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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


UMA HERDEIRA EM APUROS / Katie DeNosky
UMA HERDEIRA EM APUROS / Katie DeNosky

 

 

                                                                                                                                                

  

 

 

 

 

 

Sua fraqueza era as damas em apuros.

Brant se sentiu intrigado ao encontrar aquela dama batendo na porta de seu balcão, e quando descobriu que Annie Deveraux estava fugindo de um pretendente rechaçado, soube que deveria ajudá-la. O que não sabia era que uma vez a levasse ao seu rancho, começaria a sentir alguns desejos desconhecidos para ele. Apesar de virem de mundos diferentes, Annie tinha um efeito nele que nenhuma mulher tivera antes. E, quanto mais tempo passava com ela, mais lhe doía não poder tocá-la, porque tampouco podia deixá-la partir...

 

 

 

 

Com os sapatos na mão, Anastasia Deveraux apertou seu corpo contra o muro de tijolos e esperou que sumisse o embaçado das lentes de seus óculos.

– Não devo olhar para baixo – sussurrou para si mesma quando as lentes terminaram de desembaraçar. – Pode fazê-lo se não olhar para baixo.

Fechou os olhos e tratou de juntar toda sua coragem. Como ela, uma inteligente e nada aventureira bibliotecária, podia estar na cornija de uma janela, a quatro andares de altura, na fachada do hotel Regal Suítes de São Luis? E ainda por cima, a meia-noite, nem mais nem menos.

Olhou para sua esquerda e comprovou que, além disso, não tinha como voltar atrás. Se retornasse estava perdida. Sua única opção era continuar até o seguinte balcão.

Respirou profundamente e se concentrou em alcançar a plataforma que tinha à direita. Mas as afiadas pontas dos tijolos que tinha detrás se engancharam com uma mecha de cabelo e lhe rasgaram a blusa de seda e as meias.

O frio vento de fevereiro a fez estremecer... Amaldiçoou sua falta de previsão. Deveria ter agarrado seu casaco e sua bolsa antes de escapar da habitação. Mas não o tinha feito e não tinha nenhum sentido ficar lamentando agora.

Quando, finalmente, notou o frio metal do corrimão sobre seu quadril, estendeu a mão e se agarrou a ela com desespero. Sua avó jamais a perdoaria se encontravam seu corpo no lixeiro de abaixo. Seria tremendamente indigno. As mulheres Whittmeyer, mesmo que tivessem o sobrenome Deveraux, não podiam perder a dignidade, jamais.

– Me perdoe, avó – sussurrou Anastasia. – Mas não há modo digno de poder fazer isto.

Saltou por cima do corrimão, caindo de mal jeito sobre o chão do balcão. Ignorou a dor de seu joelho e das palmas das mãos e ficou em pé.

Havia luz na habitação e rezou por ter chegado a uma suíte que estivesse ocupada. Só esperava que o inquilino não estivesse dormindo.

Respirou profundamente e bateu no vidro da porta ansiosa por entrar.

Se Patrick retornasse, sentiria falta dela e se viesse em mente sair à janela, ele a veria. Bateu de novo, ainda com mais energia. Uma voz amaldiçoou no interior da habitação, mas a imprecação foi seguida de um profundo silêncio.

– Por favor, me deixe entrar! – disse Anastásia com pânico crescente.

– De onde demônios fala? – perguntou a voz masculina.

– Do balcão. Por favor, apresse-se – acrescentou Anastásia, olhando com nervosismo ao balcão da habitação contígua.

As cortinas foram abertas com ímpeto e Anastasia viu um espetacular cavalheiro de olhos azuis e torso musculoso, que vestia tão somente uma leve toalha à cintura. Uma suave mecha de cabelo negro lhe caía sobre a frente, suavizando a dureza de seu rosto formoso e anguloso.

– Que demônios você está fazendo aí? – disse ele ao abrir a porta.

Ela deixou os sapatos sobre o chão e deu um passo para trás. Mas tropeçou ligeiramente, cambaleando-se. Ele se apressou a sujeitá-la.

– Cuidado, princesa! – disse ele com uma voz profunda e sensual, – A menos que seja um anjo e tenha asas não acredito que a queda livre daqui vá ser muito agradável.

– Não – disse Anastasia negando com a cabeça. – Não tenho asas – olhou por cima do corrimão. – E não acredito que fosse uma aterrissagem fácil.

O homem a empurrou brandamente para o interior da habitação.

– Já está a salvo – disse-lhe, com um tom de voz muito mais delicado que ao princípio.

Ela estremeceu. Mas não estava segura de era pelo frio ou pelo insinuante som de seu timbre barítono. Tampouco podia evitar a impressionante exibição de músculos de que fazia ornamento seu anfitrião. Parecia tirado de um daqueles calendários que Tiffany, que seu ajudante na biblioteca, tinha posto na habitação de pessoal. A idéia de que aquele homem não levasse nada debaixo da toalha lhe provocou outro calafrio.

– Está completamente gelada – disse-lhe, interpretando mal sua reação. Agasalhou-a em seus braços.

– Obrigada... obrigada por me deixar entrar.

– Há quanto tempo estava aí fora?

– Não estou certa – disse. Tinha perdido a noção do tempo. – Cinco ou dez minutos.

Enquanto seguia pensando no tempo que tinha permanecido fora, de repente reparou em que ainda permanecia abraçada a aquele desconhecido.Pousou as mãos sobre seu peito bem desenvolvido e se afastou. Mas uma marca de sangue fez que se detivera.

– Me deixe ver – ele pediu. Tomou suas mãos e as observou preocupado. – O que aconteceu?

– Devo ter me machucado ao saltar o corrimão.

– Como chegou até meu balcão?

– Caminhei... pela cornija.

Ele insistiu que ela sentasse e viu as feridas de seus joelhos.

– Meu Deus! Tem cortes por toda a perna!

Antes que ele pudesse lhe sugerir que tirasse as meias, uns golpes soaram na porta.

Ela se levantou assustada.

– Espera alguém? – perguntou Anastasia.

Ele olhou à porta.

– Não – disse e se encolheu de ombros. – Mas tampouco esperava a você.

– É Patrick – disse com terror. – Não pode me encontrar aqui. Tenho que partir.

Brant Wakefield observou como aquela mulher procurava com desespero um lugar por onde escapar. Estava tão aterrorizada que, sem dúvida, voltaria para o balcão se não lhe desse uma alternativa.

– Tranqüilize-se. Não sei quem é esse tal Patrick nem por que foge dele, mas não te vou delatar. Sente-se tranqüilamente que eu me ocupo dele – encaminhou-se para a porta. – Quando voltar vou curar essas feridas.

Saiu da habitação em direção à pequena sala da suíte e fechou a porta. Assim que se livrasse do intruso, ia fazer algumas pergunta a sua inesperada visitante.

Um novo golpe na porta voltou a soar, desta vez com mais força. Ao abrir se encontrou com um desses tipos de terno que lhe inspirava tão pouca confiança.

– Que demônios quer? – perguntou com muito maus modos.

O intruso deu um passo para trás.

– Sinto incomodá-lo, mas estou procurando a minha noiva – mostrou-lhe uma foto. – Possivelmente a tenha visto.

Pensou em uma boa desculpa e aproveitou de sua meio nudez para afastar aquele chato de seu lado.

– A única mulher que vi ultimamente é a que está no dormitório me esperando para que tire suas meias – ele disse insinuando a interrupção de um jogo amoroso. – Estava a ponto de tirar quando você chamou.

O intruso sorriu.

– Vou deixar que você volte para seu entretenimento – disse-lhe. Em seguida tirou um cartão da jaqueta e escreveu um número na parte traseira. – Aqui tem meu número de habitação e meu nome. Se vir a uma mulher de aspecto normal, vestida com uma saia de cor caqui e uma camisa branca, me chame.

Pode ser que sua prometida não fosse uma rainha de beleza, mas, sem dúvida, merecia por parte de seu noivo um qualificativo melhor que o de «normal».Fechou a porta e retornou ao dormitório. Ao entrar não viu ninguém.

– Tem alguém aí? – perguntou desconcertado.

Teria voltado para fora no balcão? A dúvida o inquietou. Embora não conhecesse aquela mulher, a possibilidade de que lhe acontecesse algo não o agradava. A porta do banheiro se entreabriu levemente naquele momento.

– Já se foi? – sussurrou.

– Sim, foi e, se não me engano, não vai voltar a nos incomodar ao menos esta noite.

Ela abriu a porta, ficou no vão com olhar indeciso. Com aqueles óculos de bordas negras e aqueles olhos verdes assustados, recordava a sua professora de primeiro ano do primário, a senhorita Andrews. A professora olhou ao Brant com idêntica perplexidade quando, à tenra idade de seis anos, tinha tratado de convencê-la de que ele não tinha introduzido o grilo no vestido do Susie Parker, mas sim o peralta inseto tinha chegado até ali por si só.

– Por que sabe que não vai voltar?

– Porque lhe deixei bem claro que não queria ser incomodado – encolheu os ombros e sorriu. – Não é minha culpa se ele quis acreditar que estava me divertindo com uma «coelhinha».

– O que é uma «coelhinha»? – perguntou enquanto sacudia a cabeça e se encaminhava para a porta. – Não me diga!. Acredito que já sei.

Brant seguiu-a até a sala de estar. Ela soltou o coque que lhe prendia o formoso cabelo loiro, deixando-o livre. Parecia mais jovem. Também notou que tinha tirado as meias. Engoliu seco e tratou de desviar sua atenção de suas pernas bem formadas e suaves. Surpreendeu-se ao ver que tinha as unhas dos pés pintadas de um vermelho intenso. Parecia que não combinava, tendo em conta que o resto de seu traje era tremendamente conservador.

Finalmente, decidiu que não era seu assunto a cor das unhas daquela senhorita, nem que escondesse umas pernas de sonho debaixo daquela saia muito grande.

– Sente-se um momento enquanto me visto e, depois, vou dar uma olhada neste esse joelho machucado. Ela assentiu e se sentou no sofá. Logo o olhou fixamente durante uns segundos.

– Não quero ser curiosa, mas vi uns potes de pintura no banheiro e me perguntei se é ator ou algo assim.

– Não exatamente. Trabalho nos rodeios. Estou na cidade este fim de semana no PBR.

– O que é isso?

– O encontro de profissionais do rodeio.

– Soa muito interessante... seu nome...

– Brant Wakefield.

– Eu sou Anastasia Deveraux – disse ela em um tom extremamente educado.

– Prazer em conhecê-la – estreitou-lhe a mão e, no mesmo instante em que tocou sua palma, uma forte corrente elétrica se produziu entre ambos. Incapaz de falar, ele se separou dela, deu meia volta e entrou no dormitório. Mecanicamente, vestiu-se e logo pegou no estojo de primeiro socorros o essencial para curá-la. Mas ao retornar, deteve-se em seco ao vê-la acorçoada no sofá e tremendo incontroladamente.

Ficou um nó no estômago e se amaldiçoou por não ter lhe dado uma manta. Aproximou a mesa e colocou a maleta de primeiros socorros. Logo começou a lhe esfregar os braços de cima a baixo. Suspeitava que aquela reação tinha mais que ver com o que lhe acabava de passar que com a temperatura ambiente,

– Vou trazer algo para te cobrir.

– Obrigada – disse ela.

Em questão de segundos, já estava coberta por uma grosa jaqueta.

– Isto te ajudará a esquentar. – ajoelhou-se diante dela, levantou a saia e tratou de evitar a liga que pendia a poucos centímetros de sua mão.

– Importaria de me contar o que, exatamente, te aconteceu?

– Não acredito que seja boa idéia.

Brant parou de cuidar dela e a olhou fixamente.

– Pode confiar em mim – disse-lhe, com os olhos cravados nos dela. – Só quero te ajudar.

– O que te faz pensar que tenho problemas?

– Você arriscou sua vida caminhando por uma cornija para chegar à habitação de um desconhecido. Não acredito que o fizesse só por tomar ar – fechou a garrafa de anti-séptico e tirou um ungüento antibacteriano. – por que não começa por me explicar por que foge de seu noivo?

– Senhor Wakefield... – disse, passando repentinamente a ser formal, como se queria pôr distância.

– Nós já estávamos sendo informais – ele a lembrou.

– Brant, está sendo muito amável comigo – ela disse e ele notou que ao escutar o som de seu nome dito por sua voz harmônica sentia um comichão no estômago. – Mas acredito que será melhor que não se meta em tudo isto.

– Muito tarde. Já me meti. – Ela o olhou duvidosa.

– Patrick Elsworth, que se diz meu noivo, me ameaçou.

Ele tratou de concentrar-se na história da que estava fazendo parte, em vez de prestar atenção aos inexplicáveis sentimentos que despertavam nele àquela desconhecida. Afinal, Anastasia Deveraux não era seu tipo: era refinada e culta, diziam suas maneiras, sua forma de falar e sua roupa. Inclusive seu nome.

Ele, por sua parte, podia se considerar um triunfador, com uma esplêndida conta bancária e um imponente rancho. Mas não era, para nada, refinado. Além disso, ela estava comprometida com aquela doninha vestido com terno de jaqueta. Brant não era dos que se metia no terreno de outro homem, embora o tipo em questão não merecesse nem o mais mínimo respeito.

– O melhor seria que eu encontrasse um modo de escapar do hotel sem te envolver em tudo isto – continuou ela.

– Sei cuidar de mim mesmo – ele disse, enquanto desenrolava a gaze e a colocava ao redor do joelho. – Dou minha palavra de que esse seu noivo terá que ver-se comigo se puser uma mão em cima de você, Annie.

Anastasia respirou profundamente. Era a primeira vez, desde a prematura morte de seus pais, quando ela contava com só cinco anos, que alguém a chamava assim: Annie. Sentiu uma profunda tristeza. Apesar de que tinham acontecido dezenove anos antes, ainda sentia falta deles. Respirou fundo para desterrar aquela sensação de pena e vazio. Não tinha sentido perder o tempo pensando no que poderia ter ser sua vida em outras circunstâncias. Ao menos isso era o que dizia sua avó e, o que sua avó Carlotta Whittmeyer, considerava correto, era. Ninguém se atrevia a contradizê-la.

Voltou sua atenção ao homem que cuidava de suas feridas. Observou-o uns segundos. Parecia de confiança, e a verdade era que necessitava, desesperadamente, alguém em quem confiar.

– Não sei por onde começar.

– Pelo início? – sugeriu Brant.

Seu sorriso a animou a narrar sua história.

– Patrick é o contador de minha avó – começou a dizer Anastasia.

– Foi assim que se conheceram? – Ela negou com a cabeça.

– Não. Ele vinha regularmente à biblioteca em que trabalho. Foi assim que me pediu que saíssemos para jantar faz aproximadamente um ano.

– E está saindo com ele desde então?

– Sim – disse ela. – Mas, antes de tudo, quero esclarecer que Patrick não é meu noivo.

Capítulo Dois

 

Brant olhou o imponente brilhante que levava Anastasia na mão direita.

– Então, o que é isso? – perguntou, assinalando o anel. – Que eu saiba uma pedra como essa significa algo.

– De fato é o anel com o que Patrick tratou de me comprometer.

– E você ficou o anel, mas não se comprometeu.

– Exato.

Aquela explicação carecia de toda lógica. A menos que, em realidade, ela fosse... Tinha roubado aquela cara peça? Como se lhe tivesse lido a mente, respondeu.

– Se está se perguntando se eu sou uma ladra, a resposta é «não». Em realidade este anel pertence por direito a minha avó.

Aquilo acabou de confundir Brant.

– Quer dizer que esse tipo deu a você um anel de compromisso que pertence a sua avó, mas que não aceitou se casar com ele.

– Exatamente.

– Está segura de que contou toda esta história desde o começo? – perguntou ele. – Porque, se for assim, acredito que você tenha se esquecido de algum detalhe.

Ela baixou a saia até cobrir os joelhos, impedindo-o de olhar suas impressionantes pernas.

– Bom, eu estive saindo com o Patrick durante um ano...

– Até aí o entendi – disse Brant.

– Estávamos nos vendo há uns meses, quando Patrick começou a dar a minha avó alguns conselhos para investir seu dinheiro. Logo em seguida, minha avó despediu o senhor Bennett, quem tinha cuidado de suas contas durante anos, e contratou o Patrick. A princípio tudo ia bem mas, de repente, comecei a notar umas mudanças nele.

Brant recolheu o estojo de primeiro socorros.

– O que tinha mudado?

– A princípio não era óbvio, mas, pouco a pouco, passou a ser. Começou por usar roupa mais cara. Eu acreditei que tivesse conseguido novos clientes. Mas em questão de dois meses substituiu seu carro por um BMW, comprou uma casa em um dos bairros mais caros e a decorou com antiguidades e peças de arte. Logo me dava conta de que seu estilo de vida não correspondia com o de um pequeno administrador que tinha começado uma empresa em uma cidade tão pequena como a nossa.

– Não são de São Luis?

– Não. Vivemos em uma pequena cidade chamada Herrín (Ferrugem), em Illinois, com uma população em torno dos dez mil habitantes.

O sentido comum dizia ao Brant que, efetivamente, demorava mais de um ano em construir um negócio com semelhantes lucros.

– A verdade é que soava francamente suspeito.

Ela não parava de girar o anel em seu dedo.

– Até esta noite só tinha suspeitas, mas agora tenho algo mais.

– Provas?

Ela se mordeu o lábio inferior antes de responder.

– Não, provas não.

– Então, como pode estar tão segura de que é um ladrão?

Ela se levantou e começou a passear de um lado a outro da habitação.

– Sei que Patrick esteve enganando a minha avó, porque ele mesmo me confessou isso.

– Está me dizendo que esse idiota, depois de aceitar que estava roubando a sua avó, pediu que se case com ele?

– Sim.

Ele negou com a cabeça.

– Esse idiota necessita que alguém lhe dê um castigo.

Anastasia deixou de mover-se de um lado a outro.

– Isso foi, exatamente, o que eu pensei – respondeu ela. – O problema é que, quando lhe disse que morreria antes que me casar com ele, me disse que isso era fácil de solucionar.

Brant a olhou surpreso.

– Esse tipo te ameaçou?

– Sim.

– Acha que falava a sério?

Ela assentiu.

– Temo que sim – respondeu ela. – Está desesperado.

Brant se alarmou. Arrependia-se de não ter quebrado a cara deste animal quando esteve frente a ele.

– Você tem que ir à polícia.

– E o que lhes digo? – perguntou ela. – Embora tenha admitido diante de mim que está extorquindo a minha avó e tenha me ameaçado, não tenho nem provas nem testemunhas. Se as autoridades o interrogassem, negaria tudo. Seria sua palavra contra a minha.

– Se já sabia que esse homem era um rato, o que fazia em sua habitação?

– Tenho me feito a mesma pergunta cem vezes desde o jantar – respondeu ela desgostosa. – Concluí que foi imaturidade ou necessidade e, neste momento, inclino-me mais pela segunda.

– Você é muito dura consigo mesmo, Annie – disse Brant, deslizando a mão por suas costas para apaziguar a tensão.

– O certo é que, minha avó tem duas contas bancárias aqui em São Luis e, quando Patrick me disse que tinha uma entrevista aqui com o diretor do banco, pensei que era minha oportunidade de averiguar algo.

– Suponho que não encontrou nada.

– Não, claro que não, porque essa entrevista nunca aconteceu – fechou os olhos e agitou a cabeça. – Não foi mais que um modo de me enredar para que viesse com ele até aqui. Conforme me confessou, sabia que eu começava a suspeitar e que era só questão de tempo que eu contasse para minha avó. Assim me comprou um anel de compromisso com o dinheiro de minha avó; tinha a intenção de me pedir em matrimônio.

Brant a olhou confuso.

– No que ia ajudar estar casado contigo? Poderia, apesar de tudo, denunciá-lo e levá-lo aos tribunais.

Anastasia abriu os olhos.

– Patrick sabe que minha avó jamais faria uma denúncia ao marido de sua neta. Seria um escândalo. Algo que possa macular a família Whittmeyer tem que evitar-se a toda costa.

Brant notou certo tom de amargura em suas palavras. Sentiu raiva. Como podia aquela mulher sacrificar a felicidade de sua neta só pelo bom nome da familiar? Separou-se dela e colocou as mãos no bolso, antes de fazer algo tão estúpido como tomá-la em seus braços para reconfortá-la. O problema era que não estava seguro de ser só consolo ou alívio o que queria lhe dar. Aqueles sentimentos eram ridículos, mais ainda, tendo em conta de que a conhecia de fazia menos de uma hora.

– Por que não chama a sua avó e lhe conta o acontecido?

– Não posso, minha avó está viajando, fazendo um tour pela Europa. A verdade é que não sei nem em que país está.

– Não há ninguém mais a quem pode avisar? Seus pais, por exemplo.

– Meus pais morreram faz dezenove anos. Minha avó e eu só nos temos uma à outra.

Anastasia tinha um aspecto tão indefeso e solitário, que ele teve que fazer um verdadeiro esforço para não deixar-se levar e abraçá-la.

– Como se arrumou para escapar dele?

– Patrick tinha ido a recepção para ligar para Las Vegas. Queria reservar uma capela e comprar os bilhetes de ida. Tinha me deixado encerrada com chave, por isso saí pelo balcão – teve um calafrio e Brant supôs que era pela experiência que acabava de viver. – Agora tenho que encontrar alguma prova que o incrimine e me manter oculta durante ao menos uma semana.

– Está claro que não pode voltar para sua casa – disse Brant. – Suponho que será o primeiro lugar aonde vá te buscar.

Ela assentiu.

– Seria impossível me ocultar em Herrín. Todo mundo me conhece. Mas não tenho aonde ir, nem dinheiro. Deixei a bolsa e o casaco no quarto de Patrick.

Tirou os óculos e começou a esfregar entre os olhos. Ao livrar-se daquelas pesadas lentes o rosto da Anastasia resultou inesperadamente formoso. Brant teve que fazer um esforço para continuar concentrado no tema que os ocupava.

– Não se preocupe pelo dinheiro nem o lugar aonde ir. Você virá comigo.

– Realmente agradeço seu oferecimento, mas não posso te implicar em um assunto como este, que te é totalmente alheio; além disso...

– Acredito que é muito tarde para isso. Já me implicou no instante em que entrou pelo balcão.

– Mas...

– Não há «mas». Sei como fazer isto – riu. – Acredite em mim, sei como te manter a salvo até que sua avó retorne, e é o que vou fazer.

– Não posso estar uma semana contigo – protestou ela.

– Por que não?

– Porque apenas te conheço. Não sei nada sobre você.

Ele assentiu.

– Isso é fácil de corrigir. Pode me perguntar o que quiser saber.

Ela o olhou fixamente. O certo era que não lhe ocorria nenhuma pergunta brilhante sobre seu passado nem sobre o presente. Somente a assaltavam quentes pensamentos, mais apoiados em seus olhos azuis e imponente musculatura, que em sua história pessoal. Entre suas dúvidas estava como seria sentir seus lábios regozijando-se sensualmente com os dela, ou a sensação de seu torso contra seus seios.

Anastasia engoliu a saliva e se recompôs mentalmente. Não estava acostumada a fantasiar com os homens que saía, assim, menos ainda com os que apenas conhecia.

– Bom... me conte o que quiser sobre você.

Ele desenhou um sorriso tão endemoniadamente sexy que em Anastásia provocou um comichão no estômago.

– Já sabe meu nome e minha profissão... – fez uma pequena pausa para pensar. – Tenho trinta e dois anos e um rancho em Wyoming que divido com meus irmãos. Quando for muito velho para me dedicar a minha profissão, vou me concentrar na criação de cavalos para rodeios. Alguma outra coisa que queira saber?

Olhou sua mão direita, presumivelmente em busca de um anel.

– Sua noiva, estará de acordo em que passe uma semana com você?

– Não tenho noiva.

– Tá.

Ele sorriu.

– Não se engane. Eu também gosto das mulheres. Simplesmente, não encontrei ainda à adequada.

– Não me tinha ocorrido pensar que... – ela se ruborizou e decidiu, imediatamente, trocar o rumo da conversação. – Como vai me tirar do hotel sem que Patrick perceba?

– Deixe que eu cuide disto – disse Brant. Aproximou-se do telefone e pegou o receptor.

Anastasia não podia acreditar no que estava acontecendo. Aquilo era uma loucura. Como podia estar no quarto de um estranho, planejando permanecer uma semana em sua companhia, fugindo de um possível criminoso e sem nenhuma outra opção razoável a que recorrer?

Observou a seu improvisado anfitrião enquanto discava o número. O certo era que a perspectiva de empreender aquela aventura em companhia de um atrativo cowboy, longe de acovardá-la, resultava ser inexplicavelmente excitante.

– Olá, Sarah. Sou Brant. Preciso de sua ajuda – disse ao telefone e fez uma pausa. – Sim, sei que horas são – fez uma careta e se afastou o telefone, tampando o microfone. – Sarah é a coordenadora in situ. Está um tanto indignada por tê-la despertado à uma e meia da madrugada.

– Possivelmente tudo isto não tenha sido tão boa idéia depois de tudo – disse Anastasia para ouvir a voz crispada da mulher através do telefone.

Brant riu.

– Sim, já sei que você vai se vingar por isso. Mas escute, necessito um favor. Tem que me conseguir um chapéu, uma camisa, uns jeans e umas botas – voltou-se para a Anastasia, – Que tamanho usa?

– Quarenta para roupa e trinta e nove para sapatos.

– Consegue uma camisa e umas calças tamanho trinta e oito. Também necessito uma jaqueta da mesma talha. Que as botas sejam trinta e nove.

Assim que pendurou o telefone, Anastasia negou com a cabeça.

– Não posso vestir tamanho trinta e oito. É muito apertado.

Ele voltou a desenhar seu sorriso encantador e ela sentiu um comichão no estomago.

– Confie em mim: ficará perfeito.

Brant sorriu satisfeito ao ver a Anastasia sair da habitação.

– Uau! Está impressionante

Ela o olhou duvidosa por cima dos óculos.

– Não estou segura de que isto seja boa idéia.

– Por quê? – Brant não via problema algum. Com a inestimável ajuda de um tamanho a menos, Anastasia se tinha transformado em uma imponente mulher.

– Estas calças podem ser elásticas, mas me apertam muito, e a camisa está muito justa.

Tinha razão, estava muito justa e marcava seus seios perfeitos com excessiva precisão. Era fabuloso! Quando ela se inclinou para recolher o chapéu o coração de Brant acelerou, e perguntou-se, se ela por baixo das roupas ela usava roupas limpas. A idéia de que estivesse nua por baixo fez que sua pressão arterial se elevasse perigosamente.

Afastou os olhos dela e clareou a garanta.

– Essa roupa é perfeita. Vai te camuflar facilmente entre as pessoas e esse maldito Elsworth não vai te reconhecer embora passe a seu lado. Suponho que isso é o que queremos. – Brant assentiu.

– Isso é, exatamente, o que queremos. – Ela começou a prender o cabelo.

– Deixe-o solto e coloque isto – ele a interrompeu, mostrando o chapéu.

– Jamais usei um chapéu.

– Mais razão ainda para que o faça. Pode enxergar sem os óculos?

– Não muito bem. Sou míope e as coisas a certa distância resultam imprecisas.

– Mas não vai bater contra um muro nem nada do estilo.

– Não.

– Então, tire-os – disse ele. – Vou colocá-los em meu bolso e os devolverei quando já tivermos saído daqui.

Anastasia tirou os óculos com certas dúvidas e entregou-os.

– Já pensei em colocar lentes de contato. Mas faz tanto tempo que uso óculos que não sei que aspecto terei se os tirar.

Ele sorriu.

– Pode acreditar que ficará ótima – disse ele.

Ela se perguntou se o olhar daquele homem dizia exatamente o que ela acreditava estar interpretando. Realmente a achava atraente? O coração deu um salto, mas logo recuperou seu ritmo normal. Não podia ser. Estava equivocada em seu pensamento. Com ou sem óculos, jamais tinha sido nem seria uma dessas mulheres nas quais os homens reparavam.

Brant ficou recolhendo o que ficava pela habitação.

– Leve a roupa que vestia antes porque, depois do rodeio, iremos diretamente ao aeroporto.

Recolheram suas coisas e em uns minutos tudo estava arrumado.

– A que hora começa o rodeio? – pergunto Anastasia.

– Dentro de umas duas horas. Mas temos que ir até o lugar e comer algo antes que me troque de roupa e pinte a cara.

– A cara?

– Sim. Com as pinturas que viu no banheiro.

Anastasia concordou e obrigou a si mesmo, com grave temor, a sair do refúgio da habitação. Seu rosto devia ser um reflexo de sua ansiedade porque ele rapidamente captou seu estado.

Fechou a porta e a tirou da mão.

– Fique tranqüila, tudo dará certo. – O contato de sua mão era reconfortante e tranqüilizador.

– Brant, realmente agradeço o que está fazendo por mim... – ela começou a dizer.

Mas, antes que pudesse terminar, ele soltou o que levava na mão e a tomou em seus braços.

– O que acha que...

– Fique quieta – disse, momentos antes que seus lábios cobrissem os dela.

 

Enquanto Brant beijava Anastasia, tratava, ao mesmo tempo, de vigiar ao homem que acabava de sair do elevador. Patrick Elsworth se dirigia na direção deles e Brant queria assegurar-se de que não reconhecia a Anastasia.

Mas a sensação daqueles lábios suaves e o leve peso daquele corpo feminino contra o seu, lhe impedia de pensar em outra coisa que não fosse à mulher que tinha em seus braços.

Não podia deixar de beijá-la. A suavidade de seu cabelo e o doce sabor de sua boca era um elixir muito potente. Anastasia beijava como um anjo, enquanto seus seios abundantes pressionavam seu torso, lembrando-o que se tratava de uma mulher com um corpo de sonho. A virilidade do Brant respondeu em consonância com seus quentes pensamentos.

– Bom dia – disse repentinamente Elsworth.

Brant deteve com pesar o beijo, mas manteve Anastasia em seus braços para evitar que se voltasse ou agisse levada pelo pânico. Ou ao menos foram essas as justificativas que ele deu para si mesmo.

Ao notar que o intruso não se movia de seu lugar, voltou-se para ele com cenho franzido.

– Quer algo? – O homem assentiu.

– Continuo procurando a minha noiva. Suponho que nenhum dos dois a tenha visto.

Brant notou que Anastasia se esticava.

– Como já disse ontem à noite, a única mulher que vi é a que tenho em meus braços neste instante.

Brant notou que o tipo olhava Anastasia de cima a baixo com certa luxúria. Um sentimento possessivo o levou a deslizar a mão até o traseiro dela para bloquear ao intruso a visão. Mas Elsworth mantinha seu impertinente olhar fixo em seu objetivo.

– Se Você não é capaz de manter sua mulher ao seu lado, deixe aos que são desfrutarem das deles.

O gesto do Elsworth se transformou em uma careta de raiva, deu meia volta e se afastou.

– Já se foi? – perguntou Anastasia passados uns minutos.

– Acredito que sim – respondeu ele. Inclinou-se e agarrou sua bolsa. – Vamos daqui antes que esse idiota retorne.

Anastasia seguiu Brant até o elevador com as pernas tremulas. Ter estado em seus braços e ter notado seu calor tinha lhe causado sensações únicas, que a tinham deixado sem palavras. Mas, sem dúvida, tinham sido seus beijos os que tinham provocado que o mundo se detivera por uns segundos. Jamais ninguém a tinha beijado assim em seus vinte e quatro anos de existência.

O mais desconcertante de tudo era que as sensações vividas não tinham desaparecido, mas sim continuavam presentes mantendo alerta sua recém despertada libido.

– Preparada para tomar um táxi? – perguntou Brant.

Anastasia olhou de um lado a outro confuso. Não tinha se dado conta de quando tinham tomado o elevador, nem de quando tinham saído do hotel. Tinha estado tão absorta em seus pensamentos que não tinha reparado que Brant já tinha passado pela recepção. Que diabos lhe passavam? Todo seu interior estava agitado, mas, sem dúvida, sentia-se mais viva do que o tinha estado jamais.

– Está bem? – perguntou-lhe Brant, olhando-a preocupado. Posou a mão nas suas costas para guiá-la.

– Isto... Sim, claro, estou bem. Vamos. – Estavam já saindo, quando uma voz os reteve.

– Oi, Brant! Espere – era um homem. – Quero falar com você sobre meu touro.

Anastasia virou para olhar ao cowboy.

– O touro dele? – perguntou ela com estranheza.

– O touro que vai montar – esclareceu Brant. – A verdade é que isto era a última coisa que eu queria que acontecesse – conforme ia se aproximando o desconhecido, o gesto do Brant ia passando da satisfação ao mais puro descontentamento. – Pensei que ontem à noite tinham lhe aconselhado que não montasse.

– O médico me disse que posso montar – olhou Anastasia e sorriu. – Quem é esta formosa senhorita?

Anastasia ficou muito surpreendida ao sentir que Brant passava o braço em seus ombros em um gesto possessivo.

– É Anastasia. Está comigo.

– Prazer em conhecê-la, Anastasia. Eu sou Colt Wakefield, o irmão menor e mais bonito de Brant.

Estendeu a mão para cumprimentá-la. Sem dúvida, Colt e Brant eram irmãos, pois se pareciam enormemente. Tinham o mesmo cabelo negro e aqueles incríveis olhos azuis.

– Encantada – murmurou ela.

– O prazer é meu – disse ele, deixando sua mão na dela mais tempo do que preciso.

– Estávamos a ponto de tomar um táxi – disse Brant claramente irritado.

– Irei com vocês, e assim pode me dizer o que pensa do Black Magic.

Enquanto estavam esperando o táxi, Brant mantinha Anastasia presa junto ao seu corpo, com seu grande corpo protegendo-a do frio vento. Embora o sol brilhasse esplêndido, a temperatura era gelada. Não obstante, Anastasia sentia um inexplicável calor.

– Deveria renunciar ao rodeio de hoje – disse Brant mais como uma ordem que como uma sugestão.

– Sabe que não posso fazê-lo, irmão – negou Colt com a cabeça. – Uma renúncia me dificultaria chegar à final.

– A que se refere com «renúncia»? – perguntou Anastasia.

Nesse instante um táxi se deteve e todos entraram. Brant deu sua explicação no momento em que estiveram em seu assento.

– «Renúncia» é quando um cowboy se nega a montar o touro que lhe atribuíram.

– Meu irmão quer que fique detrás da barreira enquanto Black Magic sai.

– Escuta, irmãozinho, é a primeira temporada desse touro – disse Brant. – É um touro jovem e imprevisível. Já sofreu uma queda ontem à noite e não acredito que seja inteligente expor-se a uma lesão grave.

– Mas não poderei chegar à final se renunciar.

– Falta muito até outubro. Pode recuperar os pontos daqui até lá.

– Já perdi a oportunidade de chegar à final o ano passado, quando Fireball me lançou contra a barreira e quebrei o tornozelo – respondeu Colt. – Não me vou perder isso este ano por não ter suficientes pontos.

Logo chegaram a seu destino e Colt seguia firme em seu propósito de montar. Saiu do táxi.

– Farei o que tenho que fazer – disse com firmeza. – Assim estarei na arena quando chegar minha vez – voltou-se para a Anastasia. – Foi um prazer. Espero que voltemos a nos ver.

Antes que ela pudesse responder, o moço fechou a porta com força e se encaminhou para a entrada de pessoal.

– Maldito imbecil! Juraria que vai fazer quinze em lugar de vinte e seis anos.

Anastasia o olhou.

– Por que não quer que seu irmão monte hoje?

Brant pagou ao taxista enquanto respondia.

– Colt teve três golpes fortes nos últimos dois meses. Se não começar a cair sobre seus pés em vez de sobre sua cabeça, vai terminar ficando sem cérebro.

Ela permaneceu em silêncio enquanto passavam pelo controle de segurança do estádio. Logo, Brant a conduziu pelo interior dos estábulos, onde as bestas permaneciam contidas e quietas.

– Por favor, poderia me dar meus óculos? – ela pediu, ansiosa por ver aquele novo e desconhecido lugar.

Ele entregou os óculos.

De repente, o que até então tinham sido tão somente manchas sem formas se converteram em ferozes animais. Só pensar na potencial violência de suas forças desatadas lhe fez compreender imediatamente a apreensão do Brant para a imprudência de seu irmão.

– Estas são as bestas com as quais se enfrentam?

– Sim, são estas.

Ela olhou para os animais durante uns mais segundos.

– Vocês ficaram loucos? Quantos golpes você recebeu ultimamente?

 

Depois de comer o almoço, preparado especificamente para o pessoal e seus acompanhantes, Brant conduziu Anastasia aos assentos reservados para familiares e se encaminhou aos camarins.

No tempo de espera, Anastasia não fez nada a não ser repensar sobre tudo quanto tinha acontecido da noite anterior.mSe sua avó se inteirasse alguma vez do que tinha ocorrido e continuava ocorrendo, ia ficar falando por semanas sobre o assunto.

Carlota era uma dessas avós super protetoras que consideravam que a vida teria que ser vivida em uma prisão para não correr riscos. Provavelmente a morte prematura de sua única filha tinha lhe deixado um gosto tão amargo que não queria ter que voltar a enfrentar a nada parecido.

Christine e Jack Deveraux, os pais da Anastasia, tinham se conhecido, desde que tinham dezoito anos, dois aventureiros convencidos de que a vida só valia a pena se se vivia intensamente. Haviam falecido em um acidente de rafting quando Anastasia tinha só cinco anos.

Ainda recordava com muita claridade o dia em que tinha tido que partir para a casa de sua avó, uma desconhecida da qual não sabia nada. Cheia de esperança, tinha chegado ali pensando que a dor e a perda as uniriam. Mas não tinha sido assim. Sua avó tinha sido muito restrita e obsessivamente protetora desde o começo.

Anastasia suspirou. Sabia que sua avó a amava e que enfrentou à situação o melhor que tinha podido. Mas era inevitável pensar que sua relação poderia ter sido um pouco melhor.

– Importa-se que eu me sente aqui? – disse uma voz feminina, tirando-a de seus pensamentos.

Anastasia levantou a vista e viu uma bonita moça de cabelos castanhos, com uns vinte anos, que sorria graciosamente.

– Não, claro que não me importa.

– Sou Kaylee Simpson – apresentou-se ela.

– Encantada, Kaylee. Eu sou Anastasia.

– Veio com alguém? – perguntou a recém chegada.

– Mais ou menos.

As luzes se apagaram e toda a parafernália do rodeio deu começo. O presidente, depois de um breve discurso, foi apresentando aos participantes. Quando o nome do Colt, o irmão do Brant, ressonou nos alto-falantes, Kaylee se levantou e começou a aplaudir entusiasmada.

– Esse é o homem com o que me vou casar! – disse a moça com um sorriso radiante.

– Quanto tempo faz que está comprometida com o Colt, Kaylee?

– Não, nós não estamos comprometidos – disse ela. – Colt Wakefield virtualmente desconhece que existo. Pensa que sou uma criança.

– Mas acaba de assegurar que vai se casar com ele.

– Eu vou me casar com ele, logo que ele se dê conta de que deixei que ser a irmã pequena de seu melhor amigo.

– Quantos anos você tem? – perguntou Anastasia.

– Cumprirei vinte o mês que vem – respondeu Kaylee com um grande sorriso.

O apresentador escolheu aquele momento para dar o nome do Brant e Anastasia notou que lhe acelerava o pulso.

– Esse é o irmão do Colt.

– Brant – disse Anastasia.

– Conhece-o?

– Mais ou menos. – Kaylee riu.

– Pergunto se veio com alguém e me diz que «mais ou menos» e que se conhecer o Brant e também responde «mais ou menos» – de repente seu olhar se iluminou, – Minha nossa, é com o Brant com quem está!

– Não! Bom, sim – Anastasia se ruborizou. – É complicado.

– Jamais antes tinha visto o Brant trazer uma namorada aos rodeios – disse Kaylee, pensativa.

– Eu não sou uma «namorada» – Anastasia viu como Brant procurava seu lugar detrás das portas que estavam ao final da arena. – Somos só amigos.

Eram realmente amigos? Não. Brant e ela apenas se conheciam.

– Em realidade só somos conhecidos. – Kaylee não parecia nada convencida com a explicação, e riu.

– Se você o diz – de repente a expressão do rosto da moça mudou. – Por favor, não conte nada do que eu falei, nem ao Colt nem ao Brant.

Anastasia sorriu.

– Seu segredo está a salvo comigo.

– Obrigada – disse. – Se interarem, meu irmão e Colt vão tirar sarro de mim pelo resto de minha vida.

O anunciou da entrada do primeiro participante do rodeio captou toda sua atenção.

– Esse é meu homem! – gritou Kaylee emocionada. – Neste instante Colt está em quinto lugar. Mas meu irmão Mick está logo atrás dele.

De repente, a porta se abriu e Colt saiu montando um esplêndido touro. Elevava uma mão ao ar com imponente mestria, enquanto se sujeitava com a outra.A besta saltava e escoiceava com ferocidade.

De repente, Colt saiu despedido da garupa do animal e caiu com suficiente sorte para poder correr para a cerca protetora. Mas o touro parecia ter um empenho especial em cobrar aquela peça, pois começou a persegui-lo com particular firmeza. Colt tropeçou e caiu, e o bovino viu naquela queda sua oportunidade de ouro.

O coração de Anastasia acelerou e sentiu pavor ante a horripilante cena que estava tendo lugar diante dela. Mas o que aconteceu a seguir paralisou-lhe o coração por completo. Brant saltou diante do touro e lhe deu uma palmada no lombo.

O touro se voltou e apontou seus chifres para ele.

 

O touro negro correu em direção a Brant, dando a Colt tempo de esconder-se depois da cerca. De repente, tão rápido como tinha começado, o perigo terminou. Brant conseguiu levar a animal para seu cubículo.

Um dos cowboys que estava perto da porta a fechou. A multidão se voltou para a grande tela em que se repetia a espetacular queda do Colt.

Anastasia soprou aliviada e se concentrou em conter o ritmo acelerado de seu coração. Ninguém atuava como se Brant tivesse feito algo extraordinário. Inclusive Kaylee tinha um sorriso contente nos lábios.

Brant voltou com seu irmão e, satisfeitos, deram-se a mão. Pareciam contentes com o que acabava de passar.

Realmente perplexa Anastasia observava aos dois irmãos. Ao parecer tinham desfrutado da adrenalina do momento e do perigo.

– Não sentiu medo por eles? – perguntou a Kaylee.

– Os dois sabem muito bem o que fazem – respondeu a moça com um sorriso, – Quando os cowboys chegam a rodeios desta categoria é porque são os melhores do mundo. Uma vez que o touro os derruba, sabem que têm que correr para salvar-se. Todos gostam que Brant esteja ali porque é o melhor desviando a atenção do touro.

Anastasia olhou fascinada para Brant. Tinha demonstrado sua incrível forma e sua agilidade. Durante o resto da tarde, debateu se era o homem mais valente do mundo ou o mais insensato. Uma e outra vez via ele e outros cowboys ficarem diante do touro e saírem ilesos de tanta ousadia.

Várias horas depois, o irmão de Kaylee se consagrava como o afortunado ganhador daquela loucura, e Anastasia não teve mais remédio que admitir que tinha sido a tarde mais emocionante de sua vida.

– Chegou a hora de ir procurar meu irmão. Voltaremos a nos ver no próximo rodeio? – perguntou Kaylee.

– Não sei – respondeu Anastasia, – Será aqui também?

– Não. É em Anaheim, na próxima semana.

Não estava segura de onde estaria ela em uma semana. Brant tinha lhe prometido que a levaria com ele, mas não tinha havido explicações e ela nem se incomodou em pedir.

De repente, se sentiu realmente insegura com a decisão que tinha tomado. Era una loucura. Ali estava com uma pessoa que tinha acabado de conhecer. Mas, antes que o pensamento se aprofundasse na gravidade de sua ação, uma mão se posou sobre seu ombro captando sua atenção.

Ela sentiu um calafrio ao ouvir aquela voz profunda e masculina. Voltou-se para encontrar-se com aqueles incríveis olhos azuis. Sentiu uma agradável sensação de amparo. Não tinha provas de que Brant fosse de confiança; entretanto, seu olhar falava de integridade e se comportara como um autêntico cavalheiro com ela do primeiro momento.

– Olá, Brant – disse Kaylee.

– Olá, Kaylee – respondeu ele, dando um tapinha em seu chapéu como um gesto afetivo. – Como está minha garota favorita hoje?

– Contente porque meu irmão ganhou – disse ela. Voltou-se para a Anastasia. – Bom, espero que nos vejamos no Anaheim.

– Possivelmente – respondeu ela. Assim que a garota se afastou, Brant conduziu Anastasia ao elevador de carga.

– Aonde vamos? – perguntou ela.

– Vamos sair pela porta traseira. Não quero correr riscos. Talvez esse Elsworth esteja esperando aí fora.

Anastasia negou com a cabeça.

– Jamais me buscaria aqui.

– Por quê?

– Porque não gosta dos rodeios e sempre assumiu que o que ele não gosta eu não poderia gostar. Não considera que eu tenha critério próprio.

– E você gosta ou não?

Ela ficou pensativa uns segundos antes de responder.

– A verdade é que não estou segura – olhou-o. – Tenho que admitir que houve um par de ocasiões em que você me deixou realmente preocupada.

– Por quê?

– Porque tinha a sensação de que um desses touros ia te alcançar.

Uma cálida sensação invadiu o peito do Brant, mas a ignorou. Pelo que tinha visto até então, Anastasia era uma pessoa amável e, provavelmente, não gostava de ver ninguém sofrer. Possivelmente teria sentido o mesmo respeito a todos os cowboys que tinham participado do rodeio. Antes que pudesse analisar por que aquele pensamento lhe resultava tão decepcionante, o elevador chegou a seu destino.

– Suponho que deveria ter lhe perguntado isso antes, mas, aonde vamos?

Ele notou que ela não parava de girar o anel que levava no dedo.

– Tomaremos um vôo até Denver, onde deixei meu carro. Logo passaremos a noite ali e partiremos para meu rancho ao dia seguinte.

– Por que não voamos até Cheyenne ou Casper ou algum aeroporto próximo a seu rancho?

– Porque ao vir para cá não encontrei bilhetes e tive que dirigir até Denver. Uma vez que cheguemos ali, alugaremos dois quartos. Uma vez em Denver iremos comprar mais roupa para você – ele respondeu com a esperança de que a referência aos dois quartos a tranqüilizasse.

– Me incomoda que você tenha que gastar seu dinheiro comigo. Queria que fosse fazendo uma lista de gastos para passar a minha avó quando retornar.

– O dinheiro não me preocupa – ele disse.

 

Ao chegarem ao aeroporto, ele pagou o taxista e ajudou Anastasia a sair. Dirigiram-se ao balcão, onde, depois de comprovar que não havia outro assento em primeira classe, trocou o seu para segunda.

– Sempre viaja de primeira? – ela perguntou.

– Quando posso sim. Os assentos estão mais separados e me permite estirar a perna ruim que tenho.

– Deveria ter ficado com seu bilhete. Possivelmente eles possam voltar a trocar, e eu...

Algo a deixou sem fala.

– O que aconteceu?

Ela ficou em silêncio, como atônita, durante uns segundos.

– Annie?

– Acredito que vi o Patrick – disse ela em um sussurro. – Estava mostrando minha foto aos empregados daquele balcão.

Brant se voltou rapidamente.

– Aquele lá, não é? – perguntou e viu como o pânico invadia os olhos dela. – Não se preocupe. Dou a minha palavra de que não te vai tocar. Dê-me seus óculos.

– O que está fazendo agora?

– Não vire – disse Brant enquanto guardava os óculos no bolso.

Puxou-a pelo braço e se encaminhou ao controle de acesso às salas de espera. Uma vez que eles passassem aquele ponto, Elsworth não poderia segui-los sem cartão de embarque.

Deixou as chaves e a carteira sobre a cinta transportadora do Raio-X e passou sob o detector de metais. Um pouco antes que seu acompanhante tivesse superado o detector, uma voz a chamou por atrás.

– Anastasia.

Ao ouvir seu nome, ela se voltou automaticamente.

– Deus santo, me encontrou!

Brant colocou as chaves e a carteira no bolso.

– Aja como se não o conhecesse. Não lhe vão permitir o acesso a esta zona se não tiver cartão de embarque.

Com toda pressa desapareceram da vista do criminoso, até chegar a um lugar tranqüilo onde Anastasia se deixou cair sobre uma cadeira.

– Como me coloquei nisto? – disse com desespero.

Brant se sentou a seu lado.

– Tudo vai bem, Annie. Dou minha palavra de que Elsworth não vai te tocar – tomou seu rosto entre as mãos. – E quando eu dou minha palavra eu a cumpro, custe o que custar.

Ela sorriu levemente.

– Vou procurar um pouco de café – acrescentou ele, – Quer uma xícara?

Anastasia negou com a cabeça. Não tinha dúvida de que Brant era sincero, que jamais permitiria que Patrick lhe fizesse mal. O problema era que não estava convencida de que estar ao seu lado fosse tampouco muito seguro. Porque aquele homem provocava nela emoções desconhecidas. Cada vez que a olhava com aqueles incríveis olhos azuis, sentia uma intensa comichão no estômago e um inesperado calor em zonas inconfessáveis.

Separou-se de sua mente todos aqueles pensamentos sem sentido. O que lhe estava acontecendo? Ela não era o tipo de mulher que sentia coisas como aquelas por ninguém. Era calma, estável e algo fria. Mas, e Annie Deveraux?

Annie Deveraux era aquela que tinha entrado na habitação de um desconhecido pela janela, tinha passado a noite em seu dormitório e agora se dirigia com ele não sabia aonde. Tragou saliva. Estava começando a perguntar-se o que lhe estava acontecendo. Sempre tinha acreditado ser feliz com a vida que lhe tinha proporcionado sua avó.

Entretanto, tinha que reconhecer que nas últimas vinte e quatro horas tinha desfrutado mais que em toda sua existência e se havia sentido realmente viva pela primeira vez.

 

Brant empurrou ligeiramente a aba de seu chapéu para cima e olhou à cabeça de mulher que tinha se apoiado sobre o ombro. Não tinham feito mais que esperar, quando ela, cansada, dormiu profundamente.

Respirou fundo e notou o suave aroma a ervas que desprendia o cabelo de sua acompanhante. Teve que usar toda sua força de vontade para não acariciar aquelas mechas loira. Os lábios suaves da Ana se entreabriram deixando escapar um suspiro. O desejo de beijá-los fez-se então quase incontrolável. Aquele pensamento o tinha mantido pregado em sua poltrona, olhando-a como um imbecil desde o começo da viagem. Que demônios lhe aconteciam? Não tinha aprendido que as coisas jamais poderiam funcionar entre ele e uma mulher como Ana?

Sua experiência datava de suas épocas de universidade, quando pensava que uma garota de bem da cidade e um menino rude do campo podiam superar suas diferenças e viver felizes para sempre. Mas, à luz dos anos e da distância, via o casal quase ridículo que ele e Daphne tinham formado.

Conheceram-se em uma classe de crítica de arte na universidade de Wyoming. Ele precisava de créditos em uma disciplina de humanidades e aquele era o tipo de temas de que ela gosta. Nunca tinha entendido por que Daphne Elizabeth Morrison-Smith tinha decidido ir a uma universidade pública, em lugar da Ivy League próxima a sua casa, em que um dos edifícios levava o nome de seu avô.

Naquela época aquele pequeno detalhe não tinha lhe preocupado.

Simplesmente, tinha olhado para aquela moça ruiva e se apaixonou loucamente por ela. E estava certo de que ela também o tinha amado, ao menos tanto quanto era capaz de amar.

Por desgraça, o amor não tinha sido suficiente para superar suas diferenças.

Ao princípio, ela tinha aceitado usar jeans e um chapéu e tinha ido aos primeiros rodeios com ele. Mas logo tinha lhe pedido que trocasse seu traje de cowboy por um smoking, e o tinha levado a ópera e ao teatro.

Mas não tinha funcionado. Ele se sentia completamente estranho com os orgulhosos amigos do Daphne, e logo tinha descoberto que tentar de ser quem não era lhe provocava uma profunda infelicidade.

Separaram-se sem dramas nem brigas, como amigos. Mas a experiência tinha servido para aprender que a gente deve aceitar quem é e não tentar estupidamente de agradar a outros contra a gente mesmo.

A advertência de que colocasse o cinto de segurança o tirou de seus pensamentos.

Estavam a ponto de aterrissar.

– Annie – disse ele brandamente, tocando o ombro de seu acompanhante.

– Mmmm – apertou-se contra ele e sorriu. Brant sentiu seu instinto protetor aprofundar-se. Nunca antes tinha visto um rosto tão encantador. Ao levantar a cabeça. Anastasia se deu conta de que tinha usado seu ombro como travesseiro, e se ruborizou.

– Quanto tempo fiquei dormindo?

– Acredito que o mesmo que voando – riu ele.

– Sinto muito – disse ela penteando-se com os dedos.

Brant ficou fascinado com o movimento.

– Por que diz «sinto»?

– Enruguei sua camisa.

– Não se preocupe por isso – disse ele, tirando os óculos do bolso.

Ela colocou-os e olhou pela janelinha.

– Não tinha estado tão ao oeste do país desde que era uma menina.

O comentário lhe recordou que por muito que lhe fascinasse aquela mulher ou quão reconfortante fora tê-la perto, não tinham nada em comum e pertenciam a mundos diferentes.

– É um lugar muito diferente ao que você conhece. Aqui há grandes distancia entre umas cidades e outras, e os núcleos de população são, em geral, pequenos.

– Também há cidades pequenas em Illinois – respondeu ela antes de se dispor a sair do avião.

Uma vez no corredor, Brant segurou sua mão para evitar que a multidão a arrastasse e a separasse dele.

Mas, ao notar as pequenas feridas que a queda dentro de seu balcão lhe tinha provocado, recordou o motivo de sua viagem. Estava ali para fugir de um homem que queria machucá-la, não para lhe mostrar as belezas de seu lugar natal.

– Bear Creek é a cidade mais próxima ao Lonetree, meu rancho. Está a uns dez quilômetros – ele contou, enquanto esperavam sua bagagem. – Ali é onde temos a escola, a igreja, o bar, a loja e o posto de gasolina.

– E a agência de correios?

– Na loja também.

– Parece encantador – disse ela com um amplo sorriso.

Ele riu e agitou a cabeça.

– Ouvi muita gente chamar Bear Creek de muitas coisas, desde ridícula a insignificante, mas nunca ninguém disse que é «encantadora».

 

Brant viu Anastasia da janela do saguão do motel. Ela esperava pacientemente em seu carro que ele retornasse com a chave de seu quarto. O único problema era que sua chave e a dela eram a mesma. Colocou sua carteira no bolso da calça e se encaminhou para o veículo. Abriu a porta e se sentou diante o volante.

– Há um pequeno contratempo – disse ele. – Eles só tem um quarto disponível.

Ela girou em sua direção e olhou-o calmamente.

– Com quantas camas?

– Duas.

– Está bem – disse ela, surpreendendo-o. Ele saiu do carro e deu a volta para lhe abrir a porta.

– Não se importa?

– Estou muito cansada para que me importe. Além disso, sei que é de confiança.

No caminho para o quarto ficou analisando como aquele comentário o tinha feito se sentir e, embora reconhecesse que satisfazia sua confiança, incomodava-o que o considerasse tão inofensivo. Ele era um homem com uma enorme e saudável debilidade pelas mulheres E além quanto mais tempo passava com ela, mais gostava.

– Quer tomar banho primeiro? – perguntou Anastasia assim que ele fechou a porta com chave.

– Pode ir você – ele pôs a bolsa sobre a mesa e, ao voltar-se, a encontrou olhando-o com expectativa.

– O que acontece?

– Preciso de minha saia e minha blusa – disse ela

– Para que?

– É o mais próximo que tenho a uma camisola.

Ele abriu o zíper da bolsa de viagem e os tirou.

– Estão aqui.

Mas ao entregar-lhe as roupas, uma sexy peça de lingerie deslizou até o chão, ficando exposta, sem pudor. Parecia que Annie tinha certa paixão pela roupa interior sexy. Ele sentiu um repentino calor e começou a suar. Seu corpo se tencionou em certas zonas chave.

– Se não se importar, eu vou tomar uma ducha antes – inclinou-se, agarrou a delicada peça e colocou-a em suas mãos.

Sem parar para procurar roupa limpa, optou por agarrar toda a bolsa e se meteu no banheiro. Em poucos segundos já estava sob o jorro de água fria.

Anastasia ficou olhando à porta recém fechada do banho, com as bochechas ardendo de rubor e o objeto na mão. Brant tinha descoberto o segredo que Annie tão cuidadosamente tinha sempre guardado: era fascinada pela lingerie fina.

Tinha começado a usá-la quando estava na universidade como uma forma de rebeldia contra sua avó. Ninguém podia imaginar-se que debaixo daquela roupa larga e insípida havia roupa interior tão pequena e coquete. A surpresa nos olhos do Brant tinha sido eloqüente. Anastasia cobriu a boca com a mão para evitar a explosão de uma gargalhada.

Brant tinha aprendido que nem tudo é o que parece e que mesmo uma mosca morta como ela também tinha seus pequenos secretos.

 

À manhã seguinte, Anastasia despertou com os suaves roncos do Brant. Virou para olhá-lo e notou que tinha o cabelo ligeiramente úmido e uma leve tonalidade cinza pela barba crescida durante a noite lhe obscurecia o rosto..

Mas, longe de prejudicá-lo, favorecia-o. Estava mais sexy do que jamais o tinha visto. Sem dúvida era um homem muito bonito, o mais bonito que tinha conhecido, e ia passar as próximas semanas junto a ele, indo não sabia onde. Continuou a observá-lo até reparar em seu torso nu. A noite anterior, ao sair da ducha, estava completamente vestido. Deitou na cama tremendo um pouco e tinha se coberto com os lençóis.

Mas devia ter desvestido a parte de cima durante a noite. Enquanto observava a musculatura de seu peitoral sentiu que o estômago lhe encolhia e que os lábios lhe secavam ao recordar a sensação da proximidade de seu corpo.

Como seria amar a um homem como Brant, acariciar sua pele e sentir suas mãos cálidas? Uma inquietante sensação despertou na parte baixa de seu ventre.

– Já está – murmurou e, afastando os lençóis, levantou-se lentamente.

Aquela pele suave e perfeita era tão atraente como um canto de sereia. O melhor que podia fazer era cobri-lo antes de cometer alguma estupidez imperdoável. Mas, ao aproximar-se dele, Brant a agarrou pelo pulso. Anastasia perdeu a estabilidade e caiu em cima dele com um pequeno grito.

– O que é o que «já está»? – ele perguntou com seu sensual tom de barítono. O som de sua voz lhe provocou um calafrio.

Anastasia já não podia pensar claramente.

– O que?

Empurrou-a brandamente, até acabar deitada sobre a cama com ele inclinado ligeiramente sobre ela.

– Você disse «já está» antes de te aproximar de mim. O que queria dizer?

Não podia lhe contar que tinha estado admirando seu corpo perfeito e que se esteve perguntando o que sentiria tocando-o.

– Eu... não me lembro.

– Mentirosa – disse ele brandamente. – Estava olhando meu o peito como um cão faminto.

– Estava me observando? – ela perguntou.

– Sim, coração. Não houve nem um só movimento que tenha feito desde ontem à noite no que não tenha reparado.

Ela sentiu que o coração lhe acelerava.

– De verdade? – Ele concordou.

– Sabe quão doce é quando dorme?

– Estava me olhando?

– Assim como você me olhava – seu sorriso lhe provocou uma revoada de mariposas no estômago.

Não podia ser. Não podia estar tendo o tipo de pensamentos que ela tinha com respeito a ele. Não era a classe de mulher que alimentava as fantasias dos homens.

– Só queria te cobrir – disse ela. – Ontem à noite parecia estar com frio quando deitou na cama.

Ele soltou uma gargalhada.

– Sabe por que sentia tanto frio?

– Não.

Ele deslizou um dedo por sua bochecha até seus lábios.

– Porque tinha passado dez minutos sob a ducha fria.

Estava lhe dizendo que se excitou por ela? O coração lhe acelerou.

– Por quê? – Ele sorriu.

– Esse é o efeito que tem a lingerie fina em alguns homens.

– De verdade?

– Quase me provoca uma crise coronária – disse ele.

– Eu? – estava claro que tinha ouvido errado. Os brilhos dos seus olhos e seus gestos de assentimento confirmaram que tinha entendido bem.

– E está me provocando o mesmo efeito esta manhã.

– Seu coração... Alterou-se?

– Entre outras coisas – tomou seu rosto entre as mãos. – Ontem me disse que sabia que era de confiança.

– Sim – disse ela com claras dificuldades para falar.

– Só quero que saiba que, embora seja de confiança, não por isso deixo de ser um homem, que sente as mesmas tentações que qualquer outro – sua cabeça descendeu brandamente. – E neste instante você me está tentando de um modo irresistível.

– É muito difícil para eu acreditar nisto – sussurrou Anastasia.

– Pois é a verdade – respondeu ele, com os lábios quase roçando os dela. – Se quiser posso lhe demonstrar.

Ela não pôde resistir.

– Por favor, faça-o. – Ele sorriu.

– Será um prazer.

Brant a beijou. Anastasia fechou os olhos e deslizou as mãos sobre seus ombros firmes. Seus lábios se moviam lentamente sobre os dela lhe provocando sensações deliciosas. Não podia detê-lo.

Sua língua se abriu na cavidade carnuda e ela respondeu lhe permitindo a entrada. O beijou despertou dentro dela uma chama feroz que começou a consumi-la por dentro.

Brant a apertou contra seu corpo e lhe tirou a camisa da saia. Levantou o objeto e começou a lhe acariciar os seios. Ao tomar em suas mãos um seio o coração lhe deteve. Resultava-lhe difícil respirar.

– Sabe o quão doce que é, Annie? – disse-lhe.

Ela negou com a cabeça.

As sensações que lhe causava Brant ameaçavam consumi-la por completo. Mas quando ele retirou a taça do soutien para apanhar seu mamilo entre os lábios, ela se esticou. Tão intenso era o calor que lhe provocava, tão desconhecidas as sensações, que se separou dele bruscamente.

– Por favor, pare.

Ele levantou o rosto e a olhou durante uns segundos.

– Annie, eu... Sinto muito, não queria que as coisas chegassem tão longe – deu-se a volta e ocultou a cara entre as mãos.

Ela se sentiu como se a tivessem metido em um barril cheio de água fria. É obvio que não tinha querido chegar até ali. Ela não era o tipo de mulher que um homem como Brant desejava. Ele estava de costas. Mas podia imaginar o desgosto que expressava seu rosto.

Respirou profundamente tratando de superar sua própria decepção.

– Não se preocupe. Sei que não sou o tipo de mulher com a qual os homens fantasiam.

Agarrou sua calça e sua camisa e se encaminhou para o banho. Mas a mão do Brant a deteve e ela se voltou a olhá-lo. Como se tinha posto de pé tão depressa?

– De onde demônio tirou essa idéia? – ele perguntou.

– Pode ser que eu use óculos, mas não sou cega. Sei que meu cabelo parece palha rígida e que minhas feições são... Comuns – encolheu-se de homens. – Não há nada de especial em mim.

Ele abriu os olhos para enfatizar sua surpresa.

– Não sei em que espelho você se olha, mas sem dúvida não lhe dá o reflexo real.

– O que quer dizer?

– Seu cabelo é uma maravilha, parece seda – disse ele, lhe acariciando as mechas loiras. Sorriu e a tirou do queixo. – Seus olhos parecem duas esmeraldas e seus lábios têm uma forma perfeita – ele sorriu, – E me pareceram absolutamente deliciosos as duas vezes que te beijei.

A Anastasia lhe acelerou o coração.

– De verdade?

Ele assentiu e ficou olhando-a fixamente.

– Agora mude de roupa para que saiamos logo daqui ou pode ser que a tentação seja muito forte. Pode ser que me esqueça que estou fazendo o papel do cavalheiro no qual se pode confiar. Porque, na verdade, a única coisa que realmente eu gostaria seria lhe derrubar nessa cama, te beijar e... – seu sorriso provocou em Anastasia um forte calor interior. – Mais, muito mais...

Enquanto se afastavam de Denver, Anastasia estava no assento do passageiro olhando as bolsas com as compras que tinham realizado no centro comercial.

Quando levantou a bolsa do «Sieek e Sassy Lady, Lingerie», ele afastou o olhar. Aquela tinha sido a única loja a que não tinha entrado com ela. Só pensar em sua eleição de roupa interior o fazia suar e trazia para sua mente fantasias nas quais sempre acabavam por lhe tirar tudo que a cobria.

Brant agarrou o volante com força e se amaldiçoou por sua falta de contenção. Não entendia por que se comportou como um imbecil a noite anterior ao ver cair àquela peça de lingerie no chão. Menos ainda, como tinha perdido o controle tomando-a em seus braços aquela manhã. Mas os lábios do Annie eram muito doces e temia que pudesse afeiçoar-se a eles.

Concentrou-se em respirar profundamente durante uns segundos. Dez anos atrás, fez a promessa de manter-se afastado de mulheres como ela. Não tinham nada em comum. Embora algo no fundo de seu pensamento lhe dizia que Anastasia não era como Daphne. O que mais lhe perturbava era a profunda esperança de que fosse verdade.

– Que tal as lentes de contato? Está difícil de se acostumar? – ele perguntou, em um esforço por afastar seu pensamento da direção que estava tomando.

– A verdade é que são estupendas – disse ela realmente feliz. – Agradeço que me sugerisse isso.

Brant sentiu uma reconfortante sensação. Gostava de deixá-la, bem. Clareou garganta e continuou com a conversação.

– Tem tudo o necessário para a semana que vem?

Ela deixou as bolsas a seus pés.

– Esqueci de comprar uma camisola.

– Se quiser, podemos parar em Cheyenne – disse ele, tratando de não pensar no tipo de objeto que usaria para dormir.

Ela ficou em silêncio uns segundos.

– Não quero que gaste mais dinheiro. – Ele riu.

– Isso não é um problema.

– Não faz mais que me dizer isso – fez uma pausa. – Não teria uma camiseta velha que me possa emprestar e estaria tudo certo?

A idéia lhe provocou uma inquietante sensação. Por alguma razão, gostava mais do que devia.

– Por mim não há problema. Mas, está segura de que não quer que paremos em Cheyenne?

Ela assentiu.

– Estou segura. Assim não terá que gastar mais.

Ele começava a cansar-se daquela constante preocupação.

– Annie, esta é a última vez que falamos disto. Posso pagar sem problemas toda a roupa que queira comprar.

– Apesar de tudo, penso em pagar tudo assim que chegar a casa.

Ele virou bruscamente o volante e saiu da estrada. Procurou um lugar adequado e deteve o motor.

– Que fique claro: não vai me devolver nada. Eu dei de presente tudo isso e ponto final.

Ela o olhou uns segundos, até que acabou por dar-se por vencida.

– De acordo. O que você disser.

– Bem. E agora, prossigamos nosso caminho. Eu gostaria de chegar ao Lonetree antes que se faça de noite.

Voltou para a estrada, sem deixar de pensar na insistência do Annie em lhe devolver o dinheiro. É que por acaso pensava que não tinha suficiente só porque preferia vestir-se com jeans? Teria gostado de lhe dizer que sua conta do banco contava com seis zeros mágicos.

Mas lhe incomodava a idéia de que isso pudesse ter tanta importância quando para ele não a tinha. Trabalhava duro e continuamente porque era o tipo de vida que gostava. Nada o faria ser de outro modo. Concentrou-se na estrada, tratando de ignorar a decepção que sentia e o nó que lhe tinha formado no estômago. Acaso seus instintos se equivocaram e Annie resultaria ser tão materialista como Daphne?

Anastásia não tinha nem idéia de por que Brant insistia tanto em não permitir que lhe reembolsasse o dinheiro. Acabou concluindo que seria uma dessas coisas que tinham que ver com o ego masculino e preferiu não indagar mais. Mas se algo tinha herdado de sua avó, era ser cabeça dura para certos assuntos. Quisesse ele ou não, quando retornasse a casa, estava disposta a lhe devolver tudo que gastou. Brant Wakefield não tinha ganhado aquela batalha.

Uma vez tomada àquela decisão, concentrou-se em admirar a paisagem.

– Isto é realmente bonito – advertiu ela.

– Já tinha visto as Rockies antes? – perguntou ele.

Ela negou com a cabeça.

– Meu pai e minha mãe me trouxeram de camping aqui quando era menina, mas era muito pequena e não me lembro de nada – Anastasia sentiu uma profunda dor ao recordar seus pais. – Desde a morte de meus pais, minha avó pouco me permitiu viajar.

– Lembro que me disse que seus pais tinham tido um acidente – acariciou brandamente sua mão com o polegar. – Eu perdi a minha mãe justo depois de que Colt nascesse. Meu pai morreu dez anos mais tarde.

– Quantos anos você tinha? – ela perguntou brandamente.

– Seis quando minha mãe morreu e quase dezessete quando morreu o meu pai – aproximou a mão aos lábios para beijá-la. – Ao menos fiquei com o Morgan e Colt.

Ela sempre tinha desejado um irmão ou uma irmã.

– São muito unidos, verdade? – Ele assentiu.

– Discutimos, como todos os irmãos. Mas não há nada que não faríamos por nos ajudar. Sabemos que quando necessitamos algo, só temos que dizer aos outros dois.

– Isso deve ser muito reconfortante.

Fez-se um agradável silêncio até que chegaram à entrada do rancho Lonetree.

– Acabamos de cruzar os limites de meus domínios.

Anastasia olhou de um lado a outro. Não via nenhuma casa.

– A quanta distância está sua casa da estrada principal?

– A uns doze quilômetros – disse ele com um sorriso satisfeito, ao ver a expressão de seus olhos.

– Brant, que extensão tem este rancho?

– Algo mais de seis milhões de hectares.

– é muita terra!

Depois de um comprido momento por rodovia, deteve-se no topo de uma pequena montanha e mostrou o fundo do vale.

– Aí está o quartel geral do rancho. – Anastasia ficou atônita. Era uma das maiores e mais bonita casa que jamais tinha visto.

– Minha nossa, Brant! É linda!

– De verdade você gosta? – perguntou ele, em um tom cético. Ela o olhou radiante.

– Eu adoro. Desde quando sua família vive em Lonetree?

– Este verão faz cento e cinqüenta anos – arrancou de novo e se foi aproximando até a entrada.

– A casa foi construída nessa data?

– Sim. Só que cada geração foi lhe acrescentando algo. Viu aquela seção do alpendre? – ele perguntou. – Foi feito por Morgan dois anos atrás. Ali pusemos a mesa de bilhar, uma televisão e três poltronas reclináveis.

– Três poltronas reclináveis? – perguntou ela com uma gargalhada.

Ele parou o carro, soltou-se o cinturão e fez o mesmo com o dela. Logo a rodeou com seus braços.

– Quando um quebra uma perna as poltronas reclináveis são muito úteis – respondeu ele.

O sorriso se desfez dos lábios da Anastasia.

– Você já quebrou uma perna?

– Sim. E tive um problema de ligamentos.

– Por causa dos rodeios?

– O problema de ligamentos sim, mas a perna eu quebrei ao cair de um carro de feno aos treze anos.

– Quem cuidou de você? – perguntou ela, lhe tocando carinhosamente a bochecha.

– Meus irmãos, quando não tinham que trabalhar. Mas a maior parte do tempo cuidei de mim mesmo.

– Alguém deveria ter cuidado de você todo o tempo – disse ela, triste ante a idéia de um pequeno Brant sozinho.

Ele a olhou fixamente.

– Você cuidaria de mim se eu me machucasse?

Ela assentiu sem pensar. Mas antes que pudesse repensar sobre as implicações do que acabava de dizer, ele se aproximou dela e a beijou. Instintivamente, ela se agarrou a ele e afundou os dedos em seu cabelo negro e espesso. Incapaz de lutar contra o que sentia, relaxou e se permitiu desfrutar do homem mais sexy do mundo. Mas, quando ele afundou a língua no interior de sua boca e começou a brincar em sua cavidade carnuda, o calor interior a envolveu por inteiro.

Sem parar para repensar, tomou a mão que ele deslizava sensualmente por suas costas e a levou até seu seio. Precisava sentir seus dedos insinuantes outra vez.

– Annie! – disse ele, enquanto a acariciava. – É deliciosa.

Um veículo se deteve junto ao deles e, segundos depois, soaram uns golpes no vidro.

Brant se separou lentamente dela.

– Me perdoe, coração, mas tenho que estrangular a um irmão – voltou-se e abriu a janela. – O que quer, Morgan?

– Sinto interromper, mas preciso de sua ajuda – disse uma voz compungida.

De seu assento, Anastasia não podia ver o irmão do Brant, mas parecia estar sofrendo algum tipo de dor. Ouviu o Brant protestar e o viu sair do carro.

– Como deslocou o braço esta vez? – Ele perguntou. – Você sabe que odeio ter que colocá-lo no lugar.

– Fui a ver Shackey e, ao subir pelas escadas da varanda, um dos degraus quebrou e eu cair contra um dos pilares. Posso assegurar que você não odeia colocar o ombro no lugar mais do que eu...

Anastasia moveu a cabeça e viu Morgan Wakefield. O terceiro irmão era tão bonito como os outros dois, mas um traço amargo de dor enrugava sua boca.

– Não deveria ir ao médico? – perguntou Anastasia depois de sair do carro.

– Meu irmãozinho deslocou o ombro faz uns anos e, em vez de deixar que o operassem, deixa que ele saia de seu lugar de vez em quando – protestou Brant. – Colt e eu temos a honra de voltar a arrumá-lo.

– Ao estábulo – disse Morgan e se encaminhou para uma das construções mais próximas. – Deixa de protestar e vamos logo que isto dói.

– Vamos a casa ou ao estábulo?

– Será melhor que você fique aqui – disse-lhe Brant. – Não é algo agradável de ver.

Anastasia seguiu com o olhar aos dois irmãos enquanto se afastavam. Eram idênticos em atrativo, com umas amplas costas e esse aspecto robusto. Mas havia algo no Brant que o fazia diferente. Possivelmente fora seu caráter simpático e fácil, e aquele sorriso encantador.

Depois de um comprido grito e algumas frases ininteligíveis, Brant reapareceu e se encaminhou para ela.

– Seu irmão está bem? – perguntou alarmada.

– Sim. Bom, estará bem – Brant abriu a porta do carro e tirou as bolsas do que tinham comprado e a bagagem. – Será melhor que nos metamos em casa e deixemos Morgan que se reponha sozinho, ou você vai acabar ouvindo umas coisas que podem ofender sua sensibilidade. Bem-vinda ao mundo selvagem, princesa – disse-lhe ele. – Isto é só o começo.

 

Brant segurou a porta para que Anastasia entrasse em sua casa. Perguntava-se ela gostaria do estilo rústico da decoração, ou se começaria a fazer sugestões sobre quanto melhor estaria a casa com determinados móveis ou peças de arte.

– Brant, sua casa é preciosa – disse Anastasia realmente satisfeita ao entrar em salão. – A chaminé é perfeita para este espaço.

Assim que ele apreciou o brilho de seus olhos, pôde dar-se conta de que estava sendo sincera.

– Não te parece muito rústico?

– Absolutamente! É perfeita.

Brant não entendia por que sua opinião sobre a casa lhe parecia tão importante. Só sabia que suas palavras de avaliação o reconfortavam particularmente. A tensão que inconscientemente tinha acumulado nos ombros pareceu ceder.

– De quem foi à idéia de fazer uma mesa com uma pedra e uns troncos?

– Acredito que foi um ato de autodefesa – disse ele com uma gargalhada. – Quando Morgan e eu éramos meninos, tínhamos uns caminhões de brinquedo que nos fascinavam, mas que tinham a habilidade de deixar umas muito pouco estéticas marcas sobre a mesa. Meu pai tinha que poli-la e envernizá-la continuamente. Quando minha mãe ficou grávida do Colt, pensaram que com três meninos na casa a situação ia piorar, assim tomaram uma decisão radical e substituíram a mesa de madeira por uma indestrutível.

Ela riu.

– É uma história maravilhosa – disse Anastasia e ficou pensativa. – Eu gostaria de ter histórias como essa.

– Sua avó não te deixava jogar?

– Tinha um quarto de jogos, mas não me permitia tirar meus brinquedos dali por medo de que lhe danificasse suas valiosas antiguidades.

– Sinto muito. Deveu ser uma infância muito solitária, sempre metida em um quarto.

– Em realidade preferia estar ali que no mausoléu que era aquela enorme casa. – Ele riu.

– Tão terrível era? – perguntou ele, abraçando-a.

– Sim, a verdade é que sim. Os móveis eram escuros e tenebrosos – olhou a habitação de cima abaixo. – Muito diferente desta casa, que se sente cálida e amigável. É como a família que vive aqui. A de minha avó parecia mas bem um museu Vitoriano.

Brant não sabia o que dizer. Mas a história da Anastasia lhe provocava compaixão e um forte desejo de protegê-la. Suas diferenças não pareciam lhe importar e só desejava continuar assim, com ela em seus braços, sentindo sua cabeça pousada sobre seu ombro.

– Brant, não acha que a senhorita talvez queira que lhe mostre seu quarto? – a voz do Morgan interrompeu seus pensamentos.

Levantou a vista e viu seu irmão encostado contra o batente da porta, com o braço numa tipóia.

– Annie, não apresentei meu irmão – disse Brant, afastando-se dela. Inclinou-se e pegou as bolsas que estavam no chão e sua bolsa de viagem. – Morgan, esta é minha amiga Annie Deveraux. Ficará conosco até irmos a Anaheim.

– Prazer em conhecê-la, Annie – disse Morgan, assentindo com a cabeça.

– Igualmente – respondeu ela com um sorriso.

Brant mostrou a escada e Anastasia o precedeu. Mas a irritante risada de seu irmão, obrigou ao Brant a voltar-se.

– Logo nos vemos no escritório, irmãozinho – disse-lhe em um tom duro.

– Estou desejando – respondeu Morgan com ironia.

 

Duas horas mais tarde, Brant se encontrou com seu irmão no escritório do rancho. Morgan estava sentado com as pernas apoiadas na escrivaninha e uma cerveja na mão. Mostrou ao recém-chegado uma garrafa que tinha tirado para ele.

– O que averiguou sobre a herdeira do Shackiey? – perguntou Brant. – Os advogados a encontraram já?

Morgan franziu o cenho.

– Sim e não. Encontraram à filha do Tug, mas em um cemitério.

– Então, o que vai acontecer com o rancho? Vamos poder comprá-lo ou a lei obriga a leiloá-lo?

– No momento não se sabe.

Brant soprou frustrado. Havia vezes que obter informação de seu irmão era um tanto trabalhoso.

– Suponho que haverá alguma razão para que não possamos comprá-lo. – Morgan assentiu.

– A filha do Tug tinha uma filha.

– E a filha não quer vender?

– Não se sabe, porque não podem encontrá-la. A única coisa que sabem é que está em algum lugar entre Seattle e San Diego. Até que não saibamos nada, terei que continuar cuidando da propriedade sem que possamos explorá-la. Mas já falamos disto. Me conte, como é que foi Colt em São Luis?

– Ficou em terceiro. Já é algo.

– E conseguiu sair ileso desta vez?

– Não de tudo. Arranjou um bom golpe na primeira saída. Vai terminar com o cérebro feito «mingau».

– Começo a duvidar de que tenha cérebro. – Os dois irmãos soltaram uma gargalhada.

– Por certo – continuou Morgan. – Onde está nosso irmão pequeno?

– Foi para casa de Mitch Simpson. Queria ir com ele comprar um presente para Kaylee – Brant notou que seu irmão fazia um gesto travesso. – Não me pergunte nada sobre o tema. A única que sei é que ele diz que Kaylee não é mais que uma menina.

– Sim, mas as meninas crescem e Kaylee se converteu em uma moça linda – Morgan olhou fixamente seu irmão por uns segundos. – E, falando de moças lindas, qual é a história da bonita loira que nos trouxeste?

O fato de que Morgan achasse a Annie bonita resultava por um lado agradável, e por outro, incômodo.

– Precisava de um lugar onde passar a noite.

– Isso é tudo?

– Bom, tem problemas – admitiu Brant, e lhe contou as peripécias de seu encontro. – Você não a teria deixado ali sozinha, verdade?

– Verdade. Mas acredito que, além de sua necessidade pôr em prática seu espírito de bom samaritano, há algo mais.

– Não! – protestou Brant. – Annie vem do mesmo tipo de mundo do Daphne. E já sabe o desastre que isso significa. Só estou tratando de ajudá-la.

– Acredito em você, irmão.

– É verdade.

– É obvio.

Morgan olhou a seu irmão com um trejeito de ironia que deixou ao Brant inquieto. Bem, possivelmente se sentisse atraído pelo Annie, mas isso não implicava em nada.

Brant decidiu não fazer o jogo de Morgan, saiu dignamente da habitação e se encaminhou para seu dormitório. Só queria tomar uma ducha e descansar um momento. Ao chegar, caiu na cama e ficou, com o olhar perdido no teto, pensando nos beijos que tinha compartilhado com ela. Ela o beijava de um modo tímido e apaixonado que estava começando a viciá-lo.

Sua masculinidade tornou-se tesa imediatamente ante as imagens de Annie que começaram a lhe rondar a cabeça. Rapidamente, meteu-se no banheiro e optou por uma ducha de água fria. Definitivamente, até ela partir, ou teria pego uma pneumonia ou teria se convertido em um maníaco com uma excitação constante.

Olhou a zona inferior de seu corpo com crescente preocupação. A água fria já não ajudava. Definitivamente, ia ter uma ereção perpétua acompanhada de uma pneumonia dupla.

 

Anastasia bocejou pela terceira vez, enquanto observava, através da janela, as montanhas longínquas. Tinha passado a noite sem dormir, perguntando-se se não tinha fugido em companhia do homem equivocado. Brant representava tudo àquilo que lhe tinham ensinado a evitar: o risco. Mas o certo era que jamais havia se sentido tão viva e feliz como nos últimos três dias. E, fosse ou não lógico, estava se dando conta de que se sentia mais que atraída pelo ousado cowboy. Estava se apaixonando. Suspirou brandamente e passou o dedo pelo vidro frio. Cada vez que a beijava despertava nela um desejo feroz de muito mais. Queria sentir sua pele masculina apertando-se virilmente contra seu corpo de mulher.

Não tinha sentido negá-lo: desejava desesperadamente a aquele homem. Queria conhecer a sensação de ter seu corpo contra o dela, doce e apaixonado.

– No que está pensando? – perguntou Brant, aproximando-se dela.

Anastasia teve que conter uma risada nervosa. Se tivesse podido adivinhar seu pensamento!

– Em nada – respondeu com um sorriso. – Só estava desfrutando da vista.

– Sempre gostei de admirar as montanhas Shirley – disse ele e a olhou nos olhos com seu sorriso embriagador. – Você gostaria de sair e brincar com a neve?

– Nunca brinquei com neve. Mas parece ser divertido.

– Nunca?

Ela negou com a cabeça.

– Não costuma nevar com freqüência em Illinois e, quando faz, a minha avó tem medo que eu possa m resfriar se sair.

Ele a abraçou pela cintura.

– Já não é uma menina pequena, assim pode fazer o que quiser.

Anastasia sentiu uma estranha e inesperada angústia.

– Obrigada – disse emocionada.

– Por quê?

– Por me deixar ser como quero.

– Eu gosto que seja como é.

Logo que seus lábios se posaram sobre os dela, Anastasia sentiu a já familiar e reconfortante sensação que se estendia por seu corpo quando a beijava. Quando sua língua se deslizou por entre a breve abertura de seus lábios, seu desejo se converteu em um rio quente que fluiu por entre suas pernas como lava ardendo.

Brant deslizou as mãos até sua cintura e a empurrou brandamente até que sua pélvis e roçou a dureza de sua masculinidade possante. Ela se abraçou o seu pescoço e se abandonou ao mais perigoso dos prazeres: desfrutar dos beijos de um homem como aquele. Quando estava com ele à tímida e retraída Anastasia se transformava em uma fêmea faminta e sedutora.

Aquele pensamento a contrariou e se separou dele assustada.

– Eu... sinto muito – disse-lhe, com a voz entrecortada.

– Coração, jamais se desculpe por me beijar assim – disse Brant. Compreendendo que ela necessitava tempo para assimilar aquela nova parte de si, afastou-se ligeiramente. – O que me diz? Quer que saiamos a jogar?

Ela respirou profundamente sem poder afastar o olhar daqueles profundos olhos azuis.

– Sim – disse com um sorriso. – Vamos fazer um boneco de neve?

Ele riu.

– Faremos um quando retornarmos.

– Aonde vamos?

– Já o verá – disse, beijando brandamente a sua testa. – Vai colocar umas luvas e uns óculos, enquanto eu vou procurar por uns agasalhos impermeáveis e uns gorros.

Brant ficou ao pé da escada observando Anastasia enquanto subia. Ao girar, deu com Morgan que tinha um amplo sorriso nos lábios.

– Que está olhando? – disse, irritado.

– Então são só amigos, não é?

– Sim.

Morgan soltou uma sonora gargalhada.

– Continue dizendo isso se quiser, mas acredito que as ações lhe contradizem.

Brant estava acostumado às brincadeiras de seu irmão. Mas naquela ocasião o comentário estava tão perto da realidade que lhe resultou inquietante.

– Você se acha muito preparado, verdade?

– O suficiente para saber julgar o que vejo – disse Morgan. – Acredito que você vai ter que começar a decidir quem vai ser o padrinho das bodas, Colt ou eu.

– Pois eu acredito que além de bater o ombro, deve ter também batido a cabeça ontem – disse Brant furioso.

– Bom, me faça saber com tempo suficiente para cortar o cabelo – insistiu Morgan e se encaminhou para a porta.

– Não enche! – disse a ele e se encaminhou para o hall da entrada, onde estavam os casacos.

Anastasia começou a descer a escada.

– Aqui está – lhe disse quando terminou de descer. – vamos estar fora um par de horas e não quero que você passe frio. Tem os óculos de sol?

– Sim, estão aqui. Suponho que é para impedir que o resplendor da neve nos cegue.

– Sim – disse ele colocando seus próprios óculos e agarrando umas mantas. – Assim que selarmos Dancer estaremos preparados.

– Dancer?

– Meu cavalo.

– Nunca cavalguei. – Brant sorriu.

– Bom, tampouco brincou com a neve e isso não vai te impedir de fazê-lo. – Os olhos da Anastasia se iluminaram.

– Não, claro que não – colocou os óculos claramente feliz. – Hoje vai ser um dia de experiências novas.

Dez minutos depois, Brant colocou uma das mantas em cima de Dancer.

– Pronta?

– Eu... – Anastasia olhou com certa apreensão o eqüino. – Sim, mas, como vou subir aí?

– Assim.

Ele a puxou pela cintura e a elevou sem problemas.

– Minha nossa! Não posso acreditar que esteja fazendo isto – disse ela com uma risada nervosa.

– Relaxe – disse ele e tomou as rédeas para montar bem detrás dela. – Agora se cubra com esta outra manta para manter o calor.

Ela seguiu escrupulosamente suas ordens.

– Há algo que se suponha que eu deva fazer?

– Desfrutar do passeio, isso é tudo. – Mas, no momento em que seu pequeno traseiro entrou em contato com sua virilidade, ele não pôde evitar a excitação. Agitou as rédeas com a esperança de que o passeio dissipasse seus quentes pensamentos e Dancer ficou a trotar brandamente.

– Estou montando a cavalo! – riu Anastasia entusiasmada.

– Claro – disse ele, lhe beijando pescoço. – Está cômoda?

Ela se apertou ainda mais contra ele.

– Agora estou.

Brant sentiu que o coração lhe acelerava. Ter o corpo da Anastasia tão perto alterava todo seu sistema hormonal. As palmas das mãos ficaram suadas dentro das luvas térmicas. Maldição! Ainda não tinham percorrido nem cem metros e já estava excitado como um demônio.

Tinha decidido montar sem sela para que o calor do Dancer os ajudasse a não congelarem, mas não lhe tinha ocorrido pensar no que o contato do corpo do Annie lhe provocaria.

Cavalgaram em silencio pela pradaria até alcançar uma pequena estrada. O ar era gelado, mas o sol brilhava intensamente.

– Brant, isto é absolutamente maravilhoso.

– Deveria vê na primavera.

– Eu adoraria – disse Anastasia com total sinceridade.

Aquele comentário provocou em Brant uma cálida e reconfortante sensação. Mas a ignorou. Não podia deixar-se enganar por um simples comentário dito ao acaso. Sabia que uma mulher como Annie não poderia viver satisfeita em um lugar como aquele.

Depois de percorrer cinco quilômetros, chegaram a uma bela paragem de onde se divisava um vale.

– Por favor, pare o cavalo um momento – disse ela.

– Você está bem? – ele perguntou alarmado.

– Sim, claro que sim. Só que eu gostaria de poder admirar a paisagem – tirou os óculos e observou o vale. – Este seria o lugar perfeito para uma casa.

Brant se estremeceu.

– Isso é exatamente o que pensava fazer, construir uma casa aqui.

– De verdade? – Ele assentiu.

– Pensava construir a casa aqui e os estábulos naquela zona, e criar cavalos que possam pastar na zona oeste.

– Sem dúvida é o lugar ideal. Mas teria que ser uma casa especial – disse ela. Ele se preparou. Aí vinha a decepção. Falaria de uma casa moderna, de tijolo, mais própria de um complexo de golfe que de um rancho. – Teria que ser uma casa de troncos – disse ela surpreendendo-o. – Com um montão de janelas dando ao lado oeste, para poder ver o entardecer. A habitação principal também deveria ser desse lado e ter um balcão de onde se pudesse ver os crepúsculos do verão.

Brant tragou saliva. Algo lhe oprimia o peito e uma cálida sensação invadiu cada célula de seu corpo. Sua idéia era, exatamente, o que ele sempre tinha imaginado.

– Você é realmente incrível, coração – ele falou.

– Eu?

– Sim, você – riu, apertou-a contra ele e lhe beijou a frente. – Acaba de descrever a casa que vou criar.

Ao dar-se conta de que Ana não compartilharia com ele aquele lugar lhe provocou uma inesperada dor. Separou-se de sua mente o pensamento e a abraçou com mais força. O que importava era que, naquele instante, estavam ali, juntos, nada mais.

 

Duas manhãs depois de seu idílio passeio a cavalo, Brant se levantou da cama sentindo-se terrível. Doía-lhe a cabeça pela falta de sono e lhe ardiam às vísceras. Desejava Annie, era tão simples como isso e, ao mesmo tempo, assim de complicado.

Tinha passado as três últimas noites dando voltas na cama e pensando em todas as razões pelas quais não devia ter nenhum tipo de relação com ela. Sabia que se beijassem, se acariciassem e fizessem amor, aconteceria um desastre.

Mas seu corpo não parecia querer atender à razão. Desde que ela tinha entrado no seu quarto de hotel, teve que tomar mais banhos frios que em toda sua vida. Mas, o efeito da gélida água não era solução alguma. Uma vez superado o impacto inicial, tudo voltava para um incontrolável estado de excitação.

Encaminhou-se à cozinha para procurar o objeto de seus desejos. Talvez estivesse ali tomando o café da manhã. Mas não a encontrou. Logo foi ao seu dormitório, e nada. Depois de percorrer grande parte da casa a achou no escritório, sentada frente ao computador.

– Como você está? – disse-lhe Brant com um sorriso. – Estava me perguntando onde você estaria. – O sorriso dela lhe acelerou o pulso.

– Perguntei ao Morgan se podia usar o computador para procurar uma coisa na Internet – disse ela, enquanto teclava um nome. Aproximou-se dela e olhou desde atrás.

– O que está procurando?

– Alguma notícia de interesse nos periódicos do Fresno, Califórnia – respondeu ela. – Quando conheci Patrick, ele me disse que tinha estado vivendo e trabalhando ali antes de mudar a Illinois.

– O que está procurando exatamente? – perguntou ele. – A prova de algum ato ilegal cometido por ele?

Anastasia assentiu.

– Há algo que possa fazer para ajudar? – ele murmurou brandamente ao ouvido.

– Bem sim, a verdade é que poderia fazer algo.

– Peça o que quiser.

– Poderia ir ver como está seu irmão? Eu acho que ele está um pouco triste.

Brant olhou o calendário que estava sobre a mesa e, imediatamente, percebeu qual era o problema. Como podia havê-lo esquecido?

– Hoje teria sido o aniversário do Emily – murmurou ao reconhecer a data.

– Emily? – Brant assentiu.

– Era sua noiva.

– O que ocorreu?

– Emily se matou uma semana antes de suas bodas.

– Isso é horrível – disse Anastasia, levantando-se da cadeira e abraçando-se a Brant. – Quanto tempo faz?

– Em Julho fará cinco anos. Mas este dia é sempre muito duro. Fixaram a data de seu matrimônio em seu último aniversário.

– Por que não passa o dia com ele? – Anastasia lhe acariciou a bochecha. – Possivelmente possa ajudá-lo a esquecer sua perda.

– Você não se incomoda? – Ela negou com a cabeça.

– Não se preocupe. Eu me vou passar todo o dia procurando informação. Além disso, sem dúvida Morgan precisa muito de você hoje.

– Alguém já te disse como você é especial? – ele disse, comovido por sua compreensão.

Fez com se levantasse para abraçá-la e a beijou nos lábios. Uma vez mais sua masculinidade se esticou e, instintivamente a agarrou pelos quadris e a puxou para si. Assustado pela forte reação de seu corpo, segurou-a com cuidado, afastando-se dela. Tratou desesperadamente de recordar todas as razões pelas que não podia apaixonar-se por uma mulher como Anastasia e não lhe veio à memória nenhuma sozinha.

– Brant? – sussurrou ela, com a voz cheia de desejo.

– Você vai me enlouquecer, Annie.

– Eu? – olhou-o incrédula.

– Sim, você – beijou-lhe docemente a ponta do nariz. – Já te disse que não sou nenhum santo. Sou um homem com apetites de homem e, neste instante, estou mais faminto do que jamais estive em toda minha vida.

Ela se ruborizou e uma faísca de desejo se acendeu em seus olhos.

– Jamais fui o tipo de mulher que... – Ele posou seu dedo sobre os lábios dela.

– Não quero voltar a ouvir você dizer isso de si mesma. A evidência de que é uma mulher desejável está pressionando sua pélvis agora mesmo.

Ela molhou seus os lábios, repentinamente secos pelo impacto da informação.

– Não faça isso.

– Que?

– Umedecer seus os lábios desse modo – disse ele, enquanto seu corpo se esfregava contra o dela. – Não me ajuda tranqüilizar o excitado estado de ânimo em que me encontro.

– Sinto muito.

– Não diga eu sinto. Simplesmente, não volte a fazer ou pode que não seja capaz de manter minha promessa.

– Que promessa?

– Disse a você que eu era de confiança. Mas esta situação está começado a ser mais forte que eu – aproximou-se ainda mais a ela e lhe sussurrou ao ouvido. – Não há nada que eu pudesse gostar mais neste momento que te levar a meu quarto e fazer o amor todo o resto do dia e toda a noite.

Antes que ela pudesse responder, ele a beijou na testa e saiu do escritório sem olhar para atrás. Ela se deixou cair na cadeira, surpreendida e desconcertada. Brant Wakefield a desejava, e a desejava de verdade...

 

No final daquela tarde Anastasia se acomodou no sofá com um monte de papéis obtidos de sua busca em Internet. Tinha encontrado na rede suficiente informação para convencer a sua avó de que denunciasse ao Patrick às autoridades.

– O que conseguiu? – perguntou Brant após entrar.

Ela levantou a vista e o viu diante dela, com aqueles jeans que se ajustavam a suas pernas largas e musculosas como uma luva. Engoliu saliva e controlou seus anárquicos pensamentos, tratando de centrar-se no que devia.

– Descobri... – teve que clarear sua garganta antes de continuar. – Descobri que Patrick foi detido por mal conservação de recursos faz sete anos. Foi condenado a cinco anos de prisão, por ser um delito de luva branca. Parece que seu roubo não foi descoberto até que a anciã para a qual trabalhava morreu e ocorrer à partilha da herança.

– Com tudo isto poderá conseguir que o investiguem – disse Brant.

– Ao menos conseguirei convencer minha avó para que peça uma auditoria de suas contas – respondeu Anastasia.

– Você trabalhou muito bem, coração – disse ele e, depois de pegar os papéis de sua mão, deixou-os na mesa e a abraçou. – Como é que você não tinha pensado em fazer isto antes?

– Não sei – respondeu ela duvidosa; sentir o abraço do Brant não a deixava pensar com claridade. – A verdade é que até que você não mencionou que iria para Anaheim, não percebi que possivelmente devesse averiguar sua origem real.

– Estou certo que esse desgraçado saiu do cárcere e foi diretamente a Illinois em busca de outra vítima.

Ela assentiu.

– Sim, provavelmente foi assim.

Ficaram durante uns minutos olhando o errático movimento do fogo na chaminé, até que Anastasia rompeu o silêncio.

– Que tal está Morgan?

– Bem – disse Brant. – Convenci-o para que se fosse ao Laramie ver um dos amigos do Cok. Jake Weston quer que Morgan o acompanhe a ver um cavalo que precisa comprar. Jake o levará depois para tomar umas cervejas e, quando chegar a casa, a única coisa que pensará será dormir.

Vai se embebedar? – Brant soltou uma gargalhada.

– Não. Com três cervejas Morgan dorme. E asseguro que é uma sorte que seu quarto seja do outro lado da casa.

– Por quê?

– Porque seus roncos soam como um trem de mercadorias passando por seu dormitório.

Ela riu.

– Ronca mais alto que você?

– Eu não rouco – disse ele.

– Claro que rouca.

– Não.

Antes que ela pudesse seguir discutindo, começou a lhe fazer cócegas.

– Pare! – disse ela entre gargalhadas.

– O que me dará para que pare?

– O que pedir.

– Um abraço?

– O que seja!

Ele se deteve, mas se dobrou sobre ela, e acabaram os dois tombados sobre o sofá.

– Coração, passei muito mal hoje – ele disse a ela em um tom sensual.

– De verdade? – perguntou ela. A proximidade de seu corpo fazia que lhe resultasse difícil inclusive respirar.

Ele assentiu.

– Passei todo o dia me recordando todos os motivos pelos que deveria guardar as distâncias.

– E chegou a alguma conclusão? – Ele negou com a cabeça.

– Jamais desejei ninguém como desejo você.

– Não sei o que dizer – respondeu Anastasia, completamente aniquilada.

– Diga que me afaste de você, Annie – ele sugeriu, lhe beijando a testa e as bochechas. – Me diga que não devo voltar a te tocar.

– Não posso dizer isso, Brant.

Ele gemeu e afundou o rosto em seu cabelo.

– Por quê?

– Porque... – ela suspirou. – Porque eu gosto que me beije e que me toque. – Ela notou que ele estremecia.

– O problema é, precisamente, que eu também gosto, e eu gosto tanto que duvido que possa seguir me comportando como um cavalheiro a próxima vez que te beije.

Seus incríveis olhos azuis se fixaram nela com intensidade. Esperava uma resposta. Ela fez provisão de todo seu valor e respondeu.

– Me beije, Brant.

– Maldita seja, Annie, não ouviu o que acabei de dizer?

– Perfeitamente. E quero que fique comigo e me beije... e faça amor comigo.

Ele gemeu e apanhou sua boca com urgência. Com o primeiro toque, Anastasia sentiu como se um raio tivesse aceso suas vísceras. A sensação de suas mãos sobre a cintura, excitava-a. Annie gemeu e se apertou contra ele. Brant deslizou a mão sob sua camisa, sua lingerie, enquanto apanhava o lóbulo de sua orelha entre os lábios.

– Você gosta disto?

– Sim...

Ele a olhou.

– Está segura de que quer fazer amor comigo? – Ela assentiu.

– Jamais estive mais segura de nada em minha vida.

Ele tirou a mão da camisa e lhe acariciou a bochecha. Segurou sua mão convidando-a a levantar-se.

– Vamos para cima.

Ao ver que ela o seguia voluntariamente, Brant sentiu que a vida ia conceder lhe um formoso presente. Mas também estavam a ponto de fazer algo que mudaria totalmente a relação que havia entre eles.

– Está segura disto, Annie?

– Não tenho nenhuma dúvida.

Rodeou sua cintura e a guiou até o dormitório. Fechou a porta e acendeu o abajur da mesinha de noite.

– Brant?

Ele se voltou a olhar. Havia um tímido sorriso em seu rosto.

– Me diga, coração.

– Há algo... que eu gostaria que soubesse – disse ela claramente nervosa.

– Se está preocupada com a proteção, fique calma, eu me ocuparei de tudo.

– Obrigado, mas não era isso – disse ela lhe abraçando com força.

Ele sentiu um repentino temor.

– Então?

Ela o beijou no pescoço.

– Pode ser que não eu seja muito boa. Possivelmente tenha que me indicar o que tenho que fazer.

Ele engoliu saliva. Mas antes que pudesse verbalizar seus pensamentos, ela confirmou suas suspeitas.

– Nunca fiz isto antes.

 

Brant a olhou atônito.

– Nenhuma vez?

Ela negou com a cabeça. Ele engoliu saliva e se separou dela. Passou a mão pelo pescoço.

– É virgem.

– Isso só costuma acontecer quando uma mulher nunca se deitou com ninguém – disse ela, concordando.

– E quer que eu seja o primeiro homem com quem faz amor?

– Sim – disse ela com decisão.

– por que, Ana? – ele soprou. Estava ultrapassado pela situação. Tratou de pensar em todas as razões pelas quais devia mandá-la ao seu quarto, enquanto ele se metia em uma banheira repleta de gelo. – por que eu?

– Porque é doce, carinhoso e o homem mais sexy que jamais conheci – ela o segurou pela mão. – E tem me feito sentir mais feliz nos últimos dias do que eu fui em toda minha vida – aproximou-se por completo a ele e sorriu. – Quero estar tão perto de ti que seja tua parte.

Brant gemeu e a tomou de novo em seus braços.

– Maldita seja, mulher, não me vai me tornar as coisas fáceis, verdade? – disse ele. – Não tem nem idéia da vontade que tenho de tê-la em meus braços e me afundar dentro de você. Mas eu estaria tirando de você algo que jamais poderei devolver.

– Sei.

– E preferiria morrer que padecer seu arrependimento.

Ela posou o indicador sobre os lábios dele.

– Só me arrependerei de não fazer amor contigo.

Ele lhe beijou o dedo.

– Mas, coração, tem que entender que eu não posso fazer promessas.

– Não estou pedindo que me prometa nada – disse ela. – É minha decisão e a assumo com todas as conseqüências. Quero que seja o primeiro homem que eu terei e tomara pudesse ser o único.

Aquele pensamento deixou Brant temporalmente paralisado. Ao olhar Anastasia nos olhos, soube que era verdade, que queria ser o único em beijá-la, em fazer o amor com ela. Engoliu saliva e empurrou para o lado aquele pensamento perturbador. Se pensasse demais, acabaria descobrindo algo sobre si mesmo que não estava preparado para saber.

Abraçou-a com força e afundou o rosto em seu cabelo.

– Annie, não quero machucá-la.

– Sei que vai haver momentos desagradáveis, mas confio plenamente em que será cuidadoso.

Ela deslizou as mãos por dentro de sua camisa, lhe provocando um tumulto de sensações.

– Prometo que lhe farei isso o mais fácil possível. Mas você terá que me ajudar.

– Como?

– Terá que deixar de me tocar durante uns minutos – disse ele e encheu os pulmões de ar. – De outro modo, vou acabar incendiando a casa.

Ela sorriu.

– Acredito que isso não seria boa idéia. Lá fora faz muito frio. – Ele gemeu.

– Já me congelei bastante sob a ducha desde que dividimos o quarto em Denver.

– De verdade?

Ele lhe acariciou uma mecha de cabelo.

– Não tem nem idéia de como você é sexy.

– Nunca pensei que fosse – respondeu ela docemente.

Brant lhe desabotoou a blusa lentamente. Ela o olhava fixamente enquanto ele trabalhava com as casas. Desfrutava do toque acidental de seus dedos sobre sua pele. Quando chegou à altura da cintura não era fácil discernir qual dos dois respirava mais rapidamente. Brant separou lentamente as duas partes da camisa e ficou sem respiração.

Levava um sensual soutien de lingerie vermelha.

– Esta é uma das coisas que comprou em Denver? – perguntou com a voz rouca.

– Sim – respondeu ela. – Compro toda minha roupa interior no Sieek and Sassy.

– Pelo que vejo agora mesmo me atrevo a afirmar que essa loja é adorável.

Tirou definitivamente a camisa dela e a lançou sobre a cama. Logo desabotoou o soutien e o tirou lentamente. A visão de seus seios turgentes e perfeitos provocou uma imediata reação em seu já alterado corpo. Pousou as mãos sobre seus seios cremosos.

– Você gosta disto, Annie?

Ela prendeu seu lábio inferior entre os dentes como se tratasse desesperadamente de evitar um gemido.

– Não reprima o que sente.

Ele abaixou a cabeça e tomou seu mamilo possante com os lábios. Ao sentir sua língua brincando com a pequena protuberância, Annie não pôde conter-se mais. Um gemido completo e carregado de desejo escapou de sua garganta.

Ele sorriu.

– Assim é melhor, deixe que eu saiba do que você gosta.

– Não é justo – disse ela. – Eu também quero tocá-lo.

Desabotoou os botões com impaciência, até que o peito espetacular daquele homem formoso ficou ao descoberto.

– É muito formoso – disse ela, posando as mãos sobre os duros peitorais. Ele riu.

– Já me chamaram de muitas coisas, mas «formoso», asseguro que é a primeira vez.

Seus corpos se aproximaram até que as peles nuas se tocaram. Brant sentiu que o coração lhe acelerava. Controlando com muita dificuldade sua impaciência, desabotoou a saia vaqueira e a deixou cair até o chão. Ele terminou de tirar a saia com os pés e a afastou. Ele voltou a abraçá-la e apanhou entre seus lábios o lóbulo da orelha dela e lhe sussurrou algo insinuante:

– Acredito que vai conseguir que eu tenha um ataque ao coração vendo você com isso que tem está vestindo.

– Você não gosta? – ela perguntou, brincalhona.

Ele levantou uns olhos famintos que se fixaram na boca dela.

– Eu adoro. Mas vou gostar ainda mais de tirar isso. Você é linda, Annie.

Desceu lentamente, deslizando os lábios por todo seu corpo até o umbigo. Logo agarrou entre dois dedos a fina lingerie que cobria sua feminilidade ardente e se desfrutou fazendo escorregar por sua pele fina a renda vermelha. Ficava só a liga, provocadora e insinuante. Rodeou sua cintura com os braços e desabotoou o fecho. Logo baixou lenta e sedutoramente as meias até deixá-la isenta de toda roupagem e artifício.

Levantou-se e se separou dela para observá-la.

– É preciosa, Annie.

Ela se armou de coragem, aproximou-se dele e deslizou um dedo por seu peito, descendendo por seu estômago musculoso até a cintura da calça.

– Posso? – perguntou.

– Francamente me decepcionaria se não o fizesse – ele respondeu.

Ela sorriu, desabotoou o botão da calça e baixou o zíper, roçando indevidamente seu membro excitado. No momento em que ela começou a lhe tirar as calças, tomou a mão.

– Será melhor que eu me encarregue disto – ele disse.

Tirou as botas, as calças e a roupa de baixo, e tirou algo do bolso que deixou sob o travesseiro. Anastásia jamais tinha visto um homem nu. O coração lhe acelerou e começou a respirar freneticamente.

Brant era perfeito, com um corpo tão idealmente esculpido que recordava a uma estátua grega. Tinha os ombros largos e a musculatura firme e apertada, os quadris estreitos e um ventre plano e atlético. Ele a também a olhou e Anastasia se sentiu como se fosse a mulher mais desejável do mundo. Agarrou-a pela mão e a conduziu à cama. Deitaram juntos, lado a lado.

– Vamos fazer isto com muita calma. Iremos muito devagar – ele lhe disse, levantando ligeiramente a cabeça para olhá-la.

Ela rodeou seu pescoço com os braços e o beijou com infinita paixão e sensualidade.

– Deus do céu! Está me matando de prazer e adoro cada minuto desta tortura – ele lhe disse e desceu a boca até seus seios.

Notou como ela introduzia os finos dedos entre seus cabelos.

– Brant, é você o que me está matando.

Ele a olhou uma vez mais.

– Quer que pare?

– Não.

Beijou-a nos lábios e lhe acariciou o corpo.

– Sua pele é tão suave que parece de cetim – ela se estremeceu ao notar sua mão sobre a parte interna das pernas, – Annie...

– Sim?

Ela abriu os olhos e ele a acariciou brandamente.

– Quero que me prometa algo – disse-lhe.

– Neste instante seria capaz de prometer qualquer coisa.

– Me prometa que vai dizendo tudo o que você gosta e o que não.

Nesse instante, separou-lhe as pernas e achou sua feminilidade úmida e quente.

– Por favor...

– Por favor o que?

– Faça algo – rogou–lhe ela.

– O que quer que te faça?

– Faça amor comigo, Brant.

Sua sexy petição o alterou perigosamente. Estava tendo verdadeiros problemas para manter o controle.

– Espere um momento – disse e, tirando o pacote que tinha posto previamente debaixo do travesseiro, rasgou-o e colocou a proteção necessária.

Tomou-a entre seus braços uma vez mais e, controlando ao máximo, abriu-se passo dentro dela, sem deixar de olhar seu rosto. Ao chegar à barreira que impunha sua virgindade se deteve.

– Annie – foi tudo o que pôde dizer antes de cobrir seus lábios com um doce beijo. Brant sentia os dedos dela lhe pressionando com força as costas. Estar dentro do Annie era estar no céu. A idéia de poder lhe causar alguma dor lhe espantava. O ímpeto de seu desejo o insistia a seguir adiante, mas temia que Annie não estivesse preparada ainda.

Ele elevou a cabeça e a olhou.

– Não sei se...

– Brant, estou bem – disse-lhe sorrindo. – Continua sem medo.

Ela se arqueou em um sinal de entrega. Estava lhe pedindo que a levasse ao lugar ao qual só os amantes chegavam juntos. Ele respondeu movendo-se dentro dela lentamente até romper a barreira que os separava da entrega completa. Ela gemeu levemente e, depois, relaxou.

A paixão começou a crescer de novo e suas bochechas se coloriram. Notou como sua feminilidade se esticava em torno dele.

– Deixe que te leve, coração – disse-lhe ele. – Eu me encarregarei de tudo.

Anastasia fechou os olhos e se deixou levar até o final, chegando ao supremo prazer. Só quando teve a certeza de que ela tinha alcançado o êxtase, ele cedeu ante sua própria necessidade. Gritou o nome do Annie e sentiu como se uma carga elétrica o estivesse atravessando. Momentos depois, os espasmos terminaram, após encontrar o fim sua própria liberação. Annie o abraçou com força e notou seu corpo grande estremecer. Adorava sentir seu peso, sua respiração, sua pele.

Fechou os olhos e apanhou seu lábio inferior entre os dentes. A verdade era que adorava tudo nele e o fato de que o tempo que restava estivesse a ponto de acabar, se tornava insuportável. No dia seguinte partiriam para o Anaheim e logo, retornaria a casa.

– Está bem? – ele perguntou.

– Muito bem – ela respondeu. Ele levantou a cabeça e a apoiou na mão para olhá-la.

– Está segura? – Ela assentiu.

– Foi à experiência mais incrível de toda minha vida.

– Prometo que da próxima vez será ainda melhor.

– A próxima vez? – perguntou ela, notando que o coração lhe acelerava.

– Sim. Mas não será agora – deitou-se a seu lado.

– Por que não? – perguntou ela indevidamente decepcionada.

– Eu não gostaria de machucá-la e quero evitar a toda custo que você possa se sentir dolorida hoje.

Annie notou um doce calor interior ao sentir-se protegida. Brant tratava de fazer o melhor para ela, não o que realmente queria. Pouco tempo depois a respiração profunda anunciou que seu companheiro de paixões estava dormindo profundamente.

Ela permaneceu a seu lado, com o olhar no teto, pensando. Em um par de dias estaria de volta em casa. Por que a perspectiva de sua volta longe de alegrá-la a entristecia profundamente? Olhou Brant e se perguntou se trataria de vê-la depois de que partisse, ou deixaria que desaparecesse sem mais.

Sentiu um nó na garganta e soube exatamente o por que: voltar para Illinois poderia supor não voltar a ver o homem a que amava.

 

Brant pagou ao taxista e tomou a mão de Annie para guiá-la até a porta de entrada do pessoal. Até então tinha tratado de evitar pensar naquele dia, mas finalmente tinha chegado e não havia modo de mudar isso. Depois do rodeio tomariam um avião até São Luis. Logo alugariam um carro e conduziriam até sua casa ao sul de Illinois. No dia seguinte pela manhã, ela já estaria em sua vida de sempre, rodeada de livros, arte e concertos benéficos, enquanto que ele retornaria a Lonetree.

Assim deviam ser as coisas, não havia mais. Mas, então, por que lhe doía tanto a perspectiva de separar-se dela? Olhou à mulher que tinha a seu lado e recordou que ele tinha sido seu primeiro amante. A idéia de não voltar a fazer amor com ela lhe era insuportável.

– Annie...

– Sim?

– Tenho algo para pedir – disse ele tomando uma repentina decisão.

Parou, deixou a bolsa que levava na mão e a tomou em seus braços. Que agradável era senti-la perto!

– Você se importaria...

– Olá, irmão – interrompeu-os Colt, que acabava de chegar acompanhado de seu amigo Mitch. – Hoje acho que vou ganhar.

– Tenta não aterrissar com a cabeça outra vez – respondeu Brant irritado por sua inoportuna aparição.

Os dois homens riram. Mitch se voltou para a Anastasia e lhe estendeu a mão.

– Acredito que não nos apresentaram. Sou Mitch Simpson. Parece que no outro dia esteve sentada junto a minha irmã.

Anastasia estreitou a mão do amigo do Colt que a olhava insinuante. Brant não pôde ocultar sua tensão. Mitch tinha fama de sedutor.

– Eu sou Anastasia Deveraux – respondeu ela. – Sua irmã é encantadora. Virá hoje também?

– Não – disse Mitch sem soltar a mão da Anastasia. – Ficou em casa cuidando da égua que lhe dei de presente por seu aniversário.

– Diga a ela que teria sido encantador voltar a vê-la.

Brant lançou ao Mitch um olhar assassino e este afastou sua mão da de Anastasia, não sem antes sorrir vitorioso.

– Kaylee me disse que vocês estiveram bem juntas. Estou certo que ficará chateada de não ter encontrado você.

– É incrível. Prefere passar seu tempo com essa égua em lugar de vir para me ver – disse Colt.

Brant estudou seu irmão. Era verdadeiro pesar o que se ouvia em sua voz?

– Kaylee já viu você montar o suficiente para saber o que vai ocorrer – disse Mitch.

– O que tem que errado em minha forma de montar? – perguntou Colt furioso.

– Não é o modo em que você monta, e sim como desmonta. Sempre acaba com a cabeça no chão.

– Isso não é verdade.

– Sim, é verdade – insistiu Mitch.

Os dois homens se despediram e seguiram discutindo enquanto se dirigiam para a zona onde se serviu o bufê. Brant abraçou de novo Anastasia.

– Voltemos aonde o deixamos. Há algo que eu gostaria de pedir.

Ela sorriu e ele sentiu um doce calor interior.

– Peça o que quiser.

– Você se incomodaria se trocássemos nosso vôo e reservasse um quarto em um hotel?

Anastasia o olhou fixamente.

– Está me pedindo que passe a noite contigo, Brant?

– Sim.

Ela posou a mão sobre sua bochecha.

– Eu adoro a idéia – respondeu. – Além disso, me lembro que você me fez uma promessa.

– Qual?

Ficou nas pontas dos pés para poder lhe sussurrar ao ouvido.

– Me prometeu que, quando voltássemos a fazer o amor, seria inclusive melhor que a primeira vez. Mas não teve ainda ocasião de me demonstrar isso

O coração do Brant se acelerou e seu corpo reagiu imediatamente.

– Sou um homem de palavra, você sabe, assim trocarei os bilhetes assim que acabarmos de comer algo.

Depois do jantar, Anastasia se dirigiu aos degraus para esperar a saída de Brant. Enquanto via os homens preparando na arena, não podia deixar de pensar no convite que lhe tinha feito. A neta da Carlota Whittmeyer jamais teria sonhado uma semana atrás passar a noite em companhia de um arrumado cowboy. Mas, em um período de só uns dias, sua existência tinha mudado. Estava aprendendo a desfrutar da vida, a não deixá-la passar diante dela sem atrever-se a tocá-la. Sorriu e olhou as roupas que estava vestindo. Inclusive sua forma de vestir-se estava mudada. Ela preferia roupa larga, neutra. Entretanto, naquele momento estava vestida com uns jeans apertados, uma camisa vermelha e botas de pontas. E se sentia bem. Gostava de como as roupas vestiam seu corpo, e principalmente, do modo como a olhava Brant, quando se vestia assim

Por desgraça, sabia que sua avó não aprovaria sua nova personalidade, mesmo que já não podesse voltar a ser a mesma neta de antes. Independentemente do que acontecesse entre o Brant e ela, sempre lhe seria grata por ter lhe mostrado um caminho que desconhecia até então. Estava tão absorta em seus pensamentos que demorou uns segundos em reparar na voz masculina que soava perto dela. Voltou-se sobressaltada e viu, a somente uns metros, Patrick. Estava de costas a ela, mostrando sua foto a um grupo de gente.

Anastasia sentiu um ataque de pânico e procurou desesperadamente um lugar no que esconder-se. De repente, reparou em um barril que estava em um lateral da praça, entre caixas. Era o suficientemente grande para escondê-la e, provavelmente, jamais ocorreria a ele procurá-la ali. Lentamente, sem chamar a atenção, deslizou-se dentro. Esperaria que Patrick partisse e logo sairia dali e iria em busca do Brant.

Passados uns minutos e quando se dispunha a olhar se Patrick tinha partido, sentiu que o barril se movia. De repente, inclinou-se perigosamente, até cair sobre um de seus lados e golpeando dolorosamente Anastasia. Ficou confusa uns segundos, até que percebeu de que estava sendo empurrada para a arena.

– Não, pare! – ela disse. – Estou aqui dentro.

Levantou como pôde a cabeça, mas não via nada, assim decidiu procurar com a mão ao estranho que a transladava. O homem se sobressaltou ao notar o inesperado tato.

– Que demônios... – de repente, o homem voltou a colocar o barril em sua posição vertical. Uma cara grafite apareceu pelo buraco, – O que está fazendo você aí?

– Por favor, mantenha a voz baixa – disse ao homem, temerosa de que os dramalhões do palhaço chamassem a atenção do Patrick. – Necessito que procure o Brant Wakefield.

O homem parecia exasperado.

– Necessita o que?

– Por favor, é muito importante. E não penso sair deste maldito barril até que não o traga. Brant olhou para os degraus, ansioso por ver o doce rosto da Anastasia. Mas não a encontrou. Onde demônios estava? Repentinamente impaciente, perguntou a seu irmão Colt que vinha para ele.

– Viu Annie?

– Não – respondeu Cok. – Aconteceu algo?

– Não estou seguro – respondeu a seu irmão sem deixar de olhar para o público.

– Você sabe que se necessitar ajuda só tem que pedi-la. – Brant assentiu.

– Obrigado, Colt.

Enquanto seu irmão se afastava, um impaciente Gil Daniels se aproximou a toda pressa.

– Oi, Brant! – chamou-o Gil. – Preciso de sua ajuda.

– Agora não. Gil – disse Brant.

– Isto não pode esperar.

– Pois terá que esperar – disse Brant impaciente. – Preciso encontrar a alguém. – Gil o agarrou por braço.

– Essa loira que estava com você me disse que, se não lhe avisar, não sairá do barril.

– Annie está no barril? – perguntou Brant incrédulo.

Gil se encolheu de ombros.

– Não sei como se chama, mas sim, está em meu barril.

Brant apressou-se para o lugar que lhe indicou Gil. Ao chegar ali, olhou pelo buraco superior do tonel e encontrou os olhos assustados da Ana.

– Que demônios está fazendo aí?

– Patrick está aqui.

– Está segura? – Ela assentiu.

– Estava mostrando minha foto a um grupo de pessoas.

Brant olhou de um lado a outro.

– Já não está. Foi embora – estendeu a mão para ajudá-la a sair. – Assustei-me muito quando Gil me disse que estava no barril. Gil balbuciou algo entre dentes e empurrou o tambor para o centro da areia.

– Foi o único lugar onde me podia esconder – ela se estremeceu. – Estava tão perto...

Tomou-a em seus braços. Como ia fazer para mantê-la a salvo? Havia quarenta e cinco cowboys que dependiam dele para poder desmontar suas bestas. Mas a mulher que tinha em seus braços precisava de sua ajuda. Ao ver a coordenadora aproximando-se deles, respirou aliviado.

– Sarah, preciso que me faça um favor. – A mulher sorriu.

– Se tratar de ir às compras, terá que esperar até manhã.

– Esta vez não são compras - sem dar muitos detalhes, contou que Annie estava tratando de evitar Patrick Elsworth. – Pode ficar com você até o final?

– É óbvio – disse a mulher. – Vêem. Esse homem não poderá dar contigo. E se atreve a entrar aqui, encontrará quarenta e cinco cowboys com suficiente adrenalina para lhe fazer desistir de seu intento.

– Nos vemos depois do rodeio – ele disse.

– Tome cuidado – ela rogou.

– Conte com isso – respondeu ele e se aproximou para lhe sussurrar algo ao ouvido. – Temos um encontro esta noite.

 

Brant se preparou para saltar à arena assim que fosse necessário. Oito segundos depois de que a besta tivesse saído com seu cavaleiro nas costas, este desmontaria e chegaria a hora de desviar a atenção do touro. A porta se abriu e mil quilogramas de fúria bovina saíram à areia. Mas, quatro segundos depois, o cowboy caiu de seus arreios, perigosamente perto da fera.

Ao ver que não se movia, Brant soube imediatamente que o cavaleiro tinha perdido os sentidos. Sem pensar correu até ele e o cobriu com seu próprio corpo. Jamais tinha perdido a nenhum cowboy e não estava disposto a que aquela fosse a primeira vez.

Esperava que outros cowboys saltassem à arena para desviar a atenção do touro, mas, antes que pudessem fazê-lo, os chifres da besta se chocaram contra suas costelas. O colete protetor o salvaria de feridas mortais, mas suspeitou no momento do golpe que ia ter sérias contusões durante vários dias. Quase tão depressa como o touro o atacou, foi tirado fora da arena, graças a outros dois toureiros.

Quando, finalmente, conseguiram levar a touro de volta, a equipe médica saiu para recolher ao cowboy inconsciente e a comprovar o estado do Brant.

– Está bem? – perguntou-lhe um dos médicos.

– Sim, perfeitamente – disse ele, se levantando lentamente e retirando os restos de areia que tinham ficado em sua roupa. – Me golpeou um par de costelas, isso é tudo.

– Seguro?

– Seguro. Já tive suficientes ossos quebrados para saber distinguir uma ruptura.

O homem assentiu e ficou ajudando os outros dois que carregavam o ferido em uma maca. Brant saiu da arena em busca da Anastásia. Mas antes de encontrá-la, topou-se com um desagradável visitante.

– Estava buscando-o, Wakefield – lhe disse Patrick Elsworth.

– Que engraçado, porque eu não estava procurando você – disse Brant, controlando a fúria que só a presença do depreciável indivíduo lhe provocava. De repente, reparou em algo. – Como sabe meu nome?

Elsworth pareceu feliz consigo mesmo.

– Chantageei o recepcionista do hotel, que me deu seu nome e me disse que era você parte deste estúpido espetáculo. Logo procurei em Internet quando seria o próximo rodeio – sorriu satisfeito. – Onde está ela?

Brant não se expôs sequer fazer o avoado, não tinha nenhum sentido.

– Annie está a salvo de você – disse-lhe. – Agora saia daqui a menos que queira ter problemas graves.

– Annie? – Elsworth gargalhou. – Carlota não vai gostar desse nome. Odeia que alguém chame a sua preciosa neta com qualquer apelativo que não seja «Anastásia».

Brant continuava andando com intenção de tirar aquele homem dali. Temia que Anastasia aparecesse de um momento a outro. Nesse instante, viu Mitch e a Colt e apressou o passo.

– Colt, recorda o que falamos antes?

Seu irmão olhou primeiro a Brant e logo ao homem que estava a seu lado.

– Sim.

– Necessito esse favor agora – disse. Colt sorriu, aproximou-se do Elsworth e o agarrou pelos ombros.

– Mitch e eu nos ocuparemos de tudo sem problemas.

– Vocês acreditam que podem me dar quinze minutos? – perguntou Brant afastando-se.

– Sem problemas – disse Colt e soltou uma gargalhada quando Elsworth tratou de lhe cravar o cotovelo no estômago e se encontrou com seu colete protetor. – Tome todo o tempo que necessite.

– Obrigado.

– O que acreditam que estão...? – isso foi tudo o que Brant ouviu, enquanto levavam ao rato do Patrick Elsworth.

 

Ele chegou ao vestuário, trocou-se de roupa e se apressou a ir em busca da Anastasia. Tinha que levá-la ao hotel antes que Colt e Mitch soltassem ao Elsworth. Tinha prometido a ela que a manteria a salvo e estava disposto a cumprir sua promessa.

 

Annie esperou impaciente a que Brant abrisse a porta do hotel. Assim que entraram, fechou-a a toda pressa.

– Brant, nunca passei tanto medo em minha vida – lhe disse Anastasia.

– Já está a salvo, coração. Elsworth não sabe que está aqui.

– Mas não é Patrick o que me preocupa – disse ela e tomou o rosto dele entre as mãos. – Pensei que ia dar um ataque ao coração quando vi como o touro ia em sua direção. Está bem?

– Um pouco dolorido – ele admitiu. – Amanhã terei que levar as coisas com calma. Mas estará bem.

– Está seguro? – Ele assentiu.

– Estive em situações piores que as de hoje.

Ela o observou enquanto tirava a jaqueta de couro lentamente.

– Você foi atendido por um médico?

– Querida, estou bem – ele disse. – Tenho um par de contusões, isso é tudo.

Anastasia teve que fazer um esforço por controlar suas lágrimas.

– Brant, nunca vi um ato tão heróico como o que você fez, se atirando sobre aquele cowboy e cobrindo seu corpo para protegê-lo. Foi incrível.

– Não. A única pessoa incrível que tem aqui é você – ele disse, tomando-a em seus braços.

Era típico dele, diminuir a importância de suas façanhas. Quanto mais o conhecia, mais admiração lhe provocava. Ela começou a lhe desabotoar a camisa e, ao notar o toque de suas mãos sobre a pele, ele gemeu.

– Você gosta?

– Quase mais do que posso suportar – disse com um amplo e prometedor sorriso. – Mas não quero ser egoísta. Eu também quero fazer com que você se sinta bem.

Desabotoou os botões da blusa dela, até deixar descoberto seu soutien de renda branco. Tirou a camisa e lhe desabotoou o soutien, deixando-a lentamente sem ele. Logo apanhou seus seios entre as mãos e começou a brincar com seus mamilos.

– Eu gosto – murmurou ela.

Ela desabotoou o cinto dele. Logo começou a baixar o ziper, mas encontrou com um obstáculo.

– Nossa... parece que aqui temos um problema – disse olhando-o nos olhos.

– Sempre fico assim quando você está por perto – respondeu ele, referindo-se a seu membro endurecido. Logo baixou a cabeça e beijou seus seios.

Ela sentiu um calafrio e se abraçou a ele. Mas o gemido de dor que emitiu a sobressaltou.

– Está realmente ferido – disse, afastando-se dele e retirando a camisa que ocultava o golpe. Apareceu então uma grande mancha violácea, – Meu Deus! Isso tem muito mau aspecto.

– Não é nada – insistiu.

– Sim que é – puxou-o pela mão e o conduziu à cama. – Quero que fique cômodo. – Deite que eu vou trazer gelo – ele começou a protestar, mas ela negou com a cabeça. – Não admito queixa. Você cuidou de mim e agora é minha vez de cuidar de você.

Brant observou Anastasia enquanto se vestia, tirava a chave eletrônica do bolso da jaqueta dele e saía do quarto em busca de uma máquina de gelo. A preocupação que tinha visto em seus olhos o comovia. Deitou totalmente e ficou olhando ao teto e pensando. Era muito agradável tê-la perto, sentir que cuidava dele. Perguntou-se como seria tê-la a seu lado sempre.

Afastou sua mente de uma idéia semelhante, porque fazia com que desejasse o impossível. Não tinha sentido expor-se a coisas que jamais ocorreriam. Annie e ele vinham de mundos irreconciliáveis e suas vidas se separariam o dia seguinte. A porta se abriu e ela entrou com um montão de gelo em uma bolsa de plástico. Momentos depois sentiu o frio intenso sobre suas costelas.

– Maldição! Isso está gelado!

– É o que costuma acontecer com o gelo – disse ela com um sorriso. – Não sei exatamente quanto tempo devo deixar você com isso.

– Não muito – disse-lhe. – Neste momento tenho em mente coisas mais quentes.

– Mas se está ferido... – protestou ela.

– Acredite em mim, Ana, não estou tão mal. Minhas costelas estão doloridas, mas minhas outras partes funcionam à perfeição.

Afastou a bolsa de gelo a fim de podê-la tomar em seus braços. Foi questão de minutos até a barreira de roupa que se interpunha entre eles desaparecesse, deixando que os corpos quentes se deleitassem com seu mútuo toque.

– Não sabe quanto desejei repetir isto, Ana – ele sussurrou.

– Brant... – foi tudo o que ela conseguiu dizer.

– Eu gosto de ouvir você dizer meu nome.

Depois de um jogo de carícias e de beijos, Anastasia o ajudou a colocar o preservativo e, uma vez mais, abriu-lhe seu corpo. Sentiu pela primeira vez em sua vida completa e cheia de um amor que não sabia que existia. Soube então, com total certeza, que Brant era muito mais que um companheiro de diversão: era sua alma gêmea, sua outra metade.

Uniram-se frenéticos em busca do prazer final, até que explodiu dentro deles o êxtase, convertendo-se em algo maior do que jamais teriam esperado.

Anastasia ouviu o gemido último do Brant e juntos encontraram o mais doce alívio.

Tempo depois que Anastasia dormiu, ela permanecia entre os braços de Brant. Ele adorava o modo em que seu pequeno corpo se ajustava ao dele, lhe transmitindo tanta serenidade.

Amava-a. Não sabia como nem quando tinha acontecido, mas era amor sem dúvida o que sentia.

Tinha permitido que ocorresse e não deveria tê-lo feito. Por acaso não tinha aprendido com suas experiências passadas que uma mulher como Annie não chegaria jamais a ser feliz com um homem como ele? O que ocorreria quando acabasse a aventura e quisesse recuperar seu modo de vida?

Ele sentiu um nó na garganta. Acabaria cansando-se e trataria de domesticá-lo. Mas ele jamais encaixaria em seu mundo e, finalmente, o abandonaria. Como ele sobreviveria então? Brant respirou profundamente com o propósito de relaxar a dor que sentia em seu peito.

A resposta a todo isso era simples: no dia seguinte, depois de levá-la junto a sua avó, diria adeus a ela para sempre.

 

Quando Brant parou o carro que tinham alugado diante da casa da avó de Anastasia, o coração dela se encolheu. Aquele era o último lugar que queria estar. Olhou o bonito cowboy que a acompanhava e teve que fazer um grande esforço para conter as lágrimas. Assim que descesse do veículo, ele retornaria a Lonetree sem ela.

– Tinha razão – disse Brant olhando a imponente casa vitoriana. – Esta casa parece um museu.

– O certo é que este estilo pode resultar quente e acolhedor, mas a de minha avó é particularmente fria – Anastasia fez uma pausa e baixou os olhos. – Obrigado por tudo, Brant. Não sei o que teria feito sem sua ajuda...

– Não pense nisso agora, coração – disse-lhe, posando o dedo sobre seus lábios, – Tudo saiu bem.

– Espero que tenha uma boa viagem de volta – disse ela.

Tinha que entrar na casa antes de fazer algo estúpido, como abraçá-lo e lhe rogar que a levasse com ele.

– Esperava que convidasse a uma taça de café ou algo assim.

Anastasia sorriu e juntos se encaminharam para a porta.

– Se quiser, pode ficar para jantar.

– Sinto muito, mas meu vôo para São Luis sai as dez e não me sobra muito tempo.

Anastasia ficou um segundo parada na frente à porta antes de soar a campainha. Finalmente, apertou o botão e, momentos depois, Carlotta Newmeyer abriu a porta com o cenho franzido.

– Onde você esteve, senhorita? – perguntou furiosa. – Chamei à biblioteca quando cheguei em casa, mas sua assistente não me foi que muita ajuda. Só me disse que Patrick esteve tentando localizá-la durante toda a semana – a mulher se deteve e olhou de cima abaixo ao cowboy que a acompanhava. – Quem é este?

– Sou Brant Wakefield – respondeu educadamente ele e lhe estendeu a mão.

A mulher olhou com desprezo sua mão e voltou a dirigir-se a sua neta.

– O que está vestindo? Parece uma ridícula garota de campo. E seus óculos?

– Eu também me alegro de vê-la – disse Anastasia com certa ironia. – Vamos para dentro e lhe explicarei tudo.

Apenas entraram, e Brant sentiu um calafrio. A casa estava decorada com escuras antiguidades e brocados ancestrais. Chegaram até um incômodo salão e Brant pôde fazer idéia de quão infeliz uma menina como Annie devia ter sido ali. Sentou-se a seu lado em um sofá duro como uma pedra e notou imediatamente a tensão de seu pequeno corpo.

– Fique tranqüila, tudo irá bem.

– Deduzo que você esteve toda a semana em companhia deste homem – disse Carlotta em um tom de desprezo.

– Avó, Brant é o homem mais amável e generoso que jamais conheci! – disse Anastasia, olhando-o com tanta estima que ele sentiu um reconfortante calor em seu interior. Ela colocou a mão no bolso e tirou o anel que Patrick Elsworth lhe tinha dado. – Isto é seu. É o começo de tudo.

– Meu? – Carlotta negou com a cabeça. – Nunca o vi em minha vida.

– Representa os milhares de dólares que Patrick Elsworth esteve roubando de sua conta.

Anastasia explicou com tudo detalhe o que tinha descoberto sobre o Elsworth e como a tinha ameaçado.

Mas, qual foi sua descomunal surpresa para ouvir que a anciã se negava a aceitar suas explicações.

– Não se dá conta do perigo que corre indo com estranhos? – uma vez mais, olhou com desprezo ao Brant. – Isso sem contar com o dano que pode lhe fazer a sua reputação. O que vão dizer minhas amigas do clube se descobrirem que escapou por uma semana com um cowboy?

Brant não pôde mais. Ficou de pé e interveio.

– Senhora Whitmeyer, não quero ser irreverente, mas tem suas prioridades tão confusas que me dá lástima. O que importa o que um montão de senhoras arrogantes possam pensar? Annie corre um sério perigo e não sou eu a ameaça, a não ser o tipo que você considerava o homem perfeito para ela.

A mulher respondeu furiosa.

– O nome de minha neta é Anastasia e isto não é assunto dele – assinalou com raiva a saída. – Agradeceria se partisse o quanto antes.

Anastasia se levantou rapidamente.

– Avó, não penso tolerar que trate Brant assim.

A mulher olhou atônita para sua neta. Brant estava seguro de que aquela era a primeira vez que se rebelava.

– Fique tranqüila, Annie – disse lhe posando a mão na bochecha. – Não se preocupe coração.

As lágrimas encheram os olhos da jovem.

– Brant...

– Tenho que pegar o vôo de volta a casa.

Encaminhou-se diretamente para a porta sem olhar atrás. Uma vez fora, entrou em seu carro, sentou-se e respirou profundamente. Deixar Annie era o mais difícil que tinha feito em toda sua vida. Mas levá-la consigo seria um engano enorme. Arrancou o carro e se colocou a caminho do aeroporto.

Mas, ao parar no primeiro semáforo viu justo em frente dele, na mão contrária, um BMW amarelo que parou ruidosamente com a mudança do semáforo. O homem estava impaciente e golpeava ritmicamente o volante: era Patrick Elsworth.

De repente, deu-se conta. Dirigia-se a casa do Annie e sua impaciência o delatava: ia disposto a algo. Brant não podia permitir, tinha que retornar. E se Patrick Elsworth se atrevesse a pôr a mão em cima a Anastasia Deveraux, era homem morto. Disso podia estar seguro.

 

Brant deu a volta no seguinte desvio e se dirigiu uma vez mais para a casa. Mas um repentino temor o invadiu. E se não chegasse a tempo?

– Ponha em verde! – disse impaciente ao inanimado semáforo.

Assim que a luz mudou, os pneus chiaram sobre o asfalto e ele se apressou a chegar a seu destino. Viu o BMW do Elsworth estacionado na porta e colocou seu carro justo detrás para lhe bloquear a saída. Saiu do veículo e se aproximou da casa pela porta traseira. Com um pouco de sorte estaria aberta. Quando o trinco cedeu e lhe deu passo ao interior da moradia, Brant sentiu um ligeiro alívio.

Aproximou-se lentamente até o lugar onde se ouviam as vozes; logo ficou oculto ao outro lado da porta escutando.

– Sim, claro que roubei seu dinheiro – Elsworth ouviu dizer em um tom ameaçador. – Mas não vai poder fazer nada a respeito.

Brant se esticou e se encheu de ira. Mas se conteve. Sabia que devia esperar ao momento oportuno.

– Claro que posso. Chamarei à polícia para que o prendam.

– Não vai fazer nada disso – insistiu Elsworth. – Não tenho intenção alguma de passar mais tempo no cárcere. Vou ficar aqui, nesta cidade e as deixarei em paz se você e sua neta mantiverem a boca fechada. Se não for assim, acabarão como a anciã do Fresno.

– Você a matou? – perguntou Anastasia atônita, – Como o fez, sem que a polícia te descobrisse?

O temor de sua voz foi suficiente para acabar de alimentar a ira do Brant.

– Foi fácil. Descobri que certo tipo de veneno...

Não pôde terminar a frase. Brant saiu de seu esconderijo posando com firmeza uma mão em seu ombro e, depois de obrigá-lo a voltar-se, deu-lhe um forte murro que o deixou quase inconsciente no chão. Esfregando os nódulos se dirigiu para as duas mulheres.

– Estão bem? – perguntou a Anastasia. Esta se lançou a seus braços.

– Como sabia que Patrick estava aqui? – Brant abraçou seu corpo tremente.

– Cruzei com ele em um semáforo e supus que viria para aqui – beijou-lhe a testa e, ato seguido, separou-se dela, ao dar-se conta de que o criminoso voltava em si. – vá chamar à polícia.

Enquanto Anastasia se dirigia ao telefone, Elsworth fez uma ameaça de levantar-se.

– Nem pense em tentar ficar de de pé ou quebrarei a sua mandíbula. Ninguém ameaça à mulher que eu amo.

 

Quando a polícia colocou ao Patrick Elsworth no carro, Anastasia fechou a porta e se lançou em braços do Brant.

– Obrigado. Não sei o que teria acontecido se você não tivesse aparecido.

– Não pense nisso – ele lhe disse. – Há uma semana atrás eu prometi que não lhe permitiria que fizesse mal a você e falava a sério.

Ainda em braços do Brant, ela olhou a sua avó por cima de seu ombro. Normalmente, Carlotta teria intervindo com sua habitual rabugice. Entretanto, por algum motivo, estava particularmente calada.

– Avó, não tem nada que lhe dizer ao Brant?

– Sim – disse a mulher com um tom dúbio. – Obrigada... obrigada por sua ajuda. Acredito que será melhor que espere em outro aposento enquanto se despedem.

– Avó...

– Não se incomode – disse Brant, lhe posando o dedo nos lábios. – Ela tem direito a opinar e atuar como quiser.

– Embora seja rude com você?

– Sim – abraçou-a amorosamente. – Tenho que ir. Vou perder o avião.

Os olhos da Anastasia se encheram de lágrimas. Não podia suportar a idéia de não voltar a vê-lo outra vez.

– Brant, eu amo você.

Ele sentiu como seu corpo se tencionasse. Logo, com um ligeiro movimento do índice sob seu queixo, convidou-a a elevar o rosto para ele.

– Eu também te amo, coração. Por isso, precisamente, vou embora e você fica aqui.

Anastasia sentiu que o coração se rompia em mil pedaços. As velhas inseguranças afloraram de novo.

– É porque não me acha atrativa.

– Não! Eu acho você à mulher mais sexy que conheci. Mas você está acostumada a uma vida de concertos e exposições, enquanto que eu gosto de montar a cavalo e trabalhar a terra.

– Mas eu não desfruto dos concertos nem as exposições – disse ela, tratando de lhe fazer entender quão errado estava respeito a ela. – Eu gosto de muito mais a vida do campo que...

– Sei que pensa que isso seria suficiente, mas não é verdade. Em questão de seis meses já estaria cansada e estaria desejando retornar a sua antiga vida – ele respirou pesadamente. – A gente não pode deixar de ser o que é.

– O que aconteceu com você para fazer com que pensasse assim, Brant?

Ele sorriu com tristeza.

– Tempo atrás conheci uma garota de Boston que acreditava querer o mesmo que eu. Mas logo se cansou de tudo isto. Então começou a tentar me mudar. Não funcionou – beijou-a pela última vez, um beijo carregado de ternura e de amor. – Que seja muito feliz em sua vida.

Dito aquilo, encaminhou-se para a porta e partiu, sem lhe dar ocasião de responder, deixando-a desolada e doída.

 

– Realmente o ama, Anastasia? – perguntou sua avó entrando na sala em que sua neta permanecia imóvel. – Acha que poderia ser a mulher de um rancheiro?

As lágrimas se deslizavam lentamente pelas bochechas da Anastasia.

– Avó, eu o amo com todo meu coração. O que realmente gostaria fazer em minha vida é ser sua esposa e viver naquele enorme rancho de Wyoming – cobriu seu rosto com as mãos e se deixou levar pela tristeza.

Carlotta a surpreendeu rodeando-a com seus braços.

– Vamos sentar e ver se podemos solucionar tudo isto.

Uma vez que se acomodaram no sofá, Anastasia aceitou o lenço de sua avó e limpou a cara.

– Suponho que ouviu o que ele disse. Está convencido de que acabarei por me aborrecer de seu mundo – olhou a sua avó diretamente aos olhos. – Mas está completamente equivocado. Jamais me havia sentido tão viva como durante os dias que passei no rancho.

Carlotta suspirou.

– Sem dúvida, é filha de quem é – disse a avó. – No fundo sabia que era assim, e por isso sempre me empenhei em pôr freio a sua vida. Tinha tanto medo de perdê-la como a sua mãe... – sorriu tristemente. – Sinto de ter lhe feito tão triste todos estes anos.

– Avó! Não me fez triste.

– Não negue o que nós duas sabemos – disse a mulher. – Só quero que compreenda por que o fiz. Pensei que se lhe educasse no tipo de coisas que eu gosto, não correria os riscos que sua mãe corria. Mas, ao vê-la com esse jovem, percebi como estava errada. Sinto ter tratado a esse seu cowboy de modo tão rude.

– O nome dele é Brant, avó.

– Pois Brant me demonstrou que estaria disposto a fazer qualquer coisa para mantê-la a salvo e isso é, para mim, mais que suficiente.

Anastasia negou com a cabeça.

– Sua aprovação não me serve de muito agora. Ele deixou muito claro que não acredita ser possível que tenhamos um futuro juntos.

– Pois lhe demonstre que está equivocado. Estou segura de que pode fazer entrar em um homem a razão. Vamos até a cozinha, vou preparar um chá e traçaremos um plano estratégico.

 

Detrás da barreira da arena de Alburquerque, Brant fazia a única coisa que vinha ha um mês fazendo: pensar na Annie.

Cada vez que via alguma cabeleira loira mover-se entre o público, o coração lhe acelerava esperançado, até que a decepção chegava de novo. Acabava de acontecer novamente fazia só uns minutos.

A caminho dos vestuários, tinha visto uma loira caminhando ao lado do Kaylee, a irmã do Mitch. Tinha tratado de alcançá-la, mas Colt e seu amigo o tinham interceptado e interrogado sobre os touros que iriam montar. Brant respirou profundamente. Em realidade, dava no mesmo. Teria sido outra amiga do Kaylee ou a nova noiva de algum cowboy.

Bom, só era questão de deixar acontecer aquele rodeio e, apenas terminasse, retornaria a Illinois para pedir a Annie que lhe desse outra oportunidade. Durante os quinze primeiros minutos do espetáculo, e pela primeira vez em sua vida, Brant esteve perguntando-se que demônios fazia ali e quando acabaria.

Por sorte, com os primeiros touros sobre a arena, a adrenalina começou a fazer seu efeito e a afastar de sua mente a Annie.

Quando o nome do Colt ressonou nos alto-falantes, Brant se preparou para saltar à arena. Mas no instante em que viu aparecer a seu irmão nas costas do feroz bovino soube que algo não ia bem. Colt tinha ficado enganchado e não podia saltar da besta.

Correu para ele e, aproximando-se do lateral, liberou a seu irmão, que saltou imediatamente.

Mas o touro mudou de direção inesperadamente. Antes que pudesse reagir, Brant foi jogado pelos ares com ferocidade. Cinco minutos depois do golpe Brant já se encontrava na enfermaria, respondendo a perguntas sobre onde lhe doía e quanto.

– Já disse que estou perfeitamente bem, Ben – disse. – Por favor, me dê alta e me deixe sair daqui.

– Já sabem quais são as regras. Quando perdem a consciência, é necessário fazer uma verificação exaustiva.

– Mas se não fechei os olhos nem trinta segundos! – protestou Brant.

– Brant, deixa de discutir e faz o que o doutor diz.

Brant ficou paralisado. O coração começou a lhe pulsar com toda força para ouvir aquela voz tão familiar. Estava alucinando? O golpe tinha sido mais forte do que ele acreditava?

Levantou levemente a cabeça e então a viu. Estava vestida com uns jeans apertados, uma camisa rosa e umas botas resplandecentes. Estava impressionante.

– Annie! Foi você a que estava com o Kaylee, verdade?

– Sim, mas pedi ao Mitch e ao Colt que lhe distraíssem se houvesse perigo de que descobrisse que estava aqui. Queria me assegurar de que não escaparia de mim e de que poderíamos falar com calma depois do rodeio.

– Bom, possivelmente não seja este o lugar nem o momento.

– Eu acredito é sim – voltou-se a olhar ao doutor. – Estou certa de que Brant não pode sair ainda da enfermaria, verdade?

Ele médico sorriu.

– Sim, assim é.

– Por favor, não a ajude! – protestou Brant. Ben riu e se encaminhou para a porta.

– Irei ver o final do rodeio.

Assim que o homem saiu, Anastasia voltou sua atenção para o Brant.

– Passei toda a minha vida agüentando que outros decidam por mim e estou cansada. Já sou perfeitamente capaz de saber o que quero ou não.

– Eu nunca tentei...

– Sim, claro que tentou – ela o interrompeu. – Faz um mês que me disse que ao final de um tempo eu me aborreceria de viver em um rancho e preferiria retornar à cidade. De verdade pensa que eu gosto de viver em um mausoléu?

Sua determinação e firmeza a faziam parecer ainda mais formosa aos olhos de Brant. Como a amava!

– Annie, tem algo que quero dizer.

– Ainda não terminei – ela disse. – Jamais me havia sentido tão viva como durante a semana que passei em Lonetree. Não quero voltar para minha existência vazia e carente de emoções.

– Não? – disse ele, sentindo que uma enorme emoção o embargava.

– Nem pensar. Faz cerca de um mês conheci um homem maravilhoso e não vou deixá-lo escapar. Penso segui-lo até o fim do mundo se for necessário, para que estejamos juntos. E agora acredito que deveria me dizer algo antes que faça o mais completo dos ridículos...

– Eu te amo querida – disse Brant. –Que você não tenha dúvidas disto. Mas eu gosto tanto de vê-la furiosa que não queria interromper.

Ato seguido se inclinou sobre ela e cobriu seus lábios com um beijo cheio de amor.

– Minha nossa, como senti sua falta – ele sussurrou, afastando-se ligeiramente dela. – Poderá me perdoar algum dia por ter sido tão imbecil?

– Sim – respondeu. – Mas que não volte a acontecer.

– Asseguro que jamais voltarei a cometer um engano semelhante – disse Brant com um sorriso satisfeito. Estendeu a mão e a posou na bochecha. – É a mulher mais maravilhosa do mundo e não quero voltar a perdê-la. Amo você mais que qualquer coisa no mundo. Quer se casar comigo e fazer do Lonetree seu lar?

– Sim, claro que quero me casar com você. Mas não quero viver em Lonetree.

O coração do Brant se deteve durante um segundo breve.

– Onde quer viver?

– Nessa casa de madeira que construiremos em seu vale – disse ela com uma expressão radiante. – Quero que desfrutemos ali de cada inverno e todos os verãos de nossas vidas, observando a montanha desde aquele balcão que terá nosso dormitório. Ali criaremos a nossos filhos.

Com a reconfortante sensação de que todos seus sonhos foram se converter em realidade beijou Annie.

– Será um prazer fazer tudo isso junto de você. Mas quero que saiba que aquele já não é meu vale – disse ele.

– Não? – perguntou ela claramente decepcionada.

– Não. É dos dois, seu e meu – disse, abraçando-a. – Essa é a parte que nos corresponde do rancho.

– Eu te amo, Brant – disse ela com a voz carregada de emoção.

– Eu também te amo, Annie. – Ela se apertou contra ele.

– Tenho a sensação de que estamos a ponto de iniciar uma incrível aventura.

– E assim é – levantou-se da maca e, tomando a da mão, guiou-a para a porta, – Está preparada para começá-la?

Com um grande sorriso, ela assentiu e, juntos, começaram uma nova vida.

 

 

                                                                                                    Katie DeNosky

 

 

 

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