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O filho que Dare Westmoreland não sabia que existia, precisava dele.
Shelly Brockman estava de pé no salão da casa onde tinha passado sua infância. Haviam colocado a última caixa e só faltava desembalar. Apesar de todo o trabalho que tinha pela frente, sentia-se contente por estar de novo em um lugar de que tinha muito boas lembranças. Uma portada interrompeu seus pensamentos, e ao voltar-se viu que seu filho estava zangado.
—Odiarei viver aqui! – gritou - Quero retornar a Los Angeles! Pode dizer qualquer coisa, esta nunca será minha casa!
Shelly franziu o cenho e o observou enquanto ele jogava sua mala do chão e subia correndo pelas escadas. Em lugar de ir atrás dele, fechou os olhos e lembrou o motivo pelo qual tinha decidido mudar-se da Califórnia à Georgia. Sabia que, apesar do que pensasse AJ, era o melhor que podia fazer por ele. No ano anterior tinha ido muito mal ao colégio e se misturou com um grupo de amigos errados. Como era muito alto, parecia maior de dez anos e se juntou com um grupo de alunos maiores e problemáticos.
Os pais de Shelly, que estavam aposentados e se mudaram para a Florida, tinham-lhe dado à possibilidade de utilizar a casa da família sem que precisasse pagar aluguel. Como resultado, Shelly tomou as três decisões mais difíceis da Georgia. A segunda, deixar de trabalhar como enfermeira em um hospital para ser enfermeira a domicílio, e terceira, informar a Dare Westmoreland de que tinha um filho.
Esperava que Dare compreendesse que ela o amava muito para interferir em seu sonho de converter-se em um agente do FBI e que por isso não lhe havia dito que o filho era dele. A terceira decisão brindava a oportunidade de que AJ conhecesse o pai e de que Dare conhecesse seu filho.
Cruzou a sala e pegou a bolsa do pequeno. AJ estava aborrecido por ter tido que deixar os seus amigos e ter que mudar para outro lugar. Entretanto, sua atitude era o que menos preocupava a Shelly.
Suspiro e esfregou os braços. Sabia que não podia esperar muito para contar a Dare, já que logo se inteiraria de que ela tinha retornado à cidade. Além disso, assim que olhasse para Aj descobriria a verdade, e se revelaria o segredo que ela tinha guardado durante dez anos.
No fundo de seu coração, sabia que havia chegado o momento.
Capítulo Um
Duas semanas mais tarde. No inicio de setembro.
O Xerife Dare Westmoreland ficou impaciente e se apoiou na mesa do escritório. Pelo olhar desafiador do menino que tinha diante dele soube que aquele seria um dia complicado.
- Olhe menino, só lhe perguntarei isso uma vez mais. Como se chama?
O menino cruzou os braços e o olhou fixamente aos olhos.
-Já lhe disse que eu não gosto de policiais e que não vou dizer como me chamo. Se não gostar, me detenha.
Dare ficou em pé e, à medida que se aproximava do menino, sentiu o peso de seus trinta e seis anos. Supunha que o menino que tinha pegado lançando pedras nos carros que passavam pela auto-estrada, devia ter doze ou treze anos. Fazia muito tempo que nenhum menino que vivia na zona de sua jurisdição lhe falava com tanto descaramento. Nenhum que tivesse se atrevido, assim era evidente que o menino devia ser novo na cidade.
-Cumprirá seu desejo. Já que não colabora e não quer me dizer quem é, vou reter-te sob custódia policial até que alguém venha te buscar. E, enquanto espera, vai ser útil, começara a lavar o banheiro da primeira sala, me siga.
Dare olhou ao menino e pensou que não invejava a seus pais nenhum pouco.
Shelly parou o carro em frente o escritório do xerife e desceu. Devido ao tráfico, havia demorado duas horas para chegar a Atlanta. Depois que a chamaram para lhe dizer que AJ não havia comparecido ao colégio e de comprovar que não estava em casa, ao ver que já era tarde, começou a ficar preocupada e chamou à polícia. Quando deu a descrição de AJ e lhe disseram que não se preocupasse, que o menino estava bem e que não a tinham chamado porque ele se negou a dizer seu nome, não perguntou mais nada, entrou no carro e se apressou em chegar até a delegacia de polícia.
Respirou fundo. Se AJ não havia dito seu nome significava que o xerife não sabia que ela era a mãe de AJ e no momento, isso a tranqüilizava. Empurrou a porta do edifício e soube que não o que teria nenhuma desculpa por não dizer a verdade a Dare, já que o destino tinha decidido por ela.
Estava a ponto de encontrar-se cara a cara com Dare Westmoreland.
-Xerife, a mãe do John Doe (joão-ninguém) chegou. Dare levantou os olhos dos papéis que estava lendo e olhou a sua secretária.
-Só veio à mãe, Holly?
-Sim, só a mãe. Não leva anel de casada, assim deduzo que não há pai. Ao menos, que não está por aqui.
Dare assentiu.
-O que está fazendo o menino? -perguntou.
-Está fora vendo como o agente McKade limpa sua moto de polícia.
-Diga para a mulher que entre, Holly. Tenho que falar com ela. Seu filho necessita muita mais disciplina do que recebe em casa.
Dare se aproximou da janela e contemplou como o menino observava ao agente que limpava a moto. Respirou fundo. Havia algo naquela cena que se mostrava tremendamente familiar. Possivelmente recordava a si mesmo e a seus quatro irmãos quando eram jovens. Embora eles tivessem dado muito trabalho a seus pais, sempre souberam até onde podiam chegar. E tinham sido bastante inteligentes para saber quando deviam manter a boca fechada. Aquele menino tinha muito que aprender.
-Xerife Westmoreland, esta é a senhorita Rochelle Brockman.
Dare voltou à cabeça e olhou à mulher que tinha amado com loucura. De repente, ficou sem fala, lhe secou a boca e sentiu como se paralisassem todos os músculos de seu corpo ao recordar os momentos que tinham compartilhado.
Recordava muito bem a primeira vez que se viram o primeiro beijo e a primeira vez que fizeram amor. Olhou-a de cima abaixo e, de novo, posou o olhar em seu rosto. Uma onda de desejo percorreu seu corpo e o fez estremecer. Alegrou-se de estar atrás da mesa do escritório, de maneira que as mulheres não pudessem ver a metade inferior de seu corpo. De outro modo, ambas teriam notado a ereção de seu membro viril contra a calça.
Fixou-se no cabelo escuro de Shelly que ressaltava a pele suave de seu rosto, ao igual ao quente tom amendoado de seus olhos.
Usava uma saia e uma blusa que a deixavam com um aspecto muito feminino. E continuava tendo as pernas mais bonitas que ele já tinha visto. Pernas que estavam acostumados a rodeá-lo pela cintura quando seus corpos se convertiam em um.
Suspirou e decidiu que aos trinta e três anos, Shelly era mais bonita do que ele recordava e igualmente feminina. Tinha-a conhecido quando ela tinha dezesseis anos estava no colégio. Então, ele tinha dezenove anos e ia à universidade. Um dia, retornou para casa de visita e se encontrou com que seu irmão Stone e Shelly que estavam fazendo um trabalho para uma de suas aulas. Entrou em casa no momento exato em que ela explicava a seu irmão uma fórmula de física. Fixou-se em que levava uma bermuda muito curta que deixavam a mostra as pernas mais perfeitas que já tinha visto. Quando ela o olhou e viu que ele a observava, sorriu. Dare nunca havia se sentido tão atraído por uma mulher e, ao ver que a atração era mutua, um forte desejo se apoderou dele.
Depois de assegurar-se de que Stone não estava interessado nela, esforçou-se para vê-la mais freqüentemente. E nunca se arrependeu de havê-lo feito. Começaram a sair juntos meses mais tarde e continuaram durante seis longos anos, até que ele cometeu o engano de terminar a relação.
-Shelly.
-Dare.
«É como se não tivessem passado os anos», pensou ele. A forte atração que haviam compartilhado estava presente.
Dare esclareceu garganta.
-Holly, pode me deixar a sós com a senhorita Brockman.
A secretária olhou ao Shelly e depois a ele.
-É claro, xerife - murmurou, e saiu da sala fechando a porta atrás de si.
Dare concentrou toda sua atenção em Shelly. Fixou-se em seus lábios e recordou como desfrutava beijando os. Uma noite, tinha conseguido que ela chegasse ao orgasmo somente mordiscando os lábios e acariciando com a ponta da língua.
Tragou saliva e tratou de manter a compostura quando sentiu que seu corpo reagia só pelo fato de estar na mesma sala que Shelly. Então, admitiu o que sabia há muitos anos. Shelly Brockman sempre seria a mulher de seus maiores desejos, e, por outro lado, não podia acreditar que depois de tantos anos de ausência, estivesse de volta em College Park.
Shelly percebeu a intensidade do olhar de Dare e se esforçou para manter a compostura, mas ele era tão atraente que foi muito difícil fazê-lo. Vestido com aquele uniforme azul tinha um aspecto que faria que qualquer mulher ficasse com a cabeça em delírio e o corpo alterado.
Não se parecia com o jovem por quem havia se apaixonado anos atrás. Era mais alto, maior e mais musculoso. As pequenas rugas que tinha ao redor dos olhos e a firmeza de seu queixo tornavam seu rosto mais anguloso. E sua pele morena lhe dava um atrativo especial.
Shelly se fixou em que havia certas coisas que sim permaneciam iguais. A forma de sua boca, as covinhas de suas bochechas e seus olhos negros e penetrantes que antes conseguiam ler seus pensamentos apenas de olhá-la. Se não por que ele sempre sabia quando ela desejava que fizessem amor?
De repente, Shelly ficou nervosa. Ao recordar o motivo pelo qual tinha retornado à cidade, sentiu pânico. Não podia dizer a Dare que ele era o pai do AJ, ao menos, não esse dia. Necessitava tempo para recuperar-se. Vê-lo de novo havia feito se sentir confusa. Só desejava pegar o AJ e partir.
-Vim procurar o meu filho, Dare - disse ao fim.
Dare deu um comprido suspiro. Parecia que ela queria ir direta ao ponto sem deter-se no passado. Ele não tinha intenção de permitir-lhe isso, porque o que tinham compartilhado havia significado muito para os dois.
-Passou muito tempo, Shelly. Como você esta? -perguntou ele, fracassando no intento de fazer isso com naturalidade. O aroma de seu perfume era tão excitante quanto a restante daquela mulher.
- Estou bem. Dare. E você?
-Também.
Ela assentiu.
-E agora, posso ver meu filho?
Sua insistência por manter a distância começava a zangá-lo. Entreabriu os olhos e se fixou em seus lábios. Ela umedeceu o lábio inferior com nervosismo e ele sentiu que seu corpo reagia. Recordou o tato de sua língua e as coisas que a tinha ensinado a fazer com ela. Ao sentir que seus músculos se esticavam, respirou fundo.
-Não vai me perguntar-me por que ele está aqui?
Ela se encolheu de ombros.
-Suponho que como chamaram da escola para dizer que não tinha ido à aula, um de seus agentes saiu para buscá-lo por faltar.
-Não, não é por isso - disse ele-. Fui eu quem o encontrou, mas estava fazendo algo pior que faltar.
Shelly o olhou assustada.
-O que?
-O peguei atirando pedras nos carros que passavam pelo Old National Highway. Sabe o que poderia ter acontecido se um motorista tivesse dado uma derrapada para tratar de desviar?
Shelly tragou saliva e assentiu.
-Sim - o primeiro que pensou foi que AJ precisava de um castigo severo, mas já tinha tratado de castigá-lo no passado e não tinha servido de nada.
-Sinto o que aconteceu, Dare - desculpou-se sem saber que mais dizer-. Mudamo-nos faz umas semanas, e para ele não foi fácil. Necessita tempo para adaptar-se.
Dare soltou uma gargalhada com ironia.
-Pela maneira como se comportou em minha sala, acredito que o que precisa é uma lição de respeito e comportamento. De todos os modos, de quem é filho?
Shelly ficou direita ao sentir-se ofendida. Admitia ter mimado ao AJ, mas considerando que era mãe solteira e que tinha feito o melhor que tinha conseguido, não necessitava que fossem tão críticos com ela. Muito menos Dare.
-É meu filho.
Dare a olhou perguntando-se se ela de verdade pensava que ia acreditar. Não havia maneira de que aquele menino fosse seu filho, já que segundo a idade que aparentava o menino, quando este nasceu, Shelly ainda era sua namorada.
-O que quero saber é a quem pertence na verdade, já que sei que faz doze ou treze anos você não tinha um bebê, Shelly.
Ela o fulminou com o olhar.
-É meu Dare. Tive-o faz dez anos. O que passa é que como é tão alto parece maior do que é – Shelly percebeu como os olhos de Dare escureciam quando franzia o cenho com fúria.
-Que diabos quer dizer com que o teve faz dez anos? -perguntou com tom zangado.
-Já lhe disse isso. Posso vê-lo? -dispunha-se a sair do escritório quando Dare a agarrou pelo braço.
-Quer dizer que nasceu depois de que foi embora daqui?
-Sim.
Dare a soltou. Sua expressão se tornou fria e seu olhar estava cheia de dor.
-Quando nos deixamos, não demorou muito encontrar a alguém na Califórnia para me substituir, né?
Suas palavras feriram Shelly como uma bofetada. Ele pensava que tinha tido um filho de outro homem! Como podia pensar tal coisa quando ela o tinha amado tanto? De repente, sentiu que a raiva a invadia.
-Que te interessa o que fiz quando fui embora daqui, Dare, se você decidiu depois de seis anos que sua carreira para entrar no FBI era mais importante que eu?
Dare fechou os olhos e recordou o que havia acontecido àquela noite. Palavras que mais tarde se arrependeu de pronunciar. Devagar, abriu os olhos e a olhou. Parecia tão afetada como aquela noite. Acreditava que nunca poderia esquecer a face de dor que pôs para ouvir que ele queria deixar a relação porque queria formar-se para ser agente do FBI.
-Shelly, eu...
—Não Dare, Acredito que já falamos demais. Permita-me pegar o meu filho e vá para casa.
Dare respirou fundo. Era muito tarde para contar a ele o que desejava dizer. O que tinham compartilhado já tinha terminado. Voltou-se devagar e para sair de seu escritório..
—Tem que preencher uns papéis antes de sair para pegar ele. Já que se negou a nos dar qualquer tipo de informação, não pudemos preenchê-los antes -olhou-a nos olhos e respondeu à pergunta que o fazia com o olhar-. Não, não será uma ficha permanente, embora não acredito que seja uma má idéia que venha uma hora todas as tardes desta semana para fazer alguma tarefa fácil, já que mencionou que não assiste a nenhuma atividade extracurricular. A tarefa que lhe atribuirei ajudará a gastar essa energia rebelde que possui. Entretanto, se isto acontecer outra vez, Shelly, terá que desempenhar algumas horas de trabalho comunitário e faremos uma ficha de delinqüente juvenil. Compreende isso?
Ela assentiu agradecida. Se tivesse querido, Dare poderia ter sido muito mais severo. O que AJ havia feito era algo muito grave.
-Sim, compreendi-o, e quero te agradecer.
Suspirou fundo. O destino tinha dado um pouco mais de tempo antes que tivesse que contar a verdade a Dare.
Dare se se sentou à mesa e pegou uma caneta.
-Bom, como se chama?
-AJ Brockman.
-Preciso de seu nome de verdade.
Ela não pôde abrir a boca para falar. Ao que parecia o destino não ia ser tão benevolente como ela pensava.
Ao ver que o silêncio era muito comprido, Dare levantou os olhos dos papéis que tinha na mesa. Conhecia Shelly muito bem para saber quando estava nervosa. Olhou-a preocupado e se perguntou qual seria seu problema.
-Qual é seu verdadeiro nome, Shelly? -repetiu. Observou-a até que ela desviou o olhar. Depois Shelly o olhou nos olhos e respondeu sem vacilar.
-Alisdare Julián Brockman.
Capítulo Dois
Dare sentia que logo que podia respirar. Era como se tudo desse voltas ao seu redor e teve que segurar na mesa do escritório. Entretanto, não lhe serviu de muito porque as suas mãos tremiam sem parar. Em realidade, todo seu corpo tremia com força e havia uma pergunta que não podia deixar de fazer, por que Shelly tinha dado seu nome ao pequeno? A menos que...
Olhou-a e, ao ver a expressão de culpa em seu olhar, compreendeu tudo. Mas necessitava que ela confirmasse. Endireitou-se e, cambaleando , aproximou-se dela.
-Qual é sua data de nascimento? –perguntou a Shelly, que engoliu saliva e elevou o queixo.
-Em vinte e cinco de novembro.
-Dois meses? -perguntou com um sussurro. Estava grávida de dois meses quando nos separamos?
-Sim.
Fulminou-a com o olhar e sentiu que a raiva se apoderava dele.
-Tenho um filho? —perguntou em um sussurro. Shelly o olhou e permaneceu em silencio durante um longo momento. Apesar de tudo o que tinha acontecido entre eles, sempre se sentiu orgulhosa de que AJ fosse filho de Dare. Por isso tinha voltado para College Park, porque acreditava que era o momento que ele se envolvesse na vida de AJ.
-Sim, tem um filho.
-Mas não sabia! -Descobri que estava grávida no dia anterior à festa de minha graduação e tinha pensado dizer aquela noite. Mas antes de ter a oportunidade você me contou que o tinham chamado para te oferecer a possibilidade de trabalhar para o FBI era o sonho que se realizava. Queria-te muito para me interpor em seu caminho, Dare. Sabia que tudo trocaria se te contasse que estava grávida e não podia te fazer tal coisa.
Dare ficou tenso.
-E você tomou a decisão sozinha?
-Sim.
-Como se atreve? Quem diabos te deu direito a fazer isso, Shelly?
-Não é quem, a não ser o que. O amor que sentia por você foi o que me deu direito a fazê-lo, Dare - disse-lhe e, sem lhe dar a oportunidade de dizer nada mais, saiu da sala.
Dare permaneceu ali de pé, imóvel e muito assombrado pelo que acabava de descobrir.
Tinha um filho.
Cruzou a sala e deu um forte murro sobre a mesa do escritório. Dez anos! Shelly lhe havia ocultado seu filho durante dez anos.
Ignorou a dor que sentia na mão e recordou que seu filho se chamava Alisdare Julián. Respirou fundo. Por algum motivo, lhe tinha colocado esse nome. Seu filho se chamava como ele, ao menos, tinha o mesmo nome. Se as coisas tivessem sido de outra maneira, também se teria chamado Westmoreland, seu sobrenome.
Dare se aproximou da janela. De repente, se percebeu que estava olhando o menino com outros olhos, olhos de pai, e que sua alma e seu coração desejavam que ocupasse um lugar na vida de seu filho. O lugar que merecia. E como havia se comportado o rapazinho aquela tarde, Dare sentia que precisava estar presente. Parecia que Alisdare Julian Brockman era o típico varão da família Westmoreland, cabeça dura e teimoso. Dare se fixou bem nele e ao descobrir um forte traço parecido com os Westmoreland não compreendeu como não se deu conta antes.
Voltou-se para ouvir que o chamavam pelo interfone.
-Sim, Holly?
-A senhorita Brockman está pronta para partir. Terminou de preencher os documentos?
Dare franziu o cenho ao ver que o formulário estava sem terminar.
-Não, não terminei.
-O que quer que eu faça xerife?
Dare suspirou. Se Shelly pensava que poderia sair dali sem mais levando seu filho, equivocava-se. Sem dúvida, tinham muitas coisas que solucionar entre eles.
-Diga à senhorita Brockman que tenho que terminar uma coisa e que depois quero falar com ela outra vez. Em meu escritório. Enquanto isso, não pode ver seu filho.
Holly fez uma pausa e respondeu:
-Sim, senhor.
Depois de desligar o interfone, Dare pegou o formulário que continha as perguntas habituais e se deu conta de que não sabia nada sobre seu filho. Perguntava-se se poderia perdoar a Shelly por ter feito isso. Não tinha direito de ocultar o seu filho durante dez anos.
Depois de que os Brockman se aposentassem e partiram para viver outro lugar, não havia maneira de saber nada deles, exceto pela senhora Kate, a proprietária do Kate's Diner, que era muito amiga da mãe de Shelly. Mas Dare tinha perguntado muitas vezes pelos Brockman, sobre tudo por Shelly, e ela sempre tinha mantido a boca fechada.
Vários vizinhos que tinham seguido o romance que Shelly e Dare tinham compartilhado durante seis anos, e estavam muito decepcionados por como haviam terminado as coisas entre eles. Inclusive a família de Dare, que adorava ao Shelly, pensava que ele estava louco por ter terminado com ela.
Darei respirou fundo. Como xerife tinha que ter se informado que ela tinha voltado para College Park. Possivelmente Shelly tinha voltado quando ele estava ocupado procurando dois fugitivos que haviam se escondido em sua jurisdição.
Agarrou o formulário com uma mão e pegou o telefone com a outra. Seu primo, Jared Westmoreland, era o advogado da família e Dare precisava de assessoramento legal.
-O xerife tem que terminar uma coisa e depois quer vê-la de novo em sua sala. Shelly concordou descontente.
-Há alguma possibilidade de que possa ver meu filho?
-Sinto muito, mas não pode vê-lo até que o xerife termine a papelada.
Quando a mulher se afastou, Shelly ficou pensativa. O que tinha acontecido na sala de Dare não era o que ela imaginava que aconteceria quando lhe contasse que AJ era seu filho. Sentou-se em uma cadeira e se perguntou quanto tempo passaria antes que pudesse pegar AJ e partir. Dare era quem tinha a última palavra e não havia nada que ela pudesse fazer. Conhecia-o muito bem para saber que trataria de vingar-se dela pelo que lhe tinha feito e se perguntava se seria capaz de perdoar-lhe
-Senhorita Brockman?
Shelly levantou a vista e viu um homem uniformizado de uns vinte e tantos anos.
-Sim?
-Sou o agente Rick McKade, e o xerife quer vê-la agora mesmo.
Shelly ficou em pé. Não estava preparada para ver Dare outra vez, mas era evidente que ele queria vê-la.
-De acordo.
Quando entrou na sala de Dare, este estava sentado junto à mesa escrevendo em alguns papéis. Shelly esperava que fosse o documento que necessitava para tirar o AJ dali e poder ir para casa, mas sabia que assim que Dare a olhasse não o facilitariam as coisas. Ele estava zangado e muito desgostoso com ela.
-Shelly?
Ela pestanejou ao precaver-se de que Dare tinha estado falando e de que o agente McKade se havia partido dali.
-Sinto muito, o que me dizia?
Dare a olhou durante longo momento.
-Eu disse que se sente.
-Não quero me sentar, Dare. Só quero pegar AJ e ir para casa.
-Não, até que falemos.
Ela respirou fundo e sentiu como se formasse um nó na garganta. Estava cansada.
-Não podemos conversar em outro momento, Dare?
Shelly se arrependeu de suas palavras imediatamente. Ele ficou em pé e se aproximou dela. Ao ver a raiva em seus olhos, Shelly deu um passo atrás. Não recordava já ter visto ele tão furioso.
-Falar em outro momento? Não sei como você pode sugerir algo assim. Acabo de descobrir que tenho um filho de dez anos e acredita que pode partir com ele sem que eu reclame o que é meu?
Shelly suspirou para ouvir a dor na voz de Dare.
-Não, nunca acreditei em tal coisa, Dare - disse ela-. É mais, pensava justo o contrário, e por isso que voltei. Sabia que uma vez que te contasse do AJ ia querer atuar como pai. E também sabia que me ajudaria a salvá-lo.
Dare entreabriu os olhos e apertou os dentes.
-Salvar o do que?
-De si mesmo... -Shelly fez uma pausa e depois respondeu à pergunta que o fazia como minha-, Já o conheceu, e estou segura de que notou o quanto esta zangado. Posso imaginar a impressão que te causou, mas no fundo é um bom menino. Dare. Comecei a fazer horas extras no hospital e isso significou que ele tivesse que passar mais tempo com babás e tivesse mais tempo de meter-se em confusões, sobre tudo no colégio, onde se juntou com os alunos desajustados. Esse é o motivo pelo qual voltei, para lhe dar a oportunidade de que comece de novo... com a sua ajuda.
-Está dizendo que o único motivo pelo que decidiu me dizer que tenho um filho é porque começou a te dar problemas? E o que acontece com todos esses anos em que foi um bom menino? Não acredita que tinha direito ou sabia que existia?
Shelly o olhou nos olhos.
-Acreditava que estava fazendo o correto ao não saber, Dare.
-Pois te equivocava. Não era o correto. Nada tivesse sido mais importante para mim que ser o pai do meu filho, Shelly.
Shelly sentiu que o arrependimento e a pena por ter privado a Dare que exercesse de pai se apoderavam dela. Tinha que conseguir que compreender por que tinha tomado essa decisão aquela noite.
-Essa noite me disse que te converter em agente do FBI era o que sempre tinha desejado. Dare, e que devido a esse trabalho não podíamos seguir juntos. Acreditava que o melhor era que não tivesse esposa nem família se te convertia em agente do FBI - conteve as lágrimas e acrescentou-. Inclusive disse que te alegrava de que não eu tivesse ficado grávida qualquer das vezes nas que fizemos amor - esfregou os olhos—. Como imagina que me senti te ouvir dizer isso? Estava grávida de dois meses e sabia que nosso filho e eu fomos um transtorno para o que sempre tinha desejado conseguir.
Quando a risada do AJ se ouviu da sala, Shelly se aproximou da janela e olhou para o pátio. O menino estava olhando como um agente banhava a um cão policial. Era a primeira vez, em muitos meses, que Shelly ouvia AJ rir, e a expressão de alegria que tinha não tinha preço. Voltou-se para olhar a Dare. Tinha que lhe dizer como se havia sentido.
-Quando descobri que estava grávida não duvidei nem um instante a respeito de te dizer isso É mais, estive esperando toda a noite para encontrar o momento perfeito. E então, assim que nos ficamos a sós, contou-me seus planos - respirou fundo-. Durante seis anos pensei que tinha um lugar em seu coração. Acreditava que era o mais importante para você, mas em menos de cinco minutos me demonstrou que estava enganada. Cinco minutos foi tudo o que necessitou para apagar seis anos quando me disse que preferia sua liberdade - olhou para o chão durante um momento e depois o olhou nos olhos-. Embora você já não me desejasse, eu desejava ter nosso filho. Caso desse conta que estava grávida trocaria seus sonhos e se comportaria da maneira que considerava correta passando o resto de sua vida em um casamento que não desejava - voltou à cabeça com rapidez para que ele não pudesse ver suas lágrimas. Não queria que ele soubesse como a tinha ferido dez anos atrás. Não queria que soubesse que a ferida não se fechou, e que duvidava de que algum dia se fechasse.
-Shelly? -chamou-a com um tom de voz suave e cheio de ternura.
Ela o olhou e respondeu com voz tremente.
-O que?
-Aquela noite não te disse que não te quisesse - disse ele com um sussurro-. Como pôde pensar isso?
-Como não ia pensar Dare? -perguntou com incredulidade.
Sua resposta fez com que Dare arqueasse as sobrancelhas. Sim, como não ia pensar? Quando ele rompeu com Shelly aquela noite, nunca pensou que ela pudesse pensar que ele não a amava ou que não significava nada para ele. Entretanto, dez anos mais tarde compreendia que tinha motivos para ter pensado tal coisa.
Respirou fundo e passou a mão no rosto, perguntando-se como podia lhe explicar algo que nem sequer ele compreendia. Sabia que tinha que tentá-lo de todos os modos.
-Parece-me que aquela noite eu fiz muito mal - disse ele.
Shelly soltou uma risada e se encolheu de ombros.
-Depende do que entenda por fazer o mau. Acredito que conseguiu o que te tinha proposto Dare. Liberou-te de uma namorada que interferia em seus planos de futuro.
-Não era isso, Shelly.
-Então, me diga o que era - disse ela, tratando de conter a raiva.
Durante uns instantes, ele permaneceu em silêncio.
-Queria-te, Shelly, e o que sentia por você começou a me assustar porque sabia o que você e o resto das pessoas esperavam de mim. Mas também sabia que, até que te queria, mas não estava preparado para dar o grande passo e carregar com a responsabilidade de ter uma esposa. Também sabia que não podia te pedir que me esperasse mais tempo. Já tínhamos saído durante seis anos e todo mundo minha família, a tua, e toda a maldita cidade, esperava que nós nos casássemos. Era o momento de fazê-lo. Nos dois tínhamos terminado a universidade. Eu já tinha trabalhado durante bastante tempo na Marinha e você estava a ponto de começar a trabalhar como enfermeira. Não podia pedir que me esperasse enquanto eu trabalhava como agente do FBI. Não teria sido justo. Merecia algo mais. Muito mais. Assim pensei que o melhor que podia fazer era te dar sua liberdade.
Shelly baixou os olhos. Não podia suportar olhá-lo aos olhos. Momento mais tarde se armou de coragem e o olhou.
-Assim não fui à única aquela noite que tomou uma decisão pelos dois.
Dare respirou fundo. Sabia que ela tinha razão. Igual a ela, ele tinha tomado uma decisão pelos dois. Momentos mais tarde, disse-lhe:
-Oxalá tivesse feito às coisas de outra maneira, Shelly. Embora te amasse, não estava preparado para me converter no marido que desejava.
-E quer que acredite que teria estado preparado para te converter em pai? -perguntou ela tratando de que entrasse em razão-. Quão único soube aquela noite era que o homem que amava já não me queria, e que seu sonho não era compartilhar o resto de sua vida comigo, a não ser converter-se em agente da autoridade. Eu o queria o bastante para sair do seu lado e permitir que seu sonho se realizasse. Esse é o motivo pelo qual parti sem te contar do bebê. Dare. O único motivo.
Ele assentiu.
-Se eu soubesse que você estava grávida, meus sonhos não teriam importado nada.
-Sim, sabia melhor que ninguém.
Dare compreendeu por fim o que ela tratava de lhe explicar e suspirou ao ver como tinham saído às coisas. Dez anos atrás ele pensava que converter-se em agente do FBI era o mais importante em sua vida. Esteve sete anos mudando de um lugar a outro, realizando operações secretas sem saber quando chegaria o dia de sua morte, para por fim dar-se conta de que o sonho de sua vida se havia convertido em um autêntico pesadelo.
Renunciou a seu trabalho e retornou a sua cidade natal com a idéia de abrir uma empresa de segurança ao mesmo tempo em que o xerife Dean Whitlow, que estava em serviço desde que Dare era um menino, tinha decidido retirar-se. Foi o xerife Whitlow que o convenceu de que solicitasse o posto que ficaria vago já que considerava que com sua experiência, Dare era o homem mais adequado para o trabalho. Já levava três anos trabalhando de xerife e tinha estabelecido um forte laço com o lugar e os habitantes de onde tinha crescido. E comparado com o que tinha feito como agente do FBI, ser xerife era algo simples.
Olhou pela janela e observou AJ sem dizer nada. Depois de um momento, comentou:
-Deduzo que ele não sabe nada sobre mim.
-Não. Faz anos lhe disse que seu pai era um bom homem que tinha amado e acreditava que ia me casar, mas as coisas não funcionaram e que nos separamos. Contei-lhe que me mudei antes de ter a oportunidade de te dizer que estava grávida.
-Isso é tudo?
-Isso é tudo. Era muito pequeno ainda, mas pensei que mais tarde me perguntaria se sabia como te localizar e se o faria se ele me pedia isso. A única coisa que tinha que fazer era pedir isso, mas nunca o fez.
-Quero que saiba que seu pai sou eu, Shelly.
-Eu também quero que saiba. Dare, mas temos que fazê-lo com cuidado - sussurrou-. Ele já enfrentou muitas mudanças no momento e não quero que se desgoste mais do que está. Pensei como e quando podemos dizer-lhe e espero que depois de me escute esteja de acordo comigo.
Dare retornou a sua mesa.
—De acordo, e o que é o que sugere? —Shelly assentiu e se sentou em frente a ele. Conteve a respiração durante um instante. Não se sentia cômoda com a idéia de lhe explicar qual era seu plano para contar tudo para o AJ. Ela conhecia melhor que ninguém o estado emocional de seu filho. Naquele momento estava zangado com o mundo em geral, e com ela em particular, porque o tinha tirado do lugar onde tinha crescido, e que não era o adequado para um menino de dez anos. O fracasso escolar e os problemas que tinha tido o demonstravam-. O que é o que sugere Shelly? —repetiu Dare, interrompendo seus pensamentos.
Shelly esclareceu garganta.
-Sei que está ansioso para que AJ saiba que é seu pai, mas tendo em conta as circunstancias , acredito ser melhor que primeiro te conhecesse como um amigo e depois como seu pai.
Dare franziu o cenho.
-Mas sou seu pai, Shelly, não seu amigo.
—Sim, e isso é o importante. Neste momento, AJ necessita um amigo. Dare, alguém em quem pode confiar e com quem se apegar bem. Custa-lhe fazer amigos, e por isso começou a reunir-se com os meninos problemáticos da escola que ia à Califórnia. Em seguida o aceitaram no grupo. Falei com alguns de seus professores desde que nos mudamos aqui e está tendo o mesmo problema. Não é um menino extrovertido.
Dare assentiu. Dos cinco irmãos Westmoreland, ele era o menos sociável de todos, sem contar ao Thorn, que às vezes se comportava como um autentico idiota. De pequeno, Dare considerava que seus irmãos eram os companheiros de jogo que necessitava e por isso nunca se preocupou de fazer amigos ou de sentir-se aceito em um grupo. Seus irmãos eram seus amigos, seus melhores amigos, e isso lhe bastava.
Foi só quando se fez maior e seus irmãos começaram a ter outros interesses quando começou a sair mais, a fazer esporte e a conhecer gente.
Assim se AJ não era tão extrovertido como a maior parte dos meninos de dez anos, era evidente que tinha herdado dele.
-E como imagina que devemos fazer isso?
-Sugiro que não lhe digamos a verdade ainda, e que você trate de se relacionar com ele e de chegar a conhecê-lo.
Dare arqueou uma sobrancelha.
-E como se supõe que tenho que fazer isso? Nosso primeiro encontro não foi muito bom, Shelly. Detive-o, pelo amor de Deus. O meu próprio filho! Um menino que nem sequer pestanejou quando me disse que odiava aos policiais... E isso é justo o que sou. Além disso, tem esse pequeno problema de comportamento que acredito que terá que solucionar. Assim, sejamos realistas. Como se supõe que vou desenvolver uma relação com meu filho quando não gosta de nada do que sou?
-Em realidade não odeia aos policiais, Dare, só acredita que o faz pelo que aconteceu quando vínhamos da Califórnia.
-O que aconteceu?
-Pararam-me em uma pequena cidade do Texas e o agente foi muito desagradável conosco. Certamente, não causou boa impressão no AJ - respirou fundo—. Mas você pode mudar isso. Dare. Por isso acredito que se forem amigos primeiro será melhor. A senhorita Kate me disse que trabalha com os jovens da comunidade e que treina a uma equipe de beisebol. Quero fazer todo o possível para que AJ participe de algo assim.
-E pode participar sendo meu filho.
-Acredito que primeiro devem ser amigos. Dare.
-Shelly, não pensou direito. Compreendo o que me contou porque sei como foi minha vida quando era um menino. Ao menos tinha irmãos e eram meus companheiros. Mas acredito que te há olvidado de um pouco muito importante.
-Do que?
-A maior parte das pessoas que vivem no College Park te conhece, e muitos têm muito boa memória. Quando se inteirarem de que tem um filho de dez anos começarão a fazer contas e descobrirão a verdade. Além disso, vão ver que AJ se parece com os Westmoreland, a meus irmãos e a mim. Eu não me dei conta porque não pensava nessa possibilidade. Mas te asseguro que a gente deste lugar o fará. Assim que te vejam com o AJ tratarão de relacioná-lo com os fatos, e não será difícil. E não permita que se inteirem de que se chama como eu. Então, já está - Dare fez uma pausa para que Shelly refletisse sobre o que estava dizendo-. E o que acontece se AJ se inteira de que sou seu pai por outra pessoa? Gritara para nos que não contamos a verdade para ele.
Shelly suspirou fundo. Sabia que Dare tinha razão. Seria muito difícil manter oculta a verdade em um lugar pequeno como College Park.
-Acredito que há uma solução com a que conseguiremos o mesmo propósito - disse ele.
-Qual? -perguntou ela, olhando-o aos olhos.
-Quero que me escute antes de tirar conclusões e de negar a idéia.
-De acordo - disse ela.
-Disse que tinha contado para o AJ que você e seu pai dele pensavam em casar, mas que romperam e você mudou antes de dizer que estava grávida, verdade?
-Sim.
-E ele sabe que você cresceu neste lugar, não?
-Sim, embora duvide que o tenha relacionado.
-O que te parece se ganha sua confiança lhe dizendo que seu pai vive no College Park e depois dá um passo mais e lhe diz quem sou eu, mas o convence de que não me há isso dito ainda e pede conselho para ele sobre o que deve fazer?
Shelly sabia que AJ diria que não contasse a Dare. O pequeno se negaria a estabelecer um relacionamento com Dare, assim que contasse para ele.
-Sim, mas e se o pusermos em uma situação em que não tenha outra escolha alem de me aceitar ou em que tenha que permanecer em contato comigo? -perguntou Dare.
-Como?
-Se você e eu começássemos de novo nosso relacionamento, ou ao menos, fingirmos.
-Como isso ajudará? A gente seguirá dizendo que você é seu pai.
-Sim, mas ele saberá a verdade e pensará que sou eu o que não sabe. Ou quererá que me inteire, ou esperará que não o faça nunca. Enquanto isso, eu farei todo o possível por ganhar sua amizade.
-E se não conseguir?
-Conseguirei. AJ precisa sentir que pertence a algum lugar, Shelly. Não só pertence a ti e a mim, também pertence a meus irmãos, a meus pais e ao resto dos Westmoreland. Quando começarmos a sair de novo, terá que conhecer minha família, e acredito que quando isso acontecer e eu me empenhe em ter uma relação com ele, começará a aceitar-me como seu pai - moveu-se na cadeira e ainda com um sorriso-. Além disso, se decidir que não quer que estejamos juntos estará tão ocupado tratando de nos separar que não terá tempo de meter-se em confusões.
Shelly arqueou uma sobrancelha, embora soubesse que Dare tinha razão não se entusiasmava com seu plano, especialmente o papel que tocava a ela. O que o faltava era ter que fingir que se apaixonaram outra vez. Estar junto já lhe resultava muito agradável e familiar.
Respirou fundo. Para que o plano de Dare funcionasse, teriam que começar a passar mais tempo juntos. Não podia evitar perguntar-se o que sentiria quando isso acontecesse, já que fazia muito tempo que não estava com um homem. Muito tempo.
Ao ver que Dare a olhava fixamente, esclareceu a garganta e se perguntou se ele sabia o que lhe estava fazendo com o olhar. Mordeu o lábio inferior com nervosismo e perguntou:
-Como acredita que vai se sentir quando descobrir que o nosso relacionamento não é algo sério, e que só era um jogo para ganhar a ele.
-Acredito que aceitará que embora não estejamos casados, somos amigos e nos respeitamos. A maioria dos pais separados com filhos não se entendem bem. Acredito que é importante que um menino veja que, mesmo que seus pais não estejam casados, se entendam bem e dão prioridade a seu bem-estar.
-Não sei. Dare. Há muitas coisas que podem sair mal com sua proposta.
-É certo, mas, por outro lado, muitas podem sair bem. Deixaremos que AJ tenha a última palavra ou, ao menos, faremos que acredite que a tem. Isso fará que sinta certo controle sobre a situação. Trabalhando com meninos tenho descoberto que se os força a fazer algo, ficam rebeldes. Mas que formos pacientes e esperamos, ao final acaba dando tudo certo com eles. Isso é o que espero que aconteça neste caso. Existe a possibilidade de que me afaste no começo, mas é um risco que terei que correr. Meu empenho será ganhar ele, Shelly, e o penso conseguir. E me acredite, será a missão mais importante de minha vida olhou-a e, ao ver que não dizia nada, continuou-, Tenho muitas coisas mais a perder que você, mas estou disposto a me arriscar. Não quero que meu filho passe muito tempo sem saber quem sou. Ao menos, desta maneira, saberá que sou seu pai, e eu terei que fazer todo o possível para me assegurar de que quer me aceitar em sua vida. Assim, ao menos pensará nisso?
-Sim, Dare. Preciso de tempo - respondeu ela olhando em seus olhos.
-Esta noite. É todo o tempo que posso te dar Shelly.
-Preciso de mais tempo.
Dare ficou em pé.
-Não posso te dar mais tempo. Já perdi dez anos e não quero perder nem um pouco mais. E para que saiba, fiquei de almoçar com o Jared amanhã. Pedirei a ele que seja meu advogado e me informe de todos os direitos que, como pai, tenho sobre AJ.
-Não precisa fazer isso. Dare - disse ela com tristeza-. Não tenho intenção de manter vocês separados. Já te disse que você é o motivo pelo que retornei.
Dare assentiu.
-Se encontrara comigo para tomar o café da manhã no Kate's Diner e decidir o que vamos fazer?
Shelly precisava de tempo, mas sabia que Dare não ia dar.
-De acordo. Encontraremos-nos pela manhã.
Capítulo Três
Dare se aproximou de sua mesa e apertou o interfone.
-Sim, Xerife?
-McKade, me traga o menino sem nome.
Shelly franziu o cenho e olhou a Dare.
-Menino sem nome?
-É como chamamos as pessoas sem identificação e já que ele não quis nos dizer como se chama não nos restou outra escolha.
-Ah.
Antes que Dare pudesse dizer algo mais, McKade entrou na sala com AJ. O menino franziu o cenho ao ver sua mãe.
-Perguntava-me se pensava vir me buscar, mamãe.
-É obvio que ia vir. Mas se tivesse dito seu nome me teriam localizado muito antes. Tem que me explicar muitas coisas, por exemplo, por que não foi ao colégio? Ainda bem que o xerife Westmoreland te deteve antes que causasse danos a alguém.
AJ se voltou e olhou a Dare.
-Sim, mas mesmo assim eu não gosto dos policiais.
Dare cruzou os braços e respondeu:
-E eu não gosto dos meninos com mau comportamento. Para ser sincero, não me importa se gostam de policiais ou não, mas será melhor que aprenda a respeitá-los -«pode que seja meu filho, mas vou a ensinar uma lição sobre respeito», pensou Dare.
AJ olhou a sua mãe.
-Estou preparado para partir.
-De acordo.
-Ainda não - disse Dare. Não gostava do tom que AJ tinha empregado ao falar com Shelly, nem a facilidade com que ela tinha cedido-. O que fez hoje é algo muito grave e, como parte de seu castigo, espero que venha todas as tardes desta semana depois do colégio para fazer uma série de tarefas.
-E se não vir?
-AJ!
Dare levantou a mão para interromper ao Shelly. Aquilo tinha que ser resolvido entre ele e seu filho.
-Se não vir, saberei onde te encontrar e será pior para você pode acreditar.
Dare olhou a Shelly. Aquela não era a maneira em que queria começar a se relacionar com seu filho, mas não tinha outra opção. AJ tinha respeitar ele como xerife e aceitá-lo como pai. Pelo olhar do Shelly soube que ela opinava o mesmo.
-O xerife Westmoreland tem razão — disse ela-. E virá todas as tardes depois do colégio, compreendido?
-Sim, sim, compreendi. Mas podemos ir?
Dare assentiu e estendeu a Shelly o formulário.
-Acompanharei vocês até o carro. Eu também estou indo — quando Shelly e seu filho entraram no carro, Dare apareceu pela janela e disse ao menino—. Te verei amanhã depois do colégio -depois olhou ao Shelly e disse—. Boa noite, e dirija com cuidado.
Uma hora mais tarde, Dare entrou em uma casa onde havia quatro homens jogando às cartas ao redor de uma mesa. Os quatro o olharam ao entrar e seu irmão Stone disse:
-Chegou tarde.
-Tinha que resolver um assunto importante - disse Dare. Pegou uma garrafa de cerveja e se apoiou na geladeira que havia na cozinha da casa de seu irmão-. Esperarei que terminem esta rodada.
Seus irmãos assentiram e continuaram com o jogo. Momentos mais tarde, Chase Westmoreland soltou um palavrão. «Estava perdendo. como sempre», pensou Dare com um sorriso. Os quatro homens que havia na mesa eram mais que irmãos para ele. Também eram seus amigos, embora Thorn, conhecido por seu mau humor, às vezes punha a prova sua amizade até limites insuspeitados. Aos trinta e cinco, Thorn era só onze meses mais jovem que ele, e ganhava a vida participando de corridas de motos. No ano anterior tinha sido o único afro americano. Que participava do circuito.
Seu irmão Stone, conhecido por sua grande imaginação, tinha completado trinta e três anos fazia pouco e se dedicava a escrever novelas de terror sob o pseudônimo do Rock Maçom. Depois estavam os gêmeos, Chase e Storm. Tinham trinta e dois anos e Chase era sete minutos mais velho. Chase era o dono de um restaurante situado no centro de Atlanta e Storm era o bombeiro da família.
-Está muito calado, Dare.
Dare levantou os olhos da garrafa de cerveja e voltou para a realidade.
-E isso é delito? -perguntou olhando a seu irmão Stone.
-Não, mas, se fosse delito, estou seguro de que prenderia a você mesmo porque é um homem que aplica as leis ao pé da letra.
Chase soltou uma gargalhada.
-Deixa a Dare em paz. Não aconteceu nada de mau, além de que acompanha ao Thorn nisso de celibato — brincou.
-Te cale, Storm! -disse Thorn com um sorriso ameaçador.
Todos sabiam que Thorn não mantinha relações sexuais quando se estava se preparando para uma corrida, e diziam que esse era o motivo de seu mau humor. Mas já que Thorn andava de mau humor a mais de dez meses, seus irmãos se perguntavam o que era o que lhe acontecia. Dare tinha alguma pista, mas decidiu não comentar nada a respeito. Respirou e sentou à mesa.
-Acho que não sabem quem voltou para a cidade?
Storm levantou a vista das cartas que tinha na mão e respondeu:
-De acordo, jogaremos às adivinhações, quem retornou. Dare?
-Shelly.
Todos olharam a Dare em silêncio. Ao cabo de um instante, Stone disse:
-Nossa Shelly?
Dare olhou o seu irmão e franziu o cenho.
-Nossa Shelly, não. Minha Shelly.
-Sua Shelly? -perguntou Stone-. Posso estar enganado, mas depois de como a abandonou...
Dare se apoiou no respaldo da cadeira. Sabia o que aconteceria a seguir. Quando rompeu com o Shelly, seus irmãos estiveram semanas sem falar com ele.
-Não a abandonei. Só tomei uma decisão porque não estava preparado para o casamento e que ia trabalhar para o FBI.
-Isso é o mesmo que abandoná-la - disse Stone com tom zangado-. Sabia que ela era o tipo de mulher que acredita no casamento. E você a fez acreditar, igual a todos nós, que se casariam quando ela terminasse a universidade. Para mim, enganou-a, e sempre me senti mal por isso, já que fui eu quem a apresentei a você.
-Não a enganei. Porque te custa tanto acreditar que a amei durante todos esses anos? –perguntou Dare com frustração. Um momento antes tinha tido a mesma conversação com o Shelly.
Thorn atirou uma carta sobre a mesa ao mesmo tempo em que disse:
-Acredito que a maioria dos homens não deixa à mulher que amam por nenhum motivo, e menos com uma desculpa tão idiota como a de que não estão preparados para sossegar. Do meu ponto de vista, Dare, você queria tudo - deu um sorvo de cerveja-. Mudemos de assunto antes que volte a me zangar e te jogue na cara tudo o que a tem feito sofrer.
Chase olhou a Dare com os olhos entreabertos.
-Sim, e espero que esteja felizmente casada e com um montão de filhos. Será seu castigo por ter deixado escapar o melhor que te aconteceu na vida. ,
-Não está felizmente casada nem tem um montão de filhos, Chase, mas sim um de dez anos.
Stone sorriu.
-Me alegro por ela. Estou seguro de que te doeu saber que se envolveu com outro homem e teve um filho seu quando partiu daqui.
-Sim, senti um forte nó no estômago até que me inteirei da verdade.
-A verdade sobre o que? -perguntou Storm arqueando uma sobrancelha.
Dare olhou a todos seus irmãos antes de contar para eles.
-O filho de Shelly é meu.
Na manhã seguinte, cedo, Dare entrou no Kate's Diner.
-Bom dia, xerife.
-Bom dia, Boris. Como vai a dor no braço?
-Bem. Logo estarei bem para poder jogar com você beisebol outra vez.
-Espero que assim seja.
-Bom dia, xerife.
-Bom dia, senhora Mamie. Como vai a artrite?
-Dói-me, como sempre - respondeu à anciã.
-Bom dia, xerife Westmoreland.
-Bom dia, Lizzie - Dare saudou a garçonete e se sentou em um banco na barra. Era a neta do velho Barton e trabalhava na cafeteria meia jornada. Dare sorriu ao ver que Lizzie lhe servia um café. Ela sabia que tomava sozinho-. Onde está a senhora Kate esta manhã? -perguntou depois de dar um sorvo.
-Não chegou ainda.
Dare arqueou as sobrancelhas. Conhecia a senhora Kate fazia trinta e seis anos e sabia que nunca havia chegado tarde a seu trabalho.
- Esta tudo bem?
-Sim, isso acredito - disse Lizzie-. Chamou para disser que o senhor Granter ia passar por sua casa para dar uma olhada no aquecedor de água. Kate acredita que está quebrado e queria estar ali quando ele chegasse - Dare assentiu. Todos sabiam há muitos anos que o senhor Granter e a senhora Kate estavam apaixonados-. Quer que vá pedindo o café da manhã, xerife?
-Não, ainda não - disse ele com um sorriso-. Estou esperando a alguém - olhou o relógio-. Ela chegará a qualquer momento.
-De acordo. Retornarei quando chegar sua convidada.
Dare estava a ponto de olhar de novo o relógio quando ouviu que se abria a porta da rua e que Boris exclamava.
-Céus! Essa é Shelly Brockman! Que diabos está fazendo no College Park?
Dare se voltou e observou como outros clientes também saudavam o Shelly. Esqueceu-se de quão famosa era entre as pessoas da cidade. Esse era um dos motivos pelo que todo mundo se zangou com ele quando a deixou.
Ao ver que vários homens com os que Shelly havia ido ao colégio, Boris Jones, David Wright e Wayland Miller, olhavam-na de cima abaixo, ficou tenso. Shelly estava muito bonita e seguia tendo a habilidade de fazer que os homens se voltassem para vê-la. Levava um vestido azul de suspensórios que ficava muito bem. Ficava justo por cima dos joelhos e deixava suas bonitas pernas à mostra. Ao sentir que seu membro viril ficava ereto, soube que estava metido em uma confusão. Sentia um forte desejo que fazia dez anos que não experimentava.
-É ela a mulher que estava esperando, xerife?
A pergunta de Lizzie interrompeu os pensamentos de Dare.
-Sim, é ela.
-Querem sentar-se na barra ou preferem uma mesa ou um reservado?
Dare desejava poder agarrar Shelly e levá-la a um reservado. Podia imaginar ela tombada sobre a mesa. Sempre havia se sentido sexualmente atraído pela Shelly, mas nunca com tanto desejo. Não conseguia evitar perguntar-se por que. Possivelmente era porque em seu passado tinha sido dela. Já não o era e desejava o que tinha perdido.
-Xerife?
-Vamos sentar no reservado da esquina - quando recuperou o controle de seu corpo, ficou em pé e se aproximou de Shelly, que estava rodeada de pessoas, sobre tudo, de homens. Interrompendo suas conversações, disse:
-Bom dia, Shelly. Está pronta para tomar o café da manhã?
Todos o olharam em silêncio. A maioria dos que estavam ali recordavam que ele tinha sido o homem que rompeu o coração ao Shelly, e que por isso ela partiu da cidade. A última coisa que queriam era que ela voltasse novo com ele. O senhor Sylvester se voltou para Dare e lhe disse:
-Surpreende-me que Shelly esteja disposta a dedicar a você seu tempo, xerife, depois do que lhe fez faz dez anos.
-Tem razão - disse Mamie Potter, a anciã de oitenta anos.
Dare fez uma careta. O que lhe faltava era que a todos recordassem o passado a ele.
-Se não se importar, Shelly e eu temos coisas de que falar.
Aliem Davis, que tinha trabalhado com o avô de Dare, cruzou os braços.
-Tendo em conta o que você fez sim nos importa. Assim será melhor que se comporte no que diz respeito a ela, Dare Westmoreland. Não se esqueça de que o ano próximo tem eleições.
Dare estava a ponto de dizer varias coisas ao senhor Davis quando Shelly interveio:
-Não posso acreditar que todos recordem o que aconteceu faz dez anos. Eu quase o tinha esquecido - mentiu-. E hoje em dia considero a Dare como um bom amigo - mentiu de novo e tratou de trocar de tema-. Senhora Mamie, como está o senhor Fred?
-Segue sem ouvir nada, mas, pelo resto, está bem. Obrigado por perguntar. Agora, voltemos para tema de Dare. Por como ia detrás de ti, todos nós pensamos que ia ser seu marido - murmurou Mamie olhando a Dare.
Shelly agarrou à senhora pelo braço e respondeu com doçura:
-Sim, sei. Mas as coisas não saíram bem e agora não podemos arrumar o passado, não concorda?
-Suponho que não, querida, mas tome cuidado -disse -lhe a senhora Mamie-. Sei que estava louca por ele. Uma mulher não dever permitir que o mesmo homem rompa seu coração duas vezes.
Dare franziu o cenho. Não gostava que Mamie Potter falasse dele como se não estivesse presente. E menos, que Shelly atuasse como se ela tivesse dado um bom conselho. Esclareceu-se garganta, pegou o braço de Shelly e disse:
-Vamos, Shelly. Temos que solucionar algumas coisas para que possa ir ao escritório o quanto antes. Podemos falar agora ou pode te reunir com o Jared e comigo ao meio dia.
Pela expressão dela. Dare soube que tinha recordado o motivo pelo que tinha falado com o Jared. Depois de despedir-se de todos e de dar alguns abraços, Shelly seguiu Dare até o reservado mais afastado de todos.
Dare esperou que Shelly se sentasse e depois se acomodou frente a ela. Shelly repassou com um dedo os desenhos da toalha. Estava nervosa por causa do encontro com Dare. A noite anterior havia passado o mesmo que no escritório e se sentia zangada por não ter sido capaz de apagar o desejo que sentia por ele depois de dez anos.
Desejo.
Tinha que ser só isso já que sabia que não estava apaixonada por ele. Mas, por algum motivo, a noite anterior, despertou-se com a respiração agitada, e os lençóis empapados de suor depois de ter tido um sonho erótico em que ele era o protagonista.
Depois de levantar-se e beber um copo de água decidiu que era normal que sonhasse com ele já que não conhecera o corpo de nenhum outro homem como o de Dare. Era certo que nos últimos dez anos não havia saído muito. Criar AJ e trabalhar no hospital tinha impedido de ficar com homens e, quando o tinha feito, não tinha experimentado o mesmo que com Dare.
-Gosta de mais café, xerife? -Shelly levantou os olhos para ouvir uma voz de mulher e viu que a garçonete sorria devorando Dare com o olhar. Ou ele não percebia ou dissimulava muito bem.
-Sim, Lizzie, tomarei outra xícara.
-E você o que quer tomar? -perguntou - Lizzie ao Shelly, olhando-a com frieza.
«Evidentemente, o mesmo que você gostaria de tomar a ti», pensou ela, tratando de aplacar o ciúmes que sentia. Sabia que não tinha direito a sentir-se assim. O que tinha havido entre Dare e ela havia terminado fazia anos e, por muito que ele seguisse a excitando, não tinha intenção de cair de novo em suas redes. Respirou fundo e, quando estava ponto de pedir o café da manhã. Dare interveio.
-Tomará um café com leite e uma colher de açúcar.
A garçonete arqueou as sobrancelhas perguntando-se como sabia Dare o que Shelly queria tomar o café da manhã.
- Tudo bem - disse Lizzie, e deixou a carta sobre a mesa-. Vou buscar o café enquanto escolhem.
Quando Lizzie partiu, Shelly sussurrou:
-Eu não gosto das olhadas que me jogou uma de suas namoradas.
-Do que está falando? -perguntou Dare olhando em seus olhos-. Nunca saí com o Lizzie. Só é uma menina.
Shelly se encolheu de ombros e se acomodou no assento enquanto olhava Lizzie, que estava atendendo outra mesa.
O uniforme que levava ressaltava as curvas de seu corpo e suas esbeltas pernas. Dare estava enganado. Lizzie não era uma menina. Seu corpo o demonstrava.
-Bom, embora seja uma menina, sem dúvida está louca por você, Dare Westmoreland.
-São imaginações tuas.
-Não, deboche de mim. Eu sei.
-E como sabe? -perguntou ele, acariciando-a queixo.
-Porque sou mulher -«e sei tudo a respeito de estar louca por você », pensou em silêncio.
Dare assentiu. Olhou ao Lizzie justo no momento em que ela o olhava com um sorriso coquete. Recordava que outras vezes lhe tinha sorrido da mesma maneira e, de repente, compreendeu-o tudo. Rapidamente, desviou o olhar. Esclareceu a garganta e olhou ao Shelly.
-Nunca tinha notado antes.
«Típico dos homens», pensou Shelly, mas antes que pudesse dizer algo, Lizzie retornou com os cafés. Depois de apontar o pedido partiu e Shelly sorriu,
-Não posso acreditar que lembre de como eu gosto do café depois de tantos anos.
Dare a olhou.
-Há coisas que um homem não pode esquecer da mulher que considerava dele, Shelly.
-Ah - respondeu ela com voz tremente. Decidiu não acrescentar nada mais já que sabia que aquilo era certo. Ela tinha pertencido a ele todas as maneiras em que uma mulher pode pertencer a um homem.
Respirou fundo e bebeu um pouco de café. Experimentava sentimentos que não queria experimentar. Dare tinha feito muito dano e não queria que ele voltasse a fazer. Tinha que tomar cuidado. Levantando os olhos viu que ele a estava olhando. O calor de seu olhar a fez sentir como se tivesse certa união com ele. Não queria sentir aquilo, mas se sabia de que essa união existia.
Seu filho.
Esclareceu a garganta e tratou de mudar de assunto.
-Como está sua família?
Dare deu um caloroso sorriso.
-Mamãe, papai e o resto dos Westmoreland estão bem.
-É certo o que ouvi sobre a Delaney? É verdade que terminou Medicina e se casou com um sheik? -perguntava-se como tinha podido acontecer tal coisa quando sabia que os irmãos Westmoreland tinham sido muito protetores com sua irmã mais nova.
-Sim, é certo. A única vez que distraímos Laney escapou e se escondeu em uma cabana das montanhas para descansar durante uma temporada. Ali conheceu um sheik do Oriente Médio. Custou-nos acostumar à idéia de que se casara com ele e foi viver em seu país. Têm um menino de cinco meses que se chama Ari.
-Foram visitar-la?
-Sim. Fomos toda a família para o nascimento e foi uma experiência - franziu o cenho e pensou como teria gostado de presenciar o nascimento de AJ-. Fale-me do AJ, Shelly. Conte-me como foi tudo quando ele nasceu.
Shelly tragou saliva. Dare tinha direito de saber como tinha acontecido tudo.
-Nasceu no hospital onde eu trabalhava. Meus pais estiveram comigo. Durante a gravidez não ganhei muito peso e isso ajudou que o parto fosse mais fácil. Não foi um bebê grande, mas sim muito comprido. Assim que o vi, pensei que se parecia com você. E nesse mesmo instante, soube que, embora nos estivéssemos separado, meu filho era parte de você. -Shelly pensou uns instantes e acrescentou-. Por isso lhe dei o seu nome, Dare. Não tinha cara do Marcus, que era o nome que tinha decidido chamar. Tinha cara de Alisdare Julián. Um pequeno Dare.
Dare permaneceu em silencio durante um momento. Depois comentou:
-Obrigado por colocar esse nome.
-De nada.
-E sabe que tem o mesmo nome que seu pai?
-Sim. Não sabe o quanto estava preocupada ontem, antes de ir à delegacia de polícia. Temia que houvesse averiguado seu nome, ou que ele tivesse averiguado o teu. Por sorte, a maior parte do pessoal te chama xerife, e a pessoas te chamam Dare.
-Exceto minha família, poucas pessoas recordam que me chamo Alisdare. Sempre me chamaram Dare. Se AJ me houvesse dito seu nome eu teria imaginado tudo isto - fez uma pausa e continuou-. Ontem à noite contei tudo a meus pais e a meus irmãos, Shelly.
-E como reagiram? -perguntou ela com nervosismo.
Dare a olhou aos olhos.
-Ficaram tão surpreendidos quanto eu e, é obvio, estão desejando te ver.
Shelly assentiu. Sabia que a família Westmoreland era muito unida.
-Dare, sobre sua sugestão a respeito de como devemos tratar o assunto...
-Sim?
-Estou disposta a levar adiante seu plano sempre que compreender uma coisa.
-O que?
-Que será só uma situação fingida. Não há maneira de nos dois possamos voltar a estar juntos. A único entre nós é AJ.
Dare a olhou e se perguntou como podia estar tão segura daquilo, mas decidiu não dizer nada. Desejava começar a relação com seu filho nesse mesmo instante e não queria que Shelly arrumasse problemas.
-Parece-me bem. E quando falará com o AJ sobre mim?
-Pensava dizer a ele esta noite.
Dare assentiu, satisfeito com sua resposta. Isso significava que no dia seguinte poderia pôr seu plano em funcionamento.
-Acredito que estamos fazendo o correto, Shelly.
Ela se precaveu da intensidade de seu olhar e de como a afetava.
-Isso espero, Dare - comentou em voz baixa.
Capítulo Quatro
Dare olhou o relógio outra vez e suspirou. Onde teria se metido AJ? Tinha saído do colégio fazia uma hora e ainda não havia chegado a ao escritório. Shelly lhe tinha contado durante o café da manhã que o menino havia ido ao colégio de bicicleta e que tinha ordens de ir ao escritório do xerife assim que saísse da aula. Dare se perguntava se o pequeno teria ousado desobedecer a sua mãe.
Embora Shelly tivesse dado o número de seu celular ele não queria chamá-la para não preocupá-la. Se for necessário, procuraria seu filho ele mesmo e quando o encontrasse...
O toque do interfone interrompeu seus pensamentos.
-Sim, McKade, o que quer?
-O pequeno Brockman está aqui.
Dare assentiu e suspirou aliviado. Depois recordou as palavras do McKade e franziu o cenho. O pequeno Brockman. O primeiro que pensava fazer quando tudo estivesse acabado era lhe dar seu sobrenome a seu filho.
-De acordo. Em seguida saio — saiu do escritório e se dirigiu para a entrada principal do edifício. Ao ver AJ se deteve em seco. Parecia que o pequeno brigou como um tigre—. O que te aconteceu? -perguntou, e se fixou em que tinha a camiseta rasgada e os jeans manchados. Além disso, ele estava com o lábio partido e lhe sangrava o nariz.
-Nada. Caí da bicicleta - disse AJ.
Dare olhou McKade. Ambos reconheciam uma mentira nada mais ouvi-la. Dare cruzou seus braços e disse:
-Não parece que seja um menino desajeitado - o comentário conseguiu a resposta que Dare esperava. AJ o olhou com fúria.
-Não sou um desajeitado. Qualquer um pode cair da bicicleta - respondeu o menino.
-Sim, mas neste caso não é o que aconteceu, e sabe. Conte-me o que aconteceu.
-Não vou te contar nada.
«Resposta errada», pensou Dare, e deu um passo adiante.
-Olhe menino, podemos estar aqui todo o dia até que decida falar, mas vai me contar o que te aconteceu.
AJ colocou as mãos nos bolsos de seus jeans e olhou para o chão. Depois de ver que haviam passado vários minutos e que Dare não se movia, levantou a cabeça e o olhou nos olhos.
-O Caleb Martín, não me agradou e depois do colégio decidi passar a outro nível.
Dare se apoiou no mostrador e arqueou uma sobrancelha.
-E?
AJ fez uma pausa, endireitou-se e disse:
-Decidi forçar a situação. Empurrou-me, e quando me levantei me assegurei de que recebesse seu castigo e se inteirasse de que ninguém se mete comigo.
Dare sorriu por dentro. Odiava admitir, mas seu filho falava como um verdadeiro Westmoreland. Não queria recordar quantas vezes algum deles havia chegado em casa com algum osso quebrado ou uma ferida aberta. Todos os meninos do colégio se inteiraram de que ninguém devia meter-se com os Westmoreland. Eles nunca procuravam problemas, mas sabiam solucioná-los quando se apresentavam.
-Brigando não se consegue nada.
-Talvez não, mas aposto que Caleb Martín não voltará a me insultar nem a me empurrar outra vez. Já o agüentei muito tempo.
Dare pôs as mãos nos quadris.
-Se isso esta acontecendo há algum tempo, por que não o contou a sua mãe ou a algum adulto do colégio?
-Não sou um pirralho. Não necessito que ninguém lute minhas batalhas.
Dare olhou a seu filho fixamente.
-Pode ser que não, mas espero que no futuro não te meta em confusões. Se eu souber, trarei aqui você e esse tal Martín e se arrependerão. Não só os mandarei trabalhar depois da escola, mas terão que vir os fins de semana também. Não tolero essas tolices. Agora, entra no banheiro e te limpe. Espero você na parte traseira do edifício.
AJ colocou a mochila de lado.
-O que se supõe que tenho que fazer hoje?
-Tenho que limpar meu carro patrulha, e preciso de ajuda.
AJ assentiu e se apressou a entrar no banheiro. Dare não pôde evitar um sorriso. Apesar de que, no dia anterior, o pequeno se queixou de ter que ir à delegacia de polícia depois do colégio. Dare sabia, pela expressão de sua cara, que no fundo se alegrava de ter algo que fazer.
-Xerife?
Dare levantou os olhos e viu McKade.
-Sim?
-Há algo nesse menino que me resulta muito familiar.
Dare sabia a que se referia McKade. Seu ajudante havia visto os formulários que ele tinha preenchido a noite anterior e certamente tinha feito conexões, sobre tudo, já que ele sabia como se chamava Dare de verdade. Eram bons amigos e tinham entrado o mesmo ano no FBI. Quando Dare decidiu deixar o trabalho, McKade tomou a mesma decisão. Rick tinha seguido a Dare até Atlanta, onde conheceu e se casou com uma professora.
-Resulta-te tão familiar porque o viu ontem, McKade - disse Dare, tratando de encerrar o assunto. McKade soltou uma gargalhada e disse:
-Não é isso, e sabe Dare. Há algo mais.
-O que?
-Parece-se muito com você e seus irmãos, mas, sobretudo a você. Há algo que queira me contar?
Dare esboçou um sorriso. Não tinha nada que lhe contar ao McKade já que ele havia deduzido tudo por si mesmo.
-Não, não tenho nada que te dizer.
McKade riu de novo.
-Então, será melhor que te recorde que as pessoas deste lugar não sabem guardar segredo, se isso era o que pensava fazer. Não passará muito tempo antes que todo mundo se dê conta, e quando o fizerem alguém contará ao menino.
Dare sorriu ao pensar nisso.
-Já, sua mãe e eu contamos com isso - sabia que McKade teria ficado desconcertado com sua idéia, voltou-se e se dirigiu para a porta que levava à parte de atrás.
Dare decidiu que o menino era um bom trabalhador enquanto observava como AJ secava o carro patrulha. Tinha pensado que o trabalho durasse só uma hora, mas via que AJ desfrutava de ter algo que fazer. Tinha que perguntar a Shelly se o pequeno fazia alguma tarefa doméstica, e disser que, se não o fazia, era boa idéia que atribuísse alguma. E seria outra maneira de mantê-lo afastado dos problemas.
-É tudo por hoje? -a pergunta de AJ interrompeu os pensamentos de Dare. AJ deixou o pano que havia utilizado para secar o carro dentro do balde.
-Sim, isso é tudo. E te assegure de que manhã venha outra vez... e espero que chegue a tempo.
AJ franziu o cenho e colocou a mochila nas costas.
-Eu não gosto de vir aqui depois do colégio.
-Ah, isso deveria ter pensado antes de se meter em confusões.
Olharam-se um instante e Dare se precaveu de que seu filho o olhava com desafio.
-Quanto tempo vou ter que vir? -perguntou AJ em tom agitado.
-Até que considere que aprendeu a lição.
-Pois eu não gosto.
- Isso já me disse antes, mas neste caso, o que você gosta não tem importância. Quando não cumpre a lei, terá que castigá-lo. E te sugiro que se lembre. Também te sugiro que vá para casa antes que sua mãe comece a preocupar-se - disse-lhe, e ambos entraram no edifício.
-Vai fazer de todo jeito.
Dare sorriu.
-Sim, me imagino, as mães são assim. Estou seguro de que meus quatro irmãos e eu também fizemos que minha mãe se preocupasse conosco.
-Tem quatro irmãos?
-Sim, tenho quatro irmãos e uma irmã. Sou o mais velho.
AJ assentiu.
-Eu só tenho a minha mãe.
Dare assentiu também. Depois, deteve-se na porta com o AJ.
-Para responder a sua pergunta de quanto tempo terá que vir aqui, acredito que uma semana será suficiente para que pense duas vezes a próxima vez que te ocorra atirar pedras nos carros que passam pela auto-estrada -acariciou-se o queixo e acrescentou—. A menos de que me inteire de que tornaste a brigar. Já te disse que isso é algo que não vou tolerar.
-Então, assegurar-me-ei de que não se inteire.
Sem permitir que Dare dissesse algo mais, AJ subiu em sua bicicleta e se afastou.
-Ai! Dói!
-Assim aprenderá a lição - disse Shelly zangada enquanto curava as feridas de seu filho-. E se descubro que volta a brigar, te castigarei como não imagina.
- Ele começou
Shelly olhou a seu filho fixamente.
-A próxima vez, afasta-te sem mais.
-Vão pensar que sou um covarde se fizer isso. Já te disse que não quero viver aqui. Não me dou bem com ninguém. Ao menos em Los Anjos tinha amigos.
-Não considero que aqueles meninos fossem seus amigos. Um amigo de verdade não te incita a fazer coisas más, AJ, e quanto ao que os outros pensem que é um covarde, dane-se eles. Eu sei que é uma das pessoas mais valentes que conheço. Olhe quanto tempo leva sendo o homem da casa para mim.
AJ deu de ombros e olhou a sua mãe.
-Mas é diferente, mamãe. Não quero que os meninos do colégio pensem que sou um tolo.
-Me acredite, não é um tolo. É igual o seu pai - disse-lhe, e se dirigiu à cozinha. Shelly sabia que tinha jogado o anzol e que AJ não demoraria muito em pegar.
-Por que o mencionou?
Ela olhou a seu filho por cima do ombro.
-Por que mencionei a quem?
-O meu pai.
Apoiou-se no balcão da cozinha e arqueou as sobrancelhas.
-Supõe-se que não devo mencioná-lo?
-Não o tem feito há muito tempo.
-Só porque faz muito tempo que você não pergunta por ele. Agora, ao dizer que foste parecer tolo, pensei nele porque se parecem muito e ele é um dos homens mais valentes que conheço.
AJ sorriu. Alegrava-lhe saber que seu pai era valente.
- O que ele faz? É piloto de aviões ou algo assim?
-Não - respondeu Shelly, e respirou fundo-. Acredito que chegou o momento de que falemos sobre seu pai. Desde que nos mudamos aqui estive pensando muito e preciso que me ajude a tomar uma decisão.
-Uma decisão sobre o que?
-Sobre se devo contar a seu pai quem é você.
-Sabe onde está? -perguntou AJ com surpresa.
-AJ, sempre soube onde está. E sempre disse isso. Sabe que te disse que se algum dia te contatasse sobre ele, só tinha que me pedir.
O pequeno abaixou a cabeça desconcertado.
-Sim, mas não estava seguro de se o diria.
Shelly esboçou um sorriso e lhe segurou o queixo para que levantasse a cabeça e a olhasse.
-Por isso deixou de perguntar por ele? Acreditava que havia mentido?
-Supunha que me havia dito o que queria que eu acreditasse. A mãe do Nick Banner o fez a ele. Disse-lhe que seu pai havia morrido em um acidente de carro quando ele era um bebê, e depois, um dia ouviu seu avô conta a alguém que seu pai estava vivo e que tinha uma família em outro lugar e que não queria o Nick.
Shelly sentiu um nó na garganta. Desejava abraçar seu filho e contar que seu pai sim o queria. Mas sabia que o pequeno estava em uma idade em que os abraços das mães não eram positivos.
-Vêem, nos sentemos. Acredito que é hora de que tenhamos uma longa conversação.
-Sobre ele? -perguntou AJ com curiosidade.
-Sim, sobre ele. Há coisas que acredito que deve saber
O menino a seguiu até a mesa e ambos se sentaram.
-Para que fique claro tudo o que vou te contar sobre seu pai é verdade. Saímos juntos quando eu ia à universidade e vivia aqui, no College Park. Todo mundo acreditava que íamos nos casar, e suponho que eu também, mas seu pai tinha um sonho.
-Um sonho?
-Sim. Sonhava convertendo-se em agente do FBI. Você sonha ser astronauta quando for maior, não é assim?
-Sim.
-Bom, pois seu pai tinha um sonho similar. Eu sabia que se contasse que estava grávida de você, teria abandonado seu sonho por nós. Não queria que fizesse tal coisa. Queria-o demais. Assim sem dizer que estava grávida, sai da cidade. Nunca se inteirou de seu nascimento, AJ - Shelly suspirou. Tudo o que havia contado a AJ era basicamente verdade. Entretanto, iria contar uma mentira-. Seu pai ainda não sabe que existe, e aqui é onde preciso de sua ajuda.
AJ a olhou confuso.
-Minha ajuda para que?
-Sobre o que devo fazer. Quando nos mudamos, descobri que seu pai continua vivendo no College Park.
-Ele está aqui? Nesta cidade? -perguntou AJ assombrado.
-Sim. Parece que retornou faz alguns alguns anos quando deixou de trabalhar para o FBI em Washington D.C. -Shelly se apoiou no respaldo da cadeira-. Quero ser sincera com os dois. Você está mais velho e ele também. Acredito que chegou o momento de falar de você, igual estou falando dele com você.
AJ assentiu e a olhou. Shelly percebeu incerteza em seu olhar.
-E se não me quiser?
Shelly sorriu e depois soltou uma gargalhada.
-Confia em mim, quando se inteirar de que existe, quererá. É mais, estou um pouco preocupada com como vai reagir quando se inteirar de que estive te ocultando todo este tempo. É um homem que acredita na família e não ficará tão contente.
-Se ele tivesse informado de que fosse ter-me, teria se casado contigo?
-Sim, ao minuto, e por isso não o disse. E embora seja muito tarde para pensar na possibilidade de ter uma vida em comum, já que vivemos muitos anos separados, sei que quando o disser, quererá formar parte de sua vida. Mas eu gostaria de saber o que opina disso.
-Parece-me bem — disse AJ, dando de ombros-. Mas o que te parece com você, mamãe?
-Também me parece bem.
AJ assentiu. Depois abaixou a cabeça e repassou com o dedo os desenhos da toalha. Ao final de um momento, olhou a sua mãe e lhe perguntou:
-E quando poderei ir conhecer ele?
Shelly respirou fundo e tratou de falar com normalidade.
-Já conheceu a seu pai, AJ. Conheceu-o ontem — tomou ar e continuou —. O xerife Dare Westmoreland é seu pai.
Capítulo Cinco
-O xerife Westmoreland! - gritou AJ e se levantou da cadeira. Colocou-se em frente de sua mãe e a olhou com desafio-. Não pode ser ele. De maneira nenhuma.
Shelly esboçou um sorriso.
-Me acredite. É ele. Sou eu quem melhor sabe.
-Mas... mas não quero que ele seja meu pai -exclamou.
Shelly olhou para AJ fixamente. Não a surpreendia o mal que recebeu a notícia, tendo em conta como se conheceram Dare e ele.
-É uma pena que pense dessa maneira porque ele é seu pai e não pode fazer nada para trocá-lo. Alisdare Julián Westmoreland é seu pai - ao ver sua expressão de desgosto acrescentou-. E tão pouco inventei isso. Chamei-te como ele, AJ. A única diferença ele corta Alisdare e o converte em Dare. Pergunta-a é, agora que já sabe que ele é seu pai o que vamos fazer a respeito?
-Não terá que fazer nada já que ele não tem por que inteirar-se. Podemos continuar da mesma maneira.
-Não acredita que ele tem o direito de saber?
-Não se eu não quero que saiba.
-Dare se sentirá muito triste se algum dia se inteirar da verdade - olhou a seu filho-, Pode me dar um bom motivo pelo que imagina que não devemos dizer a ele.
-Sim, porque eu não gosto dele e ele não gosta de mim.
-É provável que com seu mau comportamento não lhe causasse uma boa impressão, AJ. Sem mentira, Dare adora aos meninos. E respeito a que não goste dele, não o conhece, e acredito que deveria conhecê-lo melhor. É um homem muito simpático, se não, nunca me teria apaixonado por ele. Como foram as coisas entre vocês hoje?
-Seguimos sem nos entender bem, e não quero conhecer ele melhor. Assim, por favor, mamãe, não o diga nada.
Shelly fez uma pausa antes de responder.
-De acordo, AJ, já que isso é o que quer, não o direi. Mas espero que algum dia você mesmo diga. Espero que se dê conta da situação e que ele saiba a verdade - ficou em pé e pegou seu filho pelo ombro-. Há algo mais em que deve pensar.
-O que?
-Dare é um homem inteligente. Há muitas possibilidades de que ele o descubra tudo sem que nós o digamos.
-Como? -perguntou franzindo o cenho. Shelly sorriu.
-Parece-te com ele e a seus quatro irmãos. Se ele não se deu conta ainda, é possível que o faça logo. E, além disso, sabe sua idade. E que eu parti daqui faz dez anos, o mesmo ano que nasceu você.
- Te perguntou algo quando o viu ontem?
-Não. Suponho que ele acredita que seu pai é alguém a quem conheci quando fui embora daqui, mas já te disse que existe a possibilidade de que faça a conexão.
-Mas não podemos deixar que ele descubra.
Shelly olhou seu filho. Não gostava de mentir para ele, embora soubesse que era por uma boa causa.
-Não me inclua nisto, AJ. Foi você que decidiu não contar, não eu. Já me arrependo por não ter dito antes. Mas te prometo que não lhe direi nada se isso for o que quer.
-Sim, isso é o que quero - disse AJ aliviado. Tremiam-lhe os lábios e Shelly sabia que estava tratando de conter as lágrimas. Por um lado se emocionou ao saber que seu pai sim que existia, mas por outro se negava a aceitar ao homem que era seu pai. E tudo pelo orgulho e a teimosia que caracterizava os Westmoreland.
Shelly piscou ao sentir que as lágrimas inundavam seus olhos. Dare teria uma missão difícil na hora de ganhar o amor de seu filho.
Aquela noite, quando AJ já se deitou, Shelly recebeu uma chamada de Dare.
- Já contou?
-Sim, já contei.
-E como ele ficou?
Shelly suspirou.
-Como esperávamos. Não quer que conte a você que é seu filho - ao ver que Dare não respondia, acrescentou-. Não sinta como algo pessoal, Dare. Acredito que neste momento está muito confuso. Esta noite tenho descoberto por que deixou de me perguntar por você.
-Por quê?
-Porque não acreditava que existia de verdade, ao menos não como eu o havia contado. Ao que parece, um amigo seu lhe contou sobre sua mãe havia lhe dito que seu pai tinha morrido em um acidente de carro quando ele era um bebê, e depois descobriu que seu pai estava vivo e que vivia em outro lugar com outra família. Assim AJ decidiu que o que eu havia contado não era certo e que, em realidade, eu não saberia te localizar se ele me pedisse isso. E já que não queria me colocar em uma situação que eu ficasse como mentirosa, deixou de perguntar por você - respirou fundo e tratou de conter as lágrimas-, E pensar que o mais provável era que fosse saber mais de você, mas se conteve para não envergonhar a mim - sentiu um nó na garganta—. OH, Dare, sinto-me culpada. Tudo o que está acontecendo é minha culpa. Acreditava que havia tomado às decisões corretas e parece que ao final lhe causei mais danos do necessário.
Dare estava convexo na cama. Tinha todo o corpo tenso. Não podia conter a raiva que sentia pelo que tinha feito Shelly, embora reconhecesse que se ele não tivesse dado prioridade a sua carreira profissional, as coisas teriam sido de outra maneira. Assim, em realidade, era igualmente culpado que Shelly, e juntos tinham a oportunidade de que as coisas saíssem bem.
—Ao final, tudo sairá bem, Shelly, você verá. Esta noite você fez a sua parte, agora deixa que eu me encarregue de tudo. Pode que nos leve alguns meses, mas ao final, estou seguro de que AJ me aceitara como pai. No fundo, acredito que chegará o dia em que ele queira que eu saiba a verdade.
Shelly assentiu e desejou que Dare tivesse razão.
—Então, agora passamos à segunda parte de seu plano?
—Não, agora passamos à segunda parte do nosso plano.
No dia seguinte, depois de que AJ foi ao colégio, bateram na porta da casa do Shelly. Era seu dia livre e havia passado à última meia hora pagando os recibos através de internet e estava a ponto de entrar na cozinha para preparar um café.
Aproximou - se da porta e olhou pelo olho mágico. Conteve a respiração. Dare estava no alpendre. O sol iluminava seu corpo musculoso e estava muito atrativo. O uniforme ressaltava seu ventre plano e seu corpo musculoso.
Shelly estremeceu ao sentir uma espécie de corrente elétrica que percorria seu corpo e se instalava em suas vísceras. Respirou fundo e tratou de manter a compostura. Tudo o que havia entre Dare e ela havia terminado fazia dez anos, assim não era o momento de sentir-se excitada ao vê-lo. Tinha sobrevivido sem ter relações sexuais todo esse tempo, e poderia continuar da mesma maneira. Mas Dare tinha despertado o desejo que ela manteve adormecido durante tantos anos. Não conseguia esquecer como era acariciar seu peito e sentir a suavidade de sua pele coberta pelo macio e fino pêlo masculino.
Fechou os olhos e respirou fundo ao recordar o roçar de seus ventres nus e as carícias que ele fazia nas zonas mais sensíveis de seu corpo.
Dare chamou pela segunda vez e interrompeu os pensamentos de Shelly. Recordou que, por mais que quisesse, não podia distanciar-se de Dare. Por muito que a inquietasse estar perto dele, o mais importante era seu filho.
Abriu a porta devagar e o olhou nos olhos.
-Dare, o que está fazendo aqui? -perguntou. Ele sorriu com um desses sorrisos que faziam com que Shelly desejasse levar ele à cama mais próxima. Não conseguia esquecer as vezes que tinham acabado em uma cama com os lençóis revoltas.
-Tentei te chamar à agência onde trabalha, mas me disseram que hoje era seu dia de folga — disse, apoiando-se na porta. Porque seguia sendo tão atraente depois de dez anos? E por que o corpo do Shelly se excitava ao vê-lo?
-Para que queria me localizar? Aconteceu alguma coisa? -perguntou ela.
-Não, mas pensei que seria boa idéia se conversássemos um pouco.
-Conversar? Mas nos falamos ontem pela manhã no Kate's Diner e depois à noite. O que temos que conversar agora? -perguntou ela.
-Pensei que você gostaria de saber como foi à reunião com o Jared.
-Ah – ela esqueceu que Dare encontrou com seu primo advogado para almoçar-. Claro. Entre.
Dare entrou na casa e fechou a porta.
-Faz anos que não entrava nesta casa. Me trás muitas lembranças - disse Dare, olhando-a nos olhos.
Ela assentiu, recordando como ele estava acostumado a ficar no mesmo lugar enquanto esperava a que ela descesse pelas escadas.
-A mim também.
Fez-se um silêncio e finalmente ela pigarreou.
-Ia tomar um café e um Danish, gostaria de acompanhar...
-É uma oferta muito tentadora - respondeu Dare. Shelly assentiu. «Tentador é Dare Westmoreland, de pé, em minha sala», pensou Shelly. E não a ajudou notar que Dare tinha a calça volumosa. Ao que parecer, ele estava tão excitado quanto ela. Shelly se apressou para voltar.
-Me siga - disse, perguntando como ia suportar estar na mesma casa, a sós com ele.
Seguir Shelly era a última coisa que Dare devia fazer. Tratou de não fixar-se no movimento de seus quadris nem em como ficavam as calças justas que usava. De repente, invadiu-o a lembrança da maciez de seu traseiro quando se encaixava para penetrála e sua ereção se fez ainda maior.
Tentou pensar em outra coisa e olhou a seu redor. Gostava de como havia decorado a casa, de uma maneira completamente diferente de como o tinham feito seus pais. Shelly gostava das cores e tinha conseguido pintar as paredes com a combinação correta, de forma que ficasse uma casa muito acolhedora.
Quando entraram na cozinha, Dare se apressou a sentar-se para que ela não se precavesse de sua expressão corporal. Logo descobriu que estar sentado observando como se movia de um lado a outro só intensificava seu problema. Ao ver como se movia para tirar as xícaras e como as calças curtas deixavam suas pernas à mostra, estremeceu-se.
-Ainda toma o café puro e o Danish com muita manteiga, Dare?
-Sim - respondeu ele com esforço. Começava a pensar que havia cometido um engano ao voltar a vê-la. Quando a tinha visto nos dois dias anteriores, sempre havia existido gente ao redor. Entretanto, ali estavam os dois a sós e teve que conter-se para não deitá-la sobre a mesa e possuí-la nesse mesmo instante.
Respirou fundo. Se Shelly descobrisse o que estava pensando, possivelmente saísse correndo escada acima, mas não lhe serviria de muito, já que ele a seguiria e terminaria fazendo amor em algum dos quartos.
Isso era o que tinham feito uma vez quando os pais de Shelly estavam fora da cidade e ele apareceu sem avisar. Sorriu ao recordar o desespero com que tinham feito amor. E aquela foi uma das vezes que não utilizaram proteção. Possivelmente foi então quando ficou grávida do AJ?
-Porque sorri?
A pergunta de Shelly o fez retornar a realidade. Dare se moveu na cadeira para aliviar a tensão que sentia na virilha. Olhou-a nos olhos e decidiu ser sincero com ela.
-Estava pensando na vez que fizemos amor em seu quarto sem proteção, e me perguntava se foi então quando ficou grávida.
-Foi sim.
-Como sabe?
-Porque depois daquilo foi à primeira vez que atrasou minha menstruação.
Ele assentiu. O motivo de terem feito amor com tanto desespero e sem tomar precaução foi que ele havia recebido ordens para marchar imediatamente a uma zona próxima ao Kuwait. Era uma missão temporária e ia estar fora dois meses. Mas naquela época, Shelly sentia que dois meses eram como dois anos, e sabendo que seria arriscada a missão, não pôde conter as lágrimas e subiu correndo para o quarto para que Dare não a visse chorar. Ele a seguiu até seu quarto e terminaram fazendo amor de maneira apaixonada.
-E ontem, o que Jared te disse? - perguntou Shelly para não pensar no dia em que conceberam a seu filho. Aproximou-se da mesa para deixar o café e o bolo e tomou assento.
Dare bebeu um gole de café e disse:
-Jared acredita que o que decidimos será a melhor maneira de dizer ao AJ que sou seu pai, sempre que estivermos de acordo. E opina que devo fazer algo para te compensar por todo o tempo que aconteceu desde que nasceu. Eu estou de acordo. Como pai, tenho certas responsabilidades para ele.
-Mas não sabia que existia, Dare.
-Mas agora sei Shelly, e isso faz que tudo seja diferente.
Shelly assentiu. Sabia que discutir com Dare seria uma perda de tempo.
-De acordo. Tenho uma conta aberta para que possa estudar na universidade, se quiser contribuir, não tenho nenhum problema a respeito. Sem dúvida, essa é uma maneira em que pode ajudar.
Dare a olhou nos olhos.
-Está segura de que não há outra maneira em que possa ajudar?
Durante um instante, Shelly se perguntou se ele havia percebido a excitação sexual que sentia e sabia que podia ajudá-la? Suspirou e tratou de mudar o rumo de seus pensamentos. AJ era a único laço que havia entre ambos, e não devia esquecê-lo.
- Sim, estou segura. Meu trabalho é bem pago e sempre consegui me arrumar com o que tenho. A vida não é tão cara aqui como em Los Angeles, e meus pais não estão me cobrando aluguel, assim AJ e eu estamos bem, Dare, mas obrigada por perguntar — tocou o telefone e Shelly se sentiu aliviada -. Desculpe-me - disse ficando de pé-. Será da agência para me dar o horário da semana que vem.
Enquanto a secretária da agência ditava o horário de trabalho, Shelly tratou de organizar seus pensamentos. Dare havia despertado sentimentos que tinham estado latentes durante muito tempo. Sua presença fazia que acelerasse o coração.
-De acordo, muito obrigado por chamar — disse ela, e desligou o telefone. Quando se virou chocou-se contra um torso musculoso-. Ai!
Dare a agarrou para evitar que caísse.
-Sinto muito, não pretendia te assustar - disse ele. Ela deu um passo atrás quando ele a soltou. Cada vez que a tocava, ficava com a pele arrepiada.
-Pensava que ainda estava sentado.
-Acredito que é hora de ir. Não quero te incomodar mais tempo.
Ela esfregou os braços. Sabia que era melhor que fosse.
-Isso foi tudo o que disse Jared?
Ele assentiu. Isso era tudo o que ela precisava saber. Não precisava dizer que Jared tinha comentado a possibilidade de obter dias de visita, ou de compartilhar a custódia de AJ. Dare havia desejado ambas as coisas, já que Shelly e ele haviam traçado um bom plano.
Fixou-se em como acariciava os braços e recordou as vezes que tinha feito o mesmo em certa zona de seu corpo. A lembrança de seus dedos acariciando sua parte íntima lhe provocou uma nova ereção.
Nesse momento, perdeu o pouco controle que tinha. Seu único desejo era beijá-la e saborear de novo o interior de sua boca com a língua.
Shelly respirou fundo e tratou de conter a onda de desejo que percorria seu corpo. Ao perceber que Dare não desviava o olhar de seus lábios, tragou saliva e ao ver que ele dava um passo adiante, entrou em pânico.
-Pergunto-me... -disse ele sem deixar de lhe olhar os lábios.
-O que é o que se pergunta? -disse ela com nervosismo.
-Pergunto-me se sua boca ainda me conhece.
Suas palavras fizeram que Shelly perdesse o pouco controle que tinha. Dare sempre dizia aquelas palavras depois de ter estado separados algum tempo, momentos antes de tomá-la entre seus braços e beijá-la.
Aproximou-se e, abaixando a cabeça, acariciou-lhe a boca com a língua até contagiar o desejo que o consumia por dentro. Shelly respondeu de maneira acalorada e Dare não pôde conter um gemido.
Segurou-a pela cintura e a atraiu para si. Suas coxas se roçavam e Dare não podia resistir à necessidade de acariciá-la entre as pernas. Queria recordar a sensação de seus dedos entrando em seu corpo até encontrar o ponto que o proporcionava o máximo prazer.
Seu membro viril ficou mais forte e pressionou o corpo de Shelly. A idéia de utilizá-lo para penetrá-la fez com que Dare perdesse a noção da realidade e se deixasse levar pelas lembranças.
Shelly estremeceu ao perceber a rapidez com que tinha sucumbido ante seus encantos. Sabia que tinha que deter o que estava acontecendo. Tinha retornado ao College Park pelo AJ, e não por ela.
Interrompeu o beijo e se separou de Dare. Quando ele se dispunha a beijá-la de novo, ela o empurrou para trás com suavidade.
-Não, Dare - disse com firmeza-. Não devemos fazer isso. Não se trata de nós e de nossa incapacidade de controlar nossos hormônios. Trata-se de nosso filho e de fazer o que é melhor para ele.
«E por que não podemos descobrir o que é melhor para ele e para nós ao mesmo tempo?», pensou Dare. Compreendia que Shelly queria dar prioridade ao AJ, mas também tinha que admitir que entre eles existisse algo que não havia terminado.
-Estou de acordo em que AJ é nossa prioridade, mas também tem que aceitar uma coisa.
-O que?
-Que entre nós nada terminou, e que não devemos nos convencer de que não haverá uma próxima vez, assim vai te preparando.
-Não, Dare, não haverá uma próxima vez porque eu não permitirei - disse ela desafiante-. É o pai do AJ, mas o que houve entre nós terminou faz anos. Para mim, é mais um homem.
Dare arqueou as sobrancelhas e se perguntou se ela teria beijado a muitos homens como havia beijado a ele, e por algum motivo, duvidava. Ela o tinha beijado como se não tivesse beijado a ninguém em muitos anos. Tinha percebido o ardente desejo de seu corpo e, no momento, havia tratado de satisfazê-la.
-Está segura disso?
-Sim, estou. Assim te sugiro que concentre todos os esforços em ganhar seu filho e se esqueça de sua mãe.
Dare cruzou a sala para partir. Sabia que nunca conseguiria esquecer à mãe de seu filho. Antes de sair, voltou-se para olhá-la.
-Esquecia-me de uma coisa.
-O que?
-Meus quatro irmãos morrem para te ver. Contei-lhes nosso plano sobre o AJ e estão dispostos a esperar para vê-lo, mas se negam a esperar para te ver, Shelly. Querem saber se ficará com eles para almoçar um dia desta semana no restaurante que Chase tem no centro de Atlanta.
Shelly sorriu. Ela também tinha vontade de vê-los. Os irmãos de Dare sempre tinham sido especiais para ela.
- Diga que eu adoraria almoçar com eles amanhã já que estarei trabalhando pela zona.
Dare assentiu, voltou-se e saiu pela porta.
AJ percebeu que dois meninos estavam olhando sua bicicleta à porta do colégio. Já que ele havia colocado cadeado, não se preocupava que pudessem levá-la, mas depois da briga que havia tido no dia anterior com o Caleb Martín, quão último queria era meter-se em confusões. Sobre tudo depois da bronca que tinham dado nele o xerife e sua mãe.
«O xerife».
Decidiu não pensar no fato de que o xerife era seu pai. Tinha pensado nisso durante a maior parte do dia e, mesmo assim, continuava sem querer que o xerife se inteirasse de que ele era seu filho.
-O que estão olhando? - perguntou, ignorando o fato de que um dos meninos era muito maior que ele.
-Sua bicicleta - respondeu o menor dos dois-, É muito legal. De onde a trouxe?
AJ relaxou. Ele também pensava que sua bicicleta era muito legal.
-De nenhum lugar por aqui. Minha mãe me comprou isso na Califórnia.
-É dali? -perguntou o menino maior.
-Sim. Nasci em Los Angeles, e espero que retornemos para lá - olhou para os meninos e decidiu que eram inofensivos. Tinha-os visto outras vezes pelo colégio, mas nenhum tinha tratado de fazer-se seu amigo-. Meu nome é AJ Brockman. E vocês?
-Eu sou Morris Sears - disse o menor-, e este é meu amigo, Cornelius Thomas.
-Vivem por aqui?
-Sim, a algumas quadras, perto do Kate's Diner.
-Eu também vivo perto do Kate's Diner, no Sycamore Street - disse AJ ficou contente de saber que havia outros meninos na sua região.
-Ontem vimos o que aconteceu entre você e o Caleb Martín -disse Morris -. Deu-lhe uma lição! Ninguém tinha feito isso nunca, e nos alegramos muito. Há muito tempo esta nos provocando sem nenhum motivo. É um idiota.
AJ assentiu.
-Quer ir de bicicleta até em casa conosco? -perguntou-lhe Cornelius enquanto subia na sua bicicleta. Conhecemos um atalho que atravessa o imóvel dos Miller. Ontem vimos um casal de cervos por ali.
Os olhos de AJ se iluminaram. Nunca havia visto um cervo de verdade. Então, recordou onde tinha que ir depois do colégio.
-Sinto muito, mas não posso. Tenho que ir ao escritório do xerife agora mesmo.
-Pela briga de ontem? —perguntou Morris.
-Não, por fazer aprontar faz dois dias. Estava atirando pedras nos carros que passavam e o xerife me encontrou e me deteve.
-Foi na parte traseira do carro patrulha do xerife Westmoreland? -perguntou Cornelius com entusiasmo.
-Sim.
-Menino, isso é magnífico. O xerife Westmoreland é um herói.
AJ soltou uma gargalhada.
-Um herói? E o que tem feito para ser um herói? Só é um xerife e provavelmente não faz outra coisa além de estar sentado em seu escritório todo o dia.
Morris e Cornelius negaram com a cabeça ao mesmo tempo.
-O xerife Westmoreland não - disse Morris-. A semana passada saiu no jornal por ter detido a esses dois homens que o FBI estava procurando. Meu pai diz que o xerife Westmoreland recebeu disparos ao detê-los, e que uma bala passou raspando sua cabeça.
-Sim, e meu pai diz que esses homens não sabiam com quem estavam se metendo - interveio Cornelius-, todo mundo sabe que com o xerife não se brinca. Antes era agente do FBI. Meu pai foi ao colégio com ele e se graduou o mesmo ano que Thorn Westmoreland.
AJ olhou para Cornelius com curiosidade.
-O que tem que ver Thorn Westmoreland com tudo isto?
-Não sabe quem é Thorn Westmoreland? —perguntou Cornelius assombrado.
É obvio que AJ sabia quem era Thorn Westmoreland. Que menino não sabia?
-Sim. É um piloto de motos que fabrica as melhores peças de moto do planeta.
-Também é o irmão do xerife - disse Morris com um amplo sorriso-. E ouviu falar do Rock Maçom?
-O homem que escreve livros de aventuras e terror? -perguntou AJ.
-Sim. Pois seu nome de verdade é Stone Westmoreland e também é irmão do xerife. Tem dois mais, Chase e Storm Westmoreland. O senhor Chase é o dono de um restaurante e o senhor Storm é bombeiro.
AJ assentiu se perguntava por que Morris e Cornelius sabiam tanto sobre uma família da que se supunha que ele fazia parte, mas que não sabia nada.
-E me esqueci que te contar que sua irmã se casou com um príncipe de um país longínquo - acrescentou Morris, interrompendo os pensamentos do AJ.
-E como sabem tanto sobre os Westmoreland? -perguntou AJ franzindo o cenho.
-Porque o xerife é nosso treinador de beisebol e seus irmãos às vezes o ajudam.
-O xerife treina a uma equipe de beisebol? -perguntou AJ surpreso. A única vez que a gente via o xerife de Los Angeles era quando havia acontecido algo mau e aparecia fazendo declarações na televisão.
-Sim, e nós estamos na equipe e ganhamos todos os anos. Se for bom, pode que te deixe entrar.
AJ deu de ombros. Não queria estar perto do xerife mais do necessário.
-Não, obrigado. Não quero jogar na equipe. Bom, tenho que ir ou chegarei tarde.
-Durante quanto tempo tem que ir ate lá? -perguntou Morris, e ficou de lado para que AJ pudesse subir à bicicleta.
-Durante toda esta semana, assim, a partir da segunda-feira poderei ir casa de bicicleta com vocês se ainda quiserem que eu vá - disse AJ.
-Sim - respondeu Cornelius -. Claro que queremos. E este fim de semana? Os seus pais te deixariam ver os cervos? O senhor Miller nos dá permissão para entrar em seu imóvel se não causarmos problemas.
— Não sei se posso ir. Minha mãe é muito protetora. Não gosta que me afaste de casa.
Morris e Cornelius assentiram.
—Nossas mães também são assim - disse Morris-. Mas todo mundo por aqui conhece os Miller. Sua mãe pode perguntar ao xerife por eles. São boas pessoas.
-Amanhã quer vir de bicicleta ao colégio conosco? -perguntou Cornelius -. Ficamos todas as manhãs às sete e meia no Kate's Diner, e ela nos chama para uma vitamina de chocolate sempre que estamos bem no colégio.
-Vitamina de chocolate grátis? Isso eu gosto. Verei vocês pela manhã - AJ subiu bicicleta e se dirigiu ao escritório do xerife. Não queria chegar tarde pela segunda vez.
Capítulo Seis
Sua boca ainda o conhecia.
Dare estava sentado em seu escritório e sentiu que um emaranhado de sentimentos crescia em seu peito ao pensar no beijo que havia compartilhado com Shelly. Devagar, acariciou seus lábios com um dedo. Uma hora antes, esses mesmos lábios haviam provado a doçura da boca de Shelly, algo tão prazeroso que podia criar um vício.
Mas o que mais o impressionou foi que, depois de dez anos, sua boca ainda o conhecesse. Suas bocas se encaixaram sem problema e ela havia separado os lábios para que ele pudesse introduzir a língua e respondeu ante suas carícias.
Dare se apoiou no respaldo da cadeira. Shelly nunca podia conter a resposta que seu corpo tinha ante Dare, e ele sabia muito bem onde devia acariciá-la. Freqüentemente, só precisava olhar para ela com desejo para que ela suspirasse deixando claro que sabia o que ele desejava fazer. Naquele momento. Dare não podia tirar as mãos dela, algo que, ao que parecia, tampouco podia fazer dez anos depois. E o fato de que ela o havia beijado como se não tivesse beijado a outro homem nesses anos não lhe era de grande ajuda. A boca de Shelly ardia de desejo e ele havia dedicado tudo o que podia dar a ela. Poderia ficar beijado ela durante dias.
Dare passou a mão pelo rosto para ver se isso ajudava a conter seus sentimentos. Beijar Shelly o tinha alterado muito. Seu corpo seguia excitado após e o pior era que não via a maneira de aliviá-lo.
Durante os anos anteriores tinha saído com várias mulheres. Inclusive sua irmã Delaney dizia que ele e seus irmãos eram uns mulherengos. Mas não era certo. Depois de romper com o Shelly, tinha sido muito seletivo com as mulheres que levava a sua cama. Durante anos havia tratado de substituir Shelly, só para descobrir que isso não era possível. Saiu com muitas mulheres, mas, único que tinha conseguido era descobrir que, na cama, nenhuma o fazia se sentir como Shelly havia feito. Sem dúvida, tinham-lhe provocado prazer, mas não com a mesma intensidade que ela. Não era um prazer que o motivasse a permanecer dentro do corpo da mulher até que chegasse a outro orgasmo, nem tampouco dos que o faziam estremecer quando dias mais tarde recordava como haviam feito amor.
Isso só podia sentir com Shelly.
Fechou os olhos e recordou como havia interrompido o beijo e o que lhe disse antes que saísse de sua casa.
« É o pai do AJ, mas o que houve entre nós terminou faz anos. Para mim, é mais um homem. ».
Respirou fundo e abriu os olhos. Se Shelly pensava dessa maneira, estava enganada. Sem dúvida, AJ era sua prioridade, mas o que ela não sabia, e ele não pensava dizer ainda, era que sua missão também a incluía a ela. Não havia se dado conta, até que dois dias antes ela entrou em seu escritório, de que sua vida tinha transcorrido sem rumo durante dez anos. Ao vê-la e descobrir que ainda se sentiam atraídos o um pelo outro, começou a desejar algo que acreditava que nunca poderia conseguir de novo.
Paz e felicidade.
O som do interfone interrompeu seus pensamentos. Apertou o botão e falou pelo alto-falante.
-Sim, Holly, o que ocorre?
-O pequeno Brockman está aqui, xerife. Quer que o faça passar?
-Sim, diga que entre — respondeu dando um suspiro.
Dare notou que AJ o estava olhando. O pequeno estava observando-o depois de terminar as tarefas que havia encarregado, havia entrado em seu escritório e se sentou em uma mesa para terminar os deveres do colégio.
Dare estava sentado atrás de sua mesa lendo alguns informes. O único som que havia na sala era o ruído que fazia AJ ao passar as páginas do livro de ciências que estava lendo. Mais de uma vez. Dare levantou os olhos e pegou o menino olhando-o, como se fora um enigma que tratasse de solucionar. Quando seus olhares se encontravam, o pequeno abaixava a cabeça.
Dare se perguntava o que estaria pensando AJ, sobretudo porque já sabia que ele era seu pai. O único motivo que lhe ocorria para que o pequeno o olhasse tanto era que estivesse tratando de encontrar algo parecido entre ambos. Havia vários. Inclusive Holly os tinha notado, e embora não tivesse dito nada, tinha olhado cuidadosamente de um para o outro até que seu rosto denotava que o havia encaixado tudo.
Dare levantou a vista e viu que AJ o estava olhando outra vez.
-Aconteceu alguma coisa? -perguntou. AJ levantou os olhos do livro-texto e o olhou nos olhos.
-O que te faz pensar que aconteceu alguma coisa?
Dare deu de ombros.
-Eu vi você me olhar várias vezes como se de repente tivesse duas cabeças ou algo assim.
Observou que AJ se esforçava para não sorrir.
-Não gosto de estar aqui, porque não posso ir para casa quando termino tudo o que tenho que fazer em vez de ficar aqui?
-Porque seu castigo era vir aqui durante uma hora depois do colégio. Além disso, se te deixo sair antes, pensará que sou um bobo.
-Já chegará o dia - resmungou AJ. Dare riu e continuou lendo os informes -. É verdade que Thorn Westmoreland é seu irmão?
Dare levantou a cabeça e o olhou. «Meu irmão e seu tio», quis dizer. Entretanto, respondeu com uma pergunta:
-Quem te falou isso?
-Morris e Cornelius.
Dare assentiu. Conhecia o Morris e o Cornelius. Os dois meninos sempre foram juntos e estudavam no mesmo colégio que AJ.
-Você conhece o Morris e o Cornelius?
AJ passou uma página do livro antes de responder, fingindo que Darei o forçava a responder.
-Sim, conheci-os hoje ao sair da aula - Dare assentiu de novo. Morris e Cornelius eram bons meninos. Ele conhecia bem os seus pais e se alegrava de que ficassem amigos do AJ, já que era uma boa influência. Ambos tiravam boas notas, cantavam no coro da igreja e participavam dos esportes que ele e seus irmãos treinavam -. Bom, é seu irmão ou não?
-Sim, Thorn é meu irmão.
-E Rock Maçom também?
-Sim. O outro dia te disse que tinha quatro irmãos, e todos eles vivem nesta região.
AJ assentiu.
-E eles te ajudam a treinar a equipe de beisebol?
-Sim. Embora Thorn também ensine os jovens do instituto a respeito da segurança das motocicletas e Stone colabora em um programa de aprendizagem de leitura para jovens e adultos.
-E os outros dois?
Dare se perguntava em que momento AJ se daria conta de que estavam mantendo uma conversa e retomaria a atitude de ódio para os policiais. Até que o fizesse, devia aproveitar a situação.
-Chase tem um restaurante e treina a uma equipe de basquete durante a temporada. Sua equipe ganhou o campeonato do estado durante dois anos seguidos - ao pensar em seu irmão Storm, Dare sorriu -. Meu irmão mais novo não encontrou seu foco ainda, assim ele me ajuda a treinar a equipe de beisebol e ao Chase a de basquete.
-E sua irmã está casada com um príncipe?
Dare sorriu ao pensar na irmã caçula que ele e seus irmãos adoravam.
-Sim, embora quando chegou o momento não estávamos dispostos a entregá-la.
-Por quê? Não é todo o dia que uma garota se casa com um príncipe.
-Sim, pode ser que seja verdade, mas os Westmoreland têm seu próprio código quando se trata da família. Permanecemos unidos e reclamamos o que é nosso. Já que Delaney é a única garota, não queríamos que nos tirasse isso ninguém, nem sequer um príncipe.
AJ passou varias páginas fazendo como se houvesse perdido o interesse. Momento mais tarde perguntou.
-E o que tem seus pais?
-O que têm eles?
-Vivem por aqui?
-Sim, vivem muito perto. Reclamam que nenhum de nós, só Delaney, estamos casados. Estão ansiosos por ter netos e já que não vêem o bebê de Delaney muito freqüentemente, gostariam que algum de nós formasse uma família.
Dare sabia que suas palavras fariam pensar o pequeno. Estava a ponto de lhe dizer algo mais quando o chamaram pelo interfone.
-Sim, McKade, o que acontece?
-A senhora Brockman veio vê-lo.
Dare ficou surpreso. Não esperava que Shelly fosse por ali já que AJ tinha ido de bicicleta ao colégio, percebeu que o pequeno também estava surpreso pela visita de sua mãe.
-Deixe-a entrar, McKade,
Dare ficou em pé quando Shelly entrou na sala.
-Sinto vir sem avisar, mas recebi uma chamada urgente de um paciente que vive em Stone Mountain e tenho que ir vê-lo. A senhora Kate me disse que cuidará do AJ e tenho que deixá-lo em sua casa antes de ir. Pensei que não teria problema vir buscá-lo já que esta na hora.
Dare olhou o relógio da parede e viu que a hora que AJ tinha que estar ali havia terminado fazia dez minutos. Nem ele nem o menino se deram conta.
-Já que tem pressa, posso levá-lo eu a casa da senhora Kate. Já estou indo de qualquer forma - então, Dare recordou que era quarta-feira de noite e que esse dia estava acostumado a ficar com seus pais e seus irmãos para jantar no restaurante do Chase. Sabia que a sua família adoraria conhecer o AJ, e já que tinha contado o plano que tinha imaginado com Shelly, nenhum deles diria nada que não devesse-. E tendo outra idéia - disse memorizando Shelly e tratando de não fixar-se no quanto ela era bonita.
-O que? -perguntou ela.
-Imagino que AJ estará faminto e eu tenho que ir ao restaurante do Chase para jantar com minha família. Será bem-vindo se quiser nos acompanhar. Depois posso deixá-lo na casa da senhora Kate.
Shelly assentiu. Era evidente que Dare acreditava que havia avançado em sua relação com AJ, de outra forma não iria sugerir tal coisa. Olhou AJ e viu que estava vendo seu livro fazendo como se não tivesse ouvido o comentário que tinha feito Dare.
-AJ, Dare te convidou para jantar com sua família, e depois te deixará na casa da Kate. De acordo?
AJ a olhou durante um longo momento, como se estivesse pensando em suas palavras. Depois, olhou para Dare e Shelly notou o choque de duas personalidades fortes, de duas pessoas igualmente teimosas. Mas também notou algo mais, algo que fez com que seu coração saltasse dois indivíduos que, em silêncio, concordavam ceder um pouco, ao menos nesse momento.
AJ a olhou de novo e deu de ombros.
-Pode ser.
-Então, te verei logo - disse Shelly, e se aproximou para lhe dar um beijo no rosto de seu filho-. Se comporte bem - disse-lhe.
Voltou-se para Dare, sorriu e saiu de sua sala.
-O único motivo pelo que decidi vir é porque quero conhecer o Thorn Westmoreland. Acredito que é um cara fantástico - disse AJ e continuou olhando pela janela.
Em lugar de levar o carro patrulha, Dare tinha decidido utilizar a caminhonete que comprou fazia um mês. Quando se deteve em um semáforo, olhou para o AJ. Não pôde conter a risada.
-Isso já imaginava, mas não é o primeiro menino que tenta ganhar minha simpatia só para conhecer ao Thorn.
AJ franziu o cenho.
-Eu não tento ganhar sua simpatia.
- Bom sinto muito. Enganei-me - ambos permaneceram em silencio durante um bom tempo mesmo depois. Dare entrava no transito da cidade-. Como foi seu dia no colégio?
-Teve seus momentos.
Dare sorriu.
-Que tipo de momentos?
-Por que me faz tantas perguntas?
-Porque me interessam.
-Está interessado em mim ou em minha mãe? Vi como a olhava.
Dare decidiu que o pequeno era muito observador, embora tivesse caído em sua armadilha com facilidade.
-E como a olhava?
-Como só um homem olhe a uma mulher.
-E o que sabe você de como os homens olham às mulheres? -perguntou Dare entre risadas.
-Não nasci ontem.
-Nem por um minuto pensei que tivesse nascido ontem - ao termino de um instante, olhou-o-. Sabia que sua mãe foi minha namorada faz alguns anos?
-E?
-Pensei que devia sabê-lo.
-Por quê?
-Porque era uma mulher muito especial para mim.
-Foi isso então. Minha mãe não precisa de um namorado ouviu se for o que está pensando.
Dare sorriu a seu filho quando se deteve em um semáforo.
- Eu acredito que deveria permitir que sua mãe decidisse sobre esse assunto.
-Eu não gosto - disse AJ olhando-o nos olhos.
-Então, suponho que nada mudou - respondeu Dare. Mas sabia que as coisas haviam mudado um pouco. O fato de que AJ aceitasse ir jantar com sua família era um grande passo a frente. E embora o pequeno dissesse que Thorn era o único motivo pelo que ia, Dare não tinha problema a respeito. Além disso, AJ descobriria ao resto dos Westmoreland. Tocou o celular de Dare e este respondeu. Depois de dizer umas palavras, acrescentou-. Pois dever jantar conosco se quiser. Sei que todos estarão encantados de te ver - assentiu-. De acordo. Até agora - depois de um instante deteve o veículo frente ao restaurante do Chase-. Era sua mãe – disse para o AJ-. O chamado não era tão complicado e está de volta. Queria que te levasse a casa depois do jantar, em lugar da casa da senhora Kate.
-Por que o tem feito? -perguntou AJ com os olhos entreabertos.
-O que?
-Convidá-la para jantar.
-Porque pensei que, igual a você, teria que comer algo e sei que a minha família teria ficado encantada de vê-la - esperou um instante e acrescentou-. Eu também teria gostado de voltar a vê-la. Já te disse que sua mãe significou muito para mim.
Seus olhares se encontraram um instante e AJ contestou com brutalidade:
- Esqueça.
-Não sei se poderei - antes que AJ pudesse contestar Dare lhe desabotoou o cinto de segurança-. Vamos, é hora de jantar.
Shelly pegou à auto-estrada confiando em que seu filho estivesse se comportando bem. Estava segura de que, no fundo, todas as lições que lhe tinha dado sobre respeito e obediência havia servido para algo. Sabia que AJ era um menino e que estava amadurecendo pouco a pouco, passando certas dificuldades. Também, que Dare era capaz de resolver sem problema.
Ao pensar em Dare não podia evitar recordar seu fabuloso corpo e como tinha reagido a ele pela manhã. Dare era um homem inteligente e se percebeu que ela o desejava. Só havia precisado de um beijo para que ela estivesse disposta a satisfazê-lo em tudo.
Deteve-se em um semáforo e fechou os olhos tratando de recuperar as forças. Se permitisse que Dare entrasse de novo em sua vida, arriscaria ferir seu coração pela segunda vez. Reconhecia que aparentava ser um homem sossegado e não parecia que pudesse partir depois para um segundo sonho. Mas o que tinha havido entre eles pertencia ao passado, e não ao futuro.
Tinha que deixar claro a Dare que era o seu filho a quem tinha que ganhar, e não a ela. A prioridade era AJ, e por mais que ela se excitasse diante de Dare, não sucumbiria pelos seus encantos. Tinha que tomar cuidado e, acima de tudo, deixar de pensar em sexo assim que o via.
Mas seu corpo lhe recordava que levava dez anos de abstinência, e Dare lhe havia despertado sensações que estavam adormecidas. Sentia que o corpo lhe pedia coisas que ela não estava disposta a satisfazer.
Ao recordar o beijo que tinham compartilhado, lhe endureceram os mamilos e conteve a respiração. Desejou ter força suficiente para enfrentar Alisdare Julián Westmoreland.
Capítulo Sete
-Papai, mamãe, quero que conheçam AJ. É o filho da Shelly - Dare sabia que seu pai não ia dar uma mancada, mas não estava tão seguro de que sua mãe pudesse conter-se ao ver o pequeno. Olhava ao neto que não sabia que tinha como se estivesse disposta a reclamar o que era dela.
Por sorte, o pai de Dare havia compreendido a estratégia que Shelly e ele tinham tramado e falou antes que a sua esposa se traísse com as fortes emoções que a invadiam.
-É um menino muito bonito. Não esperava menos, sendo o filho de Shelly - agarrou AJ pelo ombro e sorriu-. Alegro-me de que tenha vindo jantar conosco. Como está sua mãe?
-Está bem - disse AJ, e abaixou a cabeça. Dare imaginava se AJ se sentia incomodado quando estava com pessoas que não conhecia. Recordava a conversa que teve com Shelly a respeito do menino não ser muito extrovertido.
Quando Thorn entrou no restaurante, Dare se aproximou dele e lhe disse:
-Thorn, eu gostaria de te apresentar a alguém. Tenho entendido que é um grande admirador seu.
Ao vê-lo, AJ ficou boquiaberto.
-Caramba! É Thorn Westmoreland!
Thorn sorriu e disse:
-Sim, esse sou eu. E quem é você?
Para surpresa de Dare, AJ sorriu em seguida. Era a primeira vez que via uma expressão de felicidade no rosto de seu filho e, por um lado, arrependia-se de não ter sido ele o motivo.
-Eu sou AJ Brockman.
-Brockman. Brockman... -Thorn passou a mão no queixo, pensativo-. Faz muitos anos conheci uma tal de Shelly Brockman. Ela foi namorada do Dare. Tem algo que ver com essa Brockman?
-Sim, sou seu filho.
-Mentira - disse Thorn, fingindo que não sabia nada-, E como está sua mãe?
-Bem.
Nesse momento, entraram os outros irmãos de Dare. Depois das apresentações, todos dissimularam que não sabiam que AJ era o filho de Dare.
Quando se sentaram para jantar, AJ se colocou entre Dare e Thorn, e sua semelhança com a família Westmoreland ficou evidente.
Quando ouviu a campainha, Shelly deixou de lado a novela que estava lendo. Olhou pelo visor e confirmou que era AJ, mas não estava sozinho. Dare o havia acompanhado até a porta. AJ estava meio adormecido e apenas se mantinha em pé.
Quando abriu a porta, AJ resmungava:
- Eu disse que podia chegar até aqui sem sua ajuda.
-Sim, e teria visto como cairia no chão – contestou Dare.
Shelly ficou de lado e os deixou entrar.
-Que tal o jantar? –perguntou depois de fechar a porta.
AJ não respondeu e se dirigiu para as escadas. Ela olhou Dare, que estava observando os movimentos do AJ.
-Esse menino está tão cansado que nem sequer pode caminhar. Talvez deva ajudá-lo a subir para que não caia. Eu faria, mas acredito que já foi muito por ser a primeira noite.
Shelly assentiu e ajudou ao AJ a subir até seu quarto.
Dare os observou até que chegaram lá em cima e, quando já não estavam à vista, suspirou. Seu coração se acelerou ao ver Shelly. Não tinha sido capaz de afastar o olhar de seu quadril enquanto ela subia pelas escadas, notando como, a cada passo, a saia deixava suas pernas à vista.
Pensou que daria qualquer coisa por subir com ela e derrubá-la em uma cama, mas sabia que não era possível, pelo menos, com AJ em casa.
Sabia que demoraria um momento em deitar ao AJ e, como não pensava partir sem falar com ela, sentou-se a esperar no sofá. Encontrou o livro que Shelly estava lendo. Era a última novela do Stone, e ao vê-lo, Dare sorriu pensando que era pura coincidência que ele estivesse lendo o mesmo livro.
Assegurando-se de que não perdia a marca que tinha colocado Shelly, passou algumas páginas e continuou lendo onde tinha deixado o seu na noite anterior antes ir dormir.
Shelly se deteve na metade da escada ao ver que Dare estava lendo o livro que ela havia começado aquela tarde. Notou que a sala estava tranqüila e parecia um lugar acolhedor. A luz do abajur iluminava o rosto de Dare e lhe dava um aspecto sedutor impossível de ignorar.
Olhou-o em silencio durante longo momento. Parecia confortável relaxado e tão sexy como sempre. Estava imerso na novela de terror que tinha escrito seu irmão.
Dare passou a página e cruzou as pernas. Shelly sabia que eram pernas fortes e recordou como estavam acostumadas a se acomodar quando ele a penetrava, e como separavam as suas quando ele desejava possuí-la pela segunda vez.
Tragou saliva e decidiu que o melhor era que Dare partisse imediatamente. Tinha o coração acelerado e acreditava que não podia suportar sua presença, de repente, Dare levantou os olhos e a olhou, e ela sentiu que ardia todo seu corpo. Dare a olhava com ardente desejo, como se quisesse possuí-la com o olhar.
Ela pestanejou e pensou que possivelmente estava enganada. Sabia que não. Ele não tinha pronunciado nenhuma palavra, mas queria assegurar-se de que ela se inteirasse do que estava pensando. Respirou fundo. Dare sozinho lhe daria problemas e havia que desfazer se dele.
Desceu os últimos degraus e viu que Dare ficava em pé.
- Esta cansado como um tronco -disse ela-. Já fiz muito em lhe dar uma ducha e colocá-lo na cama sem que ficasse dormido. Obrigado por convidá-lo para jantar e por te assegurar de que chegasse em casa - Shelly fez uma pausa—. Sei que teve um dia muito ocupado e que precisa descansar tanto quanto eu, assim, te acompanharei à porta. Não precisava esperar que eu voltasse.
-Sim.
-Por quê?
-Pensei que você gostaria de saber como foram as coisas.
É obvio que Shelly queria saber como estavam ido as coisas, mas estava tão ocupada tentando que Dare partisse que se havia esquecido de perguntar.
-Sim, é obvio. Comportou-se bem? Como se comportou com a sua família?
Dare olhou para o andar de acima e perguntou:
-Há algum lugar onde possamos falar em particular?
Shelly pensou na cozinha, mas recordou o que havia acontecido ali pela manhã. Decidiu que o melhor seria que saíssem para a varanda.
-Podemos falar na varanda — disse, e se dirigiu para lá.
Sem esperar que ele respondesse, abriu a porta e saiu da casa.
A noite era clara e havia lua cheia. A seu redor as estrelas brilhavam como se fossem diamantes. Apoiou-se em uma das colunas, onde mais iluminava a lua. Não queria estar no escuro com Dare.
Ele saiu e se sentou no balanço que estava em um canto escuro. Shelly tornou a respira. Se ele pensava que ia sentar a seu lado, enganava-se. Podiam falar no lugar em que estavam.
-Bom, e como se comportou AJ esta noite?-perguntou sem demora, para não prolongar o momento.
-Para minha surpresa, muito bem. E mais, suas maneiras foram impecáveis, mas era evidente que tratava de impressionar ao Thorn - Dare riu-. Ele tentou me ignorar, mas meus irmãos perceberam suas intenções e o impediram. Cada vez que ele tentava me excluir da conversa, eles diziam algo para me incluir nela. Rendeu-se em seguida, depois de aprender uma boa lição sobre os Westmoreland.
-E qual foi?
-Que permanecemos unidos aconteça o que acontecer - Shelly assentiu. Isso já sabia há anos-. Embora estivem a ponto de me afastar como irmão - disse Dare entre risadas. Shelly se acomodou na coluna e cruzou as pernas.
-Quando?
-À noite em que terminei nossa relação. Disseram que estava louco de te deixar por qualquer motivo. E isso incluía minha carreira profissional.
Shelly esfregou os braços com nervosismo. Não queria falar do passado.
-Tudo isso pertence ao passado. Dare. Há algo mais sobre esta noite que ache que devo saber? -perguntou.
-Sim, há algo mais.
-O que?
-Disse ao AJ que ainda estou interessado em você.
-E como ele reagiu?
Dare sorriu.
-Sem dúvida, tinha algo que opinar sobre o assunto, se essa for a sua pergunta. O que não sei é até onde vai chegar para que não aconteça nada entre nós.
Shelly assentiu. Acreditava que o AJ lhe diria nesta etapa que não gostava do Dare, mas sabia que era uma etapa importante na vida do pequeno e não queria piorar as coisas.
-Nesse caso, suponho que falará comigo sobre isso.
-E o que pensa lhe dizer quando o fizer?
-Basicamente, o que concordamos que iríamos fazer. Direi que é ele que tem um problema contigo, e não eu, assim não vejo por que não podemos restabelecer nossa relação - Dare escutava com atenção. Embora já soubesse que as havia inventado para o AJ, as palavras de Shelly soavam muito bem e desejava que fosse verdade, porque, certamente, ele não tinha nenhum problema para restabelecer a relação com ela.
Olhou Shelly e se fixou em como a luz da lua ressaltava sua silhueta. Viu que tinha as pernas cruzadas. Uma vez lhe havia dito que estava acostumada a cruzar as pernas e as apertar com força quando sentia uma intensa sensação entre elas. Era evidente que havia esquecido que havia contado para ele há anos.
- Bom, se isso for tudo, podemos deixá-lo aqui por esta noite.
Suas palavras interromperam os pensamentos de Dare. Desejava saber se Shelly o desejava tanto como ele a ela, e só havia uma maneira de descobri-lo.
-Sente-se a meu lado um momento, Shelly - disse-lhe.
-Não acredito que seja boa idéia, Dare.
-Eu sim. Faz uma noite preciosa e devemos aproveitá-la antes de nos despedir.
«Aproveitá-la ou nos aproveitar um do outro, Shelly?» esteve a ponto de perguntar, e decidiu não se aproximar de Dare. Se o fizesse, seria o fim. Seu corpo respondia ante sua presença com muita facilidade. Ele só precisava tocá-la uma vez.
-Deixa que te dê o que deseja Shelly.
-E o que te faz pensar que sabe o que desejo?
-Suas pernas.
-O que acontece com minhas pernas? -perguntou confusa.
-Tem-nas cruzadas e muito tensas.
Shelly sentiu que saltava o coração e o desejo que sentia entre suas pernas aumentava. Dare se lembrava. Um silêncio interminável se apoderou do ambiente. Dare a olhava com tanta intensidade que ela não podia desviar o olhar.
Tentou negar o que seu corpo pedia, mas não o conseguiu. O homem que estava esperando-a no balanço sabia como satisfazê-la em todos os sentidos. Ambos eram conscientes disso.
Respirou fundo e se aproximou dele, deixando-se levar pela tentação até a escuridão. Parou entre as pernas de Dare, e quando se roçaram, sentiu que lhe acelerava o coração. Ele colocou a mão sob a saia e lhe acariciou as coxas, Shelly sentiu que suas pernas tremiam.
-Esta manhã queria saber se sua boca ainda me conhecia. Agora quero saber se isto também me conhece - deslocou a mão para cima e acariciou seu sexo por cima da roupa intima.
Shelly fechou os olhos e se apoiou nos ombros de Dare. Queria lhe dizer que sim, que seu corpo o conhecia e que era o último homem... o único homem que a tinha feito sentir-se assim, mas não podia falar. A única coisa podia fazer era permanecer quieta esperando para ver o que acontecia depois.
Não teve que esperar muito tempo, Dare começou a acariciar devagar o centro de sua feminilidade.
-Está muito excitada, Shelly - disse-lhe-. Sente-se sobre minhas pernas olhando para mim.
Dare se moveu para frente para que ela pudesse ficar cômoda. Seus rostos ficaram muito próximos, e não tirou a mão de seu sexo.
Beijou-a nos lábios e o beijo contribuiu para que o prazer que lhe proporcionava com a mão aumentasse e Shelly não pudesse conter um gemido
-Sim, isso é o que queria ouvir. Abre um pouco mais as pernas e me diga se você gosta disso - ela obedeceu e Dare introduziu dois dedos em seu corpo-. Está muito quente aqui dentro — sussurrou, e começou a mover os dedos a um ritmo que deixava louca—. Você gosta?
-Eu adoro - sussurrou ela, se segurando aos seus ombros com força-. Oh, Dare, passou tanto tempo.
Ele acariciou os lábios com a língua e mordiscou o lóbulo da orelha. Ela estava a ponto de derreter entre seus braços e ele não podia evitar perguntar quanto tempo teria passado para que chegasse tão rápido ao orgasmo.
-Quanto tempo passou Shelly?
Ela o olhou e disse com voz tremente.
-Desde que estive com você a última vez, Dare.
Ficou quieto, apertou os dentes e a olhou fixamente.
-Quer dizer que não tem feito isto desde que...?
Shelly não o deixou terminar e o beijou na boca.
A idéia de que nenhum outro homem a houvesse acariciado fez com que Dare estremecesse. Começou a mover os dedos de novo em seu interior e notou como Shelly esticava os músculos de seu corpo. Ansioso por saboreá-la, disse.
- Desabotoe a blusa.
Ela obedeceu e também desabotoou a dele. Logo que seus seios ficaram descobertos, ele começou a acariciar-lhe ao mesmo ritmo que movia os dedos em seu interior.
Notou o momento em que Shelly começava a chegar ao clímax e a beijou na boca para sossegar os gemidos de prazer sem deixar de acariciá-la. Quando começou de novo a ter sacudidas, sinal de que começava a ter o segundo orgasmo, ela interrompeu o beijo, fechou os olhos e apoiou o rosto no ombro de Dare.
-Relaxe e aproveite querida.
E enquanto outra onda de prazer invadia seu corpo, Shelly se deixou levar e aproveitou tudo o que pôde do que Dare estava lhe fazendo.
Duvidava de que sua vida voltasse a ser a mesma de antes, depois daquela noite.
Capítulo Oito
-Mamãe? Mamãe? Está bem? -Shelly ouviu a voz de AJ e notou que a agitava para despertá-la -. Mamãe acorda. Aconteceu alguma coisa, por favor.
Ao notar que havia pânico em sua voz, abriu os olhos. Pestanejou e tratou de enfocar a vista, sentia-se desorientada e meio enjoada.
-AJ? O que está fazendo levantado?
-Mamãe, supõe-se que tenho que estar acordado. É de manhã e tenho que ir ao colégio. Esqueceu de acordar. E por que você dormiu no sofá com a mesma roupa que estava ontem?
Shelly reuniu a força necessária para levantar e se sentou. Estava muito cansada.
-Já é de manhã? – a última lembrança era ter tido seu quarto orgasmo entre os braços de Dare, antes de ficar sem força. Ele devia tê-la levado até o sofá, pensando que cedo ou tarde despertaria e iria para cama. Entretanto, estava tão esgotada que havia dormido toda a noite no sofá.
-Mamãe, você está bem?
Shelly olhou para o seu filho. Não tinha nem idéia de quão bem estava. Dare lhe tinha dado o que seu corpo precisava, esqueceu-se de como ele era bom quando se tratava de acariciar a parte mais íntima de seu corpo.
-Sim, AJ, estou bem - viu o livro que havia sobre a mesa e encontrou a desculpa perfeita-. Acho que dormi lendo. Que horas são? Não é tarde, verdade? -apoiou-se nos almofadões. Poderia seguir dormindo o resto do dia.
-Não, não é tarde, mas para você pode ser que sim, se tem que ir trabalhar hoje.
-Só tenho que ir ver alguns pacientes e não pensava ir até as dez - decidiu não dizer que ia almoçar com os irmãos de Dare-. O que quer tomar o café da manhã?
-Só tomarei cereais. Ontem conheci dois meninos no colégio e ficamos de ir juntos de bicicleta.
Shelly assentiu. Esperava que AJ não se juntasse outra vez com o grupo problemático.
-E quem são eles?
-Morris Sears e Cornelius Thomas. Vamos nos encontrar todas as manhãs no Kate's Diner para tomar vitamina de chocolate. Convidam-nos se dizemos que fomos bons no colégio - Shelly decidiu que perguntaria a Dare sobre Morris e Cornelius. Era provável que os conhecesse, já que era o xerife-. São muito simpáticos e gostam de minha bicicleta. Ontem me contaram tudo sobre o xerife e seus irmãos. Porque não me disse dito que Thorn Westmoreland é meu tio?
-Porque ele não é - AJ franziu o cenho e a olhou confundido-. Até que não aceite que Dare é seu pai, não pode dizer que um dos Westmoreland é seu tio.
-Não me parece justo.
-E por que não? É você que não quer que Dare saiba que é seu pai, assim, como vai dizer aos outros que Thorn é seu tio sem explicar tudo? Até que não mude de opinião, para os Westmoreland não será mais que outro menino – ficou de pé-. Vou tomar banho enquanto você come.
AJ assentiu e se dirigiu para a cozinha devagar. Shelly sabia que o que disse o faria pensar.
-É isso verdade? -perguntou Morris no momento em que AJ chegou ao Kate's Diner.
-O que?
Sim. Cornelius quem respondeu.
-Que ontem à noite jantou com o xerife e sua família.
AJ deu de ombros perguntando como sabiam.
-Sim, e o que tem isso?
-Que pensamos que tem muita sorte. O xerife é a bomba. Assegura-se de que toda a cidade esteja segura. Isso é o que dizem meus pais - respondeu Cornelius.
AJ e os dois meninos entraram na cafeteria.
-Como sabem que ontem à noite jantei com o xerife? -perguntou enquanto se aproximavam da barra onde Kate tinha colocado as vitaminas.
-O senhor e a senhora Turner viram vocês juntos e chamaram a minha avó, que depois chamou a minha mãe. Todo mundo se perguntava quem foi você, e eu disse a minha mãe que foi um menino que se meteu em uma confusão e que havia que ir à delegacia de polícia todos os dias depois do colégio. Acreditavam que foi alguém da família dos Westmoreland, mas disse que não.
AJ assentiu.
-A minha mãe teve um imprevisto no trabalho e teve que sair. O xerife se ofereceu a me levar para jantar com ele.
- Caramba! É muito amável.
-Sim, suponho que sim.
-Crie que não se importará se esta tarde acompanharmos você à delegacia de polícia? -perguntou Morris entusiasmado.
-Suponho que não, mas pode que ser que ponha vocês para trabalhar.
Morris deu de ombros.
-Não tem problema. Só quero que nos conte historias de quando era agente do FBI e trabalhava disfarçado para capturar os maus.
AJ assentiu. Não queria admitir, mas ele também gostaria de ouvir as histórias do xerife. Sorriu quando a mulher que havia detrás da barra deu um donuts a cada um para acompanhar à vitamina.
Shellly apertou com força o volante ao deter seu carro junto a um carro patrulha. Não sabia que Dare ia almoçar com seus irmãos. Como disfarçar para que ninguém se descobrisse que a noite anterior tinha ficado quase uma hora na escuridão da varanda fazendo todo tipo de coisas?
Abriu a porta do carro e respirou fundo, pensando em Dare, tinha perdido o apetite e que, dezesseis horas mais tarde, seguia excitada. Depois de ficado tanto tempo sem manter relações sexuais, sentia-se faminta de desejo. E Dare seria capaz de notar seu estado com apenas um olhar? Se havia alguém que poderia notar, esse era Dare.
E pensar que inclusive havia confessado que não se deitou com nenhum outro homem desde que se separaram dez anos atrás. Já sabia, precisaria se esforçar para que Dare se concentrasse em AJ e não nela.
Dando um suspiro, abriu a porta do restaurante e entrou.
Fez uma pausa e viu como os cinco homens que havia ao redor da mesa ficavam em pé ao vê-la. Sentiu os olhos cheios de lágrimas. Tinha passado tanto tempo. Quando era a namorada de Dare, seus irmãos a consideravam como mais uma da família, e já que ela era filha única, sentia-se muito agradecida por isso. Uma das coisas mais difíceis ao deixar College Park foi, não só perder Dare, mas também a toda sua família.
Sorriu e se aproximou deles para saudá-los um por um.
-Thorn - disse e aceitou o beijo que deu nos lábios e o abraço que lhe deu a seguir.
-Dez anos é muito tempo para ficar longe Shelly - disse com expressão séria-. Não o faça de novo.
-Não o farei, Thorn - respondeu, e sorriu ao ver que estava o mesmo mandão que sempre.
Depois, aproximou-te do Stone, o primeiro Westmoreland que tinha conhecido e o que lhe apresentou a Dare. Sem dizer uma palavra, abraçou-o com força. Quando se separaram, ele também a beijou nos lábios.
-Estou tão orgulhosa de você Stone – disse enchendo os olhos de lágrimas -. Compro todos os livros que escreve.
Ele riu.
-Obrigado, Shelly — ficou sério —. E estou de acordo com o Thorn. Não volte a partir - deixou de olhá-la durante um instante para olhar Dare-. Não importa qual seja o motivo.
-De acordo — concordou ela.
Depois, chegou à vez de saudar os gêmeos. Eles eram um ano mais novos que ela e recordava como se metiam em todo tipo de confusões. Ambos a abraçaram e beijaram nos lábios e Storm disse com um sorriso:
- Nós dissemos a Dare que perdeu sua oportunidade contigo, e isso significa que agora está disponível para nós.
-Ah, sim?
-Sim, se você quiser — brincou Chase, e lhe deu outro abraço.
Quando Chase a soltou, Shelly respirou fundo. Agora faltava a Dare.
-Dare - disse com nervosismo.
Imaginava que já tinha estado com ele várias vezes, ele não a saudaria com muito entusiasmo. Mas estava enganada. Dare tomou entre seus braços e a beijou nos lábios, durante um longo tempo para que seus irmãos especulassem sobre a situação.
Quando a soltou, foi Stone quem decidiu descobrir importância o que tinha feito Dare.
- Qual o motivo disso, Dare? Queria demonstrar a Shelly que ainda sabe beijar uma mulher?
Dare respondeu sem deixar de olhar Shelly. Sorriu ante o comentário do Stone e disse:
-Sim, algo assim.
Shelly nunca havia tido problemas para terminar uma refeição. Claro, que nunca havia almoçado com alguém como Dare Westmoreland disposto a seduzi-la. E não lhe importava que estivessem na mesa de um restaurante rodeado por seus irmãos.
Respirou várias vezes para tratar de acalmar seu coração acelerado, mas não adiantou muito. Tudo tinha começado quando notou como Dare levava o copo aos lábios. Ao ver os seus dedos lembrou como a tinha levado a êxtase na noite anterior e como tinha apagado de seu corpo dez anos de frustração sexual.
Notou que ele a olhava com desejo por cima do copo, e percebeu que ele tinha lido seus pensamentos. Quando Dare deixou o copo, colocou a mão sob a mesa e a colocou sobre a coxa de Shelly.
No inicio, ela se sobressaltou ao sentir a mão fria sobre sua perna, mas se relaxou ao ver que permanecia sem se mover. Um poço depois, sobressaltou-se ao sentir que Dare colocava a mão entre suas pernas. Enquanto isso, os irmãos de Dare tratavam de pô-la em dia sobre suas vidas, e nenhum percebeu que Dare só tinha uma mão sobre a mesa e que, com a outra, estava-a acariciando por cima da calcinha e tentava abaixar o elástico.
Consciente de que devia fazer algo para deter aquela loucura, Shelly se tornou para diante, apoiou os cotovelos sobre a mesa e se cobriu a cara com as mãos para tratar de ignorar a multidão de sensações que fluíam por seu corpo. Olhou a seu redor, perguntando-se se algum dos irmãos sabia o que Dare estava fazendo.
-Queremos que saiba que faremos todo o possível para te ajudar com o AJ.
Shelly assentiu ao escutar as palavras de Stone se ruborizou ao sentir que Dare tinha conseguido introduzir um de seus dedos sob sua calcinha.
-Agradeço-lhe isso, Stone.
-Ele é minha responsabilidade - disse Dare, olhando a seus irmãos. Falava com seriedade para que não notassem o que estava fazendo por debaixo da mesa.
-Sim, mas também nos pertence - disse Thorn —. É um Westmoreland, e acredito que tem feito um grande trabalho com ele, Shelly, considerando que foi mãe solteira durante os dez últimos anos. Agora está passando por uma época difícil, mas quando se der conta de que tem toda uma família que se preocupa com ele, estará bem.
-Obrigado, Thorn.
-Bom, embora goste muito da companhia de vocês, é hora voltar para a delegacia – disse Dare, retirando a mão de entre as pernas de Shelly. Quando ficou em pé, ela o olhou e decidiu que Dare Westmoreland fazia o que o queria em qualquer momento, estivesse onde estivesse, e, que parece, o que mais gostava de fazer ultimamente era acariciá-la.
-E o que fez depois, xerife?
Dare negou com a cabeça. Quando AJ apareceu com o Morris e Cornelius depois do colégio, dizendo que os dois meninos queriam ficar com ele, Dare deixou claro que se ficavam com ele teriam que ajudá-lo no trabalho.
Levou-os ao porão da delegacia de polícia, onde se armazenava o material esportivo da equipe esportiva da policia para que arrumassem.
O ficou com eles para fiscalizar o trabalho, mas não se preparou para a imensa quantidade de perguntas, que Morris e Cornelius estavam fazendo. AJ não lhe perguntava nada, mas Dare sabia que estava escutando tudo com atenção.
-Isso é o que acontece quando se é observador - disse Dare, e abriu outra caixa-. Sempre tem uma pista quando se você vê que um dos meninos entra no posto de gasolina e o outro fica no carro com o motor ligado. Não tinham nem idéia de que eu era policial. Fingi que terminava de encher o tanque do meu carro e, pela extremidade do olho, vi como o homem que havia entrado se comportava de maneira estranha. Em seguida soube que foram fazer um assalto.
-Caramba! E que fez? —perguntou Morris, com brilho no olhar.
-Embora trabalhasse para o FBI, tinha o dever de comunicar às autoridades locais, e foi isso o que fiz. Disfarcei olhando um mapa de estradas e chamei pelo celular à polícia. Só intervi ao ver que um dos ladrões tentava tomar como refém a uma mulher que estava dentro da loja pagando. Nesse momento, soube que tinha que fazer algo.
-Não tinha medo de que lhe fizessem mal?-perguntou AJ.
Dare se perguntava se AJ era consciente de que estava interessado na história igual ao Morris e Cornelius.
-Não, AJ, nesses momentos só podia pensar em que uma vítima inocente estava em perigo. Seu bem estar era minha única preocupação, e tinha que ter certeza que não lhe fizessem mal.
-E o que fez?
-Com a desculpa de ir pagar a gasolina, entrei na loja no mesmo momento que o menino forçava à mulher para que saísse. Decidi utilizar as artes marciais que havia aprendido na marinha e...
-Esteve na marinha? -perguntou AJ. Dare sorriu. A cara de surpresa que tinha posto seu filho não tinha preço.
-Sim, servi na marinha durante quatro anos. Justo depois da universidade.
-Caramba!
-Meu pai diz que na marinha só podem entrar os homens mais valentes - disse Morris impressionado.
Dare sorriu.
-Acredito que todos os corpos do exército selecionam os melhores, mas admito que os marinheiros sejam de uma raça especial - olhou o relógio-. Já há terminado a hora, meninos. Querem que chame seus pais para lhes dizer que vão de caminho a casa? —os três meninos negaram com a cabeça para lhe dizer que não fazia falta-. De acordo.
-Xerife, acredita que poderá nos ensinar um pouco de artes marciais? -perguntou Cornelius.
-Sim, xerife, tem pessoas que se interessam em sequestrar meninos, temos que aprender como a nos defender, não? -interveio Morris.
Dare sorriu ao ver que AJ assentia mostrando que estava de acordo com o Morris.
-Sim, suponho que é algo que todos deveriam saber. Sempre que não o utilizem para lhes divertir com seus companheiros.
-Não o faremos - prometeu Morris.
-De acordo. Tentarei procurar um tempo para na sábado pela manhã. O que lhes parece se o pergunta a seus pais? Se lhes derem permissão, que daremos aqui - olhou o relógio de novo. Shelly não sabia, mas ele tinha intenção de vê-la outra vez essa mesma noite. Sorriu ao pensar em como havia progredido com o AJ-. Vamos, meninos, é hora de ir-se. Tem feito um grande trabalho. Agradeço-lhes isso.
-Mamãe, sabia que o xerife esteve na marinha?
Shelly levantou a vista do livro que estava lendo e olhou a seu filho. Estava convexo no chão do salão fazendo seus deveres.
-Sim, sabia. Saíamos juntos naquela época.
- Caramba!
-Por que te parece tão fantástico estar na marinha?
AJ olhou ao teto.
-Mamãe, todo mundo sabe que os marinheiros são tipos duros. Adaptam-se, improvisam e superam o que faça falta.
Shelly sorriu a seu filho.
-Ah! -exclamou, e continuou lendo.
-E, mamãe, contou-nos como capturou a dois homens que foram roubar em um posto de gasolina tinha uma refém. É muito emocionante como o fez.
-Estou segura disso.
-E se ofereceu a nos ensinar artes marciais na sábado pela manhã na delegacia de polícia para que saibamos nos defender —acrescentou emocionado.
Shelly levantou a vista do livro uma vez mais.
-Quem?
-O xerife.
-Ah, seu pai?
Olharam-se e Shelly esperou a que seu filho lhe dissesse que não considerava que Dare fora seu pai. No final de alguns instantes, o menino se encolheu de ombros e disse:
-Sim - rapidamente, desviou a vista e continuou com seus deveres.
Shelly respirou fundo. Que AJ admitisse que Dare fosse seu pai era um bom começo. Parecia que o gelo que rodeava seu coração começava a derreter-se, e que o pequeno começava a ver der com outros olhos.
Capítulo Nove
Dare entrou no Coleman's Florist sabendo que dez minutos depois de que saísse dali, todos os habitantes do College Park estariam informado de que tinha enviado um buquê de flores para Shelly. Luanne Coleman era uma das mulheres mais fofoqueiras da cidade, mas não lhe importava. Queria que todo mundo soubesse, esta noite que estava decidido a conseguir a Shelly Brockmah.
Durante o último dia e meio tinha tido que ajudar ao xerife do Stone Mountain a deter um delinqüente. Trinta e seis horas mais tarde o haviam capturado, Dare estava esgotado e se arrependia de ter perdido a oportunidade de ver o Shelly duas noites antes, como havia planejado. O melhor que podia fazer era ir para casa e dormir para estar preparado para a aula de artes marciais que havia com os meninos pela manhã.
Também se arrependia de não ter estado na delegacia de polícia no dia anterior. AJ tinha ido depois do colégio e era o último dia que tinha que apresentar-se ante ele. Segundo McKade, o pequeno tinha ido sozinho e com pontualidade. Fazia tudo o que Dare lhe tinha deixado encarregado, e inclusive lhe havia perguntado varias vezes por que ele não estava ali.
Dare percorreu a loja perguntando-se que tipo de flores Shelly. Gostaria. Decidiu que mandaria rosas. Segundo Storm, as rosas, sobre tudo as vermelhas, diziam-no tudo. E todo mundo sabia que Storm sabia muito a respeito de seduzir às mulheres.
-Já decidiu o que deseja xerife?
Dare se voltou para olhar à senhora Coleman. Era uma mulher de uns sessenta anos que assistia à mesma igreja que seus pais e que o conhecia desde que era pequeno.
-Sim, quero uma dúzia de rosas.
-Muito bem. De que cor?
-Vermelhas.
Ela sorriu como se lhe parecesse que tinha feito uma boa escolha.
-Pensou em algum vaso?
-Não, não havia pensado nisso.
-Pode fazê-lo agora. As flores dizem uma coisa e o floreiro outra. Tem que assegurar-se de que o vaso que contenha suas flores mereça atenção.
Dare franziu o cenho. Nunca havia imaginado que mandar flores fosse tão complicado.
-Tem alguma seleção que possa olhar?
-É obvio. Está na parede do fundo. Se encontrar algo que gosta, traga-o.
Dare assentiu e se aproximou da estante que havia na parede do fundo. Para ele, qualquer recipiente era bom, mas decidiu tentá-lo e ficar no lugar de uma mulher.
Alguém como Shelly escolheria um recipiente especial, algo singelo, mas colorido. Fixou-se em um floreiro de cerâmica. Era branco e tinha flores pintadas. Por algum motivo, gostava e podia imaginar como ficaria nele uma dúzia de rosas vermelhas. Segurou-o e se dirigiu ao mostrador.
-Este é o que quero. Luanne Coleman assentiu.
-É muito bonito, e estou segura de que lhe encantará. Bom, e a quem tenho que enviá-las?
Dare sorriu por dentro. Sabia que a mulher morria de vontades de sabê-lo.
-A Shelly Brockman.
-Shelly? Sim, ouvi que retornou ao povo, e não me surpreende que vá atrás dela, Dare Westmoreland. Espero que saiba que me desgostei muito quando rompeu com ela faz dez anos.
«Você e o resto da cidade», pensou Dare.
-Era uma garota tão simpática. Todo mundo sabia que estava louca por você. A pobre teve que partir da cidade depois disso, e seus pais se foram pouco depois - Luanne segurou o cartão de crédito que lhe deu Dare e acrescentou-. Tenho entendido que tem um filho.
Dare fez como se a conversação não lhe interessasse muito. Começou a jogar com as chaves que levava no bolso e respondeu:
-Assim é.
-Hão-me dito que tem oito ou nove anos.
Dare sabia que ninguém lhe havia dito tal coisa. A mulher estava tratando de lhe tirar toda a informação possível, e ele sabia.
-Tem dez anos.
-Dez?
-Sim.
-Isso significa que nasceu pouco depois de que ela partisse daqui, não é assim?
-Sim, isso parece - disse Dare com um sorriso.
-E sabe quem é o pai?
-Não.
-Não?
-Nem idéia - Dare teve que conter uma gargalhada.
-E não sente curiosidade?
-Não. O que Shelly fez depois que saiu daqui não é meu assunto.
Dare viu como Luanne franzia o cenho. A mulher lhe devolveu o cartão e disse:
-Tenho o endereço de Shelly, Xerife, já que está vivendo na casa de seus pais.
Dare assentiu.
-Quando lhe levarão as flores?
-Dentro de umas horas. Parece-lhe bem?
-Sim.
-Xerife, posso lhe dar um conselho?
Perguntava-se o que aconteceria lhe dizia que não. Era provável que o desse de todos os modos.
-Claro senhora Coleman. Que conselho quer me dar?
Olhou-o sem pestanejar.
-Saque a cabeça da areia e deixe de passar por cima do evidente.
-E o que quer dizer com isso?
Ela franziu o cenho.
-Terá que averiguá-lo você.
Shelly olhou ao senhor Coleman surpreendida. Depois olhou o buquê de flores que levava na mão.
-Está seguro de que é para mim?
O homem sorriu.
-Sim, estou seguro. Luanne me disse que se as trouxesse agora mesmo - disse ele, e as entregou.
-Obrigado. Espera um minuto, eu gostaria de lhe dar uma gorjeta.
O senhor Coleman se despediu com a mão enquanto baixava os degraus da entrada.
-Não faz falta. Já me deram uma boa ao dever entregar se as disse com um sorriso que dizia que tinha um segredo que não ia a compartilhar com ela.
-De acordo. Obrigado, senhor Coleman - fechou a porta, dirigiu-se ao salão e deixou as flores na mesa. Alguém lhe tinha enviado as rosas vermelhas mais bonitas que tinha visto. E o vaso que as continha era precioso.
Tirou o cartão e leu em voz alta:
-Sempre penso em ti. Dare.
Sentiu que lhe dava um tombo o coração e acariciou o texto com os dedos. Durante um momento Shelly não podia deixar de olhar as flores, o vaso e o cartão. Era evidente que Dare tinha tido muito cuidado na hora de escolhê-lo tudo e se estremeceu ao pensar que tinha feito algo tão especial por ela.
«Sempre penso em ti».
Sentiu que as lágrimas se amontoavam em seus olhos. Não sabia o que lhe passava. Ultimamente estava muito sensível. Desde dia que esteve com Dare no alpendre, e depois do que lhe fez no restaurante, sentia que algo se abria em seu interior. Dare tinha despertado sentimentos que estavam latentes durante dez anos, e ela não podia deixar de desejar a Dare.
-Quem te enviou flores, mamãe?
Shelly levantou a vista e olhou a seu filho.
-Seu pai.
-O xerife?
-O mesmo - olhou o ramo outra vez-. Não são preciosas?
AJ se aproximou dela. Era evidente que não viam o ramo com os mesmos olhos.
-Me parece um ramo normal.
Ela não pôde evitar rir.
-Eu acredito que são especiais, e que foi uma desculpa por sua parte me enviar isso para me dizer que sempre pensa em mim.
-Está procurando namorada, mas eu lhe disse que não está interessada em ter namorado.
Shelly arqueou uma sobrancelha.
-AJ, não tinha direito a lhe dizer isso.
-Por que não? Alguma vez tivesse namorado, por que foste querer ter um agora? Sempre havemos estado você e eu sozinhos, mamãe. Não é suficiente?
Shelly negou com a cabeça. Seu filho tinha que aprender muito sobre sexualidade e todas essas coisas. Ela acabava de descobrir o que dez anos de abstinência podiam causar a uma pessoa.
-AJ, não acredita que às vezes posso me sentir sozinha?
Ele permaneceu calado durante um momento. Depois respondeu.
-Mas nunca se sentiu só antes.
-Já, e antes trabalhava muito mais. Por isso lhe tem se metido em todas essas confusões. Eu tinha que fazer horas extras no hospital para poder viver. Precisava de dinheiro para que pudéssemos viver no melhor bairro da cidade. Não havia tempo para me sentir sozinha. Agora, com meu novo trabalho posso cumprir meu horário e passar mais tempo contigo. Mas você está quase todo o dia no colégio, e muito em breve terá amigos com quem passar o tempo, não é assim?
AJ pensou no Morris e no Cornelius e quão bem o tinham acontecido jogando no colégio.
-Sim.
-Então, não crie que eu também necessito amigos?
-Sim, mas por que não pode ter amigas?
-Claro que posso, mas a maior parte das garotas que foram à universidade comigo já não vivem aqui, e embora esteja segura de que conhecerei outras, de momento, eu gosto de me juntar com a gente que já conheço como Dare e seus irmãos.
-Mas é o xerife quem te quer como namorada. Gosta.
-Você acredita?
-Sim. Disse que estava acostumado a ser especial para ele. Seus pais e seus irmãos disseram o mesmo. E me dá a sensação de que quer que seja sua garota outra vez. Mas se o permite, descobrirá que sou seu filho.
-Segue pensando que isso é mau, AJ?
-Ainda não estou seguro de que me queira.
-Conheço Dare, e sei que gosta de você. Se não, não te teria convidado para jantar com sua família. Teria-te levado diretamente à casa da senhora Kate.
- Você acredita?
-Sim. Temo-me que, ao te ver, Dare se lembra de quando tinha sua idade. Ouvi que lhe causava muitos problemas a seus pais. Igual a todos seus irmãos.
-Sim, uma vez o comentou. Tem uma família estupenda.
-Assim é - disse Shelly com um sorriso.
AJ colocou as mãos nos bolsos da calça.
-Então, retornou já?
-Quem?
-O xerife. Partiu da cidade para ajudar a outro xerife a capturar a um homem que escapou do cárcere. Disse-me isso o agente McKade.
-Ah - Shelly se havia perguntado por que não sabia nada dele desde o almoço de quinta-feira-. Pois, nesse caso, sim, acredito que já retornou, já que me enviou estas flores.
-Então, nossa aula de amanhã segue em pé.
-Sua aula?
-Sim, disse-te que amanhã ia ensinar-nos, ao Morris, ao Cornelius e a mim, a nos defender. Teremos que estar na delegacia de polícia.
-Ah, quase tinha esquecido - queria conhecer os novos amigos de seu filho-. Temos que encontrá-los ou os levarão seus pais?
-Levá-los-ão seus pais. Têm que ir ao cabeleireiro pela manhã - Shelly assentiu, e se fixou em como tinha crescido o cabelo do seu filho-. E, depois de aula, têm que ir à igreja para ensaiar em do coro.
As palavras do AJ fizeram que Shelly voltasse a lhe emprestar atenção. Morris e Cornelius vão à igreja? Esses amigos cada vez lhe pareciam melhor.
-De acordo. Vá lavar-te para o jantar.
O menino assentiu.
-Crie que o xerife chamará ou virá hoje? -pergunto AJ enquanto subia pelas escadas. «Oxalá», pensou ela.
-Não estou segura. Se acabar de chegar à cidade, imagino que estará cansado, assim que o duvido.
-Ah.
Embora estivesse segura de que AJ não queria que ela o notasse, Shelly percebeu que estava desiludido.
Dare não podia dormir. Sentia-se inquieto. Agitado. Excitado.
Retirou o lençol e saiu da cama. Vestiu a camiseta e os jeans. Seu corpo ardia de desejo e estava tão excitado que sua ereção pressionava contra as calças. Sabia qual era seu problema e como podia solucioná-lo.
Suspirou e decidiu que realmente tinha um problema. Perguntava-se se, às duas da madrugada, Shelly estaria disposta a ajudá-lo a solucioná-lo.
Shelly não podia dormir e ouviu o ruído de uma China golpeando contra o cristal de seu dormitório. No inicio, pensou que era sua imaginação, mas para ouvi-lo pela segunda vez, soube que era certo. Também sabia quem a estava chamando para que batesse na porta traseira.
Era a maneira secreta que utilizava Dare para lhe dizer que tinha retornado a cidade. Ela estava acostumada pisar com cuidado por diante do quarto de seus pais e se apressava até a porta traseira para estreitá-lo entre seus braços.
Saiu da cama e ficou a bata e as sapatilhas. Sem pensar o que estaria fazendo ali há essas horas, desceu pelas escadas. Entrou na cozinha e abriu a porta traseira. Embora estivesse escuro, soube que ele estava ali.
-Dare? -sussurrou tratando de encontrá-lo.
-Estou aqui.
Aproximou-se dela e a olhou de cima abaixo, com tanto desejo que era impossível de dissimular. Era um olhar desesperado, intenso e ardente. Ao vê-la, sentiu que se umedecia.
-Ouvi as chinesas contra o cristal - disse-lhe. Ele assentiu e continuou olhando-a.
-Confiava em que recordasse seu significado.
Claro que o recordava. E muito bem.
-A que vieste? -perguntou-lhe enquanto o desejo se apoderava de seu corpo-. Que quer Dare?
Ele a segurou pela cintura e a atraiu para si para que percebesse sua ereção.
-Acredito que isto pode te ajudar, ou seja, o que quero Shelly - disse-lhe com um sussurro, e inclinou a cabeça para beijá-la.
Capítulo Dez
Shelly sentiu um momento de pânico. Uma parte de sua mente lhe dizia que não queria que aquilo acontecesse, mas a outra, a que governava seu corpo, convenceu-a rapidamente de que sim o desejava. Não podia acreditar-se que só tivesse passado uma semana desde que posou o olhar em Dare pela primeira vez depois de dez anos. Nem que não importasse que houvesse assuntos pendentes entre ambos. Quão único importava era que aquele era o homem ao que tinha amado com loucura, ao que tinha entregado sua virgindade aos dezessete anos, que lhe tinha ensinado todos os prazeres que um homem e uma mulher podem compartilhar, e o que lhe tinha dado um filho. E o que estava passando não tinha nada que ver com o amor, a não ser satisfazendo sua necessidade.
Quando suas bocas se roçaram, tudo, inclusive os dez anos que tinham estado separados, evaporou-se para ser substituído pelo desejo sexual que invadia seu corpo. Dare também o sentia, e ao atrair ao Shelly para si, ela não pôde conter-se e um gemido escapou de entre seus lábios.
Cobriu-lhe a boca com a sua e, ao beijá-la com delicadeza, sentiu que não era suficiente. Desejava entrar em seu corpo e lhe dar todo o prazer que ela se negou durante dez anos. Queria entregar a ela. Notou que Shelly estava tremendo. Igual a ele.
-Vêem comigo. Preparei um lugar para nos.
Shelly deixou que a guiasse entre as árvores até o lugar que uma vez tinham considerado como dele. Estava escuro, mas ela pôde ver que havia uma manta estendida no chão. Como sempre, Dare tinha pensado em tudo.
-Onde estacionaste o carro? -perguntou ela.
-Na delegacia de polícia. Vim caminhando de lá, pelo caminho de atrás. Ninguém me viu.
Ela assentiu. Evidentemente, ele tinha lido seus pensamentos. Por isso lhe havia dito a senhora Kate, toda a cidade comentava sobre o AJ, e se perguntavam se Dare era tão idiota para não dar-se conta de que era filho dele.
-Obrigado pelas flores. São preciosas. Não precisava me enviar as flores.
- Eu queria enviar as flores Shelly.
Respirou fundo e Shelly se fixo em que Dare não deixava de lhe olhar os lábios. Ela não podia deixar de pensar no sabor de seu corpo, nem em como seu desejo se fazia evidente em seu membro ereto. A atração que sentiam o um pelo outro nunca havia sido tão poderosa.
-Desejo-te, Shelly - sussurrou ele, e atirou dela para que se deitasse na manta junto a si.
Ela não opôs resistência, queria que soubesse que desejava aquilo tanto como ele. Queria perder-se entre seus braços. Completamente.
Dare lhe retirou a bata dos ombros e lhe tirou a camisola. Acariciou-lhe os seios e os mamilos eretos, o ventre e, finalmente, o centro de sua feminilidade.
Quando acariciou a parte mais íntima de seu corpo, Shelly começou a respirar de maneira agitada.
-Está muito úmida - o pronunciou contra seus lábios -. Nos dois últimos dias só pude pensar em te devorar, em saborear todo seu corpo com minha língua.
Shelly sentiu que estava chegando ao limite e gemeu de prazer. E a beijou nos lábios com muita paixão, e contribuiu a que o desejo que sentia Shelly foi ainda maior. Tinham que recuperar o tempo que tinham perdido nesses dez anos.
Quando Shelly deixou de tremer, ele deixou de beijá-la e ficou em pé para tirá-la roupa. Ela o observou enquanto atirava a camiseta ao chão. Parecia que estava acalmado enquanto se despia, mas ela sabia que não era certo. Observou como se tirava as calças e sentiu como seu corpo reagia ao vê-lo. Não levava roupa interior e sua ereção estava cheia de vida e disposta a dar prazer. Shelly só podia pensar no orgasmo que Dare ia provocar lhe.
Era um homem excitado que estava a ponto de satisfazer a uma mulher excitada.
Fixou-se em que tinha um pacote de preservativos na mão. Ao parecer, tinha planejado até o último detalhe. Dare respirou fundo e detrás colocar um preservativo, olhou-a.
-Aqui é onde pode me dizer que pare Shelly, e o farei.
Shelly confiava nele e sabia que o que dizia era certo. Por muito que a desejasse, nunca a obrigaria a fazer algo que não quisesse. Ela estava ardente de desejo e sentia uma forte tensão na entre suas coxas um pouco antes, ele tinha tentado aliviá-la, mas não tinha sido suficiente. Ela desejava quão mesmo ele.
Que a penetrasse.
Fazia muito tempo que tinham descoberto que ambos tinham uma intensa atividade sexual. Só fazia falta que ele a roçasse para que ela estivesse preparada para que a possuísse. E cada vez que faziam o amor, perdiam o controle, embora sempre se assegurassem de tomar precauções para que ela não ficasse grávida. Sempre, menos a vez que nem sequer puderam controlar-se para evitá-lo.
Quando Dare se tombou de novo, Shelly o rodeou com os braços e ele se colocou sobre ela. Beijou-a nos lábios.
-Obrigado pelo filho que me deste - Shelly gemeu ao sentir que Dare pressionava seu membro contra seu sexo-. Passei dez anos sem você e sem compartilhar isto contigo, Shelly.
E então, penetrou-a, devagar e com cuidado. Ela arqueou os quadris e Dare não pôde conter um gemido de prazer. Shelly esticou os músculos de seu corpo para que não pudesse sair. Era dele. Olhou-o, e ao ver que sorria, sorriu também.
Começaram a mover-se ao mesmo ritmo. Cada vez mais rápido. Com paixão e desejo assustador.
Com cada movimento, ele entrava um pouco mais no corpo do Shelly, e ela sentia que seus corpos se fundiam. Sabia que estava contendo-se para não chegar ao êxtase antes que ela, mas não pôde agüentar mais e com um último movimento, seu corpo começou a tremer de puro prazer.
Seu orgasmo provocou o dela, e quando se dispunha a gritar. Dare lhe cobriu a boca com os lábios para que não despertasse a toda a vizinhança. Mas não pôde evitar que seu corpo começasse a tremer de maneira incontrolada. Ela o tinha apanhado entre suas pernas, como se seus corpos fossem um só. Shelly fechou os olhos ao sentir que a felicidade se apoderava dela.
Ao cabo de um instante, quando cessaram os estremecimentos, Dare apoiou a cabeça sobre o ombro do Shelly e suspirou. Não havia palavras pára dizer o quanto feliz que se sentia.
Olhou-a aos olhos, e ela o olhou. Nesse momento, soube que as palavras não eram necessárias.
E quando se agachou para beijá-la de novo, soube que o resto da noite lhes pertencia.
-Mamãe? Mamãe? Está bem?
Shelly abriu os olhos para ouvir a voz do AJ. Uma vez mais a havia encontrado dormindo no sofá. Depois de fazer o amor várias vezes mais. Dare a tinha levado nos braços até a casa. Não queria arriscar-se a levá-la ao piso de acima se por acaso se encontra com o AJ, no caso de que se levantasse para ir ao banho ou algo pelo estilo, assim que a havia deixado no sofá.
Shelly se voltou para olhar a seu filho e sentiu que lhe doía todo o corpo. A noite anterior havia utilizado músculos que não tinha usado em dez anos.
-Sim, carinho, estou bem.
- Voltou a dormir no sofá.
Ela olhou o livro que seguia sobre a mesa.
-Suponho que devia ficar dormindo, uma vez mais — olhou o relógio que havia na parede. Era sábado, assim AJ não tinha que ir ao colégio. Então, por que estava levantado tão cedo?- Não é hoje o dia que dorme até tarde?
AJ sorriu.
-Sim, mas o xerife nos vai ensinar a fazer artes marciais, recorda?
Recordava-o. E se perguntava se depois da noite anterior Dare estaria em forma para lhes dar aula aos meninos. Mas era um homem, e eles se recuperavam muito mais rápido que as mulheres de uma intensa sessão de sexo. Além disso, duvidava que tivesse passado dez anos sem manter relações sexuais como ela. Tratou de não pensar nisso. Não gostava da idéia de que Dare tivesse feito amor com outras mulheres.
-Esta sonhando que Dare lhes dê aula, verdade?
-Suponho - disse AJ deu de ombros-. Sempre quis aprender algum tipo de arte marcial, mas nunca me deixaste ir à classe. Morris diz que seu pai lhe há dito que o xerife é muito bom nesse tipo de coisas, e eu espero que esteja disposto a nos dar mais de uma classe.
Shelly se perguntava se, em algum momento, AJ deixaria de referir-se a Darei como o xerife.
-Muito bem, quer tortinhas para tomar o café da manhã?
-Sim! Com montões de manteiga!
Ela sorriu e ficou em pé. Seus músculos doloridos lhe recordaram o que havia feito à noite anterior.
-Com montões não, AJ, mas me assegurarei de que tenha suficiente.
Shelly viu Dare deter o carro no estacionamento da delegacia de polícia. Ele se aproximou para recebê-los. Não lhe surpreendeu que os estivesse esperando.
-Chegamos tarde? -perguntou AJ olhando a Dare.
-Não, Cornelius não chegou ainda, mas acredito que está a caminho - disse Dare com um sorriso-. A mãe do Morris o trouxe faz alguns minutos. Está dentro esperando—, olhou Shelly com um sorriso mais amplo—. Como está esta manhã, Shelly?
Ela sorriu e recordou todas as coisas que tinham feito à noite anterior enquanto quase todos os moradores do College Park dormiam.
-Estou bem, e você?
-Fazia anos que não me sentia tão bem - o teria gostado de dizer dez anos, mas não queria que AJ se precavesse.
Shelly olhou o relógio.
-Quanto tempo vai durar a aula?
-Ao menos uma hora ou assim. Por quê? Precisa fazer algo?
Shelly rodeou ao AJ pelos ombros.
-Bom, esperava ter tempo suficiente para ir à cabeleireira e, de passagem, me fazer à manicura.
-Falo. Quando terminarmos aqui vai à oficina do Thorn para ver a moto nova que está construindo. AJ pode vir comigo se gostar. Depois o levarei para casa - olhou a AJ—. Gostaria de me acompanhar à oficina do Thorn para ver como subida uma moto?
-Eu adoraria! -voltou-se para o Shelly-. Posso ir, mamãe?
-Está seguro, Dare? Não quero que seja uma moléstia para vo...
-Não, eu gosto de sua companhia.
-Seriamente?
-Claro. Fez um trabalho estupendo com as tarefas que te atribuí esta semana, e duvido que vás fazer bobagens de novo, verdade?
-Verdade - disse AJ olhando o chão.
-Então, já está. Meus irmãos estarão ali e sei que adorarão voltar a verte.
-Você acredita?
-Sim, sei. Disseram que gostaram muito que fosse ao jantar da outra noite. Os sábados estão acostumados a ir jogar uma mão ao Thorn para nos assegurar de que pode entregar a moto a tempo. A que está fazendo agora é para o Sylvester Stallone.
- Caramba!
Dare riu ao ver que AJ estava emocionado. Era certo que seus irmãos queriam voltar a vê-lo. Desejavam passar mais tempo com seu novo sobrinho.
-Então, está tudo esclarecido, - disse Shelly, sorrindo para Dare e ao filho que este lhe tinha dado-. Será melhor que vá se quero chegar a tempo à cabeleireira - voltou-se para partir.
-Shelly?
-Sim?
-Me esquecia te dizer que chamou minha mãe esta manhã. Ontem à noite falou com Laney. Jamal, ela e o bebê virão a nos visitar dentro de algumas semanas e ficarão vários meses. Depois irão ao Bowling Green, em Kentucky, até que Laney termine a residência no hospital.
Shelly sorriu. Quando viu a irmã de Dare por última vez, Delaney estava a ponto de fazer dezesseis anos e seus irmãos tinham muito trabalho tratando de manter aos meninos afastados dela. Dez anos depois, licenciou-se em Medicina e se casou com um príncipe do Oriente Médio. Era uma princesa e a mãe de um menino que algum dia se converteria em rei.
-É maravilhoso! Não posso esperar para vê-la.
Dare sorriu.
-Ela também está desejando verte. Mamãe lhe disse que havia retornado e lhe fez muita ilusão.
Como não tinha que preocupar-se com o AJ, Shelly decidiu que além também se faria a pedicura. Quando retornou a casa, tombou-se na cama e dormiu um pouco. Quando despertou, dispunha-se a sair ao alpendre quando ouviu que batiam na porta. Olhou pela mira e viu que eram Dare e AJ. Ambos tinham as mãos e a cara cheias de graxa. Franziu o cenho. Se pensarem entrar em casa assim, equivocavam-se.
-Dêem à volta - ordenou-. Levarei o sabão e uma bucha. Podem usar a mangueira — lhes disse com a porta entreaberta.
Recebeu-os na parte de atrás. Estavam tirando à graxa do cabelo. Foi então quando se fixou em que AJ tinha a roupa manchada.
-Que diabos têm feito?
-Storm - disse Dare, e segurou o xampu que lhe dava-. Já sabe como gosta de brincar. Por algum motivo decidiu encher a pistola de água com azeite para motores, e AJ e eu fomos suas vítimas.
Shelly olhou a Dare e logo ao AJ. Enquanto que Dare não parecia muito contente com a brincadeira que lhes tinha gasto Storm, parecia que ao AJ sim havia gostado.
-Storm é muito divertido! -disse rindo-. Contou-me como salvou a uma anciã em um incêndio.
Shelly sorriu.
-Me alegro de que lhe tenha acontecido isso bem, mas essa roupa não entra em casa. É mais, será melhor que a atiremos.
-Storm me há dito que te diga que vai comprar-me roupa e que chamará para ver quando pode me levar nas lojas.
Shelly se cruzou de braços e arqueou as sobrancelhas.
-Ah, sim? Disse isso? -olhou a Dare-, O que vamos a fazer com esse teu irmão?
Dare se deu de ombros sorrindo.
-O que posso fazer eu? Suponho que podemos casá-lo, exceto não há nenhuma mulher que goste, exceto Tara, mas está reservada para o Thorn.
-O que?
-Tara Matthews. É amiga da Laney, uma médico que trabalha no mesmo hospital de Kentucky onde Delaney vai fazer a residência. Outro dia te explicarei isso de que está reservada para o Thorn.
Shelly assentiu e olhou o relógio.
-Ia preparar alguns hambúrgueres com batatas fritas, se gostar...
-Só se deixar que eu faça os hambúrgueres.
-Eu te ajudo - disse AJ.
-De acordo, eu farei as batatas. Também há salada e feijões para acompanhar. O que vos parece?
-Estupendo mamãe.
Shelly assentiu. Gostava do tom de emoção com o que falava AJ.
-Dare?
-Estou de acordo com o AJ. Sonha estupendo.
Dare ficou para jantar. Recebeu uma chamada e teve que ausentar um momento, mas retornou com o Chase e com o Storm. Levaram um jogo de damas para ensinar ao AJ a jogar. Eram quase as onze quando o pequeno admitiu que caía de sonho. Chase e Storm partiram quando AJ se deitou, e deixaram a Dare ali, lhe dizendo que foram despertar ao Thorn para jogar uma partida de pôquer.
Uma hora ou assim mais tarde, Shelly acompanhou a Dare até a porta. Tinha-lhe contado que Tara Matthews era uma mulher selvagem que só Thorn conseguiria domar e que por isso seus irmãos a tinham reservada.
-Assim acredita que Thorn Westmoreland lhe jogou o olho a essa tal Tara? Dare riu.
-Sim, embora ele não se desse conta ainda. Sinto-o pela Tara.
Shelly assentiu. Momentos mais tarde, disse:
-Espero que saiba que os vizinhos terão muito do que falar se virem que parte a estas horas.
-Sim, McKade me há dito que muita gente se está questionando minha inteligência. Acreditam que não tenho descoberto que AJ é meu filho.
-Sim, também me há isso dito a senhora Kate.
-Como imagina que o leva AJ?
-Acredito que ninguém disse diretamente, mas sei que varias pessoas lhe perguntaram sobre seu pai.
-Quando?
-Faz um par de dias no Kate's Diner. Vai lá todas as manhãs de caminho ao colégio.
-Maldita seja, Shelly, quero que termine esta farsa e que todo mundo se inteire de que AJ é meu filho.
-Sei. Dare, mas recorda que decidimos que fora ele quem decidisse quando ocorreria isso. Acredito que será mais logo do que imagina, porque vai aceitando-o pouco a pouco.
-Você acredita?
-Sim, agora lhes levam muito melhor. É evidente. Eu me dei conta, e sei que, esta noite, seus irmãos também.
-Sim, mas por algum motivo ainda se mantém distante - disse Dare com frustração-. Noto-o, e me dói um montão. Não sei por que o faz.
-Acredito que eu sim.
-Por quê? Diga-me isso
-Acredito que AJ começa a perguntar-se se é bom o bastante para ser seu filho.
-Por que ia questionar algo assim?
-Porque começa a te olhar com outros olhos, igual a lhe olham Morris e Cornelius, e AJ está preocupado por como se conheceram. Sabe que não foi um bom começo e que você ficou decepcionado. Agora tem medo de não poder mudar de opinião.
-Shelly, sempre vou querer o meu filho.
Ela o abraçou pela cintura para ouvir que falava com frustração.
-Eu sei, e você sabe, mas também tem que sabê-lo ele. Agora que já tem quebrado o gelo, é hora de que lhes conheçam bem. Então, dará-se conta de que, aconteça o que acontecer, sempre estará aí para ele.
Dare suspirou e disse:
-E pensar que acreditava que ganhar o seria coisa fácil.
-Em certo modo, foi-o. Se te for sincera, não esperava que te aceitasse tão logo. Igual a você, é muito cabeça dura para certas coisas. É evidente que te aceitou porque sabe te relacionar muito bem o seu pessoal.
Dare sorriu e a abraçou.
-E posso ter uma relação contigo? -o único motivo pelo que não o fazia o amor ali mesmo era porque sabia que estava dolorida. Havia percebido que movia com dificuldade.
-Depois de ontem à noite, como te atreve a me perguntar tal coisa, Dare? Sabe que tivesse podido fazer o que quisesse comigo.
-Então, estamos iguais, porque você também podia fazer o que quisesse - inclinou a cabeça e a beijou, pensando em como gostava de abraçá-la.
Capítulo Onze
Shelly se desesperou na cama com um suspiro. Tinham passado quase duas semanas desde que passou a noite com Dare no jardim. Após, os encontros noturnos sobre a manta se converteram quase em um ritual. Ele passava muito por sua casa, aparecia à hora de jantar, e convidava ao AJ e a ela ao cinema.
AJ tinha começado a baixar a guarda, mas, todavia não aceitava a Dare como pai. Shelly sabia que Dare cada vez tinha menos paciência, mas já lhe havia explicado que AJ necessitava saber de coração que seu pai o queria antes de poder confiar nele e lhe entregar seu amor.
Pensou no que ela sentia por Dare. Tinha que esforçar-se por recordar que não podia apaixonar-se por ele outra vez, que só estavam atuando pelo bem do AJ. Qualquer que os observasse pensaria que ele tratava de cortejá-la. Dare lhe mandava flores todas às semanas e assim os habitantes do College Park tinham algo do que falar.
Varias pessoas a tinham aconselhado a respeito de que não permitisse que voltasse a lhe romper o coração, já que todos sabiam que Dare Westmoreland era um solteiro incondicional. Mas havia outra gente que considerava que devia lhe dar outra oportunidade e tratavam de convencer a de que ela era quão única podia trocar o estado civil de Dare.
O que Shelly não podia lhes dizer era que não estava interessada em trocar o estado civil de Dare.
Embora tivesse percebida certas mudanças nele, não podia esquecer que era um homem que tratou de ir atrás de seus sonhos sem incluir ela. E não estava disposta a arriscar-se a que lhe causassem essa dor outra vez. Durante seis anos havia pensado que era o mais importante para Dare, só para descobrir que não era assim. Tinha suficiente sentido comum para saber que o que Dare e ela compartilhavam no jardim não tinha nada que ver com os sentimentos, a não ser com a necessidade física, e enquanto fora capaz de compreender a diferença, tudo iria bem.
Para ouvir que batiam na porta de seu quarto, incorporou-se.
-Entra AJ.
Era cedo e ainda não tinha amanhecido, mas sabia que seu filho estava nervoso. Era o dia em que chegava a irmã de Dare desde o Oriente Médio. Os Westmoreland estavam emocionados e lhe tinham falado tanto de Delaney ao AJ que o tinham contagiado. Depois de tudo, aquela mulher era sua tia, embora ele acreditava que Delaney não sabia.
AJ abriu a porta e entrou no quarto. Shelly se fixou, uma vez mais, em como se parecia com Dare. Não sentia saudades que toda a cidade fizesse comentários a respeito.
-O que ocorre, AJ?
-Queria falar contigo de uma coisa, mamãe - ela assentiu e lhe deixou um oco na cama, mas ele se sentou em uma cadeira. Evidentemente, pensava que já era grande para meter-se na cama de sua mãe. Shelly sentiu que lhe encolhia o coração. Seu filho se estava crescendo e se alegrava de que Dare estivesse ali para ajudá-lo a agüentar a adolescência. Não só Dare, mas também toda a família Westmoreland. Decidi que vou dizer ao xerife que sou seu filho.
Shelly tragou saliva.
-E quando o decidiste?
-Ontem.
-E o que te tem feito trocar de opinião?
-Estive observando-o. Uma manhã da semana passada estava no Kate's Diner quando ele entrou. Ao princípio não me viu. Quando entrou, todo mundo se alegrou de vê-lo, e ele sabia os nomes de todos e lhes perguntou como estavam. Então, dava-me conta de que não é um policial mau. Se fosse, ninguém o apreciaria, e todo mundo o aprecia, mamãe.
Shelly conteve as lágrimas. AJ tinha razão. Todo mundo se dava bem com Dare. AJ tinha que descobrir por si mesmo e parecia que o tinha feito.
-Sim, a todo gosta de Dare. É um bom xerife, e uma pessoa justa.
-A maioria dos meninos do colégio acredita que é a bomba e dizem que tenho sorte porque acreditam que é sua namorada.
Shelly pôs cara de surpresa.
-Os meninos do colégio acreditam que sou sua namorada?
-E não o é?
Shelly esboçou um sorriso. Não queria lhe dar esperanças de que as coisas fossem sair bem entre Dare e ela, nem que se converteriam em uma família feliz quando ele admitisse que Dare fosse seu pai.
-Não, AJ, embora Dare e eu sejamos muito bons amigos. Sempre o fomos e sempre o seremos.
-Mas ele quer que você seja sua namorada, eu sei. Todo mundo sabe e falam disso, e acreditam que sou seu filho, embora não querem que eu ouça essa parte, mas sei. O xerife passa muito tempo comigo e nos leva a lugares com ele. Os meninos do colégio dizem que seus pais acreditam que já é hora de que ele sente a cabeça e se case, e eu sei que você gosta muito dele, mamãe. Sempre te trata muito bem, e isso eu gosto.
Shelly respirou fundo. Também gostava, mas sabia muito mais que o AJ a respeito de por que Dare passava tanto tempo com ela. Era parte do plano para ganhar o amor de seu filho. Negava-se a pensar que era algo mais, nem sequer pela de vezes que se deitaram. Sabia que era algo puramente físico. Nada mais.
-E quando vais dizer a ele.
-Ainda não sei. Mas queria que soubesse que vou dizer.
-Não demore muito. Como te disse Dare não gostará de saber que te ocultei todos estes anos, mas sei que ficará tão contente de que seja seu filho, que lhe esquecerá logo.
-Você acredita?
-Sim, carinho.
-Então, pode que o diga hoje. Pergunto-me se eu gostaria de acompanhá-lo a recolher a sua irmã e a sua família ao aeroporto. Pode que o diga ali.
Shelly assentiu. Sabia que, se o fazia, Dare seria feliz.
AJ pensava que a caminhonete de Dare era estupenda. Parecia-lhe bem que tivesse outro veículo para quando queria deixar de ser xerife por um momento, embora acreditasse que sempre estava pensando no trabalho, apesar de que não tivesse posto o uniforme.
-Gosta que chegue na sexta-feira? Não terá que ir ao colégio já que é o dia do professor - perguntou Dare, e detrás comprovar que AJ se pôs o cinto de segurança, arrancou o motor.
-Sim, embora suponha que mamãe mandará fazer muitas coisas esse dia - não disse nada mais durante um momento, e depois perguntou-. Você gosta dos meninos?
Dare o olhou e sorriu.
-Sim, eu gosto dos meninos.
-E pensaste em ter um?
-Sim, algum dia. Por que o pergunta?
-Por nada.
Dare olhou pelo retrovisor e começou a dar marcha atrás na garagem da casa do Shelly. Dirigia para o aeroporto, como o resto de sua família, para recolher a sua irmã. Não podia evitar perguntar se AJ lhe tinha feito essa pergunta por algum motivo concreto, mas estava preparado para qualquer pergunta que seu filho queria lhe fazer.
A princesa Delaney Westmoreland Yasir abraçou a seu filho contra seu peito, respirou fundo e se apoiou em seu marido. Sua mãe lhe havia dito que o filho de Shelly se parecia com Dare, mas o que estava vendo lhe parecia incrível. Não havia maneira de que, ao vê-los juntos, alguém não se imaginasse que eram pai e filho. Tinham a mesma cor de pele, os mesmos olhos escuros e a mesma boca e nariz. AJ Brockman era um pequeno Dare, uma cópia de seu pai, disso não havia dúvida.
-E a quem temos aqui? -perguntou ela detrás recuperar a compostura e abraçar a seus pais e irmãos.
-Este é AJ - disse Dare, olhando a sua irmã—. O filho do Shelly Brockman. Acredito que mamãe te contou que retornou a cidade.
-Sim, isso ouvi - sorriu ao AJ e imediatamente se apaixonou por ele. Era um Westmoreland, e se alegrava de conhecê-lo-. Como está, AJ? -ela pergunta a seu sobrinho, e lhe deu a mão.
-Bem, obrigado - respondeu ele com acanhamento.
-E como está sua mãe?
-Bem. Disse que está desejando verte.
-Eu também estou desejando vê-la. Era como uma irmã mais velha para mim.
Com o brilho do amor no olhar, Delaney olhou ao homem que tinha a seu lado e disse:
-AJ, este é meu marido, Jamal Ari Yasir.
AJ se fixou no homem alto que estava diante. Não estava seguro do que devia fazer. Tinha que lhe fazer uma reverência? O homem se agachou e lhe perguntou:
-Como está, AJ?
AJ sorriu.
-Bem, senhor.
Quando o homem ficou em pé, AJ se fixou no bebê que Delaney tinha em braços.
-Posso vê-lo?
-Claro. Chama-se Ari Terek Yasir - agachou-se e desembrulhou seu filho para que AJ pudesse vê-lo. O bebê olhou ao AJ e este sorriu igual ao resto dos que estavam a seu redor. Delaney levantou a vista e olhou a sua mãe.
Fixou-se em que tinha os olhos cheios de lágrimas de felicidade
De repente, o príncipe Jamal Ari Yasir se esclareceu garganta. Todos se tinham ficado em silêncio e tinham os olhos umedecidos, assim decidiu que a alegria invadisse de novo seu recebimento. Era a família de sua esposa e tinha chegado a querê-los como se fora a sua. Com seus olhos escuros, se dirigiu ao irmão que ainda não se ganhou de tudo.
-Bom, Thorn, segue tendo tanto mau humor como antes? -perguntou com um sorriso.
Capítulo Doze
Shelly sorriu ao olhar à moça que estava sentada frente a ela no pátio da casa dos pais de Dare. A última vez que tinha visto o Delaney, esta era uma adolescente a ponto de completar dezesseis anos. Uma jovem rebelde que tratava de enfrentar-se aos cinco irmãos que a protegiam excessivamente.
Converteu-se em uma mulher adulta, era médica, tinha um bebê precioso e era a esposa do sheik do Tahran, um país do Oriente Médio, e do modo como a olhava o príncipe, Delaney também era uma mulher amada e desejada. Além disso, era muito bonita. Já fazia anos que se sabia que a que era uma menina se converteria em uma mulher deslumbrante e, possivelmente, esse era o motivo pelo que seus cinco irmãos tratavam de protegê-la.
Shelly e Delaney estavam a sós no pátio. A senhora Westmoreland estava dentro da casa cantando uma canção de ninar para que Ari dormisse, e AJ se foi com seu pai e seu avô a comprar carvão. Os irmãos e Jamal se aproximaram da oficina do Thorn para que Jamal visse a moto que estava fabricando.
-Me alegro de que tenha retornado Shelly, e de que haja nos trazido para o AJ. Acredito que não sabe a felicidade que tem feito a meus pais. Acreditavam que Ari era seu único neto e estão tristes porque não podem vê-lo tanto como desejam. Sinto-me culpada por isso, mas sei que tenho que estar com o Jamal, e isso significa viver em seu país a maior parte do tempo. Enquanto seu pai seja rei, nós podemos viajar tudo o que queiramos. Mas as coisas mudarão quando Jamal ocupe o trono - Shelly assentiu e ela continuou-. Esperamos que isso não aconteça de momento. Seu pai goza de muito boa saúde e não pensa lhe ceder o trono ainda.
Ao cabo de um comprido silencio, Shelly disse:
-Quero te pedir desculpas por haver ido faz dez anos, Delaney, e por não ter mantido o contato contigo.
-Me acredite, todos compreendem que precisava pôr distância entre Dare e você. Todos nos zangamos com ele, e durante algum tempo houve muita tensão entre ele e meus irmãos - Shelly assentiu. Dare o havia contado-. Mamãe me contou como estão as coisas com o AJ. Disse-me que Dare e você têm decidido que seja ele que conte a verdade a Dare. Como vão as coisas? Aceita melhor a Dare? Eu acabo de chegar, mas parece que se entendem muito bem.
-Acredito que tem descoberto que Dare não é o policial malvado que ele pensava que era, e sim, levam-se bem. Esta manhã me há dito que quer lhe dizer a Dare que ele é seu pai.
-Quando? -perguntou Delaney com um amplo sorriso.
-Isso não sei. Suponho que o dirá quando estiverem sós e sinta que é o momento adequado. Tem medo de que Dare não o queira por como se comportou com ele ao princípio.
-Não há possibilidade de que Dare não queira a seu filho.
-Sei, mas AJ tem que descobri-lo por si mesmo.
Delaney assentiu. Sabia que Shelly tinha razão.
AJ estava junto a Dare na saída do supermercado. Observou ao xerife enquanto este tirava dinheiro para pagar. Quando saíram para esperar ao senhor Westmoreland, que estava dentro comprando algumas coisas de última hora, AJ decidiu lhe fazer algumas perguntas a Dare.
-Posso te perguntar uma coisa?
-Claro. Me pergunte tudo o que queira saber.
-Antes me disse que você gostava dos meninos. Se alguma vez te casa, você gostaria de ter mais de um filho?
Dare se perguntou por que o fazia essa pergunta. Seria que AJ queria ser filho único? Sentiria-se ameaçado se lhe dizia que estava disposto a ter mais filhos se Shelly era a mãe? Suspirou e decidiu ser sincero com seu filho.
-Sim, eu gostaria de ter mais de um filho. Eu gosto ter tantos como minha esposa me desse - AJ não disse nada, e Dare não sabia se a resposta lhe tinha servido de algo—. Alguma outra pergunta?
-Dare é seu nome de verdade?
-Não. Meu nome é Alisdare Julián Westmoreland -disse-lhe olhando-o aos olhos-. Por quê?
-Porque eu também me chamo Alisdare Julián. Isso é o que significa AJ.
Dare não estava seguro do que era o que tinha que dizer, mas sabia que devia parecer surpreso. Arqueou as sobrancelhas e perguntou:
-Sua mãe te pôs meu nome?
-Sim.
-E por que o fez? -viu que seu filho respirava fundo.
-Porque...
-Sinto ter demorado tanto. Seguro que sua mãe acredita que nos raptaram.
Dare e AJ se voltaram para ouvir a voz do senhor Westmoreland. Mas Dare estava decidido a que seu filho terminasse a frase que tinha deixado pela metade.
-Por quê?
AJ olhou ao homem maior que se aproximava deles e depois a Dare. Ficou nervoso e respondeu:
-Porque gostava de seu nome.
«Porque gostava de seu nome».
Aquela noite. Dare recordou a explicação que AJ lhe tinha dado a respeito de por que Shelly lhe tinha colocado seu nome. Sabia que AJ tinha estado a ponto de lhe dizer que era seu filho, momentos antes que seu pai os interrompesse, e perdesse a oportunidade. Mas Dare estava disposto a conseguir.
Quando retornaram a casa de seus pais, não conseguiram ficar a sós nem um momento, e em mais de uma ocasião, esteve a ponto de lhe dizer que teriam que retornar à loja a por algo que lhes tinha esquecido. Mas como seus irmãos e Jamal não haviam tornado ainda, sua mãe lhe pediu que ajudasse a seu pai a preparar o andaime.
Eram as onze passadas e Shelly estava recolhendo suas coisas para levar ao AJ a casa. Estava meio adormecido e muito cansado depois ter estado jogando tênis de mesa com seus tios durante mais de duas horas.
Dare olhou a Shelly, usava jeans que ressaltavam as curvas de seu corpo e um Top azul que se colava aos seus seios. Aqueles seios que havia beijado freqüentemente durante as duas semanas anteriores. Seu corpo sempre o tinha excitado, e nada havia mudado. Tinha estado toda a noite tratando de conter sua ereção. O que lhe faltava era que seus irmãos vissem quão mal estava, embora pelos sorrisos tivessem lhe dado durante toda a tarde supunha que já sabiam.
-AJ e eu lhes damos a boa noite - disse Shelly com um sorriso. Obrigado por nos haver convidado.
Olhou a Dare e pestanejou ao receber a mensagem que lhe transmitia com o olhar. Estava-lhe dizendo que a veria mais tarde.
-Acompanharei vocês à porta - disse Dare.
Ela assentiu e começou a despedir-se de todos lhes dando um abraço.
Dare franziu o cenho ao ver que Storm se despedia dela lhe dando um beijo nos lábios. Shelly era dele, e não queria que ninguém a tocasse.
Quando Shelly e AJ avançaram para a porta, Dare disse ao Storm:
-A próxima vez que faça isso te partirei um braço.
Storm soltou uma gargalhada. Dare o ignorou e acompanhou ao Shelly e ao AJ até a porta.
Fazia uma noite preciosa. Shelly sentiu o ar fresco ao fechar a porta da cozinha e atravessar o jardim até o lugar onde Dare a estava esperando.
Não se tinha incomodado em ficá-la bata porque sabia que ia tirar-lhe em seguida e, em lugar de uma camisola, pôs-se uma camiseta que ficava grande.
Tinha demorado um momento em deitar ao AJ quando chegaram de casa dos Westmoreland. Haviam estado falando e lhe havia dito que tinha estado a ponto de lhe contar a Dare a verdade, mas que os tinham interrompido. Ela sabia que quanto mais demorasse em dizer-lhe mais difícil ia resultar lhe.
-Shelly?
Ao ver que Dare saía de entre as árvores, lançou-se a seus braços. Ele a olhou e a beijou nos lábios. Ela gemeu e Dare sentiu a necessidade de lhe fazer o amor. Levantou-lhe a camiseta e a acariciou, descobrindo que não levava nada debaixo. Tomou em braços e lhe rodeou a cintura com as pernas. Apoiou ao Shelly contra uma árvore e ela se precaveu de que o tinha tudo planejado. Dare se baixou as calças e disse:
-Sabia que não poderia esperar assim já me pus o preservativo - sussurrou e, ao cabo de um segundo, estava em seu interior.
Cobriu-lhe a boca com a sua e a acariciou com a língua. Ela separou as pernas um pouco mais e permitiu que ele entrasse nela com força, fazendo com que estremecesse. Sentia-se muito perto do limite e queria que ele alcançasse o orgasmo de uma vez.
-Agora, Dare!
Dare começou a mover-se cada vez mais rápido. Ela arqueou as costas e seus ritmos se compassaram. Dare tinha passado o ponto de não retorno e ela o tinha acompanhado. Quando sentiu que Shelly tinha alçando o clímax saiba seu corpo e que começava a ter espasmos, ele se introduziu em seu corpo com força por última vez e ambos chegaram ao clímax. A sensação era interminável e nenhum queria que acabasse. Dare a beijou e capturou a essência do que estavam compartilhando. Seu corpo seguia tremendo, e então soube que Shelly era a única mulher que desejava do mundo. A única mulher que amava.
A única mulher.
Momentos mais tarde, Dare se retiro do interior do corpo de Shelly e tomou em braços para levá-la até a manta. Colocou-se a seu lado e esperou a que se acalmasse sua respiração.
-Começava a pensar que não viria - disse uns minutos mais tarde. Não podia evitar tocá-la de novo e lhe acariciou o ventre. Recordou como AJ lhe tinha perguntado se queria ter mais filhos e como ele tinha pensado que sim, mas sempre que Shelly fora a mãe. Não lhe importaria deixar outro filho em seu ventre. O ventre da mulher que amava.
Shelly abriu os olhos devagar e o olhou perguntando-se como podia ser que cada vez que faziam o amor fora melhor que a anterior. Sentia-se querida entre seus braços.
Amada e apreciada.
Tratou de não pensar nisso. Não queria viver de falsas esperanças e se negava a entregar de novo seu coração, por muito que Dare tratasse de roubá-lo. Olhou a outro lado.
-Shelly?
Ela o olhou de novo e lhe disse:
-Demorei mais do que esperava em deitar ao AJ. Queria que tivéssemos uma longa conversação.
-Está bem?
-Sim. Mas acredito que se decepcionou um pouco ao não poder te contar a verdade hoje.
Dare sentiu um nó na garganta.
-Acredita que deveria falar com ele manhã?
-Não, acredito que o melhor é esperar a que ele reúna o valor necessário para fazê-lo. Mas te sugiro que lhe facilite as coisas te assegurando de que encontram um momento para estar a sós, sem que lhes interrompam. Entretanto, terá que te assegurar de que não se dê conta de que tudo estava planejado. Ainda acredita que tem o controle da situação. Dare, e para ele é muito importante te dizer que você é sua pai.
Dare assentiu. Para ele também era algo muito importante. Deitou de barriga para cima e contemplou as estrelas.
-Acredito que tenho uma idéia.
-Qual?
-Meus irmãos, Jamal e eu, tínhamos planejado ir a pescar à cabana da Carolina do Norte. AJ sabe por que nos ouviu planejar a viagem, o que te parece se o convido a nos acompanhar?
-Por que vais querer levar ao AJ com vocês? Não tinham pensado que fora um fim de semana de homens?
-Sim. Mas lembrança que AJ disse ao Thorn que nunca foi que pesca, e sei que Thorn esteve a ponto de convidá-lo. O motivo pelo que não o fez foi porque sabe que, além de pescar, jogaremos pôquer e Storm diz muitos palavrões quando começa a perder.
-E como facilitará isso a situação com o AJ? Ali tampouco conseguirão estar sozinhos.
-Sim, se os outros não forem. Depois de que AJ e eu cheguemos à cabana, os outros chamarão com uma desculpa e dirão que não podem ir.
-Os cinco?
-Sim. Tem que ser uma boa desculpa ou, se não, AJ suspeitará.
-E acredito que se estiverem ali a sós durante três dias se abrirá a você?
-Espero que sim. Ao menos lhe darei a oportunidade de que o faça - olhou ao Shelly-. O que te parece?
-Não sei. Dare. Pode que saia bem, mas não quero que te faça esperanças em vão. Sei que AJ quer que saiba a verdade, mas também sei que há dê encontrar o momento perfeito.
Dare assentiu e lhe deu um abraço.
-Então, vou fazer todo o possível para que isso ocorra.
Capítulo Treze
Dare pendurou o telefone e olhou ao AJ.
-Era Chase. Uma das garçonetes esta doente. Terá que trabalhar o fim de semana e não poderá vir.
Notou a desilusão no olhar do AJ. Desde que chegaram à cabana, tinha recebido a chamada de todos menos do Thorn, que chamaria em qualquer momento.
-Isso significa que temos que cancelar o fim de semana? -perguntou AJ.
-Não, a menos que você queira. Ainda existe a possibilidade de que venha Thorn - mentiu Dare. Seus irmãos e Jamal tinham compreendido que necessitava passar o fim de semana a sós com o AJ, e todos tinham posto uma desculpa para não ir. Ao ver que AJ não dizia nada, Dare disse-. Sabe o que acredito que devemos fazer?
-O que?
-Desfrutar destes três dias, sem, mas. Desejava-te alguns dias de descanso para relaxar, e estou seguro de que você te alegrará de ter um dia mais sem ir ao colégio, a que sim?
-Sim.
-Então, vamos aproveitar o. Posso ensinarei a pescar pela manhã, e de noite podemos acampar fora. Foste a algum camping alguma vez?
-Não.
Dare olhou a seu filho com tristeza. Recordava que quando era menino seu pai os levava de acampada alguns fins de semana.
-Podemos fazer tudo o que havíamos planejado. O que te parece?
AJ o olhou surpreso.
-Quer ficar aqui só comigo?
Dare sentiu que lhe formava um nó na garganta. Tragou saliva. «Se soubesse como gosta de estar aqui contigo».
-Sim - respondeu-. Suponho que deveria perguntar se estiver seguro de que quer ficar aqui comigo.
-Sim, quero ficar - respondeu AJ com uma risada.
Dare sorriu também.
-Bem, então, vamos tirar o resto das coisas da caminhonete.
No dia seguinte, Dare se levantou cedo e foi para a varanda tomar o café. AJ seguia dormia. A noite anterior se deitou muito tarde. Thorn tinha chamado dizendo que não podia ir porque tinha que entregar uma moto ao cabo de uns dias e não lhe dava tempo a terminá-la. Assim ali estavam os dois sozinhos.
Depois de guardar os mantimentos na cozinha, saíram a procurar lenha. Enquanto AJ a colocava, Dare preparou o jantar.
Durante a comida não tinham falado muito, mas enquanto esfregavam os pratos, AJ começou a lhe contar coisas sobre os amigos que tinha na Califórnia. Tinha-lhes escrito e eles não haviam lhe respondido.
Também falou sobre seus avós, os Brockman, e lhe disse que pensava passar os natais com eles.
Dare olhou a seu redor e decidiu que gostava de muito daquele lugar. Tinha pertencido a um primo dele e a um amigo de este, mas Jamal o havia convencido para que lhe vendessem o lugar e o havia entregue a Delaney como um dos presentes de casamento. Foi naquela cabana onde Delaney e Jamal se conheceram. Enquanto ela estivesse fora do país, Delaney a tinha deixado em usufruto a seus irmãos, e os cinco estavam acostumados a ir juntos passar alguns dias de vez em quando. Dare se voltou para ouvir ruído e sorriu.
-Bom dia, AJ.
-Bom dia. Levantaste-te muito cedo.
-Esta é a melhor hora para ir pescar.
-Então, estarei preparado em um segundo - disse, e entrou correndo na casa.
Dare riu e confiou em que seu filho se lembrasse de lavá-la o rosto e de escovar os dentes. Respirou fundo e decidiu que gostava da idéia de ser pai.
Dare sorriu ao ver a pia cheia de peixes. AJ tinha pescado tantos como ele. Comeriam alguns durante o jantar e o almoço do dia seguinte, e o resto os levaria a casa e os repartiriam entre sua mãe e Shelly. Possivelmente pudesse convencer Shelly para que fizesse pescado frito e convidasse a sua família.
Deu-se conta de que resultava muito fácil incluir Shelly em sua vida diária. Recordou o bem que o tinham passado pelas noites, e pensou que, todavia não tinham feito o amor sobre uma cama. Teria que conseguir que ela passasse toda uma noite em sua casa. Penetrar em seu jardim para lhe fazer o amor era romântico, mas ele necessitava algo mais que isso. Necessitava que ela estivesse para sempre a seu lado. Queria que falassem e planejassem o futuro, e que soubesse como tinha alegrado sua vida com sua volta.
Pensou no AJ. Levavam mais de vinte e quatro horas juntos e ainda não tinha tirado o tema de seu parentesco. Tinham passado o dia falando do passado e de coisas corriqueiras. Dare estava ansioso por que AJ falasse com ele, mas sabia que tinha que esperar a que chegasse o momento.
-Fez um trabalho estupendo com a vara de pescar -disse, para ouvir que seu filho entrava na cozinha -. Não posso esperar para contar-lhe ao Stone. O cano que utilizaste é dele. Diz que só um Westmoreland pode ter essa sorte com ela - disse-lhe.
-Isso explica muitas coisas.
-O que?
-Explica por que me dei tão bem... Eu também sou um Westmoreland.
Dare ficou sem respire e tragou saliva. Apoiou-se na pia e olhou ao AJ, esperando que o menino levantasse a cabeça e o olhasse.
-Como que é um Westmoreland, AJ? -perguntou Dare. Sabia a resposta, mas queria que a dissesse seu filho.
AJ se esclareceu garganta.
-Não sei como lhe dizer isso, mas tenho que fazê-lo. Primeiro tenho quero te dizer que minha mãe lhe queria haver isso dito muito antes, mas que eu pedi que não o fizesse, assim não é sua culpa, ou seja, que não se zangue com ela. Tem que me prometer que não se zangará com minha mãe.
-Não me zangarei com sua mãe. Agora, me diga o que quer dizer com isso de que é um Westmoreland.
-Será melhor que se sente.
Dare se fixou em quão nervoso estava seu filho e sentou-se à mesa da cozinha.
-Diga-me isso
AJ o olhou aos olhos e disse:
-Embora meu sobrenome seja Brockman, em realidade sou um Westmoreland... porque sou seu filho.
Dare pestanejou. É obvio, já sabia. A notícia não lhe pegava de surpresa, mas sim a incerteza que descobriu no olhar de seu filho. Shelly tinha razão. AJ não estava seguro de que ele fora a aceitá-lo como filho.
-É meu filho?
-Sim. Por isso tenho dez anos e me chamo igual a você – abaixou a cabeça e acrescentou-. E por isso me pareço um pouco a você, embora pareça que não te deste conta, mas compreenderei que não me queira.
Dare ficou em pé. Aproximou-se do AJ e colocou uma mão sobre seu ombro. AJ o olhou e Dare soube que tinha que fazer todo o possível para que seu filho soubesse que sim o queria.
-Acredite ou não, acaba de dizer às palavras que têm feito que seja o homem mais feliz do mundo. A idéia de que Shelly me tenha dado um filho me enche de felicidade.
-Isso significa que sim me quer?
Dare riu.
-Isso significa, não só que te quero, mas também não vou permitir que desapareça de minha vida.
-Seriamente? -perguntou AJ com um grande sorriso.
-Seriamente.
-E poderei me chamar Westmoreland?
-Quer te trocar o sobrenome?
-Eu gostaria.
-A mim também. Falaremos com sua mãe para ver o que opina disso, tudo bem?
-Vale - olharam-se um instante e AJ perguntou-. Posso te chamar papai?
Dare sentiu uma forte pressão no peito. Sabia que nunca esqueceria esse momento. O que AJ lhe pedia era mais do que ele tinha esperado.
-Sim, pode me chamar papai - disse-lhe, e o atraiu para si. Compartilharam um abraço de pai e filho. De Westmoreland para Westmoreland. Contendo as lágrimas, acrescentou—. Será uma honra para mim que me chame assim.
Momentos mais tarde. Dare suspirou acreditando que sua missão tinha finalizado. Mas não era assim. Uma vez que AJ lhe havia dito que era seu filho, ele se dava conta do muito que amava e desejava à mãe do pequeno. Sua missão não finalizaria até que ela também entrasse em formar parte de sua vida para sempre.
Aquela noite, Dare chamou a seus pais e a seus irmãos para lhes dar a boa notícia. Eles pediram para falar com o AJ e lhe dar as boas vindas na família. Depois de jantar. Dare e AJ falaram enquanto limpavam a cozinha e fizeram planos para retornar à cabana alguns meses mais tarde. Dare sugeriu que também podiam convidar ao Shelly.
-Não virá - disse AJ enquanto secava os pratos.
-Por que não?
-Porque não vai ser sua namorada - disse ele-. Embora eu gostasse que o fosse.
-E o que te faz pensar que sua mãe não quer ser minha namorada? —perguntou Dare com os braços cruzados.
-Ela me disse. A noite que estivemos no andaime que fizeram seus pais. Quando retornamos a casa conversamos durante muito tempo. Eu lhe disse que tinha estado a ponto de te dizer que era seu filho. Perguntei-lhe se seríamos uma família quando eu lhe dissesse isso e me respondeu que não.
Dare recordava muito bem aquela noite.
-E te explicou por quê?
-Sim. Disse que embora estivessem apaixonados quando me conceberam que já não estão apaixonavam mais e eram só amigos. Também me contou que existia a possibilidade de que você te casasse com uma bela mulher e que eu teria uma segunda mãe que me trataria como se fosse seu filho.
Dare franziu o cenho. Era mentira que Shelly e ele não estavam apaixonados. Como se atrevia a dizer tal coisa? E por que tratava de casá-lo com outra mulher? Não sabia o que sentia por ela? Não sabia que a amava?
De repente, percebeu de que era certo. Shelly não sabia o que ele sentia por ela porque nunca o havia dito. Durante o mês passado haviam estado a sós muitas vezes, mas sempre no jardim fazendo o amor sob as estrelas. Acaso ela pensava que só era sexo? E por que ia pensar de outra maneira? Respirou fundo e reconheceu que havia metido os pés pelas mãos.
-É isso verdade, papai? Casar-te-á com outra mulher e terei uma segunda mãe?
-Não, filho. Sua mãe é a única mãe que vais ter, e é a única mulher com quem casarei.
Imitando o seu pai, AJ cruzou de braços.
-Pois acredito que ela não sabe.
Dare sorriu.
-Suponho que sou a pessoa adequada para convencê-la - aproximou-se de seu filho e lhe disse com tom conspirador-. Escuta. Tenho um plano.
Capítulo Quatorze
Shelly olhou o relógio. Dare a tinha chamado para lhe dizer que AJ e ele tinham decidido retornar um dia antes. Tinha-lhe pedido que fora a recolher a seu filho a sua casa porque estava esperando a que o correio entregasse um pacote importante e não podia sair. Tudo soava um pouco estranho, e Shelly pensou que devia ter algo que ver com algum assunto policial.
Depois de ler o nome na secretaria eletrônica, soube que a casa que estava no alto de uma colina era a de Dare.
Momentos mais tarde, Shelly desceu do carro e chamou o timbre. Dare respondeu em seguida.
-Olá, Shelly.
-Olá, Dare - notou como lhe havia acelerado o coração ao vê-lo.
-Entra.
-Obrigada - respondeu, e uma vez dentro, olhou a seu redor-. Tem uma casa preciosa, Dare.
-Obrigado, me alegro de que você goste.
Shelly se fixou em que Dare se apoiou em uma porta e estava olhando-a.
-Disse que AJ chegou a admitir que é seu pai.
-Sim.
-Me alegro muito, Dare. Sei como desejava que isso acontecesse.
-Assim é.
Fez-se um longo silencio. Shelly se esclareceu garganta e começou a ficar nervosa, sobre tudo, porque ele não deixava de olhar a de maneira penetrante. Olhou o relógio e decidiu romper o silêncio.
-Por certo, onde está AJ?
-Não está aqui.
-Ah. E onde está?
-Na casa de meus pais. Passaram a lhe perguntaram se queria ir com eles um momento. Pensei que não lhe importaria, assim dei permissão.
-É obvio que não me importa - ao cabo de um instante, pigarreou e disse—. Bom, estou segura de que tem muitas coisas que fazer, assim...
-Não, já não tenho nada que fazer. O pacote que esperava já me trouxeram.
-Ah.
-É mais, pensava te convidar para ir ao cinema e para jantar.
-Para jantar? Ao cinema?
-Sim, e não se preocupe pelo AJ. Está em boas mãos.
-Sei Dare. Seus pais são estupendos.
-Agora são eles quem acredita que seu neto é o melhor. Deveria ter visto minha mãe. Não pode evitar contar-lhe a todo mundo - Shelly sentiu um nó no estômago. O segredo se desvelou e tudo mudaria. Sobretudo seu relacionamento com Dare. Já não teria que fingir que estava interessado nela - Bom, e o que te parece o de ir ao cinema?
Ela o olhou aos olhos. Era possível que aquela fosse a última vez que estariam juntos, ao menos em público. Não duvidava de que até que não satisfeito seus desejos sexuais, encontrariam o momento adequado para encontrar-se a sós de noite.
-Sim, Dare. Irei ao cinema e para jantar contigo.
-Obrigado por sair comigo esta noite, Shelly.
-Obrigado por me convidar. Passei-o muito bem. Tinham ido ao cinema e para jantar, e estavam passeando por um centro comercial que lhes recordava que tinham estado juntos ali dez anos antes.
Dare dizia que não tinha pressa porque a velada chegasse a seu fim porque queria lhe dar a seus pais a possibilidade de fazer festa com o AJ.
-O que te parece o trabalho que faz agora, em comparação trabalhando dentro do hospital?
-Custou-me me acostumar, mas estou gostando. Conheci a muitas pessoas agradáveis, e como trabalho menos horas posso ficar mais tempo com o AJ.
Dare assentiu.
-Alguma vez te contei por que deixei de trabalhar para o FBI, verdade?
-Não - lhe contou o bom e o mau de trabalhar como agente do FBI, e depois lhe contou o motivo pelo que tinha retornado a casa-. E você gosta do que faz agora, Dare? -perguntou-lhe. Sabia muito bem o que para ele tinha significado entrar no FBI.
-Sim, eu gosto do que faço. Sinto que sou mais útil do que era no outro trabalho. Estou trabalhando para uma comunidade que nos deu muito, a mim e a meus irmãos, quando fomos pequenos. Viver no lugar onde se cresceu provoca boas sensações.
Shelly estava de acordo. Alegrava-se de ter retornado e não queria partir outra vez. Suspirou e olhou o relógio.
-Está ficando tarde. Não acredita que é hora de ir recolher ao AJ? Não quero que esgote a seus pais com tanta bem-vinda.
Dare soltou uma gargalhada e o som de sua risada fez que ela se estremecesse. Ao vê-la, ele a rodeou com o braço e a atraiu para si para lhe dar calor.
-Meus pais nunca se cansarão dele, Shelly. Mas sim, vamos recolher a nosso filho.
Três semanas mais tarde, Shelly estava sentada no balanço do alpendre. Era a terceira semana de outubro e o ar era fresco. A lua estava cheia e as estrelas brilhavam no céu. Ela precisava pensar.
Da noite em que Dare a havia convidado ao cinema e para jantar, ele tinha ido todas as tardes a passar um momento com o AJ e com ela. Durante as semanas anteriores, tinha-a convidado a sair várias vezes. E incluso, tinha-lhe pedido que o acompanhasse ao casamento de um de seus agentes.
Shelly suspirou. Cada vez que tentava pôr um pouco de distancia entre eles, ele conseguia rodeá-la de novo. Além disso, seguia lhe enviando flores cada semana. Já gostava de receber. Mas mesmo assim, estava convencida de que só era um ato de amabilidade. Era evidente que queria que se dessem bem para poder estabelecer uma boa relação com o AJ.
Outra coisa que a confundia era que ele já não a buscasse pelas noites. Os encontros noturnos no jardim se terminaram o dia em que Dare a havia convidado ao cinema pela primeira vez. Não lhe tinha dado nenhuma explicação a respeito de por que tinha deixado de ir, e ela era muito orgulhosa para perguntar-lhe.
Toda a tarde passava pela sua casa na hora de jantar e ela o convidava a ficar. E de noite, depois de que AJ se deitasse, sentavam-se no alpendre e falavam sobre como lhes tinha ido o dia. Aquilo se tinha convertido em uma rotina e ela tinha que admitir que gostasse.
Pensou no AJ. Estava encantado desfrutando do amor que lhe proporcionava sua nova família. Era certo que o pequeno precisava experimentar um sentimento de pertencer. Shelly se alegrava de ter tomado a decisão de retornar ao College Park.
Ficou em pé decidida a ir-se à cama. Dare se tinha partido justo depois de jantar dizendo que tinha que retornar à delegacia de polícia a terminar um assunto. Como sempre, antes de ir-se, deu-lhe um beijo apaixonado, mas nada mais. Entretanto, cada vez que tomava entre seus braços, ela sabia que a desejava. Seu membro ereto o indicava. Shelly sabia que ele lutava contra o desejo que sentia por ela, mas não entendia por que o fazia.
Enquanto vestia a camisola seguiu pensando em Dare. Por que tinham deixado de manter relações sexuais? Possivelmente, Dare tinha imaginado que, devido aos encontros noturnos do jardim, estavam iniciando uma relação séria?
Fechou os olhos e soube que, aquela noite, sonharia com ele.
Shelly sorriu à senhora Mamie. A mulher havia quebrado um tornozelo fazia duas semanas e Shelly tinha sido atribuída como sua enfermeira.
-Acreditei que lhe havia dito que não apoiasse o pé durante alguns dias, senhora Mamie.
-Tentei-o, mas não é fácil. Tenho muitas coisas que fazer.
-Seu tornozelo se curará muito antes se seguir minhas instruções - lhe disse enquanto lhe punha a atadura.
-E como vão as coisas entre você e o xerife?
-Perdão? -perguntou Shelly.
-Você e o xerife. Como o levam? Todo mundo fala disso.
Shelly franziu o cenho.
-As pessoas falam de Dare e AJ, ou de mim e Dare?
-Falam sobre Dare e você. Dare e AJ já estão resolvidos. Todo mundo sabia que o pequeno era filho de Dare, embora demorasse a dar-se conta.
Shelly pensou no que a senhora Mamie lhe havia dito. Não tinha nem idéia de que Dare e ela estavam na boca do povo.
-E por que a gente fala de Dare e de mim?
-Porque todo mundo sabe que ele está tentado cortejá-la.
Shelly deixou de lhe pôr a atadura e olhou à senhora Mamie.
-Porque as pessoas acreditam que está tratando de cortejar?
-Porque assim é, carinho.
-Acredito que se equivoca - disse Shelly com seriedade.
-Não - respondeu à senhora Mamie com convicção-. É mais, as senhoras de meu clube de costura estão fazendo apostas.
-Apostas?
-Sim, apostamos sobre se vai dar uma segunda oportunidade. Todas sabem o dano que lhe causou.
-Mas ainda não compreendo por que acreditam que está tratando de me cortejar.
-Porque é evidente, Shelly. Luanne nos conta que lhe envia flores uma ou duas vezes por semana. Depois, segundo Clara, que vive em frente de você, ele vai jantar a sua casa todos os dias e de vez em quando a convida a sair - a mulher pôs um amplo sorriso—. Claro também há dito que ele cuida sua reputação e parte à uma hora razoável para que os vizinhos não falem disso.
-Mas todo isso não significa nada.
A senhora Mamie lhe deu um tapinha na mão.
-Equivoca-se, Shelly. Significa muito, sobre tudo para um homem como Dare. Nós observamos durante anos que rechaçou a muitas mulheres. Nunca saiu a sério com ninguém. Quando você retornou, tudo mudou. Qualquer se daria conta de que está apaixonado por você. Esse homem sempre a amou, e ele seria o primeiro em reconhecer que faz dez anos cometeu um grande engano. Eu gosto de saber que está tentando recuperá-la por todos seus meios - jogou-lhe um olhar conspirador-. E que você está ficando difícil.
Ficando difícil? Shelly nem sequer se precaveu de que Dare tratava de recuperá-la.
Meia hora mais tarde ainda se perguntava se era verdade que Dare tratava de cortejá-la. Respirou fundo. A única pessoa que podia responder a sua pergunta era Dare, e decidiu que tinha chegado o momento de que o fizesse.
Dare lhe pôs a tampa à panela de chili que tinha preparado. Tratava de manter-se ocupado para tentar não pensar em Shelly.
Sabia que AJ ia passar o fim de semana com o Morris e Cornelius e que Shelly estaria sozinha em casa. Era muito tentador. Suspirou e se perguntou quanto tempo demoraria ela em dar-se conta de que a amava, e que não só era sexo o que havia entre eles. Durante as três semanas anteriores, tinha tratado de ganhar seu coração, mas não tinha claro se seu plano estava funcionando.
Chamaram a campainha e se perguntou qual de seus irmãos tinha decidido ir visitar-lo.. Saiu da cozinha e foi abrir a porta. Olhou pelo espelho mágico e, ao ver que era Shelly, deu-lhe um salto o coração.
Apressou-se a abrir a porta e, em seguida, notou seu nervosismo.
-Shelly - saudou-a.
-Dare - disse ela—. Posso entrar? Quero falar com você de uma coisa.
-Claro - disse ele, e se tornou a um lado para que entrasse - Podemos passar ao salão, se gostar - disse ele, tratando de não mostrar o muito que sentia falta de estar a sós com ela.
-Tudo bem.
-Tem fome? Acabo de preparar um chili.
-Não, obrigado, não tenho fome.
-E gosta de algo de beber?
-Não, não quero nada de beber. Estou bem - disse com um sorriso.
«Sim, está muito bem», pensou ele. Não conhecia outra mulher com um corpo como o seu, e ao recordar como se sentia estando em seu interior, começava a suar as mãos.
De repente, sentiu que fazia muito calor na habitação. Shelly se sentou no sofá e ele em uma cadeira.
-Do que quer falar Shelly? Ocorre algo com o AJ?
-Não, AJ está bem. Deixei-o em casa dos Sear. Acredito que lhe faz muita diversão passar ali o fim de semana.
Dare assentiu.
-Se não é sobre o AJ, então, o que é?
-Esta manhã fui a visitar a senhora Mamie. Que quebrou o tornozelo e sou sua enfermeira.
-E?
-Mencionou algo que me parece incrível, mas me fiquei preocupada porque, ao parecer, todas as mulheres da cidade pensam que é certo.
-O que acreditam que é certo? -perguntou Dare. Percebeu que Shelly estava muito nervosa. Shelly não respondeu durante um momento. Dare franziu o cenho e se perguntou o que lhe acontecia. Ficou em pé e se sentou junto a ela-. Vamos, Shelly, o que acontece? O que é o que a senhora Mamie e as demais mulheres acreditam que é certo?
Shelly tragou saliva e se precaveu de que Dare estava muito perto dela. Com cada respiração, inalava seu aroma masculino, um aroma ao que já estava acostumada e do que nunca se cansaria.
Sorriu e decidiu ser sincera.
-Por algum motivo, acreditam que está tentando me cortejar.
-Te cortejar?
-Sim, já sabe...
-Em outras palavras, acreditam que estou tentando te roubar o coração, romper suas barreiras e entrar em sua vida.
-Isso. Isso é o que acreditam, não é ridículo?
Dare olhou Shelly, e sentiu um forte desejo que só ela podia acalmar.
-Não, não acredito que seja ridículo Shelly. É mais, estão certos.
Shelly pestanejou tratando de assimilar suas palavras.
-Mas, por quê? -perguntou ao fim.
-Por que, o que? -disse ele olhando-a aos olhos.
-Por que foste perder o tempo fazendo algo assim?
-Principalmente porque não considero que seja uma perda de tempo, Shelly. Além de ganhar o amor e o respeito de meu filho, ganhar seu coração é a coisa mais importante que tenho que fazer em minha vida.
Shelly tragou saliva e sentiu que pela primeira vez, desde fazia semanas, uma borbulha de esperança se formava em seu interior. O coração começou bater com força.
-Me diga por que, Dare.
Ele sorriu. Seu sorriso era tão sexy e sedutor que Shelly esteve a ponto de derreter-se.
-Porque queria te demonstrar que sei qual é a diferença entre manter relações sexuais e fazer amor. E tinha a sensação de acreditar que não sabia, e todas as vezes que nos vimos no jardim era só pelo sexo, e que não tinha nada que ver com os sentimentos. Mas cada vez que tomava entre meus braços, Shelly, só tinha a ver com meus sentimentos. Nunca em minha vida mantive relações com você só por sexo. Não houve nenhuma só vez que não te tenha feito amor. Para nós sempre existirá essa diferença.
Shelly sentiu que os olhos lhe enchiam de lágrimas. Dare tinha razão. Ela tinha tratado de vencendo-se que mantinham relações sexuais para acalmar o desejo, mas que os sentimentos não entravam em jogo. Mas estava enganando-se a si mesma. Amava a Dare. Sempre o havia amado e sempre o amaria.
-AJ me contou o que você pensava quando estávamos na cabana - disse Dare-. Disse-me havia dito que existia a possibilidade de que eu me casasse com outra mulher, e foi então, quando me dava conta de que você pensava que AJ, você e eu nunca seríamos uma família.
-E seremos uma família? -perguntou ela, contendo se para não acariciá-lo.
-Sim, seremos uma família, Shelly. Faz dez anos cometi o engano de te deixar partir, mas não cometerei duas vezes o mesmo engano. Quero-te e penso passar o resto de meus dias lhe demonstrando isso a olhou com um sorriso cheio de ternura e amor-. Isso será se confiar em mim o suficiente para me dar outra oportunidade.
Shelly lhe acariciou o queixo e olhou ao homem que amava de todo coração.
-Está seguro de que isso é o que quer Dare?
-Sim, nunca estive mais seguro em minha vida. Shelly me faça o homem mais feliz do mundo. Quero-te. Sempre te quis e sempre vou querer, e, sobretudo, quero que seja minha esposa. Você casara comigo?
-OH, Dare, eu também te quero, e sim, vou casar com você.
Lançou-se a seus braços e ele a beijou. Primeiro desespero e com delicadeza, mas em seguida, o desejo se apoderou deles. Dare interrompeu o beijo, agarrou Shelly e a sentou sobre seu colo. Ficou em pé e, enquanto lhe beijava a boca e o pescoço, ele subiu pelas escadas para chegar em seu quarto. Deixou-a na cama e se tirou a camiseta. Shelly se fixou em seu torso musculoso. Outras vezes, faziam o amor na escuridão do jardim e, embora o houvesse sentido, não tinha tido oportunidade de vê-lo. Ao ver que Dare levava a mão ao zíper de suas calças, tragou saliva. Começou a tirar-lhe e se fixou em como tinha trocado seu corpo, transformando se em um corpo muito mais masculino que quando era jovem.
Dare tirou um pacote de preservativos da gaveta da mesinha, e ficou um. Quando terminou, disse-lhe:
-Eu gostaria de ter outro filho, Shelly.
-Á mim também - respondeu ela com um sorriso-, E sei que AJ não quer ser filho único, assim que o encantara ter um irmão ou irmã.
Dare assentiu. Recordava a pergunta que havia feito seu filho e se alegrava de que gostasse da idéia. Aproximou-se da cama e começou a despir Shelly.
-É preciosa, Shelly - sussurrou quando terminou de despi-la. .
Ela sorriu ao escutar suas palavras. Dare deitou a seu lado e a abraçou. No momento em que suas bocas se juntaram, Shelly sentiu o calor do desejo e o amor que sentia por ele invadiu seu corpo ao ver que o beijo era uma promessa que ele estava disposto a cumprir.
Não tinham feito o amor desde fazia um mês, assim não se surpreendeu de como reagiu seu corpo ante o beijo de Dare. Não só estava beijando ela, estava utilizando sua língua para limpar qualquer dúvida que tivesse a respeito de que pareciam o um para o outro.
-Desejo-te, meu amor - disse ele, e lhe acariciou a parte mais íntima de seu corpo. Colocou-se sobre ela e, ao ver que separava as pernas, penetrou-a devagar, lhe transmitindo todo o amor que sentia por ela. Shelly o agarrou pelos ombros e arqueou os quadris para que entrasse mais em seu interior. Começaram a mover-se cada vez mais rápido, de maneira compassada, e quando ele se precaveu de que a ela começavam a lhe tremer as coxas, continuou para assegurar-se de que chegassem juntos ao clímax. A mulher que lhe tinha dado o pequeno Dare, e muito mais amor do que se merecia, teria sempre seu coração.
Shelly se estremeceu ao sentir que Dare lhe estava beijando as costas. Abriu os olhos e o olhou.
-Sabe que, desde que retornaste, é a primeira vez que fazemos amor na cama? -disse ele com uma picasse sorriso.
-Isso é bom ou mau? -perguntou ela. Ele lhe acariciou o ventre com os dedos e começou a descender para seu sexo.
-É melhor - beijou-a nos lábios-. Fica aqui esta noite.
O calor que desprendia o corpo de Dare fez que Shelly ardesse de desejo.
-E o que ganho se ficar? -fechou os olhos ao sentir que ele a acariciava com os dedos.
-Tem que perguntá-lo? -brincou ele.
-Não - respondeu quase sem fôlego.
Shelly estremeceu quando Dare se apoderou de seu corpo da mesma maneira que havia se apoderado de seu coração. Tinham passado muitas coisas, mas o amor que sentiam o um pelo outro tinha perdurado e pela primeira vez desde sua volta ao College Park, ela sentiu que tinha retornado a casa.
Epílogo
Um mês mais tarde...
Shelly não pôde evitar fixar-se em que Dare olhava ao Storm com o cenho franzido. Este acabava de beijar nos Shelly nos lábios.
-Acreditei que te havia dito que não o voltasse a fazer, Storm - disse Dare zangado.
-Mas hoje sim posso porque é a noiva e qualquer um pode beijar a noiva o dia do casamento.
-Também quer beijar ao noivo?
-A você? Não! -respondeu Storm com seriedade.
-Então, sugiro-te que te mantenha afastado da noiva - disse com um sorriso, e rodeou ao Shelly com o braço-. Há muitas mulheres solteiras por aqui às que pode beijar.
Storm riu.
-A outra mulher a que eu gostaria de beijar é Tara, e não estou o bastante louco para tentá-lo O teu som falatórios, mas Thorn me mataria de verdade se o fizer.
Shelly riu e olhou a Tara Matthews. Estava ao outro lado da habitação falando com Delaney. Tara era uma mulher muito bela e a maioria dos homens que tinham assistido ao banquete não o tiravam os olhos de cima. Todos exceto Thorn. Ele estava de pé, sozinho em um canto com aspecto aborrecido.
-Como podem pensar que Thorn está interessado na Tara quando não disse nenhuma palavra? Não lhe está fazendo nem caso.
-OH, não permita que te engane. Está prestando muita atenção, mas finge que não o faz - disse Dare entre risadas.
-Sim - interveio Storm-, e está inquieto desde que Delaney lhe há dito que Tara se mudará a Atlanta para terminar a residência no hospital dali. A idéia de que esteja tão perto tem feito que Thorn fique a tremer.
Pouco mais tarde, Shelly e Dare falaram com seu filho.
—É quase a hora de que nos partamos em um cruzeiro, AJ. Queremos que se comportes bem com os avós Westmoreland.
—De acordo - AJ olhou a seu pai com brilho nos olhos-. Papai, o tio Chase e o tio Storm me disseram que vamos pescar quando retornar.
Dare sorriu. Tinha novas notícias para seus irmãos. Se pensavam que se ia com eles em lugar de ficar na cama com sua esposa, se enganavam.
—Ah sim? Disseram isso?
—Sim.
Dare assentiu e olhou a seus irmãos. Estavam falando com a Tara, todos menos Thorn.
—Falaremos disso quando retornar - disse a seu filho—. Quando derem as férias, sua mãe e eu estamos pensando em te levar ao Disney World.
—Caramba!
—Parece-me que gostou da idéia?
—Eu adoro. Estive no Disneyland, mas não no Disney World e sempre quis ir.
—Bem - Dare olhou o relógio e atraiu Shelly para si. Era hora de que se fossem ao aeroporto. Tinham que voar até Miami e ali tomariam um navio até o St. Thomas-. E enquanto eu esteja fora, AJ, vigia seus tios. Ficam um pouco peraltas quando eu não estou para mantê-los na linha. AJ riu.
-É obvio papai.
-Obrigado. Sabia que podia contar com você - disse Dare, e abraçou o seu filho.
Com Shelly a um lado e AJ ao outro, sentia-se mais feliz que nunca. Era o dia de seu casamento e esperava que algum dia seus irmãos encontrassem a mesma felicidade que ele tinha encontrado.
Olhou Shelly e lhe dedicou um sorriso cheio de amor.
Sua missão tinha terminado. Tinha capturado o coração de seu filho e o da mulher que amava.
Brenda Jackson
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