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Assim que se inteirou de que seguia estando casado, o antigo Ranger do Texas Clint Westmoreland começou a pôr limites à estadia de sua “esposa” em seu luxuoso rancho. Mas assim que a viu suas forças começaram a fraquejar. Alyssa Barkley e ele tinham trinta dias para solucionar a confusão pelo qual haviam acabado sendo marido e mulher durante uma missão secreta há vários anos.
Mas a mulher sexy e sedutora que havia chegado ao seu rancho não se parecia em nada à agente tímida e amedrontada com a qual havia trabalhado e Clint começava a se perguntar como se sentiria se realmente fosse sua esposa...
Capítulo Um
Clint Westmoreland percorreu o aeroporto com o olhar em busca da esposa, cuja existência não sabia nada até cinco dias atrás.
Sua indignação não tinha diminuído desde que tinha lido a carta do Escritório de Investigação Estadual em que lhe notificavam que estava casado. Cinco anos atrás, no transcurso de uma missão especial, tinha tido que se casar. Por um engano, o Escritório não tinha realizado a anulação correspondente e, como resultado, Alyssa Barkley, sua companheira naquela operação, e ele... seguiam legalmente casados.
A ideia de estar casado fosse com quem fosse lhe espantava, e Alyssa, com quem havia falado por telefone, parecia tão afetada como ele pela notícia. Por isso, havia aceitado viajar a Austin e se apresentar com ele no Escritório para resolver a situação com a maior prontidão possível.
Clint olhou o relógio com impaciência. Era primeiro de fevereiro e tinha que se ocupar de receber um carregamento de cavalos selvagens. Quando em junho do ano anterior tinha anunciado no casamento de seu primo Ian que deixava a polícia do Texas, os rangers, seu primo Durango e seu cunhado, McKinnon Quinn, haviam lhe convidado a formar parte de seu milionário negócio de criação e domesticação de cavalos. Queriam fazê-lo sócio e que lhes ajudasse a expandir o negócio no Texas. Clint tinha aceitado a oferta imediatamente e desde esse momento se entregou ao seu novo trabalho de corpo e alma.
Olhou o relógio de novo e logo elevou o olhar se perguntando se reconheceria Alyssa. Haviam passado cinco anos e a recordava como uma moça, recém-saída da universidade onde se especializou em Direito Criminal. Havia interpretado com tal convicção seu papel de mãe desesperada por adotar um filho, inclusive ilegalmente, que a operação tinha sido concluída com êxito em menos da metade do tempo que a Agência tinha calculado.
Depois, tinham lhe enviado a outra missão e, pelo que tinha ouvido, ela tinha apresentado a demissão.
Como a conversa que tinham mantido uns dias atrás tinha sido breve, não tinha averiguado ao que se dedicava, e nem sequer lhe interessava especialmente. A única coisa que lhe importava era resolver o tedioso assunto da anulação o mais breve possível. Alyssa devia ter uns vinte e sete anos e por telefone havia lhe dito que seguia solteira.
O som de uns saltos lhe fez se voltar para uma mulher que caminhava para ele. Pestanejou. Tratava-se de Alyssa, tinha sofrido uma transformação. Embora no passado não fosse feia, tampouco a tinha achado particularmente atrativa. Certamente, não tão atrativa como à mulher que tinha em frente, a que podia imaginar sem dificuldade na capa de uma revista de moda. E pela maneira em que os homens se fixavam nela, era claro que se tratava de uma opinião compartilhada.
Alyssa seguiu caminhando para ele e Clint observou a sensualidade com a qual balançava os quadris, moldados em um jeans justo. Estava tão absorto em sua contemplação que não se deu conta do quão perto estava até que parou em frente a ele. Naquela distância, Clint apreciou cada detalhe de seu rosto: seus longos cílios, suas bochechas proeminentes, os lábios sensuais, o acobreado cabelo encaracolado e seus preciosos olhos marrons. E foi então quando ouviu sua sensual voz, em perfeita harmonia com o resto de suas feições.
—Olá, Clint. Aqui estou.
«Não mudou nada» Se disse Alyssa enquanto caminhava depressa para manter o passo de Clint a caminho do estacionamento. Era alto e levava o chapéu Stetson que formava parte de seu vestuário habitual. Mas seu rosto refletia uma maturidade que só alguém que se fixou muito em seus traços há algum tempo atrás conseguiria identificar.
Quando o viu pela primeira vez, pensou que era o homem mais bonito que havia visto em sua vida. Então já havia chegado à conclusão de que a perfeição de seus traços se devia às arrogantes rugas que rodeavam seus olhos e às covinhas que tinha nas bochechas. Além disso, seu queixo e suas bochechas pareciam esculpidas por um escultor, e seus lábios eram tão perfeitos que pareciam mais próprios de uma escultura do que de um homem de carne e osso.
Dizer que havia impressionado a jovem virgem, recém-licenciada, que era Alyssa naquele tempo, não faria justiça ao sobressalto que havia lhe causado.
—Tenho a caminhonete estacionada um pouco mais à frente. —disse ele.
Suas palavras interromperam os pensamentos de Alyssa, que o olhou.
—Vamos diretamente ao escritório central dos rangers? —perguntou, tentando desviar o olhar dos lábios de Clint.
Aqueles lábios eram uma tentação. Clint era um homem de poucas palavras, mas seus lábios eram dignos de ser contemplados. Era tão sensual que era impossível não pensar em prová-los. E fantasiar em beijá-los tinha se convertido em um sonho recorrente de Alyssa.
Muitas das agentes da corporação haviam sentido ciúmes quando ela foi escolhida para a missão. Tinha fama de reservado e Alyssa pensava que nem sequer era consciente de quantas mulheres o desejavam.
—Será melhor. —respondeu ele— Não acredito que leve muito tempo. Possivelmente menos de uma hora.
Alyssa teve a tentação de parar, pousar a mão em seu braço, elevar-se sobre as pontas dos pés e beijá-lo ousadamente. Só de pensar lhe acelerou o coração e teve que respirar profundamente para se concentrar no que Clint acabava de dizer.
Ela também confiava em acabar logo porque suspeitava que quanto mais tempo passasse com ele, mais possibilidade tinha de perder a cabeça. Além disso, não tinha levado consigo mais do que uma bolsa de viagem com uma muda. Assim que acabassem com os trâmites, iria a um hotel passar a noite e no dia seguinte voaria de volta a Waco.
—Como passou neste tempo, Alyssa?
Alyssa se voltou para Clint e, consciente de que tentava ser cordial, sorriu-lhe ao tempo que pensava que tinha a voz tão aveludada e sexy como ela recordava.
—Muito bem, Clint. E você?
—Não posso me queixar.
Pelo que Alyssa tinha ouvido comentar de seus amigos do departamento, Clint não mentia. Tinha deixado a Corporação e se dedicava com êxito à criação de cavalos em um grande rancho perto de Austin, que tinha herdado de um familiar próximo. E embora Alyssa sentisse curiosidade por saber o que tinha lhe feito deixar a polícia, não se atreveu a perguntar.
— Parece mentira que o departamento tenha cometido um erro tão grave e se limite a mandar uma carta para nos dizer que estamos casados. —comentou.
Tinham chegado à caminhonete. Clint lhe abriu a porta ao mesmo tempo em que encolhia os ombros.
—Inicialmente, resisti em acreditar. Vê-se que nenhum de nós dois esteve interessado em se casar.
Alyssa decidiu não contar que ela teria feito isso dois anos atrás se não tivesse descoberto a tempo o tipo de homem a quem estava prometida. Kevin Brady ainda não tinha perdoado que tivesse lhe deixado plantado no altar. Mas tampouco o tinha perdoado por ter se deitado com sua prima Kim uma semana antes das bodas.
Pela extremidade do olho, deu-se conta de que Clint a olhava e se perguntou se tinha intuído que escondia algo.
—Está muito mudada. —disse ele, fechando a porta e apoiando-se na janela. Alyssa não soube se tomava o comentário como um cumprimento ou como um insulto.
—Em que sentido?
—Não sei, diferente.
Alyssa sorriu ao comprovar que Clint seguia sendo um homem de poucas palavras.
—É que mudei. —admitiu.
—Em que sentido?
Alyssa riu.
—Vivo minha vida tal e como quero, e não como outros pensam que deveria vivê-la.
—Isso era o que fazia há cinco anos?
—Sim. —disse Alyssa. E decidiu não proporcionar mais informação.
Clint deve ter pensado que não tinha direito a fazer mais perguntas, já que rodeou a caminhonete e se sentou atrás do volante.
—Logo vai ser hora de comer —disse sem olhá-la— Quer tomar algo antes de ir ver o Hightower?
Lester Hightower era o capitão a cargo das operações secretas cinco anos atrás.
—Não, preferiria resolver isto o mais breve possível. —disse ela.
Clint a olhou com curiosidade.
—Precipitei-me antes ao assumir que não tinha intenção de casar? Está pensando em fazê-lo?
Alyssa o olhou e Clint sorriu de uma maneira que a desconcertou.
—Não é isso. O que ocorre é que odeio as surpresas e te asseguro que a carta que recebemos foi uma das maiores surpresas de minha vida.
Clint assentiu e desviou o olhar para pôr em marcha o veículo.
—Entendo, mas resolveremos sem problemas.
—Assim espero.
—Que demônios quer dizer com que não podemos anular o matrimônio? —gritou Clint.
Não dava crédito ao que Hightower acabava de dizer. Era a primeira vez que levantava a voz a seu antigo chefe, mas como já não era, Clint se sentia no direito a exigir uma resposta clara.
Olhou a Alyssa, que tinha ficado em pé e se apoiava na porta. Pela expressão de seu rosto, deduziu que ela também queria respostas. Clint franziu o cenho ao dar-se conta de que, desde que a tinha recolhido no aeroporto, tinha estado atento a cada um de seus movimentos e de suas reações.
—Há uma nova legislação, Westmoreland. —disse Hightower— Eu tampouco estou de acordo com ela, mas não posso fazer nada a respeito. Tentamos retificar o engano solicitando a anulação assim que nos demos conta, mas dado que aconteceu há muito tempo e que nenhum dos dois seguem trabalhando com a Corporação, o Escritório demorou a reagir.
—Isto é absurdo. —interveio Alyssa— Clint e eu nem sequer chegamos a viver sob o mesmo teto, o matrimônio nunca foi consumado, assim não teria por que haver nenhum problema em conseguir a anulação.
—E não haveria em circunstâncias normais, mas a mulher que está agora ao cargo do departamento, Margaret Toner, opina de outra maneira. Conforme tenho entendido, ela tem quarenta anos de casada e leva a instituição do matrimônio muito a sério. Pode ser que não coincidamos com seu raciocínio, mas não temos mais remédio que acatá-lo.
—Ao inferno! —exclamou Clint, indignado.
—Ao inferno ou ao céu, como quiser. —disse Hightower, deixando um documento sobre o escritório— Têm trinta dias. Toner concordou em lhes outorgar a anulação em trinta dias.
Nem Clint nem Alyssa abriram a boca. Os dois temiam dizer algo inapropriado, assim preferiram conter a cólera. Finalmente, resignando-se ao inevitável, Alyssa disse:
—Eu não gosto da idéia, Hightower, mas se não houver mais remédio… Afinal levo cinco anos sem saber que era uma mulher casada, não acredito que me passe nada por seguir sendo mais trinta dias. —concluiu, olhando a Clint de soslaio.
Ele franziu o cenho. Tampouco ia sofrer nada, mas não lhe agradava nem um pouco. Embora não tivesse adquirido a fama de Don Juan que tinha seu irmão Cole, gostava de ser solteiro. Entretanto, Alyssa tinha razão: trinta dias mais de um estado civil que desconheciam até fazia apenas uns dias, não mudaria suas vidas.
—Está bem, —disse a contra gosto— como diz Alyssa, trinta dias mais não podem nos fazer mal.
—Há um pequeno detalhe. —disse Hightower em um tom que inquietou Clint.
Tinha trabalhado com ele o bastante para detectar que algo não ia bem. Alyssa percebeu o mesmo, pois se separou da porta e se aproximou até ficar em pé, a seu lado.
—Que detalhe? —perguntou Clint.
Hightower os olhou alternativamente antes de responder.
—Para que o matrimônio se anule ao cabo de trinta dias, têm que cumprir com um requisito.
Clint sentiu que lhe dava um tombo o coração. Estava seguro de que não ia gostar do que estava a ponto de ouvir.
—E o que é que Toner quer que façamos? —perguntou, fazendo um esforço em manter a calma.
Hightower pigarreou antes de dizer:
—Ordenou que durante esses trinta dias, vivam sob o mesmo teto.
Capítulo Dois
Alyssa olhou a Clint de soslaio. Era evidente que estava furioso. Fazia vinte minutos que tinham saído do escritório de Hightower e Alyssa admitia que a levasse na caminhonete para tomar algo, mas Clint não se incomodou em dizer-lhe, pelo contrário, eram incontáveis às vezes que tinha resmungado algum impropério entre dentes.
Alyssa respirou profundamente, decidida a enfrentá-lo se fosse necessário.
—Tem que haver alguma solução. —comentou.
Clint lhe lançou um olhar gelado.
—Já ouviu o Hightower, Alyssa. Podemos interpor um recurso de apelação, mas se for negado, só teremos adiado cumprir os trinta dias de convivência.
«Cumprir trinta dias». Clint se referia a isso como se fosse uma condenação. E posto que significava passar esse tempo com ela, Alyssa não gostou de sua atitude. Tampouco ela estava contente com o que Hightower havia lhes dito, mas isso não justificava que Clint se comportasse como um grosseiro.
—Escuta, tampouco acho engraçado nada disto, mas se quisermos a anulação temos que fazer o que Toner exige e…
—Nem pensar! —balbuciou Clint, olhando-a com antipatia ao tempo que parava o carro no estacionamento de um restaurante— Tenho muito trabalho para dedicar trinta dias a te entreter.
Alyssa ficou furiosa.
—Me entreter? Vê-se que admite que virei viver contigo.
Clint se encolheu de ombros.
—É obvio.
Alyssa franziu o cenho. Clint soava tão seguro de si mesmo que lhe proporcionou um especial prazer contradizê-lo.
—Equivoca-te. Não tenho a menor intenção de permanecer em Austin contigo.
Clint entreabriu os olhos.
—E onde pensa ficar?
Alyssa lhe sustentou o olhar.
—A questão não é onde vou ficar, e sim onde você vai. Eu tenho a intenção de voltar para Waco, assim se pensa cumprir a condição de Toner, terá que vir comigo.
Suas palavras acabaram por deixar Clint nervoso.
—Me escute bem. Tenho um rancho para atender e não posso fazê-lo de Waco.
—Clint, não é o único que tem um negócio. Não vou deixar tudo para vir morar com você.
—Nem eu penso em me mudar a Waco. Seria uma estupidez.
Alyssa estava de acordo com ele, mas isso não conduzia a nada. Para viver trinta dias juntos, um dos dois teria que dar seu braço a torcer, mas nenhum dos dois parecia disposto a ceder.
—Está bem, o que sugere que façamos para conseguir a anulação? —perguntou finalmente: Clint tirou a chave do contato e disse: —Não sei. Mas penso melhor com o estômago cheio. —abriu a porta— Chegados a este ponto, só me ocorre sugerir que comamos algo.
Até o momento que a garçonete anotou o pedido, Clint estava seguro de que alguém tinha lhe jogado um mal olhado. Era a única explicação possível para que Alyssa Barkley tivesse aparecido em sua vida convertida em uma mulher tão atrativa que a idéia de viver com ela sob o mesmo teto lhe resultava inquietante. Mas tinha sido ranger tempo suficiente para saber quão complicado era resolver um problema burocrático. Alguém tinha cometido um engano durante a missão e não havia nada a fazer. De outra maneira, não seguiriam casados.
—Você é trigêmeo, não? —perguntou subitamente Alyssa.
Clint a olhou por cima do bordo da taça.
—Sim, como sabe?
Alyssa se encolheu de ombros.
—Todo mundo sabia nos rangers. Conheci seu irmão Cole. Era muito agradável. Também ouvi que tinha uma irmã.
—Sim. —respondeu Clint, pensando em Casey, que tinha se casado fazia uns meses— Por ordem de nascimento, eu sou o mais velho, logo vem Cole e logo, Casey.
—Cole segue trabalhando para a polícia do Texas?
Clint pensou que se Alyssa se animava a fazer tantas perguntas se devia ao fato de estar mais relaxada.
—Sim. —se limitou a responder.
Não a conhecia o bastante para lhe contar que Cole pensava deixá-los logo. Ia seguir seu exemplo e pedir um retiro antecipado. Ainda não tinha decidido o que fazer, ou se iria a Montana, como Casey, para estar perto de seu pai, o pai que os três tinham acreditado estar morto até poucos anos.
Bebeu um sorvo de café. Intuía que Alyssa tentava conseguir que relaxasse e deixasse de pensar no problema que os ocupava, mas antes ou depois teriam que tomar algumas decisões.
—Bom, Alyssa, voltemos para o nós Tem alguma sugestão?
Alyssa sorriu.
—Poderia voltar para Waco e esquecer que estamos casados. Como te disse antes, não planejo me casar em um futuro imediato. E você?
—Tampouco, mas ter uma esposa não é algo tão fácil de esquecer.
Havia algumas conseqüências que não podia permitir-se ignorar. Por exemplo, e se Alyssa decidisse em algum momento exigir, como sua esposa, a metade do que possuía? Tinha um negócio próspero e, depois de comprar a parte de Casey e de Cole, converteu-se no dono do rancho. Não podia arriscar-se a que sua “esposa” tentasse arrebatar aquilo que lhe pertencia.
Mas havia outra razão pela qual não conseguiria esquecer que tinha uma esposa: Alyssa era muito formosa e tinha um corpo muito perfeito. Só pensar nisso lhe elevava a temperatura do corpo. E posto que era evidente que não podia haver-se transformado da noite para o dia, não compreendia como não tinha notado cinco anos atrás. A única justificação possível era que naquela época só tinha olhos para Chantelle. Ela, entretanto, não tinha resultado ser mulher de um só homem.
—Tem que haver alguma maneira de solucioná-lo. —disse Alyssa com gesto de aborrecimento.
Zangada ou não, seus lábios eram voluptuosos e sensuais, e seus olhos negros, como o azeviche. Clint se perguntava se o tom acobreado de seu cabelo era natural, e sentiu uma pontada no estômago ao imaginar quão fácil seria averiguá-lo com apenas… Se removeu em seu assento para acomodar a pressão que sentiu na braguilha.
Ao dar-se conta de que Alyssa esperava uma resposta, apoiou-se no respaldo da cadeira.
—Tem razão. —disse— Só temos que encontrá-la.
Alyssa era consciente de que Clint a estava estudando, igual ela a ele. A tensão sexual entre eles era inegável, mas que Clint se sentisse atraído por ela não significava nada. Estava segura de que acontecia o mesmo com muitas outras mulheres. Depois de tudo, era um homem e, tal e como tinha lhe explicado seu tio Jessie para ajudá-la a superar Kim e Kevin, todos os homens sucumbiam ante os encantos das mulheres. Isso não explicava o comportamento de sua filha, Kim, que não tinha desculpa possível.
—Qual é seu negócio?
Alyssa elevou a vista e viu que Clint a olhava.
—Desenho páginas de web.
—Ah.
Alyssa franziu o cenho. Para Clint podia tratar-se de uma banalidade, mas era o sonho no qual tinha investido todo seu dinheiro e, embora não a tivesse feito milionária, proporcionava-lhe muitas satisfações.
—Para que saiba, é um negócio próspero e ganhei numerosos prêmios.
—Eu não disse o contrário —disse Clint, desconcertado.
Tinha razão, mas Alyssa seguia sem gostar de sua atitude.
—Escuta, Clint, nós dois estamos alterados pelo que ocorreu. O melhor será que descansemos e amanhã pela manhã voltemos a fala disso.
—Está bem. Vi que traz uma bolsa pequena.
—Sim. Pensava que solucionaríamos isto em um dia.
—Pode te alojar em minha casa. Há lugar de sobra.
Embora Alyssa agradecesse o convite, não lhe pareceu uma boa idéia.
—Obrigado, mas prefiro ir para um hotel.
—Como queira. —disse Clint.
A garçonete deixou ante ele um grande prato de comida e Alyssa o observou devorá-lo, ao tempo que se perguntava como era possível que não tivesse um grama de gordura em seu musculoso corpo se essas eram as porções que comia habitualmente.
—Por que me olha assim? —perguntou ele.
Ela se encolheu de ombros.
—Porque me assombra o quanto come. —disse. A garçonete deixou um sanduiche e uma tigela de sopa frente a ela.
Clint riu.
—Estou crescendo. Além disso, necessito de calorias. Faço um trabalho muito físico.
—O que é que faz?
Clint sorriu.
—Sou domador de cavalos. Tenho alguns homens em Nevada. Apanham cavalos selvagens e os mandam ao rancho. Logo, os envio a Montana, à empresa de cria de cavalos de meu primo e meu cunhado. Minha irmã trabalha com eles de treinadora.
—Um negócio familiar…
—Assim é.
Alyssa mantinha a vista fixa no sanduiche para evitar cruzar o olhar com Clint, pois cada vez que o fazia sentia uma corrente elétrica.
—Estou pensando em ter uma.
Alyssa olhou ao Clint desconcertada ao tempo que tentava ignorar a reação de seu corpo.
—Uma o que?
—Uma página Web.
Alyssa arqueou uma sobrancelha.
—Não tem uma?
—Não.
—Por quê?
—Do que me teria servido?
—Para promover seu negócio.
—Não necessito. Durango e McKinnon se ocupam da clientela.
—Quem são Durango e McKinnon?
Clint limpou os lábios com o guardanapo antes de responder.
—Durango é meu primo e McKinnon está casado com minha irmã.
—Se não tem necessitado de uma página Web até agora, por que quer uma?
Clint pareceu subitamente cansado de responder a suas perguntas.
—Para dar conhecimento da fundação que acabo de criar.
—Que fundação?
—A Fundação Sid Roberts. —como se quisesse adiantar-se a seguinte pergunta, Clint acrescentou— Era meu tio.
Alyssa abriu os olhos desmesuradamente.
—Sid Roberts era seu tio? —perguntou com incredulidade.
—Sim. —disse ele sem abandonar sua atitude displicente— Por que não acaba de comer? Está esfriando a sopa.
Clint suspirou aliviado por ter conseguido que Alyssa se calasse. Junto com sua irmã, Casey, deviam ser as duas únicas pessoas que consideravam que um sanduiche e uma tigela de sopa representavam um almoço completo.
Reclinou-se no respaldo da cadeira. A comida estava deliciosa e tinha o estômago cheio, assim já podia pensar. Isso não significava que seu problema tivesse uma solução simples. Por um lado, tentava-lhe a possibilidade de apresentar uma apelação e ver o que acontecia; por outro, desanimava-lhe intuir que só significaria um adiamento dos trinta dias de convivência.
—Não me disse por que criaste uma fundação em honra a seu tio —disse Alyssa.
—Não? —perguntou Clint, tenso.
Não recordava dela tão faladora. De fato, e embora seus dotes interpretativos tinham resultado excepcionais, tinha-lhe parecido uma jovem tímida e um tanto frágil para o trabalho de ranger.
Não pôde evitar fixar-se nos brilhos dourados que o sol arrancava de seu cabelo acobreado, e uma vez mais lhe inquietou sentir um comichão no estômago. Fazia meses, desde que começou a trabalhar com Durango e McKinnon, tinha decidido deixar sua vida social, e especialmente às mulheres, em um segundo plano.
—Não. —disse ela sem alterar-se pela frieza de seu tom.
Clint demorou para responder.
—O que sabe de Sid Roberts? —perguntou finalmente.
Ela sorriu.
—Só o que tenho lido nos livros de história e o que me contou meu avô.
—Seu avô? —perguntou Clint, arqueando uma sobrancelha.
—Sim, era um grande fã de Sid Roberts. Segundo ele, chegaram a coincidir no circuito dos rodeios. Sei que o senhor Roberts foi uma lenda em seu tempo, primeiro como estrela do rodeio e depois como treinador de cavalos.
—O tio Sid adorava aos cavalos e nos transmitiu esse amor, a mim e a meus irmãos. Em sua honra, convertemos uma grande porção de nossa propriedade em uma reserva de cavalos selvagens.
—Para que se incomodam em mudá-los de um lugar a outro? Por que não os deixam em Nevada?
Clint franziu o cenho.
—Porque muitos deles ocupam zonas que se necessitam para uso público. E está a ponto de ser aprovada uma lei que permitirá sacrificá-los.
—Isso é espantoso! —exclamou ela, indignada.
—Assim é. —disse ele, que cada vez que falava daquele tema tinha que controlar-se para não ir às nuvens de ira— Por isso criei a fundação: para trazer o maior número de cavalos possível.
Uma vez mais, ficou consciente de que tinham abandonado o assunto que deviam dedicar sua energia e decidiu voltar para ele.
—Alyssa, o que vamos fazer a respeito de nosso matrimônio?
Ela franziu o cenho.
—Falas disso como se fosse real quando não é.
—Não é a mim, e sim a Toner a quem tem que convencer. Pode ser que tenha chegado o momento de que aceitemos que, seja de quem seja a culpa, o certo é que somos marido e mulher.
Alyssa ia protestar, mas sabia que Clint tinha razão.
—De acordo, agora que encheu o estômago, o que sugere?
—Não vai gostar.
—Se for o que imagino, suponho que não.
Clint suspirou profundamente.
—Temos outra alternativa?
Alyssa sabia que não, mas mesmo assim…
—Tem que havê-la.
—Segundo Hightower, não. Você ouviu.
—E por que não lutamos?
—E por que não fazemos o que nos pedem e resolvemos o assunto?
Alyssa mordiscou o lábio inferior.
—Está bem, mas isso não resolve o problema de onde nos estabelecer, se aqui ou em Waco.
Estava consciente de que estava sendo pouco cooperativa. Clint tinha que estar no rancho para dirigi-lo, enquanto que ela podia trabalhar de qualquer parte enquanto contasse com um computador e acesso a Internet.
—Alyssa, compreendo que prefira trabalhar em Waco, mas se te proporcionasse tudo o que necessita, poderia fazê-lo daqui? —perguntou Clint.
—Sim. —disse ela, em um exercício de honestidade.
—E está disposta a fazê-lo? —perguntou ele— O rancho é muito agradável e eu quase não estou em casa, assim não te importunarei.
Inclinando a cabeça, Alyssa o estudou atentamente. Por mais que não gostasse, tinha sentido que fosse ela que mudaria. Além disso, seria a maneira mais rápida de resolver o problema e que cada um retomasse sua vida anterior. Mesmo assim…
—Não tem namorada fixa? —perguntou.
—Nem fixa nem intermitente. Não tenho tempo.
Alyssa arqueou uma sobrancelha. Não compreendia por que os homens pensavam que tinham que «fazer um oco» às mulheres, nem por que valorizavam sua privacidade acima de tudo.
—E você? —perguntou Clint— Há algum homem importante em sua vida?
Alyssa pensou nas esporádicas chamadas que recebia de Kevin lhe suplicando que voltasse com ele quando, graças às insinuações de Kim, ela sabia que seguiam vendo-se ocasionalmente.
—Não. Me ocorre a mesma coisa que você: não tenho tempo.
Clint assentiu.
—Então, não há nenhuma razão que nos impeça de fazê-lo.
Alyssa não chegava a estar plenamente convencida. Nesse caso, disse:
—Preciso dormir.
—Muito bem, importaria de dormir no rancho? —perguntou Clint— De passagem, poderá decidir se estará disposta a viver nele.
Alyssa teria preferido não fazê-lo, mas Clint tinha razão. Estava acostumada a viver na cidade, e precisava comprovar se poderia adaptar-se a viver no campo.
—Está bem, Clint. Dormirei no rancho e pela manhã te darei uma resposta.
Clint inclinou a cabeça.
—Isso é tudo o que te peço
Capítulo Três
—Sabe montar a cavalo?
Alyssa olhou a Clint de soslaio. Encontravam-se de novo na caminhonete e estar presa com ele em um espaço tão reduzido lhe fazia novamente consciente de quão atrativo era. Suas feições, suas fortes mãos agarrando o volante… tudo nele destilava masculinidade.
—Alyssa?
Alyssa se sobressaltou ao dar-se conta de que não tinha respondido.
—Sim e não. —disse.
Clint a olhou desconcertado.
—Ou sabe ou não sabe.
—Não acho. Há outra opção: sei montar, mas prefiro não fazê-lo.
—Por quê?
—Porque os cavalos têm um ressentimento contra mim.
Clint riu.
—Isso só é possível se não tiver aprendido a se relacionar com eles. Os cavalos são muito intuitivos. Detectam seus medos, sua personalidade. São os animais mais simples do mundo.
—Claro, você os doma… —Alyssa olhou pela janela e admirou a paisagem, que se fazia mais formosa quanto mais se afastavam da cidade.
—Opinaria o mesmo se não os domasse. Se ficar no rancho, garanto que acabarão por gostar de você.
—Não disse que eu não gosto, Clint. Mas me atiraram ao chão vezes suficientes para me dar por vencida.
Clint se voltou a rir.
—Se eu tivesse deixado de montar pela quantidade de vezes que me atiraram, o teria deixado faz anos. Cair faz parte disso.
Alyssa escutou, mas suas palavras não lhe fizeram mudar de opinião.
A caminhonete parou e olhou a Clint. Este a estava observando de uma maneira que lhe acelerou o pulso.
—O que foi? —perguntou com um fio de voz.
Clint se sobressaltou como se só então ficasse consciente de estar olhando-a.
—Nada. —resmungou.
Alyssa teve que morder língua para não o contrariar e lhe dizer que claro que passava algo e que ela também tinha percebido. Olhou de novo pela janela e se disse que viver perto dele não ia ser nada fácil. Teria que confiar em que, tal e como Clint lhe tinha explicado, passaria a maioria do tempo trabalhando e se encontrariam o menos possível.
—O que parecerá a sua família?
Alyssa olhou ao Clint. Felizmente, ele olhava à frente e pôde amenizar as sensações que seus olhos despertavam nela.
—O que? —perguntou enquanto se dizia que gostava da voz de Clint mais do que lhe convinha.
—Que vai viver um tempo comigo no rancho. Se é que se decida a fazê-lo…
Alyssa suspirou. Não valia a pena explicar que para alguns membros de sua família, seria um alívio perdê-la de vista durante um tempo. Essa era a principal vantagem daqueles trinta dias. Passar algum tempo fora de Waco lhe faria bem. E para Kim não bastava ter arruinado seu casamento. Parecia disposta a impedir que a vida de Alyssa melhorasse.
—Não, não acredito que importe a ninguém. —disse finalmente— E aos teus?
Clint sorriu e uma chama se acendeu no interior de Alyssa.
—Pra minha família está bem tudo o que faço. Meus irmãos e eu somos muito unidos, mas não nos misturamos na vida dos outros. —riu baixo e sua risada foi como uma carícia para Alyssa. — Bom, Cole e eu nem sempre fomos tão respeitosos com Casey. A considerávamos nossa responsabilidade, sobre tudo no relativo a namorados. Mas agora que se casou com McKinnon, as coisas mudaram.
—Estão há muito tempo casados?
Clint sacudiu a cabeça.
—Desde o final de novembro. McKinnon é um grande cunhado.
Alyssa sorriu.
—Isso é um cumprimento.
—É a verdade. E isso que Cole e eu simpatizamos. Casey pode ser incrivelmente teimosa.
—Seu irmão e sua irmã são sua única família?
—Isso acreditávamos até recentemente. Minha mãe viveu no rancho do tio Sid quando seu marido supostamente morreu em um rodeio e ela ficou sozinha e grávida de trigêmeos.
Alyssa o olhou desconcertada.
—Supostamente?
—Isso é o que nos disseram o tio Sid e ela, mas na realidade nosso pai estava vivo. Minha mãe pensou que fazia um favor não lhe contando que estava grávida. E assim foi como Cole, Casey e eu crescemos acreditando que éramos órfãos de pai.
—Quando se inteiraram da verdade?
—Minha mãe decidiu confessar tudo pouco antes de morrer.
Alyssa pensou imediatamente na confissão de seu avô, também no leito de morte. Tinha-lhe contado que era seu pai biológico e não seu avô. E com isso sua vida tinha dado um tombo.
—E o que aconteceu depois?
Clint a olhou de uma maneira que Alyssa interpretou imediatamente porque lembrou a que estava acostumado a lhe dirigir seu avô quando pensava que fazia muitas perguntas.
—Cole e eu decidimos procurá-lo e manter uma relação com ele apesar de que supúnhamos que não seria fácil. Depois de tudo, não sabíamos como reagiria ao saber que tinha três filhos de quase trinta anos.
Sabendo que Clint tinha trinta e dois anos, Alyssa deduziu que não fazia muito tempo que tinha acontecido aquilo e que devia ter passado mais ou menos ao tempo do seu próprio descobrimento sobre seu pai.
—Localizaram-no?
Clint riu.
—A ele e a um montão de primos. De repente nos encontramos no meio de uma família do Westmoreland que nos deu a boa-vinda com os braços abertos. Foi incrível.
Alyssa alegrou que tudo tivesse saído tão bem, mas se deu conta de que Clint não tinha mencionado Casey.
—Como reagiu sua irmã ao encontrar-se com seu pai?
Sentia curiosidade. Em seu caso, quando soube que Isaac Barkley não era seu avô e sim seu pai, pensou que queria ter sabido com antecedência. Se tivesse sido assim, muitas das coisas que lhe resultavam incompreensíveis de sua família teriam adquirido sentido. E Isaac e ela poderiam ter enfrentado juntos ao ciúmes e ao ódio de outros. Mas ele tinha morrido, deixando-a sozinha.
—Para ela foi mais difícil. Custou-lhe aceitar que mamãe nos tivesse enganado durante tantos anos. Mas agora tem uma grande relação com nosso pai e, de fato, mudou-se para Montana para estar perto dele. Ali conheceu McKinnon.
Alyssa suspirou. Em parte, ansiava apaixonar-se, mas sabia que isso não seria possível enquanto Kimberly Barkley seguisse decidida a impedir que fosse feliz.
—Esta é a entrada do rancho, Alyssa.
Alyssa se inclinou para frente para ver melhor pelo pára-brisa e a beleza da vista que os rodeava lhe cortou a respiração. Ela tinha vivido muito feliz em um pequeno rancho em Houston durante os treze primeiros anos de sua vida, até que um dia, da noite a manhã, sua mãe a tinha mandado viver na cidade com seu avô.
—É maravilhoso, Clint! Quantos quilômetros tem? —olhasse onde olhasse, viam-se cadeias montanhosas, planícies e amplas pradarias. Devia ser maravilhoso ver aquela paisagem diariamente.
—Uns vinte mil hectares. Embora o tio Sid fosse um sedutor, nunca chegou a casar-se, assim deixou o rancho a meus irmãos e a mim.
Alyssa assentiu. Não queria parar pra pensar em quão maravilhoso seria não temer que Kim se apresentasse em qualquer momento em sua casa para lhe fazer a vida impossível.
Clint parou a caminhonete e, ao olhá-lo, Alyssa viu que sorria.
—Quero te mostrar algo. —disse ele. E depois de descer do veículo a conduziu até a beira de um precipício. — Olhe. —disse, assinalando.
Ela obedeceu. Só então viu a casa, ao fundo do vale. Era enorme e estava rodeada por vários celeiros e outros edifícios. Via-se um curral cheio de cavalos e apenas se distinguiam alguns homens trabalhando com eles.
—É impressionante, Clint! —disse Alyssa, girando-se para ele.
Só então se deu conta do perto que estavam um do outro, do calor que emanava de Clint e do acariciador olhar com o que a estava observando. Alyssa foi dar um passo atrás, mas ele a tomou pela cintura. Embora ela não soubesse se fazia isso para evitar que tropeçasse ou para retê-la, o certo foi que sentiu que seu tato a queimava através da blusa. Alyssa deslizou o olhar dos olhos de Clint até seus lábios, a parte de seu corpo que sempre a tinha fascinado. Sempre tinha se perguntado o que sentiria se os beijasse, imaginando que seu toque seria suave inicialmente para logo voltar-se exigente e voraz.
Ela nunca tinha sido especialmente ousada, mas seu avô tinha lhe ensinado a conseguir aquilo que queria. E isso foi o que decidiu fazer naquele mesmo instante. Clint estava se inclinando para ela ou possivelmente só imaginava, mas para certificar-se, Alyssa foi para frente e apoiou as mãos no peito dele.
O primeiro toque de seus lábios ativou vários centros de prazer em Alyssa. Quando ela entreabriu os seus, Clint entrou em sua boca. Era quente, tinha sabor de homem. E Alyssa se deixou levar por seu beijo como se seu dever fosse aceitá-lo. Entrelaçaram suas línguas, alcançaram cada canto da boca do outro e em um movimento que Alyssa não teria acreditado possível, Clint colocou a língua ainda mais profundamente em sua boca para que ela, instintivamente, a sugasse e acariciasse com a sua. Aquele beijo continha tudo: a solicitude de reciprocidade e a promessa da plenitude. E a intensidade que Clint estava pondo nele convertia a tranqüila existência dos dois últimos anos de Alyssa em uma perda de tempo e de energia.
Embora logo se arrependesse, estava disposta a desfrutá-lo até o final. E por mais que se dissesse que era uma loucura e que não tinha sentido que aquilo acontecesse no primeiro dia que viu Clint depois de cinco anos, o certo era que todo seu corpo reagia aprovando o que estava fazendo.
Clint rompeu o beijo bruscamente. Tomou ar a baforadas e se concentrou em dominar a pressão em sua virilha. Como tinham chegado a esse ponto? Onde estava o férreo controle pelo qual era conhecido? O que tinha ocorrido com sua determinação de evitar tudo aquilo que pudesse alterar sua calma?
Guardou silêncio sem se afastar de Alyssa, olhando-a enquanto tentava frear seu acelerado coração. Havia lhe devolvido o beijo com a mesma paixão com que ele o tinha dado. Inicialmente, a pouca experiência que tinha mostrado o tinha desconcertado, mas aprendia rápido, e assim que ele tinha posto em ação sua língua, ela não tinha titubeado em fazer o mesmo.
—O que aconteceu, Clint? —perguntou ela finalmente em voz baixa.
Alyssa o olhava ao tempo que umedecia os lábios e a sensualidade do gesto fez que formasse um nó no estômago de Clint.
—O mesmo poderia perguntar eu a ti. —resmungou ele— Foi um beijo compartilhado, não forçado por mim.
Pensou que Alyssa negaria, mas não foi assim. Limitou-se a separar-se dele e voltar a olhar para o rancho.
—Prometo que manterei meu desejo sob controle os próximos trinta dias. —se adiantou a dizer ele.
Alyssa nem falou nem se moveu durante uns segundos. Logo, voltou-se para ele e Clint se sentiu sacudido por um desejo que não recordava haver sentido nunca.
—Poderá? —perguntou finalmente ela.
Clint a olhou fixamente. Custava concentrar-se em suas palavras.
—Que se posso o que?
—Dominar seus impulsos durante um mês. —Clint a viu enquadrar-se e respirar como se ela também tivesse que recuperar o domínio da situação. Seus olhos adotaram uma expressão solene— Tenho que saber antes de decidir se posso ficar ou não.
Clint franziu o cenho. Temia-lhe? Aproximou-se dela com passo firme e, lhe obrigando a olhá-lo aos olhos, disse:
—Deixa que te esclareça uma coisa, Alyssa. Não tem nada com o que se preocupar. Respeitarei os limites que ponha. Se não tem uma mulher em minha vida é porque não a necessito. Minha vida é isso que vê aí abaixo. Você é minha esposa só no papel e não penso esquecê-lo. Depois de trinta dias, quero que vá. Não tenho tempo para manter uma relação. O único duradouro em minha vida são o rancho e a fundação. Não necessito nada mais.
—E por que me beijou? — Alyssa não pôde evitar perguntar.
Clint viu que seus olhos cintilavam e que tomou suas palavras como uma ofensa.
—Suponho que nos beijamos. —disse lentamente —por uma mescla de curiosidade, necessidade e desejo. É melhor que tenhamos posto a prova as três coisas antes de chegar a casa. Te asseguro que não voltará a acontecer.
Alyssa franziu o cenho. Não lhe convencia a maneira que Clint falava. Tinha achado seu beijo tão decepcionante que estava seguro de não voltar a ter a tentação de repeti-lo? Kim sempre havia lhe dito que não era atrativa aos homens, ou que não era capaz de sentir prazer nem que lhe obrigassem a experimentá-lo.
Mas Clint acabava de demonstrar que sua prima era uma mentirosa. Seus lábios tinham lhe deixado saber sem nenhum tipo de dúvidas o que era o prazer. E tinha estado a ponto de afogar-se nele.
—Depois disto, está disposta a vir ao rancho comigo… —perguntou Clint, a tirando de seu ensimesmamento —ou prefere que te leve pro hotel?
—Ainda não decidi o que vou fazer. —disse ela, lhe lançando um olhar irado.
—Só quero que esteja segura do que faz.
Sob a aparente calma de Clint, Alyssa intuiu que se impacientava com facilidade. Também tinha percebido durante o jantar. Voltou o olhar para o vale e logo olhou de novo ao Clint.
—Ao menos por esta noite me alojarei no rancho.
—Então, será melhor que vamos. Tenho muito que fazer.
Já na caminhonete, Clint pôs o motor em marcha e Alyssa olhou pela janela. Acabava de receber uma demonstração do que significava a palavra «paixão» das mãos de seu «marido». E ela se entregou sem opor resistência. Por algum estranho motivo, podia intuir uma faceta rebelde no Clint que provavelmente ele mesmo desconhecia. Alguma coisa selvagem que ela tinha percebido em seu beijo. Se não se equivocava, Clint reprimia uma grande paixão que, se alguma vez a liberasse, poderia ter conseqüências devastadoras. E o dia que isso acontecesse, haveria alguma mulher capaz de domar Clint Westmoreland? Alyssa duvidava.
Capítulo Quatro
Se de longe o rancho parecia grande, ao estar diante dele se apreciava o realmente espaçoso que era. Clint confiava em que Alyssa se convencesse de que podiam viver ali quatro semanas sem necessidade se verem.
Abriu-se a porta principal e Chester saiu a recebê-los. Há anos, era cozinheiro, mordomo e, ocasionalmente, quando havia muito trabalho no rancho, peão. Media quase dois metros e pesava mais de cem quilos. Em seus sessenta e cinco anos, podia parecer intimador, mas na realidade era tão doce e amável como um urso de pelúcia.
Clint sabia que Chester se considerava o pai adotivo dos trigêmeos. Nunca deixava passar a ocasião de dizer que tinha ajudado ao doutor Shaw a assistir o parto dos irmãos. Aparentemente, isso lhe dava direito a acreditar que sabia melhor que eles o que lhes convinha. Tinha sido Chester quem tinha insistido que Cole e ele localizassem seu pai. E desde que Casey estava felizmente casada, tinha começado uma campanha para conseguir que Cole e ele a imitassem. Em sua opinião, o matrimônio era uma bênção da qual ele tinha desfrutado durante trinta anos, até que, não fazia muito tempo, sua adorada Ada havia falecido.
Clint se deu conta de que Chester estava avaliando Alyssa. Provavelmente tratava de decidir se era o bastante forte para suportar as dificuldades da vida em um rancho, e se tinha suficiente personalidade para lhe dirigir a ele. Segundo Chester, o rancho Golden Glade necessitava de uma mulher forte fisicamente, e com caráter.
Clint tinha lhe explicado pela manhã o engano cometido pela agência. O que ainda não sabia, e ao Clint horrorizava era ter que dizer-lhe que teriam que passar trinta dias juntos no rancho para conseguir o divórcio.
—Já te disse antes, Clint, mas sua casa é maravilhosa. —disse Alyssa.
Clint afastou os olhos de Chester para olhá-la. O sol iluminava seu perfil e o suave brilho que proporcionava a suas feições fez recordar quão deliciosos eram seus lábios. Até naquele instante, apesar da promessa que tinha lhe feito, seu maior desejo era devorar sua boca e deleitar-se com seu sabor.
Alyssa olhou em sua direção e lhe formou um nó no estômago. Não gostava do que o fazia sentir. Consciente de que Alyssa esperava uma resposta, disse:
—Obrigado. Permita que te apresente ao Chester. Logo, te mostrarei a casa.
Chester baixou os degraus da escada direto para Alyssa, tomou a mão e sorriu.
—Bem-vinda ao Golden Glade. Então é a esposa do Clint. É um prazer te acolher. —sem lhe dar tempo a responder, acrescentou— Você é o que Clint necessita.
Clint queria esbofeteá-lo.
Alyssa ficou estupefata. Que estivessem casados não era mais que um engano burocrático que precisava ser retificado, mas o comentário de Chester lhe fez consciente da seriedade do problema e de quão importante era resolvê-lo com a maior prontidão possível.
Como não estava segura do que responder, decidiu passar por cima ao referente estado civil.
—É um rancho precioso. —olhou de soslaio a Clint e viu que franzia o cenho. Também a ele devia lhe haver inquietado que Chester lhe recordasse sua situação.
—Obrigado. Clint é o principal responsável pra que assim seja. —disse Chester— Mas já lhe disse um sem fim de vezes que o que este rancho precisa é…
—Alyssa, este é Chester, cozinheiro, mordomo… —o interrompeu Clint.
Sem alterar-se, Chester assentiu antes de continuar como se nada tivesse ocorrido:
—Este rancho necessita um toque feminino.
Alyssa sentiu que a cabeça lhe dava voltas de uma vez que se perguntava se Chester saberia que seu matrimônio não era mais que um papel. Olhou a Clint de soslaio, mas ele mantinha uma expressão impenetrável.
—Prazer em conhecê-lo, Chester. —disse, decidindo que não lhe correspondia intrometer-se na relação entre Clint e seus empregados.
Chester lhe dedicou um amplo sorriso.
—O prazer é meu. Permita que te mostre a casa.
—Não, eu a vou mostrar.
Alyssa e Chester se voltaram para Clint.
—Acreditava que tinha muito trabalho. —disse Chester.
Alyssa tinha pensado exatamente o mesmo. Viu que Clint se encolhia de ombros.
—Posso fazê-lo mais tarde. —disse.
Alyssa olhou a Chester e, por um instante, acreditou apreciar um brilho malicioso em seus olhos.
—Como queira. —disse Chester— Assim começarei a preparar o jantar. —e após sorrir uma última vez a Alyssa, partiu.
—Primeiro acompanharei a seu dormitório e logo te mostrarei o resto da casa. —disse Clint.
Alyssa girou e o viu aproximar-se da caminhonete a recolher suas coisas. Era inegável que tinha uma maneira sensual de caminhar.
Como se tivesse notado que o observava, Clint se voltou.
—Está bem, Alyssa? —perguntou com cara de preocupação.
Alyssa teve a súbita necessidade de abraçar-se para proteger-se da intensidade de seu olhar. Era a primeira vez desde que seu avô tinha morrido que alguém se preocupava com ela.
—Sim. Obrigado por perguntar. —disse.
Clint se limitou a assentir antes de abrir a porta da caminhonete, pegar a bolsa de viagem e voltar junto a ela. Alyssa estava consciente de que se sentia tão incômodo com a situação como ela. Mas encontrariam a maneira de superá-la. Cinco anos atrás, tinha aprendido que Clint Westmoreland era capaz de lutar com qualquer dificuldade que lhe apresentasse. Sua força tinha despertado sua admiração.
—Venha por aqui. —disse Clint.
Deteve-se diante dela e sua proximidade lhe alterou a respiração. Tragou saliva para dominar-se. No transcurso de sua missão, tinham tido que passar um tempo juntos. Durante uma semana completa inclusive tinham compartilhado o quarto de um hotel, mas, chegado o momento de dormir, ele ocupava o sofá e ela a cama. Se tinham sido capazes de conviver em um espaço tão reduzido, também poderiam fazê-lo naquela grande casa. A única diferença era que no passado, embora tenha achado Clint atrativo, sua presença não a tinha turbado como no presente. Era como se de repente ficasse consciente de sua sexualidade. Antes, tinha-o admirado como homem, mas ao contrário do que lhe acontecia naquele momento, olhá-lo não lhe cortava a respiração. E isso a fazia questionar-se como ia superar os trinta dias de convivência que tinha pela frente.
Clint abriu a porta e passou para um lado para lhe deixar passar. Alyssa sentiu um formigamento no estômago provocado pela intuição de que sua vida mudaria a partir do momento que cruzasse a soleira daquela casa.
Com tensão, Clint viu Alyssa entrar em seu lar. Não recordava ter sido tão consciente da presença de uma mulher em toda sua vida. Até seu perfume parecia haver-se gravado nas células de seu cérebro.
Para tranqüilizar-se teve que recordar que só tinham que estar juntos trinta dias. Seu trabalho no rancho levava quase todo o dia. Precisava manter a mente ocupada com seus afazeres. Só tinha tempo para o rancho e para manter viva a memória de seu tio.
Seus pensamentos voltaram para Alyssa ao vê-la deter-se no meio do salão e olhar a seu redor. Parecia assombrada, sem fala.
—É incrível…! —murmurou finalmente.
—Uma decoradora profissional se ocupou de tudo. Especialmente dos dormitórios de convidados.
—Recebe muitos convidados? —perguntou ela, olhando-o de soslaio.
Clint riu.
—Sim. A família Westmoreland é muito grande e adoram passar por aqui. Como te contei antes, tenho um montão de primos que, ao inteirar-se de que Cole, Casey e eu existíamos, acolheram-nos calorosamente. —olhou o relógio— Vamos a seu dormitório para que possa te refrescar. Logo te mostrarei o resto.
Uns minutos mais tarde, Alyssa acariciava com dedos trêmulos os magníficos móveis de seu dormitório. Devia haver uns dez dormitórios de convidados. Clint a tinha explicado que a seu tio adorava receber visitas. E a amplitude e distribuição da casa tinha permitido destinar numerosas habitações a dormitórios. A porta principal dava a um grande vestíbulo que acessava a um enorme salão. Também a uma cozinha e a uma sala de jantar para as ocasiões formais.
A casa tinha quatro alas que partiam do salão, cada uma delas correspondendo-se com os pontos cardeais. O dormitório de Clint era enorme e estava situado na ala norte. Alyssa apenas pôde lhe jogar uma olhada, mas tinha lhe parecido precioso.
A beleza de cada canto da casa era indescritível. Era evidente que Clint tinha um gosto delicioso pelas coisas caras e que estava disposto a gastar o dinheiro que fosse necessário para obtê-las.
Clint a tinha deixado sozinha para que se instalasse e Alyssa tentou aprazar o acelerado ritmo de suas pulsações, respirando profundamente para desfazer o nó que tinha formado no estômago.
Olhou para sua bolsa de viagem. Só continha uma nécessaire, uma muda e uma grande camiseta que fazia as funções de camisola. Se decidisse ficar, teria que ir pegar mais coisas em Waco. Imaginava que seus amigos teriam começado a perguntar-se onde estava. Só sua tia Claudine conhecia o destino e o motivo de sua viagem. Alyssa riu ao imaginar quão encantada estaria sua tia avó de sessenta anos ao ser o único membro de sua família conhecedor de seu segredo.
Acabava de colocar suas coisas em uma gaveta quando Clint bateu na porta. Uma chamada a sua tia Claudine a tinha intranqüilizado quando esta lhe informou que Kim começava a fazer perguntas.
Para ouvir que Clint chamava de novo, cruzou a habitação para abrir a porta.
—Havíamos combinado de que viria por ti. Está pronta?
Alyssa o olhou nos olhos e se sentiu apanhada por eles. Logo, deslizou o olhar para seus lábios e pensou no beijo que deram e no fogo que tinha sentido em seu interior quando suas línguas tinham entrado em contato.
Por um instante pensou que não devia ir com ele a nenhuma parte. Nem sequer sabia se poderia mover-se, pois se sentia paralisada. Mas de repente recordou que tinha decidido que nenhum homem voltaria a ter poder sobre ela. Kevin tinha lhe ensinado uma lição que não pensava esquecer. Estudou de novo as feições de Clint, sem conseguir interpretar sua expressão.
—Clint…
—Sim?
Clint deu um passo para frente e Alyssa teve que elevar a cabeça para olhá-lo. Era tão alto e tão bonito… Mas franzia o cenho com gesto de preocupação.
—O que acontece? —perguntou ela, deixando que as palavras escapassem de sua boca sem tentar detê-las.
Clint se encolheu de ombros com indiferença.
—Diga-me isso você.
Clint tinha razão. Era ela quem havia dito seu nome, mas ao ver como a olhava, tinha acelerado o sangue e tinha esquecido o que ia dizer. De repente o recordou:
—Se está ocupado, posso dar uma volta eu sozinha.
—Não estou muito ocupado, assim, te acompanharei.
Alyssa notou que seu gesto se pôs mais sombrio e teve a sensação de que se arrependia de havê-la convidado a passar a noite.
Depois de percorrer a casa, desceram a escada principal para o jardim. Os entusiastas comentários de Alyssa tinham adulado Clint, e isso que nunca tinha dado importância à opinião alheia.
—Sua irmã vem freqüentemente?
Clint olhou a Alyssa. Parecia mais baixa e, jogando uma rápida olhada, comprovou que tinha trocado os sapatos de salto por uns esportivos, o qual demonstrava que era uma mulher com sentido comum. O campo e os saltos não faziam uma boa combinação.
—Desde que foi para Montana veio em uma só ocasião, para fazer o vestido de noiva. A senhora Milhar, a costureira do povo, sempre havia dito que queria ser ela quem o desenhasse se alguma vez chegasse a casar-se. —explicou. A pergunta de Alyssa lhe fez recordar algo— mas ela e McKinnon vão vir em um par de semanas. Por que?
Alyssa se encolheu de ombros.
—E Cole?
Clint a olhou de soslaio.
—O que têm Cole?
—Vive aqui?
—Não. Tem uma casa na cidade, mas quase sempre está fora, destinado em uma ou outra missão. —Clint achou adivinhar por que Alyssa fazia aquelas perguntas— Se preocupa o que meus irmãos possam pensar sobre nossa situação, relaxe. Não farão perguntas. —ao ver o olhar de desconfiança que Alyssa lhe dirigia, acrescentou— E não é porque trago muitas mulheres para rancho, mas sim porque respeitam minha privacidade. Além disso, nós não fizemos nada mau.
—Então, pensa lhes dizer a verdade sobre mim?
—Que é minha esposa?
—Sim.
Clint a olhou nos olhos.
—Por que não iria dizer? Além disso, se Chester soube, eles saberão logo. Está empenhado que necessito de uma esposa.
—O que lhe faz pensar isso?
—Teme que, como o tio Sid, dedique-me tanto ao rancho que não sobre tempo para manter uma vida social ou criar uma família. Fará algo para me convencer.
Guardaram silêncio durante uns minutos, mas para Clint não passaram desapercebidas os olhares de aprovação que os peões lançavam a Alyssa e ficou consciente de que lhe irritava.
—Este lugar é enorme! —exclamou Alyssa para abandonar um tema que era muito incômodo.
Clint agradeceu.
—Sim. —replicou.
—Tem muitos trabalhadores?
—Mais de cem. Como te disse, podem passar dias inteiros sem que tenhamos que nos ver. —para ele, isso seria o melhor. A última coisa que precisava era obcecar-se com uma mulher— Voltamos? —perguntou. E a viu retirar uma rebelde mecha de cabelo para trás.
—Sim… E obrigado por se fazer de guia.
Enquanto caminhavam lentamente para a casa em silêncio, Clint se indignou consigo mesmo por não ser capaz de esquecer as sensações que tinham lhe transmitido os lábios e a língua de Alyssa. Só recordá-lo fazia sentir uma pressão na virilha. Seu corpo lhe advertia que levava muito tempo sem deitar-se com uma mulher.
Havia dito a Alyssa que dominaria seus instintos sem dificuldade, mas ele mesmo não estava tão seguro de obtê-lo. Mesmo assim, estava decidido a manter uma vontade de ferro para cumprir sua promessa. E embora o desejo o consumisse por dentro, saber que havia algo que podia complicar sua vida, era uma esposa, lhe ajudaria a superar a tentação.
Capítulo Cinco
—Te advirto isso, Alyssa, essa garota não tem boas intenções.
Alyssa trocou o telefone de lado. Sua tia Claudine estava acostumada a fazer esse tipo de comentários sobre Kim, e não lhe custava acreditá-la.
Fazia meses que não sabia nada dela. Desde o dia em que sua prima tinha conseguido sabotar um de seus projetos mais ambiciosos, no qual tinha investido uma grande quantidade de tempo e de dinheiro. Como de costume, Kim havia negado tudo e Alyssa não tinha podido provar suas acusações.
—Estou segura de que tem razão, tia Claudine, mas não posso fazer nada. Já conhece a Kim, é uma caixa de surpresas.
Umas surpresas que normalmente prejudicavam Alyssa. O repertório de Kim era inesgotável e incluía a sabotagem de seus projetos mais importantes a deitar-se com seu prometido e logo incomodar-se em lhe enviar por mensageiro as fotografias que o provavam, momentos antes de que Alyssa partisse para a igreja.
Os problemas com Kim tinham começado no mesmo dia em que Alyssa chegou a casa dos Barkley para viver com seu avô e sua tia avó. Embora sua mãe nunca tivesse lhe explicado por que a afastava dela.
Alyssa estava convencida de que a Kate Harris inquietava o interesse que o corpo adolescente de sua filha de treze anos despertava no último de seus amantes.
Sua mãe nunca tinha lhe revelado a identidade de seu pai. De fato, nem sequer tinha sabido que tinha avô. Justo antes de deixá-la no avião, sua mãe havia lhe dito que era a filha ilegítima do defunto filho de Isaac Barkley, Todd. Todd havia falecido em ato de serviço com os rangers.
Alyssa tinha chegado a Waco angustiada e com uma espantosa sensação de abandono, mas logo descobriu que o avô Isaac e a tia Claudine eram uma bênção. Imediatamente a fizeram sentir-se querida e protegida.
Infelizmente, a generosidade de seus novos familiares com ela não foi do agrado de sua prima Kim, que era de sua mesma idade. Kim era a filha do outro filho de Isaac, Jessie, cuja mulher tinha morrido quando Kim tinha seis anos. Conforme tinham contado a Alyssa, as infidelidades de Jessie arrastaram a miséria sua esposa e ao suicídio e para compensar seu sentimento de culpabilidade, tinha convertido Kim em uma menina mimada e consentida. Não era de estranhar que ao chegar Alyssa, sentisse-se ferida por perder parte da atenção que sempre tinha recebido.
Do primeiro momento, Kim tinha se convertido no pesadelo de Alyssa. Primeiro, tinha urdido todo tipo de artimanhas para conseguir que a castigassem.
Ao ver que o avô Isaac não caía na armadilha e protegia Alyssa, a maldade de Kim foi aumentando, até chegar a converter a adolescência de Alyssa em um inferno que só tinha conseguido superar graças ao carinho de seu avô e de sua tia avó.
Tampouco lhe tinha resultado fácil aceitar que sua mãe nunca fosse visitá-la nem que sequer ficasse em contato com ela. Kim estava acostumada dizer que vivia da caridade dos Barkley e que muitos membros da família suspeitavam que não era de Todd. Alyssa não tinha acreditado porque seu avô a tratava com tanto carinho que estava convencida de ser sua neta. Justo antes de morrer, toda a família se inteirou de que na realidade era sua filha. A notícia tinha caído como uma bomba na família, sobre tudo ao descobrir que tinha lhe doado uma parte proporcional de sua herança, o que para Kim, converteu-se no último e mais severo motivo de rancor.
—Alyssa…
Sua tia a trouxe ao presente.
—Sim, tia Claudine?
—Poderá suportar conviver com esse homem durante um mês? Ao menos assim conseguirá que declarem nulo o matrimônio… se isso for o que quer.
Alyssa sorriu. Como de costume, sua tia tentava atuar de casamenteira.
—Claro que é o que quero. Como diz Clint, este matrimônio é fruto de um engano e não é justo que nós soframos as conseqüências. —explicou Alyssa.
Claudine riu.
—Não deve ser muito terrível se for tão atrativo como me disse.
Sim. Alyssa não tinha mentido. Não podia mentir a respeito do aspecto físico de Clint. Kevin era bonito, mas em comparação, não lhe chegava nem à sola dos sapatos.
—Assim é, tia. É muito bonito.
—Pois será melhor que não o traga por aqui. Já sabe o pouco que custa a Kim entrar em ação.
Alyssa já tinha pensado. Mas não acreditava que Clint fosse tão fraco como Kevin. E isso que Kim era tão formosa que atraía todas as olhadas. Era uma lástima que, em seu caso, fosse um atributo meramente superficial.
—Te enviarei algumas coisas, Alyssa. Te fará bem estar afastada desta louca família durante um mês.
Alyssa também tinha pensado o mesmo.
—Tenho que dar uma resposta a Clint amanhã pela manhã. Se ficar, te avisarei.
—Muito bem. Não direi nada a ninguém. A filha de Eleanor jura ter visto Kim e o Kevin em uma discoteca outra noite. Também ouvi que Kevin foi promovido, assim que essa deve ser a razão de que Kim volte a estar interessada nele. Já sabe que está obcecada em se casar com um homem rico.
Em certo sentido, Alyssa desejava que sua prima tivesse sorte. Apesar de tudo o que lhe tinha feito sofrer, no fundo não a odiava. Só sentia lástima por ela e por Kevin. Que estivessem juntos já não lhe afetava. O amor que sentia por ele tinha morrido no mesmo dia que tinham planejado a data de seu casamento. Se Kim era seu tipo de mulher, melhor para ele.
Perguntou-se qual seria o tipo de Clint. Podia imaginar uma mulher formosa em seus braços, em sua cama, dando a luz a seus filhos. Estava convencida de que ela não reunia os atributos necessários. Era de uma beleza bem convencional e ninguém a descreveria como uma mulher espetacular.
Durante a missão, Clint nem sequer se fixou nela. Nem mesmo quando dormiram no mesmo quarto. Pelo contrário ela recordava haver se sentido embriagada por seu aroma e não podia esquecer as ocasiões nas quais tinham comido juntos.
Essa lembrança lhe fez pensar no jantar que acabaram de compartilhar. Chester tinha preparado uma comida deliciosa, mas tinha se mostrado muito menos brincalhão que em sua chegada. Alyssa supôs que Clint teria lhe advertido que deviam evitar que guardasse esperanças infundadas.
Era evidente que Clint não sabia que se ela pecava em algo era, segundo sua tia Claudine, de um excesso de realismo. A isso se acrescentava o fato de que qualquer sonho que pudesse ter de «sempre», tinha ficado feito pedacinhos no dia de seu casamento. Seria muito difícil, para não dizer impossível, que alguma vez voltasse a acreditar em contos de fadas e finais felizes.
Ouviu um ruído sob sua janela e apareceu. O sol descendia no horizonte. Clint estava apoiado em um poste, conversando com dois de seus peões.
Embora a aquela distância não o visse em detalhe, podia apreciar com claridade suas firmes coxas em uns jeans ajustados. Bastava vê-lo para que acelerasse o pulso e lhe cortasse a respiração. E ao dar-se conta disso, perguntou-se como ia poder conviver com ele trinta dias seguidos. Não esquecia que Clint havia lhe dito que era capaz de dominar-se e de respeitar os limites que ela estabelecesse.
Estava tentando decidir que limites marcaria quando ele se voltou para a janela como se intuísse que estava ali. Seus olhares se encontraram e ambos pareceram ficar paralisados por uns segundos. Finalmente, sentindo que a cabeça lhe dava voltas, Alyssa deu um passo atrás e deixou cair a cortina para ocultar-se de seus olhos. Sabia que devia pôr freio às fantasias e ao desejo que havia se apoderado dela, mas, posto que nunca tinha experimentado nada igual, tampouco sabia como evitá-lo.
Suspirando profundamente, foi ao banheiro com a esperança de que uma boa noite de sono a iluminasse.
Clint ia para seu quarto com gesto contrariado. Depois de acabar com suas tarefas habituais, tinha jogado uma partida de cartas com seus homens para atrasar a volta pra casa.
Não podia deixar de pensar, no que tinha acontecido umas horas antes. Ao notar que Alyssa o olhava de sua janela, voltou-se e, a seu pesar, seus olhos ficaram cravados nos dela.
Era evidente que Alyssa estava convertendo-se em uma obsessão e as imagens que sua mente invocava não lhe ajudavam a deixar de pensar nela. De fato, temia ter cometido um sério engano ao convidá-la a viver sob seu teto. Possivelmente havia alguma outra maneira de anular o matrimônio. Talvez alguém poderia lhes assessorar.
De repente se lembrou de seu primo Jared, que era advogado matrimonialista, e decidiu lhe pedir conselho. Olhou a hora. Jared estava acostumado a deitar-se tarde, assim Clint decidiu ir a seu escritório e ligar naquele mesmo instante.
Abriu a porta e ficou paralisado. Sentada em sua cadeira, diante do computador, estava Alyssa. Como não tinha lhe ouvido, pôde observá-la durante uns segundos. A suave luz de um abajur iluminava suas delicadas feições. Levava o cabelo recolhido em um nó. Estava concentrada na tela, com a cabeça inclinada em um ângulo que deixava apreciar a delicadeza de seu pescoço e de seus ombros. Adotava uma postura perfeita. Levava uma camiseta grande que em qualquer outra pessoa teria ficado vulgar, mas nela se convertia em um provocador objeto. Do modo como estava sentada, a parte da frente colava ao seio e deixava intuir seus mamilos. Não tinha usava sutiã e Clint sentiu um comichão nos dedos ao pensar quanto gostaria de acariciar-lhe. Deslizou o olhar para seus lábios no mesmo momento em que ela os entreabriu e deixou escapar uma risada sufocada. Clint voltou o olhar para a tela para ver o que estava fazendo. Estava jogando e, pelo que parecia, ganhando.
Clint decidiu que tinha chegado o momento de lhe fazer saber que estava ali.
—Isso parece divertido, posso jogar? —disse, entrando no despacho.
Alyssa se voltou sobressaltada e ficou em pé.
—Sinto muito. Deveria ter pedido permissão antes de…
—Não é necessário, Alyssa. — interrompeu Clint— Pode usar o computador sempre que quiser. Parecia muito entretida, que jogo é?
Lentamente, Alyssa se sentou e olhou a tela. Ao vê-la em pé, Clint tinha descoberto que a camiseta apenas lhe cobria as coxas e que era ainda mais sexy do que tinha parecido inicialmente. Acentuava as curvas de seu corpo de tal maneira que o sangue começou a lhe correr pelas veias como lava ardente.
—Trata-se de um jogo que se chama Jogando com fogo. Como quase todos, consiste em matar a seu oponente antes que ele mate você. —explicou Alyssa.
Clint riu.
—Soa interessante. Vejo que você gosta dos jogos de computador.
Alyssa se encolheu de ombros.
—Servem para relaxar. Estou acostumada a jogar quando não posso dormir.
Clint se apoiou na porta.
—Há alguma razão pela qual não possa dormir? —ele já estava imaginando sua própria versão de Jogando com fogo e suas diferentes variantes— Não é cômoda a cama? —assim que fez a pergunta, não pôde evitar pensar em Alyssa só em sua enorme cama.
—Não é isso, a cama é perfeita. —respondeu ela. E com uma risada nervosa, acrescentou— É que não estou acostumada a dormir fora de minha casa.
—Compreendo.
Alyssa pigarreou antes de voltar a ficar em pé.
—Bom, não quero invadir seu escritório. —disse, fazendo gesto de partir.
—Não o invadiu. Só queria fazer uma chamada. Continue jogando. —Clint fez uma pausa antes de perguntar— Por certo, quem está ganhando? —Clint viu os lábios da Alyssa curvar-se em um sorriso e um brilho de orgulho em seus olhos.
—Eu, é obvio. —disse ela.
—Por que será que não me surpreende? Boa noite, Alyssa. —disse ele, lhe devolvendo o sorriso.
—Boa noite, Clint.
Clint girou para a porta. Ao sentir um golpe de sangue na virilha, resmungou algo entre dentes e deu meia volta. Antes de que Alyssa tivesse tempo de reagir, atraiu-a para si e a estreitou contra seu peito. Imediatamente a estava beijando com frenesi, introduzindo sua língua profundamente na boca dela. Desejava voltar a saborear seu sabor com uma ansiedade que o devorava. E quando Alyssa lhe devolveu o beijo, enquanto suas línguas participavam de um agitado duelo, um perturbador pensamento cruzou sua mente. Jamais antes se deixou arrastar pelo desejo sexual. Nunca tinha reagido com tanta intensidade, tão obsessivamente, ante nenhuma mulher. Quanto mais provava sua boca, mais queria prová-la. E o fato de que Alyssa encaixasse à perfeição entre seus braços não fazia mais que piorar as coisas. Que demônios estava lhe passando?
Rapidamente decidiu que teria que pensar mais tarde. Não enquanto Alyssa se abraçava a seu pescoço e se apertava contra seu corpo, lhe deixando sentir seus mamilos eretos através de sua camisa de algodão. Sua imaginação se desbocou. Podia ver-se mordiscando aquelas pontas escuras, as acariciando com a língua, ou tombando Alyssa sobre o escritório e possuindo-a ali mesmo. Também se viu sentado em sua cadeira, deixando que Alyssa se deslizasse sobre ele e…
Alyssa rompeu o beijo bruscamente e deu um passo atrás ao tempo que tomava ar. Clint a imitou. Ofegava como se acabasse de correr uma maratona, mas com cada respiração, o aroma de Alyssa se filtrava por seu nariz e lhe impedia de dominar sua excitação.
Ela elevou a cabeça para lhe olhar nos olhos e Clint se deu conta de que seu cabelo caía em cascata sobre seus ombros, lhe dando um ar ainda mais sexy que tinha com ele recolhido.
—Tenho que tomar isto como um beijo de boa noite? —perguntou Alyssa com voz rouca.
Clint se desconcertou ao ver que não lhe jogasse a culpa nem se indignasse com ele. Apoiou-se na porta e olhou aos lábios.
—Assim é. —disse— Quer outro?
—Não. —replicou ela— Duvido que resistisse. —acrescentou, sacudindo a cabeça.
Clint esboçou um sorriso. Alyssa havia tornado a desconcertá-lo.
—Com certeza que sim. Quer comprová-lo?
—Não, obrigado.
Clint riu silenciosamente.
—Se for assim, deixo-te para que siga jogando. —e sem esperar que Alyssa respondesse, saiu da sala e fechou a porta a suas costas.
Uma vez no corredor, deteve-se uma fração de segundo. A força da atração que sentiam um pelo outro era inegável. Tanto, que Clint não estava seguro de poder conter as vontades de tocá-la se Alyssa decidisse ir viver com ele. Tampouco era capaz de predizer como lhe afetariam os beijos que deram e se seriam determinantes para que tomasse uma ou outra decisão. Poderiam superar a tentação durante trinta dias? Era muito tempo. Alyssa havia dito que não esta acostumada a dormir fora de sua casa e, portanto, de sua cama. Mas se as coisas seguiassem por esse caminho, Clint se sentia na obrigação de lhe dizer que logo acabaria compartilhando a sua.
Conforme avançava para seu quarto pensando na explosiva química que havia entre eles, mais lhe irritava admiti-lo. Ele era conhecido por seu domínio de si mesmo. Até aquele momento, não tinha tido problemas em resolver suas necessidades sexuais quando se faziam urgentes. Qualquer mulher que lhe atraíra e estivesse disponível, bastava-lhe. Mas intuía que aquela solução já não ia bastar lhe. Seu corpo desejava só uma mulher, e não gostava disso.
Alyssa suspirou aliviada assim que Clint fechou a porta e a deixou sozinha. Custava-lhe aceitar que pudesse ter tal efeito nela. Cada vez que o via, cada vez que se beijavam, descobria a verdadeira paixão. Quando passaria o hipnótico poder que exercia sobre ela? Passaria alguma vez?
Possivelmente tinha que questionar-se seriamente a decisão de permanecer no rancho. Ainda não havia dito a Clint que já tinha tomado porque não tinha decidido até meter-se na cama. Por isso mesmo estava acordada. Assim que tinha decidido ficar, seu corpo, invadido por uma excitação sexual que Alyssa nunca havia sentido, negou-se a dormir. Dando-se por vencida, levantou-se de novo.
Que Clint a tivesse encontrado em seu escritório vestida tão somente com uma grande camiseta tinha sido humilhante. Mas como a casa levava já um tempo em silêncio, tinha assumido que todo mundo dormia. O dormitório de Clint estava na ala oposta da casa, assim pensou que não encontraria ninguém e que poderia estar um momento no escritório sem que Clint tivesse por que inteirar-se.
Mas as coisas tinham saído de uma maneira muito diferente e Alyssa acrescentou uma promessa a quão muitas que já fez: não voltaria a jogar no computador durante a noite.
Respirou profundamente. Pela manhã, diria a Clint que tinha decidido ficar. Também lhe diria que para isso, teriam que se darem certas condições. Clint havia lhe dito umas horas antes que era capaz de dominar seus instintos.
Se o beijo que acabava de lhe dar era uma demonstração de sua capacidade de controlar-se, Alyssa não queria nem imaginar como seria um beijo no qual desse rédea solta a seus desejos.
Capítulo Seis
Alyssa notou que acelerava o coração ao encontrar-se com Clint na cozinha na manhã seguinte. Embora parecesse que acabava de começar a tomar o café da manhã, Alyssa estava segura de que estava esperando saber que decisão tinha tomado.
Olhou a seu redor tratando de ignorar o extraordinariamente bonito que era e a lembrança da noite anterior. Uma vez mais, seu beijo tinha lhe transmitido uma paixão que até então só tinha acreditado possível nas novelas românticas que lia a tia Claudine. De noite, tinha sonhado com ele, com seus beijos e com o que poderia acontecer se deixassem se levar. Ao despertar, jurou-se que aqueles sonhos nunca chegariam a converter-se em realidade. Para isso, teria que estabelecer umas rígidas normas durante sua convivência.
—Onde está Chester? —perguntou.
Clint se apoiou no respaldo da cadeira.
—Folga as quartas-feiras. Dedica o dia a atuar de palhaço no hospital de crianças.
—De palhaço?
—Há vinte anos vai um dia na semana fazer rir as crianças. Assim que se conheceram ele e o tio Sid. Chester estava acostumado a trabalhar nos rodeios.
Inicialmente, Alyssa custou imaginar ao Chester de palhaço, mas ao recordar sua amável e cálida atitude pensou que encaixava no papel.
—Devem gostar muito dele os meninos. —comentou, fascinada.
—Assim é. É uma pena que ele e Ada não tiveram filhos.
—Ada era sua mulher?
—Sim. Estiveram casados mais de trinta anos. Morreu de pneumonia faz seis anos.
—Que lástima!
—Assim é. Chester estava muito deprimido. Tinham um matrimônio muito sólido.
«Um matrimônio muito sólido». Alyssa se perguntou se com esse adjetivo Clint queria dizer que estavam muito apaixonados.
—Tem muito tempo trabalhando no rancho?
—Desde antes de que eu nascesse.
Pelo tom de Clint, Alyssa deduziu que seu afeto pelo Chester era tão profundo como o que sentia por outros membros de sua família. Durante o percurso da casa, Clint a tinha apresentado a vários trabalhadores veteranos, peritos em domesticação, e a outros tantos mais jovens, especializados no laço. Mas todos eles eram importantes para o bom funcionamento do rancho. Todos eles a tinham saudado com cortesia e respeito.
—Será melhor que coma antes de que esfrie. —disse Clint.
Alyssa acreditou entender que já se cansou de suas perguntas, assim foi até o fogão para servir um prato de comida e um café, consciente de que Clint seguia cada um de seus movimentos.
—Alegra-me que seja capaz de se servir. —disse ele.
Alyssa se voltou desconcertada.
—O que quer dizer?
—Há muitas mulheres que esperam ser atendidas.
Alyssa se virou para o fogão para servir uns ovos, dizendo-se que sua prima Kim encaixava perfeitamente nessa descrição. O tio Jessie seguia chamando-a «minha princesa» e ela atuava como se o fosse.
—Eu não sou assim. —disse ao sentar-se à mesa— Estou acostumada a cuidar de mim mesma.
Assim que se sentou, Clint cruzou os braços e perguntou:
—O que decidiu?
Alyssa ficou olhando o café antes de responder.
—Tenho que te responder agora mesmo?
—Há algum motivo pelo qual queira esperar? —perguntou ele com um leve tom de irritação.
Alyssa deixou o café sobre a mesa. Clint tinha razão: não havia motivo para atrasar o inevitável.
—Não, a verdade é que não. —fez uma pausa antes de continuar— Antes de me comprometer, quero que cheguemos a um acordo.
Clint arqueou uma sobrancelha.
—Que tipo de acordo?
—Quero que prometa que não vais tentar me levar para sua cama.
—A minha cama? —Clint sorriu com maliciosamente.
—Nem a nenhuma cama. —esclareceu Alyssa— Para ser mais específica: quero que prometa não tentar me seduzir para que me deite contigo.
Clint riu silenciosamente.
—Defina a palavra “seduzir”.
Alyssa estava consciente de que brincava, mas estava decidida a conseguir que a entendesse.
—Clint, é um homem e como tal, sabe o que implica a sedução.
Clint sorriu.
—E acha que faria algo assim?
Alyssa não titubeou.
—Sim. Estou convencida. Em menos de vinte e quatro horas nos beijamos duas vezes, assim estou segura de que tentará me seduzir.
Clint a olhou fixamente com expressão pensativa.
—Tem razão —disse finalmente— Tentaria sem dúvida. —e a seguir perguntou— E diz que nos beijamos duas vezes?
«Como se não soubesse».
—Sim. —respondeu Alyssa, irritada.
—Quer que provemos uma terceira? —disse ele com uma voz rouca e sensual que fez que Alyssa se estremecesse.
Olhou Clint com severidade.
—Estou falando sério, Clint.
—Eu também.
Alyssa continuou olhando-o fixamente. Sim, seus penetrantes olhos negros diziam que falava sério, e a mera idéia de que queria voltar a beijá-la e entrelaçar sua língua com a dela, deixou-a sem fôlego. Era assim como Clint queria lhe dar a entender que tinha desfrutado de seus beijos? Ela também podia admitir que tinha gostado, que sentir sua língua em sua boca, movendo-se em círculos, procurando…
—Tem alguma outra condição? —perguntou Clint.
Alyssa endureceu o olhar.
—Também ficam proibidos os beijos. —disse.
—Isso não vai ser possível. —disse ele, esboçando um sorriso.
Alyssa tentou manter a calma apesar de que a rapidez com que Clint tinha replicado lhe indicou que estava convencido do que dizia.
—Por que é impossível?
—Porque nós gostamos muito. O que temos que fazer é não passar daí. Pessoalmente, não acredito que haja nada de mau em beijar-se. Só é uma forma de saudação. —disse Clint.
Alyssa o olhou com ceticismo. Clint sabia tão bem como ela que isso não era certo. Sobre tudo porque os beijos que se deram invocavam fantasias que era melhor ignorar.
—Tal e como te disse outras vezes, —continuou Clint— o importante é manter o controle. Por mais que te deseje e que eu goste de te beijar, prometo não deixar que nossa atração vá mais à frente. Tenho muito trabalho para que haja uma mulher em minha vida. —concluiu.
Alyssa admirava a segurança que tinha em si mesmo... Se o que dizia era certo. Parecia ter se convencido de poder controlar-se, que quase lhe resultava tentador pôr a prova sua vontade de ferro.
—Mesmo assim tenho que admitir que, como mulher, reúne uma condição que outras carecem. —acrescentou Clint.
—A que te refere? —perguntou ela com prevenção.
—Ser minha esposa, embora só seja sobre o papel. Pode ser que seja algo masculino, mas saber que está ligada a mim, acorda desejos e anseios que normalmente não sinto.
Alyssa franziu o cenho. Em resumo: ter uma mulher sob seu teto lhe era excitante.
—Se for assim, tenho que acrescentar outra condição a minha estadia: que mantenha sob controle esses impulsos. Pode ser que eu não tenha o domínio de mim mesma do que você presume, mas não tenho o menor interesse em que haja um homem em minha vida. E se o houvesse, trataria de ser uma relação séria. Não sou particularmente aficionada às relações cujo único fim é liberar tensão sexual. —concluiu.
Clint guardou silêncio uns segundos durante os quais Alyssa acreditou perceber um brilho desafiador em seu olhar.
—Não tentarei me deitar contigo, —disse ele finalmente— mas não prometo nada em relação aos beijos. Não sei por que temos que nos negar esse capricho.
—Embora não conduza a nada?
Clint inclinou a cabeça e a olhou fixamente.
—Desejo-te. Beijar-te me ajuda a saciar esse desejo, e estou seguro de que te acontece o mesmo. Dentro de trinta dias, você estará tão encantada de partir como eu de que vá.
Alyssa estudou seu rosto uns segundos e se deu conta de que pensava sinceramente o que dizia.
—Quer dizer que nos beijando conseguiremos nos saturar um do outro? —perguntou para assegurar-se de que tinha entendido bem e compreendia a lógica da argumentação.
—Sim. —disse ele.
—Está claro que te considera indomável.
—Indomável?
—Assim é. Pensa que não existe uma mulher capaz de domar seu coração.
—Porque não há.
Clint disse aquelas palavras com tanta raiva contida que não pôde evitar lhe perguntar:
—Esteve apaixonado alguma vez, Clint?
Do modo como a olhou, viu que a pergunta lhe surpreendia. Também viu como se esticavam seus ombros e como suas mãos agarravam a taça com força e ficou consciente de ter pisado em areias movediças. Durante uns segundos pensou que não responderia.
—Não. —disse ele finalmente.
Alyssa não acreditou, não porque pensasse que mentia, mas sim porque intuía que, por algum motivo, Clint tinha apagado de sua memória o amor que alguma vez tinha sentido por alguém. Também ela havia feito o mesmo ao descobrir o que Kevin fazia. Sua infidelidade tinha aniquilado o amor que tinha sentido por ele. E isso despertou sua curiosidade para a mulher que tinha feito mal ao Clint no passado.
—Está satisfeita com o acordo?
Alyssa respirou profundamente. Embora o assunto dos beijos não lhe convencesse, estava segura de que Clint não trataria de forçá-la, assim dependia dela resistir. Estava segura de que ele encontraria outro entretenimento.
—Sim, estou satisfeita.
—Então, aceita viver comigo os próximos trinta dias?
Alyssa teve que apagar de sua mente as imagens que a assaltaram. A casa era enorme. O quarto de Clint estava na ala oposta ao dela. Podiam passar dias sem se verem.
—Assim é. —disse.
Clint assentiu.
—Vou chamar Hightower para dizer-lhe, certamente, suponho que necessitará de mais roupa.
—Falei ontem com minha tia e combinamos de que, se decidisse ficar, ela me mandaria o que necessitasse.
—Sua tia é sua única família?
Alyssa teria querido dizer que sim, mas não gostava de mentir.
—Não, tenho um tio e vários primos. —disse— Minha mãe me mandou pra viver com meu avô e minha tia Claudine quando tinha treze anos. Com o tempo, minha tia se converteu em minha mãe adotiva. —acrescentou.
—E seu avô?
Alyssa sentiu uma pressão no peito, mas reprimiu o impulso de corrigir ao Clint.
—Meu avô morreu faz quatro anos.—disse com um fio de voz.
—Mais ou menos quando eu perdi a minha mãe. —disse ele com o olhar fixo no café.
Alyssa reconheceu a tristeza em sua voz. Clint elevou o olhar e nesse momento se produziu uma corrente de sintonia entre eles, a empatia de duas pessoas ante a dor de perder a um ente querido.
—Eram muito unidos? —perguntou Alyssa.
—Sim. Era tudo para nós três. Ela, o tio Sid e Chester eram nossa família. E sua mãe? Disse que te mandou ir viver com seu avô. Ainda estão em contato?
Alyssa teria preferido qualquer pergunta a aquela. Não conseguia superar a dor de que sua mãe, depois de afastar-se dela, não tivesse se incomodado em voltar a vê-la.
—Não. Nem a vi nem a procurei desde então. —disse. Ficou em pé para dar por concluída a conversação respeito a sua família— Devo fazer umas chamadas. Além de falar com minha tia, tenho que me assegurar de que tenho tudo o que necessito para trabalhar. Por certo, precisarei usar seu computador com freqüência.
—Não me importa.
Alyssa assentiu com a cabeça.
—Suponho que você também tem muitas coisas a fazer. —comentou ao tempo que deixava seu prato e sua taça na pia— Já que Chester tem o dia livre, me ocuparei de limpar quando fizer as ligações.
E sem dizer mais, saiu da cozinha.
Clint seguiu sentado à mesa. Assim que recebeu a carta lhe notificando que estava casado com Alyssa assumiu que anular o matrimônio seria questão de dias. Mas tinha se equivocado. Não tinha previsto que a agência se mostrasse tão rígida quanto ao processo de anulação, nem muito menos tinha calculado sentir uma atração tão forte pela mulher que era legalmente sua esposa.
Desde esse instante, teria que concentrar toda sua energia em não acabar na cama com ela.
Por isso, superar os seguintes trinta dias se converteu em uma provocação, e algo se rebelava em seu interior. Por que não podia deitar-se com ela? Depois de tudo, eram dois adultos com um são apetite sexual e sem nenhum interesse por estabelecer uma relação estável. Então…? Não era tão simples.
Alyssa havia dito que não se entregava a relações casuais, e isso indicava já muitas coisas sobre sua personalidade. Durante a conversa, tinha registrado todos os dados que tinha lhe proporcionado, sobretudo os relativos à sua família.
O antigo ranger do Texas que havia nele, seguia sendo capaz de detectar se alguém lhe ocultava ou se reservava alguma informação. E embora tivesse evitado insistir, era claro que Alyssa tinha omitido mencionar alguns detalhes. Por exemplo, não tinha explicado por que sua mãe a tinha deixado aos treze anos e não havia tornado a vê-la. E ao falar de suas primos, tinha-o feito sem um ápice de afeto. Justamente o contrário do que tinha ocorrido ao referir-se a seu avô ou a sua tia.
Também cabia a possibilidade de que estivesse imaginando coisas e que simplesmente, Alyssa fosse uma mulher que gostava de preservar sua intimidade. Fosse ou não sua «esposa» não tinha por que lhe abrir seu coração.
Clint passou as mãos pela cara. Nem sequer compreendia por que o questionava nem o que tinha Alyssa para que despertasse nele aquele intenso desejo de ir descobrindo capas até chegar ao centro de seu ser.
Ia ficar em pé quando soou seu celular.
—Alô? —respondeu.
—O que é isso de que tem uma esposa?
Clint sorriu. Podia imaginar o rosto de sua irmã, com as sobrancelhas arqueadas e a expressão que punha quando se considerava com todo o direito ou seja a verdade sobre ele.
—Vejo que Chester deu com língua nos dentes. —resmungou Clint enquanto se dizia que teria que falar com ele, embora soubesse que não serviria de nada.
—Como não me ia contar isso! —disse Casey Westmoreland Quinn— Me Fale dela.
Clint suspirou. Posto que não perguntava a razão de seu novo estado civil, assumiu que Chester já o tinha explicado.
—O que quer saber?
—Tudo. Como se chama? De onde é? Quantos anos tem? Conheço-a?
Clint franziu o cenho. Alyssa e sua irmã compartilhavam a capacidade de encadear uma pergunta com a seguinte.
—Chama-se Alyssa Barkley. É de Waco e tem vinte e sete anos. E não, não a conhece. Entrou nos rangers ao sair da universidade e o deixou pouco tempo depois de acabar nossa missão.
—Vê-se que não lhe causou uma impressão muito favorável.
—Não o tentei. Naquela época estava muito consciente de Chantelle.
—Por favor, nem a mencione. —disse Casey com fingido espanto.
Clint riu silenciosamente. Casey e Chantelle nunca se deram bem. Sua irmã tinha tentado lhe pôr sobre aviso, mas ele não quis escutá-la. Naquela época não pensava com a cabeça, a não ser com outra parte do corpo. Chantelle despertava a admiração dos homens onde fosse. Também Alyssa.
Entretanto, tinham bastado um par de bate-papos com Alyssa para saber que isso era tudo o que tinham em comum. Alyssa não estava obcecada consigo mesma nem pensava que o mundo girava a seu redor. Chantelle, pelo contrário, era caprichosa e egocêntrica, e ele, que naquela época estava carregado de testosterona, caiu em suas redes sem pensar nas conseqüências.
—E o que vai fazer para conseguir a anulação?
A pergunta de Casey o devolveu ao presente.
—Fazer o que nos exigiram e viver trinta dias juntos. —respondeu.
—É uma condição muito severa. Por que não consulta um advogado? —disse Casey.
—Já pensamos isso, mas acreditamos que só atrasaria as coisas. —disse Clint. A conversa com Jared a noite anterior só tinha servido para confirmá-lo— Alyssa pode seguir trabalhando aqui em casa. Desenha páginas de web.
—Poderia lhe pedir que fizesse a página da fundação do tio Sid. —sugeriu Casey.
—Já pedi.
—Estará no rancho quando McKinnon e eu formos na semana que vem. —disse Casey como se refletisse em voz alta— Estou desejando conhecê-la.
Algo no tom de sua irmã acendeu os alarmes em Clint. Conhecia sua irmã. Desde que tinha passado com Chantelle, atuava como se tivesse que cuidar dele.
—Recorda que sou o mais velho, Casey. —lhe lembrou.
—Só quinze minutos e porque Cole me segurava.
Clint riu. Tratava-se de uma brincadeira familiar com a qual Chester tinha convencido Casey de que na realidade ela devia ter sido a primogênita.
—Como quiser, Case, mas agora estou muito ocupado. Tenho que receber uma nova remessa de cavalos.
—Está bem. Te ligaremos logo para te dizer a data de nossa chegada.
Momentos depois desligaram o telefone. Clint, recordando que sua irmã era muito intuitiva, perguntou-se que opinião mereceria Alyssa.
Capítulo Sete
Alyssa olhou a seu redor no escritório de Clint. Em um dos quadros reconheceu o retrato de Sid Roberts. Em outro, com uma mulher e três meninos de uns cinco anos como modelos, identificou à mãe de Clint junto a ele e seus irmãos. Além disso, havia uma fotografia emoldurada da mãe em que a via como uma mulher formosa, com traços muito similares aos de Clint. Mas tudo parecido com ela se fez insignificante quando achou uma fotografia de seu pai e viu que era dele de quem tinha herdado a firmeza dos traços e o gesto altivo. Tanto Clint como Cole tinham seu rosto, seu queixo e seus escuros olhos. Também seus lábios sensuais. Casey, pelo contrário, e embora também era muito parecida com ele, tinha mais em comum com sua mãe.
Ao toque de seu celular se esticou. Tinha trocado de número fazia pouco com a esperança de que Kim não chegasse a consegui-lo. Abriu-o e, sorrindo aliviada, viu que se tratava de sua tia.
—Tia Claudine?
—Só queria que soubesse que já te mandei as caixas. Devem chegar em um par de dias.
—Obrigado por aceitar o incômodo.
—De nada. Kim passou por aqui esta manhã e tentou averiguar onde estava. Não lhe disse nenhuma palavra. Bom, sim, que estava com um cliente.
—Obrigado, agradeço-lhe isso.
—Jessie também ligou perguntando por ti. Suponho que da parte de Kim.
Alyssa estava de acordo. Seu tio não costumava ligar para ela.
—E como vão as coisas com seu vaqueiro?
Alyssa riu.
—Não é meu vaqueiro, mas vão bem. —ou ao menos, isso esperava.
Não tinham se visto do café da manhã. Sabia que Clint havia tornado para almoçar porque o tinha visto chegar a cavalo até o estábulo. Ao aparecer à janela e lhe ver caminhar com os jeans rodeados, ficou-se sem respiração.
—Me alegro. Bom, tenho que te deixar. Eleanor vai vir me buscar para ir à igreja.
—Muito bem, tia Claudine, e obrigada outra vez.
Ao desligar, Alyssa se disse que era muito afortunada ao contar com alguém como sua tia.
—Que tal vai tudo?
Alyssa girou a cabeça e viu Clint na soleira da porta.
—Bem. Minha tia me enviou umas caixas. Espero que cheguem em um par de dias. —respondeu.
Custou-lhe articular palavras porque Clint a estava observando com um olhar que a envolveu em uma asfixiante onda de calor e a deixou sem fôlego. Clint seguiu apoiado na soleira da porta. Com o passar dos segundos, o nervosismo se apoderou dela. Quisesse-o ou não, cada vez que via Clint prendia nela a chama do desejo.
—Enquanto isso, —disse ele, interrompendo o fio de seus pensamentos— Supus que necessitaria um pouco de roupa, assim deixei algumas coisas sobre sua cama.
Alyssa arqueou uma sobrancelha.
—Roupa? De mulher? —não pôde evitar que suas palavras se tingissem de desconfiança.
—Sim. Roupa de mulher. Casey e você são mais ou menos do mesmo tamanho, assim que tomei a liberdade de te escolher algumas roupas emprestadas. Como ao ir a Montana não sabia quanto tempo ficaria, deixou pra trás parte de seu vestuário. —explicou Clint.
Alyssa suspirou aliviada ao saber que se tratava da roupa de sua irmã e não de outra mulher. Não duvidava de que Clint teria saído com um montão de mulheres e que mais de uma teria se agasalhado no rancho. De fato, não era algo que lhe incumbisse nem que devesse lhe afetar. Como não devia lhe importar o que Clint fizesse quando passassem os trinta dias durante os quais deviam conviver. Entretanto, não conseguia evitar que lhe inquietasse.
Por outro lado, a noção de que tivesse estado em seu quarto, por mais que a casa lhe pertencesse e pudesse ir onde quisesse a desconcertava.
—Obrigado pelo detalhe. —conseguiu dizer ao tempo que ficava em pé.
—De nada.
Ao ver que Clint parecia disposto a ficar onde estava, Alyssa arqueou uma sobrancelha.
—Quer algo mais?
—Sim.
Alyssa sentiu um nó na garganta.
—O que? —perguntou, apesar de que preferia não fazê-lo.
—Chester quer saber se vai jantar conosco.
Alyssa respirou profundamente com uma mescla de alívio e de desilusão. Não era isso o que esperava ouvir.
—Alyssa?
—Sim?
—Janta conosco ou não?
—O que prefere que faça, Clint?
Sem afastar os olhos dela, Clint coçou o queixo.
—Temos carne picada e, para ser justo, preferiria te olhar que ao prato. —disse, sorrindo maliciosamente— Chester tende a queimá-la porque diz que assim fica melhor.
Alyssa sorriu por sua vez.
—E é verdade?
—Não. —depois de uma pausa, Clint acrescentou— mas a verdade é que ultimamente só me interessa seu sabor.
Aquelas palavras queimaram Alyssa como uma labareda. Hipnotizada, viu Clint avançar para ela e, como se seus pés tivessem vontade própria, moveram-se para ele.
—Isto é uma loucura. Você sabe, verdade? —disse ele, lhe rodeando a cintura com seus braços.
—Sim. Uma completa loucura. —se ouviu dizer Alyssa.
—Logo darei cabeçadas contra a parede. —disse Clint uma vez que mordiscava o lábio inferior de Alyssa— Mas agora mesmo, estou ansioso por provar seus lábios.
E como se quisesse demonstrar ao que se referia, beijou-a e entreabriu seus lábios com sua língua. Em questão de segundos, de uma vez que exploravam com suas línguas cada canto erógeno da boca do outro, Alyssa sentiu que lhe nublava a vista e soube pela primeira vez em sua vida o que era beijar-se até perder o sentido.
O beijo se prolongou e o desejo que tinha aceso em seu interior se foi intensificando até que lhe tremeram as pernas. Não chegava a entender como podia sentir-se tão atraída por Clint em poucas horas após vê-lo quando tinham passado cinco anos da última vez que tinham se encontrado.
Clint concluiu o beijo, mas não sem antes mordiscar o lábio inferior de Alyssa como se fosse um doce que resistisse a abandonar.
—Queria que te beijasse, verdade?
Alyssa vacilou antes de responder, mas finalmente decidiu ser o mais sincera possível.
—Sim, claro que o queria. Mas…
Clint se inclinou rapidamente e voltou a beijá-la. Alyssa abriu os lábios imediatamente e se entregou sem protestar.
Naquela ocasião, quando Clint separou sua boca da dela, posou um dedo sobre seus lábios para lhe indicar que não dissesse nada.
—Sem «mas», Alyssa. Sei quais são os limites aos que me comprometi. Só você pode mudá-los. —disse com o olhar cheio de desejo. Alyssa podia sentir sua ereção contra seu ventre— E se decide fazê-lo, —acrescentou Clint com voz rouca— já sabe onde é meu quarto. Será bem-vinda sempre que quiser.
—Está seguro de que Alyssa vem jantar?
Clint lançou uma olhada para o fogão.
— Me disse isso, mas pode ser que tenha mudado de idéia.
Chester estava apoiado na bancada e segurava uma espátula na mão. Olhou Clint com olhos entreabertos.
—O que lhe tem feito?
Clint virou os olhos.
—Nada, só lhe disse que…
—Sinto ter atrasado. —disse Alyssa, entrando na cozinha como uma exalação.
Os dois homens se voltaram para ela. Clint viu de soslaio que Chester lhe lançava um olhar acusador em relação aos lábios avermelhados de Alyssa, mas decidiu ignorá-lo.
—Não importa. Merece ser esperada. —disse.
E não mentia. Alyssa tinha posto um dos vestidos de Casey, mas Clint não recordava que em sua irmã tivesse ficado tão espetacular.
—Obrigada. —respondeu Alyssa.
Foi ocupar seu lugar na mesa e Clint se perguntou se saberia que aquele posto estava acostumado a ser atribuído à senhora da casa. Assim que se sentou, Alyssa perguntou ao Chester sobre seu dia no hospital. Enquanto lhes servia, Chester lhe contou que um dos meninos se assustou ao vê-lo e que só tinha conseguido acalmá-lo fazendo jogos de magia.
—Precisa de algo antes de que vá?
—Onde vai? —perguntou Alyssa, inquieta ante a perspectiva de ficar a sós com Clint.
—Ao pavilhão, dar de comer aos peões. —disse Chester sorrindo.
—Ah... —disse Alyssa— Eu não necessito de nada, obrigada.
—Eu, tampouco. —disse Clint, encantado de que Chester os deixasse sozinhos.
Tinha acreditado perceber um certo nervosismo em Alyssa ao pensar em ficar a sós com ele. E tinha motivos. Soubesse ou não, o certo era que o estava deixando louco. O vestido que tinha escolhido contribuía a isso, mas o pior era seu perfume, que o envolvia como uma droga aditiva que o ameaçava acabando com seu controle. Os suspensórios do vestido deixavam seus ombros descobertos e Clint desejava tocar e beijar sua pele.
—Clint, Chester te disse algo. —ouviu Alyssa dizer.
Clint pestanejou e lançou um olhar repreensivo a Chester. O velho sorria com arrogância, como se adivinhasse para onde foram seus pensamentos.
—O que? —perguntou com mais brutalidade do que queria.
Chester sorriu.
—Só queria te recordar que amanhã pela manhã também vou ao hospital.
—Já me lembrava. —replicou Clint secamente.
—Por certo, Alyssa se ofereceu pra fazer o café da manhã para os peões. —acrescentou Chester, ignorando o tom mal-humorado de Clint.
Clint se voltou para Alyssa.
—É isso verdade?
—Claro. É o mínimo que posso fazer. —disse Alyssa.
Clint franziu o cenho.
—É muito trabalho. Ninguém te pediu que faça nada.
—Sim, mas todo mundo tem ocupações, e fazendo o café da manhã me sentirei útil.
—E o trabalho que estava fazendo para um cliente? —Clint não estava seguro de querer que Alyssa se dedicasse a tarefas domésticas. Ada era a única mulher que tinha entrado na cozinha do rancho.
—Estou a ponto de acabá-lo. —disse Alyssa com um sorriso de satisfação.
Clint se reclinou no respaldo da cadeira.
—Assim que esteja pronta para outro cliente, me avise. Disse a sério sobre a página da Web para a fundação.
Alyssa arqueou uma sobrancelha.
—E quer que a eu faça?
—Só se puder. A próxima vez que for a meu escritório olhe na gaveta da direita do escritório. Contém uma pasta com informação. Se decidir fazer a página, podemos falar disso quando voltar.
—Quando voltar? Partirá?
—Vou passar um par de noites na cordilheira norte. Os cavalos chegam hoje, e devo selecionar aqueles que não vou domar e deixar em liberdade. —disse Clint.
—Ah... —disse Alyssa sem poder ocultar sua desilusão.
—Bom, meninos, os deixo. —disse Chester. Clint estava tão concentrado em Alyssa que tinha esquecido que Chester seguia ali.
—Trabalhou muito? —perguntou Clint ao tempo que se servia um prato de comida.
Alyssa o observou, admirada uma vez mais das grandes quantidades que era capaz de comer.
—Sim. Só me faltam os últimos detalhes da página que estou desenhando. É para um sindicato de professores de Alabama.
—Como consegue clientes?
—A maioria pelo boca a boca. Além disso, estou incluída em todas as páginas de busca. —disse Alyssa.
—Vê-se que faz bem seu trabalho.
Alyssa o olhou nos olhos, tentando descobrir se as palavras de Clint tinham um duplo sentido.
—Eu diria que sim. Meus clientes ficam satisfeitos. Se quiser referências posso…
—Não necessito.
Fez-se um silêncio entre os dois durante o qual Alyssa observou uma vez mais o apetite com o que Clint comia.
—Passa algo?
Alyssa pestanejou.
—Por que?
—Porque não deixa de me olhar. E tenho a sensação de que é algo que só faz quando estamos comendo.
Alyssa se removeu em seu assento. Não podia lhe explicar que achava sua maneira de comer fascinante. Parecia desfrutar de cada bocado. Mastigava como se de cada um deles quisesse extrair todo o sabor, como se quisesse dizer que também fazia amor assim. Se chegasse o momento, Alyssa estava segura de que Clint a amaria como comia: provando cada milímetro de seu corpo. E só de pensar lhe deixou arrepiada.
—Não há nenhum motivo em particular. —disse depois de uma pausa para concentrar-se— É só que me admira o quanto come.
Clint arqueou uma sobrancelha.
—Já a mim, o pouco que você come. Me recorda Casey, que come como um passarinho.
Alyssa percebeu o afeto com o que se referia a sua irmã.
—Obrigada por me ter deixado sua roupa. Espero que não se importe.
—Claro que não se importará. —e trocando de tema, Clint perguntou — Vai usar o computador?
—Não. —disse Alyssa— Por hoje terminei, embora tenha pensado em revisar a pasta da qual falou. Por que?
—Porque preciso colocar os dados dos cavalos que chegaram. —Clint olhou o relógio e empurrou o prato para um lado— As quartas-feiras de noite jogo cartas com os rapazes, assim quando acabar no computador, partirei. —sorriu antes de acrescentar— Só te digo isso se por acaso quiser jogar. Prometo não te interromper.
—Está em sua casa, Clint. Pode ir onde quiser.
Clint inclinou a cabeça.
—Inclusive a seu dormitório?
O brilho de seus olhos indicou a Alyssa que só brincava. Ou ao menos, confiava em que assim fosse.
—Não. Segundo nosso acordo, os dormitórios são território proibido.
—Isso não me importa. O dormitório é o lugar onde eu menos gosto de fazer amor. —disse Clint com malicia.
Alyssa sentiu como se tivesse tomado uma droga. Um torvelinho de sensações a percorreu, alcançando cada milímetro de seu corpo, mas especialmente a intercessão de suas coxas.
—Qual é seu lugar favorito? —perguntou a seu pesar.
Olhou Clint como hipnotizada enquanto ele deixava o copo sobre a mesa antes de olhá-la fixamente nos olhos. Alyssa tentou resistir, mas se sentia atraída por ele como se a tivesse apanhado em sua teia de aranha. Clint sorriu e, com isso, acrescentou combustível ao fogo que a consumia.
—Antes que passem os trinta dias de prazo. —disse ele com voz rouca e sensual, — pretendo te demonstrar isso.
Uma hora mais tarde, Alyssa viu Clint da janela de seu banheiro afastar-se para o abrigo.
Aproveitando que a casa estava vazia e que precisava pensar, decidiu ir a seu escritório.
Clint começava a converter-se em uma obsessão, e o estava conseguindo atuando com uma arrogância e uma segurança em si mesmo que lhe era espantosa. Nem fanfarronava nem a perseguia. Nem sequer tentava manipulá-la. Limitava-se a ser tão atrativo e sedutor como era por natureza.
“Antes que passem os trinta dias de prazo, pretendo te demonstrar isso”. Aquelas palavras não deixavam de ressonar em seus ouvidos, e faziam vibrar todo seu corpo, concentrando-se em uma pulsante sensação entre suas coxas.
Basicamente, Clint havia dito que fariam amor antes que partisse do rancho. Tratava-se de uma afirmação pretensiosa, arrogante e… se nada o impedisse, certeira.
Inalou bruscamente. Não compreendia como ela, a mulher que rechaçava violentamente os avanços sexuais dos homens, não só estava considerando essa situação como possível, mas sim inclusive ansiava que se produzisse.
Sacudiu a cabeça para esclarecer as idéias e centrar-se nos fatos. Clint Westmoreland era o homem mais atrativo que conhecia e era lógico que seu lado feminino se perguntava que aspecto teria sem roupa. Entretanto, era a primeira vez que sentia esse tipo de curiosidade.
Mas havia algo em Clint que ia além do puramente físico e que tinha a ver com a segurança em si mesmo que transmitia.
Fosse pelo motivo que fosse, o certo era que nenhum homem tinha despertado a luxúria que Clint despertava nela.
Separou-se da janela com a mente nublada pelos pensamentos que a invadiam e o corpo sacudido pelo desejo. O par de vezes que tinha feito amor com Kevin não tinham transformado sua vida. Nem tinha tremido a terra nem havia sentido nenhum estalo interior. Na realidade, tinha contado os minutos para que acabasse. Cabia a possibilidade de que com o Clint acontecesse o contrário? Quereria que durasse para sempre?
Com a respiração entrecortada, cruzou a habitação e se meteu na cama, embora. Suspeitava que o estado de excitada hipersensibilidade que lhe percorria o corpo lhe impediria de conciliar o sonho.
Mas quando fechou os olhos, teve que admitir que sonhar com todas as coisas que Clint poderia lhe fazer não seria suficiente. Ia querer que os sonhos se convertessem em realidade.
Capítulo Oito
Na manhã seguinte, Alyssa entrou na cozinha para preparar o café da manhã e a contrariou comprovar que Clint tinha se adiantado.
—Chester me disse que não está acostumado a começar a cozinhar as cinco. Levantou-se cedo. —disse, lançando um olhar de soslaio a Clint ao passar junto a ele a caminho da pia para lavar as mãos.
Ele esboçou um sorriso e se encolheu de ombros.
—Pensei que tomaria um café enquanto te via trabalhar. —disse.
Alyssa elevou o queixo em um gesto irado.
—Não me acha capaz de fazê-lo? —perguntou em tom acusador.
—Te equivoca. Estou seguro de que pode. Chester não te deixaria entrar na cozinha se não acreditasse que é capaz de cozinhar. Só queria ver e te oferecer minha ajuda.
—Obrigada.
—De nada.
Em poucos minutos, Alyssa se perguntou se não se teria precipitado ao dar obrigada a Clint.
Sentia seu olhar seguindo cada um de seus passos e estava convencida de que a intensidade com a que a observava não tinha nada a ver com suas habilidades culinárias, e sim com os ajustados jeans que usava. Tal e como Clint havia lhe dito, Casey e ela deviam ter o mesmo tamanho, pois sua roupa ficava perfeita.
Deu meia volta para dizer a Clint que o café da manhã estava preparado e ao encontrar-se com seus olhos olhando-a fixamente com um brilho feroz, sentiu um intenso calor. Tragou saliva.
—Já acabei.
Continuando, seguindo as instruções de Clint, chamou o capataz no abrigo para que soubesse que podiam passar para recolher o café da manhã. Tinha preparado comida para alimentar um regimento e se alegrava das numerosas ocasiões em que tinha ajudado a sua tia Claudine e às anciãs da igreja a preparar jantares para os indigentes.
Ao desligar o telefone notou que Clint estava a uns centímetros dela e lhe acelerou o pulso. Era a síntese da masculinidade e da beleza varonil, e àquela hora tão cedo do dia, Alyssa não sabia como defender-se do que a fazia sentir.
—Fez um magnífico trabalho. —disse Clint. E o som de sua voz incrementou a confusão de Alyssa.
—Guarde os cumpridos até que prove o que fiz. —disse animadamente, tentando ignorar sensação de formigamento que a invadia.
Clint sorriu.
—Não precisa. Basta ver a habilidade com que te move pela cozinha.
Alyssa riu.
—Tenho que agradecer à tia Claudine. Estava acostumada a ajudar uma vez por semana a alimentar aos indigentes. Nunca pensei que algum dia me seria útil. —disse com entusiasmo— Sempre gostei de fazê-lo. Aqui é fácil cozinhar. Chester tem tudo muito bem organizado. É um sonho de cozinha.
—E você, Alyssa Barkley, é o sonho de qualquer homem. —disse ele com voz rouca.
Inclinou-se para diante e Alyssa soube que ia beijá-la. Naquele instante ouviu passos no alpendre e retrocedeu.
—Os meninos vêm pela comida. —disse em um sussurro.
—Isso parece. —disse ele com voz rouca, dando por sua vez um passo atrás. Olhou a hora— De todas formas, tenho que partir.
—Não vai tomar o café da manhã? —perguntou Alyssa precipitadamente, sem poder ocultar sua desilusão.
—Sim, mas tomarei algo com os homens no abrigo. —disse Clint e, para surpresa de Alyssa, cruzou a distância que os separava e lhe plantou um beijo nos lábios— Nos veremos em um par de dias.
Alyssa assentiu enquanto se dizia que lhe cairia bem se liberar umas horas de sua influência. Precisava esclarecer as idéias e recuperar a calma.
Ao longo daquele dia, Alyssa teve a convicção de que o melhor que podia lhe passar era distanciar-se de Clint e que, portanto, devia alegrar-se de que ia estar um par de dias fora do rancho.
Suas caixas tinham chegado, tinha-as aberto e tinha tudo o que necessitava para passar os dias frios de fevereiro que se montavam.
No segundo dia, descobriu que se aproximava constantemente à janela para ver se, por acaso, Clint decidisse voltar para rancho um dia antes do que tinha calculado. E enquanto o fazia, tratava de convencer-se de que na realidade não desejava que o fizesse, que já tinha suficiente companhia com o encantado Chester e os trabalhadores que ficaram no rancho e que a tratavam com uma deliciosa cortesia.
Mas quando chegou o terceiro dia, não conseguia concentrar-se em nada. Percorria o despacho como um tigre enjaulado e era impossível trabalhar. Cada vez que ouvia um ruído no exterior, corria até a janela para ver se por acaso se tratava de Clint. Aquela noite, depois de jantar com Chester, esperou na escuridão do alpendre, em pé, observando o horizonte. Via a si mesmo como uma mulher à borda do mar pendente da chegada de seu marido marinheiro, e essa comparação lhe assombrou. Pela primeira vez desde que se encontraram em Austin, deu-se conta de que seus sentimentos por Clint se faziam cada vez mais profundos e intensos.
Suspirou profundamente. Nada de tudo aquilo tinha sentido. Não tinham se visto em anos. A única explicação possível era que Clint, com sua arrogante segurança em si mesmo e sua indomável sensualidade, era mais viril do que Kevin jamais conseguiria ser. Do fatídico dia no qual devia ter sido celebrado seu casamento, não havia sentido nenhuma implicação emocional com nenhum homem.
Que Kevin lhe tivesse sido infiel a havia chocado, mas ainda pior foi que Kevin pretendia esquecer o ocorrido e assumisse que podiam seguir adiante como se não tivesse acontecido nada. Mas para ela, isso foi impossível. Por isso tinha atuado da única maneira que sabia: protegendo seu coração. Para isso, tinha evitado toda relação com os homens. Em definitivo, tinha reagido exatamente como Kim esperava.
Tinha aceitado já fazia anos que Kim não podia suportar que um homem a amasse e que quisesse formar uma família com ela. A tia Claudine tinha razão quando lhe dizia que tinha que superar sua dor e não dar a Kim a satisfação de afundar-se. Mas Alyssa, até aquele momento, não tinha encontrado um homem que despertasse nela a necessidade de abrir-se de novo.
Clint Westmoreland lhe dava vontade de viver de novo com uma força que não tinha sentido nos dois anos anteriores. E embora só se deixasse levar durante os dias que permanecesse no rancho, ao menos naquela ocasião não teria que preocupar-se de que Kim sabotasse sua relação com Clint. Alyssa era bastante preparada para saber que nenhuma relação podia ser duradoura com ele. Quando se cumprissem os trinta dias, Clint estaria desejando que partisse de sua vida e de seu rancho.
No passado, Alyssa tinha rechaçado relações ocasionais, mas por algum estranho motivo, pensava que os dias que ia passar com Clint não entravam nessa categoria. Seria algo mais. Deixar-se arrastar pelo prazer parecia à conseqüência lógica da relação que tinham estabelecido. Seus sentimentos por Clint a tinham feito ressuscitar. Ter um caso com ele podia ser a maneira de recuperar sua auto-estima e a segurança em si mesmo como mulher. Também representava um intento de desfrutar da vida antes de retornar à insípida existência que ela mesma se impôs em Waco.
—Que boa noite!
A voz de Chester a sobressaltou. Cada dia gostava mais daquele homem amadurecido, tão leal a Clint e a seus irmãos. Indevidamente, recordava a seu avô, à relação que tinha mantido com ele e a que no presente mantinha com sua tia.
—Maravilhosa. —disse Alyssa. Imaginava que Chester era bastante intuitivo para adivinhar por que estava no alpendre. Seguidamente disso provou que estava certa.
—Às vezes demora mais de dois dias em soltar os cavalos. E alguns induzem muita troca de lugar. Se Clint não retornou ainda é porque teve muito trabalho.
Alyssa soube que Chester tentava lhe dizer que Clint não demorava porque tentava evitá-la. Como era possível que tivesse lido sua mente?
Sorriu uma vez que se envolvia na blusa de lã que levava sobre os ombros. Fevereiro estava sendo mais frio que janeiro.
—Clint me disse que seu avô participava de rodeios. —disse Chester.
—Assim foi como conheceu o Sid Roberts. Estava acostumado a falar disso com orgulho.
—Vê-se que eram muito unidos.
—Sim. Era uma pessoa muito especial para mim.
Menos de uma hora mais tarde, quando Alyssa se preparava para ir à cama, recordou aquelas palavras e se disse que também podia aplicar-lhe ao Clint.
Clint sentiu que lhe fraquejavam as pernas ao contemplar Alyssa enquanto dormia. O raio de luz de um foco do jardim lhe iluminava o rosto e embora estivesse coberta pela roupa de cama, era tão sexy como se levasse uma camisola transparente.
Tinha que reconhecer que tinha quebrado sua promessa ao entrar em seu dormitório, mas só tinha feito porque Chester tinha contado que Alyssa tinha estado no alpendre esperando sua chegada.
No princípio, Clint preferiu não acreditar, mas logo decidiu aceitar a possibilidade de que fosse certo que Alyssa tivesse sentido falta… Igual ele tinha tido saudades dela.
A idéia de sentir falta da uma mulher o inquietava, mas quisesse ou não, a verdade era essa. Alyssa povoava suas fantasias diurnas e seus sonhos noturnos desde que tinha chegado ao rancho. E não gostava de nenhuma coisa nem outra.
Como podia ter adquirido um posto tão importante em seus sentimentos em tão pouco tempo?
Desde a ruptura com Chantelle, tinha mantido várias relações, mas nenhuma delas tinha tido nenhuma importância nem lhe tinha deixado rastro. Mas Alyssa começava a ser algo mais que isso. Estava fazendo um oco cada vez maior em seu coração.
Uma mecha de cabelo lhe caía sobre o rosto. Clint se inclinou e o retirou com delicadeza, cuidando para não despertá-la. Suspirou sabendo que não devia estar ali, mas consciente, também, de que, se não tivesse ido vê-la, não teria pregado os olhos em toda a noite.
Também sabia que sua visita ao quarto de Alyssa tinha outro significado: precisava estar perto dela.
Irritava-lhe pensar o muito que tinha desejado vê-la durante os dias que tinha estado ausente. Por isso mesmo precisava recuperar o domínio de si mesmo antes da manhã seguinte. Tinha que sufocar as emoções que Alyssa despertava nele e estabelecer certa distância entre eles.
Franziu o cenho ao dar-se conta de que ia ser muito mais difícil do que gostaria e que só conseguiria passando fora do rancho mais dias do que tinha calculado inicialmente.
Mas se essa era a única solução, por que lhe provocava tanta amargura pensar em levá-la a cabo?
Quando despertou na manhã seguinte, Alyssa ouviu vozes de homens sob a janela de seu dormitório.
Saltou da cama e colocou uma bata. Ao aparecer à janela, lhe parou o coração ao ver três dos homens que formavam parte da equipe que tinha ido com Clint, o qual só podia significar que ele também estava no rancho.
Com um sorriso nos lábios, Alyssa foi ao banheiro. Em meia hora, estava pronta e ansiosa para ver Clint antes que voltasse a partir.
Desejava encontrar-se com ele, saciar-se de sua presença. Olhou-se por uma última vez no espelho antes de deixar o quarto e lhe satisfez o aspecto que apresentava com uns jeans, uma camisa branca e as botas novas que tinha comprado no dia anterior, ao ir de carro ao centro comercial com Chester. Sentia-se como uma verdadeira garota do Texas.
Tomou ar e agarrou a maçaneta da porta com mãos trementes, rezando para que seu coração recuperasse seu ritmo normal. Para isso, teria que deixar de pensar que, em uns minutos, estaria respirando o mesmo ar que Clint.
Abriu a porta e lhe deu um tombo o coração. Apoiado na parede da frente, como se a estivesse esperando, encontrava-se Clint. Alyssa ficou sem palavras. Antes de que conseguisse reagir, Clint se aproximou, puxou ela para si e a beijou com uma urgência que a deixou atônita.
Sem oferecer a menor resistência, ela abraçou seu pescoço e se estreitou contra ele, deixando que sua língua entrasse em sua boca tão profundamente como Clint quis. Toda idéia relacionada mantendo o controle da situação ou distanciar-se de Clint se esfumaçou. Só podia pensar na felicidade que sentia por sua volta, porque estava ali, com ela, e explorasse sua boca com uma fome que só podia significar que ele também tinha sentido falta dela.
A amnésia se apoderou dela, lhe fazendo esquecer que devia proteger seu coração e a determinação que tinha tomado ao longo da noite de exigir a Clint que reprimisse seus impulsos. Toda sua energia se concentrou no intenso desejo que ameaçava devorando-a enquanto devolvia o beijo a Clint com a mesma paixão que ele o estava dando.
E quando finalmente Clint separou a boca da sua e percorreu com sua língua o contorno de seus lábios, Alyssa ouviu a si mesmo gemer e notou que lhe umedeciam as calcinhas. Clint alcançava partes de seu corpo às quais não tinha chegado nenhum outro homem e despertava nela desejos que desconhecia ter.
—Tenho que ir. —sussurrou Clint contra seus lábios.
Sua voz quebrada e rouca acabou por desmoronar toda pretensão de frieza e distanciamento por parte de Alyssa.
—Café da manhã? —foi a única palavra que foi capaz de articular.
—Já comi. Tenho que voltar para os pastos. Tenho que passar o dia fora, mas queria te ver antes de ir.
As palavras de Clint multiplicaram o comichão que lhe percorria o corpo. Continuando, como se não tivesse tido o bastante, Clint voltou a beijá-la. E uma vez mais, Alyssa lhe devolveu o beijo com a paixão de uma mulher faminta por estar com um homem, e não um qualquer, a não ser o que a abraçava naquele momento: Clint.
Quando finalmente separaram suas bocas, Alyssa teve a segurança de que tinha os lábios inchados. Qualquer um que a visse naquele momento, poderia adivinhar a causa, mas lhe dava o mesmo.
—Tenho que ir. —repetiu Clint. E como se precisasse vencer a tentação de voltar a estreitá-la em seus braços, deu um passo atrás. Olhou para ela por uns segundos e alargou a mão para lhe acariciar os lábios— Ontem à noite me jurei que não voltaria a fazer isso, —disse com voz aveludada— mas não consigo evitá-la. Alyssa Barkley é uma tentação a qual não posso resistir.
E sem esperar que Alyssa respondesse, partiu.
—Ocorreu algo, chefe? —perguntou um dos peões a Clint umas horas mais tarde, enquanto trabalhavam com os cavalos.
Clint olhou a Walter Pockets com expressão contrariada.
—Estou perfeitamente bem, por quê?
O peão, que só tinha dois anos trabalhando para ele, vacilou antes de responder.
—Porque está pondo a sela ao contrário.
—Maldita seja. —resmungou Clint, tirando a sela e colocando-a corretamente sobre o cavalo, uma vez que se dizia que tinha sorte de que só Pockets tivesse visto cometer tal engano— Tenho a cabeça em outra parte. —acrescentou, embora soubesse que era uma má desculpa. Ele era o primeiro em repreender a seus homens se desconcentravam enquanto realizavam a mais simples de suas tarefas manuais. Trabalhar em um rancho exigia uma grande concentração. E aquele dia era ele quem estava falhando.
—Se quiser, posso me adiantar para ver como vão as coisas. —disse Pockets.
Clint avaliou a oferta de seu homem. Era quase a hora de almoçar. E embora tivesse pensado comer com seus homens, estava começando a mudar de idéia. Beijar Alyssa não tinha ajudado a mitigar o desejo que despertava nele. Ao contrário, cada vez que seus lábios tocavam os dela, aumentava a necessidade que sentia de tê-la perto. E por mais que tentasse combater o impulso de beijá-la, fazê-lo tinha se convertido em um algo tão necessário como respirar.
—Obrigado. —se ouviu dizer.— Lhe agradeceria isso. Tenho que resolver um assunto em casa. —disse com tanta sinceridade como foi capaz.
Em menos de meia hora, entrava na cozinha. Chester elevou a vista da panela no qual cozinhava e o olhou com surpresa.
—Não te esperava até esta noite.
Clint se encolheu de ombros.
—Terminei logo. Onde está Alyssa? Em meu escritório?
—Não. Perguntou-me se podia tomar emprestada a caminhonete para ir à cidade. Disse que ia tomar banho, assim deve estar em seu quarto.
A imagem de Alyssa nua sob o jorro da ducha excitou Clint automaticamente. Perguntando-se por que Alyssa necessitaria ir ao centro, foi para o escritório.
—Deveria ir com ela. —ouviu dizer Chester. Clint deu meia volta e voltou para a cozinha.
—Por quê?
Chester sorriu.
—Para ajudá-la a trazer as bolsas e caixas que vai recolher.
Clint franziu o cenho.
—Que bolsas e que caixas?
—As das compras que vai fazer. —disse Chester.
Clint cruzou os braços.
—E por que demônios ia acompanhá-la às compras?
Chester riu silenciosamente.
—Assim teria uma desculpa para passar um momento com ela fingindo que a ajuda. E não insulte minha inteligência me perguntando o que me faz pensar que queira passar um tempo com ela, Clint. Vi como estavam os lábios no café da manhã.
Clint fez uma careta de impaciência.
—E?
—E tenho a impressão de que deve ser um pouco mais delicado. —disse Chester com uma risada sufocada.
Clint não acreditava poder sê-lo, mas em lugar de responder a Chester, deu meia volta e se foi.
—Onde estão às chaves da caminhonete, Chester? —perguntou Alyssa, olhando a seu redor. Estava segura de tê-las deixado sobre a mesa da cozinha quando Chester as tinha dado a primeira hora da manhã.
—Estão com Clint. —disse Chester.
Alyssa pareceu surpreendida.
—Clint?
—Sim. —disse ele, sem afastar o olhar da panela.
—Achei que ia passar todo o dia fora. —disse Alyssa.
Chester sorriu.
—Eu também acreditava nisso, mas se vê que mudou que planos.
—E necessita da caminhonete?
—Não. —disse Chester— Acredito que pegou as chaves porque vai contigo à cidade.
Alyssa tragou para tratar de desfazer o nó que lhe formou na garganta.
—Está seguro?
—Completamente. De fato, está te esperando lá fora.
Alyssa se alegrou de que Chester não visse sua expressão de alegria e de surpresa.
—Bom, então suponho que nos veremos em uma hora. —disse, olhando ao relógio.
—Duvido-o. —disse Chester.
—Perdão? —perguntou Alyssa, que pensava que tinha ouvido mal.
—Nada. —disse Chester.
Alyssa lhe lançou um olhar de desconcerto, convencida de que sim havia dito algo. Mas em lugar de lhe interrogar, foi para o salão com pernas trementes. Por que Clint iria querer acompanhá-la à cidade? Teria recebido uma chamada de Hightower? Se for assim, certo que a teria dito.
Deteve-se justo antes de abrir a porta para recuperar a calma. Era a primeira vez que via Clint desde o beijo da manhã, ao que ainda não tinha conseguido sobrepor-se. E o prazo para obtê-lo se tinha acabado dramaticamente com a inesperada volta de Clint.
Tomou ar e abriu a porta com decisão. Diante dela, apoiado na caminhonete e obviamente esperando-a, estava Clint. Assim que o viu, sentiu mariposas no estômago.
Desceu a escada lentamente, tentando ignorar o intenso olhar com que Clint a percorreu de cima abaixo. Para não deixar-se intimidar, Alyssa o imitou. Viu que tomou o trabalho de tomar banho e barbear-se. Estava arrebatador com uns jeans limpos e uma camisa azul anil; cruzava as pernas à altura dos tornozelos e levava um chapéu negro. Era a viva imagem do ideal masculino de Alyssa.
Enquanto caminhava para ele, ficou consciente de que Clint a olhava com desejo. Ao chegar a seu lado, atraiu-a para si até que seus corpos se roçaram, e com seus lábios a uns milímetros dos dela, sussurrou:
—Está bem?
Alyssa queria lhe dizer que não e que não estaria até partir do rancho. Mas enquanto isso e pela primeira vez em sua vida, estava começando a considerar todas as possibilidades que lhe abriam enquanto estivesse ali, e as tórridas lembranças que podia armazenar e as que poderiam aferrar-se quando voltasse para sua solitária cama.
—Sim, estou bem. —balbuciou.
Como resposta, Clint lhe passou a língua rapidamente pelos lábios e a soltou. Alyssa pestanejou, perguntando-se se teria sonhado, apesar de que a umidade que sentia nos lábios era a prova evidente de que tinha acontecido.
—Podemos ir? —perguntou Clint com voz rouca, deslizando a mão por seu braço até tomar a dela.
—Sim. —disse Alyssa com o coração acelerado.
Clint lhe abriu a porta do carona e ela subiu. Por um instante, pensou que voltaria a beijá-la, mas Clint se inclinou para lhe colocar o cinto de segurança.
—Obrigada. —disse ela com voz tremente.
Clint sorriu.
—De nada. —e fechou a porta.
Alyssa agarrou sua bolsa com força enquanto o via rodear a caminhonete assobiando uma canção antes de colocar-se atrás do volante. Depois de colocar o cinto e pôr o motor em marcha, Clint se voltou para ela e perguntou:
—Aonde vamos?
Alyssa arqueou as sobrancelhas ao ver que estava com um extraordinário bom humor.
—Vai abandonar suas tarefas para se fazer de chofer? —perguntou, esboçando um sorriso.
—Suponho que sim. —disse ele sem deixar de sorrir— Quando soube que ia às compras, pensei que era um bom momento para procurar o cinto que necessito.
—Ah... —disse Alyssa, embora soubesse que isso não explicava por que tinha trocado de planos para voltar para o rancho antes do tempo.
—Assim, aonde vamos? —perguntou ele de novo…
—Ao centro comercial Highland? —sugeriu Alyssa.
Era seu lugar de compras favorito quando, durante o tempo que formou parte dos rangers, vivia em Austin.
—Pois vamos lá. —disse Clint, e pôs o veículo em movimento.
Alyssa se apoiou no respaldo, perguntando-se com expectativa como transcorreria o resto do dia.
Capítulo Nove
Clint e Alyssa voltaram para rancho ao entardecer. Além de ir às compras, Clint tinha sugerido ir ao cinema e, como não se decidiam entre os dez filmes que passavam, optaram por ver dois.
Clint tinha gozado imensamente da companhia de Alyssa, e tinha descoberto novos traços de sua personalidade. Por exemplo, que lhe entusiasmava a comida mexicana e que amava seu trabalho. Com o passar do dia, Alyssa tinha explicado o processo de criar uma página de Web e como cada uma delas se adaptava às necessidades de cada cliente e exigia um desenho diferente. Também tinha falado dos buscadores e de sua importância para os usuários de Internet.
Durante o almoço, Clint tinha desfrutado tanto vendo-a comer que até tinha chegado a sentir-se excitado. Mas se isso o tinha desconcertado, ainda mais surpreendente tinha sido descobrir que desfrutava fazendo compras com ela. Era uma grande compradora e tinha demonstrado ser uma especialista em conseguir pechinchas.
—Onde quer que deixe as bolsas? —perguntou ao entrar em casa.
—Em meu quarto, por favor.
Clint olhou a Alyssa com ironia.
—Está me fazendo uma oferta?
Alyssa sacudiu a cabeça.
—Só te deixo passar para que deixe os pacotes, Clint. —replicou sorridente.
Enquanto acompanhava Alyssa a seu dormitório, pensou que tinha cometido um engano ao decidir que ocupasse um dormitório tão afastado do dele.
—Te disse que está preciosa? —perguntou subitamente.
Alyssa o olhou de soslaio.
—Obrigada. —replicou timidamente. E Clint se deu conta de que a tinha desconcertado.
Ao chegar à porta do dormitório, esperou que Alyssa entrasse.
—Pode deixar os pacotes sobre a cama. —disse ela.
—Como quiser. —disse Clint. Tinha estado ali aquela noite, enquanto Alyssa dormia, e a lembrança de sua imagem respirando tranquilamente, relaxada, excitou-o.
Ao girar-se pra deixar as bolsas na cama, viu que Alyssa o observava e, como em outras ocasiões, ficou consciente da magnética atração que sentiam um pelo outro, e soube que Alyssa também a notava.
—Esta é sua. —disse Alyssa, lhe dando uma das bolsas.
—Claro, o cinto! —disse Clint com uma risada sufocada ao tempo que pegava.
Logo, atraiu Alyssa para si e advertiu o brilho apaixonado que se escondia no fundo de seu olhar.
—Sempre me prometo não te beijar e logo acabo fazendo-o. —disse em um sussurro.
—Por quê?
Clint esboçou um sorriso.
—Já te disse por que. Quer que lhe recorde isso?
—Sim, por que não? —disse Alyssa, insinuante.
Clint a fez sentir seu sexo ereto ao tempo que colocava as mãos na parte baixa de suas costas e a empurrava contra si.
—Necessita que lhe explique isso? —perguntou com voz rouca.
Alyssa sustentou o olhar.
—Sim. —disse, maliciosamente.
Clint se inclinou e passou a ponta da língua pela bochecha.
—Eu a adoro como sabe. Um dia destes, Alyssa, vou provar o resto de seu corpo.
Ouviu a respiração entrecortada de Alyssa. Sabia que tinha falado com crueldade, mas precisava ser sincero. Se sua relação seguisse pelo caminho que ia e não conseguiam controlar-se, não demorariam a romper o acordo que tinham feito.
—Recorda que temos um acordo. —disse ela em um sussurro.
—Recordo perfeitamente. —disse ele, apertando-a contra si— E você?
Alyssa elevou o rosto para olhá-lo nos olhos.
—Claro que sim.
—Você foi quem o impôs, Alyssa, e só você pode rompê-lo. Enquanto você não mudar de opinião, eu manterei minha promessa.
—E... e então… suas insinuações? —balbuciou ela.
Clint sorriu.
—O que tem minhas insinuações?
Alyssa estudou seu rosto e decidiu que não falava sério.
—Está tirando sarro de mim. —disse.
—Absolutamente. Estou falando completamente a sério.
Como se tivesse cansado de jogar, Alyssa elevou o queixo com gesto irado.
—Não pode ter tudo o que quer, Clint.
Ele riu sem convicção.
—Querida, quando te tiver, penso te dar isso tudo tal e como sonhei em minhas fantasias noturnas. —e como se quisesse lhe fazer uma demonstração, entreabriu as pernas ao tempo que apertava Alyssa contra sua virilha. Logo se inclinou e lhe deu um beijo— Nos veremos na hora de jantar.
—Hoje não vou jantar. —replicou Alyssa.
—Espero que não o faça isso por mim. —disse Clint.
—Não. —disse ela com tensão— Faço por mim.
Alyssa se espreguiçou na cama. Era mais dê meia-noite e se deitou depois de tomar banho e pôr uma das folgadas camisetas com as quais estava acostumado a dormir.
Não tinha ido jantar porque precisava passar umas horas sem ver Clint. Tinha conversado um momento com sua tia Claudine que, felizmente, não tinha lhe perguntado por ele.
Chester tinha chamado a sua porta se por acaso queria que lhe levasse uma bandeja com o jantar, mas ela, lhe agradecendo a oferta, havia dito que não sentia falta. Supunha que Chester suspeitava, erroneamente, que não queria jantar com Clint porque tinham discutido. Precisava estar a sós porque quando estava com Clint não era capaz de pensar racionalmente.
Soou seu celular e franziu o cenho perguntando-se quem podia chamá-la àquela hora. Sua tia Claudine se deitava por volta das nove da noite.
Incorporou-se e pegou. Seu gesto de desconcerto se intensificou ao dar-se conta de que se tratava de Kim. Como teria conseguido seu telefone? Era impossível que o tivesse dado sua tia.
—Sim? —respondeu, decidindo que já era hora de enfrentar a sua prima.
—Há! Cheguei a pensar que te tinha evaporado da face da terra! —exclamou Kim.
Alyssa virou os olhos.
—O que quer, Kim?
—Onde está?
—Dá no mesmo. O que quer?
—Todo mundo se pergunta onde está, e a tia Claudine só diz que foi ver um cliente.
—Será que é verdade? —Alyssa não pensava lhe dar nenhuma informação.
—Alyssa, não acha que já é hora de que falemos? Estou farta de que me culpe por ser incapaz de conservar os homens. Não é culpa minha que todos acabem me preferindo.
—Escuta, Kim, tenho coisas a fazer.
—E não vai me dizer onde está?
—Não.
—Pior para ti!
—Adeus, Kim, e por favor, não volte a ligar. —disse Alyssa, e desligou.
Respirou profundamente e se levantou da cama fazendo um esforço sobre-humano por conter sua indignação. Embora Kim fosse muito diferente de Clint, irritava-lhe a segurança que ambos mostravam. Entretanto, custava imaginar que Clint fosse capaz de fazer mal deliberadamente.
Para livrar-se da energia negativa que acabava de acumular, decidiu ir ao escritório de Clint jogar no computador.
Na casa reinava um profundo silêncio, assim admitiu que Clint estaria dormido. Foi nas pontas dos pés até o escritório e abriu a porta com cautela. Estava vazio.
A conversa com Kim tinha lhe enchido de ansiedade. Ligou o computador e enquanto esperava que iniciasse, tentou conter a ira que sentia. De repente, ouviu um ruído. Girou-se e, ao ver Clint na porta, ficou paralisada.
—Acreditava que dormia. —disse, decidida a aparentar uma calma que estava longe de sentir.
Clint esboçou um sorriso.
—Como pode ver, estou muito acordado.
Alyssa viu que nem sequer se despiu, e ao deslizar o olhar por seu corpo, descobriu que tinha uma ereção. A mera noção de que a desejasse bastou para acelerar suas pulsações e para que seu coração pulsasse com força. Imediatamente, seus lábios tremeram com a lembrança dos beijos que se deram.
Respirou profundamente para tentar deter a quebra de onda de desejo que lhe percorreu o corpo em resposta ao que percebia em Clint.
—Veio por algum motivo? —perguntou com voz tremente.
—Sim. —disse ele com arrogância ao tempo que se aproximava dela. Quando chegou ante a escrivaninha, apoiou as mãos nela e, inclinando-se para frente até que seu rosto quase tocava o de Alyssa, disse: — Esta noite quero te ensinar uma nova versão de Jogando com fogo.
Alyssa recuou para trás lentamente.
—Fez uma promessa. —disse em tom acusador.
—Prometi não te levar a minha cama, Alyssa. —disse ele. E por um instante afastou o olhar dela para olhar a seu redor— Aqui não há nenhuma cama.
Alyssa elevou o queixo.
—Não necessita uma cama para o que quer fazer, você mesmo disse. —disse, desafiante.
Clint sorriu.
—Tem razão. Para fazer amor não necessito uma cama, mas sim que você deseje. Jamais te forçaria.
Alyssa acreditou, mas também sabia que não precisaria muito esforço para convencê-la. Clint tinha se convertido em sua debilidade.
—Não farei nada que não queira. Vem jogar comigo. —disse ele, lhe estendendo a mão— Confie em mim.
Sem dar-se conta do que fazia, Alyssa lhe deu a mão e soube que acabava de deixar sua sorte nas mãos do destino.
Clint Westmoreland exigia dela mais do que tinha exigido algum homem. Estava assumindo um risco maior de que tinha aceitado com Kevin. E ao olhar fixamente os escuros olhos de Clint soube que fazia era porque o amava, porque estava apaixonada por ele.
Não quis perder o tempo perguntando-se quando nem por que tinha acontecido. Estava disposta a aceitá-lo sem mais, como estava disposta a assumir que entre eles não haveria mais que sexo e que seus sentimentos não encontrariam resposta em Clint.
Ao final de trinta dias partiria. Mas naquele instante, escolheu viver plenamente.
—Confio em ti, Clint. —sussurrou— Ensine-me a jogar contigo.
Capítulo Dez
Sem soltar a mão de Alyssa, Clint a fez rodear a escrivaninha até que a teve diante de si. Queria lhe demonstrar quanto a desejava. Para isso posou suas mãos sobre o traseiro de Alyssa e a atraiu para si, deixando escapar um surdo gemido ao sentir seu endurecido sexo contra seu ventre.
—Alyssa. —sussurrou, justo antes de cobrir seus lábios com os dele e beijá-la vorazmente.
A intensidade que despertavam seus beijos o sacudiu uma vez mais até a medula. O sabor de sua boca o embriagava. E cada vez que o provava, debatia-se entre saboreá-lo lentamente ou fartar-se dele como se não tivesse a provado em dias.
Para encontrar o equilíbrio, teve que frear-se. Queria que a paixão que os devorava fosse o mais duradoura possível. Queria fazer amor com Alyssa uma vez, e outra… e outra mais.
Do seu ponto de vista, não estavam quebrando os termos de sua relação. Limitava-se a dar um passo mais à frente. Eram dois adultos e, como tais, podiam permitir-se. Não haveria promessas, só agradar. Ao cabo de trinta dias seu matrimônio seria anulado e Alyssa partiria. Sua vida continuaria igual à antes de receber a carta em que tinham lhe notificado o engano da agência. E, entretanto, por algum estranho motivo, pensar na partida de Alyssa lhe inquietava, embora preferisse não analisar a causa.
Alyssa o empurrou brandamente no peito com as mãos para que a soltasse, e ao ver seus lábios inchados e avermelhados, Clint compreendeu que necessitava uma pausa.
—Não sei se vou poder agüentar muito mais. —disse ela em um sussurro ofegante.
Clint sabia que podia beijá-la de maneiras muito diferentes e estava ansioso por explorá-las. Para ele, nisso consistia o Jogar com Fogo, e ardia em brasas para comprovar quanto calor era capaz de agüentar Alyssa.
—Veem comigo. —disse.
Depois de levá-la até o sofá, sentou-se e a fez sentar-se sobre seu colo. Logo, deu-lhe um beijo no rosto e quando Alyssa fez gesto de baixar camiseta para cobrir as pernas, deteve-a.
—Deixe-a assim. —sussurrou. E lhe acariciou a coxa.
Desde o primeiro momento tinham lhe chamado a atenção suas pernas, mas Alyssa levava dias as ocultando sob umas calças jeans que, por outra parte, enfatizavam suas femininas curvas.
De fato, não havia nada de Alyssa que não gostasse. A única coisa que lhe causava certa desconfiança era o receio que mostrava a falar de sua família. Durante a saída para o centro comercial tinha tentado falar disso, mas Alyssa se mostrou esquiva e Clint não podia evitar perguntar-se o que opinariam de que fosse viver um mês com ele. Nem sequer sabia se, tal e como ele tinha feito com seus irmãos, o teria contado.
Aquela tarde tinha ligado a Cole no México, onde estava cumprindo uma missão para a agência, e igual à Casey, Clint não tinha tido escrúpulos em lhe explicar a situação. Como era de esperar, Cole tinha achado hilariante e havia dito que se alegrava de não estar em sua pele. Logo, tinha-lhe perguntado se Alyssa era bonita, ao que Clint tinha respondido que extremamente.
—E está seguro de não querer tê-la perto um pouco mais de tempo? —perguntou Cole.
Clint tinha respondido rapidamente:
—Certamente que não. Em trinta dias, irá.
—Clint?
A voz da Alyssa o devolveu ao presente, e Clint se deu conta de que tinha subido a mão por sua coxa distraidamente.
—Sim? —perguntou com um sorriso.
—O que vai me fazer? —perguntou ela em um sussurro.
Com uma calma que estava longe de sentir, Clint respondeu:
—Vou ensinar-te uma nova versão de Jogando com fogo, mas o objetivo do jogo seguirá sendo o mesmo. Minha meta é te fazer explodir, querida. —sussurrou contra os trementes lábios de Alyssa.
Continuando, mudou a posição de Alyssa sobre seu colo para lhe tirar a camiseta e não lhe surpreendeu descobrir que, tal e como tinha imaginado, estava completamente nua. Alyssa havia lhe dito que confiava nele e pensava comprovar até que ponto dizia a verdade.
Ficou em pé com ela em seus braços e a jogou sobre o sofá, exposta a seu olhar. Deslizou os olhos por seus seios, descobriu um piercing em seu umbigo, e, um pouco mais abaixo, seu centro de mulher e suas largas e preciosas pernas.
—É espetacular. —murmurou.
Fascinado e cativo, ajoelhou-se lentamente diante dela para tocá-la e saboreá-la. Alargou as mãos e cobriu seus seios antes de inclinar-se para frente para mordiscar seus mamilos, que se endureceram imediatamente.
Um gemido escapou da garganta de Alyssa e Clint sorriu ao pensar que só tinha começado.
—Você gosta de como te toco, Alyssa? —perguntou, ao tempo que lhe beliscava os mamilos— Como se sente? —sussurrou ao vê-la mordiscar o lábio inferior.
—Bem. —disse ela, ofegante.
—Você gosta?
—Sim. —disse Alyssa com os olhos fechados, como se lhe custasse um grande esforço articular cada palavra.
Então, Clint foi deslizando suas mãos por seu estômago, lhe acariciando a pele macia e suave até deter-se sobre o piercing enquanto sorria. Lentamente, alcançou a intercessão entre suas coxas e ouviu Alyssa conter o ar quando colocou os dedos em seu interior. Estava úmida, e seu aroma o enlouqueceu.
Contendo a vontade de saboreá-la, tirou a mão de sua virilha e a desceu por suas pernas até seus delicados pés. Não queria deixar sem tocar nem um milímetro de seu corpo.
—Chegou à prova do sabor. —murmurou, decidido a sentir o primeiro orgasmo de Alyssa nos lábios.
Ela abriu os olhos excessivamente.
—Não acredito que possa suportar muito mais.
Clint sorriu.
—Claro que sim. Espera e verá. Confia em mim.
Alyssa assentiu e Clint, inclinando-se, voltou a mordiscar seus mamilos.
Nunca tinha desejado tanto provar o sabor de uma mulher, nem lhe demonstrar quanto a desejava. Alyssa estava tão sensual e sedutora que um sem-fim de emoções o envolveu ao tempo que ia baixando a cabeça até alcançar a zona que tanto desejava.
Alyssa gemeu ao sentir sua boca em seu sexo, e quando a acariciou com a ponta da língua, esteve a ponto de cair do sofá. Mas Clint a agarrou, incorporando-a justo para pôr as pernas de Alyssa sobre seus ombros. Sentia-se dominado por uma energia sexual primitiva e básica, que estava decidido a transmitir a Alyssa de uma maneira muito íntima.
Lhe segurando os quadris, abaixou a cabeça e encontrou seu objetivo sem hesitar, apanhando seu núcleo feminino, fechando sua boca sobre ele. Alyssa era doce. Ela deixou escapar um rosário de gemidos e arqueou as costas enquanto Clint continuava atormentando-a com sua língua. Podia sentir o corpo de Alyssa ardendo, a ponto de estalar. Firmou suas mãos sobre seus quadris para ouvir que gritava e seguiu lambendo seu centro enquanto gozava com o corpo de Alyssa contorcendo-se contra sua boca.
Alyssa era uma mulher cheia de paixão, um sonho feito realidade. E quando já não pôde conter-se mais e estalou em uma sucessão de violentas sacudidas, Clint seguiu acariciando-a com sua língua. Sentia sua virilha a ponto de explodir, mas conseguiu mantê-la sob controle. Já chegaria sua hora. Aquela era a noite de Alyssa.
Quando percebeu que ficou caída e exausta, a tomou em seus braços e a beijou. Queria lhe dar tempo para que se recuperasse antes de voltar a começar.
Clint contemplou Alyssa do outro lado do escritório e sorriu ao vê-la dormir calmamente, esgotada por um excesso de paixão e sexo. Como queria deixá-la dormir, mas não gostava de separar-se dela, decidiu navegar pela Internet.
Em primeiro lugar, entrou na página de negócio de Alyssa e lhe impressionou ao ver a quantidade de bons comentários que recebia. Entre seus clientes se encontravam desde grandes firmas a indivíduos com necessidades básicas.
Para pôr em prática alguma das coisas que Alyssa tinha lhe explicado durante o almoço, decidiu provar um dos buscadores e encontrou várias fundações que, como a sua, dedicavam-se à criação de cavalos selvagens. Uma delas se encontrava no Arizona e decidiu contatá-la aquele mesmo dia.
Depois, só para entreter-se, introduziu o nome de Alyssa se por acaso encontrava outra das páginas que tinha desenhado ou às que estivesse associada. Na tela apareceu uma lista tanto de suas páginas como dos prêmios que tinha recebido e Clint não pôde evitar sentir uma pontada de orgulho.
Mas imediatamente seu olhar se endureceu. Em uma das entradas aparecia um artigo no qual se anunciava seu compromisso de casamento. Alyssa nunca tinha feito referência a ter estado prometida e Clint sentiu uma instantânea dor na boca do estômago.
Abriu o artigo e ficou sem ar. No titular leu que o advogado Kevin Brady se casava com Alyssa Barkley. A tensão se acumulou nos ombros do Clint enquanto lia o texto, datado dois anos atrás:
Em presença de mais de quinhentos convidados, o conhecido advogado Kevin Brady se casou com a desenhista de páginas de web, Alyssa Barkley.
Também se incluía uma fotografia de Alyssa, luzindo um espetacular vestido de noiva.
Clint fechou o artigo, indignado e enojado ante a possibilidade de ter feito amor com a esposa de outro homem. Nas primeiras conversas, Alyssa havia lhe dito que não estava casada. Entretanto, o artigo a contradizia.
Cabia a possibilidade de que estivesse divorciada, mas, mesmo assim, Alyssa devia tê-lo contado. Para ele, aquilo mudava tudo. Irritado, desligou o ordenador. Sentia-se enganado, extorquido.
Decidiu não despertar Alyssa, mas se sentou em uma cadeira, ao lado do sofá, e esperar que abrisse os olhos. Quando o fez, uma meia hora mais tarde, viu que o olhava com expressão desconcertada e que sorria. Ele a observou com severidade.
—Clint? —disse ela, erguendo-se em atitude alerta— O que passa?
Clint guardou silêncio, tomou a camiseta e a passou por cima da cabeça. Logo, em tom crispado, perguntou:
—Por que não me disse que estava casada, Alyssa?
Capítulo Onze
Alyssa o olhou boquiaberta, pela cara que fez Clint, deduziu que interpretava sua reação como se sentisse culpado. Por um instante se disse que, posto que Clint tivesse pensado o pior dela, possivelmente não devia lhe importar que acreditasse capaz de compartilhar com ele o que acabavam de compartilhar, enquanto estava casada com outro homem.
Mas imediatamente se deu conta de que sim lhe importava o que ele pensasse porque Clint tinha lhe dado aquela noite uma amostra de apaixonada entrega.
—Te fiz uma pergunta, Alyssa. —insistiu ele com a mesma frieza.
Contendo seu próprio aborrecimento, Alyssa sustentou o olhar enquanto sacudia a cabeça.
—Não estou casada, Clint.
—Mas esteve.
Alyssa se perguntou de onde teria tirado aquela informação e por não ter porque, era impossível, teria assumido que Kim voltava a intervir em sua vida.
—Alyssa. —insistiu Clint.
Evidentemente, não estava respondendo à velocidade que sua impaciência requeria. Alyssa não gostava de recordar, nem muito menos explicar, os detalhes da humilhação a que tinha sido submetida no dia de seu casamento. Pensar em todos os convidados que souberam que não ia se casar, que tinha sido incapaz de satisfazer a seu futuro marido, de maneira que este tinha procurado a atenção de outra mulher inclusive antes de casar-se… tudo isso tinha sido uma experiência devastadora para ela.
Consciente de que Clint esperava uma resposta, elevou o queixo e o olhou com olhos entreabertos.
—Nunca me casei, Clint.
Notou que a raiva de Clint se diluía parcialmente, mas também viu que estava confuso.
—E como explica o artigo e a fotografia que vi em Internet?
Assim era daí de onde procedia a sua informação. Alyssa se sentou no sofá com a maior dignidade de que foi capaz dada as circunstâncias.
—O casamento estava fixado para essa data, mas não se produziu e não deu tempo de retirar o artigo. Para ser justa, nem sequer recordei que devia chamar o jornal para cancelá-lo. Tinha outras preocupações na cabeça. —explicou.
«Por exemplo», pensou, «como era possível que minha prima me odiasse tanto para me fazer algo assim; ou como meu prometido se deixou usar para uma ação tão perversa».
—Quer dizer que anulou o compromisso no mesmo dia de seu casamento?
Alyssa pôde notar o estupor na voz de Clint.
—Exatamente. —disse com determinação.
Mas sabia que Clint necessitava de uma explicação mais pormenorizada dos fatos, assim começou a falar e a recordar aquele espantoso dia. Seus sentimentos de humilhação e vergonha não tinham diminuído nem um ápice.
—Aquele dia estava em casa, me preparando para ir à igreja, quando um mensageiro me trouxe um pacote. Continha as fotografias de meu futuro marido na cama com outra mulher. As fotografias chegaram bem a tempo para arruinar o que devia ter sido o melhor dia de minha vida. —concluiu.
Viu que Clint voltava a enfurecer-se, mas seu aborrecimento já não era dirigido a ela.
—Quer dizer que seu prometido se deitava com alguém a quem você conhecia e que essa pessoa te enviou as fotografias para te ferir?
Alyssa assentiu.
—Sim. E as fotografias eram muito explícitas. Kevin nem sequer se desculpou. Segundo ele, devia desculpar seu comportamento porque só tinha ocorrido em uma ocasião e não tinha significado nada.
—Que falta de vergonha! —disse Clint.
—Isso mesmo que eu disse. —repôs Alyssa, esboçando um sorriso.
—E o que aconteceu com a mulher?
—Conseguiu seu objetivo, que era me fazer mal e me humilhar. Queria demonstrar que podia arrebatar algo que eu considerasse como meu. —disse Alyssa.
Clint franziu o cenho.
—Que má pessoa! —disse enfaticamente.
Alyssa refletiu uns segundos.
—Ao menos, comigo foi.
Produziu-se um profundo silêncio durante o qual Alyssa sentiu que Clint a pesquisava com o olhar, e se perguntou o que estaria pensando. Compadeceria-se dela, como tantos outros, por não ter sido capaz de conservar ao seu homem, por não ter conseguido evitar que procurasse outra?
Ao ouvir um ruído se voltou para ele e descobriu com surpresa que se pôs em pé diante dela. Elevou o olhar com expressão confusa. Clint lhe pegou a mão e a ajudou a ficar em pé. Então, rodeou-lhe a cintura com seus braços e a estreitou contra si.
—Sinto ter acusado sem ter contrastado antes meus dados com você. —disse com voz rouca— Te asseguro que não voltará a acontecer. —acrescentou, olhando-a fixamente— Além disso, me alegro de que não te casou com esse tipo porque, se houvesse feito, não estaria aqui agora. —posou a mão na bochecha de Alyssa e concluiu— Em qualquer caso, não te merecia.
Isso era o que sua tia Claudine havia lhe dito aquele dia e com o passar do tempo quase tinha conseguido convencê-la.
Comovida pelas palavras de Clint, elevou o rosto para ele e sorriu.
—Obrigada. —disse.
—Não mereço, querida, porque é a verdade. Um homem capaz de ser infiel a uma mulher como você não deve estar em seu juízo perfeito.
Alyssa se encolheu de ombros.
—Teria que ver a mulher implicada.
—Não me faz falta. A beleza é algo superficial e um homem de verdade sabe. Eu não sou desses que se impressionam uma cara bonita, —disse Clint, sorrindo— embora seria o primeiro em admitir que a tua é preciosa. —acrescentou com doçura— Vamos, a acompanharei a seu dormitório.
Alyssa conteve a respiração ao dar-se conta do rápido e fácil que tinha sido apaixonar-se por Clint. E como, até sabendo que ele não sentia o mesmo por ela, amava-o tão profundamente que quase lhe resultava doloroso. Por isso sentiu o impulso de lhe demonstrar seu amor da única maneira que sabia e podia, dado que o tempo com o que contava era muito limitado.
—Não acabamos o jogo. —disse, insinuante, pensando nos dois orgasmos que Clint tinha lhe proporcionado.
Clint lhe acariciou os lábios.
—Não, mas tiveste bastante por uma noite, mas voltaremos a jogar, te prometo isso. Confie em mim.
Só então Alyssa ficou consciente de que confiava nele muito mais profundamente do que nunca teria chegado a imaginar.
Alyssa despertou na manhã seguinte assombrada por quanto tinham mudado as coisas com Clint em só uma noite. Estava segura de que ele seguia querendo anular o matrimônio e que partisse a Waco, mas também de que a desejava como mulher.
Olhou a hora e se incorporou de um salto ao ver que eram quase oito da manhã. Clint estava acostumado a levantar-se por volta das seis e aquela manhã era especialmente importante para ela vê-lo antes que fosse.
Saltou da cama e correu à ducha. Enquanto se ensaboava, contemplou com melancolia as marca que a paixão de Clint tinha lhe deixado sobre a pele, na virilha, no ventre. Nenhuma delas lhe importava, pois ficariam cobertas pela roupa. Nem sequer as do pescoço, que não poderia ocultar.
Em poucos minutos acabava de vestir-se, tomou ar e saiu do dormitório, rezando para que Clint não tivesse partido ainda.
—Há alguma razão pela qual não possa tirar os olhos da porta? —perguntou zombador Chester a Clint. Ao não obter resposta, continuou— Já verá como entra em qualquer momento. A não ser que sua mulher tenha alguma razão para dormir hoje até mais tarde… —brincou.
«Sua mulher».
Em Clint lhe formou um nó no estômago ao recordar que Alyssa era legalmente sua esposa.
—Tem algum motivo para dormir até tarde, Clint?
A pergunta de Chester o tirou de seu ensimesmamento. Mesmo assim, não se incomodou em olhá-lo porque não tinha a menor intenção de lhe responder. Sim. Alyssa tinha várias razões para dormir até tarde e todas elas tinham a ver com o que tinha passado entre eles na noite anterior. Clint notou que se endurecia e se alegrou de que Chester não pudesse vê-lo.
—Clint, não está me respondendo.
Clint seguiu com o olhar cravado na porta.
—Nem penso fazê-lo. Não tem trabalho?
—E você?
Clint franziu o cenho. Claro que tinha muito trabalho e que estava se atrasando, mas precisava ver Alyssa. Tinha passado a noite pensando no que tinha lhe contado sobre seu infiel prometido e o espantoso dia de seu casamento. Suas confissões tinham produzido tanta inquietação que tinham causada insônia. E uma coisa e outra o tinham feito recordar a infidelidade de Chantelle e a frieza com que, depois de comprovar que ele não tinha outra aspiração que ser ranger, tinha decidido que não era bastante para ela e se casou com um banqueiro.
Clint era um perito em traições. Sabia perfeitamente o que era estar apaixonado, acreditar que a outra pessoa sentia o mesmo, e descobrir subitamente que tudo era um engano.
Em algum lugar da casa se fechou uma porta e o ruído o sobressaltou.
—Não tem que levar o café da manhã aos homens? —perguntou a Chester.
O velho riu silenciosamente.
—Já levei, mas se o que quer é que vá, vou. —disse, secando-as mãos em um pano de cozinha. Ao chegar à porta, voltou-se e perguntou— Pensaste se vai à festa de beneficência do hospital? Este ano será na casa do governador. Recordei a Casey e ela e McKinnon vão. Também falei com alguns de seus primos e aceitaram. Não te parece fantástico?—depois de uma pausa, acrescentou— Ainda não falei com Cole, mas ao menos este ano não terá a desculpa de que não sabe com quem ir.—concluiu com uma risada.
Clint lhe lançou um olhar envenenado e Chester saiu precipitadamente. Assim que desapareceu, Clint esqueceu tudo o que havia lhe dito e prestou atenção ao ruído de pegadas que se aproximavam.
Estava ansioso em ver Alyssa. De repente, abriu-se a porta e ali estava, sorridente, ainda mais bonita do que a recordava.
—Bom dia, Clint.
Se aproximou dela, estreitou-a em seus braços e disse:
—Bom dia, Alyssa. —antes de beijá-la. Não compreendia o que estava lhe passando e tampouco queria analisá-lo. Só queria fazer o que fazia naquele instante: explorar a boca de Alyssa com uma fome que o desconcertava.
Finalmente, elevou a cabeça e olhou os umedecidos lábios de Alyssa. Quando ela sussurrou seu nome, voltou a beijá-la com a paixão que o consumia. E fazê-lo proporcionava um prazer quase doloroso.
Naquela ocasião, quando elevou a cabeça posou um dedo nos lábios de Alyssa.
—Adoro te beijar. —sussurrou. Ela sorriu com doçura.
—Começo a acreditar. Sobre tudo desde ontem à noite. —Clint sorriu por sua vez.
—Vêm tomar o café da manhã. Chester manteve a comida quente.
—E a tua?
—Já tomei o café da manhã, mas me sentarei contigo.
—Vale a pena.
Clint tomou a mão de Alyssa pensando que poderia chegar a acostumar-se a tê-la sempre perto.
Alyssa se derretia cada vez que Clint a olhava. Em um par de ocasiões tinha arrojado uma olhada ao relógio e se deu conta de que, apesar de todo o trabalho que tinha, estava atrasando-o para passar um momento com ela.
—Tenho lido toda a informação sobre a fundação da pasta. —comentou.— E me ocorreram algumas ideia que eu gostaria de dividir contigo. A não ser que fazer uma página de Web fosse só uma brincadeira, claro.
Clint bebeu café sem afastar o olhar dela.
—Falava completamente a sério. Até disse a Casey.
Alyssa arqueou uma sobrancelha.
—De verdade?
Clint riu.
—Sim. Eu sou o presidente e diretor executivo de um conselho administrativo constituído por Casey e Cole. Contratamos vários trabalhadores para mudar cavalos e queremos conscientizar às pessoas sobre a causa dos cavalos selvagens. —disse.
Alyssa assentiu.
—É evidente que vocês adoram os cavalos.
—Adoramos. —disse Clint sorrindo— E, falando de cavalos… quero que pare de trabalhar as três.
Alyssa o olhou surpreendida.
—Por quê?
—Porque vai montar. —disse ele.
—Já te disse que preferiria não fazê-lo. —disse ela com gesto de preocupação.
—E não esqueci. Mas montar a cavalo é como andar de bicicleta: se cair, levanta e volta a tentá-lo.
—Mesmo que quebre um braço na queda?
—Sim, embora te rompa o braço. Quantos anos tinha quando passou por isso?
—Dez.
—Dez? Pois chegou à hora de superar seus medos. Assim… temos um encontro às três?
—Está bem. Combinamos às três. —disse Alyssa, sorrindo.
Capitulo Doze
Alyssa tomou ar antes de sair ao alpendre. Como no dia anterior, Clint a esperava, mas hoje, sobre o lombo de um cavalo. Um enorme e precioso garanhão de aspecto ameaçador.
—Não vai te morder. —disse Clint. Alyssa o olhou com desconfiança.
—Está seguro?
—Certamente. Não permitiria que corresse nenhum risco. Pensei que devia começar com segurança, assim hoje vai montar comigo. Royal pode com os dois.
—Royal?
—Sim. É o primeiro garanhão que trouxemos de Nevada o ano passado. Era selvagem e feroz.
Alyssa sorriu.
—E você o domou, claro.
—De fato. E após foi meu cavalo. —disse Clint com orgulho.
Alyssa olhou a Clint e ao cavalo alternadamente.
—É evidente que faz muito bem seu trabalho.
—Não sou perfeito, mas obrigado de todas as formas. —disse ele.— Vem até aqui para que possa te elevar.
Alyssa evitou olhar ao cavalo para não acovardar-se e obedeceu a Clint. Quando este pôde alcançá-la, subiu-a sobre o cavalo, detrás dele. Alyssa se abraçou a sua cintura. Clint se girou.
—Está pronta?
—Dentro do possível… Promete que não vou cair?
Clint sorriu.
—Prometo-o.
Tranqüilizada com a resposta, Alyssa apoiou a cabeça nas costas de Clint.
—Então, sim, estou preparada. —disse, esforçando-se para soar valente.
E assim permaneceu enquanto Clint arrancava ao trote e ao chegar a campo aberto, rompia a galope.
Clint adorava sentir Alyssa a suas costas. A levava ao seu lugar favorito do rancho porque queria compartilhá-lo com ela.
—Está bem? —perguntou. Alyssa não tinha aberto a boca desde que se puseram em marcha.
Em lugar de responder, Alyssa se agarrou a ele com mais força. Clint podia sentir seus mamilos endurecidos contra suas costas. Notava-se que não usava sutiã e a sensação era muito agradável. Suas coxas se fechavam sobre as dele com o esforço de agarrar-se ao cavalo, e o excitavam.
—Perfeitamente. —disse finalmente.— Onde vamos?
—Já verá. —disse ele.—Não demoraremos para chegar.
Como se a resposta fosse reconfortante, Alyssa se acomodou às costas de Clint e juntos, cavalgaram contra o vento.
Logo, chegaram aos pastos da cordilheira sul e Clint deteve o cavalo perto de um bosque de carvalhos. Desmontou, tomou as rédeas e as atou ao redor de um tronco. Logo, olhou a Alyssa, que seguia montada, e a encontrou espetacular. Imediatamente, o sangue se amontoou na virilha. Elevou os braços para ajudá-la a desmontar. Assim que seus corpos entraram em contato, sentiu que se abrasavam e quis beijá-la ali mesmo, sob o imenso céu azul.
E fez isso.
Apoderou-se de sua boca com a mesma ansiedade com que sempre fazia, e Alyssa lhe ofereceu sua língua instantaneamente, que ele tomou com avareza. O som de seus gemidos aumentou sua excitação. O beijo se prolongou e Alyssa concentrou toda sua energia nele.
Clint elevou a cabeça para resistir à tentação de ir mais à frente. Essa não tinha sido sua intenção inicial. Queria lhe mostrar algo, compartilhá-lo com ela.
—Vem aqui. —disse, pegando mão dela e guiando-a para o barranco que divisava o vale.
Alyssa seguiu o olhar de Clint e descobriu milhares de cavalos selvagens galopando em liberdade.
—Clint, é maravilhoso. —disse.
Ele a olhou.
—A outra noite, quando dormia e eu liguei o computador, encontrei várias fundações similares à minha. Não somos os únicos que querem salvar aos cavalos.
Do vale chegou um som que chamou sua atenção. Ao olhar, Alyssa viu dois cavalos que pareciam brigar.
—Os garanhões brigam constantemente para manter o poder sobre a manada. —explicou Clint. Dois dos garanhões se escoiceavam e se mordiam.— Reúnem a éguas em grupos que consideram de sua posse. —riu antes de acrescentar— Diríamos que tem um harém e devem defendê-lo de outros garanhões que tentam lhe roubar.
—E em cada manada só consta um garanhão e várias éguas? —perguntou Alyssa, fascinada pela informação.
—Durante um tempo. —respondeu Clint—, Uma vez as éguas dão a luz, os potros se unem à manada. Mas assim que crescem, o líder da manada os expulsa.
—E o que fazem então?
—Normalmente se reúnem em uma manada de garanhões solteiros. —disse Clint, sorrindo— Se dão bem até que despertam sexualmente e começam a perseguir éguas. É então quando começam as brigas.
—Está claro que a sexualidade pode chegar a converter-se em um problema. —disse Alyssa, sorrindo por sua vez.
—Sim é. —disse Clint, e a atraiu para si para lhe fazer notar quanto a desejava— Quer que esta noite joguemos outra partida de Jogar com fogo? —perguntou com voz rouca.
Alyssa sorriu com malicia.
—Não perderia isso por nada do mundo.
Quando chegaram ao rancho, um dos homens de Clint saiu a seu encontro para lhes dizer que um vaqueiro tinha sofrido um acidente e tinha sido conduzido ao hospital. Clint entrou em ação imediatamente, disse a Alyssa que a chamaria mais tarde e partiu.
Enquanto esperava a que Clint voltasse, Alyssa tentou trabalhar e fez uma lista de sugestões para a página de Web da fundação dos Westmoreland.
Várias horas depois, levantou-se do assento e se estirou. Eram quase nove e Clint nem havia retornado nem a tinha chamado.
Ao ouvir o timbre de seu celular se sobressaltou. Quando viu que se tratava de sua tia Claudine, e não de Kim, sorriu aliviada.
—Tia Claudine? Que tal está?
Não tinham se falado por volta de um par de dias, assim conversaram prolongadamente. Uma vez que desligou, Alyssa decidiu tomar um prazeroso banho.
Um momento mais tarde, já com a camiseta que usava como camisola, recordou o que Clint havia lhe dito em uma ocasião: «Sei quais são os limites aos que me comprometi. Só você pode mudá-los. E se decidir fazê-lo, já sabe onde está meu quarto. Será bem-vinda sempre que quiser».
Clint a tinha convidado a visitá-lo e Alyssa decidiu aceitar o convite. Saiu de seu quarto e percorreu o comprido corredor que conduzia até o quarto de Clint.
Quando chegasse, a encontraria em sua cama.
Clint entrou em sua casa pensando que as cadeiras dos hospitais eram apavorantes para as costas. Mas ao menos tinha a tranqüilidade de que Frankie melhoria. Era um moço forte. Assim que soube que seu homem não corria perigo, deixou que sua mente voltasse para Alyssa.
Confiava que se deitou em lugar de esperá-lo acordada. Levava na mão uma grande bolsa e sorriu. Ao ver a loja do hospital tinha recordado que no dia seguinte era São Valentim e embora levasse anos sem comprar nada a uma mulher, não tinha podido resistir a fazê-lo para Alyssa.
Entrou em seu quarto para tomar uma ducha. Assim que abriu a porta notou o ar perfumado pela fragrância de Alyssa. A luz da mesinha iluminava brandamente a cama e Clint olhou espectador nessa direção. Assim que a viu encolhida em sua cama, ficou sem fôlego.
Deixou a bolsa sobre uma cadeira e entrou no banheiro. Alyssa precisava descansar o mais possível nos seguintes minutos, porque ele tinha a intenção de mantê-la acordada o resto da noite.
Alyssa estava sonhando que Clint lhe acariciava o ventre ao tempo que a beijava. Não queria despertar. Não queria que aquele sonho terminasse.
—Alyssa.
Podia ouvir sua voz chamando-a. Os sonhos às vezes pareciam tão reais…
—Acorde, querida, te desejo.
E de repente Alyssa se deu conta de que não se tratava de um sonho. Sentiu seu quente fôlego lhe acariciar os lábios e se obrigou a abrir os olhos. Clint a olhava fixamente.
—Já está em casa! —murmurou sonolenta.
—Sim, já estou em casa. —disse ele.
E a beijou com uma intensidade que sacudiu Alyssa até o centro de seu ser, fazendo que se umedecessem suas partes mais íntimas e despertando nela uma fome tão urgente como a que lhe tinha feito sentir na noite anterior. Com os sentidos a flor da pele e um calor que a percorria de cima abaixo, dispôs-se a gozar daquela sensual tortura.
Então, Clint separou seus lábios dos dela e começou o mesmo caminho que tinha esboçado na noite anterior e que conhecia tão bem. Primeiro, lambeu a linha de sua clavícula e seus seios. Logo desceu por seu ventre e Alyssa teve que morder os lábios para conter seus gemidos, embora o esforço fosse inútil. E quando a ponta da língua de Clint começou a acariciar com avareza a essência de sua feminilidade, elevou os quadris do colchão ao tempo que gritava seu nome.
—Clint!
Então sentiu que Clint lhe separava as coxas e notou seu peso sobre ela, uns segundos antes que, de um só e decidido impulso, penetrasse-a, fazendo-a estalar em um violento clímax sem deixar de balançar-se em seu interior até que a arrastou até outro.
Como se não bastasse com isso, como se não se saciasse dela, Clint a penetrou mais e mais profundamente. E quanto mais entrava nela, mais dentro queria senti-lo Alyssa. Com suas unhas arranhava suas costas, seus ofegos o estimulavam. Até que subitamente, Clint deixou escapar um gemido e gritou seu nome, ao tempo que a tensão voltava a incrementar-se no interior de Alyssa e ambos estalavam ao uníssono.
Quando as contrações começavam a remeter, Clint a cobriu em seus braços e a beijou com ternura.
Alyssa acabava de experimentar o que era consumir-se de paixão, sentir-se apanhada pelas garras do desejo e finalmente, deixar-se arrastar pela gloriosa sensação de compartilhar o êxtase com um homem. A experiência era tão excepcional que estava segura de que só seria possível alcançar aquele grau de satisfação com Clint.
Alyssa abriu os olhos na manhã seguinte perto das nove e sorriu ao dar-se conta de que estava na cama de Clint e tudo o que tinha acontecido nela. Só recordá-lo a fez estremecer. Felizmente, Clint tinha sido mais responsável que ela e tinha usado preservativos. Fizeram amor várias vezes ao longo da noite, e cada vez que ela tinha chegado ao orgasmo, ele a tinha acompanhado.
Permaneceu atrevidamente uns minutos pensando que Clint já teria partido para trabalhar e que já não o veria até a tarde.
Levantou-se decidida a manter-se ocupada todo o dia e seu olhar se posou em uma grande bolsa que estava em cima da cômoda com seu nome. Cruzou a habitação e leu o cartão emocionado:
Quer ser minha Valentina? Clint.
Só então recordou que era o dia de São Valentim. Fazia anos que não o celebrava porque Kevin desculpava sua falta de interesse alegando que não era mais que um dia para consumistas crédulos.
Alyssa sorriu, comovida pelo detalhe de Clint. Logo, olhou na bolsa e seu sorriso se fez ainda mais amplo ao ver que continha uma caixa de bombons e uma grande camiseta em que se podia ler: Eu gosto de jogar com fogo.
Voltou a ler o cartão e se disse que sim queria ser sua Valentina, e que faria o possível para conseguir que ele fosse seu Valentim.
Eram quase dez quando Clint voltou para rancho. Supunha que Alyssa estaria dormido e se perguntou se a encontraria em sua cama. Também tinha curiosidade por saber se tinha gostado do presente. Sentia emoções contraditórias. Inicialmente, tinha decidido resistir à tentação que Alyssa representava, mas tinha acabado por converter-se em uma tentação a qual não queria resistir.
Abriu a porta de seu quarto e se sentiu desiludido ao encontrar a cama vazia, mas quando viu que havia uma nota sobre o travesseiro, lhe acelerou o pulso. Dizia:
Claro que quero ser sua Valentina.
Venha para mim. Te espero.
Clint ficou preso ao chão lendo e relendo a mensagem com incredulidade até que, subitamente, sentiu uma sede insaciável que só Alyssa poderia aliviar. Tomou uma rápida ducha para ir se juntar a ela.
Alyssa ouviu uma suave chamada à porta e, com o coração acelerado, olhou a seu redor confiando em não ter posto um excesso de velas. Confiava que Clint gostasse tanto como ela. Logo, deslizou o olhar por seu corpo. Clint já a havia visto suficientes vezes de camiseta e aquela noite tinha decidido colocar algo diferente. À tarde tinha comprado um conjunto picante que confiava em acrescentar um novo componente a seus encontros. Queria que aquela noite fosse especial.
Contendo o fôlego, foi até a porta e a abriu lentamente. Ali estava Clint assim que a viu, seus olhos cintilaram, deixando Alyssa saber que seu conjunto tinha sido um êxito. Estavam a ponto de Jogar com fogo uma vez mais.
«Meu Deus», pensou Clint enquanto ficava paralisado contemplando Alyssa. Estava empacotada como se tratasse de um presente, em vermelho brilhante com um grande laço branco. Como teria conseguido ficar assim?
Alyssa pareceu ler seus pensamentos.
—Não foi tão difícil. —comentou— Mas a única maneira de tirar é que você desfaça o pacote.
Clint pensou que estaria encantado. Não podia pensar em nada mais apetitoso que desempacotar Alyssa, e, sobre tudo, tirar o laço que tampava sua feminilidade. Essa era uma provocação que estava disposto a submeter-se sem pestanejar.
Entrou na habitação e fechou a porta a suas costas. Só então tirou uns segundos o olhar de Alyssa e viu as velas e ouviu a música que se ouvia de fundo. Então voltou a olhá-la, atraiu-a para si e começou a tirá-la do laço. Quando acabou e a última parte do pacote caiu ao chão, estava tão excitado que sabia que não chegaria até a cama. Baixou-se o zíper e tirou seu sexo ereto. Igual à noite anterior, estava preparado. Não queria correr riscos e, consciente do ímpeto com que desejava Alyssa, pôs-se um preservativo.
A tomou nos braços e a penetrou com decisão. Fazia anos que não fazia amor com uma mulher em pé, mas aquela noite não tinha outra alternativa. Desejava Alyssa já.
Apoiou-a na parede e rodeou a cintura com as pernas, oscilando a virilha para lhe facilitar a penetração.
—É um presente delicioso, querida. —murmurou ele, ao tempo que começava a balançar-se em seu interior.
Em uns segundos, sentiu que Alyssa se desfazia em seus braços e ele deu o salto com ela, afogando-se nas ondas do êxtase enquanto sussurrava seu nome. Alyssa se agarrou a ele com força e Clint, com as pernas trementes, soube que já não agüentaria mais em pé.
—À cama. —disse, notando que voltava a endurecer-se. Cada nervo, cada célula de seu corpo parecia despertar ao tato de Alyssa e seu aroma.
Seus sentidos se viram invadidos subitamente por uma emoção que se negou a aceitar. E enquanto cruzava a habitação com ela nos braços, ficou consciente de que se encontravam em uma contagem regressiva e que deviam aproveitar os preciosos momentos que ficavam juntos.
Capitulo Treze
Os dias passavam tão depressa que Alyssa queria atrasá-los, mas, por outra parte, ansiava a chegada de cada noite para voltar para os braços de Clint Nenhum dos dois falava sobre o pouco tempo que restava. Em menos de uma semana, separariam-se.
Todo mundo esperava ansiosamente a chegada da irmã de Clint e de seu marido, e Chester levava vários dias preparando suas comidas favoritas.
—Casey vai gostar de você. —disse a Alyssa uma manhã— Foi muito afortunada encontrando ao McKinnon. Tem-na feito verdadeiramente feliz.
Alyssa não pôde evitar sentir uma pontada de inveja ao pensar que ela não teria a fortuna de passar o resto de sua vida com o homem que amava. Mesmo assim, tinha acumulado as suficientes lembranças para sobreviver.
Sorriu ao pensar em Clint e na firmeza com a qual tinha lhe exigido que permanecesse em sua cama quando chegassem sua irmã e seus demais familiares, incluídos seu pai e sua madrasta. Todos eles foram ao baile de ornamento organizado na casa do governador.
Alyssa sabia que Cole e Casey conheciam as circunstâncias pelas quais se encontrava no rancho, mas não estava segura de se outros estavam informados. Em qualquer caso, tinha decidido não preocupar-se com isso. Depois de tudo, a ninguém incumbia que mantivessem um caso. De fato, e embora fosse estranho, era um matrimônio de amantes.
E com o tempo, inclusive estavam convertendo-se em amigos. Cumprindo sua promessa, Clint a levava para montar cada dia e pouco a pouco estava conseguindo que perdesse o medo de cavalos… desde que ele estivesse perto.
Lançou um olhar para a pasta que tinha em cima da escrivaninha. Tinha acabado a proposta para a página da fundação que queria apresentar a Clint e a seus irmãos.
Se a aceitassem, Clint e ela teriam que manter contato até concluir o projeto. Uma vez que a página estivesse preparada, ela teria que ocupar-se de atualizá-la. Era um serviço que ofertava a todos seus clientes.
A idéia de manter uma relação meramente profissional com ele lhe resultava perturbadora, pois sabia que era uma via aberta à dor. Mais cedo ou mais tarde, Clint sairia com outras mulheres e isso lhe romperia o coração. Também cabia a possibilidade de que permanecesse solteiro, como seu tio Sid, embora Chester assegurasse que este tinha recebido uma carta de uma mulher lhe anunciando que era pai de um filho.
—Alyssa?
Ao ouvir seu nome, Alyssa se sobressaltou e demorou uns segundos em dar-se conta de que a chamavam pelo interfone. Tratava-se de Clint. Ficou em pé e apertou o botão.
—Sim?
—Onde está?
Alyssa sorriu.
—Em seu escritório. Por quê?
—Estou no salão. Quero te apresentar a minha irmã e a meu cunhado. —disse Clint.
Alyssa sentiu um nó na garganta. Conhecer a família de Clint lhe punha nervosa, mas sabia que não podia esconder-se.
—Vou para lá.
Não transcorreram nem vinte e quatro horas antes que Alyssa decidisse que Casey era fantástica. E McKinnon, além de ser espetacularmente bonito, era encantador. Faziam um magnífico casal e era evidente que estavam muito apaixonados.
—Temos que ir às compras. —disse Casey no dia seguinte pela manhã.
—Sim? —perguntou Alyssa, sorrindo.
—Sim. Ontem disse que não tinha nada para vestir no baile e eu tampouco. Além disso, assim poderei passar um momento contigo sem que Clint nos envenene. Comporta-se como se temesse que fora te revelasse um escuro segredo familiar. Cuida de ti como se fosse de cristal. Menos mal que já estão casados!
Alyssa franziu o cenho. Estava segura de que Casey sabia que não se tratava mais que de uma situação transitiva. O telefone de Casey interrompeu seus pensamentos.
—Perdão, Alyssa.
Alyssa foi servir mais café enquanto Casey falava ao telefone. Clint e McKinnon tinham deixado o rancho na primeira hora e não voltariam até a noite.
—Fantástico! Era Spencer. —explicou Casey ao desligar— Ele e Chardonnay acabam de chegar ao aeroporto. Estarão no rancho em menos de uma hora.
Alyssa arqueou uma sobrancelha.
—Chardonnay?
Casey sorriu.
—Sim, se chama assim. Sua família possuía vinhedos na Califórnia e seu pai lhe pôs o nome de seu vinho favorito.
—Ah.
—Podemos lhe esperar e ir com ela as compras. —disse Casey.
Alyssa se animou a perguntar:
—Sabe quem mais vem?
—As compras conosco?
Alyssa sacudiu a cabeça.
—Não, ao rancho, para a festa do governador.
Casey a olhou desconcertada.
— Clint não te disse?
—Bom, disse que viriam vários familiares, mas não me especificou quem. Suponho que disse a Chester para que preparasse os quartos.
Casey franziu o cenho.
—Não basta que diga a Chester. Você é a senhora da casa e é a ti a quem devia ter dito. Os homens podem ser verdadeiramente torpes. —disse Casey.
Alyssa deduziu que Casey não sabia as circunstâncias concretas de sua relação com Clint.
—Não se trata de estupidez, —disse, saindo em defesa do Clint— mas sim de que não me considera a senhora da casa.
Casey arqueou uma sobrancelha.
—E por que não?
Alyssa suspirou. Se Clint não tinha contado, não estava segura de que correspondesse a ela fazê-lo. Como não encontrou as palavras apropriadas, encolheu-se de ombros.
—Porque não.—limitou-se a dizer, sorrindo.
Casey a estudou durante uns segundos como se tratasse de interpretar o que acabava de dizer. Finalmente, esboçou um sorriso.
—Ah, refere a esse assunto dos trinta dias e ao de ter que viver sob o mesmo teto?
Alyssa assentiu, aliviada de que Clint tivesse contado.
Casey deixou escapar uma risada antes de beber um sorvo de café.
—Se eu fosse você, não me preocuparia por isso. Asseguro-te que Clint pensa em te conservar a seu lado. —disse com convicção.
—Equivoca-te. —disse Alyssa no mesmo tom.
Casey riu.
—Acredito que é você quem se equivoca. O pior de alguns homens é que além de torpes, podem ser lentos. Esse é o caso de Clint. Seguro que nem sequer está consciente do que pensa fazer, o pobrezinho.
Alyssa ficou olhando Casey perguntando-se como podia estar tão segura do que dizia e concluiu que se devia ao próprio estado de felicidade no qual vivia e que a fazia querer o mesmo para outros. Em qualquer caso, decidiu não discutir com ela e deixar que seguisse enganada. Bastava que ela fosse consciente do acordo que tinha arranjado com Clint.
Ao final dos trinta dias, faria suas malas e partiria.
Duas noites depois, Alyssa jazia desvelada nos braços de Clint.
Os convidados que iriam no dia seguinte ao baile tinham chegado, e tinham resultado ser encantadores e amáveis. A casa estava cheia e, embora não o havia dito expressamente, Clint esperava que ela atuasse como anfitriã, e ela tinha aceitado o papel sem nenhuma dificuldade. Tinha-a apresentado como Alyssa, sem acrescentar sobrenome ou especificar que relação os unia, assim, dado que não levava aliança e que compartilhavam a cama, assumiu que todos a consideravam sua amante.
Mas o mais desconcertante era que quando falavam dela em sua presença e na de Clint se referiam a ela como sua esposa e ele não os corrigia.
Possivelmente não lhe importava porque em menos de uma semana teria partido e não teria nenhuma necessidade de dar explicações.
«Menos de uma semana».
A idéia de voltar para Waco a deprimia. Encontrava-se a gosto com Chester e com os homens de Clint. E adorava sua família, tão diferente da dela. Inclusive o pai de Clint, Corey, e sua mulher, Abby, eram maravilhosos. Era uma família em que o amor e a proximidade emocional se apalpavam, duas características ausentes na dela.
—Alyssa.
Clint sussurrou seu nome em sonhos e ela se juntou ao seu quadril. Quanto ia sentir falta de deitar-se com ele cada noite e despertar fazendo amor cada manhã! Mas como estava se acostumado a dizer: tudo que é bom chega a seu fim.
Assim que a família de Clint partisse, começaria a distanciar-se dele para tentar mitigar a dor que indevidamente sentiria quando ele a levasse ao aeroporto.
Alyssa abrangeu o grande salão com o olhar. Chester tinha razão. Tinha acudido toda a gente conhecida do Texas. Até se dizia que o presidente e a primeira dama fariam uma visita relâmpago à casa do governador.
Alyssa tinha ficado muda quando, ao chegar, Clint a apresentou como sua esposa a seus anfitriões, e adotou que o fazia para lhe evitar uma situação embaraçosa.
Até esse momento, ninguém tinha manifestado nenhuma surpresa pelo fato de que se casou tão subitamente. E em mais de uma ocasião, tinha tido que morder a língua para não corrigir a aqueles que a chamavam senhora de Westmoreland.
Outra das observações que tinha feito era que os Westmoreland se moviam em manada, formando um círculo chamativo. Os homens se pareciam muito entre si, altos e bonitos. E as mulheres, irmãs, primas e esposas, eram todas de uma impactante beleza. Formavam casais espetaculares. Via o primo de Clint, Jared, e sua esposa, Dana; seu primo Storm com sua esposa, Jayla; Spencer e Chardonnay; Der e Shelly, Thorn e Tara.
O grupo incluía o irmão de Clint, Cole, que não se incomodou em levar acompanhante, seu primo Reggie, que também estava sozinho; Casey e McKinnon, e Corey, o pai de Clint, e sua esposa, Abby.
Em definitiva, eram um grupo imponente e Thorn, que era conhecido em todo o país pelas motocicletas que fabricava e conduzia, teve que assinar numerosos autógrafos.
—Já te disse que está preciosa?
Alyssa elevou o olhar para o homem alto e bonito que não se separou dela em toda a noite.
—Sim. —disse ela, sorrindo.— Obrigada.
E embora Clint não tivesse expresso com palavras, seu olhar tinha sido o bastante expressivo quando a tinha visto com o vestido negro, curto e apertado, que Casey tinha lhe animado a comprar, e que, se Alyssa não se equivocasse, estava desejando lhe tirar assim que ficassem a sós.
—Vá, vá, não posso acreditar! O que faz aqui, Alyssa?
O som daquela voz fez que em Alyssa se formasse um nó no estômago. Virou-se e dissimulou sua confusão ao ver a Kim junto ao Kevin. Sua prima se pegava a este como se quisesse deixar patente que formavam um casal.
—Kim, Kevin, como estão? —saudou Alyssa quando conseguiu articular palavras—. Me alegro de os ver. Suponho que estou aqui pela mesma razão que vocês: apoiar o hospital de crianças.
—Como se você pudesse fazê-lo... —disse Kim em tom depreciativo e elevando a voz para que pudessem ouvi-lá.—A tia Claudine assegura que saiu de Waco para trabalhar com um cliente, mas eu estava segura de que tinha fugido para se recuperar que eu tenha te arrebatado Kevin.
Alyssa sabia que Kim tentava envergonhá-la diante da gente e em parte o estava conseguindo. Era humilhante que sua vida privada estivesse sendo arejada em público, e mais especificamente, diante dos Westmoreland.
Mas nesse momento, notou que Clint se aproximou dela e rodeava sua cintura com o braço. Pela extremidade do olho, viu que outros membros da família também se aproximaram.
—Alyssa, por favor, me apresente a seus amigos. —disse Clint.
Só alguém que o conhecesse tão bem como Alyssa teria notado o timbre ameaçador que tingia o tom de sua voz. Não tinha afastado seus olhos de Kim e de Kevin, e seu olhar refletia a mesma aversão.
Alyssa pigarreou.
—Clint, estes são Kim e Kevin. Kim e eu somos primas. Kim, Kevin, apresento-lhes a Clint Westmoreland.
Só então Clint olhou e Alyssa soube que estava muito consciente de quem eram
Kim, que nunca deixava escapar a oportunidade de paquerar com um homem bonito, sorriu a Clint com doçura.
—Assim você é o cliente com quem Alyssa está trabalhando?
Clint sorriu forçadamente antes de dizer:
—Não, não sou cliente de Alyssa. —disse com voz clara e firme.— Sou seu marido.
Capítulo Quatorze
Alyssa pensou que nunca esqueceria a cara que fez Kim ante a notícia de Clint. Kevin tinha sido o primeiro em recuperar a palavra para desculpar o comportamento de Kim. Sem esperar para lhes escutar, Clint tinha pegado Alyssa pela mão e a tinha levado junto dos outros Westmoreland. No final, a humilhação tinha sido sofrida por eles.
Clint e Alyssa tinham voltado para casa fazia várias horas. Nem Clint nem nenhum de seus parentes tinham mencionado o incidente, mas Alyssa supunha que Clint queria falar disso em algum momento.
Alyssa estava na cama enquanto Clint e seus primos jogavam cartas. Embora estivesse cansada e sonolenta, queria manter-se acordada e lhe dar uma explicação que justificasse o comportamento de Kim, embora não houvesse desculpa possível para sua grosseria.
Um momento mais tarde, Alyssa olhou para a porta quando ouviu girar o trinco. Clint entrou e ficou apoiado na porta. Alyssa sentia a necessidade de desculpar-se porque, indiretamente, Kim tinha humilhado ao Clint e a sua família.
Clint se limitou a olhá-la em silêncio. Não tinha se mostrado zangado com ela em nenhum momento, mas Alyssa suspeitava que tivesse contido seu aborrecimento e que naquele momento lhe expressaria sua irritação.
—Por que não me contou isso tudo? —perguntou finalmente.
Alyssa suspirou.
—Não pensava que fosse fazer falta. Não me sinto particularmente orgulhosa de minha família.
Clint se sentou ao bordo da cama.
—Por que Kim te odeia?
—Porque foi o centro de atenção até que eu apareci. E quando mais tarde descobrimos que meu avô era na realidade meu pai…
—O que? —interrompeu-a Clint, atônito— Como que seu avô era seu pai?
Alyssa tinha decidido contar-lhe tudo.
—Confessou no leito de morte. Até então, sempre pensei que era a filha ilegítima de seu defunto filho, que tinha morrido em uma missão com os rangers. —fez uma pausa antes de continuar— Conforme entendi, minha avó morreu deixando meu avô com dois meninos pequenos, Todd e o pai de Kim, Jessie. Quando Todd foi assassinado, o avô sofreu uma depressão e se entregou à bebida. Uma noite, teve um caso com minha mãe, que trabalhava de garçonete. Quando disse ao meu avô que estava grávida, ele se comprometeu a lhe passar uma atribuição. Logo, ela me mandou ir viver com ele, e decidiram contar que era filha de Todd. A única pessoa que sabia a verdade era a tia Claudine.
Clint assentiu.
—Por que sua mãe te abandonou?
Alyssa suspirou uma vez mais.
—Porque descobriu que seu novo namorado me fazia insinuações.
Viu que a expressão de Clint se endurecia.
—E fez contato contigo alguma vez?
—Não. E segundo a tia Claudine, nunca escreveu nem perguntou por mim. Nunca importei a ela. —concluiu Alyssa com tristeza.
Sempre que pensava em sua mãe lhe entrava uma profunda melancolia e, sem que notasse, seus olhos se alagaram de lágrimas. Clint lhe secou a bochecha.
—Esta foi uma noite cheia de acontecimentos. —disse com doçura.— Vamos, deite e descansa.
Alyssa assentiu, embora não estava segura de como interpretar a atitude de Clint. Sem tirar a roupa, ele se deitou sobre a cama e a estreitou contra seu peito, onde Alyssa descansou até ficar adormecida.
Na manhã seguinte, Alyssa despertou sozinha e a primeira coisa que se perguntou foi o que pensariam os Westmoreland, especialmente Clint. Aquela era a primeira manhã que não despertavam fazendo amor.
Tomou banho e vestiu sem poder afastar esse pensamento de sua mente. Ao abrir a porta, encontrou Clint apoiado na parede oposta do corredor, esperando-a.
—Bom dia. —disse.
E o sorriso que acompanhou a sua saudação fez que Alyssa se derretesse.
—Bom dia. —replicou ao tempo que tentava adivinhar seu estado de ânimo pela expressão de seu rosto.
—Sei que ainda não tomou o café da manhã, mas me perguntava se quereria vir montar comigo. Não demoraremos muito, prometo-lhe isso.
—Claro. —disse ela encolhendo-se de ombros. Atravessaram a casa, estranhamente silenciosa para estar ocupada por tanta gente que, além disso, estavam acostumados a levantar cedo.
—Onde estão todos?
—Dormindo. —disse Clint.
Do lado de fora, esperavam-lhe dois cavalos, Sunshine, a dócil égua que Clint tinha atribuído a Alyssa, e Royal. Alyssa olhou a Clint.
—Aonde vamos?
—À cordilheira sul. —disse ele em tom oculto.
Alyssa assentiu. Fazia tempo que não iam a aquela zona. Cavalgaram em silêncio, desfrutando da preciosa manhã. Ao cabo de um momento, Clint deteve Royal.
—Este é um bom lugar. —disse.
«Para que?», perguntou-se Alyssa. «Para me pedir que abandone o rancho? Terá decidido que é melhor esquecer a anulação e que prefere um divórcio imediato?».
Observou Clint desmontar e o imitou, antes de atar Sunshine ao tronco de uma árvore.
—Vem. —disse Clint. E lhe estendeu a mão— Daremos um passeio enquanto conversamos.
Alyssa retirou a mão e disse:
—Não faz falta que falemos, sei o que quer.
Clint a olhou desconcertado.
—De verdade?
—Sim.
—E o que acha que quero? —perguntou Clint, apoiando-se em uma árvore.
—Quer solicitar o divórcio e esquecer da anulação.
Clint ficou perplexo. O que Alyssa acabava de dizer estava longe de ser a verdade. O incidente da noite anterior tinha lhe aberto os olhos. Os insultos de Kim tinham disparado seu instinto protetor e nesse mesmo instante se deu conta de que queria proteger Alyssa de toda dor e de todo perigo. Mas algo mais tinha despertado nele: seu coração. De repente tinha se dado conta de que se Alyssa lhe importava tanto era porque a amava, que queria estar sempre ao seu lado para protegê-la de gente como Kim e Kevin. E não se tratava de uma questão de desejo físico, tal e como tinha assumido inicialmente. O que sentia por Alyssa era amor, e a idéia de que iria partir na semana seguinte lhe resultava inconcebível. Por isso queria lhe deixar saber o antes possível que não pensava consenti-lo.
—Não vai haver nem divórcio nem anulação, Alyssa. —disse, dando um passo para ela.
—O que quer dizer?
Sorrindo, Clint tirou do bolso uma pequena caixa em que havia uma preciosa aliança de casamento.
—Quero dizer que eu gostaria de me casar contigo de novo, mas desta vez de verdade. E posto que, segundo a lei, já somos marido e mulher, proponho-te que renovemos nossos votos. —pôs um joelho na terra e elevando o olhar, continuou— Alyssa, quer seguir sendo minha mulher até que a morte nos separe?
Alyssa tinha ficado sem fala e suas bochechas estavam umedecidas pelas lágrimas. Clint lhe colocou o anel no dedo.
—Mas… mas não pode ser que queira seguir casado comigo, —balbuciou— não me ama.
Contente de que o anel ficasse perfeito, Clint ficou em pé sem deixar de sorrir.
—Nisso te equivoca. Te amo. Acredito que me apaixonei por ti a primeira vez que jogamos a nosso jogo.
—Oh, Clint! —exclamou ela entre lágrimas.
Ele a atraiu para si.
—Tenho que tomar isso como um “sim”?
Alyssa se separou o bastante para lhe olhar no rosto.
—Claro que sim, Clint, casarei-me contigo tantas vezes quanto queira.
—Obrigado, meu amor. —disse ele. E a beijou apaixonadamente. Mas, antes de deixar-se levar, recordou que tinha que lhe dizer outra coisa— Recorda que ao sair de casa perguntou onde estava todo mundo?
—Sim. E me disse que dormiam.
—Menti.
Alyssa o olhou desconcertada.
—Onde estão?
—No abrigo, encarregando-se dos preparativos. —ao ver que Alyssa seguia sem compreender, decidiu explicar-se. — Ontem à noite disse a eles que planejava me casar contigo hoje. Abby sugeriu que, aproveitando sua visita, renovássemos nossos votos com uma pequena festa. No futuro, podemos celebrá-lo em Montana, com o resto da família. —concluiu.
Alyssa não dava crédito ao que ouvia.
—De verdade que sua família quer fazer tudo isso por mim?
—Pelos dois, porque sabem quanto te quero. De fato, deram-se conta antes que eu mesmo. Eles já passaram pela experiência de amar a alguém antes que seu coração esteja disposto a admiti-lo. —disse Clint, beijando-a uma vez mais.
E quando Alyssa se abraçou ao seu pescoço, teve a certeza de que naquela ocasião, seu matrimônio ia durar para sempre.
Epílogo
—Você sabia. —disse Alyssa a Casey em tom acusador ao tempo que se olhava no espelho.
Casey riu.
—Não é verdade, mas conheço meu irmão e supus que era melhor que estivesse preparada. Já te adverti que era um pouco lento. E posto que fomos às compras, pareceu-me uma boa idéia que comprasse outro vestido.
Alyssa sacudiu a cabeça. Depois de provar vários vestidos para a festa, Casey tinha lhe convencido de que comprasse os dois que mais gostava. Que levava naquele momento, um traje comprido de cor marfim, era perfeito para um casamento.
—Está preciosa, Alyssa. —disse a tia Claudine do outro lado da habitação.
—Obrigado, tia. —disse Alyssa, olhando-a afetuosamente.
A chegada de sua tia tinha sido a outra grande surpresa que lhe reservavam os Westmoreland. Puseram-se em contato com ela na noite anterior e tinham organizado sua viagem para que viesse à cerimônia. Alyssa não se recuperou ainda da surpresa. Enquanto ela tentava sobrepor-se à humilhação a que a tinham submetido Kim e Kevin, os Westmoreland tinham planejado com Clint aquela celebração. Estavam decididos que entrasse a formar parte do clã.
Tara Westmoreland olhou o relógio.
—É quase hora. —disse sorrindo— Mais vale não fazer esperar a um Westmoreland o dia de seu casamento.
Alyssa sorriu e olhou com agradecimento às mulheres que a rodeavam.
—Obrigada por tudo. Sinto-me afortunada de que formem parte de minha vida. —disse, convencida de que sabiam do que se referia.
—Em Montana há umas quantas mais. —disse Shelly— E todas estão desejando te conhecer. Enviam-lhe seu afeto e pedem perdão por não poder vir, mas já ficamos de organizar uma recepção no rancho de Corey. À exceção de Delaney e Casey, todas nós entramos na família Westmoreland pelo vínculo matrimonial e nela temos descoberto uma irmandade muito especial, a que lhe damos a boa-vinda com muito amor.
Os olhos de Alyssa se alagaram de lágrimas. Por fim formava parte de uma família que queria e que a queriam.
Trinta minutos mais tarde, caminhava para Clint que, vestido de negro, esperava-a junto a seu pai e a seu irmão. Ela tinha pedido a Chester que ficasse de padrinho, e este se mostrou encantado de fazê-lo. Casey era sua madrinha.
Quando chegou junto a Clint, ele sorriu e tomou a mão. Alyssa sorriu por sua vez e, juntos, viraram-se para o pastor.
Alyssa sabia que aquela cerimônia representava um novo começo para ela e que, no futuro, contaria a seus netos como tinha conseguido domar o selvagem e fugitivo coração de Clint Westmoreland.
Brenda Jackson
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