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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


UM PECADO ENCANTADOR / Josiane da Veiga
UM PECADO ENCANTADOR / Josiane da Veiga

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

Biblio VT

 

 

 

 

Proibido era pouco...
Simone e Leonardo cresceram juntos, como irmãos. Mesmo que o sentimento sempre existisse entre eles, foi subjugado pela família, que exigia que ambos se vissem como irmãos.
Agora, adultos, trabalhando juntos, é impossível evitar as emoções que os cercam. E tudo piora quando Simone fica grávida. Como enfrentar todos os tabus e assumir aquela paixão?

 


 


Capítulo Um

Simone

E u sei o que você está pensando. Eu consigo ler em seus olhos que passeiam rapidamente por essas linhas dedilhadas em traços sem lógica.

Sem lógica... talvez porque sou jovem. Você não é muito racional quando acaba de completar dezoito anos e não está aproveitando seu aniversário em uma festa pomposa e sim acampando em frente ao prédio do seu meio-irmão buscando definitivamente qualquer sinal positivo dele.

Porque eu o amo...

Não, não é incesto. Não somos irmãos, realmente. Meu pai casou-se com sua mãe. Crescemos juntos. Devia ser amor fraternal, todavia, de minha parte, nunca o foi. Quando disse isso a primeira vez para Leonardo, recebi dele mais que rejeição.

Ele ficou chocado. Eu tinha onze anos, ele quinze. Insisti. Ele saiu de casa um tempo depois. Nunca mais voltou. Eu senti-me a pior das criaturas e aguardei pacientemente minha maioridade para ir até ele.

Como um capacho... alguém que não se dá o valor. Porque eu só queria rastejar até seus pés e implorar que me visse. Não sou sua irmãzinha, mas uma mulher capaz de tudo para tê-lo.

Porque eu o amo...

Eu já repeti essa frase tantas vezes, e em todas elas uma parte de mim diz apenas que sou uma menina idiota que não sabe o que é amor. Mas, uma outra, mais forte, me foca na essência de tudo que vivi ao lado dele...

Leonardo...

Desde o começo, meu protetor. Meu amigo. Meu companheiro de traquinagens na infância. Depois, o cara mais bonito da escola, a inveja provocada nas minhas amigas porque eu podia ir até ele e receber dele a atenção que elas não recebiam.

No entanto aqui estou eu. Passando minha noite de aniversário diante da sua janela, tentando encontrar uma maneira de ir até ele.

O interfone parece me encarar como se esperasse meu toque. Uma mistura de vergonha e ansiedade arrepia minhas costas. Mas esses nervos não me estimulam a enviar sinais cerebrais para forçar a ponta do meu dedo a pressionar a campainha.

Eu mantenho meus olhos naquela campainha enquanto minha cabeça percorre os cenários que podem se desdobrar. E todos terminam com um " não ".

Mas, e se eu não pedisse amor? E se eu conseguisse apenas estar ao seu lado?

Atrás de mim, ouço o som de um casal mais velho entrando no prédio.
A mulher me encara enquanto cruza por mim.

— Está aguardando alguém? — ela indaga.

— Esqueci minha chave e meu irmão está demorando para me atender.

Ela me observou, prestando atenção na minha aparência. Por fim, sorriu.

— Podemos deixar você entrar, querida — disse com uma piscadela.

Balancei a cabeça e me afastei para deixar ela e o marido entrarem no prédio.

— Obrigada. Boa noite — me despeço enquanto eles vão para as caixas de correio e eu caminho rapidamente até o elevador.

Por fim, chego diante da porta do seu apartamento. Toco a campainha. Não sei se ele vem até a porta, não escuto som nenhum do outro lado, mesmo assim, resolvo falar:

— Leonardo. É a Simone.

Silêncio. Sinto minhas mãos tremerem. Eu sei que ele está em casa porque sua luz está acesa.

— O que você quer? — a voz masculina do outro lado parece apreensiva.

Estou confusa e tensa.

O que eu quero?

Ele.

Nunca vou tê-lo. Mesmo assim, limpo a garganta e tento ser o mais gentil possível, minha mente trabalhando em um turbilhão.

— Estou tentando uma vaga de auxiliar na Academia para Meninas da Rockemback Estudos. Eu preciso de uma carta de recomendação... Como você já é professor lá...

Passam segundos de silêncio excruciantes. Ele poderia estar rindo histericamente ao pensar em me recomendar para qualquer coisa. Ou ele poderia estar caminhando de volta para seu sofá, ignorando-me. Eu não aguento mais.

— Você ainda está aí?

Eu ouço um suspiro.

— Sim. Mas, para esclarecer, você quer uma carta de recomendação para...?

— Academia para Meninas da Rockemback Estudos.

Era o local mais conceituado do estado, um internato para meninas usado pela alta classe do país. Leonardo havia se destacado nos estudos, e quando formou-se em pedagogia, logo conseguiu uma vaga lá.

— Pelo amor de Deus, Simone, você ficou maluca?

Ele nunca entenderia como seria importante para mim estar perto dele, mesmo que distante emocionalmente. Eu faria qualquer coisa, eu viveria apenas para vê-lo rapidamente pelos corredores da instituição.

— Eu preciso trabalhar e eles estão contratando.

— Eu sei que eles estão contratando. Mas, você? Já começou a faculdade?

— Comecei — respondi, rapidamente. — Letras.

— Por que não se forma primeiro e depois tenta entrar?

— Preciso de um trabalho e eles tem uma vaga de auxiliar. — Eu havia lido isso no jornal. Sempre estava inteirada sobre o local de trabalho de Leo. — Por favor, Leonardo. Eu só quero ser uma boa professora como você é, e papai foi...

Remeter a memória de meu pai me fez lacrimejar.

— Pelo amor de Deus, você não pode realmente me ajudar?

Ele pareceu suspirar, e eu exalei tocando a madeira fria da porta como se fosse sua pele.

Leonardo parecia com as celebridades que minhas amigas e eu bajulamos. Maçãs do rosto salientes, queixo largo, olhos profundos e cheios de alma. E havia aqueles olhos tão azuis que eu não conseguia acreditar que ele não estivesse usando lentes.

Eu não sabia o que pensar dele, no começo. Ele era apenas um menino sentado ao lado da namorada do papai. Então, por alguns meses, eu o via de vez em quando em feriados ou fins de semana prolongados, quando sua mãe ficava conosco.

Logo, um menino quatro anos mais velho foi apresentado a mim como meu novo irmão.

Estremecia toda vez que meu pai e minha nova madrasta se referiam a mim como sua “irmãzinha”. Eu não queria ser sua irmã. Eu queria algo diferente.
Leonardo e sua mãe se mudaram no verão. Nessa época, estava começando a descobrir o meu corpo. Meu peito estava crescendo. Meus interesses estavam mudando. Às vezes eu dormia com um travesseiro entre as minhas coxas, desejando que o travesseiro fosse meu novo irmão...

— Simone, mesmo com uma carta de recomendação, não será fácil. Quero dizer, ser aceita com minha recomendação até seria simples, mas ser uma boa funcionária, como foi seu pai, é difícil. É preciso compromisso e sacrifício. Você...

Desta vez, eu o interrompi.

— Eu sei que você tem uma visão um tanto ruim de mim... Mas, esqueça as coisas que eu já fiz e pense que sou alguém que realmente quer trabalhar.

— Minha decisão não tem nada a ver com as coisas do passado — ele me interrompeu. — Mas, o fato é que trabalhar num ambiente fechado, cheio de regras...

— Eu não sou uma irresponsável. Você nunca pôde perceber, mas eu me esforcei muito, sou a melhor aluna da turma e passei no vestibular com notas altíssimas. Eu sou capaz. Eu sou inteligente. Só preciso de uma força no início, alguém que me dê uma chance.

Eu ouço o cansaço em seu suspiro.

— Simone...

Eu sei que não devia estar decepcionada. Leonardo fugia de mim desde nossa adolescência. Mas, ao menos ele podia se dar ao trabalho de me dar um motivo real para recusar-me uma carta de recomendação, e eu poderia aceitar essa recusa mais graciosamente.

— Leonardo, você é minha única esperança de ingressar no instituto.

O silêncio, uma vez incerto, agora parece denso com certo desdém. E isso dói.

Amar dói.

 


Capítulo Dois

 

Leo

 

S imone sempre me manipulou. Com sua forma, com seus gestos, eu sempre fui escravo de algo que nutri por ela desde que a vi pela primeira vez, num vestido curto e usando uma trança grossa nas costas.

Ela sabia o que eu sentia. Ela sabia que havia algo em mim que a buscava, por mais que eu reprimisse e me envergonhasse por isso. O pai dela também. Ele teve uma séria conversa comigo quando eu tinha quinze anos, praticamente me jogando contra a parede, quase me expulsando de casa.

Eu busquei um canto pra ficar nos anos que se seguiram, e quando ela veio com uma conversa estranha sobre “ me amar ”, eu caí fora, indo morar de favor num pequeno apartamento de um amigo.

Minha vida não foi fácil. Minha mãe fingiu ignorância e me disse, tão logo sai de casa, que não era mais problema dela. Assim, arrumei um trabalho e continuei os estudos, até conseguir me formar e conseguir alugar meu próprio apartamento.

Eu me esforcei muito na Academia onde ingressei como professor. Fui recompensado com diversas promoções até o antigo diretor se aposentar e me indicar para o seu lugar. Pela primeira vez na vida, eu achei que estava no caminho certo, com a vida engatinhando para uma suposta tranquilidade.

Até ela...

Agora, Simone retornava. Implorava. Esfregava as unhas na minha porta, como sempre fazia, inclusive quando morávamos juntos. O pai dela disse que eu era culpado por aquelas atitudes, pois ela era uma criança. Simone não era mais uma criança, mas permanecia mimada, usando meus sentimentos para me massacrar enquanto choramingava como uma menina sem preocupações.

— Simone, não há lugar para você na Escola. Mesmo um cargo de assistente levaria muito tempo e estudo para adquirir. Eu não posso ajudá-la nisso, porque isso comprometeria minha posição na Rockemback.

Fui sincero. Nada mais, nada menos.

Aquela frase trazia recordações.

“Você é minha irmã agora. Nada mais, nada menos ”, eu disse a ela quando tinha quinze anos e ela apareceu à noite na porta do meu quarto.

“ Por que não quer ser meu namorado? ” ela retrucou. “ Ninguém precisa saber. Será nosso segredo ”.

Lembro de ter rido da sugestão. Não porque fora engraçada, mas porque me deixava nervoso. Eu nem sabia se ela estava falando sério. Era tão jovem, e nós devíamos nos ver como irmãos.
Naquela época, eu tinha namoradas e estava descobrindo o sexo. Foi uma época divertida na minha vida. Dizer que eu estava sexualmente satisfeito seria rir da minha ingenuidade. Eu achava que sexo era enfiar o pau, meter e tirar. E as meninas também. Eu ainda não sabia que sexo tinha mais coisas relacionadas, incluindo sentimentos.

E disso eu tinha medo. Porque seria mentir dizer que eu não sentia nada por ela. Algo sempre me atraiu para Simone. Seu corpo pequeno, talvez. Momentaneamente pequeno. Seus seios que foram despertando como uma rosa desabrochando.

Simone era encantadora, e eu a queria.

Mas eu sabia que não poderia tê-la. Sua idade e nossa conexão familiar fizeram dela o fruto proibido do meu éden.

Estranhamente, isso só me fez querê-la mais.

Aos vinte anos eu a revi brevemente num encontro familiar. Ela estava namorando um cara do ensino médio que parecia grudento e asqueroso demais para meu gosto. Eu o odiei. E não consegui disfarçar isso.

Quando ficamos a sós naquele almoço, busquei por ela, tentando fazê-la abandonar aquele idiota que a tratava como um prêmio.

— Simone, eu gosto muito de você.

Ela sorriu com facilidade e me disse que também me amava com um nariz adoravelmente arrebitado e uma risada indiferente.

— Não, eu realmente... muito. Eu... eu te amo, Simone — eu confessei, mesmo que o pai dela me matasse quando descobrisse.

O sorriso de Simone se transformou em uma expressão confusa.

— Eu também te amo. Você é meu irmão.

Frustrado, eu agarrei seu rosto em ambas as minhas mãos e plantei um longo beijo em seus lábios. Minhas mãos se moveram de suas bochechas para os ombros e depois se envolveram ao redor dela. Eu a peguei, levando com meus quadris até a parede, e segurei-a contra mim, prendendo-a com o meu pau endurecido.

Senti seus seios firmes pressionados contra o meu peito. As pernas dela envolverem firmemente em torno dos meus quadris. Sua boca se abriu, com fome.

Minha mão esquerda disparou contra seu seio, apertando seu mamilo ereto. Minha mão direita agarrou sua bunda através da saia longa.
Mas não foi o suficiente.
Amassando com os dedos, subi o tecido, pouco a pouco, agonizando em sua pele real. Eu precisava sentir isso.
Ela parou de me beijar de volta e sem rumo agarrou a parede. Cambaleando, eu a abaixei e tropecei para trás.

Simone olhou para mim enquanto limpava meu beijo de seus lábios. Era um olhar estranho. E então, de súbito, começou a rir. A risada começou confusa e silenciosa, mas cresceu em um uivo barulhento que feriu todo o meu ser.

— Vamos fingir que isso nunca aconteceu — eu disse, antes de voltar para a sala e dar de cara com o olhar estranho do pai dela em minha direção.

Aquela foi minha última visita. Nós não conversamos muito depois disso. Eu a evitei o quanto pude.
Simone, por outro lado, se recusou a ficar fora da minha vida. Ela aparecia com qualquer mínimo problema, exigindo que eu a ajudasse.

Se faltava dinheiro? Eu emprestava.

Quando roubava o carro do pai e estragava algo? Ela corria para mim pedindo que eu ajudasse a arrumá-lo.

Se estava atrasada para uma aula na faculdade? Exigia uma carona.

E era assim que ela vivia na minha porta, até que eu pedi ao porteiro para não mais deixá-la subir.

Mas, agora ela estava ali. Novamente.

O tanto que tentei me livrar dela denotava o quanto ela não queria sumir.

— Você podia abrir a porta — ela pediu. — Eu gostaria de falar com você cara-a-cara.

— Não é uma boa ideia e você sabe — reforcei. — Simone, por favor, volte para casa e me esqueça.

Silêncio.

Eu a amo. Eu a quero na minha vida. Ser capaz de orientá-la profissionalmente seria um sonho tornando-se realidade.

Mas há muitas coisas contra nós. Nosso passado. Sua inexperiência. Meus sentimentos.

Eu finalmente me afasto da porta e sento no vazio do meu apartamento.

***

— Ora, ora, você ainda lembra que tem mãe...

Obviamente, minha mãe gostava da pose de vítima. Fingir que não havia me ignorado enquanto meu padrasto estava vivo não fazia parte do seu mundo. Ela era a mãe perfeita, e eu fui o filho que abandonou a casa e fugiu da família. Os motivos ela fingia que não via. Mas, eu podia jurar que ela sabia que Simone estava envolvida nisso.

— Olá, mãe — respondi cordialmente, apesar disso. Respeitar os pais era um fundamento básico de civilidade. — Você falou com Simone ultimamente?

— Claro, algumas vezes. Por quê?

Simone havia se mudado quando completou dezoito anos. Ela disse a minha mãe que já se sentia adulta e, pelo que soube, não houve objeções.

Minha mãe não a amava. Seu sentimento era para o pai dela. Aliás, tenho quase certeza que meu padrasto foi a única pessoa no mundo por quem minha mãe nutriu afeição.

— Ela apareceu na minha casa na noite passada e queria conversar — expliquei. — Falamos um pouco, mas depois ela foi embora sozinha, e queria saber se ela está bem.

— E por que não estaria?

— Ela parecia um pouco desesperada.

— Ora, Leonardo. O pai dela morreu de infarto. O que você esperava? Ninguém está bem depois de Pedro morrer. Todos sentimos sua falta.

Eu não.

— Eu não sei porque você a odeia. — ela disse de repente, me surpreendendo. — Mas seria bom você demonstrar um pouco de gratidão. O pai dela nos amou. E ele morreu. Ela precisa da atenção da família. Nós devemos muito a Simone e a Pedro.

Depois que desligamos, eu fiquei momentaneamente com o telefone na mão. Então, busquei os contatos. Disquei. Ouvi o som soar duas vezes antes de uma voz conhecida atender.

— Simone — eu disse quando a ouço atender a minha ligação. — Podemos conversar?

 

 

 

Capítulo Tr ês


Simone


Q uando Leonardo se recusou a me dar uma carta de recomendação não fiquei surpresa. Desapontada, talvez, mas surpresa nunca. Todavia, quando ele me ligou no dia seguinte, sim, eu fiquei muito surpresa.

Essa palavra em si já é estranha. Algo que me trouxesse espanto na minha relação com Leo já é por si mesmo um padrão. Qualquer manifestação dele por mim, me traz assombro. Foi assim quando ele me beijou quando era adolescente.

Naquela época queria me convencer de que tudo que eu sentia era fruto de uma coisa louca, uma besteira de jovem, e comecei a namorar um garoto da escola. E então Leo me arrebatou num canto escondido da casa. Eu fiquei tão sem reação que ri, sem perceber que, naquele instante, meu riso o ofendeu.

Enfim, agora, novamente, ele me surpreendia. Buscando-me logo após uma noite de recusa. E a maior das reviravoltas foi seu convite para jantar.
E eu precisava estar pronta. Planejar. Eu queria sim ingressar no Instituto Rockemback, mas também queria direcionar a conversa para assuntos mais pessoais. Nós somos adultos agora.

Eu sou mais forte emocionalmente. E eu tenho muito mais certeza do que eu quero. Eu só preciso fazer Leonardo ver isso.

Naqueles anos atrás, eu estava com muito medo de como eu era sexualmente inexperiente para tentar algo com ele. Ele era mais velho que eu. Mas agora aprendi algumas coisas. Agora poderia reagir diferente se ele me prensasse novamente contra a parede.

Oh céus... Se fechar meus olhos ainda posso sentir a virilha quente de Leonardo latejando, pressionada contra a minha saia, suas mãos exigentes em cima de mim. Mas, na minha imaginação, eu me permito aproveitar tudo isso. Em minhas fantasias, eu deixei minha mão encontrar seu pênis e acariciá-lo com força através de suas calças, provocando-o à loucura, forçando-o a rasgar seu zíper e me levar ao seu pau mergulhando profundamente em mim. Mais e mais, ele me bombeia contra a parede, rasgando meu vestido para revelar meus seios nus e lambendo, mordendo, devorando cada centímetro da minha pele exposta.

Volto a vida real com o bater das horas do relógio da parede.

Eu preciso me preparar. Eu preciso estar pronta para fazer Leonardo entender que somos um do outro.

 

 

Capítulo Quatro


Leo


V ocê já escolheu a auxiliar da professora Suely?

Volvi para a porta e me deparei com Antônio Assunção, membro do Conselho Administrativo do Instituto e representante do RH.

Suely estava sem auxiliar para as classes infantis desde fevereiro, quando uma das mulheres que a atendia mudou-se com o esposo militar para o Peru.

— Ainda não — objetei.

— Recebemos várias cartas para a vaga, mas... — ele entrou, fechou a porta atrás de si —, sua mãe, Herda, ligou para nós e me disse que Simone, filha de Pedro, seu padrasto e um dos melhores professores universitários do país, quer uma vaga aqui. Você considera uma boa escolha?

O que eu poderia dizer. Ela vinha de uma linhagem de mestres e já cursava letras.

— Ela parece bem interessada na vaga — falei, no entanto. — Ela me procurou para tentar uma recomendação — admiti.

— E você não a deu por quê? — a indagação parecia preocupada.

— Na verdade estava pensando nisso — assumi.

— Deve ser ruim trabalhar com sua irmã — Antônio deu os ombros, e a frase caiu sobre mim como uma bomba. — Não me entenda mal, não digo que ela é uma pessoa ruim, nem a conheço. Mas, ter a família por perto nem sempre é fácil.

— Ela não é minha irmã — murmurei, mas não tinha certeza que ele me ouviu.

— Pedro Borges era muito famoso em seu tempo. Desenvolveu métodos de ensino, e escreveu muitos livros sobre educação. Alguns, usamos na nossa grade, você sabe... — Antônio parecia pensar em voz alta. — Não é como se pudéssemos negar a filha do Pedro Borges uma vaga. Tê-la aqui seria interessante para a história do Instituto. Mas, como diretor, você tem muito a pensar.

 

 

 

 

Capítulo Cinco


Simone


N ão sei explicar como me senti em saber que em poucas horas eu teria um jantar com Leonardo.

Estava eufórica? Era pouco. Meu coração parecia que iria sair pela boca. Eu queria estar bem, chamar sua atenção, fazê-lo notar a mulher que eu havia me tornado.

Em tempo recorde, eu corri para comprar um vestido novo, fazer meu cabelo e as unhas. Agora que voltei para casa, faço um balanço. Eu olho no espelho e vejo uma mulher transformada olhando de volta.

Meu corpo é mantido no lugar soberbamente pelo vestido. Minha calcinha é linda e, espero, perturbadora. Mas dou-me conta de que se tudo saísse como eu sonhava, ela seria inútil. É um atrevimento, mas a removo e olho para o vestido afinando meu corpo sem um único vinco. Céus, estou louca. É a única coisa coerente em mim. Estou louca.

Pego meus peitos. Os empurro em um sutiã de renda preta, criando um decote deliciosamente profundo. Mais acima, eu inspeciono o novo penteado. Deixo meu pescoço nu com algumas longas mechas que Leonardo poderia brincar enquanto ele me leva por trás, mordiscando meu ombro...

Oh...

O alerta do celular soa, interrompendo meus sonhos molhados. Abro a tela do meu celular e vejo uma mensagem do Leonardo.

“ Quase no restaurante ”.

O plano era nos encontrarmos para jantarmos juntos. Eu suponho que foi um pouco presunçoso pensar que Leonardo poderia vir me buscar. Eu não deveria estar pensando nisso como um encontro porque com certeza ele não estava. Mas eu tinha planos e não esmoreceria deles até a noite terminar.

Meu entusiasmo pelo nosso “encontro” começa a se esvaziar lentamente à medida que vou dirigindo ao restaurante.

É muito possível que eu gastei mais dinheiro do que deveria em um vestido que será negligenciado. E se ele mal olhar para mim?

Eu dirijo meu carro no estacionamento do restaurante que ele sugeriu. Para minha decepção, não é nada romântico. Parece mais um daqueles quiosques familiares, cheios de crianças gritando e mulheres estressadas com os maridos que estão exagerando na cerveja.

Sim, eu coloquei expectativas demais nesse jantar.

Passo pela entrada, mal conseguindo evitar uma manada turbulenta de crianças de oito anos. No entanto, meus saltos clicam em um piso de pedra brilhante. Eu também espio um grande bar circular no centro da sala, oferecendo evidências de que talvez os pais encontrem alguma folga adulta aqui. Uma anfitriã adolescente me diz para sentar em qualquer lugar que eu goste, enquanto aceno com a cabeça e vejo Leonardo.

Eu o encontro em uma pequena mesa para dois, mergulhando a colher em uma tigela de sopa. Quando ele me vê, não consegue evitar uma gargalhada.

— Olhe para você. Está vestida como se fosse a um restaurante de gala.

Idiota!

Ele, claro. E eu também.
É oficial. Eu pensei demais nisso.

 


Capítulo Seis

Leo

 


É , eu sou um idiota. De alguma maneira, e por algum motivo, eu fiz de propósito. Eu não disse a ela o tipo de ambiente que escolheria para o jantar, e dei a entender que podia ser um encontro. Talvez porque fosse algo que, no fundo da minha alma, eu ansiava.

Contudo, agora, ao vê-la tão esforçada num bonito vestido, eu pensei no quanto desperdicei o momento. O pai dela estava morto e minha mãe não se importava conosco. Não era esse o momento perfeito para eu tê-la em minha vida?

Simone sentou-se à minha frente. Ela parecia ter amadurecido muito nos últimos anos. Claro, ainda era jovem, mas havia algo em seu olhar que denotava o quanto a menina havia ficado para trás. Agora, era uma mulher, e sua aparência fazia meu coração disparar. Havia algo nela... algo que me deixava no ponto de inflamar minha paixão, algo que parecia despertar meus instintos mais primitivos.

Precisei me esforçar para segurar aquela vontade.

Mesmo quando morávamos juntos, quando minha frustração sexual por ela era mais intensa, eu não estava tão inflamado como agora.

Enfim, Simone claramente quer causar uma boa impressão. E esta é a primeira vez que nós dois concordamos em nos encontrar. Normalmente, ela está implorando pela minha presença, mas aqui estamos, ambos diante um do outro como adultos. Parece que Simone está dando o melhor para conseguir o trabalho.

Mas, e se for apenas um truque?

Eu odeio pensar o pior de Simone, mas seu riso de deboche diante dos meus sentimentos ainda ecoava nos meus ouvidos.

E ela nunca se desculpou por aquilo. Nunca disse uma palavra sobre o assunto. Era como se o beijo nunca houvesse existido.

Respirando fundo, percebo que a única coisa que não preciso no momento é ver meus sentimentos sendo novamente ridicularizados por aquela menina. Eu estou bem, e posso me sair melhor da situação se for franco e direto com ela.

— Então — pigarreio antes de prosseguir —, você quer uma carta de recomendação?

Seu rosto está inseguro e há outra emoção piscando por trás dos olhos.

— Mesmo que eu escreva essa carta, você ainda teria que passar pelo Conselho da Academia.

— Indicada pelo diretor, não vejo problema com isso.

— Eu vejo. Se eles te aprovarem e você não se sair bem, é minha imagem que vai prejudicar.

Simone não respondeu. Mas eu tenho a atenção dela, então eu pressiono essa vantagem para fazer o meu ponto principal. Eu me inclino para frente.

— Você tem consciência que a Rockemback é o Instituto de Ensino mais poderoso do país. Que só os mais ricos entram? Que as bolsas de estudo são destinadas apenas para os geniais?

Sua voz emerge plana, sem vida.

— São apenas crianças — ela devolve. — Não objetos. Crianças.

Eu fico chocado. De alguma forma, sua postura me derrubou. Ela estava certa. Era como eu via aquelas meninas. Normalmente apenas troféus para os pais exibirem e se gabarem. Muitos nem se dignavam a viajar até a cidade de Esperança — a cidade vizinha onde, no interior, funcionava a escola — para verem suas filhas. Muitos as deixavam lá nas férias para não perderem um momento adulto na Europa.

São apenas crianças...

Estou tão congelado que quase não percebo duas linhas claras deslizando por sua face. Lágrimas. Lágrimas silenciosas de um coração claramente partido.

Ela ergue a mão e seca o rosto. É um escudo que costuma usar para tentar usar uma imagem mais madura. Jamais chorar na minha frente, mesmo que tenha chorado muito naqueles anos todos.

— Tudo bem, Simone. Quero dizer, eu entendo sua posição.Você era muito apegada ao seu pai e sei que quer seguir seus passos...

— Não — ela interrompe, a voz surpreendentemente forte. — Não tem nada a ver com meu pai. Eu quero seguir meus objetivos e alcançá-los. Eu quero lutar por eles. Isso sim honraria a memória de meu pai e o deixaria orgulhoso.

— Você já o deixa orgulhoso — digo a ela — Ele sempre se orgulhou de você, Simone. Não houve um único momento de sua vida quando ele não esteve orgulhoso de você.

Ela pega um guardanapo da mesa, enxuga os olhos e assoa o nariz. Suas próximas palavras saem soando aterradas, confiantes.

— Eu quero fazer isso. Se você não quer me ajudar, Leonardo, eu vou aceitar. Mas, por favor, não tente me impedir ou me prejudicar.

Simone é determinada. E eu sei que ela lutará até o fim para entrar no Instituto.

Vou escrever uma recomendação para ela. Ela provou, com suas palavras, que a merece.

— Eu vou ajudar você, Simone. Eu vou. Eu farei tudo o que puder para ajudá-la.

Simone salta de seu assento e vai ao meu colo, me abraçando forte.
Meu rosto está no pescoço dela. Seu cheiro é inebriante. Mas eu não quero perder esse momento.

— Apenas, por favor, não me faça arrepender-me.

Simone funga e acena com entusiasmo.

— Deixa comigo.

 

 


Capítulo Sete

Simone


A quilo estava saindo melhor do que eu planejava.

Para começar, Leonardo não me pegou do meu apartamento como um cavalheiro faria. Depois, ele aparece no restaurante antes de mim e nem sequer me espera para pedir sua comida. O restaurante era um ambiente familiar. Então, eu me preparei para um fora, mas de súbito ele mudou o tom e decidiu me ajudar.

— Hum — ele murmura, enquanto eu volto para minha cadeira e ele busca o copo com suco de laranja. — Você sempre consegue tudo que quer de mim, não é?

Ele nem imaginava o quanto estava errado?

— O que quer dizer?

— Bem, nesses anos todos você sempre apareceu na minha porta. E em todas as vezes era para pedir algo.

Eu tinha que ter um motivo. Por isso eu inventava falta de grana ou que o carro – que eu pegava escondido, pois não tinha habilitação – fazia um barulho estranho. Céus, ele não percebia o que eu precisava vê-lo, mesmo que pouco?

Mas, pelo seu tom, eu percebo que nem sempre meus pedidos foram bem aceitos. Não há dúvida de que ele sente que houve muitas vezes em que entrei em sua vida apenas para pedir a ele algo que eu precisava e não porque eu me importava com o que ele estava fazendo.

Mas eu me importei. Eu sabia que ele estava chateado comigo. E percebi que ele não iria querer falar comigo a menos que eu tivesse uma boa razão para vê-lo. Na minha pressa de ficar perto dele, nunca me ocorreu que meus esforços parecessem egoístas.

Mentalmente faço um balanço. Apesar de tudo, Leonardo concordou em me ajudar e isso significava que eu havia tido sucesso com aquele jantar, já que havia conseguido o que queria.

— Leonardo, tem algo que há muito tempo eu quero falar para você...

Seu corpo se move para trás.

— Eu queria falar sobre o beijo.

— Por quê? Isso foi há muito tempo.

— Eu sei. Mas há algo que eu preciso dizer.

Sinto meu coração transbordar no peito e uma emoção explodir no meu âmago. É algo que eu jamais disse em voz alta antes.

— Eu realmente gostei do seu beijo.

Sentado à minha frente, continuo a encará-lo enquanto ele olha para o vazio como se estivesse mastigando minha confissão. Seu perfil é uma visão incrível, que mandíbula forte e boca perfeita!

— Eu só fiquei com medo de que alguém nos visse, eu estava namorando também... Enfim, não sei porque, fiquei tão nervosa que comecei a rir. E queria dizer isso: Eu sinto muito por ter rido. Eu não deveria, mas eu não sabia como reagir. Contudo, toda vez que eu penso naquele dia, eu me martirizo por ter rido.

A pele de Leonardo parece mais pálida que o normal. Seus olhos estão um pouco arregalados e ele está tão rígido que seu silêncio despertou meus nervos.

Por Deus, apenas diga algo. Qualquer coisa. Diga-me que você me quer. Eu te imploro...

De súbito, ele pisca.

— Obrigado por me dizer isso. Eu realmente aprecio o pedido de desculpas. Eu estaria mentindo se dissesse que não me chateou que você riu na minha cara.

— Isso fez você me odiar?

— Eu nunca te odiei, Simone. Eu não acho que eu possa te odiar.

Eu aceno com a cabeça e nós dois ficamos num silêncio desconfortável, mas tolerável. Eu não tenho muito apetite depois de passar por todo esse tumulto emocional.

— Obrigada, Leonardo.

Eu me levanto, mas antes que eu possa me despedir dele, uma de suas mãos alcança meu braço.

— Ei, antes de eu te dar a carta de recomendação, você poderia me mostrar um pouco sobre o que sabe? Que tal me preparar um material?

Eu aceno com a cabeça triunfantemente, animada por ter planos de vê-lo novamente.

— Que tal amanhã? — indago.

— Ótimo. Vou ver na minha agenda quando terei um horário livre e te aviso. — Ele olha para os lados. — Você não quer ficar e comer algo?

— Não. Eu sei que você me convidou para um jantar, mas eu estava realmente esperando apenas conversar.

A caminhada da mesa de volta ao carro pareceu eterna. O que eu estou fazendo? Eu podia sentir os olhos de Leonardo queimando na parte de trás da minha cabeça. Ou bunda.

Nada disso parece real. Isso parece algum tipo de sonho. Pesadelo, talvez, se eu simplesmente deixei minha chance de envolver as pernas em torno de Leonardo.

Eu entro no meu carro e respiro fundo para compensar a falta de respiração adequada durante toda a minha caminhada pelo estacionamento.

Eu poderia considerar este jantar uma conquista?

Por um lado, tenho a bênção e a ajuda prática de Leonardo para alcançar meu objetivo. Por outro lado, não sei onde Leonardo e eu estamos.

Estava esperando que ele me dissesse como ele se sente sobre mim depois que eu confessei que gostei da nossa brincadeira de cinco segundos no passado. Em vez disso, ele ignorou. E eu permiti que ele mudasse de assunto em vez de aprofundar mais nas questões amorosas.

Ele afirma que consigo o que quero, mas essa noite eu só quero algumas malditas respostas.

Ele ainda pensa em mim sexualmente? Ou sentir seu olhar sobre mim foi apenas uma impressão?

Quando insiro as chaves na ignição, vejo Leonardo saindo do restaurante e entrando no carro. Eu poderia ir confrontá-lo agora e obter algumas respostas. Só para não ter que gastar outro segundo me perguntando se há ou não alguma chance de ele me querer romanticamente. Mas eu gasto muito tempo pesando minhas opções e fico vendo ele sair dirigindo.

Calma Simone... Irá vê-lo amanhã.

E amanhã terei respostas.

 

 

Capítulo Oito

Leo


C onsultando minha agenda eu percebi que teria um dia muito atarefado. Às sete e meia teria uma reunião com professores, depois passaria o dia verificando o orçamento do mês, tinha algumas reuniões com alunos, e a noite iria ocorrer uma apresentação do coral das meninas de Rockemback.

Meu único horário livre era ao acordar. Informei isso a Simone pelo telefone, e sua mensagem de “ Ok, te vejo as 6 ” chegou logo em seguida.

6:05 e nenhum sinal de Simone. Nem um único texto ou telefonema.
Ela provavelmente ainda está dormindo. Lembro-me perfeitamente do inferno que era fazê-la acordar cedo para ir a escola. Nos finais de semana, ela dormia até próximo do meio-dia. Ao que parecia, apesar de ter crescido, ela continuava naquele ritmo de quem não tem compromisso.

Deixando de lado a esperada decepção com Simone, coloquei meus fones de ouvido e comecei a corrigir algumas avaliações que estava fazendo de determinados professores.

Mal começo a segunda página quando o interfone tocou.

— Desculpe, estou atrasada. Meu alarme não soou, cheguei o mais rápido possível.

Sua voz sem nenhum traço de sonolência. Apesar de eu não suportar atrasos, por menores que sejam, eu apenas aceno e a deixo entrar. Pouco depois, ela já está na minha porta. Nas mãos, cadernos para anotações e livros, no olhar uma expectativa que eu não vejo a anos.

Claro, é novo para ela...

Ensinar é um dom, e se Simone o tem, vai querer aproveitá-lo ao máximo.

— Desculpe — ela repetiu, agora encarando-me.

— Tudo bem, acontece. Entre. Vamos começar!

Normalmente, estou tomando uma xícara de café naquele instante, mas dessa vez minha mesa está cheia de papeis. Recolho alguns e me sento à mesa, num mudo convite para que ela faça o mesmo.

— Então... O que teria para me mostrar? — questiono.

Ela respirou fundo e começou a espalhar seus livros e anotações diante de mim.

— Bem — começou —, então...

— O que preparou?

— Eu não tive muito tempo — ela disse rápido —, mas pensei que a melhor maneira de apresentar algo era estudar melhor o método usado pelo Instituto.

Fiquei muito surpreso. Não imaginava que ela tinha o raciocínio tão rápido. Foi exatamente o que eu fiz quando tentei a vaga. Enquanto todos tentavam se mostrar superiores e bons para o cargo de professor, eu tentei mostrar o quanto eu poderia me encaixar naquela posição, seguindo o padrão já vitorioso da Rockemback.

— Certo.

— O Instituto usa o método Montessoriano para educar — ela começou. — Passei boa parte da noite estudando sobre essa forma de ensinar, que — ela puxou um papel e leu — “ressalta a importância dos alunos desenvolveram a iniciativa e independência em seu processo de aprendizagem”.

— E para isso a gente faz o quê? — questionei.

— Esse método só funciona se a escola está bem equipada e preparada, e os professores tem boa formação, pois terão que guiar os alunos na aprendizagem sem fugir da BNCC.

Sorri. Ela já chamava a Base Nacional Curricular Comum pela sigla, como boa parte de nós.

— E, diante disso, você tem alguma coisa para me mostrar?

Não dava para fingir não perceber seu olhar abatido.

— Eu ainda não tive tempo de preparar algo. Quero dizer, eu estudei bastante o método, a importância da escola estar atraente e bem equipada, da liberdade com limites, e todo o resto, mas... nós nos vimos ontem à noite...

Simone quer ser professora, mas ainda não consegue pensar como uma. Ela tem objetivos, objetivos dignos. E ela os persegue intensamente - mas não de maneira prática. Ela parece ter decidido se tornar membro da Rockemback sem levar em consideração o trabalho que ela teria para tal.

— Não há como você entrar se não estiver preparada, Simone. Quando você tiver uma dúzia de crianças para atender ou quando precisar auxiliar a professora responsável, não terá tempo de pensar na questão. Terá que ter métodos de ensino automáticos na mente para as diferentes personalidades que enfrentará. É importante salientar que o método Montessoriano respeita a individualidade de cada criança, então o que serve para uma, não serve para outra.

Para minha surpresa, minhas palavras não a abatem.

— Eu sei. Como estou tentando buscar a vaga para a classe infantil, já andei pesquisando sobre materiais como as letras de lixa na internet.

Desta vez, eu fiquei impressionado de forma positiva. Na meia hora seguinte, Simone me mostrou suas anotações e o quanto ela poderia ter jeito com crianças.

Eu gostei muito do que vi. Assim, quando finalizamos, eu ofereci um café.

— E nada para comer? — ela brincou. Sabia que eu nunca me alimentava de manhã.

— Tenho pão, se você quiser um sanduíche.

Ela riu. Aquele riso gentil e bonito que faz meu coração disparar.

— Você percebe que o café da manhã é a refeição mais importante do dia, certo? Você tem que comer mais do que açúcar e cafeína. Você precisa de frutas, pães, laticíneos...

Eu sabia por experiência que ela também não era fã do café da manhã.

— E você, come tudo isso?

— Tem uma padaria do lado do meu apartamento. Eu costumo comer torta de chocolate — ela riu.

Não sei bem porque, não achei engraçado.

— Sabia que pode ficar doente? Você sempre gostou de porcarias — retruco. — Ao menos almoça e janta algo decente?

— Hambúrguer é decente?

— Ok, Simone. Assim que der, vamos fazer algumas compras. Você precisa de alimento real. Você precisa de comida que lhe dê combustível suficiente para atender crianças. Na Rockemback tem o refeitório com alimentação saudável, mas também precisa estar bem em casa.

— Vou precisar fazer dieta? — ela indagou.

— Não vou mentir. A boa aparência – e boa forma – sempre impressiona de alguma maneira o Conselho. Infelizmente vivemos num mundo bastante...

— Superficial?

— Não vou negar. É exatamente isso. Cascas belas, mesmo que vazias, costumam impressionar positivamente. Se você demonstrar preocupação com sua aparência, eles vão achar que também se preocupará com a das crianças. Agora, com dezoito anos, seu metabolismo está acelerado. Mas, não será assim para sempre. Você precisa se cuidar.

— Gostaria menos de mim se eu fosse gordinha? — ela brinca.

Céus, eu gostaria dela com qualquer tamanho. Esse tipo de coisa nunca me importou. Mulheres costumam ser pérolas preciosas, e você não se importa com o tamanho da joia que encontrou. Basta ser verdadeira, e é suficiente.

— Estou falando sério — dou uma resposta atravessada.

Enfim, ela respira fundo e devolve:

— Eu farei qualquer coisa que eu precise fazer.

É bom vê-la tão focada e determinada. É uma mudança nova e bem-vinda para a Simone que conheço.

 

Capítulo Nove

Simone

 

L eonardo e eu combinamos de fazermos exercícios de manhã. Assim, nós nos víamos todos os dias as seis horas, caminhávamos algumas quadras, e depois tomavámos um café elaborado juntos, antes de cada um ir para seus afazeres.

Era uma maneira de obtermos as vantagens da saúde e também uma forma de trocarmos informações sobre o Instituto.

Ele me deu a carta de recomendação, e eu estava aguardando a reunião do Conselho para ser chamada para uma entrevista.

Leonardo queria me manter motivada, e provavelmente mal imaginava que eu aceitei tudo aquilo porque estar perto dele todos os dias era como um sonho sendo realizado.

O único porém é que o sonho era as seis da manhã, fizesse frio ou calor, chuva ou sol. E isso era um porre, um saco. Era um inferno, eu odiava acordar cedo. Mas, também era um céu, porque vê-lo fazia todo meu corpo entrar num enorme estado de contentamento.

Fora isso, manter uma dieta saudável foi muito mais difícil do que eu esperava. Jamais pensei que comer de manhã era tão ruim, e que comer pouco à noite, pior ainda. De manhã não tinha fome. A noite, eu queria devorar a geladeira. E ainda tinha que evitar as porcarias, que eram as coisas que eu mais adorava no mundo inteiro.

Mas perseverei, não só com a dieta, mas também com meus treinos matinais com Leonardo.

Por quê? Ora, impressioná-lo e conseguir o emprego. Duas coisas que se faziam mais importantes que todo o resto.

Eu sei que isso pode dar a impressão do quanto sou frívola, mas você já gostou tanto de alguém que todo o resto parece ter perdido a importância? Eu nunca me senti dessa forma com outra pessoa. Era apenas Leonardo que me despertava assim, e tudo que eu queria era uma chance de ficar perto dele.

Para minha surpresa, quanto mais próxima eu ficava, mais eu entendia que lutava pelo trabalho certo. De repente, me tornar professora passou também a fazer parte dos meus sonhos.

A vida não era apenas Leonardo. Apesar de ele ser fundamental em cada detalhe do meu futuro.

***

 

Leonardo decidiu que já estava na hora de começarmos a correr numa manhã sem prévio aviso. Caminhávamos normalmente, quando de súbito eu o vi avançando em velocidade na minha frente, gargalhando enquanto me via ficar para atrás.

— Quem chegar no parque por último é a mulher do padre — ele gritou.

E aquilo era tão infantil, mas me fez rir tanto, que logo me vi correndo em sua direção, dando tudo de mim para ultrapassá-lo.

Não consegui. Quando cheguei ao parque, não tinha mais fôlego e caí sobre o tapete verdejante como um pano maltrapilho.

— O que foi? — Leo indagou, aproximando-se.

— Câimbras.

Ele se ajoelhou perto de mim. Podia sentir seu cheiro molhado e aquilo me despertou. Eu sentia falta do toque que só havia ocorrido uma única vez.

Para meu deleite, Leonardo apertou minhas coxas e começou a massageá-las. Fui pega de surpresa, mas tinha certeza que não queria que ele percebesse.

Estava deitada de costas enquanto ele levantava meus joelhos.

Oh céus! Eu não sei como reagir, então olho para o céu azul acima de nós enquanto ele abre minhas pernas para massagear adequadamente os músculos da parte interna das minhas coxas. A dor já passou há muito tempo, estou focada apenas no prazer gerado pelas mãos masculinas dele cavando na minha pele escorregadia, perigosamente perto da minha feminilidade.

Levanto a cabeça e o vejo morder o lábio enquanto ele esfrega minhas pernas. Não só isso, ele usa um sorriso astuto que parece mostrar que está se divertindo, talvez mais do que eu. Eu finalmente permito que meus olhos percorram seu largo peito. Eu vejo uma protuberância espessa levantar seus shorts, quase revelando a ponta de seu pênis.

— Ei, Leonardo — sussurro.

Nossos olhos finalmente se encontram e travam com uma intensidade inesperada.

— Podemos terminar isso na sua casa?

Seu sorriso malicioso se alarga.

Eu sei que ele não quer fazer isso, mas não pode evitar. Meus sentimentos são recompensados, eu sinto.

Leonardo acena e me ajuda a ficar de pé. Demos as mãos e voltamos silenciosamente na direção do seu prédio.


***

Eu posso sentir meu coração acelerado. E posso sentir seu pau ainda ereto pressionando contra a minha bunda.

Eu entrei no seu apartamento e senti seu abraço por trás. A porta fechou num estrondo, provavelmente empurrada pelo seu pé, enquanto suas mãos fincavam ao meu redor, pressionando-me contra ele, parecendo cientes de que enfim estávamos juntos.

— Desculpe — ele gagueja enquanto lentamente me libera de seu aperto.

Giro para encará-lo. Eu espero até pegar seus olhos atentos nos meus. Então eu retiro meu sutiã esportivo. Seus olhos nadam para cima e para baixo do meu corpo, sobrancelhas levantadas.

— Isso é errado — ele murmurou, meu coração doeu. — Eu te quero, mas é tão errado...

Por quê? Percebo seu olhar deixar o meu numa tentativa de fugir. Mas, dessa vez não deixarei.

Eu me afasto o suficiente para que ele me veja inteiramente. Dessa vez, tomo a dianteira, com uma coragem até então desconhecida. Desço as mãos, começo a brincar comigo mesmo, abrindo meus lábios num suspiro e lentamente passando os dedos por cima do tecido em meu centro feminino.

Ele olha por cima dos meus ombros como se estivesse preocupado, mas vejo o que seu corpo está fazendo. Seu pênis está curvando para cima, puxando seu short com ele. E é glorioso. Suave e poderoso. Pingando com pré-ejaculação. Sua mente pode estar em negação sobre me querer, mas seu pênis diz tudo. Ele está pronto.

Desde que ele está congelado em choque, eu faço o primeiro movimento. Ando para frente e me agacho para encontrar sua virilha no nível dos olhos, abaixo seu shorts e envolvo seu pênis com a minha boca. Sinto-me agradavelmente poderosa de cócoras diante dele com seu mastro dentro de mim, depois de anos de desejo.

Eu massageio seu membro maciço com as duas mãos levando-o para os meus lábios. Depois de deixá-lo perfeitamente lubrificado, coloco ambas as mãos na sua bunda e empurro-o para o meu rosto.

Seu comprimento desliza facilmente pela minha garganta. Eu continuo a chupar ativamente seu pênis. Sinto uma onda de prazer ao vê-lo inclinar a cabeça para trás com os olhos fechados, claramente saboreando a sensação da minha boca quente e molhada deslizando para cima e para baixo em seu eixo espesso.

A hesitação de Leonardo pareceu ter evaporado no segundo em que ele entrou em mim. Mas agora ele guia meu rosto para longe dele. Ele fica de joelhos e, sem dizer uma palavra, desliza os dedos dentro do meu short, em minha boceta escorregadia. O prazer corre através de mim na primeira sensação de penetração. Ele não está sendo gentil. Ele está usando muitos dedos para esticar minhas paredes apertadas.
Eu podia ouvir meus gemidos ecoarem pelas paredes enquanto o dedo de Leonardo me fode, pressionando-se profundamente em busca do meu ponto mais fundo. Logo, sou deitada para trás. Sinto meu shorts sendo arrancado e seu rosto direcionado para minha parte baixa. Sua língua grossa começa a correr para cima e para baixo na minha fenda.

Pouco depois, ele se ergue. Sinto sua força enquanto ele me leva junto com ele. Logo, sou colocada contra a parede mais próxima. Ele segura minhas pernas para cima com seus braços. Minha respiração começa a acelerar, sabendo do que estou a segundos de distância. Olhares quentes cruzam entre nós. Quando ele me invade, eu posso sentir seu batimento cardíaco vindo da ponta do seu pênis. Assim como eu acho que peguei tudo isso, ele desliza mais do pênis dele para mim. Parece interminável, me esticando mais do que seus dedos possivelmente poderiam.
Ele enterra o rosto no meu ouvido.

— Eu sempre sonhei com isso — confessa.

Meu corpo inteiro treme.

Céus, eu também Leo. Você não vê? Não sente?

Leonardo coloca as mãos na minha bunda e me fode contra a parede, gemendo alto com cada impulso esmagador em mim. Ele observa meus peitos saltando e grunhindo como um animal enquanto ele pega velocidade e força.

A dor de ser esticada dura segundos, mas é ultrapassada pelo prazer em cascata de senti-lo me usar como uma boneca. É tudo que eu queria desde que nos conhecemos, e saber que as pessoas achariam isso fora do comum torna tudo ainda mais emocionante.

Eu sinto um pequeno tremor toda vez que ele afunda dentro de mim, fazendo todo o meu corpo apertar em torno do seu pênis. Ele está indo rápido, mas de alguma forma mantendo um ritmo constante e sólido que garante que eu sinta cada golpe profundo. Mas não é apenas o martelar impiedoso que faz meu corpo reagir com tanta força. É o olhar dele. Morrendo de fome. Guloso.

Ele finalmente está se deliciando com o fruto proibido que sempre esteve fora de alcance.

Leonardo ruge. Ele agarra meus quadris e me puxa para baixo em seu pênis, selando nossos corpos juntos enquanto eu sinto carga após a carga de esperma sendo bombeada para o meu corpo. Eu giro meus quadris em um círculo apertado, certificando-me de torcer para fora cada última gota de seu gozo em mim. Ele faz uma tentativa de deslizar para fora de mim, mas eu tranco as minhas pernas em volta dele e evito que ele saia de mim.

Estou perto.

Sinto meu coração pular em batidas potentes. Uma onda de arrepios explode em todo o meu corpo enquanto aperto minha boceta mais forte do que nunca. Mesmo que ele acabasse de esvaziar suas bolas em mim, Leonardo chega ao clímax ainda mais do que eu.

Involuntariamente grito meu orgasmo. Leonardo cobre minha boca com a dele. Depois de algumas respirações, ele me deixa para baixo e rapidamente puxa seus shorts para cima. Ele me entrega minhas roupas com pressa e olha para os lados, como se uma culpa imensurável houvesse atingindo-o.

— O que foi? — indago.

— Isso...

— Isso o quê? — retruquei. — Foi maravilhoso.

— Pare. Não diga isso.

Tento discernir se o humor dele realmente mudou do louco por sexo para o arrependimento absoluto.

Ele se recusa a fazer contato visual comigo.

— Leonardo, o que está acontecendo? Não é algo que você está querendo desde sempre?

Ele suspira profundamente antes de se virar para mim e dizer:

— Olha, nós não deveríamos ter feito isso. Eu não me importo como foi bom. Não devíamos ter feito sexo, Simone.

Eu rapidamente puxo meu sutiã esportivo sobre a minha cabeça.

— Você está brincando comigo? Esse foi o melhor sexo que eu já tive e você está dizendo que não deveria ter acontecido? Por quê? Nós não somos parentes. E você queria isso, não é?

— Sim! — Ele grita, rapidamente se aproximando de mim. — Mas não é sobre o que eu quero, é sobre o que é certo. E como foder sua irmã é certo?

— Eu não sou sua irmã! Nem mesmo de consideração! Nossos pais se casaram até a morte. Papai está morto. Significa que eles não são mais casados. Sua mãe, embora seja querida para mim, não é mais minha madrasta. E você não é e nunca foi meu irmão!

Leonardo gagueja e tropeça em suas palavras, mas não consegue dar uma resposta adequada à minha declaração aparentemente racional. Estou ficando impaciente. Ele não me quer tanto quanto eu o quero?

— Eu quero estar com você, Leonardo — murmuro. — Você não percebe isso?

O rosto de Leonardo ainda está vermelho de sexo. Suas sobrancelhas se juntam. Eu posso vê-lo registrando minhas palavras e digerindo exatamente o que elas significam.

Ele continua a gaguejar, tentando chegar a uma resposta.

— Você não quer o trabalho na Rockemback?

— É claro que eu quero.

O que uma coisa tinha a ver com a outra?

— Isso não foi algo para conseguir minha aprovação?

— Está me chamando de puta?

— Céus, não! Estou meio que... espantado por me querer. Você acha que um relacionamento entre nós poderia realmente funcionar?

Eu pego suas mãos com as minhas e as pressiono no meu coração. Sua mandíbula forte se contrai quando nós fechamos os olhos.

— Eu quero tentar. Eu sempre quis tentar. Esse sempre foi meu sonho.

Um sorriso caloroso quebra sua fachada fria, alcançando todo o caminho até seus olhos. Leonardo dá um passo para perto de mim. Sua testa agora está clara e calma. Sua voz é pouco acima de um sussurro.

— Certo — ele me beija lentamente. — Eu também quero.

Essa deve ser a sensação de tocar o sol.

 

 

 


Capítulo Dez

Leo


S ó agora me sinto completo.
Durante toda a minha vida fui avassalado pelo peso da culpa e da amargura de um amor não correspondido. Agora, vivia algo completamente novo, uma experiência tão majestosa que ainda era difícil acreditar que realmente estivesse acontecendo.

Simone era minha... Ela me amava, assim como eu a amava...

Nossa rotina foi modificada após essa confissão. Após o trabalho, eu ia direto para casa, onde ela me esperava. Fazíamos sexo e depois jantávamos. Depois, mais sexo. Dormíamos unidos. Pela manhã, sexo novamente antes de eu ir trabalhar.

Meu humor melhorou consideravelmente ao ponto das professoras do Rockemback questionarem o que estava acontecendo.

Mas, mesmo não sendo um segredo, eu ainda queria manter minha vida com Simone longe das línguas felinas, especialmente porque, caso ela tivesse sorte, logo estaria no mesmo ambiente de trabalho que eu.

Numa manhã, véspera de feriado, recebi um texto da Simone.
“Vou cozinhar para você. Venha ao meu apartamento às 20:00”. E havia um emotion de coração no final.

Involuntariamente, eu gemi. Se tem algo que eu nunca disse sobre Simone, mas que vou explicitar agora, é o quanto ela cozinha mal. Feijão duro, arroz paçoquento, carne mal cozida, eram apenas alguns dos detalhes de quando ela era responsável pelo almoço na adolescência. Mesmo assim, eu sei que no nosso atual momento, recusar seu convite não era uma opção. Ora, sei que ela superou minhas expectativas de várias maneiras desde que nos reconectamos. Mas tenho a sensação de que deveria me preparar para uma tremenda dor de barriga.
Bom, independentemente de quão ruim ou, o mais provável, absolutamente intragável, a comida será, eu simplesmente não me importo. Estou simplesmente feliz por estar passando outro dia com essa mulher.

Eu devia ser o cara mais sortudo do universo.

No geral, minha vida mudou significativamente desde que começamos a nos ver romanticamente. Na moral, eu devia escrever um livro de auto-ajuda sobre como sexo com paixão e amor muda sua vida por completo.

Por causa de Simone, eu tenho acordado com um sorriso no rosto. Por causa dela, eu vou dormir do mesmo jeito. E é assim, ela é meu pensamento ao acordar, o último que me cerca quando vou deitar. Simone está me consumindo, e eu estou adorando.
Mesmo agora, enquanto subo os degraus até o prédio dela, me vejo sonhando acordado com a bunda dela, seus seios empinados e grandes, sua pele de cetim, e sua voz gentil.

Seguro uma garrafa de vinho tinto para acompanhar a refeição. Na mão livre, mantenho meu telefone, relendo o texto que ela me mandou quando teve certeza de que eu estava a caminho.
“ Ótimo. Estou pronta para você... ”.

Bati na porta. Instantaneamente, ela se abre e tenho a visão adorável de Simone, num avental que consegue ser a roupa mais quente que eu já vi ela usar. Só depois de um segundo eu também noto que ela está segurando uma grande colher de pau.

— Entre — ela diz, mexendo os dedos para mim, convidativamente, enquanto também se inclina para a frente, os olhos colados em mim, a língua molhada sedutoramente lambe a colher.

Deixo escapar um ruído que só posso descrever como uma risada de surpresa. Ela está fazendo um pornô bobo e eu estou adorando.
Em tudo, ela me surpreende. Eu olho para a mesa bem arrumada e percebo que ela está me deixando com muita fome.

— Sinta-se em casa — ela sugere, com voz rouca.

De súbito, está atrás de mim. Suas mãos me ajudam a tirar o casaco. Imagino que ficaria apenas nisso, quando seus dedos macios descem mais para baixo.

— Você me quer nu? — brinco.

— Sempre.

Eu sinto chamas de calor subindo pelo meu corpo.

 

***

Coloco minha mão em seu estômago, empurrando-a delicadamente para que suas costas fiquem encostadas no tapete. Ela me observa se debruçar sobre seu corpo, deixando um rastro de beijos em seu torso, em sua barriga, seus quadris. Ela abre as pernas para mim, descansando os pés nas minhas costas. Puxa-me com eles. Meu pau está contra suas dobras quando coloco minhas mãos em ambos os lados dela para me estabilizar. Simone se agarra aos meus quadris, as mãos correndo sobre a minha bunda, enquanto eu empurro meu corpo ainda mais para frente, minha ponta roçando seu núcleo.
Sinto suas unhas cavando em minhas costas quando eu lentamente a penetro até que esteja bem fundo. Eu puxo meu pau para fora quase todo o caminho devagar e volto em tão lentamente, para prepará-la para a surra que ela está prestes a receber.

Depois de algumas investidas suaves, olho nos olhos de Simone e começo a entrar nela com mais força. O impacto da nossa pele batendo um no outro enche o apartamento, fazendo-a gemer em êxtase. Agora, é hora de cumprir seus desejos e transar com ela mais do que nunca.

Meu pau desliza para fora dela sem aviso, e enquanto ela está momentaneamente perplexa com essa mudança, eu viro Simone. Seguro seus pulsos e dou uma longa lambida em sua nuca enquanto meu pênis afunda entre suas nádegas e de volta para dentro do calor de sua vagina. Suas pernas se apertam firmemente cada vez que meu pau se afunda mais nela, cada vez mais duro e mais forte que a anterior.

— Sim! — Ela grita quase delirantemente.

Eu ouço sua respiração se tornando difícil enquanto continuo transando com ela, ouvindo-a ofegar por ar toda vez que a base do meu pau é pressionada contra seus lábios genitais. Eu me inclino para frente para gemer em seu ouvido, dizendo a ela quão bom me faz sua pequena e apertada boceta ao redor do meu pau.

Todo o ar no apartamento é preenchido com o tapa ressonante dela contra a minha pélvis. Seu corpo inteiro parece direcionado para meu pau, perdido na minha selvageria. Sinto-me perto de terminar e, instintivamente, inclino-me mais perto dela.

— Está vindo — aviso.

Um suspiro chocado escapa de seus lábios quando ela sente meu pau empurrar dentro dela jatos quentes de esperma.

Me afasto lentamente para trás e vejo a minha semente leitosa pingar de sua fenda no chão da sala de estar. Ela ri enquanto tenta se manter firme, ainda trêmula.

 

 


Capítulo Onze

Simone


E u esperava qualquer coisa naquela manhã de feriado. Após uma noite fenomenal com Leo, um jantar gostoso, um filme romântico e uma noite de sono deliciosa, acreditei que teria um dia incrível. Mas, a campainha tocou logo cedo e dei de cara com Herda na minha porta.

Ela não era de fazer visitas, parecia ter escolhido aquela manhã para ir me ver. Não pensou em flagrar o filho sentado na minha cozinha, tomando café.

Não disse uma única palavra, enquanto meus olhos e os de Leonardo se arregalavam diante de sua direta negativa. Volveu-se e foi embora.

— O que vamos fazer? — eu questionei a ele, que parecia tão perdido quanto eu.

Éramos adultos, por que tanta culpa?

Nos dois meses que se seguiram, ele tentou desesperadamente ligar para Herda. Mas ela não atendeu nenhuma vez. Então, ameaçou chamar a polícia, para saber se ela estava ou não bem. Ela respondeu secamente: “Não há necessidade. Estou bem”. E só.

Leonardo não estava tão petrificado quanto eu. O que me intrigou, porque ela era sua mãe e tudo mais. Ele balançou a cabeça com a minha insistência de que ela nos odiava para sempre.

— Ela deve estar apenas processando a informação de que estamos juntos — disse.

Mas eu sabia que ele não tinha certeza. Poderia dizer pelo jeito que suas mãos fortes se mexiam sempre que falávamos sobre ela.

Assim, tentamos seguir em frente. A culpa estava lá, afogada entre nós, mesmo que não conseguíssemos achar uma razão para ela. Mas, o desejo também se mesclava a todo sentimento, forte, potente, não deixando espaço para nada.

Numa manhã, antes de ele ir para Rockemback, fui até seu banho. Deslizando para dentro do chuveiro atrás dele, esfreguei meus mamilos escorregadios contra suas costas enquanto tomei seu eixo na minha mão.

É tão fácil entre nós.
Mas, ele me para. Existe uma dor que não sei explicar. Então, apenas me mantenho abraçada nele e ficamos assim por um tempo.

Ele me ama. Eu sei. Eu sinto. Mas, também tenho medo.

***

Minha entrevista com o Conselho do Instituto foi perturbadora e preocupante. Eu não era a candidata mais preparada, mas estava disposta a me entregar àquele trabalho, e deixei isso claro.

— Seu pai era um grande educador — um dos homens comentou. — Pedro defendia nosso método de ensino.

— Sim, eu sei — respondi, com orgulho. — Meu pai me educou da mesma forma. Penso em aproveitar minhas experiências aqui.

Era mentira. Meu pai só tinha tempo para Herda. Ele nunca sequer sentou ao meu lado enquanto eu fazia a lição. Eu o amava, e ele era um bom pai, dentro do possível. Mas, era um ser humano com erros, e isso também não negava.

Pedro era um grande profissional, um dos maiores mestres do país. Mas, limitava sua profissão ao trabalho, não compartilhando nada conosco em casa.

Todavia, minha frase pareceu animá-los.

— Vamos discutir sua indicação, senhorita — outro homem antecipou. — E assim que tivermos uma resposta, será comunicada.

***

Na mão de Leonardo o envelope parecia brilhar. O selo antigo e de cera do Instituto não estava rompido, então sabia que ele não havia aberto a correspondência.

— Já sabe a resposta?

— Meu trabalho não envolve contratar novos auxiliares — apontou. — Estou nervoso também, porque não sei a resposta.

Eu respirei fundo, acenando.

— Simone, independente da resposta, eu tenho orgulho de você. De como se preparou para entrar na Rockemback, de como mudou seus hábitos, sua forma de agir...

Fiz tudo por ele. E agora sabia que não era apenas por ele. Eu era mais que a menina apaixonada, eu era também uma mulher em busca do meu dom.
Ele me entregou a carta e esfregou as mãos grossas ao longo do corpo, incapaz de conter sua antecipação.
Segurei o envelope. Meus dedos apertam enquanto leio “Academia para Meninas da Rockemback Estudos” no selo.

— Simone, você está bem?

Tirando o meu olhar da carta não aberta para Leonardo, dou um suspiro profundo e compartilho um olhar esperançoso com ele.

— Medo — murmuro. — Mas, enfim... vamos lá.

Cuidadosamente, rompo o selo e deslizo a folha cor de marfim para fora do envelope.

Leonardo coloca suas mãos reconfortantes no meu rosto. Sua expressão permanece firme.

— Não importa o que diz, você é maravilhosa. Se não conseguir agora, conseguirá no futuro. Você tem um grande futuro pela frente — assegura.

Eu aceno com a cabeça, de alguma forma conseguindo ficar parada enquanto uma avalanche de emoções diferentes me atravessa de uma só vez. Medo de falhar. Esperança. Excitação. Medo de sucesso. Náusea. Incerteza.
A carta está aberta. Todas essas emoções surgem em uma coluna gigante de sentimento que atinge o céu.

Senhorita Simone Borges. Em nome do Conselho de Admissão e da Administração, é nosso imenso prazer informar-lhe...

Antes mesmo que eu termine de ler a primeira frase, Leonardo se agacha nas pontas dos pés e sobe como um tigre. Ele salta para cima, envolvendo seus braços sob seus ombros, levantando-me alto, berrando de triunfo, beijando meu rosto repetidamente.

— Você conseguiu, Simone! Você conseguiu!

Mesmo neste pico emocional, o destaque da minha jovem vida, as palavras de Leonardo atravessam-me, tornando o meu sorriso ainda mais brilhante.

— Eu não poderia ter feito isso sem você, Leonardo. Você me ajudou quando eu realmente precisei de você e...

Eu mal consigo respirar pela montanha de emoção que tenho por ele. Minha mão percorre sua bochecha até a clavícula e repousa sobre o coração dele.

— Eu não tenho as palavras para expressar tudo que sinto — afirmo.

Ele lambe os lábios e se afasta um pouco. Parece mais sério agora.

— Simone, existe algo que eu preciso te dizer, mas só queria tocar no assunto depois da certeza de que você entrou.

— Sim?

— Temos que falar sobre o que está acontecendo entre nós...

Instantaneamente, toda a excitação sai do meu corpo. Tudo trava. Existe curiosidade e medo.

— O que foi, você cansou de mim?

Ele ri da frase, mas eu sei que está diferente. Desde que sua mãe nos flagrou, está diferente.

Leonardo passa a mão no cabelo. Ele está nervoso e tanto quanto eu sinto isso, mais apreensiva eu fico.

— Querida, não pense besteiras. Não se trata disso. É que agora, Simone, você estará sobre minha supervisão. De alguma forma, serei seu chefe...

— Não era essa a intenção?

— Sim, claro. Mas, a Rockemback tem regulamentos. Um desses regulamentos é muito específico. É sobre relacionamentos entre funcionários.

Ele está assistindo a minha reação enquanto continua.

— Se vamos sermos vistos juntos em um ambiente onde ambos temos que agir profissionalmente, seria melhor se agíssemos como se não estivéssemos envolvidos de alguma forma. Então, seríamos apenas duas pessoas no mesmo lugar. Nada mais.

Eu o vejo apertar todos os seus músculos para se preparar para a minha réplica. É difícil pensar em algo para dizer enquanto registro exatamente o que ele está sugerindo.

Existem tantas coisas imaturas em mim. Pensamentos como “ ele tem vergonha de nós? ” parecem ter algum sentido, mesmo ciente de que Leonardo está apenas sendo adulto.

— Olha, antes de você ter alguma ideia, não é porque eu não quero ser visto como um casal com você. É contra as regras para alguém em uma posição de poder como eu estar namorando uma professora ou uma auxiliar. Simone, por favor entenda que não quero colocar meu trabalho em risco para estar com você. Mas, igualmente, não quero colocar meu relacionamento com você em perigo para continuar fazendo meu trabalho. Eu acho que pelo menos por enquanto, até acharmos outra solução, nós deveríamos manter nosso relacionamento em segredo.

Seus olhos procuram os meus por compreensão.

— Você entende? — insiste.

Eu entendo que me sujeitaria a qualquer coisa por ele, então apenas aceno.

— Desculpe, Simone — ele pede, não sei exatamente por quê.

Leonardo respira fundo, como se estivesse ganhando força.

— Nos primeiros meses da admissão você terá que ficar nos dormitórios da Rockemback. Você sabe, a instituição é um internato, e normalmente auxiliares moram lá nos primeiros meses para entrarem na rotina. Depois, ficará apenas um ou dois dias na semana. Assim, enquanto estiver lá, nós não nos veremos como casal. Mas, tão logo esse período passe, as coisas vão se normalizar.

Ele permanece me encarando, mas não consigo ter uma reação.

— Estarei sempre por perto, Simone.

Só então minha alma parece voltar ao meu corpo. Tê-lo por perto é tudo que preciso. Embora não seja a melhor situação, se eu não concordar com esses termos, eu estaria colocando um obstáculo para meu objetivo; o único objetivo que eu já tive, além de descobrir as maravilhas da vida ao lado de Leonardo.

Sem trocar mais uma palavra, ele me leva ao seu quarto. Ele tira sua camisa, rápido, puxando-a sobre a cabeça enquanto eu tiro minha roupa, saboreando a dureza de seu abdômen musculoso, mãos leves ao redor de sua cintura, deixando meus polegares traçarem abaixo de seu umbigo para sua virilha esculpida.

Inflamado, ele tenta me empurrar para baixo, mas eu agarro em seus ombros, e sua força para frente nos manda para a cama. Eu rolo em cima de Leonardo, pressionando minhas coxas no colchão e segurando as mãos dele com as minhas.

Inclino perto o suficiente para beijá-lo, mas propositadamente retenho essa liberação. Ele está carregado. Querendo. E eu vou dar. Vai ser do meu jeito.

O pênis de Leonardo é enorme. Mas eu não tenho tempo para verificar o quão molhada estou agora. Com ele, sempre estou. Eu não tenho tempo para as preliminares também. Eu preciso dele em mim. Agora.

Deixando uma onda natural balançar através da parte inferior do meu corpo, eu monto seu pau duro, crescendo em apreciação e perícia com cada movimento dos meus quadris. Eu posso ser inexperiente nesta posição, mas pela visão deslumbrante de seu corpo tenso, eu sei que estou compensando qualquer lacuna no conhecimento com entusiasmo cru.
Em pouco tempo, Leonardo está começando a gemer e atiçar sua virilha contra a minha, atirando seu pau em mim o mais longe que consegue.

— Eu te amo — digo a ele, deixando meu corpo seguir o ritmo de suas investidas.

A resposta vem num sussurro que acalma meu coração.

— Eu também.

***

A rotina seguia-se assim: Às 5:00 da manhã, sou obrigada a acordar. Preciso compartilhar um dormitório com outras duas colegas que são mais velhas e mais mau humoradas de manhã do que eu. Depois, tomar banho, me vestir, tomar o café da manhã e, por fim, preparar a sala de aula para a inspeção às 7h, feita pela professora Suely. As aulas em si começam as 07:30, onde meninas sonolentas trombam contra mesas, preparando-se para o dia de estudos.

E é assim. Todos os dias. Mesmo aos domingos, pois o Instituto – que é Católico – tem missa às 09 horas, e as auxiliares precisam cuidar para que todas as crianças estejam preparadas para o culto religioso em tal horário.

Estou aqui há duas semanas. Nos próximos seis meses, é minha tarefa lidar com esse novo estilo de vida. E dominar esse novo estilo de vida.
E tudo tem sido um verdadeiro desafio. A parte mais difícil foi desistir do meu telefone e ser afastada do mundo exterior.
Mas eu vejo Leonardo todos os dias, então vou dormir todas as noites me sentindo vitoriosa. Eu consegui exatamente o que eu sempre quis. Eu sou muito sortuda.

Mas nem tudo é sorte ou felicidade. Suely é exatamente o antagônico da professora doce que eu imaginava que seria. Sim, ela é linda, loira, alta, parece a professora Helena da novela Carrossel. Mas, igualmente, insuportável. Parece fazer de propósito, ansiosa por me ver falhar.

Ou talvez simplesmente meu santo não bateu com o dela. Francamente, sua voz é incrivelmente irritante. Todas as suas frases terminam com um ponto de interrogação. É como se ela duvidasse de mim ou das alunas o tempo todo.

Mas, eu preciso passar por isso. Depois, posso tentar uma mudança de classe ou, ao me formar, posso conseguir uma classe apenas para mim. Sim, ainda vou a faculdade à noite, e estou focada nos estudos.

Preciso aguentar esses dias mesmo que pareçam um calvário. Numa das tardes, após as aulas, eu a ajudava a recolher os materiais, quando um assunto estranho surgiu entre nós.

— Leonardo lhe deu uma carta de recomendação, não é? — ela comentou. — Deve ser bom ser da família dele. Francamente, ele é tão charmoso... — ela suspirou. — Como sua irmã, o que você acha que ele pensa de mim?

Aquela indagação caiu como uma bomba sobre mim?

— Como assim?

— Não sei. Ele parece gostar de mim — ela sugeriu.

Alguma coisa explodiu no meu estômago. Mas, consegui segurar isso e manter o rosto sereno.

— O que faz você pensar que ele gosta de você?

Suely ri, sem perceber minha fúria incontida na voz. Ciúmes fervilhando em minha alma.

— Namorar o diretor é algo que toda professora quer. Ainda mais alguém como Leonardo, tão... — aproximasse e fala baixo: — gostoso. Céus, ele é uma delícia, não? Estou plantando a semente, jogando um pouco de charme aqui, outro ali... espero que a gente possa sair.

— É contra as regras — é tudo que eu consigo pensar.

— Se a coisa for séria, não seria nada mal em me tornar a mulher do diretor, hem? — ela me deu uma piscadela, tentando ser simpática.

Não conseguiu.

***

Eu entendo que temos que agir como se não tivéssemos nenhuma relação um com o outro, mas a relação que estávamos começando a cultivar parece estar sendo pisoteada como uma erva daninha naquele tempo na Escola. Nós dois temos que ser estranhos por mais seis meses, e eu não sei o quão bem eu aguento tanto tempo colocando uma fachada nos meus sentimentos.
Meu medo é que cresça uma distância entre nós. E que essa distância seja preenchida por uma mulher como Suely.

Assim, eu resolvi agir. O desespero me contaminou, e eu precisava retificar minha posição naquela situação. Eu sabia que Leonardo não iria embora antes das 19 horas, então esperei sua secretária sair e invadi seu escritório.

Estava revoltada, e mal entrei, comecei a atirar isso contra ele.

— Entendo que o que estamos fazendo não é o ideal, mas você não pode agir dessa forma enquanto eu estou trabalhando e enquanto você deveria estar se preocupando em cumprir suas obrigações no trabalho.

Sua advertência é intensa, me repreendendo como alguém faria a uma criança. Ele vê o quanto estou desapontada e dá um passo para trás, percebendo como suas palavras podem ter sido duras.

— Simone. Eu te amo. Você sabe. Mas não podemos comprometer nossas posições aqui...

— Você está me traindo?

Leonardo arqueou as sobrancelhas.

— O quê?

Então eu vi. A menina irritante e mimada de frente a um homem maduro pensando no futuro.

— Desculpe — murmurei. — Foi horrível da minha parte dizer isso. Eu só tenho tido dificuldade em ficar longe de você e agir como... como se você não fosse o amor da minha vida.

Leonardo olha nos meus olhos e sorri calorosamente.

— Eu sei exatamente como você se sente, querida. Não é fácil para mim também. Não só não posso passar mais tempo com você, como tenho que fingir não estar louco para invadir seu quarto para fazer amor.

Então trocamos um abraço rápido. Havia o perigo de alguém entrar na sala e nos ver. A desculpa de sermos da mesma família não colaria.

— Preciso ir — disse. — Vou organizar as atividades de amanhã.

Ele concordou. Afastar-me doeu como cravos na carne.

***

Havia um dormitório para Leonardo usar. Mesmo que ele o recusasse e preferisse ir todas as noites para seu apartamento na cidade vizinha, eu sabia que depois do almoço ele costumava usá-lo para descansar um pouco.

Foi quando minha razão perdeu-se no desespero de tê-lo.

Eu fui capaz de escapar do refeitório com bastante facilidade. Andei furtivamente pelos corredores até chegar ao quarto dele. A porta estava trancada e, sem meu telefone, eu não tinha como entrar em contato com Leonardo. Como ficava no térreo, dei a volta para o pátio e subi pela única janela que não estava fechada e trancada. Encontrei meu homem deitado, de olhos fechados, parecendo não perceber o quão tentador estava naquela posição.

O contorno de seu pênis começou a mudar e crescer. Eu acho que ele deve estar tendo um ótimo sonho. Isso ou, de alguma forma, ele pôde sentir minha presença.

Aproximei-me da cama. Subi lentamente, deslizando através dele, deixando com que seu eixo encaixasse-se em minha parte de baixo.

Eu te amo, Leonardo, eu preciso tanto de você...

— Simone? — Leonardo resmunga enquanto se senta. — O que você está fazendo aqui?

Eu me agacho, abrindo seu zíper. Pego seu pau inteiro na minha boca até que esteja tão baixo na minha garganta, que engasgo. Eu tento respirar apenas pelas minhas narinas, mas acho impossível fazê-lo. Leonardo parece gostar do som de alguém ofegante em sua cintura. Ele deita de volta na cama e gosta do serviço que tenho para lhe oferecer.

— Você gosta disso? — pergunto, puxando para trás e apertando tão forte quanto a minha mão pode acariciar até a base.

— Eu gosto tudo em você, amor...

Eu me movo para cima da cama e o monto, deslizando cuidadosamente seu pênis para dentro de mim. Enquanto eu enterro seu pau entre minhas dobras, Leonardo acorda mais e mais com cada centímetro dele que entra em mim.

— Eu sinto sua falta...

— Eu também — ele geme, apertando minha cintura contra ele, ofegando no calor daquela paixão.

— Eu odeio não poder estar com você todos os dias. Nós passamos anos sem falar um com o outro, e então passamos a estarmos juntos todos os dias. Eu quero ficar sempre com você. Sempre — sinto as lágrimas deslizando pela minha face. — Eu não vou aguentar esses meses longe.

Tendo arruinado o clima, movo meus quadris para cima e para longe do pênis menos interessado de Leonardo.

— Desculpe — murmuro, tentando trazê-lo novamente a paixão.

Mas, a frase pareceu esmorecer tudo. Então, ele se retirou de dentro de mim e me sentou à sua frente:

— Simone, vamos enfrentar isso. Apenas esse tempo. Depois, nós voltaremos ao normal, eu prometo.

Ele pega minha mão.

— Você quer morar comigo?

Agora, ele está sorrindo. Eu estreito meus olhos dramaticamente.

— Está falando sério?

— Você não vê o quanto eu sou louco por você? — rebate, rindo das minhas dúvidas.

Atiro-me contra seus braços. Estou tão feliz, tão contente, que poderia morrer naquele instante que estaria feliz.

***

O tempo passou arrastado. Quase metade de um ano longe dos braços de Leonardo pareceram-me uma eternidade. Mesmo assim, fiquei firme, convicta nas suas promessas de estarmos juntos quando tudo acabasse.

Eu passei a evitar Suely fora das aulas. Meu grande medo é ela despertar meus maus sentimentos. Corroer-me de ciúmes e me fazer cometer loucuras que prejudiquem o homem profissional que é Leo.

Nesse dia, cruzo com Leonardo pelo corredor. Um cumprimento formal e simples. Um aceno com a fronte. Casual.

Dói.

Mas, eu vou tê-lo.

Questão de tempo.

Ele me ama...

Não consigo ter tanta certeza. Não mais. Como ele pode ficar tanto tempo sem sexo se eu estou em chamas?

Ouço falar da gincana das alunas no dia seguinte. O diretor passará a noite no Instituto. Eu sei que é errado. Eu sei.

Não me importo.

***

Desta vez, a porta está destrancada. Sigo silenciosamente para a cama dele. Sua parte superior do corpo está destapada. Seus olhos me tomam. Ele tem estado ansiosamente esperando por mim, percebo. Ele recebe minha chegada com um abraço de desejo. Suas mãos, seus braços, toda a sua pele está quente. Nós não falamos, mas usamos nossas bocas para devorar um ao outro como se tivéssemos sido negados nosso sustento básico por muito tempo.

Suas mãos percorrem meu cabelo, meus ombros, procurando pela pele nua.

Afasto-me para que eu possa me despir completamente em dois movimentos rápidos. Em pé acima dele, eu jogo meus ombros para trás, as mãos nos quadris para que ele possa ver meu corpo. Deixei-o banquetear-se com a visão por um delicioso segundo, antes de planejar saltar levemente sobre a cama e montar naquele garanhão como uma égua selvagem.

Estou nua, galopando nas montanhas do meu fascínio.

Eu imploro. Me tome!

E em um impulso duro ele me dá o seu comprimento total, todo o caminho até a minha parede mais profunda. Todo o caminho até os meus dedos. De novo e de novo, ele me bate profundamente, cada golpe ganhando força. Eu estou chorando por necessidade. É o único som adequado pelo quão delirante ele está me fazendo.

Pela primeira vez, eu só quero que ele me bata até que eu não consiga me manter consciente.

Só me foda.

De repente, sinto minhas paredes apertarem com tanta força que é como se a força delas estivesse puxando seu pênis mais fundo em mim. Eu estou apertando o membro do Leonardo, estrangulando-o mais do que nunca, todos os músculos abaixo da minha barriga apertando. Como se eu estivesse ordenhando ele. Eu nunca senti nada assim.

Meu orgasmo explode e ele me segue, liberando um fluxo tórrido de porra branca na minha vagina, nas minhas coxas, no meu ventre.

Seu bombeamento diminui, mas não para, cada impulso trazendo novas ondas de felicidade que eu não sabia que ainda tinha dentro de mim.

Depois disso, eu me visto e saio do quarto. Nenhuma palavra. Não preciso.

Eu o tenho.

Nós nos amamos.

***

Alguns passos no corredor escuro e dou de cara com Suely. Eu vejo o choque nos seus olhos, uma expressão que mal consigo decifrar.

— Sua família pratica incesto — ela está lívida.

Não!

— Está enganada, estava apenas conversando com Leonardo — murmuro.

Por que não disse que não éramos irmãos? Por que me sujeito a isso?

Ela cruza os braços e se afasta. A escuridão volta a reinar. Estou destruída.

 

***

— Preciso falar com o diretor — aviso a secretária.

Marcela me encara com olhos inocentes.

— Ele está livre agora — me aponta a porta.

Uma visita formal. Entro no seu escritório e fecho a porta atrás de mim.

— Simone? — ele me encara por trás da papelada. — O que foi?

— Suely me viu saindo do seu quarto ontem — conto, de supetão. Ele precisa saber. — Eu acho que ela vai levar a história ao Conselho... — Meus olhos estão lacrimejantes. — Eu... eu sinto muito.

Uma batida na porta nos interrompe. Marcela surge, seus olhos permanecem serenos.

— Diretor, Antônio Assunção acabou de agendar uma reunião do Conselho com o senhor. Hoje, as 18 horas, ok?

Percebo Leonardo acenando. Posso ter destruído a carreira que ele tanto lutou para conseguir.

 

 

 

 

Capítulo Doze

Leo


V erônica Taborda me apontou a cadeira. A situação em si era muito intimidante. A majoritária do Conselho estava sentada ao lado de Antônio, e a maneira como me encarava era de censura e desgosto.

— Você sabe por que foi chamado aqui hoje? — Ela começou.

Observei os demais ocupantes da sala, com o rosto neutro. Eram homens de certa idade, todos antigos mestres do Instituto, pessoal conceituado que construiu o mesmo trajeto que eu esperava trilhar.

— Não tenho ideia — disse, sentindo que mentia.

Verônica suspirou, cansada.

— Lembra-se quando lhe promovemos à direção? — ela indagou. — O diretor mais jovem que a Rockemback já teve. Lhe dissemos o quanto seria difícil e você concordou em se manter fiel aos regulamentos da nossa Academia.

Eu acenei.

— Sim.

— E um dos regulamentos fala sobre a ética moral... — ela pigarreia. Percebo que é difícil para ela continuar. — Bom, nós aceitamos sua irmã aqui...

— Ela não é minha irmã — a relembro, mesmo que isso possa me prejudicar.

— De consideração — corrige-se. Sua expressão facial é impassível. — De qualquer forma, foi trazido ao Conselho que alguém está alegando que você assediou sexualmente uma das auxiliares.

— Qual auxiliar? — devolvo. — Simone Borges?

— Sei que é uma acusação terrível, praticamente incesto.

Tentei ignorar o argumento.

— Simone corroborou essa história?

— Não falamos com ela. Mas...

— Simone me procurou no meu quarto — usei de meias verdades. — É um acostume antigo dela ir me procurar quando precisa de algo. Sei que se falarem com ela, atestará isso.

— Leonardo, tenho certeza disso. Contudo, pelas normas, mesmo sendo irmãos...

NÃO SOMOS IRMÃOS, CACETE!

— Ainda assim — ela prosseguiu —, teremos que conduzir uma investigação. Vou pedir que você tire uma licença temporária até que a investigação termine. Você sabe como é. Sempre que uma queixa formal é apresentada contra um empregado, nós temos que fazer todo o trâmite legal do assunto, conforme as normas. Afinal de contas, esse instituto é de meninas. Se uma história assim vazar...

— Eu compreendo.

Quando me ergui, não sabia qual seria meu futuro na Rockemback. O peso das minhas escolhas pareceu derrubar meus ombros.

Eu estava muito cansado.

 

 

Capítulo Treze

Simone

 

A sala do diretor foi fechada. Suely realmente o denunciou, e agora ele está sendo demitido. Por minha culpa... Céus, eu sou tão egoísta que consegui que o homem que amo fosse demitido no trabalho que ele sempre ambicionou.

Murmúros ocorrem entre as professoras e auxiliares. Até as moças da limpeza constumam falar sobre o escândalo sexual ocorrido.

Dois irmãos transando na escola...

Estou em transe, sem falar com ninguém. Tenho vergonha, nem sei de quê.

Por que Suely fez isso comigo? Com Leo? A única razão que me ocorre é ciúmes ou aversão.

A noite, vou à faculdade. Gostaria de faltar a aula e ir até ele, mas a Rockemback acompanha meu progresso nos estudos. Dessa forma, foi um suplício aguentar aquelas horas estudando gramática quando tudo que queria era ver Leonardo.

Subitamente, a porta da sala de aula se abre. É alguém da secretária me informando que meu primo está no telefone.

Não tenho primos.

Vou até a direção e pego o telefone. Minha voz sai fraca quando digo alô.

— Simone, sou eu. Preciso te avisar: O Conselho vai chamá-la para indagar o que fazia no meu quarto. Explique a eles que estava deprimida e que me procurou porque somos irmãos. — Deus, eu odiei aquele argumento. — Não acho que fui demitido. Mas, eles vão investigar a nossa relação.

Fiquei aliviada em saber que ele não foi demitido por qualquer coisa que Suely relatou à Sra. Taborda, mas ainda me sinto culpada por Leonardo se meter em encrenca por algo que nunca deveria ter acontecido.

Em um tom abafado, apavorado, com medo de ser ouvida, eu respondo a ele.

— Se precisar, eu assumo qualquer responsabilidade e saio do Instituto. Não quero que seja prejudicado...

— Somos ambos culpados, Simone. — ele recusou.

Algumas lágrimas fluírem.

— Eu sinto muito.

— Tudo bem, não fique preocupada.

Não havia como não ficar preocupada. Eu estava destruindo a vida dele. Aquilo não era certo. Nunca foi minha intenção.

— Leonardo... Acho que devemos...

— O quê?

— Terminar — expliquei. — Me perdoe, mas devemos terminar.

— Você está brincando? — Sua voz foi baixa, mortal e sombria.

Sinto meu corpo ficar tenso com a gravidade do tom dele.

— Nós concordamos ficarmos longe um do outro por um tempo — ele continuou. — Apenas isso. Você entendeu? Depois, as coisas voltarão ao normal.

De que forma? Se eu sonhava com um futuro, a Rockemback teria que sair dos meus objetivos ou dos dele. E, caso no futuro nós oficializássemos nossa união, ele seria demitido por conduta imoral.

— Isso não é normal. Ter que esconder nosso relacionamento do mundo não é nem um pouco normal. Nós não devíamos ter que fazer isso.

Eu o ouço gemer e bater qualquer um de seus punhos em algo sólido, provavelmente uma mesa.

— Podemos pensar nisso depois. Agora a solução é manter nosso relacionamento oculto.

— A solução é acabarmos.

No silêncio que se segue, sinto o rompimento de forma física. Uma dor intensa me toca.

— Eu sempre sonhei em me casar com você — confessei. — Em ter seus filhos... eu quero ser a mãe dos seus filhos, Leonardo.

Ele freneticamente me interrompe.

— Pare! Eu não quero ouvi-la falando assim, entendeu? Apenas acalme-se, podemos fazer isso funcionar.

Silêncio do meu lado da linha.

Leonardo suspira.

— Você não quer mais ficar comigo, é isso?

Por que ele não consegue ver o óbvio?

— Não, não quero — respondo.

Eu sei que ele é orgulhoso e não vai implorar. Esse é meu único trunfo naquela discussão.

— Então acabou. — ele diz

E a ligação terminou.

***

Não levou muitos dias para eu ficar doente. Perder Leonardo foi algo tão profundo que me destruiu. Eu não conseguia comer, tinha tonturas seguidas, enjoos, e passava mal quando acordava. Dessa forma, com o nível de estresse e ansiedade alarmantes, minha menstruação, que sempre foi um pouco falha, parou por completo.

Eu comentei o assunto brevemente com uma das moças que limpava o dormitório e ela me recomendou tomar Cicloprimogyna para tentar regular meu ciclo, mas antes me advertiu em fazer um teste de gravidez.

Até comentar aquilo, esse pensamento nunca me tocou.

Sabia que devia procurar um médico. Mas pedir uma hora livre para ir até a farmácia pareceu-me mais libertador. Como a Rockemback ficava no interior de Esperança, fui com a kombi da escola até a cidade. Parei na única farmácia que vi, no centro daquela localidade pequena.

Não queria desperdiçar meu tempo com dúvidas, então já peguei os cinco tipos de testes que tinha na prateleira. Caso algum deles desse positivo, então eu deveria buscar um médico para confirmar.

Mas, certamente, todos dariam negativo. Você não engravida assim, não é?

De volta a Rockemback, tranco-me dentro do banheiro e começo o processo demorado. Vinte minutos depois, os resultados estão em ordem sobre a pia.

Positivo. Positivo. Positivo. Positivo. Positivo.

Eu estou perdida.

***


Há um bebê se desenvolvendo dentro de mim. Um bebê de Leonardo. Uma parte dele que terá vida própria, sentimentos próprios, e amor próprio. Uma parte nossa que se uniu e gerou um novo ser.

Sempre foi meu sonho. Seco as lágrimas pensando que, apesar disso, não é o melhor momento. Acabamos de terminar e o emprego dele está por um triz.

Se eu aparecer com um bebê agora, ele certamente perderá tudo.

E é assim que estou, chorando pela ideia de criar um filho sozinha, como se nenhuma mulher já tivesse passado pela mesma situação, como se nenhuma mulher tivesse tido mais dificuldade do que eu.

Que vergonha, o quão fraca e patética eu sou...

Não posso contar a Leonardo sobre essa criança. Isso arruinaria sua vida.

Eu arruinaria sua vida...

Vou ter que desistir da Rockemback e trabalhar para criar essa criança. A faculdade e os demais sonhos teriam que ficar em segundo plano.

Seguro um dos testes contra o peito.

Não, não é certo pensar assim. Leonardo deve saber sobre esta criança. Ele tem o direito de saber.
Mesmo que ele não a queira, ao menos, eu devo lhe contar.

***

Senti-me como se estivesse em um tribunal. Uma cadeira diante de uma mesa comprida, onde um conjunto de pessoas sentavam-se com seriedade, a me encarar.

Minha cadeira está voltada para eles, mas a pessoa a minha frente é Verônica Taborda, a grande chefe da Rockemback.

— Bom Simone, você foi chamada aqui porque há uma denúncia formal sobre um encontro secreto que teve com o diretor Leonardo. Gostaria de ouvir seu lado da história.

Calmamente, faço contato visual com cada membro do conselho antes de falar. Eu havia pensado bem no que dizer. Eu queria que Leonardo pudesse voltar ao seu trabalho e que não ocorresse nenhum problema por minha causa.

Eu não estava sendo mártir. Eu apenas estava sendo uma mulher que ama um homem.

— É verdade. Eu fui até seu quarto. Como sabem, crescemos juntos e isso é prática comum. Não tive intenção de transgredir o regulamento, mas não vou me furtar das minhas responsabilidades...

— Juliana... — um dos homens tentou me interromper.

— Por favor, me deixe terminar. Leonardo e eu crescemos juntos, mas não somos irmãos. Nunca houve a prática de incesto. E, na verdade, no dia em que o procurei, tentei seduzi-lo, mas fui imediatamente rechaçada por ele. Assim sendo, ele rejeitou meus avanços e me pediu para voltar ao meu dormitório.

Minhas mãos estão suando. Eu mantenho os olhos firmes, numa linha reta, observando os membros do conselho sussurrando um para o outro, lábios e sobrancelhas franzidas, parecendo possivelmente descontentes com a minha versão dos eventos que ocorreram naquela noite. Ou descontentes com a minha atração sem vergonha por meu próprio meio-irmão. Não há como saber o que pensam.

— Então, você tentou seduzir um membro do corpo docente? Contudo, o diretor não se envolveu com você de maneira alguma?

— Não — sou firme. — Ele não quer nada comigo. — Não mais. Isso é verdade. — Ele disse que era muito inapropriado e me mostrou a porta.

Depois de mais alguns olhares de desagrado e sussurros animados, Verônica Taborda se levanta, parecendo mais oficial e aterrorizadora do que nunca.

— Simone Borges...

— Sim?

— Peço que se retire.

Da sala? Ou do Instituto? Provavelmente a dúvida ficou clara para ela.

— O Conselho precisa de um tempo para deliberar sobre o assunto. Nós ligaremos para você assim que chegarmos a um acordo sobre o seu futuro aqui na Rockemback. Você pode sair.

Aceno com a fronte e me levanto. Estou firme, apesar de tudo. Uma parte de mim, a parte que se construiu após o teste, parece ter me dado uma dose extra de coragem.

No caminho de volta para meu dormitório, vejo Leonardo na minha frente, atravessando o corredor. Eu tento olhar para baixo e evitar seu olhar, mas seus olhos imediatamente captam os meus. Ele rapidamente dá passos impacientes na minha direção. Mas assim que ele chega a uma distância sussurrante de mim, sinto como se estivesse em uma crise forte de labirintite.

Depois de ficar enjoada nos últimos dias, não há muita comida no estômago para vomitar. Independentemente disso, eu arqueio para o chão, uma ânsia a me tomar, enquanto meus olhos giram com o mundo disforme que me cerca.
Sinto as mãos de Leonardo nos meus ombros. Ele parece preocupado. Ajuda-me a levantar e me leva até o banheiro.

— Está tudo bem — eu tento afastá-lo. — O que você está fazendo aqui?

— Verônica me ligou. Parece que a investigação está fechada e... bem... Quero dizer, espero que eles estejam me chamando para esclarecer que estou livre de qualquer acusação de má conduta sexual. Mas seja o que for com tudo isso, se preocupe consigo mesma. Parece doente.

Seu olhar de preocupação aprofunda o sulco de suas sobrancelhas.

Não sei se são meus hormônios ou minha fraqueza recente, mas estou simplesmente com muito medo de dizer o que realmente está acontecendo.

— Apenas, nervosismo porque falei ao Conselho agora a pouco — expliquei.

Então me desvio dele e volto a andar em direção ao meu dormitório, a fim de guardar minhas coisas e ir embora.

 


Capítulo Quatorze

Leo


N ão sei exatamente o que está acontecendo, mas sinto que há algo. É uma estranha sensação que percorre meu corpo a medida em que o cheiro de Simone me toma.

Mas, a sensação me abandona conforme ela se distancia de mim. Apesar de todas as minhas dúvidas, ela foge em direção aos dormitórios, deixando-me parado no corredor, carregado de questões.

Você está doente? O que disse a Verônica? Eles te menosprezaram? Você ainda me ama?

O comportamento dela é estranho. Durante toda a vida ela correu atrás de mim e agora simplesmente não parece me dar qualquer sinal de que ainda me quer. Existe apenas o silêncio.
Volto a andar. Dessa vez, chego diante da sala da direção e, após uma batida, entro. Estou acanhado e nervoso, o Instituto Rockemback sempre foi um sonho na minha carreira e agora temo perdê-lo.

Ao mesmo tempo, tem uma dor maior: perder Simone.

Quando ela me disse que devíamos romper, todo o resto perdeu a importância. De repente, me vi lecionando em outras escolas – que não fossem tão rígidas – e tendo uma vida mais simples, mas ao seu lado.

Se eu tivesse que pesar o que importava... Simone era definitivamente o mais significativo.

— Leonardo! — Assunção me recepcionou à porta com um aperto de mãos. — Ainda bem que veio. As coisas estão um pouco complicadas sem você.

Apesar da frase, seu rosto parecia fechado.

— Bom, estou à disposição — murmurei.

— Enfim, sente-se.

Estremeci. A mesma sala de inquisição que antes estava Simone. Verônica conversava com outros membros do Conselho, mas logo volveram-se para mim.

— Bom, que bagunça, não é Leonardo? — ela disse, simpática.

Não sabia o que responder.

— Como está? — indagou, em seguida.

— Um pouco preocupado com meu futuro, mas enfim...

— Leonardo, o relatório feito foi de que a auxiliar infantil Simone Borges estava em seu dormitório, contra as regras da Rockemback. Contudo, a própria nos advertiu que a única com conduta inapropriada foi ela.

Simone me salvou?

— O que quer dizer?

— Simone foi afastada pelo tempo necessário para finalizarmos sua demissão.

— Por quê? O que ela disse?

Eu senti as palavras cravando na minha carne.

 


Capítulo Quinze

Simone

 

N ão há nenhuma vergonha em desistir de um sonho, de um objetivo, quando há algo maior em mente.

Coloco as mãos no meu ventre.

Até então, com todas as coisas acontecendo sobre Rockemback, eu não tive tempo de me desfrutar da sensação incrível que era ter um bebê do homem que eu amava na minha barriga.

Um bebê...

Eu estava tão distraída com problemas que esqueci do presente divino.

— Vai ficar tudo bem — digo a mim mesma. — Você será mãe.

Bem jovem, era verdade. Nos meus sonhos, eu sempre sonhei em ser mãe após os trinta. Também queria estar casada. E com uma vida estruturada. Subitamente, contudo, me veio a certeza que tudo aconteceu na hora certa.

Era esse o momento.

O mundo inteiro caiu sobre minha cabeça, mas estou em paz. Eu fiz o que pude para salvar a situação de Leonardo. E eu serei a melhor mestre possível para meu filho. Isso é bom. Maravilhoso mesmo.

Nunca me senti tão forte diante de um pensamento.

— Com licença — uma das secretárias entra no dormitório que estou. — Esse papel é do RH. Por favor o preencha antes de ir.

Assenti. De alguma forma, ela me olhava como se eu fosse uma leprosa.

Não a culpei. O que todos pensavam é que Leo e eu éramos irmãos. Era difícil fazê-los entender que nossa convivência desde a infância não nos tornou irmãos, e sim apaixonados.

Terminei de arrumar minha mala. Depois disso, busquei uma caneta e fui preencher a papelada. Estava ansiosa para ir embora logo, sair daquele ambiente sufocante, estar em casa para pensar e me preparar para minha nova missão: ser mãe.

Os primeiros dados eram os de praxe: nome, data de nascimento, documentos oficiais, etc. Contudo, em seguida, veio uma questão que me tirou o ar:

— Na presente data, a funcionária em questão afirma desconhecer qualquer doença ou limitação física, encontrando-se em perfeito estado de saúde? Liste qualquer mudança, como gravidez ou doença.

Fodeu.

Meus planos de manter a gravidez em segredo acabavam-se agora.

 


Capítulo Dezesseis

Leo


A porta do seu apartamento abriu. Encaro seu rosto sereno, e vejo nela uma maturidade que jamais havia antes.

Isso tudo é muito estranho.

— Pode entrar — ela me convida, dando-me espaço para adentrar no seu pequeno apartamento.

Respiro fundo. Havia ligado para ela durante o dia, dizendo-lhe que poderia assumir todos os percalços da Rockemback. Queria dizer mais: eu não desejava perdê-la. Mas, isso eu falaria pessoalmente, então combinamos de nos encontrarmos no apartamento.

Andei até o sofá e sentei-me, aguardando por ela.

— Estou fazendo chá — ela avisou. — Quer um pouco?

— Sim, obrigado — confirmo.

— Acúçar ou mel?

— Puro.

Ela volta da cozinha em menos de dois minutos, trazendo uma caneca quente. Entrega-me nas mãos e depois se senta, rígida, firme, numa postura até então desconhecida.

— Estou disposto a dizer que você mentiu — esclareci. — Não quero que perca a oportunidade de ouro de trabalhar na Rockemback.

— De fato, é de ouro — ela deu os ombros. — Mas, não reluz tanto quando você está lá dentro.

— O que quer dizer?

— Eu jamais me senti confortável naquele ambiente — apontou. — Na verdade, sentia-me incomodada e presa.

O que significava? Estava disposto a me sacrificar para vê-la bem. Claro que as regras da Rockemback incomodavam, mas ter seu nome ligado ao Instituto era muito recompensador.

— Você não quer voltar? — achei aquilo inacreditável.

— Não.

Pisco algumas vezes, tentando compreender.

— Não? Como assim não?

Ela respira fundo. Seus olhos brilham. Sua voz registra pouco acima de um sussurro animado.

— Eu não quero voltar para lá por muitos motivos, mas o principal deles é porque estou grávida.

Eu acho que meu espírito deixou o corpo naquele instante. Tenho quase certeza que por alguns segundos eu fiz uma viagem cósmica e então retornei de supetão a minha carne.

Veio tudo de repente, após isso: medo, ansiedade, amor, paixão, felicidade, mais medo, mais ansiedade, mais amor... e então eu vou até ela e a beijo.

Eu vou ser pai.

Eu.

Claro, todo homem já pensou em ser pai, mas a ideia não aparece frequentemente para pessoas que não estão tentando engravidar a parceira ou estão evitando a responsabilidade (não que eu tenha evitado, admito). Agora que estou diante da perspectiva... quero ser pai. Quero ser o pai do filho dela.
Quero ser o marido dela.

Quero uma família com ela. Estava escrito, sempre esteve.

— Eu comuniquei a escola – me explicou. – Todavia, assumi nas papeladas toda a responsabilidade, dizendo que a demissão era da minha vontade. Sei que, por lei, eles são obrigados a me manterem, mas penso que meu ato, de pedir as contas, possa ajudá-lo e mostrar-lhes que tenho boa vontade contanto que mantenham seu trabalho.

Era um fato.

— Fez isso por mim?

— Você faria o mesmo — ela devolveu. — Você faria o mesmo.

 

 


Capítulo Dezessete

Simone

 

A pós eu admitir que a Rockemback não era o trabalho dos sonhos, não levou muito tempo para Leonardo ter a mesma opinião.

Por mais fantástico que fosse, um ambiente que te limita o tempo todo não é adquado a ninguém.

Mas ele permaneceu no emprego porque nós tinhamos um bom gasto com a gravidez e porque o plano de saúde incluia o cônjuge.

Sim, nos casamos. Uma cerimônia simples. Apenas um pastor e nós dois. A cerimônia no civil teve como testemunha dois dos colegas de faculdade de Leonardo que ele não via a tempos.

Quando Junior nasceu, nossa felicidade pareceu tão completa que seria difícil definir. Ele era uma cópia exata do pai e isso me trouxe uma felicidade tão grande...

Eu tinha dois Leonardos agora. Dois seres para amar acima de tudo. Mesmo assim, a maternidade me trouxe outros sonhos.

— Vou recomeçar a faculdade — o avisei, num café da manhã.

— Tem certeza que esse é o melhor momento? — ele pareceu preocupado. — Estou mudando de trabalho, a nova escola que assumirei me ocupará um bom tempo...

— Eu preciso — afirmo. — Quero me formar, ser mãe e profissional.

Leonardo sorriu. Naquele sorriso, eu soube que havia escolhido o homem certo.

— Eu vou te apoiar, seja qual for teu objetivo.

Trocamos um beijo cúmplice.

***

Foi com surpresa quando recebemos o convite de Herda para nos encontrarmos no parque. Ela queria conhecer o neto, disse.

Leo não falou, mas eu sei que ficou animado com a aceitação da mãe. Assim, naquele dia, estávamos os dois estendidos sobre uma toalha, observando o lago adiante e mantendo Junior brincando com uma bolinha.

Leo pegou o filho e o levou aos lábios, lhe dando um estralhado beijo na bochecha.

— Quem é o bebê mais lindo do papai? — ele indagou, me fazendo sorrir.

Nosso filho o observou com os olhos atentos. Ainda era tão pequeno, mas parecia tão feliz em estar naquele ambiente de ar puro e árvores frondosas.

— Leonardo? Juliana?

Volvemos e observamos Herda. Enfim, a família estava completa. Restava saber se também seria feliz.

***

— Pedro desconfiava de que algo acontecia entre vocês — Herda comentou, segurando Junior no colo.

Meu bebê parecia ter simpatizado muito com a avó.

— Eu sei — Leonardo retorquiu, me surpreendendo.

— Eu não acreditava, então sempre neguei. Foi muito surpreendente para mim quando os vi juntos naquele dia.

Junior começou a choramingar. Estendi as mãos e peguei meu filho. Ele parecia ansioso para mamar.

— Pronto, meu amor — tirei um dos seios para fora da blusa, deixando-o se fartar com o leite. Depois, volvi para minha sogra. — Não fizemos de propósito — avisei. — Nunca quisemos ofender ninguém...

— Sei disso agora. Estão casados, não é?

— Não lhe convidamos porque achei que pudesse se ofender, mãe — Leonardo afirmou. — Mas, Junior será batizado na próxima semana e seria uma honra se a senhora comparecesse.

Ela assentiu, emocionada.

***

A porta do quarto do bebê se abriu e o rosto de Leonardo surgiu. Eu ninava nosso filho, e sabia que devia fazê-lo dormir antes de conversarmos, mas a curiosidade me consumia.

— Como foi? — sussurrei.

Ele aproximou-se e beijou o rosto de Junior, que já estava de olhos fechados.

— O Instituto de Bento Gonçalves aceitou minha admissão.

— Vamos nos mudar? — indaguei, curiosa, animada, feliz. — Sério?

— Está contente? — ele sorriu.

— Qualquer lugar ao seu lado me deixa feliz. Mas, não nego que as pessoas nos olham com julgamento aqui em Esperança — admiti. — Prefiro morar em outra cidade.

Nós havíamos nos mudado para Esperança porque era a cidade mais próxima do Instituto. Nosso casamento foi mau visto tanto pelos colegas de Leonardo em Rockemback quanto pelas pessoas da cidade, assim que a notícia que crescemos como irmãos se espalhou.

Leonardo assentiu, concordando. Uma nova vida era tudo que precisávamos para sermos completamente felizes.

 


Capítulo Dezoito

Leo


L eonardo Junior tinha meus olhos, minha boca e até mesmo meu olhar. Era estranho sentir num outro ser, uma parte de si mesmo, tendo sentimentos próprios e personalidade diferente.

Porque nisso, ele se diferenciava. Era muito a mãe. Especialmente quando tinha de mim o que queria.

— Oh, ele é tão lindo — uma das professoras do Instituto de Bento se aproximou, pegando-o no colo.

— Ele é sim — confirmei. — Minha cara — destaquei, orgulhoso.

— Ah, que convencido — ela brincou. — E Simone, onde está?

— No refeitório esquentando a mamadeira. Com esse frio que está fazendo, mesmo na bolsa térmica, esfriou logo.

Ela balançou Junior antes de me encarar mais seriamente:

— Soube que a Rockemback pretende tê-lo novamente — contou. — Sabia?

— Não, ninguém me disse nada.

— As fofocas se espalham rápido entre as professoras. Uma amiga leciona lá e conhece Taborda, a presidente do Conselho. Parece que as melhorias que realizou na Rockemback não estão tendo prosseguimento nas mãos do novo diretor. Sentem falta da sua forma de administrar.

Junior estendeu os dois bracinhos para mim. Segurei-o no colo.

— Não vai nos deixar, não é? — ela indagou.

— Francamente, estou muito bem onde estou.

E saí para procurar minha esposa.

***

Conforme eu ia aproximando-me do refeitório, Junior começou a choramingar. Parecia sentir o cheiro da mãe, e sendo ela sua fonte de alimentação, logo deixou claro que estava com fome.

— Mamãe — eu disse alto, assim que entrei e visualizei Simone sentada à mesa. — Alguém está sentindo sua falta.

Simone estendeu as mãos e o pegou no colo.

— Já soube das novidades? — ela indagou.

— Como as fofocas correm rápido por aqui — indiquei, já percebendo do que ela falava. — Soube agora a pouco.

— As professoras que estavam aqui me comentaram.

— E você acha o quê?

— Meu amor, eu sei que a Rockemback era seu sonho. Mas, eles mudaram de opinião sobre nós? Não quero que perca seu sonho...

— Meu sonho é você e nosso filho. — Afirmei. — Meu sonho é minha família.

Simone sorriu, embevecida.

— Assim que eu terminar os estudos, pretendo entrar na Bento — antecipou. — Por sorte, aqui não há problema em trabalharmos juntos.

— Vê-la todos os dias será um sonho para mim, minha querida — murmurei.

Então a trouxe para um beijo.

Eu tive, na vida, muitos sonhos. Descobri que Simone foi o maior de todos eles. Eu a escolhi. Seria minha esposa e minha cúmplice para sempre.

Sentindo as mãos do meu filho balançando entre nós, percebi que o paraíso existia e eu o havia encontrado.

 

 

                                                                  Josiane Biancon da Veiga

 

 

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