Biblio VT
Uma antiga lenda grega.
Possuidor de uma força suprema e de um valor sem comparação, foi bento pelos deuses, amado pelos mortais e desejado por todas as mulheres que posavam os olhos nele. Não conhecia a lei, e não acatava nenhuma.
Sua habilidade na batalha, e seu intelecto superior rivalizavam com os do Aquiles, Ulises e Heracles. dele se escreveu que nem sequer o capitalista Are em pessoa podia lhe derrotar na luta corpo a corpo.
E, se por acaso o dom do poderoso deus da guerra não tivesse sido suficiente, também se dizia que a mesma deusa Afrodita lhe beijou a bochecha ao nascer, e se assegurou de que seu nome fosse sempre guardado na memória dos homens.
Bento pelo divino toque da Afrodita, converteu-se em um homem ao que nenhuma mulher podia lhe negar o uso de seu corpo. Porque, chegados ao sublime Arte do Amor... não tinha igual. Sua resistência ia além da de qualquer mero mortal. Seus ardentes e selvagens desejos não podiam ser domados.
Nem negados.
De cabelo e pele dourados, e com os olhos de um guerreiro, dele se comentava que sua só presença era suficiente para satisfazer às mulheres, e que com um solo roce de sua mão lhes proporcionava um inexprimível prazer.
Ninguém podia resistir a seu encanto.
E propenso como era a provocar ciúmes de outros, conseguiu que lhe amaldiçoaram. Uma maldição que jamais poderia romper-se.
Como a do pobre Tántalo, sua condenação foi eterna: nunca encontraria a satisfação por mais que a buscasse; desejaria as carícias daquela que lhe invocasse, mas teria que lhe proporcionar um prazer delicioso e supremo.
De lua a lua, jazeria junto a uma mulher e lhe faria o amor, até que fosse obrigado a abandonar o mundo.
Mas se tem que ser precavida, porque uma vez se conhecem suas carícias, ficam impressas na memória. Nenhum outro homem será capaz de deixar a essa mulher plenamente satisfeita. Porque nenhum varão mortal pode ser comparado a um homem de tal atitude. De tal paixão. De uma sensualidade tão atrevida.
te guarde do Maldito.
Julián da Macedônia.
Sostenlo sobre o peito e pronuncia seu nome três vezes a meia-noite, sob a luz da lua enche. Ele virá a ti e até a seguinte lua, seu corpo estará a sua disposição.
Seu único objetivo será te agradar, te servir.
te saborear.
Entre seus braços aprenderá o significado da palavra "paraíso".
Capítulo 1
- Céu, necessita que lhe joguem um bom pó.
Grace Alexander se estremeceu ao escutar o grito da Selena em metade do pequeno café de Nova Orleáns, onde se encontravam apurando os restos do almoço, consistente
em feijões vermelhos com arroz. Infelizmente para ela, a voz de seu amiga possuía um encantador timbre agudo que podia fazer-se ouvir inclusive em metade de um furacão.
E que nesta ocasião, foi seguido de um repentino silêncio no atestado local.
Ao jogar uma olhada às mesas próximas, Grace percebeu que os homens deixavam de falar, e se giravam para as observar com muito mais interesse do que lhe gostaria.
Jesus! Aprenderá alguma vez Selena a falar em voz baixa? Ou pior ainda, o que será quão próximo faça, tirá-la roupa e dançar nua sobre as mesas?
Outra vez.
Por enésima vez desde que se conheceram, Grace desejava que Selena pudesse sentir-se envergonhada. Mas sua vistosa, e freqüentemente extravagante, amiga não
conhecia o significado de sorte uma palavra.
tampou-se a cara com as mãos e fez o que pôde por ignorar aos curiosos olheiros. Um desejo irrefreável de deslizar-se sob a mesa, acompanhado de uma urgência
ainda major de dar uma boa patada a Selena, consumiam-na.
- por que não fala um poquito mais alto, Lanie? -murmurou-. Suponho que os homens do Canadá não terão podido te escutar.
- OH, não sei -disse o muito bonito garçom moreno ao deter-se junto a sua mesa-. Certamente se dirigem para aqui enquanto falamos.
Um calor abrasador tomou por assalto as bochechas do Grace ante o diabólico sorriso que lhe dedicou o garçom, obviamente em idade de ir à universidade.
- Posso lhes oferecer algo mais, senhoras? -perguntou, e depois olhou diretamente ao Grace-. Ou para ser mais exatos, há algo que possa fazer por você, senhora?
Que tal uma bolsa com a que me tampar a cabeça e um pau para golpear ao Lanie?
- Acredito que já acabamos -respondeu Grace com as bochechas ardendo. Definitivamente, mataria a Selena por isso-. Só necessitamos a conta.
- Muito bem, então -disse tirando a nota, e escrevendo algo na parte superior do papel. Colocou-a justo diante do Grace-. Pode me fazer uma llamadita se necessitar
algo.
Uma vez o garçom partiu, Grace se deu conta de que tinha cotado seu nome e seu telefone na parte superior do papel.
Selena lhe jogou uma olhada e soltou uma gargalhada.
- Espera e verá -lhe disse Grace, reprimindo um sorriso enquanto calculava a importância da metade da conta com seu Palm Pilot-. Me pagará isso.
Selena ignorou a ameaça e se dedicou a procurar o dinheiro em sua bolsa adornada com contas.
- Sim, sim. Isso o diz agora. Se eu estivesse em seu lugar, marcaria esse número. É muito bonito o menino.
- Jovencísimo -corrigiu Grace-. E acredito que vou passar. Quão último preciso é que me encerrem por corrupção de menores.
Selena passeou o olhar pelo preciso lugar onde o garçom esperava, com um quadril apoiado na barra.
- Sim, mas dom Sou Igualito ao Brad Pitt, que está aí em frente, bem o merece. Pergunto-me se terá algum irmão maior...
- E eu me pergunto quanto estaria disposto a pagar Bill por saber que sua mulher se aconteceu todo o almoço comendo-se com os olhos a um guri.
Selena soprou enquanto deixava o dinheiro sobre a mesa.
- Não me estou comendo isso. Estou-o avaliando para ti. depois de tudo, era de sua vida sexual do que falávamos.
- Bom, minha vida sexual é sensacional e não lhe interessa às pessoas que nos rodeia. -E detrás soltar o dinheiro na mesa, agarrou a última parte de queijo
e se encaminhou para a porta.
- Não te zangue -lhe disse Selena enquanto saía atrás dela à rua, lotada de turistas e dos clientes habituais dos estabelecimentos do Jackson Square.
As notas de jazz de um solitário saxofone se escutavam por cima da cacofonia de vozes, cavalos e motores de automóveis; uma quebra de onda de calor típico
de Louisiana as recebeu ao sair à rua.
Tentado não fazer caso do ar, tão espesso que dificultava a respiração, Grace se abriu caminho entre a multidão e as bancas ambulantes, dispostos ao longo
da cerca de ferro que rodeava Jackson Square.
- Sabe que é certo -lhe disse Selena uma vez a alcançou-. Quero dizer, Meu deus, Grace!, quanto faz? Dois anos?
- Quatro -respondeu ela com ar ausente-. Mas a quem lhe interessa levar a conta?
- Quatro anos sem ter relações sexuais? -repetiu Selena incrédula.
Vários olheiros se detiveram, curiosos, para observar alternativamente a Selena e ao Grace.
Alheia -como era habitual nela- à atenção que despertavam, Selena continuou sem deter-se.
- Não me diga que você esqueceste que estamos em plena Era da Eletrônica. Ou seja, vamos ver, algum de seus pacientes sabe que leva tanto tempo sem jogar um
pó?
Grace acabou de tragar a parte de queijo e dedicou a seu amiga um desagradável e furioso olhar. É que a intenção da Selena era a de gritar a todo pulmão, em
plena Vieux Carre, seus assuntos pessoais a tudo humano e cavalo que passasse pela zona?
-Baixa a voz -lhe disse, e acrescentou com secura-, não acredito que seja da incumbência de meus pacientes se for ou não a reencarnação da Virgem. E com respeito
à Era da Eletrônica, não quero ter uma relação com algo que vem acompanhado de uma etiqueta com advertências e umas pilhas.
Selena soltou um bufido.
- Sim, vale, te ouvindo falar se diria que a maioria dos homens deveriam vir acompanhados de uma etiqueta com esta advertência: -elevou as mãos para emoldurar
a seguinte afirmação- Atenção, por favor, Alerta Psíquica. Eu, macho-man, sou propenso a sofrer horríveis mudanças de humor, e a pôr caras largas, e possuo a habilidade
de dizer a verdade a uma mulher sobre seu peso, sem prévio aviso.
Grace soltou uma gargalhada. Tinha solto de carrinho de mão, em inumeráveis ocasione, esse discursito sobre as etiquetas que deveriam levar os homens.
- Ah, já o entendo, Doutora Amor -disse Selena imitando a voz da doutora Ruth-. Você se limita a sentar-se e escutar como seus pacientes lhe largam todos os
detalhes íntimos de seus encontros sexuais, enquanto você vive como um membro vitalício do "Clube das Calcinhas do Teflón". -baixando a voz, Selena acrescentou:-
Não posso acreditar que depois de tudo o que escutaste em suas sessões, nada tenha conseguido revolucionar seus hormônios.
Grace lhe lançou um olhar divertido.
- Bom, a ver, sou uma sexóloga. Não me beneficiaria muito que meus pacientes se dedicassem a me fazer experimentar a petit mort enquanto jogam fora todos seus
problemas. Sério, Lanie, perderia o título.
- Pois não entendo como pode lhes aconselhar, quando nem sequer te aproxima de um homem.
Fazendo uma careta, Grace começou a caminhar para o lado oposto da praça, justo frente ao Escritório de Informação Turística, onde Selena tinha instalado seu
puestecillo para jogar as cartas e ler as linhas das mãos. Quando chegou à banca -uma mesa coberta com uma faldilla de cor arroxeado intenso-, suspirou.
- Sabe que não me importaria ficar com um homem que se merecesse que me depilasse as pernas. Mas a maioria resulta ser uma perda de tempo tão evidente que
prefiro me sentar no sofá e ver as reposições do Hee Haw.
Selena lhe dedicou uma expressão irritada.
- O que tinha de mau Gerry?
- Mau fôlego.
- E Jamie?
- adorava pinçar-se no nariz. Especialmente durante o jantar.
- Tony?
Grace olhou a Selena e esta elevou as mãos.
- Vale, possivelmente tivesse um pequeno problema com o das apostas. Mas é que todos precisamos nos distrair com algo.
Grace a olhou furiosa.
- Né, Madam Selene, já retornaste que almoçar? -perguntou-lhe Sunshine do puestecillo situado justo ao lado do dele, no que vendia objetos de louça e desenhos,
feitos por ela.
Uns anos mais jovem que elas, Sunshine tinha uma larga juba negra e sempre levava roupas que ao Grace faziam pensar que estava diante de uma fada. Sua vestimenta
de hoje consistia em uma liviana saia branca, que tivesse resultado obscena de não ser pelos meias-calças rosados que levava debaixo, e uma preciosa camisa de estilo
medieval.
- Sim, já tornei -lhe respondeu Selena enquanto se ajoelhava para abrir a tampa do carrinho da compra que todas as manhãs assegurava à grade de ferro com uma
dessas cadeias que se usam para as bicicletas-. Algo interessante durante minha ausência?
- Um par de meninos agarraram um de seus cartões, e disseram que retornariam depois de comer.
- Obrigado -disse Selena guardando o moedeiro no carro, tirou a caixa de puros azul onde guardava o dinheiro e as cartas de tarot -sempre envoltas em um lenço
de seda negra-, e um magro, mas gigantesco, libero com tampas de couro marrom que Grace não tinha visto nunca.
Selena se colocou seu enorme chapéu de palha de palha, deu-se a volta e ficou em pé.
- Seus artigos têm os preços marcados? -perguntou ao Sunshine.
- Sim -lhe respondeu esta enquanto agarrava seu moedeiro-. Sigo dizendo que traz má sorte; mas ao menos, se alguém quer saber o que valem quando não estou,
pode averiguá-lo.
Uma motocicleta de aspecto desastroso freou a certa distância.
- Né, Sunshine! -gritou o condutor-. Move o culo. Tenho fome.
A garota lhe saudou sem fazer caso à ordem.
- Não me curve ou comerá você só -lhe respondeu enquanto caminhava sem pressas para ele, e subia à parte traseira da moto.
Grace moveu a cabeça enquanto lhes observava. Sunshine necessitava que alguém lhe aconselhasse sobre suas entrevistas, muito mais que ela. Seguiu-lhes com
o olhar enquanto passavam diante do Café du Pode.
- OH! Um beignet seria uma estupenda sobremesa.
- A comida não pode substituir ao sexo -lhe disse Selena enquanto colocava as cartas e o livro sobre a mesa-. Não é isso o que sempre diz...?
- De acordo, o ponto é teu. Mas, Lanie, sério, a que vem este repentino interesse em minha vida sexual? Melhor dizendo, em minha falta dela.
Selena agarrou o livro.
- A que tenho uma idéia.
O calafrio que sentiu ante as palavras da Selena lhe chegou até os ossos, e isso que o calor era cansativo. E ela não se assustava facilmente. Bom, a não ser
que seu amiga estivesse envolta com uma de suas idéias típicas de "mamãe galinha".
- Não será outra sessão de espiritismo?
- Não, isto é melhor.
Em seu interior, Grace se encolheu e começou a perguntar-se o que seria de sua vida nesses momentos se tivesse tido uma companheira de habitação normal o primeiro
ano no Tulane, em lugar da Selena Quero Ser Uma Cigana Travessa. De algo estava segura: não estaria discutindo de sua vida sexual em meio de uma rua cheia de gente.
Nesse momento, fixou-se em quão diferentes eram. Ela suportava o úmido calor com um ligeiro vestido sem mangas de seda cor nata, do Ralph Lauren, e levava
o cabelo escuro recolhido em um sofisticado coque. Em contraste, Selena levava uma larga e vaporosa saia negra com um apertado Top de suspensórios arroxeado que
apenas lhe cobria seus generosos seios. O cabelo castanho e encaracolado, que chegava aos ombros, estava recolhido com um lenço de seda negra, com bolinhas semelhantes
às de um leopardo. O traje se completava com uns enormes pendentes de prata, em forma de lua enche, que penduravam virtualmente até os ombros. Sem mencionar a jazida
de prata que se colocou em ambas as bonecas, em forma de cento e cinqüenta braceletes. Braceletes que tilintavam cada vez que se movia.
A gente sempre tinha reparado em suas diferenças físicas, mas ela sabia que Selena escondia uma mente ardilosa e uma grande insegurança sob seu "exótico" traje.
por dentro, pareciam-se muito mais do que qualquer podia imaginar.
Exceto na estranha crença que Selena tinha desenvolvido pelo ocultismo.
E em seu insaciável apetite sexual.
Aproximando-se dela, Selena deixou o livro nas mãos -pouco dispostas a agarrar o do Grace e começou a passar folhas. As arrumou para não deixá-lo cair.
E para não pôr os olhos em branco pela exasperação que a invadia.
- Encontrei isto o outro dia, nessa velha livraria que há junto ao Museu de Cera. Estava talher por uma montanha de pó; tentava encontrar um livro sobre psicometría
quando de repente vi este, Voilà! -disse assinalando triunfalmente à página.
Grace olhou o desenho e ficou com a boca aberta.
Jamais tinha visto um pouco parecido.
O homem do desenho era fascinante, e a pintura estava realizada com assombroso detalhe. Se não fosse pelas marcas deixadas na página ao ter sido impressa,
diria-se que se tratava de uma fotografia atual de alguma antiga estátua grega.
Não, corrigiu-se a se mesma: de um deus grego. Estava claro que nenhum mortal podia jamais ter essa pinta tão fantástica.
Gloriosamente nu, o tipo exsudava poder, autoridade e uma lhe esmaguem e selvagem sexualidade. Embora sua pose parecesse ser casual, dava a sensação de estar
contemplando um depredador preparado para ficar em ação em qualquer momento.
As veias lhe marcavam naquele corpo perfeito que prometia possuir uma força inigualável, desenhada especificamente para proporcionar prazer a uma mulher.
Com a boca seca, Grace observou os músculos, que tinham as proporções adequadas para sua altura e seu peso. Contemplou a profunda fenda que separava os duros
peitorais e baixou até o estômago -esculpido com forma de tablete de chocolate-, que suplicava ser acariciado por uma mão feminina.
E então chegou ao umbigo.
E depois a...
Bom, não lhes tinha ocorrido tampar aquilo com uma folha de parra. E por que deveriam havê-lo feito? Quem, em seu são julgamento, ia querer ocultar uns atributos
masculinos tão estupendos? E seguindo com aquela linha de pensamento, quem necessitaria um artefato com pilhas tendo aquilo em sua casa?
umedeceu-se os lábios e voltou para a cara.
Enquanto contemplava os afiados e arrumados contornos do rosto, e os lábios -com um diabólico sorriso logo que esboçado-, assaltou-lhe a imagem de uma ligeira
brisa agitando essas loiras mechas, esclarecidos pelo sol, que se encrespavam ao redor do pescoço, especialmente desenhado para cobrir o de úmidos beijos. E daqueles
penetrantes olhos de cor azul metálica, enquanto elevava uma lança sobre a cabeça, e gritava.
O sufocante ar que lhe rodeava se estremeceu ligeiramente de forma repentina, e lhe acariciou as partes de seu corpo expostas à brisa.
Quase podia escutar o profundo timbre da voz do tipo, e sentir como aqueles musculosos braços a envolviam e a atraíam para um peito duro como uma rocha, enquanto
seu quente fôlego lhe roçava a orelha.
Percebia umas mãos fortes e peritas que vagavam por seu corpo, e lhe proporcionavam um deleite delicioso, enquanto procuravam seus mais recônditos lugares.
Um calafrio lhe percorreu as costas e o corpo começou a lhe palpitar em zonas onde nunca tinha pensado que aquilo pudesse ocorrer. Sentia uma dor feroz e exigente
que jamais tinha experiente.
Piscou e voltou a olhar a Selena, para ver se também ela se viu afetada do mesmo modo. Mas se assim era, não dava sinais disso.
Devia estar alucinando. Exato! As especiarias dos feijões lhe tinham chegado ao cérebro e o tinham convertido em mingau.
- O que opina dele? -perguntou-lhe Selena, olhando-a por fim aos olhos.
Grace se encolheu de ombros, em um esforço por esquecer a fogueira que abrasava seu corpo. Mas seus olhos voltaram a atrasar-se nas perfeitas formas do homem.
- parece-se com um paciente que teve entrevista ontem.
Bom, não era exatamente certo... o menino que tinha estado em sua consulta era medianamente atrativo, mas nada que ver com o homem do desenho.
Jamais tinha visto algo assim em toda sua vida!
- De verdade? -os olhos da Selena adquiriram um matiz escuro que prognosticava o começo de seu sermão sobre as oportunidades de conseguir uma entrevista e
a intervenção do destino.
- Sim -disse cortando a Selena antes de que pudesse começar a falar-. Me disse que era uma lésbica apanhada no corpo de um homem.
Selena abriu a boca, muda de assombro. Agarrou o livro, tirando-lhe ao Grace das mãos, e o fechou com força enquanto a olhava furiosa.
- Sempre conhece as pessoas mais estranhas.
Grace elevou uma sobrancelha.
- Nem te ocorra dizê-lo -disse Selena enquanto ocupava seu sítio habitual depois da mesa. Colocou o livro a seu lado-. Lhe advirto isso; isto -disse, dando
dois golpecitos ao livro- é o que está procurando.
Grace olhou fixamente a seu amiga enquanto pensava no absolutamente convincente que parecia Madam Selene -autoproclamada Senhora da Lua-, sentada atrás de
suas cartas de tarot, com aquela mesa morada, e o misterioso livro sob as mãos. Nesse momento, quase podia acreditar que Selena era em realidade uma esotérica cigana.
Se acreditasse nessas coisas.
- Vale -disse Grace dando-se por vencida-. Deixa de falar com rodeios e me diga o que têm que ver esse livro e esse desenho com minha vida sexual.
O rosto da Selena adotou uma expressão bastante séria.
- O tipo que te ensinei... Julián... é um escravo sexual grego que está obrigado a cumprir os desejos daquela que lhe invoque, e a adorá-la.
Grace riu com vontades. Sabia que estava sendo muito mal educada, mas não pôde evitá-lo. Como demônios ia acreditar Selena, uma licenciada em história antiga
e em física, premiada com a beca Rhodes, e com um doutorado em filosofia, em um pouco tão ridículo, até com todas suas excentricidades?
- Não te ria. Digo-o a sério.
- Já sei, isso é o que me faz graça -se esclareceu garganta e se serenou-. Vale, o que tenho que fazer?, me tirar a roupa e dançar nua no Pontchartrain a meia-noite?
-um leve intento de sorriso curvou seus lábios, sem lhe importar que os olhos da Selena se obscurecessem a modo de aviso-. Tem razão, encarregarei-me de conseguir
uma boa sessão de sexo, mas não acredito que seja com um esplêndido escravo sexual grego.
O livro caiu da mesa.
Selena deu um grito, levantou-se de um salto e atirou a cadeira.
Grace ofegou.
- Empurrou-o com o cotovelo, verdade?
Selena negou com a cabeça muito devagar; tinha os olhos abertos como pratos.
- Confessa-o, Lanie.
- Não fui eu -disse com uma expressão mortalmente séria-. Acredito que o ofendeu.
Movendo a cabeça ante aquela necedad, Grace tirou da bolsa os óculos de sol e as chaves. Bem, estupendo, isto se parecia com a época da faculdade, quando Lanie
lhe falou de usar uma Ouija, e o forjou tudo para que lhe dissesse que ia se casar com um deus grego quando cumprisse os trinta anos, e que ia ter seis filhos com
ele.
Até o dia de hoje, Selena se negava a admitir que tinha sido ela a que dirigisse o ponteiro.
E, neste preciso momento, fazia muito calor sob o implacável sol de agosto para discutir.
- Olhe, preciso retornar ao despacho. Tenho uma entrevista às dois em ponto e não quero agarrar um entupo -lhe disse enquanto ficava as Ray-Ban-. Virá então
esta noite?
- Não me perderia isso por nada do mundo. Levarei o vinho.
- Bem, vejo-te as oito. -E fez uma larga pausa para acrescentar:- lhe diga ao Bill que olá e que obrigado por te deixar me visitar por meu aniversário.
Selena a observou afastar-se e sorriu.
- Espera a ver seu presente -sussurrou, e recolheu o livro do chão. Passou a mão pela suave tampa de couro esculpido, e tirou umas bolinhas de pó.
Voltou a abri-lo e observou de novo o maravilhoso desenho; aqueles olhos tinham sido desenhados com tinta negra, e mesmo assim, davam a impressão de ser de
um profundo azul cobalto.
Por uma só vez seu feitiço ia funcionar. Estava segura.
- Você gostará de Grace, Julián -murmurou dirigindo-se ao homem enquanto percorria com os dedos seu corpo perfeito-. Mas devo te advertir algo: acabaria com
a paciência de um santo. E transpassar suas defesas vai resultar mais duro que abrir uma brecha na muralha da Troya. Não obstante, se alguém pode ajudá-la, esse
é você.
Sentiu que o livro desprendia uma súbita quebra de onda de calor sob sua mão, e soube instintivamente que era a forma que Julián escolhia para lhe dar a razão.
Grace pensava que estava louca por causa de suas crenças, mas sendo a sétima filha de uma sétima filha, e com o sangue cigana que corria por suas veias, Selena
sabia que havia certas coisas na vida que desafiavam qualquer explicação. Certas correntes de energia misteriosa que passavam desapercebidas, esperando que alguém
as canalizasse.
E essa noite haveria lua enche.
Devolveu o livro à segurança do carrinho da compra e o fechou com chave. Estava segura que tinha sido coisa do destino que o livro chegasse até ela. Havia
sentido sua chamada logo que se aproximou da estantería onde jazia.
Posto que levava dois anos felizmente casada, soube que não estava destinado a ela. Usava-a para chegar onde o necessitavam.
Até o Grace.
Seu sorriso se alargou. Como seria ter a este incrivelmente arrumado escravo sexual grego a sua disposição e dispor dele durante todo um mês...
Sim. Este era, definitivamente, um presente de aniversário que Grace recordaria durante o resto de sua vida.
Capítulo 2
Umas horas mais tarde, Grace suspirou ao abrir a porta de seu duplex e pôr o pé no estou acostumado a encerado do vestíbulo. Deixou o montão de cartas que
levava na mão sobre a antiga mesa de asas abatibles, que decorava o rincão adjacente à escada, e fechou a porta atrás dela, jogando o fecho. As chaves foram parar
ao lado da correspondência.
Enquanto se tirava a puxões os sapatos negros de salto, o silêncio lhe golpeou os ouvidos e lhe formou um nó na garganta. Todas as noites a mesma rotina tranqüila:
entrar em um lar vazio, classificar o correio, ler um livro, chamar a Selena, comprovar a secretária eletrônica e ir-se à cama.
Selena tinha razão, a vida do Grace era uma aborrecida e direta investigação sobre a monotonia.
Aos vinte e nove anos, Grace estava muito cansada de sua vida.
Demônios!, inclusive Jamie -o incansável buscador de tesouros nasais- começava a parecer atrativo.
Bom, possivelmente Jamie não. E menos seu nariz, mas seguro que havia alguém aí fora, em algum lugar, que não era um cretino.
Ou não?
Enquanto subia as escadas, decidiu que viver de forma independente não era tão espantoso. Ao menos, tinha muito tempo para dedicar a seus entretenimentos favoritos.
Ou também poderia procurar novos passatempos, pensava enquanto caminhava pelo corredor que levava a seu dormitório. Algum dia, encontraria um entretenimento
divertido.
Cruzou a habitação e deixou cair os sapatos junto à cama. Não demorou nada em trocar-se de roupa.
Acabava de recolher o cabelo em um acréscimo quando soou o timbre.
Baixou de novo as escadas para deixar passar a Selena.
logo que abriu a porta, seu amiga lhe soltou zangada:
- Não irás pôr te isso esta noite, verdade?
Grace jogou uma olhada aos jeans cheios de buracos e depois se fixou em sua enorme camiseta de manga curta.
- Desde quando se preocupa meu aspecto? -E então o viu; na enorme cesta de vime que Selena utilizava para levar as compras-. Uf! Não. Esse livro outra vez,
não.
Com uma expressão ligeiramente irritada, Selena lhe respondeu:
- Sabe qual é seu problema, Gracie?
Grace olhou ao teto, rogando aos céus um pouco de ajuda. Infelizmente, não a escutaram.
- Qual? Que não me transtorna a luz da lua e que não arrojo meu gordo e sardento corpo sobre qualquer homem que conheço?
- Que não tem nem idéia de quão encantadora é em realidade.
Enquanto Grace ficava ali plantada, muda de assombro ante o pouco freqüente comentário, Selena levou o livro a salita de estar e o colocou sobre a mesita de
café. Tirou o vinho da cesta e se dirigiu à cozinha.
Grace não se incomodou em segui-la. Tinha encarregado uma pizza antes de sair do trabalho, e sabia que Selena estaria procurando umas taças.
Empurrada por uma mola invisível, Grace se aproximou da mesita onde estava o livro.
Espontaneamente, estendeu a mão e tocou a suave coberta de couro. Poderia jurar que havia sentido uma carícia na bochecha.
Que ridicularia.
Não crie neste lixo.
Grace passou a mão pelo couro e notou que não havia título, nem nenhuma outra inscrição. Abriu a tampa.
Era o livro mais estranho que tinha visto em sua vida. As páginas pareciam ter formado parte, originariamente, de um cilindro de pergaminho, que mais tarde
tinha sido transformado em um livro
O amarelado papel se enrugou baixos seus dedos ao passar a primeira página; nela havia um elaborado símbolo feito a mão, formado pela intercessão de três triângulos
e a atraente imagem de três mulheres unidas por várias espadas.
Grace franziu o cenho esforçando-se por recordar se aquilo podia ser uma espécie de antigo símbolo grego.
Ainda mais intrigada que antes, passou umas quantas páginas e descobriu que estava completamente em branco, exceto aquelas três folhas...
Que estranho...
Devia ter sido algum tipo de caderno de esboços de um pintor, ou de um escultor, decidiu. Isso seria quão único explicasse que as páginas estivessem em branco.
Algo teve que acontecer antes de que o artista tivesse oportunidade de acrescentar algo mais ao livro.
Mas isso não acabava de explicar por que as páginas pareciam muito mais antigas que a encadernação...
Retrocedeu até chegar ao desenho do homem, e observou com atenção a inscrição que havia sobre ele, mas não pôde tirar nada em claro. Ao contrário que Selena,
ela evitou as classes de línguas antigas na faculdade como se fossem veneno; e se não tivesse sido por seu amiga, jamais teria superado aquela parte fundamental
em seu currículum.
- Definitivamente, acredito que é grego -disse sem fôlego quando voltou a olhar ao homem.
Era surpreendente. Absolutamente perfeito e incitante.
Incrivelmente fascinante.
Cativada por completo, perguntou-se quanto tempo se demoraria para fazer um desenho tão perfeito. Alguém devia ter acontecido anos dedicado à tarefa; porque
aquele tipo parecia estar preparado para saltar do livro e meter-se em sua casa.
Selena se deteve na entrada e observou como Grace olhava fixamente ao Julián. Nunca a tinha visto tão extasiada desde que a conhecia.
Bem.
Possivelmente Julián pudesse ajudá-la.
Quatro anos eram muito tempo.
Mas Paul tinha sido um porco narcisista e desconsiderado. comportou-se de um modo tão cruel com o Grace e com seus sentimentos, que inclusive a tinha feito
chorar a noite que perdeu a virgindade.
E nenhuma mulher merecia chorar. Não quando estava com alguém que tinha prometido cuidar dela.
Julián seria definitivamente bom para o Grace. Um mês com ele e esqueceria todo o referente ao Paul. E, uma vez que descobrisse quão bem sabia o sexo compartilhado
e real, liberaria-se da crueldade do Paul para sempre.
Mas, primeiro, tinha que conseguir que sua teimosa amiguita fosse um pouco mais obediente.
- encarregaste a pizza? -perguntou-lhe enquanto lhe oferecia uma taça de vinho.
Grace a colheu com um gesto distraído. Por alguma razão, não podia apartar os olhos do desenho.
- Grace?
Piscou e se obrigou a olhar para cima.
- Hum?
- Pilhei-te olhando -brincou Selena.
Grace se esclareceu garganta.
- OH, por favor!, não é mais que um pequeno desenho em branco e negro.
- Céu, nesse desenho não há nada pequeno.
- Selena, é má.
- Completamente certo. Mais vinho?
E como se tivessem estado esperando o momento preciso, soou o timbre.
- Eu vou -disse Selena, colocando o vinho na mesita do telefone para dirigir-se ao saguão.
Uns minutos depois, voltou para a salita. Até o Grace chegou o maravilhoso aroma da enorme pizza de pepperoni e seus pensamentos deixaram a um lado o livro.
E ao homem cuja imagem parecia haver-se gravado em seu subconsciente.
Mas não resultou fácil.
De fato, cada minuto que passava parecia mais difícil.
Que demônios lhe passava? Era a Rainha de Gelo. Nem sequer Brad Pitt ou Brendan Fraser despertavam seus desejos. E os via em cor.
O que tinha que estranho naquele desenho?
Nele?
Mordiscou a pizza e se trocou de assento. acomodou-se em uma poltrona na outra ponta da sala, a modo desafio pessoal. Sim. Demonstraria a Selena e ao livro
que ela dominava a situação.
depois de quatro porções de pizza, dois pastelitos de chocolate, quatro taças de vinho e um filme, riam a mais não poder tombadas no chão sobre as almofadas
do sofá enquanto viam Dezesseis velas.
- "Diz que é seu aniversário" -começou Selena a cantar, e ato seguido golpeou o chão como se de uns bongos se tratasse- "Também é o meu".
Grace lhe golpeou a cabeça com uma almofada e lhe deu a risada tola ao comprovar os efeitos do vinho.
- Grace? -disse Selena zombadora-. Está achispada?
Grace voltou a rir.
- Mas bem, agradavelmente contente. Maravilhosamente contente.
Selena riu dela e lhe desfez o acréscimo.
- Então, está disposta a fazer um pequeno experimento?
- Não! -gritou Grace com ênfase, sujeitando-os mechas de cabelo depois das orelhas-. Não quero utilizar a Ouija, nem fazer o do pêndulo e te juro que se vir
uma só carta do Tarot ou uma runa, vomitarei-te em cima os pastelitos.
Mordendo o lábio, Selena agarrou o livro e o abriu.
As doze menos cinco.
Sustentou o desenho para que Grace o observasse e assinalou aquele incrível corpo.
- O que opina dele?
Grace o olhou e sorriu.
- Está para lamber-se, verdade?
Bom, definitivamente a coisa ia progredindo. Não conseguia recordar a última vez que Grace lhe tinha dedicado um completo a um homem. Moveu juguetonamente
o livro frente ao rosto de seu amiga.
- Venha, Gracie. Admite-o. Deseja a este bombom.
- Se te disser que não lhe deixaria sair de minha cama nem em troca de umas bolachas salgadas, deixaria-me em paz?
- Pode. A que mais renunciaria por mantê-lo em sua cama?
Grace pôs os olhos em branco e apoiou a cabeça sobre uma almofada.
- A comer miolos de macaco à prancha?
- Agora sou eu a que vai vomitar.
- Não está emprestando atenção ao filme.
- Farei-o se pronunciar este feitiço tão curto.
Grace elevou as mãos e suspirou. Sabia que não merecia a pena discutir com a Selena... tinha aquela expressão. Não se deteria até sair-se com a sua, nem que
caísse um meteorito sobre elas nesse mesmo momento.
Além disso, o que tinha que mau? Já fazia muito tempo que sabia que nenhum dos estúpidos rituais e encantamentos da Selena funcionavam.
- Vale, se assim se sentir melhor, farei-o.
- Sim! -gritou Selena e a agarrou por um braço para pô-la em pé-. Precisamos sair ao alpendre.
- Muito bem, mas não vou cortar lhe o pescoço a um frango, nem vou beber nada asqueroso.
Com a sensação de ser uma menina a que tinham deixado dormir em casa de uma amiga, e que acabava de perder no jogo de verdade-Atrevimento, deixou que Selena
a precedesse através da porta trilho de cristal que dava ao alpendre. O ar úmido encheu seus pulmões, escutou aos grilos cantar e descobriu milhares de estrelas
brilhando sobre sua cabeça. Grace supôs que era uma noite perfeita para invocar a um escravo sexual.
riu pelo baixo.
- O que quer que faça? -perguntou a Selena-. Pedir um desejo a um planeta?
Selena negou com a cabeça e a colocou em metade de um raio de lua que penetrava entre as árvores e o beiral do telhado. Ofereceu-lhe o livro.
- Apóia-o no peito e abraça-o com força.
- OH, nenê! -disse Grace com fingido desejo enquanto envolvia amorosamente o livro com seus braços e o aproximava de seu peito, como se de um amante se tratasse-.
Me põe tão brincalhona... Não posso esperar a afundar meus dentes nesse maravilhoso corpo que tem.
Selena riu.
- Para. Isto é sério!
- Sério? Por favor. Estou aqui fora em metade do alpendre, o dia de meu trigésimo aniversário, descalça, com uns jeans aos que minha mãe lhes prenderia fogo
e abraçando um estúpido livro para invocar a um escravo sexual grego que está no mais à frente -olhou a Selena-. Só conheço uma maneira de fazer que isto seja ainda
mais ridículo...
Sustentando o livro com uma só mão, estendeu os braços a ambos os lados, jogou a cabeça para trás e começou a rogar ao escuro céu:
- OH! Fabuloso escravo sexual, me leve contigo e me faça todas as coisas escandalosas que saiba. Ordeno-te que te levante -disse, elevando as sobrancelhas.
Selena soprou.
- Assim não é como deve fazê-lo. Tem que dizer seu nome três vezes.
Grace se endireitou.
- Escravo sexual, escravo sexual, escravo sexual.
Com os braços em jarras, Selena lhe lançou um furioso olhar.
- Julián da Macedônia.
- OH! Sinto-o -disse Grace voltando a apertar o livro sobre o peito, e fechando os olhos-. Vêem e alivia a dor que sinto em minhas partes baixas, OH! Grande
Julián da Macedônia, Julián da Macedônia, Julián da Macedônia -se girou para olhar a Selena-. Sabe? Isto é um pouco difícil de pronunciar três vezes seguidas, e
tão rápido.
Mas seu amiga não lhe emprestava a mais mínima atenção. Estava muito ocupada olhando por todos lados, esperando a aparição de um arrumado estranho.
Grace acabava de pôr outra vez os olhos em branco, quando um ligeiro sopro de vento cruzou o pátio e um suave aroma a sândalo as envolveu. Voltou a inalar
para recrear-se de novo no agradável aroma antes de que se evaporasse, e então a brisa desapareceu, deixando de novo o caloroso e úmido abafado, típico de uma noite
de agosto.
De repente, escutou-se um débil som procedente do pátio traseiro, e as folhas dos arbustos se moveram.
Arqueando uma sobrancelha, Grace contemplou como as novelo se balançavam. E então, o fantasia de diabo que havia nela cobrou vida.
- OH, Meu deus! -balbuciou e assinalou a um arbusto do pátio traseiro-. Selena, olhe ali!
Selena se girou a toda pressa ante o nervosismo do Grace. Um enorme sebe se balançava como se houvesse alguém detrás.
- Julián? -chamou-lhe Selena, e deu um passo para diante.
O arbusto se inclinou e, súbitamente, um vaio e um miau romperam o silêncio, um segundo antes de que dois gatos cruzassem o pátio como uma exalação.
- Olhe, Lanie. É o senhor Dom Gato que deve pôr fim a meu celibato -sustentou o livro com um braço e se levou o dorso da mão à frente, em um simulacro de desmaio-.
OH, me ajude Senhora da Lua! O que vou fazer com as cuidados de tão desacertado pretendente? me ajude rápido, antes de que me mate por causa da alergia.
- me dê esse livro -lhe espetou Selena tirando-se o de um puxão. Retornou à casa enquanto passava as páginas-. Joder!, o que tenho feito mal?
Grace abriu a porta para que Selena passasse ao afresco interior da sala.
- Não fez nada mal, céu. Isto é absurdo. Quantas vezes tenho que te dizer que há um viejecillo sentado na parte traseira de um armazém, escrevendo toda esta
porcaria? Apostaria a que agora mesmo está partindo-se da risada por quão imbecis fomos.
- Possivelmente era necessário fazer algo mais. Jogo-me o que seja a que há algo nos primeiros parágrafos que não posso interpretar. Deve ser isso.
Grace fechou a porta de cristal e suplicou um pouco mais de paciência.
E me chama teimosa, a mim!
O telefone soou nesse instante e, ao respondê-lo, Grace escutou a voz do Bill perguntado pela Selena.
- É para ti -disse lhe alargando o auricular.
Selena o agarrou.
- Sim? -manteve-se em silêncio uns minutos. Grace podia escutar a voz nervosa do Bill. Pela repentina palidez do rosto de seu amiga, deduziu que algo tinha
passado.
- Vale, vale. Chegarei em seguida. Está seguro de que te encontra bem? Vale, quero-te. Vou de caminho... não faça nada até que eu chegue.
Grace sentiu um horrível nó no estômago. Uma e outra vez, voltava a ver a polícia na porta de seu dormitório, e a escutar sua desapaixonada voz: Sinto muito
lhe informar...
- O que acontece? -perguntou Grace.
- Bill se tem cansado jogando a basquete e se quebrado um braço.
Deixou escapar o fôlego mais tranqüila. Obrigado Senhor, não foi um acidente de carro.
- encontra-se bem?
- Diz que sim. Seus amigos lhe levaram a um médico de guarda que lhe fez uma radiografia antes de que partissem. Disse-me que não me preocupasse, mas acredito
que é melhor que volte para casa.
- Quer que te leve em meu carro?
Selena negou com a cabeça.
- Não, tomaste muito vinho; eu bebi menos. Além disso, estou segura de que não é nada sério. Mas já sabe quão apreensiva sou. Fique aqui e desfruta do que
fica de filme. Chamarei-te amanhã pela manhã.
- Vale. me avise se for grave.
Selena agarrou a bolsa e tirou as chaves. deteve-se metade de caminho e alargou o livro ao Grace.
- Que demônios! Fique o Suponho que nos próximos dias te ajudará a rir a gargalhadas cada vez que te lembre de quão idiota sou.
- Não é idiota. Simplesmente, um pouco excêntrica.
- Isso é o que diziam da Mary Todd Lincoln. Até que a encerraram.
Grace agarrou o livro, rendo-se a gargalhadas, e observou como Selena caminhava para seu carro.
- Tome cuidado -gritou da porta-. E obrigado pelo presente, e pelo que esteja por vir.
Selena lhe disse adeus com a mão antes de subir a seu Jipe Cherokee de cor vermelha brilhante e afastar-se.
Com um suspiro de cansaço, Grace fechou a porta, jogou o fecho e arrojou o livro ao sofá.
- Não vá a nenhum lado, escravo sexual.
Grace riu de sua própria estupidez. Acabaria alguma vez Selena com todas aquelas tolices?
Apagou o televisor e levou os pratos sujos à pia. Enquanto lavava as taças, viu uma repentina chama.
Durante um segundo, pensou que se tratava de um relâmpago.
Até que se deu conta de que tinha sido dentro da casa.
- Que dem...?
Soltou a taça e foi para a salita de estar. Ao princípio não viu nada. Mas conforme se aproximava da porta, percebeu uma presença estranha. Algo que lhe pôs
a pele de galinha.
Entrou na estadia com muito cuidado e viu uma figura alta, de pé diante do sofá. Era um homem. Um homem muito arrumado. Um homem nu!
Capítulo 3
Grace fez o que qualquer mulher que se encontra a um homem nu em seu salita de estar tivesse feito: gritar.
E depois, sair correndo para a porta.
Só que se esqueceu das almofadas que tinham amontoado no chão e que ainda estavam ali. tropeçou-se com uns quantos e caiu de bruces.
Não! Gritou mentalmente enquanto aterrissava de forma pouco elegante e dolorosa. Tinha que fazer algo para proteger-se.
Tremendo de pânico, abriu-se passo entre as almofadas enquanto procurava uma arma. Ao sentir algo duro sob a mão o agarrou, mas resultou ser uma de suas sapatilhas
rosas com forma de coelho.
Joder! Pela extremidade do olho viu a garrafa de vinho. Rodou para ela e a agarrou; então se girou para enfrentar ao intruso.
Mais rápido do que ela tivesse podido esperar, o homem fechou seus quentes dedos ao redor de sua boneca e a imobilizou com muito cuidado.
- Tem-te feito mal? -perguntou-lhe.
Santo Deus!, sua voz era profundamente masculina e tinha um melodioso e marcado acento que só podia descrever-se como musical. Erótico. E francamente estimulante.
Com todos os sentidos embotados, Grace olhou para cima e...
Bom...
Para ser honestos, só viu uma coisa. E o que viu fez que as bochechas lhe ardessem mais que um gumbo cajún. depois de tudo, como não ia ver o se estava ao
alcance de sua mão. E além disso, com semelhante tamanho.
Ao momento, o tipo se ajoelhou a seu lado, com muita ternura lhe apartou o cabelo dos olhos e passou as mãos por sua cabeça em busca de uma possível ferida.
Grace se recreou com a visão de seu peito. Incapaz de mover-se nem de olhar outra coisa que não fosse aquela incrível pele, sentiu a urgência de gemer ante
a intensa sensação que os dedos daquele tipo lhe estavam provocando no cabelo. Ardia-lhe todo o corpo.
- Golpeaste-te a cabeça? -perguntou-lhe ele.
De novo, esse magnífico e estranho acento que reverberava através de seu corpo, como uma carícia cálida e relaxante.
Grace olhou com muita atenção aquela extensão de pele dourada pelo sol, que parecia lhe pedir a gritos a sua mão que a tocasse.
O tipo virtualmente resplandecia!
Fascinada, desejou lhe ver o rosto e comprovar por si mesmo que era tão incrível como o resto de seu corpo.
Quando elevou o olhar além dos esculturais músculos de seus ombros, ficou com a boca aberta. E a garrafa de vinho se deslizou entre seus adormecidos dedos.
Era ele!
Não!, não podia ser.
Isto não podia estar lhe acontecendo a ela, e ele não podia estar nu em sua sala de estar com as mãos enterradas em seu cabelo. Este tipo de coisas não passavam
na vida real. Especialmente às pessoas equilibradas como ela.
Mas mesmo assim...
- Julián? -perguntou sem fôlego.
Tinha a capitalista e definida constituição de um ginasta. Seus músculos eram duros, proeminentes e magníficos, e muito bem definidos; tinha músculos até em
lugares onde nem sequer sabia que se podiam ter. Nos ombros, os bíceps, nos antebraços; no peito, nas costas. E do pescoço até as pernas.
Qualquer músculo que lhe desejasse muito, avultava-se com uma força arruda e totalmente masculina.
Até aquilo tinha começado a avultar-se.
O cabelo lhe caía à boa de Deus em uma juba ondulada, e lhe emoldurava um rosto sem rastro de barba, que parecia ter sido esculpido em granito. Incrivelmente
bonito e cativante, seus rasgos não resultavam femininos nem delicados. Mas definitivamente, roubavam o fôlego.
Os sensuais lábios se curvavam em um leve sorriso que deixava à vista um par de covinhas com forma de meia lua, em cada uma de suas bronzeadas bochechas.
E seus olhos.
meu deus!
Tinham o celestial azul claro de um perfeito dia do verão, rodeados de um bordo azul escuro que ressaltava sua íris. Resultavam abrasadores de tão intensos,
e refletiam inteligência. Grace tinha a sensação de que aqueles olhos podiam realmente resultar letais.
Ou ao menos, devastadores.
E ela se sentia realmente devastada nesses momentos. Cativada por um homem muito perfeito para ser real.
Vacilante, estendeu a mão para colocá-la sobre seu braço. surpreendeu-se muito quando não se evaporou, demonstrando que não era uma alucinação etílica.
Não, esse braço era real. Real, duro, e quente. Baixo aquela pele que sua mão tocava, um poderoso músculo se flexionou, e o movimento fez que seu coração começasse
a martillearle com força.
Atônita, não podia fazer outra coisa que olhá-lo.
Julián elevou uma sobrancelha, intrigado. Nunca antes uma mulher tinha saído fugindo dele. Nem o tinha deixado de lado depois de havê-lo invocado.
Todas as demais tinham esperado ansiosas a que ele tomasse forma e se lançaram diretamente a seus braços, lhe exigindo que as agradasse.
Mas esta não...
Era distinta.
Em seus lábios fazia cócegas um sorriso enquanto deslizava os olhos pelo corpo daquela mulher. Uma abundante juba negra lhe caía até a metade das costas, e
seus olhos tinham a cor cinza pálida do mar justo antes de uma tormenta, com motitas de cor prata e verde que brilhavam com calidez e inteligência.
A pálida e suave pele estava coberta de pequenas sardas. Era tão adorável como sua suave e insinuante voz.
Não é que isso importasse muito.
Sem ter em conta qual fosse sua aparência, ele estava ali para servi-la sexualmente. Para perder-se ao saborear aquele corpo, e tinha toda a intenção de fazer
precisamente isso.
- Vamos -disse sujeitando-a pelos ombros-. me Deixe te ajudar.
- Está nu -murmurou Grace lhe olhando de cima abaixo, totalmente perplexa, enquanto ficavam em pé-. Está muito nu.
Lhe colocou uns quantos mechas escuras depois das orelhas.
- Sei.
- Está nu!
- Sim, acredito que já o deixamos claro.
- Está tão contente, e nu.
Confundido, Julián franziu o cenho.
- O que?
Ela olhou sua ereção.
- Está contente -lhe disse com um intencionado olhar-. E está nu.
Assim lhe chamavam então neste século. Deveria recordá-lo.
- E isso te faz sentir incômoda? -perguntou-lhe, assombrado pelo fato de que a uma mulher preocupasse sua nudez, coisa que jamais tinha acontecido anteriormente.
- Bingo!
- Bom, conheço um remédio -disse Julián, baixando o timbre de sua voz enquanto olhava a camisa do Grace e os endurecidos mamilos que se marcavam através do
tecido. Não podia esperar mais para ver esses mamilos.
Para saboreá-los.
aproximou-se para tocá-la.
Grace se afastou um passo com o coração desbocado. Isto não era real. Não podia sê-lo. Estava bêbada e tinha alucinações. Ou possivelmente se golpeou a cabeça
com a mesita do sofá e estava sangrando-se, morrendo pouco a pouco.
Sim, isso era! Isso tinha sentido.
Pelo menos, tinha mais sentido que aquele palpitante estremecimento que fazia que seu corpo ardesse. Um estremecimento que lhe pedia que se lançasse ao pescoço
daquele tipo.
E de justos era dizer que tinha um bonito pescoço.
Quando tiver uma fantasia, moça, é que definitivamente está esgotada. Certamente terá estado trabalhando mais da conta, e está começando a te levar a casa
os sonhos de seus pacientes.
Julián se aproximou dela e lhe encerrou o rosto entre suas fortes mãos. Grace não podia mover-se. limitou-se a deixar que lhe elevasse a cabeça até que pôde
olhar de frente aqueles penetrantes olhos, que com toda segurança poderiam lhe ler a alma. Hipnotizavam-na como os de um mortífero depredador sossegando a sua presa.
Grace se estremeceu sob seu abraço.
E então, uns ardentes e exigentes lábios cobriram os seus. Grace gemeu em resposta. Tinha escutado falar toda sua vida de beijos que faziam fraquejar os joelhos
das mulheres, mas esta era a primeira vez que acontecia a ela.
OH! Aquele homem cheirava estupendamente, dava gosto lhe tocar e, além disso, sabia muitíssimo melhor.
Por própria iniciativa, seus braços envolveram aqueles amplos e fortes ombros. O calor do peito do homem se introduziu em seu corpo, incitando-a com a erótica
e sensual promessa do que viria a seguir. E enquanto isso, ele se dedicava a encantá-la com seus lábios com tanta mestria como um vikingo com a intenção de arrasá-lo
tudo a seu passo.
Cada centímetro de seu magnífico corpo estava intimamente pego ao dele, acariciando-a com a intenção de despertar todos seus instintos femininos. OH Deus!
Sua presença a estimulava como nenhum outro homem o tinha feito jamais. Deslizou a mão pelos esculturais músculos de suas costas e suspirou quando sentiu que se
moviam sob sua mão.
Grace decidiu naquele preciso instante que se era um sonho, definitivamente não queria que soasse o despertador.
Nem o telefone
Nem...
As mãos do Julián acariciaram suas costas antes de agarrá-la pelas nádegas e aproximar mais seus quadris, enquanto sua língua seguia dançando em sua boca.
O aroma a sândalo alagava seus sentidos.
Com o corpo derretido, explorou os duros e firmes músculos de suas costas nua, enquanto as largas mechas de lhe roçavam as mãos em uma erótica carícia.
Julián sentiu que sua cabeça dava voltas com o quente roce do Grace, com a sensação de seus braços envolvendo-o enquanto suas próprias mãos percorriam sua
suave e sardenta pele, um deleite para o faminto.
Como gostava dos sons inarticulados com os que ela provocativamente lhe respondia. Mmm, estava desejando ouvi-la gritar de prazer. Ver como sua cabeça caía
para trás enquanto seu corpo se convulsionava espasmo detrás espasmo envolvendo seu membro.
Fazia muitíssimo tempo que não sentia as carícias de uma mulher. Muito tempo desde que não gozava do mais mínimo contato humano.
Sentia um desejo candente que lhe percorria todo o corpo; se esta fosse sua primeira vez, devoraria ao Grace como a uma parte de chocolate. Tombaria-a e gozaria
dela como um faminto convidado a um banquete.
Mas tinha que esperar a que se acostumasse um pouco a ele.
Muitos séculos atrás, tinha aprendido que as mulheres sempre se desvaneciam atrás de sua primeira união. Definitivamente, não queria que esta se deprimisse.
Ao menos ainda.
Não obstante, não podia esperar um minuto mais para possui-la.
Tomou em braços e se encaminhou para a escada.
Em um princípio, Grace não reagiu, perdida como estava na sensação daqueles fortes braços que a rodeavam com paixão; sua mente estava totalmente centrada no
fato de que um homem a tivesse levantado do chão e não tivesse grunhido pelo esforço. Mas ao passar junto à enorme abacaxi que decorava o passamanes da escada, saiu
de seu ensimismamáento com um sobressalto.
- Né, tio! -soltou-lhe agarrando-se à abacaxi de mogno esculpida como se se tratasse de um salva-vidas-. Onde crie que me leva?
Ele se deteve e a olhou com curiosidade. Nesse momento, Grace foi consciente de que um homem tão alto e poderoso como aquele, poderia fazer o que gostasse
de com ela e seria inútil tentar detê-lo.
Um estremecimento de terror a sacudiu.
Entretanto, por muito perigosa que a situação fosse, uma parte dela não estava assustada. Algo em seu interior lhe dizia que esse homem jamais lhe faria mal
intencionadamente.
- Levo-te a seu dormitório, onde podemos acabar o que começamos -disse sinceramente, como se estivessem falando do tempo.
- Parece-me que não.
Ele encolheu aqueles ombros, maravilhosamente amplos.
- Prefere as escadas então?, ou possivelmente o sofá? -deteve-se e jogou uma olhada ao redor de sua casa, como se estivesse considerando as opções-. Não é
má idéia, em realidade. Faz muito que não possuo a uma mulher em um...
- Não, não, não! O único sítio onde vais possuir me é em seus sonhos. E agora me deixe no chão antes de que me zangue de verdade.
Para seu assombro, ele obedeceu.
Começou a sentir-se um pouco melhor uma vez que seus pés tocaram terra firme e subiu dois degraus.
Agora estavam frente a frente, e quase à mesma altura; bom, se é que alguém podia estar alguma vez à altura de um homem com semelhante autoridade e inato poder.
de repente, o impacto de sua presença a golpeou com intensidade.
Era real!
Céus!, Selena e ela tinham conseguido convocá-lo e trazê-lo para este mundo.
Com o rosto impassível e sem a mais ligeira amostra de que a situação o divertisse, olhou-a diretamente aos olhos.
- Não entendo por que estou aqui. Se não querer me sentir dentro de ti, por que me convocaste?
Esteve a ponto de gemer ao escutar suas palavras. E mais ainda quando a visão de seu corpo dourado, esbelto e poderoso introduzindo-se em lhe passou pela mente.
O que se sentiria quando um homem tão incrivelmente delicioso lhe fazia o amor durante toda a noite?
Estava claro que Julián seria delicioso na cama. Não cabia dúvida. Com a destreza e agilidade que caracterizavam seus movimentos, não fazia falta dizer o fenomenalmente
bem que...
Grace ficou tensa ante o rumo de seus pensamentos. O que acontecia este homem?
Jamais em sua vida havia sentido um desejo sexual como o que sentia nesses momentos. Nunca! Literalmente falando, tombaria-o no chão e o comeria inteiro.
Não tinha sentido.
acostumou-se, com o passo dos anos, a que lhe descrevessem inumeráveis encontros sexuais da forma mais gráfica; alguns de seus pacientes incluso tentavam conmocionarla
ou excitá-la.
Nenhuma só vez tinham conseguido seu propósito.
Mas quando se tratava do Julián, quão único tinha em mente era agarrá-lo, jogá-lo no chão e subir em cima.
Esse pensamento, tão impróprio dela, devolveu-lhe a sensatez.
Abriu a boca para responder sua pergunta, e não disse nada. O que ia fazer com este homem?
Além daquilo.
Moveu a cabeça com incredulidade.
- O que se supõe que vou fazer contigo?
Os olhos dele se obscureceram pela luxúria e tentou tocá-la de novo.
OH, sim!, pedia-lhe seu corpo, por favor, me toque por todos sítios.
- Para! -espetou, dirigindo-se tanto ao Julián como a si mesmo; negava-se a perder o controle. A prudência governaria a situação, não os hormônios. Já tinha
cometido esse engano uma vez, e não estava disposta a repeti-lo.
Subiu de um salto um degrau mais e o olhou diretamente aos olhos. Jesus, María e José!, era fantástico. O cabelo loiro lhe caía em ondas até a metade das costas,
onde estava sujeito por uma tira de couro marrom. Exceto três finas tranças acabadas em pequenas contas de cristal, que oscilavam com cada um de seus movimentos.
As sobrancelhas, de cor castanha escura, arqueavam-se sobre uns olhos fascinantes ao mesmo tempo que terroríficos. E esses olhos a estavam olhando com mais
paixão da que devessem.
Nesse momento desejaria poder matar a Selena, sem dúvida nenhuma.
Mas não tanto como gostaria de meter-se na cama com este homem e cravar os dentes nessa pele dourada.
Deixa-o já!
- Não entendo o que acontece -disse ao fim. Tinha que pensar; descobrir o que devia fazer-. Preciso me sentar um minuto e você... -deslizou os olhos sobre
o magnífico corpo-. Você precisa te tampar.
Julián pôs uma expressão crispada. Era a primeira vez em toda sua existência que alguém lhe dizia isso.
De fato, todas as mulheres às que tinha conhecido antes da maldição, não tinham feito outra coisa que tentar lhe arrancar a roupa. O mais rápido possível.
E depois da maldição, seus invocadoras tinham dedicado dias inteiros a contemplar sua nudez enquanto passavam as mãos por seu corpo, saboreando sua presença.
- Fique aqui um momento -lhe disse Grace antes de subir a toda pressa as escadas.
Julián observou o vaivém de seus quadris enquanto subia os degraus e seu membro se endureceu imediatamente. Jogou uma olhada a seu redor com os dentes apertados,
em um intento por ignorar o ardor que sentia na entrepierna. A chave estava na distração; ao menos até que ela claudicasse.
O qual não demoraria para ocorrer. Nenhuma mulher podia negar-se por muito tempo o prazer do ter.
Com um amargo sorriso ante aquela idéia, contemplou a casa.
Em que lugar e em que época se encontrava?
Não sabia quanto tempo tinha estado apanhado. Quão único recordava era o som das vozes com o passar do tempo, a sutil mudança dos acentos e dos dialetos conforme
passavam os anos.
Olhando a luz que se encontrava sobre sua cabeça, franziu o cenho. Não havia nenhuma chama. O que era essa coisa? Os olhos lhe encheram de lágrimas, irritados,
e desviou a vista.
Isso devia ser uma lâmpada, decidiu.
"Ouça, preciso trocar a lâmpada. me faça o favor de lhe dar ao interruptor que está junto à porta, vale?"
Enquanto recordava as palavras do dono da livraria, olhou para a porta e viu o que supostamente devia ser o interruptor. Julián se afastou das escadas e apertou
o pequeno dispositivo. Imediatamente, as luzes se apagaram. Reacendeu as.
Sorriu sem propor-lhe O que outras maravilhas lhe aguardavam nesta época?
- Aqui tem.
Julián olhou ao Grace que estava na parte superior da escada. Arrojou-lhe um comprido retângulo de tecido verde escuro. Sustentou-a sobre o peito enquanto
a incredulidade o deixava perplexo.
Havia dito a sério o de lhe cobrir?
Que estranho. Franzindo mais o cenho, envolveu-se os quadris com o tecido.
Grace esperou até que se afastou da porta para olhá-lo de novo. Graças a Deus, por fim estava abafado. Não era de sentir saudades que os vitorianos insistissem
tanto no assunto das folhas de parra. Era uma pena não ter umas quantas no pátio. Quão único crescia ali eram uns quantos acebos, e duvidava muito que ele apreciasse
suas folhas.
Grace se encaminhou para a sala e se sentou no sofá.
- me ajude, Lanie -suspirou-. Me pagará isso por isso.
E então, ele se sentou a seu lado, revolucionando tudo os hormônios de seu corpo com sua presença.
Enquanto se movia até a outra ponta do sofá, Grace lhe olhou cautelosamente.
- Assim... para quanto tempo vieste?
OH, que boa pergunta, Grace! por que não lhe pergunta pelo tempo ou lhe pede um autógrafo já que te põe? Jesus!
- Até a próxima lua enche -seus gélidos olhos deram amostras de um pequeno degelo. E, enquanto deslizava seu olhar por todo seu corpo, o gelo se transformou
em fogo em décimas de segundo. inclinou-se sobre ela para lhe tocar a cara. Grace se incorporou de um salto e pôs a mesita do café como barreira de separação.
- Está-me dizendo que tenho que te agüentar durante todo um mês?
- Sim.
Conmocionada, Grace se passou a mão pelos olhos. Não podia entretê-lo durante um mês. Um mês inteiro, com todos seus dias! Tinha obrigações, responsabilidades.
Até tinha que procurar um passatempo.
- Olhe -lhe disse-. O cria ou não, tenho uma vida em que não está incluído.
Sabia, pela expressão de seu rosto, que não lhe importavam suas palavras. Absolutamente.
- Se crie que estou encantado de estar aqui contigo, está infelizmente equivocada. Asseguro-te que não escolhi vir.
Suas palavras conseguiram feri-la.
- Bom, certa parte de ti não sente o mesmo -lhe disse enquanto dedicava um furioso olhar a aquela parte de seu corpo que ainda estava rígida como uma vara.
Ele suspirou ao jogar uma olhada a seu regaço e vislumbrar a protuberância que me sobressaía sob a toalha.
- Infelizmente, tenho tanto controle sobre isto como sobre o fato de estar aqui.
- Bom, a porta está aí -disse assinalando-a-. Tome cuidado de que não te golpeie o traseiro ao fechar-se.
- me acredite; se pudesse ir, faria-o.
Grace titubeou ante suas palavras, ante seu significado.
- Quer dizer que não posso te ordenar que te parta?, nem que retorne ao livro?
- Acredito que a expressão que usou foi: bingo.
Grace guardou silêncio.
Julián ficou de pé lentamente e a olhou. Durante todos os séculos que tinha condenado, esta a primeira vez que lhe acontecia uma coisa assim. O resto de seus
invocadoras tinham sabido o que ele significava, e tinham estado mais que dispostas a passar todo um mês em seus braços, utilizando felizmente seu corpo para obter
prazer.
Jamais em sua vida, mortal ou imortal, tinha encontrado a uma mulher que não lhe desejasse fisicamente.
Era...
Estranho.
Humilhante.
Quase embaraçoso.
Seria um indício de que a maldição se debilitava?, de que possivelmente pudesse liberar-se?
Não. No fundo sabia que não era certo, mesmo que sua mente se esforçava em aferrar-se à idéia. Quando os deuses gregos decretam um castigo, fazem-no com um
estilo e com uma sanha que nem sequer dois milênios podem suavizar.
Houve uma época, muito tempo atrás, em que tinha lutado contra a condenação. Uma época em que tinha acreditado que poderia liberar-se. Mas depois de dois mil
anos de fechamento e tortura desumana, tinha aprendido algo: resignação.
merecia-se este inferno pessoal e, como o soldado que uma vez tinha sido, aceitava o castigo.
Sentia um nó na garganta e tragou para tentar desfazê-lo. Estendeu os braços aos lados e ofereceu seu corpo ao Grace.
- Faz comigo o que deseje. Só tem que me dizer como posso te agradar.
- Então desejo que te parta.
Julián deixou cair os braços.
- Nisso não posso te agradar.
Frustrada, Grace começou a caminhar nervosa de um lado a outro. Finalmente, seus hormônios tinham retornado à normalidade e, com a cabeça mais limpa, esforçou-se
por encontrar uma solução. Mas por muito que a buscava, não parecia haver nenhuma.
Uma dor aguda se instalou em suas têmporas.
O que ia fazer um mês -um mês inteiro- com ele?
De novo, uma visão do Julián convexo sobre ela, com o cabelo caindo a ambos os lados do rosto, formando um dossel ao redor de seus corpos enquanto se introduzia
totalmente nela, assaltou-a.
- Necessito algo... -ao Julián falhou a voz.
Grace se deu a volta para lhe olhar, com o corpo ainda lhe suplicando que cedesse a seus desejos.
Seria tão fácil render-se ante ele... Mas não podia cometer esse engano. negava-se a usar ao Julián desse modo. Como se...
Não, não ia pensar nisso. negava-se a pensar nisso.
- O que? -perguntou ela.
- Comida -respondeu Julián-. Se não ir me utilizar de forma apropriada, importaria-te se como algo?
A expressão envergonhada e tinta de desagrado que adotou seu rosto indicou ao Grace que não gostava de ter que pedir.
Então caiu na conta de algo; se para ela isto resultava estranho e difícil, como demônios se sentiria ele depois de ter sido arrancado de onde quer que estivesse,
para ser arrojado a sua vida como se fosse um calhau arrojado com um tirachinas? Devia ser terrível.
- É obvio -lhe disse enquanto ficava em movimento para que ele a seguisse-. A cozinha está aqui -o guiou pelo curto corredor que levava a parte traseira da
casa.
Abriu o frigorífico e se apartou para que ele jogasse uma olhada.
- O que gosta?
Em lugar de colocar a cabeça para procurar algo, ficou ao meio metro de distância.
- ficou um pouco de pizza?
- Pizza? -repetiu Grace assombrada. Como saberia ele o que era uma pizza?
Julián se encolheu de ombros.
- Deu-me a impressão de que você gostava de muito.
Ao Grace arderam as bochechas enquanto recordava o tolo jueguecito ao que se dedicaram enquanto comiam. Selena fazia outro comentário a respeito de substituir
o sexo com a comida, e ela tinha fingido um orgasmo ao saborear a última parte de pizza.
- Escutou-nos?
Com uma expressão hermética, ele respondeu em voz baixa.
- O escravo sexual escuta tudo o que se diz nas proximidades do livro.
Se as bochechas lhe ardessem um pouco mais, acabariam explorando.
- Não ficou nada -disse rapidamente, retrocedo colocar a cabeça no congelador para esfriar a Tenho um pouco de frango que me sobrou de ontem, e também pasta.
- E veio?
Ela assentiu com a cabeça.
- Está bem.
O tom despótico que utilizou Julián fez estalar sua fúria. Era um desses tonillos usados por um típico Tarzán que no fundo queria dizer: Eu sou o macho, neném.
me traga a comida. E tinha conseguido que lhe fervesse o sangue.
- Olhe, tio, não sou sua cozinheira. Como te passa comigo te darei de comer Alpo.
Ele arqueou uma sobrancelha.
- Alpo?
- Esquece-o -ainda irritada, tirou o frango e o preparou para colocá-lo no microondas.
Julián se sentou à mesa com esse aura de arrogância tão masculina que acabava com todas suas boas intenções. Desejando ter uma lata do Alpo, Grace serve um
pouco de pasta em uma terrina.
- De todos os modos, quanto tempo estiveste encerrado nesse livro? Da Idade Média? -ao menos sua forma de atuar correspondia a da época.
Ele permaneceu sentado, tão quieto como uma estátua. Nada de mostrar suas emoções. Se não o tivesse conhecido melhor, teria pensado que se tratava de um andróide.
- A última vez que fui convocado foi no ano 1895.
- Sério? -Grace ficou com a boca aberta enquanto colocava a terrina no microondas- Em 1895? Está falando a sério?
Ele assentiu com a cabeça.
- Em que ano lhe meteram no livro?, a primeira vez quero dizer.
A ira se apropriou de seu rosto com tal intensidade que Grace se assustou.
- Segundo seu calendário, no ano 149 a.C.
Grace abriu os olhos de par em par.
- No ano 149 antes de Cristo? Jesus, María e José! Quando te chamei Julián da Macedônia era certo. É da Macedônia.
Ele assentiu com um gesto brusco.
Os pensamentos do Grace giravam como um torvelinho enquanto fechava o microondas e o punha em marcha. Era impossível. Tinha que ser impossível!
- Como lhe meteram no livro? A ver, conforme tenho entendido, os antigos gregos não tinham livros, verdade?
- Originalmente fui encerrado em um cilindro de pergaminho que mais tarde foi encadernado como medida de amparo -disse com um tom sombrio e o rosto impassível-.
E com respeito ao que foi o que fiz para que me castigassem: invadi Alexandria.
Grace franziu o cenho. Aquilo não tinha nem pingo de sentido; como o resto de tudo o que estava acontecendo.
- E por que foste merecer te um castigo por invadir uma cidade?
- Alexandria não era uma cidade, era uma sacerdotisa virgem do deus Príapo.
Grace se esticou ante o comentário, e ante a magnitude do castigo que implicava "invadir" a uma mulher. Encerrar ao autor da invasão para toda a eternidade
era um pouco excessivo.
- Violou a uma mulher?
- Não a violei -respondeu olhando-a com dureza-. Foi de mútuo consentimento, asseguro-lhe isso.
Vale, esse era um tema sensível para ele. percebia-se claramente em sua gélida conduta. Não gostava de falar do passado. Teria que ser um poquito mais sutil
em seu interrogatório.
Julián escutou o estranho timbre, e observou como Grace apertava uma mola que abria a porta da caixa negra onde tinha introduzido sua comida.
Ela tirou a fumegante terrina de comida e o colocou ante ele, junto com um garfo prateado, uma faca, um guardanapo de papel e uma taça de vinho. O quente aroma
lhe subiu à cabeça e fez que o estômago rugisse de necessidade.
supunha-se que devia estar perplexo pelo modo tão rápido em que ela tinha cozinhado, mas depois de ter ouvido falar de artefatos com nomes estranhos como trem,
câmara, automóvel, fonógrafo, foguete e ordenador, Julián duvidava que algo pudesse tomá-lo por surpresa.
Em realidade, não ficava nenhum sentimento nele, além do desejo; fazia muito que tinha banido todas suas emoções.
Sua existência não era mais que uma sucessão de fragmentos temporários ao longo dos séculos. Sua única razão de ser era a de obedecer os desejos sexuais de
seus invocadoras.
E, se algo tinha aprendido nos dois últimos milênios, era a desfrutar dos escassos prazeres que podia obter em cada invocação.
Com esse pensamento, agarrou uma pequena porção de comida e saboreou a deliciosa sensação dos mornos e cremosos talharins sobre sua língua. Era uma pura delícia.
Deixou que o aroma das especiarias e do frango invadisse sua cabeça. Tinha passado uma eternidade da última vez que provou a comida. Uma eternidade sofrendo
uma fome atroz. Fechou os olhos e tragou. Acostumado como estava à privação em lugar da os mantimentos, seu estômago se fechou ante o primeiro bocado. Julián apertou
com força a faca e o garfo enquanto lutava por afastar a terrível dor.
Mas não deixou de comer. Não o faria enquanto houvesse comida na terrina. Tinha esperado muito tempo para poder aplacar sua fome e não estava disposta a deter-se
agora.
depois de uns quantos bocados mais, os retortijones diminuíram e lhe permitiram desfrutar plenamente da comida.
Uma vez seu estômago se acalmou, teve que jogar mão de todas suas forças para comer como um humano e não escondê-la comida a punhados, tal era a fome que lhe
devorava as vísceras.
Em momentos como este, resultava-lhe muito difícil recordar que ainda era humano, e não uma besta desbocada e feroz que tinha sido liberada de sua jaula.
Fazia séculos que tinha perdido a maior parte de sua condição humana. E estava decidido a conservar o pouco que ficava.
Grace se apoiou na encimera e o observou enquanto comia. O fazia lentamente, de forma quase mecânica. Não deixava entrever se gostava da comida, mas ainda
assim, continuava comendo.
O que realmente lhe surpreendeu foram os deliciosos maneiras europeus que demonstrava. Ela nunca tinha sido capaz de comer desse modo, e foi então quando começou
a perguntar-se onde teria aprendido a utilizar a faca para manter a massa no garfo, e evitar que caísse.
- Havia garfos em à antiga a Macedônia? -perguntou-lhe.
Julián deixou de comer.
- Desculpa?
- Perguntava-me quando se inventou o garfo. Já o utilizavam em...?
Estas desvairando! Gritou-lhe sua mente.
E quem não o faria nesta situação? Olhe ao tipo. Quantas vezes crie que alguém atuou como um imbecil e acabou devolvendo a vida a uma estátua grega? Especialmente
uma estátua com esse corpo!
Não muito freqüentemente.
- Acredito que se inventou em meados do sigo XV.
- Sério? -perguntou ela-. Você estava ali?
Com uma expressão ilegível, elevou os olhos e a sua vez perguntou:
- A que te refere, ao momento em que inventaram o garfo ou ao século XV?
- Ao século XV, é obvio. -E pensando-o melhor, acrescentou:- Não estava ali quando se inventou o garfo, verdade?
- Não. -Julián se esclareceu garganta e se limpou a boca com o guardanapo-. Fui convocado em quatro ocasiões durante esse século. Duas vezes na Itália, uma
na França e outra na Inglaterra.
- De verdade? -Tentou imaginar-se como devia ser o mundo naquela época-. Arrumado a que viu todo tipo de coisas ao longo dos séculos.
- Não tantas.
- OH, venha já! Em dois mil anos...
- Vi principalmente dormitórios, camas e armários.
Seu tom seco fez que Grace se detivera e ele continuou comendo. Uma imagem do Paul lhe cravou o coração. Ela só tinha conhecido a um imbecil egoísta e despreocupado.
Mas parecia que Julián tinha mais experiência nesse terreno.
- me conte então, o que faz enquanto está no livro, tomba-te e esperas que alguém te convoque?
Ele assentiu.
- E o que faz para passar o tempo?
Julián se encolheu de ombros e Grace caiu na conta de que, em realidade, não demonstrava possuir um grande número de expressões.
Nem de palavras.
aproximou-se da mesa e se sentou em um tamborete frente a ele.
- A ver, de acordo com o que me há dito temos que estar juntos durante um mês, que tal se nos dedicamos a conversar para fazê-lo mais agradável?
Julián levantou o olhar, surpreso. Não podia recordar a última vez que alguém quis conversar com ele, exceto para lhe dar ânimos ou lhe fazer sugestões que
o ajudassem a incrementar o prazer que lhes proporcionava. Ou para lhe pedir que voltasse para a cama.
Tinha aprendido a uma idade muito temprana que as mulheres só queriam uma coisa dele: essa parte de seu corpo enterrada profundamente entre suas coxas.
Com essa ideia na mente, passeou lentamente o olhar pelo corpo do Grace, detendo-se em seus peitos, que se endureceram sob seu prolongado escrutínio.
Indignada, Grace cruzou os braços sobre o peito e esperou a que ele a olhasse aos olhos. Julián quase soltou uma gargalhada. Quase.
- A ver -disse ele utilizando suas mesmas palavras-. Há coisas que fazer com a língua muito mais prazenteiras que conversar: como lhe passar isso pelos peitos
nus e pela garganta -baixou o olhar para o lugar onde, aproximadamente, ficaria seu regaço através da mesa-. Sem mencionar outras partes que poderia visitar.
Por um instante, Grace ficou sem fala. E depois lhe encontrou a graça ao assunto. E um momento mais tarde começou a ficar muito brincalhona.
Como terapeuta, tinha ouvido coisas muito mais surpreendentes que essa, recordou-se.
Sim, claro, mas não o havia dito uma pessoa com a que ela queria fazer outras coisas além de falar.
- Tem razão, há outras muitas coisas que se podem fazer com uma língua; como, por exemplo, lhe cortá-la disse, e se desfrutou na surpresa que refletiram seus
olhos-. Mas sou uma mulher a que gosta de muito falar, e você está aqui para me agradar, verdade?
Seu corpo se esticou de forma muito sutil, como se resistisse a aceitar seu papel.
- É certo.
- Então, me conte o que faz enquanto está no livro.
Grace sentiu como seus olhos a atravessavam com uma intensidade tão abrasadora que a deixou intrigada, desconcertada e um pouco assustada.
- É como estar encerrado em um sarcófago -respondeu ele em voz baixa-. Ouço vozes, mas não posso ver a luz nem nenhuma outra coisa. Não posso me mover. Simplesmente
me limito a esperar e a escutar.
Grace se horrorizou ante a simples ideia. Recordava o dia, muito tempo atrás, em que se ficou encerrada acidentalmente no armário das ferramentas de seu pai.
A escuridão era total e não havia modo de sair. Aterrorizada, havia sentido que lhe oprimiam os pulmões e que a cabeça começava a lhe dar voltas pelo medo. Chiou
e esperneou contra a porta até que teve as mãos cheias de moratones.
Finalmente, sua mãe a escutou e a ajudou a sair.
Após, Grace sentia uma ligeira claustrofobia devido à experiência. Não podia imaginá-lo que seria passar séculos inteiros em um lugar assim.
- É horrível -balbuciou.
- Ao final te chega a acostumar. Com o tempo.
- De verdade? -não estava muito segura, mas duvidava que fosse certo.
Quando sua mãe a tirou do armário, descobriu que só tinha estado encerrada meia hora; mas lhe tinha parecido uma eternidade. O que se sentiria ao passar realmente
uma eternidade encerrado?
- tentaste escapar alguma vez?
O olhar que lhe dedicou o dizia tudo.
- O que aconteceu? -perguntou Grace.
- Obviamente, não tive sorte.
sentia-se muito mal por ele. Dois mil anos encerrado em uma cripta tenebrosa. Era um milagre que não se tornou louco. Que fora capaz de sentar-se com ela e
falar.
Não era de sentir saudades que lhe tivesse pedido comida. Privar a uma pessoa de todos os prazeres sensoriais era uma tortura cruel e desumana.
E então soube que ia ajudar o. Não sabia muito bem como fazê-lo, mas tinha que haver algum modo de liberá-lo.
- E se encontrássemos o modo de te tirar daí?
- Asseguro-te que não há nenhum.
- É um tanto pessimista, não?
Olhou-a divertido.
- Estar apanhado durante dois mil anos tem esse efeito sobre as pessoas.
Grace o observou enquanto acabava a comida, com a mente em ebulição. Sua parte mais otimista se negava a escutar seu fatalismo, exatamente igual à terapeuta
que havia nela se negava a deixá-lo partir sem ajudá-lo. Tinha jurado aliviar o sofrimento das pessoas, e ela se tomava seus juramentos muito a sério.
Quem a segue, consegue-a.
E embora tivesse que atravessar oceanos ou cruzar o mesmo inferno, encontraria o modo de liberá-lo!
Enquanto isso, decidiu fazer algo que duvidava muito que alguém tivesse feito por ele antes: ia encarregar se de que desfrutasse de sua liberdade em Nova Orleáns.
As outras mulheres o tinham mantido encerrado nos limites de seus dormitórios ou de seus vestidores, mas ela não estava disposta a encadear a ninguém.
- Bem, então digamos que esta vez vais ser você o que desfrute, tio.
Ele elevou o olhar da terrina com repentino interesse.
- vou ser sua faxineira - continuou Grace-. Faremos algo que te deseje muito. E veremos tudo o que te ocorra.
Enquanto tomava um sorvo de vinho, curvou os lábios em um gesto irônico.
- te tire a camisa.
- Como? -perguntou Grace.
Julián deixou a um lado a taça de vinho e a atravessou com um luxurioso e candente olhar.
- Há dito que posso ver o que quiser e fazer o que me deseje muito. Bem, pois quero ver seus peitos nus e depois quero passar a língua por...
- Ouça grandalhão!, te relaxe! -disse-lhe Grace com as bochechas ardendo e o corpo abrasado pelo desejo-. Acredito que vamos deixar claras umas quantas regras
que terá que cumprir esteja aqui. Número um: nada disso.
- E por que não?
Sim, exigiu-lhe seu corpo entre a súplica e o aborrecimento. por que não?
- Porque não sou nenhuma gata guia de ruas com o rabo elevado para que qualquer gato venha, monte-me e se largue.
Capítulo 4
Julián elevou uma sobrancelha ante a crua e inesperada analogia. Mas mais que as palavras, o que lhe surpreendeu foi o tom amargo de sua voz. Deveram utilizá-la
no passado. Não era de sentir saudades que se assustasse dele.
Uma imagem do Penélope lhe passou pela mente e sentiu uma pontada de dor no peito, tão feroz que teve que recorrer a seu firme treinamento militar para não
cambalear-se.
Tinha muitos pecados que expiar. Alguns tinham sido tão grandes que dois mil anos de cativeiro não eram mais que o princípio de sua condenação.
Não é que fosse um bastardo de nascimento; é que, depois de uma vida brutal, infestada de desespero e traições, tinha acabado convertendo-se em um.
Fechou os olhos e se obrigou a afastar esses pensamentos. Isso era, nunca melhor dizendo, história antiga e isto era o presente. Grace era o presente.
E estava nele por ela.
Agora entendia o que Selena queria dizer quando lhe falou sobre o Grace. Por isso lhe convocaram. Para lhe mostrar ao Grace que o sexo podia ser divertido.
Nunca antes se encontrou em uma situação semelhante.
Enquanto a observava, seus lábios desenharam um lento sorriso. Esta seria a primeira vez que teria que perseguir uma mulher para que o aceitasse. Anteriormente,
nenhuma tinha rechaçado seu corpo.
Com a inteligência do Grace e sua teimosia, sabia que levar-lhe à cama seria uma provocação comparável ao de tender uma emboscada ao exército romano.
Sim, ia saborear cada momento.
Igual a acabaria saboreando-a a ela. Cada doce e sardento centímetro de seu corpo.
Grace tragou saliva ante o primeiro sorriso genuíno do Julián. O sorriso suavizava sua expressão e o fazia ainda mais devastador.
Que demônios estaria pensando para sorrir assim?
Por enésima vez, sentiu que lhe subiam as cores ao pensar em seu cru discursito. Não o tinha feito a propósito; em realidade não gostava de despir seus sentimentos
ante ninguém, especialmente ante um desconhecido.
Mas havia algo fascinante neste homem. Algo que ela era percebia de forma perturbadora. Possivelmente fosse a dissimulado dor que refletiam de vez em quando
esses celestiales olhos azuis, quando o pilhava com o guarda baixo. Ou talvez fossem seus anos como psicóloga, que lhe impediam de ter uma alma atormentada em sua
casa e não lhe emprestar ajuda.
Não sabia.
O relógio de parede do saguão da escada, deu a uma.
- meu deus! -disse assombrada pela hora-. Tenho que me levantar às seis da manhã.
- Vai à cama?, a dormir?
Se o humor do Julián não tivesse sido tão anti-social, o espanto que mostrou seu rosto teria feito rir ao Grace de boa vontade.
- Tenho que ir.
Ele franziu o cenho...
Dolorido?
- Ocorre-te algo? -perguntou ela.
Julián negou com a cabeça.
- Bom, então vou ensinar te o sítio onde vais dormir e...
- Não tenho sonho.
Ao Grace sobressaltaram suas palavras.
- O que?
Julián a olhou, incapaz de encontrar as palavras exatas para lhe descrever o que sentia. Tinha apanhado tanto tempo no livro, que o único que queria fazer
era correr ou saltar. Fazer algo para celebrar sua repentina liberdade de movimentos.
Não queria ir-se à cama. A idéia de permanecer convexo na escuridão um só minuto mais...
esforçou-se por voltar a respirar.
- estive descansando desde 1895 -lhe explicou-. Não estou muito seguro dos anos que transcorreram, mas pelo que vejo, deveram ser uns quantos.
- Estamos no ano 2002 -lhe informou Grace-. estiveste "dormindo" durante cento e sete anos. -Não, corrigiu-se ela mesma. Não tinha estado dormindo.
Lhe havia dito que podia escutar qualquer conversação que tivesse lugar perto do livro; o que significava que tinha permanecido acordado durante seu fechamento.
Isolado. Sozinho.
Ela era a primeira pessoa com a que tinha falado, ou estado perto, depois de cem anos.
Lhe fez um nó no estômago ao pensar no que devia ter suportado. Embora a prisão de seu acanhamento nunca tinha sido tangível para ela, sabia o que era escutar
às pessoas e não ser parte deles. Permanecer como uma simples espectadora.
- Eu gostaria de poder ficar desperta -disse, reprimindo um bocejo-. De verdade; mas se não dormir o suficiente, meu cérebro se converte em gelatina e fica
sem bateria.
- Entendo-te. Ao menos entendo o essencial, embora não sei que são a gelatina nem a bateria.
Grace ainda percebia sua desilusão.
- Pode ver a televisão.
- Televisão?
Agarrou a terrina vazia e o limpou antes de retornar com o Julián à sala de estar. Acendeu o televisor e o ensinou a trocar os canais com o mando a distância.
- Incrível -sussurrou ele enquanto fazia zapping pela primeira vez.
- Sim, é algo muito útil.
Isso o manteria ocupado. depois de tudo, os homens só necessitavam três coisas para ser felizes: comida, sexo e um mando a distância. Dois de três deveriam
mantê-lo satisfeito um momento.
- Bom -disse enquanto se dirigia às escadas-. boa noite.
Ao passar a seu lado, Julián lhe tocou o braço. E, embora seu roce foi muito ligeiro, Grace sentiu uma descarga elétrica.
Com o rosto inexpressivo, seus olhos deixavam ver todas as emoções que o invadiam. Grace percebeu seu sofrimento e sua necessidade; mas sobre tudo, captou
sua solidão.
Não queria ficar sozinho.
Umedecendo-os lábios -lhe tinham secado de forma repentina-, disse algo incrível.
- Tenho outro televisor em minha habitação. por que não vê ali o que queira, enquanto eu durmo?
Julián lhe dedicou um sorriso tímido.
Foi atrás dela enquanto subiam as escadas, totalmente surpreso pelo fato de que Grace o tivesse compreendido sem palavras. Tinha tido em conta sua necessidade
de companhia, sem preocupar-se de seus próprios temores.
Isso lhe fez sentir algo estranho para ela. Uma estranha sensação no estômago.
Ternura?
Não estava seguro.
Grace o levou até uma enorme habitação presidida por uma cama com dossel, situada na parede oposta à porta de entrada. Em frente da cama havia uma cômoda e,
sobre ela, uma como o tinha chamado Grace?, televisão?
Observou como Julián passeava por seu dormitório, olhando as fotografias que havia nas paredes e sobre os móveis; fotografias de seus pais e de seus avós,
da Selena e ela na faculdade, e una do cão que teve quando era pequena.
- Vive sozinha? -perguntou-lhe.
- Sim -disse, aproximando-se da cadeira de balanço que estava junto à cama. Sua camisola estava sobre o respaldo. Agarrou-o e depois olhou ao Julián e à toalha
verde que ainda levava ao redor de seus esbeltos quadris. Não podia deixar que se metesse na cama com ela daquela guisa.
Seguro que pode.
Não, não posso.
Por favor?
Shh! Parte irracional de mim, te cale e me deixe pensar.
Ainda guardava os pijamas de seu pai no dormitório que tinha pertencido a seus progenitores; ali estavam todas seus pertences e para o Grace, era um lugar
sagrado. Tendo em conta a largura dos ombros do Julián, estava segura de que as camisas não lhe serviriam, mas as calças tinham cinturas adaptáveis e, embora ficassem
curtos, ao menos não lhe cairiam.
- Espera aqui -lhe disse-. Não demorarei nada.
depois de vê-la partir como uma exalação, Julián se aproximou dos ventanales e apartou as cortinas de encaixe branco. Observou as estranhas caixas metálicas
-que deviam ser automóveis- enquanto passavam por diante da casa com aquele zumbido tão estranho que não cessava um instante, semelhante ao ruído do mar. As luzes
iluminavam as ruas e todos os edifícios; pareciam-se com as tochas que havia em sua terra natal.
Que insólito era este mundo. Extrañamente parecido ao dele e, mesmo assim, tão diferente.
Tentou associar os objetos que via com as palavras que tinha escutado ao longo das décadas; palavras que não compreendia. Como televisão e lâmpada.
E pela primeira vez desde que era menino, sentiu medo. Não gostava das mudanças que percebia, a rapidez com a que as coisas tinham evoluído no mundo.
Como seria todo a seguinte vez que o convocassem?
Poderiam as coisas trocar muito?
Ou o que era mais aterrador, e se jamais voltavam a invocá-lo?
Tragou saliva ante aquela idéia. E se acabava apanhado durante toda a eternidade? Só e acordado. Alerta. Sentindo a opressiva escuridão em torno dele, deixando-o
sem ire nos pulmões enquanto seu corpo se rasgava de dor.
E se não voltava a caminhar de novo como um homem? Ou a falar com outro ser humano, ou a tocar a outra pessoa?
Esta gente tinha coisas chamadas ordenadores. Tinha escutado ao dono da livraria falar sobre eles com os clientes. E uns quantos lhe haviam dito que, provavelmente,
os ordenadores substituiriam um dia aos livros.
O que seria dele então?
Vestida com sua regata de dormir rosa, Grace se deteve na habitação de seus pais, junto à porta de espelho do vestidor, onde guardou os alianças de casamento
o dia posterior ao funeral. Podia ver o débil resplendor do diamante marquise do meio quilate.
A dor fez que lhe formasse um nó na garganta; lutou contra as lágrimas que pugnavam por brotar de seus olhos.
Com vinte e quatro anos recém cumpridos naquela época, tinha sido o suficientemente arrogante para pensar que era uma pessoa amadurecida e capaz de fazer frente
a algo que a vida lhe pusesse por diante. acreditou-se invencível. E em um segundo, sua vida se derrubou.
A morte lhe arrebatou todo aquilo que uma vez teve: a segurança, a fé, sua crença na justiça e, sobre tudo, o amor sincero de seus pais e seu apoio emocional.
Apesar de toda sua vaidade juvenil, não tinha estado preparada para que lhe arrebatassem por completo a toda sua família.
E, embora tinham acontecido cinco anos, ainda os sentia falta de. A dor era muito profunda. O velho dito aquele, segundo o qual era melhor ter conhecido o
amor antes de perdê-lo, era uma enorme fraude. Não havia nada pior que perder às pessoas que lhe querem e lhe cuidam em um acidente sem sentido.
Incapaz de enfrentar sua ausência, Grace tinha selado a habitação depois do funeral, e o tinha deixado todo tal e como estava.
Abriu a gaveta onde seu pai guardava os pijamas e tragou saliva. Ninguém havia meio doido estas coisas da tarde que sua mãe as dobrou e as guardou.
Ainda recordava a risada de sua mãe. As brincadeiras sobre o conservador estilo de seu pai, que sempre escolhia pijamas de flanela.
Pior ainda, recordava o amor que se professavam.
O que daria ela por encontrar o casal perfeito, como lhes tinha acontecido . Tinham estado casados vinte e cinco anos antes de morrer, e seu amor tinha permanecido
intacto desde dia que se conheceram.
Não podia recordar um só momento em que sua mãe não sonriera ante uma brincadeira de seu pai. Sempre foram agarrados da mão como dois adolescentes, e se roubavam
beijos quando acreditavam que ninguém os via.
Mas ela os via.
E agora o recordava.
Queria esse tipo de amor. Mas por alguma razão, não tinha encontrado a um homem que a deixasse sem fôlego. Um homem que conseguisse que lhe desbocasse o coração
e que seus sentidos se cambaleassem.
Um homem sem o qual a vida não tivesse sentido.
- OH, mamãe! -balbuciou, desejando que seus pais não tivessem morrido aquela noite.
Desejando...
Não sabia o que. Quão único queria era conseguir algo que lhe fizesse pensar no futuro. Algo que lhe fizesse feliz; da mesma forma que seu pai tinha feito
feliz a sua mãe.
Mordendo o lábio, Grace agarrou a calça de quadros azul marinho e branco, e saiu correndo da habitação.
- Aqui tem -disse arrojando o objeto ao Julián e saindo a toda pressa por volta do quarto de banho, em metade do corredor. Não queria que ele fosse testemunha
de suas lágrimas. Não voltaria a mostrar-se vulnerável diante de um homem.
Julián trocou a toalha pelas calças e se foi detrás o Grace. Tinha fechado de uma portada a porta mais próxima à habitação onde ele se encontrava.
- Grace -a chamou enquanto abria a porta com suavidade.
ficou paralisado ao vê-la chorar. Estava em metade de um quarto de asseio estranho, com dois lavamanos incrustados na parede e uma encimera branca na qual
se apoiava. tampou-se a boca com uma toalha, em um intento de sufocar seus dilaceradores soluços.
Apesar de sua severo educação e dos dois mil anos de autocontrol, Julián se viu miserável por uma quebra de onda de compaixão. Grace chorava como se alguém
lhe tivesse quebrado o coração.
E isso o fazia sentir-se incômodo. Inseguro.
Apertando os dentes, afastou aqueles insólitos sentimentos. Se algo tinha aprendido durante sua infância era a não se aprofundar nos problemas de outros, porque
nunca trazia nada bom. Não terei que cuidar de ninguém mais que da gente mesmo. Cada vez que tinha cometido o engano de interessar-se por alguém, tinha-o pago com
acréscimo.
Além disso, nesta ocasião não havia tempo. Nada de tempo.
Quanto menos tivesse que ver com as emoções e a vida do Grace, mais fácil lhe resultaria voltar a suportar seu confinamento.
E, então, as palavras do Grace o golpearam com força, justo em metade do peito. Ela o tinha definido à perfeição: não era mais que um gato dedicado a conseguir
prazer e depois partir.
aferrou-se com força ao atirador da porta. Não era um animal. Ele também tinha sentimentos.
Ou, ao menos, estava acostumado aos ter.
antes de que pudesse reconsiderar suas ações, entrou na estadia e a abraçou. Grace lhe rodeou a cintura com os braços e se apoiou nele como se se tratasse
de um salva-vidas, enquanto enterrava a cara em seu peito nu e soluçava. Todo seu corpo tremia.
Um pouco muito estranho se abriu passo no interior do Julián. Um profundo desejo que não sabia muito bem como definir.
Jamais em sua vida tinha consolado a uma mulher que chorava. deitou-se com tantas que não podia recordá-lo; mas nunca, jamais, tinha abraçado a uma mulher
como estava abraçando ao Grace. Nem depois de fazer o amor. Uma vez acabava com seu casal de volta, levantava-se, limpava-se e procurava algo com o que entreter-se
até que fosse requerido de novo.
Inclusive antes da maldição, jamais tinha demonstrado ternura por ninguém. Nem por sua esposa.
Como soldado, tinha sido treinado desde que tinha uso de razão para mostrar-se feroz, frio e duro.
"Volta com seu escudo, ou sobre ele". Essas foram as palavras de sua madrasta o dia que o agarrou por cabelo e o jogou de sua casa para que começasse o treinamento
militar, à tenra idade de sete anos.
Seu pai tinha sido ainda pior. Um legendário comandante espartano que não tolerava amostras de debilidade. Nem de emoção. O tipo se encarregou, látego em mão,
de que a infância do Julián chegasse a seu fim, ensinando-o a ocultar a dor. Ninguém podia ser testemunha de seu sofrimento.
Até o dia de hoje, ainda podia sentir o látego sobre a pele nua de suas costas, e escutar o som que fazia o couro ao cortar o ar entre golpe e golpe. Podia
ver a zombadora careta de desprezo no rosto de seu pai.
- Sinto-o -murmurou Grace sobre seu ombro, lhe devolvendo à presente.
Ela elevou a cabeça para poder lhe olhar. Tinha os olhos cinzas brilhantes pelas lágrimas e pareciam rachar a capa que recubría seu coração, congelado desde
fazia séculos por necessidade e por obrigação.
Incômodo, Julián se afastou dela.
- Sente-se melhor?
Grace se limpou as lágrimas e se esclareceu garganta. Não sabia por que tinha ido Julián atrás dela, mas tinha passado muito tempo da última vez que alguém
a consolou enquanto chorava.
- Sim -murmurou-. Obrigado.
Ele não respondeu.
Em lugar de ser o homem tenro que a abraçava instantes antes, havia tornado a ser o Senhor Estatua; todo seu corpo estava rígido e não dava amostras de emoção.
Deixando escapar um suspiro iracundo, e passou a seu lado.
- Não me teria posto assim se não estivesse tão cansada e possivelmente ainda um pouco achispada. Preciso dormir.
Sabia que ele iria atrás dela, assim voltou resignadamente para sua habitação e se meteu na cama de madeira de pinheiro, acurrucándose sob o grosso edredom.
Sentiu como o colchão se afundava sob o peso do Julián um instante depois.
Seu coração se acelerou ante a repentina calidez do corpo do homem junto ao dele. E a coisa piorou quando ele se acurrucó a suas costas e lhe aconteceu uma
larga e musculosa perna sobre a cintura.
- Julián! -gritou com uma nota de advertência ao sentir sua ereção contra o quadril-. Acredito que seria melhor que ficasse em seu lado da cama, enquanto eu
fico no meu.
Não pareceu emprestar atenção a suas palavras, posto que inclinou a cabeça e deixou um pequeno rastro de beijos sobre seu cabelo.
- Pensava que me tinha chamado para aliviar a dor de suas partes baixas -lhe sussurrou no ouvido.
Com o corpo ao vermelho vivo devido a sua proximidade, e ao aroma a sândalo que lhe embotava a cabeça, Grace se ruborizou ao lhe escutar repetir as palavras
que dissesse a Selena.
- Minhas partes baixas se encontram em perfeito estado, e muito felizes tal e como estão.
- Prometo-te que eu conseguirei que estejam muito, muito mais felizes.
OH!, não lhe cabia a menor duvida.
- Se não te comportar, jogarei-te da habitação.
Então o olhou e viu a incredulidade refletida nos olhos azuis.
- Não entendo por que vais jogar me -disse isso.
- Porque não vou utilizar te como se fosse um boneco sem nome, que não tem mais razão de ser que me servir. De acordo? Não quero ter esse tipo de intimidade
com um homem ao que não conheço.
Com um olhar preocupado, Julián se apartou finalmente dela e se tombou na cama.
Grace respirou profundamente para tentar que seu acelerado coração se relaxasse, e poder apagar o fogo que o fazia ferver o sangue. Resultava muito duro lhe
dizer que não a este homem.
Crie realmente que vais ser capaz de dormir com este tipo a seu lado? É que tem uma pedra por cérebro?
Fechou os olhos e recitou sua aborrecida letanía. Tinha que dormir. Não havia sitio para os "e se..." nem para os "mas...". Nem tampouco para o Julián.
Ele colocou os travesseiros de modo que lhe servissem de respaldo, e olhou ao Grace. Esta ia ser, em sua excepcionalmente larga vida, a primeira vez que passasse
uma noite junto a uma mulher sem lhe fazer o amor.
Era inconcebível. Nenhuma o tinha rechaçado antes.
Ela se deu a volta naquele momento e lhe deu um mando a distância, como o que lhe tinha ensinado na sala. Apertou um botão e acendeu a televisão, depois baixou
o volume da gente que falava.
- Isto é para a luz -disse apertando outro botão. Imediatamente, as luzes se apagaram, deixando que fora o televisor o que iluminasse fracamente as sombras
da habitação-. Não me incomodam os ruídos, assim é que não acredito que desperte -deu o mando a distancia-. boa noite, Julián da Macedônia.
- boa noite, Grace -sussurrou ele, observando como seu sedoso cabelo se estendia sobre o travesseiro, enquanto se acurrucaba para dormir.
Deixou o mando a um lado e, durante um bom momento, dedicou-se a olhá-la enquanto a luz procedente do televisor piscava sobre os relaxados ângulos de seu rosto.
Soube o momento exato no que dormiu, pela uniformidade de sua respiração. Só então se atreveu a tocá-la. atreveu-se a seguir com a gema de um dedo a suave
curva de seu maçã do rosto.
Seu corpo reagiu com tal violência que teve que morder o lábio para não soltar uma maldição. O fogo se estendeu por seu sangue.
Tinha conhecido numerosos dores durante toda sua vida: primeira a dor de estômago quando precisava comer, depois a sede de amor e respeito, e por último a
dor exigente de seu membro quando ansiava a umidade escorregadia do corpo de uma mulher. Mas jamais, jamais, tinha experiente algo semelhante ao que sentia agora.
Era uma fome tão voraz, uma sensação tão potente, que ameaçava até sua prudência.
Só podia pensar em lhe separar as cremosas coxas e afundar-se profundamente nela. Em deslizar-se dentro e fora de seu corpo uma e outra vez, até que ambos
alcançassem o clímax ao uníssono.
Mas isso jamais chegaria a acontecer.
afastou-se dela a uma distância prudente, de onde não pudesse cheirar seu suave aroma feminino, nem sentir o calor de seu corpo sob o edredom.
Poderia lhe proporcionar agradar durante dias, sem deter-se, mas ele jamais encontraria a paz.
- Maldito seja, Príapo -grunhiu. Era o deus que lhe tinha amaldiçoado, afundando-o neste miserável destino-. Espero que Hades te esteja dando o que te merece.
Uma vez aplacada sua ira, suspirou e se deu conta que as Parcas e as Fúrias se estavam encarregando do próprio com ele.
Grace despertou com uma estranha sensação de calidez e segurança. Um sentimento que não tinha experiente desde fazia anos.
de repente, sentiu um beijo muito doce sobre as pálpebras, como se alguém estivesse acariciando-a com os lábios. Umas mãos fortes e cálidas lhe tocavam o cabelo.
Julián!
incorporou-se tão rápido que se golpeou com sua cabeça. Até seus ouvidos chegou o gemido de dor do Julián. Esfregando-a frente, abriu os olhos e viu que ele
a observava com o cenho franzido e obviamente molesto.
- Sinto-o -se desculpou enquanto se sentava-. Me sobressaltou.
Julián abriu a boca e se tocou os dentes com o polegar para comprovar se o golpe os tinha afrouxado.
Aquilo foi pior ainda para o Grace, posto que não pôde evitar contemplar o roce de sua língua sobre os dentes. E a visão desses blanquísimos dente, incrivelmente
retos, que lhe gostaria de ter lhe mordiscando...
- O que quer para tomar o café da manhã? -perguntou-lhe para afastar-se um pouco de seus pensamentos.
O olhar dele descendeu até o profundo decote em V de sua regata. Seguindo a direção de seus olhos, Grace se deu conta de que, de onde ele estava sentado, poderia
ver todo seu corpo até chegar às embaraçosas braguitas do Mickey Mouse.
antes de que pudesse mover-se, Julián atirou dela, até sentá-la sobre suas coxas e reclamou seus lábios.
Grace gemeu de agradar sob o assalto de sua boca, enquanto sua língua o fazia as coisas mais escandalosas. A cabeça começou a lhe girar com a intensidade do
beijo e com o quente fôlego do Julián mesclando-se com o seu.
E pensar que nunca lhe tinha gostado de beijar...
Devia estar louca!
Os braços do Julián intensificaram seu abraço. Milhares de chamas lambiam seu corpo, acendendo-a e incitando-a, enquanto se agrupavam na zona que mais lhe
doía: entre as coxas, onde queria lhe ter.
Seus lábios a abandonaram para riscar com a língua um rastro até sua garganta, desenhando úmidos círculos sobre o queixo, o lóbulo da orelha e finalmente o
pescoço.
O tipo parecia conhecer todas as zonas erógenas do corpo de uma mulher!
Melhor ainda, sabia como usar as mãos e a língua para as massagear até obter o máximo prazer.
Exalou o ar brandamente sobre sua orelha e, imediatamente, um calafrio a percorreu de acima a abaixo; quando passou a língua pelo lóbulo, todo seu corpo começou
a tremer.
Um formigamento lhe percorreu os peitos, que imediatamente se endureceram, sobressaindo-se como duros montículos que clamavam por ser beijados.
- Julián -gemeu, incapaz de reconhecer sua voz. Sua mente lhe pedia que se detivera, mas as palavras ficaram atravessadas na garganta.
Havia muito poder em suas carícias. Muita magia. O fazia ansiar, dolorosamente, muito mais.
deu-se a volta com ela em braços e a aprisionou contra o colchão. Inclusive através do pijama, Grace percebia sua ereção, seu membro duro e ardente que pressionava
sobre o quadril, enquanto com as mãos lhe aferrava as nádegas e respirava entrecortadamente junto a sua orelha.
- Tem que parar -conseguiu lhe dizer ao fim com voz débil.
- Parar o que? -perguntou-lhe-. Isto? -e riscou com a língua o labirinto de sua orelha. Grace vaiou de prazer. Os calafrios se aconteciam e, como se se tratasse
de brasas ao vermelho vivo, abrasavam cada centímetro de sua pele. Os peitos se incharam ainda mais sob o corpo do Julián-. Ou isto? -e introduziu uma mão sob a
cinturilla elástica de seus braguitas para tocá-la onde mais o desejava.
Grace se arqueou em resposta a suas carícias e cravou os dedos nos lençóis ante a sensação de suas mãos entre as pernas. Deus, este homem era incrível!
Julián começou a acariciar em círculos a trêmula carne, utilizando um só dedo, fazendo que se consumisse antes de lhe introduzir dois dedos até o fundo.
Enquanto rodeava, acariciava e atormentava seu interior, começou a lhe massagear muito brandamente o clitóris com o polegar.
- Ooooh! -gemeu Grace, jogando a cabeça para trás pela intensidade do prazer.
aferrou-se ao Julián, enquanto ele continuava seu implacável assalto utilizando suas mãos e sua língua, lhe dando agradar. Totalmente fora de controle, Grace
se esfregava de forma desinhibida contra ele, ansiando sua paixão, suas carícias.
Julián fechou os olhos e saboreou o aroma do corpo do Grace sob o seu; a sensação de seus braços envolvendo-o. Era dela. Podia senti-la tremer e pulsar ao
redor de sua mão, enquanto seu corpo se retorcia sob suas carícias.
Em qualquer momento chegaria ao clímax.
Com esse pensamento ocupando sua mente por completo, tirou-lhe a regata e inclinou a cabeça até apanhar um duro mamilo e sugar brandamente toda a areola, deleitando-se
na sensação da rugosa pele sob sua língua.
Não recordava que uma mulher soubesse tão bem como aquela.
Seu sabor ficaria gravado a fogo na mente, jamais poderia esquecê-lo.
E estava completamente preparada para recebê-lo: ardente, úmida e muito estreita; exatamente como lhe gostava de uma mulher.
Rasgou de um puxão o pequeno objeto que se atia aos quadris do Grace, e que lhe impedia um acesso total a aquele lugar que morria por explorar completamente.
E em toda sua profundidade.
Ela escutou como rompia as braguitas, mas não foi capaz de detê-lo. Sua vontade já não lhe pertencia; tinha sido engolida por umas sensações tão intensas,
que o único que queria era encontrar alívio.
Tinha que consegui-lo!
Elevando os braços, enterrou as mãos no cabelo do Julián, incapaz de permitir que se afastasse, embora só fosse por um segundo.
Julián se tirou as calças a puxões e lhe separou as coxas.
Com o corpo envolto em puro fogo, Grace agüentou a respiração enquanto ele colocava seu comprido e duro corpo entre suas pernas.
A ponta de seu membro pressionava justo sobre o centro de sua feminilidade. Arqueou os quadris aproximando-se ainda mais, aferrando-se a seus amplos ombros.
Desejava senti-lo dentro com um desespero tal, que desafiava a todo entendimento.
E de repente, soou o telefone.
Grace deu um coice ao escutá-lo, e sua mente recuperou repentinamente o controle
- O que é esse ruído? -grunhiu Julián.
Agradecida pela interrupção, Grace saiu como pôde de debaixo do Julián; tremiam-lhe as pernas e lhe ardia todo o corpo.
- É um telefone -disse, antes de inclinar-se para a mesita de noite e agarrar o auricular.
A mão não deixava de lhe tremer enquanto o aproximava da orelha.
Lançando uma maldição, Julián ficou de lado.
- Selena, graças a Deus que é você -disse Grace, logo que escutou sua voz. Nesse momento agradecia muitíssimo a habilidade que tinha Selena de saber o momento
preciso em que chamar!
- O que acontece? -perguntou seu amiga.
- Deixa de fazer isso -espetou ao Julián que, nesse instante, dedicava-se a lhe lamber as nádegas em um movimento descendente...
- Mas se não estar fazendo nada -lhe disse Selena.
- Você não, Lanie.
O silêncio caiu sobre o outro extremo da linha.
- Escuta -disse Grace a Selena com uma dura advertência na voz-. Necessito que procure entre a roupa do Bill e traga umas quantas coisas. Agora.
- Funcionou! -o agudo chiado esteve a ponto de lhe perfurar o tímpano-. Ai, Meu deus! Funcionou!, não posso acreditá-lo! Vou para lá!
Grace pendurou o telefone justo quando a língua do Julián baixava desde suas nádegas para...
- Para já!
Ele se tornou para trás e a olhou com o cenho franzido, estupefato.
- Você não gosta que te faça isso?
- Eu não hei dito isso -respondeu antes de poder deter-se.
Julián se aproximou de novo a ela.
Grace desceu de um salto da cama.
- Tenho que ir a trabalhar.
Julián se apoiou em um braço, tendido sobre um flanco, e a observou enquanto recolhia as calças do pijama e os arrojava. Agarrou-os com uma mão enquanto seus
olhos se moviam, perezosamente, sobre o corpo do Grace.
- por que não chama para dizer que está doente?
- Que estou doente? -repetiu-. E você como conhece esse truque?
Ele se encolheu de ombros.
- Já lhe hei isso dito. Posso escutar enquanto estou encerrado no livro. Por isso posso aprender idiomas e entender as mudanças na sintaxe.
Com a mesma elegância de uma pantera que se endireita detrás estar escondida, Julián apartou o edredom e saiu lentamente da cama. Não levava as calças. E seu
membro estava totalmente ereto.
Hipnotizada, Grace foi incapaz de mover-se.
- Não acabamos -disse ele com a voz rouca, enquanto se aproximava dela.
- Pois claro que sim! -respondeu-lhe Grace, e fugiu ao quarto de banho, encerrando-se ali detrás jogar o fecho à porta.
Com os dentes apertados, Julián teve a repentina necessidade de golpeá-la cabeça contra a parede de tão frustrado como se sentia. por que tinha que ser tão
teimosa?
olhou-se o membro rígido e soltou um juramento.
- E você não pode te comportar durante cinco minutos ao menos?
Grace se deu uma larga ducha fria. O que tinha Julián que fazia que seu sangue literalmente fervesse? Inclusive agora podia sentir o calor de seu corpo sobre
ela.
Seus lábios sobre...
- Para, para, para!
Não era uma ninfomaníaca inverificada sobre si mesmo. Era uma licenciada em Filosofia, com um cérebro; e sem hormônios.
Mas mesmo assim, seria extremamente fácil esquecer-se de tudo e passar todo o mês na cama com o Julián.
- Muito bem -se disse a si mesmo-. Suponhamos que te mete na cama com ele um mês. E logo, o que? -ensaboou-se o corpo enquanto a irritação desvanecia os últimos
rescaldos de seu desejo-. Eu te direi o que passará depois. Ele se irá e você, colega, ficará sozinha outra vez.
" Lembra-te do que ocorreu quando Paul partiu? Lembra-te de como se sentia quando te passeava pela habitação, com o estômago revolto porque tinha permitido
que te utilizasse? Lembra-te da humilhação que sentia?
Mas ainda pior que essas lembranças, era a imagem do Paul mofando-se dela a gargalhadas com seus amigos, enquanto recolhia o dinheiro da aposta. Como desejava
ter sido um homem nesse momento, para poder abrir a porta de seu apartamento de uma patada e golpeá-lo até fazê-lo pedaços.
Não, não deixaria que ninguém mais a utilizasse.
Havia-lhe flanco anos superar a crueldade do Paul, e não tinha nenhum desejo de arruinar o que tinha conseguido por um capricho. Embora fosse um fabuloso capricho!
Não, não e não. A próxima vez que se entregasse a um homem, seria com um que estivesse unido a ela. Alguém que a cuidasse.
Alguém que não deixasse a um lado sua dor e continuasse usando seu corpo procurando seu próprio prazer, como se ela não importasse nada -pensava, enquanto
as lembranças reprimidas retornavam à superfície. Paul se tinha comportado como se ela não tivesse estado presente. Como se não tivesse sido mais que uma boneca
sem emoções, desenhada só para lhe proporcionar agradar.
E não estava disposta a deixar que a voltassem a tratar assim, especialmente se se tratava do Julián.
Jamais.
Julián baixou as escadas, maravilhado pela brilhante luz do sol que entrava pelas janelas. Resultava-lhe divertido o fato de que a gente desse por sentado
esses pequenos detalhes. Recordava a época em que não se fixava em um pouco tão simples como uma manhã ensolarada.
E agora, cada uma delas era um verdadeiro presente dos deuses. Um presente que tinha toda a intenção de degustar durante o mês que tinha por diante, até que
estivesse obrigado a retornar à escuridão.
Com o coração arrasado, dirigiu-se à cozinha, para o armário onde Grace guardava a comida. Ao abrir a porta lhe surpreendeu a frieza. Alargou a mão e deixou
que o ar frio lhe acariciasse a pele. Incrível.
Tirou vários recipientes, mas não pôde ler as etiquetas.
- Não coma nada que não possa identificar -se recordou a si mesmo, enquanto pensava em algumas das asquerosidades que tinha visto às pessoas comer ao longo
dos séculos.
inclinou-se para diante e rebuscou até encontrar um melão em uma das gavetas inferiores. Levou-o a encimera do centro da cozinha, agarrou uma faca comprido
do suporte, onde Grace tinha ao menos uma dúzia deles, e o partiu pela metade.
Cortou uma parte e o introduziu na boca.
Quando o delicioso suco alagou seus papilas gustativas, grunhiu de satisfação. A doce polpa fez que seu estômago rugisse com uma feroz exigência. A garganta
lhe pedia, com uma sensação próxima à dor, que lhe proporcionasse um pouco mais daquela relaxante doçura.
Era tão estupendo voltar a ter comida... Ter algo com o que apagar a sede e a fome.
antes de poder deter-se, deixou a faca a um lado e começou a partir o melão com as mãos, levando-os partes à boca tão rápido como podia.
Pelos deuses!, estava tão faminto... Tinha tanta sede...
Não foi consciente do que fazia até que tirou o chapéu rasgando a casca.
ficou paralisado ao ver suas mãos cobertas com o suco do melão, e os dedos curvados como as garras de qualquer animal.
"Date a volta, Julián e me olhe. Agora sei um bom menino e feixe o que te ordeno. me toque aqui. Mmm... sim, isso. Bom menino, bom menino. faça-me isso bem
e te trarei de comer em um momento."
Julián se encolheu de temor ante a repentina invasão das lembranças de sua última invocação. Não era de sentir saudades que se comportasse como um animal;
tinham-lhe tratado como tal durante tanto tempo que logo que recordava como ser um homem.
Ao menos, Grace não lhe tinha encadeado à cama.
Ainda.
Enojado, jogou uma olhada ao redor da cozinha, enquanto dava obrigado mentalmente pelo fato de que Grace não tivesse presenciado sua perda momentânea de controle.
Com a respiração entrecortada, agarrou a metade do melão e o jogou ao recipiente onde tinha visto o Grace atirar o lixo a noite anterior. Depois, abriu o grifo
da pia e se lavou para desprender-se da pegajosa polpa.
logo que a água fresca lhe roçou a pele, suspirou de prazer. Água. Fria e pura. Era o que mais sentia falta de durante seu confinamento. O que mais desejava,
hora detrás hora, enquanto sua ressecada garganta ardia de dor.
Deixou que a água se deslizasse por sua pele antes de capturá-la com as mãos cavadas e beber diretamente delas. chupou-se os dedos. Era maravilhosamente relaxante
a sensação de sentir o frescor na boca e depois notar como descia pela garganta, acalmando sua sede. Quão único desejava nesse momento era meter-se na pia e deixar
que a água se deslizasse por todo seu corpo.
Deixar que...
Escutou que alguém golpeava brandamente a porta e, imediatamente, um ruído de passos que descendiam pela escada. Fechou o grifo e agarrou o trapo seco que
havia junto à pia para secá-las mãos e a cara.
Quando voltou para a encimera para recolher os restos do melão, reconheceu a voz da Selena.
- Onde está?
Julián agitou a cabeça ante o entusiasmo da amiga do Grace. Isso era o que tinha esperado do Grace.
As duas mulheres entraram na cozinha. Julián elevou o olhar e se encontrou com uns olhos marrons tão grandes como dois escudos espartanos.
- Jesus, María e José! -balbuciou Selena.
Grace cruzou os braços sobre o peito, em seus olhos brilhava uma mescla de ira e diversão.
- Julián, esta é Selena.
- Jesus, María e José! -repetiu seu amiga.
- Selena? -perguntou Grace, movendo a mão ante os olhos de sua boquiaberta amiga, que nem sequer piscou.
- Jesus, MA...!
- vais deixar o já? -repreendeu-a Grace.
Selena deixou que a roupa que levava nas mãos caísse direta ao chão e deu uma volta completa ao redor do Julián para poder ver seu corpo desde todos os ângulos.
Seus olhos começaram pela cabeça e descenderam até os dedos dos pés.
Julián logo que pôde suprimir a ira ante semelhante escrutínio.
- Você gostaria de me olhar os dentes talvez, ou prefere que me baixe as calças para que possa me inspecionar mais a gosto? -perguntou-lhe com mais malícia
da que tinha pretendido em um princípio. depois de tudo, ela estava, tecnicamente, de sua parte.
Se fechasse a boca e deixasse de olhar o daquele modo... Nunca tinha suportado ser o centro dessas desmedidas amostras de atenção.
Selena alargou a mão, insegura, para lhe tocar o braço.
- Uuuh! -burlou-se ele, conseguindo que Selena desse um coice.
Grace soltou uma gargalhada.
Selena franziu o cenho e dedicou a ambos um furioso olhar.
- Muito bem, estão tentando rir de mim?
- Merece-lhe isso -lhe disse Grace enquanto agarrava uma parte de melão recém talhado pelo Julián e o levava a boca-. Por não mencionar que você vais ocupar
te dele durante o dia de hoje.
- O que? -perguntaram Julián e Selena ao uníssono.
Grace se tragou o bocado.
- Bom, não posso levá-lo comigo à consulta, não?
Selena sorriu com malícia.
- Arrumado a que Lisa e seus pacientes femininas estariam encantadas.
- Exatamente igual ao menino que tem entrevista às oito. Não obstante, não acredito que fosse muito produtivo.
- Não pode cancelar as entrevistas? -perguntou Selena.
Julián esteve de acordo. Não gostava de absolutamente mostrar-se em um sítio público. A única parte da maldição que encontrava remotamente passível era o fato
de que a maioria de seus invocadoras o mantinham oculto em suas estadias privadas ou nos jardins.
- Sabe perfeitamente por que -respondeu Grace-. Não tenho um maridito advogado que me mantenha. Além disso, não acredito que ao Julián goste de ficar solo
em casa todo o dia, sem nada que fazer. Estou segura de que adorará sair e conhecer a cidade.
- Preferiria ficar aqui contigo -disse ele.
Porque o que realmente gostava de era vê-la retorcer-se outra vez sob seu corpo, e sentir como todo seu membro se empapava com seu fluxo, enquanto a fazia
chiar de prazer.
Grace ficou apanhada em seu olhar, e Julián reconheceu o desejo que brilhava nas profundidades cinzas de seus olhos. Nesse instante, descobriu o que se propunha.
ia se trabalhar para evitar ficar a sós com ele.
Bem, cedo ou tarde teria que retornar a casa.
E, então, seria dela.
E uma vez se rendesse, ia demonstrar lhe a resistência e a paixão que possuía um soldado macedonio treinado no exército espartano.
Capítulo 5
A manhã pareceu transcorrer muito lentamente com a habitual ronda de entrevistas. Por muito que tentasse concentrar-se em seus pacientes e seus problemas,
não o obtinha.
Uma e outra vez, sua mente voltava a recordar uma pele torrada pelo sol e uns ardentes olhos azuis.
E um sorriso...
Como desejaria que Julián não lhe tivesse sorrido jamais. Esse sorriso podia muito bem ser sua perdição.
-...e então lhe disse: "Dave, olhe, se quer te pôr minha roupa, de acordo. Mas não toque meus vestidos de desenho, porque quando lhe põe isso, dou-me conta
de que ficam melhor que a mim, e me dá vontade de dar-lhe todos ao Exército de Salvação." Fiz bem, doutora?
Grace elevou a vista do caderno onde rabiscava esboços de homens "contentes" com lanças em riste.
- O que dizia, Rachel? -perguntou a paciente, sentada na poltrona justa em frente dela.
A mulher era uma fotógrafa elegantemente vestida.
- Esteve bem o de lhe dizer ao Dave que não ficasse minha roupa? A ver, joder, não sinta muito bem que a seu noivo fique sua roupa melhor que a ti, não?
Grace assentiu.
- É obvio. É sua roupa e não teria por que fechar seu vestidor com chave.
- Vê-o? Sabia!, isso foi o que lhe disse. Mas acaso me escutou? Não. Ele pode chamar-se Davida sempre que quiser, e me dizer que é uma mulher apanhada no corpo
de um homem; mas quando aterrissa, escuta-me como o fazia meu ex-marido. Juraria...
Grace olhou inadvertidamente a hora... outra vez. Quase tinha acabado com o Rachel.
- Já sabe, Rachel -lhe disse, cortando-a antes de que pudesse começar sua sabida arenga sobre os homens e seus irritantes costumes-, possivelmente deveríamos
deixar o tema para na segunda-feira, quando tivermos a sessão conjunta com o Dave, não crie?
Rachel assentiu.
- Estupendo. Mas me recorde na segunda-feira que lhe fale sobre Menino.
- Menino?
- O chihuahua que vive no apartamento do lado. Juraria que esse cão me jogou o olho.
Grace franziu o cenho. Não era possível que Rachel insinuasse o que ela estava imaginado que no fundo queria dizer.
- O olho?
- Já sabe, o olho. Pode que pareça um vira-lata, mas esse cão só pensa no sexo. Cada vez que passo a seu lado, me olhe a saia. E não se imagina o que faz com
minhas sapatilhas de esporte. Esse cão é um pervertido.
- Vale -respondeu Grace, interrompendo-a de novo. Começava a suspeitar que não podia fazer nada com o Rachel, e sua obsessão a respeito de que todos os homens
do mundo morriam por possui-la-. Definitivamente, ocuparemo-nos de desentranhar o amor que esse chihuahua sente por ti.
- Obrigado doutora. É você é a melhor -Rachel recolheu sua bolsa do chão e se encaminhou para a porta.
Grace se esfregou a frente enquanto as palavras do Rachel ainda ressonavam em sua cabeça. Um chihuahua? Jesus!
Pobre Rachel. Tinha que haver algum modo de ajudar a esta pobre mulher.
Embora, por outro lado, era preferível ter a um chihuahua lançando olhadas luxuriosas a sua saia, que a um escravo grego.
- Ai, Lanie -soprou-, como consegue me colocar nestas confusões?
antes de poder fiar esse pensamento, soou o zumbido do intercomunicador.
- Sim, Lisa?
- Sua entrevista das onze foi cancelada, e durante a hora da senhorita Thibideaux, seu amiga Selena Laurens chamou seis dúzias de vezes; e não estou exagerando,
nem brincando. deixou uma quantidade impressionante de mensagens para que a chame o móvel logo que seja possível.
- Obrigado, Lisa.
Agarrou o telefone e marcou o número da Selena.
- Uf, graças a Deus! -exclamou seu amiga antes de que Grace pudesse pronunciar palavra-. Move o culo até aqui e te leve a seu noivo a sua casa. Agora mesmo!
- Não é meu noivo, é você...
- Ah!, quer saber o que é? -perguntou-lhe Selena com um tom histérico-. É um jodido ímã de estrogênios, isso é o que é. Estou rodeada de uma multidão de mulheres
neste mesmo momento. Sunshine está encantada, porque está vendendo mais cerâmica da que vendeu em sua vida. tentei levar ao Julián de volta a sua casa esta manhã,
mas não pude abrir um huequecito em semelhante multidão. Juro-te que se o vir, pensaria que há um famoso. É a primeira vez que sou testemunha de algo assim. E agora,
move o culo e vêem me ajudar!
E pendurou.
Grace amaldiçoou sua sorte e pediu a Lisa, através do intercomunicador, que cancelasse todas as entrevistas pendentes para o resto do dia.
logo que chegou à praça, entendeu o que Selena tinha querido lhe dizer. Haveria umas vinte mulheres rodeando ao Julián, e dúzias mais boquiabertas ao passar
perto da banca.
As que estavam mais perto dele, empurravam-se a cotoveladas tratando de chamar sua atenção.
Mas o mais incrível de tudo era contemplar às três mulheres que lhe aconteciam os braços pela cintura, enquanto outra os fazia uma foto.
- Obrigado -ronronou uma delas, cuja idade rondaria os trinta e cinco, dirigindo-se ao Julián enquanto arrebatava a câmara à garota que acabava de fazer a
foto instantânea. Sustentou-a diante do peito em um intento de atrair a atenção do Julián, mas ele não pareceu interessado no mais Isto mínimo é simplesmente maravilhoso
-continuou babando-. Não posso esperar a chegar a casa e acostumar-lhe a meu grupo de novela. Jamais me acreditarão quando lhes contar que me encontrei com um modelo
de capa de novela romântica no Bairro Francês.
Havia algo na rigidez do Julián que lhe dizia que não gostava da atenção que despertava. Mas tinha que admitir que não se comportava de forma abertamente mal
educada.
Não obstante, o sorriso não chegava aos olhos; e a que tinha nesses momentos não se parecia em nada a que lhe tinha dedicado a noite anterior.
- Um prazer -lhes respondeu.
As risitas que seguiram ao comentário foram ensurdecedoras. Grace agitou a cabeça totalmente incrédula. Garotas, um pouco de dignidade...!
E de novo, observando o rosto do Julián, seu corpo e seu sorriso, sobreveio-lhe aquela sensação de vertigem, tão habitual desde que lhe visse pela primeira
vez.
Como ia culpar as por comportar-se como adolescentes à porta de um concerto em um centro comercial?
De repente, Julián olhou além da maré de admiradoras e a viu. Grace arqueou uma sobrancelha, lhe indicando que encontrava a situação bastante divertida.
Imediatamente, o sorriso se apagou de seu rosto e cravou os olhos nela como um faminto depredador que acaba de encontrar sua próxima comida.
- Se me desculpam -disse, abrindo-se passo entre as mulheres e dirigindo-se diretamente para o Grace.
Ela tragou saliva ao perceber a foto instantânea hostilidade das mulheres, que franziram o cenho em massa, observando-a.
Mas foi muito pior o repentino e cru arrebatamento de desejo que a percorreu por completo, e fez que seu coração começasse a pulsar descontrolado. Com cada
passo que Julián dava para ela, a sensação se multiplicou por dez.
- Saudações, agapimeni -disse Julián, lhe elevando a mão para depositar um beijo sobre os nódulos.
Uma ardente descarrega elétrica percorreu suas costas e, antes de que pudesse mover-se, ele a arrastou para seus braços e lhe deu um tórrido beijo que lhe
rasgou a alma.
Fechou os olhos de forma instintiva e saboreou a calidez de sua boca e de seu fôlego; a sensação de seus braços rodeando-a com força contra seu peito, duro
como uma rocha. A cabeça começou a lhe dar voltas.
Uf, certamente este homem sabia como dar um beijo! Julián tinha uma forma de mover os lábios que desafiava qualquer possível explicação.
E seu corpo... Grace nunca havia sentido nada parecido a esses músculos esbeltos e duros flexionando-se a seu redor.
Uma das "admiradoras" sussurrou um apenas audível Lagarta!, que rompeu o feitiço.
- Julián, por favor -murmurou-. A gente nos olhe.
- E te importa?
- Pois claro!
Julián separou seus lábios dos do Grace com um grunhido, e voltou a deixá-la sobre o chão. Só então, foi consciente de que a tinha estado sustentando, aparentemente
sem muito esforço.
Com as bochechas ao vermelho, Grace captou as olhadas invejosas das mulheres enquanto se dispersavam.
Julián se apartou e deu um passo para trás; seu rosto mostrava às claras quão pouco disposto estava a manter-se afastado.
- Por fim -disse Selena com um suspiro-. De novo posso ouvir -disse agitando a cabeça-. Se tivesse sabido que ia funcionar, eu mesma lhe teria beijado.
Grace lhe dedicou uma sonrisilla satisfeita.
- Bom, você é a culpado.
- Como diz? -perguntou-lhe Selena.
Grace assinalou a roupa do Julián com um gesto da mão.
- Olhe como vai vestido. Não pode mostrar em público a um deus grego com umas calças curtas e uma camiseta de suspensórios duas talhas mais pequena da que
necessita. Jesus, Selena!, no que estava pensando?
- Em que estamos a 38º com uma umidade do cento e dez por cento. Não queria que muriese por um golpe de calor.
- Senhoras, por favor -disse Julián, interpondo-se entre elas-. Faz muito calor para estar discutindo em plena rua sobre um pouco tão corriqueiro como minha
roupa -disse, deslizando um faminto olhar sobre o Grace, e sonriendo de uma forma que derreteria a qualquer mulher-. E não sou um deus grego, só um semideus menor.
Grace não entendeu o que Julián dizia, já que o som de sua voz a tinha cativada. Como o conseguia?, como fazia que sua voz soasse com esse tom tão erótico?
Seria seu timbre profundo?
Não, era algo mais. Mas não acaba de entender o que podia ser.
Honestamente, quão único queria era encontrar uma cama e deixar que fizesse com ela tudo o que lhe desejasse muito; e sentir sua apetitosa pele sob as mãos.
Observou a Selena e viu que esta o comia com os olhos, enquanto lhe olhava as pernas nuas e o traseiro.
- Você também o sente, verdade? -perguntou-lhe.
Selena elevou o olhar, piscando.
- O que?
- A ele. É como se fosse o Flautista do Hamelin e nós fôssemos os ratos, seduzidas por sua música -Grace se deu a volta e observou o modo em que as mulheres
o olhavam; algumas inclusive estiravam o pescoço para lhe ver melhor-. O que há nele que nos faz esquecer nossa vontade? -perguntou.
Julián arqueou uma sobrancelha com um gesto arrogante.
- Eu te atraio contra sua vontade?
- Sinceramente sim. Eu não gosto de me sentir deste modo.
- E como se sente? -perguntou-lhe ele.
- Sexualmente atrativa -lhe respondeu antes de poder conter a língua.
- Como se fosse uma deusa? -voltou-lhe a perguntar ele com voz rouca.
- Sim -respondeu, enquanto Julián se aproximava dela.
Não a tocou, mas tampouco é que fizesse falta. Sua mera presença conseguia afligi-la e embriagá-la tão somente com que cravasse seu olhar em seus lábios ou
em seu pescoço. Podia jurar que realmente sentia o calor de seus lábios sobre a garganta.
E Julián nem sequer se moveu.
- Eu posso te dizer o que é -ronronou ele.
- A maldição, não é certo?
Julián negou com a cabeça enquanto elevava uma mão para lhe passar muito lentamente o dedo pelo maçã do rosto. Grace fechou os olhos com força ao sentir uma
feroz quebra de onda de desejo. Se não o olhava, possivelmente fosse capaz de manter-se firme e não capturar esse dedo com os dentes.
Julián se inclinou um pouco mais e esfregou a bochecha contra a dela.
- É o fato de que posso te perceber a um nível que os homens de sua mesma idade não apreciam.
- É o fato de que tem o traserus mais firme que vi em minha vida -disse Sunshine, interrompendo-os-. Por não mencionar que qualquer morre ao escutar sua voz.
Eu gostaria que alguma de vocês dois me dissesse onde posso me fazer com um destes.
Grace rompeu a rir a gargalhadas ante o inesperado comentário do Sunshine.
- Olha-o -disse a garota, assinalando ao Julián com o lápis. Tinha a mão manchada de pintura cinza, ao igual à bochecha direita-. Quando foi a última vez que
viu um homem tão bem formado, com uns músculos tão tonificados que pode ver como o sangue corre por suas veias? Seu noivo é... a ver... está bom. Está muito bom
-e depois acrescentou com uma expressão muito séria: - Está como um caminhão.
Sunshine girou um pouco seu caderno de esboços para que Grace pudesse ver sua interpretação do Julián.
- Dá-te conta do modo em que a luz ressalta o tom dourado de sua pele? Dá a sensação de que o sol lhe beijasse.
Grace franziu o cenho. Sunshine tinha razão.
Julián se inclinou para ela, com os olhos azuis repletos de paixão.
- Volta para casa comigo, Grace -lhe sussurrou ao ouvido-. Agora. me deixe que te abrace, que te dispa e que te ensine como querem os deuses que um homem ame
a uma mulher. Juro-te que o recordará durante o resto de sua vida.
Grace fechou os olhos enjoada com o aroma do sândalo. O fôlego do Julián lhe acariciava o pescoço e seu rosto estava tão perto que podia sentir os incipientes
cabelos de sua barba lhe roçando a bochecha.
Todo seu corpo queria render-se ante ele. Sim, por favor, sim.
Olhou os definidos e duros músculos dos ombros e o oco da garganta. Ai, como desejaria passar a língua por essa pele dourada, e comprovar que o resto de seu
corpo era tão saboroso como sua boca!
Julián seria esplêndido na cama. Não havia dúvida.
Mas ela não significava nada para ele. Nada absolutamente.
- Não posso -balbuciou, dando um passo atrás.
Com a decepção refletida nos olhos, Julián apartou o olhar e adotou uma atitude brusca e resolvida.
- Poderá -lhe assegurou.
Interiormente, sabia que Julián tinha razão. Quanto tempo seria capaz uma mulher de resistir a um homem como ele?
Afastando esses pensamentos da mente, olhou ao outro lado da rua, ao Jackson Brewery.
- Precisamos comprar algo que te sente bem.
- Não pude fazer outra coisa; tira- uma cabeça ao Bill, e é duas vezes mais largo de ombros -disse Selena-. A estupenda idéia de que o trouxesse comigo foi
tua.
Grace a olhou com os olhos entreabridos.
- De acordo. Estaremos no Brewery, se por acaso nos necessita.
- Muito bem, mas tomem cuidado.
- Que tomemos cuidado? -perguntou Grace.
Selena assinalou ao Julián com o dedo gordo.
- Se houver uma correria de mulheres, me faça caso e te aparte de seu caminho. Desde que se foi o último grupo de "admiradoras" não sinto o pé direito.
Grace cruzou a rua entre gargalhadas. Sabia que Julián iria atrás dela; de fato, sentia sua presença justo a suas costas. Era algo inegável: esse homem tinha
uma forma horrorosa de invadir seus pensamentos e seus sentidos.
Nenhum dos dois disse uma palavra enquanto atravessavam a lotada galeria comercial, e entravam na primeira loja que viram.
Grace jogou uma olhada até encontrar a seção de roupa masculina. Quando a localizou, dirigiu-se para ali.
- Que estilo de roupa você gosta mais? -perguntou ao Julián, enquanto se detinha junto ao expositor dos jeans.
- Para o que tenho em mente, o nudismo nos viria bem.
Grace pôs os olhos em branco.
- Está tentando me chatear, verdade?
- Talvez. Devo admitir que eu gosto de muito quando te ruboriza.
E se aproximou dela.
Grace se apartou e deixou que o mostrador dos jeans se interpor entre eles.
- Acredito que necessitará pelo menos três pares de calças enquanto esteja aqui.
Ele suspirou e olhou atentamente os jeans.
- Para que te incomodar se irei dentro de umas semanas?
Grace o olhou furiosa...
- Jesus, Julián! -espetou-lhe, indignada-. Te comporta como se ninguém se preocupou de te vestir em suas anteriores invocações.
- Não o fizeram.
Grace ficou paralisada ante o desapaixonado tom de sua voz.
- Está-me dizendo que durante os últimos dois mil anos ninguém se preocupou de que ponha um pouco de roupa em cima?
- Só em duas ocasiões -lhe respondeu com a mesma inflexão monótona-. Uma vez, durante uma tempestade de neve na Inglaterra, na época da Regência, uma de meus
invocadoras me cobriu com uma camisola rosa de volantes, antes de me tirar o balcão para que seu marido não me encontrasse na cama. A segunda vez foi muito abafadiça
para lhe contar isso - No tiene gracia. Y no entiendo cómo una mujer puede tener a un hombre al lado durante un mes y no preocuparse de que se vista.
- Não tem graça. E não entendo como uma mulher pode ter a um homem ao lado durante um mês e não preocupar-se de que se vista.
- me olhe, Grace -lhe disse, estendendo os braços para que contemplasse seu esbelto e delicioso corpo-. Sou um escravo sexual. Ninguém tinha pensado jamais
em me pôr roupa para cumprir com minhas obrigações, antes de que você chegasse.
A apaixonada olhar do Julián a mantinha em um estado de transe, mas a dor que ele tentava ocultar nas profundidades azuis de seus olhos a golpeou com força.
E o golpe lhe chegou à alma.
- Asseguro-te -prosseguiu ele em voz baixa- que uma vez me tinham dentro, faziam algo por me manter ali; na Idade Média, uma das invocadoras trancou a porta
e disse a todo mundo que tinha a peste.
Grace desviou o olhar enquanto lhe escutava. O que contava era incrível, mas podia dizer -pela expressão de seu rosto- que não estava exagerando nem um ápice.
Não era capaz de imaginá-las degradações que teria sofrido ao longo dos séculos. Santo Deus!, a gente tratava aos animais melhor do que lhe tinham tratado
a ele.
- Invocavam-lhe e nenhuma delas conversava contigo, nem te dava roupa?
- A fantasia de todo homem, não é certo? Ter a um milhão de mulheres dispostas a jogar-se em seus braços, sem compromissos nem promessas. Sem procurar outra
coisa que seu corpo e as poucas semanas de prazer que pode lhes proporcionar -o tom ligeiro não conseguiu ocultar a amargura que lhe invadia.
Pode que essa fosse a fantasia de qualquer homem, mas estava claro que não era a do Julián.
- Bom -disse Grace, voltando para os jeans-, eu não sou assim, e vais precisar levar algo em cima quando sairmos.
O olhar que lhe dedicou foi tão iracunda que deu um involuntário passo para trás.
- Não me amaldiçoaram para ser mostrado em público, Grace. Estou aqui para te servir a ti, e só a ti.
Que bem soava isso. Mas nem ainda assim ia dar-se por vencida. Não podia utilizar a outro ser humano da forma que Julián descrevia. Estava mau e não seria
capaz de seguir vivendo consigo mesma se o fazia isso.
- Dá-me igual -disse, decidida-. Quero que saia comigo e vais necessitar roupa -e começou a olhar as talhas das calças.
Julián guardou silêncio.
Grace elevou os olhos e captou o tenebroso e encolerizada olhar dele.
- O que?
- Quanto o que? -espetou ele.
- Nada. vamos ver qual destes fica melhor -agarrou uns quantos jeans de diferentes esculpe e os ofereceu. Pelo modo em que Julián reagiu, qualquer teria pensado
que lhe estava dando uma mierda de cão.
Sem fazer caso de seu ameaçador aparência, Grace lhe empurrou para os provadores e fechou com força a porta de um dos compartimentos atrás dele.
Julián ficou paralisado ao entrar no pequeno cubículo. Sua imagem lhe assaltou súbitamente desde três ângulos diferentes. Durante um minuto, foi incapaz de
respirar enquanto lutava contra o irrefreável desejo de fugir do estreito e reduzido habitáculo. Não podia fazer um só movimento sem dar um golpe com a porta ou
com os espelhos.
Mas ainda pior que a claustrofobia, foi enfrentar-se à imagem de seu rosto. Fazia séculos que não contemplava seu reflexo. O homem que tinha diante se parecia
tanto a seu pai que lhe entraram desejos de fazer pedaços o cristal. Tinham os mesmos rasgos angulosos e o mesmo olhar desdenhoso.
Quão único não compartilhavam era a profunda e irregular cicatriz que atravessava a bochecha esquerda de seu progenitor.
Pela primeira vez em incontáveis séculos, Julián contemplou a desagradável imagem das três tranças que lhe identificavam como general, e que lhe caíam sobre
o ombro.
Elevou uma tremente mão e as tocou enquanto fazia algo que não tinha feito em muito tempo: recordar o dia que ganhou o direito às levar.
Durante a batalha do Tebas, o general que lhes comandava caiu abatido e as tropas saladas de frutas começaram a replegarse aterrorizadas. Ele agarrou a espada
do general, reagrupou a seus homens e lhes conduziu à vitória, esmagando aos romanos.
O dia posterior à luta, reina-a da Macedônia em pessoa lhe trancou o cabelo e deu de presente as três contas de cristal que as sujeitavam nos extremos.
Julián encerrou as pequenas bolinhas em um punho.
Essas tranças tinham pertencido ao que uma vez fora um orgulhoso e heróico geral macedonio, cujo exército foi tão capitalista que obrigou aos romanos a dispersar-se
aterrorizados.
A lembrança lhe atormentava.
Baixou o olhar para o anel que levava na mão direita. Um anel que tinha estado ali tanto tempo que já não era consciente de que existia; fazia muito que tinha
esquecido seu significado.
Mas as tranças...
Não tinha pensado nelas desde fazia muitos, muitos séculos.
as tocando nesse momento, recordava ao homem que uma vez foi. Recordava os rostos de seus familiares. Às pessoas que se apressava a lhe servir. A aqueles que
lhe temiam e lhe respeitavam.
Recordava uma época em que ele mesmo governava seu destino, e o mundo conhecido se estendia ante ele para ser conquistado.
E agora não era mais que...
Com um nó na garganta, fechou os olhos e se tirou as contas do extremo das tranças, antes de começar às desfazer.
Enquanto seus dedos se esforçavam em desfazer a primeira delas, olhou as calças que tinha deixado cair ao chão.
por que estava fazendo isso Grace por ele? por que se empenhava em lhe tratar como a um ser humano?
Estava tão acostumado a ser tratado como a um objeto, que a amabilidade desta mulher lhe resultava insuportável. O trato impessoal e frio que tinha mantido
com o resto de seus invocadoras lhe tinha ajudado a tolerar a maldição, a não recordar quem e o que foi tempo atrás.
A não recordar o que tinha perdido.
Permitia-lhe concentrar-se tão solo no aqui e o agora, nos prazeres efêmeros que tinha por diante.
Mas os seres humanos não viviam desse modo. Tinham famílias, amigos, um futuro e muitos sonhos.
Esperanças.
Coisas que fazia séculos que ele tinha deixado atrás. Coisas que jamais voltaria a conhecer.
- Maldito seja, Príapo! -soprou enquanto tironeaba da última trança-. E maldito eu seja também!
Grace o olhou assombrada, da cabeça aos pés e de novo para cima, quando por fim Julián saiu do provador vestido com uns jeans que pareciam ter sido desenhados
especificamente para ele.
Rodeada-a camiseta de suspensórios que Selena lhe tinha emprestado, chegava-lhe justo à estreita e musculosa cintura. As calças lhe caíam sobre os quadris,
deixando à vista uma porção de seu duro estômago, dividido em duas pela linha de pêlo escuro que começava sob o umbigo e desaparecia sob o vaqueiro.
Grace teve o forte impulso de aproximar-se dele e deslizar a mão por aquele lhe sugiram atalho para investigar até onde levava. Recordava muito bem a imagem
do Julián nu diante dela.
Com os dentes apertados e tratando de normalizar a respiração, teve que admitir que os jeans lhe sentavam de maravilha. Estava muito melhor que com as calças
curtas -se é que isso era possível.
Sunshine estava no certo: tinha o melhor culo que um vaqueiro tivesse abafado jamais, e em quão único podia pensar era em passar a mão por esse traseiro e
lhe dar um bom apertão.
A vendedora, e a clienta a que esta atendia, deixaram de falar e olharam ao Julián boquiabertas.
- Ficam bem? -perguntou ao Grace.
- Uf!, sim coração -lhe respondeu Grace sem fôlego, antes de pensar no que ia dizer.
Julián lhe sorriu, mas o sorriso não lhe iluminou os olhos.
Grace deu uma volta completa a seu redor e se fixou na talha.
Ai, sim!, um culo precioso!
Distraída por suas bem formada costas, passou inadvertidamente os dedos sobre sua pele enquanto agarrava a etiqueta. Sentiu como Julián se esticava.
- Já sabe -disse ele, olhando-a por cima do ombro-, que desfrutaríamos muitíssimo mais se ambos estivéssemos nus. E em sua cama.
Grace escutou como a vendedora e a outra mulher ofegavam surpreendidas.
Com o rosto morto de calor, endireitou-se e o olhou furiosa.
- Temos que falar com urgência sobre os comentários adequados em um lugar público.
- Se me levasse a casa, não teria que preocupar-se por isso.
O tipo era realmente implacável.
Movendo a cabeça com incredulidade, Grace agarrou dois pares mais de jeans, umas quantas camisas, um cinturão, uns óculos de sol, meias três-quartos, sapatos
e vários boxers enormes e horrorosos. Nenhum homem estaria atrativo com aquela cueca, decidiu. E o último que pretendia era que Julián resultasse ainda mais apetecível.
Saíram da zona dos provadores com o Julián vestido de cima abaixo com a roupa nova: um pólo, uns jeans e umas sapatilhas de esporte.
- Agora parece quase humano -brincou Grace, enquanto deixavam atrás o departamento de roupa masculina.
Julián lhe dedicou um olhar frio e letal.
- Só por fora -lhe respondeu com voz tão baixa que Grace não esteve segura de ter escutado bem.
- O que há dito? -perguntou-lhe.
- Que só sou humano exteriormente -disse ele falando mais alto.
Grace captou a angústia em seu olhar. Seu coração começou a pulsar com mais força.
- Julián -disse com claras intenções de lhe repreender-, és humano.
Ele apertou os lábios e lhe respondeu com um olhar sombrio e precavido:
- Sério? Um humano pode viver dois mil anos? Permite a um humano caminhar pelo mundo umas quantas semanas cada centenas de anos?
Olhou a seu redor, notando-se nas mulheres que o olhavam às escondidas por entre a roupa. Mulheres que se detinham por completo, paralisadas, assim que o viam
pela extremidade do olho.
Fez um amplo gesto com a mão, assinalando o espetáculo que se desenvolvia a seu redor.
- Viu que façam isso com alguém mais? -o rosto do Julián adotou uma expressão dura e perigosa, enquanto a atravessava com o olhar- Não, Grace, jamais hei sido
humano.
Com o urgente desejo de reconfortá-lo, ela levou a mão até sua bochecha.
- És humano, Julián.
A dúvida que viu em seus olhos lhe partiu o coração.
Sem saber muito bem o que fazer nem o que dizer para que se sentisse melhor, deixou passar o tema e se encaminhou para a saída. Estava quase saindo quando
se deu conta de que Julián não ia atrás dela.
girou-se e o localizou imediatamente. distraiu-se no departamento de lingerie feminina; estava de pé junto a um expositor de minúsculas negligés negras. Começou
a ruborizar-se de novo; juraria que podia escutar os lascivos pensamentos que passavam nesses momentos pela mente masculina.
Seria melhor que fosse rapidamente para buscá-lo, antes de que qualquer das mulheres se oferecesse como modelo. aproximou-se apressadamente e se esclareceu
garganta.
- Vamos?
Ele a olhou muito devagar, de cima abaixo e Grace soube por seus olhos que estava conjurando sua imagem com aquele objeto de gaze.
- Estaria deslumbrante com isto.
Ela o olhou com cepticismo. Aquela coisa era tão diáfana que se transparentaría por inteiro. Ao contrário do que ocorria com ele, o seu não era um corpo que
conseguisse fazer voltar a cabeça de ninguém -a menos que o susodicho estivesse muito desesperado. Ou tivesse estado encarcerado um par de décadas.
- Não sei se deslumbraria a alguém, mas seguro que eu acabava congelada.
- Não demoraria muito em entrar em calor.
Grace conteve a respiração ao escutar suas palavras; acreditou-as com convicção.
- É muito mau.
- Não, na cama não -disse baixando a cabeça para a sua-. Realmente na cama sou muito...
- Aqui estão!
Grace retrocedeu de um salto ao escutar a voz da Selena. Julián lhe disse algo em uma língua estranha que não conseguiu entender.
- Vá, vá -disse com tom acusador-. Grace não entende o grego clássico. dedicou-se a dormir durante todo o semestre -Selena a olhou e estalou a língua-. O vê?
Disse-te que algum dia te serviria para algo.
- Sim, claro! -disse a gargalhadas-. Como se naquela época eu me pudesse ter imaginado que foste convocar a um escravo sexual gri... -a voz do Grace se extinguiu
ao cair na conta de que Julián estava presente. Envergonhada, mordeu-se o lábio.
- Não passa nada, Grace -a tranqüilizou em voz baixa.
Mas ela sabia que esse comentário o tinha incomodado. Era lógico.
- Sei o que sou Grace; a verdade não me ofende. Em realidade, estou mais ofendido pelo fato de que me chame grego. Fui treinado na Esparta e lutei com o exército
macedonio. Para mim era um hábito evitar todo contato possível com os gregos antes de ser amaldiçoado.
Grace arqueou uma sobrancelha ante suas palavras, ou melhor dizendo ante o que não havia dito. Não fazia nenhuma referência a sua infância.
- Onde nasceu?
Começou a lhe pulsar um músculo na mandíbula, e seus olhos se obscureceram de forma sinistra. Qualquer que tivesse sido o lugar de seu nascimento, não parecia
lhe agradar muito.
- Muito bem, sou médio grego; mas não estou orgulhoso dessa parte de minha herança.
Bem; um tema espinhoso. de agora em diante, apagaria a palavra "grego" de seu vocabulário.
- Voltando para assunto da negligé negra -disse Selena-, devo dizer que ali há uma vermelha que acredito que ficaria muito melhor.
- Selena! -gritou-lhe Grace.
Seu amiga a ignorou e conduziu ao Julián à prateleira onde estava pendurada a lingerie de cor vermelha. Selena agarrou um picardias de cor vermelha brilhante
aberto pela parte dianteira, e sujeito por um pequeno cordoncillo que se atava justo sob o peito. Os suspensórios eram minúsculos. Umas braguitas e um liguero de
encaixe do mesmo tom completavam o conjunto.
- O que está pensando? -perguntou-lhe Grace enquanto Selena sustentava o objeto frente a Julián.
Ele a olhou de forma especulativo.
Se continuavam com esse jueguecito, acabaria morta de vergonha.
- Querem deixar já isso? -perguntou-lhes-. Não me penso pôr isso Él la miró divertido.
- De todas formas vou comprar o -disse seu amiga com voz resolvida-. Estou virtualmente segura de que Julián é capaz de te convencer para que lhe ponha isso.
Ele a olhou divertido.
- Preferiria convencê-la para que o tirasse.
Grace se cobriu a cara com as mãos e gemeu.
- Acabará animando-lhe respondeu Selena com um gesto conspirador.
- Não o farei -lhe disse Grace, ainda oculta depois das mãos.
- Sim o fará -disse Julián deixando resolvido o tema, enquanto Selena pagava a negligé vermelha.
Usou um tom tão arrogante e crédulo, que Grace imaginou que não estava acostumado a que lhe desafiassem.
- Equivocaste-te alguma vez? -perguntou-lhe.
A diversão desapareceu de seu rosto, e de novo ocultou seus sentimentos detrás uma espécie de véu. Esse olhar escondia algo, estava segura. Um pouco muito
doloroso, tendo em conta a repentina tensão de seu corpo.
Não voltou a pronunciar uma só palavra até que Selena retornou e lhe deu a bolsa.
- Vá -comentou-, me ocorre que podiam pôr umas velas, uma música tranqüila e...
- Selena -a interrompeu Grace-, agradeço-te muito o que tenta fazer, mas em lugar de falar de mim, podemos nos ocupar do Julián?
Selena o olhou de esguelha.
- Claro, passa-lhe algo?
- Sabe como tirá-lo do livro? De forma permanente, quero dizer.
- Nem idéia -respondeu e se dirigiu ao Julián-. Você sabe algo a respeito?
- Não deixei que repetir-lhe é impossível.
Selena assentiu com a cabeça.
- É muito teimosa. Nunca disposta atenção ao que lhe diz, a menos que seja o que ela quer ouvir.
- Teimosa ou não -acrescentou Grace dirigindo-se ao Julián-, não posso imaginar uma só razão pela qual quereria permanecer encerrado em um livro.
Julián apartou o olhar.
- Grace, não o curve.
- Isso é o que intento, liberá-lo do esgotamento de seu confinamento.
- De acordo -disse Selena, cedendo finalmente-. Muito bem, Julián, que horrível pecado cometeu para acabar metido em um livro?
- Hubris.
- Ooooh! -exclamou Selena com tom fúnebre-, isso não é nada bom. Grace, pode que tenha razão. Estavam acostumados a fazer coisas como despedaçar às pessoas
por isso. Deveria ter emprestado atenção durante as classes de cultura clássica. Os deuses gregos são realmente desumanos no referente aos castigos.
Grace entrecerró os olhos para olhá-los.
- Nego-me a acreditar que não exista nenhum modo de liberá-lo. Não podemos destruir o livro, ou convocar a um de seus espíritos, ou fazer algo para ajudá-lo?
- Vá!, agora crie em minha magia vodu?
- Não muito, a verdade. Mas lhe arrumou isso para lhe trazer até aqui. É que não pode pensar em algo que sirva de ajuda?
Selena se mordiscou o polegar em um gesto pensativo.
- Julián, que deus estava a seu favor?
Ele inspirou fundo, como se estivesse realmente cansado de suas perguntas.
- Em realidade, nenhum deles me apreciava muito. Como era um soldado, normalmente dedicava sacrifícios a Ateneu, mas tinha mais contato com o Eros.
Selena lhe dedicou um sorriso travesso.
- O deus do amor e o desejo; compreendo-o perfeitamente.
- Não é pelo que crie -lhe respondeu ele agriamente.
Selena lhe ignorou.
- tentaste alguma vez recorrer ao Eros?
- Não nos falamos.
Grace pôs os olhos em branco ante o despreocupado sarcasmo do Julián.
- por que não tenta convocá-lo? -sugeriu-lhe Selena.
Grace lhe lançou um furioso olhar.
- Selena, poderia fazer o esforço de ser um pouco mais séria? Sei que me burlei que suas crenças durante todos estes anos, mas agora estamos falando da vida
do Julián.
- Estou falando totalmente a sério -lhe respondeu com ênfase-. O melhor para o Julián seria invocar ao Eros e lhe pedir ajuda.
Que demônios? -pensou Grace. A noite anterior, não acreditava que pudessem invocar ao Julián. Possivelmente Selena tivesse razão.
- Tentará-o? -perguntou-lhe Grace.
Julián suspirou resignado, mas dava a impressão de que estava mais que disposto às sacudir às dois. Com aspecto ofendido, jogou a cabeça para trás e olhando
ao teto disse:
- Cupido, bastardo inútil, invoco sua presença.
Grace elevou as mãos.
- Joder!, não entendo como não se aparece depois de chamar o desse modo.
Selena riu.
- Muito bem -disse Grace-. De todas formas não me acredito nada deste abracadabra. vamos deixar as bolsas em meu carro e a procurar um sítio onde comer; ali
poderemos pensar algo mais produtivo que invocar ao tal "Cupido, bastardo inútil". Estão de acordo?
- Por mim bem -respondeu Selena.
Grace lhe deu a bolsa com a roupa de seu marido.
- Aqui estão as coisas do Bill.
Selena olhou no interior e franziu o cenho.
- Onde está a camiseta de suspensórios?
- Logo lhe dou isso.
Selena riu de novo.
Julián caminhava atrás delas, escutando suas brincadeiras enquanto saíam da loja.
Felizmente, Grace tinha encontrado estacionamento justo no estacionamento do centro comercial.
Julián as observou deixar as bolsas no carro. Se o pensava um pouco, tinha que admitir que gostava do fato de que Grace estivesse tão interessada em ajudá-lo.
Ninguém o tinha estado antes.
Tinha percorrido o caminho de sua existência em solitário, apoiando-se em sua inteligência e em sua força. Inclusive antes de ser amaldiçoado estava cansado
de tudo. Cansado da solidão, de não contar com ninguém neste mundo e, o mais importante, de não ter a ninguém que se preocupasse com ele.
Era uma pena que não tivesse conhecido ao Grace antes da maldição. Ela teria sido um bálsamo para sua inquietação. Mas de todos os modos, as mulheres de sua
época não se pareciam com as atuais; essas mulheres o tratavam como a uma lenda a que temer ou aplacar, mas Grace o olhava como a um igual.
O que tinha Grace que a fazia parecer única? O que havia nela que lhe permitia chegar ao mais fundo de sua alma, quando sua própria família lhe tinha dado
as costas?
Não estava muito seguro. Mas era uma mulher muito especial. Um coração puro em um mundo infestado de egoísmo. Nunca tinha acreditado possível encontrar a alguém
como ela.
Incômodo ante o rumo que estavam tomando seus pensamentos, jogou uma olhada à multidão. Ninguém parecia molesto com o opressivo calor lhe reinem naquela estranha
cidade.
Captou a discussão que um casal mantinha justo em frente de onde eles se encontravam; a mulher estava zangada porque seu marido se esqueceu algo. Com eles
havia um menino, de uns três ou quatro anos, que caminhava entre ambos.
Julián lhes sorriu. Não podia recordar a última vez que tinha visto uma família imersa em seus quehaceres. A imagem despertou uma parte dele que apenas se
recordava ter. Seu coração. perguntou-se se essas pessoas saberiam o presente que supunha se ter os uns aos outros.
Enquanto o casal continuava com a discussão, o menino se deteve. Algo ao outro lado da rua tinha captado sua atenção.
Julián conteve o fôlego ao dar-se conta do que o menino estava a ponto de fazer.
Grace fechou nesse momento o porta-malas do carro.
Pela extremidade do olho, viu uma mancha azul que cruzava a rua a toda carreira. Levou-lhe um segundo dar-se conta de que se tratava do Julián, atravessando
como uma exalação o estacionamento. Franziu o cenho, sentida saudades, e então viu o pequeñín que se internava na rua lotada de carros.
- OH, Meu deus! -ofegou quando escutou que os veículos começavam a frear em seco.
- Steven! -gritou uma mulher.
Com um movimento próprio de um filme, Julián saltou o muro que separava o estacionamento da rua, agarrou ao menino ao vôo e protegendo-o sobre seu peito, equilibrou-se
sobre a lua do carro que acabava de frear, deu um salto lateral e acabou no outro lado.
Aterrissaram a salvo no outro sulco, um segundo antes de que outro carro colidisse com o primeiro e se equilibrasse diretamente sobre eles.
Horrorizada, Grace observou como Julián subia de um salto à capota de um velho Chevy, deslizava-se pelo pára-brisa e se deixava cair ao chão, rodando uns quantos
metros até deter-se por fim e ficar imóvel, tendido de flanco.
O caos invadiu a rua, que se encheu de gritos e chiados, enquanto a multidão rodeava o cenário do acidente.
Grace não podia deixar de tremer. Aterrorizada, cruzou a multidão, tentando chegar ao lugar onde tinha cansado Julián.
- Por favor, que esteja bem; por favor, que esteja bem -murmurava uma e outra vez, suplicando que tivessem sobrevivido ao golpe.
Quando conseguiu atravessar a maré humana e chegou ao lugar onde tinha cansado, viu que Julián não tinha solto ao menino. Ainda o deixava firmemente sujeito,
a salvo entre seus braços.
Incapaz de acreditar o que via, deteve-se com o coração desbocado.
Estavam vivos?
- Não vi nada igual em minha vida -comentou um homem atrás dela.
Todos os congregados eram da mesma opinião.
Quando viu que Julián começava a mover-se, aproximou-se muito devagar e muito assustada.
- Está bem? -escutou que lhe perguntava ao menino.
O pequeno respondeu com um lastimero uivo.
Ignorando o ensurdecedor grito, Julián ficou em pé, lentamente, com o menino em braços.
Como as tinha arrumado para manter pego ao pequeno?
cambaleou-se um pouco e voltou a recuperar o equilíbrio sem soltar ao menino.
Grace lhe ajudou a manter-se em pé lhe sujeitando pelas costas.
- Não deveria te haver levantado -lhe disse quando viu o sangue que lhe empapava o braço esquerdo.
Ele não pareceu lhe emprestar atenção.
Tinha um estranho e lúgubre olhar.
- Shh! Já te tenho -murmurou-. Agora está a salvo.
Esta atitude a deixou assombrada. Aparentemente, não era a primeira vez que consolava a um menino. Mas, quando teria estado um soldado grego perto de um menino?
A menos que tivesse sido pai.
A mente do Grace girava a velocidades de vertigem, sopesando as possibilidades, enquanto Julián deixava à chorosa criatura em braços de sua mãe, que soluçava
ainda mais forte que o menino.
Senhor!, era possível que Julián tivesse tido filhos? E se era certo, onde estavam esses meninos?
O que lhes teria acontecido?
- Steven -choramingou a mulher enquanto abraçava ao menino-. Quantas vezes tenho que te dizer que não te afaste de meu lado?
- Está bem? -perguntaram ao uníssono o pai do menino e o condutor, dirigindo-se ao Julián.
Fazendo uma careta, passou-se a mão pelo braço esquerdo para comprovar os danos sofridos.
- Sim, não é nada -respondeu, mas Grace percebeu a rigidez de sua perna esquerda, onde lhe tinha golpeado o carro.
- Necessita que te veja um médico -lhe disse, enquanto Selena se aproximava.
- Estou bem, de verdade -lhe respondeu com um débil sorriso, e então baixou a voz para que só ela pudesse lhe escutar-; mas tenho que confessar que os carros
faziam menos danifico que os carros quando te chocava com eles.
Ao Grace horrorizou seu inoportuno senso de humor.
- Como pode brincar com isto?, acreditava que tinha morrido.
Ele se encolheu de ombros.
Enquanto o homem lhe dava profusamente as obrigado por ter salvado a seu filho, Grace jogou uma olhada a seu braço; o sangue emanava justo por cima do cotovelo,
mas se evaporava imediatamente, como se se tratasse de um efeito especial próprio de um filme.
de repente, Julián apoiou todo seu peso sobre a perna ferida, e a tensão que se refletia em seu rosto desapareceu.
Grace intercambiou um atônito olhar com a Selena, que também se precaveu do que acabava de acontecer. Que demônios tinha feito Julián?
Era humano, ou não?
- Não posso agradecer-lhe o suficiente -insistia o homem-, acreditava que os dois tinham morrido.
- Me alegro de lhe haver visto a tempo -sussurrou Julián. Estendeu a mão para o menino.
Estava a ponto de acariciar os castanhos cachos do pequeno quando se deteve. Grace observou as emoções que cruzavam por seu rosto antes de que ele recuperasse
sua atitude estóica e retirasse a mão.
Sem dizer uma palavra, voltou para estacionamento.
- Julián? -chamou-lhe, apressando-se para lhe dar alcance-. De verdade está bem?
- Não se preocupe por mim, Grace. Meus ossos não se rompem, e estranha vez sangro -nesta ocasião, a amargura de sua voz era indiscutível-. É um presente da
maldição. As Parcas proibiram minha morte para que não pudesse escapar a meu castigo.
Grace se encolheu ao ver a angústia que refletiam seus olhos.
Mas não só estava interessada no fato de que tivesse sobrevivido ao acidente, também queria lhe perguntar sobre o menino, sobre seu modo de olhá-lo -como se
tivesse estado revivendo um horrível pesadelo. Mas as palavras lhe engasgaram.
- Tio, merece-te uma recompensa -lhe disse Selena ao alcançar -.vamos a Praline Factory!
- Selena, não acredito que...
- O que é Praline? -perguntou ele.
- É ambrósia cajun -explicou Selena-. Algo que deveria estar a sua altura.
Contra os protestos do Grace, Selena lhes conduziu para a escada rolante. Subiu ao primeiro degrau e se deu a volta para olhar ao Julián, que subia em meio
das duas.
- Como fez para saltar sobre o carro? Foi incrível!
Julián encolheu os ombros.
- Vamos, homem não seja modesto! Parecia-te com o Keanu Reeves no Matrix. Grace, fixou-te no movimento que fez?
- Sim, vi-o -disse em voz fica, percebendo o incômodo que se sentia Julián ante as adulações da Selena.
Também percebeu a forma em que as mulheres a seu redor o olhavam boquiabertas.
Julián tinha razão. Não era normal. Mas, quantas vezes podia contemplar um homem como ele em carne e osso?, um homem que exsudasse esse brutal atrativo sexual?
Era um saco de feromonas andantes.
E agora um herói.
Mas, sobre tudo, era um mistério; ao menos para ela. morria por conhecer umas quantas coisas sobre ele. E, de uma ou outra forma, conseguiria as averiguar
durante o mês que tinham por diante.
Quando chegaram a Praline Factory, no último piso, Grace comprou dois Pralines de açúcar e nozes e uma Coca Cola. Sem pensá-lo duas vezes, ofereceu- um praline
ao Julián. Mas em lugar de agarrá-lo, ele se inclinou e lhe deu um bocado enquanto ela o sustentava.
Saboreou o sabor açucarado de uma forma que fez que ao Grace subisse a temperatura; seus olhos azuis não deixaram de olhá-la enquanto degustava o doce, como
se desejasse que fosse seu corpo o que saboreava naquele momento.
- Tinha razão -disse com essa voz rouca que fazia que lhe pusesse a pele de galinha-. Está delicioso.
- Latido! -disse a vendedora do outro lado do mostrador-. Esse acento não é de por aqui perto. Você deve vir de longe.
- Sim -respondeu Julián-. Não sou daqui.
- E de onde é?
- Da Macedônia.
- Isso não está em Califórnia, verdade? -perguntou a garota-. Parece um desses surferos que se vêem pela praia.
Julián franziu o cenho.
- Califórnia?
- É da Grécia -informou Selena à garota.
- Ah! -exclamou ela.
Julián arqueou uma acusadora sobrancelha.
- Macedônia não é...
- Colega -disse Selena, com os lábios manchados de praline-, por estes contornos pode te sentir afortunado se encontrar a alguém que conheça a diferença.
antes de que Grace pudesse responder às bruscas palavras da Selena, Julián lhe colocou as mãos na cintura e a elevou até apoiá-la sobre seu peito.
inclinou-se e apanhou seu lábio inferior com os dentes para, ato seguido, acariciá-lo com a língua. Ao Grace começou a lhe dar voltas todo depois do tenro
abraço. Julián aprofundou o beijo um momento antes de soltá-la e afastar-se dela.
- Tinha açúcar -lhe explicou com um travesso sorriso, que fez que suas covinhas aparecessem em todo seu esplendor.
Grace piscou, surpreendida ante quão rápido seu beijo tinha despertado sua paixão, e o refrescante que parecia com o mesmo tempo.
- me podia haver isso dito.
- Certo, mas deste modo foi muito mais divertido.
Grace não pôde rebater seu argumento.
Com passos rápidos, afastou-se dele e tentou ignorar o sorriso malicioso da Selena.
- por que me tem tanto medo? -perguntou-lhe Julián inesperadamente, enquanto ficava a seu lado.
- Não te tenho medo.
- Ah, não? E então o que é o que te assusta? Cada vez que me aproximo de ti, encolhe-te de medo.
- Não me encolho -insistiu Grace. Joder, é que havia eco?
Julián alargou o braço e o passou pela cintura. Ela se apartou com rapidez.
- Encolheste-te -lhe disse acusadoramente, enquanto retornavam à escada rolante.
Grace baixava um degrau por diante do Julián, e lhe aconteceu os braços pelos ombros e apoiou o queixo sobre sua cabeça. Sua presença a rodeava por completo,
envolvia-a e fazia que se sentisse extrañamente enjoada e protegida.
Olhou fixamente a força que desprendiam essas mãos moréias e grandes sob as suas. A forma nas veias se marcavam, ressaltando seu poder e sua beleza. Ao igual
ao resto de seu corpo, suas mãos e seus braços eram magníficos.
- Alguma vez tiveste um orgasmo, verdade? -sussurrou-lhe ele ao ouvido.
Grace se engasgou com o Praline.
- Este não é lugar para falar disso.
- acertei, verdade? -perguntou-lhe-. Por isso...
- Não é isso -lhe interrompeu ela-; de fato sim que tive alguns.
Vale, era uma mentira. Mas ele não tinha por que averiguá-lo.
- Com um homem?
- Julián! -exclamou-. O que acontece com Selena e a ti com esse afã de discutir sobre minha vida privada em público?
Ele inclinou ainda mais a cabeça, aproximando-a tanto a seu pescoço que Grace podia sentir o roce de seu fôlego sobre a pele, e cheirar seu quente aroma a
limpo.
- Sabe, Grace? Posso te proporcionar prazeres tão intensos que não seria capaz de imaginá-los.
Um calafrio lhe percorreu as costas. Acreditava-lhe.
Seria tão fácil deixar que lhe demonstrasse suas palavras...
Mas não podia. Estaria mau e, sem ter em conta o que ele dissesse, acabaria lhe remoendo a consciência. E no fundo, suspeitava que a ele também.
tornou-se para trás, o justo para olhá-lo aos olhos.
- Te ocorreu pensar que possivelmente não me interesse sua proposta?
Suas palavras lhe deixaram perplexo.
- E isso como é possível?
- Já lhe hei isso dito. A próxima vez que compartilhe minha intimidade com um homem, quero que estejam envoltas muitas mais parte além das óbvias. Quero ter
seu coração.
Julián olhou seus lábios com olhos famintos.
- Asseguro-te que não o sentiria falta de.
- Sim que o faria.
Estremecendo-se como se o tivesse esbofeteado, Julián se ergueu.
Grace sabia que acabava de tocar outro tema espinhoso. Como queria descobrir mais costure sobre ele, deu-se a volta e o olhou aos olhos.
- por que é tão importante para ti que eu acesse? Ocorrerá-te algo se não cumprir com minha parte?
Ele riu amargamente.
- Como se as coisas pudessem piorar mais.
- Então, por que não te dedica a desfrutar do tempo que passe comigo sem pensar em... -e baixou a voz- o sexo?
Os olhos do Julián flamejaram.
- Desfrutar com o que? Conhecendo pessoas cujos rostos me perseguirão durante toda a eternidade? Crie que me diverte olhar a meu redor sabendo que em uns dias
me arrojarão de novo ao buraco vazio e escuro onde posso ouvir, mas não posso ver, saborear, sentir nem cheirar, onde meu estômago se retorce constantemente de fome
e a garganta me arde pela sede que não posso satisfazer? Você é o único que me está permitido desfrutar. E me negaria esse prazer?
Os olhos do Grace se encheram de lágrimas. Não queria lhe fazer danifico. Não era sua intenção.
Mas Paul tinha utilizado um truque similar para ganhar sua simpatia e levar-lhe à cama; e isso lhe tinha destroçado o coração.
Depois da morte de seus pais, Paul lhe tinha assegurado que a cuidaria. Tinha estado junto a ela, consolando-a e sustentando-a. E, quando finalmente confio
nele por completo e lhe entregou seu corpo, lhe fez tanto dano e, de forma tão cruel, que ainda sentia a alma rasgada.
- Sinto-o muito, Julián. De verdade. Mas não posso fazê-lo -desceu da escada rolante e se encaminhou de volta à rua peatonal.
- por que? -perguntou-lhe, enquanto Selena e lhe davam alcance.
Como podia explicar-lhe Paul lhe fez muito dano aquela noite. Não tinha tido compaixão alguma por seus sentimentos. Lhe pediu que se detivera mas não o fez.
"Olhe, supõe-se que a primeira vez dói -lhe disse Paul- Joder!, deixa de chorar; acabarei em um minuto e poderá partir."
Para quando Paul acabou, sentia-se tão humilhada e ferida que se passou dias inteiros chorando.
- Grace? -a voz do Julián se introduziu entre o torvelinho de seus pensamentos- O que te acontece?
Custou-lhe muito trabalho conter as lágrimas. Mas não choraria; não em público. Não assim. Não permitiria que ninguém sentisse lástima por ela.
- Não é nada -lhe respondeu.
Em busca de uma baforada de ar fresco, embora fosse mais ardente e espesso que o vapor, dirigiu-se à porta lateral do Brewery que levava ao Moonwalk. Julián
e Selena a seguiram.
- Grace, o que é o que te faz chorar? -perguntou-lhe Julián.
- Paul -sussurrou Selena.
Grace a olhou furiosa, enquanto se esforçava por recuperar a calma. Com um suspiro entrecortado, olhou ao Julián.
- eu adoraria te jogar os braços ao pescoço e me colocar na cama contigo, mas não posso. Não quero que me utilizem desse modo, e não quero te utilizar! É que
não o entende?
Julián apartou o olhar com a mandíbula tensa. Grace olhou para o lugar onde tinha fixado sua atenção e viu um grupo de seis rudes moteros que se aproximavam
até eles. A vestimenta de couro devia ser cansativo com aquela temperatura, mas nenhum deles parecia notá-lo, posto que não paravam de tomar o cabelo e rir.
Nesse momento, Grace se fixou na mulher que lhes acompanhava. Sua forma de andar, lenta e sedutora, era o equivalente feminino ao elegante e ágil perambular
tão típico do Julián. A garota também possuía uma estranha beleza, própria de qualquer atriz ou modelo.
Alta e loira, levava um direto Top de couro e uns shorts muito curtos e ajustados que abraçavam uma figura pela qual Grace seria capaz de assassinar.
A garota diminuía o passo, ficando atrasada depois dos homens, enquanto se deslizava os óculos pela ponte do nariz para olhar fixamente ao Julián.
Grace se encolheu mentalmente.
OH Senhor!, isto podia ficar muito feio. Nenhum dos desalinhados e duros moteros pareciam pertencer ao tipo de homem que tolera que sua noiva olhe a outro
tio. E o último que ela desejava era uma briga no Moonwalk.
Grace agarrou ao Julián da mão e atirou dele em direção contrária.
Mas se negou a mover-se.
- Venha, Julián! -disse-lhe nervosa-. Temos que voltar para centro comercial.
Ainda assim não se moveu.
Olhava fixamente aos moteros, de forma tão furiosa que parecia querer assassiná-los. E então, em um abrir e fechar de olhos, soltou-se da mão do Grace e se
aproximou deles a pernadas, até que agarrou a um pela camisa.
Muda de assombro, Grace observou como Julián lhe dava ao tipo um murro na mandíbula.
Capítulo 6
- Vêem aqui, pedaço do Julián deixou cair uma enxurrada de maldições que tivessem envergonhado até a um marinheiro.
Grace abriu uns olhos como pratos. Não estava muito segura do que lhe surpreendia mais: se o ataque do Julián ao desconhecido motero ou a linguagem que estava
usando.
Como ele não deixava de lhe dar murros, o tipo começou a defender-se; mas suas habilidades na luta não se aproximavam, nem de longe, às do Julián.
Esquecendo por completo a Selena, Grace pôs-se a correr para eles com o coração pulsando desbocado enquanto tentava pensar o que fazer. Não havia maneira de
interpor-se entre os dois homens, tendo em conta que tentavam matar o um ao outro.
- Julián, detenha antes de que lhe faça mal! -gritou a garota que lhes acompanhava.
Grace se deteve o escutá-la, incapaz de mover-se.
Como é que conhecia o Julián?
A mulher dava voltas ao redor de ambos, em um intento de ajudar ao motero e estorvar ao Julián.
- Céu, tome cuidado, vai a... Ai, isso deveu doer! -a mulher se encolheu em um gesto de dor, quando Julián golpeou ao tipo no nariz-. Julián, deixa de lhe
maltratar desse modo! vais fazer que lhe enche o nariz. Uf, coração, te agache!
O motero não se agachou e Julián lhe atirou um tremendo murro no queixo, que o fez cambalear-se para trás.
O olhar do Grace passava do Julián à mulher com total incredulidade, aniquilada.
Como era possível que se conhecessem?
- Eros, coração! Não! -gritou a garota de novo, agitando as mãos freneticamente diante da cara.
Selena se aproximou até o Grace.
- Este é o Eros que Julián invocou? -perguntou-lhe Grace.
Selena se encolheu de ombros.
- Pode ser; mas jamais me teria imaginado ao Cupido de motero.
- Onde está Príapo? -perguntou Julián ao Eros, enquanto lhe agarrava para lhe empurrar sobre o corrimão de madeira, sob a qual discorria o rio.
- Não sei -lhe respondeu, lutando para apartar as mãos do Julián de sua camiseta.
- Não te atreva a me mentir -grunhiu Julián.
- Não sei!
Julián lhe sujeitou com a força que outorgam dois mil anos de dor e raiva. As mãos lhe tremiam enquanto lhe atirava da camiseta. Mas ainda piores que o desejo
de lhe matar ali mesmo, eram as implacáveis pergunta que ressonavam em sua cabeça.
por que ninguém tinha acudido antes a suas chamadas?
por que o tinha traído Eros?
por que o tinham deixado sozinho para que sofresse?
- Onde está? -perguntou de novo Julián.
- Comendo, arrotando; demônios! Não sei. Faz uma eternidade que não o vejo.
Julián o separou do corrimão de um puxão e o soltou. Tinha a cara desencaixada pela ira.
- Tenho que encontrá-lo -disse entre dentes-. Agora.
Na mandíbula do Eros começou a palpitar um músculo enquanto tentava alisá-las rugas da camiseta.
- Bom, me dando uma sova não vais chamar sua atenção.
- Então possivelmente deva lhe matar -lhe respondeu Julián, aproximando-se de novo a ele.
Súbitamente, os outros moteros reagiram para detê-lo.
Ao aproximar-se deles, Eros se agachou para esquivar o murro do Julián e se interpôs entre este e seus amigos.
- lhe deixem em paz, meninos -lhes disse enquanto agarrava ao mais próximo pelo braço e o empurrava para trás-. Não quererão lutar com ele. me façam caso.
Poderia lhes tirar o coração e fazer que lhes comessem isso antes de que caíssem mortos ao chão.
Julián estudou aos homens com um furioso olhar que desafiava a qualquer deles a aproximar-se. Grace sentiu terror ante a ira refletida em seus olhos. Uma ira
letal que parecia confirmar as palavras do Eros.
- Está louco? -perguntou o mais alto observando incrédulo ao Julián-. Não acredito que seja capaz de tanto.
Eros se limpou o sangue do lábio e sorriu fracamente ao olhar o dedo.
- Sim, bom. Confiem em mim. Seus punhos são como marretas, e tem a condenada habilidade de mover-se tão rápido que não poderão esquivá-lo.
Apesar de suas poeirentas calças de couro negro e a rasgada camiseta, Eros era incrivelmente bonito e não parecia estar esgotado, como o resto de seus companheiros.
Seu arrumado rosto poderia ser formoso se não levasse uma cavanhaque castanha rodeada de uma barba de três dias, e o corte de cabelo ao estilo militar.
- Além disso, não é mais que uma pequena rixa familiar -continuou Eros, com um estranho brilho nos olhos. Deu uns tapinhas a seu amigo no braço e soltou uma
gargalhada-. Meu irmão pequeno sempre teve um caráter desagradável.
Grace intercambiou um atônito e incrédulo olhar com a Selena, ao mesmo tempo que ambas ficavam boquiabertas pelo assombro.
- escutei bem? -perguntou a Selena-. Não é possível que seja irmão do Julián. Ou sim?
- Como quer que saiba?
Julián disse algo ao Eros em grego que fez que os olhos da Selena se abriram como pratos e que o sorriso desaparecesse do rosto do deus.
- Se não fosse meu irmão, mataria-te por isso.
Os olhos do Julián o fulminaram.
- Se não necessitasse sua ajuda, já estaria morto.
Em lugar de zangar-se, Eros riu a gargalhadas.
- Não te ocorra rir -lhe advertiu com aborrecimento a garota-. É melhor que recorde que é das poucas pessoas capaz de cumprir essa ameaça.
Eros assentiu e se girou para falar com seus companheiros.
- Parte -lhes disse-. Nos reuniremos com vós mais tarde.
- Está seguro? -perguntou o mais alto dos quatro, olhando com nervosismo ao Julián-- Podemos te dar uma mão, se te fizer falta.
- Não, não passa nada -disse movendo a mão despectivamente-. Não recordam que vos pinjente que tinha que ver alguém? Meu irmão está um pouco cheio o saco comigo,
mas lhe passará.
Grace se apartou para deixar passar aos moteros; todos partiram, com a exceção da imponente mulher, que ficou ali de pé, observando cautelosamente aos dois
homens com os braços cruzados sobre o generoso peito coberto de couro.
Totalmente alheio a ela, a Selena e à mulher, Eros caminhou lentamente ao redor do Julián, desenhando um círculo para poder lhe examinar atentamente.
- te relacionando com mortais? -perguntou-lhe Julián, deslizando um olhar igualmente frio e desdenhoso sobre o Eros-. Vá, Cupido... é que se congelou o Tártaro
desde que me parti?
Eros fez caso omisso de suas iradas palavras.
- Joder, menino! -exclamou incrédulo-. Não trocaste um ápice. Acreditava que foi mortal.
- supunha-se que devia sê-lo mas... -e de novo começou a soltar impropérios, um após o outro.
Os olhos do Eros começaram a brilhar, ameaçadores.
- Com uma boca como essa, deveria te acotovelar com Are. Joder, hermanito!, não sabia que pudesse conhecer o significado de todo isso.
Julián voltou a agarrar a seu irmão pela camiseta, mas antes de poder fazer nada mais, a mulher elevou o braço e fez um estranho movimento com a mão.
Julián ficou imóvel como uma estátua. Pela expressão de seu rosto, Grace podia afirmar que não estava muito contente.
- me deixe, Psique -grunhiu.
Grace abriu a boca pela surpresa. Psique? Seria possível?
- Só se prometer não voltar a golpeá-lo -respondeu ela-. Sei que não têm a melhor das relações, mas respeita o fato de que eu goste de sua cara tal e como
está, e que não suporte que lhe dê um só murro mais.
- Li-bé-ra-me -voltou a dizer Julián, recalcando cada sílaba.
- É melhor que o faça, Psique -lhe disse Eros-. Está sendo amável contigo, mas pode livrar-se de ti muito mais facilmente que eu, graças a mamãe. E se o faz,
acabará ferida.
Psique baixou o braço.
Julián liberou a seu irmão.
- Não te encontro para nada gracioso, Cupido. Nada disto me resulta gracioso. E agora, me diga onde está Príapo.
- Maldita seja! Não sei. Quão último soube dele é que estava vivendo no sul da França.
Ao Grace zumbiam os ouvidos ante a informação que estava descobrindo. Não podia deixar de olhar ao Cupido e a Psique. Seria possível? Poderiam ser verdadeiramente
Cupido e Psique?
E seriam família do Julián? Seria possível tal coisa?
De novo supôs que seria tão lógico como a imagem de duas mulheres bêbadas conjurando a um escravo sexual grego, que estava encerrado em um velho livro.
Captou o olhar ávido e encantado da Selena.
- Quem é Príapo? -perguntou-lhe Grace.
- Um deus fálico da fertilidade que sempre se representou totalmente juntado -lhe sussurrou.
- E para que o necessita Julián?
Seu amiga se encolheu de ombros.
- Porque possivelmente foi ele quem lhe amaldiçoou? Mas então aqui haveria algo muito divertido: Príapo é irmão do Eros, portanto, se Eros for irmão do Julián,
há muitos possibilidades de que este e Príapo também o sejam.
Condenado a uma eternidade como escravo por seu próprio irmão?
O simples pensamento a punha doente.
- Chama-o -disse Julián com tom ameaçador ao Eros.
- Chama-o você. Eu estou fora de jogo para ele.
- Fora de jogo?
Cupido lhe respondeu em grego.
Com a mente totalmente embotada por tudo o que estava acontecendo, Grace decidiu interrompê-los e ver se conseguia algumas respostas.
- me perdoe mas, o que está acontecendo aqui? -perguntou ao Julián-. por que lhe golpeaste?
Ele a olhou com regozijo.
- Porque gostava de muito.
- Muito bonito -disse Cupido lentamente ao Julián, sem nem sequer olhar ao Grace-. Não vê há... quanto?, dois mil anos? E em lugar de me dar um abraço fraternal
e amistoso, acabo esmurrado. -Cupido sorriu jocoso a Psique-. E mamãe se pergunta por que não me relaciono mais com meus irmãos...
- Não estou de humor para agüentar seus sarcasmos, Cupido -lhe advertiu Julián entre dentes.
Cupido soprou.
- É que não vais deixar de me chamar por esse nauseabundo nome? Jamais pude suportá-lo, e não posso acreditar que você goste, dado o muito que odiava aos romanos.
Julián lhe dedicou um frio sorriso.
- Utilizo-o porque sei o muito que o odeia, Cupido.
Cupido apertou os dentes e Grace notou que se conteve com muita dificuldade para não equilibrar-se sobre o Julián.
- me diga, chamou-me tão somente para me surrar? Ou há algum outro motivo, mais produtivo, que explique minha presença?
- Para te ser justifico, não pensava que te incomodasse em vir, posto que me ignoraste as últimas três mil vezes que te chamei.
- Porque sabia que foste pegar me -disse Cupido destacando-a bochecha torcida-; e o tem feito.
- E então, por que acudiste esta vez? -inquiriu Julián.
- Para te ser justifico -respondeu, repetindo as palavras do Julián-, assumia que estava morto e que me chamava um simples mortal cuja voz era muito similar
à tua.
Grace observou como as emoções abandonavam ao Julián. Como se as hirientes palavras do Cupido tivessem matado algo em seu interior. A ele também pareceram
afetá-lo, já que se via mais acalmado.
- Olhe -disse ao Julián-, sei que me culpa do que aconteceu, mas não tive nada que ver com o que aconteceu ao Penélope. Não tinha forma de saber o que Príapo
ia fazer ao descobri-lo tudo.
Julián fez um gesto de dor, como se Cupido o tivesse esbofeteado. Uma agonia arrolladora se refletiu em seus olhos e em seu rosto. Grace não tinha nem idéia
de quem era a tal Penélope, mas parecia bastante óbvio que tinha significado muito para o Julián.
- Ah, não? -perguntou-lhe Julián com a voz rouca.
- Juro-lhe isso, hermanito -respondeu Cupido em voz baixa. Lançou um rápido olhar a Psique e de novo se centrou no Julián-. Nunca tive a intenção de lhe fazer
danifico, e jamais quis te trair.
- Já -disse ele com um sorriso zombador-. E esperas que me cria isso? Conheço-te muito bem, Cupido. você adora causar estragos nas vidas dos mortais.
- Mas não o fez contigo, Julián -disse Psique com voz lastimera-. Se não crie a ele, confia em mim. Ninguém quis que Penélope morrera dessa maneira. Sua mãe
ainda chora suas mortes.
O furioso olhar do Julián se endureceu ainda mais.
- Como suporta falar dela? Afrodita estava tão ciumenta de ti que tentou te casar com um homem horrível, e depois quase te matou para evitar que te casasse
com o Cupido. Para ser a deusa do Amor, não tem muito para outros, tudo o esbanja nela mesma.
Psique apartou o olhar.
- Não fale assim de -lhe espetou Cupido-. É nossa mãe e se merece nosso respeito.
A sinistra ira que refletiu o rosto do Julián teria aterrorizado ao muito mesmo diabo, e Cupido se encolheu ao vê-la.
- Não te atreva jamais a defendê-la diante de mim.
Foi então quando Cupido notou a presença do Grace e da Selena. Olhou-as duas vezes, surpreso, como se acabassem de aparecer de repente em metade do grupo.
- Quais são?
- Amigas -respondeu Julián, para surpresa do Grace.
O rosto do Cupido adotou uma expressão dura e fria.
- Você não tem amigas.
Julián não respondeu, mas a tirante careta que torceu seus lábios afetou profundamente ao Grace.
Aparentemente inconsciente da dureza de suas palavras, Cupido se aproximou indolentemente até Psique.
- Ainda não me há dito por que é tão importante para ti jogar a luva ao Príapo.
A mandíbula do Julián se esticou.
- Porque me amaldiçoou a passar a eternidade como um escravo, e não posso escapar. Quero o ter diante o tempo suficiente para começar a lhe arrancar partes
do corpo que não possam voltar a lhe crescer.
Cupido perdeu a cor do rosto.
- Tio, já lhe jogou Pelotas se fez isso. Mamãe lhe tivesse matado com haver-se informado.
- A sério crie que vou acreditar me que Príapo me fez isto sem que ela se inteirasse? Não sou tão estúpido, Eros. A essa mulher não interessa nada o que possa
me ocorrer.
Cupido negou com a cabeça.
- Não comece com isso. Quando te ofereci seus presentes me disse que me colocasse isso por meu orifício traseiro. Lembra-te?
- por que o faria? -perguntou Julián com sarcasmo-. Zeus me expulsou do Olimpo horas depois de meu nascimento, e Afrodita jamais se incomodou em discutir a
decisão. Só lhes aproximavam de mim para me torturar de algum modo. -Julián olhou ao Cupido com fúria assassina-. Quando a um cão lhe golpeia com freqüência, acaba
voltando-se agressivo.
- Vale, admito-o. Alguns de nós poderíamos ter sido um pouco mais condescendentes contigo, mas...
- Nada de peros, Cupido. Não fizeram nada por mim, nenhuma puñetera vez. Especialmente ela.
- Isso não é certo. Mamãe jamais superou que lhe desse as costas. Foi seu favorito.
Julián soprou.
- E por isso estive apanhado em um livro os últimos dois mil anos?
Grace sofria por ele. Como podia Cupido escutá-lo tão tranqüilo, sem nem sequer pensar em usar seus poderes para liberar a seu irmão de um destino pior que
a morte? Não era de sentir saudades que Julián lhes amaldiçoara. Súbitamente, Julián agarrou uma adaga do cinturão do Cupido e se fez um profundo corte na boneca.
Ela ofegou horrorizada, mas antes de poder abrir a boca, a ferida se fechou sem ter derramado uma só gota de sangue.
Cupido abriu os olhos de par em par.
- Que bode! -ofegou-. Essa é uma das adagas do Hefesto.
- Já sei -lhe respondeu Julián enquanto lhe devolvia a arma-. Até você pode morrer se lhe ferem com uma destas, mas eu não. Até aí chega a maldição do Príapo.
Grace contemplou o horror nos olhos do Cupido ao ser consciente da magnitude do ocorrido.
- Sabia que te odiava, mas jamais pensei que cairia tão baixo. Tio, no que estava pensando?
- Não me importa o que pensasse, só quero me liberar disto.
Cupido assentiu. Pela primeira vez, Grace viu simpatia e preocupação em seu olhar.
- Muito bem, hermanito. Passo por passo. Não vá muito longe enquanto vou procurar a mamãe e vejo o que tem que dizer a respeito.
- Se me quiser tanto como diz, por que não a chamas para que venha aqui e falo diretamente com ela?
Cupido lhe olhou pensativamente.
- Porque a última vez que mencionei seu nome, esteve chorando durante um século. Fez-lhe muito dano.
Embora a aparência do Julián seguia sendo rígida e distante, Grace suspeitava que, no fundo, devia ter sofrido tanto como sua mãe.
Se não mais.
- Consultarei-o com ela e voltarei em um momento -lhe disse enquanto passava um braço ao redor dos ombros de Psique-. De acordo?
Julián alargou o braço, agarrou o pendente que Cupido levava a pescoço e atirou dele com força.
- Deste modo me asseguro de que retorne.
Cupido se esfregou o pescoço; parecia bastante mal-humorado.
- Tenha muito cuidado. Esse arco pode ser muito perigoso se cair nas mãos equivocadas.
- Não tema. Lembrança muita bem como dói.
Ambos intercambiaram um olhar carregado de significado.
- até agora -se despediu Cupido dando uma palmada, e junto com Psique, desvaneceu-se entre os vapores de uma neblina dourada.
Grace retrocedeu um passo, com a mente em ebulição. Não podia acabar de acreditá-lo que tinha presenciado.
- Devo estar sonhando -murmurou-. Ou isso, ou vi muitos episódios da Xena.
Permaneceu muito quieta enquanto se esforçava por digerir tudo o que tinha visto e ouvido.
- Não pode ter sido real. Deve ser algum tipo de alucinação.
Julián suspirou com cansaço.
- Eu gostaria de poder acreditá-lo.
- Deus Santo!, esse era Cupido! -exclamou Selena extasiada-. Cupido. O real. Esse querubim tão macaco que tem poder sobre os corações.
Julián soprou.
- Cupido é algo menos "bonito". E com respeito aos corações, encarrega-se de destroçá-los.
- Mas faz que a gente se apaixone.
- Não -lhe respondeu, apertando com mais força o pendente entre seus dedos-. O que ele oferece é uma ilusão. Nenhum poder celestial pode conseguir que um humano
ame a outro. O amor provém do coração -confessou com uma nota afligida na voz.
Grace procurou seu olhar.
- Falas como se soubesse de primeira mão.
- Sei.
Grace sentia sua dor como se fosse o dela. Alargou o braço para lhe tocar brandamente o braço.
- Isso foi o que ocorreu ao Penélope? -perguntou-lhe em voz baixa.
Julián apartou o olhar do Grace, mas ela captou o sofrimento que se refletiu em seus olhos.
- Há algum lugar onde possa me cortar o cabelo? -perguntou inesperadamente.
- O que? -respondeu Grace, consciente de que tinha trocado o tema para, desse modo, não ter que responder a sua pergunta-. por que?
- Não quero ter nada que me o recorde dor e o ódio que se viam em seu rosto eram tangíveis.
A contra gosto, Grace assentiu.
- Há um lugar no Brewery.
- Por favor, me leve.
E Grace o fez. Abriu a marcha de volta ao centro comercial, até chegar ao salão de beleza.
Ninguém disse uma palavra até que esteve sentado na cadeira com a estilista detrás.
- Está seguro de que quer cortar-lhe perguntou a garota, passando as mãos com uma carícia reverente entre os compridos e douradas mechas-. Lhe asseguro que
é magnífico. A maioria dos homens estão espantosos com o cabelo comprido, mas lhe sinta de maravilha, tem-no tão saudável e suave! eu adoraria saber o que usa para
acondicioná-lo.
O rosto do Julián permaneceu impassível.
- Corte o.
A garota, uma diminuta moréia, olhou por cima de seu ombro procurando o Grace.
- Sabe? Se tivesse isto em minha cama todas as noites e pudesse acariciá-lo, eu não gostaria de nada que queria danificá-lo.
Grace sorriu. Se a garota soubesse...
- É seu cabelo.
- Está bem -respondeu com um suspiro resignado. Cortou-o justo por cima dos ombros.
- Mais curto -disse Julián enquanto a garota se afastava.
A estilista pareceu surpreendida.
- Está seguro?
Julián assentiu com a cabeça.
Grace observou em silêncio como a garota lhe cortava o cabelo deixando-lhe com um estilo que recordava ao David do Miguel Anjo, com os cachos alvoroçados lhe
emoldurando o rosto.
Estava mais deslumbrante que antes, se é que isso era possível.
- Tudo bem? -perguntou-lhe a garota finalmente.
- Está bem -lhe respondeu ele-. Obrigado.
Grace pagou o corte e lhe deu uma gorjeta à garota. Olhou ao Julián e sorriu.
- Agora parece desta época.
Ele voltou a cabeça com um gesto rápido, como se lhe tivesse dado um bofetão.
- Ofendi-te? -perguntou-lhe Grace, preocupada com a possibilidade de lhe haver feito mal inadvertidamente. Isso era quão último Julián necessitava.
- Não.
Mas Grace o intuía. Um pouco relacionado com seu comentário lhe tinha ferido. Profundamente.
- Então -disse Selena pensativamente, enquanto se uniam à multidão que lotava o Brewery-, é filho da Afrodita?
Ele a olhou de esguelha, furioso.
- Não sou filho de ninguém. Minha mãe me abandonou, meu pai me repudiou e cresci em um campo de batalha espartano, sob o punho de qualquer que andasse perto.
Suas palavras rasgaram o coração do Grace. Não era de sentir saudades que fosse tão duro. Tão forte.
Assaltou-a uma inquietação: o teria abraçado alguém com carinho alguma vez? Só uma vez, sem que ele tivesse que agradar a esse alguém primeiro.
Julián encabeçava a marcha e Grace observava seu andar sinuoso. Parecia um depredador esbelto e letal. Levava os polegares metidos nos bolsos dianteiros dos
jeans, e caminhava totalmente alheio às mulheres que suspiravam e babavam a seu passo.
Tentou imaginar-se ao Julián com a aparência que teria tido levando sua armadura de batalha. Dada sua arrogância e seu modo de mover-se, devia ter sido um
feroz lutador.
- Selena -chamou a seu amiga em voz baixa-. Não li na faculdade que os espartanos golpeavam a seus filhos todos os dias, para comprovar o grau de dor que podiam
suportar?
Julián lhe respondeu em seu lugar.
- Sim. E uma vez ao ano, faziam uma competição em busca do menino que agüentasse a surra mais dura sem chorar.
- Um grande número deles morria pela brutalidade das competições -acrescentou Selena-. Bem durante a surra ou pelas posteriores feridas.
Grace o recordou tudo de repente. Suas palavras a respeito de ser treinado na Esparta e seu ódio pelos gregos.
Selena olhou com tristeza ao Grace antes de dirigir-se ao Julián.
- Sendo o filho de uma deusa, suponho que agüentaria mais de uma surra.
- Sim, suportava-as -disse sinceramente, com a voz carente de emoções.
Grace nunca teve mais desejos de abraçar a outro ser humano como nesse momento. Queria sustentar ao Julián entre seus braços. Mas sabia que não lhe agradaria.
- Bom -comentou Selena, e por seu olhar, Grace soube que tentava alegrar o ambiente-, tenho um pouco de fome. por que não pilhamos uns hambúrgueres no Hard
Rock?
Julián franziu o cenho até formar uma profunda V.
- por que tenho constantemente a impressão de que falam em outro idioma? O que é "pilhar um hambúrguer no Hard Rock"?
Grace soltou uma gargalhada.
- O Hard Rock é um restaurante.
Julián pareceu horrorizado.
- Comem em um sítio cujo nome anuncia que a comida é mais dura que uma rocha?
Grace riu ainda mais. por que alguma vez se precaveu disso?
- É muito bom, sério, já verá.
Saíram do Brewery e atravessaram o estacionamento em direção ao Hard Rock Café.
Felizmente, não tiveram que esperar muito antes de que a garçonete lhes buscasse uma mesa.
- Ouça! -disse um menino quando se aproximavam da mulher-. Nós chegamos antes.
A garçonete lhe lançou um olhar glacial.
- Sua mesa ainda não está preparada -e se voltou para o Julián com ojitos tenros-. Se for tão amável de me seguir...
A garota abriu a marcha rebolando os quadris, como se não tivesse outra coisa que fazer.
Grace olhou a Selena agüentando a risada, e lhe indicou com um gesto que olhasse à garota.
- Não o tenha em conta -lhe respondeu seu amiga-. Nos penetrou por diante de dez pessoas.
A garçonete lhes levou até uma mesa na parte traseira.
- Aqui se pode sentar -disse enquanto roçava ligeiramente o braço do Julián-, e eu me encarrego de que sua comida não tarde muito.
- E nós somos invisíveis? -perguntou Grace quando a garota se afastou.
- Começo a acreditar que sim -respondeu Selena, sentando-se no banco situado cara à parede.
Grace se sentou em frente, com o muro a suas costas. Como era de esperar, Julián ocupou um sítio a seu lado.
Lhe ofereceu o menu.
- Não posso ler isto -lhe disse antes de devolver-lhe - En realidad sí lo hacían. El problema es que me enseñaron a leer griego clásico, latín, sánscrito,
jeroglíficos egipcios y otras lenguas que hace mucho que desaparecieron. Usando tus propias palabras, este menú está en griego para mí.
- Ah! -exclamou Grace, envergonhada por não havê-lo pensando antes-. Suponho que não ensinavam a ler aos soldados da antigüidade.
Julián se passou uma mão pelo queixo e pareceu adotar uma atitude mal-humorada ante o comentário.
- Em realidade sim o faziam. O problema é que me ensinaram a ler grego clássico, latim, sânscrito, hieróglifos egípcios e outras línguas que faz muito que
desapareceram. Usando suas próprias palavras, este menu está em grego para mim.
Grace se encolheu.
- Não vais deixar de me recordar que escutou tudo o que disse antes de que aparecesse, verdade?
- Temo-me que não.
Apoiou o braço na mesa e, nesse momento, Selena apartou a vista do menu e lhe olhou a mão. Então ofegou.
- Isso é o que eu acredito? -perguntou enquanto lhe elevava a mão.
Para surpresa do Grace, ele permitiu que lhe agarrasse a mão e que olhasse o anel.
- Grace, viu isto?
Ela se incorporou no assento para poder vê-lo mais de perto.
- Não, a verdade. estive um tanto distraída.
Um tanto distraída, sim, claro. Isso é como dizer que o Everest é um paralelepípedo.
Ainda sob a tênue luz do local, o ouro emitia luminosos brilhos. A parte superior era plaina e tinha uma espada gravada rodeada de folhas de louro, e incrustadas
entre as folhas, havia umas pedras preciosas que pareciam ser diamantes e esmeraldas.
- É formoso -disse Grace.
- É um jodido anel de general, certo? -perguntou Selena-. Não foi um simples soldado da pé. Foi um puto geral!
Julián assentiu sobriamente.
- O término é equivalente.
Selena soltou o ar totalmente aniquilada.
- Grace, não tem nem idéia! Julián teve que ser alguém realmente relevante em seu tempo para ter este anel. Não o davam a qualquer -e moveu a cabeça-. Estou
muito impressionada.
- Não o esteja -lhe respondeu Julián.
Pela primeira vez em anos, Grace invejou a licenciatura em História Antiga de seu amiga. Lanie sabia muito mais a respeito do Julián e de seu mundo do que
ela jamais poderia averiguar.
Mas não parecia necessitar esse grau de conhecimento para entender quão doloroso devia ter sido para ele passar de ser um general que ordenava a um exército,
a um escravo governado pelas mulheres.
- Arrumado a que foi um magnífico general -disse Grace.
Julián a olhou, captando a sinceridade com a que tinha pronunciado suas palavras. Por alguma inescrutável razão, seu completo lhe reconfortou.
- Fiz o que pude.
- Arrumado a que lhes deu uma patada no culo a uns quantos exércitos -continuou ela.
Ele sorriu. Não tinha pensado em suas vitórias desde fazia séculos.
- Chutei a uns quantos romanos, sim.
Grace riu ante o uso do vocabulário.
- Aprende rápido.
- Ouça! -exclamou Selena, interrompendo-os-. Posso lhe jogar uma olhada ao arco do Cupido?
- Sim! -exclamou Grace-. Podemos?
Julián o tirou de seu bolso e o deixou sobre a mesa.
- Com cuidado -advertiu a Selena enquanto alargava o braço-. A flecha dourada está carregada. Um pinchacito e te apaixonará pela primeira pessoa que veja.
Ela retirou a mão.
Grace agarrou o garfo e com ele arrastou o arco até o ter perto.
- supõe-se que deve ser tão pequeno?
Julián sorriu.
- É que nunca ouviste essa frase que diz: "O tamanho não importa"?
Grace pôs os olhos em branco.
- Não quero nem escutar a de um homem que a tem tão grande como você.
- Grace! -ofegou Selena-. Jamais te tinha ouvido falar assim.
- fui extremamente comedida, considerando tudo o que vós me hão dito estes últimos dias.
Julián acariciou o cabelo que lhe caía sobre os ombros. Esta vez, Grace não se retirou. Estava fazendo progressos.
- Então, me diga como usa Cupido isto -lhe disse ela. Julián deixou que seus dedos acariciassem as sedosas mechas de seu cabelo. Brilhavam até com a escassa
luz do restaurante. Desejava tanto sentir esse cabelo estendendo-se sobre seu peito nu... Enterrar seu rosto nele e deixar que lhe acariciasse as bochechas.
Com o olhar escurecido, imaginou como se sentiria ao ter o corpo do Grace rodeando-o. E o som de sua respiração junto ao ouvido.
- Julián? -perguntou ela, tirando o de seu ensoñación-. Como o utiliza Cupido?
- Pode adotar um tamanho semelhante ao do arco, ou pode fazer que a arma se faça maior. Depende do momento.
- Sério? -perguntou Selena-. Não sabia.
A garçonete chegou correndo e colocou a bandeja sobre a mesa, enquanto devorava com os olhos ao Julián como se fosse o especial do dia.
Muito discretamente, Julián recolheu o arco de em cima da mesa e o devolveu a seu bolso.
- Sinto muito lhe haver feito esperar. Se tivesse sabido que não foram atender lhe imediatamente, eu mesma lhe teria tomado nota nada mais sentar-se.
Grace lhe dirigiu à garota um olhar carrancudo. Joder!, é que Julián não podia ter cinco minutos de tranqüilidade, sem que uma mulher lhe oferecesse abertamente?
E isso não inclui a ti?
ficou geada ante o giro de seus pensamentos. Ela se comportava exatamente igual às demais, lhe olhando o culo e babando ante seu corpo. Era um milagre que
ele suportasse sua presença.
Afundando-se no assento, prometeu-se a si mesmo que não o trataria daquele modo. Julián não era uma parte de carne. Era uma pessoa, e merecia ser tratado com
respeito e dignidade.
Pediu o menu para os três, e quando a garçonete retornou com as bebidas, trouxe uma bandeja de alitas de frango ao estilo Búfalo.
- Nós não pedimos isto -apontou Selena.
- OH, já sei! -respondeu a garota, sonriendo ao Julián-. Há muito trabalho na cozinha e demoraremos um pouco mais em poder lhe servir a comida. Pensei que
deveria estar faminto e por isso lhe traga as alitas. Mas se não gosta, posso trazer qualquer outra coisa; a casa convida, não se preocupe. Preferiria outra coisa?
Puaj! O dobro sentido era tão óbvio que ao Grace entraram vontades de lhe arrancar de raiz o cabelo acobreado.
- Está bem assim, obrigado -lhe disse Julián.
- Ai, Meu deus!, pode falar um pouco mais? -pediu-lhe a garota, a ponto de deprimir-se-. OH, por favor, diga meu nome! Meu nome é Mary.
- Obrigado, Mary.
- Ooooh! -exclamou a garçonete-. Me pôs a pele de galinha -e com um último olhar ao Julián, carregada de desejo, afastou-se deles.
- Não posso acreditá-lo -comentou Grace-. As mulheres sempre se comportam assim contigo?
- Sim -respondeu ele com a ira refletida na voz-. Por isso ódio me mostrar em lugares públicos.
- Não deixe que te incomode -lhe disse Selena, enquanto agarrava uma alita de frango-. Definitivamente, sua presença resulta muito útil. De fato, proponho
que o tiremos mais freqüentemente.
Grace deixou escapar um bufido.
- Sim, bom; se essa criatura anotar seu nome e seu número de telefone na conta antes de nos dar isso terei que lhe dar um bofetão.
Selena estalou em gargalhadas.
antes de que Grace pudesse perguntar qualquer outra coisa, Cupido entrou sem pressas no restaurante, e se aproximou até eles.
Tinha um ligeiro moratón no lado esquerdo da cara, onde Julián o tinha golpeado. Tentou mostrar-se indiferente, mas mesmo assim, Grace percebeu a tensão em
seu interior, como se estivesse preparado para fugir em um momento dado. Arqueou uma sobrancelha ante o cabelo curto do Julián, mas não disse nenhuma palavra enquanto
tomava assento junto à Selena.
- E bem? -perguntou Julián.
Cupido suspirou profundamente.
- Quer que primeiro te dê as más notícias ou prefere as péssimas?
- Vejamos... que tal se fizermos que meu dia seja mais memorável? Começa com as péssimas e segue com as más para tentar melhorar o ambiente.
Cupido assentiu.
- De acordo. No pior dos casos, a maldição jamais se poderá romper.
Julián se tomou a notícia melhor que Grace; apenas se fez um gesto de aprovação.
Grace olhou ao Cupido com os olhos entreabridos.
- Como pode lhe fazer isto? Deus Santo!, meus pais teriam removido céu e terra para me ajudar, e você te limita a te sentar sem nem sequer lhe dizer o sinto.
Que classe de irmão é?
- Grace -a admoestou Julián-. Não lhe desafie. Não sabemos que conseqüências pode trazer.
- Isso é certo mort...
- lhe toque interrompeu Julián- e utilizarei a adaga que leva no cinturão para te tirar o coração.
Cupido se moveu para afastar-se dele.
- Por certo, se esqueceu alguns detalhes suculentos quando me contou sua história.
Julián lhe olhou furioso, com os olhos entrecerrados.
- Como o que?
- Como o fato de que te deitasse com uma das sacerdotisas vírgenes do Príapo. Tio, no que estava pensando? Nem sequer se preocupou de lhe tirar a túnica enquanto
tomava. Não foi tão estúpido para fazer isso, pode-se saber o que te ocorreu?
- Se por acaso te esqueceu, estava muito zangado com ele naquele momento -disse com amargura.
- Então deveria ter procurado uma das seguidoras de mamãe. Para isso estão.
- Ela não foi a que matou a minha esposa. Foi Príapo.
Grace esteve a ponto de sofrer um enfarte ao lhe escutar. Estava falando a sério?
Cupido ignorou a aberta hostilidade do Julián.
- Bom, Príapo ainda está um pouco sensível com respeito ao tema. Parece que o vê como o último de seus insultos.
- Ah, já entendo! -grunhiu Julián-. O irmão maior está zangado comigo por me haver atrevido a tomar a uma de seus vírgenes consagradas, é que esperava que
me sentasse tão tranqüilo e deixasse que ele matasse a minha família a seu desejo? -A ira que destilava sua voz fez que ao Grace lhe arrepiasse o pêlo da nuca-.
Te incomodou em lhe perguntar ao Príapo por que foi atrás deles?
Cupido se passou uma mão pelos olhos e deixou escapar um suspiro entrecortado.
- Claro, recorda que perseguiu o Livio e o derrotou na Conjara? Pois ele pediu que se vingasse sua morte, justo antes de que lhe cortasse a cabeça.
- Estávamos em guerra.
- Já sabe o muito que sempre te odiou Príapo. Estava procurando uma desculpa para poder lançar-se sobre ti sem temor a sofrer represálias; e a deu você mesmo.
Grace observou ao Julián, cujo rosto era uma máscara inexpressiva.
- Há- dito ao Príapo que quero vê-lo? -perguntou-lhe.
- Está louco? Maldição! Claro que não. Mencionei seu nome e esteve a ponto de estalar de fúria. Disse que podia te apodrecer no Tártaro durante toda a eternidade.
me acredite, você não gostaria de estar perto dele.
- Ja! eu adoraria!
Cupido assentiu.
- Vale, mas se o matas, terá que as verta com o Zeus, Tesífone e Némesis.
- E crie que me assustam?
- Já sei que não, mas não quero verte morrer desse modo. E se não fosse tão teimoso como uma mula, ao menos durante três segundos, você mesmo te daria conta.
Venha já! De verdade quer desencadear a ira do grande chefe?
Pela expressão do Julián, Grace houvesse dito que lhe dava exatamente igual.
- Mas -continuou Cupido-, mamãe assinalou que existe um modo de acabar com a maldição.
Grace conteve a respiração enquanto a esperança revoava nos olhos do Julián. Ambos esperaram a que Cupido se explicasse.
Em lugar de seguir, ele se dedicou a observar o interior do sombrio local.
- Crie que esta gente se come esta mier...?
Julián estalou os dedos diante dos olhos de seu irmão.
- O que faço para romper a maldição?
Cupido se arrellanó no assento.
- Já sabe que tudo no universo é cíclico. Tudo o que começa tem um final. Posto que foi Alexandria a que originou a maldição, deve ser convocado por outra
mulher dedicada ao Alejandro. Uma que também necessite algo de ti. Deve fazer um sacrifício por ela e... -então, estalou em gargalhadas.
Até que Julián se estirou por cima da mesa e lhe agarrou pela camiseta.
- E...?
Lhe deu um tranco para que lhe soltasse e adotou uma atitude séria.
- Bom... -continuou olhando ao Grace e a Selena-. Desculpam um momento?
- Sou uma sexóloga -lhe disse Grace-. Nada do que diga poderá me surpreender.
- E eu não penso me levantar desta mesa até que escute as suculentas fofocas -confessou Selena.
- De acordo então -conveio Cupido, enquanto olhava de novo ao Julián-. Quando a mulher consagrada ao Alejandro invoque, não poderá colocar seu cucharita em
seu jarrita de geléia até o último dia. Será então quando deverem lhes unir carnalmente antes da meia-noite, e te encarregará de não separar seus corpos até o amanhecer.
Se sair dela em qualquer momento, por qualquer motivo, retornará imediatamente ao livro e a maldição seguirá vigente.
Julián amaldiçoou e olhou para outro lado.
- Exatamente -lhe respondeu seu irmão-. Sabe quão forte é a maldição do Príapo. Não há uma puñetera forma de que agüente trinta dias sem te atirar a seu invocadora.
- Esse não é o problema -disse Julián entre dentes-. O problema radica em encontrar a uma mulher consagrada ao Alejandro que me invoque.
Com o coração pulsando desenfreado por causa dos nervos, Grace se incorporou no assento.
- O que significa o de "uma mulher consagrada ao Alejandro"?
Cupido encolheu os ombros.
- Que tem que levar o nome do Alejandro.
- Como sobrenome? -perguntou ela.
- Sim.
Grace elevou os olhos e procurou o olhar afligido do Julián.
- Julián, meu nome completo é Grace Alexander.
Capítulo 7
Julián olhou fixamente ao Grace; sua mente não parava de lhe dar voltas ao que acabava de dizer.
Seria certo? Poderia atrever-se a acreditá-lo? A ter esperança depois de tanto tempo...?
- Seu sobrenome é Alexander? -repetiu, incrédulo.
- Sim -lhe respondeu ela, com um sorriso alentador no rosto.
Cupido observou a seu irmão com um olhar severo.
- Já intimastes vós dois?
- Não -respondeu Julián-. Ainda não -e pensar que tinha estado zangado por isso...
Grace tinha evitado que cometesse o terceiro engano maior de sua vida. Nesse momento a beijaria. Um sorriso iluminou o rosto do Cupido.
- Bom, maldita seja minha sorte... Enfim, melhor não nomear a corda em casa do enforcado... Nunca conheci a uma mulher que pudesse estar perto de ti mais de
dez minutos sem jogar-se em...
- Cupido -lhe cortou Julián, antes de que soltasse um comprido discurso sobre o número de mulheres com as que se deitou-. Tem algo mais que dizer que nos seja
útil?
- Uma coisa mais. A fórmula de mamãe só terá êxito se Príapo não o descobrir. Se o fizer, poderia evitar que te liberasse com sua característica má sombra.
Julián apertou os punhos ante a lembrança de algumas das ações mais repugnantes de seu irmão.
Por alguma razão que não alcançava a compreender, Príapo lhe tinha odiado desde que nasceu. E com o passo dos anos, seu irmão tinha dado um novo significado
à expressão "rivalidade fraternal".
Julián deu um sorvo a sua bebida.
- Não o descobrirá a menos que você o diga.
- Não me olhe -replicou Cupido-. Não sou dos seus. Confunde-me com o primo Dion. E agora que o recordo, tenho que me reunir com meus meninos. Planejamos fazer
um grande tributo ao velho Baco esta noite -alargou o braço e deixou a mão com a palma para cima-. Meu arco, se for tão amável.
Com muito cuidado, para não cravar-se, Julián o tirou do bolso e o devolveu.
Nesse momento percebeu o estranho olhar de seu irmão maior; um olhar de afeto sincero.
- Estarei perto se por acaso me necessita. Só tem que me chamar; por meu nome, nada do Cupido. E por favor, deixa isso de "bastardo inútil", joder! -olhou-lhe
com um sorriso presunçoso-. Deveria ter sabido que foi você.
Julián não disse nada enquanto recordava o que tinha acontecido a última vez que tomou a palavra de seu irmão, e lhe pediu ajuda.
Cupido se levantou, olhou ao Grace e a Selena, e sorriu ao Julián.
- Boa sorte com seu intento de obter a liberdade. Que a força de Are e a sabedoria de Ateneu lhe guiem.
- E que Hades se encarregue de assar sua velha alma.
Cupido lançou uma gargalhada.
- Muito tarde. Fez-o quando só tinha trezentos anos e não foi tão horrível. Vemo-nos, hermanito.
Julián não falou enquanto Cupido se abria caminho para a porta de saída, como qualquer ser humano normal. A garçonete lhes trouxe o pedido e ele agarrou a
estranha comida, consistente em uma parte de carne metido em duas fatias de pão; mas em realidade não tinha muita fome. Tinha perdido o apetite.
Grace cobriu a carne com uma coisa vermelha, tampou-a com o pão e lhe deu um bocado. Selena bicava de uma salada enfeitada com o mesmo molho.
Elevando o olhar, Grace se deu conta do cenho com que Julián a observava enquanto comia. Parecia ainda mais preocupado que antes, e tinha a mandíbula tão tensa
que se via que estava apertando com força os dentes.
- O que te ocorre? -perguntou-lhe.
Ele entrecerró os olhos suspicazmente.
- Está disposta realmente a fazer o que Eros há dito?
Grace deixou o hambúrguer no prato e se limpou a boca com o guardanapo. Em realidade, não gostava de muito a idéia de que Julián usasse seu corpo para obter
a liberdade. Seria uma relação de uma só noite, sem compromissos nem promessas.
Julián se iria assim que acabasse com ela. Não tinha nenhuma dúvida a respeito.
por que ia querer ficar junto a ela um homem como ele, que bem podia ter a qualquer mulher da terra comendo de sua mão?
Mesmo assim, não podia condená-lo a seguir vivendo eternamente em um livro. Não quando ela era a chave para liberá-lo.
- me conte uma coisa -disse Grace em voz baixa-; quero saber como acabou metido no livro; a história completa. E o que ocorreu a sua esposa.
Não o teria acreditado possível, mas a mandíbula do Julián se esticou ainda mais. Estava tentado esconder-se de novo.
Mas ela se negou a que fugisse. Já era hora de que entendesse por que lhe preocupava o fato de deitar-se com ele.
- Julián, está-me pedindo muito. Não tenho muita experiência com os homens.
Ele franziu o cenho.
- É virgem?
- Oxalá -balbuciou Grace.
Julián viu a dor em seus olhos enquanto lhe respondia em um murmúrio. Envergonhada, ela olhou ao chão.
Não!, rugiu sua mente. Não era possível que tivesse sofrido o que estava imaginando. Uma inesperada fúria despertou em seu interior ante a mera possibilidade.
- Violaram-lhe?
- Não -sussurrou ela-. Não... exatamente.
A confusão dissipou a ira do Julián.
- Então, o que quer dizer?
- Era jovem e estúpida -continuou ela muito devagar.
- O muito porco se aproveitou de que seus pais acabavam de morrer e de que ela estava muito mal -lhe contou Selena com voz áspera-. Era um desses sujos embusteiros
que lhe soltam o de "só quero te cuidar", para aproveitar-se e depois sair correndo uma vez que o conseguem.
- Fez-te mal? -perguntou-lhe Julián.
Grace assentiu.
Uma nova quebra de onda de fúria o assaltou. Não sabia muito bem por que lhe importava tanto o que pudesse lhe acontecer ao Grace, mas por alguma razão que
não acabava de compreender, assim era. E queria vingar-se em seu nome. Viu como lhe tremia a mão, a cobriu com a sua, e começou a lhe acariciar brandamente os nódulos
com o polegar.
- Só o fiz uma vez -confessou Grace em um murmúrio-. Já sei que a primeira vez dói, mas não sabia que fosse assim. E o dano físico não foi o pior; o mais horrível
foi o fato de que não pareceu lhe importar nada meu sofrimento. Senti-me como se só estivesse ali para lhe agradar, como se nem sequer fosse uma pessoa.
Ao Julián lhe fez um nó no estômago. Sabia muito bem ao que Grace se referia.
- Essa mesma semana -prosseguiu ela-, como não me chamava nem me respondia, fui a seu apartamento para vê-lo. Era primavera e tinha as janelas abertas. Quando
me aproximei... -um soluço a interrompeu.
- Ele e seu companheiro de piso tinham feito uma aposta para ver qual dos dois desflorava mais vírgenes esse ano -lhe contou Selena-. Grace lhes escutou burlar-se
dela.
Uma fúria letal e sinistra o possuiu. Ele tinha conhecido a muitos homens dessa índole. E jamais tinha podido suportá-los. De fato, sempre lhe tinha dado muito
gosto liberar à terra de sua fedida presença.
- Senti-me utilizada; como uma estúpida -murmurou Grace olhando-o. A agonia que refletiam seus olhos o abrasou-. Não quero voltar a me sentir assim -se tampou
a cara com uma mão, mas não antes de que Julián captasse a humilhação em seu olhar.
- Sinto-o muito, Grace -sussurrou ele, abraçando-a.
Então isso era. Essa era a fonte de seus demônios. Abraçou-a com força, apoiando a bochecha sobre sua cabeça. O suave aroma a flores o rodeou.
Como ansiava poder consolá-la. E que culpado se sentia. Ele também tinha usado ao Penélope. Os deuses eram testemunhas de que lhe tinha feito a sua esposa
muito mais danifico, a fim de contas.
merecia-se estar maldito, pensou com amargura.
O tinha ganho em pulso, e não voltaria a fazer mal ao Grace. Era uma mulher honesta, com um grande coração e se negava a aproveitar-se dela.
- Não passa nada, Grace -a consolou com ternura, envolvendo-a ainda mais entre seus braços e embalando-a. Beijou-a brandamente na cabeça-. Não te pedirei que
faça isto por mim.
Ela elevou a vista muito surpreendida. Não podia acreditar que dissesse algo assim.
- Não posso deixar de fazê-lo.
- Sim que pode. Simplesmente esquece-o -havia dor em sua voz. E uma cadência estranha, algo que lhe dava uma ligeira idéia do homem que uma vez tinha sido.
- Realmente crie que posso fazê-lo?
- E por que não? Todos os membros de minha família me deram de lado. Você nem sequer me conhece -seu olhar se escureceu ao soltá-la.
- Julián...
- me faça caso, Grace. Não o mereço -tragou saliva antes de voltar a falar-. Como general, fui implacável no campo de batalha. Ainda posso ver as olhadas horrorizadas
dos milhares de homens que morreram sob minha espada, enquanto os fazia pedaços sem o mais mínimo indício de remorso -procurou o olhar do Grace-. por que ia alguém
como você a ajudar a alguém como eu?
Grace recordou como Julián tinha embalado e consolado ao menino, como tinha ameaçado ao Cupido para evitar que lhe fizesse mal; e então soube por que. Pode
que em seu passado tivesse feito costure espantosas, mas não era um ser perverso. Poderia havê-la violado se tivesse querido. E em lugar de fazê-lo, esse homem que
apenas se tinha conhecido um gesto amável, limitou-se a consolá-la.
Não, apesar de todos os crímenes que pudesse ter cometido no passado, havia bondade nele.
Julián tinha sido um homem de seu tempo. Um general da Antigüidade, forjado no fragor de muitas batalhas. Um homem que se criou em condições tão brutais que
não podia acabar de imaginar-lhe Grace se tensó ante la inesperada confesión.
- E sua esposa? -perguntou Grace.
Um músculo começou a lhe pulsar na mandíbula.
- Menti-lhe, traí-a e a enganei, e ao final, matei-a.
Grace se esticou ante a inesperada confissão.
- Você a matou?
- Pode que não fosse eu o que lhe tirasse a vida, mas fui o responsável, depois de tudo. Se não... -sua voz se desvaneceu enquanto fechava os olhos com força.
- O que? -perguntou Grace-. O que ocorreu?
- Forcei meu destino, e o seu. E ao final, as Parcas me castigaram.
Grace não pensava ficar assim.
- Como morreu?
- Enlouqueceu quando descobriu o que lhe fiz. O que Eros fazia... -Julián enterrou a cara entre as mãos enquanto as lembranças o assaltavam-. Fui um estúpido
ao acreditar que Eros podia conseguir que alguém me amasse.
Grace alargou o braço e lhe aconteceu a mão pelo rosto. Ele a olhou. Estava incrivelmente formosa ali sentada. A ternura de seus olhos não deixava de surpreendê-lo.
Nenhuma mulher o tinha cuidadoso nunca desse modo.
Nem sequer Penélope. Sempre tinha faltado algo quando sua mulher o olhava, ou quando o acariciava.
Seu coração, compreendeu com um sobressalto. Grace estava no certo. Era muito diferente quando o coração não estava envolto. Era algo muito sutil, mas sempre
tinha percebido o vazio nas carícias do Penélope, em suas palavras; e isso tinha feito que sua alma enegrecida sofresse ainda mais.
Súbitamente, Cupido se materializou junto à Selena e olhou ao Julián com um tímido sorriso.
- Esqueci te dizer algo.
Julián deixou escapar um suspiro encolerizado.
- Não sei por que têm o costume de lhes esquecer de algo. E, está acostumado a ocorrer, que esse algo é sempre o mais importante. O que esqueceste esta vez?
Cupido não foi capaz de enfrentar o olhar de seu irmão.
- Como muito bem sabe, está condenado a, digamo-lo assim, te sentir forçado a agradar à mulher que te invoque.
Julián lançou um rápido olhar ao Grace e seu membro se esticou malévolamente em resposta.
- Sou muito consciente desse fato.
- Mas é consciente de que com cada dia que passe sem possui-la, sua prudência irá desaparecendo? Para quando o mês esteja chegando a seu fim, será um louco
desesperado pela falta de sexo e a única forma de te sanar será ceder a seus desejos. Se não o fizer, irmão, sofrerá uma agonia tão dolorosa que o castigo do Prometeo
a seu lado parecerá uma estadia nos Campos Elíseos.
Selena ofegou.
- Prometeo não é o deus que supostamente entregou o fogo à humanidade? -perguntou Grace.
- Sim -respondeu Cupido.
Grace olhou nervosa ao Julián.
- que foi encadeado a uma rocha e condenado a que todos os dias uma águia se comesse suas vísceras?
- E a que cada noite se recuperasse para que o pássaro pudesse seguir comendo ao dia seguinte -acabou Julián em seu lugar. Os deuses sabiam como castigar a
aqueles que os chateavam.
Uma ira amarga se estendeu por suas veias enquanto observava ao Cupido.
- Vos ódio.
Cupido assentiu.
- Sei. Oxalá não tivesse feito nunca o que me pediu. Sinto-o muito. Cria-o ou não, mamãe e eu estamos muito arrependidos.
Com as emoções revoltas, Julián não foi capaz de dizer nada. Desolado, quão único via era o rosto do Penélope em sua mente, e a visão o fazia encolher-se de
dor.
Uma coisa era que sua família o castigasse a ele, mas nunca deveriam haver meio doido aos que eram inocentes.
Cupido depositou uma cajita na mesa, frente a ele.
- Se não querer abandonar a esperança, vais necessitar isto.
- te cuide dos presentes dos deuses -disse Julián amargamente, enquanto abria a caixa para encontrar dois pares de grilhões de prata e um jogo de diminutas
chaves, colocadas sobre um leito de cetim azul escuro. Imediatamente reconheceu o intrincado estilo de seu padrasto.
- Hefesto?
Seu irmão assentiu.
- Nem Zeus pode as romper. Quando sentir que perde o controle, aconselho-te que encadeie a um pouco realmente sólido e que te mantenha... -esperou um momento
enquanto olhava fixamente ao Grace- afastado dela.
Julián tomou ar. Poderia rir ante a ironia, mas nem sequer era capaz de reunir forças. De uma ou outra maneira, em cada invocação, sempre acabava encadeado
a algo.
- Isso é desumano -balbuciou Grace.
Cupido lhe dedicou um olhar feroz.
- Neném, me faça caso; se não o encadear, lamentará-o.
- Quanto tempo demorará? -perguntou Julián.
Ele se encolheu de ombros.
- Não sei. Depende muito de ti e do autocontrol de que disponha -espetou Cupido-. te Conhecendo, é bastante possível que nem sequer as necessite.
Julián fechou a caixa. Podia ser muito forte, mas não tinha o otimismo de seu irmão. Tinha-o perdido fazia muito, lenta e dolorosamente.
Eros lhe aplaudiu as costas.
- Boa sorte.
Julián não disse nada enquanto seu irmão se afastava. Olhava fixamente a caixa enquanto as palavras do Cupido ressonavam em sua cabeça. Se algo tinha aprendido
ao longo dos séculos, era a deixar que as Parcas se saíssem com a sua.
Era uma estupidez pensar que tinha a oportunidade de ser livre. Era sua penitência e devia aceitá-la. Era um escravo, e um escravo seguiria sendo.
- Julián? -chamou-lhe Grace-. O que te passa?
- Não podemos fazê-lo. me leve a casa, Grace. me leve a casa e me deixe que te faça o amor. vamos esquecer o antes de que alguém, certamente você, saia ferido.
- Mas esta é sua oportunidade de ser livre. Poderia ser quão única tenha. foste convocado antes por alguma mulher que levasse o nome do Alejandro?
- Não.
- Então, devemos fazê-lo.
- Não o entende -lhe disse entre dentes-. Se o que Eros diz é certo, para quando chegar essa noite, não serei eu mesmo.
- E quem será?
- Um monstro.
Grace lhe olhou com cepticismo.
- Não acredito que pudesse sê-lo.
Ele a observou, furioso.
- Você não tem nem idéia do que sou capaz de fazer. Quando a loucura dos deuses se abate sobre alguém, não há maneira de encontrar ajuda, nem esperança de
achá-la -o estômago lhe contraiu com um nó-. Não deveria me haver convocado, Grace -concluiu, alargando o braço para agarrar seu copo.
- Paraste-te a pensar que possivelmente tudo isto estava destinado? -perguntou ela súbitamente-. Possivelmente fui eu a que te invocou porque estava disposto
que eu te liberasse.
Julián contemplou a Selena através da mesa.
- Convocou-me porque Selena te enganou. Quão único queria era que tivesse umas quantas noites prazenteiras para que pudesse esquecê-lo tudo e procurasse um
homem decente, sem temor a que pudesse te fazer danifico.
- Mas é possível que...
- Não há peros que valham, Grace. Não estava destinado.
Ela baixou o olhar até sua boneca. Aproximou a mão e acariciou a inscrição em grego que subia pela cara interna do braço.
- Que bonito! -exclamou-. É uma tatuagem?
- Não.
- E o que é? -insistiu.
- Príapo o gravou a fogo -respondeu ele, ignorando a pergunta.
Selena se incorporou um pouco e lhe jogou uma olhada.
- Diz: "Maldito seja por toda a eternidade e mais à frente".
Grace deixou a mão sobre a inscrição e olhou ao Julián aos olhos.
- Não posso imaginar tudo o que deveste sofrer durante tanto tempo. E mais me custa entender que fosse seu próprio irmão quem te fizesse algo assim.
- Como disse Cupido, sabia que não devia tocar a uma das vírgenes do Príapo.
- E por que o fez então?
- Porque fui um estúpido.
Grace chiou os dentes; tinha umas vontades horríveis de estrangulá-lo. por que alguma vez respondia ao que lhe perguntava?
- E o que te fez...?
- Não gosta de falar do tema -lhe espetou.
Lhe soltou o braço.
- Alguma vez deixaste que alguém te aproxime, Julián? Arrumado a que sempre foste um desses tipos que não abrem seu coração porque não confiam em ninguém.
Um de esses que prefeririam que lhes cortassem a língua antes de que alguém descobrisse que não são seres insensíveis, a não ser justamente o contrário. Comportou-te
assim com o Penélope?
Julián apartou o olhar enquanto as lembranças lhe embargavam.
Lembranças de uma infância infestada de fome e privações.
Lembranças de noites agônicas desejando...
- Sim -respondeu simplesmente-. Sempre estive sozinho.
Grace sofria por ele. Mas não podia permitir que se conformasse.
De algum modo tinha que encontrar a forma de chegar até seu coração. De lhe animar a que lutasse por romper a maldição.
Devia haver algum modo de lhe fazer lutar.
E nesse momento jurou encontrá-lo.
Capítulo 8
Julián e Grace ajudaram a Selena a desmontar o puestecillo ambulante e a guardá-lo tudo no jipe, antes de retornar a casa sorteando o tráfico típico de uma
sexta-feira de noite.
- estiveste muito calado -lhe disse ela enquanto se detinha em um semáforo em vermelho.
Observou como o olhar do Julián seguia o movimento dos automóveis que passavam junto a eles. Parecia perdido, como alguém que se debatesse no limite entre
a fantasia e a realidade.
- Não sei o que dizer -respondeu depois de uma breve pausa.
- me diga como se sente.
- Sobre o que?
Grace riu.
- Definitivamente, é um homem -lhe disse-. Sabe? As sessões com os homens são as mais difíceis. Chegam e pagam cento e vinte e cinco dólares para não dizer
virtualmente nada. Jamais conseguirei entendê-lo.
Julián baixou a vista até seu regaço, e ela observou o modo em que acariciava distraídamente seu anel com o polegar.
- Disse que foi uma sexóloga, o que é isso exatamente?
O semáforo ficou em verde e se internaram de novo no tráfico.
- Você e eu estamos no mesmo negócio, mais ou menos. Ajudo às pessoas que têm problemas com seus casais. Mulheres que têm medo de ter relações íntimas com
os homens, ou mulheres às que gostam dos homens um pouco mais da conta.
- Ninfomaníacas?
Grace assentiu.
- conheci a umas quantas.
- Arrumado a que sim.
- E os homens? -perguntou ele.
- Não são fáceis de ajudar. Como já te hei dito, não revistam falar muito. Tenho um par de pacientes que sofrem de medo cênico...
- E isso o que é?
- Algo que estou completamente segura que você não padeceria jamais -lhe respondeu, pensando na contínua e arrogante perseguição a que lhe submetia. esclareceu-se
garganta e o explicou-. São homens que têm medo de que suas companheiras riam deles quando estão na cama.
- Ah!
- Também tenho um par que abusam verbalmente de seus casais, e outros dois que querem trocar-se de sexo...
- pode-se fazer isso? -perguntou Julián, totalmente pasmado.
- Claro! -respondeu Grace com um gesto da mão-. Te surpreenderia saber do que são capazes os médicos hoje em dia.
Tomou uma curva e entraram em sua vizinhança.
Julián permaneceu calado tanto momento que estava a ponto de lhe ensinar o que era a rádio quando, de repente, ele perguntou:
- por que quer ajudá-los?
- Não sei -lhe respondeu com franqueza-. Suponho que se remonta a minha infância, uma época de muitas inseguranças para mim. Meus pais me queriam muito, mas
não sabia me relacionar com outros meninos. Meu pai era professor de história e minha mãe dona-de-casa...
- O que é um dona-de-casa?
- Uma mulher que fica em casa e faz as coisas típicas das mães. No fundo, nunca me trataram como a uma menina, por isso, quando estava perto de outros meninos,
não sabia como me comportar. Nem o que dizer. Assustava-me tanto que me punha a tremer. Finalmente, meu pai começou a me levar a um psicólogo e, depois de um tempo,
melhorei o bastante.
- Exceto com os homens.
- Essa é uma história totalmente diferente -lhe disse, suspirando-. De adolescente era uma garota desajeitada, e os meninos do instituto não se aproximavam
de mim, a menos que queriam burlar-se.
- Burlar-se de ti?, por que?
Grace se encolheu de ombros com um gesto indiferente. Pelo menos, essas velhas lembranças tinham deixado de incomodá-la. Finalmente os tinha superado.
- Porque estava plaina, tinha orelhas de abano e um montão de sardas.
- Que estava plaina?
- Não tinha peito.
Grace tivesse jurado que podia sentir o calor que desprendia o olhar do Julián enquanto inspecionava seus peitos.
Olhando o de reojo, confirmou suas suspeitas. De fato, estava-a observando como se se tirou a camisa e estivesse em metade de...
- Seus peitos são muito bonitos.
- Obrigado -lhe respondeu com estupidez, embora curiosamente se sentia adulada por um completo tão pouco convencional-. E você?
- Eu não tenho peitos.
Disse-o com um tom tão inexpressivo e sério que Grace não pôde evitar estalar em gargalhadas.
- Não era isso ao que me referia, e sabe muito bem. Como foi sua adolescência?
- Já lhe hei isso dito.
Lhe olhou furiosa.
- Sério.
- Sério, lutava, comia, bebia, deitava-me com mulheres e me banhava. Normalmente, nessa ordem.
- Ainda temos problemas com isto da falta de confiança, não? -perguntou ela de forma retórica.
Assumindo seu papel de psicóloga, trocou a um tema que lhe resultasse mais fácil.
- por que não me conta o que sentiu a primeira vez que participou de uma batalha?
- Não senti nada.
- Não estava assustado?
- Do que?
- De morrer, ou de que lhe ferissem.
- Não.
A sinceridade de sua singela resposta conseguiu desconcertá-la.
- E como é que não tinha medo?
- Não tem medo a morrer quando não tem nada pelo que seguir vivendo.
Impressionada por suas palavras, Grace tomou o caminho de entrada a sua casa.
Decidindo que seria melhor deixar um tema tão sério no momento, desceu do carro e abriu o porta-malas.
Julián agarrou as bolsas e a seguiu até a casa.
dirigiram-se à planta alta. Grace tirou seu cômodos jeans do vestidor e fez sítio nas gavetas para poder guardar a roupa nova do Julián.
- Vejamos -disse, enrugando as bolsas vazias para as jogar no cesto de papéis de vime, colocada junto ao armário-. É sexta-feira de noite. O que você gostaria
de fazer? Gosta de uma noite tranqüila ou prefere dar uma volta pela cidade?
Seu faminto olhar a percorreu da cabeça aos pés, fazendo que ardesse imediatamente.
- Já conhece minha resposta.
- Vale. Um voto a favor de jogar-se no pescoço da doutora, e outro em contra. Alguma outra alternativa?
- Que tal uma noite tranqüila em casa, então?
- De acordo -respondeu Grace, enquanto se aproximava da mesita de noite para agarrar o telefone-. me Deixe que comprove as mensagens e depois prepararemos
o jantar.
Julián seguiu colocando sua roupa, enquanto ela chamava o serviço de secretária eletrônica e falava com eles.
Acabava de dobrar o último objeto quando percebeu uma nota de alarme na voz do Grace.
- Disse o que queria?
Julián se girou para poder observá-la. Tinha os olhos ligeiramente dilatados, e sujeitava o telefone com muita força.
- por que lhe deu meu número de telefone? -perguntou zangada-. Meus pacientes jamais devem saber meu número privado. Posso falar com seu superior?
Julián se aproximou dela.
- Algo vai mau?
Grace elevou a mão, lhe indicando que permanecesse em silencio para poder escutar o que a outra pessoa lhe estava dizendo.
- Muito bem -disse depois de uma larga espera-. Terei que trocar o número de novo. Obrigado -pendurou o telefone, franzindo o cenho pela preocupação.
- O que passou? -perguntou-lhe ele.
Grace soprou irritada enquanto se esfregava o pescoço.
- A companhia acaba de contratar a esta garota e, como é nova, deu-lhe meu número privado a um de meus pacientes.
Falava tão rápido que ao Julián custava trabalho segui-la.
- Bom, em realidade, não é meu paciente -prosseguiu sem deter-se-. Jamais teria aceito a um homem assim, mas Luanne, a doutora Jenkins, não é tão seletiva.
A semana passada teve que partir da cidade a toda pressa, por uma emergência familiar. Assim é que Beth e eu tivemos que nos repartir seus pacientes para atendê-los
enquanto ela está fora. Ainda assim, não quis ficar com este homem tão horripilante, mas Beth não passa consulta as sextas-feiras, e ele tem que acudir as quartas-feiras
e as sextas-feiras devida ao regime de liberdade condicional.
Grace o olhou com o pânico refletido em seus pálidos olhos cinzas.
- Mas eu não quis atendê-lo, e o supervisor de seu caso me jurou que não haveria nenhum problema. Disse que o tipo não representava uma ameaça para ninguém.
Julián sentia que lhe palpitava a cabeça pela quantidade de informação que Grace estava soltando, e que ele era incapaz de compreender em sua major parte.
- Isso é um problema?
- É um poquito horripilante -disse com as mãos trementes-. É um perseguidor. Acabam de lhe dar o alta de um hospital psiquiátrico.
- Um perseguidor? Um hospital psiquiátrico? O que é isso?
Ao escutar a explicação, Julián não pôde evitar ficar com a boca aberta.
- Permitem que estas pessoas se movam a seu desejo?
- Bom, sim. A idéia é ajudá-los.
Julián estava horrorizado. Que classe de mundo era esse no que os homens se negavam a proteger a suas mulheres e meninos da depravação?
- Em minha época, não permitíamos que pessoas assim se aproximassem de nossas famílias. Assegurávamo-nos de que não andassem soltos por nossas ruas.
- Bem-vindo ao século vinte e um! -exclamou Grace com amargura-. Aqui fazemos as coisas de um modo... distinto.
Julián moveu a cabeça, ensimismado, enquanto pensava em todas as coisas desta época que lhe resultavam estranhas. Não podia entender a esta gente, nem seu
modo de vida.
- Não encaixo neste mundo -resmungou.
- Julián...
afastou-se quando viu que Grace se aproximava dele.
- Grace, sabe que é assim. Suponhamos que rompemos a maldição; do que me vai servir? O que se supõe que vou fazer aqui? Não posso ler seu idioma, não sei conduzir
e não tenho possibilidades de trabalhar. Há muitas coisas que não entendo. Sinto-me perdido...
Ela se estremeceu ante a evidente angustia que Julián tentava esconder com todas suas forças.
- Só está um pouco arrasado. Mas o faremos passado a passado. Ensinarei-te a conduzir e a ler. E com respeito ao trabalho... sei que é capaz de fazer muitas
coisas.
- Como o que?
- Não sei. além de ser um soldado, a que outra coisa te dedicava na Macedônia?
- Era um general, Grace. Quão único sei fazer é dirigir a um antigo exército em uma batalha. Nada mais.
Grace tomou sua cara entre as mãos e o olhou com dureza.
- Não te atreva a abandonar agora. Há-me dito que não tinha medo a lutar, como pode te assustar por isso?
- Não sei, mas me assusta.
Algo estranho ocorreu então; Grace percebeu que Julián lhe tinha permitido aproximar-se. Não de forma muito íntima, mas pela expressão de seu rosto se dava
conta de que estava admitindo sua vulnerabilidade ante ela. E, no fundo, sabia que não era o tipo de homem que admite facilmente esse fato.
- Eu te ajudarei.
A dúvida que refletiam os olhos azuis fez que lhe revolvesse o estômago.
- por que?
- Porque somos amigos -lhe respondeu com ternura, enquanto lhe acariciava a bochecha com o polegar-. Não foi isso o que disse ao Cupido?
- Já escutou sua resposta. Não tenho amigos.
- Agora sim.
Ele se inclinou e a beijou na frente, atraindo-a para seu corpo para lhe dar um forte abraço. O quente aroma do sândalo a alagou enquanto escutava como o coração
do Julián pulsava freneticamente sob sua bochecha rodeada por seus bíceps torrados pelo sol. Foi um gesto tão tenro que ao Grace chegou à alma.
- De acordo, Grace -lhe disse em voz baixa-. O tentaremos. Mas me prometa que não deixará que te faça mal.
Ela o olhou carrancuda.
- Estou falando a sério. Uma vez que me ponha os grilhões, não me solte sob nenhuma circunstância. Jura-o.
- Mas...
- Jura-o! -insistiu ele com brutalidade.
- Muito bem. Se não poder te controlar, não te liberarei. Mas eu também quero que me prometa uma coisa.
Ele se apartou um pouco e a olhou com cepticismo. Não obstante, seguiu abraçando-a.
- O que?
Grace apoiou as mãos sobre seus fortes bíceps e sentiu como a pele do Julián se arrepiava sob seu contato. Ele baixou o olhar para suas mãos, com uma das expressões
mais tenras que ela tinha visto nunca.
- me prometa que não vais desistir -lhe disse-, que vais tentar acabar com a maldição.
Olhou-a com um sorriso estranho.
- Está bem. Tentarei-o.
- E o obterá.
Julián sorriu ao escutar seu comentário.
- Tem o otimismo de uma menina.
Grace lhe devolveu o sorriso.
- Como Peter Pão.
- Peter o que?
Ela se afastou de seus braços a contra gosto. Tomando o da mão, levou-o até a porta do dormitório.
- me acompanhe, escravo meu macedonio, e te contarei quem som Peter Pão e os Meninos Perdidos.
- Então, esse menino alguma vez se fez maior? -perguntou Julián enquanto preparavam o jantar.
Grace estava muito surpreendida, já que ele não se queixou quando lhe pediu que se encarregasse da salada. Parecia bastante acostumado a usar facas para cortar
comida.
Sem muitas vontades de investigar aquela pequena peculiaridade, concentrou-se no molho para os talharins.
- Não. Retornou à ilha com Campainha.
- Interessante.
Grace colocou uma colher no molho e, pondo uma mão debaixo para que não gotejasse, a aproximou do Julián para que a provasse, depois de havê-la esfriado.
- me diga o que te parece.
Ele se inclinou, abriu a boca e deixou que Grace lhe desse a provar o molho.
Ela observou como a saboreava.
- Está deliciosa.
- Muita sal possivelmente?
- Não, está perfeita.
Ela sorriu alegremente.
- Tenha -lhe disse ele, lhe oferecendo uma parte de queijo.
Grace abriu a boca, mas ele não o deu; aproveitando-se das circunstâncias, apropriou-se de seus lábios para beijá-la a consciência.
Céu santo! Uma língua com tal capacidade de movimento deveria ser imortalizada com um monumento, ou encontrar o modo de conservá-la para a posteridade. Semelhante
tesouro não podia desaparecer. E esses lábios...
Mmm, Grace não queria parar-se a pensar nesses deliciosos lábios e no que eram capazes de fazer.
Julián a sujeitou pela cintura apertando-a contra seus quadris, justo sobre o lugar onde seu membro se esticava sob os jeans. Por amor de Deus!, este homem
estava maravilhosamente dotado e Grace começou a tremer ante a idéia de que desdobrasse todos seus encantos sexuais para ela.
Seria capaz de sobreviver a algo assim?
Sentia como Julián se esticava e como sua respiração começava a alterar-se. Estava deixando-se arrastar pela paixão, e Grace começava a temer que, se não o
detinha nesse momento, nenhum dos dois ia ser capaz de parar depois.
Embora não gostava de nada separar-se dele, deu um passo atrás, desfazendo o tórrido abraço.
- Julián, te comporte.
Ofegando, observou a luta que sustentava consigo mesmo enquanto a devorava com os olhos.
- Seria muito mais singelo comportar-se se não fosse tão jodidamente desejável.
O comentário foi tão inesperado que ela riu com vontades.
- Sinto-o -lhe disse, captando o gesto irritado do Julián-. Ao contrário do que ocorre a ti, eu não estou acostumada a que me digam coisas como essa. O major
completo que me têm feito nunca, foi o de um menino chamado Rick Glysdale. O dia da graduação, veio a me recolher a casa, olhou-me de cima abaixo e disse: " Joder!,
arrumaste-te mais do que esperava".
Julián soprou.
- Preocupam-me os homens desta época, Grace. Todos parecem ser uns completos imbecis.
Rendo-se de novo, lhe deu um ligeiro beijo na bochecha e se aproximou da panela para tirar a massa da água antes de que se passasse.
Enquanto jogava os talharins no escorredor, lembrou-se do pão.
- Pode lhe jogar uma olhada às baguettes?
Julián se aproximou do forno e se inclinou, lhe oferecendo ao Grace uma suculenta visão de sua parte traseira. Ela se mordeu o lábio inferior, enquanto se
esforçava por não aproximar-se e passar a mão por esse firme e escuro traseiro.
- Estão a ponto de queimar-se.
- Ai, mierda! Pode as tirar? -perguntou-lhe, tentando não derramar a água que estava fervendo.
- Claro -Julián agarrou o trapo da encimera, e começou a tirar o pão. De repente, soltou um juramento que chamou a atenção do Grace.
Ela se girou e viu que o trapo estava ardendo.
- Ali! -exclamou, tirando-se de no meio-. Joga-o à pia.
Ele o fez, mas ao passar por seu lado, roçou-lhe a mão com o trapo e Grace vaiou de dor.
- Queimei-te? -perguntou-lhe.
- um pouco.
Julián fez uma careta ao lhe agarrar a mão para lhe examinar a queimadura.
- Sinto-o -lhe disse, um momento antes de levar o dedo do Grace à boca.
Atônita, não foi capaz de mover-se enquanto Julián passava a língua pela sensibilizada pele de seu dedo. Apesar da queimação da ferida, a sensação era muito
agradável. Muito, muito agradável.
- Isso não lhe vem bem à queimadura -sussurrou.
Com o dedo ainda na boca, Julián lhe dedicou um sorriso travesso e alargou o braço para abrir o grifo, que estava a suas costas. Fez um círculo completo com
a língua ao redor do dedo uma vez mais antes de abrir a boca e colocá-lo sob o jorro de água fria.
lhe sustentando o braço para que a água aliviasse a ardência da queimadura, aproximou-se da planta de aloe, que estava em batente da janela, e cortou uma parte.
- Conhece as propriedades do aloe? -perguntou-lhe ela.
- Suas propriedades curativas se conheciam muito antes de que eu nascesse -respondeu ele.
Quando esfregou o dedo com a viscosa seiva da planta, Grace sentiu que um calafrio lhe percorria as costas e se o fazia um nó no estômago.
- Sente-se melhor?
Ela assentiu com a cabeça.
Com a ternura e o desejo refletidos nos olhos, Julián contemplou seus lábios como se ainda pudesse perceber seu sabor.
- Acredito que, a partir de agora, deixarei que você seja a que se encarregue do forno -lhe disse.
- Provavelmente seja o melhor.
Grace se separou dele e tirou as baguettes, que ainda eram comestíveis.
Serve os pratos e precedeu ao Julián até a sala de estar, onde se sentaram a comer no chão, diante do sofá, enquanto viam Matrix.
- eu adoro este filme -disse ela quando começava o filme.
Julián colocou o prato sobre a mesita de café e se aproximou do Grace.
- Sempre come no chão? -perguntou-lhe antes de levar uma parte de pão à boca.
Fascinada pela harmonia de seus movimentos, Grace observou atentamente como a mandíbula do Julián se esticava ao mastigar.
Não havia nenhuma parte de seu corpo pela que não lhe fizesse a boca água? Começava a entender por que o resto de seus invocadoras o tinham utilizado.
A idéia de mantê-lo encerrado em uma habitação durante um mês estava começando a lhe resultar muito tentadora.
E além disso tinham aqueles grilhões...
- Bom -disse afastando sua mente daquela maravilhosa e bronzeada pele, e do bem que se veria se Julián estivesse totalmente nu e esparramado sobre seu colchão-,
está a mesa do comilão, mas posto que a maioria das noites estou sozinha, prefiro tomar um tigela de sopa no sofá.
Julián girou de forma magistral o garfo sobre a colher, até que os talharins estiveram perfeitamente enrolados.
- Necessita a alguém que cuide de ti -lhe disse antes de levar o garfo à boca.
Grace se encolheu de ombros.
- Eu me cuido sozinha.
- Não é o mesmo.
Grace o olhou carrancuda. Havia algo em sua voz que lhe indicava que não o dizia do ponto de vista machista. Julián falava do coração e apoiando-se em sua
própria experiência.
- Suponho que todos necessitamos alguém que nos cuide, verdade? -sussurrou ela.
Ele girou a cabeça para ver a televisão, mas não antes de que Grace captasse o brilho do desejo em seus olhos. Ela o observou enquanto permanecia uns minutos
atento ao filme. Até distraído, comia de forma impecável. Grace estava toda coberta de manchas de molho, e ele nem sequer tinha deixado cair uma só gota.
- Insígnia me como faz isso -lhe disse.
Julián a olhou com curiosidade.
- O que?
- O que faz com a colher. Está-me pondo dos nervos. Não consigo que meus talharins acabem enrolados no garfo; ficam todos soltos e me ponho perdida.
- Claro, e não queremos que nos rodeiem um montão de talharins gigantes que o deixem tudo feito um asco, verdade?
Grace riu porque sabia que não falava precisamente dos talharins.
- A ver, como o faz?
Julián tomou um sorvo de vinho e deixou a taça a um lado.
- Vejamos, assim me resultará mais fácil lhe ensinar isso Al sentarse tras ella, él dobló las rodillas, de modo que quedaron a cada lado de su cuerpo y cuando
se inclinó hacia delante, Grace notó su erección presionándole en la cadera. Esta vez no se sorprendió. Curiosamente, estaba empezando a acostumbrase.
E se deslizou entre o sofá e Grace.
- Julián... -lhe advertiu ela.
- Só vou ensinar te o que quer.
- Hum... -exclamou dúbia. De todos os modos, não podia evitar sentir sua proximidade lhe impregnasse até os ossos, até a alma. A calidez do peito do Julián
se estendeu por suas costas quando a rodeou com seus maravilhosos braços.
Ao sentar-se atrás dela, ele dobrou os joelhos, de modo que ficaram a cada lado de seu corpo e quando se inclinou para diante, Grace notou sua ereção lhe pressionando
no quadril. Esta vez não se surpreendeu. Curiosamente, estava começando a acostumasse.
Sentia o poder e a força do Julián enquanto seu corpo fibroso e esbelto se acomodava atrás dela, deixando-a sem fôlego e muito insegura.
Uns sentimentos estranhos e intensos começaram a estender-se em seu interior, jamais lhe tinha ocorrido algo assim. O que tinha Julián que o fazia sentir-se
tão protegida e feliz?
Se se tratava da maldição, deveriam lhe trocar o nome, porque não havia nada malévolo nas sensações que a embargavam.
- Muito bem -lhe disse Julián, e seu fôlego lhe roçou a orelha fazendo que uma descarga elétrica a transpassasse. Imediatamente, agarrou-lhe as mãos e os dois
juntos sustentaram os talheres.
Fechou os olhos, enquanto aspirava o doce aroma a flores que desprendia o cabelo do Grace. Estava empregando toda sua força de vontade para concentrar-se na
tarefa de lhe ensinar a comer talharins, e esquecer-se do muito que desejava lhe fazer o amor.
Ela deslizou provocativamente os dedos entre os seus, intensificando desse modo as sensações que sua pele cálida e suave produziam no Julián. Um novo tipo
de desespero se apropriou dele. Uma que não era capaz de nomear. Sabia o que queria dela, e não se tratava só de seu corpo.
Mas não se atrevia a pensar nisso.
Não se atrevia a ter esperanças.
Grace não estava a seu alcance. Seu coração o dizia, e sua alma. Nem todo o desejo do mundo poderia trocar um fato essencial: não se merecia uma mulher como
ela.
Jamais o tinha merecido...
Abriu os olhos e lhe mostrou o modo de usar a colher para ajudar-se a enrolar os talharins no garfo.
- Vê? -murmurou, lhe aproximando o garfo aos lábios-. É singelo.
Ela abriu a boca e Julián introduziu com cuidado o garfo. Enquanto o tirava, deslizando-o entre seus lábios, sentiu que experimentava uma nova forma de tortura.
O coração pulsava a um ritmo frenético e selvagem, e seu sentido comum lhe dizia que se afastasse dela.
Mas não podia. Levava tanto tempo sem companhia. Tanto tempo sem ter um amigo...
Não podia deixá-la agora. Não sabia como fazê-lo.
Assim seguiu lhe dando de comer.
Grace se reclinou entre seus braços. Apartou as mãos das suas e deixou que ele tomasse o controle. Enquanto mastigava os talharins, agarrou uma parte de pão
e o ofereceu ao Julián. Lhe mordiscou os dedos ao ficar o na boca.
Grace sorriu e lhe acariciou o queixo enquanto mastigava. Uf! A forma em que se esticava esse músculo sob sua mão... adorava como se movia seu corpo, como
se relaxavam e se contraíam seus músculos, por muito pequeno que fosse o esforço.
Uma mulher jamais poderia cansar-se de olhá-lo.
Tomou um sorvo de vinho e, enquanto isso, Julián lhe roubou uns quantos talharins.
- Ouça, você! -disse-lhe brincando-. Isso é meu.
Seus celestiales olhos azuis resplandeceram ao sorrir, e lhe ofereceu de novo o garfo para que seguisse comendo.
Enquanto mastigava, Grace lhe aproximou a taça de vinho aos lábios.
Infelizmente, não calculou bem e a afastou muito logo, com o que o vinho se derramou por seu queixo e caiu sobre a camisa.
- Sinto muito! -exclamou, lhe limpando o queixo com os dedos. Sua incipiente barba lhe raspava a pele-. Jesus! A que formei!
A ele não pareceu lhe incomodar absolutamente. Agarrou-lhe a mão e se dedicou a lamber o vinho que caía por seus dedos.
Grace deixou escapar um gemido. Julián lhe lambia os dedos e os mordiscava com muita suavidade, e ela se estremecia da cabeça aos pés.
Um a um, foi limpando meticulosamente. E quando acabou, elevou-lhe o queixo e capturou seus lábios.
Mas não foi o beijo exigente e feroz ao que ela estava acostumada. que utilizava para seduzi-la e devorá-la.
Este foi suave e tranqüilo. Tenro. Os lábios do Julián eram delicados mas exigentes.
Então se afastou.
- Ainda tem fome? -perguntou-lhe.
- Sim -balbuciou Grace, sem referir-se à comida, a não ser aos apetites que seu corpo estava experimentando junto a ele.
Julián lhe ofereceu mais talharins.
Quando lhe aproximou a taça novamente para acalmar sua sede, Julián lhe cobriu a mão com a sua enquanto a observava com olhos risonhos.
Assim seguiram, dando-se de comer e deleitando-se em sua mútua companhia, até o final do filme. Julián pareceu muito interessado nas lutas finais.
- Suas armas são fascinantes -comentou.
- Suponho que para um general devem sê-lo.
Ele a olhou de esguelha e seguiu atento ao filme.
- O que é o que mais você gosta do Matrix?
- As alegorias.
Ele assentiu.
- Tem influências do Platón.
- Conhece o Platón? -perguntou-lhe surpreendida.
- Estudei-o quando era jovem.
- Sério?
Não pareceu divertido pela conversação.
- As arrumavam para nos ensinar umas quantas coisas entre surra e surra.
- Não está falando a sério, Julián.
- Já.
Uma vez acabou o filme, ajudou-a a recolher a cozinha.
Quando ela carregava a lava-louça, soou o telefone.
- Não demorarei nada -lhe disse enquanto corria para a salita para responder.
- Grace, é você?
ficou geada ao escutar a voz do Rodnay Carmichael.
- Olá, senhor Carmichael -o saudou fríamente.
Nesse momento, teria matado ao Luanne por partir da cidade.
Tão somente tinha tido uma sessão com o Rodney, na quarta-feira, mas tinha sido suficiente para fazer que desejasse contratar a um detetive privado que procurasse
o Luanne e a trouxesse de volta.
O tipo lhe dava calafrios.
- Onde esteve hoje, Grace? Não estará doente, verdade? Poderia te levar...
- Não lhe trocou Lisa sua entrevista?
- Sim, mas estava pensando que podíam...
- Olhe, senhor Carmichael, não atendo a meus pacientes em casa. Verei-lhe na hora de sua sessão. De acordo?
A linha ficou em silêncio.
- Grace?
Ela saltou e chiou ao escutar a voz do Julián a suas costas.
Ele a observava com curiosidade, com uma expressão que muito bem poderia ter encontrado divertida se não tivesse estado tão aterrorizada.
- Está bem? -perguntou-lhe ele.
- Sim, sinto-o -disse, pendurando o telefone-. Era esse paciente do que te falei. Rodney Carmichael. Tira-me de gonzo.
- O que?
- Que me põe muito nervosa -pela primeira vez, agradecia muitíssimo a presença do Julián. Desde não estar ele, teria ido a casa da Selena e Bill, em busca
de sua hospitalidade durante o fim de semana-. Venha -lhe disse enquanto apagava a luz da cozinha-. Vamos acima e começo a te ensinar a ler?
Julián negou com a cabeça.
- Não abandona, verdade?
- Não.
- Muito bem -lhe respondeu, seguindo-a escada acima-. Aceito que me dê classes se puser a negligé roj...
- Não, não e não -disse ela, detendo-se em metade da escada e girando-se para Me olhá-lo temo que isso não vai ser possível.
Ele se aproximou e acariciou o cabelo que lhe caía sobre o ombro.
- Não sabe que necessito uma musa que me anime a aprender? E que melhor musa que você vestida com...?
Grace lhe colocou os dedos sobre os lábios para impedir que seguisse falando.
- Se me puser isso, duvido muito que vás aprender algo que não saiba já.
Lhe mordiscou os dedos.
- Prometo me comportar bem.
Sabendo que era uma idéia péssima, deixou que a convencesse.
- Será melhor que te comporte -lhe advertiu, lhe olhando por cima do ombro enquanto acabava de subir os degraus.
Grace entrou no enorme vestidor que seu pai tinha convertido em biblioteca anos atrás, e rebuscou nas prateleiras até encontrar seu velho conto do Peter Pão.
Julián rebuscou em suas gavetas até encontrar o deplorável traje.
Intercambiaram objetos no centro da habitação. Grace correu por volta do quarto de banho e se trocou de roupa mas, logo que se contemplou no espelho, com o
diáfano objeto vermelho, foi incapaz de mover-se. Puaj! Se Julián a via com essas pintas sairia dando alaridos da habitação.
Incapaz de suportar a humilhação de vê-lo decepcionado por seu corpo, tirou-se a negligé e ficou sua singela regata rosa. envolveu-se em seu grosso penhoar
antes de retornar à habitação.
Julián meneou a cabeça.
- por que te puseste isso?
- Olhe, não sou idiota. Não tenho o tipo de corpo que faz que os homens babem.
- O que está tentando me dizer?, que é um homem?
Ela franziu o cenho ante sua lógica.
- Não.
- Então como sabe que seu corpo não acordada o desejo de um homem?
- Porque não sou cega. Vale? Os homens não babam por mim do mesmo modo que as mulheres fazem contigo. Maldita seja!, considero-me afortunada quando se dão
conta de que sou uma mulher.
- Grace -resmungou, levantando-se. ficou em pé e se deteve os pés da cama-. Vêem aqui -lhe ordenou.
Ela obedeceu.
Julián a colocou exatamente em frente do espelho de corpo inteiro.
- O que vê? -perguntou-lhe.
- A ti.
Lhe sorriu.
Inclinando-se, apoiou o queixo sobre o ombro do Grace.
- O que vê quando te olha?
- Vejo alguém que precisa perder de seis a nove quilogramas e comprar um carregamento de nata antimanchas para fazer desaparecer as sardas.
A ele não pareceu lhe fazer graça.
Passou-lhe as mãos pela cintura, até a parte dianteira do penhoar, onde descansava o nó do cinturão.
- me deixe que te diga o que eu vejo -ronronou justo sobre sua orelha, enquanto colocava as mãos sobre o cinturão, sem abri-lo-. Vejo um formoso cabelo, escuro
como a noite. Suave e abundante. Tem o cabelo ideal para que caia em cascata sobre o ventre nu de um homem, para enterrar a cara nele e aspirar seu aroma.
Grace começou a tremer.
- Tem um rosto com forma de coração, semelhante ao de um pequeno fantasia de diabo, com lábios cheios e sensuais que pedem a gritos ser beijados. E com respeito
a suas sardas, são fascinantes. Acrescentam um toque juvenil a seu encanto que te faz única e irresistível.
Não soava tão mal dito por ele.
Desabotoou-lhe o penhoar e fez uma careta ante a visão da regata rosa. Abrindo-o de tudo, seguiu falando.
- O que temos aqui? -resmungou, devorando-a com os olhos.
antes de poder pensar sequer em protestar, Julián lhe baixou o penhoar pelos braços e o deixou cair ao chão, a seus pés. Voltou a apoiar o queixo em seu ombro
enquanto seus olhos a contemplavam através do espelho.
Elevou-lhe a regata.
- Julián -disse ela, lhe agarrando a mão.
Seus olhares se encontraram no espelho. Grace não pôde mover-se, já que a paixão e a ternura que se refletiam nos olhos do Julián a sumiram em um estado de
transe.
- Quero verte, Grace -lhe disse em um tom que deixava às claras que não admitiria um não por resposta.
antes de poder voltar a pensar com claridade, lhe tirou a regata e passou suas mãos sobre a pele nua de seu estômago.
- Seus peitos não são pequenos -sussurrou, incorporando-se atrás dela-. Têm o tamanho perfeito para a mão de um homem -e para demonstrar sua afirmação, aproximou
as mãos e os cobriu com elas.
- Julián -balbuciou Grace com um gemido e o corpo abrasado-. Recorda sua promessa.
- Estou-me comportando bem -respondeu ele com voz rouca.
Apoiando-se sobre seus duros peitorais, Grace observou sem fôlego no espelho como Julián deixava seus peitos e lhe acariciava as costelas, descendendo até
os quadris e uma vez ali, colocava as mãos sob o elástico de seus braguitas.
- Tem um corpo formoso, Grace -lhe disse enquanto lhe acariciava o púbis.
Pela primeira vez em toda sua vida, acreditou-. Julián lhe mordiscou o pescoço enquanto suas mãos brincavam com os cachos escuros de seu entrepierna.
- Julián -choramingou, sabendo que se não o detinha agora não seria capaz de fazê-lo mais tarde.
- Shh! -disse-lhe ao ouvido-. Já te tenho.
E, então, separou as tenras dobras de seu corpo e acariciou seu sexo.
Grace gemeu, consumida pela paixão. Julián capturou seus lábios e a beijou plena e profundamente.
De forma instintiva, deu-se a volta entre seus braços para saboreá-lo melhor.
Levantou-a do chão, sem abandonar seus lábios, enquanto a levava até a cama. De algum modo, as arrumou para acomodá-la sobre o colchão e tombar-se sobre ela
sem deixar de beijá-la.
Certamente tinha um grande talento.
E uf!, Grace se sentia arder com suas carícias. Com seu aroma escandalosamente sensual. Com a sensação de seu corpo tendido junto a ela. Começou a tremer de
pés a cabeça enquanto lhe separava as coxas com os joelhos e se colocava, ainda vestido, sobre ela.
Sentir seu peso era algo maravilhoso. Seu corpo duro e viril, enquanto esfregava seus esbeltos quadris contra ela. Até através dos jeans, podia sentir sua
ereção pressionando sobre seu entrepierna. Como se estivessem atraídas por um ímã, seus quadris se elevaram compassando-se ao movimento do Julián.
- Isso, Grace -murmurou sobre seus lábios, enquanto seguia roçando seu membro inchado contra ela, de um modo tão magistral que Grace soube que já teria chegado
ao clímax se estivesse dentro dela-. Sente minhas carícias. Sente meu desejo por ti, só por ti. Não lute contra ele.
Grace voltou a gemer quando Julián abandonou seus lábios e deixou um abrasador reguero de beijos por sua garganta, até chegar a seus peitos, que começou a
sugar com suavidade.
Grace delirava de prazer enquanto enterrava as mãos nos cachos loiros do Julián.
Ele atormentou implacavelmente seus peitos com a língua.
Todo seu corpo tremia pelo tremendo esforço que lhe supunha manter-se vestido. Queria introduzir-se nela com tanto desespero que sua prudência se desvanecia
pouco a pouco.
Com cada aposta de seus quadris contra as do Grace, lhe dava vontade de gritar pela agonia do desejo insatisfeito. Era a tortura mais deliciosa que jamais
tinha experiente.
E tudo piorou ao sentir ao Grace deslizar as mãos por suas costas, e as introduzir em seus bolsos traseiros para aproximá-lo ainda mais, apertando-o com força.
Julián se estremeceu ante a sensação.
- Sim, OH, sim! -ofegava Grace quando ele aumentou o ritmo de suas investidas.
Julián sentiu que todo lhe dava voltas. Tinha que afundar-se nela. E se não podia fazer o de uma maneira, por todos os templos de Atenas que o faria de outra.
separou-se dela e se moveu para baixo, passando os lábios por seu estômago e lhe beijando os quadris enquanto lhe tirava as braguitas.
Grace tremia de pés a cabeça ao sentir o poder que ele ostentava nesse momento.
- Por favor -lhe suplicou, incapaz de suportá-lo mais.
Apartou-lhe as coxas com os cotovelos. Grace o permitiu sem protestar. Colocou as mãos baixo ela e lhe elevou os quadris até que lhe aconteceu as pernas por
cima de seus ombros.
Os olhos lhe abriram de par em par no mesmo instante em que Julián tomou na boca.
Grace enterrou as mãos no cabelo dele e jogou a cabeça para trás, vaiando de agradar ante as carícias tão íntimas que a língua do Julián lhe prodigalizava.
Jamais tinha experiente algo assim. Uma e outra vez, penetrando-a com a língua implacavelmente, ele a lambia, atormentava-a, pinçava em seu interior até deixá-la
sem fôlego, exausta.
Julián fechou os olhos e grunhiu quando provou seu sabor. E desfrutou da sensação. Os murmúrios de prazer que escapavam da garganta do Grace ressonavam em
seus ouvidos. Percebia como ela reagia ante cada carícia sensual de sua língua, cuidadosamente executada. De fato, sentia como lhe tremiam as coxas e as nádegas,
como se estremeciam contra seus ombros e suas bochechas.
Grace se retorcia de modo muito erótico em resposta a suas carícias.
Com a respiração entrecortada, Julián quis lhe mostrar exatamente o que se esteve perdendo. Quando saísse da habitação essa noite, Grace não voltaria a encolher-se
de temor ante suas carícias.
Ela choramingou quando moveu a mão devagar para introduzir o polegar em sua vagina, enquanto continuava lambendo-a.
- Julián! -ofegou com um involuntário estremecimento de seu corpo.
Ele moveu o dedo e a língua ainda mais rápido, mais profundo, aumentando a pressão enquanto girava e girava. Grace sentia que a cabeça lhe dava voltas pelo
roce da barba do Julián em suas coxas, em seu sexo.
E, quando pensava que já não poderia suportá-lo mais, alcançou o clímax de forma tão violenta que jogou a cabeça para trás e gritou enquanto seu corpo se convulsionava
pelas contínuas quebras de onda de prazer.
Mas Julián não se deteve, seguiu lhe prodigalizando carícias até que teve outro novo orgasmo, quase seguido ao primeiro.
A terceira vez que lhe ocorreu pensou que morreria.
Débil, e totalmente saciada, sacudia a cabeça a um e outro lado, sobre o travesseiro, enquanto ele continuava seu implacável assalto.
- Julián, por favor -lhe suplicou enquanto seu corpo seguia experimentando contínuos espasmos por suas carícias-. Não posso mais.
Só então, ele se apartou.
Grace se sentia palpitar da cabeça até os pés, e respirava entrecortadamente. Jamais tinha conhecido um prazer tão intenso.
Julián riscou um caminho de beijos desde suas coxas até sua garganta, e ali ficou.
- me diga a verdade, Grace -lhe disse ao ouvido-. Há sentido algo assim antes?
- Não -sussurrou ela com honestidade; duvidava que muitas mulheres tivessem conhecido algo semelhante ao que ela acabava de experimentar. Possivelmente não
houvesse nenhuma-. Não tinha nem idéia de que pudesse ser assim.
Com um olhar faminto, Julián a contemplou como se queria devorá-la.
Ela sentiu a pressão de sua ereção sobre o quadril e caiu na conta que ele não tinha chegado ao orgasmo. Tinha mantido sua promessa.
Com o coração lhe pulsando frenético ante o descobrimento, quis lhe proporcionar quão mesmo ela acabava de viver. Ou ao menos, algo que lhe aproximasse.
Baixando a mão, começou a lhe desabotoar as calças.
Julián lhe agarrou a mão e a levou aos lábios para lhe beijar a palma com muita ternura.
- Sua intenção é boa, mas não te incomode.
- Julián -lhe disse em tom de recriminação-. Sei que é muito doloroso para um homem se não se...
- Não posso -insistiu ele, interrompendo-a de novo.
Grace o olhou carrancuda.
- Que não pode o que?
- Ter um orgasmo.
Grace abriu a boca, atônita. Estaria dizendo a verdade? De todos os modos, seus olhos tinham uma expressão mortalmente séria.
- É parte da maldição -lhe explicou ele-. Posso te dar agradar, mas se me toca justo agora, só conseguirá me fazer mais danifico.
Sofrendo por ele, acariciou-lhe a bochecha.
- Então, por que...?
- Porque queria fazê-lo.
Não acreditava. Não. Apartou a mão de seu rosto e olhou para outro lado.
- Quererá dizer porque tinha que fazê-lo. Pela maldição também, não é certo?
Ele a agarrou pelo queixo e a obrigou a lhe olhar aos olhos.
- Não. Estou lutando contra a maldição, se não fosse assim, estaria dentro de ti agora mesmo.
- Não o entendo.
- Eu tampouco -lhe confessou olhando-a aos olhos, como se procurasse nela a resposta-. te Deite comigo -sussurrou-. Por favor.
Grace fez uma careta de dor ante o sofrimento que destilava aquela singela petição. Seu pobre Julián. O que lhe tinham feito? Como podiam lhe fazer isso a
alguém como ele?
Julián agarrou o livro e o deu ao Grace.
- me leia.
Ela abriu o conto enquanto ele colocava os travesseiros no cabecero da cama.
estirou-se no colchão e fez que Grace se tombasse a seu lado. Sem dizer uma só palavra, atirou da manta e a rodeou em um tenro gesto com seu braço.
O aroma de sândalo a assaltou de novo, enquanto começava a lhe ler a história do Wendy e Peter Pão.
Estiveram assim durante uma hora.
- eu adoro sua voz. Sua forma de falar -lhe disse enquanto Grace se detinha para passar uma página.
Ela sorriu.
- Devo dizer o mesmo de ti. Tem a voz mais cativante que escutei jamais.
Julián lhe tirou o livro das mãos e o deixou sobre a mesita de noite. Grace elevou o olhar até seus olhos. O desejo os fazia mais brilhantes, e a contemplava
com um desejo que a deixou sem respiração.
Então, para seu assombro, beijou-a brandamente na ponta do nariz.
Alargou o braço, agarrou o mando a distância e baixou as luzes até deixar a habitação em penumbra. Grace não sabia o que dizer enquanto ele se acurrucaba atrás
dela e a abraçava pelas costas.
Julián lhe apartou o cabelo da cara e apoiou a cabeça no travesseiro, ao lado da sua.
- eu adoro seu aroma -lhe sussurrou, abraçando-a com força.
- Obrigado -respondeu ela em um murmúrio.
Não estava segura, mas lhe dava a impressão de que Julián sorria.
Se acurrucó ainda mais, aproximando-se da calidez de seu corpo, mas os jeans lhe rasparam as pernas.
- Não está incômodo vestido? Não deveria te trocar de roupa?
- Não -respondeu tranqüilamente-. Deste modo, sei que minha colherinha permanecerá afastada de você...
- Nem te ocorra dizê-lo -disse com uma gargalhada-. Não te ofenda, mas seu irmão é asqueroso.
- Sabia que havia uma razão para que eu gostasse tanto.
Grace lhe tirou o mando a distância das mãos.
- boa noite, Julián.
- boa noite, carinho.
Grace apagou a luz.
Imediatamente, notou como Julián se esticava. Sua respiração se converteu em um ofego entrecortado e se separou dela.
- Julián?
Ele não respondeu.
Preocupada, Grace acendeu a luz para poder lhe ver. abraçava-se com força o torso, com os braços cruzados sobre o peito. Tinha a frente coberta de suor e um
olhar aterrado e selvagem enquanto se esforçava por respirar.
- Julián?
Ele observou a habitação como se acabasse de despertar de um pesadelo espantoso. Grace viu como elevava um braço e colocava a mão na parede, para assegurar-se
que tudo era real, não uma alucinação.
umedeceu-se os lábios, passou-se a mão pelo peito e tragou saliva.
E então, Grace o entendeu.
A escuridão. Por isso não tinha apagado as luzes, mas sim tinha baixado a intensidade.
- Sinto-o Julián, não sabia.
Ele seguia sem falar.
Grace o abraçou, surpreendida de que um homem tão forte procurasse consolo nela como se não pudesse fazer outra coisa. Julián apoiou a cabeça sobre seus peitos.
Com os dentes apertados, Grace sentiu que os olhos lhe enchiam de lágrimas. E nesse instante soube que jamais lhe deixaria retornar a esse livro. Nunca.
De algum modo, romperiam a maldição. E, quando tudo tivesse acabado, esperava que Julián pudesse vingar do responsável por seu sofrimento.
Capítulo 9
Grace permaneceu imóvel durante horas, escutando a respiração tranqüila e compassada do Julián, enquanto dormia a seu lado. Tinha colocado uma perna entre
suas coxas e lhe rodeava a cintura com um braço.
A sensação de seu corpo, envolvendo-a, a fazia palpitar de desejo.
E seu aroma...
O que mais gostava de nesses momentos era dá-la volta e enterrar o nariz no aroma quente e amaderado de sua pele. Ninguém a tinha feito sentir-se assim jamais.
Tão querida, tão segura.
Tão desejável.
E se perguntava como era possível, tendo em conta que apenas se conheciam. Julián chegava a uma parte de seu interior que ia mais à frente do mero desejo físico.
Era tão forte, tão autoritário... E tão divertido. A fazia rir e lhe encolhia o coração.
Alargou o braço e passou os dedos com suavidade pela mão que tinha justo colocada sob seu queixo. Tinha umas mãos preciosas. Largas e ahusadas. Até relaxadas
durante o sonho, sua força era inegável. E a magia que obravam em seu corpo...
Um milagre.
Passou o polegar por seu anel de general e começou a perguntar-se como teria sido Julián então. A menos que a maldição tivesse alterado sua aparência física,
não parecia ser muito maior, não aparentava mais de trinta.
Como poderia ter liderado um exército a uma idade tão temprana? Mas claro, Alejandro Magno apenas se tinha idade para barbear-se quando começou suas campanhas.
Julián devia ter tido uma aparência magnífica no campo de batalha. Grace fechou os olhos e tentou imaginar-lhe a cavalo, carregando contra seus inimigos. Podia
ver uma vívida imagem do general vestido com a armadura e com a espada em alto enquanto lutava corpo a corpo com os romanos.
- Jasón?
Grace se esticou ao escutar o murmúrio. Julián estava dormido.
Girou sobre o colchão e o olhou.
- Julián?
Ele adotou uma postura rígida e começou a falar em uma confusa mescla de inglês e grego clássico.
- Não! Okhee! Okhee! Não! -e se incorporou até ficar sentado na cama.
Grace não podia saber se estava dormido ou acordado.
Tocou-lhe o braço instintivamente e, lançando uma maldição, ele a agarrou com força e atirou dela até pô-la sobre suas coxas. Depois voltou a arrojar a à cama,
com um olhar selvagem e os lábios franzidos.
- Maldito seja! -grunhiu.
- Julián -ofegou Grace, lutando por liberar-se enquanto ele a agarrava com mais força pelo braço-. Sou eu, Grace!
- Grace? -repetiu com o cenho franzido, tentando enfocar o olhar.
separou-se dela piscando. Elevou as mãos e as observou como se fossem dois apêndices estranhos que não tivesse visto jamais. Depois cravou os olhos no Grace.
- Tenho-te feito mal?
- Não, estou bem. E você?
Ele não respondeu.
- Julián? -disse enquanto lhe tocava.
afastou-se dela como se se separasse de uma criatura venenosa.
- Estou bem. Era um mau sonho.
- Um mau sonho ou uma má lembrança?
- Uma má lembrança que me persegue em sonhos -murmurou com a voz carregada de dor, e se levantou-. Deveria dormir em outro sítio.
Grace o agarrou pelo braço antes de que pudesse partir e o aproximou de volta à cama.
- Isso é o que sempre fez no passado?
Ele assentiu.
- Contaste-lhe seus pesadelos a alguém?
Julián a olhou horrorizado. Por quem o tinha tomado?
Por um menino chorão que necessitava a sua mãe?
Sempre tinha guardado a angústia em seu interior. Como lhe tinham ensinado. Só durante as horas de sonho as lembranças podiam transpassar as barreiras que
ele mesmo tinha ereto. Só quando dormia era débil.
No livro não havia ninguém que pudesse resultar ferido quando lhe assaltava o pesadelo. Mas uma vez liberado de seu confinamento, sabia que não era muito inteligente
dormir ao lado de alguém que podia acabar inadvertidamente ferido enquanto estava apanhado no sonho.
Poderia matar a de forma acidental.
E essa idéia o aterrorizava.
- Não -sussurrou-. Não o contei nunca a ninguém
- Então, conta-me o .
- Não -respondeu com firmeza-. Não quero voltar a vivê-lo.
- Se o reviver cada vez que sonha, qual é a diferença? me deixe entrar em seus sonhos, Julián. me deixe te ajudar.
Poderia fazê-lo? Poderia ter esperança?
Sabe que não.
Mas ainda assim...
Queria purgar os demônios. Queria dormir uma noite completa livre do tortura, com um sonho tranqüilo.
- Conta me insistiu isso brandamente.
Grace percebia sua relutância enquanto se unia a ela na cama. Permaneceu sentado no bordo, com a cabeça entre as mãos.
- Já me perguntaste o que fiz para que me amaldiçoaram. Fizeram-no porque traí ao único irmão que jamais conheci. A única família que tive na vida.
A angústia de sua voz impregnou muito fundo no Grace. Desejava desesperadamente lhe acariciar as costas, para reconfortá-lo, mas não se atreveu se por acaso
ele voltava a apartar-se de novo.
- O que fez?
Julián se mesó o cabelo e deixou enterrado o punho nele. Com a mandíbula mais rígida que o aço e o olhar fixo no tapete respondeu:
- Permiti que a inveja me envenenasse.
- Como?
Permaneceu calado um momento antes de voltar a falar.
- Conheci o Jasón pouco depois de que minha madrasta me enviasse a viver aos barracões.
Grace apenas se recordava uma conversação com a Selena em que lhe explicava que os barracões espartanos eram os lugares onde se obrigava a viver aos meninos,
afastados de seus lares e de suas famílias. Sempre os tinha imaginado como uma espécie de internado.
- Quantos anos tinha?
- Sete.
Incapaz de imaginar que a obrigassem a apartar-se de seus pais a essa idade, Grace ofegou.
- Não havia nada de estranho na decisão -disse ele sem olhá-la-. E era grande para minha idade. Além disso, a vida nos barracões era imensamente melhor que
a que levava junto a minha madrasta.
Grace percebia o veneno que destilava sua voz e se perguntou como teria sido a mulher.
- Então, Jasón vivia contigo nos barracões?
- Sim -murmurou ele-. Cada barracão estava dividido em grupos, e cada um escolhia a um líder. Jasón era o líder de meu grupo.
- O que faziam esses grupos?
- Fomos uma espécie de unidade militar. Estudávamos, limpávamos nosso barracão, mas sobre tudo, arrumávamo-nos isso entre todos para poder sobreviver.
Grace se sobressaltou ante essa palavra tão dura.
- Sobreviver a que?
- Ao estilo de vida espartano -respondeu Julián com voz áspera-. Não sei se conhecer algo sobre os costumes da gente de meu pai, mas não viviam com os luxos
habituais do resto dos gregos.
- Os espartanos só queriam uma coisa de seus filhos: que nos convertêssemos na força militar mais impressionante do mundo antigo. Para nos preparar, ensinavam-nos
a sobreviver com as necessidades mais básicas. Davam-nos uma só túnica que devíamos conservar durante todo um ano, e se se danificava, perdíamo-la, ou acabava por
ficar pequena, ficávamos sem ela. Tínhamos que nos fazer nossa própria cama. E uma vez que chegávamos à puberdade, não nos permitia levar nenhum tipo de calçado.
riu com amargura.
- Ainda posso recordar como me doíam os pés durante o inverno. Tínhamos proibido acender fogo, e tampouco podíamos nos tampar com uma manta, assim é que nos
envolvíamos os pés com farrapos para evitar que nos congelassem durante a noite. Pela manhã tirávamos os cadáveres dos meninos que tinham morrido de frio.
Grace se encolheu de espanto ante o mundo que Julián descrevia. Tentava imaginar-se como devia ter sido viver assim. Pior ainda, recordou o manha de criança
que pilhou aos treze anos porque se encaprichó de uns sapatos de oitenta dólares que, segundo sua mãe, eram muito para ela; e à mesma idade, Julián teria estado
procurando farrapos. A injustiça daquilo a fazia pedaços.
- Só foram meninos.
- Jamais fui um menino -lhe respondeu com simplicidade-. Mas isso não era tudo, o pior era que apenas nos davam de comer. Estávamos obrigados a roubar ou a
morrer de fome.
- E os pais o permitiam?
Ele a olhou por cima do ombro; seus olhos tinham uma expressão irônica.
- Consideravam-no um dever cívico. E, posto que meu pai era o stratgoi da Esparta, a maioria dos professores e dos meninos me desprezaram do primeiro momento.
Davam-me muita menos comida que ao resto.
- O que era seu pai? -perguntou-lhe, não acabava de compreender o término grego que Julián tinha empregado.
- O general supremo, se o prefere -inspirou profundamente e continuou-. Por causa de sua posição, e de sua reputação de homem cruel, eu era um emparelha para
meu grupo. Enquanto eles se uniam para poder roubar comida, me deixavam de lado, e tinha que me engenhar isso para sobreviver. Um dia, pescaram ao Jasón roubando
comida. Quando retornaram aos barracões foram castigá-lo. Assim é que dava um passo à frente e me joguei toda a culpa.
- por que?
Julián se encolheu de ombros, lhe subtraindo importância ao assunto.
- Estava tão fraco pela surra anterior que pensei que não viveria se lhe davam outra.
- E por que lhe tinham golpeado antes?
- Era o modo de começar o dia. logo que nos tiravam rastros das camas, davam-nos uma boa sova.
Grace fez uma careta de dor.
- Então, por que deixou que lhe pegassem em seu lugar, se você também estava ferido?
- Sendo o filho de uma deusa, agüentava as surras mais duras.
Ela fechou os olhos enquanto recordava as palavras que Selena havia dito essa mesma tarde. Esta vez, não pôde resistir o impulso de aproximar-se dele. Pô-lhe
a mão sobre o bíceps. Julián não se apartou. Ao contrário, cobriu-lhe a mão com a sua e lhe deu um ligeiro apertão.
- Desde esse dia em adiante, Jasón me considerou seu irmão, e fez que outros me aceitassem. Embora minha mãe e meu pai tinham outros filhos, nunca tinha tido
um irmão antes.
Ela sorriu.
- O que ocorreu depois?
O bíceps se contraiu sob sua mão.
- Decidimos unir forças para conseguir o que necessitávamos. Ele distraía às pessoas e eu roubava; assim, se nos pilhavam, eu me levava os golpes.
por que? Tinha Grace na ponta da língua, mas a mordeu. No fundo, conhecia a resposta: Julián estava protegendo a seu irmão.
- O tempo foi passando -continuou ele-, e notei que seu pai saía furtivamente do povo para observá-lo de longe. O amor e o orgulho em seu rosto eram algo indescritível.
Sua mãe fazia o mesmo. supunha-se que nos devíamos arrumar isso para conseguir comida, mas alguns dias, Jasón encontrava coisas que seus pais lhe tinham deixado.
Pão fresco, lagosta assada, uma jarra de leite... e às vezes, dinheiro.
- Que tenro.
- Sim, era-o; mas cada vez que me dava conta do que faziam por ele, a realidade me destroçava. Queria que meus pais sentissem o mesmo por mim. Teria dado gostoso
minha vida porque meu pai me olhasse uma só vez sem ódio; ou porque minha mãe se preocupasse comigo o justo para vir para ver-me. O mais perto que estive nunca dela
foi em seu templo da Thimaria. Estava acostumado a passar horas contemplando sua estátua, e me perguntando se era assim realmente. me perguntando se pensava alguma
vez em mim.
Grace se sentou atrás dele, abraçou-o pela cintura e pôs o queixo sobre seu ombro.
- Alguma vez viu sua mãe quando foi pequeno?
Lhe rodeou os braços com os seus e jogou a cabeça para trás, até deixá-la repousar sobre o ombro do Grace. Ela sorriu ante o gesto. Embora estivesse tenso
e nervoso, estava-lhe confiando coisas que jamais tinha compartilhado com outra pessoa.
E lhe sabê-lo proporcionava uma sensação de incrível intimidade.
- Não a vi nunca -confessou em voz baixa-. Enviava a outros, mas ela jamais se apresentou ante mim. Sem importar o muito que lhe implorasse, sempre se negava.
depois de um tempo, deixei de pedir-lhe E ao final, também deixei de entrar em seus templos.
Grace lhe plantou um beijo tenro no ombro. Como podia sua mãe havê-lo ignorado? Como podia ser capaz uma mãe de não atender o rogo de um filho?
Pensava em seus próprios pais. No amor e a ternura que lhe tinham prodigalizado. E, pela primeira vez, depois de tantos anos, disse-se que seus sentimentos
com respeito a sua trágica morte estavam totalmente equivocados. Sempre tinha pensado que teria sido muito melhor não conhecer seu carinho para não perder o de modo
tão cruel.
Mas não era assim. Embora as lembranças de sua infância e de seus pais eram agridoces, reconfortavam-na.
Julián não tinha conhecido nunca a ternura de um abraço. A segurança de saber que, fizesse o que fizesse, seus pais sempre estariam ali.
Não podia imaginar como teria sido crescer do modo que ele o fez.
- Mas tinha ao Jasón -sussurrou, perguntando-se se teria sido suficiente para ele.
- Sim. Depois da morte de meu pai, quando eu tinha quatorze anos, Jasón foi o bastante amável para deixar ir a sua casa quando davam permissão. Foi em uma
dessas visitas quando vi pela primeira vez ao Penélope.
Grace sentiu uma pequena pontada de ciúmes ao escutar o nome de sua esposa.
- Era tão formosa... -murmurou ele- e estava prometida ao Jasón.
Grace ficou paralisada ante suas palavras.
OH! A coisa não ia bem.
- Pior ainda -lhe disse lhe acariciando o braço com suavidade-, estava apaixonada por ele. Cada vez que íamos de licença, jogava-se em braços do Jasón para
beijá-lo. Dizia-lhe o muito que significava para ela. Quando nos partíamos, pedia-lhe em voz baixa que tomasse cuidado, e lhe deixava comida para que a encontrasse.
Julián se deteve enquanto recordava a imagem do Jasón quando voltava para os barracões com os presentes do Penélope.
"Algum dia te casará, Julián" dizia seu amigo enquanto fazia ornamento dos obséquios "mas jamais terá uma esposa como a minha para te esquentar a cama."
Embora seu amigo não o dissesse, Julián conhecia o motivo de que falasse assim. Nenhum pai responsável entregaria a sua filha em matrimônio a um homem deserdado,
sem família que o reconhecesse.
Cada vez que seu amigo pronunciava essas palavras, sua alma se fazia pedaços. Havia ocasiões nas que suspeitava que Jasón jogava sal em suas feridas devido
ao ciúmes. Penélope o olhava mais da conta quando pensava que seu prometido não o notava. Pode que ele tivesse seu coração, mas ao igual ao resto das mulheres, ela
o comia com os olhos cada vez que estava perto.
Por esse motivo Jasón deixou de convidá-lo a sua casa. E que lhe proibissem retornar ao único lar que tinha conhecido, acabou por destroçá-lo.
- Deveria ter deixado que se casassem -seguiu Julián, enquanto passava o braço pela cabeça do Grace e enterrava o rosto em seu pescoço para inalar o doce aroma
de sua pele-. Então sabia, mas não podia suportá-lo. Ano detrás ano, veria como ela o amava. Veria como sua família o adorava, enquanto eu não tinha um lar onde
acudir.
- por que? -perguntou Grace-. Há dito que tinha irmãos, não lhe teriam deixado ficar com eles?
Ele negou com a cabeça.
- Os filhos de meu pai odiavam a morte. Sua mãe me teria permitido ficar com eles, mas me negava a pagar o preço que pedia em troca. Não tinha nada naqueles
dias, exceto minha dignidade.
- Agora também a tem -murmurou ela, abraçando-o com mais força pela cintura-. fui testemunha dela.
Soltando-a, deixou passar suas palavras e esticou a mandíbula.
- O que ocorreu ao Jasón? -seguiu Grace. Queria que seguisse falando enquanto estivesse de humor-. Morreu em combate?
Ele soltou uma amarga gargalhada.
- Não. Quando fomos o suficientemente majores para nos unir ao exército, mantive-o a salvo no campo de batalha. Tinha prometido ao Penélope e a sua família
que não permitiria que lhe ocorresse nada.
Grace sentiu o coração do Julián pulsando com rapidez sob seus braços.
- Conforme passavam os anos, pronunciavam meu nome com temor e respeito. Minhas vitórias se convertiam em lenda, e se contavam uma e outra vez. Quando retornava
a Thimaria, acabava dormindo na rua, ou na cama de qualquer mulher que me abrisse a porta para passar a noite. Desse modo passava o tempo até que retornava à batalha.
Ao Grace ardiam os olhos pelas lágrimas; a voz do Julián estava carregada de dor. Como podiam havê-lo tratado assim?
- O que aconteceu trocassem as coisas? -perguntou-lhe.
Ele suspirou.
- Uma noite, enquanto procurava um lugar para dormir, tropecei-me com eles duas na rua. Estavam abraçando-se como dois apaixonados. Desculpei-me rapidamente
mas, ao me afastar, escutei ao Jasón falando com o Penélope.
Todo seu corpo ficou rígido entre os braços do Grace e o coração começou a lhe pulsar com mais rapidez.
- O que disse? -urgiu-lhe Grace.
Os olhos do Julián adotaram um olhar sombrio.
- Lhe perguntou que por que nunca ficava em casa de meus irmãos. Jasón riu e lhe respondeu: "Ninguém quer ao Julián. É o filho da Afrodita, a Deusa do Amor,
e nem sequer ela suporta estar perto dele. "
Grace foi incapaz de respirar enquanto escutava as cruéis palavras. imaginou como deveu sentir-se Julián para as ouvir.
Ele tomou ar com brutalidade.
- Tinha-lhe guardado as costas mais vezes das que podia recordar. Tinham-me ferido em batalha em incontáveis ocasione por protegê-lo, incluindo uma vez em
que uma lança me atravessou o flanco. E ali estava ele, burlando-se de mim. Não pude suportar a injustiça. Tinha acreditado que fomos irmãos. E suponho que, ao final,
fomos, já que me tratou do mesmo modo que o resto de minha família. Eu sempre tinha sido um enteado bastardo. Só e repudiado. Não entendia por que ele tinha tantas
pessoas que o queriam e eu não tinha a ninguém.
- Ferido e zangado por suas palavras, fiz o que jamais deveria ter feito: invocar ao Eros.
Grace podia imaginar-se facilmente o que tinha ocorrido.
- Fez que Penélope se apaixonasse por ti.
Ele assentiu.
- Disparou ao Jasón com uma flecha de chumbo que matou seu amor pelo Penélope, e lhe disparou com uma de ouro para que se apaixonasse por mim. supunha-se que
tudo devia acabar aí mas...
Balançando-o com suavidade entre seus braços, Grace aguardou a que encontrasse as palavras exatas.
- Demorei dois anos em convencer a seu pai para que lhe permitisse casar-se com um bastardo deserdado, sem influências familiares. Para então, minha lenda
tinha aumentado e tinha sido ascendido. Finalmente consegui acumular riquezas suficientes para fazer que Penélope vivesse como uma rainha. E, no que se referia a
ela, não reparei em gastos. Tínhamos jardins, escravos e tudo o que lhe desejava muito. Dava-lhe liberdade e independência, como jamais teve nenhuma outra mulher
da época.
- Mas não era suficiente?
Ele negou com a cabeça.
- Eu necessitava algo mais e sabia que lhe ocorria algo. Até antes de que Eros interviesse, sempre foi excessivamente veemente. Dependia do Jasón de um modo
proibido para as espartanas e, em uma ocasião em que foi ferido, barbeou-se totalmente a cabeça como amostra de sua dor.
" Mais tarde, uma vez Eros disparou suas flechas, Penélope passava por compridos períodos de depressão, ou de fúria. Eu fazia tudo o que podia por ela, e tentava
que fosse feliz.
Grace lhe acariciou o cabelo enquanto o escutava.
- Dizia que me queria, mas eu percebia que não se interessava por mim do mesmo modo que o tinha feito pelo Jasón. Entregava-me seu corpo de forma generosa,
mas não havia verdadeira paixão em suas carícias. Soube desde a primeira vez que a beijei. Tentei me enganar a mim mesmo, me dizendo que não importava. Muito poucos
homens, nnaquele tempo, naquele tempo, achavam o amor no matrimônio. Além disso, ausentava-me durante meses, às vezes, inclusive anos, enquanto dirigia meu exército.
Mas ao final, suponho que me pareço muito a minha mãe, porque sempre desejei mais.
Grace sofria enormemente por ele.
- E então chegou o dia em que Eros também me traiu.
- Traiu-te?, como? -perguntou ansiosa, sabendo que esse era a origem da maldição.
- Ele e Príapo estiveram bebendo a noite posterior a que eu matasse ao Livio. Eros, bêbado, contou-lhe o que tinha feito por mim. logo que Príapo escutou a
história, soube como vingar-se.
- Foi ao Inframundo e agarrou água da Lacuna da Memória para oferecer-lhe ao Jasón. E assim que tocou seus lábios, recordou seu amor pelo Penélope. Príapo
lhe contou o que eu tinha feito e lhe entregou mais água para que a desse a beber a ela.
Julián sentia como seus lábios articulavam as palavras, mas perdeu o controle da narração. Em lugar de tentar pensar no que ia contar, fechou os olhos e reviveu
aquele desgraçado dia.
Acabava de entrar na casa procedente dos estábulos, quando viu o Penélope e ao Jasón no átrio. Beijando-se.
Atônito, deteve-se metade de caminho, enquanto uma quebra de onda de nervosismo se apoderava dele ao comprovar a paixão daquele abraço.
Até que Jasón elevou o olhar e o viu na porta.
No instante em que seus olhos se encontraram, Jasón curvou os lábios.
- Ladrão desprezível! Príapo me contou sua traição. Como pôde?
Com o rosto desfigurado pelo ódio, Penélope se equilibrou sobre o Julián e o esbofeteou.
- Asqueroso bastardo, mataria-te pelo que tem feito.
- Eu o matarei -gritou Jasón enquanto desenvainaba sua espada.
Julián tentou apartar ao Penélope, mas ela se negou.
- Por todos os deuses! dei a luz a seus filhos -disse enquanto tentava lhe arranhar a cara.
Julián a sustentou pelas bonecas.
- Penélope, eu...
- Não me toque! -gritou-lhe escapando de suas mãos-. Me dá asco. Crie que uma mulher decente ia querer te à luz do dia? É desprezível. Repulsivo. separou-se
dele e se aproximou do Jasón.
- lhe corte a cabeça. Quero me banhar em seu sangue até apagar o rastro de seu aroma em minha pele.
Jasón blandió a espada.
Julián deu um salto para trás, ficando fora do alcance da arma.
De forma instintiva, procurou sua própria espada, mas se deteve. Quão último desejava era derramar o sangue do Jasón.
- Não quero lutar contigo.
- Que não? Violou a minha mulher e lhe fez levar sua semente, quando deveriam ter sido meus filhos aos que desse a luz! Recebi-te em meu lar com os braços
abertos. Dava-te uma cama quando ninguém te queria perto, e assim me paga?
Julián o olhou com incredulidade.
- Pago-te? Tem a mais mínima idéia das ocasiões nas que te salvei a vida durante as batalhas? De quantas surras me deram em seu lugar? Pode sequer as contar?
E te atreveu a te burlar de mim.
Jasón riu cruelmente.
- Todos, exceto Kyrian, burlavam-se de ti, idiota. De fato, era o único que te defendia, com tanto empenho que às vezes me fazia me expor o que fariam juntos
quando estavam a sós.
Suprimindo a ira que lhe teria deixado totalmente exposto e vulnerável ao ataque do Jasón, agachou-se para esquivar a seguinte estocada.
- Deixa-o, Jasón. Não me obrigue a fazer algo do que os dois nos arrependeríamos mais tarde.
- Do único que me arrependo é de ter dado capacidade a um ladrão em minha casa -bramou Jasón com ira, elevando a espada de novo.
Julián tentou agachar-se, mas Penélope se aproximou até ele por detrás e o propinó um empurrão.
A espada do Jasón lhe deu nas costelas. Vaiando de dor, Julián tirou sua própria espada e a blandió de tal modo que teria deixado a seu amigo sem cabeça se
lhe tivesse alcançado.
Jasón tentou alcançá-lo, mas Julián se limitou a defender-se enquanto tentava afastar ao Penélope do alcance das espadas.
- Não o faça, Jasón. Sabe que sua habilidade com a espada é inferior à minha.
Seu amigo intensificou o ataque.
- Não vou deixar que siga com ela, não.
Os segundos seguintes se aconteceram com incomum rapidez, mas ainda assim, Julián via passar a imagem por sua cabeça com diáfana nitidez.
Penélope o agarrou por braço livre ao mesmo tempo que Jasón atacava. A espada não feriu o Julián de milagre depois do empurrão que lhe deu sua esposa. Totalmente
desequilibrado, tentou liberar-se do Penélope, mas com ela no meio, o que conseguiu foi tropeçar-se para diante, de uma vez que Jasón avançava para eles.
No instante em que chocaram, sentiu como sua espada se afundava no corpo de seu amigo.
- Não! -gritou Julián, extraindo a folha do ventre do Jasón enquanto Penélope deixava escapar um atormentado chiado de angústia.
Lentamente, Jasón caiu ao chão.
Ajoelhando-se, Julián arrojou sua espada a um lado e agarrou a seu amigo.
- Deuses do Olimpo!, o que têm feito?
Cuspindo sangue e tossindo, Jasón lhe lançou um olhar acusador.
- Eu não fiz nada. Foi você o que me traiu. Fomos irmãos e me roubou o coração.
Jasón tragou dolorosamente enquanto seus pálidos olhos atravessavam ao Julián.
- Jamais teve nada que não roubasse antes.
Julián começou a tremer, consumido pela culpa e a agonia. Jamais tinha tido intenção de que acontecesse algo assim. Nunca tinha querido que alguém saísse ferido,
e menos ainda Jasón. Quão único desejava era alguém que lhe amasse. Só queria um lar onde fosse bem-vindo.
Mas Jasón tinha razão. Ele era o único culpado. De tudo.
Os chiados do Penélope ressonavam em seus ouvidos. Agarrou-o por cabelo e começou a atirar com todas suas forças. Com um olhar selvagem, tirou a adaga que
Julián levava no cinturão.
- Quero-te morto! Morto!
Afundou-lhe a adaga no braço, e voltou a tirá-la para atacar de novo. Ele a agarrou a tempo.
Com um forte puxão, desfez-se dele e se apartou.
- Não -lhe disse com um olhar desencaixado-. Quero que sofra. Tirou-me o que mais queria. Agora eu farei o mesmo contigo -e saiu correndo.
Afligido pela dor e a fúria, Julián não pôde mover-se enquanto via como a vida abandonava o corpo de seu amigo.
Então, as palavras de sua esposa se filtraram entre a neblina que confundia sua mente.
- Não! -rugiu enquanto ficava em pé-. Não o faça!
Chegou à porta dos aposentos do Penélope a tempo para escutar os gritos dos meninos. Com o coração em um punho, tentou abri-la mas ela a tinha trancado de
dentro.
Quando conseguiu abri-la, era muito tarde.
Muito tarde...
Julián se levou as mãos à cara, pressionando-se com força os olhos, enquanto o horror do acontecido aquele dia o alagava de novo; mas agora sentia as carícias
do Grace nas costas, e se sentia reconfortado.
Jamais seria capaz de esquecer a imagem de seus filhos, o medo no coração. A agonia mais absoluta.
Quão único tinha amado no mundo eram seus filhos.
E só eles o tinham amado.
por que? por que tiveram que sofrer por causa de seus enganos? por que teve Príapo que torturá-lo fazendo que eles sofressem?
E como pôde permitir Afrodita que todo aquilo acontecesse? Uma coisa era que não fizesse caso a ele, mas deixar que seus filhos morreram...
Por isso foi aquele dia a seu templo. Tinha planejado matar ao Príapo. lhe arrancar a cabeça dos ombros e cravá-la em uma lança.
- O que ocorreu? -perguntou-lhe Grace, devolvendo-o à presente.
- Quando entrei na habitação era muito tarde -disse com a garganta quase fechada pela dor-. Nossos filhos estavam mortos; sua própria mãe os tinha assassinado.
Penélope se tinha aberto as bonecas e jazia junto a eles. Chamei um médico para que tentasse deter a hemorragia -então fez uma pausa-. Enquanto exalava seu último
fôlego, cuspiu-me à cara.
Grace fechou os olhos, consumida pela dor do Julián. Era pior do que tinha imaginado.
Santo Deus! Como tinha sobrevivido?
Tinha escutado numerosos relatos de tragédias ao longo de sua vida, mas nenhum podia comparar-se com o que Julián tinha sofrido. E o passou ele sozinho, sem
ninguém que o ajudasse. Sem ninguém que o amasse.
- Sinto-o tanto -sussurrou ela lhe acariciando o peito para consolá-lo.
- Ainda não posso acreditar que estejam mortos -murmurou ele com a voz rota de dor-. Me perguntou que fazia enquanto estava no livro. Recordar as caras de
meus filhos; de meu filho e de minha filha. Recordar seus bracitos ao redor de meu pescoço. Recordar como saíam correndo a meu encontro cada vez que retornava a
casa, depois de uma campanha. E reviver cada um dos momentos desse dia, desejando ter feito algo para salvá-los.
Grace piscou para afastar as lágrimas. Não era de sentir saudades que jamais tivesse falado a ninguém disso.
Julián tomou uma profunda baforada de ar.
- Os deuses nem sequer me concedem cair na loucura para poder escapar a minhas lembranças. Não me permite semelhante alívio.
depois dessas palavras, não voltou a falar. limitou-se a ficar imóvel entre os braços do Grace.
Surpreendida por sua fortaleza, esteve sentada atrás dele durante horas, abraçando-o. Não sabia que mais podia fazer.
Pela primeira vez em anos, suas habilidades de psicóloga lhe falharam por completo.
Quando despertou, a luz do sol entrava em torrentes pelas janelas. Demorou todo um minuto em recordar o acontecido a noite anterior.
sentou-se na cama e tentou tocar ao Julián, mas estava sozinha.
- Julián? -chamou-o.
Ninguém respondeu.
Jogando a um lado o edredom, levantou-se e se vestiu depressa.
- Julián? -voltou a chamá-lo, enquanto baixava as escadas.
Nada. Nem um som, além dos batimentos do coração frenéticos de seu coração.
O pânico começou a abrir-se passo em sua cabeça. Lhe teria acontecido algo?
Entrou correndo na sala de estar; o livro estava sobre a mesita de café. Passando as páginas com rapidez, viu que a folha onde tinha estado o desenho do Julián
seguia em branco. Aliviada pelo fato de que não tivesse retornado ao livro, continuou registrando a casa.
Onde estava?
Foi à cozinha e notou que a porta traseira estava entreabierta. Franziu o cenho, sentida saudades, e a abriu de tudo para sair ao alpendre.
Jogou uma olhada ao pátio até que viu os meninos dos vizinhos sentados na grama, justo ao lado dos sebes que separavam ambas as casas. Mas o que mais sentiu
saudades foi observar ao Julián sentado com eles, lhes ensinando um jogo com pedras e palitos.
Os dois meninos e uma das meninas estavam sentados a seu lado, escutando atentamente, enquanto sua irmã pequena -de tão somente dois anos- engatinhava entre
eles.
Grace sorriu ante a aprazível estampa. A calidez a invadiu de repente, e se perguntou se Julián se teria visto assim com seus próprios filhos.
Abandonou o alpendre e caminhou para eles. Bobby era o major dos meninos, com nove anos; depois vinha Tommy, com oito e Katie que acabava de cumprir seis.
Seus pais se mudaram à vizinhança fazia já dez anos, recém casados e, embora tinham uma boa relação, jamais tinham passado de ser mais que amigáveis vizinhos.
- Então, o que ocorreu? -perguntou Bobby, quando chegou o turno do Julián.
- Bom, o exército estava apanhado -continuou Julián, movendo uma das pedras com um pau-, traído por um dos seus: um jovem hoplita que tinha vendido a seus
companheiros porque queria converter-se em centurião romano.
- Eram os melhores -lhe interrompeu Bobby.
Julián fez uma careta zombadora.
- Não eram nada comparados com os espartanos.
- Acima Esparta! -gritou Tommy-. Assim anima nosso mascote do colégio.
Bobby lhe deu um empurrão a seu irmão, e o golpeou na cabeça.
- Está interrompendo a história.
- Não deve golpear a seu irmão jamais -deu Julián com brutalidade mas, ainda assim, com certa ternura-. Se supõe que os irmãos devem proteger-se, não fazer-se
danifico.
A ironia de suas palavras lhe encolheu o coração. Era uma pena que ninguém tivesse ensinado a seus irmãos essa lição.
- Sinto-o -se desculpou Bobby-. O que passou depois?
antes de que Julián pudesse lhe responder, o bebê caiu e esparramou os palitos e as pedras. Os meninos começaram a lhe gritar, mas Julián os tranqüilizou enquanto
levantava o Allison e a punha de novo em pé.
Acariciou levemente o nariz da pequena e a fez rir. Depois retornou ao jogo.
Enquanto chegava o turno ao Bobby para mover a pedra, Julián retomou a história onde a tinha deixado.
- O geral macedonio observou as colinas que o rodeavam; estavam encerrados. Os romanos os tinham encurralado. Não havia modo de flanqueá-los, nem de retroceder.
- renderam-se? -perguntou Bobby.
- Nunca -respondeu Julián com convicção-. A morte antes que a desonra.
Fez uma pausa enquanto as palavras reverberavam em sua cabeça. Era a inscrição que adornava seu escudo. Como general, tinha vivido honrando esse lema.
Como escravo, fazia muito que o tinha esquecido.
Os meninos se aproximaram um pouco mais.
- Morreram? -perguntou Katie.
- Alguns sim -respondeu Julián, tentando afastar as lembranças que afluíam a sua mente. Lembranças de um homem que, uma vez, foi o dono de seu próprio destino-.
Mas não antes de fazer fugir aos romanos.
- Como? -perguntaram os meninos, ansiosos.
Esta vez, Julián agarrou ao bebê antes de que voltasse a interrompê-los.
- A ver -começou Julián enquanto dava ao Allison sua bola vermelha. A menina se sentou sobre o joelho que tinha dobrada, e ele a sujeitou lhe acontecendo uma
mão pela cintura-. Enquanto cavalgavam para eles, o geral macedonio surpreendeu aos romanos, que esperavam que ele reunisse a seus homens em posição de falange,
o qual lhes tivesse convertido em uma presa fácil para os arqueiros e a cavalaria. Em lugar de fazer o previsível, o general ordenou a seus homens que se dispersassem
e apontassem com as lanças aos cavalos, para romper as linhas da cavalaria romana.
- E funcionou? -perguntou Tommy.
Inclusive Grace estava interessada na história. Julián assentiu.
- Os romanos não se esperavam esse movimento tático em um exército treinado. Completamente despreparadas, as tropas romanas se dispersaram.
- E o geral macedonio?
- Soltou um poderoso grito de guerra enquanto cavalgava em seu cavalo Mania, atravessando o campo até chegar à colina onde os generais romanos se estavam replegando.
Eles se deram a volta para enfrentá-lo, mas não foi muito inteligente por sua parte. Com a fúria que sentia no coração, devida à traição que tinha sofrido, carregou
sobre eles e só deixou a um supervivente.
- por que? -perguntou Bobby.
- Queria que entregasse uma mensagem.
- Qual? -inquiriu Tommy.
Julián sorriu ante as ávidas perguntas.
- O general fez farrapos o estandarte romano e depois usou uma parte para ajudar ao romano a enfaixaras feridas. Com um sorriso letal, olhou fixamente ao homem
e lhe disse: "Roma delenda est", Roma está destruída. E, então, enviou ao general romano de volta a sua casa, encadeado, para que entregasse a mensagem ao Senado
Romano.
- Latido! -exclamou Bobby, impressionado-. Oxalá fosse meu professor de história no colégio. Assim aprovaria a disciplina seguro.
Julián alvoroçou o cabelo negro do menino.
- Se te faz sentir melhor, não me interessava nada o tema a sua idade. Quão único queria era fazer travessuras.
- Olá, senhorita Grace! -saudou-a Tommy quando por fim se deu conta de sua presença-. escutou a história do senhor Julián? Diz que os romanos eram tipos maus.
Julián olhou ao Grace, que estava a uns metros de distância, e lhe sorriu.
- Estou segura de que ele sabe.
- Pode arrumar minha boneca? -pediu-lhe Katie, oferecendo-lhe Grace alzó la mirada mientras Emily rodeaba la casa.
Julián soltou ao Allison e agarrou a boneca. Pô-lhe o braço em seu sítio e a devolveu.
- Obrigado -lhe disse Katie enquanto se jogava em seu pescoço e lhe dava um forte abraço.
O desejo que refletiu o rosto do Julián fez que ao Grace desse uma espetada o coração. Sabia que nesse momento, ele estava vendo a cara de sua própria filha
ao olhar ao Katie.
- De nada, pequena -lhe respondeu com voz rouca, afastando-se dela.
- Katie, Tommy, Bobby? O que estão fazendo aí?
Grace elevou o olhar enquanto Emily rodeava a casa.
- Não estarão incomodando à senhorita Grace, verdade?
- Não, para nada -lhe respondeu Grace. Emily não pareceu escutá-la porque seguiu arreganhando aos meninos.
- E o que está fazendo Allison aqui? supunha-se que devia estar no pátio traseiro.
- Ouça mamãe! -gritou Bobby aproximando-se dela à carreira-. Sabe jogar ao Parcelon? O senhor Julián nos ensinou.
Grace riu a gargalhadas enquanto os cinco retornavam ao jardim dianteiro, com o Bobby falando sem parar. Julián tinha os olhos fechados e parecia estar saboreando
o som das vozes infantis.
- É todo um conta contos -lhe disse Grace quando lhe aproximou.
- Não cria.
- A sério -lhe respondeu ela com ênfase-. Sabe? Tem-me feito pensar. Bobby tem razão, seria um professor estupendo.
Julián lhe sorriu satisfeito.
- De general a professor. por que não me trocar o nome ao de Cartilha o Velho e me insultar enquanto está em classe?
Ela riu.
- Não está tão ofendido como quer me fazer acreditar.
- E como sabe?
- Pela expressão de seu rosto, e pela luz que há em seus olhos -lhe agarrou o braço e o levou de volta ao alpendre-. Deveria pensar seriamente nessa possibilidade.
Selena conseguiu sua licenciatura no Tulane e conhece muita gente ali. Quem melhor para ensinar História Antiga que alguém que a conheceu de primeira mão?
Não lhe respondeu. Em lugar disso, Grace notou como movia os pés, descalços, sobre a terra.
- O que está fazendo? -perguntou-lhe.
- Desfrutando da sensação da erva -respondeu ele com um sussurro-. As folhas me fazem coquillas nos dedos.
Ela sorriu ante o infantil de sua atitude.
- Para isso saiu?
Ele assentiu.
- eu adoro sentir o sol na cara.
Grace sabia, no fundo de seu coração, que tinha podido desfrutá-lo em contadas ocasiões.
- Vamos, prepararemos umas terrinas de cereais e comeremos no alpendre.
Ela subiu em primeiro lugar os cinco degraus que levavam até o alpendre, e lhe deixou sentado em sua cadeira de balanço de vime para encarregar do café da
manhã.
Quando retornou, Julián tinha a cabeça apoiada no respaldo e os olhos fechados; sua expressão era serena.
Como não queria incomodá-lo, retrocedeu.
- Sabe que todo meu corpo percebe sua presença? Todos meus sentidos são conscientes de sua proximidade -lhe confessou enquanto abria os olhos e a olhava com
um desejo abrasador.
- Não sabia -disse ela nervosa, lhe oferecendo a terrina. Ele o agarrou, mas não voltou a falar do tema. Começou a comer em silêncio.
Absorvendo o calor do sol, Julián escutava a suave brisa e se recreava com a presença próxima e relaxante do Grace.
despertou-se ao amanhecer para contemplar, através das janelas, a saída do sol. E tinha passado uma hora desfrutando de do contato do corpo do Grace.
Ela o tentava de um modo que jamais tinha experiente. Por um só minuto se permitiu baralhar a possibilidade de permanecer nesta época.
E depois o que?
Só tinha uma "habilidade" que podia lhe ser útil neste mundo moderno, e não era o tipo de homem que pudesse viver alegremente da caridade de uma mulher.
Não depois de...
Apertou os dentes enquanto as lembranças o abrasavam.
Aos quatorze anos, tinha trocado sua virgindade por uma terrina de papa de aveia frite e uma taça de leite azedo. Inclusive agora, com todo o tempo que tinha
transcorrido, podia sentir as mãos da mulher lhe tocando o corpo, lhe tirando a roupa, agarrando-se febrilmente enquanto lhe ensinava como lhe dar agradar.
" Ooooh!" Cantarolou a mulher "É muito bonito, verdade? Se alguma vez quiser mais papa, só tem que vir para ver-me quando meu marido não esteja em casa"
sentiu-se tão sujo depois... tão usado.
Durante os anos seguintes, dormiu em mais ocasione entre as sombras dos portais que em uma cama acolhedora, porque não gostava de voltar a pagar esse aprecio
por uma comida e um pouco de comodidade.
E se fosse de novo livre, não quereria...
Fechou os olhos com força. Não se via neste mundo. Era muito diferente. Muito estranho.
- Já acabaste?
Elevou os olhos e viu o Grace de pé junto a ele, com a mão estendida esperando a terrina.
- Sim, obrigado -lhe respondeu enquanto o dava.
- Vou me dar uma ducha rápida. Voltarei em uns minutos.
Contemplou-a enquanto partia; seus olhos se atrasaram nas pernas nuas. Ainda podia sentir o sabor de sua pele nos lábios. E o doce aroma de seu corpo.
Grace o obcecava. Não se tratava dos efeitos da maldição. Havia algo mais. Algo que jamais tinha experiente antes.
Pela primeira vez, depois de dois mil anos, voltava a sentir-se como um homem; e esse sentimento vinha acompanhado de um desejo tão profundo que lhe partia
em dois o coração.
Desejava-a. Em corpo e alma.
E queria seu amor.
A idéia o assustou.
Mas era certo. Não havia tornado a experimentar esse profundo e doloroso desejo de sentir um tenro abraço desde que era pequeno. Necessitava que alguém lhe
dissesse que o amava, e que o fizesse de coração, não pelo efeito de um feitiço.
Jogando a cabeça para trás, soltou uma maldição. Quando ia aprender?
Tinha nascido para sofrer. O Oráculo do Delfos o havia dito.
"Sofrerá como nenhum homem sofreu jamais"
"Mas me amará alguém?"
"Não nesta vida."
E se afastou dali totalmente fundo pela profecia. Que pouco tinha imaginado então o sofrimento que lhe aguardava.
"É o filho da Deusa do Amor, e nem sequer ela suporta estar perto dele."
A verdade fez que se encolhesse de dor. Grace jamais o amaria. Ninguém o faria. Seu destino não era que o liberassem de seu sofrimento. Pior ainda, seu destino
tinha uma trágica tendência a derramar o sangue de todos os que se aproximavam dele.
A dor lhe rasgava o peito enquanto pensava na possibilidade de que algo acontecesse ao Grace.
Não poderia permiti-lo. Tinha que protegê-la a toda costa. Embora isso significasse perder sua liberdade.
Com essa ideia em mente, foi em sua busca.
Grace se estava tirando o sabão dos olhos. Ao abri-los, sobressaltou-se quando viu que Julián a observava através da abertura das cortinas da ducha.
- Deste-me um susto de morte! -exclamou.
- Sinto muito.
Ele permaneceu ao lado da banheira de patas, tamanho extra grande, vestido só com os boxers e apoiado sobre a parede, com a mesma pose que tinha no livro:
os largos ombros jogados para trás e os braços relaxados a ambos os lados do corpo.
Grace se umedeceu os lábios ao contemplar os esculturais músculos de seu peito e de seu torso. Espontaneamente, seu olhar descendeu até os boxers vermelhos
e amarelos.
Bom, dizer que nenhum homem estaria bem com eles tinha sido um engano. Porque Julián estava fenomenal. Em realidade, não havia palavras que descrevessem com
exatidão quão muito bom estava com eles.
E aquele sorriso travesso, meio zombadora, que esgrimia nesses momentos, derreteria o coração da mais frígida das mulheres. Esse homem a punha muito, muito
quente.
Nervosa, Grace caiu na conta de que estava completamente nua diante dele.
- Necessita algo? -perguntou-lhe enquanto se cobria os peitos com a manopla.
Para sua consternação, ele se tirou os boxers e se meteu na banheira com ela.
O cérebro do Grace se converteu em mingau, afligida pela capitalista e masculina presença do Julián. Esse incrível sorriso cheia de covinhas curvava seus lábios,
e fazia que o coração lhe acelerasse e que começasse a tremer.
- Só queria verte -disse em voz baixa e tenra-. Tem idéia do que me faz quando te passa as mãos pelos peitos nus?
Apreciando o tamanho de sua ereção, Grace tinha uma idéia bastante aproximada.
- Julián...
- Mmm?
Esqueceu o que ia dizer quando ele aproximou a cabeça até seu pescoço. estremeceu-se por completo ao sentir que sua língua lhe abrasava a pele.
Gemeu pela sobrecarga sensorial que supunham as carícias das mãos do Julián, unidas à sensação da água quente da ducha. Apenas se foi consciente de que lhe
tirava a manopla que ainda cobria seus peitos, e se levava um deles à boca.
Vaiou de agradar ao sentir a língua do Julián girar ao redor do endurecido mamilo, roçando-o levemente e fazendo-a arder.
Ajudou-a a sentar-se na banheira e a jogou para trás, apoiando-a no respaldo. O contraste da fria porcelana nas costas e do quente corpo do Julián por diante,
enquanto a água caía sobre eles, excitou-a de um modo que jamais tivesse acreditado possível.
Nunca antes tinha apreciado o enorme tamanho da antiga banheira mas, nesse momento, não a trocaria por nada do mundo.
- me toque, Grace -lhe disse com voz rouca, lhe agarrando a mão e aproximando-lhe até seu inchado membro-. Quero sentir suas mãos sobre mim.
Julián se estremeceu quando ela acariciou a dureza aveludada de seu pênis.
Fechou os olhos enquanto as sensações o afligiam. As carícias do Grace não se limitavam ao plano físico, percebia-as também a um nível indefinível. Incrível.
Queria mais dela. Queria-o tudo dela.
- eu adoro sentir suas mãos sobre minha pele -balbuciou enquanto ela tomava entre suas mãos. Pelos deuses! Desejava-a tanto que lhe doía todo o corpo. Como
desejava que, tão somente uma vez, fizesse o amor a ele.
Que lhe fizesse o amor com o coração.
A dor voltou a rasgá-lo. Não importava quantas vezes tivesse relações sexuais, o resultado sempre era o mesmo. Sempre acabava ferido. Se não se tratava de
seu corpo, era no profundo de sua alma.
"Nenhuma mulher decente te quererá à luz do dia."
Era verdade, e sabia.
Grace percebeu sua tensão.
- Tenho-te feito mal? -perguntou enquanto afastava a mão.
Ele negou com a cabeça e lhe colocou as mãos a ambos os lados do pescoço para beijá-la profundamente. Súbitamente o beijo trocou, intensificando-se, como se
estivesse tentado provar algo ante os dois.
Deslizou a mão pelo braço do Grace, até capturar a sua e enlaçar os dedos. Depois, moveu as mãos unidas e a acariciou entre as pernas.
Grace gemeu enquanto ele a tocava com as mãos entrelaçadas. Era o mais erótico que tinha experiente jamais.
Tremia de pés a cabeça enquanto ele aumentava o ritmo das carícias. Quando introduziu os dedos de ambos em seu interior, Grace gritou de prazer.
- Isso é -lhe murmurou ao ouvido-. nos Sinta aos dois unidos.
Sem fôlego, Grace se agarrou ao ombro do Julián com a mão livre e o corpo em chamas. Deus, era um amante incrível!
de repente, ele retirou as mãos e lhe elevou uma das pernas para passar-lhe pela cintura.
Grace lhe deixou fazer, até que se deu conta de suas intenções. Estava preparando-se para penetrá-la.
- Não! -ofegou enquanto o empurrava-. Julián, não pode.
Seus olhos flamejavam de necessidade e desejo.
- Só quero isto de ti, Grace. me deixe te possuir.
Ela esteve a ponto de ceder.
Mas então, algo estranho aconteceu a seus olhos. Um véu escuro caiu sobre eles, e as pupilas lhe dilataram por completo.
ficou imóvel. Respirava entre ofegos e fechou os olhos como se estivesse lutando com um inimigo invisível.
Lançando uma maldição, afastou-se dela.
- Corre! -gritou.
Grace não o duvidou.
Saiu como pôde de debaixo dele, agarrou a toalha e correu para a porta. Mas não pôde abandoná-lo.
deteve-se na entrada e olhou para trás. Viu como Julián se agachava até ficar apoiado nas mãos e os joelhos, e se agitava como se o estivessem torturando.
Escutou-o golpear a banheira com o punho fechado enquanto grunhia de dor.
O coração do Grace martilleaba frenético ao vê-lo lutar. Se soubesse o que podia fazer...
Finalmente, caiu exausto à banheira.
Aterrorizada, e sem poder deixar de tremer, Grace entrou no quarto de banho de novo e deu três cautelosos passos para a banheira, preparada para sair correndo
se ele tentava agarrá-la.
Estava tendido de flanco, com os olhos fechados. Respirava com dificuldade e parecia débil e esgotado enquanto a água caía sobre ele, esmagando as mechas douradas
sobre seu rosto.
Fechou o grifo.
Julián não se moveu.
- Julián?
Abriu os olhos.
- Assustei-te?
- um pouco -lhe respondeu com franqueza.
Ele respirou fundo, entrecortadamente, e se sentou devagar. Não a olhou. Tinha os olhos cravados em algo que estava a suas costas, por cima de seu ombro.
- Não vou ser capaz de lutar contra isso -disse, depois de uma larga pausa. Então a olhou-. Nos estamos enganando, Grace. me deixe te possuir enquanto estou
acalmado.
- Isso é o que quer de verdade?
Julián apertou os dentes ao escutar sua pergunta. Não, não era o que queria. Mas o que desejava estava além de seu alcance.
Queria coisas que os deuses não tinham disposto para ele. Coisas que nem sequer se atrevia a nomear, porque o simples feito das pronunciar fazia sua ausência
ainda mais insuportável.
- Eu gostaria de poder morrer.
Grace retrocedeu ante a sincera resposta. Como desejava poder consolá-lo. Afastar seu sofrimento.
- Sei -lhe disse, com a voz rouca pelas lágrimas que não se atrevia a derramar. Passou-lhe os braços ao redor dos fortes e esbeltos ombros, e o abraçou com
força.
Para sua surpresa, Julián apoiou a bochecha sobre a sua. Nenhum dos dois pronunciou uma palavra enquanto se abraçavam. Finalmente, ele se apartou.
- É melhor que nos detenhamos antes de que... -não acabou a frase, mas não era necessário que o fizesse. Grace já tinha sido testemunha das conseqüências,
e não tinha nenhum desejo de repetir a experiência.
Deixou-o no quarto de banho e foi vestir se. Julián saiu lentamente da banheira e se secou com uma toalha. Escutava ao Grace em sua habitação; estava abrindo
a porta do armário. Em sua mente, imaginou nua e a visão o avivou.
Uma demolidora quebra de onda de desejo o assaltou, golpeando-o com tal força que esteve a ponto de cair de costas ao chão.
agarrou-se ao lavabo enquanto lutava consigo mesmo.
- Não posso seguir vivendo assim -balbuciou-. Não sou um animal.
Elevou os olhos e se contemplou no espelho. Era a viva imagem de seu pai. Olhou seu rosto com ódio.
Podia sentir as chicotadas nas costas, enquanto seu pai o golpeava até que quase não podia se ter em pé.
"Não te atreva a chorar, menino bonito. Nem um só soluço. Pode que seja o filho de uma deusa, mas este é o mundo no que vive, e aqui não mimamos aos meninos
bonitos como você."
No fundo de sua mente, via o olhar de desprezo de seu pai enquanto o golpeava com o punho até jogá-lo no chão, e depois o levantava pelo pescoço até quase
asfixiá-lo. Ele chutava e tentava defender-se com os punhos, mas aos quatorze anos era muito jovem e inexperiente para evitar os golpes do general.
Com o rosto desfigurado por uma careta de desprezo, seu pai lhe tinha talhado na bochecha com uma adaga, afundando-a até o osso. E tudo porque tinha pescado
a sua esposa olhando-o enquanto comiam.
"Vejamos se agora te deseja."
A lacerante dor do corte foi insuportável, e a hemorragia não se deteve em todo o dia. À manhã seguinte, a ferida tinha desaparecido sem deixar rastro.
A ira de seu progenitor tinha sido incomensurável.
- Julián?
Sobressaltado, deu um pequeno salto ao escutar uma voz esquecida desde fazia dois mil anos.
Jogou uma olhada à estadia, mas não viu nada.
Sem estar muito seguro de ter escutado a voz, falou em voz baixa.
- Ateneu?
A deusa se materializou diante dele, justo no oco da porta. Embora levava roupas modernas, tinha o cabelo negro recolhido sobre a cabeça, ao estilo grego,
com mechas frisadas que lhe caíam sobre os ombros. Seus pálidos olhos azuis se encheram de ternura ao sorrir.
- Venho em representação de sua mãe.
- Ainda não é capaz de me enfrentar?
Ateneu apartou o olhar.
Julián sentiu o repentino impulso de rir a gargalhadas. por que se incomodava em esperar que sua mãe queria vê-lo?
Deveria estar acostumado.
Ateneu brincava com um de seus cachos, envolvendo-lhe no dedo, enquanto o observava com uma estranha expressão de melancolia no rosto.
- Que conste que te teria ajudado de ter sabido isto. Foi meu general favorito.
De repente, compreendeu o que tinha ocorrido tantos séculos atrás.
- Utilizou-me em seu pulso contra Príapo, verdade?
Viu a culpa refletida nos olhos da deusa antes de que ela pudesse ocultá-la.
- O fato, feito está.
Com os lábios franzidos pela ira, olhou-a furioso.
- Ah, sim? por que enviou a essa batalha quando sabia que Príapo me odiava?
- Porque sabia que podia ganhar, e eu odiava aos romanos. Foi o único general que tinha que podia desfazer-se do Livio, e assim o fez. Jamais me hei sentido
mais orgulhosa de ti que aquele dia, quando lhe cortou a cabeça.
Cegado pela amargura, era incapaz de acreditar o que estava escutando.
- Agora me diz que estava orgulhosa?
Ela ignorou sua pergunta.
- Sua mãe e eu falamos com o Cloto para que te ajude.
Julián se paralisou ao escutá-la. Cloto era a Parca encarregada das vidas dos humanos. A tecelã do destino.
- E?
- Se consegue romper a maldição, poderemos te devolver a Macedônia; retornará ao mesmo dia em que foi amaldiçoado a permanecer no pergaminho.
- Posso retornar? -repetiu, aniquilado pela incredulidade.
- Mas não te permitirá voltar a lutar. Se o fizer, poderia trocar o curso da história. Se lhe enviarmos de volta, deverá jurar que viverá retirado em sua vila.
Sempre havia uma armadilha. Deveria havê-lo recordado antes de pensar que podiam ajudá-lo.
- Com que propósito, então?
- Viverá em sua época. No mundo que conhece -dizendo isto, jogou uma olhada ao quarto de banho-. Ou pode permanecer aqui, se o preferir. A eleição é tua.
Julián soprou.
- Miúda eleição.
- É melhor que não ter nenhuma.
Seria certo? Já não estava seguro de nada.
- E meus filhos? -perguntou. Queria, não, desejava voltar a ver sua família, às duas únicas pessoas que tinham significado algo para ele.
- Sabe que não podemos trocar isso.
Julián amaldiçoou a Ateneu. Os deuses sempre conseguiam atormentá-lo lhe tirando tudo o que lhe importava. Jamais lhe tinham concedido nada.
Ateneu alargou o braço e o acariciou ligeiramente na bochecha.
- Escolhe com cuidado -sussurrou, e se desvaneceu.
- Julián?, com quem falas?
Piscou ao escutar ao Grace no corredor.
- Com ninguém -respondeu-. Falo sozinho.
- Ah! -exclamou ela, aceitando a mentira sem problemas-. Estava pensando em te levar de novo ao Bairro Francês esta tarde. Podemos visitar o Aquário. O que
te parece?
- Claro -respondeu ele, saindo do banho.
Grace franziu o cenho, mas não disse nada enquanto se dirigia para as escadas.
Julián foi trocar se à habitação. Enquanto ficava as calças, fixou-se nas fotografias que Grace tinha no vestidor. Parecia uma menina tão feliz... tão livre.
Gostava especialmente uma em que sua mãe lhe acontecia os braços ao redor do pescoço e ambas riam a gargalhadas.
Nesse momento, soube o que devia fazer. Não importava o muito que desejasse outras coisas, jamais poderia ficar com ela. O havia dito ela mesma a noite que
o invocaram.
Tinha sua própria vida. Uma em que ele não estava incluído.
Não, Grace não necessitava a alguém como ele. A alguém que só atrairia a indeseada atenção dos deuses sobre sua cabeça.
Romperia a maldição e aceitaria a oferta de Ateneu.
Não pertencia a esta época. Seu mundo era a antiga a Macedônia. E a solidão.
Capítulo 10
Algo ia mau. Grace o notava no ambiente enquanto conduzia para o Bairro Francês. Julián ia sentado junto a ela, olhando pela janela.
Tinha tentado várias vezes fazê-lo falar, mas não havia modo de que separasse os lábios. Tudo o que lhe ocorria era que estava deprimido pelo acontecido no
quarto de banho. Devia ser duro para um homem habituado a manter um férreo controle de si mesmo perder o daquele modo.
Estacionou o carro no estacionamento público.
- Vá, que calor faz! -exclamou ao sair e sentir-se imediatamente assaltada pelo ar carregado e denso.
Jogou uma olhada ao Julián, que estava realmente deslumbrante com os óculos de sol escuras que lhe tinha comprado. Uma fina capa de suor lhe cobria a pele.
- Faz muito calor para ti? -perguntou-lhe, pensando em quão mau o estaria passando com os jeans e o pólo de ponto.
- Não vou morrer me, se referir a isso -respondeu mordazmente.
- Estamos um pouco irritados, não?
- Sinto-o -se desculpou ao chegar a seu lado-. Estou pagando meu mau humor contigo, quando não tem a culpa de nada.
- Não importa. Estou acostumada a ser o cabrito expiatório. De fato, converti-o em minha profissão.
Posto que não podia lhe ver os olhos, Grace não sabia se suas palavras lhe tinham feito graça ou não.
- Isso é o que fazem seus pacientes?
Ela assentiu.
- Há dias que são horripilantes. Mas prefiro que me grite uma mulher a que o faça um homem.
- Têm-lhe feito mal alguma vez? -O afã de amparo de sua voz a deixou perplexa. E encantada. Tinha jogado muito de menos ter a alguém que a cuidasse.
- Não -respondeu, tentando dissipar a evidente tensão de seu corpo. Esperava que nunca lhe fizessem mal, mas depois da chamada do Rodney, não estava muito
segura, e era bastante possível que esse tipo acabasse com sua boa sorte.
Está sendo ridícula. Só porque o homem ponha os cabelos de ponta não significa que seja perigoso.
A expressão do rosto do Julián era dura e muito séria.
- Acredito que deveria te buscar uma nova profissão.
- Talvez -lhe disse evasivamente. Não tinha nenhuma intenção de deixar seu trabalho-. A ver, onde vamos primeiro?
Ele se encolheu de ombros despreocupadamente.
- Dá-me exatamente igual.
- Então, vamos ao Aquário. Pelo menos há ar condicionado -e agarrando-o do braço, cruzou o estacionamento e se encaminhou pelo Moonwalk para o lugar.
Julián permaneceu em silêncio enquanto ela comprava entradas e o guiava para o interior. Não disse nada até que estiveram passeando pelos túneis subacuáticos,
que lhes permitiam observar as distintas espécies marinhas em seu hábitat natural.
- É incrível -balbuciou quando uma enorme raia passou sobre suas cabeças. Tinha uma expressão infantil, e a luz que faiscava em seus olhos a encheu de calidez.
Súbitamente, soou sua busca. Soltou uma maldição e olhou o número. Uma chamada do despacho um sábado?
Que estranho.
Tirou o móvel da bolsa e chamou.
- Olá, Grace! -disse-lhe Beth, logo que desprendeu-. Escuta, estou em minha consulta. Ontem à noite entrou alguém ao despacho.
- Não!, quem faria algo assim?
Grace captou o olhar curioso nos olhos do Julián. Ofereceu-lhe um sorriso inseguro, e seguiu escutando ao Beth Livingston, a psiquiatra que compartilhava a
consulta com o Luanne e com ela.
- Nem idéia. Há uma equipe da polícia procurando rastros e tudo está passado os laços. Por isso vi, não se levaram nada importante. Tinha um pouco de valor
em sua consulta?
- Só o ordenador.
- Está ainda ali. Algo mais? Dinheiro, qualquer outra coisa?
- Não, nunca deixo objetos de valor aí.
- Espera, o oficial quer falar contigo.
Grace esperou até escutar uma voz masculina.
- Doutora Alexander?
- Sim, sou eu.
- Sou o oficial Allred. Parece que se levaram seu organizador Rodolex e uns quantos arquivos. Sabe de alguém que pudesse estar interessado neles?
- Pois não. Necessita que vá para lá?
- Não, não. Estamos procurando rastros, mas se lhe ocorre algo, por favor, nos chame -e aconteceu o telefone ao Beth.
- Quer que vá? -perguntou-lhe.
- Não. Não há nada que possa fazer. Em realidade, é bastante aborrecido.
- Vale, me avise à busca se necessitar algo.
- Farei-o.
Grace pendurou o telefone e o devolveu à bolsa.
- passou algo? -perguntou Julián.
- Alguém entrou ontem à noite em meu escritório.
Ele franziu o cenho.
- Para que?
- Nem idéia -a pausa do Grace fez que o cenho do Julián se intensificasse, enquanto ela pensava nos possíveis motivos-. Não posso imaginar para que ia querer
alguém meu Rodolex. Desde que me comprei o Palm Pilot, nem sequer o usei. É muito estranho.
- Temos que ir?
Ela agitou a cabeça.
- Não faz falta.
Julián deixou que Grace o guiasse ao redor dos diferentes aquários, enquanto lhe lia as estranhas inscrições que explicavam detalhes sobre as distintas espécies
e seus hábitats.
Pelos deuses!, como gostava de escutar o som de sua voz ao ler. Havia algo muito relaxante na voz do Grace. Passou-lhe um braço pelos ombros enquanto passeavam.
Lhe rodeou a cintura e enganchou um dedo em uma das trabillas do cinturão.
O gesto conseguiu debilitá-lo. deu-se conta de que passava as horas desejando sentir o roce de seu corpo. E a sensação seria muito mais prazenteira se ambos
estivessem nus nesse mesmo momento.
Quando lhe sorriu, o coração lhe acelerou descontroladamente. O que tinha esta mulher que despertava algo nele que jamais havia sentido?
Mas no fundo sabia. Era a primeira mulher que o via. Não a sua aparência física, nem a suas proezas de guerreiro. Ela via sua alma.
Jamais tinha pensado que podia existir uma pessoa assim.
Grace o tratava como a um amigo. E seu interesse em ajudá-lo era genuíno. Ou ao menos, isso parecia.
É parte de seu trabalho.
Ou era de verdade?
Podia uma mulher tão maravilhosa e compassiva como ela preocupar-se realmente por um tipo como ele?
Grace se deteve diante de outra inscrição. Julián ficou atrás dela e lhe aconteceu ambos os braços pelos ombros. Lhe acariciou distraídamente os antebraços
enquanto lia.
Com o corpo em chamas pelo desejo que despertava nele, inclinou o queixo até apoiá-la sobre sua cabeça e escutar desse modo a explicação, enquanto observava
como nadavam os peixes. O aroma de sua pele invadiu seus sentidos e desejou voltar para sua casa, onde poderia lhe tirar a roupa.
Não era capaz de recordar quando tinha sido a última vez que desejou tanto a uma mulher como lhe ocorria com o Grace. De fato, não acreditava possível que
algo assim lhe tivesse ocorrido antes. Desejava perder-se em seu interior. Sentir suas unhas lhe arranhando as costas enquanto gritava ao chegar ao clímax.
Que as Parcas tivessem piedade dele. Grace lhe tinha metido sob a pele.
E estava apavorado. Ela ocupava um lugar em seu coração que acabaria destroçando-o se lhe faltava. Só ela podia acabar realmente com ele. Fazê-lo pedaços.
Era quase a una do meio-dia quando saíram do Aquário. Grace se encolheu logo que voltaram para a rua, assaltada pela quebra de onda de calor. Em dias como
este, perguntava-se como poderia a gente sobreviver antes de que se inventasse o ar condicionado.
Olhou ao Julián e sorriu. Por fim tinha encontrado a alguém a quem perguntar.
- me diga uma coisa, o que faziam para sobreviver em dias tão calorosos como este?
Ele arqueou uma sobrancelha com um gesto arrogante.
- Hoje não faz calor. Se quer saber o que é o calor, tenta atravessar um deserto com todo seu exército, levando a armadura e com apenas o meio odre de água
para te manter.
Ela fez um gesto compassivo.
- Abrasador, suponho.
Ele não respondeu.
Grace jogou uma olhada à praça, lotada de gente.
- Quer que vamos ver a Selena e demos uma volta pela praça? Deve estar em sua banca. na sábado está acostumada ser um de seus melhores dias.
- Vamos.
Agarrados pela mão, baixaram a rua até chegar ao Jackson Square. Como era de esperar, Selena estava em seu puestecillo com um cliente. Grace começou a afastar-se
para não interromper, mas Selena a viu e lhe fez um gesto para que se aproximasse.
- Ouça, Gracie, lembra-te do Ben? Bom, melhor do doutor Lewis, da faculdade.
Grace duvidou em aproximar-se do reconhecer ao tipo corpulento, entrado já nos quarenta.
Que se o recordava? Tinha-lhe posto uma nota muito baixo em sua disciplina, com o qual, baixou-lhe a média de todo o curso. Sem mencionar que o homem tinha
um ego tão grande como o território da Alaska, e adorava fazer acontecer um mau momento a seus alunos. De fato, ainda recordava a uma pobre garota que pôs-se a chorar
quando ele deu o sádico exame final que tinha preparado. O tio riu, literalmente a gargalhadas, quando viu a reação da garota.
- Olá! -saudou, Grace tentando não demonstrar sua antipatia. Supunha que o homem não podia evitar ser detestável. Como bom licenciado pela universidade do
Harvard, devia pensar que o mundo girava a seu redor.
- Senhorita Alexander -a saudou com o mesmo tom depreciativo tão insuportável que ela recordava à perfeição.
- Em realidade deveria me chamar doutora Alexander -o corrigiu, encantada ao ver como abria os olhos pela surpresa.
- Desculpe-me -lhe disse com um tom de voz que distava muito de parecer arrependido.
- Ben e eu estávamos conversando sobre a Antiga a Grécia -explicou Selena, dedicando um diabólico sorriso ao Julián-. Sou da opinião de que Afrodita era filha
de Urano.
Ben pôs os olhos em branco.
- Não me cansarei de te dizer que, segundo a opinião mais estendida, era filha do Zeus e Dione. Quando vais aceitar o e a te unir a nós?
Selena o ignorou.
- me diga, Julián, quem tem razão?
Ben percorreu ao Julián de cima abaixo com um arrogante olhar. Grace sabia que quão único via nele era a um homem excepcionalmente arrumado, que parecia tirado
de um anúncio de automóveis.
- Jovem, tem lido você alguma vez ao Homero?, sabe quem é?
Grace suprimiu uma gargalhada ante a pergunta. Estava desejando escutar a resposta do Julián.
Ele riu com vontades.
- Tenho lido ao Homero em profundidade. As obras que lhe atribuem não são mais que um amálgama de lendas, fundidas com dados reais ao longo dos séculos, e
cujos verdadeiros orígenes se perderam nas brumas do tempo. Muito ao contrário que a Teogonía do Hesíodo, a qual escreveu com a ajuda direta do Clío.
O doutor Lewis disse algo em grego clássico.
- É mais que uma simples opinião, doutor -lhe respondeu Julián em inglês-. É um fato provado.
Ben voltou a olhá-lo com atenção, mas Grace sabia que ainda não estava muito disposto a acreditar que alguém com o aspecto do Julián pudesse lhe dar uma lição
em seu próprio campo.
- E você como sabe?
Julián lhe respondeu em grego.
Pela primeira vez desde que conhecia aquele homem, fazia já mais de uma década, Grace lhe viu totalmente surpreso.
- meu deus! -ofegou-. Fala grega como se fosse sua língua materna.
Julián olhou ao Grace com um sorriso sincero; estava-se divertindo.
- Já lhe disse isso -lhe disse Selena-. Conhece os deuses gregos melhor que qualquer outra pessoa.
O doutor Lewis viu então o anel do Julián.
- É isso o que acredito que é? -inquiriu-. Um anel de general?
Julián assentiu.
- Sim.
- Importa-lhe se lhe jogo uma olhada?
Julián o tirou e o ofereceu. O doutor Lewis conteve o fôlego.
- Macedonio? Acredito que do século II AC.
- Exato.
- É uma reprodução incrível -comentou Ben, enquanto o devolvia.
Julián o pôs de novo.
- Não é uma reprodução.
- Não pode ser! -ofegou Ben, incrédulo-. Não pode ser original, é excessivamente antigo.
- Tinha-o um colecionador privado -apontou Selena. Ben não deixava de olhá-la para, ao momento, voltar a centrar sua atenção no Julián.
- Como o conseguiu? -perguntou-lhe.
Julián demorou para responder enquanto recordava o dia em que o deram. Kyrian da Tracia e ele tinham sido ascendidos de uma vez, depois de salvar, virtualmente
os dois sozinhos, a cidade do Temópolis das garras dos romanos.
Tinha sido uma batalha larga, sangrenta e brutal. Seu exército se dispersou, deixando-os solos ao Kyrian e a ele para defender a cidade. Julián tinha esperado
que Kyrian o abandonasse também, mas o idiota lhe tinha sorrido, sustentando uma espada em cada mão, e lhe havia dito: "É um formoso dia para morrer. O que te parece
se matarmos uns quantos bastardos romanos antes de pagar ao Caronte?"
Kyrian da Tracia, um lunático total e absoluto, sempre tinha tido mais guelra que cérebro.
Quando tudo teve acabado, beberam até acabar debaixo das mesas. E à manhã seguinte, despertaram com a notícia da ascensão.
Pelos deuses! De todas as pessoas que tinha conhecido na Macedônia, Kyrian era a quem mais sentia falta de. Era o único que sempre lhe guardou as costas e
o defendeu.
- Foi um presente -respondeu Julián ao Ben.
Ele jogou uma olhada à mão do Julián, com os olhos carregados de cobiça.
- Consideraria você a possibilidade de vendê-lo? Eu estaria a disposto a pagar o que pedisse.
- Nunca -respondeu Julián, recordando as feridas que tinha recebido durante a batalha do Temópolis-. Não sabe pelo que aconteceu consegui-lo.
Ben meneou a cabeça.
- Oxalá alguém me fizesse alguma vez um presente como esse. Tem a mais ligeira idéia do que lhe dariam por ele?
- A última vez que o comprovei, ofereceram-me meu peso em ouro.
Ben soltou uma gargalhada e deu uma palmada sobre a mesa da Selena.
- Muito bom. Esse era o preço para liberar um general capturado, verdade?
- Para aqueles covardes que não eram capazes de morrer lutando, sim.
Os olhos do Ben mostraram um novo respeito ao observar ao Julián.
- Sabe a quem pertenceu?
Selena respondeu.
- Ao Julián da Macedônia. ouviste falar dele em alguma ocasião, Ben?
Ele ficou com a boca aberta e os olhos como pratos.
- Está falando a sério? É que não sabe quem foi?
Selena pôs uma expressão estranha. Assumindo que não sabia, Ben continuou falando.
- Tesio disse dele que ia ser o novo Alejandro Magno. Julián era filho do Diocles da Esparta, também conhecido como Diocles o Açougueiro. Esse homem faria
que o Marquês do Sade parecesse Ronald McDonald. Segundo os rumores, Julián nasceu de uma relação entre a Afrodita e o general, depois de que Diocles salvasse um
dos templos da deusa de ser profanado. A opinião mais estendida hoje em dia é que sua mãe foi uma das sacerdotisas do templo.
- De verdade? -perguntou Grace.
Julián pôs os olhos em branco.
- A ninguém interessa quem pôde ser o tal Julián. Esse tipo morreu faz séculos.
Ben o ignorou e seguiu alardeando de seus conhecimentos.
- Os romanos o conheciam como Augusto Julho Punitor... -olhou ao Grace e acrescentou para que ela o entendesse: - Julián, o Executor. Ele e Kyrian da Tracia
deixaram um rastro sangrento ao longo de todo o Mediterrâneo, durante a quarta guerra salada de frutas contra Roma. Julián desprezava aos romanos, e jurou que veria
a cidade arrasada sob seu exército. Ele e Kyrian estiveram a ponto de conseguir que Roma se ajoelhasse ante eles.
A mandíbula do Julián se relaxou um pouco.
- Sabe o que ocorreu ao Kyrian da Tracia?
Ben deixou escapar um assobio.
- Não teve um final agradável. Foi capturado; os romanos o crucificaram no ano 47 a.C.
Julián retrocedeu ao escutá-lo. Com um olhar afligido e brincando com o anel, disse:
- Esse homem era, sem dúvida, um dos melhores guerreiros que jamais existiram. Amava a luta como nenhum outro que tenha conhecido -moveu a cabeça-. Recordo
que uma vez Kyrian conduziu seu carro até atravessar uma barreira de escudos, rompendo os pescoços dos soldados romanos e permitindo que seus homens os derrotassem
com tão somente um punhado de baixas -franziu o cenho-. Não posso acreditar que o capturassem.
Ben encolheu os ombros com um gesto indiferente.
- Bom, uma vez desaparecido Julián, Kyrian era o único geral macedonio digno de dirigir um exército; por isso os romanos foram atrás dele com tudo o que tinham.
- O que aconteceu ao Julián? -perguntou Grace, intrigada pelo que os historiadores opinavam do tema.
Julián a olhou furioso.
- Ninguém sabe -lhe respondeu Ben-. É um dos grandes mistérios do mundo antigo. Aqui temos a um general ao que ninguém pode derrotar no campo de batalha e,
de repente puf! Desaparece sem deixar rastro -tamborilou com um dedo sobre a mesa da Selena-. A última vez que lhe viu foi na batalha da Conjara. Em um brilhante
movimento tático, enganou ao Livio, que perdeu seu, até então, inexpugnável posição. Foi uma das maiores derrota na história do Império Romano.
- E a quem lhe importa? -queixou-se Julián.
Ben ignorou a interrupção.
- Depois da batalha, supõe-se que Julián mandou dizer ao Escipión o Jovem que lhe perseguiria, em vingança pela derrota que acabava de lhe infligir ao exército
macedonio. Aterrorizado, Escipión abandonou sua carreira militar na Macedônia e partiu como voluntário à Península Ibérica, para seguir lutando ali -o professor
agitou a cabeça-. Mas antes de que Julián pudesse levar a cabo a ameaça, desvaneceu-se. Encontraram a toda sua família assassinada em seu próprio lar. E aí é onde
a coisa fica interessante -olhou então a Selena. Os escritos macedonios que chegaram até nossos dias, afirmam que Livio o feriu de morte durante a batalha, e que
em metade de uma incrível dor, retornou cavalgando para casa para assassinar a sua família e evitar, deste modo, que seu inimigo tomasse como escravos. Os textos
romanos asseguram que Escipión enviou a vários de seus soldados, que atacaram ao Julián em metade da noite. Supostamente, mataram-no junto ao resto de sua família,
esquartejaram-no e ocultaram os pedaços de seu corpo.
Julián soprou ante a idéia.
- Escipión era um covarde e um fanfarrão. Jamais se teria atrevido a atacarm...
- Bom! -exclamou Grace, interrompendo ao Julián antes de que se delatasse-. Faz um tempo esplêndido, verdade?
- Escipión não era nenhum covarde -lhe respondeu Ben-. Ninguém pode discutir seus êxitos na Península Ibérica.
Grace viu como o ódio se refletia nos olhos do Julián.
Mas Ben não pareceu notá-lo.
- Jovem, o valor desse anel que leva é incalculável. eu adoraria saber como pode conseguir-se algo assim. E a esse respeito, mataria por saber o que ocorreu
a seu dono original.
Grace olhou incômoda a Selena.
Julián fez uma careta sarcástica ao Ben.
- Julián da Macedônia desatou a ira dos deuses e foi castigado por sua arrogância.
- Suponho que essa poderia ser outra explicação -nesse momento, soou o alarme de seu relógio-. Joder! Tenho que recolher a minha esposa.
ficou em pé e ofereceu a mão ao Julián.
- Não nos apresentaram adequadamente. Sou Ben Lewis.
- Julián -lhe respondeu, aceitando a saudação.
O doutor Lewis riu. Até que se deu conta que Julián não brincava.
- Sério?
- Puseram-me o nome de seu geral macedonio, poderia-se dizer.
- Seu pai deve ter sido como o meu. Dois amantes de todo o grego.
- Em realidade, em meu caso sua lealdade ia para a Esparta.
Ben riu com mais ganha. Jogou um olhar rápido a Selena.
- por que não o traz para a próxima reunião do Sócrates? eu adoraria que os meninos o conhecessem. Não é muito freqüente encontrar a alguém que conhece a história
grega tão profundamente como eu.
Dito isto, voltou a dirigir-se ao Julián.
- foi um prazer. Vemo-nos! -disse a Selena.
- Bom -começou a dizer Selena uma vez que Ben teve desaparecido entre a multidão-, meu amigo, obtiveste o impossível. Acaba de deixar impressionado a um dos
investigadores da Antiga a Grécia mais importantes deste país.
Julián não pareceu impressionar-se muito, mas Grace sim o fez.
- Lanie, crie que é possível que Julián possa trabalhar como professor na faculdade uma vez acabemos com a maldição? Estava pensando que pod...
- Não, Grace -a interrompeu ele.
- Que não o que? vais necessitar...
- Não vou ficar me aqui.
O olhar frio e vazio que tinha naquele momento era a mesma com a que a tinha cuidadoso a noite em que o convocaram. E ao Grace a partiu em dois.
- O que quer dizer? -inquiriu ela.
O desviou o olhar.
- Ateneu me tem feito uma oferta para me devolver a casa. Uma vez rompamos a maldição, enviará-me de novo a Macedônia.
Grace se esforçou por seguir respirando.
- Entendo -disse, embora se estava morrendo por dentro-. Usará meu corpo e depois irá. -E seguiu com um nó na garganta: - Ao menos não terei que pedir a Selena
que me leve a casa depois.
Julián retrocedeu como se o tivesse esbofeteado.
- O que quer de mim, Grace? por que foste querer que ficasse aqui?
Ela não conhecia a resposta. Quão único sabia era que não queria que partisse. Queria que ficasse.
Mas não contra sua vontade.
-Te vou dizer algo -lhe disse. Começava a zangar-se ante a idéia de que ele desaparecesse-; não quero que fique. De fato, me está ocorrendo uma coisa, que
tal se vai a casa da Selena por uns dias? -e então olhou a seu amiga-, importaria-te?
Selena abria e fechava a boca como um peixe lutando por respirar. Julián alargou um braço para o Grace.
- Grace...
- Não me toque -lhe advertiu apartando seu próprio braço-. Me dá asco.
- Grace! -exclamou Selena-. Não posso acreditar que você...
- Não importa -disse Julián com voz fria e carente de emoção-. Ao menos não me cuspiu à cara com seu último fôlego.
Tinha-o ferido. Grace podia vê-lo em seus olhos; mas ela também se sentia muito ferida. Terrivelmente ferida.
- Até mais tarde -disse a Selena e partiu, deixando ali ao Julián.
Selena deixou escapar o ar lentamente enquanto observava ao Julián, que contemplava como Grace se afastava deles. Seu corpo estava totalmente rígido e tinha
um tic na mandíbula.
- Onde põe o olho, põe a bala. Um golpe direto ao coração. Uma ferida em carne viva.
Julián a deixou cravada com um olhar francamente hostil.
- me diga, Oráculo. Quais deveriam ter sido minhas palavras?
Selena baralhou suas cartas.
- Não sei -lhe respondeu melancolicamente-. Imagino que não te teria ido tão mal se tivesse sido honesto.
Julián se esfregou os olhos e se sentou na cadeira, frente a Selena. Não tinha tido intenção de ferir o Grace.
E jamais poderia esquecer esse olhar, enquanto lhe cuspia as horríveis palavras: "Não me toque. Dá-me asco."
esforçou-se por seguir respirando, agüentando a agonia. As Parcas seguiam burlando-se dele.
Deviam ter um dia aborrecido no Olimpo.
- Quer que te leia as cartas? -perguntou-lhe Selena, devolvendo-o à presente.
- Claro, por que não? -respondeu. Não ia dizer lhe nada que não soubesse já.
- O que quer saber?
- Alguma vez...? -se deteve antes de formular a mesma pergunta que fizesse, séculos atrás, ao Oráculo do Delfos- ...conseguirei romper a maldição? -perguntou
em voz baixa.
Selena baralhou as cartas, e tirou três dela. Abriu uns olhos como pratos.
Julián não necessitava que as interpretasse. Já o via por si mesmo: uma torre destroçada por um raio, um coração atravessado por três espadas, e duas pessoas
encadeadas e arrastadas por um demônio.
- Não passa nada -disse a Selena-. Jamais pensei que pudesse sair bem.
- Isso não é o que nos dizem as cartas -sussurrou-. Mas tem toda uma batalha por diante.
Julián soltou uma amarga gargalhada.
- Manejo bem as batalhas -era a dor que sentia no coração o que ia acabar com ele.
Grace se limpou as lágrimas da cara enquanto entrava no caminho de acesso ao jardim. Apertou os dentes ao baixar do carro, e fechou a porta com um forte golpe.
Ao inferno com o Julián. Podia ficar apanhado no livro para toda a eternidade. Ela não era uma parte de carne a sua inteira disposição.
Como pod...?
Procurou no bolso as chaves da entrada.
- E como não ia fazer o? -murmurou. Tirou a chave e abriu a porta.
A ira a consumia. Estava sendo irrazonable, e sabia. Julián não tinha a culpa de que Paul tivesse sido um porco egoísta. Como tampouco era culpado de que ela
temesse ser utilizada.
Estava culpando ao Julián por algo no que não tinha participado, mas ainda assim...
Só queria a alguém que a amasse. Que alguém queria ficar a seu lado.
E tinha esperado que ao ajudar ao Julián ficasse perto e...
Fechou a porta e meneou a cabeça. Por muito que desejasse que as coisas fossem distintas, nada ia trocar, posto que não estava escrito que fossem de outro
modo. Tinha escutado o que Ben contou a respeito da vida do Julián. A história que o mesmo Julián contou aos meninos sobre a batalha.
Recordava o modo em que tinha cruzado a rua como uma exalação para salvar ao menino.
Ele tinha nascido para liderar um exército. Não pertencia a esta época. Pertencia a seu mundo antigo.
Era muito egoísta por sua parte tentar mantê-lo a seu lado, como se fosse um mascote que acabasse de resgatar.
Subiu as escadas penosamente, com o coração destroçado. Teria que afastar-se dele. Era tudo o que podia fazer. Porque, no fundo, sabia que quanto mais soubesse
a respeito do Julián, mais carinho lhe agarraria. E se ele não tinha intenção de ficar, acabaria muito ferida.
Tinha subido a metade da escada, quando alguém bateu na porta principal. Por um instante, lhe levantou o ânimo ao pensar que podia ser Julián; até que chegou
à porta e viu a silhueta de um homem baixinho esperando no alpendre.
Entreabriu a porta e emitiu um ofego.
Era Rodney Carmichael.
Levava um traje marrom escuro, com uma camisa amarela e gravata vermelha. penteou-se para trás o cabelo curto e negro, e lhe dedicava um radiante sorriso.
- Olá Grace!
- Senhor Carmichael -o saudou glacialmente, embora o coração lhe pulsava a toda pressa. Havia algo definitivamente horripilante neste tipejo magro-. O que
está fazendo aqui?
- Passava por aqui e me detive para saudar. Me ocorreu que pod...
- Tem que partir.
Ele franziu o cenho.
- por que? Só quero falar contigo.
- Porque não atendo a meus pacientes em casa.
- Vale, mas eu não sou...
- Senhor Carmichael -lhe disse com brutalidade-. Tem que partir. Se não o fizer, chamarei à polícia.
Sem fazer muito caso à ira do Grace, assentiu com a cabeça, demonstrando ter a paciência de um santo.
- Vá! Então deve estar ocupada. Posso passar por aqui mais tarde. Eu também tenho muito que fazer. Venho logo então? Podemos jantar juntos.
Totalmente muda de assombro, Grace o olhou fixamente aos olhos.
- Não.
Ele sorriu ante a negativa.
- Vamos, Grace. Não seja assim. Sabe que parecemos o um para o outro. Se me deixar...
- Parta!
- Muito bem; mas voltarei. Temos muito do que falar -se deu a volta e baixou a escadas do alpendre.
Com o coração martilleando no peito, ela fechou a porta e jogou o seguro.
- vou matar te, Luanne -disse enquanto se dirigia à cozinha. Ao passar pela salita de estar, uma sombra na janela chamou sua atenção.
Era Rodney.
Aterrada, agarrou o telefone e chamou à polícia.
Demoraram quase uma hora em chegar. Rodney permaneceu no jardim todo o tempo, de janela em janela, observando-a através das frestas das persianas. Até que
não viu que o carro de polícia subia pelo caminho de entrada não desapareceu pelo pátio traseiro.
Grace tomou uma profunda baforada de ar para acalmar seus nervos e abriu a porta para que passassem os agentes.
ficaram o tempo suficiente para lhe informar de que não podiam fazer nada para manter ao Rodney afastado dela. o melhor que podia fazer era conseguir uma ordem
de afastamento, mas posto que era ela a que devia encarregar do tratamento do Rodney até que Luanne retornasse, era algo totalmente inútil.
- Sinto-o -se desculpou o policial na porta, enquanto os acompanhava-, mas não há incumplido nenhuma lei que nos permita lhe ajudar a livrar-se dele. Poderia
solicitar uma ordem de detenção por aplainamento, mas a menos que tenha antecedentes não servirá de nada.
O agente, um homem jovem, olhou-a compassivo.
- Sei que não lhe vai servir de muito consolo, mas podemos tentar patrulhar a zona com mais freqüência. Embora o verão é uma época especialmente ocupada para
nós. A modo pessoal, aconselho-lhe que parta a casa de um amigo durante um tempo.
- De acordo, muito obrigado -logo que partiram, correu por toda a casa, assegurando portas e janelas com os ferrolhos e fechos.
Intranqüila, lançava olhadas em torno de seu próprio lar, esperando ver o Rodney entrar através de um buraco na parede, como se se tratasse de uma barata.
Se tão somente soubesse realmente se o tipo era ou não perigoso... Seu relatório do hospital psiquiátrico mencionava um comportamento desviado e persecutorio
para mulheres, às que acossava mas jamais feria fisicamente. limitava-se a aterrorizar a suas vítimas lhes impondo sua presença continuamente, pelo qual tinha sido
enviado ao hospital para começar a tratá-lo.
Como psicóloga, Grace sabia que não havia nada especialmente perigoso no Rodney, mas como mulher estava assustada.
Quão último queria era acabar como uma estatística mais.
Não, não podia ficar ali esperando que o tipo retornasse e a encontrasse sozinha.
apressou-se a subir as escadas para fazer a bagagem.
Capítulo 11
Selena observava como Julián se passeava nervoso, por diante de seu posto, enquanto fazia uma tiragem para um turista. Deus santo!, poderia passar-se todo
o dia observando-o caminhar. Esse modo de andar fazia saltar os olhos das órbitas, e lhe entravam uns desejos terríveis de sair correndo a casa, agarrar ao Bill
e lhe fazer umas quantas coisas pecaminosas.
Uma e outra vez, as mulheres se aproximavam dele, mas Julián não demorava para tirar-se as de no meio. Era certamente divertido ver todas essas garotas pavoneando-se
a seu redor enquanto ele permanecia alheio a seus estratagemas. Nunca lhe tinha parecido possível que um homem atuasse assim.
Mas claro, até ela podia chegar a aborrecer o chocolate se se dava um atracón.
E pelo modo em que as mulheres respondiam à presença do Julián, deduziu que ele já tinha sofrido mais de uma dor de tripa causado por uma indigestão. A verdade
é que parecia muito preocupado.
E Selena se sentia fatal pelo que lhes tinha feito a ambos, a ele e ao Grace. Sua idéia parecia bastante singela em um princípio. Se tivesse refletido um pouco
mais...
Mas como ia ou seja quem era Julián? Claro, que seu nome podia ter feito sonar algum timbre em sua mente; de todos os modos, sua especialidade era a Idade
de Bronze grega que, até para a época do Julián, era a Pré-história.
E tampouco tinha acreditado que o tipo do livro fosse realmente humano. Pensava que era alguma classe de gênio ou criatura mágica, sem passado nem sentimentos.
Senhor!, quando colocava a pata o fazia até o fundo.
Meneando a cabeça, observou como Julián rechaçava outra oferta, esta vez procedente de uma atrativa ruiva. O homem era um verdadeiro ímã de estrogênios.
Acabou a leitura.
Julián esperou uns minutos e se aproximou da mesa.
- me leve com o Grace.
Não era uma petição, não. Estava segura de que era o mesmo tom de voz que empregava para dirigir a seu exército em metade de uma batalha.
- Disse que...
- Não me importa o que dissesse. Preciso vê-la.
Selena envolveu o baralho no lenço negro de seda. Que demônios? Tampouco é que necessitasse que seu melhor amiga voltasse a lhe falar.
- Vai direto a seu funeral.
- Oxalá -disse em voz tão baixa que ela não pôde estar segura de ter escutado corretamente.
Ajudou-a a recolher seus trastes para colocá-los no carrinho, e levá-lo tudo até o pequeno barraco que tinha alugada para guardá-lo.
Sem perda de tempo, chegaram a casa do Grace.
Estacionaram no caminho do jardim justo quando Grace estava guardando suas malas.
- Olá, Gracie! -saudou Selena-. Onde vai?
Ela olhou furiosa ao Julián.
- Parto-me por uns dias.
- Onde? -perguntou-lhe seu amiga.
Grace não respondeu.
Julián saiu do carro e se aproximou dela. ia arrumar as coisas, custasse o que custasse.
Grace arrojou uma bolsa ao porta-malas e se afastou do Julián.
Ele a agarrou por um braço.
- Não respondeste à pergunta.
Ela escapou de sua mão.
- E o que vais fazer, me pegar se não o fizer? -disse-lhe, olhando-o com os olhos entrecerrados.
Julián se encolheu ante o evidente rancor.
- E sente saudades de que queira partir ? -Então se deu conta. Ao Grace estava custando horrores conter as lágrimas. Tinha os olhos úmidos e brilhantes. A
culpa o assaltou-. O sinto, Grace -murmurou enquanto cobria sua bochecha com a mão-. Não pretendia te fazer danifico.
Grace observou a batalha que mantinham o arrependimento e o desejo no rosto do Julián. Sua carícia era tão tenra e tão suave... Por um instante, esteve a ponto
de acreditar que, em realidade, ele se preocupava com ela.
- Eu também o sinto -sussurrou-. Já sei que não tem a culpa.
Ele soltou uma brusca e amarga gargalhada.
- Em realidade, tudo o que acontece é minha culpa.
- Né! Posso-me confiar em vós? -perguntou Selena.
Julián olhou ao Grace com ardente intensidade, apanhando seu olhar e fazendo-a tremer.
- Quer que vá? -perguntou-lhe.
Não, não queria. Essa era a base de todo o problema. Que não queria que voltasse a abandoná-la. Jamais.
Grace agarrou as mãos do Julián entre as suas e as separou de seu rosto.
- Tudo está solucionado, Selena.
- Nesse caso, vou a casa. Vemo-nos.
Grace apenas se foi consciente de que seu amiga punha em marcha o carro e se afastava. Toda sua atenção estava posta no Julián.
- Agora me vais dizer onde vai? -perguntou-lhe.
Pela primeira vez, desde que a polícia partiu, Grace sentiu que podia respirar. Com a presença do Julián, o medo se desvaneceu como a névoa sob o sol.
sentia-se segura.
- Recorda o que te contei sobre o Rodney Carmichael?
Ele assentiu.
- Esteve aqui faz um momento. Ele... ele me inquieta.
A expressão gélida e severo que adotou o rosto do Julián a deixou atônita.
- Onde está agora?
- Não sei. esfumou-se ao chegar a polícia. Por isso me partia. ia ficar me em um hotel.
- Ainda quer partir ?
Grace negou com a cabeça. Com ele ali, sentia-se completamente a salvo.
- Agarrarei sua bolsa -lhe disse. Tirou-a e fechou o porta-malas.
Grace se encaminhou para a casa.
Passaram o resto do dia em uma aprazível solidão. Ao chegar a noite, tombaram-se diante do sofá, reclinados sobre as almofadas.
Grace apoiou a cabeça no duro ventre do Julián enquanto acaba de lhe ler Peter Pão e fazia todo o possível para não distrair-se com o maravilhoso aroma que
desprendia seu corpo. E com o maravilhosamente bem que estava, apoiada sobre seus abdominais.
Tinha que jogar mão de toda sua força de vontade para não dá-la volta e explorar os firmes músculos de seu torso com a boca.
Julián lhe acariciava lentamente o cabelo enquanto a observava. Senhor, suas mãos faziam que lhe ardesse a pele. Faziam-lhe desejar lhe arrancar a roupa e
saborear cada centímetro de seu corpo.
- Fim -disse ela, fechando o livro.
O abrasador olhar do Julián lhe tirou o fôlego.
estirou-se e arqueou levemente as costas, apoiando-se com mais força sobre ele.
- Quer que te leia algo mais?
- Sim, por favor. Sua voz me relaxa.
Ela o olhou fixamente por um instante e, depois, sorriu. Não recordava que nenhum outro completo tivesse significado tanto para ela como aquele.
- Tenho a maioria dos livros em minha habitação -lhe disse enquanto ficava em pé-. Vamos, ensinarei-te meu tesouro escondido e encontraremos algo que nós gostemos.
Seguiu-a escada acima.
Grace notou que Julián observava a cama com desejo e depois a olhava a ela.
Fingiu não dar-se conta e abriu a porta do enorme vestidor. Acendeu a luz e passou uma mão com carinho pelas estanterías que seu pai tinha colocado tantos
anos atrás.
Seu pai e seu melhor amigo o tinham passado em grande enquanto colocavam as estanterías. Os dois eram professores, e tinham a habitação feita um desastre.
Seu pai acabou com duas unhas negras antes de que tudo estivesse terminado. Sua mãe não tinha deixado de rir e de chamar a seu marido "carpinteiro profissional",
mas a ele não parecia lhe importar. A expressão de orgulho em seu rosto quando tudo esteve terminado, e os livros do Grace colocados nas estanterías, ficou impressa
para sempre no coração de sua filha.
Como adorava essa estadia. Aqui era onde realmente sentia o amor de seus pais. Aqui se refugiava e fugia dos problemas e sofrimentos que a perseguiam.
Cada livro guardado ali era uma lembrança especial, e todos eles formavam parte de seu mundo. Olhou a sua esquerda e viu Shanna, com a que tinha começado sua
afeição à novela romântica. The Wolfling, tinha-a introduzido na ficção científica. E seu adorado Bimbos do Sol Morto, sua primeira novela de mistério.
Também estavam ali as velhas novelas de seus pais, e as três cópias dos livros de texto que seu pai tinha escrito antes de que ela nascesse.
Este era seu santuário e Julián era, sem contar a seus pais, a primeira pessoa que punha um pé nele.
- Leva tempo colecionando livros -comentou ele enquanto jogava uma olhada às estanterías.
Ela assentiu.
- Foram meus melhores amigos enquanto crescia. Acredito que o amor pela leitura é o melhor presente que meus pais me deram -elevou o livro do Peter Pão-. Este
era de meu pai, de quando era menino. É minha posse mais apreciada.
Devolveu-o a uma das estanterías e agarrou um exemplar de Beleza Negra.
- Minha mãe me lia este uma e outra vez.
Fez um pequeno percurso, lhe mostrando seus livros.
- Rebeldes -sussurrou com adoração-. Era meu livro favorito no instituto. Ah!, junto com este, Pode demandar a seus pais por abuso de autoridade?
Julián riu.
- Já vejo que significam muito para ti. Te ilumina o rosto quando falas deles.
Algo em seu olhar disse ao Grace que ele estava pensando em outro modo de fazer que se iluminasse...
Tragando saliva ante a idéia, deu-se a volta e rebuscou na estantería da direita, onde guardava os clássicos, enquanto Julián seguia olhando os da esquerda.
- O que te parece este? -perguntou-lhe ele, com uma de suas novelas românticas na mão.
Grace soltou uma risita nervosa ao ver o casal que se abraçava médio nua na capa.
- Senhor!, parece-me que não.
Ele olhou a capa e elevou uma sobrancelha.
- Vale -disse Grace lhe tirando o livro da mão-. Tem descoberto meu mais profundo secreto. Sou uma viciada nas novelas românticas, mas o último que precisa
é que te leia uma apaixonada cena de amor em voz alta. Muitíssimas obrigado, mas não.
Julián lhe olhou fixamente os lábios.
- Preferiria recrear uma apaixonada cena de amor contigo -disse em voz baixa, aproximando-se dela.
Grace começou a tremer. Tinha as costas pega a estantería e não podia retroceder mais. Julián colocou um braço sobre sua cabeça e aproximou seu corpo ao dele,
até deixá-los unidos. Então, baixou a cabeça e se aproximou de sua boca.
Grace fechou os olhos. A presença do Julián alagava todos seus sentidos. Rodeava-a de uma forma extremamente perturbadora.
Por uma vez, ele manteve as mãos quietas e se limitou a tocá-la tão somente com os lábios. Dava igual. A cabeça do Grace começou a girar de todos os modos.
Como tinha podido sua esposa escolher a outro homem tendo-o a ele? Como podia rechaçá-lo uma mulher em seu são julgamento? Este homem era o paraíso.
Julián aprofundou o beijo, explorando sua boca com a língua. Grace sentia os batimentos do coração de seu coração enquanto ele se aproximava ainda mais e seus
músculos a envolviam.
Jamais tinha sido tão consciente da presença de outro ser humano. Ele a punha ao limite, o fazia experimentar sensações que não sabia que pudessem existir.
Julián se retirou um pouco e apoiou a bochecha sobre a do Grace. Seu fôlego caía sobre seu cabelo e lhe arrepiava a pele.
- Tenho uns desejos horríveis de estar dentro de ti, Grace -murmurou-. Quero sentir suas pernas ao redor de meu corpo, sentir seus peitos debaixo de mim, te
escutar gemer enquanto te faço o amor lentamente. Quero que seu aroma fique impresso em meu corpo e que seu fôlego me queime a pele.
Todo seu corpo se esticou antes de separar-se dela.
- Mas já estou acostumado a desejar coisas que não posso ter -sussurrou.
Lhe tocou o braço. Julián agarrou sua mão, a levou aos lábios e depositou um rastro de pequenos beijos sobre os nódulos.
O desejo que se refletia em seu arrumado rosto fazia que ao Grace doesse todo o corpo.
- Busca um livro e me comportarei.
Tragou saliva enquanto ele se afastava. Então, fixou-se em seu velho exemplar de La Ilíada. Sorriu. Lhe ia encantar, estava segura.
Agarrou-o e baixou as escadas.
Julián estava sentado diante do sofá.
- Adivinha o que encontrei! -exclamou Grace excitada.
- Não tenho a mais remota idéia.
Ela o sustentou em alto e sorriu.
- A Ilíada!
Julián se animou imediatamente e as covinhas relampejaram em seu rosto.
- me cante, OH Deusa!
- Muito bem -respondeu ela, sentando-se a seu lado-. E isto te vai gostar ainda mais: é uma versão bilíngüe; com o original grego e a tradução inglesa.
E o deixou para que o visse.
A expressão do Julián foi quão mesma teria posto se lhe tivessem entregue o tesouro de um rei. Abriu o livro e, imediatamente, seus olhos voaram sobre as páginas
enquanto passava a mão reverentemente pelas folhas, cobertas com a antiga escritura grega.
Era incapaz de acreditar que estivesse vendo de novo seu idioma escrito, depois de tanto tempo. Fazia uma eternidade que não o lia em outro lugar que não fosse
seu braço.
Sempre lhe tinham encantado A Ilíada e A Odisséia. De menino, tinha passado horas oculto depois dos barracões, lendo pergaminhos uma e outra vez; ou escabulléndose
para escutar aos bardos na praça da cidade.
Entendia muito bem o que sentia Grace por seus livros. Ele tinha sentido o mesmo em sua juventude. A mais mínima oportunidade, escapava a seu mundo de fantasia,
onde os heróis sempre triunfavam, os demônios e vilãos eram aniquilados, e os pais e as mães amavam a seus filhos.
Nas histórias não havia fome nem dor, a não ser liberdade e esperança. Foi através dessas histórias como aprendeu o que eram a compaixão e a ternura. A honra
e a integridade.
Grace se ajoelhou junto a ele.
- Sente falta de seu lar, verdade?
Julián apartou o olhar. Só sentia falta da seus filhos.
Ao contrário que ao Kyrian, a luta nunca lhe tinha atraído. O fedor da morte e o sangue, os gemidos dos moribundos. Só tinha lutado porque era o que se esperava
dele. E tinha liderado um exército porque, como bem disse Platón, cada ser humano está capacitado por natureza para realizar uma atividade a qual se entrega. Por
sua natureza, Julián sempre tinha sido um líder e não podia seguir as ordens de ninguém.
Não, não o sentia falta de, mas...
- Foi o único que conheci.
Grace lhe roçou o ombro, mas foi a preocupação que refletiam seus olhos cinzas o que lhe desarmou.
- Queria que seu filho fosse um soldado?
Ele negou com a cabeça.
- Jamais quis que truncassem sua juventude como ocorreu a tantos de meus homens -respondeu com a voz rouca-. Bastante irônico, não é certo? Nem sequer lhe
teria permitido que jogasse com a espada de madeira que Kyrian lhe deu de presente para seu aniversário; nem lhe tivesse deixado tocar a minha enquanto estivesse
em casa.
Grace enlaçou as mãos em seu pescoço e atirou dele para aproximá-lo. Suas carícias eram tão incrivelmente relaxantes... Faziam que a solidão doesse ainda mais.
- Como se chamava?
Julián tragou saliva. Não tinha pronunciado os nomes de seus filhos desde dia de sua morte. Não se tinha atrevido mas, não obstante, queria compartilhá-los
com o Grace.
- Atolycus. Minha filha se chamava Calista.
Grace o olhou com um sorriso triste, como se compartilhasse sua dor pela perda.
- Tinham uns nomes preciosos.
- Eram uns meninos preciosos.
- Se se pareciam em algo a ti, me acredito.
Isso tinha sido o mais formoso que ninguém lhe havia dito jamais.
Julián lhe aconteceu a mão pelo cabelo, deixando que as mechas se escorressem sobre sua palma. Fechou os olhos e desejou poder ficar assim para sempre.
O medo a ter que abandoná-la-o estava destroçando. Nunca lhe tinha gostado da idéia de ser engolido por aquele desolado inferno que era o livro; mas agora,
ao pensar que jamais voltaria a vê-la, que jamais voltaria a cheirar o doce aroma de sua pele, que suas mãos jamais voltariam a roçar o suave rubor de suas bochechas...
Não podia suportá-lo. Era muito.
Pelos deuses!, e tinha acreditado até então que estava maldito...
Grace se afastou um pouco, beijou-o brandamente nos lábios e agarrou o livro.
Julián tragou. Ela queria resgatá-lo e, pela primeira vez durante todos aqueles séculos, queria ser resgatado.
tendeu-se no chão para que Grace pudesse apoiar a cabeça nele. adorava senti-la assim. Sentir seu cabelo estendendo-se sobre os braços e o torso.
Estiveram tendidos no chão até as primeiras horas da madrugada; Julián a escutava enquanto lia a Odisséia e narrava as histórias do Aquiles.
Observava como o cansaço ia fazendo racho nela, mas continuava lendo. Finalmente, fechou os olhos e ficou dormida.
Julián sorriu e lhe tirou o livro das mãos para deixá-lo a um lado. Acariciou-lhe a bochecha com a palma da mão durante um instante.
Não tinha sonho. Não queria desperdiçar nem um segundo solo do tempo que tinha para estar a seu lado. Queria contemplá-la, tocá-la. Absorvê-la. Porque entesouraria
essas lembranças durante toda a eternidade.
Nunca tinha passado uma noite assim: convexo tranqüilamente no chão junto a uma mulher, sem que ela montasse seu corpo e lhe exigisse que a tocasse e a possuísse.
Em sua época, os homens e as mulheres não estavam acostumadas acontecer muito tempo juntos. Durante as temporadas que passou em seu lar, Penélope lhe falava
em estranhas ocasiões. De fato, não tinha demonstrado muito interesse nele.
Pelas noites, quando a buscava, não o rechaçava. Mas, não obstante, não estava ansiosa por suas carícias. Sempre tinha conseguido enrolá-la para que seu corpo
lhe respondesse apaixonadamente, mas não assim seu coração.
Deslizou as mãos pelo cabelo negro do Grace, extasiado pela sensação do ter entre os dedos. Seu olhar se deteve sobre seu anel. Brilhava tenuemente, captando
a escassa luz da estadia.
Em sua mente, via-o talher de sangue. Recordava como lhe cravava no dedo enquanto blandía a espada em metade de uma batalha. Esse anel o tinha significado
tudo para ele, e não lhe tinha resultado fácil consegui-lo. O tinha ganho com o suor de sua frente e com numerosas feridas que sofreu seu corpo. Havia-lhe flanco
muito, mas tinha merecido a pena.
Durante um tempo foi respeitado, embora não o amassem. Em sua vida como mortal, isso tinha sido essencial.
Suspirando, jogou a cabeça para trás para apoiar-se na almofada do sofá que tinha posto sobre o chão e fechou os olhos.
Quando por fim se deslizou entre as neblinas do sonho, não foram os rostos do passado os que povoaram sua mente, foi a imagem de uns claros olhos cinzas que
riam com ele, de uma negra juba que se esparramava por seu peito e de uma voz suave que lia palavras que lhe resultavam familiares embora, de algum modo, estranhas.
Grace se desperezó lánguidamente ao despertar. Abriu os olhos e se surpreendeu ao dar-se conta de que tinha a cabeça sobre o abdômen do Julián. Ele tinha a
mão enterrada em seu cabelo e, pela respiração relaxada e profunda, soube que ainda estava dormido.
Elevou o olhar para seu rosto. Tinha uma expressão tranqüila, quase infantil.
E então foi consciente de algo: não tinha tido o pesadelo. Tinha dormido toda a noite.
Sonriendo, tentou levantar-se muito devagar para não despertá-lo.
Não funcionou. logo que levantou a cabeça, Julián abriu os olhos e a abrasou com um intenso olhar.
- Grace -disse em voz baixa.
- Não queria despertar.
Ela assinalou as escadas com o polegar.
- Ia acima a me dar uma ducha. Deveria fechar a porta?
Percorreu-a com olhos ardentes.
- Não, acredito que posso me comportar.
Ela sorriu.
- Parece-me que já ouvi isso antes.
Julián não respondeu.
Grace subiu e se deu uma ducha rápida.
Uma vez acabou, foi a sua habitação e se encontrou ao Julián convexo na cama, folheando sua exemplar de La Ilíada.
Olhou-a com expressão absorta ao dar-se conta de só levava posta uma toalha. Um lascivo sorriso fez que suas covinhas aparecessem em todo seu esplendor, e
a temperatura do corpo do Grace ascendeu vários graus.
- Ponho-me a roupa e...
- Não -lhe disse com tom autoritário.
- Que não o que? -perguntou incrédula.
A expressão do Julián se suavizou.
- Preferiria que te vestisse aqui.
- Julián...
- Por favor.
Grace ficou muito nervosa ante a petição. Jamais tinha feito algo assim em sua vida. E se sentia envergonhada.
- Por favor, por favor... -voltou a lhe rogar com um leve sorriso.
Que mulher lhe diria que não a uma expressão como essa?
Olhou-o com receio.
- Não te atreva a rir -lhe disse enquanto abria vacilante a toalha.
Julián olhou seus peitos com olhos famintos.
- Pode estar completamente segura de que a risada é o último que me passa pela mente nestes momentos.
E então, levantou-se da cama e se aproximou da cômoda, onde Grace guardava a roupa interior, com os movimentos grácis de um depredador. Um estranho calafrio
percorreu as costas do Grace enquanto observava como a mão do Julián rebuscava entre seus braguitas até encontrar as de seda negra que Selena lhe tinha agradável
de brincadeira.
Julián as tirou e se ajoelhou no chão diante dela, com toda a intenção de ajudá-la a ficar as Sem fôlego e totalmente entregue à sedução, Grace olhou seus
cachos loiros enquanto elevava uma perna para deixar que lhe acontecesse as braguitas pelo pé.
Depois de suas mãos, que deslizavam a seda subindo por sua perna, seus lábios deixavam um reguero de beijos que a fizeram estremecer-se. Para maior devastação
de todos seus sentidos, abriu as mãos e as colocou sobre suas coxas com os dedos totalmente estendidos. E o que foi ainda pior, uma vez as braguitas estiveram colocadas
em seu sítio, acariciou-a levemente entre as pernas antes de apartar-se.
Continuando, tirou o prendedor negro a jogo.
Como uma boneca sem vontade própria, deixou que o pusesse. As mãos do Julián roçaram os mamilos, enquanto grampeava o gancho dianteiro; uma vez fechado, deslizou-as
sob o cetim e a acariciou com deleite, lhe arrepiando a pele.
Julián inclinou a cabeça e capturou seus lábios. Podia sentir o fogo consumindo-o, lhe exigindo que a possuísse. lhe exigindo que aliviasse a dor de seu entrepierna
embora fosse por um instante.
Grace gemeu quando ele aprofundou o beijo e se deixou levar por completo. Julián a elevou em braços para tendê-la sobre a cama. De forma instintiva, lhe rodeou
a cintura com as pernas e vaiou ao sentir os duros abdominais pressionando sobre seu sexo.
Julián lhe aconteceu as mãos pelas costas. A visão de seu corpo úmido e nu estava gravada a fogo em sua mente. Tinha chegado a um ponto sem retorno quando
um brilho de luz cegadora iluminou a habitação.
Com os olhos doloridos pelo resplendor, Julián se separou dela.
- foste você? -perguntou-lhe ela sem fôlego, olhando-o entusiasmada.
Risonho, Julián negou com a cabeça.
- Oxalá me pudesse atribuir isso mas estou bastante seguro de que tem outra origem.
Jogou uma olhada à habitação e seus olhos se detiveram sobre a cama. Piscou.
Não podia ser...
- O que é isso? -perguntou Grace, girando-se para olhar a cama.
- É meu escudo -respondeu Julián, incapaz de acreditá-lo.
Fazia séculos que não via seu escudo. Atônito, contemplou-o fixamente. Estava no mesmo centro da cama e emitia débeis brilhos sob a luz.
Conhecia cada entalhe e arranhão que havia nele; recordava cada um dos golpes que os tinham produzido.
Temeroso de estar sonhando, alargou o braço para tocar o relevo em bronze de Ateneu e seu mocho.
- E sua espada também?
Julián lhe agarrou a mão antes de que pudesse tocá-la.
- Essa é a Espada do Cronos. Não a toques jamais. Se alguém que não levar seu sangue a touca, sua pele ficará marcada para sempre com uma terrível queimadura.
- Sério? -perguntou, baixando-se da cama para afastar-se da espada.
- Sério.
Grace olhou à cama com o cenho franzido.
- O que fazem aqui?
- Não sei.
- E quem os envia?
- Não sei.
- Pois não me está ajudando muito.
Julián não pareceu captar seu sarcasmo. Em lugar de dar-se por aludido, Grace o observou contemplar seu escudo. Passava a mão sobre ele como um pai que olhe
com adoração a um filho comprido tempo perdido.
Agarrou sua espada e a depositou no chão, debaixo da cama.
- Não esqueça que está aqui -lhe disse muito sério-. Tenha muito cuidado de não tocá-la.
Sua expressão se voltou mais carrancuda ao incorporar-se. Olhou de novo o escudo.
- Deve ser obra de minha mãe. Só ela ou um de seus filhos me poderiam enviar isso - Claro.
- E por que ia fazer o?
Julián entrecerró os olhos enquanto recordava o resto da lenda que rodeava a sua espada.
- Estou seguro de que enviou minha espada se por acaso tenho que me enfrentar com o Príapo. A Espada do Cronos também é conhecida como a Espada da Justiça.
Não acabará com sua vida, mas fará que ocupe meu lugar no livro.
- Está falando a sério?
Julián assentiu.
- Posso tocar o escudo?
- Claro.
Grace passou a mão sobre as incrustações douradas e negras que formavam a imagem de Ateneu e o mocho.
- É muito bonito -disse, maravilhada.
- Kyrian o mandou fazer quando me nomearam General Supremo.
Grace acariciou a inscrição gravada sob a figura de Ateneu.
- O que diz aqui?
- "A morte antes que a desonra" -disse com um nó na garganta.
Julián sorriu com melancolia ao recordar ao Kyrian junto a ele durante as batalhas.
- O escudo do Kyrian dizia: "O bota de cano longo para o vencedor". Estava acostumado a me olhar antes da luta, e dizer: "Você te leva a honra, adelfos, e
eu fico com o bota de cano longo".
Grace permaneceu em silencio ao escutar o estranho tom de sua voz. Tentando imaginar sua aparência com o escudo em alto, aproximou-se um pouco mais.
- Kyrian? O homem que foi crucificado?
- Sim.
- Apreciava-o muito, verdade?
Ele sorriu com tristeza.
- Levou-lhe um tempo acostumar-se a mim. Eu tinha vinte e três anos quando seu tio o atribuiu a minha tropa, depois de me advertir concienzudamente do que
me aconteceria se deixava que Sua Alteza fosse ferido.
- Era um príncipe?
Julián assentiu.
- E não tinha medo a nada. Apenas se chegava aos vinte anos e lutava ou se metia em brigas sem estar preparado, sem acreditar que pudessem lhe fazer danifico.
Dava-me a sensação de que cada vez que me dava a volta, tinha que tirá-lo rastros de algum estranho contratempo. Mas resultava muito difícil não apreciá-lo. Apesar
de seu caráter exaltado, tinha um grande senso de humor e era completamente leal. -Passou a mão pelo escudo-. Oxalá tivesse estado ali para poder salvar o dos romanos.
Grace lhe acariciou o braço em um gesto pormenorizado.
- Estou segura de que os dois juntos teriam sido capazes de sair de qualquer atoleiro.
Os olhos do Julián se iluminaram ao escutá-la.
- Quando nossos exércitos partiam juntos, fomos invencíveis. -Esticou a mandíbula ao olhá-la-. Tivesse sido questão de tempo que Roma fosse nossa.
- por que depreciavam tanto ao Império Romano?
- Jurei que destruiria Roma o mesmo dia que conquistaram Primária. Kyrian e eu fomos enviados para ajudá-los na luta, mas quando chegamos era muito tarde.
Os romanos tinham rodeado a cidade e tinham assassinado grosseiramente a todas as mulheres e aos meninos. Jamais tinha visto um açougue semelhante. -Seu olhar se
obscureceu-. Estávamos tentando enterrar aos mortos quando os romanos tenderam uma emboscada.
Grace ficou geada ao escutá-lo.
- O que ocorreu?
- Derrotei ao Livio e estava a ponto de matá-lo no momento em que interveio Príapo. Lançou um raio a meu cavalo e caí em metade das tropas romanas. Estava
seguro de ia morrer quando Kyrian apareceu de um nada. Fez retroceder ao Livio até que pude me pôr em pé de novo. Livio chamou a seus homens a retirada e desapareceu
antes de que pudéssemos acabar com ele.
Grace foi consciente da proximidade do Julián. Estava detrás dela, tão perto que podia sentir o calor que emanava dele. Colocou os braços a ambos os lados
de seu corpo, apanhando-a entre ele e a cama, e se apoiou sobre suas costas.
Ela apertou os dentes ante a ferocidade do desejo que a invadiu. Julián não a estava tocando, mas seus sentidos estavam tão desbocados como se suas mãos a
acariciassem. Ele inclinou a cabeça e lhe mordiscou o pescoço.
A sensação de sua língua sobre a pele conseguiu que tudo seus hormônios cobrassem vida. Arqueou as costas enquanto um estremecimento lhe percorria os peitos.
Se não o detinha...
- Julián -balbuciou; sua voz não conseguiu transmitir a advertência que pretendia.
- Sei -sussurrou ele-. Vou de caminho a me dar uma ducha fria.
Enquanto saía da habitação, Grace o escutou grunhir uma palavra em voz baixa:
- Sozinho.
depois de tomar o café da manhã, Grace decidiu lhe ensinar a conduzir.
- Isto é ridículo -protestou Julián enquanto Grace estacionava no estacionamento do instituto.
- Venha já! -burlou-se ela-. Não sente curiosidade?
- Não.
- Que não?
Julián suspirou.
- Esta bem, um pouco.
- Bom, então imagina as histórias sobre a grande besta de aço que conduziu ao redor de um estacionamento que poderá lhes contar a seus homens quando retornar
a Macedônia.
Julián a olhou perplexo.
- Isso significa que está de acordo com que me parta?
Não, quis lhe gritar. Mas em lugar disso, suspirou. No fundo, sabia que jamais poderia lhe pedir que abandonasse tudo o que tinha sido para ficar com ela.
Julián da Macedônia era um herói. Uma lenda.
Jamais poderia ser um homem de caráter tranqüilo do século vinte e um.
- Sei que não posso fazer que fique comigo. Não é um cachorrito abandonado que seguiu a casa.
Julián se esticou ao escutá-la. Tinha razão. Por isso lhe resultava tão difícil abandoná-la. Como podia separar-se da única pessoa que o via como a um homem?
Não sabia por que queria ensiná-lo a conduzir mas, de todas formas, notava que se sentia feliz compartilhando seu mundo com ele. E, por alguma razão que não
queria analisar muito a fundo, gostava de fazê-la feliz.
- Muito bem. Insígnia me a dominar a esta besta.
Grace saiu do carro para que Julián pudesse sentar-se no assento do condutor.
logo que Julián se sentou, ela fez uma careta ao ver um homem, de quase um metro noventa, encolhido para poder acomodar-se em um assento disposto para uma
mulher de um e cinqüenta e cinco.
- Sinto muito, me esqueceu mover o assento.
- Não posso me mover nem respirar, mas não se preocupe, estou bem.
Ela riu.
- Há uma alavanca sob o assento. Tira dela e poderá movê-lo para trás.
Julián o tentou, mas o espaço era tão estreito, que não a alcançava.
- Espera, eu o farei.
Jogou a cabeça para trás quando Grace se inclinou por cima de sua coxa e apertou os peitos sobre sua perna para lhe passar o braço entre os joelhos. Seu corpo
reagiu imediatamente, endurecendo-se e começando a arder.
Quando ela apoiou a bochecha sobre seu entrepierna ao atirar da alavanca, Julián pensou que estava a ponto de morrer.
- Deste-te conta de que está na posição perfeita para...?
- Julián! -exclamou ela, retrocedendo para ver o abultamiento de seu jeans. Seu rosto adquiriu um brilhante tom vermelho-. O sinto.
- Eu também -respondeu ele em voz baixa.
Infelizmente, ainda tinha que mover o assento, assim Julián se viu forçado a suportar a postura uma vez mais.
Apertando os dentes, elevou um braço e se agarrou ao reposacabezas com força. Era o único que podia fazer para não ceder a selvagem luxúria.
- Está bem? -perguntou-lhe ela, uma vez colocou o assento em seu sítio e voltou para dele.
- Claro! -respondeu ele com tom sarcástico-. Tendo em conta que caminhei sobre brasas que resultaram menos dolorosas que o que está suportando neste momento
meu entrepierna, estou fenomenal.
- Já te pedi perdão.
Ele a olhou fixamente.
Grace lhe deu uns tapinhas no braço.
- Venha, chega bem aos pedais?
- eu adoraria chegar até os teus...
- Julián! -exclamou de novo Grace. Era um homem verdadeiramente libidinoso-. Quer te concentrar?
- De acordo, já me estou concentrando.
- Em meus peitos, não.
Julián baixou o olhar para o regaço do Grace.
- Nem aí tampouco.
Para sua surpresa, fez uma panela semelhante ao de um menino zangado. A expressão era tão estranha nele que Grace não teve mais remedeio que rir de novo.
- Vale -lhe disse ela-. O pedal que está a sua esquerda, é a embreagem; o do meio é o freio e o da direita, o acelerador. Lembra-te do que te explicado sobre
eles?
- Sim.
- Bem. Agora, o primeiro que tem que fazer é apertar a embreagem e colocar a marcha. -E dizendo isto, colocou a mão sobre a alavanca de mudanças, situada entre
os dois assentos, e lhe ensinou como devia movê-la.
- Sério, Grace. Não deveria acariciar isso dessa forma diante de mim. É uma crueldade por sua parte.
- Julián! Importaria-te emprestar atenção? Estou tentando te ensinar a trocar de marcha.
Ele soprou.
- Oxalá me trocasse as marchas do mesmo modo.
Com um brilho malicioso nos olhos, soltou a embreagem antes da conta e o carro se impregnou.
- supõe-se que isto não deveria passar, verdade? -perguntou.
- Não, a menos que queira ter um acidente.
Ele suspirou e o tentou de novo.
Uma hora mais tarde, depois que as tivesse arrumado para dar uma volta ao redor do estacionamento sem golpear os postes e sem que o carro lhe impregnasse,
Grace se deu por vencida.
- Menos mal que foi melhor general que condutor.
- Ja, ja -exclamou ele sarcásticamente, mas com um brilho no olhar que indicou ao Grace que não estava ofendido-. Quão único alegarei em minha defesa é que
o primeiro veículo que conduzi foi um carro de guerra.
Grace lhe sorriu.
- Bom, nestas ruas não estamos em guerra.
Com um olhar cético, lhe respondeu:
- Eu não diria isso depois de ter visto as notícias da noite. -Apagou o motor-. Acredito que deixarei que conduza um momento.
- Muito inteligente por sua parte. Não posso me permitir comprar um carro novo de nenhuma forma.
Saiu do carro para trocar de assento; mas ao cruzar-se à altura do porta-malas, Julián a sustentou para lhe dar um beijo tão tórrido que ela acabou enjoada.
Lhe agarrou as mãos e as sustentou sobre seus estreitos quadris enquanto mordiscava seus lábios.
Santo Deus! Uma mulher podia acostumar-se a isso com muita facilidade. Muita, muita facilidade.
Julián se separou.
- Quer me levar a casa para que te mordisque outras coisas?
Sim, isso era o que queria. E por isso não se atrevia. De fato, o beijo a tinha deixado tão transtornada que não podia nem pensar.
Julián sorriu ante o olhar extraviado e faminta do Grace. Estava observando seus lábios como se ainda pudesse saboreá-los. Nesse momento, desejou-a mais que
nunca. Desejou poder lhe arrancar a borracha do cabelo e deixar que sua juba se esparramasse sobre seu peito, uma vez estivesse tendida sobre ele.
Como desejava estar de retorno em sua casa onde pudesse lhe tirar as calças curtas e escutar seus doces murmúrios de prazer enquanto o...
- O carro -disse ela, piscando como se despertasse de um sonho-. íamos entrar no carro.
Julián lhe deu um pequeno beijo na bochecha.
Uma vez dentro do carro e com os cintos de segurança grampeados, Grace o olhou de soslaio.
- Sabe uma coisa? Acredito que há duas coisas em Nova Orleáns que deveria experimentar.
- Em primeiro lugar, tenho que te possuir em um...
- É que não vais parar?
Julián se esclareceu garganta.
- Está bem. Qual é sua lista?
- Bourbon Street e a música moderna. E de uma delas nos podemos encarregar agora mesmo. -E pôs a rádio.
riu ao reconhecer Hot Blooded do Foreigner. O que apropriado, dado seu passageiro.
Julián o escutou, mas não pareceu muito impressionado.
Grace trocou a emissora.
Ele franziu o cenho.
- O que tem feito?
- troquei que emissora. Quão único terá que fazer é apertar os botões.
Ele brincou e trocou de emissora um momento, até que encontrou Love Hurts do Nazareth.
- Sua música é interessante.
- Faz-te ter saudades a tua?
- Dado que a maioria da música que escutava procedia das trompetistas e os tambores que nos acompanhavam à batalha, não. Acredito que sou capaz de apreciar
isto.
- O que? -perguntou ela brincalhona-. A música ou o fato de que o amor faz mal?
O rosto do Julián adquiriu uma expressão séria, deixando de lado o humor.
- Posto que não conheci nunca o que é o amor, não saberia te dizer se fizer mal ou não. Mas imagino que ser amado não deve fazer tanto dano como o não sê-lo.
O peito do Grace se encolheu ante suas palavras.
- Então -disse ela trocando de tema-, o que quer fazer quando retornar a sua casa?
- Não sei.
- Provavelmente irá lhe dar uma boa patada no culo ao Escipión, verdade?
Ele riu ante a idéia.
- Já eu gostaria.
- por que? O que te fez?
- cruzou-se em meu caminho.
Vale, não era isso o que ela esperava escutar.
- E você não gosta que ninguém se cruze em seu caminho, certo?
- Gosta a ti?
Ela sopesou a pergunta antes de responder.
- Suponho que não.
Para quando chegaram ao Bourbon Street, a rua tinha sido invadida pela multidão típica de um domingo pela tarde. Grace se abanicó o rosto, lutando contra o
intenso calor.
Olhou ao Julián, que apenas se suava; as gotitas de suor lhe conferiam um novo atrativo. O cabelo úmido lhe frisava ao redor da cara e com esses óculos obscuros...
Ooooh, Senhor!
É obvio que seu atrativo ficava ainda mais enfatizada graças à camiseta branca, de mangas curtas, que aderia aos ombros e ao tablete de chocolate que tinha
por abdominais. Enquanto deixava que seu olhar vagasse até o botão de seu jeans, desejou lhe haver comprado uns mais largos.
Mas dado seu sedutor modo de andar, que dizia muito a respeito de sua confiança em si mesmo, Grace duvidava muito de que uns jeans mais largos pudessem ocultar
tão tremenda sensualidade.
Julián se deteve o passar junto a um clube de striptease. A seu favor Grace teve que admitir que nem sequer ofegou ao olhar às mulheres tão escandalosamente
vestidas, que rebolavam depois do cristal, mas sua surpresa foi bastante evidente.
lhe olhando como se queria devorá-lo, uma exótica bailarina se mordeu o lábio inferior e se passou a língua por ele de forma lhe sugiram, enquanto se tocava
os peitos. Fez-lhe um gesto com um dedo para que entrasse em local.
Julián se deu a volta.
- Alguma vez tinha visto algo assim, verdade? -perguntou Grace, tentando dissimular o mal-estar que sentia ante os gestos da mulher, e o alívio que a invadiu
ao ver a reação do Julián.
- Roma -respondeu simplesmente.
Ela riu.
- Não eram tão decadentes, ou sim?
- Surpreenderia-te saber quanto. Pelo menos aqui ninguém faz uma orgia em... -e sua voz se perdeu ao passar junto a um casal que o estava montando em uma esquina-.
Deixa-o.
Grace riu a gargalhadas.
- Ooooh Senhor! -exclamou uma prostituta, ao passar junto a outro clube, fazendo um gesto ao Julián-. Entra e lhe faço isso grátis.
Ele meneou a cabeça sem deter-se. Grace o agarrou da mão e o deteve.
- comportavam-se assim as mulheres antes da maldição?
Ele assentiu.
- Por isso o único amigo que tive foi Kyrian. Os homens que conhecia não podiam agüentar a atenção que me emprestavam; as mulheres me perseguiam ali onde estivéssemos,
tentando me arrancar a armadura.
Grace se deteve pensar por um momento.
- E você não está seguro de que todas essas mulheres lhe amassem, verdade?
Olhou-a com uma faísca de diversão.
- O amor e a luxúria não são o mesmo. Como pode amar a alguém a quem não conhece?
- Suponho que tem razão.
Seguiram caminhando pela rua.
- me conte coisas sobre seu amigo. por que não lhe importava que as mulheres ficassem com a boca aberta ao verte?
Julián sorriu, mostrando suas covinhas.
- Kyrian estava profundamente apaixonado por sua esposa, e não lhe importava nenhuma outra mulher. Jamais me viu como um competidor.
- Conheceu sua esposa?
Julián negou com a cabeça.
- Embora nunca o falamos, acredito que os dois intuíamos que seria uma má idéia.
Grace percebeu a mudança em seu rosto. Estava recordando ao Kyrian, seguro.
- Culpa-te pelo que lhe aconteceu, verdade?
Ele apertou os dentes enquanto imaginava o que devia haver sentido seu amigo ao ser capturado pelos romanos. Considerando as vontades que tinham tido de apanhá-los
a ambos, não havia dúvida do que o tinham feito sofrer antes de matá-lo.
- Sim -respondeu em voz baixa-. Sei que tenho a culpa. Se não tivesse despertado a ira do Príapo, teria estado ali para ajudar ao Kyrian a lutar contra eles.
E sabia com absoluta certeza que a desgraça do Kyrian provinha do fato de ter sido tão estúpido para ser seu amigo.
Lançou um suspiro.
- Uma vida brilhante que não deveria ter acabado assim. Se tão somente tivesse aprendido a controlar sua ousadia, teria chegado a ser um magnífico governador
-disse, agarrando a mão do Grace e lhe dando um ligeiro apertão.
Caminharam em silêncio, enquanto Grace tentava pensar no modo de animá-lo.
Ao passar pela Casa do Vodu de Enjoe Laveau, ela se deteve e o arrastou ao interior.
Explicou-lhe os orígenes do vodu enquanto percorriam o museu de miniaturas.
- Uuuh! -disse agarrando um boneco de vodu de uma estantería-. Quer vesti-lo como Príapo e lhe cravar uns quantos alfinetes?
Julián riu.
- por que não imaginar que é Rodney Carmichael?
Grace suprimiu um sorriso.
- Isso seria muito pouco profissional por minha parte, não é certo?... Mas me resulta muito tentador.
Deixou o boneco em seu sítio e se fixou no mostrador de cristal, onde estavam colocados os amuletos e a bijuteria. Justo no centro, havia um colar de contas
negras, azuis e verdes, trancadas de um modo tão intrincado que davam a sensação de ser um magro fio negro.
- Traz boa sorte a quem o leva -lhe disse a vendedora ao perceber o interesse do Grace-. Gostaria de ver o de perto?
Grace assentiu.
- Funciona?
- Sim! Está trancado seguindo um poderoso desenho.
Grace não estava muito segura de que devesse acreditar-lhe mas então recordou que, fazia apenas uma semana, jamais teria acreditado que duas mulheres bêbadas
pudessem devolver à vida a um general Macedonio.
Pagou à mulher e se aproximou do Julián.
- lhe agache -lhe disse.
Ele a olhou com cepticismo.
- Vamos! -apressou-lhe ela-. me Dê o gosto, anda.
A vendedora riu ao ver o Grace colocar o amuleto ao Julián no pescoço.
- Esse menino não necessita nenhum tipo de sorte para aumentar seu encanto. O que precisa é um feitiço que disperse a atenção de todas essas mulheres que lhe
estão olhando o traseiro agora que está agachado.
Grace olhou por cima do ombro do Julián e observou a três mulheres que babavam ao lhe olhar o culo. Pela primeira vez, sentiu um horrível golpe de ciúmes.
Mas a sensação se evaporou por completo quando Julián lhe deu um carinhoso beijo na bochecha antes de incorporar-se. Com um olhar diabólico, passou-lhe um
braço ao redor dos ombros em um gesto possessivo.
Ao passar junto às mulheres, Grace não pôde suprimir um travesso impulso. deteve-se junto a elas e as interpelou.
- Por certo, nu está muitíssimo melhor.
- E você que não perde oportunidade de comprová-lo, carinho -comentou Julián enquanto ficava os óculos de sol e começava a andar com o braço ainda sobre seus
ombros.
Lhe aconteceu a mão pela cintura e a meteu no bolso dianteiro da calça, enquanto ele a atraía mais para seu corpo.
- Sabe uma coisa? -sussurrou-lhe ao ouvido-. Se baixasse a mão um poquito mais, não me importaria absolutamente.
Lhe deu um pequeno apertão, mas deixou a mão onde estava.
Os olhares de inveja das mulheres os perseguiram enquanto se afastavam caminhando pela calçada.
Para jantar, Grace levou ao Julián à a Marisquería do Mike Anderson. Fez uma careta ao ver que depositavam um prato de ostras para o Julián sobre a mesa.
- Puaj! -exclamou ela quando ele se comeu uma.
Muito ofendido, Julián soprou.
- Estão deliciosas.
- Para nada.
- Isso é porque não sabe como tem que as comer.
- Claro que sei. Abre a boca e deixa que esse inseto viscoso se deslize por sua garganta.
Julián bebeu um gole de sua cerveja.
- Essa é uma forma das comer.
- Assim acaba de fazê-lo você.
- Certo, mas você não gostaria de provar outro modo?
Ela se mordeu o lábio, indecisa. Algo no comportamento do Julián lhe indicava que podia ser perigoso aceitar seu desafio.
- Não sei.
- Confia em mim?
- Não muito -soprou ela.
Ele se encolheu de ombros e deu outro gole à cerveja.
- Você lhe perde isso.
- Vale, está bem! -rendeu-se ela, muito curiosa para continuar negando-se-. Mas se me derem arcadas, recorda que lhe adverti isso.
Julián atirou da cadeira do Grace com os talões até colocá-la a seu lado, tão perto que suas coxas se roçavam. secou-se as mãos nos jeans, e agarrou a ostra
mais pequena.
- Muito bem então -lhe sussurrou ao ouvido e lhe aconteceu o outro braço pelos ombros-. Joga a cabeça para trás.
Grace obedeceu. Ele deslizou os dedos por sua garganta, lhe causando uma quebra de onda de calafrios. Ela tragou, surpreendida pela ternura de suas carícias.
Surpreendida pelo bem que se sentia com ele a seu lado.
- Abre a boca -lhe disse em voz baixa, enquanto lhe roçava o pescoço com o nariz.
Ela voltou a obedecer.
Julián deixou que a ostra escorregasse até sua boca. Quando Grace a tragou e começou a descer por sua garganta, Julián passou a língua por seu pescoço em direção
contrária.
Grace se estremeceu ante a inesperada sensação. Os mamilos lhe endureceram e um milhão de calafrios percorreram sua pele. Era incrível! E pela primeira vez,
não lhe importou para nada o sabor da ostra.
- Gostou-te? -perguntou-lhe, brincalhão.
Ela não pôde evitar sorrir.
- É incorrigível.
- Isso intento.
- E o consegue às mil maravilhas.
antes de que Julián pudesse responder, soou seu telefone móvel.
- Puf! -soprou enquanto o tirava da bolsa. Quem quer que fosse, já podia ter algo importante que lhe dizer.
Respondeu.
- Grace?
Ela se encolheu ao escutar a voz do Rodney.
- Senhor Carmichael, como conseguiu este número de telefone?
- Estava pontudo em seu Rodolex. Vim a sua casa a verte, mas não está -e suspirou-. Estava desejando acontecer o dia contigo. Temos uma conversação pendente.
Mas não passa nada. Posso me reunir contigo, está no Bairro Francês com seu amiga a vidente?
O medo a paralisou.
- Como conhece meu amiga?
- Sei muitas coisas de ti, Grace. Mmm! -resmungou em voz baixa-. Perfuma as gavetas de sua roupa interior com composição de rosas.
O terror a possuiu por completo e não pôde mover-se. Começaram a lhe tremer as mãos.
- Está em minha casa?
Podia ouvir como abria e fechava as gavetas de sua cômoda, através do telefone. De repente, o tipo soltou uma maldição.
- Zorra! -espetou Rodney-. Quem é ele? Com quem coño te estiveste deitando?
- Isso...
A comunicação se cortou.
Grace estava tremendo, tanto que apenas se podia respirar quando pendurou o telefone.
- O que acontece? -perguntou-lhe Julián, com o cenho franzido pela preocupação.
- Rodney está em minha casa -lhe disse com voz tremente. Marcou imediatamente o número da polícia para notificá-lo.
- Encontraremo-nos ali -lhe informou o agente-. Não entre em seu domicílio até que cheguemos.
- Não se preocupe, não o farei.
Julián lhe agarrou as mãos.
- Está tremendo.
- Não me diga! Resulta que tenho a um psicopata metido em minha casa, farejando minha lingerie e me insultando. por que ia tremer?
Seus olhos de azul profundo a tranqüilizaram com um olhar protetor. Apertou-lhe as mãos brandamente.
- Sabe que não vou permitir que te faça mal.
- Agradeço-lhe isso muito, Julián. Mas este homem está...
- Morto se se aproxima de ti. Sabe que não te abandonarei.
- Pelo menos não até a próxima lua enche.
Julián apartou o olhar e ela assimilou a verdade.
- Não passa nada -disse ela com valentia-. Posso me fazer carrego disto, de verdade. estive sozinha durante anos. Esta não é a primeira vez que um cliente
me acossa. E duvido muito que vá ser o último.
Os olhos do Julián lançaram labaredas azuis quando a olhou.
- Quantos de seus pacientes lhe acossaram?
- Não é seu problema, a não ser o meu.
Julián seguiu olhando-a como se estivesse a ponto de estrangulá-la.
Capítulo 12
Chegaram a casa ao mesmo tempo que a polícia.
O jovem e musculoso agente olhou com suspicacia ao Julián.
- Quem é?
- Um amigo -lhe respondeu Grace.
O policial alargou a mão para ela.
- De acordo, me dê as chaves e nos deixe jogar uma olhada. O agente Reynolds ficará com vocês aqui fora até que o revisemos tudo.
Grace entregou obedientemente o jogo de chaves.
Começou a mordiscá-las unhas enquanto observava como o policial entrava em seu lar.
Por favor, que Rodney Carmichael esteja dentro ainda.
Mas não estava. O policial saiu pouco depois meneando a cabeça.
- Joder! -exclamou Grace em voz baixa.
O agente Reynolds a acompanhou até a casa e Julián os seguiu um pouco atrasado.
- Necessitamos que entre e jogue uma olhada para ver se falta algo.
- Fez algum desastre? -perguntou ela.
- Só nos dormitórios.
Com o coração em um punho, Grace entrou em sua casa e subiu as escadas para ir a sua habitação.
Julián a seguiu e observou como se mantinha rígida e distante. Tinha o rosto tão pálido que as sardas resultavam muito mais evidentes. Poderia matar ao tipo
que lhe tinha feito isto. Nenhuma mulher deveria passar tanto medo, especialmente em seu próprio lar.
Quando chegaram ao piso superior, Julián viu que a porta da habitação do final do corredor estava entreabierta. Grace correu para ali.
- Não! -ofegou.
apressou-se a segui-la.
Julián começou a vê-lo tudo vermelho ao contemplar o sofrimento que refletia o rosto do Grace. Podia sentir sua dor no coração como se fosse o seu próprio.
As lágrimas se deslizavam por suas bochechas enquanto observava a desordem. O colchão estava atirado no chão, os lençóis rasgados, as gavetas abertas e seu
conteúdo esparso, como se Zéfiro tivesse passado por ali em metade de um arranque de mau humor.
Julián lhe colocou as mãos sobre os ombros para reconfortá-la.
- Como pôde lhe fazer isto a sua habitação? -perguntou Grace.
- De quem é esta habitação? -perguntou o agente Reynolds-. Acreditava que vivia sozinha.
- E o faço. Esta era a habitação de meus pais. Morreram faz tempo -olhou a um e outro lado, incrédula. Uma coisa era que fosse atrás dela, mas por que tinha
feito isto?
Contemplou a roupa pulverizada pelo chão; roupa que lhe trazia para a memória tantas lembranças maravilhosas... As camisas que seu pai levava a trabalho; o
pulôver favorito de sua mãe e que sempre lhe pedia emprestado; quão pendentes seu pai tinha agradável a sua mãe em seu último aniversário de bodas. Tudo estava esparramado
pela habitação, como se não tivesse valor algum.
Mas para ela eram objetos muito valiosos. Era o único que ficava deles. A dor lhe rasgava o coração.
- Como pôde fazê-lo? -perguntou, enquanto a raiva se abria passo em seu interior.
Julián a atraiu para seus braços e a sustentou com força.
- Não passa nada, Grace -murmurou sobre seu cabelo.
Mas sim que acontecia. Grace duvidava poder superar aquilo alguma vez. Não podia deixar de pensar nas mãos desse animal tocando a roupa de sua mãe ou rasgando
os lençóis. Como se tinha atrevido!
Julián olhou ao agente de polícia.
- Não se preocupe -disse o homem-, encontraremos ao tipo.
- E depois o que? -perguntou Julián.
- Isso terá que decidi-lo um tribunal.
Julián o olhou de cima abaixo e soltou um grunhido, enojado. Tribunais. Não entendia como um tribunal moderno podia permitir que um animal assim estivesse
solto.
- Sei que tudo isto é duro -comentou o agente-. Mas necessitamos que comprove se se levou algo, doutora Alexander.
Ela assentiu.
Ao Julián surpreendeu a coragem que demonstrou ao se desprender de seu abraço e limpá-las lágrimas. Começou a inspecionar todo aquele desastre. Ele se ajoelhou
a seu lado; queria estar perto se por acaso o necessitava de novo.
depois de comprová-lo todo concienzudamente, Grace cruzou os braços sobre o peito e lançou um rápido olhar ao agente.
- Não falta nada -lhe disse, e saiu da habitação para ir à sua.
Entrou nela com muita apreensão. Uma rápida olhada lhe indicou que seu dormitório tinha sofrido os mesmos danos que o de seus pais. Tinha registrado meticulosamente
tanto a roupa do Julián como a sua. Toda a lingerie estava tiragem pelo chão, tinha esmigalhado os lençóis e o colchão estava inclinado.
Oxalá Rodney tivesse encontrado a espada do Julián sob a cama e tivesse cometido o engano de tocá-la. Isso sim que teria sido uma justa recompensa.
Mas não a tinha visto. De fato, o escudo ainda seguia apoiado sobre a parede, junto à cama, onde ele o deixou.
Grace se sentia quase violada ao contemplar toda sua roupa pulverizada pela habitação; como se as mãos do Rodney houvessem meio doido seu corpo.
Nesse momento, viu a porta do vestidor ligeiramente aberta. Estava morto de medo enquanto se aproximava para abri-la e olhar no interior. Então se sentiu como
se o tipo lhe tivesse arrancado o coração e o tivesse esmagado.
- Meus livros -murmurou.
Julián cruzou a habitação para ver o que Grace estava olhando. ficou sem respiração ao chegar junto a ela.
Todos os livros tinham sido destroçados.
- Meus livros não -balbuciou, caindo de joelhos.
Tremia-lhe a mão ao passá-la sobre as folhas dos livros que seu pai tinha escrito. Eram insubstituíveis. Jamais poderia abri-los de novo e escutar sua voz
lhe falando do passado. Não poderia abrir Beleza Negra e ouvir sua mãe enquanto o lia.
Tudo tinha desaparecido.
Rodney Carmichael acabava de matar de novo a seus pais.
Grace se fixou então no que ficava de sua exemplar de La Ilíada. Os olhos lhe encheram de lágrimas ao recordar a expressão do Julián enquanto passava suas
páginas. As horas que tinham acontecido juntos enquanto ela o lia. Tinham sido uns momentos muito especiais, mágicos; os duas tombados frente ao sofá, perdidos na
história, como se tivessem estado em um reino privado, só deles dois. Seu próprio paraíso.
- Destroçou-os todos -murmurou-. Deus! deveu acontecer horas aqui.
- Senhora, só são...
Julián agarrou ao agente Reynolds pelo braço e o tirou da habitação.
- Para ela são muito mais que simples livros -lhe disse entre dentes-. Não se atreva a burlar-se de sua dor.
- Vá! -exclamou o homem envergonhado-. O sinto.
Julián voltou junto ao Grace.
Soluçava incontrolablemente enquanto passava as mãos sobre as folhas soltas.
- por que o tem feito?
Ele a levantou, tirou-a do vestidor e a deitou na cama. Ela não o soltou. aferrava-se a ele com tanta força que ao Julián custava trabalho respirar, e chorava
como se o coração estivesse rompendo-se o a pedaços.
Nesse momento, Julián quis matar ao homem que lhe tinha feito isto.
Soou o telefone.
Grace gritou e lutou para incorporar-se.
- Shh -lhe disse Julián, enquanto lhe limpava as lágrimas e a sustentava, impedindo que se movesse-. Não passa nada. Estou aqui, contigo.
O agente Reynolds lhe aconteceu o telefone.
- Responda, se por acaso é ele.
Julián olhou com fúria ao homem. Como podia ser tão insensível? Como podia lhe pedir que falasse com esse cão raivoso?
- Olá, Selena -saudou Grace, e voltou a estalar em lágrimas enquanto contava a seu amiga o que tinha acontecido.
A mente do Julián bulia ao pensar no homem que tinha invadido a casa do Grace e a tinha ferido tão profundamente. O que mais lhe preocupava era que o tipo
sabia onde golpear. Conhecia o Grace. Sabia o que era importante para ela.
E isso o fazia muito mais perigoso do que a polícia suspeitava.
Ela pendurou o telefone.
- Sinto muito ter perdido o controle -disse, limpando-as lágrimas-. foi um dia muito comprido.
- Sim, senhora, entendemo-lo.
Julián observou como se recompunha; Grace tinha uma força de vontade que muito poucos homens possuíam.
Acompanhou à polícia pelo resto da casa.
- Não deve ter visto este livro -disse um dos agentes com o livro do Julián na mão, oferecendo-lhe a ela.
Julián o agarrou das mãos do Grace. Ao contrário que o agente, ele não estava tão seguro. Se o bastardo tinha tentado rompê-lo, teria se levado uma desagradável
surpresa.
Não podia ser destruído. Ele mesmo tinha tentado fazê-lo em incontáveis ocasione ao longo dos séculos. Mas nem sequer o fogo fazia trinca nele. O livro lhe
fez recordar as palavras do Grace.
Ele se iria em uns quantos dias e ela ficaria sozinha, sem ninguém que a protegesse. E essa idéia o adoecia.
Os agentes partiram no mesmo instante que Selena chegava em seu carro. Saiu do Jipe acompanhada de um homem alto e moreno que levava o braço em um tipóia.
Selena virtualmente correu até a porta.
- Está bem? -perguntou ao Grace enquanto a abraçava com força.
- Sim -lhe respondeu ela. Olhou sobre seu ombro e então saudou o homem-. Olá Bill.
- Olá Grace. viemos a te dar uma mão.
Apresentou ao Julián e os quatro entraram na casa.
Julián deteve a Selena logo que estiveram dentro, e a levou à parte.
- Pode mantê-la um momento aqui embaixo?
- por que?
- Tenho que me ocupar de algo.
Selena franziu o cenho.
- Claro, não há problema.
Esperou até que Selena e seu marido sentaram ao Grace no sofá. Então, foi à cozinha, agarrou um par de bolsas de lixo e se encaminhou ao vestidor.
Tão rápido como pôde, começou a ordenar todo aquele desastre para que Grace não tivesse que vê-lo de novo. Mas com cada parte de papel que tocava, sua ira
crescia.
Uma e outra vez ia a sua mente a tenra expressão do Grace enquanto procurava um livro entre toda sua coleção. Se fechava os olhos podia ver seu cabelo esparramado
sobre seu peito enquanto lia.
Nesse momento, quis o sangue deste tipo.
- Joder! -exclamou Bill da porta-. Isto o tem feito ele?
- Sim.
- Tio, miúdo psicopata.
Julián não disse nada e continuou arrojando os papéis à bolsa. Sua alma gritava, clamando vingança. O que sentia para o Príapo era uma leve sombra do que nesses
momentos passava por sua mente.
Uma coisa era fazer machuco a ele. Mas ferir o Grace...
Já podiam ter as Parcas compaixão desse tipo, porque ele não pensava ter nenhuma.
- Leva muito saindo com o Grace?
- Não.
- Isso me parecia. Selena não te mencionou, mas pensando-o bem, tampouco se mostrou tão preocupada porque Grace ficasse sozinha desde seu aniversário. Suponho
que lhes conheceram então.
- Sim.
- Sim, não, sim. Não é muito falador, verdade?
- Não.
- Vale, agarrei-o. Até mais tarde.
Julián se deteve quando encontrou a coberta do Peter Pão. Agarrou-a e apertou os dentes. A dor o assaltou de novo. Esse livro era o preferido do Grace.
Apertou-o com força um instante e depois o jogou na bolsa com o resto.
Grace não foi consciente do tempo que passou sentada no sofá, sem mover-se. Só sabia que se encontrava muito mal. O golpe do Rodney tinha sido muito forte.
Selena lhe trouxe uma taça de chocolate quente.
Ela tentou beber, mas lhe tremiam tanto as mãos que teve medo de derramá-lo e o deixou a um lado.
- Suponho que preciso limpá-lo tudo.
- Já o está fazendo Julián -lhe disse Bill, que estava sentado na poltrona fazendo zapping.
Grace franziu o cenho.
- O que?, desde quando?
- Recentemente estava acima, recolhendo-o tudo no vestidor.
Boquiaberta pela surpresa, Grace subiu em sua busca.
Julián estava na habitação de seus pais. Da porta, observou como acaba de pôr ordem e se endireitava. Dobrou as calças de seu pai de um modo que faria que
Martha Stewart fizesse uma careta de dor, colocou-os na gaveta e o fechou.
A ternura a invadiu ante a imagem do que fora um legendário general ordenando sua casa para evitar que ela sofresse. Sua delicadeza lhe chegou ao coração.
Julián elevou os olhos e descobriu ao Grace. A funda preocupação que refletiam seus olhos azuis a reconfortou.
- Obrigado -disse ela.
Ele se encolheu de ombros.
- Não tinha outra coisa que fazer. -Embora o disse com um tom despreocupado, algo em sua atitude traía sua pretendida indiferença.
- Ainda assim, agradeço-lhe isso muito -lhe disse ela enquanto entrava e olhava todo o trabalho que tinha feito. Com o coração na garganta, colocou as mãos
sobre a cama desta mogno era a cama de minha avó -lhe disse-. Ainda escuto a voz de minha mãe quando me contava como meu avô a fez para ela. Era carpinteiro.
Com a mandíbula tensa, Julián contemplou a mão do Grace.
- É duro, verdade?
- O que?
- Deixar que os seres amados se vão.
Grace sabia que Julián falava do fundo de seu coração. O coração de um pai que tinha saudades a seus filhos.
Embora o pesadelo já não lhe perseguisse pelas noites, lhe ouvia sussurrar seus nomes, e se perguntava se era consciente da freqüência com a que sonhava com
eles. perguntava-se quantas vezes ao dia pensava neles e sofria por sua morte.
- Sim -lhe respondeu em voz baixa-, mas você sabe melhor que eu, não é certo?
Julián não respondeu.
Grace deixou que seu olhar vagasse pela habitação.
- Suponho que já vai sendo hora de seguir adiante, mas te juro que ainda posso escutá-los, senti-los.
- É seu amor o que percebe. Ainda está dentro de ti.
- Sabe? acredito que tem razão.
- Né! -gritou Selena da porta, interrompendo-os-. Bill está encarregando uma pizza, gosta de comer algo?
- Sim -respondeu Grace.
- E você? -perguntou- Selena ao Julián.
Julián sorriu ao Grace.
- eu adoraria comer pizza.
Grace soltou uma gargalhada ao recordar como Julián lhe tinha pedido pizza a noite que o invocaram.
- Vale -disse Selena-, pizza para todos.
Julián deu ao Grace os anéis de sua mãe.
- Encontrei-os no chão.
aproximou-se da cômoda para guardá-los, mas se deteve. Em lugar disso, os colocou na mão direita e, pela primeira vez depois de uns quantos anos, sentiu-se
reconfortada ao vê-los.
Ao sair da habitação, Julián fechou a porta.
- Não -lhe disse Grace-, deixa-a aberta.
- Está segura?
Ela assentiu.
Quando entraram em seu dormitório, viu que Julián também o tinha ordenado. Mas ao contemplar as estanterías que tinham guardado seus livros, agora vazias,
lhe rompeu de novo o coração.
Nesta ocasião não protestou quando Julián fechou a porta.
Horas mais tarde e depois de ter comido, Grace pôde convencer a Selena e ao Bill de que se fossem.
- Estou bem, de verdade -lhes assegurou por enésima vez na porta. Agradecida pela presença do Julián, colocou a mão sobre seu braço-. Além disso, tenho ao
Julián.
Selena a olhou com severidade.
- Se necessitar algo, chama-me.
- Farei-o.
Sem sentir-se segura de tudo, Grace fechou a porta principal e subiu à habitação. Julián a seguiu.
tombaram-se na cama, um junto ao outro.
- Sinto-me tão vulnerável... -sussurrou.
Lhe acariciou o cabelo.
- Sei. Fecha os olhos e dorme tranqüila. Estou aqui. Eu te manterei a salvo.
Rodeou-a com seus braços e ela suspirou, reconfortada. Ninguém a tinha consolado nunca como ele o fazia.
Demorou horas em dormir. Quando o fez, estava rendida.
despertou com um silencioso grito.
- Estou aqui, Grace.
Escutou a voz do Julián a seu lado e se acalmou imediatamente.
- Graças a Deus que é você -murmurou-. Tinha um pesadelo.
Julián depositou um ligeiro beijo em seu ombro.
- Sei.
Lhe deu um apertão na mão antes de sair da cama e preparar-se para ir ao trabalho.
Quando tentou vestir-se, tremiam-lhe tanto as mãos que não foi capaz de abotoá-la camisa.
- me deixe -se ofereceu Julián, lhe apartando as mãos para poder fazê-lo ele-. Não tem por que estar assustada, Grace. Não deixarei que esse tipo te faça nada.
- Sei. Sei que a polícia o apanhará e, então, tudo terá acabado.
Ele não respondeu, e seguiu ajudando-a a colocá-la roupa.
Uma vez estiveram preparados, Grace conduziu até a consulta, situada no centro da cidade. Tinha um nó tão grande no estômago que lhe custava respirar. Mas
não podia encerrar-se. Não ia deixar que Rodney controlasse sua vida. Ela era a que levava as rédeas e ninguém ia trocar isso. Não sem lutar.
Não obstante, estava muito agradecida pela presença do Julián. Reconfortava-a de tal modo que não queria pensar muito a fundo no porquê.
- Como se chama isto? -perguntou Julián quando entraram em antigo elevador do edifício de finais de século.
Lhe ensinou como atirar para fechar a porta e, imediatamente, percebeu o desconforto do Julián ao ficar encerrados.
- É um elevador -lhe explicou Grace-. Aperta estes botões e sobe à planta que quer. Eu trabalho no último piso, que é o oitavo. -E apertou o botão de desenho
antigo.
Julián ficou ainda mais nervoso quando começaram a ascender.
- É seguro?
Ela elevou uma sobrancelha e o olhou com curiosidade.
- Não me posso acreditar que o homem que se enfrentava sem medo aos exércitos romanos esteja agora assustado de um simples elevador.
Julián lhe dedicou um olhar irritado.
- Sei o que são os romanos, mas isto me resulta desconhecido
Grace lhe rodeou o braço com o seu.
- Não é muito complicado. -Assinalou a trampilla do teto-. Sobre essa puertecilla há uns cabos que sobem e baixam a cabine, e também há um telefone -disse,
assinalando o intercomunicador situado sob os botões-. Se o elevador fica entupido, quão único terá que fazer é apertar o botão do telefone e, a equipe de emergência
acudirá imediatamente.
Os olhos do Julián se obscureceram.
- E está acostumado a ficar entupido com muita freqüência?
- A verdade, não. Levo trabalhando neste edifício quatro anos e não aconteceu nenhuma só vez.
- E se não estava dentro, como sabe?
- Os elevadores têm um alarme que se ativa se ficam entupidos. Confia em mim, se ficamos encerrados aqui dentro alguém nos ouvirá.
Julián deixou vagar seu olhar ao redor do reduzido espaço e, pela luz que havia em seus olhos Grace soube as malvadas idéias que lhe passavam pela cabeça.
- Pode fazer que se detenha a propósito?
Ela riu a gargalhadas.
- Sim, mas não quero que me pilhem em flagrante delicto no trabalho.
Ele inclinou a cabeça e depositou um leve beijo em sua bochecha.
- Mas ser pilhado em flagrante delicto no trabalho pode ser muito divertido.
Grace o abraçou com força. O que havia nele que o fazia sentir-se feliz? Sem importar o que ocorresse, Julián sempre conseguia que as coisas fossem muito mais
divertidas. Mais brilhantes.
- É mau -lhe disse, e se separou dele a contra gosto.
- Certo, mas você adora.
Ela voltou a rir.
- Tem toda a razão. eu adoro que seja mau.
Comporta-as se abriram e Grace se encaminhou para sua consulta, situada muito perto do elevador. Julián a seguiu.
Lisa os olhou quando entraram e abriu os olhos de par em par. Seus lábios desenharam um amplo sorriso ao contemplar ao Julián.
- Doutora Grace -disse, brincando com uma mecha loira de seus cabelos-, seu noivo é uma bomba.
Meneando a cabeça, Grace os apresentou e, depois, ensino ao Julián sua consulta. Ele ficou de pé, observando através dos ventanales enquanto Grace acendia
o ordenador e deixava a bolsa na gaveta de seu escritório.
Ela se deteve o perceber que Julián a olhava fixamente.
- De verdade vais passar te todo o dia aqui?
Ele se encolheu de ombros.
- Não tenho nada melhor que fazer.
- Te vais aborrecer.
- Asseguro-te que estou mais que acostumado ao aborrecimento.
O mau era que Grace sabia. Colocou uma mão sobre sua bochecha ao imaginar-lhe dentro do livro, sozinho, encerrado na mais completa escuridão.
ficou nas pontas dos pés e o beijou com ternura.
- Obrigado por me acompanhar hoje. Não acredito que tivesse podido estar aqui de não ser por ti.
Ele mordiscou seus lábios.
- É um prazer.
Lisa a chamou pelo intercomunicador.
- Doutora Grace, sua entrevista das oito está aqui.
- Esperarei fora -lhe disse Julián.
Grace lhe deu um apertão na mão antes de deixar que partisse.
Durante a seguinte hora, não foi capaz de concentrar-se em seu paciente. Seus pensamentos voavam ao homem que a aguardava fora, e não paravam de dar voltas
ao muito que significava para ela.
E a quão aborrecível encontrava o fato de que partisse.
logo que acabou a sessão, acompanhou a seu paciente à porta.
Lisa estava ensinando ao Julián a fazer solitários no ordenador.
- Doutora Grace -lhe disse-, sabe que Julián não tinha jogado antes ao solitário?
Grace intercambiou um sorriso faiscante com o Julián.
- Sério?
Lisa se separou do Julián para jogar uma olhada à agenda.
- Por certo, sua entrevista das três foi cancelada. E a das nove chamou para dizer que chegará uns minutos tarde.
- De acordo. -Grace assinalou à porta com o polegar-. Enquanto jogam, vou um momento ao carro. Esqueci meu Palm Pilot.
Julián elevou o olhar.
- Eu irei.
Grace negou com a cabeça.
- Eu posso fazê-lo.
Sem lhe responder, ele rodeou o escritório da Lisa e estendeu a mão para que Grace lhe desse as chaves.
- Eu irei -disse com um tom que não admitia réplicas.
Como não tinha vontades de discutir, deu-lhe as chaves.
- Está sob meu assento.
- Vale, não demorarei nada.
Grace lhe fez uma saudação militar.
Com gesto de poucos amigos, saiu do escritório e se encaminhou para o elevador, ao final do corredor.
ia apertar o botão quando se deteve. Pelos deuses!, como odiava essa coisa estreita e quadrada.
E a idéia de estar ali dentro, sozinho...
Jogou uma olhada a seu redor e viu as escadas. Sem duvidá-lo nem um instante, dirigiu-se para elas.
Grace estava tentando encontrar o relatório do Rachel em sua maleta, mas caiu na conta de que tinha deixado um par de arquivos no assento traseiro do carro.
- Onde tenho hoje a cabeça? -repreendeu-se. Mas não fez falta que pensasse muito a resposta. Seus pensamentos estavam divididos entre dois homens que tinham
alterado sua vida por completo.
Zangada consigo mesma por não ser capaz de concentrar-se, agarrou a maleta e saiu da consulta, detrás do Julián.
- Onde vai, Doutora? -perguntou-lhe Lisa.
- Deixei-me uns quantos informe no carro. Não demoro.
Lisa assentiu.
Grace se aproximou do elevador. Ainda estava rebuscando na maleta em busca dos arquivos quando se abriram as portas.
Sem emprestar muita atenção, entrou em ao elevador e, de forma automática, apertou o botão da planta baixa.
Justo quando as comporta se fecharam, precaveu-se de que não estava sozinha.
Rodney Carmichael estava justo em frente, olhando-a fixamente.
- Me vais dizer quem é ele?
Grace ficou geada enquanto a invadiam o terror e a fúria. Sentia desejos de despedaçá-lo! Mas embora sua altura fosse escassa para ser um homem, ainda lhe
tirava uma cabeça.
E era muito instável.
Ocultando o pânico, lhe falou com calma
- O que faz você aqui?
Ele fez uma careta.
- Não me respondeste. Quero saber de quem era a roupa que havia em sua casa.
- Isso não é de sua incumbência.
- Não diga tolices! -chiou.
balançava-se ao bordo da loucura e quão último Grace precisava era que ele se afundasse no abismo enquanto estivessem encerrados no elevador.
- Tudo o que te rodeia é meu assunto.
Grace tentou fazer-se com o controle da situação.
- me escute, senhor Carmichael. Não lhe conheço de nada, e você não me conhece . Não entendo por que se obcecou comigo, mas quero que esta situação chegue
a seu fim.
Ele apertou o botão que detinha o elevador.
- Agora, me vais escutar, Grace. Parecemos o um para o outro. Sabe igual a eu.
- Muito bem -lhe respondeu ela, tentando apaziguá-lo-. vamos discutir isto em minha consulta. -E apertou o botão para que o elevador começasse a mover-se de
novo.
Ele voltou a detê-lo.
- Falaremos aqui.
Grace tomou uma profunda baforada de ar; as mãos começavam a lhe tremer. Tinha que sair dali sem zangá-lo ainda mais.
- Estaríamos muito mais cômodos em minha consulta.
Nesta ocasião, quando ela foi apertar o botão lhe agarrou a mão.
- por que não fala comigo? -perguntou-lhe ele.
- Estamos falando -respondeu Grace enquanto se aproximava lentamente ao intercomunicador.
- Arrumado a que falas com ele, verdade? Arrumado a que passas horas rendo e fazendo Deus sabe que coisas com ele. me diga quem é.
- Senhor Carmichael...
- Rodney! -gritou-. Maldita seja! Meu nome é Rodney.
- Vale, Rodney. Vamos a...
- Arrumado a que te pôs suas sujas mãos em cima, verdade? -perguntou-lhe enquanto a aprisionava no rincão, de costas ao telefone-. Quantas vezes te deitaste
com ele desde que me conheceu, né?
Grace se estremeceu ante o selvagem olhar daqueles olhos, pequenos e brilhantes. Estava perdendo o controle de sua mente.
Grace tentou agarrar o auricular mas, antes de poder aproximar-lhe à orelha, ele o agarrou.
- Que coño está fazendo? -perguntou-lhe ele.
- Necessita ajuda.
Rodney estrelou o auricular contra o painel de botões.
- Não necessito nenhuma ajuda. Só necessito que fale comigo. É que não me ouve? Só necessito que fale comigo! -gritou, enquanto estrelava o telefone contra
o painel, enfatizando cada palavra com um golpe.
Aterrorizada, Grace contemplou como o auricular se fazia pedaços. Rodney começou a atirar do cabelo.
- Beijou-te, sei. -Repetia uma e outra vez a mesma frase, enquanto se arrancava o cabelo a puxões.
Santo Deus! Estava apanhada com um louco.
E não havia saída.
Julián retornou à consulta do Grace com o Palm Pilot.
- Onde está Grace? -perguntou a Lisa ao não encontrá-la em seu escritório.
- Não se encontrou com ela? Saiu uns minutos depois que você. Ia a seu carro.
Julián franziu o cenho.
- Está segura?
- Claro. Disse que se deixou uns informe ou algo.
antes de poder lhe perguntar qualquer outra coisa, uma atrativa mulher afroamericana vestida com um conservador traje negro e com uma maleta na mão, entrou
no escritório.
deteve-se na porta e se tirou um sapato com um chute, para esfregar o talão.
- Definitivamente, hoje é segunda-feira -disse a Lisa-. Só faltava ter que subir oito pisos pela escada porque o elevador se ficou entupido. E agora, que maravilhosas
notícias tem para mim?
- Olá, doutora Beth -a saudou Lisa alegremente, enquanto passava a mão sobre o livro de entrevistas-. Sua entrevista das nove é Rodney Carmichael.
Julián ficou paralisado.
- OH, não. Espere -disse Lisa-. Essa entrevista é da doutora Grace. A sua...
- Há dito Rodney Carmichael? -perguntou-lhe à secretária.
- Sim. Chamou para trocar a entrevista.
Julián não esperou a que Lisa terminasse de falar. Arrojou o Palm Pilot sobre o escritório e saiu correndo do escritório para o elevador. Com o coração pulsando
desbocado, só podia pensar em chegar até o Grace o mais rápido possível.
Foi então quando compreendeu que o ruído que tinha estado escutando era um alarme.
Um calafrio de terror lhe percorreu as costas ao compreender o que tinha acontecido. Rodney tinha detido o elevador com o Grace dentro. Estava seguro.
De repente, escutou-se um grito sufocado depois das portas fechadas do elevador.
Com a visão nublada pela fúria e o medo, atirou das portas até as abrir.
E ficou gelado.
Não se via o elevador. Só um abismo negro, muito parecido ao livro. Pior ainda, baixar por ali seria como descender para seu inferno. Um inferno escuro, asfixiante
e estreito.
Lutou para poder respirar e superar o medo.
Em seu coração, sabia que Grace estava ali abaixo. Só com um louco e sem ninguém que a ajudasse.
Apertando os dentes, deu um passo para trás e tomou impulsionou para alcançar de um salto os cabos.
Grace apartou ao Rodney com um violento empurrão.
- Não vou compartilhar te com ninguém! -grunhiu ele, agarrando-a de novo pelo braço-. É minha.
- Não pertenço a ninguém -respondeu ela, propinándole um joelhada na entrepierna.
O homem caiu de joelhos ao chão.
Desesperada-se, Grace tentou subir pelas barras laterais para poder alcançar a trampilla do teto. Se pudesse chegar até ali...
Rodney a agarrou pela cintura e a estrelou de costas contra o rincão.
Com o rosto contraído pela fúria, colocou os braços a ambos os lados do Grace.
- me diga como se chama o homem que esteve dentro de ti, Grace! diga-me isso para que saiba a quem tenho que matar.
Com um arrepiante olhar em seus olhos vazios, começou a arranhar o rosto e o pescoço até fazer-se sangrar.
- Não sabe que é minha mulher? vamos estar juntos. Sei como cuidar de ti. Sei o que necessita. Sou muito melhor que ele!
Grace se agachou, para afastar-se um pouco dele, tirou-se os sapatos de salto e os agarrou. Não é que fossem as melhores arma, mas eram melhor que nada.
- Quero saber com quem estiveste! -chiou ele.
No mesmo instante em que Rodney dava um passo para trás, a trampilla se abriu. Grace olhou para cima.
Julián se atirou do oco e caiu agachado como um sigiloso depredador. Rodeava-o um aura de perigosa tranqüilidade, mas a expressão de seus olhos era ainda mais
terrorífica. Iluminados pela ira do inferno, estavam cravados no Rodney com mortal determinação, e lançavam fogo.
ficou em pé lentamente, até endireitar de tudo.
Rodney ficou paralisado ao ser consciente da altura do Julián.
- Quem coño é você?
- O homem com o que ela esteve.
Rodney abriu a boca pela surpresa.
Julián olhou escuetamente ao Grace para assegurar-se de que se encontrava sã e salva, e voltou sua atenção de novo ao Rodney, lançando um rugido.
Esmagou ao tipo contra a parede com tanta força que Grace pensou que tinham deixado um sinal nos painéis de madeira.
Julián o agarrou pela camisa e voltou a golpeá-lo contra a parede.
Quando falou, a frieza de sua voz fez que Grace se estremecesse.
- É uma pena que não seja o suficientemente grande para poder te matar, porque quero verte morto -lhe disse apertando os punhos-. Mas pequeno ou não, se voltar
a te encontrar perto do Grace outra vez ou faz que derrame uma só lágrima mais, não haverá força neste mundo nem no mais à frente que me impeça de te fazer migalhas.
Entendeste-o?
Rodney lutou inutilmente para escapar dos punhos do Julián.
- É minha! Matarei-te antes de que te interponha entre nós.
Julián inclinou a cabeça como se não pudesse acreditar o que acabava de ouvir.
- Está louco?
Rodney lançou uma patada ao ventre do Julián.
Lhe deu um murro na mandíbula com os olhos escurecidos. Rodney caiu enfraquecido ao chão.
Enquanto Julián se agachava junto ao tipo, Grace suspirou aliviada. Tudo tinha acabado.
- É melhor que te mantenha inconsciente -o ameaçou Julián.
endireitou-se e abraçou ao Grace até quase esmagá-la.
- Está bem, Grace?
Ela não podia respirar mas, nesse momento, não lhe importava.
- Sim, e você?
- Melhor, agora que sei que está bem.
Uns minutos depois, a polícia conseguiu abrir as portas do elevador e Grace viu que tinham ficado apanhados entre dois pisos.
Julián a elevou pela cintura e ela agarrou a mão que lhe tendia um policial para ajudá-la a chegar até o chão.
Uma vez esteve fora do elevador, franziu o cenho enquanto observava aos três agentes que estavam ajudando ao Julián a tirar o corpo inconsciente do Rodney.
- Como souberam que estávamos aí?
O agente de mais idade retrocedeu um passo e deixou que os outros dois homens elevassem ao Rodney para tirá-lo.
- A operadora do serviço de emergências nos chamou. Disse que parecia haver uma guerra no elevador.
- E foi -respondeu ela, nervosa.
- A quem algemamos?
- Ao que está inconsciente.
Enquanto Grace esperava que Julián chegasse a seu lado, observou a escuridão que reinava no oco do elevador, por onde ele tinha baixado para chegar até ela.
Era um espaço muito reduzido.
Recordou o olhar no rosto do Julián, a noite que apagou a luz. E a expressão alterada que tinha pouco antes, quando subiram a sua consulta.
Ainda assim, tinha vindo a resgatá-la.
Afligida, sentiu que os olhos lhe enchiam de lágrimas.
foi capaz de passar por isso para me proteger.
logo que saiu do elevador, Grace o abraçou com força.
Julián tremia por causa da força das emoções que sentia. Estava tão aliviado ao vê-la sã e salva... A agarrou pela cintura e a beijou.
- Não!
Julián a soltou no mesmo instante que Rodney escapava de uma patada do policial. As algemas lhe penduravam de uma das bonecas enquanto se fazia com a pistola
do agente e apontava.
Acostumado a reagir em metade de uma batalha, Julián agarrou ao Grace e a empurrou para a esquerda no instante em que Rodney disparava.
O disparo passou roçando-os, e foi seguido por outros dois mais. Outro dos agentes, o de mais idade, tinha disparado ao Rodney.
Grace tentou aproximar-se, mas Julián o impediu.
Manteve-a pega a ele, com o rosto enterrado em seu peito, enquanto observava como Rodney morria.
- Não olhe, Grace -sussurrou-. Há certas lembranças que não precisa conservar.
Capítulo 13
- Sim, Selena -lhe respondeu Grace por telefone enquanto se vestia para ir trabalhar-. Já aconteceu uma semana. Estou bem.
- Pois não o parece -replicou Selena, incrédula-. Tem a voz tremente.
E realmente ainda não o tinha superado de tudo. Mas estava bem, graças ao Julián e ao feito de não ter visto morrer ao pobre Rodney Carmichael.
Uma vez a polícia teve acabado com os interrogatórios, Julián a levou a casa e ela tinha procurado não pensar muito no acontecido.
- De verdade. Estou bem.
Julián entrou na habitação.
- vais chegar tarde. -Tirou-lhe o auricular da mão e lhe ofereceu uma bolacha-. Acaba de lhe vestir -lhe disse, e começou a falar com a Selena.
Grace franziu o cenho quando Julián saiu da habitação; já não podia escutar a conversação.
Enquanto se vestia, caiu na conta do cômoda que se sentia junto ao Julián. adorava o ter a seu redor, cuidá-lo e que ele a cuidasse. A reciprocidade de sua
relação era maravilhosa.
- Grace -lhe disse, aparecendo a cabeça pela porta-. vais chegar tarde.
Ela riu e ficou os sapatos de salto.
- Já vou, já vou.
Quando atravessaram a porta principal Grace viu que ele não se pôs os sapatos.
- Não vais vir hoje comigo?
- Necessita-me?
Ela duvidou. No fundo adorava almoçar junto a ele e brincar entre paciente e paciente. Mas claro, seguro que para ele sentar-se horas seguidas esperando-a
era muito aborrecido.
- Não.
Lhe deu um beijo faminto.
- Até a noite.
A contra gosto, apressou-se para o carro.
Foi um dos dias mais compridos da história. Grace o passou sentada depois do escritório, contando os segundos que faltavam para acompanhar a seus pacientes
até a porta.
Às cinco em ponto, jogou a pobre Rachel do escritório, recolheu rapidamente todas suas coisas e partiu a casa.
Não demorou muito em chegar. Franziu o cenho quando viu a Selena, que a esperava no alpendre dianteiro.
- passou algo? -perguntou-lhe Grace ao aproximar-se.
- Nada de importância. Mas te darei um conselho: rompe a maldição. Julián é um tesouro.
Grace a olhou ainda mais carrancuda enquanto Selena se afastava para seu Jipe. Confundida, abriu a porta para entrar em casa.
- Julián? -chamou-o.
- Estou na habitação.
Grace subiu as escadas. Encontrou-o convexo sobre a cama em uma postura muito mais que deliciosa, com a cabeça apoiada em uma mão. Havia uma rosa vermelha
diante dele. Estava incrivelmente sedutor e maravilhoso com aquelas covinhas e essa luz em seus celestiales olhos azuis, que nesses momentos eram decididamente perversos.
- Tem toda a aparência do gato que se comeu ao canário -lhe disse em voz baixa-. O que estivestes fazendo Selena e você hoje?
- Nada.
- Nada -repetiu ela, cética. E por que não acreditava? Porque Julián tinha a aparência de um menino que acaba de fazer uma travessura.
Seu olhar baixo até a rosa.
- É para mim?
- Sim.
Ela sorriu ante sua direta e cortante resposta. Deixou cair seus sapatos ao lado da cama e se tirou as médias.
Ao elevar a vista, captou o olhar do Julián que tinha estirado o pescoço para não perder-se nada. Ele voltou a sorrir.
Grace agarrou a rosa e aspirou seu doce aroma.
- É uma surpresa encantadora -disse, beijando-o na bochecha-. Obrigado.
- Alegra-me que você goste de -sussurrou, lhe acariciando o queixo.
Grace se afastou com relutância e cruzou a habitação para depositar a rosa sobre a cômoda, e abrir a gaveta superiora.
ficou paralisada. Sobre a roupa havia um pequeno exemplar do Peter Pão, adornado com um grande laço vermelho.
Boquiaberta, agarrou-o e desatou o laço. Ao passar a primeira página, seu coração deixou de pulsar um instante.
- OH meu Deus! É uma primeira edição, e assinada!
- Você gosta?
- Que se eu gosto? -respondeu-lhe com os olhos umedecidos-. Julián!
jogou-se sobre ele e depositou uma chuva de beijos sobre seu rosto.
- É tão maravilhoso! Obrigado!
E pela primeira vez, Grace o viu envergonhado.
- Isto é... -sua voz se desvaneceu ao olhar para o vestidor. A porta estava entreabierta e a luz do interior acesa.
Não podia haver...
Muito lentamente, Grace se aproximou. Abriu a porta e olhou dentro.
Os olhos lhe encheram de lágrimas de alegria e a invadiu uma quebra de onda de calidez. As estanterías estavam de novo cheias de livros. A mão lhe tremia enquanto
acariciava os lombos de sua nova coleção.
- Isto é um sonho? -sussurrou.
Sentiu ao Julián atrás dela. Não a estava tocando, mas podia percebê-lo com cada poro, com cada sentido de seu corpo. Não era nada físico mas conseguia que
a terra tremesse sob seus pés. E a deixava sem fôlego.
- Não pudemos encontrá-los todos, especialmente as edições de bolso, mas Selena me assegurou que conseguimos os mais importantes.
Uma única lágrima descendeu pela bochecha do Grace ao ver as cópias dos livros de seu pai. Como os tinham podido consegui-los?
O coração lhe pulsava com força enquanto via seu títulos favoritos: Os três Mosqueteiros, Beowulf, A Letra Escarlate, O Lobo e a Pomba, Armas de Cavalheiro,
Faltam, Amores em Perigo... e seguiam e seguiam até deixá-la aturdida.
Afligida e com uma sensação de enjôo, deixou que as lágrimas corressem por seu rosto.
deu-se a volta e se lançou aos braços do Julián.
- Obrigado -soluçou-. Como...? Como o tem feito?
Ele se encolheu de ombros, e elevou uma mão para lhe enxugar as lágrimas. Nesse momento, Grace se deu conta de que algo faltava em sua mão.
- Seu anel não -murmurou enquanto contemplava o sinal esbranquiçado no dedo de sua mão direita, onde tinha levado o anel-. me Diga que não o tem feito.
- Só era um anel, Grace.
Não, não o era. Ela recordava a expressão de seu rosto quando o doutor Lewis quis comprar o Julián notó cómo, poco a poco, perdía el control. La locura lo
asaltaba dolorosamente, le atravesaba la cabeza al mismo tiempo que la entrepierna.
"Jamais" -havia dito ele- "Não sabe pelo que aconteceu consegui-lo"
Mas Grace sim sabia depois de ter escutado as histórias de seu passado. E o tinha vendido por ela.
Tremendo, ficou nas pontas dos pés e o beijou com ferocidade.
Julián ficou gelado ao sentir seus lábios. Jamais se tinha entregue a ele daquele modo. Fechou os olhos, afundou as mãos em seu cabelo para deixar que lhe
acariciasse os braços, e gemeu ante o assalto do Grace.
A cabeça do Julián começou a dar voltas ao saborear sua boca, ao sentir o corpo do Grace pego ao dele, ao ser consciente da ferocidade de seu beijo, que nunca
antes tinha experiente; jamais lhe tinham beijado assim...
Até sua alma maldita se estremeceu.
Nesse momento, desejou poder permanecer sereno durante mais tempo. Não queria viver outro segundo mais separado do Grace. Não podia imaginar-se um só dia sem
que ela estivesse a seu lado.
Julián notou como, pouco a pouco, perdia o controle. A loucura o assaltava dolorosamente, atravessava-lhe a cabeça ao mesmo tempo que a entrepierna.
Ainda não! Gritou sua mente. Não queria que esse momento terminasse. Agora não. Não quando ela estava tão perto.
Tão perto... mas não tinha opção
Separou-a da má vontade.
- Já vejo que te gostou do presente, não?
Ela riu.
- É obvio que me gostou. Julián, está louco. -Passou-lhe os braços ao redor da cintura e apoiou a cabeça sobre seu peito.
Julián se estremeceu enquanto umas desconhecidas emoções faziam vibrar seu corpo. Envolveu-a entre seus braços e sentiu como seus corações pulsavam ao uníssono.
Se pudesse, ficaria assim, abraçando-a para toda a eternidade. Mas não podia. Retrocedeu um passo. Ela o olhou com uma sobrancelha elevada. Julián apagou com
uma carícia as rugas de preocupação que se formaram na frente do Grace.
- Não te estou rechaçando, carinho -lhe sussurrou-. O que ocorre é que não me sinto muito bem neste momento.
- É a maldição?
Ele assentiu.
- Posso te ajudar?
- me dê um minuto para controlá-lo.
Grace se mordeu o lábio enquanto o observava aproximar-se da cama. Era a única vez que Julián não parecia mover-se com sua habitual elegância e fluidez. Dava
a impressão de que logo que podia respirar, como se tivesse uma terrível dor de estômago. Agarrou com tanta força o poste da cama que os nódulos lhe puseram brancos.
A dor se apoderou do Grace ante aquela imagem e quis reconfortá-lo. Queria ajudá-lo mais que nunca. De fato queria... O queria a ele. E ponto.
Abriu a boca ante o repentino impacto de seus pensamentos. Amava-o.
Profunda, verdadeira e totalmente. Amava-o. Como não ia amar o?
Com o coração enlouquecido, Grace deslizou o olhar sobre os livros do vestidor. As lembranças a assaltaram: Julián a noite que apareceu e lhe ofereceu; Julián
lhe fazendo o amor na ducha; Julián tranqüilizando-a, fazendo-a rir; Julián descendo pela trampilla do elevador para resgatá-la; Julián convexo na cama com a rosa,
observando-a enquanto ela descobria seus presentes.
Selena tinha razão. Era o major dos tesouros e não queria deixá-lo partir.
Esteve a ponto de dizer-lhe mas se conteve. Não era o momento. Não quando estava suportando uma tremenda agonia. Não quando era tão vulnerável.
Ele quereria sabê-lo.
Ou não?
Grace considerou as conseqüências de sua possível confissão. Ao Julián não gostava desta época, estava claro. Queria ir-se a casa. Se lhe confessava quais
eram seus sentimentos, ele ficaria por essa razão; mas não seria justo, porque quase o faria por obrigação. Possivelmente algum dia acabasse ressentido com ela por
lhe haver negado a possibilidade de retornar ao mundo que uma vez conheceu. Ao que tinha sido.
Ou pior ainda, e se sua relação não funcionava?
Como psicóloga, sabia melhor que ninguém os problemas que podiam ocasionar-se em um casal, e como podiam acabar destruindo-a.
Uma das causas mais freqüentes de ruptura era a falta de interesses comuns; casais que se mantinham unidas pela simples atração física e que acabam separando-se.
Julián e ela eram completamente diferentes. Ela era uma psicóloga do século XXI e ele era um maravilhoso geral macedonio do sigo II a.C. Era como falar de
emparelhar a um peixe e um pássaro!
Jamais tinham existido duas pessoas mais diferentes no mundo que tivessem sido obrigadas a permanecer juntas.
Nesse momento estavam desfrutando da novidade da relação. Mas não se conheciam absolutamente. E se dentro de um ano descobriam que não estavam apaixonados?
E se ele trocava uma vez acabassem com a maldição?
Julián lhe havia dito que na Macedônia era um homem totalmente distinto. O que ocorreria se parte de seu encanto ou da atração que sentia por ela se deviam
à maldição? Segundo Cupido, a maldição fazia que Julián se sentisse irremediavelmente atraído para ela.
E se rompiam a maldição e ele se convertia em uma pessoa diferente? Em alguém que não queria estar com ela?
O que passaria então?
Uma vez rechaçasse a oportunidade de retornar a seu lar, Grace sabia que não teria outra ocasião de voltar.
esforçou-se por respirar quando caiu na conta de que jamais poderia lhe dizer: "Tentemo-lo e vejamos se funcionar". Porque uma vez tomassem a decisão, não
haveria volta atrás.
Grace tragou e desejou ser capaz de ver o futuro, como Selena. Mas até ela se equivocava às vezes. Não podia permitir um equívoco; Julián não o merecia.
Não, teria que haver outra razão de peso para que ele ficasse. Ele teria que amá-la tanto como ela o amava.
E isso era tão provável quanto o céu se derrubasse sobre a terra nos próximos dez minutos.
Fechou os olhos e se encolheu ante a verdade. Julián jamais seria dele. De uma forma ou outra, teria que deixá-lo partir.
E isso acabaria com ela.
Julián soltou um suspiro entrecortado e soltou o poste da cama. Olhou ao Grace com um leve sorriso.
- Isso doeu -lhe disse.
- Dei-me conta -lhe respondeu Grace aproximando-se dele, mas Julián se afastou como se acabasse de tocar a uma serpente.
Ela deixou cair a mão.
- vou preparar o jantar.
Julián a observou enquanto saía da habitação. Desejava tanto ir atrás dela que apenas se podia conter-se. Mas não se atrevia.
Necessitava um pouco mais de tempo para serenar-se. Mais tempo para aplacar o fogo maldito que ameaçava devorando-o.
Meneou a cabeça. Como podiam as carícias do Grace lhe insuflar tanta força e ao mesmo tempo deixá-lo tão débil?
Grace acabava de preparar uma sopa de sobre e uns sándwiches quando Julián entrou na cozinha.
- Sente-se melhor?
- Sim -lhe respondeu enquanto se sentava à mesa.
Grace removeu sua sopa com a colher e o observou comer. Seu cabelo refletia a luz do sol do entardecer e o fazia parecer ainda mais claro. sentava-se com uma
postura muito erguida, e o mais leve de seus movimentos despertava uma quebra de onda de desejo nela. Poderia passar-se todo o dia contemplando o desse modo e não
se cansaria.
Não. O que em realidade desejava era levantar-se da cadeira, aproximar-se dele, sentar-se em seu regaço e lhe passar as mãos por essas maravilhosas ondas douradas
enquanto o beijava ardorosamente.
Deixa-o já! Se não se controlava, sucumbiria à tentação!
- Sabe? -disse-lhe, insegura-. estive pensando... E se ficasse aqui? Tão mau seria viver em minha época?
O olhar que lhe dedicou fez que se sufocasse.
- Já falamos que isto. Este é não é meu mundo; não o compreendo, não entendo seus costumes. Sinto-me estranho, e ódio essa sensação.
Grace se esclareceu garganta. De acordo, não voltaria a mencionar o tema.
Suspirando, agarrou o sándwich e começou a comer-lhe embora o único que gostava de era discutir.
Uma vez acabada o jantar, Julián a ajudou a limpar a cozinha.
- Quer que te leia? -perguntou-lhe.
- Claro -lhe respondeu.
Mas Grace sabia que algo ia mau. Estava-lhe ocultando algo; mostrava-se quase frio.
Não o tinha visto assim desde que o conheceu.
Grace subiu, agarrou seu livro novo do Peter Pão e voltou a baixar. Julián já estava convexo no chão, empilhando as almofadas.
Ela se acomodou no chão, perpendicular a ele e recostou a cabeça sobre seu estômago. Passou a primeira página e começou a ler.
Julián escutou a voz suave e melodiosa do Grace, e não deixou de olhá-la um só instante. Observava como seus olhos dançavam sobre as páginas enquanto lia.
prometeu-se não tocá-la mas, contra sua vontade, alargou um braço e começou a lhe acariciar o cabelo. O contato de seu cabelo sobre a pele o inflamou e fez
que seu entrepierna se endurecesse ainda mais, desejando dolorosamente possui-la.
Enquanto os escuros e sedosos fios acariciavam seus dedos, deixou que a voz do Grace o afastasse dali e o levasse a um lugar acolhedor. sentia-se nesse lar
esquivo que tinha açoitado durante toda a eternidade.
Um lugar aonde só existiam eles dois. Sem deuses nem maldições.
Maravilhoso.
Grace arqueou uma sobrancelha quando notou que a mão do Julián se separava de seu cabelo e lhe desabotoava o botão superior da camisa. Conteve a respiração
e aguardou espectador, mas ainda assim não estava muito segura de suas intenções.
- O que está...?
- Segue lendo -lhe disse enquanto acabava de desabotoar o botão.
Com o corpo cada vez mais acalorado, Grace leu o seguinte parágrafo. Julián lhe desabotoou o seguinte botão.
- Julián...
- Lê.
Ela leu outro parágrafo enquanto sua mão descendia até o seguinte botão. Suas ações lhe faziam perder o controle e respirava entrecortadamente com o coração
pulsando a um ritmo cada vez mais frenético.
Elevou o olhar e se encontrou com os olhos famintos do Julián.
- O que é isto? Uma sessão de leitura com striptease incluído? Eu leio um parágrafo e você desabotoa um botão?
Como resposta, Julián deslizou uma cálida emano por cima do prendedor até cobrir com ternura um de seus peitos. Grace gemeu de prazer quando ele começou a
acariciá-la por cima do cetim e a pele de seus braços se arrepiou ante o calor que emanava dele.
- Lê -lhe ordenou de novo.
- Sim, claro. Como se pudesse ler enquanto você...
Nesse momento, Julián lhe desabotoou o fechamento dianteiro do prendedor e cobriu seu peito nu com uma mão.
- Julián!
- me leia, Grace. Por favor.
Como se fosse possível!
Mas a súplica que tingia sua voz lhe chegou ao coração. Obrigando-se, concentrou-se no livro e Julián seguiu acontecendo as mãos sobre sua pele.
Suas carícias eram relaxantes e doces. Sublime. Não se pareciam em nada às que usava para inflamá-la e seduzi-la, eram algo muito diferente. além dos limites
da carne. Envolviam diretamente ao coração.
depois de um tempo, acostumou-se aos círculos que Julián riscava ao redor de seus peitos, de seus mamilos e de seu umbigo. perdeu-se no instante, na estranha
intimidade que estavam compartilhando.
Acabou o livro perto das dez. Julián passou os nódulos sobre um endurecido mamilo enquanto ela deixava o livro a um lado.
- Seus peitos são preciosos.
- Alegra-me que diga isso. -Escutou que o estômago do Julián rugia sob sua orelha-. Me dá a sensação de que tem fome.
- A fome que tenho não pode ser saciada com comida.
O rosto do Grace adquiriu um tom escarlate.
Ele deslizou as mãos desde seu umbigo até a garganta, uma vez ali riscou a linha da mandíbula e subiu até o cabelo. Com os polegares, desenhou o contorno de
seus lábios.
- Que estranho -disse-. Só quando me beija chego ao bordo do abismo.
- Como?
Baixou as mãos de novo até seu ventre.
- Adoro a sensação de sua pele contra a minha. A suavidade de seu corpo sob minha mão -lhe confessou em voz baixa-. Mas só quando seus lábios roçam meus sinto
que perco o controle. A que crie que se deverá?
- Não sei.
Nesse momento soou o telefone.
Julián lançou uma maldição.
- Ódio essas intrigas.
- Eu estou começando a odiá-los também.
Julián retirou a mão para que Grace pudesse levantar-se.
Ela a agarrou e a voltou a pôr sobre seu peito.
- Deixa-o que soe.
Ele sorriu ante sua atitude e inclinou a cabeça, aproximando a à sua. Seus lábios estavam tão perto que Grace podia sentir seu fôlego no rosto. De repente,
Julián retrocedeu bruscamente.
Ela viu a agonia, o desejo em seus olhos um instante antes de que os fechasse e apertasse os dentes como se lutasse para conter-se.
- vá responder o telefone -sussurrou, liberando-a. Grace ficou em pé; tremiam-lhe tanto as pernas que apenas se a sustentavam. Cruzou a habitação e agarrou
o sem fio enquanto se tampava os peitos com a camisa.
- Olá, Selena.
Julián a escutou falar com o coração pesado como o chumbo, lutando contra o fogo que o arrasava.
Quão último queria era deixar este refúgio. Jamais tinha desfrutado tanto em sua vida como desde que conheceu o Grace. E agora estava ansioso por passar com
ela cada segundo do tempo que dispunham para estar juntos.
- Espera e lhe pergunto. -Grace voltou para seu lado-. Selena e Bill querem saber se gostaria de sair com eles na sábado.
- Você decide -lhe respondeu Julián, esperando que declinasse o convite.
Ela sorriu e se colocou de novo o telefone na orelha.
- Isso sonha genial, Selena. Será muito divertido... Vale. Vemo-nos então. -Deixou o telefone em seu sítio-. Vou me dar uma ducha rápida antes de ir à cama.
Vale?
Julián assentiu. Observou-a subir as escadas. Desejava mais que nunca voltar a ser mortal.
Daria algo por poder segui-la nesse momento, tombar-se junto a ela na cama e enterrar-se profundamente em seu corpo.
Fechando os olhos poderia jurar que era capaz de sentir a umidade do Grace rodeando-o.
Se mesó o cabelo. Quantos dias mais poderia suportar esta tortura?
Mas queria lutar contra ela. negava-se a render-se, a entregar sua prudência um segundo antes do prazo que as Parcas tinham decretado.
Grace sentiu a presença do Julián. girou-se e o viu de pé junto à banheira, completamente nu.
Grace deixou que seu olhar se recreasse com avidez em cada centímetro daquele corpo bronzeado, mas foi seu sorriso, cálida e fascinante, a que lhe roubou o
coração e a deixou sem fôlego.
Sem dizer uma só palavra, ele se meteu na ducha.
- Sabe? -comentou com uma naturalidade que a deixou pasmada-. Esta manhã encontrei algo interessante.
Ela observou como a água escorregava sobre ele, lhe molhando o cabelo até convertê-lo em uma massa de cachos úmidos que caíam sobre seu rosto.
- Sim? -respondeu ela, resistindo ao impulso de elevar o braço e agarrar um de seus cachos. Ou melhor ainda, mordiscá-lo.
- Mmm -murmurou Julián, deslizando a mão pelo cordão da ducha até tirar a de seu suporte na parede. Girou até encontrar a posição de uma ligeira massagem-.
Date a volta.
Grace duvidou antes de lhe obedecer.
Julián deslizou seu olhar por suas costas nua e úmida. Jamais tinha visto uma mulher mais tentadora em todos os dias de sua vida.
Era tudo o que tinha sonhado, mas que não podia nem sequer desejar. Não se atrevia. Era um sonho longínquo.
Baixou os olhos até suas voluptuosas curvas. Tinha as pernas ligeiramente abertas. Uma imagem dele separando-lhe e inundando-se nela se abriu passo em sua
mente.
Esforçando-se por manter a respiração, aproximou o travesseiro da ducha até os ombros do Grace.
- Isso é estupendo -murmurou ela.
Julián não podia falar. Mantinha a mandíbula fortemente apertada para controlar as vorazes exigências de seu corpo. Sua necessidade de tocá-la era tão funda
que fazia que a fome e a sede que padecia enquanto permanecia no livro fossem uma brincadeira.
Grace se deu a volta para olhá-lo; seu rosto resplandecia. Alargou o braço para agarrar a manopla que se encontrava no suporte, detrás do Julián. Ele não se
moveu enquanto o lavava, passando as mãos por seu peito e seu abdômen, avivando a fogueira do desejo que sentia por ela.
Conteve a respiração, antecipando o momento em que sua mão baixasse mais e mais.
Grace se mordeu o lábio ao tocar os duros abdominais. Olhou para cima e viu que Julián a observava. Tinha os olhos médio fechados e parecia estar saboreando
cada carícia que suas mãos deixavam sobre seu corpo.
Desejando agradá-lo, passou a manopla sobre os cachos escuros de seu entrepierna. Julián ofegou quando tomou entre suas mãos com suavidade. Ela sorriu ao sentir
o repentino estremecimento que agitou seu corpo.
A expressão de supremo prazer que se via em seu rosto fez que Grace se sentisse deslumbrada. Com o coração acelerado, deslizou a mão para cima, para poder
acariciar seu membro inchado.
Escutou como a ducha golpeava a banheira um segundo antes de que ele a envolvesse entre seus braços e enterrasse os lábios em seu pescoço.
Grace tremeu ante a sensação de seus corpos úmidos, nus e entrelaçados. O amor que sentia por ele fluiu por suas veias, rogando que acontecesse um milagre
que lhes permitisse passar a vida juntos.
Nesse instante, desejou poder senti-lo em seu interior. Sentir como o tomava posse de seu corpo da mesma forma que se deu procuração de seu coração.
Enquanto a torturava com os lábios deliciosamente, enterrou uma coxa entre suas pernas e a sensação do pêlo sobre sua carne fez que o sentido comum do Grace
acabasse por derreter-se.
Enfebrecida, Grace se esfregou contra sua coxa e se deleitou ao mover-se contra os duros músculos que se contraíam sob suas pernas enquanto seguia lambendo
seu pescoço. Quanto amava a este homem. Como desejava lhe escutar dizer que significava para ele tanto como ele para ela.
Julián passou as mãos ao longo das costas do Grace e logo as moveu para o fronte.
Seu olhar a abrasava enquanto a ajudava a sentar-se na banheira.
- O que está h...? -sua pergunta acabou com um ofego ao sentir a língua do Julián na orelha.
Grace percebeu a tensão nos músculos de seu braço dele quando agarrou o travesseiro da ducha e voltou a atormentar seu corpo com seu lhe pulsem calor. Moveu-o
lentamente, riscando círculos sensuais sobre seus peitos e seu ventre. Avivada pela estimulação da água e o corpo do Julián, Grace lutava por respirar.
Julián tremia pela necessidade. Queria agradar ao Grace como jamais tinha querido fazê-lo com ninguém. Desejava vê-la retorcer-se baixo ele. Escutá-la gritar
quando chegasse ao clímax.
Julián lhe separou as coxas com o cotovelo e deixou que a água da ducha caísse diretamente entre suas pernas.
Grace emitiu um entrecortado gemido ao ser assaltada por uma indescritível quebra de onda de prazer.
- Julián? -ofegou, enquanto seu corpo se estremecia. Os dedos do Julián a penetraram e começaram a mover-se em seu interior de uma vez que os jorros de água
intensificavam suas carícias.
Jamais, jamais tinha experiente um pouco parecido. Julián girava a boneca fazendo que a água caísse sobre ela em pequenos movimentos circulares, até que já
não pôde mais.
Quando alcançou o orgasmo um segundo depois, gritou aliviada.
Julián sorriu e manteve seu corpo completamente imóvel para não possui-la. Ainda não tinha acabado com ela. Jamais poderia acabar com ela.
Com as mãos, a língua e o travesseiro da ducha fez que Grace desfrutasse de cinco orgasmos mais.
- Por favor -lhe rogou ela depois do último-. Tenha compaixão. Não posso mais.
Decidindo que já tinham tido os dois suficiente tortura, Julián se girou e cortou a água.
Grace era incapaz de mover-se. Qualquer sensação, por pequena que fora, a fazia estremecer-se. Observou como Julián ficava de pé entre suas pernas e a olhava
com um leve sorriso.
- Acaba de me matar -balbuciou-. Agora tem que enterrar o cadáver.
Ele riu ante a ocorrência. Saiu da banheira, alargou os braços e a elevou.
Grace ficou encantada ao sentir sua pele nua enquanto a levava até a cama e a secava com a toalha.
Muito lentamente e com muito cuidado, utilizou o penhoar de um modo que Grace juraria que a ninguém lhe tinha ocorrido antes. Passou-o sensualmente por seus
ombros, seus braços e seus peitos, e depois descendeu até o estômago riscando sensuais espirais.
- Abre suas pernas para mim, Grace.
Sem força de vontade alguma, ela obedeceu.
Grace gemeu ao sentir a felpa sobre a trêmula carne de seu sexo. Súbitamente o penhoar foi substituído pelos dedos do Julián.
- Julián, por favor. Não acredito que possa suportá-lo de novo.
Ele não fez conta. Nem sequer seu próprio corpo teve em conta sua opinião. E para sua surpresa, um novo orgasmo a assaltou.
Julián se inclinou e lhe sussurrou ao ouvido:
- Poderíamos seguir assim toda a noite.
Ela o olhou aos olhos e então se deu conta do alcance da maldição: seu membro estava ainda completamente ereto e tinha a frente coberta de suor.
Como podia suportar vê-la correr uma e outra vez sabendo que ele não poderia fazê-lo?
Pensando tão somente no amor que sentia por ele, incorporou-se até ficar sentada e o beijou.
Julián se tornou atrás com um movimento violento. Caiu ao estou acostumado a agitando-se como se lhe golpeassem.
Aterrorizada pelo que tinha feito, Grace desceu da cama.
- Sinto-o -disse ao chegar junto a ele-. O esqueci.
Julián se girou nesse instante para olhá-la. Tinha os olhos daquela espantosa cor escura.
Tremia como se estivesse lutando por afastar-se da loucura. Foi o medo no rosto do Grace o que finalmente o ajudou a acalmar-se.
afastou-se dela como se fora venenosa.
Grace o observou enquanto utilizava os degraus de sua cama como apoio para ficar em pé.
- Cada vez é pior -disse com voz afogada.
Grace não podia falar. Não podia suportar vê-lo sofrer daquela maneira. E se odiava a si mesmo por havê-lo levado até o bordo do abismo.
Sem olhá-la sequer, Julián recolheu sua roupa e saiu da habitação.
Passaram vários segundos antes de que Grace pudesse mover-se. Quando finalmente conseguiu ficar de pé, abriu a cômoda para tirar um pouco de roupa e seus olhos
ficaram cravados sobre a caixa que continha os grilhões.
Quantos dias mais teriam antes de que o perdesse para sempre?
Capítulo 14
Os dias seguintes foram os melhores da vida do Grace. Uma vez se acostumou à regra que Julián impôs, que proibia os beijos e as carícias íntimas e incitantes,
desenvolveram uma relação agradável que foi quase uma surpresa para ela.
Passava os dias no trabalho, almoçava freqüentemente com o Julián e Selena, e dedicava as noites a tombar-se entre seus maravilhosos braços.
Entretanto, com cada dia que passava, saber que ia abandonar a final do mês a deixava destroçada.
Como ia suportar o?
Embora a idéia não abandonava nunca sua mente, negou-se a pensar nisso constantemente. Viveria o momento e se preocuparia do manhã quando chegasse.
na sábado de noite ficaram com a Selena e Bill no Tip's, no Bairro Francês. Embora com bastante mais afluência de turistas que o original Tippitinas's, era
a noite do Zydeco e ela queria que Julián escutasse a música que Nova Orleáns fazia famosa.
- Né! -Disse-lhes Selena enquanto se aproximavam da mesa, no fundo do local-. Começava a me perguntar se íeis deixar nos pendurados.
Grace se sentiu avermelhar ao recordar o motivo de seu atraso. Algum dia destes aprenderia a fechar a porta do banho enquanto tomava banho...
- Olá Julián, Grace -lhes saudou Bill.
Grace sorriu ao ver o estuque do braço do Bill que Selena tinha decorado com pintura fluorescente.
Julián inclinou a cabeça a modo de saudação enquanto retirava uma cadeira para que Grace se sentasse e, depois, fez o próprio a seu lado. Assim que apareceu
o garçom pediram cervejas e nachos, e Selena começou a seguir o ritmo da música golpeando a mesa com a mão.
- Vamos, Lane -disse Bill, mal-humorado-. Será melhor que dancemos antes de que tenha que te matar por esse ruidito insuportável.
Com uma ligeira pontada de inveja, Grace observou como se afastavam.
- Você gostaria de dançar? -perguntou-lhe Julián.
lhe encantava dançar, mas não queria que Julián passasse um mau momento. Em sua mente não havia dúvidas de que ele não sabia dançar música moderna. Mas, ainda
assim, foi um convite muito tenro por sua parte.
- Não, não passa nada.
Mas ele não a escutou. ficou em pé e lhe tendeu a mão.
- Sim, claro que vais dançar.
logo que chegaram à pista de baile, Grace compreendeu que aquele homem dançava tão bem como beijava.
Julián conhecia cada passo e dava a sensação de que tinha nascido dançando. De fato, seus movimentos eram elegantes sem perder o toque masculino e fascinante.
Grace nunca tinha visto ninguém dançar assim. E pelos invejosos olhares femininos que sentia cravadas nela, podia imaginar-se que todas aquelas mulheres tampouco
tinham presenciado antes nada semelhante.
Quando o grupo terminou de tocar se sentia excitada e estava sem fôlego.
- Como...?
- Foi o presente do Terpsícore -lhe respondeu Julián enquanto lhe acontecia o braço pelos ombros e a mantinha fortemente pega a seu corpo.
- De quem?
- Da musa da dança.
Grace sorriu.
- me recorde que lhe envie uma nota de agradecimento.
Ao começar a seguinte canção, Julián olhou fixamente a sua esquerda e franziu o cenho.
- Passa algo? -perguntou ela, enquanto seguia a direção de seu olhar.
Ele meneou a cabeça e se esfregou os olhos.
- Devo estar vendo visões.
- O que viu?
Julián voltou a olhar entre a multidão, procurando o homem loiro e alto que acabava de ver pela extremidade do olho. Embora logo que tinha captado sua imagem,
juraria que se tratava do Kyrian da Tracia.
Com algo mais de um e noventa de estatura, ao Kyrian sempre tinha resultado difícil perder-se entre a multidão e, além disso, seu modo de andar era bastante
distintivo, já que tinha um aura letal.
Mas pensar que Kyrian estivesse nessa época era algo impossível. Devia ser a loucura que voltava a fazer racho nele; agora começava a ver visões.
- Nada -respondeu.
Apartou o tema de sua mente e a olhou com um sorriso. A seguinte canção era lenta e a atraiu para seus braços, mantendo-a muito perto de seu corpo, ao tempo
que se moviam brandamente ao ritmo da música. Grace lhe rodeou o pescoço e apoiou a cabeça em seu peito; podia inalar o quente aroma a sândalo que desprendia Julián.
Não sabia como, mas aquele aroma conseguia que perdesse a cabeça por completo e que a boca lhe fizesse água.
Com a bochecha apoiada sobre a cabeça do Grace, Julián começou a lhe acariciar o cabelo enquanto ela escutava os batimentos do coração de seu coração. Grace
poderia ficar assim para sempre.
Mas a peça terminou muito logo. E depois de duas canções rápidas, Grace teve que retornar a seu assento. Simplesmente, não tinha a resistência do Julián.
Ao encaminhar-se para a mesa, deu-se conta de que Julián nem sequer tinha a respiração alterada; mas isso sim, sua frente estava coberta de suor.
Lhe apartou a cadeira. sentou-se muito perto dela e agarrou sua jarra de cerveja para tomar um grande gole.
- Julián! -disse Selena com uma gargalhada-. Não tinha nem idéia de que podia te mover assim.
Bill pôs os olhos em branco.
- Pensamentos luxuriosos de novo, Lane?
Selena lhe deu um murro a seu marido no estômago.
- Sabe que não é isso. Você é o único brinquedo com o que gosta de jogar.
Bill olhou ao Julián com cepticismo.
- Sim, claro.
Grace viu como o rosto do Julián se escurecia.
- Está bem? -perguntou-lhe.
Lhe respondeu com seu sorriso infestado de covinhas e a ela lhe esqueceu a pergunta.
Permaneceram sentados em silêncio escutando ao grupo, enquanto Julián e Grace se ofereciam nachos o um ao outro.
Quando Grace apartou a mão dos lábios dele, Julián a capturou e a levou de novo à boca para chupar um pouco de queijo que lhe tinha ficado pego na gema de
um dedo. Passou a língua sobre sua pele e Grace sentiu que o corpo lhe estalava em chamas.
Não pôde mais que rir ao notar como o desejo a consumia. Como desejava haver ficado em casa. adoraria tirar a roupa ao Julián e lamber queijo fundido sobre
seu corpo toda a noite!
Definitivamente, ia acrescentar Cheez Whiz à lista da compra.
Com os olhos brilhantes, Julián levou a mão do Grace até seu regaço e começou a lhe mordiscar o pescoço antes de apartar-se e tomar outro gole de cerveja.
- Selena -lhe disse Bill chamando a atenção de sua esposa, que estava olhando ao Grace e Julián. Ofereceu-lhe um guardanapo-. Seguro que quer te limpar a baba
que te goteja pelo queixo.
Selena pôs os olhos em branco.
- Gracie, preciso ir ao banho. Vamos.
Julián se tornou para trás para deixá-la passar. Observou como Grace se perdia entre a multidão e, quase imediatamente, as mulheres começaram a aproximar-se
o - Nada -ronroneó la rubia, mirándolo por última vez antes de darse la vuelta y marcharse.
O estômago lhe contraiu. por que sempre tinham que revoar a seu redor? Nesse momento, desejou que por uma vez em sua vida pudesse sentar-se tranqüilo sem ter
que manter a raia a um punhado de mulheres, das quais nem sequer conhecia seus nomes, antes de que começassem a sová-lo.
- Olá nenê -paquerou uma atrativa loira, que foi primeira em chegar a seu lado-. Gosta de como dança. Que tal se...?
- Não estou sozinho -lhe respondeu ele, entrecerrando os olhos a modo de advertência.
- Com ela? -riu a mulher enquanto assinalava com um dedo para o lugar por onde Grace havia desparecido-. Venha já. Pensava que tinha perdido uma aposta ou
algo assim.
- Eu pensei que o fazia por pena -comentou outra mulher que se aproximou junto a uma moréia.
Dois homens surgiram nesse momento de entre a multidão.
- O que fazem aqui vocês três? -perguntaram os tipos a suas companheiras.
As mulheres contemplaram contritas ao Julián.
- Nada -ronronou a loira, olhando-o por última vez antes de dá-la volta e partir.
Os homens o olharam furiosos.
Ele elevou uma sobrancelha com um gesto zombador e tomou outro gole de cerveja com total normalidade. Os tipos deveram dar-se conta de que a idéia de brigar
com ele era bastante estúpida, porque se reuniram com suas garotas e partiram.
Julián suspirou, aborrecido. Dava igual a época em que se encontrasse, algumas costure não trocavam.
- Ouça -lhe repreendeu Bill elevando-se um pouco por cima da mesa-. Sei que ultimamente aconteceste muito tempo com minha mulher. Por seu bem, espero que não
te esteja metendo em meu território. Entendeste-me?
Julián tomou uma funda baforada de ar. Bill não; ele não.
- Se por acaso não o notaste, só estou interessado no Grace.
- Sim, claro -resmungou Bill-. Não tente me confundir; Grace me cai muito bem, mas não sou idiota. Não posso acreditar que seja o tipo de homem que se conforma
com um hambúrguer quando tem um montão de suculentos lombos de vitela esperando-o.
- Sinceramente, importa-me uma mierda o que cria.
Grace vacilou quando Selena e ela retornaram junto ao Julián e Bill. A tensão do Julián era evidente. Sustentava a cerveja com tanta força que se surpreendia
de que a garrafa não tivesse estalado, feita pedacinhos.
- Bill -lhe disse Selena enquanto lhe acontecia os braços ao redor do pescoço-. Te importaria muito se dançar com o Julián?
- Joder, claro que me importa.
Imediatamente, Julián se desculpou e se aproximou da barra.
Grace o seguiu com rapidez.
Pediu outra cerveja justo quando ela chegou a seu lado.
- Está bem? -perguntou-lhe.
- Estupendamente.
Mas não o parecia. Definitivamente, não parecia estar bem.
- Sabe uma coisa? Sei quando não está sendo sincero comigo. E agora confessa, Julián. O que acontece?
- Deveríamos partir.
- por que?
Julián lançou um rápido olhar a Selena e Bill.
- Acredito que seria o mais sensato.
- por que?
Julián grunhiu.
antes de que pudesse lhe responder, três homens apareceram atrás dele e, por suas expressões, Grace intuiu que não estavam muito contentes.
Pior ainda, parecia que Julián era a fonte de todos seus problemas.
O maior era um monstruoso culturista, sete centímetros mais baixo que Julián, mas bastante mais musculoso e volumoso. Fez uma espécie de careta ao olhar as
costas do Julián de cima abaixo. E, nesse instante, Grace o reconheceu.
Paul.
O coração começou a lhe pulsar com rapidez. Fisicamente, tinha trocado muitíssimo com os anos. Tinha a cara mais redonda, com rugas prematuras ao redor dos
olhos, e tinha perdido muito cabelo. Mas ainda conservava o mesmo sorriso zombador.
- Este era o que estava com o Amber -lhe disse um de seus coroinhas.
Uma calma mortal rodeou ao Julián, fazendo que Grace se estremecesse de medo. Ela não sabia do que era capaz e, por isso estava vendo, Paul não tinha trocado
por dentro tanto como por fora. Um niñato de anúncio, rodeado de seguidores, que sempre se movia com seu séquito. Tudo o que fazia tinha que ser notório para deixar
claro seu poder. Com esse ego de fanfarrão de praia, estava claro que não se iria até que conseguisse enredar ao Julián em uma briga.
Quão único esperava era que seu general tivesse mais sentido comum e não caísse na armadilha.
- Necessitam algo? -perguntou, sem olhar ao Paul nem a seus amigos.
Paul riu e aplaudiu a um dos seu no peito.
- Que acento é esse? Tem voz de apito. Pensava que o menino bonito ia detrás de minha garota, mas por sua pinta e por sua voz, acredito que ia detrás de um
de vós.
Julián se girou e olhou furioso ao Paul. A qualquer outra pessoa com mais entendederas, esse olhar a teria feito retirar-se.
Paul, é obvio, carecia de entendederas. Não tinha tido nunca nenhuma pingo de sentido comum.
- O que passa contigo, menino bonito? -burlou-se Paul-. Te ofendi? -Olhou a seus amigos e meneou a cabeça-. O que pensava; é uma joaninha covarde com voz de
apito.
Julián soltou uma gargalhada sinistra.
- Venha Julián -lhe repreendeu Grace, agarrando-o do braço antes de que as coisas ficassem pior-. Vamos.
Paul a olhou com aquela risita zombadora e então a reconheceu.
- Vá, vá, vá. Grace Alexander. Faz muito que não nos vemos. -Deu-lhe uma palmada nas costas ao tipo moreno que estava a seu lado-. Ouça, Tom, lembra-te do
Grace, a da faculdade? Seus braguitas brancas me fizeram ganhar nossa aposta.
Julián ficou paralisado ante suas palavras.
Grace sentia que a velha dor voltava, mas se negou a demonstrá-lo. Jamais lhe daria esse gosto ao Paul de novo.
- Não sente saudades que fora detrás do Amber -seguiu Paul-. Provavelmente queria provar a uma mulher que não estivesse todo o momento chorando enquanto a
atira.
Julián girou para o Paul com tal rapidez que Grace apenas se foi capaz de perceber o movimento. Paul se moveu um pouco mas Julián se agachou e lhe lançou um
murro às costelas que o enviou até a multidão, que se amontoava uns metros detrás deles. Com uma maldição, jogou-se em plena carreira para o Julián. Ele se inclinou
um pouco, pô-lhe a rasteira e o empurrou fazendo-o voar pelos ares.
Paul aterrissou sobre as costas.
antes de que pudesse mover-se, Julián colocou o pé sobre sua garganta e lhe sorriu com tal frieza que Grace começou a tremer da cabeça aos pés.
Paul agarrou o pé do Julián com as duas mãos e tentou apartá-lo. Começou a agitar-se pelo esforço, mas Julián não se apartou.
- Sabia...-lhe perguntou Julián com um tom de voz tão pragmático que era realmente lhe atemorizem-...que só são necessários pouco mais de dois quilogramas
para te esmagar o esôfago por completo?
Os olhos e os braços do Paul começaram a inchar-se quando Julián exerceu mais pressão sobre seu pescoço.
- Tio, por favor -suplicou Paul enquanto tentava tirar o pé do Julián de cima-. Por favor, não me faça mal, vale?
Grace conteve o fôlego, aterrada, ao ver que Julián lhe pisava ainda com mais força.
Tom se aproximou deles.
- lhe faça advertiu Julián- e te tiro o coração para que seu amigo o coma.
Grace ficou geada ao ver o olhar dos olhos do Julián. Este não era o homem tenro que o fazia o amor pelas noites. Este era o rosto do general que uma vez tinha
mandado ao inferno aos romanos mais valentes.
Não duvidava nem por um só instante que Julián podia levar a cabo a ameaça. E por quão rápido o sangue abandonou o rosto do Tom, Grace soube que o homem também
acreditou.
- Por favor -voltou a implorar Paul, começando a chorar-. Por favor, não me faça mal.
Grace tragou saliva enquanto essas palavras a assaltavam; quão mesmas ela pronunciou chorando na cama do Paul.
Foi então quando Julián a olhou aos olhos. Ela viu a fúria e o desejo de acabar com o Paul. Por ela.
- Deixa-o, Julián -lhe disse em voz baixa-. Não merece a pena. A seu lado não vale nada.
Julián olhou ao Paul com os olhos entrecerrados.
- Os covardes inúteis como você são esquartejados como treinamento ali de onde venho.
Quando Grace pensava que ia matar o, Julián apartou o pé.
- te levante.
Esfregando o pescoço, Paul ficou em pé lentamente.
O olhar gélido e letal do Julián fez que Paul se encolhesse.
- Deve-lhe uma desculpa a minha mulher.
Paul se limpou o nariz com o dorso da mão.
- Sinto muito.
- Diga-o como se o sentisse de verdade -o ameaçou Julián em voz baixa.
- Sinto muito, Grace. De verdade. Sinto-o muitíssimo.
antes de que ela pudesse responder, Julián passou um braço por seus braços em um gesto possessivo e saíram a passo tranqüilo do local.
Nenhum deles falou até que chegaram ao carro. Grace notava que algo ia muito mal com o Julián. Estava totalmente tenso, como a corda de um arco.
- Oxalá me tivesse deixado lhe matá-lo disse Julián, enquanto ela procurava as chaves do carro no bolso dos jeans.
- Julián...
- Não tem nem idéia do que me custa deixá-lo partir. Não sou o tipo de homem que está acostumado a deixar de lado uma situação como esta -confessou enquanto
golpeava com força o teto do carro com a palma da mão para depois girar-se rapidamente e lançar um grunhido-. Maldita seja, Grace! houve uma época em que me alimentava
das vísceras de tipos como esse. E passei que isso a...
Julián duvidou um instante quando dois mil anos de lembranças reprimidas afluíram a sua mente. Voltou a ver-se como o respeitado líder que foi. O herói da
Macedônia. O homem que uma vez conseguiu que legiões completas de romanos se rendessem ante a simples aparição de seu estandarte.
E depois viu no que se converteu. Em uma casca vazia. Em um cobiçada mascote, submetida à vontade daquela que o invocasse.
Durante dois mil anos tinha vivido sem emoções e sem pronunciar mais que um punhado de palavras.
Tinha encontrado o ponto exato que lhe permitia sobreviver. E se tinha deixado arrastar.
Até que Grace chegou e descobriu sua faceta humana...
Ela observou a miríade de emoções que cruzaram pelo rosto do Julián. Ira, confusão, horror e, finalmente, uma terrível agonia. aproximou-se até o outro lado
do carro, onde ele estava, mas não deixou que o tocasse.
- É que não o vê? -perguntou-lhe com um tom brusco por causa das intensas emoções-. Já não sei quem sou. Na Macedônia sabia quem era; depois me converti nisto
-disse, enquanto elevava o braço para que Grace pudesse ver as palavras que Príapo gravou a fogo-. E você o trocaste tudo -acabou, olhando-a fixamente.
A angústia que refletiam seus olhos rasgava ao Grace.
- por que tiveste que me trocar, Grace? por que não me deixou como estava? Tinha aprendido, à força de vontade, a não sentir nada. Simplesmente vinha a este
mundo, fazia o que me ordenavam e me partia. Não desejava nada. E agora... -olhou a seu redor, como um homem imerso em um pesadelo da que não pode escapar.
Ela alargou o braço.
- Julián...
Negando com a cabeça, ele se afastou de sua mão.
- Não! -exclamou, mesándose o cabelo-. Não sei aonde pertenço. Não o entende.
- Então, explique-me isso lhe suplicou Grace.
- Como vou explicar te o que é caminhar entre dois mundos e ser desprezado por ambos? Não sou humano, nem tampouco um deus; sou um híbrido abominável. Não
tem idéia de como cresci: minha mãe entregou a meu pai, que entregou a sua esposa, que entregava a qualquer que estivesse perto para me afastar de sua vista. E durante
os últimos vinte séculos não fui mais que uma moeda de mudança, algo que se podia comprar e vender. passei toda minha vida procurando um lugar ao que poder chamar
lar. Procurando a alguém que me quisesse pelo que sou, não por meu rosto nem por meu corpo. -O tortura que refletiam seus olhos feria o Grace como uma queimadura.
- Eu te quero, Julián.
- Não, não é certo. Como foste querer me?
Ela ficou boquiaberta ante sua pergunta.
- Melhor dava que como não ia fazer o. meu deus, jamais em minha vida desejei estar junto a alguém como agora desejo estar contigo.
- É luxúria, nada mais.
Isso sim conseguiu zangá-la. Como se atrevia a desprezar seus sentimentos como se fossem algo corriqueiro! O que sentia para ele era muito mais profundo que
a mera luxúria, era algo que lhe chegava até a alma.
- Não me diga o que sinto ou o que não. Não sou uma menina.
Julián meneou a cabeça, incapaz de acreditar suas palavras. tratava-se da maldição. Tinha que ser isso. Ninguém podia amá-lo. Ninguém o tinha feito nunca,
desde dia em que nasceu.
Mas que Grace o amasse...
Seria um milagre. Seria...
A glória. E ele não tinha nascido para saboreá-la.
"Sofrerá como nenhum outro homem o tem feito."
Só se tratava de outra estratagema dos deuses. Outro cruel engano concebido para castigá-lo.
E já estava cansado. Exausto e esgotado pela luta. Só queria escapar ao sofrimento. Procurava um porto onde refugiar-se daqueles aterradores sentimentos que
o assaltavam cada vez que a olhava.
Grace apertou os dentes ao ver a negativa nos olhos do Julián. Mas, quem podia culpá-lo?
Tinham-no ferido em incontáveis ocasione. Mas de algum modo, de alguma forma, conseguiria lhe provar o muito que significava para ela.
Tinha que fazê-lo. Porque perdê-lo significaria a morte para ela.
Capítulo 15
Julián manteve a distância entre eles o que ficava do fim de semana. Por muito que Grace tentava derrubar a barreira que o rodeava, ele a apartava sem duvidá-lo.
Nem sequer queria que lhe lesse.
Totalmente descorazonada, foi ao trabalho na segunda-feira pela manhã, mas nem sequer deveria haver-se incomodado em ir à consulta. Não podia concentrar-se
em outra coisa que não fossem seus celestiales olhos azuis, carregados de confusão.
- Grace Alexander?
Grace elevou o olhar do escritório e viu uma mulher loira, incrivelmente formosa, de pouco mais de vinte anos que estava parada no oco da porta. Parecia que
acabava de sair de um desfile de modas na Europa, com aquele traje de seda vermelha do Armani e as meias e os sapatos a jogo.
- Sinto-o -lhe disse Grace-. Minha hora de visitas acabou. Se quer voltar amanhã...
- Tenho aspecto de necessitar a uma sexóloga?
A primeira vista, não. Mas claro, Grace tinha aprendido fazia já muito tempo a não fazer julgamentos apressados sobre os problemas da gente.
Sem que a convidasse, a mulher entrou tranqüilamente a sua consulta com um andar presunçoso e elegante que lhe resultava extrañamente familiar. Caminhou para
a parede onde estavam pendurados os títulos e certificados do Grace.
- Impressionante -lhe disse. Mas seu tom expressava justamente o contrário.
voltou-se para observar concienzudamente ao Grace e, pela careta zombadora em seu rosto, esta soube que a mulher a encontrava seriamente deficiente.
- Não é o bastante formosa para ele, sabe? muito baixa e muito rechoncha. E onde encontraste esse vestido?
Completamente ofendida, Grace adotou uma postura rígida.
- Como diz?
A mulher ignorou sua pergunta.
- me diga, não te incomoda estar perto de um homem como Julián, sabendo que se tivesse oportunidade, jamais quereria estar contigo? Tem um corpo tão bem formado,
é tão elegante... Tão forte e cruel... Sei que nunca antes tiveste detrás de ti a um homem como ele, e jamais voltará ao ter.
Atônita, Grace não era capaz de falar.
E tampouco teve que fazê-lo; a mulher seguiu sem deter-se.
- Seu pai era como ele. Imagine ao Julián com o cabelo escuro, um pouco mais baixo e de aparência mais vulgar, não tão refinado. Mas ainda assim, esse homem
tinha umas mãos que... Mmm... -Sorriu pensativamente, com o olhar perdido-. É obvio Diocles tinha todo o corpo marcado por horríveis cicatrize das batalhas; tinha
uma espantosa que lhe atravessava a bochecha esquerda. -Entrecerró os olhos com ira-. Jamais esquecerei o dia que tentou marcar ao Julián com uma adaga, para lhe
fazer essa mesma cicatriz. Nesse momento tivesse desejado que vivesse o suficiente para arrepender-se dessa infração, mas me assegurei de que não o fizesse. Julián
é fisicamente perfeito, e jamais permitirei que ninguém danifique a beleza que eu lhe dava. -A fria e calculadora olhar que Afrodita dedicou ao Grace fez que esta
se estremecesse.
- Não compartilharei a meu filho contigo.
A posesividad das palavras da deusa despertou a ira do Grace. Como se atrevia a aparecer agora e a dizer tal coisa?
- Se Julián significar tanto para ti, por que o abandonou?
Afrodita a olhou, furiosa.
- Crie que me deixaram outra opção? Zeus se negou a lhe dar a ambrósia; nenhum mortal pode viver no Olimpo. antes de que pudesse sequer protestar, Hermes me
tirou isso dos braços e o entregou a seu pai.
Grace viu o horror no rosto da Afrodita ao recordar aquele momento.
- Minha dor por sua perda ia além dos limites humanos. Inconsolável, encerrei-me para me afastar de tudo. Quando fui capaz de me enfrentar a todos eles de
novo, tinham passado quatorze anos na terra. Apenas se reconheci ao bebê que eu tinha amamentado. E ele me odiava. -Seus olhos brilharam como se estivesse lutando
por conter as lágrimas.
" Não tem idéia do que é ser mãe, e que esse filho que levaste em seu ventre amaldiçoe até seu próprio nome.
Grace compreendia sua dor, mas era ao Julián a quem amava; e seu sofrimento era o que mais lhe preocupava.
- Alguma vez tentou lhe dizer como se sentia?
- É obvio que o fiz -espetou a deusa-. Enviei ao Eros com meus presentes. Devolveu-me isso, com uma mensagem que um filho não deveria lhe dizer a sua mãe jamais.
- Estava ferido.
- E eu também -gritou Afrodita. Todo seu corpo tremia de fúria.
Desconfiada e bastante assustada pelo que uma deusa zangada pudesse fazer com ela, Grace observou como Afrodita fechava os olhos e respirava fundo para acalmar-se.
Quando voltou a falar, fez-o com voz dura e o corpo tenso.
- Ainda assim, enviei de novo ao Eros com mais presentes para o Julián. Rechaçou-os todos. Vi-me obrigada a presenciar como jurava lealdade e serviço a Ateneu
em vingança. -Resmungou o nome da deusa como se a desprezasse.
" Foi em seu nome que conquistou cidades com os dons que eu lhe outorguei quando nasceu: a força de Are, a moderação do Apolo e as bênções das Musas e as Obrigado.
Inclusive o inundei no rio Estigio para me assegurar de que nenhuma arma humana pudesse matá-lo ou deixá-lo marcado e, a diferença do que fez Tetis com o Aquiles,
inundei também seus tornozelos para que não tivesse nem um só ponto vulnerável. -Meneou a cabeça como se ainda não pudesse acreditar o que Julián fez.
" Fiz tudo o que esteve em minhas mãos por esse menino, e ele não me demonstrou a mais mínima gratidão. Nem o respeito que merecia. Finalmente, deixei de tentá-lo.
Posto que rechaçava meu amor, assegurei-me de que ninguém o amasse jamais.
O coração do Grace se deteve o escutar o egoísmo da deusa.
- Que fez o que?
Afrodita elevou o queixo, altiva, como uma rainha orgulhosa de seus frite e sangrentas façanhas.
- Amaldiçoei-lhe do mesmo modo que ele o fez comigo. Assegurei-me de que nenhuma mulher humana pudesse olhá-lo sem desejar seu corpo, e de que todo homem que
estivesse a seu redor o invejasse profundamente.
Grace não podia acreditar o que estava ouvindo. Como podia uma mãe ser tão cruel?
E logo que esse pensamento se afastou de sua mente, assaltou-a outro ainda mais horrível:
- Você foi a culpado de que Penélope morrera, verdade?
- Não, isso foi obra do Julián. É obvio que eu estava enfurecida quando Eros me contou o que tinha feito por seu irmão, e também porque Julián tinha ido a
ele e não a mim.
" Posto que não podia desfazer o que a flecha do Eros tinha conseguido, decidi diminuir seus efeitos. O que Julián teve com o Penélope foi algo insípido, e
ele sabe. -Afrodita se aproximou até a janela e contemplou a cidade.
" Se Julián tivesse ido a mim alguma vez, teria deixado que Penélope o amasse. Mas não o fez. Observei-o aproximar-se dela, noite detrás noite, tomando-a uma
e outra vez, e percebi seu mal-estar, sua angústia porque sabia que sua esposa não o amava. E ainda seguia me rechaçando e me amaldiçoando.
" Foram as lágrimas que derramei por ele ao longo dos anos o que pôs ao Príapo em seu contrário. Sempre foi o mais leal de meus filhos. Devi detê-lo logo que
soube que queria o sangue do Julián, mas não o fiz. Ansiava que a ira do Príapo conseguisse que Julián me buscasse e implorasse minha ajuda. -Apertou os dentes.
" Mas não o fez.
Grace compreendia sua dor, mas isso não trocava o que lhe tinha feito a seu filho.
- Como é que Julián acabou sendo amaldiçoado?
A deusa tragou saliva.
- Tudo começou a noite que Ateneu contou ao Príapo que não existia outro homem mais valente e forte que Julián. Ela o desafiou a enfrentar a seu melhor general
com o Julián. Dois dias mais tarde, contemplei como Julián cavalgava para a batalha e soube que não perderia. Quando venceu ao exército romano, Príapo se enfureceu.
" Eros se foi da língua e lhe contou o que tinha feito. Imediatamente, Príapo foi em busca do Jasón e Penélope. Eu não sabia as repercussões que ia ter. -envolveu-se
a cintura com os braços.
" Nunca tive intenção de que os meninos morreram. Não imagina as vezes que me pergunto ao cabo do dia por que deixei que ocorresse aquilo.
- Não houve nenhum modo de evitá-lo?
Afrodita negou tristemente com a cabeça.
- Inclusive meus poderes estão limitados pelas Parcas. Quando Julián se dirigiu a meu templo, depois de vê-los todos mortos, contive o fôlego pensando que
por fim ia em busca de minha ajuda. E então viu essa porca com a túnica do Príapo que se jogou em seus braços e lhe pediu que tomasse sua virgindade antes de que
tivesse lugar a cerimônia em que seria reclamada por meu outro filho. Se Julián tivesse pensado com claridade, sei que a teria rechaçado. -O rosto da deusa se escureceu
pela fúria.
" Se não tivesse sido pela Alexandria, esse dia meu filho tivesse vindo a mim. Sei que me teria pedido ajuda. Mas era muito tarde. Tudo acabou no mesmo momento
em que se derramou nela.
- E ainda assim te negou a ajudá-lo?
- Como podia escolher entre dois de meus filhos?
Grace se horrorizou ante a pergunta.
- E não foi isso o que fez quando permitiu que encerrassem ao Julián em um pergaminho?
Os olhos da Afrodita brilharam com tal malícia que Grace deu um passo atrás.
- Julián foi quem me rechaçou. Tudo o que tinha que fazer era me pedir ajuda e eu a teria dado.
Grace não podia acreditar o que estava ouvindo. Para ser uma deusa, Afrodita era bastante egoísta e curta de entendederas.
- Toda esta tragédia porque nenhum dos dois quis rebaixar-se a suplicar ao outro. Não posso acreditar que concedesse ao Julián a força de Are e logo o amaldiçoara
por essa força que você mesma lhe outorgou. Em lugar de esperá-lo ou de enviar a outros em seu nome, não te ocorreu alguma vez ir em pessoa?
Afrodita a olhou furiosa e indignada.
- Eu sou a Deusa do Amor, como quer que me arraste? Tem a mais ligeira idéia de quão embaraçoso é para mim que meu próprio filho me odeie?
- Embaraçoso? Tem ao resto do mundo para te amar. Julián não tem a ninguém.
Afrodita se aproximou dela, furiosa.
- te afaste dele. Advirto-lhe isso.
- por que? por que me ameaça quando não o fez com o Penélope?
- Porque ele não a amava.
Grace ficou paralisada.
- Está me dizendo...?
A deusa se esfumou.
- Venha já! -gritou Grace olhando ao teto-. Não pode te esfumar em metade de uma conversação!
- Grace?
A voz do Beth fez que desse um coice. Girando-se imediatamente, viu-a aparecendo pela porta.
- Com quem está falando? -perguntou-lhe Beth.
Grace fez um gesto abrangendo a consulta e depois pensou que não seria muito inteligente lhe dizer a sua companheira a verdade.
- Comigo mesma.
Beth a olhou sem acabar de acreditar-lhe Grace dejó las llaves y el correo sobre la mesa, y subió los escalones de dos en dos.
- Tem o costume de te gritar a ti mesma?
- Às vezes.
Beth elevou uma de suas escuras sobrancelhas.
- Parece-me que necessita uma sessão -comentou enquanto se afastava.
Fazendo caso omisso de sua companheira, Grace não perdeu tempo em recolher suas coisas. Estava desejando chegar a casa para ver o Julián.
logo que abriu a porta soube que algo ia mau. Julián não saiu a recebê-la.
- Julián? -chamou-o.
- Vamos.
Grace deixou as chaves e o correio sobre a mesa, e subiu os degraus de dois em dois.
- Não vais acreditar te quem passou hoje pela... -sua voz se desvaneceu ao chegar à porta de seu dormitório e ver o Julián com uma mão encadeada aos barrotes
da cama, tendido no centro do colchão, sem camisa e com a frente coberta de suor.
- O que está fazendo? -perguntou-lhe morto de medo.
- Não posso lutar mais, Grace -lhe respondeu respirando entrecortadamente.
- Tem que tentá-lo.
Ele meneou a cabeça.
- Necessito que me encadeie a outra mão. Não chego.
- Julián...
Ele a interrompeu com uma amarga e brusca gargalhada.
- Não é irônico? Tenho que te pedir que me encadeie quando todas as demais o faziam livremente às poucas horas de me apresentar ante elas. -Olhou-a diretamente
aos olhos-. Faz-o, Grace. Não poderia seguir vivendo se te fizesse mal.
Com o coração em um punho, ela cruzou a habitação até chegar junto à cama.
Quando esteve bastante perto, Julián alargou o braço e acariciou sua bochecha. Aproximou-a até ele e a beijou, tão profundamente que Grace pensou que ia deprimir
se.
Foi um beijo feroz e exigente. Um beijo que falava de desejo. E de promessas.
Julián mordiscou seus lábios e a afastou.
- Faz-o.
Grace passou o grilhão de prata pelos barrotes do cabecero.
O alívio do Julián foi evidente. Até esse momento, Grace não se deu conta de quão tenso tinha estado durante na semana anterior. Apoiou a cabeça no travesseiro
e, com dificuldade, respirou fundo.
Grace se aproximou e lhe aconteceu uma mão pela frente.
- Deus santo! -ofegou. Estava tão quente que quase lhe fez uma queimadura-. O que posso fazer?
- Nada, mas obrigado por perguntar.
Grace foi para o vestidor em busca de sua roupa. Quando começou a desabotoá-la blusa, Julián a deteve.
- Por favor, não o faça diante de mim. Se vir seus peitos... -Jogou a cabeça para trás como se alguém lhe tivesse aplicado um ferro candente.
Grace foi consciente nesse momento de quão acostumada estava a sua presença; não tinha pensado em despir-se em outro lado.
- Sinto-o -se desculpou.
trocou-se no quarto de banho e molhou umas toalhas para colocar-lhe na frente.
Voltou para a habitação para refrescá-lo.
Acariciou-lhe o cabelo, empapado de suor.
- Está ardendo.
- Sei. Sinto-me como se estivesse em um leito de brasas.
Vaiou quando Grace lhe aproximou a toalha fria.
- Não me contaste que tal te foi o dia -lhe disse sem fôlego.
Grace ofegou ao sentir que o amor e a felicidade a invadiam. Todos os dias Julián o fazia essa pergunta. Todos os dias contava as horas para retornar a casa
junto a ele.
Não sabia o que ia fazer quando partisse.
Obrigando-se a não pensar nisso, concentrou-se em cuidá-lo.
- Não há muito que contar -sussurrou. Não queria curvá-lo com o que sua mãe lhe tinha confessado. Não enquanto estivesse assim. Já o tinham ferido o bastante,
e não seria ela a que aumentasse sua dor-. Tem fome? -perguntou-lhe.
- Não.
Grace se sentou a seu lado. Passou toda a noite lhe lendo e refrescando-o.
Julián não dormiu. Não pôde. Só era consciente da pele do Grace quando o tocava e de seu doce perfume floral. Invadia seus sentidos e fazia que a cabeça lhe
desse voltas. Todas as fibras de seu corpo lhe exigiam que a possuísse.
Com os dentes apertados, atirou das cadeias de prata que capturavam suas bonecas e lutou contra a escuridão que ameaçava devorando. Não queria render-se.
Não queria fechar os olhos e desperdiçar o pouco tempo que ficava para estar junto ao Grace enquanto ainda estivesse cordato. Se deixava que a escuridão o
consumisse não despertaria até estar de volta no livro. Sozinho.
- Não posso perdê-la -murmurou. A simples ideia de perdê-la fazia pedaços o pouco que ficava de coração.
O relógio de parede deu as três. Grace se tinha ficado dormida fazia muito pouco momento. Tinha a cabeça e a mão apoiadas sobre seu abdômen e seu fôlego lhe
acariciava o estômago.
Podia sentir seu cabelo lhe roçando a pele, a calidez de seu corpo filtrando-se por seus poros até lhe chegar à alma.
O que daria de poder tocá-la...
Fechou os olhos, jogou a cabeça para trás e se permitiu sonhar pela primeira vez desde fazia séculos. Sonhou passando noites inteiras junto ao Grace.
Sonhou que chegava o dia em que podia amá-la como se merecia. Um dia em que ele seria livre para poder entregar-se a ela. Sonhou em ter um lar junto ao Grace.
E sonhou com meninos de alegres olhos cinzas, e doces e travessos sorrisos.
Ainda estava sonhando quando a luz do amanhecer começou a filtrar-se pelas janelas e o relógio deu as seis. Grace despertou.
Esfregou a bochecha sobre seu peito, acariciando o de tal modo que para o Julián supôs uma tortura.
- bom dia -o saudou sorridente.
- bom dia.
Grace se mordeu o lábio ao passear o olhar sobre seu corpo e enrugou a frente pela preocupação.
- Está seguro que temos que fazer isto? Não te posso liberar um ratito?
- Não! -exclamou com ênfase.
Grace agarrou o telefone e marcou o número da consulta para falar com o Beth.
- Não irei em um par de dias, pode te fazer carrego de alguns de meus pacientes?
Julián franziu o cenho ao escutá-la.
- É que não vai trabalhar? -perguntou-lhe assim que pendurou.
Grace não podia acreditar que lhe fizesse essa pergunta.
- E te deixar aqui tal e como está?
- Estarei bem.
Ela o olhou como se se tornou completamente louco.
- E se passasse algo?
- Como o que?
- Pode haver um incêndio ou alguém pode entrar e te fazer qualquer coisas enquanto está aí indefeso.
Julián não discutiu. Entusiasmou-lhe o fato de vê-la tão disposta a ficar junto a ele.
No meio da tarde, Grace foi testemunha de que a maldição piorava. Cada centímetro do corpo do Julián estava talher de suor. Os músculos dos braços estavam
totalmente tensos e logo que falava; quando o fazia, apertava os dentes.
Mas seguia olhando-a com um sorriso, e seus olhos eram quentes e alentadores enquanto seus músculos se contraíam com contínuos espasmos e suportava o sofrimento
que ameaçava devorando-o.
Grace seguiu refrescando-o, mas logo que aproximava a toalha a sua pele se esquentava tanto que logo que era capaz de tocá-la depois.
Para quando chegou a meia-noite Julián delirava.
Observou impotente como se agitava e amaldiçoava como se um ser invisível estivesse lhe arrancando a pele a tiras. Grace nunca tinha visto algo assim. Estava
lutando tanto que quase temia que derrubasse a cama.
- Não posso suportar isto -sussurrou. Baixou correndo as escadas e chamou a Selena.
Uma hora depois, Grace abriu a porta a Selena e a sua irmã Tiyana. Com o cabelo negro e os olhos azuis, Tiyana não se parecia em nada a Selena. Era uma das
poucas sacerdotisas brancas de vodu; regentaba uma loja de artigos mágicos e fazia de guia turística pelo cemitério as sextas-feiras de noite.
- Não sabem quanto lhes agradeço que tenham vindo -lhes disse Grace ao fechar a porta, uma vez passaram ao saguão.
- Não é nada -lhe respondeu Selena.
Tiyana levava um timbal sob o braço e ia vestida com um singelo vestido marrom.
- Onde está?
Grace as levou a piso superior.
Tiyana pôs um pé na habitação e ficou paralisada ao ver o Julián sobre a cama presa de contínuas convulsões e amaldiçoando a todo o panteão grego.
A cor abandonou seu rosto.
- Não posso fazer nada por ele.
- Tiyana -a repreendeu Selena-. Tem que tentá-lo.
Com os olhos abertos como pratos pelo medo, Tiyana meneou a cabeça.
- Quer um conselho? Sela esta habitação e deixa-o até que retorne de onde veio. Há algo tão maligno e poderoso observando-o que não me atrevo a lhe fazer frente.
-Olhou a Selena-. Não percebe o ódio?
Grace começou a tremer ao escutar a Tiyana, e seu coração começou a pulsar cada vez mais rápido.
- Selena? -chamou a seu amiga. Necessitava desesperadamente que alguém aliviasse o sofrimento do Julián de algum modo. Tinha que haver algo que elas pudessem
fazer.
- Sabe que não posso lhe ajudá-lo disse Selena-. Meus feitiços nunca funcionam.
Não!, gritou sua mente. Não podiam abandonar o daquele modo.
Olhou ao Julián enquanto este lutava por liberar-se dos grilhões.
- Há alguém a quem pode ir em busca de ajuda?
- Não -respondeu Tiyana-. De fato, nem sequer posso permanecer aqui. Não te ofenda, mas tudo isto me põe os cabelos de ponta. -Lançou um olhar categórico a
sua irmã-. E você sabe muito bem a que tipo de atrocidades me enfrento diariamente.
- Sinto muito, Grace -se desculpou Selena, lhe acariciando o braço-. Investigarei e verei o que posso descobrir, de acordo?
Com o coração em um punho, Grace não teve mais remedeio que as acompanhar à porta.
Quando a fechou, deixo-se cair sobre ela com cansaço.
O que ia fazer?
Não podia limitar-se a aceitar que não havia ajuda possível para o Julián. Tinha que haver algo que pudesse aliviar sua dor. Algo no que ela ainda não tivesse
pensado.
Subiu as escadas e voltou junto a ele.
- Grace? -Julián a chamou com um gemido tão agônico que seu coração acabou de fazer-se pedaços.
- Estou a seu lado, carinho -lhe disse, lhe acariciando a frente.
Ele deixou escapar um grunhido selvagem, como o de um animal apanhado em uma armadilha, e se lançou sobre ela.
Aterrorizada, Grace se afastou da cama.
dirigiu-se ao vestidor, com as pernas trementes, e agarrou o exemplar de La Odisséia.
Aproximou a cadeira de balanço à cama e começou a ler.
Pareceu relaxá-lo. Ao menos não se revolvia com tanta força.
Com o passo dos dias, a esperança do Grace se murchava. Julián estava no certo ao afirmar que não havia modo algum de romper a maldição se não conseguia superar
a loucura.
Não podia suportar vê-lo sofrer, horas detrás hora, sem nenhum momento de alívio. Não era de sentir saudades que odiasse a sua mãe. Como podia Afrodita deixá-lo
passar por isso sem mover um só dedo para ajudá-lo?
E tinha sofrido daquele modo durante séculos...
Grace estava totalmente fora de si.
- Como podem permiti-lo! -gritou zangada, olhando ao teto.
- Eros! -chamou-lhe-. Me ouve? Ateneu? Há alguém? Como permitem que sofra assim? Se o amarem um pouco, por favor, ajudem.
Tal e como esperava, ninguém respondeu.
Deixou descansar a cabeça sobre a mão e tentou pensar em algo que pudesse ajudá-lo. Certamente haveria algo que...
Uma luz cegadora atravessou a habitação.
Perplexa, elevou a vista e se encontrou com a Afrodita que acabava de materializar-se junto à cama. Se se tivesse encontrado com um burro na cozinha não se
surpreendeu tanto.
A deusa perdeu a cor do rosto ao contemplar como seu filho se revolvia, agitado pelos espasmos, sofrendo uma horrível agonia. Alargou uma mão para ele e a
retirou com brutalidade, deixando-a cair enquanto apertava o punho.
Nesse momento olhou ao Grace.
- Quero-lhe -disse em voz baixa.
- Eu também.
Afrodita cravou o olhar no chão, mas Grace foi testemunha de sua luta interior.
- Se o Libero, separará-o de mim para sempre. Se não o fizer, as duas o perderemos. -Afrodita a olhou aos olhos-. estive pensando a respeito do que me disse
e acredito que tem razão. Fiz-o forte e jamais devi castigá-lo por isso. Quão único desejava é que me chamasse mãe. -Olhou a seu filho.
- Só queria que me quisesse, Julián. Um poquito nada mais.
Grace tragou saliva ao ver a dor no rosto da Afrodita quando acariciou a mão do Julián.
Ele vaiou, como se o roce lhe tivesse queimado a pele.
Afrodita retirou a mão.
- me prometa que o cuidará muito, Grace.
- Tanto como ele me permita isso; prometo-o.
Afrodita assentiu e colocou a mão sobre a frente do Julián. Ele jogou a cabeça para trás, como se acabasse de ser alcançado por um raio. A deusa inclinou a
cabeça e o beijou com ternura nos lábios.
Imediatamente, Julián se relaxou e seu corpo ficou imóvel.
Os grilhões se abriram e ainda assim não se moveu. O coração do Grace deixou de pulsar ao dar-se conta de que Julián não respirava. Aterrorizada, alargou uma
tremente mão para tocá-lo.
Ele inspirou com brutalidade.
Enquanto Afrodita tendia a mão para o Julián, Grace percebeu em seus olhos a necessidade de sentir o amor de um filho que nem sequer sabia que estava ali.
Era o mesmo olhar ofegante que freqüentemente captava nos olhos do Julián quando ele não era consciente de que o estava observando.
Como era possível que duas pessoas que se necessitavam tão desesperadamente não fossem capazes de arrumar as coisas?
Afrodita desapareceu no mesmo instante que Julián abriu os olhos.
Grace se aproximou dele. Tremia tanto que lhe tocavam castanholas os dentes. A febre tinha desaparecido e sua pele estava tão fria como o gelo.
Recolheu o edredom do chão e o cobriu com ele.
- O que passou? -perguntou Julián com voz insegura.
- Sua mãe te liberou.
Julián pareceu emudecer pela surpresa.
- Minha mãe? esteve aqui?
Grace assentiu com a cabeça.
- Estava preocupada com ti.
Julián não podia acreditar o que estava escutando. Seria certo?
Mas, por que ia ajudar o sua mãe agora se sempre havia lhe tornado as costas quando mais a tinha necessitado? Não tinha sentido.
Com o cenho franzido, tentou baixar-se da cama.
- Não, nem pensar -disse Grace com brutalidade-. Acabo de fazer que ponha bem e não vou a...
- Preciso ir ao banho urgentemente -a interrompeu ele.
- Ah!
Grace o ajudou a descer da cama. Estava tão fraco que não se agüentava em pé e ela o sustentou até atravessar o corredor. Julián fechou os olhos e inalou o
doce aroma do Grace. Temeroso de lhe fazer danifico, tentou não apoiar-se muito nela.
Seu coração se enterneceu ao ver a forma em que ela o cuidava, ao perceber a sensação de seus braços lhe envolvendo a cintura enquanto o ajudava a caminhar.
Seu Grace. Como ia suportar separar-se dela?
Uma vez atendeu suas necessidades, lhe preparou um banho quente e o ajudou a meter-se na banheira.
Julián a contemplou enquanto o lavava. Parecia-lhe impossível que tivesse permanecido a seu lado todo aquele tempo. Não recordava quase nada dos últimos dias,
mas se lembrava do som de sua voz atravessando a escuridão para reconfortá-lo.
Tinha-a ouvido pronunciar seu nome a gritos e, em ocasiões, estava seguro de haver sentido sua mão sobre a pele, ancorando-o à prudência.
Suas carícias tinham sido sua salvação.
Fechando os olhos, desfrutou da sensação das mãos do Grace deslizando-se sobre sua pele enquanto o lavava. Percorriam-lhe o peito, os braços e o abdômen. E
quando roçaram acidentalmente sua ereção, não pôde evitar dar um coice ante a intensidade com a que percebeu a carícia.
Como a desejava...
- me beije -balbuciou Julián.
- Não será perigoso?
Lhe sorriu.
- Se pudesse me mover já estaria comigo na banheira. Asseguro-te que neste momento estou tão indefeso como um bebê.
Vacilante, ela se umedeceu os lábios e lhe acariciou uma mão; seu roce foi suave e tenro. Olhou-o fixamente aos lábios como se pudesse devorá-lo, e Julián
sentiu que o frio desaparecia ao contemplar seus olhos.
Grace se inclinou e o beijou com ânsia. Ele gemeu ao sentir seus lábios; desejava muito mais. Necessitava suas carícias.
Para sua surpresa, obteve o que desejava.
Grace se apartou um instante de seus lábios, o suficiente para tirá-la roupa e ficar nua ante ele. Lentamente e com movimentos sedutores, meteu-se na banheira
e se sentou escarranchado sobre sua cintura.
Julián voltou a gemer ao sentir seu pêlo púbico sobre o estômago. Grace o beijou de novo, tão ardentemente que ele acreditou que se abrasava.
Maldição, nem sequer podia abraçá-la! Não podia mover os braços. E necessitava com desespero rodeá-la com força.
Ela deveu perceber sua frustração porque se incorporou com um sorriso.
- Agora me toca te mimar -sussurrou antes de enterrar os lábios em seu pescoço.
Fechou os olhos enquanto Grace deixava um rastro de beijos sobre seu peito. Quando chegou ao mamilo todo começou a lhe dar voltas ao sentir a língua do Grace
brincando e sugando-o. Nada tinha conseguido estremecê-lo do modo que o faziam suas carícias. Não recordava nenhuma ocasião em que alguém tivesse feito o amor a
ele.
E nenhuma mulher se entregou daquele modo. Nem lhe tinha dado tanto.
Conteve a respiração no momento que ela introduziu a mão entre seus corpos.
- Oxalá pudesse te fazer o amor -sussurrou Julián.
Ela elevou a cabeça para olhá-lo aos olhos.
- Faz-o cada vez que me toca.
Sem saber como, conseguiu abraçá-la, embora os braços não deixavam de lhe tremer, e a atraiu para seu peito para reclamar seus lábios.
Escutou-a tirar o plugue com o pé enquanto aprofundava o beijo ainda mais e atormentava com leves carícias seu membro inchado.
Julián sentiu vertigem ao notar a mão dela sobre seu verga. Ansiava suas carícias; desejava-as de um modo que não era capaz de definir.
Uma vez a banheira se esvaziou de água, Grace abandonou seus lábios para lhe abrasar a pele com diminutos beijos, descendendo pelo peito. Julián jogou a cabeça
para trás e a apoiou no bordo enquanto lhe acontecia a língua pelo estômago e o quadril.
E então, para sua surpresa, levou-se seu membro à boca. Ele grunhiu e lhe sujeitou a cabeça com ambas as mãos, deleitando-se nas sensações que provocavam a
língua e a boca do Grace, lambendo e rodeando seu membro. Nenhuma outra mulher tinha feito isso antes. limitaram-se a tomar o que podiam dele, sem lhe oferecer jamais
nada em troca.
Até que Grace chegou.
Sua boca arrasou com as frestas de seu sentido comum e venceu o pouco que ficava de sua resistência. Tremia-lhe todo o corpo pela ternura que ela estava demonstrando.
- Sinto-o -se desculpou Grace, afastando-se dele-. Outra vez está tremendo de frio.
- Não é pelo frio -lhe respondeu com voz rouca-. É por ti.
O sorriso do Grace lhe atravessou o coração. Voltou a inclinar-se e prosseguiu com seu implacável assalto.
Quando terminou, Julián acreditou ter sofrido uma intensa sessão de tortura. Não poderia sentir-se mais satisfeito embora tivesse chegado ao clímax.
Grace o ajudou a sair da banheira. Ainda lhe tremiam as pernas e teve que apoiar-se nela para chegar à habitação.
Ela o sustentou até que esteve deitado e, depois, tampou-o com todas as mantas que encontrou. Depositou um beijo tenro sobre sua frente e acomodou a roupa
da cama.
- Tem fome?
Julián só foi capaz de assentir com a cabeça.
Ela se separou de seu lado o tempo justo para esquentar um tigela de sopa. Quando retornou, ele estava profundamente dormido.
Deixou o tigela na mesita de noite e se deitou junto a ele. Abraçou-o e ficou dormida.
Julián demorou três dias em recuperar toda sua força. Durante todo esse tempo, Grace esteve a seu lado. Ajudando-o.
Não acabava de compreender o motivo da devoção que lhe professava. E sua força. Era a mulher que tinha estado esperando toda sua vida. E com cada dia que passava,
era consciente de que o amor que sentia por ela crescia um pouco mais. Necessitava-a a seu lado.
- Tenho que dizer-lhe se disse a si mesmo enquanto se secava com uma toalha. Não podia permitir que passasse um dia mais sem que ela soubesse o que significava
para ele.
Deixou o quarto de banho e atravessou o corredor até chegar ao dormitório do Grace. Estava falando com a Selena.
- É obvio que não lhe contei o que sua mãe me disse. Jesus!
Julián retrocedeu um passo e se apoiou contra a parede enquanto escutava ao Grace.
- O que se supõe que devo lhe dizer? "Por certo, Julián, sua mãe me ameaçou"?
Ele sentiu que acabavam de lhe dar um golpe no peito e começou a vê-lo todo negro. Entrou na habitação.
- Quando falaste com minha mãe? -inquiriu.
Grace elevou a vista, surpreendida.
- Isto... Lanie, tenho que pendurar. Adeus. -Deixou o auricular em seu sítio.
- Quando falaste com ela? -insistiu.
Grace encolheu os ombros descuidadamente.
- O dia que começou a te sentir mau.
- O que te disse?
Ela voltou a encolher os ombros, esta vez com acanhamento.
- Não foi uma verdadeira ameaça, só me disse que não te compartilharia comigo.
A ira o atravessou. Como se tinha atrevido! Quem demônios se acreditava sua mãe que era para exigir que Grace ou ele mesmo a obedecessem?
Que imbecil tinha sido ao pensar que o coração da Afrodita se abrandou.
Quando ia aprender?
- Julián -o repreendeu Grace, ficando em pé e aproximando-se dele, ao pé da cama-, ela trocou. Quando veio a te liberar...
- Não, Grace -a interrompeu-. A conheço muito melhor que você.
E sabia do que sua mãe era capaz. Sua crueldade fazia que as ações de seu pai parecessem meras travessuras.
Com o coração abatido, compreendeu que jamais poderia lhe confessar ao Grace o que sentia por ela.
E o que era ainda pior, não podia ficar com ela. Se algo tinha aprendido a respeito dos deuses era que jamais o deixariam viver em paz.
Quanto tempo demorariam para fazer mal ao Grace? Quanto tempo lhe levaria ao Príapo pô-la em seu contrário? Ou quando se vingaria sua mãe de ambos?
cedo ou tarde, passariam-lhe fatura por ser feliz. Não lhe cabia a menor duvida. E a simples ideia de que Grace pudesse sofrer...
Não. Jamais poderia arriscar-se.
Os dias passaram voando enquanto eles permaneciam tanto tempo juntos como lhes resultava possível.
Julián ensinou ao Grace cultura clássica grega e algumas forma muito interessantes de desfrutar de do Reddi-wip e a nata de chocolate. Grace lhe ensinou a
despejar ao contrário no Monopoly e a ler em inglês.
depois de umas quantas classes mais de condução, e de uma nova embreagem, Grace reconheceu que Julián não tinha futuro à frente de um volante.
Ao Grace parecia que logo que tinha passado o tempo e, entretanto, o último dia do prazo do Julián chegou tão rápido que a deixou aterrorizada.
A noite prévia a esse fatídico dia, fez o mais surpreendente dos descobrimentos: não podia viver sem o Julián.
Cada vez que pensava em retomar sua antiga vida, sem ele, acreditava morrer de dor.
Mas finalmente compreendeu que a decisão era do Julián, e só dele.
- Por favor, Julián -lhe sussurrou enquanto ele dormia a seu lado-. Não abandone.
Capítulo 16
Nenhum dos dois falou muito em todo o dia. De fato, Julián a evitou constantemente.
Isso, mais que nenhum outro detalhe, fez-lhe imaginar-se qual era a decisão que tinha tomado.
Grace tinha o coração destroçado. Como podia abandoná-la depois de tudo o que tinham acontecido juntos? depois de tudo o que tinham compartilhado?
Não podia suportar a idéia de perdê-lo. A vida sem ele seria intolerável.
Ao entardecer, encontrou-o sentado na cadeira de balanço do alpendre, contemplando o sol por última vez. Seu rosto tinha uma expressão tão dura que apenas
se podia reconhecer ao homem alegre que tinha chegado a amar tanto.
Quando o silêncio se fez muito insuportável, falou-lhe:
- Não quero que me abandone. Quero que fique aqui, em minha época. Posso cuidar de ti, Julián. Tenho muito dinheiro e te ensinarei tudo o que deseje saber.
- Não posso ficar -lhe respondeu entre dentes-. É que não o entende? Todos os que estiveram perto de mim alguma vez foram castigados pelos deuses: Jasón,
Penélope, Calista, Atolycus. -Olhou-a como se estivesse aturdido-. Pelo Zeus! Kyrian acabou crucificado.
- Esta vez será diferente.
ficou em pé e a olhou com dureza.
- Tem razão. Será diferente. Não vou ficar me aqui para ver como morre por minha culpa.
Passou por seu lado e entrou na casa.
Grace apertou os punhos, desejando estrangulá-lo.
- É um... teimoso!
Como podia ser tão insuportável?
Nesse momento notou que o diamante do aliança de casamento de sua mãe lhe cravava na palma da mão. Abriu-a e o olhou durante um bom momento. Estava a ponto
de conseguir que o passado deixasse de atormentá-la. Pela primeira vez em sua vida tinha um futuro no que pensar. Um futuro que a enchia de felicidade.
E não estava disposta a permitir que Julián o jogasse tudo pela amurada.
Mais decidida que nunca, abriu a porta da casa e sorriu maliciosamente.
- Não vais liberar te de mim, Julián da Macedônia. Pode que tenha vencido aos romanos, mas te asseguro que a meu lado são uns adoentados.
Julián estava sentado na salita, com seu livro no regaço. Passava a palma da mão sobre a antiga inscrição, desprezando-a mais que nunca.
Fechou os olhos e recordou a noite que Grace o convocou. Recordou o que se sentia quando não tinha consciência de sua própria identidade. Quando não era mais
que um simples escravo sexual grego.
Fazia muito, muito tempo que se achava perdido em um lugar escuro e temível, e Grace o tinha encontrado.
Com sua fortaleza e sua bondade tinha conseguido desafiar quão pior havia nele e lhe havia devolvido a humanidade. Só ela tinha percebido seu coração e tinha
decidido que merecia a pena lutar por ele.
Fica com ela.
Pelos deuses!, que fácil parecia. Que singelo. Mas não se atrevia. Já tinha perdido a seus filhos. Grace era a proprietária do que ficava de coração, e perdê-la
por culpa de seu irmão...
Seria o mais doloroso ao que jamais se enfrentou.
Até ele tinha um ponto débil. Agora conhecia o rosto e o nome da pessoa que poderia lhe fazer cair de joelhos.
Grace.
Tinha que apartar-se dela para que estivesse a salvo.
Sentiu-a entrar na estadia. Abriu os olhos e a viu de pé, no oco da porta, olhando-o fixamente.
- Oxalá pudesse destruir esta coisa -grunhiu ao devolver o livro a mesita.
- depois de esta noite não terá necessidade de fazê-lo.
Suas palavras lhe doeram. Como podia fazer isto por ele? Não suportava a idéia de que alguém a utilizasse e aqui estava ele, usando-a do mesmo modo que o tinham
usado a ele tantas e tantas vezes.
- Ainda está disposta a me deixar utilizar seu corpo para que possa partir ?
A sinceridade de seu olhar o deixou paralisado.
- Se desse modo conseguimos que seja livre, sim.
A seguinte pergunte lhe atravessava na garganta, mas tinha que saber a resposta.
- Chorará quando me tiver partido?
Grace apartou o olhar e ele viu a verdade em seus olhos. Não era muito melhor que Paul. Era exatamente igual a aquele egoísta.
Mas, depois de tudo, era filho de seu pai. cedo ou tarde, o mau sangue sempre fazia ato de presença.
Grace se deu a volta e partiu, deixando-o solo com seus pensamentos. Deixou que seus olhos vagassem pela salita. Quando olhou em frente do sofá, o coração
lhe encolheu.
Como ia sentir falta das noites passadas ali junto ao Grace, escutando sua voz. Sua risada.
Mas sobre tudo, sentiria falta de suas carícias.
Era muito tentador ficar, mas não podia fazê-lo. Não tinha sido capaz de proteger a seus filhos, como ia proteger ao Grace?
- Julián?
sobressaltou-se ao escutar a voz do Grace que o chamava do piso de acima.
- O que?
- São onze e meia. Não deveria subir?
Julián olhou o vulto que se apreciava sob os jeans. Tinha chegado a hora de lhe dar utilidade.
Deveria estar encantado. Era o que tinha querido do primeiro instante em que a viu.
Mas, por alguma razão, doía-lhe o fato de tomá-la assim.
Pelo menos não lhe fará mal.
Não?
De fato, duvidava muito que Paul a tivesse feito sofrer tanto como ele estava a ponto de fazer.
- Julián?
- Vou -respondeu, obrigando-se a abandonar o sofá.
Na porta, voltou a cabeça para olhá-lo tudo por última vez.
Inclusive agora podia ver a imagem do Grace tombada no sofá, com os peitos talheres de nata enquanto ele, muito lentamente, lambia-os até não deixar nem rastro
da nata. Podia escutar sua risada e ver o brilho de seus olhos cada vez que a levava a clímax.
"Não me abandone, Julián", tinha-lhe sussurrado a noite anterior enquanto ele supostamente dormia, e suas palavras lhe tinham abrasado. Agora lhe estavam partindo
em dois o coração.
- Julián?
Dando-a volta, encaminhou-se para as escadas e se apoiou no passamanes. Seria a última vez que subiria estes degraus. A última vez que cruzaria o corredor
para chegar ao dormitório do Grace.
E a última vez que a veria em sua cama...
Com o coração na garganta, deu-se conta de que logo que podia respirar.
por que tinha que ser assim?
Soltou uma amarga gargalhada. Quantas vezes se teria feito essa mesma pergunta?
deteve-se o chegar à porta. A habitação estava iluminada pela tênue luz das velas, mas o que mais lhe impressionou foi ver o Grace com a negligé vermelha que
ele tinha eleito.
Estava arrebatadora.
De repente, sentiu que a língua acabava de cair até o chão e que era imperante enrolá-la de novo para colocá-la na boca.
- Não me vais pôr isso fácil, verdade? -perguntou-lhe com voz rouca.
Lhe dedicou um sorriso travesso.
- Deveria fazê-lo?
Totalmente embevecido por ela, Julián era incapaz de mover um músculo enquanto observava como se aproximava.
- Não tem muita roupa?
antes de que pudesse responder, ela agarrou o bordo inferior de sua camisa e a levantou até passá-la por sua cabeça. Uma vez a jogou no chão, alargou um braço
e colocou a mão em seu peito, justo sobre o coração. Nesse instante, para o Julián era a mulher mais formosa do mundo. Nem sequer a beleza de sua mãe podia competir
com a do Grace.
Permaneceu imóvel como uma estátua enquanto ela deslizava as mãos sobre sua pele, lhe provocando calafrios.
Não, não ia ficar o nada fácil.
Julián notou que ela tentava lhe desabotoar o botão da calça.
- Grace -lhe advertiu, e lhe apartou as mãos.
- Mmm? -murmurou ela, com os olhos obscurecidos pela paixão.
- Não importa.
Ela se apartou e subiu à cama. Julián conteve o fôlego ao vislumbrar seu traseiro nu através da diáfana gaze da negligé.
tombou-se de lado e o olhou fixamente.
Depois de despojar-se dos jeans, uniu-se a ela. Fez que se tendesse de costas e, nessa posição, o profundo decote deixou à vista um de seus peitos. Julián
se aproveitou da situação.
- OH, Julián! -gemeu Grace.
Sentiu-a estremecer-se baixo ele quando passou a língua ao redor do endurecido mamilo. Seu corpo era fogo líquido e gritava lhe exigindo que a possuísse. Mas
não só desejava sua carne. Queria-a a ela.
E abandoná-la-o destroçaria.
Julián tragou e se apartou. Tinha estado esperando esta noite durante uma eternidade. Tinha passado a eternidade esperando a esta mulher.
Com muita ternura acariciou seu rosto, guardando na memória cada pequeno detalhe.
Seu preciosa Grace.
Jamais a esqueceria.
Sua alma chorava a gritos pelo que estava a ponto de lhe fazer. Separou-lhe as coxas com os joelhos.
estremeceu-se involuntariamente ao sentir sua pele nua sob a sua. E, nesse momento, cometeu o engano de olhá-la aos olhos.
O sofrimento que viu neles o deixou sem fôlego.
"Jamais teve nada que não roubasse antes". Se esticou ao escutar as palavras do Jasón em sua cabeça. Quão último queria era lhe roubar algo à mulher que lhe
tinha entregue tanto.
Como vou fazer lhe isto?
- A que está esperando? -perguntou-lhe ela.
Julián não sabia. Quão único tinha claro era que não podia apartar o olhar de seus tristes olhos cinzas. Uns olhos que chorariam se a utilizava para depois
abandoná-la. Uns olhos que chorariam de felicidade se ficava.
Mas se ficava, sua família a destruiria.
E, nesse instante, soube o que devia fazer.
Grace lhe envolveu a cintura com as pernas.
- Julián, date pressa. O tempo se acaba.
Ele não falou. Não podia fazê-lo. Em realidade, não confiava em si mesmo, e podia dizer algo que o fizesse trocar de opinião.
Ao longo dos séculos tinha sido muitas coisas: órfão, ladrão, marido, pai, herói, lenda e, finalmente, escravo.
Mas jamais tinha sido um covarde.
Não. Julián da Macedônia jamais tinha sido um covarde. Era o general que tinha contemplado vitorioso a legiões inteiras de romanos, e lhes tinha desafiado
entre gargalhadas a que lhe matassem e lhe cortassem a cabeça se podiam.
Esse era o homem que Grace tinha encontrado, e esse era o homem que a amava. E esse homem se negava a lhe fazer danifico.
Grace tentou mover os quadris para que o membro do Julián se afundasse nela, mas ele não a deixou.
- Sabe o que mais sentirei falta de? -perguntou-lhe, enquanto deslizava uma mão entre seus corpos e lhe acariciava o clitóris.
- Não -murmurou Grace.
- O aroma de seu cabelo cada vez que enterro meu rosto nele. O modo em que te agarra para mim e gritas quando te corre. O som de sua risada. E sobre tudo,
sua imagem ao despertar cada manhã, com o sol te banhando o rosto. Jamais poderei esquecê-lo.
Apartou a mão e moveu os quadris para encontrar as do Grace. Mas, em lugar de penetrá-la, tudo ficou em uma prazenteira carícia que os fez gemer a ambos.
Baixou a cabeça até a orelha do Grace e lhe mordiscou o pescoço.
- Sempre te amarei -lhe sussurrou.
Grace o ouviu respirar fundo no mesmo momento em que o relógio dava a meia-noite.
Com um brilhante brilho, Julián desapareceu.
Horrorizada, Grace permaneceu imóvel esperando despertar. Mas seguiu escutando as badaladas do relógio e se deu conta de que não era um sonho.
Julián se tinha ido.
foi-se de verdade.
- Não! -gritou enquanto se sentava na cama. Não podia ser! -. Não!
Desceu da cama com o coração martilleándole com força no peito e correu até o salão. O livro estava ainda sobre a mesita de café. Passou as páginas e viu que
Julián estava justo no mesmo sítio que antes, só que agora não sorria diabólicamente e levava o cabelo curto.
Não, não e não!, repetia sua mente uma e outra vez. por que tinha feito isso? por que?
- Como pudeste? -Perguntou-lhe enquanto abraçava o livro contra seu peito-. Eu te teria dado a liberdade, Julián. Não me teria importado. Deus!, Julián por
que te tem feito isto? -soluçou-. por que?
Mas no fundo sabia. A ternura que tinha visto em seus olhos falava por si mesmo. Tinha-o feito para não feri-la como Paul.
Julián a amava. E, do momento que chegou a sua vida, não tinha feito outra coisa que protegê-la. Cuidá-la.
Até o final. Mesmo que desse modo se negasse a possibilidade de ficar livre de um tortura eterno, ela tinha sido mais importante.
Grace não suportava pensar no sacrifício que Julián acabava de fazer. Via-o condenado a passar a eternidade na escuridão. Só e sofrendo uma agonia.
Lhe tinha contado que passava fome enquanto estava apanhada no livro, e sede. E em sua mente o via sofrer do mesmo modo que o tinha visto em sua cama. Recordou
as palavras que disse depois.
"Isto não é nada comparado com o que se sente dentro do livro"
E agora estava ali. Sofrendo.
- Não! -gritou-. Não permitirei que te faça isto, Julián. Ouve-me?
Abraçou com força o livro e se dirigiu a toda pressa à parte traseira da casa. Abriu as cristaleiras que davam ao jardim e correu para um claro iluminado pela
lua enche.
- Retorna para mim, Julián da Macedônia, Julián da Macedônia, Julián da Macedônia! -repetiu-o uma e outra vez, rogando por que aparecesse.
Não ocorreu nada. Nada de nada.
- Não!, por favor, não!
Com o coração destroçado, voltou para a salita.
- por que?, por que? -soluçava, ajoelhada no chão sem deixar de balançar-se para diante e para trás.
- Julián! -sussurrou com a voz rota enquanto as lembranças a assaltavam. Julián rendo-se com ela, abraçando-a. Julián sentado tranqüilamente, pensando. Seu
coração pulsando desenfreado ao mesmo ritmo que o seu.
Queria-o de volta.
Necessitava-o de volta.
- Não quero viver sem ti -balbuciou dirigindo-se ao livro-. O entende, Julián? Não posso viver sem ti.
De repente, uma luz cegadora iluminou a estadia.
Com a boca aberta, Grace elevou o olhar esperando encontrar-se com o Julián.
Mas não era ele. tratava-se da Afrodita.
- me dê o livro -lhe ordenou com o braço estendido.
Grace o abraçou com mais força.
- por que lhe faz isto? -inquiriu Grace-. É que não sofreu já bastante? Eu não o teria afastado de ti. Preferiria que estivesse contigo antes de que retornasse
ao livro. -limpou-se as lágrimas-. Está sozinho aí dentro. Solo na escuridão -sussurrou-. Por favor, não deixe que permaneça aí. me envie ao livro com ele, por favor.
Por favor!
Afrodita baixou a mão.
- Faria isso por ele?
- Faria algo por ele.
A deusa a observou com os olhos entrecerrados.
- me dê o livro.
Cegada pelas lágrimas, Grace o deu enquanto rezava para que Afrodita a ajudasse a reunir-se com ele.
Ela suspirou com força e abriu o livro.
- Vão a joder bem por isso.
Súbitamente, outro cintilo cegador iluminou a sala e Grace teve que fechar os olhos. A cabeça começou a lhe dar voltas e tudo pareceu girar a seu redor, fazendo
que seu estômago protestasse.
Por isso passava Julián cada vez que alguém o invocava? Não sabia com certeza, mas já era bastante terrorífico e por si só supunha uma tortura.
E, então, a luz desapareceu.
Grace caiu a um profundo fosso onde a escuridão era um ente com vida que a afogava, lhe impedindo de respirar e fazendo que lhe ardessem os olhos.
Tentou incorporar-se para frear a queda e sentiu baixo ela uma superfície amaciada que lhe resultava familiar.
A luz voltou e se encontrou em sua cama, com o Julián sobre ela.
Ele olhou ao redor, perplexo.
- Como...?
- Será melhor que esta vez não a chateiem -lhes disse Afrodita da porta-. Não quero nem pensar no que me farão os de acima se intento isto de novo.
E se esfumou.
Julián deixou de olhar o oco da porta e cravou os olhos no Grace.
- Grace, eu...
- te cale, Julián -lhe ordenou; não queria perder mais tempo- e insígnia me como querem os deuses que um homem ame a uma mulher.
Dizendo isto, agarrou-o pela cabeça e o aproximou para lhe dar um beijo apaixonado e profundo.
Ele o devolveu com ferocidade, e com um capitalista e magistral aposta se introduziu nela.
Jogou a cabeça para trás e grunhiu quando o úmido corpo do Grace lhe deu a bem-vinda, envolvendo-o com seu calidez. O impacto que sofreram seus sentidos foi
tão capitalista que se estremeceu da cabeça aos pés. Pelos deuses, era muito melhor do que tinha imaginado.
Recordava as palavras que lhe tinha dirigido.
"Não quero viver sem ti, Julián. Entende-o? Não posso viver sem ti."
Com a respiração entrecortada, olhou-a à cara e ficou subjugado ao sentir ao Grace, cálida e estreita, ao redor de seu verga. Deslizou a mão por seu braço,
até capturar sua mão e aferrá-la com força.
- Estou-te fazendo mal?
- Não -lhe respondeu com um olhar tenro e sincero. levou-se a mão do Julián aos lábios e a beijou-. Jamais me fará mal estando comigo.
- Se o fizer, diga-me isso e me deterei.
Ela o rodeou com os braços e as pernas.
- Se te ocorre tirá-la antes do amanhecer te perseguirei durante toda a eternidade para te dar uma surra.
Julián riu; não lhe cabia a menor duvida.
Grace lhe aconteceu a língua pelo pescoço e se deleitou ao sentir como vibrava entre seus braços.
Ele elevou os quadris, muito lentamente, torturando-a com o movimento e, sem prévio aviso, afundou-se nela com tanta força que Grace acreditou morrer de prazer.
Conteve o fôlego ao senti-lo por completo dentro dela. Era uma sensação incrível. Era maravilhoso sentir as investidas desse corpo ágil e forte.
Fechou os olhos e desfrutou de do movimento dos músculos do Julián, que se contraíam e se relaxavam sobre seu corpo. Entrelaçou as pernas com as suas e a enfeitiçou
o comichão que produzia o pêlo masculino.
Jamais havia sentido um pouco parecido. limitava-se a respirar e a expressar com seu corpo o amor que sentia por ele. Era dele. Embora logo a abandonasse,
desfrutaria deste momento de glória junto a ele.
Extasiada pelo peso de seu corpo sobre ela, passou-lhe as mãos pelas costas até chegar aos quadris e o empurrou, incitando-o a ir mais rápido.
Julián se mordeu os lábios quando sentiu que Grace lhe cravava as unhas nas costas. Como era possível que umas mãos tão pequenas tivessem o poder de vencê-lo?
Jamais o entenderia; como tampouco entenderia por que o amava.
O agradecia na alma.
- me olhe, Grace -lhe disse, afundando-se profundamente nela de novo-. Quero ver seus olhos.
Grace obedeceu. Julián tinha os olhos entrecerrados e, por seu modo de respirar e a expressão de seu rosto, soube que estava desfrutando de cada certeira investida.
Ela sentia como lhe contraíam os abdominais cada vez que se movia.
Elevou os quadris para sair ao encontro das furiosas apostas. Nada podia ser melhor que ter ao Julián sobre ela, beijando-a com paixão e deslizando-se dentro
e fora de seu entrepierna.
Quando acreditou que já não poderia resisti-lo mais, seu corpo estalou em milhares de estremecimentos de prazer.
- Julián! -gritou, arqueando mais seu corpo para ele-. Sim, OH, sim!
Ele se afundou nela até o fundo e permaneceu imóvel, observando-a enquanto os músculos de sua vagina se contraíam a seu redor.
Quando ela abriu os olhos, encontrou-se com seu diabólico sorriso.
- Te gostou disso, verdade? -perguntou-lhe, mostrando suas covinhas e rodando seus quadris para que ela o sentisse dentro.
Ao Grace custou um enorme esforço não gemer de prazer.
- esteve bem.
- Bem? -perguntou-lhe com um sorriso-. Acredito que terei que seguir tentando-o.
deu-se a volta e a arrastou consigo, com cuidado de que seu membro não a abandonasse.
Gemeu ao encontrar-se sobre ele. Julián alargou um braço e desfez o laço que fechava o decote da negligé. A diminuta parte de tecido se abriu.
O olhar de puro gozo que transmitiam seus olhos foi muito mais prazenteira para o Grace que senti-lo em seu interior. Sonriendo, elevou os quadris e as baixou
para absorvê-lo por inteiro.
Ela o sentiu estremecer-se.
- Te gostou disso, verdade?
- esteve bem. -Mas a voz estrangulada traía seu tom despreocupado.
Ela soltou uma gargalhada.
Julián elevou os quadris nesse momento e se introduziu ainda mais nela.
Grace vaiou de agradar ao sentir que a enchia por inteiro. Ao sentir a dureza de seu corpo e a força que ostentava. E ela ainda queria mais. Queria ver o rosto
do Julián quando chegasse ao clímax. Queria ser ela a que lhe desse o que fazia séculos que não experimentava.
- Se seguirmos a este ritmo vamos estar extenuados quando chegar o amanhecer, sabia? -disse-lhe ele.
- Não me importa.
- Mas te vais sentir dolorida.
Ela contraiu os músculos da vagina para rodeá-lo com mais força.
- Ah, sim?
- Nesse caso... -ele deslizou a mão muito lentamente pelo corpo do Grace até chegar a seu umbigo, e baixou ainda mais separando os úmidos cachos de seu entrepierna
para lhe acariciar o clitóris.
mordeu-se os lábios enquanto os dedos do Julián brincavam com ela, acoplando-se ao ritmo que impunham seus quadris. cada vez mais rápido, mais fundo e com
mais força.
Agarrou-a pela cintura e a ajudou a seguir o frenético ritmo. Como desejava poder abandonar o corpo do Grace o tempo suficiente para lhe ensinar umas quantas
posturas mais. Mas não lhes estava permitido.
por agora.
Mas quando chegasse o amanhecer...
Sorriu ante a perspectiva. Assim que amanhecesse tinha toda a intenção de lhe mostrar uma nova forma de utilizar o Reddi-wip.
Grace perdeu a noção do tempo enquanto seus corpos se acariciavam e se deleitavam em sua mútua companhia. Sentiu que a habitação começava a girar sob suas
peritas carícias, e se deixou levar pela maravilhosa sensação de expressar o amor que sentia por ele.
Os dois estavam talheres de suor, mas não deixaram de saborear-se; seguiam desfrutando da paixão que ao fim compartilhavam.
Esta vez, quando Grace se correu, desabou-se sobre ele.
A profunda risada do Julián reverberou por seu corpo enquanto passava suas mãos por suas costas, seus quadris e por suas pernas.
Grace se estremeceu.
Estava extasiado pelo fato de ter ao Grace nua e tombada sobre ele. Sentia seus peitos esmagados sobre seu torso. Seu amor por ela brotava do mais fundo de
sua alma.
- Poderia ficar assim convexo para sempre -disse em voz baixa.
- Eu também.
Rodeou-a com os braços e a atraiu ainda mais para ele. Notou como suas carícias se ralentizaban e sua respiração se fazia mais relaxada e uniforme.
Em uns minutos esteve completamente dormida.
Beijou-a na cabeça e sorriu enquanto se assegurava de que seu membro não abandonasse o lugar onde devia estar.
- Dorme preciosa -sussurrou-. Ainda falta muito para o amanhecer.
Grace despertou com a sensação de ter algo quente que a enchia por completo. Quando começou a mover-se, foi consciente de uns braços fortes como o aço que
a imobilizavam.
- Com cuidado -lhe advertiu Julián-. Não a saques.
- Fiquei dormida? -balbuciou, surpreendida de ter feito tal coisa.
- Não importa. Não te perdeu grande coisa.
- De verdade? -perguntou-lhe ela meneando os quadris e acariciando-o com todo o corpo.
Ele soltou uma gargalhada.
- Vale, de acordo. Perdeu-te um par de cosillas.
incorporou-se e o olhou ao olhos. Riscou a linha da mandíbula, levemente áspera pela barba incipiente, com um dedo que Julián capturou e mordiscou assim que
chegou aos lábios.
Súbitamente, ele se incorporou e ficou sentado com ela em seu regaço.
- Mmm, eu gosto de -disse enquanto lhe acontecia as pernas ao redor da cintura.
- Mmm, sim -conveio ele e começou a mover brandamente os quadris.
Baixando a cabeça, capturou um de seus peitos e lambeu o duro mamilo. Brincou com ela e a torturou docemente antes de soprar sobre a umedecida pele, que se
arrepiou sob seu quente fôlego.
Deixou esse peito e se dirigiu ao outro. Grace embalou sua cabeça, aproximando-o ainda mais a ela, completamente extasiada por suas carícias. Nesse momento
se deu conta de que o céu começava a clarear.
- Julián! -exclamou-. Está amanhecendo.
- Sei -lhe respondeu, tombando-a de costas sobre a cama.
Olhou-o aos olhos enquanto se acomodava sobre ela sem deixar de mover os quadris.
Contemplava-a totalmente enfeitiçado. Percebia sua ternura e seu amor. Ninguém o tinha conhecido como ela e jamais teria acreditado possível que alguém pudesse
obtê-lo. Tinha-o acariciado em um lugar que ninguém havia meio doido antes.
No coração.
E então desejou muito mais. Desesperado por tê-la por completo, seguiu movendo-se dentro dela.
Necessitava mais.
Grace o envolveu com seus braços e enterrou o rosto em seu ombro ao sentir que acelerava o ritmo de suas apostas. Mais e mais rápido, mais e mais forte; até
que ela ficou sem fôlego pelo frenético ritmo.
De novo, o suor os cobria. Grace lambeu o pescoço do Julián, embriagada por seus gemidos. Ele vaiou de prazer.
E ainda seguia afundando-se nela, uma e outra vez, até que Grace pensou que não poderia suportá-lo mais.
Cravou-lhe os dentes no ombro enquanto alcançava o orgasmo rápida e grosseiramente. Julián não diminuiu seus ataques quando Grace se tombou sobre o colchão.
mordeu-se o lábio com força e se moveu ainda mais rápido, fazendo que ela se corresse de novo, e esta vez com mais intensidade que a anterior.
Justo quando o primeiro raio de sol atravessava os ventanales da habitação, escutou que Julián grunhia e o viu fechar os olhos.
Com uma aposta profunda e certeira, derramou-se nela e todo seu corpo se convulsionou entre os braços do Grace.
Julián era incapaz de respirar e a cabeça lhe dava voltas a causa do êxtase que acaba de sentir; a intensidade de seu orgasmo tinha sido incrível. Doía-lhe
todo o corpo, mas ainda assim, não recordava ter experiente com antecedência semelhante prazer. A noite passada o tinha deixado exausto, e estava esgotado pelas
carícias do Grace.
Tinham quebrado a maldição.
Elevou a cabeça e viu que Grace lhe sorria.
- Já está? -perguntou-lhe ela.
antes de que pudesse responder, o braço começou a lhe doer como se lhe estivessem marcando com um ferro candente. Vaiando, separou-se dela e o cobriu com a
mão.
- O que acontece? -perguntou-lhe ela ao ver que se afastava.
Perplexa, observou como um resplendor alaranjado lhe cobria todo o braço. Quando apartou a mão, a inscrição grega tinha desaparecido.
- Já está -balbuciou Grace-. O conseguimos.
O sorriso se apagou do rosto do Julián.
- Não -disse ele, lhe roçando a bochecha com os dedos-. Você o fez.
Renda-se, Grace se jogou em seus braços. Ele a abraçou com força enquanto se beijavam em um caótico frenesi.
Já tinha acabado!
Era livre. Por fim, depois de tantos séculos, voltava a ser um homem mortal.
E era Grace a que o tinha conseguido. Sua fé e sua fortaleza tinham revelado o melhor de si mesmo.
Ela o tinha salvado.
Grace voltou a rir e girou na cama até ficar em cima dele.
Mas a alegria lhe durou pouco já que outro brilho, ainda mais brilhante que os anteriores, atravessou a habitação.
Sua risada morreu imediatamente. Percebeu a malévola presença antes de que Julián se esticasse entre seus braços.
Sentando-se na cama, obrigou ao Grace a ficar atrás dele e se colocou entre ela e o arrumado homem que os observava dos pés da cama.
Ela tragou saliva quando viu o homem alto e moreno que os olhava furioso. Estava claro que tinha todas as intenções de matá-los ali mesmo.
- Bastardo presunçoso! -gritou o homem-. Como te atreveste a pensar que pode ser livre!
Imediatamente, Grace soube que estava ante o muito mesmo Príapo.
- Deixa-o, Príapo -lhe respondeu Julián com uma nota de advertência na voz-. Já acabou tudo.
Príapo soprou.
- Crie que pode me dar ordens? Quem te crie que é, mortal?
Julián sorriu com malícia.
- Sou Julián da Macedônia, da Casa do Diocles da Esparta, filho da deusa Afrodita. Sou o Libertador da Grécia, Macedônia, Tebas, Punjab e Conjara. Meus inimigos
me conheciam como Augustus Julius Punitor e tremiam ante meu simples presencia. E você, irmão, é um deus menor e pouco conhecido, que não significava nada para os
gregos e ao que os romanos apenas se tomaram em conta.
A ira do inferno transfigurou o rosto do Príapo.
- É hora de que aprenda qual é seu lugar, hermanito. Tirou-me à mulher que ia dar a luz a meus filhos e que asseguraria a imortalidade de meu nome. Agora eu
te tirarei à tua.
Julián se jogou sobre o Príapo, mas já era muito tarde. Tinha desaparecido levando-se ao Grace.
Capítulo 17
Em um abrir e fechar de olhos, Grace passou de estar sentada nua em sua habitação a encontrar-se tombada em um leito circular, situado em uma estadia que tinha
todo o aspecto de ser a loja de um harém em metade de um deserto. Estava coberta por uma peça de seda de cor vermelha intensa, tão liviana e suave que se escorria
sobre sua pele como se se tratasse de água.
Tentou mover-se mas não pôde. Aterrorizada, abriu a boca para chiar.
- Não te incomode -lhe recomendou Príapo, aproximando-se do leito. Deslizou os olhos sobre seu corpo com um faminto olhar, justo antes de subir à cama e colocar-se
de joelhos ao lado do Grace-. Não pode fazer nada a menos que eu o deseje. -Passou-lhe um dedo, ossudo e frio, pela bochecha, como se queria comprovar a textura
e a calidez de sua pele-. Entendo por que te deseja Julián. Tem fogo no olhar. Inteligência. Valor. É uma pena que não tenha nascido na época do Império Romano.
Poderia me haver proporcionado inumeráveis campeões que liderassem meus exércitos.
Príapo suspirou enquanto sua mão descendia até o oco da garganta do Grace.
- Mas assim é a vida e assim são os caprichos das Parcas. Suponho que terei que me conformar te utilizando até que me canse de ti. Se me agradar até que chegue
esse momento, pode que depois permita que Julián fique contigo. No caso de que te siga querendo depois de que meus filhos tenham quebrado seu corpo.
Seus olhos ardiam de desejo, e Grace não podia deixar de tremer sob seu escrutínio.
O egoísmo do Príapo lhe resultava incrível. Ao igual a sua vaidade. Aterrorizada, quis falar, mas ele o impediu.
Céu santo! Tinha poder absoluto sobre ela!
Uma força invisível a elevou para colocá-la de costas sobre os almofadões enquanto Príapo se tirava a túnica.
Os olhos do Grace se abriram como pratos ao lhe ver nu e com uma ereção completa. O terror a assaltou de novo.
- Agora pode falar -lhe disse enquanto se aproximava para recostar-se junto a ela.
- por que quer fazer isto ao Julián?
A ira obscureceu os olhos do deus.
- Que por que? Já o escutou. Seu nome era reverenciado por tudo aquele que o escutava, enquanto que o meu apenas se se pronunciava até nos templos de minha
mãe. Inclusive agora se burlam de mim. Meu nome se perdeu na antigüidade, ao contrário que sua lenda, que se conta uma e outra vez ao longo e largo do mundo. Mas
eu sou um deus e ele não é outra coisa que um bastardo a quem nem sequer lhe está permitido habitar no Olimpo.
- Aparta as mãos dela. Sempre foste tão inútil que acabaste relegado no esquecimento. Nem sequer merece lhe limpar os sapatos.
O coração do Grace começou a pulsar mais rápido ao escutar a voz do Julián. Elevou a cabeça de entre os almofadões e o viu justo ao pé do estrado onde estavam
eles. Só levava postos os jeans e ia armado com o escudo e a espada.
- Como...? -perguntou Príapo enquanto descia da cama.
Julián lhe dedicou um perverso sorriso.
- A maldição desapareceu e estou recuperando meus poderes. Agora posso lhes localizar e lhes invocar. A qualquer de vós.
- Não! -gritou Príapo, e imediatamente, apareceu talher por sua armadura.
Grace lutou por livrar-se daquela força que a mantinha imobilizada enquanto Príapo agarrava sua espada e seu escudo, situados na parede em que se apoiava o
leito, e atacava ao Julián.
Hipnotizada pelo espetáculo, observou como lutavam os dois irmãos.
Jamais tinha visto nada semelhante. Julián girava agilmente, como se estivesse executando uma macabra dança que devolvesse os golpes do Príapo, um por um.
O chão e a cama tremiam pela intensidade da luta.
Não era de sentir saudades que Julián tivesse chegado a ser um personagem legendário.
Mas depois de uns minutos, viu como se cambaleava e baixava o escudo.
- O que te passa? -burlou-se seu irmão, utilizando o escudo para empurrá-lo-. Ah, esquecia-o! Pode que a maldição tenha desaparecido, mas ainda está debilitado.
Demorará dias em recuperar toda sua força.
Julián meneou a cabeça e elevou o escudo.
- Não necessito toda minha força para acabar contigo.
Príapo riu.
- Valentes palavras, hermanito. -E baixou a espada, que se estrelou diretamente sobre o escudo do Julián.
Grace conteve o fôlego enquanto observava como os golpes começavam de novo.
Justo quando pensava que Julián ia ganhar, Príapo utilizou uma tática para desestabilizá-lo: deixou que ganhasse terreno. logo que Julián perdeu o amparo da
parede em um de seus flancos, Príapo blandió a espada e a afundou no ventre de seu irmão. Julián deixou cair sua espada.
- Não! -chiou Grace, aterrada.
Com o rosto transfigurado pela incredulidade, Julián se cambaleou para trás, mas não pôde ir muito longe com a espada do Príapo afundada em seu corpo e seu
irmão ainda sustentando-a.
- Volta para ser humano -lhe espetou enquanto afundava a espada um pouco mais e retorcia a folha. Levantou um pé para apoiá-lo no quadril do Julián e lhe deu
uma patada.
Livre da espada, Julián trastabilló e caiu. Seu escudo ressonou com força ao golpear o chão, justo a seu lado.
Príapo não deixou de rir enquanto se aproximava do Julián.
- É possível que nenhuma arma humana possa acabar contigo, hermanito, mas não é imune a uma arma imortal.
A força que imobilizava ao Grace despareció nesse instante, liberando-a. Tão rápido como pôde, cruzou a habitação até chegar junto ao Julián, que jazia em
um atoleiro de sangue. Respirava de forma laboriosa e não deixava de tremer.
- Não! -soluçou Grace enquanto sustentava sua cabeça no regaço. Contemplava, horrorizada, a ferida aberta em seu flanco.
- Meu preciosa Grace -disse Julián, enquanto elevava uma mão ensangüentada para lhe roçar a bochecha.
Ela limpou o sangue que emanava de seus lábios.
- Não me abandone, Julián -rogou.
Ele fez uma careta de dor, deixou cair a mão e lutou por respirar.
- Não chore por mim, Grace. Não o mereço.
- Sim o merece!
Ele negou com a cabeça e entrelaçou seus dedos com os dela.
- foste minha salvação, Grace. Sem ti, jamais teria conhecido o que é o amor. -Tragou e se levou a mão ao coração-. E nunca teria tornado a ser quem fui.
Grace observou como a luz desaparecia de seus olhos.
- Não! -voltou a gritar, embalando sua cabeça sobre o peito-. Não, não, não! Não pode morrer. Assim não. Ouve-me Julián?! Por favor... Não vá! Por favor!
Abraçou-o com força enquanto a agonia que invadia seu coração e sua alma brotava em forma de lágrimas.
- Não! -ressonou com ferocidade através da estadia, fazendo que as paredes tremessem.
Grace viu que a cor abandonava o rosto do Príapo ao escutar o chiado. escutou-se um trovão e, em metade de um brilhante brilho de luz, apareceu Afrodita diante
dela. Seu rosto estava contraído como reflexo da indescritível agonia que sofria ao contemplar o corpo exangue e frio do Julián.
Incapaz de assimilar o que tinha diante, olhou furiosa ao Príapo.
- O que tem feito? -perguntou-lhe.
- Foi uma briga justa, mãe. Ou ele ou eu. Não tinha outra opção.
Afrodita deixou escapar um grito agônico diretamente desde seu coração.
- Invoquei a ira do Zeus e a das Parcas para conseguir sua liberdade. Quem demônios crie que é para fazer isto? -Olhou ao Príapo como se sua mera presença
lhe provocasse náuseas-. Era seu irmão!
- Era seu bastardo, mas nunca foi meu irmão.
Afrodita gritou de fúria.
- Como te atreve!
Quando a deusa olhou de novo ao Julián, Grace viu a dor que refletiam seus olhos.
- Meu precioso Julián -soluçou a deusa-. Jamais devi lhes permitir que lhe fizessem mal. Doce Citera! aonde me levou meu egoísmo? -Caiu de joelhos a seu lado-.
Deixei sozinho quando devia ter estado contigo para te proteger.
- Vamos, mãe, deixa-o já! -disse Príapo, como se a aflição de sua mãe tivesse conseguido aborrecê-lo-. Julián te conhecia, igual a lhe conhecemos nós do começo
dos tempos; não pensa mais que em ti mesma e no que outros devem fazer por ti. É sua natureza. E, ao contrário que Julián, todos a aceitamos faz eones.
Afrodita não se tomou muito bem essas palavras. De fato, seu rosto se converteu em uma máscara de granito e ficou em pé com toda a dignidade e a elegância
que se espera de uma deusa.
Arqueou uma sobrancelha e olhou ao Príapo.
- Há dito que foi uma luta justa? Bem, tenhamos uma luta justa. Está de acordo? Tánatos ainda não reclamou sua alma. Ainda não é muito tarde. Quão único necessitamos
para devolvê-lo à vida é que seu coração comece a pulsar de novo.
Grace sentiu uma repentina quebra de onda de calor atravessando o corpo inerte do Julián.
tornou-se para trás e observou como um aura dourada o rodeava enquanto a ferida de seu flanco se fechava por si só e os jeans se desintegravam, sendo substituídos
por umas grebas de ouro e umas sandálias. O resplendor dourado subiu até cobrir seu peito que, imediatamente, ficou oculto à vista por uma antiga armadura dourada,
esculpida com couro vermelho, e uma túnica. Sobre os braços apareceram umas largas tiras de couro marrom.
O tintura azulado desapareceu de seu rosto.
De repente, tomou uma profunda baforada de ar que fez que todo seu corpo se estremecesse, e abriu os olhos, olhando ao Grace com aquele sorriso que conseguia
lhe derreter até a alma.
Ela se mordeu os lábios enquanto a felicidade a transpassava. Estava vivo!
- Que diabos passa aqui? -rugiu Príapo.
Sobre eles apareceu uma mulher, flutuando plácidamente. Seu cabelo negro lançava brilhos enquanto olhava com fúria ao Príapo.
- Como muito bem há dito sua mãe, já é hora de que contemplemos uma luta justa, Príapo. Levamos atrasando-a muito tempo e, esta vez, não haverá nenhuma Alexandria
que distraia ao Julián e límpida que leve a cabo sua vingança.
- O que? -perguntou Afrodita-. Ateneu, o que está dizendo?
- Estou dizendo que foi ele quem a enviou intencionadamente para distrai-lo, enquanto ia a refugiar-se a seu templo por temor à fúria do Julián.
Pela cara do Príapo, Grace soube que era verdade. O deus curvou os lábios em um rictus furioso.
- Ateneu, puta traiçoeira! Sempre o mimou.
Ateneu riu enquanto se desvanecia no ar para voltar a aparecer junto à Afrodita.
- Ninguém o mimou nunca. Isso o converteu no melhor guerreiro que jamais saiu das filas espartanas; e isso é o que vai ajudar lhe a te dar uma boa patada no
culo neste momento.
Julián ficou em pé. O carrancudo olhar com a que enfrentava ao Príapo conseguiu que Grace sentisse um súbito calafrio.
Afrodita se moveu até ficar entre seus dois filhos e, quando elevou o olhar para o Julián, Grace viu que seus olhos estavam cheios de orgulho.
- Esta é a segunda vez que te dou a vida, Julián. Arrependo-me de não ter sido a mãe que necessitou a primeira vez. Não tem nem idéia do muito que desejaria
poder trocar o passado. Quão único posso fazer agora é te dar meu amor e minhas bênções. -Afrodita olhou por cima do ombro, procurando os olhos do Príapo-. E agora
lhe dê uma boa patada no culo a este malcriado.
- Mãe! -choramingou Príapo.
Julián olhou a seu irmão e balançou a espada ao redor de seu corpo enquanto se aproximava dele.
- Está preparado?
Príapo atacou sem avisar. Mas tampouco é que importasse muito.
Grace ficou boquiaberta ao vê-los lutar. Se antes tinha pensado que Julián era um bom guerreiro, agora sua destreza era imensamente superior.
movia-se com uma agilidade e uma velocidade que jamais teria acreditado possíveis.
Ateneu ficou a seu lado. Elevou um braço e roçou ligeiramente a seda com a que se envolvia.
- Bonito vestido.
Grace a olhou com o cenho franzido pela incredulidade.
- Estão lutando a morte e você te dedica a estudar como vou vestida?
Ateneu riu.
- Confia em mim; sempre escolho com muito cuidado de meus generais. Príapo não tem nenhuma possibilidade frente a Julián.
Grace voltou a dirigir sua atenção aos homens no mesmo instante que Julián golpeava ao Príapo com seu escudo. O deus perdeu o equilíbrio, cambaleou-se e Julián
aproveitou para lhe afundar a espada no flanco.
- te apodreça no Tártaro, bastardo -disse Julián com desdém enquanto o corpo do Príapo se desintegrava entre brilhos multicoloridos.
Grace correu para ele.
Julián jogou em um lado a espada e o escudo, e a elevou em braços para girar com ela ao redor da estadia.
- Está vivo! Verdade que sim? -perguntou-lhe.
- Sim, estou-o.
Grace se deixou cair sobre ele. Julián a baixou, deslizando-a muito lentamente sobre sua armadura centímetro a centímetro, até que seus pés se apoiaram sobre
o chão e reclamou seus lábios com um beijo.
Grace escutou que alguém se esclarecia garganta.
- me desculpe, Julián -disse Ateneu, ao ver que não soltava ao Grace-. Deve tomar uma decisão. Quer que envie a casa ou não?
Grace se pôs-se a tremer.
Julián a olhou de forma abrasadora e acariciou com muita suavidade sua bochecha como se estivesse saboreando o tato de sua pele.
- Só conheci um lar em todos os séculos de minha existência.
Grace se mordeu o lábio enquanto os olhos lhe enchiam de lágrimas. ia abandonar a nesse mesmo momento. Deus santo, só rogava ter a força necessária para suportar
a dor.
Julián se inclinou e lhe beijou a frente.
- E é com o Grace -sussurrou sobre seu cabelo-. Se ela me aceitar.
Grace pôs os olhos em branco; sentia-se tão aliviada que tinha vontades de gritar e rir de uma vez, mas sobre tudo queria abraçá-lo e retê-lo junto a ela para
sempre.
- Jesus, Julián! -exclamou com uma apatia totalmente falsa-. Não sei... Ocupa toda a cama, e leva uns boxers espantosos... Crie que vou poder suportá-lo? Se
voltar comigo teremos que fazer que desapareçam. E nada de voltar a deitar-se com os jeans postos de noite; raspam-me as pernas.
Ele soltou uma gargalhada.
- Não se preocupe. Para o que tenho em mente, o nudismo vem muito melhor.
A risada do Grace se uniu à sua enquanto Julián tomava a cara entre as mãos.
Ao tentar beijá-la, ela se afastou de forma brincalhona.
- Ah, por certo! Esta é sua armadura?
Ele a olhou carrancudo.
- A mesma; ou ao menos o era.
- Podemos ficar a Jamás permitiría que volviese a marcharse.
- Se você quiser... por que?
- Porque... Mmm carinho -ronronou Grace lançando um olhar lascivo sobre seu fantástico corpo-, fica de morte. Se lhe puser isso, prometo-te que passará um
bom momento na cama cinco ou seis vezes ao dia.
Ateneu e Afrodita riram ao uníssono.
Apareceram na habitação do Grace com outro daqueles brilhos cegadores; exatamente na mesma posição que se encontravam quando Príapo apareceu.
- Né! -exclamou Grace zangada-. Onde está a armadura?
Apareceu súbitamente junto com o elmo, a espada e o escudo, em um rincão do dormitório.
- Já está contente? -perguntou-lhe Julián enquanto a acomodava sobre seu peito.
- Delirante de felicidade.
Elevou a cabeça e a beijou de tal forma que Grace se estremeceu da cabeça aos pés e gemeu ao sentir a calidez de sua boca sobre a sua. Ao sentir seu corpo
baixo ela.
Jamais permitiria que voltasse a partir.
- Por certo...
Julián se separou dos lábios do Grace com um grunhido e elevou o lençol com rapidez para tampá-los a ambos com ela.
Grace a apertou com força à altura do queixo.
- Ateneu -disse Julián-, pensa seguir nos interrompendo?
A deusa não parecia envergonhada no mais mínimo enquanto se aproximava da cama. Levava uma caixa dourada nas mãos.
- Bom, é que me esqueceu lhes dar uma coisa.
- O que? -perguntaram ao uníssono com soma irritação.
antes de que Ateneu pudesse responder, apareceu Afrodita.
- Já o tenho -disse a Ateneu antes de lhe tirar a caixa das mãos.
Ateneu se desvaneceu.
Afrodita se aproximou da cama, deixou a caixa ao lado do Julián e a abriu.
- Se for ficar nesta época, necessitará várias coisas: um certidão de nascimento, um passaporte, uma permissão de residência... -Afrodita olhou o cartão verde
e franziu o cenho- Não, espera, isto não o necessita. -E então olhou ao Grace-. Ou sim?
- Não, senhora.
Afrodita sorriu enquanto o cartão se evaporava.
- Também há um carnê de conduzir mas, se aceitar um conselho maternal, deixa que seja Grace quem se encarregue do carro. Não lhe leve a mal, mas é um completo
desastre ao volante. -E suspirou-. É uma pena que não tenhamos um deus para essas questões. Mas o que lhe vai fazer. -Fechou a caixa e a ofereceu a seu filho-. Aqui
tem; pode lhe jogar uma olhada logo.
Quando Afrodita começava a afastar-se, Julián se incorporou na cama e a agarrou da mão.
- Obrigado por tudo, mãe.
A deusa o olhou com os olhos cheios de lágrimas e lhe deu uns tapinhas na mão.
- Sinto muitíssimo não me haver informado do que ocorreu a seus filhos até que foi muito tarde. Não tem idéia do muito que me arrependo de não havê-lo descoberto
até depois de que Tánatos reclamasse suas almas.
Julián lhe deu um apertão carinhoso.
- Chamará-me se necessitar algo? -perguntou a deusa.
- Chamarei-te embora não necessite nada.
Afrodita se levou a mão do Julián aos lábios e a beijou enquanto seus olhos se cravavam no Grace para, imediatamente, voltar de novo para seu filho.
- Quero seis netos. Como mínimo.
- Né! -exclamou Grace tirando da caixa um título universitário-. Lhe deste um título de Licenciado em História Antiga? E do Harvard?
Afrodita assentiu com a cabeça.
- Também há um de Língua e Cultura Clássicas. -Olhou ao Julián-. Não estava segura do que quereria fazer, por isso deixei que você seja quem escolhe.
- Podemos usá-los de verdade? -perguntou Grace.
- claro que sim. Se miras um pouco mais abaixo encontrará seu certificado de notas.
Grace o fez e ao olhá-lo ofegou.
- Não é justo, só há matrículas de honra!
- É obvio -resmungou Afrodita, um pouco indignada-. Meu filho jamais será um segundón. -Sorriu-. Não me incomodei em fazer um certificado de matrimônio. Supus
que quereriam lhes encarregar disso pessoalmente. E logo que Julián dita qual será seu sobrenome, aparecerá em todos os documentos. -A deusa rebuscou sob os papéis
e tirou uma caderneta bancária-. Por certo, converti o dinheiro que tinha na Macedônia em dólares para que possa usá-lo aqui.
Grace abriu a caderneta e ficou com a boca aberta.
- Jesus, María e José! É asquerosamente rico!
Julián riu a gargalhadas.
- Já lhe disse isso, me dava muito bem o de conquistar.
Afrodita alargou uma mão e o livro onde Julián tinha estado apanhado apareceu entre seus braços.
- Também pensei que você gostaria de procurar um lugar seguro onde guardar isto.
Julián ficou boquiaberto enquanto agarrava o livro das mãos de sua mãe.
- Está-me encarregando a custódia do Príapo?
Afrodita se encolheu de ombros.
- Matou-te. Não podia deixar que partisse sem castigá-lo de algum modo. Acabará saindo se for um bom menino.
Grace quase se sentia causar pena pelo pobre Príapo.
Quase.
Afrodita se inclinou e beijou ao Julián na bochecha.
- Sempre te quis. Mas não soube como demonstrá-lo.
Ele assentiu com a cabeça.
- Suponho que isso está acostumado a acontecer quando sua mãe é uma deusa. Não pode esperar festas de aniversário e comidas caseiras.
- Isso é certo, mas te dei muitos outros presentes que a sua noiva parecem lhe gostar de muitíssimo.
- Falando disso -a interrompeu Grace, repentinamente assaltada por um pensamento-, não podemos nos desfazer de esse que faz que as mulheres se sintam atraídas
por ele como por um ímã?
A deusa a olhou com uma expressão divertida.
- Menina, olhe bem a este homem. Que mulher em seu são julgamento não o quereria em sua cama? Teria que as deixar cegas a todas ou fazer que Julián engordasse
e ficasse calvo.
- Deixa-o, não importa. Acabarei me acostumando.
- Isso acredito eu.
Afrodita desapareceu depois do comentário.
Julián envolveu ao Grace entre seus braços e a aproximou dele de novo.
- Está dolorida?
- Não, por que?
- Porque tenho a intenção de me passar o dia inteiro te fazendo o amor.
Lhe mordiscou o queixo.
- Mmm, eu gosto dessa idéia...
Julián a beijou.
- Ah, espera! -exclamou afastando-se de seus lábios.
Grace franziu o cenho enquanto Julián saía da cama para agarrar livro, jogá-lo no corredor e fechar a porta depois.
- O que está fazendo? -perguntou-lhe ela.
Julián voltou para a cama com seu característico andar lento e ágil que a deixava sem fôlego e conseguia acendê-la. Subiu ao leito com a mesma graça que um
animal selvagem, nu e sigiloso, e percorreu seu corpo com um olhar luxurioso e ardente.
- Pode escutar tudo o que dizemos. E, pessoalmente, não quero o ter ao lado enquanto faço isto.
Grace ofegou quando Julián a pôs de flanco, aproximando-a a ele.
- Ou isto -seguiu ele, deslizando uma mão entre suas coxas e acariciando-a com mãos peritas.
Se acurrucó contra as costas do Grace.
- E sobre tudo, não quero que escute isto.
Enterrou seus lábios no pescoço do Grace enquanto deslizava a mão pelo interior de suas coxas para lhe separar as pernas e introduzir-se nela até o fundo.
Grace gemeu de satisfação.
- estive te esperando dois mil anos, Grace Alexander -lhe sussurrou ao ouvido-, e cada segundo de espera mereceu a pena.
Epílogo
Um ano depois
Julián abriu a porta da habitação do hospital. junto a sua mãe e a Selena, entrou sem fazer ruído, já que não queria incomodar ao Grace se estava descansando.
O medo o atendeu ao vê-la tombada na cama. Seu aspecto o aterrorizava, estava muito pálida e parecia indefesa. Não podia suportar vê-la a si.
Ela era sua força. Seu coração. Sua alma. Tudo o que era bom na vida.
A idéia de lhe perdê-la resultava insuportável.
Grace abriu os olhos e lhes sorriu.
- Olá -disse em um sussurro.
- Olá bonita! -respondeu-lhe Selena-. Que tal está?
- Exausta, mas muito bem.
Julián se inclinou e a beijou.
- Necessita algo?
- Tenho tudo o que sempre desejei -lhe respondeu ela com o rosto radiante.
Lhe sorriu.
- Bom, onde estão meus netos? -perguntou Afrodita.
- Os levaram para pesá-los -respondeu Grace.
E, como se as tivessem chamado, as enfermeiras entraram nesse instante empurrando os berços. Comprovaram os braceletes do Grace e os dos bebês e saíram em
silêncio.
Julián se apartou do lado do Grace o justo para agarrar em braços a seu filho com muito cuidado. A alegria o alagou ao embalar ao diminuto bebê. Grace lhe
tinha dado muito mais do que jamais imaginou que teria. E muito mais do que se merecia.
- Este é Niklos James Alexander -disse enquanto o depositava em braços da Afrodita para agarrar a sua filha-. E esta é Vanessa Anne Alexander -e a colocou
sobre o outro braço de sua mãe.
Os lábios da Afrodita começaram a tremer quando olhou a sua neta.
- Puseste-lhe meu nome?
- Os dois quisemos lhe fazê-lo disse Grace.
As lágrimas brotaram dos olhos da deusa enquanto contemplava a seus dois netos.
- a de presentes que tenho para vós!
- Mamãe! -interrompeu-a Julián com brutalidade-. Por favor, nada de presentes. Seu amor será suficiente.
A deusa se limpou as lágrimas e soltou uma gargalhada.
- De acordo. Mas se trocarem de opinião, digam-me isso - ¿Qué? -preguntó ella con fingida inocencia-. ¡No me digas que quieres que lo libere! Ya te lo dije,
lo haré cuando aprenda la lección...
Grace observou ao Julián enquanto este acariciava a cabeça pelada do Niklos. Não o teria acreditado possível mas, nesse momento, amava-o ainda mais que antes.
Cada dia passado junto a ele tinha sido uma bênção.
- Ah, por certo! -exclamou Selena enquanto agarrava a Vanessa dos braços da Afrodita-. Fui ontem à livraria e Príapo não estava. Faz uns dias que houve lua
enche. Alguém quer apostar a que nestes momentos está praticando sexo selvagem e desenfreado com alguém?
Todos riram.
Exceto Julián.
- Passa-te algo? -perguntou-lhe Grace.
- Suponho que me sinto um pouco culpado.
- Culpado?! -exclamou Selena com incredulidade-. Pelo Príapo?
Julián assinalou com um gesto ao Grace e aos meninos.
- Como poderia lhe guardar rancor? Sem sua maldição jamais lhes teria a nenhum de vós. Foi uma pesadez mas devo admitir que mereceu a pena.
Todas as olhadas se cravaram, espectadores, na Afrodita.
- O que? -perguntou ela com fingida inocência-. Não me diga que quer que o libere! Já lhe disse isso, farei-o quando aprender a lição...
Selena meneou a cabeça.
- Pobre tio Príapo -disse dirigindo-se a Vanessa-. Mas foi um menino muito, muito mau.
A porta se abriu nesse instante e uma enfermeira apareceu, indecisa.
- Doutor Alexander? -dirigiu-se ao Julián-, há um casal aqui fora que dizem ser familiares deles. Eles... mmm... -baixou a voz até falar em um murmúrio- são
moteros.
- Né, Julián! -chamou-o Eros desde detrás da enfermeira-. lhe Diga a Atila o Huno que somos de confiar para que possamos entrar em babar sobre os bebês.
Julián soltou uma gargalhada.
- Está bem, Trish -lhe disse à enfermeira-. É meu irmão.
Eros fez uma careta zombadora ao Trish enquanto entrava na habitação junto a Psique.
- Que alguém me recorde que tenho que lhe disparar uma flecha da má sorte ao sair -comentou enquanto a enfermeira fechava a porta.
Julián o olhou com uma sobrancelha arqueada.
- Tenho que te confiscar de novo o arco?
Eros lhe respondeu com um gesto grosseiro e se aproximou da Selena para tomar em braços a Vanessa.
- Ooooh! Miúda rompecorazones que vais ser. Arrumado a que vais ter a montões de meninos correndo detrás de ti.
Julián perdeu a cor do rosto e olhou a sua mãe.
- Mamãe, há um presente que eu gostaria de te pedir.
Afrodita o observou, esperançada.
- Importaria-te falar com o Hefesto para que fizesse um cinturão de castidade apropriado para a Vanessa?
- Julián! -balbuciou Grace com uma gargalhada.
- Não teria que levá-lo durante muito tempo; só trinta ou quarenta anos.
Grace pôs os olhos em branco.
- Menos mal que tem a sua mamãe -disse ao bebê que Eros sustentava-, porque seu papai não é nada divertido.
Julián elevou uma sobrancelha com um gesto arrogante.
- Que não sou divertido? -repetiu-. Divertido... isso não é o que disse o dia que concebeu a estes dois...
- Julián! -exclamou Grace com o rosto avermelhado. Mas já fazia tempo que sabia que era incorrigível.
E o amava tal e como era.
Sherrilyn Kenyon
O melhor da literatura para todos os gostos e idades