Biblio "SEBO"
A festa já estava muito animada quando Banner e Jake chegaram. Atrasaram-se.
Era um fato indiscutível que os Coleman sabiam como organizar uma festa. Havia abajures cobertas com vistosos papéis de cores penduradas dos ramos mais baixas das árvores e mesas, alinhadas de um extremo ao outro do pátio, repletas de comida e abundantes jarras de cerveja. Dos andaimes brotava o aroma delicioso da carne.
Mami se encarregava de manter os recipientes de ponche transbordantes de limonada para as damas.
A música soava forte e convidava ao baile. Dois violinos, um banjo, uma gaita e um acordeão tocavam melodias vivazes sem cessar. O repertório dos músicos era tão limitado como suas aptidões, mas compensavam ambas as coisas com seu entusiasmo.
Quando Lydia e Ross viram que o carro familiar se detinha no pátio, precipitaram-se para ele para saudar sua filha e ao Jake. Ross baixou ao Banner do veículo levantando-a no ar e fazendo-a girar.
-Quase tinha esquecido quão formosa é, princesa. As tarefas do rancho não lhe hão afeado absolutamente.
-Papai.
Banner o abraçou com força quando a deixou no chão. Até esse momento não se deu conta do muito que o tinha sentido falta de. Parecia tão seguro e forte que desejava permanecer entre seus braços protetores durante muito tempo. Mas, é obvio, isso seria algo fora do comum e ela tinha que fazer que tudo parecesse normal, mesmo que seu coração estivesse destroçado e preferisse achar-se em qualquer outro lugar e não em meio de uma festa.
Ela e Jake não haviam tornado a dirigi-la palavra desde que lhe havia dito aquelas coisas terríveis. Certamente, ela não estava familiarizada com a palavra, mas no contexto em que apareceu e tendo em conta o brilho dos olhos do Jake quando a pronunciou, podia imaginar o incalificablemente suja que era.
Depois, quando teve terminado de vestir-se, Banner tinha saído ao alpendre dianteiro. O homem estava sentado no carro, fumando um charuto. Apenas a olhou, mas descendeu do carro e se aproximou para ajudada a subir. Ela desdenhou sua mão estendida e subiu por seus próprios meios. Ele simplesmente se encolheu de ombros, voltou para seu lugar, agarrou as rédeas e conduziu em silencio até o outro lado do rio.
Banner se tinha sentado rígida, desejando que Jake chegasse a perceber a intensa aversão que para ele sentia e que palpitava constante em suas veias.
Uma vez mais, pôs-se em ridículo, mas essa seria a última. Ele não teria ocasião de voltar a humilhá-la. A amizade entre eles devia dar-se por terminada. Só lhe falaria de questões concernentes ao rancho e unicamente quando fosse necessário. Não permitiria que voltasse a comer em sua cozinha. Deixaria-lhe os mantimentos em uma bandeja no alpendre dianteiro, como se de um animal doméstico se tratasse, pondo a comida ao seu dispor mas sem compartilhá-la.
-Jake, como está? -A sincera bem-vinda de seu pai a fez retornar à presente. Ross estreitava calorosamente a mão do Jake-. Há cerveja por aí ou um pouco mais forte em meu escritório.
-Tomarei algo mais forte -disse Jake, com expressão sombria.
Ross sorriu debaixo de seu bigode.
-Estava seguro de que o faria. Além disso, quero te comentar algo.
-Ross -queixou-se Lydia-, não fale de negócios esta noite. Perderá-te a festa.
Seu marido a agarrou do braço, atraiu-a para ele e a beijou sonoramente na boca aberta pela surpresa.
-Seguro? planejei uma festa para ti e para mim mais tarde.
-Ross, baixa a voz e me solte. Todos estão olhando -protestou Lydia, mas suas bochechas se acenderam e seus olhos brilhavam de excitação, como os de seu marido, quem, depois de outro beijo rápido, soltou-a.
-Vamos, Jake -disse Ross, lhe dando uma palmada nas costas e mantendo ali sua mão em um gesto de camaradagem, enquanto se abriam passo através da multidão em direção à casa.
-Homens! -exclamou Lydia, voltando um rosto crispado para sua filha, mas no que em seguida se desenhou um sorriso-. Está muito belo, Banner.
-Obrigado, mamãe. -Agradecia ouvi-lo. Certamente, Jake não tinha gabado seu aspecto. A indiferença do homem a exasperava mais do que podia imaginar, e isso em si mesmo era irritante-. Tudo parece maravilhoso. Tomaste-te muitas mais moléstias do habitual.
-Mami e os moços me ajudaram muito.
"Losmuchachos" era o término utilizado para referir-se a Lê e Micah.
-Por certo, onde estão? Sinto falta da esses dois, embora se o penso, não sei por que.
Lydia sorriu e acariciou o cabelo de sua filha, que tinha sido perfeitamente penteado. Recolhido no alto da cabeça com uma cinta de cetim verde que fazia jogo com seu vestido, Banner tinha deixado que algumas mechas se enroscassem sobre as bochechas e o pescoço.
-Eles não o admitiriam em um milhão de anos, mas também lhe sentem falta de.
-Agora não têm a quem atormentar.
-vieram todas seus amigas -disse Lydia brandamente, sabendo o difícil que seria para o Banner enfrentar-se a elas pela primeira vez depois do ocorrido-. Estão reunidas debaixo da nogueira.
-Agora mesmo irei ver as. -A moça apertou a mão de sua mãe, em um gesto tranqüilizador.
-Que te divirta.
Banner assentiu com a cabeça e se abriu passo entre a multidão. detinha-se saudar todos, sonriendo alegremente, movendo a cabeça de um lado a outro, deixando que todos comprovassem que não se derrubou depois do que Grady lhe tinha feito. A vergonha era dele, não dela. proposto-se que todos soubessem e mantinha a cabeça orgulhosamente erguida.
-Georgia, B, Dovie, olá! -disse quando se uniu ao grupo de mulheres jovens.
Todas tinham vestidos veraniegos em diversas tonalidades de cor bolo. Quando Banner se aproximou delas, embelezada com seu chamativo vestido verde, todas pareceram perder brilho.
-Banner! -disseram a coro, rodeando-a.
Intercambiaram graças e intrigas sobre amizades comuns. Posto que levava várias semanas sem as ver, não estava a par dos últimos acontecimentos. Quando perguntaram ao Banner se era certo que estava ocupando do rancho, ela respondeu afirmativamente e logo começou a descrever sua vida de um modo muito mais apaixonado do exigido.
Mas o interesse pelas cercas, os currais e a cria de animais decaiu rapidamente e a conversação derivou a temas tais como os compromissos, as bodas, as reuniões à hora do chá, os bebês e as diversas classes de porcelana a China. Banner não demorou muito em aborrecer-se e se perguntou se ela também tinha sido tão superficial como elas.
Desculpando-se, separou-se das garotas para aparecer detrás de Lê e Micah, que estavam apoiados contra uma árvore. Como não tinham advertido que Banner podia ouvir suas palavras, a desinhibida conversação dos moços resultava muito mais interessante que a de seus amigas.
-Crie que ela o faz?
-Diabos, sim. adivinha-se em seus olhos. Os olhos sempre as delatam.
-E o que me diz do Lulu Bishop?
-Humm. Não sei. Provavelmente não. Tem muito medo a sua mamãe.
-Sim, mas ouvi dizer que abre a boca quando a beijam.
-Quem lhe há isso dito?
-O tipo que trabalha na loja de comestíveis de seu pai.
-Esse que veio de território índio?
-Sim. Crie que minta?
-É possível.
-Agora, Bonnie Jones...
-Está muito bem de cintura para acima. Tem-nos grandes e amadurecidos como melões. -O cotovelo do Micah encontrou o flanco de Lê e ambos riram entre dentes.
Arrumado a que também são saborosos.
-Eu os toquei uma vez -gabou-se Lê.
-Anda já! -burlou-se Micah, erguendo-se e ficando frente a seu amigo como se o desafiasse.
-Juro-o Por Deus.
-Quando?
-Faz dois anos. Então já eram sensacionais. Estávamos na celebração de 4 de julho que a igreja dedicou a todos os jovens.
-A igreja! -sussurrou Micah-. Está mentindo?
-Não! Deveria ter vindo.
-Tinha muito trabalho e Mami não me deixou. O que aconteceu Bonnie?
-Afastamo-nos às escondidas de outros e fomos a essa parte do rio onde se formam os rápidos, já sabe. Ela se inclinou sobre as pedras, perdeu o equilíbrio e
quase cai à água. Quando alarguei o braço para ajudá-la, isso foi o que agarrei.
-Mentiroso.
-Juro-o.
-E ela o que fez?
-OH, ruborizou-se e se alisou o vestido. "Lê Coleman, é melhor que olhe onde põe as mãos."
Micah ria com dissimulação.
-E o que passou depois?
O rosto de Lê se escureceu.
-A professora da escola dominical apareceu de repente. Estava nos reunindo a todos para os foguetes. Diabos, se tivesse permanecido junto ao Bonnie a sós durante outros sessenta segundos teria desfrutado de uns foguetes estupendos. -Jogou no chão uma parte de casca que tinha arrancado da árvore-. Ouvi dizer que vai casar se com um tipo do Tyler. Miúdo presente terá na noite de bodas.
-Certamente, são absolutamente odiosos. -Banner saiu das sombras e lhes deu uma suave cotovelada ao passar entre eles. Olhou-os com ar de superioridade.
-Diabos, Banner -disse Lê zangado-, não sabíamos que estava ali.
-É obvio que não.
-Outra vez com seus velhos truques? -perguntou Micah, sonriendo-. Nos espiando?
O bom caráter do Banner fez sua aparição em forma de amplo sorriso.
-Vós são mais divertidos que ninguém nesta festa. Mas, Lê, como te atreve a falar desse modo de uma de meus amigas? Bonnie é uma boa garota e se tocou qualquer parte de sua anatomia, estou segura de que ela se sentiu ferida e muito molesta.
-Não deveria ter estado escutando -defendeu-se o moço-. Essas são conversações de homens.
-E como sabem do que falam os homens? -Lê franziu o sobrecenho de um modo ameaçador, mas ela não se mostrou intimidada no mais mínimo-. O que faria se alguém falasse de mim desse modo?
Ambos grunhiram mostrando seu instinto protetor.
-Arrancaria-lhe a cabeleira -disse Lê.
-Bem, se Bonnie tivesse um irmão... Quem convidou a essa? -Banner observava a uma moça que acabava de chegar e que se aproximava do grupo que seguia reunido debaixo da nogueira.
-A quem? -perguntou Micah, percorrendo com o olhar aos congregados. Como o número de pessoas que dançavam tinha aumentado, se fazia difícil distinguir os rostos.
-A Doura Lê Denney. Não posso suportá-la.
Os moços intercambiaram olhadas cúmplices.
-Como é isso?
-É oculta, altiva e mesquinha.
-Mas é muito bonita -observou Micah.
-Vá!
Banner sempre tinha pensado que aquela loira de olhos azuis era vulgar. Seu cabelo estava penteado de um modo excessivamente sofisticado, suas roupas eram muito afetadas e seu perfume muito forte. Mas o que mais desagradava ao Banner era o modo em que Doura Lê ganhava a vontade de homens e mulheres por igual. Dominava toda conversação e seu tema favorito era ela mesma. Sempre falava com um tom açucarado, que Banner sabia que era falso. Freqüentemente a filha dos Coleman havia sentido o impulso de dar um murro a Doura Lê em sua petulante boca só para obter uma reação sincera de sua parte.
-Será melhor que volte ali e me inteire do que está falando. adoraria dizer a todos que tentei suicidarme depois das bodas.
Quando Banner deixou aos moços, Micah a seguiu com o olhar, observando o modo em que voltava a integrar-se no grupo de mulheres jovens.
-Você o que pensa?
Os olhos de Lê olhavam na mesma direção que os do Micah.
-Dá-me igual se a minha irmã gosta de Doura Lê ou não. Não me importaria provar a tal Doura.
-Estava pensando o mesmo. Nada sério, já sabe. Só um rápido e bom queda sobre o feno.
-Sim -disse Lê, com os olhos entreabridos-. Crie que ela o faz?
-Não me surpreenderia. Pode sabê-lo por...
-Seus olhos -terminou Lê.
-O que é o que pode dizer por seus olhos? -Jake arranhou um fósforo contra a árvore e ambos os moços deram um coice, com tal expressão de culpa em seus semblantes que o homem teve que rir.
Jake tinha saído ao alpendre depois de sua entrevista com o Ross, desejando poder evitar aquela festa. Deveria ir-se à cidade, armar alvoroço e desafogar-se.
O que precisava era algo de bom uísque, uma mulher de má reputação e uma boa partida. Talvez assim então se apagaria de sua mente a imagem do Banner para poder continuar com a vida que levava antes da maldita noite no estábulo.
Imagens da moça cruzavam por sua mente como relâmpagos, de forma tão nítida que chegou a temer que Ross soubesse no que estava pensando. Via o Banner com sua camisola nupcial, Banner em calças ajustadas; via-a lhe servindo o jantar, lhe acendendo o charuto; voltava-a a ver parada sobre o tamborete, de costas a ele, exibindo o traseiro, ou saindo do banho. Monopolizava seus pensamentos. Não lhe teria surpreso se Ross lhe tivesse insultado, levantando-se de sua cadeira com o revólver na mão para lhe arrombar uma bala justo entre os olhos. Dado o que Jake estava pensando sobre sua filha, a ação do Ross teria estado justificada.
Mas o anfitrião o tinha tratado como fazia sempre, e isso o tinha feito sentir-se ainda pior. Alegrou-lhe que Lydia interrompesse a entrevista aparecendo a cabeça
pela porta do despacho para pedir ao Ross que saísse a saudar o prefeito do Larsen, que acabava de chegar.
Assim que Jake saiu ao alpendre, viu o Banner, que estava rendo com seus amigas. Agradou-lhe vê-la rir. Parecia muito desolada e ferida depois do que ele havia dito pela tarde. havia-se sentido impulsionado a ofendê-la do modo mais cruel e mais grosseiro. Era melhor que conhecesse seu verdadeiro caráter para que se tirasse da cabeça qualquer idéia romântica.
Tratando de se separar de sua mente tais pensamentos turbulentos, Jake se tinha aproximado do lugar em que se achavam Lê e Micah, cujas cabeças estavam muito juntas, como se de dois conspiradores se tratasse. Supôs que não tramavam nada bom, e tinha suposto bem, a julgar por suas expressões de culpa.
-Como é que todas as garotas estão lá e vós dois estão aqui, ocultos na escuridão? Eles dão medo?
-Não -respondeu Micah a seu irmão maior-. Estávamos falando das mulheres em geral e de uma em particular.
-De qual em particular?
Os moços assinalaram a Doura Lê.
-O que ocorre com ela? -perguntou Jake com um ligeiro interesse.
-Estávamos especulando sobre se os rumores que ouvimos a respeito dela são certos -interveio Lê.
-Quais são esses rumores? -perguntou Jake.
Os olhos perspicazes do homem se posaram na moça, que enquanto conversava gesticulava desmesuradamente com as mãos e pestanejava sem cessar. Inclusive desde esta distância podia dizer que Doura Lê era a classe de mulher que desprezava. Tinha uma opinião muito elevada de si mesmo e de seu atrativo, igual a sempre a tinha tido Priscilla Watkins. Presumia em excesso de sua formosura e todos seus movimentos eram calculados.
Precisamente era a classe de mulher que necessitava essa noite, uma que não lhe inspirasse ternura.
-Se rumorea que ela, já sabe... -Micah rematou suas palavras com uma piscada.
Jake esboçou um sorriso indolente.
-Ah, sim? Bem, possivelmente possa esclarecer questão aqui e agora. -afastou-se dos moços que tanto lhe admiravam, deixando-os encantados.
-Mas, Jake -sussurrou Micah detrás dele-. É a filha do prefeito.
No rosto do Jake voltou a desenhar um desses perigosos sorrisos capazes de deter os batimentos do coração do coração.
-Essas são as melhores. -Piscou os olhos o olho aos moços, que se atiçavam mutuamente leves golpes com os cotovelos.
-Mamãe e papai queriam que fosse à nova escola de garotas do Waco, mas eu... -Doura Lê interrompeu seu recital jactancioso e ficou olhando fixamente ao homem que se abria passo entre quão convidados dançavam.
À luz do farol, o cabelo loiro da moça parecia quase branco. Sua pele era escura. Inclusive vista de longe se podia observar que seus olhos eram intensamente
azuis.
-Quem é esse? -perguntou sussurrando.
Banner seguiu seu olhar e distinguiu ao Jake avançando entre os numerosos bailarinos. Caminhava balançando os quadris, com um típico rebolado de vaqueiro, que de algum modo fazia recair a atenção de quem lhe olhasse no ponto onde a cartucheira dividia em dois seu talhe. Se Banner se deu conta com antecedência da concludente manifestação do sexo do Jake, estava segura de que a lasciva Doura Lê se estava precavendo agora.
Tampouco a largura de seus ombros ficava oculta sob a camisa branca de algodão que se atia a eles nem sob a jaqueta de couro negro, que dava a impressão de ser
suave ao tato. O lenço vermelho pacote ao redor de seu pescoço lhe conferia um ar libertino. Parecia tão ardiloso como um gato que acabasse de apanhar a um camundongo, e tão perigoso como um puma rondando em busca de uma presa. Por fim o homem se deteve, tirou-se o charuto da boca, jogou-o no chão e o esmagou com a ponta da bota.
Cada movimento era sensual, lento e deliberado.
-Este é Jake Langston -disse Banner-, meu capataz.
Doura Lê tinha lamentado amargamente perdê-la bodas do Banner. Não tinha assistido a propósito, com a desculpa de uma visita a uma prima no Galveston, pois assim não teria que celebrar o "Dia do Banner Coleman", como o tinha batizado mordazmente. Não gostava de compartilhar o protagonismo com ninguém e menos com o Banner, quem a avantajava em todos os aspectos.
Mas quando Doura Lê retornou de sua viagem e se inteirou do que tinha acontecido, enfureceu-se consigo mesma por não ter podido contemplar o que considerava um castigo bem merecido para o Banner. Tinha ouvido falar do vaqueiro que tinha saído em defesa dos Coleman. Acreditava que o que se dizia dele era exagerado; mas obviamente não o era.
Jake manteve esse modo felino de andar até que se deteve poucos passos da boquiaberta Doura Lê.
-Dança? -Não disse mais. Era suficiente. Sem saber o que responder por uma vez, Doura Lê se deslizou para ele, permitindo que o homem a rodeasse com o braço e a afastasse do grupo de invejosas jovencitas.
Banner sentiu que algo morria dentro dela. Jake nem sequer a tinha cuidadoso. Seus olhos só se dirigiram para a garota que ela considerava vulgar, chamativa, odiosa e completamente desagradável.
Muito bem! Que a possuísse, se era isso o que queria! depois de tudo, mereciam-se um ao outro.
-por que estamos todas aqui paradas? -disse Banner com entusiasmo forçado-. vamos animar a dançar a esses cavalheiros.
Começou a passear o sorriso que tinha tropeçado com muitos corações esperançados antes de converter-se na prometida do Grady Sheldon. Aos poucos segundos já tinha um casal, logo outra e outra. Dava voltas ao ritmo da música, rendo alegremente, sonriendo, induzindo a pensar aos jovens com quem dançava que podiam albergar esperanças de conquistar seu amor e convencendo a seus pais de que tinha saído ilesa de uma muito duro prova.
Mas Banner observava cada um dos movimentos de Doura Lê e Jake. Adivinhava quando os braços do homem apertavam e atraíam à moça para ele, e sabia em que momento Doura Lê se rendia. Soube também em que momento ambos desapareceram atrás do estábulo.
Ao cabo de uns minutos Jake se amaldiçoava por ter convencido a Doura Lê de que procurassem refúgio nas sombras. Era estúpida, vaidosa e tola, mas isso já sabia quando foi detrás dela. Era tão fácil de predizer que resultava fastidiosa. Fingia acanhamento, mas se rendia com uma notável falta de resistência.
A conquista tinha sido muito fácil e não houve emoção alguma no que se encontrou quando lhe baixou o sutiã do vestido e deixou seus peitos expostos à luz da lua e a seus olhos.
-Normalmente não permito que um homem...
-Sim, faz-o. -Beijou-a no pescoço, logo levantou a cabeça para provar a reação da moça ante sua falta de galanteria.
Ela o olhou com olhos vácuos. umedeceu-se os lábios e prosseguiu como se nunca tivesse sido interrompida.
-Mas realmente eu gosto, Jake.
-Então me demonstre isso sussurrou ele, com voz rouca.
A língua da garota se agitou dentro da boca do homem como uma serpente ao ataque. Tinha um desagradável aroma de pepinos rançosos. Ele não queria nada dela, mas se obrigou a fechar sua mão no peito generoso da garota. Seu instinto respondeu ao contato com a carne jovem, mas de cintura para acima não podia achar-se nele nenhuma pingo de desejo. Podia possui-la e saciar o desejo que tinha alimentado durante semanas, mas o alívio seria só temporário. A fome retornaria ao dia seguinte, porque era outra mulher quem o motivava.
Não estava sendo honrado com Doura Lê, embora fosse tola e egocêntrica. Mas diabos, desde quando o rompecorazones Jake Langston começava a preocupar-se com a retidão? Da noite no estábulo. A sua idade estava voltando-se tenro e sentimental. Em outras circunstâncias, teria tomado a uma buscona como a que tinha entre os braços sem duvidá-lo um instante. Em troca, agora a apartava com suavidade.
-É melhor que voltemos. -Ansioso por livrar-se dela, manipulou torpemente os botões de seu vestido. Ao advertir que ela estava a ponto de pôr objeções, apressou-se a dizer-: Não quero que seu papai venha a te buscar.
Em um intento por salvar as aparências, Doura Lê fingiu que era ela quem tinha posta reserva à situação e se arrumou o cabelo com mãos rápidas e trementes.
-Não quero que te forme uma idéia equivocada de mim. Devi perder a cabeça quando permiti que me tocasse. Eu... espero seu respeito. -e seguiu tagarelando até que retornaram à festa.
Imediatamente Jake se desculpou e partiu em busca de uma cerveja. Tomava um comprido trago quando Lê e Micah se precipitaram para ele, ofegando e com olhos espectadores.
-Bem?
Jake sorriu tristemente ante a inocência dos moços e por um momento desejou ter sua idade.
-Sem dúvida Doura Lê o faz. Boa sorte.
A festa se desenvolvia tranqüilamente. Jake passou algum tempo com o Mami, a quem tinha descuidado visitar. Encontrou-a descansando em uma cadeira de balanço no alpendre, abanicándose. Tratou de centrar-se na conversação, mas seus olhos continuamente se desviavam para o Banner, quem dançava com todos os homens presentes na festa, tão jovens como velhos.
Pelo visto, o estava passando condenadamente bem. Tinha que manter a cabeça inclinada precisamente nesse ângulo, despindo sua garganta ante esse caipira que olhava como se queria lhe dar uma dentada? Não estava apertando-a muito esse imbecil? A ela não parecia lhe importar. A quem estava saudando com a mão?
A quem ia dedicada tão deslumbrante sorriso? Se Randy a tirava dançar uma vez mais, Jake ia ter que fazer algo com esse pardal de uma vez por todas. Castração foi a palavra que lhe veio à mente.
Pensando todas essas coisas só conseguia que sua fúria fosse em aumento. Quando os convidados já se partiram e Jake se dirigiu para o carro que os esperava, estava tão raivoso que sentia necessidade de descarregar contra algo.
-Pergunto-me o que será isso -disse Ross, olhando para o nordeste. O horizonte estava tingido de um vermelho fraco.
-Fogo -replicou Jake, depois de olhar na mesma direção.
Micah assobiou através dos dentes.
-Deve ser um fogo muito grande para iluminar o céu desse modo.
-Pergunto-me o que poderá ser. Está a uma boa distância da cidade -disse Lydia.
-Moitas possivelmente -repôs Ross, em atitude reflexiva-. Necessitamos chuva desesperadamente.
Esse argumento pareceu satisfazer a curiosidade de tuda sobre o origem do fogo. Mas nem sequer o fogo ardia tanto como o ciúmes nos verdes olhos do Banner.
-Ross, isto é...
-te cale, mulher, e me beije.
-Mas...
Ross cobriu a boca da Lydia com a sua, pondo fim aos nada sinceros protestos. Como sabia que seu marido desfrutava jogando a cortejá-la, às vezes lhe deixava fazê-lo. Mas o beijo com que respondeu a seu assédio foi tão faminto como o do homem.
Ross a empurrou brandamente para a manta que estava estendida sobre o feno, fazendo que o corpo de sua esposa ficasse debaixo do dele, sem emprestar atenção aos estragos que causava no vestido que Lydia tinha brilhante na festa. Os convidados se partiram, os músicos embainhado seus instrumentos e retornado a seus lares.
Ross tinha enviado ao Marni a sua cabana sem lhe permitir que começasse a limpar. Todos no River Bend se foram a dormir, deixando-os felizmente sozinhos.
Enquanto a língua do Ross continuava com a ousada invasão da boca feminina, suas mãos se dedicavam à pilhagem de seu cabelo, encontrando as forquilhas com dedos destros e lhe soltando o cabelo.
-Que vergonha! -sussurrou Lydia, quando finalmente ele liberou sua boca para acurrucarse em seu pescoço.
-Esta noite já hei talher a cota de bons maneiras e respeitabilidade que sou capaz de suportar. -Ross riu entre dentes-. Necessitava algum bom velho vício que
me recordasse minha juventude revoltosa.
-E por essa razão me arrastaste até este palheiro em lugar de me levar a nosso acolhedor e respeitável dormitório.
-Há algo picante em fazer o amor em um almiar, não crie?
-Você deve sabê-lo -disse Lydia com seriedade fingida-. Trouxeste-me aqui em mais de uma ocasião a plena luz do dia. Sempre temia que os meninos nos surpreendessem enquanto jogavam esconderijo.
Ross ria enquanto suas mãos se dedicavam a desprender o sutiã do vestido da Lydia.
-Esse risco aumentava a excitação.
Ela sulcou com seus dedos os cabelos escuros do Ross e lhe elevou a cabeça para lhe ver o rosto.
-Eu não necessito nada para aumentar a excitação. Cada vez que tenho feito o amor contigo foi excitante.
-Este tema de conversação pode lhe conduzir muitíssimos problemas, senhora -advertiu Ross em voz baixa e vibrante.
-Eu gosto desse desenfreio que há em ti -sussurrou Lydia-. Esse rasgo do Sonny Clark ainda segue aí, e poderia ser descoberto se alguém, além de mim, soubesse buscá-lo. É meu foragido e te amo, sem me importar baixo que nome te disfarça.
Os olhos do Ross derramaram um fogo esmeralda sobre a mulher. As emoções que se refletiam no rosto da Lydia eram tão impetuosas como as suas.
-Amo-te, Lydia.
-Sei. Eu também te amo.
beijaram-se com uma paixão que não tinha diminuído nos vinte anos que levavam vivendo juntos. As mãos, impaciente, rasgavam as roupas que não se desprendiam com a suficiente rapidez. Ross introduziu seu braço debaixo da saia e das anáguas da Lydia para lhe desatar os calções. Depois de tirar-lhe levantou a mulher colocando-a em cima dele, escarranchado sobre seus quadris. As mãos de ambos se encetaram em um combate frenético com os botões das calças do Ross.
Os gritos de êxtase ressonaram na quietude e o silêncio do estábulo quando Ross penetrou à mulher. Tão fervorosamente apaixonada por ele como sempre, a cabeça da Lydia caiu para trás quando começou a cavalgar o firme corpo de seu marido. Permitia-lhe jogar com seus seios, e o homem começou a domá-los com mãos que sabiam o que fazer para lhe dar o máximo de prazer. Logo os levou a boca para saboreá-los.
-Ross, Ross, Ross! -Lydia se derrubou sobre o peito do homem quando alcançou o orgasmo.
Ele se introduziu profundamente dentro dela no instante de sua liberação. como sempre, era como se muriese um pouco, mas só para renascer com ânimos e forças renovados. Lydia sempre recebia tanto como dava.
Jazeram juntos em silêncio, ofegantes, escutando o canto das cigarras nas árvores. Lydia desabotoou a camisa do Ross e penteou com os dedos os pêlos de seu peito.
Ambos murmuraram palavras de amor, beijaram-se, entregues a esses íntimos intercâmbios dos amantes devotos. Finalmente, deixaram-se levar para uma conversação mais significativa.
-Banner parece estar muito bem, verdade?
Ross suspirou, trocando de posição para estreitar mais a sua esposa.
-Acredito que sim. É inteligente, e tão teimosa como outra fêmea que poderia nomear. -Ross deu um ligeiro beliscão a Lydia na nádega-. Faz falta alguém com mais cojones que Grady Sheldon para dominar ao Banner.
Lydia dissimulou sua risada e retorceu um cabelo do peito de seu marido.
-Mas não estava preocupado por ela, ao menos durante um tempo?
-Sim, estava preocupado. Deu-te conta desde o começo, verdade? -Ela assentiu com a cabeça, esfregando sua suave cara contra o bico da mamadeira do Ross-. Não posso me acostumar à idéia de que nossa pequena já não é uma menina. Banner é uma mulher e tem que valer-se por si mesmo. de agora em diante será responsável por todas as decisões que tome e isso me assusta. É tão condenadamente impulsiva. Resulta mais fácil deixar que Lê as arrume por si mesmo; suponho que porque é um moço.
Mas quero continuar protegendo ao Banner. -Apoiou o queixo na cabeça da Lydia-. Quero tanto a nossos filhos que às vezes sinto medo por eles.
Lydia apertou as pálpebras. Conhecia bem esse pânico paternal de que falava Ross. Cada vez que Lê ou Banner se separavam de sua vista, uma desesperada sensação de desenlace final lhe espremia o coração, temendo sempre não voltar a vê-los. Tais pensamentos eram desatinados, mas todos os pais os tinham. Incorporando-se um pouco para poder olhar ao Ross, disse:
-Possivelmente não sentiríamos estas coisas se nós... se eu tivesse sido capaz de ter mais filhos.
"Outra vez com isso", pensou Ross.
Voltou a cabeça para contemplá-la. Seguia pensando que seu rosto era o mais belo que tinha visto. Não era de uma beleza convencional, como tinha sido o de Vitória Coleman, mas tinha muita mais vida, energia e caráter. Os olhos, de cor xerez, resplandeciam refletindo a personalidade que bulia em seu interior. Ross percorreu com o olhar cada um dos rasgos vigorosos de seu rosto, despenteada-a cascata de cabelo e a bem beijada plenitude de sua boca.
-Lydia, tem-me feito mais feliz nos últimos vinte anos do que jamais pude imaginar. Hei-te dito sempre que o número de filhos que tivéssemos carecia de importância para mim.
Ela baixou os olhos timidamente.
-É certo que o há dito. Espero que seja assim.
-É-o. Não trocaria nada de nossas vidas desde dia em que abandonamos Jefferson com o Moisés e o menino.
-Estou tão contente de que já tivesse a Lê. E estarei agradecida a Deus durante o resto de minha vida por nos dar ao Banner. Mas sempre quis ter sido capaz de
ter mais teus filhos. Sempre lamentarei não ter podido, Ross.
Esse tinha sido um tema de discussão durante muito tempo. Lydia não podia aceitar o fato de não ter concebido depois do nascimento do Banner. Ross tinha insistido milhares de vezes em que não se sentia extorquido. Amava a Lê, um filho que, embora tinha nascido de outra mulher, Luta amamentou como a um próprio. E Banner. Banner, a filha que tinha engendrado com a Lydia, era muito especial.
Queria apagar aquela triste expressão do rosto de sua esposa para sempre, mas sabia que voltaria a aparecer. Quão único podia fazer era continuar tranqüilizando-a.
A mão do Ross encontrou o seio quente e generoso da Lydia e se cavou sobre ele carinhosamente, acariciando o mamilo com o polegar até que adquiriu uma firme consistência.
-Não há nada que lamentar, Lydia -sussurrou Ross, com suavidade-. Não tem feito nada mais que me agradar. Sempre.
O homem elevou a cabeça e apertou seus lábios contra o peito da Lydia. Ela observava como o bigode do Ross lhe rodeava o mamilo, que logo foi envolto por seus lábios. Depois sentiu como era sugado e acariciado pela língua.
Com os olhos fechados, a mulher sussurrou ininterrumpidamente o nome de seu marido, perguntando-se se Deus a castigaria por amar ao Ross mais do que amava a Ele. O homem a fez girar até que ficou deitada de costas e cobriu o corpo da mulher com o seu. Voltava a ficar duro e ela estava úmida de desejo. Ross retrocedeu e, em uma larga e lenta investida, entregou-lhe seu amor.
Os confusos pensamentos da Lydia, felizes e tristes de uma vez, dispersaram-se quando os ventos da paixão a estremeceram uma vez mais.
Banner se tirava as forquilhas do cabelo e as jogava na escuridão. Lutava com cada uma delas, que pareciam haver-se obstinado a seus cabelos com a tenacidade dos anzóis de pesca. logo que conseguia livrar-se de uma forquilha, a sacudia de entre os dedos ao bordo do carro por não ficar a gritar. Estava confusa.
-Que diabos está fazendo?
-me soltando o cabelo.
-por que?
-Porque já não posso suportá-lo.
-Que problema tem com o cabelo?
A moça sacudiu a cabeça, fazendo que sua juba voasse em todas direções. Quando um cacho sedoso golpeou ao Jake na cara, ele o apartou com brutalidade.
-Termina de uma vez com isso!
-As forquilhas me incomodam. Além disso, eu gosto de sentir o vento movendo meus cabelos. Não é nada que te incumba.
Jake emitiu um grunhido rouco e não apartou a vista da garupa do cavalo que atirava do carro.
-Bem, pois te esteja aquieta. Poderia cair do carro e te romper o pescoço.
Banner estava que jogava fumaça. sentia-se desassossegada e era incapaz de permanecer imóvel. Bulia como uma bule a ponto de ferver. Estava crispada devido a tanta ira contida. Quando era uma menina, estava acostumado a lançar sua cabeça contra o estômago de Lê para iniciar uma briga cada vez que se zangava com ele. E assim era como se sentia agora. Tinha vontades de iniciar uma rixa e aproveitaria qualquer oportunidade que lhe brindasse Jake.
Entretanto, ele se limitava a conduzir o carro e a fumar aquele maldito charuto. Sem dúvida seus pensamentos se centravam na mucosa de Doura Lê. Banner não podia apagar da mente a imagem de ambos quando voltaram para a festa surgindo da escuridão.
Doura Lê lhe tinha dirigido um eloqüente olhar de maligna satisfação. Jake tinha sussurrado algo a Lê e Micah que provocou a risada dos moços. Sem dúvida nenhuma, tratava-se de um pouco absolutamente repugnante e indecente. Banner tivesse querido esbofeteá-los com todas suas forças.
Em troca, tinha dançado e rido, simulando que estava passando-o estupendamente, quando em realidade nunca se havia sentido tão iracunda e desgraçada. Cada vez que em sua mente aparecia a imagem do Jake beijando a Doura Lê do mesmo modo em que a tinha beijado a ela, sentia como se lhe cravassem dardos envenenados. O ciúmes percorriam todo seu ser, lhe escurecendo o ânimo.
Se antes de que Jake retornasse para suas bodas já se havia sentido ciumenta durante o tempo que ele passava com outra gente, agora seus irracionais sentimentos de posse se duplicaram. Entretanto, não podia evitado.
-desfrutaste que a festa? -perguntou Banner, com um tom seco. Se não rompia o tenso silêncio, partiria-se em dois como uma casca de noz.
-Mais ou menos -respondeu ele, lacônico, sem deixar de olhar fixamente para frente.
-É obvio que desfrutaste. Posso assegurar que lhe aconteceste isso muito bem depois de ver o modo em que te pavoneava diante de todas as mulheres. -Banner jogou a cabeça para trás para olhar as estrelas e mostrar-se em atitude indiferente-. Eu gozei que uma velada deliciosa. eu adoro dançar. Provavelmente amanhã me doerão os pés; dancei muitíssimo. -Pretendia lhe recordar que não lhe tinham faltado acompanhantes.
-Se lhe doerem, pode pô-los em encharcamento.
-Farei-o. -Maldita seja com o tom frio do Jake!-. Suponho que Doura Lê também terá que pôr os pés em encharcamento.
-Você crie?
Banner soltou uma risada breve, melancólica e desdenhosa.
-Ja! Não lhe importa com quem dança com tal de que seja um varão.
-É isso verdade? -Jake passou o charuto ao outro lado de sua boca sem utilizar as mãos.
A moça teve vontades de tirar-lhe e arrojá-lo como tinha feito com as forquilhas, mas não se atreveu.
-Todos na cidade conhecem seu reputacion com os homens.
-Hummm -disse Jake meditabundo-. Pareceu-me uma macacada.
-Uma macacada! Apostaria a que você gostou.
-Assim é.
-Não está pesaroso por ter que me levar a casa? Juraria que preferiria estar acompanhando a Doura Lê à sua.
Jake.no replicou. limitou-se a encolher-se de. ombros de uma maneira que acabou de acender o mau gênio do Banner.
-Vi-lhes os dois quando lhes escapuliram juntos. Está justificada sua fama de fulana? -E prosseguiu sem lhe dar tempo a responder-: É obvio que sim. Vi o sorriso tolo e a estúpida expressão de seu rosto quando retornaram à festa. Que vergonha.
Banner sacudiu a cabeça e se estremeceu.
-Suponho que a beijou, e não quero dizer que mais. Também a tocou? ouvi dizer que ela deixa... que... bem, nem sequer me atrevo a pronunciá-lo. -Voltou a levar a cabeça de um lado a outro-. Seus peitos são tão obscenamente grandes... e terá que ver quão orgulhosa está deles. Ora! Todo esse volume não é mais que obesidade infantil da que nunca conseguirá desprender-se. Impressionariam-lhe suas formas. Mostrou-lhe isso?
Jake deu uma imersão a seu charuto e deixou que a fumaça saísse lentamente de sua boca. Logo o jogou no rio quando o carro atravessou a ponte.
-Eu não vou contando o que faço por aí, Banner. -Voltou a cabeça para transpassar à moça com o brilho de seus olhos azuis-. E você, especialmente, deveria estar agradecida de que assim seja.
Se a tivesse esbofeteado não a teria deixado tão aniquilada; ou ofendida, ou ferida. Banner lhe devolveu o olhar, sem expressão. O bate-papo, carregada de,afrentas, cessou bruscamente. A moça não conseguia recuperar o fôlego. Era como se lhe tivessem sugado todo o ar do corpo, e com ele, seu ânimo combativo. Apartou ao fim a cabeça, incapaz de seguir olhando-o.
Jake amaldiçoou em silêncio. Ele também havia sentido um raivoso arrebatamento de ciúmes. Mas ao perceber o estado de ânimo do Banner, tinha esmagado sua própria fúria, considerando que era provável que o carro se incendiasse se ambos perdiam os estribos. odiava-se pelo que se via obrigado a fazer. Estava atuando cruelmente para poder ser bondoso.
Mas possivelmente estava levando muito longe sua crueldade. Talvez deveria rodeá-la com um braço e desculpar-se. Talvez deveria abraçá-la...
"Não, Jake -disse-se-. Se a rodear com seus braços, todas suas boas intenções se irão ao diabo."
A cabeleira do Banner ressaltava escura e sedutora em meio da noite. Tivesse-lhe gostado muitíssimo senti-la sobre seu rosto. A fragrância da jovem se converteu em algo que tinha saudades quando ela não se achava perto. Com esse vestido tinha um aspecto delicioso. Seus seios, oprimidos pelo sutiã, resultavam muito tentadores quando a luz da lua, chapeada e suave, derramava-se sobre eles.
Tratou de convencer-se de que a debilidade que para ela sentia era como a de um tio por sua sobrinha. Mas não era um bom argumento. O que realmente experimentava eram os mais luxuriosos desejos que um tio podia ter por uma sobrinha. Acrescentava o incesto a seus pecados.
"Não, Jake. Não a toques. Comportaste-te como um parvo mais de uma vez, e ambos estão pagando agora esses enganos. Não volte a atuar como um idiota."
Quando deteve o carro no pátio, Banner quase cai devido à pressa com que procurou afastar-se dele. Ao homem lhe destroçou o coração ao vê-la avançar orgulhosamente para a porta principal, com a cabeça alta e as costas erguida, pois sabia que se sentia humilhada, possivelmente algo mais do suportável. Não podia permitir que se fora sem lhe dizer algo.
-Banner.
Ela se deteve. Inclinou a cabeça durante um segundo e voltou a elevá-la antes de girar-se e enfrentar-se a ele com olhos desafiantes.
-Sim?
-Não deveria haver dito isso.
-Mas é a verdade, não é certo?
O olhar do Jake saltava de um objeto a outro para evitar posar-se nela, e não notar assim seu sofrimento, sabendo que para manter-se a salvo nada devia fazer para aliviá-lo. Mas podia pospor a despedida.
-Ross me falou que um agente de gado do Fort Worth. Acredita que esse homem poderia reunir um pequeno rebanho para nós a um bom preço. O que te parece?
Banner não desejava falar de gado. O que queria era lhe perguntar por que estava sendo tão desumano com ela. Acaso a odiava? Desprezava-a por ter estado com ele? estava-se burlando de seus torpes intentos por voltar a tentá-lo para conduzi-lo ao matrimônio?
-O que você pense, Jake. É meu capataz.
-Sim, bom -disse ele, incômodo, manuseando as rédeas de couro-. Suponho que deveria ir ao Fort Worth logo para ver esse agente.
-Se assim o crie...
Jake assentiu com a cabeça.
-Bem, boa noite. -"Por favor, Banner, não me olhe assim. Quero te abraçar, mas não posso."
-boa noite. -"Jake, por que me castiga por um pecado que cometemos os dois? Não me odeie por isso."
-Agora fecha bem a porta, de acordo? -"Não esquecimento quão doce foi, Banner, e volto a te desejar. Mas não posso, não posso..."
-Farei-o. boa noite. -"Como pôde ser tão doce para mim aquela noite, tão tenro e carinhoso e agora te comportar de um modo tão mesquinho comigo ?"
Banner entrou sozinha na casa às escuras. Jake esperou até que viu o resplendor do abajur em seu dormitório antes de levar o carro para o estábulo.
-OH, Meu deus!
Os três troncos de lenha saíram despedidos dos braços do Banner e caíram ao chão com um ruído surdo. levou-se uma mão aos lábios para abortar um grito e a outra mão se crispou sobre seu estômago.
-O que está fazendo aqui?
Grady Sheldon saiu das sombras do alpendre e deu um passo vacilante para ela.
-Como está, Banner? -perguntou humildemente.
Ela se recuperou do impacto que tinha sofrido ao vê-lo, embora se tinha alarmado muito. Jake e os jeans se encontravam limpando de matagais um campo de pastos a bastante distância da casa. achava-se sozinha na casa e tinha ido até a pilha de lenha ao outro lado do estábulo. Lhe teria surpreso ver qualquer homem esperando-a no alpendre; muito mais a este.
Mas quando seu medo inicial amainou se sentiu devorada pela fúria. inclinou-se para recolher os troncos, e quando se incorporou, seus olhos olharam através do jovem como se ele não estivesse ali.
-Direi-te como estou, Grady. Estou assombrada de que tenha a desfarçatez de te apresentar aqui. Se não te foste em dez segundos, juro que dispararei contra ti.
Passou airadamente junto a ele em seu caminho para a porta principal, mas o homem a agarrou de um braço e a obrigou a deter-se.
-Por favor, Banner. Preciso falar contigo.
-Bem, eu não preciso falar contigo. Agora me solte e parte daqui. E não volte.
-Inteiraste-te que o de mi... minha esposa?
A moça deixou cair a lenha no alpendre e se situou frente a ele com firmeza. O incêndio que tinha acabado com a Wanda e Doggie Burns tinha sido a grande noticia na cidade o dia depois da festa. Jake o tinha contado quando retornou de uma viagem ao Larsen. Tinham passado já duas semanas.
-Entristeci-me muito ao me inteirar, Grady. Sua morte foi uma tragédia, mas não tem nada que ver comigo.
-Sim tem que ver, Banner -disse ele com ansiedade-. Quero te falar, te explicar algumas costure. Nunca tive oportunidade de te explicar nada. Isso não é justo,
não te parece?
-O que fez tampouco foi. Agora me desculpe. Tenho que começar a preparar o jantar. -Atravessou a porta e se voltou para fechá-la. antes de fazê-lo, disse-: Não
quero verte nunca mais. Não volte.
Grady tinha pacote seu cavalo ao outro lado do curral; por isso Banner não o tinha visto quando o jovem cruzou o pátio. Agora o observava da janela do salão enquanto se afastava de sua vista. Só então se deu conta de que estava tremendo. Esfregando-as mãos úmidas nas pernas das calças de suas calças, dirigiu-se à cozinha para preparar o jantar.
Decidiu não mencionar ao Jake a visita do Grady. Só conseguiria enfurecê-lo. mostraram-se corteses o um com o outro da noite da festa; corteses e moderados.
Ela não tinha completo sua promessa de lhe deixar a comida no alpendre sobre uma bandeja, mas tão logo terminava o jantar, Jake partia à cidade. Ela não queria pensar aonde ia. À cantina? A ver doura Lê? Não era capaz de conciliar o sonho até que ele retornava.
Ao menos conviviam pacificamente. A aparição do Grady não era digna de desatar a ira do Jake, e não havia nenhuma razão para contar-lhe pois estava convencida de que a seu antigo noivo não lhe ocorreria voltar.
Mas o fez. De fato, ao dia seguinte, mais ou menos à mesma hora. Mais tarde Banner se perguntou se Grady tinha planejado a visita quando soube que estaria sozinha enquanto os homens trabalhavam fora da casa. A segunda vez, bateu na porta traseira. Quando lhe abriu, viu que levava um ramo em suas mãos. Ela ficou olhando fixamente as flores, mas não as agarrou.
-Disse-te que não voltasse.
-Posso entrar?
-Não. Vete, Grady. Acredito que o disse bem claro...
-Por favor, Banner. Por favor.
Ela o examinou atentamente. Tinha trocado. Seu rosto já não se via juvenilmente formoso, limpo, franco e honrado. Notava um cansaço em sua boca e em seus olhos que nunca antes tinha visto. Parecia consumido. As mudanças eram sutis, mas perceptíveis.
Sentiu pena por ele. Tinha sofrido tanto como ela? Impossível. Os homens sempre saíam ilesos desses escândalos. Lydia o havia dito.
Já fora pela pena que lhe inspirava, já por não querer dar a impressão de que lhe temia, decidiu ao fim deixá-lo entrar. Grady transpôs a soleira timidamente.
Banner se guardou de lhe oferecer uma cadeira. Ele sustentava as flores com estupidez; logo as deixou sobre a mesa.
-Banner, sei que deve me odiar.
-Não te odeio. Já não me suscita nem um só sentimento. Tudo o que senti por ti morreu no instante em que soube que me tinha sido infiel.
O homem se olhava os sapatos. Maldita Banner! Detestava apresentar-se ante ela tão servil, submisso e dócil como um cão. Esteve tentado de mandar a todos os Coleman ao diabo, mas se conteve porque mais adiante poderia necessitá-los. As duas últimas semanas tinham sido as piores de sua vida.
Primeiro tinha tido que fingir estar conmocionado, se não angustiado, pelo incêndio que tinha destruído a moradia dos Burns, cobrandoas vistas de sua esposa
e seu sogro. Logo padeceu o calvário da investigação. Felizmente as coisas tinham ido como esperava; tanto o incêndio como as mortes foram considerados fruto de um acidente, mas não lhe tinham gostado das olhadas de soslaio que lhe dirigiam o xerife e virtualmente toda a cidade.
Necessitava uma aliança com os elevados e capitalistas Coleman. Se se reabilitava ante eles, a gente voltaria a lhe aceitar. Seus negócios seguiam sendo sólidos e prósperos porque tinha a única serraria e armazém de maderasde a zona, mas tinha perdido o respeito de muitas pessoas. Era fácil ler o desdém em seus olhos.
E, maldita seja, queria tudo esses hectares de bosque que agora possuía Banner Coleman. Para consegui-lo era necessário humilhar-se ante ela. Tinha que simular ser um homem destroçado. Às mulheres adoravam achar-se em posição de perdoar algo a um homem. Não podiam resistir a desfrutar dessa superioridade sobre eles, e Banner não seria a exceção. Estava seguro disso.
-Banner, o que aconteceu na igreja foi espantoso. Senti-o mais por ti que por mim, porque sabia o que devia estar sofrendo, o que estaria pensando de mim.
-Você nos envergonhou para mim e a minha família acima de tudo o condado.
-Sei.
-Isso é algo que provavelmente não perdoarei nem esquecerei tão facilmente, Grady.
-Mas espero que o faça com o tempo -disse o jovem com veemência-. depois de que tenha tido oportunidade de explicar o assunto da Wanda.
-Não necessito explicações. te limite a te despedir e partir.
-Por favor, Banner, por favor, me escute. -umedeceu-se os lábios e deu um passo, com as mãos estendidas em gesto suplicante-. Passei-o muito mal pelo modo em que morreu, o bebê e todo o resto. Mas... mas me sinto como alguém que tendo sido sentenciado a cadeia perpétua conseguiu liberar-se. Provavelmente saberá que uma garota como Wanda não significava nada para mim.
-Fazia o amor com ela! -exclamou Banner.
Grady baixou a cabeça.
-É verdade, é verdade. Mas me acredite, após o lamentei cada vez que tomava fôlego. Só estive com ela uma vez, Banner. Juro-o. Só uma vez -mentiu-. E não é como... bom... com uma garota assim não se faz o amor. É outra coisa. Nem sequer acredito que eu fosse o pai do bebê (rogo a Deus que não fosse) mas não havia maneira de prová-lo.
-Nada disso importa. O essencial é que me traiu e ao amor que dizia sentir por mim.
-Sei que é difícil para ti, como mulher, como uma dama que é, entender essa classe de paixão. -Permanecia com os olhos pegos ao chão, por isso não pôde ver que Banner empalideceu de repente-. Às vezes as coisas são desse modo, Banner. antes de te dar conta do acontecido, fez algo que lamenta.
Quando Grady se arriscou a levantar a cabeça para avaliar o efeito de sua confissão, Banner já não o estava olhando; tinha os olhos cravados na janela em cima da pia.
-Ocorreu com tanta rapidez -apressou-se a continuar ele, tomando o silêncio da moça por uma atitude reflexiva-. Fui à cabana para comprar um pouco de uísque.
Ela estava sozinha. Ela... ela... bem, já pode imaginar quão impudica era. Eu acabava de estar contigo. Desejava-te com toda minha alma, de modo que quando Wanda...
bem... por uns instante fingi que era a ti a quem beijava. Mas ela não se deteve. Banner, continuou me acariciando. Sei que não deveria te falar de semelhantes costure.
Ela me acariciava, em lugares íntimos, já sabe, e me dizia coisas que...
-Por favor -murmurou Banner, aferrando-se ao bordo do escurridero com tanta força que lhe doeram os dedos-. Basta.
Estava ouvindo-se si mesmo, suas próprias palavras, que como uma incitadora letanía, rogavam ao Jake que tomasse. Tinha suplicado, adulado, manipulado, utilizado todos os argumentos que lhe ocorreram, inclusive chegou ao extremo de lhe recordar o amor que o homem sentia por sua mãe. Lágrimas abrasadoras lhe nublaram os olhos.
OH, Deus, não era estranho que Jake a desprezasse tanto como Grady a sua puta.
-Teria que ser homem para entender, Banner. Mas quando se chega a certo ponto se perde o controle e é impossível voltar atrás. Logo me odiei; não podia acreditar o que tinha feito. Depois me jurei que não te tocaria; nem a ti nem a nenhuma outra mulher. Só desejava a ti. Amo-te.
Banner se enxugou as lágrimas e Grady se animou acreditando que eram por ele. A moça se voltou para ele e lhe perguntou:
-O que quer de mim? por que vieste aqui?
-Quero voltar contigo. Quero que nos casemos.
-Isso é impossível.
O homem sacudiu a cabeça com obstinação.
-Não, não o é. Não se me perdoa. Cometi um engano lamentável. Fiz-o no pior momento de minha vida. Mas por favor, não me faça pagar por isso eternamente. Dava que o reconsiderará. Não posso viver sem ti. Amo-te com todas minhas forças.
Banner se maravilhou de quão vazias soavam as palavras do Grady. Fazia apenas umas semanas que ainda pensava que o amava quando lhe declarava sua paixão. Mas o tinha amado realmente? O que sentia por ele agora? Só tristeza. Mas amor? Estava chegando a acreditar cada vez com maior convicção que era uma palavra sem contido, que se aplicava a uma série de diversas emoções por falta de qualquer outro vocábulo que fosse tão monopolista.
Quem era ela para julgar ao Grady por sua queda em desgraça quando seus próprios atos tinham sido tão duros e tão imperdoáveis como os dele? Ele tinha traído o amor que disse sentir por ela, certamente, mas acaso ela não tinha traído a quem a amava? A seus pais, ao Mami e aos moços? E ao mesmo Jake?
Jake. Estava apaixonada por ele, reconhecia-o. Tinha-o amado toda sua vida e esse fato provocava uma sensação borbulhante e feliz dentro dela, que brotava, transbordando-a, cada vez que o via. Tinha sido um amor saudável, um amor que podia expressar abertamente.
Mas o amor que lhe professava era diferente. Só lhe tinha produzido sofrimento, e estava envolto no segredo porque não era um amor que pudesse celebrar-se.
Grady lhe estava oferecendo uma saída segura. Se se desposava com ele viveria, a não ser felizmente, ao menos com tranqüilidade. E lhe permitiria se livrar daquele conflito que a fazia desejar arrancar o coração para impedir que lhe rompesse. Mas tinha reservas a respeito da proposta do Grady. Não era o mesmo jovem arrumado, seguro de si mesmo e de seu futuro. Parecia marcado pelo estigma de sua imprudência, que certamente o perseguiria durante comprido tempo. Embora suas desculpas pareciam sinceras, podia voltar a confiar nele?
Como se lesse sua mente, Grady disse:
-É possível que não me cria, mas tudo o que hei dito é verdade, Banner. Adoro-te; é tudo o que sempre quis.
Banner se perguntou se o jovem estaria disposto a lhe pedir que fosse sua prometida se soubesse que já não era virgem. O tinha trocado, mas ela também. A radiante e alegre Banner Coleman com quem se comprometeu no passado já não existia.
-Não acredito que possamos reatar o nosso.
Grady fez um gesto com a mão.
-Não é preciso que me responda hoje. Pensa-o.
Súbitamente Banner se sentiu cansada, desfalecida, até o ponto de acreditar que ia desabar se. Só ansiava que Grady partisse.
-Pensarei-o. Necessito tempo.
-Entendo. -Reuniu a suficiente coragem para lhe agarrar a mano,llevársela aos lábios e beijá-la meigamente antes de soltá-la. A mão voltou a cair indolente ao flanco de seu corpo-. Não me renderei até que aceite.
Grady se girou sobre os talões e saiu pela porta.
A moça se derrubou em uma cadeira, afundou a cabeça entre as mãos e rompeu a chorar. Durante semanas, da terrível tarde anterior à festa, tinha reprimido suas malditas lágrimas com uma vontade férrea, mas agora transbordaram seus olhos como arroios quentes e salobres.
Quão simples teria sido a vida se as bodas se levou a cabo como estava previsto! Teria sido felizmente feliz sem chegar a inteirar-se nunca da aventura do Grady com a Wanda Burns ou com qualquer outra. Ela e Jake poderiam seguir sendo amigos, pois já não haveria motivos para aquela animosidade mútua. Como tinha podido acreditar que aquela noite no estábulo solucionaria seus problemas? Como?
Voltou bruscamente a cabeça quando ouviu as pisadas das botas do Jake na parte traseira da casa. Depois de chamar com um golpe suave, o homem abriu a porta e pronunciou seu nome. Ela apartou a cabeça mas não antes de que Jake visse os rastros de suas lágrimas.
-O que acontece? O que aconteceu?
-Nada.
-estiveste chorando? -aproximou-se fazendo soar as esporas e se agachou junto a sua cadeira.
-Não.
-choraste. Não me minta.
Jake se tornou para trás o chapéu e uma loira mecha caiu sobre sua sobrancelha. Ao notar que o coração do Banner se estremecia de amor, lhe contraiu o rosto.
-OH, Jake.
De repente os braços do homem a rodearam e ela afundou a cabeça entre seu pescoço e seu ombro, de modo que as lágrimas lhe empaparam a camisa. Os dedos do Banner se crispavam com força nos músculos das costas do Jake.
Ele esfregava sua face no cabelo dela. Deixou que suas mãos se estendessem sobre as costas do Banner, atraindo-a para seu corpo, convertendo-a em parte dele.
Não a separou de si até que ela chorou com amargura e seus soluços se foram reduzindo em suaves hipidos que se amorteceram no lenço que levava a pescoço.
Jake a agarrou pelos braços e a retirou de seu peito para esquadrinhar seu rosto.
-Quer me dizer que te ocorre?
-Acreditaria que pode tratar-se da febre do feno?
Ele reparou nas flores.
-Nunca a teve de menina.
-Como sabe? Nunca estava ali. Sempre foi e me deixava.
Os olhos do Jake se posaram naquela boca provocadora e se atrasaram ali. Inclusive quando com um gesto enérgico se tirou a luva de couro com seus dentes brancos e fortes, permaneceu olhando os lábios do Banner. Apoiou seu polegar contra eles verticalmente, deslizando-o logo para um lado, e lentamente voltou para centro para deslocá-lo para o outro lado.
-Arrependo-me. Arrependo-me de todas as vezes que te deixei e feri de algum modo, Banner.
Colocou a mão nua sobre a bochecha da moça, e com a outra rodeou a cintura da garota e a empurrou para frente até fazer que os seios do Banner voltassem a esmagar-se contra seu peito. Logo baixou a cabeça e a beijou.
Uma intensa e trêmula emoção percorreu o corpo do Banner. Entrelaçou os braços com os dele, uniu as mãos nas costas do Jake e começou a lhe acariciar.
-Quem te ensinou a beijar, Banner? -perguntou ele.
-Você.
-Não é assim como eu te ensinei. Abre a boca.
-Não quero que pense que sou uma puta como essa Watkins ou uma cabeça-de-vento como Doura Lê Denney.
-OH, pelo amor de Deus -suspirou Jake-. Me beije bem de acordo?
Não lhe deu outra opção. Sua língua percorreu a fenda dos lábios do Banner com uma persuasão tão deliciosa que estes se abriram. Inclinou-lhe a cabeça com uma leve pressão da mão sobre a bochecha. Moveu-se dentro de sua boca profundamente, atrasando-se, penetrando, deslocando-se acima e abaixo, pelo paladar, a parte posterior de seus dentes e a escorregadia seda interior de seus lábios. Esfregava brandamente de maneira incitadora, afundando mais em sua boca com cada investida.
Não se tinha satisfeito quando se separou dela. Banner se apertou mais a ele confiada. O homem bebeu de suas pestanas as últimas lágrimas, tocou-lhe a ponta do nariz com a língua, deixou cair beijos fortuitos sobre as bochechas salpicadas de sardas. Esfregaram-se frente contra frente. Foi aprazível e turbulento de uma vez. E maravilhoso.
-por que estava chorando, Banner?
Banner sorriu contra seu maxilar duro e descarnado.
-Já lhe hei isso dito. A febre do feno.
Jake afundou os dedos em seu cabelo, recolheu-o e lhe capturou o lóbulo das orelhas com os dentes. Ela ofegou e voltou a sorrir.
-Não sabe fazer nada melhor que agarrar flores quando padece febre do feno?
-Não as agarrei eu.
-De onde procedem então?
-Trouxe-me isso Grady.
A cabeça do Jake se apartou bruscamente. Os segundos transcorreram com lentidão enquanto a olhava aos olhos. incorporou-se devagar até elevar-se em toda sua estatura. Tirou-se o chapéu, que de algum modo tinha conseguido manter-se sobre sua cabeça durante o abraço, e o golpeou com violência contra sua coxa protegida pelos zahones de couro, levantando uma pequena nuvem de pó.
-Esperou te haver ouvido mau.
-Trouxe-me isso Grady -repetiu ela; desgostada pela expressão rígida que se desenhou no rosto do homem.
-Grady Sheldon? -O tom risonho e agradável ficava desmentido pela tensão que dele emanava.
Banner ficou em pé.
-Sim, Grady Sheldon.
A ira do Jake estalou. Jogou para o perchero que havia junto à porta seu chapéu que ficou pendurado de um dos ganchos. enfrentou-se ao Banner com os punhos apoiados nos quadris.
-E você o deixou entrar?
Por sua postura, a inflexão de sua voz e a expressão de seu rosto, Banner soube que ele a considerava uma estúpida rematada, o que não sentou muito bem ao gênio da moça.
-Por que não?
Banner se dirigiu para a pia sem saber o que fazer e, então sem necessidade, com má intenção, começou a bombear água.
-Que por que não? -O rugido do Jake sacudiu os cristais da janela.
-Sim, por que não? Durante um tempo estive comprometida com ele, recorda?
-Sim, lembrança -disse Jake, avançando para a pia. tirou-se a luva que ainda tinha posto e o jogou sobre a mesa junto ao outro-. Também recordo que o dia de
suas bodas recebeu um balaço que lhe furou o ombro por lhe fazer um filho a uma pobre garota.
Banner se girou com rapidez.
-Tem um modo muito delicioso de expor as coisas -disse, sarcástica.
-No que pensava quando o deixou entrar aqui estando sozinha?
As palavras do Jake a fizeram dar-se conta de quão imprudente tinha sido. Lê lhe tinha contado depois do incidente na igreja que Ross tinha ameaçado de morte
ao Grady. Um homem tão orgulhoso como Grady não podia havê-lo tomado à ligeira. E se tivesse ido à casa procurando vingança em lugar de perdão? Mas não o tinha feito.
Apesar de que sentia algum remorso de consciência por ter deixado entrar no Grady, não ia admitir o ante o Jake. encarou-se a ele com fria indiferença.
-Está arrependido. Pediu-me que me case com ele.
Jake ficou olhando-a, mudo de incredulidade. Finalmente sacudiu a cabeça e sorriu com tristeza.
-Espero que não esteja considerando-o.
-Poderia ser.
Os olhos do capataz se entrecerraron perigosamente. Não confiava no Sheldon mais do que este podia confiar nele. Em opinião do Jake, o incêndio que havia flanco a vida a Wanda e a seu pai parecia muita coincidência. Ainda não se explicou de modo satisfatório a origem do fogo. Odiou a esse filho de puta do momento em que o viu na igreja. deu-se conta imediatamente de que Sheldon não era bastante homem para o Banner. Sempre tinha detestado aos bodes ardilosos, ocultos e ambiciosos como Grady.
-Esse miúdo se atreveu a te ameaçar?
-Não!
-Então o que disse?
-É meu assunto.
-Não se faça a lista comigo, senhorita Coleman. Ross matará ao Sheldon assim que o veja se chegar a inteirar-se de que se aproximou de ti.
-Suponho que irá diretamente ao River Bend para comunicá-lo.
Cada rasgo desse rosto castigado pela vida à intempérie deixava traslucir repugnância.
-Não sou um fofoqueiro, Banner, e você já não é uma menina.
-Isso é certo. Não o sou. E tenho liberdade para aceitar flores de qualquer homem que me dê a vontade. Você é o capataz do Plum Creek e tem direito a opinar sobre tudo o relacionado com o rancho, mas até que eu não te peça conselho sobre minha vida pessoal, faz o favor de lhe guardar isso.
Jake não sabia se estrangulá-la ou voltar a beijar seus lábios. Realmente estava muito enfurecido para fazer nenhuma das duas coisas. Agarrou suas luvas, desprendeu seu chapéu e saiu dando uma violenta portada. Suas esporas giraram enlouquecidas quando seus talões se chocaram com o chão de terra e ele amaldiçoou do mesmo modo.
Mucosa, abominável e malcriada. Não sabia que qualificativo lhe convinha mais. Não reconheceria a felicidade embora lhe aparecesse e lhe chutasse no traseiro.
Não se dava conta de que ele só estava tratando de proteger a de doninhas como Sheldon e sedutores como Randy.
E maldita seja, tinha estado beijando-o com as flores do Sheldon de mierda sobre a mesa!
Não sabia por que diabos se preocupava. Tinha prometido ao Ross que a cuidaria. Muito bem, faria-o. Mas não poderia culpá-lo se ela voltava a atar-se com um inútil como Sheldon. Certamente que não. Se se metia em um apuro, ela mesma o teria procurado.
Entretanto, ele sabia tão bem quanto amanheceria ao dia seguinte que mataria ao Grady Sheldon antes de lhe permitir que chegasse a tocá-la.
Os olhos frios e cinzas que examinaram a coluna de cifras no livro maior, ficaram agradados com o resultado que se expressava ao final da página. Revelava um benefício considerável. Apesar dos grupos da igreja que se manifestavam levando estúpidos pôsteres que prometiam a ira de Deus e a condenação e das advertências dos pastores sobre o fogo e o enxofre do inferno, as coisas não podiam ir melhor no Jardim do Éden.
Bateram na porta e Priscilla dirigiu o olhar para o pequeno relógio de ouro que se achava sobre o escritório. Era a hora da entrevista com o Dub Abernathy.
-Adiante.
A mulher guardou meticulosamente o livro maior sob chave na última gaveta do escritório. Era rica. Ninguém sabia a quanto ascendia sua fortuna e se proposto que se seguisse sem saber.
Dub entrou como de costume, rápido e repentino como o primeiro vento norte da temporada, embora esta vez se voltou para fechar brandamente a porta detrás dele; a fim de não despertar às putas que dormiam na planta alta.
perguntava-se freqüentemente como agüentava Priscilla tantas horas sem dormir. Permanecia levantada até as primeiras horas da manhã, quando o Jardim do Éden fechava. Enquanto os jogadores que levavam os bancos nas mesas de pôquer -e as prostitutas dormiam até bem avançada a tarde preparando-se para a noite, ela trabalhava em seu escritório e entretinha aos clientes particulares. Dub sabia que não era o único, embora o número desses poucos afortunados fosse limitado.
Não resultava surpreendente que a cantina da Priscilla fosse a mais lucrativa da cidade. Uma dedicação como a sua se dava a mão com o êxito. Dub, que era um ambicioso nunca satisfeito com o que tinha e sempre desejoso de aumentar suas posses, sabia reconhecer essa classe de cobiça em outros.
-Priscilla, querida.
Deixou o chapéu cogumelo e o fortificação sobre a cadeira estofada de cetim situada junto à porta e avançou para o centro da habitação.
A saudação da anfitriã foi notavelmente mais frio do habitual.
-Olá, Dub. -Ele estava acostumado a aproximar-se para rodeá-la com seus braços e beijá-la apaixonadamente, mas nesta ocasião ela evitou seu abraço e, indo para o aparador, verteu uísque em um copo-. Um gole?
-É obvio.
O homem percebeu sua reserva, soube a que se devia e se amaldiçoou. Essa relação estava complicando-se em excesso. Desfrutava com ela e gozava tremendamente com o que faziam na cama; mas logo se veria obrigado a fazer outros concertos.
Uma viúva muito atrativa se uniu recentemente a sua paróquia. Vivia sozinha em uma zona tranqüila da cidade, em uma casa confortável rodeada por uma perto de estacas brancas. No dia anterior a mulher se dirigiu ao banco em busca de assessoramento financeiro. Lhe oferecia uma boa oportunidade. Talvez carecesse da experiência sexual da Priscilla, mas podia ser adestrada. Acaso não estavam as viúvas ávidas de carinho? Uma relação desse tipo não estaria submetida a essas complicações, e essa era uma grande vantagem em favor da viúva.
Priscilla entregou ao Dub o copo de uísque e se serve um. Logo se dirigiu para o dormitório, que se achava mais à frente do despacho. Dub a seguiu como um perrito fiel.
-Faltou a sua entrevista a semana passada -disse ela com indolência, examinando sua imagem no espelho do penteadeira.
-Sinto muito, carinho. Foi convocada uma reunião de emergência do conselho a que tive que assistir. Resultou-me impossível te avisar. Espero que não te tenha preocupado.
-Pois claro que não. -dirigia-se a sua imagem no espelho-. Limitei-me a acrescentar a tarifa habitual a sua fatura. -Sorriu, mas a afabilidade não chegou a seus olhos.
Dub conteve sua irritação a tempo para perguntar, compungido:
-Está zangada comigo?
Priscilla se voltou para ficar frente a ele. O cabelo solto lhe caía sobre os ombros. Vestia uma bata azul de cetim cujas largas mangas acampanadas caíam sobre suas bonecas em cascatas de encaixe cinza pérola. O tecido se ajustava a seu exuberante figura. Uma coxa sem pêlo aparecia entre as dobras da parte dianteira.
-Zangada não, Dub. Decepcionada. A última vez que esteve aqui assegurou que manteria a esses fanáticos religiosos afastados de meus assuntos.
-Não o assegurei.
-Como se o tivesse feito. Acreditava que podia influir na opinião pública.
-Um homem só pouco pode fazer contra uma multidão em aumento.
-As multidões são como os rebanhos: vão para onde os conduz. Faz que se ocupem de alguma outra causa. Aparta sua atenção do Hell's Half Acre.
-Como quer que o consiga?
-Não me importa como o faça. -Caminhava de um lado a outro da habitação, movendo a cabeça com gestos irados-. Nunca te pedi nenhum favor, Dub. Não o faço agora.
O que me faz tão diferente do açougueiro, o padeiro e o fabricante de velas? Ninguém arma alvoroços contra eles. -Apontou-lhe com o dedo indicador-. E arrumado as lucros de na próxima semana a que são tão honestos no manejo de seus negócios como eu.
Com um gesto de cansaço, Dub se afundou no divã esfregando-os pálpebras com os dedos. Não era isso o que necessitava. tinha-se escapulido das pressões do banco para dar um bom galope brincalhão na cama da Priscilla e desfrutar de uns poucos copos de seu uísque do Tennessee; isso era tudo. Não queria discussões nem escenitas.
Já tinha muitos na sala de sessões.
Priscilla estava enfurecida. Demonstrava sua ira em cada um de seus movimentos. Seus olhos refulgiam, duros e frios. Dub nunca tinha advertido até esse instante as linhas pouco favorecedoras que rodeavam sua boca. Quando lhe tinham formado?
-Você não dispostas o mesmo serviço que um padeiro, Priscilla -disse secamente-. Como esperas que consiga que os cães deixem de incomodar quando esta parte da cidade vive em um constante escândalo? O fim de semana passado uma de suas garotas foi assassinada.
A mulher se sentou no tamborete acolchoado frente ao penteadeira para empoeirar-se com uma borla a palma da mão e a parte interior do braço.
-É um dos riscos deste negócio e cada uma das garotas que recebe em seu dormitório a um cliente sabe. Podem ter a desgraça de que os toque um granjeiro cuja mulher acredita que esta vida é mais excitante que ordenhar vacas e recolher ovos, ou um amante ciumento, ou um benfeitor que, depois de desfrutar dela considere que é seu dever ante Deus castigá-la por levá-lo pelo mau caminho. -encolheu-se de ombros de um modo eloqüente-. Acontece continuamente. "Assassinada outra ovelha desencaminhada." -Citou o último titular de periódico.
-Também se produziu um tiroteio nas ruas a semana passada. Três jeans dispararam contra um jogador de pôquer e dois deles perderam a vida.
-Isso não aconteceu em meu local.
-Entretanto, a gente decente não...
-A gente decente! -exclamou ela. levantou-se do tamborete e voltou a caminhar de cima abaixo-. Estou até o gorro das pessoas decentes. O que as faz decentes?
Tratam de arruinar meu negócio. É isso decente? É isso o que esse pastor lhes diz que terá que fazer? -girou-se para o Dub-. Faz algo com ele.
-Não posso. Cada vez consegue mais partidários. Já te adverti, Priscilla. Está pressionando ao xerife. cedo ou tarde este terá que atuar. Isso lhe fará ganhar
os votos dos partidários do pastor, e este ano se celebram as eleições. Se clausura Hell's Half Acre e protege os negócios desta parte da cidade, será eleito o próximo outono. O xerife é ambicioso.
-É um hipócrita. Vem aqui quase cada noite acompanhado dos homens a quem encerra no cárcere.
-Já sei -disse Dub pacientemente-. E você também, mas eles... -disse, assinalando com a cabeça para o centro da cidade- não sabem. Ou se sabem, não lhes importa, enquanto siga mantendo a paz.
-Mierda -resmungou Priscilla.
sentou-se de novo no tamborete e cruzou as pernas. A bata se abriu mostrando suas coxas. O sapato de salto alto de cetim azul adornado com plumas de garça real se movia de atrás para frente, como um pêndulo enlouquecido.
O homem olhava encantado as pernas largas e bem torneadas. A conversação lhe aborrecia cada vez mais. Não tinha ajustado tempo a seu apertado horário para isso.
Seus olhos se aventuraram a subir pela perna da Priscilla até seu regaço e logo até seus peitos, que tremiam de agitação. Lhe notavam os mamilos duros e eretos.
O vulto na virilha do homem se fez mais pronunciado.
-Neném -disse com um tom conciliador-, sei que está inquieta.
-Maldita seja! É claro que sim.
-Faço o que posso.
-Não é suficiente.
-Então farei mais -disse irritado. Estava perdendo a paciência. Como se atrevia aquela puta a lhe falar com ele, Dub Abernathy, com tal falta de consideração?
Em troca, a formosa senhora viúva tinha estado tão dócil como um cordeiro no dia anterior em seu escritório, lhe falando com suavidade, chorando discretamente, olhando-o com olhos limpos transbordantes de temeroso respeito-. Vá, Priscilla. vamos desperdiçar minha hora livre discutindo? -Simulou fazer panelas como se fosse um menino.
Mas seus gestos teatrais não impressionaram à mulher. Priscilla sabia que era ardiloso e manipulador, e que se tinha que escolher entre protegê-la a ela ou proteger-se a si mesmo, não teria nenhuma dúvida. Tal deslealdade egoísta demonstrava que uma garota tinha que procurar cuidar de si mesmo. Se além disso conseguia passar-lhe bem, era condenadamente afortunada.
Priscilla ficou em pé lentamente. Atirou com os dedos dos extremos do cinturão da bata, e esta se abriu, mostrando sua nudez. Com um movimento sensual dos ombros fez que a roupa escorregasse por seu corpo até cair ao estou acostumado a envolvendo seus pés.
-Não quero discutir contigo, Dub. Entendo sua postura. Suas visitas são muito caras e breves para que percamos o tempo falando de negócios.-Fez descender suas mãos pelos flancos de seu corpo, acariciando as coxas, demorando os dedos entre o denso véu que os separava-. Possivelmente deveria ir ao banco para falar de negócios em lugar de fazê-lo aqui.
O homem passeou a vista da pélvis até o rosto da Priscilla, que estava deliciosa com aquela súbita palidez que tinha aparecido em suas bochechas carnudas. Emitiu uma risada breve e nervosa, e se reanimou incômodo em seu assento.
-Os dois sabemos que não pode fazê-lo. -Sorriu fracamente, duvidando se ela brincava ou falava a sério.
Priscilla deu uns passos curtos para ele.
-Então te sugiro que procure me tirar de cima a esse pastor a fim de que não tenhamos que tratar de muitas questões relacionadas com os negócios quando estiver aqui. -deteve-se diante dele. Dub lhe acariciou os peitos, o ventre e as coxas-. O que diz Dub? Fará-o por mim?
-Seguro, Priscilla, seguro. Pode contar com que me vou ocupar do assunto. Sempre o tenho feito, não é verdade?
-Sempre. Não me decepcione esta vez.
-Não o farei, não o farei -sussurrou com a boca pega ao ventre feminino, enquanto deslizava a mão entre as coxas suaves.
Priscilla o atraiu para si e o beijou, apalpando com dedos peritos a braguilha das calças.
-Depende de ti -disse a mulher enquanto desprendia os botões com pressa. Assobiou com fingida surpresa quando seus dedos se fecharam ao redor do membro-. É tão forte, tão forte.
Com os olhos fechados e apertados os dentes, Dub murmurava incoherentemente argumentos e promessas que eram compassados pelas massagens da mão. Sentiu-se transportado ao céu por um dos anjos mais célebres de Satã.
-Lê! Micah!
Banner correu alegremente a recebê-los com um abraço. Tinham entrado na cozinha pela porta traseira detrás do Jake.
-Não esperava lhes ver esta noite.
-Há comida suficiente para nós?
-Prepararemo-la. -alegrava-se de que a tivessem visitado.
Os corpos espigados e angulosos dos moços pareciam encolher a cozinha, mas Banner recebeu com agrado o alvoroço e a desordem que traziam consigo. Ultimamente a casa tinha estado muito silenciosa.
-Decidimos vir antes de que obscurecesse para poder jogar uma olhada aos arredores -disse Lê, depois de beijá-la na bochecha.
Micah se deixou cair com arrogância em uma cadeira.
-viemos a dar nossa aprovação a este lugar, não sabia?
Banner arremeteu contra ele e lançou um par de chutes às patas traseiras do assento que ocupava para fazê-lo cair. Mas Micah era muito rápido e conseguiu endireitar a cadeira antes de que pudesse lhe fazer perder o equilíbrio.
-Ponha cômodo, Micah -brincou Banner.
-OH, claro, claro. -De maneira informal, apoiou um braço na parte superior do respaldo e se dedicou a percorrer a cozinha com o olhar.
-Sente-se, Lê. -De repente Banner se sentiu coibida e nervosa. Jamais tinha preparado uma comida para outra pessoa que não fosse Jake. Burlariam-se os moços dela?-. Jake, sente-se você também -disse, olhando-o aos olhos pela primeira vez desde que tinha entrado na casa-. O jantar está preparado.
-Obrigado.
-vamos ver, necessito dois talheres mais na mesa.
Com rapidez, girou e se dirigiu ao armário para procurar mais pratos, talheres e copos. Ela e Jake tinham tido muito pouco que dizer-se desde dia que Grady foi ver a. Advertiu que ele permanecia mais perto da casa, realizando trabalhos que o mantinham constantemente à vista.
Jake não se arrependia do que havia dito. propunha-se mantê-la afastada do Grady. Banner se sentia ressentida e agradecida de uma vez; ressentida pela incessante vigilância, e agradecida por não ter que enfrentar-se a seu antigo prometido em qualquer momento. Não importava o que havia dito ao Jake e ao Grady, porque realmente não queria casar-se com ele e esperava pospor a resposta tanto como fosse possível.
-É um simples guisado de vitela -disse Banner com tom de desculpa, enquanto se aproximava da mesa com uma sopeira de porcelana e começava a servir nos pratos com um concha de sopa o aromático guisado-. É a receita do Mami, mas todos sabemos que ninguém pode conseguir que o guisado de vitela seja um manjar digno de deuses como quando o prepara ela.
Lê se levou a boca uma enorme colherada e depois de passear o conteúdo de um lado a outro, soprando porque estava muito quente, disse:
-Está bom, menina.
-Não está mau. -Micah reforçou seu comentário com uma piscada.
Jake não disse nada, mas começou a comer mecanicamente.
A moça levou a mesa pão de milho, satisfeita de que a massa estivesse esponjosa, dourada e rangente por fora, liviana e granulada por dentro. Mami tinha assegurado que a receita nunca falhava.
Banner se uniu a eles na mesa, mas logo que pôde comer entre gargalhada e gargalhada. Lê e Micah tinham montões de histórias incríveis que contar, certas só pela metade, como sempre. Deleitaram-na com relatos que juraram eram certos; mas ela duvidou de que fossem.
Rir sentava bem. Nos últimos dias a maioria das noites Jake se mostrava taciturno. Mantinham esporádicas conversações sobre o rancho. Isso era tudo. Jake já não ia à cidade ao anoitecer, mas Banner sabia que se devia a que não queria que Grady a visitasse durante sua ausência.
Tampouco houve mais beijos tenros como aquele que lhe deu atrás de sua crise de pranto. Era como se esse beijo nunca se produziu. Tinham muito cuidado de não tocar-se.
-Não posso lhes oferecer nenhuma sobremesa, a menos que lubrifiquem o pão de milho com um pouco de geléia de amora do ano passado.
-Parece-me muito bem -disse Micah, cortando outra fatia de pão.
-A mim também.
-Se me houvessem dito que íeis dever jantar em lugar de lhes deixar cair sem avisar -disse Banner com desgosto fingido- teria estado melhor preparada.
-É minha culpa. -Jake apartou o prato e empurrou para trás a cadeira-. encontrei aos moços no rio e lhes hei convidado a que viessem esta noite. Ganharemos tempo para poder partir cedo pela manhã.
Banner retornava da despensa com o bote de geléia nas mãos.
-Partir para onde?
-Vamos ao Fort Worth para levar a casa o gado -disse Lê, excitado-. Não lhe contou isso Jake?
O olhar do Banner se posou no capataz.
-Suponho que esqueceu mencioná-lo.
-Disse-lhe isso a noite da festa.
-Mas não especificou quando.
-Amanhã é o grande dia! -exclamou Micah estendendo uma colherada de geléia sobre uma fatia de pão de milho-. vamos armar um bom escán...
-Micah! -Lê desviou a vista para o Banner, em um gesto de advertência.
-vão armar escândalo? -perguntou a moça com doçura.
Micah tragou o pão de milho sem mastigá-lo.
-Eu só queria dizer...
-OH, já sei o que queria dizer, Micah. Não sou estúpida. Possivelmente Jake apresentará a seu amiga Priscilla.
A Leia lhe caiu a colher das mãos, com grande estrépito. Esquecendo do bote de geléia, dirigiu um olhar atônito a sua irmã.
-Você sabe quem é?
Banner olhou imperturbável ao Jake, cujas sobrancelhas quase albinas se contraíram confiriendo a seu semblante um aspecto carrancudo.
-Jake me falou bastante dela. Sei que fuma charutos.
Ambos os moços voltaram a cabeça para o Jake em busca de confirmação. O homem fez um gesto negligente com a mão.
-Só está especulando.
Banner se limitou a rir.
-Bem, possivelmente esteja em condições de conhecer a famosa Priscilla Watkins eu mesma. Quanto tempo vamos permanecer ali?
Sem mover um só músculo de seu corpo, os olhos do Jake se deslizaram para a moça.
-Micah, Lê e eu vamos ficamos vários dias.
-E eu o que?
-Você não vai.
Banner se passou cuidadosamente o guardanapo pela boca, voltou a pregá-la e a colocou junto ao prato. Quando elevou o olhar, esta se mostrava tão resolvida como a de cor azul com que chocou.
-Irei.
Notou uma palpitação na mandíbula do Jake, cujo corpo permanecia absolutamente imóvel.
-Não nesta ocasião, Banner.
-Nesta e em todas as que me dê a vontade. -O tom de sua voz foi cortante.
-Bem... nós... vamos -disse Micah. Ao incorporar-se muito rapidamente, fez cair a cadeira ao chão. Amaldiçoando, inclinou-se para levantá-la.
-Sim, temos coisas que fazer -disse Lê-. Vamos, Micah, vamos ocupar nos delas.
Tropeçando e balbuciando, os dois moços se dirigiram para a porta.
-Tenho que desempoeirar a manta de minhas arreios Y...
-Y... ah, sim, que mais terá que fazer, Lê?
Lê empurrou a seu amigo para fora.
-Temos que preparar a cama no estábulo. Veremo-nos amanhã -disse por cima do ombro.
Aquela pequena comédia passou inadvertida ao Banner e Jake, quem seguia olhando-se fixamente, como dois combatentes enfrentados.
-Irei.
-Não o fará.
-Espera e verá.
-Não levarei a uma mulher ao Fort Worth para comprar vacas e não há nada mais que falar, Banner.
Ela se levantou da cadeira como impulsionada por uma mola.
-Estou em meu rancho. Não crie que me deveria consultar antes de comprar ganho para mim?
Jake também ficou em pé.
-Já te consultei.
-Não explicou nenhum detalhe.
-Não sabia. Da noite da festa Ross esteve em contato com o agente. foi Ross quem consertou a entrevista para esta sexta-feira. Estes são os detalhes. Mas de todas as maneiras, você não vais acompanhamos.
-Necessitará ajuda.
-É obvio, por isso pedi a Lê e Micah que me acompanhassem. Não quero apartar ao Jim, Pete e Randy do trabalho que terá que fazer aqui.
A provocação sarcástica saltou na mente do Banner como um fantasia de diabo fazendo acrobacia. Pensou que era melhor não expressá-la em voz alta, mas foi incapaz de resistir.
-Não se preocupa que Randy trate de aproveitar-se de mim enquanto minha "mãezinha" está ausente?
Jake deu um passo para ela, com uma expressão feroz no rosto.
-Não estará sozinha. Durante minha ausência, ficará no River Bend. Já o arrumei tudo com o Ross e Lydia.
-Estupendo, pode desarrumá-lo, senhor Langston, porque vou ao Fort Worth.
-Já comprei os bilhetes de trem.
-Sou perfeitamente capaz de comprar um bilhete de trem -disse Banner, apontando ao homem com o queixo.
Jake comprovou uma vez mais que discutir com ela era inútil. As brigas só a voltavam mais teimosa, se é que isso era possível. portanto, tentou raciocinar.
-É uma cidade perigosa, Banner.
-estive ali.
- Quando?
-Faz uns anos. Com mamãe e papai.
-Isto será diferente. Não acredito que você gostasse. É um lugar pouco seguro para uma mulher sozinha.
-Não estarei sozinha. Vós estarão comigo.
-Não sempre! -exclamou o homem.
Banner o olhou com suspicacia.
-por que te opõe tanto a que vá? Qual é o verdadeiro motivo? Não me importa o que faça uma vez estejamos ali. Se crie que descida impedir que bebês, jogue e vá de putas, busca lhe outra desculpa.
-É obvio que não me impedirá isso.
-Então por que me levanta a voz?
-Você também o faz.
-por que é preciso que vá ao Fort Worth para te entregar a seus vícios? Acaso não temos de tudo aqui, no Larsen? Não é por isso pelo que foi à cidade todas as noites?
-Sim, esse era o motivo -disse Jake, apartando a cadeira de um empurrão-, mas já não vou. O que Larsen pode me oferecer não é o bastante ordinário para meus gostos.
-Não posso acreditá-lo! -enfrentaram-se em atitude beligerante, com o peito tão cheio que quase se tocavam. Finalmente Banner disse com obstinação:
-Irei.
Jake esteve a ponto de estalar, mas sabia que a menos que lhe atasse as pernas, seria incapaz de detê-la.
-Sairemos cedo -disse, fazendo chiar os dentes.
-Estarei preparada.
Sem pronunciar uma palavra mais, o homem saiu dando uma sonora portada.
Banner não deixou que tivessem que esperá-la pela manhã Esteve preparada desde muito cedo, sentada muito formal no carro incluso antes de que Jake tirasse o Stormy do estábulo. Ela conduziria o carro até a cidade para transportar a escassa bagagem que levavam.
Jake dirigiu um olhar desdenhoso ao conjunto que Luzia Banner, incluindo o chapéu com véu, a jogo com o traje, que adornava sua cabeça e se afastou sem acrescentar nada à saudação. Mas Banner se achava muito excitada para permitir que o detestável mau humor do Jake apagasse seu entusiasmo. Nem sequer se intimidou quando os três peões se apresentaram para trabalhar. Quando anunciou que partia ao Fort Worth, Pete lançou um olhar preocupado ao Jake.
-Ela também vai? -perguntou, enquanto lhe oferecia tabaco. O tom que empregou foi muito significativo.
Jake se limitou a encolher-se de ombros antes de montar seu cavalo. Os cavalos ficariam na cavalariça do Larsen, pois os necessitariam para conduzir a casa o gado depois do trajeto em trem.
Micah e Lê estavam exultantes, e sua alegria resultava contagiosa. Cavalgavam um a cada lado do carro, fazendo que Banner não deixasse -de rir com suas palhaçadas.
Só Jake parecia ter a mente posta nos aspectos mais práticos da viagem.
A estação de ferrovia se encontrava deserta a essa hora da manhã. Jake desembarcou do cavalo.
-Comprarei o bilhete do Banner e averiguarei se os trens partem para a hora prevista. Logo levaremos os cavalos e o carro à cavalariça e voltaremos para a estação.
Enquanto Lê e Micah falavam de tudo o que foram fazer assim que chegassem ao Fort Worth, Banner se fixou nas costas ligeiramente encurvada do Jake. Realmente, resultava um homem de aspecto imponente, com esses ombros largos, esses quadris estreitos e aquele andar com movimentos desenvolvidos de vaqueiro. Tinha guardado nas alforjas seu melhor traje para a entrevista com o agente, mas se tinha embelezado para a viagem com seu habitual traje de vaqueiro, zahones, esporas e todo o resto. As roupas estavam podas e o chapéu tinha sido escovado. Ao entrar na estação de ferrovia tirou o chapéu e os quentes raios do sol aninharam em seus loiros cabelos.
Banner se negava a reconhecer que lhe parecia o homem mais bonito que tinha visto em sua vida. Ainda estava zangada com ele por ter tentado deixá-la em casa.
Era tão odioso!
Podia ter feito algum comentário sobre seu vestido. Era o traje que tinha pensado ficar depois das bodas e o mais bonito e moderno dos que possuía. O sutiã se
atia ao peito e a cintura. A seda de cor damasco fazia ressaltar sua tez, e as luvas e o chapéu a jogo a faziam sentir-se feminina e bela. Mas Jake só lhe tinha
dedicado um olhar irônico, mais hiriente que um insulto verbal.
Estirou o encaixe que adornava o bordo de sua luva. escapuliria-se para visitar seu amiga Priscilla durante a estadia no Fort Worth? Poderia fazer algo para
impedi-lo? E como sobreviveria ao desconsolo se Jake o fazia?
Imaginar-se ao Jake com outra mulher lhe provocava náuseas. Acariciaria a outra como a acariciava a ela? Beijaria-a com a mesma paixão? Cruzaram por sua mente imagens do Jake fazendo o amor com alguma mulher anônima, sem rosto e teve que fazer um esforço para proteger-se delas.
Banner não o viu sair do edifício, amaldiçoando e impregnando o chapéu com raiva, mas os moços sim o fizeram.
-Que diabos lhe ocorre? -perguntou Lê.
-Não sei, mas espero não ser eu o responsável -sussurrou Micah enquanto Jake se aproximava deles.
-O filho de puta de trem não circula.
-Não circula? -perguntaram a coro antes de que Banner acrescentasse-: por que?
-Greve. Os trabalhadores bloquearam as vias em vários pontos daqui até Dallas. A companhia está tratando de evitar a violência e não há maneira de conseguir que os grevistas limpem as vias a menos que disparem contra eles. De modo que se interrompeu o serviço até que as negociações resolvam todo este assunto. Maldita seja! -Levantou uma chuva de cascalho ao chutar o chão com a ponta da bota.
-O que faremos? -perguntou Banner, vacilante.
-Não sei.
-Sua entrevista com o senhor..., senhor...
-Culpepper -terminou Jake.
-Com o senhor Culpepper é na sexta-feira, verdade?
-Sim. Temos vários dias por diante, mas... -Ao Jake lhe ocorreu uma nova idéia-. Iremos a cavalo. Moços, importa-lhes acampar ao ar livre? -perguntou a Lê e
Micah, que tinham permanecido com a cabeça encurvada e em silêncio, pensando que sua sonhado viagem seria cancelada.
-Por nós, estupendo. Parece-te bem, Lê? -disse Micah ansioso.
-Muito bem!
-De acordo então -disse Jake, movendo a cabeça de um modo concludente-. Vós dois dirigíos à loja e comprem só o indispensável; latas de ervilhas, um par de quilogramas de toucinho, um pouco de café e farinha; também uma caixa de balas, duas frigideiras e uma cafeteira troca. Não necessitaremos mantas se podem dormir sobre as da arreios. -Os moços assentiram-. Muito bem, meninos. Reunirei-me ali com vós dentro de dez minutos para carregar. Deveríamos levar um cavalo de reserva, de modo que irei à cavalariça.
Os moços se afastaram pressurosos, sem pensar em despedir-se do Banner. Jake também parecia havê-la esquecido, até que ao girar-se quase se chocou com ela. Agarrou-a pelos ombros com as mãos enluvadas.
-Banner! Carinho, quase me esquecimento de ti. Pode retornar ao River Bend sozinha?
-É obvio.
-Estupendo. Dava a seus pais o que acontece. Farei que me devolvam o dinheiro dos bilhetes para cobrir os gastos da loja. Talvez demoraremos para voltar uns
dias mais do previsto, embora possivelmente os trens circulem de novo quando devermos retornar. O chefe de estação disse que a greve não duraria muito. Adeus.
Atraiu-a para si e a beijou rápida e sonoramente na boca. Banner sabia que não se dava conta do que fazia. Montou ao Stormy e o esporeou, dirigindo-se para a cavalariça que se achava no extremo oposto do Main Street, sem voltar-se para olhar.
-... de modo que na sexta-feira pela tarde todos os assuntos estarão resolvidos e vós poderão começar a lhes divertir. -Os dentes do Jake brilharam à luz da
fogueira quando sua boca se abriu em um amplo sorriso-. O que lhes parece?
Micah deu uma cambalhota para trás sobre a grama, e Lê lançou alaridos de alegria, com os olhos muito abertos.
-Podemos também passar a noite do sábado?
-Claro -disse Jake, estirando-se para apoiar a cabeça contra a arreios. Acessou a seus desejos como se fosse a vontade de um rei benevolente-. Prometi-lhes diversão, não é certo?
-Não sei se poderei agüentar até...
-Shhh!
-O que? -perguntou Lê, baixando a voz.
-Chist! -Micah lhe fez um sinal com a mão.
-O que ocorre?
-Pareceu-me ouvir alguém perto dos cavalos -resmungou Micah a seu irmão maior à luz da fogueira do acampamento.
Jake abandonou sua postura indolente e se manteve alerta. Levou a mão a pistolera e desencapou o Colt.
-Não lhes movam. -Logo que moveu os lábios.
Os três, com os ouvidos atentos a todo ruído que não fosse o sussurro do vento agitando as árvores e o estalo da lenha seca, permaneceram absolutamente imóveis.
Ouviram o inconfundível som que fazem as botas ao pisar na erva quando o intruso apareceu. Três pares de olhos esquadrinharam a escuridão, distinguindo a um jovem vaqueiro que entrava no círculo de luz formado pela fogueira. As sombras projetadas pelas chamas parpadeantes dançavam ao redor. Ia vestido como eles, com calças de dril de algodão, camisa de trabalho, colete e lenço atado ao pescoço. Parecia um vagabundo larguirucho e enxuto. O chapéu de asa larga fazia que os rasgos de seu rosto fossem um mistério.
Enquanto observavam, uma mão pálida e cuidada se elevou para tirar o chapéu. A nuvem de cabelos escuros como a noite caiu sobre uns ombros muito estreitos para pertencer a um moço de qualquer idade. A voz familiar, sensual, feminina e carregada de humor, chegou-lhes com claridade.
-Boa noite, cavalheiros.
Jake se incorporou de um salto.
-Que demônios está fazendo aqui?
Banner, sem lhe emprestar atenção, aproximou-se do fogo, ajoelhando-se junto a ele.
-Esse café cheira bem.
A mão do Jake se fechou no antebraço do Banner, fazendo que ficasse em pé.
-estive a ponto de disparar! -espetou-. Não sabe fazer nada melhor que te apresentar furtivamente?
-Eu não me apresento furtivamente! -De um forte puxão, soltou-se da mão do Jake-. Segui-lhes todo o día.Tenéis sorte de que não seja um ladrão, um comanche renegado ou algo pelo estilo. Estariam todos mortos.
Micah e Lê não podiam ocultar sua decepção. Agradava-lhes a companhia do Banner, mas valoravam como um tesouro a do Jake, seu ídolo. Tinha-lhes prometido introduzidos à vida noturna mais excitante do Fort Worth, mas a inesperada aparição do Banner chatearia sem dúvida o jovial estado de ânimo do Jake, quem desde o começo não tinha desejado que a moça lhes acompanhasse.
Entretanto, Lê admirava as guelra de sua irmã.
Nenhuma das garotas que conhecia se arriscaria a cavalgar todo o dia só como tinha feito Banner.
-Quando decidiu seguimos? -perguntou-lhe.
Ela deixou cair ao chão seu alforja e, depois de lançar um olhar ao Jake, ajoelhou-se para procurar algo nela até que finalmente tirou uma pequena taça de café.
-Minha decisão já estava tomada quando lhes dispersaram em três direções diferentes antes de que tivesse a oportunidade de lhes dizer que não tinha nenhuma intenção de cancelar minha viagem devido a um pequeno obstáculo. -Sorveu o café que se serviu. Estava fervendo e era insípido, mas o bebeu fingindo que era néctar.
-Um pequeno obstáculo? -perguntou Jake. Sua cólera, longe de extinguir-se, parecia ferver a fogo lento. Ao igual a um vulcão ativo arroja fumaça com freqüência, ele liberava sua ira súbitamente-. Não tem nem idéia.
Banner seguia sem lhe fazer caso.
-Quando saíram da cidade, fui comprar roupa mais apropriada para acampar. Deixei o carro na cavalariça, e minhas malas, com uma nota para mamãe e papai, na agência de correios. Entregarão-lhes tudo quando recolherem o correio. Ao cabo de uma hora lhes alcancei.
Tinha dirigido seu relato a Lê e Micah, mas foi Jake quem respondeu.
-Crie-te muito lista, não é certo?
-até agora me foi muito bem.
-Não trate de atuar como se não tivesse o traseiro dolorido como o demônio, porque não sou tão parvo para me acreditar isso Lee y Micah le miraron conmiserativamente y luego dedicaron su compasión a Banner, quien se había dejado caer en el suelo cuando Jake se marchó. Su cansancio se revelaba en cada uno de sus debilitados músculos.
Lee le palmeó la espalda mientras Micah le ofrecía un plato de fréjoles.
-Você o que sabe?
-Amanhã terá ampolas Y...
-Não serão teu assunto -replicou Banner, cortante-. Estou muito bem. Toda a vida quis acampar ao ar livre, mas não me permitia fazê-lo simplesmente porque era
uma garota.
-por que sempre trata de te comportar como um homem? -disse Jake com dureza-. Não me surpreende que seu prometido se metesse na cama de outra mulher.
-Jake! -Micah nunca tinha acreditado que seu irmão chegasse a dizer algo tão cruel.
-Bom, por que não está em casa cozinhando, costurando e tecendo como as demais mulheres? Porque não tem habilidades para isso, essa é a razão. Ela... é... diabos!
-exclamou furioso, afastando-se com largas pernadas para o lugar onde se achavam atados os cavalos.
Lê e Micah lhe olharam conmiserativamente e logo dedicaram sua compaixão ao Banner, quem se tinha deixado cair no chão quando Jake partiu. Seu cansaço se revelava em cada um de seus debilitados músculos. Lê lhe aplaudiu as costas enquanto Micah lhe oferecia um prato de feijões.
-Jake o consultará com o travesseiro e se sentirá melhor manhã.
Mas não foi assim. Ao dia seguinte seu aspecto era tão sombrio e agoureiro como um escuro nubarrón. Como um rude general, deu ordem de levantar o acampamento, lhes concedendo tempo apenas para engolir os pão-doces frios que tinham demasiado da noite anterior e beber uma taça do horrível café reaquecido.
Em uma coisa tinha acertado plenamente: ao Banner doía o traseiro, mas não o revelou quando subiu à arreios do cavalo.
-Onde conseguiu o cavalo? -perguntou uns minutos mais tarde Jake, cavalgando junto à moça.
-O pedi emprestado ao senhor Davies, na cavalariça. -inclinou-se e deu um tapinha no pescoço do cavalo castrado.
-O pediu emprestado? -grunhiu Jake-. Eu tive que pagar o que levamos de reforço.
Banner lhe dedicou um sorriso radiante. A malícia só se traslucía em seu tom açucarado quando disse:
-Pelo menos faço bem algo próprio da mulher, não é certo?
Se tinha cuidadoso ao Davies do modo em que estava olhando-o a ele agora, Jake não se teria surpreso de que o velho panaca lhe tivesse agradável o cavalo.
Irritava-lhe que Banner parecesse tão fresca e descansada. Acreditou que despertaria com as articulações duras e bolsas escuras sob os olhos. Entretanto, os olhos que sustentavam seu olhar eram tão brilhantes como de costume, e as bochechas transbordavam de cor. E seria melhor que não se sentasse tão erguida na arreios, pondo a prova aos botões da camisa que continham seus seios. Maldita seja!
-Se não ir mais rápido, ficará atrasada -advertiu Jake. Dito isto, esporeou ao Stormy e se afastou velozmente fazendo que Banner tragasse o pó.
O sombrio estado de ânimo do Jake não se esclarecia com o passo das horas. Cavalgaram sem cessar, detendo-se brevemente ao meio dia para que os cavalos bebessem em um arroio e para tomar eles mesmos ávidos goles de seus cantis. Avançavam sob um sol ardente e por caminhos poeirentos, mas Banner não se queixava. antes de fazê-lo-se tivesse talhado a língua. Doíam-lhe as coxas. Debaixo do chapéu que tinha posto para proteger do sol, o cabelo lhe tinha emaranhado a causa do suor. Sabia que as sardas deviam estar brotando como grãos de pipocas de milho em uma frigideira com azeite fervendo.
Pela tarde, enquanto cavalgavam para o oeste, o sol castigava seus rostos implacavelmente. A garota rogava que uma nuvem, embora fosse pequena, ocultasse o disco ardente, mas não foi assim.
Até os moços, que teriam cavalgado diretamente para o inferno se Jake o tivesse pedido, sentiam-se decaídos e inquietos em seus monturas.
-Eh,Jake-disse Micah.
-Sim!
-Há uma casa ali, nessa costa.
-E o que?
-Bom, acredito que nos viria bem saborear um gole de água fresca de poço.
Banner lhe tivesse beijado. Embora a tivessem torturado, não teria confessado que seu cantil estava vazio, de modo que durante horas tinha tido a boca e a garganta ressecadas.
Jake atirou das rédeas do Stormy, espionando a granja que se elevava na crista da colina.
-Muito bem. Deteremo-nos e veremos quão amistosos som.
Os moços esporearam seus cavalos e avançaram ao galope. Quando Jake olhou ao Banner, esta se encolheu de ombros, como se se tratasse de algo que lhe era de tudo indiferente, e lentamente encaminhou seu cavalo para a colina.
O granjeiro estava cortando lenha. Era um lugar modesto mas bem cuidado. Havia um estábulo, capaz de albergar tão somente umas poucas vacas leiteiras, um mulo para arar e um cavalo. As galinhas estavam encerradas em um cerco de arame; uma cerda grunhia na pocilga. No horta, bem trabalhado, destacavam as fileiras de milho crescido e os caules de feijões junto a cebolas, cabaças e batatas. Perto da casa, uns pesados tomates verdes dobravam os caules de seu novelo cobertas de pó.
O granjeiro deixou a um lado a tocha quando os viu, tirou um lenço do bolso traseiro do macaco que vestia e se limpou o suor que lhe cobria o rosto. Tirou-se o chapéu para enxugar a frente limpa e voltou a impregnar-lhe El hombre asintió, satisfecho con la explicación. Había oído hablar de la huelga esa misma mañana, cuando uno de sus vecinos pasó por su granja.
Todos os movimentos foram executados com lentidão, dando a impressão de que eram despreocupados. Mas Jake já tinha advertido a escopeta apoiada contra a parede do estábulo a menos de um metro da mão do granjeiro. Não o censurou por isso. Um homem tinha o dever de proteger sua casa e sua família. Nesses tempos, com tantos jeans sem trabalho vagando pelas zonas rurais, perigosas bandas de assaltantes de trens e intermináveis conflitos trabalhistas, não se podiam correr riscos. Jake tratou de tranqüilizar ao granjeiro.
-Olá.
-Boas -disse o granjeiro. O homem não se moveu mas sim deixou que eles se aproximassem mais até que se detiveram poucos metros de distância.
-Poderia oferecemos um gole de água? -perguntou Jake, com um tom cortês e afável.
O granjeiro os examinou minuciosamente. Jake manteve as mãos sobre a cavanhaque da arreios quando os olhos do homem advertiram sua cartucheira e a capa do rifle.
Micah e Lê imitaram a seu companheiro. Quando o granjeiro escrutinou atentamente ao Banner, seus olhos se assombraram ligeiramente, e logo voltaram a posar-se no Jake.
-De onde vêm?
-Do condado do Larsen. -Fazia muito tempo que Jake tinha aprendido a não dar mais informação que a necessária. A maioria dos homens que percorriam os caminhos se mostravam reticentes por um ou outro motivo. Era a melhor política. Quanto menos sabia um homem de outro, melhor-. Dirigimo-nos para o Fort Worth para comprar ganho. Os trabalhadores da ferrovia estão de greve e os trens não circulam.
O homem assentiu, satisfeito com a explicação. Tinha ouvido falar da greve essa mesma manhã, quando um de seus vizinhos passou por sua granja.
-vocês sirvam-se mesmos.-Indicou o abrevadero para os cavalos e o poço próximo à casa.
Os cavaleiros desmontaram. Banner procurou não fazer nenhum gesto quando teve que recorrer a seus músculos doloridos para descender do cavalo. Enquanto Jake conduzia ao Stormy para o abrevadero, a moça se esfregou subrepticiamente o traseiro.
-O que faz, Banner? -perguntou Lê-. Jake nos disse que...
Lê se interrompeu de repente, com olhos surpreendidos. Banner lançou uma olhada por cima do ombro e pôde ver uma moça, aproximadamente de sua idade, que se aproximava da casa. O moço girou a cabeça, esclareceu-se garganta para atrair a atenção do Micah e logo, com um movimento pouco natural de olhos, assinalou à garota.
-Olá -disse este com acanhamento enquanto se aproximava deles-. Normatiza-meu nome é. Querem um pouco de água do poço?
Lê e Micah avançaram vacilantes.
-Nós gostaríamos muitíssimo, Norma -respondeu Micah com um sorriso cativante.
-Deve me haver lido o pensamento, Norma.
Banner olhou aos moços com irritação não dissimulada e se perguntou se Lê era consciente da estúpida expressão de seu rosto. Norma tinha grandes olhos marrons, voz tão doce como o mel e um peito bem formado debaixo de seu vestido de percal, e o que? Era suficiente motivo para ficar boquiaberto?
A jovem dirigiu ao Banner um olhar superficial e não lhe emprestou atenção. Acompanhou a Lê e ao Micah até o poço enquanto Jake falava de cavalos com o granjeiro, quem tinha mostrado admiração pelo Stormy. Com um pé apoiado em um flanco do abrevadero e o chapéu jogado para trás, Jake se reclinou ligeiramente para fazer descansar seus antebraços sobre a coxa elevada.
Quando Banner captou os olhos penetrantes de Norma cravados no Jake, dirigiu-lhe um olhar aniquiladora.
-Com quem de vós está casada? -perguntou Norma aos moços, que esvaziavam a chaleira de água com tanta ansiedade como com a que a contemplavam.
-Com ninguém -respondeu Micah depois de uma gargalhada.
-É minha irmã.
Os olhos de Lê não observavam ao Banner, a não ser o imponente peito de Norma quando a garota se inclinou para baixar de novo o cubo ao poço. Seu olhar tropeçou com a do Micah e ambos fizeram um gesto de assentimento, como dois varões que chegam à mesma conclusão detrás ter examinado alguma questão com atenção.
-Importa-lhes se beber eu também? -perguntou Banner, com aborrecimento.
Fazia um bom momento que estava parada junto ao poço sem que ninguém tivesse advertido sua presença. Norma, com uma notável falta de amabilidade, entregou uma taça de água.
-A quem pertence ele? -Os olhos de Norma se deslizaram para o Jake, quem estava assegurando-se de que os cavalos não bebessem muito.
-A mim.
Ante a terminante resposta do Banner, Lê e Micah a olharam com severidade. Os olhos da moça estavam centrados em Norma.
-É meu irmão -disse Micah, incômodo.
-OH! -Norma olhou ao Banner com uma presunção que enfureceu à moça.
De repente caiu na conta do aspecto desalinhado que tinha, enquanto a suave cábellera castanha de Norma se recolhia com elegância em uma coroa de tranças. Norma desprendia um aroma como de pão caseiro; Banner sabia que cheirava a suor acre e a cavalos.
-Seu marido não é muito major? -perguntou Banner.
As bochechas de Norma se acenderam.
-É meu papai.
-OH! -Banner imitou a exclamação por pura perversidade-. Posso beber outro gole, por favor?
-Sim, é obvio.
Quando Normatiza voltou a encher a taça, Banner se aproximou com passo gracioso para onde Jake se encontrava, sonriendo seductoramente.
-Aqui tem, Jake. Pensei que também gostaria de um pouco de água fresca.
Banner desejava que Norma estivesse observando.
Jake, com expressão suspicaz, agarrou a taça de sua mão.
-Obrigado.
-De nada -respondeu Banner, lhe dedicando um esplêndido sorriso. depois de tudo, Norma não podia ouvir o que se haviam dito.
Mas ao parecer Normatiza estava competindo com o Banner por chamar a atenção. Uma risita tola chegou do poço aos ouvidos do granjeiro, cujos olhos adquiriram um brilho inquisitivo quando viu sua filha em animado bate-papo com os dois homens jovens.
-O que passa aí, Norma? -disse em voz alta.
-Nada, papai.
-Devemos partimos -disse rapidamente Jake.
Nada no mundo podia comparar-se à ira de um granjeiro que sentia que a virtude de sua filha se achava em perigo. Do sul do Texas até Avermelhado, os jeans, e em particular os do Texas, eram o contínuo flagelo de todo pai de uma filha casadera. Deviam proteger as deles a toda costa. Inclusive havia uma canção que mencionava o assunto. Jake recordou a letra: "Não te case com os moços do Texas."
Derramou o resto de água ao chão e entregou a taça ao Banner.
-Devolve a à senhorita e logo subida em seu cavalo. Lê, Micah, vamos. Agora mesmo.
Seu tom não dava lugar à discussão e exortava à ação imediata. Os moços se despediram da garota levantando o chapéu no momento em que Banner lhe entregava a taça, esboçando um sorriso malicioso que significava:"Eu vou com eles, mas você fica nesta vida monótona com um papai velho e mal-humorado."
Jake deu as obrigado uma vez mais ao granjeiro antes de montar em seu cavalo. Deixou que outros cavalgassem diante dele e só quando voltaram a tomar sua rota, pôde respirar mais tranqüilo. Não queria nenhum problema no transcurso da viagem, e menos estando Banner com eles. A noite anterior tinha estado a ponto de matarIa...
Não era que não se alegrou de vê-la; antes de que a fúria o dominasse por completo, seu coração começou a saltar de alegria ao vê-la entrar no círculo de luz da
fogueira.
Mas quando considerou o jogo da moça, lhe gelou o sangue. Havia milhares de perigos no atalho, e Banner,una moça, era vulnerável a todos eles. Tinha decidido evitar as cidades, onde ela atrairia a atenção de todos os petimetres jovens como um ímã.
Banner era teimosa. Atuava obedecendo a um impulso repentino e só mais tarde analisava as conseqüências. Resultava incrível que sua vida não se complicou até esse momento. Mas, maldita seja, com toda segurança ele não queria que as dificuldades a alcançassem durante a viagem.
Observou-a enquanto cavalgava diante dele. Seus olhos se dirigiram certeiramente para as nádegas do Banner. Sabia que deviam estar matando-a, mas ela não tinha mostrado nem um só sintoma de dor. Teimosa como uma mula. Não pôde evitar sorrir enquanto contemplava os saltos de seus quadris sobre a arreios. Tinha o mais lindo...
Imediatamente afastou esse pensamento. Que diabos estava fazendo? Esporeou ao Stormy e avançou.
-logo que localizemos um arroio com água fresca, acamparemos.
A partir desse momento, procuraria cavalgar diante do Banner, nunca detrás.
Ao pouco tempo vislumbraram um bosquecillo de salgueiros. Quando chegaram ali, ficaram encantados ao descobrir um arroio cantarín. A temporada tinha sido tão seca, que a água escasseava. Banner se ofereceu a preparar o café, ao recordar a repugnante beberagem que os homens tinham feito a noite anterior, e a comida se eles recolhiam lenha, acendiam o fogo e depois limpavam e ordenavam tudo. Os homens não se negaram.
Uma vez que terminaram de jantar, reuniram-se em torno do fogo, mas sem juntar-se muito. Era uma noite calorosa. Jake se recostou contra suas arreios para fumar um charuto enquanto Lê se dirigia aos matagais para responder a uma chamada da natureza.
Provavelmente Jake nem sequer teria reparado em seu irmão se este não tivesse estado tão silencioso. A ausência de palavras e expressão em seu rosto chamaram a atenção do Jake. Seguiu a direção do olhar extasiado do Micah para encontrar ao Banner ao cabo dela.
A moça se achava sentada de costas ao fogo. tirou-se a blusa, e a brancura de sua regata destacava na escuridão da noite. Estava escovando a abundante e escura cabeleira.
Enquanto Jake a observava, Banner se apartou o cabelo do pescoço, inclinou a cabeça ligeiramente e deixou que a débil brisa o acariciasse. Sua pele parecia dourada e pálida à luz do fogo. O reflexo das chamas caía sobre as mechas negras e brilhantes, que pouco a pouco voltavam a deslizar-se para seus ombros.
A moça bocejou cansada, arqueando a coluna vertebral e deixado que o perfil de seus peitos se recortasse entre as luzes e as sombras da noite.
A virilidade do Jake despertou. Irritado ante a resposta de seu corpo, apartou o olhar só para advertir novamente o encantamento do Micah. Tocou-o ligeiramente com a bota.
-Entrarão-lhe moscas se seguir mais tempo com a boca aberta -sussurrou.
Seu irmão deu um coice, sentindo-se culpado. Dirigiu um último olhar furtivo ao Banner.
-É muito formosa, não crie?
Também Jake se permitiu outra olhada.
-Sim, é formosa. Agora te ocupe de seus próprios assuntos.
Micah percebeu o desgosto de seu irmão.
-Não significa nada que tenha estado olhando-a, Jake.
-Bem, olhe para qualquer outro lugar. -ficou em pé no momento em que retornava Lê-. vou descender até o arroio para me refrescar. Sugiro-lhes que tratem de dormir, porque amanhã nos espera outro duro rodeio.
Banner contemplou sua silhueta encurvada até que desapareceu na escuridão. Jake continuava estando de mau humor e não era capaz de dizer nada sem grunhir. Ela se tinha comportado durante todo o dia como uma viajante exemplar, evitando causar problemas. Tinha mostrado ele um pingo de consideração? Não. Era um teimoso!
Suspirando, guardou a escova na alforja. sentia-se um pouco melhor depois de haver-se lavado o rosto e o pescoço com um cubo.de água que Lê havia trazido do arroio. Daria seu último níquel por um bom banho. "Amanhã de noite -pensou com ansiedade- no hotel me darei de presente com um banho."
Com este pensamento, tendeu-se sobre sua manta.
Os moços conversavam sobre voz baixa.
-O que sussurram vós dois?
-Nada -respondeu Lê rapidamente, muito rapidamente como para não despertar as suspeitas do Banner.
-Nós, bom, pensávamos... ir dar um passeio a cavalo -disse Micah.
-Um passeio a cavalo? Semelhante idéia lhe parecia inconcebível-. estivestes cavalgando todo o dia.
-Sim, bom, nós, verá...
-Para refrescamos -alegou Micah.
-Sim! Para refrescamos -repetiu Lê, e se levantou-. Lhe diga ao Jake que isso é o que vamos fazer, cavalgar para nos refrescar.
antes de que a moça pudesse expor mais objeções, selaram seus monturas e se afastaram silenciosamente do acampamento. Banner se deixou cair sobre sua manta.
Não era assunto dele se eles queriam ir a pindonguear em metade da noite como tolos.
Entretanto, Jake não se tomou com tanta calma a escapada dos moços.
-E você não fez nada para impedi-lo? -exclamou quando ao retornar ao acampamento Banner lhe explicou o que tinha acontecido.
Ela se incorporou como uma mola.
-O que se supõe que devia fazer? Já são adultos.
-Podia me haver chamado.
-Não era minha coisa.
-Quanto tempo faz que se foram?
-Aproximadamente meia hora -replicou a moça.
Amaldiçoando, Jake se sentou sobre seu saco de dormir.
-Não posso lhes seguir a pista na escuridão. Suponho que quão único cabe fazer é esperar a que voltem.
Banner ficou de flanco, apoiando-se em um cotovelo para lhe ver melhor.
- Sabe o que penso?
-O que? -por que não se pôs outra camisa? Se acreditava que a noite a cobria com um manto recatado, equivocava-se. A regata de tecido magro logo que conseguia conter seu busto, especialmente na posição que tinha adotado. O peito que ficava mais alto me sobressaía perigosamente por cima do cós de encaixe.
-Que foram a ver aquela garota.
-Que garota? -Jake teve que esforçar-se para levantar os olhos do peito do Banner-. A filha do granjeiro?
-Norma -disse Banner com doçura-. Não viu como a comiam com os olhos?
-Vi-o -murmurou Jake, apartando a vista. Ultimamente, ele se estava dando umas boas rações de comer com os olhos- e seu papaíto também. Espero que os moços não cometam nenhuma estupidez. -Seus olhos azuis perfuraram a noite.
-Estão loucos pelas garotas. Só falam e pensam nisso. É absurdo. -Banner se tendeu de costas e dobrou os braços sobre o estômago.
O homem riu com ironia.
-Absurdo? Do que falam as garotas? Né? De homens.
-Algumas. Eu não.
-Ah, não?
-Não.
-Estou seguro, Banner Coleman, de que está mentindo. Apostaria...
Interrompeu a frase ao escutar umas detonações que ressonaram na quietude da noite. Banner voltou a sentar-se.
-O que foi isso?
Só fez falta outra descarga fechada para que as suspeitas do Jake se confirmassem.
-Disparos. Uma escopeta, se não me equivocar.
incorporou-se de um salto e correu para o Stormy, levando a pesada arreios em uma mão e o rifle na outra.
A moça tirou de cima a ligeira manta e foi atrás dele.
-Crie que o granjeiro disparou a Lê e Micah?
-Essa possibilidade cruzou por minha mente -respondeu, apertando os lábios com um gesto severo. grampeou-se o cinturão e deixou cair o estribo. Agarrando seu revólver da pistolera, fez girar a câmara para comprovar se estava carregado. Tirou o rifle da capa e se assegurou de que tinha munição. Com olhos assustados, Banner observava seus movimentos precisos e destros.
-Espera, acompanharei-dijo-te, quando Jake pôs um pé no estribo e subiu à arreios.
-Não, jovencita, você não vem. E esta vez falo a sério, Banner -disse com firmeza-. Fique aqui e não te mova. Entendido? -Com fúria, deu um forte puxão às rédeas do Stormy e se afastou cavalgando na noite.
O animal, bem treinado, devorou o terreno com passo seguro. Jake só tinha que procurar manter-se na arreios e contar os disparos que rachavam o ar da noite com alarmante freqüência. ouviam-se muito perto para proceder da granja. teria se equivocado? Não podia ser uma caçada de gansos silvestres? Rogava a Deus que fosse.
Mas sabia que não era assim.
Muito antes de alcançar o topo de uma colina e baixar o olhar por volta do ravina seco que tinham cruzado essa tarde distinguiu brilhos de luz na escuridão.
Recordava o lugar. Era um terreno baixo de uns dois metros e meio de profundidade por umas doze de largura. Uma ponte estreita se tendia sobre o ravina. Deteve o Stormy e tirou o rifle da capa.
tratava-se de Lê e Micah, em efeito. Podia vê-los talher detrás de uns matagais, enquanto o granjeiro disparava sua escopeta contra eles do outro lado do terreno baixo. Felizmente, era muito mau atirador.
Jake divisou os cavalos dos moços em um horta de ameixeiras silvestres, fora do alcance de tiro. aproximou-se deles, tranqüilizou-os y.aseguró suas rédeas nos ramos mais baixas das árvores.
Depois de montar de novo no Stormy, colocou o rifle atravessado em seu regaço e tirou o revólver da pistolera. Cavalgando de um lado a outro do bordo do terreno baixo, poderia cobrir aos moços disparando por cima da cabeça do granjeiro enquanto eles corriam em busca de seus cavalos. logo que os moços estivessem fora da linha de tiro, fugiria detrás deles. Duvidava de que o granjeiro pudesse lhes alcançar. Tinha à garota com ele. Jake pôde ouvir suas súplicas quando se aproximou mais.
-Papai, juro-o, não estávamos fazendo nada.
-Chamas nada a te escapulir furtivamente para te encontrar com dois jeans briguentos? -Outra descarga de escopeta troou na noite.
-Você não me permite ter nenhuma diversão.
-supõe-se que não tem que te divertir. Prometi a sua mãe que te criaria com decência.
-Sou decente. Eles só queriam falar comigo.
-Eu sei o que queriam. E me parece que cheguei bem a tempo para impedir-lhe Um desses bodes estava te beijando.
-Só um beijo. Juro-o.
-te cale. Já arrumarei contas contigo mais tarde.
Se não tivesse sido uma situação tão perigosa, teria resultado cômica. Mas tão somente uma leve sombra de sorriso irônico curvou os lábios do Jake antes de dar um alarido que teria gelado o sangue do selvagem mais desumano, de uma vez que esporeava ao Stormy, iniciando um galope que desafiava as leis da gravidade. Suas coxas musculosas apertavam com força o lombo do semental. Percorreu com estrondo o bordo do terreno baixo, disparando alternativamente o revólver e o rifle. Apontava muito por cima das cabeças de Norma e de seu irado pai.
Lê e Micah não perderam nem um segundo. Quando se certificaram de que se tratava do Jake e não de um cavaleiro do inferno, arrastaram-se até seus cavalos. O granjeiro não se acovardava tão facilmente, mas já estavam fora da linha de tiro quando este voltou a disparar, amaldiçoando com virulência.
Jake fez galopar ao Stormy em círculos e logo começou a retroceder em direção oposta. Estava virtualmente à altura do granjeiro quando quase choca de frente com outro cavaleiro.
-Que diabos...!
Não teve tempo de terminar sua exclamação antes de que Banner passasse junto a ele, veloz como um raio. Um cartucho da escopeta do granjeiro passou assobiando muito perto de sua cabeça, obrigando-o a inclinar-se sobre suas arreios e continuar cavalgando para frente. Deteve o Stormy, deu a volta e, sem ter que pensá-lo devido à prática, voltou a carregar seu revólver.
Viu de novo ao Banner trocando de direção para cavalgar para ele. A muito idiota! E por que não se pôs uma camisa? A brancura de sua regata era um objetivo perfeito, enquanto ela acribillaba com balas o ar ao outro lado do terreno baixo. Quando voltaram a cruzar-se, Banner levantou a voz por cima do ruído da escopeta do granjeiro:
-Já estão os moços em seus cavalos?
Jake voltou a cabeça e viu que Lê e Micah acabavam de chegar à horta de ameixeiras.
-Vamos.
Conduziu ao Stormy para o horta, disparando por precaução umas poucas vezes mais para o outro lado do terreno baixo. Banner ia detrás dele.
Quando passaram junto às ameixeiras, Lê e Micah se uniram a eles.
-Obrigado, Jake -gritaram para fazer-se ouvir entre o estrondo dos cascos.
-Sigam cavalgando! -ordenou Jake.
Os cavalos levantavam mais poeirada que um ciclone.
Cavalgaram para a carreira para o acampamento. Em uma ocasião Jake olhou por cima do ombro para comprovar se os perseguiam, mas tudo o que pôde ver detrás deles foi uma espectral nuvem de pó.
Quando chegaram, saltou de suas arreios com um movimento ágil. logo que os pés do Micah alcançaram o chão, o moço recebeu o murro do Jake no queixo. A cabeça do Micah caiu para trás e foi um milagre que se mantivera sobre seus ombros.
-Que demônios criem que estavam fazendo? Jogando a que nos matassem? Né? -Jake estava colérico-. Mantenham as calças abotoadas até que cheguemos ao Fort Worth, entendido? Ali não me importará que percam o tempo com todas as putas do Hell's Half Acre. Mas lhes afaste das garotas decentes.
Micah fez cambalear a cabeça em um gesto de assentimento.
-Sim, senhor -disse Lê, umedecendo-os lábios com uma língua seca e poeirenta, e rogando a Deus que Jake não lançasse outro murro rompehuesos contra ele. Ele respeitava ao Jake tanto como a seu pai e temia seu mau gênio com a mesma intensidade.
-Agora, apaguem a fogueira com água. Esse granjeiro ainda poderia vir detrás de nós. Almohazad aos cavalos e logo podem ir a dormir. Banner, você...
Olhou ao redor, mas só os semblantes circunspetos dos moços lhe devolveram o olhar.
-Onde se terá metido?
Atordoado pelo golpe que tinha recebido, Micah não estava seguro de ter ouvido nunca o nome do Banner.
Os olhos de Lê percorreram o acampamento, ansiosos por agradar e redimir-se, mas não podiam fabricar ao Banner.
-Pensava que vinha detrás de ti.
-Banner! -chamou Jake na escuridão. A garra do medo oprimiu seu coração-. Banner! -Ninguém lhe respondeu, salvo a escuridão implacável e os batimentos do coração de seu próprio coração-. Algum de vós a viu?
Ambos negaram com a cabeça. Lê disse:
-Estava cavalgando detrás de ti quando eu montei. Mas quando me dispus a te alcançar, só olhei para frente.
Jake montou de um salto no lombo do Stormy.
-Permaneçam aqui. -Voltou a internar-se na noite.
Jake nunca se deixou dominar pelo pânico, e por isso lhe tinham chamado frio e desalmado. Os homens que tinham cavalgado com ele o tinham visto enterrar amigos sem que seus olhos azuis expressassem nenhum indício de emoção. Nervos de aço e água geada nas veias; assim é como seus companheiros haveriam descrito ao Jake Langston.
Mas teriam trocado de opinião se o tivessem visto cavalgar de retorno ao ravina essa noite. Seu rosto estava atendido pelo temor.
O que ocorreria se o maldito granjeiro tinha acertado com um disparo? O que aconteceria Banner tinha sido alcançada? Mas não, não podia ser. Ela cavalgava detrás.
Ou não era assim? Não tinham sido quatro os cavalos que retornaram ao acampamento? Deus, com tanto pó e ruído já não se atrevia a jurado. Mas se tinha conseguido voltar sã e salva, onde estava?
Chegou ao ravina e reduziu o passo do Stormy a um trote. Os flancos do animal rugiam; de seu cabelo saltava espuma. Por uma vez Jake não advertiu o sofrimento de seu cavalo enquanto esquadrinhava a paisagem em sombras. O mau humor desapareceu ao dar-se conta de que estava procurando o corpo do Banner, jazendo sem vida, sangrando-se no pó, com aquela branca regata empapada de sangue.
Apagou a imagem de sua mente e se aproximou um pouco mais. Tudo estava tranqüilo no lado oposto. Cavalgou com o passar do ravina e retornou novamente. Fez o mesmo percorrido várias vezes, mas não viu nada, nem ao Banner, nem o cavalo.
Não ficava mais opção que retornar ao acampamento. Talvez Banner se dirigiu para os matagais para fazer suas necessidades e não o tinha ouvido chamada. Provavelmente se tratava disso. Tinha atuado com muita precipitação. Seguro que estavam todos no acampamento rendo-se dele.
Mas quando chegou, o cavalo castrado não estava com outros animais. Os moços se envolto obedientemente em seus sacos de dormir. Lê levantou a cabeça.
-Encontrou-a?
-Não, ainda não. Mas a encontrarei. Tem que estar em algum lugar perto daqui. Dorme um pouco.
"Deus, onde está?"
Jake recordava todas as palavras cruéis que lhe havia dito. arrependia-se das ocasiões em que a tinha ferido deliberadamente. Os remorsos lhe deixavam um horrível sabor de boca. Se lhe tinha acontecido algo ao Banner, jamais o perdoaria, jamais.
E se esse granjeiro lhe tinha disparado e tinha miserável seu corpo até a casa? E se a deixava sangrar-se até morrer? E se... e se... e se... Deus; se seguia assim acabaria por enlouquecer.
Percorreu os arredores do acampamento uma vez mais, atravessando a escuridão com seus olhos em busca de um rastro. Retornava ao acampamento para avisar aos moços, perguntando-se como poderia comunicar ao Ross e Lydia a notícia da morte do Banner, quando ouviu algo que não correspondia aos sons da noite. Era um cantarolo.
Uma rítmica canção desafinada que, incongruente no entorno, procedia do arroio. Jake desembarcou do cavalo e, apartando as trepadeiras e os matagais espinhosos, abriu-se passo para a correnteza.
O cavalo castrado tinha sido pacote a um álamo jovem perto da borda. As calças e as botas do Banner se achavam amontoados sobre uma pedra. A moça se achava no arroio, em meio da corrente, tornando-se com as mãos água sobre os ombros. Cantarolando!
Banner percebeu o som que produziu a espora do Jake contra uma pedra e voltou a cabeça. Levava posta a regata, mas a tinha enrolado um pouco mais abaixo da cintura.
-Deste-me um susto de morte -disse Banner, sem fôlego.
-Eu? te assustar eu a ti? Onde demônios estiveste e que diabos crie que está fazendo?
-Tomando um banho.
-Um banho! -disse Jake, fazendo assobiar as palavras. Arrojou o chapéu ao chão e começou a desabotoá-la cartucheira-. Quando puser as mãos em cima...
Deixou a ameaça em suspense enquanto se agachava para tirá-las botas. Jogou-as pelo ar as fazendo cair na erva alta que crescia ao longo da ribeira do arroio.
Falavam em sussurros sem saber muito bem por que.
-Está zangado comigo? Eu não me fui para me perder na noite como os moços. Castigaste-os?
-Sim. Agora toca a ti receber seu castigo.
-Por que?
-Desobedeceste-me. Disse-te que ficasse no acampamento. Que diabos fazia ali, atuando como se formasse parte de uma carga de cavalaria Y...? De onde tiraste o revólver?
-Me deu de presente isso meu pai quando fiz dezesseis anos. Não podia te obedecer, Jake. Lê e Micah estavam em um apuro. Esperava que permanecesse no acampamento sem fazer nada? Pensei que podia ajudar e o fiz. Conseguiram escapar sãs e salvos.
O homem se desabotoou com impaciência os botões da camisa. Quando deixaram de cooperar com seus dedos impacientes,empezó a arrancá-los.
-por que não voltou para acampamento conosco? Estivemos te buscando por toda parte.
-traguei quase meio quilograma de pó. Tinha calor e estava empapado em suor; necessitava um banho. O que pode te importar a ti?
-Eu te direi o que pode me importar. -Acabou de tirá-la camisa, fez uma nervosa bola com ela e a jogou no chão-. Não me ouviu te chamar?
-Não. Também me lavei o cabelo. Inundei a cabeça várias vezes.
Quando Jake avançou na água Banner, instintivamente, começou a retroceder.
-Bem, enquanto você estiveste aqui inundando a cabeça na água e tomando despreocupadamente um fresco banho -cuspiu a última palavra- eu rastreei o campo como um louco procurando seu corpo.
-Meu corpo?
-Pensei que lhe tinham ferido! Ninguém te viu depois de que nos dirigíssemos para o acampamento, ninguém recordava te haver visto despues de seu desdobramento de destreza no ravina.
-E você pensou que me tinham ferido? Esse granjeiro não poderia acertar nem à parede de seu estábulo.
-Pôde ter tido sorte. Converteu-te em um bom branco. Que loucura se apoderou de ti para que fizesse semelhante tolice? Podia ter conseguido que lhe matassem.
-Vá, parece decepcionado porque não tenha acontecido. E manténte longe e mim, Jake Langston -disse Banner, adiantando uma mão para proteger-se-. O que pretende fazer?
A água detinha sua fuga enquanto Jake vadeava o arroio com passo firme e decidido, como se estivesse em terra firme. Estava disposto a cumprir seu propósito.
O inflexível brilho de seus olhos era muito eloqüente para o Banner.
-Vou te dar o castigo que te merece. E seguro que Ross me apoiaria.
-Oh,no, não o fará.
Banner deu a volta e se dirigiu para a borda oposta. Escorregando no barro brando, foi abrindo-se passo na corrente até sair da água. Tinha alcançado virtualmente a borda coberta de erva quando uma mão de ferro se fechou em seu tornozelo.
Gritou e tentou seguir para frente, mas Jake estava detrás dela, fazendo que seus esforços por escapar fossem inúteis. Finalmente a moça caiu de bruces sobre a erva alta, desfalecida. Jake se arrastou sobre seu corpo, agarrou-a pelos ombros e a fez girar-se.
Suas respirações ofegantes ressonavam ao uníssono. Ele baixou os olhos para o rosto do Banner, quem se enfrentou a sua ira com olhar desafiante.
-Disse-te que ficasse no acampamento por seu próprio bem, Banner. Puderam te haver matado.
Banner o olhou intensamente aos olhos e neles achou não só fúria, mas também também medo. As mãos do homem tremiam levemente enquanto mantinham seus ombros ancorados no chão. Ao dar-se conta da verdade a moça abriu ligeiramente os lábios.
Banner elevou os braços e afundou os dedos no cabelo loiro que rodeava o rosto enxuto e rude do Jake.
-E você estava preocupado, Jake -sussurrou a moça-. Estava preocupado.
Ele piscou e imediatamente, inclinou-se sobre o Banner e esmagou a boca contra sua pele. Uns sons afogados, guturais, quase animais, surgiram do mais profundo da garganta do homem. Jake se unia a todos os machos da criação, impulsionado pela necessidade de reclamar a sua fêmea, de protegê-la, de montá-la, de aparearse.
Banner agarrou punhados de cabelo do Jake e lhe manteve a cabeça firme. A língua do homem se introduziu, nas mais doces profundidades de sua boca. Esfregava seus lábios contra os dela, percorria-os; voltava a saboreá-los. Os dedos do Jake apertaram brandamente a carne de seus ombros.
Banner se agitava debaixo dele, com desassossego. Quando suas coxas se separaram, Jake aninhou entre eles. Banner estava branda e úmida, e ele, muito duro. Mulher e homem, encaixando perfeitamente, excitados pela fome que sentiam um do outro.
Jake apartou o cabelo úmido que caía sobre as bochechas da moça.
-Deus, sim, estava preocupado, estou preocupado. tratei que me controlar, mas não posso.
Sorveu a água do rosto e o pescoço da moça. incorporou-se para contemplá-la. A regata estava recolhimento e maça em torno de seus quadris, deixando nus as pantorrilhas e as coxas. O tecido transparente se aderia a ela, moldando seu corpo.
Seus peitos deixaram de ser um mistério. Eram turgentes, redondos, belos. Os pequenos círculos escuros rodeavam uns mamilos perfeitos, levantados pela paixão.
A mão do Jake atirou da cinta que fechava o decote da regata, desprendeu os cinco botões de pérola e abrasou com seu olhar a pele úmida e nua do Banner.
Jake a acariciou. As pálpebras da moça bateram as asas quando fechou os olhos.
-Jake -sussurrou através dos lábios umedecidos pelos beijos.
A mão do homem estava quente, um delicioso contraste com a pele do Banner, que a água tinha esfriado. A moça abriu os olhos quando o calor cessou por um momento; Jake fazia uma pausa para olhá-la com atenção. Logo cobriu cuidadosamente cada assumo com uma mão, elevou os olhos até os dela, ambos sustentaram esse olhar eloqüente durante uma pequena eternidade.
A seguir Jake começou a esfregar brandamente os mamilos com as gemas de seus dedos médios. Ela gemeu, e ele voltou a olhá-la. Estiveram contemplando-se durante outro comprido momento. Banner acreditou que o coração lhe sairia voando do peito para unir-se ao dele, tal era a precisão com que estavam compassados seus ritmos.
O homem lhe sorriu com a expressão mais tenra que tinha visto nunca em seu rosto; um sorriso doce, quase de desculpa, que apagava esse frio cinismo que formava parte dele.
O homem punha os cinco sentidos no que suas mãos faziam. Cavou uma para acolher um dos peitos da moça e remodelou o suave montículo até conseguir que encaixasse na palma de sua mão, apertando-o ligeiramente e levando-lhe até os lábios. Beijou repetidamente o mamilo até que o apanhou entre os lábios.
Se Banner tivesse estado em condições de tomar fôlego, tivesse ofegado. Jamais tinha imaginado uma carícia tão íntima. Conhecia o prazer que proporcionavam as mãos, mas a boca? Entretanto, estava acontecendo. Podia sentir o calor da do Jake fechando-se ao redor de seu mamilo, apertando, envolvendo-o com a úmida suavidade de sua língua. Logo fustigou o mamilo ligeiramente, para atrasar-se nele com frouxidão.
-Tem os peitos mais doces... mais formosos... mais...
A boca do homem saboreou a da moça, lambendo e beijando a até que ela temeu chegar à loucura. Banner subiu os quadris para as do Jake e fez um berço para o duro músculo que dava forma ao tecido úmido das calças. Molhada e cálida, aberta como uma flor, com o corpo desejando ardentemente que ele enchesse o vazio, ávida por sentir o tato de sua pele, Banner fez descender as mãos pelo peito do homem.
-Sim -rogou Jake entre gemidos-. Me toque, Banner.
Os dedos da moça acariciaram a pele dourada do peito masculino comprovando a firmeza de seus músculos. Percorreu a Lisa e brilhante franja de pêlo entre as costelas, caminho de sua meta, e afundou um dedo no umbigo.
Emitindo um som grave que brotava do mais profundo de sua garganta, voltou a elevar-se sobre o Banner para fundir ambas as bocas. Quando os lábios da moça se fecharam sobre sua intrusa língua, ele grunhiu excitado. Rodou para um lado, e suas mãos se moveram freneticamente para desabotoá-los calças...
Mas quando já o primeiro botão se deslizou da casa, Jake ficou paralisado ao recordar as palavras que tinha pronunciado pouco antes. "Mantenham suas calças abotoadas até que cheguemos ao Fort Worth."
Apartou sua boca da do Banner e, ofegante, perdeu seu olhar na escuridão. "Então não me importará que percam o tempo com todas as putas do Hell's Half Acre."
Baixou a vista para o rosto perplexo do Banner. "Mas lhes afaste das garotas decentes."
Suas próprias palavras retornavam para acossá-lo. Estava cometendo o mesmo pecado contra o qual tinha advertido a Lê e Micah. sentou-se, levou os joelhos para o peito, apoiou nelas os antebraços e repousou ali a cabeça.
Banner jazia totalmente imóvel, com os olhos muito abertos, sem compreender o que ocorria. Seu corpo vibrava de desejo. Não entendia. Desejou tocar as costas nua do Jake, que se via suave e escura a débil luz da lua, mas não o fez. Quando tratou de respirar, o ar saiu vacilante de seus pulmões.
-Jake, fiz algo mal? -Ele gemeu e negou com a cabeça-. Ainda está zangado comigo?
-Não.
-Então, por que não continua me beijando?
-Não posso.
-por que?
-Se te beijar, não poderei me deter.
O silêncio foi tão tenso e espesso que podia cortar-se com uma faca.
-Quer dizer que desejas voltar a fazer o amor comigo?
A mandíbula do Jake se contraiu.
-Sim.
-Então, por que... ?
-Conhece a razão. Está mau. Seus pais confiam em mim, e sou muito velho para uma menina como você. Sou muito... -O fôlego foi em um comprido suspiro de aborrecimento.
Não sou o bastante bom para ti.
Banner se tampou a boca com um punho para conter um soluço, mas as lágrimas alagaram seus olhos.
-Você não me deseja.
Então Jake brocou com seus olhos os do Banner.
-Desejo-te. pudeste me sentir contra ti. Sabe que te desejo, que desejo estar tão profundamente dentro de ti... OH, Deus. -levou-se as mãos ao rosto.
-Então por que? -insistiu Banner, em meio de um pranto silencioso.
Jake tirou o chapéu a cara e se levantou. aparou-se os cabelos para trás com uns dedos que sulcaram a espessa massa.
-Por todas as razões que te hei dito. Está mau. Este é o final desta situação.
mergulhou-se na água e nadou para o lado oposto, quando emergiu, Banner seguia tendida sobre a erva alta,llorando sua tristeza.
Até o uísque sabia azedo. Onde estava o intenso calor que desejava sentir na boca do estômago? Onde estava aquele agradável zumbido na cabeça que sempre experimentava ao final de uma viagem?
Nenhuma dessas sensações tinha chegado com os copos de uísque que tinha bebido. Nem sequer pôde embebedar-se. Não lhe tivesse importado desabar-se no chão, ébrio e lhe babem, mas, a julgar pelo efeito que o álcool tinha sobre ele, parecia ser feito de madeira. Se não tivesse sabido que não era assim, teria jurado que Pris tinha aguado a bebida. Mas todos os jeans sabiam que o Jardim do Éden servia o uísque mais estupendo e potente, e a cerveja mais fria que pudesse encontrar-se.
A multidão estava começando a animar-se. Os homens entravam no palácio do prazer sozinhos, em casais ou em buliçosos grupos, enchendo as salas de jogo e os pequenos salões. Uma nuvem de fumaça envolvia às aranhas alimentadas com gás. O pianista executava vigorosas toadas. As garotas se mostravam afáveis e perambulavam escassamente vestidas entre os homens, para lhes fazer saber que estavam disponíveis. Sorriam, graciosas e divertidas, mas também tentadoras, como lhes tinha ensinado a madama.
Jake tinha que admitir que formavam um grupo atrativo. Algumas eram formosas e doces; outras sofisticadas, como se soubessem tudo o que terá que saber do mundo e não contasse o que não soubessem. Havia putas para todos os gostos.
Bebeu outro gole de uísque, que só lhe provocou um ardor na garganta. Supunha que deveria participar de uma partida de pôquer, mas em realidade não gostava.
Portanto, de momento permaneceria na barra, bebendo e esperando que o uísque fizesse logo seu efeito para deixar de martirizar-se pensando onde queria realmente estar e com quem.
Sugar Dalton se plantou diante dele.
-Olá, Jake.
-Olá, Sugar.
O aspecto da mulher era mais patético que a última vez que a viu a noite anterior à bodas do Banner. Tinha o rosto inchado, e os cosméticos, torpemente aplicados, não conseguiam camuflar as rugas que a dissipação e a desdita tinham formado ao redor de sua boca.
Mas seus olhos, embora desesperançados, eram tão afáveis como sempre. dizia-se que tratava a seus clientes com a solicitude de uma mãe carinhosa. Isso era o que alguns homens necessitavam, e em especial quão jovens saíam pela primeira vez. Jake supunha que essa era a razão pela qual Priscilla conservava ao Sugar como empregada.
-Um gole, Jake?
Jake já tinha o que o garçom acabava de lhe servir, mas aceitou a oferta da mulher, sabendo que as garotas recebiam uma percentagem do preço de cada taça que incitavam a beber aos clientes. Com a competência das mais jovens e bonitas, ao Sugar não devia ir muito bem.
-Aceito se compartilhar um comigo.
Sugar sabia que Jake tratava de ajudá-la, mas desejava muitíssimo um gole para rechaçar a generosidade do homem. Inclinando-se sobre a barra, sussurrou ao garçom:
-me sirva da mesma garrafa que a ele, não da que madama Pris reserva para nós. -Elevou seus olhos sentimentais para o Jake-. Que tal te foi?
-Não posso me queixar.
-O que faz na cidade? Não foi ao leste do Texas? -Bebeu um gole do uísque, mantendo-o na boca durante um momento, saboreando-o antes de tragá-lo.
-Estou comprando ganho aqui para começar a formar um rebanho.
O sorriso da mulher foi sincera.
-Isso está bem, Jake, muito bem. Me alegro por ti.
-Obrigado. Não é para mim; sou só o capataz.
-Mas isso é estupendo. Me alegro de saber que conseguiste um bom trabalho. Quando chegou?
-Esta tarde.
Alojaram-se no hotel Ellis. Se só tivessem estado ele e os dois moços, teriam se instalado em um alojamento mais modesto, mas Jake apurou o presuposto e se acomodaram no Ellis para que Banner estivesse mais cômoda e protegida. Os três homens compartilhavam uma habitação contigüa a da moça no terceiro piso.
-Olhe, Banner, aqui há um balcão -havia dito Jake, correndo as cortinas. A janela oferecia uma vista do Throckmorton Street, uma das mais buliçosas da cidade.
Jake tinha acreditado que o denso tráfico de pedestres e o desfile constante de carruagens e bondes arrastados por cavalos a animaria.
Banner se tinha limitado a assentir com a cabeça. Seu débil sorriso apenas se podia receber tal nome.
-Sim, é bonito, Jake. Obrigado.
Tinham intercambiado poucas palavras desde que levantaram o acampamento muito cedo essa manhã. Dado que Lê e Micah seguiam sopesando a reação do Jake ante sua escapada noturna para adivinhar que efeito poderia ter sobre sua liberdade no Fort Worth, constituíam um grupo abatido quando pela tarde entraram na recepção do hotel.
Traziam tanto pó consigo que não lhe pareceram muito respeitáveis ao empregado que os atendeu no mostrador de registro. O trato do recepcionista melhorou muitíssimo quando Jake mencionou ao senhor Culpepper, o agente de gado. Também ajudou o fato de que Jake lhe tivesse pago pelo alojamento de duas noites em efetivo, dando por sentado que Ross se faria cargo dos gastos da viagem.
Com a cabeça cheia da fumaça e do ruído do Jardim do Éden, Jake se deu conta de que não queria estar ali. Tinha querido convencer-se de que sim, de que estava impaciente por sair das habitações elegantes do hotel e voltar para ambiente que melhor conhecia.
-Deve manter ambas as portas fechadas. Não abra a ninguém exceto a mim e aos moços -tinha advertido ao Banner antes de ir-se. Micah e Lê já se partiram, dizendo que jantariam fora. Jake tinha disposto que servissem o jantar à moça em sua habitação. Nem sequer permitia que comesse sozinha no salão comilão da planta baixa.
-Há-me isso dito mil vezes. Já sei -repôs Banner, sentada ante a janela, olhando para a rua como se estivesse prisioneira em uma cela. Em certo modo, Jake devia admitir que assim era-. O único que gosta de é me dar um banho e ir à cama.
-Muito bem, então -disse ele, repentinamente reticente a partir, adeus.
-Adeus.
A voz do Banner lhe pareceu tão abatida e triste que quase se sentiu impulsionado a ficar com ela. Apesar de que a moça apenas lhe falava depois do acontecido
a noite anterior, ele preferia sua companhia a toda essa multidão estridente. Era melhor contemplar seu rosto, inclusive seu rosto irado, que o de qualquer das putas borradas que desfilavam junto a ele com um convite em seus olhos lascivos.
Sugar tinha terminado sua bebida. Jake lhe dedicou um sorriso.
-vieram dois moços comigo.
-Onde estão? -perguntou a mulher.
em que pese a seu ânimo melancólico, Jake riu.
-Fora, armando-se de valor, suponho. Têm trabalho amanhã, por isso lhes hei dito que limitem sua diversão aos pavilhões de tiro. Trarei-os amanhã de noite e lhe apresentarei isso.
A mulher pôs uma mão sobre o braço do Jake.
-Obrigado. Agradecerei-lhe isso. -Seu olhar se tornou mais cálida e apertou o braço do homem-. Não estou fazendo nada em particular neste momento. -Era uma oferta descaradamente aberta.
Os lábios do Jake se curvaram para baixo e sacudiu a cabeça com modéstia.
-Não quero que esbanje seu valioso tempo com um velho cavaleiro vagabundo como eu. Busca um cliente rico.
Jake tinha recusado o convite do Sugar com elegância, e ela aceitou o rechaço do mesmo modo.
-Algum dia um desses clientes ricos poderia apaixonar-se locamente de mim.
-Não sentiria saudades.
-E me tiraria daqui. longe dela -acrescentou entre dentes. Assinalou com a cabeça para o cortinado que separava as salas de jogo da cantina. Priscilla estava
parada com uma mão sobre o quadril e um leque escarlate adornado com plumas na outra.
Quando a madama começou a avançar para eles, Sugar se dispôs a afastar-se da barra.
-Adeus, Jake. E obrigado.
-Espera um minuto -disse Priscilla quando Sugar passou a seu lado. Dirigiu à velha prostituta um olhar prolongado, silenciosa e carregada de recriminação; depois a esbofeteou. O estalo do bofetão fez que cessassem outros ruídos do salão.
Jake se ergueu imediatamente com a intenção de defender ao Sugar, mas Priscilla lhe lançou um olhar tão cortante como uma adaga que o dissuadiu de interferir.
Sabia que só conseguiria fazer as coisas mais difíceis para o Sugar depois de que ele partisse.
Sugar se cobriu a bochecha com uma mão defensiva.
-Por que? -atreveu-se a perguntar.
Em realidade, o motivo tinha sido a tenra expressão que Priscilla tinha visto no rosto do Jake quando olhava ao Sugar e o suave beijo que tinha depositado sobre sua boca. Entretanto disse:
-Há um buraco no joelho de sua meia. Sobe a seu quarto e fique ali pelo resto da noite.
-Mas necessito o dinheiro -queixou-se Sugar.
-Já me ouviste -disse Priscilla fríamente.
Evitando os olhares dos curiosos, Sugar escapou para a planta superior. Priscilla arqueou uma sobrancelha olhando ao pianista, quem imediatamente começou a tocar de novo. Logo, uns olhos tão frios e duros como a folha de uma navalha voltaram a posar-se no Jake enquanto Priscilla se aproximava dele.
-Já se cansaram que ti os Coleman?
-É uma autêntica rameira.
-Tem razão. Forma parte de meu trabalho.
-Parece-me que é a parte que mais você gosta.
-Você sabe muito bem que não é assim, Jake -disse ela, sedutora-. Você já sabe qual é a parte que mais eu gosto.
-por que esbofeteaste ao Sugar?
-Tenho que manter a disciplina entre as garotas.
-Por uma carreira na média? O que te tem feito a pobre e velha Sugar?
-A pobre e velha Sugar me há flanco muitos dólares cada vez que estava muito bêbada para agradar ao vaqueiro mais brincalhão.
-Isso é tudo o que te importa, não é certo? O dinheiro.
-E as frangas enormes.
Jake sacudiu a cabeça, enojado.
-Como pinjente, é uma rameira.
-vais responder a minha pergunta ou não?
Era um terreno conhecido e Jake começou a sentir-se melhor. Uma briga com a Priscilla era uma das coisas com que mais desfrutava, porque ela era merecedora de
cada insulto que pudesse lhe lançar.
-vim para comprar ganho para os Coleman.
-Então as coisas funcionam?
-Sim. -Jake terminou seu uísque, mas não pediu outro.
-Celebrando?
Jake se encolheu de ombros.
-Não pode escolher a uma melhor que Sugar?
Priscilla deu um passo aproximando-se mais, procurando que o homem pudesse ver seus peitos expostos em todo seu esplendor. O vestido de cetim vermelho lhe apertava
a cintura e lhe levantava os seios até fazê-los transbordar o sutiã de encaixe negro.
Jake se precaveu de tudo. Cada detalhe tinha sido planejado para seduzir e satisfazer os desejos de todos os homens presentes no lugar; todos, exceto ele.
-Em minha opinião, uma puta é quase quão mesmo outra -disse, arrastando as palavras.
Ante a ofensa, Priscilla entreabriu os olhos. Jake se surpreendeu de que não lhe arranhasse a cara com essas unhas perversamente largas. O controle da mulher foi admirável. Em lugar de perder os estribos, caramelou-se.
-por que, Jake, passa-te algo, carinho? -Sua mão descendeu para a braguilha do homem. lhe apertando, perguntou-: Não vai com nenhuma de minhas garotas?
Com calma, Jake apartou a mão.
-Nanay, esta noite não.
Então se decidiu. por que estava esbanjando seu tempo aí? Deveria estar cuidando do Banner. Não era normal nela mostrar-se áspera e taciturna. Tal estado de ânimo lhe resultava estranho e lhe assustava. Preferia que a moça brigara acaloradamente com ele a ver em seu rosto, sempre animado, essa expressão vazia, apagada e desesperançada. por que a tinha deixado sozinha? Não era prudente que estivesse sozinha em uma habitação de hotel. Em nenhuma cidade, mas menos ainda nessa.
-É melhor que retorne ao Ellis para comprovar como está Banner.
Não se deu conta de que tinha expresso seus pensamentos em voz alta até que Priscilla perguntou:
-Banner?
-A filha dos Coleman. Já te falei dela. veio comigo para comprar ganho. -Estava distraído, procurando dinheiro no bolso para pagar ao garçom.
-Acompanha-a seu marido? -perguntou Priscilla para confirmar o que Dub lhe havia dito.
-Marido? OH, não. Não houve bodas. Se... anulou. -Deixou as moedas sobre a barra-. Adeus, Pris.
Com uma mescla de frustração e fúria, Priscilla o observou afastar-se. Jake não era o de sempre. Quando lhe disseram que se achava na cantina, vestiu-se depressa.
Tinha-lhe surpreso não encontrá-lo nas mesas de pôquer ou em uma das camas da planta superior, como era habitual nele, a não ser bebendo sozinho, ou quase sozinho, pois Sugar estava a seu lado.
Aquilo não era normal. E Priscilla sempre tentava sintonizar com as pessoas que atuavam de um modo inusitado. Nunca se sabia quando um grão de informação ia converter se em uma pérola de munição para a chantagem.
A garota dos Coleman estava com o Jake? Viajando com ele? Era muito interessante. A mulher se prometeu chegar a conhecer o Banner Coleman. Desejava ver que aspecto tinha a filha da Lydia e saber por que preocupava ao Jake.
Observou como Jake me chocava com um homem que cruzava o corredor. Ao parecer, o forasteiro tinha ganho com facilidade nas mesas de pôquer, pois caminhava com a cabeça baixa, contando seu dinheiro. Por essa razão não viu o Jake até que tropeçaram.
A hostilidade que buliu entre eles foi foto instantânea e nada tinha que ver com o choque. Ao ver o Jake o outro homem retrocedeu como se tivesse visto um fantasma.
Automaticamente, Jake levou a mão para a pistolera, embora não desencapou o revólver. olharam-se com tanta dureza que inclusive do outro extremo da habitação, Priscilla pôde sentir o antagonismo existente entre os dois homens. Reconheceu aquela expressão, dura e reservada, no rosto do Jake. Seus olhos eram tão frios e implacáveis como lagos gelados.
O outro homem foi o primeiro em apartar-se, dando vários passos para trás, fazendo evidente o temor que lhe inspirava Jake. Sem que tivessem intercambiado nenhuma só palavra, o forasteiro se dirigiu depressa para a barra. Priscilla observou como os olhos do Jake o seguiam antes de dá-la volta e sair disparado.
Priscilla sentiu que todos os nervos de seu corpo se relaxavam e só então se precaveu de quão tensa tinha estado. Tinha acreditado que Jake ia matar a aquele tipo ali mesmo. Outro assassinato, o único que faltava aos fanáticos religiosos para que se lançassem sobre ela.
Se abanicó com indolência, obrigando-se a diminuir aquela tensão passageira. depois de tudo, a noite prometia ser divertida. Não cabia dúvida de que Jake estava interessado no forasteiro; e tudo o que interessava ao Jake, interessava- também a ela.
Consciente de seu aspecto fascinante, avançou para o forasteiro, que agora estava bebendo um gole e pedindo outro.
-Olá. -Seu tom era tão atrevido como seu olhar.
O homem voltou a cabeça e a examinou. Com os olhos muito abertos, percorreu o corpo da Priscilla de abaixo acima e logo voltou a elevá-los, atrasando-se em seus peitos.
-Vá, olá!
-Não te tinha visto antes aqui.
-Nunca tinha vindo. N ou sabia o que me perdia.
-Vejo que ganhaste muito. Seus bolsos estão avultados.- O leque descendeu à altura dos bolsos das calças.
-Suponho que preciso gastar parte deste dinheiro com alguma mulher formosa. Como você -sussurrou ele.
Ela sorriu bobamente e fechou de repente o leque.
-Meu nome é Priscilla.
Os olhos do homem pareceram a ponto de sair-se das órbitas.
-É Priscilla?
-ouviste falar de mim?
-Não há um só homem no estado, com tudo quão grande é, que não tenha ouvido falar de ti.
-Decepcionado? Não sou digna de minha reputação? -Seus olhos se deslizaram para os lábios do homem.
O forasteiro se girou para contemplada de frente, fazendo que seu cotovelo roçasse seu generoso peito.
-Deveria comprovado, não crie?
-Cem dólares. -Priscilla lhe tirou da lapela um penugem imaginário.
O homem assobiou.
-É muito dinheiro.
Lhe aconteceu um dedo pelo lábio inferior.
-Valho-o.
Priscilla estava quebrantando sua própria regra; nunca levava a sua cama a um forasteiro. Um homem tinha que ser cliente durante muchp tempo antes de que ela se ocupasse dele pessoalmente. Então já conhecia sua situação matrimonial, os nomes de seus filhos e serventes, onde vivia, a que se dedicava, a que igreja assistia, o que gostava de comer e beber e a medida em que o fazia, que marca de charuto preferia, que fazia em seu tempo livre, o que gostava de fazer na cama, onde guardava seu dinheiro e quanto tinha.
Mas aquele homem era uma exceção. Jake se tinha comportado ante ele de uma maneira estranha. Tinha algo em contra do forasteiro e ela se encarregaria de averiguar o que.
-De acordo?
O homem se levou a mão ao bolso e tirou os bilhetes necessários. Priscilla fechou seus dedos em torno do dinheiro e sorriu de modo incitador.-por aqui.
Quando a porta que conduzia a seus aposentos privados se fechou atrás deles, rodeou o pescoço do desconhecido com seus braços e o beijou, arqueando seu corpo contra o seu. quanto antes terminasse com ele, antes poderia retornar a fiscalizar as atividades do Jardim do Éden.
-Maldita seja, senhora, a este passo morrerei antes de chegar a me tirar as calças.
-Não vamos permitir que isso ocorra, verdade?
Com mãos peritas começou a despi-lo. Suspirou quando o encontrou duro e disposto.
-Como te chama, ganhador?
-Sheldon -respondeu o forasteiro, ofegando-. Grady Sheldon.
-Quem há aí?
-Sou eu.
A silhueta do Jake encheu o espaço da porta que unia ambas as habitações. a do Banner se achava às escuras, enquanto que a que Jake compartilhava com Lê e Micah estava tenuemente iluminada, mas o suficiente para que o homem pudesse vê-la sentada, apertando o bordo da colcha contra seu peito. Os cabelos da moça estavam despenteados e suas revoltas mechas onduladas atraíam a luz. Seus olhos olhavam assustados, pois Jake a tinha despertado de um profundo sonho.
Banner na cama, tenra e despenteada.
Por primeira vez essa noite Jake sentiu o aguilhão da excitação sexual. Como podia essa garota -sim, uma garota de tão somente dezoito anos- vestida com uma inocente camisola que teria aprovado uma monja, lhe excitar daquele modo quando nem a tentadora Priscilla nem todas suas putas, enfastiadas, dispostas e quase nuas, tinham chegado a lhe perturbar?
-O que está fazendo? -A voz do Banner foi um sussurro rouco e sonolento que atravessou a escuridão para lhe acariciar.
-Simplesmente entrei para comprovar se estava bem.
Banner se recostou contra o travesseiro e subiu o embuço até seu queixo.
-retornaram Lê e Micah?
Jake negou com a cabeça e riu bobamente.
-Não. Não acredito que demorem muito.
-O que... onde foi? -Formular a pergunta lhe custou renunciar a seu orgulho. Fez-a sem olhá-lo com os olhos perdidos no teto.
-A nenhuma parte.
-A algum lugar terá ido.
-A nenhum que precise saber, Banner.
-A vê-la a ela?
-A quem?
-A Priscilla Watkins.
-Possivelmente.
-acabaste com ela o que iniciou comigo ontem de noite?
-É uma pergunta insolente!
-Bem, fez-o?
-Não é teu assunto.
Banner se sentou na cama, e a colcha se deslizou até sua cintura.
-É meu assunto -disse Banner, golpeando o colchão com os punhos- se me encerrar em uma habitação para poder ir ver a. Os moços saem e se vão de farra, igual a você, e eu tenho que ficar na habitação.
-Os moços sabem cuidar de si mesmos.
-Eu também sei cuidar de mim mesma.
Jake suspirou. As coisas não foram como ele desejava. alegrou-se ao vê-la acordada. Tivesse querido falar com ela, perceber em sua voz um indício de perdão por todo o acontecido a noite anterior. Possivelmente então tivesse podido abraçá-la, lhe acariciar o cabelo, lhe beijar a bochecha, lhe dizer, enfim, que estava arrependido de havê-la ferido de novo. Talvez tivesse podido lhe explicar que lhe interessava muito para tratá-la como trataria a uma mulher a que pagava. E possivelmente, só possivelmente, lhe teria entendido.
Mas já estavam discutindo.
-Banner, tem o suficiente sentido comum para saber que não pode andar de um lado para outro por todo Fort Worth sem que lhe acompanhem.
-Você podia me haver acompanhado. Em troca, meteu-me nesta habitação, fechou a porta com chave e te partiu para visitar sua puta. foste ver a, não é certo? Responde.
-Sim! Vi a Priscilla. Está satisfeita agora?
Banner permaneceu durante vários segundos olhando-o fixamente em um silêncio ferido. Logo se tendeu na cama, cobriu-se com o lençol e lhe deu as costas.
-Mierda! -disse Jake entre dentes, fechando de um golpe a porta que os separava.
As paredes da habitação do hotel pareciam vir-se o em cima enquanto caminhava acima e abaixo, inquieto. Pensou que devia voltar para a habitação do Banner e desculpar-se por havê-la encerrado. ofereceria-se a acompanhá-la a visitar a cidade ao dia seguinte depois de ter fechado o negócio com o Culpepper.
Mas não podia confiar em si mesmo se voltava aonde ela estava. A moça acreditava que tinha aplacado seu desejo com a Priscilla e ignorava que nesse momento o desejo que sentia por ela seguia sendo muito intenso.
Jake se deixou cair na cama para tirá-las botas. Deveria comunicar ao Banner que Sheldon se achava na cidade? Não lhe teria resultado difícil ter matado ao tipo essa noite. Odiava-o tremendamente porque supunha uma ameaça para os Coleman. Isso era razão suficiente para que Jake o odiasse, mas o fato de que ameaçasse ao Banner em particular, voltava assassina a atitude do Jake para ele.
Sheldon não dava a impressão de estar pesaroso pelas mortes de sua esposa, do bebê que não tinha chegado a nascer e de seu sogro. Tampouco se mostrava como um homem que esperava com ansiedade a aceitação de sua proposta matrimonial. Tinha atuado crédulo e seguro de si mesmo, como se a resposta que queria fosse inevitável.
Semelhante arrogância irritava ao Jake.
E que demônios fazia no Fort Worth?
Jogou uma olhada para a porta que separava as habitações. Estava Sheldon informado de sua viagem? Banner não teria passado inadvertida no Larsen enquanto se preparava para seguidos a cavalo. Pôde Sheldon ter ido atrás dela para encontrar-lhe precisamente ali, acreditando que seria mais provável que aceitasse sua proposta ao não estar sob o amparo de sua família?
Bem, estivesse ou não furiosa com ele, Jake não pensava separar-se da moça ao dia seguinte. Não permitiria que Sheldon lhe aproximasse.
Jake se olhou as mãos e lhe surpreendeu as encontrar apertadas em punhos. Tinha estado imaginando que as tinha ao redor do pescoço do Sheldon. É o que faria com qualquer homem que tocasse ao Banner. Não podia suportar a idéia de que as mãos de alguém chegassem a roçá-la. Salvo as suas. Amaldiçoando, desabou-se de costas na cama, tratando de apagar de sua mente as imagens do Banner e ele juntos. Banner, com o cabelo e a pele úmidos e cheirando a sabão; Banner, com a boca reagindo ofegante debaixo a sua; Banner, com suas coxas, entrelaçados com os seus; Banner, e seus peitos .desfazendo-se ao contato de sua língua como o açúcar.
As imagens continuaram atormentando-o até que sua própria mão deu alívio a seus instintos.
As lágrimas abrasadoras continuavam deslizando-se por suas bochechas como incessantes correntes. Graças ao céu não tinha chorado diante dele. Sabia Jake que ela se ficou chorando quando a deixou sozinha na borda do arroio a passada noite? Quando ia deixar de humilhar-se a si mesmo daquele modo? Quando aprenderia a lição?
OH! Mas a noite anterior ele tinha estado a ponto de amá-la, e ela sabia que o tinha desejado. A paixão com que a tinha beijado não podia ser simulada, e o modo carinhoso em que a boca do Jake tinha percorrido seus seios não era produto de sua imaginação, porque nunca pôde ter imaginado carícia tão doce.
Então por que se deteve?
Jake se justificou dizendo que era muito velho, que não era o suficientemente bom, que isto, que o outro. Banner sabia que não eram mais que desculpas inaceitáveis.
A verdadeira razão era que ela não era Lydia. Ele poderia chegar a desejá-la, mas seguia amando a sua mãe, e não estava disposto a conformar-se com a de segunda categoria.
Escutou os sons que Jake produzia enquanto se preparava para deitar-se. Ouviu o chapinho da água quando se lavou, o ruído surdo de suas botas golpeando o chão e o rangido das molas da cama quando receberam o peso de seu corpo.
teria se despido? Como dormia Jake quando estava sozinho? Não em camisa de dormir. Não era dessa classe de homem. Com roupa interior? E no verão? Sem nada?
Estremeceu-se ao imaginar o jazendo nu a poucos metros de distância e se dobrou sobre seu estômago com a esperança vã de apagar as pequenas chamas que acendiam seu corpo.
por que se atormentava dessa maneira? É que carecia de orgulho? O corpo do Jake já não ardia, verdade? O fogo do desejo que tinha iniciado com o Banner o tinha apagado com outra mulher.
Priscilla Watkins. Sem conhecê-la, detestava-a.
Permaneceu acordada durante muito tempo, peguntándose se Jake dormia. Estaria revivendo os momentos de paixão que tinham compartilhado a noite anterior, ou se recreava nas horas passadas com a Priscilla?
Ao momento chegaram os moços, em meio de risadas tolas, tropeçando e cambaleando-se devido à bebedeira. Com um sussurro o bastante forte para penetrar as paredes, Jake lhes disse que se calassem e se metessem na cama antes de que o gerente do hotel os expulsasse a todos. Banner os ouviu deitar-se.
E seguiu acordada, interrogando-se sobre o que podia lhe fazer uma mulher como Priscilla Watkins a um homem como Jake que não pudesse fazer ela.
-Ah... ah... ah! -Grady Sheldon alcançou o orgasmo enquanto que Priscilla o simulou.
O jovem era um amante péssimo, que tomava tudo sem dar nada. Não é que ela fosse fácil de agradar, porque não o era, mas não lhe tinha excitado no mais mínimo a maneira veloz e suarenta de fazer o amor do Sheldon.
Percorreu lánguidamente as costas do homem, acima e abaixo, com suas largas unhas.
-Humm -suspirou Priscilla-, estiveste muito bem.
Sem que ele se desse conta de como o tinha feito, a mulher se separou dele, girando-se para um lado. Exausto, Grady apoiou a cabeça no ombro da Priscilla.
-Esteve bem?
Priscilla dirigiu o olhar para o teto. Os que perguntavam nunca eram bons.
-Muito -mentiu, lhe soprando com suavidade na orelha. A mão do homem encontrou seu peito e apertou muito forte. Ela o permitiu. Grady tinha obtido o que queria dela, mas Priscilla se achava muito longe de sentir-se satisfeita. Ainda não tinha terminado com ele e até que o fizesse, seguiria acariciando seu orgulho e tudo o que terei que acariciar.
-Virá para ver-me freqüentemente? Vive nos arredores?
-Não. No Larsen.
As mãos da mulher se detiveram só um segundo, embora Grady nem sequer o advertiu.
-Larsen? Na parte oriental do Texas?
-Sim. -O homem lhe mordiscou o pescoço-. Tenho uma serraria ali. O maior que há em dez condados à redonda. Enviam as madeiras rio abaixo pelo Sabine, justo até a porta traseira de meu negócio.
Priscilla apoiou uma mão na coxa do Grady. Talvez o tinha infravalorizado em um princípio. Nos círculos financeiros era sabido que o setor industrial que mais
se desenvolveria nos anos vindouros era o madeireiro.
-Cuidado com essas dentadas, carinho. -Quão último queria eram marcas de dentes. Era outra regra que impunha aos amantes que tomava: "Façam o que quiserem, mas não deixem nenhum rastro que possa apreciar o próximo homem."
-Lamento-o -murmurou Grady-. Excito-me falando de meus negócios. Agora que dispomos da ferrovia, é mais fácil enviar a madeira a todo o país.
-Já vejo -disse Priscilla meditabunda-. Não se preocupa ter deixado seu negócio?
-Há uma dúzia de empregados para que o administrem por mim.
Sim, a do Sheldon poderia ser uma amizade que valia a pena cultivar. Não era tão estúpida para acreditar que o Jardim do Éden podia continuar indefinidamente.
Cedo ou tarde, os grupos da igreja, sempre alerta, terminariam por enclausurá-lo. E embora não o fizessem, não queria passar o resto de seus dias como madama. Queria anos de tranqüilidade para desfrutar das lucros que tinha economizado. Os investimentos eram o melhor modo de fazer dinheiro nesses dias.
-Como chegou a conhecer o Jake Langston? -Pergunta-a fez que Grady elevasse a cabeça bruscamente e cravasse seu olhar no rosto cândido da Priscilla-. Equivoco-me?
Conhece-o, verdade?
-Não o conheço. Sei quem é -particularizou Sheldon, com amargura.
A mulher embalou a cabeça do jovem e voltou a lhe guiar a boca para seu peito.
-Não lhe teria perguntado isso se tivesse sabido que ia contrariar te. Por favor, não interrompa o que estava haciendo.Es tão agradável.
Grady lhe beijou o seio com fúria, desforrando-se com ela de sua frustração.
-A primeira vez que o vi foi o dia de minhas bodas.
-Era um dos convidados?
-Por parte de minha esposa. Ou a que ao menos se supunha seria minha esposa.
Não podia ser! Com razão seu nome lhe tinha resultado conhecido. Dub foi quem o mencionou pela primeira vez. Era possível que tivesse na cama ao antigo prometido da garota dos Coleman? Poucas vezes a sorte era tão propícia. A Priscilla custava conter a alegria. Antes de passar às conclusões, tinha que assegurar-se.
Depois de uma risada vibrante, Priscilla disse:
-Grady, o que diz não tem nenhum sentido.
Ele sorriu obliquamente.
-Suponho que não. Bem, verá; tive um contratempo o dia de minhas bodas. cancelou-se ali mesmo na igreja.
Priscilla se incorporou ligeiramente, com os olhos abertos pelo assombro.
-Não! me conte o que aconteceu.
O homem repetiu a história que ela tinha ouvido por parte do Dub.
-Esse bêbado bode disse que fui eu quem lhe tinha feito o menino a sua filha. -Grady terminou seu relato acaloradamente.
Priscilla lhe dedicou um sorriso pormenorizado.
-Eu tive a ti, Grady. Não me surpreenderia.
Ele riu agradado.
-Bom, admito que sou o bastante potente para havê-lo feito.
-Você deveria ter vindo a mim antes. Nós não permitimos que aconteçam esses pequenos acidentes, como o de ter bebês.
Beijou ao Sheldon, utilizando sua língua como nenhuma outra mulher que ele tinha conhecido, nem tão sequer Wanda.
-E onde encaixa Jake em tudo isto? -perguntou Priscilla, quando ao final se apartou. O coração lhe pulsava de excitação, não pelo beijo, é obvio, mas sim pelo que estava a ponto de ouvir.
-Ele se aliou à causa dos Coleman, a família de minha prometida. Banner, esse é seu nome, foi furiosa sem me deixar explicar nada.
-OH, pobrecito. -Priscilla se recostou contra o montículo de almofadas e o atraiu piedosamente para ela. Os olhos lhe dançavam, mas tomou cuidado de que ele não o notasse.
-Não pude me desfazer da Wanda e seu papai.
-E logo?
-Morreram em um incêndio faz poucas semanas.
-Que triste.
Grady levantou a cabeça e lhe piscou os olhos um olho.
-Não para mim.
Em silencio Grady comunicou o que não se atrevia a manifestar em voz alta. Os olhos da Priscilla se entrecerraron expressando uma nova valoração do Grady Sheldon.
Ao igual a ela, não permitia que nada nem ninguém lhe impedisse de conseguir o que queria.
-Os incêndios são algo espantoso, verdade? -Priscilla lhe arranhava as orelhas.
-Certamente.
Riram. Grady pôs a cabeça entre os peitos da mulher e começou a beijá-los ardentemente. Mas Priscilla ainda não tinha completado o quadro.
-O que tem que ver contigo Jake agora?
-É o capataz do rancho do Banner, do que lhe deu de presente seu papaíto. supunha-se que também ia ser meu. Possui hectares de terra boscosa que vão desperdiçar - se.
-E você quer esses bosques -disse Priscilla com intuição.
-Eu gosto, Priscilla. Pensamos do mesmo modo. -Grady.sonrió solapadamente-. depois da prematura morte de minha esposa, ajoelhei-me ante o Banner em um par de ocasiões, rogando seu perdão e suplicando que se case comigo apesar do ocorrido.
-E ela o que diz?
-Não muito. -Os lábios do Grady se afinaram com amargura-. Não consigo me aproximar dela. Jake Langston não a perde de vista.
Priscilla penteou o cabelo do homem com seus dedos e disse:
-Então, já saberá que ela está aqui, no Fort Worth, com ele.
-O que? -Grady se incorporou de repente-. Banner está aqui? Como sabe?
A mulher repetiu o que Jake lhe havia dito.
-Bem, comportarei-me como um filho de puta. O delegado do Larsen está voltando-se muito curioso da origem do incêndio que matou aos Burns. Pensei que seria prudente me ausentar da cidade durante um tempo, mas detestava não poder escutar uma resposta definitiva do Banner. -Jogou a cabeça para trás e riu-. Com o Jake tão ocupado comprando ganho, é possível que se me passo pelo hotel tenha a oportunidade de vê-la.
Olhou a Priscilla, quem tinha seguido as maquinações de sua mente com crescente admiração. Adorava aos homens que se aproveitavam dos acontecimentos, tal e como fazia ela.
Que bomba tinha! O prometido desprezado do Banner Coleman. Só uma coisa lhe preocupava: a atitude protetora do Jake em relação à garota. Isso não gostava absolutamente.
O que significaria? Segundo Grady, Jake virtualmente vivia com ela nesse rancho, e essa noite se partiu a toda pressa para comprovar como estava a moça, rechaçando as mesas de pôquer, a bebida,a as garotas, e inclusive a ela mesma, para voltar com a tal Banner.
Bem, a pequena Coleman não o conseguiria! Ela se encarregaria de que o assunto, fora qual fosse, terminasse mau, embora tivesse que ser quão último fazia. Tinha chegado o momento de que Jake recebesse seu castigo por havê-la rechaçado durante todos esses anos. Utilizaria ao Banner para obtê-lo.
-Como conheceu esse tipo, ao Langston? -perguntou Grady, repentinamente suspicaz. Talvez tinha falado do incêndio com muita ligeireza.
Mas o lento e afável sorriso da mulher o tranqüilizou. Priscilla atraiu a cabeça do homem para lhe dar um beijo prolongado e lascivo.
-Faz muitos anos que o conheço. Desde que fomos meninos. Não é mais que um cavaleiro vagabundo que pagamento seus goles a crédito.
Grady pareceu satisfeito com a resposta. Além disso, estava muito aturdido para pensar sensatamente. Ela havia tornado a lhe introduzir a cabeça entre os peitos, e ele se achava submerso na fragrância almiscarada de seu perfume. A boca do homem se deslizava úmida de um mamilo ao outro, sugando com força. A ela não parecia lhe importar nada do que ele fazia.
Enquanto o pulso lhe pulsava com grande violência, Grady se arrodillóy ficou escarranchado à altura dos ombros da mulher. Seus olhos estavam febris quando caíram sobre o rosto da Priscilla, quem, lhe arranhando o peito com suas unhas afiadas, fez-lhe sangrar em dois pontos. O tórax do homem estava cheio.
-Custará-te um dinheiro extra -disse ela com suavidade. Sempre informava claramente a seus clientes do que teriam que pagar.
-Quanto? -perguntou Grady, com voz apagada.
A mulher converteu sua mão em uma capa sedosa e a deslizou da ponta de seu pênis até a base.
-Outros cinqüenta dólares.
-Sim, bom Deus, sim, o que seja.
Com um sorriso fascinante, Priscilla elevou a cabeça para o regaço do homem. A informação que lhe tinha proporcionado não tinha preço. merecia-se um obséquio.
À manhã seguinte Jake e Banner tomaram o café da manhã cedo. A entrevista com o senhor Culpepper tinha sido consertada para as dez em ponto.
-Vós dois têm um péssimo aspecto -disse Jake a Lê e Micah quando ambos avançaram com passo vacilante para unir-se ao casal na mesa que ocupavam no salão comilão do hotel. Seus rostos se viam lúgubres e descoloridos, e umas venillas vermelhas sulcavam o branco de seus olhos.
-Sinto-me muito mal. Banner, por favor, me sirva um pouco de café. As mãos me tremem tanto que logo que pude me barbear.
Com uma expressão de desdém que punha de manifesto sua desaprovação, Banner serve caminhos taças de café negro e forte aos moços. Micah ainda não tinha aberto a boca.
-Se não poderem agüentá-lo, seria melhor que não bebessem -aconselhou Jake, com sensatez.
O capataz dedicou um sorriso cúmplice ao Banner e piscou os olhos um olho. A moça só lhe devolveu um olhar de frio desprezo, que censurava a seus três acompanhantes masculinos por igual. Ele se tinha passado toda a noite pensando nela, e a atitude altiva da moça lhe causava dor. De repente, descarregou seu mau humor com os moços.
-lhes dê pressa e lhes beba o café. Não quero que o senhor Culpepper pense que está tratando com bêbados.
Decidiram ir caminhando até o despacho do agente de gado, no centro da cidade. Fort Worth bulia de atividade. Banner, apesar de sua premeditada decisão de estar zangada todo o dia, ficou fascinada pela agitação da cidade. As cristaleiras das lojas transbordavam de mercadoria tentadora. As ruas estavam repletas de carros carregados com produtos de granja e meninos boquiabertos, tílburis elegantes conduzidos por damas sofisticadas, jeans a cavalo, bondes cheios de gente atarefada e com pressa.
Era uma cidade que irradiava uma energia contagiosa. Quando chegaram ao edifício onde se encontrava o despacho do senhor Culpepper, os olhos do Banner resplandeciam.
Até o estado de ânimo entre os homens parecia ter melhorado.
Jake apanhou o olhar do Banner enquanto sustentava a porta para que ela entrasse. Quando passou a seu lado, disse:
-Está muito atrativa esta manhã, Banner.
Ela voltou a cabeça. Havia-o dito com ironia? Não. Os olhos azuis seguiam fixos nos seus.
-Obrigado, Jake.
Banner levava o mesmo conjunto que tinha usado dois dias atrás e Jake tinha cuidadoso com um sorriso de suficiência. Tinha-o dobrado e guardado com mímico dentro da alforja, sabendo que teria que ficar o dia da entrevista com o Culpepper. Essa manhã tinha alisado as rugas o melhor que pôde e voltado a dar forma ao chapéu que lhe cobria o cabelo, recolhido no cocuruto. Em suas orelhas destacavam uns pendentes de pérolas. Sabia que apesar de ter o aspecto de uma mulher de negócios, seguia resultando feminina. E Jake o tinha advertido!
-Também você está muito bem -disse Banner enquanto subiam as escadas.
Jake ia vestido com o mesmo traje que tinha levado o dia das bodas.
-Obrigado -resmungou, com acanhamento.
Um empregado os acompanhou até o escritório do señorCulpepper no segundo piso do edifício. Obviamente, o agente se surpreendeu quando Banner entrou com outros, mas o dissimulou lhe oferecendo uma cadeira.
O seu era o despacho de um homem ocupado. O mobiliário estava um pouco poeirento, e sobre o escritório se achavam pulverizados periódicos, documentos e faturas de venda, todo o qual parecia muito complicado e muito formal. As prateleiras atrás do escritório se encontravam lotados de livros e de registros contáveis e de gado.
Lê e Micah se sentaram no sofá de couro, agradecendo ficar fora do alcance da luz do sol que se derramava através das altas janelas. Preferiam que Jake dirigisse os transações comerciais.
Ao princípio o senhor Culpepper falava só com o Jake, mas depois de que Banner formulasse várias perguntas incisivas e inteligentes e de inteirar-se de que em realidade ela era a proprietária do rancho para o que estavam comprando o gado, deixou de considerá-la simplesmente como uma linda senhorita a que não devia incomodar com aborrecidos detalhes mercantis.
Ao cabo de meia hora tinham chegado a um acordo sobre o preço do modesto rebanho.
-Vinte e nove vacas Hereford e um touro. -Culpepper refletiu um momento. Tenho um touro Brahman que demonstrou ser de uma... vá... natureza fogosamente romântica -disse, por deferência ao Banner-. É um animal caro, pero poderia rebaixar o preço. Estaria interessado?
Jake negou com a cabeça.
-desembrulham-se melhor no sul do Texas. Ficarei com os Hereford para começar.
-Muito bem. Estamos preparados para estender a fatura de venda? -perguntou o senhor Culpepper.
-Tudo parece correto -disse Jake-. Mas primeiro quero inspecionar as cabeças de gado. Sobre tudo as pezuñas.
O sorriso do Jake era afável, mas seus olhos indicavam que falava a sério.
O agente de gado se sentiu desconcertado. Tinha acreditado que Jake Langston era um tipo simpático,pero tão somente um vaqueiro. Agora apreciava nele rasgos de um escrupuloso homem de negócios, ao que Culpepper não podia menos que admirar.
-É obvio, é obvio. Vamos aos currais? Parece-lhes bem que o façamos agora mesmo? Podemos ir em meu tílburi.
Jake ficou em pé.
-Estupendo.
O agente chamou a seu empregado e lhe pediu que deixasse o veículo na entrada principal do edifício. Baixaram as escadas todos juntos. Jake se voltou para Lê e Micah.
-Levem ao Banner ao hotel. Não é necessário que venham todos.
-Eu sim vou -disse Banner.
antes de que Jake tivesse tempo de responder, Lê disse:
-Banner, não pode entrar ali.
-Acaso não se permite que as mulheres entrem nos currais?
-Não é um lugar para mujeres,eso é tudo -disse Micah diplomáticamente. Abunda toda classe de gentinha por ali.
-Eu não vá ver essa gentinha, a não ser a examinar o gado que acabo de comprar. -Olhou ao Jake, desafiando-o com os olhos a que lhe proibisse acompanhá-lo.
-Vão vós -disse Jake aos moços-. Veremo-nos mais tarde.
Agarrando o braço do Banner, conduziu-a para a calçada de madeira onde Culpepper se achava parado junto ao tílburi. O agente observou que Lê e Micah se afastavam sem o Banner e se voltou para o Jake.
- A senhorita virá conosco? -perguntou dúbio.
-Sim, a senhorita virá conosco -disse Jake com expressão sombria enquanto a ajudava a subir ao tílburi. Esperava não ter que matar a alguém que tentasse ultrapassar-se com ela antes de que terminasse o dia.
Uma vez realizada a inspeção, a operação de compra se fechou sem contratempos. Banner estava encantada com o gado de cara branca. O cabelo avermelhado e crespo dos animais resplandecia à luz do sol. apaixonou-se por cada vaca, embora se manteve se separada do touro.
-São animais de criação, Banner -disse Jake, sonriéndole enquanto ela dava tapinhas a uma vaca entre os olhos-, animais domésticos.
-Sei. Mas são minhas e vou pôr lhe um nome a cada uma.
Jake riu com indulgência. No bolso levava cuidadosamente pregada a fatura de venda. Ross se mostraria agradado com a aquisição.
Como esperava que a greve dos trabalhadores da ferrovia terminasse a meia-noite, Jake já tinha dado instruções para que o rebanho se carregasse nos vagões de gado no primeiro trem com destino ao Larsen.
Sentindo-se tão alegre como Banner, agarrou-a pela cintura e a levantou no ar.
-Bem, Banner, temos nosso rebanho.
-E é só o começo, Jake, só o começo.
-Sem dúvida.
-tive que conter a respiração -disse Banner, excitada-. Não sabia se o senhor Culpepper aceitaria sua oferta final ou não. Esteve maravilhoso, sentado ali tão sereno e sério. Estive a ponto de te dar um chute na tíbia para te felicitar por ter efetuado um contrato de compraventa tão difícil.
Banner falava entre chiados e risadas enquanto ele a fazia dar voltas, alheio aos olhares curiosos que lhes dirigiam.
-Sou um autêntico comerciante, não sabia?
Quando voltou a deixá-la no chão, não a soltou, mas sim deixou que suas mãos rodeassem sua estreita cintura. Tampouco as mãos do Banner se soltaram dos ombros do Jake. Ele baixou o olhar por volta do rosto da moça iluminado pela luz do dia. Suas pestanas pareciam iridescentes quando olhava de soslaio enfrentada ao fulgor deslumbrante do sol. Podia enumerar cada uma das sardas pulverizadas ao azar sobre seu nariz e seus maçãs do rosto.
A atmosfera calorosa, poeirenta e fedida dos currais lhe parecia o paraíso e não acreditava ter estado melhor nunca em sua vida. Contemplando o rosto espectador do Banner não se sentia velho, cansado e cínico, a não ser jovem, vigoroso e cheio de ambição. Estava em paz consigo mesmo; quase podia acreditar que possivelmente era digno de algo, depois de tudo. Diabos, nesse momento estava convencido de que podia obter que essas primeiras trinta cabeças de gado vacino, com apenas que lhe ajudasse um pouco a sorte, multiplicariam-se e converteriam no melhor rebanho de todo o estado.
Pela primeira vez em muito tempo o sorriso do Jake lhe nascia da alma. Apagava aquela barreira que a cautela tinha posto em seus olhos e suavizava as linhas de amargura que rodeavam sua boca.
-O que gosta de fazer?
-Fazer? -repetiu Banner.
Enquanto a boca do Jake se mostrava sorridente e feliz, a moça se deu conta de que gostaria de saboreá-la, conhecer essa estranha alegria que se percebia dentro dele. Mas seu orgulho não lhe permitia lhe pedir que a beijasse.
-Hoje é nosso dia -disse Jake quando Banner parecia não saber o que dizer-. Pede o que queira e te será concedido. O que você gostaria de ver e fazer? Começaremos por um passeio em bonde.
Ao Banner em realidade não lhe importava o que fizessem. Monopolizava toda a atenção do Jake e isso era suficiente.
Passearam pelo Fort Worth, admirando a extensão da cidade. Almoçaram rosbife em um restaurante elegante e brindaram por seu novo rebanho com uma garrafa de vinho.
Algo achispado, sem cessar de rir, Jake se negou a deixá-la beber um terceiro copo de vinho. Logo foram às compras. Banner o arrastou de loja em loja, mas Jake se mostrava complacente, embora a contra gosto. A moça comprou um lenço bordado para a Lydia, um avental para o Mami e uma pipa para o Ross.
-Ross fuma em cachimbo? -perguntou Jake.
-Fará-o.
Banner jogou a cabeça para trás e sorriu. Se nesse momento lhe tivesse pedido que se comesse a pipa, o teria feito. sentia-se fascinado por aqueles olhos inquietos e camaleónicos, que pareciam trocar a cor com cada estado de ânimo. Seus sorridentes lábios vermelhos eram capazes de demonstrar tremenda paixão; quando recordava seus beijos, o coração do Jake se desbocava. Um homem podia contemplar esse rosto entusiasmado durante cem anos sem chegar a cansar-se. A discreta tosecilla do vendedor o devolveu à realidade. Pagou as compras e retornaram ao hotel para refrescar-se e tomar um jantar ligeiro.
Jake tinha mimado em levar a ao teatro para assistir à função noturna da aventura de minha irmã.
-Lê e Micah não virão? -perguntou Banner enquanto se abriam passo em direção a suas poltronas no anfiteatro.
Tinha ouvido uma conversação furtiva que se desenvolvia ao outro lado da porta que comunicava as habitações antes de sair do hotel, mas não pôde entender o que diziam.
-Têm outras coisas que fazer -respondeu Jake com um tom evasivo.
-Não preferiria você estar fazendo essas "outras coisas" em lugarde velar por mim?
Jake a agarrou do braço e a conduziu pelo corredor para o número de fila impresso em suas entradas.
-Não. -Quando Banner elevou os olhos com expressão de dúvida, ele repetiu com suavidade-. Não.
sorriram-se e logo que tiveram tempo de localizar seus assentos antes de que começasse a obra.
Banner não fez mais comentários, embora esperava que Jake tivesse sido sincero. Aquele estava sendo um dos dias mais felizes de sua vida.
Quando voltaram para hotel, Jake abriu a porta fechada com chave que conduzia à habitação da moça e entrou atrás dela.
-Será melhor que jogue uma olhada -disse Jake. Banner acendeu o abajur e se tirou o chapéu, as luvas e a jaqueta enquanto Jake abria a porta do armário e olhava detrás das cortinas e debaixo da cama. Sacudindo o pó das mãos, ficou em pé-. Tudo está bem.
-Bom.
-Bem...
-Obrigado pelo dia de hoje, Jake. Passei-o maravilhosamente.
-Me alegro. Merecia-te um dia de diversão.
Banner estava preciosa no meio do lago dourado da luz do abajur. Jake sentiu desejos de tocar a parte dianteira de sua blusa, só para comprovar se o encaixe era tão suave como parecia; e acariciar também seu cabelo, e suas bochechas, e sua boca...
Banner retorcia em suas mãos o programa do teatro, esquecendo sua intenção de levá-lo a casa para acostumar-lhe a Lydia e Mami antes de guardá-lo em sua caixa de lembranças.
-Não te ficaste comigo só por essa razão, verdade?
-Que razão?
-Porque considerava que me merecia isso, que me devia isso -Banner baixou os olhos-, para me compensar por alguma outra coisa.
Jake golpeou o chapéu contra seu joelho.
-Nunca te poderei compensar de noite que estive contigo no estábulo, Banner. Está-me custando muito viver com esse peso. -Deu uns passos aproximando-se dela e baixou a vista até seu cocuruto-. passei todo o dia contigo porque era o que gostava de fazer.
Era a verdade. Embora, de fato, também a tinha afastado do hotel para que Sheldon não tivesse oportunidade de vê-la. Mas baixo esse nobre gesto Jake sabia que realmente tinha desfrutado com sua companhia e que o tinha passado muito bem. Inclusive ter que agüentar sentado toda a representação daquela obra tola não foi tão desagradável obrigado a que Banner estava muito perto dele na escuridão, com o cotovelo descansando junto ao seu sobre o braço da poltrona, e a que seu joelho às vezes roçava a dela.
Agora, quando Banner levantou a cabeça, as lágrimas resplandeciam em seus olhos.
-Obrigado por dizê-lo, Jake. -Elevando-se sobre as pontas dos pés, beijou-o ligeiramente na bochecha.
Jake lutava consigo mesmo. Se a abraçava e a beijava, já não poderia deter-se. A habitação era muito íntima e a cama estava muito perto. Mas sabia que embora Banner poderia estar disposta a fazer o amor com ele nesses momentos, voltaria a odiar-se pela manhã.
Portanto, só lhe agarrou a mão e a beijou com suavidade. Continuando, porque no fundo Jake era mais pecador que santo, deu-lhe a volta à mão e plantou no centro da palma, com profundo sentimento, um beijo ardente e sincero. antes de que pudesse trocar de opinião, deixou-a, fechando com firmeza a porta detrás dele.
Banner contemplou como partia envolta em confusas emoções. Estava decepcionada por não ter sido abraçada e beijada com paixão. Mas essa noite não tinha ido reunir - se com a Priscilla ou com qualquer outra mulher, mas sim tinha preferido estar com ela. Todo o dia a tinha tratado com maneiras obsequiosos, mas isso não lhe impediu de perceber o desejo do homem cozendo-se em seu interior igual a ocorria a ela.
A moça contava com dois elementos a seu favor: o tempo e a proximidade. Tinham em comum o rancho. Passando tanto tempo juntos, ele acabaria por apaixonar-se por ela. Estava disposta a fazer o possível por que assim fora. Requereria muito esforço, mas Banner pensava que Jake já estava mais perto. Satisfeita com os progressos do dia, ficou dormida imediatamente.
Horas mais tarde, uns passos na habitação contigüa despertaram. deu-se a volta na cama e sorriu na escuridão. Lê e Micah retornavam depois de uma noite de orgia.
Ouviu uma conversação rápida, sussurrada; logo o ruído de uma porta ao abrir-se seguido por um suave golpe seco quando se fechou. Alguém acabava de sair.
Sem pensá-lo, apartou os lençóis e se precipitou para a porta de sua habitação. Abriu-a e sem fazer ruído apareceu a cabeça. Jake caminhava depressa pelo corredor atapetado grampeando-a cartucheira. Ao chegar ao patamar girou e desapareceu de sua vista.
O desespero envolveu ao Banner com seu manto pesado e paralizador. Abatida, voltou para a cama.
Jake tinha esperado a que retornassem os moços e aguardado até que acreditou que já estaria dormida para escapulir-se em busca de sua puta. Tudo o que havia dito e feito esse dia era uma mentira, uma farsa ideada com o único fim de aplacá-la. Tinha advertido que ela estava irritada depois da noite passada e só estava tentando agradá-la em tudo.
Odiava-o! Golpeou o travesseiro com os punhos desejando que fora o rosto do homem.
-Odeio-o! -murmurou.
Mas seu coração sabia que o amava. Por essa razão lhe doía tanto que ele a decepcionasse.
-Sinto muito, senhor, está fechado.
-Não para mim. -Jake separou de um empurrão ao vigilante que custodiava a porta do Jardim do Éden.
-Senhorita Priscilla.
-Darei-te uma patada no culo se não me deixa entrar.
O vigilante tinha sido contratado mais por seus músculos que por seu cérebro. Sua corpulência quase dobrava a do Jake, mas não era tão ágil. Além disso, tinha ouvido falar do mau gênio do homem e de sua rapidez com o revólver. Mas o que mais o fazia vacilar nesse instante era saber que os olhos da Priscilla Watkins se iluminavam sempre que o vaqueiro aparecia na cantina.
-Está sozinha? -perguntou Jake.
-Sim. Acredito que está tomando um banho -disse o vigilante com voz monótona-. Faz uns minutos vi a donzela conduzindo água quente.
-Não lhe incomodará que entre.
Jake pronunciou as últimas palavras por cima do ombro, caminho já dos aposentos privados da Priscilla. Assim que abriu a porta ouviu o lânguido chapinho do agua. Anduvo nas pontas dos pés para que as esporas não alertassem a Priscilla de sua presença até que estivesse preparado para que ela o visse.
deteve-se um momento ante a porta que conduzia ao dormitório. Priscilla se achava na banheira que tinha sido transladada do rincão em que se guardava atrás do biombo. Uma mão preguiçosa espremia a esponja sobre seus peitos. A cabeça, com o cabelo recolhido no cocuruto, descansava sobre um lado da banheira. Tinha os olhos fechados.
Jake apoiou um ombro contra a ombreira da porta e a observou em silencio durante vários minutos. Finalmente, algo alertou à mulher de que não estava sozinha.
Quando abriu os olhos e viu a imagem do Jake no espelho, incorporou-se bruscamente, chapinhando em excesso. Olhou ao redor e lançou um pequeno grito.
-Olá, Pris. -Jake falou com suavidade, de uma maneira íntima, deixando que seus olhos vagassem pelos peitos da mulher.
-Jake -sussurrou.
A altura do homem destacava na soleira da porta. Seu corpo magro de pernas largas parecia ameaçador, embora sua postura fosse relaxada. Sob a asa do chapéu, que não tinha tido a delicadeza de tirar-se, algo que Priscilla não teria tolerado em outro, seus olhos eram resolvidos e escrutinadores.
Por um instante Priscilla sentiu um insólito brilho de pudor. O modo em que aqueles olhos de safira pareciam brocar seu corpo a fez desejar ocultar-se de seu olhar penetrante. Ao fim se recuperou e, depois de amaldiçoar-se por atuar como uma colegiala em sua primeira entrevista, disse:
-Que diabos está fazendo aqui?
Apartando do marco da porta com um movimento indiferente, Jake avançou com lentidão para ela.
-Não te alegra de lombriga?
A mulher seguiu seu avanço com cautela. Queria acreditar que tinha vindo decidido a fazer o que ela sempre ansiava que fizesse, mas não podia confiar muito nisso.
-Sempre me alegra ver um velho amigo.
Jake sorriu com arrogância.
-É certo, somos amigos, não é verdade, Pris? Velhos amigos?
O coração da mulher deu um tombo quando Jake ficou escarranchado sobre a banheira e a examinou como um conquistador. As calças negras se ajustavam aos músculos de suas pernas como uma segunda pele. Como se tinha posto a camisa apressadamente, a maioria dos botões não estavam grampeados, revelando um espesso tapete de pêlo loiro sobre sua pele acobreada. Não levava nem lenço ao pescoço, nem gravata-borboleta, nem colete. Ao Jake lhe tinha ocorrido ir ver a de maneira repentina e urgente.
Bem, era o momento oportuno!
O modo em que a olhava era excitante, ardente e apaixonado, como se pudesse castigá-la um pouco antes de lhe dar agradar.
-Eu gostaria de pensar que somos amigos -disse Priscilla com voz suave.
Por uma vez seu olhar de pálpebras pesadas e o sussurro de sua voz não foram fingidos. Desejava acariciar as coxas do homem, ascender suas mãos por eles, mas não se atreveu, porque, embora os olhos do Jake resplandeciam com uma luz sensual, seu porte a intimidava.
O vaqueiro se inclinou e colocou uma mão na água, procurando provas a esponja que Priscilla tinha deixado cair ao ver sua imagem no espelho. Encontrou-a perto da coxa da mulher, extraiu-a da água e a espremeu sobre seus peitos.
-Está tão rosada e redonda como um bebê, Pris.
O corpo da mulher começava a despertar. Jake fazia gotejar a esponja sobre seus mamilos endurecidos pelo desejo, embora ela não queria que ele soubesse quão ansiosa estava. Dedicou-lhe um sorriso malicioso.
-ouvi dizer que ultimamente você gosta mais jovens. Desde dezoito anos possivelmente, como a garota dos Coleman?
"Bien-pensou Jake-, vai facilitar me as coisas."
Quando retornaram do Jardim do Éden, interrogou aos moços a respeito de suas correrias, chegando a descobrir mais do que esperava.
-Foi sensacional -havia dito Lê, desabando-se sobre a cama dobro que compartilhava com o Micah. Estava satisfeito-. Sugar esteve sensacional -suspirou-. É mas
bem feia e um pouco velha, mas te asseguro que me deixou desfeito.
-E depois dela estivemos com... -Micah fez estalar os dedos, procurando um nome em seu cérebro ainda aniquilado pelo sexo-, como se chamava, Lê?
-Betsy -respondeu o outro, como em um sonho-. Esteve tão doce... Acredito que a amo.
Jake, censurando os pensamentos desencaminhados da juventude, alargou o braço para apagar a luz.
-É melhor que apague de sua cara esse sorriso panaca antes de que a veja Lydia, ou nunca mais te deixará ir a nenhum lado comigo. E isso também vale para ti, hermanito.
Micah estava tirando-as botas quando, sem pensar, disse:
-Nunca poderia imaginar a quem vimos ali. Ao Sheldon. Grady Sheldon.
A mão do Jake se deteve em seu caminho para o abajur.
-Sim? Viu-lhes ele?
-Não. ia encontrar se com a muito mesmo madama.
-Como sabe?
-Quando o assinalei ao Betsy, ela disse que era de nossa cidade. Estava impressionada porque Sheldon tinha passado a maior parte do dia com a Priscilla, quem não está acostumado a dedicar tanto tempo a um homem.
Jake apagou a luz, mas estava completamente insone. Priscilla e Grady Sheldon; uma combinação perigosa. Preocupava-lhe o que esses dois pudessem tramar juntos,
Saiu da cama e se vestiu, quando saiu da habitação os moços já estavam roncando.
Enquanto estudava o rosto sarcástico da Priscilla, soube que todas suas suspeitas estavam confirmadas. Tinha acertado ao visitá-la e se alegrava de que ela tivesse mencionado ao primeiro Banner.
-chama-se Banner-disse Jake.
-OH, sim, Banner. Hoje lhe viram por toda a cidade com ela.
-Seguro que era eu? Quem lhe disse isso? Meu amigo Sheldon?
O súbito pânico substituiu à surpresa nos olhos da mulher. Não queria que Jake soubesse que tinha atendido ao Grady.
-Você e Grady são amigos? -perguntou Priscilla-. Não é isso o que ele me disse. -Esta vez a mulher cedeu à tentação e posou suas mãos sobre as coxas do homem.
Eram tão duros como pareciam.
-O que te disse ele?
-Que Barnner estava considerando a possibilidade de casar-se com ele. -Tinha arrojado a flecha para ver se dava no blanco.Y o fez, pois os olhos do Jake se tornaram frios e duros. Os músculos que as mãos da mulher cobriam se esticaram antes de voltar a relaxar-se.
-Falou-te de sua esposa?
-Sim.
-De como morreu?
-O incêndio?
Tinha-o suposto. Sheldon era a classe de sujeito que se gaba ante uma puta.
-Muito preparado, não é certo? - desembaraçar-se dela e de seu filho.
As mãos da Priscilla subiram lentamente pela coxa do Jake, até chegar a uma distância da que podia alcançar o que tinha desejado voltar a possuir depois de quase vinte anos.
-O mesmo pensei eu, e então admirei seu engenho. Grady é ambicioso. E ama ao Banner Coleman. Não dúvida de que a conseguirá.
Ficava confirmado que Sheldon tinha provocado o incêndio. Era um assassino. E queria ao Banner.
-Não se eu posso impedi-lo -grunhiu Jake.
Priscilla se pôs-se a rir e saiu da água. Suas mãos se deslizaram sobre a entrepierna do homem, subiram pelo estômago e seguiram para o peito. Apertou seu corpo contra o dele.
-assim, é certo. Grady me disse que vigia à garota como uma águia. Não está levando um pouco longe sua lealdade aos Coleman?
Com movimentos sensuais, pega a ele, esfregou seu púbis contra a entrepierna escarranchado sobre a banheira. Uma mão se curvou ao redor do pescoço enquanto a outra se deslizava dentro da camisa.
-Ou é mais que isso? Não me dirá que o depravado Jake Langston se apaixonou por uma menina.
Jake se negou a aceitar a provocação.
-amei ao Banner desde que nasceu.
A risada da Priscilla fez tremer seus majestosos peitos.
-Tal como amaste a sua mãe, a esposa de seu melhor amigo?
Antes de que a mulher tivesse tempo de piscar Jake lhe atendeu as bonecas com suas mãos.
-Não permitirei que fale de nenhuma delas com sua boca de puta asquerosa.
Ela se limitou a sorrir.
-OH, OH, não seja tão suscetível. Seguro que não está apaixonado pela filha do mesmo modo que o esteve da mãe?
-Te cale.
-Não é má sorte a tua, Jake, amar sem possuir alguma vez, aplacando sua paixão com putas porque alguma vez poderá ter à mulher que amas? É uma vergonha abominável, não crie?
-Hei dito que te cale!
-Ama ao Banner Coleman?
-Não como você supõe.
-Seguro?
-Sim.
-Demonstra-o. -O fôlego da mulher, quente e espesso, banhou seus lábios-. Tome.
Os braços do Jake a rodearam e a elevaram tirando a da banheira. Sua boca, nesse momento, dura e cruel, equilibrou-se sobre a da mulher enquanto a levava para a cama. Priscilla, excitada por sua vitória, retorcia-se sobre o homem, lhe deixando nas roupas os rastros de seu corpo úmido. Entrelaçou as pernas com as dele e lhe buscou a língua com a sua.
As mãos do Jake procuraram a cintura da Priscilla e se fecharam em torno dela como pinzas. Logo a jogou sobre a cama e se esfregou a boca para limpar o beijo.
-Nunca, Priscilla, nunca. Cada vez que lhe Miro recordo aquela primeira tarde em que perdemos o tempo. Uma tarde em que eu deveria ter estado com meu irmão.
Está morto por minha culpa. Jamais perdoarei a nenhum de nós por isso, e jamais esquecerei que não é mais que uma puta. Arrependo-me de muitas coisas, e nunca voltarei a me sujar contigo.
Priscilla ficou ali tendida, sem fôlego, apoiada em seus cotovelos, com as coxas separadas e o peito oprimido. Contemplava sua marcha com os olhos dilatados pelo ódio. Era a última vez que a desprezava. Embora muriese no intento, faria mal ao Jake Langston. Tanto dano que nunca conseguiria recuperar-se.
A melhor forma de fazer o era através do Banner Coleman.
Banner dormiu até tarde. Quando despertou, bateu na porta que unia as habitações, e ao não obter resposta, abriu-a. Estava vazia.
Bem, não ia permanecer cativa na habitação do hotel indefinidamente. Se Jake podia defraudada, não lhe preocupava que se zangasse quando se inteirasse de que tinha saído.
Vestiu-se depressa e tomou um copioso café da manhã no salão comilão do hotel. Era uma esplêndida e ensolarada manhã de sábado. O tráfico lotava as ruas. Banner saiu do hotel e se afastou caminhando pela calçada de madeira. Olhou para um lado e outro da rua, tratando de decidir aonde ir primeiro. Possivelmente se esperava o seguinte bonde.
-Banner Coleman?
Para ouvir seu nome, Banner se girou. Imediatamente adivinhou quem era a mulher. Possivelmente foram seus olhos os que a delataram; eram duros e rancorosos.
Banner pensou que a vida guardava poucas surpresas para aqueles frios olhos cinzas. Não havia rugas traiçoeiras em seu rosto, a não ser um indefinível selo de experiência que a fazia parecer velha e gasta.
Suas roupas surpreenderam ao Banner. Tinha esperado ver frusleríasy braceletes de prostituta, brilhantes e excesso de tudo. Em troca, a mulher vestia um discreto traje azul de bom corte. O único ostentoso em seu traje era a pluma negra do chapéu, que se curvava sobre uma sobrancelha. Levava luvas de pelica e uma bolsa diminuta pendurada de sua cintura por um galão de seda. Completava o conjunto uma sombrinha a jogo, que mantinha fechada quando avançou das sombras debaixo da calçada coberta.
-Eu sou...
-Sei quem é você, senhorita Watkins -lhe adiantou Banner.
Priscilla arqueou uma sobrancelha, mas não disse nada. Banner Coleman era uma surpresa desagradável. Era mais formosa e exótica que Lydia. A cor de sua pele parecia mais intenso. Tinha herdado a femineidad de sua mãe, e o aspecto atrativo e elegante do Ross. O rosto era enérgico e não lhe fugia o olhar; não resultaria fácil intimidá-la. Tinha esperado que a garota dos Coleman se encolhesse ante ela, espantada. Em lugar disso, mostrava tantas guelra como Lydia.
Priscilla vendia carne fresca. Poderia ter ganho uma fortuna com o Banner Coleman. A idéia a enfureceu. Banner era jovem, as flores rosadasde suas bochechas eram autênticas, tinha um nome respeitado e a gente não a desprezava nas ruas. Juventude, beleza natural, respeito. Tinha tudo o que Priscilla detestava, mas no fundo invejava.
-Então, ouviu falar de mim.
-Sim. -Banner não deu detalhes: Tampouco se mostrou ofendida porque uma puta notória se dirigisse a ela em plena rua. Odiava à mulher por ser a companheira de cama do Jake, mas também lhe consumia a curiosidade.
-Foi Jake?
-Foi alguém.
-Sim, Jake. -Priscilla fechou os olhos por um momento e respirou fundo. Quando voltou a abri-los, entusiasmou-lhe a expressão agitada do rosto do Banner. De modo que a menina estava apaixonada por ele. Aquilo ia ser maravilhosamente divertido!-. Jake e eu fomos... amigos... durante muito tempo.
-Sim, sei.
-Era um moço quando o conheci. -Baixou as pálpebras-. Mas não por muito tempo -acrescentou brandamente-. Converteu-se em um homem excitante, não lhe parece?
-Jake sempre foi excitante para mim.
-É obvio -disse Priscilla, quase com simpatia-. Você não o conheceu quando era um moço. Como estão seus pais? Sabia também que os conheci faz muitos anos?
-Sim, na caravana de carromatos. Eles me contaram isso.
-Eles o contaram?
Banner se ruborizou.
-ouvi mencionar seu nome.
Priscilla se estava divertindo.
-Certamente! -inclinou a cabeça-. Você se parece com ambos.Es uma garota muito atrativa.
-Obrigado.
-Também o é seu irmão; atrativo, quero dizer.
Se desejava impressionar ao Banner lhe informando que Lê tinha estado no Jardim do Éden, não o obteve.
-Sei que foi a seu prostíbulo ontem de noite, senhorita Watkins. Obrigado por seu completo. Eu também o considero atrativo.
Priscilla não estava desfrutando tanto como tinha esperado. Aquela moça tinha mais iniciativa do que tinha suposto, e enfrentar-se a ela começava a ser um desafio maior do previsto.
Banner não advertiu a chegada e partida do bonde, nem se precaveu dos olhares furtivos que lhes dirigiam os pedestres que se formavam redemoinhos em torno delas.
Seus olhos enfrentavam os da mulher que era sua inimizade. Priscilla Watkins supunha uma ameaça que ainda não se revelou, mas que estava latente. Banner a sentia em cada fibra de seu corpo.
Priscilla era como uma maçã lustrosa, tentadora, fascinante e magnífica em sua perfeição externa, mas Banner percebia a podridão interior.
-Claro que é só seu meio-irmão, verdade? -disse Priscilla, reatando a conversação.
-Sim. Sua mãe morreu no parto. Isso ocorreu antes de que meus pais se conhecessem. Mas você já sabe tudo isto, senhorita Watkins, você estava ali.
-Sim. É certo. -Seus olhos examinaram ao Banner de cima abaixo. Quanta fortaleza tinha a garota? Estava a ponto de averiguá-lo-. Eu estava ali quando Jake e seu irmão Luke encontraram a sua mãe no bosque sabe?, estava moribunda.
-Isso é o que me disse Jake.
-Era de esperar, suponho, depois da experiência muito duro pela que tinha passado. -Com gesto despreocupado, acomodou-se a pluma sobre a sobrancelha.
-Que experiência muito duro?
Os olhos da Priscilla se lançaram sobre os do Banner como um falcão que avista a um coelho ferido.
-Dar a luz à intempérie. -Logo fingiu confusão e levou uma mão enluvada até seu peito-. OH, sinto muito. Talvez não deveria ter falado tanto. Mas você sabia o do primeiro menino de sua mãe, verdade?
- Menino? -murmurou Banner, antes de que o sangue fugisse de sua cabeça.
-Menino? -Banner repetia a palavra. Tinha que tratar-se de um engano. Ela era a única filha de sua mãe.
Ou não o era?
O pérfido pensamento invadiu a mente do Banner enquanto permanecia ali parada, tratando de conter a sensação de vertigem. Finalmente Priscilla Watkins tinha conseguido afetá-la.
Menino! Era esse o segredo que Lydia e Ross tinham oculto a ela e a Lê? Era essa a chave do passado de sua família que Banner ansiava conhecer? De repente, não quis sabê-lo, preferia deixar que os segredos do passado permanecessem intactos. Se aquela mulher era quem comunicava a notícia, não podia tratar-se de nada agradável, e Banner pensou que era melhor ignorar.
Mas como um pássaro hipnotizado ante uma serpente, ficou olhando fixamente a Priscilla. Seus olhos se centraram nos lábios pintados da mulher, como se estivesse convencida de que seus ouvidos a tinham enganado.
-Ninguém soube nunca quem era Lydia, nem de onde vinha, e muito menos quem era o pai da criatura.
-Está mentindo. Não houve nenhum menino -disse Banner com voz áspera. Minha mãe nunca teve outro menino.
-Claro que o teve, querida. Morreu ali, no bosque, em algum lugar do Tennessee. Mami e Zeke Langston o enterraram. Por volta do meio-dia se difundiu por toda a caravana a notícia de que os moços dos Langston tinham encontrado no bosque a uma garota e a seu filho morto.
-Não lhe acredito.
Priscilla riu guturalmente.
-OH, sim, deve me acreditar. Você é uma garota inteligente. Sempre suspeitou que havia algo oculto na vida de seus pais, não é assim?
-Não!
-Sua mãe alguma vez lhe explicou que a levaram a carromato do Ross Coleman para amamentar ao pequeno Lê?
Os lábios do Banner se converteram em uma fina linha que expressava sua obstinação. Sacudiu a cabeça com fúria.
-Não é verdade.
-lhe pergunte a ela -sussurrou Priscilla com a mesma inflexão de voz provocadora e sarcástica da serpente oferecendo a maçã a Eva.
-Mami Langston só a levou para que lhe ajudasse com Lê.
-Ela o amamentou. Minha mãe estava no carromato dos Coleman quando Mami levou a Lydia. Dizia que seus peitos gotejavam leite.
-Não.
-E você sabe que se tinha leite, era porque tinha tido um bebê. Além disso, eu mesma a vi dando de mamar a Lê um montão de vezes.
-Está você mentindo!
-Não será sua mãe quem mente? lhe pergunte a ela. Escute o que diz sobre esse outro menino. Pergunto-me quem seria o pai. Ah! Interrogue também ao Ross a respeito de seu passado. Eu nunca acreditei...
-Priscilla!
Jake rugiu seu nome da porta do hotel. Tinha entrado em vestíbulo pela porta que dava à rua Três e ao chegar a suas habitações e descobrir que Banner não estava ali, saiu como um raio para o Throckmorton Street, só para deter-se bruscamente ao vê-la conversando com a Priscilla Watkins.
Isso em si mesmo já resultava bastante extraordinário. Mas a palidez das bochechas do Banner e a fina linha branca como um risco de giz ao redor de sua boca lhe encolheram o coração de temor.
Maldita fora a puta! Maldito o dia que a conheceu. Se tinha ferido ao Banner, se lhe havia dito algo que não devia saber,la mataria.
-Que diabos está fazendo aqui? -perguntou com tom imperativo enquanto se aproximava para elas com passos largos. interpôs-se entre as duas mulheres, atuando como um escudo para o Banner.
-Mantendo um bate-papo agradável. Perguntava à senhorita Coleman como estão seus pais.
Os olhos do Jake se endureceram, ameaçadores. Não acreditou a açucarada explicação da Priscilla. Em primeiro lugar, a aquela puta importava um cominho a vida de ninguém. Seu encontro com o Banner na rua não tinha sido fortuito; certamente tinha contratado a alguém para que assinalasse ao Banner. Não era normal que Priscilla se expusera à loucura de uma manhã de sábado no distrito comercial do Fort Worth. Não, aquele encontro tinha sido minuciosamente calculado e não pressagiava nada bom para o Banner.
-Banner, vá à habitação.
Jake mantinha seu olhar aniquiladora cravada na Priscilla. Quando falou com o Banner, fez-o com suavidade, mas com ênfase. A moça ainda estava sob o influxo das palavras que lhe havia dito Priscilla.
-Banner, vê dentro -repetiu Jake ao passar vários segundos sem que ela realizasse um só movimento.
Como uma sonâmbula, a moça se dirigiu para o hotel. Só quando esteve seguro de que Banner não podia ouvi-los, Jake voltou a olhar a Priscilla com olhos assassinos.
-O que lhe há dito?
-por que? Nada, Jake. Eu...
-O que lhe há dito? -insistiu, levantando a voz.
-por que não o pergunta a ela? -disse Priscilla, erguendo-se altiva.
-vou fazer o. E roga a Deus que não descubra que lhe tem feito mal.
Priscilla sorriu com desprezo.
-Pobre Jake. Primeiro a mãe e agora a filha. É o campeão das causas perdidas, não é certo? Quando te tiver ficado sem elas, sempre pode retornar para mim. -Apoiou sua mão no peito do homem-. Eu tenho o que você realmente quer.
Jake jogou para trás a cabeça e riu. Logo disse:
-Não, Priscilla. É ao reverso. Sou eu o que tem o que você realmente quer.
O ódio decompôs o rosto da Priscilla quando retirou a mão como se Jake a tivesse mordido. deu-se a volta, abriu a sombrinha e se afastou pela calçada com largas pernadas, provocando um sussurro irado com suas saias.
Muitos homens tinham brigado diante dela, os bêbados tinham vomitado diante dela e até uns poucos se mataram diante dela. Mas ninguém se riu dela na cara. Exceto esse bode!
Odiava-o com toda seu alma.Había podido comprovar de que modo protegia à garota. Provavelmente o idiota se acreditava apaixonado por ela, como o tinha estado de sua mãe anos atrás. Priscilla não se trocaria nem pela Lydia nem pelo Banner, mas lhe resultava vexatório que Jake preferisse a ambas antes que a ela. Desde quando se burlava Jake a sua costa? Desde dia que assassinaram a seu irmão, ela não tinha significado para ele nada mais que algo que devia ser esmagado com o pé. E não era isso o que lhe faziam todos os homens?
Eles a utilizavam. OH, claro, gostavam de afogar suas frustrações com ela, satisfazer seus mais desenfreados desejos com ela, mas quando tinha recebido de um homem algo mais que as migalhas de sua vida, as sobras do que dedicavam a suas famílias e a seus negócios? Quando um homem, qualquer homem, tinha-a cuidadoso do modo tenro e protetor com que Jake tinha cuidadoso a essa garota dos Coleman?
Todos eram desprezíveis.
No momento em que chegava a tal conclusão, materializou-se um dos justos castigos que eles mereciam. Dub Abernathy cruzava a rua em companhia de sua roliça esposa e de sua pouco agraciada filha. Saudava tocando a asa do chapéu a aqueles com quem se encontrava. A torpe da filha sorria estupidamente quando seu pai a apresentava a algum cavalheiro. A mulher parecia bem alimentada e satisfeita de si mesmo. E por que não deveria está-lo? Era a esposa de um dos líderes da cidade. Priscilla se perguntava se a senhora Abernathy manteria seu aspecto tão vaidoso e néscio se estivesse inteirada da depravação da que era capaz seu marido na cama.
Sem vacilar um instante, Priscilla se recolheu a saia com um gesto delicioso e desceu da calçada à rua. Cruzou-a lentamente, atraindo toda a atenção que pôde em tanto seus olhos se posavam nos Abernathy. Dub ajudava primeiro a sua esposa, e logo à filha, a subir a sua reluzente carruagem negra atirada por um magnífico cavalo tordo. O homem também estava a ponto de ascender quando Priscilla os alcançou.
A expressão de absoluto horror no rosto da senhora Abernathy lhe produziu uma imensa sorte. As mandíbulas fofas lhe penduravam fláccidas, enquanto o rosto cinzento da filha mostrava uma expressão de incredulidade. Elas sabiam quem era, e isso adorava.
-bom dia, Dub. -A voz da Priscilla foi cálida e íntima, mas o bastante elevada como para que todos os que se achavam perto a ouvissem dirigir-se a ele por seu nome de pilha.
O homem permanecia paralisado no ato de subir à carruagem. Logo voltou lentamente a cabeça e seus olhos apontaram à prostituta. Se tivessem sido espadas, a mulher teria morrido nesse instante. Depois, sem dizer uma palavra, introduziu-se na carruagem e deu ao cavalo um vigoroso golpe de látego, seco e curto, sobre a garupa.
Priscilla olhou ao redor e sorriu com malícia. Tinha público. Estupendo. Dub Abernathy merecia algo humilhante. adoraria inteirar-se da explicação que o homem daria a sua esposa uma vez chegassem a sua mansão.
Sentindo-se um pouco apaziguada depois do rechaço do Jake, subiu à calçada e se encaminhou para sua casa, de retorno ao Hell's Half Acre.
Banner estava sentada, imóvel, na cadeira mais próxima à janela quando Jake entrou. -Banner?
Cruzou a habitação e se ajoelhou diante da moça, que tinha as mãos quedas com desinteressa sobre seu regaço. Jake as cobriu com as suas.
-Banner, o que acontece? O que te há dito?
Ela separou da janela seu olhar perdido e a posou no rosto do homem. Passaram vários segundos antes de que o visse realmente. Então moveu a cabeça e sorriu tremente.
-Nada, Jake, nada.
O homem não acreditou. Tinha visto a expressão de espanto em seu rosto.
-me diga o que te disse. Deus me ajude, porque se disse ou fez algo para te ferir, eu...
-Não -apressou-se a dizer Banner.
Não queria que ninguém soubesse o que Priscilla lhe havia dito, não até que tivesse tempo de assimilá-lo e chegar a suas próprias conclusões a respeito. Jake sabia o desse outro menino, pois foi ele quem encontrou a sua mãe no bosque com a criatura morta. Quais eram as dimensões reais daquele segredo?
Tinha estado sua mãe casada antes? Se assim era, por que não o havia dito? Ou é que não tinha estado casada antes de ter esse outro filho? Não! Isso era impensável.
Mas o que outra explicação havia?
Não podia fingir que não se sentia vulnerada porque o estava. Se tivesse descoberto tudo de outro modo, haveria-se sentido doída, mas o fato de havê-lo sabido
por mediação da puta do Jake, aquela mulher horrível e malévola cuja cama ele freqüentava, era o que fazia mais lhe ofendam a injúria.
-Estou bem, Jake, de verdade. Simplesmente me surpreendeu que me abordasse na rua.
-Abordou-te?
-Essa é uma palavra muito forte -disse Banner, ficando de pé, inquieta.
Agora que o encontro tinha terminado, queria esquecê-lo. Não desejava repetir a conversação. Nesse momento compreendia por que Jake guardava com tanta fidelidade o segredo de sua mãe. Não queria que ninguém pensasse mal dela porque a adorava. Isso também o fazia danifico.
-Priscilla simplesmente me falou, interessando-se por mamãe e papai. Também mencionou a Lê. Parece-me que queria me impressionar me contando que tinha estado no prostíbulo. Disse-lhe que já sabia. Então apareceu você. Isso é tudo.
Sentia-se incómodamente sufocada ao ter que mentir. Tirou-se a jaqueta e a deixou sobre a cama. depois de tudo, não daria esse passeio em bonde. Não encontraria já nenhuma alegria na excursão.
Jake não ficou convencido de que dissesse toda a verdade sobre a conversação com a Priscilla, mas sabia que não obteria mais informação dela. Se Priscilla lhe havia dito algo sobre o Grady, Banner o guardava.
-Apressei-me a vir mais logo para te avisar de que vamos.
-Quando?
-Hoje mesmo. Os trens já voltam para circular de modo que comprei os bilhetes. Subimos depois do meio-dia. deixei aos moços para que controlem a carga do gado e os cavalos. vim para te dizer que preparasse suas coisas.
-Muito bem.
Se tudo transcorresse com normalidade teria discutido para ficar uns dias mais, mas nada era normal. perguntou-se se alguma vez voltaria a sê-lo.
por que eram necessários as mentiras e os segredos? por que sua mãe alguma vez lhes falou com ela e a Lê desse outro menino? por que ninguém o tinha feito? Nem Moisés, nem Mami, nem Jake, ninguém. A menos que fosse algo do que terei que envergonhar-se.
-Estará bem se te deixar sozinha?
Jake estava de pé junto a ela. Banner levantou a cabeça e olhou seus olhos azuis. Que secretos ocultavam? Muito poucas vezes se abriam ao mundo; raramente revelavam nada do que Jake pensava ou sentia.
-Sim, estarei bem.
Jake pareceu querer tocá-la. Elevou suas mãos durante uma fração de segundo e logo as levou para os lados do corpo.
-Voltarei a te buscar ao redor das onze.
A moça fez um gesto de assentimento, mas não falou. Ansiava que Jake a abraçasse. A traição da noite anterior, inclusive o fato de que não a amasse, não importavam.
Precisava ser estreitada, confortada, mimada. Sua alma desejava o consolo da força do Jake e seu corpo desejava com ardor seu calor protetor. Sentia que o frio lhe impregnava até os ossos.
Mas lhe tinha suplicado seu carinho mais de uma vez, recebendo só seu rechaço. Não voltaria a cometer o mesmo engano.
Jake se dirigiu para a porta. depois de abri-la, deteve-se.
-Banner. -Esperou até que o olhar da moça se encontrou com a sua-. Seguro que está bem?
-Sim. -esforçou-se em sorrir. Conseguirá que voltemos nesse trem e cuidará de minhas vacas? Se não o fizer, despedirei-te e contratarei a outro capataz.
Jake também tratou de sorrir, mas já não estava convencido de que ela brincasse. Tirou-se o chapéu e a deixou na habitação. Quando chegou às escadas que levavam ao vestíbulo sentiu a crispação em sua mandíbula. Aquela viagem não estava sendo mais que uma sucessão de pesadelos. Não podiam abandonar Fort Worth tão rapidamente como ele quisesse.
Banner voltou a introduzir suas roupas nas alforjas e embalou o resto de suas coisas. Permaneceu com o traje posto sabendo que a sua chegada ao Larsen intercambiaria na cavalariça o cavalo emprestado por seu carro.
Quando tudo esteve preparado voltou para seu assento junto a laventana, observando o tráfico que passava e questionando-se se aquelas pessoas que desembrulhavam suas vidas com tanta diligência tinham problemas como ela.
Era necessário experimentar tal classe de adversidade para alcançar a maturidade? Aparentemente sua mãe assim o tinha feito. Que vida tinha levado Lydia antes do dia em que Jake e Luke a encontraram no bosque? Por que todos eles tinham guardado o segredo do menino nascido morto?
por que Jake se foi furtivamente a noite anterior depois de ter sido um companheiro tão afetuoso com o passar do dia? por que preferia a cama da Priscilla à sua?
Por que, por que, por que?
As perguntas se emaranhavam na mente do Banner como uma trepadeira, sem agarrar-se nunca a uma resposta. Teria alguma vez todas as respostas?
Eram quase as onze. Quando bateram na porta, disse sem vacilação:
-Adiante.
Ouviu que a porta a suas costas se abria e logo se fechava. Ao voltar-se, encontrou-se com que não era Jake quem se achava na soleira como tinha esperado. Nem nenhum dos moços.
-Grady!
-Olá, Banner.
-Que diabos está fazendo aqui?
-Não te há dito Langston que estava na cidade?
-Arrojou seu chapéu cogumelo sobre uma mesa. Ia vestido com um traje a quadros. Sua camisa branca estava impecável e levava um pescoço alto engomado. Mas o rosto o deixava macilento. A dissipação tinha gravado finas rugas ao redor de seus olhos inchados.
-Não. Quando viu o Jake?
-Anteontem à noite. Após tratei que verte, mas ele te mantém ocupada.
Súbitamente, começou a ter medo do Grady. Não era absolutamente próprio de um cavalheiro ir à habitação do hotel de uma mulher solteira. Não tinha pensado nesse tipo de convenções quando ela e Jake tinham estado sozinhos, mas queria fazer o notar ao Grady com a esperança de que partisse. O modo em que a estava olhando, aquele brilho de decisão nos olhos, punham-na nervosa.
-O que está fazendo no Fort Worth?
-Negócios -respondeu Grady, evasivamente-.Minha presença aqui era imprescindível; do contrário, jamais me tivesse partido do Larsen sem lhe comunicar isso Deu uns passos. Pensaste em minha proposta matrimonial, Banner?
-Sim.
-E bem?
A moça pôs de canto a cadeira onde tinha estado sentada e inconscientemente a colocou entre eles.
-Ainda não decidi nada. -Estava fazendo tempo, com a esperança de que Jake voltasse. por que não lhe havia dito que Grady se encontrava no Fort Worth?
-Já tinha decidido te casar comigo meses atrás. O que trocou?
Banner o olhou, incrédula.
-O que trocou? Tudo. A situação. Eu. Você. Tudo.
-Eu não troquei. Sou o mesmo homem. Você é a mesma mulher. E a situação, como você a chamas, foi remediada.
Como podia falar com tanta indiferença das horríveis mortes de sua esposa e do menino que não chegou a nascer abrasados pelo fogo?
-Não diria que o modo em que se remediou seja uma bênção.
-Nem eu -disse Grady, inclinando a cabeça por um momento-. Mas como já te hei dito, Banner, sinto que me concedeu uma segunda oportunidade. Ainda te amo e quero que seja minha esposa. Não sente nada por mim?
Banner se deu conta de que não. Nem agrado, nem afeto, nem ódio. Nem tão sequer a piedade que lhe tinha suscitado uma vez. Em todo o concernente ao Grady, seu coração era um vazio. Como pôde ter pensado alguma vez que estava apaixonada por ele? Por que não tinha reconhecido antes sua superficialidade?
Grady era, dentro do que cabia, uma boa moço, mas não a atraía. Dormir na mesma cama com ele, compartilhar seu corpo? Não! Só havia um homem que podia intimar com ela, e esse era Jake.
Amava ao Jake. Não importava que a tivesse ferido, amava-o. Inclusive pensar em passá-la vida com outro homem lhe resultava inconcebível. Preferia viver sozinha antes que fazê-lo com outro que não fosse Jake.
Mas não podia revelar abruptamente ao Grady seus verdadeiros sentimentos, pois seria um ato cruel. Além disso, não confiava na arrogância recém adquirida pelo moço. Nunca tinha sido assim antes. Pelo contrário, sempre se tinha mostrado humilde e dócil, em especial quando os pais dela estavam perto. Estava vendo-o como realmente era? Aqueles maneiras e sua conduta total tinham sido só simulados para impressionar ao Ross?
Essa dualidade a assustava, por isso respondeu com cautela.
-Naturalmente, ainda sinto algo por ti, Grady. Só que já não está claramente definido. Depois de todo o acontecido... Banner se afundou. Primeiro necessito tempo para ordenar minhas emoções, analisar tudo o que aconteceu e decidir o que quero para meu futuro.
Grady a olhou com dureza e ela desviou o olhar. Com passos decididos, o homem cortou a distância entre eles.
Banner permanecia cravada ao chão, e quando quis retroceder, encontrou-se que o impedia a janela que havia detrás dela.
-Eu gostaria de saber o que te tem feito trocar de opinião. Ou deveria dizer quem te tem feito trocar de opinião?
Banner se umedeceu os lábios. Que hora era? Onde estava Jake?
-Que quieresdecir?
O olhar do Grady percorreu a habitação, reparando em cada detalhe.
-É uma habitação grande. Possivelmente muito grande para uma só pessoa.
Quando voltou a observar ao Banner, seus olhos foram insinuantes, e aquilo que insinuavam enfureceu a jovem.
-Esclarece o que quer dizer, Grady - disse, tensa.
-O que quero dizer é que Langston estão tão perto de ti como uma sombra. Pergunto-me se não estar excedendo-se em suas obrigações.
As mãos do Banner se converteram em punhos e seus olhos lançaram centelhas que anunciavam perigo.
-Jake é um velho amigo da família e o capataz de meu rancho. Prometeu a meu pai me cuidar e é o que está fazendo.
Grady sorriu com afetação.
-E também é uma lenda no que concerne às mulheres. Tão briguento e briguento como elas queiram. Deveria ouvir como as garotas falam dele em todos os prostíbulos da cidade.
-Assim, você estiveste neles.
Grady ficou desconcertado por um momento, mas logo continuou com seu tom engañosamente melífluo.
-Sim, estive neles. Sou um homem, Banner.
-Apenas -disse Banner, falando com os dentes apertados-. Como te atreve a vir aqui a me caluniar só porque foram descobertos seus pecados?
Grady riu, com uma risada grave e ameaçadora.
-Está muito formosa quando te zanga, Banner. Acredito que deveria dar as graças ao Langston. Possivelmente quiseste hacerlodesde o princípio e não sabia.
Equilibrou-se sobre ela e a agarrou pelos ombros. Atraindo-a para ele, apertou sua boca contra a da moça, fazendo que os gritos do Banner ficassem apanhados em sua garganta. Lutou contra ele, nem tanto por medo como por raiva.
-Isso está bem, Banner. Briga comigo. -Grady ofegava quando deslizou sua boca para o pescoço do Banner-. Assim é como o faz com o Langston? Né? Crie que sou estúpido? Pensa que não sei o que é evidente para todos os que lhes vêem juntos?
-Me solte! -Banner oferecia uma férrea resistência, lhe golpeando a cara e os ombros cada vez que conseguia liberar uma mão das garras do Grady.
-te case comigo, Banner. Passaremo-nos isso muito bem.
Ela tratou de gritar, mas a boca do homem voltou a selar a sua. Os braços dele eram como bandagens de aço fechando-se em torno dela, lhe impedindo qualquer movimento.
Pugnava sem fôlego, tratando de liberar sua boca da sofocadora força da do Grady quando a porta se abriu dando um golpe tremendo contra a parede.
-Solta-a ou é homem morto, Sheldon.
Grady se estremeceu ante o inconfundível som do percussor de um revólver ao ser montado. Se isso não tivesse sido suficiente para detê-lo, o tom glacial e inmisericorde do Jake o teria feito.
Sem soltar à moça, Sheldon voltou à cabeça e olhou ao homem que tinha prometido matá-lo.
-Matarei-te se não a soltas. Agora. -Como o jovem continuava dúbio, sopesando a certeza da ameaça do Jake, este acrescentou-: Não cometa o engano de pensar que não o faria. Tenho-o feito antes.
O interesse da Priscilla por ele tinha infundido valor ao Grady, mas essa audácia de origem recente se evaporou sob o fogo azul dos olhos do Jake. Soltou ao
Banner e reuniu o que ficava de sua valentia.
-Isto não é assunto dele, Langston. É algo entre o Banner e eu. Pedi-lhe que se case comigo.
Os olhos do Jake não se separaram dele.
-Banner, quer te casar com este homem?
Sentindo-se débil, Banner se reclinou contra o respaldo da cadeira. O cabelo lhe caiu para diante como uma cortina escura quando baixou a cabeça e respirou fundo.
-Não. Não.
-A dama há dito não, Sheldon. Agora te largue.
Grady avaliou a situação e prudentemente decidiu que não era o momento de discutir. Com tanta dignidade como foi possível, atravessou a habitação para recuperar seu chapéu. O olhar do Jake seguia todos seus movimentos. Quando chegou à porta, voltou-se para o Banner.
-Cavalga para vaqueiro. Para o que me importa...
O revólver do Jake caiu ao chão quando se lançou sobre o Sheldon. Um punho esmagou o nariz do Grady. Outro se afundou em sua cintura chegando quase até a coluna vertebral. Dobrou-se de dor, mas Jake, agarrando-o pelo cabelo, endireitou-o. A boca do Sheldon recebeu outro golpe demolidor que lhe fez sangrar e tocar castanholas os dentes. Depois foi uma maçã do rosto o que sentiu um novo impacto e rangeu.
Jake ainda o agarrou pelas lapelas com suas mãos de aço e o jogou contra a parede, lhe atirando uma joelhada na virilha. Grady desejou estar morto.
-eu adoraria te matar só pelo gosto de fazê-lo, Sheldon, simplesmente porque quero. Não o farei pela mesma razão que não o fiz antes; pela vergonha que recairia sobre o Banner e sua família. Mas se voltar a te aproximar dela, matarei-te. Entendido? -Sacudiu ao outro homem como um cão sacode a um rato sujeito entre seus dentes.
Entendido?
A cabeça do Sheldon caiu para trás e adiante em um gesto patéticamente parecido a um assentimento. Jake o soltou de maneira tão brusca que o jovem se deslizou pela parede, sustentando-se apenas sobre seus joelhos de borracha. Grady fugiu da habitação deixando um reguero de sangue no estou acostumado a atapetado.
Quando chegou ao final do corredor, a cabeça tinha deixado de lhe zumbir, mas a cara, a barriga e a entrepierna lhe doíam atrozmente. perguntou-se se teria rotas as costelas. Dirigiu um olhar cheia de ódio assassino para a habitação onde se esfumaram suas esperanças de conseguir ao Banner e a rica propriedade da moça, à mãos de um desprezível vaqueiro.
Jurou solenemente que era a última vez que Jake Langston e os Coleman lhe humilhavam.
-Tudo pagarão por isso. -Fez esta promessa com os lábios inchados enquanto baixava penosamente pelas escadas.
O humorde Priscilla não era precisamente adulador quando retornou ao Jardim do Éden. Seguia recordando o regozijo genuíno da risada do Jake e o depreciativo olhar que lhe dirigiu Dub. Tinha vontades de briga. Seu estado de ânimo não melhorou quando viu o Sugar Dalton bebendo um copo de uísque em um dos saguões. As cortinas estavam corridas para impedir que entrasse a luz do sol, de modo que a habitação se achava fracamente iluminada. Sugar estava sentada em um dos canapés que havia no rincão, como um pequeno animal noturno ocultando do dia.
Enquanto se tirava o chapéu e as luvas, Priscilla brocou com o olhar à outra mulher. Em realidade, deveria desembaraçar-se do Sugar. Atraía poucos clientes e era mais uma carga que um ativo.
-por que não está descansando na planta superior? Espera-nos uma atarefada noite de sábado.
-Necessitava um gole, mais que dormir -respondeu Sugar com voz lastimosa. Da noite em que Priscilla a tinha esbofeteado em público, manteve-se afastada da madama.
Amaldiçoou sua má sorte porque a tinha pilhado agora-.Realmente não posso dormir.
Priscilla lhe apertou o queixo com o polegar e o dedo médio e lhe empurrou a cabeça para trás. Estudou o rosto hinchado,los olhos frágeis o cabelo murcho e sem brilho.
-Tem um aspecto horrível. Se não melhoras daqui de noite, hoje não trabalha. E se não trabalhar esta noite, amanhã não estará aqui.
Sugar se soltou, fugindo da mão da Priscilla,
-De acordo, de acordo. -ficou em pé.
-E te banhe, pelo amor de Deus. Empresta.
Sugar riu e se ateu mais a bata ao corpo.
-Não me assombra. Ontem tive uma noite agitada. Se você não tivesse estado tão ocupada o teria advertido. -Avançou com estupidez para o cortinado-. O jovem Micah me recorda ao Jake de faz uns anos atrás.Y Lê Coleman é tão bonito como seu papaíto.
Priscilla, trocando o rumo de seus pensamentos, emprestou atenção às palavras do Sugar.
-O que há dito?
-Hei dito que...
-Dá igual. Quando conheceu o Ross Coleman?
Sugar a olhou atônita e confusa.
-Não se lembra de que lhe contei isso faz tempo? Quando me contratou, descobrimos que nossos caminhos já se cruzaram antes. Não recorda que nos pareceu uma grande coincidência? Eu estava trabalhando em Arkansas para aquela puta que se fazia chamar LaRue -disse Sugar, tentando fazer recordar a Priscilla-. Você estava nessa caravana de carromatos que passava pela cidade.
A mente da Priscilla era um torvelinho.
-Volta a me contar isso disse, indicando ao Sugar que tomasse assento e se servisse outro gole.
Tinha uma lembrança vaga de ter mencionado alguma vez, pouco depois de que Sugar começasse a trabalhar para ela, que tinha chegado ao Texas procedente do Tennessee acompanhada por seus pais em uma caravana de carromatos. O rosto do Sugar se iluminou, e então lhe perguntou se um homem chamado Coleman estava nesse mesmo grupo.
Como logo tinha trocado bruscamente de tema, Priscilla pensou que não eram mais que as divagações de uma puta embriagada a que tinha contratado com muitas reservas.
-Me fale da época em que conheceu o Ross Coleman.
Sugar sorriu e levou a mão para seu copo.
-Foi só isso. Verá, seu nome não era realmente Coleman.
Os olhos da madama se acenderam enquanto observava ao Sugar beber com ânsia um comprido trago. Seus lábios se curvaram com um sorriso malicioso. Quando Sugar terminou esse gole, Priscilla lhe serve outro.
Banner vibrava com o ritmo do trem. O balanço a relaxava e sua persistência resultava arrulladora. Anoitecia e o interior do vagão ficou em penumbra, iluminado só por uns poucos abajures que, distribuídas de forma estratégica, ardiam fracamente.
Contemplou ao Jake que, sentado a seu lado, olhava fixamente pela janela. Como se houvesse sentido os olhos da moça sobre ele, o homem voltou a cabeça para o Banner.
As sobrancelhas loiras destacavam em seu rosto em sombras quando lhe devolveu o olhar com aqueles olhos incrivelmente azuis. Olharam-se durante um comprido momento.
Ela sabia que seu rosto delatava sempre qualquer pensamento que a atormentasse. Sua confusão ante o passado de seu pai, a notícia de que tinha tido um meio irmano ou irmã nascido morto, o modo vexatório em que a tratou Grady, tudo se tinha combinado para formar um torvelinho em sua alma. Embargava-lhe uma profunda tristeza.
Mas quando contemplou o rosto do Jake, refugiou-se no amor que sentia por ele. aferraria-se a isso, esqueceria todo o resto e tão somente pensaria no muito que esse homem enchia seu coração.
-Obrigado -disse Banner, movendo apenas os lábios.
Mais que pronunciadas, as palavras foram suspiradas, mas Jake chegou para as ouvir e sorriu de soslaio.
-Por ter dado uma surra a quem o merecia? -Flexionou os dedos-. Não tem que me agradecer isso, Banner. Para mim foi um prazer.
A moça moveu a cabeça.
-Estava ali quando te necessitei.
-Quero estar sempre que me necessite.
Jake foi consciente de que pronunciava em voz alta as palavras que realmente queria dizer. De nada servia lutar contra aquilo. Estava cansado de fugir e fingir que nada ocorria. Banner o tinha apanhado em seu anzol e ele se converteu em uma vítima voluntária.
Maldita fora se sabia o que devia fazer a respeito. Mas algo tinha que fazer, mesmo que isso significasse ir ver o Ross com o chapéu na mão e, expondo-se a receber um disparo, confessá-lo tudo.
A violência que Sheldon tinha empregado contra Banner para abusar de lhe tinha servido de desculpa para espancar ao homem. Agora tinha que admitir, depois de largas horas de reflexão, que teria querido fazê-lo de todos os modos por puro ciúmes. O ciúmes o tinham cegado. Se Sheldon tivesse estado abraçando meigamente ao Banner, beijando-a com ternura, haveria sentido o mesmo arrebatamento, as mesmas ânsias de matá-lo por havê-la meio doido.
O que pensariam Ross, Lydia e sua própria mãe, quando anunciasse que queria casar-se com o Banner? ficariam mudos de consternação. Mas nada importava; nem eles, nem suas opiniões importavam tanto como a mulher que agora tinha o olhar cravado nele, despertando seus sentidos com cada um de suas sutis mudanças. Nem sequer importaria o que Lydia pensasse, algo ao que não podia resignar-se. Mas Banner era quão único importava agora, e nesse momento lhe estava falando.
-Fará-o?
-Quer que esteja sempre junto a ti quando me necessitar?
Banner assentiu.
-Sim, Banner. -Dobrou o dedo indicador e com o nódulo percorreu o contorno dos lábios da moça-. Fez-te mal esse filho de puta?
-Não.
-Em nenhuma parte?
-Não. Chegou a tempo.
Jake pôs meigamente uma mão sobre a bochecha do Banner, que voltou o rosto para acomodá-lo na palma. Se seguia acariciando-a, expor-se a fazer algo estúpido.
Mas, diabos, sem dúvida a gente se beijava nos trens e não por isso o sol deixava de sair e ficar a sua hora.
Lançou uma olhada ao outro lado do corredor, onde Lê e Micah se retiraram para jogar a cartas. Os chapéus dos moços lhes cobriam o rosto, pois se tinham dormido com as cabeças apoiadas contra os assentos.
Jake elevou um braço, rodeou os ombros do Banner e a atraiu para ele. Baixou a cabeça até que sua boca encontrou a da moça. Os lábios se juntaram, e a língua do homem procurou a do Banner, e quando a encontrou, fizeram-se o amor. A mão do Banner subiu pelo peito do homem e se fechou ao redor das dobras de seu lenço, enquanto a do Jake se abriu sobre as costelas da moça quando apertou mais o abraço. O beijo foi comprido e consumado. O beijo mais doce de suas vidas.
Quando ao final levantou sua boca da dela, sorriu-lhe com ternura.
-Agora, dorme. Quando despertar já estaremos em casa.
Acomodou a cabeça do Banner em seu ombro. Estirou suas largas pernas tanto como o assento de em frente o permitia e apertou à moça contra ele.
A palavra "casa" acabava de adquirir um novo significado para o Banner quando se acurrucó junto ao Jake. Pela primeira vez em muitos dias, não o sentia frio e hostil. O calor de seu corpo magro e forte se filtrava dentro do dele, afastando todos os pensamentos sombrios e o temor ao futuro. Amava o aroma de tabaco aderido a suas roupas, e lhe agradava sentir a respiração do Jake em seu cabelo e seu rosto.
Até a chuva que descendia implacavelmente pelos guichês do trem era bem-vinda depois de meses de seca.
Ainda chovia quando Jake tocou ligeiramente ao Banner para despertá-la. Beijando-a com suavidade na têmpora, sussurrou:
-Estamos chegando ao Larsen.
Ela se incorporou, se desperezó e bocejou, todo isso antes de abrir os olhos. Quando o fez, sorriu ao Jake. Ele devolveu o sorriso e apartou o braço que a rodeava.
Micah e Lê avançavam pelo corredor enquanto outros passageiros reuniam seus pertences preparando-se para a chegada à próxima estação.
Banner se sentou erguida e se alisou com as mãos o traje irremediavelmente enrugado. sentia-se turvada e inventou atividades para suas mãos a fim de dissimulá-lo.
Queria estudar ao Jake, comprovar qual era sua reação depois de havê-la tido em seus braços enquanto ela dormia apaciblemente.
Mas não era o melhor momento. Tinha que ocupar-se de descarregar o gado, ir procurar o carro e viajar até a casa. Tudo se complicava devido às inclemências do tempo.
Micah resumiu a situação quando desceu pelos altos degraus do trem à plataforma de descarga da estação.
-Sem dúvida necessitávamos a chuva, mas escolheu um mau momento para começar a cair a cestas.
Jake inspecionou a cortina de água que caía enviesada contra o horizonte, mais à frente do voladizo. Gesticulou e fez um estalo sonoro com a boca.
-De todas maneiras, não conto levando essas vacas até o rancho esta noite e não penso nem tentá-lo.
Mordiscou-se o lábio enquanto outros permaneciam à espera de suas instruções. Lê não podia evitar bocejar e girar a cabeça de um lado a outro para tirar a cãibra do pescoço. Seus olhos piscavam de forma mecânica.
Jake se dirigiu ao Banner.
-Você deu adulação a esse homem da cavalariça. Crie que nos deixaria encerrar o rebanho em um de seus currais até que possamos retornar e levá-lo a rancho?
Ela esboçou um amplo sorriso, contente de que lhe pedisse algo que ela pudesse realizar.
-Posso pedir-lhe Primero fueron a bajar del tren sus caballos, cerciorándose de que estuviesen ensillados antes de hacerlo. Tras consultar con el jefe de estación para asegurar-se de que ningún pasajero estuviese paseándose, lo que podría provocar un accidente, bajaron la puerta lateral del vagón de ganado y formaron una rampa. El borde se asentó pesadamente en el barro con un suave chapoteo.
Jake lhe piscou os olhos um olho, e resmungou:
-Mucosa. Muito bem, vós dois -disse logo aos jovens sonolentos-, comecem a lhes mover! Banner, enquanto comprovamos que baixem o gado do trem, vá à cavalariça.
Poderá fazê-lo com esta chuva?
Lhe dirigiu um olhar sarcástico.
-Lhe pergunte a eles. -Caminhando com passos curtos, afastou-se pela plataforma até perder-se sob a chuva torrencial.
-E bem?-perguntou Jake.
-Banner estava acostumado a obrigamos a jogar sob a chuva com ela -explicou Micah-. Tem a pele como o lombo de um pato e a água escorrega por ela.
O sorriso do Jake foi rápida e secreta, pois a reprimiu antes de que se convertesse em um sorriso de carinho manifesta, que os moços teriam advertido.
-Vamos.
Primeiro foram descer do trem seus cavalos, certificando-se de que estivessem selados antes de fazê-lo. Depois de consultar com o chefe de estação para assegurar-se de que nenhum passageiro estivesse passeando-se, o que poderia provocar um acidente, baixaram a porta lateral do vagão de gado e formaram uma rampa. O bordo se assentou pesadamente no barro com um suave chapinho.
-Quanto faz que chove? -perguntou Jake ao empregado da ferrovia quando os Hereford começaram a descender do vagão.
-Desde primeira hora da tarde. Necessitamo-la, mas, diabos, não tanta de uma vez.
O homem cuspiu tabaco em um atoleiro e voltou a ficar a coberto. Não gostava das vacas, nem se confiava nelas. Deixaria que desse assunto se ocupassem os jeans, que sabiam como fazê-lo.
Lê e Micah estavam excessivamente entusiasmados. Assobiavam, gritavam e fustigavam a seus cavalos.
-Com calma, com calma -disse Jake impondo-se ao estrépito da chuva e ao mugido das vacas-. Não queremos que se espantem, porque poderiam sair em correria para o Main Street.
Quando chegaram à cavalariça encontraram tudo em ordem. Sem nenhum contratempo, Jake e os dois jovens conduziram às cabeças de gado para o curral que lhes tinha sido preparado. O proprietário da cavalariça até teve a gentileza de proporcionar um curral à parte para o touro. Banner lhe devolveu o cavalo castrado que lhe tinha emprestado e lhe deu as obrigado.
-Quer passar a noite aqui na cidade, Banner? -perguntou Jake, solícito. Apesar de seus alardes a respeito de seus jogos sob a chuva, estava empapada, manchada de barro e lhe tocavam castanholas os dentes.
-Não. Quero ir a casa.
Jake a contemplou um momento. A chuva jorrava pesadamente de suas roupas. Se estava tão molhada como ele, estaria imersão até a pele. Inclusive tinha água dentro das botas.
-por agora vamos deixar o carro. Viremos a buscá-lo quando o terreno esteja seco. De todas maneiras, duvido de que pudéssemos avançar pelos caminhos no estado em que estão.
-Então quer o cavalo castrado por algum tempo mais?-perguntou o proprietário da cavalariça.
-Não, obrigado. Banner irá em meu cavalo -disse Jake-. Mas lhe agradeceríamos que nos emprestasse uma manta, se tiver alguma de sobra.
Quando saíram da cidade uns minutos mais tarde, eram um grupo de aspecto triste. Micah e Lê, acurrucados e de mau humor em seus monturas, evocavam a viagem e lamentavam que tivesse terminado. A água de chuva gotejava das asas de seus chapéus e se introduzia pelos pescoços de suas camisas.
Banner, acomodada diante do Jake em suas arreios, estava envolta na manta emprestada. Os braços do cavaleiro a sustentavam com firmeza, mas nem o calor de seu corpo podia aliviar o frio úmido que lhe tinha impregnado até os ossos, fazendo-a sentir doente. Em qualquer outro momento, lhe teria encantado cavalgar na mesma arreios que Jake, rodeada por seus braços e sentindo a cabeça do homem inclinada sobre a sua, em atitude protetora. Mas se encontrava muito mal para desfrutá-lo.
Quando chegaram à ponte que separava River Bend da propriedade do Banner, detiveram os cavalos.
-Aonde vamos? -perguntou Jake ao Banner-. Ao Ríver Bend ou a seu rancho?
A idéia da cama quente e seca no dormitório da planta superior onde tinha desfrutado de uma infância feliz resultava tentadora. Mas estava esgotada e não tinha vontades de relatar os detalhes de sua viagem a ninguém. Além disso, tinha saudades sua própria casa, pequena e bonita.
-A casa.
Jake não precisou perguntar o que queria dizer Banner com "casa". Quando olhou os olhos perfuraram os da moça, e soube.
-Banner prefere ir ao outro lado do rio -disse a Lê e Micah-. Digam a todos que se encontra bem e que a viagem foi um êxito. Se continua chovendo assim amanhã, digam ao Jim, Pete e Randy que não se pressentem a trabalhar. Todos merecemos um dia livre; em especial Banner.
-Vê com cuidado ao cruzar a ponte, Jake -advertiu Micah-. O rio está crescido.
Jake já o tinha observado. Só havia pouco mais de um metro entre a ponte e as águas agitadas e turbulentas do rio.
-Cruzaremo-lo devagar. Agora vão a casa e digam a todos que estamos bem e que não se preocupem.
Esperou a que se afastassem os moços e logo, apertando mais ao Banner entre seus braços, conduziu a um relutante Stormy para a ponte. O semental encontrou seu caminho com cuidado sob o controle tenso do Jake.
Inclusive na escuridão, Banner podia apreciar os redemoinhos vertiginosos da água debaixo deles. Tiritou envolta na manta úmida e se apertou mais contra Jake.
Se ao menos estivesse quente e seca. Não se sentia bem, embora era incapaz de identificar com precisão a fonte de seu malestar.Tan logo como estivesse a salvo em sua própria casa, começaria a sentir-se melhor.
Quando chegaram à outra borda do rio, Jake suspirou aliviado.Al dia seguinte, se o tempo o permitia, revisaria aquela ponte. Embora isso significasse deixar o rebanho um dia mais no Larsen, ele e os peões deviam emprestar a devida atenção à ponte.
A pequena casa nova parecia abandonada na clareira do bosque, resistindo com valentia as inclemências do temporal. Para o Banner, jamais tinha tido melhor aspecto.
Jake desmontou primeiro, logo a elevou a ela e a levou em braços até a casa. Agarrando a chave de sua bolsa, que estava assegurado a sua cintura, Banner abriu a porta. Mais que entrar, caíram dentro. As mãos do Jake mediram para acender o abajur da mesa mais próxima.
-Estou pondo perdido o chão. -Caminho da chaminé, deixou um reguero de água e barro.
-Não importa -disse Banner, tiritando-. Por favor, acende o fogo. Há madeira seca?
Jake comprovou a gaveta da lenha.
-Está cheio. Jim deve havê-lo feito. Te tire essas roupas; quando voltar já terei o fogo aceso.
-Jake, agachado diante do lar, sorriu-lhe por cima do ombro. O sorriso do homem quase foi suficiente para fazê-la entrar em calor, mas não de tudo. Dirigiu-se ao dormitório, procurando provas um abajur e com o que acendê-la. As mãos lhe tremiam tanto que logo que pôde prender o fósforo. Assim que estivesse seca e calentita, o tremor desapareceria, estava segura. Lhe limparia a cabeça e tudo deixaria de parecer confuso. E lhe aconteceria o mal-estar do estômago.
despiu-se e estendeu as roupas molhadas sobre uma cadeira para que se secassem. Os dentes lhe tocavam castanholas quando introduziu a cabeça no pescoço de um comprido camisola de flanela, que lhe cobriu as extremidades azuladas e com o pêlo arrepiado a causa do frio. envolveu-se em uma bata de inverno e ficou um par de meias três-quartos, cuja única qualidade era que resultavam quentes aos extremos intumescidos dos dedos dos pés.
Acaso tinha febre? E por isso sentia tão frio? Era verão, e a pesar do aguaceiro, não deveria estar tão transida. Talvez a fome provocava essa sensação estranha no estômago? Mas pensar em comida lhe produzia náuseas. Poucas vezes adoecia, e os sintomas que experimentava lhe resultavam irritantes e molestos.
Retornou ao salão e comprovou que Jake tinha completo sua palavra. As chamas alaranjadas e amarelas lambiam os troncos amontoados no lar. Jake estava colocando os lenhos com o atiçador de ferro para conseguir uma melhor combustão. Para ouvir que Banner se aproximava, deu-se a volta.
-Vêem aqui, junto ao fogo. -Agarrando a da mão, atraiu-a para o lar. Quando viu seus olhos frágeis pensou que provavelmente tinha febre. Esfregou-lhe os braços.
Como se sente?
-Melhor. -Banner suspirou e se apoiou ligeiramente nele, advertindo que ainda estava úmido-. Você também deveria te trocar.
-ia sair agora mesmo.
Ao Banner lhe contraiu o coração. Não lhe tinha ocorrido que Jake retornaria ao estábulo, que parecia tão longínquo, separado da casa pela cortina de chuva.
Sentia-se tão mal que só desejava que Jake a agarrasse em seus braços, acariciasse-lhe o cabelo e lhe murmurasse que logo se recuperaria, como tinham feito seus pais nas poucas ocasiões em que tinha padecido alguma enfermidade durante a infância. Mas não podia pedir-lhe, pois o consideraria um ardil feminino, ou possivelmente acreditaria que se estava comportando como uma menina assustada pela tormenta.
-Está segura de que te encontra bem? -perguntou Jake.
-Vou preparar me uma taça de chá e me levarei isso a cama.
-Boa idéia. O que precisa é descansar toda a noite.- Acariciou sua bochecha com a ponta dos dedos-. foi um dia exaustivo.
As doenças físicas tinham substituído às emocionais. Banner assentiu com a cabeça.
-Sim. Estou bem. Preciso dormir.
Jake a beijou brandamente na bochecha e logo partiu lhe deixando um gosto a ar úmido. A água da chuva banhou a soleira da porta. Banner ficou olhando-o fixamente, sem vê-lo até muito depois de que o homem fechasse a porta do estábulo detrás dele. A moça sentiu que uma cãibra lhe retorcia o estômago e se deu conta de que tinha estado parada e imóvel durante vários minutos.
Obrigando-se a mover-se, levou o abajur para a cozinha e encheu a bule com água. Como lhe faltavam as forças necessárias para acender fogo na cozinha, dirigiu-se ao lar e aproximou a bule às chamas.
Cada minuto que passava se encontrava pior. A cãibra no estômago se repetia a intervalos regulares. Tinha vontades de vomitar, mas conteve as arcadas com uma, vontade de ferro. Já tiritava debaixo da bata, já começava a suar tanto que acabava por atirar dela em um esforço frenético por tirar-lhe -Estaba a punto de hacerlo. El agua está hirviendo.
A água da bule começava a ferver quando Jake bateu na porta.
-Banner? -Abriu a porta, entrou, e a fechou de um chute.
A mulher o contemplou do tamborete desço em que se sentou diante da chaminé.
-O estábulo tem um problema que desconhecia até esta noite.
-Qual? -perguntou a moça com voz rouca.
-Tem goteiras. -Seus lábios desenharam um sorriso irônico-. Stormy e eu lançamos ao ar uma moeda para decidir quem ficava no único pesebre seco. Ganhou ele.
Importa-te que durma aí? -perguntou, assinalando o sofá.
-É obvio. Sentirei-me melhor se estiver comigo.
Enquanto pronunciava as palavras, desejava com todo seu coração que parecessem tão sinceras como o eram. Certamente, não podia sentir-se pior.
-Já tomaste o chá? -Deixou cair um montão de roupa de cama e objetos seca junto ao sofá.
-Estava a ponto de fazê-lo. A água está fervendo.
Jake extraiu uma garrafa de uísque de entre a roupa de cama.
-Acrescentarei-lhe algo disto. Esquentará-te. Fique onde está. Irei à cozinha, trocarei-me e prepararei o chá.
Levou a bule com a água fervendo e uma muda de roupas secas à cozinha. A jovem se apertou o estômago e se dobrou para frente logo que Jake saiu da sala. Tinha tido dores de barriga antes, mas nada semelhante a isso.
Felizmente o pior da dor já tinha passado quando Jake retornou, vestindo roupas secas, com duas taças de fragrante chá nas mãos. Entregou uma ao Banner. Logo se sentou ao estilo índio. Colocando a taça fumegante entre as coxas, estirou-se para agarrar a garrafa de uísque. Desentupiu-a e a aproximou da taça da moça.
-Isto é só com fins medicinais, entendido?
Banner o olhou franzindo o sobrecenho enquanto lhe vertia uma escassa quantidade na taça.
-Mami me deu uísque às escondidas toda minha vida. Cada vez que tinha um resfriado -evocou a moça.
Jake riu enquanto acrescentava o uísque a seu próprio chá.
-Também nos dava isso. Licor de milho destilado nas colinas do Tennessee. -estremeceu-se e fez uma careta-. Em uma ocasião em que Luke tinha anginas, afeiçoou-se tanto ao licor, que começou a pedi-lo. Nesse momento Mami soube que estava recuperando-se. -Sorriu, sacudindo a cabeça ante o íntimo lembrança.
O mundo do Banner se reduziu até ficar composto tão somente por ele. A luz do fogo dourava seu cabelo e moldava seu rosto na sombra. Ressaltava o contorno nítido e afiado de seus maçãs do rosto e a firmeza de sua mandíbula. As sombras cavavam as bochechas um pouco afundadas, haciéndolasmás pronunciadas. Jake sorria depravado, lhe falando do irmão que tinha amado.
Se Banner não se houvesse sentido tão doente, este teria sido um momento de sua vida que guardaria como um tesouro. Estavam isolados naquele casulo quente, tenuemente iluminado, enquanto a chuva caía em torno deles, separando-os do resto do mundo. Maldita seja! Sentia-se muito mal para desfrutá-lo. Por isso lhe enfurecia sua enfermidade e prometeu fazer todo o possível para que desaparecesse.
Sorveu o chá misturado com uísque, esperando que sua descida quente derrotasse à náusea e as cãibras no estômago e o abdômen.
Jake acrescentou outro tronco ao fogo. Tinha deixado desabotoados a metade dos botões de sua camisa e não se colocou as abas dentro das calças. Nos pés tão somente levava os meias três-quartos. Parecia cômodo e afável, e não mostrava nenhuma pressa por deixá-la e ir-se dormir.
-Sente-se melhor agora? -estirou-se sobre um flanco do corpo diante da chaminé apoiando-se em um cotovelo. A camisa se abriu, dando ao Banner uma visão do pescoço e o peito que lhe paralisou o coração.
-Sim, estou muito bem -mentiu Banner.
Queria tornar-se junto a ele, assumo contra peito, ventre contra ventre. Seria glorioso jazer desse modo com ele, com suas bocas tocando-se freqüentemente, até que a paixão os vencesse e ele a tendesse de costas para colocar-se em cima dela.
Uma sensação cálida que nada tinha que ver com a febre percorreu o corpo do Banner. Se dava esse passo tão desavergonhado e se tendia junto a ele, refrearia-a Jake esta vez?
Mas enquanto pensava tais coisas, um fluxo de bílis azeda e abrasadora emanou do fundo de sua garganta. Com mãos trêmulas, deixou a taça sobre o lar de pedra.
Quão último queria fazer era degradar-se vomitando diante do Jake. Isso seria muito humilhante.
-Já estava sonolenta e o uísque me deu mais sonho. vou deitar me, Jake.
O homem se incorporou até ficar sentado. Sua expressão era uma mescla de incredulidade e ofensa.
-Claro, Banner. boa noite.
Banner conseguiu ficar de pé e caminhar até a porta de seu dormitório sem deixar traslucir o fraco e aturdida que se sentia. Já na porta, voltou-se para olhá-lo.
Estava servindo-se outra medida de uísque na taça, esta vez sem chá. Pela rigidez de sua mandíbula, Banner podia adivinhar que estava zangado ou decepcionado, ou ambas as coisas. Mas não mais que ela.
-Obrigado, Jake, por tudo.
O homem levantou os olhos para ela e assentiu com um gesto brusco, sem pronunciar uma palavra. Terminou a bebida de um gole e voltou a alargar a mão para agarrar
a garrafa. Com um suspiro de remorso, Banner entrou em seu dormitório e fechou a porta.
A habitação estava úmida, e os lençóis frite, mas se deslizou entre elas e se acurrucó debaixo da colcha até que começou a esquentar-se e os dentes deixaram
de tocar castanholas. Manteve o estômago embalado de um modo protetor entre os joelhos e o peito. Devia ter febre. Possivelmente era a gripe o que a fazia sentir-se tão mal. Esteve a ponto de vomitar, mas novamente se obrigou a não fazê-lo.
Sentia que flutuava, em um estado intermédio entre a consciencia e a inconsciência. dormiu, mas sem conseguir deixar de sentir a insistente moléstia geral e
os freqüentes espasmos de dor que lhe contraíam o abdômen. Cada vez que despertava e descobria que o que acreditava um mau sonho doloroso era real, gemia contra o travesseiro, rogando alívio.
A chuva não cessava. As largas horas da noite deram passo às apagadas e espectrais que precedem à alvorada, quando o mundo chega a ser só uma sombra cinza.
Em seu sonho, Banner se levou as mãos à cintura e emitiu um guincho. despertou, sabendo que seu mal-estar não era um pesadelo. Ofegando, incorporou-se e deixou cair a cabeça sobre um lado da cama. Tinha o corpo suado, mas tremia de frio. As orelhas lhe ardiam, e as têmporas palpitavam com cada pulsado de seu coração.
-Banner?
Como não houve resposta, a porta do dormitório se abriu de repente e Jake apareceu na soleira, vestido só com calças que parecia acabava de ficar.
-Banner!
Alarmou-lhe a lividez de seu rosto e a opacidade de seus olhos afundados. Entrou correndo na habitação, agachou-se junto à cama e balançou a cabeça do Banner entre suas mãos.
-O que te ocorre? Está doente?
-Vete -disse Banner, abatida-. Vou A... A...
Jake tirou o urinol de porcelana de debaixo da cama bem a tempo. Banner vomitou entre espasmos que convulsionaram seu corpo, como se fosse um trapo retorcido por mãos gigantes. Jake tinha visto vomitar a muitos jeans atrás de várias noites de bebedeira, mas nunca viu alguém tão lastimosamente doente como Banner. Tampouco tinha visto nada tão repugnante como o que saía de sua boca.
Quando teve terminado, Banner, exausta, derrubou-se sobre os travesseiros. O homem cobriu o urinol com a tampa e se sentou no bordo da cama. Agarrou-lhe as mãos e as notou frite, úmidas e exânimes. Tinha o rosto tão pálido como o lençol que a cobria.
Jake apartou com doçura o cabelo que caía sobre suas bochechas úmidas e sem cor.
-Esse maldito uísque. -Exclamou, odiando-se por haver o dado a beber. Deveria ter sabido que ela não poderia tolerar nem sequer a medida de um dedal.
A moça abriu os olhos e os fixou nele. Tratou de mover a cabeça.
-Não foi o uísque. Sentia-me mal antes de bebê-lo.
O pânico se cravou no Jake como um punção de cortar gelo.
-Desde quando, Banner? Quando começou a te sentir adoece?
-Pouco depois... -deteve-se para esperar que se aplacasse um novo acesso de dor angustiante no estômago-. Pouco depois de chegar à cidade -acabou de dizer, respirando com dificuldade.
-por que não o disse? estiveste assim toda a noite? Por que não me chamou? Não importa, não fale. O que posso fazer? O que necessita? -O homem apertava as mãos do Banner com desespero, tratando de lhes devolver a vida.
-Fica comigo.
Banner tratou de fechar sua mão na do Jake, mas não teve forças. Temia morrer sem que ninguém estivesse a seu lado. Sabia que estava delirando, mas era incapaz de controlar o pânico que se apoderava dela ante o pensamento de morrer sozinha.
-Ficarei, meu amor, ficarei. Nem um milhão de cavalos selvagens poderiam me tirar rastros daqui.
Esteve cuidando-a durante horas, lhe sustentando a cabeça quando vomitava no urinol, que tinha que ser esvaziado depois de cada crise. Banhou seu rosto perlado de suor com panos frios e lhe falava com tons carinhosos e tranqüilizadores.
Amaldiçoava sua inépcia, o tempo, tudo. amaldiçoou-se por ter dado o dia livre aos peões com a desculpa da chuva, que seguia caindo mais intensa e furiosa que nunca. Ninguém se aventuraria a cruzar o rio esse dia.
Jamais se havia sentido tão inútil em sua vida. Quão único podia fazer era contemplar como Banner se retorcia de dor enquanto ele estava a seu lado, incapaz de conseguir algo que aliviasse seu sofrimento.
À medida que transcorriam as horas, fez-se evidente que ele não estava qualificado para cuidá-la. Aquela enfermidade ameaçava a vida do Banner. Tinha que procurar socorro.
-Banner. -Uma vez tomada a decisão, ajoelhou-se junto ao leito e agarrou a mão da moça. Quando ela conseguiu abrir os olhos, disse-: Querida, tenho que ir procurar ajuda.
Os olhos chorosos da moça se dilataram quando o pânico apareceu neles.
-Não! -aferrou-se ao peitilho da camisa do homem-. Não, não me deixe morrer aqui.
-Não vais morrer -Assegurou com firmeza, desejando que Deus pudesse convencer o de que assim seria-. Tenho que encontrar um médico e trazê-lo até aqui.
-Não me deixe, Jake. iJake! Prometeu-o. Não vá.
Endurecendo-se para não ceder às emoções, Jake desprendeu a mão do Banner de sua camisa e a deixou. As lágrimas alagaram seus olhos e os gritos suplicantes da moça retumbaram em seus ouvidos quando correu até o estábulo para selar ao Stormy. Esteve tentado de retornar e ficar com ela, mas sabia que não podia. Não estaria sozinha muito tempo. Iria até o River Bend para comunicar a Lydia e Ross o estado em que se encontrava sua filha. Alguém ficaria com ela enquanto ele ia ao Larsen e voltava com o médico.
Apesar dos escorregadios caminhos que apenas se distinguiam sob o aguaceiro, chegou ao rio em pouquíssimo tempo.
-Filho de puta!
Dirigia o insulto ao céu, sem lhe importar que Deus o oyese.Donde estava acostumado a estar a ponte, só havia uma vertiginosa correnteza lamacenta. Quão único ficava da ponte eram fragmentos dos pilares em cada borda. De momento, a gente do River Bend teria que seguir sem inteirar-se da enfermidade do Banner. O mais importante nesse instante era localizar ao médico e retornar com ele.
A cidade se protegeu das inclemências do tempo. Havia mais tenda fechadas que abertas. As ruas pareciam lacunas. No edifício de correios a bandeira nacional e a do estado, empapadas, aderiam-se aos mastros. Jake desmontou. Ante a agência de correios e entrou para perguntar pelo médico.
O empregado absorto na leitura de uma novela sobre um detetive chamado Pinkerton que seguia a pista de uns ladrões de trens, levantou a vista com displicência quando Jake entrou.
-Necessito um médico com urgência.
-Você não parece doente.
-Não é para mim. É para mi... esposa.
-Bem, qual prefere?
-Quantos há?
-Dois. O velho doutor Hewitt e um mais jovem chamado Angleton.
-Angleton.
-Não está aqui. Permanecerá fora da cidade durante uma semana. Está visitando a família de sua mulher em Arkansas.
-Onde vive o outro? -perguntou Jake, irritado, perguntando-se durante quanto tempo poderia controlar sua crispação.
O funcionário indicou ao Jake como chegar à casa do médico. Assim que o vaqueiro partiu, enrugou o nariz ao ver o estou acostumado a salpicado de água de chuva, e voltou a entregar-se à leitura de sua novela.
A casa do médico estava rodeada por uma perto de brancas estacas bicudas e tinha cortinas de organdi nas janelas. Jake atou as rédeas do Stormy no poste e correu até a porta.
Depois de chamar, tirou-se o chapéu e se sacudiu a água. Tinha posto um impermeável, por isso não se molhou muito. Abriu a porta uma matrona roliça de cabelo cinza escuro e nádegas como almofadas.
-Está o doutor Hewitt em casa?
Lamujer o olhou com suspicacia.
-Eu sou a esposa do doutor Hewitt. Posso lhe ajudar?
-Preciso ver o médico -disse Jake, que começava a perder a paciência.
-Está comendo. Sua clínica voltará a abrir às três em ponto da tarde.
-Isto é uma emergência.
A mulher apertou os lábios, fazendo patente sua irritação pelo fato de que tivesse vindo a lhes interromper a comida. Mas quando Jake a fulminou com o olhar, a mulher pensou que era melhor não seguir discutindo com ele.
-Espere um minuto.
Fechou-lhe a porta nos narizes. Voltou a abri-la um homem de dimensões similares às da mulher. Apareceu limpando-a boca com um guardanapo a quadros e franziu o sobrecenho ao ver o Jake, catalogando-o imediatamente como um foragido que tinha vindo a procurar ajuda para lhe tirar uma bala a um companheiro ferido. Ao menos essa tinha sido a descrição que lhe tinha dado sua esposa do visitante e o doutor Hewitt pensou que, como de costume, a primeira impressão era a correta.
-Minha esposa me há dito que você tem uma emergência.
-Uma moça vomita algo que tem o pior aspecto e aroma que vi e cheirado em minha vida. queixa-se de cãibras no ventre e tem náuseas continuamente. Está doente.
Necessita-lhe.
-Verei-a esta tarde logo que você possa trazê-la.
Quando o médico tratou de fechar a porta, a mão do Jake se antecipou.
-Não disse que ela o necessite esta tarde. Necessita-o agora.
-Estou comendo.
-Importa-me um cominho! -exclamou Jake-. Você vem comigo agora.
-Olhe, não pode vir aqui exigindo...
-Conhece os Coleman?
Os lábios do médico tremeram por um momento.
-Ross Coleman? Sim, é obvio.
-trata-se de sua filha, Banner. Agora, a menos que queira enfrentar-se não só a meu revólver, mas também também ao de seu pai se chegar a lhe acontecer algo a essa moça, sugiro-lhe que agarre sua maleta negra ou o que demônios necessite e venha comigo. -Para que suas palavras fossem mais convincentes, desencapou o revólver.
Agora.
A senhora Hewitt tinha saído ao vestíbulo quando ouviu as vozes. Ao ver a cena, escondeu-se contra a parede, levando uma mão à garganta.
-meu deus! -repetia uma e outra vez.
-Não ocorre nada, querida - assegurou o doutor Hewitt com uma calma que não sentia, enquanto deixava cair o guardanapo e começava a ficá-la jaqueta e o chapéu.
Este, ejem, cavalheiro, é um amigo dos Coleman. Está um pouco perturbado, embora pense falar com o senhor Coleman de seu grosseiro comportamento na primeira oportunidade que se me presente.
O médico olhou fixamente ao Jake, a quem nada importava o que pensassem de suas maneiras. Só via o rosto mortalmente pálido do Banner e ouvia sua voz lhe rogando que não a deixasse morrer sozinha.
-Tem um cavalo?
-Um tílburi. No estábulo detrás da casa.
-Vamos.
Jake embainhou o revólver e voltou a caminhar sob o aguaceiro quando comprovou que o médico ficava em marcha. Seguiu-o até o estábulo, ajudou-lhe a colocar o arnês ao cavalo e logo conduziu o tílburi pelas callesde a cidade. A cautela do médico nos caminhos lamacentos era recomendável, mas em seu interior Jake ardia de impaciência. Cada minuto que passava era outro minuto de agonia para o Banner.
Parecia que tinham transcorrido séculos quando por fim, depois de deixar ao Stormy no refúgio do estábulo, chegaram à casa.
Reinava o silêncio, um silêncio excessivo. Jake irrompeu na habitação como um raio, temendo o que poderia encontrar. Banner jazia inconsciente debaixo da colcha.
Quando Jake percebeu a clara ascensão e descida do peito, quase soluçou de alívio. Empurrou ao médico para a doente.
Com uma lentidão lhe exasperem, o doutor Hewitt se tirou a jaqueta e a pregou cuidadosamente sobre uma cadeira. ficou uns lentes sobre o nariz e começou a apartar a colcha. Quando Jake se inclinou aproximando-se mais a ele, o médico lhe dirigiu um olhar reprobatoria por cima do ombro.
-Não posso examinar a jovem se permanecer você na habitação.
Se não tivesse necessitado ao médico, Jake teria apagado de um murro a expressão escrupulosa de seu rosto. Mas tal como estavam as coisas, dirigiu ao médico um olhar eloqüente e saiu do quarto.
Caminhava de um lado a outro, rogando e amaldiçoando a cada passo. Sem saber o que fazer, acendeu fogo na cozinha. Possivelmente Banner quereria mais chá, ou possivelmente... possivelmente... possivelmente...
Por sua mente desfilavam distintas possibilidades, cada uma mais sombria que a anterior.
Por fim o médico saiu da habitação, limpando-os lentes com um grande lenço branco. Movia a cabeça tristemente, com o olhar cravado no chão.
-O que é? O que tem? -exigiu Jake com impaciência, ao ver que a atenção do médico parecia estar dedicada unicamente a seus óculos.
-Apendicite. Febre de estômago para você.
Jake deixou escapar uma larga baforada de ar, elevando os olhos ao teto.
-O apêndice. Supu-lo.
-Sinto muito, jovem -disse o médico, posando uma mão conciliadora na manga do Jake-, por você, pela moça e por seus pais. Mas simplesmente não há nada que eu possa fazer salvo confortá-la até... até que mora.
Jake ficou olhando-o fixamente, sem pestanejar.
-O que quer dizer com que não há nada que você possa fazer?
-Exatamente o que entendeu. Aliviarei-a na medida do possível, é obvio, mas...
-Do que está falando?
-Estou tratando de expli...
-Corte o cilindro, imbecil.
-Ouça, jovem. Não lhe permitirei que se dirija para mim com esse tom de voz! -Inclusive erguendo-se ofendido em toda sua estatura, o médico seguia sendo um miúdo comparado com o Jake-. Não acredito que você compreenda as dificuldades que implica uma operação deste tipo.
-Explique-me isso -Responderá ante el señor Coleman por esto -balbuceó el médico.
-Não serve de nada. Não levarei a cabo a intervenção cirúrgica-dijo com firmeza.
-Por que não?
Quando o médico respondeu, a pele dos maçãs do rosto do Jake se esticou.
-Bode presunçoso e santarrão. Traga-o aqui para que fizesse o que fora necessário para salvar a vida ao Banner e isso é o que vai fazer.
-Pertenço à escola de pensamento que acredita que algumas parte do corpo, como o peito, o cérebro e o abdômen, deveriam permanecer intactas.
Jake não se deixou impressionar por seu pedante conferencia.
Agarrou ao médico pelas lapelas, inclinou-o e o elevou até que seus pés estiveram a vários centímetros do chão e sua cara ao nível da sua.
-De onde o desenterraram? As relíqüias como você deveriam ter deixado de existir faz muito tempo.
Empurrou ao homem contra a parede, desencapou o revólver e apoiou o canhão contra a ponta do nariz. Martelou a arma com uma lenta segurança que fez que as gotas de suor escorregassem pela sobrancelha do médico.
-Agora você vai entrar na habitação, vai abrir ao Banner Coleman e lhe vai extrair o apêndice... ou do contrário morrerá. Entendido?
-Responderá ante o senhor Coleman por isso - balbuciou o médico.
-Se Ross estivesse aqui, faria o mesmo. Agora bem, vou ver-me obrigado a lhe voar os miolos, ou não?
-De acordo, farei-o.
Jake soltou ao médico tão bruscamente que golpeou os lentes inclinados do doutor Hewitt. Estes rodaram pela cara e o peito do médico e seguiram caindo até que pôde agarrá-los à altura de seus joelhos.
Nunca tinha estado tão fora de si. Voltou a ficá-los lentes sobre o nariz e estirou seu colete com nervosismo.
-Nem sequer sei se tiver trazido éter. A infecção é o pior inimigo. É preciso que coloquemos uma barreira anti-séptica entre a ferida e os gérmenes que contém
a atmosfera. O ácido fénico está em minha maleta, junto com as ataduras. Tire-os, por favor -disse o médico, dando-se pressa. Queria aplacar a ira daquele bárbaro.
O olhar do Jake era mais afiada que qualquer instrumento cortante que tivesse o médico. Quando Jake desapareceu na outra habitação, o médico considerou a possibilidade de sair correndo da casa e subir a seu tílburi. Mas sabia que nunca poderia correr mais que um homem a cavalo e temeu a reação do Jake se o pescava tratando de escapar.
Mas quase temia mais à cirurgia. Não tinha seguido os progressos da medicina moderna e ignorava os avanços realizados nos procedimentos cirúrgicos. contentava-se dando tapinhas na mão de uma parturiente, suturar dedos cortados e receitar pílulas para a dispepsia.
George Hewitt não se incomodava em estar informado das inovações que se produziram, por exemplo, no campo da assepsia. Vivia em um páramo, alheio aos paraninfos consagrados da investigação médica. Podia extrair balas em tempo recorde se não ameaçavam um órgão vital, e amputar extremidades quase com a mesma rapidez, mas o interior do ser humano lhe causava perplexidade e terror.
Quando tudo esteve preparado, baixou o olhar para a pele de um branco imaculado do Banner Coleman, e um suor frio lhe banhou o rosto. Seus olhos se elevaram para o homem que tinha insistido em estar presente. Hewitt tinha mimado porque necessitaria que alguém jogasse o éter sobre o pano que terei que pôr sobre o nariz do Banner se esta começava a voltar em si.
-Não me farei responsável pelo que aconteça a conseqüência da operação - disse o médico com muito mais valor de que sentia-. Se o apêndice já se arrebentou, com toda probabilidade a moça morrerá, faça o que faça. Quero que o compreenda.
Jake não se arredou. Limitou-se a devolver o olhar do médico com olhos glaciais.
-E eu quero que compreenda isto. Se ela morrer, também o fará você, doutor. Se estivesse em seu lugar, faria todo o possível para que não lhe ocorra nada.
Não cabia dúvida de que o homem era um valentão e um selvagem. Hewitt estava seguro de que o vaqueiro seria capaz de cumprir sua ameaça. Recorreu à pouca destreza que tinha e fez descender o escalpelo afiado como uma navalha para a extensão de carne branda coberta por um pano empapado em fenol no lado direito do umbigo do Banner.
O coração do Jake deixou de pulsar quando observou que a folha atravessava o tecido para gravar uma linha vermelha e lhe supurem no corpo do Banner. Estava fazendo o correto? Sim! Que opção tinha? Banner morreria se não a operavam, e embora as probabilidades de que muriese apesar da intervenção cirúrgica eram aterradoras, tinha que tentar salvá-la.
Banner não podia morrer. Não podia fazê-lo. Ele não o permitiria. Deus não o permitiria.
Quando os dedos torpes do doutor Hewitt abriram a incisão no abdômen do Banner, Jake rezou pela primeira vez em anos.
Hewitt reforçou a vendagem, baixou a camisola do Banner e a tampou com uma colcha. Só então se aventurou a olhar ao Jake, cujos temíveis olhos, não se separavam da moça.
-Sua cor não é boa -observou Jake com preocupação.
-Seu corpo sofreu uma agressão que, me permita lhe recordar, pessoal e profissionalmente considerava desnecessária. -O médico agradeceu a Deus que a garota não tivesse morrido sob seu bisturi, embora tinha sérias dúvidas de que sobrevivesse a essa noite. Trate de lhe manter a temperatura baixa com banhos de água fria.
Agora volte a empapar a vendagem de ácido fénico e dele láudano se tiver dores.
Recolheu suas coisas, introduzindo as de um modo atropelado dentro da maleta, normalmente bem organizado. Queria sair da casa antes de que a moça muriese, escapar desse pistoleiro antes de que este exigisse sua vingança por algo sobre o que Hewitt não tinha nenhum controle. Algumas pessoas eram incapazes de aceitar que não podiam interferir na vontade de Deus.
Não pôde partir com suficiente rapidez, de modo que teve tempo de intercambiar umas poucas palavras com o Jake antes de fugir. Não sabia que Ross Coleman tinha deixado a sua filha aos cuidados de um valentão, depois daquelas bodas escandalosamente abortada. Estava a garota totalmente à margem de toda disciplina?
sentia-se impaciente por chegar a casa e contar a sua esposa o último capítulo da vida do Banner Coleman. É obvio, faria-a jurar que guardaria o segredo. Essa era uma história que não podia repetir-se nas fofocas da cidade, pois chegaria ou seja se quem a tinha difundido. Não queria ofender aos Coleman, embora a companhia de sua filha era mais que suspeita e sua própria conduta muito menos que exemplar.
Esperava que sua esposa tivesse mantido o frango e a sopa quentes.
E essa maldita chuva seguia caindo de maneira torrencial.
Jake aproximou a cadeira à cama do Banner e se sentou com os cotovelos apoiados nos joelhos e os punhos diante da boca. Não apartava a vista do rosto da moça.
A respiração do Banner era ligeira, levantando apenas a colcha sobre seu peito. Isso lhe assustou. Não sabia se devia inquietar-se porque não mostrasse signos de voltar em si ou alegrar-se de que dormisse enquanto passava o pior. Com freqüência lhe tremiam as pálpebras como se estivesse tendo um pesadelo. Mas além disso, jazia imóvel, sem emitir nenhum som, sem forças.
levantou-se da cadeira, disposto a apagar de seu cérebro a idéia da morte. Posou sua mão curtida na frente do Banner e notou que estava mais fria que a última vez que tinha comprovado se tinha febre. O único que lhe preocupava agora era salvar a vida da moça.
Em um rincão da habitação avistou a pilha de roupa de cama manchada de sangue que tinha insistido em trocar assim que terminou a operação. Sentiu náuseas; era o sangue do Banner. Envolveu-a formando uma bola, atravessou a casa escura e a jogou no pátio pela porta traseira. Já a lavaria mais tarde.
Ficando o impermeável e o chapéu, dirigiu-se ao estábulo para atender ao descuidado Stormy. Como os outros cavalos tinham sido transladados ao River Bend antes de partir para o Port Worth, o semental tinha o estábulo para ele sozinho.
-Olá, moço. Acreditava que me tinha esquecido de ti? -Jake lhe tirou a pesada arreios e lhe deu umas fricções bem merecidas e uma ração de aveia.
Ali, na quietude do estábulo, com o som melancólico da chuva caindo do beiral, a gravidade da situação impactou ao Jake como uma grande onda. Tinha sabido que aparecia pelo horizonte, que se aproximava cada vez mais, ameaçadora, mas não tinha querido admiti-lo. Agora a marejada o engolia.
Banner poderia morrer.
Os dedos do Jake se enroscaram na crina do Stormy quando apoiou a frente contra a carne dura do animal.
-Não, não - gemeu. Não pode morrer.
Como Luke, como papai. Grosas lágrimas rodaram por suas bochechas. Ficaria destroçado se perdia ao Banner, e não só porque a tivesse amado desde que era menina, ou porque fosse a filha de seus amigos mais próximos; não queria perdê-la porque, se assim fora, extinguiria-se uma luz em sua vida.
Deus! Lhe tinha feito mal, tinha-a ferido deliberadamente e ofendido repetidas vezes. Tinha justificado sua atitude pensando que o fazia pelo próprio bem deBanner.
Entretanto, tinha que admitir que o que realmente lhe tinha impulsionado era o fato de que Banner tinha chegado a ser muito importante para ele.
Vinte anos atrás se negou aos vínculos emocionais porque eram muito arriscados. A gente amava a alguém e logo o perdia. Era mais conveniente não amar absolutamente.
Amar a Lydia todos aqueles anos tinha sido fácil, porque tinha sido um sentimento secreto que nada lhe exigia. Mas amar ao Banner...
Amava ao Banner?
-Não sei -sussurrou ao Stormy
Só sabia que era capaz de mover céu e terra para poder contemplar o rosto da moça animado e sorridente, ou altivo e irado, ou resplandecente e aceso de paixão; de qualquer modo, de qualquer modo exceto com a imobilidade da morte.
Saiu do estábulo e teve que saltar atoleiros e vadear muito gradeio antes de chegar à casa. Pendurou o chapéu e o impermeável, de qualquer modo, no perchero que havia junto à porta traseira e se tirou as botas, as deixando cair com descuido no chão. Caminhou pela casa em meias três-quartos. O silêncio no dormitório seguia sendo sepulcral. aproximou-se da cama e se ajoelhou junto à moça.
-Não vais morrer, Banner. Não me abandonará. Necessito-te para seguir vivendo, e não pode me abandonar. Não lhe permitirei isso -sussurrou com ardor, lhe agarrando a mão e levando-a para sua boca. A única resposta que obteve foi um gemido apagado, que soou como música aos ouvidos do Jake.
ficou em pé, rendo e chorando de alívio. Não podia consentir que despertasse em um ambiente tão sombrio e triste. Empreendendo uma atividade frenética, percorreu a casa acendendo os abajures. Tudo tinha que parecer alegremente vivo quando Banner abrisse os olhos. O anjo da morte não se atreveria a espreitar uma casa com tudo os abajures acesos. Sabia que estava atuando como um louco, mas não estava disposto a correr nenhum risco.
Alimentou o fogo do lar e voltou a jogar lenha na cozinha. Esquentou uma lata de favas para ele e manteve quente a água da bule se por acaso Banner queria algo quando voltasse em si.
depois desse frenesi de atividade, ficou esgotado. sentou-se junto ao Banner até que as pálpebras lhe pesaram muito para poder ter os olhos abertos. Então se dirigiu ao salão, despiu-se e se envolveu em uma manta sobre o sofá. ficou dormido quase imediatamente.
Banner estava quente. Muito quente. Algo a oprimia, esmagava-a contra a cama. Parecia ter a boca cheia de algodão. Sentia uma dor palpitante que procedia de
algum ponto de seu corpo, mas não podia localizá-lo. Ordenou a seus olhos que se abrissem. A luz resultou excessivamente deslumbrante, hiriendo seus olhos como se fossem vírgenes, perfurando-os, lhes fazendo danifico.
Gradualmente os olhos se acostumaram à luz, e os manteve abertos. Dirigiu o olhar para as janelas e viu seu dormitório refletido no vidro. Fora estava escuro
e seguia chovendo.
Tratou de situar-se e procurar sua última lembrança, mas seus pensamentos surgiam desordenados. A percepção da realidade era estranha. A habitação aparecia grande e se encolhia a seguir; as patas da cama pareciam de repente não achar-se mais longe que a ponta de seu nariz, para dar logo a sensação de haver-se afastado vários quilômetros. Estas danças ondulantes lhe fizeram sentir náuseas e ofegou com os lábios separados em seu intento por impedir o vômito.
Tratou de incorporar-se, mas a dor lhe açoitou a cintura e caiu de costas sobre a cama com um surdo grito de alarme.
-Banner?
Jake, com o cabelo revolto, apareceu parado na soleira da porta, com os braços abertos apoiados nas ombreiras. A moça delirava, devia estar delirando.
Jake estava nu.
Precipitou-se para a cama e caiu de joelhos junto ao Banner, lhe agarrando as mãos e dirigindo o olhar para sua cara.
-Como se sente?
Ela o olhou assustada.
-Não sei. Sinto-me estranha. O que me passou?
-Operaram-lhe.
As pupilas do Banner estavam dilatadas apesar da luz que se derramava sobre elas.
-Uma operação? Quer dizer que me cortaram e me abriram? Jake?
-Chsss... Aqui, ensinarei-lhe isso. -Levou-lhe uma mão debaixo da colcha e a apoiou levemente no estômago envolto em ataduras. Banner fez um gesto de dor quando pressionou com um pouco de força-. Brandamente -advertiu Jake-.A ferida ainda é recente. Recorda que te encontrava muito mal?
A lembrança surgia fragmentário; a viagem a casa sob a chuva; a dor febril nos ossos; a náusea; as cãibras agudas; o mal-estar enquanto Jake a abraçava.
-Te inflamou o apêndice.
-Febre de estômago. -Lágrimas de terror brotaram dos olhos da moça-. A gente morre disso.
-Mas você não vais morrer -disse Jake com veemência-. Veio o médico e te extirpou o apêndice. Eu te cuidarei, e em um par de semanas estará totalmente recuperada.
Banner tratou de assimilar todo aquilo, sem retirar a mão do lugar dolorido de seu abdômen que lhe provocava um mal-estar em todo o corpo.
-Dói.
-Sei. -Beijou-lhe o dorso da mão que mantinha entre as suas-. Será por uns poucos dias. Além da dor, como te encontra?
Banner piscou.
-A luz é horrivelmente intensa.
Sorriu com uma ironia dirigida a si mesmo quando estirou o braço para baixar a mecha do abajur que se achava sobre a mesinha de noite.
-É minha culpa. Não queria que despertasse na escuridão e te assustasse.
-Você está me cuidando?
-Sim.
-Onde está minha mãe?
Jake lhe roçou a bochecha.
-Lamento-o, Banner. Tratei de atravessar o rio e trazer para seus pais, mas as águas enrolaram a ponte e não é possível cruzar o rio. River Bend estará isolado até que afastamento de chover e baixe o nível das águas. Temo-me que não poderá te desprender de mim.
Banner permaneceu imóvel por um momento, olhando-o fixamente.
-Não me importa, Jake. -Levantou uma mão para lhe acariciar a bochecha, mas a debilidade lhe impediu de fazê-lo-. Estou enjoada.
-É a causa do éter e da febre. Deveria voltar a dormir. Quer beber um pouco de água?
A moça assentiu, e o homem verteu em um copo a água de uma jarra que se achava sobre a mesinha de noite.
-Só um sorvo. -Jake lhe levantou a cabeça com uma mão e inclinou o copo para seus lábios. O vidro chocou brandamente contra os dentes. Bebeu um sorvo, logo outro.
Já está bem por agora. -Voltou a deixar o copo sobre a mesa e advertiu o frasquito de láudano que tinha deixado o médico.
-Dói-te? Posso te dar láudano.
-Não, mas fica comigo.
-Ficar...?
-Dorme comigo. Como no trem.
-Mas, carinho, você...
-Por favor, Jake.
Ao Banner custava manter os olhos abertos, mas fez um gesto débil para abraçar-se a ele. Foi suficiente para desterrar as objeções que Jake se expor. O homem ficou em pé e se deslizou entre os lençóis. Passou um braço sob os ombros da moça e lhe apoiou sua cabeça em seu peito nu. Banner se voltou para ele.
-Não, não, fica aquieta ou te fará mal.
Jake posou a outra emano na coxa do Banner a fim de ser alertado se a moça movia a parte inferior de seu corpo. Os dedos do Banner se enredaram no pêlo do peito do homem e sua respiração suave soprou através dele.
OH, Deus! Que céu! Que inferno! Que tortura delicioso!
Mas, milagrosamente, ao cabo de uns momentos o sonho venceu ao Banner, e ao pouco ele também ficou dormido.
À manhã seguinte, Jake se deslizava pela casa sem fazer ruído, não querendo perturbar o sonho do Banner. Atendeu ao Stormy, carregou lenha, acendeu o fogo do lar e o da cozinha, preparou um café da manhã a base de toucinho que tinha encontrado na despensa, pão-doces, e café carregado e quente.
Quando terminou de tomar o café da manhã, ocupou seu lugar junto ao Banner. Nos lençóis ainda ficava impressa o rastro de seu corpo no lugar em que tinha jazido.
Fechou os olhos quando sentiu que o embriagava uma onda de prazer. Nunca tinha passado a noite inteira com uma mulher até então. depois das possuir, abandonava-as.
Tinha descoberto que era muito agradável dormir junto a uma mulher, compartilhar o calor de seu corpo, intercambiar o fôlego. Mas não com qualquer mulher; só com o Banner.
Baixou o olhar para ela. Realmente era maravilhoso despertar junto a ela. Deus todo-poderoso, Banner era tenra, cálida e suave. Quando Jake despertou encontrou com a mão da moça curvada sobre seu coração, com os lábios ligeiramente entreabiertos e apertados contra seu peito. E a mão do Jake...
Tragou saliva ao recordar onde tinha estado sua mão. No lugar mais suave, quente e doce de todos. Tinha cavado a mão nesse sítio de um modo protetor. Mas quem ia proteger à moça dele?
Não soube quanto tempo esteve ali sentado, com os olhos cravados no rosto dormido do Banner. Não importava. Era ali onde desejava estar.
Quando Banner despertou, esteve mais animada, mas também mais consciente de seu estado dolorido.
-Tenho a impressão de que não poderei voltar a me mover.
Jake sorriu. Não ia morrer. Não sabia se o tinha impedido a intervenção de Deus ou seu empecinamiento, mas estava seguro de que Banner não ia morrer.
-Não demorará muito em voltar a montar ao Dusty. -Ela gemeu e ele riu-. Deve compreender que necessita tempo para te recuperar. Quer um pouco de chá?
Banner assentiu e Jake foi à cozinha. Quando retornou ao quarto, a moça se retorcia debaixo da colcha.
-Jake, há algo...
-O que? -Com evidente preocupação, deixou o chá sobre a mesinha.
-Nada, não importa -disse Banner, evitando seu olhar.
-O que? Encontra-te mau? Tem vontades de vomitar?
As bochechas do Banner se acenderam de rubor, e Jake soube que não era de febre esta vez.
-Não.
-Então o que? Dói-te? Quer um pouco de láudano? Toma-o se o necessita, isso...
-Não necessito láudano.
-Maldita seja, então o que é? -exclamou ele perdendo a paciência-. Diga-me isso -Gracias por recordármelo.
-Tenho que ir ao banho.
Jake adotou a expressão estúpida de alguém que acaba de ser golpeado no rosto com uma bolsa de estopa úmida.
-Vá! Em nenhum momento pensei nisso.
-Bem, pensa-o. E depressa.
-Voltarei em seguida. -Correu até a cozinha e retornou com uma caçarola pouco profunda-. Até que possa te levantar e usar o urinol, terá que utilizar isto.
-O que está fazendo?-gritou Banner quando ele jogou para trás a colcha.
-Bem, temos que colocá-la debaixo de você..., bom, ali debaixo, não?
-Posso fazê-lo eu sozinha.
-Não pode te mover.
-Conseguirei-o.
-Banner, não seja tola. Eu te sustentava a cabeça enquanto vomitava as tripas a outra noite Y...
-Obrigado por me recordar isso -De acuerdo, Jake -susurró Banner, obediente.
-E estive junto à cama observando a intervenção. Troquei-te a camisola quando esse médico brega se negou a fazê-lo. Vi-te, de acordo? Agora, me deixe deslizar esta caçarola debaixo de seu traseiro antes de que molhe a cama.
-Farei-o eu mesma ou me agüentarei -disse Banner com os dentes apertados.
Jake não entendia como podia querer abraçá-la e confortá-la em um momento e ao seguinte desejar estrangulá-la. girou-se sobre os talões e saiu dando uma portada.
-Mulheres! -disse com desgosto quando a porta se fechou de um golpe detrás dele.
Banner advertiu que tinha passado de ser uma simples "mucosa"a ser uma "mulher". O considerou um completo.
Cinco minutos mais tarde, quando Jake bateu na porta, recebeu-o com um fraco:
-Adiante.
Jake apareceu pela porta e se alarmou ao ver um braço do Banner tendido lánguidamente sobre a cama.
-Está bem?
Banner abriu os olhos e se precaveu de sua preocupação.
-Estou bem, realmente, embora um pouco cansada.
-Esgotaste-te. -Com indiferença, elevou a caçarola e a deixou no chão-. Eu não te ajudei. Sinto te haver gritado. Volta a dormir, meu amor.
-De acordo, Jake -sussurrou Banner, obediente.
As pálpebras com as pestanas mais escuras que tinha visto em sua vida se fecharam sobre os olhos do Banner, que ficou dormida imediatamente.
Jake a cuidou todo o dia, até a noite.
-Voltará a ficar comigo, verdade?
Jake, que estava arrumando os lençóis e a colcha, deteve-se.
-Não deveria, Banner.
-Por favor.
-De acordo. Mas durma. Ainda tenho que fazer algumas costure.
-Promete que...
-Sim. Prometo-o.
Banner dormiu toda a noite e só uma vez, ao tratar de dá-la volta, gemeu brandamente, despertando ao Jake imediatamente. Os braços do homem a rodearam.
-Chsss. Recorda que não tem que te mover -sussurrou-lhe ao ouvido.
Beijou-lhe a bochecha e cobriu com sua perna as dela para impedir que voltasse a mover-se. Banner se acurrucó contra Jake. Esta vez gemeu.
Jake não pôde conciliar o sonho até muito tempo depois.
À manhã seguinte, Banner se queixou de estar faminta.
-Este chá não é suficiente -disse, lhe entregando a taça vazia.
-É um bom sintoma.
-Isso que cheiro é toucinho?
-Sim, mas não acredito que te convenha.
-jJake, estou morta de fome! -Ele arqueou uma sobrancelha-. O que ocorre?
-Há pouca comida na casa. Devo ir à cidade e comprar mantimentos frescos, ovos e leite. Em circunstâncias normais, Lydia e Mami estariam aqui e se ocupariam da comida, mas a chuva não cessou. Felizmente achamos a este lado do rio e posso ir à cidade. -Olhou-a-. Estará bem se te deixar sozinha durante uma hora?
A idéia de permanecer sozinha e imóvel a encheu de espanto, mas não podia expressar ao Jake seus temores. Ele estava fazendo quanto estava em sua mão para atendê-la adequadamente. O menos que podia fazer ela para agradecer seus cuidados era não chatear.
-É obvio.
Jake realizou a viagem em tempo recorde, lutando contra os elementos com o passar do caminho. Entretanto, os minutos transcorreram com excessiva lentidão para o Banner, embora dormitou a maior parte deles. Quando lhe ouviu abrir a porta traseira, quase esqueceu sua dor e se sentou na cama.
-Já está de volta? -disse.
-por que não está dormindo? -replicou Jake da cozinha, onde deixou as roupas úmidas.
-Estou farta de dormir.
-Já volta a ser a garota rebelde de sempre, de modo que suponho que está te recuperando. -Se o sorriso do Jake fosse medicina, Banner se teria curado imediatamente quando ele entrou no dormitório-. Me sentiu falta de?
-O que me trouxeste? Chuletas e batatas? Presunto? Peru?
-Um pouco de carne para fazer caldo.
-Caldo!
Jake se sentou no bordo da cama.
-Hoje caldo. Possivelmente cozido de frango amanhã. E se não apagar essa panela dos lábios, não te entregarei o presente que te comprei.
A irritação do Banner se desvaneceu.
-Que presente?
Jake tirou duas barras de caramelo do bolso da camisa e as ofereceu.
-Uma de cereja e outra de zarzaparrilla. Seus favoritas.
Banner apertou as barras de caramelo contra seu peito.
-Acordaste-te.
-Diabos, quando foi uma menina não me tivesse atrevido a ir ao River Bend sem te levar essas barras de caramelo.
A mão do Banner lhe acariciou a bochecha.
-As barras de caramelo tinham pouco que ver com a alegria que me proporcionava verte, então e agora. Mas obrigado de todos os modos.
Ao redor dos quadris do Jake se formou um desejo tão explosivo que fez estremecer todo seu corpo. separou-se da Bannerpara evitar recordar como a tinha sentido contra ele de noite e quão doce sabia sua boca. Banner se encontrava melhor, mas seguia estando doente e não queria ter que acusar-se mais tarde que haver-se aproveitado dela.
-Será melhor que comece a preparar esse caldo -resmungou enquanto saía do dormitório.
Essa noite não dormiu junto ao Banner. Ela tampouco o pediu. Tacitamente ambos admitiram que seria temerário.
Ao dia seguinte Banner apresentou uma melhoria tão notável que esteve em condições de sentar-se recostada contra os travesseiros. Levava vinte e quatro horas sem ter febre e a ferida não apresentava infecção. Seu corpo só requeria tempo para recuperar-se.
-Sente-se com ânimo para te levantar e caminhar um pouco?-perguntou Jake, tirando do regaço da moça a bandeja com o café da manhã.
Banner tinha comido um ovo revolto com o apetite voraz de um ave de rapina. Tinha acreditado que lhe alegraria abandonar os limites de sua habitação, mas uma vez chegado o momento de pôr a prova suas pernas e comprovar se ainda funcionavam, vacilou. O ventre lhe doía muitíssimo. Levantar-se, caminhar e voltar a meter-se na cama lhe resultavam afãs impossíveis.
-Crie que deveria tentá-lo? O que disse o doutor Hewitt?
Jake desviou o olhar.
-Bien,él, bom, não o mencionou. Mas essa moléstia não vai desaparecer nunca se permanecer na cama.
-Possivelmente amanhã.
Com os braços apoiados na cintura, Jake se situou frente a ela em gesto desafiante.
-Acaso começou a te gostar de fazer as necessidades no urinol?
Os olhos do Banner cintilaram com essa belicosidade conhecida que ele tinha esperado provocar.
-Muito bem, farei-o.
-Parece-me que te sentará bem -disse Jake secamente, tratando de tirar a sua voz o tom de autosatisfacción.
Lhe dirigiu outro olhar assassino enquanto retirava a colcha e levava as pernas para um lado da cama. A região inferior de seu torso protestou de maneira dolorosa, obrigando-a a encolher-se.
-Banner, espera -disse Jake, contrito-. Possivelmente nos estejamos precipitando. Esperaremos até manhã.
Banner negou com a cabeça. Tinha o rosto pálido, mas os olhos lhe brilhavam de decisão.
-Não. Tinha razão. Devo voltar a utilizar estes músculos alguma vez. Faça-o quando o fizer não será fácil.
Já tinha avançado pouco a pouco até o flanco da cama. Ao Jake angustiava comprovar o frágil e pequena que lhe parecia, com as pernas aparecendo pela prega da camisola e os pés nus procurando o chão. Passou-lhe um braço pela cintura.
-te apóie em mim.
Banner obedeceu. Quando seus pés encontraram o piso, começou a caminhar com a ajuda do braço forte do homem.
-Estou tão débil -disse, ofegante, quando a habitação parecia dar voltas lentamente ao redor.
-Isso é por ter estado na cama tanto tempo. Pode dar uns poucos passos?
Caminharam juntos, cambaleando-se até a porta e retornaram. Jake tratava de cortar suas largas pernadas para as compassar com os passos da moça, quem, pega a ele, apertava com negligência o braço do homem contra seus seios.
Jake não se mostrou indiferente. A cabeça lhe deu voltas tão vertiginosamente como ao Banner quando os seios da moça se remodelaram em torno de seus bíceps.
Os cabelos do Banner, uma massa revolta de ondas e cachos, roçavam-lhe o queixo e o nariz cada vez que se inclinava para lhe perguntar se sentia dor.
Quando retornaram à cama, Jake a fez sentar-se na cadeira que estava junto a esta.
-Pode estar aqui o tempo suficiente para que troque os lençóis?
Banner sorriu, triunfal.
-Sim, não é tão molesto como ao princípio. -Jake lhe sustentou o olhar durante um segundo e lhe levou detrás da orelha uma mecha de cabelo rebelde antes de dirigir-se ao armário para tirar a roupa de cama limpa-. Crie que voltarei a caminhar erguida? -Tinha andado inclinada quase em um ângulo de quarenta e cinco graus.
Jake tirou os lençóis da cama e pôs as podas. De repente a habitação ficou saturada do aroma de sol do verão, que tinha impregnado os lençóis enquanto se secavam na corda semanas antes.
-Claro que o fará, quando estiver segura de que não te vais arrebentar se o faz. -Jake lhe sorriu com ironia enquanto agarrava o travesseiro.
-É minha tolice, sei.
-Mas é normal.
De repente, Banner se cobriu a boca com a mão para dissimular uma risita.
-O que te diverte tanto? -perguntou Jake. Tinha o travesseiro entre o queixo e o peito e estava lutando para introduzi-la na capa.
-Possivelmente poderia encontrar um emprego em um hospital como enfermeiro. A tempo parcial, é obvio, para que não tenha que deixar seu trabalho de vaqueiro.
Jake a olhou com o sobrecenho franzido quando voltou a colocar o travesseiro.
-Só te permito que faça observações como essas com impunidade porque está convalescente. Mas quando estiver bem, tome cuidado -ameaçou o homem com um suave grunhido.
Depois a ajudou a deitar-se. Quando Banner esteve reclinada contra os travesseiros, pediu sua escova do cabelo. Os braços lhe caíram cansadosa os flancos do
corpo depois de um ou dois minutos de escovado.
-Nunca conseguirei desenredá-lo.
-Quer que te ajude?
Jake se achava aos pés da cama, observando ociosamente o modo em que Banner levantava os braços por cima da cabeça e se passava a escova pelo cabelo. Era tão bela. E tinha estado a ponto de perdê-la. Se o fazia um nó no estômago cada vez que pensava no perto que tinha estado de perdê-la.
-Por favor.
Favor? Não era mais que uma desculpa para tocá-la. sentou-se em um lado da cama e a ajudou a incorporar-se. Jake logo que apoiou o quadril sobre o ângulo do colchão, para erguer-se a seguir plantando os pés calçados com botas no chão. Tirou-lhe a escova da mão.
-Me diga se esta posição for muito incômoda para tí.
-Não o é -suspirou Banner, enquanto Jake passava a escova por seus cabelos-. É agradável.
-Atiro-te?
-um pouco, mas não dói.
Demorou vários minutos em conseguir que a escova penetrasse por entre as mechas emaranhados da nuca, mas depois de desenredá-los, pôde passar a escova pela espessa meada com facilidade.
O cabelo do Banner era espesso, rebelde, exuberante. Jake desejava enterrar seu rosto nele, sussurrar palavras carinhosas nessa densidade de meia-noite e expressar tudo o que sentia.
O pescoço do Banner era brando. A cabeça da moça se movia com os movimentos das mãos do homem. Cada vez que a escova passava por seu cabelo era como uma carícia.
As mãos que estavam acostumadas a retorcer arame de pua, a marcar vacas e a enlaçar cabeças de gado eram tão suaves como lasde uma mãe com seu bebê. Banner notava a respiração do Jake sobre seu pescoço quando lhe elevava o cabelo na escova, rastelando-o com as cerdas, para voltar a deixá-lo cair. Lánguidamente, Banner se apoiou contra o peito do homem.
-Está ficando dormida? -murmurou Jake.
-Não. Só agradavelmente amodorrada.
Cada célula do corpo do Jake estava plenamente acordada. Sua coxa pressionava a curva do quadril do Banner, cujas costas se adaptava ao peito do homem. Inclusive debaixo da folgado camisola, Jake podia distinguir a delicadeza de suas formas. Desejava ardentemente rodeá-la com os braços e descansar as mãos sobre seus peitos; cada vez que Banner respirava, o tecido de algodão que os cobria tremia de um modo incitante. Ansiava tocá-la, vê-la, saboreá-la.
A excitação do Jake ia em aumento.
Depositou a escova sobre a mesinha de noite e, com as mãos sobre os ombros do Banner, atraiu-a para si. Agasalhou o rosto na glória de seus cabelos. Fechou os olhos ante a convulsão de emoção que percorreu seu corpo. Queria ao Banner; desejava estar dentro dela, amá-la.
Um braço se deslizou ao redor do corpo da moça, cuja cabeça caiu para trás para reclinar-se no ombro do Jake. O rosto do Banner procurou o do homem, e suas bocas se encontraram em uma carícia doce e breve.
Logo, com tremenda contenção, Jake a separou dele e se levantou da cama.
-Seus cabelos estão realmente formosos agora, Banner.
-Obrigado -disse ela com voz apagada.
Não podia ocultar sua decepção. Por um momento, tinha pensado, tinha esperado que Jake voltaria a lhe fazer o amor. Tinha percebido uma nova delicadeza em sua maneira de tocá-la, em toda sua atitude para ela, que não tinha mostrado antes. Queria sentir essa delicadeza enquanto estivesse presente. Banner intuía que a aparência arruda do homem ocultava uma dor profunda que tinha sofrido em sua juventude. Jake era capaz de amar, mas não queria arriscar-se a deixar-se arrastar pelas emoções.
Tinha criado uma couraça que lhe impedia de manifestar o amor que sentia por outra pessoa. Mas havia gretas na muralha que tinha levantado seu redor. Banner se propôs medir cada uma dessas gretas até que lhe permitisse entrar, conhecer o que escondiam esses implacáveis olhos azuis.
-Aonde vai? -perguntou com suavidade quando ele se dirigiu para a porta.
Jake se voltou e a olhou com ânsia. Banner jazia recostada nos travesseiros, com o cabelo esparso como tinta escura sobre a roupa de cama branca. Tinha os olhos empanados.
-Você está muito polida. -Jake deslizou uma mão sobre sua mandíbula-. Mas eu ainda não me barbeei.
-Faz-o aqui -sugeriu ela, espontaneamente.
-O que?
-Pode te barbear aqui, em meu penteadeira.
-Banner -disse Jake, olhando ao teto-, não posso.
-Por que?
-Porque, este... -Procurou um motivo convincente-. Porque barbear-se é um ato banal, essa é a razão.
-Então, por que te tem que importar que eu esteja olhando?
-Não me importa que olhe. Só é que...
-E bem?
-OH, diabos. Se isso te fizer feliz!
Saiu dando uma portada, e Banner voltou a recostar-se contra os travesseiros, sorridente e agradada. Quando Jake retornou, trazia um jarro de metal, uma broxa, uma navalha e uma toalha.
-Espero que te dê conta de que me estou tomando muitas moléstias para te entreter -resmungou Jake. Deixou seus instrumentos de barbear sobre o penteadeira e foi à cozinha para procurar uma jarra de água quente.
-Não cria que não o valoro -gritou Banner.
Jake murmurou algo, mas ela só pôde captar a palavra "mucosa". Tinha uma expressão carrancuda quando entrou com a água quente e a verteu na bacia de porcelana do Banner. As rosas amarelas pintadas nela atraíram sua atenção.
-Será melhor que nunca diga a ninguém que me barbeei usando uma bacia com flores pintadas.
-Meus lábios estão selados.
Os olhos do Banner cintilavam maliciosamente. Esse signo de saúde era a única razão pela qual Jake tolerava essa estupidez. Banner melhorava hora detrás hora.
Começava a emergir a vitalidade de seu corpo normalmente robusto, substituindo ao atormentado pela dor e o delírio da febre.
Banner lhe contemplou desabotoá-los primeiros botões da camisa e meter o pescoço para dentro.
-por que não te tira a camisa?
Jake afundou a broxa na água, logo no jarro de sabão de barbear e começou a formar uma abundante espuma.
-Por que não te ocupa de suas coisas? -Com um gesto violento, começou a estender a espuma branca sobre sua mandíbula com movimentos circulares até cobrir a parte inferior de seu rosto-. Levo muitos anos fazendo isto sem necessidade de treinador.
-Pensei que podia te manchar.
No mesmo instante em que Banner dizia isso, uma porção da espuma de sabão caiu sobre o peitilho da camisa do Jake. Proferiu uma maldição, agarrou a toalha e se limpou a camisa. Banner reprimiu a risada; Jake franziu o sobrecenho e adotou uma expressão sombria que se refletiu no espelho, embora não obteve que resultasse muito ameaçadora com o rosto coberto de espuma de barbear.
Jake agarrou a navalha.
-Não deveria suavizar a primeiro navalha? -perguntou Banner.
Jake não fez conta. Inclinando a cabeça, deslizou a navalha da costeleta até a mandíbula. Logo a inundou no jarro de água para limpá-la e fez outro passe. Contraiu os lábios para dentro para barbear o bigode.
-Faz que me sinta coibido. -As palavras saíram deformadas pelo modo em que mantinha a boca, e Banner riu.
-É fascinante.
-OH, sim, fascinante -burlou-se ele.
Quando a parte inferior do rosto ficou poda e Lisa, voltou a agarrar a broxa e estendeu a espuma debaixo do queixo e pelo pescoço. Jogando a cabeça para trás, colocou o fio da navalha na base de sua garganta e a arrastou para cima sobre a noz.
-Jake?
-Humm?
-Diria que seu pássaro é maior que o da maioria dos homens?
-Mierda! -Uma gota de sangue apareceu na zona do jugular. girou-se com rapidez-. Não deveria dizer essas grosserias a um homem quando sustenta uma navalha contra sua garganta.
-Acaba de ocorrer-se me -Siempre duermes así?
-Bem, possivelmente não deveria dizer tudo o que te ocorre. Expuseste-lhe isso alguma vez?
-E bem?
-E bem o que? Não é teu assunto! -Jake se voltou para o espelho de novo, agarrando a toalha para estancar o magro fio de sangue que descendia pelo pescoço.
Que classe de pergunta é essa vindo de uma garota solteira? Não estaria bem nem que fosse uma dama casada. Onde ouviu essa palavra?
-Não é assim como o chamam?
-Às vezes, mas você... Não, me deixe adivinhar -disse Jake, levantando as mãos, com as Palmas para fora-. O ouviste seu irmão e ao meu.
-Persegui-lhes uma vez que foram aliviar se ao bosque. Parece-me que estavam comparando seus...
-Não o repita.
-Até então, pensava que todos eram iguais. Agora suponho que são como os peitos das mulheres; alguns maiores que outros.
-OH, Deus. -O rosto do Jake adotou uma expressão de aflição.
-O que ocorre? Não existe nenhum pudor entre nós, verdade?
-Aparentemente, não. -Jake terminou de barbear-se e começou a tornar-se água sobre a cara.
-Nossa situação apenas se ajusta às leis do decoro. Poderia havê-lo pensado duas vezes antes de dormir comigo nu.
Jake levantou a cabeça e, sem preocupar da água que caía ao chão, voltou a olhá-la, estupefato.
-Sempre dorme assim?
-Como sabe que o faço?
-Vi-te.
-Quando?
-A noite depois de minha operação.
-Estava aturdida pela febre e a dor.
-Não tão aturdida. Crie que não recordaria a um homem nu metendo-se na cama comigo?
Jake se girou de novo para o penteadeira e se secou a cara com a toalha. Logo a jogou para um lado, subiu o pescoço e começou a abotoar-se novamente a camisa.
-Não quero seguir falando do tema.
-Nunca tinha visto um homem totalmente nu antes. Era lógico que sentisse curiosidade, não?
-Seguro, suponho que sim. Mas preferiria que não me falasse disso.
-por que? Você é o primeiro homem ao que vejo nu.
-Deixa de dizer isso!
-Bom, não tem que te pôr assim. Você também me viu nua.
Jake a apontou com um dedo e disse com firmeza:
-Só porque era necessário, Banner. Estava assistindo ao médico.
-Compreendo -disse Banner com excessiva seriedade, baixando os olhos-. Mas, para ser exatos, eu não te persegui nem te despojei das roupas. Quando despertei e gritei, você apareceu aqui tão nu como veio ao mundo.
-Eu sempre durmo assim! -gritou Jake à defensiva.
Banner cruzou os braços detrás da cabeça, recostando-se contra os travesseiros, e sorriu com o sorriso do gato que acaba de tragar-se ao canário.
-Seriamente?
Ao Jake enfurecia que Banner se burlasse dele. Acabava de responder à pergunta que ela tinha formulado. O fulgor triunfal que brilhava nos olhos da moça era tão sedutor como sua postura sobre a cama.
Para salvar as aparências, tinha que atirar da presunção do Banner como se fosse um tapete sobre a que se achava parada. A expressão do Jake deixou de ser zangada e se tornou arrogante. Seus olhos percorreram o corpo da moça com insolência enquanto se passeava curvado.
-Não podemos permitir que não satisfaça sua curiosidade, não te parece?
-Que insinúas? -perguntou Banner, enquanto uma cautela incômoda substituía a sua passada complacência.
-Quero dizer que se com isso te tranqüiliza...
Banner olhava com os olhos muito abertos enquanto Jake se desabotoava o cinturão. umedeceu-se os lábios.
-Espera um momento.
Jake fez uma pausa.
-Por que?
-O que faz?
Jake sorriu, e os dedos duros e fortes continuaram desabotoando as calças.
-Estou me desabotoando as calças.
Banner se sentou mais erguida, já não em atitude de mulher sedutora, mas sim de donzela recatada.
-Espera, Jake!
Jake desabotoou o último botão de sua braguilha.
-Quer uma resposta a sua pergunta, não é certo?
-Eu...
-Bem, aqui está.
Banner fechou com força os olhos quando as mãos do Jake voltaram a mover-se.
-Não, não sempre suavizo a navalha antes de me barbear. Só quando é necessário. Aproximadamente uma vez por semana.
Banner abriu os olhos. Jake estava colocando as abas da camisa tranqüilamente dentro das calças. Indo às nuvens, observou-o enquanto grampeava os botões e o cinturão.
-Alguma pergunta mais?
Uns olhos turbulentos se elevaram para os seus.
-Você...você...
-Agora não convém que te zangue, Banner. Recorda que necessita repouso. -Esquivou o travesseiro que voava para sua cabeça e correu para a porta.
Sua risada ressonante afogou os insultos hirientes que lhe dirigiu.
-Toc,toc. vais lançar me um travesseiro à cara se entrar para ver como está?
Horas mais tarde, Jake apareceu a cabeça pela porta. Tinha atendido ao Stormy, carregado lenha e começado a preparar a sopa para o jantar. As vezes que tinha cozinhado pelos caminhos durante suas viagens lhe resultavam úteis agora. A comida que preparava talvez não fosse deliciosa, mas era satisfatória.
-Não.
Jake tinha esperado que estivesse ressentida, mas quando abriu a porta e se aproximou da cama, deu-se conta de que nem sequer pensava na refrega anterior. Banner se encontrava mau.
-O que ocorre, Banner?
Banner movia a cabeça sobre o travesseiro.
-Sei que parecerá absurdo, mas me pica muito a ferida.
-Picar? Provavelmente significa que se está curando. -Fez uma pausa muita larga para não ser advertida-. Mas será melhor que lhe joguemos uma olhada.
Banner elevou os olhos para os seus, manifestando sua confiança.
-Como diz, Jake.
O homem apartou a colcha e o lençol. Quando a pequena figura vestida só com a camisola que se adaptava a cada curva de seu corpo ficou ao descoberto, lhe fez
um nó na garganta. Pigarreou com força.
-Quer que, isto...? -Fez um movimento descritivo com as mãos e logo se voltou de costas.
Banner se levantou a camisola e ajustou a colcha a seu femineidad, despindo só a parte de seu abdômen que requeria a atenção do Jake. É obvio, deixava visível uma perna, o quadril e grande parte do flanco do corpo, mas não podia evitar-se.
-Já está -disse Banner.
Jake se voltou para ela. Seus olhos não se encontraram com os da moça, mas sim se concentraram na vendagem que lhe atravessava o abdômen. Com tanta suavidade como pôde, tirou as ataduras.
Banner ofegou. Jake elevou rapidamente a cabeça.
-Tenho-te feito mal?
-Não. -Banner baixou o olhar para a magra linha rosada com os pontos de sutura supurantes-. Acabo de me dar conta de que realmente me abriram. -Fechando os olhos
e tragando saliva, rechaçou a repugnância que lhe produzia calafrios-. É tão feio.
-Comparada com algumas de quão feridas vi remendadas, o trabalho do Hewitt se pode considerar uma obra professora. -Tocou com suavidade a zona ao redor da ferida.
Não pôde encontrar nenhum signo de inchaço ou enrojecimiento-. Vê essas manchas de sangue seca? É o que te produz picor. Está curando bem.
-Surpreende-me que o doutor Hewitt não me tenha visitado. Inclusive com a chuva e a inundação, pensei que o faria.
Jake considerou que não necessitava uma vendagem tão grande e o substituiu por um suave quadrado de gaze que tinha deixado o médico. Enquanto o colocava, disse:
-Banner, há algo que deveria te dizer.
Banner tinha os olhos fixos no cocuruto do Jake, que iluminado pela luz do abajur semelhava um sol nascente. Notava a respiração do homem acariciando ligeiramente sobre seu estômago.
-O que?
-Sobre o médico.
-Sim.
-Traga-o aqui a ponta de pistola. -Os lábios da moça se abriram ligeiramente. ficou-se estupefata-. Digamos que acessou a vir quando lhe disse quem era a paciente, mas depois de te haver examinado e diagnosticado apendicite, considerou que o mais adequado era te administrar láudano até que murieses.
-Não queria operar?
-Não até que lhe apontei com um revólver e lhe ameacei matando-o se não o fazia.
Banner pôs sua mão sobre o peitilho da camisa do Jake. Se não o amasse por qualquer outra razão, amaria-o agora. Devia-lhe a vida. Jake lhe cobriu a mão com a sua e a apertou contra a firme curva de seu peito.
-Esse condenado médico ruim pretendia deixar morrer e depois consolar a seus pais -disse Jake, tenso, enquanto o olhar lhe voltava dura e fria ante a lembrança-.
Quando terminou, fugiu daqui furtivamente. Não me deu nenhuma instrução sobre o tratamento que te convinha porque acreditava que não faria falta.
-Mas você o fez.
Os olhos do Jake afundaram nos do Banner.
-Sim.
Sustentaram-se o olhar durante compridos momentos, até que Banner disse:
-Possivelmente o médico te acuse de agressão, Jake.
-Que o faça. Eu voltaria a fazer o mesmo. Lhe teria matado se não tivesse realizado a operação.
À moça lhe encheram os olhos de lágrimas.
-foste colocar te em semelhantes problemas para me salvar, Jake. Por que?
lhe agarrando a cara entre suas mãos, Jake escrutinou seu rosto, observando amorosamente cada rasgo.
-Não podia permitir que murieses. Teria dado minha própria vida para salvar a tua.
Logo, rendendo-se ao desejo ardente que o tinha atormentado durante dias, inclinou-se cobrindo a boca do Banner com a sua. Os lábios do Jake estavam separados, úmidos, e os do Banner se adaptaram a eles. A língua do homem sondou a boca da moça com estocadas lentas e suaves.
Os sentidos do Banner se desbocaram. Seus braços se fecharam ao redor do pescoço do homem. Jake fez que se afundasse mais nos travesseiros ao cobrir a parte superior do corpo da moça com o seu, de tal modo que os seios do Banner sentiram a premente pressão de seu peito. Os batimentos do coração de seus corações se compassaram.
Os lábios do Jake mordiscaram levemente os da mulher, bebendo de sua boca o néctar do beijo.
-Banner, Banner -murmurou Jake no pescoço da moça, não podia deixar morrer. Necessito-te muitíssimo.
Voltaram a beijar-se tempestuosamente, retorcendo as cabeças, esfregando-as bocas, acoplando as línguas, até que ficaram sem fôlego. Jake levantou a cabeça, notou que a boca do Banner se saciou e sorriu. Essa boca tinha sido criada para dar e receber beijos apaixonados, e ele estava disposto a encarregar-se de que acontecesse freqüentemente.
-Quase esquecimento te perguntar se tiver fome. -Jake agarrou uma mecha de seus cabelos e observou como se enroscava ao redor de seu dedo, com a mesma segurança com que ela tinha enroscado uma corda invisível ao redor de seu coração.
-Estou morta de fome. Tem um pouco de comida de verdade para esta noite?
Jake se levantou da cama e se encaminhou para a cozinha.
-Sopa quente.
-Jake? -Ele se voltou-. Não necessito que o doutor Hewitt nem nenhum outro cuide de mim. Fez um trabalho maravilhoso.
Os olhos do Jake transbordavam de emoção, mas só fez um breve movimento de cabeça antes de sair para preparar o jantar.
Depois daquela noite as coisas trocaram entre eles. Não ocultavam seus sentimentos. Jake lhe dava as boa noite com um beijo, mas as carícias não passavam daí.
Tampouco nenhum dos dois sugeriu dormir juntos. Ainda não lhes tinha chegado o momento de fazer o amor, mas sabiam que estava próximo. Enquanto isso, esperavam-no e deixavam que aumentasse a espera.
Cada manhã com o chá, Banner recebia um beijo. Sempre que Jake se aproximava da cama, a moça lhe agarrava a mão e a sujeitava enquanto se olhavam fixamente aos olhos. Jake continuou barbeando-se na habitação. Escovava-lhe o cabelo. Compartilhavam as pequenas intimidades.
Pelas noites, Jake se sentava na cadeira perto da cama a ler livros sobre ganho vacino que tinha comprado no Fort Worth. Banner se dedicava a bordar almofadas para as cadeiras do salão comilão que esperava ter algum dia.
-Jake? -Ele levantou a cabeça do livro-. É interessante a leitura?
-Sinceramente, prefiro falar contigo.
-Não quero te distrair.
Jake sorriu com picardia.
-Senhorita Coleman, você esteve me distraindo durante meses.
Banner se ruborizou. Jake fechou o livro e se tendeu a seu lado. Tinha sido uma noite especial. Banner tinha conseguido chegar até a cozinha e voltar caminhando erguida. Só persistia certa moléstia no abdômen quando se movia com precipitação.
-Quando aprendeu a ler? -perguntou-lhe ela-. Por favor, não te ofenda, mas a maioria dos jeans não sabem.
Jake sorriu ampliamente.
-O devo a Lydia. Começou ensinando ao Anabeth na caravana de carromatos. Uma vez instalados em nossa granja, Anabeth se empenhou em que eu também tinha que aprender.
-Seus olhos vagaram para a janela enquanto recordava a intensidade com que sua irmã lhe tinha ensinado a ele e a outros as letras e as desconcertantes combinações em que se uniam formando palavras-. Ao princípio pensei que era uma perda de tempo, mas Lydia me recordou que Ross sabia leer.Y eu queria fazer tudo o que fizesse Ross.
-por que foste ver a?
Pergunta-a estava tão fora de contexto e foi formulada com um tom de voz tão angustiado, que Jake a olhou sobressaltado.
-A quem?
-A essa mulher, Watkins. por que me deixou no hotel depois daquele dia tão encantado que tínhamos passado juntos e foste ver a?
Jake se sentiu desconcertado e de uma vez alarmado pelas lágrimas que apareciam nos olhos do Banner. ajoelhou-se junto à cama e lhe agarrou as mãos.
-Viu-me sair?
-Sim.
-Não fui pelo que você crie, Banner.
-O que outra razão pode ter um homem para sair furtivamente e ir a um prostíbulo em metade da noite? Pôde havê-lo tido comigo. Tudo o que tinha que fazer era pedi-lo.
-OH, Banner! Não, não podia. Não então. Não era correto.
-Era mais correto com uma puta?
-Escuta -disse Jake, enérgico, lhe sacudindo lasmanos-. Quando Micah e Lê entraram, despertei. Meu irmão me disse que tinha visto o Grady Sheldon no Jardim do Éden. Incomodou-me que estivesse na cidade porque já lhe tinha advertido que se mantivesse afastado de ti. Por isso soube, deduzi que te tinha seguido ao Fort Worth e planejava te abordar. Saí imediatamente e me dirigi à casa da Priscilla para averiguar o que estava tramando. -Pareceu-lhe mais prudente não mencionar que Grady e Priscilla tinham gozado de uma relação íntima.
-E esse é o único motivo? -perguntou Banner com aspereza-. Você não... ?
Jake pôs a mão nos cabelos da moça, enchendo-a com eles.
-Não, não o fiz.
-Mas à manhã seguinte ela deu a entender que, bom, já sabe.
A irritação converteu a boca do Jake em uma linha fina.
-Fora o que fosse o que te dissesse, era mentira. Só queria te fazer danifico para vingar-se de mim.
-Acreditava que foram amigos.
-Não é a classe de amizade que imagina. Já te hei dito que não me deitava com a Priscilla.
Banner retorcia um fio solto da colcha.
-Grady disse que as garotas dos bordéis falam de ti, que é uma lenda.
Ao Jake fez graça o comentário e sorriu, mas ao ver a expressão destroçada do Banner, ficou sério.
-Banner, não estive com nenhuma outra mulher desde aquela noite que passamos juntos no estábulo.
-É certo? -sussurrou a moça.
Jake levou a mão do Banner até sua boca e a beijou na palma. Seus lábios se moviam contra a palma enquanto falava.
-A mim mesmo custa acreditá-lo, mas juro que é a pura verdade.
-Tanto pode afetar o que ocorreu? Por uma só noite?
-Isso depende de ti -disse ele tranqüilamente-. Você o que quer?
-Não é nenhum secreto, Jake.
Jake baixou a vista ao chão, observando o espaço compreendido entre suas botas. Dias atrás, quando Banner jazia na cama ao bordo da morte, deu-se conta de que não era só o desejo físico o que lhe tinha agarrado pela garganta. Ansiava perder-se no corpo da moça, sim, mas também desejava uma fusão de seus corações.
Fazia tempo que Banner tinha deixado de ser a filha do Ross e Lydia Coleman. Era Banner, uma mulher, a mulher que ele necessitava para encher o vazio de sua
alma. Se alguém podia lhe sanar do cinismo e a amargura, seria Banner. Estava farto de brigar consigo mesmo. Além disso, o futuro deles dois juntos já estava selado, embora só soubesse ele.
Quando voltou a levantar o olhar, sorria.
-Gostaria de um banho na cama?
-Um banho na cama?
Banner o observou sem pestanejar quando se dirigiu para o penteadeira e retornou levando uma bacia com água quente e dois panos suaves. Colocou tudo em cima da mesinha de noite e se agachou ao lado da cama. Seus olhos vagaram pelo rosto da moça. Alargou o braço, tocou-lhe o nariz impertinente com a ponta de seu dedo e sorriu.
-Alguma vez te hei dito o que realmente pensei de ti aquela noite no estábulo?
Sem falar, Banner negou com a cabeça. O silêncio reinava na casa. A moça só era consciente do som da respiração do homem, do sussurro de suas roupas ao mover-se e da aspereza cativante de sua voz.
-Pensei que foi muito mulher. Não muitas ousariam aproximar-se de um homem e lhe pedir fazer o que você pediu.
-Estava impressionado.
-Sim, admito que sim. Para mim você sempre tinha sido a pequena Banner, a marimacho Mona com tranças enredadas e joelhos esfolados. Inclusive o dia de suas bodas te via assim.
A ponta do dedo do Jake se instalou no queixo do Banner e de ali descendeu pelo centro de seu pescoço.
-Mas aquela noite, vi-te sob uma luz nova. Foi toda uma mulher, Banner. Soube que nunca voltaria a te considerar outra coisa. foi um inferno viver perto de ti
e recordar aquela noite. Lamentei-o. -A boca do homem desenhou um sorriso enviesado. Também o saboreei, desejando mil vezes que se repetisse.
Inclinou-se e a beijou. Foi um beijo tenro, mas possessivo. A boca do homem se moveu sobre a da moça, lhe separando os lábios com a suave invasão de sua língua.
Quando levantou a cabeça e voltou para olhar, apareceu um suave brilho nos olhos do Banner.
-Quero que esteja cômoda e acreditei que um banho na cama te sentaria bem.
-Me Quito a camisola?
-Não -replicou ele, sonriendo com doçura-. Lhe quero tirar isso eu.
O coração do Banner começou a pulsar com força quando as mãos do Jake avançaram para a parte dianteira de sua camisola, onde uma fileira de botões se estendia do pescoço até mais abaixo da cintura. A moça se ruborizou ao pensar que Jake os tinha desabotoado antes, enquanto ela estava inconsciente.
Os dedos ágeis do Jake desabotoaram os botões, mas não abriram a camisola. Seu olhar ardente percorreu a estreita franja de pele que se mostrava entre o tecido, mas não a tocou. Em troca, disse:
-Pode te incorporar sem que lhe aduela?
Banner conseguiu sentar-se. Jake se situou detrás dela, sentado no ângulo do colchão, como tinha feito quando lhe escovou o cabelo. Pôs as mãos sobre os ombros da moça e baixou a camisola pouco a pouco até os braços. Ela os tirou das mangas, mas sustentou o frágil escudo de cambraia bordada sobre seus seios.
Jake prosseguiu, baixando o objeto até o primeiro ondulação suave dos quadris debaixo da cintura. A suave luz do abajur dourava a pele do Banner. Jake inundou o pano na bacia e o espremeu. lhe apartando o cabelo, esfregou com o pano o ombro da moça descrevendo círculos lentos. Descendeu pelas costas até as covinhas gêmeas a ambos os lados da base da coluna vertebral, para logo voltar a subir. Banner, com a cabeça inclinada, fazia que seus cabelos caíssem para diante sobre um ombro, formando uma negra cascata.
-Sente-se bem?
-Sim. -Banner gemeu. Jake aumentou a pressão, dando massagens para eliminar o intumescimento adquirido detrás ter permanecido vários dias no leito.
Deixou o pano úmido e agarrou outro com o que esfregou brandamente a pele até que esteve seca e resplandecente. A parte posterior do pescoço aparecia muito vulnerável e irresistível. Jake se inclinou, rodeou-lhe a cintura com os braços e posou seus lábios na pele aveludada.
-É tão bela -sussurrou enquanto seus lábios saboreavam e sua língua tentava a orelha da moça.
A boca do homem vagou em torno do pescoço e subiu para a bochecha para encontrar a boca do Banner. Ela deixou cair a cabeça para trás sobre o braço do homem, que a atraiu para ele até que ficou em ângulo, a metade superior apoiada no regaço do homem e com o resto do corpo sobre a cama. Jake a beijou com ânsia, enviando a língua para as profundidades de sua boca. Quando o beijo se intensificou, Jake se girou para deixar ao Banner tendida sobre os travesseiros. Os dedos da moça se
aferravam ao tecido da camisola que cobria seus peitos, não a causa do medo ou o pudor, mas sim da paixão.
Banner queria mais da boca do Jake. Quando ele a beijava, sentia-o em todo seu corpo. As sensações formigavam ao longo de cada nervo, roçavam-na, aguilhoavam-na, abrasavam-na e a acariciavam em todos os rincões de seu corpo. O mundo e todos seus problemas desapareciam. Chegava a estar apanhada em uma larva de êxtase onde não se permitia a adversidade e onde Jake era o amo e doador de todo prazer.
Jake voltou a inundar o pano na bacia. Lavou-lhe o pescoço e o peito, não indo mais à frente da camisola que Banner mantinha apertado contra seus seios. Levantou-lhe um braço e esfregou, descendendo por sua esbelta longitude. O outro braço recebeu o mesmo cuidado. Apesar de seu desgosto, Jake lhe lavou as axilas. Recatadamente, a moça voltou a cabeça para um lado.
-Todas as partes de seu corpo são belas, Banner-murmurou Jake-. Não tenha vergonha.
depois de secá-la, Jake lhe agarrou a mão e a levou a seus lábios. Beijou-lhe a palma, cada dedo, assombrando ao Banner quando aprisionou o dedo mindinho com os lábios e começou a sugado. Os dentes do homem se cravaram brandamente na carnosidade do dedo, que até então ela nunca tinha sabido era sensível.
-jJake!
O grito da moça foi de doce sobressalto. A carícia não anunciada desencadeou diminutas explosões na parte inferior de seu corpo. Rios de sensação redemoinharam por seus seios, fazendo que seus mamilos se endurecessem. Nunca teria suposto que as pontas de seus dedos estivessem vinculadas às partes de seu corpo que agora palpitavam calidamente.
Jake lhe beijava a parte interna da boneca e seus lábios começavam a desfilar para o braço. Abriu a boca sobre o interior do cotovelo e Banner sentiu a umidade brincalhona de sua língua. Girou-lhe o braço de modo que a parte superior ficasse exposta às dentadas de sua boca. Seus dentes se afundaram ligeiramente na carne suave e doce do braço e Banner gemeu. Jake apanhou o gemido com um beijo que roubava o entendimento, começando na boca e terminando com um reguero de beijos ferventes que descenderam pela garganta e o peito.
Jake se incorporou. Seus olhos se viam extremamente azuis quando se fundiram com os do Banner. Lentamente, apartou-lhe as mãos. O ar fresco acariciou a pele febril da moça quando o homem retirou a camisola de seus peitos.
-Por Deus, Banner -disse com voz rouca-. É tão formosa.
O que só tinha visto à luz da lua agora aparecia dourado pela luz lhe pisquem do abajur; tão deliciosos, em sua brancura leitosa, tão rosados, tão perfeitos.
Brandamente, elevou-lhe o braço direito e o dobrou por cima da cabeça da moça e logo fez o mesmo com o esquerdo até que emolduraram a cara do Banner, cujas mãos repousaram abertas, vulneráveis, com os dedos ligeiramente curvados para as Palmas indefesas. Também os seios estavam descobertos, vítimas fáceis.
Mas Banner não se sentia assustada. Jazia em silêncio e deixava que o homem a adorasse.
Jake logo que pôde apartar os olhos o tempo suficiente para voltar a umedecer o pano. Logo a banhou, movendo o pano com suavidade sobre os montículos de seus seios, por suas costelas, pela planície entre elas. Com o outro pano, secou-a. Quando terminou, ficou olhando-a como um artista contempla a melhor obra de sua vida.
-Não posso acreditar que esteja aqui contigo deste modo. É tão condenadamente bom. Tenho a sensação de que em qualquer momento alguém irromperá e te separará de mim.
-Eu não iria, Jake.
-Nunca em minha vida me hei sentido assim com uma mulher, Banner. Tenro e aprazível. Tomava, usava seus corpos, mas nunca as desfrutava. Talvez não seja capaz de fazê-lo como se supõe que deve fazer-se, com amor. Possivelmente já seja muito velho para aprender, mas eu gostaria de tentá-lo. Me deixe jogar contigo.
O coração do Banner transbordava de amor até transbordar-se, como as lágrimas de profunda emoção que alagavam seus olhos. Ela era mais para o Jake que as putas que tinha tido. Não lhe havia dito que a amava, mas tinha mencionado a palavra "amor".
Cada uma das mãos do Jake cobriu um seio, o modeló para adaptá-lo a sua palma e apertou, reunindo toda a plenitude em dois globos gêmeos que resumiam a femineidad.
-Banner, Banner.
Banner viu que os lábios do homem se moviam, mas apenas se emitiam sons.
-Isso quer dizer que você gosta? -perguntou timidamente.
-Que eu gosto? -Jake riu com suavidade-. Sim, eu gosto.
Voltou a baixar os olhos para os seios. Agora os dedos os roçaram meigamente. Ao Jake maravilhava a tersura de sua pele, a sensibilidade de seus mamilos. Quando chegaram a ser calhaus aveludados sob a carícia de seus dedos, afundou a cabeça.
Banner se sentiu transportada com o primeiro contato dos lábios do homem. Ela tinha nascido para esse momento, para dar ao Jake como presente o prazer desse momento. Porque isso era o que lhe dava; os sons que emitia Jake eram gemidos de fome e saciedade, suspiros de ânsia ardente e apaziguamento, grunhidos de desejo e satisfação.
A cabeça do Banner caía sobre o travesseiro com cada carícia ondulante da língua ágil do homem. O tenro puxão de seus lábios fez vibrar uma corda no coração de seu femineidad. O desejo veemente que engendrou se assemelhava à dor.
Banner baixou os braços e enredou os dedos no cabelo do Jake, notando-o contra sua pele. As sensações que Jake despertava nela eram deliciosas. O lugar entre suas coxas se fundia de desejo, sofrendo de necessidade, pulsando de prazer.
Banner sentiu o tremor nas extremidades do Jake e soube que o tortura do homem era maior que o seu.
-Necessitei-te durante tanto tempo, Banner. Durante anos. Toda minha vida.
Jake se incorporou e voltou a beijá-la tempestuosamente na boca. Quando se separaram, lhe roçou os lábios com beijos suaves e sulcou seus cabelos com os dedos.
Banner lhe dirigiu um olhar inquisitivo.
-Não vai A...
-Não, não o farei. Não enquanto siga estando débil e haja perigo de te fazer danifico. -Seus lábios foram suaves contra os dela-. Mas eu gostaria de te ter em
meus braços toda a noite.
-OH, fui-murmuró a moça.
Jake se levantou da cama e apagou o abajur. Banner ouviu o murmúrio de suas roupas. Quando se deitou junto a ela debaixo da colcha, estava nu.
-OH, Deus -gemeu. Em lugar de voltar a ficar a camisola, Banner o tirou de tudo. A nudez do homem tocava a sua, a tersura de sua coxa nua acariciava a coxa dele-.
Tenha cuidado-advirtió ele quando ela se estirou para aproximar-se mais a ele.
-Você não me faria mal, Jake -sussurrou Banner, lhe rodeando o pescoço com um braço e apertando seus lábios contra o pulso palpitante na base da garganta.
Os braços do Jake a sustentavam com ternura, mas com um custo tremendo para sua prudência.
-Por amor de Deus, Banner, não te mova -chiou ele.
Banner se aproximou contra o calor do Jake e ele a sentiu bocejar contra seu peito.
-boa noite, Jake -balbuciou Banner, sonolenta.
-boa noite, amor.
Enquanto seguia refletindo sobre o milagre de tê-la em seus braços, produziu-se outro bocejo. Também ele ficou dormido.
-Maldita seja!
Jake saltou da cama, amaldiçoando quando suas largas pernas se enredaram na colcha. Avançou cambaleando-se e jogou uma olhada pela janela. Tal como se temia, os cavaleiros estavam cavalgando para o pátio. Em algum momento durante a noite a chuva tinha cessado. Brilhava um sol débil.
Banner se incorporou na cama, com olhos sonolentos. O lençol caiu até sua cintura. Estava tão gloriosamente nua como o homem que torpemente tratava de ficá-los calças.
-O que ocorre, Jake?
-Os homens. cruzaram o rio. -Jogou uma olhada a seus cabelos desordenados, a seus peitos, rosados e quentes, e grunhiu-: Se descobrirem o de ontem à noite...
-Deixou a frase inconclusa enquanto colocava os braços nas mangas da camisa.
Agarrando os meias três-quartos e as botas, e tirando de um puxão uma colcha e um travesseiro da cama, precipitou-se para o salão e fechou a porta do dormitório detrás dele. Arrojou a roupa de cama sobre o sofá, acomodando-a para que parecesse que tinha dormido aí.
Dirigiu-se para a porta no preciso instante em que Jim gritava:
-Né! Há alguém em casa?
Fingindo um enorme bocejo, Jake abriu a porta da casa. arranhava-se o peito como se acabasse de despertar. Não era nada fora do comum encontrar a um homem a uma hora temprana da manhã descalço e com a camisa desabotoada.
-Falem em voz baixa -advertiu franzindo o sobrecenho. Olhando por cima do ombro para a porta fechada do dormitório do Banner, deixou que os três cavaleiros pudessem ver o sofá. Logo saiu ao alpendre e fechou a porta detrás dele. Falando suavemente,dijo-: Banner esteve muito doente.
-Doente? -Randy foi o primeiro em falar.
Ele e outros se ficaram mudos de assombro ante a aparição do Jake em casa do Banner. Três pares de olhos o observavam com suspicacia.
-Tive que trazer para o doutor Hewitt da cidade. Tinha o apêndice a ponto de arrebentar. O médico a operou.
-Diabos, o que diz! murmurou Peter com espanto, voltando a olhar para a casa-, E seus pais não sabem?
-Não havia maneira de lhes avisar. Teria tido que procurar um lugar pelo que cruzar o rio e tinha medo de deixá-la só tanto tempo. -Sacudiu a cabeça, provocando a compaixão dos homens-. Esteve muito mal. Não podem nem imaginar quão mau esteve. Acreditei que íamos perder a.
Os três jeans se sentiam mortificados. Tinham pensado o pior quando Jake saiu da casa do Banner, mas aí estava ele, lhes dizendo que se não tivesse sido por seus cuidados, ela teria morrido. Muito abatido, Pete perguntou:
-Há algo que possamos fazer por ela?
-Não. Terá que voltar a pôr este lugar em condições depois do dilúvio. Recordam um mês de junho tão chuvoso como este? Eu não, certamente.
A conversação derivou para os perigos das inundações.
-Como conseguistes atravessar o rio? -perguntou.
-estivemos construindo uma balsa e a terminamos ontem à noite. Não é muito grande -disse Pete, cuspindo tabaco no barro do pátio-. Mas é suficiente para transportar a um homem e um cavalo. Ross virá mais tarde.
-Sim? -A réplica do Jake foi estudiadamente despreocupada, mas o coração lhe deu um tombo-. Bem, será melhor que entre e veja como está Banner. Se um de vós vai ver o Stormy e o sela, agradecerei-lhes isso. Sairei a inspecionar a perto para comprovar se tiver sofrido danos. -Agora sorriu de um modo encantador-. Têm que ver o rebanho; as vacas mais formosas e o touro mais briguento que vi em minha vida.
Randy soltou um alarido.
-Onde estão?
-Na cidade. Traremos as cabeças de gado amanhã. Esperaremos um dia mais a que a terra se seque.
Depois de ter recebido suas instruções, os jeans se dirigiram ao estábulo. Jake voltou a entrar na casa para encontrar-se ao Banner rondando perto da porta do dormitório. Seus cabelos seguiam estando alvoroçados, mas se tranqüilizou ao ver que se pôs uma bata. Inclusive com os olhos inchados de sonho, resultava atrativa e tentadora como o demônio. Agora Jake se sentia molesto por ter arriscado seu trabalho e sua vida por passar a noite tendo-a em seus braços.
-Como te encontra? -perguntou bruscamente.
além de seu atrativo sexual, parecia tão inocente como uma criatura. sentia-se tão repulsivo como um pervertido que abusava de meninos; sem dúvida, isso é o que pensaria Ross dele.
-Muito bem.
-Está segura?
Estava empregando um tom de voz que delatava seu estado de ânimo. A noite anterior pôde havê-la tido, mas não o fez. Possivelmente se a houvesse poseído, seu corpo não estaria passando por um calvário nesse preciso momento. A incontrolável excitação sexual que experimentava, o fazia sentir-se furioso com ela e com ele mesmo.
-Sim, estou segura, Jake, o que ocorre?
Banner teimava em não lhe permitir ver as lágrimas que ameaçavam aparecendo em seus olhos. Doía-lhe a garganta pelo esforço que fazia para reprimir o pranto.
Tinha esperado que Jake fosse tão doce, tenro e carinhoso essa manhã como o tinha sido a noite anterior. Em troca, aparecia carrancudo e zangado. Estava muito familiarizada com essa expressão reservada e áspera de seu rosto como para que não a intimidasse.
-Ross vem para aqui.
Jake aproximou as botas a seus pés. Banner o observava em silêncio ficá-los meias três-quartos, calçá-las botas, abotoá-la camisa, arregaçar-lhe se deslizar dentro do colete de couro e atar um lenço ao pescoço.
-Papai? -perguntou Banner com um tom agudo.
-Sim, papai. Agora, pelo amor de Deus, ponha uma camisola e volta a te colocar na cama.
Se ele tinha que convencer ao Ross de quão doente tinha estado, ela tinha que parecer doente!
Com passos pesados se dirigiu à cozinha e fez innecesariamente muito ruído preparando uma taça de café e um café da manhã de farinha de aveia para o Banner.
Quando o levou, reparou em que seus utensílios de barbear estavam pulverizados sobre o penteadeira.
-Maldita seja!
Recolheu-os e os levou a salão para amontoá-los junto com o resto de seus pertences, com a intenção de que Ross se convencesse de que sua filha e ele tinham ERestado perto, mas separados.
Durante todas essas idas e vindas ao dormitório, Banner não o olhou. Evitava seus olhos enquanto comia a farinha de aveia sumida em um silêncio melancólico.
Sem dúvida se sentia envergonhada, arrependida de havê-lo convidado a compartilhar seu leito.
Depois de assegurar-se de que não ficava nenhum rastro dele no dormitório, saiu com passo majestoso e se dirigiu à cozinha. Permaneceu ali inclusive quando viu que Ross desmontava do cavalo.
-Banner? -A voz do Ross ressonou em toda a casa, recordando ao Jake a ira de Deus do Antigo Testamento.
-Estou aqui, papai. -Jake ouviu fracamente a resposta do Banner.
-Ainda na cama, preguiçosa? -Foi o único que Jake ouviu depois de que seus ouvidos rastrearam os passos do Ross cruzando o salão em direção à habitação.
Jake ficou na cozinha bebendo café. Quando terminou, deixou a taça no escurridero e, fazendo provisão de valor, encaminhou-se para o dormitório.
-Não recordo muito depois disso -estava dizendo Banner quando Jake entrou na habitação.
Ross se achava sentado na cadeira junto à cama, quão mesma Jake tinha freqüentado ultimamente, inclinado, com o olhar cravado no rosto de sua filha e as mãos dela entre as suas. Suas sobrancelhas escuras estavam franzidas em um gesto severo.
-Quão seguinte soube -continuou Banner- foi que despertei e Jake -seus olhos revoaram para o lugar em que ele estava parado, apoiado contra o marco da porta.
Disse-me que o médico me tinha operado para extrair o apêndice. Jake cuidou que mim todo este tempo.
Ross voltou a cabeça na direção do olhar do Banner e viu o Jake. Ficou em pé e avançou. Quando esteve a menos de um metro do homem mais jovem, elevou os braços.
Jake teve que fazer um esforço consciente para não retroceder. Mas Ross simplesmente pôs as mãos nos ombros do Jake e disse um sincero:
-Obrigado.
Jake fez um gesto como querendo tirar importância ao que tinha feito.
-Ainda não me o agradezcas,Ross. Poderia te haver causado algum problema. Esse condenado curandeiro ia deixar morrer, disse que lhe parecia um pecado profanar o abdômen. Apontei-lhe com o revólver e lhe ameacei matando-o se não a operava.
A boca do Ross se esticou debaixo do espesso bigode.
-Eu teria feito o mesmo.
Jake assentiu.
-Isso pensei eu.
-tratamos que expulsar ao Hewitt da cidade durante muito tempo. Há um médico novo...
-Sim, mas estava fora da cidade. Não tinha opção.
-Não se preocupe por eso.Yo me encarregarei do doutor Hewitt se começar a armar animação.
Ross voltou para a cama.
-Por Deus, princesa, não posso acreditar que tenha sofrido todo isso sem sua mãe e sem mim para te cuidar. Luta tendra um ataque de histeria quando se inteirar.
Queria vir a verte esta manhã, mas como bem sabe, horroriza-lhe a água e não está disposta a cruzar o rio em uma balsa.
Clancey Russell, o meio-irmão da Lydia, tinha-lhe provocado esse medo à água. Tinha-a golpeado em um rio quando era só uma moça e a aterrorizou deixando-a inundada até que esteve a ponto de afogar-se antes de tirá-la da água. Durante vinte anos Ross tinha desejado ter sido ele quem matou ao Russell. antes de morrer esperava averiguar quem o tinha assassinado para poder lhe dar lasgracias.
-Jake meha cuidado muito bem - disse Banner, com tom sereno.
Ross olhou ao Jake.
-Estou-te agradecido, Jake. Salvaste a vida do Banner.
Jake voltou a encolher-se de ombros com indiferença e se separou do marco da porta.
-Ross, faz muito que nos conhecemos. Se começarmos a nos agradecer mutuamente os favores que nos fizemos perderemos aqui todo o dia. Tenho que me ocupar dos assuntos do rancho.
Dando por sentado que Bapner estaria atendida, partiu, detendo-se primeiro no salão para recolher o resto de suas coisas; um laço, um par de luvas de couro, os zahones, as esporas e o chapéu.
Banner ouviu a porta fechar-se detrás dele. Nem sequer a tinha cuidadoso antes de ir-se, nem se tinha despedido, nem a tinha saudado com a mão, nada. Tão contente estava de liberar-se da responsabilidade de cuidá-la? Tudo o que lhe havia dito a noite anterior tinha sido uma mentira? Acaso a aparição do Ross recordava ao Jake à mulher que se achava ao outro lado do rio, a que realmente amava? Já não pôde conter mais as lágrimas. amontoaram-se em seus olhos, e seu pai, ao as ver, sentou-se no bordo da cama e a abraçou.
-Meu princesita, Ainda está dolorida?
Estava-o, mas não era a classe de dor que Ross imaginava. aproximou-se à árvore segura dos braços de seu pai e enterrou o nariz em seu ombro.
-Estou bem, papai. Me alegro enormemente de verte. Joguei-lhes tanto de menos a todos. me conte o que aconteceu no River Bend.
Ross esteve com o Banner a maior parte da manhã, transportando pela casa, criando uma situação que era algo menos tranqüila e pondo-a nervosa com sua estupidez.
Não era um enfermeiro ideal, mas seus esforços por ajudá-la resultavam comovedores.
Ao meio dia a deixou dormir uma sesta e retornou ao River Bend. Quando Lydia e Mami se inteiraram do acontecido, começaram a dar voltas como dois tornados. Antes do fim da tarde, Micah e Lê receberam o encargo de levar comida ao rancho, com a advertência expressa de não deixá-la cair no rio quando o cruzassem.
Lydia quis ir ver o Banner a pesar do terror que lhe provocava a água, mas Ross e Mami a convenceram de que a balsa não era um meio seguro e que para evitar outra tragédia na família era melhor que ficasse em casa. Ross lhe assegurou repetidamente que Jake estava atendendo primorosamente à filha de ambos.
logo que os moços partiram, Ross se dirigiu ao Larsen. Consultou com engenheiros a respeito da construção de uma ponte nova, esta vez situado em pilares de aço.
Queria que as obras começassem o antes possível.
Por temor a terminar o que Jake tinha iniciado com o doutor Hewitt se se encontrava cara a cara com o homem, deixou o pagamento pela operação do Banner na rolha de correios do médico.
Banner estava escovando o cabelo quando Lê bateu na porta de seu dormitório.
-Banner? -chamou brandamente.
Ela abriu a porta imediatamente e Lê esteve a ponto de cair para dentro.
-Acreditei que estava doente na cama-disse com aborrecimento, quando ela e Micah prorromperam em risadas.
-Estou-o, ou mas bem o estava. Mas me sinto melhor. Me alegro de verte.
-Esse velho médico ruim realmente te abriu? -perguntou Micah, com total falta de delicadeza.
-Realmente o fez. Ou ao menos é o que diz Jake. Tenho a cicatriz para demonstrá-lo. Quer ver?
Mas os outros moços, conhecendo a localização aproximada do apêndice, avermelharam até a raíz do cabelo, e Banner voltou a rir.
-Não deveria estar na cama? -perguntou Lê.
-Estou farta desta habitação! -gritou Banner, desalentada.
Ficou uma bata de seda de cor pêssego que tinha formado parte de seu enxoval. Uma cinta de encaixe de cor crua bordeaba o profundo decote triangular na parte dianteira e fechava em suas bonecas as mangas abullonadas. Escovou-se o cabelo até deixá-lo brilhante como as asas de um corvo e se beliscou as pálidas bochechas para lhes dar cor.
-Suponho que não te prejudicaria te sentar no alpendre durante um momento -disse Micah olhando a Lê, quem moveu a cabeça em um gesto de assentimento-. Podemos tirar a cadeira de balanço do salão. Na sombra se estará bem: não fará tanto calor.
Os olhos do Banner se iluminaram.
-Seria estupendo.
A solicitude dos moços era extremada e cômica; não demorou muito em resultar lhe exaspere, pondo a prova a paciência do Banner.
-Me tirem esta colcha do regaço - disse Banner, excitada, enquanto a apartava, embora Leia estava tratando de ajustá-la ao redor de seus joelhos-. Não sou uma reumática.
-Se retornarmos e não contamos a Lydia e Mami que lhe tratamos como a uma rainha, não nos perdoarão -disse Lê isso em tom defensivo. Entretanto, ante o olhar fulminante de sua irmã, pregou a colcha sobre o corrimão do alpendre.
-Ninguém duvidará de seu interesse por mim. E lhe agradeço -disse isso Banner, suavizando grandemente o tom de voz-. Me perdoe se estiver irritável. O que ocorre é que estive encerrada em casa durante muito tempo. Estou cansada de ser uma inválida.
-Compreendemo-lo - atravessou Micah com afabilidade. Banner lhe inspirava certo respeito porque era a única pessoa que conhecia quem tinham extraído em uma intervenção cirúrgica algo distinto de um molar ou uma bala.
-Obrigado por trazer toda essa comida. Não acredito que a possa comer toda.
-Também é para o Jake.
-Sim, Jake. -Lhe rasgou o coração ao recordar a indiferença que tinha demonstrado por volta dela essa manhã.
-Falando de comida, aproxima-se a hora do jantar - disse Lê.
-Claro. -Banner voltou a lhes sorrir-. Estarei mais tranqüila se cruzarem o rio nessa balsa da que tanto ouvi falar antes de que anochezca. Espero que papai
não reconstrua a ponte antes de que tenha oportunidade de utilizá-la!
Os moços se afastaram rendo. Anunciariam às pessoas do River Bend que embora Banner sem dúvida tinha padecido o inexprimível, já tinha recuperado seu antigo caráter alegre e estava disposta a cruzar o rio em balsa.
Ainda estava sentada na cadeira de balanço quando chegaram ao pátio Jake e seus três peões e detiveram os cavalos junto ao alpendre.
-O que está fazendo aqui fora? -perguntou Jake sem preâmbulos.
-Tomando um pouco de ar fresco -respondeu a moça com brutalidade.
Ao Jake incomodava que estivesse ali, exposta ao olhar dos três peões, vestindo uma bata que derreteria o coração do homem mais forte. O cabelo agitado pelo vento e a pele dourada pelo sol, que a essa hora da tarde parecia formar um halo ao redor de seu corpo, conferiam-lhe um aspecto feminino e merecedor de toda classe de carícias.
Os homens lhe falaram com respeito e lhe perguntaram como se encontrava. Randy, com seu atrevimento habitual, desceu do cavalo e se dirigiu ao alpendre levando um ramo de rosas com a mão enluvada.
-Me alegro de que esteja aqui fora, Banner. Estas rosas tiveram a suficiente coragem para aparecer a cabeça depois de tanta chuva. ia pedir lhe ao Jake que as entregasse, mas posto que está aqui, farei-o eu mesmo.
Banner, encantada, agarrou as flores, as aproximou do nariz e as cheirou com delicadeza.
-Obrigado, Randy. São formosas.
Dedicou-lhe um sorriso tão deslumbrante e poderoso que o homem tropeçou ao descender os degraus do alpendre. Jake apertou as mandíbulas.
Banner não ignorava que os encaixe e a luz do sol que a banhava realçavam sua beleza. Tinha-o feito a propósito para enfurecê-lo, e estava representando a cena com esmero, mostrando-se tão vulnerável, indefesa e frágil como essas condenadas rosas que ele mesmo deveria ter pego.
-Teremos muito trabalho que fazer amanhã. Encontraremo-nos aqui assim que amanheça, iremos ao Larsen e traremos o rebanho.
O capataz estava insinuando que deviam ir-se, e os três jeans assim o entenderam. Saudaram o Banner tirando o chapéu e se afastaram, deixando detrás deles um rastro de barro seco levantado pelos cascos dos cavalos.
Jake desmontou. Banner ficou em pé. Pela primeira vez nesse dia se olharam diretamente aos olhos.
-Como se sente? -perguntou por fim Jake.
-Melhor. Muito mais forte.
-Você molesta a ferida?
Banner negou com a cabeça e se encaminhou para a porta.
-Porei o jantar na mesa enquanto te lava.
-Não o faça, Banner.
A moça se voltou para ele, irada.
-Nossas mães enviaram comida suficiente para alimentar a um regimento, de modo que você também pode comer. - Com esse convite expresso de maneira pouco cortês,
Banner entrou na casa dando uma portada.
Pouco depois, Jake entrou na cozinha pela porta traseira, depois de haver-se ocupado do Stormy e asseado. Respirava-se um ambiente hostil na cozinha. Banner o olhou sem dizer nada. Jake jogou uma olhada às rosas que, colocadas em um floreiro, ocupavam uma posição destacada no centro da mesa.
Tinha passado tanto tempo na cozinha durante os últimos dias, cozinhando para ela, que se sentia como em casa nesse lugar. Dirigiu-se à cozinha, serve-se uma taça de café e, apoiando os quadris contra a pia, sorveu-o.
-A tormenta não provocou nenhum dano irreparável, embora a terra estará saturada de umidade por um tempo nos pontos mais sombrios.
-Trará o rebanho aqui amanhã?
-Sim, mas os cavalos terão que ficar no River Bend até que se construa a ponte nova.
-Bom -disse Banner, suspirando, de todas maneiras, não poderei cavalgar até que me reponha.
-Já vejo que não brincava quando disse que havia muita comida - disse Jake ao observar várias cestas forradas com guardanapos pulverizados pela cozinha.
-Esta noite comeremos frango frito. Micah disse que Mami o tinha matado esta manhã. Por certo, sua mãe perguntou por ti. Enviei-lhe lembranças de sua parte e pedi a seu irmão que lhe comunicasse que estava bem.
Banner olhava ao homem sem atrever-se a formular a pergunta em seus olhos. O homem se limitou a assentir e a beber outro sorvo de café. A moça lhe deu as costas para dedicar-se à tarefa de levar a comida à mesa.
As cestas continham potes de hortaliças e frutas em conserva, um presunto, uma panela de feijões pinta, encurtidos e gelatinas, várias fatias de pão, uma bolacha com passas e pastelitos polvilhados com açúcar, como gostavam ao Banner. A moça já os tinha provado e lhe haviam disolvido na língua como manteiga. Só Mami podia cozinhar os dessa maneira. Mas o prazer que lhe produziam os apetitosos mantimentos se via diminuído pelo silêncio do Jake.
Com a cabeça inclinada enquanto comia, Banner o estudava. Não se tinha tirado os zahones e isso a incomodava. A camurça ficava folgada sobre as pernas do Jake quando caminhava, mas se adaptavam com precisão perturbadora ao lugar em que se atiam a seus enxutos quadris. A abertura emoldurava seu sexo, atraindo a atenção para ele e destacando a braguilha avultada. Quando olhava para esse ponto recordava como a tinha abraçado a noite anterior e sentia um vazio no estômago.
Irritada por evocar com tal nitidez o que Jake sem dúvida tinha esquecido, atacou ferozmente.
-Ao menos podia te haver tirado os zahones antes de te sentar à mesa.
-Incomodam-lhe?
Sim, incomodavam-lhe, mas não pelo que ele acreditava.
-OH, deixa-lhe isso postos. Não me importa.
-Não, não -insistiu Jake, com aspereza. Lutou com a fivela e logo soltou de um puxão os cordoncillos que sujeitavam os zahones a suas pernas-. Não quero zangar à princesa.
Abriu a porta traseira, jogou no exterior os zahones e por último se deixou cair em uma cadeira ante a mesa. Banner, com os punhos nos quadris, dirigiu-lhe um olhar colérico.
-por que está tão insuportável comigo? É que a noite de ontem nada significou para ti? Acaso esta semana não trocou a relação entre nós?
Jake ficou olhando-a, incrédulo.
-Eu? Você nem sequer me olhou esta manhã.
-Porque você não me olhou . Estava resmungão e de mau gênio. Atuava como se desejasse que eu desaparecesse.
-Um momento -interrompeu Jake, com o mesmo tom airado, tú- atuava como se te envergonhasse de me ter em sua cama. Estou seguro de que pensa que te sujaste, que a princesa do River Bend se rebaixou ao dormir junto a um de seus peões.
A fúria se apoderou do Banner e fez cintilar seus olhos.
-OH! -Golpeou o chão com os pés-. É o homem mais lhe exasperem que conheci. Poderia chegar a te matar por ser tão estúpido. Amo-te, Jake Langston. Amo-te.
As lágrimas reluziram como diamantes em seus olhos. Seu corpo se estremeceu de emoção enquanto permanecia ali parada, muito rígida e erguida, com as mãos firmemente apoiadas nos quadris. Estava mais deliciosa que nunca e o desejo percorreu o corpo do Jake como um tição ardente.
Com um rápido movimento do braço a agarrou da cintura e a atraiu para si. Seus braços se fecharam ao redor do corpo do Banner e apoiou a cabeça entre os seios da moça.
-Ama-me, Banner? Ama-me?
Sua voz era como a folha de uma serra. Procedia do mais fundo de sua alma, emergindo detrás anos de desilusão e desespero, desesperança e amargura, autorecriminación e arrependimento.
Banner se inclinou sobre ele, abrigando-o com seus cabelos, rodeando com os braços a cabeça querida.
-Sim, sim. Está cego, Jake? Como não soube?
Jake elevou a cabeça e seus olhos incisivos que nunca exigiram a verdade a ninguém, fizeram-no agora. Descobriu-a brilhando com luz trêmula nas profundidades listradas dos olhos do Banner. A mão do homem se posou na nuca da moça, enredou os dedos em seus cabelos e lhe levou a cabeça ligeiramente para baixo para fundir-se em um beijo que marcou a fogo suas almas. Foi um beijo intenso, quase brutal em sua paixão.
-Banner, Banner.
Separou a boca da dela e cobriu o rosto debaixo de seu queixo. A boca do homem começou a descender, quente e úmida, avançando sobre a pele do Banner. Soltou-lhe o cinturão da bata e, pondo as mãos sobre seus seios, apartou a seda. Banner levava uma regata debaixo da bata. O tecido transparente não conseguia ocultar sua formosura.
Os seios da moça com suas coroas escuras o reclamavam, investindo contra o tecido em um convite desavergonhado.
Jake a tocou, deslocando as mãos sobre o peito em uma atitude de reverência, mas de um modo muito selvagem para ser religioso. A cabeça do homem sulcou o peito do Banner, como um menino procurando sustento. O corpo da moça reagiu. Arqueou as costas e se ofereceu a sua boca exploradora, que esfregou e esfregou, mordiscando brandamente e beijando ao azar com uma fome pagã.
Banner levantou um dos joelhos até o bordo do assento da cadeira e a apertou contra a virilha do Jake. Apoiou-a ligeiramente contra a ereção do homem, que quase salta da cadeira.
Fazendo estalar a língua, tocou-lhe a ponta de um seio e um raio de luz vibrou por todo seu corpo. A cabeça da moça caiu para trás e sua cabeleira se balançou sobre suas costas, tão livre e indomável como as mãos que desprendiam os diminutos botões de pérola da regata.
A boca do Jake tinha um efeito mágico sobre seus peitos. As mãos do homem se deslizaram dentro da bata para deter-se em suas nádegas. Atraiu-a mais para ele e ela respondeu lhe beliscando na cintura com os dentes.
Jake a sustentou quando se levantou da cadeira e lhe baixou a bata,que caiu ao chão sem que lhe emprestassem atenção. Agarrou à mulher em seus braços e a levou através da casa em sombras para o dormitório, tingido de rosa pela luz crepuscular.
Deixou-a sobre a cama com um cuidado que contrastava com o modo em que se desprendeu do colete e a camisa, jogando-os no chão. tirou-se as botas e as apartou com os pés. desabotoou-se as calças e foi para ela, tendendo-se a seu lado, olhando a à cara e atraindo o precioso corpo da moça para o seu.
Suas bocas se encontraram em outro beijo apaixonado. Jake a acariciou fazendo descender a mão pelo flanco de seu corpo e, ao chegar ao bordo da regata, a levantou.
A coxa do Banner era suave sob sua palma.
Banner girou sobre suas costas. Agarrou-lhe a mão e a conduziu para seu corpo, lhe cavando a palma para adaptá-la ao delta feminino.
-Meu deus -sussurrou Jake, fechando os olhos e apertando as pálpebras. Sentiu uma necessidade imperiosa de confessar sua pequena transgressão-. A outra manhã...
-Sim?
-Quando despertei...
-Sei.
Jake abriu os olhos e uma chuva de fogo azul banhou o corpo da moça.
-Sabia? -Banner assentiu-. Juro que não o fiz a propósito, Banner. Suponho que estirei o braço para te tocar na noite Y... -Ela sossegou o fluxo de palavras do Jake selando com três dedos seus lábios-. Por que não disse nada?
-Acreditei que estava sonhando.
-Também me pareceu um sonho.
-O que teria acontecido se eu não tivesse estado doente e tivesse sido consciente de que estava acordada?
-Como agora, quer dizer?
-Sim, como agora.
A mão do homem se introduziu entre as coxas da moça, que se separaram com naturalidade. Abriu e apalpou, ligeira e brandamente, até que a encontrou úmida e quente.
Ela suspirou seu nome.
Jake baixou a cabeça e cobriu com sua boca a cúpula do seio. Os dedos do homem, internando-se nela, eram tão hábeis como sua língua com o mamilo. Os dedos e a língua acariciaram até que Banner se retorceu inquieta, roçando as pernas do homem com as suas. Jake se moveu com grande cuidado, colocando-se entre as coxas da mulher, cujos olhos, brumosos, abriram-se para olhar-se profundamente nos do homem quando sentiu a ponta de sua virilidade rasgando as pétalas de seu sexo.
-me diga se te fizer mal.
Banner negou com a cabeça.
Jake a penetrou.
Então as pálpebras da moça caíram pesadamente, lhe fechando os olhos. As emoções eram muito tumultuosas para as conter. Jake a enchia, Jake, Jake duro e grosso e quente e suave. Movendo-se. Acariciando.
Jake sussurrava instruções. Banner obedeceu e o sentiu inclusive mais. Espontaneamente, as mãos da moça se deslocaram para os quadris do homem, até suas nádegas.
Deslizou-as dentro de sua roupa. Os músculos suaves se ondularam sob as Palmas de suas mãos enquanto o corpo do Jake bombeava ritmicamente dentro do dele.
Jake chiou os dentes para não chegar ao orgasmo muito logo. Contemplou o rosto do Banner, amando a expressão de êxtase que viu nele. absolveu-se por ter tomado a uma virgem inocente antes. A que estava possuindo agora era uma mulher, sua mulher, movendo-se com ele, respondendo, agitando-se debaixo dele inclusive quando, apesar de seu controle, sentiu seu próprio clímax precipitando-se para ele.
Os olhos do Banner se abriram e suas mãos se cravaram com força nas costas do Jake. Pronunciou seu nome em um momento de pânico quando seu corpo se estreitou em torno do homem. Jake a penetrou tão profundo como pôde, subindo até a mesma porta do útero.
-Sim, sim, sim - repetiu Jake quando sentiu que o corpo do Banner se estremeceu. Seu próprio alívio foi comprido, abrasador e glorioso.
-É um mentiroso. -Quando Banner abriu os olhos, estes eram de um verde profundo, iluminados por uns pontos de cor dourada.
-O que?-perguntou Jake, rendo.
-Disse que o teu não era maior que o de outros homens.
-Não, não disse isso. Pinjente que não era um assunto de sua incumbência.
-É enorme-sussurrou a moça.
-Com qual o está comparando? -perguntou ele, franzindo o sobrecenho.
Banner prorrompeu em risadas e Jake deu um coice. Ainda não podia resignar-se a deixá-la. Seguia apertadamente refugiado nesse estojo de seda.
-Não é estranho que todas as damas falem de ti.
O rosto do Jake se tornou sério.
-Nunca tinha estado com uma dama antes.
O tom de voz do Banner foi baixando até converter-se em um sussurro.
-Sua habilidade fazendo o amor é legendária.
Jake a beijou com suavidade.
-Esta é a primeira vez em minha vida que tenho feito o amor.
Com olhos chorosos, Banner alargou uma mão para lhe tocar o rosto, a boca.
-Sempre é assim a segunda vez?
-Nunca foi assim, Banner. Nunca antes.
Jake inclinou a cabeça para voltar a beijá-la e, a pesar do gemido de protesto da moça, saiu dela e se girou para um lado. Seus olhos se encontraram e se enlaçaram através do travesseiro. Os dedos do homem atiraram ligeiramente dos botões da regata.
-É formosa, Banner Coleman.
-Você também o é, Jake Langston.
Com modéstia, Jake negou com a cabeça.
-Eu sou um velho açoitado pela vida, larguirucho como um espantalho. Um cavaleiro vagabundo.
Banner se aproximou e o beijou com doçura.
-Não para mim. Sempre foste meu Lanzarote.
-Quem é esse? -perguntou ele, arqueando uma sobrancelha quase branca.
A moça percorreu o arco com a ponta do dedo e riu brandamente.
-Em algum momento terá que ler sobre ele. Mas te asseguro que te agradará a comparação.
Logo o sorriso se converteu em uma expressão carrancuda. Lanzarote tinha amado à esposa do rei. Seguiria Jake amando a Lydia depois dessa noite? Banner afastou
o pensamento de sua mente. Não consentiria que nada a afligisse essa noite. Jake estava aí, amando-a, e aceitando seu amor. De momento isso era suficiente.
Acariciando o loiro e reluzente cabelo do homem, disse:
-Dói-me que fale de ti desse modo.
-De que modo?
-Velho e larguirucho. Não o é. É belo. E por que diz que é um cavaleiro vagabundo?
Jake desviou o olhar, molesto.
-Não tenho muito boa opinião de mim mesmo.
-Mas por que?
Jake trocou de posição, colocando um braço detrás da cabeça e cravando o olhar no teto.
-Por isso aconteceu faz muito tempo, Banner. Em outra vida.Tú não quererá ouvir falar disso.
-Sim, quero.
Jake voltou a cabeça, viu o amor que se manifestava nos olhos da moça e suspirou. Provavelmente, quando o contasse a consideração que lhe tinha a moça diminuiria, como lhe teria ocorrido a ele mesmo; mas era melhor destruir agora e não mais adiante a imagem que dele se forjou. Todos esses anos tinha guardado suas lembranças para si mesmo. Com o Banner, nesse momento, sentia-se impulsionado a falar deles, a fazê-los sair de seu peito de uma vez por todas.
-Perdi minha virgindade e a meu irmão o mesmo dia. Eu tive a culpa de que matassem ao Luke.
Banner jazia silenciosa e imóvel. Jake observava seu rosto para calibrar sua reação. Quando a moça lhe devolveu o olhar com firmeza, começou a explicar.
-Priscilla não se separava de mim desde dia em que nos pusemos em marcha com a caravana de carromatos. Eu tinha dezesseis anos e estava brincalhão como um touro na primavera.
Com voz serena e inexpressiva, Jake relatou a história de como Priscilla o tinha introduzido em um frenesi sexual aquele verão, incitando-o e tentando-o.
-Uma tarde subornei ao Luke para que fizesse minhas tarefas e me escapuli para me encontrar com ela. Quando voltei para a caravana horas mais tarde, minha mãe arremeteu contra mim. Perguntou-me onde tínhamos estado Luke e eu. Então entrou Moisés ao círculo de carromatos com meu irmão nos braços. Tinham-lhe talhado a garganta.
Uma lágrima rodou pela bochecha do Banner, mas continuou calada. Jake se estava franqueando com ela como nunca o tinha feito com ninguém. Nesse momento terei que permanecer em silêncio. O homem necessitava desesperadamente que alguém lhe escutasse. Não devia nem censurar nem ter piedade; só escutar.
-tive que viver com isso todos estes anos. Se não tivesse estado perdendo o tempo com a Priscilla, provavelmente meu irmão estaria vivo.
Jake se incorporou e rodeou os joelhos com os braços.
-Sei que você e outros pensam que fui um dos lhes semeie da Priscilla, mas a verdade é que não a hei meio doido. Deitei-me com ela umas poucas vezes depois daquele dia, mas cada vez que o fazia, odiava-me mais.
"Separamo-nos quando a caravana se dissolveu e não voltei a vê-la durante anos. Encontrei-me com ela no Fort Worth quando passei por ali durante uma das viagens que realizava tendo ganho. Não me surpreendeu encontrá-la trabalhando em um prostíbulo. Ela quis reatar as coisas no ponto em que as tínhamos deixado. Mas cada vez que a olhava, quão único podia ver era o rosto do Luke, morto e pálido, e com a camisa marrom manchada de sangue.
levantou-se da cama e se dirigiu ao penteadeira, servindo um copo de água do cântaro, desejando que fosse uísque.
-Isso não é tudo. Também poderia ouvir o resto. Avengüé quem assassinou ao Luke.
Fez uma pausa em seu relato. Aquele tinha sido o momento no que ele e Lydia formaram esse vínculo indestrutível. Quem tinha assassinado a seu irmão tinha sido o meio-irmão da Lydia, que a violava e atormentava. Jake vingou tanto a morte do Luke como a crueldade a que submetia a Lydia.
-Matei-o, esfaqueei-o em um beco e senti prazer ao fazê-lo. Eu tinha dezesseis anos. Dezesseis -disse através de seus dentes apertados.
A cabeça do Jake caiu para frente. Banner, esquecendo sua recente intervenção cirúrgica, saltou da cama e se situou atrás do homem. Quando Jake a ouviu, girou-se bruscamente.
-Essa é a classe de homem que acaba de levar a sua cama -disse, assinalando o leito.
-E não me arrependo. O homem que matou merecia morrer.
-Também o merecia Luke?
-Não foi tua culpa! Você não foi o responsável. Um estranho conjunto de circunstâncias, uma coincidência. Não pode carregar com essa culpa o resto de sua vida.
Não podia? Não o tinha feito durante vinte anos? E também cada dia durante todo esse tempo tinha menosprezado às mulheres. Tinha castigado a todas e a cada uma das mulheres com que tinha tropeçado pelo papel que Priscilla tinha desempenhado no assassinato do Luke.
Até essa noite.
Banner não se separou dele com repugnância, mas sim o olhava com compreensão e amor. Em uma só noite o corpo da moça o tinha limpo, quando ele tinha sido incapaz de sentir-se limpo desde aquela primeira tarde fatídica com a Priscilla Watkins.
-Houve outros, Banner. Dois. Homens com nomes e rostos, e eu os matei.
-Me fale deles.
-A gente matou a meu amigo. Era um menino com o leite nos lábios ainda, que realizava sua primeira viagem tendo ganho. Tinha-o tomado sob meu amparo porque recordava ao Luke. O outro tipo era um valentão. Golpeou ao menino até fazê-lo mingau por ter tropeçado e derramado o café sobre seu saco de dormir. O moço deveu sofrer uma hemorragia interna. Morreu horas mais tarde aquela mesma noite. Briguei com seu assassino; briguei com ele durante o que me pareceram horas até que ao final o... quebrei-lhe o pescoço.
Banner pôs uma mão sobre o peito do homem.
-E o outro?
-O outro era um jogador de Kansas City que me tinha feito armadilha e a quase todos outros jeans. Incitava-nos a jogar pôquer, deixando ganhar umas poucas mãos, e logo nos depenava fazendo armadilha. Desafiei-o a um duelo a tiros. O desencapou o revólver, mas eu fui mais rápido.
Baixou o olhar para a mulher que se achava de pé junto a ele. Um amargo sorriso escureceu ainda mais seu rosto.
-De modo que agora já a conhece. A sórdida e triste vida do Jake Langston.
Com valentia, Banner rodeou ao homem com seus braços e apoiou a cabeça contra seu peito.
-Esses homens faziam mal a outras pessoas, Jake. Não é nenhum assassino.
lhe agarrando os braços, apartou-a.
-Mas não o compreende? Poderia voltar a fazê-lo, se o julgar necessário.
-Compreenderia que o fizesse igual a compreenderia que meu pai o fizesse. Não sei se tiver matado a alguém antes, mas sei que o faria se estivesse justificado.
-Está alguma vez justificado?
-Sim -disse Banner com uma suave ênfase-. Sim, Jake. Acredito que às vezes o está.
Jake a abraçou e enterrou o rosto em seu cabelo.
-Não sei se tivermos razão ou não, Banner, mas te agradeço o que me há dito.
-Não o digo só porque suponha que é o que você quer ouvir. Acredito que todos somos capazes de cometer atos violentos se nos provoca. Você matou para defender a sua família e seus amigos.
-Nem sequer o contei nunca ao Mami.
-Possivelmente deveria fazê-lo. Ela é sábia. Saberá melhor que eu o que dizer. -Banner emoldurou o rosto do homem com suas mãos-. Mas sei que te ama e que seguirá te amando sem lhe importar o que tenha feito. E eu também.
Jake lhe apartou o cabelo da bochecha.
-Sinto-me melhor depois de haver lhe explicado isso.
-Me alegro.
Banner lhe acariciou a suave pele das costas com as mãos abertas, afundando os dedos na carne firme.
Jake se inclinou e procurou a boca da moça com a sua. Seu beijo foi de agradecimento. Ignorava a razão pela que tinha sido capaz de contar ao Banner o que nunca tinha podido explicar a nenhuma outra pessoa. Tinha aberto seu coração, e as palavras que lhe resultava tão difícil pronunciar antes tinham saído a fervuras. Experimentou uma liberdade que não tinha sentido desde aquele verão em que perdeu a inocência. E novamente encontrou esperança no diminuto corpo que se apertava contra ele confidencialmente.
-Não jantaste nada.
Banner riu.
-O jantar foi interrompida, não é certo?
-Não me queixarei por isso.
-Eu tampouco -disse a moça antes de que a boca do homem cobrisse a seu com outro beijo.
Quando se separaram, Banner disse:
-Agradeço sua gentileza mas sei que está faminto. Seria uma vergonha desperdiçar toda essa comida.
-Vamos. -Jake lhe deu uma ligeira palmada nas nádegas e a conduziu para a cozinha.
-Há mais de uma maneira?
Banner elevou uns olhos tímidos do outro lado da mesa, sobre a que se achavam pulverizados os pratos e os pacotes com os restos do que acabavam de comer. umedeceu-se a ponta do dedo indicador e a pressionou contra os miolos de bolachas que ficavam em seu prato. Uma vez recolhidas, lambeu-se o dedo.
Jake a observava com diversão carinhosa e excitação sexual crescente. Banner havia tornado a abotoá-la regata, mas tinha preferido não ficá-la bata. Várias vezes durante a comida, o homem teve dificuldades para tragar enquanto a olhava.
-mais de uma maneira do que?
-Já sabe a que me refiro.
Jake sorriu com ironia.
-Você que crie?
-Não sei - respondeu, inclinando com descaramento a cabeça sobre um ombro-. Como posso sabê-lo? Você foste meu único amante.
Enquanto alargava o braço sobre a mesa, o sorriso do Jake se desvaneceu. Seu polegar massageou o dorso da mão da moça e seu olhar sustentou a dela.
-Lamento o daquela primeira noite, Banner. Devi ter sido mais delicado contigo. Tentei-o mas... -encolheu-se de ombros, em um gesto de impotência-. Cativou-me.
Banner se inclinou, encantada com o modo em que a luz se refletia nas sobrancelhas do homem e moldava o resto de seu rosto na sombra.
-E agora?
-Segue-me cativando -murmurou com voz rouca.
Banner se levantou da cadeira e rodeou a mesa. Jake se tornou para trás e lhe fez lugar para que se sentasse em seu regaço. O braço da moça se dobrou sobre os ombros dele, enquanto com a outra mão lhe sulcava o cabelo. Jake enlaçou a cintura com um braço. A outra mão voltou a desabotoar a regata e se posou sobre um peito, ainda aceso pela excitação recente.
beijaram-se larga e lentamente, saboreando-se, saciando-se. Quando Banner se apartou lhe retorceu com suavidade montoncitos de pêlos do peito. Jake se tinha posto a camisa para sentar-se à mesa, mas a tinha desabotoada. A moça apartou o tecido, com o desejo de que esse peito magnífico nunca voltasse a estar oculto a sua vista.
-Jake?
-Humm? -Ele estava concentrado no viço de seus peitos, em seu tamanho, em sua suavidade cremosa e em suas pontas firmes.
-Quero que me ensine.
-Te ensinar?
-Como... já sabe, como fazer coisas.
A mão do Banner descendeu pelo peito do homem para tocar o disco de cobre de seu bico da mamadeira. Jake conteve o fôlego.
-Banner, você não necessita nenhuma instrução.
Jake sempre tinha imaginado que Lydia era uma esposa amante que nunca tinha deixado insatisfeito a seu marido. Ross nunca lhe tinha feito confidências a respeito do que acontecia em seu leito conjugal, mas qualquer que o conhecesse podia advertir que era um homem feliz. Embora Ross Coleman era sensual e viril, nunca tinha procurado a outra mulher desde que se casou com a Lydia. Sobre isso, Jake apostaria sua vida.
Banner era a filha de duas pessoas que desfrutavam de uma vida sexual ativa. Ao Jake ainda assombrava até que ponto chegava o ardor da moça. Transcendia tudo o que tinha experiente com putas, que a maioria das vezes fingiam suas respostas. Outras mulheres nem sequer sabiam que eram capazes de uma entrega tão apaixonada.
-Não quero que procure em outra algo que eu não te dou.
-Banner...
-Ensinará-me como te amar?
Jake lhe acariciou o cabelo, deslizando a mão do cocuruto para o ombro. Era uma proposição extremamente tentadora, mas Banner ainda estava recuperando-se da operação. Deus, quando pensava no modo em que se havia contorsionado debaixo dele, arqueando-se Y... Era assombroso que não lhe tivessem saltado os pontos da ferida.
Em que diabos tinha pensado ele?
-Esta noite não -disse ele, levantando a de seu regaço. A redonda pressão dos quadris da moça contra seu corpo fazia que lhe resultasse mais difícil manter-se erguido. Parece esgotada. Vete à cama e me deixe lavar os pratos.
Não era o cansaço o que abatia os ombros do Banner quando saiu da cozinha, a não ser a decepção.
Ainda se achava acordada quando Jake abriu a porta do dormitório meia hora mais tarde.
-Pensei que já estaria dormida.
-Estava te esperando.
Os ombros do Banner se sobressaíam, nus, por cima da colcha. Sob a tênue luz do abajur, a moça oferecia um aspecto encantador. As olheiras violáceas do cansaço só faziam que seus olhos fossem mais feiticeiros. Jake sentiu remorsos por ter posto a prova suas forças. Ao mesmo tempo, o desejo bulia em todo seu corpo.
-Não podemos seguir dormindo juntos, Banner. Quase nos pilham esta manhã.
-Estou disposta a correr o risco.
Jake sacudiu a cabeça, inflexível.
-Mas eu não. Por seu bem, não pelo meu. Não quero que seu nome esteja em boca de todos no barracão.
-Ao menos me dará as boa noite com um beijo?
O homem sorriu e seus dentes atraíram a luz do abajur, destacando com uma brancura resplandecente em seu rosto escuro.
-Isso sim o farei.
O colchão se afundou sob o peso de seu corpo quando Jake se sentou no bordo. A gravidade, ou seu próprio desejo de estar perto, arrastou ao Banner para ele.
O lençol que a cobria se deslizou, de modo que quando Jake baixou o olhar para o corpo da moça depois de um beijo profundo e lhe sugiram, viu um mamilo rosado olhando-o às escondidas com ar provocador.
Jake gemeu brandamente.
-Não joga limpo, Banner.
-Sempre transgredi as regras.
Ele baixou a cabeça.
-por que alguma vez me sacio de ti?
A boca do homem não vacilou, mas sim se fechou em torno da ponta do peito da moça e a lambeu com a língua. Como saborear um só resultava insuficiente, deslocou-se para o outro e também o bruniu com lambidas largas e deliciosas, que deixaram ao Banner ofegando de desejo.
-Por favor, Jake. Não esperamos durante bastante tempo?
Jake a examinou. Estava incrivelmente arrebatadora com o cabelo caindo sobre os ombros cremosos. Os peitos, que conservavam a umidade brilhante que tinham deixado seus beijos, apareciam por entre as negras mechas onduladas. A boca estava torcida e vermelha pelo excesso de beijos.
Lentamente Jake se levantou da cama, tirou-se a camisa e se desabotoou as calças. Banner tinha o olhar cravado nele, contemplando aniquilada seu peito peludo e os músculos de seus braços. Sem dúvida, nenhuma mulher era tão afortunada para ter um amante tão bonito como o seu. Jake era enxuto, e suas costelas, pronunciadas, mas seu estômago era duro e firme. Os nervos quemostraban seus braços se agrupavam com os músculos desenvolvidos cada vez que ele lhes exigia o mais mínimo movimento.
Jake se deslizou as calças pelos quadris e as coxas e ao chegar aos joelhos se inclinou ligeiramente para tirar-lhe Quando se endireitou, Banner ofegou brandamente.
A atração que sentia pela nudez do homem era puramente carnal, pois seu corpo se via formoso à luz do abajur que dourava sua pele bronzeada e o pêlo de um loiro branco de seu corpo.
O olhar do Banner descendeu pelo peito caminho do estômago liso e os quadris estreitos. As coxas do Jakee ran largos e magros, suas pantorrilhas tão duras e redondas como maçãs. O olhar revoou agitada subindo até o sexo do homem, onde o pêlo loiro se arracimaba, mais escuro, mais denso e mais encaracolado, ao redor de seu órgão imponente.
Jake se inclinou e jogou para trás a colcha, encontrando-a, como tinha pensado, nua. tendeu-se junto a ela e a atraiu para si, abraçando-a com ternura, consciente da ferida enfaixada no ventre da moça. Entretanto, a natureza de seus beijos, grosseiramente resolvida e totalmente indisciplinada, não se refreou.
Jake tomou um seio e o amou, primeiro com os dedos e logo com a boca, que se fechou sobre ele. A seguir seus lábios escorregaram por entre as costelas da moça.
Possuiu o umbigo com uma penetração íntima de sua língua e um ligeiro arranhão de seus dentes. Seus lábios se deslizaram para a vendagem para beijá-lo com soma ternura.
A febre se intensificou no sangue do homem e os batimentos do coração de seu coração se aceleraram, retumbando em seus tímpanos. Os dedos do Banner entraram pelo pêlo do homem. O que anteriormente a teria alarmado, agora provocava sensações que se difundiam por todo seu corpo, tão incontenibles como um rio transbordado. Sentir o toque estranho dos lábios do Jake sobre seu corpo resultava lhe impacte, mas as carícias só preludiaban um gozo e um êxtase indescritíveis.
Jake lhe esfregou o ventre com o nariz e o queixo. Voltou a beijar a branca vendagem quadrada antes de descender para a acanaladura pouco profunda entre a coxa e o abdômen, rastelando-a com sua língua.
Levantando ligeiramente a cabeça, centrou-se no ninho de sedosos cachos negros. Primeiro acariciou com seu fôlego e pouco depois com seus lábios, sussurrando palavras carinhosas.
Respirando com dificuldade, elevou a cabeça e olhou à moça.
-Banner, nunca tenho feito isto antes, mas... -As palavras ficaram penduradas no ar como uma pergunta inconclusa.
-Fazer o que? -A voz dela estava acesa de paixão.
Jake caiu de joelhos junto à cama. Atraiu à moça para o bordo do leito. Beijou o vértice do triângulo onde seu femineidad se estreitava. Banner arqueou as costas e se agarrou aos lençóis com mãos desassossegadas. Lentamente, Jake lhe separou as pernas e as colocou sobre seus ombros. Voltando a cabeça, apertou sua boca contra o aveludado revestimento interior das coxas. Outra vez. A doce carícia continuou sem cessar. Percorria a longitude de cada coxa do joelho para cima, com beijos tão ligeiros e suaves como os que se dão no cocuruto de um recém-nascido.
Logo se permitiu saboreá-la. Saboreou a essência do Banner, gravando-a em sua memória para sempre. Cobriu-a com sua boca, sugando com suavidade. Sua língua era um explorador aventuroso que se internava profunda e meigamente. Quando a retirou, cobriu a carne palpitante de redemoinhos de carícias que deixaram à moça sem sentido.
Esse bendito abismo de veludo negro se fez mais largo e Banner se aproximou mais. Soluçando seu nome, a moça caiu nele, com uma explosão de luz resplandecente.
Todo seu ser foi sacudido pela experiência humana essencial. Jake tinha jurado que não voltaria a possui-la esse dia, mas foi incapaz de resistir quando os braços do Banner se elevaram buscando-o. estirou-se em cima dela e se enterrou fundo.
-Saboreia o maravilhosa que é -disse-lhe, beijando-a.
Os quadris da moça se ondularam contra as investidas do corpo do homem. O clímax do Jake chegou rapidamente, justo quando Banner alcançou outra cúpula. Ele se estremeceu com uma efusão de emoções quando sua semente encheu o corpo dela. ficaram unidos, superviventes de uma tormenta turbulenta.
Quando finalmente Jake reuniu suficiente força para apartar-se da moça, olhou seu rosto. Deslizou um dedo ao longo das sombras debaixo de seus olhos, mas não pôde sentir nenhum remorso. O momento tinha sido muito precioso.
-Nunca imaginei... -sussurrou ela.
-Eu tampouco.
Beijaram-se com ternura. Jake tampou ambos os corpos e Banner se acurrucó contra ele. Seus corpos encaixavam de um modo que só o céu pôde ter desenhado.
Quando Banner se deixou arrastar pelo sonho, o homem a ouviu sussurrar:
-Amo-te, Jake.
Jake permaneceu acordado um comprido momento, escutando a suave cadência da respiração da moça, sentindo-a abanar o pêlo de seu peito onde repousava sua cabeça.
Não tinha que tomar nenhuma outra decisão. Amanhã o diria.
Banner demorou um momento em abrir os olhos. Quando o fez, piscou para poder centrar a visão. O dormitório estava sumido na bruma cinza que antecede à alvorada.
-O que faz levantado? -perguntou, ainda não acordada de tudo.
Jake, completamente vestido e equipado para o trabalho do dia, achava-se sentado no bordo da cama. Enroscava uma mecha de seus cabelos em um dedo. Tinha estado lhe fazendo cócegas no nariz com a mecha para despertá-la.
-Os peões virão cedo. Hoje traremos seu gado a casa, senhora chefe. -Deu-lhe um suave golpecito no queixo-. Não queria partir sem me despedir.
A boca do Banner desenhou uma deliciosa careta carrancuda.
-Queria ir contigo.
-A próxima vez. -Ele se inclinou para lhe beijar a ponta do nariz, um beijo que estendeu para baixo para abranger os lábios e logo a boca quando sua língua se deslizou dentro-. Eu adoro despertar junto a ti, Banner.
-A mim também.
-Mas não podemos seguir assim.
Jake se afastou da cama e se deteve ante a janela onde o cinza sobre o horizonte dava passo a um rosa perlado.
Banner, com o coração lhe pulsando como quando os sinos dobram a morto, retirou o lençol e a colcha, procurou provas a bata e saiu da cama.
-O que quer dizer? -ficou a bata e se elevou elcabello, que caiu sobre suas costas.
-Não podemos seguir dormindo juntos. Quero-te muito para te humilhar desse modo. Além disso, estou defraudando ao Ross e a Lydia cada vez que te toco. Eles lhe confiaram para mim.
O coração do Banner palpitava a uma velocidade alarmante. Jake não podia lhe dizer que partia, porque se ele se fosse, ela morreria.
Jake se deu volta lentamente. Nervoso, fazia girar a asa do chapéu entre seus dedos.
-Banner, acredito... -interrompeu-se para esclarecê-la garganta. Ela afogou um soluço-. Acredito que deveríamos nos casar.
O alívio da moça foi tão profundo que deixou sair o fôlego contido. equilibrou-se sobre ele, lhe jogando os braços ao pescoço e lhe banhando a cara de beijos.
-OH, Jake, Jake... Eu... OH, sim, sim.
-Quer te casar comigo?
-Santo céu, sim. Se não me tivesse pedido que fora sua esposa, o teria feito eu. Por um momento pensei que foste dizer me que te partia.
Jake sorriu ante sua aceitação entusiasta. Deixando cair ao chão o chapéu, devolveu-lhe o abraço.
-Cuidado. Fará que lhe saltem os pontos.
-OH, Jake quando? Quando?
-o antes possível. -De repente, o sorriso se tornou forçada. Apartou-a ligeiramente dele e lhe esquadrinhou o rosto-. Banner, não temos tempo para umas bodas de luxa. Já consegui a licença. Fiz todos os trâmites o dia que fui à cidade a procurar comida. Importa-te se procurarmos um pastor e nos casamos sem celebrar uma festa, inclusive sem comunicá-lo a seus pais até que as bodas esteja consumada?
-Não, claro que não -respondeu ela, perplexa-. Não quero a fanfarra de outras bodas formal. Mas por que não deveríamos anunciá-lo a nossos pais? por que diz
que não temos tempo?
Então Jake a apartou ainda mais, mas mantendo as mãos apoiadas em seus ombros.
-Há um menino, Banner. -Ela se limitou a olhá-lo, muito estupefata para responder-. Leva nas vísceras meu menino.
"Um menino! Um filho do Jake!"
-Deveu ter acontecido aquela primeira noite no estábulo-prosseguiu ele-. O médico me disse isso quando esteve aqui. Essa era uma das razões pelas que não queria operarte.Temía que a cirurgia pusesse em perigo ao menino.
"vou ter um menino. Um menino que Jake e eu fizemos."
Uma alegria pura se apoderou dela, borbulhando e gorgoteando como uma fonte, fazendo efervescência em todo seu organismo como o champanha caro.
Entretanto, a seguir o impacto das palavras do homem a golpeou, contendo imediata e eficazmente os rios de felicidade que tinham fluido através dela. liberou-se de suas mãos e retrocedeu. Seu rosto passou da alegria à ausência de expressão, à ira, à fúria. Antes de que Jake pudesse precaver-se contra isso, a mão do Banner voou no ar e caiu vigorosa e dolorosamente na bochecha.
-Bode! Não necessito nem sua piedade nem sua caridade. OH, quando penso...
Banner balbuciava de maneira incoerente que lhe tinha feito o amor, que lhe tinha proposto matrimônio por piedade e que isso era muito humilhante para tolerá-lo.
-Piedade? Caridade? De que diabos está falando? -perguntou Jake, tocando-a mandíbula.
-Vete daqui e me deixe sozinha. Vete! -gritou Banner.
Jake tinha presenciado muitas de seus rabietas infantis para saber que não brincava. Nesse momento ouviu no pátio os cascos dos cavalos dos peões que se apresentavam para começar a trabalhar.
-Falaremos disto mais tarde.
-Vete ao inferno.
Jake saiu da casa sapateando.
Banner o seguiu até a porta do dormitório, que fechou de um golpe, com tal ímpeto que fez tremer as folhas de vidro da janela. Logo, cobrindo o rosto com as mãos, deslizou-se pela fria madeira até que chegou ao chão. Fortes soluços sacudiram seu corpo.
Sentia-se mais humilhada que o dia de suas bodas, mais do que se havia sentido depois do incidente no estábulo, mais do que se havia sentido nunca em sua vida.
Humilhada e infeliz.
Grady Sheldon se recuperou. As costelas já não lhe cravavam nas vísceras cada vez que se movia ou aspirava; os dentes frouxos pareciam haver-se voltado a fixar em suas gengivas; os machucados do rosto, que tinham passado por diversos matizes de violeta, eram agora mancha amarelas que se detectavam só com certa luz.
As lesões físicas estavam curando, mas o ódio que havia dentro dele estava tão em carne viva como uma ferida aberta.
"Um maldito vaqueiro."
O fato de que Ross Coleman lhe tivesse ameaçado de morte diante de toda a cidade já tinha sido bastante humilhante, mas que uma menina como Banner Coleman preferisse a um vagabundo como Langston antes que a ele, Grady Sheldon, resultava inconcebível. A diferença de idade era grande. Além disso, provavelmente não tinha um céntimo,lo que não só resultava inconcebível, mas também o considerava imperdoável.
Durante dias esteve encerrado na habitação do hotel, sanando de suas feridas e alimentando seu ódio. O primeiro, porque era necessário; o segundo, porque esse ódio se converteu no ponto central de seu vida.Todos eles receberiam seu castigo e, embora fosse quão último fazia, Grady Sheldon se ocuparia de que assim fosse.
Tinha aterrorizado às garçonetes do hotel, grunhindo como uma besta à espreita em sua cova, cada vez que batiam na porta perguntando se necessitava seus serviços.
Tinha vivido a.base de uísque, ao princípio para apagar a dor, logo por preguiça. Não se banhava, nem se barbeava, nem fazia nada exceto entregar-se a seu ódio pelo Jake Langston e todos os Coleman.
Esse dia se despertou com uma ressaca monumental; doía-lhe tudo, das raízes do cabelo até as unhas dos dedos dos pés. obrigou-se a sair dos lençóis empapados em suor, pediu que lhe preparassem um banho em sua habitação e gradualmente voltou a converter-se em um ser humano.
Agora, enquanto entrava no Jardim do Éden se sentia outra vez seguro. Tinha passado por uma rajada de má sorte que rivalizava com qualquer outra nos anais da humanidade. Mas isso trocaria.
Tinha as bochechas rosadas depois do primeiro barbeado em duas semanas. O traje a quadros tinha visitado a tinturaria para retornar engomado e escovado. O mozalbete negro que atraía aos clientes na esquina da rua lhe tinha lustrado os sapatos. O chapéu cogumelo descansava sobre sua cabeça em um ângulo elegante.
Grady se estremeceu ao pensar no uísque, de modo que pediu ao garçom uma cerveja. Enquanto examinava à multidão que ocupava os salões cheios de fumaça e as salas de jogo da famosa cantina, não pôde advertir o sinal que o garçom fez a um dos guarda-costas, quem girou sobre seus talões e se encaminhou para os aposentos da proprietária.
Priscilla respondeu à chamada entrando no salão com menos serenidade teatral da habitual. Tinha esperado com ansiedade notícias sobre o paradeiro do Grady Sheldon, a quem ninguém tinha visto durante semanas. Tinha-lhe enviado por correio uma carta ao Larsen, mas não tinha recebido nenhuma resposta. O que tinha que lhe dizer não podia aguardar muito mais tempo. Agora, quando o viu inclinando-se sobre a barra, sorvendo a espuma de sua cerveja,precipitou-se para ele.
-Grady! -exclamou, lhe dando um golpecito no braço com o leque-. Pícaro! Onde estiveste? Morria de vontades de verte.
Grady esboçou um sorriso de satisfação. Tinha-o jogado muito de menos, não era certo? O coração dele se inflamou de orgulho. A puta mais lasciva e insaciável do estado o desejava.
-Tive alguns problemas.
Por um instante os olhos marrons do Grady se escureceram com a lembrança de cada golpe o que tinha recebido dos punhos do Jake, assim como do rechaço final por parte do Banner a sua proposta matrimonial. Sem dúvida, depois o casal se teria rido muito a costa dele.
Percebendo seu estado de ânimo perturbado, Priscilla posou uma mão confortável no braço do Grady e apertou os seios contra seu peito.
-Espero que já tenham acabado.
As palavras chegaram suaves e tranqüilizadoras a seu espírito machucado.
-Não ainda. -Sorriu com indolência-. Mas você pode apagar os problemas de minha mente, verdade?
De um modo sedutor, Priscilla baixou o olhar para os lábios do homem.
-Pode estar seguro de que posso. Te senti falta de.
Em certa maneira, essa era a verdade. Ultimamente, a companhia masculina tinha escasseado notavelmente em sua vida. Ao parecer, Dub Abernathy estava furioso com ela e se mantinha a distância. Não tinha visitado o Jardim do Éden desde que ela lhe aproximou na rua.
Não tinha estado com um homem desde... desde que Jake a rechaçou. Dedicou-lhe um grosseiro insulto em sua mente, mas seu corpo se inflamava de fome sexual com a lembrança dos compridos e duras coxas do Jake escarranchado de sua banheira.
Arqueou o pescoço e olhou ao Grady com olhos abrasadores. Seus dedos vagaram dentro da jaqueta e o colete para lhe arranhar ligeiramente o peitilho da camisa.
-Vêem comigo, Grady. Farei-te feliz esta noite. - umedeceu-se os lábios com uma língua perversa-. Em mais de um modo.
Priscilla o conduziu para seus aposentos privados. Antes de entrar falou brandamente com guarda-costas apostado na porta que lhe tinha informado que Grady se achava na cantina. O jovem entrou antes que ela. Quando a mulher o fez e fechou a porta, Grady se voltou para enfrentá-la. Priscilla se jogou em seus braços curvando seu corpo contra o do homem de forma incitante.
-Deus, está muito belo -disse ele sem fôlego quando o comprido beijo finalmente se reduziu a um úmido encontro de suas bocas.
Os lábios da Priscilla roçavam ligeiramente os do Grady, mas sua mente trabalhava de um modo febril.
-Se eu fizesse algo por ti, Grady, você faria algo por mim?
-Como o que? -perguntou ele com voz pastosa.
-OH, ainda não o decidi. Mas, faria-o?
-Claro. -Grady concederia algo enquanto a língua dela flagelasse seus lábios desse modo-. Um favor merece outro.
-Sabia que o diria.
Priscilla levava um vestido de cetim de cor verde azulada. Seus peitos se sobressaíam por cima da linha do decote. As mãos do Grady roçaram os montículos cremosos; ao pouco seus lábios os imitaram.
-Maldita seja! -exclamou Grady, levantando a cabeça da absorvente ocupação quando alguém bateu na porta.
Priscilla lhe acariciou a bochecha.
-É alguém com quem nos convém falar, querido. Confia em mim. Não se preocupe pelo que eu diga e me siga a corrente. -Baixou a mão até a dura ereção do homem e apertou brandamente-. Mais tarde nos encarregaremos disto.
Seu sussurro era uma promessa tão provocadora, que Grady nem sequer teve a força de vontade suficiente para opor objeções quando Priscilla se deslizou de seu abraço e se dirigiu à porta.
O jovem ficou surpreso ao ver que Priscilla admitia a uma de suas putas. Não podia imaginar que a mulher com o rosto inchado e o cabelo murcho fosse de algum interesse, e muito menos de alguma importância para ele.
Mas Priscilla agarrou a mão da prostituta e a fez entrar, fechando a porta detrás dela. Conduziu-a até uma das cadeiras ridiculamente altas e finas em torno
de uma pequena mesa de chá. A mulher se apoderou da garrafa de cristal que estava sobre a mesa, serve-se uma medida generosa de uísque e se levou o copo aos lábios, olhando com suspicacia ao Grady.
-Sugar, este é o senhor Grady Sheldon, o xerife de quem te falei.
Grady dirigiu a Priscilla um olhar de puro cepticismo, mas ela estava tão fresca como uma alface quando se sentou em uma cadeira frente a Sugar e indicou ao Grady que se acomodasse na outra.
-Gosta de um gole, senhor Sheldon?
Arrellanándose na cadeira, Grady esqueceu sua anterior resolução e disse com voz rouca:
-Sim, por favor.
-Vi-o aqui antes. Acreditei que era um dos seus.
Sugar resmungou as palavras com acritud. Ultimamente Priscilla a tratava melhor. Permitia-lhe beber todo o uísque que queria e se não gostava de atender aos clientes, podia permanecer em seu quarto da planta superior. Inclusive lhe tinha agradável o traje que vestia essa noite em sinal de gratidão pelos anos de dedicação ao ofício.
Sugar queria acreditar-se essas considerações especiais, mas se algo tinha aprendido na vida, e tinha aprendido mucho,era que tudo tinha um preço. O que tramava Priscilla, apresentando-a a esse xerife? Não se parecia com nenhum dos que Sugar tinha visto. Muito nervoso e pálido. Pretendia Priscilla acusar a de algum delito inventado para mandá-la ao cárcere? Só a tinha adulado para pô-la em ridículo?
-O senhor Sheldon é um de meus clientes favoritos -disse Priscilla com suavidade-, mas esta noite se encontra aqui por negócios. Como sabe, o Jardim do Éden e Hell's Half Acre em geral atraem a certos elementos delitivos. O senhor Sheldon está acostumado a combinar os negócios com o prazer, pois as pressões de seu trabalho são tremendas.
-A que se dedica? -Sugar inclinou com abandono a garrafa de cristal sobre seu copo e verteu mais uísque nele.
-A seguir o rastro de delinqüentes procurados, é obvio.
Priscilla percebeu a crescente suspeita nos olhos turvos da prostituta enquanto observava ao Grady.
-Recorda a história que me contou sobre o Ross Coleman? Ao senhor Sheldon gostaria de ouvi-la.
-A que vem isto? -perguntou Sugar com insolência.
-O quer saber se essa história pode provar-se. Seria uma lástima deixar que se desperdiçasse a recompensa.
-Recompensa?
Pela primeira vez desde que entrou na habitação Sugar mostrou algum interesse. Seu copo ficou a meio caminho entre a mesa e seus lábios fláccidos.
-Quanto disse que era a recompensa, Grady? -perguntou Priscilla, com um tom inocente.
-Isto, bem, quinhentos -improvisou ele.
-Acreditava que havia dito mil.
-OH, sim, sim, mil.
Grady ignorava por completo do que estavam falando, mas se concernia aos Coleman, concernia a ele. E o fato de que Priscilla estivesse fazendo-o passar por xerife nada bom pressagiava para o Ross Coleman. Sua curiosidade era tão intensa como a do Sugar. Pagaria com alegria o resgate que lhe exigisse por ouvir o que a velha puta podia explicar.
-Você me dará mil dólares por contar essa historia sobre o Ross Coleman? -perguntou Sugar, surpreendida. levou-se a mão ao peito-. Hóstia! por que?
-Poderia ser muito importante -interveio Priscilla.
O entusiasmo momentâneo do Sugar diminuiu e os olhou com receio. Semelhavam duas aves de rapina dispostas a equilibrar-se sobre sua presa.
-Não quero colocar a ninguém em confusões.
-Preferiria deixar que um criminoso siga em liberdade?
Grady levantou a cabeça bruscamente e seus olhos perfuraram os da Priscilla. Coleman era um criminoso? Deus! esclareceu-se garganta e tratou de falar com um
tom autoritário.
-Se conhecer qualquer informação de vital importância para a detenção de um foragido procurado e a oculta, poderia ser acusada de cumplicidade.
Priscilla o olhou com respeito. Seu sorriso foi secreta e congratulatória.
-Não quero colocar a ninguém em confusões -repetiu Sugar, com voz tremente.
Susojos estavam cheios de apreensão. Recordou aos dois moços queridos que a tinham tratado com consideração incluso enquanto se entregavam a suas paixões sensuais.
E no Jake, que sempre tinha sido amável com ela.
Mas queria viver o resto de seus dias no Jardim do Éden. Entre isso e a fome estavam as posadas de má morte e as choças detrás das cavalariças. Não queria morrer em uma choça. Ao menos no Jardim do Éden tinha um teto, uma cama e de vez em quando uma garrafa de uísque. prostituiu-se quase toda sua vida. Uma vez mais não importaria.
-O que quer saber?
Priscilla pôs uma mão confortante no ombro do Sugar.
-Simplesmente explica ao senhor Sheldon a história que me contou.
Sugar voltou a olhar ao Grady, que punha cara de circunstâncias, embora queria rir com regozijo. A promessa da Priscilla não tinha sido em vão. Estava lhe subministrando a munição para pôr aos Coleman a seus pés.
-Eu estava trabalhando em uma cidade pela que passava a ferrovia em Arkansas-começou Sugar com voz apagada-. Durante as viagens dos colonos.
-Em 1872 -interveio Priscilla, sabendo o ano em que ela e seus pais tinham emigrado ao Texas do Tennessee; o ano de sua liberação.
Sugar assentiu.
-Trabalhava para essa puta chamada LaRue. Não era seu nome real. Ela era...
-te limite somente ao relacionado com o Ross Coleman -apressou-a Priscilla, tratando de não mostrar impaciência-. Quando o viu pela primeira vez?
-Bom, nós, isto, nosso carromato teve um problema nos subúrbios da cidade. Um homem que viajava em uma caravana de carromatos que tinha acampado perto do arroio nos ajudou. Quando conseguiu nos tirar do barro, retornou à cidade conosco. Todas queríamos ir com ele por quão bonito era, mas não pense que ficou com alguma. De todas formas, estávamos ocupadas com os homens da ferrovia, que eram tão brincalhões como uma manada de búfalos. Não voltei a vê-lo mais.
Grady lançou um olhar inquisitivo a Priscilla. Não se podia incriminar a ninguém por ter visitado um prostíbulo. Se assim fosse, quase a totalidade da população masculina estaria entre grades.
-Continua, Sugar -disse Priscilla, com um sorriso de satisfação.
Sugar se deu ânimos com outro gole de uísque.
-Teríamos esquecido a esse Ross Coleman, se mais tarde não tivesse vindo a buscá-lo um xerife, um homem do Pinkerton. Não recordo seu nome, mas vinha com o sogro do Coleman.
-O pai da Lydia? -perguntou Grady.
Priscilla negou com a cabeça.
-Não. Devia ser o pai da primeira esposa do Ross.
-A mãe de Lê -observou Grady-. por que procuravam o Coleman?
Com uma total falta de delicadeza, Sugar se arranhou debaixo do braço.
-Tinham assassinado a uma de nossas putas. Nunca se soube quem o fez. O senhor Coleman não pôde ter sido porque não esteve ali aquela noite.
-Sigo sem entender -disse Grady, sacudindo a cabeça perplexo.
-Bem, o estranho foi que eles disseram que o nome do Coleman não era realmente Coleman.
-Não era Coleman? -Grady se ergueu na cadeira e logo se inclinou sobre a mesa.
-Não. Era Clark, acredito. Sonny Clark. Cavalgava com os irmãos James. Podem imaginar quão excitadas estávamos as garotas aos inteiramos de que nos tínhamos acotovelado com um da banda dos James. Então estavam em seu apogeu. Essa puta do LaRue conseguiu uma fortuna fazendo propaganda de que ele tinha estado em seu carromato.
É obvio, depois de que o mataram ela...
-Mataram-no?
-Agora vem o mais interessante -sussurrou Priscilla-. O conte o que me disse, Sugar.
-Algum tempo depois possivelmente um mês ou dois, LaRue recebeu uma carta daquele homem do Pinkerton que anunciava que Sonny Clark tinha morrido a balaços. Todas pensamos que era realmente triste que o tivessem matado sendo tão boa moço e tendo uma esposa tão bonita.
Sugar voltou a beber do copo.
-Durante anos não pensei nesta história, até que comecei a trabalhar com a Priscilla. Então me inteirei de que ela tinha estado na caravana de carromatos e começamos a falar do assunto. Pareceu-me estranho quando mencionou que os Coleman viviam na parte oriental do Texas. -encolheu-se de ombros-. Mas não era nada de minha incumbência.
Só os vi ele e a sua esposa aquele dia. Se mais tarde não se produziu semelhante confusão a respeito de seu nome, nem sequer teria recordado isso.
Grady Sheldon seguia sentado, sem mover-se. Tratava de organizar a informação que lhe tinha proporcionado Sugar seguindo uma ordem lógica para poder assimilá-la.
Ross Coleman integrante da banda dos irmãos James? Um ladrão? Um assassino? Vivendo sob um nome falso todos esses anos?
Queria cantar de alegria, atirar-se ao chão e truncar-se de risada. Mas adotou uma expressão séria quando se dirigiu ao Sugar:
-Há algo mais?
-Não.
-A informação que me deu foi muito útil, senhorita...
-Dalton -respondeu Sugar, com remilgos.
-Amanhã receberá sua recompensa.
-Obrigado, Sugar -disse Priscilla, levantando-se e indicando que a entrevista tinha concluído. Acompanhou à outra mulher até a porta-. Parece cansada, querida.
Sei que esta foi uma experiência dolorosa. por que não vai a sua habitação e descansa?
-Poderia beber um gole?
-Farei que um dos moços te leve uma garrafa.
depois de fechar a porta detrás do Sugar, Priscilla se voltou lentamente para sua hóspede, com um sorriso felino e perverso.
-E bem?
Grady se precipitou para a Priscilla, agarrou-a em seus braços, elevou-a e a fez dar voltas em uma dança frenética.
-Priscilla, cobrirei-te de peles e diamantes por isso!
Ela riu.
-Quão único peço é me associar a seu negócio de madeira. Suas idéias me parecem inovadoras, e eu também tenho algumas. Além disso, posso contribuir uma quantidade considerável de dinheiro em efetivo para financiar nossa expansão.
Grady deixou de dançar e lentamente, voltou a deixá-la no chão. Nunca tinha pensado em ter um sócio e, é obvio, nunca lhe tinha ocorrido a idéia de fazer-se sócio de uma puta infame. Mas já se ocuparia do tema mais tarde; nesse momento sentia vontades de celebrá-lo.
-Darei-te tudo o que queira, Priscilla. Tem-me feito o mais feliz dos mortais. -Logo o sorriso lhe congelou-. Mas e se essa mulher não for mais que uma suja
bêbada que inventa contos para chamar a atenção?
Entretanto, tudo o que havia dito Sugar encaixava. Sempre lhe tinha resultado estranho que os Coleman não tivessem parentes. O caráter do Ross não era o de um homem corrente. Ao Grady não custava trabalho imaginá-lo como um foragido de gatilho fácil. Não obstante, não podia empreender nenhuma ação drástica antes de verificar a história do Sugar.
-Já a documentei -assegurou Priscilla. Seus olhos se animaram quando lhe explicou o que tinha descoberto-. O xerife daqui é meu amigo. Revisou seu arquivo de pessoas procuradas, mas como não se remontava até essa data, fiz que pusesse um cabo ao Memphis. Ali figurava um foragido chamado Sonny Clark.
"Não era mais que um moço selvagem quando cavalgava com os irmãos James. Desapareceu e foi dado por morto em 1869. Três anos depois, seu nome voltou a surgir e os xerifes seguiram vigiando-o, sabendo que tinha adotado o nome do Ross Coleman. Mais tarde se informou que tinha morrido à mãos de um detetive do Pinkerton chamado
Majors.
-Isso seria em 1872.
-O ano coincide com a história do Sugar.
Grady passeava de um lado a outro da habitação, golpeando um punho contra a palma oposta enquanto se concentrava.
-Há algo pouco claro em toda esta história. por que o homem do Pinkerton notificou a morte do Coleman e fechou o caso para sempre?
Priscilla tinha chegado a esse ponto. Não ia permitir que um galinha como Grady se arredasse e jogasse atrás, danificando-o tudo. Necessitava-o para que fizesse o trabalho sujo, para vingar-se do Jake por havê-la rechaçado e para desforrar-se inclusive dessa garota de cabelos negros e olhos de gata da que ele acreditava estar apaixonado.
-Quem sabe? -disse Priscilla-. A quem lhe importará quando o fizer cair? Pensa -prosseguiu, estimulando a imaginação do jovem- que todas essas pessoas que riram de ti por te haver casado com a filha do destilador clandestino de licores lhe respeitarão e lhe olharão com temor reverencial. Levará a um da banda dos James ante a justiça. Será famoso. -lançou-se contra ele e o olhou com olhos brilhantes. Deixa-me sem fôlego estar tão perto de ti.
A boca do Grady descendeu sobre a da Priscilla. Sexo, poder e desejo de vingança se agitaram furiosamente por seu corpo, concentrando-se em seus quadris. Levou-a a dormitório e reduziu a farrapos o traje de cetim ao tirar-lhe Com o mesmo frenesi, Priscilla o despiu a ele.
Quando seus corpos nus e palpitantes se encontraram na cama, Priscilla disse resfolegando:
-Sabe o que tem que fazer, verdade querido Grady?
O entrou em seu corpo flexível, corcoveando grosseiramente.
-Sim, amanhã partirei para o Larsen.
Ela se agarrou por cabelo do Grady, atirando com tanta força que quase lhe saltaram as lágrimas. Os dentes da mulher se afundaram no ombro carnudo do homem e gritaram juntos quando a satisfação ardeu neles, forjando-os em um pacto de ódio.
Ao Mami Langston não gostava. Nem um poquito. Algo estava desconjurado. Podia cheirá-lo, notá-lo como um animal percebe a mudança de estação.
Chegou à porta principal da casa do Banner pela manhã, depois de que tivessem levado o gado ao rancho. Tinha insistido tercamente em cruzar o rio em balsa e caminhar a distância até a casa.
Já arreganhava, já se compadecia enquanto com grande habilidade tirava ao Banner os pontos da ferida com um par de tesouras de manicura. Examinou a ferida e sentenciou que estava curando bem, tendo em conta que a operação a tinha feito um médico ruim como Hewitt.
Quando Banner caiu sobre seu enorme peito e começou a soluçar copiosamente, Mami lhe deu tapinhas nas costas e a confortou, pensando que ainda estava molesta pela operação. Compartilharam uma taça de chá e um bate-papo. Banner já se serenou quando Mami empreendeu a viagem de volta ao outro lado do rio.
Mami se sentia intranqüila, intuindo que algum outro mal afligia à garota, mas não conseguiu averiguar do que se tratava. Tinha saudades a sua mãe? Esse era
o motivo das lágrimasde Banner?
Mas quando Jake apareceu montado em seu cavalo junto a ela quando se dirigia para o rio, Mami pressentiu que as lágrimas do Banner as provocava algo mais que a nostalgia.
-Mami, por que não faz o resto de caminho montada no Stormy? -sugeriu-lhe Jake, enquanto desmontava.
-Considero que minhas pernas são tão boas como as tuas. Caminharei, obrigado.
-Como se encontra Banner? -Jake caminhava ao mesmo tempo de sua mãe, levando a cavalo das rédeas.
-Não sabe?
-Não a vi ontem de noite, esta manhã estava muito atarefado para ir tomar o café da manhã.
-está-se repondo. A cura é bastante satisfatória. Mas está um pouco pachucha. -Mami fez uma viseira com sua mão para esquadrinhar atentamente a seu filho-. Você tampouco parece estar em plena forma, e tem os olhos inchados como uma rã. O que te ocorre?
Jake cravou os dentes no charuto.
-Nada.
-Está carrancudo?
-Não.
-Está zangado com alguém?
-Não.
-Ora! -disse Mami, lhe fazendo assim saber que não lhe acreditava.
Quando chegaram ao rio, Jake se assegurou de que sua mãe subisse à balsa sem problemas. antes de agarrar a larga vara com que se impulsionaria para cruzar o rio, Mami disse:
-Cuida dessa garota, ouve-me?
-Ela pode cuidar de si mesmo -murmurou ele.
-Não, não pode -repôs com aspereza Mami, perguntando-se se seu filho era muito major para receber uma surra bem merecida-. Ainda não está o bastante forte para cuidar de si mesmo. Seus olhos o diziam a gritos esta manhã.
Jake não pôde olhar aos olhos de sua mãe enquanto trancava em seus dedos as rédeas do Stormy.
-Disse algo?
-Deveria havê-lo dito?
Jake se encolheu de ombros, alerta ante a aguda percepção de sua mãe.
Mami afundou a larga vara na água e quando tocou o fundo lamacento, apoiou seu peso nele. Algo ocorria. Um pouco relacionado com seu filho e Banner. Não lhe
cabia dúvida.
Bem, fosse o que fosse, ambos pareciam decididos a não falar a respeito. O melhor era deixá-los sós e que resolvessem por si mesmos. Deixou ao Jake lhe fazendo uma última indicação.
-Procura que não faça muitas coisas.
Nem ao Mami nem ao Jake tivesse gostado de ver o Banner levantar o cubo com roupas úmidas e levá-lo para o varal. A manhã seguinte à visita do Mami, Banner decidiu que a roupa suja não podia seguir amontoando-se nem um dia mais. Terei que lavá-la. Além disso, a atividade lhe impedia de pensar.
Não queria pensar nisso, mas não conseguia tirar-se o da cabeça. Jake não a amava. Tinha piedade de ella.Toda sua ternura, sua amável preocupação, seus beijos arrebatadores nasciam da piedade, não da paixão.
OH, que descaramento o seu! O que ia fazer ela agora?
Banner sabia o que pensava a gente das garotas que ficavam grávidas antes de casar-se. Já não eram lapidadas na rua como nos velhos tempos, mas sim sua reputação.
Quase sempre o homem que engendrou ao menino permanecia sem identificar e saía ileso, enquanto a garota era enviada longe do lugar, desonrada. Sua família inventava viagens a Europa ou parentes doentes para justificar sua ausência, mas todos sabiam que se partiu para dar a luz a um filho ilegítimo. Muitas vezes não retornavam nem a garota nem o menino.
Os pais do Banner nunca renegariam dela. Confiava muito no amor que sentiam por ela para temer que a desterrassem. Apesar da desonra, seus pais nunca a expulsariam, embora se sentiriam irremediavelmente desiludidos. Não os tinha prejudicado bastante com um desastroso assunto amoroso? Poderiam suportar outro?
Poderia suportá-lo ela?
Devia fazê-lo. Mesmo que se sentisse morrer, viveria porsu menino. Depositou o cubo debaixo do varal para deslizar a mão por seu abdômen. Resultava aterrador, maravilhoso e comovedor pensar que levava em suas vísceras um filho. Um filho do Jake.
Aspirou fundo quando uma lágrima escorregou por sua bochecha. Provavelmente Jake não pensaria tanto na criatura como no que fez a ela. Seria uma responsabilidade, como também o era ela. Jake não tinha aceito ser seu capataz porque o desejasse, mas sim porque se sentia responsável pelo acontecido no estábulo. Considerava que o devia ao Ross e Lydia por ter corrompido a sua filha. Estava recompensando-a por ter tomado sua virgindade.
Bem, ela não necessitava a compaixão de um desgraçado como Jake Langston! Quem se acreditava que era para ter piedade dela?
Lhe tinha arruinado tudo. Nem sequer se alegrava ao ver o rebanho de gado vacino de cabelo vermelho e encaracolado, pastando nos campos cercados. Para dissimular ante os peões, tinha sorrido, saudado com a mão e gritado com entusiasmo da porta principal, quando fizeram passar ao gado frente à casa. Mas Jake só lhe tinha dirigido um olhar frio, deixando traslucir nela todo o desprezo que lhe inspirava. Ele tinha captado a indireta. Não havia tornado a compartilhar uma comida com ela da manhã da discussão; nem sequer se tinha aproximado da casa.
Jake, Jake, Jake.
por que não podia apartar o de sua mente? por que não podia esquecer sua doçura quando a cuidava, sua voz suave, o contato de suas mãos, o sabor de seus lábios?
Não tinha orgulho. Seu corpo o desejava com veemência, embora sua mente o rechaçasse. por que era tão estúpida para seguir amando-o quando deveria desprezá-lo?
Dobrou a cintura e se agachou para a cesta em busca de um objeto, para incorporar-se imediatamente com uma careta de dor ao sentir que lhe rasgava a carne sensível que rodeava a cicatriz de seu ventre. Deixou a anágua sobre a corda e se levou as mãos à ferida, repousando, respirando fundo para deter o cansaço que a reduziria à imobilidade se se deixava vencer por ele.
Claro que se surpreendeu pela interrupção de seus períodos menstruais. Entretanto, não lhe tinha concedido importância, atribuindo-o ao estresse ao que esteve submetida depois das bodas e ao esgotamento produzido pelo traslado ao rancho e o trabalho de acondicionar a casa. Nunca lhe tinha ocorrido que levava em suas vísceras um filho do Jake.
Mas como se pretendesse lhe demonstrar que ali estava, seu embaraço começava a manifestar-se agora que tinha sido reconhecido. Sua dificuldade para respirar e a lassidão não eram só conseqüência da operação. Às vezes a balançavam quebras de onda de enjôo. Como agora...
-Que diabos foi isso?
Os três homens, ocupados em fazer um entalhe de identificação na orelha de uma vaca, interromperam a tarefa. ficaram petrificados, enquanto a vaca lutava por
liberar-se das cordas que a mantinham sujeita. Randy tinha formulado em voz alta a pergunta que se achava na mente de todos eles.
-Pareciam três disparos de revólver -disse Pete.
-Eram-no. -Jake correu para o Stormy, pacote ao outro lado da perto. Saltou por cima do arame de pua. Quando advertiu que os outros lhe seguiam, disse-: Fique aqui. Os tiros procediam da casa. Se nem Jim nem eu retornamos em cinco minutos, um de vós deverá cruzar o rio para trazer alguns homens do River Bend, enquanto o outro se aproximará com cautela à casa para comprovar o que acontece.
Subiu à arreios e esporeou ao semental para que fosse ao galope. Só uns poucos minutos antes tinham enviado ao Jim até o estábulo a procurar um alicate. Os disparos eram uma chamada pedindo ajuda? Tinha-lhe ocorrido algo ao Banner?
O pensamento retumbava em sua mente com cada golpe de casco do Stormy sobre o pasto. A pior das possibilidades ficou confirmada quando entrou no pátio. O vaqueiro de mais idade se achava inclinado para uma forma prostrada debaixo do varal. Jake se deslizou da arreios e saiu correndo antes de que o cavalo se deteve.
-O que aconteceu?
-Não sei, Jake. Quando saí do estábulo a vi assim, tendida no chão. Tem mau aspecto. Disparei para que viesse rápido.
-Fez o correto -disse Jake, aliviado porque as detonações só tinham sido um sinal. ajoelhou-se no chão e os zahones se esticaram sobre seus joelhos.
-Banner? -Pô-lhe uma mão detrás da cabeça e a levantou um pouco-. Traz um pouco de água.
Jim se precipitou a cumprir a ordem.
Jake estava impressionado pela palidez do rosto da moça. viam-se umas escuras manchas violáceas debaixo dos leques de suas pestanas. Recordou a advertência de sua mãe. Supunha-se que Banner não devia fazer nenhum esforço. por que demônios lhe tinha metido em sua cabeça de mula que tinha que fazer a penetrada?
Quando Jim retornou com um cubo cheio de água fresca do poço, Jake afundou a mão no recipiente e orvalhou o líqüido sobre o rosto do Banner. A moça piscou e emitiu um fraco gemido. Jake voltou a lhe jogar água. Esta vez Banner se levou o dorso da mão à cara e se enxugou as gotas.
-Está voltando em si - disse Jim.
Os olhos do Banner trataram de abrir-se. Logo os entreabriu para evitar o brilho da luz do sol que caía sobre seu rosto.
-O que aconteceu?
O anel de pânico que oprimia o coração do Jake afrouxou sua pressão.
-Banner está bem. Suponho que só foi um desmaio. Retorna e diga-lhe aos outros antes de que mobilizem a todo o condado.
Jim partiu. Jake colocou um braço debaixo dos joelhos do Banner, as outras debaixo das costas e a elevou contra seu peito.
-Posso caminhar.
-Não poderia nem te arrastar.
-Me deixe no chão.
-Não.
-Agora estou bem.
-Te cale - grunhiu Jake.
-Não me fale desse modo.
-Falarei-te como me dou a vontade.
Quando chegaram ao alpendre, deixou-a no chão e logo a acompanhou até a cadeira de balanço que tinham deixado ali para ela. Sem perder tempo, iniciou a ofensiva.
-por que diabos esteve aqui fora, sob o sol, fazendo a penetrada?
-Necessitava um pouco de roupa limpa.
-Não podia esperar e me pedir que a lavasse esta noite?
-Não. Não te pediria nada.
-por que?
-Porque não quero te dever nada. Não quero sua piedade! Posso cuidar de mim mesma.
-E do rancho? E do menino?
Banner elevou a cabeça, projetando para fora o queixo.
-Se tiver que fazê-lo, farei-o.
Jake amaldiçoou entre dentes e logo a apontou com um dedo imperativo.
-me escute, jovencita, e escuta bem. É uma mucosa malcriada, teimosa como uma mula, teimosa, atordoada e orgulhosa. Mas esta é uma discussão em que perde, Banner.
Vamos casamos. Por amor de Deus, deprimiste-te hoje. Poderia voltar a te deprimir. Os peões começarão a comentá-lo e sua operação será uma desculpa só por pouco tempo. -Fez uma pausa para tomar fôlego-. Muito em breve alguém o averiguará. E o que passará quando começar a notar-se? O que pensa fazer então?
Os lábios do Banner tremeram.
-Já me ocorrerá algo - disse com valentia.
-Não terá que fazê-lo, porque para então estaremos casados. -Seus olhos adquiriram um brilho feroz, possessivo-. E como teu marido, matarei a qualquer homem que diga algo ofensivo sobre ti. -ergueu-se e disse com firmeza-: Agora, ponha o vestido que goste de te casar, porque vamos à cidade. Hoje. Isso é tudo. E algo mais -disse, cortando o ar com seu dedo indicador-, se voltar a me esbofetear como o fez o outro dia, vai se armar a de são Quintín.
-Ama-me, Jake?
A doce pergunta o desarmou. Sua postura deixou de ser arrogante; o olhar se tornou cálida; as severas linhas ao redor da boca se suavizaram de maneira considerável. Agachou-se diante da cadeira de balanço apoiando o corpo em um joelho e cobriu as mãos do Banner com as suas, sem tirá-los luvas de couro que ainda levava postos.
Sacudiu a cabeça, rendo brandamente entre dentes.
-Se não te amasse como diabos poderia te consentir as coisas que te consinto?
Banner lutou contra um sorriso e perdeu.
-Se apoiasse minha aceitação unicamente nas propostas de matrimônio, deveria ter aceito a do Grady. A sua foi muito mais romântica e aduladora. -Baixou a mão até o chapéu e o tirou. Seus dedos sulcaram o cabelo tão branco como a luz da lua-. Veio a me cortejar com flores e caramelos, me dizendo que estava muito formosa e que Deus tinha roubado ao céu um de seus anjos quando me enviou à terra.
Jake se mostrou cético.
-Esse imbecil disse todo isso?
-Costure pelo estilo.
Jake examinou o rosto da moça. Agarrou o dedo meio das luvas entre os dentes e atirou dele para tirar-lhe Logo pôs a mão na bochecha pálida do Banner. Quando falou, sua voz vibrava de emoção.
-Sabe que acredito que é formosa. É mais mulher do que eu mereço. eu adoro compartilhar a cama contigo. Pela primeira vez em minha isso vida significa algo.
Quero dormir contigo todas as noites e despertar contigo jazendo junto a mim, e quero verte amamentar a meu menino.
inclinou-se e lhe beijou docemente um peito antes de apoiar o rosto na suave plenitude. Baixando a cabeça, se acurrucó em seu regaço.
-Não podia acreditá-lo quando o médico me comunicou isso. Angustiava-me tanto te perder que nem sequer podia pensar no menino. Mas mais tarde, quando sentei a seu lado enquanto dormia, pensei nele e experimentei uma sensação tão cálida e tenra por dentro que senti vontades de chorar.
"Nunca pensei que teria um filho. Se for um moço, espero que se pareça com o Luke; se for uma garota, bem, mataria a qualquer filho de puta que lhe fizesse o
que eu te fiz.
Beijou-lhe o ventre atrasando-se nele. A seguir elevou os olhos para o rosto da moça.
-Não sou uma boa partida como marido, Banner. Não tenho nada que oferecer, mas estou disposto a deslomarme para que este lugar se converta em um bom sítio para nós e nosso menino. Se estiver disposta a aceitar a um cavaleiro vagabundo, para o anoitecer será a senhora do Jacob Langston.
Suas palavras eram poesia. Foram recebidas pelos ouvidos do Banner como se se tratasse da letra da canção de amor mais doce. Deveria aceitá-lo agora para não lhe dar tempo de arrepender-se, mas seu orgulho não o permitia.
-Não te casará comigo pelo do menino, verdade? Não quero a um mártir sentado frente a mim junto ao lar uma noite de inverno, Jake, sentindo-se desventurado por não estar de farra com seu amigos jeans.
-Conhece algum homem de cabelo em peito que prefira estar de farra com seu amigos jeans a ir-se à cama com o Banner Coleman? -A brincadeira conseguiu suavizar a ruga no sobrecenho do Banner, mas Jake continuou falando com seriedade-. Não, Banner, não é pelo menino. -Baixou a cabeça com um acanhamento enternecedora-. Para falar a verdade, alegra-me ter ao menino como desculpa para que nos casemos.
Tinha-lhe dado voltas à idéia, mas me parecia impossível.
Banner se deslizou da cadeira de balanço até ficar de joelhos frente a ele no alpendre.
-Jake, quero-te muito.
Beijaram-se, brandamente ao princípio, pondo a prova a trégua. Logo o desejo, que parecia uma parte essencial neles, sempre presente, incitou a suas bocas a fundir-se apaixonadamente.
Jake sorriu quando se separaram.
-vá fazer o que deveria fazer uma noiva antes de suas bodas. Direi aos peões que vamos à cidade.
-Quanto tempo tenho?
-Meia hora.
Banner se apressou a entrar na casa para lavar-se e vestir-se. Foi enquanto se escovava o cabelo quando se deu conta de que Jake em realidade não tinha declarado seu amor.
-Aonde vamos?
-Sinta-se bem, senhora Langston. Quero lhe ensinar algo.
Jake conduzia o carro. Não estava tomando o caminho acostumado para ir à casa.
-Uma surpresa?
-Considera-o um presente de bodas.
-Já tenho um -disse ela, levantando orgulhosa a mão esquerda em que Jake tinha colocado um fino anel de ouro quando o pastor o indicou-. Quando o comprou?
-O mesmo dia que obtive a licença.
-Certamente estava seguro de que te diria que sim.
-Esperançado -matizou ele, inclinando-se para plantar um suave beijo nos lábios separados de sua desposada. Grunhiu quando sentiu o tato quente e úmido da língua dela sobre seus lábios-. Não tem vergonha?
-Não contigo. Nunca a tenho. -Por um momento contemplou a paisagem. Suponho que não sou melhor que Wanda Burns.
Jake voltou a cabeça para olhá-la.
-Deveria te dar uma palmadas no traseiro por te comparar com ela!
-É certo. Ela ia ter um menino de um homem com quem não estava casada. Eu também. Qual é a diferença?
-Há centenas de diferenças -disse ele-. Você esteve só com um homem. Essa é a principal diferencia.
Banner perdeu interesse pela briga. Era um dia muito formoso e se sentia muito feliz para discutir. Se acurrucó contra o braço do Jake e apoiou a cabeça em seu ombro.
-Sim, eu só estive com um homem. e já devia te amar quando fui ao estábulo aquela noite. Do contrário, nunca tivesse podido fazê-lo.
-Me alegro de ter estado disponível -sussurrou-lhe ele ao ouvido antes de beijá-la.
Momentos mais tarde, Jake deteve o carro diante de um arco formado por dois robustos troncos de árvore unidas por um fita de seda na parte superior. O arco se
levantava sobre o atalho que conduzia à casa. Ela não o tinha visto antes porque tinha ido à cidade por outro caminho.
-O que é isso?
-A surpresa.
Quando ela se dispunha a saltar do carro com sua habitual desenvoltura, Jake se precipitou a agarrá-la e a depositá-la no chão.
-De agora em diante terá que tomar cuidado, carinho.
Ao Banner emocionou o modo em que a bronzeada mão do homem avançou para seu ventre e o apertou brandamente. Beijou-a docemente na boca enquanto seus dedos acariciavam o lugar onde repousava seu menino. As cálidas sensações ainda dançavam no corpo da moça quando Jake pôs fim ao beijo e a conduziu debaixo do arco, fazendo-a girar para que pudesse voltar a olhá-lo.
-Jake! -Banner se levou as mãos à boca. De seus olhos brotaram lágrimas. Na madeira da travessa estavam gravadas as palavras RANCHO PLUM-CREEK...- trocaste que opinião sobre o nome?
-Não -respondeu ele, sacudindo a cabeça compungido-. Segue-me parecendo um nome muito parvo para um rancho de gado.
-Então por que tem feito isto? Não posso acreditar que te tenha tomado tantas moléstias.
Com as mãos sobre os ombros dela, Jake a fez girar-se para que o olhasse de frente.
-Queria fazer algo o que te fizesse feliz, algo que te fizesse sorrir em lugar de chorar. Causei-te muito sofrimento, sem intenção, mas sofrimento ao fim e ao
cabo. Por uma vez queria te fazer feliz.
Banner se jogou em seus braços. Se Jake não tivesse sido tão forte, teriam cansado para trás. O homem a rodeou em um abraço possessivo e enterrou o rosto no pescoço da moça, aspirando seu perfume que cheirava a jasmim. Estiveram abraçados comprido momento.
-Não deveríamos tirar da cesta o lanche que nos preparou a esposa do pastor?
Banner assentiu com impaciência e o observou enquanto apartava ao cavalo do caminho, estacionava o carro debaixo de uma árvore e tirava a cesta de debaixo do assento.
-Como a subornou para que o fizesse? -quis saber Banner.
Atuando com prudência, Jake tinha recorrido ao pastor de uma igreja rural fora do Larsen. Se tivesse consultado ao pastor da paróquia a que pertenciam os Coleman, a notícia se teria propagado como um reguero de pólvora, e Ross e Lydia se teriam informado das bodas antes de que ele estivesse preparado para dizer-lhe Por fortuna, o pastor não os tinha reconhecido nem a ele nem ao Banner e se mostrou muito contente de celebrar a cerimônia. Sua robusta esposa tocou o piano, e sua filha solteirona atuou como testemunha. Quando partiram, a esposa lhe entregou uma cesta e lhe benzeu com os melhores desejos de uma vida larga e feliz.
-Não a subornei. Parece-me que lhe impressionou minha beleza-disse ele com arrogância enquanto localizava uma zona de suaves trevos estivais debaixo de uma arvoredo de nogueiras. A suave brisa estava impregnada do aroma das madressilvas e os pinheiros, e a sombra que brindavam os ramos das árvores os protegia do calor.
-Está falando da esposa ou da filha? -mofou-se Banner-. Olhava-te com olhos de vitela ambiciosa.
-Não o adverti porque só olhava a ti.
Jake se deixou cair sobre os trevos e a atraiu para o chão junto a ele. Nem sequer lhe deu tempo de recuperar o equilíbrio antes de recostá-la sobre.el revisto.
Os lábios do homem se moveram quentes e seguros sobre os da moça.
A língua do Jake avivava o fogo de um modo apaixonado, evocador, enquanto sua mão acariciava brandamente seus seios.
debaixo dele, Banner se movia inquieta e ansiosa. Quando Jake se incorporou, queixou-se com um gemido.
-Jake, volta.
-Se nos derrubarmos sobre os trevos se sujará seu formoso vestido.
Suspirando descontente, Banner deixou que Jake atirasse de seu braço até que esteve sentada. tirou-se o chapéu e o jogou em um lado.
-Não me preocupa meu vestido.
Jake lhe deu um beliscão no nariz.
-Então não cresceste muito. Lembrança quando a todos seus vestidos ou lhes faltava um botão, ou tinham um rasgão ou a prega descosturada.
Banner riu enquanto se desprendia as forquilhas do cabelo e deixava que o coque se soltasse caindo em uma cascata de ondas e cachos de ébano.
-Mantinha ocupada a agulha de costurar do Mami, mas não é cavalheiresco de sua parte recordá-lo.
A cesta que com tanta amabilidade lhes tinham preparado resultou estar repleta de ricos mantimentos: fatias de presunto ahumado,una fatia de pão recém tirado do forno, um bote de geléia de ameixa e pastelitos de pêssego fresco, cuja massa de folhado era tão deliciosa que ambos lamberam os miolos que ficavam em seus dedos.
Isso estava fazendo quando disse:
-Sentada aí parece um ranúnculo.
Banner levava um vestido amarelo de um tom bolo tão suave como a flor com que ele a comparava.
-Obrigado, marido.
Como pôde ter acreditado estar apaixonada por um homem como Grady, ou de qualquer outro homem, quando Jake Langston caminhava sobre a terra? Era alto e desajeitado, todo músculo e nervo. movia-se com passo lento mas decidido, com o rebolado flexível de sua profissão, mas debaixo dessa indolência jazia uma força dormida que a fazia estremecer de espera.
As sobrancelhas, quase brancas por herança e os anos de vida ao sol, protegiam ao mundo de uns olhos tão azuis que às vezes olhá-los produzia uma doce dor. Amava cada linha gravada em seu rosto pela vida à intempérie, seu caráter forte, inclusive seu tozudez. Contemplando-o, suspirou lánguidamente.
-Cansada? -Ela negou com a cabeça-. Lista para ir a casa?
-Não necessariamente.
Sonriendo, Jake apoiou as costas contra o tronco da árvore.
-Te recoste em mim. -Atraiu a cabeça dela para seu regaço.
Era verão. Fazia uma temperatura agradável. Acabavam de comer uma comida deliciosa e se sentiam gratamente satisfeitos. As abelhas zumbiam próximas em um matagal de madressilvas. A brisa agitava com pouco entusiasmo as folhas da árvore. Umas nuvens tão brancas e esponjosas como bolas de algodão vagavam em uma lenta suspensão.
Os amantes se entregaram a sua lassidão, mas estavam muito conscientes um do outro para ficar dormidos. A densa cabeleira do Banner se estendia sobre o regaço do Jake como um manto de seda negra. Os seios da moça subiam e baixavam com cada respiração. O dedo indicador do Jake desenhava com adoração o contorno de seu rosto.
-Deveria ir a casa e retornar ao trabalho, mas tenho preguiça -confessou ele.
-Estou me expondo seriamente te despedir.
Jake sorriu e sussurrou:
-Muito bonito, Banner Coleman. -inclinou-se para beijá-la.
antes de que os lábios do Jake capturassem os do Banner, ela o corrigiu.
-Banner Langston.
Jake a beijou com paixão desenfreada, deixando que sua língua saqueasse sua boca. Os braços do Banner se elevaram para lhe rodear o pescoço e, enquanto aproximava a cabeça, arqueou-se para encontrar-se com ele.
O homem desabotoou só uns poucos botões do sutiã do vestido e deslocou o tecido até que a ponta de seu peito se elevou para ele como o centro de uma flor deliciosa, surgindo de sua capa de cambraia transparente, encaixe e cintas de cetim.
-Doce, moça doce.
Jake acariciou com a ponta dos dedos; logo com os lábios; logo com a língua, suave, eróticamente, húmedamente.
Banner choramingou com prazer animal e moveu a cabeça com uma agitação sublime.
De repente, Jake se apartou. Apertou as costas rigidamente contra o tronco da árvore enquanto sua cabeça fazia cair partes de casca. Com um gemido em protesto pela interrupção, Banner olhou o regaço do homem. Então soube qual era o motivo e o alcance de sua agonia.
-Jake? -Sua voz soou hesitante. Levou a mão para a braguilha.
A respiração do homem saía como um assobio através de seus dentes.
-Estarei bem em um minuto, só...
-Só o que?
-Banner-disse ele, com voz quebrada-, aparta a cabeça de mim.
-Por que?
-Cada vez que te move... ai, Deus...! posso sentir sua respiração. E isso não me ajuda muito, carinho.
Banner elevou o olhar para o rosto torturado do Jake. A seguir baixou os olhos para o que estava diretamente diante deles. Sua vacilação durou uma fração de segundo. Beijou-o docemente.
-Ahh...
Os dedos do homem se inundaram nos cabelos da moça até chegar a lhe sustentar a cabeça. Não a apartou, mas tampouco a impulsionou para baixo. Não podia decidir o que fazer, esmigalhado pela agonia, experimentando o êxtase. A respiração surgia através dos dentes do Jake como um bramido. Suas pálpebras estavam fortemente apertadas.
Banner voltou a beijá-lo. Esta vez seus lábios se atrasaram. E se atrasaram. E se moveram.
Através dos lábios do Jake se deslizaram sons incoerentes até que finalmente formaram o nome da moça. Repetiu-o uma e outra vez com cada passada generosa dos lábios acima e abaixo nessa crista de sua masculinidade.
As mãos do Banner foram tão ligeiras e rápidas como o bater de asas de uma mariposa. Nem as fivelas, nem os botões, nem o tecido a dissuadiram. Até o céu ouviu o apagado som de animal em zelo que emitiu Jake quando sentiu a respiração do Banner contra sua carne, quando notou a primeira carícia de seus lábios suaves, suaves, e o tímido contato de sua língua.
-Banner, Banner.
O nome da moça foi metido das formas mais carinhosas. Ela o acariciava com tanta doçura que ele queria morrer, pois a vida nunca voltaria a lhe conceder tal prazer.
Uma das mãos do Jake abandonou a cabeleira do Banner e descendeu pela garganta e o peito para lhe acariciar o seio. Logo, abrindo-se passo debaixo das capas de anáguas, encontrou o joelho por cima da liga, o suave lance de coxa e o bordo de encaixe dos calções. A mão do homem avançou cegamente para cima, lutando com laços e botões até que deu com uma carne tão suave e cálida como o cetim.
O ninho de pêlo escuro apanhou seus dedos acariciadores como a moça tinha apanhado seu coração.
Então a encontrou suave e ofegante, umedecendo -se contra seus dedos, respondendo a suas carícias com movimentos tão elementares e antigos como o tempo.
A boca da moça proporcionou ao homem uma visão prolongada do céu. Mas um homem logo que pode suportar tanta sorte e o coração e a entrepierna do Jake estavam a ponto de estalar. Quando quase tinha excedido seu limite, Jake cobriu o corpo do Banner com o seu, encontrando o doce canal com uma rápida investida.
Seus olhos se encontraram e mantiveram o olhar, enquanto uns embates largos e lentos internavam ao Jake mais fundo dentro dela, voltando a retroceder para a soleira só para afundar-se novamente.
Nunca o ato amoroso tinha significado tanto para eles. O corpo do Banner ressonava com cada movimento amante do do Jake. Era como se se balançassem em um berço gigante, como se estivessem em harmonia com um universo novo e resplandecente quando chegou o momento. Navegavam, remontando vôo, seus corações cantavam. A celebração parecia interminável. Logo voltaram a deslizar-se brandamente para este mundo para encontrar-se envoltos um em braços do outro, com as roupas pegas devido à transpiração que orvalhava seus corpos.
Fracamente, Jake levantou a cabeça do ombro do Banner. O rosto da moça era um formoso quadro de luz e sombra cambiantes quando a brisa agitava as folhas da árvore.
Os olhos do Banner se abriram lánguidamente. Um redemoinho de combinações de verde e ouro capturou cada raio de sol.
Enquanto seguia embainhado por ela, Jake sussurrou com veemência:
-Você é minha mulher, Banner. Nenhuma outra. Você.
O sorriso do Banner foi insegura e seus dedos trementes, quando tocou os lábios que tinham pronunciado as palavras. O amor por ele se derramava por todo seu corpo como um rio de vinho dourado.
Mas como um duendecillo que não podia desterrar-se nem fazer repousar, um pensamento a importunava. Esse juramento incluía a sua própria mãe?
Demoraram bastante tempo em conseguir ficá-las roupas corretamente. Banner fez tudo o que pôde para tirar do cabelo ramitas e folhas, mas não houve maneira de apagar as manchas verdes sobre o vestido amarelo. Ajudou ao Jake a recolher os restos do lanche e, caminhando agarrados da mão, retornaram ao carro junto ao que estava pacote o cavalo, pastando tranqüilamente.
-Acredito que devemos ir dizer se o a seus pais.
Jake esperou até que estiveram em caminho para fazer a sugestão. Logo que pronunciou as palavras, voltou a cabeça para estudar a reação do Banner.
-Eu gostaria. Quero gritá-lo a todo mundo.
Jake era menos otimista.
-Talvez não lhes pareça muito bem, Banner. Teremos que anunciar-se o de forma gradual: possivelmente podemos lhes dizer que nos casamos, mas deixar para outro dia a notícia do menino.
-Eles lhe querem, Jake. Quiseram-lhe desde que lhe conheceram.
-Não como genro. Estou especialmente preocupado pela reação do Ross -disse, com uma expressão lúgubre.
Banner sorriu com segurança.
-Se te resultar difícil, já me encarregarei eu de papai. -Colocou a mão sobre a coxa do homem-. Em todo caso, pouco importa já sua aprovação, é meu marido e nada poderá trocar isso.
O otimismo da moça era contagioso. Quando deixaram o carro e cruzaram o rio em balsa, Jake se sentia aliviado pensando que já não teria que ocultar seus sentimentos pelo Banner. Poderia tocá-la sempre que quisesse sem ter que jogar uma olhada por cima do primeiro ombro. Banner era sua esposa e morria de vontades de que todos soubessem.
Jake a ajudou a subir o pendente e não retirou o braço que rodeava a cintura do Banner quando se encaminharam para o pátio. Ao chegar ao portalón, ele se inclinou e a beijou brandamente na boca.
-Tenho o cabelo mau?
Jake lhe arrancou de um puxão um trevo das mechas resistentes.
-Não.
-Mentiroso. Crie que se darão conta do que fizemos antes de chegar aqui?
Jake se aproximou e lhe perguntou ao ouvido:
-Importa-te?
-Não.
Banner riu nervosa. Jake a apertou com força contra ele.
-Que diabos está passando?
A voz do Ross trovejou perto deles. Retrocederam de um salto, como se se sentissem culpados. Ross estava sentado no alpendre fumando o cachimbo que Banner lhe tinha comprado no Fort Worth, quando os viu aproximar-se pelo caminho. Encantado por que tivessem chegado a tempo para o jantar, teria se adiantado para recebê-los, mas antes de que pudesse saudá-los, presenciou os intercâmbios íntimos.
Não viu sua filha com seu velho amigo, nem a expressão tenra e carinhosa em seus rostos. Quão único viu foi a sua filha abraçada a um homem que, nenhum direito tinha a tocar a desse modo. O sangue do Ross já bulia em suas veias muito antes de atravessar a porta e abordá-los como um tirano.
-lhe tire as mãos de cima.
-Papai, está falando com o Jake.
-Sei muito bem com quem estou falando.
-Ross... -começou Jake.
-Banner, entra na casa -ordenou Ross.
Propunha-se dar uma surra a Bubba Langston e não queria que sua filha estivesse presente.
-Não o farei. E deixa de olhamos assim. Não sou uma menina, papai, Y...
-Segue sendo minha menina -rugiu Ross-, e não permitirei que nenhum homem te manuseie como se fosse uma qualquer.
-Já está bem, Ross -disse Jake, tenso-. Te acalme e deixa que te explique.
-Não necessito nenhuma explicação. Sei o que vi.
-Estamos casados -anunciou Jake, tranqüilamente-. Casei-me com o Banner esta tarde.
Ross já avançava em atitude ameaçadora para o casal e, quando ouviu essas palavras, deteve-se de forma tão brusca que trastabilló.
-Casados? -Os olhos do Ross foram do um ao outro. Começou a sentir uma opressão no peito. Deixou cair a pipa ao chão e apertou os punhos aos flancos do corpo.
Tem idade suficiente para ser seu pai.
-Mas não o sou. Sou seu marido. Entremos em casa...
-Deve ter tido uma muito boa razão para te casar -grunhiu, mostrando os dentes-. Sei o que opina das mulheres. Não são mais que um jogo para esse teu pássaro.
-Papai, basta! -gritou Banner.
Vários jeans tinham ouvido os gritos e foram do barracão para ver que se devia o alvoroço. As bochechas do Banner avermelharam quando olhou ao redor.
-Ter uma esposa seria um obstáculo para seu estilo de vida, Bubba. Só há uma razão pela que te casaria e, Por Deus, é melhor que não tenha acontecido. Há...?
Fez...? Bode, é claro que sim que o fez! -precipitou-se para eles-. Supunha-se que estava cuidando-a, porco filho de puta.
Ross atirou um golpe na mandíbula do Jake que produziu um som arrepiante. Banner gritou e observou como Jake retrocedia cambaleante e se apoiava contra a perto.
-O que acontece?
Lydia, com as saias recolhidas quase até os joelhos, baixou correndo os degraus do alpendre, seguida pelo Mami, que levava um trapo de cozinha nas mãos. Lê e
Micah se apressaram a agarrar ao Banner das mãos para apartá-la do caminho, apesar de seus protestos.
Jake não tinha tido tempo de recuperar do primeiro golpe quando o punho do Ross encontrou seu ventre, fazendo-o cair de lado sobre a terra poeirenta. Jake conseguiu ficar de joelhos e sacudiu a cabeça para limpar-se. Doía-lhe todo o corpo, mas pensou que deveria agradecer o fato de que Ross não levasse seu revólver, pois de ser assim já estaria morto. E, supôs, deveria agradecer não haver ficado a pistolera depois do lanche, já que em qualquer momento se enfureceria.
-Ross, não quero brigar contigo, mas se voltar a me pegar...
Nunca conseguiu terminar a frase. Outro punho potente chegou voando para sua cabeça. Tentou escapar, mas não pôde evitar que o golpe lhe partisse o lábio.
O gênio do Jake já não pôde agüentar sem atuar. incorporou-se e devolveu os golpes ao Ross com acréscimo. Ambos caíram ao chão, em uma confusão de extremidades retorcidas, punhos voando, pés chutando, joelhos golpeando. O sangue e o suor se mesclavam, com o pó debaixo de seus corpos.
Os que presenciavam a cena permaneciam em mudo desalento ao ver os dois amigos brigando. Lydia se retorcia lasmanos. As lágrimas alagavam os olhos do Banner e escorregavam por suas bochechas. Micah estava imóvel, com uma dolorosa expressão no rosto, intuindo qual era o motivo da briga. Mami compartilhava sua intuição, com os lábios apertados. Lê não podia dar crédito a seus olhos.
Todos estavam tão absortos na briga que nenhum reparou em um cavaleiro que freava o cavalo ao outro lado do portalón. ficou surpreso ao ver o espetáculo com que o recebiam, mas o homem sorriu. Em uns momentos, a briga passaria a segundo plano. Permaneceu inadvertido até que gritou:
-Sonny Clark!
Ross levantou a cabeça imediatamente. Aturdido, observou o semicírculo de rostos que o rodeavam. detiveram-se na Lydia. Como em um sonho, tudo se desenvolvia com movimentos lentos. Viu a Lydia com os olhos muito abertos expressando incredulidade; viu empalidecer seu rosto, seu olhar de horror quando apartou a vista de seus olhos para cravá-la em um ponto além de seu ombro, e finalmente viu seus lábios formar a palavra não.
Ross se incorporou de um salto e ficou em cuclillas. Quando se girou para onde Lydia olhava, levou-se a mão ao quadril, procurando instintivamente a pistolera.
Teve a vaga impressão de um homem montado a cavalo com um rifle elevado à altura de seu ombro.
Logo o estalo rasgou o ar. Lydia e Banner gritaram. Alguns dos peões se agacharam rapidamente para proteger-se. Outros procuraram provas suas armas.
Jake foi o único que atuou de maneira automática. equilibrou-se sobre o Micah e enquanto derrubava ao surpreso moço, tirou-lhe o revólver da capa.
Com uma pontaria que devia muito de sua perfeição ao Ross Coleman, plantou uma bala exatamente entre os olhos do Grady Sheldon.
Sheldon estava morto. Sua expressão triunfal se converteu na máscara da morte.
Jake não esperou a comprovar quanto tempo se mantinha sobre o cavalo o corpo do Sheldon antes de cair de cabeça sobre o chão poeirento. girou-se e se apressou para o Ross. Lydia estava inclinada sobre ele, gritando seu nome enquanto lhe agarrava a mão com desespero. Jake separou do caminho aos atônitos peões do rancho.
-OH, Deus -disse em um suspiro.
Surpreendia-lhe que Sheldon pudesse ter disparado um tiro tão certeiro. Pouco faltou para que a bala acertasse no coração. Tinha perfurado um pequeno buraco no centro do peito, perto de uma cicatriz que se achava em cima do bico da mamadeira esquerda. Jake se estremeceu ao pensar no aspecto que teria as costas do homem.
-Lydia? -O som confuso, líqüido, saiu bulindo da boca do Ross.
Lydia, com o rosto mudado e os olhos vazios, como cegos, levantou a cabeça.
-Está ferido, Bubba. Faz algo -rogou quase em silêncio.
Jake baixou o olhar para seu amigo, cujos olhos estavam fechados. Mas não estava morto. Ainda.
-Levemo-lo a casa.
Fez um gesto indicando a seu irmão e a alguns dos peões que se aproximassem de ajudar. Lê parecia estar paralisado pela impressão. achava-se de pé perto de seu pai, olhando-o como se nunca o tivesse visto antes. Banner, pálida, encontrava-se a seu lado, aferrando-se a seu braço.
Jake sabia o risco que corriam ao mover ao Ross, mas não ia deixar a seu amigo morrer no barro. Com um peão em cada ombro, dois nos quadris, dois aos pés e Jake lhe sustentando a cabeça, levantaram o Ross e com passos lentos e medidos o introduziram na casa. Lydia os seguiu como uma sonâmbula.
Não se atreveram a subir pela escada. Conduziram ao Ross a seu escritório. Mami, que tinha intuído o que Jake se propunha fazer, já estava pondo um cobertor
sobre o sofá de couro, onde os homens depositaram o corpo do Ross, com grande delicadeza.
-ides procurar a um médico, ao jovem -ordenou Jake a ninguém em particular. Rasgou a camisa manchada de sangue do Ross-. E ao xerife. Até que chegue, deixem ao Sheldon que se apodreça ao sol.
Os jeans saíram respetuosamente, murmurando entre eles.
-O que necessita?-Mami se abriu passo até o sofá, onde Jake se ocupava do Ross.
Jake não era consciente do machucado em cima de seu próprio olho, nem de seu lábio inchado, nem da raspadura lhe sangrem sobre sua bochecha. Nem sequer se lembrava da briga.
Olhou a sua mãe, lhe dizendo com os olhos que nada podiam fazer. Logo posou o olhar na Lydia, que parecia tão pálida e gravemente ferida como seu marido. Seu rosto expressava a dor e o desconsolo que sentia. Por consideração a ela, disse:
-Água quente e algumas enfaixa.
Sem nenhum comentário, Mami se encaminhou para a porta, invocando a essa força interior dela que a fazia tão resistente como a montanha em que tinha nascido.
Tinha enterrado a cinco filhos e a seu marido, e naquela ocasião, quando acreditou que morreria de pena, surpreendeu-se de seguir viva. Voltou a olhar a Lydia, implorando que a mulher encontrasse alguma fonte de valor para sobreviver ao que o destino julgava que devia suportar.
-Extrairá a bala? -perguntou Lydia ao Jake com a voz aguda de um menino.
-Não, Lydia. Está muito perto do coração. Isso o mataria.
Um soluço escapou de seus lábios trementes e caiu de joelhos junto ao sofá. Voltou a apertar a mão do Ross entre as suas.
-É forte. Viverá. Sei.
Ross se tinha deslizado felizmente para a inconsciência. Mas agora seus olhos piscavam. Parecia ter dificuldades para centrar-se em alguém, exceto em sua esposa.
Seu olhar se dirigiu ao rosto da Lydia de um modo infalível. Por fim encontrou forças para alargar o braço e lhe tocar o cabelo.
-Fique... com...
-Ficarei. Ficarei. -As lágrimas escorregaram pelas bochechas da Lydia até seus lábios. As enxugou e se inclinou sobre o Ross para beijá-lo-. Nunca te deixarei.
Sempre estarei contigo. Sempre.
Banner se achava junto a um extremo do sofá, com as mãos apertadas debaixo do queixo. Tinha o olhar cravado no peito imponente de seu pai. A pele, normalmente bronzeada e sã, mostrava-se fláccida e descolorida em contraste com o tapete de pêlo negro que a cobria. A ferida estava debaixo da cicatriz pela que sempre tinha sentido curiosidade. Seus pais lhe haviam dito que se tratava de uma ferida sofrida no transcurso da guerra entre os estados. Agora lhe expor interragantes. Por que tinha gritado Grady outro nomeie antes de disparar com o rifle? Sonny Clark.
Seu pai tinha levantado a cabeça quando o ouviu. Tinha reconhecido esse nome, e sua mãe também. Qual era o segredo que os unia? Quem era o pai do menino que sua mãe tinha dado a luz no bosque antes de que Jake a encontrasse? E quem, realmente, era papai?
Acaso importava? Deus! por que tinha pensado tanto nisso durante todos esses anos? por que tinha permitido que um pouco tão corriqueiro a perturbasse? Seu pai estava a ponto de morrer e não importava qual era seu nome ou como tinha chegado a casar-se com sua mãe. Amava-o e uma parte essencial de sua vida morreria quando ele o fizesse.
Seria possível viver sem papai, sem sua força, sem seu deslumbrante sorriso branco debaixo do bigode que o fazia cócegas quando a beijava? Não!
E, OH, Deus!, tinham estado discutindo pouco antes de que Grady lhe disparasse. "Grady, Grady, pode arder no inferno!", gritou em sua mente. As lágrimas lhe nublaram a visão. Quando fechou os olhos, as lágrimas escorregavam desenfreadas por suas bochechas em arroios gêmeos. Esse era seu segundo dia de bodas que terminava em tragédia.
Jake lavou a ferida com a água que trouxe Mami em uma tigela diminuta. Estancou o sangue o melhor que pôde com ataduras atalhos de um lençol velho. O peito do Ross subia e baixava como um fole que funcionava deficientemente. O homem lutava por cada fôlego e sua respiração vibrava em sua garganta.
Mas agora estava acordado, consciente do que acontecia ao redor e, por conseguinte, também era consciente da dor. Levantou o olhar para o Jake. Os olhos verdes estavam velados pelo sofrimento, mas não vazios pelo delírio. Ross tinha várias coisas que fazer antes de morrer e ia ocupar se de que se fizessem.
-Chama a Lê e ao Banner -disse, ofegando. Custou-lhe um grande esforço dizer isso. Ninguém se atreveu a contrariá-lo. Mami indicou a Lê com um gesto que se aproximasse do sofá, e o moço avançou com passo vacilante, que as lágrimas estancadas em seus olhos faziam ainda mais pesado. Não podia aceitar que seu pai, quem sempre tinha parecido tão alto e forte como um carvalho, capaz de vencer qualquer perigo ou ameaça, estivesse precariamente obstinado à vida.
Banner se ajoelhou no chão junto a sua mãe e pôs a mão sobre o queixo de seu pai. Lê ocupou o lugar que ela tinha deixado livre no extremo do sofá. Jake e Mami se apartaram.
O olhar do Ross se dirigiu a Lê. Fez um gesto de assentimento dando sua aprovação a esse filho que tinha engendrado com Vitória Gentry. Lê tinha lutado para sobreviver aqueles primeiros dias depois de seu nascimento, e isso lhe tinha feito forte.
Os olhos verdes se deslocaram para o Banner. Ross sorriu, recordando as vezes que tinha engatinhado para seu regaço, lhe rogando que lhe contasse um conto. Ainda podia cheirar suas camisolas de flanela recém tirados do varal e recordar a sensação dos diminutos e rosados dedos de seus pés quando os esquentava entre suas mãos.
Agora era uma mulher, uma mulher bela, tão cheia de vitalidade como sua mãe.
Lydia. Agora a olhava a ela. Parecia-lhe ter estado entregue a essa ocupação, a observar seu rosto, durante tanto tempo como podia recordar. O rosto da mulher enchia sua visão em declive. Deus, como a amava! Como detestava ter que deixá-la. Nada no céu poderia comparar-se à alegria que tinha encontrado com ela.
Pela primeira vez sentiu raiva pelo que tinha acontecido, uma raiva impotente que se agitava com violência em seu corpo moribundo. Se não tivesse estado brigando com o Jake, se tivesse levado a pistolera, se não tivesse tido nada que ocultar... Se, se, se.
Essa era uma preocupação vã e não tinha tempo para permitir-lhe Deveria ter morrido vinte anos atrás, acribillado a balaços depois do assalto a um banco, mas então Deus tinha estimado oportuno lhe deixar viver, lhe conceder uma segunda oportunidade, lhe dar o maravilhoso presente da vida com a Lydia. Não tinha nada que reprovar à Vontade Divina.
-Cuéntaselo.
As palavras saíram com uma respiração irregular, a qual requereu toda a força que pôde reunir. Lydia não teve necessidade de lhe perguntar a que se referia.
-Está seguro?
Ross piscou uma vez, em sinal de assentimento. Era melhor que seus filhos compreendessem por que tinha tido que morrer de um modo violento em lugar de permanecer para sempre na ignorância. Que sentido tinha manter o segredo agora? Amariam-lhe menos? Olhou seus olhos banhados em lágrimas. Não. Não acreditava.
Lydia lhe acariciou o cabelo. Seus dedos logo que roçaram o cabelo negro e brilhante veteado em prata, mas adorou sua textura. Um sorriso apareceu em seus lábios.
-Amo-te, Sonny Clark. -Beijou-o na frente e logo olhou a seus filhos-. O verdadeiro nome de seu pai é Sonny Clark. Sua mãe foi uma prostituta, e ele foi criado em um bordel. depois da guerra se converteu em um foragido que cavalgava com o Jesse e Frank James.
Com voz firme, quase inexpressiva, Lydia lhes contou a incrível historia da vida do Ross; como tinha sido dado por morto e devolvido à vida por um ermitão chamado John Sachs, nas colinas do Tennessee.
-Quando se repôs, trocou seu aspecto e baixou ao vale a procurar trabalho. Foi contratado nas cavalariças do Gentry. Ali conheceu sua mãe, Lê. Ela pertencia a uma família aristocrática, mas se apaixonou por peão da cavalariça. Eu não a censuro -acrescentou Lydia docemente, baixando o olhar para seu marido.
Relatou como Ross se casou com Vitória com grande desgosto do pai desta e como decidiram emigrar ao Texas e assumir a propriedade de umas terras que John Sachs tinha cedido ao Ross. Essa terra tinha chegado a ser River Bend.
-Vitória não se sentia muito segura do futuro que lhes esperava, de modo que quando partiram agarrou de sua casa uma bolsita com jóias. Seu pai deu por sentado que Ross as tinha roubado e foi atrás deles. Posto que Vctoria tinha persuadido ao Ross de que partissem em ausência de seu pai, este ignorava qual era o destino de ambos.
"Nem sequer sabia que sua filha estava grávida de ti -disse Lydia a seu enteado-, nem chegou a inteirar-se de sua morte até que nos encontrou no Jefferson. Enquanto isso, tinha descoberto o passado do Ross. Não acreditou que você fosse seu neto e tratou de matar a seu pai para vingar a morte de Vitória. Um xerife do Pinkerton chamado Majors disparou e o matou.
Ross lhe tocou ligeiramente o braço.
-Disparou-te... a ti -interveio Ross, com voz áspera.
Lydia baixou a cabeça e logo voltou a olhar os rostos incrédulos de seus filhos.
-A ferida em meu ombro... -disse, incômoda-. Tratei de salvar a vida do Ross.
O quarto estava em silêncio. Só se ouvia o tictac do relógio que havia em um rincão.
-O que lhe aconteceu ao xerife, a esse tal Majors? -perguntou Lê.
-Nunca voltamos a vê-lo -respondeu Lydia, sonriendo a seu marido-. Deixou partir ao Ross. Tenho a impressão de que se deu conta de que seu pai já não era um forajido.No era Sonny Clark, a não ser Ross Coleman. E, Lê, conservamos as jóias. Guardamo-las para ti porque pertenciam a sua mãe e a sua família. lhe pensávamos dar isso quando fizesse vinte e um anos.
-E ninguém conhecia o passado de papai? -perguntou Banner.
-Nem sequer Mami -respondeu Lydia, olhando-a. A mulher chorava em silêncio, junto a seu filho Micah, que lhe dava tapinhas no ombro.
-E Jake? -sussurrou Banner, procurando os olhos de seu marido.
-Sabia algo -replicou Jake-, mas não tudo.
-Como o descobriu Grady? -Banner formulou a pergunta que estava na mente de todos. Não houve resposta. Então Banner expôs outro interrogante-. Mamãe, teve um menino antes de mim, antes de conhecer papai?
Do rosto da Lydia desapareceu a pouca cor que ficava. Com olhos exagerados, olhou inquisitivamente ao Mami, que sacudiu a cabeça em um gesto de negação. Jake respondeu à pergunta não expressa.
-Deve haver o explicado Priscilla.
-Priscilla? -repetiu Lydia-. Priscilla Watkins? Quando? Como?
-No Fort Worth. Abordou ao Banner na rua. Mantiveram uma conversação antes de que eu a interrompesse.
No interior da Lydia todo se afundou. Baixou a cabeça. Sua maior vergonha, a que tinha querido esquecer, voltava a persegui-la o pior dia de sua vida. Sentiu que a mão do Ross apertava a sua.
Lydia aproximou a orelha aos lábios de seu marido.
-Nunca me... importou.
As lágrimas da Lydia caíram sobre o rosto do homem. Agora soluçava abertamente, com amor. Seu coração e sua alma transbordavam de um amor que precisava expressar-se.
-Ross, Ross -gritou, com voz suplicante, apoiando a cabeça no estômago dele.
Foi Banner quem levantou a cabeça de sua mãe e lhe alisou o cabelo.
-Está bem, mamãe. Não importa. Realmente, não importa. Amo-te. Só tinha curiosidade, isso é tudo.
Lydia negou com a cabeça.
-Não, é melhor contá-lo tudo. -deteve-se para tomar fôlego-. Estava fugindo quando me desabei no bosque e dava a luz ao menino. Acreditava que tinha matado ao pai da criatura, a meu meio-irmão. Não do mesmo sangue-se apressou a dizer quando viu o horror que expressavam os rostos de seus filhos-. Minha mãe se casou com um homem chamado Otis Russell quando eu tinha dez anos. Ele e Clancey, seu filho, converteram nossas vidas em um inferno.
Contou a história da morte do Russell e a violação do Clancey.
-Ele... ele... deixou-me prenhe. Quando minha mãe morreu, escapei-me, mas Clancey me perseguiu. Quando me encontrou, derrubei-o de um empurrão e, ao cair, sua cabeça se golpeou contra uma pedra. Acreditei que estava morto, por isso segui fugindo, temendo que alguém me culpasse de sua morte. Alegrei-me de que o menino nascesse morto e eu também quis morrer de vergonha. Mas quando despertei, Bubba estava ali.
Lydia olhou ao Jake e sorriu. Algo se quebrou no interior do Banner, dolorosamente, como um ramo seca.
-Os Langston cuidaram de mim -prosseguiu Lydia-. Logo me levaram a carromato do Ross, quando me subiu o leite. Vitória acabava de morrer, deixando-o com um recém-nascido faminto. Eu te amamentei, Lê. Sempre te quis como se fosse meu.
-Sei. -O jovem liberava uma batalha perdida com as lágrimas.
-Mas Clancey não tinha morrido. Conseguiu chegar à caravana de carromatos e me encontrou casada com o Ross. De algum modo, tinha conseguido averiguar a verdadeira identidade do Ross. Também sabia o das jóias que supostamente Ross tinha roubado. Ameaçou-me. Eu lhe tinha terror. Temia que fizesse mal ao Ross ou a Lê. -Levantou os olhos para Lê-. Houve inclusive uma época em que suspeitou que você foi seu filho e que eu lhe tinha mentido ao lhe dizer que seu filho tinha nascido morto. Era capaz de qualquer brutalidade, eu sabia.
ficou em pé e se aproximou do Mami. Tomando as mãos da velha entre as suas, olhou atentamente o rosto sulcado de rugas que tinha amado durante tanto tempo.
-Mami, foi meu meio-irmão Clancey quem matou ao Luke. me perdoe por não lhe haver isso dito, mas não podia. Estava tão envergonhada.
A única reação do Mami foi uma breve careta compungida de seus lábios. Abraçou a Lydia, tratando de consolá-la e tranqüilizá-la.
-Você não teve nada que ver. Não importa quem o matou. Importava então. Já não.
Luta se apartou.
-Clancey também matou ao Winston Hill. Morreu me protegendo. Essa é outra tragédia com a que tive que aprender a viver.
-O que aconteceu a ele? -perguntou Banner, odiando ao homem a quem felizmente não tinha conhecido nunca.
-Está morto. -Disse-o com um tom tão concludente que ninguém se atreveu a replicar. Salvo um.
-Eu o matei.
As três palavras ressonaram na habitação. Todas as olhadas se dirigiram para o Jake. Até o Ross reagiu. Todo seu corpo se crispou e tentou voltar a cabeça para o Jake.
-A noite que chegamos ao Jefferson, ouvi sem querer que estava ameaçando a Lydia levando ao Ross ante a justiça. gabou-se de ter matado ao Luke. Segui-o à cidade, esperei até que o surpreendi sozinho em um beco escuro e lhe abri o ventre com a faca que tinha pertencido ao Luke.
Jake se voltou para sua mãe.
-Mami, se te servir de algum consolo, o assassinato do Luke foi vingado faz muitos anos.
A velha se adiantou e acariciou a bochecha de seu filho maior. Logo, perdendo a serenidade, envolveu a seu filho com seus grossos braços. Essa confissão explicava muitas coisas: sua amargura, sua reserva com a gente, sua solidão autoimpuesta. Tinha assumido a carga da família quando não era mais que um moço e ela sofria por ele.
Bubba.
A voz áspera o chamou do sofá. Jake acudiu imediatamente ao lado do Ross. Como se se tivessem posto de acordo tacitamente a respeito da necessidade que tinham os dois homens de falar a sós, outros se apartaram para não escutar. Jake se ajoelhou junto ao sofá.
-Sim, Ross?
-Obrigado. -As palavras, embora logo que pronunciadas, foram ouvidas. Agora os olhos de cor esmeralda estavam nubladas por algo mais que a dor. Brilhavam com lágrimas de gratidão-. Houvesse... desejado... lhe matar eu.
Jake sorriu com ironia.
-Parece-me que então tinha muitíssimo que fazer.
Ross tratou a sua vez de esboçar um sorriso, que ficou em uma careta de dor.
-Sinto o de...
Jake negou com a cabeça.
-Sei que não tinha a intenção de brigar comigo, Ross. Não vale a pena desculpar-se. Demo-lhe um grande desgosto.
-Banner... você...
-A amo, Ross. Não contava com isso, mas...
-Sim, bom. -Dirigiu um olhar a Lydia-. Às vezes acontece assim.
-Não obstante, tinha razão. Banner espera meu filho. -Os olhos verdes se esclareceram instantaneamente e logo voltaram a encher-se de lágrimas. Jake se apressou a continuar-. Não posso expressar quanto me orgulha ter um filho de sua semente, Ross. Será especial.
Os lábios do homem de mais idade tremeram, mas sorriu.
-Você e eu, né? Parece-me que será um bode genial.
Jake riu.
-A mim também.
-Guarda... guarda a boa nova para a Lydia. Necessitará-a.- As lágrimas também faziam brilhar os olhos de ]ake. Assentiu-. Converteste-te em... um homem estupendo, Bubba.
Jake fechou os olhos, apertando com força as pálpebras para conter as lágrimas. Quando os abriu, viu o rosto de seu amigo coberto de suor.
-Recorda que te disse que alguma vez havia sentido tanto afeto, exceto possivelmente por meu irmão, por um homem como o que sentia por ti? -Ross sorriu e moveu a cabeça em um arremedo de assentimento-. Segue sendo certo. vou jogar te muito de menos.
Os dois homens se estreitaram as mãos, transmitindo-os anos de amizade e entendimento tácito que tinham compartilhado.
-Cuida da Lydia Y...
-Farei-o.
-Adeus, amigo.
-Adeus, Ross.
-Lydia -Micah falou da porta-, o médico já está aqui. E, Jake, o xerife quer verte.
Priscilla se limou a ponta da unha até que ficou afiada. banhou-se, perfumado e empoeirado para receber a seu visitante. O penteador que tinha posto era um modelo cheio de volantes de tonalidades violetas. recolheu-se o cabelo no cocuruto, mas sem apertá-lo muito. Seu aspecto era refinado.
Um sorriso de satisfação maligna curvou sua boca e seus olhos se entreabriram taimadamente E pensar que umas semanas atrás tinha estado preocupada com o futuro!
Agora tudo indicava que viriam anos de prosperidade.
Se Grady Sheldon supunha que poderia sair vivo do Texas depois de disparar temerariamente ao Ross Coleman como sustentava que faria, sem dúvida era muito mais parvo do que ela suspeitava. Priscilla lhe tinha fomentado a confiança, adulando seu orgulho e estimulando seu ódio, até que chegou a estar tão obcecado com a idéia de matar ao Ross Coleman como um guerreiro samurai que se entrega a uma missão suicida.
Priscilla tinha ouvido dizer que River Bend era impressionante. Coleman não era um grande latifundiário comparado muitos que havia no estado, mas sem dúvida disporia de seu pequeno exército de cavaleiros que não se limitaria a observar passivamente como o assassinavam sem lhe emprestar auxílio. E se não era assim, seguro que Jake não permitiria que Sheldon seguisse respirando depois de ter matado ao Ross.
Priscilla estava convencida de que seu sócio não duraria muito tempo no mundo dos vivos.
E ela era sócia. certificou-se de que assim era antes de deixá-lo partir no dia anterior. Com a colaboração de um advogado, um de seus clientes mais leais durante anos, tinham redigido o contrato. Grady estava tão embriagado de poder e luxúria que não leu todas as cláusulas que ela tinha indicado subrepticiamente ao advogado que constassem no documento. Uma dessas cláusulas estabelecia que em caso de morte de um dos sócios, todos os bens e a propriedade da companhia passavam à mãos do outro. Priscilla podia predizer com segurança que, sem ter investido um céntimo, deteria a propriedade e o controle de um próspero negócio de madeiras ao dia seguinte.
Cantarolou enquanto deixava a um lado a lima e agarrava um polidor.
-O que? -perguntou quando alguém bateu na porta.
-Sua hóspede está aqui, senhorita Priscilla -anunciou o guarda-costas.
-Faz-o passar.
A música e o ruído estridente procedentes da cantina se acentuaram, convertendo-se logo em um rumor surdo quando a porta se fechou. Priscilla não disse nada, mas seguiu acontecendo o polidor pela unha até que viu a sombra do Dub Abernathy atravessar seu saguão. Era uma imagem de dócil perfeição feminina quando o homem entrou em dormitório.
Levantou a cabeça e o olhou através das pestanas.
-Está faminto de mim? -perguntou.
Tinha-o estado. Durante semanas depois daquele encontro na rua da cidade, Dub tinha estado furioso. A audácia da rameira lhe aterrorizava. Tinha estado tentado de lhe retorcer o pescoço por ser a causador de que sua vida em casa resultasse um inferno. Até essa semana não tinha recuperado os favores de sua esposa, e só depois de lhe prometer umas férias em Nova Iorque. Essa tarde tinha recebido uma nota decorosa, entregue à mão, em que a prostituta lhe pedia que fora a vê-la.
Em todos os rasgos da Priscilla estava escrito o arrependimento quando, com um gesto lânguido, deixou a um lado o polidor e ficou em pé. assegurou-se de que os pregue do penteador de cor violeta caíssem em forma adequada quando deu uns passos vacilantes para seu anterior mentor.
-Sinto muito, Dub. Estava ciumenta -disse, abrindo os braços, incitante-. Sua esposa te tem todo o tempo. Vi-te ajudando-a a subir ao tílburi e me irritei. Não era justo que ela pudesse viver contigo enquanto eu tenho que esperar até que possa vir a me visitar. -Voltou a avançar para ele, detendo-se muito perto-. Lamento te haver envergonhado ou causado algum sofrimento. Por favor, me perdoe.
A respiração da mulher chegava ao rosto do homem. Cheirava a conhaque, a sua marca favorita de conhaque. Seu corpo parecia tão brunido como o marfim, mas tão quente como a nata fresca. Seus lábios estavam úmidos, brilhantes e zangados. Tinha postos os sapatos de saltos altos e as meias que lhe encantavam, mas não levava nada debaixo do espartilho. Os montículos de seus peitos se sobressaíam das taças de cetim do sutiã. Quando respirava profundamente, ele podia ver as pontas de seus seios aparecendo em liberdade. Esse pensamento converteu a seus quadris em um gêiser de calor e fez aparecer gotas de suor em seu lábio superior. Era uma puta, mas não tinha igual. Sempre e quando ela. reconhecesse e admitisse quem levava as rédeas, seguiriam funcionando bem.
Deixou o chapéu e o fortificação sobre a poltrona. Com uma presteza surpreendente para um homem de sua altura, agarrou a Priscilla e a atraiu para si, cravou
uma mão gordinha em seus cabelos, lhe retorcendo o cabelo dolorosamente, e com a outra lhe manteve as costas arqueada e o estômago apertado contra ele.
-Não volte a fazer algo semelhante.
Dub se equilibrou sobre a boca da mulher, sem demonstrar nenhum indício de afeto nem ternura, violando-a com uma língua castigadora. Quando se separaram, os olhos da Priscilla estavam acesos de excitação.
Desatou-se a bata e a deixou deslizar-se por seu corpo até cair ao chão. Dub alargou as mãos para os colchetes do espartilho e os desprendeu. Seus nódulos escavaram crateras na carne branda. Como em sua fantasia, os peitos se derramaram em suas mãos espectadores, com os mamilos rugosos e avermelhados, já duros e ansiosos. Sugou-os com rudeza, causando dor, mas ela desfrutava.
As mãos da mulher trabalharam com frenesi para lhe tirar a roupa. Quando ele esteve nu, foram-se à cama. O homem se tendeu de costas, atraindo-a para pô-la escarranchado sobre ele. Empalou-a brutalmente, mas com não menos ferocidade que com a que ela o cavalgou até alcançar um clímax dilacerador, agudo e espasmódico, que deixou a ambos os fracos e sem fôlego.
Minutos mais tarde, Priscilla, vestida só com o penteador transparente, retornou à cama levando uma taça de conhaque que entregou a seu amante. O homem sorveu, observando-a enquanto se reclinava contra os travesseiros junto a ele. Dub estendeu um braço e abriu de repente as dobras franzidas do único objeto que levava.
Priscilla se levou os braços detrás da cabeça e arqueou as costas com descaramento, sem fazer caso dos olhos acesos que percorriam sua nudez.
-Você gosta? -ronronou ela.
Dub afundou o dedo no conhaque, esparramou-o sobre o mamilo e logo o lambeu.
-Eu gosto.
As mãos da Priscilla se posaram levemente na cabeça do homem quando a boca de este se aventurou por terrenosmás longínquos, detendo-se para degustar bocados de sua carne no caminho.
-É uma pena que seja a última tarde que passemos juntos.
Dub estava tão entregue a sua atividade que transcorreram vários segundos antes de que levantasse a cabeça e cravasse o olhar nos olhos da Priscilla, que já não estavam acesos pela paixão, mas sim por algo muito mais explosivo.
-O que quer dizer?
Priscilla o separou de um empurrão e ficou em pé. encaminhou-se para o penteadeira, agarrou uma escova e, depois de tirá-las forquilhas, começou a escovar o cabelo com indolência.
-Vou vender o Jardim do Éden e abandonar a cidade.
-Vender? Não entendo. Aonde vai?
-Isso é meu assunto, Dub -respondeu ela à atônita imagem do homem refletida no espelho.
Realmente estava ridículo, sentado nu na cama, com uma expressão estúpida no rosto como um sapo paralisado pela luz de um abajur.
Priscilla tinha decidido transladar-se ao Larsen. Com independência de que Grady seguisse com vida ou não, a partir desse momento estava resolvida a fiscalizar a empresa madeireira. Além disso, Larsen era o lugar onde estava Jake, quem talvez podia imaginar que tinham terminado de uma vez e para sempre, embora ela estava segura de que não era tão parvo para chegar a acreditar-lhe Não se deteria até que Jake fosse a sua cama como um mendigo suplicando um mendrugo de pão.
-Vou empreender outras atividades.
Dub riu enquanto saía da cama e começava a vestir-se.
-Bem, desejo-te boa sorte, mas duvido de que vão tão bem como nesta.
As costas da Priscilla se voltou rígida e o olhou com olhos ardentes.
-Me alegro de que te divirta esta noite. Possivelmente amanhã não te ria tanto, senhor Abernathy. No correio de amanhã lhe chegará minha carta a seu pastor.
Confessei tudo, em especial como levei pelo mau caminho a destacados membros de sua grei.
Dub se estremeceu no momento em que ficava o colete.
-Fez-o? -rugiu.
Priscilla sorriu docemente.
-OH, sim, fiz-o. É obvio, suplico-lhe suas preces por minha alma condenada, mas ao mesmo tempo, dei nomes. O teu encabeça a lista em letras maiúsculas. -Jogou a cabeça para trás e sorriu com ironia-. Sou boa para um queda pela tarde, mas não seria capaz de me ajudar quando precisasse me tirar de cima a esses cruzados.
Teria-me visto na ruína antes de assumir o risco de me ajudar. Em uma rua pública passa sem me olhar. Bem, é hora de que você e os de sua classe, hipócritas filhos de puta, paguem uma gratificação por meus serviços.
-Condenada puta -uivou Dub.
-Se me pegar, irei ver esse pastor em pessoa para lhe mostrar o machucado que me tem feito.
As palavras saíram precipitadas quando o homem avançou para ela com o braço levantado disposto a golpeá-la. A ameaça o impediu. Baixou o braço, mas em seu rosto apareceram umas manchas vermelhas de fúria, e em seu peito se agitava a raiva contida que procurava uma saída.
Terminou de abotoá-la jaqueta com dedos torpes.
-Não se esqueça o chapéu e o fortificação, querido -disse ela com doçura quando ele se dirigia para a porta. A risada da mulher vibrou a suas costas quando de um golpe Dub fechou a porta detrás dele.
Priscilla começou a dançar pela habitação e logo se deixou cair na cama sobre um montão de volantes. O rosto enfurecido do Dub havia valido as semanas de preparação, as horas passadas tolerando o modo desastroso de fazer o amor do Grady Sheldon e a humilhação de ser desprezada nas ruas. gargalhou-se, abraçando-se. Para abater a Priscilla Watkins não bastava sendo um piedoso pai da cidade do Fort Worth.
Por sua parte, a raiva acendia o rosto do Dub Abernathy quando se abriu passo entre a buliçosa multidão que ocupava a cantina. Seus olhos examinaram os rostos suarentos até que se detiveram em um. Fez-lhe um sinal com a cabeça e momentos depois de deixar o Jardim do Éden o homem se uniu com ele nas sombras do exterior.
A conversação foi direta e as instruções, explícitas.
O homem retornou à cantina. Dub Abernathy caminhou até o lugar em que tinha deixado o tílburi, a várias maçãs de distância. Ao subir, estalou a língua para indicar ao cavalo que é-pusiera em marcha. Conduziu envolto na noite para sua casa, onde o esperava sua família.
Sugar Dalton despertou mais cedo do habitual. Nem sequer tinha amanhecido quando se deu a volta na cama com um sabor acre na boca e uma dor no braço esquerdo que lhe impedia de dormir. aproximou-se do bordo da cama e se sentou, aturdida. sujeitou-se a cabeça com mãos trêmulas quando se dobrou quase até a cintura em um esforço por abandonar esse colchão fundo onde tinha passado anos entretendo a tantos homens que era impossível contá-los.
O que tinha comido a noite anterior para ter essa acidez de estômago? Ou seria melhor perguntar, quando tinha comido por última vez? Posto que tinha recebido essa recompensa, esteve gastando-a em uísque.
Cambaleando-se, baixou a escada às escuras, depois de ter decidido que quão único precisava era uma visita ao desculpado. Atravessou os salões em penumbras e saiu pela porta traseira.
O rocio resultava frio e úmido em seus pés nus quando avançou pela estreita extensão de erva compreendida entre a porta traseira e o desculpado. recolheu-se a camisola e caminhou nas pontas dos pés. Quando levantou a vista para medir a distância que ficava por percorrer, um grito se congelou em sua garganta e nunca chegou a emitir-se.
A luz cinza e nebulosa da manhã acrescentava um caráter mais fantasmagórico ao horror que saudou os olhos do Sugar.
A madama do Jardim do Éden tinha sido cravada contra a parede do desculpado. O pau com o que lhe tinham dado morte ainda se balançava ao redor de seu cuello.Tenía o rosto azul, e os lábios e a língua, que saía de entre eles, eram de cor púrpura. Os olhos se viam obscenamente desmesurados. Mechas de cabelo loiro cinza se agitavam espectralmente movidos pela débil brisa com um aspecto lutuoso e cinza. Os braços e as pernas estavam bem abertos contra a parede descolorida do desculpado. O sangue se secou nos pontos das Palmas e dos pés em que tinham martelado os pregos.
Estava nua.
Sugar tratou de gritar. Conseguiu emitir um grito rouco quando a dor que lhe atravessava o braço esquerdo foi tão intenso que parecia que estavam arrancando-lhe.
Tentou correr, mas os joelhos lhe travaram. O coração que tinha suportado anos de excesso do álcool deixou de pulsar antes de que a terra branda e úmida amortecesse sua queda.
Mais tarde, esse mesmo dia, o pastor se mostrou irritado por não ter recebido o correio na casa paroquial. Tais negligências eram indesculpáveis, e assim o fez saber ao empregado de correios. Mas se apaziguou um pouco ao ler os titulares do periódico do dia. As mortes espantosas da Priscilla Watkins e do Sugar Dalton lhe subministrariam combustível para o sermão sobre o fogo e o enxofre do inferno que estava escrevendo para o serviço desse domingo.
Os cidadãos de todo Fort Worth sacudiram as cabeças com tristeza ante os relatos horripilantes que leram no periódico. Tinham morrido duas ovelhas desencaminhadas, uma delas de forma violenta. Mereciam piedade, mas estava escrito que alguém colhe o que semeia. Horas mais tarde, as duas mortes se converteram já em notícias velhas.
Em realidade, não era algo inusitado, pois as putas morriam com lamentável freqüência no Hell's Half Acre.
Foi um milagre. Ross ainda vivia.
As horas da noite se arrastaram lentamente. Luta ouviu as badaladas do relógio, mas não se apartou do lado de seu marido. Cada minuto que passava, a respiração do Ross se fazia mais dificultosa.
Só com um tremendo esforço tinha conseguido reprimir os gritos quando o médico sacudiu a cabeça com tristeza depois de examinar a ferida e manifestar que nada podia fazer. Nem sequer Jake, a quem o doutor evitava depois de ter sido informado por seu colega do temperamento do homem, discutiu. Era óbvio para todos, inclusive para a Lydia se o tivesse admitido em seu foro interno, que se Ross não tivesse sido tão forte teria morrido imediatamente pelo impacto da bala.
Ross também sabia. Horas atrás se despediu de seus filhos. Banner tinha chorado a mares, aferrando-se a seu pai. Lê tinha tratado de ser mais comedido, mas as lágrimas alagavam seus olhos quando fugiu da casa depois de ter estado junto a seu pai. Micah saiu detrás dele dizendo:
-Será melhor que vá com ele.
Ambos se tinham afastado da casa montados em seus cavalos e após não havia os tornado a ver.
A Lydia não inquietava especialmente Lê, pois sabia que podia confrontar a situação. Preocupava-lhe mais sua filha. Lydia sofria pelo Banner, consciente de que
não podia encontrar nenhuma alegria no dia de suas bodas. Lydia se tinha emocionado com a notícia de que Jake passava oficialmente a formar parte da família, embora sentia que sempre o tinha sido. Quando Jake anunciou que ele e Banner se casaram e explicou por que se brigaram ele e Ross, houve muitos prantos e abraços.
Lydia tinha apoiado uma mão no braço do Jake.
-Ross reagiu como um pai. Quando tiver tempo de refletir estará tão contente como eu.
-Reconciliamo-nos -havia dito Jake.
Quando Ross finalmente falou com o Banner, agarrou-lhe a mão, deu-lhe suaves tapinhas e sonriendo disse:
-Estou contente por ti e pelo Jake. Sei feliz -sussurrou.
Mais que fazer feliz ao Banner, as palavras de seu pai só serviram para agudizar esse olhar causar peno e obsessiva nos olhos do Banner.
Ninguém podia consolá-la, nem sequer seu marido. Mami finalmente conseguiu que se deitasse no sofá do salão. Jake se sentou perto dela. Mami velava na cozinha, preparando chá que ninguém queria e insistindo em que todos deveriam comer para estar fortes. Mas tampouco ela pôde comer.
Lydia se tinha retirado ao despacho do Ross, e o fechou ao resto do mundo. Se essa ia ser a última noite que compartilhariam, passariam-na sozinhos.
Agora, como se ela o tivesse invocado, Ross abriu os olhos e a olhou. Deus concedia pequenos favores, e ao Ross tinha concedido o privilégio de agradecer ao
Jake o ter matado ao Clancey. Agora era bento com a força suficiente para despedir-se da mulher a que amava mais que a sua vida.
Aparentemente sem esforço, levantou a mão e enredou os dedos no cabelo dela.
-Recorda... como estava acostumado a rir... de seu cabelo?
Lydia baixou a cabeça, disposta a não desperdiçar esses momentos preciosos chorando. Quando a levantou, seus olhos cintilavam.
-Sim. Foi um briguento.
-Agora eu adoro. -Passou seus dedos pelas mechas rebeldes.
-Amo-te -murmurou ela.
-Sei -respondeu com voz fica. Deslocou a mão do cabelo até a bochecha da Lydia-. Lembrança a primeira vez que olhei seu rosto. Perdi-me em ti, Lydia.
Um soluço rasgou a garganta da Lydia. Obrigou a sorrir a seus lábios trementes.
-Necessitava um barbeado.
-Lembrança todo.
-Eu também. Cada momento contigo foi precioso. Não vivi até que te conheci. -Lydia esfregou sua frente contra a do homem.
-Se Jake não tivesse matado ao Sheldon o teria feito eu.O que impulsionaria ao Grady a fazê-lo?
-Chsss. Pôde ter acontecido em qualquer momento durante os últimos vinte anos. passamos mais tempo juntos do que esperávamos. Não sejamos egoístas.
-No que respeita a ti, sempre fui egoísta. Nunca terei bastante de ti.
Lydia lhe beijou as mãos com ardor.
O corpo do homem se convulsionou em um espasmo de dor e ela deixou a cadeira em que estava sentada para ajoelhar-se a seu lado. Pô-lhe um braço sobre o estômago e com o outro lhe rodeou a cabeça. O cabelo encaracolado do Ross estava cheio de vida contra sua mão.
Quando o pior da dor passou, Ross levantou o olhar para sua mulher.
-Como suportarei o céu até que você venha?
-OH, Ross! -O rosto da Lydia se derrubou e a agonia que com tanto esforço tinha tratado de ocultar já não pôde dissimular-se mais. Suas lágrimas saíram a fervuras.
O tempo passará rapidamente para ti. Mas eu, como viverei sem ti? Não posso. Deixe ir contigo.
Ross moveu a cabeça e alargou uma mão para confortá-la. Pensava no neto do qual ela ainda não tinha sido informada.
-Não pode. Nossos filhos lhe necessitam. Lê estará confuso e doído. Ajuda-o a sobrepor-se. Banner...
-Banner tem ao Jake. amam-se.
-Desejo para eles... o que tivemos nós.
-Ninguém poderá gozar do que tivemos nós.
Ross sorriu.
-Todos os amantes pensam isso.
-Em nosso caso é certo -insistiu ela enquanto seus dedos acariciavam os lábios amados, sob o espesso bigode-. Graças a ti.
A dor empanou seus olhos.
-Não, meu amor, graças a ti. -Tendeu a mão para ela, a provas. Lydia a agarrou e a apertou contra seu peito-. Lydia... Lydia.,. Lydia...
Lydia o deixou deslizar-se tranqüilamente para a outra vida porque não podia suportar ver a dor que estava sofrendo nesta. Mas durante horas continuou sustentando seu corpo.
Banner despertou de repente. O sonho a abandonou por completo. Imediatamente foi consciente de tudo, da rosada luz do alvorada filtrando-se pelos cortinados do salão. Os suaves roncos do Mami lhe chegavam do outro lado da sala, onde se achava a cadeira em que finalmente se permitiu descansar. Também soube que seu pai habíamuerto.
Advertiu que Jake já não estava no salão. Jogou para trás a colcha com que seu marido a havia talher quando consentiu em deitar-se e caminhou em silêncio, com meias mas sem sapatos, para o corredor.
Ao chegar à porta se deteve bruscamente.
De pé no corredor, iluminados pela tímida luz do sol que se filtrava através do vidro biselado da porta principal, achavam-se sua mãe e Jake.
Lydia se aferrava a ele enquanto chorava sobre seu ombro. Os braços do homem a sustentavam com força, enquanto suas mãos a confortavam com ternura e seus lábios se moviam em seus cabelos.
Banner se retirou antes de que advertissem sua presença.
-Lê e eu viajaremos para o Tennessee. Partimos amanhã.
A notícia comunicada com voz fica impressionou profundamente a quem tomava o café da manhã em torno da mesa na cozinha do River Bend.
Lydia se limpou os lábios com um guardanapo e bebeu um sorvo de café enquanto Jake, Banner, Mami e Micah a olhavam em silêncio. O único a quem não surpreendeu o anúncio foi Lê.
Jake deixou o garfo e apoiou os cotovelos na mesa, unindo suas mãos por cima do prato.
-Ao Tennessee? Para que?
Lê se esclareceu garganta ruidosamente e evitou olhar a seu amigo Micah, que o observava como se lhe tivessem saído chifres no cocuruto. Compartilhavam todas as confidências; nunca tinham existido secretos entre eles desde que Micah e Mami Langston foram viver ao River Bend.
-Quero conhecer o lugar de onde procedia minha mãe -disse Lê com acanhamento-. Possivelmente tenha parentes longínquos que ainda vivam ali. Lydia se ofereceu a me acompanhar e me mostrar os sítios dos que papai lhe tinha falado. Talvez estejamos fora durante vários meses.
Tinham transcorrido duas semanas do funeral. Sempre que se mencionava ao Ross, produzia-se um silêncio incômodo, e todos voltavam a experimentar a dor da perda.
-Lydia, está segura de que quer partir ?Agora? -perguntou Jake.
Banner baixou o olhar para seu prato enquanto suas mãos se enlaçavam tensamente em seu regaço. O escasso apetite que tinha tinha desaparecido e se sentia levemente enjoada. O embaraço era responsável só em parte de seu mal-estar. Cada vez que Jake olhava a Lydia, com olhos escrutinadores e preocupados, o coração do Banner recebia um golpe doloroso.
-Estou segura -replicou Lydia-. Esta viagem será boa para Lê. Precisa conhecer o ambiente em que viveu sua mãe. -Suspirou-. E me afastar também será bom para mim. Esta casa, esta terra... são Ross. -Seus olhos começaram a empanar-se-. As lembranças são muito nítidas.
Lê empurrou sua cadeira para trás e ficou em pé.
-Micah, virá comigo ao Larsen hoje? Preciso comprar algumas costure para a viagem.
Os dois moços se dirigiram para a porta traseira. Alargaram o braço em busca de seus chapéus pendurados nos percheros ao mesmo tempo e suas cabeças chocaram.
-Perdoa -disseram cortesmente, ao uníssono.
Em outras circunstâncias, teriam armado alvoroço gastando-se brincadeiras e burlando-se da estupidez de um ou do outro. Em troca, nessa ocasião seus olhares se encontraram e ambos se sentiram incômodos. Lê se sentia culpado porque não tinha informado da viagem a seu amigo, já que Lydia lhe tinha feito prometer que guardaria o segredo. Micah se sentia rechaçado e traído.
Mas quando se olharam, a amizade que os unia ficou confirmada. Micah deu uma palmada a Lê nas costas e disse:
-Fará-nos saber onde está e o que te propõe fazer, verdade? ouvi dizer que há umas garotas terrivelmente bonitas no Tennessee. Possivelmente me traga uma quando voltar, né?
Com os braços de um rodeando os ombros do outro, saíram pela porta traseira.
-Jake, logo que tenha terminado, eu gostaria de revisar algumas costure no despacho -disse Lydia, levantando-se-. Quero me assegurar de que tudo está em ordem antes de partir.
-Terminei. -Empurrou para trás a cadeira e deixou o guardanapo junto a seu prato.
Apoiou a mão nas costas da Lydia quando saíram da cozinha e se afastaram pelo corredor em direção ao despacho onde Ross tinha morrido.
Com o coração dolorido, Banner os observou partir. Sorvia o chá, morno e insípido. Com inapetência, apartou a taça. ficou olhando pela janela com olhos vazios, consciente só de sua própria desdita até que Mami acomodou seu pesado corpo na cadeira que se achava junto a ela.
-O que te ocorre, moça?
-Sinto falta da papai.
-E que mais?
-Nada.
-E os porcos voam. -Mami plantou suas mãos gordinhas sobre seus joelhos e se inclinou-. Recorda quando eu te atava nessa mesma cadeira até que acabava de te comer as couves? Não me importaria fazê-lo de novo se não me disser agora mesmo o que te ocorre.
Banner elevou a cabeça com altivez.
-Faz duas semanas que perdi a meu pai. Vi-o cair ferido ante meus próprios olhos.
-Não o considerarei como uma insolência de sua parte, jovencita. Sei que a morte de seu pai foi atroz. Greve dizê-lo. Mas ainda é uma desposada e não atua como tal. Ao menos, não como uma desposada feliz. Algo não vai bem e vais explicar me o que é. O que acontece você e Jake?
-Nada -afirmou Banner. Não ia falar dos sentimentos do Jake com ninguém. Já era bastante mau que os conhecesse ela.
-Comunicaste-lhe o do menino?
Banner olhou ao Mami com olhos desmesurados.
-Como sabe?
Mami soltou uma gargalhada.
-estive grávida muitos vezes para apreciar os sintomas, e se sua mamãe não tivesse estado tão transtornada, ultimamente também o teria notado. Sabe Jake?
-Sim -respondeu Banner com voz fica. Retorceu o guardanapo até que o ângulo formou uma ponta fina e logo a esmagou com a gema do dedo indicador-. Por essa razão se casou comigo.
-Duvido de que seja assim.
-É verdade! Não me ama. Ele ama... -tragou-se as palavras que retumbavam em sua mente como rufos de tambor da morte de seu pai. "Jake ama a minha mãe."
-A quem ama Jake?
-OH, não sei -disse Banner com impaciência, levantando-se bruscamente da cadeira. Avançou para a janela para que Mami não pudesse ver suas lágrimas-. Mas não é para mim. Brigamos como cão e gato.
-Também o faziam seus pais ao princípio de seu matrimomo.
-Isso foi diferente.
-O que era diferente? As únicas duas pessoas que conheço que são mais indomáveis e teimosas que seus pais são você e Jake.
Aproximou-se do Banner e a fez voltar-se sem muita delicadeza.
-Deve sair de casa para que te dê o sol e te colora as bochechas. te escove bem o cabelo. Sorri ao Jake de vez em quando. estiveste perambulando por aqui como um fantasma. A que está esperando para lhe dizer a sua mãe que vais ter um filho?
Banner negou com a cabeça. Jake lhe havia dito que Ross tinha morrido conhecendo o do menino e que se sentiu contente ao sabê-lo. Juntos tinham decidido que era mais conveniente deixar acontecer certo tempo antes de comunicar-lhe a Lydia.
-Não quero que mamãe saiba ainda. Em especial agora. Poderia cancelar suas viagens e sei quão importante é para ela e Lê.
Mami lhe deu uma palmada no ombro.
-Eu cuidarei de ti. Sua mãe estará muito orgulhosa de ti quando retornar.
-Zangará-se conosco por não haver-lhe dito.
-Mas distrairá sua mente, e isso é o que necessita neste momento. Neném, sabe que sua mãe não voltará a ser a mesma sem o Ross Coleman?
Ao Banner lhe fez um nó na garganta.
-Sim, Mami, sei.
Mami lhe deu um ligeiro empurrão.
-vá sentar te ao alpendre um momento. O ar fresco te sentará bem.
Quando Banner atravessou as habitações frite e silenciosas da casa, deu-se conta de que o conselho do Mami era acertado e merecia ser tomado em consideração.
Estava casada com um homem que amava a outra. Coisas como essa provavelmente aconteciam com mais freqüência do que a gente admitia.
Não podia passar o resto de sua vida abatida e apática ou Banner Coleman Langston se converteria em uma concha vazia. Tinha o resto de sua vida por diante e devia aproveitá-la ao máximo, continuar amando ao Jake e aceitar o fato de que era a segunda opção em seu coração.
Entretanto, sua resolução durou só até a partida de Luta à manhã seguinte.
Um grupo triste se congregou à sombra da nogueira.
-Escolhi este lugar para construir a casa por esta árvore -disse Lydia, elevando a vista para os densos ramos-. Então não tinha esta altura. Ross se burlou de
mim, dizendo que as nozes cairiam continuamente sobre o telhado-. Sorriu emocionada com lágrimas nos olhos. Todos se achavam solenemente de pé em torno dela.
-Bem -disse, respirando profundamente em um intento por conter as lágrimas- será melhor que nos partamos ou perderemos o trem.
Abraçou ao Mami. como sempre, a mulher parecia transmitir parte de sua força a Lydia, e se mantiveram enlaçadas durante comprido momento.
-Vela por tudo enquanto estou fora.
-Não se preocupe.
Lydia se voltou para o Jake. Sem dizer-se nada, caíram um em braços do outro. Lydia enterrou o rosto no pescoço da camisa do homem. Ele fechou com força os olhos enquanto a abraçava. Quando se separaram não foram necessárias as palavras. Permaneceram olhando-se detida e intensamente.
Logo Lydia abraçou ao Banner, cujo coração estava destroçado pelo que acabava de presenciar. Mas isso não diminuía o amor que sentia por ambos. aferrou-se à mulher que lhe tinha dado a vida e a tinha feito feliz. além de afligida pela morte do Ross, estava angustiada por sua mãe.
Lydia apartou ao Banner e examinou seu rosto. Estirou um braço para acariciar a sobrancelha de sua filha que se arqueava como uma asa negra sobre o olho.
-Seus olhos se parecem cada dia mais aos do Ross. -Os lábios lhe tremiam enquanto o dizia e tentou controlá-los-. Não esqueça te ocupar de seu... sua tumba.
-É obvio que não, mamãe.
-Sei. -Então o doce sorriso se desvaneceu e voltou a abraçar com força a sua filha-. OH, Banner, o tenho saudades tanto. Rogo a Deus que você e Jake estejam sempre juntos, que nunca tenham que padecer semelhante dor.
Mãe e filha se mantinham abraçadas soluçando. Por último, Lê disse:
-Mamãe, chegaremos tarde.
As duas mulheres se separaram. Banner se enxugou os olhos sem sentir vergonha, pulverizando as lágrimas com as mãos por suas bochechas. Lê ajudou a Luta a subir ao carro e logo o fez ele. Banner advertiu uma maturidade recente em seu irmão. mostrava-se solícito e muito mais formal que antes da morte do Ross.
Banner já se despediu antes de seu meio irmano pendurando-se de seu pescoço e lhe umedecendo os ombros com suas lágrimas.
-Estaremos de retorno antes de que te dê conta, Banner -havia dito Lê-. A propósito, surpreende-me o teu com o Jake, mas também me alegra, sabe? Quero dizer, diabos, se tivesse podido escolher um irmão maior, o teria eleito a ele.
-Obrigado, Lê. te cuide. E cuida de mamãe.
Agora, Micah subiu ao carro. Devia levar o de volta ao River Bend depois de vê-los partir. Lydia tinha persuadido a outros de que não lhes acompanhassem à cidade.
Banner suspeitava que se devia a que queria partir levando em sua mente uma imagem deles perto do Ross.
Lydia se voltou para saudá-los com a mão quando atravessaram o portalón. Banner a viu beijá-los dedos e logo lançar o beijo para a tumba sobre a colina, na qual já tinha depositado flores frescas essa mesma manhã cedo.
Banner compreendeu quão difícil era para sua mãe abandonar ao homem a quem amava. Mas para a moça resultava muito mais duro ficar.
-O que faz na escuridão, Jake?
Micah se situou junto a ele diante da perto, enganchou sua bota no corrimão inferior e apoiou os antebraços na superior, imitando a seu irmão.
-Pensando. Quer um charuto?
-Obrigado. -Micah agarrou o charuto que lhe ofereceu Jake e cavou as mãos ao redor do fósforo-. partiram sem nenhum problema -disse, expulsando a fumaça e apagando o fósforo. Jake se limitou a assentir-. Lê e eu nos comportamos como um par de condenados idiotas, com os olhos cheios de lágrimas.
Jake sorriu, fazendo que seus dente brancos ressaltassem no rosto escuro. A lua já estava por cima das árvores.
-Não há nada de mau em umas poucas lágrimas. Especialmente por um amigo -murmurou Jake, quem voltou a dirigir seu olhar para o campo de pastos. A ponta do charuto resplandeceu quando deu uma imersão.
-Estou muito causar pena pela morte do Ross, Jake. Sobre tudo por ti. Sei que era seu melhor amigo.
-Sim, era-o. Vá forma de morrer para um homem, a tiros no pátio de sua casa. -Abatido, deixou cair a cabeça para frente como se pendurasse de seu pescoço-. Ao menos me carreguei ao filho de puta que o fez.
-O que disse o xerife?
Todos tinham estado tão preocupados com o Ross aquela tarde que até muito depois ninguém perguntou pelo Grady Sheldon.
-Era evidente que o tinha matado para defender aos que ali estávamos. Os dedos do Grady ainda estavam obstinados ao gatilho do rifle. O xerife disse que não
ficou mais opção que lhe disparar. -Jake riu sem alegria-. Em realidade, disse que lhe tinha feito um favor. Nunca lhe tinha satisfeito a explicação que Sheldon deu sobre o incêndio que matou a sua família.
-Suponho que tem lido o da Priscilla Watkins.
-Sim. Não posso evitar pensar que existia alguma conexão entre ela e o fato de que Sheldon assassinasse ao Ross.
-Nesse caso, ambos mereciam morrer.
-Eu também acredito.
Fumaram em silencio durante um momento. Logo Jake se voltou e se acotovelou na travessa superiora.
-Lydia e eu passamos muitos dias no despacho revisando os livros. Queria que me pusesse a par dos assuntos do River Bend. Fez-me capataz do River Bend e do Plum
Creek.
-Que diabos é Plum Creek?
Jake sorriu sem tirar o charuto da boca.
-Esse é o rancho do Banner e se soubesse o que te convém, não diria nada ofensivo sobre o nome. Estarei muito ocupado administrando ambos os lugares até que retorne Lê e dita o que quer fazer. Ajudará-me?
-Claro, Jake. Nem sequer tem que perguntado. Admito que jogarei muito de menos a Lê. Precisarei trabalhar para me manter distraído.
-Lydia pediu que Mami se mude à casa até que ela retorne. Suponho que não te incomodará acontecer uma noite ou duas por semana com ela em lugar de dormir no barracão. -Micah assentiu-. Banner e eu vamos ao rancho amanhã. Os peões se encarregaram de vigiar as coisas, mas eu fui hoje a ventilar a casa a fim de que esteja preparada.
Micah trocou o peso de seu corpo de um pé ao outro.
-Eu, isto, bem, o que quero dizer é...
-Diga-o.
-Surpreendeu-me que vós dois lhes casassem -espetou Micah.
-Bem, também me surpreendeu -disse Jake com um sorriso irônico.
-Quanto tempo... quero dizer quando... quando começou?
Jake se encolheu de ombros.
-Faz um tempo. -Observou a seu irmão à luz da lua e recordou a si mesmo a essa idade. Era melhor que Micah conhecesse agora o sabor amargo do mundo real-. Banner está grávida, Micah. -Advertiu que seu irmão tragava com dificuldade-. O menino é meu, mas essa não é a razão pela qual me casei. A amo. me faça um favor. Se alguma vez ouvir alguém fazer um comentário sobre...
-Não é necessário que me peça isso, Jake -disse Micah, inflexível-.Se algum filho de puta diz algo sobre o Banner, arrancarei-lhe a língua.
Jake pôs uma mão sobre o ombro de seu irmão.
-Obrigado. Já vê, parece que meu futuro se assentou aqui. Banner e eu nunca abandonaremos nem Plum Creek nem River Bend. Não sei o que fazer com esses sessenta e cinco hectares na região da colina que o marido do Anabeth me reserva. por que não assina você a escritura?
Micah o olhou atônito.
-Fala a sério, Jake?
-Claro que falo a sério. dediquei a este lugar mais tempo de que disponho. Por um tempo te necessito aqui, mas quando quiser e esteja preparado para começar por sua conta, faça-me saber e o formalizaremos.
-Deus santo. Não sei o que dizer.
-Dava boa noite. está-se fazendo tarde e nos espera muito trabalho. Temos que começar amanhã cedo.
-Obrigado, Jake. -Micah lhe tendeu a mão e Jake a estreitou solenemente. Depois o moço se tirou o charuto da boca e o jogou no chão-. boa noite. -encaminhou-se para o barracão, deixando a seu irmão unicamente acompanhado pelo suave silêncio da noite.
Banner se achava sentada, feita um novelo, no assento situado junto à janela de seu dormitório da planta superior, observando a seu marido.
Quantas vezes se sentou ali quando era uma menina, contemplando as estrelas e a lua, meditando sobre seu futuro e expondo-se que surpresas lhe teria reservadas?
Quantas vezes tinha pensado no Jake Langston?
Entretanto, em nenhuma daquelas fantasias, imaginou-se casada com o Jake; amando-o, levando em suas vísceras um filho dele. perguntava-se onde estava, o que estava fazendo e quando voltaria a vedo.
Cobriu-se o ventre com a mão. Uma parte do Jake crescia dentro dela. Ainda se sentia assustada e insignificante ante esse milagre. Pelo visto, a intervenção cirúrgica não tinha afetado ao menino. Com a intuição de uma mãe, sabia que seu filho nasceria robusto e são, e que seria o menino mais formoso do mundo.
Teria o cabelo escuro como o seu e o do Ross? Ou o teria loiro como o linho, igual a Jake? imaginava a um menino de cabelos quase brancos de tão loiros, com brilhantes olhos azuis, brincando de correr pelo pátio, seguindo os passos do Jake, saltando para plantar seus pés gordinhos nas pegadas muito espaçadas de seu papaíto.
Pensando nisso, Banner apertou os braços em torno de seu corpo. Seria um menino maravilhoso. morria de vontades de estreitá-lo contra seu corpo, de cheirar sua doce fragrância, de amamentado com seus peitos, de amá-lo.
Mas seu momento de felicidade se apagou como o charuto que via desenhando na escuridão um arco ardente quando Jake o jogou no chão. Que fazia ali fora? Preferia a solidão a compartilhar uma habitação com ela?
Resultou-lhe estranho ter ao Jake dormindo junto a ela na cama que antes tinha sido só dela. A ninguém, exceto a ela, parecia assombrar que eles compartilhassem a habitação. Raramente falavam quando se achavam juntos aí.
Muitas vezes já estava na cama quando Jake concluía suas entrevistas privadas no despacho com a Lydia e subia pela escada para reunir-se com ela. Jake a tratava com consideração. A sua vez, ela era cortês. Mas não havia nenhum intercâmbio íntimo. Dormiam costas contra costas, tão receosos dos tocamientos acidentais como se fossem estranhos.
Uma noite Jake se tornou para ela para pronunciar brandamente seu nome. Ela tinha fingido estar dormida. Sentiu a mão deslizando-se por seu cabelo, sentiu a leve carícia sobre seu ombro e a cálida respiração sobre seu pescoço. Desejava abraçá-lo. Seu corpo ansiava o contato do do Jake.
Mas não podia esquecer que ele dedicava todas as horas do dia a Lydia; não podia esquecer o modo em que tinha estreitado a sua mãe, lhe sussurrando com a boca no cabelo a manhã seguinte à morte do Ross.
OH, não tinha acontecido nada indecoroso entre eles. Banner não albergava tal pensamento. Jake sabia que Lydia tinha amado ao Ross com toda sua alma. Ele mesmo também tinha querido ao Ross e não faria nada que ofendesse a Lydia ou à memória de seu marido.
Mas não por isso resultava menos doloroso para o Banner saber que Jake desejava o que seguia sendo inalcançável. E aquela noite, depois de que Lydia partisse, Jake se mostrou sério e extremamente deprimido a julgar por sua atitude. Durante horas Banner o tinha observado ali fora junto à perto, com o olhar perdido na escuridão, ansiando atravessá-la e captar uma visão da Lydia.
Pobre Jake. Que ironia! casou-se com a filha só poucas horas antes de que a mãe, a quem realmente amava, tivesse ficado disponível. Como devia estar amaldiçoando sua sorte!
De repente, Banner também se sentiu furiosa ao considerar que o destino também lhe tinha jogado a ela uma má passada. Era a segunda vez que ocorria.
Bem, estava farta de ser o branco das brincadeiras da fortuna e cansada da cara larga e compungida do Jake. E não agüentava mais o excesso de comedimento de seu marido.
"Como se sente, carinho?"
"Parece cansada, por que não te deita ?"
"Seguro que te encontra bem? Está pálida."
Não seria capaz de suportá-lo! Não podia, não queria, viver com o Jake o resto de suas vidas enquanto ele seguisse desejando outra mulher. Uma vez lhe havia dito que não queria um mártir diante do fogo do lar frente a ela. Bem, tampouco estava muito segura de querê-lo em sua cama. Se Jake não podia ter a Lydia, terei que lhe permitir encontrar uma substituta. Banner Coleman não estava disposta a sê-lo.
Saltou do assento, precipitou-se para a porta do dormitório e a abriu de repente. Não agarrou nem um xale nenhuma bata para cobrir a branca camisola que se arrastava detrás dela como um véu etéreo enquanto baixava correndo as escadas.
Banner tinha observado a sua mãe enterrar com integridade ao homem a quem amava. Então se deu conta de que Lydia não podia permanecer ali, olhando cada dia essa tumba recente, recordando constantemente a realidade que resultava muito angustiosa suportar.
Banner tampouco queria deixar ao Jake, pois isso seria como arrancar o coração e fugir enquanto seguia pulsando. Mas o abandonaria antes de sacrificar sua vida ficando. Não podia ser uma espectadora passiva e dócil, limitando-se a observar como Jake amava a sua mãe até que envelhecessem. Que classe de vida miserável seria essa? Quanto demoraria para aparecer o ressentimento? Quando começaria Jake a odiá-la? Ou pior ainda, quando seu corpo estivesse pesado e deformado pelo embaraço, começaria Jake a ter piedade dela?
Não! Era muito orgulhosa para permiti-lo. Tinha-o açoitado, jogando-se em seus pés, lhe persuadindo e suplicando, mas não o voltaria a fazer. Nunca voltaria
a submeter-se a tal humilhação. Não podia obrigar ao Jake a amá-la. Nenhum poder terrestre podia consegui-lo. Era preferível deixá-lo partir agora a esbanjar os anos em uma perseguição infrutífera.
apressou-se até onde estava ele, ofegando pelo esforço. Jake a ouviu inclusive antes de que o agarrasse da manga e de um puxão lhe fizesse girar-se. Jake piscou, surpreso. A camisola do Banner destacava contra a escuridão como a vela de um navio fantasma. A lua iluminava seus olhos, que refulgiam como os de um gato na noite.
Os cabelos alvoroçados lhe envolviam o rosto, frisados e ondulados como uma chama negra. Parecia provir de outro mundo, como uma deusa bela e furiosa da mitologia grega.
-Se a amas, vê atrás dela -gritou-. Não te deterei. Amo-te. Quero-te. Mas não assim. Não quero ver seu rosto no outro extremo de meu travesseiro desejando outra mulher. Assim, vete!
Banner girou sobre seus talões e começou a caminhar para a casa, mas teve que deter-se quando a mão do Jake atirou de sua branca camisola de cambraia.
-Deixa que vá!
-Não, não -disse ele, arrastando-a para trás, enrolada no tecido-. É hora de que alguém te dê umas palmadas no traseiro, princesa Banner. Foi você quem iniciou a briga, e agora, como que há Deus, a vamos acabar.
Lhe dirigindo um olhar turbulento por cima do ombro, liberou a camisola, mas não fez nenhum movimento para fugir.
-De acordo, então -disse ele com um tom de voz grandemente mais baixo-. O que se preocupa?
-Para começar, estou farta de verte continuamente carrancudo.
-Eu? Você não pronunciaste três palavras seguidas durante dias.
-E estou cansada de que sempre seja tão amável comigo. Preferiria te ter jogando pestes e destrambelhando a que vá me pondo almofadas debaixo dos pés.
-Eu não hei... que os... almofadas! -balbuciou Jake.
-Parece-me que deveria te transladar ao barracão, posto que obviamente prefere a companhia dos cavalos deste pasto à minha.
-O que diz? Dormirei na casa, obrigado.
-Você não quer compartilhar o leito comigo.
-Diabos que não quero! por que crie que estou carrancudo e te tratando como se fosse uma rainha? Né? Quero que retorne minha esposa.
A rebeldia do Banner se desvaneceu e ficou olhando-a sem compreender.
-O que?
-Pinjente que quero que devolvam a minha esposa. O que lhe aconteceu? O dia que nos casamos, morreu seu pai, de modo que, de acordo, posso entender que se mantivesse distante durante uns poucos dias, mas aconteceram duas semanas! -esforçou-se por controlar o volume de sua voz, que ia elevando-se-. Estou quase ao limite de minha capacidade de resistência, Banner. É hora de que comece a atuar como uma esposa. Desejo que possamos retornar à tarde em que nos casamos e começar todo outra vez.
-Jake sacudiu a cabeça com nervosismo-. Recorda o lanche depois de nossas bodas, verdade? Lembra-te do que me fez, pelo que fizemos juntos? Deus santo, Banner, troca de humor constantemente. Um dia me faz o amor como o fez aquela tarde, e ao siguiente,me rehúyes quando me aproximo. Não o compreendo. Como diabos se supõe que devo atuar?
-Mas você a amas.
-A quem?
-A minha mãe.
Jake se deixou cair contra a perto. As travessas lhe cravaram nos ombros e nos quadris. Os braços penduravam frouxos aos flancos do corpo enquanto a olhava fixamente, incrédulo.
-Como esperas que represente o papel de esposa, que faça o amor contigo, quando sei que a amas? Vi-te abraçando a manhã seguinte à morte de papai. Já sabe quão orgulhosa sou; recordaste-me isso muitos vezes. Como pode chegar a pensar que quero passar o resto de minha vida com um homem que está apaixonado por outra mulher?
Sobre tudo quando essa mulher é minha mãe. Ela foi proprietária de seu coração durante vinte anos. Não pôde competir com isso nem quero.
-terminaste? -perguntou Jake quando Banner se relaxou. A única resposta que recebeu foi uma larga e sonora respiração e outro acesso de pranto-. De modo que isso é tudo? Crie que amo a Lydia.
-Você a amas.
-Sim, a amo. Amarei-a sempre, tanto como amei ao Ross. Compartilhamos algo que é impossível de explicar. Estou mais perto da Lydia que de minhas próprias irmãs.
O dia que morreu Ross, lamentamo-lo juntos. por que não deveríamos fazê-lo? Abraçamo-nos para nos dar consolo.
-Não me estou refiriendo a essa classe de amor, e você sabe.
Jake se golpeou ligeiramente as coxas, exasperado.
-Certamente. Quando era um moço pus a Luta em um pedestal. Pensava que era formosa, que tinha tudo o que eu podia desejar em uma mulher. converteu-se em minha mulher ideal e durante anos imaginei apaixonado por ela. Sim, e estava ciumento do Ross por tê-la cada noite em sua cama. -Fez uma pausa e respirou fundo-. Mas agora não estou apaixonado por ela, Banner. Não como o estou de ti. Nunca estive apaixonado por ela como o estou de ti.
Todo o corpo do Banner se estremeceu. Abriu a boca para falar, fechou-a e voltou a tentá-lo.
-Está apaixonado por mim?
Jake elevou os olhos ao céu com gesto suplicante.
-Você o que crie? Estou-o desde aquela noite no estábulo. por que crie que me comportava mais vilmente que o diabo? Estava lutando contra meus sentimentos. Aquela noite me deixou tão impressionado que não podia cessar de recordá-la. Não queria me sentir assim por nenhuma mulher, e muito menos por ti. Não foi mais que uma menina e a filha de meus melhores amigos. -Tendeu a mão e disse brandamente-:Vêem aqui.
Banner avançou para ele, uma menina extraviada vestida com um comprido camisola branca. lhe agarrando a mão logo que esteve a seu alcance, atraiu-a para ele e a apertou contra seu corpo.
-Banner. -Aspirou o fresco aroma de seu cabelo que tanto tinha sentido falta de-. Deus! Foi tão aquela doce primeira vez. Estremeceu-me até as vísceras. estive
locamente apaixonado por ti sempre, provavelmente desde muito antes do que acredito, provavelmente durante todo o tempo que esteve crescendo, mas me negava a admiti-lo.
-Nunca há dito que me ama.
-Não o tenho feito? -Ela negou com a cabeça-. Bem, digo-lhe isso agora. Amo-te, Banner.
Apertou sua boca sobre a dela. Rapidamente seus lábios se separaram e suas línguas se tocaram. Jake emitiu um gemido surto do profundo de seu peito. Seus braços rodearam ao Banner e a elevaram até que os pés nus da moça descansaram sobre suas botas. Os braços dela se fecharam ao redor do pescoço do homem enquanto apertava seu talhe contra o seu.
Quando Jake levantou a cabeça depois desse comprido beijo, cravou o olhar nos olhos do Banner, nos quais se refletia a lua.
-Durante anos fingi ser muito duro. Estava amargurado por tudo; por ter maturado tão rápido, pela morte do Luke, por tudo. Isso era o que exteriorizava. Suponho que alguns homens me respeitavam por ser um bom vaqueiro e ter habilidade com um baralho de cartas e um revólver, mas ninguém conseguia perceber meu eu autêntico.
Só você o fez, Banner.
-Sim. Vi o homem que se escondia detrás desses olhos azuis e frios. -Lhe beijou a garganta-. Seu mau gênio não me assustava nem um poquito.
Jake riu, deslizando as mãos sobre as nádegas do Banner.
-Olhe quem fala de mau gênio! desfrutei com nossas disputas.
-Eu também.
-Sentia-me muito solo antes de estar contigo, e não quero voltar a está-lo nunca. -Afundou o rosto no pescoço da moça.
-Não permitia que ninguém se aproximasse de ti. Mas agora nos terá para mim e ao menino.
-Suponho que terá que começar a aumentar a casa. -Apartou-a para poder observar seu corpo com olhos carinhosos-. Ainda não posso acreditá-lo.
-Eu sim posso. Meu corpo está trocando.
-Ah, sim? -Deslizou as mãos sobre sus.pechos-. Parece-me que está muito bem -disse, fazendo uma piscada.
Seus lábios se encontraram para outro beijo. Quando se separaram, Banner apoiou a cabeça sobre o peito do homem e gemeu:
-Jake, estou tão brincalhona.
Com o polegar debaixo de seu queixo, Jake lhe elevou a cabeça e esquadrinhou seus olhos brumosos.
-Sabe o que quer dizer isso?
-Claro. O ouvi A...
-Sei. Sei. Volta a me beijar antes de dizer alguma outra barbaridade.
Banner obedeceu aproximando o corpo ao do Jake até que pôde apertar sua dureza entre suas coxas. Havendo-se abstido durante essas duas últimas semanas, ele vibrava com a necessidade de alívio. Apartou seus lábios da boca dela.
-Banner, carinho, se não nos detivermos, vou ter que te possuir apoiada contra esta perto.
Os olhos do Banner cintilaram e sorriu com deleite.
-Podemos?
Jake lhe deu uma palmada nas nádegas.
-Pícara desavergonhada; não em uma noite de lua como esta.
-Alguma outra vez?
O sorriso perverso do Jake resplandeceu na escuridão.
-Sim, mas de momento, vamos. Tenho uma idéia melhor.
Elevou-a em seus braços e atravessou o pátio. Quando Banner se deu conta de que se dirigiam ao estábulo, recostou a cabeça timidamente no pescoço da camisa do homem.
-O que pensou realmente de mim essa noite?
-Ao princípio pensei que foi uma muchachita ferida que procurava compaixão; logo, que foi uma bruxa enviada pelo diabo para me tentar, ou possivelmente um anjo que Deus utilizava com o mesmo propósito.
Fechou a porta do estábulo detrás deles e encontrou um pesebre desocupado iluminado pela lua, com feno fresco e fragrante. Depositou-a sobre o feno, sem deixar de rodeá-la com seus braços.
-E depois?-sussurrou ela contra sua boca.
A língua do Jake paquerou com as comissuras de sua boca.
-Depois acreditei que certamente o tinha imaginado, porque tinha sido o melhor que me tinha ocorrido na vida. -Apertou-a com mais força-. Me ame, Banner. -Murmurou a súplica premente com a boca em seus cabelos.
Caíram juntos sobre o feno. Suas bocas se fundiram. Os botões da camisola abandonaram as casas sob a pressão dos dedos do Jake. Deslizou a mão debaixo do tecido para albergar nela seu peito, cujo centro estava inflamado de paixão incluso antes de que a boca do homem se movesse sobre ele. Suave e úmida, a língua do Jake acariciou até que Banner acreditou que morreria de prazer.
Tirou-lhe a camisola pela cabeça e se deleitou contemplando sua nudez. Incorporando-se rapidamente, Jake se desprendeu das roupas. Quando finalmente se aproximou dela para cobri-la, encontrou uma vagem cremosa e apertada que o embainhava à perfeição.
-Amo-te, amo-te -sussurrou quando se entregou a ela.
Banner repetiu as palavras com fervente ardor.
A satisfação foi rápida e passional.
Mais tarde Jake fez um jergón com suas roupas. Dormiram nus e muito juntos. Pela manhã, quando o sol nascente aparecia pelo horizonte, Jake voltou a tender os braços para sua esposa. Esta vez fizeram o amor suave e docemente, celebrando o alvorada que duraria pelo resto de suas vidas.
Sandra Brown
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