corredor, mas sabia como essas coisas poderiam ser imprevisíveis.

Levantando-se cambaleando, ela mal conseguiu ficar na posição vertical quando mãos ásperas seguraram seus braços.

— Não! — ela gritou lutando para se libertar, mas seu captor era muito forte.

— Cale a boca, sua putinha. — o homem grunhiu, tirando seu fôlego quando a jogou por cima do seu ombro. Ela bateu seus punhos contra suas costas tentando infligir tanto dano quanto pudesse, enquanto gritava a plenos pulmões, mas seus gritos foram sufocados num acesso de tosse doloroso quando ele correu para uma grossa parede de fumaça.

— Agarre os Marcadores. — ela ouviu alguns minutos mais tarde de uma voz que soava como a de Westmore. — Então me encontre no meu escritório privado.

O homem a segurando perguntou.

— O que faço com a Merrick?

— Tranque-a na biblioteca com os arquivos. Não a quero sendo morta antes de estarmos prontos para partir.

Chloe continuou a bater contra as costas de seu captor enquanto ele saía correndo galopando pelos corredores cheios de fumaça, mais explosões ensurdecedoras agitaram o Complexo enquanto ele abriu uma pesada porta de madeira e a lançou para dentro.

Luar filtrado por uma série de janelas altas iluminando uma sala cheia de livros com um teto abobadado e móveis escuros, os cheiros familiares de papel e couro pairando no ar.

Ignorando a dor em seu quadril, Chloe se levantou assim que a fechadura clicou, e imediatamente começou a olhar ao redor por qualquer coisa que pudesse ser útil. Ela estava confiante que Kellan estaria vindo atrás dela, mas enquanto isso precisava achar algo que pudesse usar como arma. Se Westmore voltasse por ela antes de Kellan poder alcançá-la, pretendia estar preparada.

O poder da Merrick estava se enfraquecendo, os eventos da manhã já levando seu efeito em sua força, mas de jeito nenhum ela os deixaria arrastá-la de lá sem lutar.

 

  LUB-DUB. LUB-DUB. LUB-DUB.

A batida profunda e ressonante do seu coração encheu a cabeça de Kellan, estranhamente desorientado enquanto abafava todos outros sons. Abrindo seus olhos, viu que a explosão claramente o derrubou, jogando-o pela lateral do corredor em ruínas até ele bater no chão e deslizar para o que parecia ser uma sala vazia.

Ele não podia acreditar que o Complexo foi equipado para explodir. Seu ombro esquerdo parecia como fogo e ele sabia, sem olhar, que ele foi gravemente queimado. Não que ele desse uma merda. Tudo o que importava era ter certeza de que Chloe e Raine estavam bem. Levantando-se sentiu um beliscão afiado em sua lateral e olhou para baixo para encontrar um pedaço de cinco polegadas de estilhaço perfurando sua pele. Rangendo os dentes, ele agarrou o aço dentado e puxou, um som gutural e grosso rasgando sua garganta quando se soltou.

Sangue escorria da ferida, mas ele ignorou, escolhendo seu caminho pelos escombros até que conseguiu voltar para o corredor, onde um monte de pedregulhos agora estava entre ele e o lugar onde ele viu Chloe pela última vez.

Gritando o nome dela Kellan se jogou na parede de escombros, o medo arranhando suas entranhas enquanto rasgava a pedra amassada com suas garras, seu peito arfando com respirações afiadas e irregulares.

— Está tudo bem, Kell. Ela está viva. — A voz rouca de Raine veio de algum lugar à sua direita e ele girou, tentando achá-la através da espessa e sufocante nuvem de fumaça. — A explosão não a matou. Mas… homens de Westmore… eles a levaram.

Furioso que Chloe foi capturada, Kellan seguiu o som da voz de Raine e lutou com o lobo pelo domínio quando ele tentou assumir o comando, sabendo que se cedesse a ele agora perderia todo o senso de razão, consumido pela sua ira.

Uma maldição afiada deixou seus lábios quando achou o corpo pequeno de Raine amassado no chão frio. Seu braço direito estava gravemente queimado, um corte profundo em sua testa escorrendo sangue. Assim que Kellan retraiu suas garras e caiu de joelhos ao lado dela, alguém se moveu para o corredor e ele rosnou mostrando suas presas, pronto para rasgar o bastardo em pedaços, quando uma voz familiar gritou.

— Ei, droga. Sou eu!

— Oh, merda. — Kellan amaldiçoou, percebendo que era Seth McConnell. — Nunca estive tão feliz em ver você, seu filho da puta.

— Seu irmão e a maior parte dos outros estão comigo — Seth disse, chegando mais perto. —, mas fomos separados quando as coisas começaram a explodir. Parece que Westmore tinha este lugar preparado para explodir e ele não dá a mínima se seus próprios homens são tirados no processo.

— Estão todos bem? — Kellan perguntou, pensando que o soldado estava parecendo mais duro estes dias. Mais bravo. Sua juba loira uma vez desgrenhada agora estava raspada quase até o couro cabeludo, seus olhos verdes escuros sombreados e cansados.

— Os outros estão bem, mas... — o soldado se agachou do outro lado do corpo de Raine. — porra, Kell. O que aconteceu com a sua bruxa?

— Esta não é Chloe. — ele explicou, olhando pra baixo para ver que Raine perdeu a consciência. Verificando seu pulso ele rapidamente disse. — Seu nome é Raine. Ela é a psíquica que Westmore estava mantendo prisioneira.

Esfregando uma mão sobre a boca, Seth perguntou.

— Ela foi pega numa explosão?

— Sim, e eu fui separado de Chloe. Você tem alguém que pode levar Raine para fora daqui por mim?

— Eu a levarei. — o soldado disse, sua expressão sombria quando ele examinou o corpo maltratado de Raine. — Estamos nos reunindo nos bosques a nordeste do Complexo. Posso levá-la até lá.

Desconforto se estabeleceu ao longo das terminações nervosas de Kellan.

Ele sabia que a razão de Seth ter se juntado ao Exército Coletivo na idade de quinze anos foi porque toda sua família fora brutalmente abatida por um ninho de vampiros desonestos — e foi o ódio de Seth para os Deschanel que alimentou seu compromisso com o Exército, até sua recente deserção.

Soprando uma respiração áspera, Kellan murmurou.

— Eu não acho que isso é uma boa ideia.

O olhar do soldado se fechou com o seu.

— Por que diabos não?

— Seth, cara, não é que não confio em você. Mas ela é parte Deschanel.

— Ela é uma vampira? — o soldado murmurou, suas sobrancelhas unidas enquanto segurava o olhar de Kellan.

— Sim. Uma que passou pelo inferno, então… ela não...

— Quantos anos ela tem? — Seth grunhiu o cortando. — Ela não parece ter mais que dezenove.

Perguntando-se que diabos sua idade podia importar, ele disse.

— Ela tem vinte e seis anos.

Seth começou a pegá-la e Kellan estendeu a mão agarrando o braço dele.

— Está tudo bem. — o soldado disse numa voz baixa. — Eu não vou machucá-la, Kell.

Soltando-o, Kellan se levantou e empurrou o cabelo para trás do seu rosto, sua voz áspera quando disse.

— Apenas seja gentil com ela, cara. Como eu disse, ela passou por um inferno.

— Aqueles fodidos a machucaram? — Seth rosnou, cuidadosamente a colocando sobre seu ombro para que ainda pudesse segurar sua arma.

Kellan respondeu com um aceno triste, impaciente para continuar com sua busca por Chloe.

— Você viu Gregory? — Ele perguntou.

— Ainda não. Mas algo misterioso como o inferno está acontecendo por aqui.

— O que quer dizer?

—Eu cruzei com cerca de vinte Casus até agora e parece como se tivessem sido cortados, um após o outro. Como diabos Gregory está fazendo isto sozinho?

— Eu não sei. — ele murmurou, alcançando a arma enfiada na parte de trás da calça jeans e verificando o pente de balas. — Mas tenho que encontrar Chloe. A explosão nos separou e Raine me disse que os homens de Westmore a pegaram.

Seth balançou a cabeça.

— Você sabe, é um dia triste quando um cara não pode manter o controle de sua própria mulher.

Olhando o buraco sobre sua cabeça que foi feito quando o teto desabou, Kellan disse.

— Cai fora. Você não tem sequer uma mulher.

— Não é verdade. Tenho várias. — Seth murmurou. — Só não estou interessado em manter nenhuma delas.

Enquanto enfiava a arma de volta em seu jeans, Kellan prendeu o soldado com um olhar duro.

— Olha, sei que está tentando me manter aqui até o auxílio chegar, mas isso não vai acontecer. Eu não tenho tempo para esperar.

Os olhos de Seth se estreitaram com frustração.

— Qual é, cara. Você está em má forma e nem mesmo está vestido para o clima lá fora. Se ficarmos juntos há um pacote de suprimentos escondido fora do Complexo que podemos te dar. Portanto seja inteligente e espere pelos outros.

— Não há tempo. Nem sequer lhe dei uma das armas. — ele rosnou, sabendo o que aqueles bastardos planejaram para ela. De jeito nenhum os deixaria mandá-la para Meridian para ser brinquedo de Calder.

Subindo sobre o pedregulho Kellan alcançou a borda recortada do buraco no teto, dizendo:

— Se eu não me encontrar com você na floresta nos próximos trinta minutos me prometa que você voltará por Chloe.

— Porra, Kellan. Você não pode...

— Só me prometa! — ele gritou.

Kellan esperou até que Seth deu um breve aceno de cabeça então se ergueu, seu ombro ferido doendo como uma cadela quando passou a perna por cima da borda, soltando seu corpo no chão do que parecia ser outro corredor cheio de fumaça. Doeu como o inferno da cabeça aos dedos dos pés, mas ignorou a dor, obrigando-se a se levantar, determinado a encontrar sua mulher.

Ela só será sua quando você a reivindicar, o lobo rosnou, fervendo de frustração.

— Cale a boca. — ele murmurou, pegando sua arma e disparando uma rodada de balas em dois soldados do Coletivo que de repente correram para ele de sua esquerda.

Antes ele estava tentando poupar balas, mas agora não tinha tempo a perder lutando contra os bastardos. Procurando pelo perfume de Chloe, ele se moveu em torno do buraco aberto que foi distendido pelo chão, pisando sobre os corpos mutilados do que pareciam ser mais soldados do Coletivo e partiu correndo.

O lugar era um labirinto de corredores, a fumaça das explosões fazendo a visibilidade malditamente quase impossível, sem mencionar a forma como estava ferrando com seu faro.

Tirá-la viva, pensou, sua mente consumida na caçada. Só tenho que tirá-la daqui.

Para Kellan isso era tudo o que importava. Sim, existiam algumas coisas que ele teria gostado de adicionar àquela lista, como matar Westmore e Gregory DeKreznick. Mas se ele tivesse que se contentar com uma última realização antes de morrer, seria fazer tudo para que Chloe saísse daquele inferno inteira.

Ele podia sentir o poder do lobo crescendo por ele, aquele instinto primitivo, visceral que o empurrava para o sucesso a qualquer custo. Sabendo que os sentidos do animal eram mais afiados do que os seus, Kellan deixou a besta subir para a superfície, até a beira de uma mudança completa e permitiu que o predador a caçasse. Quando ele girou um outro corredor, pegou um aroma fraco do seu perfume, como também o som distante de um grito e um grunhido baixo vibrou em seu peito, seus músculos queimando quando lançou as pernas abaixo no corredor.

Quando chegou a um cruzamento com outro corredor procurou por seu cheiro, mas não conseguiu encontrá-lo sob as nuvens de fumaça acre pairando no ar. Em seguida seus ouvidos captaram um ruído à sua direita e ele começou a correr novamente, seguindo um som distante de vozes que o levou a uma porta fechada no final do corredor.

Entrando repentinamente no quarto, encontrou Westmore em pé diante de um cofre de parede, empurrando dinheiro numa maleta de couro, seja quem for quem estava falando com ele já tinha ido. Agarrando o Kraven pela garganta Kellan o empurrou contra a parede, seus lábios se repuxando sobre suas presas quando rosnou.

— Onde está Chloe, seu filho da puta?

— Onde está Raine? — O Kraven atirou de volta, saliva saindo de seus lábios, seus olhos vermelhos queimando com loucura. — Ela está viva? Eu não posso acreditar que aquela putinha não me disse que Gregory não estava só. Onde ela está?

Ignorando suas perguntas Kellan bateu o Kraven contra a parede com tanta força que a parte traseira da sua cabeça abriu, o sangue escorrendo da pedra pálida em linhas sinuosas.

— Diga onde está Chloe — ele ferveu. — ou vou feri-lo de maneiras que você nem pode imaginar.

— Você não pode me machucar. — o Kraven zombou, puxando seu pulso de Kellan, mas ele não era páreo para a força do lobo.

Apertando ainda mais a garganta do bastardo, Kellan liberou a ponta da garra de seu polegar, pressionando-a contra a jugular de Westmore.

— Você acha que tem o monopólio da dor? Pense novamente, imbecil.

Com uma risada arrogante o Kraven disse.

— Você está desperdiçando seu tempo, Lycan. Os Marcadores já foram.

—Não dou a mínima para os Marcadores. — ele rosnou. —Tudo que quero é a garota.

Obviamente aquilo não foi o que Westmore estava esperando ouvir, seus olhos se estreitaram com descrença.

— Você está mentindo. Por que se importaria com a Merrick?

— Minhas razões não são da sua maldita conta. Só me diga onde ela está! — ele rugiu, batendo-o na parede novamente. — Do meu ponto de vista — Kellan rosnou, ficando cara a cara com ele. — posso te bater tanto que será alvo fácil para Gregory quando ele te encontrar. Ou pode me dizer o que quero saber e vou embora antes de quebrar suas pernas. A escolha é sua.

— Tudo bem! — O Kraven estalou, a raiva escurecendo seu rosto para um vermelho profundo. —Liberte-me e vou te dizer!

Relaxante seu aperto, Kellan permitiu que Westmore deslizasse parede abaixo até que seus pés tocaram o chão, em seguida baixou a mão e deu um passo atrás, o olhar selvagem em seu rosto advertindo o Kraven que era melhor não perder tempo com ele.

— Ela está na biblioteca. — Westmore disse, esfregando sua garganta avermelhada. — Está no braço norte do Complexo.

— Leve-me até lá.

Os olhos do Kraven se arregalaram.

— Com Gregory lá fora? Você deve estar...

— Leve-me até ela — Kellan rosnou, seu peito arfando enquanto apertava suas mãos aos seus lados. — e deixarei você ir embora. Mas de jeito algum você vai ficar longe de mim antes que eu a tenha.

— Está bem. — Westmore rosnou, agarrando a bolsa de couro que ele soltou no chão e colocando-a por cima do ombro. — Eu deveria ter matado você quando tive a chance. — ele resmungou baixinho se dirigindo para o corredor. Kellan ficou bem nos calcanhares do Kraven enquanto abriram caminho para a ala norte, finalmente parando na frente de uma pesada porta de madeira.

— Dê-me a chave. — ele exigiu depois de tentar a maçaneta e encontrá-la trancada.

Tiros soaram do andar de cima enquanto Westmore curvava seus lábios, dizendo:

— Eu não a tenho.

Chloe de repente gritou seu nome de dentro do quarto e Kellan deu suas costas para o Kraven, já nem sequer se preocupando com o bastardo, apenas vagamente ciente de Westmore fugindo enquanto ele pressionava ambas as mãos na porta, seus dedos apertando contra a madeira escura.

— Chloe! — Ele gritou. — Preciso que se afaste da porta, querida. Estou entrando.

— Entendi! — ela gritou. — Estou saindo do caminho!

Movendo-se para o outro lado do corredor, Kellan investiu primeiro com o ombro na porta batendo seu peso contra ela. A madeira estilhaçou com um estalo alto, gemendo em protesto e sua próxima tentativa a quebrou.

Com o coração disparado Kellan correu para o quarto procurando por Chloe, e então ela estava lá, atirando-se em seus braços, seu maldito coração perto de sair do peito.

— Kellan!— ela chorou, tentando abraçar, beijar e inspecioná-lo, tudo ao mesmo tempo. — Oh, Deus, eu estava tão assustada. Você está ferido? Oh, merda. Seu ombro!

— Não é nada. — ele rosnou, correndo as mãos pelos seus braços e os lados, tentando tocar cada parte dela que podia. — Mas e você? Você se machucou em algum lugar?

— Não. Não. Estou bem.

— Graças a Deus. — ele gemeu empurrando seu cabelo longe do rosto, incapaz de acreditar que a encontrou e estava ilesa. — Você me assustou muito, senhora.

— Onde está Raine? Ela está bem?

— Eu me encontrei com um dos meus amigos. — ele disse. — Ela está com ele.

— Seus amigos poderão nos ajudar a sair daqui?

Desejando ter melhores notícias, Kellan balançou a cabeça.

— Com todas as explosões que rasgaram este lugar, não sei nem se serão capazes de nos alcançar e não temos tempo para esperá-los.

Pegando em sua mão ele avançou em direção à porta, dizendo.

— Temos que conseguir sair por conta própria.

— Kellan, espere! Não podemos ir ainda.

Ele olhou por cima do ombro.

— O que há de errado?

— Há um velho cofre naquela mesa ali. — ela disse, puxando-o em direção ao fundo da sala, o cofre iluminado por uma vela grossa bruxuleante que ficava ao lado dele. — Acho que os arquivos estão trancados ali dentro.

O choque encrespou sua voz.

— Você quer dizer os arquivos antigos?

— É exatamente isso que eu quero dizer.

Os arquivos que foram criados pelo Consórcio original, foram perdidos durante os anos de guerra que se seguiu à formação do Exército Coletivo, não muito depois que os Casus foram encarcerados. Durante séculos o novo Consórcio procurou pelos documentos antigos que acreditavam conter informações valiosas sobre os clãs, mas no último outono a Unidade de Sentinelas de Kellan soube através de Seth que o Coletivo já havia encontrado os arquivos.

De fato, eles acreditavam que foi o desejo de Westmore em ter acesso aos documentos antigos que fora a principal motivação por trás de sua parceria com o Coletivo.

— Embora tenho certeza que os outros gostariam de colocar suas mãos neles — ele disse depressa, lançando outro olhar em direção ao cofre. — teremos que voltar depois por eles. Preciso te tirar daqui.

Ele podia dizer pela sua expressão que ela não concordava.

— Mas os Casus poderiam voltar por eles antes de nós e não podemos deixar que isso aconteça.

Lutando por paciência, ele disse.

— Chloe, eles já os leram.

— Mas nós não. — ela discutiu, puxando a mão da sua enquanto começava a andar na frente dele. — Eu… eu não sei como explicar isto — ela disse em voz baixa, olhando em direção ao cofre. —, mas posso sentir algo lá, Kell. — Ela estremeceu e trouxe seu olhar de volta ao dele. — É como se houvesse algo ali que me chamando. Precisamos tentar arrombá-lo.

Ele calmamente amaldiçoou.

— Olhe. O que quer que esteja lá dentro não vale a pena arriscar sua vida.

Ela agitou sua cabeça, molhando seus lábios.

— Se isso nos dará respostas sobre os Casus, então você está errado.

Apoiando as mãos em seus quadris, Kellan mexeu sua mandíbula, um som denso de frustração roncou no fundo da sua garganta.

— Eu não gosto disso, Chloe.

— Você parece um pouco assustado. — ela murmurou, encarando o cofre novamente. — E não culpo você, Kell. Pra ser sincera, eu mesma estou um pouco assustada.

—Já aconteceu algo assim antes?

— Não, mas a Merrick — sua voz ficou um pouco mais rouca. — ela, uh, só ficou totalmente carregada ontem, então talvez isso tivesse algum tipo de efeito sobre mim. — Olhando de volta para ele, disse. — Nós podemos pelo menos tentar? Eu sei que não temos muito tempo, mas não posso sacudir esse sentimento de que estamos destinados a ter o que está lá dentro. E Raine me disse que você deve ser uma espécie de gênio quando se trata de coisas desse tipo.

Sufocando seu rugido, Kellan se aproximou do cofre antigo de ferro fundido, a altura acima da média da mesa tornando mais fácil para ele dar uma boa olhada com o que ele estava lidando sem ter que se abaixar.

Movendo-se ao lado dele, ela perguntou.

— Você pode abri-lo?

— Você achou qualquer coisa que eu pudesse usar para entrar aqui? — ele perguntou, apontando para o pequeno buraco da fechadura situado no meio da porta do cofre.

— Aqui. — ela disse, alcançando no bolso de sua camisa e dando três clipes de papel. — Achei estes quando procurei na sala junto com alguns fósforos e a vela.

— Perfeito.

Colocando um dos clipes sobre a mesa Kellan endireitou os outros dois, em seguida se inclinou e inseriu suas pontas no buraco da fechadura.

— Como você sabe como fazer isso? — Ela sussurrou o observando manobrar o metal enquanto ele cuidadosamente manipulava os mecanismos internos da fechadura.

— O que posso dizer? Eu sou naturalmente bom com as minhas mãos. — ele respondeu num sotaque preguiçoso.

Ela bufou uma risadinha suave e ele escondeu o sorriso. Alguns minutos mais tarde um tique alto ecoou da fechadura e a frente do cofre abriu.

— Bom trabalho. — ela disse e ele podia ouvir o tremor de excitação em suas calmas palavras.

— Certo, vamos ver o que temos. — Alcançando do lado de dentro Kellan retirou o que pareceu ser uma pilha grossa de documentos embrulhados em algum tipo de plástico antigo.

— Huh. Pra ser sincera — ela murmurou, observando enquanto ele colocava o pacote sobre a mesa. — estava esperando algo um pouco maior.

Passando a mão pelo rosto ele soltou uma risada rouca que a fez o interrogar com um olhar.

— Sinto muito. É só que estou realmente feliz que nunca ouvi estas palavras em particular dos lábios de uma mulher antes. Especialmente quando sou o único homem na sala com ela.

Chloe revirou seus olhos.

— Haha. Você é tão engraçado.

— Vamos lá. — Kellan falou com voz arrastada, deslizando um sorriso torto. — Você jogou essa direto no meu colo.

O canto de sua boca estremeceu, mas seu sorriso desapareceu quando ela voltou sua atenção para o que ele esperava com certeza fossem os arquivos verdadeiros, considerando o tempo que desperdiçaram para conseguí-los.

— Você se importa se os abrirmos depressa? — Ela perguntou. — Sei que parece loucura, mas quero ver se existe um diário aí dentro.

Sabendo que já tinha perdido muito tempo Kellan sufocou uma maldição, tentado a simplesmente jogá-la por cima do ombro e começar a correr.

— Pode esperar até estarmos fora deste lugar?

No seu olhar suplicante ele suspirou e puxou o plástico, olhando através das páginas amareladas até que puxou um volume de couro fino, com bordas desgastadas.

— Este é o único que pude encontrar.

Ela estendeu a mão, colocando-a no pequeno diário, em seguida rapidamente concordou.

— É isso aí. É esse!

— Ótimo. — ele murmurou se perguntando que diabos estava acontecendo enquanto escorregava o diário de volta para o plástico.

Lançando um olhar rápido em torno da biblioteca, Kellan pegou uma mochila que foi deixada no canto e rapidamente deslizou os arquivos dentro, então enganchou uma das tiras por cima do ombro. Empurrando o queixo em direção à porta, ele disse:

— Agora vamos dar o fora daqui.

— Sei que você deve pensar que sou louca Kell, mas obrigado por fazer isso por mim. — Ela começou a se afastar da mesa, então de repente balançou se agarrando na borda. — Uau.

— Você está bem?

— Sim. — ela sussurrou pressionando a mão na testa. — Desculpe. Eu apenas... fiquei um pouco tonta.

Soltando a mochila Kellan se aproximou e levantou o queixo dela, estudando seus olhos. Eles já não brilhavam com o poder da Merrick, o cinza escurecendo como um banco de nuvens de tempestade rolando no horizonte.

Porra, ele podia ver o quanto ela se tornou fraca, a força que ganhou da alimentação que ele lhe deu já drenada depois de tudo que passou. A Merrick, faminta por tanto tempo obviamente precisaria de outra alimentação antes de estar em plena força — e Kellan precisava dela tão forte quanto possível se eles fugiriam de lá vivos.

Você sabe o que tem que fazer, o lobo sussurrou, sua voz gutural persuasiva e suave. Passando a língua sobre os dentes Kellan queria discutir com o animal, mas porra, o bastardo estava certo.

— O que há de errado? — Ela perguntou vacilante. — Parece que está prestes a me dizer que meu cachorro acabou de morrer.

Travando sua mandíbula, Kellan disse que pegasse a vela e agarrou sua outra mão, puxando-a por uma porta de conexão e para o que parecia um gabinete privado, a luz das velas cintilando contra as altas paredes forradas de livros.

— Eu não entendo. — ela sussurrou, ajustando a vela numa mesa de mogno brilhante que ficava no centro da sala. — Por que entramos aqui?

— Porque arrombei a porta na biblioteca. — ele explicou numa voz crua e áspera, fechando a porta e trancando a fechadura, antes de se virar para enfrentá-la. Ela o encarou, seu olhar nublado com confusão, esperando pelo resto de sua explicação. — Teremos que correr Chloe, e você mal pode ficar de pé.

— Eu sei. — ela passou a língua sobre o lábio inferior quando se encostou na escrivaninha. — Sinto muito. Eu vou...

— Shh. Pare de se desculpar. Não é culpa sua. Mas… — Kellan praguejou em voz baixa esfregando uma mão sobre os olhos e expulsou as densas e grosseiras palavras. — Cristo, eu odeio como o inferno colocá-la nesta situação, mas você precisa de outra alimentação. Uma forte.

Ela piscou, compreensão surgindo com um fluxo escuro de cor em suas bochechas pálidas.

—Você quer dizer… nesse momento?

Com seu olhar fechado no seu, Kellan cruzou a sala para ela.

— Eu não sei o que vamos enfrentar lá fora e com Gregory já aqui não podemos correr nenhum risco.

Ela molhou os lábios, sua expressão uma mistura de tantas emoções que ele não poderia dizer o que estava pensando.

Sentindo-se como um completo estúpido, já que a expectativa estava queimando pelas suas veias, seu pau completamente duro e dolorido, Kellan pôs as mãos em concha na sua bochecha esfregando o polegar em todo aquele brilho febril queimando sob sua pele de fada. — Chloe, eu sinto muito.

— Não sinta. — ela sussurrou, respirando rapidamente. E então ela o chocou como o inferno pressionando as mãos contra o peito, subindo na ponta dos pés e tocando seus lábios nos dele. — Está tudo bem. — ela disse contra sua boca, sua respiração suave, morna e doce. — Estou pronta, Kell.

Então ela o beijou novamente…

 

Ela o queria.

Segurando os braços de Chloe com as mãos trêmulas, Kellan empurrou suas costas até que pudesse ver seu rosto. O brilho morno da luz da vela iluminou seus olhos de pálpebras pesadas e úmidas, lábios entreabertos, o peito subindo e descendo com suas respirações trêmulas.

Ele viu esses sinais vezes suficientes para saber o que significavam, mas nunca se importou como naquele momento. Chloe sinceramente era o queria, e ele de repente estava tremendo mais do que jamais esteve com sua primeira mulher.

Calmamente, ela perguntou:

— Você... você quer que eu me vire?

Sabendo que ela estava pensando em como ele a virou de frente para a parede em sua cela naquela primeira vez em que a tocou, Kellan balançou a cabeça.

— Não desta vez. Quero poder olhar seus olhos.

Ela sorriu e o olhar de felicidade brilhando em seu rosto bateu como um soco em seu estômago. Sua besta a queria desesperadamente, mas essa coisa louca entre eles era muito mais do que luxúria. Mais do que apenas seu pequeno corpo sexy e aquele cheiro sedutor que o fazia querer comê-la viva. Ele queria tomar seu sangue dentro dele e sentí-la se derramar por seu sistema, reivindicando a posse de cada parte dele o fazendo dela — e sua besta queria o mesmo. As presas do animal já estavam pesadas em sua boca, mas se esforçou para trazê-las de volta não querendo assustá-la. Claro, ele se esqueceu do fato de que esta mulher não se assustava facilmente. Olhando para as pontas afiadas visíveis sob seu lábio superior ela sorriu, nem uma grama de medo em sua voz quando ela disse.

— Suas presas são maiores do que as minhas.

Ele deu uma gargalhada surpresa.

— Só me dê um segundo e serei capaz de retraí-las de volta.

— Não precisa.

Seu olhar que estava vagando pela provocativa cavidade de sua garganta disparou para cima, e seu sorriso largo esvaziou em outro sorriso deslumbrante enquanto estudava a expressão de seu rosto.

— Está tudo bem, Kellan. Não tenho medo de suas presas. Pode fazer o que quiser de mim. — As pontas dos dedos dela tocaram o calor febril em sua testa, seu toque macio quando ela escovou os cabelos dele para trás. — Eu tenho a sensação que vou gostar de tudo.

— Droga, não faça isso Chloe. — Um músculo pulsou em sua mandíbula tensa. — Você não quer soltar a besta da sua gaiola.

Seus olhos faiscaram.

— Claro que quero. Adoro animais.

— Oh, Deus. — ele gemeu, suas mãos se fixaram em seus quadris elegantes quando se inclinou sobre ela, descansando sua testa contra a dela.

Por um momento Kellan se perguntou se ela estava tentando afastá-lo com um ataque cardíaco, seu pulso batendo tão forte e rápido que não conseguia pensar direito acima do ruído alto dos batimentos. Respirando fundo ele passou sua língua sobre seu lábio inferior, lutando para se lembrar das coisas que precisava dizer.

— Eu… eu não machucarei você.

Suavemente ela disse.

— Eu sei, Kell.

— E eu, uh, não tenho nenhuma camisinha. — A voz baixa e rouca se situou fortemente no espaço entre seus corpos e ele se preparou para sua retirada.

Mas ela nunca veio.

Ao invés disso ela soou como se estivesse sufocando uma risada.

— Nossa, Kell. Estou realmente chocada que você não está melhor preparado. Quero dizer, por que diabos não fez uma parada rápida na farmácia local ontem à noite e pegou uma caixa de preservativos?

O tom leve e provocativo foi tão inesperado que puxou um outro som áspero do seu peito, e ele recuou a cabeça para olhar para ela.

— Eu não posso transmitir qualquer doença, só para você saber. Mas mesmo assim... sempre usei camisinha no passado.

Sua cabeça inclinou um pouco para o lado, seus olhos escuros com emoção, enquanto seu perfume provocante se levantou com o calor do seu corpo.

— Eu também. Mas deve saber que não estou tomando pílula ou qualquer outra coisa.

— Vou tirar. — Kellan forçou as palavras guturais a passarem através dos seus dentes cerrados, lutando para controlar a parte primitiva dele que a queria. Que ansiava por derramar sua semente quente no fundo do seu corpo, deixando-a com uma criança. Um pensamento atordoante, completamente do tipo “que diabos” ali — mas um que ele não podia negar. Se seu futuro fosse dele, Kellan não tinha dúvida que estaria fazendo tudo o que pudesse para ligar esta mulher a ele em todos os sentidos possíveis, entrelaçando suas vidas até que não pudessem ser dilaceradas.

—Não quero soar mandona — ela sussurrou. —, mas você precisa começar a se mexer com isso, porque estou quase te atacando.

Com outro riso rouco Kellan a ergueu sobre a escrivaninha resistente, a altura perfeita para o que ele tinha em mente. Seu coração estava batendo como uma maldita britadeira, quando ele pegou a arma escondida na sua cintura e a colocou sobre a mesa, suas mãos tremendo ainda mais forte quando começou a trabalhar nos botões de sua camisa, o tecido uma vez branco agora listrado com sangue e fuligem. Eles provavelmente pareciam como se tivessem acabado de sobreviver a algum tipo de desastre natural, mas ainda achava que ela era a coisa mais bonita em que já colocou os olhos.

— Não queria que fosse dessa forma pra você... para a nossa primeira vez.

Seu tom era quase arrependido quando ele desceu as taças do seu sutiã e varreu os polegares sobre os mamilos inchados, antes de ajudá-la a trabalhar sua calcinha sobre seus quadris, então puxando-as de suas pernas e as deixando cair no chão.

Pressionando entre suas coxas elegantes, ele moeu sua mandíbula quando ela colocou suas palmas contra seu peito, seus dedos explorando o corte de músculos sob a pele lisa de suor, e ele disse para se inclinar para trás e levantar os calcanhares na beirada da escrivaninha.

Ela seguiu seu comando irregular, espalhando e erguendo suas pernas enquanto se recostava sobre os cotovelos, a pose explícita descaradamente erótica, e quando Kellan olhou para os cachos escuros e a carne deliciosamente rosa que já estava brilhando com seus sucos, a dor em seu pau dobrou… e sabia que nunca esteve tão duro em toda a sua vida.

Seu olhar faminto e nublado seguiu o movimento de suas mãos quando ele alcançou o botão em seu jeans, abaixando o zíper seu pau surgiu do confinamento estrangulado do jeans quando ele o empurrou para baixo em seus quadris.

Seu pulso rugia em seus ouvidos quando ele agarrou o eixo pesado e vermelho em um punho fechado, a cor escurecendo quando ele apertou. Com um gemido baixo ele correu a cabeça inchada e tensa pelas suas dobras, então pressionou contra aquela entrada macia, trabalhando seu caminho para dentro, a sensação de seus quentes e escorregadios sucos embebendo seu pênis nu malditamente perto de fazer seu coração parar.

Ele apertou seus músculos, precisando empurrar duro e fundo — o lobo nele agarrando suas entranhas, exigindo isto — mas ela enrijeceu debaixo dele com um suspiro afiado e ele xingou em voz baixa.

— Porra, isso é muito perigoso. Você não tem ideia de quanto o lobo está perto de assumir o controle.

— Provavelmente tenho uma ideia melhor do que você pensa. — ela murmurou, olhando pra ele através do espesso véu de seus cílios. — Posso ver ardendo em seus olhos. Ouvir em sua voz. E isso não me incomoda, Kell.

Seus músculos tremiam, seu corpo coberto de sangue, cinzas e suor. Ele não tinha nenhuma dúvida de que parecia louco… selvagem, sua fome por ela predadora e crua, diferente de tudo que já conheceu, empurrando-o pra um lugar que ele não confiava.

— Porra, Chloe. — ele sacudiu sua cabeça, lutando para obter as palavras. — Sei que precisa disso pra se alimentar, mas não sabe em que diabos está se metendo. Eu… eu não quero ser a coisa que vai te machucar.

— Kellan, olhe para mim. — Ela esperou até que ele prendeu seu olhar ardente no dela, então disse. — Eu posso não ter o seu passado colorido, mas não sou inocente. Sou uma mulher adulta.

— Que teve um maldito amante. — ele rosnou, preso num inferno físico, com muito medo de empurrar mais fundo... e incapaz dese arrastar pra longe.

Estreitando seus olhos, ela disse.

— Eu não sou uma criança, Kellan. Então pare de surtar. Você não me vai assustar.

— Também não quero te machucar.

Palavras ásperas e guturais que continham mais do animal do que do homem. Não que ela parecia se importar.

— Sim, bem, algumas coisas boas valem a pena um pouco de dor. — ela ofereceu numa voz gentil, um sorriso tocando o canto de sua boca.

Ele não sabia se as palavras eram dela ou da Merrick, a criatura primitiva crescendo dentro dela e queimando em seus olhos luminosos, mas aquele sorriso de derreter o coração era todo Chloe, e isto o partiu, rompendo sua barreira.

— Não posso… não posso segurá-lo. — ele ofegou… tremendo… seu controle escapando…

Com um olhar suave e devastador de confiança ardendo em seus olhos brilhantes ela se deitou para trás, pressionando a palma da mão macia contra a batida do seu coração martelando e disse simplesmente.

— Então não segure.

No instante seguinte Kellan jogou a cabeça para trás e rugiu, um rosnado gutural rasgando do fundo do peito quando ele enfiou os dedos em seus quadris e se lançou nela, empurrando mais da metade de seu eixo grosso cheio de veias nas profundezas do seu corpo.

Ele amaldiçoou algo sujo e cru, puxando seus quadris para trás, em seguida se dirigiu ainda mais fundo, trabalhando mais de seu comprimento dentro dela, o prazer tão intenso que beirava a dor.

— Deus, Chloe. O modo que você me segura... juro que nunca me senti tão bem antes. — ele gemeu, e ela se encolheu em reação, não por qualquer desconforto físico... mas por suas palavras, e ele soube que ela estava pensando sobre aquela maldição sangrenta. — Porra, não faça isso.

— O que?

Apoiando os cotovelos em ambos os lados da sua cabeça Kellan debruçou seu rosto perto do dela, bombeando dentro dela, empurrando com estocadas duras e pesadas, até que finalmente enterrou cada polegada do seu pau dentro dela.

Então forçou a si mesmo a se manter fundo e parado, deixando-a se acostumar a penetração pesada quando disse.

— Isso é real, Chloe. Tão real quanto conseguir… e quis isso desde que coloquei os olhos em sua foto. — Ele abaixou sua cabeça pressionando seus lábios no canto do seu olho, em seguida na maçã de sua bochecha, seus cabelos úmidos roçando seu rosto. — E quanto mais tempo passo com você — ele rosnou, pressionando seus quadris mais apertados contra os dela, amando a forma que ela mordiscou seu lábio inferior —, mais eu quero isso. Não por causa de alguma maldição, mas porque você fundiu minha maldita mente. Você me entende?

Ela assentiu com a cabeça, sua respiração vindo mais rápido e ele pegou o jeito que ela jogou o seu olhar sobre a veia ao lado de sua garganta, seu sangue bombeando duro e forte. Puxando para trás seus quadris, ele deu um impulso profundo e longo, e disse com voz áspera.

— Está vendo algo que quer, pequena?

Quando ela lambeu os lábios suas presas brilharam na luz suave da vela e Kellan quase gozou naquele momento. Curvando suas mãos sob seus braços ele a puxou para ele, as pontas duras de seus seios escovando as placas pesadas do seu peito, e ele inclinou sua cabeça para o lado oferecendo-lhe a garganta.

Ela gemeu exalando uma respiração suave contra sua pele quente, e Kellan cerrou uma mão na parte de trás do seu cabelo pressionando sua boca mais apertada contra ele, enquanto a outra mão agarrava seu quadril, estimulando-a enquanto perdia a capacidade de manter isso devagar, seus quadris batendo contra ela.

Ela sacudiu sua língua contra sua pele então afundou suas presas profundamente perfurando a veia, e no segundo em que seu sangue bateu em sua língua ela começou a gozar, aqueles músculos luxuriantes convulsionando ao redor dele, puxando-o mais e mais fundo. Ela bebeu avidamente, um grito sufocado preso em sua garganta, e assim como antes aquele mesmo vento impetuoso fervilhou ao redor deles, o poder da Merrick pulsando contra seu corpo, queimando por toda sua pele.

Perdendo o controle Kellan a puxou para longe do seu pescoço e a empurrou para baixo sobre a escrivaninha, suas próprias presas se liberando duro e rápido, suas garras deslizando das pontas de seus dedos. Com um grunhido espesso que soou perigosamente como — Minha — ele afundou suas garras na escrivaninha arrancando a madeira, bombeando seu pau mais duro… mais rápido, a seta inchada engrossando ainda mais, até que ele mal conseguia se mover dentro das estreitas e macias paredes de seu sexo.

— Porra. — ele grunhiu, sua voz áspera… ofegante. — É tão bom. Não quero que isso acabe.

— Da próxima vez. — ela gemeu se arqueando embaixo dele, suas mãos pequenas fechadas em seu cabelo. — Da próxima vez você pode ficar dentro de mim a noite toda.

— Matenha esse pensamento. — ele sussurrou contra sua bochecha e então não pode mais falar, a pressão em sua seta demais para resistir. Com seus pulmões travados Kellan empurrou nela uma vez, duas e em seguida se afastou das apertadas profundidades líquidas de seu corpo. Retraindo suas garras, agarrou sua seta lisa esguichando em seu quadril, os jatos fortes de moer o queixo continuando sob o calor escaldante de seu olhar enquanto ela o observava socar seu pau.

— Uau. — ela sussurrou instavelmente quando ele finalmente terminou.

— Desculpe. — ele ofegou, lutando para respirar enquanto apoiava suas mãos perto de seus ombros. — Cristo, eu não queria encharcar você.

Um sorriso suave tocou seus lábios.

— Não se desculpe, Kell. Eu estaria mentindo se dissesse que não era criminosamente sensual.

— Você acha? — Ele perguntou, seu peito vibrando com um risada áspera.

— Oh sim.

— Droga. — ele gemeu, sacudindo sua cabeça enquanto se inclinava para a direita, abrindo a gaveta superior da escrivaninha na esperança de encontrar algo com que pudesse limpá-la. — Nunca gozei tão forte na minha vida.

— Eu, um, vou tomar isso como um elogio.

— Era definitivamente isso. — Kellan rugiu, finalmente encontrando um pequeno pacote de pano. Querendo beijá-la, mas não confiando em si mesmo para parar só nisso, ele cuidou depressa da bagunça que fez e entregou de volta sua calcinha, em seguida abotoou seu jeans enquanto ela fechava a frente da sua camisa.

Lançando um olhar rápido em torno do estúdio forrado de livros, ele correu a mão trêmula pelo seu rosto.

— Inferno. — ele gemeu. — Nunca vou olhar para os livros da mesma forma novamente.

— Nem eu. — ela admitiu com um sorriso tímido.

— Acho que também há uma chance muito boa que eu fique duro toda vez que sentir o cheiro de papel velho.

Ela deu um bufo delicado.

— Você faria bem em evitar bibliotecas então.

—Você provavelmente está certa. — ele devolveu com um sorriso torto, amando que pudessem ser agradáveis um com o outro depois de algo tão cru, violento e assustadoramente bom.

— Embora gostasse de mantê-la aqui comigo pra sempre, temos que nos mexer. Como você se sente?

Ela deslizou pra fora da mesa e se esticou, sua voz um estrondo baixo e sedutor de prazer quando ela disse.

— Como se pudesse encarar toda a raça Casus.

— Isto é bom. — Kellan silenciosamente rezou para que não chegasse a isso. — Agora vamos dar o fora daqui.

 

O cara ferrou sua maldita mente.

Uma forma extravagante de descrever o que aconteceu entre eles, mas a melhor que Chloe podia apresentar enquanto sua cabeça ainda estava se recuperando.

Ela achou que tinha uma boa ideia de como o sexo seria verdadeiramente incrível, mas não tinha nenhum indício. Foi muito mais rico e mais profundo. Mais áspero, mais quente e mais cru que ela jamais imaginou, o prazer tão intenso que parecia algo queimando e brilhante chamuscando por seu corpo, derretendo-a de dentro pra fora.

Ela adorou como sentiu Kellan dentro dela. Adorou sua respiração áspera em sua orelha. Aqueles sons animais ásperos que ele fez no fundo de sua garganta, e o rico e intoxicante gosto do seu sangue deslizando por sua língua. Tão quente. Tão bom.

Nunca se sentiu tão completa e cheia de vida, mas agora que a alimentação tinha terminado estava claro para Chloe que o poder vibrando pelo seu sistema veio com um preço. Descalço, de peito nu e machucado de suas brigas, Kellan Scott parecia como o exemplo perfeito de um quente bad boy, mas ela podia ver que o veneno em seu corpo esteve tomando seu pedágio.

Sulcos profundos se agrupavam em sua boca bonita, enquanto sombras horrendas escureciam seus olhos… uma dor profunda gravada nas linhas ásperas de sua expressão. Tanto o combate quanto o sexo fizeram com que o efeito do veneno se agravasse e ela sentiu uma punhalada aguda de culpa por ter achado tanto prazer num ato que poderia muito bem tê-lo enfraquecido.

Tomando sua mão ele a arrastou de volta para a biblioteca, uma dor deliciosa ainda pulsando entre suas pernas, o que a teria feito sorrir se ela não estivesse tão preocupada com a saúde dele.

Quando Kellan pegou a mochila que continha os arquivos, ele lhe disse que se encontrariam com seus amigos na floresta fora do Complexo, em seguida a puxou com ele para o corredor.

Eles não andaram mais do que vinte metros quando dois Casus entraram dobrando a esquina ainda em suas formas humanas, mas com suas garras e presas completamente liberadas.

— Chloe, volte! — Kellan rugiu, liberando suas próprias garras enquanto bloqueava o Casus atacante. Ele derrubou um dos monstros, mas um terceiro Casus veio em suas costas e ela sentiu um grunhido baixo vibrar em sua garganta, o poder primitivo da Merrick surgindo através das suas veias.

Movendo-se no que parecia ser um estranho tipo de movimento em câmera lenta, Chloe arrancou uma das pesadas arandelas de ferro da parede e martelou com isso no crânio do Casus, derrubando-o inconsciente.

Ela ainda estava segurando o candeeiro de ferro pesado em uma mão, de pé sobre o corpo caído do monstro, quando Kellan acabou com o outro e se virou para ela. Ela não sabia como ele reagiria, mas não estava esperando o sorriso lento e sensual que curvou sua boca, sua profunda voz rouca com orgulho quando disse.

— Essa é a minha garota. Você é uma pequena durona de primeira classe agora, não é, querida?

Ela riu lançando o candeeiro de lado, e eles depressa arrancaram corredor abaixo novamente, passagens girando e torcendo até que ela não tinha nenhuma ideia de que direção em que estavam indo, entretanto Kellan parecia confiante de que estavam no caminho certo.

Depois de alguns minutos entraram numa parte do Complexo que parecia muito mais velha do que o resto, com desgastadas vigas de madeira descendo do centro de um corredor estreito, segurando o que parecia ser um teto de pau-a-pique.

O corredor se agitava de vez em quando enquanto as explosões continuaram a balançar a fortaleza, embora, no momento, ela e Kellan estivessem muito longe da parte principal do Complexo para ouvir qualquer tiro. Olhando cautelosamente o teto desigual e as vigas, Chloe não estava prestando muita atenção nas salas pelas quais passavam, até que algo estranho chamou sua atenção quando passaram correndo por umas portas duplas abertas.

— Espere. — ela gritou, retirando a mão de Kellan. — Acabei de ver alguma coisa.

— Querida, nós não... — As palavras ásperas sumiram quando ela o puxou diante da porta e ele viu o altar à luz de velas que subia do outro lado da sala. — Que merda?

— O que acha que é?— Ela sussurrou, sua pele se arrepiando enquanto examinava a estrutura estranha que parecida ser feita de algum tipo de metal escuro, intrincados desenhos gravados em cada centímetro de sua superfície brilhante.

— Essas marcas parecem semelhantes àquelas nos Marcadores das Trevas. — ele disse baixinho.

Calafrios varreram a nuca dela.

— Isso é assustador.

Seu olhar caiu sobre a tigela que estava assentada no chão na base do altar em meio a um conjunto de velas grossas, o que pareciam ser vísceras ensanguentadas pairando sobre a beirada larga da tigela.

— Parece que fizeram sacrifícios de sangue. Acho que Gideon não estava mentindo quando disse a Kier que os Marcadores eram misturados com alguma merda do mal.

— O que você quer dizer?

Ele explicou depressa, contando a ela como os Sentinelas souberam recentemente graças a um vampiro chamado Gideon Granger, que depois do Consórcio original aprisionar os Casus em Meridian, os líderes, desesperados por uma maneira de destruir os monstros imortais realmente foram ao inferno, a fim de encontrar os materiais necessários para confeccionarem as poderosas cruzes. Os Deschanel acreditavam que havia dualidade em todas as coisas — aspectos tanto bom quanto mau, luz e trevas — e viram os Marcadores como um exemplo perfeito daquela convicção.

Embora fosse um conceito estranho, Chloe achou que fazia sentido quando se pensava nisso, considerando que os Marcadores das Trevas podiam proteger a vida... assim como tirá-la.

— Kellan. — ela murmurou, aumentando o aperto em sua mão. — Se as marcas no altar são as mesmas daquelas nas cruzes, então este altar deve ter algo a ver com o Casus. Poderia até ser o modo como Westmore se comunica com Calder em Meridian. Como algum tipo de telefone paranormal.

— Pode ser. — ele grunhiu, tensão vibrando através das linhas duras do seu corpo. — Vamos. Quero você bem longe dessa coisa.

— Sim. Eu também. — Chloe deixou que a puxasse quando começou a voltar para o corredor, e ainda estava pensando sobre o que ele disse sobre os Marcadores quando uma maldição gutural de Kellan a fez saltar, e a próxima coisa que soube era que ele estava jogando a mochila no chão e a empurrando para trás de suas costas. Seus ombros e braços agrupados em duros músculos quando ele liberou suas garras uma vez mais, um grunhido baixo roncando no fundo de sua garganta.

Perguntando-se com que tipo de monstros ses chocaram agora, Chloe espiou em volta do seu ombro largo, uma ponta de medo deslizou pela sua espinha quando avistou um homem e uma mulher de pé na outra extremidade do estreito corredor.

O homem era alto, com grossos cabelos castanhos com mechas claras e os olhos azul-gelo dos Casus, mas foi a mulher que captou sua atenção. Ela era pequena, mal alcançando o ombro do Casus, com massas de cabelo dourado ondulado que chegavam até seus quadris, os cachos espessos emaranhados e selvagens ao redor de um rosto tão magro que parecia como se fosse nada mais que pele e ossos. Em algum momento a mulher fora provavelmente bonita, mas agora era nada mais que uma concha, sua expressão sem emoção, como se não sentisse absolutamente nada.

— Sinto muito interromper sua pequena fuga — o Casus falou com voz arrastada. —, mas você tem algo que me pertence, Sentinela.

Percebendo que este era Gregory, Chloe se pressionou mais às costas de Kellan, o medo torcendo seu estômago em um nó dolorido.

— É aí que você está errado. — Kellan rosnou. — A Merrick é minha.

Andando um passo mais perto o Casus ergueu suas sobrancelhas.

— Você é só um filhotinho. Realmente acha que teria alguma chance contra mim?

— Estou pronto para morrer tentando.

Gregory ergueu seu nariz e farejou, então endereçou a Kellan um sorriso duro e conhecedor.

— Eu posso cheirar o veneno em você, Lycan. Você já está praticamente morto.

— Então o que tem a temer?— Kellan rosnou, sua voz profunda crua com fúria quando avançou para o Casus.

— Cuide do problema canino. — Gregory murmurou para a loira. — Embora gostasse de lhe ensinar uma lição, eu não tenho o tempo.

A mulher ergueu uma de suas mãos com seus dedos pra cima, sua palma apontando direto para Kellan e seu corpo poderoso de repente estacou em seco, então voou de cara contra a parede, seus braços musculosos imobilizados dos lados.

— Que porra é essa? — ele rugiu, os tendões em seu pescoço tensos, enquanto os músculos em seus braços e costas tremiam sob sua pele morena. Ele obviamente estava tentando se mover, mas não podia. Era como se tivesse sido travado no lugar, e o medo de Chloe triplicou, quase fazendo com que se dobrasse ao meio.

— Chloe, pode se mover? — Kellan gritou, enquanto o olhar azul-gelo do Casus passava sobre seu corpo e ela estremeceu, desejando que estivesse usando algo mais que roupa íntima e uma camisa. — Chloe, porra, responda!

— Sim. — ela sussurrou, tentando engolir seu medo estúpido para que pudesse pensar em fazer alguma coisa. Ela não podia só ficar lá como uma idiota esperando que Gregory os matasse.

A voz de Kellan se agitou de ira.

— Então dê o fora daqui!

— Não vou deixar você. — ela disse e o Casus lhe endereçou um sorriso lento e provocador. Kellan estava rugindo pra ela correr, mas manteve sua posição se recusando a deixá-lo, sua atenção focada completamente em Gregory.

Ela não podia acreditar que este homem era a razão pela qual foi capturada. Se o olhar em seus olhos não fosse tão mau ele seria magnífico, como um daqueles modelos nos anúncios Armani que colocavam em todas as revistas de moda. Não tão bonito ou bem constituído como Kellan, mas não o tipo de cara que você esperaria ser um monstro desumano, de sangue frio, tampouco — e era fácil entender como estes bastardos podiam atrair suas vítimas humanas para que confiassem neles. Quando estavam escondidos dentro de hospedeiros humanos que pareciam como este aqui, sem dúvida, tornava-se mais fácil pra eles se aproveitarem dos inocentes.

Ele avançou, tirando Chloe de sua letargia, e ela depressa agarrou a arma que Kellan enfiou atrás de sua calça jeans. Ela não tinha ideia de quantas balas sobraram, mas planejava fazer cada uma delas contar quando apontou a arma para Gregory avançando um único passo.

— Impeça-a. — o Casus disse à bruxa, diminuindo a velocidade de seus passos.

A loira levantou sua mão esquelética novamente, mas nada aconteceu. Chloe deu mais um passo à frente, ignorando as maldições de Kellan quando ultrapassou a próxima viga de apoio que sustentava o teto, uma ideia de repente vindo a ela.

— Por que ela ainda está se movendo? — Gregory rosnou por cima do seu ombro.

A mulher abaixou a mão, sua sobrancelha franzida quando disse.

— Ela é uma bruxa.

— Uma sem nenhum poder! — Ele lançou as palavras na mulher, seu rosto ficando vermelho com fúria, e mesmo assim a expressão da loira não modificou.

Estudando Chloe com seus pálidos olhos sem emoção, ela simplesmente disse.

— Não. Isso não é verdade.

Ainda lutando contra suas amarras invisíveis, Kellan rosnou.

— Então ela é a razão de você conseguir sobreviver em Wasteland, não é Gregory?

Com um rolar arrogante de seus ombros Gregory pareceu se livrar da sua raiva, deslizando a Kellan um sorriso afiado.

— Ela é incrível, não é? Meu próprio pequeno exército de uma só mulher.

— Você está chantageando-a?

O Casus deu uma risada baixa e rouca, pressionando uma mão no centro do seu peito.

— É tão difícil acreditar que ela pode realmente defender minha causa?

— O que quer que ele prometeu a você — disse Chloe, cortando um olhar rápido em direção a loira. — é uma mentira. Você não pode confiar nele.

Gregory casualmente cruzou os braços sobre o peito, um sorriso ainda curvando sua boca enquanto Chloe chegou um pouco mais perto, suas duas mãos segurando a arma surpreendentemente estável, considerando que as palmas de suas mãos estavam úmidas e seu coração disparava como uma cadela.

— Você pode atirar em mim — ele ofereceu numa suave fala arrastada, soando como se estivesse realmente se divertindo. —, mas ela vai me curar novamente.

— Recue! — Chloe estalou, empurrando seu queixo em direção ao fim do corredor. — Vou com você, mas deixaremos Kellan aqui.

Olhando para ela com um olhar especulativo e faminto, o Casus seguiu seu comando, dando um único passo para trás.

— Mais um. — ela ordenou, rezando para que seu plano funcionasse, sua inspiração nascida dos eventos que aconteceram cerca de uma hora atrás. Ela passou por uma segunda viga de apoio, esperando ter colocado uma distância suficiente entre ela e Kellan.

Outros cinco passos a trouxeram para a próxima viga, o Casus permanecendo nem a quatro metros de distância. Respirando fundo, ela procurou dentro do seu corpo por qualquer faísca nova e desconhecida de poder, curiosa depois das palavras da bruxa — mas só havia a Merrick, e então Chloe relaxou o domínio que ela tinha sobre a criatura primitiva, soltando sua fúria visceral quando girou e enterrou as balas remanescentes da arma na viga. A madeira rachou e ela girou a arma em suas mãos, usando tudo o que tinha para bater a coronha contra o suporte que estava gemendo. Começou a se curvar poucos segundos depois de castigá-lo e Chloe virou depressa, correndo de volta em direção a Kellan tão rápido quanto podia, enquanto Gregory rugia de indignação, seus passos pesados ​​batendo contra o chão quando veio atrás dela.

— Está vindo abaixo! — a loira gritou e Chloe olhou para trás por cima do ombro a tempo de ver a mulher agarrando o braço de Gregory, em seguida o puxando de volta com uma força surpreendente.

Eles bateram no chão empoeirado e antes de DeKreznick poder se levantar, a viga estalou e uma parte do teto desmoronou, batendo no corredor numa grande quantidade de escombros e pó. Embora não se lembrasse de cair, Chloe se viu sentada de bunda no meio do corredor, e ela afastou os cabelos dos olhos assim como Kellan se separou da parede, o feitiço da bruxa obviamente quebrado.

— Não quero nem saber que diabos você estava pensando. — ele rosnou, puxando-a para se levantar.

Tossindo, ela disse.

— Eu estava pensando que estava salvando o seu traseiro.

Ele resmungou, em seguida pegou a mochila e agarrou seu braço, puxando-a de volta pelo caminho que eles vieram, o ar ainda espesso com pó, tornando difícil respirar.

—Temos que nos apressar. — ele murmurou. — Isto não vai segurá-lo por muito tempo.

— Como você se sente sobre sair por uma janela?

Olhando para ela, ele estalou.

— Onde?

Chloe virou a cabeça na direção em que eles acabaram de vir.

— Naquela última sala que passamos.

Sem uma palavra Kellan voltou, e dentro de minutos eles empilharam a mobília da sala numa plataforma improvisada que permitiu que rastejassem pra fora de uma das janelas altas que se alinhavam na parede oposta.

Era uma queda de aproximadamente três metros até o chão no outro lado, mas Kellan se apoiou na janela aberta, descendo Chloe até onde pode, antes de soltá-la num banco de neve. Sem sapatos e roupa adequados ela estava congelando, a explosão chocante de frio que rasgou através dos seus pulmões e a fez gritar, mas Kellan a ergueu em seus braços assim que ele caiu no chão ao lado dela, aterrissando numa graça animal perfeita que a teria tentado a elogiar se não estivesse tão miseravelmente congelada.

Chloe estava inconsciente quando chegou ao Complexo, então ainda não vira como era Wasteland. Olhando em volta enquanto Kellan a levou em direção ao lugar no bosque onde ele disse que seus amigos estariam esperando, ela não podia deixar de pensar que a região estranha debaixo do luar era extremamente confusa. Árvores que deveriam ser estéreis estavam ainda carregadas com folhas balançando na brisa gelada. A lua brilhava tão intensamente que a lembrou de um crepúsculo lavanda, os feixes brilhantes de luz cintilando contra o chão coberto de neve.

— Será que o s-sol nunca brilha a-aqui? — Ela gaguejou, seus dentes batendo tão violentamente que mal podia falar.

— Não muito, mesmo no verão. — ele retumbou com voz rouca, o vento frio chicoteando nos fios ruivos de seu cabelo. — Os feitiços que prendem os Deschanel exilados aqui dentro também escurecem a luz solar.

— Mas como tudo ainda pode c-cresce? Há árvores em todos os lugares.

— Você está aplicando as leis naturais da ciência neste lugar, mas não funciona desse jeito. Há tanta magia trabalhando aqui que você nunca realmente sabe com o que vai topar.

— Eu gostaria que eles pudessem ter f-feito algo sobre o vento.

Segurando-a mais apertada contra o peito, sua raiva anterior pareceu suavizar quando ele murmurou.

— Só mais alguns minutos e serei capaz de deixá-la aquecida, querida. Posso cheirar Seth e ele terá algumas roupas pra nós.

— Quem é Seth?

— O cara que tirou Raine do Complexo para mim. Ela foi atingida fortemente naquela explosão e perdeu a consciência.

Como se fosse impermeável ao clima brutal, o corpo de Kellan irradiava calor enquanto a carregava para a floresta espessa, e com certeza em poucos minutos se depararam com Seth e Raine.

O homem de cabelos loiros e olhos verdes envolveu um cobertor grosso ao redor da psíquica inconsciente, seu corpo pequeno enrolado em cima de outro cobertor que foi colocado sobre o chão. Um curativo já fora colocado sobre um corte em sua têmpora, um suéter grosso estendido sobre seu braço esquerdo e torso, enquanto Seth se ajoelhava ao seu lado, embrulhando algum tipo de gaze ao redor do seu braço direito ferido, um kit de primeiros socorros aberto ao lado dele.

Quando Kellan gritou uma saudação, o loiro bonito puxou um sinalizador de um pacote perto, em seguida disparou para o ar.

— O que foi isso?— Kellan perguntou.

— Para avisar aos outros que estou com você. — Seth explicou, passando um olhar rápido sobre Chloe antes de levantar seu olhar duro de volta para Kellan. — Agora podemos voltar imediatamente sem ter que esperar por eles.

Abaixando Chloe até a beirada do cobertor para que seus pés não tocassem o chão frio, Kellan embrulhou seus braços ao redor dela por trás, compartilhando seu calor do corpo enquanto perguntava.

— Onde está o meu irmão?

— Ele e Morgan estavam aqui — o humano respondeu retornando a atenção para sua tarefa, os vincos de tensão nos cantos dos seus olhos verdes escuros evidenciando que estava tentando ser o mais cuidadoso possível. —, mas assim que viram vocês dois saindo por aquela janela e souberam que estavam bem, saíram para seguir o rastro de Westmore.

— Quem mais veio com você?

— Aiden, Quinn e Garrick, bem como Noah e Jamison, mas eles vão voltar para o acampamento-base agora que já viram o clarão.

— E os Buchanans?

Seth balançou sua cabeça.

— Saige ficou pra trás para trabalhar nos mapas, e Molly e Hope estão ajudando-a, então Ian e Riley estão vigiando-as. Além disso também estão tomando conta de Olivia e Jamie, já que Ade não confiaria em nenhuma segurança de fora para o trabalho e de maneira alguma no inferno ele traria as duas para Wasteland.

Terminando com o braço de Raine, Seth se levantou e Chloe ficou surpresa ao ver que ele era quase tão alto quanto Kellan. Seth deslizou seu olhar curioso sobre seu rosto e Kellan disse.

— Chloe Harcourt eu te apresento Seth McConnell, antigo durão do Coletivo.

Ela enrijeceu com choque quando Seth estendeu e agitou sua mão, sua boca se curvou num sorriso torto quando ele notou seus olhos arregalados.

— Não se preocupe, Chloe. Agora sou um durão do lado de vocês.

— Então você, uh, viu a luz?

Com uma risada áspera ele falou lentamente.

— Algo assim. — Abaixando-se ele agarrou um dos vários pacotes que estavam assentados sobre o cobertor e o entregou a Kellan.

— Estas são algumas coisas que Morgan juntou pra você. Há sapatos e roupas para vocês dois, bem como alguns alimentos, água, uma faca e uma arma com cinco cargas de munição.

Pegando o pacote Kellan respondeu.

— Obrigado, cara. Você é um salvador.

— Você teve alguma dificuldade no caminho pra fora? — O soldado perguntou enquanto Kellan abria o pacote e dava a Chloe uma calça jeans e um suéter.

— Topamos com Gregory ali no final junto com uma mulher que o está ajudando. — Olhando para Chloe ele perguntou. — Você tem alguma ideia do que ela era?

Puxando o jeans que ele acabara de lhe dar, ela disse.

— Algum tipo de bruxa, acho.

— Por que ela não pode congelar você no lugar do jeito que fez comigo?

— Não tenho realmente certeza. — Chloe puxou depressa o suéter grosso, então sentou ao lado das pernas de Raine de forma que pudesse deslizar em um par de meias de lã pesadas que pareciam o céu em seus dedos frios, seguidas pelas resistentes botas de caminhada que Kellan achou na parte inferior do pacote. — Mas…

— Sim?— ele perguntou quando sua voz se perdeu num silêncio desconfortável.

Esperando que ele não fizesse mais suposições do que deveria, ela deu de ombros dizendo:

— É só que existem alguns clãs de bruxa cujos poderes não funcionam quando vão contra uma bruxa mais poderosa. Mas não faria nenhum sentido neste caso, porque a maldição Mallory restringe qualquer poder que eu de outra forma pudesse ter tido.

Seu olhar se fechou no dela escuro e intenso, queimando com algo que parecia estranhamente como triunfo.

— Faria todo o sentido se a maldição estiver finalmente chegando ao fim. — ele falou lentamente num suave raspar.

Sabendo que ela precisava falar que ele era louco Chloe respirou fundo, pronta para soltar seu argumento quando Seth os interrompeu, indicando com seu queixo a mochila que Kellan colocou no chão enquanto se vestia.

— O que há na mochila? — O soldado perguntou.

Kellan segurou o olhar dela por mais um momento lhe advertindo que a conversa não acabou, então olhou para Seth.

— Nós achamos os arquivos. — ele disse ao seu amigo, rapidamente deslizando numa jaqueta preta e agarrando a mochila, então atirando-a sobre o ombro.

— Você tem o diário que estava com eles? — Seth grunhiu.

Os olhos de Kellan se estreitaram, sua voz um pouco mais áspera quando que disse:

— Como você sabe sobre o diário?

— Depois que você desapareceu meus homens colocaram as mãos em um oficial do Coletivo lá nos Estados Unidos. Voei de volta na semana passada para conversar com ele. Levou uma eternidade para conseguir tirar qualquer coisa do sujeito, mas ele finalmente quebrou. Não podia nos dizer nada sobre este Complexo, mas nos contou sobre um diário que Westmore achou com os arquivos. Evidentemente foi deste modo que o Kraven descobriu sobre os mapas que levam aos Marcadores.

Chloe enviou ao Lycan um olhar presunçoso quando se levantou.

— Eu te disse que aquele diário era importante.

Ele respondeu ao seu olhar com um sorriso lento, de derreter os ossos que fez maravilhas pela sua temperatura corporal.

— Acho que você estava certa.

— Estou feliz que você tenha achado. — Seth disse numa voz baixa, ajoelhando-se para vestir Raine no suéter que estava estendido sobre o seu peito. Chloe se ajoelhou do outro lado da psíquica para ajudá-lo, os dois tentando não sacudir seu braço ferido.

— Eu estava esperando que topássemos com o diário no Complexo, mas nem sequer tive uma chance de dizer a todos sobre isso. — ele adicionou. — No segundo que Quinn, Garrick e eu chegamos ao acampamento de Kierland, partimos para este lugar.

— Por que vocês três não viajaram para Wasteland com Aiden e os outros?

— Nós tivemos que fazer um desvio rápido com os Grangers, então eles chegaram na nossa frente. — o soldado respondeu, agradecendo a Chloe pela sua ajuda antes de embalar seu material.

Alguns momentos se passaram antes de eventualmente Kellan dizer:

— Uh, Seth, você sabe que os Grangers são vampiros, certo?

O tom de Seth era seco.

— Acredite ou não, isso me ocorreu.

Arranhando seu queixo, o Lycan perguntou.

— E você está bem com isto?

Enquanto ele se levantava, o soldado deslizou a Kellan um olhar irônico.

— Não estou para passar uma hora no divã no momento, mas sim, estou bem com isto. Não vou dizer que estou completamente confortável com a situação, mas os Grangers parecem bons sujeitos. É muito ruim que eles perderam a ação aqui. Poderíamos tê-los usado.

— Onde eles estão agora?

Seth pegou a ponta de preocupação na voz profunda de Kellan e bufou.

— Cristo, eu não os matei. — ele ofereceu numa áspera fala arrastada, deslizando a bolsa com o kit de primeiros socorros em suas costas. — Eles tiveram algo pessoal que surgiu e foram cuidar, e quando estiver terminado devem se juntar a nós no acampamento base. Que é para onde precisamos ir, quanto mais rápido melhor.

— Lá é seguro? — Chloe perguntou, ajudando Kellan a dobrar o cobertor que ficou espalhado pelo chão depois que Seth ergueu Raine em seus braços, os cabelos da cor de mel da psíquica derramando sobre seu braço num longo caimento embaraçado.

Enquanto Seth colocava o corpo magro de Raine contra o seu peito, sua mandíbula apertou firme e Chloe não pode deixar de notar que sua expressão parecia um pouco… aflita.

— Não é Forte Knox — ele disse finalmente, respondendo à sua pergunta sobre o acampamento base, —, mas é mais seguro que qualquer outro lugar que pudéssemos alcançar hoje.

— Então é o acampamento base. — Kellan agarrou o último pacote, pegou na mão de Chloe e partiram juntos, o silêncio da floresta um alívio abençoado depois da manhã traumática.

Apesar do fato de que Wasteland era um lugar mortal e suas vidas ainda estavam em perigo, uma sensação de segurança se estabeleceu em seu sistema, e Chloe não podia negar que se sentia segura com Kellan ao seu lado. Ele lutou por ela, alimentou-a com seu corpo e seu sangue, seu toque tão possessivo quanto os olhares quentes que ele manteve deslizando em sua direção.

Ela só desejava que soubesse se sua fome era real.

E se fosse... quanto tempo duraria?

 

Acampamento base dos Sentinelas, em Wasteland

Quarta-feira, cinco da tarde

Levou um tempo enorme para o grupo de quatro alcançar seu destino, Kellan e Seth se revezando para carregar Raine durante as longas horas de caminhada, mas finalmente chegaram ao acampamento base no final da tarde. Enquanto viajavam Seth contou a Kellan e Chloe sobre o confronto que teve com os Caminhantes da Morte na segunda-feira à noite, explicando que as criaturas estavam ficando mais fortes com suas alimentações. Ele também contou sobre os humanos que os Caminhantes da Morte mataram na aldeia francesa, bem como aqueles que infectaram com suas mordidas, a notícia horrível enviando um arrepio de desconforto pela espinha de Kellan.

Já que Chloe nunca ouviu falar dos Caminhantes da Morte antes, Kellan contou a ela tudo o que os Sentinelas sabiam sobre as criaturas horrendas, até mesmo sobre sua preocupação que para cada Casus morto com um Marcador das Trevas outro Caminhante da Morte era libertado do inferno.

Quando ela perguntou se eles precisavam se preocupar com um ataque dos Caminhantes da Morte em Wasteland, Seth dissera que os outros não achavam que as criaturas seriam tão ousadas em tentar novamente. Aparentemente os Caminhantes da Morte foram espantados pra fora da região na semana anterior quando tentaram vir atrás de Kierland e Morgan. Mas só pra garantir, o soldado deu a ambos, Kellan e Chloe, um frasco da água benta salgada dizendo que era melhor errar tendo cautela demais.

Kellan também perguntou como Seth, Garrick e Quinn conseguiram chegar ao acampamento base tão rápido no dia anterior, considerando que levou dias para viajar através de Wasteland quando ele estava tentando chegar ao Complexo de Westmore, e Seth explicou que havia uma vampira Deschanel chamada Juliana Sabin que estava ajudando Kierland e Morgan. Aparentemente Juliana compartilhou alguns importantes atalhos geográficos com os Sentinelas, e Ashe Granger conseguiu passar essa informação para Seth e os outros antes de partir com seu irmão, Gideon.

Após os acontecimentos angustiantes da manhã e um dia tão longo e cansativo de viagem, o veneno estava esgotando Kellan, mas ele lutou para esconder isso do outros quando finalmente alcançaram o acampamento, fazendo o seu melhor para colocar um sorriso no rosto quando se reuniu com Aiden e Quinn.

Enquanto a maior parte do grupo estava um pouco chamuscada dos explosivos que Westmore acionou, eles tiveram sorte e conseguiram evitar ferimentos graves — e embora Kierland e Morgan ainda estivessem evidentemente perseguindo Westmore, Noah e Jamison retornaram ao acampamento base, mas estavam patrulhando o perímetro do acampamento. Kellan não podia acreditar que seus amigos permitiram que Jamison Haley viesse com eles, considerando que ele ainda estava aprendendo a lidar com suas recém-adquiridas características Lycan, mas de acordo com Aiden não havia como deter o cara.

Seth levou Raine que ainda estava inconsciente para a tenda que foi instalada para o seu uso pessoal, e Juliana Sabin, a Deschanel de cabelos escuros cuja família fora exilada em Wasteland, foi para ajudá-lo a tratar os ferimentos da psíquica.

Depois que Kellan apresentou Chloe para todo mundo, o grupo todo se juntou ao redor de uma fogueira que não produzia nenhuma fumaça — graças a um pó especial que Juliana borrifou sobre ele — ávidos para ouvir como os dois conseguiram sair do Complexo.

— Você topou com Gregory? — Quinn perguntou entregando a Chloe uma caneca de café fumegante, enquanto Kellan tirou a tampa da cerveja que Aiden tinha acabado de oferecer a ele.

Apreciando a queimação fria da bebida quando deslizava pela sua garganta seca, Kellan acenou com a cabeça, dizendo.

— Nós nos deparamos com ele pouco antes de nossa saída e ele não estava sozinho. Tinha uma loira com ele.

Aiden lançou a ele um olhar afiado de surpresa.

— Uma mulher?

— Sim.

— Cristo. — o tigre metamorfo resmungou, passando a mão tatuada pelo seu rosto. — Ele tem alguma namorada psicopata agora?

Kellan tomou outro gole de sua cerveja.

— Não tenho certeza por que ela estava lá — ele explicou limpando a boca com as costas de seu pulso. —, mas definitivamente estava ajudando-o.

— Ela era Casus? — A pergunta veio do segundo em comando de Seth, um soldado musculoso chamado Garrick que estava sentado do outro lado do fogo, entre Aiden e Quinn.

Balançando a cabeça Kellan disse.

— Nós achamos que ela provavelmente é uma bruxa. Usou algum tipo de poder para me fixar no lugar. Ela me prendeu contra a parede e eu não podia mover meus braços ou pernas.

Aiden soltou uma maldição áspera e Quinn murmurou.

— Então foi assim que Gregory deve ter conseguido cortar caminho para o Complexo. A bruxa estava simplesmente imobilizando qualquer um que estivesse no seu caminho.

— O negócio é — Kellan acrescentou, empurrando seu cabelo do rosto. — que eu acho que esse poder dela só funciona se puder ver uma pessoa, porque no instante em que o teto desabou nos separando, o encanto foi quebrado e eu podia me mover novamente.

— Por que o teto desmoronou? — Garrick perguntou, lançando outro galho no fogo.

Kellan deslizou um sorriso torto em direção a Chloe, sua voz profunda e rouca trazendo um rubor para as bochechas dela apesar do frio amargo do vento.

— Porque a pequena Merrick aqui desmoronou a viga de suporte do teto e acabou salvando o meu traseiro.

Aiden inclinou sua cerveja em direção a ela, um sorriso afiado nos lábios.

— Vocês mulheres Harcourt podem parecer delicadas — ele falou com voz arrastada. —, mas Deus ajude a qualquer um que irritar vocês.

Todos compartilharam uma risada baixa, o luar proporcionando um brilho prateado para o cenário rústico, enquanto a luz do fogo projetava sombras douradas sobre o grupo formidável de guerreiros.

Conforme o riso enfraqueceu, Quinn passou a mão no queixo sombreado dizendo:

— Eu me pergunto por que os batedores que trabalham para Juliana não viram essa mulher, ou bruxa, quando avistaram Gregory indo em direção ao Complexo.

— Se ela for poderosa suficiente — Chloe murmurou, sentando de pernas cruzadas no chão ao lado de Kellan, sua caneca de café entre suas palmas. — pode ter sido capaz de camuflar sua presença com um feitiço.

— A psíquica sabia sobre ela? — Garrick perguntou, parecendo tão exausto quanto o resto deles.

Kellan balançou sua cabeça novamente.

— Quando ele chegou mais perto do Complexo, Raine podia sentir que alguém estava viajando com Gregory, mas não podia conseguir uma leitura clara sobre quem era. — Sua voz encrespou, seu olhar penetrante enquanto olhava em torno do grupo. — Precisamos ficar atentos porque existe uma boa chance do bastardo estar vindo atrás de nós.

Garrick pareceu confuso.

— Mas ele não vai atrás de Westmore?

Terminando sua última cerveja Kellan deixou a garrafa no chão ao lado do seu quadril, então apoiou os braços em seus joelhos dobrados.

— Depende de quem ele decidir que precisa em primeiro lugar. — ele chiou.

As sobrancelhas amareladas de Aiden se distorceram numa carranca.

— Sobre que diabos você está falando?

— O que Kellan está tentando dizer — Chloe explicou, sua voz suave afiada com a tensão. — é que Gregory DeKreznick é o Casus que causou o meu despertar.

Um silêncio pesado caiu sobre o grupo, depois Aiden amaldiçoou enquanto enfiava os dedos tatuados através dos seus cabelos.

— Merda, isso é tudo que precisamos.

— Acho que há uma boa chance de que Westmore venha atrás de nós também. — Kellan adicionou. — Ele não vai ficar feliz em perder Raine e Chloe. — Lutando para conseguir controlar sua raiva explicou como o líder dos Kraven planejou enviar Chloe para Meridian, o que puxou mais uma rodada de maldições criativas do grupo, algumas delas frases que Chloe provavelmente nem sequer ouviu antes.

— Mas Raine não será capaz de nos dizer se Westmore está seguindo Chloe? — A pergunta veio de Seth que tinha acabado de sair de sua barraca, sua expressão sombria evidenciando o fato de que a condição de Raine não tinha melhorado.

O soldado ficou do lado de fora do círculo, um ombro largo encostado num pinheiro de tronco grosso, seus longos braços cruzados sobre o peito. Em resposta à pergunta de Seth, Kellan explicou que os poderes de Raine não funcionavam em Westmore e Quinn perguntou:

— Que outros pontos cegos ela tem?

— Pelo que entendi — Kellan disse a eles. — é difícil para ela ver aqueles de quem é mais íntima, como sua família.

— Porra. — Garrick grunhiu. — Isso deve ser frustrante.

— Ela pode ver aqueles que a atacaram? — Seth perguntou, as palavras guturais transbordando com violência.

Enviando ao soldado um olhar interrogativo Kellan deu um aceno lento, mas antes de Seth poder dizer mais alguma coisa, Aiden murmurou.

— Então mesmo que o velho Gregory vá atrás de Westmore primeiro, virá atrás de Chloe em seguida. Como Kellan disse, precisamos ficar atentos e estarmos prontos para qualquer coisa que ele possa ter planejado.

— Estaremos. — mais de um deles disse em resposta.

— Wasteland é um lugar traiçoeiro mesmo para aqueles que conhecem o caminho de volta. — Juliana Sabin murmurou, de repente se juntando ao grupo e se sentando perto do fogo.

Virando seu olhar cinza para Kellan ela perguntou.

— Como você conseguiu chegar ao Complexo de Westmore sem encontrar nenhum problema?

Estremecendo, Kellan raspou a palma da mão sobre seu queixo coberto pela barba.

— Não foi exatamente fácil. — ele admitiu. — Quando me deparei com alguns vampiros do ninho de Reyker, eu...

— Você cruzou as terras de Reyker? — Juliana ofegou, seus olhos cinzas arregalados com surpresa. — Mas… como conseguiu sobreviver?

— Eu, uh, fiz um acordo com eles. — ele ofereceu em voz baixa se perguntando apenas quanto a fêmea Deschanel sabia sobre os Reykers… e desejando que ele tivesse mantido sua maldita boca fechada.

— Que tipo de acordo?

A voz profunda de Kierland veio logo atrás dele, e Kellan sufocou algumas palavras bem escolhidas pelo seu sincronismo de merda, sabendo muito bem que estava prestes a começar a ser atormentado.

Olhando por cima do ombro, ele enviou um sorriso rígido para o irmão.

— Já era tempo de você aparecer.

Kierland deslizou um olhar curioso em direção a Chloe, então arqueou uma sobrancelha arrogante para Kellan.

— Você vai me apresentar ou apenas se sentar aí em seu traseiro?

— Senti saudade também. — Kellan murmurou num tom seco se levantando, então estendendo a mão de Chloe e a ajudando a se levantar.

— Ignore-o. — Morgan murmurou, sacudindo a cabeça para Kierland. — Ele só está irritado porque nós perdemos Westmore depois de persegui-lo por todo o maldito dia. — Com um sorriso cálido em seu rosto bonito a Sentinela jogou seus braços ao redor do pescoço de Kellan, dando-lhe um forte abraço enquanto lhe desejava um feliz aniversário atrasado, em seguida se virou para Chloe e lhe deu um abraço também, conversando com ela como se fossem amigas desde sempre.

Enquanto as mulheres conversavam, Kellan trincou o maxilar enquanto esperava que seu irmão se lançasse nele, mas ao invés disso Kierland o chocou como o inferno quando disse.

— Você conseguiu tirar Chloe e pelo que acabei de ouvir no meu caminho para o acampamento, conseguiu encontrar os arquivos também. Você foi ótimo, Kell.

— Isso foi realmente um elogio? — ele grasnou e Morgan sufocou uma risada pela sua expressão chocada.

— Pode não ter sido bonito —Kierland disse, batendo no seu ombro em um sinal masculino de bom trabalho. —, mas conseguiu o que se propôs a fazer.

Sentindo como se tivesse escorregado em algum tipo de realidade alternativa Kellan respirou fundo e se esforçou para processar o fato que seu irmão realmente parecia... orgulhoso dele, mas era impossível. Recordou muito claramente do olhar no rosto de Kierland quando os outros o deduravam cada vez que Kellan tinha ferrado as coisas no passado. Sem mencionar a reação de seu irmão quando descobriu sobre a monumental confusão em Washington.

Provavelmente sentindo que ele não tinha nenhuma ideia de como lidar com o elogio de Kierland, Morgan enviou a Kellan um sorriso compreensivo, em seguida agarrou o braço do seu irmão e o fez se sentar perto do fogo.

— Agora, o que você estava dizendo antes de nós o interrompermos? — ela perguntou, sentando ao lado de Kierland enquanto Kellan e Chloe também se sentavam novamente.

Lançando cervejas para Kier e Morgan, e então uma segunda para Kellan, Aiden disse.

— Kell estava se preparando para nos dizer que tipo de acordo que ele teve que fazer com alguns vampiros sórdidos enquanto estava a caminho do Complexo de Westmore.

Imaginando que pelo menos era melhor oferecer um pouco da verdade, Kellan pigarreou e disse.

— O acordo foi bem simples, realmente. Em troca de me permitir atravessar suas terras, tive que deixar um dos Reykers se alimentar de mim enquanto estava transformado. Acho que isso, uh, dá a eles um verdadeiro chute de poder.

Mais maldições murmuradas encheram o ar e Juliana virou um olhar preocupado em direção a Kierland dizendo:

— Os Reykers são relativamente novos em Wasteland, mas parecem ser ainda mais malignos que os Carringtons. Sem dizer que são extremamente venenosos. Se mordida, uma vítima envenenada pode não passar o veneno para o seu sangue, mas elas…

— Elas o que? — Kierland grunhiu, sua voz profunda rouca com preocupação. — O que uma de suas mordidas faz a um Lycan?

— Só fez eu me sentir doente como o inferno. — Kellan inseriu antes da Deschanel poder terminar sua explicação. — Mas isso foi tudo. Está dissipando mais a cada dia.

Juliana lhe endereçou um olhar estranho e ele deu uma sacudida furtiva de sua cabeça, em silêncio a advertindo para não dizer mais nada. Ela franziu a testa, mas não o contradisse, e Kellan rapidamente mudou de assunto, dizendo:

— Então Seth me disse sobre os Caminhantes da Morte, mas o que mais aconteceu enquanto estive fora?

 

Enquanto Quinn fez outro pote de café, Kierland atualizou Kellan nas coisas que ele perdeu, concluindo a história de como Noah foi atacado um pouco mais de uma semana atrás na aldeia logo ao sul de Harrow House.

Já que o humano ainda estava curando de seus danos, eles tentaram convencê-lo a permanecer para trás com os Buchanans, mas como Jamison ele recusou.

Claro, Kellan não ficou surpreso por não serem capazes de conseguir que Noah ficasse na Inglaterra, sabendo que o homem estava preocupado como o inferno com a sua família. Da forma como os Casus estavam saindo de Meridian nestes dias, era apenas questão de tempo até que alguém da família de Noah fosse usado como um hospedeiro, e ele sabia que seu amigo estava determinado a impedir que isso acontecesse.

— Se Noah estava se dirigindo à aldeia para encontrar uma mulher — Kellan disse terminando sua segunda cerveja. —, então por que simplesmente não levou Jamison com ele? Dessa forma eles poderiam ter vigiado as costas um do outro.

— Ele tentou — Quinn murmurou. — dizendo ao garoto que seria bom para ele, mas Jamison não estava interessado. Acho que ele ainda não tem certeza sobre... você sabe, toda a coisa de lobo quando se trata de sexo.

Jamison Haley era um colega acadêmico de Saige Buchanan e os dois muitas vezes trabalharam juntos em escavações no passado, pois Saige era uma antropóloga e Jamison um perito em arqueologia. Quando Saige descobriu o segundo Marcador das Trevas no Brasil, ela pediu a Jamison para levar a cruz poderosa para o Colorado por ela, mas Spark o capturou antes dele alcançar seu destino.

A assassina entregou Jamison para Westmore, que permitiu a Gregory DeKreznick, que na época estava trabalhando para o líder do Krave, torturá-lo para obter informações sobre Saige e os Sentinelas. Jamison se recusou a falar e quando os Sentinelas o acharam ele estava quase morto. Sem outra escolha, Kierland mordeu o humano o transformando em um Lycan, a fim de salvar sua vida.

— Ele já fez sua primeira mudança completa? — Kellan perguntou sabendo que Kierland tinha trabalhado com Jamison, tentando ensiná-lo a se entregar ao poder do lobo.

— Oh, sim. — Aiden respondeu com um sorriso. — Você dificilmente o reconhecerá. A mudança deve ter acrescentado uns 22 quilos extras de puro músculo nele, sem falar alguns centímetros de altura.

Kellan disse que não podia esperar para ver isso, e depois de compartilharem uma risada silenciosa Kierland voltou a sua atualização.

— Com a ajuda das unidades Sentinelas estamos emprestando os Marcadores. — seu irmão continuou a explicar. — Alguns dos Merricks recém despertados foram capazes de remover mais alguns Casus.

— Isso não significa que mais Caminhantes da Morte vão atravessar? — Chloe perguntou, soando mais que um pouco preocupada.

— Sim, mas não podemos deixar de abater o maior número de Casus possível. — Kierland explicou. — Precisamos pensar sobre esta guerra em duas etapas. A primeira etapa é eliminar os Casus. Então, quando isto estiver feito, acharemos um jeito de lidar com os Caminhantes da Morte.

— Entre outras coisas — Kellan murmurou. —, Seth me contou sobre os aldeãos na França. Tenho um mal pressentimento que esta coisa com os humanos infectados pode ficar fora de controle antes de sequer conseguirmos lidar com isso.

— Talvez tenha alguma coisa nos arquivos que possa nos ajudar a descobrir isso. — Quinn ofereceu olhando para Kellan e Chloe. — Devemos a vocês dois um inferno de um agradecimento por colocarmos as mãos neles.

— Isso significa que realmente temos que ser agradáveis com o garoto agora? — Aiden murmurou, fazendo com que todos menos Chloe e Morgan rissem. Dando a Kellan um sorriso convencido o metamorfo disse. — Quem alguma vez teria pensado que o fodido finalmente conseguiria fazer algo direito?

Kellan estava pronto a dizer a Aiden para parar, sem humor para suas gozações, quando Chloe tomou a situação em suas próprias mãos.

— Você não tem nenhum direito de falar com ele desse jeito. — ela estalou, sua voz falhando com raiva e todo mundo parou de rir, suas expressões variando de surpresa a curiosidade até a aprovação. — Você não tem ideia do que Kellan passou naquele lugar, ou do que sofreu para impedir que eu e Raine fôssemos machucadas. Se não pode fazer mais nada deveria estar o elogiando, em vez de ficar sentado agindo como um completo e absoluto idiota!

— Você está certa. — Aiden murmurou, parecendo ao mesmo tempo castigado e impressionado, o canto de sua boca curvado num sorrisinho irônico. — Peço desculpas. Apenas gosto de dar ao garoto um tempo difícil.

— Caso não tenha percebido, ele não é um garoto. E se não quiser que eu diga a minha irmã o idiota que está sendo, sugiro que encontre outra maneira de se divertir.

Os olhos cor de âmbar de Aiden se arregalaram.

— Você me deduraria para Liv?

Chloe ergueu seu queixo parecendo uma determinada pequena amazona.

— Num piscar de olhos.

Com seu sorriso largo se derretendo num sorriso suave e sua voz profunda rouca com admiração, Aiden disse.

— Então acho que seria melhor eu prestar atenção no que digo.

— Faça isso. — ela murmurou baixinho, as palavras imediatamente seguidas por um suspiro afiado quando ela percebeu que todos estavam olhando para ela.

Ela corou e se ergueu, mas Kellan se levantou e agarrou a mão dela antes que pudesse fugir. De jeito nenhum ele a deixaria ficar longe dele. Suas emoções estavam ainda muito no limite para conversar com ela sobre o que tinha acontecido, seu coração batendo como uma maldita britadeira, mas se contentou apenas em andar ao lado dela, segurando sua mão pequena na dele.

Quando ele a levou para longe da fogueira deixando os outros olhando para as costas deles, ela perguntou.

— Onde estamos indo?

— Quando chegamos aqui pedi a Quinn se podia providenciar um banho quente para você. — ele respondeu em um tom baixo e áspero como uma lixa. — Achei que gostaria.

Chloe pensou que um banho soava maravilhoso, desde que pudesse ter alguma privacidade.

— Onde? Eu nem tenho uma barraca, muito menos uma banheira.

— O pessoal tem usado a cabana para as reuniões, mas é nossa esta noite, até partirmos pela manhã. — Havia um sorriso em sua voz quando acrescentou: — Então é hora do banho pra você, pequena.

— Mas os outros não vão se incomodar? — ela perguntou o comendo pelo canto dos olhos enquanto eles se dirigiam à cabana, amando a forma como o luar tocava os fios grossos do seu cabelo soprados pelo vento e seu perfil áspero.

— Nós nem sequer contamos a eles sobre o que li no diário. — Toda vez que pararam para descansar um pouco durante sua jornada até o acampamento, Chloe retirou o pequeno diário de couro e leu suas páginas amareladas.

— Se eles esperaram todo esse tempo — Kellan disse abrindo a porta da cabana e a puxando para dentro. — podem esperar um pouco mais. Você merece um tempo livre.

Seu olhar se firmou na banheira de cobre colocada diante da lareira rugindo, o vapor ondulando da água quente numa nuvem quente e sensual, e uma onda de prazer passou pelas suas veias.

— Kell, isso parece incrível. Faz com que me sinta sonolenta simplesmente olhando para isto.

— Se você me deixar lavar suas costas — ele insistiu, acariciando seu polegar contra a palma da sua mão, o toque simples parecendo de alguma maneira dolorosamente íntimo. — posso prometer ter certeza que você ficará acordada.

Chloe bufou uma lufada suave de riso e puxou a mão da dele.

— Obrigada, mas posso tomar banho sozinha.

Com sua própria risada baixa ele colocou as mãos nos bolsos, seus belos olhos brilhantes de malícia.

— Você não confia em mim?

— Vamos apenas dizer que aposto que você pode ser muita distração. — ela murmurou com ironia. — E vendo como estive trancada naquela cela por meses sem jamais poder ficar completamente limpa, estou pensando em levar este banho muito a sério.

Um sorriso lento tocou sua boca e ele levantou as mãos num sinal de rendição de brincadeira.

— Nesse caso você tem uma hora. Então será hora de jantar. — ela assentiu e Kellan começou a se dirigir para a porta quando ela disse seu nome. — Sim? — Ele perguntou olhando pra trás por cima do ombro, pensando que ela era a coisa mais adorável e bela que ele já tinha visto, ali de pé na frente da banheira fumegante com os olhos brilhando e um sorriso tímido.

Calmamente, ela disse:

— No caso de ter esquecido de dizer antes, queria agradecer.

— Por que?

Seu sorriso se abriu um pouco mais.

— Por tudo.

O som suave de sua voz queimou através do seu sistema e Kellan teve que forçar uma resposta desorientada de sua garganta apertada.

— Uma hora, Chloe. Se não estiver fora até lá — ele parou, baixando seu olhar para a doce curva provocativa de seus lábios. —, virei atrás de você.

— Aquela banheira é apenas para um. — ela brincou enquanto inclinava a cabeça para a banheira.

— Não é um problema. — Seu sorriso se transformou em completamente mau. — Eu deixarei você ficar por cima.

Ela estava rindo quando ele fechou a porta atrás dele, o som suave e sensual ainda tocando sua mente quando Kellan enfiou suas mãos nos bolsos e se afastou. A lua cheia queimou acima dele com um calor que rivalizava com o do sol chamando o seu lobo, e ele sabia que seria ainda mais agressivo do que de costume hoje à noite... mas isso não o impediria. Ele faria o que fosse preciso para controlar a besta, porque tinha que fazer. Não tocar esta mulher simplesmente não era uma opção.

Não importa o quanto isso que ele começou fosse insano, não poderia terminar isso agora.   Certo ou errado, Kellan estava considerando ir até o fim.

 

Quarta-feira, 9:00 da noite

Foi, sem dúvida, o dia mais longo da vida de Chloe. E, no entanto, ela não estava pronta para dormir, sua cabeça ainda zumbindo com tudo o que tinha acontecido. Ela estava surpresa que Kellan não a largou assim que eles alcançaram a segurança do acampamento base, presumindo que ele gostaria de colocar alguma distância entre eles — mas ele ficou bem ao seu lado durante a noite toda sussurrando em seu ouvido sempre que havia algo que queria dizer, seu corpo quente ao lado dela, seu cheiro tentador enchendo sua cabeça.

Depois que ela tomou banho e eles se reuniram ao redor do fogo novamente, Kierland e Quinn, que examinaram os arquivos antes do jantar, disseram aos outros que suas suposições anteriores de que Westmore soube sobre os Marcadores das Trevas através dos documentos antigos estavam de fato corretas.

De acordo com os arquivos, os Marcadores das Trevas não eram somente as chaves que abriam o portal encantado fortificado para Meridian, também formavam um mapa que levava à prisão escondida.

Isso explicava por que Westmore estava tão ansioso para colocar as mãos sobre eles, pois os Marcadores poderiam ser usados ​​para localizar Meridian, abrir as portas e trazer o dilúvio, libertando todos os Casus de uma vez. Infelizmente as páginas explicando como as cruzes deveriam formar o mapa e serem usadas como chaves foram removidas. Eles sabiam que essas páginas específicas foram retiradas porque uma anotação fora feita na frente dos arquivos, junto com uma anotação para a remoção de outro diário.

Eles também suspeitaram que as páginas removidas poderiam ter explicado como entrar em contato com os Casus em Meridian, talvez até dando instruções sobre como trazer as sombras através da divisão, o que levou Kellan a contar a eles sobre o estranho altar que ele e Chloe acharam pouco antes de se chocarem com Gregory.

Em seguida Chloe compartilhou o que ela descobriu nas páginas do diário que ela e Kellan encontraram. Todo mundo ficou chocado ao saber que foi uma bruxa sem poderes chamada Alia Buchanan, descendente de uma linhagem latente Merrick, que tinha criado os mapas no início de 1800.

De acordo com o diário, o pai de Alia fora um estudioso Merrick que secretamente dirigiu a procura do novo Consórcio pelos arquivos antigos. E embora nunca os achasse, parece que ele descobriu algo ainda mais importante: o lugar onde o Consórcio original escondeu os Marcadores das Trevas.

Temendo que as poderosas cruzes fossem procuradas pelos mesmos homens que assassinaram seu pai, Alia e seu marido, um transmorfo chamado Rhys, os esconderam ao redor do mundo. No entanto, eles também acreditavam que viria um tempo quando os marcadores seriam necessários e assim Alia criou os mapas criptografados, enterrando-os com um dos marcadores na Itália — exatamente onde Saige Buchanan os encontrara.

Enquanto lia Chloe sentiu a emoção profunda escrita em cada página do pequeno diário e não podia deixar de pensar que foi isso que a atraiu para ele.

Será que a mistura de seu despertar de sangue Merrick e a maldição Mallory de alguma forma a transformou em um farol emocional? Ou sua estranha conexão com o diário tinha algo a ver com a convicção de Kellan que a maldição Mallory podia finalmente, após todos estes anos, estar chegando ao fim? Poderia, neste caso, seus poderes Mallory antes limitados pela maldição a atraírem para ele? Ou foi simplesmente porque ela era uma Merrick, como Alia? Qualquer que fosse a razão, Chloe ficara fascinada pelo amor empolgante que Alia manteve por seu marido, sua história mais comovente pelo fato de que ele nunca sentiu que era suficientemente bom para ela... enquanto Alia sempre o via como o homem mais notável que ela jamais conheceu.

Depois que Chloe terminou de contar aos outros o que ela descobriu, eles discutiram a ideia de que Alia Buchanan poderia ter sido a responsável por presentear os Buchanans com os estranhos poderes que ajudaram os irmãos durante seus despertares dos Merrick, como também em sua procura pelos Marcadores das Trevas.

— A forma como isto funcionou para os Buchanans é quase como se esta mulher, Alia, realmente tivesse planejado isto. — Quinn murmurou. — Quero dizer, olhe para o dom de Saige. Não só a ajudou a achar os mapas, mas a habilitou para decodificá-los.

— Mas como ela sabia que Saige seria a pessoa que os acharia? — Garrick perguntou.

— Quem sabe? — O Sentinela respondeu. — Tudo que em posso pensar é que ela deve ter sido um inferno de uma bruxa poderosa.

Tomando outro gole da sua cerveja, Aiden coçou seu queixo e falou.

— Então Westmore aprendeu através dos arquivos como contatar os Casus… e como eles podiam devolver uma sombra para este mundo, como também tudo que ele sabe sobre os Marcadores das Trevas. Mas foi este diário que o informou sobre os Marcadores que foram escondidos ao redor do mundo e os mapas que levam à suas localizações?

Chloe assentiu.

— É isso mesmo. Pelo que li no diário até agora, não sei por que Alia nunca entendeu completamente o que os Marcadores poderiam fazer. Mas pelo que aconteceu com seu pai, ela reconheceu a necessidade que eles fossem mantidos fora das mãos erradas.

Eles conversaram por mais algum tempo, mas eventualmente o grupo foi para a cama, com exceção de alguns que assumiram a guarda e Kellan a levou de volta pra cabana, os outros concordando que eles deveriam ter uma noite de conforto depois do que passaram.

E agora estavam sozinhos. Chloe se agitou inquieta, dolorosamente ciente que estava se enamorando mais duro pelo sexy Lycan a cada minuto que passava com ele. A cada instante que passava. Mas não parecia haver nada que ela pudesse fazer para impedir isso.

— Seus amigos são legais. — ela murmurou, observando-o pelo canto do olho quando ela se moveu para mais perto do fogo.

— Eles são um bando de espertinhos. — ele falou lentamente, varrendo seus dedos pelos fios escuros do seu cabelo. Ele obviamente encontrou algum lugar para se barbear e tomar banho mais cedo, e alguém emprestou a ele algumas roupas mais limpas, como seus próprios suéter e jeans emprestados.

— Eles gostam de irritar você. — Ela se virou totalmente em direção a ele, envolvendo seus braços ao seu redor. — Mas também é óbvio que amam você.

Esfregando sua nuca ele deu uma pequena sacudida de sua cabeça.

— Eu ainda não posso acreditar que Aiden se desculpou com você. Ele não é um cara que se desculpa frequentemente.

— Desculpe-me se eu te envergonhei — ela disse, desejando que pudesse acalmar a corrida frenética do seu pulso —, mas ele realmente me irritou. — O Sentinela fez um barulho baixo e rouco de riso que era quase tão sensual quanto seu sorriso.

— Você não me envergonhou, querida. E foi algo sem preço ver a reação de Ade. Ele está se borrando de medo que você vá dedurá-lo para Liv.

— Estou tentada. — ela murmurou, administrando um pequeno sorriso antes de perguntar. — Você sabe por que Juliana Sabin está aqui?

Ele balançou sua cabeça novamente.

— Eu perguntei a Kierland, mas ele disse que não tinha nenhuma ideia.

— Ela parece agradável. O que acha que ela fez para acabar exilada em Wasteland?

Rolando seu ombro, ele se sentou ao pé da cama e começou a desamarrar as botas.

— Ela pode não ter feito nada. Às vezes, se a pessoa errada é irritada, famílias inteiras podem ser condenadas por causa das ações de um único membro.

Chloe fez uma careta.

— Isso não é justo.

— Justo ou não, já ouvi dizer que isso acontece. Uma vez que seu nome foi inscrito no Livro dos Exilados, então os feitiços que governam este lugar vão mantê-la aqui dentro, seja culpada ou inocente.

Estremecendo, ela perguntou.

—Você confia nela?

— Pelo que Seth me disse — ele respondeu, tirando as botas desamarradas e removendo suas meias —, ela ajudou a salvar a vida de Morgan. Kierland confia nela, então isso significa que eu também confio.

Ela inclinou a cabeça um pouco para o lado, quando disse:

— Falando de Seth, ainda não posso acreditar que você não me contou que está trabalhando com um ex-oficial do Coletivo.

— Você já estava nervosa o suficiente sobre Noah. — ele rugiu, enviando um sorriso encabulado. — Eu não vi nenhum ponto em te assustar quando sabia que não havia nada para se preocupar. Apesar de sua ocupação anterior Seth é um bom sujeito.

— Nós deveríamos nos oferecer para que Raine se alimente amanhã, ou você acha que ele dará o sangue que ela precisa?

 Observando a forma como a luz do fogo refletia no caimento de seu cabelo escuro, Kellan perguntou se ela estava conversando para impedi-lo de tocá-la. Ou estava simplesmente nervosa? Se ela estivesse Kellan não a culparia. Não quando seu lobo estava rondando muito perto de sua superfície, a lua cheia deixando a besta predadora ainda mais no limite.

Esfregando sua palma contra seu queixo recentemente barbeado, ele respondeu à sua pergunta.

— Pra ser honesto, não posso imaginar Seth permitindo a qualquer vampiro afundar suas presas nele. Inferno, ainda estou surpreso que ele está deixando Raine ficar em sua tenda e ajudando Juliana com ela.

— Talvez ele sinta pena dela. — disse ela suavemente e Kellan enfiou seus dedos na borda do colchão, lutando para se controlar quando tudo o que realmente queria era se lançar através do quarto e levá-la para o chão. Segurá-la contra seu corpo até que pudesse absorvê-la na sua pele... respirá-la em seus pulmões. Tudo nela era tão malditamente suave, terno e doce, e mesmo assim ela tinha uma espinha de aço, o que só alimentava a sua fome. Ela lutou por ele naquele dia, levantando-se por ele na frente do outros e isso amoleceu seu coração ainda mais, enquanto fazia outras partes do seu corpo impossivelmente mais duras.

Ainda assim Kellan sabia que deveria sair de lá e achar algum outro lugar para dormir esta noite. Sua cor era intensa, o poder do Merrick praticamente vibrando por ela. Ela não precisava de outra alimentação; por enquanto ela conseguiu o que precisava dele. Se ele a tocasse agora não seria por nenhuma outra razão do que seus próprios desejos egoístas. Só mais um pecado para adicionar a tantos.

Por ela, ele deveria ir embora.

Mas não podia.

Em vez disso ele via o modo como a luz do fogo brilhava contra o reluzente comprimento do seu cabelo, os fios escuros caindo sobre os ombros, o suéter que Morgan lhe emprestou caindo suavemente contra a forma delicada de seus seios, e sabia que estava prestes a fazer o seu pior. Sabia que a foderia mais duramente, por mais tempo que já tomou qualquer outra amante. E ele iria saborear cada escuro e devastador segundo disso.

— Você gosta dessa calça jeans? — ele perguntou, as palavras rudes malditamente perto de rasgar sua garganta.

— Bem, sim. — ela respondeu, olhando pra baixo para sua calça jeans antes de encontrar seu olhar uma vez mais, desta vez com um sorriso leve em seus lábios. — Quero dizer, ela está limpa. Nesse mesmo instante, isto se classifica no mesmo patamar de designer de alta costura no meu livro.

— Então tire-a.

Ela piscou, seu rosto esquentando com rubor.

— Você quer que eu me dispa?

— Se eu colocar minhas mãos sobre elas — ele rosnou — essas roupas serão arrancadas de você em dois segundos, Chloe. Então tire a calça jeans.

Um brilho febril queimou em suas bochechas e olhos, mas ela agarrou a bainha do suéter e a puxou por cima da cabeça, deixando-o cair ao chão enquanto perguntava.

— Nós vamos fazer sexo então?

— Eu com certeza espero que sim. — Kellan gemeu, esfregando uma mão sobre sua boca. — Se não, há uma chance muito boa de você ver um homem crescido chorar.

— E eu aqui preocupada que você faria aquele discurso novamente. — ela murmurou tirando seu sutiã, seus doces pequenos mamilos já duros e inchados. — Sabe, aquilo sobre como você não é bom o suficiente para mim?

— Não sou bom o suficiente para você. — ele admitiu com um dar de ombros, o gesto fácil completamente em conflito com a queimação visceral de fome chamuscando pelas suas veias, seu coração martelando com uma batida dura e dolorosa quando ela mordiscou seu lábio inferior… seus dedos demorando no botão superior de sua calça jeans. — Mas não posso ficar longe de você. Então acho que vou calar a boca e apreciar a minha sorte até que você finalmente fique esperta e me diga pra sumir.

— Você não se importa que só me quer porque...

— Não diga isto. — ele estalou, sua voz grossa… rude. — Estou de bom humor e isso só vai me irritar.

Ela pareceu estar considerando cuidadosamente sua advertência por um momento, e então o canto de sua boca estremeceu daquele modo adorável que ele amava. — Então o que está dizendo é que eu deveria calar a boca e apreciar a minha sorte até que você finalmente fique esperto e me diga para sumir?

Uma respiração lenta e profunda encheu o peito de Kellan, e ele deu uma sacudida lenta de sua cabeça.

— Não. Se eu for esperto Chloe, ficarei o mais perto possível de você o máximo de tempo que eu tiver.

— Você faz parecer como se não tivesse muito tempo. — Suas palavras não seguraram mais sua borda provocativa, suas sobrancelhas delicadas recolhidas num V perturbado.

Sua boca se torceu num sorriso irônico, seu olhar quente colado nos seios perfeitos quando disse.

— Estamos no meio de uma guerra, querida. As coisas só ficarão mais feias daqui por diante.

— Mas você será cuidadoso, certo?

— Sempre sou. — ele disse um pouco fácil demais, e ela fez uma careta quando cruzou os braços sobre o peito, cobrindo o que ele imaginou fosse a visão mais próxima do paraíso que ele jamais obteria.

— Porra, estou falando sério Kellan. — As palavras ásperas e trêmulas seguravam uma borda inconfundível de medo. — Prometa-me que terá cuidado. Que não fará nada imprudente.

— Prometo que não farei nada que não seja absolutamente necessário. — Ela começou a argumentar, mas ele a interrompeu dizendo: — Eu não mencionei que você devia tirar a calça jeans?

Ela deu algumas respirações trêmulas, obviamente debatendo se continuava discutindo com ele… ou embarcar em atividades mais agradáveis. Ele sentiu um súbito alívio quando ela finalmente alcançou o botão de seu jeans novamente, então parou, deslizando-lhe um olhar sensual através de seus cílios.

— E você?

— Eu? — ele perguntou, observando a maneira que ela puxou seu lábio inferior com os dentes de novo. Enquanto vivesse Kellan sabia que nunca esqueceria o que sentiu quando ela o tomou em sua boca quando eles estavam no Complexo. E agora não podia esperar para retribuir o favor, precisando tanto do seu gosto em seus lábios que queria uivar com a fome.

— Vou tirar a calça jeans quando você tirar a sua. — ela disse, o perfume sedutor do seu corpo se misturando com o calor do fogo, empurrando sua fome para algo que era ainda mais sombrio do que ele temia que fosse. Mas não podia lutar contra isso.

Só preciso ir devagar. Preciso manter o controle o máximo de tempo possível.

Levantando-se Kellan repetiu os comandos mentais enquanto arrancava seu suéter, então alcançou um dos bolsos traseiros de sua calça jeans e retirou uma tira de preservativos embrulhados em papel alumínio.

— Não acredito nisso. — Uma explosão de riso suave se derramou de seus lábios. — Onde diabos você conseguiu esses?

Com um sorriso afiado ele lançou as camisinhas sobre o tapete diante do fogo, não muito longe de onde ela estava.

— Eu os roubei de Seth.

— Você não fez! — ela riu, seus ombros se agitando enquanto ela cobria sua boca com a mão. — Você não acha que ele vai sentir falta deles?

— Não. Não é como se ele precisasse deles neste exato momento. E nós precisamos.

— Tem certeza que tem o suficiente? — Ela bufou olhando para a longa tira antes de erguer o olhar cintilante de volta ao seu.

— Na verdade isso é apenas parte do que eu peguei. — ele confessou com um sorriso lento, inclinado para o pecado. — Achei que poderia guardar os outros para amanhã.

Ela ainda estava rindo e balançando a cabeça quando Kellan começou a descer o zíper, então seu riso desapareceu numa respiração aguda e silenciosa no instante em que percebeu o que ele estava fazendo.

Fechando sua mandíbula ele empurrou tanto a cueca boxer quanto a calça jeans nos quadris, tirando-os juntos antes de lançá-los para uma cadeira próxima.

— Inacreditável. — ela sussurrou, olhando direto para o comprimento pesado de seu pênis, a cabeça em forma de ameixa já escura e lisa com a umidade....

— Inacreditável? — Um latido debochado de riso retumbou de seu peito e ele passou a mão na nuca. — Acho que estou quase com medo de perguntar o que quer dizer com isso.

— Desculpe. — ela ofereceu numa voz rouca, seu olhar subindo e descendo pelo seu corpo com golpes ávidos e provocativos que pareciam toques físicos, seu peito subindo e descendo com o ritmo acelerado de sua respiração. — É, uh, só que esta é a primeira vez que vi você completamente nu e você é, uh… bem, você é de tirar o fôlego, Kell.

Seu rosto queimou com calor e ele fechou seus olhos, lutando para se controlar. Era uma loucura que essa declaração tão simples podia ter esse efeito extremo sobre ele, mas porra, a dor em seu pau dobrou e ele cobriu o rosto com uma mão.

— Você está corando?— ela perguntou, e ele podia ouvir o riso em sua voz.

— Homens não coram. — ele murmurou, abaixando sua mão e deslizando a ela um olhar de zombaria.

— Você está corando! Oh, Deus, isto é muito engraçado.

Completamente encantado Kellan se encontrou ali de pé com a combinação improvável de um enorme tesão e um sorriso pateta de merda, e nesse momento ele finalmente percebeu o quanto esta mulher poderia ser perigosa para o seu coração. Pra não mencionar o quanto doeria profundamente quando ele a perdesse. Mas Cristo, como podia não ficar sentimental sobre ela? Ela o fazia rir. Depositou sua confiança nele. Defendeu-o. Pela primeira vez na sua vida estava indo pra cama com uma mulher que o via como algo mais do que uma boa transa, e isso fazia diferença. Uma que ele nunca foi capaz de compreender até aquele momento.

— Venha aqui. — ele disse asperamente, finalmente se deixando alcançar e prendendo sua mão, incapaz de esperar nem mais um segundo para sentí-la em seus braços.

Preciso dela debaixo de mim, o lobo rosnou rondando os limites do seu corpo, mas ele lutou contra sua atração selvagem, apavorado de assustá-la antes mesmo de começar.

— Seu ombro está bem? — ela perguntou enquanto ele a puxava pra mais perto.

— Querida, de todas as coisas que doem em meu corpo nesse instante — palavras rudes e ásperas que soavam como se ele tivesse gargarejado com cascalho —, meu ombro é a menor das minhas preocupações.

— Estou falando sério, Kell.

— Olhe. — ele disse, torcendo seu tronco para o lado pra que ela pudesse ver por si mesma. — Está quase curado.

Seus olhares se fecharam, algo agudo e elétrico passando entre eles quando ela disse.

— Tem certeza de que isso não vai fazer você se sentir mal?

— O que você quer dizer?

Ela atraiu uma respiração instável.

— Estou preocupada sobre como o veneno está afetando você.

Afastando o cabelo do seu rosto, ele disse.

— Não se preocupe com o veneno, Chloe. Estou bem.

Uma sombra de suspeita escureceu seu olhar, fazendo-o se sentir como um idiota total.

— Gregory disse algo sobre você...

— Deus. — ele grunhiu, cortando-a quando ele colocou suas mãos contra a curva macia de sua cintura. — Não dê qualquer crédito para o que Gregory disse. Ele estava apenas ferrando conosco.

— E por que não me disse que se deixou ser mordido como uma parte de um acordo com os Reykers?

— Foi só porque não gosto de pensar sobre isso, muito menos de falar. Mas não estava tentando mantê-la afastada disso. — ele mentiu, puxando-a apertado contra seu corpo enquanto ela estremecia. — Frio?

Ela assentiu com a cabeça enrolando seus braços em volta de sua cintura, seu rosto pressionado contra a batida do seu coração martelando e Kellan abaixou a cabeça, tocando seus lábios na concha tenra de sua orelha.

— Então acho que é melhor eu deixá-la quente. — estava determinado a dar a ela algo melhor para pensar do que Gregory e aquele maldito veneno.

Erguendo-a em seus braços ele a deitou no tapete que se estendia ao longo do piso, o calor do fogo lavando sua pele delicada, pintando seu corpo com cintilantes ondas de ouro morno e luminoso.

— Você é tão malditamente linda. — ele gemeu, avidamente tomando um apertado e doce mamilo no calor de sua boca, amando o modo que ela cavava seus dedos em seu cabelo quando suas mãos arrancavam os fechos de sua calça jeans. Dentro de segundos ele a despira, seu peso apoiado em seus braços e joelhos quando a enjaulou embaixo do seu corpo, sua respiração vindo num ritmo duro e irregular enquanto olhava pra ela, querendo estar em todos os lugares ao mesmo tempo. — Deus, Chloe. Vou te foder tão duro esta noite.

Ela tremia, os olhos pesados aumentando em resposta a suas palavras ásperas enquanto as bochechas queimavam enrubescidas e Kellan abaixou a cabeça, escondendo seu sorriso de encontro ao peito, pensando que ela era a coisa mais adorável que ele já conheceu. Para não mencionar a mais sexy.

— Por que está me fazendo esperar?— Ela engasgou, as mãos acariciando seus ombros e peito.

— Por que… por que não agora? Droga, você já deveria estar dentro de mim!

— Porque há algo que tenho que fazer primeiro. — ele disse numa voz escura, arrastada e rouca, colocando seus joelhos entre as pernas dela enquanto beijava seu caminho abaixo por seu corpo, amando o sabor dela... o perfume inebriante da sua pele. — Quero seus joelhos abertos o máximo que puder. — rosnou contra os suaves cachos escuros no topo de seu montículo, e ela gritou quando ele deslizou os polegares através da carne espessa e encharcada entre as coxas dela, abrindo-a... espalhando-a, querendo tanto isto que podia sentir a fome pulsando em cada célula do seu corpo, seu pau tão cheio e grosso que achava que poderia estourar.

Incapaz de se conter por mais um segundo, Kellan pressionou sua boca aberta contra o calor suave e voluptuoso do seu sexo, e num choque impressionante de descoberta, percebeu que ela era ainda mais viciante do que ele temia.

Ele fez um som espesso e cru em sua garganta então foi à loucura, lambendo e chupando sua carne sedosa, sua língua chicoteando contra o calor do seu clitóris inchado enquanto ele pressionava um dedo dentro dela, bombeando-o naquela deliciosamente apertada bainha sedosa.

Quente. Molhada. Deliciosa. Ela era a coisa mais requintada que Kellan já conheceu, e ele não conseguia o suficiente dela, cada redemoinho de sua língua em sua carne úmida puxando um rosnado gutural de seus lábios.

Ela tinha gosto de algo que lhe pertencia, droga. Algo que era seu para possuir, para se apoderar, e enquanto ele pressionava o rosto mais duro contra ela, seu corpo queimando com o calor, estremecendo com a necessidade, ele sabia que seu controle estava escorregando... e não existia uma maldita coisa que ele pudesse fazer para detê-lo.

 

Chloe sempre quis saber como seria o sexo oral e quando Kellan ia para ela com outro golpe voraz de sua língua, tudo em que conseguia pensar era que nada em toda a sua vida foi tão bom.

Levantando a cabeça ela o alcançou com a mão trêmula, escovando os grossos fios de seu cabelo úmido para longe do seu rosto.

— Kellan. — ela sussurrou por entre respirações ofegantes. — Abra seus olhos.

Ele balançou a cabeça, sua testa franzindo enquanto ele fechava os olhos ainda mais apertado, sua boca a comendo com uma fome primitiva, ávida, que disse o quanto ele gostava do que estava fazendo.

— Por favor, olhe para mim. — ela gemeu, sabendo que não duraria muito mais tempo. — Eu quero... quero ver seus olhos quando eu gozar.

Ele praguejou em voz baixa, em seguida lentamente abriu os olhos, olhando-a por entre os cílios, e ela compreendeu então por que ele os fechou.

Ele não queria que ela visse a íris azul brilhante que continha muito mais do lobo do que do homem, a cor sobrenatural ardendo lentamente com uma fome sombria e perigosa que deveria tê-la assustado como o inferno, mas não fez.

— Está tudo bem. — ela sussurrou, acariciando o lado do seu rosto como se estivesse tentando acalmar um animal selvagem, as pontas dos dedos frias contra o calor febril de sua pele. O canto de sua boca se contraiu com um sorriso, e ela disse: — Pare de lutar tanto. Seu lobo pode sair e brincar se ele quiser, Kell. Não tenho medo.

Ele fez um som gutural e espesso, mantendo seu olhar de pálpebras pesadas enquanto dava outra lenta e deliberada lambida, sua língua macia, molhada e deliciosamente quente, então se afastou.

— Você está brincando com fogo. — ele rosnou, empurrando o fôlego de seus pulmões em rajadas irregulares e difíceis, enquanto se inclinava sobre ela apoiando seu peso nos braços. Seus poderosos bíceps inchados, seus antebraços avultados com músculos e tendões, cada parte de seu corpo rígido resistente e escandalosamente belo. — Não é seguro me empurrar, Chloe. Tentar-me a perder o controle.

— Eu não me importo. — ela sussurrou, empurrando suas mãos nos cachos espessos do seu cabelo, os fios úmidos como seda pesada. — Não suporto que se esconda de mim, Kell. Eu só... — Sua voz se voltou mais suave... rouca. — Quero cada parte sua.

O olhar derretido do Lycan perfurou o dela com uma intensidade selvagem e visceral, queimando com desejo, e ele trabalhou sua mandíbula, a respiração cada vez mais alta... mais áspera.

Sem outra palavra ele estendeu a mão e pegou os preservativos que estavam no chão à sua direita, rasgando um dos pacotes de alumínio e desenrolando o látex sobre o comprimento escuro cheio de veias do seu pênis. Então se abaixou sobre o corpo dela de novo, apoiando seu peso em uma mão enquanto se abaixava e fechava a outra mão em torno do seu pênis, dando um aperto áspero.

Uma sensação surreal de acerto fluía através dela e Chloe tocou com as pontas dos dedos o calor inchado de seu sexo, depois levantou os dedos brilhantes para os lábios separados dele enquanto abria ainda mais as pernas, oferecendo-se para ele... sem medo tentando a besta.

A luz do fogo lançava sombras nos ângulos duros e masculinos do seu rosto, seus olhos dilatados com luxúria selvagem e primitiva, e ele rosnou quando lambeu seus dedos, o azul hipnótico de seus olhos queimando mais brilhante enquanto suas narinas inflavam. Ela podia sentir o animal predador rondando dentro dele exigindo sua liberdade, e ele começou a desviar o olhar, virando a cabeça quando ela o alcançou.

— Não, olhe para mim. — ela sussurrou, escavando sua bochecha com a mão, recusando-se a deixá-lo se esconder dela. — Quero ver os seus olhos quando isso acontecer. Quando gozar dentro de mim.

Algum tipo de som obscuro e primitivo rasgou de sua garganta, seus músculos salientes sob sua pele dourada quando suas longas presas se liberaram de maneira forte e rápida — e então ele estava se conduzindo dentro dela, empurrando cada centímetro grosso e incrivelmente duro dentro dela e Chloe cravou as unhas em seus bíceps, precisando se ancorar na empolgante tempestade de sensações que dilacerava seu corpo. Ela estava esticada e incrivelmente apertada ao redor dele, esforçando-se para aceitar sua enorme largura enquanto ele trabalhava seus quadris contra ela, dando-lhe mais... e mais... até que ela finalmente o tomou todo.

Ela sabia que deveria haver dor acompanhando uma penetração tão profunda e pesada, e ainda assim tudo o que ela podia enfocar eram as ondas luxuriantes de prazer que pulsavam por ela quando ele começou a montar seu corpo, dando estocadas lentas, retidas que se transformaram em punhaladas duras, martelantes, as maldições quebradas, saindo de seus lábios os sons mais eróticos que já ouviu.

Chloe queria que aquela doce e inexorável trepada durasse para sempre, mas não conseguiu conter as arremetidas devastadoras de êxtase que consumiam seu corpo, o aperto profundo e rítmico, cada vez mais forte... mais apertado, até que ela gritou e se debateu, empurrando seus quadris contra ele, desesperada por tudo o que ele pudesse dar. Ele se levou dentro dela com um último impulso profundo e trêmulo, seu olhar feroz fechado no dela, seu corpo magnífico queimando com calor se esticando sobre ela.

E então ele quebrou com um rugido gutural, seu eixo pulsando dentro dela... ficando mais duro… mais grosso, até que Chloe se encontrou perdida em outra explosão violenta de êxtase que bateu sobre ela com tanta força que tudo ficou escuro, sonhador e silencioso.

Ela flutuou... leve... amando a maneira como ele caiu contra ela, ainda lentamente empurrando seus quadris como se não suportasse parar.

— Eu não acredito nisto. — ela sussurrou algum tempo depois quando o mundo finalmente voltou ao lugar e foi capaz de abrir os olhos, sua respiração tão suave como um mar calmo depois da fúria feroz e violenta de uma tempestade. — Achei que tinha morrido, mas ainda estou viva.

— Fale por você. — ele murmurou em seu cabelo, seu corpo escorregadio de suor pesado contra o dela, embora soubesse que ele estava tentando manter a maior parte do peso sobre os braços dobrados que apoiou em ambos os lados da cabeça dela.

— Nunca pensei em fazer algo assim no chão antes. — ela admitiu com um sorriso em sua voz, apreciando o modo como seu grande corpo estremecia enquanto ela corria a ponta dos dedos para baixo no elegante comprimento musculoso de suas costas. — Mas estaria mentindo se dissesse que não foi divertido.

— Acostume-se com isso. — Kellan rugiu com a voz pastosa de prazer quando se abaixou e segurou seu pau, segurando o preservativo no lugar quando tentava sair do seu corpo enquanto seus músculos internos lutavam segurá-lo.

— Deus, amo sentir isso. — ele murmurou baixinho finalmente conseguindo puxar e se soltar, depois meio que desabando no chão ao lado dela.

Incapaz de reprimir o que tinha que ser um sorriso idiota, Chloe rolou em direção a ele, descansando sua face em suas mãos dobradas.

— Por que deveria me acostumar a isso? Você tem uma coisa por chão? — ela perguntou com uma risada suave.

Ele rolou para o lado e estendeu a mão enfiando os dedos pelo cabelo dela, o olhar de satisfação sonolento em seus belos olhos com cílios espessos fazendo seus dedos dos pés enrolarem.

— Tenho uma coisa por você. Uma que aparentemente me deixa insano. — ele disse com aquela voz obscura e aveludada que sempre a fazia derreter, suas presas já não aparecendo. — Não posso prometer que vamos sempre fazer isso em uma cama.

Chloe começou a dar uma resposta provocante quando sua consciência de repente pegou suas palavras, e o calor sensual e abençoado que esteve lentamente à deriva pelo seu corpo foi imediatamente resfriado.

— Por favor, não diga coisas assim. — ela sussurrou, quase tonta do surto repentino de culpa que queimou pelo seu sistema.

Seus olhos se estreitaram com preocupação.

— Por que não?

Seu estômago se amarrou com a tensão.

— Bem, você sabe como falamos sobre a maldição? — Ela baixou os olhos para o seu queixo.

Seu tom era quase dolorosamente seco.

— Você quer dizer, a maneira que você passou os últimos dias insistindo comigo sobre isso?

Ignorando o coro de vozes em sua cabeça que estavam gritando para ela calar a boca e simplesmente desfrutar dele durante o tempo que pudesse, ela se forçou a dizer:

— Sim, bem, a coisa é, há algo que eu não te disse.

Com um suspiro afiado e explosivo, Kellan rolou de costas, uma mão dobrada embaixo da sua cabeça enquanto olhava para as vigas de madeira.

— O que tem agora?

Chloe respirou fundo, então falou numa pressa incoerente.

— O que eu não te disse antes foi que, bem, acho que eu poderia estar projetando minhas emoções para você. Que a Merrick poderia de alguma forma estar corrompendo a maldição, torcendo o poder do feitiço para seus próprios fins. Olha, eu nunca quis ninguém tanto quanto eu quero você, e acho que... na verdade estou com medo que a Merrick poderia de alguma forma estar usando a força desse desejo para conseguir o que quer de você.

Estalando sua mandíbula ele virou a cabeça lentamente em direção a ela, o olhar em seus olhos uma combinação volátil de fúria e frustração.

— Porra, Chloe. Não é assim que funciona a maldição e você sabe disso.

— Mas não sou uma Mallory puro sangue. — ela argumentou se sentando. — Quem sabe como a Merrick pode afetar a maldição? E se eu estiver certa, então ainda é uma manipulação mais grosseira de suas emoções do que a maldição original. Eu poderia estar forçando você a fazer isso, Kellan. Você não vê isso?

Seus olhos se estreitaram com um brilho quente, com raiva, seu corpo vibrando com grande tensão.

— Besteira.

— Tudo o que estou dizendo é que você deve pensar sobre o que isso significa. Talvez você nem mesmo queira sexo. Talvez o poder da Merrick esteja fazendo você querer!

— Olha, vou dizer pela última vez para me certificar que está ouvindo. Não quero você por causa de uma maldição. Quero você porque me deixa quente como o inferno. — ele rosnou, os músculos do seu abdomen ajuntando quando ele rolou para cima e a agarrou.

Então ele a puxou contra ele e a beijou, tornando impossível para ela discutir. E Deus, ele sabia como beijar. Sua boca trabalhava sobre a dela, o beijo rico, viciante e deliciosamente explícito, malditamente perto de derreter as poucas células cerebrais que conseguiram sobreviver àqueles orgasmos explosivos.

— Eu não estava tentando fazer você ficar bravo. — ela sussurrou contra seus lábios, incapaz de ter o suficiente do seu gosto.

— Então esqueça sobre aquela merda de maldição. — ele lhe deu outro beijo duro e devorador antes de deixá-la respirar.

— Você sabe — ela ofegou —, antes de nos deixarmos levar de novo, provavelmente deveria apontar que a cama ali parece muito confortável.

— Se eu levar você ali — ele murmurou contra sua boca, beliscando o lábio inferior. — então você vai me dever.

— O que você quer? — ela perguntou, recuando para que pudesse ler sua expressão.

Um sorriso lento tocou seus lábios, sexy demais para ser real.

— Vamos ver se pode imaginar.

— Você sabe — ela riu silenciosamente, sorrindo de volta para ele. —, para um lobisomem, às vezes você é igualzinho a um cara.

Com uma risada rouca ele se levantou e cuidou do preservativo. Chloe não podia deixar de apreciar a vista enquanto ele se movia pela sala, seu corpo como um decadente e sedutor trabalho de arte, todas as linhas longas e belas, músculos duros e poderosos. Depois de tirar as cobertas da cama, ele agarrou os preservativos e a pegou do chão, em seguida a carregou e colocou sobre os macios lençóis frios antes de se aconchegar ao lado dela.

Ela sabia que deveria ter tentado mais duro fazê-lo entender suas preocupações sobre a maldição — sabia que cedeu muito facilmente — mas droga, ela só tinha um pouco de força de vontade. E queria tanto acreditar que o que ele disse era verdade.

—Então — ele murmurou em outro daqueles escuros roncos de fala arrastada. —, você nunca quis um cara tanto quanto me quer?

— Deveria saber que essa era a única coisa que você iria tirar dessa conversa. — ela bufou, revirando os olhos.

 — Ei, não sou nada além de um ouvinte atento. — Kellan raspou se inclinando para beijá-la, mas ela o deteve no último segundo com as mãos pressionadas contra seus ombros, seus olhos se arregalando. — O que há de errado?

— Seus olhos. — ela sussurrou com um calafrio de medo. — O azul está ficando vermelho.

— Está tudo bem. É apenas uma coisa de Lycan. — ele mentiu, silenciosamente amaldiçoando, sabendo muito bem que seus olhos estavam se transformando por causa do veneno. Enquanto Chloe estava no banho Kellan conseguiu puxar Juliana Sabin de lado para uma conversa rápida, sem que nenhum dos outros percebesse. Embora a vampira achasse que ele estava cometendo um erro por não ser honesto com os outros, concordou em não compartilhar o que sabia sobre o veneno de Reykers. Ela também o advertiu ter ouvido que o veneno era de ação rápida, e que depois que ele mudasse a cor dos olhos para vermelho pela primeira vez teria apenas uma semana de vida, no máximo. Felizmente seus olhos retornariam a sua cor natural… mas eles podiam ainda mudar de vez em quando enquanto o veneno continuasse a debilitar seu sistema.

— Se isso é uma coisa de Lycan, então o que quer dizer?— Chloe perguntou o arrancando de seus pensamentos.

— Só que precisarei caçar logo.

— Oh. — Sua voz era suave… e um pouco instável. — Estava com medo que isso significasse que algo estava errado

— Eu deveria ter te contado. — disse ele se sentindo como um completo idiota. — Deveria ter explicado como o lobo pode afetar meu corpo para que você não fosse pega de surpresa.

— Quer dizer, como o jeito que você fica mais grosso quando goza?— ela perguntou, descendo e enrolando seus dedos ao redor do seu pênis que já estava endurecendo pra ela de novo.

— Uh, sim. — ele deslizou outro sorriso tímido. — Lamento por não ter dito nada sobre isso antes, mas a mudança nunca foi tão intensa como foi com você.

Uma variedade de perguntas nadou por seus olhos, mas ela não perguntou nada. Em vez disso ela simplesmente disse:

— Não é preciso se desculpar. Gosto disso, Kell.

— É? O que mais você gosta? — ele se abaixou cobrindo a mão dela com a sua, mostrando que poderia apertá-lo tão duro quanto quisesse e não o machucaria.

— Tudo. — ela sussurrou, seus olhos bonitos ficando pesados com desejo. — Que é uma coisa horrível de dizer porque só vai inflar seu ego. Mas gosto da maneira como você cheira. Do jeito que me beija. Que me toca. — Ela correu o polegar sobre a umidade vazando da abertura na cabeça inchada do seu pau e ele rangeu os dentes, sua voz um pouco rouca quando ela disse. — E realmente amo o jeito que você sente quando está dentro de mim.

— Porra. — ele gemeu, depressa agarrando a tira de preservativos, sabendo que tinha que estar dentro dela novamente… ou arriscar sair de sua mente sempre-amorosa.

No momento em que teve a si mesmo embainhado Kellan a puxou para cima dele, posicionando-a para que montasse seus quadris, seu doce pequeno sexo quente e molhado contra sua seta quando ele a puxou para baixo num beijo profundo e devastador que a deixou tremendo e sem fôlego.

Então ele cutucou a pesada cabeça arroxeada contra sua entrada macia, arrancando um gemido baixo de seus lábios inchados pelo beijo.

— Você gosta disso, não é, Chloe?

Ele empurrou um pouco mais fundo alimentando a si mesmo com seu calor escorregadio, e seus olhos quase reviraram pra trás de sua cabeça quando ela ofegou.

— O que há para não gostar?

Com uma risada rouca em seus lábios, Kellan curvou uma mão em torno da sua nuca e a puxou para mais perto, o cabelo macio e sedoso caindo em torno deles como um véu íntimo.

— Deus, você me faz feliz. — ele gemeu incapaz de se manter quieto. Fome corroía suas entranhas quando ele segurou seu quadril com a mão livre e começou a empurrar dentro dela, trabalhando mais fundo... e mais fundo, até que estava firmemente agasalhado nela, embebido em seu calor. — Sei que estamos exagerando, mas não posso parar. Você se sente perfeita demais.

— Você também. E eu me sinto maravilhosa, então pare de se preocupar.

— Não está muito dolorida?

— Só de uma maneira boa. — ela disse com um sorriso doce e provocante. — Acho que ser um Merrick deve fazer a diferença. Sei que deveria estar com algum tipo de dor intensa agora, mas em vez disso eu me sinto incrível. É como... mágica.

Kellan podia dizer pela forma como sua voz tinha sumido no fim que ela estava pensando sobre aquela fodida maldição novamente, e ele odiava que ela achasse que a queria por causa de algum feitiço de séculos de idade.

Ele não era nenhum idiota sem experiência, caramba. Ele conhecia suas próprias emoções. Sabia que o que sentia por ela era diferente de tudo que já aconteceu com ele antes.

Com o seu corpo enterrado bem fundo no dela, ele a rolou para debaixo dele e agarrou suas mãos, pressionando-as na cama quando colocou seu rosto perto do dela, olhando profundamente em seus olhos.

— Isto é real. — ele rosnou, dando sua uma punhalada funda e pesada. — Não importa o que aconteça Chloe, quero que lembre que isso é tão real quanto parece. Você me entende?

Ela assentiu, seus olhos nebulosos com paixão, e por longos momentos depois Kellan começou a mostrar a ela o quanto a queria, seu ritmo duro e exigente quando a tomou na cama, depois contra a cabeceira da cama com seus joelhos cravando no colchão, seus corpos queimando e escorregadios de suor.

Seus beijos devoradores, famintos e selvagens. Ela aceitou cada parte dele, não importando quanto fosse obscuro ou agressivo, e ele gostou da picada de suas unhas e seus gritos roucos. Adorou a forma linda que ela se arqueou contra ele em sinal de completa e deslumbrante rendição.

E nas horas calmas da noite quando ela finalmente se alimentou dele novamente, tomando seu sangue em seu corpo, a sensação foi tão intensa que ele teve que enterrar seus gritos guturais em seu cabelo, seu pau quase virando do avesso quando as devastadoras pulsações de prazer saíram dele.

Kellan sabia condenadamente bem que quanto mais ele a tocasse, pior a dor seria no final, mas ele não conseguia manter suas mãos fora dela. Estava se preparando para uma grande catástrofe, rolando mais e mais pedras para o lado da montanha, e não seria capaz de sair do seu caminho quando chegasse ao fundo.

Quando o fim chegasse o quebraria em um milhão de pedaçinhos e o esmagaria no pó, a agonia mais destrutiva que qualquer outra coisa que ele teria que enfrentar nos próximos dias. Inferno, seria pior do que morrer. Mas ele não se importava.

Qualquer que fosse as consequências... seu tempo com a bruxa valeu a pena.

 

Quinta-feira de manhã

A cabeça de Kellan ainda estava girando e ele não podia fazê-la parar.

À medida que o Lycan caminhou através do ar fresco da manhã em direção a barraca de Seth deixando Chloe com Morgan, que estava contando a ela a história de como Olivia se apaixonou por Aiden, ele tentou pensar num adjetivo que fizesse justiça à noite, mas eram todos indefinidos. Alucinante. De derreter os ossos. De tirar o fôlego. Impossível escolher apenas um. O guerreiro brutal e violento nele estava zombando com embaraço, mas inferno, não era como se já tivesse passado antes a noite enterrado dentro de uma ardente e incrivelmente doce, deusa incandescente. Um homem era obrigado a ficar um pouco piegas depois de algo estupidamente incrível.

Ele sabia que Chloe nunca acreditaria nele considerando sua fama, mas o sexo verdadeiramente fundiu sua mente. Quando estava dentro dela Kellan teve a sensação de... de algo que parecia paz, como se tudo estivesse finalmente como deveria ser. Ela o fez perceber o quanto o sexo sempre foi frio para ele, apenas um ato físico que ele obteve, mas nunca o tocou realmente. Nunca conseguiu satisfazer a dor. Ele teve sexo obsceno. Sexo agressivo. Sexo sujo. Mas nada daquilo jamais significou nada até que se encontrou afundando dentro de Chloe Harcourt, empurrando seu corpo no dela, tornando-se uma parte dela. E Deus o ajudasse, ele não podia esperar para o dia estar terminado para que pudesse se perder nela mais uma vez, levados a aproveitar ao máximo o tempo que tinham juntos.

Ele se recusou a pensar em como esse tempo era breve, sua mandíbula apertando quando forçou o pensamento amargo de sua mente.

Localizando Seth em pé diante de sua barraca, Kellan acenou com a cabeça numa saudação. Depois de algumas horas de sono seus olhos felizmente voltaram à sua cor natural, e ele apertou os olhos contra os raios suaves do amanhecer quando foi em direção ao soldado.

— Como Raine está indo? — ele perguntou.

Seth deu de ombros contra o vento cortante, suas mãos empurradas profundamente em seus bolsos.

— Ela ainda está bastante grogue, mas finalmente começando a retornar.

— Ela está se sentindo bem? — ele murmurou observando que Seth parecia cansado e triste, como se não tivesse dormido bem.

— Acho que sim. Juliana disse que está se curando mais lentamente do que um Deschanel normalmente faria, mas que eventualmente ficará bem. Apenas vai levar algum tempo. — Com um rolar duro do seu ombro, ele adicionou. — Entretanto ela é muito arisca.

— O que quer dizer?

Seth cortou seu olhar duro para a floresta enquanto explicava, sua voz profunda mais áspera do que o habitual.

— Quando ela abriu os olhos poucos minutos atrás e comecei a conversar com ela parecia assustada como o inferno comigo. É por isso que vim aqui para fora.

— Bem, isso não é muito surpreendente. — Kellan falou lentamente, tentando aliviar o humor do soldado. — Quero dizer, você já se olhou no espelho? Está bastante assustador.

— Vá se foder. — Seth resmungou, e quando levantou a mão para o seu rosto esfregando-a sobre a boca, Kellan avistou a bandagem em volta do antebraço direito do soldado. Recordando a conversa que ele teve com Chloe, perguntou a si mesmo se Seth realmente permitiu que Raine se alimentasse dele… usando a bandagem para cobrir a marca.

Decidindo que era melhor deixar o assunto pra lá, já que o cara estava vibrando com a tensão, ele disse.

— Vou falar com Raine. Dizer que não tem nada a temer de você. Explicar que você realmente é um dos mocinhos.

— Pensei que resgatá-la do Complexo poderia ter feito isso. — Seth murmurou, seu tom tão seco quanto as folhas de outono sendo juntadas na terra.

— Para a maioria dos caras, sim. Entretanto você não é como a maioria dos caras, não é?

— Por que tenho a sensação de que há algo que não está me dizendo? — A voz do soldado era pouco mais que um som de cascalho raspando, seu olhar verde de repente bloqueado em Kellan com intensidade penetrante.

— Há provavelmente muito que não estou te dizendo. — Kellan respondeu com um sotaque irônico arrastado. — Mas se está falando de Raine, acho que não deixei nada de fora. Você já sabe que ela é psíquica.

Seth concordou.

— Você mesmo me disse que Westmore a usou para manter um olho em Saige, então ele saberia para onde enviar os Casus para procurar pelos Marcadores.

— É isso mesmo. — Kellan continuou, sentindo que Seth não entendeu completamente o que ele queria dizer. — Mas talvez não tenha explicado isso tudo muito bem. Olha, a maneira como ela era capaz de fazer isso era ficando dentro da mente de Saige.

Os olhos verdes de Seth se arregalaram.

— Você está me dizendo que ela pode… o que? Ler as mentes?

Empurrando as mãos nos bolsos, Kellan deu um assentimento lento.

— Sim, com um monte de gente ela pode ler suas mentes, bem como ver seus passados​​. E no seu caso cara, estou supondo que existem algumas coisas ali que fariam uma mulher que é metade Deschanel um pouco desconfortável.

Outra maldição áspera deixou os lábios do humano e quando ele abaixou seu olhar, Kellan notou que havia um músculo pulsando duro em sua mandíbula.

— Só para você saber — o Lycan murmurou em voz baixa: —, acho que Westmore vai querê-la de volta.

— Por causa do seu poder? — ele perguntou olhando para a crosta de neve no chão, seu corpo alto ainda irradiando tensão.

— Não só por isso. — Kellan admitiu. — Era o jeito que ele olhava pra ela. Westmore nunca a tocou até onde eu sei, mas acho que ele estava trabalhando nisso. Embora isso não o impediu de deixar os demais a terem.

Os olhos verdes de Seth queimaram com raiva quando ergueu seu olhar.

— O Kraven bastardo pode tentar, mas não a conseguirá de volta.

— Sei disso, cara. Mas se vai ajudar a cuidar dela, pensei que deveria saber.

— Cuidar dela? — O peito do soldado balançou com um latido sombrio ofegante de riso. — Caia na real, Kell. Depois do que você me disse, duvido que a mulher vai me querer perto dela.

— Como eu disse, falarei com ela. — ele murmurou, então empurrou seu queixo em direção à barraca. — Agora vamos ver como ela está indo. Há algo que preciso perguntar a ela.

Seth amaldiçoou alguma coisa imunda baixinho, mas seguiu Kellan enquanto ele se encaminhava para a barraca. Raine estava sentada contra uma pilha de travesseiros no catre no canto com uma mão sobre os olhos, como se o brilho suave da vela que Seth deixara acesa fosse muito brilhante.

— Ei. — Kellan murmurou, mantendo sua voz suave enquanto se movia em direção a ela. — Como está se sentindo?

Ela abaixou a mão, seu olhar sombreado com preocupação e dor quando ela perguntou.

— Chloe está bem?

— Sim, todos nos saímos bem. Só lamento por você ter ficado tão machucada.

— Ficarei bem. Mas...

— O que é? — Kellan perguntou, notando o modo que ela continuou roubando olhares para Seth, que permaneceu próximo à entrada.

— Agora que escapamos — Raine disse torcendo suas mãos nos cobertores do catre. — estou preocupada que Westmore tentará machucar minha família novamente.

— Você sabe onde eles estão?

Ela assentiu com a cabeça, dizendo.

— Eles estão ficando com um de meus tios na Itália.

Com suas mãos enfiadas em seus bolsos, Seth finalmente avançou.

— Eu poderia enviar Garrick para eles. — ele disse a ela. — Ele poderia levá-los para um dos Complexos de Sentinelas onde estariam seguros.

— Você faria isso? — Raine sussurrou, mostrando surpresa em seus olhos quando olhou para o homem que agora estava ao lado de Kellan.

— Claro. — ele grunhiu. — Não seria problema.

Kierland entrou na barraca antes que Raine pudesse dizer mais alguma coisa e Kellan apresentou seu irmão para a psíquica. Depois de Kierland dizer a eles que o grupo estaria partindo em breve, Kellan disse:

— Encontramos os arquivos, Raine, mas há registro de um diário ter sido removido deles. Eu estava esperando que talvez você pudesse nos dizer algo sobre isso. Ou até mesmo onde o diário pudesse estar.

Esfregando o braço enfaixado ela deu uma sacudida curta de sua cabeça.

— Receio que não saiba nada sobre um diário.

— Você poderia tentar usar seu poder? — Kellan perguntou. — Talvez sintonizar em alguém que tenha lido isso? Sei que não pode ler Westmore, mas estamos esperando que talvez outra pessoa o tenha.

— Certo. Posso tentar. — ela disse suavemente, afastando seu cabelo cor de mel do seu rosto quando fechou os olhos, um pequeno vinco se formando entre suas sobrancelhas e Kellan podia ter jurado que ela parecia um pouco mais pálida do que estava um momento antes.

Ao lado dele, Seth murmurou.

— Talvez você pudesse incomodá-la mais tarde com isso, Kell. Não acho que Raine deveria estar fazendo muita coisa agora, a não ser descansar.

Achando que o soldado soou surpreendentemente protetor da vampira, ele disse.

— Eu não queria expor isto, mas aquele diário pode ser importante.

— E sua recuperação não é? — Seth grunhiu o cortando com um olhar sombrio.

— Por favor, não discutam. — Raine murmurou, seus olhos quietos fechados em concentração. — Eu… posso ver que existe um diário em poder de Spark. Ela o chama de “diário da morte”. Westmore não o achou importante, já que ele não listava nada sobre as espécies de clã existentes que ele já não soubesse, então ele a deixou levá-lo.

— Por que ela quer isso? — Kellan perguntou.

Erguendo seus cílios a psíquica deu um pequeno dar de ombros.

— Não a vejo muito claramente, mas acho que ela só achou interessante. Há informações no diário sobre as espécies que nem sequer existem aqui, mas ela gosta de ler sobre elas. — Com um olhar severo, acrescentou: — Como uma assassina acho que ela considera a morte meio que fascinante.

— Kellan, na semana passada, na noite em que te encontrei com Spark e seus homens, mas você me mandou embora para que pudessem te levar ao Complexo — Kierland disse calmamente —, vi Spark lendo um diário de couro pequeno.

— Sim. É isto. — Raine disse. — Este é o diário que foi tirado dos arquivos.

Passando uma palma da mão no queixo Kellan olhou para Raine, pensando sobre tudo o que ela acabara de dizer.

— Você disse que isto mantém informações sobre as espécies que não existem aqui. O que exatamente significa isso?

— Espécies que não são parte do nosso mundo, mas existem em outros.

Kierland lhe enviou um olhar significativo como se para dizer, você está pensando o que estou pensando?

— Ela leu alguma coisa sobre os Caminhantes da Morte? — Kellan perguntou.

Por um momento a dor nos olhos cinza-azulados de Raine foi ofuscada pela exasperação.

— Você não acha que eu teria dito se ela tivesse?

— Então não há nada sobre eles no diário? — ele pressionou, enfiando a mão no bolso.

Esfregando o braço enfaixado novamente, ela disse:

— Eu não sei. Pelo que posso dizer, Spark só pega o diário de vez em quando folheando suas páginas. Se algo sobre os Caminhantes da Morte está escrito ali dentro, não acho que ela chegou a isso ainda.

— Você não pode simplesmente explorar quem quer que tenha lido o diário? — Seu irmão perguntou

Raine agitou sua cabeça.

— Até onde eu sei, Westmore é a única outra pessoa que poderia ter tido acesso a isto e não posso ler a ele.

— Que tal alguém do Coletivo? — Kellan questionou, correndo uma mão em sua nuca. — É possível que eles o lessem?

— Talvez — ela respondeu. —, mas eu nem mesmo saberia por onde começar.

— E os Casus ou os Kraven? Você pode ver o que eles estão fazendo?

Ela agitou sua cabeça novamente, seu longo cabelo caindo sobre os ombros.

— Acho que não.

— Você pode tentar? — ele perguntou, as palavras rudes espessas com impaciência. — E Gregory? Você sabe onde ele está?

— Já chega. — Seth cortou a conversa, seu tom impiedoso. — Pare de empurrá-la.

— Você está certo. — Soprando uma lufada áspera, Kellan esfregou suas mãos pelo rosto. — Sinto muito, Raine. Eu não vim aqui para agir como um idiota.

— E eu não quero ser difícil. — ela parecia miserável, as sombras embaixo dos seus olhos se tornando mais escuras... mais profundas, como se sua força estivesse sendo drenada bem diante de seus olhos. — É só que… meus poderes não parecem estar funcionando tão bem no momento.

— O que quer dizer?

Ela desviou o olhar, seus olhos brilhando com lágrimas de frustração.

— Estou apenas conseguindo vislumbres das coisas, mas nada muito claro. Sinto muito. Sei que precisa de informações, mas não sei o quanto serei capaz de te dar.

Sentindo-se como um idiota, ele murmurou.

— Cristo, não se desculpe. Você não fez nada de errado.

Um riso baixo escorregou de seus lábios e ela baixou o olhar para o seu colo, onde suas mãos estavam entrelaçadas em um nó.

— Você sabe que não é verdade, Kell.

— Raine, sabemos que você estava apenas tentando proteger sua família. — Kierland disse, seu tom uma simples garantia. — Ninguém aqui te culpa pelas coisas que disse a Westmore.

— Eles não precisam. — Sua voz era suave e apertada. — Eu mesma me culpo.

Movendo-se ao redor de Kellan, Seth se agachou ao lado do catre e estendeu a mão, parecia como se fosse empurrar a queda pesada de cabelo de Raine para trás do seu rosto, mas ela se encolheu e ele rapidamente se levantou novamente, voltando para fora.

Kellan e Kierland disseram que lhe dariam um pouco de privacidade para que pudesse se preparar para partir com eles, e então se juntaram a Seth que caminhava diante da entrada para a barraca, seu rosto numa carranca dura.

— Acho que deveria achar outra pessoa para cuidar dela. — ele murmurou assim que Kierland fechou a abertura da barraca atrás deles. — Ela está morrendo de medo de mim. Escolhendo suas palavras com cuidado Kellan disse.

— Eu não diria que ela tem medo de você, cara. É mais como se estivesse apenas sendo cautelosa.

Seth o cortou com outro olhar sombrio.

— Eu sei quando uma mulher está com medo, Lycan. Não me proteja.

Kellan rolou seu ombro.

— Tudo que estou dizendo é que ela está nervosa ao redor de todo mundo nesse momento. Você lembra do que eu te disse ontem, certo? Aqueles bastardos a espancaram e estupraram não sei quantas vezes antes que eu chegasse ao Complexo. Inferno, Seth, depois do que passou, estou surpreso que ela não grite sempre que qualquer homem passe perto dela.

— Estou tentando não pensar sobre que aconteceu com ela. — o soldado rosnou. — Sempre que eu faço, eu… Cristo, aquele bastardo do Westmore precisa pagar.

— Lidaremos com Westmore mais tarde. Nesse exato momento — Kellan disse. — é importante conseguirmos que Raine se levante. Apenas seja suave porque precisa de alguém como você para manter um olhar atento sobre ela. Eu quis dizer o que disse sobre Westmore vindo atrás dela.

Antes que Seth pudesse responder os três avistaram os irmãos Granger caminhando para o acampamento conversando com Aiden e Quinn, que estavam realizando a patrulha da madrugada.

— Já estava na hora de vocês chegarem aqui! — Kierland gritou indo em direção a eles, enquanto Kellan e Seth o seguiam. Kellan nunca encontrou realmente os dois Deschanel Förmyndares antes, mas reconheceu Ashe Granger pelas fotografias de Morgan, e assumiu que o vampiro alto de cabelos escuros caminhando ao lado dele era seu irmão. O cabelo de Gideon era um pouco mais longo do que o de Ashe, mas suas feições e compleições notavelmente semelhantes. Kierland fez as apresentações, então perguntou: — Onde diabos vocês dois foram? Seth disse que algum tipo de negócio familiar veio à tona, mas não sabia mais nada.

— Recebemos um telefonema de um de nossos primos e tivemos que encontrar com ele antes que pudéssemos vir aqui. — Ashe respondeu, deslizando sua mochila pesada pra fora do seu ombro. — Sinto muito que não conseguimos ajudar no Complexo. Quinn estava apenas nos atualizando sobre o que aconteceu.

— Esta coisa com seu primo — Kierland disse cruzando seus braços musculosos sobre o peito enquanto segurava o pálido olhar cinza do vampiro. —, teria algo a ver com aquela dificuldade de família que você se recusou a me contar na semana passada?

— Não se preocupe. — o vampiro contornou com um sorriso afiado. — Não é nada que não podemos lidar.

Kierland parecia frustrado, mas deixou o assunto passar.

— Você se chocou com algum problema em seu caminho até aqui? — ele perguntou a Gideon que estava empurrando seu cabelo escuro do rosto, a posição de seu braço erguido revelando a brilhante Sig que tinha no coldre embaixo do paletó.

— Não bati em nenhum problema. — o vampiro falou lentamente, sua voz profunda segurando uma pitada de sotaque escandinavo. — Mas há algumas coisas que preciso te dizer. E deixe-me adiantar dizendo que as novidades não são boas.

— O que aconteceu? — Kellan perguntou.

— Pouco antes de virmos para Wasteland ouvimos de um tio que está morando nos Estados Unidos. A história acaba de sair no noticiário de lá. Pelo que ele nos disse, parece que a mídia americana ventilou algum tipo de suposta atividade paranormal ocorrendo em uma cidade rural em algum lugar no Texas. Não temos confirmação ainda, mas achamos que os Caminhantes da Morte podem estar tomando uma segunda chance para fortalecer aquele pequeno exército deles.

— Filho da puta. — Kierland amaldiçoou, seus olhos verdes queimando com um brilho quente e bravo. — Eu não acredito nisto.

— O Consórcio está tentando controlar os danos — Ashe adicionou. —, mas eles deixaram correr frouxo por muito tempo. Esta coisa está ganhando impulso. Ainda que consigam cobrir as coisas no Texas, quem sabe o que acontecerá na próxima vez?

— E o Coletivo?— Quinn perguntou, correndo seu olhar em direção a Seth.

O Exército Coletivo sempre fez o seu melhor para esconder qualquer prova dos clãs antigos que caíram em suas mãos, inclusive indo tão longe a ponto de elaborar um composto químico que destruiria qualquer evidência de suas matanças. Pelo que Kellan entendia o Exército não queria outros grupos de vigilantes humanos interferindo com sua caça, mas também suspeitava que o Coletivo gostava de trabalhar fora das leis de qualquer governo.

— Pelo que ouvi de minhas fontes — Seth respondeu. —, o Exército é basicamente um caos agora e as ameaças de revolta são cada vez mais fortes. Eu não acho que eles estão em qualquer posição para ajudar a conter qualquer coisa, muito menos colocar um fim nisso.

Kierland amaldiçoou novamente e Aiden rolou seu ombro dizendo.

— Do jeito que as coisas tem se movido, era apenas questão de tempo antes que algo assim acontecesse.

— Não significa que tenho que gostar disso. — Kierland grunhiu. — Se os humanos descobrirem sobre nós, quanto você acha que serão compreensivos, Ade? Pensa que Jamie estará segura? Sua noiva pode ser humana, mas e sua filha?

O metamorfo de tigre fez uma careta, seus olhos âmbar sangrando em ouro.

— Você acha que não sei como isso é perigoso? — ele rosnou. — Mas que diabos devemos fazer? Cristo, nós ainda nem sabemos como matar os bastardos!

— Mas poderíamos ter uma vantagem. — Kellan cortou, rapidamente explicando o que Raine disse sobre o diário da morte.

— Receio que esta não é a única notícia ruim que temos. — Gideon continuou dizendo. — Nós também ouvimos que os Shaevan atacaram os Deschanel em retaliação à aldeia na França. Parece que os planos dos Caminhantes da Morte para criar o caos estão funcionando, e agora todo o inferno está se soltando.

Quinn esfregou suas mãos pelo rosto.

— Deus — ele murmurou. —, isso está se transformando num maldito banho de sangue.

Só então Juliana Sabin se aproximou, suas feições delicadas gravadas com a tensão quando se juntou ao grupo entre Kierland e Ade.

— Sinto interromper — ela disse —, mas nós… — Suas palavras foram sumindo quando ela avistou os Grangers, mas rapidamente desviou seu olhar para longe deles e limpou sua garganta, focando em Kierland quando disse. — Nós temos um problema. Os batedores que enviei esta manhã para se certificar que nosso caminho para o Complexo da minha família estaria livre acabaram de voltar. Nenhum deles foi morto, mas foram atacados por um grupo de Caminhantes da Morte. Aparentemente os Caminhantes queriam que eles entregassem uma mensagem.

Kellan sentiu que as coisas estavam prestes a ficar muito piores.

— Qual é a mensagem?

— Eles queriam que você soubesse que os Infettato apreciaram os Sentinelas… e agora estão prontos para mais.

— Merda. — rosnou Quinn, seus olhos escuros ardendo de fúria. — Os humanos que foram infectados na aldeia devem ter matado a unidade que chamei para vigiá-los.

— Mas como? — Seth perguntou, sua voz profunda afiada com descrença. — Eles estavam tão fracos que mal podiam se manter em pé.

— Eles devem ter ficado mais fortes. — Quinn forçou as palavras entre os dentes cerrados. — Assim como aquele bastardo com quem conversamos disse que seria.

— Então o que faremos? — Aiden perguntou, uma profunda carranca encaixada entre suas sobrancelhas amareladas.

— Na verdade não são com os Caminhantes da Morte com quem precisamos nos preocupar. — As palavras roucas eram de Raine e todos olharam em direção a barraca de Seth, onde a frágil psíquica estava na entrada, seu rosto pálido comprimido com uma expressão que era tanto de desconforto quanto determinação. — Eles já deixaram Wasteland, mas trouxeram os Infettato aqui. Os humanos infectados estão a sudoeste de nós.

— Então estão bloqueando nosso caminho para o Complexo Sabin. — murmurou Juliana.

Pegando o olhar de Raine,Kellan perguntou:

— Você tem certeza?

— Minha visão mal está funcionando no momento, mas vi isso claramente agora. Os Infettato estão vindo em nossa direção nos rastreando pelo cheiro.

Chloe se juntou ao grupo crescente com Morgan, e enquanto a Sentinela feminina jogou os braços em volta do pescoço de Ashe Granger num abraço amigo e exigiu saber onde ele estava, Chloe abriu caminho para o lado de Kellan.

— O que está acontecendo? — ela perguntou, sua expressão mostrando sua preocupação.

Embora soubesse que estava esperando por uma explicação, Kellan só podia olhar para ela, momentaneamente perdido no quanto ela parecia bonita na luz da manhã sombria, os tons pálidos da luz do sol tocando suavemente os fios de seu cabelo escuro. Ela esteve no inferno nos últimos meses e, no entanto, não reclamou nenhuma vez. Em vez disso ela se manteve ocupada naquela manhã ajudando com as tarefas que pudesse encontrar, encaixando-se no grupo como se sempre fosse parte dele, e agradecendo pessoalmente a todos por terem vindo à Wasteland para se certificar que Kellan saísse em segurança do Complexo.

Ele podia dizer que todos estavam encantados com ela e embora lesse uma leve cautela em seu olhar, como se ela ainda estivesse preocupada sobre como a maldição Mallory afetaria o grupo, Kellan não viu qualquer sinal que o fizesse pensar que a maldição estava influenciando alguém. Ela explicou durante uma de suas conversas tranquilas no meio da noite, como a maldição poderia afetar grandes grupos de pessoas, contando sobre uma ocasião em que sua irmã Monica ganhou ingressos para um jogo dos Colts e levou Chloe por causa do seu aniversário. Elas estavam tendo um momento maravilhoso até que perceberam que as pessoas ao seu redor estavam se tornando cada vez mais agressivas quando os Colts ficaram um pouco atrás no placar. No terceiro quarto, quando os Colts estavam apenas perdendo por um touchdown, uma briga violenta apareceu inesperadamente e as irmãs foram forçadas a rastejar pelos corredores para escapar.

— Kellan?

Ele voltou à consciência quando ela disse seu nome, chocado por ter realmente sonhado acordado por alguns segundos, considerando que estavam no meio de uma crise. Ignorando o riso abafado de Aiden ele pigarreou e disse:

— Os Infettato estão se dirigindo pra cá.

— Oh, meu Deus. — ela sussurrou e ele agarrou sua mão, ciente do curioso olhar do seu irmão. — O que vamos fazer?

Dando-lhe um aperto de mão tranquilizador ele disse.

— Vamos ter que lutar.

— Talvez não. — Juliana murmurou, chamando a atenção de todo mundo.

— Você teve uma ideia? — Seth perguntou.

— Existe uma pequena cordilheira que começa no lado leste desta floresta. — Juliana explicou. — Uma cachoeira desce pela face da montanha cobrindo completamente a entrada de uma série de cavernas.

Kierland assentiu enquanto agarrava Morgan, que finalmente parou de abraçar Ashe e a puxou para mais perto.

—Eu vi a cachoeira quando estava patrulhando.

— Sim, eu também. — Aiden adicionou. — Parece que é alimentada por algum tipo de fonte de água quente.

O vento soprava os longos fios de cabelo da Deschanel quando ela disse.

— Se derramarmos um pouco da água benta que vocês trouxeram na fonte, pode ser suficiente para impedir os Caminhantes da Morte de nos seguir, talvez possam mudar de ideia e voltar para trás em outra direção. Estou achando que se pudermos ir pelas quedas e as cavernas, então poderíamos viajar sob as montanhas, que realmente não acabam longe do Complexo da minha família.

Gideon que ficou observando silenciosamente a troca, perguntou:

— E quanto aos Infettato?

— Se estiverem nos rastreando pelo cheiro — Juliana respondeu. —, então a água deve cobrir nosso rastro. Eles não terão ideia por onde nós passarmos.

— Considerando que não sabemos como matá-los — Quinn murmurou. — esta pode ser nossa melhor opção.

— Talvez. — Ashe murmurou. — Mas odeio correr de uma briga.

— Não estamos correndo. — apontou o seu irmão com um sorriso torto. — Estamos estrategicamente adiando.

— Certo. — o vampiro bufou, curvando seu lábio. — Agora por que não pensei em olhar para isso desta forma?

— Não é possível evitar se você é lento. — Gideon falou lentamente, seus olhos cinzentos brilhando de tanto rir e Kellan podia dizer que o cara conseguiu expulsar a irritação do seu irmão.

— Considerando toda a merda que vem atrás de nós — Kellan disse mantendo um aperto firme na mão de Chloe. —, é preciso colocar a sobrevivência antes de nosso desejo de chutar traseiros.

— O único lado ruim em que posso pensar — Juliana adicionou. — é que nossa viagem será um pouco mais longa.

— Desde que seja mais segura — Kierland disse, deslizando um olhar afetuoso para Morgan. —, eu não dou a mínima para quanto tempo leve.

— Mais alguém sabe sobre essas cavernas? — Aiden perguntou, sua camiseta preta impressa com letras brancas dizia: “Venha para o lado negro... Nós temos biscoitos”.

— Não posso dizer com certeza — Juliana disse em resposta para a pergunta do metamorfo. —, mas imagino que os Sabins não são os únicos que as descobriram.

— Então precisaremos ficar atentos. — Quinn murmurou.

Aiden deu um latido rouco de riso e levantou suas sobrancelhas.

— Não estamos sempre?

— Ele disse atento, não sarcástico. — Chloe falou lentamente e Kellan sorriu, pensando novamente sobre como ela se encaixou perfeitamente com os seus amigos.

Cruzando os braços musculosos sobre o peito largo, Ashe Granger de repente virou seu olhar penetrante para Juliana, sua voz um pouco mais áspera quando disse.

— Você realmente acha que sabe o que está fazendo?

Respirando fundo ela ergueu seu queixo e respondeu sua pergunta.

— Acho que conheço esta terra melhor do que você.

Ashe curvou suas sobrancelhas e bufou.

— Isso porque entre nós dois, querida, você é a fora da lei.

— Vá para o inferno. — ela rosnou girando nos calcanhares e se afastando, enquanto todos no grupo se voltaram para olhar Granger, incluindo seu irmão. Não que ele notasse. Ao invés de reconhecer seus olhares curiosos, o vampiro manteve seu olhar escuro bloqueado em Juliana Sabin... e Kellan podia jurar que o cara estava olhando para sua bunda quando ela se afastou.

 

Quinta-feira à tarde

Embora Kellan estivesse mais do que um pouco cético, o plano de Juliana para despistar os Infettato realmente funcionou, e foi uma experiência surreal quando eles abriram caminho através da cachoeira que escondia a entrada para as cavernas. Enquanto a cachoeira em si foi congelante, a piscina era maravilhosamente quente, aquecida por fontes naturais de água quente que Juliana contou que se espalhavam sob a montanha, aquecendo a rota que eles estavam usando para chegar ao Complexo Sabin. E graças à bolsas impermeáveis ​​que Quinn trouxe em caso de forte nevasca, eles foram capazes de manter seus pertences secos; as lanternas de querosene que os batedores de Juliana forneceram iluminavam o caminho enquanto eles viajavam mais profundamente na montanha.

Embora a situação não fosse ideal, Kellan não podia deixar de sentir que estavam num bom começo, finalmente um pouco de sorte em seu caminho.

Ainda assim eles permaneceram em alerta máximo, sabendo que pagavam por ser cautelosos.

Depois que todos no grupo deixaram a primeira caverna — com exceção de Garrick e dois dos batedores de Juliana que tomaram um atalho traiçoeiro para sair de Wasteland para que o soldado pudesse chegar a família de Raine — Raine sentira que os Infettato perderam seu cheiro.

Mas os humanos infectados não desistiram, impulsionados pela sua fome insaciável e segundo a psíquica, ainda estavam procurando por uma nova trilha a seguir. E apesar do fato de que os Caminhantes da Morte já deixaram Wasteland, Kellan e os outros ainda esvaziaram um galão de água benta com sal na piscina só para garantir, o que quase dizimou seu suprimento de viagem.

Nunca tendo gostado particularmente de espaços apertados e fechados — algo que ele tinha em comum com Morgan — Kellan estava aliviado ao descobrir que as cavernas eram maiores do que ele esperava, com pelo menos 3 metros e meio de altura e uma largura de 9 metros ou mais na maioria dos lugares.

Ele nesse momento estava caminhando com seu irmão e Morgan, enquanto Chloe caminhava na frente conversando com Juliana.

De vez em quando a bruxa Merrick olhava por cima do ombro e sorria para ele — e cada vez que ela fazia, aquele simples ato de conexão o atingia como um soco no estômago, sugando o ar diretamente de seus pulmões.

Embora ele estivesse tentando lhe dar algum espaço e sentia que ela estava fazendo o mesmo por ele, Kellan sabia que era apenas questão de minutos antes deles gravitarem de volta para o outro, falando sobre tudo, desde filmes e música até seus autores favoritos e times. Assuntos inócuos, mas que lhes permitiam pisar com cuidado na vida do outro como raízes lentamente entrando no solo, até que as sementes de amizade pudessem se entrelaçar com os brotos do que já era um caso desabrochado.

Só que essa era uma amizade diferente de todas as que Kellan já conheceu, temperada pela necessidade de revelá-la peça por peça, até que ele fosse capaz de entrar e explorar cada parte dela, cada detalhe íntimo deslumbrante para ele de uma forma que ainda não entendia completamente.

Tudo que sabia era que queria quebrá-la, mas não com maldade ou dano. Ele só queria levá-la à parte para que pudesse reunir as peças espalhadas de sua alma... e ser a única coisa que a unia. Mas era uma faca de dois gumes, porque isso significava que ele tinha que quebrar também. Significava que precisaria dela para uní-lo novamente, quando Kellan sabia muito bem que não havia nada que pudesse fazer para mantê-lo inteiro. Ele já estava quebrado de uma maneira que não podia ser desfeita. Não poderia ser corrigida.

E eu sou um canalha por levar essa coisa adiante, ele silenciosamente resmungou, aborrecido consigo mesmo. Sabia que se dirigiam para uma colisão desagradável e feia com uma parede de tijolos, o resultado era inevitável. E, no entanto, não podia se forçar a ficar longe dela. Chloe Harcourt era como sua marca pessoal de crack que o deixava completamente viciado, e embora houvesse momentos em que realmente gostaria de poder culpar sua obsessão com a maldição Mallory, Kellan sabia que seria uma mentira.

O que ele sentia... era real. Ele apenas desejava saber como provar a ela.

— Sabe, estive observando você o dia todo — Kierland subitamente rugiu ao seu lado. — e durante todo o tempo, você tem observado a bruxa com este olhar faminto em seus olhos que nunca vi em você antes. Ela o fisgou, não é?

Kellan arqueou uma sobrancelha decidindo virar o jogo contra o seu irmão, dizendo:

— Estou querendo te perguntar a mesma coisa sobre Morgan.

Em vez de reagir com um comentário sarcástico como havia esperado, Kierland realmente deu um latido rouco de riso e estendeu a mão, puxando Morgan apertada contra o seu lado.

— Ela me fisgou, certamente. — seu irmão murmurou se inclinando para pressionar um beijo quente na boca sorridente de Morgan.

— Você sabe — Kellan disse com voz arrastada com um lento sorriso de comer merda — se você pensar nisso, Kier, na verdade você me deve por colocar você nessa confusão.

Kierland imediatamente lhe atirou um olhar sombrio, seus músculos fervendo com tensão, mas Morgan simplesmente bateu levemente em seu peito, acalmando a raiva do Lycan quando ela deslizou a Kellan um sorriso torto.

— Eu sei que você adora apertar os botões do seu irmão, mas tome cuidado, Kell. Ele ainda quer torcer seu pescoço por assustá-lo como o inferno com seu louco plano de merda para conseguir ser capturado.

Kellan aceitou o aviso com um puxão de seu queixo, depois disse baixinho:

— Sabe, vocês dois ainda não me disseram o que passaram para chegar até aqui. Imagino que foi uma viagem muito difícil.

Pela meia hora seguinte Kierland lhe contou sobre como ele e Morgan viajaram para Wasteland com Ashe Granger depois que Kellan desapareceu, a voz do seu irmão ficando mais áspera quando admitiu que ele quase perdeu Morgan na noite em que ele saiu sozinho para encontrar Kellan, determinado a impedí-lo de seguir completamente com seu plano. Morgan o seguiu e fora atacada por um grupo de Caminhantes da Morte. Ela foi gravemente ferida no ataque antes de Ashe e os Sabins conseguirem afugentar as criaturas, e foi só o poder de cura da mordida de acasalamento de Kierland que salvou sua vida. A mordida a marcou como do seu irmão para toda a eternidade, e Kellan não podia estar mais feliz por Kierland, sabendo que o cara foi louco por Morgan por anos.

Kellan tinha acabado de agradecer ao casal por tudo o que passaram para ajudá-lo, quando diante deles Ashe começou a andar ao lado de Juliana, que ainda estava falando com Chloe.

Eles não podiam ouvir o que foi dito entre os dois Deschanels, mas dentro de trinta segundos a espinha de Juliana endureceu e ela cruzou depressa para o outro lado do túnel, colocando o máximo de espaço possível entre ela e Granger.

— Qual o negócio com aqueles dois? — Kellan perguntou, olhando para seu irmão.

Com um braço envolvido ao redor dos ombros de Morgan, Kierland deu de ombros.

— Ninguém sabe, mas eles estão assim desde que se conheceram na semana passada. Acho que ela só o esfrega do modo errado.

— Parece que a pequena vampira não gosta dele tamb...

As palavras de Kellan de repente esmaeceram quando Gideon Granger tomou o lugar de Juliana ao lado de Chloe, o vampiro moreno de boa aparência andando tão perto dela que seus braços se tocaram quando ele disse algo que a fez rir.

— Gid. — Ashe murmurou. — Afaste-se da bruxa, irmão. — O vampiro lançou um olhar rápido para trás em direção a Kellan, que tinha as mãos fechadas ao lado e acrescentou: — Quanto mais cedo melhor.

Gideon girou sua cabeça em direção ao seu irmão.

— Há um problema?

— Só faça isto — Ashe grunhiu. — ou o Lycan vai ter sua maldita cabeça.

Sem sequer se preocupar em olhar em direção a Kellan, Gideon deu um bufo arrogante.

— Ele pode tentar.

Enquanto Chloe enviou um olhar curioso sobre o ombro, Kellan ouviu Ashe murmurar:

— Não é a hora ou o lugar, Gid. Assim fique o inferno longe dela.

Algo no olhar sombrio do seu irmão deve tê-lo convencido a prestar atenção à advertência, porque o vampiro deu um rolar irritado de seu ombro então voltou sua atenção para Chloe, sua voz profunda misturada com irritação, ele disse.

— Desculpe, querida. Acho que você está atualmente fora dos limites.

Kellan não pode ouvir o que ela disse em resposta, mas quando Gideon se afastou dela podia sentir que o bastardo ainda estava interessado.

— Eu odeio causar problemas — Kellan murmurou baixinho —, mas acho que vou ter que matar seu novo amigo.

— Ah, não se importe com Gideon. — Kierland retumbou. — Ele não vai empurrá-lo longe demais. Está apenas puxando suas correntes.

Kellan correu sua língua sobre seus dentes, sua voz um pouco mais áspera quando disse.

— Eu não dou uma merda para o que ele está fazendo. Ele fica longe dela ou já era.

Aiden surgiu do outro lado de Kellan, assobiando baixinho enquanto lhe golpeava no ombro.

— Nunca pensei que veria o dia em que você estivesse realmente ciumento, filhote. Seremos cunhados então?

— Cale a boca, Ade.

— Sinto muito, irmão — o tigre metamorfo falou com voz arrastada, claramente se divertindo. —, mas isso é assunto de família. Vendo como vou casar com a irmã dela, é justo que eu saiba suas intenções.

— Minhas intenções não são da sua maldita conta. — Kellan rosnou, mas as palavras tiveram pouco efeito. A gozação continuou durante todo o longo dia de caminhada através da cadeia sinuosa de cavernas até que estava pronto para torcer o maldito pescoço de Aiden.

No momento em que eles acamparam naquela noite e se estabeleceram em torno de outra das fogueiras sem fumaça de Juliana, ele estava acabado e dolorido, o veneno o comendo vivo por dentro.

Juliana continuou a lhe enviar olhares questionadores, como se perguntando quanto tempo manteria a verdade para si mesmo, mas ele respondeu a cada vez com um aceno brusco da cabeça e ela desviava o olhar novamente. Mas mesmo agora a vampira estava conversando com Chloe enquanto as duas faziam companhia a Raine, e não podia deixar de temer que ela dissesse algo que ele não queria.

— A Merrick gosta de você. — Morgan murmurou, puxando-o de seus pensamentos privados quando se sentou ao seu lado.

— Claro que gosta. — Kellan deslizou a Sentinela um sorriso torto. — Eu a tirei daquele lugar. O que provavelmente me torna a pessoa que ela mais gosta no mundo.

Com um revirar de seus olhos cinzas, Morgan disse.

— É mais que gratidão, Kell.

— Então o que você chama aquilo? — ele perguntou observando como Chloe deixou Juliana e Raine e se dirigiu para Jamison, que estava sentado sozinho em cima de um pedregulho lendo um livro. Agindo como se fossem amigos de longa data Chloe se sentou ao lado do Lycan e começou a conversar com ele. Jamison rapidamente colocou seu livro de lado lhe dando sua total atenção, e Kellan sentiu algo cru e possessivo se estabelecer em suas entranhas, suas narinas dilataram com agressão.

— Ela está tentando deixar você com ciúmes? — Morgan perguntou inquieta.

— Aquela bruxinha sorrateira. — ele murmurou baixinho, observando enquanto Chloe se inclinava um pouco mais perto de Jamison. — Não acredito nisso.

A tensão de Morgan aumentou.

— Vai me dizer o que está acontecendo, ou me deixar no escuro?

Kellan estalou sua mandíbula, lutando para controlar seu temperamento.

— Ela está testando sua teoria.

— Sua teoria sobre o que? — Seu irmão rugiu atrás deles, obviamente bisbilhotando sua conversa. — Como te irritar?

— Não é o momento. — ele murmurou, sua paciência já se esgotando. — Então desista, Kier.

— Kellan — Morgan disse suavemente disse. — isso por acaso tem algo a ver com o fato que Chloe é uma bruxa Mallory?

Com um aceno de cabeça nítido e uma maldição baixa ele se levantou... e foi em direção a sua presa.

 

Me passe uma cantada. Coloque sua mão no meu joelho.

Com os músculos tensos a ponto de doer, Chloe repetia os comandos mentais, a pressão em sua cabeça tão forte que estava surpresa que seu crânio não tivesse se dividido ao meio. Jamison Haley era um cara agradável, mas sua pequena experiência não parecia estar funcionando.

Embora tivesse certeza que o pegou olhando para ela mais cedo com um brilho de interesse masculino e que a maldição deveria ter sido acionada, agora que estava concentrando sua atenção nele nada estava acontecendo.

Se muito Chloe parecia estar assustando como o inferno o pobre rapaz quando se moveu um pouco mais perto dele, seu olhar preocupado começando a agitar em direção ao lugar onde sabia que Kellan estava sentado.

Kellan lhe contara a horrível história sobre como Jamison fora capturado por Spark e torturado por Gregory DeKreznick. Ele estava morrendo quando os Sentinelas o encontraram e Kierland o mordeu para salvar sua vida, transformando-o num lobisomem. Depois de tudo o que ele passou, ela odiava brincar com suas emoções, mas não sabia qual outra opção ela tinha. Precisava testar a maldição e estava com muito medo de experimentar suas teorias em qualquer dos outros homens em seu grupo. A situação era uma droga, mas tinha que fazer algum tipo de jogo para verificar a realidade, porque estava ficando dolorosamente claro que seus sentimentos por Scott Kellan estavam fora de controle.

Ontem à noite Chloe realmente tinha esperado que ele ficasse furioso com sua admissão sobre a maldição e suas suspeitas que seu sangue Merrick poderia estar afetando-o, mas em vez disso ele fez feito amor com ela inúmeras vezes ao longo das horas surreais de escuridão, afogando seus sentidos em onda após onda de devastador prazer erótico.

E o dia foi ainda mais inquietante, porque cada vez que ficava perto dele ela se via se apaixonando por ele um pouco mais forte. Um pouco mais profundo...

Deus, havia tanto perigo aqui. Não de Kellan em si, mas do quanto estava começando a gostar dele. Desfrutar dele. Ela não estava nem mesmo falando sobre sexo, apesar de ter sido in-fodidamente-crível. Era apenas estar com ele, passar tempo com ele. Ele era engraçado, protetor e esperto. Arrogante, mas humilde, também. O cara era simplesmente muito bom para ser real e Chloe sabia que precisava obter o controle agora, antes que fosse longe o bastante para começar a implorar por mais do que sexo.

De jeito nenhum ela podia deixar isso acontecer, porque por mais incrível que ele fosse, Kellan Scott nunca fez menção de qualquer tipo de relacionamento futuro entre eles, como se seu tempo juntos se limitasse a sua fuga de Wasteland. Se ela quisesse ser capaz de se afastar dessa coisa entre eles com o coração ainda inteiro, tinha que se lembrar que ele estava nisso apenas pelo físico e não o emocional.

De repente, consultando seu relógio pela quinta vez em apenas alguns minutos, Jamison disse:

— Está, uh, ficando muito tarde.

Com pena do pobre rapaz, Chloe finalmente desistiu do seu esquema e disse boa noite a ele, seus pensamentos mergulhados no caos enquanto se dirigia para a pequena caverna onde Kellan disse que instalaria sua barraca.

Poderia ser verdade? Ela se perguntou, sentindo-se ainda mais perdida do que antes. A maldição realmente estava sumindo?

Parecia loucura, mas Chloe não podia negar que temia acreditar que a maldição finalmente chegou ao fim. Aterrorizada, na verdade, de levantar suas esperanças, quando fora para essa coisa com Kellan com os olhos abertos sabendo que era apenas a curto prazo. Mas Deus, isso foi tão mais fácil de aceitar antes dela passar tanto tempo com ele.

Antes dela... antes dela enlouquecer e começar a se apaixonar pelo complicado alfa.

Quase tropeçando em seus próprios pés, a verdade dessa afirmação atingiu seu sistema com a força impressionante de uma explosão nuclear e ela respirou fundo, apertando a mão trêmula em seu estômago que estava vibrando.

Tremendo com confusão, Chloe tinha quase alcançado a caverna que continha sua barraca, um pequeno fogo cintilando dentro, quando Gideon Granger a deteve. Eles conversaram por alguns momentos e então ela entrou, grata pelo isolamento que a caverna fornecia, querendo um pouco de tempo sozinha com seus pensamentos.

— O que ele disse a você?

Sem saber que Kellan a seguiu, Chloe se virou com um arquejo.

— Quem? — ela perguntou, levantando a mão do seu estômago para pressioná-la contra seu coração disparado.

— O vampiro. — Ele forçou as palavras entre dentes cerrados quando parou a alguns metros de distância de onde ela estava, o pequeno recinto acentuando sua altura e constituição musculosa.

Lambendo seus lábios com um estalido nervoso de sua língua, ela disse.

— Gideon? Ele me disse boa noite.

— Só isso? — ele perguntou, seus olhos escuros queimando com acusação.

Recusando-se a ser intimidada, Chloe tomou outra respiração profunda e cruzou seus braços sobre o peito.

— Não que seja da sua conta Kell, mas ele disse que eu lembrei a ele de alguém que conheceu muito tempo atrás.

— Seja cuidadosa perto dele. — ele a advertiu, empurrando uma mão de volta através dos espessos fios de seus cabelos ruivos. — Sua reputação é ainda pior que a minha.

Sufocando uma risada ofegante, ela disse.

— Eu honestamente acho difícil de acreditar.

Ele deu um passo mais perto, soltando sua voz a um rouco raspar sombrio.

— E aquele pequeno número que você estava puxando com Jamison?

— Que número? — ela perguntou sem convicção, o calor em seu rosto dizendo que estava corando como uma idiota. Chloe poderia dizer pelo olhar em seus olhos que ele a estava observando o tempo todo.

Seu cabelo caiu sobre a testa quando se aproximou ainda mais. O aroma rico e delicioso de sua pele encheu sua cabeça, seus corpos quase se tocando enquanto ele olhava para seu rosto virado para cima.

— Está tentando me testar? — ele exigiu, as palavras suaves, mas ásperas, seu peito subindo e descendo com cada uma de suas respirações irregulares e rígidas. — Porque posso te dizer agora que é uma má ideia. Você vai se encontrar com um lobo irritado em suas mãos, e tudo com o que ele irá se importar é ter certeza que você entenda exatamente a quem o seu pequeno traseiro pertence.

— Oh? E quem é esse? — ela retrucou, achando estranho que pudesse estar tão irritada e ligada ao mesmo tempo.

— No momento pertence a mim.

Seus olhos se arregalaram.

— No momento? Deus, Kellan. Você tem alguma ideia do quanto isso soa chauvinista?

Ignorando sua pergunta, ele disse.

— Sei o que estava fazendo lá atrás. E não funcionou, não é?

— Eu estava só conversando com ele. Isto é crime?

— Você estava paquerando com ele. — ele rosnou, pegando em seus ombros. — Testando-o. Cristo Chloe, pensei que resolvemos essa merda sobre a maldição na noite passada!

Escolhendo suas palavras com cuidado, ela parou de fugir… e em vez disso lhe deu uma explicação.

— Este é um jogo perigoso que estamos jogando, Kellan. Então sim, eu o estava testando. Sei que estava errada e não estou orgulhosa disso, mas preciso de respostas. Depois de tudo o que aconteceu estou muito tensa para continuar trepando com você assim. Não posso explicar porquê, mas sinto que temos um machado pairando sobre nossas cabeças. Como se algo ruim estivesse para acontecer.

— A única coisa que irá acontecer é que você vai ficar mais forte, porque vamos garantir que a Merrick continuará recebendo o que precisa.

— Então só está aqui comigo por causa da Merrick? — ela exigiu com uma explosão de indignação.

— Estou aqui porque não posso me manter afastado você. — ele rosnou, puxando-a para mais perto e de repente cobrindo sua boca com a dele. O beijo era exigente temperado com violência, roubando o fôlego de Chloe... roubando os pensamentos conturbados de sua mente.

Com as mãos trêmulas ele arrancou suas roupas e a levou para a barraca, rapidamente colocando um preservativo antes de pressioná-la sobre o catre.

Suas mãos eram duras em seu corpo, o homem reduzido aos seus instintos primários, animais, mas ela adorou. Amava o som áspero que ele fazia enquanto corria o calor úmido de sua boca ao longo de sua mandíbula e pela sua garganta, beijando seu caminho pelo seu peito. Com sua língua rodando por um mamilo sensível, ele rolou de costas, puxando-a pra cima dele... então a puxou mais pra cima do seu corpo.

O coração de Chloe sacudiu em sua garganta no momento em que percebeu sua intenção, mas antes que pudesse detê-lo se viu escarranchada em seu rosto, sua língua lambendo avidamente por suas dobras, e o prazer arqueando seu corpo com tal força atordoante que teve que cobrir sua boca com a mão para abafar seu grito.

— Kellan. — ela ofegou, quando pode finalmente tomar ar suficiente para falar, mal capaz de se manter ereta, o brilho quente de êxtase derretendo seus ossos. — É demais...

— É uma pena. — respondeu asperamente, sua respiração rude correndo contra sua carne sensível. — Desta vez Chloe, não vou parar até que esteja gozando na minha boca.

— Não posso suportar isso. — ela soluçou tentando se aguentar, mas era impossível. Raiva derretida pela fome, suas preocupações em desejo, e ela se perdeu, gozando forte e rápido com os braços curvados sobre sua cabeça enquanto gritos roucos derramavam de seus lábios.

Seu corpo pulsava com pontos de luz ofuscante e quentes e ele rosnou com satisfação visceral, mantendo-a com seus lábios e língua, sua boca deliciosamente gananciosa, deixando-a saber que ele saiu do ato explicitamente íntimo tão inteiro quanto ela.

Ela ainda estava gozando forte, doce e pesado quando ele reforçou seu poder sobre os quadris e a ergueu com facilidade ridícula, o poder em seus braços musculosos tirando seu fôlego.

Então roubou seu fôlego completamente quando a puxou para o seu corpo… e direto na cabeça latejante do seu pênis.

— Tome Chloe. Tudo de mim. — ele gemeu, seus dedos cravando em seus quadris enquanto esperava, mandíbula cerrada, para ela trabalhar sua descida em todas aquelas grossas polegadas cheias de veias.

Um arfar sufocado sacudiu seu peito quando ela finalmente se embainhou nele, seu corpo esticado até o limite, seu rosto formigando, o sangue pulsando em seus ouvidos e seios... em seus dedos das mãos e dos pés.

Curvando a mão por trás do seu pescoço ele a puxou contra o seu peito e a virou, invertendo a posição de seus corpos, seus quadris batendo contra os dela, empurrando seu pau tão profundamente que ela sentiu como se estivesse em cada parte dela, ocupando espaço em cada célula do seu corpo.

Sua mão cerrada em seu cabelo a segurando, seus olhos febris, quentes e selvagens com a necessidade, brilhando num azul sobrenatural, a intensidade absoluta do seu olhar tornando impossível para Chloe desviar o olhar. Observando-a de perto ele puxou seus quadris para trás, em seguida apertou se empurrando profundamente, a fricção lisa e devastadora muito boa para suportar.

Ele a mataria de prazer, mas não se importava. Só queria mergulhar em cada segundo de felicidade, seus dedos formigando enquanto passava as mãos em toda a extensão musculosa de suas costas, amando aquele jogo tipo animal, os músculos sob sua pele escorregadia de suor quando começou a montá-la num ritmo áspero e triturador.

Ele fez um som duro e espesso em sua garganta, e então sua boca estava cobrindo a dela, o beijo cru drogando seus sentidos com prazer. Ela gozou gritando e ele engoliu o som agudo, o orgasmo a pegando numa arremetida explosiva, quebrando sobre ela em outra onda destruidora de êxtase.

— Você não gozou? — ela sussurrou contra sua garganta, quando pode finalmente recuperar o fôlego, percebendo que ele ainda estava duro dentro dela, parecendo ainda maior do que antes.

— Ainda não. — ele rosnou, calçando seus quadris mais apertados entre as coxas. Seus lábios macios tocaram a maçã de seu rosto como se provando o calor de sua pele, seus músculos travando no instante em que encontrou o rastro de lágrimas quentes deslizando pelo canto do olho. — Que diabos, Chloe? — Ele recuou sua cabeça para que pudesse ver seu rosto. — Machuquei você?

Ela agitou sua cabeça, respirando de forma trêmula, tentando se encontrar.

— Então por que está chorando?

— Porque não deveria ser tão bom!

No começo ele não disse nada, um tremor se movendo pelo seu corpo grande e musculoso enquanto se manteve duro e ainda embalado dentro dela. Então ele calmamente perguntou:

— Por quê?

Chloe virou o rosto para o lado, desejando nunca ter dito nada, porque agora que a conversa começou sabia que não acabaria bem.

— Porra. — ele rosnou, perdendo sua paciência. — Responda.

Calmamente ela disse.

— Isso não é real, Kellan.

— Você está errada. — Apoiando seu peso num braço ele tocou seu queixo, exigindo que olhasse pra ele, seus olhos ardendo nas sombras cintilantes lançadas pelo fogo distante. — Eu te disse antes, isto é tão real quanto consegue.

— Você está me dando seu corpo — ela sussurrou, incapaz de deter suas lágrimas. —, mas… é só isto.

Suas sobrancelhas se juntaram sobre o azul chamejante de seus olhos, seu coração batendo fortemente contra o dela.

— Que diabos isso quer dizer?

Chloe lambeu seus lábios.

— Você está se contendo.

Por um momento ele pareceu atordoado e então um estrondo horrendo, ofegante de riso agitou seu peito.

— Você tem que estar brincando comigo.

— Não brincaria sobre isso. E está errado se pensa que não sei que isto parece louco. Quero dizer, nós mal acabamos de nos conhecer. Sei disso! E sei que isso não seria considerado uma conversa normal para um casal que só agora começou... a fazer o que quer que estamos fazendo, mas dane-se, nada nesta situação é normal.

— Sim, bem, isto não se parece como se contendo para mim. — ele grunhiu, sua voz uma mistura gutural de raiva e luxúria enquanto dava outro impulso profundo e devastador, seu corpo derretendo em torno dele, agarrando-se ao seu eixo.

Puxando uma respiração instável, de alguma forma ela conseguiu dizer:

— Não estou falando sobre se conter quando se trata de sexo. Estou falando sobre se conter quando se trata de nós. Quero dizer... olhe para nós, Kellan. Você nunca disse nada sobre continuarmos a nos ver quando sairmos de Wasteland. Seria difícil dizer “Ei, quando isso acabar talvez devêssemos nos encontrar algum dia?” Mas não. Tudo o que está disposto a me dar é isso — ela disse remexendo os quadris. —, e é por isso que acho que tem que ter algo a ver com a maldição. Porque posso não ter a sua experiência, mas não sou estúpida. Os homens não fazem amor com as mulheres da maneira que você faz comigo e então falam que isso é só o momento. Por enquanto. Não é assim que isso funciona.

— Cristo, Chloe. Caso não percebeu esta não é uma maldita excursão social. Estamos fugindo para salvar nossas vidas. Não é como se eu tivesse tempo para sentar e apresentar um maldito plano de cinco anos.

— Não é isso que estou pedindo. — ela discutiu, empurrando contra seu peito.

Suas narinas inflaram, um músculo pulsou na linha dura de sua mandíbula.

— O que quer de mim?

— Não sei. — ela explodiu. — Eu só... preciso entender o que está acontecendo. Onde isso vai dar ou se está mesmo indo a algum lugar para que eu possa me preparar para o que está vindo. Porque se eu não tomar cuidado Kell, vou entrar muito profundo. E não posso deixar de sentir que sou a única pisando na água aqui. Talvez devêssemos recuar um pouco e aliviarmos as coisas.

 

Medo o sacudiu.

— Não. Não posso... não posso fazer isso. Não quero perder você, Chloe. Droga, não vou perder você. Ainda não. — As palavras irregulares tremeram de emoção e ele tomou sua boca, despejando no beijo tudo que não conseguia colocar em palavras. Ela ficou imóvel debaixo dele por dolorosos segundos, em seguida gemeu, finalmente o beijando de volta com os braços envolvendo seu pescoço, e o lobo dele uivou silenciosamente com triunfo, suas presas ficando mais pesadas em suas gengivas, queimando para serem liberadas.

Deus, ele queria tanto mordê-la que era uma dor física em seu interior, o lobo perfurando suas entranhas exigindo que fizesse isso. Como se ela já estivesse se derramando em sua garganta, ele sabia exatamente como seu sangue seria perfeito contra sua língua... o quanto era quente, doce e dolorosamente viciante.

Desde o momento que Kellan a conheceu seus sentimentos foram envolvidos em completo caos — seus desejos e medos lutando pelo domínio. Mas agora se uniram numa entidade efervescente. Uma acionada pela fome de tê-la e reivindicá-la que era diferente de tudo que já tinha conhecido.

Possessão.

Ele queria que todo homem lá fora soubesse exatamente a quem seu doce pequeno traseiro pertencia. Queria tanto que podia saboreá-lo. Foi apenas por causa de Chloe que Kellan impediu a si mesmo de dar a mordida, porque não poderia fazer isso com ela — não poderia amarrá-la a ele quando as chances eram fortes que ele não estaria por aí por muito mais tempo. Se ele a mordesse ela ainda sentiria a atração por muito tempo depois que se fosse. Passar o resto de sua vida ansiando por algo que ela não poderia ter. Que já não estava ao seu alcance.

Lutando contra o apelo animal da besta com tudo o que tinha, Kellan se levantou em seus braços esticados e passeou seu olhar pelo corpo esbelto e bonito dela, até alcançar o lugar íntimo onde eles se uniam. Com olhos quentes observou a forma que seu pau a estirava, o eixo pesado brilhando com seus sucos quando empurrou nela com profundas estocadas penetrantes, mantendo o ritmo triturante e lento, sabendo que a levaria à loucura. Levantando seu olhar, viu o redemoinho deslumbrante de emoção em seus olhos brilhantes, precisando daquela conexão intensa.

Pressionando fundo permaneceu duro e apertado dentro dela, amando o rubor quente de cor em suas bochechas... o flash branco de presas debaixo da curva do seu lábio superior; suas respirações irregulares e altas como se o ar estivesse muito grosso para seus pulmões, seus corpos estremecendo... pulsando, mantidos numa sensação do fio de uma faca.

E então um som baixo e predador rasgou do seu peito e ele quebrou, seus dedos fincados em seus quadris quando se inclinou para trás, puxando-a sobre suas coxas espalhadas, bombeando nela com um ritmo cru e selvagem que teria assustado o inferno da maioria das mulheres, seu lobo tão perto da superfície que não tinha dúvidas que ela podia vê-lo em seus olhos.

— Toque em seu clitóris. — ele rosnou, empurrando nela mais forte… mais rápido, a escorregadia fricção erótica tão boa que quase o matou. Ela corou ainda mais, mas seguiu seu comando áspero e no instante em que roçou aquele pequeno nó inchado de carne com seu dedo, um orgasmo escaldante queimou por dela, nítido e explosivo.

Seu poder encheu a barraca correndo contra seu corpo, chamuscante e forte e ele deu um rugido gutural quando ela gritou, seu clímax o arrastando junto com ela, ordenhando-o… drenando-o até que desmoronou em cima dela completamente destruído.

Kellan não tinha ideia de quanto tempo levou antes que finalmente pudesse encontrar forças para se afastar e cuidar do preservativo.

— Você me deixa no limite todas as vezes. — ele murmurou um momento depois, deitado ao lado dela no catre desejando que ela abrisse os olhos e olhasse pra ele. — Prometi a mim mesmo que seria gentil com você esta noite, mas fui muito áspero novamente.

— Não, você não foi. — Com um bocejo se virou para que sua costas estivessem contra a frente dele, em seguida aninhou seu doce pequeno traseiro contra sua virilha. — Independente de como me sinto sobre a maldição e o que está acontecendo entre nós, gosto do seu lobo, Kellan.

— Que diabos você está falando, Chloe?

— Você está sempre tão preocupado sobre me machucar ou me assustar — ela disse numa voz suave, parecendo completamente exausta. —, então pensei em ir em frente e deixar claro que gosto quando o lobo assume e você perde o controle. Acho que é sexy como o inferno.

Cristo, esta mulher tocava completamente sua mente. Era tão doce aceitando cada parte dele, não importando quanto fosse grosseiro ou difícil, de braços abertos. Em troca ele deu meias verdades e mentiras. Umas que não tinha chance de escapar, muito parecido com o seu destino. A forma como seus olhos ficaram vermelhos na noite anterior era uma prova de que o veneno estava ganhando vantagem. Prova de que ele estava perdendo a luta.

Eu sou um maldito bastardo, pensou, sabendo que era errado estar lá com ela quando acabaria machucada. Sabendo que ela merecia muito mais do que isso. E, no entanto, ele não tinha forças para se levantar e ir embora.

Silenciosamente amaldiçoando sua fraqueza, Kellan a tomou nos braços e a puxou contra o calor do seu corpo, simplesmente precisando segurá-la tão perto e tão apertado quanto podia... enquanto durasse... Até que seu tempo acabasse.

 

Sexta-feira à tarde

Fora da frigideira... e dentro do fogo.

Eles mal conseguiram sair das montanhas há uma hora e já havia problemas. Estando em movimento desde o início da manhã o grupo finalmente parou para almoçar, e estava no processo de empacotar quando os batedores que Juliana enviou pra cima de um cume elevado onde poderiam obter uma visão clara da floresta que se espalhava por quilômetros abaixo deles se reportaram com notícias sombrias. Não só viram uma força considerável vindo na direção deles do Nordeste, também relataram atividade se dirigindo pra seu caminho a noroeste, o que significava que seu grupo estava sendo caçado em duas frentes distintas.

Uma vez que a cadeia de montanhas formava uma espécie de forma de J eles realmente saíram ao sul do Complexo Sabin. Sua única opção era ir para o norte... bem entre os dois grupos que se aproximavam... e não havia tempo suficiente para alcançar o Complexo antes de serem apanhados no meio.

A situação era a última maldita coisa que Kellan precisava, considerando que ele sentia a morte em seus calcanhares. Sua condição foi piorando durante todo o dia, seu corpo devastado pelo veneno correndo em seu sistema, mas ignorou a dor, determinado a esconder qualquer sinal de fraqueza, esperando como o inferno que seus olhos não ficassem vermelhos diante dos outros. Embora seu corpo estivesse trabalhando para neutralizar o veneno, ele estava perdendo as forças a cada minuto que passava, e era só questão de tempo antes de suas habilidades de cura ficarem inúteis.

Precisamos achar o bastardo do Reyker, o lobo rosnou. Encontrá-lo… e lutar pelo antídoto, assim como concordamos em fazer.

Caia na real, ele rosnou de volta se recusando a incentivar a esperança do animal, sabendo muito bem que eram pequenas as chances que ele pudesse derrotar Asa Reyker em sua condição atual, e ainda mais reduzidas que um antídoto realmente existisse.

E não estava levando em conta o fato que teria que encontrar Gregory primeiro, querendo derrotar aquele bastardo para que deixasse de ser uma ameaça para Chloe. Era uma bagunça do caralho, mas não tinha tempo de se preocupar com isso agora. Ele se recusava a abandonar Chloe até que ela estivesse em segurança dentro do Complexo Sabin e isso não aconteceria a menos que descobrissem uma maneira de sobreviver àquela tarde.

Sabendo que precisavam de respostas e rápido, Kellan olhou ao redor da pequena clareira onde o grupo parou pra comer. Ele queria falar com Raine, mas não viu nem Seth nem ela e sabia que eles estariam juntos. Apesar da tensão palpável que permanecia entre eles Seth continuava a vigiar a psíquica, muitas vezes a carregando quando estava fraca demais para andar. Seu corpo ainda estava tentando se curar do trauma que ela sofreu no Complexo de Westmore e Kellan estava preocupado de que ela talvez nunca se recuperasse completamente. Seu poder continuava instável, mas embora ela não fora capaz de obter uma leitura clara sobre onde Gregory estava, conseguiu fornecer ao grupo várias informações importantes... e ele estava esperando conseguir mais.

— Alguém sabe onde Raine está? — ele perguntou, interrompendo os outros enquanto discutiam o que deveria ser feito a seguir.

— Seth está com ela. — respondeu Noah, seus cabelos negros caindo na testa enquanto estava na borda do grupo, seu ombro apoiado contra uma das árvores ao redor. — Ele disse que ela precisava dormir um pouco antes de começar a se mover novamente.

— Onde diabos eles foram?

Noah indicou com o queixo um emaranhado de troncos quebrados situados na extremidade mais distante da clareira, e depois de ter certeza que seu irmão estava mantendo um olho em Chloe Kellan caminhou naquela direção, sua tensão aumentando mais do que nunca.

Mais cedo aquela manhã, Raine lhes contou que os Infettatos conseguiram localizar o cheiro de Kierland pela rota que ele tomou no início da semana, quando viajou do Complexo Sabin para o acampamento base. Considerando a direção que eles sabiam que os Infettato estavam viajando, Kellan tinha poucas dúvidas que eles eram o grupo se aproximando deles a nordeste, e era óbvio que os Sentinelas subestimaram a rapidez com que os humanos infectados podiam rastrear.

Raine também disse que Spark ouvira rumores dos Infettato viajando por Wasteland e começou a pesquisar no “diário da morte" para obter informações sobre eles, embora ainda não tivesse encontrado nada. Embora ele achasse que provavelmente fosse um tiro no escuro, Kellan precisava da psíquica para tentar verificar Spark novamente, no caso da assassina ter aberto recentemente o diário e encontrado algo útil.

À medida que o Lycan dava a volta no emaranhado de troncos e galhos quebrados onde Noah indicou, ele descobriu Seth sentado num trecho de terra seca com as costas encostadas num dos troncos de árvores caídas. O soldado estava esculpindo em um pedaço de madeira com seu canivete, enquanto Raine dormia enrolada num cobertor ao lado dele ainda parecendo muito magra e pálida, seu corpo se curando muito mais lentamente do que deveria, apesar do sangue que ela tomou de Juliana.

Sabendo muito bem que Seth lhe daria um momento difícil, Kellan foi direto ao ponto.

— Precisamos acordá-la.

Fechando seu canivete Seth deslizou a lâmina de volta ao seu bolso e ergueu a cabeça, seu olhar sombreado tornando difícil ler seu humor.

— Já estamos saindo?

— Ainda não. — Kellan respondeu, rapidamente contando ao soldado sobre o relatório que os batedores de Juliana acabaram de dar. — Preciso saber se Raine pode ver alguma nova de Spark.

— Sabe, toda vez que pede a ela para usar seu poder — Seth resmungou se levantando. — isso a drena um pouco mais. Você não acha que ela já passou o suficiente?

— Olha, não gosto disso mais do que você, mas ela pode ser a única chance que nós temos.

Seth amaldiçoou, mas não discutiu quando se virou e caiu de joelhos ao lado da Deschanel adormecida. Ela despertou com um pequeno suspiro no instante que ele tocou seu ombro, e Kellan percebeu que Seth estava tentando manter seu tom de voz o mais suave possível, enquanto contava o que tinha acontecido... e o que eles precisavam.

Apesar do fato de que ela realmente parecia que precisava dormir, os hematomas embaixo dos olhos ainda mais escuros do que estavam no dia anterior, não discutiu ou reclamou quando se sentou e afastou seu longo cabelo do rosto. Kellan se moveu um pouco mais perto quando ela fechou os olhos, sua testa franzindo com concentração enquanto tentava focar seu poder. Parecia que ele esperou uma eternidade para ela finalmente abrir os olhos, o profundo cinza-azulado sombreado de frustração quando o olhou.

— Desculpe, eu não consegui ver isso antes — ela disse —, mas Spark é a líder do grupo se aproximando à noroeste. Westmore a enviou para levar a mim e Chloe de volta, e eles ouviram rumores que os Sabins estão ajudando os Sentinelas. É por isso que estavam indo para o Complexo Sabin, mas acho que os Casus que ela está comandando devem ter captado nosso cheiro, porque parecem estar rumando diretamente em nossa direção agora.

— Já que os Casus são naturalmente capazes de acharem os Merrick, provavelmente estão rastreando Chloe. — ele murmurou lutando para manter um firme controle de sua raiva, sabendo que não ajudaria a resolver nada se perdesse a paciência. — E o outro grupo? Os batedores disseram que havia algo em movimento a partir do nordeste também.

— Estes são definitivamente os Infettato.

— Ótimo. — Seth disse com um suspiro áspero, enfiando suas mãos nos bolsos. — Mais porcarias de zumbis.

— E sobre o diário? — Kellan perguntou. — Pode ver se Spark leu mais alguma coisa?

Raine disse que tentaria e os homens esperaram enquanto se concentrava, os únicos sons eram do vento soprando através das árvores e o murmúrio distante de vozes vindo da clareira.

— Ok. — ela disse finalmente, depois de quase cinco minutos. — Spark encontrou algo no diário sobre os Infettato e deu uma verificada rápida cerca de uma hora atrás. De acordo com o diário, os humanos infectados se tornam mais fortes com o decorrer do tempo e a forma que ganham força é consumindo carne. Eles comem tudo em seu caminho, mas podem receber um cheiro específico para seguir e se tornarão completamente bloqueados nele. As únicas coisas que não comerão são os que os fizeram. Parece que os Caminhantes da Morte tem total controle sobre eles.

Xingando baixinho Seth perguntou a ela:

— Será que podem ser transformados de volta ao normal?

Ela balançou a cabeça.

— Temo que este tipo de coisa não costuma funcionar desta maneira. Uma vez que a vida foi tomada não pode ser devolvida.

— Mas eles ainda não estão vivendo, pelo menos de alguma forma? — Kellan perguntou, pronto para alcançar e dar uma mão enquanto ela tentava se levantar, mas Seth se adiantou agarrando seu cotovelo e a ajudando a sair do chão.

Assim que ela estava de pé pareceu recuar da proximidade de Seth, então ele imediatamente deu um passo atrás, a expressão do soldado ainda mais severa do que antes.

Olhando Kellan bem nos olhos, Raine tremeu quando respondeu sua pergunta.

— Receio que não. Eles são literalmente mortos-vivos, Kell. A melhor coisa que poderia fazer por eles seria tirá-los de sua miséria.

— E como diabos podemos fazer isso?

O vento açoitava os longos fios do seu cabelo cor de mel ao redor dos ombros, enquanto ela se encolhia dentro do casaco grosso que Morgan lhe deu. Ela parecia uma garotinha perdida, mas sombras tristes escureciam seus olhos.

— Eles podem ser mortos, mas não é agradável. — disse ela com voz grossa. — Você tem que tirar seus corações ainda batendo de seus peitos e queimá-los. Só então seus espíritos deixarão seus corpos e finalmente serão capazes de seguir em frente.

Kellan agradeceu pela informação, em seguida voltou para junto dos outros. Notando que Chloe estava parecendo mais do que um pouco preocupada, ele se aproximou do seu lado, então disse a todos para se juntar ao seu redor e rapidamente retransmitiu o que tinha acabado de saber.

— Então, qual é o plano? — Quinn perguntou, seu olhar escuro trancado com o de Kellan. — Posso ver as rodas girando em sua cabeça, Kell. Você tem uma ideia, não é?

Com um sorriso sinistro ele disse:

— Estou realmente pensando que se formos espertos podemos matar dois pássaros com uma pedra. Ou melhor, deixar que os pássaros matem uns aos outros.

— Você quer dizer, virar os Infettato contra Spark e seu grupo? — Kierland parecia surpreso... mas interessado.

Aiden deu um assobio baixo e bateu a mão no ombro de Kellan.

— Isso é totalmente diabólico. — ele falou lentamente, seus olhos âmbar brilhando de excitação. — Eu gosto disso.

Mudando seu olhar para Quinn, Kellan perguntou:

— Como está sua asa?

Como um metamorfo raptor Quinn tinha a habilidade de voar, graças ao poderoso conjunto largo de asas cor de corvo que normalmente estava escondido embutido em suas costas — mas uma de suas asas ficou gravemente ferida durante uma luta contra os Casus várias semanas atrás e ele não foi capaz de voar enquanto estava se curando.

— Está completamente curada. — o shifter respondeu. — Por que?

Olhando em volta do grupo Kellan explicou seu plano.

— Se cada um de nós abrir mão de um pouco de sangue, Quinn pode ficar no ar e seguir em direção aos Infettato. Quando ele os encontrar pode espalhar um rastro de sangue que levará os Infettato à unidade de Spark. Assim que os humanos atacarem e estiveram ocupados se alimentando, então vamos lançar nosso próprio ataque e destruí-los, um por um.

— É arriscado — Kierland murmurou —, mas poderia funcionar. O que acha, Quinn?

— As árvores devem me dar uma cobertura decente. — ele murmurou, raspando a palma da mão no queixo. — Acho que o garoto tem um plano dos diabos.

Kellan voltou os olhos para Aiden.

— Ontem você disse alguma coisa sobre ter trazido algum equipamento com você de Harrow House. Algum chance de ter trazido meu kit de tecnologia?

— Só o pequeno. — o Sentinela disse caminhando para sua bolsa e vasculhando dentro, em seguida voltando com um estojo de couro pequeno. — O que está pensando?

— Estou pensando que você é um santo.

Aiden deu um latido áspero de riso.

— Dificilmente. Mas essa merda não vai funcionar aqui. — ele disse entregando o estojo. — Só trouxe isso porque achei que você poderia precisar quando sairmos de Wasteland.

— Não importa. — Kellan murmurou abrindo o kit. — Se usarmos um dos chips de rastreamento que eu projetei, o sinal iniciará quando deixar Wasteland. Devemos ser capazes de buscá-lo no meu computador quando voltarmos para Harrow House.

— Em quem vamos colocar o chip? — Chloe perguntou, seu tom de voz rouco um misto de curiosidade e surpresa.

Kellan lhe deu um sorriso lento.

— Em quem você acha, querida? No bichinho assassino de Westmore.

Jamison que estava quieto até este momento começou a engasgar.

— Vamos grampear Spark? — ele ofegou depois que Noah batesse com força nas suas costas.

Kellan assentiu.

— Vamos precisar daqueles Marcadores que Westmore tem. Se grampearmos Spark, então poderemos seguir o sinal quando ela se encontrar novamente com ele. Nos poupará um enorme tempo rastreando, já que não temos nenhuma ideia para onde ele poderia correr.

Aiden deu outro latido áspero de riso.

— Isto é genial.

— Raine não pode apenas ficar de olho nela? — Jamison murmurou, claramente pouco ansioso em chegar perto da mulher que foi responsável por sua captura no ano anterior.

Sacudindo sua cabeça Kellan manteve sua voz baixa quando disse.

— Raine ainda está em muito má forma e seus poderes estão muito irregulares depois do que passou. Não podemos colocar esse tipo de pressão sobre ela. Nossa melhor aposta é grampear Spark e seguir o sinal.

— Espere. — Morgan disse, seus olhos cinzas perturbados quando ela olhou de Kierland para Kell. — Se Spark está com sua equipe, os Infettato não a atacarão também?

Kellan agitou sua cabeça novamente e sorriu.

— Não se nós a agarrarmos primeiro.

 

*****

 

No final, o plano de Kellan foi ainda mais fácil de orquestrar do que ele esperava, com todos trabalhando juntos de modo que foi surpreendentemente sem problemas. Usando sua habilidade de Deschanel de mascarar seu odor, os irmãos Granger conseguiram sequestrar Spark quando ela e os Casus abriram caminho por uma área densamente arborizada da floresta e a trouxeram de volta ao acampamento. Ao mesmo tempo Quinn deixou a trilha de sangue para os Infettato seguirem, a trilha levando direto para a equipe de Spark, que ele conseguiu mergulhar em sangue enquanto usava as copas das árvores para se esconder. Seguindo o cheiro, os humanos infectados atacaram os Casus com ferocidade, dominando e matando todos os Casus, mas apenas Kellan, Kierland e Ade os derrotaram.

Então, enquanto os Infettato estavam apanhados no frenesi irracional de alimentação da sua carnificina, os três Sentinelas usaram suas garras para rasgar os corações dos humanos de seus peitos um por um, enquanto Quinn foi encarregado de queimá-los.

Até o momento em que Kellan e os outros acabaram e conseguiram voltar para a clareira onde Seth, Noah e Jamison estavam de guarda, Chloe e Juliana já tinham folheado o diário de Spark que ela estava carregando em sua mochila, e encontraram as páginas que confirmaram o que Raine dissera a Kellan sobre os Infettato.

Enquanto os Grangers vigiavam a assassina que foi deixada inconsciente quando os irmãos a levaram, as mulheres também encontraram as páginas do diário que falavam sobre os Caminhantes da Morte, mas só foram capazes de ler a parte que explicava o que os Caminhantes da Morte eram. Infelizmente a parte da passagem que elas assumiram que continha as informações sobre a forma de matar as criaturas parecia estar escrito em algum tipo de idioma arcaico. Um que se parecia com as estranhas marcas gravadas na superfície dos Marcadores das Trevas.

O grupo ainda estava no meio da discussão sobre as notícias frustrantes quando Gideon chamou para dizer que Spark estava começando a acordar. Enquanto se dirigiam para o lugar no ponto mais distante da clareira — onde a assassina fora deixada no chão com suas mãos amarradas atrás das costas — Kellan caminhava ao lado de Chloe. Ela tinha um aperto de morte em sua mão e ele sabia que ela se preocupou com ele enquanto estava fora, o conhecimento colocando um tipo de calor em seu interior como se tivesse engolido algo reconfortante e quente.

— Será que sou uma pessoa ruim por querer chutá-la enquanto está caída? — Chloe perguntou com uma voz rouca e Kellan riu, enquanto Morgan deu um tapinha em seu ombro.

— Não. — a Sentinela falou lentamente com um doce sorriso. — Ela tem esse efeito nas pessoas.

Com um gemido baixo Spark conseguiu lentamente se ajeitar, em seguida se inclinou contra a árvore às suas costas enquanto o grupo se espalhava ao seu redor num meio círculo largo, deixando claro que ela não fugiria.

— Huh. A que devo esta honra promissora? — ala falou lentamente, puxando para trás os ombros em uma pose descarada, embora Kellan pudesse cheirar seu mal-estar e sabia que ela não era tão indiferente como tentava parecer.

— Seremos os únicos a fazer as perguntas. — ele grunhiu, a fúria que sentia em relação à vadia tornando sua voz dura. — Não você.

— Bem, se não é o cachorrinho e a gatinha. — ela murmurou, deslizando seu olhar calculista sobre ele e Chloe. — Que bonito. Eu não...

— Do que você e seus homens estão atrás? — Kierland perguntou, cortando-a.

— O que você acha? Westmore nos enviou para recolher seus brinquedinhos. — inclinou a cabeça em direção a Chloe e Raine. — Ele as quer de volta, e confie em mim quando digo que não desistirá tão cedo.

— A propósito — Quinn rugiu, deslizando à ruiva um sorriso afiado. — terei certeza de deixar Saige saber que você teve os dentes da frente substituídos. Ela estará ansiosa para quebrá-los de novo.

Chloe sorriu e a assassina estreitou seus olhos antes de lentamente examinar o resto do grupo. Quando seus olhos verdes caíram sobre Seth, o choque os arregalou, um sorriso irônico torceu a curva de sua boca pintada. — Bem, bem, bem, se não é o traidor.

Seth trincou os dentes com uma expressão de puro nojo quando ele prendeu o olhar zombador de Spark, enquanto Raine permaneceu um pouco afastada à sua esquerda.

— Sabe Raine, você deve realmente tentar a sorte com ele. Ele pode ser humano, mas fode como um animal. — a assassina falou lentamente, dando a psíquica um sorriso malicioso antes de passar rapidamente seu olhar em direção a Seth novamente. — É uma vergonha que você teve que se desviar, McConnell. Eu teria aproveitado mais uma vez.

— Kell, que diabos estamos esperando? — O soldado resmungou, parecendo como se apreciasse nada além de colocar as mãos em torno da garganta pálida de Spark e torcer seu pequeno pescoço psicótico. — Quero ela fora daqui.

Com uma risada baixa e gutural troando em seus lábios, Spark inclinou a cabeça um pouco de lado enquanto deslizava seu olhar sobre o grupo.

— Esta é a parte onde tenho que acreditar que vão me matar? — perguntou ela. — Vamos, rapazes. Se quisessem me matar eu não estaria aqui falando com vocês agora, estaria?

— Queremos que entregue uma mensagem para Westmore. — Kierland disse a ela.

— Pareço com um pombo correio? — ela atirou de volta, arqueando uma sobrancelha fina.

— Você parece com uma cadela odiosa, mas este não é o ponto. — Aiden falou lentamente, cruzando seus braços musculosos sobre o peito. — O ponto é que você pode entregar a mensagem ou podemos matar você agora. A escolha é sua.

— Você não mataria uma mulher. — ela ridicularizou, entretanto o cheiro do seu medo estava se tornando um pouco mais notável.

Morgan deu um passo adiante e abriu a parte frontal esquerda do seu casaco, revelando uma Walther PPK [10] no coldre debaixo do braço.

— Eles podem não ter estômago pra isso — ela disse com um largo sorriso. —, mas eu tenho. Portanto, não me tente.

A assassina segurou o olhar brilhante de Morgan, obviamente tentando decidir se ela se atreveria a ir contra ela, então murmurou algo em voz baixa.

— Tudo bem. — ela retrucou, jogando o cabelo por cima do ombro. — Qual é a mensagem?

Colocando as mãos nos ombros de Morgan enquanto ele ficava atrás dela, sem dúvida pronto para empurrá-la pra fora do caminho se Spark tentasse fazer um movimento, Kierland disse:

— Diga a Westmore que sabemos o que está planejando e vamos fazer o que for preciso para detê-lo.

— E se ele quiser viver — Aiden acrescentou. —, então entregará os Marcadores que estão em seu poder. A troca será realizada ao meio-dia, duas semanas a partir de hoje, na base da Torre Eiffel. Esta será sua única chance de fazer isso de forma pacífica. Se ele não aparecer então viremos atrás desses três Marcadores com toda a força dos Sentinelas.

Outra risada gutural saiu dos lábios da assassina.

— Você está falando sério?

— É escolha dele. — Kellan respondeu, passando o braço ao redor da cintura de Chloe e puxando-a para mais perto dele. — Mas lembre a ele que o encontramos duas vezes agora. Se tentar se esconder, apenas vamos encontrá-lo novamente.

— Certo. Vou entregar a mensagem. — ela murmurou, seus olhos verdes queimando com fúria. — Mas preciso das minhas mãos livres e quero minha mochila de volta.

Gideon rapidamente cortou as cordas que foram enroladas nos seus pulsos e Ashe jogou sua mochila, que continha o dispositivo de rastreamento que esconderam enquanto Spark estava inconsciente, costurando-o rapidamente dentro do forro do bolso da frente.

— Agora mexa-se. — Kierland grunhiu, acenando com o queixo em direção à floresta que se estendia atrás dela.

Ela deu uma rápida olhada dentro da mochila, em seguida olhou ao redor do grupo com um arrogante desprezo em seu rosto.

— Você pegou meu diário. Pra não falar das minhas armas! Sinceramente pretende me mandar para Wasteland sem uma maneira de me proteger?

Quinn deu um sorriso arrogante.

— O diário é nosso agora. E já que não queremos que os Deschanel acabem com você antes de entregar nossa mensagem, deixamos um pacote de armas a uma milha ao norte daqui. Você o encontrará enterrado sob uma pilha de pedras no meio de uma campina.

— Bastardos. — ela sussurrou, mas não discutiu, deslizando a mochila por cima do ombro antes de virar e sair de lá. Eles observaram o flash de seu cabelo vermelho escuro até que ela desapareceu de vista, então deram um suspiro coletivo de alívio.

Juntando o cabelo pra trás do seu rosto, Kellan perguntou:

— Você acha que ela engoliu isso?

— Quem sabe? Mas de qualquer forma — Seth murmurou —, estou contente de me livrar da cadela.

— Agora tudo que temos a fazer é chegar ao Complexo. — disse Juliana. — Devemos avançar o mais rápido possível.

Enquanto o grupo foi recolher seu equipamento, Raine perguntou se poderia conversar com Kellan por um momento. Enquanto Chloe pediu licença para ajudar Morgan, Kellan se juntou a psíquica que ainda estava de pé perto Seth.

— O que foi?

— Você não vai gostar disso — ela disse, abraçando seus cotovelos. —, mas de repente tenho a sensação que Gregory está vindo em nossa direção.

— Merda. — ele gemeu. — O quanto ele está perto?

— Sinto muito Kell, mas não tenho certeza. Tudo o que sei é que está rastreando Chloe. Mas sua fome é tão forte que está ofuscando todo o resto.

Reprimindo uma série de maldições, ele apoiou as mãos nos quadris e abaixou a cabeça olhando para o chão com os olhos ardendo. Suas narinas inflaram quando respirou fundo, mas conseguiu agradecer a psíquica por contar antes que ela se afastasse com Seth, deixando-o ali com seus pensamentos... e sua raiva. Podia sentir seu ritmo cardíaco aumentar, seu pulso rugindo nos ouvidos enquanto o lobo fervia sob sua pele, rosnando de raiva e frustração. Não gostava de Chloe em perigo mais do que ele. Não gostava do fato de Kellan ser forçado a fazer seu movimento contra Gregory naquela noite.

O Lycan esperava poder se dar de presente outro dia com Chloe assim que chegassem ao Complexo Sabin. Esperava ser capaz de passar mais algum tempo com ela, absorvendo cada momento que pudesse enquanto dava a seu corpo a chance de descansar antes de sair para rastrear DeKreznick, depois os Reykers. Mas agora não havia tempo. Com o filho da puta tão perto ele precisava eliminá-lo o mais rápido possível.

Sabendo que precisava falar com Chloe antes dela ouvir as notícias a respeito de Gregory de alguém, Kellan tinha acabado de caminhar de volta em direção ao grupo quando avistou Kierland vindo em sua direção, o olhar no rosto do seu irmão dizendo que ele acabava de ser informado. Preparando-se para o que imaginava que seria uma conversa pegajosa, Kellan se manteve firme. Mas as primeiras palavras da boca do seu irmão não eram sobre o Casus. Em vez disso a expressão de Kierland mudou de preocupação para choque quando ele rosnou.

— Seus olhos ficaram vermelhos!

Kellan sufocou um gemido, pensando que o cronometragem do seu corpo não poderia ter sido pior. Soprando uma lufada áspera, ele forçou uma expressão casual em seu rosto e deu de ombros.

— Não há necessidade de pirar, Kier. É apenas o veneno queimando. Acho que meu corpo está tentando chutar a última parte dele do meu sistema.

Os pálidos olhos verdes de Kierland se estreitaram com suspeita.

— O que está acontecendo, Kellan?

— Nada. — ele murmurou. — Deixe pra lá, Kier.

— Uma merda que vou. — ele latiu forçando as palavras através dos dentes cerrados. — Estou cansado das besteiras e segredos e nunca saber que diabos está acontecendo com você. Isso para agora, Kellan!

— Disse a você que não era nada. E temos problemas maiores que os meus malditos olhos no momento.

Por um longo minuto Kierland apenas segurou seu olhar, seu peito subindo e descendo com respirações ásperas e agitadas.

— Se está pensando em ir atrás de DeKreznick sozinho — ele finalmente disse rude, as palavras baixas vibrando com raiva. —, então pode esquecer. Ainda nem sabemos como lidar com aquela bruxa que está com ele. A melhor coisa que podemos fazer é levar Chloe para o Complexo Sabin e ter tempo para traçar um plano. Mas você não pode sair correndo atrás dele. Seria suicídio!

Com suas narinas dilatadas, Kellan deu um passo a frente ficando bem no rosto de seu irmão.

— E o que você faria? — ele exigiu com um rosnado gutural. — Se ele estivesse atrás da sua mulher o que você faria, Kier? Ela é seu maldito Merrick! Você sabe o que isso significa. O que ele vai fazer com ela, se tiver chance. Acha que vou ficar de braços cruzados e deixar que isso aconteça?

As sobrancelhas de Kierland se juntaram formando uma crista profunda acima do seu nariz, sua voz um pouco mais que um sussurro quando ele amaldiçoou algo áspero em tom suave.

— Não acredito nisso. Você está... Cristo, você está apaixonado por ela, Kellan.

A palavra com A bateu nele como um soco brutal no abdomem e ele piscou, lutando pra esconder sua reação.

Mas o estrago estava feito. Kierland estava certo.

Eu sabia o tempo todo, seu lobo rosnou, e Kellan sabia instintivamente que o filho da puta estava dizendo a verdade.

Era impossível descrever os detalhes, o homem nele era incapaz de compreender plenamente o funcionamento do lobo, mas o animal soube desde o primeiro momento em que viu a foto de Chloe que essa mulher mudaria sua vida. E depois que a encontrou, a fascinação de Kellan cresceu… e seu coração o seguiu. Estava apaixonado por ela, droga. O tipo de amor de cabeça nas nuvens, de arrancar o coração ainda pulsando e colocá-lo aos pés dela em devoção.

Por que mais teria deixado Westmore escapar por entre suas mãos quando finalmente o teve no Complexo? Por que outro motivo teria feito metade da louca merda que ele fez desde que a conheceu, ou ter sido capaz de continuar respirando quando já estava meio morto por dentro, apenas para que pudesse mantê-la protegida?

Seu olhar deslizou de Kierland através da clareira até que a encontrou. Ela estava parada ao lado de Morgan sorrindo de alguma coisa que a Sentinela estava dizendo, a luz obscura tocando suavemente a delicada beleza de seu rosto.

Mas era mais do que apenas sua aparência que o atraiu. Era o jeito que ria, sorria e brincava. O jeito que ela se levantava pelas coisas que acreditava e se recusava a desistir, mesmo quando estava com medo. Era o jeito que ela olhava para o mundo. O jeito que olhava pra ele.

Sim, ele a amava. Tanto que parecia que uma maldita faca era enfiada em seu coração a cada vez que olhava para ela, sabendo que não podia mantê-la. Mas não admitiria porra nenhuma para Kierland. Enfiando as mãos nos bolsos ele soltou um suspiro áspero enquanto lentamente voltava o olhar para seu irmão.

— Mesmo se a amasse não faria diferença. Chloe merece algo melhor do que eu.

— Isso é um monte de merda. — Kierland rosnou. — Se você a ama Kell, então não faça nada drástico. Nada que não possa ser desfeito. Porque ela está muito melhor com você ao seu lado do que sem você.

O canto de sua boca se contraiu com um sorriso amargo, e ele bufou.

— Vamos, Kier. Sei que você, de todas as pessoas, não acredita nisso. Você pode me amar, mas no fundo sempre pensou que eu era um fodido.

A expressão de seu irmão parecia aflita e ele passou a mão trêmula sobre a boca, antes de pigarrear dizendo.

— Olha, Kell. Sei que te dei um tempo difícil e sinto muito por isso. Deveria ter sido mais compreensivo, mas...

— Não, você esteve certo a meu respeito o tempo todo. E você foi melhor pra mim do que eu merecia.

Os olhos do seu irmão se estreitaram, o verde pálido queimando de emoção.

— Porra, Kellan. Jure que não está planejando nada estúpido.

Um latido áspero de riso travou em sua garganta, um sorriso torto torceu seus lábios.

— Não farei nada sem falar com você primeiro. — ele mentiu, sabendo muito bem que se não tivesse cuidado, Kierland passaria cada momento o vigiando como um falcão.

Do outro lado da clareira Morgan chamou o nome de seu irmão e Kellan enviou um silencioso agradecimento pela prorrogação.

— Isso não acabou. — disse Kierland dando um olhar duro, como se tentando ver dentro da sua cabeça antes de deixar escapar um suspiro agudo virando em direção à sua mulher.

Kellan observou como seu irmão abriu caminho através da crosta de neve da clareira, desejando como o inferno que pudesse dizer a verdade. Sobre Chloe. Sobre o que estava acontecendo com ele. O que ele teria que fazer. Mas reprimiu o impulso sabendo que era errado. Se ele dissesse o que estava acontecendo, Kierland moveria montanhas para tentar ajudá-lo, colocando em risco sua própria vida mais do que ele já fez, e Kellan se recusava a deixar isso acontecer.

As mentiras que ele contou foram feitas para proteger os que amava e ele podia viver com isso.

Com o que não podia viver era colocá-los em perigo. Afundando-os com ele.

Não importa o que estava por vir, esta seria uma batalha que ele tinha que lutar sozinho.

 

Complexo Sabin, Wasteland

Sexta-feira à noite

Apesar da sua localização, o Complexo Sabin era um ambiente aconchegante e confortável, Juliana e sua família fazendo tudo que podiam para fazer com que seu grupo abatido se sentisse bem-vindo. Após serem levados aos seus quartos, todos se banharam e se reuniram na sala de jantar, desfrutando de uma refeição de frango assado e legumes que Kellan sabia ser um luxo raro para quem vivia dentro do domínio frio e desolado. Ele apreciou a comida e a cerveja, rindo enquanto Aiden compartilhava histórias sobre algumas de suas aventuras passadas, e ainda estava um pouco surpreso com o quanto Chloe parecia confortável com o grupo, considerando que sabia que ela sempre se considerou um pouco solitária.

Mas embora Kellan gostasse da atmosfera fácil e descontraída, havia uma aresta agridoce nessa noite, pois sabia que era provavelmente a última que estaria compartilhando com sua família e amigos. O Complexo Sabin era seguro e protegido... e mesmo esperando levar Chloe até a fronteira de Wasteland antes de deixá-la aos cuidados de Kierland, simplesmente não havia tempo — mas pelo menos sabia que enquanto ele estivesse caçando Gregory, ela estaria segura dentro da casa de Juliana.

Kellan também sabia que Kierland pensaria que ele era louco por executar seus planos sozinho, mas não conseguia ver outro jeito. Com a bruxa ao seu lado, Gregory não teria problemas em tomar o grupo separadamente, não importando quantos deles existissem. Sua melhor aposta era ir sozinho e se aproximar sorrateiramente do par, pegando a bruxa desatenta e a eliminando antes que pudesse usar seus poderes sobre ele, então enfrentando DeKreznick de homem para homem.

O Lycan estava preparado para lutar tão sujo quanto fosse necessário para realizar o trabalho, e em seguida, assim que o bastardo estivesse morto encontraria os Reykers e lidaria com esse problema... e Chloe estaria segura.

Kellan estava pensando sobre tudo que precisava colocar na carta que planejava deixar pra trás para Kierland, já que queria que seu irmão se certificasse que Chloe fosse cuidada depois, quando Quinn deslizou para a frente de sua cadeira no outro extremo da mesa, um sorriso malicioso nos lábios do Sentinela quando olhou para Seth e disse:

— Então, tem uma coisa que estou querendo te perguntar, McConnell.

— Ótimo. — A boca do soldado se comprimiu numa linha fina quando colocou sua garrafa de cerveja em cima da mesa. — Fiquei imaginando quando você chegaria a isso.

Com o riso brilhando em seus olhos escuros Quinn falou lentamente:

— Então, você e Spark, hein?

— Isso não é algo que precisamos falar a respeito. — Seth resmungou, jogando um olhar desconfortável para Raine que estava determinada a se juntar ao grupo para o jantar, seu ânimo melhorou depois que os batedores que levaram Garrick até a fronteira retornaram com boas notícias, dizendo que o soldado saiu com segurança de Wasteland.

No entanto o sorriso que Raine estava usando desapareceu, sua atenção focada no seu prato enquanto empurrava um pedaço de brócolis com o garfo. Embora ela não parecia estar ouvindo a conversa, Kellan sentia que a psíquica estava fixada em cada palavra que acabara de ser dita.

Mais cedo, Raine disse que seus poderes se tornaram tão fracos que mal podia fazer uma leitura clara sobre alguém — o que significava que não podia simplesmente se esgueirar na mente de Seth para obter os detalhes da história.

— Você é um homem valente. — Quinn murmurou.

— Eu dificilmente fui valente. — Seth murmurou, seus lábios se curvando. — Só bêbado.

Aiden jogou a cabeça para trás com um latido rouco de riso, então deslizou a Seth um largo sorriso.

— Eu não acho que tenha álcool suficiente na terra.

— Confie em mim. — Seth resmungou, revirando os ombros em um gesto duro, desconfortável. — Existe.

Ansioso para ter Chloe sozinha já que sabia que os minutos estavam em contagem regressiva antes que ele tivesse que sair, Kellan terminou sua cerveja e agarrou a mão dela, dizendo:

— Vamos encerrar a noite.

Eles se despediram e agradeceram a Juliana por sua hospitalidade, então se levantaram da mesa. Kierland deu uma olhada para eles enquanto atravessavam a sala e Kellan forçou um sorriso, esperando como o inferno que seu irmão não pudesse ler a verdade em seu rosto. Eles conversaram de novo, não muito tempo depois de atingir o Complexo, e naquele momento seus olhos felizmente voltaram à sua cor normal, o que ele sabia foi um grande alívio para o seu irmão.

Quando Kierland perguntou a ele sobre Gregory, Kellan disse que não tomaria qualquer decisão sobre o que queria fazer até que Chloe saísse com segurança de Wasteland, esperando que a mentira impedisse Kier de observá-lo muito de perto.

Enquanto abriram caminho pelos corredores à luz de velas, Kellan sentiu um arrepio correr pelo braço de Chloe abaixo até a mão esguia que ele ainda segurava, então ele puxou a bruxinha mais perto dele, perguntando se ela estava com frio... ou nervosa. Embora fortificado, ele supôs que existia um elemento assustador no Complexo Sabin, especialmente porque foram avisados ​​para não dar qualquer atenção aos gritos que pudessem ouvir durante a noite, desde que o irmão de Juliana, Micah, estava preso numa das alas distantes.

De acordo com o que Kierland lhe contou da história, Micah fora envenenado por uma vampira desonesta depois que a família foi exilada em Wasteland, e embora o veneno não fosse fatal como aquele com que Kellan foi infectado, atormentava a sanidade de Micah o arrastando em ataques selvagens de loucura que fazia dele um perigo para os outros. Embora Kierland, Morgan e Ashe encontraram alguns problemas com ele na semana anterior quando estavam tentando encontrar Kellan, Micah agora estava preso num quarto fortemente protegido que o próprio Kierland inspecionou, assim Kellan se sentia confiante que o vampiro não seria um perigo.

Eles caminhavam em silêncio perdidos em seus pensamentos, mas falaram muito durante toda a longa tarde enquanto abriam caminho para o Complexo.

Chloe estava cheia de perguntas e Kellan fez o melhor que pode para responder a elas, até mesmo contando a história sinistra de como seu pai assassinou sua mãe em um ataque de ciúmes quando ele e Kierland eram jovens, razão pela qual eles foram criados pelo seu avô em Harrow House, a propriedade que sua unidade de Sentinelas agora estava usando para sua base de operações, seu fosso cheio de água benta com sal que protegia a casa dos Caminhantes da Morte. E mesmo assim, apesar de todas as horas de conversa, ainda havia um tópico que evitaram, mas que queria deixar às claras antes que ele a levasse pra cama.

O vento uivava contra as janelas enquanto fizeram seu caminho para a ala que continha seus aposentos, as paredes de pedra fria do Complexo decoradas com tapeçarias coloridas que deviam ter estado na família Sabin durante séculos, enquanto tapetes inestimáveis cobriam o chão de madeira.

Quando finalmente alcançaram seu quarto Kellan fechou a porta atrás de si, um fogo já rugindo na lareira enviando ondas derretidas de calor. Ele observou enquanto Chloe caminhava até o lado da cama, suas bochechas ruborizando daquela maneira tentadora que fazia quando sabia que ele logo estaria beijando-a.Tocando-a. Ela parecia um pouco cansada, e embora soubesse que ela precisaria de outra alimentação antes dele partir, estava se esforçando para não pensar em quem a alimentaria quando ele partisse.

Em vez disso, Kellan simplesmente observou enquanto ela tirava o Marcador que ele insistiu que ela usasse, colocando a cruz sobre a mesa de cabeceira, a luz do fogo brilhando contra suas bordas metálicas.

Quando ela se sentou na cama branca como a neve e se inclinou para desamarrar suas botas, ele disse seu nome e ela o olhou detrás da cortina pesada de seu cabelo escuro e lustroso, a cor de seus olhos hipnotizantes tão bonita que quase machucava olhar para eles.

Pigarreando Kellan apoiou as costas contra a porta e segurou seu olhar de pálpebras pesadas, sua voz um som arranhado profundo, rouco, quando disse.

— Antes de tocar em você hoje à noite, há algo que quero te dizer.

— O que é?

Ele passou uma mão pelo cabelo, sua voz enrouquecendo quando disse.

— Eu não sou um garoto cheio de desejo sexual que não entende a luxúria. Sei a diferença, Chloe. A fome que sinto por você, é... Cristo, é mais poderosa do que qualquer coisa que já senti antes, mas isso não significa que sou um escravo dela. Pode me fazer passar dos limites do meu controle quando tenho você debaixo de mim, mas não controla minha vontade. Posso pensar à parte disto. Não sei porque não sou afetado pela maldição, mas a simples verdade é que não sou. Talvez seja uma coisa de Lycan e eu simplesmente sou melhor em lutar contra a maldição do que as outras espécies. Ou talvez a maldição esteja enfraquecendo como suspeitamos. Pra ser sincero, não dou a mínima porque isso é do jeito que é. Por uma noite, eu só quero... quero que confie em mim para saber o que é real. Você pode fazer isso?

Ela deslizou seu olhar para as chamas rugindo na lareira, a ondulação polpuda do seu lábio inferior preso em seus dentes, então assentiu com a cabeça lentamente.

O fôlego que Kellan nem sequer percebeu que estava segurando foi liberado com um assobio tranquilo, suas mãos trêmulas ao seu lado.

— Bom. — respondeu asperamente. — Porque eu queria te foder desde a primeira vez que coloquei os olhos na sua foto, querida. Antes de estar em qualquer lugar perto o suficiente para que essa merda de maldição funcionasse em mim.

Ela varreu a língua sobre o lábio superior enquanto se levantava, sua respiração vindo um pouco mais rápida quando ela trancou o seu olhar bonito com o dele.

— Isso é verdade, Kell?

Cruzando o quarto ele tomou seu rosto nas mãos e se inclinou sobre ela, pressionando a testa contra a dela.

— Sei que me faz soar como um porco, considerando que você estava em perigo e tudo o que eu deveria ter pensado era em sua segurança. Mas sim, é verdade. Desde esse primeiro dia em que vi sua foto e Olivia começou a me contar sobre você, fui para a cama todas as noites pensando em você. Sonhando em encontrá-la e ser capaz de te tocar e beijar seus lábios macios. De ser capaz de despir seu doce corpinho. — Ele pressionou um beijo quente ao lado de sua garganta, suas mãos deslizando sobre seus ombros e pelas costas, até que se estabeleceram possessivamente em sua bunda pequena em forma de coração. — Deus, passei dias pensando sobre como seria quando eu pudesse finalmente tê-la contra a minha boca, Chloe. Quando pudesse finalmente conseguir ter você debaixo de mim.

Ela deu um gemido suave em resposta, seu corpo tremendo, mas não disse nada, o único som era o crepitar da lenha na lareira e suas silenciosas respirações sussurradas. Embora seus encontros anteriores foram como tempestades violentas batendo contra uma costa rochosa, Kellan se forçou a ir devagar dessa vez, querendo saboreá-la, bebendo cada momento com cuidado para que não perdesse uma única gota de sensação. Ele a despiu com as mãos trêmulas, cada curva pálida de carne feminina drogando seus sentidos com prazer. Seus seios eram delicados e pequenos, mas além da beleza, sua pele tão macia e pálida que o lembrava do luar brilhante, mais suave do que qualquer coisa que jamais conheceu. Quando a pegou em seus braços e a desceu até a cama, Kellan olhou para o seu corpo flexível atravessado sobre os lençóis brancos com quentes olhos ardentes.

Seu coração batia num ritmo profundo e doloroso martelando em seu peito, e ele não conseguia parar de imaginar como ela pareceria deitada ali com seu filho aninhado contra seu corpo, mamando com fome num daqueles seios cremosos. A visão era tão poderosa que o fez tremer, um gemido baixo derramando de seus lábios enquanto flexionava os dedos, seu olhar varrendo cada centímetro do seu corpo quando ele começou a desabotoar a camisa que usara para jantar, antes de voltar novamente aos doces e deliciosos seios.

Seguindo a linha do seu olhar ela enrubesceu, sua voz já um pouco sem fôlego quando disse.

— Lamento por eles serem tão pequenos. — Um sorriso tocou seus lábios macios, seus olhos brilhando de repente com riso. — Talvez eu devesse ter mandado tudo para o inferno e ser capaz de ficar na vertical para deixar minha amiga Cara trabalhar sua magia sobre eles.

O peito de Kellan tremeu com um barulho rouco de riso enquanto se embainhava num preservativo e subia na cama, prendendo-a sob seu corpo, seu peso apoiado em suas mãos e joelhos.

— Eu quis dizer o que disse antes. — ele sussurrou aninhando seu nariz contra um daqueles enrijecidos e doces mamilos rosados que sempre lhe deram água na boca. — Você é perfeita do jeito que é.

— Dificilmente. — ela ridicularizou, escovando seus dedos pelo seu cabelo. — Mas você é doce por dizer isso.

Erguendo sua cabeça Kellan olhou fixamente no fundo de seus olhos, disposto que ela acreditasse nele.

— É verdade, Chloe. Gostaria que pudesse se ver do jeito que eu vejo. Eu não mudaria nada em você. Nem uma única coisa.

Tocando com sua mão o lado do seu rosto, ela puxou seu lábio inferior entre os dentes novamente dessa forma provocativa que ele amava, os olhos cheios de sombras misteriosas e calor.

— Quero você dentro de mim, Kell.

Incapaz de resistir ele tocou sua boca com a dela afundando sua língua naquele poço doce, quente, e se perdeu em seu sabor suculento. Quando finalmente parou para respirar ele manteve seu rosto perto do dela, observando seus olhos quando disse.

— Antes desta noite acabar, estarei tão profundamente dentro de você, que não será capaz de se lembrar como era não me ter enchendo você. Mas não vou apressar isto. Não hoje à noite.

Não foi fácil, mas Kellan chamou a profundidade crua e empolgante de emoção que sentia por ela para atar o lobo à submissão, forçando o animal a ouvir suas ordens. Então ele espalhou as coxas de Chloe e a abriu com seus dedos, tocando-a… estudando-a… admirando com calma todos os detalhes escorregadios e deliciosamente rosa, a almofada de seu sexo inchado a coisa mais doce e mais bela que ele já viu, pra não falar, a mais gostosa.

Um prazer primitivo e visceral sacudiu suas veias enquanto a cobria com a sua boca, com fome, lambendo e chupando, incapaz de ter o suficiente dela. Ele continuou nela ​​com sincera intenção, atacando seu clitóris com a língua até que ela colidiu na borda, gozando numa arremetida inebriante de calor contra o seu rosto. Então ele se levantou sobre sua forma trêmula e reivindicou sua boca com um beijo faminto, devastador, ao mesmo tempo que forçou seu corpo no dela, os movimentos bruscos e profundos. O prazer era ofuscante como uma espécie de loucura febril que ardia através dele, fazendo um som animal cru vibrar no peito. Ele não conseguia parar de beijá-la. Não conseguia parar de acariciar e empurrar, esfregar sua língua contra a dela enquanto cavalgava seu corpo num ritmo deliciosamente lento, grosso, cada golpe empurrando e puxando, forçando gritinhos roucos de sua garganta que só o deixavam mais duro... e mais desesperado.

Eles balançaram juntos em um deslizamento profundo e sensual, como ondas deslizando sobre o oceano, sua fome crescia numa ascensão doce e inexorável enquanto suas respirações encurtavam, camadas quentes sobre o calor quando seus corpos ficavam escorregadios de suor.

Kellan tocou sua boca com a borda delicada de seu queixo, suas mãos avidamente vagando pelo seu corpo enquanto beijava ao longo da coluna esguia de sua garganta abaixo, sobre o martelar dos batimentos do seu coração até que pegou um mamilo na boca, seus músculos internos agarrando seu pênis em um aperto molhado e pulsante que o fez rosnar.

Suas presas começaram a deslizar de suas gengivas e ele fechou sua mandíbula, lutando com tudo o que tinha enquanto gozaram em uma onda longa e surreal de prazer que só continuava indo... e indo, até que ele sentiu como se tivesse sido bombeado para fora de sua própria alma.

— Cristo, não consigo ter o suficiente de você. — ele suspirou em voz baixa, apertando-a contra seu corpo enquanto deitavam de lado mais tarde entre a cama amarrotada, com sua cabeça debaixo do queixo, suas pernas entrelaçadas em uma malha sensual de membros.

— Sabe — ela sussurrou, aconchegando sua boca contra seu peito. —, quando um homem diz algo assim é geralmente seguido por algo mais, Kell.

Ele endureceu com aquela tensão familiar e fechou seus olhos, segurando-a um pouco mais apertado que antes como se ela fosse de repente escapar dele.

— Gostaria muito que eu pudesse te dar mais — ele engoliu, engasgando com o gosto amargo do arrependimento. —, mas não posso.

— Não pode? Ou não quer?

Kellan sabia muito bem o que ela queria ouvir, mas não podia fazer isso. Ele viu seu amigo Ian Buchanan, o primeiro Merrick a ser despertado, fazer de si mesmo um idiota quando tentou se manter afastado de sua mulher, recusando-se a se alimentar dela até que quase a perdeu. O mesmo poderia ser dito de seu irmão durante todos os anos que Kier tentou evitar seus verdadeiros sentimentos por Morgan Cantrell.

No caso de Ian, ele estava com medo de acidentalmente matar Molly e Kierland temia o que seu ciúme o levaria a fazer. Mas a situação de Kellan era diferente. Ele já tinha um controle bem definido sobre seu futuro, um que não parecia bom. Ele não poderia prometer a Chloe o que não poderia estar por aí para manter, e não podia contar a verdade sobre o veneno, preocupado com o que ela pudesse fazer para tentar ajudá-lo.

Assim, respirando profundamente, ele sufocou as palavras roucas que precisavam ser ditas.

— Não importa o quanto eu gostaria que as coisas fossem diferentes, a verdade é que não sou bom o suficiente pra você, Chloe. Eu sou mercadoria avariada, em mais de uma maneira. A última coisa que precisa é começar a ficar intensa sobre mim.

Ela empurrou seu peito e ele se forçou a deixá-la ir quando se afastou dele e sentou.Travando sua mandíbula Kellan se apoiou na cama, descansando as costas contra a cabeceira esculpida. Ela juntou o lençol em suas mãos o segurando contra seus seios enquanto se virava para ele, seus olhos brilhando com lágrimas não derramadas, enquanto molhava os lábios e disse.

— Eu não quero pressioná-lo, Kellan. Quer dizer, sei como eu pareço louca, mas então, toda esta situação é uma loucura. Eu só... não entendo o que quer de mim.

— Eu quero… — muitas coisas , ele pensou. Mas para Chloe, ele simplesmente disse. — Esta noite quero fingir que sou o tipo de homem que você poderia se orgulhar de ter ao seu lado. O tipo com o qual poderia querer algo mais do que apenas um tempo quente na cama.

— Você é esse tipo de homem. — ela disse segurando o lençol mais apertado contra o peito, o cinza de seus olhos escurecendo com emoção.

Com uma risada amarga e ofegante, ele esfregou as mãos pelo rosto.

— Não estou nem perto. — ele murmurou apoiando os braços sobre os joelhos dobrados e as mãos tremendo de leve, tremores quase imperceptíveis. — Cristo, tenho sido um fodido a minha vida inteira, Chloe. Acho que você poderia fazer melhor. Inferno, sei que você poderia fazer melhor.

— Isto não é...

— Se soubesse as coisas que eu fiz então você entenderia. Não se trata apenas das mulheres. Uma reputação de merda eu poderia passar por cima provando que mudei, mas alguns dos meus erros foram grandes. Uns que prejudicaram meus amigos. Que quase conseguiram matá-los.

Ela começou a argumentar, mas ele a cortou novamente, sua voz caindo quando disse.

— Há alguns meses quase fiz uma mulher inocente ser morta porque eu estava trepando com uma das fêmeas Casus enquanto estava trabalhando em Washington com Riley Buchanan. A mulher era Hope, noiva de Riley, e aquela vadia Casus quase chegou a ela por minha causa.

Seus olhos se arregalaram com choque e Kellan soube que Raine disse a verdade quando prometeu manter o que sabia sobre seu tempo em Washington para si mesma.

— Você ... você sabia o que ela era? — ela perguntou. — A Casus, quero dizer.

— Não, mas isso não desculpa o que aconteceu. — ele rosnou, aquela velha e familiar culpa enrolando em seu interior, torcendo-o em nós quando jogou a cabeça para trás contra a cabeceira da cama, fechando os olhos. — E isso com certeza não quer dizer que não sou o culpado.

 

Talvez ela não tivesse os sentidos incríveis do Lycan, mas Chloe conseguia reconhecer sua vergonha. A emoção crua e dolorosa explodia contra ela como um vento quente, e ela ansiava pelas palavras certas para acalmá-lo.

— Erros acontecem. — ela disse em voz baixa. — Uma má escolha não faz de você uma má pessoa, Kell.

 Seu rosto apertou, sua voz tão gutural, que mal parecia humana.

— Não há pessoas boas que fazem coisas más, Chloe. Há apenas gente ruim.

— Isto não é verdade. Olhe pra nós, Kellan. Olhe para o que você fez pra mim. Você estava disposto a jogar tudo fora e para quê? Uma estranha. Alguém que você nem mesmo conhecia.

— Você está errada. — ele argumentou erguendo a cabeça, e o olhar em seus olhos escuros e brilhantes roubou o fôlego. — Eu sabia muito sobre você antes de sequer colocar os pés em Wasteland. Conversei com Olivia sobre você a cada oportunidade que eu tinha. Sabia que era inteligente, honesta e leal. Engraçada, doce e às vezes um pouco tímida, mas corajosa como o inferno. E tudo que aprendi apenas tornou muito mais claro para mim que eu tinha que chegar perto de você.

— E agora está perto de mim. — ela sussurrou, lutando para segurar as lágrimas. — Mas ainda não posso ter você, não é?

— Não. — ele respondeu asperamente, seus olhos queimando num azul luminoso e pecaminoso.

— Por que não? É verdade, não é? Você está apenas usando essas desculpas para se manter...

— Você está errada. — ele rosnou e a próxima coisa que ela soube era que ele estava do outro lado da cama pressionando-a no colchão, prendendo-a sob seu corpo musculoso enquanto ele agarrava seus pulsos os prendendo acima da cabeça.

— Não te fazendo promessas sobre o futuro. — ele rosnou, sua voz grave e áspera ofegante. — Não falando com você sobre o futuro ... Cristo, Chloe. É a coisa mais altruísta que já fiz na minha vida!

— Então isso tudo é para meu próprio bem?

— Sim!

— Isso é besteira! — ela retrucou incapaz de impedir as lágrimas quentes de cair enquanto lutava com ele, o poder de sua Merrick correndo por seu sangue, mas sua força não era páreo para a do Lycan. Ele simplesmente apertou a extensão dura e sólida do seu corpo musculoso mais pesadamente contra o dela, prendendo-a debaixo dele.

— Por favor, Chloe, apenas me escute. — ele gemeu enterrando as palavras ásperas e quebradas em seu cabelo. — Não quero perder o tempo que nos resta. Apenas... só saiba que se eu pudesse te daria tudo.

— Kellan, eu...

— Porra, cale a boca e ouça! — ele gritou, recuando sua cabeça para que pudesse olhar para ela, sua expressão uma de agonia crua e atormentada.

— Se eu pudesse faria a você cada promessa que pudesse ser feita entre um homem e uma mulher. Cada uma. — ele resmungou, forçando as palavras pelos dentes cerrados. — Mas isso não é uma opção. Queria como o inferno que fosse, mas não é.

— Oh, Deus. — ela sussurrou, o medo de repente a cortando como uma lâmina. — Tem alguma coisa acontecendo, não é? Algo que não está me dizendo. Algo ruim.

Ele deu uma respiração profunda e trêmula, em seguida conseguiu dizer:

— Nada está errado, Chloe. Eu só... só quero que esteja a salvo. Quero que tenha uma vida boa e isso não é... não é algo que eu possa te dar.

Ele parecia sincero, mas cada instinto que possuía estava gritando que ele estava escondendo algo dela. Algo importante. Ela podia ver a verdade queimando em seus olhos. Senti-la tremendo pelo seu corpo.

Ela só não sabia se era algo que poderiam passar juntos. Ou algo que poderia separá-los...

 

Wasteland, ao norte do Complexo Sabin

Sábado, 3h da madrugada.

Era isso. Hora decisiva.

Com cuidado para evitar as sentinelas de Juliana, Kellan conseguiu escapar do Complexo Sabin sem ser detectado, as folhas de zimbro[11] esmagado que esfregou na sua pele mascarou com sucesso o seu cheiro, ajudando-o a se misturar com a floresta.

Determinado a ter certeza que Chloe seria cuidada não importando como sua noite terminasse, ele deixou uma carta para Kierland explicando que queria que ela recebesse sua parte da herança, como também um lugar para viver em Harrow House pelo tempo que ela quisesse.

Havia muito mais que ele precisava dizer, mas por fim Kellan simplesmente terminou a carta dizendo a Kierland que ele o amava e desejava toda a felicidade que ele pudesse encontrar, já que não havia ninguém que merecesse mais. Então deslizou o envelope debaixo da porta do seu irmão e embora quisesse voltar para o seu quarto e olhar para Chloe uma última vez, ele se forçou a sair.

Esteve perambulando por mais de uma hora pelo vento gelado da floresta em busca de Gregory e ele precisava se concentrar, mas não conseguia tirar Chloe de sua mente.

Após sua discussão acalorada sobre suas suspeitas de que ele estava escondendo algo dela, ele passou longos minutos ofegantes a persuadindo a relaxar.Tentando-a a ceder à queimação provocante de prazer para que ele pudesse se perder no seu corpo doce e quente... bloqueando a realidade brutal que estava do outro lado da meia-noite.

E assim que ela se rendeu ele a levou correndo para aquela escuridão rica novamente... e novamente, seu corpo já viciado na maneira em que ela se movia, saboreava e gozava. Seu tempo juntos não foi nada menos que alucinante, o sexo tão explosivo que se surpreendia por não colocarem fogo na cama.

E depois que ela se alimentou outra vez bebendo profundamente da sua veia, deslizou graciosa num sono pesado e exausto. Kellan adormeceu com o rosto pressionado contra sua barriga e dois dedos enterrados dentro dela, necessitando apenas dessa conexão com ela. Precisando ser uma parte dela enquanto pudesse.

E agora que a deixou estava em situação ainda pior do que temia que estaria. O domínio que ele tinha sobre o lobo durante a sua vida amorosa escapou dele, o animal uivando com fúria, enraivecido que ele foi embora sem delimitar sua reivindicação, marcando-a como sua mulher. Mas então a besta ainda acreditava que sairiam desta vivos, enquanto Kellan sabia melhor.

Ainda assim ele vinha preparado. O calor do Marcador que Chloe deixou na mesa de cabeceira queimava dentro do seu bolso, vibrando com o poder. Ele não estava indo apenas matar o corpo do hospedeiro de Gregory e enviar sua sombra de volta para Meridian, onde o Casus poderia eventualmente escapar de novo. Não, ele queria o bastardo partindo para sempre, o que significava que tinha que usar a cruz e explodir o traseiro de DeKreznick diretamente para o inferno.

Nesse momento estava abrindo caminho através de um prado iluminado pelo luar, achando que tinha acabado de pegar um leve rastro do cheiro de Gregory quando o cabelo na sua nuca ficou em pé. Merda, ele pensou dando a volta, procurando na claridade do luar pela fonte de sua apreensão. Um movimento à sua esquerda chamou sua atenção e ele foi nessa direção, sufocando um grito de frustração quando um por um os homens de Reyker começaram a sair da floresta ao redor, seus olhos cinza pálidos queimando como faíscas sinistras de luz.

E bem no centro do grupo estava Asa, o filho da puta que o envenenou.

Porque eles eram Deschanel e podiam mascarar seu cheiro Kellan não foi capaz de detectar a aproximação dos vampiros. E agora já era tarde demais. Maldizendo sua monumental sorte de merda o Lycan reprimiu um rosnado visceral, sabendo que deveria andar com cuidado com o Deschanel se fosse continuar com sua caça.

— O que você quer? — ele perguntou fixando seu olhar agudo na forma alta e esguia de Asa Reyker.

Os olhos prateados do vampiro queimaram com fogo maníaco, sua expressão tão sanguinária e louca como da última vez que Kellan o viu. Difícil de acreditar que foi há pouco mais de uma semana, quando tanta coisa em sua vida mudou desde então.

Uma semana gasta morrendo, e ainda assim foram os dias mais significativos em toda a vida de Kellan.

E tudo o que ele estava perdendo, era por causa de Asa — a súbita consciência o fazendo querer se atirar sobre o vampiro e arrancar sua maldita cabeça.

Não é o momento, ele rosnou silenciosamente, lutando para controlar seu temperamento. Tem que lidar com Gregory primeiro.

— O que você acha que eu quero? — O Deschanel finalmente respondeu, as palavras ásperas revelando o rastro de um sotaque escandinavo, lembrando a Kell do modo como Gideon falava. — Tínhamos um acordo, Lycan. Um que você não honrou.

Mantendo um olhar atento sobre os outros oito membros do ninho de Reyker que estavam se espalhando delimitando o prado, Kellan apertou suas mãos em punhos, sua voz pouco mais que um som rouco gutural.

— De que diabos está falando? O acordo foi que eu tinha que vir vê-lo antes de deixar Wasteland. E ainda estou aqui.

Asa levantou os ombros num encolher casual, os longos fios do seu cabelo cor de chocolate soprando em seu rosto de feições duras.

— Mas o veneno está te debilitando e você não será bom para mim morto, não é? — ele falou lentamente, cruzando todo o prado até que apenas um punhado de passos os separava.

— Ainda não estou morto. — Kellan murmurou enquanto seu lobo rosnava com agressão, ansioso para rasgar o bastardo. — E eu tenho toda a intenção de honrar o acordo. Só não neste momento.

Asa enfiou os polegares nos bolsos da frente, seu tom estranhamente relaxado como se fossem apenas discutir algo tão mundano quanto o tempo.

— Receio que não seja possível. Vamos resolver agora.

— Como o inferno que vamos. — Kellan argumentou, querendo limpar a expressão presunçosa do rosto o vampiro. — Há algo que tenho que fazer primeiro.

— Os termos do nosso acordo eram simples. — Asa murmurou, claramente não o ouvindo. — Você queria atravessar minhas terras e eu queria me alimentar de você em sua forma animal. Não atacá-lo, mas simplesmente aproveitar e tomar seu sangue enquanto estava se curvando diante de mim, todo obediente. Mas já que minha mordida é letal, ofereci um acordo que você foi tolo o suficiente para aceitar. Se você sobrevivesse ao tempo passado no Complexo Westmore, então deveria voltar pra mim e lutar comigo pela chance de sobreviver. Se você ganhasse eu te daria o antídoto para o veneno queimando pelo seu sistema. E se você perdesse, eu teria permissão para terminar a alimentação, drenando você. — O vampiro ergueu suas sobrancelhas. — E se você falhasse em aparecer então haveria consequências terríveis. Ou você esqueceu?

— Porra! — ele rosnou — Eu estava voltando! Mas há uma coisa que tenho que fazer primeiro.

Esfregando o queixo, Asa disse:

— Provavelmente está falando daquele Casus que quer sua mulher, mas receio que não possa deixar você fugir e se matar.

Kellan respirou fundo então lentamente deixou sair, sua cabeça martelando enquanto tentava pensar numa saída para isto.

— Como você conseguiu me encontrar? — ele perguntou, protelando… revolvendo seu cérebro por uma solução.

— Receio que aquele zimbro não funcionará em mim. — Asa ofereceu em resposta para sua pergunta. — Você pode cobrir seu cheiro o quanto quiser, mas ainda poderei te localizar. Olha, sou uma daquelas raças especiais que podem rastrear o sangue, como a companheira do seu irmão.

Uma metamorfa com uma linhagem extraordinariamente eclética, Morgan também possuía a habilidade de rastrear sangue — avançando na localização daqueles que ela tomou sangue — e foi deste modo que ela e Kierland conseguiram rastrear Kellan em Wasteland.

Preocupado que não pudesse ser capaz de tirar Chloe do Complexo por conta própria, Kellan procurou Morgan antes de deixar a Inglaterra e pediu que tomasse seu sangue, sabendo que ela seria capaz de levar Kierland para ele, então eles poderiam estar lá para ajudar se houvesse um problema. Parecia uma prova da sorte de merda de Kellan que Asa pudesse fazer a mesma maldita coisa.

— Ouça. — ele murmurou. — Estou dizendo a verdade. Tenho toda a intenção de voltar para você assim que acabe com Gregory.

O vampiro deu um sorriso lento e cruel... e faminto.

— Temo que não acredito em você. Nem me importo particularmente. — Olhando para os outros ele ordenou. — Cerquem-no.

Percebendo que estavam fazendo um círculo com seus corpos de pé, ombro a ombro, Kellan fervilhou de fúria, seu lobo se levantando dentro do seu corpo numa grande onda de crua violência predadora. Ele saudou a mudança, sabendo que o animal se sairia melhor contra os vampiros poderosos do que o homem, considerando a forma em que ele estava — mas não podia fazer a mudança em sua forma animal completa. O veneno já havia causado muita destruição, e ele apenas conseguiu liberar suas garras e presas. Mas não deixaria isto detê-lo, porra.

— Então faça do seu jeito. — ele rosnou, flexionando suas longas e sinistras garras ao lado do seu corpo enquanto estreitava seu olhar sobre Asa. — Vou lutar com você, seu fodido bastardo.

— Oh, receio que a oportunidade agora passou. — Asa murmurou, um sorriso torto tocando sua boca. — Você perdeu, Lycan. E agora seu traseiro é meu. — Olhando para seus parentes sua voz endureceu para um comando gutural quando disse. — Peguem-no.

— Seu filho da puta! — Kellan rugiu, lutando com tudo que tinha, arranhando e mordendo como o animal selvagem que era, mas havia muitos deles.

Os Reykers desceram sobre ele de uma vez como uma onda devastadora de trevas, esparramando-o sobre o chão e o mantendo ali, vários pares de mãos segurando cada membro esticado. O brilho prateado do luar brilhava em volta de Asa deixando seu rosto na sombra, seus brilhantes olhos cinzentos queimando com loucura, e Kellan soube naquele momento que suas dúvidas sobre o antídoto eram verdade.

Se o ninho de Reyker possuísse tal coisa certamente o teria usado nesse bastardo retorcido, o veneno claramente distorceu sua mente, assim como a cepa que infectou o irmão de Juliana. Conforme Asa afundava de joelhos ao lado dele o lobo fervia sob a pele de Kellan, socando contra o interior do seu corpo, mas não importa o quanto lutava ferozmente, não podia sair.

Passando a língua sobre seu lábio superior Asa se inclinou sobre ele, suas garras se cravando profundamente na terra quando rosnou:

— Vire sua cabeça de lado.

A ordem foi seguida e então Asa passou para a mordida, suas longas presas rasgando a garganta de Kellan. O vampiro se alimentou com agressividade selvagem, puxando da ferida em profundos goles vorazes o drenando mais... e mais, até que a luta lentamente deixou o Lycan, seu corpo não se esforçando mais. Não estava mais lutando.

Em vez disso Kellan se encontrou preenchido com uma sensação de afundamento, seus braços e pernas muito pesados para o chão frio e duro sustentar. Era como se ele estivesse simplesmente se derretendo na terra, deixando para trás nada além de pele e ossos. Afinal os vampiros liberaram o aperto sobre seu corpo relaxado, seus membros ficando dormentes enquanto seu sangue era drenado de suas veias.

Ele estava prestes a ir embora quando nos cantos vagos de sua consciência pegou o som de uma confusão no outro lado do prado, uma nova voz soando com fúria gritando o nome de Asa enquanto chegava mais perto... mais perto.

— Porra, Asa! Deixe-o ir! Não posso acreditar que veio atrás dele nas minhas costas. Tínhamos um acordo sobre você lidar com esta situação de forma justa!

Com um grunhido gutural o vampiro arrancou suas presas da garganta devastada de Kellan e se levantou.

— Ele já era, de qualquer maneira. — ele murmurou dando um chute cruel nas costelas de Kellan, fazendo seu corpo fraco cair no chão frio, seus membros se debatendo, tão inúteis e moles agora como uma boneca de pano. Enquanto ele lutava por um pouco de ar, o Lycan se perguntou quanto sangue ainda bombeava pelas suas veias.

Não o suficiente, percebeu quando seu corpo se recusou a seguir os simples comandos retransmitidos pelo seu cérebro. E tudo que restou agora estava mais envenenado do que nunca. Ele estava morrendo... murchando, o chão já não era tão frio enquanto se deitava ali, a sensação surreal de dormência se espalhando, aos poucos consumindo a dor.

— Você quebrou sua palavra. — a mulher acusou, sua voz tremendo de raiva enquanto continuava a repreender o vampiro.

Asa riu baixinho.

— Não foi a primeira vez, irmãzinha. E me atrevo a dizer que não será a última.

Irmã? Kellan tentou se lembrar se viu uma mulher quando ele se chocou com Asa na semana anterior, mas não se lembrava. Não que isso importasse. Se seu plano fora ajudá-lo ela estava muito atrasada. Ele já estava de saída.

A discussão continuou, mas ele parou de ouvir, já não se importando com o que eles dissessem, seus últimos pensamentos se voltando para Chloe. Desespero o encheu na percepção de que nunca mais a veria. Ele sabia o que estava vindo, mas esperava ao menos ser capaz de destruir Gregory por ela, e ainda não foi capaz de fazer isso.

Fodido patético, ele pensou, conseguindo abrir seus olhos o suficiente para que pudesse observar Asa girando e voltando para a densa floresta coberta de neve. O resto começou a seguir atrás dele e Kellan rangeu os dentes, de alguma forma encontrando força para rolar à sua frente, nem sequer sentindo o frio da neve contra sua carne.

Ele sabia que estava morrendo, seu corpo quase completamente sem sangue. Descansando seu rosto contra o chão duro ele se concentrou em puxar cada respiração, uma após outra, ouvindo suas vozes enquanto o deixavam morrer. Então o vento soprou sobre ele, os aromas da floresta circundante enchendo sua cabeça, e ele pegou....

Gregory!

Reprimindo um gemido gutural Kellan de alguma forma conseguiu levantar a cabeça, suas narinas queimando quando procurou por aquele cheiro, e o achou novamente, seu lábio superior ondulando revelando suas presas. O bastardo estava ali... tão perto que podia sentir seu sabor.

Então levante sua bunda e vamos buscá-lo, o lobo rosnou vibrando de raiva, recusando-se a aceitar a derrota.

Era como se ele ouvisse Noah chamá-los, um daqueles momentos afiados. Do tipo que seria fazer ou ferir seu orgulho. Ele podia fazer o mais fácil e se deitar e morrer, ou fazer o que mais difícil e continuar lutando pela mulher que amava. E droga, ele a amava. Com tudo o que tinha. Ele podia ser tão bom quanto comida de verme, mas não desistiria dela até que finalmente desse seu último suspiro.

Cavando suas garras na crosta de neve do chão Kellan puxou o corpo pra frente, a dor rasgando por seu sistema como uma faca, excruciante e afiada. Lágrimas queimavam no fundo de seus olhos, mas rangeu os dentes e conseguiu se arrastar outro passo sobre o chão, determinado de alguma forma a encontrar forças para enfrentar Gregory.

— Lycan, pare.

Kellan amaldiçoou ao som das palavras suaves e continuou seguindo.

— Droga. — A voz feminina estava mais perto desta vez, vindo da sua direita. — Pare de rastejar para longe de mim. Você só vai se debilitar ainda mais e eu pretendo ajudá-lo.

— Ajudar? — Um riso amargo raspou na sua garganta. — Oh, Cristo. Quanto você acha que sou estúpido?

— Não me importo nem um pouco sobre a sua inteligência. — ela retrucou. — Estou apenas tentando salvar sua vida.

Imaginando que diabos ela estava fazendo ele parou, e a fêmea — irmã de Asa — ajoelhou-se ao lado dele, rapidamente tirando algo da mochila que tirou do seu ombro. A próxima coisa que ele soube foi que ela o empurrou de lado, rasgou a manga da camisa e injetou uma agulha na sua veia.

— O que está fazendo? — ele rosnou, seu braço de repente queimando com calor, a pele em torno da agulha latejando de dor.

Ela manteve o foco em seu braço, sua testa franzida com concentração quando disse.

— Estou te ajudando, como eu disse que faria.

Os pensamentos de Kellan giravam em confusão, o que ela estava injetando em seu sistema afastando o frio que se instalara em suas veias e substituindo-o por um calor escaldante, escorregadio, que fez gotas de suor escorrerem por seu rosto.

— Por quê? — ele ofegou tentando focar sua visão vacilante. — Por que... me ajudar?

— Eu não sei. Talvez esteja apenas louca. — Ela parecia irritada quando lançou as palavras para ele, seu olhar ainda no lugar onde ela tinha a agulha encaixada em sua veia. — Agora cale a boca, relaxe e deixe o antídoto fazer seu trabalho, ou não irá fazer àquela mulher em que está tão fixado em proteger nenhum maldito bem. Você me entendeu?

—Você está mentindo. — ele rosnou lutando para se sentar, mas ela apoiou uma mão contra o centro do seu peito e o empurrou de volta contra o chão, seu corpo ainda muito fraco para oferecer qualquer resistência.

— Você realmente precisa trabalhar com essa coisa de confiança. — ela murmurou, seus olhos cinzas reluzindo de frustração quando olhou pra baixo em direção a ele. — E pelo amor de Deus, aprenda a ter um pouco de fé. Creio que você provavelmente irritou um monte de gente e fez seu quinhão de inimigos, mas nem todo mundo está lá fora para ter você. Apenas confie em mim, ok? Eu sou boa, juro.

Kellan queria dizer para ela calar a boca, mas a pequena vampira arrogante estava certa. Ele perdeu sua fé. Ou talvez só desistira meses atrás quando percebeu o quanto ele se tornou um fodido… e lentamente permitiu que sua culpa o esvaziasse. Permitiu que o transformasse num homem disposto a aceitar seu destino, não importa a merda que fosse, em vez de lutar contra.

Era imperdoável quando pensava pelo que tinha que lutar. Sua família e amigos, sem mencionar a mulher que reivindicou seu coração e que agora possuía sua alma. Em vez de enfocar tanto no que aconteceu no passado, deveria ter movido montanhas para resolver seu futuro. E Cristo, quem dava uma merda se ele não fosse bom o suficiente para Chloe? Nada dessa porcaria importava. Tudo o que importava era que se tornou o tipo de homem que ela pudesse se orgulhar. Um que era digno de sua estima — do jeito que ela merecia.

Você deveria ter me escutado. Disse a você que acharíamos uma cura, o lobo cantava e Kellan percebeu que não haveria como viver com o animal agora. Ele estaria se gabando sobre isso por anos, segurando-o sobre a sua cabeça sempre que discordassem.

De olho na seringa que a vampira estava lentamente descomprimindo, alimentando o que parecia ser um líquido dourado espesso em sua veia, ele disse:

— Então seu irmão não estava mentindo quando disse que havia um antídoto para o veneno?

— Asa pode ser um bastardo, mas ele é honesto. Pelo menos às vezes. — ela adicionou secamente.

O coração de Kellan começou a bater um pouco mais rápido quando compreendeu que realmente teria a oportunidade de se jogar aos pés de Chloe e implorar por uma segunda chance, mas respirou fundo e empurrou o pensamento de tirar o fôlego para o fundo de sua mente , sabendo que tinha que manter seu foco em Gregory antes que pudesse ir correndo de volta para ela.

— Qual é o seu nome? — ele perguntou, cortando seu olhar de volta para o rosto afiado da pequena vampira.

— Todo mundo me chama de Gabby.

— Eu não estou tentando soar ingrato pelo que você está fazendo, mas por que não me ajudou antes? Na noite em que Asa me envenenou?

Seus curtos cachos castanhos roçaram os lados do seu rosto enquanto ela pressionava o êmbolo completamente, esvaziando o conteúdo da seringa em sua veia.

— Pra ser honesta — ela murmurou deslizando a agulha do seu braço e soltando-a de volta na sua mochila. —, não vi nada que valesse a pena arriscar meu pescoço para salvar. Veja, meu irmão e eu temos talentos... especiais, pode se dizer assim. Enquanto Asa pode rastrear sangue, os meus são mais intuitivos.

— Você é psíquica? — ele perguntou, enquanto ela lhe dava uma injeção que explicou ajudaria a regenerar seu suprimento de sangue.

— Não. Eu só… vejo coisas. Todos os tipos de coisas. Verdades. Mentiras. E às vezes posso ver dentro do coração da pessoa. Como… como ler uma aura. — Quando ela terminou de fechar sua mochila olhou para ele enquanto acrescentava. — Você mudou desde a semana passada. A raiva que levava dentro de você foi substituída por amor, e isso é algo pelo que estou disposta a me arriscar.

Ele grunhiu em resposta, friccionando seus dentes contra o calor devastador correndo por suas veias, a sensação tão escaldante quanto se fosse injetado fogo líquido, o antídoto literalmente queimando o veneno do seu sistema. Quando a dor finalmente começou a retroceder ele perguntou.

— Por que não deu o antídoto para o seu irmão?

Com uma carranca, ela explicou.

— Embora este antídoto funcione nas vítimas de Reykers ainda não consegui criar um que pudesse purgar o veneno de seus portadores.

— Como ele foi infetado em primeiro lugar?

— De que outra forma? — ela murmurou com um grunhido suave, revirando os olhos. —Ele e um primo meu cometeram um erro que afetou todos os homens da família.

—Então você não é venenosa? — ele perguntou conseguindo se sentar quando ela se levantou.

— Não, estou limpa. — ela respondeu, deslizando sua mochila de nylon por cima do ombro. — Só os machos foram amaldiçoados com o veneno. Também não estou condenada à Wasteland.

Ajoelhando-se primeiro, Kellan esperou até que sua cabeça tivesse parado de girar antes de tomar a mão pequena que ela ofereceu e a deixou ajudá-lo a se levantar.

Ela era uma coisinha minúscula como Chloe, mal alcançando seu ombro, mas tinha um olhar nela que dizia que era tudo menos delicada. Mais como um doberman baixinho, vestido de jeans e um pesado suéter de malha.

— Se não está exilada — disse ele. —, então o que está fazendo aqui?

—Algumas bruxas amigas minhas estão me ajudando a elaborar o antídoto e acabamos de apresentar uma amostra viável na semana passada. Eu trouxe a notícia do antídoto para Asa no dia em que ele envenenou você.

Usando sua manga para limpar a garganta sangrando, ele disse:

— Isso explica por que os Sabins não sabiam sobre o antídoto.

Gabby ergueu suas sobrancelhas.

— É verdade que não temos exatamente espalhado a notícia por aí, mas estou surpresa que a psíquica com que você está viajando não pudesse te dizer que o antídoto era real.

Kellan estremeceu.

— Raine está em mau estado após o tempo que passou no Complexo de Westmore. Seus poderes estão fracos agora e quando tentou obter uma leitura de Asa para mim, sua mente estava muito cheia de violência para que ela visse qualquer coisa claramente.

— Isso soa como meu irmão. — ela murmurou baixinho, e ele podia sentir a dor que tornou ásperas as bordas de suas palavras.

— Você mencionou que Asa e seu primo cometeram um erro que provocou a maldição. Qual foi?

Os nós de seus dedos ficaram brancos quando segurou a alça que cruzava seu ombro.

— O nome dela era Merol e ela é uma feiticeira irritadiça. Uma que gosta de jogar com os homens como se fossem seus brinquedos pessoais, mas espera devoção absoluta em troca. Desnecessário dizer que eles ferraram com a mulher errada quando se envolveram com ela.

— Não temos todos? — ele grunhiu.

— E ainda assim o destino te concedeu um presente na bruxa. — ela disse. — Ainda espero que o mesmo possa acontecer para o meu irmão.

— Eu diria que está desperdiçando seu tempo — ele raspou, estendendo-se para apoiar sua mão contra uma árvore próxima enquanto uma onda de tontura o atravessava. —, mas desde que tenho um irmão, eu entendo.

Ela respondeu com um aceno leve da cabeça, então pareceu levar um instante para estudar seus olhos.

— Se você simplesmente esperar um minuto, a tontura deve desaparecer.

Pigarreando, ele disse:

— Escute, sei que agi como um idiota no começo, mas eu te devo...

Ela afastou as palavras com a mão.

— Você não pediu minha ajuda, portanto não me deve nada. Isso foi escolha minha.

— Seu irmão ficará bravo com você? — ele perguntou, jogando o cabelo para trás do seu rosto com a mão trêmula enquanto lutava contra as náuseas torcendo o seu estômago.

A vampira balançou sua cabeça.

— Posso lidar com Asa. Só dê o fora de Wasteland assim que puder. E o que quer que faça, não volte.

Ansioso para continuar com sua procura por Gregory Kellan agradeceu sua ajuda, então se virou e seguiu para o bosque, procurando na floresta por aquele leve rastro de cheiro do Casus que ele apanhou mais cedo. Embora sua cabeça ainda estivesse girando, sabia que quanto mais cedo lidasse com DeKreznick, mais cedo poderia seguir seu caminho de volta para Chloe, colocando-se a sua mercê.

Estava pensando sobre o que diria a ela quando percebeu que Gabby o estava seguindo, e a cortou com um olhar agudo sobre o ombro.

— Que diabos está fazendo?

— Ajudando você a terminar isto. — brandindo uma expressão determinada ela colocou sua mochila mais pra cima do seu ombro e ergueu o queixo. — Pelo que vejo, quanto mais cedo você terminar aqui, mais cedo irá embora. E realmente não quero continuar a me preocupar com Asa vindo atrás de você novamente.

— Só seja cuidadosa. — ele murmurou, pensando que ela ganhou o direito de segui-lo onde quer que quisesse, considerando que acabou de salvar sua vida.

Alguns leves flocos de neve estavam começando a cair do céu cinza-ardósia ferrando com seu olfato, por isso seguiu para o norte, que era a direção que ele captou o cheiro do Casus mais cedo.

Kellan estimava que eles já estavam pelo menos alguns quilômetros ao norte do Complexo Sabin, e a cada passo que dava podia sentir o antídoto lutando para destruir os restos do veneno, suas habilidades de cura lentamente retornando com força total, trabalhando duro para reabastecer seu fornecimento de sangue com a ajuda da injeção que Gabby lhe dera. Ele ainda estava muito longe de estar cem por cento, mas não estava mais batendo às portas da morte e seus pensamentos se voltaram para a luta próxima.

— Você precisa mascarar seu cheiro. — disse a Gabby, esperando como o inferno que ainda houvesse zimbro o suficiente em sua pele para disfarçar sua presença. — O Casus tem uma bruxa com ele que pode travar seus adversários no lugar. Minha única chance contra ele é pegar a bruxa primeiro.

— Lycan. — ela murmurou, seu tom significando um problema e ele pegou os odores no instante seguinte, medo e frustração queimando por suas veias.

— Porra. — ele rosnou correndo em direção à fonte, alimentando seu caminho pela floresta enluarada enquanto evitava galhos baixos e pulava sobre troncos caídos. Gabby estava bem no seu encalço quando irrompeu numa pequena clareira alguns minutos mais tarde, incapaz de acreditar nos seus malditos olhos.

Eles estavam todos lá, com exceção de Raine. Seu irmão, seus amigos e seus aliados. Cada um deles.

E Chloe Harcourt estava bem no centro do grupo.

 

Oh, merda, ele pensou. Isso não pode estar acontecendo!

Kellan rapidamente piscou os olhos, certo de que devia estar imaginando que Chloe estava lá de pé entre seu irmão e Morgan. Mas não... ela era real. Jesus, Kierland perdeu o maldito juízo? Kellan confiou nele para cuidar dela, e em vez disso a trouxe para campo aberto!

— Tire-a daqui! — ele rosnou, seu lobo quase se liberando enquanto avançava em seu irmão com passos longos e furiosos. — Que diabos você estava pensando?

Os olhos verdes de Kierland queimaram com sua própria fúria.

— Eu podia te perguntar a mesma coisa. — ele devolveu, ficando cara a cara com Kellan.

— Seu bastardo teimoso! — Sua voz falhou enquanto empurrava com força os ombros de Kierland, um brilho de satisfação queimando em suas veias quando conseguiu fazer o poderoso Lycan dar um passo pra trás, seu corpo se tornando mais forte a cada segundo. — Confiei em você para cuidar dela! Não oferecê-la para Gregory como um maldito sacrifício!

— Você não nos deixou nenhuma escolha. — Kierland discutiu, suas palavras mordazes e afiadas. — Depois que Chloe acordou e descobriu que você partiu ela veio até mim e encontramos sua carta. Então o que exatamente eu deveria fazer, Kell? Sentar e esperar para que você pudesse se matar?

— Você tinha que confiar em mim para lidar com minha própria vida, seu maldito maníaco controlador.

— Kellan, por favor, acalme-se. — Morgan murmurou. — Você sabe que Kier só quer que você esteja seguro.

— Não quero ouvir isso. — ele rosnou, cortando-a com um olhar duro de advertência. Sabia muito bem que ela usou sua habilidade de rastrear sangue para conduzir o grupo até ele, o que a colocava no topo da sua lista de merda no momento. A única razão pela qual fizera o maldito vínculo com Morgan foi para garantir a segurança de Chloe — não a sua própria!

Pelo canto do olho, Kellan percebeu que Aiden e os outros estavam se espalhando ao redor dele e não podia deixar de se perguntar se planejavam arrastá-lo de volta para o Complexo Sabin esperneando e gritando. Se for esse o seu plano, ele pensou com sua narinas dilatadas de raiva, então seria melhor eles estarem prontos para ficar sangrento, porque não vou sem luta.

— Você honestamente esperava que eu te deixaria aqui por conta própria? — Kierland revirou os ombros num ato rígido de agressão, como se estivesse se preparando para dar um soco.

— Eu esperava que a mantivesse segura. — Kellan murmurou com desgosto. — Mas acho que eu deveria ter contado com outra pessoa.

Kierland se encolheu, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa para defender suas ações, Chloe se aproximou deles, sua voz suave espessa com emoção.

— Seu irmão me pediu para ficar pra trás Kell, mas recusei. Então se vai se zangar com alguém, deve ser eu.

Ignorando-a, Kellan manteve seu olhar furioso travado nas feições rígidas de Kierland.

— Se Gregory nos encontrar assim, a bruxa vai nos congelar no lugar em questão de segundos. Vamos estar tão bons quanto mortos. — As palavras ásperas vibravam com raiva. — Então vou deixar muito claro. Virem e levem seus traseiros de volta ao Complexo.

— Ele está certo. — Gabby murmurou. — Vocês não têm tempo a perder.

— Quem diabos é você? — Kierland exigiu, seu olhar pálido aterrissou com hostilidade devastadora na pequena vampira.

Foi Juliana quem respondeu.

— Posso dizer pelo seu cheiro que ela é do ninho de Reyker.

— Deixe-a em paz. — Kellan latiu, pisando entre seu irmão e Gabby quando a expressão de Kierland se tornou mortal. — Ela não é o inimigo. Ela me ajudou hoje à noite.

— Por que ela ajudaria você? — Juliana perguntou, sua testa enrugando com confusão. — Os Reykers só se preocupam com eles mesmos.

Gabby saiu detrás dele endereçando a Juliana um olhar torto.

— Ultimamente Asa pode ser um bastardo, mas nem todos somos selvagens sanguinários, Sabin. Você pensa que sua família é a única que aterrissou aqui por causa de uma má escolha?

— Sobre o que você está falando? Que má escolha? — Ashe exigiu, obviamente esperando descobrir por que os Sabins foram exilados, mas Kierland o cortou.

— Qual era exatamente seu plano para esta noite, Kellan?

Furioso que estava desperdiçando tempo com esta merda, Kellan esfregou suas mãos pelo seu rosto, em seguida, disse:

— Pensei que se fosse sozinho, teria a chance de me esgueirar para Gregory, pegando primeiro a bruxa, então o Casus. E depois disso prometi a Asa Reyker uma luta.

— Mas meu irmão encontrou Kellan antes que ele pudesse rastrear o Casus — Gabby explicou —, e foi aí que as coisas deram errado. Embora ele pretendesse dar a Kellan a chance de lutar com ele pelo antídoto para o veneno, Asa o atacou em vez disso.

— Antídoto? — Os olhos de Kierland se arregalaram quase comicamente. — Que antídoto?

— O que eu acabei de dar a ele. — Gabby respondeu. — Passou perto, mas ele conseguiu a tempo de se recuperar completamente.

— Você não está morrendo? — Kierland raspou, sua voz profunda sufocada com lágrimas quando ele travou seu olhar brilhante com Kellan. — Em sua carta, você disse… que o veneno estava te matando. E quando eu confrontei Juliana, ela admitiu que o veneno dos Reykers é fatal para todas as espécies.

— O que disse na carta era verdade no momento. — Kellan disse, atordoado pela profundidade da reação de Kierland. — Mas estou bem agora.

Por um momento Kierland simplesmente olhou pra ele, sua expressão mudando entre o choque e alívio, e depois ele pareceu pular de volta para o momento.

— Você disse que o antídoto era o que Kellan teria ganhado se vencesse seu irmão na luta. — ele disse rude, deslizando seu olhar tempestuoso de volta a Gabby. — Mas o que teria acontecido se ele perdesse?

— Se perdesse meu irmão teria permissão para terminar a alimentação, drenando-o completamente. O que quase aconteceu.

Chloe ofegou, enquanto seu irmão empalideceu.

— Dificilmente teria sido uma luta justa quando Kellan esteve lutando contra um veneno letal!

Gabby franziu o cenho.

— Eu não disse que era justa. Disse que foi o que Kellan concordou. E ele tinha toda a intenção de honrar o acordo.

— Como sabe o que Kellan tinha intenção de fazer? — Morgan perguntou, olhando Gabby com um olhar cauteloso.

— Sei disso porque possuo a capacidade de ver as verdades no coração de uma pessoa. Mesmo que Kellan acreditasse que a promessa de Asa de um antídoto era provavelmente uma mentira, ele teria mantido sua palavra e se encontrado com Asa para o desafio.

Kellan ouviu quando Chloe respirou fundo, seu coração gaguejando com medo quando se aproximou dele, seu olhar com lágrimas sombrias, primeiro se dirigindo sobre a ferida da mordida que Asa deixou ao lado de sua garganta, antes de levantar para o seu rosto.

— Tudo isso é verdade, Kellan?

Ele deu de ombros e ela balançou a cabeça em descrença, uma onda de calor começava a queimar sob a pele clara.

— Então é por isso que não falava comigo sobre qualquer tipo de futuro entre nós? Porque estava morrendo?

Seu aceno brusco só pareceu deixá-la mais irritada.

— Deus, tem alguma ideia de como isso foi ridículo? Por que só não me disse a verdade?

— Não queria te machucar. — ele engoliu em seco, desejando como o inferno que pudesse tomá-la nos braços, mas sabendo que não era hora. — Não queria que se preocupasse comigo ou se sentisse culpada por algo que foi culpa minha. Se não tivesse tropeçado na terra dos Reykers na semana passada nunca teria sido envenenado.

Frustração reluziu em seus olhos, suas presas visíveis sob a curva de seu lábio superior à medida que ela discutiu.

— E Gregory? E se o encontrasse? Você pensou que não me aborreceria quando descobrisse que você partiu e conseguiu se matar ao tentar me proteger?

Ele cerrou sua mandíbula.

— Eu estava tentando fazer a coisa certa.

— Droga, Kell. Não entendeu? Você não tem que se matar por mim!

— Vale a pena. — ele grunhiu, trabalhando sua mandíbula. — Eu faria qualquer coisa para mantê-la segura.

— Não, não vale a pena, seu maldito idiota! — Ela tremia, mais furiosa do que ele jamais viu, e podia sentir o poder da Merrick crescendo dentro dela, queimando por trás desses belos olhos tormentosos. — Não vale a pena se isso significa perder você. Eu quero um parceiro. Alguém para dividir a minha vida. Não uma maldita memória!

— Droga, não temos tempo pra isso. — ele murmurou, juntando ambas as mãos por seus cabelos soprados pelo vento. Seus olhos escuros estavam cheios de preocupação e medo, bem como uma variedade de dor que ele não podia se permitir pensar. Não agora. Não quando sua maldita vida ainda estava em perigo. — Gregory está muito perto! Você precisa sair daqui!

— Se isso fosse verdade — Quinn ofereceu com uma voz áspera. —, Jamison teria soado um aviso. Ele está correndo o perímetro na clareira.

— Não. O Lycan está certo. — Gabby murmurou, levantando o nariz para a brisa sussurrante quando liberou suas garras das pontas dos dedos. — O Casus não está longe.

Aceitando que eles estavam sem tempo Kellan engoliu a raiva e puxou o Marcador do bolso, deslizando-o pela cabeça de Chloe antes de empurrá-la pra trás dele. Enquanto olhava os bosques ao redor com um olhar agudo em busca de qualquer sinal do bastardo, ela sussurrou o nome dele, e ele disse:

— Fique quieta.

Ashe inspirou profundamente procurando, em seguida liberou suas garras ao mesmo tempo que Gideon.

— A fêmea Reyker está certa. Ele está aqui.

Um gavião gritou ao longe, uma brisa fria cortou através das árvores que açoitou violentamente seus cabelos, e então Gregory valsou das sombras espessas do outro lado da clareira, um corpo pendurado sobre seus ombros largos. Por uma fração de segundo Kellan pensou que pudesse ser a bruxa de cabelos dourados que ele estava carregando, a escuridão tornando difícil de ver — mas depois ela saiu das árvores, posicionando-se um pouco a direita do Casus.

— Diga-me — Gregory chamou, seu longo cabelo penteado para trás de seu rosto esculpido quando ele deslizou um olhar brilhante em direção a Kierland —, essa foi sua tentativa patética de um cão de guarda?

Erguendo o corpo acima de sua cabeça, ele o lançou no centro da clareira, um raio de luar brilhante revelando o rosto ferido de Jamison, seu torso uma bagunça ensanguentada e esmagada. Com um sorriso lento o Casus disse:

— Como pode ver, fui direto para aquele macio ventre vulnerável. Funciona sempre com vocês Lycans.

Kierland, Quinn e Aiden rugiram com fúria enquanto corriam em direção ao Casus, mas a bruxa levantou a mão os congelando no lugar. Kellan sentiu o poder travando seu próprio corpo no lugar e sabia que o mesmo foi feito para todos menos Chloe, que estava segurando a parte traseira de sua camisa com mãos trêmulas, sua respiração vindo em arfadas acentuadas e superficiais, enquanto seus amigos resmungavam e praguejavam, lutando contra a força invisível que os atavam.

— Ele teria te impedido se tivesse lhe dado uma luta justa. — Kierland rosnou com uma voz selvagem. — Mas você fez a bruxa congelá-lo, não é? Você o assassinou, porra!

— Sim, bem, receio que a honra me escapa na maioria das vezes. E quando estou seguindo a minha Merrick... — Sua voz foi sumindo enquanto ele dava de ombros. — Eu dificilmente vou permitir que uma coisa tão insignificante quanto a honra fique no meu caminho.

— Fico surpreso por não ir atrás de Westmore primeiro — Kellan forçou através dos dentes cerrados —, considerando o quanto você o quer.

Um sorriso torto tocou a boca do bastardo.

— Eu o quero. E vou buscá-lo também, logo depois que me encher da pequena Merrick.

— Ela está usando um Marcador. — Kellan rosnou, suas próprias presas aparecendo forte e rápido. — Você não será capaz de tocá-la.

— Claro que vou. Com a persuasão certa aposto que posso levá-la a fazer o que eu quiser. — Gregory falou lentamente, alargando seu sorriso enquanto deslizava seu olhar em direção a Chloe que saiu de trás dele, e estava agora de pé ao lado de Kellan. — Uma vez que eu tiver minhas garras em torno da garganta do Lycan, você vai tirar a cruz para mim. Não vai, querida?

Kellan rosnou quando outro vento cortante atravessou a clareira balançando as folhas nas árvores, pegando em suas roupas e cabelo. Quando os fios emaranhados da bruxa foram soprados para trás do seu rosto magro de olhos fundos, Noah, que estava a pouca distância à esquerda de Kellan, fez um som agudo de descrença.

— Sienna? — Resmungou o humano, sacudindo a cabeça. — Que diabos está fazendo aqui?

— Você a conhece? — Aiden grunhiu com uma nota espessa de descrença.

— Sim. — Embora Noah parecesse como se estivesse olhando para um fantasma, a bruxa de cabelos dourados não deu sinal de que o reconheceu, simplesmente devolvendo seu olhar com olhos frios e inexpressivos que não mostravam nada. — Pelo menos eu costumava conhecê-la. — respondeu asperamente. — Mas ela não se parecia com... isso.

— Imagino que ela possa ter sido bonita uma vez — Gregory murmurou — antes que o sofrimento devastasse suas feições. Mas isso foi um bom tempo atrás e Sienna tem uma nova vida agora. Uma que a une a mim. Você vê, nós fizemos um acordo.

— Que tipo de acordo? — Noah exigiu lutando com muito mais força contra o poder da bruxa, os tendões em sua garganta morena puxando sob sua pele. — O que quer que ele prometeu a você Sienna, é uma mentira!

O Casus fez um tsk tsk baixinho, seu cabelo com mechas de sol roçando os ombros enquanto balançava a cabeça.

— Imaginou tudo errado porque não procurei a bruxa. Ela veio a mim. — ele explicou, seus olhos azul gelo brilhando com riso. — Eu já estava a meio caminho de volta a Meridian depois que aquela pequena vadia humana atirou em mim em Washington, quando Sienna chegou e usou seu poder para me puxar de volta. Levou um tempo para eu me erguer de novo, mas estava determinada a fazer isso acontecer.

— Mas por quê? — Chloe perguntou à mulher. — O que você poderia talvez precisar dele?

Antes que a bruxa pudesse responder Gregory chegou alguns passos mais perto, seu olhar brilhante aterrissou em Chloe quando ele puxou uma respiração lenta e profunda.

— Deus, você cheira bem. — ele falou lentamente, acariciando com dois dedos a ponta dura do seu queixo com um sorriso perverso tocando seus lábios. — Doce e quente... e poderosa. Se eu tivesse alguma ideia que você fosse tão tentadora eu teria vindo atrás de você há muito tempo.

— Fique longe dela! — Kellan rugiu, seu corpo dilacerado pela dor agonizante enquanto se esforçava contra o poder da bruxa com tudo o que tinha. Mas por mais que lutasse ferozmente com o domínio que ela tinha sobre seu corpo, ele não conseguia se libertar. E estava sem tempo.

No instante seguinte Gregory jogou a cabeça para trás, uma risada profunda roncou do seu peito quando o bastardo se entregou à mudança tomando sua verdadeira forma. As roupas de DeKreznick rasgaram quando seu corpo se transformou na forma monstruosa do Casus, pele curtida cinzenta esticada sobre sua estrutura imponente e a cabeça em forma de lobo, suas mandíbulas escancaradas com presas mortais, irregulares.

Ele soltou um grito agudo e gutural, em seguida abaixou a cabeça, as narinas queimando quando trouxe seu olhar sedento de sangue de volta a Chloe.

— Dê o fora daqui! — Kellan gritou para ela. — Comece a correr, agora!

 

— Não. — ela sussurrou, sabendo que deveria estar aterrorizada. E, no entanto, não eram pensamentos de sua própria segurança que enchiam sua cabeça. Em vez disso tudo em que podia pensar era no fato de que Kellan estava disposto a dar sua vida pela dela. Que ele a deixou naquela noite para rastrear Gregory sozinho.

— Cristo, Chloe. — Sua voz profunda estava arrasada com medo, seus olhos ardendo num fogo sobrenatural enquanto olhava para ela. — Por favor, corra.

— E deixar você? — ela sacudiu sua cabeça. — Desculpe, mas eu posso fazer isso.

— Você pode fazer. O poder Merrick vai tornar você rápida, querida. Apenas corra. — ele implorou num tom rouco. — Não o deixe chegar perto de você.

— Vou ficar aqui. — Não foi fácil, mas conseguiu arrancar seu olhar de Kellan e se moveu para ficar na frente dele, enquanto se enfocava dentro de si mesma. Ela podia sentir algo se construindo dentro dela e não era a Merrick, a criatura primitiva já ocupando espaço dentro do seu corpo. Não... isso era uma força desconhecida, e ainda assim parecia estranhamente familiar. Zumbia com promessa e poder, e com uma respiração profunda Chloe se rendeu... entregando-se mais a isso, assustada, mas disposta a fazer o que fosse preciso para manter Kellan e os outros vivos.

— Puta merda. — Aiden murmurou, sua voz profunda rouca com admiração. — Olhe para ela.

Ouviu Kellan sussurrar seu nome em suas costas enquanto ela erguia suas mãos em direção ao Casus. Chloe não entendia o que estava acontecendo, mas suas mãos de repente estavam… brilhando, sua pele cintilando como se uma luz grande e ofuscante estivesse ardendo dentro dela.

— Você sente isto? — Gabby sussurrou, levantando o rosto para o ar enquanto uma onda de choque de calor varreu a clareira, afastando o frio.

— O que é isso? — Chloe perguntou a ela, enquanto uma onda de sons preenchia seus ouvidos, como se estivesse de pé sob o motor de um avião a jato. As árvores se debatiam ainda mais forte, suas folhas arrancadas dos galhos enquanto aquela onda surreal de calor ficava mais forte... a brisa mais violenta. Chloe sabia que os outros estavam gritando, mas suas vozes altas estavam abafadas pelo som do vento, e com um sobressalto acentuado de choque percebeu que o sopro potente de ar estava vindo dela — de suas mãos!

O pânico a varreu fazendo companhia ao medo, e então, no meio do caos, a voz de Gabby Reyker a alcançou.

— Vai ficar tudo bem. Tudo que você precisa está aqui.

Cerrando os dentes Chloe viu como o Casus se debatia contra a poderosa força do vento, lutando para chegar até ela.

— Eu não sei o que fazer! — ela gritou, sua pele brilhando tão forte que doía seus olhos.

— Tem os meios dentro de você, mas seu poderes Mallory ainda estão fracos. — Gabby sussurrou dentro de sua mente. — Você pode achar o catalisador que precisa dentro do coração do lobo.

— Droga, não entendo!

— Olhe dentro dele! — Gabby a instruiu, a voz da vampira ficando forte e firme. — Está lá. O que você precisa está queimando dentro dele.

O cabelo da bruxa chicoteava ao redor do seu corpo frágil enquanto continuava a prender os outros no lugar, o Casus ainda se debatendo para abrir caminho em direção a ela e Chloe sabia que tinha que fazer algo. Com os braços ainda entendidos à sua frente ela fechou os olhos e tentou seguir as instruções de Gabby. Desligou-se de tudo o mais e pensou em nada além de Kellan. Sobre quanto o amava. Sobre o impressionante fato de que ele estivesse disposto a dar sua vida pela dela... e de repente entendeu o que a vampira queria dizer.

Ela podia literalmente sentir as poderosas emoções queimando dentro dele derretidas e puras, e seu pulso rugiu enquanto se deliciava em seu calor, de alguma forma mergulhando-as em seu sistema até que corriam por suas veias e seu coração trovejante.

Conforme Chloe ergueu seus cílios pode ver que estava brilhando mais ainda, a luz ardente que brilhava dentro dela agora queimando em seus dedos quando estreitou seu olhar sobre o Casus, que estava claramente usando tudo o que tinha para lutar contra os ventos quentes como força de furacão investindo contra ele.

São seus poderes Mallory, a Merrick disse, acrescentando a sua força para a explosão. Eles estão canalizando as emoções do Lycan no combustível que necessitam.

Seus poderes Mallory? Oh, Deus ... a maldição estava realmente chegando ao fim? Nesse caso explicava muitas coisas — como a maneira que ela fora capaz de interagir tão facilmente com os amigos de Kellan, sem lançar as emoções do grupo completamente fora de equilíbrio. Entretanto também significava que o desejo de Kellan por ela era real, o que parecia muito bom para ser verdade. Honestamente poderia estar terminando?

Pode apostar seu traseiro que está, a Merrick gritou, soando como se estivesse realmente desfrutando disso.

Olhando por cima do ombro Chloe olhou para o lindo rosto de Kellan desejando que pudesse dizer como se sentia, mas sabia que ele não conseguiria ouvir as palavras roucas derramando de seus lábios, o som ensurdecedor do vento a abafando.

Ela podia ver que ele estava usando toda a força que possuía para lutar contra o aperto da bruxa, decidido a protegê-la. Sangue escorria pelo canto do olho esquerdo como uma lágrima vermelha, mais sangue escorrendo de seu nariz, suas veias levantadas sob sua pele, seus músculos ressaltados, enquanto seus olhos queimavam com intenção furiosa.

— Não perderei você! — ele rosnou, suas palavras guturais ecoando pela sua mente como as de Gabby, quase como se Chloe pudesse ouvir quem ela enfocava sua atenção, que era bastante incomum. Mas considerando que estava brilhando com luz e tinha um vendaval saindo de suas mãos, não era como se algo "incomum" fosse um choque.

— Não o deixarei tomar você de mim, Chloe. Não quando finalmente encontrei você. — Kellan rosnou, e enquanto observava seu corpo começou a mudar para sua forma mutante. Seus ossos começaram a estalar e rachar, seu corpo ganhando centímetros em músculos e altura, suas roupas rasgando em pedaços enquanto sua pele escurecia e pelo ruivo se espalhava por seu físico em mudança.

Ele era de tirar o fôlego e maciço, muito maior do que um lobo de verdade, com pêlo, dentes e um focinho, mas um corpo que ainda conservava sombras do homem nos braços e pernas poderosos.

Chloe olhava muito impressionada com a beleza primitiva predadora de sua besta. Ele parecia como se pudesse despedaçar montanhas com as próprias mãos, seus brilhantes olhos verdes queimando com raiva visceral... e do outro lado da clareira Sienna gritou de dor.

Arrancando seu olhar de Kellan Chloe olhou para a bruxa que estava gritando.

— Gregory, depressa! Não acho que posso segurá-lo por mais tempo! Ele é muito forte!

— Você tem que conseguir! — O Casus rugiu enquanto lutava para dar um passo a frente, lutando para trabalhar contra o soprar do vento impetuoso das mãos de Chloe. — Não o deixe ir até que eu a tenha!

— Nunca! — Kellan rosnou, e de repente um braço com garra estava se envolvendo em torno de Chloe por trás, puxando-a firmemente de encontro ao calor escaldante de seu peito.

Como se seu toque fosse a coisa que precisava para carregar completamente seus poderes Mallory, ela estremeceu com um solavanco eletrizante, de repente sentindo como se pudesse soprar Gregory para o inferno e voltar.

Mas quando estava abrindo a boca para avisar Kellan e os outros para se prepararem, ele a colocou para o lado e investiu pela clareira, levando Gregory para o chão. Seus grunhidos roucos encheram o ar e Chloe baixou suas mãos, medo torcendo suas entranhas enquanto encarava a floresta rodeada de sombras.

Ela começou a se dirigir para as árvores quando Kierland, que ainda estava travado no lugar pelo poder de Sienna, rugiu que ela ficasse pra trás.

Os sons selvagens e primitivos da batalha continuaram, então Gregory veio rastejando até a clareira, e ficou claro pela forma ensanguentada do Casus enquanto se esforçava para se levantar que o Lycan estava ganhando a luta. Com suas garras escorrendo vermelho pelos lados Kellan espreitava das árvores, os olhos brilhantes queimando com determinação quando foi em direção ao Casus, e Chloe nunca vira nada tão fascinante em toda a sua vida.

— Levante, seu bastardo. — As palavras rosnadas estavam imperceptíveis na boca em formato de focinho de Kellan, mas Chloe ainda podia entender o que ele disse.

O Casus enrolou seu lábio sobre suas presas irregulares e finalmente cambaleou aos seus pés, só para se deixar cair sobre um joelho enquanto Kellan chegava mais perto.

O Lycan levantou um braço poderoso, o luar refletindo nas suas garras mortais enquanto se preparava para dar o golpe mortal, quando o chão começou a se agitar com um tremor violento e retumbante. Os olhos azul-gelo de Gregory se arregalaram com pânico e ele balançou para seus pés… tentando correr, mas seu corpo parecia congelado no lugar quando uma fumaça densa e preta subia do chão debaixo dele, circundando-o enquanto envolvia suas pernas.

— O que está acontecendo? — Chloe gritou, vendo quando várias garras negras de aparência horrível se materializaram no meio da fumaça se afundando na carne dura de Gregory, fortes gritos de dor rasgando de seu peito quando as garras se afundavam profundamente em seu corpo.

— Ele está morrendo e as sombras de Casus estão tentando puxá-lo de volta para Meridian antes da bruxa poder salvá-lo novamente. — Gabby gritou. — Kellan, você precisa ter cuidado! Recue!

Ele rosnou começando a recuar, mas Gregory esticou seus longos braços e agarrou um dos pulsos de Kellan. Chloe começou a gritar com medo que o Casus arrastaria Kellan para o anel de fumaça com ele.

Enquanto o Lycan rasgava suas garras pelo braço de Gregory lutando para se libertar, o calor no corpo de Chloe se intensificou para um fogo pulsante, derretido, uma onda impressionante de poder crescendo dentro dela, subindo mais... e mais, até que de repente ela levantou as mãos novamente, flexionando os dedos em direção ao Casus.

E desta vez, em vez de um vento forte, ela o explodiu com os feixes de luz brancos e ofuscantes. Que eram como uma espécie de laser sobrenatural que chamuscava o couro de sua carne, o poder dos raios o derrubando longe de Kellan e mais fundo na fumaça, as garras agora rasgando seu peito.

— Sienna, ajude-me! — O Casus gritou se estendendo em direção à bruxa de cabelos dourados, mas ela balançou sua cabeça dando um passo para trás… e mais outro.

— Você não pode me ajudar agora. — ela disse secamente com o rosto magro desprovido de emoção. — Vou ter que encontrar outro. — Então num clarão de luz ela desapareceu.

— Sua cadela! — Gregory rugiu enquanto as garras pretas o puxavam mais fundo na fumaça, cavando em sua pele dura.

— Diga a seus amigos na cova que estamos indo para eles. — Kierland rosnou e quando se adiantou, Chloe percebeu que o poder da bruxa sobre os outros se fora.

— Isso não está terminado. — o Casus zombou, travando seu olhar cheio de ódio com o dela.

— Você está errado. Isso acaba agora. — disse Chloe, e no instante seguinte seu poder disparou numa rajada explosiva chocante de luz que derrubou todos no chão, seu próprio corpo foi jogado para trás cerca de 6 metros até que bateu dolorosamente contra uma árvore.

Enquanto ela lutava para levantar a cabeça viu que Gregory havia desaparecido, nada restava senão um chamuscado anel de fumaça que circulava o local onde ele estava.

Com um suspiro trêmulo conseguiu mover seu olhar para Kellan que já estava correndo em sua direção, mas seus olhos se fecharam... e depois não havia nada além da escuridão, tão calmante e tranquila quanto uma brisa tropical embrulhada ao seu redor...

Como se ouvisse através de um véu espesso de neblina, ela podia ouvir um som cru romper da garganta de Kellan enquanto ele agarrava o corpo dela contra o peito, a cabeça pendendo para trás sobre seu braço.

—Não! Isto não é… porra, ela não deveria morrer! — Suas palavras roucas e quebradas eram pouco mais que um devastado arranhar de som. — Eu sou o único destinado a morrer. Não ela!

— Ela não está morrendo. — Gabby murmurou, sua voz tão perto que Chloe percebeu que a vampira devia estar ajoelhada no chão ao lado dela. A mão fria de Gabby tocou seu rosto e ela disse: — Seu corpo apenas vai levar alguns dias para se recuperar do esforço. Isso foi uma sacudida tremenda de poder que ela experimentou. Teria chocado o sistema de qualquer um.

— De onde veio isso? — ele coaxou, soando como se estivesse chorando.

— Foram seus poderes Mallory. Ou a maldição estava terminando sozinha ou sua determinação em salvar você queimou isso nela. Seja qual for a resposta, é um homem de sorte, Kellan Scott. Para criar o tipo de poder que acabou de fazer, ela deve te amar mais do que sua própria vida. E Lycan, um amor como este nunca morre.

Kellan estremeceu, um gemido baixo vibrando por seu corpo quando ele esmagou Chloe contra a batida pesada de seu coração, e embora ela quisesse confortá-lo… dizer que estava bem, a escuridão a puxou mais fundo… e ela se afastou... as ondas calmantes rolando sobre sua cabeça, levando-a sob...

 

Harrow House, Inglaterra

Segunda-feira à noite

Se havia uma coisa na terra que não poderia ser feita era separar um Lycan da mulher que amava. Embora os outros continuamente o importunassem para dormir um pouco e deixar um deles se sentar com Chloe por um tempo, Kellan se recusou a deixar sua cabeceira.

Eles voltaram para Harrow House no final da noite passada… e embora Olivia e Saige ficassem extasiadas por ter seus homens de volta em casa, estavam todas tristes por Jamison. Depois de meses de conflito a guerra finalmente tomou seu pedágio no seu grupo, e ninguém podia realmente acreditar que o jovem arqueólogo se foi. Eles sabiam que era apenas questão de tempo antes deles sofrerem perdas, mas isso não fez a perda de Jamison muito mais fácil de aceitar.

E Kellan só podia a agradecer a Deus que ele não tinha perdido Chloe.

Depois que ela perdeu consciência na clareira, Kellan a carregou de volta para o Complexo Sabin e a colocou na cama em seu quarto. Na manhã seguinte quando Kierland veio para verificar como ela estava chocou Kellan com um abraço esmagador, a voz profunda do seu irmão rouca de emoção quando disse:

— Eu pretendia te dar um desses antes, mas estava muito chateado com você por me assustar tanto.

Um sorriso torto tocou o canto da boca de Kellan.

— E agora?

— Ainda irritado — Kierland respondeu com uma risada áspera. —, mas feliz como pra caramba que você está vivo.

O grupo partiu para a Inglaterra mais tarde naquela manhã agradecendo Juliana Sabin por sua ajuda e prometendo lhe enviar alguns suprimentos muito necessários, em seguida se separaram dos Grangers assim que saíram de Wasteland.

Pouco antes de voltarem a Harrow House, Morgan disse.

— Só para você saber, se alguma vez fizer uma tolice como essa novamente Kell, há uma boa chance de que eu mesma o mate.

Aiden e Quinn apoiaram a ameaça brincalhona e Kellan abraçou Chloe bem apertado quando disse.

— Não se preocupe. Estou pensando em me manter inteiro de agora em diante.

Embora a bruxinha ainda tinha que recuperar a consciência por um tempo significativo, ela abria seus olhos de vez em quando, dando-lhe um sorriso cansado antes de suavemente flutuar de volta ao sono, seu corpo se recuperando lentamente do esforço extremo do ataque que ela travou contra Gregory DeKreznick. Mas nas últimas cinco horas ela estava acordando com mais frequência, e Kellan estava esperançoso de que agora não demoraria muito antes que se recuperasse completamente. E nesse meio tempo ele estava curtindo suas breves conversas. Apenas algumas horas atrás ela abriu os olhos e olhou em torno de seu quarto enquanto perguntava:

— Onde estou?

— Você está no meu quarto em Harrow House, querida.

— Que doce. — ela murmurou, seus olhos já se fechando quando ele pressionou um sorriso na palma da sua mão.

Ela tinha acordado mais algumas vezes desde então, e a cada vez fazia uma pergunta que Kellan dava o melhor de si para responder. Até agora explicou que eles ainda estavam esperando pegar o sinal de rastreamento de Spark, o que significava que a assassina muito provavelmente ainda estava em Wasteland. Ele também contou que ouviram sobre Garrick, e o soldado conseguiu levar a família de Raine em segurança para o Complexo dos Sentinelas em Roma.

Ela ainda perguntou sobre o diário da morte que eles tiraram de Spark, e ele contou que Kierland estava tentando encontrar alguém que pudesse decifrar os trechos que foram escritos nessa língua estranha, arcaica. Mas cada vez que eles conversaram Chloe voltava a dormir, e Kellan estava atualmente rezando para que ela acordasse para sempre, porque havia tanto o que ele queria dizer. Tantas coisas que queria compartilhar com ela. Inferno, estava até animado para levá-la escada abaixo e lhe mostrar as redondezas, sabendo que ela adoraria viver em Harrow Casa tanto quanto ele. Ela pode ter sido solitária a maior parte da sua vida, mas ele sabia que foi apenas por causa da maldição.

O tempo que Chloe passou com seus amigos em Wasteland mostrou que estava faminta pelo contato com os outros, e não tinha dúvidas que ela faria amizades fortes entre os Sentinelas. E claro, ela teria Olivia e Jamie lá com ela, sua irmã e sobrinha quase tão desesperadas quanto Kellan para que ela recuperasse completamente a consciência.

Sentado numa cadeira que colocou próximo a sua cabeceira, Kellan tinha acabado de tomar a sua mão quando ela levantou os longos cílios novamente, desta vez revelando olhos claros e luminosos, que já não tinham esse véu nebuloso de exaustão.

— Você ainda está aqui. — ela sussurrou, seu rosto aquecendo com um bonito acúmulo de cor.

— Estou insultado que parece tão surpresa. — ele brincou com um sorriso torto. — E só pra você saber, eu nunca vou te deixar.

— Oh. — ela passou a língua em seu lábio inferior e piscou aqueles cílios longos e escuros, seu perfume provocante se levantando com o calor do seu corpo. — Você… hum, parece como se quisesse dizer alguma coisa.

— Estou pronto para dizer um monte de coisas. — ele murmurou esfregando o polegar sobre os nós dos dedos delicados, sua mão pequena tremendo na dele. — Está pronta para ouví-las?

Suas respirações superficiais estavam começando a vir um pouco mais rápido.

— Eu... não sei.

— Muito ruim. — Querendo estar mais perto dela, Kellan se sentou na beirada da cama ao seu lado e tomou seu rosto precioso em suas mãos. — Deus, há tanto que quero te dizer Chloe, mas acho que eu começarei com isto. O que eu queria te dizer antes, mas não pude, é que você é a única mulher que eu sempre irei querer. A única que necessitarei. E não quero você apenas por um tempo, como eu disse. Quero você para sempre. Era isso o que eu queria desde o começo.

Lágrimas brilharam em seus olhos.

— Por que não me disse antes?

— Porque eu sabia que estava morrendo e não queria que se importasse comigo. — ele desviou o olhar, passando a mão pelo rosto enquanto soltava uma respiração áspera. — Inferno, isso não é verdade. Eu me recuso a mentir pra você. A verdade é que eu queria que se importasse comigo. Eu queria isso mais do que qualquer coisa. Eu só… não queria fazer você pensar que teríamos um futuro juntos quando não acreditava que estaria por aqui por muito mais tempo. Achava que tudo estava acabado para mim e não queria que você se machucasse. — Ele pigarreou e outra respiração profunda e difícil deslizou pelos seus lábios quando travou seu olhar de volta com o dela, sua voz tremendo quando disse. — A verdade é que… eu me apaixonei por você.

Ele esperava ter uma discussão em suas mãos pensando que teria que convencê-la, mas ela simplesmente deu um sorriso tímido e sussurrou.

— Eu sei.

Suas sobrancelhas se ergueram.

— Sabe?

Com um aceno ela disse.

— Sei que parece loucura, mas eu… vi em seu coração quando estávamos na clareira. Eu vi exatamente como se sente a meu respeito, Kell.

— O que você viu dentro de mim — respondeu asperamente, seus batimentos cardíacos profundos e ressonantes quando ele pegou em sua mão novamente. — é real, Chloe. Cada pedacinho. Juro que é tão real quanto parece e  não tem absolutamente nada a ver com essa maldição estúpida.

— Não se preocupe. Sei que a maldição terminou, então não continuarei jogando isso na sua cara. Mas, tem certeza que é isso o que você quer? — Usando a mão livre para empurrar seu cabelo para trás, ela disse. — Você só tem vinte e sete anos, Kell. E ouvi que pode levar anos para um Lycan terminar de semear por aí.

Um sorriso torto tocou o canto de sua boca.

— Confie em mim querida, tive um início precoce. Comparado a você sou um homem velho.

Ela mordeu o lábio, olhando para longe. 

— Só não quero que você se arrependa.

— Chloe, olhe para mim.

— Estou olhando. — ela disse, trazendo seu olhar de volta para o dele.

Kellan se aproximou a cercando com o seu calor quando se inclinou sobre ela. 

— Não, quero dizer realmente olhe para mim. Ele esperou até que ela estivesse olhando fixamente no fundo de seus olhos antes de dizer. — Eu amo você, Chloe Harcourt. Do tipo até que a morte nos separe. Como minhas presas em sua garganta no segundo que você estiver fora desta cama, para que esteja marcada. Como minha. Como algo que me pertence. Algo pelo qual matarei. Algo pelo qual estou disposto a morrer e não mudaria nada sobre você. Absolutamente nada. — prometeu numa voz rouca, sua boca de repente se levantando em um sorriso torto. — Diabos, inclusive adoro que possa chutar minha bunda se alguma vez eu te chatear.Você é uma pequena durona poderosa, querida.

Ela deu uma risada suave, ofegante.

— Só por sua causa. Você foi minha força.

Ele deu um sorriso interrogativo e ela explicou. 

— Foi o que encontrei dentro de você quando olhei que liberou totalmente meus poderes Mallory. Foi você, Kell. Seu amor foi o que me deu forças para chutar aquele imbecil para longe.

— Uau. — ele suspirou, sua garganta apertada com emoção. — Isto é… intenso.

Sua boca se curvou com um sorriso vacilante. 

— Eu sei.

—E você finalmente acredita que a maldição não tem nada a ver com meus sentimentos por você? — ele pressionou.

— O que aconteceu naquela clareira foi prova que está terminada, Kell. Mas, mesmo sem prova eu não teria deixado nenhuma maldição estúpida nos manter separados. Confio e acredito em você. Então não importa o que vida nos lançar, se estiver certo que me quer, eu sou sua.

— Eu quero você, Chloe. Mas… — ele engoliu em seco, então expulsou as palavras amargas sabendo que tinham que ser ditas. — Mas vai haver momentos em que você ouvirá sobre as coisas que fiz no passado. E não terá orgulhoso delas. Poderia fazer diferença. 

Ela balançou a cabeça, o olhar em seus olhos malditamente perto de roubar seu fôlego. 

— Qualquer coisa que eu ouvir só vai me fazer orgulhosa do homem  que você se tornou. Ninguém é perfeito Kellan, e não quero que você seja. Contanto que possa ser fiel a mim, podemos passar por todo o resto. 

— Confie em mim, querida. Fidelidade nunca será um problema. Quando Lycans realmente perdem seus corações, eles perdem para sempre.

Suavemente ela disse.

— Sabe, nunca dei nenhuma razão para pensar que eu não acho você digno.

Ele bufou.

— Sim, bem, eu mesmo tinha motivos de sobra.

— Mas tudo que importa é o agora, Kell.

— Falando do agora. — ele disse baixinho, seu pulso de repente ganhando velocidade. — Não há nada que você queira me dizer?

— Há? — ala perguntou, dando uma piscada inocente.

— Os outros, eles… uh, eles pensam que você me ama.

Ela sorriu, mas não disse nada e um gemido profundo vibrou em seu peito. 

— Droga, não sou orgulhoso demais para implorar. — respondeu asperamente, olhando profundamente em seus belos olhos. — Eu quero seu amor, Chloe. Quero isso mais do que qualquer coisa. E sei que… eu sei que posso ser imperfeito como o inferno, que você merece coisa melhor, mas porra, não posso deixar ninguém ter você, porque não há ninguém mais que vai te amar do jeito que eu faço.

O sorriso dela tremeu, os olhos se encheram de lágrimas.

— Então é uma coisa boa que me apaixonei perdidamente por você dias atrás.

A cabeça de Kellan girou em reação e teve que pressionar sua testa contra a dela, sua respiração irregular e dura quando tentava engolir tudo isso. Apesar do que Gabby dissera, ele estava com medo de se permitir acreditar que Chloe poderia realmente amá-lo também. Era simplesmente bom demais para ser verdade — e ainda assim, ele viu a verdade brilhando em seus olhos nesse instante quando ela disse as palavras de tirar o fôlego. Isso esteve lá antes, mas estava cego demais para ver. Muito teimoso. Mas não mais. 

— Deus, não tem ideia como é bom ouvir você dizer isso.

— Por que está surpreso? — ela sussurrou, delicadamente colocando a mão fria sobre a pele quente da sua nuca. — Eu teria imaginado que era bastante óbvio como me sinto sobre você.

— Você nunca disse nada. — ele grunhiu, lutando para se controlar quando tudo que queria era rasgar os lençóis longe do seu doce corpinho... e mostrar o quanto seriamente ele a queria, seu pau já duro e dolorido.

— Bem, estou dizendo isto agora. Eu amo você, Kellan Scott. Eu amo você tanto que dói.

— Deus, isso soa doce. Não pare agora. — ele rugiu, puxando-a para seus braços quando se deitou ao seu lado. — Continue. Eu poderia viver disso. É como maná do céu. 

— Eu amo você. — ela deu uma risadinha colocando um beijo brincalhão em seu nariz. — E continuarei amando você para sempre. — ela adicionou, arrastando seus lábios para baixo do lado de sua garganta.

Pensando numa conversa que tivera com Aiden em dezembro quando estavam tentando trazer Olivia e Jamie para a Inglaterra, ele disse.

— Sabe o que você é? Você é meu milagre, Chloe. 

Ela deitou sua bochecha contra o travesseiro e travou seu olhar brilhante com o dele.

— O que quer dizer?

Arrastando os dedos pela curva sensual de sua coluna, ele disse:

— Tenho invejado o que os meus amigos encontraram há tanto tempo, certo de que nunca poderia encontrar algo assim para mim. Que não era digno disso. E então você se tornou uma parte de minha vida, e juro que é ainda mais surpreendente do que pensei que poderia ser. — Ele agitou sua cabeça um pouco, seu rosto quente com rubor, sua voz caindo quando disse. — Então acho que… acho que devo ter feito algo direito, afinal. Porque não há maneira nenhuma no inferno de uma mulher como você algum dia acabar com um perdedor. Quando você olha pra mim Chloe, eu me sinto orgulhoso. Pela primeira vez na minha vida eu me sinto orgulhoso do homem que me tornei.

— Você deve se sentir orgulhoso, Kell. O que você fez por mim foi incrível. Mas não posso acreditar que quase perdi você. — ela sussurrou, passando seus dedos pelo seu cabelo.

— Tudo que posso dizer é graças a Deus por aquele antídoto.

— Eles poderão usá-lo no irmão de Juliana?

Ele sacudiu sua cabeça.

— Receio que não. As duas cepas são completamente diferentes. Mas quando saímos Juliana estava tentando convencer Gabby a ajudá-la a fazer um que poderia funcionar em Micah.

— Ainda não posso acreditar que estava disposto a morrer por mim. — ela disse, seus olhos obscurecendo com emoção. O olhar possessivo em seu belo rosto o deixou ainda mais duro, seu pênis praticamente estourando os limites do seu jeans.

— Eu estou disposto a fazer qualquer coisa por você.

As palavras espessas e roucas detinham mais do que um pouco do lobo e ela estremeceu em resposta.

— Então me leve para o chuveiro mais próximo e entre lá comigo. — ela disse com um sorriso quente agarrando os botões na frente de sua camisa. — Porque o que eu quero é a sua mordida.

O calor aumentou embaixo da sua pele, o pouco sangue que ficara em seu cérebro rapidamente indo para o sul. 

— Tem certeza? — ele exigiu em voz áspera, mal capaz de conseguir que as palavras passassem pelo nó de luxúria em sua garganta.

— Oh, tenho certeza. — ela sussurrou, levantando o olhar ardente para o seu. — Nunca estive mais certa em toda minha vida.

 

Eles não falaram enquanto a levava para o banheiro, sua respiração vindo tão rápido e irregular quanto a dela. Ele a deixou encostada à parede do seu banheiro privativo enquanto estendia a mão e abria o chuveiro no calor máximo, então se virou e tirou a camiseta que ela estava usando e suas roupas. Com um sorriso mau ele a levou para a água com ele, segurando bem apertado enquanto os jatos pulsavam sobre eles, o jato parecendo maravilhoso em seus músculos doloridos enquanto o ar se enchia de vapor quente e sensual.

Embora Chloe pudesse perceber como ele estava perto de perder o controle, demorou ensaboando seu corpo, deleitando-se sobre ela de uma maneira que fez seu coração disparar. Ela já não se sentia tímida sobre sua figura, o calor em seus olhos queimando suas inseguranças até as cinzas.

Ela sabia que não era a mulher mais bonita no mundo, mas aos olhos de Kellan ela era… e isso era tudo o que importava.

— O que você quer, Kell? O que deixará você feliz? Depois de tudo pelo que passou, você merece.

O canto de sua boca estremeceu, sua voz profunda espessa com fome quando disse. 

— Quero tanto estar com você, Chloe. Quero construir uma vida com você. Sentar e assistir futebol. Jogar com você jogos de tabuleiro. Ir a piqueniques. Fazer o café da manhã. — Com um sorriso travesso, ele balançou as sobrancelhas, dizendo: — Te levar para alguma praia do Caribe ensolarada para nossa lua de mel em nada mais do que um biquini fio dental.

— Um biquíni? — ela gemeu. — Pelo menos posso parar na casa de Cara no caminho e conseguir um par de seios maiores primeiro?

— Absolutamente não. — ele argumentou, deslizando as mãos ensaboadas possessivamente sobre seu peito. — De jeito nenhum você irá mexer com estas belezas. Eles são perfeitos num nível mundial, e são meus. 

— Nossa, você deve me amar. — ela falou lentamente inalando uma explosão de riso suave. — Pensei que vocês homens sempre iam por seios grandes.

— Não podia me importar menos com outros seios. — ele rugiu, os dedos dos pés enrolando enquanto ele passava seus polegares sobre seus mamilos sensíveis. — Eu só me importo com estes.

— Como disse, deve ser amor.

Ele lhe deu um beijo rápido e devastador depois recuou, o olhar em seus olhos a fazendo derreter.

— Você sabe o que eu quero? Quero apreciar você, Chloe. Tudo sobre você, para o resto d aminha vida. Aprender todos os milagres que a tornam quem você é. Ser seu melhor amigo, seu amante, seu tudo. Vou te adorar, proteger e amar até o dia da minha morte. E então desafiarei qualquer poder superior que está lá fora a tentar me manter longe de você, porque não deixarei nem mesmo a morte ficar entre nós.

— Uau. — ela sussurrou, completamente deslumbrada.

— E você vai se casar comigo.

Seus olhos se arregalaram. 

— Eu vou?

— Oh, sim. — ele suspirou envolvendo um braço em torno da sua cintura e a puxando tão perto que ela teve que inclinar a cabeça para trás para ver o seu rosto. Seus olhos queimavam brilhando com um fogo primitivo e possessivo enquanto ele passava a mão abaixo ao lado de sua garganta e por cima do ombro.

— Nós nos casaremos assim que for possível, mas primeiro quero marcar você como minha. Prendê-la a mim de uma forma que nunca poderá ser desfeita.

Ela passou a língua por seus lábios.

—Eu quero isto também, Kell.

Sua voz caiu para um tom profundo e rouco.

— E há outra coisa que quero. — disse e ela sorriu, sabendo pela expressão deslumbrante em seus olhos que seria bom. — Quero gozar dentro de você quando eu te morder. Tudo bem com isso? 

O coração de Chloe  bateu tão forte que ficou surpresa que ele permanecesse dentro do seu peito, emoção e felicidade agitando juntas numa onda estranha e divertida que queimava suas veias, e ela se agarrou a seus braços para se apoiar com a cabeça girando.

— Estou mais do que bem com isso. Mas... eu poderia ficar grávida. Você sabe que não estou tomando pílula.

Ele beijou as gotas de água do seu rosto e com um tremor de emoção em suas palavras obscuras ele disse:

— Eu sei, querida. Poderíamos fazer um bebê. Bem aqui. Nesse instante.

— E não se importaria? — ela sussurrou, seu pulso rugindo em seus ouvidos como uma chuva pesada. Ele recuou a cabeça apenas o suficiente para  que pudesse olhar em seus olhos, suas mãos acariciando seu traseiro.

— Pra ser sincero não consigo pensar em nada mais incrível do que criar uma família com você. Eu nunca teria imaginado que pudesse ser tão sortudo, mas parei de lutar com o destino, Chloe. A partir de agora vou aproveitar o que ele me dá.

— Nada mais de culpa? — ela perguntou, enlaçando seus braços em volta do pescoço poderoso, seus mamilos pressionados contra os pesados  músculos de seu peito.

Seus olhos se apertaram um pouco, mas depois ele balançou a cabeça quando disse. 

— Eu sempre me sentirei mal sobre a forma como vivi antes de você. Mas o importante é o homem que eu me tornei. Por sua causa. Com você ao meu lado posso manter minha cabeça erguida pelo resto da minha vida. 

— Eu amo você. — ela disse depositando um beijo terno em sua boca… seu queixo… na borda masculina de seu queixo. — Eu amo tanto você.

— Eu amo você mais. — ele gemeu, levantando-a do chão enquanto a prendia contra a parede do chuveiro. Chloe avidamente embrulhou suas pernas ao redor de sua cintura e ele tomou sua boca num beijo cru e exigente, enquanto empurrava profundamente dentro das apertadas e macias profundezas de seu corpo. Ela gozou de imediato, o prazer obscuro e devastador a rasgando com força impressionante, e ele engoliu o som de seus gritos antes de tirar sua boca da dela.

— Isso é tão malditamente bom. — ele rosnou manobrando mais fundo, até que ela sentiu como se estivesse afundando no brilho de felicidade quente queimando dentro dela. Ela nunca o viu parecer tão selvagem em sua forma humana como naquele momento com suas presas aparecendo sob seu lábio superior, os olhos brilhantes com as pálpebras pesadas de luxúria quando cortou um olhar faminto em direção ao lado de sua garganta. A Merrick primitiva dentro dela se levantou ronronando com antecipação enquanto Chloe inclinava a cabeça de lado, oferecendo o que ele queria. Ele fez um som espesso como de um animal no fundo de sua garganta antes de aninhar seu rosto contra a curva do seu ombro. Ela o sentiu puxar uma respiração lenta e trêmula, sua língua passando rapidamente contra sua pele e então ele afundou suas presas profundamente, enterrando-as em sua carne sensível e dando a mordida primitiva.

Chloe esperava dor e estava lá. Mas havia tanto prazer que a queimação aguda não importava, e gritou novamente enquanto se arqueava contra ele, dizendo o quanto ela o amava, precisava dele e o queria.

Ele se sacudiu com um tremor violento, suas garras cavando os azulejos quentes, quebrando-os, e então estava gozando dentro dela com tanta força que ela podia sentir o estouro explosivo de calor bem no fundo dela. Kellan rosnou contra sua garganta então liberou suas presas, seus quadris empurrando contra ela com punhaladas profundas como um martelo, então sua cabeça caiu para trás, um rugido gutural de satisfação rasgando de seu peito e eles se perderam naquela  estrondosa tempestade  cheia de prazer, golpeados pelas ondas devastadoras de sensação, segurando-se um no outro tão fortemente quanto podiam.

Quando finalmente foram capazes de se mover novamente, Kellan a secou com uma toalha macia e desmoronaram na cama juntos — o som distante e abafado de Aiden tocando blues em seu piano flutuando pelos corredores da casa.

Num raspar profundo e sombrio Kellan disse o quanto ela era deliciosa... o quanto adorou afundar suas presas nela... gozando dentro dela, e o que começou como um beijo longo e preguiçoso se transformou em fogo e paixão.

Precisando de tudo que ele podia dar, Chloe afundou suas presas em sua garganta forte se alimentando de sua veia enquanto ele a mandava em outro longo e escaldante orgasmo que a deixou derretendo numa escuridão quente e reconfortante. Minutos depois quando ela finalmente voltou para este mundo, ela se viu deitada em seus braços, o rosto perto do dele enquanto compartilhavam um travesseiro, as costas dos seus dedos esfregando círculos possessivos em seu estômago como se já houvesse vida crescendo dentro dela.

Numa voz que estava rouca de seus gritos apaixonados, ela disse.

— Eu ainda não consigo acreditar que estou aqui com você e que passamos por isso, Kell. Se não fosse pelo horror do que aconteceu perdendo um de seus amigos, tudo seria... perfeito. 

— Eu farei as coisas perfeitas para você, Chloe. Eu prometo.

— Não preciso de perfeição. Tudo que preciso é você. Porque não posso estar inteira sem você. — ela disse estendendo a mão e enfiando um úmido fio de cabelo ruivo atrás de sua orelha. Quando pegou sua expressão confusa, ela perguntou: — O que foi?

— Estava apenas pensando que parti para te salvar, mas foi você quem me salvou. Pensei que precisava ir para Wasteland para fazer diferença. Para mudar o modo como minha família e amigos me viam. Mas realmente o que eu precisava era de você.

— Kellan. — ela sussurrou.

— Sim.

— No caso de não notar, você me tem.

Com uma estrondo deliciosamente profundo e rouco de felicidade, ele a puxou mais apertado contra ele, tocando sua boca no pulso quente da marca da mordida que ele  deixou em sua garganta, os lábios ternos e suaves contra sua pele. 

— E estarei mantendo você, minha bela bruxinha. Para sempre. 

Com um sorriso de pura alegria e incandescente, Chloe colocou os braços ao redor dele, segurando-o para ela... determinada a nunca deixá-lo ir.

— Lycan, eu não teria isto de qualquer outra maneira.

 

                                                                                Rhyannon Byrd  

 

[1] IV é intravenosa.

[2] Nota da tradutora: No original ela diz mil libras, que equivalem a aproximadamente 453 quilos

[3] ou mais conhecido como Mini Cooper

[4] No original mojo, palavra que originalmente designa um charme ou um feitiço. But now its more commonly said meaning sex appeal or talent. Mas agora é mais comumente dita no sentido de apelo sexual ou talento.

[5] NT: No caso,ela serefere a ele traçar todas as mulheres. Deixei o pregar para não mudar a comparação que ela faz.

[6] NT: No original ela usa a expressão guilt-tripped, que significa uma tática de manipulação mediante promessa de dor ou tristeza, se a pessoa não fizer algo de certa forma.

[7] Banshee é um ente fantástico da mitologia celta, As Banshee provêm da família das fadas , e é a forma mais obscura delas. Quando alguém avistava uma Banshee sabia logo que seu fim estava próximo: os dias restantes de sua vida podiam ser contados pelos gritos da Banshee: cada grito era um dia de vida e se apenas um grito fosse ouvido naquela mesma noite estaria morto.

[8] Caffè macchiato, também conhecido como espresso macchiato, é um café com leite típico da Itália, consistindo num café expresso misturado com uma pequena quantidade de leite quente com espuma.

[9] Nos EUA, os bojos dos sutiãs de tamanho DD e DDD são os maiores que existem.

[10] Mais conhecida como 9mm

[11] Juniperus é um gênero de conífera pertencente à família Cupressaceae, muito frequentes na zona mediterrânica. São frequentemente designados pelo nome vulgar zimbro ou junípero.

 

 

 

                      

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