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Ela jamais imaginou que tivesse de rejeitar um homem tão fascinante...
Sabrina Marsh ficou a sós com um estranho no elevador. E, para sua grande surpresa, o sujeito sabia qual era o prato preferido dela, sua cor predileta, seu apelido... Ainda por cima, era o homem mais sensual que Sabrina jamais vira! Mas por mais que ela perguntasse, ele se recusava a revelar sua identidade. Rob Davis sabia que, assim que lhe contasse quem era, Sabrina nunca mais iria querer vê-lo. Ele tinha três semanas para convencê-la de que ambos haviam sido feitos um para o outro... três semanas para fazê-la esquecer que eram perfeitos estranhos.
— Com licença, moça, será que já não nos conhecemos?
Sabrina mal conseguiu acreditar nos seus ouvidos. Não era possível que tivesse escutado uma frase tão pouco criativa. Virou-se para o homem a seu lado, o rosto uma máscara desprovida de emoções.
— Como?
O homem pareceu ficar um pouco embaraçado ao ouvir aquela voz gelada, mas insistiu:
— É que você me parece muito familiar. Se não me engano, já nos vimos antes.
Segurando sua pasta com mais força, Sabrina deu uma boa olhada em seu companheiro de elevador. Não era uma tarefa desagradável. Ao contrário. Ele era atraente, do tipo atlético. Alto, forte, musculoso, dono de um lindo e cativante sorriso. Os olhos eram azuis e os cabelos pretos um pouco mais curtos do que mandava a moda. Nenhuma mulher com visão normal, coisa que Sabrina tinha de sobra, ou com um nível hormonal razoável, coisa que, nos últimos tempos, já não tinha tanta certeza de possuir, poderia ser apresentada àquele homem e depois esquecê-lo completamente.
— Não. Você está enganado. Jamais nos vimos antes. — Então, com o ar de alguém desacostumado a ter suas palavras questionadas, ela voltou a atenção aos números que brilhavam no alto da porta. Oito, sete, seis, cinco... Esquecendo-se por completo do estranho a seu lado, pensou na pequena travessura que fizera. Como havia sido gostoso deixar o trabalho duas horas antes do horário habitual! Não se sentia nem um pouco culpada. Afinal, merecia um descanso de vez em quando, muito embora fosse sua própria chefe. Júlia, sua secretária, quase tivera um ataque ao saber da notícia. Será que a moça não entendia que até mesmo Sabrina sentia as paredes se fechando em torno dela, sufocando-a?
— Eu não estava tentando bancar o engraçadinho — disse o homem de novo, interrompendo seus pensamentos. Sua voz continuava suave e amigável. Alguém que, com certeza, não costumava ser desencorajada com muita facilidade. — É que você me lembra muito uma pessoa que conheci no passado. Seu nome era Sabrina Marsh.
O elevador chegou ao térreo no exato instante em que ela virava-se para ele, completamente apalermada.
— Ei! Eu sou Sabrina Marsh. Mas acontece que...
— Espere um minutinho. — Pedindo desculpas às pessoas que esperavam para entrar no elevador, ele a conduziu para fora do carro. — Ótimo. Agora podemos conversar.
Ainda espantada pelo fato de ele saber seu nome, ela franziu a testa.
— Sinto muito, mas eu realmente não me lembro de você. — Pelo visto, seu nível hormonal parecia estar em condições mais precárias do que imaginara a princípio. Como poderia ter conhecido um homem tão bonito e se esquecido dele com tanta facilidade?
— Sou Rob Davis — ele se apresentou, observando atentamente sua reação.
Aquele nome era tão desconhecido quanto seu rosto.
— Rob Davis... — ela repetiu, sentindo-se um pouco insegura. Era uma mulher acostumada a ter o controle da situação. Quando aquilo não acontecia, era como se os velhos sentimentos de vulnerabilidade e de insegurança voltassem a assombrá-la como um fantasma.
— Eu sinto mui...
Não, ela decidiu de súbito. Não pretendia se desculpar de novo. Se aquele homem tivesse um pingo de educação, diria logo de onde a conhecia e acabaria com aquele suspense fora de propósito. Olhou para o relógio, um lindo Rolex de ouro.
— Olhe, eu estou um pouco atrasada. Será que poderia ajudá-lo em alguma coisa?
Ele continuou a sorrir sorriso aquele que certamente já havia derretido centenas de corações.
— É um prazer vê-la de novo, Brie. Como está Colin? E sua mãe? Ela ainda prepara aquelas maravilhosas tortas de maçã?
Ela abriu a boca, o espanto estampado em seu rosto. Como é que aquele homem completamente estranho sabia de tantas coisas a seu respeito?
— Bem... Colin está ótimo. Quanto à minha mãe, ela morreu há muito tempo. Mas como...
Os olhos azuis do desconhecido transbordaram de simpatia. Ele tinha um rosto muito expressivo. Certamente nunca escondera suas emoções, coisa que a própria Sabrina vivia fazendo.
— Eu sinto muito. Ela era uma mulher admirável. Você deve sentir muito a sua falta.
Pega de surpresa de novo, ela balançou a cabeça, concordando:
—Sinto. Bastante.
O sorriso voltou aos lábios dele. Será que aquele homem nunca parava de sorrir?
— Você ainda não está acreditando que já nos conhecemos, não é?
Ela respondeu com total honestidade:
— Não estou acreditando mesmo.
Ele deu um suspiro forçado, mas o sorriso não deixou seus olhos muito azuis.
— Estou acabado.
Sabrina apostava que seria preciso de muito mais coisa para acabar com aquele homem. Ele era o ego masculino personificado. O tipo de pessoa que havia muito aprendera a evitar. Não gostava daqueles tipos.
— Olhe, você não me parece nem vagamente familiar. Por acaso é amigo de Colin?
— Não exatamente. — Seus olhos azuis não podiam estar mais brilhantes. — Você realmente não está me reconhecendo?
Sabrina voltou a observá-lo de cima a baixo, considerando, depois rejeitando, várias maneiras de tê-lo conhecido. Sua família tinha viajado muito, durante sua infância e adolescência. Conhecera uma porção de gente através dos anos. De todos os lugares onde morava, o Texas havia sido o seu favorito. Por isso, logo após o seu divórcio, fixara residência no Estado da Estrela Solitária. Lembraria-se daquele homem, se já o tivesse visto. Que mulher não iria se lembrar?
Era difícil adivinhar quantos anos ele tinha. Ela acabara de completar trinta e cinco. Era provável que ambos tivessem mais ou menos a mesma idade. Será que haviam sido colegas de escola, quando ela estudara na cidade de Irving no Texas? Não. Ela não se lembrava de nenhum Rob Davis, nem de ninguém que se parecesse vagamente com ele.
Deu um suspiro e balançou a cabeça.
— Não. Eu não me lembro mesmo de você. Importa-se de me dizer quem é?
Ele sorriu.
— Eu já lhe disse. Rob Davis.
Sabrina não podia ter ficado mais aborrecida.
— Olhe, eu não estou achando graça nessa história. Passar bem.
E, dizendo isso, atravessou o saguão do edifício e aproximou-se da porta de vidro.
— Espere! — Ele apertou o passo para alcançá-la. — Você não está curiosa para saber como foi que nos conhecemos?
Ela continuou a andar.
— Não o suficiente para entrar nesse tipo de jogo.
— Jogos podem ser divertidos — ele sugeriu.
— Claro. Para crianças.
— Ora, Brie, relaxe um pouco! Impossível que tenha mudado tanto, você gostava de se divertir!
Ela lançou-lhe um olhar gelado.
— Por que eu deveria estar me divertindo agora? Seu sorriso ficou ainda mais largo.
— Vamos fazer o seguinte. Vou lhe dar três alternativas a respeito de como nos conhecemos e você tenta adivinhar a correta. Que tal?
A porta automática se abriu e ambos deixaram o edifício.
— Eu não gosto de jogos de adivinhações. Ele segurou seu braço.
— Então de que tipo de jogo você gosta? Sabrina esquivou-se daquele contacto.
— De nenhum. Passar bem!
Seguiu seu caminho, com passos rápidos. Ele, porém, não desistiu. Começou a segui-la, o mesmo sorriso nos lábios.
— Jante comigo essa noite, Sabrina.
Não era um convite. Era uma imposição. Cada vez mais irritada, ela pensou na possibilidade de chamar um guarda para se livrar do intruso.
— Não.
Entrou no estacionamento onde deixara o carro, dando graças a Deus ao avistar o segurança Cal em sua guarita. Ótimo. Se aquele homem aborrecido tentasse alguma coisa, já teria a quem pedir ajuda.
Ele entrou atrás.
— Pediremos frutos do mar. Você ainda gosta de frutos do mar, não gosta? Eu me lembro que era seu prato favorito. Camarões, mariscos, lagostas, caranguejos, lulas...
Misericórdia! Como será que ele sabia de tudo aquilo? Não era possível! Segurando a bolsa com mais força, foi andando até seu carro, recusando-se a lhe dar uma resposta.
— Brie...
Ela virou-se para ele, furiosa.
— Pare de me chamar desse jeito! Ou você me conta agora mesmo como nos conhecemos, ou suma da minha frente! Como eu já lhe disse, odeio jogos de adivinhação!
Ele a encarou durante um longo tempo. Parecia haver uma certa expressão de tristeza naquele rosto até então tão sorridente.
— Acho que você deixou de achar graça na vida, Brie. O que aconteceu?
— Aconteceu que eu cresci, só isso! Agora, se me dá licença... O sorriso voltou a iluminar seu rosto.
— Nós realmente nos conhecemos. Aliás, sei de uma porção de coisas a seu respeito.
Ela deu um suspiro desanimado.
— Se eu realmente conheci você, devo tê-lo bloqueado de minha mente, porque não ia com a sua cara!
Ele nem piscou. Na verdade, seu sorriso ficou ainda mais largo.
— Impossível. Todo mundo me acha muito simpático. Sabrina mordeu os lábios para não rir. Tinha de admitir uma coisa. Até que ele era engraçado. De qualquer modo, não podia encorajá-lo.
— Pois encontrou alguém que não acha. Até logo.
— Mas...
— Eu disse até logo!
Entrou em seu carro, um Mazda novinho em folha, engatou a primeira e deu o fora dali. Só foi quando deixava o estacionamento, que deu uma olhada pelo espelhinho retrovisor. Lá estava aquele inconveniente de pé, os braços cruzados, o vento balançando seus cabelos pretos, observando sua partida. Que homem aborrecido!
Pena que fosse tão bonito.
Sabrina Marsh seguia pela Oxford Avenue, os vidros do carro abaixados, o toca-fitas ligado num volume bem alto. Respirou fundo. O ar fresco do fim de tarde, as árvores frondosas que ladeavam as ruas, o céu azul sem nuvens faziam com que ela se sentisse incrivelmente viva e feliz. Então, uma voizinha vinda dos confins de sua alma lhe perguntou se tais sentimentos não vinham, pelo menos parcialmente, do sorriso lindo de um certo homem que acabara de conhecer.
Rejeitou a idéia no mesmo instante. Não era mais a menina de dezoito anos, sonhando com as festinhas da universidade. Era uma mulher divorciada que já completara seu trigésimo quinto aniversário, com uma carreira sólida e uma vida social bastante agitada. Os homens com os quais se relacionava eram educados, gentis, geralmente um pouco mais velhos do que ela. Nenhum deles teria tido um comportamento tão inadequado quanto aquele inconveniente de olhos azuis. Azuis da cor do céu daquela tarde, ela reparou, com um pouco de irritação.
O apartamento duplex onde Sabrina morava era confortável e espaçoso, decorado com muito bom gosto. No primeiro piso havia a sala de estar, a sala de jantar, a cozinha e um lavabo. Seu quarto, um escritório e mais um banheiro ficavam no andar de cima.
Mal colocou a chave na fechadura, foi recebida por uma série de latidos altos e frenéticos.
Sabrina sorri.
— Já estou indo, Angel!
Abriu a porta e abraçou seu dobermann com carinho. O cachorro, o rabo balançando sem parar, aninhou-se em seus braços, como se fosse um filhote indefeso. Só que a verdade era bem outra. Apesar de se comportar como um animalzinho de estimação com sua dona, o dobermann era uma verdadeira fera, capaz de matar um homem em questão de segundos, se assim lhe fosse ordenado.
— Eu estava com saudades, meu querido...
Foi para o quarto, tirou o vestido de linho azul marinho e substituiu-o por um quimono vermelho, presente que seu irmão Colin lhe dera ao voltar do Japão. Ao contrário da própria Sabrina, Colin adorava viver como um cigano. Alugara um pequeno apartamento em Dallas havia algum tempo, dizendo que precisava de uma base fixa para chamar de lar. Ela adorava tê-lo por perto, muito embora ele estivesse sempre viajando.
O fato de pensar em Colin fez com que se lembrasse de Rob Davis. Será que eles eram amigos? Duvidava um pouco. Conhecia todos os amigos do irmão e entre eles não havia nenhum Rob Davis.
— Davis... — murmurou ela, aboletando-se no sofá com uma lata de refrigerante nas mãos. — Davis...
Então, os quinze anos de viagens ininterruptas de sua vida voltaram-lhe à mente, os quinze anos passados na estrada na companhia do pai, um homem que sempre fora incapaz de permanecer mais do que um ano no mesmo trabalho, um homern que perseguia o sonho de ficar rico, certo de que a próxima oportunidade lhe renderia os milhões de dólares sonhados.
Sua infância e adolescência haviam sido passadas em uma infinidade de casas diferentes, cidades diferentes, em meio a crianças desconhecidas em salas de aulas estranhas. O pesadelo se repetia a toda hora. Amigos recém-feitos dando-lhe adeus, brinquedos favoritos perdendo-se nos inúmeros caminhões de mudança, o olhar de desespero de sua mãe quando seu pai anunciava mais uma partida...
Certamente havia conhecido muitos Davis durante aqueles anos todos. Dúzias de Smith, de Jones, de Harris, de Robinson. Como poderia se lembrar de todos eles? Às vezes, quando fechava os olhos, não conseguia nem se recordar dos nomes de todas as cidades onde morava. Aquela loucura toda só tivera fim quando entrara na universidade, onde, por ironia do destino, acabara cometendo o mais irresponsável de seus atos: seu casamento com um famoso jogador de futebol, que passara os cinco anos em que estiveram juntos sendo vendido de um time para outro. Ao contrário de seu pai, ele não conseguira manter-se fiel a quem quer que fosse. Trocava de amantes com a mesma facilidade que trocava de times. Que pena que levara tanto tempo para abrir os olhos e tomar uma atitude.
Balançando a cabeça com força, obrigou-se a parar de pensar em Burt. Não valia a pena desperdiçar seu tempo com ele.
O telefone começou a tocar, deixando-a intrigada. Quem seria, aquela hora? Apenas Júlia e Beverly, suas duas secretárias, sabiam que ela voltara para casa mais cedo. Será que havia acontecido alguma coisa no escritório?
— Alô?
— Você não tem o mínimo sendo de responsabilidade. Como ousa deixar o trabalho duas horas antes do final do expediente?
Sabrina sorriu ao ouvir a voz de sua melhor amiga.
— Katherine! Como adivinhou que eu estava aqui?
— Liguei para o escritório. Aliás, Júlia ainda estava em estado de choque. A pobrezinha mal podia acreditar que sua querida chefinha havia saído mais cedo!
— Eu estava me sentindo sufocada dentro daquele escritório.
Foi tão bom sair um pouco mais cedo e poder respirar com mais tranqüilidade...
— Sinto inveja de, você. Ah, como eu gostaria de ser minha própria chefe sair do trabalho mais cedo, sempre que quisesse... Mas me diga uma coisa, querida. O que pretende fazer com essas duas horas de liberdade? Algo louco e divertido?
— Não faço a mínima idéia.
— Foi justamente o que eu pensei. — Katherine deu um suspiro. — Acho que você já deve ter se esquecido da última vez que fez algo louco e divertido. O mínimo que podia fazer agora era sair atrás de um homem lindo e charmoso. Que tal?
— Bem, na verdade, um homem lindo e charmoso saiu atrás de mim, no momento em que eu deixava o escritório!
Katherine arregalou os olhos.
— Mas que maravilha! Que notícia fantástica! Vamos, me conte os detalhes! Quero saber os detalhes todos!
Mantendo a voz ligeiramente animada, Sabrina lhe contou o que tinha acontecido, omitindo somente o fato de que Rob Davis tinha os olhos azuis mais lindos desse mundo.
A moça não podia ter ficado mais entusiasmada.
— O quê? Quer dizer que ele sabia de uma porção de coisas a seu respeito e você não tem idéia de quem ele seja?
— Exatamente. O homem não me é nem vagamente familiar. Nunca o vi antes!
— Mas por que você não aceitou seu convite para jantar? Seria uma boa ocasião para tirar tudo a limpo!
— Eu não podia aceitar o convite de um estranho, Katherine. Não seria prudente.
— Ora, você poderia ter marcado um encontro num restaurante movimentado, onde ele não ia ter a mínima chance de molestá-la. Não havia motivo para lhe dar seu endereço ou telefone.
— Ainda assim, o negócio podia ser perigoso. Além disso... bem, ele me deixou meio confusa...
Katherine deu um suspiro profundo.
— Ah, como eu gostaria de conhecer um homem lindo e charmoso que me deixasse confusa... Bem, Sabrina, eu liguei porque queria convidá-la para almoçar na quinta-feira. Faz um tempão que não temos tempos para conversar!
— Ótima idéia!
— Maravilhoso. Eu ligo na quinta de manhã para marcar a hora e o local, está bem?
— Combinado.
— Aproveite bem sua tarde, querida. Embora tenha jogado fora a chance de conhecer o galã misterioso.
Sabrina desligou com um sorriso nos lábios e voltou a pensar no homem que se apresentara como Rob Davis. Não. Aquilo não tinha cabimento. Ficaria maluca se continuasse daquele jeito. Tudo que ela queria era sair um pouco mais cedo do trabalho e aproveitar o fim de tarde para relaxar. Maldito fosse aquele homem por atrapalhar suas únicas horas livres!
Respirou fundo para se acalmar e tentou imaginar o que faria com o resto do dia. Bem, havia alguns papéis para colocar em ordem... Não. De jeito nenhum. Tirara aquelas.horas para descansar, não para trabalhar. Podia ser viciada no trabalho, mas, às vezes, até mesmo Sabrina Marsh precisava de um pouco de descanso. Como hoje.
Talvez pudesse vestir um jeans e fazer umas compras no shopping center mais próximo. Não. Não estava com vontade de comprar nada.
Televisão? Apanhou o controle remoto e ligou o aparelho. Dez minutos depois, desligava, desanimada. Filmes românticos da década de quarenta e desenhos animados não faziam seu gênero.
Acho que você deixou de achar graça na vida, Brie? O que aconteceu?
Soltou um gemido ao se lembrar do nefasto comentário de Rob Davis. Angel se aproximou dela, como se estivesse muito preocupado.
— Está tudo bem — ela tranqüilizou o cachorro, fazendo-lhe um agrado na cabeça. — É que eu conheci um homem essa tarde. Um homem irritante e aborrecido, que me deixou louca da vida
Levantou-se de súbito, já sabendo o que fazer. Subiu para o escritório ao lado do quarto, onde havia uma mesa e um microcomputador. Como todos os seres humanos, Sabrina Marsh também tinha um hobby.
Não. Tinha de ser honesta consigo mesma. O ato de escrever não era bem um hobby. Era mais uma paixão, uma necessidade, uma fuga que a ajudava a sobreviver nos tempos em que nada parecia valer a pena. Vinha trabalhando naquele romance havia um ano, durante as poucas horas vagas que tinha. Ali, ela contava a história de uma mulher que lutava contra tudo e contra todos para montar um grande império industrial e que encontrava seu príncipe encantado, antes do final do livro.
Ninguém sabia sobre aquela atividade, exceto seu irmão. Colin, porém, jamais havia lido uma linha sequer do que ela escrevera. O ato de escrever era algo que fazia para si mesma, uma necessidade que precisava ser satisfeita.
Releu as últimas páginas que havia escrito na semana anterior e franziu a testa. O personagem masculino era um homem loiro, de olhos verdes. Quando se deu conta, havia alterado suas características físicas.
Agora ele era um lindo e charmoso moreno... de olhos azuis.
Rob Davis estava assobiando quando entrou na casa de sua irmã, os pensamentos ainda no inesperado encontro daquela tarde. Sabrina Marsh. Era inacreditável que tivesse dado de cara com ela, num elevador de um prédio de escritório em Dallas. Havia ido até lá a fim de entregar uns papéis ao contador de sua irmã. Não tinha esperado receber aquela linda recompensa pela boa ação que praticara.
Encontrou Liz sentada no sofá, os pés inchados sobre a me-sinha, lendo um livro intitulado Como cuidar do seu bebê, apoiado sobre o volume que um dia havia sido seu colo.
— Oi, Liz. Adivinhe só quem eu encontrei no prédio do seu contador. Você não vai acreditar!
Sorrindo e balançando seus cabelos escuros e encaracolados, a bonita grávida de vinte e seis anos fechou o livro.
— Não faço idéia. Quem foi que você viu? Ele sentou-se numa poltrona.
— Sabrina Marsh. Lembra-se dela? Os olhos azuis de Liz brilharam.
— Sabrina Marsh? É claro que me lembro!
— Você a adorava e fazia de tudo para imitá-la. Copiava seu penteado e vivia pedindo para que ela lhe emprestasse seu estojo de maquiagem. O problema é que você só tinha nove anos de idade!
Liz sorriu, as lembranças voltando-lhe à mente.
— Eu não era a única que a adorava, meu querido irmãozinho. Se não me falha a memória, era você quem deixava barras de chocolate anônimos na porta de sua casa e passava horas escondido atrás da cortina da janela, para fiscalizar com quem ela saía e a que horas voltava!
Rob deu de ombros e limpou a garganta, sentindo-se um pouco embaraçado.
— Bem, tudo isso aconteceu há muito tempo, não é? —Ponha tempo nisso! Há uns dezessete anos, não é? Ele fez que sim com a cabeça.
— Pelo menos.
— E como você percebeu que era ela mesma? Rob Davis sorriu.
— Nossa amiga não mudou nada. Claro que está um pouco mais velha, mas consegui reconhecê-la no instante em que a vi.
— E Sabrina? Conseguiu reconhecer você?
— Não. Não houve o mínimo sinal de reconhecimentos por parte dela.
Liz deu um sorriso maroto.
— Meu Deus, isso deve ter sido um golpe terrível no seu ego!
— Não se esqueça que eu mudei muito desde então. Também, só tinha treze anos na época! Eu não lhe contei que tinha sido seu vizinho. Espero que a curiosidade a encoraje a aceitar meu convite para jantar qualquer noite dessas.
Liz levantou uma sobrancelha.
— O quê? Você pretende sair com ela?
— Claro que sim. Qual é o problema?
— Bem... você é mais jovem que ela... Ele deu de ombros.
— Cinco anos apenas. Não é muita coisa. Sabrina continua linda como sempre. E elegante até dizer chega. Você iria ficar louca pelo vestido que ela estava usando.
Liz deu um suspiro desanimado e colocou a mão em cima do seu estômago enorme.
— Eu ficaria louca por qualquer vestido que fosse justo à cintura... Não agüento mais usar essas roupas largas que mais parecem tendas de circo!
Ele deu um sorriso e olhou para o ventre da irmã, onde seu muito esperado sobrinho - ou muito esperada sobrinha - aguardava o momento certo para vir a esse mundo.
— Ah, as alegrias da maternidade... Liz passou a mão pelos cabelos.
— Então quer dizer que você vai mesmo convidar Sabrina Marsh para jantar.
— Já convidei. E ela recusou. Mas você me conhece...
— Claro que o conheço, meu querido irmãozinho. Rob Davis, aquele que nunca aceita um "não" como resposta...
— Exatamente.
— Mas, e se ela estiver casada? Ou se estiver noiva, ou coisa parecida?
— Ela teria me dito se estivesse comprometida. Não lhe parece lógico?
— Então use seu uniforme da próxima vez que lhe fizer o convite. O capitão Robert S. Davis vestido com aquele terno azul-marinho com que mulheres inteligentes e adultas comecem a se comportar como adolescentes diante de seu ídolo. Você reparou que isso vem acontecendo desde o momento em que entrou para a Força Aérea Americana?
Rob deu de ombros.
— Não creio que tenha de recorrer ao uniforme para fazer com que Sabrina aceite meu convite. De qualquer modo, me lembrarei de sua sugestão, se tudo mais falhar.
— Hum... Quer dizer que você tem outro plano? Ele deu um sorriso maroto.
— Eu sempre tenho um monte de planos, irmãzinha.
— Meu Deus! A pobrezinha da Sabrina Marsh não sabe em que enrascada se meteu!
— Ora, até que eu não sou tão mau assim!
Liz sorriu e se levantou com certa dificuldade, graças a seu oitavo mês de gravidez.
— Bem, vou tomar um banho rápido, antes que Gordon chegue do trabalho. Sirva-se de um drinque, está bem?
— Vou me servir, obrigada.
Rob observou a irmã deixar a sala, reprimindo o impulso de fazer alguma brincadeira a respeito da falta de graça de seus movimentos. A pobrezinha não agüentava mais aqueles comentários maldosos.
Liz fez uma pausa e virou-se para ele.
— O que significa para você a saída com Sabrina Marsh? A satisfação de alguma fantasia infantil?
Ele franziu a testa.
— Hum... Digamos que sim.
— Foi exatamente o que eu pensei. Bem, pelo menos você vai ter algo que fazer, além de contar os minutos que o separam do momento de voltar ao trabalho que tanto ama. Nunca o vi tão ansioso, como nesses últimos dias. E pensar que você ainda tem três semanas de férias pela frente!
Minutos depois, com um copo de scotch Nas mãos, Rob Davis franzia a testa, pensativo. Não tinha percebido que sua ansiedade era algo assim tão evidente para sua família. Não que não estivesse gostando da visita, é claro. Mas a verdade era que o fato de ficar muito tempo sem ter o que fazer não o deixava muito satisfeito.
E então, voltou a pensar em Sabrina Marsh. Como sua irmã bem lembrara, ele era apaixonado por ela, quando criança. Havia sido a primeira pessoa do sexo oposto que lhe chamara a atenção.
Agora, ao se recordar da cena no elevador, percebia que tal paixão jamais fora superada, embora não houvesse pensado nela a nível consciente nos últimos anos.
Uma coisa era inegável. Ela mudara. Continuava linda como sempre, mas era como se o riso tivesse morrido dentro de sua alma. Por que será que aquilo acontecera? E o que precisaria fazer, para devolver-lhe a capacidade de sorrir?
Tinha três semanas de férias pela frente. Três semanas antes de partir para a Alemanha, onde ficaria por dois longos anos. Ótimo. Poderia usar aquele tempo para descobrir se a adulta Sabrina Marsh era tão fascinante quanto a menina de dezoito anos que conhecera um dia.
Com os dedos pressionando as têmporas, a cabeça estourando de dor, Sabrina Marsh deu mais uma olhada nos papéis em cima da mesa, tentando entender tanta complicação. O barulho dos outros escritórios transpassava as paredes e chegavam-lhe aos ouvidos - telefones tocando, pessoas conversando, máquinas de xerox operando a pleno vapor - deixando-a ainda mais tonta. Tentou se concentrar nos números à sua frente, tarefa um tanto árdua. Droga. Por que seu contador tivera de faltar justamente aquele dia?
— Com licença, Sabrina, há uma pessoa aqui que quer falar com você.
Sabrina olhou para cima e viu Júlia, sua secretária, de pé perto da porta. A moça tinha um lindo sorriso nos lábios.
Só que ela não tinha tempo de atender ninguém, a não ser que fosse algo muito importante. Aquela papelada toda já devia estar pronta e o trabalho mal fora começado. Não ia poder almoçar. Tudo por culpa daquelas duas horas de folga que havia tirado no dia anterior.
— Por favor, Júlia, diga para a pessoa que está aí que eu... —... adoraria recebê-la — uma voz masculina completou, entrando em sua sala.
Dessa vez o recém-chegado lhe pareceu familiar. Também o vira pela última vez havia menos de vinte e quatro horas, quando o deixara plantado naquele estacionamento e seguira seu caminho.
— Posso saber o que está fazendo aqui?
Segurando um embrulho nas mãos, ele se aproximou de sua mesa.
— Olá, Sabrina.
Ela precisava admitir uma coisa. Aquele homem - não importava o quanto fosse intrometido - mais parecia um galã de cinema, daqueles que arrancavam suspiros de. milhares de fãs.
— Posso saber o que está fazendo aqui? — repetiu ela, a voz cheia de irritação.
— Eu vim ver você. — Ele deu um sorriso. — E lhe trazer um presentinho.
O embrulho foi deixado em sua mesa, mas Sabrina o ignorou.
— Sr. Davis, esse é o meu local de trabalho. Estou ocupada. Não gosto de ser interrompida.
— Uma agência de empregos temporários... Muito interessante. Foi você quem montou o negócio?
— Foi. Agora, se me dá licença, estou muito ocupada e...
— Você está linda hoje, Sabrina. Esse vestido verde é muito formal, mas realça a cor de seus olhos.
Ela se levantou cada vez mais irritada.
— Será que eu vou precisar chamar o segurança do prédio para tirá-lo daqui, sr. Davis?
Ele fez uma cara desanimada.
— Você teria coragem de fazer isso a um velho amigo, Brie?
— Nós não somos velhos amigos! — ela berrou, no maior desespero. Respirou fundo para se acalmar e abaixou o tom de voz. — Vou repetir o que disse ontem. Não o conheço. Você não me é nem vagamente familiar. Não reconheci seu nome. Agora, por que não some daqui e me deixe em paz?
— Se você tem tanta certeza de que não nos conhecemos, como vai fazer para explicar o que há nesse embrulho que insiste em ignorar?
Sabrina olhou pára o pacote com um ar de desconfiança.
— O que é isso?
— Eu lhe disse. Um presente. Por que não o abre?
Ela hesitou durante alguns segundos, depois acabou fazendo o que lhe foi mandado. E então, franziu a testa, intrigada.
— Ei! Como foi que adivinhou?
O embrulho continha seis tabletes de seu chocolate favorito. Rob Davis sorriu, triunfante.
— Bem, você não vai me agradecer?
Aquilo era demais. Que coisa estranha. Como aquele homem podia saber de tanta coisa a seu respeito? Olhou bem dentro de seus olhos e perguntou, com a voz mais séria que conseguiu:
— Quem é você?
A resposta veio mais rápida do que ela esperava.
— O homem dos seus sonhos.
Sabrina Marsh sentiu o sangue ferver em suas veias. Quem aquele homem pensava que era? No instante seguinte, as seis barras de chocolate voavam pelos ares.
— Fora daqui! Ele sorriu.
— Ora, Brie...
— Não estou brincando. Fora do meu escritório. Não sei se percebeu, mas tenho trabalho a fazer.
— Você não quer mesmo adivinhar onde foi que nos conhecemos?
— Não! Já disse que odeio jogos de adivinhação!
Rob Davis deu um suspiro desanimado, recolheu os seis tabletes de chocolate que jaziam no chão e colocou-os sobre a mesa.
— Bem, pelo visto, não estou mesmo agradando. Vou deixá-la em paz. Até logo, Brie.
O quê? Será que ele estava indo embora? Será que iria deixá-la curiosa para todo o sempre? Não era justo! Sua mente começou a trabalhar com uma velocidade incrível.
— Irving — acabou dizendo, quase num sussurro. Rob Davis levantou uma sobrancelha.
— Como?
Ela ficou vermelha como um pimentão.
— Por acaso nós nos conhecemos quando minha família morou na cidade de Irving?
Ele abriu-se num largo sorriso.
— Pode ser.
Sabrina sentiu vontade de gritar.
— Responda, por favor. Nós nos conhecemos em Irvin ou não?
— Esse é seu primeiro palpite?
— Não! Só lhe fiz uma pergunta, sr. Davis. Como eu já lhe disse, não pretendo entrar nos seus ridículos jogos de adivinhação!
— Tudo bem. Como quiser. — Ele se aproximou da porta. — Até logo, Brie.
Sabrina observou-o deixar o escritório, então se afundou na poltrona, completamente esgotada. Aquilo tudo era tão estranho, tão fora de propósito, que, por alguns instantes, ela pensou que estivesse sonhando.
Respirou fundo várias vezes, tentando se acalmar. Estava começando a ter sucesso e tal tarefa, quando a porta se abriu e Rob Davis pôs a cabeça para dentro.
— Seu palpite estava correto. Nós realmente nos conhecemos em Irving.
E tratou de desaparecer, antes que ela pudesse abrir a boca.
Ele sabia que havia conseguido. Finalmente, fizera com que Sabrina Marsh ficasse com a pulga atrás da orelha. Abriu-se num largo sorriso, ignorando seus três companheiros de elevador. Então Sabrina Marsh havia se transformado numa mulher séria e compenetrada, que não se permitia nem a alguns momentos de descontração e de alegria. Aquilo era do som de sua risada. Som, que, aliás, lhe causava arrepios de prazer.
Tentou adivinhar se, um dia, poderia ouvi-lo de novo.
Seu sorriso ficou ainda mais largo.
Era evidente que sim.
As bolas de gás chegaram às quatro horas da tarde, meia dúzia de bexigas amarelas amarradas com um grande laço de fita branco.
Sabrina discutia novos planos de trabalho com Beverly, uma de suas secretárias, quando Júlia entrou em sua sala trazendo o curioso presente.
— Ai, meu Deus do Céu!
As duas moças caíram na risada.
— Há um cartãozinho — informou Júlia.
— Como se eu já não soubesse quem mandou essa porcaria.
— Sabrina deu um suspiro. — Vamos ver o que aquele aborrecido disse dessa vez.
Abriu o cartão e leu em voz alta.
— O amarelo era a sua cor favorita. Continua sendo? Jante comigo essa noite.
Droga. Será que aquele homem não desistia nunca? Será que não aceitava um "não" como resposta? E como ela iria fazer para recusar seu convite? Não havia nenhum número de telefone ali marcado!
— Bem, uma coisa é inegável — comentou Beverly, sorrindo.
— O homem é persistente até dizer chega!
— E lindo de morrer! — acrescentou Júlia. Sabrina levou as duas mãos às têmporas.
— Eu não sei o que fazer para me livrar dele. Vocês têm alguma sugestão?
As duas moças se entreolharam.
— Por que não aceita seu convite e janta com ele? — sugeriu Beverly. — Pode ser que acabe se divertindo a valer!
— E isso mesmo — concordou Júlia. — Afinal das contas, você não tem nada a perder!
Sabrina balançou a cabeça.
— Não. Ele não é meu tipo. Júlia deu um sorriso incrédulo.
— Ora, Sabrina, aquele homem é o tipo de todas as mulheres do mundo!
— Então por que não vai atrás dele?
— Você acha que eu não iria, se ele tivesse mostrado algum interesse por mim? O tal do Rob Davis só tem olhos para você, chefinha!
— Então é melhor ele começar a olhar em outra direção. Bem, meninas, que tal voltarmos ao trabalho? Temos uma porção de coisas para fazer.
Ele estava de pé, ao lado do elevador, quando ela deixou o escritório, às seis horas da tarde. Recostado à parede, os braços cruzados, Rob Davis parecia disposto a esperar o tempo que fosse necessário. O problema é que ele estava tão bonito e bem vestido, que Sabrina sentiu um friozinho na barriga. Tentou se controlar da melhor maneira possível. Afinal das contas, já se sentia idiota o bastante segurando aquelas bolas de gás nas mãos. Pensara em deixá-las no escritório, mas acabara mudando de idéia. Bexigas amarelas ficariam ridículas em sua sala. Qual o cliente que poderia levar sua empresa a sério?
— Vá embora — ela lhe ordenou, antes que ele pudesse abrir a boca.
Rob Davis deu um sorriso, mostrando seus dentes brancos e perfeitos.
— Como quiser. Mas vou ter de usar o elevador para fazer isso. Incomoda-se se eu pegar esse aqui?
Ela sentiu vontade de esbofeteá-lo.
— Alguém já lhe disse que é um tremendo cara-de-pau, sr. Davis?
As portas se abriram, mostrando três homens de cara amarrados vestindo ternos escuros, olhando impassivelmente para frente. Um deles era o síndico do prédio, um advogado enfezado que vivia reclamando de tudo. Com o rosto corado, Sabrina entrou no carro, as bolas em suas mãos. Rob entrou atrás, o mesmo sorriso nos lábios.
A descida até o térreo pareceu levar horas. As seis bexigas amarelas ocupavam um espaço enorme, de modo que ninguém conseguia se mexer ali dentro. Muito menos o síndico que devia pesar uns cento e vinte quilos e cujo rosto parecia ficar mais enfezado a cada segundo que passava. Maldito Rob Davis e suas idéias malucas!
Finalmente, o elevador chegou a seu destino. Mal as portas se abriam e Sabrina já descia correndo, como se o prédio estivesse em chamas. Rob correu atrás dela.
— A que horas devo apanhá-la para o jantar?
— Eu não vou jantar com o senhor!
— Brie...
— Pare de chamar de Brie!
— Por que não gosta de mim, Brie?
—Porque o senhor é o homem mais aborrecido que já encontrei na vida!
Ele piscou os olhos.
— Não é o que dizem a meu respeito. As pessoas costumam me achar muito agradável e simpático. Além disso, trato bem as crianças, os velhinhos e os animais e ainda por cima telefono para a minha mãe uma vez por semana.
Segundos depois, Sabrina alcançava a calçada e abria a bolsa para apanhar a chave do carro.
— Você quer saber de uma coisa? — soou a voz de Rob, logo atrás dela.
— Não!
Ele ignorou sua resposta.
— Você tem medo de mim. E sabe por quê? Porque mexo com as suas emoções. Porque sou um mistério que não consegue resolver. Porque sou alguém que ameaça o mundo monótono e sem graça que resolveu criar para si!
— O senhor está completamente louco! — Ela entrou no estacionamento onde deixara o carro. — Vá embora e me deixe em paz!
— Jante comigo, Brie.
— Já disse que não.
— Estou preparado para implorar.
— Isso não vai adiantar nada. Não perca o seu tempo.
— Você sabe que não pretendo desistir assim tão facilmente. Sabrina abriu a porta do seu carro e entrou.
— Nem eu.
— Até breve, Brie.
— Até nunca mais, sr. Davis.
Deu a partida e arrancou dali o mais depressa que conseguiu O que mais a incomodava era a certeza absoluta de que voltaria a vê-lo logo, logo.
— Oi, Sabrina — cumprimentou uma menina, no momento em que ela entrava no hall do seu prédio. — Que bexigas bonitas!
— Oi, Mandy. — Ela inclinou-se para beijar uma linda menina de trancas, sentada numa cadeira de rodas. — O que está fazendo aqui?
— Esperando meu pai. Ele teve uma reunião esse tarde, mas já deve estar chegando. Tenho uma coisa muito importante para lhe contar!
Sabrina sorriu para a menina. Nascida com paralisia cerebral, Mandy era uma criança amorosa e feliz, que todos adoravam.
— É mesmo? E que novidade é essa? O rosto da menina se iluminou.
— Tirei dez na prova de matemática! Foi a nota mais alta da classe!
— Ah, Mandy, que notícia maravilhosa! Meus parabéns! Estou orgulhosa de você! — Então, instintivamente, Sabrina amarrou as bexigas no braço da cadeira. — Pronto. Agora elas não são suas.
Mandy deu um grande sorriso.
— Muito obrigada! Elas são lindas! O amarelo é a minha cor favorita!
O amarelo era a sua cor favorita. Continua sendo? Foi só aí então que ela se lembrou do cartão que acompanhava as bexigas,
— Ha... espere um momentinho só. — Apanhou o envelope e guardou-o na bolsa. — Eu tinha me esquecido disso.
A menina sorriu.
— Era um cartão de amor, não era? Você arranjou um namorado?
— Mandy — soou uma voz feminina, vinda dali de trás. — Não vamos embaraçar nossa vizinha!
Sabrina virou-se e sorriu para uma moça que se aproximava.
— Oi, Ellen.
Ellen O'Neal, um ano mais velha que Sabrina, era uma bonita morena de cabelos cacheados que dava aulas de História na Universidade do Texas.
— Oi, Sabrina.
— Como vão as coisas?
— Tudo em ordem. E você? Trabalhando bastante como sempre?
Ela sorriu e fez que sim com a cabeça. Momentos depois, um carro estacionava ali em frente.
— Acho que seu pai está chegando, Mandy. Agora você vai poder lhe contar a respeito da prova de matemática. Até mais, querida. Até mais, Ellen.
E Sabrina dirigiu-se ao elevador, o cartão de Rob Davis guardado na bolsa.
Fazia muito tempo que Sabrina Marsh não tinha um sonho erótico. Naquela noite, porém, ela teve um. Rob estava lhe dando um beijo na boca, um beijo cinematográfico de se tirar o fôlego. Ambos estavam nus, abraçados, e ela acariciava-lhe as costas fortes e musculosas, enquanto as mãos de Rob deslizavam por seu corpo e desciam até seus quadris, puxando-a para mais junto de si...
Acordou assustada, um tanto confusa, sentindo um desejo incrível, algo que não acontecia havia muito tempo. Desde o fim de seu casamento, vinha canalizando toda a sua energia para o sucesso do seu trabalho. Talvez agora seu corpo estivesse lembrando-a de que até mesmo ela tinha outras necessidades, além de uma bem sucedida carreira.
Mas então por que seus hormônios não tinham dado sinal de vida quando havia saído com tantos amigos naqueles últimos anos? Por que justo aquele aborrecido do Rob Davis tivera que aparecer em seus sonhos, deixando-a ensopada de suor?
Olhou para o relógio digital em cima da mesinha de cabeceira. Três e meia da manhã. Determinada a voltar a dormir, fechou os olhos... e a figura de Rob Davis, sorrindo para ela, voltou-lhe à mente.
Sabrina Marsh deu um suspiro desanimado e acendeu o abajur.
A noite' prometia ser muito longa.
Cansada e sonolenta por causa da noite mal dormida, ela entrou na cantina próxima a seu escritório e olhou em volta. Era uma da tarde e a maioria dos clientes já tinham almoçado. Graças a Deus. Ela não gostava de barulho.
Avistou a amiga Katherine imediatamente, sentada a uma mesa de canto, no fundo do restaurante. Fez um sinal com a mão e dirigiu-se para lá.
— Oi, Kathy.
— Oi, Sabrina.
— Estou atrasada?
— De jeito nenhum. Acabei de chegar. Bem, vamos pedir? Infelizmente, estou com um pouco de pressa hoje. Meu chefe levantou com um humor do cão e exigiu que todo mundo estivéssemos de volta ao escritório às duas em ponto. Hum... O que você acha? Vamos ser sensatas e nos servir do bufê de saladas ou pedir um prato de massa?
Sabrina Marsh sempre se servia de bufê de saladas. Sabrina Marsh era sempre sensata.
— Vamos pedir um prato de massa — ela se ouviu dizendo. — Com bastante molho e bastante queijo, de preferência.
Katherine fez uma cara de espanto, como se não esperasse tal resposta. Gerente de uma grande companhia de seguros, ela havia conhecido Sabrina através do trabalho e logo ambas se tornaram amigas. As duas tinham uma porção de coisas em comum: a mesma idade, bons empregos, o mesmo estado civil.
— Está com fome hoje, Sabrina?
Dando um suspiro, ela apoiou o cotovelo na mesa e segurou o queixo com a mão.
— Não. Acho que estou cansada de ser sempre sensata só isso.
Katherine arregalou os olhos.
— Que maravilha! Aleluia! Meus parabéns!
— Ei! O que você quer dizer com isso?
— O que eu quis dizer é que já era hora de você fazer uma coisa insensata, para quebrar a monotonia de sua vida. Nem que seja apenas pedir um prato de massa em vez de uma salada!
Sabrina levantou uma sobrancelha.
— Olha quem fala!
Katherine concordou com a cabeça.
— Você tem razão. Somos muito parecidas nesse ponto. Também sou certinha e minha vida é monótona até dizer chega, mas bem que tenho feito um esforço para mudar as coisas.
Sabrina sorriu.
— Como fazer aquele cruzeiro pelo Caribe no ano passado, para descobrir então que todos os passageiros a bordo estavam participando de um torneio de bridge!
Katherine fez uma careta.
— Mas pelo menos eu arranjei um namorado.
— Sim. Benjamin Adams Lassiter Montgomery IV. Milionário, divorciado cinco vezes e com idade para ser seu avô. Não era ele quem interrompia o jogo de bridge de meia em meia hora para tomar um remédio para o coração?
Katherine mexeu-se na cadeira.
— Não.
— Não?
— Ele interrompia o jogo para tomar o tal remédio de uma em uma hora.
As duas amigas caíram na risada.
Um pouco depois, o garçom lhes servia duas generosas porções de spaghetti alia carbonara, um verdadeiro manjar dos deuses digno das melhores cantinas italianas.
Sabrina levou uma garfada à boca e deu um suspiro de pura satisfação.
— Ah, que maravilha! Duvido que haja neste mundo algo melhor do que estes spaghetti...
Katherine levantou uma sobrancelha.
— Pois eu estou começando a achar que há.
— O que, por exemplo?
— Acabei de avistar um homem lindo de morrer perto do balcão. Meu Deus, ele é ainda mais bonito do que Robert Redford! E está sorrindo para nós!
Sabrina levou outra garfada à boca.
— Como você é exagerada, Katherine!
— Juro que não estou exagerando. O homem é mesmo uma parada. Por que você não olha para trás e vê com os seus próprios olhos?
Disfarçadamente, Sabrina fez o que a amiga lhe sugerira. E sofreu o pior engasgo de toda a sua vida. Apanhou o copo e esvaziou-o num gole só, tentando se recompor.
O que aquele intrometido do Rob Davis estava fazendo naquela cantina, como se estivesse preparado para passar o dia todo ali, espionando-a?
Katherine inclinou-se para frente, preocupada com o estranho comportamento da amiga.
— Sabrina? Você está bem?
Levantando a cabeça e fazendo força para se controlar, ela balançou a cabeça.
— Não. Não estou bem. Maldito seja esse homem! Não só ele invadiu meu quarto essa noite, como também resolveu estragar meu almoço!
Katherine arregalou os olhos, os spaghetti subitamente esquecidos no prato.
— O quê? O homem invadiu seu quarto? Pelo amor de Deus, Sabrina, me conte essa história direito!
Ela ficou vermelha ao perceber o que tinha falado.
— Ha... Bem, não é isso que você está pensando. Como fazer para explicar o sonho erótico que tinha tido? Sua amiga ficou desapontada.
— Quer dizer que você não o conhece? — Então, Katherine compreendeu tudo. — Ei! Não é ele o bonitão do qual me falou ouro dia?
Segundos depois, Rob Davis se aproximava da mesa, com um grande sorriso nos lábios.
— Olá, Brie. Que prazer em vê-la aqui. Que mundo pequeno, não?
Ela o encarou com olhos cheios de desafio.
— Você me seguiu! Não tem vergonha na cara, sr. Davis? Ignorando totalmente as palavras de Sabrina, Rob virou-se para
Katherine e lhe deu uma piscadela.
— Adoro sua amiga. Ela não é um amor? Nós nos conhecemos há muito tempo.
Katherine parecia encantada com o recém-chegado.
— Mas Sabrina me disse...
Sabrina fez um gesto com a mão, pedindo a palavra.
— Vamos esclarecer tudo, está bem? Conheci esse senhor antes de ontem, quando ele começou a puxar conversa comigo dentro do elevador do prédio onde trabalho. Ele disse que nos conhecemos há tempos, mas a verdade é que o pobrezinho é demente, coitado. A única razão pela qual não chamei a polícia é que sou solidária aos doentes mentais. Só que agora, nesse caso, minha solidariedade está prestes a terminar!
O sorriso nos lábios de Rob Davis ficou ainda mais largo.
— Você é ótima, Brie. — Virou-se de novo para Katherine. — Vocês são amigas há muito tempo?
Katherine observava a cena com muito interesse.
— Há alguns anos.
— Que ótimo. Sabe que estou louco para convidá-la para jantar? Estou achando que ela anda um pouco solitária ultimamente.
Katherine sorriu.
— Também acho! Sabrina ficou revoltada.
— Katherine! Como tem coragem de ficar ao lado dele? Rob virou-se para ela.
— Jante comigo, Brie.
— Não!
Katherine resolveu intervir.
— Ora, Sabrina, ele só está convidando você para jantar. Que mal há nisso? Dê-lhe uma chance!.
— Esse homem não precisa de chance nenhuma, Katherine.
— Preciso sim, Brie. — De repente, ele ficou sério. — Preciso de uma chance com você.
Ela o estudou durante alguns instantes, a testa franzida.
— Você vai parar de insistir, se eu recusar dessa vez?
— De jeito nenhum.
— Foi o que eu pensei. — Ela deu um suspiro. — Tudo bem, Rob. Eu aceito seu convite. Com uma condição.
— Não vou tentar bancar o engraçadinho — ele prometeu, com a mão erguida. — Palavra de Escoteiro!
— E evidente que você não vai tentar bancar o engraçadinho — ela respondeu a voz gelada. — Se tentasse, seria um homem morto. Mas não é essa a condição.
— Não? Então qual é?
— Me conte onde foi que nos conhecemos.
Ele piscou os olhos, hesitando durante alguns instantes.
— Eu lhe contarei... na hora certa.
Sabrina não estava gostando do rumo que as coisas vinham tomando, mas precisava voltar logo ao escritório. Além disso, tinha de se afastar daquele homem o mais depressa possível. Não sabia por que, mas ele a deixava nervosa. Mais do que isso, na verdade. O tal do Rob Davis fazia coisas estranhas com ela, despertando-lhe vontades e desejos havia muito tempo adormecidos nos confins de sua alma. Por um instante, tentou adivinhar se os beijos dele eram tão quentes quanto haviam sido em seu sonho erótico. "Pare com isso", ordenou a si mesma. "Mantenha a calma, ou você ainda vai se dar mal.
A melhor coisa a fazer era acabar logo com aquele suplício. Levantou-se e apanhou a bolsa.
— Bem, eu já vou indo. Pode me apanhar às oito.
— Sete. — Ele deu um sorriso. — Costumo estar morrendo de fome às oito.
— Tudo bem. — Sabrina deu um suspiro resignado. — Eu moro na...
— Eu sei onde você mora, Brie.
Ela arregalou os olhos.
— O quê? Quer dizer que você me seguiu também até a minha casa?
Rob balançou a cabeça.
— Negativo, querida. Foi só procurar na lista telefônica. — Ele se virou novamente para Katherine. — Muito prazer em conhecê-la, Kathy. E obrigado por sua ajuda.
— De nada. E, se por acaso, o negócio não funcionar entre vocês dois, Sabrina tem meu telefone.
Rob sorriu.
— Vou me lembrar disso. Até logo, meninas. Ah, não se preocupe com a conta. Ela já foi paga.
E deixou a cantina, como se fosse o dono do mundo.
Um jantar. Somente um inocente jantar. Sabrina estudou seu armário pela milésima vez, um tanto impaciente. Então por que não conseguia escolher um vestido para a ocasião? Porque estava tão nervosa?
Aquilo era ridículo. Vivia jantando fora. E aquele jantar iria acabar exatamente como os outros: na porta da frente de sua casa.
Droga. Havia algo de errado naquilo tudo. E ela sabia o que era. Jamais devia ter aceitado aquele convite absurdo. Bem que tentara recusar, mas não houvera jeito. Rob Davis não pertencia ao mundo seguro em que vivia. Ele era um perfeito estranho... que já estava lhe causando problemas. Havia dormido mal na noite passada. De quem tinha sido a culpa? Dele, era evidente. Não conseguira se concentrar no trabalho aquela tarde. De quem tinha sido a culpa? Dele, era evidente.
Maldito fosse aquele homem! E maldita fosse ela mesma, por ter aceitado seu convite!
Olhou para o relógio. Tinha de se apressar. Se ele fosse pontual, estaria chegando dali a dez minutos.
Acabou se decidindo por um vestido verde de seda, um modelo muito bonito e elegante, que lhe dava um ar sóbrio e formal. Ótimo. Era exatamente aquele efeito que ela procurava obter para o jantar daquela noite.
Sim. Ele era pontual. Às sete em ponto, a campainha tocou. Tentando manter a calma, ela deu uma última olhada no espelho e foi receber seu estranho visitante.
— Fique quieto, Angel — ela ordenou ao cachorro que latia furiosamente, dando graças a Deus que pelo menos sua voz soara normal. Como fazia sempre, olhou pelo olho mágico e só aí abriu a porta. — Entre, Bob.
— Tem certeza de que não vou ser comido vivo se o fizer? — ele perguntou um pouco preocupado, olhando para o dobermann com certa desconfiança.
Sabrina não foi capaz de se controlar. Provocar aquele homem lhe causava um imenso prazer.
— Você só será comido vivo se assim eu ordenar.
— Isso é um consolo ou uma espécie de ameaça?
— Digamos que eu não tenha planos para ordenar um ataque contra você... pelo menos por enquanto. Entre, por favor.
Rob Davis entrou e foi só aí que ela reparou no quanto ele estava bonito e elegante. Ainda mais do que o habitual, se é que aquilo fosse possível. Então, de súbito, seu sonho erótico voltou-lhe à mente.
Pare com isso, Sabrina Marsh!
Deu um sorriso, determinada a disfarçar o estranho embaraço que sentia. Era engraçado, mas homem algum nesse mundo havia lhe despertado sensações tão conflitantes.
— Está pronto para me contar como foi que nos conhecemos?
— Ainda não. E você? Está pronta para sair? Ela franziu a testa.
— Como já lhe disse, eu devo ter me esquecido de você porque não ia com a sua cara!
— Bem, devo confessar que um dia você disse que eu era uma peste.
— Eu? Quando?
Ele deu de ombros, recusando-se a responder.
— Não acredito em você. Não costumo chamar as pessoas desse jeito, não importa o quanto elas mereçam.
Ele deu um passo à frente e segurou seu queixo com a mão.
— Eu não minto nunca, Brie.
Ela deu um passo para trás, evitando aquele contacto. Ficar assim tão perto dele a deixava nervosa.
Foi aí então que percebeu algo muito estranho. Angel não protestara quando Rob a tocara. O dobermann não costumava deixar estranhos chegarem tão perto de sua dona, salvo por alguma ordem contrária. Será que, de uma forma ou de outra, o cachorro pressentira que o visitante não oferecia perigo?
— Que lindo dobermann — comentou ele. — Você não vai nos apresentar?
Ela acariciou as costas do cachorro.
— Esse é Angel. Meu colega de apartamento.
Só foi depois de Sabrina ter dito o nome do animal, que Rob estendeu a mão,, sem no entanto tocá-lo. Esperou ser cheirado e avaliado, para aí então acariciar sua cabeça.
— Oi, Angel.
— Ele gostou de você — observou Sabrina, surpresa ao ver seu feroz dobermann transformar-se num gatinho inofensivo bem debaixo do seu nariz. Traidor. Era exatamente aquilo que ele era. Decidiu ter uma longa conversa com o cachorro mais tarde, a respeito de quem merecia confiança e quem não merecia. Será que até mesmo Angel se deixava levar pelo charme barato das pessoas?
— Eu não lhe disse que todos me achavam muito simpático? Os animais também!
Ela mordeu os lábios para não rir.
— Bem, vamos indo?
— Vamos. Você gosta de comida italiana o suficiente para comê-la no almoço e no jantar? Estou com vontade de ir a um daqueles lugares onde os garçons trazem um prato diferente a cada dois minutos, até que as pessoas pensem que vão morrer de indigestão.
Sabrina sorriu.
— Parece maravilhoso.
— Ah, uma mulher do jeito que eu gosto. Quer se casar comigo?
Ela caiu na risada, então algo lhe ocorreu.
— Ei! Eu não perguntei se você era casado!
— Ora, Sabrina, como eu ia poder pedi-la em casamento, se já fosse casado? Sou solteiro, posso lhe assegurar. Sempre fui.
— Mas você nunca me perguntou se eu era casada — ela rebateu. — E se eu fosse?
— Se você fosse, teria me dito logo.
— É verdade.
— Mas já se casou alguma vez?
— Já. Durante cinco anos. Divorciei-me há bastante tempo.
— Teve filhos?
— Não.
Burt não quisera nem ouvir falar no assunto. O fato de Sabrina adorar crianças não o fizera mudar de idéia. Tentou esquecer aquela velha mágoa e mudou de assunto rapidamente.
— Nós estudamos juntos em Irving? Rob sorriu.
— É seu segundo palpite?
— Não. Só uma simples pergunta.
— Tudo bem. Vou responder. Nós não estudamos juntos em Irving.
Ela franziu a testa.
— Essa resposta não ajuda muito, não é?
— Tem razão. Mas você está curiosa até dizer chega, não está? Bem, estou ficando com fome. Vamos jantar?
Sabrina não teve muitas chances de descobrir alguma coisa a respeito de Rob Davis naquela noite. Passou quase que o tempo todo ocupada demais, respondendo-lhe tantas perguntas. Ele parecia extremamente interessado em saber de uma porção de coisas a seu respeito, pelo visto fascinado por tudo que ela lhe dizia. Quando se deu conta, Sabrina lhe contava a respeito de seu casamento com um jogador de futebol, que conhecera na época da faculdade. Burt era bonito, charmoso e divertido e ela acabara se apaixonando. Depois de cinco anos viajando por todo o país a fim de acompanhá-lo e sabendo-se traída desde a época da lua-de-mel, ela resolvera dar um basta naquela história e pedira o divórcio.
— Você deve ter lutado muito para ter chegado onde está — sussurrou ele, beliscando uma bandeja de antepastos que continha queijos, presunto, berinjela e azeitonas.
— Bastante.
— Por que uma agência de empregos? Como foi que você ingressou no negócio?
— Eu trabalhei num negócio parecido, na época da faculdade. E gostei da experiência. Era muito interessante, trabalho com tipos tão diferentes de pessoas. Então, depois do divórcio, resolvi abrir meu próprio negócio.
— Quantos funcionários você tem?
— Duas secretárias fixas, mas estou pensando em contratar mais uma só para cuidar dos testes e das entrevistas.
— Algum arrependimento por ter seguido esse caminho?
Ela balançou a cabeça.
— Nenhum.
O garçom apareceu para servir o primeiro prato, um delicioso risoto de frutos de mar. Ela pensou que Rob fosse continuar a lhe fazer perguntas sobre o trabalho, mas ele mudou de assunto.
- Como está Colin?
Sabrina lhe respondeu que o irmão ia bem e que seu trabalho de fotógrafo free-lance o mantinha muito ocupado.
— Nós somos bastante unidos. Só não nos vemos mais porque ele viaja muito.
— E sua mãe? Quando foi que a perdeu? Ainda doía falar sobre aquilo.
— Há oito anos.
— Você estava casada naquela época?
— Estava.
— Que bom. Pelo menos, havia alguém para consolá-la. Era verdade. Houvera alguém que chorava junto com ela. Seu irmão Colin. Burt estava muito ocupado na época tratando de sua venda para outro time e não tivera muito tempo - nem muita paciência - para consolar sua triste esposa.
Rob esperou que ela falasse alguma coisa. Como permanecesse em silêncio, ele continuou:
— E seu pai?
— Ele morreu um pouco depois de eu ter entrado na faculdade.
— Eu sinto muito. — Então, sentindo que precisava mudar de assunto, perguntou: — O que você faz, quando não está trabalhando?
— Faço cursos e saio com amigos. Mas também gosto bastante de ficar em casa, lendo um bom livro. Mas já falamos muito a meu respeito, Rob. E você? Trabalha no quê?
— Sou piloto.
Tal resposta a pegou de surpresa.
— É mesmo? De onde? De alguma grande companhia?
— Da maior de todas. A companhia de Tio Sam. — Ele deu um sorriso. — Capitão Robert S. Davis, da Força Aérea Americana, à sua disposição, senhora.
Sabrina olhou para o prato, subitamente desapontada. á—
— Ah...
— Ei! O que foi? Falei alguma coisa de errado? Piscando, ela balançou á cabeça e forçou um sorriso.
— Não, claro que não. É que fiquei um pouco surpresa, só isso..
Outro nômade. Droga. Bem agora que estava começando a gostar dê sua companhia. Por que será que só se sentia atraída por aquele tipo de homem? A Força Aérea Americana não costumava manter seus funcionários num mesmo lugar durante muito tempo.
— Ha... Você mora aqui no Texas? — perguntou ela finalmente, apesar de já saber a resposta.
Ele balançou a cabeça.
— Não, Estou de férias e vim visitar minha família. Aquilo queria dizer que ele estava só de passagem.
— Ah, sei.
O segundo prato foi servido, camarões gigantes ao molho, ainda mais delicioso do que o primeiro. Para Sabrina, porém, o jantar tinha perdido toda a graça e os camarões, seu prato favorito, passaram a ter gosto de papelão.
— Eu sempre adorei voar — ele explicou, entre uma garfada e outra. — Quando fiz dezoito anos, em vez de pedir um carro a meus pais, como fazem todos os rapazes, pedi para entrar num curso de vôo. Passei anos sem ter nenhum tipo de vida social. Meu único interesse na vida era voar. Todos os meus momentos livres eram passados em diversos aeroportos, trabalhando nos aviões, sonhando com o dia em que ia pilotar a aeronave mais veloz que existisse.
— Você entrou para a Força Aérea logo após o colegial? Ou fez uma faculdade primeiro?
— Freqüentei a Academia da Força Aérea — respondeu ele, cheio de orgulho.
Ela deu um sorriso.
— Uau! Estou impressionada!
E estava mesmo. O homem à sua frente, ao contrário do que pensara a princípio, era muito interessante. E fascinante também, se quisesse ser sincera. Era evidente que havia uma porção de mulheres atrás dele. Centenas, talvez. Então, para seu grande espanto, Sabrina Marsh percebeu que sentia algo que pensara nunca mais sentir, enquanto vivesse: ciúmes.
Estavam terminando o segundo prato, quando ele a surpreendeu, perguntando:
— Você continua escrevendo, Sabrina? Pensei que, a essa altura, você tivesse se transformando numa escritora famosa!
Ela quase engasgou com um gole de vinho. Não era possível! Como, em nome de Deus, ele podia saber daquilo? Pensou em sua época de adolescência, quando passava horas escrevendo histórias de amor em cadernos de escola, criando amigos e namorados para os quais não teria de dizer adeus quando seu pai resolvesse mudar de novo. O prazer de escrever a havia ajudado a enfrentar tempos difíceis e solitários, mas era um segredo guardado a sete chaves. Ou assim tinha imaginado.
Forçou um sorriso.
— Meu trabalho me mantém muito ocupada. Não tenho mais tempo de escrever.
— Você nunca sonhou em ter um livro publicado? Eu me lembro que, quando estava no último ano de colegial, ganhou um concurso de contos promovido pela prefeitura da cidade.
Sabrina limpou a garganta e desviou o olhar. Era difícil falar de uma coisa tão íntima com um estranho.
Talvez um dia conseguisse tempo para terminar seu livro e ganhasse coragem suficiente para levá-lo a um editor. Porém, no momento, não tinha a mínima intenção de compartilhar seu segredo com quem quer que fosse. Sabia, por experiência própria, como os sonhos podiam ser destruídos.
— Não vou mais uma adolescente, Rob. Estou muito satisfeita com o meu trabalho.
Ele franziu a testa.
— Você fala como se achasse que a profissão de escritor é menos digna que as outras.
— Não. Escrever é para os sonhadores. As chances de uma pessoa ser bem sucedida nesse ramo, ou até mesmo de ter um livro publicado, são muito pequenas. Algo um tanto arriscado para o meu gosto.
Ele a estudou durante alguns instantes.
— Você era uma garota sonhadora, Brie. O que aconteceu? O que tinha acontecido?
Como faria para explicar seu pai? O nômade incansável. O sonhador que passara a vida toda correndo atrás de um arco-íris, levando a família consigo, colocando seus desejos e interesses acima da segurança de seus filhos. Ele morrera quando Sabrina estava no primeiro ano da faculdade, deixando um monte de dívidas e nenhum centavo no banco para pagá-las.
Ou seu marido. Burt, que tinha oferecido tanto... e dado tão pouco. Burt, o homem que arrancara os sonhos de seu coração e os jogara na poeira.
— Eu cresci, Rob— ela respondeu, repetindo a mesma coisa que dissera no dia em que o conhecera. — Todos nós temos de crescer um dia.
Brie desviou o olhar.
— É verdade.
A sobremesa foi servida, um maravilhoso sorvete de creme com cobertura de amora. Enquanto comia tal delícia, Sabrina não podia deixar de admitir que aquele havia sido um dos jantares mais agradáveis de sua vida. Rob Davis era um excelente ouvinte, coisa rara nos últimos tempos. Não se lembrava de ter falado tanto a seu respeito para uma só pessoa e, apesar disso, ele não dava sinais de estar se aborrecendo.
— Cansada das minhas perguntas, Sunshine?
Sunshine? De onde será que ele tirara aquele estranho apelido? De qualquer modo, tinha de admitir que gostara dele.
— Não, não estou cansada. Mas estou curiosa para saber de alguma coisa a seu respeito. E sua família? Seus pais estão vivos?
— Estão.
— Eles moram em Irving? — ela insistiu. Ele balançou a cabeça.
— Não. Eles se mudaram para Forth Worth há muitos anos.:— Você tem irmãos?
— Uma irmã.
— Eu... a conheço? Ele sorriu.
— Conheço.
Sabrina terminou seu sorvete.
— Você não está sendo de muita ajuda.
— Ora, Brie, eu respondi suas perguntas direitinho. Pode continuar a fazê-las.
Ela ficou pensativa durante alguns instantes.
— Então me conte o que eu venho querendo saber desde o princípio. Onde foi que nos conhecemos?
Ele respirou fundo, como se estivesse tentando ganhar tempo.
— Você não desiste, não é mesmo?
— Tem razão. Não desisto nunca.
A conversa foi interrompida pelo garçom, que apareceu para servir o licor. Rob Davis sentiu-se aliviado. Fora salvo pelo gongo.
— Você está achando muita graça nessa história, não está? — ela perguntou irritada, quando o homem se afastou.
Ele riu.
— Pode apostar que sim. Você se acha uma espécie de dona da verdade, não é? Pois não acha que está na hora de aparecer alguém que tenha coragem de desafiá-la?
Ela levantou a sobrancelha.
— Alguém como você?
Ele estendeu o braço e tocou a mão dela.
— Alguém exatamente como eu — respondeu Rob Davis, suas palavras soando como uma promessa.
Rob Davis deu a partida na sua Ferrari vermelha s ligou o rádio. A voz de Frank Sinatra cantando Strangers in the Night encheu o ar. Sabrina recostou-se no banco, curiosa e intrigada ao mesmo tempo. Tinha de pensar com clareza. Uma família chamada Davis. Cidade de Irving. Texas.
Davis. Ela arregalou os olhos. Havia uma família que morava na casa ao lado... e o nome do pessoal era... Sim! Era Davis!
Sabendo que estava na pista certa, forçou a mente a recuar dezessete longos anos. Não havia sido exatamente amiga da família, mas trabalhara como baby-sitter das crianças da casa uma ou duas vezes. Se não lhe falhara a memória, elas eram duas, um menino e uma menina, ambos bem mais novos do que ela. E havia também uma porção de primos que moravam no bairro, todos eles assíduos freqüentadores do lar dos Davis. Sabrina não se lembrava exatamente de nenhum Rob, mas era muito provável que o homem a seu lado fosse um deles. Era aquilo mesmo. Rob Davis era um dos primos das crianças que moravam na casa ao lado, duas autênticas pestinhas que não paravam de persegui-la e espioná-la, pelo que podia se lembrar agora. Aquilo explicaria alguma das coisas que ele sabia sobre sua vida... mas não todas.
Como Rob Davis podia saber que seu prato favorito era risoto de frutos do mar? E que sua cor predileta era o amarelo? E que gostava de escrever? Não fazia idéia da resposta.
Olhou para ele com o canto do olho e não pode deixar de admirar seu perfil perfeito, como o de uma estátua grega. Procurou se lembrar dos rostos de todos os parentes da família Davis. O problema é que nenhum deles era nem ligeiramente parecido com o homem que agora estacionava o carro em frente a seu apartamento. Rob Davis era, sem dúvida nenhuma, mais bonito do que qualquer galã de cinema. Seria muito difícil conhecê-lo um dia e se esquecer para sempre de sua existência.
Determinada a descobrir mais alguma coisa a seu respeito, ela virou-se para ele, sorrindo.
— Vamos entrar um pouquinho?
Ele desceu do carro imediatamente, como se tivesse medo que ela mudasse de idéia.
— Vamos, sim!
Minutos depois, ela o convidava para se sentar no lindo sofá em frente à lareira apagada.
— Vou preparar um café. Enquanto isso fique conversando com Angel.
Rob Davis agradou a cabeça do cachorro, que abanava o rabo com a felicidade de quem reencontrara muito tempo perdido.
— Peço desculpas por lhe dizer isso, Brie, mas Angel é um nome muito estranho para um dobermann imenso que mete medo em qualquer um.
Ela sorriu.
— Eu sei. Seu pai era um campeão chamado Príncipe das Trevas e ele foi registrado com o nome de Arcanjo Lúcifer. Resolvi chamá-lo de Angel para encurtar.
— Talvez Diabo fosse um apelido mais apropriado. Os dois caíram na risada.
— Bem, vou preparar o café. Fique à vontade, que eu já volto.
— Posso ir com você? — pediu ele.
— Claro.
Rob sentou-se à mesa da cozinha e ficou observando-a colocar uma chaleira no fogo. Sabrina abriu um armário, apanhou uma caixa de bombons e ofereceu-lhe um.
— Não, obrigado - recusou-o. — Acho que comi demais. Provavelmente vou passar o dia de amanhã em jejum!
Ela deu um sorriso e guardou a caixa.
— Eu também comi até dizer chega. Mas me diga uma coisa, Rob, quando é que suas férias terminam?
— Daqui a três semanas. Então, deixo o Texas e vou para a Alemanha, onde devo ficar pelos próximos dois anos.
Sabrina manteve os olhos fixos na chaleira.
— Alemanha... Um lugar bem distante, não é? Você não vai sentir saudades... da sua família?
Ele sorriu.
— Eu adoro viajar, morar em lugares diferentes, conhecer novos povos e novos costumes. Mas não deixo de telefonar para minha família com freqüência. Aliás, minhas contas telefônicas são astronômicas!
De repente, aquela noite tinha perdido completamente a magia. Rob Davis era um nômade, como havia sido seu pai. E aquilo era o bastante para deixá-la triste e desapontada.
Resolveu acabar logo com aquela agonia e ir direto ao que interessava.
— Quando eu morei na cidade de Irving, os vizinhos da casa ao lado chamavam-se Davis. Você por acaso é parente da família? Um dos primos que não saíam de lá, talvez?
Ele deu um largo sorriso.
— Esse é seu último palpite? Sabrina sentiu-se subitamente esgotada.
— É. Esse é meu último palpite. Achei que você devia ser um dos parentes quando me lembrei dos Davis. Trabalhei como baby-sitter das duas crianças da casa, Liz e... ai, meu Deus, como era mesmo o nome do menino? Skipper? Não. Scooter. Isso mesmo, Scooter. Agora me lembro dele. Era um menino meio e tímido, que vivia tentando puxar conversa comigo. Que engraçado... agora, as coisas estão vindo claras à minha mente... Um dia, ele estava em casa, tomando um suco comigo, quando meu namorado chegou. O pobrezinho do Scooter ficou tão vermelho e embaraçado, que teve até um acesso de tosse! Você tem tido notícias dele?
Rob Davis não respondeu. Aproximou-se dela e estendeu-lhe os braços.
— Você era uma adolescente linda, Brie. E transformou-se numa mulher maravilhosa.
Sabrina Marsh vinha esperando um beijo desde o início da noite. Só achava que ele não viria assim tão de súbito. Quando se deu conta do que estava acontecendo, Rob colava os lábios nos dela, provocando-lhe sensações incríveis... e assustadoras.
Ele não a beijou como se aquela fosse a primeira vez. Beijou-a com a paixão e a intensidade daqueles que se conheciam e se amavam havia anos.
A verdade era que Sabrina jamais fora beijada daquele jeito. E correspondeu àquele beijo com uma paixão que deveria tê-la assustado, mas que por algum estranho motivo, não assustou.
— Sabrina — ele murmurou por fim, afastando-se dela ligeiramente. — Ou vou embora agora, ou faço amor com você. Nunca desejei uma mulher com tanta intensidade. Vai pedir... para eu ficar?
Ela respirou fundo, o bom senso voltando-lhe de súbito.
— Rob... não. Eu não...
— Eu sabia — respondeu ele, acariciando-lhe os cabelos. — Eu também não costumo agir dessa maneira. Mas lembre-se de uma coisa. Nós dois não somos estranhos. Para mim, é como se nos conhecêssemos há uma eternidade.
Era incrível, mas Sabrina sentia exatamente a mesma coisa. Seus olhos estudaram o rosto à sua frente, um rosto desconhecido... mas muito familiar. Jamais sentira vontade de fazer amor com um estranho. Era algo perigoso e arriscado. Por outro lado, era uma mulher adulta, dona do seu próprio nariz e, tomando as devidas precauções, poderia perfeitamente se entregar ao êxtase de uma noite de amor. Tinha certeza absoluta de que Rob era um amante maravilhoso. Será que estava sendo uma perfeita idiota por desperdiçar aquela chance? Ou será que estaria bancando a boba, se o deixasse se aproximar demais?
— Tu... tudo está acontecendo muito depressa — ela se ouviu dizer, sua voz quase um sussurro.
— Eu sei — ele murmurou, beijando-lhe as têmporas, as pálpebras, o nariz e, finalmente a sua boca. — Eu te quero muito, Sabrina. Mas não vou pressioná-la. Irei embora, se você quiser.
— É melhor... você ir. Rob forçou um sorriso.
— Tudo bem. Eu ligo para você amanhã.
Virou as costas e se afastou, agradando a cabeça de Angel ao passar por ele.
— Rob! — ela chamou, fazendo com que ele se virasse novamente, os olhos azuis brilhando de esperança.
Ela ficou ali, parada, confusa e trêmula. Droga. O que tinha dado em sua cabeça? Rob Davis precisava ir embora. Por outro lado, vê-lo partir era doloroso demais.
— Eu... nada.
Ele ficou desapontado, mas tentou não demonstrar.
— Vamos sair amanhã?
Não. Diga que não, Sabrina. Você só vai se machucar, se resolver prosseguir com essa história.
— Eu... ha...
— Por favor. Droga.
— Vamos.
Ela poderia lhe dizer então que não havia futuro para ambos, que não costumava sair com homens que viviam como nômades, pulando de um lugar para outro, como fizera seu pai. E dai nunca mais o veria de novo.
— Boa noite, Sabrina. Até amanhã. E, dizendo isso, se foi.
Rob Davis deu a partida na sua Ferrari, sentindo-se um adolescente descobrindo pela primeira vez os mistérios do sexo oposto. Havia namorado uma porção de mulheres durante aqueles últimos anos. Chegara a se apaixonar de verdade por algumas delas. Mas ninguém, ninguém mesmo, fizera com que ela sentisse as coisas que havia sentido quando beijara Sabrina, poucos minutos atrás.
O problema era que estava de partida para a Alemanha. E a idéia de se envolver com uma mulher agora era inconcebível. Só que ele já estava contando os segundos que o separavam do momento de vê-la novamente.
Pela primeira vez desde que se tornara um homem adulto, Rob Davis sentiu-se perdido e confuso como uma criança pequena.
Sabrina passou um longo tempo diante do espelho, experimentando roupas, sapatos e jóias. Ó que deveria usar? O vestido branco com o colar de pérolas? Ou o preto com a corrente de ouro? Acabou se decidindo pelo amarelo de linho, um tubinho simples
mas muito chique, que lhe dava um ar de segurança e sofisticação. Não que aquela imagem tivesse sido de muita ajuda na noite anterior. Mas iria ajudá-la agora, tinha certeza. Passara o dia todo pensando e tomara uma decisão: Aquela era a última vez que veria Rob Davis. Não iria mais se deixar levar por seu charme. Já era hora de ele perceber que ela havia muito deixara de ser aquela adolescente boboca que conhecera um dia. Já estava mais do que na hora de ela voltar a ter o controle daquela desconcertante e estranha situação.
Pelo menos, era o que esperava.
Suas intenções duraram até o momento em que abriu a porta.
— Meu Deus, como você está linda... — ele murmurou, olhando-a de um jeito que a fez corar.
Sem nenhuma dúvida, aquela foi à noite mais bonita e romântica da vida de Sabrina Marsh. Desde o maravilhoso restaurante francês onde jantaram até a gostosa e aconchegante boate onde dançavam agora, ela se viu entretida por um mestre. Rob Davis sabia exatamente o que dizer para agradá-la, sabia quais eram as palavras que faziam seu coração bater mais depressa, sabia como olhá-la de modo a fazê-la tremer. Tentou se lembrar da resolução que havia tomado, mas foi uma tarefa impossível. Ninguém jamais a havia tratado daquela maneira. Ninguém jamais tivera tanto trabalho para fazer com que ela sentisse especial, desejada e ainda assim, profundamente respeitada.
Até o ato de dançar parecia pura magia. Seus passos combinavam maravilhosamente, seus corpos se moldavam em íntima perfeição. Rob Davis era a tentação em forma de gente: corpo firme, sorriso sensual, rosto atraente, maneiras de um gentleman. Ela estava sendo seduzida. Tinha consciência daquilo. Mas a verdade era que não podia, nem queria fazer nada a respeito.
— Me fale um pouco sobre a sua profissão — ela pediu, quando pararam para descansar um pouco e tomar um drinque no bar. — Como é voar?
— Acho que é algo impossível de se descrever — ele respondeu a voz pausada. — Pelo menos usando palavras. Quando criança eu ficava olhando para os passarinhos e sonhando com a liberdade que eles tinham. Minha primeira aula de aviação foi tudo o que sempre sonhei... e um pouco mais. Desde então, nunca mais parei.
— Sonhos... — ela murmurou encantada com a palavra e ao mesmo tempo assustada com os sentimentos que ela costumava despertar em sua alma.
— Isso mesmo, Brie. Sonhos. Eu acredito neles. E os cultivo dentro de mim.
— Você voa em que tipo de avião? — ela perguntou rapidamente, mudando de assunto.
Ele deu um sorriso.
— Em qualquer coisa que deixe o solo. Meu cunhado tem um Cessna 150, um aviãozinho de dois lugares e de um só motor. Gosto de usá-lo de vez em quando, durante as minhas férias. Eu me divirto com ele, só isso. Mas o que realmente me fascina são os caças do tipo F-15. Ah, o poder, a velocidade, o barulho, a tecnologia... Não há nada neste mundo que me compare com a sensação de estar na beirada da atmosfera, com todo aquele poder bem debaixo dos meus dedos.
— Mas, e o perigo? — ela perguntou com voz suave, tentando não se lembrar dos inúmeros casos de acidentes aéreos dos quais ouvira falar nos últimos tempos.
— O perigo existe, Brie. Mas, para falar a verdade ele até que acrescenta um pouco de tempero ao negócio. — Ele se levantou de súbito e tomou sua mão. — Está ouvindo essa música? Um romântico incurável como eu não pode ficar aqui sentado, sem querer dançar com você.
Segundos depois, Sabrina Marsh estava em seus braços, tentando adivinhar se o ato de voar que ele tanto amara podia ser tão maravilhoso quanto sentir aquele corpo másculo e forte pressionando o dela.
Sabia que estava sendo seduzida. Não se importava com aquilo. E mesmo que se importasse, não poderia fazer absolutamente nada a respeito.
Era tarde, quando Rob finalmente a levou para casa. Ela hesitou durante alguns instantes perto da porta, sabendo que poderia mandá-lo embora, com a desculpa de que precisava levantar cedo na manhã seguinte. De um modo ou de outro, sabia que ele aceitaria seu argumento sem protestar.
E então, para a sua grande surpresa, ouviu-se dizer:
— Vamos entrar?
Ele tocou seu rosto de leve com a ponta dos dedos. E quando falou, o fez com voz rouca e suave.
— Sabrina, eu fui educado para ser um gentleman e procuro me comportar como tal durante a maior parte do tempo. O problema é que os sentimentos e as emoções que você me desperta são tão fortes, que estou tendo dificuldades em lidar com eles. Ontem à noite eu deixei este apartamento quando minha vontade era tomar você nos braços e levá-la para a cama. Não sei se serei capaz de repetir hoje tal comportamento. — Ele lhe deu um beijo no rosto. — Eu te quero muito, Brie. E melhor eu ir, enquanto tenho condições de fazê-lo.
Sabrina respirou fundo, tentando pensar com clareza. Só que a tarefa em questão era impossível. Nenhuma mulher podia raciocinar direito, tendo Rob Davis ao lado.
A verdade era uma só: queria Rob. Jamais desejara outro homem com tanta intensidade, mesmo que fosse por uma noite só.
— Não vá — ela murmurou numa voz que nem parecia a sua.
Ele disse algo incoerente e, tomando-a nos braços, deu-lhe um beijo que despedaçou o que restava de sua sanidade mental.
— Ultima chance para você mudar de idéia — ele murmurou momentos depois, acariciando-lhe as costas.
Ela deu um sorriso.
— Não vou mudar de idéia.
Beijaram-se novamente, então ele a tomou nos braços com incrível facilidade. Ela riu e jogou a cabeça para trás.
— Você me faz sentir tão bem, Rob... Os olhos dele brilharam.
— E eu ainda nem comecei.
Ao pé da escada, ele a colocou de novo no chão.
— Não sou Rhett Butler — murmurou ele com um traço de humor na voz que não escondia o profundo desejo que consumia seu corpo e sua alma. — Já pensou se eu tropeçasse e nós dois fôssemos para o chão?
Subiram a escada de mãos dadas e Sabrina abriu a porta do seu quarto. Ele olhou em volta.
— Que decoração linda, Brie. Você tem muito bom gosto. — Virou-se para ela. — É a mulher mais bonita que já vi na vida.
Beijaram-se mais uma vez, os lábios de Rob tocando suavemente os de Sabrina, até que ela começou a querer mais, a precisar mais, a pedir mais. Abraçou-o com força, fazendo com que ele colasse o corpo ao seu. Rob aceitou aquele gesto exatamente pelo que ele era: um convite para que tomasse o controle das coisas. E, dando um sorriso, aproveitou a chance para encantá-la com seus beijos maravilhosos.
Pouco depois, deitava-a na cama com muita suavidade e Sabrina esquecia-se do resto do mundo, concentrando-se apenas no que lhe acontecia agora.
Rob abriu-lhe o zíper do vestido e despiu-a com calma, saboreando aquele momento cheio de magia. Seu sutiã de renda voou longe e ele abaixou a cabeça, a fim de acariciar-lhe os seios firmes e macios. Rob a tocou com os lábios, com os dentes e, língua e dedos, lambendo, roçando, mordendo e massageando, até que ela pensou que fosse explodir de tanto prazer.
Mas aquele era só o começo.
Segundos depois, ela estava completamente nua na frente dele, deixando que seu corpo todo fosse tocado da maneira mais íntima possível. Era incrível, mas ele sabia exatamente o que fazer, onde tocar, para arrancar-lhe gemidos de puro prazer.
Então ele se despiu Sabrina ajudando-o, comas mãos trêmulas. E o que ela viu à sua frente foi um corpo que poderia ter sido usado como modelo para uma escultura clássica. Tudo naquele homem era perfeito.
— Agora é a sua vez de me tocar, querida...
E ela tocou. Tocou como jamais tocara alguém nesse mundo. Tocou com carinho, desejo e emoção, desejando que aqueles momentos mágicos não terminassem nunca.
Finalmente, quando ele se posicionou para penetrá-la, Sabrina não conseguiu reprimir um grito apaixonado.
— Sim, Rob! Por favor!
— Você me quer, não é, Brie? — ele ainda teve forças de murmurar, antes de penetrá-la.
— Você sabe que sim, Rob...
— Eu quero ouvir você dizer. Fale querida.
— Eu te quero Rob. Nunca desejei outro homem com tanta intensidade.
Era tudo o que ele precisava ouvir. Segundos depois, entrava nela com profundidade, a boca colada na dela, a língua saboreando os sons que vinham de sua garganta. Sabrina agarrou-se a ele, incapaz até de pronunciar seu nome. Talvez influenciada pelo amor poético que Rob dedicava à arte de voar, a mente dela encheu-se de imagens. Ambos estavam voando juntos em direção ao sol, cada vez mais alto, cada vez mais rápido, finalmente explodindo entre as nuvens com um grito de gloriosa liberdade.
Depois, ficou ali, parada, surpresa e espantada com o fato de ter demorado muito tempo para descobrir como era ser amada por um homem de verdade.
Após um longo tempo durante o qual os únicos sons ouvidos foram as batidas descompassadas de coração e respirações alteradas, eles fecharam os olhos e, completamente saciados, caíram num sono profundo.
Ainda estava escuro, quando Sabrina acordou. Virou a cabeça e olhou para o relógio digital em cima da mesinha de cabeceira. Duas e meia da manhã. Um lençol cobria seu corpo nu, abraçado a outro corpo quente e másculo. Abriu bem os olhos, a realidade atingindo-a como um raio: Havia feito amor com Rob Davis. Um homem que conhecera havia poucos dias. Um piloto da Força Aérea Americana que estaria de partida dali a três semanas.
Porém, não se arrependia de nada. Nenhuma mulher deveria viver uma vida inteira sem ao menos experimentar, pelo menos uma vez, momentos tão fascinantes quanto os que ela acabara de viver.
Seus movimentos acordaram Rob, que abriu os olhos lentamente.
— Sabrina?
Era estranho, mas havia certa vulnerabilidade em sua voz. Ela inclinou-se e lhe deu um beijo no rosto.
— Oi, querido.
Os dedos de Rob roçaram os seus seios, fazendo-a sentir um arrepio de prazer. E percebeu um tanto espantada, que o queria de novo. Será que seu corpo estava querendo descontar anos e anos de celibato numa noite só? Ou será que seus sentimentos em relação a Robert Davis iam além de uma simples atração física?
Ele enlaçou-lhe a cintura e deu aquele sorriso que a deixava de pernas bambas.
— Eu te quero de novo, minha doce Brie. Só que, dessa vez, faço questão de vê-la direitinho. — Ele acendeu a luz do abajur e estudou seu corpo com um olhar cheio de carinho. — Meu Deus, como você é linda...
Incapaz de ficar parada, ela começou a acariciá-lo, passando os dedos de leve por aquele peito musculoso. E foi só aí então que reparou numa pequena marca de nascença, uma pinta escura que ele tinha logo abaixo do mamilo direito. Arregalou os olhos, quase que em estado de choque.
Sabrina Marsh estava tomando sol junto à piscina de sua casa em Irving, quando o menino da casa ao lado apareceu para trazer-lhe um doce. Pobrezinho. Ele não sabia o que fazer para agradá-la. Podia ser um pestinha, mas era um pestinha simpático. Sentindo pena do garoto, convidou-o para ficar ali, tomando sol com ela. O menino ficou tão feliz, que mal conseguiu abrir a boca para agradecer. Tirou a camiseta rapidamente e deitou-se ao lado dela numa espreguiçadeira, como se ainda não estivesse acreditando naquele golpe de boa sorte. E foi só aí então que Sabrina reparou numa pequena marca de nascença, uma pinta escura que ele tinha logo abaixo do mamilo direito.
— Meu Deus! — ela quase gritou, levando a mão à boca. — Já sei quem você é!
Ele respirou fundo, um pouco preocupado.
— Não fique assim, Sabrina. Não faz a menor diferença.
— Como não faz diferença? Então por que não me contou logo? Você mentiu para mim!
— Não. Eu não menti. Disse que era parente dos Davis. Sabrina começou a rir. Seu riso beirando a histeria.
— Está certo. Você não mentiu. Apenas omitiu o fato de que era o garotinho do qual eu tomava conta, não é, Scooter?
— Eu fiz com que todo mundo parasse de me chamar de Scooter quando atingi a puberdade — reclamou ele. — Meu nome é Robert Steven Davis, mas meus amigos me chamam de Rob.
Sabrina estava apalermada. Sua mente relutava em aceitar aquela estranha informação. Tentou ligar o homem viril e fascinante que a levara às nuvens havia pouco com o menino franzino e tímido de quem cuidara um dia.
— Não olhe para mim desse jeito. — Ele sentou-se na cama. Parecia um pouco irritado. — Foi por isso que não quis lhe contar nada antes. Eu queria que você me aceitasse como o homem que sou hoje, não como o menino que fui no passado.
— Posso saber quantos anos você tem?
Ela não se lembrava o quanto mais jovem ele era.
— Trinta. E sei que você tem cinco anos a mais. Só que não estou nem um pouco preocupado com isso. Minha atração por você não tem nada a ver com sua data de nascimento. E espero que sinta a mesma coisa a meu respeito.
— Trinta anos... — murmurou ela, como se não tivesse ouvido mais nada. De súbito, ele pareceu ser tão jovem... Nunca saíra com alguém daquela idade, desde o seu divórcio. Bem, de qualquer jeito, Rob estava correto. Aquela pequena diferença de idade não tinha a mínima importância. É que não havia mesmo futuro para ambos. De qualquer maneira, a idéia de ter feito amor com o menino da casa ao lado, o garotinho de quem tomava conta por um dólar a hora quando seus pais saiam à noite, era um tanto assustadora.
— Ora, Sabrina, eu não sou tão jovem assim. Com certeza você não está me vendo como uma criança.
Aquelas palavras a trouxeram de volta à realidade. Lembrou-se dos momentos arrebatadores de ainda há pouco e sentiu vontade de rir.
— Não, Rob. Sei que você não é mais um menino.
— É isso mesmo.. Eu sou um homem. Não um garotinho chamado Scooter.
— Claro. Mas você não precisava ter feito amor comigo para me convencer do fato. Afinal das contas, eu tenho dois olhos!
— Você teria jantado comigo, se eu tivesse me apresentado como Scooter Davis?
— Provavelmente — admitiu-a.
— E teria ido para a cama comigo? Sabrina mordeu os lábios. Teria? — Eu... não sei.
Ele a encarou durante um longo tempo.
— É claro que teria. Tenho certeza disso.
E curvou-se para beijá-la, como se quisesse comprovar a questão. Porém, para seu grande espanto, ela se esquivou daquele contacto.
Rob Davis não podia ter ficado mais embaraçado. Naquele momento, Sabrina compreendeu que o havia machucado. Ela não sabia que tinha tamanho poder sobre ele.
—Eu... sinto muito... — murmurou ela, sem saber o que dizer. — Eu...
— Você quer... que eu vá embora?
— Talvez seja a melhor coisa a ser feita. — Sabrina fechou os olhos. Não conseguia pensar direito. — Afinal, estamos cansados...
Scooter Davis. Oh, Deus. Ele fez que sim com a cabeça.
— Como quiser. Eu ligo para você amanhã.
Sabrina observou-o se vestir. Realmente, aquele homem podia ser tudo, menos um garotinho. Se ao menos eles não tivessem se conhecido antes... Se ao menos ele não estivesse no Texas apenas de passagem... Se ao menos ela conseguisse esquecer o passado... Se ao menos... Se ao menos...
Seus pensamentos foram interrompidos no momento em que ele se inclinou para lhe dar um beijo no canto da boca.
— Ligarei amanhã, Brie. Boa noite.
— Boa noite, Rob.
Boa noite? Não seria melhor ter dito adeus?
— Você está com uma cara horrorosa.
Rob mexeu-se na cadeira e evitou olhar para a irmã.
— Você poderia me passar o café? Liz lhe entregou o bule de prata.
— Ao que parece você está precisando mesmo de uma xícara.
— É que eu... ha... não dormi bem essa noite.
— Talvez porque só tenha ido para a cama de madrugada... Ele franziu a testa.
— Eu não cheguei em casa de madrugada.
— Chegou às três e meia. Eu ouvi.
— Posso saber o que estava fazendo acordada a essa hora? Ela acariciou sua barriga enorme e deu um longo suspiro.
— Seu sobrinho ou sua sobrinha não costuma dormir muito. Ele ou ela adora me chutar durante a noite, de modo que acabo me mantendo acordada.
Uma empregada apareceu, trazendo uma bandeja com ovos mexidos com bacon, pães quentinhos, queijo, manteiga e geléias variadas. O rosto de Rob ficou um pouco mais animado.
— Hum... Que delícia!
Liz esperou que a moça se afastasse, então balançou a cabeça.
— E aí?
Rob parecia muito concentrado em passar manteiga num pãozinho.
— E aí o quê?
— Você vai me contar o que fez até as três e meia da manhã?
— Não.
— Ora, Rob, o que está havendo entre você e Sabrina Marsh? Vocês dois saíram duas noites em seguida. Você passou o dia de ontem inteiro feliz da vida. E agora, amanheceu com essa cara de velório. É natural que eu esteja curiosa.
— Você já nasceu curiosa — respondeu Rob, com um sorriso nos lábios. — E nunca se incomodou com o fato de a curiosidade ter matado um gato.
Liz deu um suspiro.
— Quer dizer que você não vai me contar nada?
— Não.
Algumas pessoas teriam desistido naquele ponto. Não Liz.
— Você lhe contou quem era?
Ele engoliu em seco e respondeu, com voz resignada.
— Contei.
— E como ela reagiu?
— Bem, digamos que não tenha ficado muito satisfeita.
Liz tentou conter o riso. Não foi bem sucedida. Ao notar o rosto bravo do irmão, levantou as mãos num gesto conciliatório.
—Ora, convenhamos, Rob, o caso é engraçado. Posso imaginar como eu me sentiria se um dos garotos de quem tomei conta aparecesse agora na minha frente e me passasse uma cantada.
Rob franziu a testa.
— E como você iria se sentir? Liz deu um suspiro.
— Como uma velha.
— Ora, Liz isso é completamente ridículo! Você só tem vinte e seis anos. Sabrina tem trinta e cinco, mas parece muito menos.
Balançando a cabeça, a bonita grávida tentou explicar de novo:
— Rob, pense um pouco. Sabrina Marsh o obrigava a comer tudo no jantar. Obrigava-o a escovar os dentes após as refeições. Obrigava-o a se deitar às nove da noite. E o punha de castigo, quando fazia algo de errado. Você acha que é fácil para ela passar por cima de tudo isso e começar a vê-lo como um homem de verdade?
Ele ficou pensativo durante alguns instantes. Será que Liz tinha razão? Bem, se tivesse, tudo o que ele precisava fazer era ajudar Sabrina a superar seus sentimentos. Afinal das contas, não estava nem um pouco interessado em perdê-la. Jamais experimentara emoções tão fortes, quanto naquela última noite. E o negócio todo não fora apenas físico. Fora algo muito mais forte. Ele a desejara como nunca desejara mulher alguma. Havia passado o resto da noite acordado, deitado na cama do quarto de hóspedes de sua irmã, olhando para o teto, repassando na mente aqueles momentos gloriosos, tentando descobrir, sem sucesso, o que havia feito com que aquela experiência fosse tão diferente de tudo que já conhecera antes.
Quem diria que ele iria ficar.assim tão apaixonado, em tão pouco tempo? E o que poderia fazer agora?
Ah, como ele gostaria de ter a resposta...
Sabrina olhava para a tela de seu microcomputador, forçando-se a pensar na história que escrevia... e não na noite anterior. Pelo menos, no seu romance, tinha total controle da vida de seus personagens. Ou tivera, até o dia de hoje. Até o momento em que sua heroína a surpreendera, indo para a cama com o lindo moreno de olhos azuis que a todos encantava.
Mordendo os lábios, ela tentou adivinhar quais seriam os sentimentos da pobre moça na manhã seguinte. Choque? Desespero? Culpa? Uma vontade, louca de fazer tudo de novo?
O telefone tocou, interrompendo seus pensamentos. Estendeu o braço para apanhar o fone, sentindo uma leve intuição.
— Alô?
— Oi.
Sua intuição estava correta. Era ele. Sua voz era inconfundível.
— Oi, Rob.
— Você já me perdoou? Ela engoliu em seco.
— Ha... Perdoar você por quê?
— Pelo fato de eu ter lhe trazido lembranças desagradáveis.
— Você não me trouxe lembranças desagradáveis, Rob.
— Então não há motivos para você recusar meu convite para jantar hoje à noite, não é?
Não havia motivos? Claro que havia. Dezenas deles. Rob Davis era o garoto de quem ela tomava conta. Rob Davis iria partir em breve. Rob Davis mexia com a sua cabeça e com as suas emoções. Rob Davis...
— Sabrina?
— Eu...ha...
— Aceita meu convite ou não?
— Eu... ha...
— Por favor?
Ela tentou pensar em alguma desculpa plausível, mas sua mente não parecia querer cooperar.
— Tudo bem. Eu aceito.
— Maravilhoso! — Ele parecia feliz de verdade. — Passarei para apanhá-la às três e meia.
— Certo. Eu... Ei espere um momento! Você disse três e meia?
— Claro. É uma hora agora. Você tem duas horas e meia para se arrumar.
Será que algum dia ela iria entender a cabeça daquele homem?
— Você está querendo sair para jantar às três e meia da tarde?
— É que eu tenho uma surpresa para você. Confie em mim.
— Foi o que o tubarão sorridente disse para o pobre peixinho. Ele riu.
— O que foi que disse?
— Não, nada. Espero você às três e meia. Ah, o que eu devo vestir para a tal "surpresa"?
— Não se preocupe com isso. Você está sempre maravilhosa, não importa o que vista. Até mais, Brie. E obrigado.
Sabrina deu um suspiro. Aquele homem era completamente maluco. E o pior era que o negócio parecia contagioso.
A campainha tocou exatamente às três e meia. Droga. A troco de que ele tinha de ser tão pontual? Ela ainda não estava pronta. Penteou-se rapidamente, aplicou correndo um batom nos lábios passou algumas gotas de seu perfume favorito e foi abrir a porta.
Quase soltou um grito. Vestido com um jeans desbotado e uma camiseta, Rob Davis parecia ainda mais bonito e sensual. Será que ele tinha consciência de sua sensualidade? Ela não sabia dizer. Limpou a garganta.
— Oi, Rob.
Ele lhe deu um beijo nos lábios.
— Oi, Brie. Você está linda, como eu sabia que iria estar.
— Obrigada. — Era só ele abrir a boca para elogiá-la e ela ficava vermelha como um pimentão. — Quer entrar?
— Não, obrigado. Se você estiver pronta, gostaria de ir andando.
Ela apanhou a bolsa que estava em cima do sofá.
— Estou pronta.
— Ótimo.
Minutos depois, entravam na Ferrari de Rob e ele dava a partida. A tarde estava linda, um sol radiante brilhando num céu sem nuvens.
— Como vai sua irmã? — perguntou Sabrina, sentindo a brisa morna no rosto. — Como é mesmo o nome dela? Liz, não é?
— Exatamente. Liz. Ela vai muito bem. Mora aqui em Dallas com o marido, Gordon Holly, um advogado. E sabe de uma coisa? Ela está grávida!
— Que bom! É o primeiro filho?
— É. Eles estão casados há quatro anos e agora decidiram dar sua contribuição ao aumento da população mundial.
— E para quando é?
— Para o mês que vem. Ela está enorme e não tem saído muito de casa. E já que eu tenho tempo livre, estou fazendo o que posso para ajudá-la. Foi por isso que eu fui até seu prédio outro dia. O contador dela trabalha lá.
— Que coincidência — murmurou Sabrina.
— Uma coincidência muito feliz — ele respondeu, sorrindo. Ah, aquele sorriso de novo... Respirando fundo, ela decidiu mudar de assunto.
— Como você se sente agora que vai se tornar tio? O sorriso ficou ainda mais largo.
— Muito bom. Só que, para falar a verdade, ainda não consigo me acostumar com a idéia de que Liz vai ser mãe. Para mim, ela será sempre aquela garotinha que corria atrás do irmão mais velho. — Ele deu um sorriso. — Estou torcendo para que o bebê nasça enquanto eu ainda estiver aqui.
Sabrina engoliu em seco. Dali a três semanas, ele iria embora. E provavelmente nunca mais o veria. Resolveu mudar de assunto.
— Para onde estamos indo?
— Você vai ver.
Ela ficou pensativa durante alguns instantes.
— Sua irmã sabe que estamos saindo juntos?
— Sabe. Ela se lembra bem de você. Aliás,, minha mãe tem uma foto sua a meu lado e ao lado de Liz. Foi tirada num lindo dia de verão, quando estávamos fazendo um piquenique. Você usava shorts e um top colorido e eu estava a seu lado, balançado por suas pernas.
Sabrina ficou vermelha.
— Ora, mas você era apenas uma criança.
— Uma criança apaixonada por você — ele confessou, olhando para ela. — Você não sabia?
Na verdade, Sabrina sabia. Porém, não esperava que ele fosse admitir o fato. Lembrou-se das barras de chocolate que ele lhe mandava, anonimamente. Sempre tivera certeza absoluta da identidade do seu tímido admirador.
— É inacreditável que você seja aquele menino, Rob. A vida prega cada peça nas pessoas!
De repente, ele ficou sério.
— Não sou mais aquele menino, Brie. Sou um homem. Um homem de verdade.
Como se ela não soubesse daquilo!
Momentos depois, ele estacionava a Ferrari num campo de aviação. Sabrina arregalou os olhos.
— Você não está pretendendo me levar para jantar aqui, está? Ele caiu na risada.
— Como você é curiosa! Igualzinha a Liz!
— Então, se não vamos jantar... por acaso vamos voar?
— Acertou em cheio! Quero lhe mostrar o que faço de melhor! Sabrina surpreendeu a ambos dizendo, sem hesitar.
— Pensei que isso, você já tivesse me mostrado.
O sorriso de felicidade no rosto de Rob Davis fez com que Sabrina sentisse um friozinho na barriga.
— Meu Deus do Céu, você faz um bem incrível para o meu ego!
Ambos desceram do carro, o sol de Dallas do fim de primavera aquecendo seus corpos e corações.
Aquela tarde prometia ser memorável.
Sabrina não havia imaginado que o avião do cunhado de Rob fosse assim tão pequeno. Na verdade, era até menor do que o seu carro. Olhou bem para o teco-teco à sua frente, um pouco desconfiada.
— Você... ha... tem certeza de que esse negócio é seguro?
— Claro que tenho. Você nunca entrou num avião de dois lugares?
— Nunca voei num avião pequeno — confessou ela. — Apenas em grandes linhas aéreas.
— Então agora vai conhecer uma coisa diferente. Ela franziu a testa.
— Será que essa geringonça levanta do chão? Rob Davis caiu na risada.
— Você vai ver com seus próprios olhos!
— E posso saber para onde você vai me levar? Ele abriu a porta para que ela entrasse.
— Para Galveston.
Sabrina mal conseguiu acreditar em seus ouvidos.
— O quê? Galveston? Rob, pelo amor de Deus, Galveston fica do outro lado do estado!
— Exatamente. Temos três horas de vôo pela frente, de modo que é melhor começarmos logo nossa aventura.
Ela ainda não conseguia acreditar que aquilo era verdade.
— Mas a troco do que você quer me levar para Galveston?
Ele sorriu.
— Você adora frutos do mar, não adora? Pois hoje, comeremos frutos do mar fresquinhos. Que pena que eu não tenha um avião um pouco maior, senão poderíamos ir até San Francisco. Já esteve lá?
— Não — admitiu ela.
— É um lugar maravilhoso. Precisamos ir qualquer dia desses. É mesmo? Quando?, ela sentiu vontade perguntar. Momentos depois, já dentro do teco-teco, ele pediu:
— Use o cinto de segurança.
— Sim, Capitão. — Ela fez o que lhe foi mandado. — E agora?
Ele sorriu.
— Que tal fechar os olhos e começar a rezar?
— Eu já tinha decidido fazer isso. — Sabrina franziu a testa ao ouvir o barulho do motor. — Ai, meu Deus!
Rob virou a cabeça e lhe deu um beijo.
— Confie em mim, Brie.
Ela se derreteu inteira, seu nervosismo e sua respiração ofegante sem ter absolutamente nada a ver com seu medo de voar.
Sabrina levou poucos minutos para perceber que via Rob em seu elemento natural. Ele parecia estar completamente à vontade no comando daquele avião, seu rosto radiante de felicidade por estar no ar. Ao observá-lo, toda a sua insegurança sumiu como fumaça ao vento. Rob Davis sabia o que estava fazendo. Ela estava segura a seu lado.
— Você adora voar, não adora? Ele ficou sério, de repente.
— Voar é a minha vida, Brie.
Sabrina sentiu seu coração dar um salto. Sim. Era aquilo mesmo. Ele era um piloto. Um homem que adorava viajar, um homem que adorava correr riscos, um homem que tentava alcançar as estrelas.
Um homem que não tinha lugar em seu mundo rotineiro e muito bem organizado.
Como se tivesse percebido sua súbita tristeza, Rob começou a distraí-la com histórias divertidas a respeito de sua.carreira, começando com a vez em que se perdera em seu primeiro vôo solo por seguir a rota errada. Sabrina riu, e então riu de novo com outros casos engraçados, alguns dos quais, suspeitou ela, um tanto aumentados a fim de diverti-la ainda mais.
O tempo passou com incrível rapidez. Quando Sabrina se deu conta, ambos haviam chegado a seu destino.
De mãos dadas, Rob e Sabrina passeavam pela calçada, respirando o ar puro do mar. Haviam acabado de jantar. Como o verão ainda não tinha chegado, a popular ilha de Galveston ainda não estava cheia de turistas.
Rob fez uma pausa, tirou sua jaqueta de couro e colocou-a nos ombros dela.
— Está esfriando — disse ele. — Não quero que você se resfrie.
Ela vestiu o agasalho, sentindo o aroma cítrico da água de colônia que dele emanava. A água de colônia de Rob.
Aquele encontro não podia ter sido mais perfeito. O jantar havia sido maravilhoso, a conversa agradável e relaxante. Ela adorava cada minuto, cada segundo.
— Foi uma noite encantadora, Rob. Ele a abraçou.
— A noite ainda não terminou Brie.
Aquelas palavras lhe causaram um agradável... e apavorante friozinho na barriga.
Rob lhe comprou uma linda lembrancinha, um homenzinho engraçado feito de conchas, numa das muitas lojas de presentes ali espalhadas.
— Essas conchas foram achadas aqui nessa praia — explicou ele. — Cada vez que olhar para esse homenzinho, vai se lembrar da nossa noite perfeita em Galveston.
E então, chegou a hora de partir. Sabrina deu uma boa olhada no aeroporto da cidade, antes de entrar no Cessna, já pronto e abastecido. Sentia como se estivesse deixando um mundo de fantasia e fazendo uma viagem de volta à realidade.
— É bonito aqui em cima à noite, não é? — comentou Rob após terem voado por quase uma hora, no mais completo silêncio.
Sabrina balançou a cabeça, concordando:
— Muito.
Apesar do barulho que havia lá dentro, ela sentiu uma grande paz dentro de si por estar no ar com Rob, o estado do Texas abaixo deles, suas luzes brilhando como diamantes sobre um veludo preto.
A viagem de três horas passou depressa demais. O sonho fora muito rápido.
Passava da meia-noite quando eles chegaram ao apartamento de Sabrina.
— Quer entrar um pouco? — convidou ela, sabendo que não devia fazê-lo. Mandava o bom sendo que Rob fosse embora. Mas seu coração pedia que ele ficasse.
— Já está um pouco tarde. Você não está cansada?
— Não — respondeu ela, com total honestidade. — Você está?
Ele balançou a cabeça.
— Também não.
— Ótimo. Então entre.
Quinze minutos depois, Sabrina levava à sala uma bandeja com café recém-coado e biscoitos amanteigados. Rob tinha ligado o aparelho de som e uma música suave enchia o ar. Angel, abanando o rabo, apoiava a cabeça em seus joelhos.
— Meu cachorro adora você — ela observou, oferecendo-lhe uma xícara.
Ele deu um sorriso.
— Bem, ao que parece, já venci metade da batalha. Ficaram ali em silêncio, ouvindo música e bebericando café, na mais completa paz. Era uma cena íntima, caseira e muito aconchegante que, por alguma estranha razão, fez com que Sabrina sentisse vontade de chorar. Dali a pouco tempo, Rob Davis sairia de sua vida, de modo tão abrupto quanto tinha entrado.
Ele foi o primeiro a quebrar o silêncio, perguntando, inesperadamente:
— Você o amava?
Franzindo a testa ligeiramente, ela teve de pensar um pouco.
— Você está perguntando se eu amava meu marido?
— Isso mesmo.
— Às vezes, nem eu mesmo sei — ela admitiu. — Acho que no princípio, me deixei levar pelo entusiasmo. Quando ele me pediu em casamento, pensei que tivesse finalmente encontrado alguém que fosse me fazer feliz, alguém com o qual contar, alguém que pudesse me oferecer a segurança emocional que eu nunca tive.
— E... o que aconteceu?
— Burt era jogador de futebol. Um astro do esporte. E passou os cinco anos em que estivemos casados fazendo jus a essa imagem. Na verdade, não sei por que se casou comigo. Ele não agia como alguém que tivesse uma esposa e um lar.
— E onde ele está agora?
— No Nebraska, trabalhando para um canal de televisão como comentarista esportivo. Casou-se de novo, dois anos após nosso divórcio.
— Isso incomoda você o fato de ele ter se casado de novo?
— De jeito nenhum — ela respondeu, com total sinceridade. — O que me importou, e muito, foi o fato de ele ter me traído inúmeras vezes, durante o tempo em que ficamos juntos. Porém, desde o divórcio, o que ele faz ou deixa de fazer não é da minha conta. Seja lá o que eu tenha sentido por Burt, terminou muito antes de o casamento acabar.
— E você? Teve algum namorado firme, nesses anos todos? Sabrina pensou em Paul.
— Namorei um homem há três anos. Ele também era divorciado. Tínhamos muita coisa em comum. Achei que, daquela vez, tudo iria dar certo.
— E por que não deu?
— Ele recebeu uma promoção e começou a ter de viajar a negócios com muita freqüência. Acabou tomando gosto pela coisa. Terminou o namoro comigo, dizendo que ainda não estava pronto para firmar um relacionamento com quem quer que fosse. Ao que parece, ele estava adorando aquela vida nova. Cidades diferentes, mulheres diferentes... Bem, nunca mais ouvi falar dele.
— Agora entendo o porquê de tanto medo de se envolver com alguém. Você deve ter sofrido muito, Brie.
Ela forçou um sorriso.
— Digamos que eu não tenha tido muita sorte nesse departamento.
— Pois fique sabendo que isso é uma injustiça muito grande, srta. Marsh. Uma injustiça que pretendo reparar agora mesmo.
Antes que ela se dessa conta do que estava acontecendo, ele lhe dava um beijo apaixonado, fazendo, mais uma vez, que todo o seu bom senso explodisse em mil pedaços. As mãos de Rob passeavam por todo o seu corpo, moldando-a e excitando-a. Pela primeira vez ela compreendia exatamente por que aquele homem lhe despertava tantas emoções. É que os outros a desejavam fisicamente, mas ninguém havia precisado dela. Rob a queria e precisava dela com uma intensidade que ia além do mero desejo carnal. Era só olhar para aqueles olhos azuis e ler a mensagem contida neles. Não era apenas uma mulher que ele queria aquela noite. Rob Davis queria Sabrina Marsh. E a recíproca era mais do que verdadeira.
Em questão de segundos, as roupas que ela usava foram ao chão. Rob inclinou a cabeça para tocar seus seios nus com a ponta da língua, deixando-a completamente louca.
Sabrina já tinha sentido prazer antes. Muitas vezes, na verdade. Mas jamais experimentara nada parecido com as maravilhosas sensações que aquele homem lhe proporcionava.
— Diga que me quer Brie.
— Eu te quero Rob! — ela quase gritou. — Eu te quero! Eu te quero!
— Então me mostre o quanto.
E ela mostrou. Com beijos, com palavras, com carícias. Despiu-o rapidamente, suas mãos deslizando por aquele corpo forte e musculoso com uma suavidade incrível.
Sentindo que ambos estavam mais do que prontos, Sabrina guiou-o para dentro dela e começou a se mover num ritmo alucinante, que o levou à loucura.
O orgasmo, uma maravilhosa explosão de êxtase, chegou para ambos quase ao mesmo tempo.
Então, exaustos e saciados, ficaram ali abraçados durante um longo tempo e, fechando os olhos, Sabrina desejou que aqueles momentos ficassem congelados no tempo.
Sabrina abriu os olhos, percebendo vagamente que estava nua, debaixo dos lençóis. Então, a realidade voltou a atingi-la com uma velocidade impressionante. Pela segunda vez em três dias, levara Rob Davis para a cama.
Ele a observava, com um sorriso nos lábios.
— Bom dia.
Ela se lembrou dos maravilhosos momentos no sofá da sala, depois a subida até o quarto, onde haviam se amado mais devagar, sem a mínima pressa. Disfarçando o embaraço, afastou os cabelos da testa.
— Bom dia. Que horas são?
Ele estendeu a mão a fim de acariciar sua nuca.
— Quase onze. Alguém já lhe disse que você é linda quando acorda?
Ela sorriu.
— Já. Mas há tanto tempo, que eu nem me lembro quem foi. Rob lhe deu um beijo no lóbulo da orelha.
— Você cozinha bem?
Pega de surpresa, Sabrina franziu a testa.
— Posso saber o porquê da pergunta?
— É que eu estou morrendo de fome. Bem que você podia me oferecer algo gostoso e nutritivo.
— Algo como o que, por exemplo?
Ele estendeu a mão e tocou seus seios de leve.
— Hum... Ovos com bacon, torradas, manteiga e geléia. Que tal?
— Pelo que vejo, você não me parece alguém morrendo de fome...
Rob fez força para não rir.
— Estou tentando manter uma imagem de super-homem, quando na realidade estou fraco até dizer chega...
— Bem, então você deve ser insaciável, quando está bem alimentado...
— Eu lhe darei uma oportunidade para verificar por si mesma, depois do café da manhã.
— Tudo bem. Vou tomar um banho rápido, depois vou para a cozinha enquanto você usa o banheiro.
— Ótimo.
Minutos depois, Sabrina entrava debaixo do jato momo da água, na esperança de espantar o sono que ainda sentia. Seu corpo estava dolorido, graças à inesperada atividade física daquela noite.
Fechou os olhos e tentou pensar com clareza. Queria, desejava Rob com uma intensidade que ia além da simples atração física. E agora? O que podia fazer? Nada, é claro, porque ele iria partir dentro de muito pouco tempo.
A porta do box se abriu e o ar frio batendo em sua pele molhada fez com que ela sentisse um arrepio de frio. Abriu os olhos no momento em que Rob a abraçava, seu corpo nu e glorioso reluzindo ao contato da água quente. Seu sorriso sensual fez com que Scooter Davis desaparecesse para sempre, deixando em seu lugar um homem... um homem de verdade.
— Eu pensei que você estivesse morrendo de fome — ela brincou.
Só que Rob Davis não parecia estar para brincadeiras.
— Eu estava com fome, sim. Agora, estou duplamente faminto.
— Eu... ia lhe preparar ovos com bacon...
— Acontece que eu tenho uma idéia melhor. Quer ver? Dizendo isso, ajoelhou-se diante dela e deu vazão a todas as suas vontades.
— Brie?
— Hum? — Sem abrir os olhos, ela se mexeu, procurando uma posição mais confortável. Havia certas desvantagens em cair na cama direto do chuveiro sem se secar primeiro.
— Estou morrendo de fome. Ela deu um sorriso.
— E de quem é a culpa?
— Sua.
— Minha?
— Claro. Você se recusou a me servir alguma coisa. Está me mantendo prisioneiro nesse quarto, me distraindo cada vez que saio à procura de comida!
— E quem invadiu o meu chuveiro?
— Eu? Invadi seu chuveiro? Xi... Vai ver que eu pensei que aquela fosse à porta da cozinha!
Os dois caíram na risada. E, naquele momento, Sabrina percebeu que iria sofrer muito quando ele fosse embora.
Eles haviam acabado de tomar um prolongado brunch, quando o telefone tocou. Sabrina tirou o fone do gancho.
— Alô?
— Oi, Sabrina. É Katherine.
Era o que ela temia. Com certeza, Katherine estava a fim de saber das últimas novidades a respeito de seu envolvimento com Rob. Não que não pretendesse contar à amiga. Pretendia, sim. Mas quando ele não estivesse ouvindo.
— Oi, Katherine.
— Olhe, eu sei que não devia ligar para você num domingo para falar de negócios, mas aconteceu uma emergência!
Então ela não estava ligando para saber das últimas fofocas. Graças a Deus!
— O que houve?
— Acabei de receber o telefonema do marido de uma das secretárias da empresa. A pobrezinha foi internada às pressas e vai ser operada dentro de instantes. Acontece que ela não podia ter escolhido pior hora para adoecer. Temos uma reunião importantíssima amanhã às oito e meia e as outras duas secretárias estão de licença-maternidade!
— Então você está precisando de uma funcionária temporária — concluiu Sabrina.
— Em caráter de urgência! Por favor! Diga que pode me ajudar!
— É claro que posso. Vou mandar alguém.
— Ah, Sabrina, muito obrigada. Fico lhe devendo uma. Ela sorriu.
— Pode deixar que eu mando a conta.
— Pode mandar até duas. Bem, mas mudando de assunto, como foi o encontro de outro dia?
— Eu... ha... por que não marcamos um almoço amanhã para conversar sobre isso? Ou será que estará ocupada com a tal reunião?
— Não, a reunião deve acabar lá pelas onze e meia. Estarei livre na hora do almoço. Que tal o Salad Sally's, à uma hora?
— Perfeito. E pode esperar a secretária em seu escritório, as oito em ponto.
— Você é um anjo. Obrigada de novo. Sabrina desligou e virou-se para Rob.
— Preciso dar um pulo ao escritório e entrar em contacto com algumas pessoas. Se eu não arranjar uma secretária substituta para Katherine amanhã as oito em ponto, ela vai ter um ataque! — Deu um suspiro. — Que pena. Eu queria tanto ficar com você um pouco mais.
— Eu também queria Brie. Mas acontece que prometi a meus pais que iria fazer uma visita à tarde para tia Mildred. — Ele parecia desanimado. — Que Deus me ajude!
Ela começou a rir.
— Por que diz isso? Não gosta dessa tia?
— Não, não é isso. É que ela tem noventa anos, é surda como uma porta e se recusa a admitir o fato. Costuma passar o tempo todo reclamando que eu falo baixinho, muito embora eu saia de lá com a garganta doendo de tanto gritar!
Sabrina lhe deu um beijo na testa.
— Bem, acho melhor ir me vestindo. Você me dá licença?
— Claro. Eu espero você, assim poderemos sair juntos.
— Ótimo. Fique à vontade. Tome mais uma xícara de café, enquanto eu me arrumo.
Ela levou menos de cinco minutos para se vestir. Passou uma escova nos cabelos, apanhou a bolsa e saiu do quarto.
Foi com espanto que notou que o quarto ao lado, que usava como escritório, estava com a luz acesa. Mas o que significava aquilo? Será que Rob...?
Encontrou-o sentado à sua mesa, com algumas folhas de papel na mão. Ela engoliu em seco, sem saber que atitude tomar.
Ele levantou a cabeça e lhe deu um sorriso maravilhoso.
— Por que você não me contou que estava escrevendo um romance?
Sabrina Marsh respirou fundo, tentando se controlar. Estava embaraçada... e furiosa ao mesmo tempo.
— Eu... ha... não estou exatamente escrevendo um romance. É apenas um hobby, algo que eu faço de vez em quando para relaxar. Jamais pensei que alguém fosse lê-lo.
Rob sacudiu as folhas no ar.
— Sabrina, isso aqui é bom. Muito bom. Adorei seu estilo. É leve, natural, gostoso de ler. Quando esse romance estiver pronto...
— Quando esse romance estiver pronto, se é que estiver um dia, irá direto para a gaveta e aí eu começarei outro, depois mais outro. Como já disse, o ato de escrever é um hobby, algo que faço para relaxar. Só isso.
— Mas Brie...
Agora, ela estava irritada de verdade.
— Olhe aqui, Rob, você não tinha o direito de mexer nas minhas coisas. Será que não percebe que isso era algo muito pessoal?
Ele se levantou um pouco confuso.
— Você tem razão. Eu sinto muito.
Sabrina se arrependeu imediatamente de seu súbito ataque de nervos. Não devia ter sido assim tão rude com ele.
— Bem, vamos indo?
Rob arrumou as folhas em cima da escrivaninha.
— Ha... Vamos.
Pouco depois, ao abrir a porta do seu carro, estacionado ao lado do de Rob, ela deu um sorriso forçado.
— Foi um fim-de-semana ótimo, Rob. Obrigada. Ele levantou uma sobrancelha.
— Não sei por que, mas isso está me parecendo um adeus. E era mesmo um adeus. Ela sabia que precisava terminar aquele relacionamento, enquanto.ainda tivesse forças para tanto. Porém, em vez de discutir o assunto com ele, discussão que certamente iria perder, ela apenas sorriu.
— Impressão sua. Mande lembranças para Liz. E para seus pais também.
— Obrigado. Eu ligo amanhã, está bem?
Ela entrou no carro, a fim de não ter de encará-lo.
— Acho que as coisas vão estar meio atrapalhadas amanhã no escritório. As segundas-feiras são sempre confusas.
— Então eu ligo para a sua casa.
Droga pensou ela. Será que ele não entendia? Será que não percebia que não havia razão para que ambos se encontrassem de novo? Dali a poucos dias, ele iria embora. Se tudo que Rob quisesse era algumas horas de diversão, certamente haveria dúzias de mulheres que adorariam dar conta da tarefa. Mulheres espertas é claro, que não se envolveriam emocionalmente com ele, nem ficariam temendo como idiotas o horrível momento do adeus.
E ainda havia outra possibilidade: talvez Rob Davis, ao levá-la para a cama, estivesse apenas satisfazendo uma fantasia de seus tempos de infância. Aquele simples pensamento a enchia de tristeza.
— Até mais, Rob.
E, dando a partida no carro, tratou de arrancar depressa dali.
Katherine mal esperou Sabrina sentar-se à mesa do Salad Sally's na segunda-feira e foi logo perguntando:
— Bem?
Sabendo exatamente o que a amiga queria dizer com aquilo, ela resolveu mudar de assunto:
— Como Carolyn se saiu hoje de manhã?
— Muito bem como você sabia que se sairia, senão não a teria mandado. Como foi seu encontro?
— Que encontro?
— Ora, Sabrina, você sabe do que estou falando! Ela deu um sorriso forçado.
— Ah, foi bem. _Katherine franziu a testa.
— Foi bem? Isso é tudo que você tem a dizer?
— Ora, Kathy, o que você queria que eu dissesse?
— Sabrina, Rob Davis é um homem maravilhoso, talvez o mais bonito que eu já tenha conhecido na vida. E você se limita a dizer que o encontro foi bom?
Sabrina limpou a garganta.
— Tudo bem, digamos que numa escala de um a dez, meu fim-de-semana tenha tirado nota mil. Satisfeita agora?
Katherine arregalou os olhos.
— O quê? Quer dizer que vocês passaram o fim-de-semana juntos?
— Eu... ha... quero dizer... saímos juntos na sexta-feira de novo. E passamos a maior parte do sábado juntos.
Katherine a observou durante alguns instantes.
— Quando eu liguei para a sua casa ontem, tive a nítida impressão de que havia alguém a seu lado. Por acaso esse alguém era...
— Ora, Katherine, você está parecendo uma adolescente querendo saber até que ponto eu cheguei!
— Pois é exatamente isso que eu estou querendo saber. Até que ponto você chegou? O encontro terminou na sala... ou na sua cama?
Sabrina deu um suspiro desanimado.
— Na cama.
Katherine quase deu um salto.
— Detalhes! Quero saber os detalhes!
Tomando um gole do suco que o garçom acabava de servir, Sabrina começou do início: o jantar no restaurante italiano na quinta, o jantar na sexta, a boate, o inesperado vôo até a ilha de
Galveston no sábado. Katherine ouviu tudo de olhos esbugalhados, dizendo que jamais soubera de história tão romântica.
— É isso aí — concluiu Sabrina. — Foi maravilhoso. A coisa mais maravilhosa que já experimentei na vida. Mas acabou.
— Acabou? Mas por quê? Você não pretende mais se encontrar com ele?
— Acho que não. Ele vai para a Alemanha daqui a três semanas.
— Alemanha?
— Exatamente. A serviço. Ele é capitão da Força Aérea Americana.
— E quanto tempo ele vai ficar lá?
— Dois anos. No mínimo.
Katherine não podia ter ficado mais desapontada.
— Mas que droga! Sabrina forçou um sorriso.
— É isso aí, Kathy. Acho que você já entendeu tudo, não é? Sua amiga deu um suspiro profundo.
— Que pena! Vocês dois pareciam combinar tanto um com o outro... Ah, você conseguiu descobrir a troco de que ele sabia de tantas coisas a seu respeito?
Sabrina engoliu em seco.
— Descobri.
— E?
Ela se sentiu um tanto ridícula.
— Eu... tomava conta dele, quando adolescente._ Katherine pensou não ter ouvido direito.
— Como?
Respirando fundo, Sabrina repetiu a mesma coisa.
— Eu tomava conta dele, quando adolescente.
Fez-se uma longa pausa, depois da qual Katherine deu um grande sorriso.
— Você... tomava conta dele?
Com o rosto vermelho, ela fez que sim com a cabeça.
— Tomava.
— Mas quantos anos têm este homem?
— Trinta.
— E você vai deixá-lo escapar?
— A culpa não é minha. E do tio Sam.
— Mas por que você não abre uma filial do seu escritório, na Alemanha? Vá atrás dele, Sabrina! Não o perca de vista!
Ela não estava gostando do rumo que aquela conversa vinha tomando.
— Acho melhor pedirmos o almoço logo, Kathy. Tenho uma reunião às duas em ponto e não quero chegar atrasada.
Quando Sabrina voltou ao escritório, havia duas dúzias de rosas amarelas esperando por ela, num lindo vaso em cima da mesa. Sentindo um nó na garganta, pediu para sua secretária Beverly levá-las dali e procurou tirar da cabeça tudo que não fosse assunto de trabalho pelo resto da tarde.
Rob Davis ligou duas vezes: uma as três, outra às cinco da tarde. Sabrina não atendeu.
— Se o sr. Davis telefonar — ela havia avisado à secretária Beverly — diga-lhe que estou muito ocupada.
A moça não parecera muito satisfeita, mas acabara cumprindo a ordem.
À noite, Sabrina teve um jantar de negócios. Ficou até mais tarde no escritório e só saiu em cima da hora para o tal compromisso, tendo consciência, durante o tempo todo, que estava evitando Rob. Era a melhor coisa a ser feita. Sabia que estava sendo covarde... mas aquilo era bem melhor do que, no final da história, acabar bancando a idiota de coração quebrado.
Eram dez horas da noite quando ela finalmente voltou para casa. Vendo que a luzinha piscava em sua secretária eletrônica, deu um suspiro desanimado e apertou o botão.
A voz de Rob encheu o ar, deixando-a de pernas bambas. Achou melhor se sentar.
— Oi, Brie. Aqui é Rob. Que pena que não tenha conseguido falar com você hoje. Vou tentar de novo amanhã. Tenha sonhos bem doces.
Sabrina ficou ali parada durante alguns instantes, tentando imaginar se Rob sabia que ela iria sonhar com ele.
Subiu até seu quarto com passos lentos, onde evitou olhar para aquela cama grande... Grande demais para uma só pessoa. Não. Não podia dormir ali. Pelo menos por enquanto.
Foi até o quarto ao lado que usava como escritório e sentou-se à escrivaninha. Olhou para as folhas ali em cima.
Rob dissera que sua história era boa. Será que estava sendo sincero? Ou apenas educado? Será que havia lido o suficiente para poder julgar?
Havia muito tempo, os professores do colégio tinham lhe dito que o seu talento era inegável. Até o diretor lhe dissera um dia que ela devia escrever a nível profissional.
Havia dito a Rob que não tinha tempo, nem vontade de começar uma segunda correria. De qualquer forma, cada vez que conseguia arranjar alguns momentos livres, lá estava ela, sentada diante do microcomputador. Por quê? Será que o ato de escrever era mesmo apenas um hobby ou algo mais em sua vida? Algo como um sonho antigo ainda vivo, o jogo ainda brilhando sob as cinzas de outros desapontamentos?
Bem, Rob gostara do seu trabalho. Apanhando o último capítulo que escrevera, Sabrina leu linha por linha com o maior cuidado. E chegou a uma conclusão. Ele tinha razão. Sua história era boa de verdade.
E, ligando seu microcomputador, resolveu dar vazão às suas idéias e foi em frente.
Júlia aproximou-se de Sabrina no dia seguinte, com um sorriso estranho nos lábios.
— Mandaram entregar isso, chefinha.
Ela olhou para o pacote cheio de laços que a secretária lhe entregaria. Deus do Céu será que Rob não desistia nunca? Será que não percebia que ela estava querendo evitá-lo? Será que não percebia que estava sendo inconveniente? Será que não percebia que...
— Você não vai abrir? — perguntou a secretária, os olhos brilhando de curiosidade.
— Você faz muita questão que eu abra Júlia?
— Claro que faço!
— Tudo bem, tudo bem, já que você insiste...
— Ora, Sabrina, não me diga que também não está morrendo de curiosidade. Você só está me usando como desculpa para abri-lo.
Sabrina achou melhor não dizer nada. Afinal das contas, estava cansada de saber que Júlia tinha razão. Sim. Ela também estava curiosa até dizer chega para ver o que Rob havia mandado daquela vez.
O embrulho continha uma linda e enfeitada caixa de bombons, com o formato de conchas. Olhando para elas, Sabrina lembrou-se imediatamente daquela noite mágica em Galvestor. Exatamente como ele planejara, era evidente.
— Droga!
Júlia deu um assobio.
— É preciso ser de ferro para resistir a esse homem. Ele é o máximo!
Sim. Júlia tinha razão. Ele era mesmo o máximo. Um pouco "máximo" demais, na verdade.
— Bem, se ele ligar de novo, pode deixar que atendo. A secretária bateu palmas.
— Aleluia!
Ela não precisou esperar muito tempo. Menos de meia hora depois, Rob telefonou.
— Eu estava começando a achar que você não queria falar comigo — ele reclamou.
Como se ele não soubesse que aquilo era verdade.
— Eu... ha... sinto muito. Tenho trabalhado feito uma louca.
— Posso imaginar.
— Muito obrigada pelas flores e pelos bombons, Rob. Mas, sinceramente, gostaria que parasse de me mandar presentes.
Ele ignorou suas palavras.
— Quer jantar comigo essa noite?
— Não, obrigada. Tenho outros planos para hoje.
— Vai sair com alguém?
A pergunta foi feita em tom de brincadeira, mas Sabrina percebeu que havia uma certa preocupação em sua voz.
— Não, não é isso. Na verdade, vou bancar a baby-sitter de r novo. A filha dos meus vizinhos nasceu com paralisia cerebral e, de vez em quando, eu fico com ela à noite, para que seus pais possam sair para jantar. Os pobrezinhos precisam de um descanso de vez em quando.
— Isso é muito bonito de sua parte, Brie.
— Eu gosto de Mandy.
— O que você acha de eu ir junto? Poderia estourar um monte de pipocas.
— Muito obrigada, mas estávamos planejando uma noite só de mulheres. Com certeza vamos experimentar maquiagens, fazer nossas unhas, falar sobre rapazes...
Rob aceitou o que foi dito sem contestar.
— Que tal então almoçarmos juntos amanhã?
Mas que homem insistente!, pensou ela, desesperada. Será que não desiste nunca? Será que não percebe que estou morrendo de medo? Morrendo de medo de... Acabar me apaixonando?
— O que houve Brie? — perguntou ele, diante do seu silêncio. — Esgotou o estoque de desculpas?
— Eu... ha... tudo bem, Rob. Aceito seu convite. Vamos almoçar juntos amanhã.
— Ótimo. Passo por aí ao meio-dia.
— Certo. Até amanhã.
— Divirta-se com sua amiguinha hoje.
— Vou me divertir, com certeza. Até mais, Rob.
— Até amanhã, Brie.
Sabrina desligou o telefone e enterrou a cabeça nas mãos. Se ele ao menos não fosse piloto... se ao menos não trabalhasse para a Força Aérea Americana... se ao menos não fosse passar os próximos dois anos na Alemanha... se ao menos ela não estivesse se apaixonado...
Rob desligou o telefone da sala de estar da casa de sua irmã Liz, com a testa franzida. Ainda bem que conseguira esconder a irritação que vinha sentindo com Sabrina. Estava na cara que ela tentava evitá-lo, arranjando todos os tipos de desculpas para não falar com ele. Provavelmente acabara aceitando o convite para o almoço, a fim de não parecer muito rude.
A verdade era que ele estava começando a ficar desesperado. Sabrina mexera com suas emoções de uma forma que beirava o absurdo. Ela era linda. Brilhante. Capaz. Apaixonada.
E agora, o evitava a qualquer custo. Ela havia ido para a cama com ele, tido seu prazer e tirado o time de campo.
Ah, mas aquilo não iria ficar assim. Sabrina precisava conhecê-lo melhor. Quando Rob Davis queria alguma coisa, não desistia enquanto não conseguisse obtê-la. E ele queria Sabrina. Com uma intensidade que chegava a assustar. Mesmo que fosse para ficar a seu lado apenas por duas semanas e meia.
Sim. Sabrina Marsh realmente precisava conhecê-lo melhor.
Sabrina Marsh observou Rob estacionar sua Ferrari em frente a Baby World, uma loja de artigos infantis.
— Ei! O que vamos fazer aqui? — Ela deu um sorriso. — Você me leva para cada lugar estranho!
Ele tirou os óculos escuros e guardou-os no porta-luvas..
— Liz me pediu que eu viesse apanhar uma bugiganga que ela encomendou para o quarto do bebê. Não vou demorar nem um minuto. Quer entrar comigo?
— Claro!
Enquanto Rob apanhava a encomenda, Sabrina aproveitou para dar uma olhada na loja, ficando surpresa com a quantidade de novos artigos para bebês dos quais ela nunca tinha ouvido falar. Admirando um lindo vestido cor-de-rosa, ela se lembrou de um tempo quando havia sonhado em segurar seu próprio bebê. Sonhos esses despedaçados, quando seu ex-marido Buft anunciara que jamais estaria pronto para cumprir as responsabilidades da paternidade.
Ela estava com trinta e cinco anos. Ainda havia tempo para realizar seu sonho. Desde que não demorasse muito para encontrar a outra parte necessária ao desempenho da tarefa.
— Olhe que coisa linda, Brie. Não é o máximo?
Ela se virou para Rob, que segurava um ursinho de pelúcia vestido com o uniforme do Dallas Cowboys.
— É sim!
— Vou comprá-lo para o meu sobrinho.
— Ei! E quem disse que vai ser um sobrinho, e não uma sobrinha?
— Estou com palpite que vai ser um menino. — Ele apontou para outra prateleira. — Olha que jogos interessantes! Vou comprar um deles!
— Rob, esses jogos são para crianças acima de três anos. O bebê ainda nem nasceu!
— Não faz mal. Liz o guardará até que ele tenha condições de usá-lo.
Rindo, Sabrina percorreu a loja inteira ao lado de Rob, enquanto ele achava "mais uma coisinha que sua irmã precisava com urgência.
— Você está louco de vontade de ser tio, não está? Ele deu um sorriso.
— Estou sim. Gostaria tanto que o bebê nascesse antes de eu ir embora!
A cor sumiu do rosto de Sabrina. Virou a cabeça, de modo que Rob não notasse.
— Olhe só para esses sapatinhos! — continuou ele, apontando para uma prateleira cheia de laços cor-de-rosa. — Não são lindos? Vou comprar um!
Respirando fundo para se acalmar, ela forçou um sorriso.
— Ora, Rob, seu sobrinho iria ficar muito esquisito usando sapatinhos femininos!
— Mas não se esqueça de que meu palpite pode estar errado e, em vez de um lindo sobrinho, eu venha a ganhar uma linda sobrinha!
Ao saírem da loja, Rob carregava um pacote enorme nas mãos, contendo inclusive o abajur que Liz havia encomendado para o quarto do bebê.
— Seu sobrinho, ou sobrinha, tem muita sorte — ela comentou, entrando no carro. — Afinal, um tio assim tão generoso é privilégio de poucos!
— Você precisa ver o que meus pais já compraram! — comentou ele, dando a partida na sua Ferrari. — Os dois estão eufóricos porque vão ser avós pela primeira vez!
— Você acha que Liz e Gordon vão ter outros filhos? r
— É provável. Liz adora crianças. Ela deu um sorriso.
— Pelo visto, ela não é a única.
— É verdade. Gostaria de ter um casal de filhos algum dia. E você?
Sabrina murmurou alguma coisa, então mudou de assunto completamente.
Foi só quando já estavam terminando o almoço no restaurante que Rob havia escolhido que ele perguntou:
— Por que me evitou durante todos esses dias, Brie?
Pega de surpresa, ela quase engasgou com um pedaço de peixe grelhado que acabara de colocar na boca. Tomou um gole de água, tentando se recompor.
— O que o fez pensar que eu o tenho evitado, Rob? Eu lhe disse que venho trabalhando muito.
— É você me disse. Mas essa não é a verdadeira razão pela qual não quer me ver. Estou certo?
Sabrina abriu a boca para protestar, para lhe dizer que não tinha a mínima idéia do que ele estava falando. Uma só olhada para o seu rosto, porém, fez com que ela mudasse de idéia. Enganar Rob Davis era uma tarefa impossível.
— Ha... Está.
— Posso saber por quê? Ela levantou as mãos.
— Rob, você vai partir dentro de pouco tempo. Não vejo muito sentido em continuarmos com isso. Não há futuro para nós. Casos passageiros não fazem meu gênero e...
Ele a interrompeu:
— Você está se sentindo culpada porque fomos para a cama?
— Claro que não. Não fizemos nada de errado. Somos adultos, donos dos nossos narizes e o que tivemos foi ótimo. Mas...
Ela parou de falar quando Rob tomou sua mão e levou-a aos lábios.
— Eu gosto de sua companhia, Sabrina. Gostamos das mesmas coisas e passamos momentos maravilhosos juntos. Isso é tão mau assim?
— Não Rob. Isso não é mau. Mas...
— A última coisa que eu pretendo na vida é ficar em Dallas durante esse tempo que me resta aqui sem tê-la a meu lado. Para que nos afastarmos, se é tão bom ficarmos juntos?
— Bem, eu...
— Você realmente tem vontade de dizer adeus agora?
Sabrina Marsh engoliu em seco. Claro que não queria dizer adeus naquele momento. O problema é que estava começando a achar que não iria querer dizer adeus nunca mais. Será que seria mais fácil afastar-se agora, ou passar mais duas semanas a seu lado? Duas semanas de jantares românticos, de boates, de riso? Duas semanas cheias de paixão, do tipo que toda a mulher passava a vida toda sonhando?
— Não sou uma ameaça para você — disse ele, como se lesse seus pensamentos. — Só quero fazê-la feliz. Muito feliz.
Ela quase riu. Era óbvio que Rob a ameaçava! E que ameaça grande ele representava... Será que não percebia? Será que não sentia que a vida dela jamais seria a mesma?
— Rob...
Ele voltou a levar sua mão aos lábios.
— Vamos ao cinema essa noite, Brie?
— V... vamos.
— Obrigada.
— Agora, se não se importar, gostaria de voltar ao escritório. Tenho uma reunião daqui a pouco.
— Como quiser. Já vou pedir a conta.
Naquele momento, Sabrina Marsh soube que tinha perdido a batalha.
Era sexta-feira. Sabrina olhou para o relógio. Cinco e dez. Júlia já tinha ido embora e Beverly devia estar prestes a sair. Dali a pouco, ela também poderia escapar. Graças a Deus. Estava exausta. Chegando em casa, tomaria um banho e se arrumaria para o encontro que tinha com Rob.
Rob. Apenas o fato de pensar nele a fez sorrir. Haviam ido ao cinema na noite anterior, a fim de assistir a um filme que ele tinha escolhido uma comédia que ela jamais escolheria. Acabara adorando. Chorara de rir e passara o tempo todo de mãos dadas com ele, como se fosse uma adolescente. Não houvera riso suficiente em sua vida naqueles últimos anos. Coisa que, na verdade, só se dava conta agora.
Beverly abriu a porta do escritório e pôs a cabeça para dentro.
— Estou indo, Sabrina. A menos que você ainda vá precisar de mim.
Ela balançou a cabeça.
— Não. Também estou indo. Até segunda, Beverly. Bom fim-de-semana.
— Bom fim-de-semana para você também, chefinha. Vai ver Rob hoje?
Ela sorriu.
— Vou.
— Que maravilha! Estou torcendo por vocês dois.
— Obrigada.
— Até segunda, então.
— Até segunda.
Meia hora depois, Sabrina descia do carro e encontrava Mandy e seu pai aproveitando os últimos raios de sol do fim de tarde no jardim do prédio.
— Oi, Mandy. Olá, John.
John O'Neal estendeu-lhe a mão.
— Olá, Sabrina. Tudo bem?
— Tudo bem. — Ela se inclinou para dar um beijo em Mandy. — E você, querida? Como está?
— Muito bem, Sabrina! Sabe de uma coisa? Ganhei um vestido novo! Vou usá-lo no próximo domingo!
— Que bom!
A Ferrari vermelha que acabava de estacionar ali em frente chamou a atenção da menina.
— Quem será que está chegando? Sabrina deu um sorriso.
— É o meu... ha... namorado. Ele chegou cedo.
— Vai ver que ele estava com saudades — concluiu a menina, observando-o entrar no prédio. — Uau! Que homem lindo!
Sabrina esperou que ele se aproximasse e fez as apresentações.
— Rob, eu quero que conheça meus amigos. Esse é John O'Neal e sua filha Mandy.
Rob estendeu a mão a John e sorriu para Mandy.
— É um prazer conhecê-la, Mandy. Sabrina me falou muito de você.
Sabendo que a menina adorava ver os aviões no aeroporto de Dallas, Sabrina lhe contou que ele era piloto. Os olhos de Mandy brilharam.
— Verdade? Você é mesmo um piloto?
— Sou — respondeu ele, sorrindo. — Trabalho na Força Aérea Americana.
— Por que então não está de uniforme?
— Porque estou de férias. Só uso quando estou a serviço.
— Gostaria de vê-lo de uniforme um dia.
Sabrina também gostaria. Com certeza ele ficava irresistível ele já era, de qualquer jeito.
Momentos depois, ambos subiam até o apartamento de Sabrina.
— Mandy é um amor de menina — comentou ele, fazendo um agrado na cabeça de Angel.
— É verdade. Eu a adoro.
— Você é muito carinhosa com ela.
— Você também foi.
— Você gosta de crianças, Brie?
— Eu... há... gosto.
— Eu perguntei ontem se você queria ter filhos... e não obtive resposta alguma. Você quer ou não?
Ela limpou a garganta.
— Bem, houve uma época em que eu queria... Agora, tenho de encarar o fato de que o tempo está passando e eu já não sou tão jovem assim...
— Ora, você só tem trinta cinco anos! Hoje em dia, mulheres de quarenta e tantos dão à luz sem problemas!
— É verdade. — Ela limpou a garganta de novo, louca para mudar de assunto. — Ha... Você não quer tomar um drinque, enquanto eu me troco?
Rob se aproximou dela.
— Será que a maternidade é outro sonho que você resolveu, pôr de lado, Brie? Como seus livros?
Sabrina engoliu em seco.
— Rob...
Ele deu um suspiro.
— Tudo bem, sei que você não vai mesmo responder. Que tal então me dar um beijo? Passei o dia todo sonhando com o momento em que ia sentir o gosto dos lábios de Sabrina Marsh...
Aliviada, ela levantou a cabeça.
— Na hora em que quiser.
A noite foi maravilhosa. Rob levou-a para jantar e dançar e ambos se divertiram a valer.
Mais tarde, ao se despedir dela na porta do apartamento, ele convidou, a voz cheia de carinho.
— Quer passar o dia comigo amanhã?
— Claro que quero.
— Ótimo. Venho apanhá-la às dez. Use uma roupa esporte, está bem?
— Combinado.
Ele lhe deu um longo beijo na boca.
— Boa noite, Brie. Tenha bons sonhos.
Sabrina estava pronta meia hora antes do combinado. Estudando com cuidado seu reflexo no espelho, tentou adivinhar se a calça de linho cinza e a blusa de seda branca que usava eram apropriadas para seja lá o que Rob tivesse em mente para aquele dia. Pensou em colocar uma fivela nos cabelos, a fim de parecer mais jovem. Desistiu da idéia rapidamente. Nem todas as fivelas do mundo mudariam o fato de que ela era cinco anos mais velha que Rob Davis.
Angel anunciou sua chegada, mesmo antes que ele tocasse a campainha. Sabrina tinha um sorriso nos lábios ao abrir a porta.
— Bom dia.
Ele lhe deu um beijo no rosto.
— Bom dia. Você está linda.
— Obrigada.
— Só que eu gostaria que vestisse algo mais esporte. Como um jeans, por exemplo. Você usa jeans, não usa?
— Claro que sim! — ela respondeu revoltada. — Por acaso está achando que eu sou alguma velha? Ele caiu na risada.
— É claro que não, querida. Acontece que eu nunca a vi usando nada parecido. Bem, agora vá se trocar. Temos um longo dia pela frente.
— Tudo bem, vou me trocar. Aceita uma xícara de café?
— Aceito, obrigado.
— Ótimo. A garrafa térmica está em cima da mesa da cozinha. Se quiser dar uma olhada no jornal, ele está aqui. Fique à vontade.
Sabrina subiu até o quarto e abriu o armário. Despiu-se rapidamente, vestiu um jeans e uma camiseta e calçou um par de tênis. Olhou-se no espelho e gostou do que viu. Um dia, Rob havia lhe dito que suas roupas eram muito formais. Ele estava coberto de razão. Eram mesmo. Quem sabe devesse renovar seu guarda-roupa. Era isso mesmo que ia fazer. O verão estava chegando e aproveitaria a nova estação para dar uma boa mudada no visual.
Rob bateu na porta.
— Sabrina? Está pronta?
— Entre! Acabei de me arrumar agora! Ele entrou e deu um assobio.
— Uau! Você fica maravilhosa de jeans! Hum... Acho que vou esquecer o passeio de hoje e ficar aqui com você, fazendo coisas mais interessantes...
No momento em que Rob ia beijá-la, o telefone tocou.
— Droga — reclamou ele. — Seja lá quem for não podia ter escolhido pior hora para ligar.
Sabrina sorriu e tirou o fone da gancho.
— Alô?
— Adivinhe só o que eu lhe trouxe da África!
— Colin, meu querido! Quando foi que você voltou? Pensei que só fosse chegar no fim da outra semana!
— Cheguei agora mesmo. Acabei o trabalho mais cedo e resolvi voltar logo. Estou com saudades! r
— Eu também. Como você está?
— Tostado de tanto sol e todo picado de mosquitos, mas alguns milhares de dólares mais rico. As fotografias ficaram ótimas. O editor está eufórico!
— Parabéns! — Sabrina virou-se para Rob, que fazia menção de sair do quarto. — Não precisa ir embora, Rob. É Colin, meu irmão.
Ele hesitou.
Colin perguntou imediatamente:
— Quem é Rob? Algum namorado novo?
— Ha... Um amigo, digamos assim. — O que mais ela podia dizer?
— Eu o conheço?
Sabrina sentiu que o sangue lhe fugia do rosto.
— Ha... Mais ou menos.
— Como assim, mais ou menos? Conheço ou não?
— Bem...
— Fale logo! Quem é esse tal de Rob?
— Rob Davis. Você se lembra dos Davis, nossos vizinhos quando moramos em Irving?
Colin pensou por um momento.
— Vagamente. Havia duas crianças na casa e um monte de primos que viviam aparecendo para jogar futebol, certo?
— Certo.
— Só que eu não me lembro de nenhum Rob. Sabrina engoliu em seco.
— Ha... Você se lembra do menino da casa?
— Acho que sim... Como era mesmo o nome dele? Scooter, não é?
— Isso mesmo. Só que... bem, só que agora, as pessoas o chamam de Rob.
Fez-se um instante de profundo silêncio.
— Sabrina... Você está querendo me dizer que Scooter Davis está aí, a seu lado?
— Ha... Está.
Colin Marsh deu uma gargalhada.
— Meu Deus, isso é completamente incrível.
— Ora, Colin, mas que exagero! Rob não é mais uma criança. É um homem adulto de trinta anos. Nós nos encontramos por acaso outro dia e estamos saindo juntos desde então.
Seu irmão ainda não havia parado de rir.
— Você e Scooter Davis saindo juntos... É hilariante! Ela respirou fundo.
— Por favor, Colin, não brinque com isso.
— Sinto muito, Brie. — Ele percebeu que tinha ido longe demais. — Não quis ofendê-la.
— Está tudo bem. Você não me ofendeu. — Ela resolveu mudar logo de assunto. — Que bom que você voltou. Já falou com Casey?
— Ainda não. Vou ligar para ela daqui a pouco.
— Quer dizer que você ligou primeiro para mim, em lugar de ligar para a sua namorada? Quanta honra!
— É que eu estava com saudades, irmãzinha. Bem, diga a Scoo... quero dizer, diga a Rob que eu mando lembranças.
— Eu digo. Também mande um beijo para Casey. Sabrina desligou e olhou em volta. Rob não estava no quarto.
Levantou-se e saiu à sua procura.
Sabrina encontrou-o na sala, lendo jornal, Angel deitado a seus pés. Ele olhou para cima ao vê-la.
— Como está seu irmão?
— Bem. Rob?
— Sim?
— Você não gostou do fato de Colin ter me telegrafado. Por quê?
Ele se levantou e passou a mão pelos cabelos.
— Acho que está enganada, Brie. Eu não me incomodei.
— Você disse que jamais iria mentir para mim. Ele fez uma careta.
— Tudo bem. Você venceu. Eu não gostei mesmo.
— Posso saber por quê? Rob deu de ombros.
— Porque eu sei qual foi a reação dele ao saber quem eu era. Seu irmão caiu na risada, não é?
— Bem, ha...
— Eu tinha certeza. Ele acha que sou muito jovem para você, não é?
— O que Colin acha ou deixa de achar não me interessa, Rob.
- Acredite em mim.
Ele lhe deu um abraço.
— Eu acredito. Agora vamos indo. Só que antes, gostaria que você apanhasse uma jaqueta.
— Ei! Mas a troco de que eu precisaria de uma jaqueta? A temperatura prevista para hoje é de trinta graus! Estou morrendo de calor!
— Sei disso, querida. Mas o problema é o vento. Vamos, apanhe logo a jaqueta, que já estamos atrasados.
Ela levantou uma sobrancelha, um pouco desconfiada.
— Vento? P... posso saber para onde vamos?
— Confie em mim, está bem?
Sabrina olhou para ele e deu um suspiro profundo. Já tinha ouvido aquela história antes. Rob Davis e suas idéias malucas. De qualquer modo, resolveu apanhar o agasalho.
Momentos depois, saiam do prédio de Sabrina de mãos dadas. Foi aí então que ela avistou algo ali estacionado, que a deixou de boca aberta.
— Rob! Você não acha que eu vou andar nisso aí, acha? Ele riu.
— Claro que acho. Ela balançou a cabeça.
— De jeito nenhum. Não gosto de motocicletas. Vamos com o meu carro.
— Não. Vamos de moto.
— Mas eu nunca andei nessa geringonça, em toda a minha vida!
— E por que não?
— Porque é perigoso e eu morro de medo!
— Boba.
— Não adianta. Eu não subo nisso por nada nesse mundo!
— Covarde.
— Eu estou falando sério!
— Medrosa.
— Eu não sou medrosa! Voei naquele teco-teco, já se esqueceu? Acontece que me recuso a andar nisto.
— Ora, Brie, seja razoável. Eu sei que rnoto é uma coisa perigosa, mas depende de quem dirige. Eu sei o que faço quando estou em cima de uma. — Ele fez uma pausa. — Venha comigo, Brie. Por favor. Você sabe que pode confiar em mim.
Era incrível, mas ela não conseguia lhe dizer não.
— Tudo bem, Rob, eu vou. Mas se você nos matar, jamais vou perdoá-lo!
— Não me esquecerei disso.
— Rob?
— Sim?
— Posso saber para onde estamos indo?
— Claro que pode. Vamos visitar minha família.
— O que?
— Algum problema? Você não gostaria de revê-los? Bem, acho melhor irmos andando. Aqui está seu capacete. Não tenha medo, Brie. Dirijo motos com o mesmo amor que piloto aviões.
Só foi depois de percorrer dez quilômetros que Sabrina teve coragem de abrir os olhos. E o que viu fez com que os fechasse de novo. O problema com as motocicletas era que não havia nada entre ela e seja lá o que a atingisse, se o pior acontecesse. Engoliu em seco.
— Rob?
Ele não escutou. Também, com aquele barulho...
— Rob?
— O que foi?
— O que vai acontecer, se você perder o controle dessa geringonça?
— Vamos virar sanduíche!
Sabrina Marsh se arrependeu imediatamente de sua pergunta.
Pouco tempo depois, Rob diminuiu a velocidade. Sabrina arriscou abrir um olho e percebeu que eles haviam entrado num parque enorme, que ela já visitara antes. Relaxou visivelmente. Ele estava brincando quando falava a respeito de sua família. Ainda bem. Que alívio!
Rob estacionou a moto mais adiante e ajudou-a a descer.
— Gostou do passeio, Brie?
As pernas dela ainda estavam bambas.
— Você se ofenderia, se eu dissesse que não? Ele sorriu.
— Você vai acabar se acostumando. — Apontou parra um grupo de pessoas mais adiante. — Vamos lá? Meus pais estão à sua espera.
— Ei! Espere um pouco! Eu pensei...
— Eu disse que ia levá-la para visitar minha família. Algum problema?
Era o que lhe faltava na vida!
Momentos depois, uma mulher de uns cinqüenta e poucos anos aproximava-se deles, com um grande sorriso nos lábios.
— Sabrina, minha querida! Eu a teria reconhecido em qualquer lugar! Como você está bonita!
Sabrina ficou admirada ao reconhecer a mãe de Rob na mesma hora. Ao contrário do filho, ela não tinha mudado nada durante aqueles dezessete longos anos. Seus cabelos ainda eram escuros, o rosto quase sem rugas, o corpo esbelto e bem cuidado.
— Como vai, sra. Davis?
— Por favor, me chame de Rebecca. Que bom vê-la de novo! Como está seu irmão?
— Colin está bem. Acabou de chegar da África. Ele viaja muito, a trabalho.
— Rob me contou que você perdeu seu pai e sua mãe. — A voz dela estava impregnada de simpatia. — Ei sinto muito. Gostava muito deles.
— Obrigada, sra. Da... ha... Rebecca. A mãe de Rob se virou.
— Liz! Venha cá! Você se lembra de Sabrina?
Liz aproximou-se com passos lentos. Sabrina olhou para a moça grávida que vinha chegando, tentando encontrar em seu rosto sinais da garotinha da qual se lembrava vagamente.
— É claro que eu me lembro de você, Brie! — Ela lhe deu um beijo no rosto. — Você era a minha baby-sitter favorita! A única que me tratava com um ser pensante e não como uma débil mental! Nossa você conseguiu ficar ainda mais bonita do que era, aos dezoito anos! Rob não estava exagerando, quando me falou da sua beleza!
Sabrina ficou vermelha e murmurou qualquer coisa em resposta. Estava se sentindo ridícula. Como será que a família de
Rob estaria encarando o fato de que ele vinha saindo com a garota que um dia fora sua baby-sitter!
Pouco depois, ela cumprimentou o sr. Davis. O pai de Rob lhe pareceu familiar, mas bem mais velho do que se lembrava. Também foi apresentada ao marido de Liz, um homem simpático obviamente apaixonado pela esposa e felicíssimo com a idéia de ser pai.
— Posso saber o que significa isso? — ela perguntou baixinho a Rob, quando finalmente ficaram a sós.
— Uma reunião de família — ele respondeu, sorrindo. — Nós as fazermos a toda hora. Essa, em particular, foi feita em minha homenagem. Uma espécie de bota-fora, digamos assim.
Um bota-fora. Claro. Dentro de pouco tempo, ele estaria indo embora. E ela nunca mais o veria. A sra. Davis aproximou-se de ambos.
— Vamos almoçar? Espero que vocês gostem do que preparamos. — E, virando-se para Sabrina, acrescentou. — Estou feliz de verdade por você ter vindo.
Sabrina e Rob sentaram-se a uma mesa de piquenique ao lado de Liz, Gordon, do Sr. e da Sra. Davis. O cardápio constituiu-se de hambúrgueres grelhados, salada de batatas e feijões cozidos. De sobremesa, foram servidos bolos de chocolate e frutas frescas. Comendo com vontade, Sabrina chegou à conclusão de que os Davis deviam fazer aquele tipo de coisa freqüentemente, já que o negócio era tão bem organizado.
— Meus primos e eu vamos jogar futebol — anunciou Rob, levantando-se da mesa. — Venha comigo, Brie. Você está no meu time.
Ela arregalou os olhos.
— Mas eu não sei jogar futebol!
— Não faz mal. Vamos só brincar um pouco.
— Não, obrigada. Prefiro ficar aqui sentada. - Covarde.
— Não adianta Rob. Daqui eu não saio.
— Medrosa. Ela sorriu.
— Não perca seu tempo, meu querido. Dessa vez, não vai funcionar.
— Ei, Rob — chamou alguém, mais adiante. —já vamos começar!
Ele se virou.
— Já estou indo! — Então, virou-se para Sabrina novamente. — Pelo menos, me dê um beijo de boa sorte.
Não houve jeito, senão lhe dar um beijo rápido no canto da boca. Ela observou-o juntar-se aos primos, depois dirigiu-se para Liz, um pouco embaraçada.
— Ha... Como está se sentindo nesses últimos dias de gravidez? A moça encostou a mão na barriga enorme.
— Cansada e impaciente. Mal posso esperar para segurá-lo em meus braços!
— Segurá-lo?
— Ou segurá-la, quem sabe. Rob jura que vai ser um menino.
— Ele está feliz da vida porque vai ser tio.
— É verdade! E você, Sabrina? Casou-se alguma vez? Teve filhos?
Ela não gostava de falar sobre aquilo.
— Ha... Eu me casei logo após terminar a faculdade, mas acabei me divorciando pouco tempo depois. Burt e eu não tivemos filhos.
— Ah, sei. — Liz fez uma pausa. — Você deve ter ficado muito surpresa por encontrar Rob depois de tempo todo, não é? Ele me contou que você não o reconheceu.
— É verdade. Não o reconheci. Também, ele mudou tanto!
— Tem razão. Engraçado, quando nós éramos pequenos, eu o achava um verdadeiro pestinha. Mas agora que somos adultos, eu adoro! Ele é um homem honesto, brilhante, talentoso. E além disso, é lindo de morrer. Feliz da mulher que vier a ser a sra. Robert Steven Davis!
Sabrina engoliu em seco, sentindo uma pontada de angústia na alma. O simples fato de imaginar Rob casado com outra mulher era o suficiente para deixá-la de estômago revirado. Só que, mais cedo ou mais tarde, quisesse ou não, aquilo acabaria acontecendo.
E então, só lhe restaria a lembrança dos dias maravilhosos passados a seu lado.
— Você não acha Brie?
A pergunta de Liz fez com que ela voltasse à realidade.
— Como?
— Você não acha que a mulher que se casar com Rob vai ser uma felizarda?
Sem saber aonde Liz queria chegar com aquela estranha conversa, ela concordou com a cabeça.
— Ha... Acho, sim.
— E será que essa felizarda... vai ser você?
Foi a sra. Davis quem salvou Sabrina daquela embaraçosa situação.
— Ora, Liz, quer parar de fazer perguntas inconvenientes? Você está embaraçando a pobrezinha!
— Mas eu só perguntei...
— Vamos assistir ao jogo, está bem? Olhe só para o seu marido tentando chutar a bola. Como ele é perna de pau! Aposto que jamais fará um gol na vida!
Depois do jogo de futebol, as mulheres da família organizaram dois times de basquete. Sabrina nunca havia gostado de esportes, mas por muita insistência de Rob e dos demais, acabou participando do jogo e divertiu-se como nunca. Na verdade, não se lembrava de ter rido tanto, nos últimos dez anos.
Sabrina estava exausta, suada e totalmente despenteada quando Rob estacionou a motocicleta em frente a seu prédio. Havia levado um tempo enorme para despedir-se de toda a família de Rob. Entre beijos e abraços, prometera a eles que voltaria a participar de outra daquelas reuniões.
O problema é que em outra daquelas reuniões não haveria mais Rob.
Ele a ajudou a descer da moto e a abraçou.
— Você foi ótima, querida. Não houve quem não tivesse comentado que o passar dos anos conseguiu deixá-la ainda mais maravilhosa.
Minutos depois, entrando em seu apartamento, Sabrina jogou-se no sofá e exclamou:
— Meu Deus, como estou cansada! Aquele jogo de basquete me deixou toda moída! Acho que vou desmaiar!
Rob ajoelhou-se diante dela.
— Você não gostaria que eu lhe desse um banho bem gostoso? Não lhe parece uma boa idéia?
Ela ia abrir a boca para dizer que achava a idéia excelente, quando uma voz vinda da cozinha mudou seus planos.
— Antes que essa conversa fique muito embaraçosa, gostaria de avisar que vocês dois não estão sozinhos!
— Colin! — Ela se levantou correndo e abraçou o irmão. — Que bom que você veio! Onde está seu carro? Não o vi aí fora!
— Ele não quis pegar. Acho que a bateria descarregou, por causa das seis semanas que passei fora. — Olhou a irmã de cima a baixo. — Você está ótima, Brie.
— É você que está maravilhoso! Acho que nunca o vi tão bronzeado! Você emagreceu um pouco, não é? Não serviam comida para você na África?
— Bem, servir, até que serviam. Mas não pergunte o quê. Acho que não iria gostar. — Colin olhou para o homem que até então estivera em total silêncio. — Você deve ser Rob Davis.
— Exatamente. — Ele estendeu a mão. — Como vai, Colin?
— Bem, obrigado. Que coisa impressionante! Quando o vi pela última vez, você era um menino! Agora, está muito mais alto que eu!
— O tempo passa Colin.
— E como passa! Mal posso acreditar que você seja aquele menino pequeno que...
Sabrina achou melhor intervir, antes que aquele tipo de conversa trouxesse problemas.
— Você toma alguma coisa, Colin?
— Eu estava procurando por algo decente para molhar a garganta quando você chegou, mas só encontrei suco de laranja. Será que teria algo mais forte? Tive um dia duro!
— Vou dar um olhada. E você, Rob? Toma alguma coisa?
— Suco de laranja está bom para mim, obrigado. Quer ajuda?
— Não, obrigada. Fique conversando com Colin que eu já volto.
Ao sair da sala, ela o ouviu comentar.
— Brie me contou que você é fotógrafo free-lance.
Voltando com uma bandeja nas mãos, ela viu que ambos estavam muito entretidos numa conversa sobre fotografias e viagens. Será que agora Colin percebia que Scooter Davis se fora para sempre, deixando em seu lugar uni homem maravilhoso, que, ela quisesse admitir ou não, estava prestes a conquistar seu coração? Ficou ali, em silêncio, ouvindo a conversa de ambos, tentando compreender quando foi que sua vida começara a se tornar tão complicada. E então a resposta lhe veio à mente, com uma clareza absoluta. Tudo acontecera no dia em que Rob Davis havia entrado naquele elevador, fazendo com que seu mundo virasse de cabeça para baixo.
Sim. Sabrina Marsh tinha consciência de que estava num beco sem saída.
Quinze minutos depois, Colin se levantava.
— Bem, eu gostaria de ficar com vocês mais um pouco, mas minha namorada está me esperando. Só dei uma passada para lhe dar um beijo, Brie.
— Mas como você vai fazer para ir embora? Está sem carro!
— É só eu tomar um táxi.
— Eu posso lhe dar uma carona — ofereceu Rob. — Estou com a minha motocicleta aí embaixo.
Colin levantou uma sobrancelha.
— O que? Será que eu ouvi direito? Brie andou de motocicleta?
— Andou!
— Isso é absolutamente inacreditável! O que você fez, para que ela mudasse tanto?
Sabrina resolveu intervir e acabar de vez com aquela conversa mole.
— Pode levar meu carro, Colin. Não vou mais precisar ele hoje.
— Ótimo. Vou fazer isso. E obrigado por ter oferecido a carona, Rob.
— De nada.
Sabrina entregou a chave do carro ao irmão.
— Que bom que você voltou Colin. Ele lhe deu um abraço.
— Estou contente por ter voltado. — Estendeu a mão a Rob. — Foi um prazer revê-lo. Até mais.
— Até mais, Colin.
Sabrina o acompanhou até o elevador.
— Esse cara está louco por você, irmãzinha — comentou ele, abrindo a porta.
Sabrina mordeu os lábios. Não estava com a mínima vontade de falar sobre seu relacionamento com Rob Davis naquele momento.
—Ora, Colin, que exagero.
— Não estou exagerando. E você sabe disso. Por acaso esse sentimento é recíproco?
— Eu... ha...
— Pelo visto, é recíproco, sim. Ele mudou muito, não é? Acho que fez um monte de ginástica e musculação desde que o vi pela última vez!
— Eu tive a mesma impressão. Ele sorriu.
— Claro que teve. Obrigado por ter me emprestado seu carro. Sabrina observou o irmão entrar no elevador e voltou à sala, onde Rob a esperava de braços abertos.
— Venha me dar um beijo, Brie.
Ela lhe deu. Um beijo longo, gostoso, apaixonado.
— Hum... que coisa maravilhosa — murmurou ele, quando finalmente, se afastara.— Onde estávamos mesmo, antes de sermos interrompidos pelo seu irmão?
— Você me disse que ia me dar um banho...
— E é exatamente isso que eu vou fazer agora mesmo. Dando-lhe outro beijo, ele a levantou do chão.
— Ei! — reclamou ela. — Você me disse que não era nenhum Rhett Butler, lembra-se?
— Certo. Não sou, mas hoje estou com vontade de imitá-lo. Sabrina fechou os olhos, na maior felicidade. O que não contou a ele era que ser carregada por aquela escada acima era sua fantasia secreta favorita.
Sabrina acordou no domingo de manhã sentindo as carícias de Rob Davis em seus seios. Demoraram a sair da cama. Depois, prepararam juntos o café da manhã, rindo e brincando um com o outro, parando a toda hora para se beijarem ou se tocarem. Ela pretendia aproveitar cada minuto do seu tempo com Rob, mesmo que aquilo, no final da história, representasse sua ruína. O tempo estava passando. Era como se houvesse um relógio na sua cabeça, dizendo que a hora do adeus estava cada vez mais perto.
Após um dia perfeito, eles quase tiveram uma briga no começo da noite. Choveu praticamente durante a tarde toda, mas o tempo feio serviu para que o clima entre ambos ficasse ainda mais intimo. Resolveram não sair de casa. Assistiram televisão, leram, descansaram... e fizeram amor. Num determinado momento, ao observá-lo, Sabrina Marsh ficou surpresa ao constatar o quanto aquele homem se tornara importante para ela, em tão pouco tempo.
Percebendo que ela o encarava, ele lhe, sorriu e colocou a xícara de café que segurava nas mãos em cima da mesa.
— Foi um fim de semana maravilhoso não foi?. Ela passou a mão pelos cabelos.
— Foi, sim. Um fim de semana inesquecível.
Rob acariciou-lhe as coxas por debaixo do vestido, com muita suavidade.
— Eu... Tenho uma confissão a lhe fazer.
Sabrina levantou uma sobrancelha, um pouco desconfiada.
— Que confissão?
— Bem, eu acordei no meio da noite e não conseguia voltar a dormir. Como não queria perturbar seu sono de jeito nenhum, deixei o quarto sem fazer barulho, fui ao seu escritório e... terminei de ler seu livro. Quero dizer, o que escreveu até agora.
Sabrina colocou sua xícara na mesa com tanta raiva, que o café derramou pelo tampo.
— Droga, Rob! Não gostei disso! Você não tinha o direito de fazer uma coisa dessas, sem me consultar primeiro!
Ele não pareceu se abalar muito com aquilo.
— Eu sei que não tenho direito de contrariar seus desejos, mas o fato é que não consegui resistir. É isso aí, Brie. Não consegui resistir mesmo. E cheguei à mesma conclusão quê antes: Sua história é maravilhosa. Você escreve como uma verdadeira profissional. Só não entendo por que insiste em esconder tanto talento!
Ela franziu a testa, um pouco mais calma.
— Eu já lhe disse Rob. O ato de escrever é apenas um hobby, algo que me ajuda a relaxar e a me divertir. Se, por algum milagre dessa vida, eu tivesse uma chance de publicar esse livro...
— É claro que qualquer editor iria adorar poder publicá-lo. Brie. Você é uma excelente escritora!
Agora, sua raiva já tinha passado quase que totalmente. Os elogios vindo de Rob Davis lhe faziam um bem incrível.
— Você está exagerando, Rob.
— Você sabe que não estou.
— Acontece quê você não é editor. Não sabe como essas coisas funcionam.
— Certo - ele admitiu. — Não sou editor. Mas reconheço um bom livro quando leio um. E estou cansado de saber que as boas editoras estão sempre à procura de novos talentos. —Rob respirou fundo. — E, além disso, por mais que você negue, o ato de escrever é um sonho muito bonito, do qual ainda não desistiu!
Ela desviou o olhar.
— Você está errado, Rob.
--- Não.
— Está sim.
— Você sabe que não estou Brie.
— Você pensa que me conhece — murmurou ela. — Acontece que não sabe de quase nada a meu respeito. Fomos vizinhos durante pouco tempo quando éramos muito jovens e agora estamos saindo juntos há duas semanas. Francamente, Rob, ninguém pode conhecer alguém em tão pouco tempo?!
Ele deu um sorriso irônico.
— Será que não mesmo?
— Mas é evidente que não! Já disse e vou repetir Rob Davis. Você não me conhece. Estou feliz com a minha vida e com o meu jeito de ser. Por que não consegue aceitar esse fato? Será que é algo tão difícil assim?
— Você merece muito mais. Muito mais do que tem, Brie. Ela balançou a cabeça, sentindo uma grande tristeza dentro da alma.
— Não faça isso, Rob. Não essa noite. Por favor...
— Sabrina, eu... — Ele parou de falar ao ver seu rosto desanimado e deu um grande suspiro. — Tudo bem. Não vou mais tocar nesse assunto. Mas teremos de tocar, mais cedo ou mais tarde. Você sabe disso, não sabe?
Ela fechou os olhos.
— Eu... acho que nós não tentos nada a nos falar, Rob. Você vai embora dentro de muito pouco tempo... e eu... bem, e eu vou continuar a viver minha vida, como sempre vivi...
Rob a abraçou com tanta força, que ela não conseguiu reprimir um grito de susto.
— Você não vai me esquecer, Sabrina. Cada vez que rir, cada vez que dançar, cada vez que chover... é isso aí, querida. Cada vez que olhar para outro homem, vai se lembrar de mim!
E, dizendo isso, ele lhe deu um beijo tão impetuoso, que ela pensou que fosse morrer por falta de oxigênio. Então, pela primeira vez durante aquele tempo todo, Sabrina Marsh percebeu que ele podia ser cruel. Sim. Rob Davis havia a de machucá-la com suas palavras duras. E estava bem consciente do fato.
Ele foi embora logo após aquilo, dizendo que lhe telefonaria no dia seguinte. Sabrina ficou sentada no sofá, em silêncio, consciente de sua solidão e do vazio que Rob deixara atrás de si. O único som que ouvia, além da chuva e dos trovões lá fora, era o tique-taque irritante e implacável do relógio dentro de sua cabeça.
Com as duas mãos cheias de pacotes, Rob entrou em casa ao lado de Liz.
— Se você comprar alguma coisa a mais para o quarto, não vai haver espaço suficiente para o bebê. Por acaso. já pensou nisso?
Liz sorriu e sentou-se com cuidado numa poltrona da sala.
— É que eu preciso fazer alguma coisa até que ele nasça. Não agüento mais tanta espera! Acho que estou ficando louca!
Rob deu um sorriso e olhou para sua barriga enorme.
— O que foi que o médico disse?
— Que o bebê pode nascer a qualquer hora.
— Então o negócio não vai demorar muito!
— Espero que não!
— Bem, vou levar esses pacotes para o quarto, depois quero dar um telefonema. Você está precisando de alguma coisa?
— Não, obrigada. Acho que vou pôr os meus pés para cima durante alguns minutos. — Ótimo. Se precisar de mim, é só chamar.
— Obrigada.
Ele deixou os pacotes no lindo quarto pintado em tons de amarelo e foi ligar da biblioteca. Nem precisou consultar a agenda. Sabia o telefone do escritório de Sabrina de cor. Tirou o fone do gancho e discou.
— Agência de empregos Sabrina Marsh.
— Oi, Júlia, aqui é Rob Davis. Sabrina está ocupada?
— Está, sim, sr. Davis. Ela está bem no meio de uma entrevista.
— Que pena. Você sabe se o negócio ainda vai demorar?
— Acho que a entrevista ainda vai levar mais uns quinze ou vinte minutos. Só que, depois dessa, ela tem outra, mas a pessoa ainda não chegou. Quer que eu peça para ela lhe telefonar, quando tiver um tempinho?
— Quero, sim, por favor. — Ele lhe deu o número de telefone de Liz. — Diga-lhe que estarei aqui a tarde toda, está bem?
— Pode ficar tranqüilo, sr. Davis. Eu lhe darei o recado. Ah, desculpe, o outro telefone está tocando. Esse escritório está parecendo uma verdadeira casa de loucos, desde cedo.
E desligou, antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa. Desapontado por não ter podido falar com Sabrina, ele voltou à sala, onde estava sua irmã.
— Quer uma xícara de chá? Liz fechou a revista que lia.
— Pensei que você fosse dar um telefonema.
— Eu... ha... já dei. Sabrina estava ocupada e vai me ligar mais tarde.
Liz olhou para Rob, a testa franzida. Sabendo que a irmã ia lhe encher de perguntas, ele quis saber novamente se ela aceitava uma xícara de chá.
— Acho que um bom chá de ervas vai lhe fazer muito bem, não acha?
— Eu aceito, sim. Sem açúcar, por favor.
Rob foi para a cozinha bem depressa, aliviado por ter podido escapar do interrogatório. Pelo menos, por enquanto. Adorava sua irmã, mas havia momentos em que ela se tornava um tanto inconveniente.
Rob acabava de tomar seu chá na sala ao lado de Liz, quando o telefone tocou. Fazia meia hora que havia tentado falar com Sabrina. Sabendo que a irmã o observava, virou as costas para ela ao tirar o fone do gancho.
— Alô?
— Oi, Rob.
Era ela. Graças a Deus.
— Você está muito ocupada, não está?
— Muito — concordou ela, com a voz cansada. — Tive duas entrevistas em seguida e acabei de receber um telefonema, informando que uma das nossas moças sofreu um acidente.
— Um acidente?
— Isso mesmo. Parece que ela tropeçou em algum equipamento do escritório onde estava trabalhando. Quebrou algumas costelas e vai ter de ficar em repouso durante um bom tempo.
— E agora? O que vai acontecer?
— Haverá uma investigação para ver se houve negligência por parte do escritório onde Camille estava trabalhando. Se ficar provado que sim, ela será indenizada por eles. Se ficar provado que não, quem pagará a indenização será a companhia de seguros que cobre nossa agência.
— Ah, sei — ele comentou, sem muito entusiasmo tentando adivinhar se Sabrina realmente gostava do que fazia e se pretendia continuar naquele ramo até o fim da vida. Como seria bom se ela resolvesse se dedicar de corpo e alma a seus livros... Afinal das contas, escrever era um trabalho que podia ser feito em qualquer lugar do planeta.
Como na Alemanha, por exemplo.
— Olhe Brie — continuou ele. — A respeito de hoje à noite...
— Sim?
Ele passou a mão por seus cabelos curtos.
— Eu tinha me esquecido completamente que prometi a meu melhor amigo em Irving dos tempos de colégio que iria jantar com ele essa noite. Peter Christian Slater lembra-se dele?
— Não.
Rob piscou os olhos. Era evidente que Sabrina não ia se lembrar. Afinal das contas, Peter e ele estavam cinco atrás dela no colégio. Como você é idiota, Rob Davis!
— Bem, vou jantar com ele essa noite. Gostaria de ir junto? Sabrina hesitou, depois respondeu lentamente:
— Acho que não, Rob. Mas obrigada, de qualquer maneira.
— Ora, Brie, será divertido. Você vai adorar Peter e sua namorada Rosemary. Eles são ótimos!
— Tenho certeza de que seus amigos são mesmo muito divertidos, mas estou cansada até dizer chega e ainda tenho uma porção de coisas para fazer aqui no escritório. Como preparar meu imposto de renda, por exemplo. No momento em que chegar em casa, vou cair na cama e desmaiar! Isso é se não desmaiar antes disso!
Rob Davis não sabia dizer se aquilo era ou não uma desculpa para não vê-lo, mas, de qualquer maneira, não havia nada que pudesse fazer a respeito. O fato de não poder se encontrar com ela naquele dia o deixava cheio de tristeza. Afinal, o tempo estava se esgotando...
— Como quiser Brie. E amanhã? Que tal jantarmos juntos? Estou louco para levá-la a uma churrascaria. Que tal?
— Hum... Boa idéia. Ele sorriu.
— Ótimo. Eu ligo amanhã, está bem?
— Está bem. Divirta-se com seus amigos hoje.
— Eu iria me divertir muito mais, se você fosse comigo. Ela não respondeu.
Resignado, Rob resolveu desistir. Conversaram durante mais alguns minutos, então desligaram.
Ele recolocou o fone no gancho, sentindo-se triste e desanimado.
Ao virar-se, percebeu que sua irmã o observava atentamente.
— Você vai acabar se machucando, Rob. Acho que, dessa vez, se envolveu demais.
Ele procurou ignorar o rosto preocupado de Liz.
— Você está exagerando. Ela balançou a cabeça.
— Não. Não estou. Pensa que não conheço você. Nunca o vi desse jeito, irmãozinho.
Liz não fazia idéia do quanto estava certa. Se soubesse que Rob tinha realmente se apaixonado por Sabrina Marsh, iria ter motivos suficientes para ficar preocupada. Muito preocupada, na verdade. Porque ele estava apaixonado, sim. Totalmente, profundamente apaixonado. Como nunca estivera antes. E era evidente que aquele lindo amor não estava destinado a ter um final feliz.
— Eu já disse que você está exagerando, Liz. A troco de que eu iria acabar me machucando?
Ela franziu a testa.
— Você está de partida, será que já se esqueceu disso? Como pretende manter um romance a milhares de quilômetros de distância? Ou será que está achando que Sabrina Marsh vai largar sua vida e seus negócios aqui em Dallas e se mudar com você para a Alemanha?
— Será que isso é algo tão importante assim?
Liz inclinou-se para frente, tanto quanto o permitia seu estado.
— Rob, Rob... Não faça isso. Não comece a ter esperanças... Não espere algo que com certeza não vai acontecer...
Ele respirou fundo.
— E se eu lhe dissesse que... estou pensando em pedi-la em casamento?
Os olhos azuis de Liz se arregalaram.
— Mas vocês só estão saindo juntos há duas semanas!
— É verdade. Só que não importa. Acho que soube, desde o princípio, que Sabrina Marsh era a mulher da minha vida.
Agora, ela parecia desesperada.
— Eu sabia, Rob! Sabia que isso ia acabar acontecendo!
— Liz...
— Sabrina Marsh vai quebrar o seu coração! Escute o que estou falando! Você ainda vai sofrer muito! Quando é que vai aprender a tomar mais cuidado com suas próprias emoções?
Rob Davis não estava gostando nada daquilo.
— Quer parar de ser tão melodramática? Tudo bem. Eu me apaixonei por Sabrina. Gostaria muito de me casar com ela e levá-la para a Alemanha. Agora, se as coisas não derem certo... bem, eu darei um jeito de sobreviver.
Fez-se um instante de silêncio, então Liz perguntou:
— A que preço?
Ao preço de um coração quebrado, Rob poderia ter respondido. Só que não o fez. Em vez disso, deu de ombros e sentou-se no sofá...
— Acho que vou tomar um banho e trocar de roupa. Peter Slater e Rosemary estão à minha espera.
Sabrina Marsh passou uma grande parte da noite de segunda-feira andando de um lado para o outro de sua casa feito uma autêntica barata tonta, tocando numa porção de coisas. Coisas que faziam com que se lembrasse de Rob. A poltrona e o sofá onde ele tinha sentado, a xícara em que havia tomado seu café, o travesseiro onde descansara a cabeça depois dos tórridos momentos de amor. Era incrível como sua casa, o lar que tanto amava, ficava tão vazio sem a presença daquele homem maravilhoso que lhe havia roubado o coração.
Tentou acabar de fazer seu imposto de renda, mas não conseguiu. Tentou ler um livro, mas as cenas de amor ali contidas faziam com que se lembrasse de Rob. E aquilo era muito dolorido.
Finalmente, subiu a escada e passou a hora seguinte trabalhando em seu próprio romance. Porém, nem aquilo conseguiu distraí-la. Nada parecia ter graça.
Como sua vida havia mudado. Como Rob Davis mudara o rumo de sua pacata existência. Ele entrara em sua vida e em seu coração, sem que ela tivesse tido tempo de fazer algo a respeito.
E agora?
Sim. Ele virará sua vida do avesso. Fizera com que voltasse a acreditar naquele amor louco, fantástico e intenso, que havia muito desistira de procurar. Será que ela não percebia que, se voltasse a sonhar, seus sonhos seriam todos despedaçados, como haviam sido um dia?
Cobriu o rosto com as mãos, amaldiçoando a própria estupidez. Preocupado com a dona, Angel aproximou-se dela e deitou a cabeça em seus joelhos. Comovida, ela abraçou o cachorro com carinho.
— E agora, Angel? O que eu faço?
Sabrina achava que talvez Rob estivesse à sua espera, quando voltou para casa na terça-feira no final da tarde.
Não estava.
Não havia mais falado com ele após aquele telefonema sem graça do dia anterior, embora tivesse esperado uma ligação durante a terça-feira inteira.
Entrou em casa triste e desanimada, automaticamente agradando a cabeça de Angel. Até duas semanas atrás, os latidos de boas-vindas do seu cachorro haviam sido suficientes.
Agora, não eram mais.
Agora, o apartamento parecia vazio e enorme.
Rob Davis não estava lá.
De qualquer modo, era melhor se acostumar com o fato. Dali a pouco tempo, ele iria embora. E só lhe restaria a mais completa solidão.
Ligou o rádio, a fim de não ouvir o pesado som do silêncio. Tentando imaginar onde Rob estaria àquela hora, foi para o quarto, despiu-se e vestiu um quimono vermelho. Ele dissera que ligaria para combinar o horário do jantar. Só que não ligara. E ela não sabia o que fazer.
Uma hora depois, estava deitada no sofá da sala, tensa até dizer chega. Onde Rob teria se metido? Como é que ele podia desperdiçar as poucas horas que ainda tinham juntos? Será que ela dissera alguma coisa que o ofendera? Será que algo de muito ruim acontecera?
Então era aquele vazio enorme que iria sentir, quando ele fosse embora. Aquele vazio e aquela dor imensa que parecia devorá-la.
Algum tempo depois, ela ouviu um barulho de elevador. Abriu a porta correndo, antes mesmo que ele pudesse tocar a campainha.
— Oi, Rob — cumprimentou ela com um sorriso nos lábios, fazendo de tudo para manter a voz calma e relaxada. — Pensei que você não viesse.
Ele lhe deu um abraço forte, um longo beijo e lhe entregou uma fotografia.
— Peço desculpas pelo atraso. Agora, dê uma olhada nisso! Pega de surpresa, ela olhou para a foto que havia acabado de receber. Levou alguns instantes até atender o que aquilo significava. E arregalou os olhos, curiosa e espantada.
— Ei! Por acaso esse é o bebê de Liz? Ele balançou a cabeça com orgulho.
— Exatamente. Meu sobrinho. Nascido há duas horas. Cinqüenta e quatro centímetros, três quilos e oitocentos gramas. Tentei falar com você logo após o nascimento, mas Beverly me disse que já tinha saído. Liguei para cá e como ninguém atendia, resolvi vir até aqui a fim de lhe dar a notícia pessoalmente.
Ela lhe deu um beijo.
— Parabéns, tio Rob. Eu... senti sua falta quando cheguei em casa. Acho que já... ha... me acostumei com a sua presença na minha vida.
Ele a abraçou.
— E eu também. Como é, gostaria de conhecer o novo membro da família?
— Claro. Venha comigo enquanto eu troco de roupa. Quando foi que Liz entrou em trabalho de pano? Ela sofreu muito? E você? Está feliz porque o bebê nasceu antes da sua partida?
Eles subiram até o quarto de Sabrina, onde Rob sentou-se na beirada da cama e observou-a se vestir.
— Liz entrou em trabalho de parto às dez horas da manhã, quando estávamos tomando café. Corremos para o hospital, de onde avisamos Gordon. Meus pais chegaram pouco depois. Liz se saiu muitíssimo bem e eu estou feliz da vida por ter podido estar aqui em Dallas, na hora do grande momento!
Parou de falar no momento em que Sabrina tirou o quimono, ficando nua à sua frente.
— Venha cá um minuto, Brie.
Ela riu ao perceber o que ele tinha em mente.
— Não. Se eu fizer isso, chegaremos ao hospital após o horário de visitas.
Ele ainda tentou protestar.
— Mas Brie...
— Você quer que eu conheça seu sobrinho, não quer?
— Quero, mas...
— Então trate de se comportar.
— E um beijinho só, você dá?
Ela sorriu e vestiu uma saia florida e rodada.
— Dou. Mas um só!
Eles riram e se abraçaram. Realmente, a vida ao lado de Rob Davis era muito mais alegre e divertida. Não queria nem imaginar o que acontecera, quando ele fosse embora.
Jonathan Gordon Davis Holley dormia profundamente, de todo indiferente aos visitantes que chegavam para lhe dar as boas-vindas ao mundo. Sabrina e Rob concordaram que ele era o bebê mais bonito do berçário, deixando orgulhosos e felizes os novos pais e avós. Como Liz estivesse muito cansada, eles não ficaram mais do que meia hora no quarto. Ao deixarem a maternidade, voltaram a passar pelo berçário a fim de darem mais uma olhada no recém-nascido.
Foi com surpresa e muito espanto que Sabrina acabou constatando uma coisa: estava triste. Muito triste. Porque jamais teria um filho.
Aquele fato, porém, nunca a incomodara antes. Então a troco de que estava incomodando naquele momento? Não sabia dizer.
Rob virou-se para ela e sorriu.
— Quer saber de uma coisa? Acho que vou morrer de fome. Não comi nada, desde o café da manhã!
Ela tentou mostrar uma animação que não sentia.
— Então que tal jantarmos agora? Vamos comemorar o nascimento do seu sobrinho em grande estilo!
— Ótima idéia! — De mãos dadas, eles tomaram o elevador. — Liz e Gordon estão muito felizes, não estão?
— Estão — ela concordou. Rob apertou o botão do térreo.
— Eles tiveram sorte de terem se encontrado. Formam um dos casais mais apaixonados que já conheci.
— Muita sorte, sim.
Sorte essa que ela própria não tivera. Também havia encontrado um homem maravilhoso... que logo iria sair de sua vida tão depressa quanto entrara.
Depois de terem feito amor aquela noite, Sabrina ficou muito tempo acordada, olhando para o teto, enquanto Rob dormia a seu lado. Alguma coisa estava impedindo seu sono. Talvez o tique-taque do relógio em sua cabeça, avisando-a de que o tempo estava passando. Apertou os ouvidos com força, como se assim pudesse fazê-lo parar.
Na quarta-feira à noite, Rob e Sabrina saíram para jantar com Colin e sua namorada Casey num dos novos restaurantes da moda em Dallas. Depois, foram dançar numa boate recém-inaugurada, um dos lugares mais elegantes da cidade. Professora de um jardim de infância, Casey era uma linda morena de cabelos longos de vinte e três anos, que fazia com que Sabrina se sentisse um pouco "passada", cada vez que saíam juntas. Havia reclamado com Colin uma vez, acusando-o de se envolver com alguém tão jovem de propósito, a fim de fazê-la sentir-se "velha". Passou um tempo enorme diante do espelho escolhendo o que vestir, absolutamente consciente de que seria a mais velha do grupo. Não podia deixar de achar que Casey era muito mais adequada para Rob do que ela própria. Tentou adivinhar se ele acharia a mesma coisa.
Suas preocupações foram completamente vãs. Rob Davis deixou claro que só tinha olhos para Sabrina, muito embora tivesse achado a jovem morena simpática e atraente.
Foi uma noite gostosa e agradável. Lá pelas duas da manhã, Colin virou-se para Sabrina.
— Quero dançar com você.
Surpresa, ela virou-se para Rob, que sorriu e concordou com a cabeça.
— Vá em frente. — Ele olhou para Casey. — Vamos dançar também?
— Eu adoraria.
Sabrina observou-os chegarem à pista, então estendeu os braços ao irmão.
— Posso saber o porquê desse honroso convite? Ele fez força para parecer inocente.
— Ora, eu preciso de um motivo para dançar com a minha própria irmã?
— E não precisa? Colin deu de ombros.
— Senti vontade, só isso. Faz muito tempo que não dançamos juntos.
— Bem, isso é verdade.
Ficaram em silêncio durante algum tempo, então ele comentou:
— Rob a fez muito feliz, não é?
Ela estava esperando por aquilo. No entanto, não queria entrar em detalhes. Não agora. Nem nunca,
— Eu... Gosto de estar com ele. Rob é uma excelente companhia.
Colin deu um sorriso.
— Rob Davis não é apenas uma excelente companhia, Brie. Sei que ele significa muito para você.
— Colin...
— Seja sincera, por favor. Você está louca por ele. Nunca vi esse brilho em seus olhos antes!
Ela tentou disfarçar.
— Eu... gosto muito dele. Digamos que... esteja sentindo uma espécie de entusiasmo passageiro.
— Não tente me enganar, irmãzinha. Nem se enganar. Encare a realidade. Você está apaixonada por ele.
Sabrina deu um suspiro, desejando que seu irmão não a conhecesse assim tão bem.
— Certo. Você tem razão. Estou mesmo apaixonada. Mas vou acabar superando, você vai ver.
— Tem certeza?
Ela deu um sorriso amargo.
— Eu já me machuquei antes, Colin. Não se lembra? Acho que estou acostumada com esse tipo de coisa.
— Não sei Brie... Dessa vez, a história me parece diferente... Sei que está perdidamente apaixonada por Rob Davis e...
— Por favor, Colin. Não comece.
Ele deu um suspiro.
— A única coisa que quero nessa vida é vê-la feliz, Brie. Eu adoro quando você sorri. E quero que continue sorrindo. Detestaria se algo de mal lhe acontecesse. Não quero que sofra de novo, você não entende?
Sabrina ficou comovida com as palavras do irmão. Aliás, sempre ficava.
— Sou uma sobrevivente, não se esqueça disso. Vou ficar bem.
— Mas eu não quero que você fique apenas bem. Quero que seja feliz. Muito feliz.
— Eu estou muito feliz essa noite. E, por hoje, isso é o suficiente. Não estrague esses momentos de alegria, por favor.
Ele deu um suspiro resignado, evidentemente querendo falar mais, mas sem coragem de fazê-lo.
— Tudo bem. Mas, se por acaso, você quiser conversar com alguém, sabe que pode contar comigo.
— Eu sei. Obrigada.
A música terminou. Colin a abraçou, depois conduziu-a de volta à mesa.
— Brie?
— Sim?
— Será que não há mesmo nenhuma chance para vocês dois?
— Colin, Rob está de partida para a Alemanha. Vai ficar por lá durante dois longos anos. Não. Não há esperanças para nós.
— Mas vocês podiam tentar manter contado um com o outro. Escrever, telefonar...
Ela balançou a cabeça.
— Você está sugerindo uma espécie de namoro por telefone? De jeito nenhum. Rob jamais se contentaria com esse tipo de coisa.
Naquele momento, Rob e Casey voltaram à mesa. Colin apertou a mão da namorada e convidou-a para voltar à pista de dança. Rob aproveitou para fazer o mesmo com Sabrina e tomou-a nos braços.
— Você e Colin pareciam muito sérios enquanto dançavam. Aconteceu alguma coisa?
Ela deitou a cabeça em seu ombro.
— Não. Estávamos apenas conversando. E você? Gostou de dançar com Casey?
Ele lhe deu um beijo nos cabelos.
— Gostei. Ela é muito simpática. Mas acontece que teria preferido dançar o tempo todo com você.
Sabrina o abraçou com mais força. Dentro de pouco tempo, Rob Davis iria embora, deixando-a sozinha. Mas enquanto aquilo não acontecia, ele era dela.
Só dela. E de ninguém mais.
Na quinta-feira à noite, Sabrina teve um coquetel de negócios. Sentindo-se obrigada a comparecer, resolveu convidar Rob para acompanhá-la. Ele aceitou imediatamente.
Tomando um drinque num canto do salão, ele ficou observando-a conversar com uma porção de pessoas, certamente fazendo contados para sua agência. Usando um vestido preto de seda, ela era a própria imagem da competência. O riso era restrito, os sorrisos polidos, as conversas feitas em voz baixa. Era difícil de acreditar que aquela mulher tão séria e profissional fosse a mesma pessoa que andara de moto com ele e jogara basquete com sua família, divertindo-se a valer.
Uma mulher de negócios muito séria, equilibrada e competente. Aquela era a Sabrina que as pessoas conheciam o único lado que ela se permitia mostrar. Pouca gente sabia que por trás daquela fachada havia unia outra moça, terna e meiga, capaz de derreter o coração de qualquer homem..Por alguns instantes tentou adivinhar se alguém mais, além dele, havia descoberto as camadas de paixão enterradas por sob aquela fria aparência exterior.
Não conseguiu saber a resposta.
Ele não se conformava. Sabrina que, quando fosse embora, o riso voltaria a morrer dentro dela. E aquilo era terrível. Ah, que vontade de arrancá-la dali e levá-la para um lugar onde pudessem ficar sozinhos... Sozinhos para sempre.
— Por favor, me telefone amanhã —ela pediu ao homem baixo e calvo à sua frente.— Ariene Gary é exatamente a pessoa que está procurando para substituir sua secretária que está doente. A sita. Gary é uma das profissionais mais competentes cadastradas na minha agência.
— Vou telefonar sim, srta. Marsh. Tenho certeza de que ficarei muito satisfeito com a moça que me mandar. — Ele virou-se para o bar. — Vamos tomar mais um drinque?
— Não, obrigada. Preciso dar um pouco de atenção ao meu amigo.
Sabrina atravessou o salão lentamente, cumprimentando algumas pessoas com um gesto de cabeça. Aproximou-se de Rob e notou que ele parecia distante, seu olhar perdido no infinito. Ele parecia triste, na verdade. Será que estava aborrecido? Será que estava achando aquele coquetel uma chatice sem tamanho? Era provável.
— Oi, Rob.
O simples fato de vê-la o deixou um pouco mais animado.
— Oi, Sabrina. Como estão as coisas?
— Bem. Pelo menos, é o que eu espero. E você? Está aborrecido por estar aqui?
— Claro que não. Observar você conversando com uma porção de pessoas foi muito interessante.
Sabrina ia abrir a boca para perguntar o que ele queria dizer com aquilo, mas antes que pudesse fazê-lo, alguém anunciou no microfone que o convidado de honra do evento, um senador do Texas ia começar seu discurso. Normalmente, Sabrina teria se interessado pelo que o homem pudesse dizer. Mas não naquela noite.
Naquela noite, ela só desejava que a reunião acabasse logo e que pudesse ficar a sós com Rob.
Afinal, eles tinham tão pouco tempo...
Duas horas depois; eles chegavam ao apartamento de Sabrina. A pedido de Rob, ela foi à cozinha fazer um café.
— Você quer um biscoitinho ou um bombom para acompanhar? — ela ofereceu, entregando-lhe uma xícara.
— Não, obrigado. — Ele agradou a cabeça de Angel, num gesto mecânico. — Gostou da reunião, Brie?
Ela deu de ombros.
— Foi boa. Na verdade, elas são sempre iguais.
- Você parecia muito à vontade no meio daquele pessoal. Ela fez que sim com a cabeça.
— Estou acostumada com esse tipo de coisa. Meu trabalho envolve muitas noites como essa.
— Você trabalha muito e se diverte pouco, não é, Brie? Ela tomou um gole de café.
— A... acho que sim.
— Você merece muito mais do que isso. — A voz dele era quase um murmúrio. — Sabe disso, não sabe?
— Por favor, Rob, não comece de novo com essa mesma história. Já disse e vou repetir. Gosto da minha vida como ela é. Você é o único que acha que alguma coisa está faltando.
Rob encostou sua xícara na mesa da cozinha.
— E não há algo faltando mesmo?
— Não.
— Brie...
Ela fechou os olhos.
- Eu... não sei dizer mais. Você me deixa confusa, Rob. Eu... sinto... como... se...
Ele enlaçou-lhe a cintura.
— Você sente como se o que, minha querida?
— Eu não sei explicar muito bem... — Ela fez uma pausa. — Acho que estou me sentindo como uma criança que é levada a um circo pela primeira vez.
— Um circo?
— Sim. Sei que a comparação pode ser muito boba, mas não me ocorre outra melhor... É como se eu estivesse no meio de um espetáculo, rindo até dizer chega, me divertindo a valer. Acontece que eu sei que o tal espetáculo vai terminar logo. E aí, voltou para casa... e continuarei a viver minha vida, como fiz até agora. Deu para entender?
Ele a abraçou ainda com mais força.
— Você não precisa voltar para casa, Sabrina.
— Não?
— Claro que não. Pode fazer com que o espetáculo dure para sempre. Pode fazer com que o riso não acabe nunca. Jamais.
Ela franziu a testa.
— Como?
Rob Davis respirou fundo.
— Case-se comigo, Brie. Vamos juntos para á Alemanha. Sabrina Marsh arregalou os olhos, completamente espantada.
Jamais esperava por aquilo.
— O quê? Casar com você? Está falando sério? Ele piscou os olhos.
— Claro que estou falando sério. Por acaso achou que eu fosse brincar com esse tipo de coisa?
Ela segurou-se no tampo da mesa, sentindo-se subitamente tonta.
— Eu... eu... ha... não sei o que dizer...
Ele deu um sorriso e murmurou, com voz rouca.
— Diga que aceita, Brie. Eu te amo. Seu coração se contorceu de dor.
— Rob... Nós mal nos conhecemos... Você pode estar apaixonado, sim... Mas não por mim. Por uma lembrança de sua infância, talvez. Eu não...
— Não me diga o que eu sinto ou deixo de sentir! — interrompeu ele, com uma fúria que chegou a assustá-la de verdade. — Não sou mais um menino e você não é nenhuma lembrança do passado! Namorei uma porção de mulheres durante todos esses anos e não senti por nenhuma o que sinto por você! Eu te amo, Sabrina Marsh. Desde o momento em que a vi naquele maldito elevador! E cada momento que passei a seu lado desde então só serviu para aumentar esse amor!
— Rob, eu...
— Você ainda acha que eu sou uma criança imatura. Ora, Sabrina, a essa altura dos acontecimentos, já devia ter mudado de idéia!
— Eu... não acho que você seja uma criança, Rob. Ele pareceu aliviado.
— Então não tem por que achar que o que eu sinto por você é apenas uma fantasia infantil.
— Rob...
— Sei que falou isso porque ficou assustada com a minha proposta. Tudo bem, foi culpa minha. Eu não devia ter feito o pedido do modo apressado como fiz. Mas o problema é que nosso tempo juntos está se esgotando! — Ele fez uma pausa. — Case-se comigo, Sabrina. Vamos juntos para a Alemanha.
— Rob, pelo amor de Deus! Eu não posso! Será que não percebe? Minha vida está aqui. Meu trabalho está aqui. Como posso largar tudo por um caso de três semanas?
Ele piscou os olhos.
— Nós não temos um caso. Temos muito mais do que isso. E você sabe muito bem disso. Eu te amo. E a quero a meu lado para sempre.
Ela cruzou os braços para que ele não percebesse que suas mãos tremiam.
— Eu... sinto muito. — Suas palavras nada mais eram que um sussurro. — Sinto muito mesmo...
— Você também me ama! — ele quase gritou. — Se não amasse, não teria feito tudo o que fez na cama comigo!
Sabrina não podia estar mais confusa.
— Talvez ame... Mas não sei com certeza. Se as coisas fossem diferentes, se você não estivesse de partida...
— Se eu não estivesse de partida, você daria um jeito de arranjar outra desculpa para não ficar comigo!
— Eu... não sei do que está falando.
— Então serei mais claro. Você é uma grande covarde, Sabrina Marsh. Foi machucada uma ou duas vezes e agora tenta se esconder atrás de uma fachada. A mulher que compareceu ao coquetel essa noite e a mulher que encontrei no elevador naquele dia não são reais. É apenas uma caricatura de uma mulher moderna, sem sentimentos reais, sem sonhos, sem aspirações. A Sabrina que eu amo é uma pessoa meiga, carinhosa e apaixonada que está procurando quebrar o muro de pedra construído ao redor dela. Você é uma sonhadora, Sabrina. Uma mulher vibrante, que nem todo o medo existente em seu coração vai poder destruir!
Fez uma pausa para respirar, depois continuou.
— Você me disse que sua vida vai ficar vazia quando eu partir... Acredite em mim. Vai mesmo! Fria e vazia, como sempre foi! O que nós encontramos não acontece sempre, Brie. Foi algo maravilhoso, que as pessoas passam a vida toda sonhando encontrar. Podemos construir uma família e ficarmos juntos para sempre. Podemos realizar todos os nossos sonhos. Se eu pudesse ficar aqui em Dallas com você, ficaria com todo o prazer. Acontece que meu tipo de trabalho não permite. E eu não posso deixá-lo. Agora, Sabrina, se você jogar essa chance fora, se resolver me deixar, vai passar o resto da vida arrependendo-se de sua maldita decisão. Tenho certeza absoluta!
Ela já havia descoberto que ele podia ser cruel. Só não sabia até que ponto podia ir sua crueldade. Agora, estava sabendo. Respirou fundo para se controlar.
— Escute uma coisa, Rob. Eu era muito feliz antes de você aparecer na minha vida. Muito feliz mesmo. E não tenho a mínima intenção de desistir de tudo que consegui até agora para segui-lo pelo mundo. Já tive minha cota de mudanças. Preciso de um lar, da segurança de saber que tenho um lugar para voltar. Não quero ser de novo a mulher de alguém, minha identidade dependendo do sucesso ou do fracasso de outra pessoa. Não. Isso não é o suficiente para mim.
— Você está me comparando ao seu primeiro marido? — ele perguntou, incrédulo.
— Rob, eu...
— É claro que está! Só que eu não tenho nada a ver com ele! E nunca a tratei da maneira com que ele a tratou!
Sabrina deu um longo suspiro.
— Rob, vamos pensar com clareza. O que eu iria fazer na Alemanha? Abrir uma agência de empregos num país cuja língua me é totalmente desconhecida? Eu não sei falar uma só palavra de alemão! Além disso, você pode ser transferido a qualquer hora e...
— Meu Deus, Brie, as possibilidades são ilimitadas. Nós estaríamos na Europa. Quer um lugar melhor para você iniciar sua carreira de escritora... e termos nossos filhos?
O pensamento de ser mãe de um filho de Rob Davis fez com que sentisse vontade de chorar. Tentou fazer força para conter as lágrimas.
— Por favor, Rob... Escrever é um sonho muito velho, do qual desisti há tempos... Desista dele também. Olhe, você tem uma vida maravilhosa pela frente. Tenho certeza de que vai acabar encontrando outra pessoa e...
— Droga, Sabrina!
Ele se aproximou dela, obviamente querendo abraçá-la e beijá-la, tentando convencê-la do seu amor. Parou de súbito quando Angel, confuso por causa da tensão que pairava no ar, correu para o lado de sua dona, latindo ferozmente.
Rob olhou para o cachorro, depois voltou a encará-la. Havia dor em seus olhos azuis. Ele ficara tão magoado com a atitude do dobermann, quanto com a da própria Sabrina.
— Angel... foi treinado para me proteger — ela se sentiu obrigada a explicar. — Até mesmo para me proteger das pessoas das quais ele gosta.
Ele passou a mão pelos cabelos.
— E claro. Eu entendo. Bem, acho melhor ir andando. Acho que nós dois estamos nervosos e precisamos pensar um pouco. Boa noite, Brie.
E, sem dizer mais nada, virou-se rapidamente e saiu dali, como se fosse um animal ferido querendo ficar a sós com a sua própria dor.
Sabrina ficou ali, as lágrimas escorrendo livremente por seu rosto. Ajoelhou-se e abraçou Angel. Seu primeiro impulso foi chamar Rob de volta. A porta da frente bateu, avisando-a de que já era tarde demais para aquilo.
Por quê? Por que o deixara partir daquele jeito?
Ela sabia a resposta.
Vinha agindo como uma adolescente desde o momento em que se encontrara com ele naquele elevador. Deixara que Rob Davis entrasse em sua vida, sem nem pensar no que estava acontecendo. E agora, lá vinha ele pedindo para que ela desistisse de tudo que tinha conseguido durante aqueles anos, com muita luta e sacrifício: sua carreira, seu escritório, seu apartamento, sua independência...
Não. Não podia jogar tudo para o alto a fim de ir atrás de um homem que conhecera há tão pouco tempo! Aquilo não tinha o mínimo cabimento!
Rob Davis era um sonhador. Ele próprio tinha orgulho daquilo. Um sonhador que achava natural que ela deixasse tudo para trás e fosse atrás dele. Um homem como seu pai, que perseguia seus próprios sonhos a custo do sacrifício de toda a família.
Não. Sabrina tinha de ser honesta. Rob não era exatamente como seu pai. Era verdade que ambos podiam ser sonhadores, mas seu pai era um homem fraco, que não tinha nem convicção de seus próprios sonhos, abandonando um pelo outro com a mesma facilidade com que as pessoas trocavam de roupa. E Rob não era fraco. Era um homem que estabelecia suas metas e ia atrás delas, não importava o quanto difícil fosse a tarefa.
Sabrina, porém, não podia se dar ao luxo de sonhar. Talvez fosse mesmo uma covarde, mas tinha medo de tentar... e de falhar de novo. Tinha medo de tentar uma carreira nova. Tinha medo de tentar um novo casamento. Sua vida podia não ser uma grande maravilha, mas até que era bem satisfatória.
Não. Não podia jogar tudo para o alto. De jeito nenhum. Por mais que amasse Rob, por mais que o desejasse, não podia, nem queria arriscar tanto por ele. Sim. Ele estava pedindo muito. Estava pedindo tudo que ela tinha. Sua vida. Sua alma. Seu futuro.
Secou os olhos com a palma da mão. Não era justo! Se ao menos não tivesse deixado o trabalho mais cedo naquela terça-feira... se ao menos não tivesse tomado aquele elevador... Sua vida era boa, antes de Rob entrar nela. Porém, de agora em diante nada voltaria a ser bom de novo. O riso e a alegria estavam morrendo.
Havia ficado triste e amarga depois do seu divórcio. Mas agora, era como se uma parte dela tivesse morrido. Conhecera a alegria... e a alegria fora arrancada de dentro de sua alma.
Não era justo! Não era justo!
Sentindo uma necessidade desesperada de falar com alguém, Sabrina ligou para Katherine no dia seguinte e convidou-a para almoçar. Percebendo a infelicidade na voz da amiga, ela aceitou o convite imediatamente.
— Você está com uma cara horrível — comentou Katherine ao encontrar-se com ela na porta do restaurante combinado.
— Eu sei — concordou Sabrina. — Já me olhei no espelho hoje de manhã.
Minutos depois, sentavam-se a uma mesa no fundo do salão, onde não havia muita gente.
— Bem, o que aconteceu? — perguntou Katherine.
— Rob me pediu em casamento. A moça arregalou os olhos.
— Está falando sério?
— Claro que estou. Ele quer se casar imediatamente. Quer que eu largue tudo e o acompanhe à Alemanha. — Ela levantou as mãos. — Dá para acreditar numa coisa dessas?
Katherine estendeu o braço e tocou o ombro de Sabrina.
— Ele pediu muito, não é?
— Muito — ela concordou, sua garganta apertada.
— Você está apaixonada, não está? Ela fechou os olhos.
— Estou.
— Eu sabia. Conheço você.
— É isso aí, Kathy. Estou apaixonada por um homem que conheci há três semanas. Isso é, sem contar os meses em que fui sua vizinha e baby-sitter. Não é o fim do mundo?
— Não. Não acho que seja o fim do mundo. Afinal das contas, essas coisas acontecem. — Ela fez uma pausa, então perguntou com cuidado. — Você recusou o pedido?
— É claro que recusei! Kathy, eu só o conheço há três semanas. Não posso largar tudo e ir para a Alemanha atrás dele! O que eu iria fazer lá, o dia todo? Freqüentar o clube das esposas dos oficiais? Não. De jeito nenhum. Isso pode ser bom para uma porção de mulheres, mas não para mim. Fui casada com um astro do futebol e quando o casamento acabou, não sabia quem eu era. Trabalhei muito para construir minha carreira e para firmar uma identidade própria. Agora, não posso jogar tudo para o alto por causa de um homem!
— Quanto tempo Rob vai ficar na Alemanha?
— Dois anos. No mínimo.
Katherine tomou um gole do refrigerante que o garçom acabava de servir.
— Bem, não é tanto tempo assim. Ele tem férias, não tem? E você podia ir visitá-lo. Além disso, não se esqueça de que existe uma coisa chamada telefone. Vocês podiam se ligar sempre e...
Sabrina balançou a cabeça.
— Não. Já conversei com Colin sobre isso. Não acredito que Rob seja o tipo de homem que se contente com um relacionamento a longa distância. Nem eu. Acho que ficaria insegura e... Bem, o fato é que ele quer se casar agora. Só que isso é completamente impossível.
Katherine ficou pensativa durante alguns instantes, como se estivesse analisando a situação.
— Então vocês dois não vão ficar juntos... Mas o que vai acontecer quando ele for embora, Sabrina? Como vai ficar seu coração?
— Completamente quebrado — ela respondeu, sem piscar. — Mas não há outro jeito. Meu problema não tem solução.
— Eu gostaria de poder ajudá-la, Sabrina. Ela fez força para sorrir.
— Você já está ajudando. Só o fato de me ouvir fez com que eu me sentisse bem melhor.
— Não se esqueça que eu estarei sempre pronta a ajudá-la, quando precisar. É para isso que servem as amigas, não é?
— Obrigada, Kathy. Na verdade, acho que vou precisar muito de você nos próximos meses!
Como Sabrina imaginava, Rob estava à sua espera quando ela voltou para casa à noite. Ele estava recostado em sua Ferrari, quando ela estacionou o carro ali em frente. Antes que Sabrina pudesse descer, ele abriu a porta do lado do passageiro e sentou-se no banco.
— Gostaria de ir a um lugar tranqüilo, onde pudéssemos jantar e conversar. Que tal?
Ela manteve as mãos firmes ao volante, controlando a vontade de tocá-lo.
— Isso é um convite?
— Digamos que sim. Eu preferia conversar com você na sua casa, mas parece que seu cachorro não permite.
Sabrina deu a partida.
— Onde quer ir?
— Quero ir para qualquer lugar onde possamos conversar em paz.
Sabrina acabou escolhendo um restaurante mexicano ali perto, cujas plantas e vasos de flores davam ao local um ar alegre e festivo. Quem sabe se aquilo conseguia melhorar seu humor.
Quinze minutos depois, estavam instalados numa mesa perto da janela, tomando drinques que a garçonete havia trazido num tempo recorde.
Ele deu um longo suspiro.
— Esse foi o pior dia da minha vida. Ela engoliu em seco.
— O meu também.
— Eu... acho que não preciso perguntar se você pensou no que eu lhe disse ontem à noite...
Sabrina sorriu, mas foi um sorriso triste.
— Se você soubesse como eu tentei pensar em outra coisa... Ele tomou mais um gole do seu drinque.
— Estive pensando, Sabrina. E compreendi que a assustei com a minha proposta. Você não estava pronta, como não está agora, e eu posso entender perfeitamente. É que... bem, é que eu sempre soube que te amava. E esperava... que você também soubesse.
— Rob, eu fiquei muito feliz e honrada com sua proposta. Juro que fiquei. Se ao menos você fosse continuar morando aqui em Dallas... mas não vai. E o que me pediu... é mais do que eu posso dar.
— É verdade. Compreendo isso agora. Eu realmente estava esperando muito. — Ele fez uma pausa. — É claro que eu falava sério ontem, quando disse que deixaria a Força Aérea, se pudesse. Se houvesse um jeito de chegar para eles e dizer: "Olha aqui pessoal, eu sinto muito, mas acontece que me apaixonei perdidamente e estou caindo fora", eu realmente o faria. Mas acontece que acabei de assinar outro contrato, que me prende a eles por mais quatro anos. E não posso nem pensar em quebrá-lo.
— Eu jamais pediria que fizesse isso, Rob. Voar é a sua vida. Eu sei disso.
Ele ficou em silêncio durante alguns instantes, depois acabou dizendo, com a voz cheia de carinho.
— Voar era a minha vida... até encontrar você. Agora, minha vida toda se resume a um só nome: Sabrina Marsh. Eu largaria a Força Aérea com todo o prazer se pudesse fazê-lo, se isso mudasse as coisas entre nós.
— Droga, Rob! — ela gritou, tentando se controlar depois de ter se lembrado que estava num lugar público. — Você sabe o que está falando? Um relacionamento baseado em sacrifícios jamais poderia dar certo. No final das contas, você acabaria me detestando!
Rob estendeu o braço e tomou a mão dela nas suas.
— Não, Sabrina. Eu te amo mais do que qualquer coisa. Mais até do que a minha própria vida. Como poderia te odiar?
Ela não podia estar mais confusa.
— Você acha mesmo que poderia desistir de tudo, sem arrependimentos?
— Tenho certeza. Claro que sentiria falta de voar. Uma falta horrível. Mas de qualquer forma, uma falta muito menor da que vou sentir de você na semana que vem. E na outra. E em todas as outras, até o fim da minha vida.
Sabrina estava apalermada. Será que ele realmente a amava daquele jeito? Então, algo lhe ocorreu. Era a carreira dela que estava em jogo. Não a. dele. Será que Rob desistiria de tudo mesmo, a fim de ficar a seu lado? Bem, falar era muito fácil. Difícil era cumprir o prometido.
— Eu... sinto muito, Rob.
A garçonete apareceu para anotar os pedidos. Eles não estavam com a mínima fome, mas acabaram concordando em dividir um prato de risoto de frutos do mar.
Pouco depois, o pedido chegava à mesa e os dois infelizes amantes ficaram ali, em silêncio, fingindo comer.
E então, ao levantar a cabeça, Sabrina percebeu que Rob a encarava.
— Eu te amo, Brie — ele murmurou.
Aquelas palavras trouxeram lágrimas a seus olhos. Ela as secou rapidamente.
— Vamos embora, Rob. Por favor.
Ele pediu a conta rapidamente e minutos depois, ambos deixavam o restaurante. Ela entregou-lhe a chave do carro e sentou-se no banco do passageiro.
— Não estou em condições de dirigir, Rob. Rob Davis deu a partida e olhou para ela.
— Estou falando sério, Sabrina. Eu te amo. Ela atirou-se em seus braços.
— Não fale mais isso. A dor é muito forte!
— Eu sei. — Ele a abraçou com força. — Deixar você vai ser a coisa mais difícil da minha vida.
— Vou morrer de saudades, Rob! Já estou morrendo! Rob respirou fundo e afastou-se dela.
— Vamos para a sua casa.
Sabrina conseguiu manter o controle até o momento em que ele estacionou em frente a seu prédio.
— Obrigada por ter me trazido, Rob.
— Por favor, me convide para entrar — ele quase suplicou. Os dois sabiam que ele não estava querendo apenas uma xícara de café.
— Eu... Rob, isso não vai me fazer mudar de idéia.
— Eu sei. Mas eu te quero essa noite. Preciso de você essa noite, Brie.
Não dava para mandá-lo embora. Fazendo que sim com a cabeça, abriu a porta do carro e desceu.
Entraram em seu apartamento de mãos dadas e foram direto para o quarto.
O ato de amor que se seguiu foi frenético e desesperado. Ambos procuravam um alívio para a dor enorme que sentiam. Não encontraram. Mais tarde, nos braços de Rob, Sabrina desejou mais uma vez que o tempo parasse e que aquele momento pudesse durar para sempre.
Um pouco depois, Rob lhe deu um beijo nos cabelos.
— Não quero que o nosso relacionamento termine quando eu for embora na terça-feira, Brie. Você sabe disso, não sabe?
Ela respirou fundo.
— Rob...
— Estou falando sério. Muito sério. Não vou parar de te amar porque não estaremos mais juntos. Sei que vou te amar até o dia da minha morte. E não vou desistir da idéia de me casar com você. Mesmo que tenha de esperar mais quatro anos até o contrato vencer e voltar a morar em Dallas, a fim de convencê-la de que não sou nenhum sonhador irresponsável.
Ela respirou fundo.
— Rob... eu acharia melhor terminar tudo agora. Seria muito mais fácil para ambos. Afinal das contas, não posso exigir que...
— Você não está exigindo nada, Sabrina. Ouça o que vou lhe falar. Pretendo escrever, telefonar e vir visitá-la sempre que puder. Nem que gaste todo o meu salário em passagens aéreas. Não me importo. Acontece que não vou desistir de você. Nunca. O que temos é muito importante para mim.
— Eu... não sei o que dizer.
— Por acaso pretende se recusar a me ver, quando eu estiver aqui? Desligar o telefone na minha cara, quando eu ligar? Rasgar as cartas, antes de abri-las?
— Claro que não — ela murmurou. — Claro que não vou fazer nada disso. Nem acredito que você consiga manter o interesse por mim durante muito tempo. É evidente que vai acabar encontrando outra mulher, alguém que possa lhe dar exatamente o que precisa e...
— Não, Sabrina. Estou apaixonado por você. Jamais haverá outra pessoa na minha vida. Você é a única mulher que eu quero.
— Ora, Rob, não me diga que você não pretende namorar outras mulheres enquanto estiver longe!
— Não pretendo mesmo. E espero o mesmo comportamento da sua parte. Por favor, Sabrina. Diga que me ama. Quero ouvir você dizendo isso. Quero que tenha a coragem de fazê-lo, pelo menos uma vez na vida!
Ela fechou os olhos, incapaz de mentir.
— Eu... eu te amo, Rob. Mas...
Ele cobriu a boca de Sabrina com a sua e lhe deu um longo beijo.
— Era só isso que eu queria ouvir, meu amor. Você acha que é impossível para um homem manter-se fiel à mulher amada? Será que uma má experiência com um marido infiel arruinou toda a sua fé nos homens?
— Não, é claro que não. Mas acontece que nós ficaremos longe um do outro por tanto tempo...
— Não importa. Eu prometo fidelidade, Sabrina. Quando era adolescente, jurei para mim mesmo que seria muito seletivo nos meus relacionamentos. E cumpri o juramento. Sempre soube que um dia, haveria uma mulher a quem sentiria vontade de dedicar toda a minha vida. Agora vejo que estava certo. E essa mulher é você.
Sabrina deu um sorriso triste, querendo desesperadamente acreditar em suas palavras, não sendo bem sucedida em tal tarefa. Será que haveria mesmo um jeito de manter aquele namoro? Haveria futuro para ambos?
Só o tempo diria.
E então ela se perdeu nos braços dele, dizendo a si mesma que pelo menos até o resto da noite, podia fingir que o momento do adeus não chegaria jamais.
Sabrina foi convidada para jantar com a família de Rob no domingo à noite. Se pudesse, não teria ido. Mas não queria desapontá-lo. Ele estava muito ansioso para que ela comparecesse.
Como Liz tivesse deixado a maternidade recentemente, o jantar aconteceu em sua casa, embora Rebecca Davis tivesse bancado a anfitriã.
Sabrina passou um longo momento admirando o pequeno Jonathan, que parecia incrivelmente com a mãe.
— Você não quer segurá-lo um pouco? — ofereceu Liz, sorrindo de orgulho.
— Claro que quero!
Com o bebê em seus braços ela tentou imaginar como seria segurar seu próprio filho. O filho de Rob.
Não. Não podia ficar se martirizando daquele jeito. Precisava pensar em outra coisa. Olhou para cima e percebeu que Rob a encarava, seus olhos azuis refletindo os mesmos pensamentos que tanto a atormentavam.
E tentou se lembrar se, algum dia em toda a sua vida, tinha se sentido mais infeliz.
— O jantar vai ser servido daqui a pouco — anunciou Rebecca Davis, entrando na cozinha.
O pai de Rob se aproximou deles.
— Meu filho, será que você poderia dar uma olhada no meu carro? Ele está fazendo um barulho muito esquisito.
Rob franziu a testa.
Que tipo de barulho? Seu pai deu de ombros.
— Algo como: clang, clang, clang. Ele sorriu.
— Como será que um homem tão inteligente para negócios pode ser tão inapto como mecânico?
— Ora, Rob — protestou Liz. — Cada um tem talento para uma coisa. Papai é um gênio, mas não sabe nem onde fica o tanque do carro.
Ele abraçou o pai.
— Venha comigo, papai. Vou lhe mostrar como se abre o capo.
—Vou com vocês_anunciou Gordon, acompanhando o sogro e o cunhado. — Vamos ver se aprendo alguma coisa. Entendo tanto de carros como o meu querido sogrinho.
Sabrina ficou sozinha na sala com Liz. A nova mamãe, usando um vestido florido folgado, sentou-se com cuidado no sofá.
— Eu ainda não voltei ao meu normal, Brie. Estou toda dolorida!
Sabrina deu um sorriso e lhe devolveu o bebê.
— Seu filho é lindo. Meus parabéns. Quanto a você, acho que está indo muito bem. Você me parece ótima!
— Você não pode imaginar como estou me sentindo mais leve. Claro que ainda não consegui entrar nos meus jeans, mas já chego lá. Estava começando a desconfiar que jamais voltaria a ver meus pés.
Sabrina sorriu e acariciou a cabecinha do bebê.
— Mas valeu a pena, não valeu?
— Claro que valeu! Valeu cada enjôo, cada dor nas costas, cada momento de cansaço. Acho que nunca pensei que fosse gostar tanto de ser mãe.,
Sabrina sentiu um nó na garganta. Liz voltou a falar:
— Rob me contou que a pediu em casamento.
Ela não esperava que Liz fosse tocar no assunto. Piscou os olhos, sentindo-se tensa.
— Ha... Contou?
— Contou. E eu entendi por que não aceitou. Quero dizer, você o conhece há três semanas. Além disso, toda a sua vida está aqui, em Dallas. Acontece que ele te ama muito, Sabrina. E está machucado até dizer chega.
— Eu sei — murmurou ela. — E sinto muita Liz deu um suspiro e apertou a mão dela.
— Rob não é o único machucado dessa história, não é? Não havia por que mentir.
— Não. Ele não é o único.
Liz parecia tão infeliz quando ela.
— Se eu puder fazer alguma coisa... se por acaso você sentir vontade de conversar com alguém... é só me procurar.
Sabrina ficou comovida com aquelas palavras.
— Obrigada, Liz. Vou me lembrar disso.
Naquele momento, os três homens voltaram à sala. O barulho no carro do sr. Davis era um problema a toa, que Rob resolvera facilmente. Pouco depois, Rebecca anunciara que o jantar estava servido.
Sabrina tentou aproveitar a noite da melhor maneira possível, embora não tivesse sido fácil. Sentia como se sua dor e a dor de Rob fossem compartilhada por todos que se encontravam naquela sala.
Às onze horas, ele a levou para casa. Passaram a noite juntos, fazendo amor e descansando, descansando e fazendo amor.
— Prometa que não vai me dizer adeus na terça-feira — ele pediu, abraçando-a com força. — Por favor...
O que mais ela podia fazer?
— Eu prometo, Rob.
E o relógio continuava a funcionar.
Sabrina chegou vinte minutos atrasada no escritório na segunda-feira de manhã. Havia sido terrível deixar Rob. Agora, só lhes restava mais uma noite juntos. Apenas mais uma noite para sentir suas mãos fortes percorrendo-lhe o corpo, apenas mais uma noite para sentir o calor dos seus beijos. A vontade de chorar era tanta, que seu rosto chegava a doer.
Às onze e meia, ele entrou em sua sala. Estava com uma cara horrível. Alguma coisa de muito grave devia ter acontecido. E foi aí então que ela percebeu que tudo já estava acabado.
Aquela era a primeira vez que o via de uniforme. Como ele ficava bonito usando aquele terno azul-marinho! Na verdade, Rob Davis ficava maravilhoso de qualquer jeito, vestido ou não. Segurava o boné nas mãos, mas ela podia imaginar como ele ficaria em sua cabeça. Apesar de tudo, não podia deixar de sentir uma pontada de orgulho no peito. Aquele de orgulho no peito. Aquele homem à sua frente que mais parecia um artista de cinema havia sido seu. Por um espaço curto de tempo, mas seu, de qualquer maneira.
— O que aconteceu, Rob?
— Recebi um telefonema agora há pouco. Um amigo meu morreu quando seu avião explodiu no Novo México, logo após ter levantado vôo.
Sabrina sentiu que o sangue lhe fugia do rosto. E se um dia a mesma coisa acontecesse a Rob...
— Ha... Que coisa horrível! Vocês eram muito amigos? Ele parecia arrasado.
— Muito. Freqüentamos juntos a Academia. Ainda não consigo acreditar que isso tenha acontecido.
Sabrina se levantou e correu para abraçá-lo.
— Eu sinto muito, Rob!
O que mais havia para dizer? Ele deu um longo suspiro.
— Estou partindo, Brie. Agora.
Era como se ela já soubesse. De qualquer modo, aquelas palavras fizeram com que seu coração sangrasse. Encostou a mão no peito, tentando diminuir a dor.
— Agora? Mas por quê?
— Preciso ir ao enterro. Depois, haverá uma homenagem a ele, da qual deverei participar. Além disso, gostaria de conversar com a viúva e ver se ela está precisando de alguma coisa.
Sabrina ficou ainda mais pálida.
— Meu Deus! Ele era casado?
Os olhos de Rob se encheram de lágrimas.
— Era. Há três anos. Ela tinha sido sua namorada dos tempos de escola.
— E... tinham filhos?
— Tinham. Um casal de gêmeos de dez meses. Os olhos de Sabrina também ficaram molhados.
— Meu Deus! Quanta tragédia! Coitada dessa mulher! Coitados desses bebês!
Rob fez que sim com a cabeça, incapaz de falar por alguns instantes. Depois, olhou para o relógio.
— Gordon está me esperando lá embaixo. Ele vai me levar até o aeroporto.
— E... seu carro?
— Vai ficar aqui em Dallas por enquanto. Ela fez uma força enorme para se controlar.
— Bem, acho melhor você ir andando. Não faça Gordon esperar.
Rob deu um suspiro. Ela nunca o vira assim tão infeliz.
— Parece que tudo conspira contra nós, não é?
— A... acho que sim. Ele estava trêmulo.
— Quero que saiba de uma coisa, Sabrina. Sair desse escritório vai ser a coisa mais difícil que já fiz na vida.
Sabrina o encarou durante um longo tempo, tentando gravar sua imagem na mente. Aquelas três semanas passaram diante de seus olhos com uma nitidez impressionante. Lembrou-se dos balões amarelos, das barras de chocolate, das rosas, dos jantares, da viagem de avião até Galveston, do passeio de moto, das risadas, das noites de amor... Tentou imaginar se, algum dia, voltaria a sorrir. Duvidava um pouco.
Rob estudou seu rosto durante muito tempo.
— Você é tão bonita...
Ela engoliu em seco, incapaz de abrir a boca. Ele estendeu o braço e acariciou-lhe o rosto.
— Cuide-se, meu amor. Não trabalhe muito. Trate de se divertir um pouco, está bem?
Sabrina forçou um sorriso.
— Está bem. Quanto a você, espero que faça o mesmo. E cuidado com a cerveja alemã. Ela engorda até dizer chega.
Rob bateu na própria barriga e forçou um sorriso.
— Não vou me esquecer disso. E quando estivermos juntos de novo, você poderá verificar com seus próprios olhos se engordei ou não.
— Eu... — Ela teve de parar, a fim de limpar a garganta. — Eu farei isso. Com muito prazer.
— Por que não visita Liz de vez em quando? Gostaria que vocês duas fossem amigas.
— Ha... Sim. Talvez eu vá visitá-la um dia desses.
Só que ela sabia que não iria. Seria muito doloroso visitar a família de Rob, sem que ele estivesse lá.
Rob Davis respirou fundo e passou a mão pelos cabelos muito curtos.
— A... acho que é melhor eu ir andando. Sabrina o abraçou.
— Tome cuidado. Por favor. Ele a apertou com força.
— Vou tomar. Eu te amo.
— Eu também te amo, Rob.
Será que um dia, ela voltaria a lhe dizer isso? Beijaram-se durante muito tempo, depois ele se afastou ligeiramente.
— Até mais, Brie.
— Até mais, Rob.
Rob virou as costas. Sabrina correu atrás dele.
— Meu amor, eu vou morrer de saudades! Abraçaram-se de novo.
— Eu também!
— Eu... não consigo agüentar mais tanto sofrimento, Rob. — Sabrina parecia desesperada. — Vou com você. Fecharei o escritório, farei as malas rapidamente e...
Ele calou suas palavras com um longo beijo. E, quando falou, o fez com a voz embargada.
— Não, Brie. Só Deus sabe como é difícil para mim falar uma coisa dessas, mas não posso deixar você fazer isso. Não posso deixar que tome uma atitude dessas, num momento de emoção. Você teve motivos para recusar minha proposta. E acredito que não tenha mudado de idéia. Pelo menos, não de verdade. E você precisa ter certeza. Precisa ter certeza absoluta do que quer. Não. Decisões tomadas num momento como esse só podem trazer arrependimentos no futuro.
As lágrimas escorriam livremente pelo rosto de Sabrina Marsh.
— Mas... eu pensei que você estivesse morrendo de vontade de se casar comigo...
— E ainda estou. Só que você também tem de estar. De verdade. De verdade mesmo.
— Rob...
— Não, Sabrina. Não faça isso. As coisas só vão ficar mais difíceis assim. Bem, está na hora de ir embora. Cuide-se, Brie.
Rob Davis deixou o escritório rapidamente. O relógio tinha parado.
Sabrina Marsh deixou seu escritório mais cedo pela segunda vez naquele mês. Entrou no elevador, tentando não se lembrar que, da última vez que fizera aquilo, Rob Davis aparecera em sua vida, iluminando-a como um raio de sol.
Chegou em casa e ficou por ali, triste demais até para chorar. Não jantou, ligou a secretária eletrônica e decidiu não abria a porta se alguém tocasse a campainha.
Ninguém tocou.
Sonhou aquela noite que estava andando por um parque enorme e vazio, onde um circo havia se apresentado. Aquele local estivera cheio de pessoas alegres e barulhentas, que tinham se divertido a valer. Agora, porém, o parque estava deserto e silencioso. Os únicos sinais de que o circo estivera lá eram pedaços de papéis coloridos a seus pés. Sabrina nunca se sentira tão solitária.
Acordou com o som de seus próprios gemidos. Passou o resto da noite acordada, olhando para o teto, os olhos secos, sentindo uma dor enorme no coração. Que saudades de Rob.
Finalmente, desistiu de dormir e saiu da cama uma hora mais cedo do que o habitual. Bebericando uma xícara de café, ficou olhando pela janela, vagamente consciente de que começava a sentir eólicas. Droga. Era o que menos queria na vida. Rob e ela haviam sido muito cuidadosos durante o ato sexual a fim de evitar uma gravidez indesejada. Mas, bem no fundo, havia uma esperança de que pudesse estar grávida. Agora, até isso acabava. Por que tomara tanto cuidado? Como não se imaginava apaixonando-se por mais ninguém e achando que seu namoro com Rob não iria durar por muito tempo, sua última chance de ser mãe havia ido embora. E seu coração se encheu de dor pelo bebê moreno de olhos azuis que jamais iria segurar nos braços. E ainda assim, não conseguia chorar. Resolveu vestir sua roupa favorita, esperando que aquilo servisse para animá-la um pouco. Estava quase saindo quando lhe ocorreu que aquele conjunto azul que usava era exatamente da cor dos olhos de Rob. Pensou em trocar de roupa. Não. Estava sendo ridícula. Ia daquele jeito mesmo. Saiu de casa e reparou que havia nuvens escuras no céu. O dia estava acinzentado, exatamente como seu humor.
A chuva começou quando ela estava na metade do caminho. Pouco depois, transformava-se numa tempestade tão violenta, que era difícil até ver a rua. Estacionando em sua vaga habitual, apanhou o guarda-chuva e desceu do carro, sabendo que ia se molhar de qualquer jeito. Estava certa. No momento em que entrou no seu prédio, estava completamente ensopada.
Começou a trabalhar com a eficiência de um computador, tentando esquecer a tristeza que consumia seu coração. Não conseguiu. Júlia e Beverly davam sinais de que estavam dispostas a ajudá-la, mas Sabrina ás ignorou. Não queria falar sobre Rob. Katherine e Colin telefonaram durante a manhã. Ela atendeu as ligações, mas pediu que ninguém falasse sobre seu infeliz romance. Porque eles a amavam e sabiam que ela estava sofrendo, fizeram o que lhes foi pedido, deixando claro que estariam por perto, se ela precisasse.
Colin, particularmente, estava muito preocupado, já que partiria novamente para outra sessão de fotografias, daquela vez na Grécia. O fato de ter de dar um novo adeus, mesmo que temporário, fez com que Sabrina sentisse um arrepio de horror.
Rob ligou às oito da noite. Ela já estava na cama; Não havia motivos para ficar acordada por mais tempo.
— Estou com saudades, Brie.
Ela fechou os olhos. Como amava aquele homem! E como era maravilhoso, e terrível, ouvir a sua voz!
— Eu também, Rob. Como é que você está?
— Bem. — Ele parecia cansado. E deprimido. Muito diferente do Rob Davis que conhecera. — Foi uma coisa horrível..
— Posso imaginar. Como está a mulher do seu amigo?
— Muito mal. Acho que ela jamais voltará a ser a mesma. A única coisa que a está mantendo viva são os bebês.
— Pobrezinha...
— Essa é a primeira vez que tenho de enfrentar algo assim, Brie. Nunca perdi ninguém que fosse tão próximo. Meus avós morreram quando eu era muito pequeno para compreender o que estava acontecendo. Jamais passei por coisa parecida.
Sabrina sentiu um nó na garganta. Rob parecia ter envelhecido dez anos num dia. Não era para menos. Um de seus melhores amigos tinha morrido... e a mulher que ele amava recusava seu pedido de casamento. Era como se ele tivesse amadurecido naquelas últimas vinte e quatro horas, o sofrimento apagando um pouco o otimismo exagerado que sempre tivera.
Era exatamente aquilo. Rob Davis havia se tornado um homem. E Sabrina sentiu tanta vontade de abraçá-lo, que seu corpo ficou completamente trêmulo.
— Eu te amo, Rob.
Era a única coisa que poderia falar naquele momento.
— Eu também te amo — ele respondeu a voz fraca. — E vou continuar amando até o fim da minha vida.
— Rob...
— Preciso desligar agora, querida. Volto a ligar assim que puder. E desligou antes que ela pudesse dizer mais alguma coisa.
Recolocando o fone no gancho, Sabrina deitou a cabeça no travesseiro e deu um suspiro profundo. Será que Rob estava chorando? Será que seu coração estava tão machucado quanto o dela? E o futuro? O que lhes reservaria?
Pela primeira vez, desde que ele partira, Sabrina sentiu que seus olhos estavam cheios de lágrimas. Deixou que elas escorressem livremente por seu rosto e chorou toda a sua dor.
— Pelo amor de Deus, Sabrina, coma alguma coisa! — implorou Katherine, olhando para o rosto desolado da amiga.
Estavam almoçando juntas num simpático restaurante recém-inaugurado, nos arredores do escritório de Sabrina. Era fim de maio. Fazia muito calor. O verão que se aproximou prometia ser de lascar.
Rob estava na Alemanha havia quase um mês. Um mês de muitos telefonemas e muitas cartas. Um mês de muito trabalho, de dias longos e de noites mais longas ainda. Sabrina já não achava mais graça na agência de empregos que montara com tanto sacrifício. Na verdade, ela não achava graça em mais nada. A vida tinha perdido o sentido.
— Sabrina? — chamou Katherine, preocupada. — Você me ouviu?
Espantada, ela olhou para a amiga.
— Você falou comigo?
Katherine parecia preocupada de verdade.
— Eu disse que você deveria comer alguma coisa.
— Eu... não estou com fome.
— Pelo amor de Deus, Sabrina! Você vai acabar parando num hospital! É isso que você quer?
Ela levou as duas mãos à cabeça.
— Por favor, Kathy. Não insista. Não quero comer e ponto final!
— Mas Sabrina...
— Por favor.
— Tudo bem. Não vou dizer mais nada. Mas que você devia comer, isso devia!
Foi só no fim do almoço, que Sabrina abriu a boca de novo.
— Kathy... eu estou detestando tudo isso. Estou detestando o jeito como me sinto. Estou detestando essa depressão horrível que tomou conta de mim e não quer ir mais embora. — Olhou bem dentro dos olhos da amiga. — Como eu fui deixar que isso acontecesse? Eu era tão feliz, tão segura e confiante... Agora, minha vida toda está voltada para uma pessoa que nem sequer está aqui.
— Dois anos demoram a passar, Sabrina — observou Katherine. — Você não pode ficar sofrendo esse tempo todo.
Ela enterrou o rosto nas mãos.
— E você pensa que eu não sei disso? Achei que a dor fosse diminuir com o passar do tempo, mas não diminuiu! Ao contrário! Só aumentou! Meu Deus será que isso não vai mais ter fim? Não agüento mais!
A resposta veio rápida.
— Não. Isso jamais terá fim, Sabrina.
Ela olhou para a amiga com certa desconfiança.
— Muito obrigada. Era exatamente isso que eu precisava ouvir. Katherine deu de ombros.
— Só estou tentando ser honesta. Não quero enganá-la. E agora? O que pretende fazer?
Sabrina empurrou o prato cheio à sua frente.
— Eu não sei. Você já leu os jornais hoje? Um avião da Força Aérea caiu na Itália, matando uma porção de gente. E se algo parecido acontecer a Rob?
— Pelo amor de Deus, Sabrina, pare de ficar pensando nisso. É claro que ele pode sofrer um acidente desses. Como também pode ser atropelado por um carro ao atravessar a rua. Essas coisas acontecem com todo mundo. Como podem acontecer conosco também. Por isso, pare de se martirizar desse jeito!
Sabrina cocou seu queixo.
— Eu estou parecendo uma idiota, não estou? Katherine deu um sorriso.
— Está.
— Às vezes eu penso em ir me encontrar com Rob... Katherine voltou a dar de ombros.
— Talvez fosse uma boa idéia. Mas se você o fizer, terá de ser pelos motivos certos.
Sabrina levantou uma sobrancelha.
— Como assim?
A moça fez uma pausa, a fim de melhor organizar seus pensamentos.
— Olhe, Sabrina, eu sempre achei que você era a pessoa mais independente que já conheci na vida. Uma mulher segura de si, dona absoluta do seu próprio nariz. Você era feliz. Tinha seu próprio negócio e tinha seus amigos. Aí então conheceu Rob e percebeu que podia ser ainda mais feliz. Seus olhos brilhavam quando você falava dele. Só que agora ele foi embora. E o brilho desapareceu de seu rosto. No final da história, você ficou tão triste, que até meu coração está quebrado.
— Por acaso você está querendo dizer que... eu deveria ir atrás de Rob?
— Essa é uma decisão que só você pode tomar. E, se toma-Ia, deverá fazê-lo sem a mínima hesitação, sem medo de errar. Você não deve se casar com ele porque está deprimida ou porque sente sua falta. Acho que só deve procurá-lo se tiver certeza absoluta de que o ama. E que quer passar o resto da vida a seu lado, não importa para onde ele for. Ah, existe outra coisa que você não pode esquecer. Rob certamente passa o dia inteiro trabalhando. E isso significa que você teria de ficar sozinha quase que o tempo todo. Será que conseguiria suportar? São coisas importantes, nas quais você não pode deixar de pensar.
Sabrina nunca havia falado a Katherine a respeito de seu hobby. Nem pretendia falar agora.
— Bem... existe algo que eu sempre tive vontade de tentar. Mas não sei se vai dar certo. Tenho muito medo. Medo de falhar...
— Ora, Sabrina, riscos sempre existem. Em tudo que fazemos. Por exemplo, você poderia perder seu negócio por um motivo ou por outro. E eu poderia ser despedida amanhã. Não são coisas prováveis, mas podem acontecer. Os riscos fazem parte da vida, Sabrina. E se não arriscarmos, se não ousarmos, jamais sairemos do mesmo lugar.
— Eu nunca pensei que fosse tão covarde Kathy. Nunca pensei que tivesse tanto medo de tentar. Mas você tem razão. Se não arriscarmos, se não ousarmos, não sairemos nunca do mesmo lugar. E, quando abrirmos os olhos, seremos pessoas velhas e amarguradas lamentando a vida excitante e cheia de brilho que deixamos de viver.
Kathy deu um sorriso.
— Meu Deus! Como você está filosófica! De repente, o rosto de Sabrina se iluminou.
— Quer saber de uma coisa? Fiquei com uma fome incrível. Acho que vou terminar meu prato e depois pedir a sobremesa. Que tal?
Kathy levantou uma sobrancelha, um pouco desconfiada. — Sabrina... você está se sentindo bem? Ela sorriu.
— Estou. E sabe por quê? Porque acabei de tomar uma decisão muito importante. A mais importante da minha vida. Que Deus me ajude!
Gasthaus era exatamente o que Sabrina esperava: um bar lotado típico dos filmes da década de quarenta, barulhento e cheio de fumaça, repleto de oficiais americanos.
Olhou em volta, o coração disparado. Estava tão nervosa, que mal conseguia respirar.
Não podia estar mais cansada. Seu dia havia sido muito longo. Começava a achar que tinha feito uma grande bobagem. Por que não o avisara de sua chegada? Ela havia levado horas para encontrar aquele bar.
Droga. Por que não ouvira os conselhos de Colin? Ele insistira para que Rob fosse avisado. Mas não. Ela ficara firme na decisão de lhe fazer uma surpresa. Sim. Tinha bancado a idiota.
E então Sabrina o viu. Ele estava mais adiante conversando com outros três oficiais. Seu coração deu um salto. Como ele era bonito... ainda mais bonito do que se lembrava.
Fazendo força para controlar uma vontade incrível de correr a seu encontro, ficou ali parada durante alguns instantes, estudando-o de longe. Havia um ditado que dizia que as mulheres não resistiam a homens de uniforme. De qualquer modo, ela nunca conseguira resistir Rob Davis, de uniforme ou não.
Meu Deus, ela pediu baixinho. Fazei com que Rob ainda me ame. Que ainda me queira. Por favor.
Esfregou as mãos. As palmas estavam molhadas de suor. Agora que estava ali, a poucos metros de distância, não sabia o que falar. Ele ainda hão a vira. Aproximou-se de sua mesa com passos lentos, a respiração irregular e ofegante. Então, lembrou-se do dia em que o vira, naquele elevador em Dallas.
— Com licença, senhor. Será que já não nos encontramos antes?_ Interrompido no meio de uma frase, Rob Davis virou-se rapidamente. Soltou um grito de espanto.
— Sabrina? Brie! Minha Brie?
Levantou-se com tanto ímpeto que a cadeira caiu no chão. Tomou-a nos braços e a apertou com tanta força, que ela mal conseguiu respirar. Mas não importava. A única coisa que ela queria na vida era sentir o corpo de Rob colado ao seu. Como conseguira sobreviver por tanto tempo, sem tê-lo a seu lado? Não sabia dizer. E, naquele momento, ela jurou para si mesma que jamais o deixaria de novo.
Rob se afastou ligeiramente para poder olhar para o seu rosto.
— Brie querida! O que está fazendo aqui?
— Eu... estou procurando um lugar para morar. Será que não gostaria de dividir sua casa comigo?
Sabrina quase pode ver o impacto de suas palavras atingindo o coração de Rob. Ele fechou os olhos. E quando os abriu novamente, havia lágrimas neles.
— Quer dizer que você... está aqui para ficar?
— Desde que ainda me queira em sua vida. E agora você não pôde me acusar de estar sendo impulsiva. Tive muito tempo para pensar... e tomei minha decisão.
Rob levantou-a do chão e começou a girá-la.
— Ei, pessoal! —ele gritou com toda a força de seus pulmões. — Ouçam essa novidade! Eu vou me casar! Eu vou me casar!
— Tem certeza de que é isso mesmo que você quer, Davis?_ perguntou um dos oficiais de sua mesa, morrendo de rir. Ele também riu e colocou Sabrina no chão.
— Certeza absoluta. Eu sou uma prova concreta de que os sonhos podem se tornar realidade. E que milagres realmente acontecem.
— Eu te amo.
Aninhada nos braços de Rob, ela lhe deu um beijo no rosto.
— Eu também te amo, Rob. Meu Deus, eu estava com tantas saudades...
— E eu então... — A respiração de Rob ainda estava ofegante, graças ao frenético ato de amor de poucos minutos atrás, que havia beirado os limites da loucura. — Eu acho que da próxima vez, é melhor irmos um pouco mais devagar...
Sabrina respirou fundo, tentando pensar com um pouco mais de clareza.
— Eu me sinto como se tivesse sido apanhada por um roda-moinho. Tem certeza de que não fomos parar na lua?
Rob sorriu e a puxou para mais perto de si.
— Eu não me importaria se nós estivéssemos em Marte. Você está bem?
Sabrina movimentou ligeiramente as pernas, para ver se conseguia andar.
— Acho que sim. Num momento estávamos entrando no seu apartamento e no momento seguinte estávamos aqui, na cama... — Ela sorriu. — Não que eu esteja reclamando, é claro.
Ele passou a mãos pelos cabelos.
— Existem muitas noites longas e solitárias em dois meses, Sabrina. Eu não agüentava mais de saudades.
— Quer saber de uma coisa? Eu também não. — Eu te amo, Rob.
— E eu mais ainda. Mas agora me conte. Quero saber exatamente como você me encontrou e o que resolveu fazer com a sua casa, seu escritório e seu cachorro.
Ela deu um sorriso.
— Bom, vamos começar pelo começo. Eu dei seu endereço a um motorista de táxi muito simpático que falava inglês. E ele me trouxe até aqui. Como você não estava, conversei com a zeladora, Frau Pischke, e ela me garantiu que você estaria naquele bar. E o mesmo motorista me levou até lá. Ah, Rob, eu estava com tanto medo... medo de que você não me quisesse mais... medo de que tivesse arranjado outra namorada...
— Eu lhe disse aquele dia, Brie. Nunca haverá outra mulher para mim. Eu sempre te amei. E vou morrer te amando. Mas me conte uma coisa: por que não me falou que viria?
— E que eu queria fazer uma surpresa!
— E sua agência? O que você fez com ela?
— Você não vai acreditar. Eu a vendi para Katherine. Ela sempre quis ter o seu próprio negócio. Tenho certeza de que vai se sair muito bem. E antes que você me pergunte, já vou responder. Sim, estou absolutamente segura do que fiz. E do que vou fazer também.
— Do que vai fazer?
— Exatamente. Vou começar a escrever para valer. Trouxe o que já escrevi daquele romance que você leu e vou terminá-lo aqui. Não sei se um dia alguém vai querer publicá-lo, mas não importa. Pretendo escrever e ponto final.
— Estou orgulhoso de você, Brie.
— Será que algum editor se interessaria em publicá-lo? Você acha que...
Ele a interrompeu.
— É claro que sim. Mas se ninguém se interessar, continuarei a sentir orgulho de você assim mesmo.
Ela lhe deu um beijo.
— Obrigada. Sabe de uma coisa, Rob? Eu tinha medo de te amar porque achava que iria acabar perdendo minha própria identidade... Agora sei que sou uma mulher que tem seus próprios sonhos e seus próprios objetivos. De qualquer forma, estou mais forte agora, porque tenho você a meu lado.
— Era isso mesmo que você tinha de entender, meu amor. Eu sempre soube que você era muito mais do que um título, muito mais do que uma carreira. Assim como eu sou muito mais do que as barras de prata que existem na minha carteira de piloto. Somos duas pessoas fortes, capazes e ambiciosas, que se amam e que precisavam um do outro. Isso não faz de nós pessoas fracas ou inseguras. Isso faz de nós apenas seres humanos.
Ela sorriu.
— Palavras sábias, Rob. Eu te amo. Ele lhe deu outro beijo.
— Ah, Sabrina, eu estava tão triste sem você...
— Impossível que a sua tristeza fosse maior do que a minha. Bem, mas respondendo a suas outras perguntas, vendi meu apartamento para a irmã de Ellen O'Neal, uma médica fantástica de trinta e dois anos que acabou de se casar. Quanto a Angel, eu o dei a Mandy.
— Você o quê?
— Eu dei Angel a Mandy, Rob. A menina era louca por ele. E ele por ela. Tenho certeza de que os O'Neal vão cuidar muito bem dele.
— Mas Sabrina! Você adorava o cachorro!
— É verdade. Eu o adorava. Mas não podia trazê-lo. De qualquer maneira, deixei Mandy muito feliz. Ah, já ia me esquecendo. Conversei com Liz e com sua mãe antes de embarcar. Elas mandaram um beijo para você.
— Aposto que ambas ficaram muito felizes com a notícia.
— Ficaram mesmo. Liz me disse que seu sobrinho está uma gracinha. A cara do tio.
— Sabe de uma coisa, Sabrina? Você fez de mim o homem mais feliz do mundo!
— E vou passar o resto da minha vida mantendo-o assim. Vou ajudá-lo a realizar todos os seus sonhos... como eu sei que você vai me ajudar a realizar os meus.
Ele sorriu.
— Mesmo que o meu sonho seja voar até as estrelas?
— Claro. E eu estarei à sua espera, quando voltar pára casa. Talvez nossos filhos estejam a meu lado também. Ele a abraçou com força.
— Sabrina, Sabrina, esse é o momento mais feliz da minha vida! Como eu te amo!
— E eu te adoro!
— Não me deixe nunca mais, por favor.
— Ei! Eu não deixei você! Foi você quem me deixou, não se lembra?
— Então nunca mais vamos nos separar. Nunca mesmo. —Jamais.
— Meu Deus, isso mais parece um sonho...
Sabrina sorriu e começou a acariciá-lo de um modo muito íntimo.
— Ei! — exclamou ele. — O que você está fazendo?
— Bem, você disse que queria ir mais devagar da próxima vez, não disse? Então! A próxima vez chegou!
Eles riram e se abraçaram duas pessoas felizes que finalmente haviam encontrado o verdadeiro amor.
Sabrina Marsh Davis terminou de se arrumar e se olhou no espelho. Estava uma pilha de nervos. Pela décima vez naquele mesmo dia, tirou o fone do gancho e telefonou para Charles Walker.
— Alô? Charles? Aqui é Sabrina. Como se ele já não soubesse!
— Oi, Sabrina. O que foi agora?
— Charles, você tem certeza de que todos os convites foram mandados? E o coquetel? Será que não apareceu nenhum problema de última hora?
Acostumado com aquele tipo de comportamento, Charles Walker sorriu.
— Fique tranqüila. Os convites foram todos mandados e acredito que umas trezentas ou quatrocentas pessoas compareçam ao coquetel. Acabei de conversar com o pessoal do bufê e eles me garantiram que servirão rigorosamente o que foi combinado canapés, salgadinhos e vinho branco italiano. Agora, trate de relaxar e aproveitar seu sucesso!
Sabrina desligou o telefone e sentou-se na cama. Aquela era a noite do lançamento do seu segundo livro. Ela e Rob haviam acabado de voltar a Dallas, depois de passarem os dois anos previstos na Alemanha.
Havia sido lá que ela publicara seu primeiro romance, a história que escrevia quando conhecera Rob. O sucesso fora estrondoso, tanto de público, quanto de crítica. Uma revista especializada chegara até a apontá-la como a revelação do ano.
Começara a escrever aquele segundo livro logo após o primeiro. E não podia estar mais feliz com sua carreira. Aliás, não podia estar mais contente com a vida. Seu casamento com Rob corria às mil maravilhas. Ele era o homem com quem ela sempre sonhara: meigo, carinhoso, divertido, uma excelente companhia.
Há sete meses, descobrira que estava grávida. Agora, olhando-se de novo no espelho, percebia que aquele vestido de veludo preto que escolhera com tanto cuidado não estava sendo de muita ajuda para deixá-la um pouco mais elegante. Tinha engordado dez quilos até o momento. E era provável que engordasse mais uns cinco até o final da gravidez. Mas pouco estava se importando.
Rob, quando soubera que ia ser pai, dera um grito de felicidade que fora ouvido a quilômetros de distância. Satisfazia todos os desejos de Sabrina, tentava adivinhar suas vontades e tratava-a com o maior carinho possível.
Ambos já sabiam o sexo do bebê. Ia ser um menino. Ela torcia para que ele tivesse os olhos azuis do pai. E o mesmo rosto lindo.
Depois de muita discussão, acabaram chegando a um acordo sobre o nome do bebê. Sabrina insistia para que ele se chamasse Robert Steven Davis Jr. Ele, porém, se recusava.
— Ora, Brie, colocar no filho o nome idêntico do pai é muita falta de imaginação. Prefiro outro.
No final das contas, acabara sendo decidido que o bebê se chamaria Mareei Robert Marsh Davis. Sabrina mal podia ver a hora de segurá-lo nos braços.
Eles haviam comprado uma linda casa num dos bairros mais elegantes de Dallas, cercada por um jardim enorme. Liz, Gordon e o filhinho Johnnie, Katherine e seu novo namorado, os O'Neal e Angel iam visitá-los todas as semanas.
Rob entrou no quarto e deu um assobio.
— Uau! Como você está linda! Ela correu para abraçá-lo.
— Ah, Rob, eu estou tão nervosa...
Ele lhe deu um beijo gostoso e demorado.
— E agora? Está mais calma?
Ela deitou a cabeça em seu ombro.
— Tão mais calma, que estou até pensando em adiar, essa festa e ficar aqui no quarto com você, fazendo coisas mais interessantes...
— De jeito nenhum, sra. Davis. Não se esqueça de que tem um contrato a cumprir. Além disso, mal posso esperar para ler a crítica desse novo livro. Na minha opinião, ele é ainda melhor do que o anterior.
— Rob? — Ela ainda estava com a cabeça em seu ombro.
— Sim?
— Obrigada.
— Obrigada por quê?
— Por me fazer a mulher mais feliz do mundo. Nunca pensei que um dia pudesse encontrar tamanha felicidade.
Ficaram ali abraçados durante mais algum tempo, depois deixaram juntos o quarto a caminho de mais um sucesso.
Gina Wilkins
O melhor da literatura para todos os gostos e idades