Nas luzes cintilantes de uma festa de gala em um antigo castelo nas Highlands escocesas, a bela viúva Companheira de Raça Danika MacConn se sente sozinha no meio da multidão. Mesmo entre os amigos e festejando a celebração no Darkhaven, ela não pode esquecer seu amor perdido, um guerreiro caído da Ordem. Seu breve retorno à terra natal de seu companheiro tornou-se traiçoeira depois de rejeitar os avanços de um perigoso chefe do crime de Edimburgo com um gosto para o esporte de sangue. Quando Danika procura expor o vampiro e seu comércio sombrio, ela descobre um aliado inesperado em seu ameaçador capanga, o enigmático Brannoc, um homem que transpira calor, perigo, ameaça escura e parece de alguma forma dolorosamente familiar. Bran tem suas próprias razões para querer impedir a entrada de Dani no negócio do seu empregador... e seus próprios segredos que quer manter enterrados. A última coisa que precisa é se perder com uma mulher que tenta a parte mais selvagem de sua natureza Raça, especialmente quando essa mulher é Danika MacConn, a única mulher capaz de deixá-lo de joelhos.
A música de Natal cresceu da formal orquestra, enchendo o salão de baile da mansão de Edimburgo, onde duas dezenas de casais dançavam bonito sob guirlandas de azevinho e perfumados ramos verdes. No alto, lustres gigantes com cristais cortados em gotas brilhantes com toques de ouro espalhavam luz suave como diamantes sobre a reunião no Darkhaven abaixo. Era noite fora das janelas de dezoito metros que corriam o comprimento do salão de baile, as persianas que cobriam os vidros durante o dia estavam erguidas para revelar a imaculada propagação do luar das Highland rolando pelas colinas cobertas de um branco invernal.
A cena era como o retrato perfeito da página de uma revista.
Elegante, urbana. Absolutamente encantadora.
Danika dificilmente podia sufocar o impulso de gritar.
Ela não pertencia aqui. Voltar para a Escócia nos feriados e para esta reunião social da Raça à noite — por mais insistência dos bem-intencionados parentes de Conlan — foi um erro. Dois dias em Edimburgo, e já estava louca para reservar um voo para casa ao lado de sua vida tranquila na Dinamarca. Ela estava de sandálias de salto alto e vestido de cocktail preto há apenas duas horas, lutando para manter pequenas conversas com uma centena de pessoas que não conhecia, e mais da metade do tempo esteve espiando a porta da frente da mansão com um desejo que mal podia esconder.
—Está tendo um bom momento, Danika?
Deus, não podia girar e sair.
Em vez disso, sorriu educadamente para a moça ao seu lado. —Claro. A festa está linda, Emma.
—Viu? Sabia que iria gostar de sair por um tempo, — disse a pequena ruiva. Era a Companheira de um dos primos distantes de Con, uma simples criança na casa dos vinte, ainda fresca com o brilho da juventude intocada e brilhando com a promessa do vínculo eterno que dividia com James, o bonito macho Raça ao seu lado. Seus olhos escuros eram ternos para Emma, seu braço forte a segurando protetoramente ao seu lado. Quando ele sorriu para sua bonita Companheira, era impossível perder a visão de suas presas emergentes atrás de seu lábio. Desejo transformava seu olhar também, sua íris piscando com faíscas aquecidas de âmbar.
O casal, obviamente, adorava um ao outro, e era difícil para Danika não invejar seu futuro. Difícil lembrar como era ser recém-vinculada pelo sangue e tão apaixonados, ansiosos pelo tempo juntos sem fim.
Danika desviou o olhar do par e alisou a faixa de seda escarlate de luto amarrada em sua cintura. Ela não usava mais o vestido branco tradicional de viúva, mas até um ano e meio após a morte de Conlan em Boston, achava difícil abandonar este último símbolo de sua perda. Sendo a Escócia a terra natal de Con somente fazia sua ausência mais óbvia. Forjaram uma história juntos aqui, nas Highlands. Séculos unidos como um só, vivendo uma existência pacífica, até Con sentir o seu dever e honra que os levou aos Estados Unidos a cerca de cem anos atrás, onde ele comprometeu sua espada em serviço, como um guerreiro da Ordem.
Não queriam nada, exceto a criança que finalmente decidiram ter. Seu filho, Connor, concebido apenas três meses antes de Conlan ser morto em uma missão da Ordem que deu errado. Ela odiava deixar o bebê em sua casa de hóspedes com a família de Con nesta noite, mesmo que fosse por um par de horas. Ele era tudo que tinha, seu único elo com a vida que compartilhou com Conlan MacConn. Danika olhou para o mar de estranhos ao seu redor, os machos Raça civis e suas companheiras, uma centena de rostos desconhecidos em um local desconhecido. Ela olhou para todos eles, e nunca se sentiu tão sozinha.
—Me desculpe por um momento? — Ela perguntou ao casal ao lado dela. —Devo ligar para casa novamente, me certificar que está tudo bem com Connor.
—Mas acabou de verificar há cinco minutos...
Danika deixou a trilha de comentários atrás dela, já se deslocando em direção ao perímetro tranquilo do salão de baile e tirando seu telefone de sua pequena bolsa de festa. A atualização da casa de hóspedes onde Danika e Connor estavam hospedados foi a mesma de todas as outras vezes que ela ligou. Tudo estava bem com o bebê, sem necessidade de Danika se preocupar.
Ela agradeceu à Companheira cuidando de Connor e desligou a chamada, sabendo que era errado desejar uma razão para sair da festa e correr de volta para seu filho. Deveria estar passando um bom momento hoje à noite. Desde que estava presa lá até seus companheiros decidirem sair, talvez devesse pelo menos fazer um esforço para se divertir um pouco.
Deslizando o telefone de volta em sua bolsa, ela começou um circuito lento pela sala. A faixa vermelha em volta da cintura desviava o interesse de todos, até do mais ousado macho Raça desacompanhado. Mesmo com seu 1,55m sem a altura adicional de seus saltos de 10cm e possuindo longos cabelos loiros, percebeu que era difícil de perder. Podia ignorar os olhares de avaliação dos homens na reunião. Era a pena nos olhares das outras Companheiras que a fazia se sentir mais estranha.
Viúva depois de tanto tempo juntos? Preferia morrer que perder meu companheiro assim.
Danika brevemente fechou os olhos quando o pensamento navegou para ela do outro lado da sala. Não sabia de quem era a mente que a atingiu, nem podia barrar a intrusão. Cada Companheira era dotada de um talento único extrassensorial. O dela era a capacidade de ler pensamentos, seja Raça, Companheira, ou Homo sapiens básico. Infelizmente, desde a morte de Conlan, essa capacidade se tornou imprevisível, incontrolável. Seu sangue Raça manteve sua juventude, durante séculos, mas também alimentou seu talento e o manteve forte.
Várias vezes já esta noite foi surpreendida por um súbito comentário mental sem ser convidado. A maioria eram tagarelice mundanas e asneiras de coquetel insípidas, mas alguns pensamentos ásperos a cravavam como setas.
Nunca teria acontecido se ficasse com Conlan na Escócia, onde ele pertencia. Nunca deveria ter tomado uma forasteira como Companheira.
Danika levantou o queixo e caminhou mais dentro da multidão de civis do Darkhaven. Deixe-os olhar. Deixe-os lançar sua culpa silenciosa e suspeita. Deixe-os embascados com ela como uma pessoa de fora que era. Nunca precisou da aprovação de ninguém, e com certeza não precisava agora.
Ela caminhou pelo centro da festa, seus passos sem pressa, a cabeça erguida. Ouvia conversas abafadas se juntando à barragem de entrada psíquica indesejável, até que era quase impossível discernir quais palavras eram ditas em voz alta e as que eram uma única voz em sua mente. Inúteis reflexões sobre escolhas de guarda-roupa desconfortável e planos de férias pendentes sobrepostos a debates opinativos sobre a política da Raça e a situação econômica sombria do mundo humano.
Até o momento que Danika chegou do outro lado do salão sua cabeça estrondava com a cacofonia combinada de estímulos sensoriais. Um pouco de ar fresco ajudaria a limpar sua cabeça. Abriu caminho na direção de um par fechado de portas francesas que se abriam para um terraço exterior.
Quando ela se aproximou, viu as formas escuras de vários machos Raça do lado de fora. Suas vozes eram pouco mais que um baixo burburinho do outro lado do vidro. Ela fez uma pausa na menção da transferência de uma carga viva pendente em atraso no aeroporto de Edimburgo, algo caro, que requeria tratamento discreto. Só isso já era suficiente para fazer seus instintos pinicarem, mas foi o próximo comentário que congelou seus pés no chão onde estava.
—Será que a carga inclui qualquer coisa... exótica?
—Talvez — veio a resposta ofegante, arrogante. —Então, não se esqueça de trazer sua melhor oferta. E seu apetite, o que possa envolver.
Baixos risos conspiratórios responderam do grupo de vampiros. Continuaram a falar, mas suas vozes caíram para um nível muito baixo para que ela ouvisse. Mas tentou, avançando um pouco mais perto das portas do terraço e fingindo interesse arrebatado em uma pintura horrível emoldurada na parede ao lado dela.
Espionagem é um hábito muito rude.
O pensamento atingiu sua mente a partir do nada, como melaço profundo, rico e grosso rolando com um acento escocês.
Pode ser perigoso demais, moça.
Ela conhecia essa voz grossa e escura? Ainda mais perturbador, seu dono a conhecia?
Danika enviou um rápido olhar em torno da multidão, à procura de rostos familiares no meio da multidão no salão de baile e nos grupos menores agrupados no seu perímetro. Com exceção de um punhado de primos de Conlan e suas companheiras, não havia nenhum outro estranho ao seu redor.
No entanto, ela tinha certeza que ouviu o falar lento, a sarcástica pronúncia lenta das Highland de antigamente. Pensou no punhado de homens Raça conspirando no terraço exterior, e se perguntou...
Só então as portas francesas abriram e os quatro vampiros começaram voltar para a mansão. Danika recuou, tarde demais para fingir que não estava lá por mais de alguns minutos.
O macho liderando o grupo fixou nela instantaneamente com seus frios olhos cinza-ardósia. Impecavelmente vestido em seu smoking Armani, o cabelo preto penteado habilmente em volta de seu rosto, ele deu um leve sorriso. —O que temos aqui? — A voz que exalava arrogância do outro lado das portas do terraço agora estava amaciado com charme oleoso, mas um de seus companheiros —uma parede de músculos enormes, ombros largos, e sombria ameaça pensativa — se fundiu ao resto da multidão. —Pensar que eu poderia ter deixado a festa hoje à noite sem o prazer de ser devidamente apresentado a alguém tão linda como você.
Danika não ofereceu resposta. Longe de estar impressionada pela sua atenção, ela estava muito ocupada tentando conseguir um olhar melhor ao macho Raça em pé atrás dele. Guarda-costas ou bandido, não podia ter certeza. De altura formidável, usava mais de uma arma de fogo sob o corte conservador de seu casaco de lã grafite. Seu olhar estava parcialmente encoberto pelo despenteado e descuidado cabelo grosso castanho, mas ela podia divisar a linha selvagem de uma cicatriz de faca sob o rosto com barba-grisalha, e a ponte de seu nariz tinha o dentado de uma ruptura mal curada. Enquanto olhava para ele, sua boca generosamente esculpida ficou sombria, os lábios achatados e ameaçadores acima do queixo quadrado.
Pinicava algo profundo em suas veias. O rosto estava errado, mas a torção grave da boca...
Ela conhecia aquele olhar escuro. Não era?
—Meu nome é Reiver, — disse o vampiro com a voz seca e oleosa que rastejou por sua pele. Seu olhar viajou por dela, levantando as sobrancelhas quando viu a faixa vermelha em volta da cintura. —E você deve ser a viúva MacConn. Uma vergonha sobre seu homem. Negócio perigoso que ele estava.
Danika se encolheu pela referência a seu companheiro morto. Na verdade, podia jurar que detectou uma reação menor do ameaçador companheiro de Reiver também. —Conlan foi morto fazendo algo que acreditava, fosse perigoso ou não, ele serviu a Ordem com honra.
Ele abaixou a cabeça num vago reconhecimento. —Claro. E você tem minha simpatia pela sua perda.
Ela até poderia ter acreditado nele um pouco, não fosse o brilho malicioso em seus olhos. —Não estou particularmente interessada em qualquer coisa que tenha a oferecer. Agora, se me dão licença...
Quando ela girou para ir embora, sua mão desceu firmemente em seu braço. Danika ouviu o estrondo de um rosnado, mas não teve tempo de registrar se veio de Reiver ou do guarda atrás dele, cujo corpo ficou rígido e alerta, vibrando com ameaça. —Essa língua afiada. Os guerreiros pagãos da Ordem podem achar atraente em uma mulher, mas está muito longe de Boston, minha querida. Um pouco de cortesia faria bem.
Ela olhou abaixo para os dedos longos que serpenteavam em torno de seu pulso e a seguravam como um torno. Seu guarda-costas avançou como se pronto para intervir, mas Danika se recusou a ser intimidada por qualquer um deles. —Me solte.
O sorriso de Reiver tornou-se um sorriso de lábios finos. —Nós quase não tivemos chance de nos conhecer. Fique. Eu insisto.
—Eu disse para me deixar ir.
Ele não deixou. E no instante seguinte o salão ecoou com o estalo da palma da sua mão aberta conectando com o rosto dele.
Parecia que a sala inteira congelou em resposta.
Corpos deixaram de se mover sobre a pista de dança. A orquestra desapareceu em silêncio. Conversas foram interrompidas, cabeças viradas. Todos olharam para Danika e o vampiro que fervia em fúria fria, impedido de devolver o golpe pela parede de seu guarda-costas, que se colocou entre eles.
—Danika! —… Emma correu com James ao seu encontro. Correram para ela como se fosse uma criança que acabava de cutucar uma víbora enrolada com uma vara. —Danika, o que fez?
—Pegue meu carro, — Reiver rosnou ao seu guarda-costas. Sua fúria era óbvia, brilhando na transformação âmbar de seus olhos e nas fendas afinando de suas pupilas. Por trás da borda erguida de seu lábio, suas presas brilhavam emergentes e nítidas. —Este espetáculo é longo. Estou indo embora.
—Mr. Reiver, — James interrompeu, claramente ansioso. —Não posso me desculpar o suficiente por isso... o que quer que seja. Por favor, perdoe nossa prima. Ela não devia ter a intenção...
—Não, — Danika disse. —Não tem que inventar desculpas para mim. Posso falar por mim. E se eu sentisse que um pedido de desculpas se justificava, o daria.
O guarda-costas de Reiver murmurou uma maldição em voz baixa, enquanto o brilho de seu empregador queimava ainda mais quente. —O carro, Brandogge. Agora.
Quando o grande macho se afastou para obedecer, Reiver varreu Danika com um olhar mordaz que praticamente a despiu. —Talvez algum tempo na Escócia ajude a suavizar a borda grossa que América deixou em você, viúva MacConn. Para seu bem, espero que sim.
Antes que ela pudesse dizer onde guardar essa sugestão, os parentes de Conlan a levaram longe para que Reiver deixasse a festa sem maiores incidentes.
Bran trouxe o Rolls-Royce preto de Reiver para a frente do Darkhaven e colocou o sedan na vaga pavimentada fora da entrada. Suas mãos coçavam no volante, seu pulso martelava duro em seus ouvidos. Cada instinto estava em alerta máximo, dizendo que levasse sua bunda de volta para dentro e verificasse que a situação não extrapolasse com seu chefe e a Companheira viúva de Boston.
Não que tivesse que se preocupar com Reiver. Sua reputação o isolaria do pior da fofoca depois de sua repreensão pública e a atenção que atraiu de todos hoje. Amanhã seria esquecido, ou pelo menos silenciado como senão houvesse acontecido. Havia poucos membros da nação Raça na Escócia que não soubessem que era melhor não atrair a ira dos residentes mais sinistros de Edimburgo.
Se Reiver tivesse problemas para ir embora, eles tendiam a desaparecer rapidamente. Tal como a origem do seu nome[1], há muito tempo estava acostumado a pegar o que queria. Ninguém recusava qualquer coisa, e ninguém ousava ficar em seu caminho. Quando os gordos subornos e favores ilícitos não eram suficientes, Reiver não tinha escrúpulos em recorrer a táticas menos civilizadas para garantir que seus interesses fossem protegidos.
O que poderia fazer se Reiver suspeitasse que sua conversa em privado desta noite foi ouvida pela Companheira com uma conexão de longa data com a Ordem?
Não era uma área para imaginar. Ruim o suficiente que houvesse amassado seu ego e o superado com um insulto físico em meio de um salão lotado. Se Reiver imaginasse que ela poderia saber detalhes de suas transações comerciais atuais, Bran odiava pensar em como seu patrão protegeria seu silêncio.
Bran desprezava o filho da puta. Sentia o desprezo queimar por suas veias e ferver em sua visão com fogo âmbar enquanto observava Reiver sair da mansão e fazer seu caminho em direção ao veículo à espera. Foi preciso algum esforço para conter e esconder o ódio mostrado em seus traços em uma máscara de calma profissional antes do outro macho Raça alcançar o carro e abrir a porta do passageiro atrás.
Ele deslizou no banco detrás, batendo a porta atrás dele. —Que cadela arrogante, é melhor que nossos caminhos nunca se cruzem novamente. Seria uma vergonha arruinar um rosto tão bonito, mas porra, se não está implorando por um pouco de rígida disciplina.
Bran grunhiu, seus olhos se estreitaram em Reiver pelo retrovisor. —Para onde, chefe?
—O clube, — ele rosnou. Mas então a porta da frente da mansão se abriu e saiu a loira alta e o casal que veio em sua defesa lá dentro. Ao se dirigirem para o mar de veículos de luxo estacionados ao longo da larga calçada, o olhar fervente de Reiver a seguiu. —Sim, é uma fêmea que precisa de uma mão firme. Entre outras coisas.
Reiver riu sombriamente e as mãos de Bran apertaram com um aperto de morte no volante. Era tudo que podia fazer para resistir ao desejo de ir lá atrás e esmagar o rosto do outro homem dentro do vidro à prova de balas da janela traseira.
Mas tinha que jogar com calma.
Não chegou até aqui, trabalhou duro para ganhar a confiança de Reiver, apenas para perdê-la agora.
Quando Bran pisou no acelerador, o Rolls deslizou em movimento, e Reiver recostou contra o assento de couro. —Se há uma coisa que não suporto, é uma mulher arrogante. Ainda menos aquelas que não sabem seu lugar. — Os olhos exigentes encontraram o olhar de Bran no espelho. —Eu quero que descubra tudo que puder sobre a viúva da Ordem. Relate de volta para mim tudo o que descobrir.
Bran deu um aceno obediente, então, voltou a estudar a noite pela estrada à frente.
Já sabia muito sobre a mulher.
Mas isso foi há muito tempo, séculos, na verdade. De volta num tempo diferente, quando ele era um homem diferente.
E antes da bela Companheira dinamarquesa dar seu coração ao seu melhor amigo, Conlan do clã MacConn.
Danika não foi à festa esperando fazer novos amigos, mas certamente não esperava ter um confronto cara-a-cara com o Raça chefe do crime mais temido em Edimburgo.
Não que perdesse o sono por causa de seu desentendimento com Reiver na noite anterior, apesar do terror que Emma e James tentaram instilar nela depois que deixaram a reunião no Darkhaven. Segundo eles, os negócios sujos de Reiver começaram a poucas centenas de anos atrás sobre as marchas da fronteira norte, onde adquiriu gado, terras e lealdade pela ponta de sua espada. Agora era devoluções e favores pessoais que lhe davam liberdade para fazer o que quisesse. Isso e sua reputação como homem que poucos, e se havia, atreviam cruzar.
Danika estava mais ofendida por Reiver do que com medo.
E não podia descartar a conversa preocupante que ouviu. O embarque de carga viva chegaria a qualquer momento. Sussurraram oferta de pedidos exóticos para elevar os preços e inflamar a fome dos amigos da sociedade lasciva de Reiver.
A própria ideia a gelava até sua medula.
Embora fosse proibido pela lei Raça, Reiver não seria o primeiro de sua espécie a vender seres humanos como se fossem nada mais que gado destinado ao abate. Comerciantes de pele eram um flagelo desprezível, geralmente classificados entre os mais baixos dos baixos na sociedade Raça. Se baseavam como escória de rua que geralmente não permaneciam no negócio por muito tempo.
Mas se alguém com o poder do renome e conexões de Reiver decidisse tratar do sofrimento mortal e da morte, quantas vidas inocentes estaria autorizado a roubar e destruir antes que alguém tivesse coragem de derrubá-lo?
Foi esse pensamento perturbador que fez Danika discar um número de telefone protegido nos Estados, enquanto sentava sozinha dentro de um café em Edimburgo, na manhã seguinte.
—Gideon, é Danika, — disse ao guerreiro Raça do outro lado da linha, em Boston.
—Ei, — ele respondeu. O vampiro nascido britânico cuidava do centro de comando do complexo da Ordem. —Você está bem? Precisa de alguma coisa? Espero que as coisas estejam bem, na Dinamarca.
Normalmente rápido e com humor irônico, hoje Gideon parecia cauteloso, uma intensidade ímpar bordeava sua voz. —Estou bem, — disse ela. —Tudo bem. E estou na Escócia, na verdade. Decidi que poderia ser bom passar as férias aqui em Edimburgo com Connor.
—Ah. Isso é bom. — Alívio exalava de sua resposta. —Como está o rapaz?
Ela não podia deixar de sorrir quando pensava sem seu doce menino, de volta à casa de campo com Emma nesta manhã, enquanto Danika percorria a cidade durante o dia. Seu filho era Raça; para ele e para o resto de sua espécie a luz do sol era uma ameaça mortal. —Connor está ótimo. Ficando cada vez maior o tempo todo. É tão parecido com seu pai. Calmo e bem-humorado. Sou abençoada por tê-lo.
—É bom ouvir que vocês dois estão bem. — Havia uma pergunta na pequena pausa do guerreiro agora. —Mas não é por isso que ligou, não é?
—Não, — ela admitiu. Quando uma nova onda de clientes chegou para fazer suas encomendas, Danika levantou da sua mesa e saiu por um pouco de privacidade. —Sabe alguma coisa sobre um vampiro da área de Edimburgo chamado Reiver?
—Me deixe verificar o IID. — O barulho do teclado soou ao fundo quando Gideon entrou no banco de dados Raça de Identificação Internacional. —Não há muito no registro. Parece que existe desde 1700. Atualmente detém várias propriedades nas Highlands e um punhado de empresas em torno de Edimburgo.
—Que tipo de empresas? — Ela atravessou a rua e se dirigiu ao carro emprestado a ela para o dia pelos parentes de Conlan. —Qualquer coisa fora do comum?
—Empresas de Importação/Exportação, algumas lojas de antiguidades. E um clube de cavalheiros privado na South Bridge. Parece que o lugar está registrado por ele durante o último século e meio.
Ela conhecia aquela área, uma parte historicamente notória da Cidade Velha agora obstruída com lojas turísticas e bares. Estava apenas a alguns quarteirões de distância. Danika entrou no carro e girou a chave. —Tem o nome e o endereço desse clube, Gideon?
Sua resposta veio na forma de um silêncio prolongado. Então: —O que é isso realmente, Danika? Não está sendo honesta comigo.
Ela contou a ele sobre o incidente na festa de ontem à noite, incluindo o trecho da conversa que ouviu. —Não posso ter certeza, mas acho que estava falando de carga humana, Gideon.
—Jesus, — o guerreiro sibilou do outro lado da linha. —E você se coloca ao alcance do braço desse cara? Não preciso dizer o que Conlan diria sobre isso.
—Con se foi. E estou bem. Apenas queria deixar você e o resto da Ordem ciente do que aconteceu.
—Fez a coisa certa, — disse a ela. —Agora, faça um favor a todos e nos oriente claramente de toda a situação. Vamos dar uma olhada em Reiver. Não mencione isso a ninguém, nem mesmo à Agência de execução. Merda, principalmente para eles. Da maneira como as coisas estão indo por aqui, agora, temos que assumir que ninguém pode ser confiável.
—Quanto de mal?
—Não sei como isso poderia ficar pior, infelizmente. — A borda estranhamente grave na voz de Gideon tomou um tom ainda mais sombrio. Embora o tempo que esteve afastada da Ordem a mantivesse afastada do dia-a-dia das operações, ainda estava em contato com seus velhos amigos e estava ciente da guerra que envolvia um poderoso inimigo chamado Dragos. O fato que Gideon não foi capaz falar da batalha agora, mesmo admitir algumas de seus preocupações, só poderia significar más notícias. —O local do complexo foi comprometido. Estamos lutando em uma sede provisória, mas todo o plano ficou mais complicado quando, ontem, o bebê de Dante e Tess chegou antes do previsto.
Danika queria ficar feliz por Dante e sua Companheira, a quem ainda não conhecia, mas foi parte da Ordem tempo suficiente para entender que um recém-nascido era uma bênção e um fardo para o grupo de guerreiros que viviam — e, por vezes morriam — para fazer do mundo um lugar melhor.
—Como se isso não fosse suficiente, — Gideon continuou, — um dos nossos é AWOL[2]. Chase desapareceu na outra noite. Com base na maneira como tem agido ultimamente, todos estamos temendo que o perdemos para a Sede de Sangue.
—Sinto, — ela disse. De todos os guerreiros, nunca teria imaginado que o mais rígido, o agente da lei Raça que seguia o livro seria o único a ser vítima de um vício de sangue irreversível. À luz de tudo que a Ordem estava lidando agora, lamentou que os chamasse para perturbá-los com suas suspeitas sobre um pequeno gangster como Reiver. —Gostaria de estar aí com todos vocês, Gideon. Gostaria que houvesse algo mais que pudesse fazer.
—Não se preocupe conosco. Cuide de você, entendeu? — Ouviu-o escrevendo mais alguma coisa no teclado em seu laboratório de tecnologia. —Quer que eu mande alguém para você? Reichen está na Europa em uma missão, mas basta dizer uma palavra e sei que Lucan o chamará...
—Não, — disse ela enquanto virava a esquina da rua principal de paralelepípedos e lentamente fazia seu caminho ao longo da mistura de edifícios de tijolo da era vitoriana e lojas modernas que se alinhavam na South Bridge. —Não é necessário, Gideon. Estou perfeitamente bem. Não deveria ter incomodado você.
—Não se incomode, Danika. Somos parentes, sempre seremos. Todos nós nos sentimos assim.
—Obrigado, — ela respondeu, aquecida pelo pensamento. —Tenho que ir agora.
—Se mantenha fora de problemas, — ele advertiu severamente. —E entre em contato o mais rápido possível se precisar de alguma coisa. Certo?
—Sim. Eu vou. — Ela disse adeus e terminou a chamada, assim que o GPS do carro anunciou que alcançou seu destino.
Embora Gideon não falasse o endereço quando ela perguntou, sua mente conseguiu a resposta por seu talento especial. O prédio que abrigava o clube de Reiver não tinha sinalização, apenas uma porta vermelho-sangue com uma aldrava de bronze de cabeça de lobo.
Danika virou numa rua lateral onde poderia estacionar, depois voltou para dar um olhar mais atento. Não deveria tentar experimentar a porta da frente, mas uma tentativa de apertar o fecho de metal frio era demais para resistir.
O edifício estava destrancado. Estranho. A menos que os negócios de Reiver estimulassem visitantes que passavam a entrar. Ela deslizou a pesada porta aberta e entrou no vestíbulo escuro. Persianas internas bloquearam a luz do dia do lado de fora quando ela fechou a porta atrás dela, o brilho suave de uma arendela na parede canelada era a única iluminação. Ela não se preocupou em chamar na escuridão para ver se alguém estava lá. Tudo que ela queria era um olhar rápido, algo que confirmasse suas suspeitas sobre Reiver ou as rejeitasse.
Se aventurou mais no interior e tentou uma das portas em direção aos fundos do vestíbulo. Estava fechada, trancada. Outra porta parecia levar a uma escada, mas também estava trancada. Deu uma rápida olhada ao redor.
Danika soltou uma respiração reprimida, mas puxou uma respiração rápida quando um movimento soou de algum lugar dentro do prédio.
Não estava sozinha aqui.
Girou e correu de volta para a porta da frente. Estava trancada agora. Ela lutou com a trava, mas não se mexia, não importa o quanto tentasse. —Porra!
—Que diabos pensa que está fazendo?
Danika virou com um suspiro.
Era ele.
Não Reiver, mas seu guarda-costas ameaçador com a juba de cabelo castanho desgrenhado e o rosto marcado selvagemente. Foi-se o terno escuro e o armamento. Agora estava diante dela com nada, exceto jeans largos e pés descalços, a olhando como se acabasse de sair da cama. A sacudiu ver seus braços musculosos e fortes nus apertados no peito. Dermoglifos da Raça rastreavam através de seu tronco e nos ombros volumosos em arcos e flores. Quando se moveu para ela, a cor da pele dessas marcas genéticas aprofundou do tom dourado da sua carne para tons escuros que transmitiam seu desagrado.
Seus cabelos caiam em seus olhos, mas ela não tinha necessidade de ver o olhar estreitado dele para saber que a fixavam com raiva crescente, perigosa. Ela olhou para longe dele, lançando um olhar ansioso para a porta trancada atrás dela.
—Você não pertence aqui, moça.
Talvez fosse o fato que ele estava fora de sua linha de visão naquele momento, mas quando falou — e só então quando a chamou de moça — percebeu que conhecia a voz áspera e de veludo. A ouviu em sua cabeça na festa, quando enviou um pensamento a censurando por espionar Reiver. No entanto, não a desmascarou quando teve todas as possibilidades de fazê-lo.
E havia algo mais familiar sobre ele, percebeu agora.
Algo que falava de um lugar distante, ainda que inegável.
Ela olhou para ele novamente, tentando ver além do maxilar com barba e rosto marcado pela batalha que se escondia atrás do grosso cabelo caído. —Eu te conheço?
—Não.
Sua resposta curta deveria ser suficiente para convencê-la. Em vez disso, só a fez estudá-lo mais. Ela olhou para ele, tentando dar sentido ao que seus instintos diziam dela. —Mal ...?
A linha dura da sua boca achatou, ilegível. —Meu nome é Brannoc.
Ela não pensava isso, apesar do olhar furioso e sombrio que a prendia. —Brannoc o que? — Quando ele não respondeu, ela tentou uma tática diferente. — Reiver te chamou de Brandogge na noite passada. É o que você é para ele, seu cão de guarda pessoal?
—Quando necessário. — Ele deu um passo adiante, a maior parte de seu corpo enorme se aglomerando de costas contra a porta. O rolar de seu sotaque escocês aprofundava a cada sílaba. —Foi imprudente vir aqui. Está invadindo, e meu patrão não tolera intrusos em seu local de trabalho.
Quanto mais se aproximava dela, mais o ar parecia sugado da sala. Ele era calor, perigo e ameaça escura, uma tempestade a empurrando para recuar. Danika encarou seu olhar quente, poucos centímetros entre eles agora. —Que tipo de negócio tem aqui?
Ele não respondeu, apenas deu mais espaço para ela, seus olhos cinzentos como metal soltando faíscas através das ondas de cabelo escuro que pairava sobre eles.
—Reiver administra um clube de sangue, não é? — Não era uma pergunta, porque a suspeita anterior já tinha endurecido em certeza fria que se instalou como gelo em seu estômago. —Sabe disso, e ainda pode servi-lo? Que tipo de homem pode proteger alguém de boa vontade como Reiver e fechar os olhos para a maneira como ganha a vida?
—Todos fazemos escolhas na vida. Fazemos o que precisamos.
—À custa da sua honra? — Ela o desafiou calorosamente. —Mesmo com o custo de sua própria alma?
Ele olhou para ela por um longo momento. Então a fechadura da porta atrás dela ficou livre com uma click metálico afiado que a fez recuar. —Volte para onde pertence, moça.
Ela não se moveu. Não se importava agora, se o conhecia ou se era simplesmente o cão de guarda contratado de um bandido negociante de pele. Desprezou por aquilo que ele representava — pelo que ele era capaz de perdoar — pôs uma centelha de desafio em suas veias. —Se acha que vou sair, sem fazer algo sobre isso, está errado. Não vou ficar calada sabendo que pessoas inocentes estão sendo feridas...
Sua resposta rosnada cortou as palavras curtas. —Sim, você será sangrenta.
De repente, ela foi pressionada contra os painéis de madeira entalhada da porta, seu corpo escaldando o dela em todos os lugares que fizeram contato. Lugares demais para contar. Ela sentiu cada contorno do musculoso corpo, dos planos inflexíveis de seu peito nu, do abdômen de ferro ao calor descaradamente sexual de sua pélvis e grossas coxas talhadas.
—Você vai ficar em silêncio, — ordenou com força, os lábios cheios puxados atrás mostrando dentes e presas. Fogo crepitava em seus olhos agora, mas havia mais que fúria ou ameaça em seu olhar selvagem. Havia preocupação em seu olhar duro. Uma preocupação que beirava o desespero. —Não vai dizer nada a ninguém, Danika. Entende?
Ela se abriu para ele quando a percepção de como o conhecia finalmente chegou. Era uma memória antiga — tão antiga quanto seu amor por Conlan. Mais velha, por que conheceu este homem antes ainda. Poderia ter sido tentada ao mesmo tempo a dar-lhe o coração dela, se não tivesse medo que ele o deixasse esmagado sob os calcanhares de sua bota um dia. —Oh, meu Deus, — ela murmurou, chegando a tocar a grisalha face marcada pelas batalhas que um dia foi tão bonita e arrojada. —É realmente você ...
Ele não deixou que seus dedos ficassem por mais que um instante em seu rosto. Seu aperto era firme, com a boca sombria quando deu um leve sacudir de cabeça. Danika não conseguia respirar. Sentia como se fosse jogada no chão e levantada alto no ar, tudo ao mesmo tempo. Um emaranhado de emoções a inundava enquanto lutava para aceitar o que estava vendo, o que estava sentindo naquele momento.
Mas onde ela estava inundada de confusão, um sentimento de esperança e alívio, o homem que sabia ser MacBain Malcolm projetava controle total. Frio e deliberado, desprovido de qualquer ternura, guiou a mão dela de volta para seu lado e a segurou lá. —Esqueça o que ouviu. Esqueça Reiver. — Ele a soltou, mas seus olhos ainda estavam presos no seu olhar penetrante. —Me esqueça também.
Ele alcançou atrás e abriu em seguida a trava na porta da frente do clube. Uma rajada de frio, vento gelado de dezembro girou em torno deles. O barulho da rua se intrometeu, um salvador indesejado que sacudiu Danika do estupor que tomou conta dela quando olhou para o rosto de alguém que outrora considerava um amigo querido, mas que agora era pior que um estranho.
—Vá, — disse ele, e deu um passo atrás para dar espaço e se manter fora da luz do dia que alcançava o vestíbulo.
Danika olhou para ele uma última vez, em busca de palavras que não viriam. Então se virou e entorpecida voltou para a agitação da rua.
—O Chefe quer vê-lo em seu escritório, Bran. Não parece feliz.
Outro detalhe da segurança pessoal de Reiver, Thane, encostou no marco da porta do quarto de Bran no clube. O vampiro era constituído como um tanque, alto e imenso, ombros e braços enormes forçando o tecido do seu terno escuro, o porte musculoso enchendo a porta. Hoje à noite, seu cabelo preto na altura dos ombros estava puxado atrás em uma trança curta, o V de seu bico de viúva afiado e cortando as sobrancelhas de ébano, dando aos frios olhos verdes um ar beligerante enquanto observava Bran concluir a limpeza de seu par de Glock de 20 anos. As armas não precisavam de atenção, mas depois do dia que teve, se Bran não mantivesse suas mãos ocupadas, corria o risco de socar alguém. Começando com o bastardo para quem trabalhava.
Levando seu tempo com as armas, angulou uma carranca na direção de Thane, enquanto remontava a segunda das pistolas. —Diga ao Chefe que vou em um minuto.
—E tentá-lo a matar o mensageiro? — Embora dessa uma risada baixa quando disse, os olhos astutos de Thane não mostravam humor. —Tem um problema com o Sr. Reiver, resolva com ele mesmo, cara.
Bran casualmente inspecionou a armas a seu serviço, em seguida, a empurrou no coldre cruzado no seu corpo, por cima de sua camisa cinza grafite. —Não tenho nenhum problema com ele.
—Tem certeza disso? — Thane o olhou, deixando a pergunta cair entre eles.
Nos sete meses desde que Bran era empregado de Reiver, Thane provou ser o mais duro dos outros guardas de ler. Resistente, grave, inteligente quando necessário, se alguém suspeitasse dos verdadeiros motivos de Bran, a respeito de Reiver, seria, sem dúvida, Thane.
Bran levantou e atravessou a pequena sala para pegar o paletó preto na parte detrás da cadeira de madeira onde ficava pendurado. Ele sentiu os olhos de Thane sobre ele quando deu de ombros para ajeitar o paletó, completando seu uniforme de bandido, e preparado para enfrentar seu chefe.
—Não sei como faz, cara. Vivendo aqui no clube, no dia a dia. — Thane o estudou. —Não tem um lugar de sua preferência, ou parentes em algum lugar para alojá-lo?
Bran deu um olhar brando para o colchão fino e o mobiliário esparso do quarto que era sua casa desde que veio a bordo com Reiver. Encolheu os ombros. —Tenho um lugar para colocar minha cabeça. Não preciso de mais nada.
Não agora, pelo menos.
Não até que tivesse o que veio buscar: vingança.
Então, talvez, voltasse para seu verdadeiro lar. Tentasse encontrar alguma maneira de viver de novo, no lugar vazio onde Reiver não deixou nada, apenas a morte.
Roçou Thane ao passar pelo corredor. —O chefe disse o que queria?
—Não. Apenas disse para encontrá-lo e mandar vê-lo. — O grande guarda cruzou os braços sobre o peito. —Melhor esperar que não tenha nada a esconder.
Bran ignorou o aviso e atravessou o andar principal do clube, passando pelo lounge dos membros e mesas de jogos, onde alguns dos mais ricos clientes de Reiver chegaram recentemente para começar sua noite de negócios, debates e libertinagem discretamente arranjada. O escritório de Reiver era no andar de cima, uma suíte luxuosa que tomava todo o terceiro andar do edifício. O par de vampiros postados à porta o admitiram com acenos inexpressivos.
Ele entrou e encontrou Reiver em pé de frente a um monitor plano, o controle remoto preso em sua mão. —Você mandou me chamar?
—Sim. — A palavra era pouco melhor que um silvo. Quando Reiver virou a cabeça para olhar para ele, seu rosto estava rígido com desagrado. —Fui informado que há cerca de uma hora a câmera de segurança dentro do clube foi danificada irreparavelmente.
—Realmente. — Bran fingiu uma medida surpresa, mesmo se fosse ele quem destruiu as imagens de videovigilância pessoalmente. Logo após o aparecimento de Danika no prédio.
Reiver grunhiu. —Qual o uso de manter um cão de guarda no local se ele não tem conhecimento de tudo que acontece aqui a todos os momentos? — Ele colocou o controle remoto sobre a mesa, seus movimentos muito deliberados. Muito calmo para ser confiável. —Será que nada de anormal aconteceu hoje, Brandogge?
Bran se irritou pelo apelido insultante, mas manteve sua cabeça. Era apenas mais um meio de Reiver o testar, incitando-o para ver do que realmente era feito. —Tivemos um visitante esta manhã — disse ele. Não havia sentido em negar, suspeitava que Reiver já sabia e mesmo assim estava testando sua lealdade. —A fêmea da festa na noite passada.
— Danika MacConn. — O som de seu nome nos lábios de Reiver fez o pulso de Bran picar com um desprezo que lutou muito para não mostrar. —Fiz alguma investigação por minha própria conta depois que Thane recuperou uma linha de backup do hall da entrada, esta manhã. Gostaria de vê-la?
Bran deu uma sacudida indiferente de sua cabeça, sua suspeita confirmada que estava sendo testado e julgado. Deixaria para Thane sacrificá-lo. Mas o pior era o fato que Danika aparecer no clube hoje fez apenas aumentar o interesse de Reiver nela.
— Aparentemente, a cadela intrometida está na Escócia apenas temporariamente, instalada no pequeno chalé perto do rio nas terras dos MacConns.
Jesus Cristo. Sabia onde Danika estava e como encontrá-la. Detalhes que poderiam ser mais que perigosos nas mãos de um canalha sem coração como Reiver.
—A questão é, o que ela estava fazendo cheirando meu local de trabalho hoje?
Bran encolheu os ombros com desdém. —Ela não disse o que queria, mas como viu na fita da câmera, sabe que ela não foi muito longe. E não vai voltar tão cedo. Da maneira como deixei as coisas com ela, não acho que vai representar mais problemas para você.
—Não, — disse Reiver, muito prontamente. —Não, estou certo que ela não vai. Eu a vi por mim mesmo há poucos minutos.
Todo o sangue na cabeça de Bran fez uma corrida rápida e fria para seus pés. Ele manteve o olhar fixo de seu empregador, cuidando em não trair nenhum pavor que estava sentindo. —O que quer dizer com que a viu?
—Mandei um par de homens para as terras MacConn examinar a mulher. Tenho certeza que serão capazes de persuadi-la para que pudesse ficar mais confortável fora dos meus assuntos. Infelizmente, Edimburgo pode ser um lugar muito perigoso para uma mulher teimosa.
—Quem enviou? — As palavras estavam secas na garganta de Bran, seus membros como madeira, enquanto esperava para ouvir a resposta.
— Kerr e Packard.
Dois de seus capangas mais brutais. Onde Thane e alguns dos outros machos Raça a serviço de Reiver apenas ameaçavam, Kerr e Packard eram reservados apenas para os serviços mais feios. Eram os quebra-ossos de Reiver, os enviados quando ele queria marcar seu ponto com alguém na mais sangrenta das condições.
Tudo que Bran queria era saltar em Reiver e arrancar a garganta do filho de uma cadela direto onde estava. Mas matá-lo agora não pouparia Danika da dor que estava se dirigindo a seu caminho. Haveria tempo para lidar com Reiver depois — tempo para Bran ver sua vingança como planejou há muito tempo.
Agora, tudo que importava era alcançar Danika.
Antes que Kerr e Packard tivessem chance de fazer seu pior.
Bran limpou a garganta para desalojar o nó de gelo que se instalou lá. —Se não há mais nada que precise de mim...
—Não, — disse Reiver, casual, apesar do fato de ter emitido uma provável sentença de morte para uma mulher inocente. —Isso é tudo por agora, Brandogge. Mando chamar, se precisar de mais alguma coisa.
Bran inclinou a cabeça, então girou para sair. Cada passo calmo era um teste de seu autocontrole quando fez seu caminho de volta para baixo e através do clube agora agitado.
Tinha que sair de lá. Tinha que alcançar Danika, e rápido.
Inferno, podia já ser tarde demais.
Quando perdeu de vista os membros no salão e virou a esquina abaixo em um trecho de corredor vazio, apressou seus passos. Preocupação e raiva rosnavam em suas entranhas quando pensava no mal de Reiver tocando mais alguém que ele se preocupava. Não pode conter a maldição que ferveu para fora dos seus dentes e presas emergentes.
—Percebi que não ia bem.
Bran parou, virou um olhar sombrio por cima do ombro para Thane. O guarda estava atrás dele no corredor, um ombro musculoso pressionado contra a parede, seus pés cruzados nos tornozelos. Sua expressão poderia ser confundida com tédio, se não fosse o brilho de suspeita em seus olhos.
—Alguma coisa correu mal hoje com a fita das câmaras de vigilância. Mas acho que já sabe, — disse Bran, lutando com sua preocupação e indignação em um semblante de frustração. E não escapou-lhe que a melhor defesa era muitas vezes um bom ataque. —Obrigado por não me dizer que minha bunda estava na linha com o chefe.
—Não era da minha conta falar, — Thane disse. —Vai até a sala de controle dar uma olhada?
—Sim. — Bran balançou a cabeça, bem consciente que havia uma saída de volta para o prédio lá embaixo também.
Thane começou a andar na direção dele. —Vou com você.
Bran zombou. —Já me ajudou bastante por uma noite, não acha? Por que não faz algo de útil e envia algumas das meninas até o chefe por um tempo, diga-lhes para cuidar bem dele, fazê-lo muito feliz. Escolha as melhores também, aquelas com as bocas mais qualificadas. Talvez se o mantivermos ocupado, dispense o resto de nós pela noite.
Thane o encarou, sem sorrir. —Tudo bem, Bran. Faça o que precisa. Vou lidar com as coisas do Sr. Reiver.
Bran poderia ter questionado a resposta enigmática, mas todo o foco dele estava zerado com uma tarefa agora. Espreitava o clube da sala de controle de segurança, lançando um olhar rápido atrás enquanto se aproximava da saída traseira. O corredor estava vazio. Thane foi embora.
Bran abriu a porta e entrou no frio exterior devido ao inverno se preparando. Muito arriscado pegar um dos veículos da frota de Reiver e esperava que isso não fosse um desperdício. Além disso, era Raça. Chegaria onde estava indo ainda mais rápido a pé.
Convocou a velocidade da sua genética sobrenatural e desapareceu na noite.
Danika se levantou da cadeira de balanço e gentilmente colocou o pequeno Connor no ninho de cobertores no berço, cuidando para não acordá-lo. Seu rosto era tão inocente como o de um querubim enquanto dormia, saciado de sua alimentação à noite de seu pulso. Ela saboreava esses momentos de ternura com seu bebê.
Vendo o pequeno embrulho aninhado no centro do berço delicado, era fácil esquecer o quão forte e inquebrável ele seria um dia. Como ousado e corajoso o sangue da Raça de seu nobre pai o faria. Em apenas alguns anos, na idade de cinco ou seis anos, Connor já teria idade suficiente para caçar sua própria presa. Uma década mais tarde e seria adulto, letalmente assim, um macho Raça pronto para deixar sua marca no mundo. Será que aceitaria uma vida civil, talvez encontrar uma Companheira para dar-lhe seus próprios filhos e séculos de existência pacífica? Ou será que seguiria os passos de seu pai, se comprometendo com um propósito maior?
Em seu coração, Danika sabia a resposta para essas perguntas, e como era difícil de aceitar. Cada vez que Connor agarrava seu dedo em seu punho apertado, com os olhos inocentes muito sábios, também insondáveis para a paz de espírito de uma mãe, ela sabia. Seu filho seria um guerreiro, como seu pai.
E matava algo dentro dela pensar que poderia perdê-lo um dia também.
Com um beijo suave na cabeça aveludada de Connor, Danika se afastou do berço para deixá-lo dormir. Recuperou sua caneca de chá vazia na mesa ao lado da cadeira de balanço, em seguida desligou a lâmpada a caminho para fora do quarto, seu olhar persistente sobre seu filho enquanto ela calmamente fechava a porta.
Mesmo antes de se virar, percebeu que ela e Connor não estavam mais sozinhos.
—Agradável lugarzinho, — disse um dos dois vampiros que estavam dentro da sala de estar da casa. —Aconchegante, não é, Kerr?
—Isolado também — murmurou seu companheiro com um olhar malicioso que ameaçava mais que a simples violência.
Seus dedos apertaram a caneca de barro em suas mãos. Não havia necessidade de se perguntar como o par entrou. As portas eram abertas com nada mais que um esforço mental de um vampiro Raça se quisesse algo do outro lado. Quanto aos dois bandidos que pingavam neve derretida de suas botas e exudavam ameaça escura de todos os seus poros, não havia dúvida de onde vinham.
Reiver.
Pelo que não foi a primeira vez naquele dia, Danika lamentou sua visita ao seu clube privado. Ainda estava doente por ter descoberto a alguém que conhecia, alguém que se importava, era parte de uma organização desprezível como a de Reiver. Do que quer que Malcolm MacBain chamasse a si mesmo agora, e por alguma razão, parecia determinado a negar sua verdadeira identidade, Danika não estava enganada. Nem mesmo as cicatrizes que marcavam seu rosto foram suficientes para convencê-la que era alguém que não fosse Mal. Mas conhecer seu nome e rosto do passado não era a mesma coisa que conhecer o homem que se tornou.
E agora, perante estes dois intrusos aterrorizantes, uma parte sua se perguntava se foi Reiver quem os enviou ou então, seu cão de guarda fiel de volta ao clube, que exigiu seu silêncio com uma fúria fria deixando-a abalada até seu núcleo.
—O que quer? — Ela perguntou, levantando o queixo para enfrentar esta ameaça, embora as pernas parecem areia sob seus pés.
—O Sr. Reiver nos pediu para vir vê-la — disse o chamado Kerr. Suas mãos estavam em grandes luvas de couro preto, luvas sinistras que pareciam grandes o suficiente para esmagar seu crânio. —Ele quer que saiba que há uma tempestade vindo na sua direção. Ele acha que é melhor não ficar por perto para vê-la chegar.
—É mesmo? — Quando o par veio na sua direção, Danika se afastou da porta do quarto onde dormia Connor. Tudo que podia acontecer com ela hoje à noite, não queria dar-lhes alguma razão para procurar pelo resto da casa minúscula.
—O Sr. Reiver imagina que Edimburgo vai se provar inóspito para você se ficar aqui por mais tempo. — Enquanto Kerr falava, o outro bandido se alinhava no caminho que sutilmente tomava, se movendo para que pudesse bloqueá-la se pensasse em fazer uma pausa. —Meu companheiro, o Sr. Packard, e eu estamos aqui para ajudá-la. Venha com a gente agora, e pode evitar o que com certeza será uma situação muito ruim.
—Uma situação dolorosa, — acrescentou o segundo vampiro, seus lábios abrindo num sorriso frio, expondo os afiados dentes brancos.
Suas mentes eram negras com intenções horríveis, pensamentos tão brutais que achou difícil respirar enquanto os olhava mais de perto. Não precisava de seu talento extra para entender que as chances de sobreviver a este confronto não eram boas. Mesmo que concordasse em ir com eles e jurasse nunca falar o nome de Reiver para outra alma viva, sabia que a viagem terminaria com sua morte.
A ideia de Connor ficar sem seus pais, ou, pior, arrastado para esse cenário impossível junto com ela era mais que podia suportar. Ela arremessou a caneca pesada em Packard e entrou em ação no instante que sua atenção foi desviada.
A cozinha estava apenas a alguns metros de distância, mas quase não conseguiu chegar lá antes que Kerr a pegasse com mãos duras, punitivas. Ela lutou à espera de hematomas, gritando quando seu crânio bateu violentamente contra a borda implacável do fogão. Seus braços balançaram, as mãos se debatendo, lutando e buscando todos os meios de defesa.
Enquanto lutava com Kerr, Packard veio por ela agora também. Empurrou seu companheiro com um rosnado do outro mundo. —Deixe-a comigo, — ele rosnou, as presas escorrendo saliva, os olhos selvagens com fúria âmbar.
Danika se atrapalhou em pânico cego, assobiando quando seus dedos roçaram o cobre quente da chaleira. Estava pesada com a água no fogão, ainda quente do chá que fez há pouco tempo. Agarrou o cabo e a jogou em Packard com cada grama de força que possuía.
Ele uivou quando a chaleira acertou o lado de sua cabeça. A água quente explodiu pelo bico e a tampa abriu, encharcando seu rosto e pescoço. Um horrível corte sangrou em sua têmpora. O limpou com a ponta dos dedos, então a perfurou com um olhar ameaçador e assassino. —Vai pagar por isso em pequenos pedaços, cadela.
Danika recuou em terror absoluto. Não tinha para onde ir, nada para usar contra eles. Nenhuma esperança que alguém ouvisse seus gritos.
Packard rodou sobre ela como um animal que se desloca para matar. Ele avançou e Danika fechou os olhos. Esperou para sentir seu corpo enorme colidir com ela, mas no instante seguinte a casa toda pareceu explodir em caos total.
Ar frio varreu de fora em uma rajada gelada. E com ele veio um vulto escuro, se movendo tão rápido que mal podia registrar seus movimentos.
Era Malcolm.
Danika assistiu incrédula e atordoada quando ele saltou sobre Packard e cortou a garganta do vampiro com a borda de uma perversa lâmina. O guarda caiu numa pilha sangrenta, e então foi Kerr que sentiu a fúria de Mal. A luta foi rápida e brutal, punhos e facas piscando, presas mortais. Quando terminou, a respiração de Malcolm serrava por entre os lábios, os olhos lançando faíscas ferozes quando deixou cair o morto Kerr e passou por cima do corpo como lixo esquecido.
—Malcolm, — sussurrou Danika, consciente só depois dos tremores que acumulavam da cabeça aos pés de onde estava.
No silêncio, duro e pesado que se seguiu, um grito abafado se ergueu atrás da porta fechada do quarto.
O olhar selvagem de Mal se estreitou sobre ela. —Você tem uma criança?
—Meu filho, Connor. — Seus olhos estavam úmidos, a voz embargada de medo pelo que poderia ter acontecido a eles. Ainda poderia, se o olhar lancinante com que Malcolm a perfurava fosse algo.
Ele passou a mão no queixo marcado e grisalho, então soltou uma maldição viva. —Pegue a criança, Dani. Não é seguro para qualquer um de vocês agora.
Dois dos guardas de Reiver estavam caídos sem vida em poças de sangue dentro da casa.
A Companheira viúva com um bebê — a família de seu melhor amigo, e além disso, um membro da Ordem, pelo amor de Deus — estavam esperando no carro dos homens mortos estacionado atrás deles, perto do final da calçada coberta de neve.
E em sua mão, uma pistola travada e carregada mirando a janela da frente da pequena casa de hóspedes, há várias centenas de metros de distância, sua câmara pronta para lançar uma chuva de rodadas e inflamar o fluxo de gás que vazava do tubo que ele desconectou no fogão.
Sangrento inferno.
Passou metade de um maldito ano servindo um criminoso que odiava com cada grama do seu ser, escondendo quem era, enterrando o passado e o futuro arrancado de seu alcance, tudo por um propósito: para que pudesse se preparar para o momento ideal quando poderia ter Reiver e o resto de seus companheiros intocáveis de uma só vez.
Apenas arriscava jogar tudo fora, aqui mesmo.
Malcolm MacBain exalou um xingamento baixo em gaélico enferrujado. Então puxou o gatilho e se virou para voltar para o carro ligado.
O vidro quebrou atrás dele. Um vácuo respondeu sugando o ar da noite fria enquanto ele andava, levando com ele uma enxurrada de flocos de neve que dançavam na brisa das highlands.
O mundo ficou quieto, mas só por um segundo.
Em seguida, a casa explodiu e o chão sob suas botas balançou com um boom quando a terra chocalhou.
Malcolm sentiu a destruição nos seus ossos. Ele viu refletidas no para-brisa do sedan da frota de Reiver, as brilhantes chamas alaranjadas jorrando em direção ao céu, a luz da explosão iluminando o aterrado rosto de Danika por trás do vidro.
Ele deslizou para o banco do motorista sem comentários e guiou para uma curva inversa afiada. Quando rugiu longe da casa em chamas, sentiu os olhos de Dani sobre ele. Ela segurava seu bebê perto de seu peito, protegendo sua cabeça com uma mão protetora. —Malcolm, o que fez?
—A única coisa que poderia ser feita. — Ele manteve seu foco na estrada escura adiante, sabendo que tinha que chegar onde iam antes do fogo trazer todos do clã Conlan para fora e ver o que aconteceu.
—Onde está nos levando? Por que não quer que a família de Con saiba o que aconteceu lá atrás?
Ele sentiu sua capacidade insistindo em seu crânio. Zombou com uma maldição áspera e inclinou um olhar agudo sobre ela. —Fique fora da minha cabeça, moça. Deixe meus malditos pensamentos sozinhos.
—Eles vão se preocupar comigo. Preciso que saibam que Connor e eu estamos bem...
—Não vai fazer tal coisa. — Sua voz raspava para fora dele, mais dura do que pretendia. —O que fiz agora foi comprar seu tempo. Vai precisar para chegar o mais longe da Escócia que puder. E tudo será em vão, se alguém, mesmo parente de Conlan souber que você e o bebê estão vivos.
Danika estava olhando para ele, sacudindo a cabeça. —É cruel deixá-los pensar qualquer outra coisa.
—Dois dos piores executores de Reiver estão mortos dentro desse incêndio. Os mandou para matar você, Dani. Não pense por um segundo que não irá retaliar em você ou no resto dos MacConn se tiver sequer o menor motivo para suspeitar que poderia ter se afastado disso nessa noite.
Ele deixou seu silêncio preencher a calma do carro enquanto dirigia mais profundo na noite, mais dentro das colinas e planícies do deserto das Highlands, onde nasceu. —A partir de agora, está morta, Danika. Tem que confiar em mim. É o único caminho.
—Para onde irei?
—Para um lugar que ele não vai pensar em procurar você.
Ela ficou em silêncio ao lado dele de novo, murmurando palavras suaves para o bebê enquanto o pacote em seus braços continuava a incomodar e fazer barulho. Malcolm não conseguia evitar que seu olhar se afastasse dela agora enquanto as milhas de distância ficavam para trás. Ela era linda ainda, com seu cabelo loiro pálido e pele suave como creme.
O tempo o fez esquecer como seus traços nórdicos eram régios e femininos, mas vê-la agora era como olhar através de vidro todos esses anos que passaram — ao longo dos séculos, na verdade. A beleza de Danika MacConn não desapareceu nem mesmo um pouco, apesar da fraca sombra sob os olhos dela sugerirem devido ao quanto tempo ela estava, aparentemente, sem um gosto de sangue Raça a fortalecendo.
Ele lamentou a perda que ela sofreu com a morte de Conlan. Perder um companheiro vinculado pelo era o pior tipo de sofrimento. Con foi sortudo, aliviando Danika da tristeza que carregava por brincar sem ele.
E vê-la interagir tão ternamente com seu bebê abriu uma profunda dor dentro de Malcolm — a dor de uma recente perda própria. Era uma angústia que quase o destruiu, mas agora dava-lhe razão para respirar. Ter paciência. Vingar.
A última coisa que queria era uma mulher vulnerável e seu bebê sob seus cuidados. Muito pior ser essa mulher, neste momento... neste lugar.
Se endurecendo para as consequências de suas ações naquela noite, Malcolm virou o sedan para um caminho errante que dificilmente poderia ser chamado de estrada. Eles colidiram e sacudiram por uma charneca grossa, seguindo a linha de uma velha cerca para vacas de pedras em ruínas. A fortaleza dominou a vista à frente, se aproximando tão escura como breu contra o céu da noite de inverno.
Danika se inclinou em sua cadeira, olhando para fora do para-brisa. —Conheço este lugar, — ela murmurou baixinho.
—Sim, — ele concordou. —Deve conhecer muito bem, acho.
Ela ficou em silêncio por um longo momento, olhando para a frente quando ele desacelerou até parar em frente a ela. —Este é o castelo onde Conlan me pediu para ser sua Companheira. — O rosto de Danika brilhava branco leitoso nas luzes do painel quando se virou para olhar para ele agora. —Malcolm ... este é seu castelo.
A casa da Torre do século XV foi modernizada amplamente por dentro. As frias paredes de pedra cinzenta foram revestidas com gesso branco e adornadas com pinturas contemporâneas e fotografias em preto-e-branco das Terras Altas circundantes. Pisos de tábuas ásperas eram agora madeira reluzente, aquecida por tapetes de lã grossa. No lugar das velas de sebo e tochas montadas cuspindo fuligem e fumaça de suas chamas, Mal as transformou em belas lâmpadas para afugentar as sombras do interior do castelo.
Mas foi o quarto que levou Danika e Connor no segundo andar que lhe deu o choque mais inesperado de surpresa. Um berçário. Inacabado, pelo olhar dele. Um berço de madeira estava vazio no centro da câmara acolhedora. Uma cômoda alta estava contra a parede à sua esquerda, ao lado de uma cesta transbordando com uma mistura variada de bichos de pelúcia e brinquedos de bebê que pareciam nunca ter sido mexidos. Na parede distante, alguém começou a pintar um mural caprichado —leões sorridentes e macacos de olhos arregalados, elefantes e girafas brincando juntos numa colorida paisagem semi-concluída de árvores da selva e altas gramíneas verdes.
E, coberta com um lençol pálido em um canto esquecido do pequeno quarto, uma encantadora cadeira de balanço se assentava sozinha na escuridão como um espectro.
—Há cobertores e travesseiros na arca, — Mal disse ao seu lado. —Use o que quiser.
Quando ela se virou para agradecer, ele já tinha desaparecido.
Alguns minutos mais tarde, depois de instalar Connor para dormir, Danika voltou abaixo pela escada curva através do coração do castelo. Ela podia ouvir Malcolm na cozinha no nível do solo, as botas sobre o piso de ardósia, armários sendo abertos e fechados. Luz amarela aquecida escoava pela porta aberta quando Danika se aproximou.
Mal estava de costas para ela, enquanto colocava numa bacia em cima do balcão algo que tirou de um saco plástico com zíper. O paletó preto e o coldre de couro com as armas estavam pendurados sobre uma das quatro cadeiras à mesa no centro da cozinha. Sem olhar para ela, perguntou: —Encontrou tudo que precisa lá em cima?
—Sim. Obrigada. — Ela deu um passo dentro da cozinha retangular. Olhou para as paredes brancas, os balcões de granito nos armários, o brilhante fogão de aço inoxidável que equipava o local. —Lembro quando este cômodo era apenas uma cova com uma lareira escavada na pedra. Você e Con sentavam aqui por horas, discutindo filosofia e se gabando de suas conquistas variadas. Se bem me lembro, frequentemente mulheres estavam relacionadas.
Ele resmungou. —Há muito tempo atrás.
—Não parece tanto tempo agora que estou aqui novamente, — disse ela, maravilhando-se como parecia verdadeiro. O período de tempo evaporou ainda mais quando ele se virou para ela agora, seus duros olhos cinzentos sóbrios, preocupados. Ao vê-lo aqui, neste lugar, depois do perigo que enfrentaram juntos apenas há pouco tempo, fez seu coração se contrair. Ele caminhou em sua direção, segurando o saco plástico cheio na mão. Pingava água por um canto, a neve dentro já começando a derreter.
—Não tenho gelo em casa, então recolhi um pouco de neve, enquanto estava lá em cima. — Ele apontou para a mesa e cadeiras. —Sente-se, Dani. Deixe-me dar uma olhada no galo da sua cabeça.
Ela fez como ele pediu. Ele andou até ela, abaixando em seus calcanhares, enquanto ela sentava de frente para ele. Ela não percebeu que foi ferida até que sentiu o toque frio da compressa caseira contra sua testa. Ela estremeceu, puxando uma respiração afiada. No reflexo, a mão subiu para a testa, onde Mal ainda tinha o gelo no local. Sua pele estava quente sob a ponta dos dedos, a sensação de seus ossos fortes e tendões queimando instantaneamente em seu cérebro.
O toque foi demorado, muito longo.
Pesado com coisas não ditas, não convidadas.
Estavam muito perto assim, íntimos. Ele agachou diante dela. Ela estava com as pernas de ambos os lados de seu corpo grande quando se inclinou para cuidar dela. Seu rosto estava no nível do dela, perto o suficiente para que pudesse ver o primeiro brilho âmbar queimando no cinza frio de sua íris. Perto o suficiente para que pudesse sentir o crepitar do ar nos centímetros que separavam seus corpos, eletrificado com uma tensão palpável que nenhum deles parecia esperar.
Com uma carranca, ele puxou a mão dela, colocando a compressa de neve derretendo sobre a mesa atrás dela. —Isso não foi uma boa ideia.
Danika engoliu, sua garganta subitamente seca. —Quer dizer me ajudar esta noite, ou...
—Tudo isso, — ele respondeu sem rodeios, um rosnado grosso que raspou através de seus dentes e pontos alongados de suas presas.
Mas não se retirou de onde estava curvado diante dela, e seus olhos permaneceram fixos no rosto dela, atormentados e tempestuosos. Com o mesmo desejo escuro que começava a acender dentro dela. Ele rosnou uma maldição baixa sob sua respiração. —Tenho que ir. Tenho que voltar para o clube antes que avisem Reiver que fui embora.
—Não, — ela exclamou, balançando a cabeça quando ele começou a se mover para longe dela. O pensamento de ser deixado sozinha, apenas Connor e ela, depois da noite que teve, já gelava suas veias. E não podia suportar a ideia de Reiver possivelmente descobrir o que Malcolm fez para ela e o punir. —Não volte para lá. Como pode sequer pensar em voltar agora?
—Tenho um trabalho a fazer, Dani. Simples assim.
—Reiver é um animal, — o lembrou. —Ele é uma besta que negocia com vidas humanas. Você mesmo disse que ele teria assassinado a mim e meu filho a sangue frio.
—Sim, — Malcolm concordou firmemente. —Reiver é todas essas coisas. Pior, na verdade. Uma pena que não percebeu mais cedo, antes que tudo fosse para o inferno esta noite.
Não havia muita culpa nesse acusação. Em vez disso, pavor absoluto. Um medo em seus olhos que sua raiva não chegava a mascarar. Ela procurou aquele olhar assombrado, sofrendo por ele, querendo entender quem se tornou. —O que aconteceu com você, Malcolm? O que aconteceu com seu rosto, seu nome... com o homem que costumava ser?
—Ele se foi, tão morto como você está agora. — Sua boca era uma linha sombria, um músculo passando ao lado de sua selvagem mandíbula sombreada pela barba. —Um inferno de muita coisa pode acontecer em algumas centenas de anos, moça.
—Sim, — disse ela. —Eu acho que pode. Nunca pensei que veria o dia em que Malcolm MacBain jogaria fora sua honra e seu bom nome, a fim de servir alguém como Reiver.
—Todos fazemos escolhas. E tenho minhas razões, — ele murmurou. Com essa resposta sibilada, finalmente se afastou dela. Os cílios escuros cobriram seu olhar, e ele se pôs de pé.
Ela continuou com ele, o encarando, se recusando a deixá-lo expulsá-la. —Me diga.
—Deixe, Danika. — As palavras eram um estrondo profundo, vindo de seu peito.
Mas não podia deixá-lo ir embora. Olhou para ele mais duro, levando seu talento rebelde em sua direção. —Você o odeia.
Ele não respondeu, mas então, não precisava. Seu corpo grande irradiava ódio.
—Não é a fidelidade que faz com que sirva Reiver, — ela disse. —É a raiva. Não é?
Seus pensamentos responderam como um reflexo: Ele tomou algo precioso de mim. Tudo que eu tinha. Nada vai me impedir de fazê-lo pagar.
Danika fechou os olhos quando a tristeza da promessa afundou em sua consciência. —Mal, me desculpe.
Rugiu uma maldição escura, e então sua mão estava em seus braços, a segurando firmemente, transportando-a para a sombra de seu corpo poderoso. Sua face furiosa. —Porra, mulher! Fique fora dos meus pensamentos. — O aperto ficou mais forte, os olhos brilhantes e selvagens agora, os lábios mostrando suas presas enormes. —Por que não podia ter ficado fora da minha fodida e sangrenta vida?
Danika nunca se encolheu diante de um homem, não Conlan ou qualquer outro macho Raça. Nem mesmo Reiver, ou os mensageiros brutais que enviou à sua casa mais cedo naquela noite. Mas a fúria de Malcolm era uma tempestade que a atingiu, despiu de sua coragem. A esbofeteando com uma ferocidade que a deixou tremendo, sem fôlego.
Era um homem perigoso. Ainda mais porque estava ferido, no fundo. Apodrecendo com um ódio que o comia vivo. Viu isso agora. E algo mais no fogo ardente âmbar de seus olhos.
Desejo.
O interesse que suscitava entre eles antes queimava agora. Se transformou em algo muito mais devorador quando o olhar quente de Malcolm encontrou o dela, em seguida, lentamente desceu para seus lábios entreabertos. Outro pensamento saiu de sua mente para a dela, sem ser convidado desta vez, escuro e surpreendente em sua carnalidade.
Ela poderia dizer a ele para libertá-la. Tão formidável quanto estava, tão volátil e forte como sabia que era, teria tirado as mãos dela no instante que ela quisesse.
Mas não era isso que ela queria.
E ele sabia disso, assim como ela.
—Danika, — respondeu asperamente grosso, os olhos queimando ardentemente. Então, sua boca estava na dela.
O contato foi explosivo, cambaleante. Fazia tanto tempo desde que foi tocada, beijada, desejada. Os lábios de Malcolm seduziam, exigiam, alegando dela com uma paixão que roubou todo o fôlego de seus pulmões. Ela não percebeu o quanto ela sentiu falta desse sentimento, e mesmo que uma parte dela não deixasse Conlan ir —nunca poderia inteiramente deixá-lo ir — a parte dela que ainda era vital, ainda viva, quente e feminina, não podia negar essa necessidade de conforto. De contato físico íntimo.
O fato que era Malcolm a beijando agora, com as mãos acariciando seus braços e pescoço, os dedos fortes deslizando para o cabelo fino em sua nuca quando a puxou mais em seu abraço, mais profundo em seu vertiginoso beijo, só fez acelerar sua necessidade ainda mais.
Ele arrastou a boca para a pele sensível abaixo de seu ouvido, a respiração escaldante, a voz grave e escura. —Cristo, moça. Não deveria parecer tão boa. Eu não quero você assim.
Ela gemeu a resposta dela, perdida para a mesma necessidade avassaladora. Por Malcolm. Pela sensação de suas mãos fortes sobre ela, familiares e ainda assim muito novas. Nenhum estranho poderia a ter agitado da forma como ele fazia agora, e ela se deixou varrer para a corrente de sua paixão.
A borda da mesa pressionou seu traseiro; o corpo de Malcolm, duro e masculino a envolvia pela frente. Mesmo através de suas roupas, o calor entre eles era inegável. A grossa saliência de sua excitação era uma demanda pesada contra seu quadril, uma fricção deliciosa num ritmo primitivo, as palmas das mãos e os dedos acariciando os seios sobre a malha macia do suéter.
As mãos dela queriam o explorar também. Ela as correu até seu peito largo, seguindo as placas de músculo tenso que pareciam ferro sob sua camiseta. Os dermoglifos em seu bíceps subiram com as cores de sua necessidade. Vinho escuro, ouro polido e o mais profundo índigo pulsava como tatuagens vivas, intensificando a cada batida do seu coração febril.
Quando ela levantou o olhar de volta para enfrentar Malcolm, encontrou sua expressão feroz, suas presas esticadas longas e afiadas, suas pupilas transformadas em fendas felinas, eclipsadas pelas escaldantes piscinas âmbar. A luz brilhou mais quente quando alcançou entre as coxas dela e esfregou sua palma contra o núcleo de seu corpo dolorido. Danika arqueou com seu toque, ofegante quando a acariciou, cada terminação nervosa explodindo em ondas de necessidade quente.
—Diga-me para parar, — ele sussurrou grosso contra sua boca, os pontos afiados de seus dentes passando seus lábios. —Diga que não quer isso.
Ela não podia dizer tal coisa. Seu grito por liberação pela esfregação era tudo que podia controlar quando uma represa dentro dela desmoronou sob escombros pela habilidade de seu toque. Ela se partiu, ofegando seu nome e segurando seus ombros grossos quando ele apertou sua coluna abaixo, sobre a mesa, e a cobriu com seu corpo.
A roupa saiu com pressa, arremessada em meros segundos.
E então estavam nus juntos. Pele com pele, mãos passeando por mais carne nua. Bocas provocando, testando, tomando.
O sexo espesso de Malcolm dividia as pétalas molhadas de seu corpo, uma demanda pesada que a fez abrir mais as coxas para tomá-lo. Ele entrou com uma maldição bufada grosseiramente entre os lábios. Seu impulso longo a encheu completamente, a fez arquear debaixo dele em um prazer desossado. Seu pau invadiu e persuadiu ao mesmo tempo, agressivo mas cuidadoso, aço revestido de veludo macio. Nesse momento febril, ela não conseguia o suficiente.
Embora nunca se beijassem antes, nunca se tocassem — certamente nunca como fizeram esta noite — ele sabia exatamente como se mover com ela, quando empurrá-la até a borda e onde deixá-la assumir o controle de seu tempo.
Ela abriu os olhos e viu o homem que conhecia, um homem a quem confiava neste frágil e necessário despertar de seu corpo. —Malcolm, — ela ofegou, chegando a acariciar seu queixo áspero e a bochecha atacada enquanto ele balançava dentro dela com um ritmo implacável. —Oh, Deus, Mal...
Ela não sabia o que dizer a ele. Não sabia se haviam palavras. Mas então ele a beijou e a necessidade de falar a deixou. Ele golpeou mais duro, mais profundo, até que outro orgasmo correu em cima dela e a varreu sobre uma borda íngreme. Ele gozou com ela. Seu grito de liberação foi primitivo e possessivo, levando consigo sua necessidade de pensar ou questionar como poderiam ter acabado assim, juntos depois de anos separados.
Nus e queimando nos braços um do outro.
Não foi até que o rugido de seu orgasmo diminuiu que Malcolm sentiu todo o peso do que fez.
Sexo, com Danika.
A Companheira viúva de um homem que foi como um irmão para ele todo esse tempo atrás. A mulher que se colocou na mira de Reiver e era susceptível a inviabilizar todo o propósito do porque Malcolm vivia. Uma mulher que não tinha o direito de desejar, e muito menos seduzir — menos ainda agora, quando nenhum deles podia arriscar uma distração.
Não foi sua intenção ter Danika nua embaixo dele nesta noite. Longe disso, na verdade. No entanto, não conseguiu juntar o bom senso para lamentar o que aconteceu aqui.
Carnal, febril e sexo incrível.
E seu corpo ganancioso só queria mais.
Ele olhou para ela, colocada diante dele como uma oferta na mesa da cozinha.
Cristo, era linda. A pele leitosa e os membros longos, magros. Curvas flexíveis em todos os lugares certos. Ele acariciou as mãos sobre sua perfeição. Roçou os dedos sobre os seios e abaixo pelo seu abdômen, onde uma pequena marca de nascença vermelha na forma de uma lágrima e lua crescente a marcava como uma Companheira — uma fêmea destinada para sua espécie, capaz de carregar Raças jovens e se vincular a um de sua Raça eternamente através do sangue. Só a morte podia romper isso.
A visão da diminuta marca em Danika MacConn enviou uma sacudida de posse por meio dele — espontânea, mas difícil de ignorar. Suas presas ainda estavam enchendo sua boca pela paixão que compartilhou com ela. Agora, algo mais escuro parecia pulsar sob suas gengivas, fazendo seus quentes olhos âmbar queimarem brilhantes em seu crânio... fez seu coração acelerar pelo desejo de se alimentar. Ter sua garganta delicada em sua boca e furar a bonita veia que assinalava lá.
Para beber dela e ligar esta fêmea a ele finalmente.
Esse impulso fervente passou por seus lábios num rosnado baixo.
O olhar azul sombrio de Danika se ergueu para ele, e só podia esperar que sua habilidade não houvesse traído seus pensamentos para ela. —Vamos, moça, — respondeu asperamente, se soltando de seu calor para tomá-la em seus braços.
Ele a levantou e tirou da mesa, caminhando nu com ela para fora da cozinha e subindo as escadas do castelo até o quarto principal no segundo andar. Seu quarto. O que não pôs os pés em meses.
Não desde que enterrou os pedaços em ruínas de sua antiga vida e sua missão para destruir Reiver começou.
Levou Danika para o quarto e a acomodou na cama king-size com dossel. A coisa era uma relíquia, apenas algumas centenas de anos mais jovem que ele. Sua cabeceira, dossel e suporte esculpidos eram feitos de madeira de nogueira trabalhada em preto, sua espessura abaixo do colchão envolta em cobertores de pele de carneiro cremosa e cobertores de lã tecidos em vermelho e preto dos MacBain. Danika parecia sexy como o inferno no meio dela, apoiada nos cotovelos, uma perna esbelta flexionada no joelho.
Malcolm queria tudo de novo.
Ainda.
Seu olhar de pálpebras pesadas passou por seu corpo nu e ela deu um sorriso, todo convite que precisava.
Ele vagou para a cama e a cobriu, tomando de volta seu calor acolhedor. Fez amor com ela devagar desta vez, corretamente, da maneira como uma mulher como ela merecia que fosse prazeroso. Quando ambos estavam deslizando no suor limpo e saciado de novo, se estendeu ao lado dela e a puxou por perto. Acariciou seus seios bonitos, acariciou a garganta delicada e o queixo. Tentou sua vontade ansiosa, a ereção óbvia demais para voltar atrás. Um exercício de futilidade quando Danika estendeu a mão para tocá-lo, envolvendo seus dedos em torno do eixo e ternamente acariciando seu comprimento.
Ele gemeu, saboreando a sensação de suas mãos sobre ele. Sua maldição foi processada em sua garganta, tão escura quanto a culpa que de repente se elevava sobre ele. Foi capaz de empurrá-la de lado, enquanto seus sentidos eram consumidos pela necessidade, mas agora roía para ele.
O toque de Danika parou. Estava olhando para ele com preocupação agora, franzindo a testa. —O que é, Mal? Estou fazendo algo errado?
—Não. — Ele amaldiçoou novamente e trouxe sua mão à boca para colocar um beijo na palma. —Nada que fez está errado. Quanto a mim ... Cristo. — Ele buscou o olhar dela, odiava o que estava fazendo com ela e achava que ela o culpava de alguma forma. Ele não conseguia manter as mãos afastadas. Seus dedos desejavam a sensação dela da mesma maneira que seu pau ansiava em estar de volta dentro dela. —Sinto que estou traindo Conlan quando a toco. Estou traindo ele por querer você... agora, como fiz antes.
Ela olhou para ele em silêncio, um lampejo de surpresa nos olhos. —Você me queria? — Ela agitou a cabeça, descartando a ideia com uma risada silenciosa. —Pelo que me lembro, em todas as suas viagens e explorações na época, não houve praticamente nenhuma mulher que conheceu que não acabou com o encanto de sua virtude.
—Mas não você. E era a única que eu amava, — ele confessou, tarde demais para impedir.
Ele e Conlan foram amigos durante anos, vizinhos por mais tempo ainda. Defendiam suas terras juntos, entraram em batalhas como uma força única, como irmãos. Mas por mais perto que estivessem no campo e no dever, os dois machos Raça não poderiam ser mais diferentes. Malcolm ansiava por aventura e estava sempre pronto para persegui-la. Conlan era o equilíbrio, a confiança. O mais merecedor de uma mulher extraordinária como Danika.
Mal podia ainda imaginar a noite, quando ele e Con viram pela primeira vez a beleza dourada nórdica e filha adotiva de um poderoso líder de um Darkhaven de Copenhagen. Ela estava na Escócia temporariamente, independente até então, uma menina simples de dezoito anos, firmando relações das Raça em Edimburgo. Mal não perdeu tempo fazendo apresentações, procurou impressioná-la com histórias de suas viagens por todo o mundo e suas façanhas perigosas.
Mas foi Conlan quem a conquistou. Calmo e atencioso Con, estável.
—Era tão inquieto, sempre imprevisível, — ela observou agora. —Teria partido meu coração.
—Provavelmente, — ele admitiu. —Mas era um idiota então. Não percebi o que significava para mim até Con confidenciar que você e ele estavam vinculados.
Ela engoliu em seco, quase sem respirar agora. —Eu nunca soube.
—Teria feito diferença se soubesse?
Seus olhos se afastaram dele por um momento, considerando. —Não, não teria. Conlan era um homem bom, um bom companheiro para mim através de todo nosso tempo juntos. Eu o amei completamente. Sempre amarei.
Mal balançou a cabeça, mesmo que as palavras tivessem sabor amargo. —Ele a honrou bem. Como sabia que faria.
Danika estendeu a mão para ele agora, as pontas dos dedos roçando sua mandíbula cerrada. —Con se foi, e eu ainda estou viva. Ainda de luto por ele, mas não posso dizer que meu coração não está feliz por estar olhando para você agora, Malcolm. Não vou negar que é bom tocar em você, estar deitada aqui com você, assim. Não percebi o quanto me senti sozinha no ano passado até que tive seus braços em volta de mim. — Ela acariciou seu rosto marcado, a almofada do polegar roçando carinhosamente sobre a ferida mal curada de faca. —Conlan não é o único que você sente que está traindo aqui esta noite, não é?
Ele virou a cabeça para evitar o contato, desejando que pudesse evitar reviver a falha que lhe custou o corte brutal. Antes de Danika ter chance de entrar em sua mente pelas respostas, ele mentalmente fechou a porta com força sobre seu passado. O trancou atrás de uma parede de fúria fria. —Não quero falar sobre isso, Dani.
—Tem no andar de cima um berçário inacabado, — ela murmurou, sentando com ele quando começou a se afastar dela na cama. —Obviamente não mora mais aqui, ou não, pelo menos há algum tempo. E mesmo me impedindo de entrar em sua mente agora, eu posso dizer que lá embaixo na cozinha, seus pensamentos eram que perdeu alguém que amava. Sei que está de luto e com raiva...
—Disse que não quero falar sobre isso, — ele retrucou com severidade. —Tudo isso é pessoal.
Ela exalou um silêncio zombador. —Não há nada mais pessoal do que compartilhamos hoje à noite. Como me contar sobre seu passado — sobre a Companheira que é óbvio que amou e perdeu — pode ser mais íntimo do que isso?
—Porque quanto menos souber, mais seguro será para você. — Ele colocou os pés no chão. —Tenho que ir. Estive afastado do clube por muito tempo.
Danika saiu da cama antes que ele pudesse, se colocando na frente dele. Suas mãos estavam sobre seus ombros, seus olhos em busca dos dele. —Quanto tempo esteve conspirando para matar Reiver?
Mal sussurrou uma maldição. —Apenas deixe para lá, Dani.
Ele sentiu o impulso mais forte em sua mente. A picada determinada, e então estava dentro dos seus pensamentos, puxando a verdade dele contra sua vontade. —Sete meses, — ela sussurrou, cambaleando atrás em seus calcanhares. —Teve que olhar para ele, trabalhar para ele... todo esse tempo. Por quê?
—Porque precisava chegar perto dele, —Mal soltou. —Eu precisava...
—O que aconteceu com sua Companheira, Mal? — Danika estendeu a mão, passou as mãos sobre seu rosto, as cicatrizes marcadas. —Contou algo para alguém?
Ele balançou a cabeça, mudo por um momento enquanto as memórias inchavam, pretas como ácido. —Não tinha planejado tomar uma Companheira. Estava sozinho por tanto tempo, me acostumei com minha liberdade. Eu me alimentava de fêmeas humanas, descobria o prazer com mais que algumas. Mas fiz meu hábito claramente para me afastar das mulheres com esta marca condenável — disse ele, traçando as bordas da marca de nascença de Companheira na barriga elegante de Danika. —Mas então conheci Fiona. Era doce, gentil e inocente, apenas uma garota de 22 anos. Tudo era novo para ela, tudo uma nova aventura, algo mágico. Me olhou da mesma maneira, como uma espécie de herói maldito saído de um conto de fadas. Eu tinha séculos de vida atrás de mim, batalhas ganhas e perdidas. Olhei para Fiona e percebi que esqueci como era ser tão despreocupado e aberto.
Danika deu um sorriso irônico, terno. —Nunca foi nenhuma dessas coisas, Mal. Pensativo e enigmático, sim. E devastadoramente charmoso, à sua própria maneira sombria.
Ele balançou a cabeça, sem saber por que deveria estar surpreso que Dani o conhecesse tão bem, mesmo depois de todo esse tempo. Sua boca se contorceu com humor, apesar da gravidade de suas memórias. —Tentei manter esse cínico lado cansado da minha vida longe de Fiona. Deixei ela perceber um pouco de cada vez, para que eu não a assustasse muito cedo.
—Mas ela não se assustou, — Danika disse, prendendo-o num olhar suave.
Mal sacudiu a cabeça. —Não, ela não o fez. Estávamos juntos há menos de um ano quando me vi apaixonado por ela. Nos vinculamos pelo sangue, formando nossa casa juntos aqui no castelo. Não demorou muito para que ela me pedisse para lhe dar uma criança. Ela tinha apenas alguns meses grávida quando...
A respiração de Danika prendeu na garganta. —Perdeu os dois ao mesmo tempo? Oh, Mal.
—Ela foi a Edimburgo pegar uma cama feita sob medida — algo para combinar com o mural que estava pintando nas paredes do berçário. — Ele resmungou, a garganta áspera ainda com pesar. —Era de manhã, então eu fiquei em casa. Eu estava trabalhando numa surpresa para ela que esperava concluir enquanto ela saiu. A cadeira de balanço estava quase terminada quando senti um solavanco de terror através de nosso laço de sangue. Fiona estava em perigo, com dor. E eu estava preso nesta fortaleza sangrenta pela luz do sol queimando fora de seus muros.
Danika xingou suavemente, puxando sua cabeça contra seu peito. —Sinto, Malcolm.
—Liguei para seu celular, — ele murmurou, lembrando muito claramente o medo que tomou conta dele nesses momentos frenéticos em primeiro lugar. —Chamei seis vezes, uma dúzia... Continuava sem resposta. Não tinha escolha senão sair e procurar por ela.
O coração de Danika batia sob seu ouvido. —Em plena luz do dia, sabendo que iria matá-lo?
—Eu não me importava. Fui a pé para a cidade, o meio mais rápido de chegar a ela. A segui através de nosso laço, na mais crua das favelas de Edimburgo. Era perto de meio-dia, e minha pele estava ficando em cinzas. Mas ela estava viva, e eu ainda tinha a chance de salvá-la. — Ele balançou a cabeça. —Não estava na cidade há mais que alguns minutos quando senti nossa ligação ir. Foi cortada, e sabia que ela estava morta. Eu não a tinha.
Ela sentou ao lado dele na beira da cama. —Fez tudo que podia, Malcolm. Mais do que qualquer um poderia esperar.
—Não, — disse ele. —Ainda não. Mas farei o certo por ela. Não sei quanto tempo fiquei ali na rua depois que ela foi embora, não sentindo minha carne queimando, mas apenas sentindo o vazio da perda. Mas depois nuvens escuras se moveram e uma chuva forte começou. Me deu tempo, que usei para procurar pela cidade. Procurei por ela até que encontrei um traficante que ouviu falar de um cafetão pagando muito bem por jovens — até mesmo alguns homens e crianças — a pedido de um cliente com um gosto particular.
—Jogo humano vivo, — Dani respirava. —Para Reiver e seu clube de sangue.
Mal assentiu. —Nunca conheci a raiva como fiz quando o cafetão que levou Fiona cuspiu o nome de Reiver. Foi a última coisa que fez. Ele admitiu atacá-la naquele dia. Ele a agarrou a poucos quarteirões da loja que ela visitou e a levou de volta para a sujeira do seu apartamento, onde a mandaria para a venda. Mas ela lutou contra ele. Lutou por si e pelo nosso bebê. O cafetão tinha uma faca. Ela tentou fugir, e ele a esfaqueou no coração.
—Oh, meu Deus. — Uma lágrima escorreu pelo rosto de Danika.
—O filho da puta usou a mesma faca no meu rosto momentos antes que seu crânio fosse esmagado nas minhas mãos, — Malcolm disse, sua voz plana em seus ouvidos. —Parte de mim queria ir atrás de Reiver imediatamente. Queria justiça, rápida e brutal. Mas Fiona era mais importante. Não podia deixá-la naquele lugar, com aquele lixo humano. Então a trouxe para casa. A enterrei aqui nesse mesmo dia, e jurei a ela que Reiver e todos aqueles que financiaram sua operação pagariam com suas vidas. Não vou descansar até que tenha destruído todos eles.
—E assim forçou a si mesmo a servir aqueles mesmos homens. Todo esse tempo. — Danika estava olhando para ele, dolorida, quase com piedade. —Mas a que custo para si mesmo, Mal?
—A qualquer custo. — Ele levantou apressadamente, a tensão crescendo pelo não-planejados desnudamente indesejado de sua alma. —É tarde, Dani. Não posso arriscar mais tempo aqui. Quero que fique aqui no castelo enquanto eu estiver fora. Vou tentar voltar antes do amanhecer.
Ele não esperou ela concordar. Saiu na direção do banheiro adjacente, abriu o chuveiro com sua mente, deixando Danika em silêncio atrás dele.
Reiver estava esperando por ele quando Malcolm chegou de volta ao clube.
—Noite ocupada, Brandogge? — Reiver estava na sala pública do estabelecimento, reclinado sobre um sofá de couro, sua camisa e calça do terno desabotoada. Com ele estava uma morena de topless sob um braço, uma loira seminua em um sutiã de renda vermelha e calcinha sob o outro — frequentadoras do club que Reiver mantinha em rotação frequente em seu estábulo pessoal. As mulheres eram suas escravas, a marca da punção ainda visível no pescoço e nos membros, suas mãos passeando em cima dele enquanto olhava para Malcolm com olhos astutos, desconfiados. —Procurei por você um par de horas atrás. Thane mencionou que achava que havia saído um pouco. Um recado importante ou algo assim, ele imaginou.
Thane, o filho da puta beija bunda. Estava preocupado que Mal competisse para ser o braço direito de Reiver? O outro guarda nem imaginava o que Mal reservava para seu empregador. E se ficasse no caminho, quando chegasse a hora de Mal fazer sua jogada, não se opunha em tirar Thane do caminho.
Pelo menos enviou a distração feminina como Mal pediu. Só por isso, foi tentado a não desejar o cara morto na precipitação ainda por vir.
E independentemente das intenções de Thane, Mal era mais esperto para deixar que Reiver pensasse que o pegou em uma mentira ou traiu sua confiança.
—Saí para verificar Packard e Kerr, — ele disse. —Não disse a Thane onde estava indo, já que não tinha certeza se queria alguém a par de suas instruções com relação à mulher. Achei que Thane saberia se você quisesse que ele soubesse.
Reiver grunhiu, brincando com uma mecha da morena de cabelos longos. —Foi informado um incêndio na casa sobre as terras MacConn hoje à noite. Packard e Kerr não voltaram.
—Estão mortos, — Mal respondeu sem rodeios. —No momento que cheguei lá, as coisas já estavam desabando. A mulher não estava disposta a se render fácil. Acontece que tinha uma criança a proteger também. Foi um inferno de luta. Estava ficando confuso.
Ele não tinha que falsificar a amargura do seu relatório. Repetiu um similar que aconteceu sete meses antes no casebre imundo do apartamento de um cafetão. Malcolm só não chegou nessa briga a tempo de fazer a diferença.
Amordaçou seu ódio e o canalizou numa máscara de indiferença fria. —Packard e Kerr fracassaram em suas ordens. Não tinha escolha a não ser terminar as coisas tão limpo quanto possível e destruir as evidências.
—A Companheira e seu filho?
Malcolm deu de ombros, indiferente. —Como era sua preocupação, ela seria um problema persistente. Então, tenho certeza que a situação foi apagada permanentemente. Packard e Kerr foram danos colaterais.
As sobrancelhas escuras de Reiver se ergueram quando considerou a conta. Então riu sombriamente e levantou do sofá, trazendo seu par de brinquedos humanos junto com ele. Caminhou até Malcolm e bateu em seu ombro. —Bom trabalho, Bran. Sem dúvida que excitou seu apetite cuidar de um negócio tão importante para mim. — Reiver empurrou a loira para ele. —Ela é sua para fazer o que quiser. Nunca diga que não recompenso meus cães leais com um osso suculento quando ganham.
Malcolm pegou a mulher quando ela tropeçou para ele, confusa e instável por sua noite de serviço. Cheirava a bebida alcoólica e drogas, sexo e perda de sangue. O estômago de Mal se agitou, mas sua repulsa estava centrada no vampiro que via de perto, esperando para ver como Malcolm responderia.
Ele não tinha qualquer sede que precisasse matar neste lugar, muito menos quando vinham das sobras de Reiver. Mas em sete meses da promessa de seu voto de vingança, passou por testes piores do que isso. Estaria condenado se não passasse agora, quando Danika e seu filho estavam em sua guarda, suas vidas em suas mãos.
Foi raiva por aquilo que Reiver ordenou hoje à noite que deixou as mãos de Mal mais ásperas do que pretendia na prostituta jogada para ele. Foi o pensamentos de Danika, o impulso que sentiu de furar a garganta dela, intocada e a ligar a ele que levou suas presas a sair totalmente, as compridas lâminas afiadas.
E foi a fria determinação — um frio e oco agito, que o fez se agarrar no pescoço da humana e engolir gole após gole do sujo sangue, enquanto Reiver fixava seu olhar, rindo com diversão doente.
Mal bebeu até Reiver ir embora. Só então afastou a mulher dele, uma lambida fechando as feridas que fez antes que a deitasse no sofá, onde caiu num sono duro.
Ele passou a palma de sua mão em seu rosto, amaldiçoando grosseiramente em uma corrente gaélica por entre os dentes cerrados e presas. O gosto em sua boca era rançoso, amargo. Cuspiu um pouco dele para fora, assustado ao ouvir um claro pigarro atrás dele.
Malcolm virou para encontrar Thane no quarto com ele. —Que porra está olhando?
O vampiro de cabelos negros olhou a forma flácida da fêmea humana, e de volta para Malcolm. —Não quero interromper, mas temos um par de associados causando problemas com algumas das meninas no andar principal. Golpeando-as, ficando muito duro. Eu disse ao patrão, mas ele diz que não está dirigindo uma empresa de relações públicas aqui.
—Sim? — Mal anulou, ainda vibrando com a violência que tirava seu ar.—O que está querendo me dizer?
Thane levantou um dos ombros maciços num encolher de ombros vago. —O Chefe disse que não quer ser incomodado com questões do clube hoje à noite, então estava pensando em descer e dar algumas lições de etiqueta para os imbecis. Quero saber se quer se juntar a mim.
Mal estreitou um olhar sobre o guarda, tentando conseguir uma leitura dele. Não sabia se isso era mais um teste de Reiver ou alguma armadilha do próprio Thane. De alguma forma, não achava isso. E naquele momento, não se importava.
—Vamos, — ele rosnou, abrindo caminho.
Na hora antes do amanhecer, Malcolm chegou de volta ao castelo. Danika estava cochilando com o pequeno Connor em seus braços, aninhados juntos em uma grande cadeira estofada no grande salão do primeiro andar. Ela acordou quando Mal entrou, ouviu seus passos, seus passos de pernas longas, chegando no curto vão da escada da entrada na casa da torre no nível do solo.
Ele parou na entrada arqueada, franzindo as sobrancelhas escuras quando seus olhos brilharam sobre ela e seu filho dormindo. —Depois da forma como deixei as coisas entre nós, meio que esperava que tivesse ido embora quando cheguei aqui, — ele murmurou.
Seu rosto parecia tão cansado e triste, sua expressão tão desolada e atormentada que ela não teve escolha senão perguntar. —Esperava, ou tinha esperança?
Um silêncio zumbiu, em seguida, uma agitação lenta de sua cabeça. —Ambos, talvez.
Ele começou a andar mais acima da escada.
—Mal, espere. — Ela enfiou Connor num casulo seguro de cobertores e travesseiros na cadeira, depois seguiu Malcolm. —Onde vai?
Sua voz profunda retumbou no andar de cima. —Lavar o fedor do clube de Reiver.
No momento que ela o alcançou, ele já estava no quarto principal, tirando suas armas e roupas. Em momentos estava nu, gloriosamente assim. Músculos grossos ondularam quando ele caminhou pelo chão em direção ao banheiro adjacente. Danika pegou sua mão, forçando-o a fazer uma pausa. O cheiro penetrante de cobre do sangue humano estava maduro sobre ele.
—Foi alimentando esta noite. — Ela olhou para sua mão apertada, tão grande e poderosa, pesada ao seu alcance. As juntas estavam matizadas com escuros hematomas, contusões recentes não cicatrizadas completamente. —Você lutou. O que mais fez hoje?
Ele olhou para ela por um longo minuto, depois puxou a mão para fora da dela e passou os dedos pelo cabelo maltratado. —É um trabalho, Dani. Não me faça explicar como tenho que fazê-lo.
Como se isso fosse tudo que precisava dizer, caminhou até o banheiro e ligou o chuveiro. Ele deu um passo sob a ducha, começou a esfregar vigorosamente seu corpo.
Ela o observou por um momento, irritada por sua dispensa. E mais que isso, preocupada com sua necessidade de vingar sua perda estava fazendo com ele. Ela temia o que poderia custar.
—Acho que tenho o direito de estar preocupada com você, Mal. Não é como se nós fossemos estranhos, afinal. — Ele não respondeu, apenas manteve a lavagem furiosa de sua pele. Ele ensaboou seu cabelo escuro com raiva igual, então tirou a espuma da cabeça e do corpo sob a água quente quase fervendo. —Me importo com você, Malcolm. Tenho medo por você.
—Não tenha. — Seus olhos brilhavam quando desligou o chuveiro e puxou uma toalha do gancho da parede fora do boxe de azulejos. —Se quiser ter medo de algo, tenha medo por si mesma se Reiver perceber o que fiz. Agora, mais do que nunca, preciso derrubar esse desgraçado.
Ela balançou a cabeça, compreendendo somente nesse momento como o ódio que sentia por Reiver o estava consumindo. —Essa busca de vingança está destruindo você, Mal, não ele. Quanto tempo pode se esfregar contra o mal e não sair manchado você mesmo?
—É meu problema. Não seu. — Ele se secou rapidamente, em seguida, jogou a toalha de lado para passar atrás dela. —Não se preocupe com minha vida quando tem sua própria e do seu filho para pensar.
—Idiota arrogante. — Ela olhou para ele, o odiando por seu auto-sacrifício, tanto quanto o amava por isso. Oh, Deus. Sim, o amava. Alguma parte sua provavelmente sempre o fez. —Houve um tempo que o considerei entre meus amigos mais queridos, Malcolm MacBain. E agora...
—Agora o que? — Sua voz tremeu com uma raiva rigidamente controlada, se empurrando sobre ela, os olhos ardendo. —Tivemos sexo, Dani. Grande sexo, vou conceder, mas seu timing é uma merda. Minha vida está em movimento. Estou neste caminho, e há muitas malditas coisas em jogo aqui. Não vou colocá-la mais perto do fogo do que já está.
—E eu não posso estar perto e ver você queimar. — Ela engoliu a gelada bola de chumbo que estava assentada em sua garganta. O sentimento afundou quando olhou para ele, a resolução fria fortemente em seu coração. —Perdi um homem que amava, Malcolm. Não posso passar por esse tipo de dor novamente.
Só então seu rosto perdeu parte de sua dureza e tensão viciosa. Um músculo assinalou descontroladamente do lado grisalho de sua mandíbula, e agora seus olhos ardiam com um tom mais escuro, menos assustadores pela fúria. —Danika, eu... — Ele fez uma careta de repente, estourando numa maldição crua. Quando estendeu a mão para ela, sua mão tremia um pouco. Seus dedos encontraram seu rosto com ternura e dor, curvados suavemente em volta de seu pescoço. Ele a puxou para ele, um beijo devastador sobre os lábios.
Ela derreteu com ele, apesar da mágoa e raiva que rasgavam seu interior. Seu abraço era firme e quente, sua boca um bálsamo quando tudo que queria fazer era estar com raiva dele, pedir coisas que não tinha o direito de esperar dele.
Suas presas roçaram levemente quando deixou sua boca se afastar dela, então desceram para a pele sensível da sua garganta. Ela prendeu a respiração com uma antecipação necessária, suas veias chamando por ele, ouvindo sua própria pulsação, seus pensamentos não ditos, ecoando através de cada nervo eletrificado em seu corpo. Sua cabeça inclinou como se puxasse fios invisíveis, concedendo-lhe acesso ao latejante pulso. Ele a beijou lá, terno e doce. Brincou com o ponto delicado com a língua, dentes e presas. Um gemido escapou então, gutural com uma negação.
—Não posso, — ele murmurou contra seus lábios. —Não vou tornar o erro que cometi com você em algo irreparável, Dani. — Ele recuou, pressionando a testa na dela enquanto a segurava contra seu corpo nu. —O tempo nunca esteve do nosso lado, não é? O destino não nos dá nada mais que um gostinho do que poderia ser.
Ela não podia falar. Não podia negar quando a beijou mais uma vez e a levou para a cama. Fizeram amor em um emaranhado sem fôlego, sem promessas ou negações. Nenhuma palavra em tudo. Só paixão.
Danika chorou pelo prazer que ele deu, e pelo fato inegável que estes seriam os últimos momentos que tinham juntos.
Porque ela quis dizer o que disse: Não podia ficar parada e assistir seu ódio por Reiver destruí-lo. Seu coração não podia suportar outra perda.
Então, enquanto ele dormia ao lado dela num sono pesado, Danika saiu da cama para fazer uma chamada covarde em seu celular abaixo. —Gideon, — ela sussurrou quando o número seguro em Boston conectou. —Preciso sair da Escócia, e preciso da ajuda da Ordem.
Foi mais difícil do que gostaria de admitir deixar Danika naquela noite ao pôr do sol para que pudesse voltar ao clube antes que Reiver aparecesse e perguntasse onde de repente — seu Brandogge — esteve o dia todo. Malcolm se irritou com o papel que se viu forçado a jogar. O colarinho estava começando a irritar —mais ainda quando não podia afastar a sensação que ia custar algo que não esperava desejar tão profundamente.
Dizer adeus para ela um par de horas atrás teve uma sensação estranha de definitivo para ele. Seu beijo foi muito resignado. O abraço dela muito terno, muito carente de demanda.
A estava perdendo.
Inferno, praticamente a afastou.
Deveria ser um alívio de muitas maneiras. Envolvimento romântico era a última coisa que precisava. Foi tão cuidadoso em evitar até mesmo flertes casuais desde que enterrou a esposa inocente e a criança por nascer. Meses de trabalho martelando para fundir sua dor e raiva em uma resolução de aço, fria e inquebrável.
Ele tinha tudo sob controle. Até três noites atrás, quando teve a chance de divisar a luz pálida e bonita que era Danika MacConn, de pé apenas a alguns metros de distância dele na festa do Darkhaven. Se pelo menos não a tivesse visto. Se pelo menos não fizesse sua missão seguir durante toda a noite com seu olhar, dividido entre a vontade de evitar que o percebesse e querer nada mais que se colocar na frente dela para ver se lembrava dele. Se o reconheceria, através da máscara de cicatrizes e do escudo do seu nome falso.
Chamá-la naquela noite através do seu conhecimento de seu talento foi uma jogada imprudente. Uma arrogância que sabia que mesmo assim, não seria capaz de evitar.
Agora era tarde demais para desejar ter mantido distância.
Tarde demais para pensar que poderia voltar as coisas como eram antes dela chegar na Escócia.
Tarde demais para tentar se convencer que não se importava com Danika... que poderia ter perdido seu coração para ela de novo.
Ele a amava.
Havia uma parte dele que sempre o fez.
A constatação o atingiu com força surpreendente, e fez tudo que podia para não irromper fora do maldito clube de Reiver e dizer à Danika exatamente como se sentia sobre ela. Palavras que deveria ter dito hoje, quando ela o estava beijando em adeus e ele estava tentando se convencer que podia ficar com ela. Que não estava matando algo dentro dele considerar que poderia estar jogando Dani fora, preso tão firmemente como estava à necessidade de vingar seus mortos.
Malcolm amaldiçoou rotundamente e enviou seu punho ao lado de uma urna romana de valor inestimável num dos salões privados do clube. O antigo objeto de arte explodiu, partindo em mil pequenos cacos no ar.
—Isso vai custar bastante com o chefe.
Thane riu atrás dele, e à vista do outro guarda, Malcolm se perdeu. Voou no vampiro com um rugido, as presas saindo em sua raiva. Na verdade, ninguém era mais merecedor de sua fúria que ele, mas estava pronto para uma luta e Thane era o alvo mais próximo. Além disso, o filho da puta esteve dando-lhe cerca de uma centena de boas razões recentemente para chutar sua bunda. Mal rosnou com intenção violenta. —Escolheu a maldita hora errada para me encarar, Thane.
—Não vim aqui para brigar com você, — ele retrucou. —Vim aqui para dizer que Reiver vai nos levar como segurança no encontro de hoje à noite.
Malcolm estreitou um olhar sobre ele. —Que encontro?
Thane lançou um sábio olhar astuto. —Reiver chamou do aeroporto. Sua carga chegou. Está a levando para uma das suas propriedades no país enquanto falamos. — Ele empurrou o braço de Mal longe dele, sibilando uma maldição dura enquanto esticava seu escuro paletó amarrotado. —Desde que Kerr e Packard já não estão a serviço, isso deixa você e eu à frente da segurança esta noite. Reiver está esperando seus clientes de alto nível em tal coisa, então quer discrição total.
Clube de sangue.
Malcolm sabia que este momento chegaria uma noite, mas ainda se surpreendeu. Este era o remate — finalmente pegar Reiver e todos os seus comparsas intocáveis juntos. — Quando vamos sair? — Ele perguntou, esperando que a borda apertada de sua voz não traísse sua ânsia para Thane.
—O chefe quer que a gente lá fora imediatamente.
Mal assentiu. A malícia corria em suas veias como ácido. Encontrou o olhar inescrutável de Thane e deu ao guarda um sorriso frio. —Então, o que diabos estamos esperando?
Meia dúzia de veículos de luxo brilhavam no estacionamento em frente à propriedade de caça de Reiver, como se seus proprietários estivessem reunidos dentro num evento black-tie, não em um jogo doente e sangrento que logo teria lugar no terreno coberto de neve.
E não haveria sangue esta noite, Malcolm prometeu silenciosamente, quando ele e Thane caminharam até a frente da residência palaciana nas Highlands. Sua mandíbula estava apertada, as veias vibrando com malícia quando outro dos guardas de Reiver abriu a porta para os admitir. —Por aqui, — disse o bandido Raça com um empurrão de sua cabeça. —O Sr. Reiver está esperando por vocês.
Foi levado a um salão luxuoso, com pé-direito alto e paredes com painéis em mogno escuro e adornadas com obras-primas pintadas representando todos os tipos de cenas de caça. Veados graciosos sendo derrubados por setas de arqueiros medievais; pequenas raposas correndo de uma matilha de cães marrons-e-brancos e senhores a cavalo de jaquetas vermelhas; um leão majestoso enlaçado e rodeado por nativos com lanças nativos diante de um branco aventureiro carregando um rifle longo preto. A sala era uma celebração ao abate, e acomodados dentro dela estavam Reiver e quase uma dúzia de membros de sua cabala privilegiada e secreta de selvagens.
—Ah, — disse Reiver com um sorriso fino. —Chegaram bem a tempo. Estamos prestes a verificar a seleção da noite para o jogo. — Seus amigos sanguinários trocaram olhares ansiosos, mas o olhar de Reiver ficou enraizado em Malcolm com controle legal. —Vamos começar?
Reiver tocou a moldura da pintura de caça à raposa. Em resposta, por trás do grupo de vampiros elegantemente vestidos, uma porta na parede do fundo do salão se abriu para um corredor mal iluminado. Com um olhar que ordenava que Malcolm e Thane o seguissem, Reiver caminhou pelo centro da multidão para liderar o caminho.
Dentro do longo corredor a arte era ainda mais violenta. Aqui, as representações de caçador e caça se tornavam mais horríveis, cena após cena mostrando todo tipo de degradação humana e derramamento de sangue. Era uma horrível arte, uma coleção profana, sem dúvida destinada a inflamar os apetites Raça mais vis. Malcolm apagou tudo da mente. Toda a sua atenção estava centrada em Reiver, os sentidos tensos e de prontidão, esperando a oportunidade privilegiada de dar seu golpe ofensivo no vampiro e seus comparsas.
À medida que se aproximava do final do corredor, Reiver tocou outro painel oculto na parede. Ar frio soprou quando um portão de madeira grossa levantou, revelando uma passarela coberta que levava ao recinto fora da propriedade. Ambos os lados da passarela eram de barras de ferro como jaulas de canil, mas as celas não continham animais.
—Meu Deus, — um dos comparsas de Reiver soprou atrás de Malcolm. —Basta olhar para todos. Um mais tentador que o outro.
Reiver riu, cheio de si mesmo. —Como prometido, para todos os gostos.
Os humanos estavam amarrados e amordaçados dentro de suas gaiolas, mais de vinte homens e mulheres, de todas as formas, tamanhos e idades. Estremeciam no ar da noite de inverno, os olhos arregalados e temerosos. Bílis subiu pela garganta de Malcolm quando olhou para os rostos aterrorizados. Não podia deixar este jogo doente avançar ainda mais. Reiver e seus associados do clube de sangue iriam morrer esta noite, aqui e agora.
Começou a alcançar suas armas, preparado para desencadear o inferno sobre todos.
—Oh, mas há mais, — Reiver anunciou, estalando os dedos para um dos outros guardas, despachando-o com um comando não dito. —Esta noite tenho uma coisa muito inesperada para oferecer, e certamente ... exótica. Brandogge, acho que vai ter particular interesse nisto.
Malcolm ficou imóvel observando, um pavor frio bloqueando seus sentidos antes mesmo de vislumbrar o que o guarda ia buscar.
Danika.
Ao contrário dos outros, não estava algemada ou amordaçada. Não, a pistola pressionando a parte detrás de sua cabeça era suficiente para garantir que não lutasse ou fugisse de seus captores.
Seus longos cabelos loiros penduravam caídos sobre seu rosto enquanto ela tropeçava ante o bandido de Reiver, o pequeno Connor firme em seus braços. O coração de Malcolm deu uma guinada quando seu olhar aflito caiu sobre ele no meio da multidão. Havia um pedido de desculpas em seus úmidos olhos azuis, uma torção arrependida de seus lábios pálidos.
Antes que Malcolm pudesse reagir — antes que pudesse calcular os terríveis riscos de girar para Reiver e seus associados esperando derrubá-los, antes que o guarda com a arma em Danika puxasse o gatilho —Thane e os dois outros guardas se lançaram sobre ele. Dani gritou, e isso quase o desfez ao ouvir o terror e preocupação em sua voz. Preocupação por ele, quando era sua necessidade pessoal de vingança que os trouxe para esse momento terrível.
O cano de metal frio carregado da nove milímetros de Thane era duro e pronto para abrir fogo na têmpora de Mal. —Não faça nada estúpido, idiota.
Malcolm rugiu, mas era raiva impotente. Não poderia tentar derrubar seus captores. Não podia fazer nada, não quando Danika e seu bebê estavam em tanto risco quanto ele. —Thane, seu bastardo maldito. Vou matar você também, antes disso acabar.
O guarda pareceu não se incomodar, mantendo uma mão firme sobre a arma pronta para explodir o cérebro de Malcolm fora de seu crânio. Um dos outros guardas despojou Mal de sua Glock e a embolsou.
Enquanto os associados de Reiver avançavam para sair, ele caminhou para a frente, balançando a cabeça lentamente. —Mentiu para mim. Traiu minha confiança. — Ele parou na frente de Malcolm, fervendo com malícia fina. —Poderia ter subido muito a meu serviço. Pensei que era quem estava buscando, Brandogge. Então a única pergunta que tenho é por que seria tão estúpido em me atravessar agora?
Malcolm rosnou sua resposta. —Não sou seu cão. Nunca fui seu nada, seu filho da puta arrogante. — Ele podia ver a cintilação de confusão nos olhos escuros de Reiver, e continuou, feliz por finalmente falar sua intenção em voz alta. —Estava esperando a chance de matar você e seu comparsas do clube de sangue desde que seu cafetão em Edimburgo me disse seu nome.
A confusão de Reiver se aprofundou, se tornou incerteza e um olhar cheio de surpresa. —Meu cafetão?
—Sim, —Mal cuspiu. —O lixo humano que vinha fornecendo o jogo para seus encontros doentes. O mesmo pequeno humano que agarrou uma jovem mulher na rua em Edimburgo há sete meses com o propósito de vendê-la para você.
Reiver zombou. —Devo me preocupar sobre cada formiga que fica esmagada sob o salto da minha bota? Ou chorar por todos os animais enviados para o matadouro? Isto não é diferente, exceto que estamos no topo da cadeia alimentar, e não a humanidade.
—Ela era uma Companheira, — Malcolm assobiou. —E estava grávida. Lutou com seu fornecedor. Ele a matou. Minha Companheira, meu filho por nascer.
O riso erupcionou fora de Reiver. —Tudo isso por uma fêmea, Brandogge? E além disso morta? — Seu olhar cruel caiu em Danika. —E agora essa outra também? O que ela significa para você?
—Deixe-a fora disto, — Mal rosnou. —Ela não tem nada a ver com isso.
—Oh, mas ela tem. — Os olhos de Reiver ficaram brutais, provocados com âmbar. —Ela é importante para você, e isso significa que ela e seu pirralho sofrerão pior do que agora. Pena que não viverá para ver. — Ele olhou para Thane. —Mate-o.
O metal gelado da arma ficou mais duro na têmpora de Mal, o dedo de Thane sobre o gatilho.
Então, em um borrão de movimento e velocidade, ele girou, disparando em vez disso no guarda segurando Danika.
O guarda caiu, a cabeça explodindo distante. O caos erupcionou. Os comparsas de Reiver se dispersaram enquanto Thane atirava em um dos guardas sobre Malcolm e Mal quebrava o pescoço do outro.
—Dani, corra! — Gritou ele, agarrando suas armas do vampiro morto e girando para dar uma tempestade infernal de balas em Reiver.
Tarde demais.
Reiver já estava em cima dela.
A visão de Malcolm queimou âmbar quente quando ele levantou ambas as Glocks carregadas e as apontou no centro do rosto sarcástico de Reiver.
Só que não foi o rosto de Reiver que viram o cano de suas armas...
Ah, Cristo.
Era o bebê de Danika, chorando e se contorcendo, pendurado pelo braço gordinho que Reiver agarrava apertado no seu punho. Na outra mão, Reiver tinha um punhado de cabelo de Danika. Ela lutou contra seu domínio brutal, seus olhos selvagens com horror, as mãos estendidas para seu filho berrando.
O sorriso de Reiver mostrava suas presas mortais. —Você perdeu, Brandogge.
Danika mal podia respirar pelo medo que tomou conta dela enquanto observava Connor pendurado na garra cruel de Reiver. Sua própria dor não significava nada, seu próprio pânico e arrependimento, nada disso importava quando a vida de seu filho literalmente pendurava na balança.
E Malcolm.
Oh, Deus ... Mal.
Ela pensou que as coisas não podiam piorar quando Reiver viu ela e Connor chegando ao aeroporto no início desta noite para o voo que Gideon conseguiu para eles de volta para a Dinamarca. Reiver e seus capangas estavam lá para pegar um carregamento de carga viva em um hangar de carga privado, a mesma que ela o ouviu falando na festa do Darkhaven, em uma noite que parecia um ano atrás agora. Eles agarraram ela e Connor e os jogou dentro do veículo com o resto das pessoas destinadas à doente festa de caça de Reiver.
Danika temia o que Reiver tinha em mente, não só para ela e seu filho, mas para Malcolm também. Acima de tudo, para ele. Reiver foi incapaz de esconder sua fúria por ser enganado por Mal sobre o fato que ela ainda estava respirando. Ainda capaz de criar problemas para ele e seus negócios sinistros.
E então ela tinha criado problemas para Reiver — pelo menos, esperava que sim — agora mais do que nunca.
Sua chamada para a Ordem foi mais que apenas conseguir uma passagem para Connor e ela saírem da Escócia. Não podia suportar a ideia da vida de Malcolm em perigo, mesmo que isso significasse interferir em sua busca de vingança pessoal. Ela trouxe a Ordem para a situação. Embora o composto em Boston estivesse um caos desde que conversou com Gideon, suas investigações imediatas por um aliado da Ordem na Agência de Execução revelou que um esquadrão de elite de agentes em Londres já tinham conhecimento de Reiver e trabalhavam para derrubá-lo. Tinham até um dos seus infiltrado em sua organização, funcionando como um de seus guarda-costas.
Danika olhou para o macho Raça perigoso com o cabelo preto penteado atrás numa trança despenteada em sua nuca. O guarda se chamava Thane, e tinha desafiado Reiver para ajudá-la e Malcolm. Vários dos comparsas de Reiver jaziam mortos, graças a Thane, e o resto fugiu, alguns de volta para a mansão, outros pela extensão de neve do gramado em volta.
E agora o agente de execução disfarçado estava tão cauteloso e imóvel como Malcolm, ambos compreendendo como era precioso o bebê para Danika, não querendo dar a Reiver a desculpa para machucar o pequeno Connor.
—Larguem suas armas, os dois. — A voz de Reiver era de outro mundo, um rouco rosnado ameaçador. —Larguem, ou vou arrancar o braço desta criança e me alimentar de sua mãe enquanto vocês assistem.
—Oh, meu Deus, — Danika gemeu, incapaz de conter o horror de sair por seus lábios. —Por favor, não fira meu bebê. Por favor...
Apesar de ser a única solução que podia ver, não sabia o que era mais assustador: a hedionda ameaça de Reiver, ou o fato que ele fez tanto Malcolm como Thane lentamente se desarmarem e colocar suas armas no chão.
—Agora, de volta para cima. Mantenham-se movendo até que eu diga para parar.
Eles obedeceram, os olhos dos machos Raça fervendo com fogo âmbar. —Deixe-os ir, — Malcolm rosnou. —Porra, fodido doente... deixe-os ir.
Reiver riu. —Como quiser.
O punho no cabelo Danika foi solto e de repente ela foi jogada para a frente, um violento empurrão com uma força tão punitiva que sentiu como se estivesse voando. Malcolm se moveu em um flash de movimento, a pegando antes que caísse.
Mas Reiver não havia terminado ainda.
Danika sentiu seu filho em perigo, mesmo antes que Reiver jogasse Connor no ar. Ela balançou a cabeça e lá estava ele — seu filho, seu próprio coração — jogado no ar como uma boneca de pano quando Reiver se moveu, em seguida, desapareceu na noite em fuga.
Danika gritou quando olhou para seu filho indefeso, o peito explodindo em terror abjeto.
Malcolm sacudiu em ação.
Com uma corrida saltou para pegar Connor no ar, pegando-o de forma segura nos seus braços. Danika estava de joelhos, segurando o rosto nas mãos e tremendo enquanto Thane estava por perto, fazendo uma débil tentativa de consolá-la.
—Dani, — Mal murmurou. —Danika, está tudo bem. Connor está seguro.
Ela levantou o rosto e engoliu as lágrimas com um soluço engasgado quando pegou o bebê chorando de suas mãos. —Oh, Mal. — Ela envolveu um braço em volta do seu pescoço, o puxando para seu abraço juntamente com seu querido filho. —Malcolm, obrigado. Obrigado por salvar meu filho. Você nos salvou.
Ele beijou sua testa e a abraçou, nunca a amando mais que naquele momento de terror quando pensou que poderia perdê-la para a fúria de Reiver. —Está tudo bem, — ele garantiu a ela. —Está segura agora. Mas tem que sair daqui.
Ele a ajudou a levantar. No entanto, por dentro ele sabia que não poderia ir com ela. Ainda não. Não depois do que Reiver fez aqui esta noite.
Thane, o guarda que não era um guarda de fato, deu um olhar sombrio para Mal. —Reiver não vai muito longe. Tampouco seus comparsas. A Agência está ciente do que estava acontecendo aqui hoje à noite. Minha equipe estará aqui a qualquer minuto, se não estiverem esperando lá fora agora para pegar todos.
Malcolm deu um aceno lento de cabeça. Não podia confiar em mais ninguém para acabar com isto. Não depois de tudo que passou. Não podia descansar por um momento se achasse que Reiver ou seus colegas assassinos ainda estavam andando livres, capaz de ferir mais pessoas inocentes.
Capaz de ferir Danika ou Connor, as duas pessoas que importavam mais para ele do que qualquer outra coisa em sua vida.
Ele olhou para Dani, seu coração apertando com um amor tão profundo que o abalou. Tão determinado quanto estava para ver Reiver morto, só havia uma coisa que poderia impedi-lo de perseguir esse objetivo agora. Danika poderia detê-lo. Com uma palavra, uma lágrima, um olhar de súplica.
Mas ela prendeu seu olhar com uma coragem constante. Uma fé que o humilhou, ao mesmo tempo que dava nova determinação.
Sua fêmea forte, bonita.
Sua Companheira, uma vez que isto finalmente acabasse.
Sabia o que sua coragem agora custava. Estava escrito em seus assombrados olhos azuis quando deu um aceno sutil de permissão, de compreensão estoica.
Malcolm chegou perto dela e roçou sua boca contra a dela num beijo sem pressa. —Tenho que terminar isso.
Sua resposta foi tranquila, mas decidida. —Eu sei.
Foi uma luta deixá-la ir, mas a soltou e olhou para Thane. —A mantenha segura. Estou contando com você.
O outro macho Raça deu um aceno solene. —Tem minha palavra.
Mal não conseguia tirar os olhos de Danika. Ela prendeu seu olhar, o dela mesmo inabalável, tão orgulhoso e forte como a princesa nórdica régia que realmente era. —Vá e termine isso, Malcolm. Em seguida, volte para mim, e nunca me deixe novamente.
Ele voltou para Danika duas noites depois, abatido e desgastado, mas a visão mais bem-vinda que já teve. Ela abriu a porta da sua pequena casa na fazenda da Dinamarca e lá estava Malcolm, de pé na varanda da frente fria, no luar de dezembro, os flocos de neve dançando em torno dele. Seu coração se encheu tão rapidamente que não podia falar. E, embora o desejo de se jogar em seus braços fosse uma necessidade que a atravessava — tão básica como a necessidade de ar — ela se conteve, tentando ler a expressão dele, grave e sem sorrir.
—Reiver está morto — disse a ela. —Os outros também.
Ela exalou a respiração que estava segurando. O alívio a inundou, não tanto pelo final da justiça que Malcolm entregou aos seus inimigos, mas pelo simples fato que estava de pé na frente dela agora, inteiro e forte, são e salvo.
Mal não se moveu. Limpou a garganta. — Thane me disse que seu contato em Boston, um diretor da Agência de Execução chamado Mathias Rowan, aludiu a grandes problemas fermentando por lá. Se as coisas ficarem tão feias quanto Rowan e a Ordem parecem sentir, Thane e seus homens podem ser chamados para ajudá-los.
A notícia a preocupou profundamente. Estava tentando entrar em contato com Gideon desde que chegou em casa, mas o número privado que tinha para chamar a Ordem em Boston estava fora de serviço. O que nunca aconteceu em todo o tempo da existência da linha direta dos guerreiros.
Se a Ordem estava fora da rede — por sua própria escolha ou à força — e se preparava para combater algo terrível, odiava imaginar o que isso poderia significar.
—Thane me ofereceu um lugar na Agência de Execução, — Mal acrescentou. — Ele quer que eu seja parte de sua equipe.
O coração de Danika afundou como uma pedra. Os dois dias que esteve fora foram uma tortura, mas ela conseguiu passá-los. Teve fé, porque sabia que ele ia voltar, uma vez que fizesse o que tinha a fazer. Ela suportou sua ausência, porque confiava que quando ele voltasse estaria de volta para ficar.
Mas colocou uma cara brava quando olhou para ele agora. — Quando vai?
— Recusei, Dani. — Ele deu um passo mais perto agora e pegou o rosto dela nas quentes palmas das suas mãos calejadas. —Há apenas um lugar que quero estar, e é com você.
Euforia a encheu, mas não podia comemorar se fosse seu medo por ele que o estivesse impedindo. —Não faça isso só por mim, Mal. Sei que já te disse que não posso suportar a ideia de ver você em perigo, e é verdade. Mas não quero ser a única a mantê-lo em algum lugar que não quer estar. Não posso pedir isso a você.
—Não está, — disse ele, acariciando seu rosto com o polegar. —Thane e sua oferta vão esperar, mas isso não vai. Eu te amo, Danika. Fique comigo. Ao meu lado, como minha Companheira.
Ela prendeu seu olhar intenso cinza, o amor inchando dentro dela, a enchendo com alegria e esperança. —Sim, Malcolm. Eu fico com você. Como sua Companheira, sua parceira, sua amiga.
Ele a puxou contra ele quando um fogo âmbar começou a faiscar em seus olhos. —Meu tudo, Dani.
Ela deu um aceno feliz. —Para sempre.
—A partir de agora, — disse ele, a posse crua e emocionante no rosnado profundo de sua voz.
Ele a beijou apaixonadamente, os pontos afiados de seus dentes raspando seu lábio com uma promessa sombria. Em seguida, a tomou nos braços e levou para a casa até sua cama, onde seu sempre estava prestes a começar.
[1] Reiver em inglês significa Saqueador.
[2] AWOL - Militar ausente sem licença; ausente de pós ou em dever sem permissão oficial, mas sem a intenção de deserção.
Lara Adrian
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