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Series & Trilogias Literarias
Eu devia saber que aquela história de noivado discreto não ia dar certo.
E pensar que durou menos de duas horas!
Bem, foi bom enquanto durou. Aliás, os meus breve vinte e dois anos de vida foram incríveis não? Com certeza Simon ia me matar com requintes de crueldade quando descobrisse que toda a empresa estava prestes a saber sobre nosso noivado nada discreto.
Já podia ver meu rosto nos jornais, provavelmente uma foto em preto e branco tirada no dia da minha formatura do colégio (por que diabos as vítimas de crimes cruéis não tinham fotos recentes? Era um caso a se pensar...) e a manchete “CEO da DBS foge para as Bahamas depois de assassinar sua amante secreta jogando-a do vigésimo andar do edifício em Canary Wharf".
— Julie? Julie! — Volto à realidade com os gritos de Nancy no meu ouvido. — Credo, está branca feito papel, vai desmaiar? Não tomou café hoje?
— Na verdade acho que vou vomitar — sussurro num fio de voz, sentindo uma tontura bem real.
Como eu e Simon pudemos ser tão burros?
— Vomitar? Ai meu Deus, está grávida?
— Cale a boca, Nancy! Não fale merda! Não viu que estou em choque?
— Ah, claro. Devia realmente estar preocupada com todo mundo dizendo que seu noivo é o Simon! — Ela ri, como se fosse uma grande piada. — Até parece né? Não se preocupe, aposto que ninguém está acreditando!
— Por que não acreditariam? — Começo a me sentir ofendida.
— Fala sério! Todo mundo sabe que o Simon não se envolve com funcionárias. Acha mesmo que alguém iria acreditar que se envolveria justo com você? Se fosse para apostar em alguém acho que a Erin, que é toda fina, ou...
— Simon jamais ficaria com a Erin!
— Por que não? Ela certamente adoraria, já percebeu que ela arrasta um bonde por ele né?
— Ela e todas as funcionárias dessa empresa! — Rachel se aproxima. — E aí, já se inteiraram das fofocas né?
— Que Simon é o noivo da Julie? — Benjamin aparece segurando seu celular. — Cara, Billy realmente enlouqueceu apostando toda essa grana nesse absurdo!
E agora está todo mundo rindo, não só Rachel, Nancy e Benjamin, também outros funcionários que, por algum motivo bizarro, acreditam que Simon estar envolvido comigo deve ser algum tipo de piada.
— Eu acho que o Billy está muito encrencado! — Natasha se aproxima com sua expressão cavernosa. Hoje ela parece mais assustadora do que nunca, com um batom roxo e um vestido preto que vai até os pés. — O Simon vai pedir a cabeça dele numa bandeja e vai exibir no refeitório na hora do almoço.
— Acho que Simon vai demiti-lo? — Alan se aproxima.
— Claro que vai! Simon odeia fofocas envolvendo o nome dele!— Rachel é enfática e tem razão, pois todos concordam.
— Acha que vai sobrar pra Julie também? — Nancy indaga olhando para mim com cara de pena, provavelmente já imaginando minha cabeça fazendo par com a cabeça de Billy no refeitório. Talvez até coloquem uma maçã na minha boca, como naqueles porcos servidos em jantares exóticos.
— Por que sobraria? Não é culpa dela! — Alan vem em meu socorro.
— Por que é ela quem anda causando confusão com essa história de noivado! — Natasha diz, parecendo muito inteirada das fofocas sobre mim. — Simon pode não gostar nada de ver seu nome envolvido.
— Acho que tudo seria resolvido se Julie contasse logo o nome do noivo — Rachel sugere e todos me encaram esperando minha resposta que vai salvar meu pescoço e quem sabe até mesmo o de Billy.
Ah, se eles sequer imaginassem!
— Posso saber o que está rolando aqui? — Erin se aproxima com cara de poucos amigos. — Simon terminou a apresentação e acho que todos já podem voltar a trabalhar!
A galera se dispersa cochichando entre si e Erin me fita com os olhos soltando faíscas.
Depois do incidente com o texto da apresentação certamente ela me odeia ainda mais do que antes.
— Olha Erin, não foi minha intenção te prejudicar, muito pelo contrário. — Tento me explicar, porque não quero que minha situação com Erin piore. E realmente não fiz por mal. O texto dela estava horrível!
— Eu subestimei você, não é? — Ela cruza os braços em frente ao peito. — Achei que era só uma menina boba e incompetente, agora vejo que é uma sonsa! Acredita de verdade que pode puxar meu tapete?
— Claro que não! Não estou puxando seu tapete! Eu só arrumei o discurso e devia me agradecer na verdade...
— Você queria aparecer para o Simon! Saiba que não vai adiantar nada! E fique muito esperta, não apronte comigo novamente porque te coloco para fora da empresa, fui clara?
Tenho vontade de revirar os olhos com suas ameaças dignas de uma vilã de novela mexicana. Sei que são vazias. Erin não pode me demitir. Simon não deixaria e nem é pelo fato de eu ser noiva dele e sim porque ele viu que eu era competente.
Ele mesmo disse não foi?
Lembrar disso me deixa com uma sensação ótima de satisfação fazendo com que eu consiga colocar um sorriso plácido no rosto ao encarar Erin.
— Claro como água. Posso voltar à minha mesa?
— Temos que esperar o Simon terminar com a imprensa. Fique por perto!
Erin se afasta e procuro Simon com o olhar. Ele está conversando com dois homens desconhecidos. Quero me aproximar e contar o que Billy viu e que estamos fodidos, mas como fazer isso com tanta gente por perto?
Fico a espreita esperando e, quando os dois homens se afastam, antes que eu consiga dar um passo em sua direção, Mark, o vampiro do RH, se aproxima com uma expressão grave mostrando o tablet para Simon, percebo o exato momento que ele descobriu o que Billy fez.
Seu olhar consternado percorre a sala e sei que está me procurando e tenho vontade de sair correndo. Ok, sei que a culpa não é minha, quer dizer, é nossa, mas Simon ainda é o chefe e todo mundo sabe como abomina ver seu nome envolvido em fofocas.
Merda!
Que grande merda!
A sala agora está quase vazia, apenas alguns jornalistas ainda conversam com Erin que entrega o pre-release a eles.
Simon vem em minha direção com Mark atrás, alarmado.
— Simon, tenho certeza que a culpa não é da senhorita Harris...
Nossa, Mark está me defendendo?
— Oh, olá, Simon, quer dizer, senhor... Senhor Bennett e Mark e .... acho que já viram as apostas? Eu juro que não tenho nada a ver com isso e...
— Trata-se de uma grande confusão não concorda Senhorita Harris? — Simon diz com a voz mais fria do universo, algo como uma mistura de Darth Vader com Don Corleone.
Ai merda. Ele está bravo.
Não, está furioso!
— Tenho certeza que a senhorita Harris lamenta a confusão, Simon. — Mark ainda tenta botar panos quentes. — Billy não deveria ter envolvido você nessa aposta irresponsável, aliás, eu deveria ter acabado com essa aposta assim que começou, não imaginei que fosse virar essa confusão...
— Sim, A culpa é do Billy! — O interrompo — Agora como é que ele pode ter chegado a essa conclusão absurda, não é? Acho que é essa a questão... Como foi que Billy pôde achar que você é meu noivo? Como...? — Encaro Simon tentando fazer com que ele entenda meu olhar alarmado.
De repente Simon empalidece e percebo que finalmente entendeu que a questão é muito mais grave.
Billy não estava apostando. Ele sabia.
E tinha provas!
— Porra! Cacete! Puta que Pariu! — Simon deixa escapar e Mark arregala os olhos ao ouvir o CEO praguejando como um gangster rapper.
— Então eu acho que talvez seja melhor o senhor ter, hum, talvez uma conversinha com o Billy e alertá-lo para os perigos de se espalhar, hum, certas imagens, quer dizer, inventar fofocas sem sentido... — Tento manter o tom sereno e pensar com praticidade no que deve realmente ser feito, quando na verdade quero sair gritando palavrões como Simon.
— Sim, certo, acho que tem razão, senhorita Harris. — Simon respira fundo e sei que está começando a pensar racionalmente como eu. Olha só, que casal em sintonia que nós somos! — Terei que tomar medidas drásticas contra Billy...
— Não creio que demitir o segurança seja uma saída. — Mark parece preocupado. — Mesmo porque se formos demitir todos que apostaram não sobraria muitos funcionários para trabalhar amanhã.
— Sim, tem razão. — Simon parece estar tentando encontrar uma solução.
— E o que vai fazer? — Mark indaga — Eu posso chamar Billy e lhe passar uma advertência...
— Não, deixe que eu mesmo falarei. — Simon é enfático. Obviamente se ele deixar que Mark fale com Billy, o homem pode mostrar os vídeos de Simon com a mão dentro da minha saia. Só de pensar nisso sinto meu rosto queimando de vergonha. Imagine se nosso pequeno vídeo de segurança começa a circular pela empresa, ou pior, pelas redes sociais? Seria pior que o vídeo em que Solange Knowles enche o Jay Z de porrada enquanto Beyoncé assistia tudo placidamente.
— Tem certeza que não é melhor que eu... — Mark insiste.
— Volte ao trabalho Mark e, Senhorita Harris, pode vir comigo?
Sem esperar resposta ele se afasta marchando pela sala e Mark ainda me lança um olhar preocupado, tento sorrir para acalmá-lo.
— Tenho certeza que não passa de um mal entendido.
— Eu espero não ter que redigir uma carta de demissão, senhorita Harris...
Ignoro o comentário funesto do vampiro do RH e corro atrás de Simon o encontrando no corredor.
— Que merda vamos fazer? — Cochicho quando chego perto o suficiente.
Ele olha para todos os lados, certificando-se que não há ninguém, enquanto chama o elevador.
— Você, nada. Eu vou falar com Billy e convencê-lo de que não somos noivos.
— Ah certo, ele vai pensar que somos apenas dois depravados! — Simon me encara irritado. — Eu nem sei o que é pior!
— É realmente uma grande merda!
— Me desculpe.
Simon me encara confuso.
— Por que está pedindo desculpas?
— Não acha que a culpa é minha?
— Fui eu que te beijei para começo de conversa.
— Bem, é verdade! No entanto acho que eu teria te agarrado de qualquer forma. — Pisco e ele sorri, esquecendo-nos por um instante que estamos prestes a jogar nossas digníssimas carreiras pelo ralo, graças a Deus as portas do elevador se abrem, quebrando nosso momento digno de comédia romântica. Ou um daqueles pornôs bem sacanas.
— Volte para sua sala. Eu vou resolver as coisas. — Simon entra no elevador e a porta se fecha.
Volto para a sala me perguntado se ele conseguiria resolver aquela confusão.
Tento trabalhar ignorando o chat que virou a intensa troca de e-mails sobre o que Simon estaria fazendo com Billy, já que todos já sabiam que ele estava na segurança “comendo o rabo de Billy”, como Benjamin havia escrito em seu e-mail, que até completou com um desenho bem realista da situação.
Credo.
— Acha que o Billy vai ser demitido? — Nancy passa pela minha sala louca para fofocar.
— Não faço ideia e pelo amor de Deus volte para sua mesa antes que Erin apareça! Ela está puta comigo hoje!
— Erin está puta com você sempre! E eu estou indo para a sala de reuniões e devia fazer o mesmo!
— Por quê?
— Não viu o e-mail do Simon? Ele chamou todo mundo para uma reunião emergencial. Agora! Antes do almoço!
Empalideço. Simon está maluco?
Erin escolhe aquele momento para sair de sua sala, enquanto Nancy me puxa pelo corredor, em direção a sala de reunião.
— Já estou sabendo que essa sua aposta ridícula envolveu o Simon! — Erin praticamente cospe na minha cara.
— É, fiquei sabendo também — resmungo notando o local lotado.
— Depois dessa acho difícil conseguir te manter aqui! — Erin continua azeda.
Ah, sério que ela está falando que continuo na empresa por causa dela?
— Lamento toda essa confusão, Erin. Não sei o que Billy estava pretendendo. Ele sabe que o Simon odeia o nome dele envolvido em fofocas.
— Sim, veja o que causou! Uma reunião para atrapalhar o andamento do nosso trabalho, Simon deve querer te demitir na frente de todo mundo!
Contenho a vontade de rolar os olhos ou lhe dar um chute na canela para ver se cala a boca. Simon entra na sala naquele momento fazendo todos se calarem inclusive Erin.
Ele nem olha em minha direção o que é um tanto assustador.
Qual é o seu plano, afinal?
— Que bom que todos estão aqui, serei breve – ele começa — Acho que todos estão a par de certo banco de apostas que vem tomando muito tempo dos funcionários que deveriam estar trabalhando e não preocupados com o relacionamento de uma colega. — Desta vez seu olhar rasteja até o meu, tão frio que quase posso ouvir a música de Frozen tocando pela sala.
Ai merda.
Será que é alguma deixa? Eu devia falar alguma coisa?
Todo mundo olha pra mim, uns com reprovação (bando de puxa-saco!), outros com pena, alguns divertidos, afinal, sempre tem aquelas que adoram ver o circo pegar fogo.
— Concordo plenamente com você Simon! — Erin esbraveja como uma fiel líder de torcida o que faz Simon encará-la impaciente.
— Concorda com o que Erin, eu nem comecei!
Ela sorri sem graça.
— Eu só queria deixar claro minha posição! Tudo isso é um absurdo e os responsáveis deveriam ser punidos com rigor e...
— Você poderia me deixar terminar. — A voz de Simon adquire um tom irritado fazendo Erin se calar na hora.
Aff, que ridícula!
— Como eu ia dizendo — Simon continua. — É um absurdo o que vem acontecendo nos últimos dias. Portanto está estritamente proibido esse tipo de interação na empresa, especialmente usando nossos meios de comunicação. Se alguém mais for pego nessa atividade será sumariamente demitido, fui claro?
Todos aquiescem.
— Senhor, posso perguntar algo? — Nancy levanta a mão como se Simon fosse um professor do primário e ela fosse pedir pra apagar a lousa, ir ao banheiro ou algo do tipo. — Billy foi demitido?
— Não, Billy não foi demitido. Apenas o adverti.
Hum, então será que Simon tinha conseguido calar Billy? Como?
Na minha mente vem a imagem de Billy com um monitor de segurança enfiado na garganta enquanto Simon gargalha histericamente como um vilão de filme de mafiosos.
— Quer dizer que ninguém vai ser punido? — Erin insiste indignada. — A Julie começou toda essa confusão, escondendo um relacionamento escuso pelos corredores da empresa! Se não fosse por ela nada disso estaria acontecendo...
— Acho que a Julie poderia contar quem é o noivo, assim, tudo ficaria bem — Rachel se intromete. E todos começam a falar ao mesmo tempo, concordando com ela!
Ah, pelo amor de Deus!
— Será que vocês não entenderam nada do que eu falei? — Simon aumenta a voz e posso ver que ele está perdendo a paciência rapidamente.
Ah merda!
Eu tenho que fazer alguma coisa.
— Com licença, eu tenho algo a dizer! — Me levanto e todos param de falar me encarando.
Inclusive Simon que agora franze a testa entre confuso e apreensivo.
— Rachel tem razão. Eu tenho que me posicionar e... dizer quem é meu noivo.
Respiro fundo.
É agora.
Vou acabar de vez com aquela confusão.
Capítulo 2
Simon
O dia está sendo no mínimo imprevisível.
Primeiro quase tive um infarto quando Julie surgiu no meu carro, o que era um hábito bem estranho, devo dizer. Tirando o choque inicial e o quase infarto do miocárdio, foi uma deliciosa surpresa. Eu realmente achava que teria um pouco mais de trabalho para convencê-la a voltar para mim. Deveria saber que Julie me surpreenderia. E ela ainda voltou com o disco do Sex Pistols que estava procurando há séculos!
E essa sequência de acontecimentos incríveis, culminando com o interlúdio no elevador, selando nosso noivado (de verdade!), me deixou com a sensação de que eu era mesmo um filho da puta muito sortudo. Talvez os acionistas da DBS me presenteassem com uma ilha ou quem sabe um titulo de Sir? Caralho, eu já estava ficando louco que nem a Julie, imaginando situações aleatórias distantes da realidade.
Quem se importava?
Eu estava feliz.
Feliz para caralho.
A apresentação do aplicativo foi um sucesso (graças ao texto afiado de Julie), cara, eu era mesmo muito sortudo, porque ela estava se revelando mais inteligente do que eu supunha no inicio. O que de certa forma me deixava com mais tesão por ela. Se é que era possível. E, enquanto eu respondia às perguntas da imprensa, já pensava nas mil maneiras que eu iria fodê-la na minha sala no horário do almoço. Com muita discrição, claro.
Meus planos foram por água abaixo quando Billy, o chefe da segurança, resolveu apostar todas as suas fichas em mim como o suposto noivo da Senhorita Harris e tudo porque ele certamente viu nosso sacana (embora romântico) interlúdio no elevador.
Puta que pariu!
Lá se foi o dia perfeito e todo o controle da situação.
E se tem algo que odeio é perder o controle.
Então respirei fundo e me concentrei em arrumar a bagunça antes que se transformasse em catástrofe.
Convencer Billy que ele teria muito mais a perder do que eu, deixando vazar aquelas cenas que viu no elevador, não foi difícil. Embora eu tenha mentido um pouco. Obviamente eu estaria fodido. Eu era o CEO da empresa. Exigia um certo tipo de comportamento de todos abaixo de mim. E para tanto, precisava ser o exemplo. E, até a senhorita Julie Harris surgir na minha vida colocando tudo de cabeça para baixo, não foi difícil me manter acima de qualquer suspeita.
Agora, eu ameaçava chefes de seguranças com problemas de mobilidade física como uma maldito mafioso!
— Senhor, eu lamento, não devia ter apostado, porém a grana era boa e certa. — Billy se defendeu quando entrei na sala de segurança exigindo uma explicação.
— Claro, acha que eu sou o noivo da senhorita Harris depois da cena no elevador.
— Sim senhor. Estou enganado?
— Não, não está. Só que é um segredo, Billy. E conto com a sua discrição. Se isso vazar, não só você irá perder o emprego, como a senhorita Harris será prejudicada. É o que deseja?
— Claro que não senhor. Eu gosto da senhorita Harris.
— Então posso contar com a sua discrição?
— Com o perdão da palavra senhor, se queriam ser discretos, por que estavam se beijando no elevador?
Caralho. Ele tinha um ponto.
Lá se vai minha ideia de pegar a Julie de jeito na minha sala. E no banheiro. E quem sabe na sala de café.
— Tem razão, Billy. Não vai mais acontecer. Aqui é um local de trabalho e por isso mesmo meu relacionamento com a Senhorita Harris deve ser muito discreto.
— Claro, eu entendo.
— Então estamos conversados. Vou acabar hoje mesmo com essa aposta. Já chega de confusão.
Depois de fazer Billy apagar as imagens comprometedoras, tratei de marcar uma reunião de emergência para deixar claro que aquelas apostas teriam que acabar.
E esperava que fosse suficiente para todo aquele falatório sobre o suposto noivo de Julie Harris cessar de vez.
Eu devia saber que Julie iria aprontar das suas, quando ela levanta a mão dizendo que vai revelar quem é seu noivo.
Caralho, é louca?
Bem, sim, ela é – uma vozinha irônica sussurra dentro da minha cabeça.
E eu devia interromper seja lá o que vai sair de sua boca, mas quero acreditar que não seria maluca o bastante para revelar que estamos noivos.
— O que quer dizer senhorita Harris? — Eu a interrompo lançando-lhe um olhar ameaçador. — Acho que já deixei bem claro que não vamos mais prorrogar esse assunto. A senhorita não precisa dizer quem é seu noivo, é um assunto particular.
— É exatamente sobre isso que eu quero falar. Na verdade, eu não estou mais noiva.
— O quê?
— Como assim? — Nancy pergunta confusa.
— Nós terminamos... No natal. — E então ela esconde os rosto entre as mãos, os ombros sacudindo como se estivesse chorando.
— Oh pobrezinha, o que aconteceu? — Rachel toca seus ombros.
— Sim, conte pra gente! — É Benjamin quem pergunta.
Julie tinha razão, ele era realmente um fofoqueiro.
— Foi horrível — Julie soluça, embora não haja uma lágrima sequer em seu rosto. — eu não sei se contei a vocês sobre meu acidente no qual fraturei o osso cúbito direito?
Ah merda, lá vamos nós de novo...
De repente me vejo escutando a insólita historia sobre o tal osso cúbito direito fraturado e sua milagrosa recuperação depois de perder sua carreira mágica de cheerleader.
E todos escutam tudo em silêncio interessado.
— Enfim, eu tenho esse problema... horrível.
— Mas você anda direitinho! — Rachel olha para as pernas de Julie.
— Só eu sei as dores que sinto.
— Isso explica as vezes em que tropeçou e jogou café em minha mesa! — Erin comenta. — não que isso amenize o fato de ela ser totalmente desastrada!
— E o que isso tem a ver com o fim do seu noivado? — Benjamin insiste.
— O meu noivo descobriu que eu tenho esse problema...
— Ele terminou com você por causa disso? — Alguém interrompe horrorizado.
— Bem, é que além do problema na minha perna eu também fiquei... — ela faz uma pausa dramática — estéril!
Toda a plateia arfa assombrada.
Porra, agora ela foi longe demais.
— Eu sei, é tão triste. — Julie enxuga as lágrimas imaginárias. — Eu nunca poderei ter bebês.
A plateia seduzida pela triste história se ergue em condolências.
— Pobrezinha!
— Sinto muito, Julie!
— Esse seu noivo é um escroto. Agora sim deveria dizer quem é!
— Não, ele não é uma pessoa horrível. — Julie apressa-se em dizer. — É que ele tinha tantos sonhos, até tinha escolhido o nome dos nossos três filhos: Harry, Willian e Kate.
— Esses não são os nomes dos príncipes reais? — Alguém indaga.
— Sim, meu noivo é muito apegado à família real.
Caralho, chega Julie!
— Nossa! Então não está mais noiva? — É a voz de Alan que escuto.
— Não, sinto muito. Toda essa aposta... foi inútil. Tudo acabou, e vocês devem entender meu desejo de preservar a identidade dele.
— Claro, a gente entende. — Rachel diz e todos concordam.
— Já que tudo foi esclarecido, podem sair para o almoço. — Termino a reunião, querendo acabar com aquele dramalhão estrelado por Julie Harris.
Todos começam a dispersar e Mark me cerca.
— Acho que finalmente toda essa confusão acabou, não?
— Espero que sim.
— E sem demitir ninguém — ele sorri — achei mesmo que perderíamos a senhorita Harris.
— Não haverá necessidade. — Eu certamente não quero perder a senhorita Harris, acrescento mentalmente. Meu olhar varre a sala a sua procura e o que vejo me deixa um tanto irritado.
Alan Felton está sorrindo para ela com aquele olhar idiota de quem está interessado em muito mais do que dividir a marmita.
Os dois se afastam juntos.
Que diabos?
— Acho que já terminamos. — Saio da sala e, quando chego ao saguão, Julie e Alan estão lá, esperando o elevador.
— Então, sei que é muito cedo para te chamar para sair, mas já que não está mais noiva...
De repente Julie ergue a cabeça e me vê, ficando vermelha.
— Alan aqui não é o local para falarmos sobre isso.
Alan finalmente nota minha presença e fica vermelho também..
— Ah, claro, com certeza... você quer ir almoçar comigo?
— Eu gostaria, mas prometi chamar a Natasha para almoçar. — O elevador chega, subindo e ela entra. Eu a sigo em silêncio. Tentando não dar um empurrão em Alan quando passo por ele, como se estivéssemos na quinta série.
Assim que as portas se fecham e o elevador começa a subir, eu finalmente falo, embora continue olhando para frente, assim como Julie.
Discrição é o nosso lema agora.
Está vendo, a gente sabe ser discreto quando preciso.
— Almoçar com a Natasha?
— Achei que era uma boa desculpa para eu ir ao seu andar. Claro que aquela gótica louca não vai querer almoçar comigo.
— Essa hora ela já deve ter saído na verdade.
— Ah... Isso é interessante.
— E posso saber o que foi aquele convite do Alan? Ele não tem vergonha de importunar uma garota que acabou de terminar um noivado de forma traumática?
Ela solta um riso abafado.
— Achei que você ia enfartar quando eu me levantei pra falar.
— Não posso negar que me deu um susto. Não esperava.
— Achei melhor inventar que não tinha mais noivo nenhum. Assim acabam logo com os rumores.
O elevador chega ao andar e seguimos para a sala da presidência.
Graças a Deus está tudo vazio.
— Senhorita Harris, que bom que está aqui, precisamos conversar sobre seu comportamento nos últimos tempos.
— Claro senhor! — Ela entra na sala e eu fecho a porta.
E no minuto seguinte, sou prensado contra a porta.
Com a boca de Julie Harris sobre a minha mandando a merda toda nossa discrição.
Julie
Ah sim.
Eu adoro estar noiva!
Ainda mais quando posso enfiar minha língua na boca deliciosa de Simon Bennett, enquanto me esfrego nele desavergonhadamente. Mas em vez de me agarrar e me jogar em cima da mesa para nossa primeira sessão de sexo selvagem no escritório, ele me empurra para longe.
O quê...?
Abro os olhos, ainda meio tonta de excitação para vê-lo me fitando com expressão irritada.
Ele está irritado comigo?
— O que está fazendo, Julie? — Dardeja ajeitando a gravata.
— O que diabos está fazendo pergunto eu! Por que estou aqui e você aí, com cara de quem foi assediado?
— Bem, porque estou sendo assediado? — Ele ajeita o cabelo.
— Espere, não me trouxe até aqui para a gente transar? — O encaro confusa.
— Não sei se você sacou, mas a gente quase se fodeu hoje, sendo flagrados nos pegando no elevador. Precisamos ser discretos aqui no escritório, Julie.
— Ah, isso – murcho. — Pensei que agora que ninguém mais vai ficar futricando sobre minha vida amorosa já que não existe mais noivo, a gente poderia aproveitar!
— Não. Seria inapropriado, para dizer o mínimo. Perigoso para ser mais exato. Por muito pouco o chefe da segurança não espalhou um quase pornô estrelado por nós pela empresa. Tem noção do quanto seria prejudicial?
— Hum, acho que tem razão — resmungo.
Odiava quando Simon era tão sensato.
Por que eu não me apaixonei por um cara bem maluco e aventureiro que acharia bem excitante transar comigo sobre a mesa de trabalho?
— Certo, eu até entendo, mas o que vou fazer com a fantasia de transar com você no escritório?
Simon levanta a sobrancelha.
— Você tem uma fantasia?
— Sim, eu tenho! — sussurro, me aproximando, sabendo que tenho sua total atenção agora — Se quiser eu posso falar sobre ela...
Ele sorri.
— Eu sei o que está fazendo e não vai adiantar...
Eu toco sua gravata.
— Eu entendo que temos que ser discretos, mas não tem ninguém aí fora e eu posso ser bem silenciosa... — Beijo seu queixo, aspirando seu cheiro delicioso, enquanto deslizo meus lábios saudosos por seu rosto, num percurso sinuoso até sua orelha.
— Você não é silenciosa, senhorita Harris, não quando estou dentro de você.
Ah porra, ele tinha que dizer aquelas coisas quando queria me conter?
— Caramba, Simon, não devia dizer essas coisas se não quer ser assediado! — reclamo em seu ouvido, colando meu corpo ansioso no dele, que posso sentir está bem disposto e me assediar também. Não contenho um sorriso sacana — e sei que também quer, Senhor Bennett... — Mordo sua orelha e Simon rosna, levando as mãos até os meus quadris e me apertando contra ele. — Isso... — Fecho os olhos, gemendo ao sentir sua ereção e Simon beija meu pescoço.
Ah Deus...
— Não é uma boa ideia, baby. — Ele me aperta mais, enquanto morde minha orelha como fiz com ele, contradizendo suas palavras. — Então vou te soltar e você vai ser uma boa menina e sair daqui antes que seja tarde, ok?
Ah, inferno!
Seguro sua cabeça o obrigando a me encarar.
— Simon, se não transar comigo aqui, eu vou me transformar numa daquelas mulheres frustradas que entram na internet a procura de homens para realizar suas fantasias! É o que quer para nós? E aí você vai descobrir e teremos brigas terríveis, você vai virar um alcoólatra e quando menos esperarmos estaremos naqueles programas da tarde onde as pessoas discutem suas relações na frente de todos e...
Ele me beija com força antes que eu termine minha explanação e daí para frente não consigo dizer mais nada, apenas exultar quando me vejo sendo empurrada em direção a sua mesa, onde Simon me coloca sentada.
— Ok, vamos realizar sua fantasia, querida noiva — anuncia, enquanto enfia a mão na gaveta e tira um preservativo.
Puxa, ele era prevenido!
— Ah sim, você é o melhor noivo do mundo! — Rio feliz, me apressando em abrir sua calça, enquanto ele tira minha calcinha e põe o preservativo em tempo recorde.
E não estamos mais rindo, quando ele me puxa sem a menor cerimônia, se enfiando no meio das minhas pernas e me penetrando com força.
— Sim! — Gemo alto, o abraçando com as pernas e me segurando na mesa, quando Simon estoca em mim com fúria.
— Era o que você queria? — pergunta com um sorriso pervertido.
— Acho que vai servir. — Provoco-o e Simon solta um palavrão, antes de me puxar pelo cabelo e beijar minha boca duramente.
Eu sabia que ele odiava quando eu desdenhava de sua performance.
E não posso negar, eu gostava de irritar Simon. Era divertido.
O tornava mais humano e acessível e menos aquele cara irascível e superior de quase sempre.
Embora eu gostasse muito dos dois.
Ele morde meu lábio inferior, intensificando suas investidas, fazendo meu corpo arquear de prazer e um grito escapar da minha garganta enquanto gozo ruidosamente. E não demora para Simon gozar também, suas mãos cravadas em meus quadris como garras e sei que ficarei toda roxa.
Quem se importa?
— Você disse que ia ser silenciosa! — Ele reclama, enquanto nossas respirações voltam ao normal.
— E você que eu não ia conseguir mesmo, então...
— É, eu gosto de ter razão... — ele sorri e então fica sério. — Isso não pode se repetir, ok?
— Está bem, tem razão — suspiro.
Sim, a partir de agora seríamos discretíssimos.
Capítulo 3
Julie
Quando é que a gente sabe se está sonhando ou acordada?
Sim, porque eu ainda tinha vontade de me beliscar quando me dava conta de que estava noiva de Simon Bennett.
Simon CEO RICO LINDO INATINGÍVEL Bennett!
Porra!
Devo ter gastado toda a minha cota de sorte de uma vida inteira! Lá se vai meu sonho de ganhar na loteria ou ser descoberta como uma irmã perdida das Kardashian.
Quem se importa?
Eu acabei de ter uma transa bem louca com meu lindo noivo em seu escritório e nem a voz chata de Erin chamando minha atenção a tarde inteira por qualquer bobagem, (Isso quando não me fazia servir café para ela. Sério, ela era aleijada ou o quê? Não sabia ir buscar o próprio café?), ia tirar o sorriso feliz dos meus lábios.
E a coisa ficaria melhor ainda, porque dali a cinco minutos eu iria bater meu ponto e sair pelas portas da DBS direto para os braços do meu incrível noivo.
Finalmente a sós!
Ele me levaria para seu apartamento, ou melhor, para sua cama. Assim espero, porque, convenhamos, já passamos da fase de ficar enrolando com jantar, vinho e papo furado. Afinal, eu tinha passado de funcionária invisível a noiva (de verdade) em menos de um mês. Aliás, tenho certeza que era um recorde mundial.
Será que eu poderia reivindicar meu nome e o de Simon no Guinness Book? Anoto na minha agenda para ver amanhã cedo e jogo o punho no ar em sinal de vitória quando vejo que deu meu horário.
Levanto-me empolgada, pegando minha bolsa e, antes que consiga chegar ao elevador, Nancy e Rachel me cercam.
— Não tão rápido mocinha! — Nancy segura meu braço.
— Nancy, estou com pressa... — Tento me desvencilhar, enquanto aperto o botão para chamar o elevador e noto que outros funcionários estão se aglomerando ali, todos loucos para ir para casa.
— Ah, coitadinha, está tão triste que só quer ir pra casa sofrer não é mesmo? – Rachel diz com um olhar de pena.
— Não, eu... — Então lembro que eu deveria estar sofrendo com o término do meu tempestuoso noivado.
Ah é.
Deixo meu rosto cair em consternação, fingindo uma expressão triste para Rachel.
— É, não esta sendo fácil... Só hoje a tarde tive que conter três impulsos de cometer suicídio.
— Oh, pobrezinha!
— Nós não vamos deixar você ir pra casa se entupir de sorvete e comédia romântica na TV — Nancy sorri.
Ahn? Do que Nancy está falando?
Não sou eu que fico em casa chorando enquanto tomo litros de sorvete assistindo filmes do Nicholas Sparks quando termino um namoro, é ela!
Eu faço mais o estilo ex namorada vingativa que fura o pneu do carro do ex, ou se eu não estiver nem aí, saio para comemorar bebendo todas e beijando o maior número de bocas possíveis.
Não que eu fosse precisar fazer isso novamente, claro.
E também era bom eu lembrar de nunca comentar aquilo na frente de Simon. Já basta meus pais terem lhe dado uma amostra de todos os namoros fracassados com caras esquisitos do meus anos perdidos.
Agora tudo isso faz parte do passado. Eu tenho um noivo.
Um lindo, rico (e fantástico na cama) noivo.
Obviamente Nancy, Rachel e nem ninguém sabe disso.
— Nancy, não sou eu quem faz essas coisas. — Continuo, entrando no elevador que logo fica lotado.
— Ah, é. Lembro-me que você gosta de curtir a fossa de outro jeito.
— Nancy, não vou pichar o carro do meu ex-noivo! — Sim, eu já tinha pichado um carro de um ex. E também inventado para todo mundo uma vez que um ex tinha me transmitido DST. O coitado ficou mais de dois anos sem transar. Foi bem feito por ter me traído com uma loira peituda. Bem, talvez deste Simon devesse ficar sabendo. Era bom ficar sabendo sobre o que acontecia com quem me colocava chifres.
— Não! — Nancy ri — nós vamos sair para beber todas!
— E tem karaokê! — Rachel grita atrás de mim. E todo mundo no elevador faz o mesmo.
Espere? Todo mundo?
— Eu não quero sair para beber... — gaguejo amedrontada quando sou conduzida para fora do elevador por uma horda de funcionários animados.
— Não seja boba! Sei que está sofrendo, depois da terceira cerveja o seu ex- noivo escroto estará esquecido! Não é Alan?
Olho para o lado e vejo Alan ao lado de Nancy, parando um táxi.
E antes que consiga reagir, Alan está me puxando para dentro do táxi. E a última coisa que vejo antes de ser espremida entre Nancy e Alan (com sua mão cheia de dedos instalada em meu ombro) é o rosto furioso de Simon pela janela, me olhando da porta do prédio da DBS como se quisesse me matar.
Ai merda.
OK, como é que eu tinha ido do sonho ao pesadelo em questão de horas?
Eu devia estar nesse exato momento fazendo sexo incrível com meu noivo perfeito, em vez disso estou ouvindo Nancy Freeman cantando Bad Romance com sua voz de gralha enquanto todos meus colegas de trabalho competem para ver quem é o mais ridículo fazendo a coreografia de robô.
É como entrar em um túnel do tempo e cair direto em um ensaio ruim de Glee.
E, para completar, Alan Felton está sentado do meu lado tentando jogar seu charme inexistente com toda ansiedade de quem sabe que pode se dar bem com a “noiva largada e carente”.
Só que eu não sou uma coisa nem outra. Muito pelo contrário. No entanto meus queridos colegas não fazem ideia, então, temendo pela minha sanidade mental que, convenhamos, já não é grande coisa, me rendo à única coisa que faria eu me sentir melhor naquele momento: O Álcool.
— Eu acho que esse cara é um tremendo babaca se deixou uma garota como você escapar — Alan diz enrolando uma mecha do meu cabelo em seu dedo enquanto esvazio meu terceiro (ou seria quarto) pint de cerveja. Eu realmente nunca fui boa em matemática (ou em beber). Alan não parece estar percebendo meu estado de tédio misturado com semiembriaguês em que me encontro e continua sussurrando em meu ouvido o quanto sou incrível e o meu ex-noivo um idiota (ele acha mesmo que isso é sexy?).
— Ele não era um babaca! — resmungo, pegando outra pint com uma bebida escura tomando um gole. Não sei a quem aquele copo pertence, porém eu preciso me entorpecer um pouquinho mais, até que consiga fugir.
Sim, eu já tinha combinado tudo (comigo mesma no caso, já que meu celular tinha morrido e não consegui mandar uma mensagem sequer a Simon): Eu iria esperar todos ficarem bem bêbados para dar no pé aí ninguém ia perceber minha fuga! Era um plano brilhante. Só que agora eu estou bêbada também e me pergunto como é que vou conseguir chegar a algum lugar sozinha sem me espatifar no chão e ser encontrada na manhã seguinte com um cachorro lambendo minha boca.
— O que disse? — Alan chega mais perto, confuso, o que é compreensível porque minha língua já esta enrolando um pouco e o “ele não é um babaca” saiu mais como um “ele não é uma batata”.
Eu solto uma risada, porque parece muito engraçado.
Me viro para Alan e grito em seu ouvido acima de Nancy cantando Bad Romance.
— Meu noivo não é um babaca! Quer dizer, ele pode até ser às vezes, mas ele é muito bom de cama.
De repente um silêncio esquisito cai sobre o recinto e noto meio atordoada que a música tinha acabado bem na hora em que eu gritei “bom de cama”.
Ah, foda-se!
Mais bebida, por favor.
Eu tinha gritado em voz alta de novo?
— Quem é bom de cama? — Benjamin senta ao meu lado e Angie, a recepcionista, senta no seu colo.
Espera, o que eu tinha perdido?
— Parece que o ex-noivo pelo o que entendi! — Angie ri e dá um tapa na mão de Benjamin que fez “fom fom” em seu peito.
Deus, de repente eu estava na quinta série de novo?
— Julie, agora que acabou e estamos todos entre amigos, você podia dizer quem era ele, né? — Benjamin sugere, empolgado.
Ele tinha certeza que era hetero? Nunca vi um cara tão fofoqueiro!
— Sim, conta — Nancy se aproxima toda suada de cantar (ou tentar) e percebo outros olhos bem interessados a nossa volta.
Ah, eu podia contar não podia?
Qual seria o problema? Eles achavam que a gente tinha terminado mesmo...
— Bem, se vocês insistem, mas prometam que vão me deixar em paz depois, ok? O meu noivo era...
— Simon? — Nancy grita e eu franzo a testa.
— Como você...
— Ei, aquele não é o Simon ? — Nancy continua por cima de alguém cantando Cher e todos se viram para onde ela apontou e...
Porra, o que Simon está fazendo aqui?
Seu olhar frio como o gelo varre o pub chegando a mim e, no instante seguinte, ele está marchando direto para nossa mesa.
Minha primeira reação é sorrir de orelha a orelha, me levantar e correr em sua direção. E aí ele iria sorrir também, abriria os braços e eu pularia neles, então ele me seguraria no ar tipo naquela cena de Dirty Dancing.
Ia ser maneiro.
— Ele parece meio irritado... — Alan sussurra, ainda com meus cabelos entre os dedos sem se tocar que muito provavelmente Simon estava com raiva justamente por isso. Se eu fosse ele tiraria a outra mão do meu ombro se não quisesse ficar maneta.
— Cara, será que ele descobriu minha pornografia no computador? — Ben murmura horrorizado.
— Talvez ele tenha descoberto meus esmaltes na gaveta. Eu juro que só pinto a unha quando não tem ninguém olhando! — Angie se defende.
— E como é que ele sabia que a gente estava aqui? — Phil se aproxima cambaleando meio bêbado, com a boca toda suja de batom vermelho.
— Ei, chefe! — Rachel é a primeira a se refazer quando Simon finalmente chega perto da mesa. — O que faz aqui?
A expressão de Simon muda com a pergunta da funcionária, como se só agora ele se desse conta de que não tinha uma desculpa plausível para estar ali.
— Eu... Vim beber uma cerveja — responde casualmente, dando de ombros.
Olho em volta para ver rostos desconfiados, aparentemente todo mundo tinha acreditado naquela desculpa esfarrapada.
— Que coincidência vir no mesmo bar! — Nancy sorri feito boba.
— Sente-se com a gente! — Rachel pula para o lado, dando espaço para Simon sentar na nossa mesa.
Ele olha para todo mundo menos para mim agora, provavelmente para disfarçar enquanto tento escapar das mãos de Alan.
— Eu vou só buscar uma cerveja — Simon responde e se afasta para o balcão lotado, não sem antes dar uma viradinha, dessa vez fixando seus olhos diretamente em mim. E Alan.
— Alan, chega pra lá! — resmungo já meio irritada.
Alan apenas ri e me dá um beijo no rosto.
— Você fica tão linda com raiva!
Reviro os olhos para aquele clichê ambulante, tentando sair da cadeira, sem muito sucesso.
— Gente, não acredito que vamos beber com o CEO da DBS! — Angie diz muito empolgada e todos concordam com igual animação.
— Vocês ainda não acham que ele parecia meio bravo? — Benjamin insiste provavelmente preocupado com sua pornografia.
— Ele sempre tem essa cara de quem tem um toco enfiado na bunda! — Nancy ri.
— Eu acho sexy! — Rachel lambe os lábios.
— Deus, Rachel, vai dar em cima dele? Tem coragem? Sabe que ele não sai com funcionárias! — Phil indaga.
— Eu posso tentar! De repente ele bêbado fica fácil!
— Cala a boca, sua vadia! — Só percebo que falei em alto e bom som, quando todos param e me encaram.
— Me chamou de vadia? — Rachel franze a testa.
— Não, quer dizer... foi força de expressão. — Solto uma risadinha sem graça — sabe, eu chamo a Nancy de vadia também, posso chamar até o Alan se me der vontade!
— Lá vem ele! — Angie avisa e todos se calam, tentando fazer parecer bem normal que o CEO fodão e meio inacessível de nossa empresa esteja se aproximando com uma pint.
Eu só consigo pensar que Rachel tem razão. Ele é sexy como o diabo.
Deus, estou tão bêbada!
— Bem, acho que tá meio esquisito — Nancy sussurra quando o silêncio se torna realmente meio bizarro.
— Então Simon, o que o trouxe aqui, para a companhia dos reles mortais? — elevo minha voz acima da música. Agora tem alguém no palco cantando Abba.
— Eu gosto de cerveja, senhorita Harris — ele responde tomando um longo gole. Nossa, ele tinha que ser sexy até tomando cerveja? Tenho certeza que as mulheres na mesa estão salivando como eu. E nem estou dizendo que é pela boca. — E parece que a senhorita também, afinal, parece estar já meio alta.
Opa. O que era aquele tom de crítica na voz dele?
— A gente trouxe a Julie para afogar suas mágoas! — Rachel explica — sabe, por causa do término do noivado e tudo o mais.
— Ah, acho que entendi. — Simon está com os olhos fixos nas mãos de Alan que continuam no meu cabelo. — E agora você está com Alan Felton?
— Não! Claro que não! — Afirmo irritada por ele ter feito essa pergunta imbecil.
Espero que ele esteja brincando, porque se estiver insinuando que estou realmente me pegando com o Alan pelas suas costas vou ficar muito irada.
— Bem, ainda não. — Alan sorri com malicia, alheio ao olhar mortal de Simon.
Cale a boca, Alan. Agora!
De repente Simon se vira para Angie que está encarado Simon estupefata.
— O que foi? Por que está me encarando? — Simon pergunta incomodado e Angie ri.
— É que é muito esquisito ver você aqui, Simon, quer dizer, senhor...
— Tudo bem, pode me chamar de Simon — ele diz impaciente.
— Angie tem razão, é como se a qualquer momento você fosse se levantar e fazer um sermão porque os números das vendas estão caindo ou algo do tipo — Benjamin ri.
Acho que ele já esqueceu a hipótese de a pornografia ter sido descoberta.
— O que eles estão querendo dizer é que você é um chefe bem chato — resmungo, terminando minha cerveja. — Preciso de mais uma desta...
Agora todo mundo me fita com horror.
Ai merda, o que foi que eu disse?
— Me acha chato, senhorita Harris?
Eu levanto o olhar e Simon está me encarando. Assim como todo mundo na mesa.
E todos parecem pensar “Caralho, ela enlouqueceu por falar assim com Simon Bennett”.
Ah é. Eu não podia falar assim com ele perto de todo mundo.
— Quer dizer... bem, acho que todo mundo pensa assim? Phil? — Tento desviar o foco de mim e Phil agora está vermelho igual ao batom na sua boca.
— Claro que eu não penso, eu... quer dizer, você é o chefe, pode ser chato o quanto quiser.
— Simon não é chato, ele é apenas exigente e sério! — Rachel o defende.
Ah santo cristo, ela achava que ele ia levar ela para casa no fim da noite?
Com certeza.
E quem podia culpá-la?
— Sim, é coisa de chefe! — Benjamin entra na discussão. — Ninguém aqui está te julgando por ser certinho e tal.
— Certinho? — Simon repete meio irritado.
Ah caramba ele está bravo?
— Você é um cara bem... — Phil tenta achar a palavra.
— Severo — Angie diz.
— Austero — Nancy acrescenta.
— Sisudo — Alan entra na disputa pelo adjetivo perfeito.
— Eu diria até meio mal-encarado — grita alguém também da empresa que está na mesa ao lado.
— Não, não é mal-encarado. Isso é coisa de chefe da máfia!
— Ele poderia ser um chefe da máfia!
— Sim, com certeza é de dar medo!
— É, quando chega com aquela carranca na reunião...
— Sim, bem carrancudo...
— Ou seja, chato! — Soluço.
Opa, falei em voz alta de novo?
— Cale a boca, Julie — Nancy resmunga meio preocupada com minha falta de filtro.
— Então me acha chato, senhorita Harris? — Simon prende o olhar em mim de novo.
Lá vamos nós.
— Você deve saber que é. E faz questão de ser. É essencial para que todos tenham medo de você.
— Vixe... — Benjamin deixa escapar.
— Tirem a cerveja dela! — Alguém sussurra.
— Julie, não deveria falar assim com o nosso chefe! — Alan me alerta preocupado.
Cagão!
— Quer ser demitida, sua louca? — Nancy completa.
— Não, tudo bem. Eu vejo que a senhorita Harris está um pouco sem filtro, deve ser por causa da bebida.
— Não estou bêbada! — Bato na mesa, derrubando o copo de alguém.
Ops!
— E não estamos em horário de trabalho. É perfeitamente aceitável que ela diga o que pensa de mim — Simon diz — Embora ache que deva tomar cuidado com o que fala, afinal, pode suscitar... falatórios desagradáveis como, por exemplo, por que você acha que pode falar assim comigo, seu chefe.
Ah, agora estou entendendo. Eu realmente não deveria falar assim com ele. Simon está tentando me alertar para fechar a matraca.
Merda, alguém precisa tirar as bebidas de perto de mim!
Certo. Precisamos urgentemente mudar de assunto!
— E também quero dizer que não sou tão chato assim — Simon continua. — Eu apenas sou sério no trabalho, como todos deveriam ser.
E a galera na mesa concorda, como se ele fosse uma espécie de Yoda do mundo corporativo.
— Fora da empresa eu sou um cara normal como todos vocês.
Eu solto um risada dentro do copo, cuspindo cerveja para todo lado.
Ops, ainda estou bebendo?
— Desculpe-me. — Mordo os lábios tentando não rir.
— O que é tão engraçado? — Simon pergunta — Não acredita que posso ser um cara legal, senhorita Harris?
— Se você diz...
— Julie, pare! — Nancy me cutuca.
— Olha, a música que pedimos! — Angie se levanta quando começa a tocar a Macarena.
Sério?
— Sim, vamos nos divertir! — Rachel se levanta também — Venha com a gente Simon! É a ocasião perfeita para mostrar para Julie que não é um cara sério o tempo todo!
— Espere, eu não acho... — Simon começa a balbuciar.
— Vai lá chefe! Eu duvido que tenha coragem! — O desafio e vejo a centelha de fúria brilhar nos seus olhos.
— Está me desafiando, senhorita Harris?
Dou de ombros.
— Você que quer provar que é um cara “legal”. — Faço aspas com os dedos.
Simon solta um palavrão e bebe sua cerveja de um gole só antes de acompanhar Nancy e Rachel até o palco e pegar o microfone.
Minha nossa senhora protetora dos noivados discretos.
Simon Bennett está dançando a Macarena bem na minha frente.
Procuro o copo de cerveja porque preciso ficar mais bêbada ainda para superar aquilo.
E minha nossa, ele canta em espanhol muito bem!
Nancy e Rachel estão dançando e rebolando a bunda como se estivessem em um concurso de imitação da Shakira, com certeza para chamar a atenção do chefe gostoso e ok, agora também muito legal!
Eu começo a rir sem parar.
— Julie, acho que já chega de cerveja pra você. — Alan tenta arrancar o copo da minha mão.
— Cara, será que ele está bêbado? — Phil pergunta vendo Simon dando o pulinho para ficar de lado enquanto acompanha Nancy e Rachel na coreografia.
— Ele é mesmo um cara legal! — Ben ri, gravando tudo em seu celular.
— Será que é o momento certo para pedir uma promoção? — Angie arrisca.
A música termina finalmente e todos os bêbados do lugar aplaudem enlouquecidos com a sessão mais cafona da noite.
Simon ainda segura o microfone e aponta para mim com um olhar vitorioso.
— Julie Harris, essa foi para você.
Ai merda, Simon, será que dá pra ser mais discreto?
Ele volta à mesa com todos o cumprimentando no percurso, com Nancy e Rachel seguindo-o como se fossem suas backing vocal.
— Cara, foi demais! — É Alan quem está dizendo, ainda sem perceber que está com seu pescoço a prêmio.
— Alan, pode ir buscar umas cervejas para nós? — Simon ordena com aquela voz de chefe fodão e Alan se levanta na hora para cumprir a ordem.
— Fui convincente, senhorita Harris? — ele senta ao meu lado, no lugar de Alan.
Era isso, algumas garotas ganhavam serenatas ao som de músicas românticas e melosas.
Eu ganhei uma Macarena.
Estou sorrindo quando respondo.
— Acho que merece algo em troca, senhor Bennett.
Seu olhar brilha perigosamente.
Eu me levanto, tropeço um pouco, mas consigo ficar de pé, Simon tenta vir atrás de mim, mas Rachel está segurando seu braço e falando alguma coisa.
Eu continuo meu caminho até o palco e sussurro para o cara da mesa de som.
Ele concorda e eu subo no palco.
OK. Estou meio tonta, mas consigo focalizar na nossa mesa quando pego o microfone.
Eu queria gritar um “Simon Bennett, essa é para você”, mas sei que não seria nem um pouco discreto, então apenas pisco, quando começo a cantar Like a Virgin da Madonna.
E faço a minha voz mais sexy e minha dança “me leve para casa no fim da noite”(que sempre funcionava, modéstia a parte). E nem o fato de estar totalmente bêbada atrapalha minha performance sensual. Muito vagamente vejo meus colegas irem para frente do palco me aplaudir e me sinto uma rock star fodona com seus fãs. Nossa, eu era mesmo muito boa! Talvez devesse considerar a carreira de cantora, quem sabe ir com Holly na próxima audição de The X Factor? Eu ia cantar Adele e arrancar lágrimas dos jurados!
De repente, no meio da minha epifania, percebo que Simon está bem ali em frente ao palco também sorrindo com preocupação. Talvez ele também pudesse vir a ser um cantor famoso? A performance de Macarena foi muito boa. Isso! Íamos ser como Beyoncé e Jay Z!
Calma querido, eu não vou te deixar quando for famosa e puder pegar todos os caras do mundo. Você ainda é o mais perfeito pra mim!
— Isso aí! — Alguém grita e percebo que falei em voz alta. No microfone.
Ai merda.
Minha cabeça gira e tropeço no fio, indo para frente, diretamente para fora do palco e em direção aos meus fãs, quer dizer, da galera bêbada do trabalho.
Antes que eu caia, braços me seguram no ar, me impedindo de ir ao chão, quando abro os olhos, Simon está me encarando com uma expressão preocupada e divertida.
— Que merda, Harris! Você está muito bêbada!
— Não estou! — Resmungo.
Muito vagamente, vejo tudo ficando para trás enquanto Simon me carrega.
— Quer ajuda? — Alguém pergunta, acho que é Alan.
— Ela apagou? — Rachel pergunta.
— Continuem se divertindo, a senhorita Harris só precisa lavar o rosto. Eu cuido dela.
Porra Simon, não era dar bandeira demais?
— Deixa que a gente faz isso. — É a voz preocupada de Nancy que escuto.
— Eu sou o chefe dela, senhorita Freeman, é minha responsabilidade — Simon continua se afastando comigo no colo como um saco de batatas.
— Acha que alguém acreditou nessa baboseira? — murmuro quando Simon me senta sobre a pia do banheiro e fecha a porta.
— Parece que te salvar de bebedeiras é minha missão na vida! — ele resmunga, segurando meu rosto — Merda, Julie, você está completamente bêbada! Eu devia te levar embora!
— Você nem deveria estar aqui! — eu rio — afinal, é a festa para eu esquecer meu noivo babaca!
Simon grunhe irritado.
— Poderia ter me dito que era essa a sua ideia hoje!
— Eu não sabia! — Choramingo, encostando a testa em seu ombro. — Eu fui sequestrada! Eles só queriam me consolar!
— Alan Felton parece querer te consolar com seu pau!
Eu encaro sua carranca ciumenta.
— Está com ciúme do Alan? Fala sério!
— Acho que as intenções daquele cretino são um pouco óbvias.
— Ele só pensa que estou disponível! Assim como a Nancy e a Rachel pensam que você está!
— Elas são minhas funcionárias, pelo amor de Deus. Não saio com funcionarias.
— Está comigo! — Sorrio, puxando-o para mais perto.
E ele me enlaça como eu desejei que fizesse durante toda a noite.
Como deveríamos estar durante toda a noite. E não naquele karaokê sem noção fingindo que éramos apenas chefe e funcionária.
Ah merda, estou ficando de saco cheio desse noivado secreto.
— Você é minha noiva, senhorita Harris — ele diz contra minha boca. Derreto e solto um suspiro, passando meus braços em volta do seu pescoço.
— Então porque não estamos nos beijando, noivo?
É o que basta para Simon colar a boca na minha e provar que sua língua era capaz de muito mais do que cantar a Macarena.
E estou prestes a pedir que ele arranque minha calcinha e transe comigo ali mesmo quando de repente a porta do banheiro se abre.
— Julie, trouxe essa água...— a voz de Alan se quebra, ao mesmo tempo que eu e Simon paramos de nos beijar e o encaramos, parado ali na porta do banheiro, segurando uma água mineral.
Ah! Merda!
Alan Felton nos descobriu.
Fodeu!
Capítulo 4
Julie
Por um momento a única coisa que se escuta no recinto é a música cantada em tom desafinado que vem lá de fora.
David Bowie? Ou Iggy Pop? Não consigo identificar...
— O que está... acontecendo? — Alan pergunta por fim com cara de quem acredita que enlouqueceu.
Ai merda!
Como é que a gente ia sair dessa agora?
Simon está em choque, ainda me segurando e percebo naqueles segundos constrangedores que terei que assumir as rédeas da situação. De novo!
Bem, quando estivesse sóbria teria que ter uma conversa séria com Simon sobre equilíbrio. Parecia que eu estava contribuindo muito mais para aquela relação do que ele.
— Senhor Bennett, eu já falei que não vou chupar seu pau! — grito com minha voz meio grogue. Merda, minha língua está tão pesada, minha cabeça também.
— Que porra, Julie! — Simon agora está mais chocado do que antes e eu pisco. Ou tento.
Caralho, ele é retardado ou o quê? Não entendia que eu estava atuando?
— Cara, você estava assediando a Julie? — Alan dá um passo para dentro, todo nervoso.
Ops. Não sei se foi uma boa ideia inventar que Simon era um chefe assediador.
— Calma aí Felton, não é nada disso!
— Não, eu entendi bem, a Julie está bêbada e vulnerável e você está se aproveitando da situação!
— Gente... espere, vou explicar... — Tento pular da pia para conter os dois homens que começam a se encarar como aqueles lutadores de MMA antes do início da luta. Teria caído de cabeça no chão se Simon não me segurasse a tempo.
— Solte-a! — Alan se aproxima e Simon o empurra com a mão livre.
— Não se aproxime, eu sou o noivo dela, porra! — Simon solta em alto e bom som e de novo os olhos de Alan se arregalam estarrecidos.
— Mas o quê...
— Droga, Simon, a gente não tinha combinado que seria segredo? — reclamo.
Simon não está me escutando.
— Exatamente o que ouviu. Eu sou o noivo secreto da senhorita Harris.
***
Acordo na manhã seguinte em minha cama com uma sensação estranha de que perdi alguma coisa.
Com muito custo consigo me levantar e entrar no chuveiro e até me arrumar sem vomitar, ou cair de novo na cama.
O apartamento está silencioso quando saio pela porta e consigo entrar no primeiro café Nero que encontro e peço um café preto.
E é só quando estou no metrô a caminho de Cannary Wharf que minha cabeça começa a desanuviar e as lembranças da noite anterior voltam a minha mente.
Ai merda. Eu tinha mesmo cantado Like a Virgin?
Espera, o que Simon está fazendo nas minhas lembranças dançando a Macarena?
E de repente minha memória clareia como se alguém tivesse acendido uma luz dentro da minha cabeça e me recordo de tudo. Sim, de Alan nos pegando no flagra e de Simon gritando que era meu noivo.
E acho que devo ter desmaiado depois, pois não conseguia me lembrar de mais nada.
Deus, Simon deve estar muito puto comigo por toda aquela confusão! Se bem que a culpa não é toda minha. Tenho certeza que estava indo bem inventando a historia do CEO assediador e ele não tinha nada que contar a verdade para o Alan.
E agora? Se Alan sabia, quem mais sabia?
Caminho meio desconfiada e meio amedrontada pelo saguão da DBS até o elevador e Angie acena para mim de seu posto. Só isso. Nada de gritar “Olha lá a noiva do Simon Bennett!”
Entro no elevador e ainda estou meio atordoada quando a porta se abre alguns andares acima e como num dejà-vu do meu primeiro dia na empresa, Simon e Mark, o vampiro do RH, se juntam a mim.
Simon me fita de cima a baixo e não consigo entender seu olhar.
— Bom dia, Julie. — Mark me cumprimenta.
— Senhorita Harris... — A ironia rasteja pela voz de Simon e me preparo para o que virá a seguir. — Atrasada?
Ah, lá vamos nós.
— Eu não me senti bem, senhor... — Acrescento o senhor da mesma forma irônica que ele me interceptou.
— A ressaca costuma fazer isso com as pessoas.
— Ah sim, esqueci que o senhor estava lá também.
— Como esquecer, já que um colega seu fez um vídeo constrangedor estrelado por mim dançando a Macarena que agora está circulando pelas redes sociais.
Eu arregalo os olhos horrorizada, mas começo a rir em seguida.
— Desculpe, não é engraçado. — Tento me conter, quando Mark parece assustado com a possível reação de Simon.
Ele só parece irritado. Mas está controlado, pelo o que posso perceber.
Bem, não sei o que ele estaria pensando em fazer com quem gravou o famigerado vídeo.
O elevador para e Mark se despede. Quando a porta se fecha eu começo a rir de novo.
— Que bom que eu te divirto! — Simon resmunga.
— Desculpa, mas eu preciso ver esse vídeo!
— Não é engraçado!
— É sim! Mas tudo bem, acho que provou um ponto!
— Provou um ponto?
— Não queria que o vissem como o chefe que pode se legal?
— Isso tudo é uma merda!
— Calma, Simon, é só um vídeo. As pessoa vão esquecer rapidinho. E afinal, você é o chefe por aqui, ninguém vai ousar rir na sua cara.
— Exceto você.
— Eu posso, sou sua noiva! Aliás, eu imaginei você gritando isso para o Alan Felton? — Pisco e o elevador para no andar de Simon. — Ai merda, esqueci de descer no meu andar.
— Tudo bem. Vem comigo até minha sala. Precisamos mesmo esclarecer este ponto.
— Tem certeza? Não acho que é uma boa a gente transar agora, Simon.
Ele revira os olhos impacientes, saindo do elevador e eu o sigo.
— É a última coisa que está passando pela minha cabeça nesse momento, acredite!
Bem, está começando a passar pela minha, mas acho melhor não expor meus pensamentos sórdidos no momento.
Passamos pela sua secretária, Natasha, que está sentada toda empertigada digitando algo com o rosto preso no computador.
E ela parece meio em transe porque nem levanta a cabeça quando passamos e Simon fecha a porta atrás de nós.
— Ela nem viu a gente?
— Natasha parece que entra em outra dimensão quando está digitando memorandos e hoje eu passei alguns para ela especificamente complicados! — Ele senta atrás de sua mesa, ajeitando a gravata de forma irritada. — Não estou de bom humor.
— E isso tem a ver com o vídeo da Macarena viralizado ou por ter sido obrigado a contar ao Alan sobre nosso noivado?
— Os dois!
— Não posso fazer nada quanto a Macarena, mas nem precisava ter contado ao Alan!
— Claro! Melhor seria deixar você dizer que eu estava te assediando!
— Estava funcionando.
— Sim, Alan ira quebrar meu nariz e instaurar um inquérito sobre assédio sexual, não obrigado!
— É, talvez não tenha sido uma boa ideia, foi a única que me ocorreu! Não esperava que ele nos pegasse no flagra.
— Foi melhor assim. Agora ele já sabe que não pode mexer com você.
— Ah... Acho que agora eu entendo. Estava com ciúme do Alan! Por isso contou, para marcar território!
— Quando cheguei ao bar ele estava com todos os dedos em você! E não a vi impedindo.
— Eu não podia! Não sem levantar suspeitas, não ia rolar nada, Simon! Aliás, agora como vão ficar as coisas? Não me pareceu que todo mundo já saiba sobre nós!
— Não se lembra de nada?
— Acho que desmaiei em seguida.
— Eu fechei a porta do banheiro e expliquei ao Alan sobre nossa situação.
— Contou tudo?
— Claro que não. Apenas o que ele precisava saber. E pedi que mantivesse segredo, por motivos óbvios.
— Como conseguiu? Foi a mesma coisa que fez com Billy?
— Sim.
— Simples assim?
— As pessoas costumam ser razoáveis quando eu ordeno, Julie.
— Nossa, você é um chefão da máfia ou o quê? Por acaso prometeu cortar o pinto do Alan?
— Não foi preciso. Ele acabou concordando em manter segredo. Embora merecesse por ter colocado aqueles dedos em você.
— Poxa, Simon, está mesmo com ciúme do Alan?
— E você parece achar divertido!
— E realmente é! — Solto um risada.
— Acho melhor sair. Tenho uma reunião daqui a pouco. — Ele me dispensa, abrindo o notebook, já incorporando o CEO ocupado.
De repente tenho outras ideias e me aproximo, ignorando sua carranca.
— Olha, tem razão, eu podia tê-lo mantido longe, me desculpe. — Peço humildemente parando na sua frente, Simon interrompe o que está fazendo e me encara confuso. — Foi uma grande confusão e acho que Alan agora sabe que deve ficar longe. Não o culpo por ter ficado com ciúme, por isso acho que merece uma pequena recompensa. — Me ajoelho na sua frente e levo a mão a sua calça.
— Que porra está fazendo? — Simon tenta me parar, eu bato em sua mão.
— Vai ser rápido, prometo! — Pisco mantendo o foco em abrir sua calça e desta vez Simon solta um gemido de rendição, quando o seguro em minhas mãos.
— Porra Julie, isso não deveria estar acontecendo... — ele diz entre exasperado e excitado.
Ah Sim. Ele está ficando bem excitado.
Solto uma risada, o acariciando de cima a baixo e adorando ver seus olhos escurecerem de desejo.
— Tente me impedir... — Então abaixo minha cabeça colocando-o em minha boca.
Simon geme alto e solta um palavrão, porém quando sua mão segura meu cabelo, não é para me afastar e sim para me conduzir exatamente do jeito que ele gosta.
E eu obedeço com prazer, sentindo meu corpo derretendo apenas por tê-lo assim, a minha mercê.
Fecho os olhos e, como prometido, faço o serviço bem rápido e satisfatório, com o delicioso som de seus gemidos embalando meu trabalho. E quando ele goza na minha boca, me sinto a mulher mais poderosa do mundo.
Nossa, eu amo esse cara.
Ao levantar a cabeça, limpando o canto da minha boca com um sorriso sacana, pronta para pedir que me jogue na mesa e me foda com força como fez ontem, a porta se abre e Simon segura minha cabeça no lugar, me impedindo de levantar.
— Simon, James está aqui para a reunião das dez. — Escuto a voz de Natasha anunciando e passos se aproximando.
— Bom dia, Simon. — A voz de James chega até mim e ouso olhar para cima, para ver Simon bem pálido encarando o funcionário a sua frente enquanto Natasha fecha a porta atrás de si.
Merda. Agora lascou de vez.
Capítulo 5
Julie
Como foi que chegamos àquele ponto?
Sério, alguém lá em cima devia me odiar muito por me fazer ficar naquela situação bizarra, agachada escondida atrás da mesa do meu chefe, a quem havia acabado de brindar com um trabalho oral (exemplar, diga-se de passagem). Tudo bem que o chefe em questão é meu noivo, porém, sinceramente, é constrangedor do mesmo jeito!
— Ei James, eu tinha me esquecido dessa reunião — Simon começa a dizer, enquanto fecha a braguilha, levando um punhado do meu cabelo no processo e me contenho para não gritar, enquanto bato na sua perna para soltar meu cabelo e Simon solta um palavrão.
Eu só posso imaginar a cara confusa de James.
— Está tudo bem? Você parece um tanto... estranho. — James fala com cautela.
— Só... não estou mesmo me sentindo bem — Simon responde rápido, conseguindo soltar meu cabelo, graças a Deus!
— Imagino que seja por causa daquele vídeo.
Sinto a tensão de Simon.
— Quer dizer, não que eu tenha visto. — James também deve ter percebido a bola fora ao mencionar o vídeo da Macarena para Simon. — Sabe como são as fofocas, quer dizer, não que seja uma fofoca, minha secretária Libby estava assistindo quando cheguei à sala e... quer dizer, eu não queria ver, até pedi que ela desligasse, deu pra ver que era algo constrangedor, quer dizer...
— James, chega — Simon o corta — o vídeo foi apenas uma brincadeira idiota. Eu encontrei com algumas pessoas da empresa ontem no pub e só queria que eles soubessem que posso ser uma pessoa normal.
— Dançando a Macarena?
Cala a boca James!
Posso ver os punhos de Simon se fechando e enfio as unhas em sua perna para ele encerrar de conversa fiada com James, porque já estou com dor no joelho de ficar naquela posição.
— Enfim, como eu disse... — Simon se levanta. — Não me sinto muito bem no momento.
— Vai cancelar nossa reunião? — James parece confuso, enquanto vejo os pés de Simon ao lado dos pés do funcionário, o guiando para fora.
— Claro que não. Me dê quinze minutos. Vou jogar uma água no rosto e ficarei bem.
— Ressaca? — James sugere.
Caramba, ele não cansa de testar a paciência de Simon?
— Até mais, James! — Simon fecha a porta e finalmente consigo me levantar, não sem alguma dificuldade, do meu vergonhoso posto.
— Nossa, essa foi por pouco! — Limpo meus joelhos e solto uma risada, quando olho para Simon ele não está rindo. — Ok, não foi engraçado.
— Você vai sair daqui e não vai voltar — ele diz com aquela voz de CEO superpoderoso e com um olhar congelante. — Estamos entendidos? Sabe o que iria acontecer se o James te pegasse aqui, com... com...
— Seu pau na boca? — Completo e Simon solta um palavrão irritado.
— Porra, Julie!
— Tudo bem, tem razão. Acho melhor eu não voltar mais aqui. Lembre-se que foi você quem pediu para eu vir! Eu falei que não era boa ideia.
— Não era para você me pagar um boquete e sim para conversarmos civilizadamente.
— Ok, fica aí com essa cara de quem foi violado, senhor Bennett! Devia me agradecer! Pode não parecer, mas não foi nem um pouco divertido ficar ajoelhada lá com medo de ser flagrada pelo diretor financeiro! Não estou a fim de ser a Monica Levinsky dos anos 2000! E meus joelhos estão até um pouco arranhados! — Passo por ele e abro a porta. Tarde demais, lembro-me de Natasha.
Ignorando o rosto alarmado de Simon, fecho a porta atrás de mim e dou de cara com Natasha me encarando por trás do seu computador. Ela usa um óculos grande de armação escura que a deixa mais esquisita ainda.
— Você estava aí?
Abro um sorriso blasé.
— Claro que sim. Não me viu lá quando entrou com James?
Ela franze a testa.
— Não.
— Bem, se nem me viu entrando! — Digo com ironia. — Quando entrei na sala do Simon, estava aí com a cara enfiada no computador, parecia tomada por uma possessão.
Ela arregala os olhos.
— Acha mesmo? Que eu estava tomada?
Ai Jesus!
Me aproximo de sua mesa.
— Sim, com certeza, nunca notou?
— Não, quer dizer... Eu tenho o dom sabe? — Ela abaixa a voz. E me olha com fervor. Credo, é meio apavorante. — Tenho certeza que tem alguns espíritos que gostariam de tomar o meu corpo.
Minha nossa!
— Bem, acho que algum desses caras aí, esses espíritos, podem ter te tomado... Isso explica o motivo de não me ver passar e também não ter me visto na sala do Simon.
— Você acha? Eu vi o Simon e o James, como não te vi?
— É assim que funciona! Eles ficam... pendurados no seu pescoço, nunca viu aquele filme japonês? Os... espíritos obsessores se penduram aí.
— Por isso tenho dor nas costas terríveis! Até andei tomando um monte de analgésicos... Eles também me deixam confusa, talvez nem sejam os remédios e sim os espíritos!
— Eu também acho! Além de ficar nas suas costas, ele devem também, sei lá, fechar o seu olho para que veja apenas o que eles querem. E sabe o que mais. — Abaixo a voz, fazendo um tom meio cavernoso como o dela. — Também ouvi dizer que às vezes a gente pode ver coisas que não existem.
— Tipo alucinações?
— É... exatamente... Por exemplo, você pode achar que tem alguém na sala do Simon, sei lá, fazendo sexo com ele.
— Nossa, eu nunca ia ver uma coisa dessas, é absurdo!
— Concordo! Mas os espíritos podem fazer para deixá-la confusa! Então se você escutar, sei lá, gemidos... Vai saber que são eles, confundindo sua mente.
— Oh nossa... Eu achei que eles eram meus amigos. Sabe, gosto de visitar os cemitérios, e louvá-los. Por que eles fariam isso comigo?
— Ah, Natasha, como vamos saber o que se passa na mente de um fantasma, querida.
— Eu gostaria de saber.
Então morre, né, more, quero dizer, mas apenas sorrio e lhe dou um tapinha na mão e me afasto.
— Bem, o papo está interessantíssimo, mas tenho que voltar ao meu trabalho.
— Por que estava na sala do Simon? — Natasha ainda pergunta e eu me volto.
— Não se lembra de ter me chamado? Nossa, Natasha, eles estão mesmo te atormentando!
— Uau. É mesmo! Você quer almoçar comigo hoje? — Ela pergunta esperançosa.
Putz, almoçar com aquela lunática?
Se bem que poderia ser uma boa ser amiga de Natasha.
Eu poderia subir na diretoria mais vezes...
Abro um sorriso.
— Claro. Por que não?
— Ótimo. Vamos pegar nosso almoço no Pret a Manger e vamos para o cemitério!
Misericórdia!
Chego a minha sala e só então me dou conta de que deixei minha bolsa na sala de Simon!
Droga!
Ligo o computador enquanto mando uma mensagem rápida no celular.
“Boa sorte em inventar uma desculpa para minha bolsa que ficou aí na sua sala!”
E só isso.
Eu ainda estou meio puta com ele, por ter ficado irritado comigo. Poxa, nem um “obrigada pelo orgasmo”?
Sério, se nosso noivado for assim, só eu fazendo o trabalho pesado e levando patada depois, estou fora!
Quer dizer, não é bem assim. Claro que eu não ia deixar Simon!
Mas a gente teria que conversar. Abro minha agenda e escrevo na primeira página:
Pontos a acertar com SB (Obvio que não ia escrever o nome dele num lugar que todos poderiam ver, eu era bem esperta e discreta).
Continuando:
Pontos a discutir com SB para o bom andamento do projeto Noivado N ( isso, se por acaso alguém abrisse minha agenda não ia descobrir nunca que projeto N era meu noivado com o Simon!)
Ponto 1 — Não estou de acordo com a reação de SB depois do, da Boquete conferência na qual usei minha habilidade oral muito bem. SB deveria me agradecer pelo orgasmo final satisfatório da conferência e não se irritar. Retribuir também seria uma boa ideia.
— Aí está você!
Dou um pulo na cadeira ao ouvir a voz de Nancy se aproximando da minha mesa e fecho rapidamente a agenda.
— Que susto, Nancy!
— Calma, o que está escondendo aí?
— Um projeto super secreto.
— Hum, por isso teve uma reunião com o Simon Bennett?
— Não tive reunião com Simon Bennett hoje! — Nego descaradamente.
— Ué, o Benjamin disse que te viu lá no andar da diretoria.
— Ah, eu fui bater um papo com a Natasha.
— Natasha?
— É, a gente é amiga.
— Você não é amiga da Natasha! Até disse que tem medo dela! E também que ela não tem estilo algum com aquelas roupas pretas.
— Ei, cale a boca! Não disse isso.
— Disse sim!
Por que Nancy não esquecia das nossas conversas maldosas sobre o estilo (ou a falta dele) de nossos colegas como se esquecia de pagar sua parte do aluguel para poder gastar com produtos de beleza?
— OK, eu disse, mas ela é legal, ok?
— Se você diz!
— Ela é sim. Vamos até almoçar juntas hoje!
— Sério? Boa sorte! A Angie me disse uma vez que aceitou o convite da Natasha e ela a levou a um cemitério. Cruzes!
— Bem, não acho má ideia. Pode ser um lugar bem tranquilo.
— Para quem está morto, com certeza! Aliás, que vexame ontem hein!
— Nem me fale! Não consigo me lembrar nem de como cheguei em casa!
— Alan me ajudou a te levar. Ele estava meio esquisito na verdade.
— Não faço ideia do motivo. — Desvio o olhar para o computador. — Agora vê se me deixa trabalhar, daqui a pouco a Erin aparece aqui para gritar comigo!
— Julie, onde diabos se meteu, cadê o meu café? — Como se tivesse sido invocada, Erin grita de sua sala e eu reviro os olhos me levantando. — Não falei?
Nancy se afasta rindo e eu vou até a sala de café. E dou de cara com Alan. Por um momento sinto meu rosto ruborizando ao me lembrar de como me flagrou ontem e de que agora ele sabe tudo sobre meu envolvimento com Simon.
— Oi. — Tento sorrir ao passar por ele e servir o café de Erin.
— Está se sentindo bem hoje? — pergunta educado.
— Estou sim. Aliás, obrigada por ter ajudado Nancy a me levar. Não deveria ter bebido tanto.
— Era melhor do que deixar o Simon te levar.
— Ah é. Com certeza... — Não sei como conversar sobre Simon com ele.
Agora é diferente de quando Simon era somente o nosso chefe.
— Pode ficar tranquila que não vou contar a ninguém que estão juntos.
— Obrigada.
— De nada. — Ele passa por mim para sair da sala, eu seguro seu braço.
— Me desculpe por... ter te dado esperança ou algo assim.
— Tudo bem, Julie, agora entendo porque estava se esquivando. — Ele se afasta com um sorriso triste.
— Sinto muito. — E sinto mesmo. Alan é um cara legal.
Mas não é o Simon.
Simon não responde nada até a hora do almoço. E já estou com vontade de ir até lá buscar minha bolsa e mandá-lo se foder no processo, quando Natasha aparece me chamando para sair. A acompanho ainda meio irritada e, quando estamos no Pret a Manger me lembro que não tenho bolsa, portanto não tenho dinheiro para comer!
— O que foi?
— Vou ter que voltar no escritório, esqueci minha bolsa.
— Ah não tem problema, eu pago para você.
— Ok, obrigada.
Poxa, Natasha podia ser esquisita, mas era legal.
E como ela sugeriu, nós vamos até o cemitério e, minha nossa, aquilo é meio bizarro, para dizer o mínimo, quando sentamos em um banco em frente a uma lápide de alguém que deve ter morrido em 1890 de sífilis e comemos nossa salada de salmão.
— Acha que eles estão nos observando? — Natasha indaga em certo ponto.
Eu olho em volta, assustada.
— Eles quem?
— Os espíritos!
— Ah, eles! — Tomo um gole da minha coca, tentando ignorar o arrepio na espinha. — Bom, provavelmente eles saíram para almoçar! — Rio da minha própria piada idiota, Natasha permanece séria.
— Está ouvindo? — Ela levanta o pescoço ficando alerta.
— Ouvindo o quê?
— Pensei ter ouvido passos.
— Natasha, estamos sozinhas aqui, quer dizer, tirando os espíritos e acho que eles não andam por aí pisando duro no chão... — De repente paro o que estou falando totalmente chocada ao ver Simon Bennett surgindo de trás de uma lápide!
— Puta merda! — Grito e Natasha se vira, Simon se esconde.
Que porra ele está fazendo aqui?
— O que foi? O que... você viu alguma coisa? Ai meu Deus, uma manifestação! — Natasha parece mais excitada do que assustada.
— Não, quer dizer... — Natasha se vira para mim de novo. Simon aparece e faz sinal para eu ia falar com ele. — Sim, eu ouvi algo.
— Sério, você tem o dom também?
— De fato, acho que pode ter, viu... — Começo a pensar rápido e então fecho os olhos. — Eles estão dizendo...
— Estão falando com você?
— Estão pedindo para você fechar os olhos também...
— Oh meu Deus!
— Na verdade eles querem que você se deite no chão.
— O quê?
— Natasha, não acho legal contrariá-los! Você quer ser amiga deles ou não?
— Sim, é verdade. — Ela faz o que sugeri, deitando na grama molhada e fechando os olhos. — Oh queridos espíritos, façam de mim o seu instrumento...
— Natasha, deve ficar quieta. Apenas continue aí, de olhos bem fechados... acho que pode até tirar uma soneca... sinta a presença deles... — murmuro enquanto me afasto em direção a Simon.
— Que diabos está fazendo aqui com Natasha? — Ele cochicha quando chego perto.
— Eu que pergunto que diabos está fazendo aqui, se esgueirando pelas lápides! Virou gótico agora é?
Ele estende minha bolsa.
— Desci para devolver sua bolsa e você já tinha saído. O Alan falou que Natasha comentou que viriam almoçar aqui, pelo amor de Deus, que merda é essa? — Aponta para Natasha que ainda está deitada no chão, como uma defunta.
— Eu tive que inventar que os espíritos estavam mandando ela deitar e sei lá mais o que, afinal, ela não podia te ver! Não pensou nisso? Simon, tem que aprender a ser discreto!
Mais uma coisa para minha lista do projeto N.
Simon passa os dedos pelos cabelos e só então parece se dar conta de que não deveria estar ali.
— Pelo visto não se tocou que a Natasha acharia esquisito você se abalar até aqui com a minha bolsa!
— É, acho que não pensei mesmo. — admite. E é um tanto surpreendente ver Simon admitir que deu um fora. Afinal, parece que eu sou a campeã de bola fora naquele relacionamento! — Depois que saiu fiquei pensando na nossa discussão.
— Ah... — Mordo os lábios, sem saber o que dizer. Eu deveria estar gritando.
Mas não posso dar um chilique no cemitério com Natasha estirada no chão a poucos metros.
— E acho que foi um pouco duro demais com você.
Bem, ele estava bem duro, não consigo deixar de fazer uma piada mental bem escrota. Graça as Deus consigo contê-la a tempo e Simon continua.
— Tem razão, eu pedi que fosse até minha sala. Queria conversar com você sobre o que aconteceu no pub e sobre Alan ter descoberto. Não esperava que fosse...
— Te atacar? — Levanto a sobrancelha com ironia e ele sorri.
— Fazer o melhor sexo oral que já recebi.
Abro a boca, estupefata por ouvir aquele elogio.
Ah minha nossa.
Perco um pouco o prumo. Meu rosto fica vermelho de satisfação e um pouco de vergonha. Talvez por estarmos ali, naquele lugar tão estranho.
O que será que os espíritos estão pensando de mim?
— Então eu tinha que te agradecer. — Ele estende a bolsa e eu a pego, notando que está aberta. Quando enfio a mão lá dentro retiro um ramo de flores.
— Nossa, Simon, eu não esperava por... — de repente eu paro ao observar melhor a flor. — Você roubou isso de algum túmulo?
— Não deu tempo de passar na floricultura e estava ali, acho que ninguém vai se importar!
— O Simon, isso é tão...
— Romântico?
— Fúnebre!
— E um pouco romântico, tem que admitir. — Ele sorri daquele jeito que fazia meu coração bater totalmente descompassado e toca meu rosto. — Me desculpe. Eu fui um idiota. É que ainda não me acostumei com essa história de noivado secreto.
— Eu sei. — Toco sua mão, deitando meu rosto nela. Era o melhor lugar do mundo. — A gente vai dar um jeito.
— Julie, ainda está aí? — Natasha chama e eu suspiro, me afastando de Simon.
— Você precisa ir.
— Sim, tem razão.
— A gente vai se ver hoje a noite? — Pergunto esperançosa.
Sim, seria maravilhoso poder ir para o apartamento de Simon passar a noite lá.
Seria nossa primeira noite como noivos de verdade!
Ele franze a testa.
— Hoje?
— Algum compromisso? — Nem finjo que gosto.
— Não. É que eu tenho alguns relatórios para ler...
— OK, eu vou depois das nove? Assim dá tempo de eu ir em casa buscar algumas coisas! — Fico na ponta dos pés e dou-lhe um beijo rápido, Simon segura meu cabelo e enfia a língua na minha boca.
Porra, ele não podia fazer isso no cemitério!
Estou com as pernas bambas quando me solta.
— Certo, senhorita Harris. Hoje à noite, vou retribuir seu pequeno favor na minha sala. Pense nisso — ele diz no meu ouvido antes de me soltar e sumir atrás dos túmulos.
Uau!
Eu mal posso esperar!
Capítulo 6
Julie
Exatamente às nove horas chego ao prédio de Simon, em Chelsea, carregando minha sacola Tesco cheia de ingredientes para o melhor jantar que Simon já comeu na vida. Sorrio comigo mesma quando passo direto pelo porteiro, que está distraído ao telefone, e entro no elevador. Certamente não há razão para ser anunciada. Tenho certeza que Simon já deve ter deixado avisado que sua noiva pode subir a hora que quiser. Meu sorriso se alarga mais quase como se eu tivesse dormido com um cabide na boca, quando me lembro desse fato ainda inacreditável.
Estou noiva de Simon Bennett!
Já nem me lembro da desavença de hoje de manhã, afinal, fui mesmo um tanto imprudente e Simon tinha razão de ficar zangado, afinal, imagine se eu tivesse sido pega com a boca na botija para não usar outra expressão mais explícita?
Além do mais, ele tinha se desculpado no cemitério, até me deu flores!
Flores!
Quando na vida eu podia imaginar que Simon Bennett me daria flores? E quem liga que ele as tenha afanado de um túmulo? O que vale é a intenção.
E a pobre Natasha ficou extremamente impressionada quando contei que minha bolsa apareceu do nada em frente ao túmulo de uma tal Peggy Sue Cartland, falecida em 1917.
— Nossa, estou toda arrepiada — Ela exclamou com os olhos azuis arregalados. — Você tem mesmo o dom!
Eu sorri complacente, dando de ombros.
— Eu não pedi por ele, na verdade é um fardo...
E Natasha me elegeu sua nova melhor amiga e até me chamou para ir ao seu apartamento no fim do expediente, “podemos ler os livros sobre manifestações espíritas que tenho em casa, você vai amar”, sugeriu. O que eu declinei dizendo que, depois daquele dia cheio de manifestações, estava exausta e precisava ir para casa descansar meu espírito fatigado.
E corri mesmo pra casa, apenas para tomar banho, vestir minha melhor lingerie da Victoria’s Secret e até tirar uma foto no espelho e mandar para o Simon.
Sério, ele ia responder que para uma Angel só faltava as asas! Ou foi o que fantasiei, enquanto colocava um casaco da Burberry da Holly por cima, me achando muito atrevida. Obviamente não foi muito divertido fazer compras no supermercado usando apenas um casaco pesado (não dava para tirá-lo já que estava usando apenas as pequenas peças cor de rosa por baixo) mas não podia arriscar que na geladeira de Simon não tivesse os ingredientes para meu jantar espetacular. Era nosso primeiro jantar de verdade e queria que ficasse para sempre na memória. Seria algo que contaríamos a nossos netos daqui a cinquenta anos “ah eu surpreendi seu avô no nosso primeiro jantar como noivos de verdade, cozinhando um delicioso Linguini com camarão, tudo isso usando somente uma lingerie sexy”. Ou talvez deixasse a parte da lingerie sexy de fora. Assim como toda a sacanagem que espero que vá rolar esta noite depois do jantar. Ok, talvez antes. E durante.
Satisfeita comigo mesma, pego o celular no bolso, para ver se Simon respondeu sobre meu nude e, para meu espanto, o celular está desligado.
— Merda, está descarregado! — Coloco-o na bolsa de novo e saio do elevador. Toco a campainha e faço minha melhor expressão sensual, segurando o casaco fechado, que vou afastar assim que Simon abrir a porta e...
— Deve ser a comida chinesa que pedi — escuto a voz de Simon atrás da porta e franzo a testa. Ele pediu comida chinesa pra gente?
E, espere... com quem ele estava falando...?
A porta se abre e Simon aparece diante de mim me encarando como se eu fosse um dos fantasmas de Natasha.
— Julie? — Ele fica tão surpreso que por um momento eu me sinto zonza de tão confusa.
— Esse é meu nome e... por que parece surpreso por me ver?
— Simon, precisa que eu pague? — Ouço uma voz feminina atrás dele e arregalo os olhos, encarando-o assustada. — Quem está aí?
— Não era para você estar aqui, Julie! — Simon cochicha preocupado.
— Como não, nós combinamos!
— Eu te mandei várias mensagens no celular desmarcando quando não atendeu as minhas ligações.
— Ele está descarregado!
— Precisa ir embora. Agora!
— Por quê? Quem está aí? — Indago desconfiada.
De repente a dona da voz surge atrás de Simon, espiando por cima de seu braço, enquanto Simon tenta, sem muito sucesso que sua visitante misteriosa não me note.
Mas eu a noto. E é uma das mulheres mais lindas que eu já vi na vida.
Alta, morena, com longos cabelos pretos e olhos grandes que me fitam curiosa.
E ela não é só bonita, é elegante também! Não posso deixar de medi-la e odiá-la por caber tão bem num terninho que tenho certeza ser Chanel.
— Simon, algum problema? — Ela pergunta. Simon desiste de tentar me esconder e solta uma respiração impaciente.
O quê? Ele está irritado? Por quê? Porque eu descobri sua visitante linda e misteriosa?
Quem diabos é aquela?
— Não, nenhum, eu... — Ele parece procurar uma resposta adequada, percebo que não quer dizer a ela quem sou eu.
— Você é a garota que veio trazer a comida? — A mulher pega a carteira. — Deixe que eu pago, Simon. Temos que voltar logo para a reunião, não tenho a noite inteira.
Reunião?
Olho para Simon em busca de uma resposta.
— Sim, Barbara... Bailey — Ele diz o nome dela como se eu devesse entender. Eu apenas faço uma careta. Eu deveria reconhecer? — Estamos em uma reunião de trabalho e você é uma das acionistas da DBS, na verdade a maior acionista — completa devagar como se falasse para uma criança.
Ah!
Agora eu entendo. Aquela mulher é uma das acionistas da DBS!
A maior acionista, como explicou Simon.
Isso a torna uma espécie de chefe dele.
Caralho! E cá estou eu, uma das funcionarias da DBS, vestida apenas com uma lingerie por baixo do casaco!
Merda! Merda!
Penso rápido e sorrio.
— Claro, eu sou a moça da comida! — Mostro as sacolas do mercado. — Mas fui contratada para fazer o jantar. Não foi senhor... Bennett? Será que houve algum equívoco? Ouvi dizer que o senhor queria impressionar sua excelência a acionista com um belo jantar italiano. Essas são minhas ordens... senhor.
Simon está me encarando assustado, sem saber se me manda calar a boca e desmentir tudo ou se fecha a porta na minha cara, possivelmente.
— Simon, que atencioso! — Barbara sorri. — Muito bem, acho que a mocinha pode cozinhar enquanto terminamos de analisar os gráficos, podemos comer depois.
Simon analisa a situação por um momento, percebo que não está nada satisfeito, mas faz sinal para eu entrar.
— Claro.... senhorita...
— Harris — respondo, fazendo uma mesura. — Julie Harris, ao seu dispor. Onde é a cozinha?
— À direita. Fique à vontade e... — Ele me lança aquele olhar ameaçador que diz claramente “não apronte nenhuma das suas senão estará morta” — Seja breve. A Senhora Bailey não pode se demorar.
— Não me chame de senhora, Simon! Não sou tão velha assim. Tenho apenas quarenta anos, pelo amor de Deus!
Nossa, ela não parece ter aquela idade. Qual será o creme antirruga que usa? E aquelas pernas torneadas? Seria indelicado perguntar que tipo de exercício ela faz?
— Senhorita Harris? — Simon chama minha atenção.
— Ah, certo. Eu já vou... Cozinhar!
— Não é melhor tirar o casaco? — Barbara pergunta com uma nota de divertimento, apontando para o casaco que eu ainda seguro firmemente em frente ao corpo.
— Não! — Respondo rápido — quer dizer, ainda estou com frio! — E saio quase correndo. Só parando quando finalmente chego à cozinha.
Definitivamente esse não era o jantar romântico que eu estava esperando!
Agora o melhor a fazer é preparar tudo o mais rápido possível. Eu poderia acabar de fazer o jantar e sair, ficar em um pub próximo esperando Simon se livrar da acionista e voltar. De repente sobraria alguma comida pra mim e eu podia pelo menos terminar a noite na cama com meu noivo.
OK, está tudo sob controle!
Corro para colocar meu celular para carregar antes e começo a cozinhar. Não demora dez minutos e começo a suar embaixo daquele casaco pesado. Relanceio os olhos para a porta, Simon e Barbara devem estar lá no escritório, entretidos na tal reunião. Bom, eu podia vestir rapidamente o casaco caso escutasse passos, penso, me livrando da pesada vestimenta e o colocando no encosto de uma cadeira. Volto ao molho, satisfeita por tudo estar saindo como eu esperava e...
— Você enlouqueceu? — Derrubo a colher no chão quando escuto a voz de Simon na porta. E ao me virar, ele está me fitando horrorizado.
— Que susto, Simon!
— Que susto digo eu — ele se aproxima — por que está pelada na minha cozinha? Sabe em que tipo de encrenca vai me colocar se Barbara souber...
— Que você transa com a cozinheira? — Pergunto divertida e Simon não ri.
Típico!
— Não tem graça! Você deveria ter dado o fora daqui! Em vez disso inventou aquela história sem noção de cozinheira! E agora eu te encontro com essa lingerie.... — Sua atenção rasteja por minha pele e agora vejo um outro tipo de fogo em seu olhar. — Totalmente sexy e... inapropriada que me dá vontade de jogá-la em cima da mesa e fodê-la até...
Com um gemido pulo em seu pescoço e Simon me recebe com a mesma avidez, os braços agindo rápido e me apertando contra sua ereção e sua boca devorando a minha com urgência.
— Simon, tudo bem? — A voz de Barbara se faz ouvir em algum lugar do apartamento e Simon me solta, me empurrando.
— Estou supervisionando o jantar — ele responde alto — Já estou voltando!
— Por que não a manda embora? — Sugiro, ofegante. — Inventa que... o prédio está pegando fogo, sei lá!
— Ela tem o poder de me tirar da DBS com uma palavra, Julie, não posso ferrar com tudo — Ele diz subitamente sério e engulo em seco.
De repente me sinto culpada por estar ali, usando lingerie, colocando-o novamente em apuros.
Simon leva muito a sério sua carreira e seria um desastre se Barbara me visse ali daquele jeito.
— Desculpe. Estava calor e não podia continuar cozinhando com o casaco.
— Cadê suas roupas?
— Eu não vesti roupas! Era... uma surpresa! — Dou de ombros, decepcionada.
— Tudo bem, não precisa se desculpar. — Ele acaricia meu cabelo. — Vá até a lavanderia e coloque alguma roupa minha. Talvez uma de ginástica lhe sirva. E quando acabar a reunião, Barbara irá embora e vou te recompensar, ok? — Ele sorri e eu derreto.
Ah, típico!
— Combinado! — Pisco e me viro para fazer o que mandou, mas sou surpreendia por sua mão apertando minha bunda e sua voz no meu ouvido.
— Não vejo a hora de tirar essa lingerie de você, senhorita Harris. — E com um último tapa na minha bunda ele sai da cozinha.
Ah sim. Eu também não via a hora.
Respiro aliviada quando termino o jantar e me dirijo a sala, onde Simon e Barbara estão sentados olhando um tablet.
— O jantar está servido — comunico com uma mesura.
— Que ótimo, estou faminta — Barbara sorri se levantando e indo para a sala de jantar, seguida por Simon.
— Pare de fazer essa mesura ridícula — Simon sussurra quando passa por mim. — não somos a família real!
Dou de ombros, tentando manter a minha dignidade vestida com uma bermuda de Simon e uma camiseta. Coloquei um avental por cima, mas continuo parecendo uma criança que roubou a roupa do irmão mais velho. Pelo menos a elegante Barbara parece não ter notado, enquanto senta a mesa e Simon a acompanha.
— Hum, parece bom — Ela começa a comer e Simon se ocupa em abrir o vinho.
Tento não fazer um careta ao imaginar que ele deveria estar servindo aquela taça para mim.
Bem, mais tarde...
— Senhorita Harris, se puder ficar para limpar a cozinha, assim que terminarmos Barbara irá embora e eu farei seu pagamento — ele diz casualmente, mas eu vejo o brilho em seu olhar.
Ah sim. Meu pagamento!
— Perfeitamente, senhor. — Eu faço a mesura sem poder me conter e estou saindo da sala quando escuto um barulho como um engasgo e ao me voltar, Barbara está roxa e tossindo.
— Barbara, o que foi? — Simon bate em suas costas, preocupado. — Está engasgada?
— O que tem nessa comida? — Ela consegue falar.
Simon me encara.
— É linguini com camarão... — respondo apreensiva.
— Eu sou alérgica... — Ela murmura antes de revirar os olhos e perder os sentidos.
Ai merda.
Matei a acionista da DBS.
Capítulo 7
Julie
Não, eu não matei Barbara Bailey.
Embora tenha passado momentos de puro terror, enquanto Simon ligava para a emergência. Eu só conseguia tremer e balbuciar sem parar “Eu a matei! Vou ser presa! Ai meu Deus, vou ter que usar aquela roupa laranja horrível, laranja não é minha cor!”
Eu realmente estava fora mim já imaginando se Simon iria me visitar na cadeia e como suportaria sobreviver sendo a vadia de alguma detenta barra-pesada em troca de cigarros. Cheguei a pensar em correr e jogar o resto do linguini com camarão no lixo, eliminando assim as provas do meu crime. E poderia aproveitar e fugir pela saída de serviço, pegar um trem para Amsterdã e de lá para a Sibéria. Então a emergência chegou e levou Barbara, enquanto Simon explicava que ela tinha sofrido uma intoxicação devido a sua alergia a camarão. E lá se foi minha chance de fuga para a Sibéria, pois Simon, ainda abalado, pediu que eu me acalmasse e fosse embora para casa, enquanto ele iria acompanhar Barbara ao hospital.
— Tem certeza que não a matei? — Ainda questionei em dúvidas, enquanto o acompanhava para fora do prédio.
— Não, a emergência chegou a tempo ela ficará bem, ok? Vá pra casa eu te ligo depois. — Ele me colocou dentro de um taxi e partiu junto com Barbara para o hospital.
E passei quase a noite inteira acordada esperando que enviasse notícias. Cheguei a cogitar a possibilidade de ir fazendo as malas enquanto isso e, por via das dúvidas, aproveitei a insônia também para pesquisar possíveis rotas de fuga pela internet. Já eram quase quatro da manhã quando Simon me mandou uma mensagem de texto dizendo que Barbara estava bem e ele estava voltando para casa.
Ufa!
Agora estou sentada a minha mesa, depois de ter chegado mais de uma hora atrasada, afinal, não ouvi o despertador tocar depois de dormir só de madrugada. Ainda estou bocejando e tomando a sexta xícara de café, tentando lembrar o que foi que Erin me pediu para fazer, depois de me dar uma bronca de meia hora pelo atraso.
Estou morrendo de vontade de ir até o vigésimo andar falar com Simon, apesar de saber que não é uma boa ideia.
— Julie, está dormindo? — Me sobressalto ao ouvir a voz de Erin e quando abro os olhos ela está do meu lado, batendo seus sapatos no chão com um olhar irritado.
Merda, eu tinha mesmo adormecido sentada.
Pisco para disfarçar e abro minha agenda.
— Claro que não, estava... meditando.
— Meditando?
— Sim, devia fazer isso também. Faz muito bem para o equilíbrio emocional.
— Você acha apropriado meditar no horário de trabalho?
— Foi só por um minuto! Olha, já estou verificando meus afazeres... — Tarde demais percebo que Erin está estendendo a mão e, como num pesadelo, noto que a minha agenda está aberta na página onde fiz minhas anotações sobre Simon ontem. E sem que eu consiga impedir, ela a apanha e começa a averiguar.
— Vamos ver o que temos aqui.
Prendo a respiração começando a sentir dor de barriga e me perguntando se rabisquei o suficiente as palavras noivado, boquete e orgasmo.
Eu espero que sim!
— Hum, que projeto é esse? — Ela me encara por um momento e volta a atenção às anotações “Pontos a discutir com SB para o bom andamento do projeto N”?
Ela vira a atenção para mim de novo.
— Não temos nenhum projeto N! E quem diabos é SB?
— É, eu... — Droga, não consigo pensar em nada!
Erin volta a ler em voz alta.
“Ponto 1 — Não estou de acordo com a reação de SB depois da conferência na qual usei minha habilidade oral muito bem. SB deveria me agradecer pelo final satisfatório da conferência e não se irritar. Retribuir também seria uma boa ideia.”
Ai jesus. Meu rosto está pegando fogo enquanto minha mente sonolenta tenta achar uma resposta. Erin me fuzila com seu olhar cheio de perguntas e, Deus me ajude, desconfiança.
— Quem é SB?
— É... Hum... Uma abreviação de...
— Simon Bennett? — Sibila perigosamente baixo e tenho certeza que envelheci dez anos naqueles segundos enquanto ela espera minha resposta.
— Responda! — Insiste e eu me encolho.
— Talvez?
— Você está querendo dizer que está envolvida em um projeto com Simon Bennett sem eu saber? Está agindo pelas minhas costas?
— Não, quer dizer... — Ai inferno, como explicar sem piorar mais ainda a situação?
— E que diabos de projeto N é esse? É algum projeto super secreto do qual eu não fui informada e você sim, aparentemente?
Erin agora está vermelha feito um tomate e temo que vá explodir e, pedaços do seu cérebro que deve ser tão vermelho quanto seu cabelo, irão se espalhar por toda parte.
A visão me deixa meio enjoada a engulo a vontade de vomitar.
— O que quis dizer quando escreveu que ele se irritou com você? E desde quando conseguir cantar Wannabe das Spicy Girls é considerado habilidade de comunicação?
Arregalo minha boca agora um tanto indignada, pois eu cantava Wannabe muito bem, obrigada! E nem sabia que Erin tinha escutado quando cantei na sala de café um dia desses junto com a Nancy. Precisava me lembrar de abaixar o tom de voz quando estivesse lá!
— Não me admira Simon ter ficado irritado! — Erin continua — e, como assim retribuir? Você é muito cara de pau mesmo se pensa que vai ganhar um aumento com essa sua pequena jogada contra mim!
— Erin, está entendo tudo errado, não... — Começo a tentar me explicar, mas me calo ao avistar o próprio Simon surgindo na sala. Ele olha de mim para Erin com um olhar especulador, provavelmente sentindo a tensão no ar.
— O que está acontecendo aqui?
Ai merda. As coisas sempre podiam piorar!
— Que bom que está aqui Simon, assim poderemos esclarecer tudo! Acabei de ficar sabendo desse projeto secreto pelo qual chamou minha assistente para uma reunião aparentemente sem meu conhecimento e aquiescência, o que acho muito inapropriado para dizer o mínimo!
— Projeto? — Simon questiona devagar me encarando.
Eu dou de ombros com a minha melhor expressão “sei lá o que está rolando, eu estava lavando o cabelo".
— Sim, este tal projeto N! Estou sabendo de tudo! Está aqui na agenda da Julie!
Ela passa a agenda para o Simon. Ai não!
Ele a pega das mãos de Erin e tento manter a calma enquanto ele lê o que escrevi e percebo o momento exato em que entendeu o que estava escrito nas palavras riscadas, que o projeto N queria dizer noivado e que eu estava claramente falando do nosso interlúdio sacana na sua sala.
Seu rosto fica pálido e depois vermelho de fúria e ele me encara com aquela expressão que dizia claramente: “Comece a rezar porque chegou a sua hora, Harris!”
— E então, pode me explicar? Que projeto é esse e por que eu não fui comunicada e pior, por que minha assistente está a par e não eu?
Simon respira fundo passando a mão pelos cabelos e, quando encara Erin, seu rosto está impassível, frio como gelo.
— Como você já disse, é um projeto secreto — ele falou.
Ah?
— Então admite? — Erin está ficando vermelha de novo. E agora tem uma veia horrível que mais parece uma anaconda palpitando em sua testa.
— Sim, estou lhe comunicando a existência deste projeto muito importante para mim — continua calmamente e eu ainda não entendo o que ele está fazendo.
— E você envolveu a minha assistente? Sem me comunicar? Eu deveria participar e não a Julie! É um absurdo, tem que admitir! Não sei o que foi que ela te falou, mas acho que estamos lidando com um caso clássico de puxada de tapete e não vou admitir!
— Erin, se acalme. — Simon corta seu chilique ainda com aquele mesmo tom congelante. — Sim, tem razão, eu deveria ter comunicado que ia envolver Julie nesse projeto. No entanto como é um projeto que poucas pessoas estão a par, achei mais seguro que quanto menos pessoas soubessem melhor. Então não adianta culpar a Julie de nada. Fui eu quem a chamei na minha sala para que conversássemos sobre o projeto.
— A Julie entrou ontem aqui! É uma assistente! Não faz o menor sentido! Se é um projeto tão importante...
— A Julie demonstrou muito talento com o discurso para a imprensa. E a DBS está desenvolvendo um programa trainee para funcionários recém-contratados serem mais bem aproveitados e se sentirem parte da empresa com maior rapidez possível. Então decidi que a DBS deveria dar-lhe mais responsabilidade.
Caramba, Simon estava ficando pior do que eu para inventar histórias! Fico olhando para ele embasbacada só esperando o que mais vai sair de sua boca linda e mentirosa.
— Você só pode estar brincando! — Erin esbraveja.
— Estou falando sério e sua atitude está começando a ultrapassar os limites do aceitável — replica duramente — espero que esteja agindo desse jeito porque está preocupada com o bom andamento do projeto e com a capacidade de Julie para executá-lo.
— Bem, por isso também — Erin recua — sabe que eu devo ficar preocupada com essa súbita ascensão de Julie Harris!
— Não fique! Deveria ficar feliz, acredito que Julie esteja fazendo um bom trabalho porque está sendo bem ensinada e orientada por você, não?
— Sim, claro...
“Sim, claro uma ova” tenho vontade de gritar, porém o melhor a fazer naquela situação é ficar quieta. Simon ao que parece já estava resolvendo tudo com suas mentiras de projetos trainees e sei lá mais o quê.
— Certo, já que resolvemos vim aqui exatamente para lembrar a Julie que temos uma reunião... agora. Sobre o projeto.
Minha nossa, ele está falando sério?
Me ajeito na cadeira, tentando fazer a melhor expressão profissional que consigo, enquanto tento ignorar o olhar rancoroso de Erin.
— Claro, senhor Bennett.
— Já falei que não temos formalidade por aqui, Julie — ele corrige sorrindo e é bem conveniente que Erin esteja ocupada olhando para mim com cara de palhaço assassino e não perceba todas as insinuações pervertidas no olhar de Simon.
Eu precisa realmente conversar com ele sobre discrição!
— Tudo bem, Erin? — Ele questiona e ela sorri com falsa polidez.
— Claro! Sem problema algum!
— Então eu te espero em minha sala, Julie. Parece que tem boas ideias sobre o projeto... N e precisamos discuti-las.
Ele sai da sala e Erin fica ali, atrás de mim, enquanto finjo mexer no computador.
— Não pense que eu estou satisfeita, entendeu?
Eu me levanto, segurando a agenda contra o peito.
— Eu não queria participar, Erin. Mas Simon é o chefe e...
— Quer que eu acredite?
— Bem, claro que eu fico feliz em ter mais responsabilidade, embora saiba que sou nova aqui e que você seria a pessoa adequada para o trabalho. Eu até disse para o Simon...
— Você disse?
— Claro que sim. Sabe quando escrevi que ele não deveria ficar bravo comigo foi porque falei que preferia que a chamássemos para o projeto, como você viu, ele está irredutível. Sinto muito. E quer saber, nem é um projeto tão importante assim, acho que é só para fazer os novos funcionários se sentirem úteis e essas coisas. Acha mesmo que o CEO da DBS ia colocar um projeto grande na minha mão tendo uma pessoa tão talentosa como você na empresa?
— Tudo bem. — Ela parece estar engolindo minhas mentiras — Então vá. É, devo ter ficado preocupada à toa. Tem razão. Aposto que esse tal projeto não deve ser nada importante mesmo... — Segue para sua sala quase como se estivesse falando consigo mesma. — Aposto que esse tal projeto N é de mentira e não vai durar nada...
Ela fecha a porta atrás de si e eu não posso deixar de sentir um arrepio de apreensão com suas palavras.
Projeto N não era mais uma mentira.
E ele ia durar sim.
Não ia?
Capítulo 8
Julie
— Oi Julie. — Natasha me cumprimenta com uma animação que nunca vi nela antes quando entro na sala. — Que bom que veio até aqui, queria muito conversar com você, trouxe um livro que queria te mostrar... — Ela enfia a mão na gaveta e pega um livro de capa preta escrito “Os espíritos podem ser seus amigos”.
— Ah Natasha, não posso conversar com você agora, embora esteja bem animada para ver o livro, claro. O Simon me chamou para uma reunião.
— Ah, reunião? Não tem nada anotado na agenda dele para essa manhã...
— Ele mesmo me chamou, estamos trabalhando em um... projeto especial. Se puder confirmar...
Ela pega o telefone.
— Simon, Julie Harris está aqui e... Ok, tudo bem.
Ela desliga dando de ombros.
— Sim, parece que agora ele agenda suas próprias reuniões! — ela diz contrafeita.
— Será mesmo que não estava sabendo e eles a fizeram esquecer ? — Sugiro com ar funesto e Natasha arregala os olhos.
— É... pode ser...
— OK, eu vou entrar.
— Fique com o livro! — Ela me obriga a pegá-lo quando passo por sua mesa.
— Ah, eu não sei.
— Por favor, leia. Se tem o dom tem que começar a estudar o assunto!
— Claro. Obrigada.
Entro na sala de Simon e fecho a porta atrás de mim, ele está sentado a sua mesa falando ao telefone.
— Sim Barbara, fico feliz que esteja bem. — Faz sinal para eu me aproximar e obedeço meio hesitante.
Tudo bem que pareceu que Simon tinha me chamado a sua sala para alguma sessão de sacanagem, porém, depois das acusações de ontem, eu é que não ia tomar nenhuma iniciativa. Então, quando chego perto o suficiente ele me puxa para seu colo e engulo a vontade de rir, porque ele continua ao telefone.
— Certo. Então nos reuniremos novamente quando retornar de viagem. Até lá! — Ele se despede, desliga e no minuto seguinte está com a língua dentro da minha boca. E só posso derreter totalmente, tratando de envolver seu pescoço com meus braços muito ansiosos.
— Senhor Bennett, que atrevimento. — Sorrio contra seus lábios, quando beijo finalmente termina.
— É só um beijo, senhorita Harris, pelo que me lembro você fez bem pior ontem.
Levanto a sobrancelha.
— Pior?
Ele me aperta um pouco mais.
— Melhor.
Sorrio satisfeita.
— Então foi para isso que me chamou aqui, para me beijar?
— Confesso que eu tinha outras ideias mais sacanas, mas nós dois sabemos que não é uma boa.
— Ah... — Não disfarço minha decepção e Simon ri.
— Que pequena ninfomaníaca você é, hein senhorita Harris?
— Não sou ninfomaníaca, só sou apaixonada por você... — e com um gemido ele me beija de novo, lenta e persuasivamente, deixando minha cabeça leve e meu corpo pegando fogo.
E quando o beijo termina estamos ambos sem fôlego.
— Não é justo começar se não vai terminar, senhor Bennett.
— Não é justo ser tão indecente, senhorita Harris.
— Que bela dupla nós somos hein? — Deito a cabeça em seu ombro, adorando seus dedos no meu cabelo.
Era assim que eu queria ficar para sempre. Em seus braços.
— Então se não foi para sacanagem porque me chamou então? Barbara está bem mesmo?
— Sim, ela está. Você não a matou — fala divertido e levanto a cabeça para encará-lo.
— Não teve graça, ela podia ter morrido! Eu poderia agora estar na cadeia tomando banho gelado com outras delinquentes!
Simon solta uma gargalhada.
— Não seja melodramática, Julie. Não tinha como você saber que ela era alérgica. Nem eu sabia. Aliás tudo poderia ter sido evitado se tivesse ido embora e não inventado de ser a cozinheira.
— Não quis desperdiçar minha preparação!
— Sua ideia era cozinhar para mim vestindo lingerie?
— Não só cozinhar, querido. — Insinuo e ele me beija de novo. Infelizmente dessa vez é bem rápido.
— E que diabos foi aquele relatório na sua agenda?
— Ah, foi uma bobagem! Eu fiquei brava com você por causa da discussão, acho que entendeu bem o que estava escrito.
— Eu entendi, da próxima vez não deixe suas anotações indiscretas por aí para que alguém descubra.
— Indiscretas? Pois saiba que você também é o rei da indiscrição!
— Eu? Não, não, eu sou muito discreto.
— É nada! E aquele olhar safado que me lançou na frente da Erin? Sorte que ela estava tão entretida me odiando e possivelmente fazendo planos de me jogar pela janela que não percebeu!
— Erin não vai te jogar pela janela!
— Ela podia tentar! Sabe que ela me odeia!
— Sim, já percebi que ela realmente tem algum problema com você.
— E agora ela me odeia ainda mais por causa desse projete secreto que inventou! Não sei se foi uma boa ideia.
— Eu achei que era. Assim teremos uma desculpa para você vir até aqui sempre que eu quiser. — Ele insinua uma mão cheia de dedos para baixo da minha blusa e envolve meu seio.
— Achei que não íamos mais transar aqui. — Me excito quando ele aperta meu mamilo e beija meu pescoço.
— Quem falou em transar... — sussurra no meu ouvido, quando sua outra mão já está debaixo da minha saia e subindo...
Ah sim...
Fecho os olhos soltando um gemido perdido quando seus dedos ultrapassam a barreira da minha calcinha. Ele me acaricia devagar, com maestria começado um incêndio em meu ventre.
— Acho que te devo um orgasmo, não foi o que colocou no seu relatório? — Sua voz adquire um tom sedutor que faz tudo tremer dentro de mim.
— Sim... — Jogo a cabeça para trás para dar livre acesso a sua boca em minha garganta. Ah é tão bom, tão perfeito...
Ele enfia um dedo dentro de mim e eu grito.
— Shi... Não queremos que a Natasha entre e nos atrapalhe, não é?
— Ela vai pensar que são os espíritos. — Me contorço contra sua mão.
— Espíritos? — Ele morde minha orelha.
— Longa história... — Ofego começando a arquejar. Ah Deus, ele sabia como fazer aquilo. E eu estou facilmente perdendo o controle.
— Isso, baby, deixe acontecer. Goze na minha mão. — Ele sussurra em meu ouvido, sua voz maravilhosa só faz com que eu perca de vez o controle e não demora para que estremeça em um orgasmo intenso que me faz soltar um longo e satisfeito gemido.
Deus, espero mesmo que Natasha tenha acreditado nessa historia de espirito.
— Eu acho que devo ir embora, mas não quero. — Digo algum tempo depois. Continuo no colo de Simon, ele também não fez nenhum movimento para me soltar.
— Gosto de ter você aqui. Parece que se passaram anos desde que entramos nessa bagunça de noivado e nunca consigo ficar com você como eu quero — Ele reclama.
— Às vezes eu também tenho a mesma sensação.
Realmente parecia que tudo estava dando errado.
O telefone toca de repente e ele atende.
— Sim, Natasha. Certo. Já acabamos a reunião. Diga ao James que eu o encontrarei para o almoço daqui a quinze minutos.
Ele desliga e eu suspiro me levantando.
— Parece que nosso tempo acabou.
Ele me ajuda a ajeitar a roupa.
— Tem certeza que é mesmo uma boa ideia eu ficar vindo? Sabe que a gente vai acabar transando...
Ele ri.
— Claro que eu sei. Na verdade estou contando com isso.
— E você diz isso rindo? E a discrição?
— Ainda podemos ser discretos. Essa história de projeto acabou servindo como uma luva. Vou espalhar para as pessoas certas e ninguém irá estranhar sua presença.
Tenho vontade de perguntar “e até quando a gente vai levar isso assim”? mas me calo. Acho que ainda é cedo para termos essa conversa.
— OK. Vamos nos ver hoje? Sem acionista e intoxicação?
— Com certeza. Eu te pego na próxima esquina. Nada de ir pra casa e ficar me mandando nudes.
— Ah, você viu?
— Vi sim, senhorita Harris. — Ele sorri e me beija mais uma vez me deixando ir.
Eu saio e encontro Natasha com os olhos fechados enquanto parece estar rezando ou sei lá o que.
— Natasha?
Ela abre os olhos.
— Ah é você!
— O que estava fazendo?
— Uma oração para os espíritos que aprendi no livro “Espíritos: Como mantê-los felizes e evitar que eles se tornem obsessores”.
— Ah...
— Eu ouvi. — Ela diz baixinho, como tivesse contando um segredo. — Os gemidos, como você avisou que aconteceria!
Eu seguro a vontade de rir.
Minha nossa!
— Jura? E foi assustador?
— Na verdade parecia meio... sexual. — Ela enrubesce.
— Tenho certeza que é isso que eles querem que você pense. Agora preciso ir.
— Não pode almoçar comigo?
No cemitério? Nem pensar.
— Me desculpe, Natasha. Já marquei com a Nancy. Fica para outro dia, está bem?
— Tudo bem.
Exatamente na hora combinada estou na esquina na qual Simon pediu que o esperasse, rezando para que todos já tenham ido e tentando não congelar no inverno Londrino. Estou tão animada! Também um tanto cética. Tanta coisa já deu errado que estou começando a duvidar que hoje finalmente vá dar certo ficarmos juntos.
Porém, meus medos não serão concretizados hoje, pois Simon para o carro no meio fio e eu pulo para dentro aliviada. Ele sorri para mim. Deus, ele é tão lindo.
E meu.
— Pronta?
— Muito! — Pisco, colocando o cinto e Simon sai cantando pneu.
De vez em quanto ele olha para mim, de um jeito que faz todos os pelos do meu corpo se arrepiarem de antecipação e uma doce tensão se instalar dentro do carro em todo o percurso até Chelsea.
Quando saltamos na garagem ele segura minha mão me puxando para o elevador e não consigo segurar o meu sorriso feliz.
— Com fome? — pergunta depois de apertar o botão para seu andar.
— Acha que ainda tem linguini com camarão?
Ele ri.
— Podemos pedir comida chinesa, não precisa cozinhar.
O elevador para em seu andar e, de repente, o último pensamento na minha mente é comida.
E acredito que na mente de Simon também porque, assim que ele abre a porta de seu apartamento, já estamos nos atracando ferozmente.
Ah sim!
Ele bate a porta e me encosta nela, me erguendo sem esforço e passo as pernas em volta do seu quadril, adorando sentir o quanto está excitado.
— Tem certeza que quer jantar agora? — Pergunta entre beijos, enquanto sua mão abre os botões da minha blusa.
— Prefiro que me foda primeiro, pode ser? — Quem se importa em ser fina naquele momento, com Simon Bennett se esfregando em mim?
Ele ri roucamente distribuindo beijos molhados por meu pescoço.
— Eu prefiro nesta ordem também!
E nós dois rimos enquanto ele me leva daquele jeito para o quarto e me joga na cama.
Mordo os lábios excitada quando ele tira a camisa revelando o peito perfeito que eu tenho vontade de lamber inteiro.
Bem, ficaria para depois, porque agora estava morrendo de vontade de tê-lo dentro de mim, então me apresso em tirar as minhas roupas também, enquanto ele tira as dele e em tempo recorde estamos ambos nus e ele vem para cima de mim, cheio de desejo, abre minhas pernas sem cerimônia e enfia o rosto lá, me aspirando, o nariz passando por meu clitóris e me fazendo derreter inteira.
— Adoro quando geme desse jeito, já te falei? — ele ri e me beija intimamente. Perversamente.
Ah Deus.
Gemo mais alto ainda. É o paraíso.
Se tem algo melhor, desconheço.
Mas tem sim, Simon logo se levanta e puxa um preservativo da cabeceira me fazendo abrir os olhos para apreciá-lo enquanto o coloca. E ele vem de novo, se acariciando e me deixando mais molhada ainda.
O puxo beijando-o com paixão, enquanto o levo para dentro de mim, onde é o seu lugar. E é sublime.
Sim, existia coisa melhor. Simon dentro de mim é a perfeição.
— Rápido ou devagar? — Ele indaga em meu ouvido e o abraço com pernas e braços.
— Rápido pra começar. Podemos ir devagar depois.
Ele ri e me beija.
— Gostei. — E investe com força me fazendo gritar.
Uau!
Vai ser rápido mesmo. Eu já sentia todo meu corpo se desintegrando e me movo junto com ele, naquela batida selvagem dos nossos corpos buscando tirar prazer um do outro, não demoramos a gozar intensamente, juntos, nossos gemidos se perdendo pelo quarto, até cairmos exaustos na cama.
E ainda estamos ali, esperando nossas respirações voltarem ao normal quando o celular de Simon toca. Ele solta um palavrão e o pega do chão.
— Oi mãe.
Ao ouvir que Simon está falando com a mãe me sinto um tanto envergonhada, como se ela estivesse ali vendo que estou nua na cama com o filho dela.
Simon se levanta e vai para o banheiro.
Puxo sua camisa do chão e a visto esperando que ele volte. Agora estou realmente com fome e a comida chinesa me parecia uma boa ideia. Também não consigo conter um bocejo e me ajeito na cama. Estou morrendo de sono, a noite mal dormida cobrando seu tributo.
Simon volta para o quarto e deita ao meu lado.
— Está dormindo?
— Não, claro que não. — Me obrigo a abrir os olhos.
— Era minha mãe.
— Percebi.
— Sábado tem a festa de aniversário de trinta anos de casamento dos meus pais.
— Ah... Você está querendo dizer...
— Que nós vamos.
— Eu vou com você? — De repente me sinto um pouco tímida quanto a isso. Quando estive na casa dos Bennett eu era apenas a noiva falsa de Simon e agora era tudo diferente. Como seria?
— Eles esperam que minha noiva esteja lá, claro.
— Não é esquisito?
— Por quê?
— Por que agora é de verdade, não sei... Nós vamos contar a eles que era mentira antes?
Simon franze a testa, como se não tivesse pensado a respeito.
— Não acho que haja necessidade.
— Ok, se você prefere.
— Vai ser muita confusão desnecessária se contarmos.
— É, pode ter razão. Enfim, acho que estou com fome, que tal aquela comida chinesa agora?
— Tudo bem, vou pegar o cardápio. — Ele veste a calça e sai do quarto.
Fecho os olhos e tento não pensar que em dois dias estarei de novo na casa dos Bennett.
E dessa vez realmente como a noiva de Simon.
Capítulo 9
Julie
A vida podia ser perfeita sim.
Eu tinha um emprego bacana (ok, minha chefe me odiava, mas fala sério, quem é que se dava bem com o chefe? Tenho certeza que eu era só mais uma nas estatísticas), tinha saúde (sim, isso é importante, embora a gente não pare para pensar neste departamento até que algo dê errado, por exemplo, quando quebrei o osso cúbito... ops, esqueci que é uma história inventada. Enfim...), tenho bons amigos (quer dizer, não tenho tantos amigos assim, mas Nancy e Holly são ótimas companheiras de apartamento. Por exemplo, Holly é podre de rica e tem um closet maravilhoso cheio de roupas de grife que sempre me empresta, ou eu posso pegar emprestado sem ela saber, dá no mesmo. É só não manchar e devolver direitinho para o lugar. E Nancy me conseguiu o emprego na DBS, embora ache que isso teve a ver com o fato de eu ter atrasado o aluguel por alguns meses. E sem contar que ela sempre lava a minha roupa.) e, claro, o melhor de tudo: eu tenho um noivo incrível!
Simon Bennett é meu noivo e não me canso de gritar aos quatro ventos nos últimos dias!
Certo, não é bem assim, ainda tem o lance da discrição e tudo o mais, então quando digo gritar quero dizer que escrevo em caps lock no meu perfil fake que criei no instagram para colocar fotos do meu noivo tiradas em momentos que ele não está vendo. Claro que eu presto atenção para não deixar seu rosto aparecer (as fotos dele dormindo são as melhores. Tem uma no banho também). E quer saber? a @Noiva_do_Simon já tem vários seguidores! OK, talvez eu tenha arriscado colocando esse nome sugestivo, mas quem é que vai ligar o nome à pessoa, como dizem? Não estou infringindo nenhuma regra, tenho certeza. E, obviamente, Simon não faz ideia de nada. Porque se souber ele me mata. Simples assim.
E eu quero manter a paz que se instalou em nossa vida depois de toda a confusão dos primeiros dias de noivado. E o que eu posso dizer? A coisas estão mesmo dando certo agora! Finalmente!
Eu conto as horas todo dia esperando Natasha me ligar e pedir para ir até a sala de Simon para mais uma reunião do “Projeto N”. Ignoro a cara feia de Erin e corro para me trancar na sala do CEO da empresa onde a gente passa pelo menos umas duas horas balançando sua mesa numa atividade bem sacana. Ou usamos o sofá. Ou o tapete. Ou a cadeira, enfim... Natasha tem ouvido tantos gemidos que está convicta que os espíritos a odeiam ou algo do tipo. A coitada anda mais perturbada que o habitual. Até comecei a ficar com pena e tentei me conter, mas sabe, é bem difícil fazer a linha silenciosa com Simon Bennett.
Para recompensá-la eu fui almoçar com ela no cemitério e até fingi que li o tal livro dos espíritos.
Simon me perguntou o que estava acontecendo com Natasha, pois chegou ao escritório e a flagrou ajoelhada em frente a sua mesa com os braços erguidos enquanto sussurrava “Ó queridos espíritos, estou aqui, podem sussurrar agora” e fui obrigada a contar o que tinha feito. Simon ficou puto e disse que a partir daquele dia estava cancelando nossas reuniões do projeto N. Obviamente essa resolução durou apenas umas doze horas porque no dia seguinte ele me chamou novamente.
A verdade é que somos um caso perdido, eu me pergunto se algum dia irei me cansar disso. Porque, além de toda atividade na empresa, a gente ainda ia para seu apartamento à noite para mais algumas horas de atividade extra. Infelizmente, só havia uma única coisa que me deixava um tanto incomodada. Depois de a gente transar até eu perder as forças, sempre acabava dormindo para ser acordada algum tempo depois com Simon pedindo para me arrumar porque ia me levar pra casa.
Quando aconteceu na primeira noite que passei lá, estranhei que estivesse me mandando embora dizendo que “precisava trabalhar”.
— Você trabalha à noite na sua casa também?
— Claro que sim — ele respondeu, como se fosse um fato muito comum, enquanto me ajudava a vestir a roupa, já que eu estava ainda lesada pelo sono.
Pensei que fosse acontecer só aquela vez, porém, nas outras noites ele fez a mesma coisa. E eu sempre estava tão chapada que não conseguia discutir e só pensava no quanto era estranho no dia seguinte. Sempre ensaiava confrontá-lo sobre esse assunto, mas ficávamos tão ocupados transando quando estávamos juntos que esquecia.
Hoje nós teríamos bastante tempo para conversar já que iríamos para Costwoods, viagem que levava umas boas duas horas, para a festa de aniversário de casamento de seus pais.
Confesso que essa história de festa estava me deixando meio apreensiva, porém tentava não surtar. Afinal, não havia motivos.
Eu tinha me dado bem com os Bennett e eles não faziam ideia de que nosso noivado havia começado como uma mentirinha. Excetuando o Scott, cunhado de Simon. Simon me falou que ele não ia contar nada, então era só ele não ter ficado irritado com o lance de eu ter colocado em cheque a legitimidade do diploma médico do seu pai que ficaria tudo bem.
Agora, cá estou eu, vestindo meu melhor jeans, um casaco Top Shop meio vagabundo que não esquenta muita coisa e tomando meu café enquanto espero Simon em frente ao meu prédio.
Felizmente Nancy tinha ido correr no Hyde Park com a Holly, porque inventei que ia para a casa dos meus pais, o que era realmente minha intenção antes de Simon me comunicar que teria que mudar meus planos. Minha mãe deu uma leve surtada quando contei que ia visitar a família do Simon e não poderia mais ir para casa neste fim de semana, afinal, era o fim de semana em que ela iria preparar um jantar mágico com suas amigas tão loucas quanto ela. Sim, minha mãe tinha companheiras de culto ou sei lá como se chamava essa gente que curte bruxaria, magia e essas coisas sem noção. E todo mês elas faziam um jantar especial, para louvar a deusa que consistia basicamente em fazer fofoca sobre o povo da cidade e depois dançar nua ao luar.
Sério, elas realmente dançavam peladonas na floresta. E eu sabia disso porque minha mãe me convenceu a acompanhá-la uma vez e fiquei meses traumatizada por ver os peitos da senhora Collins, minha professora do primário. Que tinha uma tatuagem na bunda. Na bunda!
Então até que dei graças a Deus por poder me livrar daquela festa esquisita de minha mãe e suas amigas.
Quando Simon estaciona o carro, eu pulo dentro tiritando os dentes.
— Frio? — Ele indaga divertido enquanto dá partida.
— Meio obvio já que estamos em janeiro e fazem quase zero graus lá fora!
— Esse seu casaco não parece servir para muita coisa!
— E não serve mesmo. É o único que eu tenho. Eu geralmente uso um da Holly, mas ela me proibiu de usar as roupas dela.
É, Holly ficou puta ontem quando viu que manchei sua saia Miu Miu de veludo. E claro que eu podia pegar sem ela ver, preferi não arriscar por enquanto.
— Holly é sua amiga que sonha em participar do X-Factor.
Olha só, ele lembrava que eu tinha contado sobre Holly, enquanto a gente jantava comida chinesa ontem e estava passando X-Factor na TV.
— Sim, ela ficou puta por Simon Cowel ter dito que sua performance era digna de cabaré.
Simon ri e eu me ajeito de lado para olhar pra ele.
— Então, já que vamos ficar duas horas dentro do carro, podemos conversar?
Simon levanta a sobrancelha.
— Por que parece que estamos começando algum tipo de DR?
— Hum, não tinha pensando nesses termos, mas pode ser!
Que emocionante, Simon e eu teríamos nossa primeira DR!
— Está falando sério? — Simon parecia achar muito divertido. — Achei que os casais tinham esse tipo de discussão depois de meses de relacionamento ou algo assim.
— Os casais têm quando é preciso! — rebato cheia de conhecimento.
Está claro que sou a mais experiente no quesito relacionamento, já que a única coisa que Simon fazia antes era pegar garotas no pub para passar a noite. E claro, a tal Lorna não contava.
Não contava porque eu não queria contar e ponto final. Eu gostava de fingir que ela não existia e estava muito bem com isso.
— Certo, então qual é o grande problema que estamos enfrentando no momento? — Simon questiona ainda em tom divertido. Certo, ele acha que não estou falando sério, ele ia ver.
— A primeira questão é que não entendo porque tenho que ir para casa toda noite, sendo que o mais correto seria que eu dormisse com você.
Aha! Percebo que ele não estava esperando.
Ponto para as meninas!
Simon desvia a atenção da estrada por alguns segundos me encarando com o cenho franzido.
— Não entendo qual o problema. Você tem a sua casa.
— Não é esse o ponto! — Reviro os olhos, exasperada. — Casais costumam passar a noite juntos, caramba, até os casos de uma noite podem dormir juntos!
— Não comigo!
— Ok, entendo que não quisesse dormir com as outras garotas, mas eu sou diferente! Não sou seu caso de uma noite!
— Julie, já expliquei para você, tenho uma rotina, tenho trabalho a fazer...
— Ah, acha que acredito nessa conversa de trabalho?
— Por que não? Acha que estou mentindo? — ele parecia muito indignado.
— Não disse isso! É esquisito! Quem trabalha a toda a noite depois de trabalhar o dia inteiro?
— Pessoas que levam a sério a carreira, por exemplo.
— É absurdo! — Jogo minhas mãos para o alto.
— Não é. Eu te disse que levo minha carreira muito a sério. E deveria fazer o mesmo.
— Como é? — Agora sou eu que estou indignada.
— Você é inteligente, Julie. Devia ser mais aplicada no que faz.
Ah, ele está me criticando?!
Eu?
— Eu sou aplicada!
Ele ri o que me irrita mais ainda.
— Não é pra rir! Está rindo de mim?
— Não! Só estou te dando um conselho..
— Eu não te pedi nenhum conselho, aliás, eu nem preciso de conselho! Ainda mais de um cara que trabalha vinte e quatro horas por dia!
— Não trabalho vinte e quatro horas por dia. Algumas horas eu passo te dando orgasmos se não se lembra.
— Ah, sério que vai jogar na minha cara? Por acaso está querendo dizer que eu te distraio da sua missão de ser o CEO mais pau no cu que já existiu no mundo?
— Por que está se voltando contra mim? Estávamos falando se você...
— Ei, não estávamos falando de mim, estávamos falando da sua obsessão por seu trabalho! E agora quer que eu seja como você! Uma mini Simon!
— Eu não disse isso, só falei que podia levar seu trabalho na DBS mais a sério!
— Simon, eu entrei na DBS há poucas semanas! E eu sou a merda de uma assistente!
— E não vai deixar de ser se não tiver mais responsabilidade.
— Ah, você é a porra do meu pai agora?
— Duvido que seu pai tenha falado assim com você. Se tivesse talvez fizesse um pouco mais de esforço para se dar bem na sua carreira...
— Ah vai se foder! — Sento direito no banco, cruzando os braços contra o peito.
Simon era um tremendo de um cretino arrogante viciado em trabalho!
— Julie? Olhe pra mim?
Eu o ignoro. Mesmo porque ele ainda está com aquele tom sério de CEO fodão. Eu não tenho medo dele. Alias, está instituído que a partir de agora eu odeio o CEO fodão que mora dentro de Simon Bennett. E, enquanto ele não desaparecer e deixar a personalidade do meu noivo carinhoso e romântico dominar, não falaria com ele.
— Porra, Julie, vai ficar assim a viagem inteira?
Não dou um pio.
Ele não tenta conversar comigo pelo resto da viagem. E quando estaciona o carro em frente a casa dos seus pais e nós saltamos, Mila e Florence vêm em nossa direção.
— Finalmente chegaram! — Mila diz — Julie, tem que experimentar o vestido lindo que comprei pra você!
— Que bom que tem um vestido, não consegui pegar nenhum da minha amiga de quarto! — Deixo que ela me puxe para dentro. Com o canto do olho, vejo Simon indo tirar as malas do carro.
— E você precisa ver o meu. Está fabuloso! — Florence diz animada.
— Será que vai servir? — Mila pisca e Florence se irrita.
— Claro que vai e cala a sua boca!
— O que foi? — Olho de uma para a outra.
— Florence está grávida! — Mila deixa escapar.
— Sério?
— Ainda não tenho certeza! — Florence cochicha, me puxando para um quarto. — Eu fiz um teste desses de farmácia, sabe que pode falhar.
— Eles não falham! — Mila insiste.
— Eu prefiro fazer um exame mais garantido na segunda-feira!
— E mais alguém sabe?
— Nem o Sean! Portanto vocês duas fiquem de boca fechada! — Florence pede e a gente acena concordando.
Simon entra no quarto naquele momento carregando as malas e eu me pergunto se devo voltar a falar com ele ou se dou mais algumas horas de gelo.
— Simon, a gente vai experimentar o vestido! — Mila o põe pra fora, tirando a decisão da minha mão. — Vá ficar com os homens lá embaixo!
— Homens? Você quer dizer meu irmão, meu cunhado e meu pai?
— O Henry está aqui também!
— Sério? Não achei que o Henry viria! — Ele me lança um olhar especulativo e viro o rosto na minha melhor representação de mulher de gelo. Simon dá de ombros, saindo e fechando a porta atrás de si.
— Quem é Henry? — Pergunto.
— Um dos melhores amigos do Simon, eles estudaram juntos em Eton. — Mila responde, retirando um vestido verde do cabide.
— Acho que nunca conheci um amigo de Simon. — Franzo a testa meio incomodada. Florence começa a tirar minha roupa como se eu fosse uma Barbie.
Bem, podiam mesmo fazer uma Barbie baseada em mim.
Seria a Barbie noiva do CEO.
Ia vender pra caramba.
— Sério? Como assim? — Florence indaga curiosa, enquanto Mila coloca o vestido pela minha cabeça.
— Quer dizer, sabe como são os começos de relacionamentos... A gente só quer ficar em casa transando!
Elas riem.
— Ainda estão nessa fase? — Mila me encara admirada e dou de ombros.
Bem, elas não sabem que a gente não tem tanto tempo junto assim como elas acreditam.
— Uau, ficou lindo!
Eu me admiro no espelho e realmente o vestido é deslumbrante.
— Obrigada, ficou bem legal mesmo.
— Legal? Você vai arrasar!
— Agora vamos descer que a cabeleireira e a maquiadora estão lá no quarto da Maggie — Florence diz e eu as acompanho para a sessão de maquiagem e cabelo.
Quando volto para o quarto, já está anoitecendo e Simon está lá colocando seu smoking, por um momento apenas o admiro. Caramba, Simon é tão lindo que dói olhar pra ele.
Porém quando nosso olhar se encontra através do espelho ele franze o cenho.
— Ainda está com raiva?
Eu jogo meu cabelo recém-escovado e pego o vestido no cabide.
— Claro que sim!
— Merda, eu sabia que essa historia de DR não ia dar certo. — ele bufa.
— Ah claro, o senhor sabe tudo sempre tem todas as respostas! — Não consigo deixar de ironizar e Simon solta mais alguns palavrões.
— Ok, pode ficar emburrada. Mas lembre-se que foi você quem começou essa discussão apenas porque eu te mando pra casa toda noite.
Tiro o roupão e começo a colocar o vestido.
— Eu só queria que o meu noivo tivesse dito “Ah querida, isso a aborrece? Então a partir de agora pode dormir todas as noites comigo. Aliás, veja o espaço vazio no meu closet, pode trazer algumas roupas” e não que começasse a me acusar de ser relapsa com meu trabalho! — esbravejo enquanto tento fechar a merda do zíper.
— Inferno, eu não quis irritá-la! Nem por uma coisa nem outra! Sim, eu levo a sério meu trabalho e você sabia muito bem! — Simon se coloca atrás de mim e dá um tapa na minha mão, fechando o zíper ele mesmo.
— Você disse que queria ficar comigo! E eu acreditei! — Minha voz sai mais magoada do que eu pretendia.
— E eu quero!
— Nos seus termos!
Ele coloca as mãos nos meus ombros e me vira.
— Você está fazendo uma tempestade por algo que não tem a menor importância.
— Tem pra mim!
— Sério mesmo? Vai continuar implicando porque não dorme na minha casa?
— Você fala como se fosse crime querer ficar com você, Simon!
Ele respira fundo.
— Certo, acho que podemos negociar uma concessão.
Lá está. O CEO negociador.
De repente é como um dejà vu de quando estávamos naquele banheiro na primeira manhã quando ele pediu que eu mentisse que era sua noiva.
Parece que fazia anos e não semanas.
Caramba, algumas semanas e a gente já estava discutindo como um casal de meia idade.
Parecia que as coisas entre mim e Simon aconteciam em outra velocidade, como naquele filme em que os astronautas vão para um planeta distante, passam quatro minutos lá e aqui na terra se passaram dez anos.
— OK, que tipo de concessão?
— Duas vezes por semana estaria bom pra você?
— Na semana ou no fim de semana?
— Na semana.
— Espere, você não vai trabalhar nos fins de semana também, não é?
— Bem, às vezes eu preciso.
— Às vezes ou sempre?
— Quase sempre...
— Sério, porque não me apaixonei por um vagabundo? — reclamo já sabendo que não adianta mentir para mim mesma. Eu gosto deste cara. E do jeito que ele é. E não vou abrir mão dele por nada nesse mundo. Se tivesse que dividi-lo com sua carreira era o que faria.
Mesmo porque, sempre poderíamos negociar algumas concessões. Eu não havia conseguido a maior concessão de todas, quando ele decidiu que queria abrir mão de sua vida controlada pelo trabalho para ficar comigo?
Antes que eu responda, ouvimos uma batida na porta e Mila surge.
— Prontos? Mamãe disse que os convidados já começaram a chegar!
— Sim, estamos. — Simon segura minha mão e nós seguimos Mila para fora do quarto.
E não posso evitar um pensamento martelando em minha mente.
Ok, eu ainda tinha uma parcela menor em relação a carreira de Simon, no entanto, se ele era obstinado eu também podia ser.
E a pergunta era: Eu conseguiria negociar uma parcela maior? E me tornar prioridade em sua vida?
— Tudo bem? — Ele aperta minha mão quando descemos as escadas e me obrigo a sorrir.
— Sim...
Quando me viro de frente de novo, o sorriso morre em meu rosto ao vislumbrar quem está entrando pelas portas francesas trajando um magnifico vestido dourado.
Lorna Middleton.
Que porra essa vadia está fazendo aqui?
Capítulo 10
Julie
Hoje definitivamente não é meu dia de sorte.
Primeiro a DR que terminou em uma discussão e agora sou obrigada a continuar sorrindo enquanto contemplo a ex do meu noivo circulando por uma festa na qual não deveria estar.
— O que ela está fazendo aqui? — sussurro para Simon.
— Não faço ideia.
Mila se coloca ao meu lado e toca meu braço com uma expressão alarmada.
— Eu disse para a mamãe que não seria uma boa convidar os Middleton, mamãe disse que não ficaria bem não os convidar já que todos os antigos amigos deles estão aqui hoje. Desculpe Julie.
Certo. Ela tinha razão. Lorna Middleton e sua corja já faziam parte da vida da família Bennett muito antes de eu aparecer. E hoje era a festa deles, eu não poderia exigir que Lorna Middleton fosse expulsa (de preferência a pontapés, ou com os cachorros latindo atrás dela).
— Tudo bem, eu não me importo. — Minto descaradamente e Simon levanta a sobrancelha para mim. — É sério!
— Ah, olha só quem está aqui, Lucy não é? — Viro-me ao ouvir a voz desdenhosa de Lorna e lá está ela, com seu sorriso cheio de dentes perfeitos me medindo com expressão arrogante.
Vaca!
— É Julie — Simon corrige. — Como vai, Lorna?
— Estou ótima e vocês? — Seu olhar de repente se prende em minha mão no braço de Simon. Ainda bem que fiz as unhas. — Cadê o anel? Terminaram?
Ah merda. Eu sabia que estava esquecendo alguma coisa. A questão é que como eu tinha que mentir para todo mundo no escritório, escondi o anel em meu porta-joias e não me lembrei de trazê-lo.
— Eu o levei para fazer um pequeno ajuste. — Simon mente por mim e o sorriso feliz de Lorna se desfaz um pouco.
— Então, como vê, estamos mais noivos do que nunca. — Grudo mais meus braços em Simon. — Agora se nos der licença, eu e Simon temos que circular por aí, quem sabe transar em alguma sala vazia, passar bem! — E o puxo para longe daquela cobra interesseira antes que ela possa tentar dar o bote.
— A gente vai transar em alguma sala vazia? — Simon especula divertido.
— Não! Mas ela vai pensar que sim!
— É assim que não está se importando com Lorna?
Eu me viro para ele.
— Me diz como se sentiria se chegasse na casa dos meus pais e visse um dos meus ex por lá jantando com eles?
Simon fecha a cara.
— Pois é, dói né? E aí, o que faria?
— Eu ficaria puto. E sentiria pena do coitado que tivesse que comer a comida de sua mãe.
Eu tento parar minha risada, não consigo.
— Não é esse o ponto... — Antes que consiga terminar ele segura meu rosto e me beija.
— Esqueça a Lorna. Ela só está aqui porque seus pais foram convidados.
— Só é esquisito pensar que ela vai estar sempre por perto quando viermos! — Expresso meu maior medo.
— Eu vou conversar com meus pais, ok? Satisfeita?
— Estamos negociando concessões outra vez? — Toco sua gravata. — Ainda não esqueci que estou brava com você.
Ele segura minha mão e beija a palma.
— Podemos ter uma trégua. Só por hoje? E voltarmos ao e assunto depois?
— Depois quando? — É melhor ele não pensar que iria me enrolar como sempre tentava fazer. Eu não pretendia deixar aquele assunto passar.
— Depois da festa, ok?
Suspiro pesadamente.
— Tudo bem.
— Então podemos colocar em prática a ideia da transa em uma sala vazia?
— Vou pensar no seu caso...
— Aí estão os noivos do ano! — Uma voz de homem nos interrompe e eu me viro para ver um cara vestindo um jeans surrado e uma camiseta que também já teve seus dias melhores se aproximando. Ele é bonito pra caramba, devo dizer, mesmo com o cabelo castanho ondulado precisando urgentemente de um corte e a barba por fazer.
— Julie, esse é Henry. — Simon nos apresenta e o homem sorri. Uau! — Henry, essa é minha noiva, Julie Harris.
— Muito prazer Julie. — Ele me abraça sem cerimônia.
— É... o prazer é meu também, acho... — balbucio meio desnorteada e ele ri.
— Então você é a maluca que aceitou casar com esse workaholic? — Henry pega uma taça de champanhe quando o garçom passa.
“Aceitou casar.”
De repente aquela expressão me deixa um tanto zonza.
Ok, eu tinha aceitado ser a noiva de Simon, só esqueci que um noivado queria dizer que ao final aconteceria um casamento.
— Ei, vamos com calma, Henry — Simon responde divertido, apanhando duas taças e passando uma para mim. — Eu e Julie acabamos de ficar noivos, não estamos pensando no próximo estágio ainda.
— Não? Sua irmã Mila estava me mostrando as fotos de alguns castelos onde poderia ser a cerimônia mais cedo.
O quê? Olho para Simon assustada.
— E sua cunhada, Florence é o nome dela não é? Me perguntou se eu iria cortar o cabelo porque seria inconcebível que eu ficasse no altar como padrinho parecendo um “homem das cavernas” acho que foi a expressão que usou... Cara, não tem cerveja não? — Ele faz uma careta para a champanhe em sua mão.
— Pode ir ao pub da cidade tomar se quiser — Simon ri. — E você tinha que vir vestido igual um mendigo na festa dos meus pais?
— Eu esqueci meu smoking — Ele dá de ombros. — E a gente podia realmente ir a um pub, faz tempo que...
— Espere, voltando ao assunto do casamento — o interrompo, muito interessada no fato de que a família de Simon parecia estar organizando uma cerimônia sem que estivéssemos sabendo. — A gente não vai casar agora, elas não deveriam estar fazendo planos ou sei lá o quê!
— Calma, Julie. — Simon toca meu braço. — Elas estão apenas especulando.
— Então por que sua mãe perguntou se Durhan estava disponível? — Henry diz.
— O que é Durhan? — Pergunto confusa.
— Aí estão vocês! — Maggie se aproxima com um casal de meia idade. — Julie, querida quero que conheça Peter e Charlote Bradshaw!
— Ah, finalmente podemos conhecer a noiva do Simon — a mulher diz tentando o que eu imagino ser um sorriso, mas seu rosto tem tanto botox que fica difícil. — Você é tão linda, querida! Meus parabéns, Simon!
— Eu falei que ela era linda — Maggie sorri — Agora se me dão licença, vou deixar vocês conversando... — Ela se afasta e a tal Charlote continua.
— E então, já marcaram a data?
— Sim, um casamento na primavera seria magnifico — Peter diz e os dois fixam o olhar em mim e Simon esperando uma resposta.
Atrás deles, Henry está rindo com uma expressão de “eu não falei?” Antes de se afastar, provavelmente para procurar cerveja.
— Ah, sim, nós todos queremos saber. — Uma senhora idosa se aproxima e atrás dela mais umas três pessoas. — Acho que para a primavera está muito em cima da hora, não?
— Claro que não, é só contratar os melhores cerimonialistas! — Outra diz — Aliás, eu posso indicar alguns, quando minha filha Ariel se casou no ano passado...
— Ouvi dizer que a cerimônia seria na França! — Outro homem se aproxima e parece que agora tem um monte de gente a nossa volta fazendo especulações.
— Não seria em Durhan?
— E o vestido? Sei que todas estão usando o mesmo modelo da Kate, mas eu acho que...
— Mila disse que seria um Vera Wang...
— Não, não, acho que era Elie Saab.
— E o bufê? Por favor não contratem o mesmo do casamento da Mila, aqueles camarões estavam terríveis...
— E a lua de mel, aonde vai ser?
Meu Deus, o que era aquilo?
De repente me sinto como se tivesse cercada de mortos vivos querendo arrancar meu cérebro. Ou alguma informação sobre o casamento.
— Senhores, por favor. — Simon recupera a voz antes de mim. — Não, a gente ainda não tem nada marcado, aliás, o casamento pode demorar bastante.
— Simon, precisamos de você! — Mila aparece e segura o braço de Simon. — Daqui a pouco serão os discursos e precisamos nos preparar! Com licença, senhores! — ela sorri e olha pra mim. — Julie, vai ficar bem sem o Simon um pouquinho? Pelo o que eu vi já se entrosou com todo mundo! Venha Simon.
Simon me lança um olhar de desculpa.
— Voltarei logo.
Ele se afasta e me deixa sozinha, entregue aos zumbis casamenteiros.
A tal Charlote ri, assim como os outros.
— Ah os homens! Querida não espere muito para começar os preparativos, ainda mais se quiser um casamento na primavera...
— Mas eu.. — balbucio perdida.
— E o vestido vai ser Elie Saab ou Vera Wang afinal ? — Uma moça loira insiste e eu suspiro.
Ah Deus, acho que só tem um jeito de eu me livrar.
Abro um sorriso.
— Na verdade, vai ser um Valentino. — Minto com orgulho e todos os olhos se arregalam.
— Uau, já foi encomendado? — Alguém pergunta.
— Claro que sim. Já está sendo confeccionado e é fabuloso!
— Vai ser parecido com a da Kim Kardashian?
— Mais bonito, com certeza! — Sorrio.
— Então já sabem onde vai ser a cerimônia? Algum castelo?
— Estamos estudando algumas possibilidades, visitando alguns castelos sim, ainda não temos nada fechado. Na verdade — Faço um suspense. — Bem, ainda é meio que segredo, estamos pensando em algo mais informal... Nas Bahamas.
Todos exclamam extasiados.
— Sim, ao por do sol. Na praia. Ou quem sabe em Barbados, talvez a Rihanna possa emprestar sua casa para nós.
— Vocês conhecem a Rihanna?
— Não, mas a gente pode tentar! Também pensei na casa do Clooney na Itália. — Completo meu delírio.
— Nossa, tenho certeza que vai ser lindo. E já têm uma data?
— Ainda não, mas receberão seus convites a tempo. Não se preocupem! — Pisco e todos riem.
— Olha lá, vão começar os discursos! — Alguém alerta e todos nós nos voltamos para um pequeno palco onde Sean, Simon e Mila estão posicionados.
— Obrigada a todos pela presença — Mila anuncia. — Fui escolhida para dizer algumas poucas palavras para homenagear nossos pais. — Ela começa a falar emocionada e todos riem e aplaudem na hora certa. É realmente bem bonito.
Ao fim, eles descem do palco indo abraçar seus pais e, para nossa surpresa, Lorna Middleton pega o microfone.
— Olá, eu gostaria de dizer algumas palavras também.
O quê?
A moça sorri para a plateia.
— Eu frequento a casa dos Bennett desde criança e nossas famílias são muito amigas. Aqui sempre foi como minha casa, houve uma época que eu achei que realmente seria. — Seu lábio treme. Ah, faça-me o favor! — Como sabem, eu namorei Simon Bennett por anos e foram os melhores anos de nossas vidas.
Ah, já chega né?
— E eu sempre fui tratada como filha e mesmo depois de terminarmos... — Faz uma pausa dramática, mordendo os lábios. — Ainda os considero como meus pais. Muito obrigada por tudo. Espero que ainda me considerem como filha também... — Ela soluça. — Me desculpem, estou muito emocionada...
Todos parecem tocados com sua emoção.
Maggie Bennett até enxuga uma lágrima.
— Aff — Bufo alto e, de repente, todos os olhos estão fixos em mim.
Ai merda!
Os olhos de Lorna me encontram.
— Oh, quer dizer alguma coisa também ? — ironiza
Limpo a garganta.
— Sim, eu gostaria. — Ela vai ver!
Caminho resoluta para o palco, ignorando o olhar apavorado de Simon quando passo por ele e sua família.
Lorna está me fitando surpresa quando arranco o microfone de sua mão.
Me viro para a plateia curiosa.
— Olá, alguns de vocês não me conhecem, eu sou Julie Harris, a noiva do Simon — completo, olhando para Lorna. — A atual noiva dele! Enfim... — Me viro para os convidados de novo com um sorriso. — Também queria dizer umas palavras. — Ai Deus, o que eu ia dizer? Maggie e Alfred me fitam aguardando. Na verdade eles parecem meio confusos. — Conheço Maggie e Alfred há pouco tempo, mas já os admiro muito, afinal, são os pais do meu noivo, e bem, olhem para ele. Tem que ser um casal muito inspirado para fazer um homem como este! Se é que me entendem. — Todos riem e acho que Maggie ficou vermelha enquanto Simon cruza os braços em frente ao peito com um olhar entre divertido e curioso. — Enfim, desejo ter um casamento tão feliz como o de vocês. E não sei se meus filhos serão tão lindos quanto os seus, mas certamente eu vou adorar fazê-los com o seu filho!
Simon esconde os rosto entre as mãos e agora Maggie parece ainda mais vermelha enquanto Alfred não sabe se ri ou se fica vermelho também.
Ai merda! Isso na está indo muito bem.
— Ok, já disse suas palavras ... espirituosas — Lorna dardeja estendendo a mão para o microfone. — Acho que já fez todos rirem, agora eu quero continuar a contar as experiências maravilhosas e emocionantes que tenho com os Bennett...
— Não, eu tenho mais algo a dizer. — Me nego a dar o microfone para que a cobra continue seu show. Olho de novo para os convidados. — Bem, eu também tenho algo emocionante a dizer. — Todos esperam curiosos. — Eu queria parabenizar Maggie e Alfred pelo netinho a caminho. Parabéns vovós!
Aha! tome essa!
Todos iam chorar agora com essa novidade.
E o recinto se ergue em aplauso, menos a família Bennett que olham de um para o outro confusos.
— Que diabos está dizendo? — Escuto Simon falar enquanto se aproxima de mim.
— Julie, não era pra contar ! — Florence também se aproxima. — Pelo amor de Deus, conserta isso, ninguém pode saber!
— Quem esta grávida? — Sean pergunta.
— Sim, querida, quem está grávida? — Alfred pergunta e todos vão se calando, olhando pra mim em busca de mais informações.
Florence só falta começar a chorar, enquanto faz um gesto com o dedo na garganta que tanto pode ser de “vou cortar sua jugular” ou “cale a boca sua demente”.
Eu olho para a plateia curiosa e sorrio.
— Bem, sim, quem está grávida? Eu! Eu estou grávida! — Anuncio rápido — enfim, obrigada, até mais! — Abaixo o microfone, a tempo antes de Simon me arrancar do palco.
Agora sim ele iria me matar.
Capítulo 11
Julie
Simon me arrasta por entre os convidados que sorriem e nos parabenizam pelo caminho e o que eu posso fazer? Sorrio e aceno de volta. — Pare com isso! — Simon me repreende.
Me desvencilho quando chegamos a uma sala vazia. — Calma, não precisa pirar!
— Não precisa? Você acabou de dizer que está gravida!
— Sim, eu disse, não é verdade, claro! — Faço um gesto de descaso com a mão.
— Querida, você está grávida? — Maggie se aproxima sorrindo surpresa.
— Que notícia inesperada! — Alfred me abraça e Simon solta um palavrão.
— Simon, querido, que modos são esses? — Maggie chama sua atenção.
Sean se aproxima com Florence.
— E aí, que novidade hein? — Sean me dá um abraço de urso e Florence revira os olhos.
Os únicos que não se aproximam são Mila e Scott. Mila está sussurrando algo para ele rindo muito e tenho certeza que é a verdade.
— Para quando é o bebê querida? — Maggie continua visivelmente emocionada.
— Acho que teremos que marcar a data para o mais cedo possível — Alfred pega seu celular. — Acho que vinte cinco de março...
— Pelo amor de Deus, calem a boca! — Simon esbraveja e todos o encaram chocados. — Não precisamos marcar data do casamento!
— Mas querido, a barriga pode aparecer... — Não consigo me conter e Simon rosna enfurecido.
— Julie tem razão — Maggie começa e Simon bufa.
— Julie não está grávida, mãe!
— Não?
— Não! Ela inventou isso e nem sei o motivo. — Ele se vira para mim de novo. — Você passou dos limites dessa vez!
Eu me encolho, começando a ficar com medo da minha pequena mentira.
— Mas... por que disse que estava grávida no seu discurso? — Alfred pergunta confuso.
Mila e Scott se aproximam muito interessados no desenrolar da discussão.
Olho para Florence em busca de socorro.
Não quero ter que inventar mais mentiras.
Ela se dá por vencida.
— Na verdade quem pode estar grávida sou eu — ela confessa finalmente.
E toda a atenção se volta pra ela.
— Como assim? — Sean é o primeiro a falar.
— Ainda não tenho certeza! Por isso pedi que Julie não contasse nada! Aparentemente ela esqueceu e quase contou a todo mundo.
— Eu me lembrei a tempo e por isso falei que era eu que estava.
— Você está gravida? — Sean transfere o abraço de urso para Florence.
— Pode ser que sim, não fique tão empolgado, vamos ao médico segunda-feira para confirmar direitinho! Então nada de parabéns. Por enquanto! — Ela alerta aos sogros.
— Deixa de ser boba, Florence, claro que está grávida! — Mila ri e desvia a atenção para mim. — Julie, você é mesmo doida! Como pôde inventar que estava grávida?
— É o que eu me pergunto. — resmunga Simon, ainda bravo.
— Bem, a confusão se revolveu então vamos voltar para a festa. Temos que começar a desmentir essa história de gravidez. Boa sorte a todos! — Alfred ordena e respiro aliviada.
Antes que consiga dar dois passos para seguir a família, Simon me segura.
— Aonde pensa que vai?
— Você ouviu seu pai, voltar para a festa!
— Julie, precisa parar de inventar essas histórias! Você quase me fez ter um infarto!
— Você ouviu, eu só inventei porque a Florence pediu que não contasse sobre a gravidez dela!
— Então por que começou o assunto para início de conversa? Aliás, o que deu em você para querer fazer aquele discurso?
Eu enrubesço. Não quero contar que foi porque estava com ciúme de Lorna Middleton.
Acho que Simon começa a me compreender muito bem, pois sua expressão é de quem já sacou meus motivos.
— Por causa da Lorna? Agora entendo...
— Entende mesmo? Aquela exibida não deveria ter feito discurso algum!
— Lorna só quis ser gentil, meus pais a conhecem desde criança.
— Mentira! Ela queria aparecer! E se ela pode eu também! Afinal, eu sou sua noiva! E não ela!
Simon solta uma risada cansada.
— Não vou discutir com você de novo por causa de Lorna.
— OK, nem eu quero discutir!
— Certo, então vamos voltar para a festa... — Antes que ele consiga se afastar, desta vez sou eu que o impeço.
— Você achou que podia ser verdade?
— O quê? — Ele me fita confuso.
— Que eu estava grávida.
— Não achei — Ele nega rápido demais.
— Achou sim! Disse que quase enfartou? Meu Deus Simon, você ia odiar tanto assim se fosse verdade? — Começo a me sentir bem magoada.
— Sério que vamos discutir isso?
— Sério que odiou a ideia?
— Julie, pelo amor de Deus, nós estamos juntos há cinco minutos. Acha que eu reagiria como? Diga-me se você realmente ficasse grávida se também não iria pirar?
De repente eu começo a imaginar e...
— Puta que Pariu, eu sou jovem demais pra ser mãe! — Exclamo e Simon ri.
— Eu não falei?
— Minha nossa, como é que seria? Como é que eu ia esconder da Erin? Eu teria que usar aquelas roupas horríveis disformes para esconder a barriga de todo mundo na empresa enquanto todos se perguntariam como é que eu poderia estar engordando tanto?
Simon ri e segura minha mão gelada.
— Chega de absurdos por hoje, ok?
— Não, é sério! A gente teria que casar tipo, no mês que vem, como toda essa gente está querendo! Senão o vestido nem ia caber em mim! De maneira alguma quero olhar para meu álbum de casamento daqui a vinte anos e ver minha barriga grande embaixo de um Vera Wang! — Estremeço de horror. — E minha mãe iria querer escolher o nome da criança e teríamos que chamar nosso filho de Maçã! E ele seria zoado na escola e talvez o bulliyng o fizesse ficar violento e ele entraria atirando nos colegas de classe! E eu sairia em todos os noticiários como a mãe que não percebeu que o filho era um psicopata... talvez até fizessem uma série na Netflix sobre nós...
— Caramba, Julie, de onde você tira tanta maluquice? — Simon está me fitando horrorizado com o quadro que pintei.
— Poderia acontecer!
Ele revira os olhos.
— Está sendo muito negativa. E depois sou eu que estou pirando com a ideia! — Ele me puxa de volta para a festa.
— Não estou pirando! Apenas imaginando...
— O pior cenário possível — Ele pega duas taças de um garçom que passa por nós entregando uma para mim.
Respiro fundo, tomando um gole de champanhe tentando me acalmar. Simon tem razão.
Porque eu estava pintando os piores cenários? Ok, eu era bem jovem e a possibilidade de ter filhos nunca sequer havia passado pela minha cabeça.
No entanto agora estou noiva. E isso significa que, um dia, (mesmo que demore) vou me casar.
E pessoas casadas geralmente começam a fazer bebês.
E por que tinha que ser algo horrível? Olhe para Simon, ele é lindo. E eu não sou de se jogar fora. Nosso filho seria perfeito, com certeza. E podia puxar a inteligência de Simon também.
Ou talvez pudéssemos ter uma menina. Aí ela poderia estudar no mesmo colégio que a princesa Charlotte! E elas seriam melhores amigas! E talvez o Príncipe George a conhecesse a se apaixonasse por ela!
Oh Meu Deus, eu vou ser mãe da próxima Duquesa de Cambridge!
Eu solto uma risada mais animada.
É, não seria má ideia ter um bebê.
Se eu quisesse que minha filha entrasse para a família real teria que me apressar...
— Ei, Simon, parabéns! — Um senhor passa por nós e dá batidinhas nas costas de Simon.
Simon solta um palavrão baixo.
— Você e suas ideias absurdas, ainda vai nos encrencar, Julie.
Hum, aparentemente Simon não estava preparado para meus planos, por enquanto.
Bem, seria melhor esquecê-los por hora, já tínhamos confusão demais para o momento e...
— Minha nossa, o que diabos ela está fazendo aqui. — Cuspo toda a champanhe olhando horrorizada para a porta onde acaba de surgir ninguém mais ninguém menos que Erin!
É como a cena do meu pior pesadelo.
Erin está caminhando de braços dados com um cara loiro (bem bonito por sinal) num vestido de tirar o fôlego todo preto (acho que é o mesmo Valentino que a Kate Blanchet usou no Oscar), toda sorridente como se não tivesse prestes a encontrar sua mentirosa assistente na festa chique do CEO da empresa.
— Eu não faço ideia! — Simon parece tão aturdido quanto eu.
— Você não a convidou, não é? — Questiono desconfiada.
— Claro que não, não ouviu o que eu disse? Não faço ideia do que ela está fazendo aqui! Mas... provavelmente deve ter vindo como acompanhante de James Gallagher, o homem que está com ela.
— O quê? — Meus olhos se voltam de novo para Erin e seu acompanhante gato. — Aquele é James Gallagher? Sabia que o conhecia de algum lugar.
James Gallagher era conhecido pela alcunha de “o dono da metade de Londres” de tão rico que era.
E que porra Erin estava fazendo na companhia dele?
Era melhor eu deixar minha curiosidade de lado e dar um jeito de sair de fininho antes que ela me visse.
— Melhor eu dar o fora! — sussurro.
— Julie, não pode sair no meio da festa dos meus pais! — Simon me segura.
— E prefere o quê? Que a Erin me veja com você?
— Certo, tem razão. Somente sumir não vai adiantar. Alguém pode abrir a boca e dizer que você é minha noiva.
— Merda, é verdade! E o que vamos fazer?
— Não vai ter jeito. Vamos ter que contar a verdade a Erin.
— Está maluco?
— Você vê outra solução?
— Erin me odeia! Se ela descobrir vai... me demitir!
— Não seja boba. Eu sou o chefe dela. Vamos contar a verdade e pediremos sua discrição.
— Isso não vai dar certo!
— Vai sim. — E sem que eu consiga impedir, me vejo puxada por Simon através dos convidados que se abrem como o mar vermelho para nós, ainda sussurrando congratulações pela falsa gravidez. Até que estejamos frente a frente com minha chefe.
Ela está sozinha, seu par, o bilionário que eu não sei ainda como ela arranjou, deve ter ido contar dinheiro ou sei lá o que os bilionários fazem.
Por um instante ela não me vê, ou pelo menos não se toca que quem está de mãos dadas com o CEO da DBS é sua assistente. Ela sorri para Simon muito animada.
— Simon, como vai? Estava mesmo a sua procura, vim com James Gallagher, deve conhecer. Estamos saindo. — Ela faz cara de tímida. Ah faça-me o favor!
— Oi Erin, acho que conhece a Julie.
Erin se vira sorrindo para mim e então o sorriso desaparece do seu rosto no exato momento em que me reconhece.
— Julie Harris! — Ela cospe as palavras totalmente horrorizada. — O que está fazendo aqui?
Eu forço um sorriso.
— Olá, Erin, belo vestido.
— Que brincadeira é essa? — Balbucia começando a ficar vermelha com a irritação.
— Bom, Erin, é um segredo, então pedimos sua compreensão para manter essa informação apenas para você na empresa. Julie e eu estamos noivos.
Eu tenho que confessar, o queixo de Erin caiu de um jeito que me deu muita vontade de rir.
Por alguns instantes ela permanece completamente muda, como se estivesse tendo algum ataque apoplético ou algo parecido.
— Não pode ser verdade! — Ela olha para nós aturdida. — É absurdo!
— Você se recorda que Julie estava noiva e que seu noivado virou assunto na empresa e ela falou que não poderia revelar quem era. Acho que agora deu para entender o motivo. — Simon continua.
— Então era você?!
— Sim. Sou eu.
— Mas... você disse que rompeu o tal noivado...
— Eu tive que mentir para as pessoas pararem de fofocar. — Dou de ombros.
— Então Erin, podemos contar com sua discrição? — Simon questiona muito sério, usando sua melhor voz de CEO fodão. — Tenho certeza que sendo a profissional séria que é, vai entender a necessidade de mantermos esse assunto fora da DBS.
Erin engole em seco, posso perceber as engrenagens na sua mente funcionando. Claro que ela não quer manter a discrição coisíssima nenhuma e o motivo era só um: Ela não gostava de mim e ficaria bem feliz em jogar meu nome na lama. Só que para isso teria que jogar o de Simon também. E ele era o cara mais poderoso da DBS e poderia facilmente mandá-la pra rua caso o assunto vazasse.
— Posso contar com você Erin? — Simon insiste e ela é obrigada a aquiescer.
— Claro que sim.
— Muito obrigado. Fico muito satisfeito em poder contar com sua lealdade.
Ela força um sorriso.
— Estou... feliz por vocês?
— Obrigado. Agora, se nos der licença... — Simon me puxa pela mão para longe dela.
— Tem certeza que ela vai manter o bico fechado? — pergunto ainda em dúvida.
— Ela quer manter seu emprego, então não vai dizer nada.
— Você está confiando demais...
Simon para e me faz olhar para ele.
— Julie, Erin não pode te prejudicar.
Quero rebater que ela me prejudica da hora que eu chego a DBS até a hora que vou embora, mas me calo.
— Certo, vou tentar acreditar em você.
— Acho que essa festa já deu pra mim, vou procurar meus pais e dizer que vamos nos recolher, tudo bem?
— Melhor ideia do dia! — Respiro aliviada e Simon sorri, me dando um beijo leve e se afastando.
E como se estivesse só esperando uma oportunidade, Lorna Middleton se aproxima com seu olhar de ave de rapina.
— Quer dizer que descobriram sua pequena mentira?
Lá vamos nós.
— Do que está falando?
— Você mentiu que estava grávida! Está todo mundo comentando! Que vergonha.
— Sinceramente, não devo satisfação a você, vai procurar o que fazer! — resmungo me afastando. Para mim já deu, antes que Simon retorne decido subir para o quarto antes que mais alguém venha me encher o saco. Eu devia saber que a sorte não estava comigo hoje, quando chego ao topo alguém grita meu nome lá embaixo.
— Julie Harris!
Eu me viro e Erin está subindo atrás de mim como se uma força da natureza a impulsionasse.
Que merda!
Respiro fundo e, ignorando a vontade de sair correndo deixando-a falar sozinha, me viro para ela.
— O que você quer Erin?
Ela se coloca na minha frente com os olhos dardejando fogo.
— Sempre soube que não era boa coisa! Só não poderia imaginar que era também uma interesseira!
— Sério que vai me ofender? Por que não disse essas coisas na frente do Simon?
— Ah você se acha muito esperta não é?
— Escute Erin, sinceramente, neste momento, você não é minha chefe não tenho que ficar ouvindo suas ofensas!
Dou meia volta, mas ela segura meu braço.
— Acha que ganhou? Que vai se casar com o CEO da DBS?
— Ganhei? Qual o seu problema? O que isso tem a ver com você?
— Acha que não percebi que deseja o meu cargo? Desde que entrou na empresa quer me derrubar!
— Você é doida? Vai fazer terapia pra resolver seu complexo de perseguição e me deixe em paz... — Tento puxar meu braço.
— Não vire as costas pra mim! — Erin insiste e eu dou um safanão para me soltar.
E é então que acontece.
Como em câmera lenta vejo Erin se desequilibrar e sair rolando escada abaixo.
Ai merda. Parecia que o pior pesadelo de Erin havia se tornado realidade, eu realmente a havia derrubado. Literalmente.
Capítulo 12
Julie
Eu seria uma pessoa horrível se dissesse que estava apreciando o silêncio tranquilo naquela manhã de segunda-feira sem a presença de Erin?
Caramba, eu queria muito me sentir culpada, na verdade até senti certa culpa quando a vi rolando escada abaixo e depois um pouco de pena quando os paramédicos levaram sua maca direto para a emergência do hospital mais próximo.
Seu tombo gerou uma comoção e Simon se sentiu na obrigação de acompanhá-la ao hospital. E eu não podia fazer nada quanto a isso.
Na manhã seguinte descobri que Simon não só ficara a noite inteira no hospital com Erin como também a acompanhou a Londres quando foi removida com uma perna e um braço quebrados, além de um enorme galo na cabeça que precisou de alguns pontos. Essas informações me foram passados por Scott que havia acompanhado Simon.
— Coitada... — Eu tinha murmurado com pesar verdadeiro. Ela deveria estar parecendo o Chuck boneco assassino com aquele cabelo ruivo e a testa toda costurada.
— Sim, ela vai ficar em repouso um bom tempo, pelo o que Simon falou.
— E ele vai voltar? — Indaguei preocupada.
— Não. Ele pediu que eu te desse uma carona para Londres, noivinha — Henry respondeu com o cabelo ainda mais desgrenhado do que ontem.
E assim tive que voltar a Londres de carona no carro velho de Henry sem sobrenome (sério, eu perguntei, ele desconversou, como também não respondeu nenhuma de minhas perguntas sobre ele. E ainda me chamou de enxerida. Poxa, eu só queria puxar assunto!). E, depois de duas horas de viagem eu só sabia que era fotógrafo e morava em Notting Hill. E que estudou em Eton com Simon.
E realmente fiquei preocupada com Erin o dia inteiro até descobrir, quando Simon me ligou no domingo a noite, que ela não fez nada o tempo inteiro enquanto era costurada além de me culpar por seu tombo.
— Sério que ela está me acusando de tentativa de assassinato? — Eu gritei ao telefone.
— Não, Julie! — Simon respondeu com uma voz cansada. — Ela só disse que foi tentar conversar, que você se recusou e, quando segurou seu braço, você a empurrou.
— Eu não a empurrei! Ela contou que estava fazendo acusações ridículas contra mim? Aposto que não! E sim, eu tentei me livrar dela... quer dizer — eu me corrijo — tentei me afastar e a mandei sumir, ela ficou me segurando feito uma maluca e eu tive que lhe dar um safanão.
— E ela caiu — Simon completa.
— Bem, sim, mas isso não faz de mim uma criminosa!
Meu Deus, será que fazia?
E se Erin fizesse uma queixa de agressão contra mim? Ela não só ia me fazer ser demitida, eu poderia ser presa!
Que tipo de delinquente eu estava me tornando? Primeiro quase envenenei a Barbara Bailey e agora quebrei alguns ossos da Erin!
— Ninguém está acusando você de nada, Julie. — Simon me tirou do devaneio.
— Acabou de dizer que Erin está!
— Eu não acredito que fez de propósito, ok?
Eu respirei aliviada. Se Simon acreditava em mim, estava tudo bem.
E ele tinha grana para pagar os advogados.
— E acho que tem razão, Erin talvez não seja confiável para guardar nosso segredo.
Nosso segredo. Uau!
De repente eu e Simon parecíamos dois personagens de um livro de Sidney Sheldon. Já podia imaginar nós dois fugindo com um saco de dinheiro para alguma ilha paradisíaca onde ficaríamos escondidos o resto da vida fazendo sexo o dia inteiro.
Até que não seria uma ideia ruim...
— E o que vamos fazer? — Questionei já pronta para dar a Simon minha sugestão de fuga espetacular.
— Erin vai ficar um bom tempo fora de circulação. Ela não vai poder fazer nada.
— Certo, vou ter que acreditar em você.
— Não fique preocupada.
— Sua voz parece cansada. — Eu havia pensado que, quando ele estivesse livre de Erin, eu poderia ir encontrá-lo em seu apartamento, mas Simon parecia estar exausto.
— Estou mesmo cansado — respondeu com um suspiro.
— Então vá descansar. A gente se vê amanhã?
— Queria que estivesse aqui — Sua voz parecia íntima e convidativa e eu sorri.
— Hoje contaria como uma das minhas duas noites se eu fosse?
— Está dizendo que chegamos a um acordo?
— Sim, depende...
— Depende do que, senhorita Harris?
— Acha realmente que não levo meu trabalho a sério? — Não queria continuar aquela discussão, ainda mais por telefone, só não pude me conter.
— Agora quer minha opinião?
— Eu disse que não precisava de seu conselho não que não me preocupava com sua opinião.
Ele riu.
— Me parece meio confuso.
— Eu quero que você me admire — confessei num fio de voz.
— Eu admiro você.
— Não, você gosta de transar comigo, é diferente.
— Bem, isso também.
— Não gosto que pense que sou uma cabeça de vento ou algo do tipo!
— Julie, não tem que fazer qualquer coisa em relação a sua carreira apenas para me agradar ou porque está preocupada com o que eu vou pensar de você. Precisa fazer por você mesma. O que nós temos não tem nada a ver com o que faz da sua vida profissional.
— E o que nós temos, senhor Bennett? — Murmurei insegura.
— Um noivado que está se tornando bem indiscreto, senhorita Harris. — Ele riu e eu não pude deixar de rir também. — Agora preciso dormir. Nos vemos amanhã, ok?
— Até amanhã, noivo.
— Sonhe comigo, noiva. — ele respondeu brincalhão antes de desligar.
E assim, eu vim trabalhar bem feliz hoje.
Eu tinha um noivo maravilhoso e minha chefe chata estava fora de circulação por um bom tempo.
Eu estava livre! Poderia tomar quantos cafés quisesse, entrar em sites de compras de maquiagem para ver as promoções, ler alguns romances do Kindle. Talvez até sair para almoçar e voltar duas horas depois?
O céu era o limite.
E o melhor de tudo: Erin não ia ficar me vigiando e eu poderia ficar “em reunião” com Simon quanto tempo quisesse!
Aliás, talvez eu devesse ligar no ramal dele e lembrá-lo...
— Ei, Julie, você vai substituir a Erin na reunião hoje? — Rachel indaga passando pela minha mesa.
— Que reunião?
— Temos uma reunião com a diretoria e alguns acionistas hoje a tarde.
— Ah, sim, me lembro agora. Mas não sei do que se trata na verdade.
— A Erin ficou de apresentar a estratégia de RP da DBS para conseguir mais publicidade.
— Ah, sei... Bem, Erin não dividia os projetos comigo.
— Será que a reunião vai ser cancelada? Eu já preparei minha apresentação com a estratégia de marketing... Achei que você apresentaria a de relações publicas já que Erin não está.
Não sei o que responder. Erin deveria estar preparando tudo sozinha. E até desconfiava o motivo: ela tinha ficado puta comigo por mudar seu texto da apresentação do novo aplicativo. Sem contar a mania de achar que estava querendo puxar o tapete dela.
No entanto, Erin não está aqui agora. E não vai estar por um bom tempo.
E eu pensando que o fato de ela não estar seria uma desculpa perfeita para ter uma folga.
“Você não leva seu trabalho a sério”— a voz de Simon de repente se infiltra em meus pensamentos e me recordo de como me irritaram. E de como eu havia discordado dele.
Mas ele estava certo não é? Em vez de pensar no bom andamento do trabalho do setor em que eu trabalhava só estava pensando em vagabundar na ausência da minha chefe.
Merda. Eu realmente não estava levando meu trabalho a sério!
Mordo meus lábios com vontade de chorar. Ou gritar.
Estou com raiva. E desta vez nem é de Simon e suas acusações ou de Erin.
É de mim mesma.
— Então? — Rachel insiste.
— Certo. Eu vou cuidar disso na ausência da Erin, claro.
— Você disse que não sabia o que era...
— Eu posso descobrir, não é?
— OK, boa sorte. Qualquer coisa fala com o Simon, tenho certeza que ele vai entender se o setor de RP não apresentar nada agora.
— Não vai ser preciso — a corto já me levantando e indo para a sala de Erin.
Realmente não faço muito ideia de onde estou me metendo. Ao mesmo tempo não posso me abster de pelo menos tentar fazer o meu trabalho.
Abro o computador de Erin e procuro pela pasta onde deve estar a pauta para a reunião de hoje.
E lá está. As estratégias de Erin.
E, puta que pariu, não estava nada bom.
— Ela acredita que vai conseguir alguma coisa com essa merda? — murmuro para a sala vazia.
Bem, eu teria que dar um jeito naquilo. De maneira alguma ia apresentar aquele monte de baboseiras para os acionistas e a diretoria.
Simon
— Está tudo sob controle — Sussurro para mim mesmo no elevador, enquanto sinto um peso oprimindo meus ombros.
Era como se os espíritos que Natasha tanto havia tentado me convencer um dia desses de que se penduravam em nossas costas, estivessem bem ali, empoleirados em meus ombros e ainda me dando socos na cabeça.
No entanto, a explicação sobrenatural de Natasha não se aplicava a minha situação. Eu estou tenso e minha tensão tem nome e sobrenome: Julie Harris.
Eu vinha tentando me enganar desde o dia em que estive com ela, ali mesmo naquele elevador e abri mão de todo o controle para me jogar em um relacionamento que não tinha a menor noção de onde iria nos levar. Ou melhor, bem no fundo eu sabia que a possibilidade de ir ladeira abaixo era bem grande. Afinal, nosso curto noivado de mentira já foi uma espécie de amostra grátis do que me esperava num relacionamento com Julie. Mas no final deixei meu lado racional ser nocauteado pelo meu emocional, que nunca na vida tinha vencido uma batalha.
Eu estava apaixonado por Julie Harris, minha falsa noiva.
E não hesitei e transformar o falso em verdadeiro. Acreditei que conseguiria controlar aquele relacionamento como controlava tudo na minha vida. Estava ciente de que teríamos que manter tudo em segredo, afinal, ela era minha funcionária e não seria nada bom se descobrissem que eu estava burlando minhas próprias regras de não me envolver com ninguém que trabalhasse para mim.
Minha carreira era minha vida e não estava disposto a deixar nada estragar o que havia conquistado até agora.
Porém, eu devia ter previsto que Julie Harris era um furacão.
Daqueles que se formam onde menos esperamos e vai devastando tudo por onde passa. Não era à toa que os furacões tinham nome de mulher.
Ela simplesmente era um imã para problemas! E eu tentava manter tudo sob controle. Eu malditamente tentava. A cada situação que acabava mal, como a aposta de Billy, Alan Felton nos pegar no flagra e a intoxicação de Barbara, eu dizia a mim mesmo que não podia ficar pior.
Mas ficava.
E o acidente de Erin apenas me alertou de que não poderíamos ficar para sempre naquele impasse. Não dava para manter nosso relacionamento em segredo para sempre. Eu estava me sentindo forçado a tomar uma decisão, só não sabia ainda qual.
— Simon, achei que a reunião seria cancelada. — Paul, o diretor comercial me intercepta a caminho da sala de reuniões. — Fiquei sabendo do que aconteceu com a Erin.
— Sim, foi lamentável. — respondo entrando na sala e cumprimentando os acionistas que acabaram de chegar para a reunião.
Meu olhar varre o ambiente e percebo surpreso Julie sentada ao lado de Rachel.
— Julie Harris, o que faz aqui? — indago sem pensar.
Ela limpa a garganta se levantando.
— Erin está de licença depois do terrível acidente, como devem saber...
— Sim, ficamos sabendo que ela caiu na sua casa em Costwood, Simon — Rachel comenta. — Ela vai ficar bem?
— Ela vai ficar de licença por algum tempo.
— Sim, eu sou a assistente dela por isso estou aqui — Julie responde e se senta abrindo o notebook. — Vou apresentar as estratégias de RP em seu lugar.
Eu a encaro aturdido.
Por essa eu não esperava.
O que está fazendo?
— Tem certeza? — Pergunto devagar.
Ela mantém a expressão séria.
— Sim, senhor. Está tudo sob controle.
— Podemos começar? — Um dos acionistas parece impaciente.
— Certo, vamos em frente — cedo por fim. — Para quem não conhece esses são Brady Hart e Collin Bremmer, acionistas da DBS. — Apresento os dois homens. Brady era um cara baixo e atarracado de uns trinta anos e Collin um nerd de óculos e cabelos ensebados de meia idade. — Infelizmente Barbara não poderá estar conosco hoje.
— Fiquei sabendo que ela sofreu uma intoxicação alimentar, ela já melhorou? — Brady indaga e não posso deixar relancear o olhar para Julie.
Ela fica levemente vermelha.
— Sim ela está bem — respondo, abrindo meu notebook. — Rachel, pode começar?
— Claro — Rachel começa a falar sobre suas estratégias e pego meu celular, e o levo para debaixo da mesa, digitando uma mensagem para Julie.
“Espero que saiba o que está fazendo.”
Olho para ela do outro lado da mesa e sua atenção vai para o celular. Ela o apanha e o leva para debaixo da mesa também.
“Por que eu não saberia?”
“Por motivos óbvios, não precisava estar aqui. Eu já estava contando que o setor de RP não apresentaria nada hoje devido a ausência de Erin.”
“Erin não está aqui, eu sim, e estou tomando as rédeas desse projeto”.
O quê?
Capturo seu olhar e ela está me encarando com um olhar de desafio.
Não posso negar que sinto certo receio de que ela possa aprontar algo.
— Bem, o que acha, Simon ? — Rachel pergunta quando termina e eu peço que os acionistas expressem suas opiniões.
Eles não parecem muito impressionados.
— Vamos ter que verificar alguns pontos Rachel. — Comento e peço para Paul fazer sua apresentação. Vou deixar Julie por último.
Depois que Paul termina encaro Julie.
— Julie, está pronta? Se quiser, podemos deixar para verificar quando Erin voltar... — Ainda tento dissuadi-la.
Não quero que ela se encrenque na frente de algum acionista.
Já basta toda a situação com Barbara, que devo dizer, graças a Deus não está aqui hoje, seria um desastre ela reconhecer Julie.
Ela parece irritada quando se apruma na cadeira.
— Não é preciso, estou pronta!
— Certo, prossiga.
— Eu montei algumas estratégias para aumentar a viabilidade de nossa marca. A primeira seria apostar em conexões com líderes de opinião, os influenciadores. — Ela então pega algumas pastas na sua frente e pede que Rachel passe para frente. — Todos os passos que devemos dar estão mais detalhados nestes relatórios que estou passando para vocês. — Eu pego minha pasta e abro desconfiado e arregalo os olhos ao começar a ler. Ela continua. — De acordo com pesquisas recentes, empresas faturam até 20,00 por cada libra gasta com marketing de influenciadores. E 51% das empresas admitem que o marketing de influenciadores traz melhores resultados do que outros canais. Também montei uma estratégia para promoções de eventos e reativação de nosso blog com conteúdo relevante para nosso publico. Publicando o conteúdo pertinente, conseguiremos entrar diretamente nas mídias. Isso me leva ao próximo passo, conteúdo para jornalistas. Eu sei que é bem difícil convencer um jornalista a escrever sobre nossa marca ou produto. Mas com conteúdo adequado podemos incentivá-los a publicar. Podemos oferecer opiniões sobre tendências do mercado, compartilhar experiências pessoais, providenciar dados exclusivos, que podem ser convertidos em infográficos, caso o jornalista nos peça conteúdo visual para enriquecer o artigo. Também podemos utilizar o Guest Post, que pode parecer ultrapassado, mas funciona. Ganharemos uma oportunidade de divulgar nosso nome, oferecendo dicas úteis para pessoas que podem ser futuros clientes. O blog ganha conteúdo escrito de um ponto de vista diferente, acrescentando algo novo ao site. — ela sorri — acho que deveriam ler com cuidado tudo o que sugeri no relatório, as estratégias ficarão mais claras.
— Eu achei suas ideias muito interessantes — Brady diz, folheando o relatório.
— As ideias são da Erin, não? Julie está apenas apresentando — Paul corrige e Julie morde os lábios com força, ficando vermelha e uma dúvida se forma em minha mente.
— Sim, Julie, acho que temos algo aqui — Collin concorda e todos me encaram.
Eu ainda estou lendo e o que posso dizer? Estou gostando muito do que estou vendo. Muito mesmo. E estou começando a duvidar que seja obra de Erin.
— Diga-me, Julie, você e Erin fizeram esse projeto juntas? Você me pareceu muito integrada com todos os aspectos.
— Bem, sim, eu a ajudei, claro.
Era uma mentira.
Erin não gostava de Julie.
E eu achava que era só uma implicância por Julie ser meio irresponsável com seu trabalho, o que até tínhamos discutido no fim de semana.
Agora eu sabia que era muito mais. E se todo aquele trabalho fosse realmente de Julie já começava a desconfiar porque Erin não gostava dela.
Julie Harris era mil vezes melhor que Erin e estava só há algumas semanas na empresa.
Sim, Erin tinha motivos para ter medo.
Caralho. Julie Harris era mesmo um furacão.
Eu levanto o olhar dos papeis e a encaro.
— Fez um ótimo trabalho, Julie.
Ela solta um respiro aliviado e de repente me sinto culpado por ter duvidado dela. De sua capacidade.
Eu já sabia que ela era inteligente. E criativa, para dizer o mínimo. E se disse que ela não levava o trabalho a sério era porque eu achava que podia oferecer muito mais do que estava oferecendo.
E agora, com aquele trabalho, ela estava começando a demonstrar do que era capaz.
— Bem, acho que terminamos por hoje — digo por fim e todos se levantam.
Vejo Julie sair com Rachel e já penso que assim que chegar na minha sala vou chamá-la para tratarmos do projeto N.
Eu mal posso esperar.
Eu deixaria para pensar nos meus problemas depois.
Brady e Collin ainda requerem minha atenção por mais um tempo e então volto pra sala e peço para Natasha chamar Julie.
Alguns minutos depois Natasha me liga.
— A Julie disse que não pode subir.
Eu franzo a testa.
— Você disse que era uma ordem?
— Ela não pareceu impressionada. Falou que estava ocupada.
Contenho a vontade de soltar um palavrão.
— Certo, obrigado, Natasha.
Saio da sala e desço para o andar de Julie.
Ela não está na sua mesa.
— Simon, precisa de alguma coisa? — Nancy pergunta ao passar por mim.
— Sabe onde está a Julie Harris?
— Ela está na sala da Erin.
— OK.
Eu continuo meu caminho e ao abrir a porta de Erin, vejo que Nancy tinha razão. Julie está lá, muito compenetrada digitando algo no computador.
Ela levanta a cabeça quando entro e fecho a porta.
— Ora, ora, a que devo a visita ilustre? — Sorri cheia de ironia e continua a digitar.
Ela está com raiva.
E não lhe tiro a razão.
Me aproximo e sento no canto da mesa.
— Quem lhe deu permissão para assumir o lugar de Erin?
O olhar que ela me lança agora é de fúria.
— Eu estou apenas fazendo meu trabalho! Quer saber, nem saí pra almoçar corrigindo toda a merda daquele relatório medíocre dela!
— Corrigindo ou refazendo tudo?
— Deve saber a resposta — resmunga ainda atacando o teclado.
— Eu desconfiei. Estava muito bom.
— Ah estava? — Ela finalmente para de digitar e me encara.
— Sim estava.
— Talvez me deva um pedido de desculpas?
Eu sorrio.
— Por quê?
— Porque.... porque... ai inferno, acho que sou eu que devo pedir desculpas! — Ela se levanta.
Agora sim estou surpreso.
— Do que está falando, Julie?
— Que você tinha razão, não estava levando meu trabalho a sério! Eu estava comemorando o fato de Erin não estar mais aqui para poder ficar de papo pro ar!
— Você montou uma estratégia incrível em poucas horas. Isso não é coisa de quem não leva o trabalho a sério.
— Eu me dei conta que precisava fazer alguma coisa! E tinha razão, eu não precisava ter ido àquela reunião, mas algo em mim queria fazer, sabe? Queria ser capaz de fazer.
Seguro sua mão e a puxo para mim.
— Você é capaz.
— Está falando isso porque quer transar comigo! — rebate, mas não se afasta.
Eu não quero que ela se afaste nunca.
— Não preciso disso para convencê-la a transar comigo.
— É, tem razão.
— Julie, eu sei que ficou chateada porque te critiquei, só quero que faça o que é capaz de fazer.
— Acha mesmo que sou capaz?
— Você sabe que é. Como se sentiu hoje na reunião?
Ela sorri.
— Como Erin Brockovich! — Eu rio de sua comparação — Foi a primeira vez que eu me senti realmente bem aqui! Realmente feliz com meu trabalho e quero me sentir sempre assim. Motivada! Mas eu só estou fazendo porque a Erin caiu. E quando ela voltar vai ficar puta comigo!
Eu não queria falar de Erin. Mas era impossível esquecer. E Julie estava certa.
Eu a encaro seriamente. Uma decisão se delineando em minha mente.
— E se Erin não voltar?
Julie me encara confusa.
— Como assim?
— Eu vou demiti-la.
Julie me empurra.
— Vai demitir a Erin? Por minha causa?
— Vou demitir a Erin porque ela não é uma funcionária capaz. — Era apenas parte da verdade, mas Julie não precisava saber.
Estava na hora de eu tentar assumir o controle de novo.
Eu a beijo de leve e a solto.
— Eu preciso ir.
— Aonde? Achei que tinha vindo aqui para a gente transar.
Esboço um sorriso. Sim, acho que era minha ideia. Mas isso pode esperar.
Eu a puxo de novo e a beijo com vontade agora, até ouvi-la gemer.
É o melhor som do universo.
— Nos vemos na minha casa hoje a noite, ok?
— Tem certeza que não vou atrapalhar seu trabalho? — ela ironiza.
— Tenho certeza que posso lidar com isso.
— Quero só ver! — Ela volta pra mesa. — Já que não veio me corromper, me deixe voltar ao trabalho!
Eu rio e saio da sala.
Porém, meu sorriso some do rosto quando chego a minha sala e peço para Natasha chamar Mark.
Quando Mark entra na sala comunico minha decisão.
— Vamos demitir Erin.
— Por quê? — Mark questiona confuso.
Eu me inclino para frente.
— Por que ela está me chantageando.
Capítulo 13
Simon
Sim, Erin York está me chantageando.
Tudo começou quando a instalei na elegante clínica em Londres, garantindo a ela que as despesas seriam por minha conta.
— Claro que serão! Sua noiva me empurrou das escadas e acredito que isso caracteriza acidente de trabalho!
Eu tinha revirado os olhos, já cansado de toda aquela ladainha que ela gritava aos quatro ventos desde o acidente. Erin estava convicta de que Julie era uma espécie de vilã de novela da tarde ruim que empurra chefes escada abaixo.
Não que eu acreditasse. Julie era um tanto descompensada, dada a exagerar em suas histórias mirabolantes e bem propensa a se envolver em confusões e acidentes, porém assassina de chefes não se encaixava em sua personalidade.
— Tenho certeza que foi um acidente, Erin — retruquei calmamente. — E não, não foi um acidente de trabalho, pois não estava em minha casa a trabalho. Mesmo assim sinto-me responsável, então não se preocupe com nada. Ficará bem instalada aqui até que se restabeleça e volte ao trabalho na DBS.
— Simples assim? Não percebe qual era a intenção de Julie?
Lá vamos nós.
— Erin, acho que tomou analgésicos demais e está delirando.
— Não estou! E você está defendendo aquela ninfeta aproveitadora, porque está dormindo com ela!
OK, aí já era demais.
— Erin, você é minha funcionária e está debilitada, então vou relevar suas ofensas a Julie. Mas gostaria que parasse. Agora! Não vou admitir que fale desse jeito.
— Claro! Era de se esperar! Só não vou ficar aqui de braços cruzados, ou melhor, com as pernas engessadas esperando Julie Harris tomar meu lugar.
— Ninguém vai tomar seu lugar, Erin... — Tentei dissuadi-la daquelas ideias de perseguição, mas ela estava além da razão.
— Você vai demiti-la!
— O quê?
— Tem que demitir Julie Harris! Ou contarei para todo mundo que estão trepando pelos corredores da DBS como coelhos!
— Não estamos trepando pelos corredores como coelhos — Bem, não nos corredores, mas na minha sala... enfim isso não era da conta de Erin. — O que está falando é absurdo. Eu e Julie Harris estamos noivos. Não tem nada a ver com o trabalho dela na DBS. Por isso mesmo estamos agindo com discrição, não quero que todos fiquem comentando.
— Tenho certeza que está bastante preocupado com seu lindo rabo, senhor Bennett! — Erin cuspiu irada. — E com aquela ninfetinha! Claro que iam comentar! Iriam fofocar por um ano inteiro e sabe muito bem que não seria o pior! Se chegasse aos ouvidos dos acionistas você estaria bem encrencado!
OK, ela tinha um ponto.
E isso me preocupava sobremaneira.
Exatamente por isso eu tinha uma regra rígida de não me envolver com funcionárias. Eu levava minha posição muito a sério. Minha carreira muito a sério.
Então surgiu Julie Harris e virou tudo de cabeça para baixo.
Agora, a aparentemente louca Erin York estava expondo meus piores receios.
— Ah, está preocupado, não é? Achou o quê? Que ia ficar fodendo Julie Harris pelos cantos pelo resto da vida e ninguém iria descobrir? Pois eu descobri! E não vou ficar de boca fechada! No entanto, posso ser legal com você. Demita a Julie e não contarei nada.
E foi assim que Erin deixou bem claro que estava me chantageando. E eu não duvidava nem um minuto que ela cumpriria sua ameaça. E se essa merda chegasse aos ouvidos dos acionistas minha posição na DBS estaria seriamente comprometida.
Até aquela tarde eu não tinha entendido porque Erin estava tão preocupada com Julie Harris. Ok, eu sabia que ela não ia com a cara de sua assistente e até podia entender, dada a propensão de Julie a não levar o trabalho muito a sério. Daí cismar que Julie estava tramando para tomar seu lugar era um pouco demais.
Então, quando vi Julie defendendo com tanto empenho seu projeto na reunião, um projeto que ela refez desde o princípio em poucas horas e ficou excelente, finalmente entendi. Erin estava com medo. Ela já havia percebido que Julie era inteligente demais, mesmo não se esforçando muito. E se começava a se destacar mesmo sem querer, vale lembrar o episodio do texto de apresentação do novo aplicativo, o que ela faria se resolvesse realmente se esforçar? Erin sabia suas limitações, embora não admitisse.
Ela sabia perfeitamente que Julie Harris poderia se sobressair.
E tinha razão.
Por isso queria tirá-la de circulação, exigindo que eu a demitisse, assim poderia continuar fazendo seu trabalho medíocre sem ninguém ameaçar seu cargo.
Deus era uma estratégia ridícula, para dizer o mínimo, que acabou se tornando um problema de grandes proporções quando Erin descobriu meu envolvimento com Julie. Ela sabia que estava me encurralando.
Só que eu já estava de saco cheio de Erin York e seu recalque.
Não permitiria que me ameaçasse e muito menos que prejudicasse Julie.
— Está falando sério? — Mark me fita confuso — Por que Erin iria te chantagear?
Respiro fundo e coloco Mark a par de todo meu envolvimento com Julie. Não a versão verdadeira com direito a noivado falso e ossos cúbito que se quebram, mas uma versão resumida e perfeitamente aceitável.
— Caralho, Simon, então era você? — Mark está com o queixo caído. — Quer dizer, perdoe pelo palavrão, mas... puta que pariu! Então Billy da segurança tinha razão na aposta?
— Sim, ele nos viu no elevador. Conversei com ele depois e o alertei da necessidade de ser discreto.
— E mais alguém sabe?
— Alan Felton.
— E eu que cheguei a pensar que era ele o noivo da Julie, pois todo mundo sabe que ele é caído por ela...
— Não, não é. — Não posso deixar de me irritar.
— Agora Erin também descobriu e pediu que demitisse a Julie.
— Ela não pediu. Ela exigiu! E ameaçou contar tudo aos acionistas se eu não ceder a sua chantagem.
— Por que Erin quer que demita Julie Harris? Não entendo!
— Por que ela tem medo que Julie tome seu lugar. — Mark franze a testa descrente. — Eu sei, parece uma coisa idiota, apesar de na mente de Erin fazer muito sentido. E a questão é que Erin tem razão, Julie vai mesmo tomar seu lugar.
— Espera, você vai demitir a Erin e ainda colocar a Julie no lugar?
— Julie é competente o suficiente para assumir o cargo e não posso ficar de braços cruzados concordando com uma chantagem! E nem manter Erin na empresa depois de sua atitude deplorável.
— Concordo, aí sim ela vai contar o que sabe e vai te prejudicar do mesmo jeito! E como vai parecer se ainda der o cargo dela a Julie Harris? Simon, isso não vai dar certo!
Merda. Mark tem razão.
Eu estava ferrado e não sabia como sair da situação na qual eu mesmo me coloquei.
— Se concordar com Erin terei que demitir Julie.
— E seria tão ruim assim? Talvez seja a única solução. — Mark acaba por externar meus mais secretos pensamentos. — Se Julie não fosse mais uma funcionária da DBS poderia ser minha noiva sem problema algum. Nada mais de segredos. Problema resolvido.
Inferno, eu sabia que seria uma solução.
Mas como demitir Julie?
— Eu sei que é uma solução drástica, como pensou que iria resolver essa questão, Simon? Como conseguiria manter esse segredo por muito tempo? Ou seu envolvimento com Julie Harris é temporário?
Aí estava a questão.
A verdade é que eu ainda não tinha parado para pensar sobre Julie em termos permanentes. Ok, tinha proposto que transformássemos o noivado de mentira em um compromisso verdadeiro. Pelo simples motivo que estava louco por ela.
E acho que até a festa dos meus pais, onde todos pareciam estar fazendo parte de uma grande organização de cerimônia de casamento, não havia realmente imaginado que, se estávamos noivos era suposto que um casamento acontecesse em algum momento.
Casamento implicava em para sempre.
Neste momento, eu não conseguia imaginar minha vida sem as loucuras de Julie Harris, no entanto será que me sentirei sempre assim? A verdade é que eu sou um cara sensato demais para simplesmente acreditar cegamente em sentimentos e felizes para sempre.
Certo, pode acontecer. Veja meus mais, por exemplo.
Mas Julie e eu nos conhecemos há cinco minutos. E eu não faço ideia de onde isso tudo vai nos levar.
— Acho que é essa a pergunta que deve se fazer. Se for algo passageiro talvez não precise demitir a Julie Harris. Precisa apenas colocar um ponto final nesse relacionamento. Afinal, pelo que entendi ainda é recente. E seria ideal cortar o mal pela raiz. — Sinto vontade de mandar Mark parar de colocar meu envolvimento com Julie naqueles termos. Ela não é uma erva daninha que precisa ser arrancada da minha vida. Entretanto meu lado racional sabe que as palavras de Mark contém uma infeliz verdade. — Se for o contrário você terá sérias decisões a tomar. E se me permite um conselho, a primeira coisa que deve fazer é convocar os acionistas e contar a verdade. O falatório na empresa vai acontecer de uma maneira ou outra, mas vai passar. Por outro lado, os acionistas podem não aprovar que o CEO da empresa se envolva com uma funcionária e que seu relacionamento se transforme em escândalo. E acho que você sabe muito bem. Nesse caso a única solução será mesmo demitir Julie Harris para poder ficar com ela.
Sim, Mark tem razão.
Eu tenho uma importante decisão a tomar e simplesmente me livrar de Erin não é a solução.
Talvez eu precise me livrar de Julie.
De uma maneira ou de outra.
E a questão é: Qual maneira eu vou escolher.
Julie
Aquele foi um dia no mínimo inusitado.
Relanceio os olhos para o celular, enquanto estou no elevador subindo ao apartamento de Simon e percebo que estou bem atrasada. Passa das nove e eu disse que estaria ali depois das sete quando ele me mandou uma mensagem perguntando se iria embora com ele. Porém eu estava muito ocupada.
Sim, eu, Julie Harris, estava ocupada.
E não ocupada lendo as últimas fofocas sobre as Kardashians no site da People ou lixando a unha enquanto tentava decidir qual seria o esmalte da semana. Eu estava bem envolvida e empolgada colocando em prática as estratégias que montei para a reunião. Até agora eu não sei como consegui elaborar tudo tão rápido. Falei sério quando reclamei com Simon que nem saí para almoçar e, para falar a verdade, nem tinha feito pausa para o café! Era um verdadeiro milagre. Quando recebi a autorização em um e-mail formal vindo de Simon (e com cópia para os acionistas, acho que por isso não tinha nenhum comentário malicioso) fiquei muito empolgada. Estava acontecendo! Simon tinha sido bem direto no e-mail: Eu, Julie Harris, estava autorizada a dar prosseguimento. E não a Erin.
O que me fez lembrar que ele disse que a demitiria. Será que estava falando sério? Eu não poderia dizer que não ficaria bastante feliz se acontecesse de verdade. Só de imaginar Erin voltando e me pegando no flagra em sua sala já me dava vontade de vomitar de medo.
Ela ia me matar, para dizer o mínimo. Talvez voltasse usando muletas que usaria para me espancar enquanto riria feito a louca que era.
Então, se Simon realmente a demitisse seria ótimo para mim, para que mentir? Não só porque Erin não fazia outra coisa na vida a não ser me atormentar, também porque descobri que estava amando meu trabalho.
Sim, estive trabalhando a tarde inteira, saí da empresa muito depois do horário e adorei cada minuto! Só dei o dia por encerrado porque Simon começou a mandar mensagens cada vez mais impacientes.
E, vamos combinar, quem deixaria Simon Bennett esperando?
Eu não via a hora de estar sozinha com ele.
Por isso agora saio do elevador e praticamente corro até sua porta, que se abre antes mesmo de eu bater e não hesito em fazer o que estava morrendo de vontade o dia inteiro, pular em cima dele.
Simon ri ao me segurar, enquanto bate a porta atrás de nós e me beija ao mesmo tempo.
— Porra, Julie, acho que você quebrou meu tórax! — reclama quando desgrudo a boca da dele.
É a minha vez de rir, com minhas mãos muito bem posicionadas em seu cabelo.
— Não quebrando o osso cúbito está bom!
Ele ri e me beija de novo, desta vez profunda e lentamente, fazendo minha pele arrepiar da ponta dos pés até o último fio de cabelo. E minha mente está girando e minhas pernas viraram gelatina quando ele me solta. — Uau! — murmuro e abro os olhos ainda enevoados para perceber que ele tinha me levado para o quarto sem eu nem sentir. — Como conseguiu?
Simon solta uma risada rouca e me coloca sobre a cama, começando a tirar minhas roupas.
Ah sim.
Mordo meus lábios, ansiosa e o ajudo a tirar suas roupas também, até que não reste nada entre meus dedos e sua pele. Entre sua boca e minha pele.
Ah, parece que fazia anos que ele não me beijava desse jeito, marcando minha pele com mordidas e lambidas e me deixando derretida e arquejante, ansiando por mais.
Por tudo.
— Você é bom nisso, senhor Bennett — suspiro quando ele me vira de bruços e distribui beijos molhados por minhas costas.
— Eu tenho motivação. — Ele morde meu ombro e empino meu quadril ao sentir sua ereção.
Ah por favor....
Ele ri e pega um preservativo.
— É assim que você quer? — rosna e quase gozo só com seu tom autoritário em meu ouvido, enquanto sua mão se ocupa em subir por meu quadril.
— Vou deixar você escolher...
— Boa menina.
E meu riso é substituído por um engasgo quando ele me penetra com uma só estocada precisa.
— Ah sim! — gemo, sentindo todo meu corpo tremer e um prazer liquido fluir através da minha corrente sanguínea.
— Não se segure senhorita Harris, quero ouvi-la gritar — ele rosna batendo com tanta força que sou jogada para frente e minha testa encontra a cabeceira da cama.
Ai merda, doeu, mas quem se importa?
— Machucou? — Simon indaga entre gemidos e viro a cabeça para fitá-lo com um sorriso malicioso.
— Nem pense em parar.
Ele sorri de volta e bate na minha bunda com uma mão e acaricia meu clitóris com a outra.
— Não pensei...
Fecho os olhos e tento não bater na cabeceira de novo enquanto os movimentos se tornam mais fortes e erráticos, nossos corpos encontrando um ritmo perfeito até que não reste nada a não ser o prazer.
E me desmancho em baixo dele, gemendo alto enquanto ondas de um clímax perfeito me engolfam por inteiro. E meu nome em seus lábios enquanto ele goza dentro de mim é o som mais incrível do mundo.
Ainda se passa algum tempo até que consigo me mover, Simon joga uma camisa para mim, enquanto veste uma calça de pijama.
— Aonde vamos? — reclamo.
— Preciso te alimentar — ele comunica indo em direção à cozinha e eu aproveito para dar uma secada em suas costas largas.
— Hum, estou realmente morta de fome agora que falou! — Entro na cozinha que recende a tempero e molho de tomate. — você cozinhou?
— Não sou totalmente inútil, para sua informação — Ele coloca dois pratos na mesa e me serve lasanha.
— Não acredito que cozinhou! — Me sento a bancada ainda meio surpresa. Depois do episódio desastroso em que quase envenenei Barbara Bailey nunca mais inventei de cozinhar na casa dele, todas as vezes que vim a gente pediu comida.
Levo uma grande garfada de lasanha à boca, suspirando de prazer.
— Está bom, podia só ter um pouco mais de manjericão.
— Posso apostar que sua comida é bem melhor que a minha, mas você demorou demais para chegar. O que estava fazendo? — Ele senta a minha frente e enche duas taças de vinho tinto.
— Trabalhando, oras! — Pego uma das taças.
Simon levanta uma sobrancelha.
— Até agora?
— Não, Simon, eu estava transando com o segurança noturno!
Simon faz uma carranca. Ok, ele não tinha humor para piadas envolvendo sexo com o segurança.
— Estava até agora na DBS? São mais de nove horas!
— Eu falei que estava, pensou que eu estava fazendo o quê?
— Não sei. Compras. Fazendo a unha. Depilação, sei lá!
Eu ri.
— Estou com a depilação em dia, ok? — pisco maliciosamente — você viu.
— Ainda estou tentando entender porque ficou até agora trabalhando.
— Eu perdi a hora! — Me inclino para frente e ele agora está me estudando com o cenho franzido. — Simon, estou tão empolgada com esse projeto! Nem imagina! Pela primeira vez estou fazendo algo realmente legal sabe? Sinto-me motivada e importante, realizando um trabalho empolgante!
Simon continua me fitando em silêncio. Parece que sua mente está pensando em várias coisas ao mesmo tempo e que algumas não são nada legais.
— Por que está me olhando assim? É tão difícil aceitar que eu esteja gostando do meu trabalho? Você mesmo disse que eu deveria levar mais a sério, trabalhar direito e...
Ele desvia o olhar, passando os dedos pelos cabelos.
Parece preocupado.
E até um pouco cansado.
Franzo a testa observando-o mais atentamente percebendo algo que não havia reparado em minha excitação desde que cheguei. Ele está tenso.
— Simon, o que aconteceu? — começo a me preocupar.
Eu acho que eu nunca o vi desse jeito.
Simon é um cara sério e até mesmo frio às vezes, porém nunca o vi assim, como se estivesse encurralado.
Sim, essa é a palavra. Simon parece um personagem de filme de ação que precisa decidir qual fio cortar para a bomba não explodir.
Posso até imaginá-lo como Tom Cruise em missão impossível, usando aquela roupa preta e...
— Não é nada — responde por fim forçando um sorriso.
Não parece um sorriso natural.
— Não, você está esquisito. É por causa do negócio da Erin? Olha, não quero tomar o lugar dela nem nada! Só estou gostando de trabalhar e, tudo bem, não posso negar que sem ela por perto fica tudo mais fácil, mas sei que acabei de entrar na DBS e...
Simon segura minha mão.
— Ei, esqueça a Erin.
— Vai mesmo demiti-la?
— A situação é um pouco mais complicada.
— Como assim?
— Não se preocupe. São decisões que precisarei tomar. — Ele volta a comer.
Mordo os lábios, com vontade de pedir que divida comigo o que o está preocupando. No entanto já conheço Simon o suficiente para saber que, seja lá o que o estiver atormentando, não vai falar se não quiser.
Mas eu queria que ele falasse. Queria que dividisse tudo comigo.
— Coma. — Ele levanta o olhar e percebe que estou encarando-o sem comer.
— Já terminei. — Abro um sorriso hesitante.
Sei que o que nós temos ainda é muito recente e cheio de interrogações e espaços vazios. Mas nada como o tempo para transformar essas interrogações em respostas e os espaços vazios em cheios.
Cheios de nós dois.
É tudo o que eu quero.
— Não comeu nada — Simon reclama. Seu prato, ao contrário do meu, está vazio.
— Você come muito rápido.
— Eu cresci com Sean, se não comesse rápido ficaria sem comer. — Ele se levanta tirando os pratos.
— Como assim?
— Sean foi uma criança gordinha.
— Sério? Mas ele é tão malhado!
— Meu pai o colocou no futebol para fazer exercícios e ele acabou tomando gosto.
— E você era que tipo de criança? — O abraço pela cintura.
— Eu era aquele que sabia desde cedo o que queria.
— E o que você queria, Simon Bennett?
— Conquistar o mundo sozinho.
— Isso é tão sexy! — sorrio e, ficando na ponta dos pés, beijo seu queixo e toco sua barrica, sentido os músculos se movendo sob minhas mãos.
Ele imiscui os dedos em meus cabelos, me encarando intensamente.
— E que tipo de criança você era?
— Aquela que não sabia o queria nunca.
Ele ri.
— E agora sabe?
— Eu quero você.
— Só isso?
— Agora nesse instante? Sim, não há nada que eu queira mais do que você.
— E de sua vida? Deve querer mais do que um cara como eu.
Esboço um sorriso, então percebo que está falando sério. Ele quer que eu responda.
Me recordo da nossa discussão. De como o acusei de ser viciado em trabalho e ele me acusou de ser o contrário.
Forço minha mente. O que eu quero?
Desde que coloquei meus olhos nele, não pensava em mais nada a não ser em tê-lo para mim.
E agora que eu o tenho.
O que mais eu posso querer?
Então me recordo da sensação inebriante que senti hoje quando apresentei meu projeto na sala de reunião. De como me senti bem com os olhares de aprovação.
De como fiquei horas envolvida naquele trabalho sem ver a hora passar.
Eu quase entendia Simon.
O encaro com um sorriso ansioso.
— Eu quero amar o meu trabalho do jeito que amei hoje. Quero me sentir motivada desse jeito sempre, quero fazer cada vez mais e não parar até me orgulhar de mim mesma. Acho que você me corrompeu, senhor Bennett. Está me transformando em uma mini Simon Bennett.
Ele sorriu devagar.
— Não, você não é uma mini Simon Bennett. Você é Julie Harris. Única. E eu senti um puta orgulho de você hoje.
Sinto meu coração se expandindo e um nó fechar minha garganta de emoção.
— E prometo que ainda vai sentir muito orgulho de si mesma.
Eu o beijo, porque não há nada que eu queira mais neste momento.
Mostrar o quanto estou feliz por ele estar comigo.
Cara, eu era a pessoa mais sortuda do mundo inteiro.
E quando ele me leva para o quarto eu levanto a sobrancelha.
— Vai me levar embora depois?
Ele sorri, enquanto tira minha camisa.
— Posso abrir uma exceção para você hoje, senhorita Harris.
— Se eu também trouxer trabalho para casa me concederia mais noites? Podemos ser workaholic juntos?
— Acho que poderia ser perfeito.
— Você é perfeito.
— Eu sei.
Bato em seu ombro e ele sorri, retirando alguns fios de cabelo do meu rosto e o que vejo em seu olhar me faz perder o fôlego.
— Porra, eu te amo, Julie Harris — ele diz como se estivesse dizendo para si mesmo. Como se tivesse dizendo um “porra, eu te amo e agora”?
E o pior é que eu entendia.
Caramba, eu entendia muito bem.
— Eu sei, é uma merda né? — sussurro e ele me beija.
— Que se dane. Vou foder você agora.
— Melhor ideia do dia.
— Espero mesmo que seja...
***
Na manhã seguinte, acordo cercada por Simon Bennett.
Sorrio, enquanto ele levanta e desliga o despertador, pedindo com mau humor matinal que eu me vista que vai chamar um Uber para me levar para casa, assim eu posso me trocar e ir trabalhar sem levantar suspeitas.
Eu não reclamo porque ele tem razão, desisto da minha vontade de pedir uma rapidinha matinal e me arrumo rapidamente. Simon me leva até a porta e novamente percebo que está meio tenso. O que me faz lembrar que ontem também estava.
Antes que eu possa perguntar qual o problema, ele me beija. É um beijo intenso que me deixa zonza e com o coração saltando do peito.
Encosto minha testa na sua, respirando sua presença e querendo ficar mais um pouco.
— Temos mesmo que ir trabalhar?
— Achei que tivesse se tornado workaholic.
Solto um gemido desalentado.
— Prefiro ficar na cama com você o dia inteiro.
— E iríamos viver do quê?
— Podíamos dar golpe em velhinhos na internet.
Ele ri e me solta, abrindo a porta.
— Nos vemos na empresa, ok?
— Amo você — murmuro antes de ir, recebendo um sorriso maravilhoso como resposta. E esqueço o momento estranho de antes.
Eu tinha me preocupado à toa. Tudo estava se encaixando.
É isso: tenho um trabalho fabuloso e um noivo incrível.
O que mais eu podia querer da vida?
Sou praticamente uma daquelas moças sorridentes de comercial de absorvente quando chego a DBS (sério, quem é feliz daquele jeito menstruada?).
Mas eu devia saber que se tudo está maravilhoso o universo de alguma maneira conspira para foder com nossa felicidade.
E meu sorriso se desfaz no rosto quando entro no saguão da DBS e todos os olhares se voltam para mim e então a vejo.
Erin.
Ela está vindo em minha direção, com uma perna engessada até a coxa, um braço também engessado, que ela tenta gesticular enquanto o outro braço a mantém de pé com a ajuda de uma muleta. E caramba, ela parece mesmo o Chuck boneco assassino com aquela testa costurada. Mas com o corpo de uma múmia.
E de repente eu fui transportada do comercial falso de absorvente para uma cena de um filme de terror ruim.
— Você! — ela sacode e muleta na minha direção — Você!
— Erin, não deveria estar aqui... — murmuro aturdida.
— Por quê? Porque seu amante me demitiu?
— Amante? — Alguém sussurra, acho que é o Benjamin.
Minha nossa senhora protetora das noivas discretas, me ajude!
— Sim, amante — Erin grita para quem quiser ouvir. — Julie Harris é amante de Simon Bennett! Ou eu devo dizer noiva?
Ai merda.
Agora lascou de vez.
Capítulo 14
Julie
Será que é um bom momento para eu fingir um desmaio?
Meu estômago está revirando e mal consigo respirar enquanto arrasto meus olhos pelo saguão e registro os rostos de alguns de meus colegas de trabalho em diferentes tipos de expressão: Nancy está em choque, Angie cobriu a boca com a mão e seus olhos vão de mim para Erin aflitos esperando o desenrolar daquela confusão, Benjamin está filmando com o celular e Alan está vindo em nossa direção todo preocupado.
— Gente, o que ela está falando? — Acho que é Rachel quem está perguntando, só consigo enxergar Erin avançando em minha direção com um ódio assassino no olhar.
— Vocês ouviram! — Ela continua, sua voz adquirindo um tom venenoso que faz meu rosto se inundar de vermelho e meu coração disparar de medo. Isso não pode estar acontecendo! Vasculho minha mente em busca de uma saída e só consigo pensar que talvez sair correndo seja a melhor solução. — Julie Harris está dormindo com Simon Bennett! E ela planejou tudo para me prejudicar! Para tomar o meu lugar.
— Cara, ela está muito louca! — Benjamin ri como se alguma coisa ali fosse engraçada!
Sua risada me faz sair do estado de terror paralisante e obrigo o ar a sair dos meus pulmões.
— Erin, você está delirando! — afirmo com minha melhor expressão de desentendida. — Como pôde inventar uma coisa dessas? Eu e Simon? — Solto uma risada — De onde tirou esse absurdo? Tudo bem todos nós entendemos que deve estar sob o efeito das poderosas drogas que te deram no hospital, não é?
— Está explicado, ela deve estar bem doidona de morfina. — Benjamin continua rindo e gravando.
— Eu não estou louca! — Erin rebate, furiosa. — Também não estou inventando nada!
— Talvez tenham sido os espíritos! — Alguém sussurra e avisto o rosto pálido de Natasha entre os curiosos. — Eles falam comigo também, Erin, só que nem sempre falam a verdade...
— Sim, pobrezinha, tão fora se si! — Aproveito para segurar o braço de Erin tentando tirá-la dali. — Venha comigo, vamos cuidar de você.
— Ah cale a boca! — Erin grita, ignorando minha tentativa de fazê-la parar — Tire suas mãos de mim, sua ninfetinha ambiciosa e mentirosa! — E para meu horror ela levanta a muleta e taca na minha cabeça.
— Ai! — Me abaixo, no afã de me proteger dos golpes assassinos da muleta, ainda levo algumas pancadas, antes que alguém consiga afastar Erin e sua fúria de cima de mim.
Levo a mão à testa, gemendo de dor. Caramba, se não for pra bater na cabeceira da cama, não vale a pena!
— Gente, ela queria matar a Julie! — Alguém grita.
— Cadê os seguranças? — Alan tenta segurar Erin que ainda empenha-se em me acertar.
— Devo chamar a polícia? — Angie pergunta.
— Saia da frente, está atrapalhando meu vídeo! — Benjamim empurra Phil que foi ajudar Alan a segurar Erin.
— Vamos todos fazer uma oração para o espirito obsessor sair do corpo de nossa amiga Erin — Natasha se ajoelha com as mãos pra cima.
Meu Deus!
É o caos.
Nancy está tocando meu braço perguntando se eu estou bem, eu a ignoro e me viro, disposta a fazer o que devia ter feito há muito tempo.
Correr e fugir!
Mas paraliso-me no lugar ao ver Simon entrando acompanhado dos três acionistas da DBS.
Bem, sempre podia piorar!
— O que está acontecendo aqui? — Simon avalia a situação caótica.
E acho que ele entende muito bem o que está rolando, antes mesmo de Erin voltar a gritar, agora com um sorriso satisfeito no rosto.
— Ah que bom que estão aqui! Saiba que vou processar todos vocês por me demitirem! Quando deveriam estar demitindo Julie Harris, que está transando com o CEO da empresa para ser promovida!
— Simon? — Brady contempla a cena diante dele, consternado, enquanto Collin parece ter perdido a voz e Barbara Bailey está com o olhar confuso cravado em mim.
— Você não é a moça que fez o camarão na casa do Simon que quase me matou?
Puta merda, o fundo do poço parece que não tinha mais fim para minha pessoa.
— Erin agrediu a Julie! — Nancy berra e o olhar de Simon pousa em mim, inquiridor.
— Não foi nada — gaguejo morrendo de medo. — Quer dizer, talvez ela tenha me batido com a muleta, porém...
— Gente, que diabos está acontecendo aqui? — Collin parece ter recuperado sua voz. — Uma funcionária agredindo a outra em pleno saguão, enquanto a acusa de dormir com Simon e, pelo amor de Deus, o que aquela moça está fazendo ajoelhada no chão? — Aponta para Natasha que ainda está no chão com os olhos fechados enquanto sussurra “vá para a luz... vá para a luz”.
— Ninguém quer me escutar! — Erin continua — estou dizendo a culpa é toda dessa sonsa! — Aponta a muleta para mim e eu me encolho — Ela está noiva de Simon Bennett em segredo! Toda essa confusão é culpa dela! Tudo culpa de Julie Harris!
— Gente será que é verdade? — Phil indaga e de repente está todo mundo falando ao mesmo tempo.
— OK, já chega! — A voz de Simon adquire um tom autoritário e todos se calam. — Levem Erin para a sala de segurança.
Só então eu noto a presença dos seguranças segurando Erin que ainda se debate, levando-a para longe.
Onde diabos eles estavam enquanto aquela doida me agredia?
— Todos vocês, voltem ao trabalho. Agora! — Simon ordena e todo mundo começa a se afastar, ainda cochichando entre si.
E então seu olhar se fixa em mim, enquanto me avalia.
— Você está bem? — Fúria controlada goteja em sua voz. Apenas aceno com a cabeça.
Talvez seja o momento em que ele vá começar a dar golpes da karatê em todo mundo, para depois me puxar para o terraço do prédio onde um helicóptero nos aguarda para fugirmos para o México.
Poderíamos fazer fortuna como narcotraficantes.
— Simon, vai explicar o que está acontecendo? — É Barbara quem questiona, me tirando do devaneio e ela não parece nada feliz.
Então a coisa mais bizarra acontece. Simon segura minha mão.
— Sim, acho que eu posso explicar.
Oh. Meu. Deus.
Sinceramente, eu preferia estar em qualquer lugar menos aqui, sentada na sala de Simon, enquanto ele expõe nosso noivado secreto para os acionistas da DBS que escutam tudo atentamente.
Claro que Simon contou apenas uma versão editada que se resumia a “nos conhecemos, nos envolvemos, não pudemos evitar, temos noção que poderia se transformar em um problema na empresa, por isso a discrição, Erin descobriu, Erin resolveu fazer um escândalo depois de Simon demiti-la porque tentou chantageá-lo...” Espera, como assim?
— Como assim Erin tentou te chantagear? — Questiono sem conseguir evitar e Simon crava em mim um olhar de “pelo amor de Deus, fique quieta”— Por que não me contou?
— Julie... — Ele começa, Barbara o corta.
— Simon, isso tudo é muito grave!
— Eu sei, por isso não podia manter Erin aqui. Além do mais, ela não é uma funcionária competente e, como acabamos de descobrir, bastante instável emocionalmente e agressiva.
— Sim, Erin passou do limite, mas precisamos falar sobre seu relacionamento com a senhorita Harris. — Barbara fixa sua atenção em mim. — Ela estava em sua casa, você mentiu para mim.
Ai merda!
— Eu sinto muito Barbara, mas, como estava te explicando... — Simon começa a falar.
— Olha, eu não tentei te matar, ok? — o interrompo, querendo deixar claro a Barbara que não sou uma assassina do camarão ou algo assim. — Não sabia que era alérgica! E fui até o apartamento do Simon para fazer um jantar para ele e não sabia que você estava lá, por isso inventei...
— Você preferiu mentir e me fazer de idiota. — A voz dela adquire um tom frio como gelo e eu me encolho.
Ai droga.
— Julie acho melhor você sair agora — Simon pede e o encaro confusa.
— Mas...
Ele se mantém inflexível.
— Por favor, Julie. Espere na sua sala.
Sem alternativa eu me levanto e precipito-me para fora da sala.
Simon
Não era assim que eu pretendia que aquela história viesse à tona.
Naquela manhã acordei ciente de que teria uma longa batalha pela frente para sair da confusão em que me meti.
A primeira coisa que devia fazer era enfrentar os acionistas, colocando-os a par da minha situação com Julie. Tinha alguma esperança de que fossem razoáveis e no final eu poderia manter Julie na empresa e na minha vida.
Claro que sabia que não seria fácil, as chances eram mínimas, porém eu precisava tentar. No entanto, não contava que Erin fosse sair da clínica direto para a DBS para foder com a minha vida.
Ontem pedi que Mark fosse até a clínica informá-la que ela seria demitida e explicar os motivos. Sabia que demitir Erin não iria resolver todos os meus problemas, mas não podia mantê-la na empresa de qualquer maneira.
E acreditei que ela não teria chance de cumprir suas ameaças já que eu mesmo iria comunicar aos acionistas sobre meu noivado com Julie Harris.
Pelo visto, eu estava errado.
E agora Brady, Collin e Barbara não estão nem um pouco felizes com a situação, como posso culpá-los?
— Como deixou essa situação acontecer Simon — Collin indaga assim que Julie sai da sala. — Achei que fosse um homem centrado. Correto, não do tipo que se envolve com funcionárias!
— Eu não me envolvo com funcionárias!
— Acabou de nos contar que se envolveu com Julie Harris! — Brady me corta. — E pelo que entendi a situação se transformou num caos! Com funcionários agredindo uns aos outros e até se machucando no processo. Não pode ser nada bom para a nossa empresa!
— Erin não se machucou aqui! Ela caiu. Foi um acidente.
— De acordo com esse e-mail que acabei de verificar, ela alega que foi na casa dos seus pais e que Julie Harris a empurrou — Barbara diz, olhando seu tablet.
— Ela mandou um e-mail?
— Acabei de ver, parece que foi na madrugada.
— Eu pedi que Mark a demitisse ontem. Não poderia aceitar ser chantageado.
— Nada disso estaria acontecendo se não tivesse se envolvido com a assistente dela.
— O fato de eu me envolver com Julie não tem nada a ver com Erin. E Julie não a empurrou e muito menos está tramando para tomar o lugar dela na empresa, é tudo um delírio!
— Mas essa moça apresentou o projeto ontem — Brady diz.
— Sim e posso afirmar que foi ela quem fez tudo sozinha. Não é a primeira vez que ela faz um trabalho melhor que o de Erin.
— É muito fácil para você enaltecê-la — Barbara ironiza — está transando com ela.
— Não tenho nenhum motivo para defender sua competência a não ser o fato de que é a verdade. Vocês me conhecem e eu não deixaria meu envolvimento com Julie influenciar minha avaliação.
— Antes eu acreditaria em você ssem nem pestanejar — Barbara rebate — Agora... você me decepcionou muito Simon.
Eu encaro os três olhos pousados em mim com descontentamento sentindo-me frustrado comigo mesmo.
Eu desconfiava que aquela conversa não seria fácil, mas estava sendo pior do que eu imaginava. Era por isso que não me envolvia com funcionárias, sabia que podia dar merda.
Agora é tarde. Eu estou envolvido com Julie Harris até o pescoço.
— E como vamos resolver a situação? — Brady questiona.
— Sinto muito por toda a confusão que Erin causou. Não imaginei que ela faria algo assim.
— Sim, ela está fora de si e acho que fez bem em demiti-la, porém isso não resolve a principal questão, Simon. — Barbara fixa o olhar inquiridor em mim e eu o sustento.
Não ia recuar facilmente.
Não tinha chegado até ali recuando. E Barbara sabia muito bem.
Ok, chegou o momento de negociar.
— O que vocês sugerem? — Pergunto friamente.
A tensão paira no ambiente.
— Essa situação é insustentável — Barbara diz — você sabe que temos motivos para afastá-lo da DBS.
— Me demitir? — Não acredito no que estou ouvindo, mas me mantenho impassível.
— Você mais do que ninguém sabe que no nosso lugar já teria demitido um CEO que deveria ser um exemplo e em vez disso se envolve num escândalo dessas proporções.
Eles estão certos.
Eu teria sido implacável.
— Percebo que concorda comigo. — Barbara continua — Você é um excelente profissional Simon. Por isso sempre o defendi. Daí minha decepção com seu discernimento. Não esperava que fosse cair numa armadilha dessa.
— Armadilha?
— O sexo pode ser uma armadilha para todos nós, deve saber. Homens principalmente caem nela o tempo todo. Achei que você fosse diferente, vejo que me enganei. É como todos os outros, quando se trata de uma mulher atraente.
— O que está querendo dizer? Eu não sou um canalha que se envolve em sexo com funcionárias! Meu envolvimento com a Julie não é como estão pensando. Não estamos apenas transando. Estamos noivos.
— Bem, talvez seja pior ainda.
— Pior?
— Simon, se nos dissesse que está apenas tendo um caso... Talvez pudéssemos dar um jeito de resolver tudo, demitir a garota e tentar passar por cima dos falatórios se garantisse que não voltaria a acontecer...
— Não. Não vão demitir Julie.
Ela sorri com ironia.
— É o que estou querendo dizer.
— Não é justo que a demitam. Ela não fez nada errado. Nós não fizemos nada errado! Tentei manter nosso envolvimento em segredo porque sabia das implicações caso fosse descoberto.
— E agora se transformou num caos.
— Não foi culpa dela.
Babara levanta a sobrancelha.
— Está assumindo toda a culpa?
— Estou tentando fazer com que entendam! Eu dedico muito trabalho a essa empresa. E vocês sabem, foi o motivo de me escolheram para esse cargo.
— Tem razão Simon, não queremos perdê-lo — Brady diz — se quiser continuar, terá que demitir Julie Harris.
— Você sabe que a situação é insustentável. Tentaram manter a discrição e veja no que deu! — Barbara completa — Está tentando amenizar os danos, mas sabe que tenho razão.
— E se eu terminasse com ela? — Questiono friamente.
— Estaria disposto a terminar com a Julie para mantê-la na empresa?
— Julie Harris é uma das pessoas mais inteligentes e competentes que conheci. Não é justo demiti-la somente porque está envolvida comigo.
— Simon, é sua decisão — Barbara diz por fim — Eu quero voltar a confiar em você e se diz que assim as coisas vão voltar ao normal...
— Vocês não estão me dando opção!
— Ao contrário, estamos te dando muita opção. Você pode demitir Julie Harris. Ou pode terminar tudo e tentar fazer a situação voltar ao normal com ela por aqui, já que insiste que é tão competente.
— E se eu não quiser nenhuma das duas opções?
— Se insistir, teremos que demitir os dois.
Capítulo 15
Julie
Eu pensei que o caos total que aconteceu lá embaixo no saguão, quando fui agredida física e verbalmente por minha chefe maluca, enquanto todos os meus colegas de trabalho assistiam como se estivessem acompanhando um reality show bagaceira na TV, era muito ruim.
No entanto o que está acontecendo agora parece pior.
Estou sentada na minha mesa (a antiga, de assistente. De maneira alguma ia entrar na sala de Erin de novo, aliás, eu ainda estava levemente temerosa de que ela conseguisse se livrar dos seguranças e entrasse brandindo sua muleta e gritando feito um viking com mobilidade reduzida) cercada por uma horda massiva de funcionários da DBS, todos falando ao mesmo tempo ávidos por saber em primeira mão toda a deliciosa história sobre mim e Simon.
— Então o tempo inteiro era ele seu noivo secreto?
— É verdade que você o conquistou para conseguir subir na empresa?
— Como foi que conseguiu esconder o caso de vocês por todo esse tempo?
— Vocês vão casar de verdade? Não tinham terminado?
E essas eram as perguntas mais inocentes, alguns não perderam tempo partindo logo para as partes mais picantes.
— Vocês realmente transavam na sala dele?
— Ele é bom de cama?
— Quantos centímetros ele tem?
Sem contar as perguntas derivadas de uma espécie de delírio coletivo que parecia ter tomado conta de todos.
— É verdade que sua mãe fez uma bruxaria usando um vodu do Simon para que se apaixonasse por você?
— É verdade que Simon era amante de Erin e por isso ela está tão puta com você?
— Não, eu ouvi dizer que eles formavam um triângulo!
Pelo amor de Deus!
Escondo o rosto entre as mãos me negando a responder a qualquer daquelas questões estapafúrdias enquanto rezava para que todos desaparecessem.
— Ei, gente, deixem a Julie em paz — Alan se aproxima. — Vocês não deveriam estar trabalhando?
— A gente quer saber de tudo! — Rachel rebate e todos concordam.
— É verdade que os acionistas vão demitir a Julie? — Phil indaga.
— Por que só ela que seria demitida? Deviam demitir o Simon também! Aposto que foi ele quem assediou a Julie... — Angie levanta mais uma hipótese absurda.
— Isso não é da conta de vocês e se o Simon descobrir que estão aqui fofocando sem fazer nada não será só a Julie que será demitida.
Eu levanto a cabeça e encaro Alan.
— Acha mesmo que vão me demitir?
Ele fixa em mim um olhar de pena.
— Espero que não, mas depois daquela bagunça lá embaixo. Acho que deveria se preparar.
Sinto vontade de chorar e me recordo do clima pesado que estava na sala de reunião quando Simon me pediu para sair.
O que será que ia acontecer?
— Gente, o Alan tem razão, vamos voltar para nossas mesas — Nancy diz e eu a fito agradecida.
Quando todo mundo se afasta ela me encara.
— Por que escondeu de mim?
— Eu escondi de todo mundo!
— O Alan disse que sabia!
— Ele pegou o Simon me beijando lá no karaokê.
— Ah entendi, nossa, que reviravolta! Nunca que poderia imaginar!
— Olha Nan, acho que devia voltar a sua mesa também, não estou com ânimo para falar sobre esse assunto agora.
— Acha que vão te demitir? — ela pergunta baixinho e eu dou de ombros.
— É bem possível.
Quando Nancy se afasta eu me levanto pego minha bolsa vou para o banheiro. Chegando lá olho meu rosto no espelho. Parece que fui atropelada. Minha testa está vermelha e um galo começa a aparecer. Além disso estou pálida feito um fantasma e com o olhar assustado.
— Julie?
Dou um pulo de susto ao ouvir a voz cavernosa e em seguida a imagem de Natasha surge no espelho.
— Natasha, me assustou!
— Me desculpe.
— Pediram para me chamar? Acabou a reunião do Simon e dos acionistas?
— Eles ainda estão lá e chamaram a Erin.
— Ai meu Deus, ela continua gritando?
— Acho que deram algum sossega leão para ela, porque estava mais calma. Havia até dois enfermeiros junto, devem ter pedido para vir da clínica. Parece que ela fugiu de lá.
— E o que você está fazendo aqui?
— Eu queria te contar o que eu ouvi.
— Sério? E o que foi? — indago ansiosa.
— Talvez não goste do que vou contar...
— Fala logo, está me deixando com medo!
— Eu fiquei muito curiosa quando saiu da sala, teve um momento que não resisti e colei meu ouvido na porta. Os acionistas estavam bem irritados com o Simon. Eles estavam furiosos e, como deve imaginar, não aceitaram nada bem o envolvimento de vocês...
— Isso eu já sei!
— Eles cogitaram afastar o Simon.
— Não podem fazer isso! Essa empresa é a vida dele!
— Foi o que o Simon rebateu! E fica pior. Eles disseram que você devia ser demitida. Que só assim a situação seria resolvida.
— Ai meu Deus...
— E não foi só.
— O que pode ser pior? Eles querem demitir a mim e ao Simon!
Minha nossa, ele deve estar furioso!
Tudo o que ele queria evitar era que nosso relacionamento se transformasse em um escândalo e prejudicasse sua carreira.
E veja no que deu!
— O Simon perguntou se a situação estaria resolvida se... terminasse com você.
— O quê? — Sinto meu coração falhando no peito.
Simon não poderia ter sugerido... ele não poderia sequer cogitar uma coisa dessas!
— Sinto muito, mas eu ouvi muito bem.
— E o que eles responderam?
— Eu não consegui ouvir direito, porque naquele momento meu telefone tocou. Eu corri para atender e bati o telefone na cara da pessoa que ligou! Voltei correndo para a porta, e só ouvi o Simon dizendo que eles não tinham lhe dado opção.
Minha garganta se aperta.
Não pode ser verdade...
— Tem certeza que ouviu isso? Não foram os fantasmas? — indago com a voz embargada pela emoção.
— Eu ouvi sim, Julie. Infelizmente não sei como acabou, porque meu telefone tocou de novo e tive que atender. E quando desliguei, estavam trazendo Erin. Então corri aqui te contar. Acho que deve estar preparada.
Eu assinto, me sentindo sem chão.
Simon iria terminar comigo. Claro que ia.
Ele podia estar apaixonado por mim, mas não existia nada que ele levasse mais a sério na vida do que sua carreira.
Carreira essa que estava indo ladeira abaixo e tudo porque ele quebrou sua mais preciosa regra de não se envolver com uma funcionária.
Ele se envolveu comigo e estava sendo sua ruína.
Meu Deus, eu sou tão má quanto Yoko Ono, que destruiu os Beatles!
— Eu preciso voltar a minha mesa, vai ficar bem? — Natasha me fita preocupada e eu engulo o choro.
— Tudo bem, eu... vou ficar. Obrigada por me contar.
Ela se afasta e eu olho de novo minha imagem no espelho.
Acordei tão feliz aquela manhã. Como é que tudo acabou se transformando num desastre?
“Acho que estávamos fadados a chegar e esse ponto desde o inicio”, uma voz insidiosa sussurra em minha mente.
Eu fui ingênua demais acreditando que ia dar certo.
Eu havia colocado os olhos no último homem que deveria querer e estava pagando o preço. De repente um soluço rompe em meu peito e desabo em lágrimas.
Não sei quanto tempo fico ali, chorando e sentindo vontade de morrer.
Até que um fio de sanidade começa a se insinuar em minha mente.
Preciso parar de ser dramática. Não sou uma heroína de série de TV (se bem que se fosse para escolher, tenho certeza que eu podia ser a Meredith Grey, acho que foi assim que ela se sentiu quando o Derek morreu, tenho certeza).
Só que Simon não morreu.
Ele está bem vivo. Jogando tudo o que eu dei a ele pela janela da sala da diretoria, enquanto faz um “high five” com os acionistas. E tudo vai continuar como sempre foi para Simon Bennett.
Homens como ele sempre passavam por cima de tudo para conseguir o que queriam. E não havia nada que ele quisesse mais do que uma carreira de sucesso. Claro que não ia deixar uma garota atrapalhar.
Nem se estivesse apaixonado por ela.
De verdade, eu não tinha dúvidas que Simon gostava de mim, mas daí a me colocar antes de tudo? Desistir de um trabalho que almejou a vida inteira por uma garota que ele conhecia há algumas semanas?
Eu não era tão ingênua para acreditar em algo assim.
Simon não era um mocinho de romance.
E bem, eu também não era uma mocinha iludida.
— Ainda poderei manter a minha dignidade — sussurro para a garota assustada no espelho, com a maquiagem borrada nos olhos. — E preciso urgentemente comprar um rímel a prova d'água.
Respiro fundo, assoo o nariz e pego minha bolsa.
Chega de chorar.
Eu ia assumir o controle daquela situação.
Não escuto ninguém quando entro no elevador e aperto o botão para a garagem. Minha mente está girando em dejà-vu. Me lembro de quanto entrei ali pela primeira vez. De quando o vi pela primeira vez.
Um nó ameaça fechar minha garganta de novo e aperto os olhos. Mesmo assim não consigo evitar as imagens que dançam sob minhas pálpebras cerradas. Simon me beijando. Simon dizendo que estava apaixonado por mim.
Simon dizendo aos acionistas que ia terminar comigo.
Filho da puta! Esse pensamento me faz abrir os olhos e uma nova determinação atravessa meu sangue.
Saio do elevador e marcho direto para o carro de Simon.
De novo minha mente brinca comigo, sou invadida por lembranças de mim mesma, muito bêbada, tomando a decisão que mudaria toda a minha vida, quando me escondi naquele carro.
— Que idiota — sussurro e insiro a mão na bolsa tirando o que havia escondido ali quando passei pela minha sala. — Vai se foder, Simon Bennett! — murmuro quando enfio o estilete com força no pneu traseiro rasgando-o.
Na verdade queria estar rasgando a cara bonita de Simon, mas por hora isso ia bastar.
Com uma determinação nascida da fúria, vou de um pneu a outro apunhalando a borracha como num massacre.
— Julie, que porra está fazendo?
Me levanto quando escuto a voz de Simon. Ele está avançando em minha direção contemplando o carro com um olhar horrorizado — Você... furou os meus pneus?
Levanto o queixo e esboço um sorriso.
— Sim.
— Por quê?
— Isso quer dizer que estou terminando com você.
É isso aí!
Eu ia manter minha dignidade intacta! Ele não ia terminar comigo?
Pois eu terminaria primeiro!
— Terminando comigo? — Simon repete como se não tivesse ouvido direito. O misto de estupefação e confusão em sua expressão me faz lembrar da manhã que rebati sua proposta de um noivado falso com minha inusitada proposta de sexo.
A gente deveria ter ficado somente no sexo.
E agora eu não estaria com vontade de rasgar sua garganta com o estilete.
— Sim, terminando — repito dando de ombros como se não estivesse desistindo do relacionamento mais incrível que já tive na vida. — Acho que você concorda que depois daquela situação lamentável, com todo mundo descobrindo sobre nós da pior maneira possível, não dava mais para continuar não é? Até durou muito — solto uma risada — a gente teve bons momentos, mas no fundo nós dois sabíamos que não iria durar.
— Nós dois sabíamos que não iria durar? — ele repete minhas palavras com um olhar frio.
Engulo minha vontade de gritar que ele sabia muito mais do que eu, já que havia dito aos acionistas que se livraria de mim!
— Claro que sim! Simon, olhe pra você e olhe pra mim! A gente não tem nada em comum a não ser um bom sexo. E bom sexo a gente encontra em qualquer lugar.
— Você está dizendo que tudo o que tivemos foi bom sexo?
— Sério Simon, pensei que fosse mais inteligente. E pare de repetir o que eu digo! Vamos terminar com dignidade, ok? Como amigos?
— Amigos não furam o pneu do carro do outro.
— Ah, isso? Ops! Acho que esqueci de dizer que sou um tanto descontrolada quando meus relacionamentos não dão certo.
— Você já fez isso antes?
— Umas três vezes pelo menos. Não se preocupe, não vou espalhar para a empresa que você tem DST.
— Eu não tenho DST!
— Claro que não, mas eu poderia inventar que tem, sei lá, sífilis.
— Por que porra você inventaria uma coisa dessas?
— Estamos fugindo da questão!
— A questão que você é louca? — esbraveja.
Ah, ele está com raiva?
— Ei, não me ofenda! Concordamos que terminaríamos numa boa!
— Puta que pariu Julie, que merda está fazendo? — ele puxa os cabelos como se estivesse realmente enlouquecendo.
Que ótimo. Pode pirar mesmo.
Pode arrancar todos os cabelos da cabeça e ficar careca!
Eu não estou nem aí!
— Enfim, acho que já esclarecemos tudo. — Guardo o estilete na bolsa. Preciso sair daqui, pois Simon está me fitando com aquele jeito de CEO fodão pronto para conseguir o que quer.
E não sei mais o que é que ele pode querer de mim, mas já sei que não quero mais nada dele.
Quer dizer, se ele sugerir uma última transa de despedida talvez eu aceite
Não. Foco Julie!
— Certo. Vamos conversar racionalmente. — Simon diz — Eu sou uma pessoa racional. Acho que que você também, quer dizer, nem tanto. Ou nem um pouco, só preciso respirar e... entender. Certo. Vamos resolver seja lá o que esteja acontecendo...
— Simon, você é surdo ou o quê? Eu terminei com você! Não estamos mais juntos. Acabou! Por que iria tentar resolver qualquer coisa? Chega! Será melhor assim, tudo vai voltar a ser como sempre foi, você sendo o CEO e eu apenas uma funcionária qualquer que nunca entrou bêbada no seu carro e... — O nó se fecha em minha garganta de novo e eu pigarreio.— Você sabe que estou certa, não sabe? — Murmuro, deixando de lado minha pose blasé. — Sabe que a gente iria terminar de qualquer jeito. É a única solução razoável. — Minha voz falha conforme vou entendendo que essa pode ser a última vez que o tenho tão perto.
Por que no fundo sei que nada mais será o mesmo. Vou ter que sair da DBS. De maneira nenhuma conseguiria permanecer na empresa apenas observando Simon de longe.
E com certeza ele ficaria aliviado.
Por hora, só preciso sair dali, antes que comece a chorar feito uma boba. Enfio a mão na bolsa. E pego meu celular, pronta para chamar um táxi para me tirar de perto de Simon.
— Então, tchau Simon.
— Julie — ele segura meu braço e, antes que eu possa pedir que me solte, ou comece a chorar, meu celular toca e vejo no visor que é a minha mãe.
Simon me solta e eu atendo.
— Mãe, oi...
— Querida, precisa ser forte.
A voz dela faz um pressentimento ruim traspassar minha espinha.
— O que foi... a vovó...?
Ah Deus, por favor não.
— Ela está muito mal, querida. Ela foi internada e... — Minha mãe soluça — parece que a doença estava avançando de novo e ela escondeu de nós. Ela está muito mal. A internamos hoje e... O médico acredita que ela não tem mais muito tempo. Sinto muito, meu amor.
— Estou indo, mamãe.
Eu desligo e encaro Simon.
— É minha avó. Ela foi internada e está muito mal. — Começo a tremer e não consigo conter as lágrimas.
— Julie, eu sinto muito.
— Eu preciso ir... — Pego o celular novamente para chamar um táxi, mas Simon já está segurando meu braço e me levando para a saída, enquanto digita algo em seu próprio celular.
— Eu te levo.
— Seu carro está arruinado...
— Estou pedindo um carro da empresa. O motorista nos leva...
— Vou aceitar o carro, mas não acho que deva ir comigo.
— Julie, não vou deixá-la ir sozinha.
Chegamos ao saguão e Natasha vem em nossa direção.
— Simon, ainda bem que o encontrei! Os acionistas estão aguardando na sala de reunião...
— Merda, eu me esqueci — exclama irritado. — Eles pediram uma reunião de emergência com todos os funcionários para falar sobre a confusão de hoje de manhã e colocar um ponto final no assunto.
— Tudo bem. Não precisa vir comigo, Simon.
— Não quero deixar você sozinha.
— Não sou mais assunto seu — murmuro vendo o motorista se aproximar. — Vá, volte para seu trabalho.
E me afasto com o motorista sem olhar para trás.
Quando chego ao hospital, meus pais estão desolados.
— Como ela está? — Abraço meu pai, que parece ter envelhecido uns dez anos.
— Nada bem, querida — mamãe responde.
— O que os médicos dizem?
— Que o câncer voltou muito mais agressivo. Na idade dela é ainda pior.
— O que podemos fazer? Ela pode fazer todo o tratamento novamente...
— Filha, sua avó está muito velha dessa vez precisamos nos preparar.
Mordo os lábios para não chorar mais. Não quero que meus pais fiquem mais fragilizados.
— Posso vê-la?
— Claro. Ela está te esperando — Mamãe coloca uma pedra na minha mão. — pode dar a Marie? Eu sei que ela não acredita nessas coisas, mas essa pedra é mágica.
— Essa pedra não é da entrada da nossa casa?
— Não seja boba, Julie! Sim, é da nossa entrada, mas esqueceu que quem fez a nosso jardim foi o mago Nick? Todas as pedras que ele colocou lá são mágicas!
Ah sim o tal mago Nick, que mais parecia um charlatão da pior categoria e cobrou o dobro para fazer um trabalho que um pedreiro comum faria pela metade. Ainda lembro o quanto meu pai ficou puto na época. Mamãe rebateu que meu pai devia ficar feliz por ter um mestre como o Mago Nick consagrando nosso jardim.
— Está bem. — Pego a pedra e entro no quarto. Vovó está com os olhos fechados e parece tão abatida contra os lençóis.
Me aproximo e seguro sua mão.
Ela abre os olhos e sorri ao me ver.
— Oi, querida.
— Ah, vovó, porque não contou para a gente? Poderia estar em tratamento...
— Não, Julie. Eu não quero mais todos aqueles tratamentos. Quero morrer em paz.
— Não quero que a senhora morra!
— Querida, todos nós vamos morrer. Ou pensou que eu ia viver pra sempre?
— Por que não? Talvez não seja tarde para procurarmos um vampiro.
Ela ri, acariciando meus dedos.
— Isso é o que mais admiro em você, querida, sua mente criativa. Ainda lembro quando era pequena e inventava todas aquelas histórias mirabolantes quando não queria ser castigada. E conseguia na maior parte das vezes enrolar a cabeça oca da sua mãe.
— A senhora nunca era enrolada facilmente.
— Alguém tinha que ter a cabeça no lugar nessa família.
— Ah, vovó, como vamos viver sem você?
— Você vai conseguir, querida. Tem uma vida maravilhosa pela frente. Ainda mais com aquele seu noivo bonitão.
Desvio o olhar quando ela cita Simon.
O que me faz lembrar que não tinha mais um noivo.
Quero contar a vovó. Porém me falta coragem. Ela vai ficar preocupada e eu não quero que se abale com nada.
— Sim, Simon é mesmo maravilhoso — sussurro.
Não é tão mentira assim. Ele é maravilhoso. Quando não está conspirando com os acionistas para me jogar para escanteio.
— Fico tão feliz e tranquila por vê-la feliz, querida — ela sorri — por isso queria lhe fazer um pedido.
— Qualquer coisa, vovó.
— Eu queria ver seu casamento. Queria que se casasse antes de eu partir. Faria isso por mim?
Capítulo 16
Simon
Minha cabeça ia explodir antes de aquele dia terminar.
Tudo de ruim que poderia acontecer, aconteceu e eu só queria chegar ao fim do dia sem enlouquecer. E faltava muito pouco.
Para uma pessoa que se gabava de ter o controle total de sua vida, eu estava totalmente perdido.
Primeiro o escândalo de Erin, depois o ultimato de Barbara, Brady e Collin e, para completar, flagrei Julie furando meus pneus como a psicopata que sempre desconfiei que fosse. E ela terminou comigo.
Porra!
Minha mente estava totalmente bagunçada! Por um momento, enquanto Julie estava ali, rindo e dizendo calmamente que era o fim, desconfiei que fosse alguma brincadeira. Ela não podia estar falando sério!
Porém ela insistiu. E até forneceu argumentos bem razoáveis.
Não eram os mesmos que passaram pela minha mente quando Barbara me acuou na sala de reunião? Quem saberia dizer se éramos realmente certos um para o outro? Julie era completamente maluca e impulsiva enquanto eu era controlado e frio.
Então, tirando o sexo incrível, será que restaria alguma coisa no final?
E se eu estivesse jogando fora tudo o que levei anos para construir apenas por uma paixão passageira?
Então, eu a vi virar as costas e dizer adeus. E algo dentro de mim se rebelou com aquela imagem.
Não. Ela não iria embora. Não ainda.
Eu não era um cara de desistir facilmente. Não cheguei onde estava desistindo.
Nós daríamos um jeito.
Eu iria levá-la a algum lugar onde poderia convencê-la a termos uma conversa franca e adulta. Uma que não envolvesse estiletes. Contaria a ela sobre a proposta dos acionistas e juntos chegaríamos a um consenso.
Juntos.
No entanto, tive que deixá-la ir quando a mãe dela ligou contando que a avó estava mal. Eu queria acompanhá-la porque, independentemente de estarmos bem ou não, ela parecia seriamente perturbada e triste. Porém, quando Natasha me chamou lembrei-me que ainda tinha um trabalho a fazer. E, naquele momento, foi como um clarão na minha mente.
Julie e o trabalho, um de cada lado. E eu tendo que escolher.
Eu a deixei ir porque naquele momento, não havia nada que eu pudesse fazer. Assim, vesti o minha expressão mais aterrorizante e fui para a sala de reuniões, tentando aplacar a onda de fofocas e balburdia que se instalou na empresa desde o surto da Erin.
E eu nem queria lembrar de Erin, que foi levada a minha sala depois, totalmente grogue de analgésicos. Barbara reiterou a demissão, lhe oferecendo uma gorda indenização, Erin terminou concordando com tudo enquanto babava levemente.
Só Deus sabia o que aconteceria quando ela não estivesse mais sob o efeito das drogas. Por precaução, os enfermeiros iriam mantê-la sob vigilância constante. E os seguranças da DBS foram avisados de que sua presença na empresa estava proibida.
Ao chegar à sala de reuniões, o lugar havia se transformado em um circo, onde todos falavam ao mesmo tempo e faziam especulações ridículas sobre mim e Julie. Felizmente, quando entrei, ladeado pelos acionistas, eles se calaram e escutaram. Fui firme e objetivo, não entrei em detalhes porque não era da conta de ninguém. Apenas confirmei meu envolvimento com Julie Harris, explicando que mantivemos o relacionamento em segredo para não interferir em nosso trabalho. E finalizei alertando que aquele assunto estava terminantemente proibido nos corredores e nos e-mails corporativos, sob pena de demissão.
— Acha que será suficiente? — Brady perguntou quando saímos.
— Espero que sim.
— E já tomou uma decisão, Simon? — Collin especulou.
— A decisão foi tirada de minhas mãos. Julie terminou comigo.
— Ela foi sensata. — Barbara comentou com uma expressão de alívio, seu olhar suavizou quando viu minha irritação. — Simon, eu o conheço há bastante tempo. Fui sua mentora. Sei que essa garota mexeu com sua estrutura e é uma pena que seja uma funcionária. Porém, você mesmo viu na sala de reunião. Não ia dar certo nunca. As pessoas precisam parar de falar sobre esse assunto.
Eu não respondi, sabia que havia certa razão.
Enquanto estou descendo para o estacionamento só penso em chegar em casa e colocar minha mente no lugar para tentar encontrar algum sentido em todo aquele caos. Talvez ligar para Julie e perguntar sobre sua avó. Queria ir até o hospital, afinal eu gostava de Mary, só não sabia como Julie iria reagir a minha presença.
Chego ao estacionamento e estudo os pneus recém-trocados depois do massacre de Julie.
Caramba, continua sendo um tanto assustador pensar que ela fez aquilo.
Bom, melhor o pneu do que minha cara.
Entro no carro e dou partida. E quase morro do coração ao ver Julie Harris surgir do banco de trás.
— Oi, Simon.
— Caralho, que porra está fazendo aqui?
Na verdade eu nem devia ficar chocado, afinal, não é a primeira vez que ela faz uso desse subterfúgio.
Ignorando minha pergunta, Julie pula para o banco da frente. Sua maquiagem ainda está borrada como de manhã ela parece uma punk maluca enquanto sustenta meu olhar.
— Tenho uma proposta para você.
— Julie, sério não tenho mais estrutura para suas loucuras. Hoje foi um dia longo...
— Preciso que seja meu noivo de mentira novamente.
— Como é? — Agora ela tem minha atenção.
— Sim, lembra que me propôs algo assim no natal? Então, é tipo a mesma coisa.
— Que merda está dizendo?
— Minha avó quer que a gente se case.
— Você terminou comigo.
— Eu sei. Por isso que eu disse noivo de mentira.
— Só pode estar de brincadeira!
— Não, é sério. Minha avó... — Sua voz embarga. — Está muito doente e ela me fez um único pedido. Ela quer ver meu casamento antes de... morrer.
Eu ignoro a vontade de abraçá-la a confortá-la porque neste momento ela está me enlouquecendo.
Quem Julie Harris pensa que é para me dar um fora de manhã e depois voltar com aquela proposta maluca?
E por que diabos eu não a estava jogando para fora do carro e colocando um fim de uma vez por todas àquele relacionamento bizarro?
A merda é que eu sabia a resposta.
— E você veio aqui para dizer que quer que nos casemos? É um pedido de casamento? — Indago calmamente.
— Não seja idiota! Ouviu o que eu falei! É de mentira, como antes.
— Não, antes era um noivado de mentira, não um casamento de mentira.
— Acho que não me expressei direito. É isso. Um casamento de mentira.
— Você quer que eu me case com você de mentira?
— Sim.
— Ninguém casa de mentira, Julie.
— As Kardashians casam.
— Não, não casam.
— Ok, elas negam mas vamos combinar que o casamento da Kim com o tal jogador foi bem suspeito.
— Espera, por que estamos discutindo a vida de subcelebridades?
— Estou dando um exemplo!
— Você é louca!
— Não vou nem me ofender. Você aceita ou não?
— O que vai fazer se eu não aceitar?
— Não vou aceitar um não. Acho que você me deve!
— Eu não te devo nada.
— Bem, talvez deva ter medo, porque ainda posso espalhar sobre a sífilis.
— Seria uma mentira!
— Até que prove o contrário vai ficar pelo menos uns dois anos sem transar.
— Julie, está percebendo o quanto é absurdo? Nós estávamos noivos de verdade até poucas horas e você me chutou! E furou os pneus do meu carro!
— Não vou pedir desculpas! Para de ser um bebezão reclamão! Supere! De manhã a gente terminou e agora estou lhe fazendo uma proposta. Apenas isso. Negócios! Acho que disso você entende, não? Precisa fingir se casar comigo e depois... estará livre de mim. Muito simples.
Cara, Julie realmente acha que eu quero me livrar dela?
Eu era um tremendo de um masoquista por estar discutindo essa proposta bizarra com ela, depois do que fez de manhã e ainda me sentindo feliz.
Por ela estar aqui. Ao meu alcance.
E talvez ainda haja uma chance.
— Ok, eu posso aceitar...
— Oh Obrigada...
— Não tão rápido.
— Você disse que aceitava.
— Eu disse que poderia aceitar, mas tenho uma condição.
— Não vai pedir que eu transe com você? Vai?
Bem, não é uma má ideia.
— Só você pode pedir?
— Que nojento, Simon!
— É minha condição. Pode não aceitar e sair do carro e boa sorte ao contar a verdade a sua avó.
— Não acredito que está fazendo isso! Está tentando se vingar de mim? É tão mesquinho, até mesmo pra você!
— É pegar ou largar.
Ela respira fundo e me encara com raiva. Enfrento seu olhar com uma satisfação quase cruel.
Estou achando delicioso perturbar Julie Harris exatamente como ela vinha me perturbando todo esse tempo.
— Certo. Fechado.
Contenho a vontade de me inclinar e beijá-la.
E dizer que ela era a pessoa mais absurda e mais adorável de todo o mundo e que aquele casamento de mentira não ia ser tão de mentira assim.
Vamos ver quem é melhor negociador, Julie Harris.
Eu ficaria do seu lado nesse momento difícil com a avó. A deixaria pensar que tinha ganhado com sua proposta ridícula.
Não iria pressioná-la porque ela estava muito frágil.
Mas eu ainda estaria ali.
E no fim, estaríamos juntos.
Eu estava tomando o controle da situação de novo.
Capítulo 17
Julie
Como é que acabei me enfiando em um noivado falso outra vez?
E com o mesmo cara?
É o que me pergunto enquanto Simon dirige. Ele insistiu em me levar para casa, depois que concordei com suas exigências para que participasse da minha farsa de casamento.
— Você parece uma punk atropelada por um ônibus, não está em condições de ficar andando por aí! — resmungou quando eu tentei sair do carro. — Eu te levo.
Acabei concordando por que né? Ele tinha toda razão. Minha aparência realmente não era das melhores.
Em outros tempos estaria muito preocupada, no momento não me importo nem um pouco. Primeiro que não preciso impressionar Simon de maneira alguma, ele não é mais meu noivo. E segundo que ainda me sinto desolada pela situação da minha avó.
Ela disse que não queria que eu ficasse triste, até me fez prometer que não ficaria chorando pelos cantos.
— Não quero que fique infeliz. Você tem muitos motivos para sorrir, afinal vai se casar com o seu Simon. — Dissera dando tapinhas na minha mão, exatamente como fazia quando eu era pequena e ficava triste. — Vai me deixar aborrecida se ficar choramingando por aí! Ficarei feliz se você estiver feliz, minha querida.
E eu prometi a ela que faria o possível para ficar bem, por ela. E saí do hospital direto para a DBS para convencer Simon de que ele precisava se casar comigo. Obviamente que, apesar de todas as promessas a minha avó, eu não tinha a menor intenção de me casar com Simon de verdade. Poderíamos fazer uma pequena encenação para deixar minha avó contente. E embora mentir para ela me fizesse sentir um tanto culpada, preferia isso a contar a verdade e vê-la toda preocupada comigo.
Era uma mentira pequena por um bem maior.
Agora eu não era apenas a noiva de mentira de Simon outra vez. Teria que me casar com ele de mentira também.
E ele ainda teve a coragem de rebater a minha proposta do mesmo jeito que eu rebati a dele no natal.
A minha primeira reação foi responder com um sonoro “nem pensar”, porém não podia me dar ao luxo de Simon se recusar a ser meu noivo falso novamente. E, mesmo com raiva por ele ser tão escroto, aceitei.
Agora enquanto ele para o carro no estacionamento do seu prédio me pergunto se me trouxe para sua casa porque vai querer seu pagamento. E em vez de mandá-lo para a puta que pariu eu me sinto quase ansiosa para que seja esse o caso.
Ok, eu era uma idiota por ainda ter algum sentimento por aquele cara depois de tudo, mas a verdade é que me sinto quase feliz por ele estar aqui comigo, mesmo sendo em um famigerado noivado falso.
Ah Deus, quão trouxa uma pessoa é capaz de ser?
E porque meu coração está batendo rápido no peito quando saímos do carro e ele segura minha mão?
— Aqui não é minha casa — murmuro quando entramos no elevador.
— Não ia te deixar sozinha.
Ele precisava parecer genuinamente preocupado?
Só faz com que eu sinta vontade de chorar e pedir que me abrace.
— Podia ter perguntado se eu queria vir para sua casa — reclamo e ele sustenta meu olhar.
— Você quer que eu te leve para sua casa?
Ah inferno!
— Não quero ficar sozinha. — Escolho a verdade.
— É o que estou querendo dizer desde a hora que resolvi trazê-la, Julie.
Quando entramos em seu apartamento, me sinto meio deslocada. É esquisito estar ali de novo.
— Você parece exausta. — Simon fixa o olhar avaliador em mim.
Sim, sinto-me subitamente cansada.
— Esse foi o dia mais longo da minha vida. — Me jogo no sofá encolhendo-me feito uma bola e fechando os olhos. — Só quero que ele termine.
Simon se aproxima e toca meu rosto, seus dedos colocando uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.
Seu toque é bem vindo e me faz soltar um suspiro, quando permanece ali, morno e gentil em meu rosto.
— Você se importa de fazer todo o trabalho? — sussurro — Talvez seja uma boa ideia que façamos aqui mesmo. Acho que não tenho forças nem para tirar a roupa quanto mais para ir até a cama.
— Que merda está dizendo, Julie?
Abro os olhos para ver Simon me encarando confuso.
— Você não me trouxe aqui para receber seu pagamento?
— Pagamento?
— Transar?
Ele ri.
— Julie, no estado em que se encontra uma boneca inflável seria mais colaborativa.
— Não é engraçado. — De repente estou imaginando Simon em um sex shop escolhendo uma daquelas bonecas de boca aberta como um pervertido. E a imagem não é nada legal. — Você tem uma boneca inflável?
— Por que diabos eu teria uma?
— Deixa para lá. — Me ajeito melhor no sofá. — Já que não vai precisar dos meus serviços, senhor Bennett, se importa se eu tirar um cochilo?
— Deveria tomar um banho enquanto peço algo para jantarmos depois te deixarei em paz para dormir o quanto quiser — ele me puxa do sofá e concordo que preciso mesmo de um banho.
Sigo para o banheiro e tiro minha roupa. Estudo minha imagem no espelho por um instante, cruzes estou medonha.
— Esse rímel não presta mesmo! — resmungo e entro no chuveiro.
Quando estou me sentindo quase humana outra vez, abro os olhos e levo um susto ao ver Simon surgir no boxe. Nu e lindo.
Ai Meu Deus! De repente já não sinto cansaço algum.
— Você estava demorando demais. — Ele sorri e tem tanta perversão naquele sorriso que me deixa molhada e não é a água.
Como é que a gente pode manter a dignidade intacta quando um cara como Simon Bennett está no chuveiro te olhando daquele jeito?
— Pensei tê-lo ouvido dizer que não me trouxe aqui para a gente transar.
— Não a trouxe aqui para gente transar. — Ele repete e se enfia debaixo do chuveiro, fechando os olhos.
Minha nossa.
Era uma visão e tanto.
— Quer que eu saia para ficar mais à vontade?
Ele abre os olhos e dá de ombros, pegando o sabonete.
— Isso me lembra que nunca tomamos banho juntos.
— É verdade! — Franzo o olhar me dando conta da mesma coisa.
Nossa, que desperdício.
O observo e é realmente tentador remediar aquela falha.
Tão tentador... e tão errado!
— Acho que não deveria estar aqui, afinal, não somos mais noivos. — Viro-me para sair, Simon me puxa para debaixo do chuveiro, consequentemente para perto de seu corpo molhado roçando atrás de mim.
— Somos noivos de mentira.
— Noivos de mentira podem tomar banho juntos? — Não consigo impedir a onda de excitação que percorre minha pele.
— Embora não tenha lido o manual, acho que não há nada que impeça. — Sua mão desliza por minha barriga lentamente e pousa no meio das minhas pernas.
Engulo um gemido, quando seus lábios encontram meu ombro e seus dedos fazem uma inspeção perversa dentro de mim.
— E será que nesse manual a gente encontra alguma informação sobre noivos de mentira que transam no chuveiro? — Fecho os olhos e me entrego às sensações.
— Eu falei que não a trouxe aqui para transar — ele diz em meu ouvido, sua ereção em minhas costas diz outra coisa.
— Por que não? — Gemo alto quando sua mão livre aperta meu mamilo.
— Hoje cuidaremos apenas de você.
— Não me importo que se aproveite de mim. Aliás, estou dando permissão.
Ele ri, mordendo minha orelha.
— Você fala demais senhorita Harris. Apenas relaxe e deixa eu fazer você gozar.
Ai caramba, a voz dele funciona como um gatilho para meu orgasmo e sinto meu corpo ficar tenso, enquanto ondas de um prazer perfeito me fazem estremecer e gozar intensamente em seus dedos.
Estou meio morta quando ele me ajuda a me secar, me veste com uma de suas camisas e me leva para a cozinha, onde uma pizza nos espera. Como em silêncio, o sono me fazendo bocejar e quase dormir em cima da mozarela e não reclamo quando Simon me leva para a cama, muito menos tenho forças para perguntar se no manual de noivos falsos era permitido dormir de conchinha.
E só queria me lembrar porque a gente não estava mais junto de verdade.
Porém, quando acordo de manhã com Simon firmemente grudado em mim, eu me lembro.
Ele preferiu sua carreira a mim.
E não interessa que tenha sido tão maravilhoso comigo ontem, eu não podia esquecer porque estava ali. Era por causa da minha avó apenas isso.
Lembrar de minha avó me faz cair na real de vez e volto a me sentir triste.
E me sentir triste traz junto a vontade de ficar ali com Simon, entre seus braços. Vontade de pedir que ele me faça esquecer, como fez ontem.
No entanto preciso deixar de ser trouxa e largar aquele embuste que era Simon Bennett.
Porém... deixo meus olhos saudosos pairarem sobre seu peito esculpido. Por que ele tinha que ser tão lindo? Talvez eu pudesse acordá-lo e convencê-lo a dar uma rapidinha matinal? Afinal, eu ainda estava lhe devendo uma transa.
E quem sabe ele me pedisse desculpas por ser tão cretino e dissesse que não se importava nem um pouco com a DBS e queria ficar comigo?
Chega, Julie! — me repreendo mentalmente me obrigando a sair da cama. Antes que comece a deixar as ideias sacanas de acordar Simon dominarem minha mente. Ele era um cara frio e calculista que sempre colocaria sua preciosa carreira na frente de tudo. E, sinceramente, eu não queria ser a segunda opção para ninguém. Nem para um homem como Simon Bennett.
Eu podia estar loucamente apaixonada por ele, mas não ia mais fazer papel de trouxa. No fim, o escândalo de Erin acabou sendo providencial, assim, pude perceber que meu noivado com Simon tinha sido um erro tremendo.
Com isso em mente, saio do quarto e vou até o escritório de Simon. Ligo para meu pai e ele diz que vovó está bem.
— O senhor pode vir me buscar?
— Claro que sim.
— Estou na casa do Simon. — Lhe passo o endereço.
— Sua avó disse que vão se casar, é verdade?
Fecho os olhos e tenho vontade de contar a verdade a meu pai, opto por manter as coisas como estão, com meus pais acreditando que estou com Simon.
— Sim, é verdade. Vamos nos casar o mais rápido possível.
Ao desligar, levanto a cabeça e Simon está me encarando da porta e parece meio assustado.
— O que foi?
— Tive um pesadelo terrível no qual acordava e você estava quebrando todos os meus vinis como vingança.
Mordo os lábios para evitar a vontade de cair na gargalhada.
Ele parecia realmente que ia chorar só de me contar o sonho terrível.
Bem, eu sabia o que poderia fazer caso ele quebrasse meu coração de novo.
— Confesso que passou pela minha cabeça — falo devagar, me levantando e pegando o vinil do Sex Pistols. — Ia começar por esse...
Simon praticamente voa pela sala e o retira da minha mão.
— Acho melhor se arrumar, ouvi você pedindo seu pai para buscá-la.
— Sim, eu pedi. Tudo bem se eu não for trabalhar hoje? Queria ficar com minha avó.
— Claro. Aliás, tire o resto da semana de folga. Fique com sua família. É até bom que não apareça na DBS com toda a confusão ainda rolando.
— Obrigada.
Eu me arrumo rápido e quando volto à sala, Simon está desligando o celular.
— Antes de ir, preciso te dizer que já cuidei de tudo.
Franzo o cenho sem entender.
— Cuidou do quê?
— Do casamento.
— Ah... Como assim?
— Achei que tinha dito que precisamos nos casar rapidamente para sua avó ficar sossegada.
— Eu sei que disse, mas... — Na verdade eu nem tinha pensando no tal casamento de mentira em termos práticos.
— Então... o casamento acontecerá esse fim de semana.
O quê?
Capítulo 18
Julie
As coisas estão bem estranhas, para dizer o mínimo.
Depois que saí da casa de Simon na companhia do meu pai, fomos para o hospital e passei o dia com minha avó, que estava muito contente pela confirmação de que eu e Simon iríamos casar e bem rápido. Passei aquela noite com ela e na tarde seguinte, fui para casa dos meus pais e minha mãe estava no mesmo delírio com a noticia.
— A Deusa está sendo tão generosa em uni-la a um homem tão maravilhoso!
A Deusa deve estar tão puta quanto eu por Simon ser um embuste, isso sim!
Em vez de contar a minha mãe a verdade sobre aquele “casamento” apenas sorri e pedi que ela não se empolgasse muito.
— Mamãe, estamos só satisfazendo uma vontade da vovó.
— Como assim?
— Sabe que eu e Simon nos conhecemos há pouco tempo, estamos adiantando o casamento porque a vovó vai ficar feliz.
— Todos nós estamos felizes! E mais contente ainda porque teremos um casamento no fim de semana!
— Sério que não está pirando? Um casamento assim tão rápido?
— Vai ser uma loucura organizar uma cerimônia em tão pouco tempo, mas nós vamos conseguir.
— Espera... Cerimônia?
— Claro, querida, todo casamento tem uma cerimônia!
— O que quer dizer com cerimônia?
— Já estamos providenciando tudo, meu amor! Vai dar tudo certo! Simon conversou com a gente hoje e explicou como vai ser.
— Simon falou com vocês? — Que diabos Simon está aprontando?
— Claro que sim! Agora vá chamar seu pai para comer!
Encontro meu pai no celeiro. Ele está arrumando uma espécie de cenário, com feno e posicionando a câmera.
— Pai, o que está fazendo?
— Preparando tudo para a sessão...
— Sessão de fotos?
— Sim, não vamos ter muito tempo, com a preparação do casamento e tudo o mais.
— O senhor vai fotografar quem?
— Seu noivo, claro.
— Simon?
— Tem outro noivo?
— Espera... Simon vai posar para você... Pelado?
— Nu artístico, filha, quantas vezes tenho que explicar?
— Quando foi que ele concordou?
— Nós almoçamos juntos hoje.
— Como é que eu só estou sabendo disso agora?
— Estava fazendo companhia para a sua avó e é assim que deve ser. Aliás, falei com o médico e ela poderá compareceu ao casamento.
— Ainda não estou entendendo nada...
— Não se preocupe! Vai dar tudo certo, vai ver! — Ele abre uma revista e mostra a foto de um cara loiro fortão de quatro no feno.
— Acha que ficaria bom uma foto assim?
— Misericórdia, pai! Só se for para uma revista gay!
— Acha que posso vender para uma dessas revistas?
— O Simon pelado? Você pirou?
— É, acho que exagerei. Vamos ver com o que sua mãe vai tentar nos envenenar hoje. — Ele me puxa para a cozinha.
Finjo que como a torta de legumes da minha mãe e consigo fugir para meu quarto depois e ligo para Simon.
— Que merda está aprontando?
— Olá para você também.
— Não se faça de engraçadinho! Minha mãe disse que conversaram sobre uma cerimônia que nem sei como é que vai acontecer e meu pai que almoçaram juntos e que concordou em posar de quatro para ele! De quatro!
— Ei, não vou posar de quatro. Vai ser um nu artístico.
— É o que está achando! Sinceramente, isso é problema seu! Quero saber porque andou falando com meus pais sem eu saber e o pior sobre uma cerimônia de casamento!
— Achei que íamos mesmo casar no fim de semana. — Falou muito calmo.
— Casamento de mentira você quer dizer?
— Claro.
— E porque ficou de conversa com meus pais e não comigo? Aliás, eu quero realmente entender como vai funcionar! Você disse que cuidou de tudo, não entendi nada!
— Para todos os efeitos, nós vamos nos casar no domingo, Julie.
— E como vai ser o casamento? Por acaso contratou um padre fajuto ou algo assim?
Agora estou imaginando algum ator desempregado fingindo ser padre e nos casando.
— Estou ocupado agora, amanhã explicarei tudo, ok?
— Não! Eu quero saber agora!
— Tudo vai dar certo, Julie. Ah, minha família e eu chegaremos aí amanhã.
— Sua família? Não acredito que envolveu sua família!
— Seria esquisito se a gente se casasse e minha família não estivesse presente. Agora vá dormir. Boa noite, noiva.
— Simon, não desligue...
Ele já tinha desligado.
A neve está caindo quando acordo na manhã seguinte e meu pai me convence a não ir visitar minha avó.
— As estradas estão perigosas e tem que ajudar a sua mãe a preparar a casa para receber a família do seu noivo! — papai diz tirando a neve do jardim.
— Eu prefiro passar o dia com a minha avó!
— Sua avó está bem. Simon te contou que foi visitá-la?
— Ele foi?
— Por que o espanto?
— Por nada — desconverso.
Entro em casa e mamãe está fazendo geleia.
Não sei se teríamos banheiros suficientes para todas as dores de barriga que acometeriam os Bennett se comessem aquela gororoba.
— Mamãe, não deve se preocupar em fazer nada para os Bennett.
— Por que não? Temos que causar uma boa impressão! Seu pai disse que são gente importante! Não que o dinheiro nos impressione. Eu quero ver a aura de cada um deles antes de deixá-los entrar em casa...
— Tenho certeza que as auras dos Bennett são limpinhas!
— Venha, me ajude a preparar os quartos de hóspedes!
Acompanho minha mãe ao andar de cima e me sinto cada vez mais assustada quando vejo que, por preparar os quartos, ela quer dizer encher de velas aromáticas, incensos e entoar cânticos para atrair as boas energias.
Sinceramente, estou contente com o fato de aquele casamento ser falso, pois se fosse de verdade ficaria preocupada com os Bennett saindo correndo para nunca mais voltar.
E à tarde a situação fica mais bizarra ainda quando a família de Simon chega em peso.
Minha mãe segura vários colares “mágicos” entre os dedos dando pulinhos ansiosos, quando os carros elegantes estacionam em frente a minha casa.
A primeira pessoa que surge é Mila que corre em minha direção, me abraçando muito empolgada.
— Estou tão feliz que vão casar!
— Mentira, ela pirou porque viu todos seus planos de um casamento chique em um castelo real indo por água abaixo! — Florence diz.
— Eu já superei! Um casamento de última hora é tão mais romântico! — Mila bate palmas como um duende maluco.
— E fique sabendo que a minha gravidez se confirmou! — Florence anuncia com um sorriso feliz estampado no rosto.
— Ah, meus parabéns! — A abraço e atrás dela vejo seus respectivos maridos saindo dos carros carregando um monte de pacotes.
E minha mãe está se apresentando a Maggie e Alfred.
— Estou muito contente em conhecê-los! Que aura maravilhosa a de vocês...
— Aura? — Maggie parece confusa.
— Sim, muito colorida! E tão em sintonia... Aposto que têm uma vida sexual incrível! Vocês fazem swing?
— Mãe, pelo amor de Deus! — Corro em socorro de Maggie e Alfred que felizmente parecem não ter entendido a pergunta da minha mãe. — Desculpem minha mãe, ela é muito... espiritual!
Alfred sorri educado, embora um tanto aturdido, para não dizer meio ridículo com seu terno caro estragado pelo colar de contas que minha mãe colocou em seu pescoço.
— Que ótimo finalmente conhecer sua família, Julie.
— Nós estamos muito satisfeitos também — papai diz — muito contente por minha Julie estar se casando com um homem de beleza tão simétrica.
Oh céus!
— Enfim, acho melhor entrarmos!
Agora mamãe está colocando colares em Mila e Florence.
Scott e Sean estão suando apesar do frio por estarem segurando um monte de caixas.
— E que diabos é tudo isso? — Pergunto.
— Tem que perguntar para as organizadoras de casamento ali! — Sean resmunga e eu os acompanho para dentro de casa.
— Sim, vamos entrar, fiz um chocolate quente com canela e um ingrediente mágico que infelizmente não posso contar o que é porque senão perde as propriedades! — mamãe divulga indo para a cozinha enquanto os convidados se acomodam na sala.
Meu pai ajuda Alfred tirar o casaco e aproveita para apertar o braço do pobre homem.
— Hum, que bíceps hein?
— Papai, por favor! — Lanço um olhar ameaçador e o tiro de perto de Alfred — Pare de constrangê-los!
— Certo, parei! Mas entenda filha, essa família tem um genética muito boa!
— Onde a gente coloca tudo isso? — Scott pergunta.
— Podem colocar no quarto da avó de Julie! É o primeiro a direita! — papai diz — E que braços fortes em rapaz?
Ai jesus, desisto!
Aparentemente meu pai não ia sossegar até ter os Bennett pelados em um ensaio fotográfico para nenhum calendário sensual botar defeito!
— Aqui está, o chocolate! — mamãe retorna e eu só não estou mais preocupada porque fui eu que fiz a bebida e deixei de fora o pó esquisito que minha mãe pediu para colocar enaltecendo suas propriedades mágicas.
De jeito nenhum ia deixar os Bennett beberem algum chocolate mágico da minha mãe e saírem doidões pela casa.
— Julie, precisamos provar o vestido! — Mila anuncia depois de todos tomarem o chocolate quente.
— Vestido?
— Claro! Nenhuma noiva casa sem um vestido!
Elas me puxam pela mão e sem que eu consiga impedir me levam até o quarto e retiram um vestido branco de uma caixa.
— Onde conseguiram? — Indago chocada.
— É o vestido da mamãe! — Mila revela me ajudando a tirar a roupa.
— Sim, querida, estou feliz que finalmente alguém vá usar esse vestido! — Maggie explica emocionada, enquanto Florence passa o vestido por meus ombros. — Mila preferiu um modelo exclusivo.
— Não me faça sentir culpada mãe! — Mila ri — não acho que serviria em mim.
— E eu não usei porque com certeza eu ficaria ridícula, já que sou bem mais alta que você, Maggie! — Florence diz, ocupada em fechar os botões do vestido as minhas costas e minha mãe vem com um grande espelho.
— Oh, filha você está linda!
Olho minha imagem no espelho e o vestido de renda de Maggie caiu como uma luva em mim. Ficou realmente bonito.
— Sim, perfeito! — Maggie enxuga uma lágrima.
— Graças a Deus mamãe preferiu um vestido atemporal de renda e não um daqueles modelos medonhos da década de oitenta com cetim e mangas bufantes! — Mila ri.
— Eu e o pai de Julie casamos apenas no civil! — mamãe diz — Eu estava grávida sabe? Estava de cinco meses!
— Mamãe, ninguém perguntou! — Reviro os olhos.
— Não sinta vergonha, querida! Não é nenhum pecado se casar grávida! Quer dizer, para igreja talvez seja, não para a deusa!
— Deusa? — Maggie questiona confusa.
— Ah, posso explicar tudo a você sobre a Deusa. — Mamãe se a anima. — Ah, vai ser incrível! Pode participar de nosso jantar mensal para louvar a Deusa! Adoraríamos ter novos membros! Você tem alguma restrição sobre dançar nua ao luar?
Ai Deus!
— Ei, o Simon chegou! — Papai bate na porta interrompendo o convite insano da minha mãe.
— A gente já vai! — Mila se apressa em me ajudar a retirar o vestido.
— Sim, o noivo não pode ver a noiva vestida antes do casamento que dá azar! — Florence comenta e todos concordam.
De repente me dá uma vontade enorme de contar a verdade.
Que aquele não é um casamento de verdade.
Pelo amor de Deus ninguém se tocou que é impossível se arranjar uma licença de casamento em tão poucos dias?
Voltamos à sala e os homens estão bem animados tomando cerveja com meu pai e até Simon tem uma garrafa na mão.
Ele me fita com um sorriso que faz borboletas traidoras sobrevoarem meu estômago e não posso evitar sorrir de volta, embora uma parte de mim queira dar um soco em seu rosto bonito por transformar aquele casamento falso em um circo, onde nossas famílias eram os palhaços.
O pior é que nem posso jogar toda a culpa em Simon, afinal, a proposta veio de mim dessa vez.
— Ei. — Ele se aproxima e beija meu rosto respeitosamente.
OK, não me ia importar se fosse um pouco mais desrespeitoso.
— Tudo bem? Ouvi dizer que estava experimentando o vestido da mamãe.
— Pois é, muitas coisas estão rolando por aqui. — Uso certa acidez em minha voz e ele levanta a sobrancelha.
— Hum, quer dar uma volta? — Pergunta, pois todos os olhos estão em nós.
— Ótima ideia!
O acompanho para fora e quando estamos longe o suficiente eu me viro furiosa.
— Por que diabos parece que estou fazendo parte de uma trama diabólica na qual alguma coisa muito ruim vai acontecer comigo no final sem que eu tenha a menor ideia do que seja?
Simon solta uma risada.
— Isso é sério! Não era para sua família estar aqui e muito menos para eu estar até usando o vestido de sua mãe! Me sinto muito mal por ser tudo uma farsa! Está fugindo do controle... — Suspiro cansada e Simon segura meu ombro.
— Ei, calma.
— Como posso ter calma? Não era assim que tinha imaginado que ia ser.
— E como imaginou?
— Eu não sei! Acho que nem imaginei! Só queria que minha avó ficasse feliz!
— E ela está feliz.
— É a única coisa que me impede de entrar naquela sala e contar que tudo não passa de uma mentira! — desabafo.
Simon toca meu rosto e seu olhar captura o meu. E o que vejo ali rouba meu fôlego.
— Julie, preciso confessar algo...
— Simon — meu pai o interrompe e aproveito para sair de perto dele. Eu já estava começando a me iludir de novo. — Está na hora!
— Na hora do quê?
— Da sessão de fotos.
— Minha nossa, vai mesmo posar pelado para o meu pai?
— Foi sua única condição quando pedi sua mão.
— Espera, porque diabos pediu minha mão? Isso é ridículo! — Mas Simon já se afasta em direção ao celeiro e me deixa falando sozinha.
Volto para a casa para descobrir que Alfred, Sean e Scott foram ao pub local e as mulheres estão todas retirando um monte de tecido, arranjos de mesa e flores das caixas, enquanto falam todas ao mesmo tempo.
— Precisam mesmo de tudo isso? — questiono incerta.
— Claro que sim! Sei que o prazo é curto, mesmo assim não vamos deixar que tenha um casamento que não seja incrível! — Mila diz — E não se iluda, isso aqui é só uma amostra! Amanhã chegará tudo o que encomendamos, assim como o resto da decoração, o buffet e as flores naturais... E eu consegui as pombas!
— Oh, jura? — Florence exclama — E as esculturas de gelo?
— Tudo certo!
Puta que Pariu, isso não estava certo!
Saio de casa e vou atrás de Simon, paro a porta do celeiro, petrificada ao ver Simon sentado no feno, usando botas de cowboy e apenas com um cobertor cobrindo suas partes enquanto meu pai tira fotos.
— Muito bem, agora vire o rosto de lado, tem um belo perfil...
— Eu acho que você vai congelar se ficar muito tempo sem roupa! — resmungo e meu pai se vira para mim irritado.
— O que esta fazendo aqui, Julie? Vai me atrapalhar!
— Acho que tirou fotos suficientes pai! — Entro no celeiro. — Preciso conversar com o Simon.
— Tudo bem, acho que já temos um bom material...
Ele pega seu equipamento e sai.
Simon continua sentado, rindo.
— Não vai se vestir?
— Por que está mal humorada?
— Acho que tenho motivos! Está sabendo que sua família está falando em escultura de gelo, pombos e sei lá mais o que? Como se fosse um casamento de verdade.
— Mas é um casamento de verdade para eles, Julie! — Ele me puxa sem aviso e antes que perceba estou deitada sob seu corpo nu no feno.
Wow.
— O que está fazendo?
— Beijando minha noiva mal humorada!
— Não devia fazer isso. — Estremeço com seus lábios em meu queixo.
— Por que não?
— Noivos de mentira não... — Nem consigo terminar, porque sua boca ávida desce sobre a minha, devorando minhas palavras.
É um beijo quente e lento que faz com que meus ossos virem esponja e meu corpo derreta.
É mesmo uma merda que os beijos de Simon sejam os melhores do mundo.
Quando estou me acostumando com a ideia de que não faz mal nenhum lhe pedir que me deixe tão nua quanto ele e faça amor comigo ali mesmo, ele interrompe o beijo e fixa seus olhos incríveis em mim.
— Por que parou? — murmuro, meus dedos torcendo seus cabelos.
— Eu preciso mesmo te falar...
— Ei, seus safados, parem de perversão e venham pra casa. — a voz de Mila nos interrompe. — A avó de Julie chegou!
O resto do dia transcorre como um sonho estranho.
Vovó parecia muito animada e com a saúde renovada garantiu que estava muito bem por estar ali, participando do meu casamento.
— Tem certeza que poderia sair do hospital? — tinha questionado preocupada.
— Claro que sim! Não perderia seu casamento por nada no mundo!
E eu sorri, aliviada por vê-la bem e feliz, enquanto por dentro me sentia culpada o tempo inteiro.
Eu podia inventar as histórias mais malucas e fazer todo mundo acreditar em mim, porém com a minha avó sempre foi diferente.
Era esquisito estar mentindo para ela.
E o que eu podia fazer?
Apenas chafurdar mais um pouquinho naquela farsa que estava tomando proporções catastróficas.
Depois do jantar que, graças a Deus eu havia convencido minha mãe a deixar que eu fizesse com a ajuda de Maggie, todos se retiram para seus quartos porque como disse Mila “amanhã seria um dia cheio com todos os preparativos começando logo cedo”!
Eu me senti meio nervosa quando Simon disse que devíamos nos recolher também.
Sei bem o que ele queria dizer, penso, com alguma excitação, não posso negar.
— Vou dar boa noite para minha avó — comunico e me dirijo ao quarto de vovó.
Ela está deitada, mas ainda acordada e sorri quando me vê.
— Não deveria estar dormindo?
Seu tom de repreensão me faz lembrar das inúmeras vezes em que fugi para seu quarto para que ela me contasse histórias.
— Estou tão contente que esteja aqui, vovó. — Me sento ao seu lado e seguro sua mão.
— Eu também, minha querida.
Respiro fundo.
— Vovó, eu sei que está feliz com meu casamento, mas... preciso te contar uma coisa — murmuro.
Não conseguia continuar mentindo.
Vovó me escuta atenta.
— Eu e Simon não estamos noivos. Na verdade é uma longa e bizarra história. — Sorrio tristemente, uma lágrima escorrendo por meu rosto. — Em resumo, quando eu o trouxe aqui antes, Simon era meu noivo de mentira. Ele é meu chefe e pediu que eu mentisse para a família dele que éramos noivos. E aí a gente acabou se envolvendo e decidimos ficar juntos de verdade, só que não deu certo. Há alguns dias eu tive que terminar tudo, porque estava uma loucura no trabalho e... — A encaro cheia de culpa. — Sinto muito, vovó, dessa vez eu pedi ao Simon que mentisse por mim. Que fingisse que a gente ia casar para deixar a senhora feliz. Me desculpe.
— Querida, eu já sabia disso tudo. — Vovó diz e arregalo meus olhos, confusa.
— O quê?
— Simon já me contou.
Eu mal consigo respirar, quanto mais compreender.
— Julie, todo mundo já sabe dessa confusão de vocês na verdade.
— Mas... como.... Não pode ser...
— Simon nos contou tudo.
— Então todo mudo já sabe e... por que ainda estamos aqui organizando um maldito casamento falso? — minha cabeça parecia que ia dar um nó.
— Meu anjo, não é um casamento falso. Vocês vão se casar de verdade.
Oi?
Capítulo 19
Julie
Eu mal consigo respirar, totalmente atordoada quando deixo da minha avó e, em vez de ir para meu quarto confrontar Simon, desço as escadas e saio de casa, andando pela neve sem rumo, tentando encontrar algum sentido naquele caos.
— Julie, o que está fazendo? — A voz meio apavorada de Simon me faz virar e o vejo vindo em minha direção. — Nem pense em fazer isso!
— O quê? O que está dizendo? Fazer o quê?
Ele para ofegante.
— A vi andando em direção ao meu carro e pensei que fosse furar os pneus de novo ou sei lá, quebrar os vidros.
Ah Deus, não sei se rio ou se choro!
— Não ia.... Quer saber? Era o que você merecia! Acabei de sair do quarto da minha avó, onde como boa neta que sou, decidi contar toda a verdade sobre o casamento e ela me revelou que na verdade já sabe de tudo! Como pôde, Simon?
— Sim, eu já contei.
— E não é o pior! Ela disse que vamos nos casar de verdade! — Eu ainda tinha esperança de que vovó tivesse delirando sobre essa parte.
— Exatamente — Simon responde calmamente.
— Você ia casar comigo de verdade sem me contar nada?
— Estive tentando te contar o dia inteiro se não percebeu!
— Ah esteve? E quando decidiu revelar tudo para nossas famílias sem me contar nada? Achou engraçado me fazer de idiota?
— As mentiras já estavam indo longe demais...
— Você foi longe demais!
— Sim, acho que fui.
— E fala assim nessa calma?
— Alguém tem que permanecer calmo.
— Estou com tanta raiva de você...
— Espero que não tente arruinar meus pneus de novo. Pois te processarei por agressão.
— Agressão aos pneus? Faça-me o favor! — Grito andando de um lado para o outro como um tigre enjaulado.
— Julie, quer me escutar por um momento? — Ele tenta me tocar, eu o empurro.
— Te pedi apenas um favor! Pedi que fosse meu noivo de mentira e de repente estou no meio da preparação de um enorme casamento, além de você ter decidido contar toda a verdade para minha família sem me consultar! Contou pra minha avó!
— Sua avó precisava saber a verdade.
— E quem decidi isso?
— Você mesma acabou de me dizer que foi lá contar a ela! E vai haver casamento. Ela só precisava saber toda a verdade.
— Isso é absurdo! Está realmente dizendo que ia se casar comigo de verdade?
— Eu vou me casar com você de verdade!
— Minha nossa, você é maluco! Armou tudo...
— Exatamente. Eu também posso ser um perseguidor psicopata, Julie.
Oh céus, é verdade!
Simon é um perseguidor psicopata.
E está falando muito sério!
Ele quer se casar comigo!
É tudo tão surreal que estou esperando que a qualquer momento as luzes se acendam e câmeras apareçam revelando que tudo não passa de uma pegadinha de mau gosto.
No fundo eu sei que não é. Simon está me fitando muito sério.
— Por quê? — murmuro sentindo minha mente girando e meu coração dando um salto mortal no peito.
— Porque eu te amo? Porque não quero te perder?
— Simon... — Merda, ele está me convencendo. — Não pode ser verdade...
— Que eu te amo?
— Que a gente vai casar! Precisaríamos de uma licença...
— Consegui uma licença especial da rainha.
— Da rainha?
— Conheço alguém que tem contatos na realeza.
— Minha nossa... — Isso não está acontecendo. Acho que não consigo respirar...
— Como vê. Vai acontecer e é real. Melhor se acostumar com a ideia, nós vamos nos casar amanhã e será de verdade.
— Ah Meu Deus. Vai realmente acontecer...
— Vai.
— Mas... você disse que queria se livrar de mim!
— Nunca disse isso.
— Natasha... Ela falou que ouviu você dizendo aos acionistas que iria terminar comigo!
— Natasha não ouviu tudo! Por isso terminou comigo?
— Sim!
— Preferiu acreditar numa maluca que acredita que gemidos sexuais são sussurros dos espíritos?
Caramba, ele tem razão.
De repente começo a perceber que posso ter cometido um grande erro.
— Parece que fui meio precipitada...
— Eles fizeram um ultimato, mas eu não havia respondido nada.
— Mas mesmo que fiquemos juntos ainda temos esse problema!
— Não temos mais. Eu já resolvi tudo.
— Como assim?
— Eu disse aos acionistas que me demitiria.
— Mentira! Não pode ter dito! Nunca vai sair da DBS! Se sair eu saio também! Não quero que perca seu emprego e na verdade nem queria perder o meu! Como vamos nos casar sendo dois desempregados? A gente vai ter que morar em um apartamento popular e receber pensão do governo! Será que conseguimos algum dinheiro se você tocar guitarra na rua? Ou eu podia trabalhar como stripper! Aí você ia me odiar e acabaríamos brigando e você se tornaria alcoólatra e...
— Julie, pelo amor de Deus, pare de surtar! Eu não perdi o emprego e nem você. Eu blefei. Sabia que eles estavam me pressionando para que eu a demitisse e terminasse nosso relacionamento. Sinceramente? Não cheguei onde estou sendo idiota. Eu sei negociar e o quanto eu valho. E joguei com isso. Blefei e ganhei. Eu disse que sairia da DBS e levaria todos os nossos projetos para a concorrente. E eles sabem que eu seria capaz e perderiam muito. Assim consegui não só manter meu emprego como o seu também.
— Meu Deus, você é cruel!
— Nunca disse que era bonzinho. — Ele me puxa pela cintura.
— Eu acho muito sexy. — Sussurro me encostando nele.
— Vai casar comigo? — Pergunta enfiando a mão nos meus cabelos.
— Tem certeza? Não é muito cedo? Sei que minha avó quer, porém...
— A gente pode se divorciar depois. Veja as Kardashian, não deve se difícil.
Solto um gargalhada e ele me beija, me fazendo sentir completa de novo.
— Nossa, Simon, eu estou tão apaixonada por você! — Suspiro embevecida. — Não acredito que vamos nos casar!
— Vamos sim é pra valer! — Ele me beija novamente.
— Isso sim é uma história romântica! — Escuto Mila gritando e paro de beijar Simon olhando em direção a casa para ver nossa família na varanda.
— Melhor que a história do osso cúbito! — Scott comenta.
— Minha nossa, eles estão ali faz tempo? — Pergunto horrorizada e Simon ri.
— Não faço ideia! — Ele me puxa em direção a casa.
Meu pai está ocupado tirando fotos. Sean faz gestos obscenos e Maggie está chorando abraçada a Alfred.
E mamãe? Mamãe está fazendo uma dança da fertilidade quando passamos por ela na varanda.
— Mamãe, ainda não é a hora da dança da fertilidade, ok?
— Do jeito que vocês são rápidos, não me admiraria se estiverem com três filhos até o próximo natal — Florence ri.
— Tem certeza que não querem o óleo? Acho que seria um bom momento para aprofundar a relação se é que me entendem... — Ainda escuto mamãe gritando quando subimos as escadas e estamos rindo quando chegamos ao quarto.
— Tranque a porta, pelo amor de Deus!
Simon faz o que pedi, e no minuto seguinte estamos nos atracando em direção a cama, nossas roupas voando pelo caminho.
— Tem certeza que não quer o óleo? — Simon pergunta todo insinuante enquanto pega um preservativo.
— Cedo demais, espertinho! — O puxo para perto e ele ri quando me vira sem aviso, dando um tapa na minha bunda.
— Nada é cedo demais quando se trata de nós dois.
— Espero que seja para algumas coisas, como...
— Sexo anal? — Ele levanta meu quadril e eu me viro rindo porém preocupada, observando-o puxar minha bunda para cima.
— Eu ia dizer bebês, seu pervertido! Espero que não esteja pensando em...
— Por que não? Não acha que está na hora de aprofundarmos a relação? — repete divertido as palavras da minha mãe.
— Nem ouse!
— Sério que ainda é virgem deste jeito, Julie Harris? Quem poderia imaginar. — Ele beija a base da minha espinha me fazendo arrepiar.
— Cala a boca e anda logo, antes que o deixe sem sexo até depois do casamento!
Ele ri e se acomoda dentro de mim. No lugar habitual, graças a Deus!
E é perfeito como sempre. Porque ele é incrível.
E me faz sentir incrível.
E juntos somos perfeitos.
Quer dizer, talvez um pouco perturbados para os padrões habituais, mas quem se importa?
Eu sou louca por Simon e ele louco por mim e em poucas horas estaríamos casados.
Casados!
E de verdade!
Nem eu poderia inventar uma história com um final mais surpreendente.
E quem vai saber o que o futuro nos reserva?
Eu mal posso esperar.
Epílogo
Julie
Ainda não acredito que estou casada com Simon Bennett.
Puta. Que. Pariu!
Como continuar ali sorrindo em meio à festa suntuosa e inesperada que os Bennett organizaram em tempo recorde no jardim da minha casa, quando quero sair correndo pelas campinas cobertas de neve gritando que agora sou casada com o homem mais maravilhoso do mundo?
Sim, Simon Bennett não é apenas um crush impossível, o CEO inatingível que nem sabia da minha existência. E nem mais meu noivo de mentira.
Simon Bennett é meu marido!
Sonhos se realizam sim!
Acho que posso até escrever um livro sobre isso. Sim, vou escrever minha história de amor com Simon Bennett e serei uma escritora Best Seller do New York Times! De repente posso até colocar uns lances de sadomasoquismo no meio aí ficarei tão famosa quanto aquela autora do livro do quarto vermelho da dor.
Meu Deus, Hollywood vai comprar os direitos do meu livro e fazer um filme!
E quem encarnaria Simon e eu? Será que Lady Gaga e Bradley Cooper estão disponíveis?
Já posso até nos imaginar no tapete vermelho do Oscar!
— Julie, por que não nos contou a verdadeira história? — Mila me traz de volta à realidade me cutucando e rindo. — Ainda não acredito que caí naquela história de cheerleader e osso cúbito! Bem que Scott tentou me alertar que existia algo estranho nisso tudo!
— Eu não podia contar que era um noivado de mentira!
— Achei a história de vocês muito mais surpreendente e romântica que a do osso cúbito! — Florence diz.
— Julie, você está maravilhosa! — Rachel se aproxima e ao lado dela estão alguns colegas de trabalho.
Sim, Simon convidou todo mundo para o casamento e, sinceramente, se era assim que ele acreditava que a gente ia sair dos holofotes na DBS estava delirando.
Eu só espero que Barbara e os outros acionistas, que também estão no casamento e agora seguram suas respectivas taças de champanhe enquanto conversam com Simon do outro lado do jardim, nos perdoem e não nos demitam.
Não quero nem pensar em ter que enviar currículos outra vez, estou muito apaixonada por meu trabalho.
Já prevejo uma carreira de muito sucesso pela frente.
Consigo até eu e Simon imaginar como o casal mais bem-sucedido de Londres! Seremos Brangelina do mundo corporativo! Quem sabe até poderíamos adotar um órfão vietnamita?
Não, espera. Brangelina se divorciou. Melhor não.
— Realmente está linda. — Alan me elogia e eu sorrio um pouco sem graça. Embora talvez não deva me preocupar com sua paixonite já que Nancy está pendurada em seu braço. Pois é, pelo jeito em breve teríamos mais um casal sacudindo os arquivos pela empresa.
— E aí, quem vai participar da aposta? — Benjamin pergunta mostrando o celular.
— Que aposta? — Natasha pergunta curiosa.
Ela está usando preto como sempre, eu até pedi desculpas a ela mais cedo, contando a verdade sobre os gemidos na sala de Simon.
Ela não ficou brava. Ou parecia que não. Porém durante a festa a peguei me encarando de longe com um olhar estranho e só podia imaginar que estava pensando em me levar para almoçar no cemitério de novo, desta vez me deixaria presa em algum mausoléu por toda a eternidade.
— Temos várias apostas rolando — Benjamin explica. — Quando você e Simon vão se divorciar...
— Que absurdo! — reclamo.
— Tem a que especula quando você vai ficar grávida.
— Outro absurdo! Sério gente, deviam parar com essas apostas e evitar fofocas, chega de confusão!
Eu me afasto e sento ao lado da minha avó. Ela parece muito animada e saudável. Não posso evitar sentir uma dorzinha no peito ao pensar que ela pode não estar comigo por muito tempo.
Pelo menos consegui realizar seu desejo.
E de verdade!
— Querida, foi uma bela cerimônia!
— Até quando mamãe entrou batendo tambor e entoando um canto para a Deusa?
Vovó ri.
— Quem é que ainda se surpreende com sua mãe? No casamento dela com seu pai, ela fez todo mundo beber uma bebida tão estranha que até hoje não recordo do que aconteceu depois!
— É, podia ser pior!
— Atenção, onde estão os noivos? Está na hora da dança dos noivos! — Holly anuncia em cima do pequeno palco, onde há uma banda. Sim, Holly conseguiu ser a cantora do casamento.
— Vá, querida. Vá ser feliz! — Vovó beija meu rosto e me levanto.
E lá está ele. Meu lindo marido me esperando.
Ele estende a mão e me leva para o meio da pista.
Sinto-me como num conto de fadas, quando seus braços me rodeiam.
— Feliz, senhora Bennett?
Ah, caramba, eu sou a senhora Bennett!
— Muito!
— Estive pensando que não planejamos a lua de mel.
— Ah... vai ter lua de mel? — Arregalo os olhos, ansiosa.
— É o que os recém-casados costumam fazer.
— E o que pretende?
— Eu queria muito dizer que poderíamos viajar agora, infelizmente no momento é impossível.
— Ah sim, nosso trabalho! — Faço uma careta. Era mais legal quando eu não estava nem aí. Agora me vejo concordando com Simon.
— Enfim, o que acha de viajarmos para Paris no próximo dia dos namorados?
— Hum... Não está longe.
— Gostou da ideia?
— Amei! — Fico na ponta dos pés e o beijo.
— E eu amo você.
— Mais que sua carreira? — Levanto a sobrancelha não conseguindo evitar provocá-lo.
— Mais que tudo.
— Ah Simon, assim você derrete meu coração!
— É essa a intenção. — Ele sorri me apertando mais.
— Acha que vai dar certo. Eu e você, a DBS e tudo o mais? — pergunto baixinho.
— É só manter a discrição. — Ele pisca.
— Ah é sério! Está tudo tão perfeito, mas...
— Julie, não tem como saber se vai dar certo ou não. Nós vamos estar juntos sempre, isso eu posso te garantir, serve?
— Promete? Mesmo eu sendo um tanto quanto maluca? Mesmo tendo rasgado seus pneus, envenenado sua chefe e...
— Eu te amo apesar disso tudo, Julie. Claro que eu prometo.
— E eu te amo tanto que tenho vontade de trancafiá-lo num porão para sempre.
— Ok, não precisa me assustar.
Solto uma gargalhada.
— É brincadeira! Se eu te trancasse ficaria lá com você.
— Só você para fazer uma proposta psicopata desta e eu achar boa ideia!
— Então, Barbara e os acionistas estão de boa mesmo?
— Estão. Eu garanti que de agora em diante não haverá mais confusão.
Hum, será que eu deveria contar a ele sobre as apostas? Melhor não.
Então apenas sorrio e deito minha cabeça em seu ombro, curtindo o momento e...
Alguém cutuca minhas costas e ao me virar vejo Nancy segurando o celular.
— Ei, já viu isso? — Ela abre o instagram e puta merda! — Estão dizendo que é o Simon nessas fotos peladonas e que você é a dona do instagram! É sério?
Ai merda!
Ouso olhar para Simon e ele esta pálido feito papel.
— Julie Bennett... Acho melhor termos uma conversa.
Ops!
Lá se vai a promessa de discrição.
De novo!
Toco seu peito.
— Lembra que acabou de prometer que estaríamos sempre juntos não é?
Simon solta um palavrão exasperado e eu o beijo, fazendo um sinal para Nancy desaparecer com as provas da minha mais nova indiscrição.
— O que eu faço com você, Julie? — Simon suspira por fim.
— Você pode me amar pra sempre. Talvez um dia eu deixe de ser louca.
— Eu sou meio masoquista por dizer isso, Julie Bennett, mas acho que amo você até mais por causa de sua loucura.
Sorrio enternecida e ele volta a me abraçar acompanhando a música.
— E que Deus me ajude...
Juliana Dantas
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