Quando Matt Crow estava de pé ante o altar de uma pequena igreja episcopal no Akron, Ohio, vestido de smoking e com suas botas de vestir, viu um anjo, um autêntico anjo. Não tinha visto nada tão bonito desde que aquela manhã partisse do Texas. Logo que podia apartar os olhos daquele rosto. Matt se esqueceu dos convidados à bodas e a música que soava para anunciar à noiva lhe soou como uma melodia celestial. Toda sua atenção estava centrada na divina criatura que se aproximava para ele.
Em vez de uma diáfana túnica branca levava um vestido de cor vermelha, e tampouco apareciam asas por suas costas, mas, pelo resto, era absolutamente celestial. O sol que entrava pelos altos ventanales fazia reluzir seu cabelo como se fora de ouro entrelaçado com pérolas.
Hipnotizado, não pôde apartar seus olhos dela à medida que se aproximava do altar sustentando um precioso ramo de lírios e rosas. Quando por fim ocupou seu lugar ao outro lado da igreja, levantou a cabeça, lhe deixando ver os mais preciosos olhos que ele tivesse visto em toda sua vida. Uns olhos de anjo.
Eram de um azul tão claro que, por contraste com sua pele dourada, pareciam partes do mesmo céu. Ao vê-los, o mundo pareceu deter-se para o Matt.
Eve Ellison se aferrava ao ramo como se fora sua tabela de salvação naquele turbulento mar de emoções que ameaçava devorando-a. por que diabos teria aceito ser dama de honra? Tinha tentado por todos os meios convencer ao Irish para que o propor a alguma de suas sofisticadas amigas, mas sua irmã não tinha querido nem pensá-lo.
-Eve, não seja tola -havia-lhe dito-. Jamais me ocorreria pedir-lhe a outra que não fora meu hermanita pequena.
Eve lhe tinha arrojado um olhar furioso por cima dos óculos.
-Creio que já estou bastante crecidinha para que me siga chamando assim. Meço quase um metro oitenta, e nunca me gostaram dos encaixes nem os perifollos, já sabe. Se quiser, farei-te o ramo, cozinharei o bolo, e até prepararei o confete se você quiser, mas, por favor, não me peça que me disfarce de Escarlate O'Hara diante de toda a família. Irish: você é a beleza da família, está acostumada a ser o centro de atenção... Eu me sentiria como uma idiota.
Mas Irish lhe lançou um daqueles eloqüentes olhares delas que deixava bem às claras que nada nem ninguém lhe fariam trocar de opinião.
-Eve Ellison: não sei onde terá tirado essas estúpidas idéias. vais ser uma dama de honra preciosa. Mas se for muitíssimo mais bonita que eu!
-Sim, claro! Todo mundo sabe o que me custa me liberar das hordas de admiradores que me acossam noite e dia. Para sua informação, irmãzinha, direi-te que ninguém me pediu sair em todo um ano.
-Isso só demonstra que os homens de Cleveland devem estar cegos. Todo mundo pode dar-se conta de quão bonita é. Eu creio que é sua atitude mais que seu físico o que lhes mantém apartados. Embora, para falar a verdade, também poderia te arrumar um pouco o cabelo...
-O que acontece com meu cabelo? -perguntou Eve imediatamente.
-Nada: só que parece que lhe cortaram isso com uma foice e que não lhe escovaste isso em uma semana, e que o tem pacote com um cordão imundo...
-Sim, já vejo que te parece perfeito -grunhiu Eve.
Irish se pôs-se a rir.
-Olhe, irmãzinha, o que me parece é que te está passando em seu afã por não parecer atrativa. Nunca te maquia, e sua roupa é disforme... O que tenta demonstrar?
Para falar a verdade, Eve não estava tentando demonstrar nada. Nunca tinha emprestado muita atenção a sua aparência. Não merecia a pena incomodar-se: das duas, Irish sempre tinha sido a bonita, e ela a lista. Não é que sua irmã fora tola, muito ao contrário, era uma garota muito brilhante, mas que, além disso se tinha preocupado pela roupa e a maquiagem, enquanto que Eve se conformou permanecendo em um segundo plano, abstraída com seus livros ou seus quadros. Sempre lhe tinha gostado mais se sujar para cuidar do jardim que preocupar-se com fazê-la manicura.
Como era de esperar, Irish tinha decidido que tinha chegado o momento de que Eve começasse a cuidar-se, e dada a cabezonería de sua irmã, não ficou mais remédio que passar com ela uma semana em Nova Iorque. Seu futuro cunhado, o doutor Kyle Rutledge, tinha apoiado com entusiasmo aquele projeto, insistindo além em financiá-lo.
Assim ali estava ela, luzindo um novo corte de cabelo, umas unhas impecáveis, com lentes de contato e levando um vestido no mais puro estilo Escarlate Ou'Hara... e sentindo-se por tudo isso como uma completa imbecil. Sabendo que seria o centro de atenção, se obstinou em manter o olhar baixo enquanto caminhava pelo corredor da igreja, rezando para não tropeçar-se com N nada. Estava tão aterrada que aqueles poucos metros lhe desejaram muito a mais larga caminhada que tinha empreendido em sua vida.
O primeiro que viu quando por fim levantou a vista foram um par de olhos negros que a olhavam diretamente. Para falar a verdade, aquele homem, que ela supôs seria o primo do Kyle, olhava-a como se estivesse hipnotizado, certamente pensando que tinha aspecto de tola. Desejou com toda sua alma desvanecer-se sem deixar rastro.
Automaticamente, quis encurvar-se, mas o novo prendedor que Irish tinha insistido em que ficasse obrigou a manter os ombros retos. Aquele maldito objeto lhe apertava tanto, que, em vez de esconder-se como uma tartaruga, viu-se obrigada a levantar o queixo desafiante.
Entretanto, custou-lhe manter esse gesto diante de um homem tão atrativo. Media ao menos um e noventa, e era muito bonito, com o cabelo negro, aquela boca tão sensual e uns ombros tão largos...
Ao dar-se conta de que ele também a estava olhando, não pôde evitar ruborizar-se até a raiz do cabelo. voltou-se rapidamente para o corredor, para presenciar a entrada de sua irmã do braço de seu pai.
Aquele desconhecido devia ser Matt Crow, disse-se, enquanto começavam a soar os lembre da marcha nupcial. Durante os ensaios da cerimônia tinha conhecido ao Jackson Crow, o irmão do jovem que agora tinha diante. Embora Smith, o irmão do noivo, não tinha podido assistir à bodas, nunca em toda sua vida tinha estado Eve rodeada de homens tão arrumados como os da família do milionário que Irish tinha conseguido por marido. Jackson era muito bonito, mas seu irmão era tão atrativo que cortava a respiração.
Eve começou a sentir-se um pouco enjoada, assim que se voltou para o sacerdote, disposta a seguir a cerimônia com os cinco sentidos.
Matt não podia deixar de olhar ou de pensar na dama de honra. Devia ser a irmã pequena de Irish. Ann? Karen? Lisa? Não podia recordar seu nome; quando Kyle ou Irish o mencionaram, não tinha emprestado atenção e, entretanto, naquele momento, ela era quão único existia para ele.
Por fim Kyle beijou à noiva e a cerimônia chegou a seu fim; Matt estava impaciente porque começasse o banquete nupcial e apresentassem a aquele precioso anjo. Viu como o sortudo do Flint Durham, o padrinho, oferecia-lhe o braço para escoltar ao casal de noivos enquanto saíam da igreja. Seguiram-lhes Jackson e uma das damas de honra, primeiro e, por fim, ele mesmo e outra das amigas da noiva, Kim Devlin.
-Como se chama a irmã da noiva? -perguntou a seu acompanhante assim que saíram do templo.
-Eve. É muito bonita, verdade?
-Você o há dito.
Matt tentou aproximar-se dela, mas logo um fotógrafo reuniu a todo o grupo para tirar uma foto, assim não teve oportunidade de falar com ela. Matt rezou para que Jackson não se desse conta de seus furtivos olhares para o Eve e, por uma vez, teve sorte, já que seu irmão maior estava muito ocupado flertando com outra das damas de honra, uma espetacular moréia chamada Olivia.
Jackson, que se tinha como um dos maiores donjuans do Texas, agarrou a jovem pela cintura e lhe sussurrou algo ao ouvido. Olivia o olhou com desprezo.
-Direi-lhe isso por última vez -disse friamente-: não me interessa nada, e se não me tira as mãos de cima em seguida, asseguro-te que te romperei os dedos.
Matt teve que fazer um enorme esforço por conter a risada; por sorte, justo nesse momento o fotógrafo lhes pediu que sorrissem.
O fazia muita graça que seu irmão estivesse em semelhantes apuros, já que sempre conseguia o que queria. Entretanto, decidiu não perder um segundo em ir burlar se dele, por muito que o merecesse: estava muito ocupado pensando no melhor modo de aproximar-se do Eve.
Aquela jovem lhe tinha enfeitiçado, embora, curiosamente, não podia dizer o que era exatamente o que lhe tinha cativado tanto. Certamente, não era por sua formosura, já que ele estava mais que acostumado a tratar com mulheres muito belas. Era algo menos evidente, mais profundo, uma sorte de inocência que se refletia no mais fundo de seus claros olhos e que fazia que desejasse protegê-la mais que qualquer outra costure no mundo. E também possui-la.
Matt tinha a certeza de que ela era a mulher de sua vida. Via-o com tanta claridade como se o tivesse anunciado do céu uma voz divina em meio de um coro de trompetistas ressonando. Ao vê-la ali diante, posando com o cenho franzido e um leve gesto de preocupação, lhe deu vontade de ter à mão um cavalo, atravessar com ele a multidão e obrigá-la a subir à garupa para levar-lhe bem longe de tudo o que pudesse fazê-la infeliz...
Eve tivesse preferido ter que submeter-se a algum terrível tortura medieval antes que posar para as fotos, especialmente ao lado do Irish. Sua irmã tinha uma beleza deslumbrante, enquanto que ela... Já quando estava no jardim de infância, a gente ficava olhando assombrada, lhe perguntando sem nenhum rubor como era possível que ela fora a irmã do Irish.
passou-se muitas noites chorando, atormentada por aqueles comentários hilariantes e pelas brincadeiras de seus companheiros devido a sua alta estatura e aspecto desajeitado. Tinha aprendido muito em breve que só poderia destacar nos estudos, já que sua irmã tinha monopolizado toda a beleza da família. As coisas pioraram quando Irish começou a trabalhar de modelo: enquanto ela aparecia nas capas de todas as revistas, Eve estava ainda estudando, magra como um arame e lhe tirando a cabeça até aos jogadores da equipe de basquete do instituto.
Tentou escapulir-se para não sair na foto, mas adivinhando suas intenções, sua irmã a aferrou pelo braço.
-Não te ocorra partir, quero uma foto em que você estejamos e eu sozinhas.
-Nem pensar! Seguro que rompo a câmara...
Irish se pôs-se a rir.
-Olhe que é boba! Mas se estiver muito bonito!
-Parece-me que te falha a vista...
-E Matt Crow pensa o mesmo -sussurrou-lhe Irish, enquanto se arrumava a saia do vestido-. Não te tirou os olhos de cima. Parece-me que gosta...
-Que gosta? A verdade, irmãzinha, não creio que seja seu tipo nem pelo mais remoto, assim não te atreva sequer a fazer de casamenteira. Se o fizer, jogarei-te uma maldição para que comece a te sair barba em meio de sua lua de mel...
Mas Irish riu ainda mais alegremente.
Antes de que Matt tivesse sequer a oportunidade de aproximar-se do Eve, todos os convidados foram transladados em limusine até o hotel. Assim que chegaram, dirigiu-se direito à sala de banquetes, onde por fim a viu falando com seu avô, Cherokee Pete. Matt tentou aproximar-se deles, mas o impediu sua mãe, lhe aferrando com força pela boneca e insistindo para que fora a conhecer os pais do Irish.
-Juro-te que é mais bonita que um quadro -afirmou terminante o avô do Kyle com uma ampla
sorriso iluminando seu rosto enrugado-. Recorda a um anjo.
Eve se pôs-se a rir. O ancião, que acontecia os oitenta, era tão encantado como seus netos. Media mais de metro oitenta e se mantinha direito como um poste. Com seus olhos escuros e aqueles maçãs do rosto proeminentes, herança de seus antepassados indígenas, seu aspecto ainda resultava imponente.
-Obrigado, senhor Beamon. Está você muito bonito de smoking -e, efetivamente, apesar das cãs, estava-o.
-Dirá mas bem que tenho pinta de muda de alface! -riu o ancião-. Jamais me tinha posto um traje tão ridículo, mas decidi deixar em casa o macaco de trabalho e as camisas de flanela para não envergonhar a sua irmã. Ah, outra coisa! Por favor lhe peço isso, nada de me chamar "senhor Beamon": todo mundo me chama Cherokee Pete, ou, simplesmente, Pete, assim faz você o mesmo.
-Muito bem, chamarei-te Pete -assentiu Eve, encantada por sua simplicidade-. Eu também te contarei um segredo: também prefiro ir com um macaco ou uns jeans... Irish me contou tantas coisas de ti e de sua vida no Texas que estava desejando te conhecer. De verdade esculpe lhes anime de madeira com uma serra mecânica como faz Kyle?
-Sim -replicou Pete modestamente-. Eu ensinei ao Kyle tudo o que sabe... É o único de meus netos com essa afeição, embora agora que é todo um doutor não a pratica muito, a verdade. Como sabe, tenho quatro netos, e Kyle é o primeiro que se casou. Ficam três: Smith, que é o irmão do Kyle, Jack-são e Matt. Não são feios de tudo, verdade? -comentou com uma picasse olhar-. Você não gosta de algum deles?
-Não, não -replicou Eve rapidamente. -Está segura? Estou desejando lhes dar de presente a cada um um milhão, e você poderia ter sua parte -propôs tentadoramente-. Claro que Jackson é o major, e eu gostaria que fora o primeiro em fundar uma família e sentar cabeça.
Apesar de seu aspecto afável e seu singelo estilo de vida, Eve sabia que aquela oferta ia a sério. Pete tinha descoberto petróleo em suas terras fazia anos e tinha muitíssimo dinheiro.
-E eles sabem que está tentando vendê-los?
-Bom, o trato ficaria entre você e eu -disse Pete lhe piscando os olhos um olho-. Seu pai me esteve contando que quando se aposentar pensa ir-se viver ao Texas com sua mãe. Já lhes tenho dito que temos uma casa enorme lá abaixo, com um montão de terreno, além disso. Você não gostaria de ir com eles?
-Eu adoraria ter mais sitio para meus animais, mas, por desgraça, meu trabalho está em Cleveland.
-É que tem animais?
-Sim, muitos: minha mãe diz que sou incapaz de resistir quando vejo um abandonado. A verdade é que todos acabam chegando a minha porta: tenho dois gatos, que se chamam Charlie Chan e Pansy, uma cabra que se chama Elmer, um porco, um galo, dois patos, quatro cães...
-Gosta de tomar uma taça de champanha? Eve se voltou, topando-se de mãos a boca com o Matt Crow, que sustentava duas finas taças com sua mão esquerda e uma mais na direita que lhe tendeu com um sorriso.
Ela ficou olhando, revirando os miolos para que lhe ocorresse algo inteligente. Por desgraça, parecia incapaz de articular palavra. Matt arqueou as sobrancelhas, convidando-a a que agarrasse a taça, o que ela fez com dedos trementes.
-Quer, avô?
-Pois não me importaria me encharcar um pouco o gogó -aceitou Pete encantado.
-Interrompi-lhes?
-Estava tentando convencer ao Eve para que se mudasse ao Texas, assim poderia ter um montão de sítio para seus animais -explicou-lhe o ancião-. Eve, apresento a meu neto Matt.
-Ah! Tem animais? -perguntou-lhe o jovem olhando-a diretamente aos olhos.
Eve quis responder, mas tinha a boca completamente seca.
-Sim -conseguiu articular, não sem esforço, depois de beber um sorvo de champanha.
-E te convenceu o avô?
Convencê-la? Do que? Tentou concentrar-se na conversação que acabava de manter, incapaz entretanto de recordar o mínimo detalhe. Evidentemente, Matt deveu dar-se conta de sua confusão, já que acrescentou em seguida:
-Sim, convenceu-te o avô Pete para que mude ao Texas? me parece uma idéia muito bom.
-Impossível -replicou Eve sacudindo a cabeça.
-Não há nada impossível -Matt apurou sua taça e a deixou sobre uma mesa-. Dançamos?
-Não... não sou muito boa bailarina...
-Não te creio. Os anjos se limitam a flutuar -Matt lhe tirou a taça dos dedos dando-lhe ao Pete-. Venha, vamos -insistiu, lhe tendendo os braços.
Eve obedeceu, como se fora a coisa mais natural do mundo, e ambos começaram a dançar aos lembre de uma valsa. Ela, que sempre tinha sido tão torpe, movia-se em perfeita sincronização com o Matt. E continuaram dançando até que por fim a risada apareceu por sua garganta como as borbulhas saindo de uma garrafa de Dom Perignon. Quando Matt lhe sorriu com os olhos lhe reluzindo como uma noite estrelada, um incrível estremecimento lhe percorreu o corpo de pés a cabeça.
A melodia se permutou em uma doce balada e ele a estreitou ainda mais entre os braços, de modo que Eve pôde apoiar a frente no oco de sua bochecha. Em perfeita harmonia, seus movimentos se fizeram mais lentos, enquanto que, ante tão estreito contato, lhes acelerou o pulso. Eve podia sentir seu calor e seu morno aroma masculino, feito de especiarias, limão e almíscar. Aquele homem apelava a todos seus sentidos de uma forma que ninguém antes tinha feito, despertando uma quebra de onda de sensações que percorriam suas veias com a mesma força que a lava de um vulcão.
-Não... não quero isto... -murmurou tremente.
-E o que é isto? -replicou Matt em um tom que quase a fez derreter-se
-E... isto... -pugnou por largar-se, mas ele a apertou com mais força.
-te explique.
Eve se sentia tão intimidada como uma adolescente que se ficou a sós com sua estrela de rock favorita. sentia-se muito envergonhada para explicar seus sentimentos: a fim de contas, ela não era mais que uma garota do montão, enquanto que ele era um rico milionário texano, acostumado sem dúvida a tratar com as mais belas mulheres.
-É incrível, verdade? -sussurrou-lhe Matt ao ouvido-. Do momento em que te vi, senti como se me tivesse corneado um touro. Creio que é a mulher mais perfeita que vi em minha vida, não sente saudades que te chame Eve -disse, lhe acariciando o lóbulo da orelha com a ponta da língua-. Se me oferecer uma maçã, juro-te que serei tua em alma e corpo -continuou, fazendo que lhe tremessem os joelhos-. Por favor, vamos a outro sítio, morrerei se não poder te beijar em seguida.
Ela sentia exatamente o mesmo. Aquele homem era um dom Juan: sabia perfeitamente que lhe dizia todas aquelas coisas só para seduzi-la, mas, por desgraça, seu sentido comum tinha perdido por completo o controle daquela situação. Até a seu pesar, não pôde fazer outra coisa que assentir com um gesto.
Levando a da cintura, Matt a tirou da pista de baile. O coração lhe pulsava com tal força que temia que lhe estivesse dando uma taquicardia. Sabia que o mais sensato seria dá-la volta ali mesmo, lhe deixar plantado sem mais desculpa, mas os pés não lhe obedeciam. Assim, seguiu a seu lado, como um cordeiro caminho do matadouro.
Matt encontrou por fim uma habitação vazia, meteu-a nela e, sem mais preâmbulos, começou a beijá-la. Eve esteve a ponto de deprimir-se: seus hormônios pareceram enlouquecer ante aquele contato; sentia-as correr por todas suas veias, como uma manada de elefantes enlouquecidos. Só pôde apertar-se contra ele e lhe devolver aquele beijo.
depois de cinco minutos de beijar-se sem parar, Matt se separou ao fim com a respiração entrecortada.
-Deus, Deus do céu, carinho! -murmurou-. Acreditei que me dava um enfarte... Quer te casar comigo?
Ante aquelas palavras, Eve pareceu recuperar um ponto de lucidez.
-me casar contigo? Claro que não! Acaso te tornaste louco?
-Pode que sim... Sinto como se me tivesse enfeitiçado, como se existisse magia entre os dois. Você não? Embora não queira te casar, viria-te comigo ao Texas? Se vivermos juntos durante uma temporada, seguro que acaba trocando de idéia...
Aquela proposta fez que Eve recuperasse imediatamente o sentido comum.
-Está louco. Não penso ir a nenhuma parte contigo.
-E por que não?
-Creio que é óbvio, acabo de te conhecer, não sei absolutamente nada de ti.
-Isso tem fácil remédio, o que é o que quer saber? -disse Matt. Tentou beijá-la de novo, mas ela o evitou jogando a cabeça a um lado.
-Não o tente -advertiu-lhe.
-Acreditei que você gostava -protestou Matt.
-Pois te equivoca.
-De verdade?
Eve tinha ouvido falar do poder que por si só tinham certos gestos, mas nunca o tinha experiente até ver a forma em que ele a sorriu, tão cativante que fez que sua aparente firmeza se cambaleasse. Nunca tinha conhecido a ninguém como aquele arrumado texano... definitivamente, estava fora de seu alcance, mas, ainda assim, voltou a beijá-la, até que uns estridentes assobios lhes sobressaltaram.
-Maldito telefone! Perdoa, carinho, deve ser uma emergência -exclamou Matt contrariado, tirando um móvel do bolso da jaqueta-. Espero que tenha uma boa razão para chamar -disse a seu interlocutor. Depois de escutar uns instantes, acrescentou:- Muito bem, irei imediatamente -apagou o telefone e voltou a estreitá-la entre seus braços-. Tenho que voltar para casa; por favor, vêem comigo -insistiu persuasivamente.
-Impossível: tenho trabalho, uma carreira que manter -replicou Eve categórica.
-Pois deixa seu trabalho, não te fará falta trabalhar: eu cuidarei de ti, Eve, prometo-lhe isso.
-Cuidar de mim? -Eve estava atônita. Que classe de pessoa se acreditava que era?-. Nem o sonhe!
Matt lhe agarrou pela nuca, obrigando-a a que o olhasse.
-E por que não? Kyle me há dito que não está casada, nem comprometida tampouco. Acaso está com alguém?
Vendo o céu aberto, Eve cruzou os dedos em um gesto infantil, decidida a sair daquele transe a toda costa.
-Sim, estou com... Charlie.
-Pois lhe deixe! Não creio que o queira muito, tendo em conta a forma em que me beijaste...
-Pois está equivocado: adoro-o. Levamos vivendo juntos dois anos. Não posso lhe deixar, pelo menos, justificou-se, em todo aquilo havia boa parte de verdade.
Agachando a cabeça, Matt permaneceu em silêncio uns instantes.
-Entendo -disse ao fim tristemente. Eve teria jurado que tinha os olhos cheios de lágrimas... embora possivelmente fora só um efeito da luz-. Bom, pelo menos o tentei -acrescentou, lhe beijando na frente-. Charlie é um tipo com sorte. Adeus, anjo. Quererá te despedir de outros de minha parte? Tenho que me ocupar de um assunto muito importante, assim que irei agora mesmo.
Sustentando o correio com os dentes e levando em um braço uma bolsa de comestíveis e na outra um saco de seis quilogramas de areia para gatos, além disso da bolsa e uma carteira, Eve abriu a porta de seu apartamento justo quando o telefone começou a soar.
A bolsa do supermercado começou a escorregar-se o perigosamente, assim deixou a areia e a carteira no chão, em um intento porque não caísse o cartão de ovos.
Por desgraça, a condenada bolsa acabou rompendo-se: ficou só com uma bolsa de pão e uma garrafa de suco enquanto os ovos se esparramaram contra o chão... junto com os cogumelos, as laranjas, as cebolas e as conservas...
E, enquanto isso, o telefone não parava de sonar.
Reprimindo um juramento, Eve desprendeu o auricular.
-Diga? -balbuciou com a boca cheia de envelopes.
-Eve? -replicou uma voz masculina-. Eve Ellison?
-Sim, sou eu -disse, livrando-se por fim do correio-. Não quero nenhum seguro, nem tampouco um cartão de crédito nova...
-Eve, sou Matt Crow.
Ela deixou a bolsa de pão e a garrafa e se derrubou em uma cadeira.
-Matt Crow?
-Sim, conhecemo-nos nas bodas, o passado fim de semana... Espero que não o tenha esquecido tão facilmente -brincou.
Esquecê-lo? Desgraçadamente, logo que tinha podido pensar em outra costure em todos aqueles dias.
-Não, recordo-te muito bem -disse, esforçando-se para que a voz não lhe tremesse-. Terá que me desculpar, mas é que estou tendo uma semana horrorosa, e isso que só estamos a quarta-feira!
-Sim, entendo-te. Eu também estou muito encalacrado. Muitos problemas?
-Um montão!
-E não me quer contar isso.
Seu tom era tão amável, que a ponto esteve de desafogar-se com ele. Entretanto, decidiu mostrar-se distante.
-Não creio que te interesse ouvir meu triste historia.
-Pois te equivoca, Eve. Anda, me diga o que te passa.
-Várias coisas: o mais grave é que ontem recebi uma carta da prefeitura me comunicando que me saltei um regulamento municipal, e que tenho que me desfazer de alguns de meus animais a não ser quero que o eles façam... Imagino que me mandaram isso porque a semana passada escaparam Elmer e Minerva; Elmer se comeu as alfaces da senhora Gaither, e pode que a senhora Ramsey se queixou de que Minerva...
-Para, para! -interrompeu-a Matt rendo-. Quais são Elmer e Minerva?
-Ah, sim! Perdoa: Elmer é uma cabra e Minerva uma cerda.
-Tem uma cabra e uma cerda na cidade?
Eve suspirou tristemente.
-Eis estado tentando lhes buscar uma casa como louca. Ouça, não te interessaria por acaso ter uma cabra?
-Vivo em um piso, mas, se quiser, o posso perguntar ao avô Pete.
-Muito obrigado, mas é que Elmer não é meu único problema. A solução mais lógica seria me mudar...
-Já sabe que se quer pode te vir ao Texas -disse, em um tom lhe sugiram que lhe fez pensar em cálidas noites entre suaves lençóis-. Minha oferta segue em pé.
Ao Eve o coração começou a lhe pulsar como uma locomotiva: evidentemente, estava-a tirando o sarro, mas não sabia como reagir ante semelhantes comentários. Não podia lhe responder a sério, porque isso lhe revelaria o pouco sofisticada que era, e tampouco tinha experiência suficiente para manter um frívolo bate-papo com homens como ele.
-Eve?
A jovem fez um esforço por aparentar um bom humor que estava muito longe de sentir.
-Perdoa: estava tentando imaginar ao Elmer, Minerva e outros em seu salão. Temo-me que tenho que declinar sua oferta embora, para falar a verdade, depois de ter conhecido hoje a Godzilla, sinto-me tentada a aceitá-la.
-A Godzilla?
-É meu novo chefe. Contrataram-no como diretor de arte, embora me temo que seu último pensamento criativo data de 1989. Pelo visto, têm-no em muita estima porque trabalhou em uma agência de Nova Iorque. Esse posto teria que ter sido meu, maldita seja! Perdoa, perdoa -desculpou-se em seguida-, não quero te aborrecer com meus problemas.
-Não me está aborrecendo absolutamente. A verdade é que nas bodas logo que tivemos tempo de falar. Ouça, tenho que ir a Cleveland dentro de um par de dias, e já que somos quase família, me tinha ocorrido que poderíamos ficar para jantar ou algo assim...
Aquela proposta a ponto esteve de sumi-la no pânico: sabia que, fossem onde fossem, sentiria-se completamente desconjurado ao lado de um homem como Matt. Por outro lado, não se fazia falsas esperanças: só a tinha chamado por obrigação, porque iria à cidade e porque, como havia dito, "eram quase de ]a família".
Uma parte dela estava desejando desesperadamente sair com ele, mas seu lado mais judicioso insistia em que não havia nada que servisse de apóie para uni-los. Inclusive embora seguissem com aquele tolo flerte algum tempo mais, isso só traria problemas à família. Eve recordava muito bem uma dolorosa experiência, acontecida alguns anos atrás, quando aceitou sair com o irmão de sua amiga Amy Ao terminar o romance, as coisas não haviam tornado a ser o mesmo entre ela e Amy.
-Eve?
-Sim? -"te limite a lhe dizer amavelmente que já tem outros planos", ordenou-se a si mesmo. Entretanto, suas cordas vocais se negaram a obedecê-la.
-É pelo Charlie?
-Charlie? -de repente, recordou que Matt acreditava que Charlie era um homem. Rogando aos céus que lhe perdoassem uma mentira piedosa mais, decidiu continuar com o engano-. Sim, é por ele; é muito ciumento, sabe? De todas formas, obrigado por chamar. Agora tenho que te deixar, tenho o grifo aberto da banheira -e sem acrescentar palavra, pendurou o auricular.
Charlie Chan, o gato metade siamês, metade guia de ruas que era o autêntico senhor da casa, encarapitou-se à mesinha ficou aí sentado, reclamando sua atenção. Eve lhe arranhou distraidamente a cabeça.
-Olá, pequenino. Que tal aconteceste o dia? O meu foi um desastre total. Você crie que Matt Crow quer lombriga de verdade?
-Miaooo -respondeu o felino meneando a cabeça.
-Sim, possivelmente tenha razão. Mas não creio que seja nada razoável voltar a lhe ver. Romperia meu coração e, se o fizer, minha mãe acabará inteirando-se, e então Irish se zangará, e pedirá ao Kyle que fale com ele, o que colocaria ao Matt em uma situação muito incômoda, já que são primos e muito amigos além disso. Não, Charlie, o melhor será deixar as coisas como estão. Mas, se isso era o melhor, por que tinha tantas vontades de chorar?
Quando ouviu que outra vez saltava a secretária eletrônica, Matt proferiu um juramento e pendurou com raiva o telefone. Havia-lhe flanco três dias inteiros reunir o valor suficiente para chamar o Eve outra vez... e levava três noites chamando-a cada hora, das seis até a meia-noite. Todas as vezes tinha saltado a secretária eletrônica. Teria que ir fazendo-se à idéia de que aquela garota lhe estava dando esquinazo.
Depois de partir de Ohio, tinha estado tentando se autoconvencer de que Eve não era para ele, de que tinha que tirar-lhe como fora da cabeça. Mas tinha fracassado miseravelmente no empenho: ela invadia todos seus pensamentos, alimentava seus sonhos, despertava seus sentidos.
Cada dia que passava estava mais convencido de que a jovem era incomparável. Apesar de sua evidente beleza, carecia por completo de presunção, e em vez de mostrar-se arrogante, era muito doce e carinhosa, quase tímida. Em definitiva, sua beleza interior era ainda mais impressionante que a puramente física. Matt não conseguia esquecê-la. Por fim decidiu mandar ao diabo a aquele condenado Charlie. Estava disposto a lutar pela garota com unhas e dentes: sempre tinha brigado por conseguir as coisas que queria, e desejava ao Eve mais que a qualquer outra costure no mundo.
Por outra parte, se lhe importasse de verdade Charlie, não lhe teria beijado daquela forma. Isso lhe dava muitos esperanças. E também o fato de que ela parecesse tão desanimada: evidentemente, aquele noivo não lhe estava emprestando a atenção que merecia e necessitava. Matt planejava escavar a resistência do Eve precisamente por aqueles dois flancos.
Tamborilou sobre a mesa, pensando em que algo do que Eve lhe havia dito em sua última conversação da quarta-feira não acabava de lhe quadrar. Parecia nervosa, quase assustada... teria diante a aquele miserável verme? seria por isso pelo que não respondia a suas chamadas?
-Ciumento, ela disse que era muito ciumento -recordou. Pegaria-a acaso? Furioso, pensou que se aquele mequetrefe ousava tocar um cabelo da roupa a sua idolatrada Eve, ele mesmo lhe amassaria a cabeça com suas próprias mãos.
Ao ver que era impossível acessar a ela pela via mais direta, começou a lhe dar voltas a um plano alternativo.
Enquanto punha uma chaleira de água a ferver para preparar-se um pouco de massa, Eve escutou as mensagens do com testador. O primeiro era de seus pais, que acabavam de retornar de uma viagem ao Texas.
-Encantou-nos essa terra -dizia nele sua mãe, Beverly Ellison-. Como seu pai decidiu ao fim aposentar-se, compraremo-nos ali uma parcela. Pensamos nos mudarmos muito em breve. me chame e lhe contarei isso com detalhe.
Eve suspirou para ouvir aquela mensagem. Apesar de que logo que ia pela casa de seus pais, no Akron, ia sentir falta dos ter a menos de uma hora em carro. Além disso, sua mãe fazia os melhores bolos de chocolate que ela tivesse provado em sua vida, e sempre podia contar com eles como último recurso quando não tinha a ninguém com quem deixar a seus animais.
Primeira Íris e depois seus pais: todo mundo a estava abandonando para partir ao Texas. Que diabos teria aquele lugar para subjugar assim a todos os membros de sua família?
A seguinte mensagem era do Lottie Adams, uma caça-talentos com a que se entrevistou um par de vezes.
-Eve -dizia-lhe-, por favor, me chame assim que chegue. Uma agência muito importante de Dallas acaba de ver seu book e estão muito interessados em falar contigo. Oferecem um posto de diretor criativo e o dobro de seu salário atual. Pode ser uma magnífica oportunidade para ti.
Dallas? No Texas?
O coração lhe deu um tombo: o primeiro que lhe veio à mente foi a imagem de um homem alto e moreno, com uma covinha no queixo e um sorriso deslumbrante. chamava-se Matt Crow e vivia em Dallas.
Sacudiu a cabeça, como querendo apagar essa imagem, mas Matt não era um homem a quem se pudesse esquecer de qualquer jeito. depois de sua última conversação, tinha-lhe mandado um precioso ramo de rosas amarelas, e durante três dias tinha deixado infinidade de mensagens em sua secretária eletrônica, cada um mais premente que o anterior. Deliberadamente, ela não tinha respondido a nenhuma de suas chamadas, até que ele, certamente desanimado ao fim, tinha deixado das fazer. Paradoxalmente, Eve as sentia falta de.
Tinha que esquecer-se dele, recordar que não era seu tipo... fora o que fosse o que isso significava...
Dallas lhe aparecia como a melhor opção: seus pais viveriam a tão só duas horas de caminho em carro, e provavelmente encontrasse ali um bom sítio para viver e com muitíssimo espaço. O melhor de tudo é que por fim poderia abandonar seu aborrecido trabalho, que tão pouco lhe gratifiquem lhe estava resultando ultimamente.
Eve tinha trabalhado muitíssimo, e graças a seu esforço, a agência onde estava empregada tinha conseguido importantes prêmios. Tinha pensado em multidão de projetos para melhorar mais a situação se conseguia o posto de diretora, mas, incompreensivelmente, tinham-na deixado de lado. Se não se mexesse logo, sua carreira profissional ficaria prejudicada.
Diretora criativa? Com o dobro de salário?
Era precisamente a oportunidade que o fazia falta. Soava inclusive muito bem para ser certo... não seria a primeira vez que Lottie lhe falava com entusiasmo de um posto que logo resultava muito mais medíocre do que lhe tinha prometido. Em qualquer caso, tampouco passava nada por chamar, disse-se. Prudentemente, decidiu não contar nada de momento a sua família e, cruzando os dedos, marcou o número da caça-talentos.
Dois dias depois, Eve estava em Dallas. Parecia-lhe incrível ter tido tão boa sorte: Coleman-Walker era uma agência jovem, mas já com certa fama no mundinho da publicidade pela qualidade e originalidade de seus trabalhos. Lottie lhe tinha mandado um par de artigos sobre ela que Eve tinha lido no avião; todos aqueles dados tão favoráveis se viram confirmados pela boa impressão que lhe causou a agência durante a entrevista.
Do momento em que atravessou as grandes leva daquela velha fábrica, reconvertida em um ultramoderno escritório, Eve intuiu que adoraria trabalhar ali. Aquele sítio estava vivo, respirava-se energia. Também gostou do aspecto dinâmico e alegre dos empregados que viu de caminho ao despacho do chefe. riu ela sozinha ao pensar na cara que tivesse posto Godzilla ao ver um deles com patins!
entendeu-se às mil maravilhas com o Bart Coleman, o diretor encarregado de entrevistá-la. Conversaram sem parar durante mais de uma hora. Trabalhar para o Coleman-Walker seria como um sonho feito realidade. Estavam na crista da onda, e ela morria por formar parte daquela equipe.
Quando Bart lhe disse que, se o desejava, o trabalho seria dele, esteve a ponto de arrebentar de satisfação. Teve que conter o impulso de lhe dar um abraço ali mesmo. Claro que o queria! É mais, estava disposta a pagar por trabalhar naquele sítio. Entretanto, as arrumou para aparentar certa calma ao menos até que saiu dos escritórios; uma vez na rua, deu um salto e proferiu um grito de pura alegria, ante o atônito olhar de quão transeuntes passavam a seu lado.
Sentia que tinha por fim a sorte de cara, que aquela era a oportunidade que tinha estado esperando durante toda sua vida. E se convenceu de que naquela cidade estava seu destino quando encontrou quase à primeira o perfeito lugar para viver aos subúrbios da cidade.
tratava-se de uma pequena granja, com seu estábulo e demais dependências, rodeada de árvores, que era propriedade de um ancião que tinha decidido ir-se a um asilo. Seu filho lhe vendeu a propriedade a um preço de ganga em troca de que ficasse tal e como estava e aceitasse fazer-se carrego de uma muía e uma vaca. Um moço de uma das granjas próximas se esteve ocupando dos animais, e provavelmente estaria encantado de seguir fazendo-o se Eve lhe pagava um módico salário.
Ao Eve não importou absolutamente aceitar esta condição, assim assinaram os papéis em um tempo recorde. Certo era que a granja parecia um pouco descuidada, mas certamente uma mão de pintura melhoraria seu aspecto, e, por sorte, as cercas estavam em muito bom estado. Inclusive poderia ter um cavalo, algo que sempre tinha desejado.
Do aeroporto chamou o Bart Coleman para aceitar o trabalho com uma única condição: que lhe ajudasse a encontrar a forma de transportar a seus animais ao Texas.
Matt Crow estava esparramado na cadeira de couro de seu escritório, com os pés sobre a mesa, entretendo-se encestando bolas de papel no cesto de papéis e sem tirar olho ao retrato daquele anjo. Tinha-lhe comprado aquele retrato ao fotógrafo das bodas do Irish, colocando-o imediatamente sobre seu escritório, e pondo outra cópia em sua casa.
Parecia que aquele maldito telefone não fora a soar nunca. Nervoso, arrancou outra folha do caderno e fez uma bola com ela. Se aquela situação se prolongava muito tempo mais, acabaria lhe saindo uma úlcera.
Quando por fim soou o telefone, desprendeu-o antes de que tivesse acabado o primeiro toque.
-Assunto resolvido -disse-lhe Bart Coleman.
-aceitou? -perguntou Matt sorrindo aliviado
-Sim. Coleman-Walker tem uma nova diretora criativa. Incorporará-se nos dia quinze.
-Então, podem ficar com a conta do Crow Airline tal e como combinamos. Mas lhe advirto isso, Bart, se...
-Seja seja: se chegar a inteirar-se, cortará-me o cangote.
-Efetivamente-Rio Matt-. E tampouco quero que Jackson ou qualquer outro membro da família se inteirem disto.
-Não se preocupe, Matt, este assunto ficará entre nós. Tenho de te dizer, entretanto, que estou realmente impressionado pela qualidade de seu trabalho. Creio que encaixará muito bem em nossa equipe, Y...
-Lo sé -le interrumpió Matt-. ¿Has dicho que llega dentro de dos semanas? -preguntó, sonriendo como un tonto.
-Já te instalaste? -perguntou- Bart Coleman ao Eve ao vê-la entrar com um montão de pastas debaixo do braço.
-Quase. selecionei estes curriculuns de entre todos os que me deixou -disse, sentando-se frente a ele-. Só necessitamos a três pessoas? Vi vários trabalhos realmente bons.
-Sim, de momento só três. Bryan Belo, Sam Marcus e Nancy Brazil fizeram já parte do trabalho ajudados por dois colaboradores externos. Quero que você te encarregue pessoalmente de fiscalizar esta nova conta. Bryan está agora mesmo fora da cidade, assim já lhe apresentarei isso quando retornar.
-Estupendo. Já conheço o Sam e Nancy, e estou desejando começar. me conte algo mais de nosso cliente. Nancy me disse que se trata de uma companhia de aviação pouco convencional... Soou-me do mais estranho. A verdade, não sei se me sentiria muito segura voando com eles... -brincou.
-Não se preocupe -disse Bart rendo-. Embora não se pode comparar com as maiores, Crow Airlines tem muito boa reputação... o que passa é que é um pouco alternativa. Já sabe, desenho de vanguarda, uniformes excêntricos...
-Crow Airlines? -conseguiu articular Eve, sem dar crédito ao que estava ouvindo.
-Efetivamente, pode que não tenha ouvido falar deles, mas te asseguro que ter conseguido esta conta é todo um pontaço para a agência. Não só poderemos desenvolver todas nossas idéias criativas, mas também, além disso suporá uma fonte de ganhos de primeira categoria. Conto contigo para tirar adiante o trabalho e fazer que nosso cliente se sinta satisfeito conosco.
Era evidente que Bart estava encantado com aquele negócio, mas ela não pôde evitar uma pontada de apreensão. "Por favor, Deus", rezou, "que os donos não sejam os primos do Kyle". Não queria nem pensar na terrível possibilidade de que tivesse conseguido aquele trabalho só porque era a irmã do Irish
-Er... e quem é o representante da companhia?
-O proprietário. É um tipo estupendo. Conhecemo-nos na Universidade do Texas. Meu sócio, Gene Walker, e eu estivemos sonhando conseguindo esta conta desde que abrimos a agência. E por fim o conseguimos! -exclamou orgulhoso-. Será melhor que nos demos pressa -continuou, depois de jogar uma olhada a seu relógio-. fiquei com nosso cliente para comer.
Completamente tensa, Eve se levantou para segui-lo.
-E quem é o "grande tipo" exatamente? -atreveu-se a perguntar-, Não será por acaso Jackson Crow?
-Jackson? Não, não é ele -Eve suspirou aliviada para lhe ouvir-. É seu irmão Matt.
Empalidecendo subitamente, Eve se voltou para ele.
-Matt? Matt Crow?
-Sim, é genial. Te vai gostar de muito.
-Já... já o conheço.
-De verdade? -perguntou Bart surpreso-. Vá! Isso é estupendo!
-É primo de meu cunhado -explicou-lhe, observando cuidadosamente sua reação.
-Sua primo? Diz-o a sério? É genial! Verá quando Gene se inteire. Não posso acreditar a sorte que tivemos... Vêem, vamos dizer se o agora mesmo.
-Espera, Bart, quero te fazer uma pergunta: você sabia que minha irmã estava aparentada com o Matt Crow?, é essa a razão de que me desse este trabalho?
-Não tinha nem idéia! -protestou Bart-. E de havê-lo sabido, não me tivesse parecido relevante, Eve, dei-te este encargo porque tem muito talento e sei que saberá tirá-lo adiante. Não o duvide alguma vez. Por certo, quem é sua irmã? Ao melhor a conheço...
-Irish Ellison, a modelo. Acaba de casar-se com o doutor Kyle Rutledge e se vieram a viver a Dallas. Kyle e Matt são primos.
-É irmã do Irish? Não a conheço em pessoa, mas vi muitas reportagens nos que sai. É uma mulher muito bonita -Bart inclinou a cabeça, observando ao Eve com atenção-. Agora que o diz, parecem-lhes muito. por que não te fez você também modelo?
-Eu? Por favor, não tire o sarro: Irish é a bonita da família. Eu me dediquei a cultivar minha inteligência.
-Pois me parece que tem tanta beleza como talento. Venha, vamos ver nosso cliente. Miúda surpresa vai levar se!
Matt estava muito nervoso. Tinha destroçado todas as flores do vaso, brincado com os cubinho de açúcares e se tomou duas margaridas. Estava a ponto de pedir a terceira quando a viu aparecer.
Deus, que bonita era.
Estava duplamente agradecido ao destino por lhe permitir desfrutar daquela visão. Tão solo uns anos atrás, antes de sua operação de olhos, em vez de um anjo só tivesse visto um borrão aproximando-se de sua mesa. Com os óculos de culo de copo que estava acostumado a levar naquela época não poderia haver-se dado conta da preciosa cor de seus olhos, ou daqueles lábios tão sensuais.
Talvez devido à tequila ou aos nervos, começaram a lhe tremer as pernas, o coração ficou a pulsar a mil por hora e as Palmas de suas mãos se cobriram instantaneamente de suor. Não tinha experiente tal conjunção de sintomas desde que aos quatorze anos beijasse ao Miranda Toney atrás do ginásio da escola. Só que se sentia muito pior que então.
-Olá, Bart; olá, Gene -saudou, estreitando a mão aos dois sócios-. E esta encantadora senhorita é... Eve.
-Eve Ellison é a nova diretora de arte atribuída a sua conta -explicou-lhe Bart-. Há-me dito que sua irmã se casou com sua primo.
-Assim é -disse Matt lhe estreitando a mão-. Conhecemo-nos nas bodas. Me alegro muito de verte por aqui, não sabia que te tivesse transladado a Dallas. Vivia em... Pittsburg?
-Em Cleveland.
-E como está George?
-George?
-Sim, seu amigo...
-Meu o que...? Ah, refere ao Charlie!
-Isso! Charlie!
-Está muito bem -respondeu Eve lacônicamente.
-veio-se contigo a Dallas?
Ela assentiu.
Matt apertou a mandíbula com tanta força para reprimir um juramento que quase lhe chiaram os dentes.
-O que querem beber? -perguntou-. Posso-lhes recomendar as margaridas. De fato, creio que me vou pedir outra -disse, chamando com um gesto ao garçom.
Maldita fora a imagem daquele metomentodo do Charlie! Tinha tido a esperança de que ficará em Cleveland, mas, por desgraça, não tinha ocorrido assim. Se embargo, estava disposto a conseguir ao Eve como fora, e, normalmente, quando se empenhava em algo, cedo ou tarde o conseguia.
Sempre.
O avô Pete estava acostumado a dizer que Matt era como uma tartaruga mordedora: quando agarrava algo, não o soltava. E tinha razão. Durante toda sua vida tinha estado fascinado pelos aviões. Tivesse desejado mais que nada ser piloto, mas sua má vista o impediu. Assim, o primeiro que fez com o milhão de dólares que lhe deu seu avô, foi pagar uma operação de cirurgia laser. Não lhe havia dito a ninguém nenhuma palavra de seus planos, e muito menos a sua mãe, mas estava decidido a aprender a voar. Já pesar de todos quão condicionantes tinha em contra, tinha-o conseguido.
De algum modo conseguiu centrar-se durante toda a comida nos negócios, sem provar, isso sim, a terceira margarida que tinha pedido. Entretanto, não conseguiu apartar o olhar do Eve, houve um momento em que ela levantou a cabeça e se deu conta do que estava fazendo. Ficando mais tinta que um tomate, agachou a cabeça rapidamente, aparentando estar muito interessada no que tinha no prato.
Matt sorriu. Charlie ou não Charlie, seguia havendo química entre eles.
A comida devia estar deliciosa, ou ao menos isso diziam Bart e Gene, mas tudo o que Eve se levava a boca ficava atravessado na garganta. Para piorar as coisas, começou a preocupar-se com seu aspecto.
Estaria bem penteada? Lhe teria deslocado o batom? Infelizmente, levava uma jaqueta cor púrpura que, segundo Irish, ficava fatal, além de estar completamente passada de moda e bastante alhada. Lamentou não ter feito caso a sua irmã e havê-la atirado ao lixo tempo atrás. Para mais inri, lembrou-se de que um dos cães, Gómez provavelmente, tinha mordiscado seu sapato esquerdo. Por sorte, tinha conseguido dissimular os rastros de seus dentes com um pouco de tintura; de todas formas, deu obrigado porque ele não pudesse ver o desastre... e por desgraça não se podia tirar a jaqueta já que aquela manhã lhe tinha descosturado a cava da blusa enquanto tentava apanhar ao maldito cão e não tinha tido tempo de trocar-se.
De todas formas, Matt Crow não estava tão interessado com ela como lhe tinha parecido. Nem sequer a tinha reconhecido ao princípio. Ela, pelo contrário, tinha gravado a fogo a lembrança de sua voz, de seus olhos, de suas mãos... Mas ao o ter outra vez diante dela se deu conta de que sua memória não lhe tinha feito justiça absolutamente, que era seu incrível carisma o que em realidade lhe conferia seu lhe esmaguem atrativo.
sentia-se quase nua diante dele.
Quando surpreendeu seu olhar, adivinhou que sabia no que estava pensando, e, sem podê-lo evitar, avermelhou até a raiz do cabelo. Como ia poder trabalhar com aquele homem sentindo por ele o que sentia? Mas se nem sequer sabia quanto tempo poderia resistir sem acabar jogando-se em seus braços lhe dizendo, "tome, sou tua", ou alguma estupidez pelo estilo!
A Deus obrigado, Matt era o presidente de uma próspera companhia pelo que, certamente, não poderia dedicar muito tempo para fiscalizar cada fase da campanha de publicidade que lhes tinha encarregado. Provavelmente; Eve trabalharia com algum de seus colaboradores. Isso seria sua tabela de salvação, pois do contrário estava quase segura de que acabaria ficando em evidência e envergonhando a sua família.
Ao acabar a comida e detrás assinar a conta, Matt se voltou para ela com um radiante sorriso.
-Tenho a intenção de organizar minha agenda de forma que tenha tempo suficiente para participar de cada detalhe da campanha. Para falar a verdade, eu gostaria de te convidar para jantar esta noite para começar a discutir os detalhes.
-Para jantar? -repetiu Eve, presa do pânico-. Esta noite?
Desesperada-se, olhou para seus chefes: por sua expressão deduziu que ambos esperassem que aceitasse.
-Sim -disse Matt alegremente-. Se te parecer, passarei para te buscar ao escritório, e logo podemos ir tomar umas taças.
-Er... isto... é que tenho animais...
-Que bem! eu adoro os animais. A que hora ficamos?
-Não, não me entendeste: tenho que ir a casa e dar os de comer. Estão um pouco nervosos com a mudança de casa e todo isso... Esta manhã tive que encerrar ao Gómez no estábulo porque se pôs a perseguir as vacas do vizinho e a lhes morder as patas... Espero que não se escapou...
-Gómez?
-É um cão de raça indefinida. adora escavar e fazer buracos por debaixo das cercas.
Matt se pôs-se a rir.
-Quando era pequeno tubo um cão parecido. Voltava louca a minha mãe. Não o pode vigiar Charlie?
-Charlie? Claro que não!
-Proponho-te uma coisa: vete a casa a dar os de comer que eu irei depois. Já comprarei algo para jantar. Quais sua direção?
-É que vivo muito longe -respondeu Eve evasivamente-, nos subúrbios. Não te incomode...
-Não é moléstia, eu gosto de conduzir -replicou Matt, disposto a não deixar-se intimidar por suas objeções. Sorriu-a de tal forma que toda sua determinação se derreteu como um floco de neve contato com um fósforo-.Me diga onde vive.
Derrotada, Eve lhe deu a direção da granja
-O que gosta ao Charlie?
-Ao Charlie?
-Sim, gosta da massa, por exemplo?
Horrorizada, Eve se deu conta de que ia dar-se conta de que lhe tinha estado mentindo.
-Llévale pescado -respondió con un hilo de voz-. Le encanta.
A chuva golpeava o cristal do pára-brisa com força. Eve se aferrou ao volante, tentando ver algo pela cortina de água que estava caindo. Embora tinha saído do escritório com tempo de sobra para chegar a casa, dar de comer aos animais e trocar-se, um acidente na auto-estrada tinha provocado um entupo importante. Para piorar as coisas, tinha começado a chover.
Havia ficado de que Matt chegaria à granja em menos de um quarto de hora. Lhe fez um nó no estômago ao ver o relógio e dar-se conta de que lhe seria impossível chegar a tempo. Além disso, estava muito preocupada com os animais, os pobrezinhos estariam impregnados e famintos; rezava para que se refugiaram no alpendre, ou sob o beiral do estábulo.
Preocupavam-lhe especialmente Lonesome e Sukie, a mula e a vaca que tinha recebido junto com a granja. Lonesome estava médio cega, e terei que ordenhar ao Sukie. Normalmente estavam no estábulo, mas aquele dia as tinha deixado fora para encerrar ao Gómez em seu lugar, sem pensar nem pelo mais remoto que ia retornar tão tarde a casa.
Acendeu a rádio, mas nem a música conseguiu lhe acalmar os nervos.
depois do que lhe pareceram horas de caminho, chegou aos subúrbios de Dallas, atravessou Mesquite e saiu da auto-estrada. Já não ficava muito para chegar a casa. Quando por fim enfiou o caminho de entrada, o primeiro que viu a tênue luz dos faróis foi um carro esportivo negro estacionado ante a casa.
-OH, não! -gemeu. Inexplicavelmente, tinha conseguido chegar antes que ela.
Assim que abriu a porta, Matt se adiantou a recebê-la com um enorme guarda-chuva em uma mão e uma lanterna na outra.
-Já tenho suposto que te teria ficado apanhada na auto-estrada -disse.
-Sim, e o sinto. Agora terá que me perdoar, mas o que tenho que fazer é dar de comer aos animais. As pobres Lonesome e Sukie devem estar muito assustadas, e Gómez médio louco, depois de haver-se passado o dia no estábulo. Sinto muito, mas teremos que deixar o jantar para outro dia...
Fazendo caso omisso da chuva, Eve pôs-se a andar para o estábulo, rodeada pelos cães, que ladravam como loucos, como se pensassem que todo aquilo era muito divertido.
-Ajudarei-te -gritou Matt.
-Não, volta outro dia! -girou-se com tanta brutalidade que escorregou, caindo sobre o barro. Os cães se equilibraram sobre ela para lambê-la e jogar-. Parem, meninos, parem! Venha, a casa, a casa! -a contra gosto, os bichinhos obedeceram.
Amaldiçoando pelo baixo, conseguiu ficar em pé. Estava coberta de barro de pés a cabeça. Irish já não teria que preocupar-se mais pela jaqueta, pensou, parecia um asco.
Quando chegou às imediações do estábulo, comprovou aliviada que os animais pareciam tranqüilos, apesar da tormenta. Justo então, teve a má sorte de que lhe caísse uma lente de contato. Embora sabia que era uma causa perdida, agachou-se e ficou a apalpar o chão, com a vã esperança de encontrá-la.
-Tem-te feito mal? -perguntou Matt ficando a seu lado e lhe tampando com o guarda-chuva.
-Não, estou perfeitamente -dava-lhe muita vergonha que ele a visse naquele estado, assim que se incorporou, tentando inutilmente limpar-se um pouco a cara-. Escuta, não creio que este seja o melhor momento para falar do projeto. Como vê, tenho muitíssimo confusão. Se quiser, ficamos outro dia -e fechando o olho do que se cansado a lente de contato, voltou-se para o estábulo.
Sukie e Elmer, muito quietinhas, cobriram-se sob o beiral, enquanto que Lonesome se ficou sob o temporal, diante da porta do estábulo. Ao vê-la, Eve se sentiu como um desprezível verme.
-minha pobrezinha! -disse, lhe acariciando o lombo-. Já verá como em seguida estará seca e quentinha -abriu a porta e a fez acontecer imediatamente ao interior, chamando depois à vaca e a cabra.
-O que posso fazer? -insistiu Matt
Eve ficou petrificada para ouvi-lo.
-Pensei que já te tinha partido. Sinto muito, de verdade, mas tenho muitas coisas que fazer... não posso estar pendente de ti -disse, e agarrando um montão de trapos ficou a secar à mula.
-E não quero que o esteja. Além disso, terá que comer algo, não? O jantar está no carro, em uma geladeira portátil, assim não se preocupe. De verdade, quero te ajudar, assim me diga o que posso fazer.
Eve suspirou profundamente. Devia ter um aspecto lamentável, mas, naqueles momentos, os animais eram muito mais importantes que sua aparência.
-Está bem: acaba de secar ao Lonesome se quiser enquanto eu ordenho ao Sukie. Elmer é bastante independente, assim não creio que lhe aconteça nada. Depois, se te parecer, pode dar de comer ao Winston Churchill, ao Louie e A.... Gómez! -rapidamente ficou a procurar o cão por todos os rincões-. Onde está Gómez? Eu o deixei aqui dentro, e o muito malvado se escapou...
Sukie se dirigiu a seu sítio mugindo.
-Já sei, bonita -disse-lhe Eve-. Estarei contigo em seguida. OH, Deus! -gemeu-, espero que esse bandido não esteja perseguindo outra vez às vacas do vizinho.
-Quer que vá buscá-lo? -disse Matt.
-Não, já vou eu -decidiu Eve-. Lhe poderá arrumar isso -Échale una manta a Lonesome y ordeña a Sukie -respondió Eve saliendo por la puerta.
-Claro, o que tenho que fazer?
-Joga uma manta ao Lonesome e ordenha ao Sukie -respondeu Eve saindo pela porta.
-Ordenhar ao Sukie?
-Sim, o caldeirão está detrás da porta. Poderá fazê-lo?
-É obvio -disse Matt enquanto ela ficava a chamar gritos ao cão-. Sem problemas... -decidido, deixou sua jaqueta de seda em um prego da parede e se arregaçou a camisa. Com o cubo em uma mão e o tamborete na outra, aproximou-se da vaca-. Olá, Sukie, bonita: vim a te ordenhar.
O animal meneou a cabeça e ficou olhando com seus enormes olhos escuros. Matt tivesse jurado que tinha suspirado ao lhe ver, pensando sem dúvida que aquele humano não tinha pinta de saber como se ordenhava uma vaca.
E, para falar a verdade, Matt não tinha nem idéia de por onde começar. Sua única experiência daquele tema era o que tinha visto nos filmes embora, uma vez, quando tinha oito anos, seu avô tinha querido lhe ensinar a fazê-lo, mas o único que tinha conseguido é que a vaca lhe desse um coice tal que esteve coxeando duas semanas.
-Vamos, bonita -disse, depois de sentar-se no tamborete e colocar o caldeirão debaixo das úberes-. Me ajude e lhe agradecerei isso... -murmurou-. E não te ocorra me dar um coice!
Por sorte, Sukie ficou muito quietinha. Matt desentorpeceu os dedos e, muito decidido, agarrou uma úbere em cada mão e apertou.
Não aconteceu nada.
Voltou a tentá-lo com mais força.
Nenhuma gota.
-Sukie, carinho, colabora um pouquinho, anda.
A vaca se voltou de novo para ele. Esta vez teria jurado que punha os olhos em branco.
depois de cinco minutos de estirar, apertar e amaldiçoar, não havia mais que duas miseráveis gotas de leite no cubo. Suando como um condenado, Matt se disse que tinha chegado o momento de consultar com um perito. Quão último queria era ficar como um idiota diante do Eve.
-Espera um momento, garota, tenho que fazer uma chamada -disse, lhe dando ao Sukie um tapinha no lombo. levantou-se, tirou o móvel da jaqueta e marcou o número de seu avô. Por sorte, o velho Pete estava em casa.
Matt lhe explicou seu problema, fazendo que ao ancião quase lhe desse uma apoplexia de risada.
-Muito bem, filho -disse entre gargalhadas-, escuta com atenção como se faz...
Quando Eve retornou ao estábulo, imersão e tremente, encontrou-se ao Matt Crow, o muito mesmo presidente do Crow Airlines, sentado em um tamborete e cantando alegremente uma entusiasta, embora um pouco desafinada, versão de "Na velha feitoria", enquanto ordenhava ao Sukie. Levantou a vista de sua tarefa e lhe dirigiu um de seus maravilhosos sorrisos.
-encontraste ao Gómez? -perguntou.
Ela assentiu, retirando o cabelo da cara.
-Estava tão contente, em casa dos vizinhos, quentinho e seco. ficará com eles até manhã. Já lhes dei a comida ao Winston Churchill, Louie e Dewey. Você já terminaste com o Sukie?
-enchi meio cubo: creio que já não vou tirar muito mais.
-É muito mais do que estou acostumado a tirar eu -disse Eve-. Nunca tinha ordenhado uma vaca em minha vida até a semana passada; ensinou-me Jimmie Johnson, o filho de uns vizinhos. Não te perguntei se sabia fazê-lo porque supus que ao ter vivido no Texas toda sua vida estaria acostumado a trabalhar com o gado. Jimmy me disse que todo mundo por aqui aprendia a ordenhar de pequeno. Senti-me o mar de ignorante, claro. E, por isso vejo, você é todo um perito -acrescentou, assinalando o cubo-. Quando aprendeu?
-OH, bom... creio que a primeira vez que o fiz teria uns oito anos. me diga, quais são Winston Churchill, Louie e Dewey?
-Winston Churchill é um galo, e Louie e Dewey são patos.
-Como conseguiu semelhante galinheiro?
-depois de Páscoa, a gente está acostumada abandonar aos pintinhos e patinhos que dão de presente aos meninos, sobre tudo nas cidades.
-Sim, quando crescem já não são tão bonitos... Onde os encontrou?
-Mas bem me encontraram eles . Tenho um talento especial para atrair aos bichinhos necessitados -disse Eve tremendo.
-Será melhor que vamos dentro e nos tiremos estas roupas molhadas.
Só de pensar no Matt tirando-a roupa, ao Eve lhe aconteceu o tremor. Esperava que não tivesse querido dizer... que não estivesse pensando... no que ela estava pensando.
-Vamos -insistiu. Aparentemente, sua proposta era do mais inocente-. Tem que te trocar.
Assim que se assegurou de que os animais do estábulo estavam perfeitamente, Eve conduziu ao Matt até a casa. Embora já estava imersão até os ossos, Matt insistiu para que ela levasse o guarda-chuva enquanto ele carregava com o cubo de leite.
-Tem uma cerda dentro de casa? Eve sorriu enquanto secava ao bojudo bichinho no alpendre.
-Chssss. Minerva não sabe que é uma c-e-r-d-a. Além disso, para sua informação te direi que é muito mais limpa que os cães, e mais suave também... Minerva grunhiu agradada.
Matt secou primeiro ao Charlotte, uma bonita São Bernardo, enquanto Lucy e Bowie, os dois cães guias de ruas que Eve tinha acolhido em sua casa, esperavam pacientemente seu turno.
-Primeiro lhes daremos a comida -disse Eve-, e depois jantaremos nós.
Quando entraram no salão que estava justo em meio da casa, Matt ficou muito surpreso para ouvir que alguém cantava "Caro nome chel IL mijou cor" a grito descascado.
-É Charlie?
Eve se pôs-se a rir.
-Não, é Caruso, é um mina.
-Um quê?
-Um pássaro tropical que imita a voz humana. A jaula está no corredor. Espero que você goste da ópera... às vezes fica muito caladinho, mas outras não pára de cantar. Seu anterior proprietário era um fanático do belo canto.
-Como é que ficou com ele?
-Sergio, seu dono, morreu de uma embolia. Tinha oitenta e dois anos e era um ancião adorável. Ele e Caruso viviam frente a minha casa... bom, o caso é que me deixou isso em seu testamento. Já vê que Caruso é um pouco... peculiar, e a irmã do Sergio não podia suportá-lo, atacava-lhe os nervos, assim...
-Assim que se levou o piano e a baixela de prata e deixou a ti ao pajarraco.
-Bom, um pouco parecido -admitiu Eve.
-RI-dava Pagliaccio -cantou Caruso do corredor-. Ah-há-há-há!
Matt se pôs-se a rir.
-Deveria lhe ensinar alguma canção do Mark Chestnut, George Strait ou Neal McCoy -disse.
-Quais são? -perguntou Eve.
Matt a olhou atônito.
-Alguma vez ouviste falar do George Strait?
-Creio que não. É um cantor?
-O melhor. Por isso vejo, tem importantes lacunas em sua educação. Não pode viver no Texas sem ter ouvido nada do George, Mark ou Neal. São cantores de country e, o que é mais importante, texanos os três. Não têm casas de jogo clandestino em Cleveland?
-Não que eu saiba; ao menos, eu não estive em nenhum.
-Se tivesse estado, lembraria-te. Creio que vou ter que te tirar por aí... já te levarei a Rede Dog um dia. Anda, agora vete a te trocar de roupa antes de que pilhe um resfriado. Já lhes darei de comer eu a estas feras -disse, assinalando aos cães.
-Obrigado. Sua comida está na despensa... -Eve se deteve o ver uma poça d'água no chão-. Muito bem, meninos -disse, voltando-se com olhar severo aos cães-, quem foi?
-Eu não, juro-o -disse Matt.
-Muito gracioso! -riu Eve.
-Parece-me que tem uma goteira -disse Matt assinalando para o teto.
-OH, não! Trarei uma chaleira em seguida.
Havia outro atoleiro na cozinha.
-Maldição! -exclamou contrariada-. O telhado parece um coador -enquanto ela esfregava o chão, Matt pôs uma bacia no corredor e uma caçarola ao lado da velha cozinha de gás. Localizaram duas goteiras no salão, outra mais no corredor e uma em um dos dormitórios. Por sorte, Eve comprovou que seu quarto estava em perfeito estado; quando ia sair, topou-se com o Matt, quem lhe tinha seguido sem que ela se desse conta.
-Cuidado! -exclamou, sustentando-a pelos ombros para evitar que perdesse o equilíbrio.
-Perdoa, eu... -incapaz de continuar, notou chateada que voltava a ruborizar-se... o que não era de sentir saudades se pensava que estavam os dois plantados em meio de seu dormitório.
Eve não estava acostumada a ter homens em semelhante sítio, e menos ainda a homens como Matt, que com sua só presença lhe punha o coração a cem e conjurava em sua imaginação todo tipo de fantasias. "Tome cuidado, Eve", disse-se a si mesmo: "Este homem pode acabar te obrigando a fazer algo realmente estúpido, e romper seu coração, além disso". Quis afastar-se dele, mas seus pés se negavam a obedecê-la. De repente, o único no que podia pensar era na cama, que parecia fazer-se maior quanto mais a olhava pela extremidade do olho.
-Eve -a voz do Matt se fez mais rouca, incrivelmente sexy.
-me diga.
-Só queria dizer seu nome. eu adoro como sonha.
-De verdade?
-De verdade.
Quando aproximou seu rosto um pouco mais ao dela, entrou-lhe pânico e, precipitadamente, saiu da habitação, charloteando de mil trivialidades para dissimular sua confusão.
Para ouvir o repico das gotas de chuva nos cacharros repartidos por toda a casa, ficou a calcular mentalmente o que custariam as reparações. Não podia permitir um telhado novo, já que sua conta bancária se ficou exausta depois de pagar a entrada da granja e do que havia flanco arrumar a calefação e os encanamentos.
A única opção que ficava, pensou filosoficamente, era estudar-se cada dia o parte meteorológico para ver se tinha que tirar as caçarolas ou não.
Enquanto Matt lhes punha a comida aos animais na galeria traseira, deu-se uma rápida ducha e se trocou de roupa. Como não tinha lentes de contato de reposto, não ficou mais remedeio que ficá-las óculos; Irish lhe havia dito mais de uma vez que estavam acontecidas de moda, que a forma não lhe sentava bem e que lhe faziam parecer maior. Por um momento pensou em tirar-lhe mas então se chocaria contra todas as portas, e o efeito seria ainda pior.
Ao sentar-se na cama para ficá-los meias três-quartos, descobriu com espanto outra goteira. O edredom da cama estava completamente empapado pela chuva.
-Genial. Isto é simplesmente genial -grunhiu.
Resignada, retirou os lençóis e mantas e pôs um plástico sobre o colchão que, por sorte, não estava molhado.
Pelo visto, ia se ter que passar o fim de semana encarapitada ao telhado com um martelo e uns pregos. Finalmente, acabou de arrumar-se e de ordenar o dormitório e baixou à cozinha, de onde emanava um delicioso aroma.
-Hmmmm! Cheira de maravilha! -exclamou-. Mas, o que...?
Matt estava acendendo uma vela. Tinha posto a mesa com uma toalha, os guardanapos e um pequeno ramo de rosas amarelas em um vaso. voltou-se para ela com um sorriso; por um momento seus olhares se cruzaram e foi como se o tempo se detivera, como se o espaço entre eles se enchesse de faíscas de pura magia. Matt foi o primeiro em apartar a vista, rompendo desse modo o feitiço; sem saber muito bem o que fazer, como reagir, Eve se agachou para lhe fazer uma bajulação ao gato.
-Olá, Charlie, bonito. A que você também tem fome?
-"Charlie?"
-chama-se Charlie Chan, embora não sei por que, porque não é chinês, a não ser siamês, e só em parte; entretanto, já se chamava assim quando fiquei com ele, faz um par de anos.
-Um par de anos? É que este Charlie é Charlie?
OH, não! Tinha metido a pata sem remédio. Por um momento pensou em manter como fora sua estúpida mentira, mas em seguida desprezou a idéia.
-Sim -confessou-. É o autêntico Charlie. deveu cheirar o pescado.
-Então -insistiu Matt-, o Charlie com o que me disse que vivia é "este gato"?
Eve tragou saliva.
-Bom... era-o a última vez que o vi -disse, como se todo aquilo fora em realidade um gracioso mal-entendido. Entretanto, Matt não sorriu-. Está zangado?
-Zangado? Não, confuso talvez... e me sinto bastante aliviado, a verdade -acrescentou. Sacudiu a cabeça rendo alegremente-. Olá, companheiro -disse, acariciando ao gato-, alegra-me muito te conhecer. Você gosta do pescado, verdade? Quer um pouco de salmão defumado?
Charlie miou agradado; até o Pansy saiu de seu esconderijo sob a cama do Eve para reclamar sua ração do festim.
-Você também cheiraste o salmão, pequenina? -disse Eve com a menina nos braços-. Tem boa mão com os animais, Matt.
-Pode... mas o que eu gostaria de verdade é me levar bem com sua proprietária. Posso-te tentar a ti também com um pouco de salmão?
-Sou vegetariana.
-Já me havia dito Irish que você não gostava da carne, assim que te tenho gasto um montão de verduras: aspargos com vinagrete, salada de batatas, cogumelos salteados, brócolis com molho holandês, bolo de milho... ah!, também há massa com manjericão e tomate. Tenho gasto pão francês; coloquei-o no forno com todo o resto.
-Hmmmm! Que delícia! Cheira a glória. Matt agarrou um de seus cachos, enredando-lhe entre os dedos.
-eu adoro seu cabelo, parece feito de luz de lua.
Incapaz de articular palavra, de pensar em nada sequer, Eve ficou olhando: seus olhos, seu aroma, seu corpo inteiro tinham o poder de um ímã para seus sentidos, para sua vontade inteira. Seu olhar ficou presa daquela boca tão sensual. Matt atirou brandamente da mecha de cabelo que sustentava entre seus dedos; ela se deixou levar, como hipnotizada por seus lábios.
Quando por fim se beijaram, voltou a lhe surpreender sua incrível suavidade.
Aquela calidez.
Mimosa, aproximou-se um pouco mais à fonte daquela incrível sensação. Entretanto, esqueceram-se de que tinham cada um um gato em braços: ao chocar, os dois animais ficaram a miar e arranhar, pugnando por escapar.
Matt e Eve se separaram de um salto e os gatos caíram ao chão.
-Maldição!
-Agg! -chiou Eve. Matt quase lhe tinha arrancado a mecha sem querer.
-Espera, espera... enredou-se. Não te mova!
sentiu-se como uma parva, agachada enquanto Matt a ajudava a soltar-se. Quando por fim o conseguiu, olhou-a com tristeza.
-Sinto-o muito. Parece-me que perdemos uma boa oportunidade...
-Sim, e você que o diga! -riu Eve-. Anda, vamos comer -disse. Em todo aquele tempo, ele não tinha feito nem a menor menção a seus óculos.
-Quanto diz? -perguntou Eve atônita. Logo que podia dar crédito à cifra que lhe estava dizendo o empregado da construtora-. Deve você estar brincando!
Por desgraça, aquele homem não tinha o menor senso de humor: um novo telhado lhe custaria milhares de dólares.
-Senhora, se o desejar, posso pôr uns quantos emplastros: só lhe custaria umas centenas, mas, sinceramente, não o recomendo. Precisa trocar esse velho coberto de cima abaixo.
-Muito obrigado. Chamarei-lhe quando me tiver pensado isso -pendurou e telefonou a outras duas companhias às que tinha pedido pressuposto; uma ainda não o tinha preparado, e na outra lhe pediram uma quantidade ainda mais elevada. Desesperada-se, enterrou o rosto entre as mãos.
-Problemas? -ouviu que lhe perguntavam. Levantou a cabeça e viu na soleira ao Sam Marcus, um de seus colaboradores preferidos.
-Não, a não ser que o de por chover -respondeu-. Não saberá por acaso qual é a previsão do tempo?
-Pois sim: nuvens e claros e fortes tormentas na sábado. Sei porque minha noiva quer ir a Cantão este fim de semana; adora as antiguidades, e vai haver uma feira. Vem gente de todas partes, tem fama de ser o melhor mercadinho da região, sabe?
-Fortes tormentas há dito?
-Efetivamente. Fazia algum plano?
-Bom, tinha uma entrevista com um martelo e uns quantos pregos no alto de meu telhado. Tenho goteiras. Por certo, não terá você um martelo?
-Não me olhe, chefa. Tenho vertigem, dá-me até quando subo a uma escada. É minha única falha.
-Será galinha!
Sam lhe tendeu uma pasta.
-Quer lhes jogar uma olhada antes de que os mande a produção?
-São os anúncios das tarifas especiais?
Sam assentiu.
-Sim, e antes de que me pergunte, direi-te que Nancy não sabe distinguir onde começa uma ferramenta e onde acaba, embora seu irmão é um mecânico estupendo. Pode contar com ele se tiver alguma avaria.
-Terei-o em conta -Eve começou a revisar os esboços-. São estupendos, Sam. Bom trabalho. lhe diga ao Nancy que eu adoro seus textos.
-Seguro que prefere que o você diga. Apesar de que parece muito bordo, de vez em quando gosta dos cumpridos.
-Acaso não gostam a todos? lhe diga aos de produção que se dêem pressa, que lhes dêem prioridade absoluta.
-De acordo.
Quando Sam se partiu, jogou uma olhada a seu relógio e chamou o Bryan Belo, outro dos membros de sua equipe. Queria lhe pedir que tivesse um par preparados de anúncios para a rádio de trinta segundos cada um para o dia seguinte a primeira hora..
-B.B. à fala. Quem chama, por favor?
-Bryan, sou Eve. Já terminaste os anúncios do Crow para a rádio?
-Claro.
-Importaria-te me trazer isso ao despacho?
-Não posso fazê-lo -foi a surpreendente resposta de seu colaborador.
-Como diz?
-Que não posso fazê-lo.
-E por que, se pode saber-se?
-Porque os deixei ao Bart e ele está agora em uma reunião com um cliente.
-E por que os deste ao Bart?
-Porque ele é meu chefe.
Podia imaginar-se muito bem a expressão zombadora do Bryan. Uma quebra de onda de ira lhe percorreu as veias. "Mantén a calma", disse-se. Por alguma razão que desconhecia, não lhe caía bem ao editor sénior, quem não se tomava a menor moléstia por dissimular seus sentimentos para ela. Não podia consentir que lhe seguisse faltando ao respeito daquela maneira.
-E eu também o sou, Bryan -disse com muita tranqüilidade-, será melhor que o recorde. Suponho que terá uma cópia dos anúncios em seu ordenador: imprime-os e me traz isso ao despacho dentro de dez minutos -disse, e pendurou para evitar que lhe replicasse.
Exceto por um par de incidentes sem importância com o tal Bryan, sua primeira semana na agência tinha sido estupenda: adorava seu escritório a gente, o trabalho, tudo. E também estava começando a apaixonar-se pelo Texas. Até os desconhecidos eram agradáveis e hospitalares com ela.
Como dizia o dito, tudo no Texas parecia maior que a vida, especialmente certa pessoa da que cada dia se sentia mais afeiçoada. Tinha visto o Matt todos os dias desde que começasse com aquele trabalho. passava-se pelo escritório a três por quatro com qualquer desculpa, e estava acostumado a convidá-la a comer ou para jantar com muita mais assiduidade que a que tivesse sido normal em um cliente. De fato, temia que tantas cuidados a pusessem em evidencia diante de seus companheiros, porque, embora ninguém lhe havia dito nada ainda, era impossível que tivessem acontecido desapercebidas.
E breve voltariam a estar juntos durante vários dias: Matt tinha insistido em que viajasse em um dos aviões do Crow Airlines para que conhecesse de primeira mão os serviços que oferecia a companhia. Aparentemente, era uma proposta do mais inocente, mas a inquietava bastante a perspectiva de passar tanto tempo com ele.
Precisamente então soou o telefone. "Falando do Rei de Roma...".
-Olá! -disse Matt-. Que planos tem para comer?
-Sam. Nancy e eu compraremos uns sandwiches e iremos comer os a um sítio que se chama Pioneer Plaza. Querem me ensinar umas esculturas que há ali.
-Estupendo! eu adoro esse sítio. Direi-te o que faremos: eu comprarei a comida e lhes esperarei ali por volta das doze e quinze.
-Mas é que fiquei com o Sam e Nancy... -protestou Eve.
-Não importa -disse Matt-. Levarei comida de sobra para todos. Estou desejando conhecê-los melhor; de passagem, poderíamos concretizar detalhes sobre a campanha.
Estava-a pondo em uma situação muito difícil. Como era seu cliente, não ficava mais remedeio que aceitar.
-De acordo, às doze e quinze.
Assim que pendurou o telefone, Bryan Belo apareceu pela porta de seu escritório e arrojou uma pasta sobre sua mesa.
-São os anúncios de rádio? -perguntou Eve.
-Sim -respondeu secamente seu subordinado-. Algo mais? -perguntou, e, sem esperar resposta, deu-se a volta.
-Sim, espera, quero lhes jogar uma olhada. Sente-se, por favor.
Mas ele permaneceu obstinadamente de pé, apoiado na soleira e com os braços cruzados. Eve decidiu não fazer caso de sua petulância, e começou a revisar o trabalho com muita calma.
Quando acabou, levantou a vista agradada.
-Bryan, fez um trabalho estupendo. São perfeitos. Estou segura de que nosso cliente ficará muito satisfeito.
Bryan se manteve inexpressivo ante estes elogios.
-Sim, sou muito eficiente.
-Mais que isso: tem muito talento.
-terminaste? Tenho trabalho pendente -replicou Bryan grosseiramente.
Eve se mordeu a língua: intuía que se lhe respondia o que estava pensando, só conseguiria piorar as coisas.
-Obrigado. Esta tarde, eu gostaria de me reunir contigo e com os de seu departamento para organizar o tema dos anúncios de revistas.
Bryan assentiu e saiu do despacho sem dizer nada. Eve se deixou cair sobre a cadeira com um suspiro de frustração. Aquele homem se estava convertendo em um problema; rezava para ser capaz de dirigir aquela situação tão desagradável sem ter que pedir ajuda ao Bart.
-Latido! -exclamou Nancy quando Matt começou a abrir as caixas e bolsas que tinha levado-. São camarões-rosa isso que cheiro? Me dá vontade de te beijar!
-Pois faz-o! -riu Matt lhe apresentando a bochecha.
Quando a jovem lhe deu um cômico beijo, ao Eve assaltou uma repentina quebra de onda de... ciúmes? Da famosa noite da tormenta, Matt não havia tornado a tentar beijá-la, nem sequer de brincadeira.
Que estranho, pensou. Com todo o tempo que tinham acontecido juntos aqueles dias, tinha tido um montão de oportunidades de fazê-lo... talvez não lhe tivesse gostado tanto como ela acreditava aquela primeira vez.
Aquele pensamento a sumiu na confusão. Embora não tinha muita experiência, recordava que o último menino com o que tinha saído, tampouco tinha sido capaz de despertar grandes paixões nela. Uma das razões pelas que tinha quebrado com ele era porque se deu conta de que preferia beijar a Minerva que ao Kenneth...
Recordando o tato tão sensual dos lábios do Matt sentiu que se derretia por dentro. Embora morria por experimentar outra vez aquela doce sensação, o sentido comum lhe dizia que manter uma relação sentimental com um cliente era uma das coisas mais parvas que podia fazer.
-Quer muffeletta? -perguntou-lhe Matt-. Tem abacate, ovos, brócolis e outras coisas igual de sões e naturais -explicou-lhe com um sorriso.
Eve se ruborizou sem poder evitá-lo. Acaso lhe teria lido o pensamento? Não, certamente não: simplesmente estava sendo amável com ela porque, ao fim e ao cabo, eram quase parentes. Era impossível que alguém tão mundano e sofisticado como Matt Crow estivesse realmente interessado em uma garota tão corrente como ela.
-Não tem nem um grama de carne -continuou Matt-, prometo-lhe isso.
-Muito obrigado -disse Eve.
Tomou o sanduíche e se sentou em uma das cadeiras de praia que ele tinha disposto à sombra de um carvalho. Matt tinha escolhido um lugar perfeito, ao lado do cemitério dos antigos fundadores, em uma pequena altura da que se viam as esculturas que adornavam o parque. respirava-se uma paz bucólica naquele privilegiado enclave, isolado do tráfico e ruídos da cidade. Sam lhe havia dito que era um cruzamento de caminhos que tinham usado tanto os pioneiros como os índios, onde antigamente se reuniam os rebanhos que os jeans levavam ao norte.
Em tempos mais recentes se colocaram umas enormes esculturas de bronze recreando aquela antiga cena: podiam ver-se, realizados com um realismo incrível, umas cabeça de gado conduzidas por um grupo de homens embelezados ao mais puro estilo vaqueiro.
-Que maravilha! -observou Eve-. Estão feitas com um detalhe incrível. Quase se pode sentir o aroma do gado, o pó, ouvir os assobios dos jeans, e o estalar dos látegos. E além disso são tão... grandes. Nunca tinha visto nada semelhante.
-Não há nada como Texas -replicaram ao uníssono Matt e Sam.
Nancy se pôs-se a rir.
-Já acostumará a nós, Eve. Os texanos são uma raça à parte.
-Somos? -disse Sam arqueando as sobrancelhas-. Nancy, bonita, que você é de Michigan...
-Por pura casualidade -disse a jovem alegremente-, vim-me aqui logo que pude. Sabe, Eve? No alto da colina há umas esculturas parecidas com estas, mas de cavalos selvagens. Alguns dizem que são inclusive mais impressionantes que estas.
-Tio, isto está muito bom -disse Sam depois de pegar um enorme bocado a seu sanduíche-. muito melhor que as salsichas de fígado e o bolo de passas que tenho em casa. Creio que vou jogar uma solicitude para trabalhar no Crow Airlines.
-Salsichas de fígado? -interveio Nancy, pondo cara de asco-. Como pode comer semelhante coisa?
-Por puro desespero: estamos a fim de mês e é o único que fica na geladeira. Isso, e o bolo de passas que me deu de presente minha tia Sofía e que ódio desde que era pequeno.
-Eu também o odeio -disse Matt-. Não suporto as passas, nem sequer nas bolachas. A verdade é que não há nada mais asqueroso que o bolo de frutas.
-Pois eu gosto das passas -declarou Eve-. E o bolo de frutas.
-Eu estou de acordo com vós, meninos -disse Nancy-. Entretanto, o bolo de chocolate eu adoro... ou o chocolate só se formos a isso.
-Ouça, Matt: Irish me contou que tem uma fábrica de chocolate, é certo? -perguntou-lhe Eve.
-Tinha-a -respondeu-. Vendi-a faz tempo.
-Vendê-la? -exclamou Nancy incrédula-. Tinha uma fábrica de chocolate para ti só e a vendeu? Deus! Para mim seria como estar no paraíso: tomaria o café da manhã, comeria e jantaria chocolate todos os dias.
Matt se pôs-se a rir.
-Precisamente esse era o problema: também eu adoro, assim engordei dez quilogramas enquanto a tive. Vendi-a assim que me fizeram uma boa oferta.
-Trouxemo-lhe os esboços das novas tarifas -disse Eve trocando de conversação.
-Já os verei logo. Anda, desfruta da comida. Faz um dia estupendo, verdade? Nunca me tivesse ocorrido dever comer aqui. De quem foi a brilhante ideia?
-Do genial senhor Marcus -disse Eve.
-Anda! É família do Neiman Marcus? -perguntou Matt.
-Oxalá! -riu Sam-. Meu pai é um simples contável.
Eve viu que se aproximava aonde eles estavam um ancião vestido com roupas estragadas que arrastava uma caixa de cartão que se sustentava em precário equilíbrio sobre umas rodinhas. Tinha o cabelo e a barba sujos e emaranhados. Um mais dos milhares de vagabundos que povoavam as cidades, disse-se, desviando a vista. envergonhava-se de si mesmo por aquela reação, mas nunca tinha sabido muito bem como comportar-se com gente como aquela. É obvio, davam-lhe muitíssima lástima, mas não sabia o que fazer para ajudá-los, além de dar dinheiro às associações benéficas que se ocupavam deles, coisa que fazia com regularidade. Não podia fazer-se carrego daquelas pessoas abandonadas da mesma forma que se ocupava dos animais abandonados.
-Matthew... Matthew Crow -disse o homem aproximando-se deles-. É você?
Matt o olhou atentamente e depois sorriu amplamente.
-O mesmo que viu e meia -disse, estreitando a mão do vagabundo cordialmente-. Como está você, Doc?
-Muito bem, muito bem... me diga, esse sanduíche é de roastbeef?
-Sim, gosta de um? Ande, sente-se conosco -disse, lhe oferecendo uma cadeira-. Apresentarei a meus amigos.
-Não, obrigado, Matt. Não posso ficar, mas eu gostaria de conhecer seus amigos...
-Doutor Milstead, apresento ao Eve Ellison, Nancy Brazil e Sam Marcus. Todos trabalham em uma agência de publicidade com a que tenho negócios.
O ancião se tirou a boina e fez um cortês gesto a todos eles.
-Encantado de conhecê-los. E para que agência trabalham? -perguntou, dirigindo-se ao Eve.
-Para o Coleman-Walker -respondeu.
-Ah! Tenho entendido que estão subindo como a espuma. Eugene Walker foi um de meus alunos. Creio recordar que era um excelente jogador de futebol. É uma pena que se lesasse. Há dito que têm roastbeef? -perguntou, voltando-se para o Matt.
-Sim, doc, tome. Quer um pouco de salada de batatas, ou uns camarões-rosa...?
-Não, não, que me daria uma indigestão. Só quero o sanduíche, obrigado -alargou o pescoço para ver o conteúdo de uma das caixas-. Têm bolo de queijo? Não me importaria tomar uma parte, a verdade... Mas têm que deixar que lhes pague...
-Doc, por favor...! -protestou Matt franzindo o cenho.
-Não te cria que ando muito bem de liquidez -riu o ancião-. Se te parecer, faremos uma troca: seguro que encontro um pouco adequado dentro da caixa.
-Doc...!
O velho lhe interrompeu com um gesto imperioso.
-Insisto -disse. Retirou o trapo que tampava a caixa e ficou a rebuscar entre seus pertences. Por fim, se incorporou levando em cada mão a metade de um manequim.
-Só tenho isto, Matthew. Encontrei-o ontem mesmo: olhe é de muito boa qualidade e está quase novo. Seguro que um menino tão preparado como você lhe encontra utilidade em seguida. Pu-lhe Maud de nome -tendeu-lhe ambas as partes daquela espécie de boneca gigante com o nariz rota e a que lhe faltava um braço.
-Obrigado, Doc -disse, recostando a metade inferior em uma árvore e colocando a metade superior em sua cadeira-. De verdade que não quer ficar um momento conosco?
-Não, não, eu tomarei meu sanduíche com a Mary Ellen -disse, assinalando para o cemitério-. Se me desculparem, senhores -disse cortesmente, agarrando a caixa com a comida.
-Necessita alguma coisa, doutor? -perguntou Matt jogando mão de sua carteira.
-Não, hoje não, Matthew -colocou a caixa sobre seu maltratado carrinho e partiu.
Matt ficou olhando, com as mãos nos bolsos e expressão pensativa. Ao Eve deu vontade de lhe dar um abraço para lhe agradecer sua delicadeza com aquele estranho mendigo. além de ser um homem sexy, rico e divertido, acabava de lhe demonstrar também o boa pessoa que era. Não era de sentir saudades que se tomou tantas moléstias para ajudá-la desde que chegasse ao Texas: simplesmente, era sua forma de ser.
-Quem era esse estranho vagabundo, Matt? -perguntou-lhe-. Falava muito bem... Chamaste-o doutor Milstead, não?
-É o doutor Henry Millstead: foi bolsista Fullbright e doutor em ciências econômicas. É um homem realmente brilhante. Faz tempo foi chefe do departamento na universidade Southern Methodist, e vivia em frente de nossa casa.
-O que lhe passou?
-Sua mulher escapou com um vaqueiro de rodeio. Todo mundo ficou escandalizado, e o pobre doutor não o superou nunca -explicou-lhe Matt.
-E quem é Mary Ellen? -perguntou Nancy. -Morreu?
-Não, que eu saiba.
Sam abriu a boca para dizer algo, mas o pensou melhor.
-Às vezes encontra consolo em sua fantasia e no vinho barato -disse Matt-. Bom, alguém quer um pouco mais de bolo?
Todos se apontaram. Eve serve primeiro ao Sam e Nancy, que se dirigiram para uma pequena cascata para comê-los, e depois cortou um pedaço para o Matt, que se tinha ficado a seu lado.
-O que vais fazer com o manequim? -perguntou-lhe.
-Com o Maud? Não sei. Talvez dormir com ela...
-Dormir? -repetiu Eve com uma gargalhada. levou-se o dedo manchado de bolo à boca para chupar-lhe
-Sim -respondeu Matt agarrando-a pela boneca-, a não ser, claro que encontre a alguém mais suave e cálida. Ela ficou olhando hipnotizada como se levava o dedo à boca e começava a lamber os restos de bolo.
-Te interesa? -preguntó Matt.
Aquele sábado, quando o despertador soou às seis da manhã, Eve o apagou de um tapa, lutando com a tentação de voltar-se para dormir para ver se recuperava o agradável sonho de que estava desfrutando, bastante subidito de tom para falar a verdade. Sentiu o úmido focinho de um de seus animais lhe lambendo a orelha, e logo ouviu o arranhar de suas patas sobre o piso de madeira de carvalho. Chegou até ela o aroma do café recém feito na cafeteira automática, e os sonoros acordes de um ária do Wagner cantada a grito descascado.
Evidentemente, Caruso se tinha levantado em muito boa forma; algum dia lhe espremeria o pescoço a aquele maldito pajarraco, pensou. A contra gosto, levantou-se e ficou os óculos. O telhado a estava esperando.
Abriu a porta de entrada para que pudessem sair os animais e jogou uma olhada ao céu. Por sorte, estava quase espaçoso.
-bom dia -saudou-lhe alguém.
-Matt!
Do susto, Eve pegou um salto; imediatamente, tampou-se com uma cortina para que ele não a visse. Normalmente, estava acostumado a dormir só com umas braguitas de encaixe. As que levava aquele dia eram de cor azul.
-Tudo bem, senhorita? -Matt levava sapatilhas de esporte, uns gastos jeans, uma descolorida camiseta e uma boina dos Rangers do Texas; estava convexo no balancim, com os pés apoiados no corrimão do alpendre e sustentando na mão um copo de cartão. Não lhe tirava olho de cima.
Aferrando-se à cortina, Eve apareceu um pouco.
-Que demônios faz aqui?
-vim com meu martelo. Pensei que necessitaria um pouco de ajuda.
-Obrigado, mas não faz falta. me posso arrumar isso Eve se dio la vuelta y descubrió horrorizada que había olvidado que había un gran espejo detrás de ella que revelaba hasta el más mínimo detalle de su parte trasera.
-Se não ser nenhuma moléstia: às pessoas de por aqui nós gostamos de ajudar aos vizinhos. Outros chegarão em seguida.
-Outros?
-Sim -disse, olhando-a de cima abaixo-. Será melhor que vás vestir te, não o digo por mim; parece-me que está perfeita, mas... -interrompeu-se e lhe sorriu descaradamente.
Eve se deu a volta e descobriu horrorizada que tinha esquecido que havia um grande espelho detrás dela que revelava até o mais mínimo detalhe de sua parte traseira.
-Fecha os olhos! -gritou, e com grande rapidez subiu a seu dormitório a vestir-se. Pelas gargalhadas do Matt, deduziu que não se perdeu detalhe... e que o estava passando em grande. Vermelha de vergonha, considerou a possibilidade de ficar escondida debaixo da cama pelo menos um par de anos.
O telhado.
Tinha que arrumá-lo aquele dia como fora. E como eram meio parentes e ainda por cima trabalhavam juntos, não tinha a menor possibilidade de evitar que Matt lhe ajudasse. Teria que esforçar-se por fingir que aquele humilhante episódio não tinha ocorrido nunca.
Poucos minutos depois estava já vestida com umas roupas de tarefa e penteada com um singelo acréscimo; ficou os óculos e se dirigiu à cozinha. Por um momento pensou em se maquiar um pouco e colocá-las lentes de contato, mas em seguida desprezou a idéia. depois de tudo, seu aspecto não melhoraria muito e, ao fim e ao cabo, ia arrumar o telhado, não a uma festa.
Rapidamente, deu de comer aos gatos e, depois de tomar um café e uma rosquinha, saiu ao exterior. Matt estava apoiado tranqüilamente no corrimão do alpendre.
-Tinha arrumado antes algum coberto? -perguntou, como se a cena que acabava de ocorrer entre eles não tivesse acontecido nunca.
Eve lhe agradeceu no mais profundo de seu coração que se mostrasse tão discreto.
-Não, mas me deram umas quantas indicações na loja de ferragens onde comprei as coisas -respondeu, tirando do bolso do peitilho um folheto-. Também me tenho lido isto. Você o tem feito alguma vez?
-Mais ou menos. Quando estava na universidade, passei um verão trabalhando em uma empresa de reparações.
-Só um verão?
-Sim, outros preferi trabalhar de vigilante em uma piscina. Não sei por que, figurava-me que seria um trabalho mais descansado e com mais gratificações...
-Como ver garotas em biquíni a todas as horas, suponho...
Matt se tornou rir.
-Como o adivinhaste? Anda, deixa que jogue uma olhada a esse folheto -disse, repassando-o de cima abaixo em um momento-. Muito bem, por onde começamos?
-Já lhe tem lido isso? -perguntou Eve assombrada.
-Sim, sou muito rápido... para muitas coisas -aproximou um dedo a seu rosto e riscou uma linha da ponta do nariz ao lábio superior-. Para outras, em troca, posso ser muito, muito lento.
Para lhe ouvir, Eve esteve quase a ponto de derreter-se como uma adolescente.
-De... de verdade?
Matt assentiu. Muito, muito devagar.
-Sim... Ah, por certo! Não te tenho dito que eu adoro o encaixe azul.
-Er... sim... bom -Eve pigarreou confundida-. Eu gostaria que se esquecesse desse pequeno... incidente. foi muito... embaraçoso. Bom... será melhor que ponhamos mãos à obra
Mas ele contemplava fascinado sua boca. Parecia incapaz de apartar a vista deles enquanto, com o dedo, desenhava o contorno do lábio superior.
-Creio que me resultará difícil me esquecer. E não tem por que te envergonhar. É uma mulher muito formosa. Só tem que me dizer o que é o que quer que faça.
-dizer-lhe isso disse. Sem querer lhe saiu uma voz muito gritã-. Dizer-lhe isso repetiu, esclarecendo-a garganta.
-Estraga... Farei tudo o que me peça -sussurrou. Sua voz era doce e suave como a seda.
Se continuavam com aquele joguinho muito tempo mais, temia que lhe desfizeram os ossos como se fossem de cera. Matt Crow, com aquela covinha no queixo, esses olhos tão profundos e aquele sorriso devastador, era o homem mais sexy de todo Texas. De todo o mundo... do universo inteiro.
-Então, vá a por seu martelo e me siga -disse, e pôs-se a andar com determinação, evitando assim cometer uma loucura.
Nesse momento precisamente soou o alegre assobio de uma buzina e duas caminhonetes se aproximaram de sua grade, estacionando atrás do carro do Matt. Os cães e Minerva se aproximaram para saudar os recém chegados.
-Devem ser outros -disse Matt.
-Quais?
-O avô Pete, meu irmão Jackson e um par de empregados deles. vieram para nos ajudar com o telhado. Kyle tinha um par de operações esta manhã, mas me há dito que, se puder, virá mais tarde. Irish nos trará os sanduíches.
-bom dia! -saudou-os Pete descendo de uma das caminhonetes-. Quem diz que vai trazer os sanduíches?
-Irish -respondeu Matt.
-Não faz falta -replicou o ancião-. Tenho gasto chili suficiente para dar de comer a toda a comarca. Anda, Jackson, leva a panela à cozinha. Jimmy, você e Buddy ponham as geladeiras portáteis no alpendre.
Jackson Crow a sorriu, e se tocou a asa de seu chapéu como saudação.
-bom dia, Eve. Espero que você goste do chili -disse, com os músculos tensos pelo esforço de descarregar uma enorme caçarola da traseira da caminhonete-, Onde está a cozinha?
-Vêem, levarei-te -disse Matt-. Tome cuidado de não assustar ao Pansy.
-Quem diabos é Pansy? -perguntou seu irmão.
-Ridi, pagliaccio!
-Essa é Pansy? -exclamou assombrado.
-Não. Esse é Caruso
Eve lhe tendeu a mão ao ancião, que efetivamente parecia muito mais em seu molho com aquele velho peitilho vaqueiro que com o smoking que se pôs para as bodas do Irish.
-Pete, me alegro de voltar a verte.
-O mesmo digo, Eve -disse, lhe apertando a mão carinhosamente-. Estamos muito contentes de te ter no Texas, e de que seus pais tenham decidido vir-se também a viver aqui -agachou-se para acariciar ao Bowie e Gómez, enquanto Charlotte, Lucy e Minerva olisqueaban as rodas da caminhonete-. Vá! O que temos aqui? Mas se for uma cerda!
-Chhhhsss -falou Eve-. Minerva não sabe que é uma cerda -deu um par de palmadas para chamar a atenção dos animais-. Venha, meninos, tranqüilos. Temos muito trabalho por diante.
Minerva e os cães se foram ao alpendre e ficaram ali muito quietos.
-Tem-nos muito bem educados -disse Pete-. Isso diz muito em seu favor. Olhe, apresento ao Jimmy e Buddy -disse, fazendo um gesto por volta dos dois homens, que já entravam no alpendre-. Trabalham no rancho do Jackson e são muito prestativos. Nos ajudarão a arrumar o telhado... por isso vejo, tem-no de pena, não?
-Tem mais buracos que um coador -disse Matt reunindo-se com eles.
-vamos jogar lhe uma olhada -propôs Pete-. Jackson, aproxima a escada.
-Avô, você não vais subir te -disse Jackson-, Matt e eu o revisaremos, você estará a cargo da comida e bebida. Haverá trazido um par de recipientes térmicos com café, não?
-Penso subir e fazer minha parte de trabalho. Tenho o quadril como nova, já sabe.
Matt e Jackson lhe olharam com o cenho franzido.
-Está bem, está bem... Farei o que dizia -claudicou a contra gosto-. irei procurar os recipientes térmicos.
-É um encanto! -exclamou Eve.
-Sim, e mais teimoso que uma mula também. Venha, vamos subir.
-Este telhado está fatal -comentou Jackson.
-Sim, a verdade -conveio Matt-. Jackson, te vais partir a crisma por te haver subido com as malditas botas de montar.
-O que vai! -replicou seu irmão-. São especiais para andar pelos telhados. Além disso, estou tão ágil como uma cabra Montes. Ouça, Eve, acaso não revisou o telhado antes de comprar a granja?
-Não, comprei-a tal e como estava. Já sabia que necessitaria algumas reparações; por isso me deixaram isso a preço de ganga.
-Tem um montão de emplastros -observou Jackson.
-Senhora, creio que necessitará um telhado novo. Este está de pena -acrescentou Buddy.
-Já sei, mas não me posso permitir isso defendeu-se.
-Ouça, eu lhe posso pagar isso -ofereceu-se Jackson.
-E um porrete! -interveio Matt-. Se alguém tiver que pagar-lhe serei eu.
Buddy sorriu para ouvi-los.
-Eu me pagarei meu próprio telhado quando puder -declarou Eve, um pouco molesta.
-Não sei por que te põe assim, carinho -disse Jackson-. depois de tudo, somos da família, e, além disso, sobra-nos o dinheiro. Além disso, ontem à noite ganhei jogando pôquer mais do que necessita.
-Obrigado, mas não -replicou com firmeza-. De momento, remendaremo-lo o melhor que possamos. A parte que está pior é a da cozinha.
-Está por aqui? -disse Matt aproximando-se de uma zona onde havia várias capas de emplastros-. Vá...! -exclamou ao ver que lhe afundava a perna até o joelho entre dois remendos.
Jackson se pôs-se a rir ao ver seu apuro.
-Quer que te empreste as botas, irmãozinho?
-te cale, Jackson! E me ajude a sair deste maldito buraco!
Eve se aproximou correndo a lhe dar uma mão, quão mesmo Buddy e Jimmy, enquanto Jackson seguia retorcendo-se de risada.
-Tem-te feito mal? -perguntou Eve.
-Não creio que me tenha quebrado nada -disse Matt movendo a perna-, só os jeans.
-Matt, está sangrando! Tem-te feito um corte! -exclamou consternada.
-pode-se saber que diabos estão fazendo aí acima? -gritou o avô do interior da casa-. Por pouco cai uma parte do telhado em cima de meu chili.
-Perdoa, avô! -gritou Jackson-, mas é que o desajeitado do Matt se cansado.
-Filho, tem-te feito mal?
-Não, avô, não se preocupe.
-Sim, claro que te tem feito mal -sussurrou Eve-. Terão que te pôr pontos.
-É só um arranhão.
-Não, não o é -replicou Eve, irritada por sua fanfarronice e pelas brincadeiras de seu irmão-. Ouça, Jackson, eu não lhe vejo a graça por nenhuma parte, me ajude a baixar ao Matt. Agora mesmo lhe levarei a ambulatório.
-Sim, senhora -assentiu Jackson recuperando a seriedade-. De verdade te tem feito mal, Matt?
-Sangra muito -observou Jimmy.
Em um momento Eve organizou o resgate, e em seguida tiveram ao Matt sentado no carro com uma toalha ao redor da perna, seguindo as indicações do Kyle, a quem tinham chamado por telefone ao hospital.
-De verdade não querem que vá com vós? -perguntou preocupado Cherokee Pete.
-Também posso ir eu -ofereceu-se Jackson imediatamente.
-Não lhes preocupem -tranqüilizou-lhes Matt-. Prefiro que fiquem aqui arrumando o telhado da casa. O buraco que acabo de fazer necessitará um emplastro bem grande -disse sorrindo.
-O poremos -prometeu-lhe Jackson.
O doutor Kyle Rutledge, famoso cirurgião plástico, examinou a ferida atentamente.
-Não creio que seja muito grave. Porei-te dois pontinhos e só ficará uma cicatriz minúscula. Quando lhe voltarem a crescer os cabelos nem se notará.
-Que cabelos? OH, não, Kyle! Não me diga que me vais barbear a perna! por que não se esquece dos pontos e me põe uma simples atadura?
-Quem é aqui o médico, primo? Você ou eu? -perguntou Kyle enquanto lhe limpava a ferida.
-Auuu! Maldita seja, isso me doeu! Pelo menos me dê um pau ou algo para que o remoa -queixou-se Matt.
Kyle se pôs-se a rir e preparou uma seringa de injeção.
-Não seria melhor um pouco de novocaína?
-Sim, muitíssimo melhor -grunhiu Matt apartando a vista. Embora não o reconheceria por nada do mundo, odiava as agulhas desde que era pequeno.
-Faz quanto tempo que lhe puseram a vacina do tétanos?
-Não muito -respondeu Matt evasivamente.
-Quanto?
-Não me lembro -reconheceu.
-Justo o que imaginava -Kyle se voltou para a enfermeira-. Senhora Malone, por favor, quando tiver terminado, lhe ponha a minha primo a vacina. Use uma agulha bem grande.
-Maldita seja, Kyle!
O doutor pôs-se a rir com vontades.
Incapaz de concentrar-se na revista que estava olhando, Eve ficou a passear de um extremo a outro da sala de espera. Levavam no hospital bastante momento. Primeiro, fizeram ao Matt várias radiografias; depois, umas análise de sangue, e, por último, tiveram que esperar a que Kyle terminasse a operação que estava realizando já que Matt queria que fora sua primo e não outro médico quem o atendesse.
Por fim, Kyle saiu da consulta. Sorriu ao Eve antes de lhe dar um carinhoso beijo na bochecha.
-Como está minha cunhada favorita?
-Muito nervosa. Como está Matt? quebrado-se algo?
-Está bem, não se preocupe. Só tive que lhe pôr uns quantos pontos. A enfermeira lhe está pondo a vacina do tétanos. Só necessita um pouco de repouso durante um par de dias e tomar-se estes remédios -indicou-lhe, escrevendo as receitas- : alguém é um antibiótico e a outra um analgésico. Pode te passar pela farmácia antes de voltar para casa, se quiser. Parece-me que Irish está ali já; eu irei dentro de um momento. Não deixe que Matt volte a subir ao telhado.
-Claro que não, Kyle. Foi culpa minha que se fizesse mal...
-Estava pensando mas bem na integridade de seu telhado que na do Matt -brincou Kyle-. Tivesse dado dinheiro por lhe ver a cara. Seguro que Jackson o passou em grande.
-Pois sim. Em troca, eu não pude lhe ver a graça por nenhuma parte.
-Sei, carinho -disse, lhe beijando na frente-. Venha, vemo-nos logo.
Ao cabo de uns instantes, Matt saiu da consulta sentado em uma cadeira de rodas que empurrava uma preciosa enfermeira. Tinham-lhe talhado os jeans até a altura do joelho e levava a sapatilha sobre o regaço.
depois de lhe acomodar no assento dianteiro, empreenderam o caminho à farmácia.
-Importaria-te que acontecêssemos minha casa antes de ir à granja? -pediu-lhe Matt-. Necessito outro par de calças e uns meias três-quartos limpos. Não demoraremos nem um minuto.
-Claro que não me importa, o que passa é que me sinto um pouco culpado, pensando que todos outros estão trabalhando como loucos em meu telhado.
-Não se preocupe por isso -tranqüilizou-a Matt-. Chamei o avô da consulta e me disse que as coisas foram de maravilha, que não fazia falta que nos déssemos pressa. Irish lhes levou um montão de sanduíches e um bolo de coco, assim têm feito uma espécie de picnic. Falando de comida... a verdade é que estou morto de fome. Que tal se nos paramos para tomar um hambúrguer e umas batatas fritas?
depois de comprar a medicina e a comida, Matt lhe indicou o caminho a seu apartamento, no Turtle Creek, um bairro residencial do norte da cidade. Eve estava um pouco preocupada com sua perna, mas, por sorte, Matt lhe disse que estacionasse na garagem e puderam subir diretamente a sua casa em elevador.
Aquele apartamento era espetacular; as vistas eram incríveis, impressionantes os móveis... Cada detalhe revelava a riqueza e o bom gosto de seu proprietário. Em comparação, sua granja era um barraco. Ao vê-lo, voltou a fazer-se o evidente quão diferentes eram suas respectivas formas de vida.
Matt deixou as bolsas da hamburguesería em cima de uma mesa de desenho.
-Sinta-se como em sua casa -convidou-lhe-. Voltarei em seguida.
Quando Eve viu sua imagem refletida em um espelho se sentiu horrorizada. Os óculos que levava eram tão feias como Irish lhe tinha advertido; tinha a cara pálida e o cabelo revolto. O pulôver e as calças não podiam ter um aspecto mais lamentável. Pela primeira vez em sua vida, deu-se conta de que era um desastre... Para falar a verdade, nunca tinha emprestado atenção a sua aparência porque nunca lhe tinha importado.
ficou olhando o dedo gordo do pé que aparecia pelo buraco de uma de suas sapatilhas. Desesperada-se, dirigiu-se ao quarto do banho, decidida ao menos a pentear-se um pouco melhor.
Entretanto, apesar de seus esforços não conseguiu grande coisa, tinha-o cheio de nós e redemoinhos, assim acabou por voltar-lhe a recolher em um acréscimo. Depois revolveu infrutivamente na bolsa em busca de uma barra de lábios. Curiosamente, acabou encontrando uma em um dos armários. Era de uma cor parda pouco atrativa, mas ainda assim os pintou, perguntando-se de quem seria aquele objeto. O resultado não a satisfez absolutamente.
Desanimada, limpou-se o excesso de maquiagem com um lenço de papel. Tinha um aspecto ainda pior que antes de ir ao banho a arrumar-se. limitou-se a lavá-las mãos e guardá-las óculos na bolsa, dizendo-se para seu si mesmo que, fizesse o que fizesse, sempre seria um desastre.
Quando voltou para salão, Matt estava sentado, examinando o conteúdo das bolsas de comida. Havia um hambúrguer dobro para ele e uma salada para ela.
-O que te passou? -perguntou olhando a de marco em marco-. Seus lábios têm uma cor muito estranha.
-Não pergunte -respondeu antes de pegar um bom golpe com a mesinha de café-. OH, não! -exclamou, com os olhos cheios de lágrimas.
-Mas, carinho, o que te passou?
-Que nem sequer vi a maldita mesa!
-E o que tem feito com os óculos?
-Tenho-as na bolsa -confessou.
-Pois lhe ponha isso -¿Una operación?
-É que são tão feias... -queixou-se enquanto as buscava.
-O que vai! -riu Matt ajudando-a a ficar as Teria que ter visto as minhas, essas sim que eram espantosas!
-Leva óculos?
-Já não, mas tinha umas de culo de copo. Outros meninos tiravam o sarro cruelmente, mas não me podia tirar isso porque sem elas via menos que um morcego. Faz uns anos me fizeram uma operação com laser, assim agora minha vista é quase perfeita.
-Uma operação?
-Sim. Me podiam ter feito isso muito antes, mas minha mãe tinha um amigo que quase ficou cego por culpa de uma operação parecida, assim não queria nem ouvir falar do tema. Quando me fiz maior, informei-me bem, e como as técnicas tinham melhorado muito, animei-me. Agora me alegro muito, porque por fim pude me tirar o carnê de piloto.
-De verdade que seus companheiros riam de ti?
-Sem piedade. E foi muito pior no instituto...
-Sim? -exclamou Eve com os olhos como pratos.
-Sim. É que também se metiam com seus óculos?
-OH, isso era o de menos! Todo mundo me chamava a Torre Eiffel ou girafa, e ninguém acreditava que fora a irmã do Irish, tão feia e desleixada me viam.
-Você feia? -agora era Matt o que não podia dar crédito ao que estava ouvindo-. Não me posso acreditar isso, mas se for tão bonita como Irish!
-Eu? Ja! Não faz falta que me adule... agora tampouco ninguém acredita que sejamos irmãs...
-Não te estou adulando, e já te tenho dito que minha vista, graças à operação, é quase perfeita. De verdade não te dá conta de quão bonita é? -perguntou, arqueando uma sobrancelha.
No fundo, Eve queria sentir-se adulada por aquele completo, mas também sabia a classe de homem que era Matt, já tinha visto o amavelmente que se comportou com o doutor Milstead, assim não disse nada mais, aparentando estar muito concentrada na comida.
Matt as engenhou para encontrar mil e uma desculpas que fossem atrasando sua volta à granja. Quando por fim enfiaram o caminho de entrada, já tinha cansado a tarde e havia pelo menos outra meia dúzia de reboques e caminhonetes estacionados diante da grade.
-Santo cielo! -exclamó Eve al verlos-. Qué significa esto?
Cheroke Pete colocou os polegares nos bolsos de seu macacão e se balançou sobre as tábuas.
-O que te parece seu novo telhado, Eve ?
-Fiquei-me... sem palavras.
-E eu, e eu. Um dos amigos do Matt e Jackson está metido no negócio da construção e mandou a uma de suas melhores equipes. Disse que tinha material restante de um telhado no armazém Y... e aqui o tem. Deixa que te diga que os telhados azuis vão ficar de moda e que não há som mais doce que o de um telhado de lata sob a chuva, embora eu não sei se isso é metal exatamente. A ti o que te parece?
-É muito bonito, mas parece muito caro.
-Não, isso é o melhor de tudo. Pelo visto esse moço lhe devia um favor aos meninos e não lhes há flanco um penique. A propósito, Jimmy e Buddy se levaram o material que comprou e o trocaram por uma coisa que não sei como se chama para arrumar o teto da cozinha.
Irish apareceu pela porta principal e os saudou com a mão.
-Olá, devei vejam a cozinha. A cor o escolhi eu, espero que você goste. Hoje não houve tempo para pintar os armários, mas comprei pintura para quando se puder pintá-los. Kyle e Jackson estão terminando -deu um abraço ao Eve ao entrar na casa-. Olá, Matt, que tal a perna?
-Não muito mal.
Eve voltou a ficar muda. O teto da cozinha estava completamente recoberto de gesso e pintado de branco e as paredes estavam pintadas de cor nata.
-Você gosta? -perguntou Irish.
-eu adoro. Mas já tem feito muito. Como vou poder te pagar?
-Matt -disse Jackson, pregando uma escada-, faz algo com esta ianque. Não deixa de preocupar-se só porque nos levamos como bons vizinhos. Manchar uma parede não é grande coisa, parece-me .
-Manchar, exatamente -disse Kyle, enquanto se lavava as mãos-. Me alegro de ter chegado a tempo de poder fazer os trabalhos de detalhe.
-te remoa a língua, médico ruim -disse Jackson-. A pintura me dá muito melhor que a ti.
-Nem o sonhe.
-A calar os dois -ordenou Irish, rendo-. Vamos, Kyle, temos que estar na festa dos Marshall dentro de duas horas -disse, e se despediu do Eve com um beijo na bochecha-. Amanhã te chamo.
Ao cabo de um minuto, quase todos se foram, exceto Jackson e Pete. Jackson estava no alpendre, tomando uma última cerveja e falando com o Matt. Gómez seguia ao Pete ali aonde este ia e o velho insistia em ajudar ao Eve a lhe dar de comer aos animais.
-O que faz com tudo este leite? -perguntou Pete, que levava uma cubeta do celeiro.
-Utilizo a que posso, mas me temo que tenho enche a geladeira e meus vizinhos têm suas próprias vacas.
-pensaste em fazer manteiga? Arrumado a que poderia vender toda a que fizesse em meu comércio. Embora, a verdade é que eu adoro a manteiga caseira.
-Parece-me muito boa idéia, mas não sei fazê-la.
-É fácil. Sabe o que? Tenho uma batedeira e uma imprensa no armazém. Farei que um dos meninos lhe traga isso amanhã e direi a Alma Jane que escriba a receita e lhe mande isso.
-Estupendo. Quem é Alma Jane?
-Uma senhora que trabalha no armazém. Faz quase toda a comida, menos o Chile, que o faço eu.
-De verdade? Está muito... muito picante. Obrigado por trazê-lo e pela ajuda que me emprestaste. Apesar do que diga Jackson, eu gostaria de lhes devolver o favor de algum jeito.
-Não há nada que agradecer, mas tem que me fazer um pequeno favor.
-me diga.
-Ele te dirá que não, mas a ferida do Matt seguro que lhe dói cada vez mais. Creio que não deveria conduzir até sua casa e ficar sozinho. Creio que lhe viria bem um pouco de ajuda durante um dia ou dois, a ajuda de alguém que lhe obrigue a vigiar a perna e lhe dê bem de comer.
-Tem toda a razão, Pete. Insistirei em que fique e procurarei que vírgula bem e se tome seu remédio. depois de tudo, tudo foi por culpa de meu telhado.
-Boa garota. Ao Matt faz falta uma mulher como você a seu lado -disse Pete, e seguiu assobiando o resto do trajeto até a casa.
Pete e Jackson se despediram. Gómez, que os tinha seguido, ficou junto à porta do passageiro meneando a cauda.
-Creio que Gómez quer ir-se contigo -disse Eve ao Pete-. Creio que tem feito um bom amigo.
-Não me importaria levar-me o de visita, absolutamente. Importaria-te?
-De maneira nenhuma, mas te advirto que é um espírito livre.
-Como eu -disse Pete, e abriu a porta-. Vem comigo, moço?
Gómez saltou à caminhonete sem mais demora e se colocou em metade do assento. Quando se afastavam, Eve poderia jurar que estava sorrindo.
Quando caiu a noite, Matt estava sentado na cozinha, com a perna ferida apoiada em uma cadeira, acariciando ao Pansy e observando como Eve bulia de um lado a outro, preparando espaguetes e salada. O aroma do pão que se estava fazendo no forno fazia rugir a seu estômago. A visão do Eve agachando-se para ver como ia fazia grunhir a outra parte de sua anatomia.
meu deus, que bonita era. Sexy, inteligente, de espírito livre, e com um coração maior que o estado do Texas. Inclusive sem uma gota de maquiagem e despenteada era a mulher mais bela que tinha conhecido.
-Preparado? -perguntou-lhe.
-Quando você queira.
-Pois vamos jantar.
Eve serve o jantar e comeram na mesa da cozinha, que ainda cheirava a pintura. Era uma grande cozinheira e Matt repetiu.
-Quer mais?
Matt se deu uns tapinhas no ventre.
-Estou cheio, obrigado.
-Não quer gelado com nata de chocolate?
-dentro de uma hora ou dois.
Eve tirou uma pildora de um dos frascos.
-Seus antibióticos. Quer um calmante?
Matt disse que não, embora a perna começava a lhe doer.
Eve se levantou para tirar a mesa e ele fez o mesmo.
-Sente-se, Matt Crow. Deve tomar cuidado com a perna.
-Olhe, neném, não é grande coisa. Digo-lhe isso a sério, jogando rugby me eis feito feridas piores e não me sentei no banquinho por isso.
Eve negou com a cabeça.
-Prometi a seu avô que me ocuparia de ti e é o que vou fazer. Sente-se.
Charlie miou, como se queria secundar a ordem.
-Sim, senhora. Sim, senhor -disse Matt, e voltou a sentar-se.
Graças ao avô, tinha ao Eve durante dois dias e duas noites para ele sozinho. E, se o fazia bem, poderia estender esse período um pouco mais. Isso se Kyle não danificava as coisas lhe dizendo que a ferida não era mais que um arranhão.
sentaram-se no alpendre durante comprido tempo, conversando e olhando as estrelas. Mais tarde, Eve serve gelado e seguiram falando um pouco mais. Charlotte apoiava a cabeça sobre a coxa do Matt, que a acariciava por detrás das orelhas. Todos os animais do Eve pareciam encantados com ele. Oxalá sua proprietária seguisse seus passos.
-Estará bem para as viagens de na próxima semana?
-O que viaje?
-Os que temos que fazer para que eu veja operar o Crow Airlines.
-Ahh, essas viagens -disse. esqueceu-se de seus planos para estar perto dela-. Mas seguro que não tenho nenhum problema. Kyle disse que bastaria com dois dias de descanso.
-Falando de descanso, creio que é hora de que esteja na cama.
Aquelas palavras conjuraram toda classe de imagens.
-E você?
Inclusive a ele sua voz pareceu muito grave.
-Eu também.
Entraram, e os animais os seguiram, dispersando-se para seus sítios favoritos para passar a noite. Eve fechou a porta de entrada e logo o acompanhou à habitação de convidados.
-boa noite -disse-lhe, levantando o queixo ligeiramente.
Ele interpretou aquela leve ação como uma permissão para beijá-la. E a beijou. Sua boca foi ao encontro da dela com uma fome mil vezes mais aguda que a pior das fomes de comida.
Ao notar que ela suspirava contra seus lábios, o coração lhe pulsou com uma força desconhecida e sua língua procurou ainda mais.
-Vêem a cama comigo -sussurrou.
-Não posso. Sua perna.
-Ao inferno com ela. Deus, Eve, desejo-te.
Ela negou com a cabeça.
-Não estou preparada, e pode que não o esteja nunca. Olhe, não sou o tipo de mulher a que goste de uma relação passageira.
-Passageira! Isto não é passageiro.
Bowie grunhiu, Lucy assobiou, Charlie bufou, Charlotte ficou imóvel. "To-réu-dor !", cantou Caruso, enquanto Minerva e Pansy desapareciam.
-Perdão -disse ele, baixando o volume da voz até que só foi um sussurro-. Carinho, o que sinto por ti não é passageiro. Já te pedi que te case comigo, pois agora lhe peço isso outra vez. te case comigo. Esta noite, amanhã, quando você queira.
-OH, Matt, sei um pouco mais sério. Apenas nos conhecemos. E o que vai querer de mim alguém como você. É muito bonito e sofisticado para mim.
-Eve, não tenho nem idéia do que está falando. Não sou nem bonito nem sofisticado e você é perfeita para mim. Em todo caso, muito encantada, teria que ir com um látego para manter a raia a seus admiradores. Tenho-te dito que sou muito ciumento? Eve se pôs-se a rir.
-Ah, Matt Crow, lhe dão bem as palavras. Se chegar a pensar que falava a sério...
-Carinho, só estou tratando de te dizer que falo a sério, muito a sério. A primeira vez que te vi soube que foi um anjo enviado do céu só para mim, embora os sentimentos que acordadas em mim não são nada pios.
Eve se esforçava por combater a comoção que aquelas palavras despertavam nela. Queria as acreditar, e queria ser algo que não era, sexy, mundana, cheia de charme. Por outro lado, como sua pouca experiência com os homens demonstrava, era muito torpe na cama. Com o olhar fixo no chão, reuniu o valor necessário para dizer o que tinha que dizer.
-Olhe, Matt, agradeço suas intenções. De verdade. Faz que me sinta... especial, mas não creio que entre nós exista a menor possibilidade de uma relação a longo prazo. Apesar do que diga, creio que não temos nada que ver o um com o outro. Além disso, está o problema do trabalho. Ter relações com os clientes não é nada conveniente.
-Carinho...
-E também está a família. Isso é ainda pior. Poderia nos causar toda classe de problemas, creio que é melhor que sigamos sendo só amigos -disse Eve, e lhe ofereceu a mão-. Trato feito?
Matt tomou sua mão e a levou aos lábios.
-Suponho que, de momento, terei que tomar o que posso tomar, mas não te prometo nada -disse, beijou-a na mão, lenta e docemente, e se dirigiu para uma larga noite de insônia.
À manhã seguinte, ao Eve despertaram Caruso e Winston Churchill. Lhe deu vontade de estrangulá-los, e nem tanto por ela, que já estava acostumada como por seu convidado. aproximou-se nas pontas dos pés a sua habitação, mas não ouviu nada. Matt seguia dormindo. Ela, já limpa se dirigiu à cozinha.
A verdade era que o novo teto e a pintura faziam que a cozinha parecesse mais luminosa, o problema era que os armários e o chão de linóleo pareciam muito velhos. serve-se uma taça de café e ficou olhando os armários.
Hum, se pintava os armários aquela mesma manhã, estariam secos para a tarde, quando os cães voltassem. Hum.
Voltou a aproximar-se nas pontas dos pés à habitação do Matt.
Mas não parecia haver-se movido.
Voltou para a cozinha e começou a limpar os armários, serve-se outra taça de café e estendeu uns periódicos sobre o chão.
Quando Matt entrou, encontrou-a vestida com um macaco cheio de manchas de pintura. Estava a ponto de terminar.
-O que faz? -perguntou-. E que horas são?
Eve se feito a rir.
-São quase as onze e estou pintando os armários. Tem pinta de gostar de muito um café.
-Há algo feito?
-Acabo de pôr uma cafeteira. Sente-se e te sirvo uma taça.
-Carinho, não sou um inválido. Posso me servir eu sozinho... -disse ele-. Sim, senhora.
Ela insistiu em que pusesse a perna sobre uma cadeira e lhe serve o café.
-Assim eu gosto. Deixa que termine a última porta e te preparo o café da manhã. O que te parece umas torradas e um pouco de xarope de morango com uns ovos?
-Parece-me estupendo. Embora poderia mal-acostumar-me.
Eve se pôs-se a rir. Matt se revolveu em seu assento, adorava o som daquela risada.
-Pois não o faça, quando se curar essa ferida, isto se acabou.
Matt se sentiu culpado por jogar com sua compaixão.
Bom, só um pouco culpado.
Ao Eve custou comer, não deixava de distrair-se observando como o fazia Matt, que não se incomodou em ficar algo para tomar o café da manhã e estava médio nu. Tratou de manter a atenção na torrada, mas resultava impossível. Que sardas tão graciosas tinha, que encantado o furinho do queixo. E não se barbeou. Que sensação lhe daria aquele rosto sem barbear contra a tenra pele de seus seios.
ficou olhando uma gota de xarope que estava a ponto de derramar-se pela boca do Matt. Lhe deu vontade de lambê-lo, e ao dar-se conta daquele pensamento, levantou a vista para olhá-lo diretamente aos olhos. O também a olhava.
Lenta e deliberadamente, Matt se limpou com a ponta da língua e repetiu a mesma ação uma e outra vez. Eve recordou o sabor daquela língua em seus lábios.
Lhe arrepiaram os mamilos, esticou os músculos do estômago e começou a advertir um estranho pulso no ventre. Deixou cair o garfo e se levantou como uma mola.
-Perdoa. Acabo de recordar que tenho que ir ao celeiro. Agora volto -disse, e saiu da casa como se os guardiães do inferno lhe pisassem nos talões.
Nunca até então tinha reagido ante um homem de uma maneira tão visceral, tão capaz de consumi-la. Mas a intensidade daquelas sensações não deixou de lhe causar certo temor.
Aquello no iba a funcionar, se dijo. No iba a funcionar de ninguna de las maneras. ¿Cómo iba a ser capaz de pasar el resto del día y una noche más sola con aquel hombre sin acabar en su cama?
-Já parece a manteiga? -perguntou Matt, deixando de bater.
-E é você o que me pergunta isso ?Quão único sei sobre como fazer manteiga está escrito nesse papel -disse Eve, baixando a broxa e descendendo pela escada para voltar a ler as instruções.
Um dos ajudantes do Jackson tinha chegado por volta da una do domingo com uma larga e antiquada batedeira de madeira de quatro sinais de multiplicação e um artefato também de madeira para imprensar a manteiga e uma folha de papel escrita a emano com uma letra endiabrada em que estava a receita.
A terrina de leite com nata, que Eva tinha deixado fora do frigorífico a noite anterior, como lhe havia dito Pete, converteu-se em uma massa pringosa e densa. Tinha derrubado essa massa sobre a enorme terrina de madeira da batedeira e Matt se ofereceu voluntário para batê-la enquanto Eve pintava os armários da cozinha.
A batedeira tinha uma larga manivela que parecia a manga de uma vassoura ao que lhe tinham acrescentado quatro sinais de multiplicação de madeira. Esta manga se apoiava em um grande cubo com tampa de madeira e a idéia era bater o leite coalhada acima e abaixo, o que fazia que os sinais de multiplicação girassem sobre uma rosca, até que a manteiga adquirisse a consistência adequada. Mas como, segundo Alma Jane, acontecia "quando vê que aparece pelo buraco da rosca em forma de bolas".
-Vê alguma bola? -perguntou Eve.
Matt ficou olhando.
-Não? Então levanta a manga lentamente.
Matt o fez e Eve se agachou para ver.
-Vê algo?
-Não, ainda não parece. Segue batendo.
Matt grunhiu.
-E se for comprá-la ao supermercado?
-OH, Matt, não é o mesmo. É para seu avô, e disse que a manteiga feita em casa é o dobro de boa que a comprada.
Quinze minutos mais tarde, Matt voltou a interromper ao Eve.
-Vá, parece que esta coisa começa a trocar.
Eve tampou o bote de pintura e foi lavar se as mãos.
-Hora de comprovar como vai -disse, e se ajoelhou junto ao balde-. Levanta a manga pouco a pouco.
Ao ver que uma massa amarela que transbordava pelo buraco da rosca, Eve exclamou com alvoroço:
-Manteiga! Manteiga! -e olhou ao Matt-. Creio que é manteiga.
Matt se agachou e recolheu um pouco da massa amarela com o dedo, provando-a.
-Que me crucifiquem se não o é.
Com um pouco de trabalho e grandes risadas, foram tirando as enormes bolas de manteiga do leite restante e foram pondo na imprensa, que as moldava em tacos com uma bonita flor na cara de acima. Ao terminar, pesaram-na. Tinham obtido quase dois quilogramas e meio de saborosa manteiga caseira.
-Estas para o Pete -disse Eve, apartando os três tacos completos de quilograma e médio-. E com o resto podemos fazer bolachas.
-Sabe fazer bolachas?
-Claro, mas não com uma receita caseira, a não ser com moldes do supermercado -disse Eve piscando os olhos um olho.
Matt pegou a última manteiga restante e a meteu na boca com uma colherada de geléia.
-O avô tem razão. A manteiga caseira é muito melhor que a comprada.
Eve sorriu.
-Fez um grande trabalho.
Matt flexionou o braço, imitando a pose de um culturista.
-Para isso sou o campeão da batedeira.
Eve riu.
-Que não te suba à cabeça. Tenho que levar a manteiga ao Pete e recolher ao Gómez. Gosta de dar uma volta?
-Claro. Não conhece sua casa, verdade?
-Não, mas ouvi o Irish falar dela. Uma casa de madeira de dois pisos, com o piso de abaixo cheio de trastes e seu quartel geral acima. E mencionou umas... estranhas choças turísticas nas que esteve.
-Sim, muito estranho, se é que uma choça grafite de cores é algo estranho. Bom, venha, levo-te.
-Nada disso, ainda não te curaste de tudo.
-Ah, é verdade -disse ele, apoiando o braço nos ombros do Eve, e ambos saíram da cozinha.
Eve lhe piscou os olhos um olho.
-Acreditava que era a outra perna -disse.
Matt trocou o peso de seu corpo e começou a coxear com a outra perna.
-Dizia?
Eve o olhou aos olhos, que refletiam a mais absoluta inocência. Inocência? Ah! Mas, Deus santo, que formosos olhos. Sensuais, profundos, carinhosos. Olhos que lhe faziam desejar... "Basta!", disse-se e apartou o olhar antes de que seus pensamentos alcançassem a classificação X.
Quando o polegar da mão esquerda do Matt lhe roçou o mamilo, voltou a fixar-se em seus olhos. A inocência não tinha abandonado seu olhar.
-Já vale -disse.
-Já vale o que, carinho?
-Sabe perfeitamente. E prefiro que não me chame "carinho".
O polegar voltou a lhe roçar o mamilo.
-Não te atreva a me dizer que foi por acaso, Matt Crow.
-Nem me tinha passado pela cabeça -disse ele, e deslizou o polegar em forma de círculo, tomando o peito do Eve com a palma de sua mão-. Quer dizer, não deixa de passar-se me pela cabeça, não deixo de sonhar com isso -disse, girando-a para que o olhasse aos olhos- e voltando a te beijar. Aqui -acrescentou, e a beijou no pescoço.
Eve esteve a ponto de converter-se em manteiga.
-Você gosta, carinho? -perguntou ele.
-eu adoro.
-Paro-me?
-Ainda não.
Matt deslizou a língua sobre a suave pele do Eve e seguiu lhe acariciando o peito.
-dentro de pouco terá que parar, mas ainda não.
beijaram-se na boca. Respiravam pesadamente, ofegando. Os cães começaram a ladrar, Minerva gritava, Caruso cantava "Sempre, sempre, libera..." com voz de soprano. ouviu-se a porta de um carro que se fechava.
Eve se sobressaltou, apartando-se do Matt. Ele protestou e tratou de sujeitá-la entre seus braços.
-Matt, vem alguém.
-lhe diga que se vá.
-Há alguém em casa? -disse uma familiar voz masculina. E bateram na porta.
-Eve! -somou-se uma voz feminina-. Holaaa!
Eve se livrou das impaciente mãos do Matt.
-Já basta -sussurrou-. Passem! -disse.
tratava-se do Irish e Kyle.
-Maldita seja -resmungou Matt, apartando-se.
Eve tratou de refazer sua compostura, esboçou um sorriso e se dirigiu a saudar sua irmã e a seu cunhado. Matt a seguiu sem deixar de grunhir.
-Olá aos dois. O que fazem aqui?
-Pois íamos a um antiquário quando começou a jarrear como não vi em minha vida -disse Irish-, assim decidimos parar até que descampe -disse, sacudindo o guarda-chuva vermelho e branco que levava, deixando-o apoiado em uma cadeira do alpendre.
-OH, está chovendo? -perguntou Eve aparecendo pela porta.
-Muito. Não me diga que não te tinha dado conta.
-Vá, íamos a casa do Pete a lhe levar manteiga.
-Manteiga? -perguntou Kyle.
-Temo-la feito Matt e eu.
-Matt?
-Carinho, parece um louro de repetição -disse Irish, lhe dando uma cotovelada a seu marido-. Eve, estiveste pintando?
-Sim. Quase terminei os armários da cozinha. Não cheira a pintura?
-Ah, tem uma mancha na cara -disse Irish, e sorriu maliciosamente-. E Matt tem outra no mesmo sítio.
Eve ficou tinta como um tomate e se limpou a cara com o punho da camisa.
-Gosta de um café? Matt, ao melhor Kyle pode lhe jogar uma olhada a sua perna. Dói-lhe muito, Kyle.
-Dói-lhe? Sim, claro, jogarei-lhe uma olhada. E quanto ao do café, muito obrigado, gosta. Matt, baixa lhe as calças.
-Maldita seja, Kyle!
-Meninos! -exclamou Irish rendo, e se levou ao Eve à cozinha-. vamos fazer esse café, irmãzinha, e me ensina o que estiveste fazendo. Você gosta da cor dos armários?
Eve pôs o café e meteu no forno outra bandeja de bolachas, enquanto Irish se fixava nos armários.
Eve explicou a sua irmã seus planos para pintar pequenos desenhos sobre as portas e as duas discutiram novas idéias para as cortinas e o chão.
Por causa da diferença de idade, Eve e Irish nunca tinham sido amigas. Eve era sempre a quejica irmana pequena, logo Irish partiu a Nova Iorque e logo que voltaram a passar muito tempo juntas. Já como adultas, puderam falar-se de um modo que não conheciam. Eve adorava aquela nova cercania e se sentia muito afortunada por que o destino lhe tivesse proporcionado aquele maravilhoso trabalho no Texas.
A vida começava a lhe parecer perfeita.
Kyle jogou uma olhada à perna.
-Parece-me que está muito bem. Um bonito trabalho, se me permite falar assim de minha própria obra. Nem rastro de infecção. Eve dizia que te doía muito, por que?
-Bom... eu não diria tanto -disse Matt, e ante o insistente olhar do Kyle, viu-se obrigado a confessar-. Verá, digamos que eu gosto da marca de esparadrapo que utiliza Eve e que necessitava uma desculpa para me fazer um pouco o interessante.
-E isso por que, sujo canalha? -disse Kyle sorrindo-. Parece-me que vou ver-me obrigado a te perguntar por suas intenções com respeito a minha jovem cunhada.
-Absolutamente honoráveis. Estou louco por ela, Kyle. Estou-o desde dia em que a vi, que foi em suas bodas, por certo.
-E o que sente ela por ti?
Matt se encolheu de ombros.
-Nisso estamos. Bom, nisso estou, porque não toma a sério, assim necessito alguns motivos para passar mais tempo com ela.
-Como sua pobre e dolorida perna?
Matt sorriu.
-Sim, exatamente.
Kyle franziu o cenho.
-Inteirei-me de que lhe encarregaste uma nova campanha de publicidade para o Crow Airlines. Parece uma coincidência muito apropriada.
-Estraga.
-E não lhe terá arrumado isso, por acaso, para que Eve consiga esse trabalho?
-Quem? Eu?
Kyle negou com a cabeça.
-OH, Meu deus.
-O que?
-Então, tem-no feito, verdade?
Matt não respondeu, mas sua expressão devia delatá-lo.
-Por muitas razões, acautelo-te. vou dizer te uma coisa, nem ao Irish nem ao Eve há coisa que lhes incomode mais que as enganem. Eu estive a ponto de perder ao Irish por uma estupidez parecida. Se quiser meu conselho, mais vale que o diga quanto antes.
-Crie que deveria lhe dizer que a perna está perfeitamente, né?
-Não estou falando só da perna, Matt.
-Kyle, me faça um favor, rogo-lhe isso. Não lhe mencione esta conversação nem ao Irish nem ao Eve. Considera-a um segredo profissional.
-Siempre me olvido de que has estudiado abogacía. No diré nada, pero fíate de mí cuando te digo que si continúas con el engaño, se va a volver contra ti y, literalmente, te va a morder en el trasero.
Sam Marcus apareceu a cabeça pela porta.
-Né, chefa, aqui há um tipo que veio a recolhê-la. Quer que lhe leve sua bagagem?
Eve levantou a cabeça do rádio spot que estava lendo.
-Obrigado, Sam, lhe diga que agora vou.
Bryan voltava a atrasar-se com uma cópia. Algumas vezes se perguntava se ficaria levantado até tarde, pensando na melhor maneira de lhe complicar a vida. Não, não o certo era que não o fazia falta que Bryan Belo colaborasse, sabia complicar-lhe muito bem ela sozinha. Devia ter lido pelo menos uma dúzia de artigos que falavam da imprudência de complicar-se sentimentalmente com um cliente. Podia considerar o equivalente profissional de cortá-las asas, mas, acaso tinha escutado à voz interior que lhe dizia "Não!"?
É obvio que não.
Tinha podido resistir a tentação de deitar-se com o Matt, mas o que pouco lhe tinha faltado para cair nela. Tinha tratado de lhe explicar de mil maneiras, embora, isso sim, sempre entre beijo e beijo, que uma relação não convinha a nenhum dos dois, mas não tinha querido entendê-lo. Felizmente, a manhã de segunda-feira tinha suposto um alívio. Ele se tinha ido levar lhe a manteiga a seu avô e ela se pôs a trabalhar.
Desde que se separassem na porta de sua casa, não havia tornado a vê-lo em dois dias. Tinha-a chamado, mas ela se esforçou por manter a conversação dentro de um terreno estritamente trabalhista. Tinha declinado um convite a comer, outra para jantar, outra para ver um musical e outra para ir ao beisebol.
Mas, maldita seja, o sentia falta de.
Com um pequeno empurrãozinho, poderia apaixonar-se por um homem como Matt. Disso não tinha a menor duvida. Não, de um homem como Matt, não. Do Matt. Era único, nunca tinha conhecido a ninguém como ele. E quando pensava em como a abraçava e a beijava e lhe sussurrava coisas ao ouvido...
-Terra chamando o Eve, Terra chamando o Eve.
Eve, com um sobressalto, levantou a vista. tratava-se do Nancy.
-Sinto muito, estava sonhando acordada -disse, e começou a recolher a pastas e a bolsa apressadamente.
-Carinho, se eu fora de viaje durante cinco dias e quatro noites inteiras com esse bombom, também sonharia acordada -disse Nancy com um suspiro-. É muito bonito, e além disso um grande tipo. Sabia que foi votado como um dos melhores partidos de Dallas durante os últimos cinco anos? Vi suas fotos no Morning News acompanhado de estrelas de cinema a algumas ornamentos benéficos.
As palavras do Nancy foram como uma faca no coração para o Eve. Mas as arrumou para ocultar sua dor perguntando:
-Ornamentos benéficos? Não te entendo.
-Pois verá. Matt e sua família sempre foram muito generosos em questão de doações. Creio que é presidente honorário de alguma associação benéfica.
-Ah, sim? Pois não o eis ouvido mencionar nada -disse Eve, e deu ao Nancy o anúncio de rádio-. Isto é genial. lhe diga ao Pat que o ponha em marcha em seguida. Candy tem meu itinerário e tenho dito ao Jimmy, o menino que cuida dos animais, que lhes chame se precisa ficar em contato com vós. Amanhã falarei contigo, mas me chame se necessitar algo.
-Tudo está controlado -disse Nancy-. Vamos, acompanho-te à porta.
Grandes bandos de mariposas revoavam no estômago do Eve. Por um lado, não deixava de sentir uma grande emoção ante a perspectiva de passar os dias seguintes percorrendo o estado em avião de pequeno porte... e em companhia do Matt. Por outro lado, não deixava de sentir um enorme e monumental medo.
levantou-se e estirou a jaqueta de seu traje cinza, avançando pelo corredor.
-Sorri. Tem a mesma cara que se estivesse indo a seu funeral.
Eve tratou de sorrir.
-É que possivelmente esteja indo a meu funeral. Você cruza os dedos, de acordo? Eu não gostaria de nada perder este contrato.
-Nem pelo mais remoto. O senhor Crow bebe os ventos por ti. Você aproveita, neném.
-por que não te corta a língua, Nancy?
Nancy se limitou a rir.
Um homem loiro e alto, estava de pé ante a porta. Saudou o Eve tocando o chapéu Stetson branco que levava com uma mão.
-A senhorita Ellison?
-Eve Ellison. Sim, sou eu.
-Sou Billy Dom Durham -disse o homem, com um sorriso panaca-. por aqui, senhora. vou levar ao vê.
Eve ficou pálida como a neve.
-vai levar me aonde?
-Ao Love. Crow sai do Love Field em vez de fazê-lo do Aeroporto Internacional de Dallas-Fort Worth. A estas horas demoraremos dez minutos em chegar. Essa é uma das coisas pelas que às pessoas gosta de voar com o Crow. além de que é simpático e divertido e de ter o recorde de segurança, a todos vem bem.
Eve se recuperou rapidamente... quer dizer, bastante bem, de seu engano ao interpretar mal as palavras do homem. Mas seus pensamentos deviam ser transparentes, porque Nancy não deixava de rir.
-Isso é maravilhoso, Billy Dom. A verdade é que não me lembrava de que havia outro aeroporto tão perto daqui. Nancy, toma nota. Na campanha temos que fazer insistência no bem situados que estamos.
-Tomo nota -disse Nancy, esforçando-se por não rir.
-por aqui, senhora -disse o vaqueiro.
Matt tinha insistido em recolhê-la ele mesmo, mas ela se negou alegando que preferia que o primeiro contato com a companhia não fora em companhia do chefe. Finalmente, ela tinha aceito que um chofer fora a procurá-la em um carro normal e corrente.
E em efeito, o carro era um sedan azul com uma amolgadura no pára-lama traseiro.
depois de um curto trajeto, chegaram ao aeroporto, que apesar de tudo era bastante maior que o aeroporto de muitas capitais, e Billy Dom deteve o carro. Os empregados do Crow Airlines eram facilmente reconhecíveis. Vestiam nos cubram, camisas brancas de estilo vaqueiro com o emblema da companhia, um corvo negro, bordado no bolso e um grande chapéu de vaqueiro negro com uma pluma branca. E todos exibiam um amplo sorriso.
-bom dia, senhora -disse-lhe um empregado ao ir faturar as malas-. Obrigado por voar conosco. Aonde se dirige?
-A Houston -disse ela, lhe entregando o bilhete.
-Ocuparei-me de que sua bagagem chegue também ali -disse o empregado, levando-a mão ao chapéu e devolvendo o bilhete ao Eve-. Ao passar a porta, siga a linha amarela. Porta 5. Que tenha um bom dia.
-Obrigado -disse Eve sorrindo.
Ao chegar à zona de embarque, pôde ouvir música country, algum cantor famoso que interpretava um dos clássicos do gênero.
No mostrador da porta de embarque, uma mulher, vestida com uma camisa a raias brancas e azuis e com um chapéu vaqueiro azul com a pluma branca, saudou-a com outro sorriso.
-bom dia. Obrigado por voar com o Crow. Em Houston o tempo está estupendo. Seu avião sairá dentro de quarenta e cinco minutos exatamente -disse, e deu ao Eve um cartão vermelho plastificado-. Este é seu cartão de embarque. Assim que ouça a chamada para os que têm cartões de cor vermelha, passe por aqui. E sinta-se onde queira, embora tenha que me prometer que não vai sentar se sobre nenhum bonito vaqueiro -disse a mulher com um sorriso e piscando os olhos um olho.
Eve sorriu.
-O prometo, não se preocupe. Mas, não há assentos reservados?
-Não. Limitamo-nos a levá-los sãs e salvos a seu lugar do destino. Somos baratos e pontuais e tratamos de ser divertidos. Ah, se gosta de tomar um café, pode fazê-lo nas máquinas que há junto aos guichês. A bordo do avião não servimos café, só suco, água e refrescos.
-Parece-me bem -disse Eve. Olhou a seu redor procurando o Matt, mas não o viu, de modo que se sentou perto da porta 5 e começou a ler o livro que se levava para a viagem. Com o pé, marcava o ritmo da música.
Ao cabo de uns minutos, uma loira conosco cubra, camisa a raias brancas e vermelhas e chapéu vermelho com a sabida pluma, reclamou sua atenção com um assobio.
-Todos os que tenham cartão de cor vermelha, podem embarcar. me sigam, vamos a Houston.
Eve e perto da quarta parte da gente que estava esperando, seguiram à loira. Seguia sem ver o Matt por nenhuma parte. Pensou em esperá-lo, mas decidiu que o melhor era subir ao avião. depois de tudo, ela queria viver a experiência de qualquer passageiro.
Outros empregados, também com chapéu texano, recebiam-nos ao entrar no avião.
-Sentem-se onde "queiram, mas façam-no quanto antes, por favor -disse uma pequena ruiva com chapéu azul-. Outros chegam em seguida e saímos dentro de dez minutos. Se levarem muita bagagem de mão, vão, por favor, à parte de atrás.
Os outros passageiros pareciam acostumados às normas da companhia, porque se apressaram a meter-se pelos corredores para procurar um sítio com rapidez.
Eve viu o Matt sentado na terceira fila. No assento do lado tinha um chapéu de vaqueiro negro.
Ao vê-la, ele sorriu.
-Posso lhe oferecer este sítio, senhora? -disse, apartando o chapéu.
-Muito amável. Obrigado, senhor.
Assim que se sentou, Matt não pôde ocultar sua impaciência.
-Bom, o que te parece?
-Estupendo. De verdade podemos sair em dez minutos?
Matt consultou o relógio.
-São sete e meia. Pode apostar a que Billy Dom põe isto no ar à hora assinalada. Meus meninos sabem o que se fazem.
-Billy Dom é o...?
-O comandante Billy Dom Durham é o melhor piloto do Texas. Todos meus empregados estão catalogados entre o melhor do melhor.
-E tem feito que o piloto fora para me buscar?
Matt se encolheu de ombros.
-Está felizmente casado e tem dois filhos, nunca teve um acidente de tráfico e lhe pilhava de caminho -disse, com um enorme sorriso-. Além disso, confio plenamente nele.
Tal como havia predito, o avião foi pontual e na hora de saída todos os passageiros estavam sentados e as aeromoças davam as instruções de segurança pertinentes.
-Grampeiem-nos cintos de segurança, amigos, que vamos.
E com um "Yiupiii" separaram.
Assim que o avião se nivelou o suficiente, a aeromoça ruiva apareceu no corredor mostrando pacotes de frutos secos em ambas as mãos e dando-lhe a todo aquele que os necessitava, indo procurar mais quando lhe terminaram.
-Tome, amigo -dizia-. E agora vem Laura para lhe acalmar a sede.
Ao pouco, apareceu Laura, a aeromoça loira com o chapéu vermelho, levando pequenas garrafas de refrescos e água.
-E agora virá Rusty com suco de laranja, de maçã e água do melhor manancial do Texas.
Matt escolheu suco de laranja e Eve preferiu o de maçã.
-por que não servem as bebidas em carrinhos, como o resto das companhias? -perguntou-. E por que não servem álcool?
-Por dois motivos. Tempo e dinheiro. Nós sozinho voamos em trajetos curtos e nos aeroportos sempre há bares, assim não faz falta mais pessoal, nem gelo, nem copos, nem máquinas de café. E eu suponho que nossos clientes preferem que mantenhamos baixas as tarifas e que empreguemos seu dinheiro em ter nossos aviões a ponto com a máxima tecnologia e as melhores tripulações.
-Estou impressionada.
-Fala-lhes o comandante Durham -ouviu-se através dos alto-falantes-. Dirigimos a Houston sem escalas. A não ser que alguém queira baixar-se no Tyler para fazer algum recado. Ninguém? Muito bem, então vou limpar minhas esporas e a não ser que o Bom Deus nos o límpida, aterrissaremos em Hobby Airport dentro de vinte e dois minutos exatamente. O tempo de hoje em Houston é quente e ensolarado. "A sua esquerda podem ver o rio Trinity e se se derem pressa poderão ver o velho Zeke Tatum pescando. Vá! É muito tarde. A sua direita, entretanto podem ver o Parque Nacional David Crockett. Obrigado por voar com o Crow Airlines. Se podemos fazer algo especial por vocês, digam-nos isso e estaremos encantados de ajudá-los assim que seja possível.
Eve se pôs-se a rir.
-Todos seus pilotos são tão amigáveis?
-Alguns, outros não. Mas no Crow nós gostamos dessa atitude. A segurança é o primeiro, e logo está a pontualidade, mas quanto ao resto, nós não gostamos de tomar as coisas muito a sério.
-Alguém quer mais pipas? -perguntou Laura a sorridente-. Ainda fica alguma bolsa.
levantaram-se um par de mãos, que, é obvio, não ficaram sem pipas.
Parecia que o vôo acabava de começar, quando soou um aviso e uma aeromoça falou com passagem pelo alto-falante.
-Grampeiem-nos cinturões, amigos.
Billy Dom aterrissou sem a menor incidência, com enorme suavidade, e ao cabo de pouquíssimo tempo estavam na cinta transportadora da bagagem, esperando suas malas.
-É tudo o que trouxeste? -perguntou Matt.
-Nada mais.
Irish a tinha ajudado a fazer a mala, de não ser assim, ela poderia ter acabado levando meia
dúzia de vultos. Em realidade, nunca tinha viajado muito e realmente não sabia o que podia levar, de modo que, por ela, teria levado de tudo. Graças à supervisão do Irish, entretanto, limitou-se a levar um par de vestidos do antigo guarda-roupa de modelo do Irish e pouca roupa mais, isso sim, bem combinada. Irish tinha chegado a incluir uma instruções lhe dizendo o que ficar e em que ocasiões. De modo, que, finalmente, bastava com duas malas.
E isso lhe causava uma grande confiança e satisfação, a possibilidade de levar uma bagagem não muito grande e muito apropriado, até ver o cenho franzido do Matt. De repente, suas velhas inseguranças se apoderaram dela.
-Ocorre algo? -viu-se impelida a perguntar.
Matt sorriu.
-Nada. Surpreende-me que uma mulher traga tão pouca bagagem para uma semana. Mais que me surpreender, parece-me impossível -disse, e chamou uma moço para que lhes levasse as malas-. por aqui, vamos ao helicóptero.
-Ao helicóptero? -perguntou Eve com uns olhos grandes como pratos.
Quando o botões deixou suas malas na enorme suíte do hotel, Matt se deu conta de que tinha cometido um grande engano. Com o passeio em helicóptero, a limusine e aquela luxuosa habitação pretendia adular ao Eve, que estivesse o melhor possível. Além disso, tinha planejado convidá-la para jantar no melhor restaurante da cidade.
O problema era que ela não parecia muito contente com aquela situação. Ao contrário, mas bem parecia muito incômoda.
-Bom, o que te parece este lugar? -perguntou-lhe, referindo-se à habitação, com mobiliário de estilo francês, chãos de mármore e um enorme buquê de flores.
Os formosos olhos azuis do Eve tinham a mesma expressão que se temesse que o famoso assassino do Texas fora a sair de um armário em qualquer momento.
-É, é... muito bonita, não? E grande, muito grande. Creio que ouço o eco de minha voz -disse Eve.
Matt a viu tragar saliva, como se tivesse um nó na garganta. Enquanto, não tirava olho do piano de cauda e das cadeiras douradas.
-Você não gosta, verdade? -perguntou Matt, muito aborrecido consigo mesmo. Não tinha recordado que Eve era distinta à maioria das mulheres com as que tinha saído. Não estava interessada em ver e ser vista em luxuosos hotéis, luzindo jóias e peles. Essa era uma das coisas que resultavam tão encantadas dela. Uma de tantas.
Oxalá, dizia-se, não tivesse causado um dano irreparável a sua situação com ela.
-Está... bem, muito bem... Tenho que tirar minha bagagem da mala. Quando vamos comer? Que planos tem?
Em realidade, seus planos consistiam em baixar ao luxuoso restaurante do hotel, mas os trocou sobre a marcha.
-trouxeste calças jeans?
Eve assentiu.
-Pois vamos trocar nos. Quero te dar uma surpresa.
Eve volvió a asentir y se dirigió a su habitación, sin abandonar la expresión de diosa ofendida que cautivaba y hacía temer a Matt. Porque a él le daban ganas de darse un patada en el trasero que lo pusiera de patitas en Oklahoma City. En realidad, aún no sabía adonde iban a ir a comer, pero más le valía pensar algo apropiado, y muy pronto.
Comeram em um pequeno restaurante que lhes recomendou o recepcionista e que se encontrava tão somente a umas maçãs do hotel. As mesas estavam raiadas e as cadeiras um pouco desvencilhadas, mas a comida era deliciosa. Pediram sopa de lentilhas e um delicioso sanduíche de peru com queijo em um pão de trigo recém feito, todo isso regado com um tinjo desconhecido mas surpreendente. De sobremesa tomaram bolo de maçã com passas servida com sorvete e nata de chocolate. Exceto pelas passas, que deixou apartadas em um lado do prato, Matt se viu obrigado a admitir que a comida era realmente saborosa. Mas o sorriso que ao final lhe dedicou Eve foi ainda melhor.
-Te gostou da comida?
-Deliciosa. Estou enche.
-Espero que tenha deixado sítio para as pipocas de milho e o algodão de açúcar.
Eve franziu o cenho.
-Aonde vamos?
-Já o verá.
Matt pagou a conta e partiram.
Poucos minutos mais tarde, quando avançavam pela auto-estrada no carro alugado, Eve perguntou:
-Isso parece o Astrodome.
-Será porque é o Astrodome. Agora já não nos chama a atenção, mas em seu dia parecia a oitava maravilha do mundo.
-É aí aonde me leva?
-Não, hoje não. Bom, a não ser que queira ir. Eu pensava que depois de nos acomodar, fôssemos ao AstroWorld, a subir ao Ciclone do Texas, a mãe de todas as montanhas russas. Gosta?
-Claro! eu adoro as montanhas russas, como o soubeste?
Matt se encolheu de ombros, tratando de reprimir um sorriso.
-Sorte -a sorte e uma chamada ao Irish-. No AstroWorld há dez. Subiremos a todas.
E o fizeram.
Subiram a todas.
Quando Matt desceu do Ultra Twister, tinha o estômago feito uma verdadeira pena. Entretanto, Eve parecia em seu elemento. Não parava de rir e os olhos lhe brilhavam como estrelas.
-OH, este sítio é maravilhoso! -exclamou, pendurando do braço do Matt.
-Me alegro de que você goste. Em Dallas há um parque de atrações que se chama Seis Bandeiras e no Santo Antonio está A Festa do Texas. Estão llenitos de montanhas russas.
-De verdade? Isso me dá uma grande ideia para uma campanha publicitária. Poderia oferecer um tour pelas melhores atrações turísticas das principais cidades do estado. Assim Crow poderia entrar no mercado turístico com mais força.
-Isso sonha muito bem -disse Matt-. Voltamos para hotel?
-Não podemos ir ao Rio do primeiro Trovão?
Ainda molhados pela tumultuosa corrente do Rio do Trovão, Matt e Eve subiram rendo ao elevador do hotel. lhe resultava difícil recordar uma tarde em que o tivesse passado melhor ou rido com mais ganha.
Matt abriu a porta e entraram.
Eve estava de tão bom ânimo que o salão da suíte lhe impressionou mais favoravelmente que antes, embora estava desejando meter-se em sua habitação, muito mais modesta.
Nada mais fechar a porta, entretanto, Matt a estreitou entre seus braços.
-Aconteceste-o bem?
-Muito bem -disse Eve, e lhe acariciou o cabelo-. Está molhado.
-Você também.
-Creio que deveríamos tomar banho.
Matt sorriu.
-Em minha ducha ou na tua?
-Nas duas e por separado -disse ela rendo e empurrando ao Matt-. Aonde vamos jantar? O que me ponho?
-Pois... -disse Matt, que parecia incômodo-. Aonde você gostaria de ir?
-reservaste em algum lugar elegante?
-Bom, eu tinha pensado que podemos ir ao Café Annie's, mas se você quiser, podemos ir ao Luby'S. Nos dois sítios se come bem.
"Que encanto", pensou Eve. Lhe deu vontade de abraçá-lo. Era evidente que tinha pensado levá-la a um restaurante de cinco garfos, mas por ela estava disposto a trocar seus planos. E ela, em efeito, preferia ficar uns jeans e baixar a qualquer cafeteria, mas não queria decepcioná-lo. E, por outra parte, possivelmente tivesse chegado o momento de ampliar experiências. Irish não deixava de lhe dizer que vivia em um mundo muito pequeno.
-OH, eis ouvido falar do Café Annie'S. eu adoraria ir.
E o certo era que, embora estava um pouco nervosa ante a perspectiva de ir a um restaurante no que se citava a créme da créme, também gostava da idéia de luzir um de quão vestidos Irish lhe tinha emprestado. Irish lhe tinha insistido em que estava preciosa com aquele vestido. Mas, depois de tudo, Irish era sua irmã e uma pessoa muito amável.
-Está segura?
Eve assentiu.
-Se crie que não te vou deixar em evidência...
-me deixar em evidência? Está louca ou o que? Como te ocorre dizer isso?
-Bom, é que... suponho que não entro dentro do tipo de mulheres que está acostumado a ir a esses sítios, a classe de mulher com a que você..., dá igual -disse Eve, e sentindo-se um pouco parva, agachou o olhar e se mordeu o lábio.
Matt lhe levantou o rosto.
-E com que classe de mulheres imagina que eu dá igual?
Eve não podia olhá-lo aos olhos.
-OH, pois... bonitas, seguras de si mesmos... atrativas.
-Maldita seja, Eve, o que tenho que fazer para te convencer? -disse Matt, tomando a da mão e aproximando-a a um grande espelho-. Te olhe -ordenou-lhe-. Te olhe, te olhe bem. O que é o que vê?
Quão único Eve via era uma mulher feita um desastre. Tinha a camisa molhada e enrugada, fazia tempo que lhe tinha apagado o lápis de lábios, tinha o cabelo emaranhado.
-Um desastre.
Matt a rodeou pelas costas e a olhou aos olhos através do espelho.
-Quer saber o que eu vejo?
-Não estou segura.
-Vejo a cara de um anjo, com uns grandes olhos da cor do céu do verão que brilham como diamantes quando te alegra ou o passa bem. Vejo um rosto precioso e suave, que esquenta meu coração quando ri e não me deixa dormir porque não posso deixar de pensar e de desejar que quão único desejo no mundo é beijá-lo. Vejo uns cabelos que são como raios de lua e que eu gosto sobre tudo quando está um pouco revolto, como agora. Vejo uma mulher com um corpo precioso, com umas pernas que nunca me cansaria de olhar.
Eve queria dizer algo, mas era incapaz de falar. Matt tinha os olhos cravados nela e sem deixar de olhá-la tomou sua mão e a beijou.
-E suas mãos -disse-. Adoro suas mãos, com seus largos dedos. Adoro como as move, adoro-as quando golpeiam o lombo de uma velha mula, ou acariciam um gato ou me acariciam.
Lambeu-lhe o polegar delicadamente e a beijou na ponta do índice. Felizmente, disse-se ela, sustentava-a pela cintura, em caso contrário se teria cansado redonda ao chão.
-É preciosa e muito, muito sexy.
Eve fechou os olhos e deixou que as palavras do Matt a embargassem com sua doce essência. E em seu interior se alojaram, brilhando com tanta luz que seus raios emergiram até sua pele fazendo-a resplandecer. Separou os olhos e sorriu. Com que desespero desejava ser realmente formosa para beijá-lo.
-me dê quarenta e cinco minutos -disse-lhe, com um fio de voz.
Matt entrou em um dos melhores restaurantes de Houston luzindo-se como um pavão. Com o Eve a seu lado se sentia dez centímetros mais alto e lhe dava vontade de golpear-se no peito e proferir o grito do Tarzán. O que mais desejava era gritar. "É minha!"
Eve Ellinson era a mulher mais arrebatadora que tinha visto em sua vida. Sempre estava bonita, mas aquela noite estava deslumbrante. pôs-se algo que tinha ouvido outras mulheres chamar um vestidinho negro, mas aquele vestidinho negro era dinamite. aderia-se a seu corpo de um modo... e deixava ao descoberto suas pernas, umas pernas que tiravam o soluço.
Levava o cabelo recolhido para trás com umas forquilhas de cor niquelada, mas lhe caía a juba sobre as costas, convertendo-a na mulher mais atrativa de quantas havia no lugar. Matt se dava conta de que era branco de todas as olhadas masculinas, e de que muitas mulheres também se fixavam nela, mulheres possivelmente verdes de inveja.
-Tenho-te dito que está preciosa?
Eve riu e seus olhos refulgiram.
-Uma dúzia de vezes. Quase começo a acreditá-lo.
-Pois acredita-o. Não te trocaria nem pelas dez mulheres mais bonitas que haja aqui.
Eve brilhava com luz própria. Caminhava com passos tranqüilos, compridos, seguros, encaminhando-se com elegância à mesa que tinham reservada em um rincão, fora dos lugares destinados a aqueles que queriam sobre tudo ver e ser vistos.
Matt tinha visto vários conhecidos do mundo dos negócios e a outro par de pessoas que conhecia de alguma festa, mas se limitou a saudá-los com uma inclinação de cabeça e não fez nada por dar pé a uma conversação. Queria concentrar-se por completo no Eve. O que, por outro lado, não lhe custava grande coisa.
-O que quer beber?
-Veio. Branco, por favor.
-Gosta de provar um vinho do Texas?
-Também fazem vinho no Texas?
-Não sinta saudades tanto. E além disso é bom. ganhou um montão de prêmios -disse Matt, e pediu um vinho branco do Texas-. Creio que a comida também te vai gostar. chamei antes e me hão dito que têm muitos pratos vegetarianos.
-É um encanto.
Ao sorrir, Eve lhe tocou a mão, e ao Matt deu vontade de subir à mesa e dirigir um discurso à multidão no melhor estilo do Winston Churchill. Mas em vez disso, pôs-se a rir, piscou os olhos um olho e disse:
-Sou-o. E não o esqueça nunca.
O jantar foi fabulosa e o vinho pura ambrósia.
Continuamente, Eve tratava de falar das idéias da campanha, mas Matt se empenhava em distrai-la com todo tipo de comentários sobre o Texas ou com histórias de sua vida. Seu olhar dizia que poderia comer-lhe com uma colher com a mesma ou mais deleite com a que comia o pudim de caramelo que tinha pedido de sobremesa. Com aqueles preciosos olhos escuros cravados nela, em seu pescoço, em seus ombros, em seu rosto, era muito difícil concentrar-se nos negócios.
E de fato, só gostava de pensar em seus lábios.
No quentes e doces que eram, na delicada maneira em que lambiam seu pescoço, ou seus peitos.
Deslizou a língua pelo bordo da taça, e se surpreendeu pensando que era a boca do Matt a que queria bordear com a língua.
Pensava em suas mãos, em seus largos dedos, em todos os lugares que desejava lhe oferecer a aquelas mãos.
Logo pensou em suas próprias mãos, nas partes do corpo do Matt que gostaria de acariciar. Seus olhares se encontraram, e não se separaram. Entre eles havia tanta eletricidade que as flores do vaso que havia sobre a mesa estiveram a ponto de murchar-se.
Agarrou com ambas as mãos sua taça e voltou a rodear o bordo com a língua, acariciando o bordo de suas calças com o pé.
De repente, Matt atirou o guardanapo sobre a mesa e se levantou.
-vamos.
-Mas se ainda não nos trouxeram a conta.
Matt tirou uma carteira do bolso, extraiu dele uns quantos bilhetes, dobrou-os e os deixou sobre a mesa.
-Com isso basta.
Logo tomou a bolsa prateada do Eve, agarrou-a pelo cotovelo e a conduziu à porta com tanta celeridade como se alguém tivesse gritado "fogo!". Eve quase teve que correr para seguir seu passo.
-Aonde vamos com tanta pressa? -perguntou-lhe nada mais sair à rua.
-Aqui -disse Matt, empurrando-a a um rincão sumido entre a sombras.
Beijou-a com tanta intensidade, que quase chegaram a lhe doer os lábios, pêra gemeu e lhe devolveu o beijo com a intensidade que lhe dedicava.
Matt se voltou louco. Suas mãos pareciam estar em todas partes de uma vez, sua boca também. E ao Eve tremeram os lábios.
Ao cabo de uns segundos, ele se apartou.
-Nos vão deter. vamos.
Tomou sua mão e a levou a carro.
Em efeito, foi um milagre que não os detiveram pela velocidade com que Matt conduziu de volta ao hotel. E ao chegar foi um milagre que não os prendessem por... enfim, por outras coisas que fizeram no elevador.
Eve chegou à habitação com o vestido já desabotoado e com o prendedor solto. Matt, por sua parte, levava a jaqueta pendurada do braço, o cinturão também desabotoado e tinha perdido a gravata.
Assim que fecharam a porta, e entre apaixonados beijos, suas roupas começaram a voar por toda parte. Nem sequer chegaram ao dormitório. Nem ao sofá. Matt a pôs sobre a mesa do comilão e ali a penetrou.
Eve rodeou sua cintura com as pernas e exclamou seu nome enquanto se apertava contra ele com toda a fúria do Ciclone do Texas.
Tudo aconteceu rápida, apaixonada, intensamente. Foi uma loucura.
Alcançou o climax com a rapidez de uma queda de noventa graus em uma montanha russa, arqueando as costas para procurar a melhor posição, alagada por quebras de onda de prazer que a convertiam em fogo líquido. E todo isso pronunciando o nome do Matt uma e outra vez.
Ele, por sua parte, não deixava de sussurrar palavras de amor em seu ouvido, enquanto os espasmos seguiam e seguiam. Mas aquelas palavras era o que mais agradar causava ao Eve, mais que a paixão, mais que quão feitas ondas alagavam seu corpo, mais que o peso do corpo do Matt sobre ela. E por fim, ele empurrou com major força e se uniu a ela no êxtase final.
Matt se tornou a um lado. Seus corpos estavam tão molhados como ao sair do Rio do Trovão e sua respiração era tão agitada como se tivessem deslocado a maratona. E apesar disso, Matt cobriu de beijos os seios do Eve, de beijos tenros e delicados, como deliciosas gotas de rocio.
-eu adoro seu sabor -disse Matt-. eu adoro tudo o que tem que ver contigo. Eve, quero-te muito.
Ao Eve quase lhe parou o coração. Amor? Havia dito que a queria? Não, não podiam ser mais que palavras sortes no calor da paixão. Não pôde evitar um pequeno movimento.
Matt levantou a cabeça.
-O que ocorre?
Eve riu.
-Esta mesa começa a ser um pouco incômoda.
Matt deixou escapar um expressivo suspiro.
-OH, carinho, sinto muito. Demônios, não posso acreditar que seja tão idiota para te haver feito o amor sobre uma mesa. Eu queria que nossa primeira vez fora especial, tenra, romântica -disse, e parecia muito aborrecido consigo mesmo.
Ao Eve lhe derreteu o coração, e tomou seu rosto entre as mãos.
-Chist. foi maravilhoso.
Matt suavizou um pouco sua expressão.
-Sim, foi maravilhoso, verdade? Mas a próxima vez o faremos lentamente. Quero ver e cheirar e provar cada centímetro de ti. Quero que dure muito, muito tempo. Vêem.
Matt a conduziu a sua cama e ali lhe tirou a pouca roupa que ficava. Pouco a pouco foi tirando as forquilhas do cabelo e o acariciou, entrelaçando-o entre os dedos. Beijou-a nas pálpebras, no nariz, nas comissuras dos lábios, e todo isso sem deixar de sussurrar doces, muito doces palavras de amor.
Riscou com a língua o perfil de sua mandíbula e chegou até o lóbulo da orelha. Logo a tendeu sobre o leito e cobriu um de seus seios com a mão, acariciando a bochecha contra o mamilo, até que este se endureceu. Logo o lambeu, mordiscou-o brandamente. Eve se estremeceu e gemeu ao notar seus lábios fechados lhe chupando o mamilo.
Eve se dava conta de que estava excitado.
-OH, Matt, o que estamos fazendo? -sussurrou.
Matt levantou a cabeça e sorriu. Foi um sorriso deliciosamente sensual, picasse, um sorriso que derreteu o coração do Eve.
-Eu acreditava que era evidente.
Matt começou a lhe beijar o outro peito. Que sensação mais deliciosa.
-Quero dizer que... que... não deveríamos...
-Não? -disse Matt, e descendeu até o umbigo.
-Não. Não... não é boa idéia. Deveríamos... OH, ah... manter uma relação... aaahhh... estritamente profissional.
-Sim? E o que faço, paro-me?
Eve gemeu e grunhiu aferrando os cabelos do Matt.
-Não... ainda não... é tão... maravilhoso.
-Não se preocupe, amor. Quero que dure muito, muito tempo e te fazer o amor toda, toda a noite, para te fazer sentir muito, muito bem.
Prometeu-o, e o cumpriu.
Matt tivesse preferido acontecer o dia inteiro na cama com o Eve, mas esta conseguiu convencer o de que estavam em Houston em viagem de negócios, de modo que, embora a contra gosto, levantou-se e se vestiu.
Eve recolheu quantos folhetos pôde das atividades turísticas que se ofereciam aos visitantes de Houston e se interessou, perguntando ao pessoal do hotel, por saber quais eram as mais populares.
-Creio que deveríamos ir à a Nasa -anunciou finalmente.
-À a Nasa?
-Sim. É uma das maiores atrações para os turistas, e, depois de tudo, não queria entrar em um novo mercado?
Naquele momento, ao Matt importavam muito pouco os turistas. O único que lhe interessava era Eve. Aquela viagem tinha sido planejado de tal modo que tivesse tempo de cortejá-la, de convencê-la que tinha que casar-se com ele. Mas ela não parecia ter a menor suspeita de suas verdadeiras motivações.
-Parece-me muito bem. Iremos à a Nasa, e quando sairmos, iremos ao Galveston. Não está longe e aos turistas adoram. trouxeste traje de banho?
-Vá, pois não. Nem sequer me ocorreu.
-Não importa, compraremos um ao chegar -disse Matt-. Neném, ver como lhe sintam os trajes de banho vai ser um autêntico prazer.
Decidiram passar a noite fora do hotel, de modo que colocaram a bagagem no porta-malas do carro e se dirigiram para o sul pela auto-estrada do Golfo.
Passaram a manhã visitando as instalações da Nasa e o museu aeroespacial, que Matt não conhecia, de maneira que os dois desfrutaram enormemente da visita.
Galveston só estava a meia hora da Nasa, e, à medida que avançavam, ia fazendo-se mais aparente a cercania à costa por um terreno cada vez mais plano e a abundância de restingas. Finalmente alcançaram a costa e o comprido ponte que conduzia até a ilha.
Fazia anos que Matt não visitava o lugar, mas Eve lhe refrescou a memória lhe lendo os folhetos turísticos que encontraram em uma estação de serviço.
-OH, olhe que casas tão preciosas -disse ela, referindo-se às velhas casas da avenida Broadway, o bulevar que conduzia à praia-. Creio que algumas se podem visitar.
-Quer as ver?
-Quer você?
-Claro. vamos procurar um hotel no passeio marítimo e logo voltamos.
-Um hotel? Não íamos sair para o Santo Antonio esta tarde?
-antes de sair chamei a meu ajudante e lhe tenho dito que trocamos de planos. Iremos amanhã pela manhã. Tenho-lhe dito que preferia verte em biquíni.
-Não! -exclamou Eve, e riu, apesar de seu desejo de admoestar ao Matt-. Está louco, o que vai pensar?
-Emily tem três filhos e um neto, assim não posso lhe ocultar nada nem que me proponha isso.
Enquanto esperavam a que um semáforo trocasse a verde, Matt tirou o móvel e marcou um número.
-Olá, tia Em! Estávamos falando de ti. encontraste algum hotel no Galveston?... Estupendo... Sim, já o tenho. Provavelmente vamos ao Santo Antonio amanhã pela manhã... Que tal às onze?... Bem, direi-lhe isso. lhe diga ao Tanker que se ocupe do assunto dos japoneses segundo seu critério... Sim, logo falamos, bonita.
-Bonita? Chamas "bonita" a seu ajudante.
-Claro. Embora também a chamo tia Em. E algumas vezes a chamo "patatita". adora.
-Matthew Crow, tenho de te dizer que estou perplexa. É um machista e isso se chama dominação sexual.
-Não, chama-se afeto. Ela é minha tia Em, a irmã pequena de meu pai e seu marido e a metade da família a chama "patatita".
Eve se sintió como una tonta y se disculpó por haber sacado conclusiones precipitadas. Pensaba que había encontrado una grieta en la armadura de Matt, una falla de su carácter, pero se había equivocado, Matt era perfecto.
-Hum -disse Matt-. Date a volta outra vez. -Eve obedeceu e ele a estudou com atenção-. Não sei o que dizer. Não sei se eu gosto mais este ou o azul. por que não nos levamos os dois?
-E os lhes para também? -perguntou a vendedora, esperançada.
-OH, é obvio -disse Matt. Quando Eve foi dizer algo, sossegou seus protestos com um gesto da mão-. São gastos de empresa. Porei-os sob o epígrafe "investigação".
-E não te parece que é forçar um pouco as coisas?
-Disso que se preocupe o departamento de contabilidade.
Eve sabia que estava brincando, mas não quis discutir. Começava a dar-se conta de que quando Matt tirava reluzir esse pícaro lado juvenil de sua personalidade, era muito difícil lhe negar algo, e não é que ela queria lhe negar nada. Por outra parte, aqueles biquínis lhe faziam sentir-se atrativa, cheia de glamour.
Ou era Matt quem o fazia sentir-se assim?
depois de sair da pequena loja com suas compras, fizeram algo mais de turismo e terminaram no Rainforest Pyramid, uma enorme pirâmide de cristal em que se reproduziam as condições de vida dos bosques úmidos do planeta.
-Fascinante, verdadeiramente fascinante -disse Eve enquanto passeavam por uma zona cheia de novelo exóticas e cataratas.
Matt desfrutava só olhando-a. Adorava-a ao ver como se deleitava observando os pássaros ou as árvores mais estranhas. Em certa ocasião, aterrissou uma mariposa sobre um de seus braços e ficou muito quieta, observando-a com os cinco sentidos. Tanta atenção revelavam seus rasgos que era um espetáculo vê-la olhar a aquela e preciosa maravilha criada pela natureza. Oxalá tivesse tido uma câmara para captar a magia daquele momento.
E logo se produziu um momento mais mágico ainda. Uma segunda mariposa e logo uma terceira e uma quarta descenderam para posar-se sobre sua loira cabeleira, que parecia salpicada de vivas mancha de cor. Conteve a respiração. Sentia tanto amor por ela naquele momento, que temia que o peito lhe abrisse em qualquer momento ante a força da emoção que sentia.
Aquela mulher tinha algo indefinível ao que ele não podia resistir. Uma beleza de espírito que unida à beleza de seu corpo, arrastava-o para ele como um ímã, cativava-o, reclamava-o.
-te case comigo -sussurrou.
Eve riu e as mariposas saíram voando.
-Deixa de fazer o parvo, Matt. O que foste fazer se te dissesse que sim?
-Converteria-me no homem mais feliz do Texas, do mundo inteiro. O que faz falta para te convencer de que falo a sério?
-Tempo.
Um casal de meninos cruzou por seu lado e o mais pequeno caiu de bruces. Começou a chorar e Eve se agachou para consolá-lo. Em realidade, só estava ferido em seu orgulho e quando chegou sua mãe, tinha conseguido tranqüilizá-lo lhe interessando pelos pássaros e o mundo que lhe rodeava.
Quando os meninos e a mãe se afastaram, Eve tomou ao Matt do braço.
-Pergunto-me que tal o estará acontecendo Caruso.
Algumas vezes se volta um pouco neurótico se demorar para voltar muito tempo.
-volta-se neurótico? -disse Matt, sorrindo-. Não há dúvida de que esse pássaro está louco, por que se não ia depenar se?
-O veterinário diz que é alergia... -disse Eve sorrindo-, ou neurose.
-Vê-o?
Eve se pôs-se a rir e apoiou a cabeça sobre o ombro do Matt. Não recordava haver-se sentido tão bem em toda sua vida.
Depois de sair do bosque de cristal, dirigiram-se à praia. Enquanto baixavam os degraus do passeio que conduziam à praia, Eve se protegeu do sol ficando-a mão na frente e olhou por volta do mar.
-por que não há ninguém nadando? Faz um dia radiante.
Matt se fixou nas plácidas ondas que lambiam a borda, logo olhou um pouco mais à frente.
-OH, já vejo qual é o problema -disse, e assinalou para os gizes das ondas-. Vê essa espécie de borbulhas que flutuam sobre as ondas? São medusas. Parecem inofensivas, mas estão cheias de tentáculos que podem ser os causadores de uma grande dor. Se um desses diabos se agarra a uma de suas pernas, sente o mesmo que com a pior das queimaduras.
-Diz-o como se soubesse por experiência.
-E assim é. Quando fomos pequenos, um desses insetos picou ao Jackson e a mim. A verdade é que a picada do Jackson foi bastante pior que a minha, mas os dois terminamos em urgências e tivemos que cortar as férias.
-Pois não penso me banhar. E sempre são tão maus esses insetos?
Matt negou com a cabeça.
-Pois não sempre, mas não estou seguro de por que -disse, e se tirou o pólo, jogando-o sobre as toalhas-. Quer que ponha loção protetora? Não quisesse que essa preciosa pele se queimasse.
-Boa idéia -disse Eve, estirou as toalhas e se tombou de costas.
Quando Matt começou a estender a nata com lentos e largos movimentos, Eve se lembrou das carícias da noite anterior. Era como se suas mãos fizessem magia, como se sua boca fora um milagre. Fazer o amor com ele tinha despertado uma faceta completamente nova de sua feminilidade. Já nunca voltaria a ser a mesma.
Como podia renunciar a algo assim?
O melhor era não pensar nisso.
Quando estava completamente coberta de loção, Matt lhe pôs o plugue à garrafa e se tombou a seu lado.
-E você? -perguntou ela-. É que não te faz falta te proteger do sol?
-Não, é tarde, e além disso, nunca me queimo.
Matt resmungou entre dentes enquanto Eve estendia sobre suas avermelhada e doloridas costas uma generosa capa de nata hidratante com extrato de cenoura.
-Isto deveria te ajudar -disse ela, sentada escarranchado sobre suas pernas-. Acreditava que havia dito que nunca te queimava.
-E não me queimo, ou pelo menos não me tinha queimado desde que era pequeno.
-Sabe o que? -perguntou Eve com picardia.
-Sim, que me tenho voltado a queimar.
Eve se pôs-se a rir.
-Não me parece tão divertido.
Eve tratou de comportar-se.
-Perdoa, já sei que deve doer muito. Deixa que te lubrifique isto nas pernas.
Enquanto lhe aplicava o bálsamo na parte de atrás das pernas, tratou de ser o mais cuidadosa possível com a pantorrilha ferida.
-Quando lhe tiram os pontos?
-me deveriam tirar isso amanhã, mas Kyle disse que podiam esperar até que voltemos.
Ao Eve lhe ocorreu uma idéia.
-Segue tomando o remédio?
Matt assentiu.
-Duas vezes ao dia. Kyle me disse que teria que seguir tomando-a durante uma semana.
-Pois pode que esse seja o problema. Onde está o frasco?
-Em minha nécessaire.
Como Eve suspeitava, no prospecto da medicina acautelava contra o dano que podiam ocasionar os banhos de sol.
-Terá que ler os prospectos sempre, senhor.
-Sim, senhora. Poderia me pôr algo mais de nata nos ombros? Sim, sim, justo aí. Ahhh. Tem mãos de anjo. Só por isso me casaria contigo.
Eve lhe deu um tapinha carinhoso no traseiro. Logo lhe lubrificou nata nos braços. Naqueles braços tão bem formados, tão musculosos. Aqueles braços entre os que dava delícia estreitar-se.
E suas costas, também suas costas era magnífica. Larga, sólida, sexy.
inclinou-se para beijar um pequeno lunar.
-Date a volta -disse-lhe-, e te darei a nata por diante.
Ao girar, a toalha se escorregou e, durante um instante, Matt ficou ao descoberto. Estava definitiva e magnificamente excitado. Pôs um gesto inocente e logo sorriu.
-O que posso dizer? É meu estado normal quando está perto. Pelo menos não se queimou.
Eve tratou de parecer surpreendida, talvez molesta, mas o sorriso ingênuo do Matt a desarmou, de modo que voltou a tornar-se a rir.
-Não, e parece que funciona perfeitamente -disse Eve, e jogou uma boa quantidade de nata na palma da mão. Ao mesmo tempo, Matt lhe desabotoou o biquíni-. O que faz?
-Estou-me liberando disto -disse ele, jogando a um lado o Top-. Quero te olhar e te tocar -disse, e estendeu a palma da mão pedindo loção.
Enquanto ela acariciava seu avermelhado peito, ele começou a lhe acariciar o seu, com compridos e sensuais movimentos. E tomou em sua palma um de seus peitos.
-Precioso -murmurou-. Te agache um pouco mais, me deixe provar.
Eve sentiu um calafrio e notou como lhe erguiam os mamilos. Matt se meteu um na boca e começou a lambê-lo lentamente, em círculo.
-Hum, delicioso.
Eve ficou quieta, esquecendo-se do que estava fazendo, concentrada unicamente nas sensações que Matt despertava nela.
Matt, ou sua língua, pareciam em efeito estimular nervos que nasciam nos peitos e terminavam no ventre, com uma dor agridoce. Ao cabo de compridos momentos, Matt se retirou um pouco, soprou sobre o peito que acabava de chupar e começou a lamber o outro. Eve sentiu uma inevitável impaciência até notar que de novo estava em sua boca.
Matt deslizou os dedos na braguita. Ela jogou a cabeça para trás, possivelmente para respirar melhor através de seus apertados dentes.
-Você gosta? -perguntou ele.
-eu adoro.
-por que não te tira isto? -disse ele.
-Mas... queimaste-te.
-Faremo-lo com cuidado. Deixarei que você faça a maior parte.
Eve se levantou para despir-se e então ele se girou para a mesinha, procurando um preservativo.
-Espera, me deixe -disse Eve.
Extraiu o preservativo de seu pacote e com ajuda do Matt, deslizou-o em seu sítio. Foi uma experiência maravilhosamente erótica. deu-se conta de que com o Matt não sentia nenhum acanhamento. A para sentir como a deusa erótica do universo e aquela sensação a subjugava.
Ele adorava seu corpo e a acariciava da mais íntima das maneiras, e ela florescia em suas mãos.
Quando Matt voltou a meter um peito na boca, ela se esfregou contra seus lábios e logo se apertou contra ele. Estava cada vez mais excitada, até que a excitação se fez insuportável.
-Desejo-te, Matt. Desejo-te.
-Sou teu, carinho, sou teu.
Elevou os quadris e se deixou penetrar. Tão intenso foi o prazer que esteve a ponto de gritar. Naquela nova situação não necessitava experiência prévia, bastava com o instinto. Sabia que bastava deixando-se balançar pelo ardor que queimava seu ventre, abandonar-se em braços do prazer que submetia suas vísceras. Como sabia que com cada balanço estava mais perto do prazer infinito que desejava.
-Assim, assim, carinho, assim -disse ele.
E alcançou o climax em uma série de gloriosas e violentas sensações. Estava sentada sobre ele, com a cabeça arremesso para trás, invadida por muito profundas quebras de onda.
viu-se alagada pelas lágrimas e se separou dele, tendendo-se a seu lado, com a cabeça apoiada em seu travesseiro.
-OH, Matt, o que vou fazer? Quero-te tanto.
-Quer-me? Pois então não tem que fazer nada mais que seguir me querendo -disse Matt, e acrescentou-. São as palavras mais formosas que ouvi em minha vida. São meu tesouro mais valioso. Expor-me ao sol todos os dias se com isso obtivera esta recompensa.
Eve se incorporou lentamente.
-OH, carinho, o sol. Tenho-te feito mal?
-Não. Agora é quando começa a doer. Creio que me viria bem um pouco mais de loção -disse ele com um malicioso sorriso.
À manhã seguinte, de caminho ao aeroporto de Houston, Eve estava muito calada. E seguiu calada durante o vôo que os levou ao Santo Antonio. Matt parecia preocupado por aquele silêncio e em várias ocasiões lhe perguntou se ocorria algo. Ela não sabia o que dizer, porque, como lhe dizer a verdade? Como lhe dizer que estava aterrorizada ante a idéia de estar apaixonada por alguém como ele, ante a idéia de que pudesse lhe romper o coração?
Matt era... enfim, Matt era perfeito. Bonito, inteligente, tinha êxito, era uma pessoa maravilhosa e divertida... Perfeito em definitiva. E ela, apesar de tudo o que lhe dizia, não era mais que Eve Ellison uma moça normal, muito alta, possivelmente um pouco excêntrica, muito singela. Tinha uma velha granja e um montão de animais recolhidos por aí. Ela não viajava, não se alojava em hotéis luxuosos, estava acostumado a preferir os jeans a qualquer outro objeto e uma comida singela para jantar em um restaurante. O que podia ver ele em alguém como ela? Era Irish a beleza da família, Irish a que sabia tratar com o grande mundo.
OH, é obvio, ela era inteligente e fazia bem seu trabalho, mas os homens como Matt não se apaixonavam por uma mulher só porque fizesse bem seu trabalho.
De verdade estava Matt apaixonado por ela?
por que ia estar o?
O tinha perguntado a noite anterior e ele se limitou a tornar-se a rir e a beijá-la no nariz.
-Porque é uma criatura encantadora.
Mas isso não era uma resposta.
-Carinho, por favor, me diga o que é o que acontece -perguntou-lhe ele quando saíram do aeroporto do Santo Antonio com outro carro alugado.
-De verdade me quer?
-Claro que te quero. Estou louco por ti, carinho. Pedi-te que te case comigo mais de dez vezes, e nunca o tinha pedido a nenhuma outra mulher.
-Alguma vez?
-Nunca. A não ser que conte a Mary Jane Beavers, mas é que então tínhamos sete anos. Acessou, mas sua família se mudou a Wisconsin duas semanas depois.
Eve se pôs-se a rir.
-Está louco.
-Ah, menos mal, já te ri. Quer isso dizer que te aconteceu o mau humor?
-Não é que eu queira estar assim, mas é que estou preocupada. A gente não se apaixona tão rapidamente. Leva tempo.
-Não sempre. Quando te vi pela primeira vez nas bodas do Irish e Kyle, soube que foi para mim. Soube imediatamente. E te pedi que te casasse comigo, ou não o fiz?
-Mas não o disse a sério. Nem sequer me conhecia. E o que poderia querer uma pessoa como você de uma pessoa como eu?
-Cariño, tienes un serio problema de imagen que necesitamos solucionar cuanto antes. Ya te demostraré lo especial que eres para mí.
-É estranho estar aqui, verdade? -disse Eve, que visitava junto ao Matt o famoso forte de pedra.
-Sim. E inclusive apesar de havê-lo visto naquele filme do John Wayne, sempre espera que O Álamo seja maior.
-E a tragédia se viveu aqui -disse ela, surpreendida de que lhe alagassem os olhos de lágrimas. esforçou-se pelas conter e apertou a mão do Matt-. Que enorme perda é a guerra.
Matt lhe beijou os dedos.
-Travis, o comandante, era um canalha, mas pensar que Davy Crockett muriese aqui sempre me incomodou. Pode que seja porque sempre pensei nele com o rosto do Fess Parker.
-Você também via essas velhas séries de televisão?
-Sim. Quando tinha seis ou sete anos, Jackson e eu tivemos um gorro de pele de mapache como o do Davy e saímos a caçar ursos um par de vezes. Graças a Deus não topamos com nenhum. É obvio, Highland Park nunca foi conhecido por sua abundância de ursos.
Eve sorriu ante a imagem dos dois meninos caçando ursos na zona mais rica de Dallas, e saíram ao pátio do forte. O brilhante sol da tarde se filtrava através dos enormes carvalhos de uns terrenos rodeados pelo que já era o centro da enorme cidade do Santo Antonio.
-Gosta de ir à Festa do Texas? Têm várias montanhas russas que provavelmente você adorará provar. Uma delas vai para trás.
-para trás? Uau.
Cruzaram a rua em direção a seu hotel, que se encontrava na ribeira do rio.
-eu adoraria ir, mas, como está de suas queimaduras?
-Parece que estão melhor. E esse xarope que me jogaste deve ter um amparo de 200 pelo menos. Que barbaridade, parece manteiga. Pode que não me queime, mas me vou fritar.
Eve se pôs-se a rir e o empurrou para uma loja de artesanato.
Enquanto admiravam as magníficas peças expostas na cristaleira, Eve sentiu um roce na perna. tratava-se de um gatinho, negro e branco, que começou a miar.
-OH, bonito -disse, agachando-se para tomar em seus braços ao precioso animal-. OH, Matt, olhe. O pobre está nos ossos. Deve haver-se perdido.
-Ou pode que esteja abandonado.
-Não creio que ninguém possa abandonar a um gato tão bonito como este. Parece que leva uma máscara na cara, recorda-me ao fantasma da ópera. vamos perguntar nas lojas.
Ninguém sabia nada.
depois de perguntar em duas maçãs à redonda, desistiram de sua busca.
-Matt, não podemos deixá-lo na rua. Está faminto e tem medo.
-Podemos levá-lo a canil municipal.
-E um corno.
-Perdoa, carinho -disse Matt.
-Eu lhe encontrarei um lar. Mas primeiro faz falta alimentá-lo e levá-lo a veterinário. É provável que tenha algum tipo de lombrigas.
-Lombrigas? OH, Meu deus. Deixa-o no chão imediatamente.
-OH, vamos, não seja tão delicado. Vete a procurar algo de comer enquanto eu te espero com ele neste banco.
Suas ordens foram obedecidas imediatamente. O mau era que Matt não tinha nem idéia do que podia comer um gatinho, exceto leite. O garçom de um restaurante próximo não queria lhe emprestar uma terrina, mas Matt lhe deu vinte dólares e o garçom saiu com uma taça de plástico, um cartão de leite e uma bolsa de bolachas.
-Vale com isto? Não creio que goste dos tacos de queijo.
Eve o olhou com uma careta.
-vamos ver. Ponha umas partes de bolacha na taça e verte um pouco de leite.
Matt deixou a taça no banco e fez o que Eve lhe tinha pedido. O gato começou a ronronar assim que viu o leite no prato e devorou o conteúdo da taça assim que Eve o deixou a seu lado.
-Creio que gosta -disse, lhe dirigindo ao Matt um sorriso de um milhão de dólares-. Obrigado.
Ao Matt estiveram a ponto de lhe estalar os botões do peitilho.
-Enquanto nosso gatinho termina de comer, talvez possa procurar uma caixa onde colocá-lo -pediu-lhe Eve.
-Claro.
Matt fez algo mais. Encontrou um grande supermercado a três maçãs e comprou uma pequena jaula para transportar animais. Além disso, comprou comida para gatos, uma pelotita e um camundongo de trapo. A conta total não superou o preço do leite.
A conta do veterinário foi grandemente mais alta
Mas Matt a pagou com satisfação. Teria construído uma clínica veterinária inteira com tal de manter o rosto do Eve iluminado por aquele maravilhoso sorriso.
-Não é precioso? -disse, tomando-o em seus braços recém banhado e vacinado pela ajudante do veterinário e acariciando-o contra sua bochecha.
-Sim, de acordo, é muito bonito -admitiu Matt, e em efeito, parecia-o uma vez limpo e banhado.
-Creio que Fantasma pode ser um bom nome para ele -disse Eve, já de caminho ao hotel-. Não te parece?
-Parece-me muito bem.
-Ao hotel lhe importará que o subamos à suíte conosco.
-Não. Meteremo-lo em uma mala do Vuitton e nem se darão conta.
-Claro! -exclamou Eve rendo.
A mala tinha que ser enorme para que coubesse o gato, mas o passaram em grande preparando sua operação clandestina, como dois meninos fumando seu primeiro cigarro no quarto de banho de seus pais.
Ao cruzar pelo vestíbulo do hotel, com o Matt levando a enorme mala e Eve levando uma bolsa de plástico com uma caixa para as necessidades do gato, não se atreveram a olhar-se aos olhos por medo a descobrir o plano. apressaram-se para os elevadores e se meteram no primeiro que viram vazio. Por desgraça, um casal de média idade e uma adolescente sardenta se precipitaram ao interior quando as portas estavam a ponto de fechar-se.
Fantasma miou das profundidades da mala.
Matt se esclareceu garganta, moveu a mala e fingiu fixar-se nos botões do elevador. A seu lado, Eve ficou a olhar ao teto enquanto assobiava.
A mulher de média idade, olhou ao Matt com cara de poucos amigos.
-Isso foi um gato?
-É obvio que não -replicou Matt.
Fantasma voltou a miar.
A mulher transpassou ao Matt com o olhar.
-Nessa mala há um gato e neste hotel não se permitem animais.
A garota soltou um bufo e pôs cara de querer estrangular a sua mãe. Seu pai se olhou as unhas.
-Senhora -disse Matt, tocando o chapéu de vaqueiro-. Asseguro-lhe que não é um gato. Nesta mala levo a nosso menino.
A mulher deu um coice, a garota estrangulou uma risinho e o homem ficou nas pontas dos pés.
Graças a Deus o elevador se deteve justo nesse momento e o trio se desceu naquela planta. Ao Eve custou conter a risada até que se fecharam as portas.
-Nosso menino? -exclamou-. Viu a cara dessa pobre mulher? Acreditava que ia explorar.
Ainda se estavam rendo quando alcançaram a porta de sua suíte. Uma vez dentro, Matt a estreitou entre seus braços, balançando-a com carinho.
-Não recordo uma situação mais divertida. Sinto-me como um menino travesso.
-Eu também -disse Eve, e se apartou de repente-. OH, esquecemo-nos que pobre Fantasma. vamos ver se estiver bem.
Em efeito, o casa de jogo clandestino estava bem, só um pouco zangado. Uma vez no chão, deslocou-se por toda a habitação, jogando com a bola que Matt lhe tinha comprado. Eve o olhava encantada.
-Temo-me que nos perdemos nossa tarde de diversão em La Festa do Texas -disse Matt-. Quer que vamos esta noite?
Eve negou com a cabeça.
-Estou -um pouco cansada. por que não pedimos o jantar e vemos um filme do canal do hotel?
-Boa idéia.
Matt jantou um filete acompanhado de uma batata assada e salada; Eve o mesmo mas sem o filete. Fantasma jantou um pouco de comida para gatos e se acomodou no regaço do Matt para ver o filme.
Bateram na porta. Eve baixou as pernas do sofá e disse:
-Deve ser o serviço de habitações, que deve buscar os pratos. Fantasma e você fique aqui, vou levar se os -Cariño, ¿qué pasa? -dijo Matt apareciendo por la puerta el salón.
dirigiu-se descalça para a porta e abriu.
O homem que estava na porta com uma garrafa de vinho na mão não parecia um garçom.
-boa noite, sou Rum Futch, o diretor do hotel.
Ao Eve quase lhe deu um ataque ao coração. acabou-se o jogo, tinham-nos descoberto. A família do elevador se queixou ao diretor e o diretor tinha subido para jogá-los. Que humilhação.
-Posso... posso explicá-lo tudo.
-Carinho, o que acontece? -disse Matt aparecendo pela porta o salão.
Eve se girou e tratou de lhe fazer retroceder com gestos sutis das mãos e exageradas caretas. Mas ele não compreendeu suas intenções, em vez disso, aproximou-se da porta, descalço e com Fantasma acomodado em seu braço.
-O que ocorre, carinho?
-É o senhor Futch, o diretor do hotel, carinho -disse ela, tratando de que retrocedesse.
-Olá, Rum -disse Matt, aproximando-se da porta -. Como vai?
O gato subia por sua camisa quando Matt lhe deu a mão ao diretor.
-Muito bem, Matt. Me alegro de verte. Nada, só queria te saudar. Espero que você goste disto -disse o diretor, lhe dando ao Matt uma garrafa de champanha. De um champanha muito caro-. Têm gelo para colocá-lo já?
-Sim, obrigado, não se preocupe. Olhe, Rum esta mulher tão encantada é Eve Ellison -disse, e acariciou ao gato, que se havia acomodado em seu ombro-. E este amigo é Fantasma.
O diretor sorriu.
-Senhorita Ellison -saudou, com uma inclinação de cabeça-. Que bonito. Enfim, algo que necessitem, já sabem onde estou.
-Muito obrigado, Rum. E obrigado pelo champanha.
Futch se despediu e partiu. Assim que fechou a porta, Eve se apoiou nela e exalou um profundo suspiro.
-Não posso acreditá-lo. Quase me dá um ataque quando me há dito que era o diretor. Pensei que nos ia jogar.
-Sente saudades -disse Matt, com uma picasse sorriso-, o hotel é de meus pais.
Quando Eve assimilou o significado daquelas palavras, franziu o cenho.
-Que seus pais são os... mas você é um uva sem semente -disse, e, com a almofada da cadeira do corredor, começou a lhe dar na cabeça-. Um sujo uva sem semente.
Matt, sem deixar de rir e protegendo-se dos golpes, foi afastando, retorcendo-se para evitar os golpes em seus doloridos ombros. Mas Eve o seguia lhe dando em qualquer parte que pudesse.
Logo começaram a dar voltas pela suíte, rendo e gritando, até cair finalmente sobre o sofá.
-Mas como pudeste me enganar dessa maneira. Sinto-me como uma idiota.
-Só foi uma brincadeira. Pensei que nos íamos passar isso muito bem colocando a Fantasma no hotel em segredo.
-Sim, suponho que foi divertido, mas eu não gosto de ser a ceva de suas brincadeiras, Matt. Nunca me gostou. Suponho que se deve a certas coisas terríveis que deveram me ocorrer quando era pequena, mas de verdade te digo que eu não gosto que riam de mim. Bom, em realidade o odeio. Irish diz que sou hipersensível, e possivelmente seja verdade, mas não creio que a ninguém goste de ser o branco das brincadeiras de outros.
Matt pôs ao gatinho no chão e estreitou ao Eve entre seus braços.
-OH, carinho, sinto muito. Não te faria mal por nada do mundo. Sou um bruto, perdoa-me?
Eve guardou silêncio durante um momento, e logo suspirou.
-Sim, claro. Mas, por favor, não volte a fazê-lo.
-Prometo-lhe isso.
-Creio-te -disse ela, amassando-se entre os braços do Matt-. Então," este hotel é de seus pais?
-Sim. E vivem aqui.
-Aqui? No hotel?
-Sim. Um piso mais acima. Construíram o hotel e se deveram viver aqui de Dallas faz oito anos.
-Creio que as lembrança das bodas do Irish. E não quer vê-los?
-Não posso. Estão de cruzeiro pela Alaska. Não voltarão até a semana que vem, mas quando voltarem, lhe eu gostaria de apresentar isso Creio que lhe vão gostar. São boa gente. Minha mãe tem um gato. Uma resmungona de quatorze anos chamada Abigail.
-Pois só sabendo isso, sei que me vai gostar.
-Gosta de um pouco de champanha?
-É que com as borbulhas me pica o nariz e espirro.
-Pois eu te curo -disse Matt, beijando-a na ponta do nariz, e foi pelo champanha.
Algo áspero e molhado roçou o queixo do Matt. Abriu os olhos. Fantasma estava de pé sobre seu peito. Em realidade, tinha passado a maior parte da noite ali... quer dizer, o tempo em que Matt não estava ocupado em outras coisas.
Miou.
Matt o apartou e se tornou sobre um flanco.
Sentiu a suave penetra do gato na bochecha, e a língua na ponta de seu nariz.
Matt abriu os olhos. Um par de pequenos olhos azuis o olhavam. O gato voltou a miar. -Chist!
Eve moveu a cabeça.
-Que horas são?
-A hora em que os gatos tomam o café da manhã. vou ver se encontro algo na geladeira e se cala. Aos gatos gosta dos amendoins e o champanha?
-Não, gostam da comida para gatos. Está na parte de abaixo da geladeira. Prova a ver.
Matt a beijou no ombro e se levantou, levando-se a gato.
Fantasma apartou o nariz da comida para gatos que Matt lhe ofereceu.
-Para alguém que ontem mesmo morria de fome pelas ruas, tornaste-te um pouco suscetível com a comida.
O gatinho miou e pareceu entreabrir os olhos, tal como fazia Eve. Ao Matt lhe abrandou o coração, de modo que o tentou com vários mantimentos deliciosos que encontrou na geladeira. Finalmente, Fantasma encontrou conveniente provar o foei gras.
-Quem o houvesse dito, amigo. Na verdade tem um delicioso paladar -disse Matt, e para ouvir o ruído da ducha, decidiu unir-se ao Eve. Deviam estar no aeroporto ao cabo de duas horas, e não queria perder nem um minuto do tempo que ainda compartilhar a sós com ela.
Perderam seu vôo a Austin, mas tomaram o seguinte.
-Dêem-se pressa em beber-lhe tudo, amigos -disse Marci, a aeromoça que lhes deu o suco-. Este vôo só dura meia hora e faz dez minutos que separamos.
-Creio que Austin te vai gostar -disse Matt-. É um dos lugares que mais eu gosto do Texas. É distinta às demais cidades do estado. É tranqüila e acolhedora, e ao mesmo tempo muito viva.
-Não está ali sua universidade?
-Sim, ali estudei Direito.
-Sempre me esquecimento de que é advogado. por que não exerce, você não gostaria?
-Suponho que me entretive tratando de ganhar meus segundo milhão de dólares.
Eve franziu o cenho.
-Não entendo o que quer dizer.
-Bom -disse Matt-, é um trato que vem de uma idéia de meu avô. Ele foi o que começou a fortuna da família. Encontraram petróleo em suas terras e ganhou uma fortuna. Quando teve netos, disse que pagaria a carreira a todos eles e que quando terminássemos os estudos, daria-nos um milhão de dólares. Se conseguíamos dobrar esse milhão antes de cinco anos, daria-nos outros dez.
Eve ficou com os olhos como pratos.
-Dez milhões de dólares? A cada neto? Sabia que era rico, mas... Refere ao Pete?
-Sim. A esse velho encantador. Deu a todos uma educação e dez milhões de dólares e quem sabe quanto a suas filhas, minha mãe e minha tia, e ainda fica mais dinheiro do que deu a todos nós juntos.
-Então, todos dobraram o milhão?
-Sim. Todos. Eu fundei Crow Airlines faz doze anos. Gastei-me tudo o que tinha e tudo o que pude pedir emprestado em uma companhia que estava em bancarrota. A verdade é que suei aqueles tinta primeiros anos, mas saí adiante.
-trabalhaste muito, verdade?
Matt assentiu.
-Todos trabalhamos muito e todos dobramos nosso milhão. Todos, menos Jackson, esse canalha com sorte.
-Abróchense los cinturones -dijo la azafata-. Estamos llegando a Austin, hogar de los longhorns y del mejor chile de todo el estado.
Bem providos de nata de amparo contra o sol, da que saíram convenientemente lubrificados, Eve e Matt se dispuseram a visitar a cidade de Austin acompanhados de Fantasma, ao que levavam em uma bolsa especial que Matt lhe construiu. Passaram um maravilhoso dia do verão sobre tudo nos jardins de um dos museus da cidade, onde se celebrava uma feira de arte popular, em que abundavam, além dos quadros à venda, os postos de comida, o artesanato e os mariachis.
Eve comprou uma pequena aquarela e várias flores esculpidas em madeira e belamente decoradas em cores muita vistosos. Matt comprou um urso de bronze para dar de presente-lhe ao Jackson, cujo aniversário estava ao cair, e um cinturão de couro esculpido.
-OH, eu adoro Austin -disse Eve quando voltavam para carro com suas compras-. E a gente é encantadora.
-Também eu adoro Austin. É minha cidade do Texas favorita.
-E por que não vive aqui?
Matt se encolheu de ombros.
-Os negócios. A central do Crow está em Dallas. Mas venho sempre que posso, Ao Jackson também gosta. Estávamos acostumados a freqüentar a Rua Seis.
-O que é a Rua Seis?
-Está cheia de bares e de pubs, mas terá que esperar ao seguinte viagem para conhecê-la, a não ser que queira que fiquemos uma noite mais.
-eu adoraria, mas tenho que cuidar de meus animais. Jimmy foi um encanto, graças a ele eis podido vir a esta viagem, mas agora tenho que voltar. Tenho um milhão de coisas que fazer em casa antes da segunda-feira. E a semana que vem vamos ter muito trabalho, tenho um montão de idéias para a nova campanha do Crow. Espero que você goste.
-Tudo o que você faz eu gosto -disse Matt e lhe abriu a porta do carro, lhe dando um beijo na boca antes de fechá-la-. Absolutamente tudo.
na sábado pela tarde, Matt deixou ao Eve e a Fantasma em seu carro, que estava estacionado em uma garagem pública que havia perto de seu escritório. antes de separar-se dela voltou a estreitá-la entre seus braços.
-Posso te seguir e te ajudar com a limpeza da casa?
Eve negou com a cabeça.
-Obrigado, mas é uma distração muito grande. Além disso, você também tem que te pôr ao dia. Tem muitos mensagens no móvel. me chame amanhã se tiver tempo.
-Tirarei-o de onde seja -disse ele, e voltou a beijá-la-. foram uns dias maravilhosos. Melhore ainda, porque creio que para ti também o foram. Quero-te muito, Eve.
-E eu a ti, Matt.
Um carro se deteve seu lado.
-Necessitam ajuda, amigos?
tratava-se do guarda de segurança.
-Não, obrigado, sócio -disse Matt-. Me posso arrumar isso eu sozinho.
Eve se pôs-se a rir.
Matt esperou a que se fora.
Já a sentia falta de.
A semana seguinte supôs um frenesi de atividade para a agência. Eve voltou da viagem cheia de confiança e felicidade, assim como com uma montanha de informação e novas idéias para integrar na nova campanha para o Crow Airlines. Contratou a outro redator e a outro diretor criativo e celebrou incontáveis reuniões com sua nova equipe.
Para o Matt, a semana também foi muito ativa, mas jantaram juntos em várias ocasiões, uma delas com o Kyle e Irish, e falavam por telefone ao menos duas vezes ao dia.
Estar apaixonada era maravilhoso. Seus passos eram mais ligeiros, sua mente mais aguda. O mundo era encantador. E se o fato de que Matt fora cliente da agência podia resultar problemático, já resolveriam.
na sexta-feira, Matt lhe perguntou:
-Quer que vamos ao Passo ou ao Corpus Christi? Em nossa última viagem não tivemos tempo de ir. Embora também poderíamos ir ao vale. Posso te ensinar os laranjais de minha primo e podemos passar ao México a fazer compras.
-Tenho uma idéia melhor. por que não mandamos aos outros membros da equipe? Têm que conhecer a companhia e não lhes virá mal divertir-se um pouco. E me faz falta reparar o alpendre de minha casa. Que tal te dá a carpintaria?
-Estupendamente.
A manhã do sábado, enquanto Eve colocava a manteiga na imprensa, chegou Matt em seu esportivo, seguido da caminhonete de um carpinteiro.
Quando Eve tratou de protestar, ele disse:
-Carinho, Russell faz maravilhas com os alpendres. Além disso, contratá-lo a ele é mais barato que pagar outra conta do hospital e assim teremos tempo de fazer outras coisas. Que tal está Fantasma? Charlie segue fazendo das suas?
-Temo-me que sim. Mas Ailda, prometida-a do Sam Marcus, vai se ficar com Fantasma. Este fim de semana estão fora, mas na segunda-feira o levo. -O vou sentir falta de. Eve suspirou.
-E eu, mas não posso ficar com todos. De todas formas, Ailda é encantadora e seguro que o cuida muito bem. Bom, então, se Russell for ocupar do alpendre, pode me ajudar com as flores da entrada. Desde que estivemos no Galveston eis estado pensando em plantar arbustos que gostem às mariposas. E roseiras, eu adoraria plantar algumas roseiras.
Finalmente, decidiram levar a manteiga ao Pete pessoalmente e logo parar no Tyler a comprar algumas novelo. Segundo Matt, Tyler era a capital das rosas do Texas e nela se podiam encontrar todas as variedades conhecidas.
Levaram o carro do Eve, para ter espaço para as novelo no caminho de volta. Demoraram quase duas horas em chegar a casa do Pete, mas o caminho mereceu a pena. O campo estava precioso, cheio de pinheiros e de carvalhos, além de outras espécies menos conhecidas.
Pete se alegrou muito de vê-los e Gómez correu a seu encontro, aproximando-se do Eve e lhe lambendo a mão. Ela se agachou para acariciá-lo e abraçá-lo e o cão não deixava de mover a cauda.
-Que tal com o Pete? Levaste-te bem? -É um bom cão -disse Pete-. E nos levamos muito bem, verdade, amigo?
Quando Gómez obteve as carícias que esperava, voltou junto ao Pete e olhou ao velho com um brilho nos olhos muito especial.
-Vá, parece que gosta -disse Eve-. Você gostaria de ficar com ele?
Tanto o homem como o cão pareciam muito agradados com a nova situação. Ao Gómez sempre tinha feito falta atenção individual e uma mão firme e Pete era o perfeito professor.
-Trouxemo-lhe mais manteiga -disse Eve-. Esta manhã tenho feito meio quilograma.
-OH, Meu deus, quanto me gostou da que me trouxeram. Devo-me ter comido já meio quilograma. Muito boa, muito boa. E vendi um quilograma, tenho que te dar o dinheiro.
-Não, não, a manteiga é um presente pela ajuda que me emprestaste.
Pete e Matt mostraram ao Eve o posto comercial, com seu estranho sortido de estranhos artigos, e o museu, que consistia em sua major parte em pontas de flecha e uma serpente de cascavel viva. Conheceu alma Jane, que estava fritando frango em previsão da tropa que se apresentaria a comer. Ao Eve a deixava perplexa o fato de que um homem tão rico como Pete escolhesse dirigir um armazém em pleno campo, mas supunha que gostava.
Estava fascinada com as esculturas de madeira que o ancião esculpia com sua serra mecânica. adorou sobre tudo uma águia que acabava de terminar.
-De verdade a tem feito com uma serra mecânica? -perguntou, passando a mão pela rugosa superfície.
-Sim, embora ao final faço os retoques com um cinzel e um pouco de lixa. Ao Kyle lhe dá também estupendamente. Matt, entretanto, quase nem o tentou.
Subiram depois à biblioteca e, depois de comer com o Pete, continuaram seu caminho até o Tyler.
No estufa Eve comprou seis roseiras e outras flores e, pela tarde, Matt lhe ajudou a plantá-los todos.
-A verdade é que está começando a ter muito bom aspecto -disse-lhe, enquanto os dois desfrutavam de um copo de chá gelado-. O novo telhado é uma maravilha, e quando tudo esteja pintado, ficará precioso. O que te parece se o Pinto todo de azul e branco?
-Parece-me perfeito, se for isso o que você quer. Embora também poderíamos construir uma casa nova...
-Uma casa nova?
Ele assentiu, estreitando-a entre seus braços com ternura.
-Sim, depois das bodas...
-Matt!
-Está bien, está bien... Lo dejaré estar... de momento. ¿Qué tal si nos acicalamos un poco y nos vamos al Red Dog? Si vas a vivir en Texas, tienes que aprender a bailar.
Se Eve tivesse tido o costume de mordê-las unhas quando estava nervosa, naqueles momentos já não teria unhas. Bart Coleman e Gene Walker, além do Nancy, Sam, Bryan e Eve celebravam uma reunião, na sala de juntas do Crow Airlines, com o Matt, seu ajudante e três de seu executivos. A campanha em que sua equipe levava trabalhando durante muitos dias e muitas noites estava preparada.
Tudo estava preparado e Bart e Gene se mostraram muito impressionados após ouvir a apresentação da campanha o dia antes. Mas suas opiniões não tinham nenhum valor sim ao cliente não gostava do produto.
Nancy estava à cabeça da mesa, fazendo a última parte da apresentação : uma série de diapositivas que mostravam um plano de choque para captar o turismo familiar. Além disso, para apoiar a apresentação, soava uma canção do George Strait como música de fundo.
Quando a última diapositiva apareceu em tela, Eve contou até cinco para permitir que Matt e seus ajudantes assimilassem aquele último impacto. Logo se levantou, acendeu as luzes e mostrou seu melhor sorriso.
Matt e sua gente estalaram em um aplauso.
-Fantástico! -exclamou Matt.
-Realmente impressionante -disse um dos vice-presidentes.
Outros fizeram comentários igualmente elogiosos.
A sensação de inquietação que não tinha deixado dormir ao Eve a noite anterior, dissipou-se por completo e sentiu uma enorme alegria. Lhe dava vontade de saltar em cima da mesa e ficar a dançar.
-Eve -disse Matt com um amplo sorriso-, creio que têm feito um trabalho magnifico. Bart, Gene, temos que reunimos na segunda-feira e assinar o trato.
-Em seu escritório ou no meu? -perguntou Gene.
-Às dez e meia em meu escritório, parece-te? -disse Matt-. O que opina, Emily?
Seu ajudante assentiu.
E assim se dissolveu a reunião e todo mundo começou a reunir seus papéis para partir. Eve piscou os olhos um olho ao Nancy e ao Sam e tratou de tomar-lhe com calma, embora não pôde evitar um sorriso. Em realidade, todo mundo sorria exceto Bryan Belo. Definitivamente era um desmancha-prazeres. Lhe dava vontade de matá-lo.
Matt lhe pôs a mão no ombro.
-Grande trabalho, Eve. Vamos jantar para celebrá-lo?
Bryan lhes dirigiu um olhar desdenhoso ao partir da habitação, mas Eve estava tão contente que não deixou que nada lhe incomodasse.
-Antes tenho que ir a meu escritório e fazer ali umas quantas coisas. Vemo-nos mais tarde?
-O que te parece a Estalagem do Turtle Creek às seis?
tratava-se de um lugar muito especial, íntimo e acolhedor.
-Ali estarei. Chamarei o Jimmy e lhe direi que cuide dos animais.
Outros já se foram, de maneira que Eve recolheu suas coisas e partiu.
Quando entrou no Coleman-Walker, recebeu uma grande ovação e alguém lhe jogou confete. Os plugues do champanha começaram a saltar e Dexter chegou montado sobre seus patins, com alitas de frango gastas do restaurante do lado.
-Grande trabalho -gritou ao Eve.
Todo mundo ria e proferia exclamações de júbilo, e também havia música. E, de fato, Bart estava sobre uma mesa cantando e dançando o "Rock do Cárcere" em uma boa imitação do Elvis Presley, enquanto Sam o acompanhava tocando um arquivo.
A festa estava em seu apogeu, quando Eve partiu para encontrar-se com o Matt. Como tinha bebido um par de copos de vinho, decidiu tomar um táxi. Além disso, havia- dito ao Jimmy que cuidasse dos animais até a manhã seguinte. Dormiria em casa do Matt.
-Parabéns outra vez -disse Matt, brindando com vinho-. Não acabo de acreditar que tenha preparado uma campanha tão extraordinária.
Eve se pôs-se a rir.
-É que não sabia que conheço bem meu negócio?
-Não, não é isso. Eu sabia que tinha talento, mas é que é melhor que tudo que tinha visto, e isso que sempre pensei que nossos anúncios eram muito bons.
Eve sorriu agradecendo as felicitações do Matt e ficou olhando sua taça de vinho. A luz das velas dava um brilho especial ao cristal e uma cor dourada ao vinho.
Acabavam de dar conta de um delicioso jantar de uma mesa situada no primeiro andar com vistas a um pátio cheio de novelo e com uma iluminação tênue e tinta de certo mistério. Desde algum lugar lhes chegava uma música tranqüila e o aroma das rosas enchia o ar. Seu querido e maravilhoso Matthew Crow a olhava como se ela fora a mulher mais formosa e desejável da terra.
Não podia recordar outro momento no que tivesse sido mais feliz.
Matt tomou sua mão entre as suas e lhe acariciou os dedos.
-Quero-te, Eve, quero-te muito.
-Eu também te quero, Matt.
-De verdade?
-De verdade.
-Quer te casar comigo?
Eve vacilou. Desejava dizer que sim com todo seu ser e entretanto duvidava.
-Eve, carinho, por favor, dava que sim.
Nos olhos do Matt brilhava tanto amor que não podia dizer mais que sim.
-Sim -sussurrou.
-Maldita seja!
Eve riu.
-Saiamos daqui, quero te beijar como é devido.
Beijou-a em seu carro, na garagem, beijou-a no elevador, beijou-a antes de entrar em sua casa. E quando entraram, não se limitou a beijá-la. Estreitou-a entre seus braços, dançou com ela, e proferiu um grito que comoveu os alicerces da casa.
E lhe fez o amor com tanta parcimônia e intensidade que a alagou de um gozo que nunca tinha experiente.
Que formosa era a vida.
Algo roçou seu nariz, apartou-o, mas voltou a notá-lo.
Matt riu e ela abriu os olhos. Estava tendido a seu lado, de barriga para baixo, com uma pluma na mão.
-Acordada, Bela Adormecido. Tenho algo que te ensinar.
-O que? Uma pluma? -disse Eve, incorporando-se.
-Não, algo melhor. Ontem à noite estava tão nervoso que me esqueceu te dar isto. Levo semanas com ele em cima, esperando que surgisse a ocasião propícia para lhe dar isso disse, e pôs uma cajita de veludo sobre seu ventre.
-O que é?
-Um anel.
Eve abriu a caixa. tratava-se de um magnífico diamante. Era o bastante grande para resultar impressionante, mas sem ser ostentoso.
-Um anel de compromisso -acrescentou Matt. Eve o tirou da cajita e o pôs. -Você gosta?
Ao Eve lhe alagaram os olhos de lágrimas.
-eu adoro. OH, Matt, então fala a sério -disse ela, lhe jogando os braços ao pescoço.
-Carinho, é obvio que falo a sério. Não lhe tenho isso dito desde a primeira vez que te vi?
Demorou todo o fim de semana em assimilá-lo, mas finalmente se deu conta de que não era um sonho. Matthew Crow queria casar-se com ela. Com ela. Com a singela e torpe Eve Ellison. Mas não, já não se sentia muito singela, ou muito torpe, ou muito alta. Agora sabia que era o casal ideal do Matt, e se sentia formosa e feliz.
Chamaram o Irish e a seus pais e lhes deram a notícia, e logo falaram com a família do Matt. Todos pareceram muito contentes, especialmente Pete, que lhe disse que pensava lhe dar os dois milhões que lhe tinha prometido como presente de bodas. Ela se pôs-se a rir, lhe dizendo que estava equivocado, que não necessitava um suborno para casar-se com o Matt. A vida era perfeita.
Na segunda-feira pela manhã, a alegria seguia sendo a nota dominante na agência. Enquanto Bart e Gene assinavam o trato, Eve se encontrou com sua equipe, para pôr em marcha a nova campanha. Todo mundo estava impaciente por começar, quer dizer, todo mundo menos Bryan Belo.
Era um autêntico amargurado.
Tinha que fazer algo com respeito a sua atitude, de maneira que lhe disse que queria vê-lo em seu escritório.
Assim que a porta se fechou atrás dele, falou-lhe.
-Bryan, não sei qual é seu problema, mas se me explica isso talvez podemos solucioná-lo.
-Não sei do que está falando.
-Claro que sabe. Estas retraído, amargurado, deliberadamente depreciativo comigo e com meu trabalho, mas não entendo o que tenho feito para merecer tanta falta de respeito. O que acontece?
Eve se deu conta de que Bryan se debatia por lhe dizer ou não o que bulia em seu interior.
-O que ocorre, Bryan? O que tenho feito?
-Feito? -exclamou Bryan-. Não tem feito nada. Exceto te deitar com esse tipo para conseguir o trabalho. Crie que lhe teriam feito diretora criativa em meu lugar se não te estivesse deitando com o Matt Crow? Demônios, não!
Eve, que se tinha ficado de pedra, não podia fazer outra coisa exceto olhar fixamente ao Bryan.
-Isso não é verdade.
-Não me venha com essas. Bart ia fazer me diretor criativo quando apareceu Crow e lhe propôs um trato. "Contrata ao Eve Ellison e minha conta é tua", disse-lhe.
-Não -disse Eve com um fio de voz, aturdida-. Isso não é verdade.
-Claro que o é. Eu sei que é verdade, todo mundo sabe. por que se não ia a uma agência de publicidade de primeira como esta a contratar a uma dom ninguém de Ohio? Porque essa dom ninguém vem com um caramelo muito saboroso, por isso. Perguntaste ao Bart. Perguntaste! -exclamou Bryan, e saiu pela porta.
Eve se derrubou sobre sua cadeira. agarrou-se as mãos com força, mas não pôde conter o tremor que se deu procuração delas.
O que dizia Bryan era mentira, havia-o dito por inveja. Era um amargurado e um invejoso, um desgraçado que rabiava contra tudo jogando a outros a culpa de sua infelicidade. Matt nunca faria uma coisa assim. Matt não era um manipulador e nunca faria algo que pudesse causar que seus companheiros lhe perdessem o respeito.
Nunca.
Ele a queria.
Tratou de inspirar profundamente, mas não pôde. Estava paralisada e não podia mover nem um só músculo. Estava absolutamente segura de que ia morrer.
Mas não podia derrubar-se ainda, não antes de averiguar toda a verdade. depois de recuperar-se pouco a pouco graças a largas e profundas inspirações, recuperou a compostura suficiente para poder pensar. Tinha que ocupar-se daquele assunto da maneira mais adequada. Bryan, esse verme, tinha que estar mentindo com o fim de lhe fazer danifico. Mas tinha que saber os fatos antes de causar a ninguém um dano irreparável.
Respirou profundamente, e marcou o número da recepção.
-Candy, tornou já Bart da reunião? Não? Por favor, importaria-te me chamar assim que retorne? Obrigado. E, Candy, por favor, não me passe nenhuma chamada. Nenhuma.
Candy emitiu uma risinho.
-Nem sequer as do Matt Crow?
-Nem sequer. Não estou para ninguém, exceto para o Bart.
Girou a cadeira e ficou olhando o pátio da planta baixa.
Passaram dez minutos, que lhe fizeram intermináveis.
ficou a rezar.
debateu-se com os piores demônios.
Esperava, e urdia estratagemas.
Passou um quarto de hora.
Meia hora.
Sentia um nó no estômago, uma dor no peito.
Quase uma hora mais tarde, o telefone soou por fim.
-Bart e Gene acabam de voltar -disse Candy-. Tenho- dito ao Bart que queria vê-lo. Chamo a seu escritório?
-Não, obrigado, Candy. Já vou eu.
-Nancy me falou que anel. Há-me dito que o diamante é autêntico. Parabéns, Eve. Matt é um partido estupendo.
-Obrigado -respondeu Eve, e pendurou rapidamente.
levantou-se, alisou-se a saia e saiu de seu escritório. Apoiou a mão no trinco da porta, ergueu-se e tratou de fixar um sorriso em seu rosto.
-Começa o espetáculo! -disse.
Ao cabo de uns segundos, estava batendo na porta do escritório do Bart.
-Ocupado?
Bart levantou a vista dos papéis que estava lendo e sorriu.
-Passa.
-foi tudo bem?
- Como a seda. Matt me contou o de seu compromisso. Parabéns, me alegro muito pelos dois.
-Obrigado -disse Eve, e começaram a lhe tremer os lábios, incapaz como era de manter seu fingida sorriso.
-Deixa que te repita, Eve, o grande trabalho que tem feito. É uma peça muito importante para nós, Eve. Felicito-te.
Eve estalou a língua e disse, procurando tirar importância a seu tom de voz.
-Não estava tão seguro quando Matt te obrigou a me contratar, verdade?
O sorriso desapareceu do rosto do Bart lentamente, e em sua expressão havia algo que rompeu a última soga de esperança a que Eve se aferrava.
-Eve, eu não...
-OH, já não tem por que te mostrar evasivo com o tema -disse ela, rendo alegremente e piscando os olhos o olho-. Estou à corrente do trato que fez com o Matt.
-Há-lhe isso dito? depois de que me fizesse jurar pelo mais sagrado... Surpreende-me que te haja dito que...
Sua expressão deveu delatá-la, em realidade, sentia o mesmo que se lhe tivessem transpassado com uma faca de açougueiro, porque, de repente, Bart parecia comovido e atemorizado.
-Esse porco -grunhiu ela.
Ao Bart lhe mudou o rosto.
-OH, Deus, Eve -disse, levantando-se pouco a pouco, com evidente horror-. O que tenho feito?
Eve se jurou não chorar, não derramar nenhuma só lágrima.
-Assim é verdade -disse, lentamente-. Rogo-te que aceite minha demissão agora mesmo.
-Eve...
-Por favor, Bart, não diga nenhuma palavra mais.
Apertava os dedos com força, com tanta força que o anel lhe fez mal. Olhou o diamante, que parecia burlar-se dela. O tirou e o deixou sobre a mesa do Bart.
-Devolva-lhe a seu companheiro de secretos a próxima vez que o veja.
deteve-se só o tempo suficiente para esvaziar sua carteira de todo o conteúdo relativo ao trabalho e para levar a bolsa. Saiu sem lhe dirigir a ninguém uma só palavra. Não se atreveu.
Com as mãos obstinadas ao volante com força sobre-humana, dirigiu-se diretamente a sua casa.
Minerva e os cães começaram a dançar a seu redor, felizes de vê-la em casa a meio-dia. Seguiram-na ao interior. Fechou de uma portada e jogou a chave. O telefone começou a soar.
Ignorou-o.
Seguiu soando.
Desligou-o.
A Minerva e aos cães lhes uniram Charlie e Pansy, e o grupo inteiro a seguiu quando se meteu em sua habitação e se tirou a jaqueta e as calças, jogando-os no chão.
-L'amour, l'amour, I'amour-cantava Caruso.
-te cale! -gritou, lhe atirando uma sapatilha. Surpreendentemente, o pássaro fez conta. Descalça, Eve se encarapitou em sua cama, rodeando-se de todos seus fiéis animais. Só então deu rédea solta a sua pena. Acariciando o lombo do Charlotte e do Lucy, pôs-se a chorar desconsolada; nunca tinha tido uma pena tão grande, jamais tinha sido objeto de uma traição semelhante. Chorou e chorou até que por fim ficou sem forças.
levantou-se só para arrastar-se à cozinha a por um pacote de bolachas de chocolate que se comeu inteiro sentada na cama. Depois a empreendeu com uma enorme bolsa de bolachas.
Matt e Bart não só lhe tinham enganado mas também, para mais inri, tinham-lhe posto em evidencia diante de todos seus colegas. morria de vergonha e humilhação só de imaginar-se o muito que deviam haver rido a suas costas.
De repente, Bowie levantou as orelhas e, de um salto, Pansy desceu da cama e saiu do quarto. Alguém estava batendo na porta principal.
-Não lhes movam meninos -disse, mas, sem lhe fazer caso, Minerva seguiu a seus dois camaradas-. Traidora -murmurou.
Os golpes se fizeram mais prementes, mas ela permaneceu em seus treze.
-Fi-GA-ro, Fi-GA-ro, Fi-GA-ro...
Bowie saltou da cama e partiu ladrando para a porta. Seguiram-lhe Charlotte e depois Lucy. Só Charlie ficou a seu lado. Eve estreitou ao bichinho.
-Tem-me feito muito dano, Charlie -confiou-lhe-. Tem quebrado meu coração, tal e como eu sabia que o faria.
Continuou sem fazer caso dos golpes, e quando, exasperado, Matt se dirigiu à janela do dormitório, tentando chamar sua atenção, limitou-se a baixar a persiana e a jogar os portinhas.
Ao cabo de um bom momento, Matt deixou de chamar e gritar, mas quando apareceu por uma fresta dos portinhas, Eve viu que seu carro seguia estacionado diante da porta. Apareceu a cabeça fora do dormitório e o viu sentado no alpendre, diante da porta principal. Rapidamente, voltou a refugiar-se em seu quarto.
-Vi-te, Eve -gritou-. Será melhor que me deixe entrar. Estou disposto a ficar aqui plantado até que me deixe falar contigo.
-Vete!
-Nem pensar. Ficarei até que as rãs criem pêlo, sim faz falta. cedo ou tarde terá que sair.
-Ja! Morrerá de fome antes de lombriga fazer semelhante coisa.
-Não creio, pedi uma pizza.
Furiosa pela forma em que a tinha feito prisioneira em sua própria casa, ou, pior ainda, em sua habitação, procurou uma toalha de banho e cinta adesiva e se dirigiu para a porta.
Sorrindo, Matt ficou de pé. Entretanto, lhe apagou o sorriso do rosto quando viu que ela tampava com a toalha o cristal da porta.
Seis horas mais tarde, Matt ainda seguia diante da porta. Tinha uma caixa de pizza vazia ante seus pés e bebia pequenos sorvos de uma lata de cerveja. Decidida a não dar seu braço a torcer, Eve chamou por telefone ao Jimmy e lhe pediu que se encarregasse de quão animais tinha fora da casa.
O pior para o Matt foi ter que dormir no carro. Os malditos mosquitos quase lhe fizeram desistir de seu propósito. A segunda tarde, Jackson se aproximou da granja para lhe levar uns hambúrgueres, um saco de dormir, seis latas de cerveja e um repelente de mosquitos.
Os dois irmãos se sentaram no alpendre, vendo como se estrelavam os insetos contra as lâmpadas e bebendo cerveja.
-Que demônios lhe tem feito para que se zangue tanto? -perguntou-lhe Jackson.
Matt lhe contou os detalhes do trato que tinha acordado com o Bart.
-Isso foi uma estupidez das gordas, irmãozinho.
-Sei, mas foi o único que me ocorreu para tê-la perto de mim. Nem sequer respondia a minhas chamadas...
Jackson se pôs-se a rir.
-Por isso vejo, agora está fazendo o mesmo.
-Maldita seja, Jackson! Não tem nem pingo de graça!
-Perdoa, mas é que nunca te tinha visto te comportar como um estúpido por uma mulher. O que é o que vê nela?
-Amor, Jackson, só amor. Estou louco por ela. Assim que a vi, soube que queria passar o resto de minha vida com ela. Há sentido alguma vez um pouco parecido acaso?
Jackson se recostou na cadeira.
-Pode que sim, uma vez...
-O que aconteceu?
-Ela não me correspondeu.
-Conheço-a eu?
-Sim, apresentaram-lhe isso. Estava nas bodas do Irish e Kyle.
-A psicóloga?
-Mmmm.
ficaram em silêncio um instante, contemplando as traças e bebendo mais cerveja, desfrutando por uns momentos de sua simples companhia.
-Ainda te lembra dela? -perguntou Matt.
-Sim, de vez em quando.
-E por que não a chamas?
-Pode que o faça, o eis estado pensando -respondeu Jackson, levantando-se e estirando os músculos-. Quanto tempo pensa ficar aqui ?
-Não sei. Até que fale com ela, ou até que me ocorra algo melhor.
-Poderia lhe prender fogo à casa.
Matt tivesse podido jurar que então se ouviu um pequeno gemido. Aguçou o ouvido mas não pôde distinguir nenhum som. Devia ter sido o vento.
-Pensarei-me isso um pouco mais antes de tomar uma medida tão drástica.
Outra vez aquele ruído. Matt tivesse apostado naquele muito mesmo instante algum de seus melhores aviões a que Eve estava detrás da porta escutando-os.
ficou plantado diante de sua porta outros dois dias inteiros, e se tivesse ficado mais tempo se tivesse considerado que havia alguma esperança de que serviria de algo. Tinha que idear outra estratégia.
Procurar reforços.
Arrojou o chapéu à toalha que tampava a porta e partiu dali.
Bart Coleman chegou aquela mesma tarde, quando Eve estava pintando umas florzinhas nos armários da cozinha. Ao lhe ver, tentada esteve de lhe jogar com caixas destemperadas, mas se conteve, pensando que, a fim de contas, ele tinha as de perder. Convidou-lhe a passar e lhe ofereceu um café.
-Eve, entendo perfeitamente que esteja desejando me amassar, mas antes de que o faça, creio que deveria saber algumas costure, para começar, direi-te que você é uma diretora criativa muito bom, das melhores que eu conheci, e que seu trabalho na agência foi magnífico. Não penso aceitar sua renúncia porque não estou disposto a te perder.
-Bart! Não poderia...!
Ele fez um gesto para sossegar seus protestos.
-Quero contar contigo embora isso suponha renunciar à conta do Crow Airlines. É fantástica. E tenho de te dizer que o trato com o Matt foi que ficaria a condição de que se demonstrassem suas qualidades. Ele insistiu em que foi uma jóia, a verdade é que me parece que tem mais fé em sua capacidade que você mesma. O trabalho é teus e por seus próprios méritos. Voltará conosco?
Aquela oferta era tentadora. Muito. A verdade era que adorava trabalhar na agência.
-me dê uns quantos dias, me deixe pensá-lo...
-Parece-me bem. Ah!, por certo, despedi do Bryan Belo
Os Ramos de flores começaram a chegar desde primeira hora da manhã, e continuaram fazendo-o hora detrás hora. Rosas. Dúzias de rosas. E tudo com o mesmo cartão.
Quero-te. me fale.
Matt.
Também lhe mandou telegramas, histriões e palhaços, tuda com a mesma mensagem.
Quando Irish chegou para vê-la, um helicóptero sobrevoou a parcela, arrojando umas folhas de cor rosa.
-Que diabos é isto?
-Suponho que outra das geniais ideia do Matt -replicou Eve com um suspiro. Sua irmã leu uma das folhas: todas tinham a mesma mensagem.
-Não se pode negar que é muito criativo -comentou-. Quando pensa dar seu braço a torcer?
-Como diz? -exclamou Eve-. Irmãzinha, recordo-te que sou a parte ofendida. Tem-me feito ficar como uma parva, e não penso perdoá-lo nunca.
Irish lhe agarrou pelo braço.
-Vamos, carinho, prepara um chá ou um pouco parecido, e enquanto nos tomamos, contarei-te um par de coisas sobre a personalidade masculina.
Uns poucos minutos mais tarde, as duas estavam sentadas na cozinha, e Eve lhe tinha relatado "c" por "b" os detalhes de sua humilhação.
-merece-se um bom puxão de orelhas pelo que fez -disse Irish-. Entretanto, há um par de coisas que eu gostaria de saber. A primeira é, se apesar de todo o ocorrido, segue apaixonada por ele.
-Sim -reconheceu Eve com um suspiro.
-E não crie que ele te queira?
Ela recordou todo o tempo que tinham acontecido juntos, as inumeráveis vezes que lhe havia dito que a queria. Pensou na conversação que tinha ouvido quando Jackson foi ver seu irmão.
-Sim, creio que me quer -disse ao fim.
-Então, carinho, deve estar louca para desprezar deste modo a um homem tão maravilhoso como Matt. Faz-o por puro orgulho, e isso é uma estupidez. Pode que tenha feito um par de tolices, e que você esteja muito molesta, mas se de verdade lhes querem, poderão arrumá-lo. me acredite, céu: Matt aprendeu a lição.
Eve levantou a cabeça da taça e ficou olhando a sua irmã.
-Como é que é tão preparada? -perguntou com um sorriso.
-Faz uns meses, quase deixo que algo igual de estúpido que o que me acaba de contar se interpor entre o Kyle e eu. Sei exatamente como se sente.
Por favor, me prometa que, pelo menos, falará com ele, que tentará arrumá-lo.
-Chamarei-o -disse Eve.
Irish sorriu.
-Faz-o agora mesmo -disse levantando-se-. Vou a casa.
Quando as duas saíram ao alpendre, viram um avião de pequeno porte voando em círculos ao redor da granja.
-Espero que não atire mais folhas -comentou Eve contemplando suas evoluções.
Entretanto, foi um pára-quedista quem saltou do avião, aterrissando justo no caminho de entrada, a três metros escassos do carro do Irish. tirou-se o casco e lhes dedicou um amplo sorriso.
-Boa tarde, senhoras.
-Matthew Crow! -exclamou Eve-. Podia-te ter quebrado o pescoço!
-E acaso isso te tivesse importado?
-claro que sim, bobo!
Matt deixou a um lado a equipe, abriu a cancela e se dirigiu direito a ela.
-E por que? -perguntou, lhe agarrando o queixo e obrigando-a a olhá-lo aos olhos.
-Porque sim.
Irish os interrompeu com um discreto pigarro.
-Tenho que partir.
-Como que porque sim? -insistiu Matthew.
-Porque te quero -sussurrou Eve.
Matt proferiu um grito de alegria, obrigou-lhe a dar várias voltas como uma peoa e lhe deu a mãe de todos os beijos.
-Casará-te comigo?
-Pode, mas não antes de que esclareçamos um par de coisas.
-Pois comecemos agora mesmo -rendo, Matt a levantou em seus braços e a levou a interior da casa.
Minerva e os cães lhes acompanharam entre alegres grunhidos e latidos. Pansy apareceu a cabeça por debaixo do sofá e Charlie meneou os bigodes alegremente.
-L'amour, l'amour, l'amour, l'amour...
-Nem eu mesmo poderia havê-lo dito melhor -exclamou Matt, disposto a beijá-la uma e mil vezes mais.
-Nervoso? -perguntou-lhe Jackson.
-por que o diz?
-Porque quase tem feito um buraco no tapete de tanto dar voltas e porque te arrumaste a gravata ao menos quinhentas vezes nos últimos dez minutos. Te tornou a torcer, por certo.
Matt voltou a endireitar a olhando-se no espelho do despacho do pastor.
-Nunca me gostaram destas malditas gravatas. Onde demônios está Kyle?
-teve que atender uma emergência, mas vem de caminho. Não se preocupe, chegará a tempo.
-Sim, também se supunha que não tinha que me preocupar com o Smith e ao final, olhe, nem rastro dele -grunhiu Matt-. Que desculpa pôs esta vez?
-O avô disse que estava no hospital, que se tinha quebrado não sei o que.
-Ou é muito propenso aos acidentes, ou alérgico a ficar smoking -disse Matt.
Seu irmão pôs-se a rir.
-Tem razão! Agora, deixa que te coloque bem a gravata antes de que faça uma ofensa.
-Por certo -perguntou-lhe Matt enquanto o fazia-, chamou o final a sua psicóloga?
-A Olivia? Sim, tentei-o, mas não eis podido localizá-la.
-Que pena! E não te poderia ajudar Irish a fazê-lo?
-Sim, pode que sim. Mas não quero incomodá-la, é uma garota muito especial.
-Se de verdade o for, Jackson, terá que pôr toda a carne no assador.
-Isso penso fazer -prometeu-lhe.
Kyle apareceu pela porta.
-Estão preparados, meninos?
-Onde demônios estava, Kyle?
-lhe pondo uns quantos pontos a um guri que se cansado de uma árvore. Tenho gasto as flores -disse, lhes ensinando três presos.
-Nervosa? -perguntou-lhe Irish, retocando seu penteado.
-um pouco -disse Eve-. Mas não tanto como temia.
-Está muito bonito -disse-lhe Nancy Brazil-. Radiante. Embora, como não está-lo? Te vais casar com um homem bonito, rico e que te adora, e vai um mês de cruzeiro pelo Mediterrâneo. Oxalá eu tivesse tanta sorte.
-Muito em breve encontrará a alguém, Nance.
Nancy soprou e tomou o buquê de flores.
-Eu? Não creio. abandonei a idéia de me casar, não necessito a um homem para ser feliz. vou pôr minha própria agência, trabalhar como uma possessa e me fazer rica.
Eve e Nancy se feito muito boas amigas, e sabia que o forte temperamento do Nancy mascarava a uma mulher tenra e romântica. Eve e Irish sorriram e se piscaram os olhos um olho através do espelho. Pela primeira vez, podia ver o parecido de família entre elas. Ela, certamente, não era tão bonita como sua irmã, mas estava apresentável...
Não, disse-se, amaldiçoando, era atrativa. Isso lhe havia dito Matt. Depende, ele, era a mulher mais formosa da terra. Mais encantada que qualquer outro anjo que Deus tivesse criado. E atrativa como uma tentação.
Possivelmente fora a água ou o sol do Texas, mas o certo era que desde que tinha chegado, tinha tido lugar uma maravilhosa transformação. Adeus a torpe e singela Eve Ellison. Quando se olhava ao espelho, via uma mulher atrativa, segura de si mesmo. Sorriu. E atrativa como uma tentação.
Do altar da igreja, em Dallas, vestido com smoking e botas de vestir, Matt viu aproximar-se de um anjo. Um anjo divino do que não podia apartar os olhos. O único que lhe faltavam eram um par de asas.
Era uma visão celestial em seda branca e com um meio doido formado pelas pérolas que lhe tinha agradável. Ao ver aqueles olhos azuis que o olhavam, lhe inchou o peito e lhe alegrou a alma. Sorriu.
Aquela era sua mulher, sua mulher.
Quando o olhar do Eve se cruzou com a do Matt, a pouca apreensão que ainda ficava desvaneceu. sentia-se como um anjo sobre uma nuvem. Sua alma se encheu de gozo.
Do momento em que Matt tomou sua mão até o momento em que pronunciaram os votos, advertiu que uma estranha sensação de sensatez se alojava em seu coração. Amaria, honraria e cuidaria daquele homem todos os dias de sua vida, igual a ele a amaria, honraria e cuidaria todos os dias de sua vida. Aquele era seu homem. E ela, dela.
Quando o pastor disse ao Matt que beijasse à noiva, deu-lhe um grande beijo e tão comprido que os convidados os ovacionaram.
Quando descendiam pelo corredor para sair da igreja, Eve viu o avô Pete na segunda fila. Estava radiante e a saudou levantando dois dedos de uma mão.
Eve se pôs-se a rir. Não necessitava os dois milhões de dólares que Pete lhe dava de presente por casar-se com um de seus netos, o amor a convertia na mulher mais rica do mundo.
Jan Hudson
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