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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


UM CASAMENTO CONCEBIDO / Elisa Braden
UM CASAMENTO CONCEBIDO / Elisa Braden

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

 

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Procura-se: Uma condessa para o mais temido Lorde em Londres
Com uma herança familiar contaminada por morte e loucura, Phineas Brand, o Conde de Holstoke, está enfrentando o diabo para garantir uma esposa apropriada – ou até mesmo uma inapropriada. A sociedade finge desmaiar ao vê-lo. As mães casamenteiras fogem para evitá-lo. Apenas uma mulher é ousada o suficiente para continuar se aproximado, e ela é um escândalo maior do que ele.
*Cuidado: os modos descarados de uma dama podem levá-lo a ruína*
Lady Eugenia Huxley sabe tudo sobre como encalhar no mercado de casamentos graças a um escândalo envolvendo um lacaio e muita bebida. Não importa. Ela perseguirá de boa vontade a chapelaria em vez do matrimônio. Mas quando o pretendente rejeitado de sua irmã retorna a Londres em busca de uma esposa, ela não consegue resistir a oferecer-lhe conselhos sobre como cortejar, mesmo com o frio, brilhante e honrado Lorde Holstoke lhe causando arrepios – arrepios quentes, da cabeça aos pés que são nada além de temerosos.
* Perigo: Este encontro pode ser combustível
Após uma série de mortes cruéis trazendo suspeita à porta de Holstoke, Eugenia arrisca tudo para ser seu álibi. A única solução racional é casar-se com a atrevida antes que ele arrume outro escândalo. Embora os perigos não acabem no altar. Um inimigo venenoso se aproxima cada vez mais, ameaçando a mulher que despertou a sua alma. Quão longe ele irá para protegê-la? Este pode ser o maior perigo de todos.

 


 


“O inverno também é bonito. Entretanto, é sensato manter distância para que não encontre sua morte.”

A Marquesa Viúva de Wallingham para Lady Berne em uma prudente conversa sobre a Condessa de Holstoke.

07 de Janeiro, 1797

Castelo Primvale, Dorsetshire.

A geada, densa como a barba de um homem idoso, cobria a longa estrada até o castelo. Uma rajada de vento fez os cavalos atados à carruagem de seu pai abaixarem suas cabeças. O vento fez Phineas fechar os olhos também, mas só por um momento. As pontas de seus dedos ficaram dormentes.

Seu pai alcançou o último degrau da escada do castelo e caminhou ao longo do cascalho congelado. Eles rangiam sob suas botas. Ele não parou para acariciar a cabeça de Phineas como sempre fazia. Ele estava tão branco quanto a geada.

Lá dentro, Phineas estremeceu. O pai estava indo a Bath, eles lhe contaram. Ele ia às águas. Phineas não entendeu. Certamente os banhos em Primvale serviriam ao pai. Provavelmente ele não tivesse que se afastar.

Então, o seu tutor, o Sr. Cox, mostrou-lhe um mapa e explicou como as águas da cidade chamada Bath eram benéficas àqueles que estavam doentes.

O pai estava muito doente. Ele mal reconhecia Phineas.

Um dos cavalos balançou a cabeça e sua crina espalhou o gelo como uma nuvem.

Phineas manteve-se imóvel, as mãos nas costas do jeito que vira o seu pai fazer. Outra rajada. Agora, os dedos de seus pés também estavam dormentes.

Um dos lacaios segurou o cotovelo do pai, ajudando-o a dar os últimos passos até a carruagem. O lacaio abriu a porta e seu pai virou-se. Por um momento, seus olhos encontraram Phineas. Os olhos do pai eram claros, como os de Phineas. Os cabelos eras pretos, assim como os de Phineas. E, por enquanto, o pai era alto e Phineas pequeno, mas sua cuidadora, a Srta. Banfield, disse que cresceria tanto quanto ele um dia.

Seu pai olhou-o e piscou. Gelados. Seus olhos não viam Phineas. Eles não conheciam Phineas. Eles pareciam confusos.

O lacaio ajudou seu pai a subir os degraus da carruagem. Então, seu pai desapareceu e a porta foi fechada. O lacaio assoprou suas mãos enluvadas antes de subir e sentar-se com o cocheiro.

O cascalho congelado rangeu à medida que a carruagem se movia.

Phineas não sentia mais as mãos.

— Venha, meu pequeno lorde. — Disse a Srta. Banfield atrás dele. — Vamos encontrar um lugar agradável onde possamos ter um biscoito e praticar matemática. O Sr. Cox chegará em breve.

Phineas se afastou do lugar onde observava a carruagem desaparecer. Foi muito cuidadoso em manter seu olhar abaixado até vislumbrar as escadas do castelo. Um lampejo de seda azul entrou em seu campo de visão. Azul como o céu. Ele tentou não olhar. Rapidamente, piscou e focou nos degraus. Mas ela entrou em sua visão. Quebrou sua concentração.

Ele ergueu o rosto. Ela era como uma geada brilhante. Cabelos loiros quase brancos presos no topo da cabeça. Um rosto puramente branco muito mais bonito do que o da Srta. Banfield ou qualquer pintura que ele já vira. Os olhos dela combinavam com o vestido que ondulava a partir de sua cintura e entrou em sua visão.

Phineas parou. Abaixou o olhar para os sapatos dela. Eles eram dourados.

— Informe ao chefe da jardinagem que eu solicito os planos dentro de uma hora. — Ela disse ao mordomo. — Um minuto mais e ele encontrará uma nova posição.

A voz dela manteve Phineas preso no lugar enquanto outra rajada de vento o atingia por trás. Era melhor que ela não o notasse.

A saia flutuou e parou. Um sapato dourado parou no primeiro degrau.

— Srta. Banfield. — A voz fria espetou.

— Sim, minha senhora.

— Mantenha a criança fora da minha vista.

— É-é claro. Como deseja, minha senhora.

A voz da Srta. Banfield tremeu do mesmo jeito que o estômago de Phineas tremia sempre que sua mãe estava perto.

Sapatos dourados subiram os degraus. A seda azul desapareceu.

Phineas tentou não virar a cabeça, mas não conseguiu evitar. A borda da fonte estava mais perto do que ele pensou e roçou em seu braço, enquanto se afastava do lugar onde a sua mãe havia estado.

Outra rajada. Gelo caiu sobre ele do topo da fonte. Não deveria ter olhado para cima, mas ele o fez. Piscou, seu peito começou a acelerar.

A cobra estava matando o pássaro. Suas presas estavam na garganta do pássaro.

— Agora, meu pequeno lorde. Vamos dar a volta até a entrada leste. Está muito frio para ficar aqui fora por mais tempo. — A Srta. Banfield se afastou da fonte em direção à lateral do castelo.

Phineas não conseguiu parar de olhar para o pássaro. Ele não conseguia se mover. Apenas tremer.

— Elas não são nada além de pedra, pequenino. — Ele ouviu em seu ouvido. Um xale envolveu os seus ombros. Ele não conseguia mais sentir as pernas. — Venha, agora. Deve tentar ficar escondido de sua senhoria, entende?

A Srta. Banfield apertou o xale ao redor dele e o empurrou para frente. Ele tropeçou no começo, pois seus pés e pernas estavam dormentes, mas ela empurrou suas costas e logo eles entraram no castelo e então no quarto de criança, onde o fogo aquecia a sala.

O Sr. Cox chegou assim que Phineas terminou o chá. Seus dedos formigavam com o frio. Agora ele apenas se sentia adormecido por dentro.

— Holstoke finalmente aceitou o meu conselho e foi pra Bath? — O Sr. Cox perguntou em um meio sussurro. O tutor de Phineas e a Srta. Banfield frequentemente sussurravam um para o outro quando pensavam que ele não era capaz de ouvi-los. Eles também se beijavam quando pensavam que ele não podia ver. Phineas achava os beijos estranhos, assim não lhe dava importância.

— Sua Senhoria tem estado tão doente. — Disse a Srta. Banfield. — Rezo para que as águas o ajudem. A maioria das vezes ele não reconhece nem ao próprio filho.

— Se ele morrer você deve procurar uma nova posição, Frances. Prometa-me.

— Eu não posso deixar o garoto com ela. Não conseguirei.

— Você deve pensar em si mesma. Até nos casarmos...

— Ele é um pequeno fantasma, George. Raramente fala. Às vezes está na mesma sala que eu por uma hora ou mais e nem o percebo. Ele se senta tão imóvel. Tudo piorará quando Lorde Holstoke se for. O pai é tudo o que ele tem.

— Ele tem você e isso é algo muito pequeno.

— E você. — Ela falou.

Phineas pensou que talvez eles fosse se beijar agora. Ele se levantou da cadeira da escrivaninha e foi até a janela. O vento estava mais forte. Soprava gelo pelo ar em redemoinhos brilhantes. Phineas gostava dos formatos. Ele traçou a linha de gelo por cima da vidraça. O gelo se espalhava como galhos folhosos.

Ele gostava da forma como o gelo e as árvores eram parecidos. Ele gostava como as conchas e as flores também eram parecidos. Coisas naturais tinham padrões e ele os achava bonitos.

Não tão belos quanto a sua mãe. Mas, bonitos do mesmo jeito.

— Quando Holstoke voltar, a menos que ele esteja muito melhor, recomendarei que o menino seja enviado a Harrow. — Murmurou o Sr. Cox.

— Ele é muito jovem.

— O intelecto não. Eu tenho ensinado garotos dez anos mais velhos com menos capacidade. Ele me derrotou no xadrez três dias atrás.

A Srta. Banfield suspirou.

— Eu queria... Queria que pudéssemos levá-lo conosco.

— Você sabe que não podemos. A escola fará bem a ele. Estar rodeado de outros meninos. Ordem e tradição. Ele gostará da rotina disso, eu espero.

Eles sussurram entre eles por mais algum tempo, mas Phineas não quis escutar. Então, ele saiu da sala enquanto se beijavam e foi à biblioteca. Era a sua sala preferida, o lugar onde seu pai o ensinara a jogar xadrez. O lugar onde seu pai escrevia cartas enquanto Phineas lia sobre como sementes viravam trigo e ovos, galinha.

Agora, a sala escura era o que melhor recordava seu pai, ele fechou a porta e se inclinou sobre ela.

Eles queriam enviá-lo para longe.

Ele sabia o que fizera de errado. Dentro do lugar adormecido, aquilo floresceu como gelo. Exceto que não era branco, mas preto.

Sua respiração estava muito rápida, então ele cobriu a boca. Fechou os olhos. Ele tentou imaginar os padrões. Focar neles até o gelo negro parar de se espalhar. Foi à estante e selecionou um livro. Carregou-o até a escrivaninha de seu pai e tirou papel da gaveta. Então pegou uma caneta e começou o seu trabalho. Quadrados o ajudava a pensar, ajudava seu peito a ficar mais leve.

Muito tempo depois, quando a janela ficou cinza, ele piscou. Guardou a caneta. Espalhou areia sobre suas notas e a assoprou.

Então juntou suas folhas em uma pilha e abriu a porta da biblioteca.

— Diga de novo, Mary.

Ele parou. Congelou. Seu estômago doeu.

Um pequeno gemido.

— Eu... Eu deveria ter tomado mais cuidado com o balde, minha senhora.

— De novo.

A criada repetiu as palavras. Sua mãe exigia que ela dissesse que errou de novo e de novo. Phineas contou vinte vezes antes que Lady Holstoke a deixasse ir. Mary estava fungando então. Sua mãe parecia ter um sorriso estranho.

A escuridão cresceu dentro de Phineas. Ele lutou e tentou fazê-la parar, mas os padrões não funcionaram desta vez.

Ela não devia vê-lo. A Srta. Banfield o puniria, assim como Mary fora. Pior, até. Ela podia ser mandada embora. Ele fechou a porta cuidadosamente e ouviu. Ele mal podia ouvir diante das batidas em seu peito.

Lady Holstoke se fora? Ele segurou a maçaneta. Virou-a. Ela deslizou dentro de suas mãos. Finalmente ele abriu uma fresta da porta lentamente.

O corredor estava vazio, ele pensou. Quieto.

Ele escorregou pela porta, agarrando seus papéis ao seu peito que queimava. Foi quando ele avistou.

Seda da cor do céu. Suas costas estavam viradas para ele, enquanto ela examinava alguma coisa em suas mãos. Um livro de desenhos, ele pensou.

Não devo ser visto. Não devo ser visto. As palavras eram entoadas em sua cabeça.

Sem respirar ele começou a recuar. O peito batia forte. Observando a seda azul. Tremendo e tremendo.

Não devo ser visto. Não devo ser visto.

Ele correu. Virou uma esquina. Viu as grandes portas abertas, enquanto um lacaio carregava um balde vazio para dentro. Ele correu novamente, para o frio. Desceu as escadas.

O pássaro o encarava, coberto de gelo e sempre morrendo.

Ele correu mais rápido. Mais rápido. Seus papéis estavam úmidos agora, mas não adiantava.

Não devo ser visto.

As ondas ficaram mais altas à medida que o mar se aproximava. O vento estava mais forte e o solo escorregadio sob seus pés. Ele escorregou e agarrou-se à terra. Gramas cobertas de gelo atingiram suas bochechas. Ainda assim ele correu. Encontrou a margem. A trilha do penhasco era íngreme. Se ele pudesse, a transformaria em escadas. Mas não podia. Não até ser grande, como papai.

A trilha serpenteava pelo grande penhasco dourado e branco de arenito e giz como uma grande cicatriz. O vento o açoitou. Seus pés adormecidos escorregaram no chão molhado, mas ele focou no próximo passo. Apoiou a mão dormente na parede de pedra. Finalmente chegou ao fim, onde as pedras descansavam sobre a areia macia.

Elas eram trituradas e amassadas embaixo de seus sapatos enquanto ele rodeava a margem da praia até encontrar o seu lugar: a grande pedra ao lado do grande arco.

Ele olhou de volta para a trilha. Viu apenas o alto penhasco e nenhuma seda azul. Respirou e sentiu seus papéis rasgarem em suas mãos. Ele os dobrou como folhas de árvores. Então sentou-se, afundando-se nas pedras e na areia. As ondas rolavam e rugiam, abrindo caminho pela costa. O vento espalhou os seus papéis transformando tudo em gelo, principalmente Phineas.

Ele se encostou à pedra. Abraçou os joelhos e balançou. Tremendo. Tremendo. Tremendo.

O gelo negro aumentou. Ele focou em uma concha, o padrão infinito.

O gelo negro aumentou. Ele se lembrou de seu pai, como ele era antes da doença.

O gelo negro aumentou. Ele apoiou suas bochechas nos joelhos.

Era por isso que eles deviam enviar Phineas para longe.

Os meninos não deveriam odiar a própria mãe. Os meninos não deveriam desejar a morte dela.

A Srta. Banfield pensava que ele temia o pássaro ou a cobra. Mas nos pesadelos de Phineas, ele era o pássaro. Ele odiava a cobra com cada batida de seu coração negro. E em vez da cobra afundar os dentes em sua garganta, ele partia a cobra em pedaços e as jogava no mar.

Ele fechou os olhos bem apertados. O gelo negro estava em todos os lugares, congelando até queimar. Chegou uma hora, tudo adormeceu. Depois esquentou. Foi assim quando ele decidiu que o gelo negro nunca partiria. Ele não conseguia destruí-lo. Ele tentou. Mas ele podia congelá-lo.

Por trás dos olhos fechados ele imaginava quadrados. Caixas para manter as coisas em ordem e compreensíveis. Imaginou o gelo acumulado nas caixas. Imaginou as caixas cheias de água e bem fechadas. Ele as congelou em sua mente até o gelo negro que vivia dentro congelar, imóvel e preso. Então, quando o gelo estava contido, ele imaginou os quadrados pintados de branco como a fonte. Densa e incrustada como a barba de um homem idoso.

Nada crescia enquanto estava congelado.

Nem mesmo isso.

Ele estava quente agora. Sonolento. Ele não conseguia sentir nada, nem suas mãos, seus pés, suas bochechas ou sua barriga. Alguns diriam que isso é desagradável, mas Phineas flutuava enquanto o mar suspirava o seu nome.

— ...pequenino. Nós vamos lhe aquecer em breve...

Ele piscou. Alguém o carregava. Ele sentiu o cheiro de lã, giz e mar.

— ...devemos levá-lo daqui, George.

— ...para Harrow. Enviarei uma mensagem para sua senhoria imediatamente. Nós não podemos esperar o seu retorno. Com você fora, eu não sei o que ela fará...

Phineas estava flutuando. Subindo a trilha. Para dentro de uma névoa cinza e grama congelada. Embaixo dos galhos de carvalho coberto de branco. Sobre o cascalho. Passando pelo pássaro que morria. Sempre morria.

Mas não morreu. Congelou, talvez. Ferido.

A cobra pensou que havia vencido. Phineas descansou sua bochecha contra a lã do Sr. Cox e sorriu.

A cobra estava errada.


CAPÍTULO 1

“A palavra ‘extraordinário’ pode ser levada de duas formas, Eugenia. Uma implica temor. A outra implica que você cruzou os limites da sociedade decente para reinos inexplorados.”

A Viúva Marquesa de Wallingham para Lady Eugenia Huxley em resposta à afirmação da dita senhorita que turbantes nunca deveriam ter menos de três penas.

7 de Maio, 1825

Chapelaria da Sra. Pritchard, Londres

— O que a possuiu? A Sra. Pritchard odeia flores vermelhas. — As palavras flutuaram diretamente a Eugenia Huxley em um sibilo baixo. — Ela lhe despedirá desta vez, com certeza. E será tarde, se quer saber. — Junto com o odor de dentes não limpos, o ódio da mulher formava uma névoa desagradável na apertada sala de trabalho.

Genie espetou sua longa agulha através de sua mais nova criação de palha leghorn1, lançou um olhar furioso para sua colega e também assistente de chapelaria, Nancy Knox, ou como Genie a apelidou, Fancy2 Nancy.

Uma apurada ponta de sarcasmo, certamente. As estacas de cercas velhas tinham mais imaginação do que a Srta. Knox.

Pegando uma pluma de avestruz roxa da cesta ao lado de sua cadeira, Genie analisou os três chapéus terminados que estavam em uma prateleira no fundo da sala. Um era tingindo de índigo e adornado com as proibidas rosas vermelhas de seda. Outro estava envolvido em damasco esmeralda e decorado com cinco majestosas penas de pavão.

O terceiro era marrom.

Simples. Maçante. Marrom. Envolto em marrom escuro ao redor da aba modesta e fitas de veludo pretas para amarrar embaixo do queixo do usuário.

Se uma dama tivesse uma necessidade repentina de meio luto, o trabalho manual de Fancy Nancy seria a resposta.

Genie ergueu o queixo e enfiou uma pluma roxa dentro da faixa de brocado. Virando o bonnet de um lado para o outro, ela estalou a língua.

— Acho que precisa de mais cores. Ah, sim. Eu entendo das coisas. — Ela se levantou para pegar uma tira de seda vermelha. Com um sorriso enviesado para a Srta. Knox, voltou a sua cadeira e começou a dobrar a fita em formato de pétalas. Logo seus olhos recaíram sobre a tentativa lamentável da outra mulher de fazer um chapéu amarelo.

— Renda? — Ela ofegou. — Sua ousadia choca todos os meus sentidos Srta. Knox. Pois, quando se der conta, estará brincando com bruxaria.

O olhar da Srta. Knox encheu-se de raiva. Pelo menos, Genie pensou que fosse raiva. Os olhos de Fancy Nancy eram castanhos e mortos – como barro, mas com um rancor adicional.

Outro hálito fedorento flutuou em sua direção.

— Demissão. Marque as minhas palavras, sua insolente...

A Sra. Pritchard entrou com o assobio da cortina listrada que separava a sala de trabalho da frente da loja.

— A Sra. Herbert solicita cinco turbantes para amanhã de manhã. — Ela disse, seu sorriso em desacordo com sua expressão fechada e cabelo repuxado. — Sugiro que recupere as plumas brancas, Srta. Huxley.

Muito antes de Genie chegar para atormentar sua empregadora com flores vermelhas rebeldes, a Sra. Pritchard já havia sido derrotada por sua própria mediocridade. A chapeleira de cabelos cor de trigo sorria com frequência e ria como uma garota tola do Almack's, mas sua amabilidade dificilmente compensava o que lhe faltava: talento e inteligência. Aos olhos de Genie, lábios apertados cabelos penteados para trás e rugas de preocupação evidenciavam duas décadas de tolice disfarçada. A Sra. Pritchard podia sorrir como uma senhorita da sociedade em sua apresentação, mas era uma chapeleira horrível.

Genie não tinha intenção de ter o mesmo destino.

— Vermelho escarlate, desta vez? — Ela brincou entre os dentes. — Ou amarelo frésia?

O sorriso da Sra. Pritchard se apagou e seus lábios franziram como se tivesse engolido uma colher de vinagre.

— Você os fará exatamente como ela prefere. — Um novo sorriso emergiu, brilhante e falso. — Exatamente.

Genie segurou o olhar da mulher por um momento e depois abaixou o olhar para a fita vermelha em suas mãos.

— Óbvio. Dourado com plumas brancas.

— Pluma, Srta. Huxley. — A resposta baixa e contrariada. — Não repetirei. Acrescente duas como a última vez e será o fim.

Será o fim.

Seu estômago encheu-se de chumbo frio.

Fancy Nancy estava certa. Genie estava prestes a ser demitida. Dispensada por uma chapeleira a leste da Rua Oxford. Uma que atendia matronas de classe média e mesquinhas. Uma que contratara Fancy Nancy, entre todos infelizes sem talentos em Londres. Uma que, na semana passada, insistira para que as três tomassem chá enquanto quatorze pedidos permaneciam inacabados.

Pois a Sra. Pritchard preferia coisas agradáveis. Aparentemente, nada era mais agradável do que o chá no meio de um dia de trabalho agitado, quando ia embora às dezoito e não as vinte e duas horas. Não, trabalhar até altas horas era para assistentes – assistentes mais novas para ser precisa.

Genie examinou a expressão da Sra. Pritchard, avaliando a sua seriedade. A touca era tão severa, suas sobrancelhas castanhas arqueadas em permanente surpresa. Ou alarme. Ou vigília. Genie nunca se decidira, mas elas aumentavam as rugas na testa, o que provavelmente era o ponto.

O estômago de Genie ficou mais pesado à medida que o vinco se formava entre as sobrancelhas da mulher.

— Seda dourada. Uma pluma branca. — Genie murmurou, deixando a sua rosa vermelha de lado e puxando uma pena branca do fundo da cesta. — Agora mesmo, Sra. Pritchard.

O consentimento não era rendição, ela garantiu a si mesma, mas um recuo tático. Ela precisava dessa posição. Ela precisava aprender como gerenciar uma loja – ou como não gerenciar, para ser específica. Precisava saber se ela poderia fazer este trabalho e que sua vida não acabara.

A cortina balançou enquanto a Sra. Pritchard desaparecia em direção à frente da loja, onde ela esperava o menor número de clientes para cortejarem as criações simples e maçantes de Fancy Nancy.

— Eu disse, não foi?

Genie respondeu à declaração da Srta. Knox com uma provocação, que ela sabia que cairia em ouvidos que não compreenderiam, o que apenas a tornava mais doce.

— Ah, sim. Uma profecia à altura de Macbeth. A bruxaria combina com você, Srta. Knox.

Duas horas depois, após as duas mulheres terem partido e a luz que atravessa a pequena janela ter diminuído a uma névoa amarela, Genie se apressou a colocar uma única pluma branca no seu quarto turbante. Tudo o que ela via quando piscava era seda dourada, penas brancas e pequenos pontos. Seus dedos doíam. Suas costas ardiam. Seu estômago roncava.

E ela tinha ficado sem seda dourada.

Levantando-se, gemeu, esfregou a parte de baixo da coluna e examinou seu trabalho.

Idêntico aos últimos três, era uma série elegantemente arrumada em dobras de seda. Eles imploravam por uma faixa de pérolas, talvez um cordão entrelaçado e, pelo menos, mais duas plumas. Porém Genie queria que a profecia de Fancy Nancy desse errado, eles eram exatamente como a Sra. Herbert preferia. Ela suspirou e removeu o turbante do suporte de chapéus antes de o colocar gentilmente em uma prateleira junto aos outros três.

Voltando a mesa, ela procurou por pequenos pedaços de seda dourada. Precisava de mais. Ela não as tinha.

Mas o marido da Sra. Pritchard tinha.

Droga.

Um fabricante de chapéus mais habilidoso e menos agradável que a esposa, o Sr. Pritchard administrava a loja adjacente, a Pritchard Chapéus Finos. O lugar atendia clientes estritamente masculinos, mas chapéus masculinos exigiam forros. E acontecia que ela sabia que o Sr. Pritchard preferia a mesma seda dourada que a Sra. Herbert gostava.

Genie tamborilou a ponta de um dedo na mesa e outro contra o lábio. Olhou para a porta que conectava as duas salas de trabalho.

Ela não deveria, é claro. A Sra. Pritchard havia proibido suas assistentes de pegar suprimentos emprestados com o Sr. Pritchard. Mas ela também declarara: será o fim.

Genie entendia tal ameaça como uma permissão para fazer o que fosse necessário.

Antes que pudesse pensar mais nisso, ela abriu uma fresta da porta e espreitou lá dentro. Depois rolou os olhos e pigarreou.

O jovem corpulento atualmente curvado sobre um livro estremeceu. Os pés saíram da mesa e caíram sobre o chão com um baque.

— O que tem aí, Sr. Moody? — Ela provocou.

As bochechas arredondadas ficaram vermelhas e um sorriso acanhado abriu-se na direção dela por cima do ombro de Lewis Moody.

— Apenas uma das minhas histórias, Srta. Huxley. — Ele deixou o livro ao lado de seu suporte de chapéus. Uma mão sardenta e gorducha acariciou a capa antes de se levantar e lhe acenar timidamente.

— O que a traz em visita?

O Sr. Moody era o assistente do Sr. Pritchard e o chapeleiro permitia que ele administrasse a loja nos finais da tarde quando o movimento diminuía.

Ela lhe lançou seu melhor sorriso, o que fez a cor dele se aprofundar, e apontou em direção ao rolo de seda dourada na mesa atrás dele.

Ele deu a volta.

— Certo. A Sra. Herbert novamente, não?

— Cinco turbantes desta vez. — Ela balançou a cabeça e estalou a língua.

— Idênticos ao da última vez?

Ela assentiu.

— Desconcertante.

Ela riu.

— Deus sabe o que ela faz com eles.

— Algumas pessoas favorecem coisas de um mesmo tipo.

Sim. Alguns faziam. Aqueles com falta de visão.

— Teria algum pedaço sobressalente de seda dourada? A Sra. Herbert pediu que seus chapéus idênticos fossem entregues prontamente.

O Sr. Moody riu e assentiu.

— Certamente. Fico feliz em dar-lhe o que quiser, Srta. Huxley. Mais do que feliz.

O brilho nos olhos dele falava com o dobro de significado, mas ela o ignorou, deu um tapinha no seu cotovelo enquanto se apertava para passar por ele.

— Por isso que você é meu assistente do Sr. Pritchard preferido. — Ela zombou. Os outros dois assistentes eram mais azedos do que Fancy Nancy. Comparativamente, Lewis Moody era positivamente arrojado.

Ao se abaixar para cortar a seda, ela pensou tê-lo ouvido gemer, mas concluiu que era a porta da frente da loja do Sr. Pritchard. Sinos soaram. Botas bateram.

— S-Srta. Huxley, eu devo lhe dizer. — O Sr. Moody começou. — O quanto eu lhe admiro... isso é, quero dizer...

Ouvindo o tom dele – baixo e sério – as mãos de Genie desaceleraram. Seu coração afundou.

Droga. Ela esperava que ele não fosse...

— Você acha que algum dia em breve, não hoje, lógico, mas um dia, você poderia... comigo, quero dizer...talvez possamos...

Uma distinta batida de salto de bota sob o piso de madeira ecoou pela cortina.

Fingindo indiferença, Genie arrumou e alisou a seda para cortá-la.

— Parece que você é requisitado, Sr. Moody. Não deve demorar por minha causa.

Um suspiro.

— Certo. — O barulho de botas e o zunido da cortina indicou sua saída.

Genie se endireitou e mordeu o lábio. Seus olhos recaíram sobre o livro abandonado pelo Sr. Moody. Ivanhoé.

Sua segunda irmã mais velha, Jane, era uma leitora, constantemente falando sobre esta ou aquela novela. Genie raramente prestava muita atenção, mas até ela já ouvira falar sobre o conto de aventura medieval de Sir. Walter Scott. Dada a sina de Lewis Moody, ela imaginou que escapar ao passado e se visualizar como o herói da história, era uma diversão bem-vinda.

Droga. Ela gostava do Sr. Moody. Ele a lembrava um pouco de Jane, para ser sincera. Tímida. De natureza boa. Juntando cada centavo que sobrava para gastar na biblioteca circulante.

Ele provavelmente se oporia à comparação. Jane era uma mulher, afinal de contas – uma mãe de cinco filhos e esposa do formidável Duque de Blackmore. Mas a não ser isso, eles bem que poderiam ser gêmeos. Primos, pelo menos.

Genie devia dissuadir Lewis Moody de desenvolver um carinho por ela. Ela gostava muito dele.

Com um suspiro, ela voltou a cortar a seda da Sra. Herbert, esperando terminar antes que ele voltasse.

— ... sofreu tais danos, milorde? Se não se importa que eu pergunte.

— Isso importa?

Genie franziu a testa, a tesoura meio aberta em sua mão. Aquela voz. Segura. Fidalga. Baixa e impiedosa.

— Creio que não. Será a primeira coisa que farei a Vossa Senhoria amanhã pela man...

— Por que não pode ser reparada agora?

Oh, sim. Ela reconhecia aquela voz. Fazia anos, mas ela a conheceu imediatamente.

— O dano é... bem, há muito dano, não há? Nada que não seja reparável, penso. Mas isso levaria uma hora ou mais.

— Esperarei.

— Perdão?

Silêncio.

Genie se lembrava deles também. Longos e curiosos silêncios entre frases breves e seguras.

Lewis Moody pigarreou. Ela quase podia ouvir o jovem ficar vermelho.

— Como desejar, sir. Eu quero dizer, milorde.

A cortina balançou. Como ela supôs, as bochechas do Sr. Moody estavam vermelhas e suas mãos tremiam. Ele gesticulou freneticamente em direção à porta com um chapéu deformado. Parecia ter marca de dentes na aba.

— Você nunca vai acreditar nisso. — Ele sussurrou com olhos arregalados. — É...

— O Conde de Holstoke. — Sim, ela acreditaria. Ele quase foi seu cunhado.

— ... um conde, Srta. Huxley. Nunca falei com alguém da nobreza antes. Nem "sequer um ''sim, sir'' ou ''desculpe-me, sir", ou algo assim.

Na realidade, ele falou com alguém da nobreza em inúmeras ocasiões. A filha de um conde, na verdade. Mas ele não sabia disso e ela preferia manter os assuntos como estavam.

— Bem. — Ele disse inclinando o chapéu destruído em direção a sua mesa de trabalho. — Melhor fazer isso.

Ela assentiu, dobrando a seda dourada da Sra. Herbert e se encolhendo para passar pelo Sr. Moody. No caminho para a porta de conexão, uma onda de curiosidade subiu por sua nuca.

— Ele escolheu esperar, pelo que entendi. — Ela falou.

— Hum? Oh, sim.

— Sujeito a ficar impaciente. — Ela tamborilou um dedo sobre a seda. — Os nobres frequentemente ficam.

Uma pausa e um tilintar, quando uma das ferramentas de Sr. Moody foi trocada por outra.

— Suponho que sim.

A onda de curiosidade se aprofundou. Mergulhou. Exigiu.

— Eu o manterei ocupado por enquanto. — Ela murmurou avançando em direção à cortina. — Darei tempo para que você faça os reparos.

— Oh, não. Isso é, certamente você pode fazer como quiser, Srta. Huxley, mas...

Ela já não escutava mais. Ela atravessou a cortina e entrou na loja do Sr. Pritchard, onde poucas mulheres colocavam os pés – mesmo a Sra. Pritchard.

Holstoke estava em pé de costa para ela, uma mão segurando o pulso oposto atrás do corpo. Um feixe de luz pálido iluminava uma mecha de cabelo preto cortado curto. Ele era alto – uns quatro ou cinco centímetros acima de um metro e oitenta. Ela se recordava de ter que esticar o pescoço para falar com ele, apesar dos anos passados.

— Lorde Holstoke. Já faz uma era.

Seus ombros se retesaram. Estavam mais largos que antes? Estavam, ela achou. Mais fortes também, como se tanto os músculos como os ossos tivessem encorpado.

Ele inclinou a cabeça e começou a virar-se. Primeiro vieram as bochechas, altas e proeminentes. Depois o nariz, longo e reto. Finalmente os olhos.

Ah, os olhos. Como gelo verde, pálido e perspicazes. Ela quase se esquecera como eles podiam fazer alguém estremecer. Assustadores, uma de suas irmãs os chamava assim. Outros os denominavam fantasmagórico. Genie simplesmente pensava neles como um tom incomum de verde.

Genie não tinha inclinação para poesia.

— Lady Eugenia. — Baixa e profunda, sua voz ressoava como metal. Sem piscar, seus olhos deslizaram ao longo do corpo dela, parando onde ela segurava a seda dourada antes de retornar para o rosto. — Seis anos.

Ela passou pelo balcão em direção à janela, onde ele estava tão imóvel e inexpressivo como ela recordava.

— São seis? Pensei que eram cinco.

— Seis.

— Não importa. É esplêndido vê-lo novamente. Minha irmã mencionou que estaria na cidade para a temporada.

— Você tem quatro irmãs. Talvez pudesse ser mais específica.

A boca dela curvou-se em um sorriso simpático.

— Lady Dunston, é claro.

Silêncio. E uma contemplação longa e verde.

Genie perdoou o momento de constrangimento. Uma coisa natural, na verdade. Ele cortejara a sua irmã mais velha, Maureen, ardentemente, antes de ter sua proposta de casamento rejeitada em detrimento ao verdadeiro e único amor de Maureen, Henry Thorpe, o Conde de Dunston.

Virando-se, Genie pôs a seda sobre o balcão e se aproximou do homem que muitas vezes achou intimidante, se não ameaçador. Suas feições tinham uma qualidade extra que Maureen uma vez chamou de “acético”. Genie não estava certa do que isso significava, mas as bochechas altas, nariz afilado e a mandíbula magra elevada, aumentava o calafrio causado por seus olhos estranhos e sem expressão. Além disso, ele era alto. Elegante. Abastado. Um conde. E, a menos que tenha mudado alguma coisa nos últimos seis anos, um homem de intelecto impressionante.

Para todos os efeitos, Phineas Brand, o Conde de Holstoke, era um partido esplêndido. Se ignorassem a sua natureza peculiar.

A curiosidade – uma de suas fraquezas permanentes – golpeou-a novamente. Mas ela não podia simplesmente perguntar-lhe a questão que queimava em sua cabeça, assim ela começou com uma mais fácil.

— O que aconteceu ao seu chapéu?

Ele examinou a loja vazia enquanto se perguntava como ela chegara ali vindo de Bedlam3.

— Lady Randall.

— Lady Randall comeu o seu chapéu?

Ela dissera aquilo para fazê-lo rir. Ou sorrir, pelo menos. Mas ela se esquecera de que ele raramente os fazia.

— Os cachorros dela.

Ela sorriu, deu uma risadinha e revirou os olhos.

— Diabinhos. Ela nunca consegue controlar os pugs. Uma vergonha, de verdade. O seu era um chapéu realmente muito elegante. Requintado.

Ele não respondeu.

— Então. — Ela continuou fingindo alegria. Na verdade, a curiosidade a devorava, como um dos pugs de Lady Randall em uma fatia de presunto. Ou com um chapéu muito elegante. — Está na cidade. Após seis anos trabalhando em seu castelo em Dorsetshire.

Olhando para baixo, para a sua manga de lã cinza, ele respondeu secamente.

— Muito observadora.

— Oh, vamos. — Ela se aproximou. — Não banque o recatado. Como vai a busca?

— Meu chapéu foi danificado há menos de uma hora. Eu não procurei ainda por um novo.

— Você sabe muito bem o que eu quis dizer...

— Sim. — Ele disse suavemente. — Eu sei.

Qualquer outra mulher teria cautela no alerta da voz dele. Genie nunca foi como as outras mulheres.

— Então? Conte-me. Nós fomos amigos um dia.

Uma luz forte iluminou o verde gelado.

— De certo modo. — Ela esclareceu.

Sua fisionomia continuou impassível.

— Muito bem, conhecidos. Minha família gosta de você, Holstoke. Nós gostaríamos de saber que encontrou uma noiva adequada.

— Nós?

Ela suspirou, admitindo seu ponto.

— Eu. Eu gostaria de saber.

— Por quê?

— Os assuntos ficaram...meio bagunçados.

Seu queixo endureceu e levantou-se.

— Muito pelo contrário. Lady Maureen virou Lady Dunston. Os assuntos ficaram extraordinariamente claros.

Sim, ela acreditava que era verdade. E ele foi o ferido. Genie havia odiado isso, pois Holstoke era um bom homem que cortejara a sua irmã honradamente. Ele até mesmo mostrara generosidade para as duas rebeldes irmãs mais novas de Maureen, levando Genie e Kate com eles em várias excursões, incluindo um adorável dia no Anfiteatro Astley.

— Independentemente. — Ela falou. — Gostaria de vê-lo fazer um bom casamento. — Ela ergueu uma sobrancelha e o olhou provocantemente por baixo dos cílios. — Uma dama capaz de arrancar um sorriso desses lábios de vez em quando.

Algo estranho brilhou nos olhos de Holstoke – mais estranho do que o normal, isso era. Um tipo de fogo. Talvez ele estivesse zangado.

Mais rápido do que uma piscada, seu olhar caiu sobre sua boca e depois ergueu-se frio como sempre.

— Seis anos é um longo tempo. Apesar de nossa conexão anterior, Lady Eugenia, minhas atuais circunstâncias não precisam da preocupação...

Ela abandonou o fingimento.

— Sim, mas estou morrendo de curiosidade. Você deve me contar.

O silêncio dele foi longo e explorador. Ela se perguntou se ele estava se lembrando do tempo que ela astutamente o aconselhou a usar um alfinete de esmeralda com sua cravat4 prateada, ou a vez em que ela deu uma risada de surpresa dele ao saírem do Astley. Pelo que ela se recordava, ela havia sido muito útil. Talvez ele tivesse pena dela e satisfizesse seus desejos.

Após longos segundos, ele contou.

— Ainda não encontrei uma esposa adequada.

Assim como ela suspeitara. Ele havia encalhado no mercado de casamentos. Nisso, pelo menos, ela podia ser útil. O mercado de casamento provara-se águas revoltas para ela também.

— Você não é desagradável. — Ela começou avaliando as sobrancelhas pretas e os lábios apertados.

O comentário rendeu uma piscada.

— Mas também não é bonito. E até mesmo você deve admitir ter uma natureza bastante peculiar.

Esse, gerou um pequeno franzir de cenho.

— Ainda assim. — Ela apoiou um cotovelo no pulso do outro braço e tamborilou seus lábios com um dedo. — Atraente de seu jeito. Maureen sem dúvida teria aceitado seu pedido se ela não fosse louca por Dunston. Por todas as razões, você deveria estar cercado de damas ansiosas por se tornarem condessas.

Era verdade e ainda assim, ela sentia que isso o desagradava bastante.

— O que está fazendo aqui? — Ele alfinetou, as primeiras palavras e deslizou as restantes.

O dedo dela parou.

— Eu trabalho aqui. Na chapelaria feminina. Na porta vizinha. Estou aqui para buscar seda pra uma cliente que deseja adicionar uma coleção de turbantes idênticos à sua coleção. — Ela balançou a cabeça e bufou. — Falando em peculiar.

Olhos verdes calcularam e avaliaram como se ela fosse uma equação complexa.

— Por quê?

— Exatamente minha pergunta. Ela faz parte de uma sociedade secreta na qual turbantes dourados com uma única pena são solicitados para entrar? Ou por um motivo mais sinistro? Gosto horrível, talvez, mas se for verdade, ela deve visar pela variedade pelo menos...

— Não. Por que você está trabalhando aqui?

Ela piscou.

— Onde mais eu deveria trabalhar?

— Eu pensaria que não devia trabalhar, Lady Eugenia. Presumi que deveria estar casada por agora.

— Casada? — Ela gargalhou, balançando a cabeça.

Ele inclinou a cabeça como se ela tivesse feito uma brincadeira que ele não entendeu.

— O escândalo? — Ela perguntou, suspirando quando sua resposta foi outro olhar indecifrável. — Você não ficou muito tempo, foi-se de Londres.

— Eu sei sobre o escândalo. Quaisquer que sejam suas indiscrições, não deveria ser reduzida a — ele olhou ao redor da pequena loja — isso. Você é a filha de um conde, por Deus.

— Minha patroa não sabe. Para ela, sou a Srta. Huxley, recém-chegada de Nottinghamshire. Vim com excelentes referências. — Seus lábios se curvaram. — Da Marquesa Viúva de Wallingham, não menos.

— Notoriamente ridículo. Alguém deveria casar com você e parar com esta besteira imediatamente.

Fungando, ela cruzou os braços sob o peito.

— Você e minha mãe concordam. E apesar dos esforços dela, três anos depois, nenhum homem fez uma oferta. Noivas desgraçadas estão em baixa, evidentemente.

— Vi a sua mãe algumas semanas atrás do lado de fora do Almack’s. Ela não mencionou nada disso.

— Mamãe tem investido as suas esperanças em minha irmã mais nova, Kate. De minha parte, simplesmente fico fora de vista e tentando manter meus vapores escandalosos de estragar a caça a um marido.

Novamente ele inclinou a cabeça.

— Você sempre fala tão descuidadamente?

— A sinceridade nos poupa de uma boa dose de conversa sem sentido, não concorda? Quanto ao meu emprego é melhor trabalhar aqui do que vagar pelo terreno de Clumberwood Manor. — Ela fizera isso por, pelo menos, dois anos. Parecia uma prisão.

Olhos em fendas perplexas obscureciam a ponte de seu nariz longo e reto.

— Seu pai não pode estar muito feliz.

— Papai preferia que eu ficasse no campo, apodrecendo como um roedor velho e esquecido em um canto dos estábulos. Aqui, pelo menos eu aprenderei um ofício útil. É mais do que a maioria das solteironas podem reivindicar.

— Fazer chapéus.

Ela se retesou diante da implicação no tom dele.

— Eu tenho talento para isso. Chapéus são elementos integrantes de um traje elegante de uma senhora. Uma verdadeira proclamação...

— Então você é uma chapeleira.

Ela fungou.

— Assistente. Assistente de chapeleira. — Diante da sobrancelha erguida dele, ela endireitou os ombros e tentou esquecer a garantia ameaçadora da Sra. Pritchard: será o fim. — Apenas por enquanto, enquanto eu aprendo o ofício. — Ela se esquivou. — Um dia, eu abrirei a minha própria loja.

— Os Huxleys não abrem lojas. Particularmente... — Os olhos verdes caíram para o avental que cobria as saias e depois para seu corpete azul desbotados.

Ela apoiou as mãos nos quadris.

— Bem, está aqui, irá.

Ele se moveu meros centímetros, seus olhares agora desconcertantemente focado.

Diante da proximidade, ela sentiu uma dor em seu pescoço uma respiração perturbadoramente curta. Ele era mais alto do que ela previamente estimara. Talvez sete centímetros acima de um e oitenta.

— Somando, suas irmãs mais velhas tiveram doze filhos.

Quatro. Definitivamente quatro centímetros. O homem agigantava-se.

— Onde quer chegar?

— A reprodução dos Huxleys. Bastante. — Ele murmurou as palavras para si mesmo, apesar de seus olhos nunca a terem abandonado.

A diversão puxou seus lábios. Ele realmente era uma pessoa muito peculiar.

— Algumas são.

— Mas não você?

A diversão ficou abalada e se dissolveu.

— A reprodução é melhor quando feita com um marido. Ou assim tenho escutado.

— Melhor do que um lacaio. — Mais uma vez ele murmurou as palavras para si mesmo como um cientista intrigado com a estrutura de um inseto exótico, sem se preocupar com os sentimentos do inseto sobre o assunto.

Um lacaio. Ela quis rir e chorar ao mesmo tempo, sentindo os dois impulsos estremecerem em seu peito. Não, um lacaio não poderia ser seu marido.

O escândalo devastou a sua família. Mamãe chorara por semanas. Papai – bondoso, amoroso e bem-humorado papai – não falou com Genie por uma quinzena. Finalmente, ao fazer, ele tranquilamente lhe explicara que se ela quisesse que Kate tivesse uma chance para uma união aceitável, deveria partir de Londres e permanecer no campo até que o escândalo diminuísse. Genie havia partido de Clumberwood no dia seguinte.

Mesmo agora, algumas pessoas da sociedade ainda fofocavam sobre ela com apelidos grosseiros e risadinhas obscenas. Ela não se importava, desde que as crueldades não atingissem Kate. Por isso Genie precisava de um emprego. Precisava terminar os tolos turbantes dourados da Sra. Herbert. Precisava suportar os sorrisos falsos e a alegria afetada da Sra. Pritchard.

Sua família havia suportado por tempo demais o Grande Fardo Genie.

— Bem. — Ela disse subitamente, erguendo a sobrancelha para o homem, cujos olhos a alfinetavam como uma rosa de seda em uma aba de palha. — Acredito que já solucionamos o mistério de sua dificuldade no mercado de casamento, Holstoke. Um pouco de sutileza pode ajudar. Talvez até mesmo uma pitada de cortesia.

— Você não é sutil e nem cortês.

— Sim, mas quando sou franca, é ousado e charmoso. Quando você é franco, é ofensivo e irritante.

— Isso é hipocrisia.

Ela deu de ombros.

— Chame isso do que quiser. Não criei as regras.

— A terceira lei de Newton de movimento é uma regra. Sua declaração é uma afirmação.

— Uma afirmação correta. — Ela suspirou e estendeu a mão para lhe dar uma palmadinha no cotovelo, ignorando como ele se enrijeceu. — Escute com atenção, Holstoke, pois essa é a única forma para ter sucesso entre as mães casamenteiras. Você é estranho. E simplesmente não há modo de contornar isso. Quanto menos falar, mais as damas irão preencher as lacunas com suas próprias suposições. Comece com um elogio educado. Pratique. Então, o que quer que faça, não desvie de seu roteiro.

O olhar dele recaiu para o local onde as suas mãos apoiavam em seu braço.

— Entre as minhas esquisitices deve estar o esquecimento. — Olhos verdes pálidos ficaram estreitos e faiscantes. — Não me recordo de pedir seus conselhos.

Ela se encolheu.

— Muito bem. Ignore-me então. Mas não reclame quando tiver que retornar no próximo ano para dançar as mesmas danças tediosas.

Erguendo a cabeça, ele inflou as narinas com desgosto.

— De verdade. — Ela falou com satisfação. — Nenhum homem deseja entrar nesta exibição burlesca duas vezes. Ou, no seu caso, três.

Ele passara sua primeira temporada cortejando Maureen, é claro. Para um homem orgulhoso, a rejeição deve ter cortado profundamente. Então vieram à tona as revelações sobre a mãe dele. Pouco admirou-se de ele evitar Londres naquela época. Mesmo seis anos depois, as brasas daquele escândalo em particular ardiam em toda alta sociedade. Na verdade, Genie apostava que a mãe maluca de Holstoke em parte explicava porque ele ainda não encontrara uma esposa. Lady Holstoke podia estar morta, mas ela foi uma assassina em grande escala.

Dificilmente esse era um argumento para perpetuar a linhagem.

— Minha família ajudará. — Ela lhe garantiu. — Mamãe se deliciará com o desafio. Ela sempre gostou de você.

— Desnecessário. — Ele respondeu, sua testa retornando a se aprofundar ainda mais do que antes. — Sou perfeitamente capaz ...

— Obviamente é. — Ela tocou seu cotovelo novamente, sorrindo. — Mas você não é uma mãe que lançou com sucesso quatro filhas.

Ele abaixou a cabeça até ela sentir seu hálito sobre seu nariz. Ele cheirava a menta e limões. Aqueles olhos pálidos brilhavam dourados como o sol no fim do dia.

— Cinco.

Subitamente ela sentiu o que os outros sempre reclamavam. Arrepios. Falta de ar. Ela engoliu em seco e umedeceu os lábios.

— Eu fui um escândalo. Não posso ser incluída.

— Acho que pode.

Sua resposta foi interrompida por uma voz ameaçadora e excessivamente agradável.

— Srta. Huxley, você deve retornar ao seu trabalho. Agora.

O coração de Genie trovejou. Seu estômago se apertou. Seus olhos se fecharam por um longo momento.

Droga. Droga, droga, droga. Ela estava certa de que a Sra. Pritchard já tinha saído.

— C-Claro, Sra. Pritchard. — Recuando um passo, ela dirigiu a Holstoke um sorriso hesitante e arrependido antes de encarar a sua patroa. — Imediatamente.

A Sra. Pritchard estava ficando azeda novamente. Seus lábios franzidos e narinas apertadas pareciam uma caricatura com aquele penteado apertado.

— Eu espero que o pedido da Sra. Herbert esteja completo até o período da manhã. — A chapeleira alfinetou. — Está claro? — As palavras foram baixas, faladas enquanto Genie recolhia a seda dourada e se encaminhava para a porta da sala de trabalho.

Ela assentiu, não desejando antagonizar ainda mais com a mulher.

— Fale, Srta. Huxley, assim eu posso saber se entendeu.

Genie estacou, suas saias roçando a cortina, os dedos agarrando-se a seda.

Lá estava. A cobra sob uma fachada agradável. Aquela que os outros não imaginavam existir.

Até que fossem mordidos.

Genie sempre soube. Uma mulher como a Sra. Pritchard possuía competência o bastante, apenas para conduzir uma iniciativa débil, e inteligência o suficiente para se ressentir com aqueles que possuíam mais. Muito lentamente, a chapeleira estava falhando, o fluxo de clientes reduzidos a um pingo, sua loja era sustentada pelo marido. Pouco antes da chegada de Genie, uma série de assistentes, ou tinham ido embora ou foram demitidas. Ao ver o trabalho de Fancy Nancy, Genie entendeu o motivo.

A Sra. Pritchard gostava das coisas simples e agradáveis. Não gostava que lhe mostrassem que estava errada.

Inversamente, Genie preferia o progresso às amenidades. Suas criações atraíram dúzias de novas clientes. Outra chapeleira a teria visto como uma benção.

Ao invés disso, a Sra. Pritchard havia destinado a Genie mais ordens como os cinco turbantes da Sra. Herbert e sugerido que damas de mentes elegantes seriam melhores servidas na Bond Street.

Bond Street. A ideia de rejeitar novas clientes de imediato despertou a indignação de Genie, e ela redobrou os esforços, usando o amor a coisas agradáveis da Sra. Pritchard, contra ela. As rosas de seda vermelhas haviam sido a última delas.

Genie sentira a corda da demissão mais de uma vez, mas nunca como neste momento. Ela se endireitou e olhou no rosto da outra mulher. A Sra. Pritchard não encontrou os seus olhos, meio virada e totalmente contraída.

— Eu entendi. — Genie respondeu. — A Sra. Herbert terá seus turbantes exatamente como ela os solicitou até o período da manhã.

Um aceno agudo sinalizou o fim da conversa. A Sra. Pritchard colou um falso sorriso no rosto e se aproximou de Holstoke, que fez uma careta na direção de Genie.

Ele estava prestes a protestar. Talvez até mesmo informar à Sra. Pritchard da posição de Genie. Ela sentiu isso como uma tempestade no horizonte. Ela encontrou os olhos dele por cima do ombro da mulher e balançou a cabeça, implorando que ele ficasse em silêncio. Após um longo momento, as narinas dele se dilataram e ele flexionou os ombros como se a raiva estivesse se movendo contra a sua força de vontade. Então, ele lhe assentiu levemente.

Ela sorriu e murmurou um ‘obrigada’, antes de se apressar para atravessar a cortina. Desviando do olhar arregalado do Sr. Moody, ela voltou ao seu local de trabalho.

Afundando-se na cadeira, fechou os olhos e sentiu a seda entre seus dedos, a corda ao redor de seu pescoço. Droga, droga, droga. Ela deveria ter ignorado Holstoke, reprimido sua eterna curiosidade e se apressado para terminar a coleção de turbantes tediosos da Sra. Herbert.

Mas então ela não o teria visto novamente e nem descoberto sua luta no mercado casamenteiro e redescoberto a estranha afinidade que sempre sentiu com a presença dele.

De alguma forma, ela o recompensaria, decidiu. Espalhando a seda sobre a mesa e puxando uma pluma branca de sua cesta aos seus pés. Isso pelo menos ela poderia fazer. Ele manteria seu segredo, afinal. Isso ela sabia sem duvidar.

Pois, mesmo quando ele não falava nada, o Conde de Holstoke podia ser invocado para manter sua palavra.


CAPÍTULO 2

“Felizmente a riqueza importa mais do que a beleza. Ou do que o encanto. Ou do que um olhar que faz uma dama congelar no lugar. Não se desespere, meu rapaz. Com conselho inteligente, poderá clamar vitória, apesar das muitas deficiências.”

A Marquesa Viúva de Wallingham para o Conde de Holstoke em uma carta expressando otimismo sobre a perspectiva matrimonial dele.

Phineas Brand leu triunfo nas delicadas expressões de sua irmã, um mero segundo antes de ela capturar seu bispo com seu peão. Por um momento ele considerou deixá-la ganhar, mas da última vez que ele fizera isso, Hannah explicara com um cuidado devastador que, tratá-la como uma criança não era bondoso, mas condescendente.

— Na minha vida, já suportei muito mais do que a perda de um jogo, Phineas. — Ela dissera suavemente. — Reze, permita-me a dignidade de uma briga justa. — Seus olhos haviam estado frágeis como folhas congeladas.

Na realidade, ela suportara muito mais. Indescritivelmente mais.

Ele não a deixara vencer desde então. Ele não pretendia agora.

— Você tem certeza...

— Eu capturei o seu bispo. — Ela se vangloriou, uma mecha preta roçou em seu queixo branco, quando ela inclinou-se para frente de sua cadeira. Prepare-se para a derrota.

Ele suspirou. Puxou o relógio do bolso do colete.

— Eu deveria ter saído.

— Não. Eu terei minha vitória finalmente.

A filha de seu pai era uma beleza: feições suaves e marcantes com cabelos pretos como o céu noturno e olhos iguais aos dele. Se ela não fosse uma bastarda, pretendentes com títulos, sem dúvida, estariam inundando Holstoke House neste exato momento, implorando a sua permissão para casar-se com ela. Ela devia estar casada. Ela devia estar jogando xadrez com um marido e não perdendo tempo com o seu irmão todas as noites.

— Não me olhe desse jeito. — Ela falou, com sua natural dignidade esvaindo, quando começou a suspeitar que sua esperada vitória não estivesse de fato em mãos. — Phineas. Eu venci. — Ela examinou o tabuleiro, suas sobrancelhas finas e pretas se unindo em perplexidade. — Eu venci.

Gentilmente ele deslizou a sua torre para uma posição.

— Cheque.

— Mas...

Ele levantou-se, alongando o pescoço de ambos os lados. Noites como aquela tendiam em terminar com uma dor de cabeça.

— A festa de Lady Randall começou meia hora atrás. Se eu esperar mais para chegar, ela pensará que eu sou imperdoavelmente rude.

— Por que você deveria se preocupar com o que Lady Randall pensa sobre você? Os cachorros dela comeram seu chapéu.

De fato, o mais gordo dos setes pugs de Lady Randall atacara sem hesitação. Phineas estava parado do lado de fora do boticário na Oxford Street, discutindo sobre a aplicação apropriada de enxertos com Lorde Gilforth, que havia recusado a sua entrada na Sociedade de Horticultura de Londres. A matilha fugitiva de pugs de Lady Randall passou trotando, imediatamente entrelaçando suas coleiras longas e soltas ao redor dos tornozelos dele e de Gilforth. Enquanto os gritos de Lady Randall ecoavam ao longo da rua, Gilforth caiu e Phineas girou para evitar ser puxado para ele e seu melhor chapéu rolou uns três centímetros pelo paralelepípedo. A pequena besta estrábica agarrou o chapéu ‘elegante de castor’ entre seus dentes, balançou-o furiosamente, babou, roeu, rosnou, grunhiu e então saiu correndo e arrastando o topo do chapéu ao longo do pavimento. Felizmente, a circunferência do cão o fazia se arrastar de maneira semelhante, reduzindo o seu ritmo consideravelmente. Phineas recuperou o seu chapéu com alguns passos, mas não antes de ser causado muitos danos.

Lady Randall primeiro havia ficado mortificada com o mau comportamento de seu cachorro, depois ficou horrorizada quando percebeu de quem era o chapéu que seu ‘amado Dicky’ havia roubado. Ao reconhecer Phineas, suas desculpas cessaram, sua boca parecia a de um peixe. O rosto ficou sem cor. Finalmente, ela fez um convite relutante para a festa desta noite.

Ele presumiu que a oferta havia sido uma compensação por seu inconveniente. Ela provavelmente esperava que ele recusasse. Ele provavelmente deveria. Mas ofertas como a dela eram raras, pelo menos para ele.

Os poucos convites que Phineas havia recebido no começo da temporada eram, a maioria, por curiosidade. Com o tempo, até eles evaporaram. Poucas anfitriãs desejavam o filho da Envenenadora de Primvale em suas mesas. Compreensível. Entre as vítimas de sua mãe haviam alguns membros da alta sociedade.

Abaixando o olhar para os olhos de Hannah – ligeiramente inclinados, pálidos e sérios, tão parecidos com o dele e do pai deles – ele desejou pela milésima vez ter sido aquele a remover a sua mãe deste mundo. Mas ele não percebeu a profundidade da maldade de Lady Holstoke até que fosse tarde demais.

Até sua irmã frágil e inocente ter sido atormentada. Caçada. Forçada a se defender sozinha de uma forma que havia acrescentado cicatrizes.

Deus. Ele virou-se e se encaminhou até a porta, uma indesejável maré negra subindo para sufocá-lo.

— Não devo demorar a voltar. — Ele disse, esforçando-se para manter a voz firme.

— Phineas.

Ele abriu a porta, a maçaneta rangendo sob a pressão de seu pulso.

— Não espere por mim.

Ela o seguiu pelo corredor.

— Phineas. — Sua voz gentil era um apelo. Ele diminuiu o passo.

— Por que está se colocando neste absurdo?

Por você, ele pensou. Ele não poderia dizer isso. Ela ficaria magoada. Ela desaprovaria, indicando que ele nunca devia fazer sacrifícios por ela. Mas, na verdade, ele estava ‘participando daquela dança tediosa’ como Lady Eugenia havia colocado, pelo bem de Hannah. Para mostrar-lhe que poderia ser feito.

Dez anos da vida de Hannah haviam sido um horror, presa por um doido chamado Horatio Syder que usara a garota jovem e inocente como uma barganha barata contra a mãe de Phineas. Isto tornara a sua irmã amarga em relação aos homens, receosa em estar sob o controle deles. Ela confiava em Phineas, é claro, mas era pouco. Ele ficara animado com a melhora dela desde que eles descobriram a existência um do outro seis anos atrás. Pesadelos constantes, semanas de silêncio, saltos temerosos diante do menor ruído – tudo diminuíra tanto quanto em severidade quanto em frequência. Apenas na última semana, ao avaliar sua velha bengala, ela ficara sentada em silêncio, calmamente balançando a sua xícara de chá. Um ano atrás ela teria ficado pálida e fugido para o seu quarto.

Hannah estava se curando. Ainda assim, apesar de seus vinte e dois anos, ela se recusava a considerar o casamento. Como seu irmão, ele devia vê-la feliz. Ela merecia saber o significado de ter uma família. Merecia saber que o casamento não era uma armadilha, esperando para agarrar sua carne. Não importa o quanto ele tenha tentado, fora incapaz de explicar que essas coisas a satisfariam.

Não, ele precisava de uma esposa – uma mulher apropriada e respeitável para formar uma família apropriada e respeitável. A razão pela qual ele continuava insistindo no mercado casamenteiro, apesar da ampla evidência de não ser bem-vindo.

Ele suavizou a voz.

— Chegou a hora de me casar, pequena. Você sabe disso.

Seu nariz inflou de irritação.

— Eles são cruéis com você. Você. Após tudo o que fez para acertar as coisas.

— Eles me temem. — Ele suspirou, esfregando a dor embaixo de sua têmpora direita. — Reações razoáveis dado...

— Fique. Vamos terminar a nossa partida.

Ele olhou para o tabuleiro e ergueu uma sobrancelha ironicamente.

— Nossa partida está acabada.

Ela franziu o cenho.

— Eu ainda posso vencer.

— Apenas se eu sofrer uma apoplexia e perder meus sentidos.

— Sou uma excelente jogadora, você sabe.

— Ou as regras foram alteradas para que o roque seja permitido quando seu rei esteja em xeque. De fato, alguém ainda deve assumir a apoplexia.

— Nem mesmo fale coisas deste tipo.

— Infelizmente, não é provável que os cenários já mencionados ocorram. Portanto, nossa partida está concluída. Estude o tabuleiro. Você verá.

— Fique.

Ele se abaixou para beijar sua bochecha, tomando cuidado para mover-se lentamente e manter o contato breve. Hannah ainda se retraia ao ser tocada.

— Devo retornar em algumas horas.

Gentilmente ele se afastou, percorrendo toda a extensão do corredor até a escada principal.

— Eu sou uma excelente jogadora, Phineas. — Ela gritou às suas costas. — Um dia eu serei até melhor do que você.

Meia hora depois ele entrava na sala de Lady Randall com uma cabeça latejando e uma forte sensação de desgraça. A sala fervilhava com sedas brilhantes e sobretudos escuros. Senhoritas ricas com pele como leite murmuravam em tons baixos, lançando olhares temerosos por trás de seus leques. Como um cardume, mães e acompanhantes agarravam suas protegidas e as guiava para longe de onde ele estava, perto do arco da sala de música. Atrás dele, duas damas performavam um dueto no piano forte e harpa. Cada nota lançava adagas através de sua têmpora direita.

Esta noite seria abominável.

Ainda assim, não era o pior que ele já suportara.

— Espera-se que tenha um plano melhor do que congelar a todos eles com seu olhar de gelo. — A sonora voz feminina, rouca por causa da idade, aproximou-se vinda da sala de música. A pequena dona de cabelos brancos parou a seu lado esquerdo.

Ele olhou para baixo. Muitos a chamavam de dragão. Para ele, ela sempre parecera um pássaro. Não delicados pintassilgos ou carriças, apesar do tamanho. Não, ela era um falcão. Ave de rapina. Uma espécie conhecida por suas fêmeas ousadas.

— Lady Wallingham.

— Lorde Holstoke. — Ela ergueu seu monóculo em direção a um olho esmeralda afiado. — Você não respondeu as minhas cartas.

Voltando o rosto para as pessoas, ele percebeu Lady Randall tranquilizando uma de suas convidadas, enquanto a mulher lhe lançava olhares furtivos.

— Não.

Uma fungada a seu lado.

— Nunca o considerei por um tipo idiota. Louco, talvez. Peculiar, com certeza.

Ele optou pelo silêncio. Não ajudou.

— O que mais alguém pode concluir? — Sua voz era como um alfinete. — Você recusa a minha ajuda quando ela é mais do desesperadamente necessária. A idiotice é hereditária, sabia?

— Meu pai não era um idiota. Ele foi envenenado.

— Sim. Por sua mãe. — A viúva mudou de posição, erguendo seu monóculo novamente para observar a aglomeração. Um círculo vazio os envolvia como se ele fosse uma erva daninha conhecido por causar brotoejas nas jovens damas. — Você considerou sua caça a esposa na Escócia? Talvez as notícias sobre a sua ascendência desafortunada tenha parado na Muralha Romana.

O latejar em sua têmpora aumentou.

— Estive em Edimburgo no começo deste ano.

— Ah. As muralhas não são o que costumavam ser a Irlanda? Nada além de ovelhas e chuva, mas alguém será obrigado a encontrar um estoque de esposas mais dóceis que na Escócia.

Ele esfregou a dor amarga de seu olho direito.

— Lady Wallingham, seu conselho é... — Ele queria continuar. Pretendia fazê-lo.

Mas não foi capaz. Pois, naquele momento, uma risada que ele não escutava em seis anos alcançou os seus ouvidos. Alegre e poderosa, abrangia toda o salão cheio de foliões e cacofonia musical. Era uma ponte de seis anos e uma vida inteira de distância.

Maureen. Imediatamente ele reconheceu.

Ele a encontrou parada perto das cortinas azuis de uma janela distante. Cabelos castanhos dourados caíam em cachos de curvas perfeitas ao redor de seu doce rosto. Estava mais velha, lógico, suas bochechas um pouco mais cheias, mas tão adorável quanto ele lembrava. Radiante e corada, ela acariciava levemente o braço de seu esguio acompanhante.

O homem vestia um casaco preto, colete escarlate e uma expressão extasiada.

Phineas o observou acariciar as costas de Maureen e sorrir para ela com desejo e posse.

— Dunston se recusa a abandonar sua inclinação por coletes ridículos. Eu lhe disse que um pai de cinco filhos deveria ter mais dignidade.

Ele franziu a testa.

— Cinco? — Eram quatro. Maureen tinha quatro filhos.

— Talvez devesse ter lido as minhas cartas.

O olhar de Phineas voou para onde uma seda em tons de sol fluía sobre o ventre de Maureen. Estava mais arredondado ali? Ele olhou para o rosto. Brilhava. Iluminado pelo homem com quem se casara.

Após recusar casar-se com Phineas.

— Aposto que uns três meses. — A idosa ao seu lado vasculhou o salão com seu monóculo. — É claro, você saberia disso se não estivesse sofrendo de excesso de tolice.

A enorme pluma posicionada no topo do turbante da velha senhora roçou seu queixo. Ele a afastou e pigarreou.

— Eu li as suas cartas. — Ele falou. Ele lera. Todas as dezessete. Ela não fizera menção a Maureen esperar outra criança. Ele teria recordado.

— E ainda assim não me respondeu. Como nós vamos solucionar seu problema fora de controle se não se engajar, querido rapaz?

Ele não tinha resposta, pois ele não entendia o interesse dela. Lady Wallingham era uma pessoa intrometida, verdade. Mas não tinha nenhuma conexão particular com ele. Acontecia que era amiga íntima da mãe de Maureen, Lady Berne, então, talvez, isso explicasse seu foco implacável sobre as perspectivas matrimoniais de Phineas. De qualquer forma, era uma razão confusa.

Lembrando-se das outras mulheres que recentemente lhe ofereceram conselhos não solicitados, ele quase estremeceu. Ele era tópico de discussão na mesa de jantar dos Huxleys? Eles se divertiam ao debater suas perspectivas e lamentando suas falhas?

Bom Deus, que pesadelo. O pensamento de Lady Berne, Lady Wallingham e Lady Eugenia com pena dele entre cordeiro e mandioquinha, era o bastante para deixar seu sangue gelado. Imaginar Maureen participar da conversa fez sua cabeça latejar com fervor renovado.

Para ser justo, Lady Eugenia foi diferente. Ele estava condenado se conseguisse entender isso. A presunção da mulher era quase igual à de Lady Wallingham, porém a viúva o irritava mais.

Eugenia Huxley há muito o tratava com um desconcertante grau de familiaridade, como se eles se conhecessem desde o berço. Não era o caso. Ela tinha dezesseis anos e ele vinte e sete quando começou a cortejar a Maureen. Enquanto Maureen havia afetuosamente a chamado de “pirralha” ele não achara a sua natureza ousada e direta tão exasperante quanto a curiosidade. Ele nunca conheceu outra mulher como ela.

O franzido em sua testa se aprofundou ao recordar o encontro deles na loja de chapéu. O escândalo havia cobrado o seu preço. As bochechas dela estavam mais magras, sua mandíbula ganhou uma definição delicada. Os olhos adquiriram novas sombras. Por um momento ele não a reconheceu. Talvez tenha sido o contexto. Ela estava trabalhando. Em uma loja de chapéus. No fim da Oxford Street, local que a maioria das damas com posição evitavam. Além do mais, ela trabalhava para uma harpia que mal podia pesquisar por causa da rigidez do cabelo e, ao contrário da Eugenia que ele lembrava, ela silenciosamente o implorou para deixar que a harpia a tratasse como uma criada.

Maldito ultraje.

Claro, nem todas as mudanças que ele observara foram para pior. Os olhos de Eugenia brilhavam com o mesmo humor desafiante, embora no fundo deles, estavam mais seguros do que ele teria previsto. Sua inteligência estava mais afiada, irônica e sem remorsos. Suas mãos estavam mais elegantes. Mais...femininas.

Seus seios estavam mais cheios, também. Redondos. Um contraponto atraente aos seus quadris. Ele não deveria ter notado, mas era homem e não era cego.

Ainda assim, suas circunstâncias haviam deteriorado abominavelmente e isso o irritava como um espinho dentro da bota. Exatamente porquê, ele não sabia. Talvez ele devesse falar com Lady Berne. Alguma coisa deveria ser feita. A filha de um conde não deveria ser tratada com tanta condescendência.

— E sobre a Srta. Froom? — A voz estalada de Lady Wallingham penetrou em seus pensamentos, aumentando sua dor de cabeça.

— Quem?

A pluma dela balançou em direção à tigela de ponche.

— A roliça, ali. Parece um canário.

Ele piscou. Olhou. A Srta. Froom realmente parecia um canário. Vestido amarelo. Nariz curto e pontudo. Olhos pequenos e escuros.

— O que tem ela?

Um estalar de língua de impaciência.

— Você já se incomodou em aproximar-se...

— Sim.

— E?

Ele olhou para baixo, em direção a diminuta viúva.

— Ela desmaiou quando eu lhe disse “boa noite”.

— Bah! Você se entrega muito fácil.

— Então gritou por sua mãe ao despertar.

Uma fungada.

— A jovem é propensa a dramas.

— A mãe dela, do mesmo modo, gritou e desmaiou em seguida. Acredito que o padrão teria continuado se eu tivesse insistido com as saudações.

Um olhar esmeralda estreitou-se sobre ele.

— Humph. — Voltando a escrutinar a multidão, Lady Wallingham e seu monóculo avistaram outra candidata.

— Ah, sim. Lady Theodosia. — Ela acenou em direção a uma mulher magra cujos cotovelos poderiam afiar facas. De fato, o seu queixo poderia fazer o mesmo. — Vinte e oito anos. Para ficar na prateleira ela antes teria que ser removida do sótão. Realmente uma desesperada...

Ele suspirou.

— Por insistência do pai dela, nós demos uma volta no parque.

— Promissor. Continue.

— Ela passou todo o interlúdio em silêncio.

— Alguns homens aprecia uma mulher quieta.

— Sim.

— Você a convidou para dançar?

— Não.

— Por que não?

— O mordomo dela transmitiu seu pedido de que eu não fizesse mais propostas. Aparentemente, Lady Theodosia está apaixonada por Lorde Muggeridge.

Sobrancelhas brancas caíram sobre o verde intenso.

— Muggeridge? Ele está crivado pela gota e se afundando em dívidas. Bons céus, ela enlouqueceu?

— Não. — Ele respondeu distraidamente. — Temerosa.

Deixando sua atenção vagar através do salão até a mulher com quem uma vez pensou em se casar, ele parou. Por que ele nunca percebeu a falta de semelhanças entre ela e Lady Eugenia? Elas era Huxleys, então naturalmente, eram curvilíneas e pequenas com cabelos e olhos em tons de castanho. Mas as duas irmãs deviam vir de ramos de lados opostos da mesma árvore. O nariz de Maureen era mais curto e arredondado como o de Lady Berne. O de Eugenia era fino e reto como o do pai. Os olhos de Maureen eram redondos também. Os de Eugenia eram parecidos com o de um gato – travesso e rico. E enquanto os cabelos de Maureen era, castanhos claros, os de Eugenia eram da cor de mogno polido. Um tom incomum. Escuro e profundo. Lustroso e sedoso.

— Moças covardes. — Lady Wallingham escarneceu. — Dada a histeria delas diante de alguns assassinatos, alguém poderia supor que condes de bolsos cheios são tão numerosos quanto os pelos das orelhas de Lorde Muggeridge.

Como ele desprezava o mercado de casamentos. Cada pedaço calculado. Mesmo se as matronas e suas pupilas tivessem clamado sua atenção em vez de fugir dele, ainda assim ele teria uma maldita dor de cabeça. Apenas uma pessoa parecia ter entendido a sua posição e ela foi enviada para trabalhar em uma loja de chapéus onde era tratada pior do que uma copeira.

Ele olhou para a marquesa viúva de Wallingham.

— Se está tão ansiosa para exercer sua influência em favor de alguém, talvez pudesse começar com Eugenia Huxley.

O monóculo lentamente abaixou-se. Uma sobrancelha branca se levantou.

— Lady Eugenia fez sua cama. Ao lado de um lacaio, não menos.

— Ela é uma criada.

— Sim. Para desespero da mãe dela, asseguro-lhe.

— Você é uma das mais influentes...

— Sou a maior influência, Lorde Holstoke. Não se engane com isso.

Verdade. Lady Wallingham exercia um poder surpreendente na alta sociedade. O bastante para afastar opiniões da ponta de um pêndulo para outro. O bastante para diminuir um escândalo envolvendo a filha de um conde e um lacaio, se ela escolhesse fazê-lo.

— Você deveria ajudá-la.

Um olhar avaliador se aguçou. Brilhou.

— Eu fiz. Eu lhe dei uma referência, não dei?

Ele esperou.

— A garota foi pega com um lacaio no lugar de suas saias. — Ela alfinetou.

O estômago dele se apertou. Ele não havia imaginado Eugenia dessa forma. Talvez porque ela era a irmã de Maureen. Talvez porque ele a conheceu desde que ela era uma garota de dezesseis anos. Talvez porque ele admirava a sua família – o bastante para querer algo similar para si mesmo. Independentemente disso. Ele agora tinha uma dor no estômago para rivalizar com a dor de cabeça.

— O incidente foi testemunhado por duas patrocinadoras do Almack’s, dois lordes fofoqueiros e Lady Gattingford para terminar. — A viúva prosseguiu. — Garota tola. Ela nem mesmo teve a decência de divertir-se com o próprio lacaio, em vez disso, escolheu um dos de Lorde Reedham. O próprio Deus não poderia tê-la poupado, meu querido rapaz. Eu fiz o que pude.

— Não o suficiente. — Suas palavras eram baixas e frias.

O olhar de Lady Wallingham ficou mais calculador.

— Nós estamos discutindo suas perspectivas, não as dela. E enquanto as suas são escassas, as dela são inexistentes. — O monóculo voltou a sua função. — Agora, então. Certamente as águas em que lançou seu anzol é esparsa, Holstoke. Jogue sua isca com algo mais desejável do que chouriço estragado ou mova-se em direção a peixes mais lentos.

Ele vasculhou as pessoas. Poderia alegar sede, supôs. Escapar até a bacia de ponche. Cumprimentar a Srta. Froom novamente e assisti-la desmaiar como um canário abatido.

— Deveria ir embora. — Ele murmurou a si mesmo, seus dedos esfregaram suas têmporas.

— Viúva.

— O que?

— Um suprimento de candidatas mais maduras provará ser menos arisca, ouso dizer.

Hannah estava certa. Ele poderia ter ficado jogando a partida de xadrez. Ido à cama. Acordar cedo para cavalgar. Comprar um novo chapéu.

Ele poderia ter evitado cada palavra daquela conversa.

— Você sabe, meu filho casou-se com uma viúva. Disseram que ela era estéril, mas Charles se parece com o pai em muitos aspectos. — A idosa deu uma risadinha. — Já mencionei que tenho três netos? Três, Holstoke. — A pluma dela roçou seu queixo enquanto ela virava seu monóculo para o canto mais distante do salão, onde uma mulher robusta, vestido preto e ruiva com mãos massivas, estava conversando com a sobrinha de Lorde Randall. — Ah, sim. A Sra. Steventon. Dentuça, talvez.

Ele esfregou os olhos com seu polegar e indicador.

— Ela recentemente enterrou o sexto marido.

— Precisamente. Uma história de mortes inesperadas não a fará correr atrás dos sais aromáticos, não é?

— Ela está de luto.

— Tecnicamente. Onde outros homens hesitam, um inteligente encontra a sua vantagem.

Sim, ir embora era a melhor ideia que ele teve o dia todo. Ele girou em direção à sala de música, inclinando a cabeça em direção à sua companhia não desejada. — Temo que devo desejar-lhe uma boa noite, Lady Wallingham.

Dez passos depois, o ‘humph’ da viúva o seguia enquanto ele atravessa o arco e ouve uma voz doce, que uma vez imaginou que o acordaria todas as manhãs. Isso o deteve como cordas o faria.

— Holstoke? É você?

A fragrância dela estava diferente, embora ainda misturada com baunilha.

— Lady Dunston. — Ele falou escolhendo olhar brevemente antes de dar meia volta.

Ela o olhou com um sorriso crescente, caloroso e afetuoso, suas covinhas totalmente à mostra.

— É você. Oh, que esplêndido. Hannah me visitou várias vezes, mas estava começando a ficar desesperada para vê-lo antes que Henry e eu voltássemos a Fairdield. — Ela inclinou a cabeça. — Como tem estado?

Além de ser a mais bonita das irmãs Huxley, Maureen também era a mais bondosa. Ela há muito o lembrava os narcisos alegres, domesticados e doces. Uma resposta bem-vinda a desolação invernal.

— Estou bem, Lady Dunston. — Ele mentiu, inclinando a sua cabeça. — E você?

Apesar dos esforços para ignorar o homem ao lado dela, Dunston se aproximou com um braço em sua cintura e exclamou:

— Ocupada. Crianças ocupam uma boa parte do tempo, velho camarada. — Os olhos do homem lançavam raios duros como aço. — Ao mesmo tempo em que mantém o marido totalmente satisfeito.

— Henry!

Apesar da reprimenda de Maureen, Dunston não recuou.

Ela balançou a cabeça exasperada.

— Ignore-o, Holstoke. Ele esqueceu as maneiras.

— Ao contrário, querida. — Dunston disse suavemente. — Não esqueci nada. E nem ele, aposto.

A flecha voou certeira. Sim. Phineas recordava tudo. O cheiro do cabelo dela. O toque da mão sobre seu braço. A suave curva dos lábios. O desespero ao descobrir algo perfeito – alguma coisa que ele nunca soube da existência - apenas para perder em uma única conversa no Hyde Park.

Ele se lembrava bem. Mas não apreciava essa lembrança.

Maureen estalou a língua e gesticulou como um inseto irritante para ignorar o seu marido possessivo.

— Minha mãe e meu pai oferecerão um jantar amanhã. Você deve ir. — Ela implorou. — Mamãe e papai sempre gostaram de você.

Eugenia havia dito algo parecido. Por que a família Huxley tinta tanto interesse nele afinal, sentindo-se sempre ‘tão afeiçoada’?

— Tenho certeza de que Holstoke não tem tempo. — Disse Dunston, casualmente examinando seu próprio colete antes de dar a Phineas um sorriso zombeteiro. — Jardins para cuidar, você sabe. Estruturas para construir. Uma noiva para adquirir.

Phineas não ficou zangado – certamente não. Seu estômago poderia ter se retorcido em cordas espinhosas e seu pescoço podia estar duro o bastante para quebrar nozes, mas ele não estava zangado. Phineas não permitiria que a raiva controlasse as suas ações. Era improdutivo.

A fisionomia de Maureen derreteu-se como uma sopa de simpatia maternal.

— Claro, que insensível de minha parte. A temporada às vezes pode ser ... tão curta.

Pena. Era pena no rosto dela. Pena por ele e por sua busca condenada para encontrar uma esposa que não fugisse dele aterrorizada e nem o fizesse contemplar o celibato.

Maldito inferno, isso era irritante. A pena dela. A presunção de Dunston.

Ele endireitou-se. Ergueu uma sobrancelha e seu queixo.

— Que horas devo chegar, Lady Dunston?

Minutos depois, enquanto saída da casa de Lady Randall e colocava seu segundo melhor chapéu, ele respirou profundamente o ar fresco da primavera. Sua cabeça ainda latejava. Seu estômago ainda queimava. Nada de bom surgira naquela noite torturante.

Mas ele não permitiria que isso o afetasse. Uma pequena vitória, talvez. Ultimamente, pequeno parecia ser o único tamanho que lhe era permitido.

Ele soprou outra respiração e começou descer a rua, passando por um par de jovens cavalheiros conversando enquanto esperavam a carruagem. Nenhum deles lhe prestou atenção.

— ... cinco filhas afinal.

— A mais jovem é bonita, eu acho.

O primeiro homem riu e empurrou o ombro do segundo.

— Rosto bonito ou seios bonitos?

— Por que não ambos?

Os dois homens gargalharam.

Phineas soltou outra respiração e seguiu seu caminho.

— Eu não sei. Se ela for como a irmã...bem, eu ficaria relutante em me casar com uma garota que pode ser outra Rameira Huxley.

Ele parou. Cada músculo endurecido. Fechou os olhos. Buscou por racionalidade. Se dois cretinos vulgares desejavam insultar uma das irmãs Huxleys, não era de sua conta.

— Não me importaria levantar as anáguas da irmã uma vez ou outra, ouso dizer.

— Um pouco de prática antes do pedido por Lady Katherine, hein?

Uma risada aguda. Um deles se inclinou em direção ao outro.

— A Rameira prefere os lacaios. Provavelmente ela ficaria grata por uma mudança de montaria. Acredita que as irmãs são iguais entre suas...

— Cavalheiros. — Embora a voz de Phineas fosse baixa, a palavra alcançou os dois cretinos como um tiro. Ambos eram jovens – meninos, na verdade.

Ele não deveria fazer isso.

Era estupidez.

Imprudente.

— Eu mal pude evitar ouvir a conversa de vocês. — Sua raiva falou suavemente.

O mais alto, que parecia ter bebido muito do porto de lorde Randall, tropeçou na roda da carruagem.

O mais baixo – Phineas o reconheceu como o sobrinho de Randall – engolia convulsivamente.

— L-Lorde Holstoke.

Educadamente ele tocou na aba de seu chapéu, mantendo seus movimentos suaves e sua expressão dura. — Eu o vi no Reaver’s, acredito. — Ele olhou para o mais alto. — Os dois.

— S-sim, meu lorde. Nós fomos convidados por meu tio. Lorde Randall.

— O Reaver's serve excelente café. — Phineas disse casualmente. — E Lorde Randall serve um porto superior.

A mão do mais alto começou a tremer visivelmente.

— Fato curioso: tanto o café quanto o porto, qualquer líquido com sabor forte, na verdade, torna-se excelente veículo para, vamos dizer, misturar componentes medicinais.

O menor semicerrou um pouco os olhos. Depois ele encarou.

— V-veneno?

Phineas piscou lentamente. Apenas uma vez. Depois encarou.

— Se preferir.

— N-nunca gostei de café. Ou porto.

— Há outras opções. — Phineas moveu seu olhar calmamente entre os dois homens. — Deve-se ser inteligente ao administrar medicações. — Ele deu um único passo à frente e o rapaz menor recuou três. O mais alto parecia estar com mais problemas do que o seu companheiro. Cada respiração emergia com uma ponta de gemido anexado a ela.

Phineas parou. Cruzou as mãos nas costas.

— É uma pena não existir cura para a estupidez da juventude. Infelizmente, todos nós somos punidos.

O choramingo ficou mais alto.

— Bem, então. Devo seguir o meu caminho. Amanhã eu jantarei com Lorde e Lady Berne e suas adoráveis filhas. Boa noite. Cavalheiros.

Provavelmente ele prejudicara a sua própria causa, pensou enquanto caminhava para a profundeza da noite. Confirmar as piores suspeitas de todos sobre ele estava longe de ser útil. Estimava que ele piorasse suas chances em conseguir uma esposa adequada para quinze por cento. Talvez vinte.

Mas ele sorria enquanto virava a esquina em direção a Holstoke House. Apesar de sua dor de cabeça. Apesar de rever Maureen. Apesar de tudo, ele estava sorrindo.

Ele apreciara a palidez daqueles homens, o medo palpável. Foi gratificante. Quase tão satisfatório quanto imaginar a reação dela. Ela poderia rir, ele suspeitava. Olhos de gato cuspiria fogo nos cretinos. Então, ela o parabenizaria por colocar a sua ‘natureza peculiar’ em bom uso.

Seu sorriso aumentou. Ele apenas desejava que ela pudesse ter estado lá para ver isso.

*~*~*

A garota já mostrava sinais de enfraquecimento: branca rodeada por verde. Olhos vítreos disparando ao redor. Respirações convulsivas.

Ela se agarrou a mãe – tão rechonchuda quanto ela – enquanto o par amarelo subia a carruagem.

— Assim que chegarmos em casa, seu pai chamará um médico. — A mãe sussurrou freneticamente. — Deve ser uma simples febre, querida. Um pouco de láudano ajudará. — Ele ouviu os chavões desesperados da mulher continuar, enquanto a carruagem se aproximava.

Ele cobriu um sorriso com sua mão enluvada, encolhendo-se nas sombras da casa de Lorde Randall.

Láudano não ajudaria. O láudano apenas a levaria mais longe no rio da morte.

Ele se curvou e apoiou o ombro nos tijolos da casa, mordendo o punho agora. Seu peito arfava.

A morte dela ara algo divino. Uma coisa ordenada.

E aquilo que fora ordenado, não poderia ser desfeito.


CAPÍTULO 3

"As regras são simples: não me acorde antes do desjejum". Não chamusque os meus cabelos. E não flerte com os lacaios. O segredo para manter a sua posição, minha querida, é evitar violar todos os três em um dia.

A Marquesa Viúva de Wallingham sobre demitir sua mais recente criada pessoal, a oitava em poucos meses.

Debaixo de seus cobertores, o mundo de Genie era simples. Quente. Escuro. Um pouco fechado, mas isso era o esperado. Ela estava enterrada bem firme quando uma batida ecoou.

— Genie! Destranque a porta.

Genie suspirou, aquecendo ainda mais o seu covil. Levantando um canto, ela apertou os olhos diante da rude luz branca da janela e depois olhou para a porta de seu quarto.

— Vá embora, Kate!

Voltou a seu covil. Seguro. Quieto.

Bang, bang, bang.

Talvez não tão quieto.

Ela fechou os olhos puxando o travesseiro para suas orelhas. Ali. Melhor.

— Dane-se. Pelo menos desça para o desjejum. — Veio a voz fraca e abafada de sua irmã mais nova. — O cozinheiro serviu presunto. É o seu favorito.

Novamente, Genie colocou a cabeça no dia assustadoramente brilhante.

— Eu não quero nada. Agora, vá embora!

Ela esperou. Uma respiração. Duas. Silêncio. Abençoado silêncio.

Seus olhos se fecharam novamente. Sua cabeça caiu sobre o travesseiro. Ela não se preocupou em puxar os cobertores de volta ao lugar.

Deus, ela estava cansada. O sono veio em longas visitas ou não vinha. Hoje, ele falhou em chegar.

Falhar. Como ela, acreditava.

A verdade amarga fechou a sua garganta. Ela cerrou os dentes e socou o travesseiro. Caiu pesadamente e enterrou o rosto na coisa suave e emplumada. Gritou até a garganta doer.

Não ajudou. Nada o faria, na verdade. Ela era um fracasso sem futuro. Ela iria pairar nas margens de sua vida antiga como um fantasma. Annabelle, Jane e Maureen teriam mais uma dúzia de filhos. Kate se casaria e aumentaria o número de Huxley. Seu irmão, John, em breve retornaria da Escócia com histórias de loucas aventuras, depois deslumbraria as damas de Londres antes de escolher uma que lhe desse meia dúzia de seus próprios bebês.

E Genie? Ela viveria em Clumberwood Manor. Sozinha. Ela faria chapéus que ninguém compraria. Ela evitaria falar com os vizinhos preocupada com a reputação deles, evitaria parecer amigável com os criados da casa para não reacender velhas fofocas. Ela envelheceria. Excêntrica. Crianças sussurrariam sobre ela em tons assustadores, um ou outro ousaria se aproximar enquanto ela assombraria as lojas da vila.

O fantasma Eugenia Huxley, sempre em busca da fita vermelha perfeita.

Seu peito doeu. Ela olhou para a janela.

Ela deveria ter tido mais juízo. Eugenia Huxley uma empregada? Prepotente. Ela mal podia obedecer a seu pai amoroso. Quando era uma criança, papai costumava lhe chamar de sua ‘pequena rebelde’. Ele sempre dizia isso com um brilho afetuoso. A maioria dos empregadores não gostava de assistentes rebeldes e a Sra. Pritchard – incompetência à parte – não era exceção.

Obviamente a Sra. Pritchard esperou demiti-la até que tivesse arrancado cada gota de trabalho dos dedos de Genie. Na manhã seguinte após o incidente com Holstoke, a Sra. Pritchard entrou na sala de trabalho com um sorriso radiante para Fancy Nancy. Ela evitou olhar para Genie, simplesmente colocando oito pedidos escritos na pilha de Genie e recolhendo os cinco turbantes dourados da prateleira.

Genie havia terminado os oito pedidos no mesmo tempo que Fancy Nancy levou para terminar o triste chapéu amarelo, do qual todos os vestígios de renda haviam sido removidos. No final da tarde, Genie se perguntava se a Sra. Pritchard havia esquecido seu nome ou talvez Holstoke revelara muito afinal e a chapeleira se debatia em como se dirigir a ela. Um nó gelado se instalara em seu estômago enquanto observava a mulher ficar cada vez mais contrita.

No fim, fora pior do que ela imaginou. A Sra. Pritchard afastou a cortina um pouco antes das seis. Observou Genie amarrar sua última fita. Então, enquanto Fancy Nancy pendurava o seu avental no canto mais distante da sala, a Sra. Pritchard falou.

— Srta. Huxley, pode considerar seu trabalho aqui encerrado.

Genie piscara, um pouco tonta após se curvar sobre a agulha o dia inteiro.

— Sim. Estava prestes a...

— Definitivamente.

O nó frio em sua barriga aumentou. Espalhou-se por seus músculos e pele. Cristalizou e picou.

— Eu...Você...

— A Sra. Knox terminará seus pedidos restantes.

Os olhos de Genie recaíram sobre a copa do chapéu em suas mãos. O feltro de lã e as fitas de cetim se misturavam em um delicado rosa.

— Não tem pedidos restantes. — Ela murmurou, atordoada, apesar dos avisos de que isso aconteceria. — Estão todos terminados.

Na realidade, sua resposta irritou ainda mais a Sra. Pritchard, como se ela quisesse que Genie falhasse.

— Deixe o seu avental. Deixe as ferramentas. Eu não gostaria de descobrir que você me roubou.

Levantando o olhar, Genie lentamente se levantou, observando o rosto da mulher. A Sra. Pritchard recusava-se a encontrar seus olhos. Covarde.

Ela colocou a copa do chapéu na prateleira, rapidamente puxou as tiras de seu avental e o dobrou cuidadosamente antes de colocá-lo sobre a mesa de trabalho.

— Gostaria de me despedir do Sr. Moody.

— Ele foi demitido esta manhã.

Uma onda de náusea a atingiu, fazendo Genie levar as mãos ao ventre.

— Não...Você...Você...

Finalmente a chapeleira olhou para ela. Um triunfo venenoso erguia um dos cantos de seus lábios.

— Ele foi pego lendo novamente. O Sr. Pritchard não aprova a preguiça.

Cada apelido sarcástico que subira pela garganta de Genie ficou preso no lugar. Ela devia ajudar o Sr. Moody. Ele fora demitido por causa dela. Ela não permitiria isso.

Então, ela implorou.

— Por favor. — Ela disse com voz rouca. — Por favor, não o puna. Ele não fez nada de errado. Eu sou a culpada.

Satisfação margeou o sorriso desagradável da Sra. Pritchard.

— Sim. Você é. — Ela gesticulou em direção ao canto distante da sala. — A Srta. Knox e eu ficaremos bem sem você, ouso dizer. E o assistente antigo do Sr. Pritchard já concordou em retomar a sua posição. Nem o Sr. Moody e nem você, Srta. Huxley, terão referências, agora saia da minha loja.

Por dentro, a ira de Genie havia amaldiçoado a Sra. Pritchard com toda a verdade mordaz que ela segurou por quase um ano. A incompetência. A covardia. A simpatia feia e desagradável. As absurdas sessões de chá, risos insípidos e o cabelo absurdamente esticado. Ninguém é enganado, sua pavoa vaidosa e sem talento, ela quis gritar. Sua tolice é tão óbvia quanto as rugas em sua testa! Infelizmente, a Sra. Pritchard havia atravessado a cortina e saído da loja antes que uma simples palavra pudesse escapar pela garganta de Genie.

A indignidade final fora de Fancy Nancy, sorrindo maliciosamente do seu canto.

— Não menos do que merece. Pedaço de vagabunda convencida.

Felizmente, a garganta de Genie estava livre. Enquanto passava pelo limão azedo, ela inclinou-se, enfrentando o fedor.

— Quando a Sra. Pritchard diz que você e ela serão suficientes, a quem você supõe que serão entregues oito vezes mais pedidos do que normalmente faz em um dia? A Sra. Pritchard? Ou a sua assistente restante?

O desanimo que se formou nos olhos turvos e enlameados foi o único consolo de Genie naquele dia. Ela não ficou para falar mais verdades satisfatórias. Em vez disso ela apressara-se a voltar a Berne House e pediu ao seu novo mordomo, Emerson, para localizar o Sr. Moody. Anteriormente, Emerson fora criado de Dunston e, como a maioria dos empregados de Dunston, ele tinha um talento para colher informações. Mas o processo levava tempo. Muito.

Dias depois, a sua culpa a fazia se contorcer. Ela devia encontrar o Sr. Moody. Ela devia lhe dizer que lhe garantiria uma nova posição. Uma posição melhor. Uma que lhe pagasse o bastante para ele poder comprar as suas aventuras medievais em livrarias em vez das bibliotecas circulantes.

Talvez ela tivesse sido a causa de seu infortúnio, mas também poderia ser a solução. Ser a filha de um conde tinha algumas vantagens.

Uma chave sacudiu e clicou. A porta abriu-se com uma lufada de ar. Em seguida, um rosto notavelmente igual ao dela pairou sobre si.

— Pare de chafurdar-se. — O rosto falou. — Venha comer um pouco de presunto.

Genie segurou o rosto da irmã e gentilmente a empurrou.

— Pela última vez, Kate. Vá. Embora. — Ela rolou para o lado.

O rosto de Kate reapareceu, agora pairando sobre a colcha florida. Os olhos brilhavam com determinação e – pior – um desafio aceito.

— Presunto, Genie. Então, você e eu cavalgaremos no parque.

Genie grunhiu e rolou para o lado oposto da cama.

Foi quando a música começou. Melodiosa e grandiosa, a voz de Kate se aproximou de seu ouvido enquanto ela afundava o colchão ao subir na cama.

— Na ladeira da vida, quando me encontrar declinando. — Ela cantou alegremente. — Talvez o meu destino não seja tão desafortunado do que uma cadeira confortável que permita reclinar-se e uma cama com vista para o alto-mar.

Genie cobriu os ouvidos com suas mãos.

Kate agarrou seu pulso e afastou as mãos.

— Com um pônei a passo lento, caminhando sobre o gramado, enquanto eu canto para afastar a tristeza inútil.

— Por amor a tudo o que é mais sagrado, Kate. Eu lhe farei um novo chapéu.

— E alegre como a cotovia que a cada dia canta ao amanhecer.

— Dez. Dez novos chapéus.

— Olhe para frente com esperança pelo amanhã. — Kate respirou para começar um novo verso.

— Muito bem! — Genie sentou-se e jogou os cobertores de lado. — Eu comerei presunto se você parar!

— E caminhar no parque. Passaram-se meses desde a última vez.

Genie abraçou os joelhos e olhou para seus pés descalços.

— Você não deveria ser vista comigo.

— Besteira. Somos irmãs e cavalgaremos juntas. Hoje.

Ela ficou em silêncio por muito tempo.

— Com um alpendre a minha porta, para abrigo e para sombra, enquanto o sol ou a chuva prevalecer. Eu um pequeno pedaço de chão...

— Bons céus. Sim, hoje. Agora, fique quieta.

Os braços de Kate envolveram seus ombros por trás. Uma bochecha suave tocou a sua.

— Não deixe aquela idiota mal penteada derrotá-la. — Ela sussurrou, apertando Genie em um abraço feroz.

— Ela já venceu. — Genie resmungou.

— A aspereza do rosto dela estraga uvas maduras.

— Não é hora para insultos shakespearianos.

— Shakespeare é sempre apropriado. Principalmente seus insultos.

A cabeça de Genie tombou até sua testa tocar os joelhos. Gentilmente ela apertou o braço da irmã e beijou sua mão.

— Deixe me vestir, Kate. Devo descer em um instante.

— Promete?

— Sim.

Apesar da sensação de ter envelhecido oitenta anos em três dias, apesar de não ter dormido e ter menos razão ainda para acordar, ela prendeu o cabelo em um penteado simples, pôs sua roupa de montaria de veludo azul mais elegante e desceu para o desjejum.

O presunto estava salgado. Ela deu duas mordidas. Mas manteve a promessa.

Meia hora mais tarde, enquanto Kate cavalgava ao seu lado recontado a sua “magnífica” performance no pianoforte

Os hipócritas. Tanto a Sra. Riley quanto Lady Baselton tinham casos tórridos com o zelador e o mordomo, respectivamente. Aquelas duas supostas damas lançando calúnias na direção dela era um absurdo total.

Não, a indignação fingida de alguns da beau monde era considerada menor do que mosquitos zumbindo perto de sua orelha direita. Uma mera irritação. Em vez disso, ela ergueu o queixo e apreciou a brisa sobre suas bochechas, a luz do sol infiltrando-se entre as folhas, pássaros cantando alegremente.

— ... a noite mais memorável em minha memória recente. Houve, é claro, a morte da Srta. Froom. Uma das garotas mais tolas dessa temporada, devo dizer. Ainda assim, é uma pena. Aparentemente, ela desmaiou alguns minutos após sair da casa de Lady Randall...

Talvez Kate estivesse certa, Genie pensou enquanto o vento quente soprava sobre ela. Isso era melhor do que o seu covil de cobertores.

— ... disseram que ele simplesmente ficou parado lá, conversando intensamente com Lady Wallingham. Sobre o que, não posso adivinhar...

Agora que ela considerava isso, era precisamente do que ela necessitava: um dia quente, um passeio agradável, o cheiro do verde e os raios de sol.

E, é claro, a chance de mostrar seu mais elegante chapéu de montaria. Ele tinha três penas azuis e um toque com seda branca trançada.

— ... até Maureen convidá-lo para jantar conosco. Céus. Se eu fosse Lorde Holstoke, teria achado tal convite um tanto desconfortável.

Genie piscou. Olhou para o lado, para a sua irmã, que vestia uma elegante roupa de montaria verde e um chapéu com uma simples fita, triste, sem penas.

— Holstoke?

Kate lhe lançou um olhar irritado.

— Você ouviu uma palavra do que eu disse?

— Eu parei de ouvir quando começou a cantar. Qual foi a parte sobre Holstoke?

— Ele se juntará a nós no jantar desta noite.

Genie franziu o cenho.

— Mas Maureen e Dunston estarão lá. Não será terrivelmente...

— Desconfortável. Sim. — Kate soltou um suspiro de longo sofrimento. — Não repetirei toda a nossa conversa porque não se incomodou em prestar atenção.

— Apenas está chateada porque eu insultei o seu canto.

— Todos dizem que eu sou uma adorável soprano.

— Todos estão errados.

Por vários minutos, Kate ficou em silêncio, seus lábios apertados, olhos treinados sobre o caminho.

Droga. O arrependimento comia o estômago de Genie, transformando as duas mordidas de presunto em uma poção cáustica.

Kate se imaginava uma artista com algum talento. Ela era obcecada por música e teatro desde antes de poder andar e, enquanto seu talento fosse medíocre, ela não merecia ser pisoteada porque Genie estava tendo uma semana péssima. O escândalo fizera a vida da irmã difícil o bastante.

— Seria melhor que investisse no contralto. — Genie ofereceu. — Seu tom natural é um pouco mais baixo.

Kate entrecerrou os olhos em sua direção. Após um longo momento, estalou a língua.

— Sabia. Aquele tutor idiota pagou as moedas de papai com conselhos terríveis. Por que não disse antes?

Genie deu de ombros.

— Seu futuro consiste em planejar refeições e gerar um herdeiro para o seu marido, Katie, não performar a ária da Rainha da Noite da Flauta Mágica. Seria de pouco propósito oferecer a minha crítica.

— Mas você está certa, suponho.

— Claro que estou. Agora, conte-me sobre Holstoke.

Enquanto elas saíam do parque, virando para voltar em direção a Grovesnor Street, Kate descobriu o efeito bizarro que Holstoke exercia sobre as jovens damas, transformando-as em tolas assustadas. Então explicou que Maureen tinha – na maneira usual de Maureen – imaginado que ela estava sendo bondosa ao convidar Holstoke para jantar com a família Huxley.

— Humph. — Genie comentou. — Mais provável que ela tenha sentido pena dele. O que é totalmente bobo. Os problemas dele no mercado de casamento são devidos a sua natureza peculiar. Ele poderia, se desejasse, rebaixar-se a fingir normalidade e então resolver o problema. A ton despreza o diferente.

— Bem... — Kate mordeu o lábio enquanto mordia sua língua.

— Bem, o que?

— Há o pequeno problema da mãe dele.

Genie mordeu o lábio, reconsiderando.

— Sim. Há isso.

— E o pai dele.

— Infelizmente.

— E a irmã dele.

Suspirando, Genie franziu para Kate.

— Nada disso é culpa dele.

— Não. Mas você sabe como os fofoqueiros gostam de agitar suas línguas. Todos acham que ele é louco como a mãe. Alguns especulam que ele era o Envenenador de Primvale.

— Que podridão. Holstoke é estranho, não assassino. — Ela olhou para Kate, sua curiosidade atingindo novamente. — Maureen está pensando em você e Holstoke...?

— Meu Deus, espero que não.

Genie olhou ameaçadoramente na direção de sua irmã.

— Provavelmente você não acredita na fofoca.

— Não. Mas também não quero me casar com um homem sem humor.

— Ele não é sem humor. Exatamente.

— Realmente, Genie. Ele age como se rir fosse quebrar os dentes dele.

— Ele ri.

— Eu nunca vi.

— Então não prestou atenção.

Os olhos de Kate se estreitaram novamente.

— Aparentemente você prestou.

Genie teria zombado da implicação, mas elas já haviam chegado ao pequeno estábulo de Berne House. Desmontando com a ajuda de seu grisalho e idoso cavalariço, Genie deu uma palmada no pescoço da égua antes de seguir Kate para dentro da casa.

No corredor de painéis de carvalho que levava à escadaria principal, Emerson apareceu com um recado que iluminou o espírito de Genie.

— Localizei o Sr. Moody, minha dama. Devo enviar um lacaio para entregar uma mensagem? — Ele lhe estendeu um pequeno pedaço de papel dobrado.

— Não. Obrigada, Emerson. Irei e falarei com ele pessoalmente.

O mordomo piscou, os olhos dizendo o que a sua expressão cuidadosa não dizia.

— O endereço é em Cheapside, minha dama.

— Sim, é mesmo. Um coche de aluguel deve ser melhor.

Permanecendo afastada, Kate se voltou para juntar-se a conversa.

— Está louca? Você não pode ir a Cheapside em um coche alugado.

Genie ergueu uma sobrancelha.

— Devo ir em um fáeton?

— Genie! Não seja tão...

— Eu irei. Eu lhe devo muito.

Enquanto Kate reclamava que Genie devia parar de se comportar como se sua reputação não significasse nada, Genie olhou para o endereço e se perguntou se ela deveria colocar um de seus vestidos de trabalho ao ir a Cheapside. Sim. Isso seria melhor. O Sr. Moody poderia ficar intimidado por suas roupas elegantes de montaria. Era esplêndido.

— ...ainda há uma chance que possa se casar um dia, você sabe, deseja jogar essa chance fora, por bem ou por mal?

Genie olhou para a sua irmã, cujas mãos estavam postas indignadamente sobre os quadris. Mesmo se ela quisesse se casar – o que não queria – suas chances haviam evaporado anos atrás. Mas ela não sabia como dizer a Kate tal coisa. Então, em vez disso, ela balançou a cabeça e falou:

— Vamos deixar os contos de fadas para Shakespeare, hein?

A distância ela ouviu Emerson cumprimentar um convidado na porta da frente. Por cima do ombro de Kate, ela espiou uma sombra gigante deslizar pelo piso de mármore do corredor da entrada.

Sua irmã continuava a reclamar, mas não era Kate que atraia a sua atenção. Em vez disso, era a voz do homem, dura e baixa.

— Obrigado, mas devo mantê-lo. Ultimamente os meus chapéus têm sofrido grandes indignidades quando saem de minha posse.

A seriedade com que aquelas palavras eram ditas provocou um sorriso em Genie pela primeira vez em três dias. Ela ultrapassou uma consternada Kate e avançou em direção ao homem de quem elas falaram.

— Holstoke. Sentiu terrivelmente a minha falta, não foi?

Ele se virou, sua expressão intimidadora.

— Lady Eugenia. — Aqueles olhos pálidos permaneceram sobre ela por várias batidas de coração, antes de deslizar por sobre seu ombro. — E Lady Katherine. — Sua cabeça inclinou-se brevemente. — Um prazer.

— Está um pouco adiantando para o jantar. — Genie provocou, depositando as suas luvas e o papel dobrado na mesa perto de Holstoke, que estava parado a encarando com grandes olhos verdes de corvo.

— Não muito cedo para oferecer o meu lamento, entretanto.

— Lamento? — O brilho de prazer que ela tinha sobre ele ao vê-lo inesperadamente na sua porta desvaneceu.

— Eu aceitei o convite de Lady Dunston apressadamente. Receio que eu deva...

— Não cancele. — Ela avançou, achando mais fácil para ler as sutilezas da expressão dele – a tensão ao redor dos lábios, queimando em torno do nariz e alterando seu olhar – diante da grande proximidade. — O que foi, Holstoke? Está entre amigos. Nós gostamos bastante de você.

Ele franziu o cenho.

— Você já disse isso. O que eu não entendo é o motivo.

Piscando, Genie abriu a boca para responder e... nada. Por que mesmo? Ele era um homem peculiar – taciturno, severo e absorvido pelas plantas.

Ela apoiou um cotovelo sobre seu pulso e deu tapinhas em seus lábios com o dedo.

Os olhos dele seguiram o movimento, apesar do vinco em sua testa se aprofundar.

— Está demorando demais para responder.

— Estou pensando.

— Tente não se esforçar demais.

— A explicação não é tão simples. Você está longe de ser charmoso.

— Nem bonito, nem charmoso. — As narinas dele dilataram-se. — De verdade, um mistério.

A dilatação em sua narina era igual à sua irritação – agora ela tinha certeza disso. Ele estava irritado com ela. Ela bateu nos lábios novamente. Seus olhos cravaram em seus dedos e brilharam com... alguma coisa. Mais irritação? Ela não tinha certeza.

Droga, o homem era difícil de ser decifrado.

Ela exalou e deu de ombros.

— Não consigo explicar. Nós gostamos de você, Holstoke.

— Isso é irracional.

— Sim, verdade. Você deve aceitar a nossa alta consideração e nos deixar ajudá-lo.

— Eu não preciso de ajuda.

— Bobagem. Se o que Kate contou sobre a festa de Lady Randall for verdade, você precisa de nós mais do que acha.

Olhos pálidos brilharam.

— Por que não ajuda a si mesma antes? — Ele replicou, sua voz dura e baixa. — Saia daquela chapelaria idiota e se engaje em atividades mais adequadas a uma dama de valor.

Sua cabeça inclinou-se para trás. Seu coração falhou. Seu peito apertou-se ao redor de uma dor vazia e terrível. Por alguns momentos, ela esquecera. Ela o vira no corredor de entrada e começaram a conversar, e a realidade desaparecera.

A realidade de suas falhas – primeiro, como uma filha de um conde cuja única tarefa era casar-se bem e evitar o escândalo. Então, como uma chapeleira em treinamento, cuja única tarefa era aprender seu ofício e evitar ser demitida.

Atrás dela, Kate murmurava com Emerson. À distância, ela ouviu os passos enquanto os criados faziam seus trabalhos. Ela respirou os aromas de cera de abelha, limão e menta. A lã do casaco dele, que recentemente estivera lá fora. O leve toque de sabão de barbear.

Mas tudo o que ela conseguia ver eram os olhos, afiados e desaprovadores.

Engoliu em seco. Ergueu o queixo.

— Aquela chapeleira idiota não é mais a minha patroa.

— Bom. — Ele disse com um brilho de satisfação. — Você finalmente viu a razão.

Por um momento ela considerou corrigir sua suposição, mas imediatamente rejeitou a ideia. Deixá-lo acreditar que ela saíra por vontade própria. Ela não tinha muito orgulho remanescente, e mesmo que tivesse, pretendia agarrar-se a ele com todas as suas...

— Em minha opinião, ela se livrou bem dessa posição. — Disse Kate detrás dela. — A ousadia da Sra. Pritchard em demitir alguém com o talento de Eugenia!

O coração de Genie afundou-se. Sua pele pinicou. Ela há muito parara de enrubescer a cada ato indigno – foram muitos – mas aparentemente, esse era uma exceção. E ser demitida não era a experiência mais terrível e aniquiladora-de-orgulho que ela podia imaginar.

Além de ter sido pega com a saia erguida até o queixo, é claro. Isso havia sido pior.

— Ela a demitiu? — Por alguma razão, a expressão suave e ao mesmo tempo fria de Holstoke deu-lhe calafrios.

Genie respondeu com um breve aceno.

Kate, sempre útil, interrompeu.

— E o amigo dela também, o Sr. Moony.

— Moody. — Genie corrigiu, voltando a virar-se para a peste da irmã. — A quem pretendia fazer uma visita antes de ser distraída.

— Pela última vez, você não pode ir sozinha visitar um homem em Cheapside. — Kate respondeu. — Não permitirei.

— Cheapside? — A única palavra vinda de Holstoke soou sinistra.

Ignorando o lorde que se elevava assustadoramente, Genie focou em sua irmã.

— Eu sou o motivo pelo qual ele perdeu seu emprego, Kate. Ao contrário de você e de mim, ele não tem uma mesada, uma casa grande ou um título para sustentá-lo. Ele foi demitido sem receber uma referência.

Kate ergueu o queixo.

— Não permitirei. — Ela repetiu.

— Eu irei.

— Não sem o endereço.

Os olhos de Genie voaram para a mesa. Nenhum papel.

— Instruí Emerson para enviar a carruagem e um lacaio para o Sr. Moony.

— Moody. — Genie grunhiu.

— Sim. Bem. Harry está a caminho agora. Ele voltará com seu amigo em breve e você poderá conduzir sua conversa com uma acompanhante apropriada.

Genie espalmou a mão sobre a testa.

— Ele não sabe quem eu sou e não havia razão para enviar Harry. Ao diabo, eu devia pegar uma carruagem e ir. O que estava pensando, Kate?

Novamente, Holstoke se intrometeu com uma chicotada baixa e sinistra.

— Talvez Lady Katherine esteja pensando que você perdeu a cabeça. Ela estaria certa nessa afirmação.

Girando para encará-lo, Genie se viu surpreendentemente sem fôlego. Holstoke estava...furioso. Com o que, não poderia dizer, mas pela primeira vez, ela pode ler seus olhos sem mesmo esforçar-se. Eles soltavam fogo.

Começou a falar, mas sua boca ficou seca. Ele pareceu mais alto, próximo e sombrio. Holstoke completamente ressentido era uma visão a ser assistido.

— O que ela disse? — Ele exigiu, seu queixo alto.

Genie piscou e sinalizou sua confusão com uma pequena sacudida de cabeça.

O rosto dele pairou sobre o dela como uma grande nuvem.

— Sua empregadora. — Ele alfinetou. — Qual motivo ela lhe deu para demiti-la?

— Oh. — Ela disse, lutando para respirar. — A Sra. Pritchard não me deu um motivo particular. — Ela engoliu em seco. — Apenas que eu deveria partir e não roubar nada.

As narinas dele dilataram. Seus olhos se estreitaram.

— Devo conversar sobre o assunto com o seu pai.

— P-perdão?

— Tudo isso é inaceitável.

— Holstoke. — Ela agarrou seu braço quando ele passou por ela. O membro musculoso deslizou por sua mão até que tudo que ela manteve foram os dedos. Ela se agarrou e segurou no pulso, apenas para ser arrastada por dois metros antes que ele parasse e se virasse para olhá-la.

— Isso...isso não tem nada a ver com você. — Ela balbuciou.

De supetão, ele abaixou-se até os narizes quase colidirem, derrubando seu chapéu e prendendo as mãos dela sobre o peito dele.

— Eu deveria ter informado a ela sobre o seu título. Aquele foi o meu erro. Não deveria ter permitido que falasse com você do jeito que ela falou.

O coração dela deu um salto estranho.

— Você apenas manteve o segredo porque eu desejei assim.

— Como eu disso, meu erro.

Uma garganta pigarreou delicadamente.

— Ehm, Genie?

— Sim, Kate. — Por que a sua voz soava sem fôlego? E por que ela nunca tinha notado o quão definido os lábios dele eram? Como se eles tivessem sido desenhados por um lápis recém-apontado.

— Talvez devesse soltar as mãos de Lorde Holstoke. Tenho certeza de que ele precisa delas para outros propósitos. Recolher seu chapéu, por exemplo.

Ela olhou para baixo. Eles estavam agarrados um ao outro, próximos o bastante para dançar. Ou beijar.

Que pensamento estranho. Ela não gostava de beijar. E mesmo que gostasse, certamente não deveria beijar Holstoke. Ele uma vez pedira Maureen em casamento, pelo amor de Deus. Ele podia ter sido parte da família se Dunston não existisse.

Beijar Holstoke? Que ideia mais idiota.

Outro pigarro. Desta vez, foi Emerson.

— Eu peço perdão em interromper, minha dama, mas Lorde Berne ficaria grato em receber Lorde Holstoke na biblioteca agora.

Lentamente, ela soltou os dedos dos deles.

Holstoke a segurou com força.

— Não vá a Cheapside.

Poderia ter sido uma ordem, um apelo ou uma ameaça. Como ele reagiria quando ela se recusasse a obedecer? Ela não estava certa. O homem tinha muitas esquisitices, o que o tornava imprevisível. Ele ficara muito mais irritado com o emprego e a demissão dela, do que era possível com o grau de familiaridade que eles tinham.

Ela ergueu o queixo.

— Muito bem. Eu ficarei aqui...Se fizer o mesmo.

Olhos verdes se estreitaram.

— Fizer o mesmo?

— Jantar? — Ela perguntou.

Seu nariz se dilatou.

Ela sorriu satisfeita.

— Feito. — Ele disse.

Seu sorriso sumiu. Droga. Imprevisível, assim como previra.

— Maureen estará aqui. — Ela recordou. — Dunston também. E seus filhos. Eles têm quatro.

Um músculo moveu-se em seu queixo.

— Eu sei.

— E não vamos nos esquecer de Lady Wallingham! E minha mãe...

O aperto dele sobre ela se afrouxou. Gentilmente ele abaixou suas mãos e deixou seus dedos escorregarem para longe dos dela.

— Eu sei. — Ele repetiu. — Não vá a Cheapside, Lady Eugenia.

Desta vez, ela soube que não era nem um apelo e nem uma ordem. Era um alerta, escrito dentro daqueles olhos pálidos como um sino acima da porta: Desafie o Conde de Holstoke por seu próprio risco.

Silenciosamente, ela o observou recolher o chapéu e seguir Emerson pelas escadas, um volume alto, sombrio e imponente desaparecendo no meio da luz fraca e partículas de poeira.

— Bem. — Kate disse. — Lorde Holstoke, humm?

— O que tem ele?

— Oh, nada. Um pouco...possessiva afinal.

— Não seja tola.

Os dedos de Kate agarraram o queixo de Genie e a virou até ela focar em sua irmã em vez da escada vazia. Genie empurrou a mão dela e Kate sorriu como um diabinho.

— Tolo ou não, se tivesse percebido os talentos de persuasão que ele tem sobre você, eu o teria convidado aqui dias atrás.

Genie bufou. Ao som faltou convicção.

— Holstoke é inconstante. É sensato ser cautelosa.

O sorriso de Kate tornou-se irônico.

— Genie sensata e cautelosa. Sim, nada de incomum nisso. — Ela resfolegou e foi mais convincente do que Genie. Ela ainda virou os olhos para ser mais clara.

— Vá embora, Kate.

As gargalhadas de sua irmã agitaram as partículas de pó enquanto ela também desaparecia escadas acima.


CAPÍTULO 4

“Um passado sem erros é como uma biblioteca sem livros – vazia e inútil. Entretanto, ouso dizer, todas as bibliotecas precisam de uma boa limpeza de vez em quando.”

A Marquesa Viúva de Wallingham para Lorde Berne, após a reclamação do referido sobre os acompanhantes felinos de Lady Berne ter destruído duas vezes suas cortinas e seus coletes.

Esta era a sala onde Phineas fizera a proposta de casamento a Maureen. Cortinas azuis haviam sido substituídas por douradas e ele pensou que o tapete poderia ser novo, mas, por outro lado, a biblioteca de Berne House permanecia igual ao que se recordava: pequena com painéis de madeira, era tão desordenada e confortável quanto os próprios Huxleys. Uma poltrona posicionada entre a janela e a lareira, o couro gasto e trincado pelo tempo, indicando horas de leitura. Um pequeno sofá posicionado ao longo da parede oposta e uma grande escrivaninha ao lado dele estava lotada de papéis, um livro aberto e uma xícara de chá fumegando ao lado da caneta de tinta.

Phineas recordou a sensação, como se estivesse entrado por engano, um estranho em uma terra fria e desolada descobrindo o calor, o caos e a afeição imediata pela primeira vez. Os últimos seis anos haviam mudado muita coisa, mas essa sensação não era uma delas.

— Holstoke. — Stanton Huxley, o Conde de Berne, levantou-se de sua mesa, seu sorriso aberto e receptivo. — Por Deus, é bom vê-lo. — O homem magro de cabelos acinzentados estendeu sua mão.

Phineas a apertou, ainda incerto do porquê todos os Huxleys pareciam gostar tanto dele.

— Lorde Berne. Obrigado por concordar em falar comigo. Minhas desculpas pela visita tão cedo.

— Besteira. — Os olhos do homem – um vívido avelã, que nenhuma das suas filhas havia herdado – brilhavam com humor. — Um pouco cedo para jantar, mas não para uma conversa.

Após oferecer-lhe chá e convidá-lo a sentar-se, Berne sentou-se no sofá, bebeu de sua xícara e casualmente falou:

— Se pensa em cancelar, devo alertá-lo, Lady Berne não aceitará. Ela o teria convidado antes se soubesse que aceitaria. Nós todos gostamos de você, jovem.

Suspirando, Phineas acariciou o braço enrugado da poltrona. Ele supôs que o carinho deles ficaria perpetuamente sem explicação.

— Não, eu estarei aqui, sua filha insiste.

O sorriso de Berne ficou simpático, uma expressão que Phineas estava começando a odiar.

— O coração de Maureen está no lugar certo.

— Não Lady Dunston. — Phineas corrigiu, seu aborrecimento anterior retornando como uma inundação. — Lady Eugenia.

As sobrancelhas de Berne se arquearam.

— Eugenia.

— Você está ciente, claro, que até recentemente, ela estava trabalhando.

— Sim.

— Para uma chapeleira maltrapilha perto do Soho.

— Humm. Ela não está mais empregada lá. — O temperamento de Berne era calmo. Calmo demais.

Phineas quis gritar com ele, mas gritar era a reação de um homem guiado por sua ira – o que Phineas não era.

— Por que ela foi demitida. — Ele alfinetou. — O que pode ser a única coisa mais ofensiva do que ela ser empregada. Como você tolerou isso?

Berne depositou sua xícara na mesa e sentou-se ereto.

— Com grande paciência.

— Mais do que é sábio. Eu não teria permitido que a minha irmã caminhasse até o fim da Oxford Street, deixá-la sozinha...

— Permita que explique algo a você, Holstoke. — Os olhos de Berne enrugaram-se nos cantos. — Se permitir.

Phineas assentiu.

— Quando se é pai de cinco filhas, deve perceber como eu, quão pouquíssimo se sabe. Cada criança é diferente da outra. Temperamentos diferentes. Interesses diferentes. Talentos e aspirações diferentes. Um homem que ama suas filhas deve decidir quanta pressão aplicar para encaixar uma garota nos moldes que a sociedade demanda. Demais, ela se quebrará. Pouca, e ela se arruinará. — Berne se recostou e pegou sua xícara, dando um gole e prosseguindo. — Pegue Maureen como exemplo.

— Nós estamos discutindo Lady Eugenia.

— Paciência, meu rapaz, eu chego lá. — Berne deu outro gole. — Agora. Maureen nunca me deu um momento de problema. Mais doce do que os bolos que ela fazia para mim no Natal, essa é minha garota. Seu maior desejo era ser uma esposa e mãe, e ela não se importava em seguir as regras prescritas para este propósito.

— Recordo-me.

— Humm. Sim. Suponho que deva se lembrar. — Simpatia brilhou novamente e depois desapareceu. — Eugenia é... — Berne deu uma risadinha, o som afetuoso embora triste. — Bem, ela é de outro tipo, não? Goste ou não, ela fala o que vem à mente livremente e vai onde o interesse dela está. Infelizmente, um desses interesses eram lacaios.

Algo agudo e sombrio se retorceu dentro de Phineas, isso o fez se inquietar. Fez com que ele quisesse partir antes que Berne elaborasse mais sobre o fascínio de Eugenia pelas camadas inferiores da sociedade inglesa.

— Embora ela nunca tenha feito nada além de admirar a beleza deles, a mãe e eu nos preocupamos que os outros poderiam confundir admiração com intenção. — Berne continuou. — Nós a pressionamos para abandonar seus hábitos anteriores e focar em arrumar um marido apropriado. Ela quis nos agradar, então ela parou de falar em lacaios. Ela também diminuiu sua fixação em bonnets e afins e moderou sua conversa para parecer mais...agradável.

— Minha filha é uma jovem atraente. — Berne, continuou afirmando o óbvio. — Ela virou cabeças no Almack’s. Dançou, misturou-se e conversou do mesmo jeito que cada jovem faz em sua estreia. Ela se moldou no que era esperado. — Berne fez uma pausa. Abaixou o olhar para sua xícara. Parecia refletir em seus pensamentos. — Para simplificar, ela desapareceu. Minha pequena rebelde se foi, substituída por uma garota diferente de qualquer outra. Isso a tornou desesperadamente infeliz. Ela escondeu bem, por um tempo. Mas nós sabíamos que algo estava errado, mesmo antes do incidente do baile de Lady Reedham.

Novamente, Phineas quis interrompê-lo. Ele não desejava ouvir mais sobre o ‘incidente’ de Eugenia. Ele desejou castigar o homem por falhar em parar isso. Mas algo no rosto de Berne o fez parar. Arrependimento, profundo e doloroso, gravado dentro do rosto triste de um pai.

Os olhos foram para a janela acima do ombro de Phineas.

— Então, como vê, meu rapaz, o erro não foi dar-lhe muita liberdade, mas muito pouco. Espíritos como o dela não cabe facilmente em um molde. Antes que soubéssemos o que aconteceu, ele voltou a sua verdadeira forma e se quebrou. — Diante do olhar de Phineas, Berne lhe deu um pequeno sorriso. — Algum dia poderá entender. Talvez tenha uma filha.

Phineas entendia o suficiente. Berne era muito compassivo e perdera o controle sobre ela.

— Você acredita que permitir que ela trabalhasse em uma chapelaria de terceira categoria fosse aceitável, então.

— Acredito que a proibir de seguir seus objetivos é pior.

— Discordo. Ela deveria estar casada. Protegida.

Olhos de amêndoas enrugaram de divertimento.

— Está propondo, então?

Um raio correu de sua cabeça até seus pés. Proposta? Por Eugenia Huxley? O pensamento o desorientou. A brincadeira de Berne fez que sua pele picasse de maneira estranha. Ele deu de ombros e ignorou a sensação, como faria com uma de suas enxaquecas.

— Não. — Ele murmurou. — Claro que não. Eu meramente estou preocupado com ela e com sua família.

Berne sorriu.

— Você um é bom homem, Holstoke.

O pai de Eugenia mudou para outros assuntos – uma renovação dos jardins de Clumberwood Manor, um projeto recente de lei na Câmara dos Comuns, as chances de maiores rendimentos agrícolas durante a primavera – mas enquanto isso, Phineas pensava intrigado nas explicações de Berne sobre a situação de Eugenia.

Ele há tempos admirava os Huxleys. Eles rim juntos, zombavam um dos outros, discutiam e se abraçavam. Ele não lembrava ter sido abraçado nem quando menino. Talvez por isso ele parecesse um estranho.

Eugenia, por outro lado, frequentemente falhava em manter uma distância apropriada. Cada vez que eles conversavam, ela conseguia se posicionar a uma respiração de distância dele. Ela roçava em seu braço com os dedos, prendia seus dedos nos dela, dava-lhe tapinhas como um amigo. Quando ela desejava esclarecer um ponto, ela estendia a mão para ele.

Era estranho. Podia ser por causa da forma como ela gostava de descrevê-lo, mas de fato, ele achava Eugenia Huxley e sua família estranhas – tão afetuosa que ele se sentia como um forasteiro.

Talvez ele fosse. Ele havia se treinado para imitar gestos de afeição para o bem de Hannah, e sua irmã aprendeu a aceitá-los de vez em quando. Ele queria que Hannah soubesse como devia ser uma família apropriada e amorosa. Os Huxleys eram o melhor modelo que ele encontrou.

Exceto por Eugenia. Um pouco rebelde, de fato. Ela certamente entornara o caldo.

Ele franziu o cenho. Berne desistira de domá-la, mas ela encararia um caminho sombrio como solteirona se alguém não agisse, e logo.

— Por Deus, você é um bom ouvinte, Holstoke. — Berne disse, baixando sua xícara. — A maioria dos cavalheiros preferem ouvir a si próprio falando. Suponho que lhes sirva bem no Parlamento.

Phineas assentiu, percebendo que a conversa deles havia chegado ao final. Ele apertou a mão de Berne e seguiu seu caminho ao vestíbulo, apenas para encontrar Eugenia lá, segurando as mãos de um jovem gordo e sardento em roupas grosseiras de trabalhador. Phineas o reconheceu da chapelaria. Ela falava suavemente, suplicante, como se eles fossem amantes.

O raio que o atravessara mais cedo – um sentimento bem incomum – atingiu-o novamente, irregular e agudo. Sua pele pinicou. Seu pescoço ficou tenso. Seu estômago se apertou.

— ... Aceite as minhas desculpas, Sr. Moody. Farei perguntas em seu favor ainda hoje. Não deve se desesperar nem por um momento.

As bochechas do jovem estavam tingidas de vermelho. Seus olhos estavam quase vítreos pela luxúria. Devia ser luxúria. Ele mal afastava os olhos dos lábios de Eugenia.

Phineas entendia, obviamente. Ela possuía lábios esplêndidos – carnudos, curvados e macios. Mas ele precisava remover as mãos dela das do outro homem. Ele precisava colocar distância entre eles. Muito, muito mais distância. A impropriedade era um maldito risco para ela e um insulto excessivo por parte do jovem chapeleiro.

— Obrigada, Srta. Hu... quero dizer, milady.

— Oras, chame-me de Eugenia. E eu o chamarei de Lewis.

O rubor de Moody se aprofundou, assim como seu sorriso.

Maldito inferno. Sim. Distância. Agora.

— Lady Eugenia enviará uma nota quando tiver notícias a dar. — A afirmação violenta de Phineas teve o efeito desejado: Moody soltou as mãos dela, recuou três passos e gaguejou um ‘vossa senhoria’ em uma ordem satisfatoriamente curta.

Phineas ignorou o olhar surpreso de Eugenia, avançando e terminando com sua repreensão.

— Até lá, sugiro que evite tocá-la.

Ele quis dizer “recorde sua posição”. Mas a advertência explícita era melhor. A especificidade deixava pouco espaço para interpretação.

— Lorde Holstoke. — Eugenia disse com firmeza quando ele parou atrás dela. — Podemos conversar na sala?

— Depois que ele for embora. — Phineas lançou um frio alerta para Moody, observando com satisfação como a cor do chapeleiro era drenada para um branco sardento. — Você está saindo, não está?

O ‘não’ de Eugenia foi abafado pelo agudo “sim, milorde!” de Moody. O jovem corpulento tropeçou para trás, curvando-se desajeitadamente e murmurando uma série de milordes e milady’s.

— Sr. Moody...Lewis. — Eugenia protestou, avançando.

Phineas se moveu para impedir seu caminho, enquanto o mordomo dos Huxleys, Emerson, segurava a porta aberta. Moody correu como se tivesse sendo perseguido por um fantasma. Eugenia tentou passar por Phineas, mas foi impedida, pois ele lhe segurou o pulso. Assim como ele o segurara mais cedo, a delicadeza de seus ossos, o assustaram. Ela era uma mulher forte. Não deveria ser tão pequena.

Com a mão livre, ela deu um empurrão dolorido no ombro dele.

— Agora olhe o que fez. — Ela falou entre os dentes. — Você o assustou.

Ele a puxou até uma sala adjacente antes de soltá-la.

— Você realmente deseja envolver a sua família em um escândalo perpétuo porque não pode controlar seu estranho fascínio por homens de classes mais baixas?

Os olhos dela – castanhos xerez e rico – ferveram.

— Como ousa? — Ela andou até ele, suas bochechas coradas, as mãos fechadas em punhos. — Você pode ter quase sido meu cunhado uma vez, mas não tem a mínima, nem um minúsculo bocadinho de autoridade no que se refere a mim. — Ela apontou para o vestíbulo. — Eu arruinei a vida daquele homem, Holstoke. Ele não fez nada para merecer isso, além de ler Ivanhoé e tolerar a minha presença.

— Tolerar? — Provavelmente Eugenia entendeu, embora, Phineas pôde ver por sua expressão que não o fazia. Desconcertante, dadas as predileções dela. Mas então, ela não era um homem. Talvez ela precisasse de um para lhe instruir. — A tolerância de Moody está baseada na luxúria. Isso é óbvio.

As mãos dela pousaram em seus quadris, levando seus olhos para lá, logo abaixo do local onde seu traje de montaria abraçava uma cintura surpreendentemente fina.

— Quanta asneira. — Ela alfinetou.

Como os quadris de uma mulher podiam ser tão lindamente redondos e ainda assim magros? Ele franziu o cenho, confuso com a contradição.

— Lewis Moody foi a única pessoa naquela loja que me mostrou bondade e eu não retribuirei deixando-o na penúria.

Ainda distraído com a sua tentativa de conciliar as formas geométricas de Eugenia, Phineas respondeu honestamente, embora com voz rouca.

— Ele foi bondoso porque ele a quer.

Aqueles mistificastes quadris se aproximaram, trazendo-a a seu alcance. Suas palmas e pontas dos dedos formigaram em uma versão mais suave do raio. Ele esfregou os dedos para reprimi-los. Uma sensação um tanto curiosa.

— Você é um péssimo juiz de caráter, Holstoke. Você bem que poderia se confinar com as suas plantas e deixar a nós, humanos, conduzir nossos assuntos.

Seu olhar subiu e encontrou o dela. As bochechas estavam rosadas. Seus lábios, normalmente curvados como as asas de um pássaro, estavam retos. Outra contradição. Uma de muitas, parecia.

— Sou um homem, Lady Eugenia. É assim que sei o que motiva as ações dele. O grande mistério é saber, quais são as suas motivações?

— Minhas?

— Os riscos que corre são tanto idiotas...

— Incrível. Malditamente incrível.

— ... quanto destrutivos para aqueles a quem professa amar. Sua família – seu pai, em particular – cedeu à sua natureza indisciplinada por muito tempo.

Olhos magníficos como os de um gato se estreitaram em um brilho de arrepiar.

— Saia.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Eu quis dizer isso, Holstoke. Vá. Antes que eu faça algo indisciplinado e o estrangule com a sua cravat.

— Nós temos um acordo. Eu manterei até o fim.

— Está absolvido. Não volte para o jantar. Explicarei a mamãe que foi vítima de uma doença infeliz. — Ela fungou. — Em deferência ao carinho que ela sente por você, não mencionarei que a doença é a sua personalidade.

Ele quase gargalhou. A vontade era outra contradição – uma que não deveria se divertir com insultos. Mas Eugenia Huxley estava provando ser a exceção à regra. Ele abaixou a cabeça até conseguir inalar o cheiro dela, violetas e uma elusiva pitada de fruta. Cerejas, talvez.

— Como dei a minha palavra. — Ele murmurou olhando para os lábios dela. — Eu devo voltar, Lady Eugenia. Sinto muito. — Lentamente ele sorriu apreciando sua face descontente.

Por vários momentos ela o fitou, meio encantada, meio enfurecida.

— Você não está nem um pouco sentido, então não finja. E por que diabos está sorrindo?

O sorriso dele aumentou. Então balançou a cabeça, incerto da resposta.

— Deve ser a companhia. — Ele disse. — Raramente sou insultado com tal proficiência.

Ela deu de ombros diante disso, mas em seguida, seus lábios se esticaram nos cantos. Ela golpeou o braço dele com força e o empurrou em direção à porta.

— Vá ou demonstrarei minha proficiência com grande prazer.

Ele lhe fez uma reverência. Depois gargalhou.

Ele ainda estava rindo ao passar por um alarmado Emerson, colocou seu segundo melhor chapéu e desceu pela Grovesnor Street, antecipando a noite por vir.

*~*~*

A mulher ossuda foi muito fácil. Magra e apática, o corpo dela tomou o veneno dele como se estivesse faminta por ele.

— Eu...Eu não consigo... — Ela cambaleou para frente, apertando o peito. Seus lábios já estavam ressecados.

Ele sorriu.

Ela derrubou a xícara que se estilhaçou. Caiu de joelhos. Sangrou nos cacos.

— Ajude-me. — Sua voz era um chiado infernal, sua mão uma garra desesperada para alcançá-lo.

Ele lhe dera uma viagem rápida. Ela deveria ser grata.

Inclinando-se para observar o sangue dela escorrer dos joelhos cortados por seu vestido branco, ele sufocou o riso.

— Hora de voar, minha dama. — Sua voz tremeu. — Muito bem.

Talvez ela fosse fácil demais. Mas o que importava era o sacrifício. A fuga. A oferta. Quando ele saiu da casa do pai dela, misturando-se à multidão da Brook Street, ele olhou para o céu.

Sim. Sua missão estava indo de forma esplêndida. Esplendidamente, de fato.


CAPÍTULO 5

"Crianças são, de fato, uma delícia". Eu acho que o charme delas aumenta com a idade. Vinte anos devem bastar.

A Marquesa Viúva de Wallingham para sua nora, Lady Wallingham, enquanto conserta o seu monóculo danificado por seu neto mais novo.

— Sir Edwin, declaro-o Imperador do Reino! — Genie sacudiu sua colher de madeira com um floreio e gentilmente tocou os ombros de seu sobrinho. — Além disso, declaro, neste dia, que seu reino será... — Ela parou antes de apontar a colher com um gesto imitando a realeza, em direção ao canto da sala de estar. — O sofá novo da vovó.

Sua mãe, atualmente conversando com Maureen e com um solavanco, depositando o filho mais novo de Maureen sobre a monstruosidade adornada e sem braços, olhou na direção de Genie.

— É uma otomana 5, querida.

Genie ergueu seu queixo e mexeu sua colher no ar.

— Na realidade, Sir Edwin, seu reino será conhecido como... — Genie lançou um olhar de soslaio a sua sobrinha, Sophie, que batia suas mãos e esperava no lugar.

— Qual é, tia Genie? Conte-nos!

Genie deu uma piscada e fez uma reverência ao pequeno Edwin.

— O Império Otomano.

Sir Edwin desabou rindo. A coroa de papel que ela fizera para ele escorregou sobre seus olhos azuis escuros e o xale índico de sua mãe deslizou por um pequeno ombro. Ele tinha quatro anos de idade, então ela perdoava a sua falta de decoro.

Alguém devia fazer concessões.

Ela sentiu um puxão nas costas de suas saias.

— Angie! Angie! Colo.

Ela fingiu confusão.

— Quem está aí?

— Colo!

Dando volta ao redor da pequenina várias vezes, ela finalmente segurou a sua sobrinha de bochechas redondas e cabelos ruivos, Meredith, por baixo dos braços e a ergueu em um único movimento. Merry gritou e gargalhou enquanto elas giravam.

— Eu percebo, Lady Meredith. — Genie disse enquanto acariciava as mechas vermelhas da menina de dois anos de idade. — Parece que perdeu o seu bonnet. — Ela estalou a língua e beijou a bochecha de Merry. — Onde está, minha querida?

Merry apontou para a janela com cortina vermelha.

E lá estava – o pequeno bonnet feito de jornal com pequenas fitas rosas e duas pequenas margaridas. Ele estava perto de um par bota polida, que pertencia ao homem a quem estava tentando ignorar com toda a força de vontade.

Ela não precisava se preocupar, claro. Ao entrar na sala de estar meia hora antes, ele cumprimentou Maureen calorosamente – um pouco calorosamente demais, em sua visão. Ela franziu o cenho para ele, se perguntando como um olhar tão glacial podia ser afetuoso. Tão...gentil. Ele nunca olhou para Genie daquela forma. Não, com ela, sempre que os olhos dele se aqueciam, a causa era ultraje, raiva ou indignação. Aqueles olhos verdes gelados alfinetavam e faiscavam em vez de brilhar com admiração.

Dunston também percebera. Seu cunhado ficou irritado. Lançou diversos insultos velados. Observava-o de uma maneira mortal.

Normalmente Dunston era bem-humorado, espirituoso e arrojado. Genie sempre o considerou muito divertido, capaz de discutir a moda dos coletes, as tragédias shakespearianas e as linhagens dos puros sangues com igual desenvoltura. Mas ele também era um homem perigoso, que secretamente caçara o assassino do pai durante uma década, trabalhando tanto para os Ministérios das Relações Exteriores quanto o Interior, escondendo seu lado sombrio até mesmo de sua amada Maureen.

Embora procurasse proteger Maureen diminuindo a relação deles a uma mera amizade, o par estivera apaixonado por anos antes de Holstoke se interessar por ela. A corte de Holstoke revigorou a natureza de Dunston, dura e possessiva e, no fim, Dunston também fez sua proposta. Maureen rejeitara Holstoke, casou-se com Dunston e deu-lhe lindos quatro filhos.

Naturalmente, Genie soubera da escolha de sua irmã antes de Maureen. Qualquer um com bom senso poderia ver a preocupação incessante de Maureen com seu bonito e elegante lorde. Na realidade, Holstoke nunca tivera uma chance. Mesmo se Maureen o tivesse aceitado, Dunston teria cortado Holstoke em dois com suas facas favoritas, antes de permitir que ela se casasse com alguém mais.

E isso antes de descobrir que a mãe de Holstoke havia matado o pai de Dunston – assim como numerosos outros – ao longo de uma década de traição criminosa.

Então não era surpresa que Dunston alfinetasse seu antigo rival. Por outro lado, a reação de Holstoke era muito próxima do que Genie esperava. Sua fisionomia neutra e inescrutável, ignorou Dunston, deu a Maureen um aceno digno e se afastou para cumprimentar mamãe, papai, Kate e Lady Wallingham. Então fixou aqueles olhos pálidos sobre Maureen do outro lado da sala, observando sua irmã por longos minutos antes de se afastar para conversar com papai.

Ele ignorou Genie completamente. Sem cumprimentos. Sem olhares. Sem broncas sobre seu comportamento inapropriado. O que era bom. Genie tinha pouca vontade de colocar-se como assunto sob o alto julgamento de Holstoke. Ainda assim, ele deveria ao menos ter tido conhecimento de sua existência. Como Lady Wallingham gostava de dizer: “A grosseria é uma arte que poucos dominam bem o bastante para aplicar sem consequências.”

Enquanto brincava com os adoráveis filhos de Dunston e Maureen, ela sentiu o olhar dele virar em sua direção mais do que uma vez. Ela presumiu que o escrutínio dele tinha dois propósitos: ele achava Genie muito indisciplinada para o seu gosto ou ele estava curioso sobre os filhos de Maureen, talvez até mesmo melancólico por eles não serem dele. A resposta provavelmente era um pouco das duas opções.

Agora, enquanto Edwin e Sophie fugiam para reivindicar a otomana e Merry se retorcia para ser colocada no chão, Genie não pôde mais evitá-lo. Ela abaixou sua sobrinha no tapete, observando a garotinha cambalear até seus irmãos. Então, respirou e caminhou em direção à janela. Em direção a ele.

— Holstoke. — Ela disse sentindo uma estranha agitação enquanto os olhos dele fixavam nos dela.

— Lady Eugenia.

— Fiquei surpresa por ter vindo.

— Estranho. Eu lhe prometi.

Ela fungou e gesticulou em direção ao chapéu de papel.

— Minha sobrinha perdeu seu chapéu.

Lentamente ele se agachou e pegou a criação entre seus dedos longos. Após erguê-lo completamente, avaliou o peso e avaliou o objeto como se fosse uma nova espécie de planta.

— Você fez um para cada um deles, não foi?

— Dê-me, por favor.

Aqueles olhos moveram-se por toda extensão de sua palma, deslizou lentamente pelo braço, corpete, garganta e, finalmente, pousou em seu rosto. Um escrutínio tão intenso produziu sensações estranhas. Pele pinicando. Calor. Arrepios e formigamentos.

— Eu pensei que vocês gostavam de mim. — Ele disse, seu tom meramente curioso.

— Minha família gosta. Eu estou aborrecida com você.

— Ainda?

— Você tem um traço rude, Holstoke. — Ela espetou. — Se eu quiser ajudar o Sr. Moody, é um problema meu, não seu. Por falar nisso, se eu quiser molhar as minhas saias e caminhar pela Regente Street cantando “Deus salve a Rei”, isso não teria nada a ver com você.

Ele inclinou a cabeça e a encarou, sua expressão intensa e ilegível. Ele lhe fazia sentir arrepios da cabeça aos pés.

— Pare com isso.

— Com o que?

— Encarar.

Lentamente, o começo de um sorriso puxou os lábios dele.

— Isso a irrita, Lady Eugenia?

Ela se aproximou mais, assim eles não seriam ouvidos. Ela pegou o chapéu de papel das mãos dele.

— Sim. — Ela falou entre os dentes. — Seus olhos são enervantes, assim como sabe muito bem.

O sorriso dele aumentou.

— São simplesmente olhos.

— Eles me dão arrepios.

— Humm. Quais efeitos supõe que as mãos teriam?

Seu coração disparou. Bons céus, ele estava flertando com ela? Holstoke? Ela piscou e tentou recuperar o fôlego. Não. Holstoke não flertou. E se ele o fazia, seria com Maureen, sem dúvida. A provável explicação era que ele estava curioso, um cientista tentando solucionar um enigma.

Vagamente ela ouviu sua mãe anunciando o jantar. Ela sentiu a chegada dos criados – a ama das crianças conduzindo seu rebanho ao berçário, Emerson calmamente direcionando os lacaios. Ela ouviu um farfalhar de vestidos, movimentos de lã e tons murmurados de sua família se encaminhando em direção às portas da sala de estar.

Ainda assim ele permaneceu imóvel. Preso dentro de uma batalha que ela nunca vira.

Ele não desistiria. Não a soltaria.

— Nós devemos ir. — Ela sussurrou.

— Para a sala de jantar. Sim.

— Holstoke?

Ele abaixou a cabeça. Seus olhos fixos em sua boca.

— Você realmente é o homem mais peculiar. — Sua voz estava rouca e gutural. Talvez um pouco de vinho ajudasse. Claro, ela já estava um pouco tonta. Formigando. Aquecida.

Atrás dela, a voz de trombeta de Lady Wallingham se intrometeu.

— Lorde Holstoke! Eu solicito sua escolta, jovem. Vamos ante a aparência do decoro.

Lady Wallingham não estava sozinha. Quando Genie virou descobriu sua mãe lhe dirigindo um olhar agudo e claramente maternal. Tanto o braço como os ouvidos de Holstoke foram confiscados pela viúva que o levava até as portas, descrevendo “a maneira adequada de atrair alguém para seu anzol em águas turvas, querido rapaz.”

Genie franziu o cenho e perguntou a sua mãe.

— Quando Lady Wallingham começou a pescar?

— Eugenia. — Mamãe disse com um tom preocupado e repreensivo. — Você entende que Holstoke está procurando uma esposa?

Engolindo sua náusea repentina, ela provocou.

— Claro, mamãe. Eu não sou idiota.

Mamãe segurou suas mãos em um aperto quente, seus olhos escuros bondosos, mas enrugados de preocupação. Genie não via a sua mãe assim desde antes do escândalo, quando havia gentilmente a aconselhado a parar de discutir sobre a fabricação de chapéus com pretendentes elegíveis.

Agora, seu alerta era mais direto e... humilhante.

— Ele enfrenta muitos obstáculos nessa busca. Você não deveria ser um deles, minha querida.

A lembrança do que ela era, de fato, o Grande Fardo de Genie, atingiu com ainda mais força por ter sido inesperada. A vergonha queimou dentro dela, um sentimento antigo e doentio. Céus, ela pensou que já se acostumara com a dor. Estava mais afiada do que nunca.

Olhos redondos e escuros brilhavam com remorso.

— Como eu desejava que as coisas tivessem sido diferentes, minha querida. — Mamãe disse. — Como eu desejava ter feito as coisas diferentes.

Genie cerrou os dentes e se endureceu contra a dor asfixiante. Ela não ficaria parada ali chorando, pois isso não resultaria em nada além de acrescentar dor a sua mãe. Então, em vez disso, ela balançou a cabeça e fez uma declaração própria.

— O escândalo foi minha culpa, mamãe. Não sua. Eu já lhe disse isso.

Mamãe enxugou os olhos com um lenço com rendas.

— A temporada de Maureen foi tão fácil. Todos a adoraram, até mesmo Holstoke. Eu presumi que sua apresentação seria igual. Deveria ter percebido...

— Pare. — Genie disse delicadamente, puxando sua doce e redonda mão para seus braços e dando palmadinhas em suas costas. — Você não é a culpada e não ouvirei mais sobre o assunto. — Ela deu um último tapinha e se afastou para dar a sua mãe um sorriso. Foi forçado, mas necessário. Mamãe havia sofrido muito por causa de Genie. Um sorriso era o mínimo que ela podia fazer. — Agora, não sei o que causou suas suspeitas, mas não há nada acontecendo entre mim e Holstoke. Garanto-lhe.

Mamãe piscou e fungou.

— Vocês pareceram preocupados um com o outro, querida.

— Não seja boba. Nós simplesmente tivemos uma discussão.

— Uma bastante calorosa.

— Holstoke é grosseiro e peculiar. Eu poderia discutir tortas de morango com o homem e ele argumentaria veementemente a favor dos damascos.

— Eu nunca percebi que ele era contestador. Indiferente, com certeza.

— Hum. Talvez ele goste de me aborrecer.

— Mamãe...

— Tudo o que peço é que exercite sua cautela até voltar a Clumberwood. — Sua mãe deu um tapinha em sua mão. — Eu soube que um novo médico se mudou para a vila. Bastante bonito. Um viúvo com dois filhos que precisam de uma mãe. — Sua mãe sorriu, o seu sorriso de casamenteira. — Seria rude não o convidar para jantar, você concordaria?

Genie suspirou. Balançou sua cabeça e indicou as portas.

— Talvez devesse focar no jantar que está oferecendo agora.

— Oh! Sim, é claro. — Com os olhos brilhando, ela passou os braços pelo de Genie. — São poucas coisas que não podem ficar melhores...

— Com uma boa refeição. — Genie riu. — Eu ouvi dizer.

Pelas próximas duas horas, enquanto Genie ignorava a conversa de Kate, fingindo comer e beber livremente o seu vinho, ela dividiu sua atenção entre a toalha da mesa e Holstoke. Mais Holstoke, para dizer a verdade.

Está bem, quase inteiramente em Holstoke.

Ele era peculiar. E alto. E agora que ela teve tempo para uma avaliação apropriada, não era desagradável. Seu nariz, embora longo e afiado como uma lâmina, era régio. Seu cabelo, apesar de ser mais severo do que elegante, era grosso e preto. Ela também gostava bastante dos lábios dele. Finos, mas definidos. Eles eram fascinantes.

Ela franziu o cenho e girou o garfo. Fascinante? Que tolice. Os lábios de um homem não eram fascinantes. Seus olhos voltaram aos ditos lábios para verificação. Não. Eles eram simplesmente mais atrativos do que ela supôs inicialmente.

Bem, isso era melhor. Atraente. Sim, Holstoke era atraente.

Bonito até. E seus olhos eram...cativantes.

Ela deu um gole em seu vinho, dando-se ao luxo de estudá-lo através da mesa. Uma cor tão pálida, aqueles verdes gelados. Os anéis quase desapareciam no branco. Mas não faziam. Ao redor do gelo havia uma faixa mais escura. Um tom de azul. Quase imperceptível, mas estava lá.

Fascinante.

— ... Você não está ouvindo uma palavra do que estou dizendo, está?

Genie piscou. Virou-se para sua irmã mais nova, sentada ao seu lado. A sala continuou girando, fazendo Genie recuar um pouco. Ela se endireitou e respondeu.

— Sinceramente, Kate. Essa amargura não é a melhor forma de iniciar uma conversa.

Kate bufou e balançou a cabeça, apontando em direção a Holstoke.

— Se eu especificasse que ele era o assunto, capitaria sua atenção?

Genie tomou as últimas gotas de sua taça vazia.

— Holstoke é grosseiro. Eu não me importo nada com ele.

— Humm. Então não se importará com as fofocas que estão piorando.

Franzindo o cenho, Genie acenou para o lacaio mais próximo para encher sua taça.

— Piorando como?

— As suspeitas estão aumentando, particularmente desde a morte da Srta. Froom. Sua mãe clama que ela foi envenenada. Lady Wallingham reportou apenas essa tarde que a Sra. Froom está acusando Lorde Holstoke de assassinato, embora não publicamente. Naturalmente, o Sr. Froom rejeita levantar acusações tão graves contra um par do reino sem provas.

— Humph. E nem deveria. Holstoke não é um assassino. Grosseiro. Estranho. Mas não um assassino. — Ele a estava encarando novamente. Ignorando Lady Wallingham, enquanto o velho dragão autoritário lançava opiniões indesejáveis na direção dele, Holstoke parecia fixar no pescoço de Genie. Maldito seja, por que ele não poderia se comportar como um homem normal? Os arrepios estavam piorando, agora acompanhados por ondas de calor.

Seu olhar não a abandonou até Emerson entrar para anunciar que outra convidada havia chegado. A jovem mulher era etereamente branca com os cabelos pretos e os olhos iguais aos de Holstoke. Ela parou na porta da sala de jantar vestida com camadas de gaze rosa. Aos olhos de Genie, Hannah Gray sempre pareceu estranhamente composta, fria, até, ao mesmo tempo em que tão frágil quanto o junco no inverno.

Certamente a garota atravessara o inferno. E, até Maureen a ter apresentado a Holstoke seis anos antes, ela sobrevivera no inferno sozinha. Holstoke não hesitara em tomar sua irmã sob sua proteção com toda a força de seu título, sua fortuna e sua devoção. Agora sua devoção se destacava à medida que Holstoke imediatamente franziu a testa, afastou sua cadeira e foi até a irmã.

— Sobre o que acha que é isso? — Kate murmurou.

Genie a silenciou e escutou. Sentada perto das portas, ela foi capaz de ouvir a maior parte, apesar de eles manterem as vozes baixas.

— Phineas. — Hannah exalou. — Eu disse a ele, mas ele se recusou.

— Quem?

— O homem da Bow Street. Sr. Hawthorn. Ele fez muitas perguntas e eu... eu respondi antes que eu soubesse o porquê de ele ter aparecido.

Holstoke gentilmente abraçou os ombros de sua irmã, acalmando o tremor dela.

— Está tudo certo, pequena. Conte-me o que ele disse.

Hannah piscou para ele, sua testa franzida em angústia.

— Ele quis saber onde você esteve esta manhã. Eu disse que você saíra logo após o desjejum. Ele disse que a filha de Lorde Glencombers foi assassinada hoje. Envenenada.

Os ombros de Holstoke se tensionaram.

— Lady Theodosia?

Ela assentiu.

Apesar da tensão óbvia, ele acariciou o braço de sua irmã e a segurou mais perto. Genie notou quão lenta e cuidadosamente ele o fazia, como se Hannah fosse feita de papel molhado. Hannah fechou os olhos e suspirou contra o casaco dele.

Maureen correu do outro lado da mesa para se juntar a eles, tranquilizando a garota com uma mão em seu pescoço. O trio se amontou murmurando baixinho. Eles pareciam como uma família, ligados pelos horrores do passado e por uma profunda afeição.

Genie se apertou e retorceu por dentro. Ela deu outro gole em seu vinho.

Ao seu lado, Kate sussurrou.

— Bons céus. A Srta. Froom e agora Theodosia? Não tenho nenhuma ligação com elas, mas é... aterrorizante. Acredita...?

— Não. — Genie disse estreitando os olhos sobre o trio amontoado. — Se foi envenenamento, não foi Holstoke.

— Como pode ter certeza?

Ela observou a forma como ele segurava a irmã; percebeu a soltura de seus braços como se ele nunca quisesse que ela fosse levada novamente.

— Apenas sei. — Ela respondeu. — Além do mais, nós sabemos quem era o assassino na família Brand. Dunston e Maureen estavam lá quando Lady Holstoke foi atrás de Hannah. Outras pessoas testemunharam também, o Sr. Reaver e Sarah Lacey. O magistrado ficou bem satisfeito, mesmo quando descobriu que Hannah foi quem...

— Parou-a.

Genie encontrou os olhos de Kate e assentiu. O incidente foi mais do que devastador para a garota frágil, que tinha apenas dezesseis anos quando foi forçada a atirar na mulher louca para salvar a própria vida e a dos outros na sala. Holstoke, conhecendo a sua meia-irmã apenas naquele dia, ainda assim protegeu Hannah ferozmente, recusando-se a permitir que o magistrado a interrogasse. Em sequência, levou Hannah para Primvale Castle. Então, ele gastou milhares de libras e muitos anos encontrando as vítimas de sua mãe e oferecendo uma recompensa a família deles.

Era como Genie sabia que Phineas Brand não era um assassino. Ele era um homem de profunda honra, peculiaridades a parte. Ele merecia mais do que ser acusado de envenenar duas jovens mulheres.

Ela olhou pela mesa para o seu cunhado, que encarava o trio, obviamente lutando contra a sua natureza sombria.

— Dunston deve ajudá-lo.

— Ahn, Genie. Seria mais inteligente deixar Dunston fora disso. Ele não gosta de Holstoke.

Genie ficou de pé, agarrando-se à mesa à medida que o vinho a fazia sentir seus efeitos.

— Ele ainda deve ter contatos na Bow Street.

— Talvez você devesse deixar Maureen...

Kate poderia continuar a conversa, mas Genie estava focada em chegar até Dunston sem tropeçar nos próprios pés. Bons céus, quando o piso da sala de jantar ficou tão inclinado?

Levantando uma única sobrancelha castanha ao chegar ao lado da cadeira dele, Dunston lhe deu um sorriso afetuoso, apesar da turbulência em seus olhos.

— Apreciando o vinho, pirralha?

Ela gesticulou recusando o gracejo.

— Você deve ajudar Holstoke.

O sorriso desvaneceu.

— Falho em ver um motivo.

— Bow Street suspeita que ele envenenou uma garota. Talvez duas.

Dunston cruzou os braços.

— Posso dar-lhe o nome de um bom advogado.

Ela apoiou a mão sobre a mesa. A porcelana tilintou quando ela errou o alvo.

— Ele é inocente, e bem, você sabe disso, Henry.

— Provavelmente. Mas não vejo como isso é da minha...

— Você se relaciona com todos os tipos de espiões. Nas Relações Interiores. Na Bow Street. — Ela gesticulou em um movimento circular. — Faça o que quer que seja e arranje para que isso desapareça.

— Está me pedindo algo muito grande, considerando sua perseguição anterior a minha esposa.

— Sim bem. Maureen lhe escolheu. Agora pare de agir como um idiota ciumento.

— Eu já lhe fiz um favor hoje ao arrumar um trabalho para o seu amigo, o Sr. Mudd.

— Moody.

— E agora, você quer que eu intervenha por Holstoke.

Ela ergueu o queixo.

— É a coisa certa a fazer.

Ele franziu a testa. Olhou por cima do ombro dela em direção ao trio. Trincou os dentes até sua mandíbula flexionar. Então olhou para ela.

— Muito bem. — Ele disse em voz baixa. — Mas apenas porque Maureen recompensará a minha generosidade quando eu disser que foi minha ideia.

Sorrindo triunfantemente Genie respondeu:

— Inteiramente ideia sua, querido irmão. Inteiramente.

Duas horas e mais duas taças depois, a cabeça de Genie ainda mergulhava e começava a doer. Estava sentada em um canto da sala de estar na terrível otomana de sua mãe.

Ao seu lado estava Lady Wallingham.

Talvez fosse a razão de sua dor de cabeça.

— Esse caso todo é uma besteira. — A idosa pronunciou com uma fungada. — Holstoke é estranho, não homicida.

Genie suspirou.

— Exatamente o meu pensament...

— Quantas vezes eu o recordei, as pessoas contratam jardineiros. Elas não se transformam em um. Não, não, não. Suas excentricidades são numerosas, há poucas dúvidas sobre isso. Os olhos são definitivamente fantasmagóricos. E se alguma vez tiver necessidade de chegar ao estupor do tédio, pergunte a ele qual variedade de trigo é preferível para os invernos costeiros. Bom Deus. Os católicos empregam menos latim.

Genie esfregou a testa com dois dedos.

— A mãe dele era vil, claro. Linda e vil. Nunca gostei dela.

Genie silenciosamente contou até três.

— Mas então, eu sou mais inteligente do que a maioria.

Sim, de fato. Bem a tempo. Genie se perguntou se conseguiria encontrar mais vinho na sala de jantar abandonada. Com certeza uma pessoa deveria estar totalmente bêbada para ser forçada a aturar o ataque verbal de Lady Wallingham.

— Ela era francesa, sabe. Lady Holstoke. Fingia ser inglesa. — Lady Wallingham bufou. — Os franceses sempre se revelam no final, minha querida. Algo sobre o odor, suspeito. Eles cheiram a presunção.

Fiel a sua palavra, Dunston havia chamado o seu amigo, Sr. Drayton, que havia sido um policial de Bow Street por anos. O homem abatido havia chegado a Berne House cinco minutos antes e atualmente estava parado com Holstoke e Dunston perto da lareira. Uma ruga profunda enrugava a testa de Drayton.

Holstoke parecia calmo, mas Genie percebeu que ele inflava as narinas de tempos em tempos. De alguma forma, a irritação dele a confortou. Se ele achasse que as acusações eram sérias, certamente exibiria sinais reais de raiva, como ele fizera ao descobrir que Genie fora despedida.

— Aquele homem ali. O Sr. Drayton. Ele foi baleado enquanto perseguia Lady Holstoke, não foi?

— O cúmplice. Um boticário, eu acho.

— Sabe, ele me lembra de Humphrey.

Genie rolou os olhos. Humphrey era o cachorro de Lady Wallingham, um fedorento com mais rugas que o próprio dragão. A idosa o considerava um acompanhante fiel e falava sem parar sobre os melhores atributos do cão.

— O nariz de Humphrey é incomparável.

E lá estava.

— Uma das criadas roubou um par de chinelos no último outono. Humphrey a rastreou por três vilas e depois entregou os chinelos para mim, assim como uma quantidade satisfatória de anáguas da pequena ladra.

Genie nunca sabia se acreditava nas afirmações do dragão, apesar de saber que Lady Wallingham nunca estava errada.

— Tranquilamente Humphrey descobriria o culpado desse envenenamento vil facilmente. — Ela pigarreou. — Muito melhor do que aos incompetentes de Bow Street, ouso dizer.

Em frente a Genie e Lady Wallingham, Maureen e sua mãe estavam sentadas com Hannah, que parecia mais calma do que quando chegou. A garota bebia chá e assentia as garantias de Maureen. Kate fora buscar um xale para a moça. As crianças foram postas na cama. Papai estava se servindo de conhaque.

Quanto a Genie, ela se perguntava como Holstoke pretendia provar sua inocência. E ela não podia ouvir os homens conversando enquanto Lady Wallingham estivesse sentada tão perto. Era intolerável.

Ela se levantou.

— Não seja tola, garota.

Diante da repreensão severa, Genie piscou e olhou para a idosa que insistia usar duas, em vez de três, penas em seu turbante azul.

Lady Wallingham arqueou a sobrancelha.

— Você sempre foi impulsiva. Quando isso melhorou a sua situação, hein?

Genie voltou sua atenção a Holstoke. Ele também franzia o cenho. Fazia uma careta, na verdade. Esfregou as costas de seu pescoço. Ele parecia...bravo.

— Tiros dados não podem ser revertidos, Eugenia. — A velha senhora a alertou. — Saltos não podem ser interrompidos. Deveria entender isso melhor do que ninguém.

— Eu preciso descobrir Lady Wallingham. — Ela virou-se novamente para encontrar um par esmeralda e perspicaz. Ali, habitava um pouco de simpatia.

Imagine isso. O dragão compreendia.

Genie lhe deu um pequeno sorriso.

— Eu irei só por um momento.

— Humph. Um momento é tudo o que tem, minha querida.


CAPÍTULO 6

"É uma triste verdade, Meredith". Alguns homens escolhem, infortunadamente, atirarem-se nos braços do fracasso do que aceitar a ajuda de uma mulher. Eu disse alguns? Eu quis dizer todos.

A Marquesa Viúva de Wallingham para Lady Berne após receber a há-tanto-tempo esperada, resposta de Lorde Holstoke sobre sua oferta de ajudá-lo nos assuntos matrimoniais.

— Isso é um problema, milorde. Sinto dizer-lhe. — O agente de Bow Street tinha bigodes maliciosos, um rosto cansado e um brilho sombrio em seu olhar.

Phineas não gostou disso.

— Eu fui cavalgar. — Ele repetiu.

— Aye. — Drayton respondeu com um balanço de cabeça. — Mas quem lhe viu?

— Ninguém. Eu tenho uma propriedade a menos de uma hora daqui. Terras de fazenda aberta. Eu vou lá quando desejo ficar sozinho.

Drayton lhe lançou um olhar cético e rabiscou em seu caderno.

— Apenas terra? Sem casa? Sem criados?

Phineas se retesou, suas entranhas congelaram.

—Não. A terra é um experimento. Eu a uso para testar novas plantas.

— E os homens que trabalham lá são...?

— Contratados temporariamente das terras vizinhas. Ninguém deve ter me visto, Drayton. A plantação acabou.

O agente resmungou e alisou a barba grisalha com os nós dos dedos.

— Você foi à reunião de dos Randalls, sim?

— Sim.

Dunston que estava com os braços cruzados ao lado do agente, acrescentou:

— Ele saiu cedo. Eu o vi partir.

A boca de Drayton se retorceu. Ele suspirou.

— Não é um bom presságio, milorde. Nada bom.

Phineas olhou para os dois homens, um, um homem privilegiado e bonito e o outro um cão abatido e viu a mesma expressão dura em ambos. Eles passaram anos neste mundo – o reino de assassinos, perigos e enganos. Eles haviam sido fundamentais para descobrir os crimes de sua mãe e levá-la a um fim justo.

Ambos pareciam como se a forca estivesse balançado do lado de fora da porta, esperando pelo pescoço de Phineas.

— Não tenho nada a ver com isso. — Ele espetou. — Por que diabos eu desejaria matar essas mulheres?

Drayton esfregou o queixo novamente.

— O homem com quem falei com... Hawthorn. Um tipo bastante inteligente. Ele diz que tanto a Srta. Froom quanto Lady Theodosia rejeitaram suas... atenções.

Phineas se enrijeceu ainda mais, sua nuca formigou, seu olho direito começou a latejar.

Dunston sorriu.

— Um ponto a favor de Holstoke, talvez. Por esse critério, cada dama da alta sociedade deveria ser envenenada.

— As mortes parecem similares ao trabalho de sua mãe. Outra coisa... — Drayton prosseguiu, seu tom relutante, olhos apertados em direção às notas. — O sobrinho de Randall, o Sr. Capshaw, clama que você o ameaçou do lado de fora da casa. Na mesma noite da morte da Srta. Froom.

— Maldição dos infernos. — Phineas murmurou, passando a mão sobre a nuca.

— Aye, Capshaw disse que ameaçou envenená-lo e ao seu amigo.

Droga. Ele deixara a raiva superá-lo e agora vinham as consequências.

— Ambos cretinos. — Phineas disse, mantendo a sua voz baixa. — Os insultos deles para...uma certa dama, foram desprezíveis. Eu os ameacei apenas com o propósito de motivar discrição.

Dunston ergueu uma sobrancelha torta.

— Qual dama? Nunca lhe imaginei como um homem de sentimentos.

— Não importa.

O outro homem inclinou a cabeça, seu olhar ficou mais agudo.

— Eu acho que sim.

Phineas o ignorou e se dirigiu a Drayton.

— Se eu sou inteligente o bastante para envenenar duas mulheres sem nenhuma testemunha, faz pouco sentido supor que eu anunciasse minhas tendências maníacas para um par de idiotas bêbados assim que atravessei a porta.

— Vamos. — Dunston insistiu, ignorando ter sido ignorado.

— Dê-nos o nome dela, velho companheiro. Por quem agiu como um defensor galante?

Phineas lançou um olhar sobre o falso lorde janota.

— Acontece que é um membro de sua família.

Toda luz e charme abandonaram os olhos de Dunston, substituídos pelo aço e pedra. Phineas já vira aquele olhar antes: no dia em que sua mãe foi morta ao tentar assassinar Maureen. O mesmo dia que Dunston segurou uma faca em seu pescoço.

— Ele insultou a minha mulher? — O lorde disse agora em voz baixa.

— Não.

— Então quem?

— Lady Eugenia.

Dunston piscou.

— Genie? O que diabos eles disseram?

— Nada que eu queira repetir.

— Foi o assunto do lacaio novamente?

O peito de Phineas ficou mais quente e apertado.

— Eu não desejo discutir isso, velho camarada.

Lentamente, o olhar de Dunston mudou de duro para um avaliador e levemente divertido.

— Ah. Eles a chamaram de Rameira Huxley, não foi? — Ele estalou a língua aborrecidamente. — Para ser justo, ela flertava com os membros da equipe doméstica. — O sorriso dele aumentou. — Ou deveria dizer, com os membros dos membros?

Talvez tenha sido a dor latejante atrás do olho direito de Phineas. Talvez tenha sido ser acusado de assassinato ou ser forçado a confortar a sua irmã novamente ou simplesmente ter que suportar a odiosa presença de Dunston a noite inteira.

Independentemente disso. Em um momento ele estava racional. No outro, a lapela de Dunston estava enfiada em seu punho e uma voz gutural estava rosnando.

— Diga tal coisa novamente e eu encherei de sangue o seu precioso colete.

Imperturbável, Dunston olhou para os punhos de Phineas e sorriu.

— Tem sorte que eu deixei as minhas facas em casa, claro. Mas, no fim, tudo bem.

Drayton pigarreou.

— Milordes. — Ele ergueu o queixo e apontou para as costas de Phineas.

— Holstoke?

Uma voz feminina e rouca. O cheiro de violetas. Era ela. Maldito inferno.

— Solte Dunston antes que ele o machuque, pelo amor de Deus.

Relutante, ele o fez. Dunston arrumou seu colete e continuou a sorrir.

— Agora, eu já esperei pacientemente, muito pacientemente, considerando que eu estive sentado ao lado de Lady Wallingham e já demorou o suficientemente. Conte-me o que está acontecendo.

— Uma acusação de assassinato, ou dois. — Dunston respondeu. — Nada que Holstoke não possa dissiparam com seu charme vencedor. Ou um álibi. O que diz velho camarada? Melhor um álibi, eu acho.

Phineas não se incomodou mais com Dunston. Ele olhou para Eugenia em vez disso. Ela estava parada com as mãos nos quadris, piscando para ele e, estranhamente, oscilando de um lado para outro como se estivesse em um navio.

— Você deveria se deitar. — Ele lhe disse, aproximando-se, caso ela tropeçasse. Obviamente ela tivera mais vinho e menos comida do que ele pensava e a havia observado diligentemente durante o jantar.

Atrás dele, Dunston riu.

— Tomando a aproximação direta, hein, Holstoke?

Eugenia franziu o cenho e olhou por cima de seu ombro.

— Oh, fique quieto, Dunston. Não é hora de ser divertido.

— Aí está.

Ela voltou a olhar para Phineas.

— Você precisa de um álibi?

— Não.

— Diga-lhes que esteve comigo.

Um choque atravessou seu corpo como um raio em uma árvore. Viajou limpo até suas raízes.

— Não.

— Não seja tolo. Você esteve aqui comigo esta manhã. Você visitou meu pai, então...

— Eu disse não, Eugenia.

— ... nós saímos sozinhos pelo restante da tarde. Simples.

Drayton se arrastou para a frente, mancando mais pronunciadamente do que quando entrou.

— É verdade, milorde?

— Não.

— É lógico que é. — Eugenia mentiu, erguendo o queixo.

Phineas agarrou o cotovelo dela quando ela oscilou.

— Malditamente não. Você está bêbada e falando besteira. — Ele quis sacudi-la. Calá-la, erguê-la e carregá-la ao quarto antes que ela se arruinasse ainda mais.

— Besteira é você ser acusado de assassinato. — Ela se afastou e se dirigiu a Drayton. — Eu jurarei para o seu agente da Bow Street. Holstoke não pode ter envenenado Lady Theodosia porque ele estava comigo.

Phineas pensou em simplesmente colocar a mão sobre a boca dela para silenciá-la até que ela recuperasse seu bom senso.

Felizmente, Dunston interveio.

— Genie, oferecer em sacrifício o que restou de sua reputação por Holstoke é generoso, e um pouco perturbador, mas eu posso sugerir que encerre a conversa? Seja uma boa garota.

Phineas abriu a boca para reforçar a ideia, apenas para ter Drayton interferindo.

— Isso esfriaria a perseguição de Hawthorn sobre você milorde. Um álibi, particularmente envolvendo uma dama amiga, o enviaria a procurar em outros lugares.

Eugenia fungou.

— Percebe? Uma solução elegante, prevejo.

— Ela não é minha dama amiga. — Phineas mordeu, apertando o elegante braço feminino e a puxando para seu lado para evitar que ela tombasse. Ela estava obviamente bêbada.

— Certamente, milorde.

— Nós não passamos o dia juntos.

— Certo.

— Eu estive aqui para ver Lorde Berne. Depois fui cavalgar. Sozinho.

Drayton olhou para onde a mão de Phineas que envolvia a curva da fina cintura.

— Realmente, Holstoke. — Ela disse, segurando-se ao braço dele como uma corda no mar. — Eu posso ficar em pé por mim mesma. Agora seja o homem brilhante que sei que é e aceite a minha ajuda.

— Não. — Ele ordenou que suas mãos a soltasse. Em vez disso, elas apertaram mais e a puxou para mais perto.

— Eu não tenho nenhuma reputação para sacrificar, pelo amor de Deus. Eu direi que estivemos juntos. Eles acreditarão em mim. A Rameira Huxley e tudo mais.

Ele a girou para encará-lo, usando ambas as mãos para a firmar.

— Você não fará nada disso. Por Deus, mulher, se repetir esse termo vil novamente eu...

A mão nua dela tocou a bochecha dele.

O corpo dele estremeceu, um raio ondulando com o contato.

— Às vezes eles apenas acreditam em uma mentira. — Ela sussurrou.

— Não permitirei que minta por mim.

Ela apoiou a mão no ombro dele. Deu um tapinha suave, acariciando o casaco e apertando sua cravat.

— E eu não permitirei que você seja enforcado por assassinatos que não cometeu. Além do mais, eu parto para Clumberwood em alguns dias. Se houver um pouco de fofoca, não ouvirei.

Os ossos do peito dele se apertaram.

— Está partindo?

Ela olhou para o alfinete de sua cravat, sua boca torceu-se ironicamente.

— Não há nada para mim aqui. Talvez Nottingham se beneficie com uma nova e ousada chapeleira. Vou criar uma moda. Fitas vermelhas e penas azuis sobre cada cabeça. — Ela soltou uma risada melancólica. — A Sra. Pritchard ficaria horrorizada.

Foi quando ele ouviu – o silêncio, espesso e distinto. Caia em camadas sobre ele como um travesseiro.

Ele engoliu em seco. Endireitou-se. Forçou suas mãos a se afastarem dela e lentamente se virou.

Lá estavam eles parados em meio círculo, todos com as bocas levemente abertas. Hannah e Maureen pareciam assustadas. Kate derrubou o xale que estava segurando. Lady Berne cobriu os lábios com o seu lenço. Lady Wallingham os analisava atentamente por trás de seus monóculos. E Lorde Berne, com os braços cruzados, o encarava como um pai irado.

Maldição.

— Para deixar claro, Holstoke. — Anunciou Lady Wallingham. — Quando eu sugeri que jogasse sua linha em águas mais desesperadas, não estava me referindo ao viveiro de peixes Huxley.

— Dorothea! — ofegou Lady Berne.

Kate riu.

Maureen ficou rosa.

Hannah franziu o cenho em confusão.

Berne parecia uma nuvem cumulus, escura e trovejante.

— Holstoke. — Vociferou o homem normalmente tranquilo. — Na biblioteca. Imediatamente.

Phineas se recompôs, percebendo quão intima a conversa deles havia parecido ser, quão facilmente podia ser interpretado errado. Ele movimentou-se pra se colocar entre os expectadores e Eugenia, protegendo-a dos olhares diretos.

— Ela está bêbada. — Ele explicou, cruzando as mãos as suas costas.

— Certamente não estou! O vinho me deixou um pouco tonta, mas estou perfeitamente...

— Peço desculpa se as minhas tentativas em a ajudar pareceram inapropriadas...

— ... lúcida. Você é quem está fora da razão...

— ..., mas, eu sinto que devo preveni-la de comentar um grave erro em meu nome.

— ... se acha que o Sr. Froom e Lorde Glencombe serão apaziguados por...

— Cale-se, Genie! — Seu pai disse. — Holstoke, conversarei com você na biblioteca. Agora.

Não vendo alternativa, Phineas assentiu e seguiu o homem mais velho para fora da sala de estar. Talvez se ele explicasse com maior clareza, Berne entendesse.

Ele apenas a tocou porque era necessário.

Ele não mencionaria como as suas mãos ainda formigavam no local onde elas a tocaram, como sua bochecha ainda pulsava estranhamente onde ela pusera suas mãos. Ele não podia explicar o fenômeno para si mesmo, quanto mais para o pai dela.

Berne fechou a porta da biblioteca com uma pancada firme.

— Acredito que você é um cavalheiro de verdade.

— As coisas não são como parecem, sir.

— Não? Então, você não estava segurando a minha filha como se quisesse levá-la para a cama mais próxima?

A franqueza de Berne o atingiu como uma flecha no peito. Ele precisava de ar e uma resposta. Ele não tinha nenhuma. A luxúria não o comandava, mas sim, a necessidade de proteger a pequena tola de sua própria impetuosidade. Obviamente Berne tinha entendido as coisas erradas.

Totalmente erradas.

Talvez noventa por cento. Setenta e cinco, no mínimo.

— É... Ela está...minha intenção... — Phineas soltou o ar e esfregou a nuca. — Maldito inferno.

— Maldito inferno, de fato. — O outro homem alfinetou. — Parece que lhe dei a impressão errada esta manhã, Holstoke. Permita-me esclarecer. Minha filha não é para se brincar.

Os músculos de Phineas endureceram, sua cabeça latejava ao máximo.

— Eu procurava apenas protegê-la, Berne.

O homem avançou, os olhos de avelã não eram mais calorosos, mas enfurecidos.

— Quando era mais jovem, ela sofreu um lapso de julgamento, um pelo qual ela já pagou centenas de vezes. Mas qualquer homem que a confunda com uma ‘saia leve’ terá que entender o risco no qual se envolveu. Nunca duvide que a sua família a mantém protegida, Holstoke. Eu, por exemplo sou malditamente bom em atirar. O irmão está na Escócia, mas ele voltará em breve. E, por suas cartas, parece que ele adotou totalmente os hábitos bárbaros das Terras Altas.

A mandíbula dele doía. Talvez porque ele estivesse cerrando os dentes.

— Você pode não gostar de Dunston, mas saiba disso: o último homem que tomou liberdades com Eugenia, recebeu inúmeras cicatrizes de faca por tal problema. O outro cunhado dela é o Duque de Blackmore. Devo dizer quantos filhotes vulgares Blackmore arruinou por ousarem aplicar aquele apelido odiosos a minha preciosa menina?

Dunston a defendeu? Mais cedo ele provocara Phineas com o ‘apelido odioso’, invocando uma reação destemperada de Phineas. Ele franziu o cenho. Talvez fosse essa a ideia: provocar.

— Outra coisa, Holstoke. Minhas filhas não são malditamente intercambiáveis.

A ruga em sua testa se aprofundou, seu pescoço enrijecendo ainda mais. Sobre o que diabos o homem falava?

— Maureen e Eugenia são o sol e a lua. Mel e presunto. Cada uma é um deleite à sua maneira, mas não são iguais.

Bom Deus, ele estava implicando que...?

— Usar uma como substituta da oura é o mais baixo...

— Basta. — A voz de Phineas foi uma alfinetada calma. Felizmente, ele conseguiu controlar isso antes de gritar. Berne achava que ele não entendia a diferença? Que tipo de canalha depravado ele o considerava? — Deixe-me falar.

Levou um momento, mas Berne assentiu.

— Eu juro para você que eu não fui desonrado com a sua filha de forma alguma. — Ele controlou a raiva novamente, deixando-a surgir e inchar o seu peito antes de prendê-la. — Pelo contrário. Eu admiro a sua família, sir. Eu procurava apenas defender isso. E ela...Se parecemos...íntimos, foi devido a nos conhecermos por muito tempo. Lady Eugenia tem interesse em minhas atuais dificuldades. Estou tentando fazê-la desistir da ideia.

O fogo paterno gradualmente diminuiu. Berne levou um longo tempo para responder. Quando o fez, sua voz estava mais calma.

— Como pôde ver. — Ele olhou para seus sapatos e depois para Phineas. — Ela é cabeça dura.

Phineas quase riu diante da afirmação. Em vez disso, ele assentiu e manteve a expressão neutra.

— Muito bem, Holstoke. Se jurar por sua honra que isso é nada mais do que um erro de interpretação...

— É.

— ...então, eu direi apenas isso. — Os olhos de Berne, mesmo retornado ao seu brilho amável, ainda estava endurecido. — Ao primeiro vislumbre de impropriedade entre vocês – particularmente em público – sua caça a uma esposa acaba, meu rapaz, pois se casará com Eugenia. — Berne virou-se e abriu a porta, acenando para Phineas adiantar-se. — Eu posso não ter querido um lacaio como genro, mas o Conde de Holstoke? — Berne bateu com firmeza em seu ombro enquanto ele passava. — Você seria esplêndido.


CAPÍTULO 7

“A impulsividade é a abençoada companheira do escândalo de Eugenia. Convide um e você pode muito bem sentar-se à mesa com o outro.”

A Marquesa Viúva de Wallingham para Lady Eugenia Huxley após testemunhar a oferta imprudente da dama citada a um certo conde de olhos pálidos.

No dia seguinte, em algum lugar entre a Bond e a Bow Street, Phineas começou a se sentir melhor. A noite anterior fora um desastre, verdade. Ele nunca fora ameaçado de enforcamento e casamento ao mesmo tempo antes. Mas após uma luta matutina no Angelo’s com um velho amigo de Harrow – que era um espadachim medíocre e um excelente Secretário das Relações Interiores – ele começou a pensar que suas circunstâncias eram menos terríveis do que presumira.

Trinta ou quarenta por cento, talvez.

Quando a carruagem passou por uma mulher ordenhando uma vaca, ele ignorou a cacofonia ao redor da Covent Garden e refletiu sobre suas chances. Primeiro, ele era um conde. Isso não era um fato insignificante. Mesmo Bow Street hesitaria em acusar um colega de assassinato, quaisquer fossem as suspeitas.

Segundo, ele pretendia ajudar na investigação. Se, como Drayton reportou, os venenos usados nos assassinatos eram parecidos com os de sua mãe, talvez ele pudesse ser útil, como havia sido antes.

Nos anos após a morte de sua mãe, ele fez um esforço exaustivo para identificar as vítimas, desenterrando seu longo fascínio por venenos. Dunston, Drayton e o dono do clube de aposta, Sebastian Reaver, ajudaram. Drayton havia até mesmo se ferido enquanto rastreava o boticário que misturava as fórmulas. Mas nenhum deles possuía o conhecimento necessário sobre extratos botânicos. Phineas sim. A única coisa que ele e sua mão tinham em comum, de fato – além do sangue – era o interesse por plantas. Ela empregara várias fórmulas através do tempo, elaborando-as às suas necessidades.

Com seu pai, por exemplo, ela orquestrou uma morte longa e debilitante, marcada por um declínio das faculdades mentais. Ele se lembrava de seu pai antes da ‘doença’ começar. Simon Brand fora tranquilo. Pensativo. Remoto, mas bondoso. Phineas recordava de seu pai o colocando sobre os ombros para assistir balões subindo, explicando-lhe como o calor mudava o peso do ar. Ele lembrava do dia em que ele partiu para Harrow, como despedaçado seu pai parecera, como se ele quisesse nada além do que manter Phineas com ele.

Simon havia amado seu filho. Ele amara a mãe de Hannah, que ele conhecera em uma viagem a Bath. Ele amara a filha. Mas ele se casara com uma serpente. E o veneno dela havia sido a sua morte.

Uma mulher de refinada frieza, sua mãe mirou seu pai, um segundo filho, como uma serpente faz com sua presa. Em três meses, Lydia Price virou Lydia Brand. Então, após elaborar as mortes do tio e avô de Phineas, ela se transformou na Condessa de Holstoke. Ela ansiava ter influência na aristocracia, a perseguia com uma avareza bruta, presumindo que um título garantiria a aceitação. Por um tempo, foi o que aconteceu.

Finalmente, a ton a rejeitou. Além de um punhado de homens suscetíveis que adoravam a sua beleza, ninguém mais gostava de ficar perto de Lady Holstoke por muito tempo. Muitos sentiam sua natureza insensível e procuravam fugir dela, como Phineas fizera.

Por todos os direitos, um filho não deveria odiar a sua mãe, mas, a não ser por ter lhe dado à luz, ela não fora uma mãe. Ela o confiou aos cuidados de babás e tutores desde o nascimento, preferindo criar entretenimentos e cultivar os jardins de Primvale Castle. Mesmo na jardinagem, ela lhe dava pouco crédito, frequentemente ridicularizando suas opiniões e descartando o seu conhecimento.

Como a antipatia entre eles era mútua, Phineas conseguiu evitar a companhia dela – e ela a dele – até seis anos atrás, quando ele viera a Londres para procurar por uma esposa. Quase inexplicavelmente, ela insistira em acompanhá-lo. Mais tarde, ele percebera o propósito dela: ela idealizara um esquema para vender venenos especializados para famílias que desejavam apressar suas heranças. Phineas fora sua desculpa para estabelecer as conexões necessárias e para ela ficar na cidade.

Dificilmente fora a primeira imersão dela na criminalidade. O apetite de sua mãe por riqueza e poder era sem fim, e ela passara décadas nesse esforço. Seus esquemas ilícitos variavam de contrabando a quadrilhas, ladrões de bordéis e casas de jogos. Assassinatos simplesmente eram o meio para alcançar seus fins.

Agora, enquanto sua carruagem diminuía e lentamente se aproximava da Bow Street, Phineas considerava as mortes da Srta. Froom e de Lady Theodosia. Sua mãe se fora, assim como seus cúmplices, porém os métodos dela foram impudicamente descritos no The Times e outros jornais. Qualquer maluco que tivesse capacidade de ler naquele tempo, poderia ter decidido imitar os crimes.

Talvez após os corpos serem examinados por cirurgiões, ele pudesse deduzir se os venenos eram de fato iguais as fórmulas de Lady Holstoke ou se era apenas uma horrível coincidência.

A carruagem parou do lado de fora do escritório de polícia de Bow Street. Ele esperou que uma carroça carregada com flores e frutas passasse antes de sair e cruzar da porta. Dentro do espaço sombrio ele percebeu uma estranha variedade de bêbados beligerantes, patrulheiros de casacos vermelhos, miseráveis de caras envergonhadas, jornalistas de olhos agudos e prostitutas resignadas. Um policial empurrou desleixadamente uma mulher. O homem riu quando ela saiu correndo segurando o corpete e cuspindo em sua direção.

Phineas procurou por Drayton dentro de uma sala escura e lotada, mas no meio da aglomeração, seus olhos fixaram em uma anomalia.

Uma anomalia de cintura pequena, postura orgulhosa e distintamente feminina.

Ele atravessou a multidão, aproximando-se.

Seu vestido de passeio era de lã verde e elegante. Seu bonnet exibia duas peras em miniatura e três penas douradas. As plumas balançavam enquanto ela falava com um oficial de queixo quadrado e cabelos escuros, que parou de tomar notas para arquear as sobrancelhas e reprimir um sorriso.

— A noite inteira, minha dama?

— A noite inteira. — Sua voz doce e rouca insistiu. — Todas as noites. Não há noites que ele não esteja comigo. A maioria das manhãs e tardes também.

O oficial balançou a cabeça e perdeu o controle de seu sorriso.

— Sua senhoria tem um vigor formidável, hein?

Por Deus, Phineas tinha que ter insistido que ela fosse trancada em seu quarto. Agora era tarde demais para eles.

— Precisamente. Formidável. Sim. Então, como vê, ele teria pouco tempo para envenenar alguém, já que estamos sempre juntos. Exceto quando ele está no clube. Ou frequentando algumas de suas entediantes palestras sobre jardins. — Ela fungou. — A maioria do tempo, ele está comigo.

O raio queimou através dele, incendiando cada fibra. Quebrou, rachou e devorou até tudo desaparecer: as prostitutas, os miseráveis, as janelas com barras e fedor do desespero.

Não, havia apenas essa mulher e o destino que ela desencadeou: Eugenia Huxley seria sua esposa. Não precisava calcular probabilidades. Isso certamente era cem por cento.

A percepção martelou sob sua pele. Acelerou seu coração, sua respiração. Comprimiu sua virilha até ele mal poder respirar. Automaticamente, suas pernas o levaram até centímetros dela.

O oficial levantou o rosto. Olhos perspicazes e cansados do mundo brilharam. Ele inclinou a cabeça.

— Meu lorde.

Plumas douradas roçaram o queixo de Phineas quando ela se virou. Olhos intensos como os de gato arregalaram-se embaixo das peras.

— Holstoke! — As bochechas dela ficaram vermelhas. — Eu...Eu estava apenas explicando. — Os dedos dela tremeram. — Para o Sr. Hawthorn, é isso. Estava lhe dizendo...

— Eu ouvi. — Phineas alfinetou. — Estamos indo embora.

Eugenia arregalou ainda mais os olhos com insistência, balançando a cabeça emplumada na direção do oficial.

— Talvez devamos nos assegurar que o Sr. Hawthorn não tenha mais perguntas.

O olhar do oficial caiu sobre as mãos de Phineas no braço dela, depois para o caimento das calças dele. O sorriso irônico voltou.

— Desnecessário, minha dama. — Hawthorn arqueou uma sobrancelha e encontrou os olhos de Phineas. — Minhas questões foram todas respondidas por enquanto.

— Oh. Bem, então. Devo desejar-lhe um bom dia, Sr. Hawthorn. — Ela assentiu com vigor, como se passeasse pela Bow Street em direção a Covent Garden em vez de ter acabado de confessar passar ‘todas as noites’ sendo violentada por um homem de ‘vigor formidável’.

— Diga a Drayton para vir me ver em Holstoke House. — Phineas ordenou trincando os dentes.

Hawthorn assentiu batendo seu lápis contra seu caderno.

Phineas empurrou sua impetuosa, louca e audaciosa futura noiva através da multidão e saiu na Bow Street.

— Holstoke. — Ela gritou enquanto ele a arrastava em direção à carruagem dele. — Eu posso pegar uma carruagem de aluguel.

— Nós vamos conversar na carruagem. — Ele abriu a porta. — Entre.

Olhos de xerez o fulminaram.

— Não seja...

Ele inclinou-se.

— Para. Dentro.

Alguma coisa na fúria dele deve tê-la convencido finalmente, pois ela simplesmente engoliu em seco e entrou. Ele gritou uma ordem ao seu cocheiro e também entrou na carruagem.

Por segundos, ele respirou fundo e a observou silenciosamente ordenando que sua raiva e ereção recuassem. Nenhuma delas cooperou. Inferno maldito.

— Encarar é grosseiro, Holstoke. — Ela fungou. — Deveria me agradecer.

— Agradecer? — Ele murmurou incrédulo.

— De nada.

— Maldição, mulher.

— Blasfemar também é rude.

— Eu lhe avisei para não fazer isso. É irreversível.

As penas dela balançaram quando ela ergueu o queixo.

— Bom. Minhas intenções eram exonerá-lo irreversivelmente. E foi isso o que eu fiz.

— O que você fez... — Ele disse suavemente. — Foi forçar a minha mão.

— Não seja ridículo. Eu resgatei o seu pescoço da corda. Remediações adicionais são desnecessárias, desde que estupidamente não me contradiga.

— Eu teria resgatado o meu próprio pescoço, sua tolinha.

Ela cruzou os braços e lhe lançou um sorriso de descrédito.

— Como? Pode dizer?

— Ao encontrar o assassino verdadeiro.

Ela piscou. O sorriso desapareceu.

— Oh. — Ela mordeu o lábio inferior e depois apoiou o cotovelo em seu pulso e bateu naquele lábio carnudo com um dedo. O movimento atraiu o olhar dele como uma abelha por uma flor. — Ainda assim, tal investigação pode levar semanas. Meses, até. Até lá, estaria sob julgamento na Casa dos Lordes e contaria apenas com a ajuda duvidosa de Dunston. Isso seria ruim. Ele não gosta de você. Não, a minha solução é melhor. Deixe Hawthorn caçar o assassino. Pela aparência de seus trajes, ele poderia usar os fundos.

Ele não respondeu. No momento, o corpo dele estava sendo crivado por raios e suas mãos apertavam o assento para mantê-la longe dela.

— Além do mais, seria melhor que saísse de Londres. Quando eu voltar a Nottinghamshire...

— Você não vai a Nottinghamshire.

Aquela boca – a que fazia o seu sangue correr mais quente do que deveria – abriu-se e franziu.

— Sobre o que está...?

Ele encontrou os olhos dela.

— Eu sairei de Londres. — Ele disse. — E você virá comigo.

A garganta dela ondulou.

— Não, não acho que seja necessário. Hawthorn pareceu bem persuadido...

— Nos casaremos em uma semana.

— Casar — Ela murmurou a palavra. O peito dela estremeceu e acelerou com respiradas rápidas. Suas mãos caíram sobre o colo.

— Depois eu a levarei a Primvale, onde estará segura.

— Holstoke.

— Hannah ficará aliviada. Ela prefere Dorsetshire.

— Eu não quero um marido. Além do mais, no que diz respeito às esposas em potencial, eu sou uma terrível perspectiva. Terrível. Apenas pense na humilhação. O escândalo.

Ele inclinou-se para a frente, lutando para não a imaginar deitada embaixo dele, aqueles lábios finos engajados em uma atividade mais valiosa do que discussões intermináveis.

— Talvez pudesse ter considerado tais coisas antes de se declarar minha amante.

Ela balançou a cabeça, penas douradas ondularam agitadas.

— Não concordarei com isso.

— Uma licença leva alguns dias para sair, mas se a igreja tiver disponibilidade, não haverá mais espera.

— Maureen mencionou que você deseja se juntar ao pequeno clube de plantas de Lorde Gilforth. Uma esposa notória certamente diminuirá as suas chances...

Ele franziu a testa.

— A Sociedade de Horticultura de Londres não é um ‘pequeno clube de plantas’. É a maior organização botânica da Inglaterra. O propósito deles é a pesquisa científica.

— E se deseja tornar-se um membro, casar com a Rameira Huxley apenas manchará...

— Eu já a alertei para não repetir essas palavras, Eugenia.

— Negar a realidade não beneficia ninguém. Além do mais, não desejo morar em Dorsetshire. Eles têm lojas de chapéus lá?

— Vontades não importam. Escolhas sim. Você fez a sua. — Ele trincou a mandíbula. — E a minha, pelo que parece.

— Besteira.

Sua resposta atrevida, assim como suas negativas contínuas, o inflamou ainda mais. Seu corpo doía e latejava. Forçou-se a afastar o olhar dela. Ajudou um pouco. Notou que o dia ficara cinza.

— Escute-me Holstoke. — Ela disse após um longo silêncio. — Você e um homem de caráter admirável.

Obviamente ela não sabia nada sobre os seus pensamentos, pois eles estavam longe de serem ‘admiráveis’ quanto deviam ser. Ele queria entrar na boca e no corpo dela. Como se a certeza do casamento tivesse aberto algum portão, até então, desconhecido. Ele foi inundado por um desejo quase incontrolável de reivindicá-la.

Eugenia Huxley, de todas as mulheres. Uma resposta totalmente irracional a uma mulher totalmente irracional.

— Se acreditasse que o meu depoimento ao Hawthorn iria prejudicar a mim, a Kate ou ao resto de minha família em um grau significativo, não teria feito. — Ela continuou, sua voz calma e racional, suas palavras, sem sentidos. — Mas você deve compreender, todo dano já foi concebido três anos atrás. Não há nada a ser salvo.

— De qualquer modo, nos casaremos.

— Mas...Eu sou desgraçada. Você não me quer e eu não quero um marido e...

— E você será a minha esposa lá pelo fim desta semana. — Ele se preparou antes de voltar a olhá-la. Por Deus, ela era uma tentação. Desafiadora. Rebelde. Uma provocação cheia de curvas e olhos de gato. — Aceite.

Um franzido de perplexidade enrugou a testa dela.

— Como eu posso aceitar algo tão absurdo?

Entre uma piscada e outra, ele moveu-se do assento dele para o dela. Outra piscada e ele tinha Eugenia esticada embaixo dele, assustada e enrubescida.

— Aceite. — Ele repetiu.

O bonnet dela escorregou sobre sua testa. Ele puxou a coisa frouxa, avaliando seu cabelo. Ele queria vê-lo escorregar. Espalhar e brilhar.

Ela piscou.

— Bons céus, você realmente está furioso comigo, não está?

Furioso? Em parte, talvez. Quem diria que poderia afirmar com tanta luxúria rondando? As porcentagens se perderam em meio ao tumulto estrondoso, que queimava e confundia.

Ele segurou a cintura dela com uma mão, envolveu-a com a outra, tomando cuidado para não a deixar sentir sua ereção. Se ela confundiu sua necessidade com raiva, melhor. Talvez ela ficasse intimidada com a percepção.

— Aceite. — Ele exigiu mais uma vez.

— Lamentar-se-á, Holstoke. Há coisas que não sabe.

Ele abaixou-se até os seios suaves e doces amortecessem o seu peito e os lábios suaves e doces estivessem perto o bastante para um beijo.

— Aceite.

A respiração dela ofegou sobre o seu queixo, os olhos procuravam os seus.

— Não me culpe quando lamentar de sua decisão. Recorde-se deste momento.

— Oh, recordar-me-ei.

— Sim, muito bem. Apenas recorde-se de quem permitiu que a besteira do cavalheirismo destruísse a sua vida e quem lhe ofereceu uma saída. — Ela umedeceu os lábios e olhou para os deles. — Este é você, neste caso.

Ele não queria sair. Ele queria entrar.

— Fale, Eugenia.

Ela suspirou, os olhos melancólicos.

— Pelo menos a minha família não carregará mais o fardo.

— Fale.

— Muito bem, Holstoke. Eu me casarei com você.


CAPÍTULO 8

“Um chapéu, mesmo ostentoso, só pode esconder as deficiências de seu usuário por um tempo, Meredith.”

A Marquesa Viúva de Wallingham para Lady Berne em um momento de aborrecimento com o comportamento rebelde de Lady Eugenia Huxley.

Genie tivera certeza de que ele quis beijá-la. Aqueles olhos pálidos tinham soltado faíscas escuras, a respiração dele pairaram sobre seus lábios e seu peito a havia pressionado contra o assento.

Por todas as razões, ele deveria tê-la beijado.

Porém a carruagem sacudiu ao virar uma esquina, ele gemeu como se estivesse com dor e, qualquer que tenha sido a emoção estranha que fez Holstoke se comportar tão imprevistamente, dissipara-se ou foi ferozmente controlada. Ele lentamente afastou-se dela, a endireitou e, calmamente, recolheu o chapéu dela do chão da carruagem.

Ela deveria ter ficado aliviada, claro. Beijar não era a sua preferência. Porém, ela desejava descobrir qual a sensação de ter aqueles lábios sobre os dela. Desejou ser capaz de segurar o rosto dele em suas mãos, aspirar seu cheiro de limão e descobrir a fonte de calor que fizera o seu coração bater a um ritmo estrondoso.

Agora, seis dias depois, ela vasculhava a sua cesta de fitas vermelhas, esperando que seu maldito mal-estar passasse logo.

— Talvez branco fosse melhor. — Ela murmurou. — Flores brancas, gaze branca, penas brancas.

— Ugh. — Kate zombou. — Branco é tão... Não-Genie.

— Apropriado, quer dizer.

— Previsível. Você estará se casando. Com Holstoke! — Kate riu e caminhou até o canto oposto da sala para se servir de uma xícara de chá.

— Céus, tudo é tão surpreendente. Por que o seu chapéu teria que ser menos?

Genie apoiou a cabeça sobre as mãos e ficou olhando para o seu chapéu iniciado, que ela refazia pela terceira vez.

Surpreendente. Sim, ela acreditava que seu casamento iminente era inesperado. A grande surpresa era Holstoke, obviamente. A única coisa que ela mais temia era a viagem a Dorsetshire. Três dias um uma carruagem fechada com a silenciosa e frágil Hannah? Céus, Genie teria que cuidar de cada uma de suas palavras.

— Sabe, isso me lembra de uma peça. — Kate disse.

Genie bufou.

— É claro que lembra.

— Em a Megera Domada, Katherina inicialmente briga com Petruchio, mesmo saindo faíscas entre eles desde o início. O casamento deles é controverso no começo, mas tudo termina bem.

— Para Petruchio, talvez. — Genie murmurou.

— Ela até mesmo tem uma irmã mais nova que também se casa. — Kate se jogou na cadeira ao lado de Genie. — Exceto que o nome da irmã é Bianca. E o meu nome e Katherine. E mesmo que o seu nome fosse Katherine, você nunca concordaria em declarar que o sol era a lua por causa dos caprichos de seu marido. — Ela bebeu o chá. — Você provavelmente o enterraria debaixo da sua cama nupcial, suspeito.

Genie puxou uma pena de pavão e uma fita violeta, segurando-as contra a luz.

— Então está me dizendo que a minha circunstância não tem nada a ver com a sua peça.

— A comparação desmorona após uma comparação mais detalhada.

Esse era o motivo pelo qual Genie raramente prestava muita atenção em Kate. Sua irmã – por mais adorável que fosse – falava de modo enredado.

— Por falar nisso, Holstoke estaria mais propenso a cortar um bruto como Petruchio do que virar um. — Outro gole. — Especialmente se você fosse tratada com grosseria. Céus, consegue imaginar? Ele ficou furioso com a Sra. Pritchard! — Kate deu uma risadinha.

— Holstoke é honrado. — Genie descartou a pena de pavão e a substituiu por uma de avestruz amarelo. — Muito honrado, às vezes.

— Ele é bastante protetor com você.

Genie escolheu não responder.

— Alguns diriam que furiosamente.

— Você quer chegar a um ponto, Kate?

— Acho que ele gosta de você.

Seu coração se apertou.

— Ele gosta de Maureen.

— Isso foi há anos. Provavelmente você não acha que ele ainda a ama...

— Holstoke é do tipo protetor. — Genie respondeu. — Apenas observe como ele trata a irmã. Tenho certeza de que ele protegeria um cachorrinho maltratado se encontrasse um na rua, desde que o filhote não comece seu chapéu. É simplesmente quem ele é.

— Humm. Duvido muito que ele proporia casamento a um filhote maltratado.

— Ele não tem nenhum sentimento especial por mim, tolinha. — Exceto que ele a derrubara no assento da carruagem e exigiu que ela concordasse em se casar com ele. Ela mal sabia o que dizer. Aqueles olhos perfuraram a cada resposta, deixando-a cambaleante.

Ela quis contar-lhe a verdade. Depois ela pensou em sua mãe, seu pai e em Kate. Deus, a enredada Kate com sua obsessão por Shakespeare e noções doces e fantasiosas de casamento por amor. Kate merecia ser feliz sem um escândalo. Sua mãe e seu pai mereciam ficar livres do Grande Fardo de Genie. Pelo que importava Dunston e Blackmore mereciam um descanso de ameaçar a todos homens grosseiros que a insultava.

Ela deveria ter contado a verdade a Holstoke. Mas, depois de ser demitida pela Sra. Printchard, seu plano para abrir uma loja e conseguir independência como uma chapeleira de moda escandalosa sofrera um golpe. Se ela não conseguia nem ao menos permanecer empregada como uma assistente por um ano inteiro, como poderia esperar administrar uma loja com sucesso?

Na verdade, a oferta de Holstoke – a exigência, na verdade – veio em um momento de vulnerabilidade. Ela viu uma saída e a aceitou. Ela se casaria com ele, transferiria o Grande Fardo Genie para os ombros de Holstoke. Mesmo que ela nunca fosse ser o tipo de esposa que qualquer homem em plenas funções pudesse querer.

Ela tentaria. Aquele fora o seu voto silencioso ao se deparar com aquele verde gelado surpreendentemente aquecidos e deu a resposta que ele queria. Ela tentaria ser uma boa esposa.

Certamente Holstoke não seria muito exigente. Ele sempre lhe parecera bastante frio, mais interessado em plantas do que em paixões. Ele não parecera frio na carruagem, claro, mas certamente era mais raiva do que ardor. Não, com toda a probabilidade, Holstoke pediria a ela pouco mais do que fosse necessário para gerar um filho.

E filhos seriam adoráveis, mesmo que a geração deles não fosse.

Kate bufou.

— Você é uma idiota. Após o casamento, perceberá que estou certa. Sempre que está perto, ele parece, inexplicavelmente febril. Não consigo explicar isso.

Genie balançou a cabeça e abaixou a pluma amarela e a trocou pela fita de veludo marrom.

— Contos de fadas novamente?

Kate estalou a língua e inclinou-se sobre a mesa. Então, ela puxou um pedaço de seda coral e envolveu no pulso de Genie.

— A vermelha, querida. Foi a vermelha o tempo todo.

Mais tarde, enquanto Genie franzia o forro de cetim ao redor de uma copa alta, ela contemplou as armadilhas e os benefícios de se tornar a esposa de Holstoke.

Primeiro as armadilhas: eles tinham pouco em comum. De acordo com Maureen, que se correspondia regularmente com Hannah, Holstoke passava a maior parte de seu tempo avaliando jardins e os vidros das casas, escrevendo artigos científicos e depois submetendo-os ao pequeno clube de plantas que continuamente negava a sua entrada. Genie não conseguia imaginar algo mais tedioso. Ela não sabia nada sobre plantas, além das melhores para decorar os penteados femininos, mas, com certeza, haveria maneiras mais emocionantes de se passar as horas.

Além do mais, ela não mentira sobre Dorsetshire. Vagar pela zona rural costeira com nada além de ver flores silvestres para desviar seus pensamentos da solidão abismal? Bons céus. Ela deveria criar algum propósito útil ou enlouqueceria.

Enquanto desenrolava um pedaço de fita verde e começou a enrolá-la no arame para criar galhos e folhas, focou nos aspectos benéficos de se tornar a mulher de Holstoke.

De verdade, ela admirava o homem. Ele era bondoso com a irmã. Nobre. Alto. E, como ela percebera, bonito a sua maneira. Os olhos eram extraordinários, claro. Os lábios...sim, ele tinha lábios soberbos. Ela nem mesmo podia imaginar beijar, se não fosse beijar Holstoke.

Suspirando, ela curvou sua videira verde ao longo da aba do chapéu e a costurou no lugar. Melhor não se aprofundar muito nas questões das relações conjugais. Isso fazia seu estômago borbulhar e doer.

Ela franziu o cenho e mudou para considerações mais práticas. Uma mesada generosa era provável. Ele era mais rico do que qualquer homem que ela conhecia – incluindo o Duque de Blackmore. Maureen descrevera o castelo de Holstoke como “surpreendentemente palaciano para um homem rígido”. Genie não tinha certeza se acreditava nela, já que Maureen podia ser excessivamente generosa em seus elogios. Entretanto, Lady Wallingham uma vez reclamara que Holstoke estava ‘determinado a ser dono de cada semente do solo inglês.' Suas posses devem ser vastas, de fato. Provavelmente ele não teria má vontade em dar fundos suficientes para sua esposa comprar alguns suprimentos de chapelaria.

Ela sorriu diante do pensamento. Oh, quão esplêndido seu novo local de trabalho seria – metros e metros de fitas, acres e acres de renda. Tesouras adequadas, blocos resistentes e uma mesa de tamanho adequado. Dez, não, vinte metros pelo menos. Sim, uma mesa longa e bonita que ela nunca precisaria dividir. Nem com Fancy Nancy. Nem com ninguém mais.

Bons céus, este casamento pode ser a coisa certa. Pela primeira vez desde que papai beijara a sua testa e apertara a mão de Holstoke com uma aprovação calorosa, ela não se sentia mais indisposta. Ela estava...bem.

Um marido alto, bonito e honrado a quem ela admirava. Filhos, eventualmente – ela gostava bastante de crianças. Uma mesada generosa. A possibilidade de uma chapelaria verdadeiramente grande. Seu casamento prometia ser mais palatável do que antecipara, especialmente se Holstoke provasse ser um marido com poucas exigências.

Ela mordeu o lábio. Infelizmente ela não poderia ter certeza da última parte até eles serem, de fato, marido e mulher.

Uma batida soou à porta. Era Emerson.

— Desculpe-me, minha dama. Você tem uma visita. O Sr. Moody pede para vê-la.

— Oh! — Ela exclamou. — Faça-o entrar.

Com as bochechas vermelhas e sorrindo, Lewis Moody entrou na sala com seu chapéu em mãos e se inclinou.

— Milady. Obrigado por me receber.

Ela se levantou e foi cumprimentá-lo.

— Não seja tolo, Lewis. Fico feliz por ter vindo. Conte-me, está gostando de trabalhar com o Sr. Smith?

— Esplêndido, milady. Ele é o chefe mais generoso. Eu já aprendi novos métodos de costurar o feltro e... — Lewis engoliu em seco e abaixou os olhos para seu chapéu, apertando a coisa em suas mãos. — É por isso que eu vim, milady.

— Lewis, chame-me de Eugenia. Nós uma vez fomos conspiradores, você e eu. — Ela brincou. — Certamente não há necessidade de ser tão formal.

Ele levantou os olhos, brilhantes e ávidos. As bochechas redondas coraram ainda mais até suas sardas desaparecerem.

— Lady Eugenia.

— Humph. Isso deve servir, suponho. — Ela lhe deu um sorriso de repreensão. — Agora, diga-me o que o traz aqui?

Ele engoliu e seco novamente.

— E-eu desejo agradecê-la propriamente, mil..er, lady Eugenia. — O homem corpulento soltou um suspiro e olhou para o teto antes de encontrar seus olhos novamente. — Você foi muito bondosa e sou muito grato.

— Isso é tudo? Oh, Lewis, não precisava fazer todo esse caminho...

Ele se aproximou.

— É o que mais admiro. Você sempre me tratou com bondade, apesar de ser uma dama e eu nada além de um comum chapeleiro.

Ela inclinou a cabeça, reconhecendo seu agradecimento ao dar um tapinha em seu ombro.

— Bem, fico feliz por ter caído em um bom lugar depois que eu lhe causei problemas.

Abruptamente, ele caiu de joelhos e pegou a mão dela.

— Oh! O que...

— Eu desejo oferecer a mim mesmo a você, milady. Lady Eugenia.

— Lewis, realmente. Não há necessidade...

Ele segurou seus dedos e elevou os olhos para ela com ar de adoração.

— Eu serei seu cavaleiro, embora seja apenas um humilde chapeleiro. E sempre que precisar de mim, eu virei imediatamente. Ou tão rápido quanto consiga alugar uma carruagem. Presumindo que andar não seja o mais rápido.

Ela engoliu a bolha de risada que ameaçava explodir. Homem doce e tolo. Ele havia lido muito Ivanhoé.

— Você é um verdadeiro galante, Lewis Moody. — Ela se perguntava se não deveria buscar a sua colher de pau e declará-lo Cavaleiro do Império Otomano.

Ele beijou os dedos dela e segurou sua mão entre as dele.

— Minha espada é sua, lady Eugenia. Agora e sempre.

Pelo canto dos olhos, ela viu uma sombra alta e elegante mover-se através da porta aberta e entrar na luz da janela da sala.

Droga. Droga, droga, droga.

— Para um homem que deseja continuar respirando, seria aconselhado manter a sua espada a uma distância apropriada de uma dama. — A voz baixa e dura flutuou das paredes de painéis de carvalho como uma alfinetada fria. Os olhos verdes brilhavam como gelo. — Especialmente esta dama, que será a minha esposa.

O estômago de Genie afundou-se.

Os olhos de Lewis ficaram ridiculamente redondos. Ele soltou a mão dela e lutou para ficar de pé. Virou para encarar o lorde imponente.

— Holstoke. — Ela expirou, rapidamente se colocando entre os dois homens. — Era um simples gesto de gratidão...

Ele a ignorou, caminhando lentamente em direção a Lewis, perfurando o homem com o seu olhar. Céus, Holstoke tinha um talento para intimidação. Ele parou a meros centímetros dela, ereto, alto e frio, suas mãos cruzadas às suas costas, os olhos fixos em Lewis por cima dos ombros dela. Calmamente, ele falou uma palavra:

— Saia.

Lewis guinchou. Inclinou-se. E fugiu. Para um homem corpulento, ele se movia rápido.

— Isso era mesmo necessário? — Ela disse, observando Lewis fugir pela segunda vez em uma semana.

Ela esperava que Holstoke descongelasse após a partida do outro homem, mas ele meramente transferiu seu olhar frio, opaco e penetrante para ela.

— Por que está me olhando desta forma?

Nada mudou. Ele mal piscava, seu pescoço rígido, corpo imóvel.

— Holstoke, diga alguma coisa.

Quando ele finalmente o fez, ela desejou não ter feito essa exigência.

— Como nos casaremos amanhã, vamos esclarecer as coisas, Eugenia. — Sua voz era baixa. Fria. — Quaisquer que foram as suas inclinações anteriores, quando for a minha esposa, comportar-se-á como convêm à minha esposa.

— Inclinações. — Ela murmurou, seu ventre agitando-se dolorosamente.

— Não serei feito de idiota.

Levou um momento para ela recuperar o fôlego.

— É isso o que pensa de mim? Que eu tenho inclinações?

— Sou um homem racional.

Ela bufou.

— Racionalidade quer dizer seguir a razão e à evidência até uma conclusão lógica. Onde estão as suas preocupações, as evidências são abundantes.

Ela achava que ninguém mais a faria sangrar. Mas ele fizera. O corte causou uma dor dilacerante no meio de seu corpo. Doía respirar. Doía olhar para ele. Por que ela pensou que ele seria diferente? Porque ele, também, recusava-se a se conformar?

Que idiota. Mesmo um homem peculiar, ele ainda era um homem.

Ele se aproximou, sem sinais de irritação ou raiva. Simplesmente gelo. Ele cheirava levemente a limões. Do contrário, acharia que era um estranho.

— Amanhã, quando prometer fidelidade, eu cobrarei isso. — Ele disse em voz baixa. Cuidadosamente. Com precisão. — O que quer que tenha acontecido antes tem pouca importância. O que virá depois é uma grande coisa. Isso é aceitável para você?

Ela cerrou a mandíbula. Endireitou a coluna. Abriu a boca para falar.

Perdeu a coragem.

Ela assentiu.

Calmamente ele se endireitou.

— Então a verei na St. George. Boa tarde, Lady Eugenia.

*~*~*

Phineas desmontou dentro de Park Lane e passou as rédeas de Caballus para seu cavalariço. Ele tomava cuidado com os seus movimentos. Lentos. Firmes. Ele inclinou um pouco a cabeça para bloquear o sol com a aba de seu chapéu, mas também para ver o chão.

Ele estava meio cego no momento, vislumbres de branco piscavam em torno de sua visão. Era nada além de um aborrecimento.

A faca cravada em seu crânio era pior.

Mas nada disso se comparava ao que estava por baixo disso. Ele esmagou aquela coisa sombria até ficar tão pequena quanto ele podia. Ele a envolveu em lógica e forçou mais para baixo da superfície.

Lá, queimava como brasa.

Ele havia ignorado isso enquanto finalizava o acordo de casamento com Lorde Berne. Ele a ignorou na volta para casa. Mas ela não gostava de ser ignorada.

Entrando em Holstoke House, ele passou seu chapéu para o lacaio. O rapaz de rosto bonito entrou e saiu de sua visão.

A brasa brilhava com força e ele a sufocou com mais força.

— Meu lorde, gostaria de um bule de chá?

Ele respirou até a vontade de vomitar passar.

— Sim. Leve-a ao meu quarto, por favor.

O lacaio assentiu em entendimento, um vinco de simpatia em sua testa bonita.

— Imediatamente.

Phineas foi até as escadas, subiu os três primeiros degraus antes de ouvir vozes. Sua irmã. E um homem.

Ele franziu a testa, esfregou a têmpora direita. Subindo ao primeiro andar, ele seguiu os sons até a sala de estar.

— Quando disse que Lorde Holstoke voltaria? — O homem perguntou.

— Eu não disse.

— Humm. Pensei que havia dito.

— Pensou errado, Sr. Hawthorn. Diria que não é a primeira vez.

— Isso foi um insulto, Srta. Gray? — A voz do homem soava divertida. Intrigada.

— Uma observação. O insulto é sua presença aqui.

Como usual, a voz de Hannah estava totalmente calma, mas Phineas a conhecia bem. Um fio de apreensão – medo e preocupação – corria por baixo.

Ele se dirigiu para as portas abertas. Dentro, Jonas Hawthorn estava parado perto demais dela, meros centímetros. Não é de admirar que ela se sentisse ameaçada e hostil.

— Hawthorn. — Ele espetou, estremecendo com sua própria voz. — O que faz aqui?

O agente virou-se lentamente, como se relutasse remover os olhos de Hannah. As bochechas dela estavam...rosadas. O que diabos? Hannah raramente corava. Ele obviamente a aborreceu profundamente.

Hawthorn cruzou a sala em passadas longas. Inclinou a cabeça levemente enquanto se aproximava, o único sinal de deferência ao título de Phineas.

— O inquérito do legista sobre a Srta. Froom está terminado. Eles concluíram que a morte foi por envenenamento. Espero os resultados de Lady Theodosia em breve. Froom e Glencombe também contrataram cirurgiões. Os relatórios devem chegar dentro de uma semana. Eles estão convencidos de que você está por trás das mortes das filhas deles. — Um sorriso lento surgiu. — Agora, eu? Eu não acredito. Por que um assassino ofereceria ajuda para pegar a si mesmo? — Hawthorn balançou a cabeça. — Você ainda pretende cooperar, não é, Holstoke?

A luz brilhante, vinda das janelas iluminavam em halos e obscurecia sua visão. Ele lutou para trazer o rosto de Hawthorn ao foco. Cabelos castanhos, olhos cinzas. Queixo quadrado e um profundo cinismo. Bonito, ele acreditava, apesar de um pouco rude. Ele parecia ser da mesma idade de Phineas, um centímetro ou dois mais baixo, um metro e oitenta, talvez. Phineas piscou e examinou as roupas do homem. Casaco áspero de lã preta. Calças marrons. Colete simples. Todos mal ajustados e folgados, dando-lhe a aparência de um vagabundo.

Eugenia estava certa. Hawthorn se vestia com muita simplicidade, como se não pudesse pagar ou não se incomodasse. Os agentes de Bow Street tipicamente recebiam um salário médio, mas aqueles com ambição, complementavam seus rendimentos como reivindicar recompensas de homens como Froom e Glencombe. Um oficial competente certamente poderia pagar por um casaco descente. Um talentoso, poderia viver bastante confortável, de fato. Se Drayton não tivesse garantido que Hawthorn era ‘o mais esperto do lote de Bow Street’, Phineas teria assumido que suas habilidades eram tão surradas quanto sua aparência.

Mas ele já vira disfarces antes. Sua mãe usara um até o fim.

Estreitando o olhar, ele avaliou Hannah, que permanecia perto das janelas, suas mãos dobradas em sua cintura.

— Como dei a minha palavra, Sr. Hawthorn, e eu não estou inclinado a quebrá-la, pode ter certeza da minha cooperação. — Ele disse. — Entretanto, se eu o encontrar sozinho com a minha irmã novamente, perderá muito mais do que a minha ajuda. Entendeu?

O outro homem ergueu uma sobrancelha, lançou um olhar sobre o ombro em direção a Hannah e voltou a sorrir. Ele deu uma risadinha e balançou a cabeça.

— Entendi. — Seus olhos brilhavam calculadamente. — Também entendi que pretende se casar com Lady Eugenia Huxley amanhã.

— Sim.

Hawthorn vasculhou ao redor da sala, batendo seu lápis contra o caderno.

— Esta é uma casa muito elegante, meu lorde. Elegante, de fato. Ficará em Londres depois do casamento? Ou talvez retorne a... — Hawthorn fingiu folhear suas anotações. — Ah, sim. Dorsetshire. Primvale Castle. Grande nome.

Phineas já estava ficando cansado das charadas. O homem não podia simplesmente falar abertamente? Mas então, a faca em seu crânio o fazia querer arrancar os próprios olhos, e sua paciência estava muito curta.

Além do mais, havia o incidente com Eugenia. A brasa negra queimava forte, enquanto sua mente tocava as lembranças - o sorriso dela, brilhante com uma diversão afetuosa, dirigido a um homem que erroneamente tocava algo que pertencia a Phineas – mas novamente, ele forçou isso a retroceder. Ser dominado por sua dor, sua raiva ou pela escuridão não identificada, era se render à fraqueza. Ele devia ser forte. Por Hannah. Por Eugenia. Por si mesmo.

— Londres por vários dias. — Ele respondeu ao agente. — Depois, partiremos a Dorsethsire. Você pode dar os relatórios a Drayton. Ele garantirá que eu os receba.

— Oh, eu não gostaria que nenhum documento importante se perdesse. Devo entregá-los pessoalmente, meu lorde.

— Não se incomode.

— Não é incomodo. — Novamente o homem olhou para Hannah. — Nenhum mesmo. — Então, ele virou-se e inclinou com uma pontada de zombaria na direção de Hannah antes de recolocar seu chapéu surrado e simples sobre a cabeça. — Srta. Gray, uma esplêndida manhã para você. — Ele voltou-se a Phineas e lhe deu um breve aceno. — Meu lorde.

Quando ele partiu, Phineas sentiu como se um lobo tivesse acabado de sair da sala. Hannah parecia concordar, deslizando em direção a Phineas com uma fisionomia de alívio. Esse, foi rapidamente encoberto por preocupação.

— Phineas. — Ela suspirou. — Seu chá. Devo servi-lo para você?

— Não. — Ele pressionou a palma da mão sobre sua têmpora direita. Não ajudou, mas era algo. — Provavelmente já está em meu quarto.

Ela assentiu, uma pequena ruga de preocupação se acentuou.

— Deveria se deitar.

— O que ele disse antes de eu chegar?

Ela apertou os lábios. Suas narinas inflaram.

— Nada importante. Ele é uma criatura muito...irritante.

— Se ele lhe visitar enquanto estiver fora, faça-o voltar e coloque um lacaio para segui-lo até que ele esteja bem longe de Mayfair.

— Ele se considera encantador, acho. Eu não o vejo assim.

Phineas abaixou a mão. Por Deus, sua cabeça estava latejando. E a náusea agora era constante.

— Eu o acho presunçoso. E irritante.

— Você ficará bem, pequenina? — Ele murmurou, focando seu controle em manter seu café da manhã onde ele estava.

Ela piscou.

— Sim, claro. — Piscou novamente. — Deveria se deitar. — Ela repetiu.

Ele assentiu e virou-se, apoiando-se contra o batente da porta. Fez uma pausa, perdendo o controle da brasa negra. Queimava, recordava e insistia.

— Hannah. Devo pedir um favor.

— Qualquer coisa.

— Preciso de uma lista de lacaios. Todos os lacaios de Holstoke House e Primvale.

— Lacaios? Bem, suponho que possa pedir a Sackford ou a Sra. Varney. Mas você realmente deveria descansar.

A brasa queimava ainda mais quente. Ele trincou a mandíbula contra o poder dela.

— Eu devo fazer um... rearranjo antes de amanhã. Você irá...

A pequena mão dela pousou sobre o seu braço.

— Claro que irei.

— Os cavalariços, também. Jardineiros. — Ele franziu, esfregando a têmpora. — Todos os serventes do sexo masculino, na verdade.

Ela suspirou.

— Muito bem. Vá agora, Phineas. Beba seu chá. Deixe o amanhã para amanhã.

Ele desejou conseguir. Mas pelo menos, aquela brasa estranha e negra se aquietara. Rearranjos. Sim. Uma resposta altamente lógica para uma necessidade irracional.

Entrando em seu quarto, ele passou pelo bonito lacaio novamente. Jovem agradável. Mostrando deferência e preocupação por seu empregador.

William era o nome dele. William teria que ir.

Phineas fechou a porta e depois as cortinas. O seu valete o ajudou a remover o casaco, colete, botas e a cravat. Ele bebeu uma xícara de seu chá, esperando que a fórmula funcionasse melhor do que a última. Seu valete levou a bandeja embora. Finalmente Phineas atirou seus cobertores de lado e se enfiou embaixo deles.

Seus olhos se fecharam. Então, na escuridão, ela apareceu. Cabelos de mogno soltos e brilhantes. Olhos de gato iluminados em desafio. Ela estava nua, sua confusa geometria revelando aos seus olhos.

Seu coração chutou e seu corpo endureceu, desafiando a dor em sua cabeça. Ele a tomaria no jardim, logo que o sol cruzasse o horizonte. Ele a veria banhada em ouro.

Deixe o amanhã para amanhã, Hannah dissera.

Ele não sabia como. Pois, apesar da dor lancinante, a coisa que o devorava agora era uma fome infernal e inexplicável. O amanhã não mudaria isso.

Mas a tornaria dele. E talvez, ele pensou enquanto olhava ao teto e a imaginava na doce luz do amanhecer. Talvez se ele aplicasse lógica e racionalidade ao problema, tê-la fosse suficiente.

*~*~*

Da porta do parque, ele observou o lorde entrar em sua casa. O homem parou cuidadosamente, como se não pudesse ver bem. Ele não passava de um eco obscuro da deusa que lhe dera à luz, um eco da divindade era melhor do que nada, afinal.

Mais cedo, um caçador esfarrapado entrara em Holstoke House. Educadamente tocou a aba de seu chapéu. Amabilidade fingida. O Suplicante não era tolo. Ele empregava práticas similares. A maioria das pessoas nunca olhava além da superfície.

Longos minutos se passaram. Diante dele, a Park Lane fervilhava na luz brilhante. Carruagens douradas e montarias reluzentes. Atrás dele, um desfile de vermes, exibiam suas roupas, imitando deuses. Eles também eram nojentos. Ao contrário do caçador e do filho da deusa, eles fingiam ser mais do que eram, em vez de menos.

A porta da frente se abriu. O caçador saiu enfiando alguma coisa em seu casaco largo. Ele tinha a aparência de ser um oponente de valor – incisivo e selvagem. Passadas largas e rápidas levaram o caçador pela Park Lane. Por um momento, o Suplicante considerou ficar. Ele deveria observar diligentemente a Holstoke House. O filho da deusa não merecia menos que isso.

Mas o caçador era de interesse. Um oponente valioso. Sim.

Ele ajustou sua peruca. Deu a Holstoke House uma última olhada. Então, com rápidas passadas, ele seguiu o homem de casaco folgado. Um caçador disfarçado de cão de caça inofensivo. Um oponente de valor, de fato.


CAPÍTULO 9

“A promessa de obediência quer dizer pouco quando foi recentemente tão descartada em favor de satisfazer os apetites ilícitos de alguns.”

A Marquesa Viúva de Wallingham para seu alegre companheiro, Humphrey, após o voto implícito de desobediência de tal companheiro em troca de um pedaço de presunto.

— Para amar, cuidar e obedecer. — O padre repetiu pela segunda vez.

Genie engoliu em seco e levantou o olhar para Holstoke que pairava sobre ela como um corvo de olhos verdes dentro de um halo de renda belga e cetim marfim. Deus do céu, que brilho. Ela realmente deveria completar seus votos. Mas as palavras ficaram presas em sua garganta como uma espinha de peixe.

— Milady. — Sussurrou o padre. — Deve repetir esta parte também.

Holstoke segurou sua mão direita com força. Seu nariz inflou. Seus olhos se estreitaram.

— Pa...para amar, cuidar....

O silêncio na igreja se intensificou. Seu estômago apertou. Ele se recusava a desviar o olhar.

Finalmente ela forçou a saída das palavras.

— E obedecer.

O restante dos votos veio fácil, graças aos céus. Holstoke deslizou um anel bastante simples em sua mão e eles foram declarados marido e mulher. Eles se ajoelharam enquanto o padre tagarelava sobre o amor do marido e a submissão da esposa. A última parte significantemente mais longa do que a anterior, ela notou.

Então, após muito esforço, acabou.

Ela era Lady Holstoke.

Enquanto se levantavam e viravam para encarar a igreja juntos, ela observou seu marido. Algo sobre seu comportamento havia mudado. Era sutil, uma suavidade nos cantos de sua boca, um desgelo em seus olhos frios. Ela piscou, incerta do que fizera isso. Ele parecia relaxado, como se tivesse estado faminto e agora isso desaparecera.

Após a manhã do dia anterior, ela meio que esperava que ele gritasse. Sua frieza a havia congelado, uma concha sem ranhuras e impenetrável ao redor do homem que ela viera a conhecer.

Mas ela o conhecia de verdade? Eles passaram os últimos seis anos separados. Certamente, ela mudara neste meio tempo, e Holstoke passara por muitas dificuldades. Isso explicaria a reação estranha – e insultante - à declaração tola do Sr. Moody. Talvez ele tivesse recordado a rejeição de Maureen em favor de outro homem.

Sim, talvez fosse isso.

Uma dor estranha apertou seu peito. Seus olhos vagaram para o banco onde estavam Dunston e Maureen. Maureen embalava seu filho mais novo, sorriu e enxugou uma lágrima que escorria por sua bochecha. Dunston parecia divertido. Novamente, Genie lançou um olhar para Holstoke, esperando que ele tivesse uma preocupação similar com Maureen. Em vez disso, o achou olhando para ela. Um arrepio atravessou sua pele.

O órgão começou a tocar uma música. Kate lhe passou o buquê de violetas, botões de rosa, hera e extraordinários lírios vermelhos que Holstoke enviara a Berne House naquela manhã. Ela agarrou as flores e o braço de Holstoke. Respirou profundamente e soprou para cima, ondulando a renda belga. Silenciosamente ela rezou como nunca rezara antes para que nenhum deles se arrependesse da decisão. Por favor, Deus. - Ela implorou. - Permita que ele seja do tipo desapaixonado. Pelo bem dele, e pelo meu.

Uma hora depois, sentada ao lado de Holstoke em Berne House na mesa de jantar, ela se perguntava qual a melhor maneira de testá-lo. Um beijo parecia prudente. Mas isso poderia ser entendido como um convite para se retirarem mais cedo, e ela certamente não tinha pressa. Ela suspirou e procurou pela sala por um provável conselheiro de assuntos de natureza amorosa.

Ela observou seu pai e depois sua mãe, que riam alegremente das palhaçadas do pequeno Edwin e perguntavam a Lady Wallingham:

— Diga-me Dorothea. Bain é inteligente o bastante para ficar de cabeça para baixo?

— Humph. Ele é inteligente o bastante para não o fazer, Meredith. — Lady Wallingham respondeu. — Meu neto tem melhor uso para a sua cabeça do que trocá-la pelos pés.

Genie continuou sua avaliação ao longo da mesa. Silenciosa e quieta, Hannah levava uma colher de syllabub6 a seus lábios. A irmã de Holstoke observava Sophie e Merry girando em seus pequenos vestidos brancos e coroas de hera. Uma pontada de sorriso apareceu brevemente antes de ela voltar seus olhos para a mesa.

Embora Hannah parecesse um papel e sem brilho durante a manhã, seu vestido era adorável: gaze suave e verde com um decote redondo e delicadamente babado, bordado branco na bainha e uma faixa de tafetá branco na cintura. Genie há tempos admirava o gosto da garota para vestidos. Sua escolha para chapéus era simples, claro, mas talvez com a influência de Genie, ela pudesse ser persuadida a adicionar algumas penas ou até mesmo algumas pequenas e vistosas frutas.

Mastigando uma porção de presunto, ela contemplou o seu reflexo no talher de prata. Seu próprio chapéu era uma obra de arte: seda marfim, renda belga, rosas vermelhas coral, folhas verdes e videiras, e um pouco de azul celeste que era a cor exata de seu vestido. Ela olhou para o corpete, admirando novamente o corte enviesado de seda azul que moldava suas formas. Sim, seu casamento parecia ser totalmente Genie, como Kate observava. Mesmo mamãe havia chorado ao vê-la, abraçando-a bem apertado enquanto murmurava que linda noiva ela ficara. A garganta de Genie se apertou e ela devolveu o abraço de sua mãe.

Mamãe estava livre agora. Assim como papai e Kate. Ela tomara uma decisão apropriada por sua família.

Nenhum deles a ajudaria quando Holstoke decidisse reivindicar seus direitos como marido.

O presunto ficou preso na garganta. Ela bebeu um pouco de chá.

Droga. Tanto Jane quanto Annabelle haviam recentemente dado à luz. Então estavam ocupadas nas atividades domésticas com seus maridos em Yorkshire e Nottinghamshire, respectivamente. A única irmã casada que estava presente era Maureen.

E Genie preferia pedir conselhos de Lady Wallingham a ela.

Havia Kate, claro, mas Kate era solteira e muito fantasiosa. Provavelmente citaria um soneto de Shakespeare comparando Holstoke a um dia de verão ou algo tão tolo quanto.

Genie deu outro gole no chá enquanto completava o circuito da mesa. Ela franziu a testa. Era terrível. Não havia ninguém a quem fazer suas perguntas?

— Manteiga, meu lorde? — Um lacaio perguntou.

— Sim. Chá para a minha esposa. — A voz baixa e dura soou ao seu lado.

Ela piscou. Pousou sua xícara vazia com um baque. Virou seus olhos arregalados para ele.

E lá estava ele: olhos verdes gelados, cabelos pretos e um leve sorriso. Ele calmamente passou manteiga em seu pão e perguntou:

— O que a perturba?

O lacaio serviu o chá e uma criança gritou, sua família ainda conversava, mas tudo se desvaneceu.

— Holstoke. — Ela suspirou.

— Eugenia. — Seu sorriso se aprofundou. Os olhos voltaram-se para ela.

Ela se arrepiou, e não foi de frio.

— Tenho perguntas.

— Para mim?

— Eu acho...sim. Você...precisamente.

Ele colocou o pão no prato.

— Pergunte.

— Não aqui.

O sorriso dele se aprofundou mais de um lado.

— Onde?

Após um momento, ela sugeriu.

— Na biblioteca.

Ele conseguiu levá-los à biblioteca – sozinho – aproximadamente três minutos depois. O homem era eficiente, ela tinha que lhe dar créditos. Ele fechou a porta e avançou em sua direção com as mãos cruzadas às costas.

— Bem. O que deseja perguntar?

Engolindo com dificuldade e apoiando o traseiro na escrivaninha, ela cruzou os braços.

— Primeiro, deveria saber que eu não me arrependo de nada.

Ele continuou em silêncio, embora continuasse a avançar.

— Nosso casamento não pode ser revertido. E, embora tenha sido injusto transferir o Grande Fardo Genie para as suas mãos, eu, no entanto, achei que era certo.

Ele estava perto agora. Centímetros de distância. Os olhos brilhavam nas sombras da sala.

— Bem. – Ela continuou desejando que a pressão de seu peito diminuísse. — Certo, pelo menos para a minha família.

Seus olhos moveram-se para suas saias, depois para o seu chapéu e então, para seus lábios.

— Além disso, você não fez muito melhor, Holstoke. — Ela umedeceu os lábios para fazê-los parar de formigar. — Assassinato não é um escândalo pequeno.

— Eugenia.

— Você foi quem insistiu que nos casássemos, lembre-se. Eu estava pronta para voltar a...

— Faça suas perguntas.

Ela mordeu o lábio e assentiu.

— Quantas...quantas vezes desejará... — ela parou para pigarrear, como se estivesse inexplicavelmente seca. — Isso é, qual frequência vai exigir na área dos...

Ele franziu o cenho.

— Dos?

— Assuntos matrimoniais.

Ele estacou. Bem ali, diante de seus olhos. Como um lago congelado por uma onda de frio.

— Há a tarefa necessária para gerar filhos, claro. — Ela disse, esperando por um degelo. — Eu gostaria de ter filho, acho.

Imóvel, ele não falou nada.

— Mas você pode achar minha natureza de alguma forma...— Ela abaixou o olhar para o alfinete da cravat dele. Uma esmeralda, ela notou. — Vazia. — Ela respirou irregularmente. — Eu devo ter lhe dito antes, mas esse casamento, eu o quis, Holstoke. Eu quero que ele funcione. Mas, eu posso não ser uma esposa muito agradável para um homem de...grandes apetites.

O silêncio caiu entre eles. Ela estava com medo de olhar para cima. Com receio do que pudesse ver. Em vez disso, ela observou o peito dele subir e descer em um ritmo estável e controlado.

Finalmente, ele falou, sua voz quente e um pouco rouca.

— É um pássaro empoleirado em seu chapéu, Eugenia?

Seus olhos se levantaram e o encontrou franzindo para o topo de seu chapéu.

— Sim. O “Esplendor da Natureza” é o tema. Percebe que eu reduzi as plumas de avestruz para três, assim ele parece estar equilibrado sob um jardim florescido...

— Se oporia a que eu o remova?

— O pássaro?

— Seu chapéu.

Ela piscou.

— Acredito que não. — Suas mãos subiram a aba.

As mãos dele chegaram primeiro.

— Deixe-me. — Gentilmente, ele removeu seus grampos e tirou o chapéu.

Ela automaticamente começou a arrumar o os cabelos.

— Gostaria de vê-los soltos. — Ele murmurou, os olhos sobre suas mechas sem dúvidas, lisas.

— Sim, bem. Se achar a minha aparência questionável, pode se culpar depois. O penteado de uma dama requer remontagem depois...

— Quando estiver em Primvale, mostrar-lhe-ei a minha estufa.

Olhando para ele, ela grunhiu irritada.

— Você está evitando a minha pergunta, Holstoke.

— Humm. Qual era mesmo?

— Sabe muito bem.

— Recorde-me.

Soltando um assobio de exasperação, ela alfinetou.

— Quantas vezes desejará deitar-se comigo?

Os olhos dele voltaram a se fixar nos dela. Estavam brilhantes.

— Frequentemente.

O estômago dela caiu aos pés, seu baixo ventre doeu. Uma onda de calor formigante seguida de um desespero opressor.

— E quanto...quanto a beijar?

— Isso também.

— Oh, Deus. Isso é um desastre.

— Como assim?

— Sou terrível nisso, Holstoke. — Ela confessou apressadamente. — O beijo. O toque... tudo. — Mais uma vez, ela focou no alfinete da cravat. Ela ficou feliz por ele ter seguido seu conselho. Esmeraldas combinavam com ele.

Várias batidas do coração e silêncio foram seguidas por uma única e suave palavra:

— Explique-se.

— Sou frígida.

— Não sua conclusão, Eugenia. Sua evidência.

Ela balançou a cabeça, depois ajustou as dobras da cravat dele e riu de desespero.

— Minhas irmãs – as casadas – todas dizem a mesma coisa: é maravilhoso, Genie! O formigamento, a aproximação, o prazer, e tudo mais. — Ela rolou os olhos. — Humph. Quanta bobagem. — Ela acariciou o alfinete de esmeralda com a ponta de seu dedo. — Talvez para elas, seja prazeroso. Duvido que elas mentiriam sobre ela. Elas parecem apreciar as atenções de seus maridos. — Ela fungou e pousou a mão no peito dele, bem à direita do alfinete.

Ele ficou em silêncio, embora o ritmo de sua respiração tenha acelerado um pouco.

Seu dedo voltou a acariciar seu alfinete.

— Durante a temporada, eu experimentei. Deixei dois cavalheiros diferentes me beijar. Minhas irmãs encheram a minha cabeça com bobagens, claro, então talvez minhas expectativas fossem muito altas, mas, mesmo contando com isso, as duas ocasiões foram...bem, desapontadoras, para o dizer o mínimo. O primeiro era considerado como bastante experiente, mas eu achei os esforços dele apaticamente evasivos. Um pouco como forçar um bocado de comida dentro de sua boca. Primeiro, aquele pedaço de comida teria sido melhor se fosse presunto, não um pato seco e fibroso temperado com tabaco. Segundo, teria preferido usar o meu próprio garfo, obrigada.

Enquanto ela falava, Holstoke se aproximou. Agora, ele se inclinava sobre ela, suas mãos apoiando-se na mesa ao lado de seu quadril. Ela gostava dessa posição. Deixava-a descansar sua testa contra a lã suave e elegante de sua lapela. Ela virou a cabeça para manter os olhos na esmeralda, seu polegar acariciando e acariciando.

— Presumo que simplesmente selecionei o cavalheiro errado. Então tentei novamente com outro. Não é por nada, ele foi pior. Tive mais experiências prazerosas sendo lambida pelo cão de Lady Wallingham.

— Qual o nome dele? — Holstoke falou em voz baixa.

— Humphrey. Ele é um bom cachorro. Adorável, de verdade, até um pouco exuberante.

— Não o cachorro. O cavalheiro.

— Oh. Preston. Sr. James Preston. Outro experiente. — Ela bufou.

— E o primeiro cavalheiro?

Ela suspirou.

— Tem pouca importância. Ele se casou com uma das filhas de Lorde Aldridge dois anos atrás e eles estão terrivelmente felizes. — Ela alisou a cravat de Holstoke e estudou seu colete, um elegante brocado elegante. — Não, há lago errado comigo. Por um tempo, considerei que eu sofria de uma aversão antinatural por cavalheiros de uma certa estatura. A ton é afligida pela insipidez, você sabe. — Ela parou, reunindo coragem.

Holstoke era seu marido. Ele deveria saber a verdade.

— O escândalo. — Ela prosseguiu. — Foi outra experiência.

Ele se retesou contra ela, seus ombros ficaram rígidos, sua voz sombria.

— O lacaio?

— Eu formulei hipóteses. Não é o que os cientistas fazem?

Ele não respondeu, mantendo-se imóvel.

— Bem, eu posso não ser uma cientista, mas eu precisava de uma resposta, Holstoke. Eu precisava saber, com certeza, se eu era...indiferente.

Ela fechou os olhos, recordando aquela noite. Ela vestiu seu adorável vestido branco com mangas bufantes e um xale requintado de renda francesa. Seu cabelo havia sido elaborado, entrelaçado e tecido com pérolas e flores laranjas.

Ela havia bebido ponche de orgeat7 para enviar seu mundo de cabeça para baixo. Então, ela se permitiu flertar com o lacaio mais bonito que ela já vira – um que provavelmente ela não veria novamente. Ela pagou a um segundo lacaio por informações, grata ao descobrir que o primeiro lacaio era conhecido por ‘brincar com seus superiores’. A escolha ideal para uma atribuição experimental.

Ela o atraiu para a estufa de Lorde Reedham, uma sala de vidro que ficava azul pela luz da lua. Céus, ele era bonito. Alto e forte. Confiante em cada movimento. Ela o convidou a beijá-la, certa de que se sentiria diferente.

Não foi assim. Em vez disso, fora uma invasão, alheia e estranha. O lacaio a tocara, agarrara, acariciava com persuasão e sem esforço. Ele beijara seu pescoço e ombros. A respiração dele ficara quente e úmida. Ela se lembrava de ter pensado que parecia como se Humphrey estivesse respirando sobre ela.

Ela quis apreciar as atenções dele. Quis tanto experimentar o que as irmãs haviam descrito. Mas ela não sentiu nada. Nem arrepios. Nem excitação. Apenas um vago desgosto e um desespero vazio.

— Qual o nome dele?

Ela piscou. Arregalou os olhos. Droga. Droga, droga, droga, droga. Ela deixara escapar toda sua história patética para seu novo marido. Bem, exceto como tudo terminara. O fim era a parte mais patética.

— O nome dele? Eu...não me recordo. Thomas, acho. Ou Edward. Estava um pouco tonta.

O peito de Holstoke bombeava mais profundamente agora com cada respiração.

Ela afastou a bochecha de seu casco e olhou para cima, mas pairando sobre ela como ele estava, ela não conseguia ver muito – apenas a parte de baixo de seu queixo. Os músculos estavam tremendo.

— Você não deve se zangar, Holstoke. O escândalo foi meu, não seu. Se eu tivesse bebido menos ponche, talvez não tivesse escolhido uma sala feita de vidro para a nossa...

— Baseada em três experiências, concluiu que é frígida.

— Bem, sim. Uma evidência bastante persuasiva, deve admitir.

O peito dele estremeceu. Ele inclinou a cabeça e depois a balançou. Sua nova posição lhe deu uma visão melhor do rosto dele. Seus olhos estavam próximos, sua fisionomia sem sorriso e cuidadosamente imóvel. Ele exalou e abriu aqueles olhos excepcionais.

— Eugenia.

Ela estudou o rosto dele, traçando as linhas de seus lábios. Seu coração deu um chute inquieto.

— Sim?

— Proponho um quarto experimento.

— Eu não consigo ver como isso ajudará...

— Nós estamos casados agora. É válido tentar, não acha?

Seu ventre se apertou quando ela levantou o olhar para o seu novo marido. Um homem bom. Um homem honrado. E evidentemente, um homem de apetites mais fortes do que ela suspeitava. Sim. Pelo bem dele, ela tentaria.

— Então se prepare para ficar desapontado.

— Uma experiência livre de expectativa também é livre de decepções. — Ele rebateu. — O propósito disso é responder a sua questão. Daí, nos refinaremos em nossas conclusões com mais experimentos até encontrarmos um caminho sensato a seguir.

Ela estreitou os olhos na direção dele. Soava como besteira. Mas talvez um homem como Holstoke precisasse verificar as coisas por ele mesmo.

— Como isso soa, esses experimentos podem durar anos. — Ela observou secamente.

Um pequeno movimento no canto dos lábios dele causou uma pontada em seu peito.

— Deixe-nos começar com esse. — Ele murmurou.

— Muito bem. — Ela fechou os olhos e ergueu o rosto.

E esperou.

Nada.

Ela abriu os olhos. Holstoke a observava. Seu rosto era ilegível, embora divisasse diversão.

— Holstoke?

— Você já conduziu suas experiências, Eugenia. Essa é minha.

— E eu concordei em participar.

— Então fará como eu digo?

— Farei o que for necessário.

O nariz dele inflou enquanto ele inspirava. Sua exalação tinha aroma com limão e menta.

— Aqui é como começaremos. Eu tocarei uma parte sua e você me dirá como se sente. Está pronta?

— Por que você sempre cheira a limões?

Uma ruga se formou entre suas sobrancelhas pretas.

— Limões e menta. — Ela esclareceu.

— Isso a desagrada?

— Não. Gosto bastante.

— Provavelmente Melissa officinalis. Erva cidreira. Eu a tomo em meu chá.

— Oh.

— Pare de evitar o experimento, Eugenia.

Ela fungou.

— Vá em frente, então. Toque-me.

Ele fez, mas não onde ela esperava. Ele tocou seu cabelo. Levemente. Suavemente. Ele acariciou as pontas dos dedos ao longo da metade de suas mechas perto de suas orelhas. Então, ele traçou o polegar pela sensível linha onde seu cabelo encontrava a nuca.

Quando ele parou, ela mal podia respirar. Sua pele estava coberta de arrepios.

— Como se sente? Seja específica.

— Arrepiada. Pequenos formigamentos em todos lugares

Dessa vez, sua boca se curvou um pouco.

— Bom. Vamos tentar outro ponto, hã?

Seu polegar desceu para acariciar a lateral de seu pescoço. Outros homens a haviam beijado ali com quase nenhum efeito, então as expectativas dela eram fracas. Mas o polegar de Holstoke tinha algo de mágico nele. As sensações giravam como uma explosão. Seu toque era leve, como o pouso de uma borboleta. Então pulsou como asas.

Ela perdeu o ar. Seus olhos se fecharam.

— O que...o que está fazendo?

— Isso?

— Humm.

— Apenas lhe tocando. Quanto gosta disso?

Ela engoliu em seco.

— Parece uma borboleta.

Uma pausa.

— É bom?

Ela assentiu, sem ar para formar palavras.

Ele deslizou o nó de um dedo ao longo de seu colo. A mágica seguiu uma trilha brilhante. Com grande esforço, ela abriu os olhos. Perguntava-se como seria se lhe tocasse do mesmo jeito. No presente, seu pescoço estava coberto pela cravat, mas não levaria muito para remediar. Seus dedos agarraram a lapela dele.

— Diga-me, Eugenia. — Ele disse. — Já está quente?

Ela parou. Até ele perguntar, ela não teria usado tal descrição. Havia muitos arrepios para pensar em calor. Mas agora que ele mencionava isso, ela sentiu o calor. Quente, de fato. Sua pele formigava e latejava como se o buscasse.

— Eu... Estou. — Um gemido escapou de sua garganta. — Por que isso?

As mãos dele caíram para a sua cintura. Ele espalmou uma mão sobre seu ventre, seus dedos segurando a parte inferior, pressionando um pouco.

— E aqui?

— D-derretendo. Parece...Dói ali, Holstoke. — Com os olhos arregalados, ela levantou e buscou o rosto dele.

Ele não lhe deu nada além de suas mãos, mantendo o olhar sobre sua boca.

— Acho que deveria me beijar. — Ela sugeriu.

Fracamente, ele sorriu.

— De verdade. — Ela insistiu. — Não me importo.

— Vamos tentar outra coisa antes.

A impaciência a fez aumentar o aperto em suas lapelas.

— Eu quero sentir seus lábios, Holstoke. Agora.

Olhos verdes pálidos ficaram mais brilhantes e escuros.

— Você os terá.

Então, ele abaixou sua boca para o local onde seu polegar a acariciara antes. Suavemente, ele pairou e respirou. Soprou um fio gentil de ar sobre o pescoço dela.

Sem aviso, suas pernas cederam. Ele pegou sua cintura em suas mãos, mantendo-a no lugar sem esforço. Os lábios tocaram sua pele. Um beijo como borboleta. Quase lá, ainda assim, poderosa, ela não conseguiu evitar as faíscas. Elas viajaram por sua pele, girando em seu colo e descendo para o lugar onde ele pressionava em seu ventre. E mais abaixo.

Ela ofegou, agarrou e gemeu.

— Que inferno, Holstoke? Eu...você deve...fazer alguma coisa.

Ele fez, mas apenas tornou as coisas piores. Aqueles lábios finos mordiscaram. Depois sugaram. Depois moveram-se para o ombro dela, onde ele aplicou leves carícias com sua língua. Finalmente ele moveu sua boca até suas orelhas, onde o fôlego quente sussurrou:

— Como se sente, Eugenia?

Puxando o casaco dele com força, ela esmagou seus seios contra o ele. Apenas ajudou um pouco.

— Pegando fogo. É assim que me sinto. Preciso que faça alguma coisa.

— O que gostaria que eu fizesse? — Ele murmurou, sua voz soou bruta em seus ouvidos.

Em resposta, ela inclinou-se para trás, esticando as mãos e segurando as deles, levando-as aos seus seios.

— Oh, céus. — Os olhos dela se fecharam. — Sim. Assim é melhor. Agora, beije-me.

A mão dele deslizou, suas palmas acariciaram seus mamilos levemente antes de voltaram a sua cintura.

— Não, Holstoke. Coloque-as de volta. Deus, por favor.

— Está comandando a experiência novamente. Eu lhe darei seu beijo, mas apenas se ficar muito quieta.

Foi quando ela percebeu que se contorcia. Ondulava contra ele em uma tentativa de conseguir alívio. Ela olhou nos olhos dele. O calor se aprofundava e queimava.

Ela examinou os lábios dele, firmes e definidos. A necessidade fervente para senti-los contra os dela exigia que ela fizesse o que fosse necessário. Segurando as lapelas, ela forçou seus quadris a se apoiarem na mesa, forçou seu corpo a ficar imóvel. Ela assentiu.

Ele abaixou a cabeça. Respirou contra os seus lábios, o delicioso cheiro de limão, menta e...ele. Alguma coisa nele era intoxicante. Ele fazia sua cabeça girar.

Aqueles lábios maravilhosos roçaram nos seus. Mais uma vez, sua carícia foi leve como uma borboleta. Ela o procurou, querendo mais do que as faíscas que pareciam possuir cada centímetro de sua pele. Bons céus, que pensamento. Ela podia tocar em qualquer parte do corpo dele e fazer esse prazer estranho explodir onde quer que houvesse contato.

Naquele momento, estava ocorrendo entre a boca deles. Ele abriu a dela. Ela ficou tensa, abraçando a invasão. Mas ela não veio. Em vez, disso, ele respirou. Acariciou seus lábios com os dele. Apertou sua cintura e sorriu contra ela.

Ela franziu o cenho. Por que ele não invadia?

Uma centelha roçou seu lábio inferior. Quente. Úmida. Macia, lenta e furtiva.

Ela...gostava disso. Buscando mais, ela ficou nas pontas dos pés e inclinou a cabeça para moldar sua boca melhor contra a dele.

Ele lhe deu o que ela pedia, mas sua língua era suave e elusiva. Ela a perseguiu com a sua, seu coração batia furiosamente enquanto experimentava o interior da boca dele. Limpa. Deliciosa. Um banquete que ela queria devorar.

Ela gemeu, apreciando o zumbido agradável. Repentinamente, as mãos dele moveram-se para as laterais do seu pescoço, segurando e agarrando-a. Oh, sim. Era desse jeito. Suas mãos amassaram a lã e puxaram com força. Seus seios se deram prazer ao pressionarem contra ele. Seus quadris dançaram por conta própria.

Suas bocas se fundiram. Ela não conseguia ter o bastante. Ela nunca teria o bastante. Do beijo dele. Do toque dele. Da língua dele.

Holstoke. Oh, Deus. Ela precisava de mais dele.

Seu coração acelerou – drum, drum, drum.

Drum, drum, drum.

Ele afastou aquela boca encantada, sua respiração era rápida e quente contra seus lábios formigantes. Ele segurou suas bochechas, acariciou sua testa com o polegar e depois murmurou.

— Maldição.

— Holstoke! — Dunston gritou do outro lado da porta da biblioteca. — Pelo amor de Deus, homem. Isso aí pode esperar. Isso aqui não. Bang, bang, bang. Abra!

Desorientada, Genie piscou enquanto Holstoke roçava os lábios contra os dela uma última vez antes de retirar seu toque maravilhoso. Ele virou-se rigidamente, endireitou-se e abotoou seu casaco, depois caminhou até a porta, destrancando-a e a abrindo totalmente.

— O que diabos você quer?

Dunston não sorria e não estava sozinho. O Sr. Drayton estava parado ao seu lado, igualmente sério. Atrás deles, Maureen tinha um braço ao redor dos ombros de Hannah. A irmã de Holstoke estava ainda mais branca do que o normal.

Drayton foi o primeiro a falar.

— Houve mais duas mortes, milorde. Lady Randall foi encontrada essa manhã. Dois de seus cachorros também morreram. Parece que ela alimentava os animais de sua própria xícara.

Ainda se recuperando do calor vertiginoso dos beijos de Holstoke e do choque e desolação de ter sido subitamente removida, ela pôde apenas cobrir sua boca e segurar-se na mesa atrás dela. Ela assistiu os ombros de seu marido enrijecerem.

— Você disse duas mortes. — Ele disse, sua voz baixa e surpreendentemente calma. — Acredito que não se referia aos cachorros.

— Não, milorde. Sinto dizer-lhe, é sua governanta. A Sra. Varney.

À distância, ela ouviu Maureen murmurar para Hannah. Os lábios da garota estavam brancos. Genie percebeu uma criada desconhecida com lágrimas escorrendo pelo rosto. Uma das criadas de Holstoke House, sem dúvida, viera avisar da notícia terrível.

Dunston olhou além de Holstoke e encontrou os olhos de Genie. Ela vira seu cunhado tão sombrio apenas uma vez – quando um jovem rico malditamente decidira ‘ter’ a Rameira Huxley. Ela trabalhara até tarde na loja da Sra. Pritchard. Dunston e Maureen, que havia oferecido levá-la até sua casa na volta do teatro, estavam esperando na rua em frente, como Genie normalmente pedia.

Quando ela saíra da loja, vasculhando em sua reticule, o canalha estivera esperando por ela. Um pouco tempo depois, assim que o homem a empurrara contra tijolos sujos e agarrou um punhado de suas saias, Dunston e suas facas chegaram para aplicar uma punição com uma precisão implacável.

Genie ficara grata pela natureza sombria de Dunston naquele dia. Mas, na verdade, ela esperava nunca mais ver isso novamente, pois significava perigo para ela ou alguém a quem ela amava.

— Henry. — Ela disse agora, suas entranhas geladas. — Por que o envenenador está cercando Holstoke? E como...como ele conseguiu chegar tão perto?

Ele entrou na sala, caminhando até ela e esquentou suas mãos com as dele.

— Não sabemos ainda, pirralha. — Era seu apelido, um adotado de Maureen e cheio de afeição fraternal. Ouvir isso a fez querer abraçá-lo. — Mas nós descobriremos. Ouviu-me? Nós descobriremos.

Ela assentiu e apertou sua mão, seu corpo todo começou a tremer como geleia.

Do vão da porta, seu marido começou a ordenar coisas a seu gosto com uma série de comandos. Sua voz era baixa, porém, mais ressonante.

— Claudette, volte a Holstoke House e arrume os meus pertences e da Srta. Gray e que eles sejam empacotados na carruagem de viagem. Informe aos criados que eu chegarei logo.

A criada fez uma reverência e murmurou um ‘sim, milorde’ antes de sair apressada.

— Sr. Drayton. — Holstoke continuou secamente. — Convoque o Sr. Hawthorn. E reitere as minhas intenções em ajudá-lo na investigação. Talvez sabendo que eu estava na igreja diante de um padre e uma dúzia de testemunhas quando os crimes ocorreram o faça virar a sua atenção para uma direção mais produtiva.

Ela perdeu o fôlego, depois o recuperou e expirou.

— Holstoke.

— Empacote seus pertences também. Partiremos a Primvale esta noite.


CAPÍTULO 10

"Eu tenho as minhas suspeitas, sabia". Alguém que não descobre coisas vis embaixo de seus carpetes sem perceber que falta alguma coisa.”

A Marquesa Viúva de Wallingham para o mordomo após descobrir que sua governanta tem uma tendência a beber gin.

Agachado ao lado da governanta flácida, Phineas fez a única coisa que um homem racional faria com a insondável escuridão que o devorava por dentro.

Ignorou-a.

O que começara como uma brasa, havia florescido em algo vasto e volátil. Nada seria resolvido se cedesse. Mas, se ele aplicasse a lógica para problemas mais tangíveis – como encontrar o diabo que havia assassinado a sua governanta e três outras mulheres, por exemplo – talvez a escuridão diminuísse por conta própria.

Assim, voltou sua atenção para a Sra. Varney, que estava esparramada no tapete dourado da sala de jantar, suas pupilas arregaladas de maneira incomum. Seus lábios estavam enrugados e ressecados. Uma de suas mãos ainda seguravam a perna de uma cadeira.

— Alguém desconhecido nas redondezas? — A pergunta de Drayton foi direcionada ao mordomo de Holstoke House, Sackford. — Novos criados?

— Não, senhor. — Sackford respondeu, sua voz sombria. — Na preparação para a partida de vossa senhoria, a Sra. Varney e eu começamos a reduzir os criados da casa.

— Visitantes? Entregadores ou algo parecido?

— Não que seja do meu conhecimento. Mas posso fazer perguntas. — A voz de Sackford ficou mais fraca. — Ela às vezes tomava chá quando colhia as ervas de vossa senhoria todas as manhãs. Ela amava o jardim, a Sra. Varney.

Ao lado de Phineas, Dunston se ajoelhou com um cotovelo apoiado em seu joelho. O outro lorde apontou para os olhos da mulher.

— Viu isso?

— Sim. — Phineas respondeu. — Atropa Belladonna, muito provavelmente.

— Erva moura. Sua mãe a usava, como me recordo.

— Não. Para os propósitos dela, a aparência de morte natural era fundamental.

— Ainda assim, este vigarista parece determinado a ser pego.

— Talvez não pego. — Phineas olhou para as mãos da mulher, ainda envoltas ao redor do mogno canelado. — Mas conhecido.

Dunston assentiu.

— Ele tem agido para capturar a sua atenção.

Sim, ele tinha. E aquilo fora um erro. A escuridão que Phineas lutava para conter queria muitas coisas, mas nada tão fervescente quanto eliminar a criatura aborrecida que fizera isso. Ele prendeu sua respiração enquanto a escuridão se expandia e ameaçava tomar o controle.

Uma mão apertou o seu ombro.

— Tente não vomitar, velho camarada. O fedor é bastante pungente, mas pense na bagunça. Você está sem uma governanta atualmente.

Ele soltou o ar e esfregou sua testa.

— Maldição, você é perverso.

— Ocasionalmente. Maureen raramente reclama, entretanto. Sou um homem de sorte.

Phineas supôs que o comentário fosse uma provocação, mas não funcionou. Ele franziu o cenho e examinou o outro homem. Relaxado, embora focado, Dunston avaliava a sala metodicamente, primeiro o corpo, depois as duas cadeiras viradas.

Este era o homem que caçara a mãe de Phineas por uma década, perseguindo a mulher que enganara todos – incluindo seu marido e filho. Ao usar comparsas e intermediários, ela conseguiu se esquivar de sua captura por muitos anos. Mas ninguém chegara tão perto quanto o Conde de Dunston e ninguém foi obstinado em sua perseguição. Mais tarde, um de seus cúmplices confessara que Lady Holstoke há muito tempo o temia. Ela pensava nele como um fantasma que assombrava cada um dos seus movimentos.

Phineas devia proteger Eugenia e Hannah. Além do mais, ele pediria ajuda a um homem como Dunston. Ele se virou e encontrou os olhos duros como aço, grato por ver sua própria resolução refletida ali.

— Eu preciso de homens. — Ele murmurou. — O suficiente para mantê-la segura.

Um sorriso leve apareceu.

— A qual ‘ela’ se refere, Holstoke?

Piscando, Phineas parou. Ele não quis dizer em voz alta. A escuridão falara por ele.

Dunston riu.

— Deixa para lá. Você dever ter cinco hoje à noite.

— Sete.

— Muito bem. Sete. Apesar de que devo alertá-lo, nunca haverá homens o bastante para diminuir o aperto do torno em volta de seu peito.

Inferno maldito. Foi preciso. Ele estava sendo esmagado. Sufocado.

Phineas se levantou e esfregou o pescoço. Passou por Dunston e caminhou pela sala. Procurava por alguma coisa. Qualquer coisa que diminuísse a pressão.

Ainda assim, ele só via a Sra. Varney, vazia e fria.

O torno apertou até ele querer partir algo ao meio.

Hawthorn entrou assim que Drayton terminava de interrogar a criada que descobrira o corpo da Sra. Varney. Como costume, o agente de Bow Street parecia como se tivesse caído da cama dentro das roupas de vagabundo.

— O que diabos o fez demorar tanto, Hawthorn? — Phineas alfinetou.

O agente ocupou-se tirando seu caderno de dentro do bolso. Deu a Phineas o que parecia um sorriso amigável antes de bater no seu peito e puxar um lápis.

— Ah, aqui estamos. Parece que sempre atrasados. — Ele se aproximou da Sra. Varney, observando as cadeiras viradas e os sinais de envenenamento. — Desculpa pelo atraso, Holstoke. Lorde Randall estava um pouco perturbado. Ele gostava muito de um dos cães que morreu, percebe.

Phineas encarou o homem que havia se abaixado para estudar o rosto da Sra. Varney.

— Dicky, acredito que era o nome do animal. — Hawthorn continuou. — Randall mencionou um incidente envolvendo o seu chapéu.

Enrugando sua testa, Phineas reprimiu a vontade de atacar Hawthorn em vez de responder.

— Maldição, eu não mataria um cachorro porque ele danificou o meu chapéu.

Hawthorn usou seu lápis para abrir a boca da Sra. Varney, encolhendo-se com o fedor.

— Não o acusei, acusei? — Ele abriu o caderno e começou a escrever. — Ainda assim. — Ele disse distraidamente antes de sorrir para Phineas. — Seria interessante se o cachorro fosse alvo de uma trama de vinganças, não seria?

O que havia em homens como Dunston e Hawthorn e seus perversos sensos de humor no meio do horror? Phineas não achava isso engraçado. Nem uma maldita coisa.

Drayton se aproximou vindo do outro lado da sala, mancando cada vez mais ao passar das horas.

— De acordo com a criada, a Sra. Varney estava agindo de maneira muito estranha desde que voltou do jardim. Irascível e risonha alternadamente. Depois ela começou a tropeçar e reclamar da necessidade de se deitar. As criadas da cozinha acharam que ela tinha bebido do conhaque de vossa senhoria. Ela chegou à sala de jantar, quando a criada ouviu o barulho. Deve ter sido as cadeiras caindo. Ela diz que quando entrou, a Sra. Varney estava deitado onde podem vê-la, agarrando-se à cadeira com tanta força quanto podia. — Drayton olhou para as suas notas e coçou a cabeça. — Uma coisa curiosa, milorde. Embora estivesse alguns metros de distância, a garota diz que ouviu o coração da mulher batendo como o som de cavalos galopando.

Tentáculos de mal estar começaram a voltar à mente de Phineas. Era uma sensação familiar, uma que ele muitas vezes sentia quando estava conduzindo experimentos ou trabalhos através de uma nova teoria e uma parte do padrão falhava em alinhar apropriadamente.

Ele olhou novamente para a mão da Sra. Varney. Estava enrolada em torno da cadeira, mesmo na morte.

— A Sra. Varney disse alguma coisa? — Phineas perguntou. — No fim.

Novamente Drayton examinou suas anotações.

— Apenas besteiras. Explodindo, foi o que ela disse. A Sra. Varney reclamou que estava se explodindo no ar.

Aí estava. A parte que não se encaixava.

— Então ela se agarrou a coisa mais próxima. — Phineas murmurou. — Não foi Atropa Belladonna. Ou pelo menos, não, apenas Atropa Belladonna. O envenenador usou também Hyoscyamus niger.

Os três homens se viraram para ele com a mesma expressão dura.

— Fale em inglês, Holstoke. — Disse Dunston.

— Meimendro. Da mesma família da beladona – Solanaceae. Efeitos similares quando ingeridas, exceto que o meimendro dá a ilusão de voar e, algumas pessoas, de explodir. — Ele franziu a testa e olhou novamente para a Sra. Varney. — A dose deve ter sido bastante alta para matar tão rapidamente. Estranho.

— O que é estranho nisso? — Perguntou Hawthorn.

— O gosto inicial teria sido amargo e, de fato, fedido. O meimendro é bastante desagradável, como as plantas são. Chá não teria disfarçado isso.

Hawthorn se endireitou, dispensando sua afabilidade anterior.

— O gin poderia?

Phineas considerou.

— Uma possibilidade. Embora as concentrações requeridas ainda impossibilitem o uso das plantas elas mesmas, em minha estimativa. Os venenos devem ter vindo de grãos medicinais encontrados nos...

— Boticários. — Dunston disse, sombria e suavemente. — Como aquele que sua mãe empregou.

Drayton se arrastou, esfregando a coxa como se ela doesse.

— Aquele lá está morto. Assisti ele sufocar de dentro para fora. — O agente de Bow Street deu de ombro e deslizou a mão por seu rosto enrugado. — Ainda tenho pesadelos.

— Lady Randall tinha preferência por gin. — Hawthorn comentou. — Ela bebeu isso em vez do chá pela manhã. E, aliás, ela dividiu com os cachorros.

— Em quanto tempo ela morreu? — Phineas perguntou.

— Não tão rápido quanto Dicky. — Hawthorn sorriu. Novamente o humor negro do agente fez Phineas franzir a testa, embora Dunston parecesse achar engraçado. — Mas dentro de quinze minutos após ela terminar seu ‘chá’ da manhã, ela morreu. Nós examinamos a xícara. Cheirava a gin e orgeat.

— Orgeat. — O pescoço de Phineas formigou. — Quer dizer amêndoas.

Hawthorn assentiu.

A xícara da Sra. Varney fora lavada por uma das criadas de copa antes que alguém pudesse perceber que havia alguma coisa errada. Mas Phineas apostava cada uma de suas propriedades em Sulffolk que sua xícara tinha algo parecido com a de Lady Randall. O cheiro de amêndoas fora uma descrição comum nos assassinatos que a mão dele orquestrara.

Dunston parecia seguir os seus pensamentos.

— Múltiplos venenos, então. Igual aos...

— Métodos de minha mãe. Sim.

— Voltamos aos boticários.

Phineas balançou a cabeça.

— Não necessariamente. Poderia ser alguém com dinheiro suficiente para conseguir os medicamentos e tempo o bastante para aperfeiçoar a fórmula, embora ele precisasse de objetos para experiências. Animais, talvez.

— Ou pacientes. — Rebateu Drayton, outra vez esfregando a coxa. — Quem questionaria o estoque de um cirurgião?

— Não há relatos de cirurgiões visitando qualquer uma das vítimas antes da morte delas. — Hawthorn interrompeu,

— O que elas tinham em comum, então? — Drayton perguntou.

Hawthorn apontou para Phineas.

Phineas o encarou de volta.

— Bem, vamos ver. — Disse Dunston casualmente. — A Srta. Froom e Lady Theodosia foram ao baile de Lady Randall. Três das vítimas estavam bem ali. E a Srta. Froom foi, de fato, envenenada naquele mesmo evento. Sugere que foi alguém que esteve presente na casa de Lorde Randall naquela noite.

Drayton grunhiu.

— Dezenas de convidados naquela noite, milorde.

— Verdade. Inclusive eu. E Lorde Randall, que aparentemente teve mais amor pelo falecido e lamentoso Dick do que por sua esposa. Aliás, por mais que eu apreciasse ver Holstoke ser levado à forca, ele partiu duas horas antes do colapso da Srta. Froom. — Ele acenou em direção à Sra. Varney. — Como podemos ver, os efeitos aparecem dentro de quinze minutos.

Hawthorn virou-se novamente para Phineas.

— Lady Holstoke vendeu suas fórmulas para os parentes das vítimas. Ela estava há quilômetros de distância quando o veneno funcionava. Não foi assim, meu lorde?

A paciência de Phineas evaporou.

— Suas suspeitas sobre mim são perda de um tempo que não temos. — Ele espetou. — Este canalha conseguiu matar quatro mulheres dentro de um maldito mês, sem deixar uma dica de sua identidade. Ele pode ser qualquer um. E, por alguma razão terrível, ele colocou seus olhos sobre mim. — Sua voz abaixou até a escuridão ficar violenta e agitada. — Não tolerarei a ameaça para minha esposa e irmã, Hawthorn. Com ou sem a sua ajuda, essa ameaça será encontrada e eliminada. Sugiro que não fique no meu caminho.

O outro homem inclinou a cabeça. Ele olhou para Dunston, depois para Drayton e voltou a Phineas

— Como pretende protegê-las, Holstoke? Como diz, o assassino pode ser qualquer um.

— Nós sairemos de Londres esta noite.

— Para Dorsetshire.

— Sim.

Hawthorn assentiu.

— A Srta. Gray também?

— Dificilmente deixaria a minha irmã para trás.

— Tem homens?

Phineas piscou. Franziu a testa.

— Dunston está providenciando alguns.

Outro aceno.

— Quantos?

— Eu ofereci cinco. — Dunston respondeu. — Ele insiste em sete.

Por um momento a máscara de Hawthorn desapareceu e Phineas teve um vislumbre do verdadeiro homem.

Seus instintos iniciais estavam corretos. Hawthorn era um lobo.

— Observe rostos novos. — O agente alertou, a voz dura e o queixo mais duro ainda. — Qualquer um que se aproximar e que não conheça a mais de seis meses, afaste-se dele. Criados. Visitantes. Médicos e os malditos párocos. Não confie em ninguém, Holstoke.

Phineas pesou a necessidade de ter a ajuda do lobo e a necessidade de alertá-lo para ficar longe de Hannah. A divisão era cinquenta por cento. Mas o aviso poderia esperar. Por agora, um lobo estava ansioso para se juntar à caça e Phineas não era tolo para recusar.

— Manterei a minha família segura. — Ele prometeu. — Não tenha dúvidas.

O lobo sorriu.

— Então vá a Dorsetshire, meu lorde. E deixe Londres para mim.


CAPÍTULO 11

“Encerrado? Enlouqueceu, garota? Uma viagem longa e árdua exige preparação completa, extensão ao qual claramente ainda não compreendeu."

A Marquesa Viúva de Wallingham para sua criada pessoal em resposta a afirmação que um xale seria o suficiente para uma noite no teatro.

— Droga. — Genie murmurou, jogando de lado suas terceiras botas de cano baixo favoritas em troca de seu quinto bonnet favorito. — Onde está Harry com o baú reserva?

Kate suspirou e pegou um par de chinelos de lantejoulas carmesins.

— Eu sempre adorei esses.

Empurrando com força a pilha de vestidos, xales, chapéus e reticules dentro de um baú abarrotado, Genie se endireitou e ergueu as mãos quando a tampa se abriu.

— Como ele espera que eu empacote tudo em uma tarde? Isso é loucura. — Ela assoprou e virou em direção a Kate, que estava sentada na cama admirando os chinelos de Genie...em seus próprios pés. — Kate!

Kate levantou o rosto.

— Eu já lhe dei o meu par verde.

— Mas estas combinarão com meu novo vestido xadrez.

— Para de cobiçar as minhas posses e venha me ajudar a fechar esse baú.

Ela saiu da cama e juntas se sentaram sobre o baú. Após Genie conseguir colocar a tranca no lugar, Kate sorriu e bateu no seu joelho.

— O que você fará sem mim?

A inundação veio sem avisar, apressada e rolando grossa. Seus olhos se encheram até o rosto de Kate – tão parecido com o dela – borrar e rodar.

— Oh, Genie. — Os braços delicados de sua irmã a envolveu forte e a segurou perto.

— Eu não sei. — Genie disse com a voz rouca, secando as lágrimas e devolvendo o abraço de Kate. Sua garganta doía. Seus olhos derramavam lágrimas. Pior de tudo, seu peito doía como se alguém estivesse sentado sobre ele. — O que alguém faz sem a melhor amiga? Definha, acredito. — Ela secou mais lágrimas e deitou o rosto nos ombros de Kate.

— Você tem Holstoke agora.

Genie deu uma fungada úmida.

— E Hannah. Ela parece...agradável.

— Oh, Deus.

— Posso lhe fazer longas visitas E poderemos nos escrever todo o tempo. Todos os dias.

— Odeio escrever.

— Envie os esboços. Chapéu após chapéu.

— Sentirei terrivelmente a sua falta.

— Mesmo de minhas cantorias?

— Sim, mesmo delas.

Kate riu, o som seco e sufocado.

Genie suspirou e se endireitou. Secou as lágrimas gentilmente das bochechas de Kate e lhe deu um sorriso trêmulo. Então ela assentiu e saiu de cima do baú.

— Nunca deixe a sua costureira a convencer a vestir amarelo novamente, minha querida. Apenas Maureen fica adorável nessa cor. Nós ficamos parecidas a limões.

Desta vez Kate gargalhou.

Do lado de fora, o som de rodas de carruagem ecoou pela Grovesnor Street. Genie se moveu até a janela e afastou a cortina.

— Droga!

— Ele já está aqui?

A carruagem de viagem era larga, mas simples. Bem projetada e provavelmente cara, mas não ostentava nenhum brasão ou ornamento. Era simplesmente um meio de transporte, puxada por seis cavalos robustos.

— Droga, droga, droga. Eu dificilmente estou na metade.

— Vou sair e procurar Harry e Bess. Eles já devem ter localizado o baú a esta hora.

Genie balançou os dedos na direção de Kate, mas manteve os olhos na carruagem. Ele desceu um momento depois, alto, magro e sombriamente bonito com seu casaco preto, colete prateado e a cravat com o alfinete de esmeralda. O coração dela acelerou e vacilou. Sua barriga aqueceu como fizera mais cedo, quando ele a beijara.

Oh, céus. Como ele a beijara.

Seus dedos moveram-se aos seus lábios. Ela podia senti-lo ali, mesmo horas depois. O que os lábios desse homem têm que os outros não? É Holstoke, pelo amor de Deus. O frio e peculiar Holstoke.

Ele falou com o cocheiro e assentiu para dois lacaios que vieram para carregar a carruagem. Três passos em direção à porta e ele parou. Olhou para cima. Aqueles olhos pálidos brilhavam à luz de fim de tarde.

Encontrou-a.

Ela respirou. Colocou as pontas dos dedos no vidro.

O olhar dele aguçou-se, até seu abdômen ficar suave como manteiga quente. Suas narinas dilataram e ele removeu o chapéu. Mas não desviou o olhar.

— Desculpas, milady. — Harry disse atrás dela. — O baú estava enterrado embaixo de uma pilha de cortinas velhas.

— Aye. — Concordou Bess, que servia como criada pessoal de Genie e Kate. — Parece que um animal as rasgou. Marcas de garras em todos os lugares.

Genie engoliu em seco e conseguiu afastar-se da janela.

— O gato de mamãe. — Ela disse, recordando a criatura feroz. — Ele é uma ameaça.

Bess, uma jovem gorducha e agradável com cabelos loiros e um sorriso com covinhas, sorriu e respondeu:

— Oh, eu adoro gatos.

— Sim, bem. Infelizmente para papai, minha mãe também. — Genie deu uma risadinha e traçou a fina cicatriz em sua mãe direita, uma lembrança da criatura irascível. — Papai insiste que ela mantenha as cortinas como recordação da última tentativa de ela trazer um para dentro de casa.

O gato fora enviado aos estábulos logo após Maureen ter recusado a proposta de Holstoke e se casado com Dunston. Ela ainda se lembrava da reação de Holstoke ao animal – ele ficara perplexo com a indulgência de seu pai à fixação de sua mãe por gatos.

Mais uma vez, Genie sentiu uma onda de sentimentos inúteis e indesejados pressionando sobre ela. Seu querido pai com seus espirros induzidos pelos gatos e sua paciência infinita. Sua doce mãe com seus almoços solucionadores de problemas e abraços longos e fortes. Como Genie sentiria saudade deles.

Com um grande esforço, ela acalmou o lábio trêmulo. Piscou para afastar as lágrimas sentimentais, agarrou uma pilha de corpetes, anáguas e meias e as jogou dentro do baú reserva.

— Ajude-me, Bess. Devemos nos apressar. Lorde Holstoke já chegou.

Um pouco tempo depois, ficou óbvio que ela levaria alguns de seus chapéus, mas não todos.

— Droga. — Ela jogou um bonnet rendado ao lado dos lenços que Maureen bordara para ela e olhou o chapéu rosa que normalmente usada com seu vestido de viagem rosa.

— Esse pode ser mais fácil refazer, milady. — Bess comentou enquanto colocava as luvas de Genie em um canto de uma valise protuberante. — Tem menos ornamentos.

— Humm. — Genie bateu nos lábios. — Mas a cor é de um tom incomum. Quem pode dizer se um dia conseguirei alcançá-lo novamente?

Atrás dela, ouviu Harry tossir enquanto entrava. Ela olhou por cima do ombro e depois sorriu deliciada quando viu o que ele entregava.

— Oh, que maravilha! — Ela correu para abrir o pequeno baú. Pelo menos agora seria capaz de levar seu bonnet rosa. O vestido de viagem rosa era simplesmente menos adorável sem ele. — Eu o beijaria, mas isso começaria rumores que nenhum de nós deseja.

O lacaio corou.

Genie bateu no braço dele e riu.

— É uma brincadeira, Harry. Obrigada. Isso é precisamente o que eu precisava.

— Já são cinco horas, Eugenia. — Veio uma voz fria da porta. — Por que não está pronta?

Ela se virou para encontrar Holstoke parecendo como se uma nevasca o tivesse transformado em uma pedra de gelo. Ela piscou, incerta do que mudara em alguns minutos, desde que ela sentira a estranha carga de calor que subiu três andares e a derreteu através do vidro. Apesar do congelamento, ela plantou suas mãos no quadril e respondeu.

— Empacotar leva tempo, Holstoke.

— Você teve uma semana.

— Não planejava ir a Dorsetshire. Tem alguma ideia de quantos baús são necessários para...

— Leve todos os baús prontos para a carruagem. Nós partiremos em dez minutos.

Por um momento, ela pensou que a ordem fria era para ela. Mas Harry bateu seus calcanhares e disse ‘sim, milorde’ antes que Genie pudesse dar uma resposta. O lacaio saiu carregando um dos menores baús prontos.

— Dez minutos, Eugenia. O que quer que não esteja dentro da carruagem ficará aqui.

Ela bufou.

— Incluindo-me?

Ele deu dois passos para dentro do quarto como se impulsionado por uma força além do controle. Então parou e endireitou os ombros.

— Você vai aonde eu for. Pronta ou não. — Ele olhou o vestido dela. — Este é o seu vestido de viagem?

Ela olhou para a seda azul enviesada. Por dentro, uma dor aguda se instalou entre o coração e o estômago.

— Este é o meu vestido de casamento, Holstoke. — Ela ficara relutante em removê-lo, esperando manter em sua memória o beijo deles por mais tempo possível. Cada momento sem fôlego, formigante e cheio de arrepios. Para ele, ao contrário, o encontro claramente havia sido insignificante, sem significado e esquecível. — Talvez se eu fosse uma planta, achasse estes detalhes de grande interesse.

Franzindo a testa duramente, ele deu outro passo à frente.

— Há um único detalhe com que estou preocupado. Por distância entre você e um assassino. Recorda-se que há um assassino espreitando e envenenando governantas, não?

— Não sou uma idiota, Holstoke, embora pareça que ache que...

— Nós devemos partir. Agora, Eugenia.

— Estou quase terminando. Um milagre, considerando quão pouco tempo de aviso me deu.

Avançou outro passo. Os ombros dele estavam rígidos de tensão.

— Você está pronta. — Ele disse calmamente. — Pegue um xale. Estamos indo. — Aqueles olhos pálidos se cravaram nela como se ele pudesse fazê-la se conformar.

Ela bufou.

— Uma hora aqui ou lá não fará...

— Dez minutos. Atrase e eu mesmo a carregarei para fora.

Ela abriu a boca para responder.

— Não teste a minha paciência, Eugenia. Este foi um maldito dia horrível.

Ela se encolheu. Piscou para afastar uma picada repentina em seus olhos. Engoliu um súbito nó em sua garganta. Horrível? Seria assim que ele se lembraria do dia do casamento e do primeiro beijo deles? Horrível?

— Saia. — Ela disse calmamente, exalando a sua dor.

Ele não se moveu, os olhos em seus lábios.

— Descerei em breve. — Ela passou por ele para abrir a porta. — Saia para que eu termine.

Ele fez o que ela pediu, mas seus movimentos eram rígidos e relutantes. Ele voltou a olhar fixamente para ela franzindo a testa.

Ela fechou a porta na cara dele e alinhou a coluna.

— Nós temos dez minutos. — Ela disse para uma Bess de olhos arregalados. — Vamos fazê-los valer a pena.

Precisamente dez minutos depois, Genie subia na carruagem de viagem simples e preta e acenou para a irmã imóvel e silenciosa de Holstoke. Em seu interior, a carruagem era luxuosa e espaçosa. Genie sentou-se em frente a Hannah, empilhando o cobertor e a cesta de suprimentos ao seu lado.

Holstoke podia se sentar em qualquer lugar no que se dizia respeito a ela.

— Phineas me pediu para informar-lhe que ele irá a cavalo. — Hannah disse com seu usual tom sereno. — Ele sugeriu que tentasse descansar, nossa primeira parada levará horas a partir de agora e nós sairemos novamente de madrugada.

Examinando a garota, Genie franziu o cenho. Elas eram da mesma idade, ela e Hannah, ambas com vinte e dois anos. E ainda assim, a outra moça parecia tanto mais nova quanto muito mais velha.

Inocente e idosa. Essa era Hannah Gray.

Certamente, sua vida havia sido horrível até ela achar o meio-irmão. Maureen havia feito isso: deu a Holstoke sua amada irmã, deu a Hannah uma família com quem ela se sentisse segura. Maureen era uma amiga para ambos.

Genie, por outro lado, era uma virtual estranha. Agora, sentada em frente a Hannah, sentiu isso mais intensamente do que nunca. A garota era sua irmã por casamento, e ainda assim sua expressão era fechada. Composta. Fria.

Mesmo que Holstoke e Hannah não tivesse herdado aqueles olhos marcantes, ela teria visto a semelhança. Ambos tinham o dom de usar o inverno como uma máscara.

A carruagem começou a entrar em movimento. O sol de fim de tarde entrava baixo e vermelho pela janela. Iluminou o bonnet de Hannah.

Seu chapéu de palha comum.

— Já considerou colocar flores em seus chapéus? — Genie perguntou, esperando passar o tempo de uma forma que pudesse ser útil e talvez induzir um degelo.

Olhos pálidos e familiares piscaram e a examinaram como se ela fosse um inseto. Um inseto repugnante.

— Não.

— Deveria.

Silêncio.

— Nada muito ousado, veja. Margaridas, talvez. Um toque de fita para combinar...

— Gosto dos meus chapéus como eles são. — O inverno claramente se estabeleceu sem sinal de degelo. — Eu gosto da maioria das coisas como elas são. — A garota virou a cabeça para a janela. — Ou eram.

As últimas duas palavras foram um sussurro.

Mas Genie as ouviu claramente.

Ela se recostou no assentou e cruzou os braços. Estreitou os olhos e bateu nos lábios.

— As coisas raramente permanecem iguais, sabe. Nós todos somos como sapos andando em uma carroça velha e decrépita. Apenas quando nós nos estabelecemos em nossa pequena e confortável vida de sapos, a carroça sai do caminho e cai sobre uma cerca, e nós saímos voando. — Ela usava a mesma analogia com suas sobrinhas e sobrinhos, que em seguida exigiam saber o que acontecera com os sapos, se eles encontraram novas casas perto de um lago adorável ou em um bosque. Crianças eram bastante literais, ela achava. — Alguém aconselharia a aprender a saltar e posar. Por mais previsível que a estrada seja.

Novamente, silêncio.

— Agora, sobre os seus chapéus, eu tenho algumas ideias, mas eu concordo que deve vê-los antes de concordar se eles são brilhantes. — Genie bateu o dedo contra os lábios novamente. — O que eles são.

A mandíbula levemente inclinada de Hannah se contraiu. Por outro lado, ela não respondeu.

Genie vasculhou em sua cesta e puxou seu caderno e um lápis.

— Seus vestidos são lindos. Não demorará a melhorar o conjunto geral. Flores e folhagens aqui e ali, talvez. Eu adoro penas, mas ... — Ela apertou os olhos em direção as feições suaves de Hannah e sua pele pálida. — Não para você, eu acho.

Ela começou a desenhar, deixando a garota sentada olhar fixamente e ficar mal humorada, porque a vida estava mudando mais do que ela gostaria.

— Eu prefiro os meus chapéus do jeito que eles são. — Hannah repetiu, mantendo o olhar na janela.

Seria uma longa noite, Genie pensou enquanto começava a desenhar uma nova criação. Uma longa noite de fato.

*~*~*

Ele não reivindicou sua esposa na primeira noite. A pousada era rude e ele passou algumas horas da estada deles conversando com os homens de Dunston. Eram sete, e todos com uma aparência similar à de Dunston, Hawthorn e Drayton - duros e vigilantes.

A presença deles acalmara a sua mente em dez por cento.

Também não reivindicou a sua esposa na segunda noite, pois eles seguiram em frente, viajando direto.

No meio da manhã, eles pararam em uma estalagem há uns trinta quilômetros de Primvale. Caballus estava exausto. Phineas mal conseguia enxergar, sua visão estava cansada e borrada. Ele precisava de um banho e de se barbear.

Ele precisava tomar sua esposa.

Por Deus, havia crescido espinhos em sua escuridão. Feria seu interior e infectava a sua mente. Se ele compreendesse, ele teria feito alguma coisa para controlá-la. Mas ele não compreendia. Então ela cresceu.

E ela queria certas coisas. Queria matar o homem que a ameaçava. Queria punir os lacaios e chapeleiros a quem ela dedicava seus sorrisos. Queria deitá-la sobre uma cama, em um banco ou sobre a grama e empurrar dentro dela até que ela olhasse para ele do mesmo jeito que fizera na biblioteca.

Com admiração. Desejo. Descoberta.

A luxúria era vagamente familiar, embora fosse como comparar um tufo de grama com um carvalho imponente. Ele tivera amantes. Ele as estudara, de fato. Ele gostava de explorar os prazeres de uma mulher, as texturas e idiossincrasias até que o mistério desaparecesse. Às vezes levava anos. Então, ele tivera quatro amantes em sua vida, a mais recente durara dois anos.

Todas foram mulheres adoráveis e companhias agradáveis. Nenhuma delas evocou o tipo de necessidade que sentia por Eugenia. Esta, arranhava e exigia. Cavava e cortava fundo.

Por outro lado, ele nunca contemplara atacar fisicamente outros homens por causa de uma mulher. A noção era um absurdo primordial. Irracional.

Mas a escuridão era definida por sua irracionalidade. E, embora ele usasse o tempo da viagem para Primvale para trabalhar neste problema, aqueles malditos desejos só haviam aumentado.

Agora, dava palmadinhas no pescoço de Caballus e desmontava em frente à estrebaria da pousada, esticou as pernas cansadas e olhou para trás, em direção às duas carruagens entrando no pequeno pátio. Uma carruagem inteira foi requisitada para carregar os baús de Eugenia. Felizmente ele antecipara a necessidade. Ele não sabia quantos vestidos novos Hannah havia comprado durante a temporada, mas isso também o deixava feliz por os ter arranjado.

A carruagem da frente parou perto da porta da hospedaria. Hannah saiu primeiro. Ela parecia tão exausta quanto Caballus, com anéis escuros embaixo de seus olhos e lábios pálidos e contraídos.

Phineas cruzou o pequeno pátio e se aproximou da irmã.

— Entre, pequenina. — Ele disse, segurando gentilmente seu cotovelo enquanto ela pulava pilhas de sujeira. — Peça algo para comer. Ainda há algumas horas até Primvale.

Ela suspirou e inclinou-se contra ele.

— Farei isso. Está preocupado com alguma coisa, Phineas?

Ele começou a responder, mas sua atenção vagou. Fixou. Em uma mulher descendo da carruagem. Seu bonnet surgiu primeiro - era de um rosa delicado, como o interior de uma concha. Depois, ele pôde ver seu corpete, do mesmo tom, um pouco mais profundo e avermelhado. Uma vez ele criara uma rosa assim. Ela emergiu da carruagem como uma pintura de Vênus - pelo menos, era como parecia para ele, pois ela brilhava como uma deusa.

— Phineas?

Sua pele era marfim e seus olhos de xerez em um raio de sol. O que ela diria se ele simplesmente a erguesse novamente para dentro da carruagem e lhe mostrasse como podia ser o prazer?

— Phineas. — Um puxão em seu braço.

Ele olhou para baixo.

Hannah parecia aborrecida.

— Quer alguma coisa?

Sim. Ele queria uma cama e Eugenia. Ou apenas Eugenia. A cama era preferível, mas secundária. Ele podia tomá-la em pé em um estábulo, se necessário.

Engolindo em seco, ele observou sua esposa descer e franzir o nariz. Ela ajeitou as saias, inclinou o queixo e seguiu até a porta da pousada sem olhar sequer uma vez em sua direção. Enquanto isso, seu coração trovejava. Sua visão se aguçou sobre seus perfeitos e perturbadores quadris.

— Phineas!

— Nada. — Ele respondeu, sua voz um tom mais baixo. — Entrarei em um instante.

Ele ouviu o que pareceu soar como um bufo ou uma blasfêmia em voz baixa, mas deve ter sido um dos cavalos. Hannah não fazia tais ruídos.

Não, isso era mais uma característica de Eugenia.

Ele quase sorriu diante do pensamento. Quando ela estava aborrecida, em dúvidas ou simplesmente impaciente, Eugenia fazia todo tipo de barulhinhos. Ela rolava os olhos e dava severas reprimendas. Ela empurrava, esmagava e cuspia fogo. Ele nunca tinha que se perguntar quando ela estava brava. Eugenia não media palavras.

Lamentavelmente, ele a entristecera no dia do casamento deles, enquanto ela empacotava as coisas e não falou com ele durante toda a viagem. Bom Deus, a mulher tinha mais chapéus do que bom senso. Ela não percebia o quanto a situação era perigosa?

Talvez ele tenha sido bruto. Mas o que ela esperava? Ela havia feito uma brincadeira sobre beijar um lacaio, de todas as coisas, depois tocara no mesmo lacaio e lhe dirigiu um sorriso deslumbrante de virar um homem ao avesso.

Eugenia precisava de barreiras. Ela precisava de uma mão firme e regras claras. Ela precisava parar de tocar outros homens.

— Eh! Você aí. Afaste-se!

Phineas piscou e olhou para trás. Um homem velho olhava para baixo de cima de uma carroça lotada. A mulher do homem, puxou seu crochê de dentro de uma cesta a seus pés e franziu a testa.

Maldição. Ele estivera parado no meio do pátio da pousada olhando a porta pela qual a sua esposa desaparecera. Essa escuridão havia amolecido sua mente.

Ele esfregou o pescoço e entrou, perguntando se ela falaria com ele se lhe comprasse presunto.

Eugenia se sentou perto de uma cansada Hannah, bebendo em uma xícara de madeira com um farto apetite. Ela largou a xícara e tagarelou com sua irmã, que olhava para baixo, para o topo da mesa toda arranhada com uma expressão de pedra.

Phineas procurou pelo estalajadeiro e pediu um pouco de cerveja para ele, depois aproximou-se das damas e sentou-se no banco a frente delas.

— Penas dão peso, sabe. Agora, para alguns, é uma característica crucial. Lady Wallingham, por exemplo, nunca sai sem uma pena ou duas. Eu também gosto delas grande.

Hannah soltou um suspiro pesado e virou-se para olhar o pátio pela janela imunda.

Phineas olhou de uma dama para a outra e franziu o cenho. Ele perdera algo, mas não tinha certeza do que era.

— Presumo que a conversa seja chapéus. — Aventurou-se.

Eugenia fingiu que não o escutou.

— Normalmente não recomendaria penas para você, mas no caso de uma roupa para cavalgar...

— Eu não cavalgo. — Hannah espetou.

A ruga em sua testa se aprofundou. O que diabos?

Fungando, Eugenia deu outro gole em sua cerveja.

— Deveria. — Ela disse a Hannah. — Ajuda a limpar a mente.

— Minha mente é perfeitamente limpa.

— Melhora a disposição.

Desta vez, Phineas ouviu claramente um bufo. Engraçado isso. Hannah bufando.

— Ouso dizer que cavalgar deve ajudar a curar um humor intratável. Em minha experiência, é mais agradável do que ficar remoendo autopiedade. — Deu outro gole. — Embora, isso tenha seus méritos.

Phineas pigarreou.

— Eu a ensinarei. — Eugenia continuou. — Presumindo que Primvale possua um estábulo adequado e que possua um mínimo de capacidade, eu ouso dizer que cavalgará por prazer pelo menos uma vez por dia. As manhãs são melhores.

— Eu não cavalgo.

A hostilidade fervilhante naquelas palavras o surpreendeu. Ele nunca vira sua frágil e gentil irmã se comportar daquele jeito.

Com alegria, Eugenia respondeu.

— Não cavalga agora. Essa é a razão pela qual eu devo ensiná-la.

— Não desejo aprender.

— Bem, isso é bem evidente. — A expressão irônica de Eugenia foi acompanhada de um virar de olhos.

O estalajadeiro pôs um grande copo de cerveja à sua frente, mas Phineas não afastou o olhar da conversa bizarra entre sua esposa e irmã, nenhuma delas tinha se incomodado em reconhecer a sua presença.

— Infelizmente, muitos desejos não são realizados. — Eugenia continuou. — Eu desejava trazer comigo mais quatro chapéus e três bonnets, por exemplo. Até que fui forçada a deixá-los para trás. Agora devo pedir o dobro da mesada que Holstoke inicialmente planejou. — Ela estalou a língua. — Refazer chapéus é caro, pois alguns desenhos exigem materiais especializados.

O vinco na testa se aprofundou. Pelo menos ela estava falando dele, embora indiretamente. Ele escolheu responder à acusação dela com uma explicação útil.

— Nós tínhamos que partir quando o fizemos, Eugenia. Atrasos poderiam aumentar as chances do envenenador...

— Então, quanto Holstoke lhe dá de mesada, Hannah?

— Não é problema seu. — Veio a reposta de Hannah.

— Talvez não, mas gostaria de saber. Vamos, conte-me. Ele é surpreendentemente generoso, não? Sim, deve ser. Estes seus vestidos são divinos. Trabalho de Madame Legrande, se não estiver errada. Um talento incomparável, grande, de fato. — Ela deu uma risadinha agora com sua própria piada. — Eu tenho várias de suas criações. Papai não é tão generoso quanto Holstoke. — Eugenia piscou e bateu nos lábios com os dedos. — Agora que eu penso sobre isso, até mesmo Holstoke não é generoso como vai ser. — Desta vez, a mensagem de Eugenia foi afiada e destinada exclusivamente para ele.

Maldição.

Ele fez uma tentativa de intervir.

— Eugenia, este é um assunto que é melhor reservar para...

— Bem. Assim que chegarmos ao pequeno castelo de Holstoke e tivermos uma oportunidade de estabelecer nossas pequenas rotinas, devemos ajudá-la em sua habilidade na sela.

— Eu prefiro caminhar.

— Humm. Sim. Estranhamente, as preferências são parecidas com os desejos. Outro excelente exemplo: Holstoke prefere não ser acusado de assassinato. E ainda assim, foi precisamente o que aconteceu. Se não fosse por intervenções no tempo, ele podia ainda estar sendo acusado com nenhum álibi em vista.

Ele suspirou e bebeu sua cerveja. Estava fraca e insípida. Talvez ele devesse voltar aos estábulos.

— No fim, suporia que um pouco de gratidão seria válido. As intervenções oportunas não aparecerem todos os dias. — Eugenia bebeu o restante de sua cerveja e apoiou o copo sobre a mesa com alguma força. — Infelizmente, embora alguém possa esperar por gratidão, poderá nunca receber a menor atenção. E, embora, isso seja extremamente rude e decepcionante, não é inesperado.

O estalajadeiro entregou uma cesta de pães e um prato de presunto fatiado.

Graças a Deus, Phineas pensou. Talvez a comida melhore as coisas.

Não o fez. Hannah imediatamente pegou um pedaço de pão e uma fatia de presunto antes de se levantar da mesa e avançar até a porta.

— Humph. — Genie murmurou antes de dar de ombros e fazer o mesmo.

Phineas segurou o pulso dela quando ela passou por ele.

— Eugenia.

Ela parou, mas não olhou para ele.

Ele acariciou o pulso elegante dela com seu polegar, novamente surpreso por ver o quanto ela era pequena.

— Eu sei que está...irritada comigo.

Uma fungada.

— Dar-lhe mais tempo seria colocá-la em grande perigo...

— Não foram os chapéus, Holstoke. — Sua voz estava estranhamente baixa e uniforme.

Ele se levantou. Virou o rosto dela em sua direção. Trouxe-a para perto até que ele pode cheirar as violetas.

— O que, então?

Ela manteve os olhos apontados em seu casaco. Os lábios estavam apertados. Se ele quisesse ter a mínima chance de beijá-la depois – e ele queria – acreditava que descobrir o que ele fizera para aborrecê-la tanto seria uma vantagem para ele.

Ele a puxou para mais perto. Abaixou a cabeça.

— Conte-me.

— Você exigiu que eu concordasse em me casar com você, então eu o fiz.

Ele franziu o cenho.

— Para preservar a sua reputação depois que anunciou a todos...

— Exigiu que eu o beijasse. E eu o fiz.

— Uma experiência que você gostou bastante, se me recordo...

— Exigiu que eu deixasse a minha casa, as minhas posses e todas as coisas familiares com tão pouco aviso, quanto daria ao cozinheiro que queria peixe defumado no café da manhã. E eu o fiz.

Ela ainda se recusava a encontrar seus olhos e isso alimentava a escuridão dentro dele. Ele não gostava desta Eugenia: calma, fraca e, de alguma forma, ferida. Ele queria a mulher que ria e o tocava sem pensar.

— Você exigiu que eu o seguisse para essa terra de gramas, vacas e nada. — Ela finalmente ergueu seus olhos para encará-lo. Eles estavam disparando fogo. — E eu o fiz.

Ele não entendia. Ele explicou tudo. Racional e razoavelmente. Não Explicou?

— O mínimo que tinha que ter feito era ter notado que eu ainda estava usando o vestido de casamente e não um de viagem.

Ela estava furiosa. Ferida. Ele conseguia ver isso pelo brilho nos olhos dela. Mas os motivos dela não faziam sentido. Ele olhou para o conjunto em tons de rosa. Não, esse não era o mesmo que ela vestira no casamento deles. Aquele outro era azul. De verdade, não importava o que ela vestia. Tudo o acendia como uma tocha quando ela estava perto. Mesmo um pequeno pássaro tolo empoleirado dentro de uma floresta de penas-de-avestruz.

Franzindo a testa, ele tentou recuperar terreno.

— Um membro da equipe de funcionários da minha casa tinha acabado de morrer.

— Sim. E?

— E ainda não sabemos quem é o assassino. Pode ser qualquer um. — Ele suspirou e esfregou a nuca. — Qualquer um que saiba formular venenos.

— Assim como um boticário.

O olhar dele aguçou-se sobre ela. Normalmente ele não consideraria sobrecarregar Eugenia com conversas sobre venenos e assassinos, mas a sua frustração o deixava desesperado.

— Sim, apesar de o boticário que minha mãe usava está há muito tempo morto.

Ela fungou inclinando o queixo.

— E o assistente dele?

Phineas piscou.

— A corporação não citou nenhum aprendiz.

— Não digo aprendiz. Digo assistente. Muitos lojistas preferem evitar acordos nos quais ficarão obrigados a treinar alguém por muitos anos. Em vez disso, eles trocam salário pelo trabalho. Nenhum contrato. Contratação fácil, demissão fácil. A Sra. Pritchard, por exemplo, clamava para si mesma todo o trabalho. Na verdade, ela fazia muito pouco, embora gostasse de receber os créditos por suas assistentes. Suponho que ela considerava isso um privilégio do empregador. — Ela deu de ombros. — Uma prática bastante comum.

A escuridão odiava recordar como a Sra. Pritchard tratara Eugenia. Phineas a forçou a retroceder, acalmando-se ao acariciar o braço dela com o polegar.

Ela continuou com uma altivez calma.

— Quem quer que seja o envenenador, duvido muito que ele poderia escalar as paredes de Berne House e me matar enquanto eu terminava de empacotar.

Ele franziu o cenho.

— Não poderia correr o risco. Precisava que você parasse de se divertir e entrasse naquela maldita carruagem.

Ela se retorceu para escapar de seu aperto.

Evidentemente, a explicação dele não foi satisfatória.

Inclinando o queixo, ela disse asperamente.

— Como você nunca teve uma esposa antes e, sem dúvida, suas tolas companhias mais próximas têm caules e folhas, concedo que deve ser treinado, Holstoke. Um grande treinamento. Até lá, sugiro que rumine sobre os benefícios de mesadas generosas. — Ela virou-se sobre seus calcanhares e seguiu até a porta.

— Quanto tempo? — Ele perguntou, observando seus quadris perturbadores balançarem.

Ela parou. Ergueu uma sobrancelha questionadora sobre seu ombro.

— Até eu ser perdoado. — Ele esclareceu.

Ela não respondeu, em vez disso, passou pela porta e voltou a carruagem.

Ele voltou a mesa e tomou sua cerveja. Nada razoável acontecera ali. Mas, pelo menos, ela estava falando com ele novamente. Era alguma coisa.

Ele olhou para as migalhas remanescentes na cesta e pegou o último e pequeno pedaço de presunto. Então, ele pagou o estalajadeiro e foi aos estábulos.

Mulheres. Elas eram malditamente confusas.

Suspirou e mordeu o presunto. Um bocado seco e muito salgado, mas serviria. Em seu caminho pelo pátio, olhou para a carruagem onde sua esposa e irmã engajavam alguma batalha estranha e feminina que ele não podia compreender. Finalmente ele alcançou a Caballus – uma criatura sã. Falou brevemente com o cavalariço que segurava Caballus – outra criatura sã. Finalmente, deu instruções para os sete cansados-porém-vigilantes homens, todos claramente com altos níveis de sanidade.

E ele formulou uma hipótese de que as mulheres eram mais sãs quando não estavam confinadas a espaços pequenos por longos períodos. Proximidade com outras fêmeas parecia especialmente problemático.

As complexidades de Eugenia eram maiores do ele suspeitou inicialmente. Ele ainda não entendia o que fizera, além de apressá-la um pouco. Mas, não importa quão labiríntico fosse o pensamento dela, ele pretendia dominar o assunto.

Um processo exploratório longo e complexo. Sim. Era precisamente do que ele precisava.

A escuridão estava feliz com o plano. Assim como Phineas.

Ele terminou seu presunto e esfregou o pescoço de Caballus. O sorriso dele lentamente cresceu. Uma vez que eles chegassem a Primvale, ele começaria a desvendar o mistério que era a sua esposa. E isso queria dizer experiências. Numerosas experiências. Um verdadeiro cientista deve ser diligente, afinal.


CAPÍTULO 12

“Alguma coisa deve ser feita. Nós simplesmente não podemos ter envenenadores agindo por Mayfair e reduzindo a população de damas casadouras uma por uma. Quem sobrará para Lady Gattigford fofocar?”

A Marquesa Viúva de Wallingham para o Secretário de Relações Interiores, Robert Peel, quanto a necessidade de lidar com a criminalidade de uma maneira mais sensata.

O gigante feio e careca deixou cair uma caneca sobre a mesa. Jonas Hawthorn lhe deu um sorriso irônico.

— Obrigado, Rude. Há meses que não tenho uma cerveja decente.

Rude Markham grunhiu e coçou sua orelha em forma de couve-flor.

— Aye. Faz tempo desde a última vez que lhe vi. Perseguindo musselinas, ãh?

Jonas bebeu sua cerveja e suspirou, caindo para trás em sua cadeira.

— Nada tão agradável. Ladrões e patifes, a maioria.

Rude assentiu e bateu no ombro com uma força excessiva.

— É o que paga, suponho.

De fato, pagava. Jonas passava horas de vigília caçando bugigangas de homens ricos e os desgraçados miseráveis que as roubavam – então, um dia, ele poderia parar de caçar bugigangas de homens ricos e os desgraçados miseráveis que as roubavam. Homens rico pagavam fortunas para encontrar seus relógios de ouro e colheres de prata. Os desgraçados miseráveis pagavam com o pescoço.

Há anos que ele não dava uma maldita importância ao desequilíbrio. Ainda mais porque ele gostava da perseguição.

Agora, enquanto observava o gigante feio e careca voltar ao bar, ele pensava como era diferente as formas de se caçar um assassino. Coisa curiosa.

Era como um verme em seu intestino. Ácido e fogo. Ele queria este envenenador mais do que qualquer ladrão. Mais do que qualquer coisa em um longo, longo tempo.

Ele pensou que Holstoke era o seu homem. As peças combinavam. Mas a coceira em seu pescoço não diminuía, não importa quantas formas ele questionava aonde as evidências podiam levar.

Então, surgiu o problema de... dela.

Ele fechou os olhos e bebeu outro gole, a exaustão quente deslizou como uma neblina em um vale. Não havia sentido em pensar nela. Aquele era um pedaço de musselina que ele nunca veria, quanto mais tocar.

— Boa hora para dormir, Hawthorn.

Jonas abriu seus olhos e dirigiu a Drayton um meio sorriso e ergueu sua caneca.

— Ele vem, quando vem.

Enquanto Drayton puxava uma cadeira para si, o enganadoramente elegante Lorde Dunston removeu seu chapéu e tomou o assento em frente a Jonas. Os olhos do homem eram mais aguçados do que seu antigo apelido: Sabre.

— O que descobriu?

Suspirando, Jonas se endireitou. Apoiou um cotovelo na mesa. Puxou do bolso um pedaço de papel dobrado.

— Entre Randall, Glencombe, Holstoke e Froom, apenas um deles contratou um novo criado nos últimos dois meses.

Dunston desdobrou o papel e assentiu. Seu colete verde brilhava na luz do fogo.

— Randall. Você suspeita que ele esteja envolvido?

— Improvável. — Jonas respondeu. — Ele se beneficiava mais mantendo a esposa viva. O acordo deles lhe servia muito bem.

Drayton franziu a testa.

— Acordo?

— Humm. — Respondeu Dunston. — Lady Randall tolerava as afeições de Lorde Randall às companhias masculinas. Algumas esposas não seriam tão compreensivas.

— Eu interroguei cada membro das quatro casas. — Jonas prosseguiu. — O mordomo de Randall contratou dois lacaios adicionais para servir os convidados no baile onde a Srta. Froom foi envenenada.

— Conversou com estes homens?

Jonas assentiu e apontou para o papel.

— Os nomes estão aqui. Um esteve...ocupado com Lorde Randall na maior parte da noite.

— E o outro? — Perguntou Drayton.

— Caiu doente uma semana antes. A mãe dele e dois primos dizem que ele esteve na cama com febre durante todo o dia e noite do baile dos Randalls. — Jonas olhou para Dunston, que, além do colete, exibia poucos sinais do dândi que ele fingia ser. — Eles também alegam que ele nunca foi empregado de Lorde Randall.

O olhar de Dunston se estreitou.

— Nunca?

— Nunca foi contratado. Nem trabalhou. Nenhum contato. O garoto diz que ele trabalhou para um capitão do exército até que ficou doente e ainda não tinha forças para procurar outro posto.

— Um impostor, então. — Dunston esfregou o queixo e balançou a cabeça.

— Maldição. Inferno maldito. — Murmurou Drayton. — Parece que temos outro fantasma, milorde.

Jonas vasculhou dentro de seu casaco e retirou um segundo papel dobrado.

— Talvez não. — Ele disse, oferecendo a folha a Dunston que a desdobrou. Piscou. Aguçou o olhar.

Jonas sorriu e deu um gole na ótima cerveja de Rude Markham.

— Fantasmas não têm rosto, têm?

Ele sabia o que Dunston viu, ele desenhou. O nariz fino. A sobrancelha delicada. Olhos redondos e gentis. Era um homem, mas um com feições tão banais, que ele levou o diabo de um dia incitando criadas e outros serventes para lhe darem descrições suficientes. Ainda assim, era um rosto. Já era alguma coisa.

Dunston passou o papel para Drayton.

— Reconhece-o?

— Não. Parece inofensivo.

Dunston encontrou os olhos de Jonas.

— Os mais inteligentes são.

Jonas ergueu sua caneca e saudou a afirmação correta antes de dar outro gole.

— O mordomo de Glencombe disse que um dos lacaios de Randall entregou uma mensagem para Lady Theodosia na manhã em que ela foi morta.

— Deixe-me adivinhar. — Disse Dunston, deslizando o esboço pela mesa. — Ele era o mensageiro.

Jonas assentiu e apoiou sua caneca quase vazia na mesa, acenando para Rude. O proprietário jogou uma toalha sobre o ombro e pegou uma jarra.

— Isso é o mais longe que conseguiremos ao questionar os moradores. Randall não sabe de nada. Froom e Glencombe querem a cabeça de Holstoke em uma bandeja. Holstoke alega que não sabe o motivo pelo qual o envenenador deseja sua atenção, além da fascinação pela mãe dele. — Jonas dobrou o papel e a lista antes de guardá-los em seu bolso. — Preciso saber mais do que sei. — Ele continuou acenando seu obrigado a Rude, que bateu no seu ombro e serviu os três homens.

— Isso é verdade, hein, Hawthorn? — Rude disse, secando a jarra com a toalha. — Eu conversei bastante com Reaver na semana passada. — O gigante careca olhou ao redor do The Black Bull com orgulho e nostalgia. — Gostaria de saber desde o começo o que sei agora. Mas eu era apenas um lutador, um pouco brusco. Reaver me ensinou algumas coisas quando eu comprei este lugar dele. Mas eu não sou Reaver, pode ter certeza.

— Você faz bem, Rude. Bem.

— Ah, você é um amigo leal, Hawthorn. — Outro tapa doloroso em seu ombro, junto com uma risada estrondosa. — Avarento de vez em quando, mas um bom tipo.

Enquanto Rude se afastava, Drayton se endireitou e apertou os olhos em direção à Jonas.

— Reaver deve lembrar de alguma coisa. Ele ajudou a rastrear Lady Holstoke quando vossa senhoria casou e... — Drayton lançou um olhar de soslaio a Dunston e ergueu uma sobrancelha espessa. — Desistiu da perseguição. Por um tempo, pelo menos.

Dunston murmurou sua concordância.

Sebastian Reaver era o proprietário de um clube de jogos para cavalheiros que ocupava um quarteirão inteiro da St. James. Os nobres gostavam de frequentar o lugar, ou isso Jonas tinha entendido. Como ele não era um nobre, não era um membro. Ele não conhecia o homem. Mas pela reputação do Reaver’s, Jonas poderia supor que ele era tanto implacável quanto eficaz.

— Do que ele poderia se lembrar? — Jonas perguntou.

Drayton terminou de engolir sua cerveja e balançou a cabeça.

— Ele poderia saber algo sobre o boticário. — O homem mais velho esfregou sua própria perna embaixo da mesa.

— Do que você lembra?

— Bem, como eu disse, nós seguimos o rastro dos venenos do Investidor – que era Lady Holstoke – até uma botica perto da Strand. Quando entramos, o lugar estava destruído. O boticário usava nada além de uma camisa e cueca. Ele estava péssimo. — Drayton deslizou uma mão pelo rosto e deu um longo gole em sua cerveja antes de prosseguir. — Sacudia-se e babava. Seus olhos estavam muito grandes.

— Muito grandes?

— Dilatados. Os centros estavam grandes também. Como os da Sra. Varney. — Drayton deu um suspiro. — De qualquer forma, Reaver levantou o pobre coitado e tentou conseguir um nome. Nada. O homem estava sufocando. Reaver me mandou procurar no jardim atrás da loja. Muros altos. Um portão levava a um beco. — Ele esfregou a perna novamente. — O tiro veio de repente. Mal pude me virar e o bastardo magricelo já escapava pelo portão.

O pescoço de Jonas coçou.

— Magricelo?

— Aye. Magro como uma garota, mas se movia como um menino.

— Viu o rosto dele?

— Não. Apenas um vislumbre de suas costas. Eu o tomei como aprendiz. Após o cirurgião tirar a bala, eu tentei encontrá-lo, mas o boticário não tinha nenhum aprendiz registrado na corporação.

— Concluímos que o garoto foi pago para se livrar do parceiro de Lady Holstoke. — Dunston disse. — Ela tinha uma propensão a contratar jovens rapazes para livrá-la de suas dificuldades.

— Então, você nunca descobriu o que fez o garoto atirar em você.

Drayton balançou a cabeça.

— Ele desapareceu. Após esses anos, supunha que ele teria retornado de onde veio ou caído na cova como muitos outros que trabalharam para Lady Holstoke. — Ele deu de ombros. — Talvez Reaver se recorde de mais coisas.

Jonas olhou mais uma vez a Dunston.

— Importa-se de fazer a apresentação?

O elegante lorde sorriu.

— Por que não?

Um pouco depois, Jonas e Dunston estavam parados dentro de uma sala no terceiro andar de um dos mais exclusivos clubes de cavalheiros de Londres. Jonas avaliou os arredores, notando a limpeza e a robustez dos móveis. A sala era menos luxuosa do que o resto do clube, porém, espaçosa e confortável exatamente por isso. Levantando-se detrás de uma massiva mesa de carvalho, um homem mais musculoso e dois centímetros mais alto do que Rude Markham removeu os óculos.

Dunston o apresentou como Sebastian Reaver.

Jonas pôde ver onde o gigante de cabelos pretos ganhou sua reputação. Ele parecia que podia quebrar um homem com um simples sopro.

— Hawthorn. — Ele retumbou, dando a volta na mesa. Olhos pretos focaram em Jonas. — Já ouvi o seu nome. E as reclamações.

— Ladrões. — Jonas deu uma risadinha. — Eles cacarejam mais do que mil galinhas.

— Aye. Principalmente quando há um lobo entre eles e nunca falha em pegar suas refeições. O que o traz aqui?

Jonas retirou o esboço e esticou ao gigante, que recuperou seus óculos e deu uma olhada.

— Já o viu?

Reaver abaixou o esboço e balançou a cabeça.

— Quem é ele?

— Outro envenenador. — Dunston respondeu em voz baixa. — Um admirador do trabalho de Lady Holstoke. — Dunston descreveu os atos do assassino, sua aparente fixação por Lorde Holstoke e a suspeita deles sobre seus métodos.

Os olhos de Reaver brilharam e se estreitaram.

— As fórmulas são diferentes das dela, não são?

— Assim diz Lorde Holstoke. — Disse Jonas.

— Ele saberia. — Reaver grunhiu e balançou a cabeça. — Malditamente brilhante aquele lá. E incansável também. Foi atrás dos cúmplices de sua mãe como um demônio, vários anos após a morte dela. Encontrou suas vítimas ao combinar as descrições das mortes delas com os métodos de sua mãe.

Jonas sabia que era verdade. Holstoke friamente explicara os motivos e seu exaustivo processo. Ele parecera sem emoção, mas após ver a reação do conde a Lady Eugenia Huxley, Jonas tendia a acreditar que era mais uma máscara do que sua verdadeira natureza.

— Baseado nas análises de Holstoke, parece que as fórmulas do assassino são parecidas com os venenos usados no boticário de Lady Holstoke. Você esteve lá. Do que se recorda daquele dia?

O gigante deslizou uma mão pelos cabelos e girou seu ombro massivo.

— Não foi uma morte fácil. Na hora que nós chegamos, o homem estava inconsciente. Engasgando.

— Você estava no jardim quando Drayton levou o tiro?

— Não. Eu ouvi o tiro e corri até lá. Vi uma figura voando pelo portão.

— Feminina ou masculina?

— Masculina. Usava chapéu, casaco e calças marrons. Movia-se como um garoto.

Drayton dissera a mesma coisa. Jonas apontou novamente ao esboço.

— Poderia ser ele?

Reaver olhou novamente.

— Nunca vi o rosto dele. Eu o persegui, mas ele desapareceu tão rápido quanto o rum de um marinheiro. Acredita que o garoto que atirou em Drayton é o assassino?

Jonas coçou o pescoço.

— Talvez. Qual a altura dele?

— Mais baixo que você. Magro. Rápido.

Jonas elevou a mão abaixo da ponte de seu nariz.

— Mais ou menos dessa altura?

— Mais alto.

Jonas moveu a mão para sua testa.

— Aye.

Inferno maldito. Muito alto. O assassino fora descrito pela equipe de Randall como tendo por volta de um e setenta e cinco. Se a lembrança de Reaver estivesse certa, não podia ser o mesmo homem.

Com uma carranca sombria, Reaver olhou para Dunston.

— A Srta. Gray sabe da fixação do canalha? — Reaver perguntou. — Ela está segura?

Tudo dentro de Jonas ficou atento. Seu pescoço pinicou. Suas mãos coçaram. Seus cabelos quase ficaram em pé. Certamente sua reação era extrema, mas o último assunto que ele esperava ouvir da boca de Reaver era...ela.

— Estou curioso em como a Srta. Gray foi seu primeiro pensamento. — Jonas disse suavemente, mantendo seu meio tom, apesar da estranha urgência que corria dentro dele. — Por que isso, Sr. Reaver?

Dunston pigarreou.

— Perfeitamente razoável, meu bom homem. Ser irmã de Holstoke a coloca na mira do assassino...

— Por que ela especificamente? — Jonas se aproximou do gigante. — Por que não a mulher com quem Holstoke se casou? Ou o próprio Holstoke?

Um olhar duro e sombrio vasculhou, avaliou, iluminou-se e calculou. Finalmente Reaver respondeu:

— Porque se este filho da puta admira Lady Holstoke, ele deve provavelmente eliminar a garota que atirou nela.

Atirou nela. Doce Cristo. A fria e intocável Srta. Hannah Gray? Ele não conseguia imaginá-la pondo um de seus delicados dedos sobre uma arma, muito menos atirando. Jonas olhou para Dunston, uma fúria incontrolável crescendo em seu peito.

Dunston olhou para Reaver.

— Havia pouca necessidade de contar a ele.

— Toda a necessidade. — O gigante respondeu. — Ela estará em perigo. Novamente. Se ele quer parar este idiota, ele precisa saber disso.

Em perigo novamente? Por que diabos ela estaria em perigo afinal?

— Preciso saber de tudo, Dunston. — Jonas espetou. — Tudo.

O outro homem suspirou.

— Hawthorn, tudo o que precisa saber é que a garota sofreu muito por causa de Lady Holstoke. Ela atirou na condessa para defender a sua vida e os outros na sala, incluindo minha esposa e eu.

— Os relatórios do magistrado em Dorsetshire não fazem menção a isso.

Reaver respondeu.

— Nós todos votamos para protegê-la e assim fizemos. Maldito inferno, ela já havia passado por bastante coisa, né? Dunston está certo. Você não precisa conhecer os detalhes. Apenas saiba que ela pode ser um alvo novamente.

— Por que ela é bastarda? Lady Holstoke...

— Não importa. — Dunston disse categoricamente.

Importava. O bastante para fazê-lo querer esmurrar para obter as respostas dos dois homens. Por que, ele não sabia dizer. Hannah Gray era a mais arrogante das mulheres arrogantes. Bonita, certamente. Pelo branca cremosa. Os olhos mais impressionantes que ele já vira. Mas desde o momento em que eles se conheceram, ela o tratou como os dejetos de uma montaria malcriada – repulsivo e melhor evitar.

Ele não deveria se importar se ela estava em perigo. Ele não deveria se importar se ela havia ‘sofrido em demasia’ e tinha ‘passado por muita coisa’.

Assim como ele não deveria sonhar com ela a noite e ficar tão duro como uma rocha.

A vida era cheia de ‘deveres’.

Eles foram interrompidos pela esposa de Reaver, que entrou sem bater. Ela era alta. Cabelos avermelhados. Confiante e régia. Ela avançou em direção ao marido, uma mão enluvada pousada sobre seu ventre redondo e cheio.

— Bastian, seus filhos decidiram roubar as botas do Sr. Duff e o montam como um pequeno pônei. Talvez você pudesse...oh! — Ela piscou. Olhando de Jonas para Dunston.

— Lorde Dunston e...?

Reaver moveu para o lado dela. O gigante deslizou a mão ao redor dela, abraçando-a completamente.

— Esse é Hawthorn. Ele trabalha em Bow Street.

Ela inclinou a cabeça como uma rainha.

— Um prazer, Sr. Hawthorn. — Então, ela deu um sorriso arrependido. — Cavalheiros, temo que devo roubar meu marido.

Uma risada profunda e retumbante soou.

— Os garotos estão lhe dando muito trabalho, Gus?

Ela olhou para o marido com flagrante adoração. Então deu uma batidinha em seu ventre.

— Este aqui está. Ele tem uma sincronia terrível.

Os pesados músculos de Reaver ficaram rígidos. Os olhos pretos arregalaram-se.

— Não. Não por outro...

— Duas semanas. — Sua esposa suspirou com expressão envergonhada. — Meus cálculos podem ter sido um pouco errados.

— Maldito inferno.

— Peço desculpas, cavalheiros.

— Não se preocupe com eles. Devemos ir para casa. Onde está a carruagem?

— No mesmo lugar de sempre. Pedi a Duff para pegar os garotos. Eles não estão particularmente cooperativos.

— Hora de ir embora. — Reaver, parecendo em pânico, abaixou-se e pegou sua esposa em seus braços.

— Bastian! Não sou nem inválida e nem uma valise. E esta dificilmente é a primeira vez...

Sem outra palavra para Jonas e Dunston, Reaver saiu do escritório carregando sua esposa que parecia estar prestes a dar à luz a outro bebê.

Dunston pegou o esboço de Jonas do chão e estendeu a ele com um sorriso irônico.

— Receio que essa será a extensão da ajuda dele. Reaver é obstinado quando se trata de sua família.

Jonas guardou seu esboço no bolso e lançou a Dunston um olhar duro.

— O que deixa apenas você para responder as minhas perguntas. Um pouco mais completas desta vez, se não se importa.

O elegante conde sorriu.

— Venha, Hawthorn. Acontece que sou membro do Reaver’s. Vamos beber conhaque e fingir que somos civilizados.

Jonas não sorriu.

— Eu ainda terei minhas repostas, meu lorde.

— Não duvido, meu bom homem. — Dunston bateu no seu ombro com força que rivalizava com a de Rude Markham. — Civilizados primeiros. Muito tempo para caçar galinhas depois.


CAPÍTULO 13

“Jardinagem não é uma profissão para um cavalheiro, meu querido rapaz. Nenhuma dama deseja descobrir que as mãos que a carregam em uma valsa, tem terra embaixo das unhas."

A Marquesa Viúva de Wallingham para Lorde Holstoke em uma carta explicando o papel apropriado de um conde e a natureza imprópria das mãos sujas de terra, em tarefas que era melhor deixar para os criados.

O primeiro vislumbre de Genie do Primvale Castle, veio bem depois de seus arredores a terem deixaram sem voz e sem fôlego. E isso depois de ela se desesperar com a possibilidade de perecer por falta de civilização.

A paisagem de Dorsetshire era ondulante, o ar fresco pela brisa marinha. Em suma, era muito parecido com outras partes da Inglaterra que ela já vira antes, embora menos populosa – a menos que se contasse as vacas.

Sua apreensão aumentou à medida que ela via menos e menos vilas entre as gramas sopradas pelo vento. A última havia sido a pelo menos cinco milhas atrás, pouco mais de um aglomerado de chalés brancos com telhados de palha. Nenhuma loja. Nenhuma outra carruagem. Nem mesmo uma pousada. Ali, onde a terra se esvaziava, vales longos e rasos pareciam água corrente, a própria grama ondulando como um respingo. Parecia como se ela tivesse embarcando em uma longa viagem marítima com poucos suprimentos, pouco conforto e companhia desagradável.

Ela começara a resmungar silenciosamente a respeito do vazio, quando a carruagem subiu uma das colinas e ela arfou. Genie reservava as arfadas apenas para as mais extraordinárias vistas. Esta era uma.

Em frente, ao longo do sinuoso caminho havia uma cerca viva em pleno florescimento. Uma mistura de rosa e branco, as flores estavam começando a cair, banhando o caminho com uma profusão de pétalas brancas. Elas voavam até a carruagem como uma benção de uma deusa da natureza.

Porém, ela teve pouco tempo para contemplar o efeito, pois em todos os lugares, árvores altas, arbustos frondosos e flores brilhantes como joias, formavam um cenário espetacular como de uma pintura ao longo de cada curva do caminho sinuoso.

Genie se perguntava se acabariam os ofegos antes de chegarem ao destino. Então, lentamente, enquanto contornavam um carvalho retorcido e antigo rodeado por deslumbrantes lírios laranjas, o verde das árvores e das sebes deu lugar para uma clareira em forma de meia-lua margeada por um muro de pedras baixo. Um banco posicionado no meio da curva. Era aí que o mar aparecia. Azul e infinito, fundindo-se ao céu, a única distinção era o brilho sobre a água. O maravilhoso azul era emoldurado por um arco de pétalas brancas e galhos grandes que pareciam braços.

A carruagem passou, mas o coração de Genie ficou no local, imaginando dedicar uma tarde para esboçar gloriosos chapéus inspirados no mar.

À medida que seguia pelo caminho, ela experimentou a mesma sensação – de deixar um pedaço de seu coração em cada pequena alcova ou cenário habilmente desenhado – de novo e de novo. De verdade, era uma série de maravilhas.

Então o caminho bifurcou. Para a esquerda ela vislumbrou uma estrutura de tijolos quadrada com um massivo arco no centro. Através do arco se via um pátio com uma fonte e mais plantas exuberantes. A casa das carruagens e estábulos, talvez? A carruagem continuou pela via da direita, rodeando uma estátua de um dragão e um cavaleiro de, pelo menos, três metros e meio de altura. Genie suspirou, imaginando como o Sr. Moody estava se saindo. A carruagem chegou ao topo e, enfim, o castelo entrou em sua visão.

Podia não ser tão grande quanto a gigantesca Grimsgate de Lady Wallingham, mas então, poucos castelos era. Ainda assim, era massivo – cinco esplendidos e simétricos andares de pedra cinza e lisa. Quadrado e perfeito, Primvale ostentava uma torre redonda em cada canto, múltiplas janelas e uma série de degraus que levavam até um terraço parcialmente coberto por um pórtico com um arco pontudo. Dentro de suas sombras havia um enorme conjunto de portas de madeiras.

— Bons céus. — Genie exalou, notando outra fonte no centro do caminho circular. — Isso é um grifo?

— Lutando com uma serpente marinha, sim. — Veio a resposta de Hannah.

Genie quase se esquecera que a moça estava ali. Por pura persistência, ela conseguira tirar algumas frases civilizadas nas duas últimas horas. Era um progresso, mas Genie antecipara dias de dificuldade pela frente para Hannah, que não tinha a mínima noção de quão determinada a sua nova cunhada poderia ser.

Enquanto a carruagem se aproximava da fonte, ela apertou os olhos. As duas criaturas no centro se retorciam, girando em direção ao céu. Ferido e na face da morte, as asas do grifo estavam amarradas dentro das muitas voltas da serpente que afundava suas presas na garganta da criatura de penas. Era um retrato selvagem e convincente da morte e dominação.

- Lady Holstoke a encomendou. — Hannah comentou em voz baixa.

Por um momento, Genie pensou que a moça a criticava, implicando que o novo título de Genie a tornava tão venenosa quanto a sua dona anterior.

Mas pela expressão de Hannah, não fora petulante e nem ressentida. Estava assombrada.

Seu coração se retorceu, levou um momento para uma resposta casual.

- Humm. Trabalho bonito, mas uma recepção meio sombria. Por que Holstoke a mantém?

- Não sei.

Sabendo um pouco do que Hannah sofrera nas mãos da antiga Condessa de Holstoke, o coração de Genie se apertou em um nó. Ela considerou desistir da tarefa autoatribuída naquele momento.

Mas a última coisa que Hannah precisava era ser mimada.

- Bem. — Genie respondeu, alisando as saias. — É fantasmagórica. Primvale ficará muito melhor com a sua remoção.

Hannah não respondeu, mas um vinco pensativo apareceu entre as suas sobrancelhas.

A carruagem finalmente parou e Genie expirou em um alto suspiro de alívio.

- Espero que as ofertas do almoço sejam melhores do que o presunto desta manhã. Terrivelmente seco.

Piscando lentamente a moça respondeu:

- Nós não servimos o almoço.

Genie estalou a língua.

- Não seja tola. É claro que servimos. Uma boa refeição melhora muitos, muitos males. E após uma longa viagem? Isso é um requisito.

Hannah mais uma vez franziu o cenho.

- Confie em mim. Esta é uma mudança que gostará.

Antes que Hannah pudesse protestar e dizer que ela não queria mudanças, Genie abriu a porta da carruagem e pisou nas pedras angulares e lisas em forma de raio. Mais uma vez ela suspirou. Que lugar magnífico. Maureen estava certa em chamá-lo palaciano, embora Genie pensasse que ao menos essa palavra fosse um pouco fraca. Talvez ela devesse ter prestado maior atenção, mas Maureen tendia a tagarelar sobre jardins de uma forma entediante.

Ela avançou em direção à medonha fonte e a circulou. Em todos os lugares - de fato, em todos os lugares - havia jardins como ela nunca vira. Jardins murados, jardins afundados, jardins aquáticos, jardins floridos. Acres e acres deles. Ela ofegou quando avistou um pavão empertigado sob uma árvore próxima. A oeste, divisou o topo de casas de vidros brilhando na luz do sol. A leste, uma extensão de cerca viva dava lugar a pastos verdes vívidos pontilhados por vacas e flores silvestres laranjas, brancas e índigo.

E ela era capaz de sentir o mar em cada brisa. Ela não conseguia vê-lo parada na passagem ao lado da fonte, já que o castelo ficava às centenas de metros ao interior, mas ela se perguntou se seria ou não visível do primeiro andar.

Apressadamente ela subiu os degraus para a entrada e se virou. Ali estava ele – uma faixa azul no horizonte sudeste, emoldurada por gentis terras ondulantes e árvores frondosas. Entre o castelo e o mar, outra série de jardins se estendia de forma sinuosa. Ela suspeitava que a vista ficaria mais espetacular à medida que alguém se aproximava da água ou subia os andares do castelo.

Subindo pela passagem vindo da direção dos estábulos o homem que criara este esplendor. Algo dentro do peito de Genie se apertou. Deixou-a sem fôlego. Fez o seu coração acelerar.

Ele estava cansado – ela viu isso em suas passadas, que estavam mais cuidadosas do que o normal e pelo jeito que ele apertava os olhos. Apesar de toda exaustão, ele era ágil, seu semblante calmo.

Ela avaliou os arredores novamente e então voltou a olhá-lo. Ela já sabia que ele era honrado. E todos sabiam que ele era brilhante – alguém só precisava conversar com ele algumas vezes para ser sentir intimidado por seu intelecto. Ainda assim, ela não compreendera quão impressionante era o seu marido até aquele momento.

O homem cansado, alto e brilhante que contornava a fonte era seu marido. Imagine isso!

Céus, poderia a admiração infectar o coração e os pulmões como uma doença? Ela estava queimando por dentro. Queria descer os degraus dançando e beijá-lo novamente. Era verdade que ele frequentemente era alheio às nuances dos sentimentos, pisoteando seus sentimentos sem perceber. Ele lhe dava ordens na maneira mais rude e autoritária.

No entanto, ele se casou com ela. Protegia-a. Beijava-a de uma forma que a fazia ansiar por outra experiência.

Seu coração acelerou a um ritmo estrondoso. Ela balançou a cabeça e baixou os olhos para as pedras do terraço do castelo. Ela deveria parar de sonhar com o homem.

Seus olhos voltaram para ele como se puxado por cordas. Ele não parecia cansado. Ela percebeu isso na pousada, quando ele ficara perplexo com a sua ira. Mordendo o lábio, ela começou a planejar. Uma boa refeição e um banho serviria para começar.

Ele subiu os degraus, seus olhos encontrando seus quadris, subindo para os seios e finalmente pousando em seu rosto.

- Eugenia. — Sua voz falhou como se também estivesse cansado.

Ela conseguiu sorrir, embora por dentro, aquela pressão em expansão brilhava, borbulhava e a fazia ficar sem ar.

- Holstoke. — Ela murmurou. — Mostre-me minha nova casa.

As linhas de expressão em torno de sua testa suavizaram. Ele suspirou ao chegar ao terraço e lhe ofereceu o braço.

- Com prazer, Lady Holstoke.

Vislumbrando Hannah na base das escadas, imóvel e os encarando, ela parou. Virou-se. Gesticulou para a moça avançar. Hannah franziu o cenho e Genie estalou a língua. Ela desceu os degraus até Hannah e gentilmente tocou no ombro dela. Hannah saltou diante do contato, mas Genie não prestou atenção aos reflexos.

- Foi uma longa viagem, ouso dizer. Devemos chamar um lacaio para lhe carregar?

O olhar prolongado de Hannah foi a resposta.

- Oh, querida. Acompanhe-me. Precisarei de sua ajuda.

- Para que, pode dizer?

Genie arregalou os olhos.

- Planejar o almoço.

- Nós não...

- Sim, sim. Mas a frase correta seria ‘nós não almoçávamos’. Tempo passado. Não se deve ficar apegado ao que já passou sem poder imaginar algo melhor. — Ela ofereceu seu braço. — Acompanhe-me.

Hannah fungou. Fuzilou com o olhar. Inclinou o queixo teimosamente. Mas começou a subir as escadas em direção à porta e agarrou um braço de um Holstoke totalmente perplexo.

Genie sorriu e a seguiu, tomando o outro braço de Holstoke enquanto esperavam que a porta gigante de madeira fosse aberta. Um mordomo de cabelos brancos se inclinou profundamente.

- Meu lorde. E Srta. Gray. Bem-vindos. — Seus olhos - azuis e gentis - caíram sobre Genie. — Minha senhora. — Outra inclinação. — Nós estamos honrados em recebê-la em Primvale Castle.

Holstoke apresentou o mordomo, cujo nome era Walters, antes de levar Genie e Hannah em direção ao saguão de entrada. Que era enorme. O piso era de mármore branco e cinza em forma de quadrado. As paredes eram de pedra cinza aveludada. Os arcos tinham pontas. E no final havia cinco conjuntos de portas de vidro que levavam ao pátio central.

- Céus. — Ela respirou. — Aquela é uma terceira fonte?

- Humm. — Holstoke respondeu. — Gostaria de vê-la?

Ela olhou-o. Percebeu a vermelhidão ao redor de seus pálidos olhos verdes, o pó em seu chapéu e casaco, as linhas de cansaço ao redor de sua boca.

- Não agora. — Ela murmurou antes de se virar ao mordomo. — Walters, devo pedir-lhe um favor. A Srta. Gray me informou que em Primvale raramente é servido almoços, mas eu me encontro faminta após nossa viagem.

- Certamente, minha senhora. Será um prazer preparar uma bandeja, se preferir.

- Obrigada, mas acho que uma refeição apropriada será melhor. O que quer que tenha em mãos servirá. Vossa senhoria e a Srta. Gray se beneficiarão do refresco também.

Hannah fungou.

- Nada para mim.

- Besteira. — Genie respondeu, esticando-se além de Holstoke para encontrar a desafiante Hannah. — Deve comer, essa é a única maneira de me sentir feliz em deixá-la sozinha. — Ela sorriu sabendo que vencera.

Estreitando os olhos, Hannah bufou. Girou sobre seus calcanhares. Explodiu pelo saguão através de um dos arcos sem outra palavra.

- Walters, prepare a refeição, como Lady Holstoke solicitou. — A voz de Holstoke estava baixa e calma – até o mordomo sair. Então, ficou baixa e zangada. — O que diabos está acontecendo entre você e a minha irmã?

Genie afastou a mão do braço dele e se afastou para cheirar os lindos lírios laranjas que decoravam a mesa de mármore.

- Não sei do que está falando. — Ela mentiu.

- Sim, sabe. Explique-se.

- Estas foram cortadas daquele ponto embaixo do gigante carvalho, não foram?

- Eugenia.

Ela virou-se para encará-lo. Ele tinha uma carranca intimidadora. Sua espinha estremeceu com arrepios.

- Confie em mim. É para o bem dela.

- Não tem a menor noção do que ela tem sofrido...

- Na verdade, eu tenho.

- Não permitirei que ninguém lhe faça mais mal.

Ela rolou os olhos.

- Como se eu quisesse isso. Crueldade era o esporte favorito da sua mãe, Holstoke. Não o meu.

Ele soltou o ar e esfregou a nuca.

- Ela é frágil.

- Não tão frágil quanto pensa...

- Maldição, Eugenia. Você é uma maldita foice.

Ela piscou, oscilando com seu tom duro.

- Quando perceberá que não pode balançar-se selvagemente, atendendo a todos os seus caprichos sem cortar aqueles ao seu redor em tiras?

Engolindo em seco, ela abaixou o rosto e tentou absorver a dor aguda e ardente. Ela tentou recordar que ele tivera pouco sono e nenhuma refeição decente nos últimos dois dias. Ela recordou a si mesma que aqueles minutos antes, ela fora sobrecarregada pela admiração pelo homem e que sua maneira protetora por sua irmã era um dos motivos.

Ele avançou até que as pontas de suas botas de montaria entrassem em seu campo de visão.

- Já passou da hora de você controlar sua natureza impetuosa. Ousadia do seu tipo não é charmosa. É descarada e destrutiva.

- Já acabou? — Ela perguntou.

Silêncio, longo e tenso.

- Bem, então. — Ela disse para o queixo dele. — Sugiro pedir ao seu valete que lhe arrume um banho, isso deve melhorar seu humor. O almoço será servido em quarenta minutos. Até lá, eu mesma vasculharei o castelo. — Ela começou a passar por ele.

Ele a segurou pelo braço.

- Solte-me. — Ela disse suavemente.

- Não soltarei. — Ele grunhiu.

- Isso está se tornando um hábito cansativo. Solte-me, Holstoke.

Ele a puxou para perto.

- Diga-me o que fiz de errado.

- Nós não temos esse tempo. No máximo eu viverei apenas mais dezessete anos.

As mãos dele moveram-se para cintura dela, trazendo seus quadris contra ele.

- Diga-me. — O rosto dele pairou sobre o dela, seu hálito contra o queixo. — Por favor.

- Você despreza a minha ousadia.

Uma das mãos dele subiu para o meio de suas costas. A outra soltou e removeu o seu bonnet. A mandíbula dele abaixou e seu nariz tocou a têmpora dela.

- Mas sem isso, não estaria aqui. — Ela se retesou contra o formigamento rebelde enquanto ele mordiscava o lóbulo de sua orelha. — Pare com isso.

- Sua ousadia comete erros, Eugenia.

- De vez em quando.

- Isso a faz falar sem pensar.

- Humph. Isso só mostra como me conhece pouco. Eu raramente falo sem pensar. Meus pensamentos são apenas mais rápidos.

- Preste atenção em quantas vezes suas mãos pousam nas pessoas. — As mãos de Holstoke voltaram a sua cintura. Agora apertando como se estivesse agitado. — É impulsivo. Inapropriado. — Seus lábios acariciaram seu pescoço. Roçou o nariz e a atraiu para ele.

Os formigamentos invadiram seus sentidos. Enfraqueceram seus joelhos.

- Estranhamente, você não se importa quando as minhas mãos ousadas pousam em você.

- Eu não a quero tocando outros homens, Eugenia. — Seu sussurro caiu quente em seus ouvidos. — Nunca mais.

- Humm. — Ela murmurou. — Algo mais? Devo abster-me de falar fora de hora? Prefere que eu use amarelo?

O peito dele pulava agora, os olhos escureceram, aqueceram e pousaram sobre a boca dela.

- Sem resposta? Então, tenho uma sugestão, se não for muita ousadia.

Mãos a seguraram com força, ele fechou os olhos e abaixou a testa contra a dela. Gentilmente, ela segurou o queixo dele. Ele se sacudiu e depois esfregou o rosto nela como um gato, seus pêlos ásperos contra sua palma.

- Ninguém conhece os meus erros, melhor do que eu, Holstoke. Nem você, nem ninguém. É impossível eliminá-los, pois se fosse possível, eu já teria feito. Não se suporta o maior escândalo dos últimos três anos sem desejar que fosse de maneira diferente.

Ele abriu os olhos. Fixou-se nos dela.

- Não peça para eu mudar minha natureza fundamental. — Ela sussurrou. — Não funcionará e você nos tornará infelizes.

Franzindo o cenho como se ela tivesse alguma coisa bizarra, ele abriu sua boca. Levantou a cabeça, afastando-se dela.

- Eu...eu não quero que mude.

- Não?

- Eu quero que prometa que não tocará em outros homens.

A boca dela se curvou. Ela deixou a mão cair do peito dele e lhe deu um tapinha. Ele realmente era o homem mais peculiar.

- Se eu der a minha promessa, você deve me dar algo em troca.

- O que?

- Confie em mim com sua irmã.

A ruga em sua testa se aprofundou.

- Esta é a minha condição. Eu até mesmo prometo não a magoar. Vê como sou razoável? Ofereço duas promessas por um punhado de confiança.

- Por que uma condição deveria ser necessária? A obediência de uma esposa deveria ser...

- Eu já prometi obediência. Talvez tenha perdido esta parte. Sem dúvida, estava distraído durante os votos. Meu chapéu era de tirar o fôlego, admito.

- Eugenia...

- Agora, sua exigência por minha garantia de que eu não irei tocar acidentalmente outros homens. Bastante irracional, mesmo para os seus padrões e, ainda assim, eu estou disposta a aceitá-lo. — Ela fungou. — Você se casou com uma mulher muito generosa.

Ele parecia atormentado. Não havia gelo, nem barreiras. Simplesmente uma batalha sombria e privada.

- Ela é preciosa para mim, Eugenia.

- Eu sei. — Ela esperou segurando o ar.

Suas mãos apertaram uma última vez, as pontas dos dedos cavando sua pele. Não doeu, mas falava da intensidade dentro dele. Confiar não era algo fácil para o filho de Lydia Brand. Sua garganta ondulou quando ele engoliu em seco.

- Muito bem. — Ele disse. — Faça a sua promessa que eu lhe darei a minha confiança.

Sua admiração, temporariamente amortecida por seu mau humor, aumentou novamente. Ela conseguiu não beijá-lo, mas com dificuldade.

- Você a tem.

Novamente, os olhos dele se fecharam. Ele a puxou e pressionou os lábios no topo de sua cabeça, depois na testa, depois no pescoço.

Ela pensou ouvir um sussurro, ‘taças aos céus’ ou ‘graças a Deus’ várias vezes, mas não tinha certeza. Seu coração batia tão alto para ouvir qualquer outra coisa.

O valete de Holstoke, um homem magro com um anel de cabelo ao redor da cabeça careca entrou no saguão.

- Peço perdão, meu senhor. Minha Senhora. O Sr. Walters pediu que perguntasse a vossa senhoria se prefere ir ao quarto antes ou após a refeição.

- Antes. — Respondeu Holstoke.

- Depois. — Respondeu Genie simultaneamente. Ela piscou para seu marido, que a olhou. — Por que está aborrecido?

- É muito tempo para esperar.

- Para ver um quarto?

Ele soltou o ar. Puxou as mãos. Virou-se e se afastou dela enquanto esfregava o pescoço. Ele sussurrou ‘Maldito Inferno’ ou ‘Antes do inverno’ várias vezes. Ela presumia que era a primeira opção, mas a frustração dele fazia pouco sentido. Que diferença faria uma hora ou duas?

Ela se aproximou do valete, cujo nome ela não recordava, depois sorriu e acenou.

- Ross, minha senhora. — Ele disse calmamente, inclinando a cabeça. — Ao seu serviço.

Graças aos céus pelos criados bondosos e compreensivos. Ela quase esticou a mão para tocá-lo. Assim que seus dedos se levantaram para fazer isso, ela os dobrou e puxou até sua cintura.

- Obrigada, Ross. Por favor, diga a Walters que eu apreciarei conhecer o meu quarto após a refeição. E, se não for muito problema, poderia preparar um banho para Lorde Holstoke?

Ross sorriu.

- Certamente, minha senhora. Posso fazer alguma coisa por você?

Ela acenou e sorriu.

- Oh, não se preocupe, ficarei feliz com uma boa refeição e uma chance de caminhar por este lugar magnífico. — Ela se aproximou. — Eu vi apenas o saguão de entrada.

Ross deu uma risadinha.

- Posso sugerir ir com calma, minha senhora? A beleza é melhor apreciada quando há tempo para absorvê-la.

- Concordo plenamente. Por que, quando estávamos subindo pela trilha...

- Obrigado, Ross. Isso é tudo. — Apesar da ordem grosseira ser para o valete, Holstoke olhava para ela.

Ela pôs as mãos nos quadris.

- E agora? Eu mantive a minha promessa.

- Você sorriu para ele.

- Honestamente, Holstoke. — Ela levantou a mão quando ele começou a falar. — Não, eu não prometi segurar meu sorriso, pelo amor de Deus, vá tomar um banho. Eu o verei no almoço. — Ela balançou a cabeça, pegou seu bonnet, escolheu um dos arcos pontudos antes de deixar o marido com seus próprios planos.

Pelo resto da tarde, ela explorou o castelo e falou com os criados. Primeiro, encontrou a governanta, a Sra. Green, na sala de estar perto do saguão de entrada. As paredes eram cobertas por uma suave seda amarela e os móveis eram de um azul gentil com ocasionais pontos brancos. As janelas eram altas e davam para o pátio.

A Sra. Green era adorável. Genie tomou chá com ela por meia hora enquanto aprendia tudo o que ela podia sobre administrar uma casa. Então ela deu à governanta uma lista de coisas que ela queria mudar, começando pelo almoço. Seria servido todos os dias precisamente às duas e o jantar às oito.

Claro, o primeiro almoço deles não foi favorável. Holstoke olhava de cara fechada do final da mesa na aconchegante sala de desjejum, enquanto Hannah se recusava a falar, apunhalando o prato com ressentimento. Genie notou, entretanto, que os dois comeram cada pedaço do delicioso cordeiro com ervas, o pão macio e os bolos de mel que foram servidos. Os aspargos e o couve-flor, ela notou, foram recebidos com menos entusiasmo.

Mais tarde, ela vagou pelo restante do castelo, passando de sala para surpreendentemente amáveis salas. Em cada câmara, ela conversava com os criados com que cruzava, todos pareciam capazes, eficientes e, melhor de tudo, bondosos. Cada um tinha uma coisa gentil sobre eles. Desde as criadas da lavanderia até ao sub-mordomo, a Sra. Green e o Sr. Walters, todos falavam com respeito e com uma calorosa sinceridade que era notável.

Genie presumiu que era coisa de Holstoke. Ele não queria criados arrogantes em torno de sua irmã. Pelo contrário, só contratou aqueles que a tratavam com ternura.

Imóvel, ela notou um tema desconcertante no que se referia aos criados masculinos, os lacaios, em particular. Para um homem, eles eram...bem, bastante simples. Alguém deveria dizer que eram pouco atraentes. Ela contou pelo menos três cujos dentes mal cabiam em suas bocas. Outros dois tinham manchas ou marcas de varíola. E ao resto faltavam uma mandíbula perceptível, muita testa ou...droga. Eles eram feios. Não havia meio de contornar isso.

Normalmente, os lacaios de um nobre, principalmente em casas com a grandeza de Primvale, eles seriam altos e bonitos. Era quase uma regra e Genie sabia muito bem que Holstoke gostava de regras. Lacaios feios eram raros, os baixos escassos, de fato. Ainda assim, todos os lacaios de Holstoke cabiam em uma de descrição ou outra, se não, em ambas.

Muito peculiar. Mas, então, Holstoke era um homem peculiar. Algumas horas antes, ele exigiu que ela nunca tocasse em outro homem. Estranho, de fato. Essa tendência a possuir criados pouco atraentes deve ser outra de suas idiossincrasias.

Ela deu de ombros afastando a observação e continuou sua vista por Primvale Castle. Era magnífico, claro, desde a biblioteca de dois andares com painéis de nogueira, a sala de jantar de dez metros de comprimento pintada com um tom incomum de âmbar até o dormitório principal com veludo verde-esmeralda e seda prateada.

Conversando com o Sr. Ross, que mostrou como sua senhoria preferia que seu quarto fosse pouco iluminado à noite, Genie descobriu que Holstoke sofria de dores de cabeça. Terríveis e debilitantes dores de cabeça, pelo que soava. Felizmente, o amigável Sr. Ross presumiu que ela já soubesse – uma suposição que ela não se incomodou em corrigir.

Em seguida, ela vagou através das portas conectadas para a suíte da senhora, que agora era dela.

Era amarela.

A mesma seda amarela que cobria as paredes da sala de estar principal decorava o quarto reservado a esposa de Holstoke.

Amarelo não era a cor favorita de Genie. Mas era a de Maureen.

Lentamente, ela entrou no quarto, deslizando os dedos pela colcha azul damasco, traçando os postes de mogno dourado da cama de dossel. Os tapetes eram franceses, os desenhos se misturavam em tons de azul e rosa. As janelas eram largas e arqueadas. No centro havia um conjunto de portas de vidro que levava a um terraço com vista para o mar.

Era uma maldita obra de arte. Cada pena esculpida do querubim de mármore flanqueando a lareira, cada espiral feminina da escrivaninha, cada maldita franja nas pequenas almofadas azuis que estavam esperando para confortar a senhora em um sofá de braços enrolados.

Era perfeito.

Para Maureen.

Um momento passou no qual ela teve certeza de que ia desmaiar.

Ela sabia. Ela sabia que ele uma vez amara Maureen. Ela percebera o risco de que os sentimentos dele podia não ter mudado. Mas ela esperou que um homem, tão racional quanto Holstoke, pudesse entender quão infrutífero esses sentimentos eram, particularmente depois de seis anos.

Ainda assim, ali estava a verdade, vestida de amarela e azul. Ele ainda amava Maureen. Ele manteve um quarto inteiro para ela com penas de mármore e almofadas com franja. Ele provavelmente desenhara os jardins para ela, fez fortuna por ela e fora a Londres por ela.

O vazio se encheu de dor. Criou raízes e se infiltrou nas fendas até ela pensar que podia se quebrar.

Ela apertou as mãos em punhos e olhou para o mar. A noite se aproximava. Os raios de sol tornaram-se dourados. Lentamente ela se forçou a avançar. Abriu as portas de vidro. Saiu ao terraço.

A brisa quase a atirou de volta à câmara. Mas ela precisava disso. Queria a força do vento. Ela agarrou a balaustrada de pedra fria e inclinou-se para frente, mantendo os olhos na água cintilante.

Era melhor que ela soubesse agora. Desta forma, ela nunca esperaria mais do que ele podia dar.

Assistiu uma graciosa gaivota branca e cinza voar em arco. Estava borrada e ela secou suas bochechas.

As fantasias infantis eram tolas de qualquer forma. As damas eram muito indulgentes com o seu marido quando estavam apaixonadas. Genie não seria tola. Seria firme. Prática.

Secando as bochechas mais duas vezes, ela engoliu a constrição ardente em sua garganta.

Ela sabia que ele não a amava. Que não poderia amá-la. E ela sabia desde o começo. Era uma vantagem, de qualquer forma. O conhecimento queria dizer que ela estupidamente não imaginaria que um beijo queria dizer alguma coisa afinal.

- Minha senhora?

Ela fungou e exalou antes de se virar e dar a criada bonita de cabelos vermelhos um sorriso educado.

- Sim?

- Sou Harriet, minha senhora. A Sra. Green sugeriu que eu pudesse ser sua criada pessoal, se lhe agradar.

Genie assentiu.

- Isso seria ótimo.

A garota avançou.

- Você quer... que eu pegue o seu lenço, minha senhora?

Secando o rosto com dedos impacientes, Genie balançou a cabeça.

- É apenas o vento. Um xale seria perfeito, no entanto. E meu bonnet. O rosa, com flores.

Harriet pegou um suave xale branco e o bonnet, e Genie saiu do quarto que agora apelidara de quarto de Maureen. Então ela saiu para explorar as maravilhas que Holstoke havia criado no exterior do castelo. Pelas próximas horas, vagou de jardim e jardim, começando pelo lado norte do castelo que apresentava um amplo terraço que levava a um canteiro. Quadrados ordenada e formalmente arrumados estavam preenchidos com flores. Entre os quadrados haviam trilhas de cascalhos com bancos nas pontas. Ao centro, havia uma quarta fonte cercada por mais flores. Bons céus, ela nunca vira tantas flores. Mais além do formal jardim norte tinha um lago cercado por árvores frondosas, iris e arbustos floridos de um vermelho tão vívido que pareciam seda.

Lentamente ela explorou cada jardim, fazendo seu caminho de norte a oeste, o último incluía dois jardins murados e conectados, um dedicado inteiramente a ervas e o outro, à vegetais. Mesmo estes funcionando como horta do castelo, eles eram esteticamente agradáveis, com tudo, desde repolho e pepinos a tomilho e lavanda arrumados em um ornamento de padrão espiral. Cada seção de espirais era ordenada e discretamente identificada com pequenos sinais de madeiras fincados no solo. Quando ela vagou por uma erva bonita identificada como ‘cidreira’, ela abaixou e pegou uma folha, esfregando-a entre os dedos e aspirando-a.

Ah, sim. Limões.

Ela deu uma mordidinha, apreciando o sabor leve e fresco.

Continuando a sua exploração, notou o ar girando da mesma cor da lavanda que ela esfregou entre os dedos. O crepúsculo se aproximava. O jantar seria servido em breve.

Ela aspirou os cheiros das ervas e lavanda. Apertou o xale com mais força. Seguiu seu caminho até o portão de ferro perto de um dos jardins de muro baixo.

Droga. Ela saiu pelo lado errado. Ela virou-se, procurando por uma trilha fácil para voltar ao castelo. Foi quando ela viu a sombra. Uma sombra alta, escura movendo-se dentro de uma longa estufa.

Seu coração deu um pulo e tombou dolorosamente. Ela apertou o xale entre os dedos. Talvez ela devesse simplesmente voltar ao castelo e vê-lo no jantar.

Ele se moveu mais uma vez, e desta vez, ela conseguiu vê-lo completamente através dos vidros e folhas. Alto. Sério. Ele examinou alguma coisa na mesa diante dele e esfregou o pescoço como se estivesse cansado.

O coração bateu em um ritmo rápido, ela começou a voltar para a horta. Então parou. Deu meia volta. Foi para a estufa.

Assim que entrou, uma rajada de ar quente e úmido a envolveu. Ela colocou o xale sobre um braço e removeu seu bonnet. Olhando ao redor, ela pôde ver Holstoke em cada aspecto do lugar – as prateleiras ordenadas e identificadas cheias de plantas, familiares e exóticas, grandes e pequenas. A mesa longa com várias pilhas de papéis.

E lá estava Holstoke.

Ela levou a mão à barriga. Parou para pegar o ar.

Ele estava com as mangas da camisa dobradas. Sem colete, sem a cravat e, certamente sem o alfinete da cravat. Apenas com a camisa de linho e a calça escura.

Ela pensou que ele não podia ficar mais bonito. Estava errada.

Movendo-se em direção a ele como se estivesse atada a brisa que era Holstoke, olhou para as suas mãos, que redigia notas cuidadosa e organizadamente, arrumadas como seu mais formal jardim – em quadrados.

Bons céus, como os quadrados dele a faziam sorrir.

- O que está fazendo aqui, Eugenia?

Seus olhos voaram para ele, que estavam severos e distantes.

- Explorando os jardins. E você?

Um músculo latejou em seu queixo.

- Pesquisa.

- Sobre?

- Plantas que podem mitigar os efeitos da Hyoscyamus niger.

- Raio o que?

Os olhos dele estavam escuros, oscilando sobre sua boca repetidamente.

- Meimendro.

Ela pôs o seu xale sobre a mesa entre as notas dele e um vaso com uma planta com aparência estranha. Deslizou os dedos sobre umas pontas grossas parecendo cera.

- O que é isso?

- Aloe.

Passou os dedos sobre as páginas onde ele separara as notas em quadrados. Um sorriu puxou.

- Você é peculiar, Holstoke.

As mãos dele cobriram as suas. Segurou seus dedos. Recusaram-se a soltar.

- Você deveria ir. — Ele murmurou, sua voz estava rouca, como se estivesse ressequido.

Ela umedeceu os lábios e apreciou as sensações que ele evocava todas as vezes que a pele dela tocava a dele.

- Gostaria de conduzir uma pesquisa por conta própria.

- Eugenia. — Seu nome foi quase um grunhido. — Essa...essa não é a hora certa.

Deixando seu olhar subir pelas mãos dele, depois para o peito, garganta e, enfim sua boca – aquela boca definida e bonita – ela se aproximou.

- Eu gosto de seus jardins, Holstoke. Demais.

- Inferno maldito. — As duas palavras mal foram sussurradas. Ele apoiou a mão livre sobra a mesa e dobrou-se como se estivesse com uma grande dor ou com problemas para ficar em pé.

O sorriso dela cresceu. Os arrepios se estenderam por todos os lugares, desde os dedos dos pés, ao couro cabeludo a as pontas de seus seios. Sua pele parecia viva com eles, especialmente no local onde a mão dele segurava a sua como se ela o segurasse na beira de um precipício.

— Talvez amanhã você possa me mostrar tudo. — Ela falou, sua própria voz saindo um pouco rouca também. — Por enquanto, gostaria de outra experiência. Nossa primeira foi um sucesso, não concorda?

Aqueles pálidos olhos verdes abaixaram-se, as salientes maçãs do rosto coraram. Ele estava olhando para os seios dela? Ela achava que sim.

Ela não era muito boa em beijar e Holstoke sempre foi um pouco difícil de ler, mas ela reconhecia a luxúria quando a via. Isso a agradou bastante. Embora ele não pudesse amá-la ela poderia fazer com que ele a desejasse. Talvez isso fosse o suficiente.

— Você deveria ir. — Ele repetiu. — Eu não tenho... não estou totalmente... — Seu peito arfou antes de estabelecer um padrão rápido e áspero. — Foi um longo dia.

Olhando para os vidros ao redor deles e para o crepúsculo escuro adiante, ela perguntou.

— Aqui é onde conduz as suas experiências, não é?

— Eugenia.

Ela jogou seu bonnet na mesa ao lado do xale.

— Eu experimentei um pouco, mais cedo.

Holstoke ficou rígido. Suas mãos apertaram as dela.

— Experimentou?

— Ã-hã. Estava vagando por sua horta e avistei uma planta adorável identificada como ‘cidreira’. — Ela conseguiu libertar o polegar e acariciou as costas da mão dele. — Folhas tenras. Gosto da textura, áspera e nodosa.

O aperto dele afrouxou.

— Faz parte da família da menta.

— Recordei você dizer que o põe em seu chá. Então, eu pensei que podia experimentar.

— Maldição, mulher. — Ele respirou. A outra mão dele foi à sua cintura. Ele a puxou para os seus quadris até um cume duro pressionar seu ventre.

Oh, sim. Ele a queria.

Ela sorriu para ele.

— Eu gostei disso, Holstoke. Quase tanto quanto eu gosto de seus jardins.

— Solte os seus cabelos. — Os olhos dele estavam derretidos e escuros, o centro negro quase engolindo o verde.

— Faz parte da experiência?

Ele não sorriu. Em vez disso, abaixou o rosto até os lábios dele pairarem sobre os dela.

— Este sou eu dizendo para você ir pela terceira maldita vez. Pois, se ficar, eu a tomarei e eu quero o seu cabelo solto quando o fizer.


CAPÍTULO 14

“A questão não é se o fino verniz da civilização resistirá à barragem do instinto primário. A questão é o que precede a queda do primeiro e o reinado do segundo. Para alguns, é uma maré. Para outros, um sussurro.”

A Marquesa Viúva de Wallingham para Lady Dunston em resposta às intenções da dama citada para limitar as doces indulgências a uma quantidade mais razoável.

Não sobrou nada da racionalidade. Apenas a escuridão. Ele mal reconhecia a sua própria voz, quanto mais os seus pensamentos.

Eugenia era o seu tormento. Atrevida e entusiasmada. Suave e forte. Docemente vestida em seda rosa e luz do crepúsculo. Doía olhar para ela. Doía tocar a mão dela. A necessidade opressora transformara-se em uma dor incessante durante o almoço quando ele percebeu que ela pretendia conhecer o castelo sozinha em vez de se retirar ao seu quarto, ou ao dele, ou qualquer maldito lugar onde ele pudesse reivindicá-la e diminuir a dor enlouquecedora.

Agora, ela estava parada diante dele naquele espaço – o espaço dele – e o seduzia com um sorriso diabólico. Deus, ele nunca sentiu esse tipo de excitação. Havia apenas uma explicação: sua esposa sabia precisamente do que era capaz.

Como ela saberia que elogiar os seus jardins poderia deixá-lo mais duro que pedra? Nem mesmo ele suspeitava disso. Como explicar a simples incitação de dizer-lhe que ela experimentara a erva-cidreira e descobriu que gostava dela?

A única coisa que ela não havia previsto foi o tanto que ele ansiava por ver o seu cabelo. Não era dia. Não era madrugada. Mas se ela estava determinada a seduzi-lo, ele ficaria feliz em dar o que ela queria.

— Meu cabelo? — Ela perguntou, piscando lentamente e se mexendo contra ele.

Os seios dela acariciaram o dele. Seu ventre pressionou seu pênis. Ele grunhiu. Soou mais como um rosnado, mas seu controle estava reduzido a um fio. Apenas uma coisa o impedia de tomá-la como um bruto – o pensamento dos que estiveram lá antes.

Sua esposa podia não ser pura, mas era dele agora. E ele a queria obcecada com o prazer que apenas ele poderia lhe dar.

— Pensei que você fosse me beijar novamente. — Ela murmurou, seus lábios formando um leve beicinho.

— Eu irei. Solte os cabelos.

Ela levantou as mãos e soltou os grampos, depois deslizou os dedos entre a massa grossa. O cetim de mogno, brilhante e rico caia em ondas sobre os ombros e costas. Uma mecha se enrolou no centro de seu seio direito. Esta era a visão que lhe atormentava os sonhos. Exceto que ela estava nua. Ela não estava agora, mas poderia estar.

E ele podia estar dentro dela.

— Maldito inferno. — Ele murmurou. Seu coração estava levando-o a morte. Seu pênis estava perto de explodir. — Eu a deixarei obcecada mais tarde.

Um vinco intrigado se formou entre as sobrancelhas dela, mas ele não podia parar para explicar – não que ele desejasse. Sua falta de controle quando ela estava preocupada, era humilhação o bastante.

— Eu a levantarei sobre a mesa agora.

— Suponho que isso seria...Oh!

Ali. Ali estava melhor.

Ele puxou a camisa por cima da cabeça.

— Oh H-Holstoke? Isso é muito — ela engoliu sem seco — inesperado. — As pontas dos dedos dela acariciaram o peito dele, demorando-se sobre seu mamilo deixando formigamentos como raios em uma trilha ardente.

Ele pegou o queixo dela e a beijou completamente – sem brincadeiras ou provocações hesitantes com a língua. Ele a clamava. Agora. Sua esposa.

Os lábios dela era suaves e sua boca deliciosa. Ela não havia mentido. Ela tinha sabor de erva-doce. Deus, ele queria devorá-la por completo.

Ela, em troca, segurou o pescoço dele, os polegares acariciando a articulação de sua mandíbula.

— Humm. — Ela ofegou sobre seus lábios. — Estou muito quente. Eu preciso... — Ela umedeceu os lábios e olhou-o com uma excitação transparente. — Beije mais uma vez.

Ele o fez, mas não parou com o beijo. Melhor, ele pôs suas mãos para trabalharem, finalmente capaz de tocar seus místicos quadris, a cintura fina e os seios fartos. Suas palmas roçaram os mamilos dela. Eles estavam duros e, provavelmente, inchados e doloridos. Eles precisavam de sua atenção.

Seus dedos voaram pelos fechos da frente do vestido dela, desabotoando três antes de perder a paciência e puxou, não percebendo quanta força ele usara até que ouviu alguma coisa rasgar-se.

Ela não reclamou. Ela estava ocupada beijando o peito dele e voltando, de novo e de novo, a acariciar seus mamilos com os polegares.

Ele puxou seu corpete para baixo, enfiou as mãos dentro para levantar seus seios até eles ficarem altos e redondos. A pele dela corou o mais belo rosa. Os mamilos, por outro lado, eram vermelhos – o vermelho igual ao vestido. Como uma rosa de meio de verão, os pontos duros floresciam e coravam com desejo.

Ele tomou um em sua boca e o sugou com força.

Eugenia chiou, um som enferrujado. Mas suas unhas cavaram em seu couro cabeludo, seus quadris se movimentaram contra a mesa e seus braços o envolveram com força ao redor da nuca, puxando-o mais para perto.

Tudo nela o levava a mais profunda obsessão. Os mamilos em sua língua, as mãos sobre seu rosto e pescoço. Sua respiração ofegante e pequenos grunhidos de necessidade. Ele queria mais. Mais, mais e mais.

Ele sugou com mais força. Usou os polegares para acariciar a pequena ponta madura que ele ainda não havia saboreado. Ele guardaria isso para quando estivesse dentro dela – o que teria que ser logo, se não quisesse envergonhar a si mesmo. Segundos depois, ele segurou atrás dos joelhos dela e separou suas coxas. Então, com a maior firmeza que conseguiu, levantou as saias dela. Ele não queria soltar o mamilo dela, mas para ver suas coxas e o lugar onde ele a faria dele, deveria. Então, com relutância, ele o fez.

Ela arquejava. Tremia. Cada respiração balançava aqueles seios redondos e celestiais. Ele levantou as saias acima dos quadris e olhou.

As coxas brancas também tremiam. Ela usava meias, mas sem roupa de baixo além das anáguas. E entre as coxas, que ele havia separado bastante, estavam as pétalas úmidas e brilhantes de Eugenia. Vermelhas como seus mamilos. Pronta para ele.

Ele a abriu com seu polegar, expondo seu botão doce e inchado. Ela brilhava ali, furiosamente excitada e necessitada. Com um toque leve, ele a provocou com a ponta de seus dedos. Observando as belas pétalas vermelhas tremerem e escurecerem. O corpo inteiro de Eugenia ondulou ao mesmo tempo em que ela jogava a cabeça para trás e gemia. Ele nunca vira nada tão maravilhosos. Ele a experimentaria e a devoraria. Passaria horas fazendo-a florescer para ele. Deus, como ele queria aquilo. Mas ele estava morrendo. E ele não podia mais prolongar.

Levou apenas um instante para ele abrir sua calça, pegar seu pênis e colocá-lo ali. No precipício. Ele parou. Encontrou os olhos dela. Eles estavam estranhamente arregalados, mas ela esticou as mãos e puxou a boca dele para a dela antes dele poder perguntar o porquê.

Ele a beijou. Mergulhou novamente em sua boca e agarrou seus místicos quadris. Deslizou a mão até segurar as coxas, puxando-a para penetrá-la.

O som que ela fez deveria tê-lo parado – um grito abafado misturado com um arquejo. A forma como ela se retesou deveria tê-lo parado, pois as suas unhas cravaram em sua nuca e as costas ficaram rígidas.

Mas ela era tão. Malditamente. Apertada.

E ele esperou. Malditamente. Demais.

E a pele dele latejava, martelava e rugia como um raio.

Então ele empurrou novamente, ainda não totalmente dentro dela. Ele sentiu o aperto ceder sob sua pressão. Ele precisava ir mais longe.

Os braços dela a envolveram, sua respiração resfolegou em seu pescoço.

Seda apertada e quente. Mas apertada do que qualquer uma que ele já...

Nada se ajustou a ele tão...

Alguma coisa estava diferente. Mas ele não conseguia identificar o que.

Ele estava ardendo. Ele precisava ir mais fundo. Então, ele o fez.

Eugenia se agarrou a ele, seus gemidos abafados contra a pele dele.

Ele a puxou mais para perto. Mais perto. Mergulhou profundamente e empurrou mais alto. Sentiu os mamilos dela arrastarem contra ele e deslizou a mão entre eles para levantar o que fora negligenciado à sua boca. Ele sugava e empurrava. Sugava e empurrava. Puxou os quadris dela com mais força e sugou e empurrou.

Desta vez, o gemido dela foi mais longo e pontuado com ofegos. Seus ofegos aumentaram e combinaram com o ritmo dele e sua vagina apertou até ele pensar que poderia morrer de prazer.

Ela se contorceu, suas coxas apertando os seus quadris. Ele apoiou uma mão na mesa e penetrou mais fundo. Duro. Enterrou seu rosto no pescoço dela, aspirando violetas e o doce e inconfundível cheiro de sua mulher. Ele precisava dar-lhe prazer. Ele precisava ver e sentir a ondulação em torno dele.

Ele deslizou sua mão para o local onde eles estavam unidos. Encontrou o pequeno botão inchado entres suas pétalas. Afundou totalmente e acariciou ali, esperando que ele pudesse durar. Ela olhou para ele, olhos de gatos suaves e escuros no centro.

— Venha para mim. — Ele arfou.

Novamente, um vinco de confusão.

Por Deus, se ela não gozasse logo, ele iria deixá-la para trás. Ele pressionou e acariciou, moderando o ângulo de suas investidas para dar mais a ela. A pressão aumentando em sua coluna e em seu pênis se insinuava como uma mola, apertado o bastante para enlouquecê-lo.

Uma pequena ondulação foi o seu único aviso. Então, Eugenia jogou a cabeça para trás e soltou um grito abafado seguido de um gemido soluçante. Depois disso, ele perdeu a cabeça.

A sua vagina o agarrou em um aperto liso e sedoso, exigindo mais e mais para que ele lhe desse tudo o que ele tinha. E assim ele fez.

A explosão veio em uma inundação repetida, lançando-o além das paredes de vidro, para dentro do céu estrelado, onde o prazer batia repetidamente como ondas atingindo as rochas. E Eugenia foi com ele, segurando-se a ele com tanta força que ele mal podia respirar. Por um momento, perguntou-se se ele perdera a consciência, pois nunca experimentara nada como aquilo. Sua liberação. O alívio. Preencher sua esposa. Tomá-la e ser tomado de volta. Mesmo agora, minutos após o clímax, a tensão de sua luxúria não estava completamente dissipada.

Ele estremeceu e respirou em seu pescoço. Sentiu a sedosidade de seu cabelo contra o queixo e depois se afastou. Sua coluna formigava, principalmente na base. As mãos dele ainda a seguravam, receosos de que ela pudesse desaparecer.

— Hol-Holstoke? — O tremor em sua voz, a incerteza prendeu-se a algo mais profundo e baixo dentro dele e o retorceu com força. — Foi...normal?

Não. Longe disso. Mas o fato dela ter que perguntar o esfriou. Ela era tão apertada. E agora que ele considerou isso, tinha menos prática do que ele imaginou. Ele engoliu em seco, suas suspeitas o enterrando.

Lentamente, ele se afastou até conseguir ver os olhos dela. Estavam iluminados com as perguntas que ela fizera, meio encantada, meio preocupada. Deus, ela era linda. Ele correu os nós dos dedos sobre sua testa. Beijou-a nos lábios gentilmente.

Então ele se retirou e, no momento a sentiu estremecer, ele soube a verdade. A pequena macha de sangue na coxa dela meramente serviu como seu acusador.

Sua esposa, a mulher que todos pensavam que flertava abertamente com lacaios, aquela a quem chamavam de Rameira Huxley, era virgem. E ele a tomou como um homem faminto.

O que ele era.

Droga. A escuridão o queria agora mais do que nunca. Ela se envaideceu e rugiu em triunfo. Exigia que a tomasse novamente.

Em vez disso, ele abaixou as saias dela. Afastou-se. Vestiu sua camisa. Levantou seu corpete e a ajudou a descer.

— Por que não me contou?

Ela balançou a cabeça.

— Contar o que?

— Que nunca se deitou com um homem.

Ela bufou.

— Sinceramente, Holstoke. Eu já lhe expliquei que não gosto das atenções de outros homens. Você acredita que eu terminaria o ato, apesar de achá-lo repulsivo? É demais para a sua lógica tão alardeada.

Ele esfregou a nuca

Virou-se e caminhou até o final de mesa.

— Sabe, estou me sentindo um pouco sonolenta. — Ela falou. — E as minhas pernas não estão firmes. Pedirei que a Sra. Green leve uma bandeja com o jantar esta noite. Além disso, um banho não seria ruim.

Apoiando-se contra a madeira. Ele apertou a borda e focou em regular sua respiração.

— Conte-me o que aconteceu, Eugenia.

Silêncio. Depois uma fungada.

— Bem, eu andei bastante hoje. E, como você descobriu, apesar de um pouco tarde para um homem com a sua inteligência, não estou acostumado com as intimidades que aconteceram aqui.

Ele apertou a madeira até que ela queimou contra a sua palma e pontas dos dedos.

— O que aconteceu com o lacaio? — Sua voz estava rouca. Gutural. Ele não conseguia ser suave, pois a escuridão assumira o comando.

Atrás dele, ouviu a aproximação dela. Então, ela deu a volta para encará-lo, as mãos nos quadris, o queixo erguido em um ângulo de desafio.

— Eu já lhe contei. Qual o problema com você?

Seu cabelo – aquele cabelo mogno escuro e lustroso – cascateava sobre os ombros e seios. Seus lábios estavam inchados, suas bochechas ainda coradas.

— Conte-me novamente.

Ela soltou uma respiração exasperada.

— Eu o atraí para o conservatório de Lorde Reedham.

— Como?

— Nós flertamos um pouco. Sugeri que ele me ajudasse a reparar a minha bainha. Honestamente, não me lembro de tudo. Estava bêbada naquele momento.

— Você o deixou beijá-la. — Ele cerrou os dentes. — Tocá-la. E então?

— Bem, você sabe como bebidas me tiram o equilíbrio. Em minutos, eu decidi que a experiência foi um erro e comecei a empurrá-lo. Ele me ignorou, então empurrei com mais força e ele me soltou, mas foi súbito. Eu lembro de ter caído de costas e agarrar em alguma coisa. A camisa dele, acho. A próxima coisa que sei, eu estava de costas, ele deitado sobre mim e minhas saias estavam... mais altas do que deveriam estar. Evidentemente, ele confundiu a minha pequena queda com paixão. Uma vez que recuperei a minha capacidade de respirar, claro, eu lhe disse em termos incertos que eu o queria longe de mim, mas então, nós fomos vistos do jardim por Lady Gattingford e seu bando de fofoqueiras. — Ela olhou através do vidro que os cercava. — Da próxima vez, eu preferiria paredes, Holstoke. E uma cama, de preferência.

Ele olhou para a mulher que raramente escondia seus pensamentos e que frequentemente o surpreendia – e a queria. Não era luxúria, afinal. Era mais profundo. Ele queria abraçá-la. Antes que ele pudesse pensar melhor sobre isso, ele esticou os braços para fazer exatamente isso. Pegou-a em seus braços. Trouxe-a para perto. Mergulhou as mãos em seus cabelos. Levou algumas mechas ao nariz e aspirou violetas e um leve aroma de cereja.

— Er, Holstoke? — As mãos dela bateram em suas costas.

Ele a segurou com mais força, os braços totalmente ao redor dela agora, pressionando-a suavemente contra ele. Reconfortando-se no calor dela, no contato dos quadris até o pescoço dela.

— Você está bem? — Sua voz foi abafada pela camisa dele. — É uma de suas dores de cabeça, não é?

Ele passou os dedos entres os cabelos dela, apreciando a textura acetinada.

— Você disse que elas lhe viram através do vidro, mas o rumor sugere que Lady Gattingford e o resto entraram na sala enquanto você estava...

— De fato. — Ela tremeu contra ele e agarrou o tecido nas suas costas. — Noite terrível. Eu não gosto de lembrar.

— Elas a humilharam. De propósito.

— Sim. Delicioso demais para resistir, acredito. Pegar uma garota Huxley com suas saias levantadas até os ombros melhoraram significativamente a posição entre os fofoqueiros.

Ele fechou os olhos e lutou para não imaginar isso. Ela era dele, agora. Apenas dele. Ele segurou as costas da cabeça dela e a inclinou para um beijo, ignorando o gemido de surpresa. Ele reivindicou a boca e lábios dela, amando a maciez e ficando lisonjeado com o suspiro dela. Ele se deleitou com a percepção de que ela nunca pertencera a ninguém, e nunca pertenceria.

— O que... — Os cílios pestanejaram enquanto ele se afastava para ver o rosto lindo e corado dela. — Por que isso?

— Não ficarei parado, Eugenia. Elas devem ser punidas.

Ela arregalou os olhos.

— Não. Não comece isso. Minha família já tentou e as coisas ficaram piores. Lady Wallingham...

— Não fez nada. — A escuridão rosnou. Ele acariciou o cabelo dela para acalmar a si mesmo. Estranhamente, funcionou.

— Porque ela percebeu o que aconteceria. Lady Wallingham não é tola. Ela conhece o jogo melhor do que ninguém.

A escuridão não suportava o pensamento de Eugenia ser zombada e desprezada. Ser chamada de rameira e ser afastada da sociedade educada. Forçada a ser empregada, por Deus. Ele queria arruinar a todos. Cada um dos que a magoaram.

— Escute-me. — Ela disse, sua mão segurando o queixo dele. Cada vez mais os toques dela eram menos surpreendentes. Mais naturais. — Foi a pior decisão da minha vida, uma que fiz no desespero. Isso custou muito, Holstoke. Danificou a minha família e pôs a felicidade de Kate em risco. Eu não deveria ter feito isso, justamente porque eu sabia o preço que pagaria se fosse pega. O que veio depois foi...horrível. — Ela engoliu em seco e acariciou sua bochecha com o polegar, como se a confortasse tanto quanto a ele. — Mas o erro foi meu. Então, a punição foi minha.

Ele notou que ela acreditava no que dizia, embora fosse uma completa besteira. O que queria dizer, que ele deveria agir sem o conhecimento dela. Então, em vez de discutir mais, ele disse uma parte da verdade:

— Você não mereceu o que eles fizeram.

Ela sorriu para ele, os olhos brilhando.

— Obrigada por dizer isso, Holstoke.

Foi quando ele percebeu o quanto ela estava desarrumada, notou as rugas no seu vestido, as ondas que ele havia feito em seus cabelos. Ela estava sensual. Intoxicante. E pequena. Os dedos roçaram onde ele a segurava pela cintura. Por que ele não tivera mais cuidado com ela?

— Um banho. — Ele murmurou olhando para o local onde suas mãos a seguravam, amando o calor de suas carícias em seu rosto. — Depois jantar. — O raio o atravessou como anteriormente, mas agora parecia viajar até ela e voltar ainda mais forte em um ciclo infinito. — Então paredes e uma cama.

Por um momento, a decepção iluminou os olhos dela. Sua mão se afastou do rosto dele. Ela pôs os olhos sobre seu peito e assentiu.

— Eu vi o meu quarto esta tarde. É... adorável.

Ele franziu o cenho.

— Você gostará dele amanhã.

Olhos de gato voltaram a encará-lo.

— Amanhã? Está dizendo...Oh. — Ela engoliu em seco. Fitou a boca dele. — Suas paredes. Sua cama.

— Serei mais cuidadoso com você desta fez. — Ele garantiu. — Sem dores.

— Não foi tão terrível, de verdade. Especialmente no final. É... é comum esse tipo de coisa, Holstoke? Não me respondeu.

Ele abaixou a cabeça até seus lábios pairarem sobre os dela. Roçando. Tocando. Sussurrando.

— Comigo, achará isso mais comum do que as coisas comuns, Eugenia. Apenas comigo.


CAPÍTULO 15

“Sim de fato, Humphrey. Uma caminhada pelos jardins seria a melhor coisa.”

A Marquesa Viúva de Wallingham para seu fiel companheiro, Humphrey, após um café da manhã estimulante.

Do outro lado de uma suculenta pilha de presunto, Genie examinava o seu marido cuidadosamente. Cabelos pretos, curtos e bastante severos. Maçãs do rosto que poderiam ser consideradas exóticos, pois eram altas e proeminentes. Sobrancelhas escuras e niveladas. Vívidos olhos pálidos. Um nariz longo e distinto. E lábios que poderiam arrancar gritos de êxtase de sua garganta por horas.

Horas. Não minutos. Nem breves, passageiros ou recatados. Gritos altos, longos por horas. Implorando também.

Ela apoiou o cotovelo na mesa de café da manhã e deu batidinhas nos lábios com os dedos.

Com sua expressão calma e neutra, ele bebia chá e lia seu jornal. Como os cavalheiros normais em qualquer manhã normal, ele cuidava de seus assuntos com a graça usual. Como se fosse rotina.

Devastar sua esposa com prazer depois de abraçá-la forte durante a noite enquanto os batimentos cardíacos dele embalavam o seu sono. Então, acordá-la periodicamente para mais. Finalmente, assim que ela pensou que a tempestade acabara, ele a despertara para uma última vez com sua boca. Entre suas...Sobre sua...

Bons céus. Ela bateu em seus lábios e estreitou os olhos. Melhor não lembrar com muita precisão. O fogo poderia se acender e então, o que seria dela? Ser deitada de costas sobre uma pilha de presunto como travesseiro, era o que seria.

— Você está me encarando há vinte minutos, Eugenia. — Ele calmamente abaixou a página do jornal sem levantar os olhos. — Tem alguma pergunta?

— Não. — Uma mentira. Ela tinha uma pergunta. Mais do que uma, na verdade. Mas ela não poderia fazê-la na mesa do café da manhã. Poderia?

Ele levantou os olhos. Arqueou uma sobrancelha. Bebeu um gole de seu chá e devolveu a xícara ao pires com um leve clique.

Ela agora se via examinando as mãos dele. Dedos longos, sensíveis e elegantes que detinham alguma forma obscura de magia. Ele provara ser capaz de produzir arrepios nos lugares mais extraordinários. Descansou o queixo sobre as costas de suas mãos e contemplou os ombros, que eram magros, mas musculosos, como ela descobrira quando ele tirou a camisa no dia anterior. Os mamilos dele eram adoráveis. Ela os apreciou tanto quanto ele apreciara as atenções dela.

Porém, apesar de possuir olhos, lábios e mãos extraordinários, ele era um homem comum. Alto. Certamente atrativo do jeito dele. Incrivelmente inteligente. Muito bem, talvez comum fosse a palavra errada. Mas ela conhecera homens que se esperava poder produzir o tipo de reação transcendente que ele causava nela. O Marquês de Rutherford, por exemplo, que fora um libertino de algum renome antes de casar-se. Lorde Atherbourne era outro. Até hoje ela não tinha posto os olhos em um homem mais bonito. Seriamente, se ela tivesse se casado com qualquer um deles, suas reações não a teriam surpreendido tanto.

Mas ela se casou com Holstoke.

Holstoke.

Esse era Phineas Brand, o maldito Conde de Holstoke.

Ele era estudioso e sério. Brilhante e frio. Honrado e ilegível.

Não era o tipo de homem que uma mulher implora para tocá-la.

E ela queria implorar. Após a noite passada e esta manhã, ela não deveria ter energia para contemplar isso. Ela estava fazendo mais do que contemplar. Estava quase derretendo-se na manteiga.

— Posso lhe mostrar os jardins restantes hoje, Eugenia. — Os olhos dele encontraram os dela. Sua língua limpou uma gota de chá do lábio inferior. Então, sua boca curvou-se em um canto. — Se quiser.

Oh, Deus querido. Ela não sobreviveria a isso.

Olhou para o prato. Bem, sobreviveria, estritamente falando. Ela comera três fatias de presunto e dois ovos. Ela nunca comera com tanta vontade.

Possivelmente isso não podia ser normal. Ela abriu a boca para dizer-lhe, mas ele já dobrava o jornal e levantava-se da cadeira.

Ele estendeu a mão.

— Venha. Mostrar-lhe-ei os jardins e você poderá me fazer as suas perguntas.

Droga. Ela não era capaz de resistir a ele. Deslizou a mão na dele.

Ele a puxou até ela ficar de pé e depois descansou levemente seus dedos mágicos em sua cintura.

— Não se esqueça do bonnet. — Ele murmurou com outro sorriso brincando em seus lábios.

Droga, droga, droga. Ele a fazia se esquecer de tudo além dele. Não, isto, no mínimo, não era normal.

Ela pediu a Harriet para pegar o seu bonnet verde com flores brancas e depois agarrou-se ao braço de Holstoke, enquanto ele a levava através da porta da sala de café da manhã para o pátio. Esta fonte – a qual, ela notou, tinha a forma agradavelmente simples com camadas em formas de flores – deve ter sido uma adição dele. Ao redor haviam vasos de plantas, pequenos bancos e estátuas. Era realmente maravilhoso. Uma parede de pedra equivalente a cinco andares os cercava, apesar de possuir janelas e portas que levavam de volta ao castelo. O céu era o teto e mesmo assim, ela se sentia protegida.

Ele a levou através de outro conjunto de portas e depois para o terraço norte, que se estendia entre as duas torres redondas do castelo. Desta posição, era possível ver o jardim submerso se estendendo ao norte por pelo menos duzentos metros. As laterais inclinadas floresciam em faixas vermelhas, roxas e amarelas, separadas por ocasionais conjuntos de escadas de pedra. No chão do longo retângulo, cercas de buxos perfeitamente quadradas formavam um canteiro impressionante cheio de todos os tipos de rosas, lírios e outras delícias. O único alívio na simetria quadrada era a fonte circular esculpida no centro e rodeada por círculos concêntricos de flores de vários tons de roxo e azul. Os anéis pareciam água. No topo da fonte havia uma sereia abraçada por um feroz e protetor Netuno. O deus do mar empunhava um tridente contra criaturas invisíveis.

Genie suspirou, tão encantada quanto estivera no dia anterior.

— Amo este jardim. — Era tudo o que Holstoke era: complexo, contido e bonito, mas em seu coração, transbordava bravura.

— Enviei trinta e cinco novas variedades de lírios e dezessete novas rosas à Sociedade de Horticultura. — Ele falou. — Todas exibem uma resistência superior às pragas comuns. Em algumas, estendi o tempo de floração em cinquenta por cento.

Ela não tinha ideia do que isso queria dizer, mas soava impressionante.

— Alguma cor nova? — Ela perguntou.

Ele franziu o cenho.

— Quatro.

— Bem, então me mostre.

Ele a levou para o jardim afundado, parando aqui e ali para explicar sobre a polinização. A voz dele era baixa e séria, então ela assumiu que as descrições dele tinham um significado educacional. Se ela tivesse compreendido metade disso, teria achado também.

Em vez disso, ela apenas queria as mãos dele sobre ela. A boca dele sobre a dela. Os olhos brilhando enquanto ele deslizava o olhar por seu ventre e seios com a coisa mais próxima a posse que ela já vira em um homem.

Não deveria ser assim. Ela se sentia fora de controle.

Talvez outro assunto ajudasse. Ela interrompeu exatamente quando ele estava falando sobre ‘a natureza receptiva do pistilo’8 para perguntar como a fonte era alimentada.

— O lago. — Ele respondeu após uma pausa. — Colocamos canos embaixo do solo. — Ele indicou para a parte mais ao norte do jardim afundado, que fazia margem ao lago com arbustos de flores vermelhas. — O lago é mais alto do que a fonte, a gravidade cria uma pressão, que força a água a subir.

Ela observou a boca dele enquanto ele falava sobre câmaras para controlar a pressão, o avançado sistema de drenagem e as formas que a água era usada no jardim nos tempos de seca. Pelos céus, não importava o que ele dizia. Aqueles lábios bem definidos eram a sua obsessão. Ele era a sua obsessão.

Em seguida eles caminharam ao longo do lago, onde patos nadavam com seus patinhos e os arbustos de flores vermelhas – rododentros, de acordo com Holstoke – pareciam rubis sob os grandes salgueiros e os pequenos pinheiros.

Holstoke descrevia agora que após herdar o título, ele comprou uma casa para a mãe dele em Weymouth e a enviou para lá. Depois, começou e escavar. Primeiro, ele escavou os jardins que Lady Holstoke havia criado, formando o jardim afundado. Depois, criara o lago de dois riachos submersos. Com o tempo, ele substituíra cada pedaço de solo que as mãos da mãe dele tocara.

Exceto a fonte na entrada do castelo, é claro. Ela notou que ele não a mencionou.

— Você raramente fala sobre ela. — Genie observou. — Sua mãe. Presumo que vocês dois não se davam bem. Antes de descobrir suas tendências assassinas, quero dizer.

Ele estremeceu enquanto eles seguiam em direção ao jardim oeste. Entraram nos pomares antes de ele responder.

— Não.

Ele ficou quieto por um tempo enquanto passavam por árvores frutíferas de uma variedade estonteante: maçãs, damascos, peras e ameixas. Quando entraram na seção com as nozes e castanhas, a curiosidade dela chegou ao limite.

— Como... — Ela levantou os olhos para ele, percebendo como ele mantinha seus olhos ao sul, em direção ao mar. — Como é? Ser filho dela?

Ele não respondeu. Seu rosto permaneceu sem expressão, embora continuasse virado aos jardins sul.

— Eu a encontrei uma vez, não sei se recordará. — Ela prosseguiu, esperando diminuir a tensão. — Astley. Lembra?

Um aceno.

— Devo confessar que não gostava da sua mãe, Holstoke. Não, nem um pouco. Ela era rude enquanto fingia não ser. Oh! — Genie virou os olhos. — E que gosto terrível para chapéus. Simples, simples, simples. Maçantes, maçantes, maçantes.

Uma longa piscada. Os músculos dos braços dele relaxaram embaixo de sua mão. Mas a tensão em torno da boca permanecia.

— Se ela tivesse sido a minha mãe, não a teria enviado para viver em Weymouth. Penso que Groelândia seria mais apropriado. O frio combinava com ela.

Desta vez, a mandíbula dele relaxou. Ele até mesmo olhou brevemente para ela.

— Sim, Groelândia. Ninguém para incomodar, exceto as baleias. — Ela estalou a língua. — Pobres baleias. Talvez uma cabana em algum lugar mais para o interior. Sim, ideal. Ela poderia usar os seus bonnets maçantes e viver na escuridão e no frio com nada além de sua própria companhia. Uma solução adequada para uma mãe como a sua.

Os lábios se levantaram em um dos cantos.

— De fato, adequado.

Ela sorriu triunfantemente e escutou quando ele começou a explicar como ele criou a divisão entre o pomar e os jardins sul com uma técnica chamada espadeira, em que os galhos das árvores eram treinados para cresceram lateralmente, formando um cerca viva.

— Oh, me Deus! — Ela apertou-lhe o braço enquanto eles atravessavam um arco formado por folhas, galhos e pequenas frutas do tamanho de seixos. — Foi isso que fez na estrada.

O sorriso dele ficou enorme.

— Com as macieiras? Gostou?

— Por Deus, Holstoke, é maravilhoso. Flores brancas e rosas por todos os lugares. Senti-me como se tivesse entrado no próprio céu.

— Você pode encontrar o céu sempre que desejar, Eugenia. É só pedir.

Droga. Sua maldita luxúria voltou de supetão e tão poderosa quanto o mar que ela ouvia batendo na costa. Quando ele a olhava daquele jeito, tudo o que ela conseguia pensar era sobre limão, menta e como se sentia quando ele a penetrava, seus olhos gloriosos a incendiando. Uma brisa soprou, trazendo o cheiro do mar e do sabão de barbear dele.

Ela se esforçou a afastar o olhar. Pigarreou. Focou nas coisas maravilhosas à sua frente. Ela não esperou muito, pois a trilha logo os levou a um túnel de madeiras em formas de arcos entrelaçadas por videiras. Ela piscou. Parou. Soltou o braço dele e examinou as folhas atentamente.

— Uvas. — Ela murmurou. — Você arranjou as videiras em arcos. Que lindas!

— Linda. Bastante. — A voz dele estava estranhamente rouca. — A colheita é bastante simples, na verdade. Espere até que tudo amadureça. Então todas cairão em suas mãos por conta própria. Carnudas. Suculentas. Deleitáveis.

Ela virou-se para encontrá-lo olhando o seu traseiro.

— Holstoke!

Ele ergueu a sobrancelha.

— Sim?

— Pare com isso.

— O que?

— Você está me comparando com frutas.

Ele lambeu os lábios.

— Apenas na forma mais cortês.

— E está tentando me seduzir. No jardim. De novo.

— Estritamente falando, você me seduziu, Eugenia.

— Talvez na primeira vez. E eu tinha pouca ideia do que estava fazendo.

Ele olhou para o corpete dela com uma intensidade impressionante, como se ele pudesse queimá-lo com apenas um olhar.

— Eu sei.

— Pare com isso.

Um sorriso lento.

— Por que devo parar agora?

Ela gemeu levando uma mão sobre o ventre, onde o calor aumentava e doía. Ela queria desnudá-lo. Ela queria deitá-lo debaixo do arco de folhas e deixar que ele a possuísse. — O que você fez comigo?

Franzindo a testa, ele inclinou a cabeça.

— Não me dirija esse olhar confuso. Você sabe muito bem como me sinto exatamente agora.

Lentamente o vinco em sua testa desapareceu, substituído por um sorriso sutil. Aqueles olhos pálidos trilharam de seus joelhos ao bonnet, deixando um caminho de arrepios.

Isso não era normal.

— Diga-me o que fez. — Ela exigiu.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Posso fazer novamente, se quiser recordar.

Ela explodiu em sua direção.

— Sou frígida. Isso não é normal.

Ele cruzou as mãos às costas. Estreitou os olhos, examinando-a como um espécime.

— Alguns mistérios podem apenas ser solucionados por meio de experimentos.

— Esta não é uma resposta.

— É a única que tenho a dar.

Levantando o queixo, ela falou:

— Então, aqui está a minha experiência. Nós não vamos mais ter intimidades até que me explique o que fez.

Um vinco profundo marcou sua testa, escureceu seus olhos como uma nuvem sobre o sol.

— Não seja tola, Eugenia.

— É a erva-doce, não é? As folhas produzem uma loucura luxuriosa. Conte-me a verdade.

Ele piscou. Seu rosto ficou incrédulo. Depois, ele gargalhou. O som explodiu dele, profundo e impiedoso, enquanto ele esfregava a testa com o polegar e o indicador.

— Não. — A risada diminuiu a uma risadinha enquanto ele balançava a cabeça. — A cidreira não tem propriedades estimulantes. Pelo contrário. Há um motivo para ela ser chamada de bálsamo.

Ela sentiu as bochechas aquecerem.

— Alguma outra coisa, então. Outra erva. Ou o seu sabão de barbear.

— Não a estou envenenando com afrodisíacos. Bom Deus, você tem mais espinhos que uma roseira, mulher.

— Uma roseira, eu? — ela fungou. — Bem, então, talvez devesse evitar me beijar. Não desejaria...

— Está sendo irracional.

— ...se ferir esses lábios elegantes. E nem me tocar. Precisará de suas mãos...

— Eugenia.

— ...para cultivar suas plantinhas...

Ele parou as palavras dela com sua boca, segurando e deslizando a sua língua em um único movimento. Previsivelmente, o corpo dele se deslocou em direção ao dela, cada fibra, cada pedaço. Ele queria fundir-se, escalar, sentir a pele dela. Ela gemeu pelo prazer dos lábios dele. Agarrou-se às lapelas de lá e arranhou o tecido do colarinho ao redor do pescoço dele.

O calor dele. Não podia ser natural. Ela nunca se sentiu assim: um vazio doloroso que apenas ele podia preencher, formigamentos que apenas ele podia provocar. Aquelas eram as cordas da loucura. Ele as mantinha tão apertada que ela perdeu o fôlego.

Ela se afastou, puxando as mãos dele de sua cintura e recuando até as folhas de uvas roçarem a sua saia. O seu coração batia forte contra os ossos de seu peito em um ritmo desesperado.

Ele ficou imóvel. Sombrio. Um corvo de olhos verdes a assistindo cuidadosamente.

— Você não tem nada a temer de mim. — Ele disse com a voz rouca.

Mas ela tinha. O medo a preenchia como a maré subindo enquanto ela segurava seu olhar no dele. Examinou aqueles lábios fascinantes. O nariz longo. As maçãs do rosto orgulhosas e as sobrancelhas alinhadas.

Seu adorável rosto.

Esse homem amado.

Não. Não, não, não e não. Ela não podia amá-lo.

Porque ele nunca a amaria enquanto ainda amasse Maureen.

Amor sem reciprocidade tornava uma pessoa escrava de um desejo sem fim e uma esperança inútil. Tornava uma fonte sem água, apenas pedras vazias e secas.

Ela se recusava a cair em tal armadilha. Ela escaparia. Tudo o que ela precisava era de um plano. Esse era Holstoke, afinal. Provavelmente não seria difícil evitar se apaixonar por Holstoke.

— Doce roseira. — Ele murmurou como se falasse sozinho. — É o que você é. Uma única floração vale por espinho.

Deus santo. Resista. Resista. Ela deve resistir.

— Se...Se me chamar novamente de roseira, começarei a lhe chamar... — Ela lutou para pensar em algo, mas a sua mente estava nadando na embriagues de luxúria. Tudo o que ela conseguiu foi outro dos nomes dele. — Phineas.

Os olhos dele incendiaram. Os ombros ficaram rígidos. Sua cabeça inclinou e ele umedeceu os lábios. Bons céus, ele parecia um predador.

— Temos um acordo, Roseira.

Oh, não. O ventre dela estava quente e vibrando de uma maneira sinistra. Ela balançou a cabeça.

— Isso não era um acordo.

Ele avançou até ela, as mãos ainda às costas.

— Soou como uma para mim.

— Holstoke. Phineas. Honestamente. — Ela engoliu em seco e levantou a mão. — Sou frígida. Sou sim.

Sua mão encontrou o peito dele à medida que ele se aproximava. Ele se abaixou e soprou uma gentil rajada de ar sobre o pescoço dela.

Calafrios tomaram conta. Arrepios subiram. Seus mamilos ficaram dolorosamente duros.

— Não comigo. — Ele sussurrou. — Lembre-se disso, minha Roseira. Talvez outras flores floresçam imediatamente por qualquer mão. Você exige a minha.


CAPÍTULO 16

“Humph. Mesmo os melhores homens têm falhas. Uma dama é inteligente para identificar cedo para que o treinamento comece cedo. Os maridos exigem tratamento cuidadoso, sabe.”

A Marquesa Viúva de Wallingham para Lady Katherine Huxley sobre a declaração da dama sobre sua admiração por um agradável barítono de um pretendente.

Ela sentiu o coração dele sob as pontas de seus dedos. Impressionantemente, ele galopava quase tão rápido quanto o dela. Ele sempre parecia tão calmo, tão indiferente à sua proximidade.

Porém o coração dele contava uma história diferente.

Suspirando, ela inclinou-se até ele. Aspirou limão, menta e sabão de barbear.

Ela ergueu sua cabeça para lhe dar um melhor acesso, mesmo enquanto lutava para não perder o coração.

— Holstoke. Phineas.

— Será Phineas.

— Eu...acho que fez alguma coisa comigo. Alguma coisa perversa.

— Não ainda. Mas eu pretendo fazer.

Ela fechou os olhos.

— Não posso pensar claramente quando está me beijando.

— Pensar não é exigência.

Reunindo cada grama de força de vontade que ela conseguiu, ela o empurrou. Ele parou de beijar o pescoço dela, mas não se afastou.

— Phineas. — Ela grunhiu.

Calmamente ele desfez os nós das fitas embaixo do queixo dela e removeu o bonnet, jogando-o sobre o cascalho.

— Roseira.

Ela encontrou seus olhos. Invocou força.

— Conte-me algo horrível. Sobre você.

A fisionomia dele não mudou: firmemente resolvida e intensamente escaldante. Ele deslizou os nós dos dedos pela bochecha até roçar no lábio superior.

— Por quê?

— Gostaria de estar informada.

— Humm. Bem, minha paciência é curta quando aqueles de quem gosto são insultados ou ameaçados.

— Isso é natural, não terrível. Você deve ter qualidades indesejadas. Todos têm.

— Alguns me acusam de ter uma conversa entediante.

— Não, não. Pior.

Ele balançou a cabeça.

— Como?

— Não sei! Pés doente e podres. Ou crueldade com filhotes. Ou um desejo secreto por cebolas cruas.

Os cantos da boca dele se curvaram.

— Meus pés são bastante saudáveis, temo. E eu prefiro as cebolas cozidas. — Seu sorriso ficou maior com uma pitada de provocação. — Filhotes assados com cebolas...meu prato favorito.

Ela golpeou o braço dele.

— Fale sério.

Ele deu uma risadinha.

— Muito bem. Aqui está a verdade: no momento, meu único desejo secreto é por Roseira. Doce e selvagem Roseira.

— Oh, Deus. — Um pânico agitado se estabeleceu. — Por favor, Phineas. Conte-me algum ruim. Algo que não desejaria que eu soubesse.

Os olhos dele ficaram sérios. Ele virou o rosto em direção ao barulho do mar. Por longos segundos ela pensou que ele não responderia. Então ele o fez.

— Eu odiava a minha mãe. — Sua voz estava distante. — Eu ainda a odeio.

Ela respirou através da dor em seu peito. Forçou as mãos a se apertarem em vez de tocá-lo.

— Todos a odiavam...

— Não assim. Muito antes de eu saber as coisas que ela fazia, antes que eu pudesse lembrar, de fato...eu queria... — Ele respirou irregularmente. — Eu queria que ela morresse. — Dentro do verde maravilhoso estava a dor de sua confissão. A batalha que ele lutou e perdeu. — Um filho não deveria desejar tais coisas.

E lá se foi. Sua última e débil esperança de manter seu coração. Ela sentiu a corda se desfazer. Escorregar de suas mãos.

Ela fechou os olhos, mas o que conseguiu ver foi um garoto. Cabelos pretos. Olhar pálido e solene. Inteligente apesar da idade. Pequeno como Edwin, porém muito mais quieto. Aquele garoto sentiu o mal na mãe dele. E, sendo um tipo protetor, desejou a sua morte.

Ele pensou que este era o pior segredo a ser revelado. Mesmo agora, ela sentia a expectativa dele de que ela sentisse nojo. Mas ela sentia apenas arrepios. Mais e mais até eles se transformarem em bolhas de luz brilhante, quente e expansivas. As sensações viajavam através de suas veias para pulsar e esticar cada pedaço de pele.

Pelos céus, ela o amava. Talvez sempre o amou. Agora ela entendia o quão ela o conhecia. Ela o conhecia. Até o fundo de sua alma valente.

Como ela poderia ter esperado manter seu coração em segurança? A resposta era óbvia: ela não conseguiria.

— Phineas. — Ela sussurrou abrindo os olhos. Rosto amado. Homem amado. — Beije-me.

Um brilho de surpresa. Um fogo de desejo. Depois os braços dele a envolveram, meio levantando-a. Os lábios dele pousaram sobre os dela. O peito dele grudou-se ao dela. Ele deu prazer à sua boca e a encostou na treliça frondosa e apertou sua ereção contra ela.

— Maldito inferno, Roseira. — Ele ofegou. — Como faz isso comigo?

Ela? Era ele. Alto, fascinante e com feitiçaria em seu toque. Ele a deixou obcecada. Possuía-a. Ela era como uma videira em sua treliça, sua forma permanentemente alterada pela presença dele.

Ele segurou seu rosto e a beijou novamente, profunda, longa e pulsantemente. Ela acariciou os braços e pulsos dele. Freneticamente desabotoou seu casaco. Deslizou o braço para dentro dele, ao redor de sua cintura, assim poderia sentir o calor dele contra ela.

Logo ele puxou as saias dela. Levantando-as freneticamente, mas com muita precisão. Depois, seus dedos – aqueles dedos mágicos – estavam dentro dela. Deslizando e circulando.

Ela afastou as pernas para ele, agarrando-se ao seu colete.

Gentilmente, mas com uma firmeza crescente, os dedos dele geraram uma tempestade. Deslizando. Deslizando. Deslizando. Dentro e fora. Girando e girando. Contornando o local que amadureceu até explodir.

— Isso me pertence. — Ele sussurrou contra os lábios dela, sua respiração era quente e rápida. Ele inseriu um segundo dedo. — Seu desejo é meu. Seu néctar é meu. Sua flor é apenas para mim.

A cabeça dela caiu para trás, amparada pelas folhas e videiras. O prazer estava turvando, ondulando, correndo como um riacho. Subia e descia. Inchando-se em direção ao toque dele.

— Não, Phineas. — Ela se contorceu para forçar o polegar dele para o local onde precisava dele. — Aqui.

Ele deslizou deliberadamente por seu centro enquanto acariciava seu interior com os outros dois dedos. A pressão interior aumentou, mas não onde ela precisava dele.

— Por favor. — Ela implorou. — Deus por favor. — Foi assim a noite passada. Ele lhe dava prazer com os dedos, lábios, língua e seu membro. Implacavelmente, ele a persuadia em direção a alturas inimagináveis, atrasando cada pico repetitivo de explosão até que ela lhe implorasse. Agora, mais uma vez, ele liberava o prazer, os olhos brilhando sobre ela com uma luz febril. Dedos longos e duros pressionavam mais forte e mais profundamente. O seu polegar talentoso acariciava perto, embora não no centro de sua necessidade.

Quando o pico veio, levou-a a um gemido longo e ofegante. Ondas fortes e poderosas a forçaram a ficar nas pontas dos pés enquanto ele sussurrava em seu ouvido:

— Isso mesmo, minha doce Roseira. Floresça. Deixe-me sentir isso.

Anéis de prazer a atravessou, um após outro, enquanto ele a apertava com força e beijava a sua garganta. Os estremecimentos seguiam mesmo após ele retirar a sua mão amada e doadora de prazer e deixou as saias dela caírem.

Mesmo depois de ele se abaixar e a pegar em seus braços.

Ela ofegou novamente, mal conseguindo entender a sua nova posição. Agarrou-se ao pescoço dele, tremendo com os ecos que ele deixara dentro dela.

Com urgência, ele a carregou até a curva do túnel. Ela avistou uma pequena abertura entre as treliças – uma janela para o mar – antes que ele, gentilmente, a pusesse de pé. Ele acariciou seu rosto com ternura, então tirou o casaco e o pôs sobre um banco de pedra sob a janela.

Ela ficou se balançando e estudando, não entendendo o que ele estava fazendo até ele sentar-se sobre o casaco e puxá-la para dentro de suas pernas. Em seguida, abriu a calça. Ergueu as suas saias. E sem dizer uma palavra, a posicionou escarranchada sobre ele com seus joelhos em cima do casaco e seu traseiro sobre as suas coxas.

Ela suspirou e abraçou o pescoço dele. Enterrou o nariz no tecido. Sob ela, sentiu seu membro duro pressionar onde ela ainda estava escorregadia e sensível. Piscou. Respirou profundamente quando as sensações voltaram. Ela gemeu e recuou para encará-lo. Segurou o queixo dele e deslizou o polegar por seus lábios esplêndidos.

— Phineas. — Sussurrou, amando o quanto ele estava próximo nesta posição. Como ela conseguia ver os anéis azuis ao redor do verde escurecido pelo calor. Como ela conseguia beijá-lo tão facilmente.

Ela roçou os lábios na boca dele. Correu a língua por cima dos lábios dele.

Ele estava dizendo alguma coisa, mas seu sangue batia forte, o mar batia forte e tudo era prazeroso.

— ...erguê-la. Apenas relaxe.

Ela sentiu os braços fortes ao redor de sua cintura. Sentiu a ponta de seu membro, quente e divisor. Alongando e completando. Deslizando profunda e...

— Oh. Isso é... quase...

Demais. Era quase demais. Enquanto ele a abaixava sobre seu membro, ele mergulhou até a raiz. Seu prazer anterior facilitou sua passagem, eliminando a maior parte do desconforto, embora ainda tivesse uma dorzinha da noite anterior e dessa manhã.

Mas, Deus, como ele a completava. Como os olhos brilhavam e a consumia.

— Tome-me. — Ele murmurou.

Sim. Sim, ela tomaria. Ela o teria dentro dela e faria amor com ele. Porque ela o fazia. Ela o amava. Seu coração estava prestes a explodir de alegria. E assim, estava prestes a chorar.

Ela o amava. Phineas. Seu Holstoke.

Ela inclinou a testa contra a dele. Fixou aqueles olhos surpreendentes. Viu um reflexo que parecia uma fome voraz. Sentiu-o roçar algo em seu pescoço.

— Phineas. — Ela sussurrou, doendo agora. Entre as coxas. Em seu estômago. Em seu peito e coração.

As mãos dele seguraram seus quadris. Um vinco doloroso obscureceu sua fisionomia.

— Não posso esperar muito, minha doçura. Preciso de você agora.

Ela o beijou. Assentiu.

— O que precisa que eu faça?

— Mova-se. — Ele proferiu, sua voz por um fio. — Você sabe cavalgar. É o mesmo ritmo. Tome o que conseguir. E mova-se.

Levou alguns momentos de dúvida sobre o ângulo, mas uma vez que ela apoiou os braços nos ombros dele, foi capaz de elevar os joelhos. Seus olhos se arregalaram com a fricção ao retirar. Em seguida eles se fecharam quando ela afundou. Oh, para ser preenchida novamente. O prazer disso! A adequação.

— Maldito inferno, Roseira. Está me matando.

— Oh. — Ela sorriu provocante. — É você, Phineas! Estava dando um passeio tão agradável.

Os músculos de sua mandíbula flexionaram.

— Acelere a marcha ou tomarei as rédeas.

Um pequeno arrepio cruzou sua pele, zumbindo entre as suas coxas e em seus seios.

— Talvez devesse. — Ela inclinou-se para a frente e testou a teoria sussurrando contra os lábios dele. — Sou nada além de uma aprendiz, sabe. Um cavaleiro hábil deveria me ensinar.

Ele gemeu, profundo e dolorosamente. Uma luz sombria explodiu em seus olhos. O braço dele envolveu sua coluna e a segurou com força. Então ele empurrou. Puxou-a sobre ele e empurrou mais fundo. Mas bruto. A cada estocada, ele a preenchia totalmente e se retirava até a ponta. De novo, de novo e de novo. Seu ritmo era nada como o dela. Isso era duro, rápido e incontrolável. O calor aumentava dentro de sua vagina, a fricção das estocadas renovava o fogo. Logo, ela o ajudava a mantê-lo, esfregando seus quadris nos dele, beijando sua deliciosa boca.

A mão que estava sob a sua coxa moveu-se e a tocou levemente, logo acima onde eles se uniam. Ela arquejou. Suspirou o nome dele. Agarrou-se a ele. Sentiu o ponto culminante subir repentinamente e explodir em êxtase.

Deus, era doloroso sentir tanto prazer. Ela gritou entre os dentes cerrados, arranhou os ombros dele e o apertou dentro dela, tentando mantê-lo no lugar.

Ele não obedeceu. Continuou com seu ritmo acelerado, tocando em seu centro inchado e rígido, forçando-a a subir até que sua voz se desmanchou e seu corpo foi percorrido por ondas rapsódicas. Com os olhos fechados, ela enxergava a luz. Explosões luminosas que eram anda além de um fraco reflexos do seu prazer.

Quando voltou a abrir os olhos, viu algo ainda mais bonito: seu marido estava com os olhos fixos nela, perto da loucura com o prazer que ela lhe dava. E, naquele momento, seu desejo aumentou. Ficou selvagem. Cresceu a ponto de incluir um novo objetivo: ela lhe daria o prazer que ele nunca imaginou. Ela se tornaria a obsessão dele, assim como ele era a dela. Sua recompensa seria ver isso todos os dias. Phineas em estado de êxtase. Ela sentiria isso todos os dias. Phineas explodindo dentro dela.

Ah, sim, ela pensou, sorrindo e acariciando sua mandíbula endurecida, segurou-lhe o pescoço enquanto ele segurava sua cintura e grunhia sua liberação contra a garganta dela. Se isso fosse tudo o que ela teria dele, se ele nunca pudesse amá-la, então ela tomaria cada pedaço. O prazer dele. A necessidade dele. O nome e os bebês dele.

Ela secou uma lágrima estúpida enquanto ela acariciava as costas e pescoço dele, beijou sua orelha e olhou para a maré subindo.

Maureen podia ter o coração e isso era certamente um problema. Mas tudo mais pertencia a Genie. E, o que quer que acontecesse, ela pretendia manter o que era dela.


CAPÍTULO 17

“Bah! Aquela gentalha arrogante de Bow Street. Ouso dizer que esse assunto já teria sido resolvido semanas atrás se ele simplesmente tivesse aceito a sua ajuda. Um bom caçador conhece as vantagens de um cão superior.”

A Marquesa Viúva de Wallingham para seu fiel companheiro, Humphrey, após receber a resposta do Sr. Jonas Hawthorn à sua mais generosa oferta.

A prostitua não foi envenenada. Ela fora descoberta no interior de uma casa em Knightsbridge, a garganta aberta, o rosto foi tão golpeado que ela ficara irreconhecível. Presa em seu vestido, entretanto, havia uma flor, murcha e seca. Meimendro. Jonas a reconheceu à primeira vista, graças aos esboços botânicos que Holstoke lhe enviara.

Agora, enquanto batia seu lápis no caderno e observava um policial puxar um bêbado para se apresentar diante do magistrado, Jonas esfregou os olhos e silenciosamente praguejou. Nos dois dias desde que o vigia encontrara o corpo, ele não dormia. Alguma coisa sobre esse assassino piorava a coceira em seu pescoço.

Veneno era uma arma refinada, distante e limpa. Punhos eram algo pessoal. Enfurecido.

Ele vasculhou a área ao redor de Knightsbridge, perguntando aos vizinhos o que eles haviam notado. Ninguém havia escutado ou visto nada. A casa estava fechada há anos e Knightsbridge não era conhecida por suas prostitutas. Mas ela estava vestida como uma, seu corpo mostrava sinais de sua profissão. Isso era tudo o que ele sabia.

— Dormindo de novo, Hawthorn?

Jonas olhou para cima e encontrou Drayton mancando em sua direção.

— Diga que descobriu alguma coisa.

Drayton jogou o caderno sobre a mesa em frente a Jonas e se jogou sobre uma cadeira, esfregando a perna como se essa doesse.

— Ela era uma prostituta chamada Mary Bly. A cafetina dela, Old Sally Sawyer, diz que ela está desaparecida há uma semana.

Uma semana. Jonas se inclinou para frente, sua pele pinicando.

— O que mais Old Sally disse?

— Não muito. — Drayton parecia tão cansado quanto Jonas, seus olhos mais caídos do que o normal. — A Srta. Bly estava nisso há um ano ou mais. Uma garota com certa popularidade.

— Popular?

— Aye. — Drayton piscou e esfregou a perna com mais força. — Os cavalheiros a chamavam de Mary Meia Noite por causa do cabelo dela. Uma verdadeira beleza. Isso foi tudo o que a cafetina disse. Você conhece Old Sally. Se importa mais com seu gin do que com as garotas.

Jonas saltou da cadeira e pegou o casaco e chapéu.

— Hawthorn! Onde diabos está indo, homem?

— Falar com Old Sally. — Ele tinha uma sensação doentia em suas entranhas. Essa morte foi diferente. Era uma mensagem. Ele apenas não a decifrara ainda.

Drayton grunhiu e se levantou. Ignorando o homem mais velho, Jonas saiu do escritório na Bow Street e seguiu para a Castle Street, onde Old Sally residia. Ele estava no meio do caminho quando sentiu algo. A coceira em seu pescoço intensificou, descendo por sua espinha como um fio de água. Ele olhou por cima do seu ombro. Viu Drayton mancando tentando alcançá-lo, mas falhando. Ele examinou os vendedores ambulantes e os patifes indolentes que frequentavam os arredores da Covent Garden. Pequenos batedores de carteira disparavam entre os pedestres. Carroças cheias de bacias, frutas e galinhas passavam pesadamente. Uma jovem garota vendeu um punhado de margaridas a um jovem casal do interior. O cúmplice da garota roubou a carteira do homem com a mesma destreza com que Jonas se barbeava.

Maldito inferno, seus nervos estavam em chamas. Ele caminhou rápido, disfarçando a sua velocidade com uma postura desleixada e passos largos. A noite estava chegando. A luz cinza gradualmente engrossava o crepúsculo.

Ele encontrou Old Sally inclinada sobre o painel de madeira na esquina de sua casa, combinando o preço com um homem seco com três vezes a idade da garota cujo braço ele segurava.

— Num mi venha com as suas! — A cafetina gritou, puxando o outro braço da garota. — Essa, vale duas libras e meia ou nada, seu véio idiota. — Ela empurrou o homem com força. Ele tropeçou para o caminho de uma carruagem. O cocheiro gritou e desviou, quase o acertando.

Ignorando a briga, a jovem prostituta ajustou o corpete e sorriu lindamente a Jonas que se aproximava.

— Ooh, você é bonito, não é? Gostaria de uma queda?

Old Sally levantou o rosto das moedas que ela contava.

— Eh. Num s’incomode, garota. Ele está mais para dividir do que a pagar por isso. Num é, Hawthorn?

— Fale-me sobre Mary Bly, Sally.

A cafetina fungou.

— El’ está morta. O qui tem a dizer?

Enquanto ele se aproximava, pôde sentir o gin em seu hálito, o suor do calor do verão. Ela era uma mulher carnuda, o cabelo uma mistura de cinza e laranja, nariz vermelho e brilhante, mesmo na luz difusa.

— Mais do que contou a Drayton. — Ele proferiu, puxando seu caderno e lápis do bolso. — Quem foi o último a contratá-la?

— Já disse a Drayton, estava indisposta. Ela mesma cobrou.

— Qual a aparência dela?

A cafetina deu de ombros.

— Cabelo preto. Seios planos.

— Fale-me sobre o rosto.

Um vinco aprofundou as já existentes rugas da mulher.

— Bonita o bastante para valer quatro guinéus.

Inclinando a cabeça, ele permitiu que ela tivesse um vislumbre de sua impaciência.

— Detalhes, Sally. Agora, se possível.

A cafetina estremeceu nervosamente, olhou-o com os olhos semicerrados e engoliu em seco.

— Olhos claros. Pele clara. Bons dentes. Como disse, quatro guinéus. Poderia ser cinco se não fossem os seios.

A sensação ruim que ele lutava para ignorar aumentou. Ficou gelada. Não sendo uma característica, ela poderia estar descrevendo Hannah Gray.

— Ei! — A cafetina gritou passando por ele para empurrar o homem que quase encontrara o seu fim embaixo de uma carruagem. O homem estava importunando outra das garotas de Sally.

Jonas soltou o ar tentando acalmar a maldita coceira. Precisava de mais respostas. Precisava saber quem contratara Mary Bly e depois a matou da maneira mais brutal.

— Sr. Hawthorn?

Ele virou-se.

A jovem prostituta de cabelos amarelos com hematomas se formando nos braços olhava para ele com a testa enrugada.

— Você está procurando pelo homem que matou Mary?

— Estou.

— Eu...Eu posso ter visto ele.

Maldição.

— Quando?

— Há uma semana. — Os olhos castanhos da garota brilharam com as lágrimas. — Pobre Mary.

— É verdade que b-bateram nela?

Gentilmente ele pegou o cotovelo da moça e a levou para as sombras da pensão.

— Apenas me conte o que lembra. Pode descrevê-lo?

A garota fungou e secou o nariz.

— Mary tinha os olhos mais adoráveis. Como a luz da lua, eles eram. Deixava os homens loucos.

Por dentro, ele ficou mais frio. Levou a mão ao bolso mais baixo de seu casaco e retirou o esboço que ele mantinha escondido, um que era apenas para os seus olhos. Cuidadosamente, ele desdobrou o papel.

— Ela se parecia com essa?

A moça olhou para seu desenho. Franziu o cenho.

— Aye. Ela era um pouco mais dura, entende? Não tão adorável como essa. Mas parecidas.

Ele dobrou o esboço, guardou-o e ofereceu um lenço à garota.

Ela o pegou e assoou o nariz.

— Eu preciso saber sobre o homem com quem Mary saiu. Como ele parecia?

A moça fingiu enxugar os olhos. Fungou novamente. Secou outra lágrima. Então, calmamente ela estendeu a mão.

Ele olhou para a mão pequena e vazia. Recuou pra encontrar os jovens olhos de jade.

O diabo o levasse. Como ele odiava esse mundo.

Ele vasculhou e achou duas libras e cinco xelins e pôs o dinheiro na mão aberta dela.

— Agora. — Ele disse suavemente. — Conte-me.

— Ele era mais baixo do que você.

Ele colocou a mão na altura do nariz.

Ela assentiu.

— Agradável de olhar. Olhos suaves, entende? Redondos, como um menino inocente. Mas não era. Havia frieza neles. Eu disse a Mary para não ir. Mas ele ofereceu cinco. Ninguém faz isso.

— Cinco guinéus?

Ela assentiu novamente.

— Da última vez que vi Mary Bly, ela estava subindo na carruagem com ele.

Ele pegou algo em seu bolso superior e desdobrou o esboço agora desgastado.

— Esse é o homem que viu?

Ela arregalou os olhos.

— Aye. É ele mesmo.

A urgência dele aumento cem vezes. O canalha atacaria Hannah Gray. Ele não sabia o motivo, mas isso malditamente importava. Tudo o que importava era chegar até ela. Mantê-la a salvo.

— Você esqueceu a cicatriz.

Ele franziu o cenho e olhou para o esboço.

— Que cicatriz?

Ela traçou um dedo ao longo da lateral do pescoço do homem.

— Da orelha ao ombro. Uma cicatriz longa e branca. De uma faca, acho. Mal curada, no entanto.

— Ele não usava um lenço no pescoço?

— Nada além de uma camisa e um colete. Simples. Como o seu. Por isso eu notei. Parecia muito pobre para oferecer cinco xelins, quanto mais cinco guinéus.

Jonas não entendia o jogo do homem. Ele se vestiu de lacaio para invadir a casa de Randall – traje completado com peruca empoada. Um disfarce eficaz se um homem deseja se misturar ao cenário. Depois, solicitou uma prostituta usando roupas simples e humildes que expunham a sua notável cicatriz. Sem perucas. Sem disfarce.

Por que mudar os padrões com Mary Bly? Por que não a envenenar e deixá-la em algum lugar na Covent Garden, onde ela seria reconhecida por seu trabalho?

Knightsbridge era bastante distante. O canalha pagou pela carruagem de aluguel. Ele pagou cinco guinéus para a Srta. Bly. Ele conseguiu entrar em uma casa vazia e matar uma mulher sem que os vizinhos percebessem.

E ele poderia estar em qualquer lugar.

Mais uma vez, Jonas olhou ao redor, observando a multidão na Castle Street. As casas de trabalho. As hospedarias. O homem seco discutindo com a cafetina.

Ele acenou para a moça e guardou o caderno e o esboço. Em seguida começou a se mover. Ele precisava ir a Dorsetshire. Ele precisava estar onde Hannah Gray estava. O formigamento em seu pescoço e o fogo em sua espinha gritaram até seu passo virar quase uma corrida.

Ele virou a esquina da Hart Street e sentiu seu pescoço pegar fogo. Foi por puro instinto que ele se jogou para a esquerda.

Uma dor lancinante se espalhou por seu ombro.

Ele piscou, desorientado pela força do golpe. Ele foi empurrado de lado, para uma parede de tijolos.

O sangue pulsava com força. Martelava e martelava. Sua mão ficou dormente. Pingava.

Ele olhou para todos os lugares, mas a escuridão havia caído enquanto ele conversava com a prostituta de cabelos amarelos. Ninguém em sua visão. Uma única luz. Brilhava dourada na janela do segundo andar. A janela estava aberta.

Sua respiração aguçou. Ele se afastou dos tijolos. Cambaleou para frente, em direção ao brilho dourado. Uma figura apareceu em forma de silhueta. Alto. Diferente do que ele desenhara. Ele piscou, o dourado e a sombra se misturaram.

Um golpe silencioso. Outra onda de agonia. Sua coxa direita.

Ele caiu duramente de joelhos. Seu sangue martelava e martelava. Penetrava e agrupava. O que quer que o tenha atingido, fez sua visão borrar. Ele mal conseguia enxergar suas próprias mãos segurando pedras e terra.

Ele encontrara a morte antes. Eles eram velhos amigos.

Não era assim que as coisas deveriam terminar.

Ele precisava chegar à janela dourada. Isso era tudo. Ele precisava matar um homem antes que ele... a matasse.

Apoiando sua mão nos tijolos, ele se forçou a levantar-se. Forçou os pés a sustentar, suas mãos a impulsionar e sua perna esquerda a carregar todo o seu peso. A rua imunda se inclinou. Ondulou e duplicou. Ele balançou a cabeça. Deu um passo.

Uma explosão angustiante atravessou sua perna direita. Ele olhou para baixo. Duas flechas gêmeas plumadas projetavam-se de sua coxa. Não, não gêmeas. Uma estava em sua perna e a outra em seu ombro.

Cristo, seu sangue continuava a martelar e martelar. Ele tinha que chegar à janela. Tinha que matar o homem.

Outro passo. Outra explosão angustiante. Uma terceira. E uma quarta.

— Hawthorn!

Um quinto. Sua respiração entrava e saía entrecortada. Ele focou na porta que levava ao segundo andar e ao canalha que queria...matá-la.

— Maldição, maldito inferno, homem. Isso são flechas? — Era Drayton.

Ele caiu de joelhos novamente quando o outro homem o alcançou.

— J-Janela. — Ele agarrou o braço de Drayton, tremendo. — Segundo andar. Vá. — Ele empurrou, mas estava fraco. Malditamente muito fraco.

Drayton tentou levantá-lo.

— Vá! — Jonas rosnou, apontando em direção à janela dourada.

Um galope mancando e praguejando levou o outro homem embora.

Jonas tentou convencer o chão a ficar estável. Mas ele apenas ficou mais úmido.

Seu sangue martelava e martelava. A escuridão veio cinza nas beiradas.

Agora a respiração era fraca. Ele piscou. Soou enfraquecido. Uma mulher passou, suas saias balançando para longe dele.

Uma mulher. Pele clara. Olhos de luar. Cabelo da meia-noite. Milhas acima dele. Léguas. Fria e intocada como um lago no inverno.

— ... Doerá como o maldito inferno, Hawthorn. Mas deve ser feito...

Fogo. Em seu ombro e perna. Uma explosão branca atrás de seus olhos, então a escuridão, cinza e borrada. Depois um balanço. Luzes verde de gás pulsando.

— ... Ver o cirurgião de Dunston. Aguente firme, homem. Quase lá.

Por um momento, sua visão melhorou. Ele viu Drayton sobre ele em uma carruagem. Uma alugada, talvez. As rodas batiam no pavimento em um ritmo furioso.

— Pegou-o? — Jonas ofegou.

Drayton passou uma mão por seu rosto enrugado e barbudo.

— Não. Ele se foi. Deixou o arco para trás, no entanto. Sujeito generoso.

Jonas ergueu o braço ileso e cuidadosamente agarrou a lapela do casaco de Drayton. Ele puxou o homem para baixo, assim ele podia escutá-lo melhor. As luzes verdes de gás estavam diminuindo. Desfocadas.

— Deve ir a Dorsetshire.

— Hawthorn...

— Dorsetshire. — Ele gritou, embora tenha saído como um chiado irregular. — Ela está em perigo.

Drayton franziu o cenho, os olhos brilhando na luz que passava.

— Quem?

— Gray. — Ele sussurrou. — Hannah Gray.

— Você está fora de si. Assim que o cirurgião tiver chance de...

— Prometa-me. — Ele rosnou, sacudindo Drayton com tanta força quanto ele conseguiu colocar, o que não era muita. — Deve ir a Dorsetshire. Alertar Holstoke. Protegê-la.

— Aye. Dorsetshire. Partirei à primeira luz do dia.

— Nós. — Ele corrigiu. As luzes verdes se acinzentaram. Borraram-se, desapareceram.

O seu aperto perdeu força enquanto ouvia a risada rouca e áspera de Drayton.

— ...idiota, Hawthorn...foi golpeado...malditas flechas, pelo amor de Deus.

Os olhos de Jonas se fecharam até que a única coisa que ele viu foi...ela.

— Estou indo. — Ele sussurrou, perguntando-se se ele não estava falando aquelas palavras apenas em sua mente. — Não é assim que termina.


CAPÍTULO 18

“Quando eu o aconselhei a assumir novas atividades cavalheirescas, eu deveria ter sido mais específica: equitação, arco e flecha. Essas são todas apropriadas. Note que não mencionei moda feminina.”

A Marquesa Viúva de Wallingham para Lorde Holstoke em uma carta que respondia ao pedido do dito cavalheiro por uma lista de periódicos que serviriam melhor a persuasão feminina.

Vinte dias após a sua chegada a Primvale, Phineas recebeu seu terceiro relatório de Drayton. Ele se afastou da sua mesa na biblioteca e jogou a carta de lado.

Droga.

Esfregando as costas de seu pescoço, ele foi até a janela, observando o jardim afundado e balançando sua cabeça em descrença.

Outra mulher fora morta. Desta vez, a vítima não era da aristocracia e nem mesmo uma criada. Ela era uma prostituta. Seu corpo foi descoberto dentro de uma casa em Knightsbridge. A casa estava vazia há anos.

Natural, ele supôs. Poucas pessoas desejariam viver onde um demônio havia sido abatido com justiça. O demônio era Horatio Syder – parceiro de sua mãe e sequestrador de Hannah. Syder havia sido o mal puro, o que explicava porque Lydia Brand se sentira atraída por ele em primeiro lugar. Descobrir outra vítima no mesmo lugar onde Syder havia morrido, não deixava dúvidas sobre as intenções do envenenador. O canalha tinha fixação na mãe de Phineas e, por extensão, em Phineas.

Quase ninguém sabia da conexão de sua mãe com Horatio Syder. Dunston certamente. Um punhado de outros. Mas o fato de Syder ter sido advogado e parceiro de negócio dela por anos, havia permanecido secreto, em parte porque Phineas pagou grandes somas para os oficiais chaves e editores de jornais. Ele também usou todas as suas conexões adquiridas em Harrow e Cambridge, incluindo o atual Secretário de Assuntos Interiores.

Ele poderia ter feito mais para proteger Hannah. Qualquer coisa. Felizmente, suas medidas foram suficientes. Até agora.

De alguma forma o envenenador sabia. Sobre Syder. Sobre a morte dele e sua associação com Lydia Brand.

Phineas, por outro lado, sabia muito pouco sobre o envenenador. Ele enviara a Drayton numerosas teorias, incluindo a ideia de Eugenia sobre o boticário ter um assistente. Drayton questionou pelas lojas das redondezas e descobriu que um jovem chamado Theodore Neville havia trabalhado ali por vários anos antes da morte do boticário. Entretanto, ele desaparecera, os rumores apontavam que ele fugira para o norte. Drayton, Dunston e Hawthorn logo o descartaram como envenenador, já que a descrição dele não combinava com a do infiltrado na casa de Randall.

Além do mais, o envenenador devia ter alguma ligação com a mãe de Phineas. Ele deve saber produzir os venenos e deve adquirir os ingredientes dos farmacêuticos. As concentrações eram muito altas para ser de outra forma. De acordo com Drayton, Hawthorn fizera um esboço do envenenador e o carregou a cada botica de Londres. Ninguém o reconheceu.

Phineas passara semanas tentando esclarecer, seu único resultado foi a frustração.

Uma leve batida soou à porta. Antes que ele pudesse dizer uma palavra, a porta abriu.

— Aí está você. — Disse a mulher que nunca deixava os seus pensamentos. — Pretendo persuadir Hannah a montar mais do que alguns passos essa semana. Estaremos praticando nos pastos leste, desde que ela não me ataque com seu chicote de equitação. Não se alarme.

Ele sorriu. Virou-se. Ergueu uma sobrancelha.

— Isto é uma noz?

Eugenia inclinou o queixo e tocou a grande aba de palha de seu chapéu.

— Pois, sim. É sim. O tema é “Plante uma semente e eis, ela cresce.” Você aprova?

Sorrindo, ele caminhou até ela. Ele sorria há semanas. Nunca gargalhou, riu ou sorriu tanto em sua via toda. Era ela. Ela o tornava...leve. Apenas vê-la o fazia se erguer uns três metros do chão. Talvez cinco.

— Sim, Roseira. Aprovo.

— Não acha que é demais? — Seu sorriso permanecia provocante, mas um fio estranho de incerteza corria por baixo. Ele sentiu dúvidas similares quando ela lhe mostrara seu novo local de trabalho: uma sala de descanso perto do quarto que ela transformara com mesas, prateleiras, blocos para chapéus e penas suficientes para construir uma escultura de avestruz do tamanho de um castelo. Enquanto ela tagarelava, descrevendo todas as razões porque ele não devia se alarmar com as contas que em breve chegariam à sua porta, ele observou as mãos dela. Aquele tremor nervoso o surpreendeu. Ele perguntara sobre os planos dela, se ela ainda pretendia abrir uma loja um dia.

Ela ficara assustada, aquela incerteza nublando seus olhos.

— Não. — Disse ela em voz baixa. — Condessas não abrem lojas assim como os Huxleys.

Ele começara a argumentar que condessas – especialmente a condessa dele – poderiam fazer o que lhes agradasse, mas ela o distraiu com beijos e o levou a almoçar com ela e Hannah perto do lago.

Naquele mesmo dia ele começara a sua pesquisa. Ela não sabia ainda e talvez ele esperasse para lhe dizer até terminar suas averiguações. Mas as dúvidas dela o corroía. Sua Roseira deveria ser destemida, crescendo para qualquer que fosse a direção que seu coração a levasse. Essa era a sua natureza, embora alguma coisa tenha obviamente balançado sua confiança. A dispensa da Sra. Pritchard talvez.

Agora, olhando para seu chapéu de aba larga com folhas, nozes e fitas, ele sentiu a compulsão em substituir a incerteza dos olhos dela por seu usual brilho de ousadia.

Ele pigarreou. Cruzou as mãos às costas.

— Eu vi chapéus parecidos com os seus.

Ela piscou. Balançou a cabeça.

— Onde?

— Na edição recente da La Belle Assemblée.

A boca dela ficou redonda. Ela franziu o cenho.

— Por que, se posso perguntar, está lendo uma publicação conhecida, principalmente, por suas gravuras de moda?

Novamente ele pigarreou.

— Os artigos são edificantes.

— Phineas.

— Pesquisa.

— Sobre?

— Moda feminina. Chapéus, especificamente.

Silêncio e um olhar perplexo.

— Minhas descobertas são preliminares. O grau para alguém ter certeza de suas conclusões a respeito das preferências efêmeras de moda de cabeça é assunto para...

— Phineas. — Desta vez o seu nome emergiu gutural e suave.

— Suas criações são, até onde posso determinar, estão no topo da moda. Se desejar abrir a sua própria loja, tenho poucas dúvidas que teria sucesso.

Embora ele tenha apenas dito a verdade, a respiração dela acelerou. Uma mão enluvada pousou sobre seu busto.

A reação dela era encorajadora.

— Grande sucesso. — Ele enfatizou, mais uma vez movendo-se em direção a ela. Ele achava que ela estava feliz. Talvez sentindo-se amorosa. Essa fora uma excelente ideia.

— Eu gosto do seu chapéu, Roseira.

— Oh, céus. — Os olhos dela ficaram suaves do jeito que sempre ficavam quando ela acariciava seu rosto ou quando ele a pegava olhando-o, quando ele estava trabalhando em sua estufa. — Quantas publicações você...

— O suficiente.

— Quantas?

— Cinco. Vários anos de publicações. — Ele pigarreou. — Notei um aumento acentuado tanto no tamanho quanto nos enfeites nos últimos dois anos. As damas parecem gostar de tais estilos cada vez mais.

O sorriso dela começou lento e cresceu. Cresceu até ela rir.

— E você gosta de meus chapéus.

Ele assentiu. Desamparado, os olhos dele caíram sobre os seios dela, redondos e cheios embaixo da seda dourada.

— Eu também gosto do seu vestido.

Ela fechou os olhos e riu de novo, sua mão caindo para seu ventre.

— Oh, Phineas.

Deus, ele amava ouvir seu nome nos lábios dela. Ele amava seus chapéus bobos e elaborados. Ele amava tirá-los da cabeça dela, soltar os cabelos e cheirar a cerejas doces e escuras.

Ela abriu os olhos. Ele se aproximou dela, esperando mais. Mais da risada e do brilho dela.

Ela suspirou e depois levou a mão ao peito e gemeu.

— Droga. Eu não posso passar o dia na cama com você, por mais que eu adorasse. As lições da sua irmã têm sido muito esporádicas. Nesse ritmo, ela chegará a velhice antes de aprender a galopar.

Ele a prendeu entre os braços, prendendo-a contra a porta. Então, ele mergulhou sob a aba do chapéu e capturou a sua boca. Doce. Linda. Boca deliciosa.

— Phns. Dvms parar. Humm. — Ela empurrou seu peito do dele e ele se afastou, feliz em ver os olhos dela quentes de desejo. — Bem, talvez...se formos rápidos... — Eugenia pressionou a palma sobre o ventre o gemeu. — Não. Não posso ficar. Sua irmã está me esperando. Levou uma hora no desjejum para convencê-la a aceitar outra lição.

— Por que está tão determinada que ela aprenda a montar?

Ela suspirou.

— Às vezes me faço a mesma pergunta. — Ela se afastou da porta, beijou-o muito rapidamente e se virou para sair.

— Fique à vista dos homens. — Ele alertou.

— Certamente. — Ela abriu a porta e lhe deu um sorriso perverso por cima do ombro. — Sou sempre uma esposa obediente, não sou? — Ela arrumou o chapéu e foi embora.

Ele teve que se encostar em uma estante e sacudir a cabeça como um cachorro sacudindo água, antes que seus pensamentos racionais voltassem. Sua ereção levou vários minutos a diminuir.

Nunca fora assim. Seu desejo por ela era uma maré sem vazante. Certamente, isso poderia ser temporariamente acalmado depois de uma liberação explosiva. Naqueles momentos que os braços finos dela se agarravam a ele, suas mãos acariciavam e o calor sedoso dela o engolia, a paz era diferente de tudo o que ele imaginou.

Porém, sua fome ressurgia diante da mínima provocação: um vislumbre de seus quadris nus. Inalar o seu aroma de violeta. Um fio de sua voz doce dizendo que era hora do desjejum.

Ele tinha trinta e três anos, pelo amor de Deus. Ainda assim, sempre que Eugenia estava perto, ele parecia ter dezessete novamente. Não, pior que isso. Ele recordava ter dezessete.

Sua necessidade por Eugenia era imprevisivelmente forte.

Esfregando as costas do pescoço, ele foi até a mesa e afundou-se na sua cadeira.

Estava confuso com a sua própria obsessão. Ela não era o tipo de mulher que ele imaginou se casar. Pelo contrário, Maureen havia sido sua companheira ideal. Eles tinham muito em comum – o interesse de Maureen em jardinagem e paisagens quase eram compatíveis com as dele. Ela falava amorosamente sobre sua família e, uma vez que os conheceu, ele quis tal família para si mesmo. Ele sabia que ela seria uma mãe extraordinária. E ela era.

Ele não estivera errado. Maureen fazia mais sentido do que Eugenia. Se ela tivesse aceitado a sua oferta em vez da de Dunston, ele suspeitava que teriam tido uma vida bastante satisfeita juntos.

Com Eugenia, ele não estava satisfeito. Ele era consumido. Ela alimentava a escuridão dentro dele até que ela falasse por ele, pensasse por ele e exigisse que ele a possuísse de novo e de novo.

Ele fechou seus olhos e esfregou a mão no rosto. Precisava recuperar o controle. A escuridão o endurecia e, embora ela não tivesse reclamado, ele frequentemente se perguntava se ela sabia o quão louco ele estava.

Soltando o ar, ele pegou sua caneta e puxou uma folha de papel. Então ele começou a raciocinar. Ele desenhou quadrados. Fez listas. Criou argumentos baseados em evidências dos motivos pelo qual ele não deveria ficar obcecado por Eugenia. Era argumentos sensatos baseados em evidências. Racionalidade. Quando terminou, se recostou em sua cadeira e releu o que escreveu.

As palavras desapareceram. Em seu lugar, a escuridão mostrava-lhe uma visão de Eugenia – sua linda Roseira – fazendo bonnets para seus bebês. Exibindo aquele sorriso malicioso enquanto tirava os grampos do cabelo e o quanto ela achava estimulante os sabores de erva-doce e menta. Olhando-o com a boca entreaberta encantada enquanto estava em pé embaixo de um monte de flores brancas.

Ele esfregou os olhos tentando forçar a visão a ir embora. Mas, no fim, elas permaneceram, satisfazendo os desejos da escuridão. Ele jogou sua lista na mesa. Deixou a biblioteca e pediu a Ross para pegar seu chapéu.

Primeiro, ele foi até o estábulo. Perguntou ao seu cavalariço qual montaria Hannah escolhera para a sua lição. O cavalariço assegurou-lhe que Lady Holstoke insistiu em usar uma égua tranquila que ele comprara seis anos atrás quando buscava uma esposa. Ele assentiu e, enquanto ele entrava no pátio do estábulo, parou. Virou-se.

— Qual montaria sua senhoria levou, George?

— Nenhuma, milorde. Ela disse que já que estará ensinando a Srta. Gray, ela não precisará de nenhuma.

Franzindo a testa, ele seguiu seu caminho em direção ao pasto leste. Eugenia pretendia ensinar a Hannah? Ele presumira que ela empregaria da ajuda do chefe de estábulo ou de um dos cavalariços, todos os quais eram excelentes cavaleiros. Certamente, nenhum deles era mulher, coisa que Eugenia certamente era. Em cada centímetro de curvas e atrevimento dela. E ela sabia como usar a sela lateral.

Ele balançou a cabeça enquanto passava pela fonte da entrada sul do castelo e seguiu em direção às orquídeas. Ainda assim, ele não entendia o motivo de Eugenia assumir tal tarefa. Durante os últimos quinze dias, Hannah recuperou suas maneiras, mas seguia com sua teimosia em relação às propostas de Eugenia. O padrão era previsível: Eugenia sugeriu ensinar Hannah como fazer flores de seda e Hannah educadamente recusou. Então, Eugenia demonstrou sua técnica na mesa do café da manhã. Eugenia ofereceu acompanhar Hannah nas caminhadas diárias dela e Hannah protestou que ela gostava da solidão. Então Eugenia a acompanhou todos os dias. Eugenia perguntou se Hannah poderia lhe ensinar xadrez e Hannah a aconselhou a aprender com Phineas, já que ele era um jogador superior. Então Eugenia declarou que ela assistiria os dois jogando.

Tudo era desconcertante: a perseguição de Eugenia, a frieza de Hannah e o fato de nenhuma das duas discutir o assunto com ele. Enlouquecedora bobagem feminina.

Ele chegou ao topo da elevação onde as cerejeiras farfalhavam com os ventos surpreendentemente fortes. Nuvens se moviam deixando o dia escuro. Ele olhou para o sul, em direção ao mar. A chuva estava chegando.

Ele olhou para o pasto. À distância, ele as viu. Elas estavam a meio caminho do vale, Eugenia com seu largo chapéu de noz e Hannah agarrada a uma sela em cima da égua cinza. Eugenia liderava o caminho, parando a cada poucos passos para olhar para cima e conversar com Hannah, que parecia tanto temerosa quanto descontente.

Ele parou embaixo de uma cerejeira. Encostou seu ombro sobre o tronco. Observou sua esposa e irmã negociarem no pasto, a batalha delas. Ficou satisfeito ao ver três dos homens de Dunston posicionados em intervalos ao longo dos limites norte e oeste do pasto. Eles também vigiavam.

Por um longo momento, ele observou as damas, admirando a coragem de Hannah e a paciência de Eugenia. O vento aumentou e soprou o chapéu de noz de sua Roseira. Ela não parou de liderar o cavalo. Quando elas alcançaram o canto sudeste do pasto, Hannah olhou para cima e começou a falar freneticamente.

Foi quando o cavalo se afastou de Eugenia que tropeçou e perdeu o controle sobre a égua. O animal dançou para os lados. Mesmo à distância, Phineas conseguiu ver Hannah agarrar as rédeas apertadamente, puxando com força em um esforço para recuperar o controle. Eugenia correu em direção ao par na tentativa de pegar as rédeas de Hannah, que se afastou. A égua movimentou em direção à sua esposa, derrubando seu pequeno corpo.

O corpo de Phineas ficou gelado. Ele se afastou da árvore no momento em que ela atingiu o solo. E quando o cavalo dançou perigosamente perto, o ar cristalizou dentro de seus pulmões. Ele foi em direção a ela em uma corrida mortal. Porém, mesmo enquanto ele saltava a cerca, ele sabia que não era rápido o bastante.

Não havia nada que ele pudesse fazer. A escuridão rosnou. E finalmente-finalmente – se libertou.

*~*~*

O dia começara de uma maneira tão adorável. Genie tinha acordado com uma luz do sol brilhante e dourada, céu azul com tufos de nuvens e a boca de seu marido mordiscando sua garganta enquanto suas mãos seguravam seus seios. Como eles estavam deitados na cama dele, suas costas para ele, ela olhou pela janela em direção ao mar e saboreou o maravilhoso prazer de suas estocadas.

Céus, como podia um dia ter um começo melhor?

Então viera a relutante revelação de Phineas sobre a sua ‘pesquisa’ sobre moda feminina, obviamente um esforço para entender a preocupação de Genie com a arte da chapelaria. Observando sua expressão orgulhosa e infantil, seu coração ficara quente e suave. Ela se perguntou se um dia, ele poderia gostar dela como ela gostava dele.

Não. Nunca assim. Seu amor consumia tudo. Provavelmente era demais para se esperar. Mas amizade. Companheirismo. Carinho. Estas coisas eram possíveis.

Infelizmente, o prazer e a possibilidade viraram lama e atoleiro em pouco tempo.

Primeiro veio o desjejum. O chá ficara muito tempo na infusão e a Sra. Green informou-lhe que eles tinham pouco presunto e serviram enguia no lugar. Enguia. Ela preferia comer o prato em que ela fora servira.

Depois, Hannah reclamou por uma hora de outra aula de equitação. Genie tinha sido forçada a usar ameaças de se unir a ela em suas caminhadas diariamente em vez de ocasionalmente. Grunhindo, Hannah concordou.

A lição delas também começara desfavoravelmente. Com muita persuasão, Genie conseguiu fazer com que a moça montasse o cavalo. Ela também ajudou a escolher a sela apropriada e elas circularam grande parte do pasto sem incidentes. Mas a má vontade deixava Hannah tensa, o que deixava nervosa a égua calma.

Genie tentou conversar com ela, mas a moça estava claramente ficando sem paciência com a sua nova cunhada, ficando petulante em uma tentativa de derrotar os esforços de Genie.

— Esse chapéu não combina comigo.

Olhando para cima, além da aba larga do próprio chapéu, Genie olhou para a pequena confecção, um chapéu de cavalgada simples coberto da lã verde mais escura. Tinha uma fita de seda verde mais clara e duas pequenas penas brancas gêmeas perfeitamente costuradas.

— Oh, querida. Você parece adorável. Agora, pare de fingir que detesta. Afinal, é parcialmente um projeto seu.

Uma quinzena atrás, Genie e Hannah se aventuraram no mercado da cidade de Bridport, que ficava há alguns quilômetros a leste de Primvale. Aliviada ao descobrir civilização muito mais perto do que ela pensara, passou um dia inteiro convencendo Phineas de que ela morreria se não adquirisse logo materiais suficientes de chapelaria. Da mesma forma, ela foi forçada a prometer a Hannah um dia inteiro livre de sua companhia antes que a moça concordasse em ir com ela.

Cercada por seis dos homens de olhos aguçados de Dunston, ambas se sentiram expostas, mas logo que entraram no armarinho, a excitação de Genie diminuiu o desconforto. Hannah, normalmente opaca e quieta, aqueceu-se consideravelmente enquanto Genie mostrava como poderiam usar aquela fita ou aquela caixa de lantejoulas. Quando saíram da loja para o armarinho seguinte, Hannah tagarelava, contando a Genie, as suas ideias para uma nova reticule para combinar com seu vestido verde folha. Aqueles olhos pálidos se acenderam e a moça esquecera-se de ser rude por todo o passeio. O coração de Genie disparou com a mudança, vendo que os seus esforços estavam, enfim, ganhando terreno.

Ela ficou ainda mais feliz quando, no almoço uma semana depois, Hannah concedeu que se sentia melhor tendo uma refeição ao meio-dia.

— Isso melhorou as minhas caminhadas, acredito. — A moça confessara. — E meu sono.

Genie domou seu sorriso e assentiu.

— Notei que é parecida comigo, não consegue comer muito de uma vez. Comer mais vezes equilibra a constituição.

Hannah concordara, depois pediu a um lacaio ao seu lado que lhe trouxesse outra fatia de pão. Estranhamente, ela o chamara pelo nome errado.

Genie se inclinou e sussurrou.

— Ned.

— Perdão?

— O nome dele. Ned, não David.

Um pequeno vinco enrugou sua testa.

— Oh. Às vezes me confundo entre um e outro. Phineas insiste em reorganizá-los tantas vezes.

Desta vez, foi Genie quem franziu o cenho.

— Que tipo de arranjo ele faz?

— Ele enviou duas dúzias de criados para outras propriedades e trouxe um número similar aqui para substituí-los. Ainda não tenho certeza dos motivos dele.

Genie também ficou intrigada. Mas Phineas era um homem peculiar. Ela e Hannah terminaram a tarde juntas com uma agradável caminhada pela praia. Elas conversaram por duas horas sem um único momento de discordância.

Agora, entretanto, enquanto elas caminhavam juntas pelo pasto, Hannah se agarrava ao seu ressentimento com tanta força quanto colocava nas rédeas da égua cinza.

— Eu não gosto desse chapéu, e nem do seu.

Genie suspirou e acariciou o pescoço da égua enquanto levava-os através da grama na altura dos tornozelos e uma trilha de flores silvestre roxas.

— Você percebe que tem vinte e dois anos e não doze.

— O que a minha idade tem a ver?

— Seu comportamento é infantil, Hannah. Outros podem temer dizer isso, mas eu não.

Um longo silêncio. Então, o ressentimento afiou-se até o ponto da amargura.

— Casar-se com o meu irmão lhe deu um título, Lady Holstoke, não a minha guarda. Vinte e dois anos me dá o direito de administrar os meus próprios assuntos. Não há necessidade e ainda menos desejo a sua ajuda. Ou de sua companhia frívola, por falar nisso.

Genie cerrou os dentes, reprimindo a sua irritação e tentando recordar seus objetivos.

— Casar com Phineas me tornou sua irmã. Irmãs ajudam umas às outras...

— Maureen é muito mais uma irmã para mim do que você. — Hannah sibilou. — Phineas deveria ter se casado com ela. Tudo seria melhor.

A ironia atingiu Genie como um chute no peito. Hannah quisera feri-la e finalmente encontrou sua arma. Por longos minutos, Genie não foi capaz de falar. Uma rajada de vento soprou e tentou tomar seu chapéu. Distraidamente ela o segurou no lugar e piscou para afastar o borrão em sua visão. Ela não queria chorar. Ela não choraria.

Após um tempo, ela engoliu a dor em sua garganta e instruiu.

— Solte um pouco as suas mãos. Lembre-se de usar as suas pernas para segurar os cepilhos.

— Maureen entende o motivo para eu não desejar montar. Ela não teria me obrigado a fazê-lo.

Genie não respondeu, mantendo os seus olhos na elevação que se aproximava.

— Ao contrário de você, ela é bondosa. Boa.

— Relaxe o chicote. Sua montaria reage à pressão.

— Eu detesto esse maldito chicote, Eugenia. — A moça espetou. — Eu odeio isso.

Novamente as palavras de Hannah machucaram, embora de um jeito diferente. O coração de Genie ansiava desistir. Puxá-la do cavalo e segurá-la com força até o passado dela ir embora.

— Eu sei. — Ela murmurou em vez disso.

O vento voltou. Desta vez, foi bem-sucedido em tirar o chapéu de Genie. Genie o deixou levá-lo e seguiu em frente.

— Nós...nós devemos parar e pegar o seu chapéu. — Hannah disse.

Os cabelos soltos voaram para o rosto de Genie.

— Não é importante.

— É sim. Você gastou horas nele.

— Farei outro.

Novamente o silêncio caiu, quebrado apenas pelo resfolegar da égua, o rangido da sela e o vento que soprava mais forte.

— Eu roubei um cavalo uma vez, sabia. — A voz de Hannah era um fio, quase inaudível acima do vendaval. — Eu esperei até que ele entrasse na casa. Eu sempre conseguia ouvir quando ele chegava. A bengala. Ele batia.

Genie não teve que perguntar quem era “ele”. Horatio Syder conseguia atormentar a moça muito depois de sua morte. Ela respirou fundo, afastando a súbita pressão em seu peito.

— Um cavalo lhe serviria pouco, já que não sabe cavalgar.

— Verdade. Eu cai enquanto tentava montá-lo. Então, o cavalo disparou. Eu o persegui por mais de um quilômetro.

A égua se moveu de lado nervosamente. Genie deu pequenas palmadas carinhosas no pescoço do animal, desejando que pudesse acalmar Hannah com a mesma facilidade.

— Ele me encontrou não muito depois. Estava muito zangado.

Genie assentiu, mantendo seus olhos em frente enquanto elas começavam a subir.

— Foi corajoso tentar, Hannah.

— Foi estupidez tentar. Eu não deveria ter feito isso.

— Corajosa. — Genie insistiu. — Agora, você sabe que eu não mentiria para poupar os seus sentimentos.

Hannah bufou.

— Não. Você não poupa os meus sentimentos.

Genie sorriu. Ela gostou que ela bufasse. Ela gostava do sentimento, irônico e familiar. A vitória era pequena, mas um progresso.

À medida que elas se aproximaram da cerca no canto do pasto, Hannah falou:

— Deveríamos recolher o seu chapéu. Você gostará de usá-lo da próxima vez que formos a Bridport.

O sorriso de Genie cresceu. Ela assentiu e levou a égua para cima. Ao chegarem no topo, ela levantou o rosto e notou que Hannah franzia a testa. Era profundo e alarmado.

— Deus querido. — Hannah sussurrou. — Elas estão mortas. Estão todas mortas.

Genie seguiu seu olhar. E viu um horror. Vacas – duas dúzias, pelo mínimo – deitadas imóveis no meio da grama e flores do pasto vizinho.

— Devemos retornar, Eugenia. Devemos contar a Phineas.

A agitação de Hannah fez com que a égua se movesse para cima de Genie. Ela tropeçou para trás, suas botas deslizando na ladeira da colina. Assim que ela se recuperou, viu Hannah lutando para trazer o cavalo a seu controle. Assustada, Hannah puxou as rédeas com muita força e Genie segurou suas mãos tentando ajudá-la.

Ela mal soube o que aconteceu a seguir. Hannah afastou o contato. Seu chicote deve ter batido no flanco oposto do cavalo, pois, momentos depois, o animal de meia tonelada derrubou Genie de costas, fazendo-a ofegar ao tentar respirar.

O cavalo relinchou. Dançou. Cascos arranharam e cavaram o solo perto da cabeça de Genie. Um casco pegou um pedaço do cabelo dela embaixo dele e ela sentiu uma dor horrível e dilacerante, enquanto rolava para se afastar. Ela tentou se levantar, mas a única coisa que conseguiu foi ficar de joelhos e rastejar em direção à cerca. Suas saias a atrapalharam. Suas mãos cavavam e arranhavam a grama e a lama do pasto.

Um filete quente escorreu desde sua testa até o queixo. Ela se agarrou a estaca mais baixa. Arrastou-se para ficar de pé. Virou-se. Viu a égua empinar. Viu Hannah soltar o chicote e se agarrar à crina da égua. Viu a garota virar o cavalo assustado o suficiente para evitar que a cabeça de Genie fosse esmagada.

— Eugenia! — Hannah gritou. — Afaste-se!

A moça não pediu por ajuda. Ela queria evitar que Genie se ferisse. O coração de Genie estava cheio e acelerado quando encontrou sua chance. Ela viu os cascos da égua abaixarem mais uma vez e então correu para segurar o freio. Frágil e relinchando, os flancos da égua tremiam. Mas ela ficou no solo. Não fugiu e nem lutou.

— Venha, Hannah. — Genie disse gentilmente, virando o cavalo para o lado da cerca. Ela gesticulou para a moça completamente branca, ainda agarrada às crinas da égua. — Eu a ajudarei a desmontar.

Hannah balançou a cabeça. Seu pequeno e elegante chapéu escorreu para o lado.

Genie sorriu para ela.

— Você conseguiu, querida. Você fez isso. Permaneceu montada. Evitou que esta garota grande caísse sobre mim. — Ela deu uma palmadinha no pescoço da égua. — Muito bom para uma novata, ouso dizer.

Lágrimas iluminavam os olhos pálidos.

— V-Você quase foi...

Genie esticou a mão para Hannah e sinalizou para ela vir. — Venha. Solte a crina da égua. É hora de descer.

Finalmente. Após um longo e doloroso processo para afrouxar os pulsos, Hannah soltou as rédeas e a égua. Entre Genie e as estacas, ela foi capaz de descer da montaria. Ela tremia tanto que suas pernas quase se dobraram. Genie automaticamente envolveu os braços ao redor da cintura dela e a segurou. Hannah estremeceu. Depois, sem aviso, os braços da moça a envolveram. Um pequeno chapéu elegante caiu no chão. Sua bochecha posicionou-se contra a de Genie, fria e trêmula.

— Eu pensei. — Hannah sussurrou. — Pensei que a tinha matado.

Genie a apertou com força e sorriu.

— Não. Você só mata aqueles que merecem isso.

Outra hesitação. Hannah recuou procurando o rosto de Genie. Uma mão trêmula roçou na trilha vermelha e úmida do queixo de Genie.

— Lady Holstoke mereceu. — Um brilho duro apareceu em seus olhos, recordando a Genie de Phineas em seus humores sombrios. — Ela matou a minha mãe. E papai.

Genie assentiu.

— Tudo bem. E quando encontrou sua oportunidade de atirar, você aproveitou.

— Sim. Aproveitei.

— E quando aquele monstro a manteve contra a sua vontade, você aproveitou das oportunidades também.

Uma adorável sobrancelha se ergueu. Adoráveis olhos pálidos se fecharam.

— Mas não consegui escapar.

Genie a segurou com mais força.

— Você resistiu. Você sabe de quanta força de vontade isso requer? — Ela fungou. — Muito mais do que montar em um cavalo ou enfrentar as fofocas das matronas na Rotten Row. Todos a tratam como papel molhado. Humph. Você é mais forte do que qualquer um que conheço.

— Você perdeu cabelo, Eugenia.

— Ele crescerá.

Um longo silêncio no meio das rajadas de vento. Depois, um fraco sussurro.

— Não suportarei.

— Sim. Irá. Se se permitir. — Genie entrecerrou os olhos. — Pouco a pouco, minha querida. Pouco a pouco.

À distância, ela ouviu os homens gritando. Os olhos de Hannah arregalaram-se.

— Oh! Nós devemos contar...

— Phineas. — Genie disse, embora houvesse pouco som. Seu ar se fora.

Hannah se virou e viu o que Genie via: Phineas subindo a colina, sombrio como se fosse o próprio diabo. Genie deu um tapinha na cintura de Hannah.

— Leve a égua para um daqueles homens agradáveis com pistola, sim? — Ela sinalizou em direção a um dos homens de Dunston mais perto, que evidentemente correra pelo pasto quando o cavalo empinou. — Falarei com Phineas.

Por que Phineas deveria estar ali no pasto leste, ela não sabia dizer. Ele devia estar observando. Sempre o irmão protetor, ela supôs. Tremendo, Hannah se abaixou para pegar seu chapéu e depois fez o que Genie pediu.

Phineas caminhou até ela com uma fúria negra em seus olhos. Ela se preparou para um sermão sobre por Hannah em risco. Mas na hora que ele se aproximou dela, o peito dele estava ofegante. Talvez pelo esforço. Provavelmente por causa da raiva.

Ela ergueu uma mão.

— Ante de começar...

— Nem uma palavra, Eugenia. — Sua voz era rude e afiada. Ele segurou seu antebraço com uma força implacável e imediatamente a arrastou em direção ao castelo.

— Espere! Pelo amor de Deus, Phineas. — Ela tropeçou atrás dele. — Vamos! Você deve ver...

— Eu vi mais do que o suficiente.

— O que quer dizer?

Ele a arrastou meio caminho colina abaixo antes de parar. Ele a puxou para perto.

— Mulher imprudente. — Ele falou entre os dentes. — Percebe o que quase aconteceu?

— “Os quases” não importam. Solte o meu braço.

— Você é um maldito desastre.

— Imprudente e um desastre. Suas lisonjas viram a minha cabeça, Lorde Holstoke.

— Você nunca me ouve.

— Não, você é quem não está escutando! — Ela torceu o braço em um grande círculo até o aperto dele afrouxar. — Deixe-me. Ir.

Os ombros dele agitaram-se como um cavalo impedido de fugir. Mas ele a soltou.

Imediatamente ela começou a voltar a subir, parando brevemente para gritar:

— Bem, acompanhe-me. Não subirei esta colina novamente porque desejo reviver a glória.

Finalmente ele a seguiu, carrancudo por todo o caminho. Quando ela alcançou a cerca, apontou para o pasto adjacente, onde um de seus rebanhos obviamente fora envenenado.

Ele diminuiu o passo ao chegar ao seu lado. Olhou para o vale. Seu rosto ficou branco. Endureceu até virar uma pedra incrustada de gelo.

— Ele está aqui, Phineas. Não sei como e nem o porquê, mas ele está aqui.

Após várias respirações, ela pensou que ele não falaria nada.

Então, ele falou. E suas palavras, murmuradas como se para ele mesmo, cortou o seu coração.

— Eu nunca deveria ter me casado com você.


CAPÍTULO 19

“A embriaguez é frequentemente a causa e não o consolo para os problemas. Talvez se abandonasse a garrafa por uma abençoada hora, chegaria a esta óbvia conclusão.”

A Marquesa Viúva de Wallingham para a seu sobrinho durante uma discussão com o dito sobrinho lamentando as perdas nas mesas de azar.

O chão do corredor de mármore se inclinou em um ângulo estranho. Genie cambaleou e quase perdeu a garrafa que segurava. Felizmente, as portas da sala de estar estavam ali. Ela apoiou seu ombro dolorido contra elas e se endireitou.

— Esta sala. Ah, esta sala foi feita para a minha irmã, Sr. Ross. Ela simplesmente adora seda amarela. — Ela escancarou as portas e tropeçou para dentro. Lá fora, no pátio, a chuva batia nas janelas. — Por outro lado, eu não gosto. — Ela bebeu novamente, a sala girou, amarela e azul, amarela e azul.

— Minha senhora, talvez devesse sentar...

— Não. — Ela balançou a cabeça e se afundou nas almofadas azuis. — Oh. Sim. Talvez devesse.

— Posso servir um bule de chá?

— Não. — Ela ergueu a garrafa e sorriu. — Este é para você, Sr. Ross. Um bom valete. Um verdadeiro cavalheiro. — Ela bebeu até que o vinho aquecesse seu estômago. — Talvez devesse instruir Holstoke. Um cavalheiro não deveria dizer a sua mulher... — Um buraco se abriu. Ela fechou os olhos contra isso. Respirou até conseguir falar novamente. — Aonde foi Harriet?

— Ela está lhe preparando um banho, minha senhora.

Genie olhou para baixo, para seu vestido. Arruinado. A seda dourada estava manchada pela água da chuva e lama do pasto. Um tufo de grama estava preso em um dos bordados.

— Algumas coisas nunca ficam limpas, Sr. Ross.

O valete se ajoelhou diante dele. Sua cabeça lisa e careca refletiu a luz tempestuosa das janelas.

— Algumas coisas sim, se trabalhar nelas.

Ela apoiou a bochecha no braço do sofá.

— Eu me esqueci que sou o Grande Fardo Genie. Eu não deveria ter esquecido. Ele me lembrou. Ou talvez ele sempre soube. — Ela fechou os olhos. Abriu-os novamente. — Eu não gosto dessa sala. Embora seja adorável. Muito amarela. — Ela se forçou a levantar, esperando que a tontura parasse – amarela e azul, amarela e azul. Em seguida ficou de pé. O Sr. Ross pegou o braço dela, ajudando-a a manter a dignidade. Não que isso importasse. A dignidade foi abandonada anos atrás.

— Obrigada, Sr. Ross. — Ela se soltou e foi para as portas. — Sua Senhoria pode não ficar feliz por você me tocar, mas eu sim. Você é um cavalheiro.

— Você é muito bondosa, minha senhora.

Ela pensou que a voz dele soou divertida, mas tudo estava girando e ela não pôde definir. Vagando pelo corredor e atravessando um conjunto de portas de vidros em direção ao pátio, ela levantou o rosto para a chuva. Ela gostava disso. Gotas frias em sua pele.

— Ele criou para si mesmo um paraíso. — Ela disse, jogando seus braços e fechando os olhos. — Um lugar magnífico. Ela amava isso, sabia. Chamava de ‘palaciano’. Quanta verdade.

— ... talvez um xale...

A chuva caia sobre ela. Esfriando e molhando-a.

Ela contornou a fonte e se desviou de um vaso. Encontrou outro conjunto de portas. Outro corredor. Perseguia-a a dor. Perseguia e perseguia. Ela não queria ser pega. Ela bebeu vinho e balançou a cabeça. Bateu na parede com o ombro dolorido. Piscou.

— ... minha senhora, por favor. Deixe-me ajudá-la...

Devo seguir em frente, ela pensou. Isso a perseguia e perseguia. Outra porta. Ela a abriu e encontrou o silêncio revestido de madeira. Pela janela, ela avistava o jardim afundado, estendendo-se até o lago. Ao centro, Netuno lutava contra o vendaval. Ela afundou-se na mesa embaixo da janela. Deu outro gole.

— Pedirei à Sra. Green para preparar chá, minha senhora. Um adorável e quente bule de chá.

O silêncio aumentou quando ele saiu. Nesta parte do castelo, ela podia ver a chuva mais do que ouvia o seu tumulto. Ela encostou a testa contra o vidro que se embaçou com a sua respiração.

A chuva viera enquanto ela estava na elevação com Holstoke. Gotas grossas respingara em seu nariz e bochechas. Ela ficara adormecida por um minuto ou mais depois do que ele dissera... o que ele dissera. Então a dor veio, uma rachadura bem no centro. Ela o chamara de nomes feios e o empurrou com força. Ela descera a colina ignorando os gritos dele. Ele enviara um dos homens de Dunston atrás dela. Ela acusou o homem de ter uma prostitua como mãe.

Mas tarde ela se desculparia. Ela nem mesmo conhecia a mãe dele.

Agora, horas depois, ela ainda bebia. Suspirou. Antes do vinho, sua têmpora e seu ombro doíam terrivelmente. O pânico da égua causara algum dano. Mas nenhuma dor era comparada ao corte de Holstoke. Era o que a perseguia.

Ela fechou os olhos. Segurou seu estômago. Talvez ela já soubesse, Ele não queria se casar com ela. Não de verdade.

Não com ela.

Respirando rápido agora. Ela deslizou da mesa derrubando um candelabro no chão. O baque ecoou no silêncio. Ela o ignorou. Moveu-se para a cadeira. Colocou a garrafa na mesa. Descansou os braços ao lado da garrafa e sua cabeça sobre os braços.

O papel farfalhou quando ela se mexeu. Ela viu quadrados.

E palavras.

Lentamente, muito lentamente, ela se levantou. Leu as palavras dentro dos quadrados.

A rachadura se alargou até virar um abismo. Estavam preenchidos com as palavras de Holstoke: sentimentos que ela há muito suspeitava, mas esperava que não fossem reais.

Deus, que tola cega e apaixonada ela fora. A esperança é um veneno viciante.

Em um lado do papel, embaixo do nome de Maureen, estavam frases agradáveis e verdadeiras: atraente; interesse em jardins. Companhia agradável, muito admirada e excelente mãe.

Do outro lado, embaixo da palavra “Eugenia” o registro pesava em uma direção decididamente oposta: irritante; irracional; muito ousada; atrai escândalos; mostra pouco entendimento em botânica, desnecessariamente argumentativa, muita familiaridade com os criados; teimosa; provoca os piores instintos masculinos e indisciplinada.

As listas eram longas, seguindo de maneira similar por várias páginas. Em particular a de Eugenia que tinha duas páginas a mais de papel. Ele até mesmo notara seus ‘chapéus ‘chapéus absurdos’.

Não era de se admirar que ele lamentava ter se casado com ela. Lendo a lista. Ela mal conseguia tolerar a si mesma.

A dor da qual fugia a inundou. Empurrou-a no abismo e uivou triunfantemente.

Ela não conseguia respirar.

Ela não conseguia respirar.

A pressão se formou e ela não podia respirar.

Quando finalmente o fez, foi ofegante. Depois um soluço.

O abismo se abriu ainda mais. Ficou mais fundo.

— Eugenia? — Mãos gentis pousaram sobre seus ombros.

Ela não conseguiu responder. Apenas ofegar e gemer. Ela cobriu a boca com ambas as mãos.

Braços gentis a envolveram por trás. Uma bochecha fria pressionou sobre a sua.

— Não chore, Eugenia. Por favor.

Hannah a segurou e a embalou por longos minutos até os tremores diminuírem e ela recuperar o controle. Genie não soube quando a moça pegou a lista de Holstoke de suas mãos, mas ela se fora. Ela sentiu uma agradável tensão quando Hannah se afastou, ordenando que Genie usasse seu lenço.

O pedaço de tecido branco estava borrado a sua frente, mas ela o pegou. Assoprou seu nariz. Secou os olhos. Sentiu-se vazia e doente.

Hannah assumiu o comando, seu braço envolveu a cintura de Genie enquanto a ajudava a subir as escadas para o seu quarto.

O quarto de Maureen.

A palavra girou em tons de amarelo e azul. Amarelo e azul. Então, ela foi deitada sobre a cama que ela não passara uma única noite desde a sua chegada a Primvale. Distantemente, percebeu que Hannah a ajudava a se despir até sua camisa, que a moça agora lavava o rosto de Genie com um pano úmido e quente.

Genie olhou para a sua adorável cunhada, cujas bochechas estavam marcadas por trilhas brilhantes.

— Sinto muito. — Hannah sussurrou, aqueles olhos pálidos brilhantes e nus. — Sinto muito por... dizer aquelas coisas. Sobre Maureen. Sobre você. Eu nunca quis dizer aquilo. Eu nunca quis, Eugenia, juro.

Genie fechou os olhos. Assentiu. Abriu-os novamente e olhou para o mar. As ondas tinham topo branco de fúria.

— Eu...Eu desejava manter as coisas como elas estavam. Depois...do período ruim, Phineas veio para casa. Ele é a minha família. Meu amigo.

O pano acariciou sua bochecha de novo, gentil e quente.

— Estava errado ao pensar que você o tiraria de mim. Isso não é o que aconteceu afinal.

Quando Genie não respondeu, Hannah começou a tirar os poucos grampos remanescente e gentilmente acariciou o cabelo de Genie. Ela se afastou e depois voltou para escovar as mechas, tomando cuidado para não puxar muito perto do machucado de Genie.

— Você é minha amiga agora, Eugenia. E eu sou sua.

Genie fechou os olhos mais uma vez. Os sons da tempestade diminuíram e por um tempo ela dormiu. Quando acordou estava sozinha. O céu estava escuro, o mar agitado. A dor era a mesma: aguda, opressora e insuportável. Ela se virou para escapar dela, mas ela a perseguia, perseguia e perseguia. Ela jogou os cobertores de lado e foi para o sofá encantador, com uma encantadora almofada ornada com franjas.

A fúria a varreu como ondas. Ela destruiu as franjas. Arrancou-as. Rasgou a delicada seda bem no meio e jogou a bagunça sem estofamento do outro lado do quarto. Ela abriu as portas de vidro e saiu para o terraço, estremecendo quando as portas se fecharam. As pedras estavam escorregadias e frias sob seus pés descalços. A chuva colou a sua roupa sobre a pele em segundos. Ela sentiu o gosto de sal. Ouviu o mar rugir a sua ira.

Agarrando o balaústre, ela inclinou-se para a frente e fechou os olhos. Ali fora, no precipício, a dor perseguia, perseguia e perseguia. Fugir não lhe resultava. Sempre a encontrava. Enchia o abismo até o topo.

Olhou para baixo. Viu a fonte. Uma serpente e um grifo lutavam por domínio. A água da chuva caía de seu cabelo por vários andares até o círculo. Ela observou as gotas descerem, perguntando-se como algo tão belo quanto amoroso podia machucar tanto.

Atrás dela, a porta fez ruído ao ser aberta.

E a fúria de outra fonte rosnou:

— O que diabos está fazendo?

*~*~*

Pela primeira vez em semanas, sua cabeça latejava. Ele raramente ficara muito tempo sem suas dores de cabeça. No entanto, ele viveu um maldito pesadelo naquele dia. Assistir Eugenia – corajosa, mas tão pequena – ser derrubada por um cavalo descontrolado em seguida. Vê-la chegar a centímetros de... Deus, ele não conseguia suportar. O pensamento de vê-la ferida, quanto mais esmagada, enviou-o para uma fúria assassina.

Ele faria qualquer coisa para mantê-la em segurança. Qualquer coisa. Mesmo que isso a deixasse infeliz por um tempo. Eugenia tinha que permanecer segura e viva. Isso era o que importava.

Após a discussão deles, ele passara horas com os fazendeiros e trabalhadores diários. Eles acharam raízes de Cicuta virosa, entre as pastinacas usadas como suplemento alimentar na alimentação diária das vacas. Alguém envenenara seu rebanho com a maldita cicuta. Aquelas eram as vacas cujo leite, creme e queijo alimentavam toda a casa. Ele presumiu que cada pedaço de comida em sua despensa, estava contaminada, assim ele se livrou do lote. Em seguida, enviou o cozinheiro e dez lacaios para Bridport para fazer novo estoque. Enviou os guardas de Dunston com a tarefa de questionar a todos que tinham acesso ao castelo. Então, ele ordenou a setenta por cento de seus funcionários restante procurarem no castelo e em suas terras por sinais de invasão.

Eles voltaram como nada. Malditamente nada.

Pior de tudo, Phineas sabia que isso era um subterfúgio. O canalha queria que ele ficasse agitado e distraído. Estava funcionando. Seu corpo zumbia com a necessidade de matar.

Mais cedo, ele enfureceu Eugenia quando ela entendeu errado algo que ele dissera. Na hora que ele percebeu como as suas palavras deviam ter soado, ela já lhe informava – em voz alta – que ele era um ‘tolo sem graça, malditamente maçante’ para tentar uma ovelha, quanto mais uma mulher. Ela menosprezou ainda mais os seus modos, suas deficiências matrimoniais e sua masculinidade em termos incrivelmente perversos.

Sua declaração murmurada e impensada fora dirigida a si mesmo, não para a sua mulher. Casar-se tinha sido egoísmo, o ato de um homem possuído por um encantamento sombrio. Ao reivindicar Eugenia como sua, ele a pôs em perigo, o que era intolerável.

Mas ele também não devia ter dito o que disse. Ele a magoara. Intencionalmente. Sua Roseira tinha espinhos em grandes quantidades, mas ela também era formada de pétalas doces e ternas e folhas suaves e felpudas. Ela podia ser ferida. Ele a ferira. No entanto, ele devia reparar o dano.

Enviou um dos homens de Dunston para protegê-la, pretendendo explicar-se assim que ele lidasse com o gado. Agora, horas mais tardes, ele descobriu que ela invadira a adega, levara seu valete em uma perseguição alegre e, no momento, acomodada em seu quarto. Ele suspirou, esfregou a nuca e atravessou a porta de conexão com o seu quarto.

O quarto estava envolto em uma luz azul e sombras cinzas. Ele procurou por ela, vendo a cama bagunçada, mas vazia. Estranhamente, uma pequena almofada estava no chão, despedaçada. Então, ele teve um vislumbre de algo branco. E molhado. E Eugenia – sua preciosa esposa – inclinada sobre o balaústre no meio de uma tempestade de verão.

Inferno maldito. Medo, escuridão e raiva emergiram. Explodiram.

Ele disparou em direção a ela. Escancarou as portas de vidro. A escuridão falou antes que ele pensasse.

— O que diabos está fazendo?

Ela se endireitou e virou-se. O tecido fino de sua camisa estava molhado. Grudado. Transparente.

Bom Deus. Ela estava incompreensivelmente bela. Sua cintura, quadris e seios – todas com curvas primorosas. Ele afastou sua fascinação e avançou. Precisava levá-la para dentro antes que ela alcançasse a morte.

— Saia.

A frieza na voz dela o fez parar. Eugenia era muitas coisas – impetuosa, espinhosa e direta – mas nunca fria. Sua pele estava branca, seus lábios sem cor. E os olhos. Deus, os olhos o matavam.

— Eugenia...

— Eu disse para sair. Deixe-me, Holstoke.

Holstoke. Não Phineas. Ele deve tê-la magoado mais do que percebeu.

— Eu nunca a deixarei.

Ela inclinou a cabeça em um ângulo inquisitivo.

— Por que não?

Porque você é minha, a escuridão rosnou. Ele se recusou a falar. Ele não ousava revelar sua loucura para ela. Em vez disso, ele se aproximou, ignorando os arrepios gelados correndo por sua nuca.

— Entre, Roseira.

— Pare de me chamar assim. — Seu rosto estava branco, suas palavras calmas. Essa não era sua Eugenia.

— O que eu disse mais cedo... Que eu não deveria ter me casado com você...Foi um erro.

— Não. — Ela balançou a cabeça devagar. Sorriu sem sorrir. — Foi a verdade.

— Em um sentido e apenas um. Como minha esposa, você está em perigo. — Ele bateu no próprio peito. — Eu a pus em perigo. Se eu tivesse pensado em qualquer coisa além de quanto eu a quero, o risco a sua vida por parte do envenenador não existiria. Esse risco me dilacera, Eugenia.

Ela piscou, a chuva voando de seus cílios. Ela respirou entrecortada e começou a tremer. Um trovão soou. O vento soprou. A chuva caiu.

— Pelo amor de Deus, mulher. Entre.

— Para onde?

— Para o seu quarto, para começar.

— Não é meu. Assim como você não é meu.

Ele franziu o cenho. Ela não fazia sentido.

— Você está bêbada.

Novamente o sorriso que não sorria.

— E se eu estiver?

— O que quer dizer com o quarto não é seu?

— Pertence a Maureen.

Isso o obrigou a levar a cabeça para trás. Que diabos?

— Maureen não esteve aqui durante seis anos. Além do mais, ela está casada com Dunston e é mãe de cinco filhos dele.

— Quatro.

— Cinco. Eu soube com boa autoridade. — Ele balançou a cabeça e deu um passo à frente, mas ela recuou para o balaústre, as mãos agarrando-se às pedras em cada lado de seu quadril. — Isso não importa. Você está casada comigo. Um dia, será a mãe dos meus filhos, Roseira.

— Não me chame...

Ele parou perto. Inclinou-se para baixo. Apoiou as mãos à lateral dela.

— É quem você é. Minha esposa. Minha Roseira. Talvez eu tenha sido egoísta em reivindicá-la. Que assim seja. O que foi feito, está feito. Agora, eu devo mantê-la em segurança. — Ele inclinou sua cabeça, respirando água de chuva e violetas. — E eu irei, minha doçura. Eu prometo que a protegerei.

Ela estava tremendo agora. Seus dentes cerrados por causa do frio. Estremecimentos destruíam sua forma pequena.

— Eu...eu nunca duvidei disso. Proteger é o que você faz.

— Entre.

— Não aí. — Ela apontou em direção ao quarto dela. — Não é meu.

A frustração comia as entranhas dele.

— É claro que é.

— Não. É amarelo. Eu odeio amarelo.

Ele suspirou e esfregou a nuca.

— Então nós mudaremos. Maldição. Tudo isso por causa de uma cor.

— A cor dela. — Sua garganta ondulou. Sua sobrancelha franziu. Os olhos brilharam. — Talvez deva adicionar à sua lista: Eugenia odeia amarelo.

Lista. O gelo correu através de seu corpo em uma onda. Droga. Ela vira sua lista idiota e desesperada?

Os braços dela envolveram seu ventre. Os ombros curvados.

Intolerável. Ele se abaixou e a pegou e seus braços. Foi uma prova do estado de espírito dela que não protestou, apenas apoiou a cabeça em seu ombro. Embalando seu precioso peso bem perto, ele atravessou o quarto que ela de alguma forma decidira que fora desenhado para a sua irmã e seguiu para o quarto dele. Cuidadosamente, ele a pôs de pé ao lado de sua cama. Em seguida pegou um par de toalhas, usando uma para tirar a água de seu cabelo sedoso cor de mogno. Então, ele tirou a camisa do corpo dela e usou a segunda toalha para secar sua pele.

Ao terminar, seu corpo estava totalmente excitado, mas seu corpo podia malditamente esperar. Ele a magoara. Sua mulher. Sua Roseira. Mais profunda e dolorosamente do que pensava ser possível.

Ele puxou os cobertores, ergueu-a novamente e a deitou gentilmente sobre o colchão. Após tirar suas próprias roupas, ele deitou-se ao seu lado. Ela se afastou, mas ele a pegou pela cintura e trouxe as costas dela para perto dele. A pele dela estava gelada e arrepiada. Ele lhe deu seu calor. A abraçou apertado.

— Escute-me. — Ele sussurrou em seu ouvido. — Você sabe sobre o que era aquela lista?

— Sim. — Ela murmurou.

— Acho que não sabe.

— Você estava resolvendo as coisas. Nos quadrados. Tal como um homem peculiar.

O coração dele bateu forte. Ela o conhecia bem. Melhor do que ele imaginara.

— Eu estava dando a mim mesmos motivos, Roseira. — Ele se preparou. Segurou-a com mais força; Deus, ele não queria contar-lhe. Ele não queria que ninguém soubesse. Mas a dor dela era mais importante do que o seu orgulho. — Razões sensatas do porquê eu não deveria ser obcecado por você.

O corpo dela estremeceu junto ao dele. Um choramingo emergiu. Ela balançou a cabeça.

— Não minta para mim.

Ele beijou sua orelha. Seu pescoço.

— Como eu gostaria que isso fosse uma mentira, minha doce Roseira.

— É. Sua obsessão é com Maureen...

— Não. Seis anos atrás, eu quis casar-me com ela. Ela fazia sentido para mim. Uma escolha altamente lógica.

— Ela era seu ideal.

— Naquele tempo, talvez. Eu nunca percebi antes que uma família como a sua era possível. Maureen abriu meus olhos. Fez com que eu quisesse algo para mim que nunca experimentei. Mas do que simplesmente um casamento. Um caminho diferente, bem diferente do que eu conhecia.

— Por isso você manteve um quarto para ela. — A voz de Eugenia era fraca.

Ele suspirou e espalmou sua mão sobre o ventre dela, trazendo seu traseiro mais perto dos quadris dele, assim ela podia sentir o que ela fazia com ele.

— O quarto foi decorado dois anos antes de eu conhecer a sua irmã.

— Não pode ser verdade.

— Pergunte a Walters. Ou à Sra. Green. Os jardins não foram os únicos lugares onde eu quis apagar as lembranças de minha mãe. A sala de estar havia sido previamente azul. Mudei para amarelo, pois minha mãe não gostava. Tínhamos seda o bastante para mudar as paredes do seu quarto. Aquele quarto era dela. Amarelo pareceu...apropriado.

Timidamente a mão dela deslizou sobre a dele. Ela suspirou e tremeu.

— Mas isso combina perfeitamente com Maureen.

Ele beijou sua bochecha. Sua orelha.

— Feche os olhos. — Ele esperou até que ela o fizesse. — Imagine o quarto. — Ele roçou em seu pescoço. — Fez isso?

Ela assentiu.

— Agora imagine-o com paredes vermelhas. O mesmo tom dos lírios que eu lhe dei em nosso casamento.

Ele prendeu o ar.

— Para quem isso é perfeito?

A respiração dela acelerou. Ela apertou as mãos dele, entrelaçando os dedos.

— Abra os olhos.

Ela o fez.

— Olhe ao redor.

— Phineas.

— O que vê?

— Esmeralda. E prata.

Ele a cheirou. Violetas e cerejas. Mar e pele. Gentilmente ele beijou seu ombro machucado.

— Há apenas uma sala que eu mudei por causa de uma garota Huxley. Preciso lhe dizer qual foi?

— Não. Não pode ser.

— É.

— Eu era apenas uma menina.

— Uma menina que não se importava com os limites. Que me tratou como um amigo desde o início, dizendo-me que eu deveria rir mais e usar alfinetes esmeraldas com as minhas cravats prateadas, porque elas refletiam meus olhos para melhor.

— Elas refletem. — Ela murmurou, virando sua bochecha em direção à boca dele. — Você tem olhos maravilhosos, Phineas.

— Eu não tinha a mínima noção com o que fazer com você, mesmo naquela época. — Ele sorriu. — Só sabia que seu conselho estava correto e foi oferecido sem expectativa. Como isso é raro, Roseira. Para alguém enxergar tão claramente, oferecer ideias não como moeda, mas como um presente.

— Eu...não entendo. Sua lista. — A voz dela retorceu-se. — Páginas e páginas, Phineas.

O peito dele se apertou. Os braços dele apertavam. A escuridão apertava sobre a única coisa que malditamente importava: ela. Queria reconhecimento. Queria possuí-la novamente, reivindicar o seu direito. Seu pênis inchou com a demanda.

Ela se enrijeceu ao sentir a mudança contra o seu traseiro.

— Não fique assustada. — Ele disse, embora sua voz fosse mais gutural do que gostaria.

— A-assustada? Eu...Phineas. — Ela gaguejou nervosamente. — Eu não entendo.

— Eu lhe contarei. Mas deve ficar. Ficar comigo.

Os dedos dela apertaram o braço dele.

— Prometa. — Ele murmurou. — Por favor.

Ela respirou fundo. Apertou a mão dele entre a dela.

— Prometo.

Ele fechou os olhos. E lhe contou a verdade.

— Existe um tipo de...loucura dentro de mim.

Ela esperou. Respirou. Paciente e calma.

— Ela a deseja loucamente, Eugenia.

O ventre dela ondulou sob sua palma. Os quadris se moveram de forma fascinante, deslizando sua carne ao longo de sua extensão.

— Eu tive essa impressão.

— Você não entende.

Ela estalou a língua.

— Bem, isso foi o que eu disse. Prossiga, então. Ajude-me a compreender.

— Ela a deseja, sim, mas ela quer mais. Muito mais. Ela quer tudo para si mesma. Não tocar outro homem. Maldito inferno, ela odeia quando você sorri para outro homem. Ela quer matar aqueles que a ameaçam. Cortar em pedaços. Ela fica furiosa quando você é magoada. — Ele beijou o machucado no ombro dela novamente, precisando do contato. — Ela é selvagem. Não civilizada. Eu a tenho contido, mas ela tem crescido até eu mal conseguir pensar. — Ele engoliu em seco. — A escuridão tem me dominado agora. Noventa por cento, pelo menos. Não ficará confinada. Eu tentei. Deus, Roseira. Como eu tentei. Foi por isso que fiz a lista. Eu precisava equilibrar a obsessão com lógica. Você é a obsessão, para ser claro.

Ela ficou em silêncio por um longo tempo. Se o corpo dela não tivesse continuado calmo, o polegar ternamente acariciando as costas de sua mão, ele teria presumido que ela ficara assustada. Com razão, ela deveria estar. Mas, em vez disso, ele concluiu que ela estava pensando. Reunindo as informações do jeito labiríntico dela. Após uma espera interminavelmente longa, ele provou estar certo.

— Phineas.

— Sim, Roseira.

— Eu te amo.

O coração dele parou. Então, voltou a bater, batendo dolorosamente contra os ossos.

— Você me ama?

— Sim. Amo os seus jardins. Suas mãos. Seus olhos. Sua mente brilhante. — Ela puxou os braços dele até ele afrouxá-lo o suficiente para ela se deitar de costas e o olhar com aqueles olhos de gatos brilhantes. — Amo sua natureza peculiar e a coisa que faz com a língua quando deseja ser particularmente persuasivo. — Ela sorriu. Gargalhou. Olhou para ele. — Achei que deveria saber. — Sua mão acariciava seu queixo com ternura. — Isso pode fazer com o que estou prestes a lhe dizer seja mais fácil de suportar.

O coração parou novamente. Suas entranhas congelaram até ele mal conseguir sentir a pele dela. Dormente. Ele estava entorpecido. Não. Ela não podia deixá-lo. Ela prometeu ficar.

— Roseira. — A palavra saiu sem fôlego.

Os olhos dela encheram-se de lágrimas. Ela sorriu e acariciou sua bochecha com o polegar.

— A loucura não está separada de você, meu querido. A loucura é você.


CAPÍTULO 20

“Maridos estão sujeitos ao erro. Por isso Deus inventou as joias, minha querida.”

A Marquesa Viúva de Wallingham para Lady Dunston sobre a reclamação da dita dama sobre o comportamento não civilizados de Lorde Dunston.

Genie olhou para o amado rosto de seu marido que parecia como se ela tivesse enfiado suas tesouras no peito dele. Verdes pálidos mostrou sua negação antes que ele dissesse uma palavra.

— Está errada.

Ela esperou, observando a confusão dele, a mente incrível analisando o que ela dissera.

— Essa maldita escuridão não é racional.

— Humm. Então, ela deve estar separada de você. É isso o que quer dizer?

Ele piscou.

— Sim. Eu sempre preferi a razão em detrimento ao impulso e à emoção.

— Altamente sensato. Você é um cientista.

Os olhos dele caíram sobre os lábios dela.

— Exatamente. A racionalidade exige rigor. Uma pessoa deve examinar a sua lógica até as raízes. O grau de desvio de tal exame está altamente relacionado com os erros e, consequentemente, com os resultados errados. A razão é o meio que eu tenho praticado desde que era um garoto em Harrow. — Ele balançou a cabeça. — Se eu fosse louco, a racionalidade consistente não seria possível. Além disso, outros provavelmente teriam percebidos esses lapsos. Meus tutores. Meus instrutores. Os amigos de Cambridge. Não, essa escuridão é recente. Começou logo depois de nossa conversa na loja de chapéus. Suspeito que as dores de cabeça estão relacionadas de alguma forma, já que elas melhoraram significativamente desde o nosso casamento. Talvez se eu desenvolvesse uma fórmula apropriada, como tenho feito para o meu chá, isso acabaria. Eu devo conduzir mais pesquisas.

— Beije-me.

O nariz dele dilatou-se. Os olhos escureceram e afiaram-se em direção aos lábios dela.

— Você quer, não quer?

— Eu quero mais.

— Certamente. Mas vamos começar com um beijo. Considere isso uma pesquisa.

A mão dele deslizou por baixo de sua nuca, envolvendo-a e levando a boca dela em direção à dele. Céus, como ela amava a boca dele, quente e deslizante. A língua elegante e sensual. As mãos, fortes e gentis.

O gemido dela vibrou contra os lábios dele enquanto ela envolvia os braços ao redor do seu pescoço e mergulhava mais fundo. Seus mamilos ficaram duros. Enviou um prazer quente diretamente para seu útero quando eles se esfregaram no peito dele.

Muito cedo, ele se afastou. Ofegante. Enrubescido.

— O que pretendia provar?

Ela deslizou as mãos pelos ombros dele e desceu pelo peito.

— Nada. Eu queria que me beijasse.

Ele bufou uma risadinha.

— Atrevida.

— Entretanto, irei propor uma experiência.

— Com qual finalidade?

— Eu demonstrarei que essa ‘escuridão’ que fala é nada mais do que a sua natureza peculiar, a qual eu já conheço há algum tempo.

Os ombros dele enrijeceram. Sua respiração parou.

Ela pôs sua palma da mão no meio do peito dele, apreciando a sensação de sua pele e pêlos pretos e crespos, a sólida batida do coração.

— Confiará em mim? — Ela murmurou, massageando seus ombros rígidos, roçando levemente os seus mamilos.

Ele não respondeu.

— Phineas. — Ela deslizou a mão sobre as costelas, depois quadris. — Deixará que eu conduza a minha experiência?

Após um longo silêncio e um suspiro profundo, ele assentiu.

— Bom. Eu lhe tocarei e você me dirá como a escuridão – não é assim que a chama? — Ela esperou pelo aceno dele. — Você me dirá como a escuridão reage.

Um vinco profundo marcou sua testa.

— Não é uma boa ideia, Roseira.

— É claro que é. Se recordo corretamente, você concordou em confiar em mim, Lorde Holstoke.

— Droga.

— Bem, então. Vamos começar. Deite-se de costas, por favor.

Com relutância, ele virou de costas. Ela seguiu e se apoiou sobre ele, sua boca pairando perto da dele. Suas mãos foram para a cintura dela. Apertaram.

— Posso começar aqui. — Ela acariciou a boca dele com seus dedos. — Seus lábios são... — Um arrepio quente a atravessou. — Fascinantes.

— Eu poderia usá-la de uma maneira melhor.

Ela sorriu, apreciando o fato de ter estado errada. Ele não amara Maureen; Maureen havia feito sentido para ele. Genie, por outro lado, levava-o a loucura. Loucura era melhor do que fazer sentido. Felizmente, com Phineas, ela poderia ter os dois. Ela apenas tinha que ajudá-lo a ver isso.

— Mais tarde. — Ela respondeu. — Por enquanto, diga-me como se sente.

— Excitado.

— Phineas.

— Altamente excitado. Você percebeu que está nua?

— E?

— Não posso pensar quando você está nua.

— Diga-me o que a escuridão pensa.

Os olhos dele se iluminaram.

— Ela pensa que eu devia estar dentro de você.

— Você concorda?

— Maldito inferno, Roseira. Sim.

Ela o recompensou, e a si mesma, com um beijo, longo, sensual e doce. Quando os arrepios e formigamentos brincaram sobre a sua pele, ela foi trilhando beijos até a garganta. Depois peito. Então sua barriga com músculos duros e pele quente.

— O que a escuridão quer agora?

Ele grunhiu. Os músculos de sua mandíbula e barriga ondularam e flexionaram-se.

— Tome-me em sua boca.

Ela acariciou o membro longo e duro com a mão antes, apreciando a textura sedosa e a flagrante necessidade. Com a bochecha na barriga dele, ela olhou-o nos seus olhos. Verdes brilhantes, quase eram engolidos pelos centros negros.

— Concorda, Phineas? Você também deseja que lhe tome em minha boca?

— Sim. — Ele grunhiu, os quadris ficando mais duro em suas mãos.

Sorrindo em aprovação, ela respondeu à necessidade dele, e a dela, primeiro lambendo, depois sugando a ponta arredondada.

— Doce inferno maldito. — A mão dele se enrolou em uma mecha do cabelo úmido dela.

Ela apertou com firmeza sua base e a coxa musculosa com a outra mão. Como ela adorava seu sabor – sal, almíscar e luxúria. Como ela precisava reassegurar o desejo dele por ela. Cada contorção dos quadris dele causava um calor que inflava dentro dela, preenchendo-a como uma nuvem. Vibrava sobre sua pele, corava seus seios, pulsava em seu âmago enquanto ela o provocava fazendo círculo com sua língua e longos puxões com sua boca.

— Basta, Roseira. — Ele rosnou, sua barriga tremendo, a mão em seu cabelo, agarrando e soltando. Agarrando e soltando. — Basta. Preciso estar dentro de você.

Ela lhe deu uma última e prolongada carícia com seus lábios, depois encontrou a mão que se segurava aos lençóis e entrelaçou os dedos com os dele.

— Você ou a escuridão? — Sua própria voz estava rouca pela excitação.

Antes que ela pudesse piscar, ele a puxou ao logo do corpo dele e rolou, até ficar por cima dela, os olhos ferozes e em brasas. Tão rápido quanto, ele separou suas pernas e puxou seus joelhos para as laterais de seus quadris até ela estar totalmente aberta e agradavelmente presa embaixo dele.

— Nós dois. — Ele suspirou. As narinas dele se dilataram. Ele se nivelou à entrada de seu centro, a ponta quente e insistente. — Deixe-me entrar.

Ela segurou o pescoço dele, seus dedos agarrando-se a sua nuca. A necessidade de corresponder era dolorosamente gigantesca, um pulsar ardente. Isso não era meramente fazer amor. Essa era uma demonstração – uma que ela devia completar.

— Deixarei. — Ela sussurrou. — Mas antes, responda-me uma pergunta. A escuridão gosta de saber que você e o único homem que já esteve dentro de mim?

A cabeça dele caiu para frente e apoiou-se em seu ombro. Ele grunhiu e beijou seu pescoço.

— Sim. Maldição, sim.

— Por quê?

— Porque você é minha. Apenas minha.

— De quem sou a mulher?

— Minha.

— Eu pertenço a Phineas.

— Corretíssima.

— Você gosta de ser o primeiro? — Ela beijou a orelha dele. — Você gosta de saber que é o único homem cujos toques me faz desejá-lo até doer?

Os quadris dele se moveram, forçando vários centímetros do grosso e duro Phineas para dentro dela. Desta vez, o grunhido dele foi quase um grito, torturado e oprimido.

Ela remexeu seus quadris, afundando-os no colchão até que ele saísse dela.

— Responda-me.

Ele se apoiou sobre ela, os músculos de seus braços e ombros ondulando uma fina tensão. O rosto dele estava corado, os olhos derretidos. Selvagens.

— Sim. — Cerrou os dentes. — Eu gosto.

Ela deslizou a mão pelo rosto dele. Correu o polegar por seus lábios.

— Então, não é apenas a escuridão.

— Não.

— Você deseja me manter todinha para si mesmo, Phineas?

— Sim.

— Você deseja matar o homem que me ameaça?

— Quero cortá-lo em pedaços e espalhar os pedaços no mar.

Ela envolveu as pernas ao redor dos quadris dele e os braços ao redor do pescoço. Então, colocou os lábios contra os deles e sussurrou:

— Tome-me.

A primeira estocada foi dura e profunda. A segunda, ainda mais dura, a terceira e a quarta, mais ainda, forjando e preenchendo até sua vagina esticar. À medida que seus movimentos aceleravam, a fricção ficava escaldante. Anéis apertados de prazer ondulavam para fora como água. As mãos dele apertaram sua cintura e seguraram seu cabelo, controlando os movimentos dela e deixando-a imóvel para suas investidas furiosas e fortes. Os quadris dele batiam nos dela, seu membro grosso mantinha um ritmo brutal enquanto o peito dele roçava e dava prazer aos seus seios.

Deus, como ela amava este homem.

O mero pensamento deixou tudo o que ele acendera dentro dela ficar em chamas. As chamas cresciam selvagem, subindo, lambendo o céu. Em uma explosão de chuvas de fagulhas e combustão, seu corpo paralisou. Arqueou. Gritando contra a pele de seu pescoço. Ela arranhou as costas e a nuca dele, incapaz de suportar a intensidade. Ela choramingou o nome dele, de novo e de novo, enquanto ele a dominava. Calor e luz. Calor e luz. Calor e luz.

Em consequência, ela sentiu o clímax dele se aproximar - a impossível dureza dos músculos dele, o ritmo urgente de suas estocadas, o calor das vibrações de seus grunhidos no pescoço dela. Acariciando os ombros e as costas, ela apertou as pernas em volta dele, o corpo dela o envolvendo. Ela o segurou com tanta força que conseguia e sussurrou:

— Não é loucura. É você. Toda a escuridão. Toda a racionalidade. Cada parte é você, Phineas. O homem que amo.

A explosão caiu sobre ele repentinamente, dura e devastadora. O nome dela foi um rosnado desesperado. Ele estremeceu, sacudiu e grunhiu enquanto o corpo dele preenchia o dela.

Ela lhe daria o que quer que ele precisasse: sua boca, seu corpo e seu coração. Ela não sabia se seria o bastante. Ela apenas sabia que ele tinha de alguma forma separado sua natureza fundamental em duas partes, e a parte que ele desejava negar era a parte que a amava.

Isso não funcionaria.

Ela o segurou com força, acariciando o cabelo e ombros, beijando a orelha e sussurrando seu amor enquanto ele tomava seu prazer com uma avidez indecorosa.

Ele era dela. Apenas dela. E ela teria tudo dele. O cientista. O marido. A escuridão. O homem.

Agora que ela sabia que ele a queria, Eugenia, não Maureen, e nenhuma outra mulher, ela teria tudo dele, e nada menos serviria.


CAPÍTULO 21

“Pouquíssimas circunstâncias exigem tais medidas extremas. Mas essa, ouso dizer, é uma delas.”

A Marquesa Viúva de Wallingham enquanto dispensava sua mais recente criada, a segunda em um único dia.

A noite chegou cedo graças à tempestade. Sem trovões, mas cheia de vento. Uivou e sacudiu Jonas em rajadas furiosas. Ele tentou se recompor na sela e quase gritou com um lampejo de dor. A chuva o ensopara horas atrás. A umidade diminuiu o calor de sua pele, que latejava e nublava a sua mente. Seu ombro e perna estavam sangrando novamente.

Mas ele estava ali. Por Deus, ele estava ali.

Ele puxou seu cavalo para parar ao lado da fonte do castelo, respirando e piscando enquanto suas próprias mãos oscilavam em sua visão. A chuva cascateava pela aba de seu chapéu. Ele sabia que deveria se mover, mas não lembrava como.

À sua direita ele ouvir o rangido da sela de Drayton enquanto o outro homem desmontava.

— Maldito tolo suicida.

À sua frente, ele assistiu Dunston desmontar e aproximar-se. O elegante conde fez uma careta.

— Espero que isso valha a sua morte, Hawthorn.

Ele abriu a boca para dizer que valia. Ele teria ido mais longe e sofrido mais para salvá-la. Mas nada saiu. Sua garganta estava seca. Seu rosto quente. Lentamente ele piscou.

— Isso doerá. — O alerta de Dunston veio um segundo antes de ele e Drayton arrancarem Jonas de sela. A dor explodiu. Não meramente em seus membros, mas em todo lugar.

Escuridão. Fraqueza. Umidade. Dor, dor e dor.

Dunston que passara seu braço ileso por cima dos ombros dele, segurou Jonas em pé e o arrastou até as portas de madeira. As portas se abriram. Um homem de cabelos brancos fez uma pergunta.

Jonas mal pôde ouvir por causa do vento, da chuva e do latejar em sua cabeça.

O vestíbulo ecoou, mas não havia mais chuva. Apenas mais calor. Outros homens chegaram. Lacaios, ele pensou. Vagamente ouviu Dunston e Drayton conversarem. Dois homens tentaram pegar seu peso.

Ele grunhiu quando a dor irradiou para fora de seu ombro e perna.

— Sr. Hawthorn? — Era a voz dela. Pura e suave como a neve caindo.

Piscando, ele forçou seus olhos a entrarem em foco. Quadrados cinza e branco se recusavam a focar.

— ... aconteceu a ele? — A voz dela era aguda. Ela soava angustiada. — Busque o médico de Lorde Holstoke. Agora. Vá!

Ele piscou novamente. Tentou levantar a cabeça. Cristo, ele estava fraco. Quente e fraco.

O rosto dela apareceu diante dele, mais pálida que o usual, mas ainda mais bonita do que ele lembrava. A testa suave estava enrugada com a preocupação e por medo.

Por ele? Não. Improvável.

Ele precisava dizer-lhe alguma coisa. Como ela era bonita.

Aqueles lábios parecidos com botões de rosas estava se movendo. Dando ordens.

— ... ele lá para cima. O quarto azul. Ele não tem permissão para morrer. — Olhos de luar voltaram-se para ele. As delicadas narinas dilataram-se. — Isso está claro, Sr. Hawthorn? Você não morrerá.

A ordem dela foi a última lembrança por um longo tempo. A coisa seguinte que ele percebeu, ele estava nu e gritando em agonia. Sem som. O grito estava em sua cabeça. A luz do fogo iluminava as paredes azuis. O calor pulsava. Ele forçou seus olhos a se abrirem.

Viu-a. Manchas escuras marcavam a pele embaixo dos olhos de luar verdes. Tufos de meia-noite enrolavam-se nas bochechas brancas cremosas. Ela estava sentada ao lado de sua cama, as mãos cruzadas e retorcidas.

— Mantenha-o vivo, Phineas. — Veio a voz calma e suave dela. — Faça o que deve ser feito.

Alguém derramou uma bebida fermentada e amarga em sua garganta. Ele engasgou e lutou, mas não teve sucesso. Então veio a dor como nunca sentira antes. Desta vez, o seu grito foi real, cortando sua garganta, ecoando pelas paredes azuis.

O quarto ficou escuro. Quando a luz voltou, ela estava ali. Olhos de luar estavam rodeados de vermelho, encarando o fogo. Ela se balançava para frente e para trás na cadeira, como se precisasse de conforto. Ele tentou esticar o braço em direção a ela, mas ele pesava doze toneladas.

Ele estava quente. Malditamente quente e sedento. Sua cabeça latejava. Inferno, latejava em todos lugares. Ele queria falar, mas conseguiu apenas um resmungo.

O olhar dela voou em sua direção. Ela se levantou e se aproximou, suas mãos continuavam se retorcendo na cintura até os nós dos dedos ficarem brancos.

— Descanse. — Ela advertiu. — Você já fez dano o bastante a si mesmo.

— P-Perigo. — Ele disse, sua respiração curta em uma única palavra.

— Eu sei. — Ela respondeu com uma carranca feroz. — Lorde Dunston nos informou sobre suas descobertas. O que não entendo é porque você empreendeu está viagem tola após ser... alvejado. — Os lábios dela ficaram apertados e brancos. Brevemente, ela fechou os olhos. — Poderia ter morrido.

— Ele está aqui. — Jonas ofegou. Juntou força. — Então, eu devia estar aqui.

Ela se afastou, os ombros tremendo com a agitação. Ele a observou se retrair e lutou para focar quando ela entrou nas sombras no canto do quarto.

— O... o esboço. — Ele ofegou.

— Arruinado. — Ela disse com calma, mantendo as costas para ele. — Seu s-sangue o ensopou.

Ele fechou os olhos. Droga. Ele teria que desenhar o canalha novamente quando conseguisse mexer as mãos.

Ela se virou. Deslizou em sua direção. Parou ao lado da cama com uma compostura perfeita.

— Descanse, Sr. Hawthorn. Meu irmão e Lorde Dunston garantirão a nossa segurança.

— A sua segurança. — Ele disse, as palavras eram quase um resmungo chacoalhando em sua garganta seca.

As piscadas dela ficaram mais rápidas, assim como sua respiração. Aquelas mãos delicadas e elegantes se entrelaçaram até ele não aguentar mais ver a angustia dela.

Forçou seus músculos a reagir. Esticou o braço. Pegou as mãos dela. Estava tremendo quando seus dedos roçaram os dela.

Como se a tivesse queimado, ela estremeceu violentamente e recuou vários passos. Cruzou os braços na altura da barriga, afastando as suas mãos. Os olhos dela se arregalaram como os de uma lebre quando encurralada por um caçador. Os seios dela subiam e desciam um pânico.

O braço dele caiu sobre o lençol. Ele não conseguiria mantê-lo levantando por mais tempo e ela, obviamente, não queria suas mãos repugnantes sobre ela.

Mulher arrogante, extraordinária, inesquecível.

No silêncio a dor diminuiu. Seus pensamentos ficaram mais pesados e lentos, como se seu corpo flutuasse sobre a cama.

Logo ele deixou seus olhos se fecharem, mas ele ainda era capaz de senti-la, fria como um lago no inverno. Tão malditamente bonita, ela era tanto dor quanto prazer. Calor e gelo. Força de vontade e fragilidade.

A escuridão penetrou. Ele deslizou em direção a ela com prazer, a dormência revestindo a dor. Enquanto ela o encobria, ele imaginou sentir cócegas sobre seus lábios. Delírio, provavelmente. A febre ou o láudano. Mas parecia real.

Então, um sussurro, suave e dolorosamente doce.

— Descanse agora, Jonas Hawthorn. — Disse. — Eu não sou fácil de matar.


CAPÍTULO 22

“A praia em um dia claro é um ótimo lugar para passear, Humphrey. Em um dia chuvoso, entretanto, é apenas um bom lugar para se afogar.”

A Marquesa Viúva de Wallingham a seu fiel companheiro, Humphrey, em resposta à sua preferência por praias, passeios e chuvas.

A quarta pluma era o ingrediente chave, Genie tinha certeza disso. Ela esboçou o acréscimo. Semicerrou os olhos. Franziu o nariz.

Droga. Agora o chapéu parecia bobo.

Suspirando, ela fechou seu caderno de desenhos, agarrando-o ao peito e olhando pela janela da biblioteca. Cinco dias após a tempestade, a chuva continuava a piorar. Para onde fora o verão? Foi levado em direção a um condado diferente de Dorsetshire, isso era certo.

Ela odiava ficar presa. O tédio a engolia, grossa como lama. Claro, ela não teria ficado entediada se Phineas e Hannah estivessem disponíveis. Especialmente Phineas. Ela suspirou e estremeceu recordando como não fora entediante a noite passada.

Mas Phineas estava passando os dias investigando. Após a chegada de Dunston e do Sr. Drayton, assim com o quase morto Sr. Hawthorn, Phineas voltara todo seu considerável foco sobre a busca do envenenador. Ele posicionara homens em cada entrada do castelo. Ele insistira que Genie e Hannah deviam ficar dentro. Junto com Dunston e o Sr. Drayton, ele visitara Bridport para interrogar os lojistas, os cocheiros dos correios e proprietários de casas públicas, pousadas e tavernas.

Dia após dia, Phineas ficava mais sombrio e silencioso. Todos eles esperavam o Sr. Hawthorn acordar. Hannah mal saía de perto do homem em cinco dias. Eugenia havia levado a Hannah o jantar todos os dias, sentando-se com ela por várias horas e conversando, principalmente sozinha. Como Phineas, Hannah se retirava ao silêncio e um foco implacável em uma única tarefa: manter o Sr. Hawthorn vivo pela força de vontade.

Várias vezes, quando o Sr. Hawthorn ficava inquieto, Genie notava que Hannah se inclinava, como se desejasse tocá-lo. O coração de Genie doía por sua cunhada, que parecia desolada e partida.

Em Londres, o cirurgião de Dunston havia removido as flechas que perfuraram o Sr. Hawthorn antes de fechar as feridas. De acordo com Dunston, o cirurgião fora pessimista mesmo antes de o Sr. Hawthorn ter insistido em viajar de Londres a Dorsetshire a cavalo. O médico de Phineas também duvidava das chances do agente de Bow Street.

— Tolo louco e apaixonado. — Dunston murmurou, balançando a cabeça. Genie tinha dado uma cotovelada nele e apontado que se Maureen estivesse em perigo, ele teria feito tolices iguais. — Talvez. — Ele admitiu. — Pirralha.

Ela virou os olhos e estalou a língua.

Então ele a envolveu em um abraço apertado e lhe disse que a manteria em segurança, já que Maureen nunca o perdoaria se ele não o fizesse. Genie não se sentiu desconfortável até aquele momento. Henry Thorpe raramente falava assim.

Levantando-se da mesa, Genie vagou até a janela e olhou para o jardim afundado. A fonte de Netuno jorrava alto no ar. Ela franziu o cenho, a curiosidade aguçada. Apoiando seu caderno sobre a mesa, foi buscar respostas. Normalmente, Genie preferia criar a ler, mas após subir a escada em espiral para o segundo nível da biblioteca, ela achou um livro com respostas e ilustrações. Genie gostava de ilustrações. Ela traçou o dedo suavemente sobre as penas requintadas e o bico orgulhoso, a musculatura feroz e garras afiadas. Ela sentou-se no chão, pôs o livro sobre o colo e leu como se fosse o Sr. Moody ou sua irmã Jane; com completa absorção.

Consequentemente ela não sabia dizer quanto tempo ficou sentada antes de vozes no corredor atrair a sua atenção. Era Hannah e Phineas...discutindo? Genie fechou o livro e franziu o cenho. Sim. O tom de Hannah era estridente, o de Phineas exasperado. Rapidamente Genie deslizou o livro na estante antes de descer correndo a escada circular e sair ao corredor.

Hannah estava tremendo, agarrando papéis em seus punhos e olhando para o irmão com alguma coisa próxima à fúria.

— Você está exausta. — Phineas tolamente observou. — Talvez um dos meus chás possa ajudar. Valeriana officinalis tem um distinto efeito calmante, particularmente para mulheres sofrendo...desconforto prematuro.

Genie quase rosnou. Normalmente ela era quem recebia a enlouquecedora besteira masculina de Phineas. Vê-lo tratar sua irmã com similar desnorteamento quase a deixava aliviada, se não fosse por Hannah. Ela observou os olhos da moça arregalarem.

Oh, Deus.

— Maldição, Phineas! Eu não serei descartada com presunções idiotas e chá de valeriana.

Talvez Genie devesse intervir. Ela pigarreou. Os dois a ignoraram.

— Eu já expliquei a lista a Eugenia.

— Mas você não lhe pediu perdão.

Phineas fez uma cara feia.

— Nós já discutimos o assunto dias atrás e o assunto foi resolvido. Agora, se simplesmente me der os papéis para eu...

Hannah afastou a mão.

— Os chapéus dela não são absurdos!

Ele esfregou o pescoço.

— Hannah.

— E ela pode ser grosseira, mas ela é honesta e verdadeira.

— Eu não preciso que me fale sobre a minha mulher.

Hannah balançou os papéis perto do queixo dele.

— Isso diz o contrário!

O coração de Genie se torceu. Hannah a defendia. Como uma amiga faria. Ou uma irmã.

— Dê-me a lista e eu queimarei a maldita coisa. — Phineas disse.

— Esta não é a solução. Você deve se desculpar.

Ele piscou.

— Eu o fiz.

Finalmente um deles notou Genie. Hannah virou-se para ela com os olhos vermelhos.

— Ele o fez?

Genie hesitou antes de responder.

— Ele me explicou porque a escreveu.

Phineas suspirou.

— Viu? Sua reação exagerada é completamente desnecessária...

— Mas ele não se desculpou. — Genie terminou. — Não com estas palavras.

Hannah assentiu e se aproximou de Genie, estendendo-lhe os papéis amassados com uma mão trêmula.

— Como eu pensei. Ele deveria, Eugenia. Isso é o mínimo que merece.

Genie pegou a lista, mas ela segurou também os dedos de Hannah. Eles estavam frios e trêmulos.

— Obrigada, minha querida. — Ela apertou e sorriu. — Como está o Sr. Hawthorn?

As narinas de Hannah inflaram. Os lábios ficaram tão brancos quanto a pele dela.

— Ele...ele ainda não acordou. O médico está com ele agora. Ele diz que se a febre não baixar logo, ele provavelmente...

Genie avaliou o cabelo desgrenhado de sua cunhada e seu vestido amassado. Hannah estava mais despenteada do que ela já vira.

— Você já comeu?

Hannah balançou a cabeça, os olhos atordoados. A moça esguia começava a desmanchar de exaustação.

Gentilmente, Genie a puxou para perto e segurou seu cotovelo.

— Bem, esse é o problema. Tudo melhora com uma boa refeição.

Um pequeno bufo.

— Você sempre diz isso.

— Apenas porque é verdade.

Suspirando, Hannah alisou os fios negros que caiam ao longo de seu rosto. Então olhou para baixo, para sua saia de musselina com raminhos verdes, a que usava há dois dias.

— Talvez um banho também.

Genie deu um “humm” não comprometedor e empurrou sua cunhada – não, sua irmã – em direção à criada pessoal dela, que pairava discretamente atrás de uma urna nos últimos minutos.

— Vá com Claudette, agora. Coma. Descanse. Deixe o médico fazer o trabalho dele. Eu conversarei com Phineas.

Hannah assentiu e partiu.

— Malditamente não compreendo.

Diante da reclamação murmurada de seu marido, Genie se virou.

— Qual parte?

— Qualquer uma.

Ela parou. Ouviu. Sorriu.

— A chuva parou.

— Ela mal conhece Hawthorn. Eles conversaram um bocado de vezes. Ela está se comportando como se a morte dele pudesse...

— Phineas. Vamos dar uma volta juntos.

Ele olhou feio para ela, a mancha ao redor dos seus olhos e testa sinalizavam sua frustração.

— Devo voltar às minhas pesquisas.

Ela enlaçou o braço ao redor do dele e o puxou em direção ao vestíbulo, parando para recolher o bonnet, que ela deixara na mesa do lado de fora da biblioteca.

— Não. Você precisa passear comigo. Preciso escapar deste castelo.

Ele a deixou levá-lo para fora, embora relutante.

— Para onde iremos?

— À praia.

Ele suspirou impacientemente.

— Dê-me a lista.

Ela enfiou o quadrado dobrado em sua longa manga.

— Não.

— Maldição, mulher.

Arqueando uma sobrancelha ela atou as fitas de seu bonnet embaixo do queixo e o puxou pela fonte da entrada do castelo.

— Nós temos assuntos a discutir.

— Eu não quero discutir. Nem quero andar até a praia. Apreciaria, entretanto, levá-la para a cama.

— Talvez mais tarde.

As narinas dele dilataram-se.

— Dê-me a lista, Eugênia.

— Não.

— Quero queimá-la.

— Às vezes, o que queremos não é o que deve ser.

Ele ficou calado, mas continuou andando. Eles atravessaram os jardins sul ao longo do túnel de uvas e saíram onde a grama molhada crescia alta na falésia. Phineas segurou a cintura de Genie enquanto ela descia a trilha do penhasco. Embora desgastada pela chuva e vento, ela fora esculpida alternando encosta e degraus que serpenteavam a face do penhasco até Primvale Cove. O vento a golpeou levando suas saias para o meio de suas pernas. Mas Phineas sempre estava ali, suas mãos a equilibrando e seus passou firmes levando-a em segurança.

Ela apoiou a mão contra e pedra quando uma brisa úmida fez suas saias enrolarem e diminuírem seus passos.

— A primeira vez que visitei a praia. — Ela começou acenando um agradecimento pela ajuda dele em um ponto escorregadio. — Pensei que deve ter levado anos para esses degraus serem esculpidos.

— E levaram. — Ele respondeu. — Antes o caminho era de fato traiçoeiro.

Ela estacou. Eles caminharam, talvez, dois terços do caminho para baixo. Segurando o braço dele, ela suspirou e olhou para o Canal, brilhando cinza sob o céu nublado.

— Tão belo.

— Sim.

Ela olhou para cima e encontrou os olhos dele sobre ela, queimando intensamente. Ela engoliu em seco. Sentiu as bochechas queimarem. Forçou-se a ficar no caminho que ela estabelecera para eles. Quando finalmente chegou à praia, ela correu em direção à margem e girou, rindo.

— Como poderia qualquer lugar ser mais esplêndido do que esse, Phineas? — Ela gritou acima do bater das ondas.

Ele não respondeu, apenas olhou-a, sem sorrir.

Ela tirou seu bonnet. Soltou os cabelos dos grampos. Estendeu os braços para os lados e girou, erguendo o rosto para o céu.

— O que está fazendo, Roseira? — Sua voz estava mais perto agora.

— Espojando-me, Phineas. Estou me espojando.

— Não poderia se espojar na minha cama?

Ela parou. Riu sem fôlego. Olhou para seu marido.

Ele não estava rindo, nem mesmo sorrindo. Em vez disso, parecia faminto. Perdido.

— Eu te amo. — Ela disse em voz baixa.

A testa dela franziu de um jeito que parecia dor. Ainda assim, ele não disse nada.

Ela cruzou a areia suave e pedras redondas tirando longas mechas de cabelo do rosto. Quando parou a centímetros do marido, viu a batalha que ele travava. Sentiu o tumulto brilhando em seus gloriosos olhos pálidos.

— Eu te amo. — Ela disse novamente.

O peito dele estremeceu, os olhos pareciam desesperados.

— Todas suas partes.

Ele virou o olhar para a água.

— Não deveria.

— Por quê?

Mais uma vez ele ficou em silêncio, sua mandíbula apertada.

Suspirando, ela segurou a mão dele e o puxou para onde as ondas arranhavam a areia.

— Eu li um bocado hoje cedo. — Ela deu uma risadinha. — Eu sei. Eu sei. Um pouco incomum para mim, mas estava curiosa sobre algo. — Ela balançou a mão dele. — Pergunte-me sobre o quê.

— Sobre o que estava tão curiosa?

— Grifos.

Ele congelou. Ficou imóvel. A mão ficou frouxa entre a dela, mas ela se recusou a soltá-lo.

— Você sabe o que eles são?

A respiração dele acelerou. Os longos músculos do pescoço pareciam cordas. Ele piscou-lhe como se ela tivesse plantando seu punho em seu estômago.

— A águia e o leão, as duas raças mais nobres, unidas em uma criatura extraordinária.

— Pare, Roseira. — Suas palavras ficaram perdidas, levadas pelo vento.

Mas ela as ouviu.

— Grifos são protetores. — Ela continuou. — Ferozes e corajosos. Melhor não os desafiar, pois eles matarão selvagemente àqueles que tentarem machucar qualquer coisa ou qualquer um que lhes importe.

Um olhar atormentado foi sua resposta.

— Eles também se acasalam para o resto da vida, ou assim diz a lenda. — Ela sorriu e o puxou para ela, alinhando seus antebraços e pulsos enquanto entrelaçava os dedos nos dele.

— Eu gostei especialmente deste pedaço.

A água molhava os pés deles, encharcando os sapatos dela. Genie não se importou. O seu marido precisava parar de lutar consigo mesmo. Isso o estava rasgando.

Ela fixou os olhos nos dele, recusando-se a abandoná-los.

— Você apagou todos os vestígios dela, Phineas. Os jardins. As paredes de seda azul. Mas não a fonte. — Ela inclinou a cabeça. — Por que isso?

— Eu deveria tê-la impedido.

Ela esperou.

— Eu deveria ter visto o que ela era e tê-la impedido.

— Mas você viu isso.

Ele balançou a cabeça, claramente confuso.

— Você queria que ela morresse. Não foi isso o que me disse? Tanto tempo, quanto se lembra. Isso quer dizer que, mesmo quando criança, sentiu o mau dentro dela.

— Não. Eu...eu a odiava.

— Claro que odiava. Você é um protetor, Phineas. Essa é a sua natureza. Os protetores não conseguem suportar ameaças em seu meio.

— Como pode falar sobre a minha natureza com tanta certeza? Você não tem ideia da escuridão dentro de mim.

A dor dele a rasgou. Ela levou a mão dele aos seus lábios, beijando os nós dos dedos e acariciando seu braço, dando-lhe o conforto que podia.

— Eu duvido da minha própria insanidade, Roseira. — A confissão sussurrada quebrou o coração dela.

— Nunca duvide disso. — Ela disse ferozmente. — Você me perguntou como posso ter certeza sobre você. A resposta é que eu o conheço desde o início. O que acha que eu quero dizer quando me refiro a sua natureza peculiar?

Ele olhou feio e piscou.

— Meus interesses em plantas, suponho.

Ela bufou.

— Lorde Gilforth tem interesse em plantas. Assim como Maureen.

— Então, o que quer dizer?

Ela esticou a mão para acariciar o queixo dele, unindo seus pensamentos antes de explicar.

— Você tem duas partes em um homem. A primeira parte é a cabeça: Claramente da visão, precisão e foco. Essa é a parte que prefere mostrar ao mundo. — Ela pousou a mão sobre o peito dele. — Mas há uma parte, meu amor. A sua parte coração. A protetora. A guerreira. Aquela que reconhece o mau e anseia por sua morte.

— A escuridão.

Ela sorriu. Acariciou o peito dele com sua mão.

— Sim.

— Ela não é civilizada.

— Nem um pouco.

— Irracional.

— Oh, sim. — Seu sorriso aumentou. — E ela...não. Você é magnífico.

Por longos minutos, ele a encarou. Depois a mandíbula suavizou o aperto. O pescoço lentamente relaxou. Ele suspirou, longa e profundamente.

— Quando era criança, eu vinha frequentemente aqui. — Ele virou o rosto além dela, em direção à uma pedra grande arqueada no mar como um dragão bebendo água. — Ela exigia que eu ficasse fora de sua vista quando meu pai estava fora. — Os deles dele apertaram onde estavam entrelaçados com os dela. — Eu sonhei com a morte dela de novo e de novo. Eu sonhava ser o grifo. Rasgando a serpente e jogando-a ao mar.

— Tais sonhos assustariam qualquer um, quanto mais um menino. Mas ela merecia esse destino, Phineas. O que acha que é escuridão é apenas o seu instinto.

— Eu deveria ser capaz de controlá-la.

— Você a controla. Ela é você, pelo amor de Deus. — Ela estalou a língua. — Se parasse de tentar com tanta força negar a sua própria natureza, poderia descobrir que os instintos lhe servem muito bem. — Ela fungou. — Certamente tem servido a mim.

— Você.

— De fato. O que acredita que me levou até você?

— Isso também a levou a fazer experiências com um maldito lacaio.

Ela sacudiu a cabeça.

— Isso não foi instinto. É precisamente o que estou lhe alertando.

— Como assim?

— Eu neguei a minha própria natureza. Todos esperam que a filha de um conde na idade de dezenove anos faça sua apresentação, tenha uma temporada, dance, faça bonitos elogios e pense com propriedade. — Ela rolou os olhos. — Isso se parece comigo?

Sua boca se repuxou.

— Não. Bem, talvez dançar.

— Eu tentei desesperadamente ser o que todos esperavam. Outra garota Huxley que se casa bem e se estabelece na benção doméstica. Mas eu nunca fui igual a Annabelle ou Jane.

— Ou Maureen. — Ele disse suavemente, seu polegar acariciando as costas da mão dela.

Ela fungou e ergueu o queixo.

— Exatamente. Eu era diferente. E, em vez de permanecer firme nesta ideia, como deveria ter feito, eu nivelei a minha vida como a delas. Este foi o meu erro. O escândalo foi simplesmente a consequência.

Os olhos dele ficaram curiosos.

— O que teria feito de diferente, se pudesse?

Ela deu de ombros.

— O que estava fazendo quando o pobre pug de Lady Randall comeu o seu chapéu.

Ele franziu o cenho.

— Trabalhar?

— Aprendendo. Descobrindo como administrar uma loja por conta própria. — Ela se aproximou, alinhando seus corpos, assim ela poderia sentir o calor dele. — Agora, é a sua vez. O que teria feito de diferente?

Olhos verdes pálidos se acenderam.

— Eu nunca teria escrito esta maldita lista.

Ela o soltou para pegar a lista de sua manga.

— Você quer dizer, esta aqui?

— Droga. — O nariz dele dilatou-se ao ver o papel. — Sinto muito, Roseira. O pensamento de como eu a magoei, maldito inferno, é uma agonia. Por favor, perdoe-me.

— Oh, já perdoei.

— Perdoou?

— Sim. Sou uma mulher muito generosa. Eu deveria ter mencionado isso antes. — Ela balançou o papel dobrado. — Agora, então, quando escreveu esta lista, qual era o objetivo?

Um vinco na testa.

— Controlar a escuridão.

— Isso! — Ela bateu no peito dele com a lista. — Percebe? É precisamente isso!

Ele balançou a cabeça confuso.

— A tentativa de sufocar a sua verdadeira natureza o fez agir de uma forma que o levou a lamentar-se.

— Mas eu devo controlá-la. Se não o fizer, nunca sairá da minha cama. — Ele pareceu genuinamente confuso, o motivo pela qual a gargalhada dela começou. — Estou falando sério.

Ela segurou a barriga e tentou parar, mas não conseguia.

— Eugenia. Sobre o que diabos está rindo?

— De você. — Ela ofegou, secando uma lágrima. Deu várias respirações profundas e soltou uma risadinha final. — É como se estivesse dizendo: “por causa da minha fome, deverei comer um presunto inteiro de uma vez.” O que pode soar adorável, mas uma pessoa sensata sabe como administrar tais impulsos, assim, a pessoa não vomita à mesa de jantar.

— Você certamente não tem ideia de quanto eu lhe quero.

Ela estalou a língua em desaprovação.

— Que bobagem.

— Ou a extensão a qual iria para mantê-la só para mim.

Ela apoiou as mãos nos quadris.

— Tais como?

— No dia anterior ao nosso casamento, eu reorganizei toda a equipe masculina de Primvale.

Ela piscou, recordando a menção de Hannah a tal medida.

— Você...você fez isso por...

Ele assentiu.

Ela arregalou os olhos. Oh, Deus.

— Você contratou criados feios por minha causa?

— Não, eu realoquei de outras propriedades. Eu tenho muitas.

— Criadagem?

— Propriedades.

— Humm. — Ela estreitou os olhos sobre ele. — E você escolheu homens feios por qual propósito?

Ele ficou distintamente desconfortável.

— Para manter os seus olhos ao local a que eles pertencem.

Ela ergueu uma sobrancelha.

— Sobre o seu marido.

— O qual, para esclarecer, é você.

A intensidade que ela via nos olhos dele quando faziam amor, brilhou ali agora.

— Sim. — Ele falou entre os dentes. — E você é minha.

Lentamente, o sorriso dela começou. Então ficou maior.

— Bem, tudo isso é muito primitivo, não? — Ela caminhou até ele, seus pés afundando na areia molhada. — Você é um homem muito possessivo, Lorde Holstoke.

— Apenas com você.

— E eu reservo os meus olhares luxuriosos apenas para você, então me cercar de homens feios, foi quase desnecessário, não diria?

Ele assentiu, os olhos eram uma mistura extraordinária de calor e posse.

Ela balançou a lista perto do peito dele.

— O que gostaria de fazer com isso?

Sua resposta veio profunda, dura e sem hesitação.

— Rasgar em pedaços.

O sorriso dela ficou mais largo.

— E?

— Atirá-la ao mar.

Ela levantou o papel em sua palma.

— Então faça isso, Phineas.

Ele piscou. Uma batida do coração depois, ele pegou as páginas e as rasgou em pedaços. Depois, ele caminhou para o fundo, para as ondas e jogou os pequenos pedaços na água. Os ombros dele estavam pesados no fim. Talvez de frio. Talvez por ele ter tomado uma decisão.

Ela sentiu aquilo. Viu a mudança nos olhos dele. Ela andou até as ondas e parou ao seu lado enlaçando os dedos com os dele.

— Muito bem, meu querido.

O peito dele pesou várias vezes.

— É impossível para mim explicar o quanto eu a amo, Roseira. — Ele olhou para ela, os olhos incendiando. — Impossível.

Ela sorriu para ele com todo o amor que brilhava dentro dela, um sol inteiro queimando forte e quente.

— Então você simplesmente terá que oferecer evidências até que eu seja totalmente convencida. Um homem da ciência não faria menos.

A onda seguinte atingiu os joelhos dela enquanto ele segurava seu rosto e a beijava com uma ternura maravilhosa. Talvez fosse esse o motivo pelo qual ela mal pôde ficar de pé quando ele terminou. Ou talvez fosse ele, Phineas, e seus lábios fascinantes.

— Levá-la-ei para a cama agora. — Ele sussurrou.

Incapaz de falar, ela assentiu. Subitamente ele se abaixou e a ergueu acima das ondas antes de caminhar rapidamente em direção ao penhasco, as saias pingando água do mar. Ela estava rindo e lhe dizendo para pô-la no chão, que não seria possível ele carregá-la todo o caminho trilha acima, quando algo chamou a sua atenção. Uma sombra entre a grama no topo do penhasco. Parecia um homem, alto e magro, segurando alguma coisa longa, fina e curva.

— Phineas?

Ele franziu o cenho diante do tom dela e a pôs de pé.

Ela piscou. E a figura sumiu.

Ele olhou para cima, na direção que ela olhava fixamente.

— O que foi?

Um calafrio se instalou.

— N-nada, eu acho. Apenas uma sombra. Talvez um dos jardineiros.

A mandíbula de Phineas se endureceu. Ele pegou a mão dela e a puxou encosta acima. Quando terminaram a longa escalada até o topo, as saias e sapatos úmidos de Genie haviam acabado com qualquer calor que sentira nos braços de Phineas. Ele a puxou rapidamente pela grama alta, mas quando eles passaram pelo ponto onde ela vira a sombra, ela não conseguiu evitar puxá-lo para uma parada.

— Foi aqui que o viu? — Phineas perguntou calmamente.

— Sim. — Não havia nada além de grama agora.

Phineas foi examinar o ponto.

— Sem pegadas na lama. — Ele notou. — Sem grama pisoteada.

Ela franziu a testa. Ela imaginara?

— Talvez tenha sido simplesmente uma sombra estranha. A brisa às vezes move a grama de maneira estranha.

— Venha, amor. — Ele disse voltando ao lado dela e lhe oferecendo sua mão. — Vamos retornar ao castelo e deixá-la quente e seca.

Ela olhou ao seu marido cujos olhos e mãos continuavam firmes. Fortes. E ela soube, o que quer que ela tivesse visto – um jardineiro, o envenenador ou uma sombra – Phineas a protegeria. Ele protegeria tudo o que considerasse dele.

Lentamente o seu sorriso voltou. Ela pegou a mão dele.

— Paredes e uma cama, hein?

— Principalmente uma cama.

Ela se esticou nas pontas dos pés para beijar seu magnífico grifo, demorando um longo e doce tempo.

— Com uma oferta tão tentadora, como posso recusar?


CAPÍTULO 23

“Como previamente notei, maridos requerem uma mão cuidadosa. Mas se a esposa faz seu trabalho com diligência e inteligência, um homem pode encontrar a si mesmo sendo refeito pelas mãos dela ante de perceber que ela removeu as luvas.”

A Marquesa Viúva de Wallingham para Lady Katherine Huxley em um almoço semanal cheio de conselhos sonoros e inteligência feminina.

Do outro lado do quarto, Phineas examinou a forma nua de Eugenia. Ela dormia com a barriga para baixo no meio dos lençóis amassados, ombros pálidos e a curva da coluna nua e iluminada pelo sol. Seus quadris perturbadores estavam cobertos por seda prata e veludo verde. Um pé pequeno saia de baixo do cobertor.

Seu coração ainda estava em carne viva. No dia anterior, quando ela o levou à praia, ele pensou que enlouqueceria, apesar das garantias dele do contrário. Com sua teimosia usual, ela se recusou a aceitar a conclusão dele. Em vez disso, ela sistematicamente o abrira e o forçara a se auto avaliar mais profundamente.

Talvez tenha sido o cenário, a persistência de Eugenia ou a anomalia de discutir com Hannah, mas quando ele ficou de pé na margem do mar com a mulher que amava, ele sentiu como se o tempo tivesse revertido. Novamente se viu um menino, sentado entre a areia, pedras e água, tentando prender a escuridão dentro de caixas. Mas desta vez, ele não estava sozinho. Eugenia estava ali, assegurando-lhe que não havia necessidade de caixas, porque a escuridão não era fraqueza, mas força. Sua força.

Ele era um protetor, ela dissera. Era sua natureza, assim como a natureza das folhas procurarem o sol, água para limpar, raízes para ancorar e ramificar. A natureza tinha padrões. O dele fora definido há muito tempo.

Ele se abaixou e depositou um beijo sobre a bochecha dela, perto do ponto onde seu cabelo fora arrancado. Sua pele já estava se curando. O cabelo cresceria. Ele beijou o ombro e saboreou o calor suave dela contra seus lábios. Sua preciosa mulher.

Sim, ele era um protetor. Ele sentia o conhecimento surgir dentro dele agora, como aço até o seu âmago. O que quer que acontecesse, ele a manteria em segurança. Esse era o motivo pelo qual nascera.

Ele fez uma última carícia, na brilhante seda cor de mogno e depois se forçou a deixar o quarto. No andar de baixo, na sala de desjejum, ele encontrou Dunston e Drayton comendo ovos cozidos e discutindo a averiguação de Drayton ao penhasco.

— Sem sinais de um homem. — Drayton disse após cumprimentar Phineas. — Todos os jardineiros dizem que não estavam perto do penhasco quando você e Lady Holstoke foram à praia. — Drayton deu outra mordida, engoliu e continuou. — Tem certeza do que ela viu, milorde?

— Sim. — Phineas respondeu sem hesitar. — Minha esposa viu um homem. Não tenho dúvidas sobre isso.

Drayton meramente assentiu, mas Dunston lançou um olhar irônico a Phineas.

— Eugenia é conhecida por cometer erros de tempos em tempos, Holstoke.

Phineas balançou a cabeça.

— Não neste caso. Ela não é o tipo fantasiosa e seus instintos são sólidos.

O sorriso de Dunston era aprovador.

— Então, esse é você escravo do amor, hein, velho camarada?

Assentindo, Phineas bebeu seu chá e sorriu de volta.

— Bom. — Os olhos de Dunston ficaram sérios. — Cuide dela.

— Cuidarei. — Mais uma vez, ele sentiu a certeza de suas palavras, como elas ressonavam através dele como música.

— Agora, então. — Dunston continuou. — O canalha deve estar perto. Onde não procuramos?

— Há cavernas nas redondezas? — Perguntou Drayton.

Phineas balançou a cabeça.

— Nenhum que eu já não tenha procurado.

Na verdade, eles procuraram em todos os lugares, na propriedade inteira de Primvale, nas cabanas e fazendas ao redor, nas duas vilas a uma caminhada de distância, pousadas e pensões em Bridport. Eles não encontraram nenhuma pista do envenenador, mesmo com a descrição de Dunston do homem, recolhida do esboço de Hawthorn.

Phineas olhou para o seu chá. Viu alguns pedaços de ervas – erva-doce, menta e tanaceto – flutuando na superfície. Ele havia formulado o chá para tratar das dores de cabeça que o atormentava desde os dezesseis anos. A dor alarmante, cegueira parcial e a enxaqueca haviam, em parte, incentivando-o a pesquisar aplicações medicinais das plantas, então, de certo modo, elas o levaram por um caminho que ele não teria seguido de outra forma. Mas as plantas, por si só o intrigava. Elas sempre o fizeram.

Agora, enquanto considerava tudo o que ele descobrira sobre o envenenador, perguntava-se se eles estavam fazendo tudo errado.

O envenenador também tinha uma motivação. Uma natureza. Seus ataques estavam centrados em Phineas, mas o próprio Phineas não era o alvo. Pelo contrário, parecia que o envenenador queria a sua admiração. O porquê, ele não sabia. Todas as vítimas tinham uma conexão com Phineas, exceção a prostituta. E a morte dela havia sido violenta afinal. Ela se parecia com Hannah, que havia sido odiada e caçada por anos por Lydia Brand e era a pessoa que parou Lydia para sempre com um único tiro.

Phineas franziu o cenho. O padrão do envenenador parecia levar a uma direção, como as folhas que cresciam em direção ao sol. Levava a Phineas, sim. Mas sua natureza era melhor alinhada com a mãe dele. Ele olhou para o lado de sua xícara. Flores e vinho. Caules crescendo na mesma direção. Plantas parecidas. Padrões parecidos. A resposta surgiu dentro dele como se estivesse esperando ali, guardada em uma caixa que agora era aberta.

— Ele está em Weymouth. — Phineas murmurou, a certeza ressonando nele como música. Ele ergueu os olhos para encontrar os de Dunston que agora estava alerta e duro. — Ele ia querer estar onde ela viveu antes de ser morta. Não aqui em Primvale, mas na casa dela em Weymouth.

Dunston não perguntou se ele tinha certeza. Ele levantou-se da cadeira, bateu nos ombros de Phineas e disse:

— Pedirei a Walters para preparar nossas montarias. Se tiver uma pistola, Holstoke, sugiro que traga com você.

— Eu prefiro espadas.

Dunston sorriu. Um brilho de entusiasmo em seus olhos.

— Decerto, um bom caçador deveria usar a arma que melhor lhe serve.

Eles saíram de Primvale quando o sol da manhã pintava a grama molhada com luz amarela. Antes de partirem, Phineas assegurou-se que os homens de Dunston permanecessem em guarda, enquanto eles estivessem fora e enviou Ross para informar Eugenia sobre os planos deles.

Weymouth, uma cidade litorânea era o local preferido para refúgio de verão de reis e lordes, ficando a trinta e dois quilômetros a oeste. Cavalgando duro, eles chegaram à antiga residência de sua mãe em menos de duas horas. A casa de Lydia Brand ficava no final de uma fileira de elegantes casas com terraços ao longo da Weymouth Bay. Tinha vários andares, brancos e simétricos, com um jardim de dois lados cercado por um muro alto de tijolos. Ele manteve a casa por um ano após a morte dela. Depois, vendera a um barão que usava para a amante. Phineas não sabia quem possuía a casa agora, mas quando eles estavam à duas casas de distância, ele viu que ela era mal mantida. A pintura da porta estava descascando, o portão de ferro de cada lado da entrada estava enferrujado, a grama estava alta ao redor das paredes do jardim.

— Parece vazia, milorde. — Drayton notou, esfregando a coxa como se ela doesse. — Alguma ideia de quantos podem morar aí?

— Não. — Phineas desmontou e depois se aproximou ao redor do cabo de sua espada. Ela cabia em sua mão tão perfeitamente quanto as curvas da cintura de Eugenia. A lâmina longa e fina caía ao longo de sua coxa, passando de seu joelho. — Talvez ninguém more.

Eles pagaram a um rapaz para cuidar de seus cavalos e depois avançaram para a casa de três direções: Drayton pela entrada lateral mais baixa, Dunston pela porta da frente e Phineas pelo portão do jardim.

Phineas bateu na aldrava enferrujada do velho portão de ferro com uma pedra, depois o abriu lentamente, estremecendo com o ruído das dobradiças. Olhou para a esquerda e para a direita antes de entrar, observando os vasos de tijolos transbordando de folhagem. Diferente do exterior, o jardim havia sido não apenas cuidado, como cultivado. Em todos os lugares que ele olhava haviam ervas e flores crescendo em abundância. O frio se instalou em seus ossos quando ele avistou uma flor amarela com veias desenhadas pesadamente e centro escuro no canto mais distante do jardim. Hyoscyamus niger. Meimendro. Até mesmo respirar seu odor fétido poderia causar intoxicação.

Cicuta branca e rendada agitava-se na proximidade. Torres altas de dedaleira. Ele reconheceu várias outras variedades tóxicas, todas ordenadamente plantadas e prosperando dentro de vasos e canteiros.

Era o maldito jardim do envenenador.

Ele retirou a arma de sua bainha, a arma de um velho amigo em sua mão. Lentamente ele seguiu seu caminho em direção a entrada traseira, parando brevemente para arrancar uma folha ou duas de várias variedades, grato pela proteção das luvas.

Assim que ele agarrou a maçaneta da porta, ouviu Drayton gritar. Ele correu pela porta em direção ao interior escuro e úmido, movendo-se pela copa e pequena cozinha em direção aos sons de pés batendo e gritos masculinos.

Ele virou uma esquina e achou Dunston agachado do lado de fora da entrada da sala de jantar. O outro homem sinalizou por silêncio com um dedo em seus lábios.

Lentamente retirou uma adaga da bainha amarrada em sua coxa, Dunston a colocou no chão no centro da entrada. Levantou-se, mantendo as suas costas na parede. Então ele gritou para a sala:

— Solte-o agora, meu bom homem. Não há sentido matar alguém quando pode ir embora com o pescoço intacto.

Gargalhadas – altas, rápidas e loucas – foi a resposta. O som congelou o sangue de Phineas.

— Ele quer voar, meu lorde. Eu posso libertá-lo. Ele voará e voará.

Dunston balançou a cabeça enquanto Phineas ficou tenso.

— Deixe-o ir e nós partiremos imediatamente. Sem danos feitos.

— Oh, mas você serve a sua senhoria. E sua senhoria quer meu fim.

Um olhar duro e inflexível caiu sobre Phineas.

— Bobagem total. Todos sabem que eu desprezo Holstoke. Ele tentou roubar a minha mulher.

— Ele é o filho de uma deusa. Por que ele não deveria pegar o que ele quiser?

O rosto de Dunston ficou sombrio. Ele murmurou a palavra ‘louco’ e gesticulou para indicar que o envenenador tinha uma pistola direcionada à cabeça de Drayton.

Phineas assentiu e cuidadosamente se posicionou no lado oposto da porta.

— Diga-me o seu nome. — Dunston gritou.

— O Suplicante.

— Não, meu bom homem. O seu sobrenome.

— Eu sirvo uma deusa. Meu nome não é nada. — A voz, estranhamente aguda e nervosa, soou mais próxima. As botas arranhavam a madeira. — Ela apenas exigia tributo. Sacrifício. Ela oferecia grande poder àqueles que lhe serviam. A vida que gera a morte. Suas belas sementes mandavam um homem ao céu.

Phineas envolveu sua mão enluvada ao redor da lâmina e trouxe a sua extensão lentamente. Então, encontrou os olhos de Dunston e acenou para indicar que estava pronto.

Dunston devolveu o aceno, desembainhando sua segunda adaga do interior de seu casaco e gritou pela porta.

— Drayton seria um pobre sacrifício, de fato, mancando como ele manca. Pois, eu duvido que ele pudesse agarrar as bolas de outro homem com força suficiente para...

O grito alto e agudo foi o sinal. Dunston se moveu primeiro, mas apenas alguns centímetros. Lá dentro, Drayton agarrava o homem menor em dois lugares. Um era seu pulso. O outro fez Phineas estremecer. Dunston avançou e removeu a arma das mãos do jovem.

Phineas o olhou dos pés à cabeça. A descrição de Hawthorn fora precisa: olhos azuis redondos, feições suaves. Havia apenas uma diferença, a cicatriz longa e irregular no pescoço do homem. O envenenador era franzino e parecia inofensivo. Ele obviamente estava comendo erva-moura, provavelmente meimendro, pois as suas pupilas estavam arregaladas de uma maneira não natural. Agora de joelhos, segurando sua virilha danificada, o jovem olhou para Phineas com algo parecido a assombro.

— Meu lorde. — Ele disse, sua voz entrecortada pela dor que Drayton infligiu. — Eu tenho agido bem, não tenho?

Inclinando a cabeça. Phineas o examinou, perguntando-se como um desgraçado tão patético como aquele conseguira fazer o que fizera. O jovem era apático. Magro. Fraco como mingau aguado. Além disso, estava claramente louco. Não do mesmo modo que a mãe de Phineas, que fora desalmada e calculista. Ele era incontrolável. Intoxicado por seus próprios venenos.

— Holstoke. — O tom de Dunston era cauteloso, como se acalmasse um cavalo rebelde. — Talvez fosse melhor esperar lá fora, velho camarada. Não deve privar o carrasco o que lhe é devido.

A ponta da espada tirou uma gota de sangue da garganta do envenenador. Ele nem se lembrava de ter levantado a espada.

— Como você a conheceu?

Um sorriso largo e beatificante. O jovem fechou os olhos brevemente.

— Ela me encontrou.

— Em Weymouth.

— Durante um passeio. Ela me convidou a entrar. Ela me fez voar.

— Maldito inferno. — Drayton murmurou. — O menino não podia ter mais do que catorze anos na época.

— O menino assassinou cinco mulheres. — Dunston falou entre os dentes.

— Assassinatos não. — O jovem disse, seus olhos arregalando. — Oferendas.

Tudo dentro de Phineas ficou gelado e escuro. Mesmo sua fúria ficou gelada.

— Quantas?

— Nunca o bastante. A deusa deveria ter mais.

Phineas se abaixou perto do rosto do jovem. Ele podia sentir o cheiro da morte nele.

— Conte-me quantas você matou. — Ele disse suavemente.

Uma risada estranha.

— Mais de cinco até agora. — Ele zombou. O seu peito estremeceu como se ele não pudesse controlar sua risada. Ele virou sua cicatriz irregular em direção a Phineas. — Tentei me oferecer uma vez. Mas a deusa precisava de minhas mãos. A deusa é gananciosa.

— A deusa está morta. — Phineas disse. — E logo você estará, em breve.

Ele gargalhou. Alto. Ele gargalhou até as lágrimas rolaram por suas bochechas.

— Ela...ela nunca morrerá, meu lorde. Enquanto houver Suplicantes para servi-la. — Ele engasgou com a última risada. O peito dele estremeceu. Um pequeno vinco desfigurou seu sorriso. — Acreditou que eu era o único?

Calafrios percorreram sua coluna, deixando sua pele em chamas.

No silêncio, Dunston praguejou.

Drayton murmurou:

— Dois deles? Maldito inferno.

Phineas se endireitou. Aumentou o aperto em sua espada.

— Quem mais?

O jovem sussurrou.

— Ele a vingará, meu lorde.

— Quem? — Phineas berrou.

— Serei a oferenda final. — Ele sorriu. Balançou. — Uma jornada ao céu. — Fechou os olhos.

Jogou-se para frente.

E forçou a espada de Phineas atravessa sua própria garganta.

*~*~*

Genie espetou um pedaço de presunto com o garfo.

— Ele poderia ter esperado até que eu estivesse acordada.

Ross pigarreou.

— Sim, minha senhora.

— Ou ele poderia ter me acordado, ele mesmo. Ele tem mostrado um talento notável a esse respeito.

— Certamente, ele deve ter mostrado.

Ela mastigou seu presunto e deu um gole no chá. Ficara em infusão em demasia novamente. Outra irritação.

— Em qualquer caso, ele não deveria pedir a seu valete para entregar a mensagem.

— Tenho certeza de que ele não lhe desejou preocupar, minha senhora.

— Bem, eu estou preocupada. Assim, a ideia é uma bobagem. Já faz horas que ele partiu.

Ross inclinou sua cabeça meio careca.

— Ele queria que eu transmitisse as minhas mais humildes desculpas.

O olhar foi a resposta dela, mas ela escolheu acrescentar.

— Quanta besteira. — Jogando o seu guardanapo sobre o prato, ela se afastou da mesa e levantou-se. — Entregue a mensagem que deve, Sr. Ross, mas não minta. Holstoke apenas se desculpa sob a mais severa coação. Aposto que ele prefere ser assado como um presunto.

Um movimento na porta da sala de desjejum atraiu sua atenção. Era Hannah. Seus olhos e bochechas brilhavam com lágrimas. A visão fez uma dor terrível ondular no estômago de Genie. Ela correu até a moça, que atirou seus braços ao redor dela e a apertou.

— O que foi, querida? O que aconteceu?

— Ele...ele...

Oh, Deus. Só podia ser Hawthorn. Ele morrera naquela noite?

— Respire. — Ela murmurou. — Então me conte.

Hannah soltou dois suspiros antes de conseguir falar.

— Ele acordou.

— Oh! — Genie recuou e segurou os ombros da moça. — Mas são notícias maravilhosas!

Hannah assentiu, suas lágrimas continuaram a fluir.

— Ele pediu papel e... e um lápis. Ele deseja desenhar o envenenador novamente.

— Claro. — Ela olhou para Ross que assentiu e murmurou que iria pegá-lo imediatamente. Ela examinou os olhos de Hannah. Viu dor e alegria brigarem ali. — Venha. — Ela levou sua irmã em direção à mesa e depois lhe passou um guardanapo. — Seque seus olhos.

Hannah secou as bochechas.

— Ele disse alguma coisa para você? — Genie aventurou-se. — Além do súbito desejo de desenhar, quero dizer.

Olhos pálidos caíram para o guardanapo retorcido em suas delicadas mãos.

— Ele me perguntou sobre o envenenador. Se eu fora atacada.

Genie assentiu.

— Prossiga. Obviamente lhe disse que não.

Os lábios da moça tremeram.

— E-ele me perguntou porque eu estava ali com ele.

— E você disse?

Ela levantou os olhos aos de Genie.

— Eu não tenho uma resposta, Eugenia.

Ela sentiu dor ao ver a turbulência de Hannah. A concha perfeita de indiferença era a única coisa que a protegia. Ainda assim, ela não podia descartar que ela fora alcançada pelo que mais queria: amor. Genie fora forçada a golpear implacavelmente a concha até quebrar a coisa. Ela fora recompensada com uma nova irmã, então tinha valido a pena. Mas tinha um problema. Genie não sabia se um homem tinha este tipo de paciência.

— Ele interpretou o meu silêncio como...não sei ao certo. Uma descortesia, suponho. Ele sugeriu que o meu propósito era garantir que ele vivesse o bastante, para providenciar uma imagem do homem que ameaça a minha vida. Ele pediu papel e lápis. — Suas mãos retorceram o pano com mais força. — Depois pediu que o deixasse.

Genie engoliu o nó em sua garganta e levantou o queixo.

— Talvez ele precisasse usar o penico.

Hannah piscou. Apertou os lábios. Arregalou os olhos. Depois, ela explodiu em uma gargalhada.

Genie sorriu e deu risadinhas com ela.

— Bem, o homem dormiu por vários dias, você sabe.

Quando a tensão saiu dos ombros de Hannah, Genie insistiu que ela comesse. Então, enquanto estavam sentadas juntas na mesa, ela elogiou a roupa de Hannah, que era um elegante vestido rosa gelo com pequenas rosinhas vermelhas na bainha. Ela discutiu os planos para um novo chapéu para combinar com o vestido azul. Seda, não veludo. Não, a outra seda.

Ela esperou até que Hannah tivesse comido tudo do prato antes de revelar que Phineas, Dunston e Drayton haviam partido a Weymouth, suspeitando que era lá que o envenenador estava escondido.

Hannah empalideceu. Cuidadosamente, ela colocou o garfo no prato.

Os lacaios entraram e começaram a limpar as travessas do aparador. O tilintar das porcelanas e o grito das gaivotas lá fora, foram os únicos sons por um longo tempo.

Então, Hannah segurou a mão de Genie.

— Você teme por ele. — Ela disse suavemente. — Assim como eu. — Olhos verdes vividamente brilhantes a encaravam. — Phineas é forte. Brilhante e forte. Eu nunca ganhei um jogo de xadrez contra ele. Nem uma única vez. E eu sou uma jogadora excelente.

Genie assentiu, as lágrimas escorrendo de seus próprios olhos.

— Eu sei. Mas ele é o meu coração, Hannah. Tanto quanto é verdade, e sempre foi a verdade, eu sofrerei com a ausência dele.

Ross retornou à sala de desjejum vinte minutos depois com o novo esboço de Hawthorn em mãos. Genie o pegou e examinou o rosto. Ela franziu o cenho.

— Você o reconhece? — Ela perguntou a Hannah.

— Não. Eu não gosto dos olhos dele.

— O que tem eles?

— Eles são maus, fingido que são bons.

Hannah vira o mal o bastante em sua vida, assim Genie aceitou sua afirmação sem hesitar.

— De fato. O pior tipo de olhos, ouso dizer.

Mais porcelana tilintou quando um dos lacaios pegou sua bandeja. A atenção de Genie recaiu sobre ele. Ele vestia o uniforme de Primvale, claro. Uma peruca. Casaco azul com forros verdes, calças douradas com meias brancas. Mas ele era alto. Um metro e oitenta, talvez.

Ela franziu o cenho. Phineas não ‘reorganizara’ todos os lacaios altos?

O homem se virou. Ele não era feio. Bastante agradável, de fato.

Um arrepio correu por sua espinha e cruzou seu couro cabeludo.

Os olhos dele encontraram os dela. E ela viu novamente o que Hannah descrevera. Má intenção fingindo ser boa.

O frio a varreu como um lago gelado através de uma fonte. Ela precisava alertar os homens de Dunston. Ela precisava levar Hannah para longe dele.

Ele se abaixou para pegar o prato de Hannah. Genie segurou o braço de sua irmã e a levantou. Foi quando o chão se inclinou. As paredes giraram. Ela puxou com força, arrastando Hannah com ela até a porta. Ela piscou. A porta estava fechada.

O tempo estava devagar. Seus movimentos estavam desajeitados e trôpegos. Seu coração batia forte dentro do peito. Ela empurrou Hannah para trás dela, virando o rosto para o homem mau que fingia ser bom. E logo antes da arma aparecer, ela o viu sorrir.


CAPÍTULO 24

“Agora escute atentamente. Os cães de caça não se parecem em nada com lobos. Lobos nascem ferozes. Eles enlouquecem quando estão feridos ou famintos. E eles apenas brincam quando estão tomando medidas de batalhas.”

A Marquesa Viúva de Wallingham para seu neto mais velho, Bain, em resposta a sua reclamação que Humphrey brincava com muita grosseria.

Phineas ouviu o grito enlouquecido do lado de fora do castelo. O guarda na entrada sumira. As portas estavam amplamente abertas. Ele deslizou de Caballus enquanto o cavalo arfante ainda se movimentava e subiu correndo os degraus. Correu pelo vestíbulo.

Encontrou Jonas Hawthorn, nu, exceto pelas bandagens e uma calça rasgada, incrivelmente branco, magro e barbudo. Ele estava inclinado contra uma parede, berrando ordens para um dos homens de Dunston.

— Cada homem que tiver. Envie todos. Encontre-a, maldito!

Phineas avançou correndo. Hawthorn levantou os olhos. Desesperado. Quase enlouquecido.

Phineas sentiu o chão desaparecer. Não ouvia nada além do vento soprando em rajadas altas e rítmicas. Hawthorn estava falando agora. Phineas balançou a cabeça. Ele precisava pensar. Ele precisava ouvir.

— ... levou as duas, Holstoke. Ninguém sabe para onde.

Deus todo poderoso. As duas. Hannah e Eugenia. Se foram.

Sua irmã. Sua esposa. Se foram.

Não. Ele devia pensar. Ele devia encontrá-las.

Ele fechou os olhos por um momento. Imaginou Eugenia como ela estivera ontem – cabelos bagunçados pelo vento, braços abertos, amor brilhando nos olhos de gatos. Ele a encontraria. Ele faria. Mas apenas se ele pudesse controlar sua própria perturbação por tempo o bastante para pensar.

Ele abriu os olhos e percebeu uma folha de papel amassada nas mãos de Hawthorn. Sem perguntar ele a pegou das mãos do outro homem. Era uma duplicada do esboço do homem que a espada de Phineas despachara menos de duas horas antes.

— Este não é ele. — Phineas falou, sua voz dura como o gelo. — Este homem está morto.

Hawthorn balançou a cabeça.

— Não. Esse é o envenenador.

— Há dois dele.

Hawthorn ficou da cor das cinzas.

Dunston e Drayton correram pelo vestíbulo, Drayton mancando pesadamente e Dunston segurando uma de suas adagas.

— É verdade? — Dunston exigiu. — Ambas mulheres estão desaparecidas?

Hawthorn assentiu e cedeu contra a parede. Sua cabeça caiu para frente.

— Devemos encontrá-las. Ele a matará.

— Como ele entrou? — Phineas perguntou. Novamente, a frieza em sua própria voz o surpreendeu. O medo estava lá, sombrio e devorador. Mas sua mente estava funcionando, analisando o que ele sabia, descobrindo o que não sabia.

Hawthorn explicou que o médico de Phineas fizera uma visita mais cedo naquela manhã, trazendo com ele um boticário cirurgião de Weymouth para ajudá-lo com o tratamento de Hawthorn. Mas Hawthorn já havia acordado antes da chegada dele e o boticário partiu logo.

— Ou assim nós pensamos. Um dos homens encontrou seu cavalo vagando pelo orquidário. Suspeitamos que o envenenador o atacou. Depois, seu homem, Ross, disse que não conseguia localizar as mulheres. Nós temos procurado desde então.

Phineas levantou o desenho.

— Pelo homem errado.

Hawthorn grunhiu, parecendo atormentado.

Phineas se virou para Dunston.

— Um boticário de Weymouth.

Dunston assentiu.

— Isso se encaixa.

— Você pode desenhá-lo? — Phineas perguntou a Hawthorn. — Lembra-se do rosto dele?

Hawthorn assentiu.

— Alto. Um e oitenta. Magro. — Seus olhos se estreitaram em Drayton. — Como o homem que atirou em você.

— Então vamos encontrar o canalha. — Drayton resmungou, movendo-se até Hawthorn e passando um braço sobre os seus ombros. — Você o desenha. Eu atirarei nele.

Enquanto Drayton ajudava o outro agente a ir até a biblioteca, Dunston se aproximou de Phineas com um olhar sombrio.

— Por que levar as duas mulheres?

Phineas balançou a cabeça. Na verdade, sua mente mal conseguia pensar sem o horror devorá-lo completamente.

— Nós devemos encontrá-las. Isso é tudo o que sei.

Ele passou os próximos quinze minutos questionando Ross, Walters e a Sra. Green, as criadas, lacaios e guardas. Ele precisava de cada fato que pudesse reunir: onde Eugenia e Hannah foram vistas por último? Na sala de desjejum. Foi feita uma busca no castelo, de cima a baixo: Sim, meu lorde. Quais partes da propriedade já haviam sido revistadas? Os jardins oestes e norte. O leste e sul estavam sendo analisados. Sua mente automaticamente catalogou cada pedaço de informação, buscando fios para levá-los em uma direção. Em direção a ela.

Um dos homens de Dunston entrou e deu a Dunston um pedaço de tecido.

— Nós encontramos em um dos pastos leste, milordes, preso a algumas flores silvestres e grama.

A seda era transparente, rosa e rasgada. Em sua extensão havia uma fileira de rosas vermelhas.

Um raio o cortou. Era ela. Sua Roseira.

— Nós encontramos mais, milordes.

Phineas olhou para cima, o coração batendo com uma urgência frenética.

— O que? — Dunston exigiu.

— Sangue. — O homem engoliu em seco, seu olhar vigilante estava triste. — Uma grande quantidade de sangue.

*~*~*

A cabeça dela estava mergulhando. Doendo. Ela não sabia como Phineas conseguia suportar suas enxaquecas, pois as dores de cabeça eram uma distração miserável. Seus olhos doíam. E seu coração estava prestes a saltar de seu peito. Tudo estava muito brilhante e sua boca seca e sedenta.

Ainda havia um braço ao redor de sua garganta. Apertado. Sufocante. Seu corpo parecia como se quisesse voar e partir-se.

Ela olhou para a sua mão. Em sua visão, flutuava. Separada de seu pulso.

Não. Ela fechou os olhos. Isso não era real.

O braço ao redor de seu pescoço era real. A dor em sua cabeça era real.

Ela estava sendo arrastada. Para baixo e para baixo. Passando por rochas úmidas, pedras soltas e tufos de grama.

O vento era real.

A voz dele era real.

— Em frente, Srta. Gray. — Uma placidez suave e estranha pontuada por uma respiração ofegante. — Temos uma oferenda a fazer.

Ele as levou da sala de desjejum. Ele apontou uma arma ao coração de Genie e falou com perfeita calma. Hannah poderia se oferecer a deusa, ele disse, ou Lady Holstoke se juntaria a sua homônima em morte.

Esperta Hannah. Ela pegara seu garfo, escondendo-o nas dobras de suas saias.

O homem de aparência agradável as forçara para esperar dentro do castelo e depois sair, passando por um guarda que corria para ver um cavalo mordiscando cerejas.

Ele as forçara a montar. Mover-se de lugar em lugar como coelhos evadindo-se de armadilhas. Primeiro o jardim murado. Depois as árvores ao redor do lago. Depois o pasto leste mais distante, além da elevação.

Onde as vacas morreram. Pobres vacas.

Foi lá que Genie teve certeza de que morreria. O homem de aparência agradável gritou quando Hannah enfiou o garfo em seu ombro.

Ele soltou seu aperto. Hannah agarrou o pulso flutuante de Genie e gritou “Corra!”

Genie correu. Mas seus pés estavam flutuantes também. Eles caíram juntos nas flores roxas e grama verde, enrolaram-se em confusão. Havia uma bainha de Hannah lá.

Genie sabia que deveria dizer a ele.

Phineas. Seu amor. Seu coração.

Ela devia dizer-lhe que nunca iria embora de boa vontade.

Então, ela rasgou uma tira e deu um nó apertado enquanto o homem de aparência agradável estava se levantando. Apontou a pistola contra a cabeça de Genie. Forçou Hannah a ficar de pé com um empurrão brutal.

Agora, eles viajavam para baixo e baixo. Passando rocha dourada de areia dourada. Pedras cinzentas golpeavam seu chinelo. Seus pés estavam se separando.

Não. Ela estava andando. A praia era real. A água era real. O grito de gaivotas e brilhantes, céu azul era real.

Ela respirou sal e mar. Recordou os olhos de Phineas quando estiveram ali juntos. Ele era seu grifo Ele viria.

Ele partiria a serpente em pedaços.

Ela piscou. Focou em Hannah, cujos lábios sangravam vermelhos no branco delicado. Uma gaze delicada flutuava enquanto ela recuava em direção às ondas. Os olhos como o de Phineas brilharam com um poder incandescente.

— Ele o encontrará. Ele o matará. — Sua irmã disse. — Nunca duvide disso.

O braço ao redor da garganta de Genie apertou-se.

— Não antes de fazer a minha oferenda. — Alguma coisa redonda afundava dolorosamente no quadril dela. — Para o mar, agora. — Ele disse. — Ela sempre preferiu o mar.

Gaze rosa umedeceu. Até seus tornozelos. Depois joelhos. Então suas coxas.

— Não, Hannah. — Genie gritou, seu coração frenético batendo até a morte. Sufocando-a até a morte. — Arruinará o seu vestido, querida.

Olhos como os de Phineas sorriram de volta.

— Diga ao Sr. Hawthorn que eu fiquei porque eu... eu não podia fazer o contrário. Diga-lhe... eu não queria ir embora.

As respirações ofegantes ficavam mais altas à medida que o homem que sufocava Genie as levaram a frente, para mais perto de sua irmã. A água alcançava a cintura de Hannah. As ondas a empurrou até ela tropeçar.

Genie não podia deixá-la arruinar o vestido. Hannah ficava tão adorável de rosa.

Ela viu um pulso. Não o dela. Parecia presunto.

Ela o pegou em suas mãos e o mordeu.

Um grito.

Um tiro. O fogo atingiu o seu quadril.

Ela empurrou o braço sufocante. Cuspiu o sangue de serpente de sua boca. Correu em direção à sua irmã, cujas saias a arrastavam para o fundo do mar.

Hannah soluçou seu nome. Cambaleou em sua direção. Os pés de Genie tentaram alcançá-la, mas eles continuavam a afundar na areia e pedras.

Oh, Deus, ela continuava a se partir. A dor em seu quadril queimava. Seus pés se foram. Apenas seus joelhos ficaram. Suas mãos agarravam-se a areia profunda e suave.

Ela olhou para Hannah que estava parada nas ondas como uma deusa marinha colérica, condenando um homem que ela logo destruiria.

Genie se virou para vê-lo – o homem mau que fingia ser bom. Alto e magro. Segurando algo longo e curvo. Seus ombros pingavam sangue. Sua boca falava de oferendas. E, enquanto ele puxava o arco para enviar a sua flecha ao coração de Hannah, ele olhou para o céu.

— Por você, minha senhora. — Ele disse. — Tudo por você.

*~*~*

Encontrar sangue quase o matou. Ensopava a lama do pasto. Salpicou nas margaridas brancas e nos gerânios roxos. Trilhava além da cerca.

Manchou a madeira.

Phineas há muito perdera a sanidade. Nada restava além da necessidade. A necessidade de encontrá-la. A necessidade de matar.

Ele manteve isso na memória. Como ela brincava com seu alfinete de esmeralda e o desafiava a lhe dar prazer como nenhum homem fizera. Como ela brilhava quando ele beijava seu ventre nu e como ela se abria como uma flor. Como ela riu e girou enquanto o vento brincava com seus cabelos. Como ela entrou nas águas profundas e segurou sua mão. Como ela o amava - cada parte dele – como se ele fosse dela para sempre.

Eugenia o mantinha. Focava-o. Levava-o ao longo da cerca em direção ao mar.

Dunston o seguia, assim como três de seus vigilantes. Drayton seguia também, pistola em uma mão e o rosto enrugado sombrio na luz do sol. Ele reconhecera o homem que Drayton desenhara – ele falara com ele em uma loja em Bridport.

Drayton queria este homem morto. Mas Phineas o teria. Essa era a sua tarefa. Sua.

Quando se aproximaram dos penhascos, Phineas começou a correr. Ele conseguia senti-la. Ele não sabia como. Mas ela estava ali. Perto. Ele correu mais rápido. Atrás dele, ele ouviu o alerta de Dunston para os seus homens estarem prontos. Ele ouviu as gaivotas gritaram e as ondas quebrarem.

Ele ouvia o seu próprio coração. Batendo, batendo, batendo.

À frente, a trinta metros do topo da trilha da praia, um objeto chamou a sua atenção. Ali, perto de onde Eugenia avistara a sombra no dia anterior, a grama fora pisoteada até formar um ninho. No centro do ninho estava um arco de madeira e uma pilha de flechas.

O ar entrava e saía, seus pulmões queimavam após a corrida por centenas de metros. Ele parou ao alcançar o ninho. Abaixou-se e pegou uma flecha. Era bem feita. Madeira e chifre. Ele olhou para as flechas. Pegou uma delas. Notou também, igual qualidade.

— O canalha gosta de arcos e flechas. — Disse Dunston atrás dele. — Eu prefiro adagas.

— Assim como eu... — Phineas murmurou, pesando o arco e a flecha em suas mãos.

— Espadas. Sim, recordo-me. — Dunston averiguou a área ao redor do ninho. — Nenhum sinal de sangue aqui. Tem certeza de que este é o caminho pelo qual eles vieram?

Phineas olhou em direção ao mar.

— Sim.

— Então, para onde vamos, velho camarada?

Antes que Dunston terminasse de falar, Phineas se moveu. Caminhou. Correu em direção à base da praia. Ele parou quando chegou à beira do desfiladeiro.

Ali. Duas figuras. Não, três.

Hannah estava parada com os quadris afundados na água.

E Eugenia. Oh, Deus. Eugenia era segurada – pendurada e sufocada – por um maldito louco. Seu cabelo estava meio solto. Seu vestido estava enlameado. Sangue.

Perto, ele ouviu Dunston conversar em tom baixo. Então, Drayton chegou mancado até um ponto ao seu lado. O agente de Bow Street segurava um rifle de caça. Provavelmente emprestado de um dos homens de Dunston. Ele o levou ao ombro e apontou para a praia.

O rosto enrugado de Drayton estremeceu.

— Maldito inferno. — Ele abaixou a arma para o chão.

— Eu o matarei. — Phineas prometeu. — Mas eu devo me aproximar. Fique aqui. Mantenha a cabeça dele em sua mira.

Sem outra palavra, ele começou a descer a trilha, movendo-se tão rápido quanto era possível sem escorregar. Ele precisava que o canalha não o percebesse. Não até que fosse tarde demais.

Hannah falava agora. O homem arrastou Eugenia para frente com ele para a beira da água. Hannah tropeçou quando uma onda a atingiu.

Depois tudo aconteceu lentamente e ao mesmo tempo. Ele viu o ombro do homem arquejar no que parecia agonia. Um tiro soou. Uma mancha vermelha no quadril de Eugenia. Phineas assistiu Eugenia empurrar o braço do homem e depois cuspir seu sangue na areia. Ela o mordera. Por Deus, ela o mordera. E ficara ferida. Ela se arrastava em direção à Hannah. Caiu de joelhos na areia.

Ele correu. Seu coração batia, batia, batia e batia. Ele precisava de uma posição melhor. O homem estava recolhendo alguma coisa perto da pedra. Outro arco.

Maldito inferno. Sem tempo. Sem tempo para um tiro melhor.

Ele parou no passo seguinte. Esticou a flecha. Exalou. Apontou para a cabeça do canalha.

Um tiro soou. O outro homem se dobrou quando a bala atingiu sua coxa.

Drayton. Maldito inferno.

O canalha mirou novamente. Desta vez de joelho. Ele apontou a flecha para Hannah.

Phineas apontou sua flecha para a serpente. Então, respirou. E a deixou voar.

Ela perfurou a garganta do homem, levando sua mira para o alto. A flecha do homem caiu no mar. Atrás dele, ouviu gritos. Acima dele, gaivotas.

Mas Eugenia estava agora deitada na areia, esticando os braços para Hannah.

Ao chegar perto dela, Hannah embalava sua cabeça em seu colo. Ambas mulheres chorando.

— Phineas! — Hannah chorou. — Graças à Deus. Ela foi ferida. Não tão mal, acho, mas ela está falando algumas besteiras.

Ele caiu de joelhos ao lado de sua esposa. Pegou-a em seus braços. Apertou-a tão forte quanto ousava fazer, sem saber a extensão dos ferimentos dela.

Ele respirou seu aroma. Violetas e cerejas. Sentiu os braços dela envolverem seu pescoço. Balançou-a para frente e para trás.

— Meu grifo. — Ela sussurrou em seu ouvido. — Eu sabia.

Ele gemeu na pele de seu precioso pescoço. Beijou a pele de sua preciosa bochecha. Deslizou as mãos pelas dobras de suas preciosas orelhas.

— O que você sabia, minha doce Roseira?

Ela segurou seu queixo em sua mão. Ele afastou para encontrar seus olhos de gato. Os centros escuros e largos condiziam a erva-moura. No entanto, ainda eram os olhos de Eugenia. E ela estava viva.

— Eu sabia que me encontraria.

Ele sorriu.

— Sabia?

Ela assentiu, assegurando perfeitamente.

— É a sua natureza, meu amor.


CAPÍTULO 25

“Você me surpreendeu, querido rapaz. Eu só tinha escutado você falar de sua esposa e de seus coletes em tão bons termos.”

A Marquesa Viúva de Wallingham para Lorde Dunston diante do inesperado elogio do dito cavalheiro aos numerosos talentos de Lorde Holstoke.

Uma semana depois, Dunston ainda comemorava o tiro de Phineas.

— Por que nunca disse que era um arqueiro, meu bom homem? Pensei que preferia espadas.

Phineas ergueu uma sobrancelha.

— A preferência por um não implica na incompetência de outra.

Ele retirou uma de suas adagas. A lâmina brilhou na luz da sala de desjejum.

— Verdade. Da próxima vez que for a Fairfield Park, nós devemos testar sua habilidade com facas.

— Henry. — Genie o repreendeu. — Afaste-as. As únicas facas que devemos discutir em minha mesa são as exigidas para fatiar presunto.

Seu cunhado lhe deu uma piscadinha e devolveu sua lâmina à bainha.

Ela terminou os ovos e empurrou o presunto de lado. Ela ainda não conseguia comê-los. Uma vez que a lembrança de morder o braço de um louco diminuísse, talvez o presunto se tornasse palatável novamente.

A sua volta, Dunston, Phineas e o Sr. Drayton cumprimentavam-se um ao outro. O Sr. Drayton estava inexplicavelmente orgulhoso da ferida na perna do envenenador.

— Caiu muito bem a ele. — O Sr. Drayton se remexeu em sua cadeira. Ele atirou em mim antes.

De fato, o destinatário do tiro do rifle do Sr. Drayton era exatamente o mesmo homem que, seis anos antes, atirara no Sr. Drayton para evitar ser preso. Theodore Neville possuiu uma botica em Weymouth por quatro anos. Antes disso, ele fora um associado de Lady Holstoke, usando sua posição como boticário assistente em Londres para obter suprimentos para as fórmulas dela. Ele envenenara o seu empregador quando o Sr. Drayton e o Sr. Reaver foram ao local. Então, fugira de Londres e vagou de cidade em cidade por um tempo. No fim, foi atraído a Dorsetshire, onde Lady Holstoke viveu por último. Ele se estabeleceu como boticário. Todos pensavam que ele era uma pessoa agradável, incluindo o médico de Phineas, que expressara o seu horror ao descobrir a insanidade assassina do homem.

Na verdade, a obsessão de Neville por Lady Holstoke o enlouquecera. Ele comprou a antiga casa de Lady Holstoke e em seguida pegou outro ex-associado dela, Edgar Erwin. A família de Edgar pensava que ele se afogara ou fugira ao visitar Weymouth, pois ele simplesmente desaparecera sem deixar nenhum traço. Em vez disso, Lady Holstoke o recrutara. Drogou-o. Seduziu-o. Usou-o.

Um garoto de treze anos.

Genie quis vomitar quando descobriu essa parte.

Mais tarde, Neville se mudara para a casa de Lady Holstoke e, ele e Erwin começaram com alguns hábitos estranhos. Eles tinham feito experiências com venenos, especialmente plantas, usando a si mesmos ou o gado dos fazendeiros locais para testar suas novas fórmulas. Eles guardaram pilhas e pilhas de notas detalhadas, crônicas sobre os achados deles.

Eles regularmente sacrificavam coelhos, galinhas e várias ovelhas para a mulher que eles adoravam como uma deusa. Talvez tenha sido as substâncias que eles bebiam, a influência maligna ou simplesmente a loucura, mas Neville e Erwin tinham adoração por Lydia Brand. As mortes eram as oferendas deles.

Além do mais, eles mantinham registros. Pilhas e pilhas de registros. Phineas achara uma vasta coleção de anotações e diários nas prateleiras alinhadas no segundo andar inteiro da casa. Neville havia anotado seus sacrifícios e experiências com mais cuidado do que um reitor mantinha os registros de uma igreja. Estranho, de fato.

Era Neville quem misturava os venenos e Erwin quem os entregava às suas vítimas. No caso da pobre mulher que se parecia com Hannah, Erwin a levara até a casa em Knighsbridge, onde Neville a matara.

Phineas achou bastante difícil explicar as coisas ao magistrado. Outra série de ocorrências sinistras e mortes por envenenamentos. Outra morte nas terras de Primvale. E desta vez, o assassino não tinha simplesmente levado um tiro com uma pistola. Ele fora atacado por um garfo, mordido como um presunto, levou um tiro de rifle de caça e teve seu pescoço perfurado por uma flecha. Deus do céu, era um milagre que o magistrado houvesse exigido apenas que Phineas entregasse os diários.

Agora, dias depois, Dunston e o Sr. Drayton estavam preparados para partir. Assim como o Sr. Hawthorn. O oficial de Bow Street continuava fraco por causa de suas feridas. O Sr. Hawthorn estava sentado à mesa do outro lado de Hannah parecendo tão sombrio quanto a morte, sua mandíbula quadrada estava dura, seu interesse no café da manhã era escasso.

Mas então, Hannah também não comera mais do que uma mordida ou duas. Ela estava friamente composta e lindamente vestida. Ela bebia o chá e se recusava a olhar para o Sr. Hawthorn por qualquer motivo.

Ele se recusava a tirar os olhos dela.

Genie sentia a dor dos dois, mas ela fizera tudo o que podia. Hannah fechara seu coração ao homem. Compreensivelmente, ela acreditava. Tendo sofrido profundamente, com feridas permanentes, o passado de Hannah distorcia o formato de seu futuro da mesma forma como o de Edgar Erwin. Avançar em direção ao amor, arriscando seu coração forte-embora-frágil, estava simplesmente fora de questão.

— Um dia, você vai desejar muito isso. — Genie lhe disse gentilmente na noite anterior. — E então, você será corajosa. Porque você é. Embora não esteja pronta.

Uma única lágrima escorreu pelas bochechas de Hannah. Ela inclinou o queixo em um ângulo orgulhoso.

— Eu aprenderei a cavalgar, Eugenia.

Genie sorrira. Apertou sua mão.

— Esplêndido. Nós começaremos por aí, querida.

Agora, enquanto o café da manhã terminava e os homens se preparavam para partir, Hannah se recolheu ao seu quarto enquanto o Sr. Hawthorn a olhava com visível fome. Dunston havia arrumado uma carruagem para levá-lo de volta a Londres. Assim que ela saiu de vista, ele entrou nela sem dizer uma palavra.

Genie enlaçou o braço com o de Phineas enquanto eles estavam parados nas escadas do castelo observando os homens desaparecerem pela estrada.

— Eu gosto bastante do Sr. Hawthorn.

Phineas franziu o cenho.

— Ele foi útil, suponho.

— Você também deveria tentar gostar dele.

— Falho em ver o motivo. A probabilidade de que eu ponha os meus olhos sobre ele novamente é baixa. Cinco por cento. Talvez dez.

— Oh, eu colocaria mais alto do que isso.

Os olhos dele encontraram os dela.

— Eu prefiro contemplar a probabilidade de que estará nua dentro de uma hora.

Ela deu uma risadinha. Puxou-o para um beijo.

— Facilmente cem por cento, ouso dizer.

Ele suspirou e tocou sua testa na dela. Os aromas de limão e menta a varreram. Os olhos dele fecharam por um momento.

— Preciso tocá-la novamente, Roseira. Preciso ver que você está...bem.

Sorrindo, ela acariciou o queixo dele e olhou para seus olhos verdes brilhantes.

— Eu pensei que já tinha verificado minha melhora várias vezes nesta noite.

— Um homem da ciência deve ser diligente.

— E nesta manhã.

— Inconclusiva.

— Duas vezes antes do café da manhã, se me recordo.

— Experimentos adicionais são necessários para garantir o rigor total.

Ela gemeu, seu ventre aquecendo.

— Eu gosto do seu rigor.

Ele se abaixou e a pegou em seus braços. Ela se agarrou ao seu pescoço, beijando seu queixo, orelha, os cantos de seus fascinantes lábios. Cada parte que ela podia alcançar. Quando ele a deitou na cama, ela estava tremendo com calafrios quentes. Deslizando entre os veludos esmeraldas e sedas prateadas, ela se ergueu sobre os cotovelos para assisti-lo se despir. Os olhos dele brilhavam quando se demoraram em seus seios e quadris.

Lentamente, ela puxou as saias para cima de suas pernas.

— Quanto despida devo estar para a sua experiência, meu lorde? — Ela parou sobre seus joelhos. — Despida assim?

— Mais.

Suas coxas.

— Assim?

Ele descartou suas calças e subiu na cama, apoiando-se em cima dela.

— Mais.

— Mostre-me. — Ela sussurrou contra a boca dele.

Ele tirou as meias dela. As saias. Seu corpete, espartilho, anáguas e camisa. Ele deslizou as palmas de suas mãos sobre os mamilos. Tomou as pontas duras em sua boca – primeiro um, depois o outro. Ele beijou todo o caminho para baixo, demorando-se como frequentemente fazia, sobre seu ventre.

— Nosso bebé crescerá aqui, Eugenia. — Ele esfregou o nariz em seu umbigo. — Nossa família crescerá aqui.

Ela sorriu e acariciou seu cabelo.

— Como está certo, meu amor.

Em seguida ele traçou um dedo ao longo de seu quadril, perto de onde a bala de Neville a atingira. A ferida ainda doía um pouco, mas estava se curando incrivelmente bem graças aos chás e pomadas de Phineas. Ele depositou um beijo suave acima e abaixo do curativo.

— Como se sente? — Ele perguntou.

— Febril.

Os olhos dele voaram aos dela, enrugando preocupados.

— Seu toque me deixa ardendo. — Ela acariciou a bochecha dele, os quadris ondulando no cobertor. — Agora, prossiga com isso.

Ele riu, baixo e duro. O som era perversamente prazeroso.

Ele beijou seu ventre. Mais embaixo. Depois mais embaixo.

— Suas pétalas são macias, Roseira. Ansioso. — Os dedos dele separaram as dobras e deslizaram com carícias enlouquecedoras ao redor de se centro inchado. Os olhos dele a devoravam ali, quase um outro toque. Ele abaixou a cabeça. Provocou o pequeno núcleo com a língua. — Néctar doce, doce. — Ele sussurrou, seu fôlego era outro estímulo. Dois dedos deslizaram facilmente para dentro dela enquanto sua língua trabalhava, trabalhava e trabalhava.

A explosão de calor e luz expandiu indefinidamente como uma nuvem de tempestade sobre o mar, enquanto ela se erguia na boca dele. Contorcendo-se e agarrando-se a seda prateada, ela exigiu:

— Agora, Phineas. Oh, por favor, meu amor. Agora.

Em segundos ele a preenchia. Duro, profundo e verdadeiramente. Ela prendeu os olhos aos dele. Beijou seus lábios. Agarrou-se apertada a ele e lhe deu cada grama de prazer que era capaz.

Porque ele era dela. Cada parte dele. O cientista, o marido, o protetor. O homem. Inteiro e maravilhoso.

— Deus, como eu te amo, Roseira.

— Phineas. — Ela exalou. — Meu coração.

Quando o pico chegou, o corpo dele empurrou dentro dela com uma fúria enlouquecedora. Os olhos dele ardiam, desesperados e devoradores. Ela os prendeu aos seus o tanto que foi capaz, esperando que ele visse o seu êxtase. Para saber que seu toque era o único que poderia causar isso. E, enquanto o nome dele quebrava de sua garganta com um soluço violento, ela conseguiu ver que ele já sabia.

Ela era dele e ele era dela.

Ela o faria rir quando ele ficasse muito sério e ele a fortaleceria quando sua confiança oscilasse. A família deles cresceria. O amor deles cresceria.

Genie sabia tão certo quanto sabia que as rosas de seda vermelha ficavam vistosas no azul índigo.

Pois, embora o casamento deles tenha sido plantado no solo do escândalo, as raízes deles agora e sempre estariam entrelaçadas.


EPÍLOGO

“Um grifo? Ora, é parte águia e parte leão. Interessantemente, a lenda diz que esta criatura seleciona um parceiro para toda a vida. Bastante parecido com os dragões, nesse aspecto.”

A Marquesa Viúva de Wallingham enquanto lia para seu neto mais velho, Bain, em uma pacífica manhã de inverno.

A geada cintilava nas pedras do caminho. De cima, a paisagem de Primvale parecia pintada em um branco iridescente. O mar suspirava à distância. O sol brilhava claro e puro.

Phineas pegou o coberto do sofá de Eugenia e caminhou em direção ao terraço.

Ele envolveu o coberto vermelho e suave ao redor dos lindos ombros de sua esposa. Então. Envolveu-a com seus braços.

— O que acha? — Ele murmurou em seu ouvido.

Ela se recostou nele e depois apoiou o cotovelo no pulso e bateu nos lábios com o dedo.

— Levou muito tempo.

— Sim.

— E gerou muita despesa.

— E aqui está.

— Eu nunca recuperarei o sono que eu perdi ao ser acordada todas as manhãs por martelos, escultor e artesãos muito jocosos.

Ele riu. Beijou o pescoço dela. Sentiu o seu arrepio.

— Mas?

— Está perfeita, Phineas. Mas perfeita do que eu imaginei.

A felicidade o tomou. Orgulho e prazer se moveram através dele como um raio.

Ele não havia permitido que ela visse o seu desenho até o dia anterior, quando enfim, o escultor terminou seu trabalho. E sua reação inicial não foram palavras: lágrimas. Levou uma tarde apaixonada demonstrando sua apreciação com a boca, mãos e seu delicioso corpo.

Mas ele queria ouvir as palavras dela. E agora, ela o fez.

A fonte da mãe dele fora transformada. O grifo permaneceu. Mas onde a serpente antes se enrolava, agora galhos, folhas e flores se entrelaçavam. Os espinhos da roseira protegiam o grifo, e o grifo protegia as preciosas flores. Eles se entrelaçavam em direção ao céu fortalecidos por seu abraço.

— Fico feliz por ter gostado, Roseira.

Ela levou a palma da mão dele para seu ventre, agora, redondo e entrelaçou os dedos entre os dele.

— Eu amei isso. E eu amo você. — Ela fungou. — Eu também amo o meu novo quarto. — Eles haviam trocado a seda amarela por vermelha em setembro. — Embora eu não veja porque nós mantemos uma cama ali, já que não posso dormir em outro lugar que não seja com você. Talvez eu a transforme em uma sala de estar. Ou uma sala de trabalho.

— Outra sala de trabalho?

— Se eu for trazer a última moda para as damas de Bridport, eu devo ter uma sala para criar, Phineas.

Ele suspirou.

— Eu achei que duas salas eram suficientes...

— Você tem apenas um jardim? — Ela perguntou atrevidamente.

Ele optou pelo silêncio.

— Muito bem. Além do mais, Hannah sugeriu expandir as minhas ofertas a Weymouth. Ela é brilhante, sua irmã. Não tinha ideia de que ela tinha tal cabeça para lucros e porcentagens.

Ele beijou o topo da cabeça de Eugenia e apreciou a sensação do bebê deles crescendo sob sua mão.

— Entre, minha doçura. Está frio para ficar fora por muito tempo.

— Não tenho preocupações neste assunto.

Sorrindo, ele murmurou:

— Não?

Ela sorriu também, os olhos brilhando com amor enquanto ela se virava em seus braços.

— Você sempre me mantém aquecida, Phineas.

Ele tocou sua testa na dela. Respirou. Violetas e cerejas.

— E eu sempre o farei, Roseira. Sempre.

 

 

 


[1] O chapéu de palha de Florença ficou conhecido universalmente como “leghorn”, deriva do nome em inglês da cidade de Livorno, pois a distribuição do chapéu acontecia do porto desta cidade para todo o mundo.
[2] Fancy significa criativa, imaginação, fantasia.
[3] Bedlam foi um sanatório.
[4] A cravat é um lenço para o pescoço, precursora da moderna gravata e gravata borboleta, originada de um estilo usado por membros da unidade militar do século XVII
[5] otomana é um pufe, mas por causa do jogo de palavras com o Império Otomano (durou de 1299 a 1922), mantive como o original.
[6] Syllabub é um prato doce da culinária inglesa, feito coalhando creme ou leite doce com um ácido como o vinho ou a cidra. Foi popular entre os séculos 16 e 19.
[7] O xarope de orgeat é um xarope doce feito de amêndoas, açúcar e água de rosas ou água de flor de laranjeira. Foi originalmente feito com uma mistura de cevada e amêndoa. Tem um sabor pronunciado de amêndoa e é usado para dar sabor a muitos coquetéis.
[8] O pistilo é um órgão sexual feminino de vegetais do grupo angiosperma. Esta parcela da flor é também chamada de gineceu e é responsável pela reprodução das flores.

 

 

                                                    Elisa Braden         

 

 

 

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