Biblio "SEBO"
GOLPE DE ESTADO BEM AMERICANO
A seguinte mensagem foi interceptada pelas forças da ONU em 1/9/2001 às 6:00 horas, enviada de algum lugar do continente norte-americano:
Sou cidadão dos Estados Unidos da América. Nosso governo foi deposto. Nosso presidente eleito foi exilado. Homens brancos idosos, brandindo martínis e usando colarinhos postiços tomaram a capital de nossa nação.
Estamos sitiados. Somos o Governo dos Estados Unidos no exílio.
Somos em número significativo. Há mais de 154 milhões de adultos entre nós, e 80 milhões de crianças. São 234 milhões de pessoas que não votaram, nem estão sendo representadas pelo regime que se colocou no poder.
Al Gore é o presidente eleito dos Estados Unidos. Ele recebeu 539.898 votos a mais que George W. Bush. Mas hoje à noite ele não está sentado no Salão Oval. Em vez disso, o presidente eleito vaga pelo país sem objetivo ou missão, aparecendo apenas para doutrinar estudantes universitários e repor seu estoque de bolinhos Little Debbie.
Al Gore venceu. Al Gore, presidente no exílio. Viva el presidente Albertooooooo Gorrrrrrrrre!
Então, quem é o homem que atualmente ocupa o número 1.600 da avenida Pensilvânia? Vou lhes dizer quem:
Ele é George W Bush, “presidente” dos Estados Unidos. O ladrão-chefe. Antigamente, os políticos esperavam estar no poder antes de se tornarem escroques. Este veio pré-embalado. Agora tornou-se um invasor de terras federais, grileiro do Salão Oval. Se eu dissesse que isso se passava na Guatemala, vocês acreditariam no mesmo instante, independente de sua orientação política. Mas como este golpe está envolto em uma bandeira americana, entregue nas cores vermelha, branca ou azul, os responsáveis por ele acreditam que se safarão.
É por isso que, em nome dos 234 milhões de americanos mantidos como reféns, pedi à Otan que faça o mesmo que fez na Bósnia e em Kosovo, o que os Estados Unidos fizeram no Haiti, o que Lee Marvin fez em Os doze condenados:
Enviem a Marinha! Lancem mísseis Scud! Tragam-nos a cabeça de Antonin Scalia!
Enviei um pedido pessoal ao secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, para que ouça nosso apelo. Não somos mais capazes de nos governar ou de realizar eleições livres e justas. Precisamos de observadores da ONU, tropas da ONU, resoluções da ONU!
Diacho, precisamos de Jimmy Carter!
Atualmente, não somos melhores do que uma atrasada república de bananas. Perguntamo-nos por que qualquer um de nós deve levantar-se pela manhã a fim de trabalhar como cachorros para produzir bens e serviços que servem apenas para tomar a junta e seus comparsas da América Corporativa (um feudalismo à parte e autônomo dentro dos Estados Unidos, que há algum tempo foi autorizado a funcionar por si próprio) mais ricos ainda. Por que devemos pagar nossos impostos e financiar o golpe deles? Será que poderemos uma vez mais enviar nossos filhos para o campo de batalha e dar suas vidas para defender “nosso modo de vida” — quando o que isso representa, na verdade, é o estilo de vida de idosos grisalhos, enfurnados no quartel-general de que se apoderaram ao lado do rio Potomac?
Ai, Jesus—Maria—José, não agüento mais! Alguém me passe o controle remoto geral! Preciso sintonizar de novo no conto de fadas no qual eu era um cidadão em uma democracia, com direito inalienável à vida, liberdade e à busca por McLanches Felizes. Na história que me contaram quando eu era criança importante, igual a cada um de meus concidadãos — e nenhum de nós deveria ser tratado diferente ou injustamente, ninguém poderia exercer poder sobre os outros sem seu consentimento. A vontade do povo. América, a Linda. Terra que eu amo. Último... cintilar... do crepúsculo. Oh, say, can you see (1.Primeiro verso do hino americano (N.T.).) — os mediadores belgas estão a caminho? Depressa!
O golpe começou muito antes da embromação do dia das eleições de 2000. No verão de 1999, Katherine Harris, uma stupid white man honorária, que era tanto a co-presidente de campanha presidencial de George IV. Bush como a secretária de Estado da Flórida responsável pelas eleições, pagou US$ 4 milhões à Database Technologies para rever as listas de eleitores da Flórida e remover o nome de qualquer um “suspeito” de ser um ex-criminoso. Fez isso com a bênção do governador da Flórida, o irmão de George W., Jeb Bush — cuja própria esposa foi pega por funcionários da imigração tentando contrabandear US$ 19 mil em jóias para dentro do país sem declarar e pagar impostos... por si só um crime. Mas ah, isto são os Estados Unidos. Não julgamos criminosos se eles são ricos o suficiente ou casados com um Bush no poder.
A lei reza que ex-criminosos não podem votar na Flórida. E, infelizmente (embora acredite que o sistema de justiça da Flórida sempre foi irrepreensivelmente justo), isso significa que 31% de todos os negros da Flórida estão proibidos de votar porque têm um crime em sua folha de antecedentes. Harris e Bush sabiam que, ao remover os nomes dos ex-condenados das listas de eleitores, manteriam milhares de cidadãos negros fora das cabines de votação.
Habitantes negros da Flórida são, em sua esmagadora maioria, democratas — e, com certeza, Ai Gore ganhou os votos de mais de 90% deles em 7 de novembro de 2000.
Isto é, 90% daqueles que puderam votar.
No que parece ter sido uma fraude em massa realizada pelo Estado da Flórida, Bush, Harris e companhia não somente retiraram milhares de condenados das listas, como também retiraram milhares de cidadãos negros que nunca haviam cometido um crime em suas vidas — além de milhares de eleitores qualificados que haviam cometido apenas pequenas infrações.
Como isso aconteceu? O escritório de Harris determinou à Database — empresa com fortes laços republicanos — que ampliasse ao máximo a rede, a fim de livrar-se desses eleitores. Seus lacaios instruíram a empresa a incluir até pessoas com nomes “parecidos” com aqueles dos condenados verdadeiros. Eles insistiram para que a Database checasse pessoas com a mesma data de nascimento dos condenados conhecidos ou com números de Seguro Social parecidos; qualquer similaridade que chegasse a 80% da informação relevante, segundo instruções do escritório, seria suficiente para que a Database incluísse o eleitor na lista de não-qualificados.
Essas ordens pareceram extremas mesmo para a Database, amiga de Bush. Elas significavam que milhares de eleitores legítimos poderiam ser barrados no dia das eleições, simplesmente por terem um nome parecido com o de outra pessoa ou por compartilhar a mesma data de nascimento com um ladrão de bancos desconhecido. Marlene Thorogood, gerente de projeto da Database, enviou um e-mail para Emmett “Bucky” Mitchell, advogado do comitê eleitoral de Katherine Harris, advertindo-o que: “Infelizmente, fazer um programa dessa maneira pode lhe dar falsos resultados positivos” ou identificações errôneas.
Não ligue para isso, disse o velho Bucky. A resposta dele: “Obviamente, nós queremos capturar mais nomes que possivelmente não sejam corretos e deixar que os supervisores [das eleições no condado] tomem a decisão final, em vez de excluir diretamente certas similaridades”.
A Database fez o que lhe foi determinado. Logo depois, 173 mil eleitores registrados na Flórida foram permanentemente apagados das listas de votantes. Em Miami-Dade, o maior condado da Flórida, 66% dos removidos eram negros. No condado de Tampa, 54% daqueles que teriam revogado seu direito de votar em 7 de novembro de 2000 eram negros.
Mas apenas rejeitar nomes dos registros da Flórida não foi suficiente para Harris e seu departamento. Mais oito mil habitantes da Flórida foram retirados da lista de eleitores porque a Database usou uma lista falsa fornecida por outro Estado, um Estado que alegava que todos os nomes daquela lista eram de ex-criminosos condenados que haviam se mudado para a Flórida.
Acontece que os criminosos da lista haviam cumprido sua pena, e seus direitos eleitorais haviam sido reinstaurados. E havia outros na lista que tinham cometido apenas pequenas infrações — como estacionar em lugar proibido ou jogar lixo nas ruas. Qual foi o Estado que ofereceu uma mãozinha para Jeb e George, ao enviar essa lista apócrifa para a Flórida?
O Texas.
Esse incidente cheirou muito mal, mas a mídia americana ignorou-o. Quem teve de cavar a história foi a British Broadcasting Corporation (BBC), que colocou no ar segmentos de quinze minutos durante o horário nobre revelando todos os sórdidos detalhes e colocando a responsabilidade pelo esquema na porta do governador Jeb Bush. É triste quando temos de procurar a verdade sobre nossas próprias eleições em um pais a oito mil quilômetros de distância. (No final, The Los Angeles Times e The Washington Post acabaram publicando a história, mas ela recebeu pouca atenção.)
Este assalto aos direitos de voto das minorias alastrou-se tanto na Flórida que afetou até mesmo pessoas como Linda Howell. Linda recebeu uma carta informando-a de que era uma criminosa — e portanto advertindo-a para não se preocupar em aparecer no dias das eleições, pois seria impedida de votar. O único problema é que Linda Howell não era uma criminosa — na verdade, era a supervisora eleitoral do condado de Madison, na Flórida! Ela e outros funcionários do cartório eleitoral local tentaram fazer com que o Estado retificasse o problema, mas seus pedidos não foram ouvidos. Foram informados de que todos aqueles que haviam protestado quanto a terem sido impedidos de votar deveriam submeter-se à datiloscopia (tirar impressões digitais) — para que então o Estado determinasse se eram ou não criminosos.
Em 7 de novembro de 2000, quando um número recorde de negros da Flórida compareceu às eleições, muitos deram de cara, nas cabines de votação, com uma reprimenda mal-educada: “Você não pode votar”. Em várias zonas eleitorais nas cidades do interior da Flórida, os locais de votação estavam fortemente policiados, a fim de que qualquer pessoa da “lista de criminosos” de Katherine e Jeb não pudesse votar. Centenas de cidadãos respeitadores da lei que tentavam exercer seu direito constitucional de votar, a maioria de comunidades negras e hispânicas, foram mandados embora — e ameaçados com prisão, caso protestassem.
Oficialmente, George W Bush foi agraciado com 537 votos a mais do que AI Gore na Flórida. Será que os milhares de eleitores negros e hispânicos barrados das eleições poderiam ter feito diferença se pudessem votar — e custado a Bush as eleições ? Sem dúvida alguma.
Na noite das eleições, depois das urnas fechadas, houve muita confusão a respeito do que estava ocorrendo com a contagem de votos na Flórida. Finalmente, o homem encarregado de cobrir as eleições à noite no canal de notícias Fox tomou uma decisão. Decidiu que a Fox deveria entrar no ar e declarar que Bush havia vencido na Flórida, e portanto, vencido as eleições. E foi isso que aconteceu. A Fox declarou formalmente Bush como vencedor.
Mas lá em Tallahassee, a contagem dos votos ainda não havia terminado; na verdade, a Associated Press insistia que ainda era muito cedo para declarar o vencedor e recusou-se a seguir a mesma direção da Fox.
Mas as outras redes não. Correram feito ratos depois que a Fox deu a chamada, temerosos que fossem vistos como lerdos ou por fora de tudo — apesar de os próprios repórteres, que cobriam a contagem de votos, insistirem ainda ser muito cedo para saber quem vencera. Mas quem precisa de repórteres quando estamos brincando de seguir o líder — o líder, neste caso, sendo John Ellis, o homem responsável pela cobertura das eleições na Fox. Quem é John Ellis?
Ele é primo-irmão de George W. e Jeb Bush.
Assim que Ellis deu a chamada e todo mundo saiu correndo, não havia como voltar atrás — e nada foi mais devastador, em termos psicológicos, para as chances de Al Gore vencer do que a percepção repentina de que ELE estava bancando o mimado ao pedir a recontagem dos votos, negando-se a se declarar perdedor, amarrando a justiça com advogados e processos. A verdade é que, durante todos esses acontecimentos, Gore realmente estava à frente — ele tinha a maioria dos votos — mas nunca foi assim que a imprensa mostrou os fatos.
Um momento naquele dia de eleições de que nunca me esquecerei aconteceu no começo da noite, depois que as redes de televisão haviam projetado AI Core como vencedor das eleições na Flórida — corretamente. As câmeras cortaram para um quarto de hotel no Texas. Ali estava sentado George W com seu pai, o ex-presidente, e sua mãe, Barbara. O velh-vivo. Um repórter perguntou ao jovem Bush o que achava dos resultados.
“Não... admito qualquer coisa sobre a Flórida”, começou a falar Júnior, sem muita coerência. “Sei que vocês têm todas as projeções, mas as pessoas estão na verdade contando os votos [...] as redes de televisão anunciaram o resultado cedo demais e as pessoas que na verdade estão contando os votos têm uma perspectiva diferente portanto...” Foi um momento estranho naquela cobertura maluca dos resultados das eleições.
Os Bushs, com seus sorrisos relaxados, pareciam uma família de felinos que havia acabado de devorar um bando de canários — como se soubessem de algo que nós não sabíamos.
Eles sabiam. Sabiam que Jeb e Katherine haviam feito sua parte meses antes. Sabiam que o primo John segurava as pontas na central de cobertura das eleições na Fox. E, se todo o resto falhasse, havia a equipe com a qual papai podia sempre contar: a Suprema Corte dos Estados Unidos.
Como todos sabem, foi exatamente o que aconteceu durante os 26 dias seguintes. As forças do Império revidaram, e sem perdão. Enquanto Gore concentrava-se, estupidamente, em fazer recontagens em alguns poucos condados, a equipe de Bush corria atrás do cálice sagrado — as cédulas de eleitores do exterior. Muitas dessas cédulas viriam dos militares, que tipicamente votam nos republicanos, e dariam a Bush, finalmente, a liderança que tirar o voto de milhares de avós judias e negros não havia dado.
Gore sabia disso e tentou fazer com que as cédulas passassem por um rígido escrutínio antes de serem contadas. Com certeza, isso ia contra o pedido de “deixem que cada voto seja contado” que fizera quando solicitou a recontagem. Mas ele também tinha a lei da Flórida, bastante clara a esse respeito, a seu lado. Ela diz que as cédulas de eleitores no exterior podem ser contadas apenas se forem depositadas e assinadas antes ou no dia das eleições, além de enviadas pelo correio e postadas de outro país até o dia das eleições.
Mas enquanto Jim Baker entoava seu mantra — “Não é justo mudar as regras e leis que regem a contagem ou recontagem de votos quando parece que um lado concluiu ser a única forma de ganhar os votos de que precisa” — ele e seus empregados faziam exatamente isso.
Uma investigação feita em julho de 2001 pelo The New York Times mostrou que, das 2.490 cédulas do exterior que acabaram sendo incluídas nos resultados certificados das eleições, 680 foram consideradas irregulares e questionáveis. Bush ganhou os votos do exterior por um coeficiente de quatro por cinco. De acordo com essa porcentagem, 544 dos votos que foram computados para Bush deveriam ter sido jogados fora. Entendeu a matemática? De repente, a “margem de ganho” de 537 votos caiu para um gélido negativo de sete.
Portanto, como foi que todos esses votos acabaram sendo contados para Bush? A poucas horas das eleições, a campanha de Bush havia lançado seu ataque. O primeiro passo era certificar-se de que o máximo possível de cédulas estava sendo incluído. Funcionários republicanos enviaram e-mails frenéticos para navios da marinha, pedindo que cavassem qualquer cédula que pudesse estar dando sopa. Telefonaram inclusive para o secretário de Defesa de Clinton, William 5. Cohen (um republicano) a fim de pedir-lhe que pressionasse os postos militares no exterior. Ele recusou-se, mas não fez diferença: milhares de votos choveram — até mesmo alguns assinados depois do dia das eleições.
Então, tudo que tiveram de fazer foi se assegurar de que o maior número possível desses votos chegasse a W. E assim começou a verdadeira ladroagem.
De acordo com o Times, Katherine Harris havia planejado enviar um memorando às equipes de escrutínio, esclarecendo o procedimento para a contagem de cédulas do exterior. Incluído nesse memorando, havia um lembrete de que a lei estadual exigia que todas as cédulas tivessem sido “postadas no correio ou assinadas e datadas” até o dia das eleições. Quando ficou claro que a liderança de George declinava rapidamente, decidiu não enviar o memorando. Em vez disso, enviou uma nota dizendo que as cédulas “não precisam ser postadas no dia ou antes das eleições”. Hummmm.
O que a fez mudar de idéia — e a lei? Pode ser que nunca saibamos, já que os registros do computador que mostravam o que havia acontecido foram misteriosamente apagados — uma possível violação das leis da Flórida. Agora, muito depois de Inês ter sido morta, Harris entregou os discos rígidos para serem inspecionados pela mídia — mas isso apenas depois de seu assessor pessoal de computação “ter dado uma olhada neles”. Esta é a mulher que agora planeja concorrer ao Congresso. Será que essas pessoas conseguem ser mais caras-de-pau?
Armados com a bênção do secretário de Estado, os republicanos lançaram uma campanha abrangente a fim de certificar-se que seriam usadas regras tão flexíveis quanto possível para contar as cédulas vindas dos ausentes. “Representatividade igualitária”, no estilo da Flórida, significava que as regras que regiam a aceitação ou eliminação do voto de ausente dependiam de que condado você era. Talvez isso explicasse por que em condados em que Gore venceu apenas duas das dez cédulas de ausentes com datas de postagem incertas foram contadas; nos condados de Bush, previsivelmente, seis em cada dez cédulas desse tipo chegaram à contagem final.
Quando os democratas protestaram que cédulas que não estivessem dentro das regras não deveriam ser contadas, os republicanos lançaram uma forte campanha de relações públicas a fim de parecer que os democratas tentavam ferrar os homens e mulheres que arriscavam suas vidas por seu país. Um vereador republicano de Naples foi típico em sua hipérbole: “Se eles levarem uma bala ou o fragmento de uma bomba terrorista, esse fragmento não tem datação ou registro de nenhum tipo”. O congressista republicano Steve Buyer, de Indiana, até obteve (possivelmente de forma ilegal) os números de telefone e endereços eletrônicos de militares, a fim de que pudesse coletar histórias de votos negados e com isso receber a simpatia para “nossos homens e mulheres que lutam”. Até mesmo o estouradinho Norman Schwarzkopf usou sua influência dizendo que “se trata de um dia muito triste para nosso país” quando os democratas passaram a hostilizar eleitores militares.
Toda essa pressão funcionou com os vacilantes e chorosos democratas. Eles engasgaram. Quando apareceu no programa Meet the Press [Encontro com a Imprensa], o candidato a vice-presidente Joe Lieberman argumentou que os democratas deveriam parar de criar confusão e não se importar com o fato de que milhares de cédulas dos militares estavam sendo contadas, apesar de não encontrarem o carimbo do correio
Lieberman, como muitos outros entre essa nova leva de democratas, deveria ter batalhado por princípio em vez de preocupar-se com a imagem. Por quê? Bem, como descobriu o jornal The New York Times:
Todas essas cédulas violavam as leis da Flórida e, no entanto, foram computadas. Será que é possível ser mais enfático? Bush não venceu! Gore venceu. Não teve nada a ver com confetes, nem mesmo com a repressão aberta sobre a comunidade afro-americana da Flórida e seu direito ao voto. Foi uma simples questão de violação da lei, toda documentada, toda evidenciada ali, em Tallahassee, claramente assinalada sem dúvidas — e toda feita com o propósito de dar as eleições a Bush.
Na manhã de sábado, 9 de dezembro de 2000, chegou à Suprema Corte a informação de que a recontagem na Flórida, apesar de tudo que o batalhão de Bush havia feito para arranjar as eleições, ia a favor de Gore. As duas da tarde, a contagem mostrava que Gore estava alcançando Bush — “apenas 66 votos a menos e continuando a avançar!” como um apresentador sem fôlego anunciou. Era fundamental para Bush que as palavras “Al Gore está na liderança” nunca fossem ouvidas na televisão americana: tendo somente alguns minutos com os quais contar, fizeram o que precisava ser feito. As 2 horas e 45 minutos daquela tarde, a Suprema Corte suspendeu a recontagem.
Faziam parte da Corte Sandra Day O’Connor, indicada por Reagan, e o chefe de justiça William Rehnquist, indicado por Nixon. Ambos, na casa dos setenta, tinham a expectativa de aposentar-se sob uma administração republicana, a fim de que seus substitutos compartilhassem sua ideologia conservadora. Na noite das eleições, ouviu-se O’Connor lamentar, durante uma festa em Georgetown, que não conseguiria resistir por mais quatro — ou oito — anos. Bush Júnior era a única esperança para que assegurasse uma aposentadoria feliz no Arizona, seu Estado natal.
Enquanto isso, outros dois juizes com pontos de vista extremamente direitistas deparavam-se com conflitos de interesse. A esposa do juiz Clarence Thomas, Virginia Lamp Thomas, trabalhava na Fundação Heritage, um dos principais centros de estudos conservadores no Distrito Federal; então, ela tinha acabado de ser contratada por George W Bush para ajudar a recrutar pessoas para trabalhar em seu iminente governo. E Eugene Scalia, filho do juiz Antonin Scalia, era advogado do escritório Gibson, Dunn & Crutcher — exatamente o escritório de advocacia que representava Bush perante a Suprema Corte!
Mas nem Thomas nem Scalia viram qualquer conflito de interesses, e se recusaram a retirar-se do caso. Na realidade, quando a Corte reuniu-se mais tarde, foi Scalia quem deu a agora infame explicação do motivo da contagem das cédulas ter sido suspensa: “A contagem de votos de legalidade questionável ameaça, a meu ver, causar danos irreparáveis ao requerente [Bush] e ao país ao lançar uma mancha sobre o que ele [Bush] alega ser a legitimidade de sua eleição”. Em outras palavras, se deixarmos que todos os votos sejam contados e eles forem a favor de Gore, e Gore vencer, bem, isso prejudicará a capacidade de Bush de governar quando o empossarmos como “presidente”.
É verdade: se os votos provassem que Gore havia vencido — o que acabaria acontecendo — imagino que isso tenderia a gorar o sentimento nacional de legitimidade acerca da presidência Bush.
Para tomar sua decisão, a Corte utilizou-se da cláusula de proteção equivalente da 14ª Emenda — a mesma emenda que havia rejeitado ruidosamente quando foi utilizada por negros durante anos para suspender atos discriminatórios baseados em raça — para justificar o roubo. Por causa da variação nos métodos de recontagem, argumentaram, eleitores em cada distrito não estavam sendo tratados da mesma forma e, portanto, seus direitos estavam sendo violados. (Engraçado, mas somente os dissidentes da Corte mencionaram que o antiquado equipamento de votação encontrado em quantidade desproporcional em bairros pobres e de minoria na Flórida havia criado uma desigualdade completamente diferente — e muito mais perturbadora — no sistema.)
Finalmente, a imprensa começou a fazer sua própria recontagem dos votos, fazendo o melhor que podia para colocar em órbita a desordenada bola de confusão pública. A manchete do Miami Herald dizia: “Revisão das cédulas mostra que a vitória de Bush teria resistido à recontagem manual”. Mas se a reportagem fosse lida até o fim, enterrado bem lá no meio havia o seguinte parágrafo: “A liderança de Bush teria desaparecido se a recontagem tivesse sido conduzida sob os padrões severos e restritos que alguns republicanos defendiam [...] A revisão mostrou que o resultado teria sido diferente se cada comissão de escrutínio em cada condado tivesse examinado cada contravoto [...] [Sob] o padrão mais abrangente [isto é, um padrão que procurasse incluir a verdadeira vontade de TODAS as pessoas] Gore teria vencido por 393 votos [...] Em votos que [sugeriam] um erro em relação ao equipamento ou à capacidade do eleitor de usá-lo [...] Gore teria vencido por 299 votos”.
Eu não votei em Al Gore, mas acho que qualquer pessoa justa concluiria que o desejo do povo da Flórida ia claramente nessa direção. Independente de ter sido o desastre da contagem ou a exclusão de milhares de cidadãos negros que corrompeu os resultados, não há dúvida de que Gore era o escolhido do povo.
Talvez não exista pior exemplo da negação em massa do direito de cada eleitor ter seu voto contado corretamente do que o exemplo do condado de Palm Beach. Muito especulou-se sobre o “voto borboleta”, que tornava mais fácil votar na pessoa errada porque os nomes dos candidatos e o local para marcá-los estavam ordenados de maneira desigual em duas páginas opostas. A mídia fez o possível e o impossível para mostrar que a cédula havia sido desenhada por um dos delegados eleitorais do condado, um democrata, e depois aprovada pela comissão local, em sua maioria democrata. Que direito tinha Gore de protestar, se seu próprio partido era responsável pelo projeto errôneo da cédula?
Se alguém tivesse se preocupado em checar, teria descoberto que um dos dois “democratas” do comitê — a projetista da cédula, Theresa LePore — havia na realidade se registrado junto aos republicanos. Ela transferiu sua filiação aos democratas em 1996; e então, apenas três meses depois que Bush tomou posse, renunciou como democrata e mudou seu registro de voto para os independentes. Ninguém da imprensa se preocupou em questionar o que estava, de fato, acontecendo.
Assim, o Palm Beach Post estima que mais de três mil eleitores, na maioria idosos e judeus, que acharam que estavam votando em Al Gore, acabaram marcando o quadrado errado — para Pat Buchanan. Até mesmo Buchanan foi à televisão declarar que não era possível que aqueles eleitores judeus tivessem votado nele.
Em 20 de janeiro de 2001, George W. Bush, posicionado com sua junta nos degraus do Capitólio, colocou-se diante do presidente do Supremo Tribunal, Rehnquist, e fez o juramento que presidentes fazem em sua posse. Caía uma chuva fria e ininterrupta sobre Washington o dia inteiro. Nuvens escuras tampavam o sol, e a rota do desfile, normalmente lotada com dezenas de milhares de cidadãos por todo o caminho até a Casa Branca, estava fantasmagoricamente vazia.
A não ser pelas 20 mil pessoas que zombavam de Bush a cada centímetro do caminho. Portando cartazes que denunciavam Bush por roubar a eleição, os manifestantes eram a consciência da nação. A limusine de Bush não conseguia evitá-los. Em vez de multidões de partidários entusiasmados, ele foi recebido por boas pessoas levadas a mostrar a esse chefe ilegítimo que ele não havia vencido as eleições — e que o povo jamais esqueceria.
No ponto tradicional em que os presidentes, desde Jimmy Carter, estacionavam suas limusines e saíam para andar os últimos quatro quarteirões (como um lembrete de que somos uma nação que não é governada por reis mas, hã, por iguais), o carro preto de Bush, superblindado, com suas janelas escuras — o favorito dos gângsteres no mundo inteiro — parou repentinamente. A multidão ficou mais barulhenta - “VIVA O LADRAO!” Era possível ver o Serviço Secreto e. os assessores de Bush amontoarem-se no meio da chuva gelada, tentando descobrir o que fazer. Se Bush saísse para caminhar, seria vaiado, insultado e atacado com ovos pelo resto do caminho. A limusine ficou lá por provavelmente cinco minutos. A chuva caía. Ovos e tomates eram arremessados contra o carro.
Os manifestantes desafiavam Bush a sair e enfrentá-los. Então, de repente, o carro do presidente disparou e rompeu pela rua. A decisão havia sido tomada — pisar no acelerador e passar por essa turba o mais rápido possível. Os agentes do Serviço Secreto que corriam ao lado da limusine foram deixados para trás, e os pneus do carro jogaram água suja da rua nos homens que estavam lá para proteger seu passageiro. Pode ter sido a coisa mais fina que já presenciei em Washington, D.C. — um pretendente ao trono americano forçado a virar as costas e fugir de milhares de cidadãos americanos armados apenas com a Verdade e com ingredientes para fazer uma omelete decente.
Quando a Mentira Americana pisou fundo no acelerador, correu para o abrigo à prova de balas, o palanque construído na frente da Casa Branca. Muitos membros da família Bush e convidados já haviam se retirado para se secar. Mas George ficou ali e acenou orgulhoso para as bandas que marchavam, com seus instrumentos inutilizados pela chuva, e a longa parada de carros alegóricos murchos e amassados quando chegaram ao quarteirão do número 1.600 da av. Pensilvânia. De vez em quando um conversível sortudo passava por ali, levando as poucas e molhadas celebridades que Bush havia convencido a prestar honra a ele — Kelsey Grammer, Drew Carey, Chuck Norris. Ao final do desfile, Bush estava sozinho no palanque, ensopado, abandonado até mesmo por seus pais, que saíram à procura de abrigo. Era uma visão patética — o pobre menininho rico que chegou em segundo lugar querendo receber seu prêmio, sem ninguém ali para saudá-lo.
Mais tristes ainda estavam 154 milhões de nós que não havíamos votado nele. Em uma nação de 200 milhões de eleitores, eu diria que constituímos a maioria.
E, no entanto, o que George W. poderia estar pensando além de “O que, eu, importar-me?” Havia mãos suficientes contratadas para serem instaladas na Casa Branca, puxando as cordas para seu presidente marionete. Com os velhos companheiros de papai chamados de volta a Washington, a fim de dar uma mão, Georginho podia relaxar e dizer ao povo que estava “delegando”. Os titereiros mudaram-se para lá, e o negócio de administrar o mundo poderia ser facilmente repassado para eles.
E quem são esses finos e patrióticos pilares da junta Bush? Eles representam as fileiras modestas e altruístas da América empresarial e estão listados abaixo, para fácil referência, a fim de ajudar as Nações Unidas e a Otan a recolhê-los quando chegarem para restaurar a ordem e a democracia. Cidadãos agradecidos se juntarão nas alamedas e avenidas para dar vivas à sua chegada.
Pessoalmente, não me conformarei com menos do que julgamentos múltiplos e a imediata deportação deles para uma república de bananas de verdade. Deus abençoe a América!
QUEM É QUEM NO GOLPE
PRESIDENTE EM EXERCÍCIO/ “VICE-PRESIDENTE” - DICK CHENEY
Ainda não tenho certeza de onde vem a parte “piedosa” do “conservadorismo piedoso”, mas sei onde reside o conservadorismo. Durante oito mandatos, Dick Cheney representou o Estado de Wyoming no Congresso e possui uma das folhas corridas de votos mais conservadoras de todos os 435 membros do Congresso. Cheney votou contra a Emenda de Igualdade de Direitos, contra o financiamento ao programa Head Start (2.Programa do governo federal dos EUA de apoio às necessidades de crianças ate 5 anos e suas famílias de baixa renda (N.T.).), contra uma resolução da Câmara pedindo que a África do Sul libertasse Nelson Mandela da prisão e contra o financiamento federal para abortos, mesmo em casos de estupro ou incesto. E sua lista não pára aí. A mão de Cheney esteve metida em todos os governos recentes dos republicanos, incluindo o de Richard Nixon, no qual foi assessor adjunto da Casa Branca, no mandato Don “Rummy” (3.Rummy = Esquisitão, trocadilho com o sobrenome (N.T.).) Rumsfeld. Ele substituiu Rumsfeld como chefe do Estado-Maior do presidente Ford. No mandato de George Bush I, Cheney foi secretário de Defesa, liderando o país em duas das maiores campanhas militares da história recente: a invasão do Panamá e a guerra contra o Iraque.
Entre os regimes Bush, Cheney foi presidente da Halliburton Industries, uma empresa de serviços de petróleo que tem negócios com governos repressivos como os de Burma e do Iraque. Durante a campanha de 2000, Cheney negou que a Halliburton mantivesse relacionamentos comerciais com Saddam Hussein. Mas, em junho de 2001, o Washington Post revelou que, na verdade, duas subsidiárias da Halliburton faziam negócios com o fraque. Dá para imaginar o dia cheio de atividades que os republicanos teriam, se alguma vez descobrissem uma coisa como essa sobre Clinton ou Gore? E o Alasca não é o único local onde Cheney sugeria que nós cavássemos: a Halliburton tem um grande contrato de construção para os campos offshore [em alto mar] da mexicana Cantarell, no Golfo do México. Quando foi indicado para a vice-presidência, Cheney hesitou e gaguejou sobre desfazer-se de suas ações da Halliburton. Acho que ele sabia que bons tempos ainda estavam por vir.
PROCURADOR-GERAL - JOHN ASHCROFT
O responsável pela supervisão do sistema de justiça é um homem que se opõe a todo tipo de aborto, mesmo em casos de estupro ou incesto; que é contra programas de proteção à discriminação no trabalho para homossexuais; que votou para restringir o processo de apelação de sentença de morte (e, depois, supervisionou sete execuções como governador); e que tem sido um ferrenho defensor de leis sobre drogas duras e estritas. Talvez esses exemplos consigam explicar por que ele perdeu a tentativa de reeleição ao Senado para um homem morto. Por seus esforços, no entanto, Ashcroft recebeu doações substanciais da AT&T, Enterprise Rent-A-Car e Monsanto. A companhia farmacêutica Schering-Plough contribuiu com US$ 50 mil — talvez como agradecimento pelo projeto de lei apresentado por ele, que teria estendido a patente que a empresa detinha sobre a pílula contra alergia Claritin (o projeto não foi aceito). Todos esses recursos doados pelas farmacêuticas talvez também possam explicar porque Ashcroft votou contra a inclusão de medicamentos de prescrição médica no programa Medicare (4.Medicare é o sistema federal americano de saúde para pessoas com mais de 65 anos (N.T.).). Outra contribuinte de sua campanha, a Microsoft, deu US$ 10 mil a Ashcroft por meio de sua equipe de caixa de campanha do National Republican Senatorial Committee [Comitê Nacional de Senadores Republicanos]. Para sorte deles, ele perdeu a corrida para o Senado e, portanto, pode voltar toda a sua atenção para a administração do Departamento de Justiça — ou seja, relaxar enquanto a gigante do software, recentemente livre da decisão judicial que teria dividido a empresa em duas, pode investir furiosamente sob seu olhar observador.
Ashcroft também está à direita (se tal coisa for possível) da National Rifle Association [Associação Nacional do Rifle] quando trata-se de controle de armas. Seu primeiro ato a favor das armas, como procurador geral de justiça, foi anunciar que num prazo de 24 horas a partir da compra de uma arma e checagem de antecedentes, todos os arquivos da checagem de antecedentes do comprador serão destruídos pelo Departamento de Justiça (o que deixa o governo sem NENHUMA informação sobre quem possui uma arma ou que tipo de armas a pessoa tem).
SECRETÁRIO DO TESOURO - PAUL O’NEILL (5. Renunciou ao cargo em 6 de dezembro de 2002 (N.T.).
Este campeão da abolição dos impostos empresariais foi presidente e diretor executivo da Alcoa, a maior produtora de alumínio do mundo (e uma das maiores poluidoras do Texas), antes de juntar-se ao governo Bush. A Alcoa não tem mais seu próprio Comitê de Ação Política (PAC, em inglês), mas em vez disso faz seu lobby por intermédio do escritório de advocacia Vinson & Elkins. Esse escritório, o terceiro maior contribuinte da campanha de Bush, conseguiu achar uma brecha na regulamentação de meio ambiente do Texas, permitindo que a Alcoa emita 60 mil toneladas de dióxido de enxofre por ano. A Alcoa também foi uma grande contribuinte para os bolsos de O’Neill. Recentemente, O’Neill vendeu as ações que possuía da empresa — que respondem por grande parte de seu patrimônio de US$ 62 milhões — mas fez isso de má vontade e bem devagar, esperando primeiro que elas subissem 30% enquanto estava no cargo. Como chefe do Tesouro, O’Neill disse que a Previdência Social e o Medicare não são necessários. Talvez porque ele receba uma pensão anual de US$ 926 mil da Alcoa.
SECRETÁRIA DE AGRICULTURA - ANN VENEMAN
Como muitos que fazem parte do gabinete de Bush, a secretária de Agricultura Ann Veneman fez uma longa carreira junto aos governos republicanos. Ela trabalhou tanto para Ronald Reagan como para papai Bush e depois serviu como diretora do Departamento de Alimentos e Agricultura da Califórnia, sob o governo de Pete Wilson. Na Califórnia, sustentou políticas que ajudaram fazendas empresariais gigantescas a espremerem fazendas familiares — de maneira que, agora, por exemplo, apenas quatro empresas são responsáveis por 80% da carne produzida nos Estados Unidos. Um dos membros menos ricos do gabinete (valendo meros US$ 680 mil), Veneman suplementou sua renda trabalhando no conselho da Calgene — a primeira empresa a vender alimentos geneticamente modificados para lojas.
A Calgene foi comprada pela Monsanto, a principal empresa de biotecnologia do país. A Monsanto foi depois comprada pela Pharmacia. A Monsanto, que deu US$ 12 mil para a campanha presidencial de Bush, está tentando bloquear a legislação que exigiria rótulos em alimentos para identificar ingredientes biotecnológicos. Veneman também trabalhou no Conselho Internacional de Política de Agricultura, Alimentos e Comércio, grupo formado por grandes indústrias alimentícias como Nestlé e Archer Daniels Midland.
SECRETÁRIO DE COMÉRCIO — DON EVANS
Antes de entrar para o governo Bush, Evans era presidente e diretor executivo de Tom Brown Inc., empresa de petróleo e gás de US$ 1,2 bilhão. Evans também fazia parte do conselho da TMBR/SHARP Drilling (de perfuração). Como tesoureiro da campanha de Bush, conseguiu um recorde no levantamento de fundos, de mais de US$ 190 milhões. A Administração Nacional dos Oceanos e Atmosfera — que controla a costa do país — fica sob o domínio desse homem do petróleo.
SECRETÁRIO DE DEFESA - DON RUMSFELD
Don Rumsfeld é um antigo falcão da velha escola republicana. Foi conselheiro da Casa Branca no governo de Richard Nixon, no qual trabalhou ao lado de Dick Cheney. Quando era secretário de Defesa e depois chefe de gabinete do presidente Ford, Rumsfeld conseguiu, praticamente sozinho, acabar com o tratado de SALT II com a União Soviética. E um opositor constante a qualquer tipo de controle sobre armas, tendo chamado o Tratado de mísseis antibalísticos de “águas passadas” durante a sessão de ratificação. Antigo defensor dos esquemas de defesa “Guerra nas Estrelas”, Rumsfeld supervisionou uma comissão, em 1998, que media a ameaça de ataques com mísseis aos Estados Unidos. Rumsfeld, também conhecido como Chicken Little (6.Personagem de história infantil que se amedronta com tudo (N.T.).), afirmou que os Estados Unidos sentiriam o efeito de tais ameaças vindas de nações trapaceiras em um prazo de cinco anos (metade do tempo previsto pela CIA). Quando não pressionava por bombas B-1 ou mísseis MX, Rumsfeld foi diretor executivo da empresa farmacêutica G.D. Searle (agora de propriedade da Pharmacia) e da General Instrument (agora de propriedade da Motorola). Antes de se juntar à administração Bush, fazia parte de diversos conselhos, incluindo o da Kellogg’s, Sears, Allstate e da Tribune Company (que publica o Chicago Tribune e o Los Angeles Times e tem um rede de estações de televisão, incluindo o Canal 11, de Nova York).
SECRETÁRIO DE ENERGIA - SPENCER ABRAHAM
Como senador pelo Michigan, Abraham amealhou uma folha corrida tão fortemente antimeio ambiente que a Liga dos Eleitores Conservadores deu-lhe nota zero. Ele foi contra as pesquisas sobre energias renováveis, queria revogar o imposto federal sobre gasolina e achava uma boa idéia a perfuração de petróleo no Alasca. Talvez seja por isso que tenha votado, em 2000, para abolir o departamento que hoje preside. Abraham recebeu mais da indústria automobilística — US$ 700 mil — do que qualquer outro candidato. Uma das maiores contribuintes foi a DaimlerChrysler, que faz parte da Coalition for Vehicle Choice [Coalizão pela Escolha do Automóvel], grupo comercial que tenta barrar o aumento dos limites de economia de combustível. Neste ano, a DaimlerChrysler planeja apresentar um SUV (utilitário) com uma carroceria ainda maior, com consumo de cerca de 4,2 km por litro. Não se preocupe: quando era senador, Abraham também votou contra o aumento das exigências de eficiência relativas ao consumo de combustíveis dos veículos utilitários.
SECRETÁRIO DE SAÚDE E SERVIÇOS HUMANOS - TOMMY THOMPSON
O homem que talvez tenha o principal papel nas negociações com a indústria do fumo não deveria ter problemas para ser objetivo em relação a políticas. Afinal, só porque Thomas fez parte do conselho consultivo do Washington Legal Fund [Fundo Oficial de Washington] quando fazia defesas em favor dos que promoviam o fumo — ou porque, como governador, recebeu cerca de US$ 72 mil como contribuições de campanha da Philip Morris; ou porque a Philip Morris pagou várias viagens ao exterior que Thompson fez a fim de promover o livre comércio — não é motivo para achar que ele não será capaz de agir com imparcialidade nessa questão de saúde. Chato é que recentemente ele vendeu suas ações da Philip Morris por uma quantia entre US$ 15 mil e US$ 50 mil — já que estes devem ser bons anos para a indústria do fumo.
Bons tempos aguardam os fabricantes de cabides de arame (7.Alusão à prática do “aborto caseiro” (N.T.).) também. Tommy T é o que eles gostam de chamar de “pró-vida”, que coloca a maior quantidade possível de obstáculos contra o direito das mulheres de abortar. Como governador de Wisconsin, ele exigia que as mulheres procurassem ajuda psicológica e esperassem três dias antes de se submeter à cirurgia.
SECRETÁRIA DO INTERIOR - GALE NORTON
Gale Norton já segue os passos de seu mentor e predecessor, James Watt. Ela começou sua carreira no direito na Mountain States Legal Foundation, um centro conservador de estudos jurídicos, financiado por empresas de petróleo e fundado por Watt. Trabalhando intensamente com esse grupo, Norton ajudou o Estado do Alasca a desafiar a legislação de pesca do Departamento do Interior. Ela declarou inconstitucional a Lei de Espécies em Perigo e publicou opiniões contrárias à National Environmental Protection Act [Lei Nacional de Proteção Ambiental]. Como advogada do escritório Brownstein, Hyatt & Farber, Norton representou a Delta Petroleum e fez lobby para a NL Industries (antes conhecida como National Lead) quando esta se defendia em processos relativos à exposição de crianças a tinta contendo chumbo. Também foi presidente nacional da Coalition of Republican Environment Advocates [Coalizão dos Defensores Republicanos do Meio Ambiente], grupo financiado pela Ford Motor Company e pela BP Amoco.
SECRETÁRIA DO TRABALHO — ELAINE CHAO
Chao trabalhou notadamente junto ao setor sem fins lucrativos, com a United Way e o Peace Corps [Corpo da Paz], mas também fez parte dos conselhos da Dole Food, Clorox e companhias de saúde como C.R. Bard (que admitiu, em 1990, ter fabricado cateteres cardíacos com defeito e ter realizado experiências ilegais nos equipamentos) e o mastodonte Hospital Corporation of America (HCA). Também fez parte do conselho da Northwest Airlines. É casada com o senador conservador Mitch McConnell (republicano eleito pelo Kentucky).
SECRETÁRIO DE ESTADO — COLIN POWELL
Quando não estava travando guerras, Powell fez parte dos conselhos da Gulfstream Aerospace e da AOL. A Gulfstream fabrica jatos tanto para os “reis” de Hollywood como para governos estrangeiros como o Kuwait e a Arábia Saudita. Durante o tempo em que trabalhou para a AOL, a empresa fundiu-se à Time Warner, e as ações de Powell subiram US$ 4 milhões em valor. Naquela época, o filho de Colin, Michael Powell, foi o único membro da Federal Communications Commission [FCC — Comissão Federal de Comunicação] que defendeu a idéia de que a fusão AOL/Time Warner fosse aprovada sem questionamento. Desde então, o filho de Powell foi nomeado presidente da FCC por George W. Bush; parte de suas funções inclui supervisionar as atividades da AOL/Time Warner. Ele também supervisiona todas as normas da tecnologia monopolista de “mensagem instantânea” da AOL.
SECRETÁRIO DE TRANSPORTES — NORMAN Y. MINETA
Refugo da administração Clinton, o único “democrata” do gabinete Bush, Mineta tem suas próprias conexões corporativas. Quando representava o vale do Silício no Congresso, recebeu contribuições de campanha da Northwest Airlines, United Airlines, Greyhound, Boeing e Union Pacific. Depois de aposentar-se do Congresso, começou a trabalhar na Lockheed Martin. Haveria um lugar melhor para se aboletar do que no departamento que “supervisiona” todas elas?
CHEFE DE GABINETE DA CASA BRANCA — ANDREW H. CARD JR.
Card foi o principal lobista da General Motors antes de trabalhar no governo Bush. Ele também foi diretor executivo da agora defunta American Automobile Manufacturers Association [Associação das Montadoras Americanas], que fez lobby contra padrões de emissão de gases mais restritos e entrou em atrito com o Japão em relação a questões de comercio. Card testemunhou perante o Congresso a favor do u.s. Chamber of Commerce Lobbying Group [Grupo de Lobby da Câmara de Comércio dos Estados Unidos] contra a “Carta de Direitos dos Passageiros”. Ele contribuiu pessoalmente com US$ 1 mil para cada uma das campanhas perdedoras de John Ashcroft e Spencer Abraham.
DIRETOR DO ESCRITÓRIO DE ADMINISTRAÇÃO E ORÇAMENTO - MITCH DANIELS JR.
Anteriormente, Daniels foi vice-presidente sênior da farmacêutica Eli Lilly. Em seu cargo atual, Daniels supervisiona o esboço do orçamento federal, inclusive quanto dinheiro (se é que há algum) será destinado para o pagamento de medicamentos com prescrição médica para pacientes do Medicare — medida contra a qual fazem lobby a Eli Lilly e outras empresas farmacêuticas. Daniels também possui ações com valor entre US$ 50 mil e US$ 100 mil na GE, Citigroup e Merck. As chances desse governo aprovar a liberação de benefícios relativos a drogas sob prescrição para idosos no próximo ano são tão grandes quanto as de que eu ponha fogo em mim mesmo em frente a uma Rite Aid (8.Rede de farmácias americana (N.T.).).
CONSELHEIRA DE SEGURANÇA NACIONAL - CONDOLEEZZA RICE
Por seus serviços no conselho de direção da Chevron, um petroleiro de 130 mil toneladas foi batizado com o nome de Rice. Ela também foi diretora da Charles Schwab e da Transamerica e foi conselheira do J.P. Morgan; também fez parte da equipe do Elder’s National Security [Previdência Nacional para Idosos], de Bush.
CONSELHEIRO SÊNIOR DO PRESIDENTE - KARL ROVE
Amigo e partidário de longo tempo de Bush, Rove já havia servido como conselheiro da Philip Morris. Durante cinco anos, enquanto servia como conselheiro do governador Bush, a fábrica de cigarros pagava-lhe US$ 3 mil por mês para receber sua opinião de expert sobre o que estava acontecendo nas eleições e com os candidatos. Desde que assumiu o cargo na Casa Branca, Rove está sob fogo constante por usar sua posição a fim de favorecer os interesses de empresas das quais tem ações. Recentemente, Rove foi criticado por fazer reuniões com executivos da Intel sobre uma provável fusão, ao mesmo tempo em que tinha em mãos ações da Intel (parte de uma carteira de ações avaliada entre US$ 1 milhão e US$ 2,5 milhões). A fusão foi aprovada dois meses depois das reuniões, e Rove vendeu suas ações um mês depois.
CONSELHEIRO SOMBRA DO PRESIDENTE - KENNETH L. LAY
Lay era chefe da Enron (9.A Enron faliu em 2001, em um dos maiores escândalos financeiros da história americana (N.T.).), a maior comerciante de eletricidade dos Estados Unidos e uma das maiores contribuintes da campanha presidencial de Bush. Lay usou seu relacionamento íntimo com o presidente a fim de pressionar a Federal Energy Regulatory Comission [Comissão Federal de Regulamentação da Energia] para acelerar a desregulamentação do setor. Aparentemente, Lay forneceu a Bush uma lista de candidatos preferenciais para postos-chave comissionados. Graças em parte à crise de energia da Califórnia, a Enron transformou-se rapidamente em uma empresa de US$ 100 bilhões. Bush e Cheney recorrem aos conselhos de Lay; alguns candidatos à administração precisam ser “entrevistados” por Lay antes de serem admitidos no emprego.
Amigos e vizinhos: como dá para perceber, este é um governo decidido a encher o bolso — e que não sairá do poder sem uma briga. A missão deles é unir seu poder econômico e político (recentemente adquirido) para governar o país e ajudar os amigos deles a ficarem ainda mais ricos no processo.
Esses stupid white men precisam ser barrados. Informei Kofi Annan sobre as várias localidades onde esse homens (na maioria) podem ser encontrados e presos por tropas da ONU. Sr. Annan, imploro-lhe. Você invadiu outros países por ofensas bem menores. Não ignore nosso apuro. Nós lhe pedimos: salve os Estados Unidos da América! Exija que novas eleições, limpas, sejam feitas. Dê à junta 48 horas para concordar — e, se não, então os ameace com um show de luzes laser à moda da Força Aérea Americana!
COMO ARMAR O CONTRAGOLPE
Nós, o povo, podemos iniciar um vagalhão que no final pode derrubar a Junta Bush/Cheney — com o compromisso de apenas algumas horas por semana. É assim:
A política de Bush pode ser interrompida mediante uma revolta pública — e até mesmo algumas centenas de cartas podem transformar-se em uma revolta. Muitas das políticas de Bush já foram engavetadas depois da desaprovação pública. FUNCIONA! Nós todos reclamamos muito; por que não fazer com que isso seja útil? Escolha um assunto com o qual você se importa e faça o seguinte hoje mesmo:
www.senate.gov/contacting/index_by_state cfm;
para os deputados, acesse: www.house.gov/writerep/
E eu não digo isto apenas por dizer — estou fazendo isto este ano, e fazendo com que uma dúzia de amigos concorra em suas zonas eleitorais também. Isso exige que você recolha assinaturas suficientes para colocar seu nome na cédula, e as qualificações para isso variam. Mas são tão poucas pessoas que votam nas primárias — e tantas zonas eleitorais acabam ficando sem nenhum candidato — que com freqüência eleger-se não é muito mais complicado do que simplesmente aparecer por lá. Portanto, dirija-se a seu conselho de eleições ou escritório dos funcionários municipais e pegue algumas petições antes que o prazo termine.
Estas são apenas algumas das medidas que podemos tomar a fim de armar nosso contragolpe. Não interessa se você faz isso como democrata, como verde ou simplesmente como um cidadão chateado, o importante é se mexer e fazer.
CARO GEORGE
CARTA ABERTA AO “PRESIDENTE” GEORGE W. BUSH
Caro Chefe Bush, Você e eu — nós somos como uma família. Nossa ligação pessoal data de muitos anos. Nenhum de nós quis fazer publicidade em cima disso, por razões bastante óbvias — notadamente porque ninguém acreditaria. Mas por causa de algo pessoal, algo que a família Bush fez, minha vida foi profundamente afetada.
Vamos confessar e admitir: quem filmou Roger & Me foi seu primo Kevin.
Na época em que fiz o filme, não sabia que a sua mãe e a de Kevin eram irmãs. Simplesmente achei que Kevin, a quem conheci quando rodava seu próprio filme em Michigan, era um desses tipos de artistas boêmios que moram em Greenwich Village (1.Bairro boêmio de Manhattan (N.T.).). Kevin havia feito um grande filme, Atomic Café, e no meio de uma farra perguntei a ele se viria a Flint, Michigan, ensinar-me a rodar um filme. Para minha surpresa ele disse sim e, então, durante uma semana, em fevereiro de 1987, Kevin Rafferty e Anne Bohlen perambularam por Flint comigo, ensinando-me a mexer com o equipamento, dando-me dicas inestimáveis sobre como fazer um documentário. Sem a generosidade de seu primo, não sei se Roger & Me teria sido feito algum dia.
Lembro-me de quando seu pai tomou posse como presidente. Estava editando o filme em uma velha sala de edição em Washington D.C. e decidi ir vê-lo prestar juramento nas escadarias do Capitólio. Foi tão esquisito ver seu primo Kevin, meu mentor, sentado bem a seu lado na plataforma! Também lembro-me de andar pelo Mall e ver os Beach Boys tocando “Wouldn’t it Be Nice” em um show gratuito durante a posse, em homenagem a seu pai. De volta à sala de edição, meu amigo Ben aparecia na tela, sufocado por estar ficando doido na linha de montagem e cantando a mesma música dos Beach Boys, com cenas de Flint desmoronada ao fundo.
Meses depois, quando o filme foi lançado, seu pai, o presidente, pediu que uma cópia de Roger & Me fosse enviada a Camp David durante um fim de semana, para que a família o assistisse. Ah, se eu pudesse ser uma mosquinha na parede enquanto todos vocês viam a devastação e o desespero que atingiram minha cidade natal — graças, em grande parte, às ações do sr. Reagan e de seu pai. Há algo que eu sempre quis saber: no final do filme, quando o subxerife joga na rua os presentes e as árvores de Natal das crianças sem-teto só porque o aluguel estava atrasado em US$ 150, alguém ali chorou? Alguém se sentiu responsável? Ou todos vocês simplesmente pensaram: “Belo trabalho de câmera, Kev!”?
Bem, isso foi no final dos anos de 1980. Você tinha acabado de largar o vício da bebida; depois de ter ficado sóbrio por alguns anos, você tentava “se achar” com a ajuda de papai — um negócio de petróleo aqui, um time de beisebol ali. Há tempos tenho certeza de que você não tinha a mínima intenção, por si mesmo, de tornar-se presidente. Todos nós acabamos em empregos que não queremos uma vez ou outra — quem nunca fez isso?
Para você, no entanto, deve ter sido diferente. Afinal, não é apenas o fato de você não querer estar lá: agora que está, está cercado pela mesma gangue de velhotes que governava o mundo com papai. Todos aqueles homens rondando pela Casa Branca — Dick, Rummy, Colin — nenhum deles é seu companheiro! São todos os velhos escroques que papai costumava convidar à casa dele para fumar um bom charuto e beber uma vodca enquanto faziam planos para bombardear os civis do Panamá.
Mas você é um de nós — um boomer (2.Que faz parte da geração de Baby Boomers, quando houve uma explosão na taxa de natalidade, logo depois da Segunda Guerra Mundial. (N.T).), um estudante que tirava notas baixas, um festeiro! Que diabos você faz no meio dessa turma? Eles estão comendo você vivo para depois cuspi-lo como toucinho.
Provavelmente não lhe contaram que a redução de impostos que fizeram você assinar era uma falcatrua para tirar dinheiro da classe média e dá-lo aos super-ricos. Sei que você não precisa do dinheiro extra: você já está feito pelo resto da vida, graças ao vovô Prescott Bush e seu comércio esperto com os nazistas antes e durante a Segunda Guerra Mundial (3.Durante o final da década de 1930 e a de 1940, Prescott Bush, pai de George I e avô de W. foi um dos sete diretores da Union Banking Corporation, de propriedade de industriais nazistas. Depois de lavar seu dinheiro por intermédio de um banco holandês, esconderam por volta de US$ 3 milhões no banco de Bush. Como um dos principais dirigentes, é improvável que Bush não soubesse da conexão nazista. No final, o governo confiscou os ativos e o banco se dissolveu em 1951, depois do que Prescott Bush — e o pai dele, Sam Bush — receberam US$ 1,5 milhão.).
Mas todos aqueles caras que lhe deram o recorde de US$ 190 milhões para fazer sua campanha (dois terços dos quais são provenientes de apenas pouco mais de setecentos indivíduos!), eles querem tudo de volta — e mais. Eles vão lhe perseguir como uma cadela no cio, para ter certeza de que você fará exatamente o que dizem. Seu predecessor pode ter alugado o quarto Lincoln para Barbra Streisand, mas isso não é nada: antes que você se dê conta, seu colega, Cheney, o presidente em exercício, entregará as chaves da Ala Oeste aos presidentes da AT&T, Enron e ExxonMobil.
Seus críticos o censuram por tirar sonecas no meio do dia e por parar de trabalhar por volta das quatro e meia. Você deveria simplesmente dizer a eles que está dando início a uma nova tradição americana — sestas na hora do almoço para todos, e todo mundo em casa às cinco! Faça isso e, pode ter certeza, você será lembrado como o nosso maior presidente.
Como é que eles se atrevem a dizer que você não faz nada? Não é verdade! Nunca vi um presidente mais atarefado do que você. É como se achasse que seus dias como “O Homem” estão contados. Com o Senado já nas mãos dos democratas e a Câmara a caminho em 2002 — bem, ora, veja o lado bom, você ainda tem mais dois anos antes que todos aqueles ganhadores chorosos que votaram em Gore chutem-lhe para fora.
Sua lista de realizações — nos poucos meses desde que assumiu o cargo — é brutalmente impressionante.
Você já:
Uau! Fiquei cansado só de digitar essa lista! Onde você arruma energia? (São as sonecas, não é?)
É claro que muito do que está acima conta com o apoio de vários democratas (e direi algumas palavras sobre eles mais adiante no livro).
Mas, neste momento, estou preocupado com você. Pense um pouco — qual foi o seu primeiro ato como “presidente”? Você se lembra: antes de entrar no carro para andar pela avenida Pensilvânia durante o desfile de posse, você insistiu para que alguém pegasse uma chave de fenda e tirasse as placas da limusine porque continham as palavras “apóie o Distrito de Columbia”. Aí está, no maior dia de sua vida você fica irritado com placas de automóveis? Você TEM que relaxar!
Imagino, no entanto, que eu tenha começado a me preocupar com você muito antes daquele dia. Um certo número de revelações preocupantes acerca de seu comportamento surgiram durante a campanha. Acabaram desaparecendo, mas continuo a preocupar-me com sua capacidade de levar a cabo seu trabalho. Por favor, não encare isso como intromissão ou moralização — vamos deixar isso para o Cheney! Trata-se simplesmente de uma tentativa honesta de intervenção de um amigo íntimo da família.
Deixe-me ser rude: temo que você possa ser uma ameaça à nossa segurança nacional.
Isso pode soar um tanto forte, mas não faço essa declaração levianamente. Não tem nada a ver com nossas pequenas desavenças em relação a executar pessoas inocentes com a pena de morte, ou quanto a perfurar o Alasca com poços de petróleo. E não estou questionando seu patriotismo — tenho certeza de que você amaria qualquer país que tivesse sido tão gentil para com você como este.
Ao contrário, tem a ver com uma série de comportamentos que muitos de nós — que nos importamos com você — testemunhamos com o passar dos anos. Alguns desses hábitos são um tanto surpreendentes; alguns você não consegue controlar; outros são, infelizmente, comuns demais entre nós, americanos.
Uma vez que seu dedo está “no botão” (você sabe, aquele que pode mandar o mundo para os ares), e uma vez que as decisões que você toma têm conseqüências amplas e extensas na estabilidade desse citado mundo, gostaria de fazer três perguntas diretas — e gostaria que você me desse, e ao povo americano, três respostas honestas:
A mim e a outros parece que, infelizmente, você possa ser um analfabeto funcional. Não é preciso ter vergonha disso. Você tem bastante companhia (é só contar os erros de digitação desse livro. Na verdade, este não é um deles?). Milhões de americanos não sabem ler ou escrever além do nível da quarta série do ensino fundamental. Não admira que você tenha dito “não deixe criança alguma para trás” — você sabia como era passar por isso.
Mas deixe-me perguntar o seguinte: se você tem dificuldade para compreender os documentos complexos que lhe são entregues por ser o “líder do mundo a maior parte das vezes livre”, como podemos confiar algo como nossos segredos nucleares a você?
Todos os sinais desse analfabetismo estão aí — e aparentemente ninguém o questionou a respeito disso. A primeira dica surgiu quando você indicou qual era o seu livro preferido na infância. The Very Hungry Caterpillar [A lagarta muito faminta], você disse.
Infelizmente, esse livro não havia sido publicado até um ano após você ter se formado na faculdade.
Depois, há a questão das suas notas da universidade, se é que são realmente suas notas. Como foi que você entrou em Yale quando outros interessados, em 1964, tinham médias no SAT (4.Standard Academic Transcript, exame que todos os interessados em entrar em faculdades americanas precisam prestar (N.T).) muito mais altas e notas muito melhores?
Durante a campanha, quando pediram que você indicasse os nomes do livros que lia naquele momento, você respondeu com coragem — mas quando testado sobre o conteúdo dos mesmos, não sabia o que dizer. Não espanta que seus assessores tenham parado de permitir que você participasse de coletivas de imprensa apenas dois meses após ter-se iniciado a campanha. Seus manipuladores ficaram apavorados com o que poderia ser perguntado a você — e como você responderia.
Uma coisa é clara para todos — você não sabe falar a língua inglesa em sentenças que conseguimos entender. No começo, o modo como você mutilava palavras e sentenças parecia engraçadinho, quase charmoso. Mas depois de um tempo tornou-se preocupante. Então, durante uma entrevista, você rompeu com a política mantida por décadas pelos Estados Unidos em relação a Taiwan, dizendo que estávamos dispostos a fazer “tudo o que fosse necessário” para defender Taiwan, até mesmo sugerindo que poderíamos mandar tropas para lá. Puxa, George, o mundo inteiro ficou agitado; antes que percebesse, todos estavam no Defcon 3 (5.Nível de alerta máximo (N.T).).
Se você será o comandante-em-chefe, precisa ser capaz de comunicar suas ordens. Como vai ser se esses pequenos deslizes continuarem acontecendo? Você tem idéia de como seria fácil transformar uma pequena gafe em um pesadelo de segurança nacional? Não é à toa que você quer aumentar o orçamento do Pentágono. Precisaremos de todo o poder de fogo possível depois que você ordenar acidentalmente que os russos sejam “removidos”, quando o que você queria dizer era: “Preciso remover o molho russo da minha gravata
Seus assessores disseram que você não lê (não consegue?) os sumários que lhe dão e que pede que eles os leiam para você ou por você. Sua mãe tinha um grande entusiasmo pelos programas de leitura quando era primeira-dama. Devemos assumir que ela sabia, em primeira mão, como era criar um criança que não conseguia ler?
Por favor, não leve nada disso pelo lado pessoal. Talvez seja uma deficiência de aprendizagem. Cerca de 60 milhões de americanos têm deficiência de aprendizagem. Não há vergonha nisso. E, sim, acredito que um disléxico possa ser presidente dos Estados Unidos. Albert Einstein era disléxico; assim como Jay Leno (6.Apresentador de “talk show” na televisão americana (N.T.).). (Olha, finalmente arranjei um jeito de citar Leno e Einstein em uma mesma sentença! Tá vendo, a linguagem pode ser divertida.)
Mas, se você se recusa a buscar auxílio para tratar desse problema, temo que você se torne um risco grande demais para este país. Você precisa de ajuda. Você precisa de Hooked on Phonics (7.Programas de auxilio para aprendizado, destinados a crianças (N.T.).), não apenas de uma outra reunião na Sala Oval.
Conte-nos a verdade, e eu lerei para você toda noite na hora de dormir.
De novo, ninguém aqui aponta o dedo para você, não há intenção de envergonhá-lo ou desrespeitá-lo. O alcoolismo é um grande problema: afeta milhões de cidadãos americanos, pessoas que todos nós conhecemos e amamos. Muitas são capazes de se recuperar e viver vidas normais. Alcoólatras podem ser, e já foram, presidentes dos Estados Unidos. Eu admiro enormemente quem consegue lidar com esse vício. Você nos contou que não consegue lidar com a bebida e que não tocou em uma gota de álcool desde seus quarenta anos. Parabéns.
Você também nos disse que costumava “beber muito” e que terminou “compreendendo que o álcool estava começando a sobrepujar minhas energias e poderia sobrepujar, no final, minha afeição pelas outras pessoas”. Trata-se da definição de um alcoólatra. Isto não o desqualifica como presidente, mas exige que você responda a certas perguntas, em especial depois de ter passado anos encobrindo o fato de que, em 1976, você foi preso por dirigir bêbado.
Por que você não usa a palavra alcoólatra? Afinal, trata-se do primeiro passo para a recuperação. Que tipo de sistema de apoio você armou a fim de se certificar de que não sairá da linha? Ser presidente talvez seja o emprego mais estressante do mundo. O que você fez para se assegurar de que consegue lidar com a pressão e com a ansiedade associadas ao fato de ser o homem mais poderoso do mundo?
Como vamos saber se você não vai entornar a garrafa quando enfrentar uma crise séria? Você nunca teve um emprego como esse. Por vinte anos, pelo que sei, você não teve emprego algum. Quando você parou de vagar por aí”, seu pai o colocou no ramo do petróleo, em alguns negócios que fracassaram e depois o ajudou a ganhar um dos grandes times de beisebol, o que exigia que você ficasse sentado em uma cadeira de camarote e assistisse uma porção de longos e vagarosos jogos.
Como governador do Texas, não dava para ficar muito estressado: simplesmente não há muito o que fazer. Ser governador do Texas é um emprego relativamente cerimonial. Como você vai lidar com alguma nova ameaça inesperada à segurança mundial? Você tem um tutor a quem possa telefonar? Existe alguma reunião da qual possa participar? Você não precisa me dar a resposta para essas perguntas; só precisa me prometer que achou uma saída para elas sozinho.
Sei que isso é muito pessoal, mas o povo tem o direito de saber. Para aqueles que dizem: “Deixa disso, é a vida particular dele — isso aconteceu há vinte anos”, tenho a dizer o seguinte: fui atropelado por um motorista bêbado há 28 anos e até hoje não consigo esticar por completo meu braço direito. Desculpe-me, George, mas quando você sai em uma estrada pública bêbado, não é apenas a sua vida que está em jogo. É a minha vida, e as vidas da minha família.
As pessoas da sua campanha — os facilitadores — tentaram esconder isso por você, mentindo à imprensa sobre a causa de sua prisão por dirigir sob influência do álcool. Eles disseram que o policial o parou porque você estava “dirigindo muito devagar”. Mas o policial que o prendeu disse que foi porque você guinou repentinamente para o acostamento. Você mesmo negou o fato, quando questionado sobre a noite que passou na prisão.
“Não passei tempo algum na prisão”, insistiu. O policial contou ao repórter local que, na verdade, você foi algemado, levado à delegacia e ficou lá por pelo menos uma hora e meia. Será possível que você realmente não se lembre?
Não se trata aqui de uma simples multa de trânsito. Não consigo acreditar que seus facilitadores tenham realmente insinuado que a sua condenação por dirigir bêbado não era tão grave quanto as transgressões de Clinton. Mentir sobre relações sexuais mantidas sob consenso com outro adulto enquanto se está casado é errado, mas NÃO é o mesmo que se sentar atrás da direção de um carro, quando se está bêbado, e ameaçar as vidas dos outros (incluindo, George, a vida da sua própria irmã, que estava com você no carro naquela noite).
Também NÃO é como, apesar do que seus defensores disseram antes das eleições, Al Gore ter contado espontaneamente que fumou maconha na juventude. A menos que ele saísse dirigindo quando estava doidão, os atos dele não colocavam a vida de ninguém em perigo, a não ser a dele próprio — e ele não tentou acobertar isso.
Você tentou descartar o incidente dizendo que “isso aconteceu na minha juventude”. Mas você NÃO era um “jovem”; você estava na casa dos trinta.
Na noite em que sua condenação foi finalmente revelada à nação, apenas alguns dias antes das eleições, foi penoso assisti-lo pavonear-se enquanto tentava emplacar seu ato “irresponsável” como uma mera “indiscrição de adolescente”, por ter tomado algumas cervejas com os caras (hahaha!). Eu realmente senti pelas famílias do meio milhão de pessoas que foram mortas por bêbados como você nesses 24 anos que se passaram desde a sua “pequena aventura”. Graças a Deus você continuou bebendo apenas durante alguns anos depois de ter “aprendido a lição”. Também penso pelo que fez sua mulher, Laura, passar. Ela sabia muito bem o quanto é perigoso quando um de nós fica atrás do volante. Aos dezessete, ela matou um amigo de escola quando não respeitou um aviso de pare e colidiu com o carro dele. Espero que você possa pedir a orientação dela se alguma vez sentir a pressão do emprego sobre você. (O que quer que aconteça, não peça ajuda ao Dick Cheney: ele tem duas prisões por dirigir bêbado em sua folha de antecedentes, há mais de 25 anos!)
Finalmente, preciso contar a você como fiquei angustiado quando, naquela semana louca antes da eleição, você se escondeu atrás de suas filhas como desculpa por ter mentido sobre a prisão. Você disse estar preocupado com que sua história de alcoolismo pudesse dar um mau exemplo para elas. Esse segredo fez um bem enorme, como provam as várias vezes em que as gêmeas foram presas este ano por estarem portando bebida alcoólica. De alguma maneira, admiro a revolta delas. Elas pediram a você, imploraram, dizendo: “Por favor, papai, não concorra para a presidência e arruíne nossas vidas!” Você concorreu. E arruinou. Agora, como acontece com todos os bons adolescentes, é hora da vingança.
Talvez o âncora do Saturday Night Live (8.Programa cômico semanal da televisão americana (N.T.).) tenha conseguido colocar do melhor jeito: “George Bush disse que não revelou a multa por dirigir bêbado por causa do que suas filhas poderiam pensar dele. Preferiu que elas o vissem como um homem que pôs a perder numerosos negócios e que agora executa pessoas
Vai aqui minha sugestão: Peça ajuda. Associe-se à AAA. Leve suas filhas a Al-Anon (9.Grupos que tiveram origem em Nova York, em 1951, atingindo hoje mais de cem países. Esses grupos reúnem familiares e amigos de alcoólicos (N.T.).). Vocês todos serão recebidos de braços abertos.
Quando perguntaram a você em 1999 sobre um suposto uso de cocaína, você respondeu que você não havia cometido “crime algum nos últimos 25 anos”. Considerando tudo o que aprendemos sobre suas respostas cheias de truques dos últimos oito anos, esse tipo de reação só pode levar um observador razoável a acreditar que nos anos anteriores àqueles, a história foi diferente.
Quais crimes você cometeu antes de 1974, George?
Acredite, não pergunto isso para que você seja punido por nada do que tenha feito. O que me preocupa é que, se existe algum segredo profundo e negro que está escondendo, você na verdade pode estar dando munição a qualquer um que descubra esse segredo — seja uma força estrangeira (sua favorita atual, os chineses) ou doméstica (como digamos — vamos, escolha uma — a R.J. Reynolds (10.Segunda maior companhia de tabaco dos Estados Unidos (N.T).). Se eles descobrirem alguma história sobre um crime ou crimes, terão algo contra você, o que permitiria que o chantageassem. Isto o torna, George, uma ameaça à segurança nacional.
Confie em mim, alguém descobrirá o que você está escondendo — e quando isso acontecer, estaremos correndo perigo. Você tem a obrigação de falar sobre a natureza de qualquer tipo de crime que insinua que possa ter cometido. Apenas ao fazer essa revelação você pode neutralizar o uso potencial disso como arma contra você — ou contra nos.
Além disso, recentemente você transformou em exigência o seguinte: qualquer jovem que esteja se candidatando ao crédito universitário precisa responder à seguinte pergunta no formulário de inscrição: “Você já foi condenado por algum crime relacionado a drogas?” Se isso se confirmar, a assistência financeira será negada a essa pessoa — o que significa que muitas delas não poderão cursar faculdades. (Ou seja, as novas ordens que você deu significam que Sirhan Sirhan (11.O assassino de Robert Kennedy (N T.).) ainda pode receber assistência financeira estudantil, mas um jovem com um baseado, não.)
Esse seu gesto não parece um tanto hipócrita? Você negaria a formação universitária a milhares de crianças que fizeram exatamente o que você insinuou ter feito quando jovem? Cara, é preciso muita ousadia! Já que você receberá US$ 400 mil de nós até 2004 — da mesma cesta federal que paga os financiamentos estudantis — parece justo fazer-lhe a mesma pergunta: “Você já foi condenado por vender ou ter drogas em sua posse (não incluindo álcool ou fumo)?”
Nós sabemos, George, que você foi preso três vezes. Salvo alguns amigos pacifistas ativistas meus, pessoalmente não conheço ninguém que já tenha sido preso três vezes.
Além de dirigir bêbado, você foi preso com alguns amigos da fraternidade por roubar guirlandas de Natal como brincadeira. O que tudo isso significa?
Sua terceira prisão estava relacionada a má conduta durante um jogo de futebol americano. Isso eu realmente não entendo. Todo mundo se comporta mal durante jogos de futebol! Já fui a muitos jogos e muitas cervejas já pingaram na minha cabeça, mas até hoje nunca vi ninguém ser preso. Você tem de se esforçar para ser notado em uma multidão de fãs de futebol bêbados.
George, tenho uma teoria de como e por que tudo isso aconteceu a você. Em vez de ter de lutar por ela, a presidência foi dada a você, da maneira como recebeu tudo em sua vida. Bastaram nome e dinheiro para lhe abrir todas as portas. Sem esforço, trabalho duro, inteligência ou engenhosidade, uma vida de privilégios lhe foi legada.
Você aprendeu, em tenra idade, que nos Estados Unidos tudo o que uma pessoa como você precisa fazer é aparecer. Você se viu admitido em uma seleta escola interna de New England simplesmente porque seu nome era Bush. Você não teve de lutar por seu lugar ali. Ele lhe foi comprado.
Quando te deixaram entrar em Yale, você descobriu que podia deixar para trás estudantes mais merecedores, que estudaram muito durante doze anos para se qualificar e serem admitidos na faculdade. Você entrou porque seu nome era Bush.
Você entrou na Harvard Business School do mesmo jeito. Depois de vadiar durante seus quatro anos em Yale, tomou o lugar que pertencia por direito a alguma outra pessoa.
Depois, você fingiu servir em tempo integral a Texas Air National Guard [Guarda Aérea Nacional do Texas]. Mas um dia, de acordo com o Boston Globe, você simplesmente escapuliu e não se reportou à sua unidade — por um ano e meio! Você não tinha de cumprir com suas obrigações militares, porque seu nome era Bush.
Após um número de “anos perdidos”, que não aparecem em sua biografia oficial, lhe foram oferecidos, por seu papai e outros membros da família, vários empregos. Não importava quantos dos seus negócios fracassassem, sempre haveria um outro lhe aguardando.
Ao final, você conseguiu ser sócio em um time de beisebol da primeira divisão — outro presente — apesar de você colocar somente um centésimo do dinheiro do time. Daí você iludiu os contribuintes de Arlington, no Texas, para que lhe dessem uma mordomia adicional — um estádio multimilionário novo em folha, pelo qual você não teve de pagar.
Então, não é de se estranhar que você ache que mereça ser nomeado presidente. Você não mereceu ou conquistou isso — portanto deve ser seu!
E você não vê nada de errado nisso. Por que deveria? É o único modo de vida que conhece.
Na noite da eleição, enquanto o voto ia e voltava pela nação, você disse à imprensa que seu irmão havia-lhe assegurado que a Flórida era sua. Se um Bush disse que era assim, então era assim.
Mas não é assim. E quando você percebeu que a presidência precisava ser merecida e conquistada pelo voto do povo — ah, sim, o povo! —você ficou louco de raiva. Você enviou o maléfico James Baker (“Que se ferrem os judeus, eles não votam em nós mesmo”, foi o conselho que deu ao papai em 1992) para contar mentiras ao povo americano e atiçar fogo nos temores da nação. Quando aquilo pareceu não funcionar, você foi à Justiça Federal e abriu processo para que a contagem dos votos fosse suspensa — pois você sabia qual seria o resultado. Se você realmente tivesse certeza de que tinha o voto do povo, não teria se preocupado com a contagem de todos aqueles votos.
O que me espanta é como você procurou o grande e mau governo federal a fim de conseguir ajuda. Seu mantra, durante todos os comícios de campanha, era o seguinte: “Meu adversário confia no governo federal. Eu confio em vocês, o povo!”
Bem, aprendemos rápido a verdade. Você não confiava nem um pouco no povo. Você foi direto à corte federal para receber uma mãozinha (confie nas máquinas de votação, não no povo!). No princípio, os juizes da Flórida não se convenceram — e, talvez pela primeira vez na sua vida, alguém lhe disse não.
Mas, como já vimos, os amigos de papai na Suprema Corte dos Estados Unidos estavam lá para cuidar de tudo.
Em suma, você já foi bêbado, ladrão, um possível criminoso, um desertor não processado e um bebê chorão. Você pode classificar essa declaração como cruel. Eu a chamo “amor de verdade”.
Por tudo que é decente e sagrado, pelo amor de Deus, cara, despeça-se imediatamente e dê um pouco de honra ao seu sobrenome todo importante! Faça com que aqueles entre nós que sabem que existe um fio de decência em sua família fiquem orgulhosos de novo e possam afirmar que um Bush na mão é melhor do que uma mão dada a um Bush.
Respeitosamente,
Michael Moore
OBA, OBA, A BOLSA
Enquanto espero em um aeroporto de Michigan pelo vôo da American Airlines que me levará a Chicago, um homem de uniforme senta ao meu lado e puxa conversa.
Fico sabendo que ele é um piloto da American Airlines — ou, mais precisamente, da American Eagle, a companhia aérea que faz os vôos de integração da American Airlines e que, como todas as companhias regionais atualmente, está acrescentando jatos às suas frotas para vôos que duram menos de duas horas. Isso economiza bastante dinheiro para as empresas-mãe, acredito.
O piloto que conversa comigo não está escalado para pilotar o avião no qual viajarei. Ele está tentando conseguir um lugar como passageiro no vôo que cruzará o lago Michigan.
“Você tem de pagar quando se trata de uma viagem particular?”, perguntei.
“Não”, respondeu. “É praticamente o único benefício extra que temos”.
Ele então revelou que o salário inicial de um piloto da American Eagle é de US$ 16.800 por ano.
“Quê?” perguntei, certo de que havia entendido mal a quantia. “Dezesseis mil por ano?”
“Isso mesmo”, respondeu o capitão. “E isso é alto. Na companhia de ligação da Delta, o salário inicial é de US$ 15 mil para pilotos; na Continental Express, é cerca de US$ 13 mil.”
“Treze mil? Para o comandante de um avião comercial? Você está brincando comigo?”
“Não, não estou brincando com ninguém. É pior do que isso. No primeiro ano como piloto, precisamos pagar por nosso próprio treinamento de vôo e nossos uniformes. Depois de todas as deduções, acabamos com cerca de US$ 9 mil”.
Ele fez uma pausa para que aquilo pudesse descer. E depois acrescentou: “Brutos”.
“Não consigo acreditar no que estou ouvindo”. Minha voz estava subindo a um nível que as pessoas em volta começaram a nos ouvir.
“Acredite”, ele me assegurou. “No mês passado, um de nossos pilotos foi à Previdência Social candidatar-se aos tíquetes-alimentação. Sem brincadeira. Com quatro filhos, com seu nível de salário, tinha direito legal ao auxílio. O escritório da American descobriu e enviou um memorando dizendo que nenhum piloto estava autorizado a pedir tíquetes-alimentação ou de assistência — mesmo que tenham direito a eles! Qualquer um que se candidatasse seria despedido.”
“Agora meu colega simplesmente vai ao food bank [banco de alimentação] quando volta para casa. Eles não pedem nenhuma informação da gente que possa ser enviada à American Airlines.”
Achava que já havia ouvido tudo até agora. Mas esta história era pra Lá de assustadora. Eu não queria entrar naquele avião. Veja, há algo a respeito de nós, humanos, e nosso instinto animal básico de sobrevivência — e um desses instintos, que provavelmente vem desde a era das cavernas, é: nunca, jamais deixe alguém que ganha menos do que os moleques da Taco Bell te levar para os ares.
Entrei no avião, mas apenas depois de convencer-me que o sujeito devia estar tirando sarro de mim. De outra maneira, como poderia justificar estar arriscando minha vida desse jeito? Na semana seguinte, no entanto, fiz algumas ligações e algumas pesquisas. Para meu horror, as quantias passadas por aquele piloto estavam certas. Enquanto capitães que trabalhavam com essas companhias de ligação já há alguns anos ganhavam uma fortuna (US$ 40 mil por ano!), novatos de primeiro ano em muitos casos viviam abaixo do nível de pobreza.
Não sei quanto a você, mas quero que as pessoas que me levam com elas para desafiar a força mais poderosa da natureza — a gravidade — estejam felizes, satisfeitas, confiantes e bem pagas. Mesmo nos grandes jatos das principais companhias aéreas, os comissários de bordo — outro grupo de funcionários cujo treinamento pode ser crítico na hora de salvar nossas vidas — começam com algo entre US$ 15 mil e US$ 17 mil por ano. Quando estou a cerca de nove mil metros de altura não quero que os pensamentos dos pilotos ou dos comissários estejam ocupados em como religar o aquecimento e as luzes quando chegarem em casa esta noite ou qual sanduíche do Bob’s eles terão de engolir para poder pagar o aluguel do mês. E qual é a moral para o público que voa? Seja agradável com as pessoas que usam a previdência social — eles podem dirigir o avião que nos leva a Buffalo.
Durante a primeira metade de 2001, os pilotos da Delta Connection estavam em greve. Os canalhas gananciosos do sindicato exigiam um salário inicial de US$ 20 mil para seus pilotos. Mas a Delta recusou, e a interrupção do trabalho continuou por meses. Era de se esperar que, considerando a economia em crescimento — em especial para os bem de vida, que voam com freqüência — não haveria muito problema em dar um salário aos pilotos que lhes permitisse sobreviver com algo além de comida de cachorro. (Ao subir em um avião, costumava fazer uma “checagem de olfato” para ver se os pilotos tinham bebido; agora começarei a procurar por restos de ração quando passar pela cabine do comandante.) Depois de mendigar por migalhas, os pilotos da Delta Connection finalmente receberam seus US$ 20 mil por ano.
Dizem a esses pilotos — e ao resto do povo — que a economia não está indo tão bem, que houve uma grande queda, que os lucros caíram, que o mercado de ações está levando pau e que não importa quanto o sr. Greenspan reduza as taxas de juros, nada parece ajudar.
Com certeza eles têm números para sustentar suas afirmações. Uma média de 403 mil americanos preenchem formulários de desemprego todas as semanas. Centenas de empresas anunciam imensos cortes de pessoal. Milhares de empresas iniciantes nos setores novos de alta tecnologia “ponto com" viraram de cabeça para baixo. As vendas de carros caíram. O varejo teve um péssimo Natal. Da alameda do Silício ao vale do Silício, os cintos estão sendo apertados.
E nós caímos nessa.
Não existe recessão, meus amigos. Não há queda. Não há tempos difíceis. Os ricos chafurdam no espólio que acumularam nas últimas duas décadas, e agora querem ter certeza de que não sairemos procurando nossa fatia do bolo.
Os ricos fazem tudo o que podem para nos convencer que é melhor não pedir nossa parte, porque — bem, de repente, não há o suficiente! Noite após noite, os meios de comunicação dos quais são proprietários nos contam uma história triste depois da outra, sobre a última empresa de internet que fechou as portas, ou do fundo de investimento que perdeu tudo, ou do investidor da Nasdaq que afundou. Hoje a média industrial da Dow Jones caiu mais de trezentos pontos. A Lucent Technologies anunciou a demissão de mais quinze mil. A fusão entre a United e a U.S. Airways foi desfeita, a General Motors está fechando a Oldsmobile, e agora há relatos de que nem mesmo seu 401K (1.Fundo de aposentadoria (N.T.).) está seguro. É de arrepiar os cabelos, não?
Ah, é tudo verdade. Eles não mentiriam para nós. Pelo menos não com esses pequenos detalhes que usam para manipular nossos medos.
Mas e quanto à mentira maior? Aquela sobre como a grande economia mundial atualmente está terrível? Quero dizer, em certo nível parece ser verdade. Se você é da classe média ou está abaixo dela, tem todo o direito de estar com medo. Por quê? Porque aqueles no topo estão com mais medo ainda. Estão morrendo de medo de que você queira participar da festa. Têm medo de que você diga: “Tá bem, vocês têm seus iates e suas casas no sul da França — e eu? Que tal me dar um pouquinho para que eu possa comprar um novo portão para a garagem?” A única coisa maior do que esse medo deles é o assombro que até agora nenhum de vocês exigiu um aumento, férias, que dividissem o dentista ou qualquer fatia da riqueza excessiva que foi gerada nos últimos dez anos. Será verdade que vocês estão satisfeitos por passar quatro noites por semana imaginando quem quer ser um milionário, mas na verdade nunca respondem: “Eu!”? Os marajás empresariais querem que você fique de mãos abanando.
Sim, aqueles que estão no poder sabem que é inevitável: um dia vamos querer nossa fatia. E, já que isso pode nunca acontecer, as facas foram desembainhadas — e eles resolveram fazer uma greve antecipada, na esperança de que nós jamais pensemos em olhar para as pilhas de dinheiro deles.
É por isso que estão nos despedindo ou dizendo que estão pobres. E por isso que acabaram com o bule de café grátis — não porque não conseguem pagar o café, mas porque precisam foder a nossa cabeça. Eles precisam que estejamos em constante estado de estresse, desconfiança e medo. VOCÊ PODE SER O PRÓXIMO! Esqueça o café — salve-se! Os patrões devem estar sentados dando a maior gargalhada da vida deles.
Mas você pode me perguntar: como eu sei de tudo isso? Bem, veja, ando no meio deles. Vivo na ilha de Manhattan, uma faixa de terra de 3,8 quilômetros de largura que é a casa de luxo e suíte corporativa da elite dos Estados Unidos. Muito do sofrimento que você vive como americano emana deste pedaço imóvel de platina encravado entre dois rios poluídos. Aqueles que controlam nossas vidas vivem no meu bairro. Ando pelas ruas com eles todos os dias. Vejo os filhos deles serem criados por imigrantes haitianos, e os vejo passar pelos Invisible Men [Homens Invisíveis] que limpam a argamassa dos pisos de mármore sem dizer nada, sempre com pressa de chegar sei lá onde — muito provavelmente em um lugar no qual possam reduzir nossos benefícios ou colocar nossos postos de trabalho no talho. Eles estão preparados, prontos e sedentos para fazer uma matança — e o próximo corpo que abaterem pode ser o seu!
Ouço-os dizer como se saíram bem — a nova casa nos Berkshires, a viagem que acabaram de fazer à Ilha de Páscoa. Não podiam estar mais felizes.
Quando me mudei para meu prédio, ele era ocupado por artistas, roteiristas e metade do elenco do Saturday Night Live. Havia jogadores de hóquei do Rangers, um jogador aposentado da NFL (2.National Football League [Liga Nacional de Futebol Americano] (N.T.).), um câmera, alguns professores universitários e alguns idosos. Agora a população reduziu-se basicamente a mim, um dos jogadores do Rangers e meu amigo louco Barry, o cineasta; todo o resto, parece, está rico o suficiente para viver sem trabalhar ou ocupado colhendo lucros enormes das diversas propriedades que têm em bairros pobres, ou vivendo de alguma herança, ou trabalhando em Wall Street, ou sendo pago por outro país (estão aqui em Nova York supervisionando os investimentos estrangeiros da família). As empresas na Fortune 500 (3.Edição especial da revista Fortune, relacionando as quinhentas maiores empresas dos EUA (N.T.).) são seu pão com manteiga. E estou aqui para dizer a vocês: eles estão carregados e não reduzirão nadinha da parte deles.
Se você não quer acreditar só na minha palavra, deixe-me oferecer algumas estatísticas neutras e objetivas sobre o quanto as pessoas no topo estão indo bem:
Estamos sendo trapaceados de tantas maneiras que listá-las todas pode fazer com que eu seja acusado de incitar uma rebelião. Mas quem se importa? A Mercedes Benz, que sempre se recusa a obedecer os padrões de quilometragem e poluição americanos, estava sendo multada por não seguir a lei quando apareceu com um plano engenhoso. Durante os anos de 1988 e 1989, a empresa deduziu de seus impostos US$ 65 milhões que havia pago em multas como “despesas ordinárias feitas [...] ao realizar comércio ou negócio”. Isso significa que você e eu pagamos US$ 65 milhões para que um punhado de gente rica pudesse dirigir carros grandes e elegantes por ai e assim arruinassem nossos pulmões. Felizmente, a Receita Federal descobriu a falcatrua e negou o pedido deles.
Halliburton, a empresa petrolífera, abriu uma subsidiária nas Ilhas Cayman no começo dos anos de 1990. O problema é que não existe petróleo nas Ilhas Cayman. Assim como não há refinarias ou centros de distribuição de petróleo. Portanto, o que fazia a subsidiária da Halliburton ali? Evidentemente, o governo começou a suspeitar. De 1996 até 1998, 14 processos individuais de impostos foram abertos contra as instituições Halliburton. Em um dos casos, o governo argumentou que a Halliburton usou essas subsidiárias para evitar impostos no valor de US$ 38 milhões. A maioria desses casos foi resolvida.
Eles não são os únicos interessados em fraudar o governo federal. Meia dúzia das principais companhias de seguros dos Estados Unidos chamam agora as Bermudas de suas “matrizes”, incluindo gigantes como Chubb, Hartford, Kemper, Liberty Mutual e outras. Accenture, que era conhecida como Andersen Consulting, recentemente “mudou” sua empresa para as Bermudas a fim de livrar-se da cobrança de impostos. Trata-se somente de uma mudança no papel — todos os seus escritórios ainda estão espalhados pelo país, e todo mundo aparece para trabalhar todos os dias para a Andersen, como sempre fizeram. Foi apenas a “matriz" que se mudou. Você não adoraria acordar amanhã e declarar que “se mudou” para as Ilhas Fiji, mesmo que tenha que continuar a olhar para Topeka (4.Capital do Kansas (N.T.).) da sua janela?
A revista Forbes calcula que os paraísos fiscais custem aos americanos medianos mais de US$ 10 bilhões por ano (e nós temos de cobrir a diferença, pagando mais impostos ou perdendo serviços). Da próxima vez que você não puder pagar pelo conserto do aquecedor ou substituir o computador, pode agradecer a todos os gatos gordos que fizeram-no repetir: “A economia não vai muito bem neste momento”.
Em vez de cobrar esse dinheiro que está sendo roubado de nós, como a Receita Federal passa seus dias atualmente? Ela decidiu ir atrás de você.
É isso mesmo. Eles jogaram a toalha; desistiram de tentar fazer com que os ricos paguem seus impostos. O foco de sua nova política é espremer aqueles que ganham menos. De acordo com o escritório geral de contabilidade, aqueles que ganham menos do que US$ 25 mil por ano viram as auditorias da Receita Federal dobrarem — ao passo que aqueles que ganham mais do que US$ 100 mil viram as auditorias caírem mais de 25%.
O que isso significa no balancete? Resultou em uma queda de 26% na quantia de impostos pagos pelas empresas, enquanto você, americano médio, viu seus impostos subirem no mínimo 13%. Na década de 1950, os impostos empresariais totalizavam 27% da renda do governo federal; atualmente esse número caiu para menos de 10%. Quem pagou pela diferença? Você e seu segundo emprego.
Parte do motivo pelo qual agora você ouve dizer sobre como a economia anda nestes dias é porque muitos daqueles que estão emitindo as cartas de demissão são amigos e familiares daqueles que dão as más notícias. Ao contrário das demissões em massa dos anos de 1980, que foram quase ignoradas por aqueles que freqüentaram boas faculdades e ganhavam bastante dinheiro, os massacres demissionários atuais são, na maioria, de colarinhos-brancos e profissionais. Despeça algumas centenas de milhares dessas pessoas e você ouvirá a respeito. Por quê? Bem, porque é... é... é TÃO INJUSTO! Quero dizer, esses caras da alta tecnologia fizeram sua obrigação! Eles seguiram as regras, deram seu coração e alma e o primeiro casamento para a empresa. Estavam presentes em qualquer retiro da empresa, nunca perdiam uma reunião de trocas de idéias tarde da noite, compareciam a todos os eventos de caridade organizados pelo presidente e seus amigos. E, daí, um dia... “Bob, aqui está um consultor de RH que contratamos para ajudar com a sua transição, a qual queremos tornar o mais fácil possível para você. Por favor, devolva-me suas chaves, e esse cavalheiro com distintivo e arma vai acompanhá-lo a seu cubículo para que você possa pegar seus pertences pessoais e sair do prédio nos próximos doze minutos”.
Não há declínio. As empresas estão ganhando menos do que no ano passado? Com certeza. Como poderiam não estar? Os anos de 1990 viram essas corporações preverem lucros irreais, altíssimos, uma bonança sem igual que não tinha nada a ver com a realidade. Compare os dados de qualquer ano com esses e você estará comparando maçãs com maçãs derrubadas pelo vento. Uma manchete outro dia dizia que os lucros da GM haviam caído 73 % em relação ao ano anterior. Isso parece ruim — mas o ano anterior nada mais foi do que uma orgia de lucros. Mesmo com a redução de 73%, a GM ainda assim embolsou um lucro de US$ 800 milhões na primeira metade de 2001.
As empresas “ponto com” estão fechando a torto e a direito? Claro que sim! Grande coisa. E o que acontece com qualquer invenção nova e revolucionária — uma tonelada de empresários pula no barco à procura de fortuna e, no final, somente os medíocres e rudes mantêm-se em pé. Isso se chama C-A-P-I-T-A-L-I-S-M-O. Em 1919, vinte anos após invenção do automóvel, havia 108 montadoras nos Estados Unidos. Dez anos depois, o número havia encolhido para as 44 grandes empresas automobilísticas americanas. No final da década de 1950, havia caído para oito, e atualmente temos um total geral de 2,5 fabricantes de automóveis americanos. E assim que funciona no nosso sistema. Se você não gosta, pode se mudar para... para... vejamos.., diacho, para onde se muda hoje em dia?
Ah, claro — Bermudas!
MATEM OS BRANQUELAS
Não sei o que acontece, mas toda vez que vejo um cara branco vindo em minha direção, fico tenso. Meu coração dispara e no mesmo instante começo a procurar um jeito de escapar e um meio de me defender. Fico bravo comigo mesmo por estar em um lugar desses da cidade depois do anoitecer. Será que eu não havia reparado nas gangues suspeitas de brancos ali, em todas as esquinas, tomando Starbucks (1.Rede de cafeterias (N.t.).) e vestindo aquele azul Gap ou o malva J. Crew (2.Marcas de roupa (N.T.).) que identificam suas facções? Que burro! Agora o branco se aproxima, se aproxima — e então — ufa! Ele passa sem me machucar e respiro aliviado.
Os brancos me aterrorizam. Pode ser difícil para você entender — considerando que sou branco — mas sei das coisas por causa da minha cor. Por exemplo, eu me acho bastante amedrontador na maioria das vezes e portanto sei do que estou falando. Pode acreditar em mim: se de repente você se vir rodeado por brancos, é melhor tomar cuidado. Qualquer coisa pode acontecer.
Como brancos, fomos levados a acreditar que é seguro estar cercado por outros brancos. Ensinaram-nos desde que nascemos que são as pessoas daquela outra cor que devemos temer. Eles são os que cortarão nossa garganta!
No entanto, quando revejo minha vida, um padrão esquisito, mas inequívoco, parece surgir. Todas as pessoas que já me causaram algum mal — o patrão que me despediu, o professor que me bombou, o diretor que me puniu, o menino que jogou uma pedra no meu olho, o outro menino que atirou em mim, o executivo que não renovou o programa TV Nation, o cara que me perseguiu por três anos, o contador que pagou meus impostos em dobro, o bêbado que me atropelou, o ladrão que roubou meu aparelho de som, o construtor que me superfaturou a obra, a namorada que me deixou, a namorada seguinte que me deixou mais cedo ainda, o piloto do avião no qual eu estava que bateu em um caminhão na pista (ele provavelmente não comia há dias), o outro piloto que decidiu atravessar um furacão, a pessoa no escritório que roubou folhas do meu talão de cheques e os passou para si mesma num total de US$ 16 mil — cada um desses indivíduos era branco! Coincidência? Acho que não!
Nunca fui atacado por um negro, nunca fui despejado por um negro, meu depósito de segurança nunca foi roubado por um senhorio negro, nunca tive um senhorio negro, nunca fui a uma reunião em um estúdio de Hollywood com um executivo negro no comando, nunca vi um agente negro no escritório de cinema/TV que me representava, negro algum jamais negou à minha filha inscrição na faculdade na qual queria entrar, negro algum jamais vomitou em mim em um show do Mötley Crue, nunca um policial negro parou meu carro, um vendedor negro nunca me vendeu um carro ruim, nunca vi um vendedor de carro negro, nunca um negro me negou um empréstimo bancário, nunca um negro tentou enterrar um filme meu e nunca ouvi um negro dizer: “Vamos eliminar dez mil empregos aqui — tenha um bom dia!”
Não acho que seja o único branco que possa fazer essas afirmações. Todas as palavras cruéis, todos os atos cruéis, toda a dor e sofrimento da minha vida têm um rosto caucasiano pregado neles.
Portanto, humm, por que exatamente eu deveria ter medo dos negros?
Olho ao redor no mundo em que vivo e — gente, detesto contradizer o que aprendemos na escola, mas não foram os afro-americanos que tornaram esse planeta um lugar tão assustador e deplorável para se viver. Recentemente, uma manchete na primeira página da seção de ciência de The New York Times fazia a pergunta: “Quem construiu a bomba H?” O artigo discutia uma briga que havia surgido entre os homens que queriam crédito por ter construído a primeira bomba. Francamente, não dei a mínima — porque já sei a única resposta pertinente: “FOI UM BRANCO!” Negro algum jamais construiu ou usou uma bomba projetada para eliminar hordas de pessoas inocentes, seja na cidade de Oklahoma, Columbine ou Hiroshima.
Não, meus amigos, é sempre um cara branco. Vamos ao quadro:
Você escolhe o problema, doença, sofrimento humano ou miséria abjeta que cai sobre milhões e eu aposto dez pratas como consigo colocar um rosto branco nela antes que você consiga dizer o nome dos membros do ‘N Sync.
No entanto, quando sintonizo nas notícias todas as noites, o que vejo todas as vezes? Negros acusados de matar, estuprar, roubar, esfaquear, surrar, saquear, tumultuar, vender drogas, prostituir, ter bebês demais, jogar bebês de prédios, sem pai, sem mãe, sem Deus, sem dinheiro. “O suspeito foi descrito como sendo um homem negro... o suspeito foi descrito como sendo um homem negro... O SUSPEITO FOI DESCRITO COMO SENDO UM HOMEM NEGRO...” Independentemente da cidade na qual esteja, as notícias são sempre as mesmas, o suspeito é sempre o mesmo homem negro não-identificado. Hoje à noite estou em Atlanta e juro que o retrato falado feito pela policia do suspeito negro mostrado na TU parece o suspeito negro que vi na noite anterior em Denver e na noite antes daquela em Los Angeles. Em todos os retratos falados ele franze o cenho, é ameaçador — e usa o mesmo gorro! Será possível que o mesmo negro cometa todos os crimes dos Estados Unidos?
Acredito que tenhamos nos acostumado tanto com essa imagem do negro como predador que nossa mente foi destroçada para sempre por essa lavagem cerebral. Em meu primeiro filme, Roger & Me, uma mulher branca que depende de assistência social mata um coelhinho branco a pauladas para que possa vendê-lo como “carne", em vez de como bichinho de estimação. Queria ganhar cinco centavos cada vez que alguém, nos últimos dez anos, veio até mim dizer o quanto ficaram “horrorizados” e “chocados” quando viram aquele “pobre coelhinho fofinho” ter sua cabeça esmagada. A cena, dizem, os fez ficar doentes. Alguns tiveram de virar o rosto ou sair do cinema. Muitos perguntavam por que eu havia incluído tal cena. A Motion Picture Association of America (MPAA) classificou Roger & Me como restrito por causa da matança do coelho (o que levou o 60 Minutes a fazer uma reportagem sobre a idiotice do sistema de classificação). Professores escrevem-me dizendo que têm de cortar aquela parte para não causar problemas quando mostram meu filme para seus alunos.
Mas menos de dois minutos depois que a senhora realiza sua façanha, incluo quadros de uma cena na qual a polícia de Flint abre fogo e mata um negro que vestia uma capa de Super-homem e segurava uma arma de plástico. Nenhuma vez — nunca — alguém me disse: “Não acredito que você tenha mostrado um negro sendo morto em seu filme! Que horrível! Que repugnante! Não consegui dormir por semanas”. Afinal, ele era apenas um negro, não um coelhinho fofo. Não existe atrocidade em mostrar um negro sendo baleado ao vivo (muito menos para o comitê de classificação da MPAA, que não viu nada de errado naquela cena).
Por quê? Porque um negro sendo baleado já não é mais chocante. Exatamente o contrário — é normal, natural. Acostumamo-nos tanto a ver negros sendo mortos — nos filmes e nas notícias noturnas — que agora aceitamos como procedimento operacional padrão. Não é grande coisa, só um outro negro morto! É isso que os negros fazem — matam e morrem. Hã-hã. Passe-me a manteiga.
É estranho que, apesar do fato de a maioria dos crimes ser cometida por brancos, rostos negros estejam freqüentemente ligados ao que acreditamos ser “crime”. Pergunte a qualquer pessoa branca quem ela teme que possa invadir sua casa ou machucá-la nas ruas e, se é honesta, admitirá que a pessoa que tem em mente não se parece muito com ela mesma. O criminoso imaginário em sua mente se parece com Mookie ou Hakim ou Kareem, não com o sardento Jimmy.
Como o cérebro processa um medo como esse, quando tudo o que vê diz o contrário? Será que os cérebros dos brancos já vêm prontos para ver uma coisa e acreditar em seu oposto por causa da raça? Se é este o caso, será que todos os brancos sofrem da mesma doença mental, de ter qualidade inferior? Se toda vez que o sol saísse estivesse agradável, luminoso e claro, mas seu cérebro dissesse que você deveria ficar dentro de casa pois com certeza uma tempestade estava se armando, bem, teríamos de encorajá-lo a buscar ajuda profissional. Será que os brancos que vêem negros criminosos em qualquer esquina são diferentes?
Obviamente, não importa quantas vezes seus colegas brancos deixem claro que quem precisa ser temido é o branco, isso não fica registrado. Toda vez que você liga a televisão com notícias sobre outra matança em escola, é sempre um menino branco que fez o massacre. Toda vez que pegam um serial killer, trata-se de um cara branco. Toda vez que um terrorista explode um prédio federal, ou um louco faz com que quatrocentas pessoas bebam Kool-Aid (3.Suco artificial que existe há muitos anos nos Estados Unidos. (N.T.).), ou um compositor do Beach Boys roga uma praga fazendo com que meia dúzia de ninfetas assassinem “todos os porquinhos” em Hollywood Hills (4.Referência a Charles Manson, chefe de uma seita que invadiu a mansão de Roman Polanski e assassinou cinco pessoas, dentre elas a mulher do diretor grávida de oito meses. Eles teriam invadido a casa para matar o compositor da Banda Beach Boys, que Manson acreditava ter furtado uma melodia. “Porquinhos” é uma referência a Piggies, uma música dos Beatles e também à frase encontrada escrita à sangue na parede “Death to Piggies”. (N.T.).), sabemos que se trata de um membro da raça branca fazendo seus truques.
Então por que é que não corremos feito loucos quando vemos branquelas vindo em nossa direção? Por que nunca cumprimentamos o candidato a emprego caucasiano com: “Puxa, sinto muito, não temos lugar no momento”? Por que não estamos terrivelmente preocupados por nossas filhas se casarem com caras brancos?
E por que é que o Congresso não está tentando banir a letra assustadora e ofensiva do Johnny Cash (“Matei um homem em Reno / só para vê-lo morrer”), do Dixie Chicks (“Earl tinha que morrer”) e do Bruce Springsteen (“...matei tudo que apareceu em meu caminho / não posso dizer que esteja arrependido pelas coisas que fizemos”)? Por que todo o foco recai sobre letras de rap? Por que os meios de comunicação não publicam letras de rap como essas e contam a verdade?
Vendi garrafas de mágoa, depois escolhi poemas e romances.
WU-TANG-CLAN
As pessoas usam seu cérebro para ganhar.
ICE CUBE
Uma pobre mãe solteira dependente de assistência social... diga-me como você fez isso.
TUPAC SHAKUR
Estou tentando mudar minha vida, veja, não quero morrer como pecador.
MASTER P
Os afro-americanos fazem parte do patamar mais baixo da escala econômica desde o dia em que foram surrados e arrastados até aqui acorrentados — e eles nunca saíram desse patamar, nem por um único maldito dia. Um em cada dois grupos de imigrantes que aportaram aqui conseguiram avançar dos níveis mais baixos para os médios e depois para os superiores de nossa sociedade. Mesmo os povos indígenas americanos, que estão entre os mais pobres dos pobres, têm menos crianças vivendo na miséria do que os afro-americanos.
Você provavelmente achava que as coisas tinham melhorado para os negros neste país. Quero dizer, afinal, considerando todos os avanços que fizemos ao eliminar o racismo de nossa sociedade, daria para acreditar que o padrão de vida de nossos cidadãos negros tivesse subido. Pesquisa publicada pelo Washington Post em julho de 2001 mostrava que de 40% a 60% dos brancos achava que o negro médio vivia tão bem ou melhor do que o branco médio.
Pense de novo. De acordo com estudo coordenado pelos economistas Richard Vedder, Lowell Gallaway e David C. Clingaman, a renda média anual dos negros americanos é 61% menor do que a dos brancos. Trata-se da mesma diferença de porcentagem de 1880! Nada mudou em 120 anos.
Quer mais provas? Considere o seguinte:
Isso faz alguém, além de mim e do reverendo Farrakhan, ficar bravo? A que os afro-americanos devem esse tratamento, considerando que são responsáveis por tão pouco do sofrimento que nossa sociedade enfrenta? Por que são eles os que estão sendo punidos? Não faço a mínima idéia.
Então, como nós, brancos, conseguimos nos safar disso sem acabar como o Reginald Denny (5.O motorista branco de caminhão que foi arrancado da cabine e espancado quase até a morte por negros durante os tumultos de 1992, em Los Angeles.)?
Ingenuidade caucasiana! Veja, costumávamos ser verdadeiramente tolos. Como idiotas, mostrávamos nosso racismo abertamente. Fizemos coisas realmente óbvias, como colocar avisos na porta dos banheiros que diziam SÓ PARA BRANCOS. Em cima de um bebedouro, costumávamos colocar uma plaqueta que dizia PARA OS DE COR. Fazíamos os negros se sentarem na parte traseira dos ônibus. Impedíamos que freqüentassem nossas escolas ou vivessem em nossos bairros. Eles ficavam com os piores empregos (aqueles anunciados como SÓ PARA PRETOS), e deixamos claro que, se você não fosse branco, receberia um salário menor.
Bem, essa segregação clara e absurda nos causou uma pilha de problemas. Um bando de advogados arrogantes foi à justiça — citando, imaginem, nossa própria Constituição! Eles lembravam que a 14ª Emenda não permite que ninguém seja tratado de forma diferente por causa de sua raça.
No final, depois de uma longa procissão de perdas judiciais, demonstrações e tumultos, entendemos a mensagem: se não abríssemos os olhos, teríamos que começar a dividir uma parte do bolo. Aprendemos uma lição importante: se quiser ser um racista bem-sucedido, é melhor fazer isso com um sorriso na cara!
Então os brancos ficaram espertos e tiraram os avisos, pararam de linchar negros que talvez tivessem parado na rua para conversar com nossas mulheres, aprovaram um punhado de leis de direito civil e pararam de dizer palavras como crioulo em público. Ficamos suficientemente magnânimos para dizer: Claro, você pode até mesmo viver em nosso bairro; seus filhos podem freqüentar a escola de nossos filhos. Por que não? Nós já estávamos indo embora mesmo. Sorrimos e demos uma palmadinha nas costas dos Estados Unidos negros — e então corremos como loucos para os subúrbios. Agora temos tudo da mesma maneira como costumávamos ter nas cidades. Quando saímos de manhã para pegar o jornal, olhamos para um lado da rua e vemos brancos; olhamos para o outro lado e vemos, adivinha o quê? — mais brancos!
No trabalho, os brancos ainda têm o filé mignon dos empregos, o dobro do salário e um assento na parte dianteira do ônibus da felicidade e do sucesso. Aliás, dê uma olhada pelo corredor e você verá os negros sentados no mesmo lugar de sempre, limpando nossas coisas, nos servindo, nos atendendo atrás de um balcão.
Para essa discriminação contínua, organizamos “seminários sobre diversidade” em nossos locais de trabalho e indicamos “pessoas de relações urbanas” para nos ajudar a “nos conectarmos com a comunidade”. Quando anunciamos a abertura de uma vaga, incluímos com júbilo as palavras "empregador que oferece oportunidades iguais”. Isso nos faz sentir tão bem — e é bom para dar uma risadinha, porque sabemos que não há como
(Quadro: RECORTE E CARREGUE COM VOCÊ
Excerto da 14ª Emenda
Seção 1. Todas pessoas nascidas ou naturalizadas nos Estados Unidos, e sujeitas à jurisdição dele, são cidadãos dos Estados Unidos e do Estado no qual residem. Nenhum Estado pode fazer ou executar qualquer lei que reduza os privilégios ou imunidades dos cidadãos dos Estados Unidos; nem qualquer Estado pode privar o direito de qualquer pessoa à vida, liberdade ou propriedade, sem o devido processo na justiça; nem negar a qualquer pessoa dentro de sua jurisdição a proteção igualitária das leis.) um negro ficar com a vaga. Apenas 4% da população afro-americana tem diploma de graduação (contra 9% dos brancos e 15% dos americanos asiáticos). Manipulamos fraudulentamente o sistema desde sua criação, garantindo que os negros irão para as piores escolas públicas, evitando assim que sejam admitidos nas melhores faculdades e cimentando o caminho deles para uma vida plena fazendo nosso cafezinho, consertando nossas BMWs e carregando nosso lixo. Ah, com certeza alguns escapam — mas pagam uma tarifa extra pelo privilégio: o médico negro que dirige seu BMW é sempre parado pela polícia; a atriz negra da Broadway não consegue pegar um táxi depois de ser ovacionada em pé; o corretor negro é o primeiro a ser despedido por “antiguidade”.
Nós brancos realmente merecemos algum tipo de prêmio de gênio por isso. Falamos a língua da inclusão, celebramos o nascimento do dr. King, fazemos caretas quando ouvimos piadas racistas; graças à ratazana bastarda do Mark Furman, que estragou nosso disfarce, cunhamos até mesmo um novo termo — “a palavra com P” — para substituir o Preto autêntico. Acredite em mim, você NUNCA pegará um de nós falando alto essa palavra — não hoje em dia, não senhor! A única ocasião em que é aceitável é quando cantamos com uma música de rap — e cara, de repente amamos rap!
Nunca deixamos de mencionar que meu amigo — ele é negro... Damos dinheiro para o United Negro College Fund (Fundo de Assistência Universitária para Negros), reconhecemos o mês da história negra e nos certificamos de colocar nosso único funcionário negro na recepção, para que possamos dizer coisas como “veja — nós não fazemos discriminação! Contratamos negros”.
Sim, somos uma raça bem astuta e esperta — e pros diabos se não conseguimos nos safar com isso!
Também somos muito adeptos de aprender — e furtar — a cultura negra. Nós a cooptamos, fazemos com que passe por um liquidificador branco e a tornamos nossa. Benny Goodman fez isso, Elvis fez isso, Lenny Bruce fez isso. A Motown criou um som completamente novo e depois foi seduzida a mudar-se para Los Angeles, onde retirou-se e abriu caminho para os grandes astros pop brancos. Eminem admite que deve muito ao Dr. Dre, Tupac e Public Enemy. Os Backstreet Boys e o ‘N Sync estão em dívida para com Smokey Robinson e The Miracles, The Temptations e Jackson Five.
Os negros inventam, nós nos apropriamos. Comédia, dança, moda, linguagem — amamos o modo como os negros se expressam, falando em dar a suas namoradas “props” por um jantar apetitoso ou sair com os “peeps”, ou tentar ao máximo “Be Like Mike”. É lógico que a palavra forte ali é like [como], porque, não importa quantos milhões ele ganhe, ser Mike significaria gastar uma quantidade imensa de tempo sendo parado na auto-estrada de New Jersey.
Os esportes profissionais (que não o hóquei) foram dominados pelos afro-americanos nas últimas três décadas. Fomos muito generosos ao lhes passarmos todo esse trabalho árduo, treinar e exercitar jovens negros porque, vamos admitir, é mais legal sentar na poltrona comendo batatinhas e pipoca e assisti-los correr atrás da bola. Se precisarmos de exercício, sempre podemos suar um pouco telefonando para os programas de rádio e reclamar de como esses atletas ganham dinheiro demais. Ver negros com tanto dinheiro meio que nos faz sentir... desconfortáveis.
Por onde anda o resto das pessoas de pele negra, aquelas que não trabalham nos servindo? Trabalhando no cinema ou na televisão, raramente os vejo. Quando saio de Nova York para ir a Los Angeles trabalhar por alguns dias e encontrar pessoas do setor, e do avião vou para o hotel no qual estou hospedado, de lá para a antiga agência de talentos, e entre os executivos que encontro, nos drinques que preciso tomar com um produtor de Santa Monica, e depois no jantar que tenho com amigos em West Hollywood — posso passar dias e nunca encontrar um único afro-americano, a não ser que seja alguém para quem estou dando uma gorjeta. Como isso é possível? Para passar o tempo, agora jogo um jogo comigo mesmo, tentando cronometrar quanto tempo se passará antes de ver um homem ou mulher negra que não esteja usando uniforme ou sentado no lugar da recepcionista (eles também fazem o truque de usar negros no balcão da recepção em Los Angeles). Nas minhas últimas três viagens a Los Angeles, o cronômetro nunca parou: a contagem de cabeças negras foi zero. Que eu consiga viver por dias seguidos na segunda maior cidade dos Estados Unidos e encontrar apenas brancos, asiáticos e hispanos, mas nenhum negro — isso é uma façanha incrível, testemunha da força de nosso compromisso em ser uma sociedade segregada. Pense na quantidade de energia que precisa ser colocada em algo como isso, para que eu não precise ser incomodado por nenhum negro! Como é que os brancos por aí conseguem manter um milhão de cidadãos negros do condado de Los Angeles escondidos da minha vista? Gênio puro, absoluto.
Sei que é fácil pegar no pé de Los Angeles. Podemos viver a experiência de não ouvir negros, de não ver negros na maior parte dos Estados Unidos. E não se trata somente do mundo da TV e do cinema. Ficaria surpreso se uma mão negra tivesse tocado nos manuscritos deste livro desde que saiu do meu escritório (além do mensageiro que o levou para a editora do outro lado da cidade).
Gostaria de ver pelo menos uma vez um negro sentado ao meu lado no jogo do Knicks — ou a vinte fileiras de mim, em qualquer direção (que não sejam jogadores e o Spike Lee). Gostaria de pelo menos uma vez entrar em um avião e vê-lo lotado com passageiros negros, em vez de um bando de tontos brancos reclamões, que se sentem no direito de exigir que eu abra mão do meu colo para que possam colocar seu assento nele.
Mas não me entenda mal. Não sou um caucasiano cheio de ódio-próprio. Não é o branco da pele dos outros que me dá arrepios. O que me vexa é que meus colegas brancos tomaram-se tão coniventes que descobriram um modo de transformar negros em brancos! Na primeira vez que ouvi Clarence Thomas falar, pensei: “Os brancos já não têm gente suficiente para brigar por eles?” Agora as freqüências sonoras estão cheias de negros para mostrar a política dos brancos. Estou perplexo para saber de onde as redes cavaram esses indivíduos. Eles falam contra as ações afirmativas, apesar de muitos deles terem entrado na faculdade graças à ação afirmativa. Eles dinamitam as mães negras que dependem de assistência social, apesar de suas próprias mães terem sido assim, lutando por anos na pobreza para que seu filho pudesse crescer, abandonando-a e a seus iguais. Eles falam contra os homossexuais, apesar de a Aids ter matado mais gays negros do que qualquer outro grupo. Menosprezam Jesse Jackson, apesar de ele ter passado anos preso e arriscando sua vida para que eles tivessem liberdade de sentar em qualquer restaurante e pedir comida, sem falar quanto a expressar qualquer ponto de vista que quisessem. Não estou dizendo que os Estados Unidos negros precisem ter uma voz política em uníssono; estou simplesmente repugnado com o veneno que alguns desses “conservadores” soltam.
É a coisa mais triste assistir esse Tio Tom pornô. Quanto esses loucos estão recebendo? Fico imaginando o que Bill O’Reilly, Chris Matthews ou Tucker Carlson diriam a esses vendidos quando a luz vermelha da câmera se apaga: “Ei, tem uma casa à venda perto da minha — você tem de se mudar para lá!” ou “Ei, minha irmã está solteira, e você também — que tal?” Não sei, talvez façam isso. Talvez O’Reilly vá me convidar para o Kwanzaa (6.Festividade para lembrar e comemorar as raízes africanas (N.T.).) deste ano.
Pergunto-me por quanto tempo teremos de viver com a herança da escravidão. É isso mesmo. Eu levantei a questão. ESCRAVIDÃO. Quase dá para ouvir os gemidos dos Estados Unidos brancos sempre que tocamos no fato de que ainda sofremos com o impacto de um sistema escravagista aprovado e apoiado pelo governo.
Ora, sinto muito, mas as raízes da maioria de nossos males sociais podem ser traçadas de volta a esse capítulo doentio da nossa história. Os afro-americanos nunca tiveram oportunidade de ter o mesmo começo justo que o resto de nós. As famílias deles foram intencionalmente destruídas. A língua, cultura e religião deles foi extirpada. Sua pobreza foi institucionalizada para que nosso algodão pudesse ser colhido, nossas guerras pudessem ser lutadas, nossas lojas de conveniência pudessem ficar abertas a noite inteira. Os Estados Unidos como os conhecemos jamais teriam existido se não fosse pelos milhões de escravos que os construíram e criaram sua economia em expansão — e pelos milhões de seus descendentes que fazem o trabalho sujo para os brancos hoje.
“Mike, por que você está levantando a questão da escravidão? Negro algum, que vive atualmente, jamais foi escravo. Eu não escravizei ninguém. Por que você não pára de pôr a culpa por tudo isso em injustiças passadas e faz com que eles se responsabilizem por suas próprias ações?”
Bem, não é como se estivéssemos falando da Roma antiga aqui, gente. Meu avô nasceu somente três anos depois da Guerra Civil.
É isso mesmo, meu avô. Meu tio-avô nasceu antes da Guerra Civil. E estou no começo dos quarenta. É verdade que as pessoas da minha família parecem se casar tarde e ter filhos mais tarde ainda, mas a verdade permanece: estou a apenas duas gerações do tempo da escravidão. Isso, meus amigos, NÃO é “há muito tempo”. Na vasta imensidão da história humana, foi ontem. Até que percebamos isso e aceitemos que temos a responsabilidade de corrigir atos imorais que ainda repercutem hoje em dia, jamais removeremos a maior mancha da alma de nosso país.
No dia seguinte ao início dos tumultos de 1992, em Los Angeles, quando a violência havia se espalhado para os bairros brancos perto de Beverly Hills e Hollywood, os brancos entraram em prontidão urgente de sobrevivência. Milhares que vivem nas montanhas acima de Los Angeles fugiram. Outros milhares ficaram e compraram suas próprias armas. Parecia que o armagedon que muitos temiam havia descido sobre nos.
Estava trabalhando em um escritório da Warner Bros no Rockefeller Center, na cidade de Nova York. Avisaram o prédio inteiro que todo mundo deveria evacuar e ir para casa à uma da tarde. Temia-se que os negros de Nova York entrassem nessa “febre de tumulto” e ficassem malucos. A uma hora da tarde saí para a rua e o que vi acredito (espero) nunca ver de novo — dezenas de milhares de brancos correndo pelas calçadas para pegar o próximo trem metropolitano ou ônibus para fora da cidade. Parecia uma cena de The Day of the Locust, milhares de humanos em pânico coletivo, movendo-se como se fossem um, temendo por suas vidas.
Em meia hora, as ruas estavam desertas. Vazias. Era fantasmagórico, arrepiante. Era a cidade de Nova York, no meio do dia, no meio da semana — e parecia cinco da manhã de domingo.
Fui a pé para o meu bairro. Nem um pouco preocupado com nada a não ser com o fato de que havia acabado a tinta da minha caneta, parei na papelaria do outro lado da rua de meu apartamento. Era uma das poucas lojas ainda abertas (a maioria havia fechado e lacrado suas vitrines). Peguei duas canetas e alguns papéis e fui até o caixa para pagar. Lá na caixa registradora, estava o proprietário idoso — com um taco de beisebol no balcão em sua frente. Perguntei para que o bastão.
“Caso seja necessário”, respondeu, olhando em volta para ver o que estava acontecendo na rua.
“Caso seja necessário para quê?” perguntei.
“Sabe, caso eles decidam fazer tumulto por aqui".
Ele não estava se referindo aos amotinadores de Los Angeles entrando em um avião e trazendo seus Molotovs para explodir a Big Apple. O que queria dizer — como todos os que corriam para pegar o último trem para casa nos subúrbios brancos — era o fato de que nosso problema racial nunca havia sido realmente resolvido, e que os Estados Unidos negros estavam cultivando um monte de raiva acumulada em relação à incrível disparidade entre as vidas dos negros e dos brancos neste país. Aquele bastão no balcão falava muito sobre o único medo não dito que todos os brancos têm: de que, cedo ou tarde, os negros vão se levantar e fazer sua vingança. Estamos todos sentados sobre uma caixa de dinamite racial e sabemos que é melhor estarmos preparados quando as vítimas de nossa ganância aparecerem.
Bem, ei, por que esperar que isso aconteça? Você realmente quer que chegue a esse ponto? Você não preferiria consertar o problema do que ter de fugir para salvar sua vida quando sua casa estiver pegando fogo? Sei que eu preferiria!
Portanto, juntei algumas dicas de sobrevivência fáceis de seguir que podem ajudar a salvar seu pescoço. Cedo ou tarde — você sabe e eu sei — haverá milhões de Rodney Kings batendo na sua porta; e desta vez não serão eles que vão apanhar.
Se não queremos fazer algo sério para corrigir nosso problema racial, provavelmente terminaremos todos tendo de viver em um bairro cheio de cercas, armados com semi-automáticas e uma força de segurança particular. Que graça há nisso?
DICAS DE SOBREViVÊNCIA PARA OS ESTADOS UNIDOS BRANCOS
Não contratarei mais brancos. Nada contra eles pessoalmente, claro. Eles são um bando confiável e trabalhador. Aqueles que contratei para meus filmes e programas na tv têm sido ótimos.
Mas eles são brancos.
Como posso escrever o que escrevi neste capitulo quando fiz pouco ou nada para corrigir o problema em meu próprio quintal? Ah, claro, posso apresentar cem desculpas de por que é tão difícil encontrar afro-americanos nesta indústria — e todas elas serão verdadeiras. E daí? E difÍcil? Isso me absolve de minha responsabilidade? Eu deveria estar liderando um piquete contra mim mesmo!
Ao dar empregos para pessoas brancas — para muitas delas, o primeiro emprego nesse meio — possibilitei que avançassem e tivessem carreiras bem-sucedidas em shows como Politically Incorrect, Dharma and Greg, o programa de David Letterman, The Daily Show with Jon Stewart e outros.
Uma dúzia de outros ex-funcionários partiram para fazer seus próprios filmes independentes. Um tomou-se executivo da Comedy Central e dois outros criaram programas para a rede. Alguns de nossos editores trabalharam na HBO, e um deles editou muitos filmes de Ang Lee (O tigre e o dragão).
Fico contente por todos eles, mas há uma questão que corrói minha mente: e se tivesse feito o mesmo para cem escritores, editores, produtores e cinematógrafos negros em meus projetos nesses últimos anos? Onde eles estariam hoje? Meu palpite — usando o talento deles para influir em cem shows ou filmes, fazendo sua voz ser ouvida. E nós todos estaríamos melhor dessa forma.
Quanto mais penso sobre isso, mais acredito que funcionários brancos podem causar um monte de problemas. Neste momento, a pessoa ao meu lado no escritório toca um CD do Eagles. Essa pessoa tem que ir embora. Eles também podem ser um bando bastante preguiçoso — em especial aqueles que cresceram com muito dinheiro e freqüentaram escolas mais bacanas. Eles são os que espirraram merda por todos os nossos tapetes, deixando manchas feias e imensas, e que riscaram todos os nossos moveis. O senso de privilégio deles, geneticamente codificado, murmura em seus ouvidos: “Outra pessoa (alguém negro?) vai limpar para você". Outra funcionária acabou de entrar e me dizer que quer a sexta-feira de folga “para ir aos Hamptons”. Claro — e por que não aproveita e tira o resto de sua vida de folga?
Portanto, todos precisam ir embora. De agora em diante, os branquelas não trabalham mais aqui.
Acredito que alguma agência do governo vai me fazer uma visita a respeito disso, já que estou legalmente impedido de negar emprego a uma raça inteira de pessoas. Não me importo. Façam isso! E é melhor não me mandarem um cara branco, ou farei com que ele vá buscar hambúrgueres para mim e limpe minha privada.
Portanto, se você é afro-americano e gostaria de trabalhar na mídia — ou já trabalha mas não conseguiu sair de detrás daquela maldita mesa na recepção — então eu encorajo-o a me escrever uma cartinha e a enviar-me seu currículo.
Nossa única recepcionista branca ficará feliz em responder qualquer pergunta que você possa ter.
Essa dica de sobrevivência é para aqueles dentre vocês que se consideram conservadores e acreditam muito no capitalismo. Se ser conservador se trata de olhar para os primeiros da lista, tenho uma idéia simples, mas radical, que garantirá lucros maiores para você, uma força de trabalho mais produtiva e nenhum problema trabalhista.
Nossos cidadãos negros são desproporcionalmente nossos cidadãos mais pobres. No entanto, sem eles para desempenhar o trabalho duro, a sociedade branca estaria aleijada. Você quer que eles trabalhem mais duro ainda? Quer que eles o ajudem a ganhar mais dinheiro ainda?
Eis aqui o que você precisa fazer:
Certifique-se de que a quantia que paga para seus funcionários é suficiente para que tenham sua própria casa, tenham transporte confiável, tirem férias e mandem seus filhos à faculdade.
Como pagar mais para as pessoas faz com que você tenha mais dinheiro?
Funciona assim. Quanto mais você paga para os trabalhadores, mais eles gastam. Lembre-se, eles não são apenas seus trabalhadores — são também seus consumidores. Quanto mais eles gastarem o dinheiro extra deles em seus produtos, mais seus lucros crescerão. Além disso, quando os funcionários têm dinheiro suficiente para não viver em constante medo de ir à bancarrota, são capazes de se concentrar mais no trabalho — e ser mais produtivos. Com menos problemas pessoais e menos estresse sobre suas cabeças, perderão menos tempo no trabalho, o que significa mais lucros para você. Pague-lhes o suficiente para que consigam comprar um carro último tipo (por exemplo, um que funcione) e raramente se atrasarão para o trabalho. E saber que serão capazes de dar uma vida melhor para os filhos não apenas fará com que tenham uma atitude mais positiva, como também lhes dará esperança — e um Incentivo para trabalhar bem pela empresa, Porque, quanto melhor estiver a empresa, melhor eles estarão.
É claro que, se você é como a maioria das corporações de hoje em dia — anunciando demissões em massa logo depois de registrar lucros recordes — então você já está esvaindo a fé e confiança da força de trabalho que restou, e seus funcionários executam suas tarefas em estado de terror. A produtividade cairá. Isso afetará as vendas. Você vai sofrer. Pergunte às pessoas na Firestone: a Ford alegou que a fabricante de pneus despediu os trabalhadores antigos ligados ao sindicato e depois contratou fura-greves destreinados que acabaram fazendo milhares de pneus com defeito — e 203 clientes mortos depois, a Firestone está na pior.
Abra uma creche no local de trabalho para funcionários com filhos de dois a cinco anos.
Já posso ouvir sua primeira reação: “Não vou de jeito nenhum ter um bando de diabinhos correndo por aqui — ESTE É UM LOCAL DE TRABALHO!” Compreendo. Esses pequenos podem causar grande distração, em especial quando você está tentando fechar um grande negócio com aquele banco alemão e a pequena LaToya dispara por ali, puxando a Kasheem pelo cabelo como se fosse um bichinho de pelúcia.
Mas vai aqui uma distração maior ainda para ser considerada: se seus funcionários gastam todo o tempo do trabalho se preocupando com os filhos deles, não serão tão produtivos quanto deveriam. Os pais sempre se preocuparão com os filhos antes de se preocuparem com o trabalho. É a natureza humana. E pais solteiros? Eles não têm ajuda. Quando alguém precisa sair do trabalho para ir buscar seu filho doente que está com a babá, ou precisa se mandar no instante em que o relógio bate cinco horas porque a creche cobra multa por atrasos, não se tem outra opção a não ser parar o que se está fazendo.
Imagine se seus funcionários não tivessem de gastar tempo no trabalho preocupando-se com os filhos e em vez disso se concentrassem 100% em fazer dinheiro para você? Se eles não tivessem mais que faltar ao trabalho só por que a babá deu o cano e pudessem passar o dia inteiro fazendo dinheiro para você?
Uma creche nas dependências não custa tanto — e a maioria dos pais gostaria de dividir esse custo com você, se isso representasse um alívio na preocupação que têm com os filhos. Pense como ficariam tranqüilos seus funcionários sabendo que os filhos estão sãos e salvos — e por perto! Cara, eles trabalharão até cair.
Tradução: mais grana para VOCÊ!!
Dê um bom seguro-saúde para todos e dê licenças médicas suficientes.
Será que preciso explicar essa? Quanta eficiência é sacrificada todos os anos por empregados que vão trabalhar doentes porque não podem pagar uma consulta médica ou evitam fazer isso até que estejam próximos de um colapso? Sem outra alternativa, trazem seus vírus para o trabalho — e infectam todos pelo caminho. E muito mais lucrativo pagar pelo seguro-saúde de seus funcionários, a fim de que possam sarar logo e começar a se esforçar ao máximo por você de novo — a todo vapor. Uma força de trabalho saudável é uma força de trabalho produtiva. Com seguro-saúde, é uma tarde de folga para ver o médico, um diagnóstico rápido e uma receita e — veja! — de volta ao trabalho em dois dias, em vez de ficar em casa por uma ou duas semanas esperando que as condições melhorem.
As boas novas são que tudo acima é de seu próprio interesse — não é necessário liberalismo sem coração e sem dinheiro. Você pode continuar sendo tão retrógrado e avarento quanto quiser — não me importo. Se isso significa que a vida ficará melhor para alguns dos milhões de afro-americanos que trabalham duro por pouco salário, benefícios escassos e nenhuma segurança, então estarei feliz.
Qual é o sentido de se ter uma arma dentro de casa? Se é para caça, então é simples: mantenha seu rifle ou espingarda sem balas e trancado no sótão até o inicio da temporada de caça.
Por outro lado, se você está pensando em comprar uma arma para proteção, deixe que eu lhe dê algumas estatísticas. Um membro de sua família tem 22 vezes mais probabilidade de morrer com um tiro se você tem uma arma em casa do que quando não tem.
A idéia de que ter uma arma é a única maneira de assegurar “proteção doméstica” é um mito. Menos de um em cada quatro crimes violentos acontece quando a vitima está em casa. Dentre todos os casos nos quais as armas são disparadas durante uma invasão, quando o proprietário está em casa, em apenas 2% a arma é usada para matar o invasor. Nas outras 98% das vezes, os moradores acidentalmente atiram em um ente querido ou em si próprios — ou os ladrões levam a arma e os matam com ela.
Mesmo assim, temos quase 250 milhões de armas em nossas casas.
A maioria das armas dos Estados Unidos é comprada por pessoas brancas e pertence a elas — isto é, são introduzidas por elas na sociedade. Todos os anos, cerca de 500 mil armas são roubadas, grande parte dessas pelas mesmas pessoas brancas dos subúrbios. E a maioria dessas armas acaba nas cidades, vendidas a baixo custo ou trocadas por bens e serviços legais ou ilegais.
Essas armas brancas causaram uma quantidade imensa de mortes e sofrimento entre os afro-americanos. As armas de fogo são a causa número um de mortes entre jovens negros. Homens negros com idade entre quinze e 24 anos têm seis vezes mais probabilidades de morrer por tiro do que homens brancos no mesmo grupo etário.
Nenhum afro-americano é proprietário de uma empresa de armas. Dê uma volta pela parte da sua cidade onde moram os afro-americanos: não há fábricas de armas lá. Com preços que variam de várias centenas a milhares de dólares, a maioria dos afro-americanos não consegue pagar por uma Glock, Beretta, Luger, Colt ou Smith & Wesson. Nenhum cara negro é dono de um avião que contrabandeia armas automáticas para dentro do país.
Tudo isso é feito por brancos. Mas, cedo ou tarde, milhares dessas armas compradas ilegalmente acabam nas mãos de pessoas desesperadas que vivem na pobreza e convivem com sua própria lista de medos. Introduzir armas nesse ambiente volátil — que nós brancos fizemos muito pouco para melhorar — é uma proposta mortal.
Portanto, se você é branco e gostaria de ajudar a reduzir a causa número um de morte entre jovens negros, aqui vai a resposta: não compre uma arma. Não mantenha urna dentro de sua casa ou carro. Uma arma de fogo por perto significa uma arma roubada para ser revendida em vizinhanças negras e pobres. Independentemente de onde você mora, as chances são de que a taxa de crime esteja em um recorde de baixa. Fique frio, relaxe e aproveite a boa vida que um campo de jogo desigual deu a você. Se está realmente preocupado em relação à sua proteção, arranje um cachorro. Homens maus geralmente não querem se meter com um animal louco que late e tem dentes afiados.
Você não precisa de uma arma.
De verdade. Os negros sabem sobre a gente. Eles sabem que dizemos e fazemos coisas para dar a impressão de que está sendo feito progresso. Eles nos vêem dando duro para mostrar como não somos preconceituosos. Esqueça. Não fizemos progresso real. Ainda somos intolerantes — e eles sabem disso.
Corte essa besteira sobre todos os seus “amigos negros”. Você não tem amigos negros. Amigo é alguém que você convida para jantar em sua casa regularmente, alguém com quem tira férias, que convida para sua festa de casamento, com quem vai à igreja no domingo, alguém para quem você liga com freqüência para contar seus segredos mais íntimos. Esse tipo de amigo.
Seus “amigos” negros sabem que a possibilidade de você deixar seu bebê com eles no bairro onde vivem quando sai para uma viagem de fim de semana é tão grande quanto a de você convidá-los para ir na viagem com você.
Já ouvi liberais dizendo bobagens como: “Não existem negros no Friends”. Gosto do fato de que não há amigos negros no Friends, pois na vida real amigos como aqueles não têm amigos negros. É um programa honesto e crível.
Portanto, vamos dispensar essa artimanha de que negros e brancos fazem agora parte daquela colcha de retalhos multicultural que chamamos de Estados Unidos. Vivemos no nosso mundo, eles vivem no deles. E é assim que nos sentimos confortáveis, goste ou não. Não seria tão ruim se o mundo deles existisse em um plano paralelo, financeiro e social. Se fosse assim, então poderíamos simplesmente nos misturar e juntar como achássemos melhor — como iguais, do modo como já fazemos com outros brancos. Por exemplo, não tenho muita vontade de sair com jovens republicanos. Tudo bem, pois eles ficam bem sem mim, e minha decisão de não me juntar a eles não afeta seu padrão ou qualidade de vida. (Na verdade, provavelmente deve melhorá-los.)
Não é melhor não afagar um ao outro com essa ilusão de que os afro-americanos finalmente fazem parte do mainstream? Não é mais inteligente levantar o véu da falsa esperança que damos aos afro-americanos, para que não percamos tempo nos enganando? Da próxima vez que estiver conversando com um de seus “amigos negros”, em vez de dizer a ele como você realmente está adorando o novo CD do Jay-Z, porque não colocar o braço no ombro dele e dizer: “Te amo, cara, você sabe disso, e por isso te contarei um pequeno segredo que nós brancos temos: nunca vai ser tão bom para seu povo quanto é para a gente. E se você acha que dar duro e tentar se encaixar vai te dar um assento no conselho de diretores quando já preenchemos nosso assento negro — bem, amigo, se você busca igualdade e avanço, tente a Suécia”.
Quanto antes começarmos todos a falar assim, mais honesta será a sociedade na qual vivemos.
Se você é branco e realmente quer ajudar a mudar as coisas, por que não começar com você mesmo? Passe um tempo com seus companheiros brancos falando sobre o que podem fazer para tornar o mundo um pouco melhor tanto para brancos como para afro-americanos. Pare a próxima pessoa na rua que você ouvir fazendo um comentário racista idiota e coloque-o no seu lugar. Deixe de reclamar sobre a ação afirmativa. Pessoa negra alguma jamais arruinará a sua vida pegando o emprego que você “merece”. A porta sempre se abrirá para você. Sua única obrigação é mantê-la aberta para aqueles que têm menos possibilidades simplesmente porque não são brancos.
Se você é branco e não gosta de nenhuma das idéias acima ou acha que são impraticáveis, há sempre uma jeito certeiro de ajudar a criar um mundo daltônico — case-se com uma pessoa negra e tenha alguns filhos! Negros e brancos fazendo amor uns com os outros — em vez de brancos apenas fodendo negros — no final vai nos dar uma nação de uma só cor. (E os hispânicos e asiáticos também podem entrar na brincadeira!) Quem é seu papai? Todo mundo!
E quando formos todos de uma só cor, não teremos porque odiar uns aos outros — a não ser quem ficará enfurnado no maldito balcão de recepção.
DICAS DE SOBREVIVENCIA PARA PESSOAS NEGRAS
Leve todas as ferramentas que achar necessárias para se assegurar de que seu voto será contado: lápis nº 2, marcador preto, agulha de tricô (para ter certeza de que você simplesmente não impregna a cédula, mas realmente fura os buracos por completo), óleo 3 em 1, alicate, as outras ferramentas da Sears, uma lente de aumento, uma cópia da legislação eleitoral local, uma cópia de sua carteira de eleitor, uma cópia de sua certidão de nascimento, uma cópia de seu certificado do segundo ano primário, qualquer outra prova de que você ainda está vivo, uma câmera para registrar qualquer negócio esquisito, uma repórter local para mostrar a ela em primeira mão que você não estava brincando quando disse que sua urna de votação foi trazida da Bolívia, fita isolante, cordão, parafina, um bico de Bunsen, limpador
Veja, removedor de manchas, um advogado, um padre, um ministro da Corte Suprema. Faça uma fila com todos esses caras e há meia chance de que seu voto seja contado.
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Excerto do Ato Federal de Direitos Eleitorais de 1965 (próprio para ser plastificado e carregado na sua carteira)
Seção 2: Nenhuma qualificação ou pré-requisito, padrão, prática ou procedimento para votar deve ser imposto ou aplicado a qualquer Estado ou subdivisão política para negar ou restringir o direito de qualquer cidadão dos Estados Unidos de votar em razão de raça ou cor.
Você pode chegar ao ponto em que não suporta mais — abuso, discriminação, ressentimento e o senso ulterior de que você não faz parte de um país tão profundamente enraizado na intolerância. Você pode simplesmente sentir que está na hora de dar no pé e mudar-se para um local onde ser negro não o transforma em minoria — um lugar que pareça lar.
África? Melhor pensar de novo.
Aqui vai o que a Anistia Internacional tem a dizer sobre a África: “Conflito armado, deslocamento em massa de pessoas, tortura, maus-tratos e impunidade endêmica continuam a ser abundantes na região africana”. E 52% das pessoas da África subsaariana vivem com menos de US$ 1 por dia. Em 1998, os gastos médios mensais eram de apenas US$ 14 por pessoa. Isto é muito pior do que morar em Detroit.
A expectativa de vida na região é, na melhor das hipóteses, de 57 anos — isto é, se você vive em Gana. Se você está em Moçambique, consegue viver até a idade madura de 37 anos e meio.
Junte isso às aparentemente infindáveis secas e carestia e uma surpreendente porcentagem de casos (e mortes) de Aids do mundo e de repente parecerá muito mais fácil simplesmente desencavar algumas fotos de Trent Lott nu em um clube só para homens e forçar sua resignação (fotos de Orrin Hatch, Tom DeLay e outros também dariam resultado).
Amy McCampbell, uma das inúmeras afro-americanas que contratei desde que comecei a escrever este capítulo (cinco das minhas últimas cinco contratações foram de negros — ei, tire este livro da seção de humor, não estou brincando!) sugere que aqueles que querem voltar às suas raízes negras” têm só um caminho a tomar — o Caribe! Ela diz: “Que tal Barbados? É um paraíso tropical; as pessoas são pacíficas e o crime não existe. A expectativa de vida vai além dos setenta anos. Oitenta porcento da população é africana, portanto nos sentiríamos em casa. Eles até falam inglês! Mas aqui vai a parte esquisita — teríamos de chamar a rainha Elizabeth de nossa chefe de Estado. Ei!”
Parece legal, não?
Seria mais legal ainda, no entanto, se conseguíssemos fazer Amy e outros sentirem-se mais em casa exatamente aqui, onde nasceram. Estou aberto a sugestões.
UMA NAÇÃO DE IDIOTAS
Você sente como se vivesse em um país de idiotas? Costumava me consolar acerca do estado de estupidez desse país ao repetir para mim mesmo: mesmo que existam 200 milhões de idiotas frios como pedra neste país, sobram pelo menos 80 milhões que entenderão o que estou dizendo — e isso ainda é mais do que as populações do Reino Unido e Islândia juntas!
Então, um dia passei a dividir um escritório com o pessoal que faz o programa de jogos Two-Minute Drill, da ESPN. É aquele show que testa nossos conhecimentos não apenas a respeito de quem joga em qual posição e em qual time, mas quem fez qual ponto no jogo de 1925 entre o Boston e o New York, quem foi o estreante no ano de 1965 na antiga American Basketball Association e o que Jake Wood comeu no café da manhã em 12 de maio de 1967.
Não sei a resposta de qualquer uma dessas perguntas — mas por algum motivo me lembro do número da camisa de Jake Wood: dois. Por que diabos guardo essa informação inútil?
Não sei. Mas depois de assistir a filas de caras esperando para fazer o teste no show da ESPN, acho que sei algo sobre inteligência e a mente americana. Atletas e palermas esperam no saguão por seu grande momento, revisando centenas de fatos e estatísticas em suas cabeças e desafiando um ao outro com perguntas que não vejo como qualquer pessoa pudesse ser capaz de responder a não ser o próprio Deus Todo-Poderoso. Vendo esses pugilistas cheios de testosterona, daria para acreditar que se tratava de um bando de iletrados que estariam com sorte se conseguissem ler o rótulo de uma Bud (1.Cerveja Budweiser (N.T.).).
Na verdade, eles são gênios. Conseguem responder a todas as tinta obscuras questões de trivialidades em menos de 120 segundos. Isto dá quatro segundos por questão — incluindo o tempo necessário para que os célebres atletas de leitura lenta consigam ler as questões.
Uma vez ouvi o lingüista e analista político Noam Chomsky dizer que se quisermos provar que o povo americano não é idiota, basta sintonizar qualquer programa de esportes no rádio e ouvir a incrível quantidade de fatos memorizados. É surpreendente — e é prova de que a mente americana vai muito bem, obrigado. Ela simplesmente não é desafiada por nada interessante ou excitante. Nosso desafio, disse Chomsky, é encontrar um modo de tornar a política tão absorvente e atraente quanto os esportes. Quando fizermos isso, observe como os americanos não farão outra coisa a não ser falar sobre quem fez o que para quem na WTO [OMC — Organização Mundial do Comércio].
Mas, antes, eles precisam ser capazes de ler as letras da OMC.
Existem 44 milhões de americanos que não conseguem ler além do nível que se espera de um aluno da quarta série do primário — em outras palavras, são analfabetos funcionais.
Como fiquei sabendo dessa estatística? Bem, eu a li. E agora você a leu. Portanto, já avançamos nas meras 99 horas por ano que um americano médio gasta lendo um livro — contra 1.460 horas assistindo televisão.
Também li que apenas 11 % do povo americano se preocupa em ler um jornal diário, além das páginas de quadrinhos ou classificados de carros usados.
Portanto, se você vive em um país onde 44 milhões não conseguem ler — e talvez outros 200 milhões consigam ler, mas normalmente não o fazem — bem, amigos, vocês e eu vivemos em um lugar bastante assustador. Uma nação que não apenas produz em grande quantidade, em detrimento da qualidade, estudantes analfabetos, MAS FAZ DE TUDO PARA CONTINUAR IGNORANTE E IDIOTA, é uma nação que não deveria estar dirigindo o mundo — pelo menos não até que a maioria de seus cidadãos consiga localizar o Kosovo (ou qualquer outro país que tenha bombardeado) no mapa.
Não surpreende os estrangeiros que os americanos, que adoram se revelar em sua idiotice, "elegeram” um presidente que raramente lê algo — incluindo os documentos e os resumos das notícias — e acha que a África é um país, não um continente. Um líder idiota de uma nação idiota. Em nossa gloriosa terra de abundância, menos é sempre mais quando se trata de sobrecarregar qualquer lóbulo do cérebro com a ingestão de fatos e números, pensamento crítico ou a compreensão de qualquer coisa que não seja... bem, esportes.
Nosso idiota-em-chefe não faz nada para esconder sua ignorância — ele até mesmo se vangloria dela. Durante seu discurso de colação de grau para a turma de formandos de 2001 da Yale, George W. Bush falou com orgulho de ter sido um estudante medíocre na Yale. “E, para os estudantes que recebem nota C, digo, vocês também podem ser presidentes dos Estados Unidos!” A parte na qual também é preciso ter um pai ex-presidente, um irmão governador de um Estado com cédulas eleitorais desaparecidas e uma Suprema Corte lotada de companheiros de papai deve ter sido muito complicada para que alguém se importasse com ela em um discurso rápido.
Como americanos, temos uma tradição da qual nos orgulhamos bastante, de sermos representados por funcionários ignorantes em altos postos. Em 1956, o candidato do presidente Dwight D. Eisenhower para ser embaixador no Ceilão (agora Sri Lanka) não foi capaz de identificar nem o primeiro-ministro nem a capital do país durante a sessão de ratificação de seu nome. Não foi um problema — Maxwell Gluck foi ratificado da mesma maneira. Em 1982, o candidato do presidente Ronald Reagan para ser subsecretário de Estado, William Clark, admitiu a ampla falta de conhecimento sobre assuntos externos em sua sessão de ratificação. Clark não fazia idéia de como nossos aliados da Europa Ocidental se sentiam em relação aos mísseis nucleares americanos baseados lá e não sabia os nomes dos primeiros-ministros da África do Sul ou do Zimbábue. Não se preocupe — ele também foi confirmado. Isso tudo simplesmente pavimentou o caminho para o baby Bush, que ainda não absorveu por completo os nomes dos líderes da Índia ou do Paquistão, dois dos sete países que possuem a bomba atômica.
E Bush fez Yale e Harvard.
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LISTA DE LÍDERES DOS 50 MAIORES PAÍSES
(POR ORDEM DE TAMANHO DO PAÍS)
Recentemente, um grupo de 556 formandos de 55 universidades americanas de prestígio (por exemplo, Harvard, Yale, Stanford) passaram por um teste de múltipla escolha, que consistia em questões descritas como sendo de “nível colegial”. Foram feitas 34 perguntas. Esses melhores alunos conseguiram responder a apenas 53% delas corretamente. E apenas um estudante acertou todas.
Colossais 40% desses estudantes não sabia a época da Guerra Civil — mesmo quando confrontados com uma ampla gama de escolhas: A. 1750-1800; B. 1800-1850; C. 1850-1900; D. 1900-1950; ou E. depois de 1950 (Gente, a resposta é (C). As duas questões nas quais os estudantes universitários acertaram mais foram (1) Quem é Snoop Doggy Dog (98% acertaram essa), e (2) Quem são Beavis e Butt-Head? (99% sabiam). Na minha opinião, Beavis e Butt-Head é uma das melhores sátiras americanas dos anos de 1990, e Snoop e seus companheiros rappers têm muito a dizer sobre os males sociais dos Estados Unidos e, portanto, não vou começar a culpar a MTV.
O que me preocupa é por que políticos como os senadores Joe Lieberman, de Connecticut, e Herbert Kohl, de Wisconsin, querem perseguir a MTV, quando são eles os responsáveis pelo fracasso maciço da educação americana. Entre em qualquer escola pública e são grandes as chances de encontrar salas de aula abarrotadas, vazamento nos tetos e professores desmoralizados. De quatro escolas, em uma é possível encontrar alunos “aprendendo” com livros didáticos publicados na década de 1980 — ou de antes.
Por que será que isso acontece? Porque os lideres políticos — e as pessoas que votam neles — decidiram que a principal prioridade é construir outro bombardeiro e não educar nossas crianças. Eles preferem montar comissões para investigar a depravação de um programa de televisão chamado Jack-ass do que a sua própria depravação ao negligenciar escolas e crianças e manter nosso título de “país mais burro da Terra”.
Odeio escrever isso. Adoro esse imenso país boçal e as loucas pessoas que moram aqui. Mas quando consigo viajar para alguma vila atrasada na América Central, como fiz na década de 1980, e ouvir um bando de crianças de doze anos me contar suas preocupações sobre o Banco Mundial, tenho a sensação de que algo falta nos Estados Unidos da América.
Nosso problema não é só que nossos filhos não sabem nada, mas que os adultos que pagam suas mensalidades escolares não são melhores. Imagino o que aconteceria se testássemos o Congresso americano para ver quanto sabem nossos representantes. O que aconteceria se déssemos um teste surpresa aos comentaristas que apinham as TVs e rádios com todo seus disparates sem fim? Quantas eles acertariam?
Um tempo atrás, decidi descobrir. Era uma dessas manhãs de domingo, quando as alternativas na TV são o programa imobiliário Parade of Homes ou o The McLaughlin Group. Se você gosta do som de hienas que tomam Dexedrine (2.Remédio contra depressão (N.T.).), obviamente escolheria o McLaughlin. Nessa manhã de domingo em especial, talvez como castigo por não estar na missa, fui forçado a ouvir o colunista de revista Fred Barnes (atualmente editor da direitista Weekly Standard e co-apresentador do programa da Fox, The Beltway Boys) reclamar e reclamar sobre o deplorável estado da educação americana, culpando os professores e seu diabólico sindicato pelos estudantes estarem indo tão mal.
“Esses meninos nem mesmo sabem o que é A Ilíada ou A Odisséia!”, berrava, enquanto os outros participantes balançavam suas cabeças com admiração ao nobre lamento de Fred.
Na manhã seguinte, telefonei para Fred Barnes em seu escritório em Washington. “Fred”, eu disse “diga-me o que são A Ilíada e A Odisséia”.
Ele começou a hesitar e ser reticente. “Bem, são sobre... ah..., sabe... ah... tá bom, você me pegou — não sei do que tratam. Feliz agora?”
Não, na verdade, não. Você é um dos principais sábios da TV americana, assistido todas as semanas em seu próprio programa e muitos outros.
Você apregoa com satisfação sua “sabedoria” a centenas de milhares de cidadãos insuspeitos, alegremente desdenhando dos outros pela ignorância deles. No entanto, você mesmo e seus convidados sabem pouco ou nada. Cresça, pegue alguns livros e vá para o seu quarto.
Yale e Harvard. Princeton e Dartmouth. Stanford e Berkeley. Arranje um diploma de uma dessas universidades e você está feito pelo resto da vida. O que aconteceria se, no teste dos formandos de faculdade que mencionei antes, 70% dos estudantes daquelas escolas de primeira nunca tivessem ouvido falar das iniciativas do Voting Rights Act (3.Lei americana que garante o voto de minorias raciais e lingüísticas (N.T.).) ou da Great Society (4.Plano governamental que pretendia abolir a pobreza no país com mais recursos à assistência social e à educação (N.T.).) do presidente Lyndon Johnson? Quem precisa saber de coisas como essas quando se senta em sua vila na Toscana vendo o pôr-do-sol enquanto analisa o desempenho de sua carteira de ações?
E se nenhuma dessas grandes universidades que os estudantes ignorantes freqüentam exigem que eles façam pelo menos um curso de história americana para se graduar? Quem precisa de história quando amanhã será dono do universo?
DATAS HISTÓRICAS IMPORTANTES
19 de junho de 1865: “O dezenove”. Apesar de a Proclamação de Emancipação ter libertado os escravos dois anos antes, a novidade não havia chegado a todos no sul. Nesse dia, em Galveston, no Texas, um general da União chegou e anunciou oficialmente a abolição dos escravos.
29 de dezembro de 1890: Massacre de Wounded Knee [Joelho Ferido]. Como parte de uma última tentativa para sufocar a única rebelião remanescente dos índios, as tropas dos Estados Unidos foram enviadas para prender Big Foot [Pé Grande], o chefe da tribo indígena sioux. Membros da tribo foram capturados, forçados a entregar suas armas e a se mudar para um acampamento rodeado pelas tropas americanas. Na manhã de 29 de dezembro, os soldados abriram fogo contra o acampamento indígena e trezentos sioux desarmados, incluindo Big Foot, foram mortos. Foi a última batalha na campanha de genocídio contra os povos indígenas norte-americanos, que durou quatrocentos anos.
18 de maio de 1896: No caso Plessy contra Ferguson, a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu que acomodações inferiores para negras nos trens não constituíam uma violação da cláusula de proteção de igualdade da 14ª Emenda. A decisão abriu caminho para as políticas “separeted but equal” que desembocaram na legislação Jim Crow.
14 de abril de 1914: O Massacre de Ludlow. Os mineiros do Colorado, que tentavam há anos se sindicalizar, começaram uma greve. Depois de serem expulsos de suas casas, de propriedade da empresa, os grevistas e suas famílias montaram acampamentos com barracas em terrenos públicos. Na manhã do dia 14 de abril, a milícia do Cobrado e outros fura-greves atiraram contra o acampamento e queimaram as barracas, matando vinte pessoas — na maioria mulheres e crianças.
22 de março de 1947: O presidente Truman assinou a ordem executiva nº 9.835 a fim de investigar a infiltração de pessoas desleais “dentro do governo”. Isso deu início a uma era de medo e paranóia sobre supostos comunistas, fazendo com que mais de seis milhões de pessoas fossem investigadas e quinhentas fossem despedidas de seus cargos por “lealdade questionável”.
1º de dezembro de 1955: Rosa Parks, uma costureira cansada e ativista de direitos humanos de Montgomery, no Alabama, recusou-se a ceder seu lugar em um ônibus a um passageiro branco. Esse ato pacífico deu início ao boicote de ônibus de Montgomery, que durou 381 dias e instituiu Martin Luther King Jr. como líder do movimento. O boicote terminou depois que a Suprema Corte decidiu que leis segregacionistas nos transportes públicos eram ilegais.
30 de abril de 1975: Queda de Saigon. Apesar de as tropas terrestres americanas haverem se retirado oficialmente do Vietnã dois anos antes, esse dia representa o fim dessa guerra brutal. Várias semanas de caos por causa da iminente tomada comunista culminaram em uma cena de desespero, quando o último dos helicópteros de resgate levantou do teto da embaixada americana com os poucos refugiados que conseguiu levar.
Quem se importa se 70% dos que se formam nas faculdades americanas não precisam aprender uma língua estrangeira? O resto do mundo não fala inglês, atualmente? E, se não fala, não é melhor que o diabo desses estrangeiros APRENDAM LOGO DE UMA VEZ?
E quem dá a mínima bola se, dos setenta programas de Literatura Inglesa nas setenta principais universidades americanas, apenas 23 exijam atualmente que os estudantes façam cursos sobre Shakespeare? Será que alguém pode me explicar o que Shakespeare e inglês têm a ver um com o outro? De qualquer maneira, que diferença fazem algumas peças velhas e mofadas no mundo dos negócios?
Talvez esteja só com ciúmes porque não tenho diploma universitário. Sim, eu, Michael Moore, abandonei a faculdade.
Bem, eu nunca abandonei oficialmente. Um dia, no segundo ano, fiquei dirigindo e dirigindo pelos vários estacionamentos do campus em Flint, procurando desesperadamente por uma vaga. Simplesmente não havia onde estacionar — todas as vagas estavam cheias e ninguém estava saindo. Depois de um hora frustrante gasta circulando em meu Chevy Impala ano 1969, gritei pela janela: “Chega, vou abandonar a faculdade!” Fui para casa e disse a meus pais que não estava mais na faculdade.
“Por quê?” perguntaram.
“Não consegui encontrar uma vaga para estacionar”, respondi, pegando um refrigerante e tocando o resto da minha vida. Desde então não sentei em um banco de escola.
Minha aversão à escola começou por volta do segundo mês do primeiro ano do ensino fundamental. Meus pais — e Deus os abençoe para sempre por fazerem isso — já tinham me ensinado a ler e a escrever quando fiz quatro anos. Então, quando entrei na escola primária St. John, tinha que sentar e fingir interesse enquanto os outros garotos cantavam como robôs: “A-B-C-D-E-F-G... Now I know my ABCs, tell me what you think of me.” Toda vez que ouvia essa frase, queria berrar: “Olha o que acho de você — pare de cantar essa música idiota! Alguém me dê um Twinkie! (5.Bolinho, junk food (N.T.).)”
Estava muitíssimo entediado. As freiras, preciso confessar, percebiam isso, e um dia irmã John Catherine me levou para um canto e disse que haviam decidido me passar para o segundo ano, imediatamente. Fiquei emocionado. Quando cheguei em casa, contei com alegria a meus pais que já havia avançado uma série, em meu primeiro mês na escola. Eles pareciam subimpressionados com essa nova evidência a respeito de minha genialidade. Em vez disso, deixaram escapar um “QUÊ...?” E entraram na cozinha e fecharam a porta. Conseguia escutar minha mãe ao telefone, explicando à madre superiora que de maneira alguma seu pequeno Michael ficaria numa classe com crianças maiores e mais velhas do que ele, portanto, por favor, irmã, ponha-o de volta no primeiro ano.
Fiquei arrasado. Minha mãe me explicou que se eu pulasse o primeiro ano seria sempre o mais jovem e a menor criança da classe durante todos os anos da escola (bem, inércia e fast-food acabaram provando que ela estava errada nesse ponto). Não havia como apelar a meu pai, que deixava a maior parte das decisões sobre educação com minha mãe, melhor aluna da classe do colegial dela. Tentei explicar que se fosse mandado de volta para o primeiro ano, pareceria como se eu tivesse bombado o segundo ano no meu primeiro dia — colocando-me sob risco de apanhar até a morte dos primeiro anistas que havia deixado para trás com um vibrante “Tchau, babacas!” Mas mamãe não estava caindo nessa; foi então que entendi que a única pessoa com maior autoridade do que a madre superiora era a madre Moore.
No dia seguinte, resolvi ignorar todas as instruções de meus pais para voltar à primeira série. De manhã, antes do sinal, todos os alunos tinham de fazer fila fora da escola com seus colegas de classe e então marchar para dentro do prédio em fila indiana. Em silêncio, mas desafiadoramente, fui e fiquei na fila da segunda série, rezando para que Deus tornasse as freiras cegas para que não vissem em qual fila eu estava. O sinal tocou — e ninguém tinha me visto! A fila do segundo ano começou a andar, e fui com ela. Sim! Pensei. Se conseguir me safar com essa, se conseguir entrar na sala de segundo ano e me sentar, então ninguém conseguirá me tirar de lá. Justamente quando estava prestes a entrar pela porta da escola, senti uma mão me pegar pela gola do casaco. Era a irmã John Caterine.
“Acho que você está na fila errada, Michael”, disse com firmeza. “Você está no primeiro ano de novo.” Comecei a protestar: meus pai tinham “entendido tudo errado”, ou “aqueles não eram meus pais de verdade”, ou...
Pelos doze anos seguintes sentei na classe, fiz meus deveres e fiquei constantemente preocupado, procurando meios de escapar. Comecei a fazer um jornal escolar underground na quarta série. Foi fechado. Comecei de novo na sexta. Foi fechado. Na oitava série, não apenas comecei o jornal de novo, mas convenci as boas irmãs a me deixarem escrever uma peça para que nossa classe representasse no Natal. A peça tinha algo a ver com quantas ratazanas ocupavam o hall da paróquia e como todas as ratazanas do país iam à paróquia de St. John para realizar a “convenção anual das ratazanas”. O padre pôs um fim nessa — e fechou o jornal de novo. Em vez disso, disseram a meus amigos e a mim para subirmos no palco, cantar três músicas de Natal e sair do palco sem dizer nada. Organizei metade da classe para subir lá e não emitir um som. Então ficamos ali e nos recusamos a cantar as canções, nosso protesto silencioso contra a censura. Na segunda música, intimidados pelos olhares severos de seus pais na audiência, a maioria dos que protestavam se uniram ao canto — e, na terceira canção eu também já havia capitulado, cantando “Noite Feliz” e prometendo a mim mesmo sobreviver para lutar um outro dia.
O ensino médio, como todos sabemos, é uma espécie de punição triste e sádica de crianças por adultos em busca de vingança porque não podem mais ter a vida sem responsabilidades, sem fazer nada 24 horas por dia, sete dias por semana, que os jovens levam. Qual outra explicação poderia existir para aqueles quatro anos brutais de comentários degradantes, maus-tratos físicos e a crença de que você é o único a não fazer sexo?
No momento em que entrei no colegial — e no sistema de ensino público — todas as reclamações que fazia contra a repressão das irmãs de St. Joseph foram esquecidas; de repente, todas pareciam eruditas e santas. Andava agora pelos corredores de uma prisão com mais de dois mil presos. Ao passo que as freiras haviam devotado suas vidas a ensinar sem esperar recompensa terrena alguma, os que administravam o colegial público tinham uma única missão: “Cace esses fedelhos como cães e então os aprisione até que possamos ou destroçar a vontade deles ou enviá-los para a fábrica de cola!(6.Similar, no Brasil à fábrica de sabão, para onde eram enviados os cães vadios (N.T.).)" Faça isso, não faça aquilo, coloque sua camisa dentro da calça, tire esse sorriso da sua cara, onde está seu passe para estar no corredor, ESSE PASSE NÃO É O CERTO! VOCÊ — DETENÇÃO!!
Uma dia voltei para casa da escola e peguei o jornal. A manchete dizia: 26ª Emenda foi aprovada — a idade eleitoral baixou para dezoito anos”. Abaixo daquela havia outra manchete: “Presidente do Conselho Escolar se aposenta, eleição para vaga”.
Hummm. Liguei para o funcionário municipal.
“Olha, vou fazer dezoito anos em algumas semanas. Se posso votar, isso significa que também posso me candidatar a algum cargo?”
“Deixe-me ver”, respondeu a moça. “Não é uma pergunta comum!”
Ela folheou alguns documentos e voltou ao telefone. “Sim”, disse, “você pode se candidatar. Tudo que precisa fazer é arranjar vinte assinaturas para incluir seu nome na cédula”.
Vinte assinaturas? Só isso? Não fazia a mínima idéia de que concorrer a um cargo eletivo necessitasse de tão pouco trabalho. Arranjei as vinte assinaturas, submeti minha petição e comecei a campanha. Minha plataforma? “Demita o diretor e o assistente de diretoria da escola!”
Alarmados com a idéia de que um aluno do colegial pudesse arranjar de verdade um meio para remover os mesmos administradores por quem estava sendo surrado, cinco “adultos” locais fizeram petições e também conseguiram se incluir na cédula.
É óbvio que acabaram dividindo os votos dos adultos mais velhos por cinco — e eu ganhei os votos de cada roqueiro com idade entre dezoito e 25 anos (que, apesar de muitos jamais terem votado de novo, gostaram da idéia de mandar o diretor de sua escola ao cadafalso).
No dia seguinte à minha vitória, andava pelo corredor da escola (ainda tinha uma semana a servir como aluno) e passei pelo diretor assistente, com a barra da minha camiseta orgulhosamente solta.
“Bom dia, sr. Moore”, ele disse com sobriedade. No dia anterior, meu nome era: “Ei, você aí!” Agora eu era o chefe dele.
No espaço de nove meses desde que assumi minha posição no conselho escolar, o diretor e seu assistente submeteram suas “cartas de demissão”, uma estratégia livra-cara quando se pede que alguém saia do cargo. Alguns anos depois o diretor sofreu um ataque cardíaco e morreu.
Conhecia esse homem, o diretor, há vários anos. Quando tinha oito anos, ele deixava meus amigos e eu patinarmos e jogarmos hóquei no laguinho ao lado de sua casa. Ele era doce e gentil e sempre deixava a porta de sua casa aberta, caso algum de nós precisasse calçar os patins ou caso ficássemos com frio e simplesmente quiséssemos nos aquecer. Anos depois, convidaram-me para tocar baixo em um banda que estava se formando, mas eu não tinha um baixo. Ele deixou que eu usasse o do filho dele.
Digo isso para me lembrar de que todas as pessoas são boas em seu âmago, e para lembrar que alguém com quem tive sérias discussões também era alguém que oferecia a nós, pequenos fedelhos congelados da vizinhança, uma xícara de chocolate quente.
GUIA DOS DIREITOS ESTUDANTIS
Como estudante americano, você provavelmente não aprendeu muito sobre a Constituição dos Estados Unidos ou sobre seus direitos civis, portanto, aqui vai um guia prático baseado em informações do American Civil Liberties Union — ACLU [Sindicato Americano de Liberdades Civis]. Para receber mais informações sobre direitos estudantis, incluindo códigos de vestimenta, relatórios escolares e discriminação com base em orientação sexual, contate o departamento estadual da ACLU ou visite o site da web em www.aclu.org/students/slfree.html.
Atualmente, os professores são o saco de pancadas preferido dos políticos. Ouvindo gente como Chester Finn, ex-secretário assistente de Educação no governo de Bush, o Vê lho, daria para acreditar que tudo que desmoronou em nossa sociedade deve-se aos professores lassos, preguiçosos e incompetentes. “Se colocarmos uma lista dos dez mais procurados por promover o fim da educação americana, não tenho certeza de quem estaria no topo da lista: o sindicato dos professores ou o corpo docente das escolas”, disse Finn.
É claro que há muitos professores ruins, e seria melhor se pudessem trabalhar fazendo ligações de telemarketing para a Amway. Mas a maioria é composta por educadores dedicados, que escolheram uma profissão que os remunera menos do que alguns de seus alunos ganham vendendo ecstasy, e por esse sacrifício tentamos puni-los. Não sei o que você acha, mas quero que as pessoas que têm a atenção direta de meus filhos durante mais horas por dia do que eu sejam tratadas com amor. São meus filhos que eles estão “preparando” para este mundo, então por que iria querer deixá-los bravos?
Era de se pensar que a sociedade reagisse da seguinte maneira:
Professores, muito obrigado por devotar sua vida a meu filho. Existe QUALQUER COISA que possa fazer para ajudá-lo? Há ALGO de que você necessite? Estou aqui para te ajudar. Por quê? Porque você está ajudando meu filho — MEU BEBÊ — a aprender e a crescer. Você não somente será amplamente responsável por sua capacidade de ganhar a vida, mas sua influência determinará muito a maneira como ele vê o mundo, o que sabe das outras pessoas desse mundo e como vai se sentir acerca de si mesmo. Quero que ele acredite que pode tentar fazer qualquer coisa — que nenhuma porta está fechada e que nenhum sonho é inatingível. Confio a você a pessoa mais valiosa de minha vida sete horas por dia. Você é, portanto, uma das pessoas mais importantes da minha vida! Muito obrigado.
Não, pelo contrário, é isso que os professores ouvem:
Qual a prioridade que colocamos na educação, nos Estados Unidos? Ah, está na lista de investimento — em algum lugar entre OSHA (que cuida da segurança no local de trabalho) e inspetores de carne. A pessoa que cuida de nossos filhos todos os dias recebe em média US$ 41.351 por ano. Um congressista que cuida apenas de qual lobista do fumo vai levá-lo para jantar esta noite recebe US$ 145.100.
Considerando-se os tapas na cara que a sociedade dá em nossos professores todos os dias, é uma surpresa que tão poucos escolham essa profissão? A escassez de professores em nível nacional é tão grande que alguns sistemas escolares têm recrutado professores de fora dos Estados Unidos. Chicago, recentemente, recrutou e contratou professores de 28 países estrangeiros, incluindo China, França e Hungria. Quando começar o novo ano escolar na cidade de Nova York, sete mil professores veteranos terão se aposentado — e 60% dos novos professores contratados para substituí-los não têm certificação.
Mas isto é melhor, na minha opinião: 163 escolas da cidade de Nova York inauguraram o ano escolar de 2000-2001 sem diretor algum! Você ouviu direito — escola, sem direção alguma. Aparentemente, o prefeito e o conselho escolar estão fazendo experiências com a teoria do caos — jogue quinhentas pobres crianças em um prédio aos pedaços e observe a natureza seguir seu curso! Na cidade na qual a maior parte da riqueza do mundo inteiro é controlada, em que há mais milionários por metro quadrado do que chiclete na calçada, de alguma maneira não conseguimos encontrar dinheiro para pagar a um professor iniciante mais do que US$ 31.900 por ano. E nos surpreendemos quando não conseguimos resultados.
E não são apenas os professores que foram negligenciados — as escolas americanas estão literalmente desmoronando. Em 1999, um quarto das escolas públicas dos Estados Unidos registraram que as condições de pelo menos um de seus edifícios eram inadequadas. Em 1997, o sistema escolar inteiro de Whashington, D.C., teve de adiar o início das aulas por três semanas porque descobriu-se que cerca de um terço das escolas era inseguro.
Em quase 10% das escolas públicas dos Estados Unidos, o número de inscrições é 25% maior do que a capacidade das instalações. Algumas aulas t~m de ser dadas nos corredores, do lado de fora, no ginásio, na lanchonete; uma escola que visitei tinia até aulas no depósito do zelador. Não que os depósitos estejam sendo usados por qualquer coisa relacionada à limpeza, de modo algum — na cidade de Nova York, quase 15% das 1.100 escolas públicas não têm zeladores em tempo integral, o que obriga os professores a passarem pano no chão e os estudantes a se virarem sem papel higiênico. Já mandamos nossas crianças para as ruas, para vender chocolates, para que as escolas pudessem comprar instrumentos para a banda — o que vem depois disso? Lavagem de carro para levantar dinheiro para papel higiênico?
Prova adicional do tratamento especial que nossos filhos recebem é o número de bibliotecas públicas e até mesmo escolares que foram fechadas ou tiveram seu horário reduzido. A última coisa de que precisamos é um bando de garotos vadiando em volta de uma pilha de livros!
Aparentemente, o “presidente” Bush concorda: em seu primeiro orçamento, propôs cortar nos gastos federais em bibliotecas US$ 39 milhões, para US$ 168 milhões — uma redução de quase 19%. Na semana anterior, sua esposa, a ex-bibliotecária Laura Bush, deu início a uma campanha nacional em favor das bibliotecas americanas, chamando-as de “baús de tesouro comunitários, cheios de uma riqueza de informação disponível para todos, igualmente”. A mãe do presidente, Barbara Bush, dirige a Foundation for Family Literacy [Fundação para a Alfabetização Familiar]. Bem, não há nada como ter experiência em primeira mão com analfabetismo na família para motivar alguém a fazer atos de caridade.
Para crianças que têm acesso a livros em casa, a perda de um biblioteca é triste. Mas para crianças que vêm de ambientes em que as pessoas não lêem, a perda de uma biblioteca é uma tragédia que pode impedi-las de descobrir a alegria proporcionada pela leitura ou de amealhar o tipo de informação que decidirá seu lugar na vida. Jonathan Kozol, por muitos anos defensor de crianças em desvantagem, observou que as bibliotecas escolares “continuam sendo a janela mais clara para um mundo de satisfações não-comerciais e atração que a maioria das crianças de bairros pobres jamais conhecerão.”
Crianças sem acesso a boas bibliotecas também não desenvolvem as habilidades com a informação que necessitam para que se mantenham em empregos cada vez mais dependentes de informação, a qual muda muito rapidamente. A capacidade de fazer pesquisa é “provavelmente a habilidade mais essencial que [os estudantes de hoje] podem ter”, diz Julie Walker, diretora executiva da American Association of School Librarians [Associação Americana de Bibliotecárias Escolares]. “O conhecimento que [os alunos] adquirem nas escolas não servirá durante toda a vida deles. Muitos deles terão de quatro a cinco carreiras durante a vida. Será sua capacidade de navegar pela informação que fará a diferença”.
PROGRAMAS DE LEITURA
Barbara Bush Foundation for Family Literacy
1112 16th Street NW - Suite 340 - Washington, DC 20036
202-955-6183
www.barbarabushfoundation.com
Literacy Volunteers of America
635 James Street - Syracuse, NY 13203-2214
www. literacyvolunteers.org
Even Start Family Literacy Program
u.s. Department of Education
400 Maryland Avenue sw - Washington, DC 20202
202-260-0991
www.ed.gov/offices/OESE/CEP/programs.html#prog3
America Reads Challenge
U.S. Department of Education
400 Maryland Avenue sw - Washington, DC 20202
202-401-0596
www.ed.gov/inits/americareads
National Center for Family Literacy
Waterfront Plaza, Suite 200 - 325 W Main Street
Louisville, KY 40202-4251
502-584-0172
www.famlit.org
Quem deve ser culpado pelo declínio das bibliotecas? Bem, quando se trata de bibliotecas escolares, podemos começar apontando o dedo (sim, aquele dedo) para Richard Nixon. Da década de 1960 até 1974, as bibliotecas escolares receberam recursos específicos do governo. Mas, em 1974, o governo Nixon mudou as regras, estipulando que o dinheiro federal para educação fosse distribuído em “subsídios em bloco”, que deveriam ser gastos pelos Estados da maneira que achassem melhor. Poucos Estados decidiram gastar o dinheiro em bibliotecas, e o declínio começou.
Este é um dos motivos pelos quais os materiais em muitas bibliotecas escolares atualmente datam dos anos de 1960 e começo dos de 1970, antes de os recursos serem redirecionados. (“Não, Sally, a União Soviética não é nossa inimiga. A União Soviética está quebrada há dez anos...”)
O relato de 1999, feito por um repórter da Education Week sobre a “biblioteca” de uma escola primária da Filadélfia, pode se aplicar a numerosas escolas igualmente negligenciadas:
Mesmo os melhores livros da biblioteca da Escola Primária Pierce estão obsoletos, em farrapos e descoloridos. Os piores — muitos em estágio avançado de desintegração — estão sujos e fétidos e deixam um resíduo de mofo nas mãos e nas roupas. Cadeiras e mesas estão velhas, não combinam umas com as outras ou estão quebradas. Não há computadores à vista [...] Fatos e teorias ultrapassados e estereótipos ofensivos jorram das páginas autoritárias de enciclopédias e biografias, tomos de ficção e não-ficção. Entre os volumes dessas prateleiras um aluno seria capaz de localizar qualquer coisa, menos informações precisas sobre Aids ou outras doenças contemporâneas, explorações da Lua e de Marte ou dos últimos cinco presidentes.
A maior ironia de tudo isso é que os mesmos políticos que se recusam a financiar adequadamente a educação nos Estados Unidos são também os que ficam furiosos porque nossas crianças estão atrás dos alemães, japoneses e cerca de metade dos outros países com água corrente e uma economia não baseada na venda de chicletes. De repente eles pedem “prestação de contas”. Querem responsabilizar os professores e querem que eles sejam testados. E querem que as crianças sejam testadas — de novo, e de novo, e de novo.
Não existe nada terrivelmente errado com o conceito de usar testes padronizados para determinar se as crianças estão aprendendo a ler e a escrever e a fazer operações matemáticas. Mas muitos políticos e burocratas da educação criaram uma obsessão nacional pelos testes, como se tudo que está errado com o sistema educacional neste país fosse consertado num passe de mágica se pudéssemos simplesmente aumentar aquelas notas.
As pessoas que realmente deveriam ser testadas (além dos sábios choramingões) são os chamados líderes políticos. Da próxima vez que você encontrar seu deputado estadual ou congressista, aplique este teste surpresa neles — e lembre-o que qualquer aumento de salário se baseará nas notas que tirar:
RESPOSTAS:
As probabilidades são de que o gênio que te representa no legislativo não acerte 50% do teste acima. A boa notícia é que você pode bombá-lo dentro de um ou dois anos.
Existe um grupo no país que não está simplesmente sentado, reclamando sobre todos esses professores parvos — um grupo que se importa profundamente com o tipo de aluno que entrará no universo adulto. Pode-se dizer que essas pessoas têm um interesse genuíno nesse público cativo de milhões de jovens.., ou nos bilhões de dólares que eles gastam por ano. (Só os adolescentes gastaram mais do que US$ 150 bilhões em 2000.) Sim, é a América Empresarial, cuja generosidade em relação às escolas de nosso país é só mais um exemplo de seus contínuos serviços patrióticos.
Quanto essas empresas estão comprometidas com as escolas de nossas crianças?
De acordo com números coletados pelo Center for the Analysis of Commercialism in Education [CACE — Centro para Análise do Mercantilismo na Educação], a caridade desinteressada registra um boom desde 1990. Nos últimos dez anos, programas e atividades escolares viram o patrocínio empresarial aumentar 28%. Em troca desse patrocínio, as escolas deixam que a empresa associe seu nome aos eventos.
Por exemplo, Eddie Bauer patrocina a rodada final da National Geography Bee [Encontro Nacional de Geografia]. Livros com publicidade da Calvin Klein e da Nike na capa são distribuídos aos alunos. A Nike e outros fabricantes de calçados, em busca de acesso antecipado aos astros de amanhã, patrocinam times de basquete de colegiais.
A Pizza Hut armou o programa “Book-it” a fim de estimular as crianças a lerem. Quando os alunos atingem a meta mensal de leitura, são recompensados com um cupom para ganhar uma pizza brotinho da Pizza Hut. No restaurante, o gerente da loja parabeniza pessoalmente as crianças e dá a cada uma delas um adesivo e um certificado. A Pizza Hut sugere aos diretores das escolas que coloquem uma lista de honra da “Pizza Hut Book-It!” na escola, para que todos possam ver.
A General Mills e a Campbell’s Soup pensaram em um plano melhor. Em vez de oferecer recompensas grátis, ambas têm programas que recompensam escolas por fazer com que os pais comprem seus produtos. De acordo com o programa “Box Tops for Education” [Tampas de Caixas pela Educação], da General Mills, as escolas ganham dez centavos para cada logotipo de topo de caixa que enviem, e podem ganhar até US$ 10 mil por ano. Isso representa cem mil produtos da General Mills vendidos. O programa “Labels for Education” [Etiquetas pela Educação], da Campbell’s Soup, não é melhor. Ela se vangloria de “dar equipamento escolar DE GRAÇA para as crianças dos Estados Unidos!” As escolas podem ganhar um computador iMac da Apple “grátis” com apenas 94.950 etiquetas de sopa. A Campbell’s sugere que se estabeleça um objetivo de uma etiqueta por dia por cada estudante. Com a estimativa conservadora da Campbell’s, de cinco etiquetas por semana por aluno, todo necessário é uma escola de 528 crianças para conseguir aquele computador grátis.
Não é somente esse tipo de patrocínio que une essas escolas e empresas. A década de 1990 viu um aumento fenomenal de 1.384% em acordos exclusivos entre escolas e engarrafadoras de refrigerantes. Duzentos e quarenta distritos escolares e 31 Estados venderam direitos exclusivos para uma das três grandes fabricantes de refrigerantes (Coca-Cola, Pepsi e Dr. Pepper) para empurrar seus produtos para dentro das escolas. Alguém se pergunta por que há mais crianças acima do peso do que jamais se viu? Ou mais jovens mulheres com deficiência de cálcio porque bebem menos leite? E, ainda que a legislação federal proíba a venda de refrigerantes em escolas até a hora do almoço, em algumas escolas com excesso de alunos o “almoço” começa no meio da manhã. Água açucarada gaseificada, aromatizada artificialmente — o desjejum dos campeões! (Em março de 2001, a Coca reagiu à pressão pública, anunciando que adicionaria água, suco e outras alternativas sem açúcar, sem cafeína e ricas em cálcio nas máquinas que vendem refrigerantes nas escolas.)
Imagino que elas possam arcar com tais concessões quando se leva em conta seu acordo com o distrito escolar de Cobrado Springs. O Cobrado tem sido pioneiro quando se trata de vinculações entre escolas e fabricantes de refrigerantes. Em Cobrado Springs, o distrito receberá US$ 8,4 milhões, em dez anos, como resultado do acordo com a Coca-Cola — e mais se exceder a “exigência” de vender 70 mil caixas de produtos da Coca por ano. Para se assegurar de que as metas serão atingidas, funcionários dos distritos escolares estimulam os diretores a permitir que os alunos tenham acesso ilimitado a máquinas que vendem Coca e também a permitir que os alunos bebam Coca na classe.
Mas a Coca não está sozinha. No distrito escolar do condado de Jefferson, no Cobrado (lar da Columbine High School) (8.Onde ocorreu um dos massacres de estudantes (N.T.).), a Pepsi contribuiu com US$ 1,5 milhão para ajudar a construir um novo ginásio de esportes. Algumas escolas municipais testaram um curso de ciência, desenvolvido em parte pela Pepsi, chamado “A empresa de refrigerantes”. Os estudantes testavam o gosto de refrigerantes tipo cola, analisavam amostras, assistiam a um vídeo, incluindo um tour pela fábrica de engarrafamento da Pepsi, e visitavam uma fábrica local.
O distrito escolar de Wylie, no Texas, assinou um acordo em 1996 que compartilhava os direitos de venda de refrigerantes nas escolas entre a Coca-Cola e a Dr. Pepper. Cada empresa pagava US$ 31 mil por ano. Então, em 1998, o condado mudou de idéia e assinou um acordo com a Coca-Cola no valor de US$ 1,2 milhão por quinze anos. A Dr. Pepper processou o condado por quebra de contrato. O distrito escolar comprou o contrato da Dr. Pepper, o que lhe custou US$ 160 mil — além de outros US$ 20 mil gastos em taxas legais.
Não são apenas as empresas que de vez em quando são mandadas embora. Alunos que não têm o espírito escolar corporativo apropriado correm riscos consideráveis. Quando Mike Cameron usou uma camiseta da Pepsi no “Dia da Coca-Cola” na escola de segundo grau Greenbrier, em Evans, na Georgia, foi suspenso por um dia. “O Dia da Coca” fazia parte da entrada da escola em um concurso nacional chamado “Faça uma equipe com a Coca-Cola” que premia com US$ 10 mil a escola que apresenta o melhor plano para distribuir cartelas de desconto da Coca. Funcionários da escola Greenbrier disseram que Cameron foi suspenso por “ter comportamento destrutivo e por tentar destruir a foto da escola” quando tirou uma camisa externa e revelou a camiseta da Pepsi, na hora em que estava sendo tirada uma fotografia dos alunos posados, formando a palavra Coca. Cameron disse que a camiseta foi vista o dia inteiro, mas não causou problemas até posar para a foto. Sem preguiçosos no departamento de marketing, a Pepsi rapidamente enviou ao aluno do colegial uma caixa com camisetas e bonés da Pepsi.
Se transformar os alunos em anúncios ambulantes não é suficiente, escolas e empresas às vezes transformam a própria escola em uma propaganda gigante de néon para a América empresarial. A apropriação de espaço escolar, incluindo placares, telhados, paredes e livros didáticos com logo-tipos e propaganda empresarial subiu 539%.
Cobrado Springs, não satisfeito em vender sua alma apenas para a Coca-Cola, encheu os ônibus escolares com publicidade para o Burger King, Wendy’s e outras grandes empresas. Capas grátis de livros e agendas escolares com anúncios da Kellog’s e fotos de personalidades da TV FOX também foram distribuídos aos estudantes.
Depois que os membros do distrito escolar independente de Grapevine-Colleyville, no Texas, decidiram que não queriam peças publicitárias nas salas de aula, permitiram que logotipos da Dr. Pepper e da 7-Up fossem pintados nos telhados de duas escolas. As duas escolas, não coincidentemente, ficam embaixo da rota dos vôos do aeroporto de Dallas.
As escolas não procuram apenas maneiras de fazer publicidade; também estão preocupadas com a percepção dos estudantes a respeito de vários produtos. E por isso que, em algumas escolas, as empresas fazem pesquisas de mercado nas classes durante o horário das aulas. A Education Market Resources, do Kansas, relata que “as crianças reagem abertamente e facilmente a questões e estímulos” no ambiente da sala de aula. (É claro, é isso que elas supostamente devem fazer na sala de aula — mas em seu próprio beneficio, não em beneficio de algumas empresas de pesquisa.). Preencher pesquisas de marketing em vez de aprender, no entanto, é algo que provavelmente mio deveriam fazer.
As empresas também aprenderam que conseguem atingir esse público restrito ao “patrocinar” material educativo. Essa prática, como as outras, também explodiu, aumentando 1.875% desde 1990.
Professores andaram mostrando um vídeo da Shell, que ensina os alunos que o modo de vivenciar a natureza é dirigir até ela — depois de encher o tanque de um jipe em um posto da Shell. A ExxonMobil preparou planos de lições sobre a florescente vida selvagem em Prince William Sound, local do desastre ecológico causado pelo derramamento de óleo do navio Valdez, da Exxon (Esso). Um livro de matemática da terceira série do ensino fundamental tem exercícios que envolvem a contagem de Tootsie Roll (9.Tipo de drops/bala. (N.T.).). Um currículo patrocinado pela Hershey’s em várias escolas apresenta “A máquina de sonhos de chocolate”, incluindo exercícios de matemática, ciência, geografia — e nutrição.
Em várias escolas de ensino médio, o curso de economia é dado pela General Motors. A GM escreve e providencia os livros didáticos e a linha do curso. Os alunos aprendem, a partir do exemplo da GM, os benefícios do capitalismo e como administrar uma empresa — como a GM.
E que maneira melhor de estampar o logotipo empresarial nas crianças do país do que por intermédio da televisão e da internet transmitidas diretamente nas salas de aula? O marketing eletrônico, em que uma empresa providencia a programação ou o equipamento para as escolas em troca do direito de fazer publicidade aos alunos, aumentou 139%.
Um exemplo é a ZapMe! Corporation, que dá um laboratório de informática de graça para as escolas e acesso a sites da web pré-selecionados. Em troca, as escolas precisam prometer que o laboratório será usado por pelo menos quatro horas por dia. A pegada? O navegador ZapMe! tem publicidade constante — e a empresa coleta informações sobre os hábitos de navegação dos alunos, informação que pode vender para outras empresas.
Talvez o pior marqueteiro eletrônico seja a Channel One Television. Oito milhões de alunos em 12 mil salas de aulas assistem ao Channel One, um programa interescolar de notícias e propaganda, todos os dias. (É isso mesmo: TODO dia.) As crianças gastam o equivalente a seis dias escolares por ano assistindo ao Channel One em quase 40% das escolas americanas, do quinto ano do ensino fundamental ao terceiro ano do médio. Tempo de instrução perdido apenas para a propaganda? Um dia inteiro por ano. Isso se traduz em um custo anual para os pagadores de impostos de mais de US$ 1,8 bilhão.
Sim, médicos e educadores concordam que nossas crianças nunca estão satisfeitas com a quantidade de tempo que assistem a televisão. Provavelmente há lugar na escola para alguns programas de TV — tenho ternas lembranças de ver os astronautas indo ao espaço na televisão colocada no auditório de minha escola. Mas, da transmissão diária de 12 minutos do Channel One, apenas 20% é devotado a noticias sobre política, economia e questões sociais e culturais. Isso deixa colossais 80% para propaganda, esportes, previsão do tempo, entretenimento e promoções do Channel One.
O Channel One é transmitido desproporcionalmente em escolas dentro de comunidades de baixa renda, com grande populações minoritárias nas quais há a menor quantidade de dinheiro disponível para a educação e em que a menor quantidade é gasta com livros didáticos e outros materiais acadêmicos. Uma vez que esses distritos recebem doações de empresas, o fracasso do governo em providenciar recursos adequados às escolas tende a permanecer inalterado.
Para a maioria de nós, a única vez que entramos em uma escola de segundo grau é para votar. (Essa é a maior das ironias — participar do ritual sagrado da democracia enquanto dois mil estudantes no mesmo prédio vivem sob um tipo de ditadura totalitária). Os corredores estão lotados de adolescentes estressados indo de uma classe a outra, atordoados e confusos, perguntando-se que diabos fazem ali. Eles aprendem como regurgitar respostas que o Estado quer que dêem, e qualquer tentativa de ser um
Quadro: VOCÊ É UM ATIRADOR ESCOLAR EM POTENCIAL?
A seguir vem uma lista de traços identificados pelo FBI como “fatores de risco” entre estudantes que podem cometer atos violentos. Fique longe de qualquer estudante que mostre sinais de:
Já que isso inclui todos vocês, abandonem a escola imediatamente. Escola doméstica não é uma opção viável, porque você também precisa ficar longe de si mesmo.
indivíduo torna-se base, atualmente, para ser suspeito de pertencer à máfia da capa-de-chuva (10.Grupo de adolescentes ao qual pertenciam Eric Horris e Dylon Klebold, que atiraram contra colegas na Columbine High School em Denver, no Cobrado, matando treze pessoas e depois cometendo suicídio (N.T.).). Visitei uma escola recentemente, e alguns alunos me perguntaram se eu havia notado que eles e os outros na escola estavam todos usando roupa branca ou de alguma outra cor neutra. Ninguém se atreve a usar preto ou qualquer coisa extravagante e diferente. Isso é com certeza um passe para a sala do diretor — onde o psicólogo da escola estará aguardando para verificar se aquela camisa do Limp Bizkit que você usa significa que pretende abrir fogo na aula de geometria da srta. Nelson.
Assim, os garotos aprendem a enterrar qualquer expressão pessoal. Eles aprendem que é melhor se conformar para se formar. Aprendem que balançar o coreto pode levá-los direto para fora da escola. Não questione a autoridade. Faça o que mandam. Não pense, faça o que digo.
Ah, e tenha uma vida boa e produtiva como um participante ativo e bem-ajustado em nossa florescente democracia.
COMO SER UM ESTUDANTE SUBVERSIVO EM VEZ DE UM ESTUDANTE SUBSERVIENTE
Há várias maneiras de mostrar resistência na escola de segundo grau — e se divertir enquanto faz isso. O ponto-chave é aprender todas as regras e quais são seus direitos por lei e de acordo com a política do distrito escolar. Isso irá ajudá-lo a evitar problemas de que não precisa.
Isso também pode lhe proporcionar privilégios bacanas. David Schankula, um estudante universitário que me ajudou com este livro, recorda-se de que quando fazia o segundo grau em Kentucky, ele e seus colegas encontraram uma lei estadual obscura que dizia que qualquer estudante que pedisse um dia livre para participar de uma feira estadual tinha direito a esse dia livre. A legislatura estadual provavelmente aprovou essa lei anos atrás, a fim de ajudar crianças de fazendas a levar um repolho premiado à exposição sem que fosse penalizada na escola. Mas a lei ainda estava valendo e dava aos estudantes o direito de pedir um dia livre para participar da feira estadual — independentemente da razão. Dá para imaginar a cara do diretor quando David e seus amigos da cidade submeteram seu requerimento para tirar um dia de folga da escola — e não havia nada que o diretor pudesse fazer.
Aqui vão mais algumas coisas que você pode fazer:
As eleições de classe e o conselho estudantil são a maior cortina de fumaça jogada pela escola, criando a ilusão de que você realmente tem voz sobre a administração da escola. A maioria dos alunos que se candidatam para esses cargos ou levam a piada muito a sério ou simplesmente acham que ficará bacana no currículo quando se candidatarem à universidade.
Então, por que não se candidatar você mesmo? Candidate-se simplesmente para ridicularizar todo o esquema já ridículo. Forme seu próprio partido, com um nome idiota. Faça campanha com promessas loucas: se eleito, farei com que o mascote da escola seja uma ameba; ou, se eleito, insistirei para que o diretor tenha que comer primeiro a refeição escolar todos os dias antes que ela seja servida para os alunos. Pregue cartazes com slogans bacanas: “Vote em mim — um fracassado de verdade!”
Se for eleito, você pode canalizar suas energias para realizar coisas que deixarão a administração maluca, mas ajudarão seu colegas (exigência de distribuição de camisinhas grátis, avaliação dos professores feitas pelos alunos, menos lição de casa para que você possa ir para a cama a meia-noite etc.).
Você tem direito de fazer isso. Encontre um professor solidário para patrociná-lo. O Grêmio Pró-Escolha. O Grêmio da Liberdade de Expressão. O Grêmio para Integração de Nossa Cidade. Transforme todos os sócios em “presidentes”, para que possam anunciar isso quando se candidatarem à universidade. Uma aluna que conheço tentou abrir um Grêmio Feminista, mas o diretor não permitiu porque senão seriam obrigados a dar espaço igual a um Grêmio Chauvinista. Esse é o tipo de pensamento idiota com o qual você vai se deparar, mas não desista. (Ei, se você se deparar com uma situação como essa, simplesmente diga “tá legal”— e sugira que o diretor patrocine o Grêmio Chauvinista.)
Você tem direito constitucional assegurado para fazer isso. Se tomar cuidado para não ser obsceno, difamatório ou dar a eles qualquer motivo para fechar o jornal, essa pode ser uma ótima maneira de espalhar a verdade sobre o que acontece na sua escola. Use humor. Os alunos vão adorar.
Compareça às reuniões do conselho de educação e conte-lhes o que se passa na escola. Preencha uma petição para mudar as coisas. Eles tentarão ignorá-lo ou fazê-lo esperar durante toda a longa e chata reunião antes de deixarem você falar, mas eles precisam deixá-lo falar. Escreva cartas ao editor do jornal local. Os adultos não têm a mínima idéia do que acontece na escola. Informe-os. É bastante provável que você encontre alguém que o apóie.
Uma ou todas essas coisas devem causar um tumulto e tanto, mas existe ajuda por aí se você precisar. Contate a American Civil Liberties Union [União Americana de Liberdades Civis] local caso a escola promova retaliações. Ameace com processos — administradores escolares DETESTAM ouvir essa palavra. Lembre-se: não há satisfação maior do que ver o olhar na cara de seu diretor quando você está por cima. Use isso.
E nunca se esqueça disso:
Nada é para sempre!
PLANETA BACANA, NINGUEM EM CASA
Gostaria de começar este capítulo revelando o que acredito ser uma das maiores ameaças atuais ao nosso meio ambiente.
Eu.
É isso mesmo: sou um pesadelo ecológico ambulante.
Eu sou a mãe de todos os Bhopals (1.Tragédia ambiental ocorrida em dezembro de 1984, em Bhopals, na Índia, provocada pelo vazamento de gás tóxico em uma fábrica da Union Carbide, que causou a morte de 3.800 pessoas, aproximadamente. (N.T.).)!
Vamos começar assim: eu não reciclo.
Acho que reciclar é como freqüentar a igreja — vamos uma vez por semana, nos sentimos bem e achamos que cumprimos nossa tarefa. Daí, podemos voltar à diversão do pecado.
Deixe-me perguntar uma coisa: você sabe honestamente para onde vão todos aqueles jornais depois que você os larga no centro de reciclagem? Ou onde acabam as latas de refrigerante depois que as coloca naqueles contêineres de reciclagem azuis? Para alguma fábrica que irá reciclá-los? Quem disse? Você alguma vez já seguiu o caminhão que coleta os recicláveis para ver aonde ele vai? Você se importa? Será que basta para você separar o vidro do plástico, o papel do metal — e depois deixar o resto para outra pessoa?
Nunca deixarei de ficar espantado com a natureza lemingue dos seres humanos e nossa obediência inquestionável à autoridade. Se a placa diz “Reciclagem”, fazemos nossa parte e acreditamos que tudo o que for colocado ali será reciclado. Se a lata de lixo é azul, imaginamos que envolve uma garantia total de que as embalagens de vidro colocadas ali serão esmagadas, derretidas e transformadas em novos vidros de Ragú (2.Marca de molho para macarrão. (N.T.).)
Bem, pense de novo.
Uma noite, voltando tarde do trabalho para casa, testemunhei o lixeiro jogando aqueles severos sacos de lixo azuis-claros cheios de garrafas no esmagador do caminhão, junto com o resto do lixo. Perguntei ao cara que trabalha no prédio se aquilo era normal.
“Eles têm muito lixo para recolher”, ele disse. “As vezes não têm tempo para separar tudo.”
Fiquei imaginando se aquilo era apenas uma anomalia — ou se era a regra. Aqui vão algumas coisas que descobri:
Em meados da década de 1990, os ativistas ambientalistas da Índia descobriram que a Pepsi criava um problema complicado de manejo de lixo no país. Garrafas plásticas usadas de Pepsi, colocadas para reciclagem nos Estados Unidos, estavam sendo embarcadas para a índia para serem recicladas novamente em garrafas Pepsi ou outras embalagens. Mas o diretor sênior da fábrica Futura Industry, nos arredores de Madras, onde a maioria do lixo estava sendo colocada, admitiu que a maioria delas jamais seria reciclada. Para piorar, praticamente na mesma época em que a verdade sobre a reciclagem foi revelada, a empresa anunciou que abriria uma empresa na Índia para fabricar — claro — garrafas não-retomáveis para exportação para os Estados Unidos e Europa, deixando os subprodutos tóxicos para trás, na índia. Portanto, enquanto a índia tem que lidar com problemas ambientais e de saúde, consumidores dos países industrializados continuam a usar produtos de plástico sem sofrer alguma conseqüência. E o tempo todo nós, consumidores, navegamos em paz, confiantes de que estamos melhorando o meio ambiente ao “reciclar”.
Numa outra vez, uma revista de São Francisco assinou contrato com um reciclador de papel para que recolhesse todos os meses o lixo composto por papel branco. Quando um dia um funcionário seguiu o lixo para fora da porta, viu que o papel destinado à reciclagem estava sendo jogado com as embalagens descartadas do McDonald’s e os copos da Starbucks. Quando confrontada, a empresa de reciclagem negou o fato.
Em 1999, uma comissão de inquérito montada para investigar o que acontece com o Lixo criado pelo Congresso (inclua sua própria piada aqui) revelou que 71% das 2.670 toneladas de papel usadas naquele ano pelo braço do legislativo não foram recicladas pois foram misturadas com restos de comida e outros materiais não-recicláveis. Naquele mesmo ano, ate cinco mil toneladas de garrafas de vidro, latas de alumínio, papelão e outros tipos de lixo reciclável do Capitólio foram simplesmente jogadas em um terreno, sem nenhum questionamento. Se o Congresso tivesse reciclado esses produtos como devia, poderia ter economizado até US$ 700 mil dos contribuintes.
Em um exemplo atrás do outro, encontrei a mesma coisa. Não havia reciclagem sendo feita de verdade. Estávamos sendo enganados.
Portanto, parei de reciclar. Cheguei à conclusão de que quando reciclava, o que realmente fazia era livrar a minha cara. Enquanto desempenhasse minha pequena tarefa de separar papel-vidro-metal, não precisava fazer mais nada para salvar o planeta Terra. Uma vez que minhas garrafas, latas e jornais eram depositados apropriadamente nas lixeiras coloridas, podia apertar o botão de “reset” na minha consciência e acreditar que outra pessoa faria o resto do trabalho. Fora de vista, fora da minha cabeça, de volta para dentro da minha minivan bebedora de gasolina.
Sim, tenho uma minivan. Faz cerca de 15 milhas por galão [6,3 km por litro], sete galões a menos do que diz o selo. Adoro essa minivan. É espaçosa, anda macio e fica 30 cm acima dos carros na minha frente, e assim consigo enxergar tudo.
Sei que algumas pessoas dizem que nós americanos fomos estragados pelos baixos preços na bomba de gasolina, quando comparados ao resto do mundo, que paga até três vezes mais do que nós. Mas, ei, isto aqui não é a Bélgica, onde é possível atravessar o país inteiro em algo como 35 minutos. Vivemos em uma nação imensa. Precisamos poder andar por aí! Temos lugares para ir, coisas a fazer. O resto do mundo precisa entender que eles se beneficiam de nossa capacidade de ir do ponto A ao ponto B. De que outra maneira esperam que os americanos, que trabalham duro, Consigam ir do primeiro emprego do dia ao segundo emprego à noite — o que faz parte de um plano maior para criar uma economia global — se não temos carros?
COMO GASTAR MENOS GASOLINA
Veja, sou de Flint, no Michigan — a “cidade do veículo”, que não deve ser confundida com a “cidade do motor”. Estamos uma hora ao norte de Detroit, e houve época em que minha cidade natal construía todos os Buicks do mundo. Não se montam mais Buicks lá.
Crescendo imersos em uma cultura automobilística, começamos a ver o carro como uma extensão de nós mesmos. Nosso carro é nossa sala de som, nossa sala de jantar, nosso quarto de dormir, nossa sala de home-theater, nosso escritório, nossa sala de leitura e o primeiro lugar no qual fazemos quase tudo em nossa vida que tem algum significado.
Quando me tornei adulto, decidi que não queria carros da General Motors — principalmente porque quebravam mais do que eu. Então comprei volkswagens e hondas e dirigia orgulhosamente pela cidade com eles. Se alguém me perguntava por que não havia comprado um carro americano, eu o fazia abrir a capota e mostrava-lhe a placa de MADE IN BRAZIL colocada no motor, a inscrição de MADE IN MEXICO na correia do ventilador e a etiqueta de MADE IN SINGAPORE no rádio. Além do rótulo no painel insinuando que o carro todo havia sido feito nos Estados Unidos, o que exatamente ele conseguia apontar dentro de seu carro que realmente deu emprego a alguém em Flint?
Meu Honda Civic nunca quebrou. Durante oito anos e 184 mil quilômetros nunca o levei à oficina mecânica por nenhuma razão a não ser a manutenção regularmente programada. No dia em que morreu, eu estava duro, desempregado e preso no meio da avenida Pensilvânia, a cerca de quatro quarteirões da Casa Branca. Simplesmente saí do carro, empurrei-o para o meio-fio, tirei as placas e dei-lhe adeus.
Não comprei outro carro por nove anos. Trabalhando na maior parte do tempo em Nova York, não precisava de outro, graças ao ótimo sistema de transporte coletivo e motoristas de táxi confiáveis. Mas como passo bastante tempo em casa, no Michigan, cansei-me de alugar carros da Avis e comprei uma minivan da Chrysler. E vou dizer o seguinte — você nunca mais vai me ver enfiado como uma salsicha dentro daquelas latinhas de sardinha de novo!
O motor de combustão interna contribuiu mais para criar o aquecimento global do que qualquer outra coisa no planeta. Quase metade dos poluentes de nosso ar vem da coisa vomitada para fora de seu automóvel — e essa poluição atmosférica é a causa de cerca de 200 mil mortes por ano.
O aquecimento global está aumentando a temperatura do mundo, ano após ano, o que pode causar maior risco de seca em alguns países e ter efeitos perigosos sobre a agricultura e a saúde. Estamos muito perto de criar uma horrível calamidade se não descobrirmos como reduzir a temperatura.
Mas você precisa ver como essa minivan anda! E é tão silenciosa por dentro — isto é, até eu enfiar o Korn no som “surround” de CD e fita, completo com oito caixas, do caralho. Consigo dirigir 640 quilômetros direto com a música a toda, o ar-condicionado a toda, o telefone por satélite com viva-voz pronto para receber aquele telefonema importante do Rupert Murdoch agradecendo-me pelo belo trabalho feito neste livro e informando-me que minha execução foi transferida para quinta-feira, para não entrar em conflito com os America's Wackiest School Shooting Videos [Vídeos mais esquisitos de tiroteios em escolas dos Estados Unidos].
Detroit já provou que tem tecnologia para produzir em massa carros que fazem 45 milhas por galão [19 km por litro] e caminhões e vans que fazem 35 milhas por galão [15 km por litro]. O ano em que as montadoras registraram a melhor milhagem por galão — 1987, durante o reinado de Ronald Reagan — os carros faziam em média 26 milhas por galão [11 km por litro]. No entanto, depois de oito anos do amigo ambientalista Bill Clinton — que prometeu que os carros fariam 40 milhas por galão [17 km por litro] até o final de sua presidência — a média de milhas por galão para automóveis caiu para 24,7 [10,4 km por litro]. A General Motors deu uma fantástica festa em Washington para comemorar a posse de Clinton, em 1993. Acredito que deva ser indelicado perturbar o anfitrião de uma festa dada em sua homenagem.
O maior presente de Clinton às três grandes montadoras foi isentar os SUVs (veículos utilitários) das exigências de consumo dos sedãs normais. Por causa dessa isenção, esses glutões de gasolina utilizam um extra de 280 mil barris de combustível por dia. Tal demanda por combustível é um dos motivos pelos quais o governo Bush está pressionando para perfurar poços na Reserva Nacional do Ártico, no Alasca. Bush diz que a perfuração nos dará um extra de 580 mil barris de petróleo por dia, suficiente para duplicar o número de utilitários nas ruas.
No entanto, considere o seguinte: se Clinton tivesse forçado os utilitários a atingir as mesmas metas de milhagem por galão das minivans (uma melhora de somente algumas milhas por galão), Bush não teria justificativa para perfurar no Alasca.
Com todos esses utilitários na rua, não consigo mais ver por cima do veículo à minha frente. Eles são tão grandes e intimidadores como uma miniatura de dezoito rodas que fumou crack. Qual é exatamente o sentido de um utilitário? Inicialmente, eles foram desenvolvidos para que as pessoas pudessem dirigir no meio do nada, onde não há estradas. Entendo que isso faça sentido em Montana, mas que diabos fazem todos esse yuppies dentro deles, correndo pelas ruas entupidas de Manhattan?
Em junho de 2001, um conselho formado pelos melhores cientistas americanos afirmou que o aquecimento global era um problema real e que estava piorando. Em seu estudo, feito a pedido da Casa Branca de Bush II, o grupo, com onze dos principais cientistas de atmosfera (incluindo vários que anteriormente eram céticos sobre o alcance do problema), concluiu que a atividade humana é altamente responsável pelo aquecimento da atmosfera terrestre — e que, como resultado, estamos em sérios apuros.
A divulgação do estudo colocou George “eu durmo bem, obrigado” Bush em uma posição difícil. Ele e outros membros de seu governo evitavam claramente usar a frase “aquecimento global” e expressaram repetida-mente dúvidas a respeito da idéia de que a poluição atmosférica esquentaria a atmosfera de modo perigoso. Bush também enraiveceu líderes internacionais, em julho de 2001, quando rejeitou o Protocolo de Kyoto, um pacto negociado originalmente por mais de 160 nações (inclusive os Estados Unidos) e projetado para reduzir o aquecimento global.
Mas agora os próprios cientistas de Bush dizem que a Terra está a caminho de uma grande catástrofe.
Bem, não sei: talvez o Jovem Bush esteja certo quanto a isso. Afinal, eu gosto de um calorzinho. Originalmente do Michigan, terra de invernos brutais e do verão de três semanas, meio que aprecio esse clima mais “temperado”. Pergunte às pessoas se elas preferem um dia de calor escaldante na praia ou um congelante Alberta Clipper, que faz com que suas línguas colem nos dentes, e posso apostar com você de que nove entre dez americanos já têm guarda-sóis e o Weber (3.Marca de churrasqueira (N.T.).) portátil no porta-malas. E daí se precisamos de protetor solar com fator de proteção 125?
No último verão, no entanto, ocorreu algo que eu achei um tanto chocante. O The New York Times relatou que, pela primeira vez desde que há registros, o Pólo Norte... derreteu. Um navio cheio de cientistas imediatamente foi ao topo do mundo — e o gelo havia sumido! A notícia levou a um pânico tal que, dentro de alguns dias, o Times publicou uma correção, na tentativa de nos reassegurar: o gelo não estava realmente derretido, apenas um pouco aguado. Certo. Lembro-me da última vez que tentaram acalmar as coisas — na década de 1990, quando nos contaram sobre o grande asteróide que estava se direcionando para uma grande colisão com a Terra em algum ponto dos próximos vinte anos. De novo, voltaram atrás imediatamente, mas deveriam saber que nós percebemos o que há por trás desse tipo de retirada. Os poderes constituídos nunca nos contarão quando o fim está próximo, dado o risco de um pandemônio coletivo e do cancelamento de assinaturas que causaria.
A última Era do Gelo foi resultado de uma mudança de temperatura global de apenas 5ºC. Neste exato momento, estamos a meio caminho disso. Alguns especialistas predizem um aumento na temperatura de 5,8ºC no próximo século. Na Venezuela, quatro das seis geleiras do pais derreteram desde 1972. As lendárias neves do Kilimanjaro estão quase desaparecidas. Quando o farol do cabo Hatteras foi construído, em 1870, estava a 457,5 metros da costa; agora a maré já subiu para 48,8 metros dele, e o farol precisou ser transferido mais para o interior da costa.
O derretimento das calotas polares poderia fazer com que os oceanos subissem até nove metros, varrendo efetivamente todas as cidades costeiras que existem — e levando consigo todo o Estado da Flórida (com cabines de votação e tudo). Concordo que lugares como Nova York e Los Angeles precisam de uma boa faxina, mas três andares de água salgada sobre toda a ilha de Manhattan não é exatamente o que tinha em mente.
Falando na Flórida, aquele Estado também pode ser responsabilizado por esta deplorável bagunça. Por quê? Pergunte ao sr. Freon. Antes do ar-condicionado, a Flórida e o resto do Sul eram esparsamente habitados. O calor e a umidade eram insuportáveis. Isto é, você mal pode se mexer em um dia de 38ºC no Texas. O ar é tão espesso em Nova Orleans que é quase impossível respirar. Não é de surpreender que o pessoal do Sul tivesse uma fala arrastada tão difícil de entender. Era muito quente para formar uma série de vogais e consoantes. Acredito que esse calor brutal e paralisante é também o motivo pelo qual nenhuma grande invenção, nenhuma nova idéia e nenhuma contribuição para o avanço de nossa civilização tenha vindo do Sul (com algumas notáveis exceções: Lillian Hellman, William Faulkner, R. J. Reynolds). Quando fica tão quente, quem consegue pensar e ainda mais ler?
Então, o ar condicionado foi inventado — e de repente tomou-se possível realmente trabalhar no Sul. Prédios foram levantados em toda a região — e os nortistas, cansados do inverno, vieram para baixo em hordas. Descobriram que podiam ir até o trabalho em carros com ar-condicionado, trabalhar o dia inteiro no escritório com ar-condicionado, estudar o dia inteiro na faculdade com ar-condicionado. Depois, à noite, dava para ir para casa com ar-condicionado e planejar a queima da cruz ou o churrasco do fim de semana.
COMO SOBREVIVER AO AQUECIMENTO GLOBAL
- Identifique objetos domésticos comuns que possam servir como bóias flutuantes quando as calotas de gelo derreterem. Dê atenção especial aos itens feitos de material sintético, que tendem a ser extremamente resistentes à água.
- Não se esqueça de olhar também do lado de fora — aquelas cadeiras à prova d’água com seguradores de copo inclusos boiarão tão bem no oceano quanto na piscina de seu quintal. Quem disse que o catastrófico derretimento polar não pode ser divertido?
- Examine os mapas topográficos da área onde vive para determinar a maior elevação e mapeie a rota mais rápida até lá. Faça exercícios de fuga.
- Invista em saquinhos Ziploc e naquelas câmeras amarelas à prova d’água.
- Contate a ACM local para obter informações sobre cursos de natação. Faça umas aulas. Agora. Preste atenção especial na aula que ensina como boiar.
- Transfira os planos de férias da Flórida para Montana. Diga a seus filhos para mudarem a temporada de bebedeira de Daytona Beach para Boise.
COISAS NAS QUAIS O SUL ACERTOU
Apenas para equilibrar o retrato que fiz do Sul, como uma terra de membros da Ku-Klux-Klan manchados de suor e posto avançado de empresas modernas, foi-me pedido que fizesse uma lista de coisas pelas quais somos gratos ao Sul. Aqui vai ela:
Antes que percebêssemos, o Sul levantou-se e passou a controlar o país. Atualmente, a ideologia conservadora nascida no Sul Confederado tem o país em suas mãos. Ordenando que os Dez Mandamentos sejam pregados em lugares públicos; ensinando o criacionismo; insistindo na reza nas escolas; banindo livros; fomentando ódio ao governo federal (nortista); pedindo a retração do governo e dos serviços sociais; sedentos de ir para a guerra a qualquer momento; e procurando resolver qualquer problema por meio da violência — essas são todas as marcas registradas dos legisladores eleitos do “Novo” Sul. Se pensarmos a respeito, a Confederação finalmente venceu a Guerra Civil — uma vitória há muito aguardada, ganha ao atrair ianques idiotas para lá com uma promessa de 5 mil BTUs (British Termal Unit) e um fazedor de gelo embutido.
Agora o Sul reina supremo — e se você ainda não acredita, simplesmente dê uma olhada nas nossas últimas quatro eleições presidenciais. Se você quisesse vencer, teria de ter nascido no Sul ou o adotado como seu domicílio. Na realidade, nas últimas dez eleições presidenciais, o vencedor (ou indicado pela Suprema Corte) foi aquele com seu pé mais firmemente plantado no Sul ou no Oeste. Não é mais possível que alguém do Norte seja eleito líder da nação.
O ar-condicionado tornou tudo isso possível. E agora, tendo aberto as portas a políticos sulistas e climas Dixie, também está prometendo exportar esses ventos sulistas quentes para todo o mundo — ao tornar realidade o buraco na camada de ozônio. Esse buraco está agora sobre a Antártica — e tem duas vezes e meia o tamanho da Europa!
A camada de ozônio da atmosfera terrestre nos protege da radiação ultravioleta (UV), que pode nos dar câncer e nos matar. O buraco que abrimos em seu tecido é causado por clorofluorcarbonetos (CFCs), produtos químicos normalmente usados em ar-condicionado, refrigeradores e como propulsores em latas de aerossol. Quando esses produtos químicos são lançados na atmosfera e atingidos por ondas de luz de alta energia, tais como os raios ultravioletas, formam compostos que destroem a camada de ozônio. Os maiores contribuintes dos CFCs, que acabam com o ozônio? Unidades de ar-condicionado para automóveis — um dos companheiros de viagem favoritos nos Estados Unidos.
O que me faz lembrar de outro acessório du jour indispensável (literalmente) para os americanos jovens bacanas que praticam esportes: água engarrafada. Por que tomar água da torneira ou de uma fonte gratuita quando se pode pagar US$ 1,20 pela mesma coisa — e levar junto uma garrafa de plástico que fingimos que vamos reciclar depois?
Nem sempre bebi água engarrafada em Nova York. Na realidade, costumava acreditar na lenda popular de que o suprimento de água de Nova York está entre os mais limpos do mundo. A própria água, aprendi, é coletada e armazenada em 22 reservatórios a céu aberto nos Catskills e na área superior do rio Hudson, e trazida para a cidade por um elaborado sistema de aquedutos. Parecia tão puro.
Mas uma noite, em uma festa na casa de um amigo, um conhecido comentou que ele e sua família “tentavam ir ao chalé deles no Reservatório Croton sempre que podiam
Perguntei: “Como você pode ter um chalé às margens de nossa água potável?”
“Ah, não fica exatamente no reservatório. Fica do outro lado da estrada”.
“Quer dizer, existe uma estrada que circunda a água que bebemos? E que acontece com todo o escoamento da pista, todos aqueles vazamentos de óleo e lascas de pneus e coisas do tipo?”
“Ah, eles esterilizam tudo quando a água chega à cidade de Nova York”, respondeu.
“Não dá para esterilizar tudo quando chega aqui!”, protestei. “Quando chega a Nova York, já deve ter todos os agentes conhecidos que matam germes disponíveis para a humanidade em prontidão para a batalha total”.
Ele então começou a contar com grande entusiasmo sobre como é maravilhoso andar de barco pelo reservatório.
COMO TER CERTEZA QUE A ÁGUA POTÁVEL É SEGURA
“BARCO?”, gritei. “Você anda de barco na minha água potável?”
“Claro — e também pesco! O Estado nos deixa manter o barco ali mesmo, na margem".
Foi quando as caixas de Evian começaram a entrar em meu apartamento. É claro que o lado ruim de beber água engarrafada (além do custo exorbitante) é que, como as lixeiras de reciclagem, isto me impede de pensar um pouco mais no estado de nossa água nos Estados Unidos. Enquanto conseguir vender livros suficientes para poder comprar minha água de fonte “francesa”, por que deveria perder meu tempo me preocupando com os PCBs (4.Bifenilas policloradas, um óleo isolante muito utilizado até a década de 1980 em transformadores (N.T.).) que a General Electric jogou no rio Hudson? Afinal, há centenas de anos os índios jogavam seu lixo no Hudson, e os colonos brancos do início usavam o rio como um dreno de esgoto sem parar. E vejam a magnífica metrópole que conseguiram criar!
Manhattan também é um ótimo lugar para se conseguir um bife. Até alguns anos atrás, acho que não havia um dia na minha vida adulta em que não comia carne — e freqüentemente duas vezes por dia. Então, sem razão aparente, um dia simplesmente parei de comê-la. Passei quatro anos inteiros sem um pedacinho de vaca passando por meus lábios. Preciso dizer que foram os quatro anos mais saudáveis que vivi. (Nota: gente como eu define saudável como “eu não morri”.)
Talvez tenha sido ouvir a Oprah Winfrey dizer em seu programa, em 1996, que descobrir sobre a doença da vaca louca “me fez parar imediatamente de comer hambúrguer”. Claro, a Oprah teve então de lidar com outra ameaça igualmente perigosa: os criadores de gado do Texas, que a processaram (assim como ao ex-criador e lobista da carne que apareceu no programa para falar sobre os perigos da doença da vaca louca) em US$ 12 milhões. Eles alegaram que Oprah e Howard Lyman violaram um estatuto do Texas, que proíbe o falso descrédito de produtos alimentícios perecíveis. (Por favor, perceba que foi Oprah quem disse que havia “parado imediatamente de comer hambúrguer” e não eu — porque, de novo, ninguém aqui quer ser processado.) Oprah venceu o processo em 1998; então, só para confundi-los, no Texas, declarou: “Ainda não como hambúrgueres”.
Eu, por outro lado, infelizmente caí da carrocinha-restaurante, beliscando aqui e ali na pobre Elsie (6.Elsie é uma simpática vaquinha, símbolo de umas das maiores indústrias de lacticínios dos EUA. É um dos ícones americanos de propaganda mais conhecidos (N.T.).). Era de se acreditar que tinha aprendido minha lição em meados da década de 1970 quando, em vez de comer carne, comi retardador de fogo.
OUTROS ADITIVOS DA ÁGUA QUE EU GOSTARIA DE VER
O governo atualmente adiciona flúor ao suprimento de água, ao passo que muitas empresas refinadas fazem produtos que adicionam cafeína, vitaminas, sabor de frutas e organismos microscópicos causadores de doenças à água engarrafada. Mas será que não podem fazer melhor do que isso? Por que se contentar com algo que o dentista diz que é bom para nós? Além disso, já existe flúor na pasta de dente! Por que não ter água disponível nesses sabores tão populares:
ONDE ESTÁ A CARNE? EM LUGAR ALGUM!
COMO TORNAR-SE UM HINDU
Entrar para o hinduísmo tradicionalmente exigia pouco mais do que aceitar e viver de acordo com as crenças hindus. Dentre essas crenças está a de que a vaca deve ser reverenciada por todos como mãe, devido ao nutritivo leite que proporciona. Portanto, matar uma vaca é sacrilégio.
Geralmente, os passos para tomar-se um hindu são:
Como milhões de pessoas que nasceram em Michigan, passei um ano ingerindo PBB, o agente químico usado em pijamas infantis — e nem sabia disso. O PBB veio na forma de um produto chamado Firemaster (um retardador de fogo) fabricado por um empresa que também fazia ração para gado. A certa altura, acidentalmente alguém misturou os sacos nos quais embalávamos trecos e enviaram o retardador de fogo (etiquetado como “ração”) para um grande depósito em Michigan, que distribuía ração para fazendas em todo o Estado. Em breve as vacas estavam comendo PBB — e nós comíamos as vacas e tomávamos seu leite, cheio de PBB.
O problema do PBB é que o organismo não o excreta ou o elimina de forma alguma. Eles simplesmente fica no seu estômago e sistema digestivo. Quando esse fiasco foi descoberto — e ficamos sabendo que o Estado do Michigan havia tentado esconder a notícia do público — os habitantes do Michigan ficaram furiosos: cabeças rolaram, políticos foram tirados dos cargos. E nos disseram que os cientistas não tinham idéia do que o PBB nos causaria — e que provavelmente não descobriríamos por mais 25 anos.
Bem, o fusível de um quarto de século expirou, e acho que a boa noticia é que meu estômago jamais pegou fogo. Mas ainda aguardo aqui, cheio de ansiedade, esperando que outras vacas sejam paridas. Não consigo parar de pensar em Centralia (8.Em 1961, em Centralia, refugos foram queimados em uma mina de carvão abandonada, que começou a queimar no subsolo. Mais de quarenta anos depois, o fogo ainda persiste e as tentativas de extingui-lo jamais tiveram êxito (N.T).), na Pensilvânia — a cidade onde os residentes continuaram com seus afazeres diários enquanto um fogo subterrâneo queimava sem parar durante anos. A ciência NÃO tem resposta para tudo! Será que milhões de habitantes do Michigan estão destinados a desenvolver um câncer e chutar o balde? Ou será que simplesmente perderão a cabeça e de repente começaremos a trabalhar para um candidato que não consegue vencer, mas que consegue fazer um monte de estrago colateral?
Não tenho as respostas, assim como ninguém as tem. Se você conhece alguém que nasceu em Michigan (e garanto que há um ao alcance de sua vista, graças à diáspora de nosso povo patrocinada por Reagan na década de 1980), pergunte a ele sobre PBB e veja como seu rosto vai empalidecer. É o segredinho sujo que não gostamos de discutir.
OUTRAS COISAS QUE COMI QUE ERAM DESTINADAS A USO INDUSTRIAL
No entanto, existe uma ameaça bovina muito maior em marcha entre nós atualmente — uma que não reconhece limites de Estado ou região, uma que merece o sinal de identificação que carrega feito um sino ao redor do pescoço.
Vaca louca.
Esta é realmente a ameaça mais assustadora que a raça humana jamais enfrentou. Pior do que a Aids, pior do que a peste negra, pior do que não passar fio dental.
A doença da vaca louca não tem cura. Não existe vacina de prevenção. Todos que a pegam morrem, sem exceção, uma morte horripilante-mente dolorida.
E a pior parte é que se trata de uma doença fabricada pelo homem —nascida em um momento de loucura humana, quando pegamos vacas inocentes e as transformamos em canibais. Foi assim que começou:
Dois pesquisadores foram à Nova Guiné para estudar os efeitos do canibalismo humano e como ele havia feito muitos habitantes ficarem loucos. Descobriram que essas pessoas sofriam de uma doença transmissível de encefalopatia espongiforme (ou TSE). Os nativos a chamavam de kuru. O que acontece na TSE é que proteínas brincalhonas — príons — agarram-se a células cerebrais e transformam-se em formas anormais. Em vez de se partir do modo como um boa proteína deveria partir-se, esses coisas ficam por ali e bagunçam o tecido nervoso, deixando o cérebro cheio de buracos como uma fatia de queijo suíço.
Descobriu-se que na Nova Guiné esses príons estavam se alastrando por causa do canibalismo. Ninguém parece saber de onde esses príons vieram originalmente, mas quando entram no organismo espalham a devastação. Alguns sugerem que um mero grão de carne infectada pelo príon — do tamanho de uma semente de pimenta — é suficiente para infectar uma vaca. Quando os pequenos patifes são liberados da carne que você ingeriu, espalham-se como um exército de Pac Men, indo direto para o seu cérebro e devorando tudo pelo caminho.
E a parte inacreditável é esta — não é possível matá-los... porque não estão vivos!
A doença entrou na cadeia alimentar na Inglaterra por intermédio das ovelhas, depois se espalhou para as vacas, quando foram alimentadas com partes moídas de suas companheiras ovelhas e vacas. No final, a carne doente foi vendida ao povo inglês. A doença pode ficar adormecida por até trinta anos antes de desencadear um inferno; somente depois da morte de dez jovens, em 1996, o governo britânico reconheceu que havia algo errado com o suprimento de carne — algo que suspeitavam há dez anos.
A solução britânica para erradicar a fonte da doença é destruir toda a vaca suspeita de ter kuru, ou a doença da vaca louca, cremando-a. Mas, quando são queimadas, a ameaça não desaparece; não é possível matá-los, como já disse. A fumaça e as cinzas simplesmente os carregam para uma nova localidade, libertando-os para encontrar seu caminho de volta para a mesa de jantar inglesa.
Os americanos não estão imunes a essa doença mortal. Alguns especialistas estimam que cerca de 200 mil cidadãos dos Estados Unidos diagnosticados com a doença de Alzheimer podem, na realidade, carregar a proteína alienígena e que sua demência seja na verdade uma forma de vaca louca.
A Inglaterra, assim como muitos outros países, desde então baniu a alimentação canibalística dos animais de sua própria raça, e nenhuma migalha ou restos de comida destinados a humanos podem ser usados em fazendas de gado. O FDA, a agência americana que supervisiona os alimentos e medicamentos, seguiu o exemplo, banindo a alimentação de animais com outros animais de sua própria raça. Mas produtos canibalísticos ainda existem. E veja como isso é assustador: muitos medicamentos e vacinas, incluindo aquelas para pólio, difteria e tétano podem ter sido feitas com produtos que poderiam, em teoria, carregar a doença da vaca louca.
Tanto a Inglaterra como os Estados Unidos têm sido lentos em agir com relação a essa praga crescente. Certifique-se, caso tenha de ingerir um hambúrguer ou um bife, de cozinhar aquele safado até ficar negro. Quanto mais sem gordura, melhores são suas chances.
Eu? Eu vou parar de comer qualquer carne a menos que alguém possa me provar que o PBB que arrasto em minhas entranhas seja capaz de vaporizar os malditos parasitas comedores de cérebro humano da vaca louca.
Pensei em simplesmente mudar-me para a Califórnia e tornar-me vegetariano. Não — espere! Não na Califórnia. Fale de um lugar com caos ecológico em todos as direções que se olhe. Se a Golden State não está sendo atingida por terremotos, está sendo totalmente incendiada por fogos selvagens incontroláveis. O que as queimadas não destroem, os deslizamentos de terra acabam por destruir. Se o Estado não está passando por uma grande seca, então está sendo atingido por uma La Niña, El Niño ou El Loco. A costa oeste é um lugar maluco onde largaram um bando de humanos: estou convencido de que nunca esteve nos planos da natureza que nossa espécie se fixasse ali. Ela simplesmente não foi construída ecologicamente para nossa sobrevivência. Não importa quanta relva seja colocada na areia do deserto ou quanta água seja bombeada do rio Cobrado a milhares de quilômetros de distância, não é possível enganar a Mãe Natureza — e, quando tentamos, Mãe Natureza fica realmente puta da vida.
Os índios descobriram isso logo. Alguns cientistas dizem que havia mais poluição na bacia de Los Angeles quando dezenas de milhares de índios e seus acampamentos estavam lá do que existe agora, com oito milhões de carros nas estradas. Os índios não suportavam o modo como sua fumaça simplesmente ficava parada no ar, aprisionada pelas montanhas. E quando a terra se mexeu e dividiu-se, eles entenderam a mensagem e caíram fora.
Mas nós não. A Califórnia é nosso sonho. Trinta e quatro milhões de pessoas — um oitavo de nossa população — estão atulhadas em uma tripa de terra entre uma cadeia de montanhas e o oceano. Isso representa um mana para as empresas de energia: 34 milhões de babacas de quem tirar vantagem.
Bem-vindos, apagões que vão e vêm!
Nos velhos e bons tempos, a eletricidade da Califórnia era fornecida por monopólios regionais, cujas taxas eram fixadas pela legislação estadual. Então, em meados de 1990, a desregulamentação do setor foi implantada como maneira de as empresas escaparem dos altos custos que haviam enfrentado ao construírem usinas atômicas — e como um modo de ganhar muito mais dinheiro. Um dos defensores mais estridentes da desregulamentação foi a Enron — uma das principais contribuintes do partido republicano e de George W Bush, em particular.
Em 1996, a desregulamentação entrou em vigência graças a um artigo de legislação que levou três semanas barulhentas para ser aprovado e incluía um pagamento-caução de US$ 20 bilhões às concessionárias da Califórnia — grande parte do qual foi usado para encobrir os maus investimentos feitos no passado. Durante quatro anos os preços ficaram congelados — em níveis acima da média — mas aconteceu o mesmo com a competição, que em teoria deve aumentar em um mercado desregulado. Existia uma barreira contra a construção de novas usinas, e portanto os californianos ficaram cada vez mais dependentes de fornecedores independentes e de fora do Estado. Assim, em 2000, muitas vezes a energia foi comprada no mercado diário — a preços absurdamente inflacionados.
Atualmente, os consumidores não apenas pagam mais, como são forçados a atravessar períodos do dia sem eletricidade. Mas não é porque não existe energia suficiente. O Operador Independente do Sistema, a agência da Califórnia que supervisiona a transmissão de eletricidade, tem acesso a cerca de 45 mil megawatts de energia — a quantidade necessária para o pico da demanda de verão. As companhias de energia estão segurando até 13 mil megawatts dessa energia, ficando fora de funcionamento (por motivos que não precisam divulgar). O Wall Street Journal divulgou, em agosto de 2000, que a capacidade fora de uso havia aumentado 461% em relação ao no ano anterior. E, claro, suprimento mais escasso significa preços mais altos.
O RANCHO ECOLOGICAMENTE CORRETO DE GEORGE W. NO TEXAS
Bush pode não ligar para o resto do meio ambiente, mas seu novo rancho em Crawford, no Texas, é surpreendentemente correto em termos ecológicos. A casa tem:
Mas não é o que acontece naquelas cidades servidas por concessionárias comunitárias. As pessoas de Los Angeles e de outras áreas em que o povo ainda é dono da energia não passou por apagões. Outros Estados no Sudoeste e no Noroeste junto ao Pacífico têm fornecimento de energia suficiente para livrar grande parte da Califórnia dessa crise recente, ao providenciar quase 25% de suas necessidades energéticas.
Enquanto todo esse drama hollywoodiano acontecia, o Júnior e o tio Dick aproveitavam o momento para angariar apoio público, a fim de construir mais usinas nucleares, queimar mais carvão, perfurar mais em busca de petróleo. Nesse meio tempo, Bush construiu uma nova casa em sua fazenda no Texas que é um sonho ambientalista. É suprida por energia solar, a água do esgoto é reciclada. E a residência vice-presidencial de Cheney é equipada com aparelhos de última geração para conservação de energia, instalados pelo presidente-no-exílio, Al Gore.
Energia limpa e renovável é boa para eles, mas o resto de nós pegou a mensagem, alta e em bom som:
“DEIXE QUE DIRIJAM MINIVANS!”
“DEIXE QUE COMAM CARNE!”
O FIM DOS HOMENS
No começo de 2001, minha esposa e eu fomos ao batismo de nosso novo sobrinho, Anthony. Nossa filha adolescente foi convidada para ser sua madrinha, tarefa que exigiria que ela estivesse lá para ajudar o pequeno Anthony caso precisasse arrotar, ser criado como católico ou ambas as coisas.
Descobrimos que a cerimônia de batismo mudou muito na Igreja Católica. Em vez de apenas dizer “corra, vamos pôr um pouco de água na fronte dele antes que percamos sua alma para Satã”, a Igreja agora faz disso um evento alegre durante a missa de domingo.
Mais ou menos no meio do rito, padre Andy pediu que a família inteira se reunisse em volta da grande pia batismal enquanto o pequeno Anthony Proffer era submergido na água benta e depois vestido com roupas totalmente brancas. O padre então segurou Anthony para cima para que toda a congregação pudesse ver, e todos na igreja aplaudiram com entusiasmo.
Ninguém aplaudia mais alto do que eu.
Porque essa foi a primeira vez em treze anos que nasceu um MENINO na nossa família.
Treze bebês em treze anos em nossa família. São onze meninas e dois meninos.
Agora acho que todos concordaríamos que ter uma menina, bem, dá muito menos trabalho. Não que gostemos menos dos meninos; e com um bom plano de saúde que cubra quebra de braços, dentes e clavícula, com cobertura adicional para dedos presos em portas de carros e reclamações de machucados feitos por vizinhos que alegam que nosso pequeno e adorável menino queimou o Celica deles “só para ver quanto tempo demora para a Toyota pintar as marcas de queimaduras”, não é mais difícil criá-los do que criar meninas.
Vivi minha vida inteira em lares nos quais os homens eram sem dúvida a minoria. Não tenho irmãos, mas duas irmãs maravilhosas. Elas e minha mãe atestavam se eu fazia todo o “trabalho feminino” em casa, ao passo que a meu pai davam permissão ocasional para assistir a um torneio de golfe aos domingos. Tentei igualar um pouco as coisas, argumentando que deveria poder decidir mais já que era o mais velho, mas isso somente estimulava a maioria feminista infantil de minhas irmãs. Até hoje, como testemunho do comportamento assertivo delas, aqueles que nos encontram quando estamos juntos se convencem de que minhas irmãs são mais velhas do que eu, e que sou o bebê da família.
Agora vivo com minha esposa e minha filha. Em minoria de novo. Quaisquer que fossem os hábitos masculinos assustadores, que não haviam sido exorcizados por minhas irmãs e minha mãe, essas duas não tiveram compaixão em terminar o serviço. O último foi libertar-me de cuspir pasta em todo o espelho do banheiro enquanto escovo os dentes. Esse dai só levou dezenove anos. Elas me dizem que a lista agora só tem uma página, com apenas três ou quatro comportamentos consternadores ainda por aniquilar (equilibrar meu Big Gulp (1.Copo de 1,3 litros, disponível na cadeia de lojas de conveniência 7 Eleven (N.T).) entre o volante e mim, enquanto dirijo; deixar manchas indeléveis de tinta no braço da cadeira na qual costumo cochilar; roncar — apesar de que temo que este só seja corrigido com um travesseiro sendo “acidentalmente” colocado sobre minha face e misteriosamente mantido ali, fortemente, por uns bons três a cinco minutos).
Verdade seja dita, sou uma pessoa melhor por ter vivido minha vida rodeado por mulheres fortes, inteligentes e carinhosas. Só teria sido legal brincar de pega-pega. Uma vez.
Meus pais não têm netos. Minhas irmãs e eu só temos filhas. Os pais da minha esposa têm quatro filhas e apenas dois filhos. Que, por sua vez, produziram mais oito meninas e apenas dois meninos adicionais. Os dois irmãos de minha esposa e eu só temos meninas. Não há um jogo de futebol americano em minha família desde o colegial. Esse sacrifício parece ter passado desapercebido por quase todos os envolvidos.
Ofereço esse instantâneo sobre a composição sexual de minha família para destacar uma descoberta muito maior que fiz. Avaliando esse coeficiente desequilibrado, comecei a perguntar por aí para descobrir se outras pessoas estavam passando pelo mesmo — mais bebês mulheres nascendo do que bebês homens. Para minha surpresa, não estava sozinho.
Ultimamente, quando pedem-me para dar uma palestra em uma universidade ou grupo comunitário, por um momento deixo de lado o discurso preparado para perguntar quantos dos presentes na sala estão vendo mais meninas nascerem em suas famílias do que meninos. Muitas mãos sempre se levantam.
Numerosas pessoas começaram a contar-me seus segredos — de que a categoria dos meninos está minguando. Parece que em algumas famílias está totalmente extinta. Sempre os consolo dizendo que não há necessidade de sentir vergonha por sua incapacidade de produzir descendentes masculinos.
Então eu percebi... algo está acontecendo.
E, com certeza, algo está. O Censo confirma que o número de bebês homens nascendo vem declinando todos os anos nos Estados Unidos, desde 1990! Além disso, as mulheres vivem cada vez mais: oitenta anos, em média, contra apenas 74,2 para os homens. Quando eu era criança, o país parecia bem 50-50, feminino-masculino, com talvez as mulheres em ligeira vantagem. Daí a proporção foi para 51-49, com as mulheres na maioria. Logo estará em 52-48.
Portanto, terei de chegar a uma horrível mas irrefutável conclusão:
Caras! A Natureza está tentando nos eliminar!
Por que a Mãe Natureza está fazendo isso? Não somos nós os portadores da semente da vida? O que fizemos nós, homens, para merecer isso?
Ao que parece, muito.
Nos primórdios da humanidade, servimos uma função crítica e necessária para o crescimento da espécie. Nós caçávamos e juntávamos comida, protegíamos as mulheres e as crianças de animais maiores que conspiravam para comê-las e ajudamos o número de Homo sapiens a multiplicar-se rapidamente com muito sexo randômico e irrestrito. Desde então, é só ladeira abaixo para nos.
COMO ENGANAR A NATUREZA PARA QUE PRODUZA MAIS HOMENS
Nos últimos séculos, as coisas parecem ter tomado uma direção fatal para nosso gênero. Como é de nosso costume, iniciamos o trabalho em uma série de projetos que estragou tudo e fez uma bagunça com o mundo. As mulheres? Elas não merecem nem um pouco de culpa. Elas continuaram a trazer vida para este mundo; nós continuamos a destruí-la, sempre que podíamos. Quantas mulheres bolaram alguma idéia para exterminar uma raça inteira de pessoas? Nenhuma que eu tenha encontrado na academia de ginástica. Quantas mulheres derramaram petróleo nos oceanos, jogaram toxinas em nosso suprimento de comida ou insistiram para que projetassem um utilitário maior, maior, MAIOR? Hummm, deixe-me ver...
Das 816 espécies que foram extintas desde que Colombo se perdeu e aportou aqui (outro homem que se recusava a perguntar o caminho) — a maioria das quais são elos necessários em nosso frágil ecossistema — quantas você acha que foram erradicadas pelas mulheres? De novo, acho que todos sabemos a resposta.
Se você fosse a Natureza, como reagiria a uma investida tão brutal? E o que você faria se percebesse que se tratava de um gênero particular de humanos que estava fazendo de tudo para te destruir? Bem, a Mãe Natureza tem o hábito de acabar com a farra. Ela se defenderia de todos os modos necessários, é isso que ela faria. Ela levantaria todas as barreiras para salvar a vida dela, para sobreviver a qualquer custo, mesmo que isso significasse eliminar metade da própria coisa que deveria manter funcionando a sua espécie mais avançada.
Sim, a Natureza graciosamente deu à nossa espécie a forma mais alta de inteligência e confiou a ela seu futuro — mas, de repente, pareceu que um dos gêneros havia decidido dar a maior das festas de arromba durante o turno da Mãe Terra. Agora, de ressaca e mau humor, a Mãe está brava com quem colocou a droga na bebida dela.
O réu tem uma careca, uma barriguinha de chope e nunca coloca a tampa de volta em nada.
Aí, caras, fomos flagrados; não há como escapar da fúria da Natureza. Não podemos colocar a culpa por nada disso nas mulheres: não foi uma mulher que jogou as bombas napalm, que inventou o plástico ou disse: "Diabos, o que precisamos é de uma lata de cerveja fácil de abrir!" Infelizmente, toda a pilhagem e saque, todos os ataques ao meio ambiente, tudo que trouxe horror e destruição para o que uma vez foi puro e bom veio de mãos
OUTRAS COISAS QUE JÁ SE TORNARAM INUTEIS PELA NATUREZA
que, bem, quando não estão ocupadas dando prazer a seus donos, trabalham horas extras para destruir essa maravilhosa e linda casa que nos deram de graça — sem precisar de depósito de segurança ou análise de antecedentes.
Não admira que a Natureza esteja se livrando de nós.
Se os homens tivessem alguma sensibilidade, tentaríamos fazer com que a Natureza nos perdoasse, consertando nossas burradas. Você sabe, fazer as coisas óbvias; parar de profanar a vastidão do Ártico, limpar nossa sujeira, parar de jogar restos de sanduíche pela janela do carro.
A Natureza provavelmente agüentaria muitos de nossos disparates se ainda servíssemos para algo importante. Por uma eternidade tivemos duas coisas que as mulheres não tinham e que nos tornavam uma necessidade: (1) fornecíamos o esperma para continuar a espécie, e (2) éramos capazes de alcançar e pegar qualquer coisa que elas precisassem da prateleira de cima.
Infelizmente para nós, algum sujeito traidor inventou a fertilização in vitro, o que significa que agora as fêmeas precisam apenas de esperma de alguns de nós para ter filhos. Na realidade, alguém (provavelmente uma mulher) anunciou no Arizona que a ciência encontrou um meio de reprodução humana que nem mesmo exige esperma para fertilizar um ovo — agora podem fazer isso com DNA. As mulheres não precisam mais rastejar de debaixo de algum homem babado e com a cara enfiada no travesseiro, simplesmente porque querem ter filhos. Tudo de que necessitam agora é de um tubo de ensaio.
A outra invenção que acabou com a população masculina foi a escada de mão. A escada de alumínio portátil, fácil de carregar, para ser preciso. Quem foi o desgraçado que apareceu com essa idéia brilhante? Qual desculpa temos para ficar por aqui agora?
A Natureza tem um modo para livrar-se de seus elos mais frágeis, aqueles que não têm mais utilidade, o peso morto. Esse, meus amigos, somos nós. A ciência reprodutiva e três pequenos degraus de alumínio elevando-se acima da superfície tornaram-nos tão úteis quanto uma fita de gravação com oito canais.
Bem, vejamos o lado bom: tivemos uma carreira dos diabos! Milhares de anos de dominação total da ordem social — e ainda continuamos fortes! Pense nisso — não houve um único dia em que não estivéssemos no comando, em que não déssemos as ordens e governássemos o mundo! Nem mesmo os Yankees podem reivindicar tal reinado ininterrupto de poder inconteste.
Quer dizer, estamos aqui, a minora, e no entanto nós homens governamos a maioria feminina desde tempos imemoriais. Em outros países chamamos isso de apartheid; nos Estados Unidos, chamamos de normal. Desde o nascimento deste país, há mais de 225 anos, nos asseguramos de que nem uma única mulher tivesse nem o cargo número um, nem o número dois no país. Durante a melhor parte desse período, certificamo-nos para que muito poucas delas tivessem qualquer tipo de cargo. Na realidade, pelos primeiros 130 anos de eleições presidenciais, era ilegal que as mulheres até mesmo votassem.
Então, em 1920, só para mostrar às mulheres como somos bons jogadores, demo-lhes o direito de voto. E adivinha o que aconteceu? Continuamos no poder!
Vai entender. De repente, as mulheres tinham mais votos; elas poderiam ter jogado nossos traseiros na montanha de lixo político. Mas o que fizeram? Elas votaram em nós! Não é bacana? Você já ouviu falar de um grupo de pessoas oprimidas que, de repente, simplesmente por causa de seu número, toma o poder — e dai vota em números esmagadores a fim de manter seus opressores no poder? Os negros da África do Sul, uma vez livres, não continuaram com o apartheid, votando nos brancos. Não conheço judeus nos Estados Unidos que tenham votado em George Wallace, David Duke ou Pat Buchanan (confusão da Flórida inclusa).
Não, a coisa normal que uma sociedade sã faz é dar um chute na bota que esmagou seu pescoço por um monte de anos.
No entanto, mais de oitenta anos depois de terem conquistado o direito de votar — e apesar do crescimento de um movimento feminino maciço — eis onde estamos:
Cedo ou tarde, as mulheres descobrirão como tomar o poder — e, quando isso acontecer, pediremos misericórdia. Afinal, elas são o gênero mais forte. Ao contrário do que diz o mito popular, são os homens que pertencem ao sexo frágil. Considere as evidências:
Talvez não haja explicação lógica para tal disparidade. Talvez, como nos ensinaram as freiras, faça tudo parte de um plano de Deus. Mas, se esse é o caso, por que Deus fez as mulheres tão melhores? As freiras devem ter informações confidenciais sobre esta questão — afinal, também eram todas mulheres. Elas sabiam o segredo de Deus e certamente não o dividiriam com gente como eu.
Acredito — e isto vem somente de minhas observações pessoais da mulher com a qual vivo — que quando Deus estava criando o mundo, passou a melhor parte do sexto dia bolando como as mulheres seriam fisicamente. Isto é, não dá para não notar o trabalho habilidoso de um artesão no topo de sua carreira. As formas, as curvas, a simetria, tudo isso é uma arte extraordinária. A pele é macia, lisa e perfeita; o cabelo delas é abundante, grosso e vibrante. Não falo aqui a partir de uma perspectiva lasciva — são apenas as conclusões do crítico de arte que há em mim. As mulheres — acho que todos concordamos — são estonteantemente lindas.
LISTA IMAGINÁRIA DE MULHERES PRESIDENTES DO MIKE
Então, o que aconteceu com Deus quando chegou nossa vez? É como se tivesse gasto todos os seus melhores truques inventando as mulheres. Quando chegou em nós, estava obviamente pronto para acabar logo com aquilo, passar para algo mais importante, como aquele sétimo dia de descanso.
Portanto, os homens acabaram ficando como Chevys, tirados rapidamente da linha de montagem e com garantia de quebrar depois de uso limitado. É por isso que tentamos ficar em nossas poltronas reclináveis o maior tempo que conseguimos — o esforço necessário para limpar nossas coisas pode nos levar a uma coronária precoce. Nossos corpos foram feitos para levantar, carregar, empurrar e jogar, mas por tempo limitado. E, preciso dizer isso, o que é essa coisa extra que nos deram? Bem, deixe-me colocar da forma mais delicada possível: Deus, na pressa de terminar logo, parece que simplesmente catou uma parte perdida que tinha por ali na oficina e a pregou na gente — porque não parece nem um pouco certo. Se a gente pegasse um item como esse e o colasse em um poste de luz ou em uma árvore, diríamos: “Não, acho que não”. Mas ninguém questiona a presença dele em um cara. Como uma criatura do Alien re-estofado por Frank Purdue, o órgão masculino é testemunho do fato de que, de vez em quando, como acontece com as enchentes em Bangladesh ou os dentes dos britânicos, Deus simplesmente não consegue fazer direito.
Entristecidos com as desvantagens conta nós, alguns homens simplesmente ficaram loucos e passaram a lutar do jeito que conseguem. Se a Natureza vai favorecer as mulheres, eles então acreditam que precisam tomar o rumo das coisas em suas mãos. A atitude deles: se não conseguimos combatê-las, vamos bater nelas.
Atualmente, a tendência dos homens para machucar, mutilar ou assassinar mulheres é vista por muitos como “politicamente incorreta”, e as leis foram fortalecidas para proteger as mulheres de nós. Mas, como sabemos, as leis são feitas apenas para punir depois de um crime ser cometido. Poucas leis pararam esses homens que tencionam descarregar sua vingança sobre as mulheres. As mulheres sabem muito bem que o 911 só serve para notificar a polícia de que é melhor trazer um saco para carregar o corpo e um limpador potente para arrumar a bagunça, porque, quando chegarem lá, aquela ordem de afastamento que a justiça determinou para mantê-lo longe estará enfiada na boca dela e o rigor mortis estará se estabelecendo, muito o brigado.
Os homens abençoados com mais sutileza freqüentemente recorrem a outros meios que não assassinato direto para equilibrar os pontos entre homens e mulheres. Por exemplo, as empresas de fumo (todas dirigidas por homens) têm obtido muito sucesso em convencer mulheres a fumar —em uma época em que o número de fumantes masculinos está caindo. Graças a toda essa fumaça feminina, o câncer de pulmão agora ultrapassou o de mama como o câncer que mais mata mulheres. Total de mulheres eliminadas todos os anos pelo cigarro: 165 mil!
Recusa de tratamento é outro truque que os homens empregam para igualar a população feminina. Se você precisa de um transplante de órgão para continuar vivo, tem 86% mais chances de receber um se for homem. Homens que sofrem de doenças cardíacas têm 115% mais chances de receber um marcapasso do que mulheres nas mesmas condições. E, se você é mulher, tem mais probabilidade de pagar mais pelo seguro saúde do que os homens, para receber esse cuidado de má qualidade.
É claro que, quando todo o resto falha, também é possível voltar para o assassinato. Normalmente funciona. Uma mulher tem cinco vezes mais chances de ser morta por um marido ou namorado do que um homem de ser morto por sua esposa ou namorada.
Vamos manter esse ritmo e quem sabe a gente finalmente consiga alguma coisa.
COMO SOBREVIVER À SUA CAMA PEGANDO FOGO
COMO OS HOMENS PODEM EVITAR A EXTINÇÃO
Por mais triste que o futuro nos pareça, existe alguma esperança de que nós, como homens, possamos retardar nossa extinção — se aprendermos a adotar alguns novos comportamentos muito importantes. Existem muitas coisas que podemos aprender com as mulheres e como elas funcionam sensatamente. A seguir, vão algumas delas:
Pare de se enraivecer com o carro que acabou de passar na sua frente. Por que você se importa com isso? Você gastará exatamente o mesmo tempo para chegar em casa. E daí se um cretino te fez gastar quatro segundos na rua? Grande coisa! Contenha-se. As mulheres não dão tanta importância para coisas como essa e vivem mais por causa disso. Quando vêem um cretino na rua, simplesmente balançam a cabeça e riem — e isso funciona! Caras, temos que relaxar. Estamos estragando nossos corações com todos esses minutos de comportamento tenso, duro e bravo. Pare de andar por aí como se tivesse um abacaxi enfiado na bunda. Nada tem TANTA importância. (Exceto um abacaxi de verdade. Isso seria algo horrível.)
4.LAVE SUAS MÃOS EM TODOS OS ESTADOS UNIDOS. É hora de ficar esperto: nossos hábitos pessoais são tão revoltantes que é um milagre as mulheres estarem dispostas até a respirar o mesmo ar que nós. Se nós homens pudéssemos ao menos nos aprumar e mudar algumas coisas simples, imediatamente atrairíamos mais empatia e companheirismo. Para começar, deveríamos manter nossas mãos no lugar delas. Não foram feitas para serem usadas nas narinas, ânus, ouvidos ou umbigo. Não foram projetadas para rasgar artigos do jornal antes que ela tenha chance de lê-los, para tirar um pedaço de carne entalado entre seus dentes ou para lixar o rasto de caspa em sua cabeça. Pare de conferir (e ajeitar) seu saco em público — nada desapareceu desde sua última inspeção, cerca de um minuto atrás. Mantenha suas pernas fechadas, para não ocupar três assentos no ônibus ou trem. Use roupas de baixo — preferivelmente, roupa de baixo que foi lavada este ano, em uma máquina de lavar roupas, com sabão em pó de verdade.
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Isso não quer dizer que você não possa ajudar a melhorar as coisas. A melhor forma de ajudar as mulheres é tentar convencer os colegas homens. É aí que reside a verdadeira batalha — fazer o esclarecimento passar pelo bloco de concreto conhecido como a cabeça de um homem.
Ajude a superar o abismo de salário olhando para seu contracheque. Certifique-se de que as mulheres que desempenham as mesmas tarefas no trabalho recebem o mesmo que você. Participe do Equal Pay Day, normalmente organizado no começo de abril, no dia que marca o ponto do ano quando uma mulher finalmente recebe o mesmo salário pago a um homem em um cargo comparável durante o ano anterior. Contate o e-mail fairplay@aol.com para receber mais informações.
E você pode se juntar à tentativa de pressionar o Congresso para que aprove duas legislações nacionais que regulam o pagamento igualitário. Essa lei permitiria que as mulheres abrissem processo com base no princípio de pagamentos iguais para trabalhos iguais, e permitiria que os empregados de uma mesma empresa a processassem caso acreditassem que estavam sendo pagos menos do que outra pessoa com um cargo e treinamento equivalentes. A Lei de Igualdade Salarial prevê as maiores somas nesse tipo de processo legal e protege os empregados que trocam informações sobre salários. O Centro para Políticas Alternativas tem trabalhado na igualdade de pagamento nos últimos 25 anos. Para saber mais, www.cfpa.org, ou entre em contato pelo telefone 202-387-6030.
Finalmente, filie-se a um sindicato — ou tente abrir um. De acordo com a AFL-CIO, uma afiliada feminina de trinta anos de um sindicato, que ganha US$ 30 mil por ano, pode perder cerca de US$ 650.133 durante sua vida por causa de pagamentos desiguais. Se ela não for filiada a um sindicato, por outro lado, perderá cerca de US$ 870.327. Se você convencer os outros homens do trabalho a sindicalizar a empresa, então terá melhorado muito a vida de suas colegas mulheres e a sua própria.
COMO AS MULHERES PODEM SOBREVIVER SEM HOMENS
Pelo telefone ou pela internet:
(800) 289-8423 ou (415) 974-8990
www.goodvibes.com
The Pleasure Chest
(800) 753-4536 fax: (323) 650-1176
www.thepleasurechest.com
Xandria
(800) 242-2823 ou (415) 468-3805
fax: (415) 468.3912
www.xandria.com
Lojas de varejo:
Good Vibrations
2504 San Pablo Avenue
Berkeley, CA 94702
(510) 841-8987
The Pleasure Chest
7733 Santa Monica Blvd.
Santa Monica, CA 90046
(323) 650-1022
Xandria
12 10 Valencia Street
San Francisco, CA 94110
(415) 974-8980
SOMOS A NUMERO UM!
A manchete não poderia ser mais clara: “Todos os países da Terra assinam Acordo sobre Aquecimento Global, EUA recusam-se”.
Sim, mais uma vez, o mundo nos odeia.
Boo hoo hoo. Então, qual é a novidade?
Somos o país que todos amam odiar. E quem pode culpá-los? Obviamente, nós nos odiamos — ou como explicar o “presidente” W? Em outra época, sua cabeça já estaria adornando uma das pontes sobre o Potomac. Em vez disso, ele saracoteia ao redor do planeta dizendo às pessoas que é nosso “líder eleito”, e nós parecemos ignorantes e tolos. O mundo está rindo de nós, não conosco.
Que triste — afinal de contas, até pouco tempo atrás tudo parecia progredir internacionalmente para nós — pela primeira vez depois de um longo período. Fomos bem-sucedidos dando à luz o primeiro acordo de paz na Irlanda do Norte. Fizemos as facções radicais de Israel e dos Territórios Ocupados acalmarem-se e sentarem-se para conversar (e pela primeira vez os palestinos conseguiram algum território). Finalmente reconhecemos a existência do Vietnã (no entanto, ainda não fomos capazes de pedir desculpas por matar três milhões de seus cidadãos. Acho que os alemães elevaram muito esse patamar — ficamos alguns milhões abaixo deles). A pressão norte-americana na África do Sul ajudou a libertar Nelson Mandela e impulsionou o país rumo à democracia, resultando em sua eleição à presidência.
E, finalmente, devolvemos um garotinho para seu pai em Cuba — na primeira vez em que um bando de loucos de Miami não decidiu nossa política internacional neste hemisfério.
Sim, eu devo dizer, o Tio Sam estava muito bem aos olhos do mundo — até esse tolo, que, segundo dizem, nunca cruzou um oceano, assumir o controle no número 1.600 da avenida Pensylvania.
Durante os primeiros quatro meses no cargo, foi assim que George W. Bush lidou com o resto do mundo:
Tudo isso em menos de 120 dias — e em meio a lances para derrubar políticas internas, como já vimos. Aqueles que pensavam que Júnior era um medíocre certamente ficaram impressionados com seu arranque.
Então o mundo voltou a nos odiar. Pelo menos, estamos em território conhecido.
Mas, por outro lado, é uma grande vergonha retornar ao papel de vilão. Foi bom ver os estrangeiros nos enxergarem como mocinhos pelo menos uma vez. O charme de Clinton nos permitiu passar ilesos por muita coisa: o silencioso aumento do trabalho infantil e exploratório no Terceiro Mundo patrocinado por companhias norte-americanas, o despejo de produtos perigosos em países pobres e a exportação de filmes de Hollywood ainda piores.
De fato, Clinton fez várias coisas iguais a Bush — ele apenas não as esfregava na cara das pessoas. Veja você, Clinton era cool — tanto que na maior parte do tempo quase ninguém sabia o que ele faria. Clinton nos deu uma cobertura tão boa que durante alguns anos os norte-americanos puderam viajar tranqüilos para a maioria dos países sem a ameaça de a multidão nos perseguir.
Mas agora, graças à política externa “Abocanhe-me” de Bush, é muito mais difícil justificar porque nós, os 4% mais arrogantes da população mundial, devemos deter mais de um quarto de sua riqueza. Se não tomarmos cuidado, todos esses estrangeiros arrogantes e emancipados começarão a achar que merecem seus próprios pagers digitais e lâmpadas embutidas. E os desconfiados e os opositores, muito numerosos em países oprimidos, podem perceber que os três homens mais ricos dos Estados Unidos têm mais bens pessoais do que as posses combinadas de toda a população dos sessenta países mais pobres.
UM DIA TÍPICO NA ViDA DO “PRESIDENTE" GEORGE W. BUSH
8h00 — O Presidente dos Estados Unidos (OPDEU) acorda, checa se ainda está na Casa Branca.
8h30 — Café na cama. Rumsfeld lê para ele o horóscopo e os quadrinhos.
9h00 — "Co-presidente” Cheney dá uma passada para ajudar George a se vestir, menciona a situação no Iêmen, lembra George de escovar os dentes.
9h30 — OPDEU chega ao Salão Oval, cumprimenta a secretária.
9h35 — OPDEU deixa o Salão Oval para ir malhar na academia da Casa Branca.
11h00— Massagem e pedicure.
Meio-dia — Almoço com o conselheiro de beisebol Bud Selig. Selig confirma que ainda não há vagas abertas na diretoria.
13h00 — Cochilo.
14h30 — Foto com o "time do dia” da Liga Infantil.
15h00 — OPOEU volta ao Salão Oval para discutir legislação com os membros do Congresso.
15h05 — A reunião acaba. Os congressistas afirmam à imprensa que "a reunião foi muito frutífera. O presidente nos disse para ‘aprovar algumas leis’ e então nos fez recolher bolas no gramado sul”.
15h10 — Cheney instrui OPDEU sobre política energética e diz que Bush Júnior deve "mandar bilhetes de agradecimento” aos cabeças das companhias de petróleo.
15h12 — OPDEU pede para ver o mapa do mundo; parece surpreso de "como o mundo ficou grande”.
15h40 — OPDEU memorizou todas as 191 capitais em menos de meia
15h44 — Bush liga para o primeiro-ministro da Romênia "só porque eu posso”; desafia o primeiro-ministro da Romênia a dizer qual é a capital de Burma; o primeiro-ministro da Romênia não consegue entender uma palavra, já que OPDEU fala em espanhol.
15h58 — OPDEU aceita uma chamada a cobrar da cadeia de Austin. A descendência de OPDEU está detida por profanar seu retrato de governador no prédio da sede do executivo. OPDEU finge que a ligação está ruim, imita a voz de uma mulher mexicana que "cruzou a linha e desliga. Ouve-se dizer. “Ela puxou a família”.
16h00 — Acaba o expediente; OPDEU retira-se para a ala privativa para uma breve soneca.
18h00 — Jantar com chefes de Estado africanos. Diz a Cheney: “Não posso pensar sobre a África agora — é o ‘continente negro’, sabe!”. OPDEU pede ao co-presidente que fique em seu lugar.
18h05 — OPDEU vai nadar na piscina da Casa Branca.
19h00 — Ligação para Laura no rancho no Texas ("só para checar”).
19h02 — OPDEU vai para a sala de projeção da Casa Branca; assiste Dave — Presidente por um Dia (de novo); adormece.
20h30 - Cheney acorda OPDEU, leva-o para seu quarto, cobre-o, deseja boa-noite. CO-OPDEU desce as escadas e prossegue com o plano de destruição do planeta Terra.
E se os bilhões que pululam na Ásia, África e América Latina começarem a achar que um bilhão deles, até agora sem água potável, deveriam de fato tê-la? Você sabe o quanto isso custaria? Pelo menos 25% do nosso programa “Guerra nas Estrelas”!
E se os 30% do mundo que ainda não estão cabeados — para a transmissão de energia elétrica — de repente resolverem rosquear uma lâmpada e ler um livro? Uh! Cuidado!
Meu maior medo vem dos 50% de nossos companheiros terráqueos que nunca deram um telefonema! E se, do nada, eles decidirem ligar para casa no dia das mães ou começarem a congestionar as linhas para pedir sushi? Será que não ouviram que não há mais tantas linhas telefônicas à disposição?
Não há razão para provocar mais raiva nessas pessoas; elas já estão suficientemente bravas conosco, graças à lamentável atuação de Bush. Além disso, temos peixes maiores para detonar.
De quem foi a idéia estúpida de ignorar a oferta da Rússia quinze anos atrás para acabar com todas as armas nucleares? Alguém esqueceu que eles estavam dispostos a se desarmar unilateralmente após a dissolução da União Soviética? Em 1986 (antes do fim da URSS), numa cúpula na Islândia, Mikhail Gorbachev colocou na mesa a proposta de “erradicação total das armas nucleares até o ano 2000”. (Ele não pôde fazer um acordo devido à recusa de Reagan em desistir do desenvolvimento — você adivinhou — do “Guerra nas Estrelas”). Para o caso de Reagan não ter ouvido da primeira vez, Gorbachev reiterou a oferta a Bush, “O Eleito”, em 1989: “Para manter a paz na Europa precisamos do controle das armas nucleares, não de um retrocesso. O melhor seria a erradicação das armas nucleares”.
Naquela época, vivíamos há quarenta anos sob a constante e iminente ameaça de aniquilação nuclear. E então, de repente, os comunistas tinham desaparecido e a Guerra Fria havia acabado. Ficamos com mais de vinte mil ogivas nucleares — e os ex-soviéticos tinham outras 39 mil. E poder de fogo suficiente para explodir o mundo todo quarenta vezes.
Acho que a maioria de nós da geração baby boom cresceu pensando que não chegaria ao fim da vida sem, pelo menos, o lançamento “acidental” de um desses mísseis. Como isso poderia ser impedido? Com essa quantidade de armas apenas esperando para serem lançadas a qualquer momento, parecia inevitável que ou um louco acabaria apertando “aquele” botão, ou algum mal-entendido levaria a um ataque total, ou algum terrorista poria as mãos no material e o usaria sozinho. Nos acovardamos sob uma nuvem de medo que afetou tudo o que fizemos como nação. E gastamos trilhões tentando aliviar esse medo — construindo ainda mais armas de destruição em massa.
Gastando todo esse dinheiro de impostos num monte de ogivas inúteis que esperamos nunca usar, deixamos nossas escolas irem para o inferno, falhamos em oferecer serviços de saúde para os cidadãos, e mais da metade de nossos cientistas foram trabalhar em projetos militares em vez de descobrir a cura do câncer ou a próxima grande invenção que vai melhorar nossa qualidade de vida.
Os US$ 250 bilhões que o Pentágono planeja gastar em 2001 para construir 2.800 novos aviões Joint Strike Fighter é mais do que suficiente para pagar os estudos de todos os universitários nos Estados Unidos.
O proposto aumento de orçamento para o Pentágono nos próximos quatro anos é US$ 1,6 trilhão. A quantia que o Departamento Geral de Contabilidade diz ser necessária para renovar e melhorar todas as escolas nos Estados Unidos é US$ 112 bilhões.
Se decidíssemos não construir o restante dos jatos F-22 requisitados pela Força Aérea durante a Guerra Fria (que Clinton e agora Bush, “O Escolhido”, ainda insistem em financiar), esse dinheiro — US$ 45 bilhões — seria suficiente para pagar totalmente e pelos próximos seis anos a pré-escola para todas as crianças americanas que precisassem.
Em meados da década de 1980, outro fato notável aconteceu. Desafiando Reagan a acompanhá-lo, Gorbachev também anunciou que a União Soviética não testaria mais armas nucleares. Gorbachev disse que tomaria essa atitude independente da decisão norte-americana. Foi um momento impressionante — já esquecido, tenho certeza, pela maioria dos norte-americanos. Era a primeira vez que nos concediam um fio de esperança de que, talvez, não seríamos explodidos em pedacinhos, afinal de contas.
A insana corrida armamentista que nós começamos e que os soviéticos foram compelidos a aderir contribuiu afinal para a quebra da URSS. Quando os soviéticos construíram sua primeira bomba A, em 1949, os Estados Unidos já tinham 235 delas. Dez anos depois, tínhamos 15.468 armas nucleares; os russos estavam muito atrás, com “apenas” 1.060. Mas nos vinte anos seguintes, a União Soviética gastou bilhões em bombas — enquanto seu povo sofria no frio — e com certeza nos alcançou. Em 1978, eles tinham o número impressionante de 25.393 ogivas nucleares — enquanto nós tínhamos água corrente, Stevie Nicks e confortáveis 24.424 ogivas.
Se você estiver em pleno ataque de raiva e começar a ter vontade de largar este livro maldito e entrar em contato com seu congressista, então meu caro, faça-o. Ligue para (202) 224-3121 (o PABX do Congresso dos EUA). Endereços de e-mail estão no www.senate.gov ou www.house.gov. Ou envie correspondência para: Office of Senator (NOME), U.S. Senate, Washington, DC 20510 — ou — Office of Representative (NOME), U.S. House of Representatives, Washington, DC 20515. E para aqueles de vocês que estão tentando descobrir quem os representa, confira www.vote-smart.org e eles descobrirão para você.
Gorbachev herdou uma nação falida, com um povo faminto e implorando por um ocasional rolo de papel higiênico.
Mas mesmo quando a URSS estava prestes a se dissolver em 1989, mantinha inacreditáveis 39 mil ogivas nucleares. O Pentágono apenas recostou-se e gargalhou — nossos rapazes estavam felizes com suas parcas 22.827. A missão real de Washington era levar os comunistas à pobreza para que o povo afinal se revoltasse contra o regime? Gorbachev, que achava isso, jogou a toalha — mas era tarde demais. No final de 1991, não existia mais União Soviética.
Na euforia daquele momento, os novos líderes russos e ucranianos, ávidos para se desligar do passado, ultrapassaram os portões oferecendo pombas e ramos de oliveira aos Estados Unidos. Os ucranianos afirmaram que se retiravam do negócio de armas e imediatamente desativaram suas ogivas. Os russos apagaram dos computadores todas as coordenadas que apontavam mísseis para as cidades norte-americanas. Então se ofereceram para unir-se aos EUA na erradicação das armas atômicas.
E qual foi nossa resposta para essa oferta inacreditável e sem precedentes?
Nenhuma.
Isso não deteve os russos. Eles esperaram pacientemente por uma resposta. Continuaram a esperar. E esperaram ainda um pouco mais, confiando que, no final, nós aceitaríamos sua oferta generosa.
Eles também tinham esperanças de que nós mostrássemos alguma compaixão e enviássemos um pouco de comida, algum maquinário moderno, uns pares de lâmpadas — qualquer coisa que os tirasse da miséria. Acharam que faríamos por eles o que fizemos pela Europa Ocidental depois da Segunda Guerra Mundial — um esforço de reconstrução que resultou na paz continua na região por mais de 55 anos, a mais longa em séculos.
Sim, os russos acharam que a vida ficaria muito melhor — o mundo, muito mais seguro.
Bem, você sabe o que aconteceu. Nada. Nós apenas os deixamos lá apodrecendo, enquanto a máfia russa tomava conta. Descontentamento e desespero cresceram entre a população. O cavaleiro de armadura reluzente nunca chegou como prometido. A escassez de comida continuou, a infra-estrutura ruiu e o proletariado ainda tem de correr para fora de casa para fazer suas necessidades. Seu então presidente, Bons Yeltsin, revelou-se um bêbado e um bufão, e porque eles não estão interessados em transformar seu país num local de exploração para as corporações norte-americanas (como fez a China), não há um fluxo abundante de dólares entrando na ex-URSS. Políticos linha-dura do lado negro ocuparam os gabinetes, e a oportunidade de eliminar suas 25 mil ogivas nucleares ainda em operação simplesmente se acabou.
BORIS YELTSIN VS. AS GÊMEAS BUSH
Nós acreditamos que as garotas Bush podem bater qualquer russo em bebida e esperteza. Compare seus feitos:
GEMEAS BUSH: Pegas bebendo numa casa noturna de Austin
YELTSIN: Pego bebendo numa conferência do G-7
GEMEAS BUSH: Fizeram o Serviço Secreto tirar o namorado da cadeia
YELTSIN: Fez a KGB levá-lo a uma loja de bebidas
GEMEAS BUSH: Presas por usar identidade falsa para beber
YELTSIN: Nunca foi preso; usa desculpas fajutas para beber
Agora os novos líderes russos falam em construir mais armas — e em vender armamentos para o Irã e para a Coréia do Norte.
Nós perdemos uma chance de ouro: acabar com a insana corrida armamentista e criar um novo aliado na nova ordem mundial. A janela da oportunidade não ficou aberta muito tempo, fechou-se tão rapidamente quanto Rasputin vasculha a bolsa de Monica Lewinsky.
Monica Lewinsky. Foi assim que gastamos a metade final dos anos de 1990, fixados numa maldita mancha num vestido azul. O Congresso deixou de lado assuntos importantes, como poupar o mundo da aniquilação nuclear, para concentrar-se em como exatamente um comandante em chefe insere um charuto numa estagiária. isso capturou totalmente nossa atenção — juntamente com a lerdeza dos Broncos, misses infantis estranguladas aos seis anos de idade e os hábitos sexuais de Hugh Grant. Tivemos a chance de tornar o mundo mais seguro para as próximas gerações, mas ficamos cheios de cobiça, aproveitando a orgia que acontecia em Wall Street. É o que acontece numa nação de preguiçosos e trapaceiros. Prazerosa e voluntariamente nos mantivemos tão ignorantes quanto possível sobre como é a felicidade além do gramado no jardim da frente.
Mas, ei, não se desesperem! Entre as vinte nações mais industrializadas do mundo, SOMOS a número um!!
Somos a número um em milionários.
Somos a número um em bilionários.
Somos a número um em gastos militares.
Somos a número um em mortes por armas de fogo.
Somos a número um em produção de carne.
Somos a número um em uso per capita de energia.
Somos a número um em emissões de dióxido de carbono (mais do que Austrália, Brasil, Canadá, França, Índia, Indonésia, Alemanha, Itália, México e o Reino Unido juntos).
Somos a número um em produção de lixo doméstico no total e per capita (720 quilos por pessoa por ano).
Somos a número um em produção de lixo tóxico (mais de 20 vezes acima de nosso concorrente mais próximo, a Alemanha).
Somos a número um em consumo de petróleo.
Somos a número um em consumo de gás natural.
Somos a número um na menor quantidade de receita gerada por impostos (em porcentagem do Produto Interno Bruto).
Somos a número um na menor quantidade de gastos federais e estaduais (em porcentagem do PIB).
Somos a número um em déficit orçamentário (em porcentagem do PIB). Somos a número um em consumo per capita diário de calorias.
Somos a número um em menor comparecimento nas eleições.
Somos a número um em menor número de partidos políticos representados na Câmara dos Deputados ou num congresso único.
Somos a número um em registros de estupros (quase três vezes mais do que o concorrente mais próximo, o Canadá).
Somos a número um em feridos e mortos por acidentes nas estradas (quase duas vezes mais que o segundo colocado, o Canadá).
Somos a número um em nascimentos de crianças filhas de mães com menos de vinte anos (novamente, duas vezes mais que o Canadá e quase o dobro que a Nova Zelândia, que ocupa o segundo lugar).
Somos a número um em não assinaturas a tratados internacionais sobre os direitos humanos.
Somos a número um entre os países das Nações Unidas com um governo legalmente constituído a não ratificar a Convenção dos Direitos da Criança da ONU.
Somos a número um no número de execuções conhecidas de molestadores de crianças.
Somos a número um em probabilidade de crianças com menos de quinze anos morrerem em decorrência de ferimentos de arma de fogo.
Somos a número um em probabilidade de crianças com menos de quinze anos cometerem suicídio com uma arma.
Somos a número um nas menores médias de matemática no final do primeiro grau.
Somos a número um como a primeira sociedade da história na qual o grupo mais pobre da população é formado por crianças.
Pare por um momento e reflita sobre essa lista. Não faz o coração se inchar de orgulho saber que nós norte-americanos — e ninguém mais — conseguimos chegar ao pódio em tantas categorias? Até faz você ficar nostálgico, lembrando o tempo em que a Alemanha Oriental ganhava todas as medalhas nas Olimpíadas. Mas essa não é uma marca fácil de se conquistar, companheiro. Dê a si mesmo um cumprimento e, aos ricos, um novo corte de impostos.
No interesse de tentar ser mais empático para com as outras 191 nações da Terra, gostaria de dar algumas sugestões para ajudar a construir a paz mundial. Modestamente, chamo a isso de “Plano de Paz Abrangente do Mike”. Do meu ponto de vista, estamos todos no mesmo barco, ninguém pode reivindicar imunidade e ninguém será eliminado por um bom tempo. Então, simplesmente porque essa é a coisa certa a fazer, ou porque não queremos acabar com um Bin Laden emboscado em cada aeroporto norte-americano, é que precisamos ajudar a endireitar algumas coisas no mundo.
Eu começaria pelo Oriente Médio, Irlanda do Norte, ex-Iugoslávia e Coréia do Norte.
A TERRA PROMETIDA
Que nome bonito — Terra Prometida — para um lugar em que há mais ações nocivas por metro quadrado do que a sala VIP da reunião anual de Satã para assar marshmallows.
Em janeiro de 1988, apenas um mês depois do início da primeira intifada palestina, eu e alguns amigos visitamos Israel, Cisjordânia e Faixa de Gaza para ver por nós mesmos do que se tratava toda aquela agitação.
Apesar de eu já haver visitado a América Central, China, Sudeste Asiático e outras regiões do Oriente Médio, não estava preparado para o que vi nos campos de refugiados nos Territórios Ocupados. Nunca havia encontrado tamanho abandono, humilhação e miséria absoluta. Forçar seres humanos a viver nessas condições — e fazê-lo na ponta de uma arma por mais de quarenta anos — simplesmente não faz sentido.
Eu fico profundamente triste e enraivecido pelo horror e pelo sofrimento que os judeus tiveram de suportar. Nenhum outro grupo encontrou consistentemente mais morte e tortura em seu caminho do que os judeus — devido a uma inveja cega que dura não apenas séculos, mas millenia.
O que me impressiona não é a natureza desse ódio — afinal de contas, a guerra étnica parece um fato da vida — mas a consistência com a qual ele foi transmitido por milhares de anos. O ódio não é como o despertador do
GUIA TURÍSTICO PARA OS LUGARES QUENTES DA TERRA PROMETIDA
LOCALIZAÇÃO: Tel Aviv
SIGNIFICADO HISTÓRICO: Nos arredores da moderna Tel Aviv está o antigo porto de Jaffa, que se acredita tenha sido fundado após o final do grande dilúvio por Jafet; filho de Noé, e o local em que ficava a casa de Simão, o Curtidor, onde tradicionalmente acredita-se que o apóstolo Pedro teria ficado.
DERRAMAMENTO DE SANGUE: 2001: 21 jovens israelenses mortos e mais cem feridos por um homem-bomba palestino numa discoteca em frente à praia.
LOCALIZAÇÃO: Tumba de José, Nablus/Shechem
SIGNIFICADO HISTÓRICO: Os cristãos acreditam que é a tumba onde José de Arimatéia colocou o corpo de Jesus após a crucificação e onde ocorreu a ressurreição. Muitos judeus acreditam que é a tumba de José, filho de Jacá (com seu casaco-dos-sonhos Technicolor) (1. Referencia ao musical de Andrew Lloyd Webber e Tim Rice, Joseph and the Amazing Technicolor (N.T.).).
DERRAMAMENTO DE SANGUE: 2000: O capitão de policia Yosef Madhat e o rabino Binyamin Herling são assassinados por palestinos.
2000: Uma garotinha palestina de dois anos de idade, que estava no banco de trás do carro dos pais, é morta por balas perdidas vindas da direção de uma ocupação judaica nos arredores.
LOCALIZAÇÃO: O Monte do Templo, Jerusalém
SIGNIFICADO HISTÓRICO: Principal local de devoção islâmica em Jerusalém. Perto dali estio a tumba do rei Davi, o local da última ceia etc.
DERRAMAMENTO DE SANGUE: 1990: dezessete palestinos assassinados por soldados israelenses.
LOCALIZAÇÃO: Túmulo dos Patriarcas, Hebron (também conhecido como caverna Machpelah)
SIGNIFICADO HISTÓRICO: Local sagrado para cristãos, muçulmanos e judeus. É onde Abraão, sua mulher Sara e seus descendentes, Isaac e Jacó, estariam enterrados.
DERRAMAMENTO DE SANGUE: 1929: Árabes massacram comunidade judaica.
1994: O colono israelita Baruch Goldstein mata 29 muçulmanos que rezavam na mesquita de Abraão.
vovô ou um relógio de ouro: você não pode deixá-lo para a próxima geração. Se o meu tataravô odiasse canadenses ou presbiterianos, não teria como sabê-lo. E, ainda assim, de alguma maneira, o ódio aos judeus foi transmitido, tal como uma língua, uma canção ou qualquer tradição oral, para muitas pessoas. Normalmente, nós humanos, somos capazes de descartar as idéias ruins. Lembra-se de “a Terra é plana”? Paramos de insistir nesse absurdo há seiscentos anos! Superamos a idéia de que a criação do mundo levou até sábado à noite e a outra de que os ovos aumentam o colesterol. Então, por que as pessoas não se ligam e colocam seu ódio aos judeus na mesma lata de lixo onde estão os discos de Seals e Croft ? (2. Uma das duplas de rock americanas de maior sucesso nos EUA nos anos de 1970 (N.T.).
Bem, há um fator de complicação no caso dos palestinos: uma infelicidade do gênero humano é que, uma vez maltratados, alguns de nós decidem maltratar os outros. Não é surpresa alguma que crianças vítimas de abusos cresçam e façam o mesmo com seus filhos. Após os norte-americanos bombardearem o pacífico e neutro Camboja várias e várias vezes, massacrando centenas de milhares de pessoas durante a Guerra do Vietnã, não deveria ter sido um choque quando se seguiram os Campos de Extermínio e os cambojanos passaram a matar uns aos outros. Depois que a União Soviética perdeu mais de vinte milhões de cidadãos na Segunda Guerra Mundial, não é surpresa que o país tenha procurado proteger-se de futuras invasões tomando e dominando praticamente todas as nações que lhe faziam fronteira.
As vezes as pessoas ficam loucas com tanto abuso e violência e tomam medidas drásticas e irracionais para se protegerem.
Não quero me envolver nas várias discussões sobre porque Israel foi criado ou quais são as reivindicações históricas e bíblicas sobre aquela terra. Melhor, quero lidar com a situação atual — que é a matança incessante dos dois lados da disputa: o contínuo ódio dos palestinos contra os judeus e a assustadora opressão dos palestinos pelos israelenses.
É verdade que há também opressão aos palestinos nos países árabes, nos quais eles são proibidos de votar e ter propriedades, tratados como cidadãos de segunda classe e como peões na luta contra Israel. Mas não vou perder meu tempo com isso, já que não há muito o que possa fazer a respeito. Eu e você não damos US$ 3 bilhões por ano para a Síria, como fazemos com Israel. E, já que esse é nosso dinheiro, devemos nos considerar responsáveis pela opressão, mortes e pelo apartheid nos Territórios Ocupados por Israel.
A guerra no Oriente Médio tem de parar — e agora. Israel tem armas nucleares, alguns países árabes em breve as terão, e nós precisamos deter rápido essa loucura, antes que TODOS paguem um preço enorme por ela.
Eu, ao menos, não quero um apartheid financiado em meu nome — em lugar algum. Acredito (detenha-me se você já ouviu isso antes) que todos os seres humanos merecem o direito de escolha, o direito ao voto, o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade. Os árabes que vivem na Cisjordânia e em Gaza não têm nenhum deles. Eles não podem viajar. Estão sob constante toque de recolher. Pagam impostos e não têm representantes. São presos e encarcerados sem julgamento. Suas casas são derrubadas sem qualquer aviso. Sua terra é roubada e entregue aos “colonos”. Suas crianças são assassinadas por atirar pedras — ou apenas por andar nas ruas.
Claro que eles atiram pedras! Claro que matam colonos israelenses! É o que pessoas vítimas de violência fazem — revidam e ferem os outros. Quem sabe melhor disso que os israelenses? O mundo os abate até quase o extermínio no século passado e eles podem ser amaldiçoados, mas não serão aniquilados neste milênio.
Em tempos como este, aqueles de nós que têm sorte suficiente para não passar por esse tipo de sofrimento devem se levantar e parar a matança. E o que quero que meu pais faça. E aqui está a forma de como fazer isso: parar de mandar um cheque em branco e começar a agir dos dois lados para acabar com a barbárie. Meu plano:
É claro, quem vai me ouvir? Aparentemente é muito divertido continuar essa novela estúpida sobre um triângulo de terra que pode ser atravessado no mesmo tempo em que se vai de Oakland a São Francisco na hora do rush.
Bem, talvez alguém me ouça.
Caro presidente Arafat,
Nunca nos encontramos. Essa não é uma tentativa de descolar um convite para jantar ou para jogar ferraduras. Você é um homem ocupado, eu sou um homem ocupado (apesar de ninguém aqui no escritório estar disposto a me chamar de presidente ou responder às minhas ordens com “Sim, senhor!”).
Desculpe. É esse tipo de humor que me relegou a aparecer apenas num canal do pacote básico da TV a cabo nos Estados Unidos (canal 64, logo depois da estação em italiano de Nova York).
Eu tenho a chave para o seu sucesso. Sei como você pode, unilateralmente, acabar com a matança dos dois lados do conflito — e, de bônus, descolar um Estado palestino!
Eu sei, você deve estar imaginando: “Ei, quem é esse cara?” E você está certo.
Mas escute-me. Quero propor algo tão revolucionário que vai enlouquecer qualquer direitista israelense e fazer todos os pacifistas daquele país correrem para ficar do seu lado.
Minha proposta não é novidade alguma. Não envolve exércitos, dinheiro ou resoluções da ONU. E ridiculamente barata. Já foi experimentada várias vezes em muitos países — E NUNCA FALHOU. Não requer ódio ou armas. Na verdade, é toda baseada na inexistência de armas.
É a chamada desobediência civil não-violenta em massa. Funcionou para Martin Luther King Jr. — seu movimento antiviolência provocou um fim abrupto à segregação nos Estados Unidos. Funcionou para Gandhi —ele e seus compatriotas indianos colocaram o Império Britânico de joelhos, sem disparar um tiro sequer. Funcionou para Nelson Mandela — ele e o Congresso Nacional Africano acabaram com o apartheid sem uma revolução violenta.
Se funcionou para eles, acredite em mim, pode funcionar para você.
Claro, você ainda pode vencer por meio da violência. Os vietnamitas provaram que podiam derrotar a nação mais poderosa do mundo. E, olhe para nós — passamos oito anos atirando nos Redcoats (3.Designação dada aos soldados britânicos durante a Revolução Americana (1776-1783) (N.T).) e emergimos do tiroteio como um grande país!
Então parece que a matança realmente funciona. O único problema é que, depois que ela termina, você fica com a cabeça meio confusa e demora um pouco para aprender a depor as armas (225 anos se passaram e nós ainda não aprendemos).
Mas, se você quiser tentar a abordagem não-violenta, não só menos pessoas vão morrer — você vai conseguir seu país!
É assim que funciona:
Há alguns anos, mais de um milhão de israelenses compareceram a uma manifestação do “Paz Agora” em Tel Aviv. Foi uma visão surpreendente. E significa que vocês palestinos têm um milhão de aliados — um terço do país — na nação que consideram sua inimiga. Um milhão de “inimigos” virão em sua ajuda se vocês protestarem de forma não-violenta. Tentem! Entre o seu povo e o deles, vocês superarão o número de israelenses que querer jogar os palestinos no mar.
Infelizmente, sei que sua inclinação é continuar a derramar sangue. Acha que isso vai trazer sua libertação. Não vai. Vai transformá-lo naqueles que agora matam seu povo. E, se você ainda não percebeu uma coisa sobre Israel, vou dar uma pista mais clara: eles não irão a lugar algum. Pelo amor de Deus, homem. Seis milhões de judeus foram massacrados pela civilização mais avançada do mundo. Você acha que eles vão deixar um punhado de pedras e carros-bomba impedirem sua sobrevivência? Eles vivem num mundo em que estão isolados e sozinhos. Não desistirão até que você ou o resto da Terra aniquile seu último cidadão. É o que você quer? Que o último judeu desapareça do planeta? Se for isso, você precisa de ajuda especializada — e terá de passar por cima de mim antes de tocar em mais uma criança israelense.
Mas se, como eu suspeito, você preferir a paz e a quietude em lugar da guerra e do exílio, então deve depor as armas, deitar-se no meio da estrada e... esperar. Sim, os israelenses espancarão muitos dos seus. Arrastarão suas mulheres pelos cabelos, atiçarão os cães para cima de vocês, e poderão até queimar suas casas (além de outros truques que aprenderam conosco, norte-americanos). VOCÊS NAO DEVEM REVIDAR! Acredite em mim: quando as fotos de seu sofrimento nas mãos desses brutos espalharem-se pelo mundo, haverá tal clamor que o governo israelense não terá mais como continuar com a opressão.
Bem, ai está. Se você quiser, eu me juntarei ao seu protesto não-violento. É o mínimo que posso fazer depois de ajudar a financiar as balas e bombas que vêm assassinando seu povo.
Sinceramente,
Michael Moore
REINO UNIDO DA GRÃ-BRETANHA E IRLANDA DO NORTE
Mais uma vez, o nome denuncia: as pessoas no comando sabiam que perpetravam uma fraude. Se o Reino Unido achasse que tinha alguma autoridade moral real para reivindicar jurisdição sobre a Irlanda do Norte, simplesmente declararia o território parte da Grã-Bretanha e pronto, não precisaria chamar atenção para essa área de seis condados do outro lado do mar que não lhe diz respeito.
Não me leve a mal — eu gosto dos britânicos. As redes e estúdios britânicos financiam meu trabalho quando os norte-americanos não se interessam. Os Brits — se você me permite uma generalização que seria reprovada em qualquer jogo de futebol britânico — são inteligentes, têm um grande senso de humor e apreciam violentamente a sátira política. Diferentemente de nós, têm numerosos órgãos de mídia (só em Londres, são onze jornais diários; suas quatro redes nacionais oferecem mais em uma noite do que nossos duzentos canais combinados). A mídia britânica traz um espectro variado do ponto de vista editorial. Ninguém fica de fora do discurso político no Reino Unido.
Exceto os católicos da Irlanda do Norte.
Assim como na “situação” palestina, não vou desperdiçar tempo repassando oito séculos de história, então vamos direto à questão atual. Os católicos da Irlanda do Norte são cidadãos de segunda classe com direitos continuamente violados, mantidos no patamar mais baixo da economia, vivendo sob a égide da ocupação dos soldados britânicos. Isso levou a mortes indiscriminadas nos últimos trinta anos. Bill Clinton conseguiu unir os dois lados durante sua presidência e ajudou a construir um acordo de paz que incluiria os católicos na estrutura de poder. Todos ficaram aliviados e esperançosos.
Mas essa esperança não durou muito, já que os protestantes insistiram em não dividir o poder a não ser que o IRA depusesse todas as suas armas. Muitos enxergaram aí uma desculpa para voltar atrás no acordo, e seguiu-se mais derramamento de sangue. Desde então, as perspectivas ficaram cada vez mais desanimadoras.
Esse nonsense já foi longe demais. Tenho uma solução que levará paz permanente para a região:
Converter os protestantes da Irlanda do Norte ao catolicismo.
Isso mesmo. Nada mais de disputas e batalhas sobre religião quando todos pertencem ao mesmo credo! Naturalmente, a maioria dos protestantes não vai querer se converter, mas desde quando isso detém a Igreja Católica? Das Cruzadas na Idade Média aos conquistadores espanhóis na América Latina, a Igreja sempre soube como “convencer" os nativos a encontrarem a luz.
Já que os católicos são 43% da população da Irlanda do Norte, será preciso converter apenas 8% dos protestantes para criar uma maioria católica. Uma barbada. Especialmente se os protestantes considerarem os benefícios de ser um católico romano, a saber:
Uma vez que a lista acima seja disponibilizada para a população protestante da Irlanda do Norte, será apenas uma questão de horas para começar a corrida rumo aos portões de Falls Road (5.Rua de Belfast, onde se encontra um muro eufemisticamente chamado de linha da paz, que divide católicos e protestantes (N.T.).). E aqui vai a parte fácil: qualquer católico pode administrar o sacramento do batismo se acreditar que o não-católico corre o risco de morrer sem ser salvo. Acho que é justo dizer que isso inclui todos os protestantes no Reino Unido.
E só jogar um pouco de água na testa de qualquer protestante e repetir as seguintes palavras: “Eu te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém”.
Pronto! Demora mais se juntar aos Vigilantes do Peso! (E, se os protestantes ficarem relutantes, é só os católicos invadirem seus bairros — não com armas, mas com mangueiras abençoadas pelo padre local —, jogarem a água batismal nas pessoas, gritarem a oração e começarem a correr como o diabo.)
A EX-IUGOSLÁVIA
Esse canto do mundo esquecido por Deus tem sido a fonte de boa parte do nosso infortúnio coletivo no último século. A inabilidade de seus moradores para se entender — sérvios lutando contra croatas lutando contra muçulmanos lutando contra macedônios lutando contra albaneses lutando contra kosovares lutando contra sérvios — pode ser rastreada a um único evento: em 1914, o anarquista sérvio Gavrilo Princip assassinou o arquiduque Ferdinando. Esse incidente deu inicio à Primeira Guerra Mundial. Que levou à Segunda Guerra Mundial. Mais de cinqüenta milhões de pessoas morreram nos dois conflitos.
Não sei o que acontece com essas pessoas. Quer dizer, eu não saio por aí matando texanos. Não queimo vilas inteiras na Flórida. Aprendi a conviver. Por que eles não podem?
Nem sempre a Iugoslávia foi tão violenta. Depois da Segunda Guerra Mundial, os poucos iugoslavos que lutaram contra Hitler (na maioria sérvios; os croatas e os outros abriram os braços para os nazistas e sua “solução final”) tomaram o poder e formaram um governo comunista sob a liderança do marechal Tito. Recusando-se a responder a Moscou, Tito estabeleceu como sua missão unir as facções étnicas do país.
Durante quase quarenta anos, a população da Iugoslávia parou de se matar. E o país transformou-se em nação civilizada. O basquete virou seu esporte nacional. A vida era boa.
Então Tito morreu, e o inferno correu solto. Croatas começaram a matar sérvios. Sérvios mataram muçulmanos na Bósnia. Sérvios mataram albaneses em Kosovo. Então os Estados Unidos bombardearam Kosovo para mostrar que era errado matar. Nos últimos anos houve paz, guerra, paz novamente e guerra outra vez. Não pára nunca. Essas pessoas são viciadas.
E isso significa que é hora de intervenção.
Não militar, mas uma intervenção do programa de doze passos, o mesmo que se usa para os alcoólatras.
Estou sugerindo que o povo da ex-Iugoslávia se comprometa a ser privado da violência. Faça reuniões semanais nos porões das igrejas em todo o país (ou no que restou delas), sente-se em círculo e desabafe — o que quer que seja. Sim, será permitido fumar e haverá bastante café.
DOZE PASSOS PARA RECUPERAR OS VICIADOS EM VIOLÊNCIA NA IUGOSLÁVIA
Francamente, vocês não têm tempo para doze passos — vocês estão morrendo. Tentem estes três — e depressa!
Se todos não fizerem isso, nós vamos jogar, de aviões de carga, milhares daqueles carrinhos iugoslavos Yugo sobre seu país. Nunca será seguro sair de casa, porque vocês não vão saber quando um desses “abacaxis” de quase uma tonelada cairá na sua cabeça.
Talvez a ciência tenha uma solução melhor: essa pode ser a oportunidade que procurávamos para inventar uma maneira de ressuscitar os mortos. Ninguém nos Estados Unidos gostava muito de Tito, mas agora ele parece Lady Bird Johnson (7.Viúva do ex-presidente Lindon Johnson. (N.T.).). Se podemos clonar humanos, por que não somos capazes de trazer de volta alguém que já morreu? Eu não me importaria se o governo dos EUA comprometesse alguns bilhões de dólares num Projeto Lázaro.
Ver aquele esquisitão metido num chapeuzinho ridículo comandando novamente seus cidadãos ingovernáveis seria um alívio. Em nome dos milhões que não precisaram morrer no século XX graças ao mau comportamento iugoslavo, não temos outra esperança para restaurar a paz e a tranqüilidade no país. Levante-se Tito!
CORÉIA DO NORTE
Eu vou dizer uma coisa sobre esse líder da Coréia do Norte, Kim Jongil: ele é um grande aficionado por filmes, com uma coleção particular de mais de 15 mil vídeos. Talvez ele esteja em busca de conselhos para salvar o povo oprimido e faminto de seu país. Mas, já que entre seus favoritos, ao que parece, (além dos pornográficos) estão filmes com Elizabeth Taylor, faroestes e a série Sexta-feira 13, acho que ele está procurando no lugar errado.
O ditador/fã de filmes é ainda autor de um livro sobre a arte do cinema e também fundador de uma escola para formar cineastas. “Kim Jong-il assiste a absolutamente todos os filmes feitos na Coréia do Norte”, disse Kim Hae Young, atriz norte-coreana refugiada na vizinha ao Sul. “Ele faz comentários sobre atuações, direção e tudo o mais. Se elogiar algum ator ou atriz, cria um astro do dia para a noite.”
Divide esse obcecado apreço pelo mundo do entretenimento com seu filho mais velho, Kim John-nam, que recentemente foi ao Japão desesperado para visitar o novo Disney World japonês. O rapaz usou um passaporte dominicano falso (claro, ele parece ter nascido na República Dominicana!) para tentar entrar no país. Quando a imigração descobriu quem ele era, telefonou para o papai e mandou-o direto para seu quarto na Coréia do Norte.
Kim Jong-il recebe regularmente transfusões de sangue de jovens virgens para “retardar o processo de envelhecimento”. Também é um ávido fá de esportes e entende perfeitamente a diferença entre a marcação por zona e homem-a-homem no basquete norte-americano. Usa sapatos plataforma para parecer mais alto e, dizem, seria o maior comprador individual de conhaque Hennessy em todo o mundo.
O problema é que milhões de pessoas morrem de fome na Coréia do Norte, principalmente porque Kim Jong-il é um ditador que gasta 25% do PIB do país com as forças armadas. Você pode lidar com isso sendo um norte-americano — quer dizer, temos dourados tapetes de grãos e nem (todos) passamos fome dando a maior parte do nosso dinheiro para o Pentágono. Mas, na Coréia do Norte, uma península rochosa e repleta de caracóis, não se pode ver as coisas dessa perspectiva.
Desde 1948, quando a península coreana foi dividida entre o Norte comunista e o Sul capitalista/fascista, os cidadãos dos dois países enfrentam muitas dificuldades. Atravessaram a Guerra Coreana, que nunca terminou oficialmente (ainda estamos em “cessar-fogo”), viveram décadas de repressão e isolamento (que terminaram nos anos de 1980 na Coréia do Sul com o movimento pró-democracia, mas ainda continuam na Coréia do Norte), passaram por sanções econômicas, enchentes e escassez de alimentos. Encontros de membros de famílias divididas entre os dois lados foram permitidos apenas duas vezes em mais de quinze anos: em 1985, apenas cinqüenta pessoas de cada pais puderam rever seus parentes; em agosto de 2000, aconteceram outras cem reuniões.
Chamado na Coréia do Norte de “Querido Líder”, Kim Jong-il tem reputação de playboy excêntrico e irresponsável. “A imagem que se fazia há alguns anos era a de um bêbado desequilibrado que não entendia o inundo ao seu redor”, afirmou um ex-funcionário do governo Clinton. Após ascender ao poder com a morte de seu pai — que governou entre 1948 e 1994 — Kim foi acusado de ser o responsável pelas explosões que mataram vários membros do ministério sul-coreano e pela bomba detonada num avião de passageiros na Coréia do Sul. Ele tem um exército gigantesco e, suspeita-se, a bomba atômica.
Nos últimos dois anos, porém, Kim Jong-il começou a mostrar sinais de uma mudança profunda, sinais de que está emergindo das sombras. Quando começou a escassez de alimentos em 1995, Kim não permitiu à ajuda estrangeira o livre acesso ao pais, além de desviar comida para o exército. Mas, em 2000, deixou que quase 150 representantes de organizações governamentais de todo o mundo se estabelecessem na Coréia do Norte. Depois, recebeu o presidente da Coréia do Sul, que encoraja o fim desse perigoso isolamento. E chegou até a aceitar a visita da secretária de Estado dos EUA, Madeleine Albright, que o considerou apto a participar de sérias discussões diplomáticas. (De fato, os dois se deram muito bem; ele a levou para vários eventos — shows, jantares... e filmes).
Agora que Kim está pegando o ritmo — e percebendo, como eu, que sentar numa sala escura assistindo a todo tipo de filme pode ser o caminho para a paz e a tranqüilidade (supostamente ele teria seqüestrado dois produtores da Coréia do Sul para fazer documentários na Coréia do Norte) —eu tenho algumas idéias que podem ajudar esse ditador amalucado a salvar seu país da destruição total.
Easy Rider — Sem Destino — A primeira coisa que o “Querido Líder” precisa fazer é relaxar. Este filme deve ajudar.
200 Motels — Se Dennis Hopper não conseguir, Frank Zappa consegue.
Cara, cadê meu carro? — Tudo o que você precisa saber sobre os Estados Unidos está neste filme.
Meu jantar com André — Claro, são só dois caras comendo e falando durante duas horas, mas pelo menos ele vai descobrir como é uma verdadeira refeição. A conversa durante o jantar o ajudará a aprimorar suas habilidades comunicativas.
UMA GRANDE E FELIZ PRISÃO
Passava pouco das dez da noite do dia 4 de outubro de 2000, há um mês da eleição presidencial. Na noite anterior havia acontecido o primeiro dos três debates entre Al Gore e George W Bush.
Naquela agradável noite de outubro, em Lebanon, Tennessee, John Adams, de 64 anos, acabara de sentar-se na poltrona reclinável, a sua preferida, para assistir ao jornal da noite. Ao seu lado, uma bengala — seqüela de um derrame sofrido alguns anos antes. Um respeitado membro da comunidade afro-americana de Lebanon, Adams estava agora incapacitado para o trabalho após ter passado anos na fábrica Precision Rubber.
Os âncoras na TV desfiavam seus veredictos sobre o debate. Adams e sua mulher Lorine conversavam sobre a intenção de votar em Gore quando alguém bateu à porta. A sra. Adams pergunta quem é. Dois homens exigem que ela os deixem entrar. Ela pergunta novamente, e não obtém resposta. Não abre a porta.
Nesse momento, dois policiais não-identificados da força tarefa contra as drogas de Lebanon arrombam a porta, imobilizam a sra. Adams e imediatamente a algemam. Outros sete policiais irrompem casa adentro. Dois deles, armas em punho, entram na sala e atiram várias vezes em John Adams. Três horas depois, ele é declarado morto no centro médico da Universidade Vanderbilt.
A invasão à casa de Adams foi planejada depois que um informante da polícia comprou drogas no número 1.120 da rua Joseph. A unidade de narcóticos de Lebanon, criada juntamente com milhares de outras em todo o país como parte da “Guerra às Drogas” do governo Clinton, conseguiu um mandado judicial para prender todos os moradores da casa.
O único problema é que os Adams moravam no número 70 da rua Joseph. A polícia antidrogas havia entrado na casa errada.
Enquanto John Adams era executado acidentalmente, há algumas milhas dali, em Nashville, voluntários e funcionários da campanha de Gore agitavam-se no comitê central. Sua principal preocupação era minimizar os prejuízos, distraindo os eleitores do espetáculo oferecido por seu candidato na noite anterior, que suspirava durante as respostas de Bush. Telefones tocavam, carregamentos de adesivos e placas eram redistribuídos, estrategistas reuniam-se para planejar o próximo dia de campanha. Sobre a mesa, cópias das propostas de Gore para o combate ao crime, incluindo aumento do financiamento e do número de policiais na Guerra às Drogas. Ninguém ali sabia que seus imensos esforços para erradicar as drogas tinham custado a vida de um provável eleitor: aquele velho negro, do outro lado da cidade.
Matar eleitores não é o jeito de se ganhar uma eleição.
E esse foi apenas um dos vários incidentes em que pessoas inocentes foram baleadas por policiais locais ou federais que julgavam ter encontrado o homem que procuravam.
Pior ainda é a maneira como muitos cidadãos foram presos na última década, graças às políticas de Clinton e Gore. No início dos anos de 1990, havia cerca de um milhão de pessoas nas prisões norte-americanas. Ao final do governo Clinton/Gore, esse número havia crescido para DOIS MILHOES. A maior parte, vítima das novas leis contra os usuários de drogas. 80% das detenções relacionadas a drogas foram por posse, não por tráfico. E as penas para os usuários de crack ficaram três vezes maiores do que aquelas para usuários de cocaína.
Não é difícil perceber por que a droga preferida pela comunidade branca é tratada com muito mais leniência do que o único “barato” acessível aos negros e hispânicos. Durante oito anos, houve um esforço intenso para prender o máximo possível de pessoas dessas minorias. Em vez de prover o tratamento que sua condição exige, nós lidamos com o problema deixando-os apodrecer numa cela de prisão.
Mas, por um momento, deixe para lá essa história de ajudar os desafortunados. Quem foi o gênio do governo Clinton/Gore que disse: “Ei, tenho uma idéia. Por que não vamos atrás das comunidades negras e hispânicas? Está cheio de usuários de drogas por lá! Nós efetuamos prisões em número recorde e dizimamos o poder de voto do grupo no qual nove entre dez pessoas estão do nosso lado!”
Não faz sentido, faz? Que tipo de campanha destrói intencionalmente sua base eleitoral? Você não vê republicanos procurando meios de encarcerar executivos das grandes corporações ou membros da NRA (1.National Rifle Association, que defende o direito da população civil ao porte e uso de armas (N.T.).). Acredite em mim, Karl Rove não convocará uma reunião na Casa Branca para descobrir como acabar com o direito de voto de um milhão de membros da Coalizão Cristã. Na verdade, é exatamente o contrário. O pessoal de Bush está comprometido em garantir que nenhum de seus partidários jamais goze da hospitalidade das salas de banho prisionais. Depois que Clinton deixou o governo, muito foi dito sobre a anistia concedida a peixes graúdos como Marc Rich. O país inteiro bradou contra a absolvição de um fugitivo que não pagou seus impostos. Um rico que se safou sem pagar impostos! Ficamos chocados — CHOCADOS!
Ainda assim deu-se pouca atenção aos “perdões” para David Lamp, Vicent Mietlicki, John Wadsworth e James Weathers Jr. E ninguém pediu uma CPI sobre a retirada das acusações contra as indústrias Koch, a maior companhia privada de petróleo dos LUA, que tem como diretor executivo e vice-presidente, respectivamente, os irmãos Charles e David Koch. E por quê?
Porque esses “perdões” ocorreram durante o reinado de George W Bush. Em setembro de 2000, o governo federal levantou 97 acusações contra as indústrias Koch e seus quatro funcionários — Lamp, Mietlicki, Wadsworth e Weathers, gerentes ambientais e de fábrica — por terem conhecimento do despejo na atmosfera e na água de 91 toneladas métricas de benzeno, substância que provoca câncer, e esconderem o fato das agências reguladoras federais.
Esse não foi o primeiro confronto direto da Koch com a lei; não foi sequer o primeiro naquele ano. No início de 2000, a Koch havia sido multada em US$ 35 milhões por poluição ilegal em seis Estados.
Mas com a eleição de George W Bush “decidida”, a sorte da Koch mudou subitamente. Seus executivos contribuíram com cerca de US$ 800 mil à campanha presidencial de Bush e a outros candidatos e causas republicanas. Em janeiro, com John Ashcroft aguardando nos bastidores, o governo diminuiu as acusações, primeiro de 97 para onze e, em seguida para ínfimas nove.
As indústrias Koch, no entanto, ainda foram multadas em US$ 352 milhões. O novo governo Bush, agora firmemente constituído, resolveu isso com rapidez. Em março, retirou mais duas acusações. E, dois dias antes do julgamento, o Ministério da Justiça de Ashcroft liquidou o caso.
A empresa declarou-se culpada de uma nova acusação, agora por falsificar documentos, e o governo retirou as queixas ambientais, incluindo os alegados crimes dos quatro funcionários.
Depois de seus atos de generosidade, os executivos da Koch ameaçados de prisão ficaram livres de qualquer processo. A companhia foi liberada das noventa acusações mais sérias e pagou multas para livrar-se das outras sete. Segundo o Houston Chronicle, “os executivos da Koch comemoraram a resolução do caso”, e Jay Rosser, o porta-voz da empresa, frisou que a retirada das denúncias era prova da “inocência” da empresa.
Não defendo os atos de Marc Rich, mas, corrija-me se estiver errado: acho que emitir deliberadamente, na atmosfera e na água, uma substância química que provoca câncer (e definitivamente contribuirá para a morte de não se sabe quantas pessoas) é um pouco mais sério do que escapar de Rudy Giuliani para ficar dezoito anos esquiando na Suíça. Ainda assim, não tenho certeza de que você ouviu falar dos “perdões” concedidos a Charles e David Koch e aos executivos de sua companhia petrolífera. Por que deveria? Afinal, trata-se apenas de negócios; e a imprensa nacional continua dormindo ao volante.
É uma pena que Anthony Lemar Taylor tenha esquecido de enviar sua contribuição à campanha de Bush. Taylor é outro transgressor reincidente, um ladrãozinho que decidiu, num dia de 1999, fingir ser o superastro do golfe Tiger Woods.
Apesar de Taylor não se parecer em nada com Woods (mas, ei, todos eles têm a mesma cara, não é mesmo?), conseguiu uma identidade e um cartão de crédito falsos com o nome do atleta. Comprou um televisor de 70 polegadas, alguns aparelhos de som e um carro de luxo usado.
Até que alguém finalmente reparou que ele não era Tiger Woods, e Taylor foi preso e condenado por roubo e perjúrio.
Sua sentença? DUZENTOS ANOS!
Você leu certo. Duzentos anos, graças à lei californiana das “três vezes”, segundo a qual na terceira condenação o sujeito pega prisão perpétua. Até hoje, nenhum executivo de grandes corporações recebeu tal pena, mesmo após ter sido pego três vezes poluindo rios ou lesando seus clientes. Nos Estados Unidos, reservamos tratamento especial aos pobres, aos afro-americanos e àqueles que não contribuírem com um de nossos partidos políticos.
Claro, às vezes o sistema judiciário — sempre como um rolo compressor — está tão determinado a punir os despossuídos que não se importa se quem vai para a prisão é culpado ou inocente.
Kerry Sanders, o mais novo de uma família de nove irmãos, sofre de esquizofrenia paranóica. Aos 27, ele já lutava com os demônios em sua cabeça havia sete anos e tinha passado a maior parte desse período entrando e saindo de instituições psiquiátricas. As vezes, quando deixava de tomar seus remédios, acabava perambulando pelas ruas de Los Angeles, como aconteceu num dia de outubro de 1993.
Kerry foi detido enquanto dormia num banco do lado de fora do Centro Médico USC. Mas tudo piorou quando, numa checagem de rotina, descobriu-se que um criminoso chamado Robert Sanders — condenado por tentativa de homicídio ligada ao consumo de cocaína — havia fugido de uma prisão estadual de Nova York cinco semanas antes.
É claro que Kerry Sanders da Califórnia não era Robert Sanders de Nova York. Mas acho que “Kerry” e “Robert” são nomes meio parecidos, e Califórnia e Nova York, veja bem, são GRANDES ESTADOS, antes de tudo...
Infelizmente para Kerry, ele tinha a mesma data de nascimento de Robert.
Foi o suficiente para a polícia de Los Angeles — apesar de a mesma checagem por computador registrar que Kerry Sanders tinha sido detido nas ruas de Los Angeles em julho de 1993, quando Robert Sanders ainda estava preso em Nova York.
Não importa: Kerry Sanders foi mandado para Nova York, onde cumpriu a pena de Robert Sanders. Ficou na penitenciária por dois anos, enquanto sua mãe o procurava desesperadamente por toda Los Angeles. De alguma maneira, os tiras de Los Angeles não compararam as duas fichas, o que teria revelado a diferença nas impressões digitais.
Kerry tinha apenas uma pessoa supostamente a seu lado em todo o processo: o defensor público (DP), designado para proteger seus interesses.
Mas esse veterano com trinta anos de profissão encorajou-o a não contestar a transferência. O DP explicou a Kerry que isso só prolongaria sua permanência na cadeia de Los Angeles e que ele seria mandado para Nova York de qualquer jeito. Aparentemente, esse defensor sequer notou que Kerry era “lento”, muito menos que sofria de uma grave doença mental. Ou será que isso teria feito alguma diferença?
O DP deixou de fazer perguntas básicas. Não passou mais do que poucos minutos com um cliente indefeso. Jamais procurou saber se Kerry tinha uma família que poderia ajudar em sua defesa.
O defensor também não checou o sistema para descobrir casos pendentes, registros anteriores ou a situação financeira de seu cliente. Não verificou a descrição na ordem de prisão e muito menos pediu exame de digitais ou comparação de fotos. E daí, diz você? Afinal, ambos são negros, da mesma faixa etária — e até fazem aniversário no mesmo dia! Não é o suficiente?
Mas a coisa ficou ainda pior. Durante a audiência, para impedir que Kerry Sanders usasse seu direito de apelar da transferência para Nova York, ele teve de assinar um documento onde se lia: “Eu, Robert Sanders, por meio desta, atesto livre e voluntariamente que sou o mesmo Robert Sanders”. Na assinatura, estava escrito “Kerry Sanders”.
Ele também rabiscou inteiramente uma cópia do documento.
E os sinos? E as bandeiras vermelhas? Não para esse defensor público!
Finalmente perante um juiz, perguntaram a Kerry se ele havia lido o documento que tinha assinado. Ele disse que não. O juiz parou o processo de transferência.
“Você assinou isto?”, perguntou o juiz.
“Sim”, replicou Kerry.
“E por quê?”
“Porque eles me disseram para assinar”, respondeu.
O juiz determinou então que o defensor público repassasse o teor do documento com seu cliente. Depois de alguns minutos, o juiz ficou satisfeito, e tanto a corte quanto o DP foram tratar do próximo caso.
Após ter sido empurrado ladeira abaixo por seu defensor público, Kerry Sanders foi enviado ao outro lado do país para passar os dois anos seguintes na prisão de segurança máxima Green Haven, a 96 quilômetros ao norte da cidade de Nova York, onde sofreu abuso sexual.
Em outubro de 1995, quando agentes federais prenderam o verdadeiro Robert Sanders, Kerry reencontrou sua mãe, Mary Sanders Lee. Se não fosse pela prisão de Robert, Kerry ainda estaria na cadeia.
Kerry foi mandado para casa com US$ 48,13, um saco plástico com alguns remédios, um refrigerante e um maço de cigarros. Ele disse à sua irmã Roberta: “Eles me levaram para Nova York. Fazia frio lá. Eles me colocaram numa sala bem pequena”.
Esse não é um caso raro em que o sistema cometeu um erro hediondo. De certa maneira, nem sequer é um erro. E o resultado natural de uma sociedade que encarcera imprudentemente qualquer um que poderia ser um criminoso — porque é melhor estar em segurança do que estar certo. Nossos tribunais limitam-se a cumprir uma seqüência de procedimentos para derrotar os pobres, tirá-los das nossas vistas — colocá-los bem longe do nosso caminho!
Bem, esses são os Estados Unidos, e se isso é suficiente para impedir que milhares de negros inocentes exerçam seu direito de voto na Flórida, também serve para condenar um negro inocente em Los Angeles.
Na produção em série do sistema judiciário, a única coisa que atravanca o envio massivo de acusados para as cadeias é o júri popular. Por quê? Porque esse tipo de julgamento é uma pedra no sapato. Força cada um a cumprir seu papel. Juizes, promotores e defensores usam todo seu poder para coagir o réu a declarar-se culpado e EVITAR A BRUTAL SENTENÇA QUE RECEBERA CASO EXIJA UM JÚRI POPULAR. Se conseguirem que o réu não apenas se declare culpado, mas que também abra mão do direito de apelação da sentença, então marcaram seu gol — e todos podem rir disso tudo mais tarde no country club.
Minha irmã Anne era defensora pública na Califórnia. Ela insistia em defender seus clientes e levá-los a júri popular sempre que desejassem. Por causa disso, foi incrivelmente perseguida por outros DPs. Em 1998, a defensoria pública de seu condado permitiu que apenas um entre quase novecentos réus tivesse direito a um júri popular.
Obviamente, isso não significa que os outros 899 acusados eram de fato culpados. Eles apenas foram coagidos a declarar-se assim e muitos foram parar na prisão, talvez por crimes que não cometeram. Mas nós nunca teremos certeza, pois foi negado a eles o direito de um julgamento por seus iguais garantido na Sexta Emenda.
Com essas condenações sistemáticas aos pobres ocorrendo diariamente em todas as cidades norte-americanas, nosso sistema judiciário não tem nada a ver com a justiça. Nossos juizes e advogados estão mais para lixeiros de luxo, recolhendo e jogando fora os refugos da sociedade — limpeza étnica ao estilo norte-americano.
Mas o que acontece quando essa via expressa leva as pessoas à morte? Apenas uma turma da Universidade Northwestern, em Evastons, Illinois, conseguiu provar que cinco indivíduos no corredor da morte daquele Estado eram inocentes. Esses estudantes e seu professor salvaram cinco vidas.
Se uma sala de universitários conseguiu detectar isso, então imagine quantas centenas de inocentes estarão esperando seu fim nos corredores da morte por todo o país?
Trinta e oito Estados têm pena de morte, assim como a Federação e as Forças Armadas. Doze Estados e o distrito de Columbia (aquele pedaço de pântano cheio de placas de carro ofensivas e uma maioria de afro-americanos) não têm.
Desde 1976, houve mais de setecentas execuções nos Estados Unidos. Os Estados campeões são:
Texas (148 execuções — quase um terço do total norte-americano desde 1976)
Virgínia (82)
Flórida (51)
Missouri (50)
Oklahoma (43)
Louisiana (26)
Carolina do Sul (25)
Arkansas (24)
Alabama (23)
Arizona (22)
Carolina do Norte (17)
Delaware (13)
Illinois (12)
Califórnia (9)
Nevada (9)
Indiana (8)
Utah (6)
Um recente e chocante estudo sobre a pena de morte, pesquisando 4.578 casos num período de 23 anos (1973-1995), encontrou erros sérios e reversíveis em sete de cada dez sentenças revisadas pelos tribunais. Também descobriu que as punições capitais eram revertidas em duas de cada três apelações. A taxa total de erros judiciais ficou em 68%.
Desde 1973, cerca de 95 sentenciados à morte foram completamente inocentados pelos tribunais — ou seja, não haviam cometido os crimes pelos quais tinham sido condenados a morrer. Noventa e seis pessoas foram libertadas após testes de DNA.
E quais são os erros mais comuns?
Em metade do período examinado, incluindo o último ano, a taxa de erro superava os 60%. As altas taxas de erro ocorrem em todo o país. Em 85% dos casos de pena de morte, elas ficam acima dos 60%. E três quintos têm taxas acima de 70%.
Descobrir esses erros leva tempo — a média nacional é de nove anos entre a sentença e a execução. Na maioria dos casos, os presos no corredor da morte aguardam o lento correr dos procedimentos requeridos para levantar esses problemas — para logo em seguida ter suas sentenças revertidas. Isso acarreta um custo terrível para os pagadores de impostos, as famílias das vitimas, o sistema judiciário e os injustamente condenados.
Entre os envolvidos no estudo que tiveram suas sentenças alteradas, a maioria recebeu penas mais leves que a morte (82%), e muitos foram considerados inocentes num segundo julgamento (7%).
Porém, o número de erros cresceu desde 1996, quando o presidente Clinton tornou mais difícil para os presidiários provarem sua inocência, ao promulgar a lei que limita em um ano o prazo para apelação às cortes federais depois de terem sido esgotados todos os recursos em tribunais estaduais. A luz desse estudo, mostrando a quantidade de prisioneiros inocentes ou legalmente merecedores de uma pena mais branda, essa atitude é simplesmente ultrajante.
Nós somos um dos poucos países no mundo que executam tanto os deficientes mentais como os delinqüentes juvenis. Os outros são Irã, Nigéria, Paquistão, Arábia Saudita e Iêmen.
Os Estados Unidos são ainda o único pais, além da Somália, que não é signatário da Convenção sobre os Direitos da Criança da Organização das Nações Unidas. Por quê? Porque o documento proíbe a execução de crianças com menos de dezoito anos, e nós queremos continuar livres para executar nossas crianças.
Nenhuma outra nação industrializada executa suas crianças.
Até a China proíbe a pena de morte para quem tem menos de dezoito anos — isso em um país que tem demonstrado uma intolerável falta de respeito aos direitos humanos.
Atualmente há mais de 3.700 prisioneiros nos corredores da morte norte-americanos. Setenta deles são menores de idade (ou eram, quando cometeram seus crimes).
Mas a nossa Suprema Corte não acha que é uma punição cruel e absurda (segundo os termos da Oitava Emenda da Constituição dos EUA) executar aqueles que cometeram crimes capitais aos dezesseis anos. Isso apesar de essa mesma Corte considerar que os jovens dessa idade não têm maturidade ou julgamento” para assinar contratos.
Não é esquisito que a falta de capacidade de uma criança para assinar um contrato seja vista como uma barreira legal, mas que essa mesma criança seja equiparada a um adulto quanto ao direito de ser executada?
Dezoito Estados permitem a execução de delinqüentes juvenis a partir dos dezesseis anos. Cinco outros permitem a execução dos maiores de dezessete anos. Em 1999, Oklahoma executou Sean Sellers, que tinha dezesseis anos quando cometeu os assassinatos pelos quais foi condenado. Sellers sofria de múltipla personalidade, mas isso não foi revelado ao júri que deu sua sentença. Uma corte federal de apelações chegou à conclusão de que Sellers poderia ser “na verdade inocente” devido à sua doença mental, mas essa “inocência apenas não é suficiente para a concessão de reparação federal”. Inacreditável.
O povo norte-americano não é estúpido, e agora que a verdade sobre os inocentes nos corredores da morte está aparecendo, a população responde expressando sua vergonha. Há poucos anos, as pesquisas de opinião pública mostravam que mais de 80% dos norte-americanos eram a favor da pena de morte. Mas uma pesquisa recente feita pelo The Washington Post e pela ABC News revelou que a aprovação à punição capital está em queda, enquanto cresce a proporção de norte-americanos favoráveis à sua substituição pela prisão perpétua. 51% apóiam a suspensão de todas as execuções até que seja criada uma comissão para determinar se as penas de morte estão sendo aplicadas de forma justa. 68% afirmam que a pena de morte é injusta porque às vezes inocentes são executados.
Pesquisas recentes do instituto Gallup mostraram que o apoio à punição capital teve a maior queda em dezenove anos. 65% concordam que uma pessoa pobre tem mais chance de ser condenada à morte do que outra com renda na média ou acima da média, considerando-se que ambas cometessem o mesmo crime. 50% concordam que um negro tem mais chances de condenação que um branco. Mesmo naquela máquina de morte conhecida como Texas, segundo mostrou o Houston Chronicle, 59% dos pesquisados acreditam que seu Estado já executou um inocente! 72% são favoráveis à mudança das leis estaduais, com a inclusão da prisão perpétua sem direito a liberdade condicional, e 60% se opõem à execução de pessoas mentalmente retardadas.
O que fizemos nesse grande país foi deflagrar uma guerra não ao crime, mas aos pobres a quem confortavelmente culpamos pela criminalidade. Em algum lugar do caminho esquecemos dos direitos das pessoas, porque não queríamos gastar dinheiro.
Vivemos numa sociedade que recompensa e honra os gângsteres corporativos — líderes de empresas que direta e indiretamente pilham os recursos naturais do planeta e colocam os lucros de seus acionistas acima de todo o resto — enquanto submetemos os pobres a um sistema “judiciário” brutal e indiscriminado.
Mas o público começa a perceber que isso está errado.
Precisamos reordenar a sociedade de maneira que cada indivíduo seja visto como algo precioso, sagrado, valoroso, e em que NENHUM homem esteja cima da lei, não importa quantos candidatos ele compre. Até que isso aconteça, pronunciaremos com vergonha as palavras “com liberdade e justiça para todos”.
DEMOCRATAS, MORTOS AO CHEGAR
Ele assinou o projeto de lei que possibilita o repasse de recursos federais a programas sociais administrados por “grupos religiosos”. Aumentou para sessenta o número de crimes federais puníveis com a pena de morte.
Assinou o projeto de lei que tornou ilegais os casamentos gays e fez propaganda nas estações de rádio cristãs contra qualquer forma de cópula entre pessoas do mesmo sexo.
Num curto intervalo de tempo, conseguiu chutar dez milhões de pessoas para fora do seguro social — de um total de 14 milhões de beneficiados.
Prometeu aos Estados “recursos-bônus” caso esse número fosse reduzido ainda mais e facilitou as coisas ao não requerer que os governos ajudassem os ex-beneficiários do sistema a conseguir empregos.
Apresentou um projeto impedindo qualquer pai ou mãe adolescente de receber assistência caso abandone a escola ou saia da casa de seus pais.
Apesar de ser cuidadoso o suficiente para não chamar atenção sobre o fato, apoiou várias cláusulas do “Contrato com a América”, de Newt Gingrich, incluindo a redução dos impostos sobre ganhos de capital.
Mesmo com os pedidos a favor da moratória das penas capitais, feitos por governadores republicanos como George Ryan, de Illinois, rejeitou todos os esforços para a diminuição das execuções, inclusive depois de ter sido revelado que há dezenas de inocentes nos corredores da morte.
Liberou verbas para pequenas comunidades contratarem mais de cem mil novos policiais e apoiou leis que condenam à prisão perpétua quem cometeu três crimes — mesmo que os delitos sejam um pequeno furto ou não pagar pela pizza.
Há mais pessoas sem seguro-saúde nos Estados Unidos hoje do que quando ele assumiu o governo.
Proibiu qualquer tipo de seguro-saúde para pessoas pobres que estão ilegalmente nos Estados Unidos.
Apoiou a proibição ao aborto e prometeu promulgar o primeiro projeto de lei que passasse por sua mesa, admitindo como única exceção os casos em que a mãe corre perigo de vida.
Assinou uma ordem proibindo que qualquer verba norte-americana destinada a outros países seja usada para ajudar mulheres a fazerem abortos.
Assinou uma “lei da mordaça” proibindo o repasse de recursos federais a países em que as agências de controle da natalidade mencionam o aborto como uma opção às grávidas.
Recusou-se a assinar o Tratado para o Banimento das Minas Terrestres, que já tem 137 signatários — mas não inclui Iraque, Líbia, Coréia do Norte e Estados Unidos.
Enfraqueceu o Protocolo de Kyoto ao insistir que áreas de florestas e fazendas fossem contadas a favor dos EUA como redução de emissão de poluentes, ridicularizando o acordo (redigido em primeiro lugar para reduzir o dióxido de carbono produzido por carros e fábricas).
Acelerou as perfurações de petróleo e gás natural em terras federais, alcançando — e em algumas áreas excedendo — o nível de produção do governo Reagan.
Aprovou a venda de um campo de petróleo na Califórnia, na maior privatização da história norte-americana, e criou uma Reserva Nacional de Petróleo no Alasca (algo que nem mesmo Reagan conseguiu).
E tornou-se o primeiro presidente da República desde Richard Nixon a não forçar a indústria automobilística a fazer os automóveis rodarem mais quilômetros por litro de combustível — algo que poupa milhares de barris de petróleo diariamente.
Sim, você tem de concordar. Considerando todos os feitos mencionados, Bill Clinton foi um dos melhores presidentes republicanos que já tivemos.
Tem havido muito bafafá desde que George W. Bush assumiu o cargo, com as pessoas de bem e os liberais pirando porque esse filho-de-Bush pode destruir o meio ambiente, fazer as conquistas femininas retrocederem décadas e nos obrigar a rezar nas escolas e nos sinais de trânsito. E estão todos certos.
Mas Bush é apenas uma versão mais feia e malvada do que enfrentamos nos anos de 1990 — a diferença é que então a embalagem era o sorriso charmoso de um cara que tocava soul no saxofone e contava que tipo de roupa de baixo estava usando (e suas estagiárias também). Nós gostávamos disso. Parecia bom, normal. Ele podia cantar o Hino Nacional Negro. Festejava com Gloria Steinem. Assistia ao meu programa! Eu gostava do cara!
Ficamos todos aliviados que os anos Reagan/Bush haviam acabado, e era legal ter um presidente que fumou maconha e se auto-intitulava “o primeiro presidente negro dos Estados Unidos”. Mas tínhamos a tendência a virar as costas para coisas como o esvaziamento de cláusulas importantes do Protocolo de Kyoto semanas antes da eleição de novembro de 2000. Nem queríamos ouvir falar disso; afinal de contas, quais eram as alternativas? Baby Bush? Pat Buchanan? Ralph Nader?
Oh, meu Deus, não Ralph Nader. Por que diabos apoiaríamos alguém que concordasse conosco em todas as questões? Não teria graça alguma!
A raiva dirigida a Nader pelos baby boomers — que o culpam pela derrota de Gore nas eleições (que ele não perdeu) — parece algo muito pessoal, muito intenso. Olho para esses indivíduos de quarenta, cinqüenta anos e pergunto-me por que Nader é tão ameaçador para eles.
Demorou, mas acho que entendi o motivo: Nader representa o que eles deixaram de ser. Ele nunca mudou. Nunca perdeu a fé, abriu mão ou desistiu. Por isso é odiado. Não virou a casaca, não se mudou para o subúrbio nem estruturou sua vida com base no princípio de “vamos ver de que jeito posso ganhar mais dinheiro para mim, para MIM!” Não aderiu ao Código de Ética “Traidor-do-Movimento” dos baby boomers para conseguir mais poder. Não é surpresa que milhares de universitários e estudantes de segundo grau o adorem. Ele é o oposto de seus pais, as pessoas que “os criaram” oferecendo a chave da porta, Ritalin (1.Remédio receitado a crianças com hiperatividade. Para quem não sofre desse distúrbio, funciona como estimulante. Muito consumido como droga por adolescentes do Michigan e Texas (N.T.).) e o controle remoto da televisão. Nader não mudou a estação de Sgt. Pepper para AOR ou Kenny G. Continuou a usar as mesmas roupas amarrotadas. Aqueles que o atacam hoje são como os garotos do colégio que não param de ameaçar até que você se pareça, cheire e pense igual a eles.
Bem, caros baby boomers, esse tal de Nader nunca mudará. Então por que vocês não poupam seu fôlego, aumentam a dose de Prozac e arrumam um terapeuta uma vez por semana? Ou então sossegam e ficam agradecidos pela existência de pessoas como Ralph Nader. Ele fará todo o trabalho — vocês poderão relaxar e pedir mais uma margarita.
Sei que é muito duro ter de levantar cedo para alimentar a fera empresarial, receber o pagamento das mãos de imbecis e ainda assim tentar olhar as coisas de outra perspectiva, apesar de todo o lixo empurrado diariamente goela abaixo.
Mas em um recanto escondido de sua mente há um terminal nervoso desligando-se, como o piscar fraco da luz de alerta avisando que acabou a bateria do celular. E o banco de dados cerebral lembrando do tempo em que você era mais jovem e acreditava fervorosamente que podia sozinho fazer a diferença, antes de ser tragado pela vida adulta e ter se conformado a agir de acordo com o programa — ou passar o resto de seus dias com o dinheiro contado.
E foi o que você fez. Aprendeu a abrir mão de seus valores, apesar de acreditar que ainda é fiel a eles (“Sim, eu dirijo um utilitário — mas contribuo com o Sierra Club!“). Aprendeu a aplacar a consciência de ter um emprego abominável por temer a única outra alternativa concebível: passar fome e viver na rua! Você acata a natureza opressora de sua igreja porque, bem, Jesus disse muita coisa boa (“Ame seu inimigo”). E dai que o dízimo oferecido na missa vai para uma organização de ódio às mulheres? Você aprendeu a ficar quieto quando amigos ou colegas de trabalho usam termos racistas por saber que você não odeia negros e tem certeza que e/es também não odeiam... mas que tal atravessarmos a rua só para garantir a segurança?
Melhor de tudo, você continua a votar nos democratas, como sempre. Afinal, eles juram defender seus interesses. E você acredita só de ouvir! Além do mais, que maluco votaria no candidato de um terceiro partido? Por que sequer cogitar revisitar seu eu mais jovem, disposto a levar um tiro na cabeça só para defender o que é certo? Aqui no Mundo Adulto, é melhor esquecer o que é "certo" — você precisa é ganhar. Tudo gira em torno da vitória, seja a participação da sua empresa no mercado, sua carteira de ações ou o desempenho do seu filho na aula de francês do jardim da infância.
“Quer fazer o que é certo?” RÁ! Siga os vencedores! Mesmo que um deles (Clinton) apóie a execução de pessoas, recusa-se a banir as minas terrestres, assine leis da mordaça, impeça o repasse de recursos para abortos, jogue os pobres na rua da amargura, dobre a população carcerária, bombardeie quatro países, mate civis inocentes (no Sudão, Afeganistão, Iraque e Iugoslávia), permita que uns poucos conglomerados detenham a maior parte da mídia (que já esteve dividida entre cerca de mil empresas) e peça incessantemente aumentos para o orçamento do Pentágono. É melhor do que... do que... bem... melhor do que algo muito, muito ruim.
Amigo, quando você vai parar de se iludir? Clinton e a maioria dos democratas de hoje não fizeram e não farão o que é melhor para nós e para o mundo em que vivemos. Nós não pagamos as contas deles. Quem paga são os 10% mais ricos, e são os interesses dessa parcela que serão atendidos. Sei que você já sabe disso; o problema em falar sobre esse assunto é que a alternativa disponível se parece muito com... Dick Cheney.
Ouça, antes que algum bom democrata comece a cogitar queimar este livro, é preciso deixar bem claro: George W Bush é pior do que Al Gore ou Bill Clinton. Não há o que discutir.
Mas qual o real significado disso? Se você coloca dois humanos lado a lado e força alguém a apontar o pior, normalmente o escolhido é o mais imbecil. Hitler era “pior” do que Mussolini, um Chevrolet é “pior” do que um Ford, eu sou definitivamente “pior” do que a minha mulher. E daí? Isso é uma brincadeira de crianças. Na verdade, escolher entre o “conservadorismo compassivo” de Bush e o clintonismo é o mesmo que optar entre óleo de rícino e Robitussin sabor cereja.
O governo Bush II começou com Júnior derrubando uma série de decretos de Clinton. Imediatamente, foi transformado numa espécie de monstro. Esse era um momento importante — simbolicamente — para os democratas. Eles precisavam que o público acreditasse que Bush estava colocando arsênico na água para envenenar a todos. Eles queriam que o povo norte-americano acreditasse que Bush devastaria as florestas do país, extinguiria as verbas para abortos e estupraria o Alasca só porque estava determinado a desfazer tudo de bom deixado pelo presidente Clinton.
O que nunca ninguém disse foi que Clinton passou oito anos sem fazer quase nada para resolver esses problemas, e, algumas horas antes de deixar o cargo, decidiu tentar ficar bem na fita (ele sempre ficava bem) — ou colocar Bush no papel de vilão. Em ambos os casos, foi bem-sucedido.
A verdade é que George W. Bush não fez quase nada além de MANTER as políticas dos oito anos de governo Clinton/Gore. Durante esses longos oito anos, Clinton/Gore resistiriam a todos os esforços e recomendações para reduzir as emissões de dióxido de carbono na atmosfera e dos níveis de arsênico em nossa água. Apenas um mês antes das eleições de 2000, o líder dos democratas no Senado, Tom Daschle, e outros dezesseis democratas lideraram o movimento para PARAR qualquer redução do arsênico despejado na água. Por quê? Porque Clinton e os democratas deviam favores aos ricos bastardos que financiaram suas campanhas — e eles eram contra a redução.
Observe o fato de que o governo Clinton/Gore foi o primeiro em 25 anos a NÃO exigir de Detroit padrões mais eficientes quanto aos combustíveis. Em outras palavras, sob seu comando, milhões de barris de petróleo foram desnecessariamente refinados e depois despejados em nosso ar. Ronald Reagan, esse ícone do conservadorismo, foi melhor nesse quesito ambiental: determinou que os automóveis deveriam andar mais quilômetros por litro de combustível. Sob seu sucessor Bush I, os padrões ficaram ainda mais exigentes. E Clinton? Nada. Quantas pessoas morrerão de câncer, em quanto será acelerado o aquecimento global graças à camaradagem de Bill e Al com um de seus principais patrões, o maior lobista das três grandes companhias automobilísticas, ninguém menos que Andrew Card — que ocupa agora o posto de chefe de gabinete da extensão lógica de Clinton, George W. Bush.
Então há alguma diferença entre republicanos e democratas? Claro. Os democratas dizem uma coisa (Salvem o planeta!) e fazem outra — enquanto nos bastidores, apertam silenciosamente as mãos dos bastardos que fazem desse mundo um lugar pior e mais sujo. Os republicanos simplesmente vêm a público e dão aos bastardos um escritório na Casa Branca. Essa é a diferença.
Há o argumento de que é ainda mais maléfico dizer que vai proteger alguém e então simplesmente roubar tudo. O mal que está descoberto, que não se esconde na pele da ovelha liberal, pode ser confrontado e erradicado muito mais facilmente. O que você prefere, a barata correndo no assoalho ou um terrível cupinzeiro escondido na parede? A barata pode transmitir doenças, mas, pelo menos, você a vê e pode tomar as medidas necessárias. Já os cupins deixarão você pensando como é linda sua sala de estar — até a fundação ruir e você acordar numa montanha de pó e serragem.
Bill Clinton esperou até os últimos dias de sua presidência para assinar uma série de decretos e regulamentações, muitos dos quais prometiam melhorias para o meio ambiente e para as condições de trabalho. Foi a mais cínica de suas atitudes, fazer a coisa certa nas 48 horas finais do mandato, para que todos pensassem: “Esse sim era um bom presidente”. Mas Clinton sabia que todos esses decretos de última hora seriam derrubados pelo novo governo. Sabia que nenhum deles ficaria em pé.
Foi tudo uma questão de imagem.
Você ainda acredita que Clinton acabou com o arsênico em nossa água? Não só ele não fez nada para nos proteger da água com arsênico nos últimos oito anos, como também assinou um decreto estipulando que a substância não deveria ser removida da água “até 2004”. Isso mesmo. O maior gesto ambiental de Clinton nos minutos finais do seu mandato garantia que nós continuaríamos bebendo água contendo o mesmo nível de arsênico de 1942 — a última vez que um democrata DE VERDADE teve a coragem de levantar-se contra os interesses dos mineiros e reduzir os níveis desse veneno. Os canadenses e europeus já resolveram isso há muito tempo. Mas Clinton ignorou a lei que obrigava a EPA [Agência de Proteção Ambiental] a reduzir o nível de arsênico. Isso resultou num processo contra o governo Clinton movido pelo Conselho de Defesa dos Recursos Naturais. Em sua última semana no cargo, Clinton finalmente capitulou — mas só depois de alterar o texto determinando que a mudança acontecesse apenas em quatro anos. Assim, Clinton oficializou que beberíamos o veneno durante todo o governo Bush. Talvez estivesse nos fazendo um favor.
E quanto a Bush II derrubar as regulamentações sobre a emissão de dióxido de carbono? Eu disse “derrubar”? Derrubar o quê? Tudo o que Bush fez foi manter o status quo. Na essência, ele disse: “Poluirei o ar exatamente como Clinton fez em seus oito anos, assim como você beberá a mesma quantidade de arsênico que consumiu durante o período Clinton”.
E assim como o adiamento de quatro anos para o caso do arsênico, os últimos decretos de Clinton especificavam que as emissões tóxicas também não seriam reduzidas imediatamente. Em meados de novembro, percebendo a tendência das eleições, ele exigiu regulamentações austeras para os quatro gases formadores do efeito-estufa, incluindo o dióxido de carbono. Novamente, o discurso soava bem, mas, num segundo exame, descobriu-se que os novos níveis de emissões não entrarão em vigor até 2010. Então, como se isso já não fosse ruim o suficiente, nenhuma nova regulamentação poderia ser implementada pelos próximos dez ou quinze anos.
CLINTON TENTA DEXAR UM LEGADO: DECRETOS E REGULAMENTAÇÕES DE ÚLTIMA HORA
Clinton esperou oito anos até finalmente mexer-se para fazer algo de bom — nos últimos dias de seu mandato. Com um pé fora da presidência, deu ordens que...
E a lista só cresce. Durante oito anos Clinton não fez NADA para incluir a síndrome do túnel do carpo nas regulamentações da OSHA (2.Sigla em inglês para o departamento norte-americano responsável por garantir ambientes de trabalhos seguros e saudáveis (Occupational Safety & Health Administration) (N.T.).). Então, enquanto anistiava uns caras ricos no seu Agonistes noturno de 19 de janeiro, finalmente decidiu fazer algum bem às mulheres que passam o dia todo em frente a um teclado, mesmo tendo mãos defeituosas, e que foram às urnas DUAS VEZES para que ele fosse presidente.
Amigo, você está sendo enganado e ludibriado por um bando de “liberais” profissionais que não fizeram NADA para arrumar essa bagunça nos seus oito anos — e que não param de atacar gente como Ralph Nader, que devotou uma vida inteira a essas causas. Que grande ousadia! Eles acusam Nader pela vitória de Bush? Eu os acuso de serem Bush! Eles mamam na mesma teta corporativa, apoiando coisas como o NAFTA — que, segundo o Sierra Club, DOBROU a poluição na fronteira mexicana após a transferência de fábricas norte-americanas para lá.
Se Clinton tivesse feito tudo o que esperávamos quando votamos nele em 1992, não estaríamos enfrentando esses problemas hoje. Imagine se, em seu primeiro dia no cargo, há oito anos, Clinton tivesse ordenado a redução do arsênico na água potável — e todos os norte-americanos estivessem bebendo água mais limpa e segura nesses últimos oito anos. Você acha que haveria qualquer possibilidade de Bush Júnior dizer: “Bem, Estados Unidos, vocês vêm bebendo água sem veneno há muito tempo. E hora de voltar aos bons tempos e consumir o velho arsênico!”? Com os diabos, é claro que não! Ninguém o apoiaria. E ele saberia disso. Nem tentaria reverter as coisas. Mas como Clinton esperou até o último minuto e nunca eliminou toda essa sujeira da água e do ar, não havia apoio político ou popular para a decisão. Então foi fácil para Bush. Ele pensou: “Ninguém sentirá falta do que nunca teve”.
Mas, é claro, Bush esqueceu uma coisa: a maioria de nós nem sabia que estava bebendo a mesma quantidade de arsênico sob o governo Clinton que bebíamos em 1942. Graças ao desejo de W. de “reverter” espalhafatosamente o legado de Clinton em seu primeiro dia de governo, nós, o povo, descobrimos que nossa água não era totalmente saudável. Agora é tempo de fazer essa dolorosa pergunta: já que você nunca soube ou protestou a respeito do arsênico durante o governo Clinton, você acha que Gore teria retirado o veneno da nossa água? Por que ele faria isso? O povo nunca saberia de nada e jamais reclamaria à Casa Branca, alegando que detesta beber arsênico. E as indústrias responsáveis pela maioria desse arsênico são alguns dos financiadores da campanha de Gore. Vasculhei todos os documentos de campanha e declarações de posicionamento de Gore e não encontrei uma linha sequer sobre o arsênico na água.
Sejamos honestos: é só por causa de Bush e de seus atos idiotas que queremos a redução do arsênico. Todo esse alvoroço pôs o assunto na cabeça das pessoas — e ele não saiu mais de lá. Então, agora, sentindo a temperatura política subir ou percebendo uma oportunidade para fazer relações públicas, dezenove republicanos no Congresso decidiram unir-se aos democratas na luta contra o arsênico. E nós, o povo norte-americano, acabaremos bebendo uma água melhor. Esses dezenove republicanos, juntamente com os democratas, aprovaram um projeto de lei que não apenas proíbe Bush de derrubar o decreto de Clinton, mas também vai além e reduz ainda mais o nível de arsênico. Isso não aconteceu durante o governo Clinton e, acredite em mim, o presidente Gore nem teria tocado no assunto. E triste, mas a Casa Branca estava com remorso, e não com boas intenções.
Um outro erro de cálculo do início de governo Bush foi todo o esforço em repassar o dinheiro dos nossos impostos para as igrejas “fazerem caridade”. Ah, quantas reclamações! Então, aqui vai minha pergunta: onde estavam o People for the American Way e os outros grupos liberais em 1996, quando essa expressão foi incluída no projeto de Clinton para a reforma do serviço social? Organizações religiosas vêm recebendo verbas federais há mais de cinco anos. Então por que toda essa gritaria a respeito da “separação entre Igreja e Estado”, se Bush quer apenas ampliar o que Clinton já vinha fazendo? É por que nós preferimos a “fé” de Clinton? (Ei, quem não gostaria de juntar-se a um credo que redefiniu o significado de palavras como é?)
E quanto ao decreto de Bush, proibindo o envio de dinheiro a outros países para a realização de abortos: errado novamente. Clinton, que era a favor do direito de escolha, assim como os dois presidentes antes dele, já havia assinado decreto similar. O que Bush fez foi expandir o corte de verbas para grupos estrangeiros de controle de natalidade que ofereciam o aborto como uma alternativa. É pior, mas ele só pôde fazê-lo porque nosso presidente democrata havia preparado o terreno, dando a aprovação “liberal” a um item da agenda direitista. Se você der a mão ao diabo, ele não irá embora — vai é querer o braço todo.
Então poupem-me desse chororô sobre Bush, “o Menor”. Aqueles que querem transformar Bush num monstro de desenho animado têm um objetivo: impedir que nós vejamos a besta em que eles mesmos se tornaram. E claro que odeiam Ralph Nader. Ele é o lembrete inconveniente do que poderia ter acontecido se nós elegêssemos alguém que representasse os 90% na base da pirâmide. Culpar Nader, culpar Bush, é tudo parte do mesmo espetáculo para evitar que você perceba um fato muito importante: republicano ou democrata, o arsênico que está sendo empurrado para dentro de sua garganta é o mesmo.
Mas Bush nunca descobrirá como safar-se dessa da mesma forma que Clinton fez. Ele teria de estudar muito o Grande Manual de Charme de Clinton. Agora, aquele era um cara que sabia como conquistar as pessoas. Qualquer que seja sua opinião, é inegável que ele era agradável, esperto, engraçado e tinha os pés no chão. Sabia que o povo quer acreditar em seu presidente. E descobriu que dizer algo era o mesmo que fazer algo. Se ele dissesse ser a favor da redução da poluição, já estava bom demais — não era preciso fazer nada para tornar isso realidade. Diabos, poderia até poluir mais e a maioria das pessoas nunca perceberia a diferença. Poderia dizer que é a favor do direito de escolha na questão do aborto e então presidir o maior fechamento de clínicas desde que o procedimento foi legalizado. (Qual é o sentido de ser a favor do direito de escolha se em 86% dos condados nos Estados Unidos não há um único médico para fazer esse trabalho ou uma mulher sequer que tenha acesso a esse serviço?) Clinton aprendeu que com um bom discurso feminista poderia fazer as coisas de maneira que nenhuma líder feminista censuraria publicamente o decreto de 1999 que proibia o repasse de verbas para organizações estrangeiras que discutissem o aborto durante uma consulta. E todo mundo acha que foi idéia de Bush! Clinton era muito esperto. E por isso que todos os grupos feministas o apoiaram — porque ele disse que estava do lado deles.
Então é assim que se faz. E só dizer alguma coisa (plausível) e fazer outra. Ou não fazer nada.
O objetivo aqui é mostrar que o nosso verdadeiro problema, no final das contas, não é Bush: são os democratas. Bush ficaria paralisado se os democratas começassem a agir como um partido de oposição de verdade. Bush nem sequer estaria no cargo se um democrata tivesse sido contra os votos do colégio eleitoral. Mas ninguém disse nada.
E, na melhor parte do primeiro ano de Bush, os democratas foram os parceiros necessários e ideais para a loucura do nosso presidente.
Comecemos com a Lei de Reforma das Falências, que vai dificultar muito a vida dos assalariados que precisarem declarar falência. Com a nova lei aprovada pelo Congresso e promulgada por Bush, em vez de ter seus débitos cancelados, quem já perdeu tudo continuará a dever para bancos e empresas de cartão de crédito — e terá de achar alguma forma de pagá-los. Em outras palavras, milhões nunca sairão do atoleiro da dívida.
Essa lei foi aprovada com o apoio de 37 senadores democratas — incluindo todas as senadoras democratas —, que escolheram o lado dos banqueiros e não o das famílias trabalhadoras norte-americanas. Numa distorção irônica, foram os democratas milionários do Senado — Kennedy, Rockefeller, Corzine, Dayton — que votaram contra essa lei extorsiva.
Projeto atrás de projeto enviado ao Congresso pela Casa Branca de Bush foi recebido de braços abertos por grupos de parlamentares democratas. O corte de impostos de Bush foi aprovado com imenso apoio dos democratas, apesar de a lei beneficiar os 10% mais ricos da população.
Os democratas também apoiaram Bush no bombardeio ao Iraque e nas agressões à China. Em agosto de 2001, o momento que coroou essa colaboração foi a aprovação da Câmara às perfurações de petróleo no Alasca. Trinta e quatro republicanos tinham pulado fora do barco, declarando que votariam contra seu partido nessa questão. Era uma notícia maravilhosa para todos os preocupados com o meio ambiente. Mas a alegria durou pouco, já que a votação aconteceu e 36 democratas votaram a favor do plano de Bush.
O espetáculo mais triste nessa orgia de democratas dormindo com o inimigo foi a aprovação de absolutamente todas as indicações de Bush para o primeiro escalão. Alguns indicados tinham o apoio unânime dos democratas no Senado; mesmo os polêmicos, como John Ashcroft, receberam um número crucial de votos democratas. E nem um único senador democrata estava disposto a obstruir o caminho, como teria feito um republicano enfurecido caso um presidente democrata tivesse escolhido um radical como Ashcroft para ser secretário de Justiça. Se me lembro bem, Janet Reno foi a terceira escolha de Clinton: os dois primeiros indicados foram rejeitados depois que os republicanos ficaram loucos com suas opiniões sobre babás.
Mas essa é a diferença, os democratas não têm coluna. Eles sempre se dobram. Não há ninguém em suas fileiras disposto a lutar por nós do jeito que Tom Delay ou Trent Lott fazem do lado republicano. Aqueles caras não descansam até vencerem, não importa quantos corpos ficarem espalhados pelo caminho.
Os democratas transformaram-se em meros candidatos a republicanos. E assim eu proponho uma linha de ação: os democratas devem unir-se ao Partido Republicano. Dessa maneira, eles podem continuar com o que fazem melhor—representar os ricos—e ainda economizam muito dinheiro, consolidando seu pessoal e instalações num enxuto aparelho que luta pelo interesse dos 10% mais ricos.
A boa notícia sobre essa fusão? Os trabalhadores deste país finalmente terão seu próprio partido! O que há de tão errado com isso? Será o segundo partido em um sistema de dois partidos. Só que representará 90% de nós.
Para acelerar as coisas, faço agora uma oferta a democratas e republicanos: eu pagarei pessoalmente, do meu bolso, as taxas e contribuições necessárias para registrar os papéis na Comissão Eleitoral Federal oficializando a fusão — o totalmente novo Partido Democrata-Republicano! De presente, eu deixo vocês ficarem com o burro, o mascote democrata, que pode até cruzar com o elefante, o mascote republicano. Isso sim seria engraçado!
Portanto, peço que os lideres do Partido Democrata entreguem as chaves do comitê-central da rua South Capital, 430, em Washington, D.C., para mim (ou para qualquer outro que se interesse em ficar responsável pela chave — eu provavelmente vou perdê-la). Há mais de 200 milhões de pessoas que gostariam de ver um real sistema de dois partidos (ou três partidos, ou quatro partidos — ei, este é um país grande!) em que um lute pelo direito de declarar uma quadra de tênis como despesa empresarial enquanto o outro tenta garantir que qualquer doente tenha o direito de ir ao médico. E simples assim.
Se a atual liderança democrata não quiser me dar as chaves, então pretendo entrar com uma ação em nome de todos que já votaram em qualquer candidato do partido por fraude e uso ilegal de marca registrada. Afinal, esses chamados “democratas” estão na verdade imitando republicanos e, portanto, logrando os cidadãos que lhes deram seu dinheiro, tempo e votos. Entrarei com um mandado judicial impedindo que eles continuem a usar a palavra democrata sozinha, sem estar atrelada à palavra republicano.
O resto de nós poderá então ir em frente. Podemos chamar nosso partido de Novos Democratas, ou Democratas Verdes, ou Democratas da Cerveja Grátis. Resolveremos isso depois, no comitê.
(Os leitores que quiserem me poupar o custo dessa ação podem prometer que não elegerão os democratas fajutos e votarão em candidatos honestos, progressistas, que lutem pelo oposto do que os republicanos defendem.)
Enquanto isso, tenho um conselho aos funcionários democratas que querem sobreviver à carnificina política que vem por aí: desistam dos bicos para a competição. Essa é minha última recomendação para o partido que mandou nove garotos do meu colegial para o túmulo no Vietnã. Se você não consegue entrar na linha, então foda-se e foda-se o burro em que você monta.
HORA DE REMOVER ESSES “DEMOCRATAS”
Esta lista mostra quanto os parlamentares democratas estão distantes de uma agenda progressista. As porcentagens representam seus votos contra leis liberais e a favor das republicanas. (Fonte: Americanos pela Ação Democrática baseada nos registros de votação do ano 2000)
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Ralph M. Hall (Votou com os republicanos 80% das vezes)
Ken Lucas (75%)
Christopher John (70%)
Jim Traficant (70%)
Marion Berry (65%)
Bud Cramer (65%)
Ronnie Shows (65%)
Jim Barcia (60%)
Ike Skelton (60%)
William O. Lipinski (55%)
Tim Roemer (55%)
Adam Smith (55%)
Charlie Stenholm (55%)
John Tanner (55%)
Gene Taylor (55%)
Sanford D. Bishop Jr.(50%)
Allen Boyd (50%)
Gary Condit (50%)
David Phelps (50%)
Tim Holden (45%)
Paul E. Kanjorski (45%)
James H. Maloney (45%)
Michael R. McNulty (45%)
Bob Clement (40%)
Bob Etheridge (40%)
Harold Ford (40%)
Bart Gordon (40%)
Collin C. Peterson (40%)
Max Sandlin (40%)
Shelley Berkley (35%)
Peter Deustch (35%)
Mike Doyle (35%)
John J. LaFalce (35%)
Frank Mascara (35%)
Carolyn McCarthy (35%)
Dennis Moore (35%)
Solomon P. Ortiz (35%)
Loretta Sanchez (35%)
Bart Stupak (35%)
Brian Baird (30%)
Lois Capps (30%)
Eva Clayton (30%)
Cal Doodley (30%)
Barry Hill (30%)
Darlene Hooley (30%)
Jay Inslee (30%)
William J. Jefferson (30%)
Jim Moran (30%)
Nick Rahall (30%)
Vic Snyder (30%)
John Spratt (30%)
Ellen Tauscher (30%)
SENADO
Zell Miller (Votou com os republicanos em 100% das vezes)
John Breaux (50%)
Daniel Inouye (40%)
Max Cleland (30%)
Blanche Lincoln (30%)
REPUBLICANOS VULNERÁVEIS, QUE PODEM SER DERROTADOS
Os seguintes membros republicanos do Congresso são aqueles com mais probabilidade de serem derrotados se um Democrata forte e de verdade concorrer contra eles:
SENADO
Waine Allard
Susan Collins
Pete Domenici
Tini Hutchinson
Mitch McConnell
Bob Smith
Gordon Smith
Ted Stevens
Strom Thurmond
CÂMARA DOS DEPUTADOS
Shelley Moore Capito
Mike Fergunson
Melissa Hart
Steve Horn
Mark Kennedy
Doug Ose
Charles (Chip) Pickering
Mike Rogers
Rob Simmons
Heather Wilson
A ORAÇÃO DO POVO
Acho que foi Tomás de Aquino que observou uma vez: “Nada como sua própria merda para fazer-lhe perceber o quanto você fede”.
Em julho de 2001, Nancy Reagan, na ocasião numa ronda incansável ao redor do leito de morte do marido, despachou os antigos capangas de Reagan, Michael Deaver e Kenneth Duberstein, para Washington, D.C., com uma mensagem confidencial a George W. Bush e à liderança republicana. O partido havia se dividido sobre a questão da pesquisa relacionada às células-tronco, a avançada ciência que retira células precursoras de embriões humanos rejeitados e as usa para tratar de pessoas com doenças debilitantes, como o mal de Alzheimer (enfermidade que castigava o ex-presidente Reagan), ou para encontrar a cura para outras doenças fatais. Os fanáticos militantes contra o aborto (incluindo aí os Reagan e os Bush), que haviam controlado o partido por décadas, exigiram que não houvesse pesquisa embrionária alguma, independentemente do sofrimento dos vivos.
Mas agora os parafusos frouxos estavam sendo apertados, pois um certo número de conservadores, de Thommy Thompson a Connie Mack, estava aprovando a pesquisa das células-tronco, declarando que este estudo não tinha nada a ver com a retirada de “vidas humanas”. De repente, a mídia ficou repleta de reportagens sobre o motim conservador em relação a essa questão. A Right to Life (1.Direito de Viver, organização antiaborto, que tem um enorme poder de lobby nos EUA (N.T).) foi à guerra para conter a maré em direção à razão.
Nada daquilo, no entanto, parecia intimidar ou comover W, mais preocupado com a marca de creme dental que o primeiro-ministro britânico usava do que com a mudança de sua posição a respeito do aborto.
Mas então Nancy mudou de idéia: a quase-viúva pediu a Bush para mudar de idéia e aprovar, apoiar, financiar e patrocinar a pesquisa das células-tronco. A pesquisa, transmitiu ela aos quatro ventos por intermédio de seus garotos de recado, poderia salvar Ronnie ou os futuros Ronnies dos males de Alzheimer, Parkinson, Lou Gehrig e de outras doenças catastróficas. Nos últimos anos, Nancy já vinha modificando sua posição em relação ao aborto e agora saía do armário pela primeira vez e afirmava que um embrião NÃO é um ser humano.
Naquele momento, todo o time mudou de campo. A convocação da diretoria havia sido feita: DANEM-SE OS NÃO-NASCIDOS! SALVEM OS “GIPPER”! (2.Designação dada a um grupo conservador e neo-liberal. Com freqüência usada como apelido de Ronald Reagan (N.T.).)
E dito e feito. Em poucos dias, os princípios de Baby Bush desapareceram mais rápido que uma estagiária de Condit (3.Gary Condit, congressista democrata que teve um caso adúltero escandaloso com uma jovem estagiária descoberta morta num parque de Washington, D.C. O caso dos dois foi revelado quando ela desapareceu. Um ano depois, descobriram que ele não foi responsável pelo desaparecimento da jovem. Mesmo assim, Condit perdeu a reeleição (N.T.).). Uma ordem veio da Casa Branca afirmando que agora não havia nada de errado com “determinada” pesquisa de células-tronco. Bush foi à TV e nada disse a respeito de embriões humanos serem considerados seres humanos. Depois de décadas empurrando goela abaixo que “a vida humana começa na concepção”, vinham agora os mesmos indivíduos que jogaram no lixo o direito da mulher ao aborto nos dizer que estes “bebês não-nascidos” não eram nada mais que um monte de tecido embrionário morto — que, aliás, poderia muito bem manter vivos por mais uns anos alguns doentes ricaços!
Em todo o país, outros chefões republicanos juntaram-se ao clamor por mais pesquisas relacionadas às células-tronco. Orrin Hatch (4.Senador republicano, conservador, famoso por ser contrário ao aborto (N.T.).) liderou o comando, dizendo: “Não é uma questão de destruição da vida humana, é uma questão de facilitar a vida humana”. Até mesmo Strom “só-em-casos-de-estupro-e-incesto” Thurmond concordou: “Potencialmente, a pesquisa das células-tronco pode tratar e curar enfermidades como esclerose múltipla, mal de Alzheimer, mal de Parkinson, doenças cardíacas, vários tipos de câncer e diabetes... Apóio essa ciência pioneira e o patrocínio federal a essa pesquisa”, disse o velho, cuja filha, não tão coincidentemente assim, sofre de diabetes juvenil.
Não há nada mais amável que um hipócrita sem-vergonha de direita. Eles passam a vida inteira tornando a vida de todo mundo um inferno mas, assim que um pouquinho de desgraça atinge suas vidinhas, o que vale é“dane-se a ideologia — queremos resultados!” Eles devotam todas as suas energias durante anos para dificultar que negros, garotas ou caras que curtem caras desenvolvam-se ou sejam tratados com um mínimo de dignidade, mas na hora que alguém de sua família está sendo prejudicado — ooopa, é melhor você sair da frente do meu filho, rapaz — ele é especial!
Reagan, Bush, Cheney e todo o seu time são responsáveis por décadas de legislação cruel, elaborada para punir os pobres, prender os que sofrem de problemas de saúde (viciados em drogas) ou cortar os direitos de pessoas desesperadas que vivem “ilegalmente” nos Estados Unidos. Mas, quando eles se encontram em uma situação de desespero, de repente adquirem a compaixão de São Francisco e a misericórdia de Madre Teresa.
É missão de vida para os ricos e poderosos destruir nosso ar, poluir nossa água, assaltar nossos bolsos e fazer com que seja impossível que consigamos qualquer ajuda na janelinha do guichê, mas quando seus atos começam a assombrar suas vidas, não perdem tempo caçando culpados —procuram logo um jeito de nos dar esmolas.
Bem, acho que isso é bom! Vamos esperar que consigam tudo o que querem. Se é preciso uma tragédia pessoal para que eles readquiram à sã consciência, que seja. Afinal de contas, apesar de suas casas de sete banheiros e de suas garagens cheias de Bentleys, eles são gente como a gente. São H-U-M-A-N-O-S. E quando uma pessoa querida de sua convivência está numa cama, molhando sem parar suas fraldas geriátricas, mijando toda hora em seus lençóis de design moderno e balbuciando tal qual as almas estropiadas, de quem eles mesmos cortaram a assistência e verba do orçamento federal — bem, nessas horas, rico ou pobre, o pus das feridas começa a ficar parecido. A igualdade é atingida — uma nação, incapacitada, justiça para todos.
E agora, graças ao azar de Ronald Reagan, teremos um pouquinho da pesquisa de células-tronco bancada pelo governo — que talvez encontre a cura para o mal de Alzheimer e sabe-se lá o que mais. Pensem só nisso. E preciso que algo desse tipo aconteça para que ocorra um mínimo de investimento na pesquisa científica. Nosso amado ex-presidente, que ajudou a arruinar a vida de milhões de mulheres porque acreditava que embriões eram criancinhas, agora se encontra num apuro físico — e só porque hordas de conservadores consideram-no um santo, o sofrimento de milhões de norte-americanos comuns será aliviado?
Este fenômeno — a mudança de opinião dos abonados assim que tornam-se vítimas — está acontecendo em todo lugar. Em Nova York, o prefeito republicano Rudolph Giuliani, que por anos se opôs a que a cidade custeasse a assistência médica de crianças carentes, sofreu uma virada radical — depois que descobriu ter câncer. “Devo admitir”, um humilde Giuliani explicou à imprensa, “que ter câncer me fez ver muitas coisas sob uma nova luz”.
Ou veja o caso de Big Dick Cheney. Cheney tranqüilamente breca qualquer iniciativa contra os gays que possa vir da Casa Branca. Por quê? Porque sua filha é lésbica. Qual seria a posição de Dick Cheney com relação a esse assunto se ninguém próximo a ele fosse gay? Provavelmente não muito longe da estrada no Wyoming em que Matthew Shepard (5.Rapaz de 21 anos, assassinado em um crime antigay cometido em 1998, no Estado de Wyoming. Tornou-se mártir da comunidade gay (N.T.).) foi amarrado e surrado numa cruz de ripas de cerca. Essas bichas e sapatas adquirem toda uma nova dimensão no momento em que são carne de nossa carne. O dia em que sua filha saiu do armário serviu ao menos para que Dick Cheney parasse de agir como um todo-poderoso republicano, para agir como ser humano e pai. Depois que a coisa chega em casa, é bem difícil continuar comportando-se como um imbecil.
Então decidi que a única esperança que temos neste país de trazer socorro aos doentes, proteção às vítimas de discriminação e uma vida melhor para quem sofre é rezar sem parar para que aqueles que estão no poder sofram com as mais horrendas doenças, tragédias e circunstâncias. Porque garanto, quando é o deles que fica na reta, trilhamos todos o caminho da salvação.
Com isso em mente, escrevi uma oração para apressar a recuperação de todos os necessitados, pedindo a Deus para castigar todo líder político e executivo de grande corporação com alguma forma de doença fatal. Sei que não é bonito pedir a Deus para prejudicar os outros, mas gostaria de pensar que Deus não só é misericordioso e justo, como também é dono de uma ironia muito apurada. Acho que Deus gostaria de ver um pouco de pesar atingir aqueles que tanto têm abusado de seu planeta e de suas crianças.
Então escrevi “Uma oração para atingir os bem-de-vida com o máximo possível de aflições”. Afinal, a história conta que Deus curte um castigozinho à moda antiga de vez em quando — e quem melhor para punir do que os brancos boçais que nos deixaram nessa zona?
Por favor, reze essa oração comigo a cada manhã, de preferência antes da abertura da Bolsa de Nova York. Não importa qual seja sua religião ou se você tem alguma. Esta reza é não-discriminatória, portátil e não tem pré-requisitos.
Metade da África em breve morrerá por causa da Aids. Doze milhões de crianças nos Estados Unidos não têm acesso à alimentação de que necessitam. O Texas ainda executa cidadãos inocentes. Estamos perdendo tempo. Abaixem suas cabeças e juntem-se a mim agora...
UMA ORAÇÃO PARA ATINGIR OS BEM-DE-VIDA COM O MÁXIMO POSSÍVEL DE AFLIÇÕES
Amado Senhor (Deus/.Jeová/Buda/Bob/Ninguém):
Nós Vos rogamos, ó misericordioso, para trazer conforto àqueles que sofrem hoje por quaisquer razões que Vós, a Natureza ou o Banco Mundial tenham considerado convenientes. Compreendemos, ó Pai celestial, que Vós não podeis curar todos os enfermos imediatamente — isto certamente esvaziaria os hospitais criados pelas boas freiras em Vosso nome. E aceitamos que Vós, o Onisciente, não podeis eliminar todo o mal do mundo, pois isto certamente Vos deixaria sem trabalho.
Particularmente, amado Senhor, pedimos a Vós que atinjais todo membro da Câmara dos Deputados com horríveis e incuráveis cânceres no cérebro, no pênis e na mão (não necessariamente nesta ordem). Pedimo-Vos, Amado Pai, que todo senador sulista veja-se na situação do dependente de drogas e encontre-se, assim, ele mesmo condenado à prisão perpétua.
Rogamo-Vos para que cada filho e filha de cada senador da Mountain Time Zone (6.Área de fuso horário que abrange a região das Montanhas Rochosas (N.T.).torne-se gay de verdade; para que cada filho e cada filha dos senadores do leste do país seja condenado à cadeira de rodas e para que os filhos dos senadores do oeste sejam obrigados a estudar na escola pública. Imploramo-Vos, Pai de misericórdia, que, da mesma forma como Vós transformastes a esposa de Lot em uma estátua de sal, transformai os ricos — todos os ricos — em miseráveis e sem-teto, arrancando-lhes todos os seus rendimentos, posses e economias. Removei todo o poder de suas posições, e, sim, fazei com que eles percorram o vale e a escuridão da Previdência Social. Condenai-os a uma existência de fritar hambúrgueres e fugir dos cobradores. Deixai-os ouvir os gemidos dos inocentes sentados no meio do corredor 43 e deixai-os sentir o ranger de dentes podres e cariados, tal como os 108 milhões de cidadãos que não possuem plano odontológico.
Pai Celestial, oramos para que todo líder branco (em especial os alunos da Bob Jones Univesity (7. Universidade fundamentalista cristã fundada pelo líder religioso Bob Jones, conhecida por manter uma política de discriminação racial com base em princípios religiosos (N.T.).) que acredita que os negros estão numa boa nos dias de hoje seja acordado de seus sonhos amanhã de manhã com a pele preta como uma limusine, para que aprecie as riquezas e colha os frutos de ser negro nos Estados Unidos. Humildemente pedimo-Vos para que Vossos ungidos, os bispos da Santa Igreja Católica Apostólica Romana, sejam castigados com ovários e gestações não-planejadas, juntamente com um panfleto sobre o método da tabelinha.
Por fim, Amado Senhor, pedimo-Vos para que obrigueis Jack Welch (8. Executivo famoso por suas estratégias de liderança, foi diretor executivo da General Electric (N.T.).) a nadar no rio Hudson que ele poluiu, para que forceis os executivos de Hollywood a sentarem e assistirem a seus próprios filmes ininterruptamente, para que façais com que Jesse Helms (9.Senador ultraconservador, formulou projetos de lei contra gays (N.T.).) seja beijado na boca por um homem e para que tomeis Chris Matthews (10.Jornalista acusado de receber propina da Enron (N.T.).) mudo, para que o ar — rapidamente — seja extraído dos pulmões de Bill O’Reill (11.Jornalista conservador, apresentador do programa “The O’Reilly Factor”, da emissora Fox News (N.T.).) e para que transformeis em cinzas todos os responsáveis pelos que fumam em meu escritório.
Ah, sim, e para que jogueis com fúria uma praga de gafanhotos que se abrigue na peruca do Líder da Minoria no Senado (12.Trent Lott, líder do Partido Republicano no Senado, muito parodiado por usar uma vistosa peruca (N.T.).) do grande Estado do Mississipi.
Que Vós possais ouvir nossas preces e atendê-las, ó Rei dos Reis, que senta no alto e nos assiste da melhor forma que conseguis, considerando quão ferrados somos. Concedei-nos alívio de nossa miséria e sofrimento, pois sabemos que os homens a quem Vós ireis ferir serão rápidos em seus esforços para livrar-se de sua desgraça, o que por sua vez poderá livrar-nos da nossa.
Rezemos, assim, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém.
TALLAHASSEE, OBA
Tenho uma confissão a fazer:
Sou o responsável pela “presidência” de George W. Bush. Eu. Michael Moore. Poderia ter evitado tudo isso.
Agora fiz com que um monte de gente se enervasse, e o país está na merda.
E por isso que estou escondido.
Estou escrevendo este epílogo de meu abrigo nas florestas do norte de Michigan, em algum lugar próximo ao paralelo 45. Os habitantes daqui dizem que estou exatamente a meio caminho entre o Equador e o Pólo Norte, mas me parece que estou a milhões de quilômetros de lugar nenhum.
Não penso mais sobre como podemos salvar o país ou o planeta —minha única preocupação é como vou salvar minha pobre pele.
Tudo começou em Tallahassee. Tallahassee, na Flórida. Sim, aquela Tallahassee.
Minha presença na capital do Estado da Flórida nada teve a ver com o circo levantado pela mídia por 36 dias, que se seguiu às eleições de 2000. Esse pequeno acidente sangrento em câmera lenta foi só para os que não suportaram ficar sem sua cotazinha de OJ (1.OJ Simpson (N.T.).)/Mônica (2.Monica Lewinski, estagiária da Casa Branca em 2000, que criou um escândalo ao acusar o presidente Bill Clinton de forçá-la a fazer sexo oral (N.T.).) e precisavam desesperadamente de que mais uma sutura feia da nação fosse descosturada, como um casamento de Newt Gingrich (3.Membro do Congresso por vinte anos. Hiperconservador, fez parte do partido Christian Right, que defende menos envolvimento do governo na vida pública. (N.T.).). Não foi isso que me levou a Tallahassee, e eu não estive ali por nenhum dos tais 36 dias.
Cheguei à Flórida 15 dias antes da eleição. O que eu não contava era com um encontro antes do amanhecer com o governador da Flórida, Jeb Bush. Só ele e eu numa rua escura no centro de Tallahassee, com seus guarda-costas observando tudo furtivamente de um canto, prontos para o primeiro sinal de permissão para me tornarem seu café da manhã.
Eu tinha ido à Flórida para tentar impedir que o irmão dele vencesse as eleições, para evitar o desastre que se aproximava no horizonte, para derrotar o inimigo. Vinte segundos sobre Tallahassee!
Era uma missão destinada ao fracasso.
Como resultado de minhas ações, nem sei quem devo temer mais — os homens do petróleo que agora administram a corporação conhecida como "Os Estados Unidos da América” de dentro da Casa Branca ou os liberais desarranjados que querem minha cabeça porque acreditam que eu fui, de alguma forma, a mente por trás da campanha de Nader, e que eu... eu... eu...
OK! TUDO BEM! É VERDADE!! Fui EU — SIM EU! EU! EU! É TUDO MINHA CULPA!! O QUE EU TAVA PENSANDO??? EU QUERIA TANTO ASSIM ENCONTRAR A SUSAN SARANDON? Oh Deus, me perdoe, arruinei o país — esta maravilhosa nação psicopata de idealistas e contadores que querem apenas o direito de dirigir suas blazers pelas planícies fecundas, cujo único pedido é que lhes digam um dia a diferença entre “parcialmente ensolarado” e “parcialmente nublado”, que procuram nada mais que um plano de celular com uma quantidade razoável de minutos de graça nos horários de pico para que eles estejam sempre a postos se um de seus filhos ligar de um tiroteio na escola, porque a mamãe ou o papai precisam ligar para a CNN imediatamente para negociar os direitos das cenas hiperbacanas que o filho está filmando ao vivo da carnificina na lanchonete.
De alguma maneira, acho que posso passar a perna nos brutamontes da Halliburton e Enron (agora referidos como os “assistentes especiais do vice-presidente”). Eles serão contidos, isolados e libertados de seu sofrimento logo logo.
Mas nenhuma contrição satisfará a Gorestapo, que está desapontada, com toda a razão, pelo fato de seu homem ter sido barrado do cargo que venceu. Eles estão por aqui. Vou dizer a vocês, nunca vi liberais tão fulos assim desde... desde... bom, acho que nunca vi os liberais tão enfezados por causa de alguma coisa! Afinal, não é assim como se eles fossem o partido Christian Right (4.O partido Christian Right obteve apoio de conservadores católicos, judeus, mórmons e ocasionalmente também de secularistas, pregando que o papel do governo é cultivar a virtude, e não interferir com as operações naturais da economia ou do mercado (N.T.).), que sempre deu um jeito — com Deus e a insanidade a seu lado — para conseguir o que quer.
A diferença é que agora esses liberais concordaram finalmente em uma coisa: culpar Ralph Nader — e me culpar! Por que me culpar? Eles não conhecem a história toda! Ralph Nader me despediu em 1988 — me chutou para o olho da rua, sem um centavo!
Agora, para sobreviver, para proteger aqueles que eu amo e para disponibilizar este livro que escrevi para vocês, que são sortudos o bastante de encontrá-lo em meio à literatura recente de nossos jogadores de luta livre, me recolhi ao coração da floresta com meu laptop e minha bússola, vivendo da terra como a Natureza quis, rabiscando meus pensamentos finais na esperança de que algumas lições possam ser aprendidas.
Semana passada, enquanto eu estava fazendo uma conexão de vôo em Detroit, um cara com um sorrisão veio até mim, estendeu-me a mão e cumprimentou-me desse jeito: “Todo mundo diz que você é um imbecil, então quis conhecê-lo!” Ele se virou e saiu correndo, deixando de escutar minha resposta: “Eles estão certos!”
O Estado inteiro de Michigan é cheio de pessoas assim. Honestas e educadas. Como a carta que recebi hoje, uma carta parecida com muitas que tenho recebido ultimamente:
“Caro Canalha”, dizia. “Espero que você esteja satisfeito com o que fez. Por culpa sua e do egomaníaco Ralph Nader, antes que a gente perceba vai estar bebendo água com arsênico. Faça um favor: morra”.
Eu poderia escrever de volta e dizer a ele que Ralph Nader não é responsável por nada mais do que inspirar milhões de novos eleitores às urnas, porque ele foi o único candidato a contar a verdade sobre o que está acontecendo nesse país. Os ricos desviaram dinheiro como bandidos nos Democráticos Anos da Década de 1990. Absolutamente nada foi feito para aliviar as dificuldades enfrentadas por 45 milhões de norte-americanos que não possuem seguro-saúde. O salário mínimo permanece inalterado como um salário de escravo, a US$ 5,15 a hora.
Eu poderia dizer a ele que, pelo fato de Ralph Nader estar na cédula de votação no Estado de Washington, a maioria dos 101.906 cidadãos que votaram em Nader também votaram pelos democratas para o Senado. Graças a esses eleitores de Nader, Maria Cantwell tornou-se senadora pelo Estado de Washington com a diferença de apenas 2.229 votos. Se você quer culpar Nader por tirar votos de Gore na Flórida, então você precisa também dar crédito a Nader por trazer os milhares de novos eleitores às urnas que fizeram a diferença para Cantwell — permitindo assim que os democratas forçassem um empate de 50-50 no Senado. Então, uma vez que houve um empate, um senador de Vermont compreendeu que subitamente estava com muito poder — e o usou para bandear o Senado para os democratas, com sua saída do Partido Republicano. Nada disso poderia ter acontecido sem Nader.
Eu poderia lembrar a meu destinatário que as únicas pessoas que tiraram de Gore a eleição que ele ganhou honestamente foram os cinco juizes da Suprema Corte, que não deixaram que todos os votos fossem contados. E poderia mencionar que Gore nunca teria se metido na enrascada em que esteve se ele tivesse vencido em seu próprio Estado, ou se tivesse vencido no Estado natal de Clinton, ou se tivesse vencido, decisivamente, pelo menos um dos três debates. Gore não conseguiu nada disso, e é o que o colocou na enrascada em que esteve. E, para crédito de Gore, ele não culpou Ralph Nader. Ele culpou o zíper das calças de Clinton!
Eu poderia escrever de volta e dizer tudo isso a meu amável correspondente, mas não vou. Em vez disso, gostaria de contar a ele (e a você) uma história que até agora só contei a amigos muito chegados — uma história sobre minhas 14 horas de inferno, num lugar chamado Tallahassee.
Eu evito a Flórida. O clima é tão grudento e úmido que você tem de carregar para todo lado um rolo de papel absorvente, desses usados em frituras, só para se manter seco. O Estado é cheio de insetos e mosquitos. Lá, raptam-se menininhos cubanos que não são devolvidos a seus pais. E como se todo dia fosse um dia de estação de caça para os turistas alemães em carros alugados. E tem também a Disney World. E a Gloria Estefan. E os Kennedy correndo na West Palm Beach com suas roupas de baixo recém-trocadas. Sem falar nos furacões, Bebe Rebozo (5.Homem de negócios conhecido por sua amizade com Richard Nixon. Suas ligações profissionais e pessoais com Nixon foram trazidas à tona durante as investigações do Watergate (N.T.).), Ted Bundy (6.Assassino fumoso (N.T.).), Anita Bryant (7.Uma das primeiras mulheres a militarem pela causa gay. Nos anos de 1960, foi Miss América (N.T.).), pântanos, armas baratas, e a National Enquirer. Eu odeio a Flórida.
Ainda assim alguma coisa no fundo do meu ser me chamava para lá, à medida em que as eleições de novembro se aproximavam. Talvez fosse alguma coisa que comi, talvez não.
Haviam me convidado a dar uma palestra aos estudantes da Florida State University [Universidade do Estado da Flórida]. Num primeiro momento eu tinha aceitado, mas depois tive de cancelar tudo por causa da agenda das tomadas de meu filme.
Então Al Gore não conseguiu vencer o terceiro e último debate com George W. Bush. Veja bem, lá de onde eu vim, o cara esperto ganha o debate; o bobão perde. É simples assim. Estava claro que Al Gore estava fazendo tudo o que podia para perder a eleição.
Liguei de volta às pessoas da Florida State em Tallahassee para ver se eu ainda seria bem-vindo, e eles ficaram mais que felizes em me receber. Marcaram uma data para que eu falasse aos alunos, na semana seguinte, apenas duas semanas antes do dia das eleições. Eu também daria uma entrevista coletiva e faria um pronunciamento.
Eu tinha algumas coisas a dizer sobre Ralph Nader.
Minha relação com Nader é complicada. Eu havia trabalhado com ele uma vez no final dos anos de 1980. Ele tinha me dado trabalho quando eu estava desempregado, e este ato generoso foi uma coisa que eu decidi não esquecer.
De meu cubículo perto do escritório de Nader no segundo andar de um prédio construído por Andrew Carnegie (8.Homem de negócios, que ficou milionário como principal líder da indústria do aço americana (N.T.).), publiquei um boletim informativo modestamente intitulado Moore’s Weekly. Também comecei a filmar o que se tornaria o filme Roger & Me.
Tudo foi bem até o dia em que assinei um acordo com uma editora para escrever um livro sobre a General Motors. Quando Ralph soube da notícia de minha grande sorte, não estava exatamente quebrando ao meio charutos de cinqüenta dólares.
— O que o qualifica a escrever um livro sobre a General Motors? — exigiu. Ele também quis saber com que direito eu estava fazendo esse filme, por que eu estava gastando mais tempo em Flint do que em D.C. e por que aquele boletim não estava sendo publicado regularmente.
Finalmente, olhou-me do alto e apenas balançou a cabeça com pena. “Bom, pode-se tirar Mike de Flint”, zombou, “mas não se pode tirar Flint de Mike”.
Ele pediu que eu arrumasse minhas coisas e fosse embora.
Fiquei arrasado. Achei onde editar meu filme e segui em frente. Quando o filme foi lançado, para mostrar apoio e que não havia mágoas, liguei para Ralph e ofereci a doação dos lucros da estréia em Washington para seus projetos. Ele recusou a oferta. Em vez disso, ele e um sócio acabaram comigo no The New York Times. Fiquei arrasado de novo. Duas porradas para entender a mensagem. Não nos falamos pelos oito anos seguintes.
No final dos anos de 1990, achei que era hora de ligar para ele. (Eu não devia estar sendo rejeitado o suficiente na minha vida.) Convidei-o e a sua equipe para a estréia de meu novo filme, The Big One. Eles foram. Fiquei no fim do teatro e observei Ralph se divertir e dar risada. Depois eu o fiz levantar-se e fazer uma reverência, o que foi recebido com um aplauso entusiástico. Na saída, dei-lhe um abraço. Ralph não era do tipo que abraça — na verdade, nem eu. Acho que eu devo ter visto isso num filme em algum lugar e me pareceu bacana.
Dois anos depois, estava eu sentado na varanda em Michigan pensando na vida quando Ralph me liga e pede que eu o apóie à presidência dos Estados Unidos. Não gosto de apoiar políticos porque — bom, pelas mesmas razões pelas quais você também não gosta — eles são todos tão escorregadios, têm cabelo ruim, não podem articular duas frases sem contar uma mentira. Ralph não era nada disso, era só um gênio raivoso. Em outras palavras, não era feito de material presidenciável. Em 1996, colocou seu nome na cédula, mas na prática não fez campanha alguma. Foi uma grande decepção para aqueles que o apoiaram. Ele estava falando sério dessa vez? Sim, ele disse, dessa vez era “jogo duro”. Ele iria levantar um bom dinheiro e se comprometeria a visitar todos os cinqüenta Estados. Ele teria uma equipe com ele 24 horas. Sorte deles!
Eu queria desligar o telefone para voltar a não fazer nada. Não queria me envolver em todo o fuzuê que, eu sabia, viria de tal disputa. Mas que escolha eu tinha? Fingir que o país estava indo muito bem, obrigado? Apostar em um dos candidatos dos partidos principais, fundados pelos mesmos figurões com quem passei meu tempo combatendo e filmando? Sentar em Michigan e dar comida para os esquilos?
Não podia decepcionar o Ralph. Ele não havia me decepcionado muito tempo atrás, e nunca havia decepcionado o país. Se sua voz não fosse ouvida durante esta eleição, nenhum dos assuntos de grande importância seriam sequer mencionados, quem dirá debatidos.
Antes de aceitar, decidi enviar uma carta pessoal a AI Gore, dando-lhe uma chance de se explicar e de me dizer por que eu deveria sequer pensar em votar nele, considerando o recorde Clinton/Gore.
Ele me respondeu com uma carta de quatro páginas, do tipo em que o primeiro parágrafo e a última frase são personalizadas e o resto é cuspido direto de um computador. Ele me agradeceu por minha carta “provocativa” e então repetiu suas posições políticas, que eu já conhecia. Embora eu mantivesse a cabeça aberta, nada do que ele disse me convenceu de que iríamos ver alguma novidade se ele fosse eleito. Liguei para Ralph e disse-lhe que eu estaria em seu comitê, desde que eu não tivesse que vestir um terno cinza, comer homus (9.Comida típica árabe. Pasta de grão-de-bico com gergelim e temperos (N.T.).) ou estripar uma baleia.
A campanha de Ralph distribuía uma coluna de Molly Ivins com conselhos para quem queria votar em Nader, mas não queria colocar George W. Bush na Casa Branca. Se eles vivessem num Estado em que a expectativa fosse de que Gore ou Bush vencessem com uma larga diferença, sugeria ela, então eles deveriam usar seus votos como um recado e dá-los a Ralph Nader. Mas se eles vivessem em um dos Estados em que os dois estivessem mais ou menos empatados, então deveriam votar em Gore para barrar Bush. Quanto a mim, voto normalmente para quem considero o melhor candidato, como fui ensinado na aula de moral e cívica da sétima série, mas que sei eu?
Secretamente, acho que a maioria das pessoas do lado de Nader pensavam o mesmo que eu — que, uma vez que Gore tivesse a chance de detonar Bush em um debate, a eleição estaria ganha. Então, pensávamos, vamos obter milhões de votos para Nader para mostrar ao próximo presidente — Al Gore — que há um grande número de norte-americanos que não o querem empurrando o Partido Democrata ainda mais para a direita. Uma forte votação para Nader poderia ser a maneira de colocar Gore numa sinuca e evitar que ele investisse mais em militarismo e menos em empregos.
Hã! Éramos uns gênios.
Então vieram os debates. Ralph foi chutado para escanteio, restando aos Estados Unidos três programas de 90 minutos cada em que Gore e Bush mais concordavam entre si do que debatiam alguma coisa. No segundo debate, os dois disseram que concordavam um com o outro em nada menos que 37 assuntos diferentes. Foi maravilhoso.
Gore havia melado tudo. Ele fracassara em desmascarar a ignorância e estupidez de Bush. Ele falhara em pôr-se de lado e mostrar à nação que havia uma diferença real entre os nomes da cédula de votação. Ele teve três chances de acabar com aquele sorrisinho cínico do filho de Bush e não conseguiu faze-lo! Mensagem captada pelo pais: se é assim que ele lida com Júnior, o que vai acontecer quando ele se encontrar com os russos? Ou com os canadenses?
Fiquei chocado com as implicações. Começava a parecer que Gore ia perder. Ele ia perder em seu próprio Estado. Ele ia perder no Estado de Clinton. Ele conseguiu convencer o líder democrata no Senado, Robert Byrd, da Virgínia, a apoiá-lo somente a cinco dias das eleições (conseqüentemente entregando a Virgínia, de forte tradição para os democratas, a Bush). Qualquer um desses Estados teria dado a Gore os votos de que ele precisava para ganhar a Casa Branca.
Gore estava implodindo — e os eleitores de Nader em todos os cantos pareciam ratos pulando de um navio afundando (ratos legais — do tipo fofo e bonitinho). Ralph viu como seus votos caíram pela metade na apuração. Tudo indicava que ele não conseguiria os 5% necessários para receber fundos federais na próxima eleição.
As coisas no comitê central de Nader enlouqueciam. Foi tomada a decisão de repudiar o plano de Ivins e começar uma segunda turnê — em Estados nos quais Gore venceria ou perderia por um ponto percentual, e em que a presença de Nader faria toda a diferença. (Em alguns desses Estados Nader tinha até 12% dos votos). Foi uma estratégia arrojada, que jogava na cara dos democratas: “Vocês desertaram sua base. Não são mais democratas. É hora de aprender uma lição”. Nada como uma boa palmada na bunda do líder Nader!
Olhem, todos sabemos que a única coisa de que um político tem medo é de ser tirado de seu gabinete bonito e confortável junto com seus internos e suas altas despesas. (Isso, e a perspectiva de trabalhar em um emprego de verdade). Se não os ameaçamos com isso, eles nunca irão se comportar, nunca irão nos ouvir, nunca irão sair da cama de manhã e aparecer no serviço. Ralph Nader representava a única esperança do país de que Gore pudesse ser pressionado para fazer a coisa certa.
Todo mundo sabia que o esforço de Nader para balançar o coreto nos Estados indecisos poderia custar a eleição a Gore e colocar Bush na Casa Branca. Mas quando você é alguém que já viu a coligação na qual você votou se aliar muito mais com os republicanos do que com os democratas; que só pôde assistir enquanto esses democratas tornavam a vida do pobre mais difícil, arrumando o caminho para que os ricos usufruíssem da maior orgia da história; e quando sua cidade natal acaba perdendo mais empregos na GM nos oito anos de Clinton/Gore que nos doze anos de Reagan/Bush —bom, ai você escolhe: quer se foder nas mãos de alguém que lhe diz abertamente que vai foder você, ou quer se foder nas mãos de alguém que mente para você, e depois lhe fode?
Desculpem pelo linguajar, mas esta é provavelmente a maneira mais legal de explicar como eu e milhões de outros norte-americanos vimos essas eleições. Você não tem de concordar, nem de gostar, só tem de ler isso tudo mais uma vez se quiser chegar perto de entender o nível da nossa raiva.
Sei que muitos não viram nenhuma alternativa a não ser votar nos democratas. Eles preferiram que lhes dissessem “te amo” enquanto eram comidos do que ter de olhar na cara da Besta acima deles pelos próximos quatro anos. Conheço essa sensação. Diga que me ama e você pode fazer praticamente qualquer coisa comigo — inclusive acabar com minha raça no The New York Times!
Mas esses “Democratas Relutantes ao Lado de Gore” eram nossos aliados de verdade. Eles queriam muitas das coisas que nós também queríamos, apenas tomaram um rumo diferente. Minha opinião era que, se Bush vencesse, teríamos de trabalhar junto com esses liberais de boas intenções para salvar o mundo do Bush-Feto. Não seria certo simplesmente mandá-los ao inferno.
Então eu disse à equipe de Nader: ei, não existe motivo para deliberadamente mandar esses caras passearem — são amigos nossos, ou amigos em potencial. Nossa briga é com aqueles que roubaram o nome de democrata — os golpistas do partido, os lobistas, os traidores que de alguma maneira não puderam entrar no Partido Republicano porque não tinham o que é preciso para destruir um parque nacional, para fechar mil livrarias ou para acabar com o café da manhã gratuito dos pequenininhos desnutridos das cidades. A pessoa tem de ter coragem de verdade para fazer coisas desse tipo, e tem de gostar disso. Aqueles que não conseguem vão procurar emprego no Partido Democrata.
Nossa briga não era com os eleitores que ainda sentiam alguma conexão desesperada com o que é chamado de “Partido Democrata”. O fato de milhões de norte-americanos ainda terem esperanças de que os democratas vão representar seus interesses melhor do que os republicanos é mais um comentário sobre nosso fracasso em mostrar ao país o quanto os dois partidos são parecidos — e como os democratas vão traí-los praticamente o tempo inteiro.
O comitê de campanha de Nader me pediu para que o acompanhasse no tour pelos Estados indecisos nas últimas semanas antes das eleições. Recusei. Disse-lhes que eu preferiria trabalhar nos Estados em que Ralph obteria muitos votos sem ser responsável pela vitória de Bush nas eleições. Por que não gastar nossas energias em Nova York e no Texas, onde o resultado é certo? Digam às pessoas desses Estados para não gastarem seus votos com Gore, porque isso não provocará comoção alguma; mas elas poderiam mandar um recado forte se Nader tomasse 10% dos votos.
Esta não foi a estratégia que eles tinham decidido. Eles respeitaram minha posição e me desejaram boa sorte.
Cheguei em Tallahassee na tarde do dia 23 de outubro de 2000. Uma aluna da Florida State, seu irmão e sua cunhada me pegaram no aeroporto e, enquanto íamos até o carro, eles começaram a perguntar sobre o “convite” que eu havia oferecido a Jeb Bush.
— Todos estão falando nisso! — disseram.
— De que “convite” vocês estão falando? — perguntei.
— Daquele que você fez no jornal ontem.
Eles me mostraram um exemplar da edição de domingo do Tallahassee Democrat, o jornal diário da cidade, e ali, na primeira página de uma seção, estava uma entrevista que eu havia feito com um repórter na semana anterior pelo telefone, de Nova York. Havia uma grande foto minha e uma citação em que eu desafiava o governador a aparecer e a me encarar no palco aquela noite. Ah, que durão! Fácil desafiar quando se está a mil quilômetros de distância, não? Claro, é totalmente diferente quando de repente você está sozinho num Estado cheio de pessoas que não tratam espertinhos do Norte a pão-de-ló. Mas eu não havia pensando tão longe assim.
Cheguei à universidade e comecei a entrevista coletiva. Estava nervoso. Não queria que houvesse nenhum mal-entendido a respeito do que eu iria dizer.
Disse aos jornalistas presentes que Bush tinha de ser parado. Apelei ao povo da Flórida que, se Gore era seu candidato, então certamente eles deveriam votar nele. Mas se iam votar em Nader, queria que pensassem muito sobre seu voto. Os riscos, pensava, eram diferentes na Flórida. Se é mais importante para vocês deter Bush, então talvez vocês tenham de votar em Gore. Eu entenderia e respeitaria sua decisão.
Os repórteres ficaram um pouco surpresos. Eu estava mudando meu voto para Gore? Não, eu disse, meu voto é de Ralph. Claro, é fácil dizer isso — vivo num Estado onde Gore já é maioria. Mas, se a pessoa vive na Flórida, tudo muda.
A história espalhada pelo Estado foi de que uma das “celebridades de apoio” de Nader havia dado sinal verde para o voto em Gore na Flórida, se isso fosse o que os eleitores consideravam o mais certo a fazer.
Quando a entrevista coletiva acabou, corri ao banheiro e comecei a passar mal. Era hora de enfrentar o palco. Uma multidão de duas mil pessoas lotava o auditório. O organizador bateu na porta.
— Temos de começar! — gritou.
— Preciso só de uns minutos — respondi. Meu enjôo aumentou. Outra batida na porta. — Mostre-lhes uma parte de meu programa na TV — eu disse. — Vou estar bem em um minuto.
Não sei se estava enjoado por causa dessa pressão horrível ou se porque haviam me servido um hambúrguer da “Whataburger” (10.Cadeia de fast-food do sul dos EUA (N.T.).) (o preferido em Tallahassee) no caminho para a cidade. Talvez eu apenas soubesse que toda essa eleição — todo o país — estava na merda comigo, e não havia escapatória para nenhum de nós.
‘Vinte minutos depois, entrei no palco. Os militantes do Partido Verde estavam sentados na frente, com placas apoiando Nader nas mãos. Disse-lhes, e ao resto do público, que havia um sapo que, eu sabia, alguns ali iam querer engolir. Disse à multidão, Vocês têm de usar seu melhor julgamento — seguir sua consciência. Por favor, saibam que não vou pensar menos de vocês se tiverem de votar em Gore. Meu voto ainda é de Nader, eu disse, e continuei com toda a ladainha de razões pelas quais aquilo era uma questão de consciência para mim (eu nunca conseguiria votar em alguém que acredita na execução de outros seres humanos, que acredita que devemos continuar com o bombardeio semanal de cidadãos de outros países, que acredita que o salário mínimo deve aumentar em apenas US$ 1 por hora, que quer assinar outros tratados como o Nafta para que ainda mais norte-americanos percam seus empregos).
Disse à multidão que não podia colocar Gore nas nuvens, um homem que queria gastar mais do que Bush gastou no militarismo, que não lutaria pela assistência médica de todos os cidadãos imediatamente, que achou que Janet Reno errou ao devolver o pequeno Elián Gonzalez a Cuba. Esse era Al Gore.
Mas, eu disse, entendo seu dilema particular aqui na Flórida. Por isso não me escutem, façam o que acharem melhor, e depois veremos. E que Deus abençoe esses eleitores de Nader aqui na frente por sua coragem e dedicação, algo em que muitos de seus pais da “era anos de 1960” há multo esqueceram.
As perguntas e respostas que seguiram o discurso, mais outra discussão entre o diretório estudantil com uns duzentos alunos e alguns ativistas da comunidade (alguns dos quais haviam viajado três horas para estarem ali), foram um poderoso cabo-de-guerra sobre como lidar com o dilúvio que estava por vir. Era 1h30 da manhã quando tudo terminou, cinco horas e meia depois de eu ter resolvido meu assunto com o Whataburger. Saí com a sensação de que uma tempestade estava se formando ali na Flórida, e que seria mais prudente encontrar abrigo.
Levaram-me ao hotel, um lugarzinho curioso que ficava num calçadão, em direção à sede da Assembléia Legislativa Estadual. Liguei a televisão e assisti a um replay do noticiário das onze. “Um dos principais cabos eleitorais de Nader afirma que Bush deve ser contido, não importa como”, disse o âncora. Desliguei as luzes e fui dormir.
Acordei às 6h30 para pegar meu avião de volta. Um aluno estava esperando lá embaixo para me levar até o aeroporto. Enquanto eu fazia o check out na recepção, o garoto gritou:
— O governador Bush acabou de entrar!
— Pare-o! — gritei, sem pensar, na verdade. (Talvez fosse um reflexo — não importa se estou no Texas ou na Flórida, quando escuto as palavras governador Bush, instintivamente respondo com um “PARE-O!”) O garoto abriu a porta e gritou:
— Governador Bush, tem alguém aqui que gostaria de conhecer o senhor!
Aquela altura eu já estava lá fora. Ah, naquela rua comercial deserta, que parecia um beco escuro naqueles últimos minutos antes de amanhecer, estavam o governador Jeb Bush e seu guarda-costas, indo para o trabalho. Um utilitário preto carregando mais seguranças passava devagar naquela rua onde carros não podiam circular, mais ou menos um metro atrás do governador.
Bush se virou para ver quem o chamava e então me viu ali em pé. Ele me deu aquele sorriso cínico “bushiano” e começou a andar de volta, na minha direção. Eu dei um passo até ele, e o guarda-costas se pôs na posição de me transformar em picadinho.
— Sr. Moore — disse Bush, balançando a cabeça como se tivessem acabado de alimentá-lo com o mesmo prato de Sloppy Joes (11.Comida feita de carne moída e molho de tomate (N.T.).) pelo terceiro dia em seguida. Estendi a mão e ele a apertou.
— Só queria cumprimentá-lo, governador — eu disse educadamente. Ele apertou minha mão com força, não querendo me deixar escapar até que ele tivesse me dito o que tinha a dizer. Seus olhos eram como agulhas prendendo os meus. O guarda-costas se aproximou.
— Então, eles pagaram o suficiente para você vir até aqui? — ele repreendeu-me sutilmente, e a tradução era clara: “Você fede, Moore”. Minha boca ficou seca; meu coração batia tão forte que eu tinha medo de que ele pudesse ouvir.
— Nunca é o suficiente, governador, o senhor sabe disso — respondi com as primeiras palavras que consegui juntar. Por que ele se importava com quem me pagou e quanto? Então tudo ficou claro — ELE havia pagado tudo aquilo! Florida State University! Pudera ele estar tão louco da vida: havia bancado minha visita que disse a milhares de pessoas da Flórida —em especial aos eleitores de Nader — que derrotar Bush era o mais importante. Isso NÃO era o que a equipe de Bush queria que os simpatizantes de Nader pensassem.
Será que ele tinha visto as notícias da noite anterior? Bush olhou com raiva para mim e retirou sua mão.
— Kevin está com você? — perguntou de repente. Hã? Kevin? Será que isso era alguma senha secreta para avisar o guarda-costas de que era hora de bancar Linda Blair (12.Estrela do diabólico filme O exorcista, de 1973 (N.T.).) no meu pescoço? Então, a ficha caiu — ele estava perguntando sobre seu primo, Kevin Rafferty, o cineasta que havia me ajudado com Roger & Me. Eu não trabalhava com Kevin há 12 anos — por que ele estava me perguntando isso? Não sabia o que dizer.
— Há, não, ele não está aqui — murmurei.
— Bom, dê a ele meus cumprimentos — disse ele.
— Claro — respondi.
— Você está indo embora? — ele perguntou.
— Sim — respondi — Agora mesmo.
— Bom.
Ele me deu aquele famoso sorriso cínico "bushiano”, acenou com a cabeça como se quisesse se livrar de mim, virou-se e foi embora. Enquanto ele andava pela rua deserta eu tentava pensar numa resposta espirituosa, mas ele já estava uns vinte passos à frente. O utilitário preto abaixou a janela; a tropa estatal que ali estava me mediu, e então o carro passou por mim bem devagar, quase em cima de meus pés. A primeira luz da manhã começou a brilhar na cúpula da sede da Assembléia Legislativa. Não veria mais esse lugar até duas semanas depois, pela TV.
Toda vez que topo com um dos filhos de Bush é uma experiência debilitante, destruidora. Por algum motivo, sempre parece que eles estão por cima. Quando me encontrei com George W em Iowa e tentei perguntar-lhe algo para meu programa de TV, ele disse gritando que era para eu “achar um trabalho de verdade”. Toda a multidão do lugar desabou em gargalhadas. Não soube o que dizer — ele estava certo, aquilo ali não era um trabalho de verdade! Fiquei sem palavras.
No dia em que topei com Neil Bush, o nunca acusado co-conspirador no escândalo do Silverado Savings & Loan (13.Neil Bush foi diretor da Silverado Savings & Loan, que faliu e custou aos contribuintes US$ 1 bilhão. Ele foi acusado de tráfico de influência (N.T.).), eu estava no salão da General Motors, em Detroit, fazendo uma entrevista de rádio. Ele entrou com quatro caras asiáticos — “banqueiros da Tailândia”, segundo me disse depois. Quando ele me viu, apavorou-se. Eu era a última pessoa que ele esperava ver na General Motors.
— Cadê sua câmera? — indagou-me, os olhos dardejando todo o ambiente.
— Ah, er, não trouxe uma hoje — disse eu, de forma acanhada e arrependida. Um sorriso enorme começou a brilhar em seu rosto.
— Aah, Mikey não trouxe sua câmera? — ele veio até mim e apertou minha bochecha — Que peeeenaaa! — e foi embora, rindo e explicando aos chineses quem eu era e como ele havia acabado de tirar uma com a minha cara.
O único Bush que fui capaz de detonar, digo isso com vergonha, foi a única mulher da família — sua irmã, Dorothy. Ela é doce; é uma mamãe. E não tinha a menor noção do que dizer quando perguntei a ela qual de seus irmãos, em sua opinião, ganharia a corrida do “Vamos ver quem mata mais colegas no corredor da morte”, George ou Jeb.
Ela ficou visivelmente ofendida; na verdade, pareceu genuinamente machucada pela insinuação de que seus irmãos eram assassinos com sangue-frio. Parecia que ia chorar. Senti-me um canalha. É isso aí, Mike, finalmente acabou com um Bush!
Claro, tem mais um irmão Bush, Marvin — embora você nunca fosse saber disso pela mídia. Nunca me encontrei com o Marvin. Você nunca se encontrou com o Marvin. Ninguém nunca se encontrou com o Marvin. Deus sabe onde ele está ou o que está tramando — além de planejar como vai tirar uma com a minha cara.
Depois do encontro gelado com Jeb, embarquei no meu avião rumo a Los Angeles, incapaz de tirar esse episódio da cabeça. Dai, enquanto tentava abrir o saquinho de amendoim doce torrado, algo me atingiu — e não foi o assento do cara sentado a três milímetros na minha frente. Entrei numa dessas cabines de telefone aéreo, caríssimas, e liguei para Ralph. Falei com as três pessoas responsáveis por sua campanha, consciente de que havia uma chance de que o homem em si estivesse escutando tudo aquilo também.
— Caras — disse eu — Já lhes passou pela cabeça que o homem mais poderoso dos Estados Unidos hoje é... Ralph Nader?
Silêncio do outro lado da linha.
— Estou falando sério. Seus 5% farão a diferença. Bush precisa nessa semana, mais que tudo, que Ralph se dê bem para que ele ganhe. E Gore precisa que Nader esteja fora do páreo para que ele ganhe. Se Ralph não estivesse nessa, Gore ganharia. Só um homem dá as cartas aqui, só um candidato tem alguma coisa a dizer de verdade: esse homem é Ralph Nader.
Eu continuei — Mas depois do 7 de novembro, esse poder vai acabar. Ele só vale para essa próxima semana, enquanto Gore e Bush vêem todos os seus planos dependerem das ações de um só homem — Ralph Nader. Por que não usar essa posição de poder para algo de bom?
— O que você tem em mente? — perguntou um deles.
— Ralph detém o futuro de Gore nas mãos. E se ele ligasse para Gore e dissesse, “Ei, se você quer ser presidente, isso é o que tem a fazer até amanhã ao meio-dia...”, e então dar a Gore uma lista de supermercado da qual ele possa escolher entre assistência médica universal, o fim dessa guerra às drogas de mentira, o fim do corte nos impostos dos ricos — enfim, o que seja. Ralph não pede nada para si mesmo — nenhum gabinete, nenhum patrocínio para seus projetos. Ele só quer que Gore faça a coisa certa, e se Gore se comprometer publicamente a fazê-la, então Ralph vai à TV e diz, “Nós nos decidimos. Ajudamos Gore a ver a necessidade de x, y e z. Ele se comprometeu com a nação a cumprir sua palavra. Então, na próxima terça, se você vive num dos Estados indecisos e está ao meu lado, quero que vote para Gore. Todos os outros, nos quarenta Estados: ainda preciso de seu voto para que possamos construir um terceiro partido viável a fim de manter Gore na linha
Em outras palavras, declarem a vitória! Afinal, em primeiro lugar, a razão pela qual Ralph está concorrendo — puxar a agenda política mais para o nosso lado — terá sido alcançada. O que vocês acham?
— Não podemos contar com nossos 5% a menos que tenhamos todos os votos possíveis em todos os Estados — respondeu o administrador da campanha. — Não podemos desistir de nenhum voto a essa altura.
— Mas no dia em que vocês obtiverem esses 5% — argumentei — isso será tudo o que vocês terão! 5% dos votos, e zero por cento do poder! Hoje, no entanto, vocês — nos — detemos esse poder. Um candidato precisa de Nader dentro, o outro precisa de Nader fora. Esta eleição será decidida por um ou dois pontos percentuais. Ralph detém algo entre dois e cinco por cento. Hoje, nesse momento, vocês e ele dirão quem será o próximo presidente! Vocês nunca mais vão ter esse tipo de poder nas mãos novamente, até o resto de suas vidas.
Um dos velhos colegas de Nader que estava na linha entendeu o que eu estava tentando dizer. — Mas nunca vamos conseguir com que Ralph dê para trás agora — disse ele. — Vai parecer que ele desistiu quando as coisas ficaram muito quentes. E mais, os democratas o têm tratado com tanto desrespeito que nunca iremos convencê-lo de que ele deve ajudá-los em alguma coisa.
— Mais ainda — continuou ele — o que o faz pensar que Gore irá manter sua promessa? Essa gente nunca mantêm promessas.
— E que dizer de todos os milhares de garotos nas universidades que trabalharam tanto? — aderiu o administrador da campanha — Dezenas de milhares de estudantes que foram aos comícios em que você e Ralph falaram? E eles? Essa é sua primeira experiência com a política eleitoral — e o candidato em quem apostaram todas as fichas simplesmente pendura as chuteiras quase no fim do jogo. Você não pode fazer isso com eles. Isso vai tomá-los adultos cínicos, que nunca mais vão querer se envolver em eleições de novo.
Isso com certeza fazia muito sentido. A última coisa que eu queria era aumentar as fileiras das hordas de cínicos que deixaram de ter o mínimo de interesse em votar.
— Mas — tentei — não existe um jeito de fazer isso tudo ser aceito como o que é — uma vitória dos Verdes, do Ralph, de todo mundo que trabalhou por ele, porque fazer Gore mudar sua posição é ganhar de uma maneira que nunca antes pensamos ser possível? Sabe, é como aquele partido ultraconservador em Israel que só tem, vai, cinco cadeiras no Knesset (14.O Parlamento de Israel (N.T.).), mas cujos cinco votos são sempre necessários para formar um governo majoritário. Qualquer partido que lhes dê mais do que eles pleiteiam em sua agenda leva seus votos. Se eles se juntam aos liberais para formar o governo, seus aliados ultraconservadores não ficam fulos da vida nem os acusam de se venderem. É justamente o contrário — eles os consideram heróis porque, embora tenham só cinco votos, sempre conseguem o que querem.
Uau, isso foi profundo, disse a mim mesmo. Ensinar teoria política a nove mil metros de altitude!
— Mike — respondeu uma voz. — Você está bem? Isso aqui não é o Knesset israelense. Você está nos Estados Unidos. Não é assim que as coisas funcionam por aqui. Ralph vai ser crucificado se ele apoiar Gore, e Gore será crucificado se ele mudar suas plataformas a uma semana da eleição. Não é assim que as coisas vão acontecer.
Disse a eles que entendia. Lembrei-lhes que Ralph não tinha de desistir, apenas dar os votos a Gore nos Estados indecisos, era só. Gore deveria MUITO a ele uma vez que estivesse na Casa Branca. Teríamos nossa parte no bolo e a comeríamos, também.
Ninguém pareceu interessado em bolo algum.
Agradeci por terem me escutado e desliguei aquela ligação de USS 140. Então afundei no meu assento e pedi o primeiro drinque da minha vida num avião. Em algum lugar sobre o Texas, eu dormi.
O que aconteceu no dia 7 de novembro de 2000 terá seu lugar de honra nas páginas dos livros de história. Nader tinha 6% dos votos na Flórida um dia antes de eu chegar. No dia em que fui embora, sua porcentagem tinha caído para 4%. E no dia das eleições, estava em 1,6%. Mas isso representava 97.488 votos para Nader na Flórida. Será que ao menos 538 desses eleitores teriam mudado seus votos se soubessem, no dia 7 de novembro, que seus votos em particular seriam aqueles que fariam a diferença? Claro que sim.
Tenho curiosidade em saber, no entanto, por que os decepcionados com Nader não dirigiram parte de sua raiva para os outros candidatos da esquerda que também apareceram na cédula de votação presidencial na Flórida — David McReynold do Partido Socialista, que obteve 622 votos; James Harris do Partido Socialista dos Trabalhadores, que obteve 562 votos; ou Monica Moorehead do Partido Mundial dos Trabalhadores, que obteve 1.804 votos. Com certeza haveria 538 eleitores entre esse grupo que teriam deixado o orgulho de lado e votado em Gore, se soubessem que Bush e seus colegas iam bater as eleições.
Pessoalmente, culpo uma pessoa — Monica Moorehead. Isso foi uma coisa que aprendi nos anos de 1990. E sempre Monica, e (perdoem-me) é sempre mais cabeça (15.Trocadilho com o nome Moorehead, cujo significado quer dizer, literalmente, “mais cabeça”; e com o incidente de sexo oral entre Monica Lewinski e Bill Clinton (N.T.).).
Então culpem Monica! Não culpem Ralph! E NÃO ME CULPEM!
Ou antes me culpem, sim. Sim; de fato, se os democratas estão insistindo em dar tanto poder aos simpatizantes de Nader então talvez devamos assumir essa culpa. Sim, fomos nós! Nós! Somos o todo-poderoso Thor, que tudo vê e tudo sabe. Vamos destruir todas as coisas em seus caminhos! Mudem de estrada ou vamos reduzi-los a cinzas! Não fomos nós que abandonamos o Partido Democrata — foram vocÊs! Vocês nos desertaram e a todos aqueles que uma vez acreditaram que os democratas tinham princípios, como por exemplo lutar pelos direitos dos trabalhadores. Mas vocês pularam na cama dos republicanos, e não tivemos nenhuma escolha a não ser seguir nossa consciência e votar em Ralph Nader. ESTE É O JEITO DE THOR!
Então sim, NÓS negamos a vocês a Casa Branca. Nós chutamos sua bunda de Washington. E NÓS o faremos de novo. Temos mais de 900 organizações do Partido Verde em universidades. Temos um mailing list de mais de 200 mil voluntários ativos e agressivos. Vencemos 22 disputas em todo o pais nas eleições de 2000, que se juntaram aos 53 outros verdes eleitos para diversos gabinetes. Desde novembro, o Partido Verde ganhou outras 16 cadeiras, totalizando 91 verdes atualmente em cargos eleitos nos Estados Unidos. Cinco cidades na Califórnia são administradas por prefeitos do Partido Verde. E, mais importante, o número de norte-americanos que votaram em Nader no ano de 2000 aumentou em impressionantes 500% em relação aos que votaram nele em 1996.
Este é um movimento em crescimento. E não se trata apenas do Partido Verde. Ei, e eu nem sou membro! Existem milhões de pessoas que já tiveram sua cota de democratas e republicanos e que querem uma escolha real. É por isso que um jogador de luta livre profissional ganhou para governador no Estado de Minnesota. É por isso que o único congressista pelo Estado de Vermont é um independente (e agora, um de seus senadores). Vão haver mais independentes nos próximos anos; não se pode evitar. Na verdade, não é bem assim. Isso seria evitável não fossem as ações (e a inação) dos Partidos Democrata e Republicano.
Então salve-se quem puder — eu estou saindo do meu refugio! Estou cheio de apenas “sobreviver”, de só levar porrada dos chorões que nunca estarão na linha de frente pelos que não têm nada, arriscando serem presos e recebendo cacetada na cabeça ou dando algumas horas de seu tempo toda semana para serem cidadãos, a mais alta honra em uma democracia.
Quero que todos nós encaremos nossos medos e paremos de agir como se o objetivo em nossas vidas fosse simplesmente a sobrevivência. “Sobreviver” é para os fracos e para os participantes de jogos da TV que ficam presos numa selva ou numa ilha deserta. Vocês não estão encalhados. Vocês são donos do pedaço. Os malvados da história são só uns stupid white men, babacas. E tem muito mais de nós do que deles por ai. Usem seu poder.
Vocês merecem mais.
NOTAS E FONTES
CAPITULO 1 — UM GOLPE DE ESTADO BEM AMERICANO
As informações sobre a mulher de Jeb Bush e a alfândega norte-americana estão em The Hill, “Gov. Jeb Bush: Florida Republican is Younger, Taller, and More Partisan than George W.”, Marcia Gelbart, 30 de julho de 2000.
A investigação sobre a limpeza nas listas de eleitores foi reportada em The Nation, “Florida’s ‘Disappeared Voters’: Disfranchised by the GOP (1.“Grand Old Party”, nome pelo qual o Partido Republicano é conhecido (N.T).)" , Gregory Palast, 5 de fevereiro de 2001; The Nation, “How the GOP Gamed the System in Florida”, John Lantigua, 30 de abril de 2001; Los Angeles Times, “Florida Net Too Wilde in Purge of Voter Rolls”, Lisa Getter, 21 de maio de 2001; e Salon.com, “Eliminating Fraud — Or Democrats?”, Anthony York, 8 de dezembro de 2000.
Problemas com a obstrução em alguns pontos de votação são discutidos em The New York Times, “Contesting the Vote: Black Voters; Arriving at Florida Voting Places, Some Blacks Found Frustration”, Mireya Navarro e Somini Sengupta, 30 de novembro de 2000; e também em The Washington Post, “Irregularities Cited in Fla. Voting; Blacks Say Faulty Machines, Poll Mistakes Cost Them Their Ballots”, Robert E. Pierre, 12 de dezembro de 2000.
A Câmara dos Deputados foi sede de audiências em fevereiro na primeira convocação dos resultados da eleição, como reportado em The Washington Post, “Election Coverage Burned to a Crisp; House Grills Networks’ ‘Beat the Clock’ Approach”, Howard Kurtz, 15 de fevereiro de 2001.
A conexão com o primo de Bush também está documentada na Associated Press, “Fox Executive Spoke Five Times with Cousin Bush on Election Night”, David Bauder, 12 de dezembro de 2000; e no The Washington Post, “Bush Cousin Made Florida Vote Call for Fox News”, Howard Kurtz, 14 de novembro de 2000.
Uma série de artigos no The New York Times registrou o desenrolar dos fatos da contagem das abstenções no estrangeiro: “How Bush Took Florida: Mining the Overseas Absentee Vote”, David Barstow e Don Van Natta Jr., 14 e 15 de julho de 2001; “How the Ballots Were Examined”, 15 de julho de 2001; “House Republicans Pressed Pentagon for E-Mail Addresses of Sailors”, C. J. Chivers, 15 de julho de 2001; “Timely but Tossed Votes Were Slow to Get to the Ballot Box”, Michael Cooper, 15 de julho de 2001; e “Lieberman Put Democrats in Retreat on Military Vote”, Richard L. Berke, 15 de julho de 2001. Seguindo a publicação desses artigos, Katherine Harris permitiu a inspeção em seus computadores, como reportado na Associated Press, “Computer Analysts Gain Access to Secretary of State Katherine Harris’ Computers”, David Royse, 1º de agosto de 2001; e em The New York Times, “Florida Gives Computers in November Election to News Groups for Inspection”, Dana Canedy, 2 de agosto de 2001.
A hora da decisão da Suprema Corte pode ser encontrada em The Nation, “The God That Failed; Florida Supreme Court’s Rulings on Presidential Elections”, Herman Schwartz, 1º de janeiro de 2001; CNN Saturday Morning News Transcripts 08h00, 9 de dezembro de 2000; ABC News Special Report, 14h47, 9 de dezembro de 2000.
Os comentários de Justice O’Connor sobre sua aposentadoria foram reportados na Newsweek, “The Truth Behind the Pillars”, Evan Thomas e Michael Isikoff, 25 de dezembro de 2000.
Informações sobre as conexões familiares entre membros da Suprema Corte e da Administração são de The New York Times, “Contesting the Vote: Challenging a Justice”, Christopher Marquis, 12 de dezembro de 2000; e de The Chicago Tribune, “Justice Scalia’s Son: a Lawyer in Firm Representing Bush Before Top Court”, Jill Zuckman, 29 de novembro de 2000.
A declaração de Scalia pode ser encontrada no texto da decisão: Suprema Corte dos Estados Unidos, Nº 00-949 (00A504) George W. Bush et al. v. Albert Gore, Jr et al., Scalia, J. concurring opinion. 531 US__(2000). 9 de dezembro de 2000.
A troca de partidos de Theresa LePore está documentada em Orlando Sun-Sentinel, “Disappointed, Lepore leaves Democrats”, Brad Hahn, 9 de maio de 2001.
Uma das melhores análises sobre as ilegalidades dos freqüentes esforços para negar o direito ao voto aos cidadãos negros na Flórida pode ser encontrada no relatório emitido pela Comissão de Direitos Civis dos Estados Unidos, “Voting Irregularities in Florida During the 2000 Presidential Election”, 8 de junho de 2001. Pode ser acessado em www.usccr.gov/vote2000/flmain.htm.
A história de Cheney em relação ao aborto pode ser lida em The Boston Globe, “Conservative Tilt in Congress Merged with a Moderate’s Style”, Michael Kranish, 26 de julho de 2000; e em The Los Angeles Times, “Would vote differently on ERA, Head Start, not Mandela”, Michael Finnegan, 31 de julho de 2000; CNN. com, “Dick Cheney voted conservative, played moderate”, 24 de julho de 2000. A experiência de Cheney no Departamento de Defesa pode ser lida em sua biografia oficial em www.defenselink.mil/specials/secdef histories/bios/cheney.htm. Os investimentos em ações de Cheney estão detalhados em Forbes.com, “Top of the News: O’Neill to Sell”, Dan Ackman, 26 de março de 2001; www.corpwatch.org, “Cheney’s Oil Investments and the Future of Mexico’s Democracy”, Martin Espinoza, 8 de agosto de 2000; no Sacramento Bee, “A Go-Round on Foreign Policy Ride”, Molly Ivins, 11 de março de 2001; The Guardian, “Eyes Wide Shut: Scruples Fade in Dealings with Burma”, 28 de julho de 2000. Investigações posteriores sobre as vendas entre Halliburton e o Iraque são de The Washington Post, “-Firm’s Iraq Deals Greater than Cheney Has Said; Affiliates Had $73 Million in Contracts”, Colum Lynch, 23 de junho de 2001.
O testemunho de Ashcroft sobre o aborto está discutido em “Controversy on Abortion, Civil Rights Liberties”, na ABCNews.com, “An Ashcroft Justice Department”, 23 de dezembro de 2000. Ashcroft votou na Lei de Não-Discriminação Empregatícia 5.2056, número do voto: 1996-281, 10 de setembro de 1996; e o voto de Ashcroft no projeto de lei para a apelação da pena de morte pode ser encontrado no Projeto de Lei do Senado #S.735, número do voto: 1996-66, 17 de abril de 1996. O histórico de Ashcroft com execuções como governador e sua posição na guerra contra as drogas pode ser encontrado na ABCNews.com, no artigo “An Ashcroft Justice Department”, 23 de dezembro de 2000. O voto de Ashcroft por mais penalidades para crimes relacionados à droga foi parte do Projeto de Lei 5.625; número do voto: 1999-360 em 10 de novembro de 1999. Molly Ivins escreve sobre os interesses de Ashcroft no Claritin (2.Remédio antialérgico que, no início dessa década, gastou mais com propaganda do que a Coca-Cola (N.T.).) em “Cabinet Diversity?; Check Out the Bush Team’s Corporate Logos”, 12 de fevereiro de 2001. Seu voto contra a inclusão de drogas prescritas sob supervisão da Medicare pode ser encontrado no Projeto de Lei HR.4690, número do voto: 2000-144, 22 de junho de 2000.
O passado de Ann Veneman é discutido em Molly Ivins, “The Early Days of Bushdom are Not a Pretty Sight”, Molly Ivins, 29 de janeiro de 2001; e no The New York Times, “Transition in Washington: Agriculture Department”, Elizabeth Becker, 19 de janeiro de 2001. Detalhes sobre Veneman em The Guardian, “History’s Richest Cabinet Takes the Gilt off Bush’s Tax Cut”, Julian Borger, 19 de fevereiro de 2001.
Os registros da política ambientalista de Spencer Abraham e sua história no departamento de energia são do The Nation, “The Three Horsemen of the Environmental Apocalypse”, David Helvarg, 16 de janeiro de 2001; do Environmental News Network, “Energy Secretary Nominee Tried To Abolish The Energy Department”, 8 de janeiro de 2001; e do www.alternet.org, “Who’s Who in the Bush Cabinet”, Geov Parrish, 16 de janeiro de 2001.
A posição de Tommy Thompson quanto ao aborto como governador pode ser encontrada em www.alternet.org., “Who’s Who in the Bush Cabinet”, Geov Parrish, 16 de janeiro de 2001; e suas ligações com a Philip Morris estão descritas em outro artigo da AlterNet, “Bush’s War on Children”, Jonathan Rowe e Gary Ruskin, 3 de julho de 2001.
O passado de Gale Norton está detalhado no The New York Times, “Far, Far From the Center”, Bob Herbert, 8 de janeiro de 2001; e no The New York Times, “Norton Record Often at Odds With Laws She Would Enforce”, Douglas Jehl, 13 de janeiro de 2001. Os problemas de C.R. Bard com os tribunais estão detalhados em PR Newswire, “C.R. Bard, Inc. Executives Sentenced to Eighteen Month Federal Prison Terms”, 8 de agosto de 1996.
O relacionamento de Colin Powell com a AOL/Time Warner é discutido na Associated Press, “Stocks, Speeches Add to Powell Wealth”, Greg Toppo, 17 de janeiro de 2001; e em The Financial Times, “The Americas: Ali the U.S. President’s Very Rich Men”, Peter Spiegel, 8 de março de 2001; os títulos e ações de Paul O’Neill estão detalhados em The Nation, “The Man From Alcoa”, William Greider, 16 de julho de 2001; e em The Houston Chronicle, “Alcoa Strikes Curious Water Deal with San Antonio”, Nate Blakeslee, 3 de setembro de 1999.
As conexões industriais de Karl Rove estão registradas em The New York Times, “Bush Aide With Intel Stock Met with Executives Pushing Merger”, 14 de junho de 2001; e em Abilene Report News, “Mauro Raises Questions About Bush’s Aides Link to Tobacco Industry”, 31 de agosto de 1997.
As informações sobre Kenneth Lay são de The New York Times, “Power Trader Tied to Bush Finds Washington All Ears”, Lowell Bergman e Jeff Gerth, 25 de maio de 2001.
Informações adicionais sobre os membros do golpe são do Centro de Estudos para Política Responsável e de www.issues.org.
CAPÍTULO 2 — CARO GEORGE
Para informações sobre a fortuna da Família Bush e suas ligações com o Partido Nazista alemão, cheque The Boston Globe, “An American Dynasty”(Part 2), Michael Kranish, 23 de abril de 2001; Sarasota Herald-Tribune, “Author Links Bush Family to Nazis”, 12 de novembro de 2000; The Jewish Advocate, “The Bush Family-Third Reich Connection: Fact or Fiction?”, Susie Davidson, 19 de abril de 2001.
Informações sobre as contribuições individuais para o GOP durante o ciclo eleitoral de 2000 podem ser encontradas no The New York Times, “The Republicans: The Few, the Rich, the Rewarded Donate the Bulk of GOP Gifts”, Don Van Natta Jr. E John M. Broder, 2 de agosto de 2000; e do Centro para Política Receptiva, www.opensecrets.org.
Você pode rastrear o que Bush fez e faz durante seu mandato lendo a coluna de Molly Ivin pelo Creators Syndicate [Sindicato de Criadores] (arquivo pode ser acessado em www.sacbee.com/voices/national/ivins/), ou checando os seguintes sites: www.smirkingchimp.com e www.bushwatch.com.
O relato sobre o livro preferido de Bush pode ser lido em The Arizona Republic, “‘Hungry Caterpillar’ A Favorite with Bush”, 17 de outubro de 1999. George Bush se formou em Yale em 1968. “The Very Hungry Caterpillar”, de Eric Carle, foi publicado em 1969. A Associated Press publicou uma reportagem, “Bush’s Alleged Grades Published”, de Brigitte Greenberg, no dia 9 de novembro de 1999, que apresentava suas transcrições. Informações sobre os hábitos de leitura de Bush são do The Washington Post, “Shades of Gray Marter; The Question Dogs George W Bush: Is He Smart Enough?”, Kevin Merida, 19 de janeiro de 2000; e do The New York Times, “Bush Is Providing Corporate Model for White House”, Richard L. Berke, 11 de março de 2001.
O passado de Bush com a bebida e com o DUL estão no The Washington Post, “1986: A Life-Changing Year: Epiphany Fueled Candidate’s Climb”, Lois Romano e George LardnerJr., 25 de julho de 1999; na Associated Press, “Bush Pleaded Guilry to DIII”, 2 de novembro de 2000; as acusações de Dick Cheney no DIII são mencionadas em www.Salon.com, “Busb Stays in the Clear — For Now”, Jake Tapper, 4 de novembro de 2000. Completando a cobertura de sua prisão no DIII, Time,
“Fallout from a Midnight Ride”, Adam Cohen, 13 de novembro de 2000, inclui informações sobre os primeiros encontros de Bush com a lei.
Os detalhes do acidente de carro de Laura Bush estão discutidos em USA Today, “Laura Welch Bush: Shy No More”, John Hancherte, Gannett News Service, 23 de junho de 2000; e no The Piam Dealer, “Reserved Texas First Lady is Primed for National State”, Julie Bonnin, 31 de julho de 2000.
A resposta de George Bush quanto a seu uso ou não de drogas no passado está em The Washington Post, “Bush Goes Further on Question of Drugs; He Says He Hasn’t Used Any in the Past 25 Years”, Dan Balz, 20 de agosto de 1999.
The Boston Globe investiga a experiência de Bush na Guarda Nacional em “1-Year Gap in Bush’s Guard Duty: No Record of Airman at Drills in 1972-1973”, Walter V Robinson, 23 de maio de 2000. Os supostos comentários de James Balker foram reportados pelo colunista conservador William Safire, em 1992, e o que ficou de fora das observações pode ser lido na Associated Press, “Report of Baker Remark Draws Ire in Israel”, 8 de março de 1992; e em The Sunday Telegraph, “Jewish Backlash Could Cost the President Dear”, Xan Smiley, 27 de setembro de 1992.
CAPÍTULO 3 — OBA, OBA, A BOLSA
Se você ficou tão chocado quanto eu em saber que seu piloto depende de vales-refeição, aqui estão as fontes nas quais você pode obter mais detalhes sobre isso —e muito mais: Aviation Week & Space Technology, “Old Values Clash in Comair Strike”,James Ort, 2 de abril de 2001; Cincinnati Enquirer, “Key Issues in the Strike”, 27 de março de 2001; The New York Times, “Small Jets’ Big Stake in a Strike”, David Leonhardt, 16 de junho de 2001; Star-Telegram, “American Eagle Pilots Reject Contract”, Dan Reed, 17 de agosto de 2000; Associated Press, “Express Pilots Vow to Strike as They Head Back to Bargaining Table”, Pauline Arrilaga, 28 de junho de 1998; Associated Press, “Continental Express Pilots Start Informational Picketing”, M. R. Kropko, 14 de outubro de 1998; Orlando Sentinel, “High-Flying Job Doesn’t Make Big Bucks”, Roger Roy, 16 de março de 1997; Philadelphia Daily News, “US Airways Attendants Rehearse Strike Movements in Philadelphia”, 24 de março de 2000; Chicago Daily Herald, “Airline Worried About Spring Travel as Flight Attendants Threaten Strike”, Robert McCoppin, 20 de janeiro de 2001; transcrições do NPR/Morning Edition, “Holiday Airline Travelers May Experience Flight Problems Due to Fuli Flights and Labor Problems Between Workers and Airlines”, 21 de novembro de 2000.
Estatísticas sobre a riqueza de indivíduos e de corporações são da Associated Press, “Income of the Richest Up 157%”, Alan Fram, 31 de maio de 2001; e do relatório do Institute for Policy Studies: “Top 200: The Rise of Corporate Global Power”, Sarah Anderson e John Cavanagh, dezembro de 2000.
Informações sobre a cobrança de impostos às corporações estão em The Cheating of America, Charles Lewis, Bill Allison e Center for Public Integrity (HarperCollins), 2001, pp.ll-13, 15, 79, 82-83.
CAPÍTULO 4- MATEM OS BRANQUELAS
Boa parte das estatísticas sobre o estado socioeconômico de afro-americanos nos Estados Unidos pode ser encontrada num relatório do Council of Economic Advisers for the President’s Initiative on Race [Conselho de Consultores Econômicos para a Iniciativa Presidencial ao Problema de Raça], “Changing America:
Indicators of Social and Economic Well-Being by Race and Hispanic Origin”, setembro de 1998.
Informações sobre a disparidade na assistência médica podem ser encontradas nos seguintes artigos: The New York Times, “Blacks Found on Short End of Heart Attack Procedure”, Sheryl Gay Stolberg, 10 de maio de 2001; Associated Press, “Race Bias in Stroke Treatment Found”, Melissa Williams, 4 de maio de 2001; e The Daily News, “Black Maternal Deaths 4 Times the White Rate”, Leslie Casimir, 8 de junho de 2001.
As estatísticas sobre o uso de armas em casa para atirar em intrusos são de The Brady Campaign to Prevent Gun Violence [Campanha Brady para Prevenir a Violência Armada], “Guns in the Home”.
CAPÍTULO 5 - UMA NAÇÃO DE IDIOTAS
Números sobre a alfabetização vêm da pesquisa nacional sobre a alfabetização adulta do Departamento de Educação; Voluntários para a Alfabetização da América.
A gafe de Bush está detalhada no The New York Times, “Deep US-Europe Split Casts Long Shadow on Bush Tour”, Frank Bruni, 15 de junho de 2001.
O conteúdo de seu discurso na cerimônia de graduação em Yale está descrito na Associated Press, “George WJ. Bush commencement address at Yale University”, 21 de maio de 2001.
Acontecimentos anteriores envolvendo a falta de conhecimentos de oficiais do governo estão em St. Petershurg Times, “Politics is Nothing New in Choosing Ambassadors”, 21 de julho de 1989; The Economist, “Ambassadors; What Price Monaco?”, 4 de março de 1989; Associated Press, “European Press Has Fun with Clark Performance”, Jeff Bradley, 4 de fevereiro de 1981.
A falta de conhecimento de Bush sobre as capitais dos principais países do mundo está reportada em Salon.com, “Briefs or No Briefs?”, Jake Tapper, 26 de abril de 2001.
O Des Moines Register fez uma reportagem sobre o teste básico de História em que os melhores estudantes universitários foram reprovados em “America’s Best & Brightest Are Clueless About History”, Donald Kaul, 7 de julho de 2000. Também está em University Wire (UVa), “Education without Knowledge”, Bryan Maxwell, 13 de julho de 2000.
Estatísticas sobre o oferecimento de disciplinas universitárias vêm de The Pittsburgh Post-Gazette, “The Selling Out of Higher Education”, Samuel Hazo, 3 de setembro de 2000; e de The New York Times, “Much Ado — Yawn — About Great Books”, Emily Eakin, 8 de abril de 2001.
Citações negativas sobre professores vêm de The New York Times, “Education Panel Sees Deep Flaws in Training of Nation’s Teacher”, Peter Applebome, 13 de setembro de 1996; The New York Post, “The Teacher-Pay Myth” (editorial), 26 de dezembro de 2000; Investor's Business Daily, “Why Bad Teachers Can’t Be Fired”, Michael Chapman, 21 de setembro de 1998; Douglas Carmine, citado em The Montreal Gazetre, “Bring Back the Basics”, Brandon Uditsky, 6 de janeiro de 2001; National Review, “Firing Offenses”, Peter Schweizer, 17 de agosto de 1998.
A história sobre a contratação de professores do estrangeiro: The New York Times, “Facing a Teacher Shortage, American Schools Look Overseas”, Kevin Sack, 19 de maio de 2001. A carência de professores em Nova York está reportada em The New York Times, “Teacher Pact Still Far 0ff?’, Steven Greenhouse, 5 de junho de 2001; The New York Times, “Nation’s Schools Struggling to Find Enough Principals”, Jacques Steinberg, 3 de setembro de 2000; The New York Times, “Survey Shows More Teachers Are Leaving for Jobs in Suburban Schools”, Abby Goodnough, 13 de abril de 2001. Informações sobre as instalações escolares vêm do Departamento de Educação, Estatísticas para o Centro Nacional para a Educação, Condições das Instalações das Escolas Públicas. The Washington Post, “26 DC Schools Cleared”, Debbi Wilgoren, 12 de setembro de 1997; e “AngryJudge Closes 4 More DC Schools”, Valerie Strauss, 25 de outubro de 1997. A falta de zeladores foi reportada em The New York Times, “Janitorial Rules Leave Teachers Holding a Mop”, Shaila Dewan, 28 de maio de 2001.
Informações sobre o corte de Bush nas bibliotecas vêm de The Dailas Morning News, “Libraries Want to Shelve Bush’s Proposed Cuts”, 13 de abril de 2001. A discussão de Jonathan Kozol sobre o estado das bibliotecas escolares, “An Unequal Education”, foi apresentada em The School Library Journal. Informações adicionais sobre as bibliotecas escolares e a conexão de Richard Nixon com elas estão em Christian Science Monitor, “Even in information-Rich Age, School Libraries Struggle”, Marjorie Coeyman, 6 de fevereiro de 2001; e Education [‘Veek, “Era ofNeglect in Evidence at Libraries”, por Kathleen KennedyManzo, 10 de dezembro de 1999.
Fontes para as respostas ao teste pop: Salário anual — fonte: U.S. Vital Statistics, Tabela #696 — Bureau of Labor Statistics; respostas ao 911 — Ladies Home Journal, “Before You Cali 911: Is this emergency number the lifesaver it should be?”, Paula Lyons, maio de 1995; estimativas de extinção — Associated Press, “11,000 Species Said to Face Extinction with Pace Quickening”, 29 de setembro de 2000; tamanho do buraco na camada de ozônio — Christian Science Monitor, “Ozone Woes Down Below”, Colin Woodward, 11 de dezembro de 1998; Detroit versus Africa: Detroit = 19,4% (1991) —Annie E. CaseyFoundation, “Kids Count” Report, 25 de abril de 2000; Líbia = 19%, Ilhas Maurício = 19% e Ilhas Seychelles = 13% — Unicef; Newspaper Guild; Justice Policy Institute, “School House Hype: School Shootings and the Real Risks Kids Face in America”, Elizabeth Donohue, Vincent Schiraldi e Jason Ziedenberg, 1999.
Boa parte das informações sobre a presença corporativa nas escolas vêm do Centro de Análise das Práticas Comerciais nas Escolas, 14 de setembro de 2000. Material adicional vem da Associated Press, “Marketing to Free-Spending Teens Gets Savvier”, por Dave Carpenter, 20 de novembro de 2000; “The Commercial Transformation of American Public Education”, 1999 Phil Smith Lecture pelo professor Alex Molnar, 15 de outubro de 1999; Mother Jones, “The New (And Improved!) School”, setembro e outubro de 1998; Mother Jones, “Schoolhouse Rot”, Ronnie Cohen, 10 de janeiro de 2001; The New York Times, “Five-Shift Lunches to End?”, Richard Weir, 17 de maio de 1998; Atianta-Journal Constitution, “Coca-Cola Learns a Lesson in Schools”, por Henry Unger e Peralre Paul, 14 de março de 2001; The Nation, “Students for Sale: How Corporations Are Buying Their Way into American Classrooms”, Steve Manning, 27 de setembro de 1999; The Washington Post, “Pepsi Prank Fizzles on ‘Coke Day”’, por Frank Swoboda, The Washington Post, 26 de março de 1998.
O perfil do jovem violento veio de “Risk Factors for School Violence”, Agência Federal de Estudo e Investigação de Disparos em Escolas, setembro de 2000.
CAPÍTULO 6 — PLANETA BACANA, NINGUÉM EM CASA
Informações sobre reciclagem na Pepsi vêm de “Dumping Pepsi’s Plastic”, Ann Leonard, 1994 (o artigo aparece em www.essential.org) e de entrevista por telefone com a autora; Sword ofTruth, “India: Dumping Ground of the Millennium?”, Keerthi Reddy, 13 de janeiro de 2001.
A história sobre reciclagem no Congresso norte-americano foram divulgadas pela Associated Press, “Texas Congressman, Environmental Groups Target House Recycling”, Suzanne Gamboa, 20 de setembro de 2000.
As taxas de poluição do ar foram calculadas com informações da Environmental News Network, “Air Pollution Kills, But Deaths Can Be Prevented”, 30
de agosto de 1999; e da American Lung Association, “American Lung Association
Fact Sheet: outdoor Air Pollution”, atualização de agosto de 2000.
Informações sobre quilometragem e gasolina estão em Automotive News, “-Chrysler: CAIFE Hike Possible”, Arthur Flax, 8 de maio de 1989; Automotive News, “More Horsepower!”, Charles Child, 24 de junho de 1995; e The Washington Post, “The Regularors; Bartling to Raise the Bar on Fuel Standards”, Cindy Skrycki, 16 de maio de 2000. O consumo de combustível de um suv está em Satramento Bee, “Scary Talk from Shrub and the Veeper”, Molly Ivins, 3 de maio de 2001. E a quantidade de petróleo que viria da escavação na ANWR (Artic National Wildlife Refuge — Reserva Nacional de Vida Selvagem do Artico) está citada em The New York Times, “Cheney Promotes Increasing Supply As Energy Policy”, Joseph Kahn, 1º de maio de 2001.
Apesar da pressão de grupos ambientalistas para vetar um projeto de lei de transportes que protegia a escapatória dos utilitários, Clinton assinou-a mesmo assim, como reportado em The San Francisco Chronicle, “Protecting Mother Earth and Gas Guzzlers”, DebraJ. Saunders, 14 de dezembro de 1999.
O estudo sobre o aquecimento global foi noticiado em The New York Times, “Panel Tells Bush Global Warming is Getting Worse”, por Katharine Seelye e Andrew Revkin, 7 de junho de 2001; e USA Today, “Climate Change Report Puts Bush on Spor”, Tracy Watson e Judy Keen, 20 de junho de 2001.
Os referidos artigos do The New York Times são: “Ages-Old Icecap at North Pole is Now Liquid, Scientists Find”, John Noble Wilford, 19 de agosto de 2000,
e uma correção publicada em 29 de agosto; o artigo sobre o asteróide é “Asteroid is Expected to Make a Pass Close to Earth in 2028”, Malcolm W/. Browne, 12 de março de 1998; e “Debate and Recalculation on an Asteroid’s Progress”, Malcolm W. Browne, 13 de março de 1998.
Sacramento Bee, “America Isn’t Immune to Animal Diseases”, Deborah S. Rogers, 30 de março de 2001 — baseado num estudo de 1989 feito pela Universidade de Pittsburgh sustentando que 5% dos pacientes mortos pelo mal de Alzheimer poderiam ter sofrido, em vez desta doença, da doença de Creutzfeldt-Jakob, ou síndrome da vaca louca.
CAPÍTULO 7 - O FIM DOS HOMENS
Em que pé estamos no movimento feminista: a única mulher na cédula de votação de um partido de peso foi Geraldine Ferraro, que disputou a vice-presidência com Walter Mondale em 1984. As cinco governadoras são: Jane Dee Hull (Arizona), Ruth Ann Minner (Delaware), Jane Swift (Massachussetts), Judy Martz (Montana) e Jeanne Shaneen (New Hampshire) (Associação Nacional dos Governadores). De acordo com o Centro de Política e Mulheres Norte-Americanas, existem treze senadoras e sessenta membros femininos na Câmara dos Deputados (como reportado em 16 de julho de 2001). As quatro empresas relacionadas pela revista Fortune em sua lista das quinhentas melhores empresas que têm diretoras-executivas mulheres são Hewlett-Packard (Carly Fiorina), Avon Products (Andrea Jung), Golden West Financial Corporation (Marion O. Sandler) e Spherion Corporation (Cinda A. Hallman). As 21 melhores universidades (de acordo com o ranking das universidades feito em 2001 pelo U.S. News & World) com reitoras são: Princeton University (Shirley Tilghman), University of Pennsylvannia (Dr. Judith Rodin), Duke University (Nan Keohane) e Brown University (Ruth Simmons — que também é a primeira presidente afro-americana de uma instituição da Ivy League.)(3. Grupo de sete universidades consideradas as mais antigas e as melhores em termos acadêmicos nos Estados Unidos, ex: Harvard, Yale, Columbia, Princeton e algumas outras (N.T.).)
Estatísticas sobre a taxa de pobreza entre as mulheres divorciadas vêm da Sociedade para o Avanço na Educação, “Count the Costs Before You Split”, abril de 1998.
O Equal Pay Day [Dia do Pagamento Igualitário] foi “celebrado” em 2001 no dia 3 de abril, o mesmo dia em que o us Departmenr of Labor [Ministério do Trabalho dos EUA] divulgou um relatório que media o descompasso entre os salários masculinos e femininos, The Chicago Sun-Times, “Women Still Earn Less Than Men”, Francine Knowleds, 3 de abril de 2001.
As comparações entre a saúde de homens e mulheres vêm de The Economist, “Are Men Necessary? The Male Dodo”, 23 de dezembro de 1995; www.msnbc.com, “Men May Be Weaker Sex”, Linda Carroll, 16 de janeiro de 2001; e National Institute of Mental Health, “The Numbers Count: Mental Disorders in America”, Hoyert DL, Kochanek KD, Murphy SL; dados finais do ano de 1997.
CAPÍTULO 8 - SOMOS A NÚMERO UM!
A Organização Mundial de Saúde das Nações Unidas estima que há um bilhão de pessoas no mundo sem acesso à água potável. De acordo com estimativas do World Game Institute (www.worldgame.org), o custo de fornecimento de água per capita seria de US$ 50, o que resultaria em um custo total de US$ 50 bilhões. Desde o mandato de Reagan, gastamos US$ 60 bilhões no insano projeto “Guerra nas Estrelas”. A projeção para os próximos quinze anos é de gastarmos outros 50 ou 60 bilhões, de acordo com a Secretaria de Planejamento Orçamentário do Congresso. Também torramos mais de US$ 100 bilhões por ano em medidas que asseguram o bem-estar das corporações. Em outras palavras, o planeta inteiro poderia ter acesso à água potável amanhã, se nossas prioridades fossem outras. O Centro de Informações da Defesa Norte-Americana estimou que o custo total do sistema nacional de mísseis de defesa (incluindo despesas passadas e projeções conservadoras para gastos futuros) será de aproximadamente US$ 200 bilhões. Centro de Informações da Defesa Norte-Americana, “The Costs of Ballistic Missile Defense”, Christopher Hellman.
Estimativas para os excluídos do acesso à energia elétrica vêm do relatório “Meeting the Chaílenge: Mural Energy and Development for Two Billion Peopie”, do Banco Mundial, 2000. O número de pessoas sem acesso à telefonia é do discurso do dr. Vinton Cerf, um pioneiro da internet, proferido na conferência Criando Dividendos Digitais, no dia 17 de outubro de 2000, em Seattle.
Informações sobre o orçamento FY2001 do Pentágono vêm do Conselho para um Mundo Habitável, “Fiscal Year 2001 Military Budget at a Glance”, www.clw.org. Os números sobre o custo do estudo universitário foram calculados pelo us Vital Statistics [Estatísticas Essenciais dos EUA] — Relatório da Agência Norte-Americana de Censo Populacional, tabela nº 247 e pelo Centro Nacional Norte-Americano de Estatísticas Educacionais, Digest of Education Statistics, nº 311.
Fontes para as listas “Somos a Número 1!”: Fundo de Defesa para a Criança, “The State of America’s Children Yearbook 2000”; Relatório 2000 de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas; us Vital Statistics, Tabelas nos 1356, 1361, 1390, 1398; Gestão de Informações sobre Energia, “Official Energy Statistics from the us Government”; Fatos e Números sobre a Pena de Morte da Anistia Internacional, 6/1/200 1; Patrick Moynihan, “Family and Nation, 1986, p.96.
Saiba mais sobre as façanhas de Kim Jong-il em Time Asia, “Kim Jong-il: Asian of the Year”, Anthony Spaeth, 25 de dezembro de 2000; ]ournal of InternationalAffairs, “The Kim is Dead! Long Live the Kim!”, U.S. News & World Report, “A Not-So-Kooky-Kind-of-Guy”, Thomas Omestad and Warren P. Strobel, 6 de novembro de 2000; The New Republic, “North Korea Opens Up”, por Peter Maass, 12 de junho de 2000; Spring 2001; Associated Press, “North Korea’s Monster Movie Flops in South Korean Theaters”, 28 de julho de 2000; Reuters, “South Korea Media Chiefs to Meet North’s Kim Jong-il”, 6 de agosto de 2000; www.CNN.com, “In-Depth Specials: Kim Jong-il: ‘Dear Leader’ or demon?”.
CAPÍTULO 9 — UMA GRANDE E FELIZ PRISÃO
Reportagens sobre a morte de John Adams foram feitas pelo jornal Tennessean, outubro de 2000. Informações sobre as Indústrias Koch são de Corpus Christi Caller-Times, “Federal Charges Against Koch Industries Cut to Nine”, Michael Hines, 12 de janeiro de 2001; Associated Press, “Government’s Case Against Koch Industries Shrink Again”, 18 de março de 2001; Associated Press, “Texas Pipeline Company to Pay $20 Million Fine”, Suzanne Gamboa, 9 de abril de 2001; The Washington Port, “Oil Company Agrees to pay $20 Million in Fines; Koch Allegedly Hid Releases of Benzene”, Dan Eggen, 10 de abril de 2001; Houston Chronicle, “Koch Slapped with Big Penalty; Guilty to Pollution Violation”, James Pinkerton, 10 de abril de 2001; Fort Worth Star-Telegram, “Oil Company Settles Charges”, Neil Strassman, 10 de abril de 2001.
Informações sobre a história de Anthony Lemar Taylor são dos seguintes artigos: The Orange County Register, “DMV Can’t Catch Tiger by His ID”, Kimberly Kindy, 20 de dezembro de 2000; Sacramento Bee, “Woods ID Thief Gets 200-to-Life”, Ramon Coronado, 28 de abril de 2001.
O caso Kerry Sanders foi documentado por um artigo do The New York Times, “My Name is Not Robert”, Benjamin Weiser, 6 de agosto de 2000.
Os alunos da Escola de Jornalismo Medill na Northwestern University, instruídos pelo professor David Protess, continuam a investigar casos de pena de morte e foram ao ar em 21 de junho de 2001, num episódio de 48 Hours, da CBS.
O estudo de taxas de erro em casos de pena de morte está em “A Broken System: Error Rates in Capital Cases, 1973-1995”, James 5. Liebman, Jeffrey Fagan e Valerie West, 12 de junho de 2000; e foi divulgado em The New York Times, “Death Sentences Being Overturned in 2 of 3 Appeals”, Fox Butterfield, 12 de junho de 2000.
O Centro de Informação sobre Pena Capital compilou estatísticas e informações sobre o uso da pena de morte nos Estados Unidos em jovens e em deficientes mentais.
Apurações medindo o apoio público à perna de morte foram publicadas em The Washington Post, “Support for Death Penalty Eases; McVeigh’s Execution Approved, WJhile Principle Splits Public”, Richard Morin, Claudia Deane, 3 de maio de 2001; e no The Houston Chronicle: “Harris County Is a Pipeline to Death Row”, Allan Turner, 4 de fevereiro, “Complication; DNA, Retardation Problems for Death penalty”, pela equipe do Chronicle, 6 de fevereiro, “A Deadly Distinction”, Mike Tolson, 27 de fevereiro de 2001.
CAPÍTuLO 10- DEMOCRATAS, MORTOS AO CHEGAR
Para mais informações sobre o histórico de Clinton em organizações religiosas de caridade: The New York Times, “Filter Aid to Poor Through Churches, Bush Urges”, Adam Clymer, 23 de julho de 1999. Em crimes federais e na pena de morte: Bill Clinton, Between Hope and History [Entre a Esperança e a História], ed. Random House, 1996, p. 80. Em casamentos entre gays: The Washington Post, “Clinton Ad Touting Defense ofMarriage is Pulled”, Howard Kurtz, 17 de outubro de 1996; e The Washington Post, “Ad on Christian Radio Tours Clinton’s Stands”, Howard Kurtz, 15 de outubro de 1996. No bem-estar social: The New York Times, “A War on Poverty Subtly Linked ro Race”, Jason De Parle e Steven A. Holmes, 26 de dezembro de 2000. Em pais adolescentes e bem-estar social e na adoção de taxas de crédito: Minnesota Daily, “Clinton’s Waffling Reaches New Levels”, 7 de maio de 1996. Em taxas de lucros capitais: relatório do Comitê Republicano Nacional, “Statement by RNC Chairman Jim Nicholson on the Tax Relief and Balanced Budget Agreement”, 31 de julho de 1997. Na pena de morte:
The New York Times, “Charges of Rias Chaílenge U.S. Death Penalty”, Raymond Bonner, 24 de junho de 2000; e The New York Times, “Clinton Is Urged to Declare a Moratorium on Federal Executions”, Raymond Bonner, 20 de novembro de 2000. Na nova lei para a polícia e greves: Clinton, Between Hope and Histo~, pp.
75-8 1. Nos números de pessoas sem assistência: The New York Times, “A War on Poverty Subtly Linked to Race”, Jason De Parle e Steven A. Holmes, 26 de dezembro de 2000. No seguro para imigrantes ilegais: Time, “Clinton’s Plan:
DOA?”, Michael Duffy, 14 de fevereiro de 1994; e The Orlando Sentinel, “Refusing a Helping Hand”, Wendy Zimmerman e Michael Fix, 20 de setembro de 1998. Clinton e os abortos tardios, San Francisco Chronicle, “Clinton Message on Christian Radio Back ro Haunt Him”, Marc Sandalow, 19 de outubro de 1996; e The New York Times, “Deal on UN Dues Breaks na Impasse and Draws Critics”, Eric Schmitt, 16 de novembro de 1999. Sobre o Land Mine Ban Treaty [Tratado de Banimento das Minas Terrestres]: Boston Globe, “us Should Sign Treaty Banning Land Mines”, Susannah Sirkin e Gina Coplon-Newfield, 11 de agosto de 2000. Sobre o Protocolo de Kyoto: The New York Times, “Treaty Talks Fail to Find Consensus in Global Warming”, Andrew Revkin, 26 de novembro de 2000. Sobre a perfuração de terras federais: The Nation, “Teapot Dome, Part II: The Rush for Alaskan Oil”, Jeffery St. Clair e Alexander Cockburn, 7 de abril de 1997; e The Nation, “AI Gore’s Teapot Dome; Occidental Petroleum Acquires Large Portion of Elk Hilís”, Alexander Cockburn, 17 de julho de 2000. Sobre os padrões de eficiência para combustíveis: The New York Times, “The Energy Plan:
The Standards”, Keith Bradsher, 18 de maio de 2001. Sobre a agitação em torno do Protocolo de Kyoto logo antes das eleições: The Guardian, “Sinking Feelings:
Climate change is one of the greatest threats to life as we know it”, Paul Brown, 11 de outubro de 2001.
O apoio republicano para a revisão dos níveis de arsênico foi noticiado em The New York Times, “House Demanding Strict Guidelines on Arsenic Levels”, DouglasJehl, 28 de julho de 2001. Informações sobre o financiamento federal de organizações religiosas são de The Christian Science Monitor, “War On Poverty Enlists Churches”, Gail Russell Chaddock, 19 de junho de 2000.
As fontes sobre as políticas de financiamento de abortos no estrangeiro são de The New York Times, “Bush Acts to halt Overseas Spending Tied to Abortion”, Frank Bruni e Marc Lacey, 23 de janeiro de 2001; e do The New York Times; “Deal on UN Dues Breaks an Impasse and Draws Criucs”, Eric Schmitt, 16 de novembro de 1999.
Estatísticas sobre a disponibilidade de médicos para operações de aborto são de Planned Parenthood/Family Planning Perspectives [Paternidade Planejada/Perspectivas para a Programação Familiar], Factors Hindering Access to Abortion Services”, Stanley K. Henshaw, 27(2), 54-59 e 87.
A contagem de votos para a aprovação do Projeto de Lei sobre a Reforma na Política de Falência: resumo de votos, voto número 36, 5.420, de 15/03/2001. SIMs: 83, NÃOs: 15, Presentes: 1, Não-votante: 1 (Barbara Boxer, CA, não votou).
Informações sobre as ordens e regras executivas de última hora por parte de Clinton são de: The Washington Post, “Racing the Clock With New Regulations”, Dan Morgan e Amy Goldstein, 20 de janeiro de 2001; The Washington Post, “-Clinton~s Last Regulatory Rush”, Dan Morgan, 6 de dezembro de 2000; USA Today, “Arsenic Fouls Review of New Rules”, Jonathan Weisman e Mimi Haíl, 20 de abril de 2001; The Washington Post, “‘Midnight Regulations’ Swell Register”, Cindy Skrycki, 23 de janeiro de 2001; Agência de Proteção Ambiental, “Further Revisions to the Clean Water Act Regulatory Definition of ‘Discharge of Dredged Material”’, 17 de abril de 2001.
CAPÍTULO 11 - A ORAÇÃO DO POVO
Políticos contra o aborto que hoje apóiam a pesquisa das células-tronco são discutidos em The Washington Post, “Conservative Pressure for Stem Cell Funds Builds; Key Anti-Abortionists Join Push for Embryo Research”, Ceci Connolly, 2 de julho de 2001; San Francisco Chronicle, “Stem CeIl Debate Creates Odd Alliances; Some Conservatives Break Ranks with the Religious Rights”, Marc Sandalow, 22 de julho de 2001; Associated Press, “Thurmond Backs Stem Cell Research”, 30 de junho de 2001. O histórico anterior de Cheney na legislação para homossexuais énarrado em The Badger Herald, “Gay Republicans Left Out in the Cold”, Chris McCall, 2 de novembro de 2000.
EPÍLOGO — TALLAHASSEE, OBA
Maria Cantwell obteve 1.199.437 dos votos enquanto seu oponente, Slade Gorton, obteve 1.197.208. Nader obteve uma porcentagem relativamente grande dos votos, 4%, ou 103.002 votos. Pode-se assumir com segurança que muitos dos cem mil simpatizantes de Nader também apoiaram Cantwell em oposição aos oponentes republicano ou conservador (que obtiveram apenas 2,63 % dos votos). Os resultados da eleição são do Relatório Final Eleitoral do Estado de Washington.
O artigo de Molly Ivin, “Swing-State Progressives Ought to Think Back to ‘68”, foi publicado em 1 de novembro de 2000. As contagens de votos para todos os candidatos são os resultados oficialmente certificados pelo Departamento de Estado da Flórida. As posições do Partido Verde vêm do Partido Verde da Califórnia e de Nader 2000/2 004.
Michael Moore
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