Assim que viu a criança que Kaylee Simpson tinha nos braços, Colt Wakefield soube que era sua filha. Tinha a obrigação de ajudá-las, por isso levou-as para o seu rancho. O problema era que passar dia e noite com a bela Kaylee o tinha feito aperceber-se de que aquela mulher continuava a despertar toda a sua paixão. Por muito esforço que ela fizesse para resistir ao desejo, Colt estava disposto a fazer qualquer coisa para recuperar a sua confiança e convencê-la a ficar ao seu lado para sempre.
Aquele homem intrépido e irresistível tinha duas fraquezas: a sua filha e a mãe dela.
Kaylee Simpson estava a colocar umas gazes e um rolo de fita adesiva num carrinho na enfermaria quando o repentino silêncio da multidão do Centro Ford a fez estremecer de medo.
Só havia um motivo para que uma pista cheia de admiradores do rodeio profissional se calasse assim: um dos participantes estava no chão e não se mexia.
Kaylee fechou os olhos, conteve a respiração e tentou não pensar enquanto esperava que o aplauso das pessoas indicasse que o participante se tinha posto de pé. No entanto, os minutos foram passando e isso não acontecia. Quando ouviu passos acelerados pelo corredor que conduzia à enfermaria, compreendeu que conduziam o participante de maca para ali.
"Por favor, que não seja ninguém que eu conheça", rezou.
- Verifique os seus sinais vitais - pediu o Dr. Carson ao entrar, seguido por uns quantos homens que transportavam a maca e que deitaram o ferido sobre a marquesa. Kaylee pegou no equipamento necessário e, com as mãos trêmulas, colocou-se ao lado daquele homem inconsciente. Ao olhar para ele, sentiu que o coração começava a bater com mais força e ficou pálida.
- Colt - sussurrou.
Deixou cair o aparelho de medir a tensão, mas nem deu por isso.
- Conhece este homem? - perguntou um dos médicos, apanhando o aparelho do chão.
Pelo visto, os médicos que trabalhavam no rodeio não conheciam os participantes, mas Kaylee sim. Tinha um nó na garganta tão aflitivo que não conseguia articular palavra, por isso limitou-se a fechar os olhos e a assentir. Tinha crescido com muitos dos cowboys que faziam parte do circuito profissional, e até há três anos atrás, a maior parte deles tinham sido como irmãos para ela. Aquele que tinha à sua frente, no entanto, tinha sido sempre diferente. Conhecia Colt Wakefield desde que ele tinha dezesseis anos e ela dez. Era o melhor amigo do seu irmão, o amor da sua adolescência e o homem que lhe tinha roubado o coração.
- Kaylee, se não lhe vai medir a tensão arterial, afasta-te e deixa que outra pessoa o faça disse o Dr. Carson, impaciente.
O tom de voz do médico a fez sair do seu transe e apressou-se a colocar o aparelho de medir a tensão à volta do braço de Colt.
- Tensão arterial a onze e sete.
- Bem, vamos tirar-lhe o casaco e abrir-lhe a camisa para ver o que tem - ordenou o médico.
Kaylee respirou fundo e abriu o fecho de correr do casaco de cabedal preto que os cowboys usavam para se proteger. A seguir, e com as mãos ainda a tremer, desapertou-lhe a camisa para que o médico o pudesse examinar. Ao ver o impressionante e musculoso torso de Colt e o seu abdômen bem definido, Kaylee sentiu um arrepio na espinha e todas as recordações que andava há três anos a tentar esquecer a voltaram a assaltar.
Sem pensar no que estava a fazer, estendeu a mão e acariciou-o. A última vez que o tinha visto sem camisa, que também havia sido a última vez que o tinha visto, foi na noite do enterro do seu irmão. Destroçados com a morte de Mitch, tinham-se abraçado para se consolarem mutuamente e tinham...
- Kaylee?
Ao ouvir a voz de Colt, Kaylee desviou a mão. Colt tinha recobrado a consciência sem que ela se apercebesse.
- Olá, Colt - cumprimentou, perdendo-se na imensidão dos seus incríveis olhos azuis.
Tinha-o conhecido há catorze anos e, naquela altura, ele tinha-lhe parecido o rapaz mais bonito do mundo. No entanto, agora, tinha-se convertido num homem incrivelmente atraente. Tinha o cabelo negro como azevichee uns lindos olhos azuis que sempre a tinham deixado sem fôlego. Infelizmente, parecia que continuavam a ter o mesmo efeito sobre ela. Então, decidiu tratá-lo exatamente da mesma maneira que o tinha tratado antes de se terem dado os acontecimentos que mudaram a sua vida para sempre.
- Vejo que continuas a desmontar por cima da cabeça do cavalo - gracejou.
Colt corou.
- E eu vejo que continuas tão engraçadinha como sempre - respondeu, fitando-a com afeto.
- Está enganado, cowboy - sorriu Kaylee com tristeza. - Com certeza se lembras que há três anos tive que amadurecer a força.
Colt sentiu como se lhe tivessem dado um murro na boca do estômago. Não sabia se referia à morte de Mitch ou à sua partida sem se despedir, depois de ter passado com ela a noite mais maravilhosa da sua vida. Em qualquer caso, o sentimento de culpa que o tinha acompanhado naqueles últimos três anos apoderou-se dele, até que receou não ser capaz de falar.
- Onde é que tem estado? - perguntou por fim, sem saber muito bem do que falar com ela.
Kaylee afastou uma madeixa de cabelo do rosto, como se procurasse a resposta certa.
- A sobreviver - respondeu. - Terminei o curso o ano passado.
Colt franziu o sobrolho.
- Então, por quê? Da última vez que nos vimos só te faltava um ano para terminar. Porque é que levaste tanto tempo?
Kaylee desviou o olhar.
- Passaram-se algumas coisas e tive que abandonar os estudos durante uns tempos - respondeu, limpando-lhe o rosto com uma toalha úmida. - E você? Como é que tem passado?
Colt encolheu os ombros, mas, ao fazê-lo, a incrível dor que sentia no ombro esquerdo o fez gritar. Humilhado pela presença de Kaylee e por que ela o visse numa situação assim, apertou os dentes e disse a primeira coisa que lhe passou pela cabeça.
- Estaria muito melhor se não te inclinasses sobre mim como um abutre.
Assim que acabou de pronunciar aquelas palavras, Colt arrependeu-se de tê-lo feito e sentiu se como um traste. Daria o seu braço direito para não fazer Kaylee sofrer, mas, a avaliar pela expressão do seu rosto, era isso mesmo que acabava de fazer. Antes que tivesse tempo de pedir desculpa, o Dr. Carson quebrou a tensão que se tinha apoderado do ambiente.
- Parece que tens a clavícula partida, Colt, mas para termos a certeza, vou mandar-te para o hospital para que faças umas radiografias.
- Quanto tempo vou ter que ficar sem competir? - quis saber Colt.
- Depende de como a fratura evoluir, mas eu diria que entre dois e três meses - respondeu Carson.
Aquilo era a última coisa que Colt queria ouvir. Estava em terceiro lugar na classificação geral e tinha possibilidade de vencer o campeonato nesse ano. Estar fora da competição durante tanto tempo acabava com todas as suas esperanças.
- Chamei uma ambulância para que o levem ao hospital - ouviu Kaylee dizer.
Tinha-se afastado da mesa enquanto o médico falava com ele e Colt não a podia censurar. Tinha que lhe pedir desculpa.
- Kaylee?
Um homem vestido de azul marinho com um cartão de identificação ao peito que fazia saber que se chamava Forrester aproximou-se dele.
- Quer falar com esta mulher tão engraçada que tem um estupendo par de...?
- Cuidado com o que diz - advertiu Colt com cara de poucos amigos. Não ia permitir que ninguém falasse assim de Kaylee.
- Pois esta menina é a irmã do meu melhor amigo. - Forrester encolheu os ombros.
- Tem graça, a mim não me parece nenhuma menina.
Colt cerrou os dentes perante a expressão lasciva do marqueiro.
- Ah, não? Então o que é que te parece?
- Cem por cento, mulher - respondeu o homem com um sorriso.
Se não fosse a dor que lhe impedia os movimentos, Colt teria derrubado aquele homem ao murro.
- Não se preocupes cowboy, já estava a sair quando nós entramos. Já deve estar no hospital.
Colt não disse nada enquanto o conduziam até a ambulância. Sabia perfeitamente que Kaylee não ia estar no hospital à sua espera. Depois do que se tinha passado há três anos e de como lhe tinha falado naquela noite, teria sorte se lhe voltasse a dirigir a palavra algum dia.
Um mês depois de ver Colt no rodeio, Kaylee continuava a pensar nele. Era a última pessoa que queria ver e, a avaliar pela sua reação, ele pensava o mesmo a respeito dela.
Kaylee serviu-se de uma xícara de café e passeou-se pela sala do seu pequeno apartamento antes de se ir aninhar no sofá. Voltar a se encontrar com ele a tinha feito recordar momentos dolorosos que julgava já ter esquecido. Mas pelo visto, não tinha.
No passado, aplaudir Colt e o seu irmão Mitch tinha sido uma tradição. Naquele horrível fim de semana, há três anos atrás em Houston, tinha ido com eles à competição. O que tinha começado por ser um Sábado normal, rapidamente se tinha tornado uma tragédia.
Colt tinha feito uma prova com êxito e tinha ajudado Mitch a montar o touro que lhe tinha sido atribuído. Assim que a cancela se abriu, Kaylee apercebeu de que o seu irmão estava em apuros. O primeiro salto do animal tinha sido tão forte que Mitch tinha batido com o rosto contra a nuca do touro. Os outros participantes acorreram à arena para tentar distrair o animal. Mitch estava no chão em frente do touro. Sem se preocupar com a sua própria segurança, Colt tinha corrido em direção ao seu amigo para protegê-lo. Após se certificar que já lhe estavam a prestar os primeiros socorros, tinha ido buscá-la, a tinha acompanhado ao hospital e tinha ficado à espera com ela enquanto Mitch estava na sala de operações.
Quando os médicos lhe deram a terrível notícia de que tinha perdido o seu único irmão, o seu único parente vivo, Colt estava ao seu lado.
- Mãe! - disse uma vozinha no corredor.
Ao ouvir que a sua filha tinha acordado da sesta, Kaylee afastou da sua mente aquelas terríveis recordações. Colocou a xícara de café sobre a mesa, se pôs de pé e secou as lágrimas.
Agora, tinha que se preocupar com Amber e não com um passado que já não podia mudar.
- Tiveste um pesadelo, querida? - perguntou, pegando-lhe ao colo. Amber negou com a cabeça e apoiou o rosto no ombro da sua mãe.
- Não faz mal. À mãe está aqui e não vai deixar que te aconteça nada de mal - disse Kaylee, abraçando a sua filha. Quando ia para a sala para se sentar na cadeira de balanço com Amber, tocaram à campainha e Kaylee pensou que seria um tipo de vendedor que estaria a vender algum produto. Ligou o gravador e sorriu ao ouvir o ladrar do pastor alemão.
- Um dia destes, vamos comprar um cão de verdade com dentes enormes e um apetite insaciável para que se ocupe dos vendedores de porta em porta - disse à sua filha.
Depois, respirou fundo e abriu a porta com a corrente de segurança posta.
Enquanto esperava à porta, Colt ajeitou o braço que levava ao peito e olhou à sua volta. O prédio era de má qualidade e estava sujo. Porque é que Kaylee viveria ali e não no seu rancho de Oklahoma? Durante o último mês, tinha pensado muito e tinha decidido que devia ir falar com ela para resolver as coisas.
Quando tinha tido ordem de sair da cama, foi LazyS, mas ali tinham dito que Kaylee tinha vendido o rancho e se tinha mudado para Oklahoma City pouco depois da morte de Mitch. Tinha tido que recorrer à lista telefônica para encontrá-la. Por sorte, só havia uma Kaylee Simpson na lista.
Nesse momento, a porta abriu-se.
- Não me interessa o que está a vender... Colt? - Colt afastou o chapéu de cowboy do rosto e
sorriu perante a gravação de um cão a ladrar.
- Essa gravação com um cão a ladrar serve mesmo para afugentar os vendedores de porta em porta? - Kaylee ficou a olhar para ele como se não acreditasse nos seus olhos.
- O que é que está aqui a fazer? - gaguejou. - Colt reparou que ela não parecia muito contente por vê-lo e tentou ser simpático.
- Agora que já viu que sou eu e não um vendedor de aspiradores, não te importaria de desligar o gravador? - sorriu.
- Desculpa - disse Kaylee, desligando o gravador. - Olá, Colt.
- Eu vejo-- disse uma vozinha ao mesmo tempo em que uns dedinhos em miniatura apareciam a segurar a porta.
Colt franziu o sobrolho.
- Não estás sozinha?
- Para dizer a verdade, não me apanhas no melhor momento - respondeu Kaylee, afastando os dedos do bebê da porta.
Ao ver que os seus olhos cor de violeta se enchiam de pânico, Colt sentiu-se mal.
- Está bem, Kaylee?
- Sim - respondeu ela, assentindo.
- Eu vejo mãe - insistiu a vozinha. - Eu vejo.
- Agora não, querida - disse Kaylee com afeto.
Colt sentiu-se como se lhe tivessem dado um murro na boca do estômago. Kaylee tinha um filho? Tinha-se casado?
- Temos que falar - disse muito sério. Tentou convencer que devia a Mitch se preocupar com a sua irmã, mas a verdade é que queria saber o é que se passava ali.
- Não me parece que tenhamos muito do que falar - respondeu Kaylee, encolhendo os ombros.
- Vá lá, Kaylee, vim desde Lonetree para falar contigo. O mínimo que podes fazer é conceder-me cinco minutos do teu tempo - insistiu Colt, apercebendo de que Kaylee estava nervosa.
Ao ver a expressão de derrota do seu rosto, Colt sentiu que lhe faltava o ar. Decididamente, ali se passava qualquer coisa e ele estava decidido a descobrir de que se tratava.
- Kaylee?
Kaylee fechou a porta, retirou a corrente de segurança e voltou a abri-la.
- Desculpa a desarrumação - disse, deixando-o entrar e apontando para os brinquedos que havia no chão em frente ao sofá.
- Não esperava visitas.
Colt voltou-se para lhe dizer que estava habituado a ver brinquedos espalhados por todos os lados em casa dos seus irmãos, mas as palavras recusavam-se a sair da sua boca. O bebê que Kaylee tinha nos seus braços tinha o cabelo negro como azeviche. Tinha escondido o rosto timidamente contra o pescoço da sua mãe, mas havia qualquer coisa naquela criança que provocou um arrepio na espinha de Colt.
- É tua? - perguntou com cautela. Kaylee fitou-o durante o que lhe pareceu uma eternidade e assentiu.
- Sim, esta é a minha filha, Amber.
Ao ouvir o seu nome, a menina levantou a cabeça e, ao ver que o desconhecido a observava fixamente, voltou a esconder o rosto.
Apesar da rapidez do seu movimento, Colt tinha conseguido ver os olhos azuis da pequena. Eram de um azul vivo que as suas cunhadas, Annie e Samantha, denominavam "azul Wakefield".
Colt sentiu que o seu coração batia com força e calculou que a menina devia ter a mesma idade que Zach, o filho do seu irmão Brant. A partir desse dado, não lhe custou muito fazer esse cálculo.
Engoliu em seco.
- É minha não é, Kaylee?
Kaylee mordeu o lábio inferior. Colt sabia a resposta, mas precisava ouvir da sua boca.
- Kaylee?
Kaylee respirou fundo e fitou-o com um ar de desafio.
- Sim, Colt. Amber também é tua filha.
- Bolas, Kaylee, porque é que não me tinhas dito? - explodiu Colt.
Estava nervoso e teve que respirar fundo várias vezes para tentar acalmar-se.
- Não achas que tenho o direito de saber que tenho uma filha?
- Não - respondeu Kaylee, fitando-o com ira.
A veemência da sua resposta tomou Colt de surpresa. Nunca a tinha visto tão irritada.
- Porque não? - quis saber.
Se havia ali alguém que tinha o direito de estar irritado era ele, sem dúvida. Afinal de contas, Kaylee é que o tinha enganado. A criança começou a soluçar e aferrou-se ao pescoço da sua mãe. Pelo visto, os gritos a tinha assustado.
- Quer um suco, querida? - perguntou Kaylee com voz doce enquanto lhe acariciava as costas.
A pequena assentiu.
- Espera aqui um momento enquanto eu a acalmo - disse Kaylee a Colt, fitando-o desafiante. - Já falamos.
- Pode ter a certeza de que vamos falar - murmurou Colt enquanto observava como Kaylee desaparecia na cozinha com a filha nos braços.
A sua filha.
Sentiu algo que nunca tinha sentido, como uma opressão no peito. Tinha uma filha de dois anos, uma filha que era exatamente igual a ele. Formou-se um nó na garganta e sentiu que lhe custava respirar. Como é que Kaylee lhe podia ter feito uma coisa dessas? Porque é que não lhe tinha dito que tinha ficado grávida depois de terem passado uma noite juntos? Colt estava decidido a averiguar tudo aquilo e muito mais. Tirou o chapéu e colocou-o no bengaleiro que havia ao lado da porta. Não pensava sair dali sem ter obtido as respostas que queria.
Kaylee passou ao seu lado para deixar Amber no chão a brincar com os seus brinquedos.
- Planeava me dizer algum dia? - perguntou Colt.
- Não - respondeu Kaylee, levantando uma xícara de café da mesa.
Surpreendido, Colt quis perguntar-lhe por que, mas Kaylee indicou-lhe que fossem até a cozinha. Enquanto a seguia, tentou não prestar muita atenção na forma como a sua calça lhe desenhavam perfeitamente o traseiro. Para cúmulo, ao chegar à cozinha,
Kaylee se pôs em ponta dos pés para alcançar o armário e tirar outra xícara para ele e, ao fazê-lo, a camiseta cor-de-rosa que vestia subiu até deixar descoberto a sua barriga lisa e firme. Colt sacudiu a cabeça. O que é que lhe estava a acontecer? Para além de não lhe ter falado na sua filha, Kaylee era a irmã mais nova de Mitch. E, apesar de ter cedido à tentação uma vez, não estava disposto a voltar a fazê-lo.
Kaylee serviu-lhe uma xícara de café e convidou-o a sentar-se. Ela sentou-se à frente dele, numa cadeira a partir da qual conseguia ver a sua filha a brincar com o ursinho de pelúcia.
- Se dependesse de mim, nunca terias sabido da existência de Amber - disse.
Colt sentiu uma mistura de fúria e confusão e teve que contar até dez antes de falar. Não lhe serviria de nada perder a cabeça.
- Abandonou os estudos porque estavas grávida, não foi?
- Sim.
- Devia ter me dito. Podia ter ajudado.
- Não queria nem precisava da tua ajuda respondeu Kaylee com a voz trêmula. - Não queria que soubesses da existência de Amber.
- Por quê? Porque é que acha que não tenho o direito de saber que tenho uma filha?
- Renunciou a esse direito - respondeu Kaylee sem o olhar nos olhos.
- Onde é que foi buscar essa idéia? - explodiu Colt.
- Na manhã a seguir ao enterro de Mitch, fizeste passar a tua mensagem de forma a que não houvesse lugar para dúvidas - respondeu Kaylee com resolução, olhando-o com mágoa e rancor. - Não querias voltar a me ver, por isso, quando soube que estava grávida, calculei que esse sentimento se estendesse também à minha filha.
O sentimento de culpa que o tinha assombrado nos últimos três anos cresceu no coração de Colt. Para além de ter ido para a cama com a irmã mais nova do seu melhor amigo na noite do seu funeral, tinha-lhe roubado a sua virgindade.
Colt tinha consciência de que se tinha se portado mal na manhã seguinte, mas tinha sido
por estar envergonhado de seu comportamento, não teve coragem de encará-la.
- Kaylee, não foi assim. Eu...
- Ah, não? - interrompeu ela, acalorada. - Quantas vezes nos últimos três anos tentou entrar em contato comigo, Colt?
Colt não pensava que um homem se pudesse sentir ainda mais humilhado, mas Kaylee acabava de lhe demonstrar que sim.
- Reconheço que me comportei como um estúpido e um canalha, mas existe uma razão...
- É tarde demais - disse Kaylee pondo-se de pé. - Não me interessa ouvir porque é que foi embora naquela manhã sem me acordar nem me deixar um bilhete - disse, despejando o seu café no lava loucas.
- Eu não tinha terminado - protestou Colt.
- Sim, já tinhas terminado - disse Kaylee dirigindo-se à porta. Agora gostava que saísse. - Só quero que nos deixes em paz. A Amber e a mim. Temos nos saído bem sem você até agora.
Colt apercebeu de que Kaylee tentar não chorar. Ao compreender os danos emocionais que lhe tinha causado, sentiu náuseas.
Colt respirou fundo, levantou-se e seguiu-a. Precisava de algum tempo para assimilar a notícia de que era pai e para decidir como fazer para que Kaylee o ouvisse.
- Acho que é melhor continuarmos esta conversa quando estivermos ambos mais calmos...
- Não, Colt - disse Kaylee, sacudindo a cabeça. - Renunciou a esta oportunidade há três anos quando me deixou sem olhar para trás. Fiz o que quis, deixa agora que eu faça o que eu quero.
Ao ver que uma lágrima lhe escorregava pela face, Colt sentiu um aperto no coração.
- E o que é que tu quer Kaylee?
Kaylee respirou fundo e enxugou as lágrimas com mãos trêmulas.
- Quero que te vá embora... tal como fez naquela manhã há três anos e... quero que não olhes para trás.
- Não posso fazer isso - disse Colt, acariciando-lhe a face. - Volto amanhã.
- Por favor, não volte - começou Kaylee a chorar e recuando um passo. - É melhor que regresse a Lonetree e esqueça... de nós.
- Isso é impossível - disse Colt amavelmente. Pôs o chapéu e olhou para Amber. A pequena também o observava, mas quando se percebeu de que ele olhava para ela, sorriu timidamente e escondeu-se atrás do seu ursinho de pelúcia.
Naquele preciso momento, Colt ficou cativado pela sua filha.
- Até amanhã - despediu-se, abrindo a porta. - Vai correr tudo bem. Prometo.
No dia seguinte, Kaylee aguardava nervosa o regresso de Colt. Receava o confronto que ia produzir entre eles, mas, por outro lado, queria voltar a vê-lo. E aquilo era um incrível dilema. Tinha-se apaixonado por Colt assim que o conheceu. A sua mãe dizia que não passava de um capricho de adolescente e que algum dia o esqueceria, mas Kaylee sabia que não seria assim. Com o passar dos anos, o que sentia por ele não só não se tinha desvanecido, como se tinha tornado mais forte. No entanto, quando tinha acordado naquela fatídica manhã e viu que ele a tinha abandonado, tinha se forçado a esquecê-lo para continuar a viver. Tinha que o fazer. Não teria sobrevivido se continuasse a pensar nele. Infelizmente, na tarde do dia anterior, tinha compreendido que Colt continuava a afetá-la de uma maneira que ela não julgava já ser possível. Quando Colt lhe tinha acariciado a face, o ritmo do seu coração tinha disparado, mas o pior tinha sido descobrir que continuava a ter o poder de a afetar emocionalmente.
- Mãe, olha!
Kaylee levantou o olhar e viu a sua filha que se ria a admirar as plantas que cantavam e dançavam na televisão. Sorridente, Kaylee olhou para a sua filha e, pela centésima vez, pensou em como era parecida com o seu pai. As semelhanças entre ambos eram tão evidentes que sempre soubera que se Colt alguma vez a visse, saberia imediatamente que era sua filha.
O som da campainha interrompeu os seus pensamentos. Ao ouvir aquele som, Amber correu a agarrar-se às suas pernas. A sua filha não estava habituada a desconhecidos e era extremamente tímida.
Kaylee pegou-lhe ao colo e dessa vez não se deu ao trabalho de pôr a gravação com os cães a ladrar. Não havia necessidade disso. Sabia perfeitamente quem era.
- Olá - cumprimentou Colt. - Desculpa o atraso, mas parei para comprar um brinquedo para Amber - acrescentou, indicando um saco de plástico que levava na mão.
Amber tinha o rosto escondido no pescoço da sua mãe e, ao ouvir que aquela voz de barítono pronunciava o seu nome, agarrou-se ainda com mais força.
Kaylee afastou-se para o lado para que Colt entrasse.
- Vejo que não me deu ouvidos ontem, quando te pedi que te fosses embora e nos deixasses em paz.
Colt sorriu o que fez com que Kaylee sentisse um arrepio na espinha.
- Achou mesmo que me ia embora?
- Não - suspirou Kaylee.
Porque é que era tão atraente e tão encantador?
- Amber, te trouxe um presente - disse amavelmente.
- Não está habituada a desconhecidos disse Kaylee. - Principalmente homens.
Colt fitou-a nos olhos e Kaylee compreendeu que estava a especular sobre a sua vida social, sobretudo no que dizia respeito aos homens.
- Não conheceu muitos?
- Não, muitos não - respondeu Kaylee. Noutras circunstâncias, teria começado a rir, pois há três anos que não saía com nenhum homem, mas Colt não tinha que saber isso. Para cúmulo, teve a audácia de parecer aliviado.
- Isso vai mudar - anunciou muito seguro de si mesmo. - Em breve se vai habituar a me ver todos os dias.
Todos os dias? Kaylee sentiu um aperto no coração. Não lhe agradou a maneira como ele tinha dito aquilo. Tinha estado toda a noite a pensar e tinha chegado à conclusão que não era justo negar à sua filha o direito de conhecer o seu pai, mas era preciso impor alguns limites.
- Colt, não me parece boa idéia.
- Porque não? - perguntou Colt, ajeitando o lenço que lhe segurava o braço ao pescoço.
- Ainda te dói a clavícula? - perguntou Kaylee para mudar de assunto.
- Não muito - respondeu Colt, tirando o chapéu e colocando-o no bengaleiro que havia junto à porta. - Calculo que me comece a doer quando começar a fisioterapia.
- Se for bem feita e não sobrecarregar os músculos, não há motivo para que doa - disse Kaylee, notando que Amber tinha diminuído a pressão do seu abraço, sinal de que começava a habituar à presença de Colt. - Quando é que começa fisioterapia? - acrescentou Kaylee, colocando a pequena em frente à televisão.
- Dentro de duas semanas - respondeu Colt.
Kaylee ouviu-o rebuscar no saco de plástico e quando se voltou, viu que estava a tentar tirar só com um braço uma boneca de pano de dentro do saco.
- Deixa te ajudar- - disse Kaylee, aproximando-se dele.
Ao tirar a boneca do saco, as suas mãos tocaram-se e Kaylee sentiu uma descarga elétrica por todo o corpo que a fez afastar-se.
- Amber vai adorar.
Colt ficou a observá-la durante uns segundos e pigarreou.
- Achas que se assustaria se lhe for dar a boneca?
A expressão de insegurança de Colt chegou à alma de Kaylee. Era a primeira vez que o via assim, sem saber o que fazer.
- Espera um pouco - aconselhou. - Está a começar a se habituar de você.
Era óbvio que Colt queria conhecer Amber, mas não queria fazer nada que pudesse desagradar à pequena.
- Vamos nos sentar na sala. Assim, estará próximo dela, mas não demasiado e não se sentirá ameaçada.
- Está bem - respondeu Colt. - Podemos falar, entretanto, enquanto Amber se habitua a mim - acrescentou, seguindo-a até a sala.
Sentaram-se os dois no sofá e Kaylee sentiu que lhe faltava o ar. Teve que se pôr a olhar para a criança para deixar de olhar para Colt e apercebeu-se de que Amber os observava com curiosidade.
- Está tudo bem, querida. Colt é um amigo da mãe.
- Sou o teu pai - disse Colt com ternura. -Não quero que tenha dúvidas sobre isso acrescentou, olhando para Kaylee.
Amber não apercebeu a repentina tensão que se tinha instalado entre os dois adultos e continuou a olhar para a televisão.
- Colt, tenho pensado muito na nossa situação...
- Eu não consigo pensar noutra coisa - assentiu ele. - É algo que não se pode resolver numa noite.
- Não, claro que não. Vamos precisar de tempo...
- Fico feliz por estarmos de acordo nisso - sorriu Colt. - Assim, as coisas serão muito mais fáceis.
O que é que queria dizer com isso? E porque é que não parava de a interromper?
- O que é que traz na manga, Colt? - perguntou Kaylee.
- Parece que, o que vou dizer te não te vai agradar.
Kaylee tinha a mesma impressão.
- Diz e já vemos - disse.
- Quero que Amber e você venham para Lonetree comigo.
Kaylee não podia acreditar que Colt tivesse tido uma idéia tão absurda.
- Está brincando.
- Estou a falar a sério, Kaylee - disse Colt com determinação. - Quero conhecer a minha filha.
- Pode conhecê-la aqui - protestou Kaylee.
- Não - insistiu Colt, olhando para a criança. - Se assim for nunca serei mais para ela do que um homem que vem de vez em quando e acabará por me esquecer.
- Com outros pais resulta - insistiu Kaylee desesperada. - Porque é que não ia servir para Amber e para ti?
Colt negou com a cabeça.
- Talvez, se tivesse estado presente na sua vida desde o princípio, nos servisse, mas eu quero ser o seu pai, não um homem que se limita a dizer que é seu pai.
- Não posso deixar o meu trabalho no hospital - disse Kaylee. – Irão me demitir.
- Não te preocupe com isso. Já falei com o teu superior.
- Como? - perguntou Kaylee, furiosa. Hoje é domingo, não pode ter falado com ninguém.
- Tenho os meus métodos - respondeu Colt.
- E o que é que lhe disse? - quis saber Kaylee em pânico.
- Contatei o Dr. Carson e perguntei-lhe que hospital te tinha enviado ao rodeio do mês passado. Assim consegui que me dessem o nome e o número de telefone do teu chefe p explicou Colt com calma.
Kaylee não podia acreditar que Colt tivesse agido de maneira tão arrogante.
- Telefonou para casa de Brant? - Colt assentiu sorridente.
-Assim que lhe expliquei a situação...
Kaylee sentiu que o sangue se lhe gelava nas veias. Ela nunca falava da sua vida pessoal no trabalho.
- Por favor, me diz que não lhe...
Colt negou com a cabeça e acariciou-lhe o cabelo.
- Não, querida não lhe contei tudo. Isso só nos diz respeito a nós. O que lhe disse foi que tinha surgido um problema familiar e precisava de ti e pedi-lhe que concedesse uma licença de dois meses - sorriu. - Só tens que passar amanhã pelo hospital e assinar a papelada.
Kaylee sentiu que a raiva a fazia tremer.
- Como é que te atreve? - explodiu, pondo-se de pé e percorrendo a sala de um lado ao outro. - Uma coisa é que apareça aqui e me diga que quer fazer parte da vida da minha filha e outra...
- Nossa filha - corrigiu Colt.
Assustada com os gritos, Amber começou a chorar e agarrou-se com força à perna da sua mãe.
Kaylee pegou-lhe ao colo e continuou a falar com Colt.
- Não tem o direito de tomar decisões por mim - disse. - Não posso estar sem trabalhar. Tenho que pagar a renda da casa, as letras do carro e...
- Eu me encarrego de tudo isso.
- Não, nem pensar. Não quero nada teu. - Colt levantou-se e avançou para ela.
- Tenta ser razoável, Kaylee. Afinal de contas, te devo mais de dois anos de pensão de alimentos e, além disso, gostaria de te contratar para que me ajude a estar em forma para a final do rodeio em Novembro. Poderá voltar a casa quando regressemos de Las Vegas.
- Não quero o teu dinheiro - insistiu Kaylee com teimosia. - E não quero te ajudar a estar em forma para que arrisque a vida para permanecer oito segundos em cima de um touro.
- Quando eu vier lhe buscar amanhã de manhã, passo pelo escritório do senhorio para lhe pagar a renda e para lhe dizer que as instalações estão um nojo - continuou Colt como se não a tivesse ouvido. - me Deve- isso, Kaylee.
- Ah, sim? Então por quê?
- Por tua culpa perdi os dois primeiros anos da vida de Amber - respondeu Colt, olhando-a nos olhos. - Agora tem que me deixar conhecê-la.
Kaylee sentiu que não era dona da sua vida.
- Por favor, não me faça isto, Colt - murmurou, sentindo-se encurralada.
- Quero que Amber me veja como um pai - disse Colt, acariciando-lhe a face. - Por favor, não me negue à oportunidade de começamos uma bonita relação, Kaylee.
O peso da culpa apoderou-se de Kaylee. Por muito que lhe desagradasse ter que o admitir, a verdade era que se tinha comportado de maneira injusta para com Colt e Amber. Kaylee sabia com toda a certeza, ainda que Colt tivesse desejado esquecer-se desta noite que tinham passado juntos, se soubesse que ia ter uma filha, teria se ocupado dela com amor e dedicação.
Kaylee sentiu que os olhos se enchiam de lágrimas. Não tinha contado nada a Colt sobre Amber por causa da sua própria mágoa e desilusão. Ao fazê-lo, tinha negado à sua filha a oportunidade de conhecer o seu pai.
- O que é que me diz Kaylee? - disse Colt, limpando-lhe a lágrima com a mão. - Vêm comigo para Lonetree?
Kaylee olhou para o homem que tinha à sua frente, o homem que em tempos tinha amado com todo o seu coração. Tinha razão. Devia-lhe isso, mas tinha que ter cuidado. Não queria voltar a se apaixonar por ele. A sua sobrevivência dependia disso.
- Não posso acreditar que vá dizer isto - disse, sentindo que as suas pernas começavam a fraquejar.
- Vem? - perguntou Colt, esperança. Kaylee respirou fundo e se sentiu como se estivesse na corda bamba e sem rede por baixo.
- Sim, vamos para Lonetree contigo, mas só até que esteja recuperado e vá competir à final. Amber e eu não vamos contigo a Las Vegas.
- Depois falamos disso.
O sorriso de Colt fez com que o coração de Kaylee se acelerasse e se arrependesse imediatamente de ter acedido em ir viver para Lonetree durante dois meses.
- Raios - murmurou Colt. - Por não poder ainda utilizar o braço esquerdo, colocar a cadeirinha de Amber no carro estava a sendo extremamente difícil.
- Algum problema? - perguntou Kaylee. Colt voltou-se para ela, que trazia a pequena ao colo.
- Ajuda-me a pôr a cadeirinha, por favor - respondeu irritado por ela o vê assim, tão inútil.
Kaylee pôs a menina no chão.
- Não saia daqui, querida, a mãe vai ajudar Colt a pôr a tua cadeirinha.
- Pai - disse Colt muito sério. - Sou o seu pai, Kaylee.
Kaylee ficou a olhar para ele durante uns segundos e assentiu.
-Vou ajudar o teu... pai, Amber.
.A hesitação de Kaylee em reconhecê-lo como o pai de Amber magoava-o, mas Colt decidiu ignorá-lo. Depois de chegarem a Lonetree teriam tempo para falar e para resolver as coisas. Com alguma sorte, poderiam até reconstruir a amizade que no passado os unia. Se conseguissem isso, as coisas seriam muito mais fáceis.
Colt ouviu um barulhinho e olhou para baixo. A sua filha observava-o com curiosidade, mas assim que viu que ele estava a olhar para ela, apressou-se a esconder-se atrás da perna da sua mãe.
- Quanto tempo é que acha que vai demorar a se sentir à vontade na minha presença? - disse Colt, pensando o mesmo sobre Kaylee. Voltaria algum dia a estar à vontade com ele?
- Não sei - respondeu Kaylee, olhando-o nos olhos. - Estamos todos em território desconhecido. Vai demorar algum tempo.
Colt compreendeu que se referia mais a si própria do que à pequena, mas decidiu não continuar a falar daquele assunto e entrou na carro para ajustar a cadeirinha, de bebê.
- Prontas para ir? Gostava que nos estivéssemos na estrada o quanto antes porque o caminho é longo e quero percorrer uma boa distância antes de parar para dormir.
- Parar?
Quando se voltou para olhar para ele, o seio de Kaylee lhe roçou no braço. Colt sentiu que a boca se lhe secava.
- Tinha... - pigarreou - pensado que seria melhor para Amber fazer a viagem em dois dias.
- Tem razão - respondeu ela por fim.
Kaylee pegou em Amber ao colo e dirigiu-se às escadas.
- Vou verificar se não deixamos nada para trás e trazer o saco com os brinquedos de Amber - anunciou.
Colt esperou que Kaylee entrasse no apartamento para soltar a respiração. Desprezava-se por ter conseguido que Kaylee cedesse em ir para Lonetree por tê-la feito sentir culpada, mas precisava passar algum tempo com Amber para a conhecer. Além disso, queria chegar a um acordo com a sua mãe sobre a custódia e queria lhe pedir perdão pelo que tinha acontecido entre eles há três anos.
Colt passou a mão pelo cabelo e massageou a nuca numa tentativa de aliviar a tensão que se tinha acumulado na zona cervical desde que no sábado à tarde tinha sabido que era pai de uma menina. Como é que ia convencer Kaylee de que naquela manhã não se tinha ido embora por culpa dela? Como é que ia lhe explicar que se sentia como se tivesse traído a amizade de Mitch? E como é que lhe ia fazer entender que se sentia tão envergonhado dos seus atos que não tinha tido coragem para a enfrentar?
- Decididamente, se dessem medalhas por meter a pata na poça, eu merecia a medalha de ouro - murmurou com desagrado.
Não sabia como é que o ia fazer, mas sabia que tinha que resolver as coisas entre ele e Kaylee.
A felicidade de Amber, de Kaylee e a sua dependiam disso.
- Fora, mãe, fora - disse Amber, impaciente, tentando soltar a correia da cadeirinha.
- Agüenta só mais um bocadinho, querida respondeu Kaylee, enquanto Colt entrava no vestíbulo do motel. - Colt... O papai foi arranjar os quartos.
- Não tem sono - disse Amber.
- Eu sei que agora não tem, mas mais tarde vais ter - sorriu Kaylee.
Observou como Colt falava com o recepcionista. Tinha decidido parar em Hays, no Kansas, apesar de ser ainda cedo. Tinha feito isso com o pretexto de que não queria que Amber se cansasse, mas Kaylee desconfiava que era também porque a clavícula não lhe dava tréguas. Claro que se assim fosse jamais o admitiria. Nem Colt nem a maioria dos outros cowboys que participavam nos rodeios de maneira profissional admitiam algum tipo de fraqueza.
- No primeiro ou no segundo andar? - perguntou-lhe quando ele regressou.
- No primeiro - respondeu Colt. - Achei que seria mais fácil.
Kaylee não lhe perguntou a que é que se referia, sabia perfeitamente. Colt tencionava se encarregar de toda a bagagem, tal como tinha feito nessa manhã em sua casa. Como só podia fazer uso de um braço, tinha demorado um bocado e tinha tido que fazer várias viagens, mas tinha se recusado a aceitar a ajuda de Kaylee.
- Deixa-me pelo menos levar a minha mala para o meu quarto - disse, decidida.
- O nosso quarto.
Kaylee deteve-se de repente.
- Só pediu um quarto?
- Sim.
Kaylee sentiu um aperto no coração.
- Não tinha mais?
- Não sei - respondeu Colt. - Não perguntei.
- Não te importa de me explicar porque é que não pediu dois quartos? - perguntou Kaylee, tentando não levantar a voz.
- Embora me custe admiti-lo, com certeza vou precisar que me ajudes esta noite e amanhã de manhã - respondeu Colt com uma expressão de incerteza.
- A pôr o braço ao peito?
Kaylee observou-o, surpreendida, já que não era normal que um homem como ele admitisse que fosse precisar de ajuda. Em qualquer caso, não era preciso dormir no mesmo quarto para que ela o ajudasse a colocar o braço ao peito.
- Tenho imensa dificuldade em pôr isto bem - disse Colt com desagrado. - É uma...
Kaylee pigarreou e olhou para Amber.
- Repete tudo o que ouve - explicou.
O sorriso encantador de Colt a fez estremecer dos pés à cabeça.
- Ia dizer uma chatice. -Pensava que...
- Que ia dizer um palavrão, não era? Desde que os meus dois irmãos têm filhos, aprendi a morder a língua.
- Como é que eles estão? - perguntou Kaylee, pegando em Amber ao colo.
- Mais peraltas do que nunca - sorriu Colt. Kaylee sempre se tinha dado bem com os irmãos de Colt.
- Quantos filhos têm?
- Morgan e a sua mulher, Samantha, têm dois filhos - respondeu Colt, acompanhando-a até ao quarto. - Brant e Annie têm um filho e parece que já vem outro a caminho.
- Que Deus nos valha. Outra geração de homens Wakefield - gracejou Kaylee.
- Sim, mas agora também há uma menina Wakefield - afirmou Colt, olhando para Amber enquanto abria a porta do quarto.
Kaylee engoliu em seco ao ver o olhar de afeto genuíno de Colt. Entrou no quarto a sentir-se culpada por os separados durante dois anos e pôs-se a olhar à sua volta para não ter que pensar nisso. Verificou, aliviada, que havia duas camas.
- Que mala é que querias que eu trouxesse?
- perguntou Colt.
- Eu vou lá - respondeu Kaylee, colocando Amber no chão.
- Não, nem pensar nisso - disse Colt, voltando-se e dirigindo-se ao carro.
- Não seja ridículo, Colt - disse Kaylee, seguindo-o. - Com o braço ao peito, vais ter que fazer duas viagens. Eu posso perfeitamente com uma mala.
- Vai ter que me ajudar com esta maldita coisa, mas isso não quer dizer que me tenha tornado um inútil - respondeu Colt muito sério. - Eu vou buscar a bagagem. De que mala é que precisa?
Kaylee suspirou frustrada.
- Da encarnada.
- A encanada - disse Amber.
- Estava a dizê-lo a mim? - perguntou Colt com carinho.
- Talvez - respondeu Kaylee, incapaz de dizer-lhe que, como a maioria das crianças de dois anos, Amber repetia quase tudo o que ouvia.
Colt pôs-se de cócoras em frente à menina.
- Quer que o pai vá buscar a mala encarnada, Amber?
Amber sorriu um segundo antes de se esconder atrás da perna da sua mãe.
- Viu isso? - disso Colt, pondo-se de pé. - Olhou para mim.
Kaylee compreendeu que aquele pequeno gesto tinha significado muito para ele.
- Parece que está a fazer progressos.
-Já é qualquer coisa - disse Colt, dirigindo-se para ir buscar as malas. Uma vez a sós, Kaylee tomou a sua filha nos braços.
- Colt é novo nisto de ser pai, mas acho que o vai fazer muito bem, não é querida?
Para sua surpresa, Amber ficou a olhar para a porta e assentiu como se estivesse completamente de acordo.
Colt sentia como o suor lhe escorria pela testa enquanto terminava de fazer os seus exercícios no quarto de hotel. Respirou fundo e cerrou os dentes para começar outra série. Deveria ter que fazer três, mas ele tinha decidido que se três estavam bem, cinco estariam ainda melhor.
- Colt, quantas séries já fez? - perguntou Kaylee, saindo da casa de banho com Amber.
- Quatro - respondeu Colt sem olhar para ela.
A sua idéia tinha sido acabar os exercícios antes que Kaylee tivesse acabado de dar banho a Amber, mas, pelo visto, tinha calculado mal o tempo.
- Devia ter que fazer três, não era? - perguntou Kaylee com um ar de impaciência,
- Sim, mas três séries duas vezes por dia, não é suficiente - respondeu Colt.
- Pára, agora mesmo!
- O quê? - disse Colt, admirado com o tom de preocupação da sua voz.
- Se fizer mais do que foi recomendado, pode agravar a lesão - explicou Kaylee, colocando Amber no centro da cama. - Vejo que continua tão teimoso como sempre. Para dizer a verdade, estava aqui a pensar porque é que já só tens o braço ao peito. Não devias ter o peito ainda ligado?
- Isso era horrível. Usei a ligadura durante duas semanas e depois me desfiz dela.
Estava farto de ter que estar sempre a pedir ajuda a Morgan e a Brant.
- Então decidiu por tua conta e risco que tinha chegado o momento de passar a levar o braço ao peito, não foi? Para que é que ia consultar o médico? - repreendeu Kaylee. - Pelo menos tens o braço ao peito noite e dia, ou também tens estado a tentar tirá-lo?
- Só o tiro para tomar banho - respondeu Colt, tentando desabotoar os botões da camisa com a mão direita. Kaylee aproximou-se e ajudou-o.
- Dói mais desde que deixou de usar a ligadura?
- Não, e também não me dói agora - respondeu Colt.
- Porque te apanhei e te disse que parasse - protestou Kaylee.
Colt sentiu que o seu corpo retomava vida enquanto ela lhe desabotoava a camisa.
- O que é que estás a fazer?
- Estou a ajudar-te a tirar a camisa para que possa tomar banho - respondeu Kaylee, tirando-lhe a camisa de dentro das calças. Ao fazê-lo roçou-lhe o abdômen e Colt sentiu uma descarga elétrica.
- Posso fazê-lo sozinho - disse, cerrando os dentes.
- Ah, sim? Não foi você que teve a idéia de pedir só um quarto precisamente para que eu pudesse te ajudar? - disse Kaylee, arqueando uma sobrancelha.
- Sim, mas...
- Mas, pára de te queixar e deixa que te ajude.
Kaylee desapertou-lhe o botão da manga direita e deslizou-a a partir do ombro. Ao sentir as suas mãos sobre a pele, Colt percebeu que tinha ficado com a respiração entrecortada.
- Referia-me a que... me ajudasses com o braço.
Kaylee ignorou os seus protestos e desapertou-lhe o botão da manga esquerda.
- Claro, imagino que não terá problema nenhum em despir a camisa sozinho, não?
Colt sentiu as pontas dos seus dedos no pulso e teve que se concentrar para não perder o fio à meada da conversa.
- Não disse que... fosse fácil.
- Não importa de me responder a uma pergunta? - disse Kaylee, deslizando a manga esquerda pelo seu braço.
Colt teve a impressão de que a temperatura do quarto tinha subido.
- Força - disse.
- Gostava de saber por que é que os homens nunca pedem ajuda quando precisam nem perguntam o caminho quando não sabem como chegar a um lugar - perguntou Kaylee, colocando a camisa no encosto da cadeira.
- Não costumamos... - Colt interrompeu-se ao sentir as mãos de Kaylee na cintura. - O que é que está a fazer? - gaguejou.
- Disse que precisavas de ajuda e eu vou te ajudar - respondeu Kaylee, desapertando-lhe o cinto.
Parecia irritada, mas Colt apercebeu-se de que a sua voz revelava que estava tão afetada como ele.
- Kaylee...
Não sabia muito bem o que é que lhe ia dizer, mas nunca chegou a terminar a frase porque Amber começou a rir. Colt se voltou para a sua filha e pensou que nunca tinha visto nada tão bonito.
- Parece divertido que a tua mãe grite ao teu pai? - perguntou sorridente.
A criança continuou a rir-se e escondeu-se atrás da boneca que Colt lhe tinha oferecido. Distraído por aquele acontecimento, Colt demorou uns segundos em aperceber-se de que Kaylee se dispunha a desabotoar-lhe as calças. Naquele momento todo o sangue do seu corpo se concentrou entre as suas pernas.
-Acho... que a partir daqui já consigo sozinho - disse com voz de adolescente.
- Por favor, sou enfermeira e estou habituada a despir os pacientes - disse Kaylee, preparando-se para lhe abrir o fecho das calças. Além disso, ambos sabemos que já não te sente atraído por mim nem eu me sinto atraída por ti, por isso, não há nenhum problema.
A avaliar pelo rubor das suas faces e a hesitação que percebeu na sua voz, Colt compreendeu que não era verdade que Kaylee já não se sentisse atraída por ele. No entanto, naquele momento, não era aquilo o que o preocupava. Tinha que conseguir que parasse e rapidamente porque, caso contrário, Kaylee em breve se depararia com a prova de como ele a achava encantadora.
Agarrou-lhe na mão e sacudiu a cabeça.
-Já te disse que a partir daqui já consigo me despir sozinho.
- Está bem - disse Kaylee. - Senta para eu te tirar as botas.
- Eu consigo.
- E quanto tempo é que demora?
- Eu me arranjo - defendeu-se Colt, sem admitir que as botas eram o que mais lhe custava tirar e pôr.
- Senta e levanta o pé - insistiu Kaylee.
Divertido com o seu tom autoritário, Colt obedeceu, mas a diversão voltou a tornar-se um tormento quando Kaylee se voltou de costas para ele. Com cada movimento que fazia para lhe tirar a bota, o seu traseiro, a poucos centímetros da cara de Colt, abanava, fazendo-o estremecer.
Colt fechou os olhos e tentou pensar noutra coisa. Por fim, Kaylee acabou de lhe tirar as duas botas.
- Quer que te ajude com mais alguma coisa? - perguntou, voltando-se para ele.
- Não - respondeu Colt, sentindo que o ar não lhe chegava aos pulmões. Pôs-se de pé e foi até a mala para ir buscar roupa lavada antes que Kaylee se percebesse da sua excitação.
- Quando acabar de tomar banho, te ajudo a pôr o braço ao peito novamente - disse Kaylee, tomando Amber nos seus braços. - Dá boa noite ao papai, querida.
Amber sorriu e negou com a cabeça antes de se abraçar ao pescoço da sua mãe e esconder a cara entre o seu cabelo.
- Pelo menos, já me sorri - comentou Colt, desejando poder tomá-la nos seus braços.
- Está a progredir - disse Kaylee, menos irritada.
Colt assentiu e entrou na casa de banho. O processo era lento, mas tinha a certeza de estar ganhando a confiança da sua filha. O que mais desejava era poder recuperar também a amizade que tinha tido com a sua mãe. Assim, talvez pudessem ser todos felizes.
Kaylee e Amber estavam a dormir e Colt olhava para o teto e interrogava-se sobre o que é que Kaylee tinha querido dizer com aquilo de que ele já não se sentia atraído por ela.
Voltou à cabeça e observou aquela mulher que dormia calmamente na cama ao lado, juntamente com a sua filha. A idéia de que um homem não se sentisse atraído por Kaylee como as abelhas pelo mel era tão ridículo que teve vontade de rir.
Kaylee era inteligente, divertida e tremendamente sensual. Tão sensual que cada vez que Colt estava próximo dela, tinha que lutar com todas as suas forças para não se excitar.
Recordava perfeitamente como há quatro anos se tinha apercebido que a irmã mais nova de Mitch, ainda uma menina, se tinha convertido numa mulher tão bonita e desejável. Tinha sido duas semanas antes que Kaylee completasse vinte anos. Nessa altura, tinha se reunido a Mitch e a ele para o rodeio de San Luis, tal como sempre fazia. No entanto, quando tinha chegado ao hotel onde eles se hospedavam, Colt tinha tido a impressão de que tinha mudado.
Colt tinha dado por si a observá-la como se nunca a tivesse visto. Tinha reparado no seu lindo cabelo acobreado, naqueles incríveis olhos violetas e em como o seu sorriso parecia iluminar toda uma sala. Apesar de tudo, nunca se tinha deixado levar pela atração que sentia por ela. Não tinha atrevido por medo a que, se as coisas corressem mal entre eles, pudesse perder o seu melhor amigo. A amizade era algo muito importante para Colt. Agora, as coisas eram muito diferentes. Mitch tinha morrido e, por uma fraqueza sua, tinha uma filha com Kaylee.
Colt fechou os olhos, recusando encarar a enorme culpa que sentia ao recordar a noite em que Amber tinha sido concebida. Kaylee e ele tinham-se lançado nos braços um do outro com a dor da perda que acabavam de sofrer. Ele era mais velho e deveria ter sabido parar aquilo, mas tê-la entre os seus braços tinha sido demasiado tentador e não tinha podido resistir. Tinha consentido em que o consolo se tornasse paixão e tinham acabado a fazer amor.
Colt suspirou. Decididamente, Kaylee tinha todo o direito do mundo de o odiar por lhe ter roubado a sua virgindade e tê-la deixado a criar um bebê sozinha. Só Deus sabia que ele também se odiava a si mesmo pelo que tinha feito.
Por outro lado, e por muito que Kaylee se empenhasse em negá-lo, a química entre eles era mais forte do que nunca. Infelizmente, Colt não pensava que se pudesse deixar levar pelo desejo, pois tinham que colocar o bem-estar de Amber em primeiro lugar.
Colt olhou para a sua filha e sentiu um aperto no peito. Parecia um ratinho. Embora apenas a conhecesse há alguns dias, já a amava mais do que à própria vida.
Voltou a olhar para Kaylee e viu que a profunda sensação de perda se apoderou dele. O pior era que, se tentassem ter algo mais do que amizade e as coisas não corressem bem, complicariam ainda mais uma situação já por si complicada.
Colt respirou fundo e pensou que não devia voltar a pensar nisso, que não podia assumir esse risco. Mas quando adormeceu, sonhou com o corpo de Kaylee e com um futuro juntos que sabia que nunca poderiam ter.
- Colt, tomou um caminho diferente para chegar a Lonetree? - perguntou Kaylee, olhando através do vidro.
Tinha ido ao rancho de Colt várias vezes com Mitch, mas não se lembrava da estrada pela qual avançavam naquele momento.
- Querida, estamos em Lonetree há mais de um quarto de hora - sorriu Colt.
-Já me tinha esquecido como é grande comentou Kaylee.
O rancho da sua família também não era pequeno, mas Lonetree era um dos ranchos privados maiores dos Estados Unidos.
A maior parte dos ranchos daquelas dimensões tinham sido vendidos a multinacionais ou tinham sido divididos em parcelas menores em conseqüência de heranças. No entanto, os irmãos Wakefield tinham decidido, após a morte do seu pai, que Lonetree devia permanecer intacto e que deviam trabalhar juntos nele.
- Se o que está a pensar é porque é que não vamos para norte, dir-te-ei que é porque eu já não vivo na casa principal - informou Colt.
Kaylee engoliu em seco. Ela estava a contar em ter a companhia de Morgan e da sua mulher em casa.
- E onde é que vive agora?
- Há dois anos e meio decidi construir uma casa a cinco quilômetros a noroeste da casa principal - respondeu Colt sorridente.
Kaylee fitou-o, furiosa.
- Quando me pediu que viéssemos para aqui, omitiu esse pequeno detalhe de propósito.
- Não achei que aceitasse vir se soubesse que não íamos viver com Morgan e Samantha - admitiu Colt.
- Tem razão - disse Kaylee, cruzando os braços. - Muito bem, amanhã mesmo Amber e eu regressamos a Oklahoma.
Colt cerrou os dentes e não disse nada até que chegaram a uma colina desde a qual se divisava um lindo vale.
- Esta é a minha casa - indicou.
Kaylee ficou sem fôlego ao ver uma linda casa de dois andares rodeada por uma cerca de madeira branca. Havia vários cavalos a pastar à volta.
- Gosta?
- Adoro - confessou Kaylee, recordando como era maravilhoso viver num rancho. - É impressionante, Colt.
- Obrigado - disse Colt, sinceramente agradecido. - Na Primavera, gostaria de construir um anexo e, daqui a algum tempo, gostaria de acrescentar uma pista coberta para poder treinar.
Ao ouvir aquilo, Kaylee não pôde evitar sentir um arrepio na espinha. Desde que tinha perdido o seu irmão num rodeio, tinha deixado de gostar daquele esporte.
- Bem-vindas à minha parte de Lonetree, senhoras - sorriu Colt, parando o carro à frente de sua casa.
Amber riu-se e tapou a cara com as mãos.
- Gosta da casa do pai? - perguntou Colt. Amber não respondeu, mas continuou a rir. - Continuo a fazer progressos - sorriu Colt. Kaylee notou o amor com que Colt olhava para a sua filha. Era irrelevante o que se tinha passado entre eles. Kaylee tinha a certeza de que Amber tinha um pai que a amava com todo o seu coração.
Suspirou com melancolia. Quantas vezes tinha imaginado que regressava a casa em Lonetree acompanhada por Colt e pelos seus filhos! Quantas vezes tinha sonhado estar casada com ele!
Teve vontade de rir de todas aquelas recordações. Tinha tudo sido há muitos anos, antes de ter crescido e se ter apercebido que o mundo não era um conto de fadas com um final feliz.
- Kaylee, está bem?
Kaylee ergueu o olhar e viu que Colt tinha saído da furgão e tinha-lhe aberto a porta.
- Sim - respondeu, saindo com Amber do carro. - Estava só a pensar em como as coisas tinham mudado durante estes anos.
Colt fitou-a durante uns segundos e ofereceu-lhe a sua mão para ajudar a sair. Sorriu com tristeza, pois sabia que estava a pensar no seu irmão.
- Sim, há certas coisas que mudam. Às vezes não nos agrada, mas não podemos evitar - disse, perdendo-se nos seus olhos. - No entanto, há coisas que nunca mudam, ainda que assim o pareça.
Kaylee não sabia a que é que ele se referia com aquele último comentário, mas decidiu que deviam falar de coisas mais agradáveis.
- A tua casa é tão bonita por dentro como por fora, ou decorou-a em estilo solteiro moderno? - gracejou, colocando Amber no chão e agarrando-lhe na mão.
Aquilo fez rir Colt.
- Na verdade é uma mistura entre estilo solteiro e moderno e Wakefield tradicional respondeu, abrindo a porta.
- A ver se adivinho - sorriu Kaylee. - Trouxe todos os móveis que havia na arrecadação da casa principal.
- Sim - admitiu Colt, desviando-se para o lado para deixá-las passar. - Comprei uma cadeira de balanço nova e uma consola de jogos incrível.
- Calculo que isso seja o estilo moderno, não é? - gracejou Kaylee antes de entrar e ficar sem fôlego. - Colt, é absolutamente perfeita.
O tom dourado do chão e das paredes de madeira, combinado com o encarnado, o azul e o amarelo dos quadros e dos tecidos dos sofás era lindo. Fazia com que a divisão se apresentasse cálida e acolhedora.
- Adoro as cores - comentou Kaylee, reparando que havia várias esculturas e umas ferramentas de trabalho dos índios americanos penduradas nas paredes.
- Samantha e Annie me ajudaram com a decoração - admitiu Colt. - Para dizer a verdade, regressei de um rodeio em Colorado Springs e não reconhecia a minha casa.
- Fizeram um trabalho maravilhoso - comentou Kaylee sinceramente. - Não tinha dito que tinha também uma cadeira de balanço e um sistema de jogos de vídeo?
- Sim, mas isso está na sala de estar - respondeu Colt, indicando-lhe um grande salão. Kaylee sentiu-se obrigada a fazer a ronda da casa, mas a verdade era que o que mais lhe interessava era a cozinha, pois adorava cozinhar e sempre tinha achado que essa divisão era o coração de uma casa.
Pegou em Amber pela mão e, assim que viu a cozinha, apaixonou-se por ela. Tinha armários de carvalho, balcões de mármore negro e o chão de tijolo.
- Gosta? - perguntou Colt.
- Como é que podia não gostar? - sorriu Kaylee.
De repente, compreendeu que um dia Colt ia partilhar aquela cozinha com uma mulher, com uma mulher que não ia ser ela.
- Colo, mãe, colo - disse Amber, esfregando os olhos.
- Tem sono, não é querida? - disse Kaylee, pegando na sua filha ao colo.
Ainda bem que a menina tinha falado naquele momento e a tinha impedido de continuar a pensar em algo tão triste.
- Onde é que a posso deixar quando adormecer? - perguntou Kaylee.
- Parece-me que o melhor lugar deve ser o sofá da sala de estar - respondeu Colt pensativo. - A primeira coisa que vamos ter que fazer é pedir um berço emprestado a Morgan ou a Brant. Também vou pedir uma dessas cancelas de madeira que se põem para que as crianças não caiam pelas escadas.
Kaylee assentiu e levou Amber para a sala de estar. Uma vez a sós, Colt suspirou aliviado. Não tinha imaginado a felicidade que ia sentir ao ver que Kaylee gostava da sua casa. Não esperava que a sua opinião fosse tão importante para ele. Naquele momento, no entanto, a coisa mais importante era adaptar a casa às necessidades de Amber.
Respirou fundo e dirigiu-se ao seu gabinete para fazer um telefonema que não lhe apetecia nada fazer. Fosse qual fosse o irmão a quem telefonasse, ia ter que dar muitas explicações.
Concluiu que Brant lhe faria menos perguntas, por isso marcou o seu número.
- Olá irmão - cumprimentou. - Preciso que me faças um favor.
Vinte minutos depois, quando Colt estacionou o seu furgão em frente à casa do seu irmão, não o surpreendeu ver que Brant o esperava à entrada.
- Muito bem, meu caro, começa a falar - disse Brant assim que Colt abriu a porta do carro. - Para que é que precisas de todas essas coisas de bebê?
Colt tinha dito ao seu irmão que lhe explicaria porque precisava do berço e das outras coisas quando chegasse a sua casa, mas a verdade era que não lhe agradava ter que fazer isso. Os seus irmãos conheciam Kaylee perfeitamente. Conheciam-na há quase tantos anos como ele e, quando tinham apercebido de que estava completamente apaixonada por ele, o tinham avisado para que não a magoasse, ou teria que se ver com eles.
Sabia que Brant não ia achar graça nenhuma àquilo que tinha para lhe dizer, mas não lhe restava alternativa.
- Preciso do berço e das outras coisas para a minha filha, Amber - anunciou. O seu irmão fitou-o, confuso.
- Vamos ver se entendo. Tens uma filha que se chama Amber e está em tua casa?
- Sim - respondeu Colt.
- E a sua mãe também? - perguntou Brant, franzindo o sobrolho.
- A sua mãe é que quer que Amber durma a sesta e, por isso, vim buscar isto e tenho que voltar o mais rápido possível - explicou Colt.
- Não vai livrar-se tão facilmente. Há muitos detalhes importantes que ainda não me contou. Que idade tem Amber? E quem é a sua mãe?
Colt desviou o chapéu da cara, suspirou e sentou-se nos degraus da entrada.
- Acho que é melhor te sentar.
- Parece-me que não vou gostar do que me vai dizer - disse Brant, sentando-se ao seu lado.
- Eu também não acho graça nenhuma a ter que te contar - disse Colt, fixando o horizonte.
- Amber tem menos dois meses do que Zach, mas só soube da sua existência há quatro dias.
Brant assobiou.
- Isso é injusto. Tenho muita pena que a sua mãe não te considere apto para o saber. Eu a conheço?
- Sim - respondeu Colt, olhando o seu irmão ao canto do olho. - Amber é filha de Kaylee.
- De Kaylee Simpson? - disse Brant, surpreendido.
Colt assentiu e esperou que o seu irmão digerisse a notícia. Não demorou muito.
- Pode-se saber em que é que estava a pensar? - grunhiu Brant. - Porque além de todas as advertências que te fizemos tanto Morgan como eu, porque é que não usaram nenhum método contraceptivo?
Colt hesitou.
- Nenhum dos dois estava a pensar com clareza nessa noite. Estávamos ambos destroçados com a morte de Mitch - respondeu, olhando o seu irmão nos olhos. - Juro que não tinha nenhuma intenção de ir para a cama com ela, mas quando conheci a minha filha compreendi que não me arrependo nada de o ter feito.
Brant assentiu, indicando ao seu irmão que o compreendia.
- Eu senti o mesmo quando vi o meu filho pela primeira vez, mas isso não explica porque é que Kaylee não te disse nada quando soube que estava grávida.
Colt encolheu os ombros. Não estava orgulhoso do que tinha feito e não queria divulgar os detalhes.
- Digamos que tinha as suas razões. - Brant assentiu.
- Calculo que isso explica porque é que não voltamos, a saber, nada dela depois da morte de Mitch.
- Sim - suspirou Colt. - Também explica que, quando no ano passado Morgan entrou em contato com ela para lhe perguntar se queria dar aulas de equitação no acampamento que Samantha organizou para crianças desfavorecidas, dissera que não.
- E como é que teve conhecimento da existência de Amber? - perguntou Brant, de repente.
- Passei pela casa de Kaylee para saber como estava, e quando abriu a porta a tinha nos braços - explicou Colt. - Assim que a vi, soube que era minha.
- É uma Wakefield?
- Cabelo preto e olhos azuis - assentiu Colt. Ficaram sentados um momento em silêncio.
- Vai se casar com Kaylee? - quis saber Brant.
Colt voltou à cabeça e ficou a olhar para o seu irmão.
- Esteve no rodeio este fim de semana? - Brant era um dos melhores competidores do circuito, mas olhou-o surpreendido.
- Sim, mas isso não tem nada a ver com...
- Pois então deve ter dado uma valente pancada na cabeça - disse Colt com desagrado. - Como é que pode te passar pela cabeça que Kaylee se quisesse casar comigo se nem sequer me disse que estava grávida?
-Já a pediu em casamento?
- Não.
- Então, como é que sabe o que te diria? - perguntou Brant muito sério.
- Porque sei - respondeu Colt.
Tinha pensado em pedi-la em casamento assim que tinha sabido da existência de Amber, mas tinha concluído que não podia ser. Ainda que Kaylee quisesse casar se com ele, algo que Colt tinha a certeza que não aconteceria, tinham de pensar na felicidade de Amber. Casar pelas razões erradas poderia ser desastroso. O que é que aconteceria se o seu casamento não corresse bem? A pequena podia ficar traumatizada com o divórcio e isso seria pior do que se nunca se tivessem casado.
- Mas vai resolver as coisas entre vocês os dois?
Colt assentiu.
- Sim, por isso é que pedi a Kaylee que viesse para casa comigo. A primeira coisa que tenciono fazer é pedir-lhe perdão.
- Boa idéia - opinou Brant. - Não sei o que se passou entre vocês, mas conheço Kaylee e deve ter sido algo verdadeiramente incrível para que não te dissesse que estava grávida.
- Decididamente, não foi um dos meus melhores momentos - admitiu Colt, - mas quero ver se somos capazes de reconstruir a nossa amizade e se podemos chegar a um acordo em como vamos criar Amber.
- Têm ainda um longo caminho a percorrer - disse Brant. - Quanto tempo é que elas vão ficar contigo?
- Até ao final de Outubro - respondeu Colt, pondo-se de pé. - É melhor pôr o berço e as outras coisas no furgão e ir andando.
- Parabéns pelas boas notícias - disse Brant, pondo-se também em pé. - E boa sorte para resolvas as coisas com Kaylee.
- Obrigado, acho que vou precisar.
Kaylee observava Colt enquanto ele tentava montar o berço no quarto que ela ia compartilhar com Amber.
- Eu sei que gosta de fazer as coisas sozinho, mas parece que vou ter que te ajudar - comentou com diplomacia.
- Acho que tem razão - admitiu Colt. - Não consigo segurar nas peças e aparafusar ao mesmo tempo.
- Vá, eu seguro enquanto aparafusas - propôs Kaylee, aproximando-se.
- Ah! - exclamou Colt, desviando a mão.
- O que foi? - perguntou Kaylee, dando a volta ao berço e tomando a mão dele entre as suas.
Examinou-lhe o polegar e tentou ignorar a sensação de dormência que lhe subia pelo braço.
- Não se feriu.
- Não, só me machuquei- disse Colt.
Naquele momento, Amber riu-se e escondeu-se atrás da boneca que Colt lhe tinha oferecido.
- te Acha divertido - sorriu Kaylee.
- Achas o pai divertido? - disse Colt à pequena. Amber voltou a rir-se e Kaylee fez o mesmo.
- Eu diria que te acha mesmo muito divertido.
Lembro-me do tempo em que tu achava o mesmo - comentou Colt, repentinamente sério. Kaylee tentou lhe soltar a mão, mas Colt impediu-o.
- Isso foi há muito tempo - comentou ela com a respiração entrecortada.
- Não tanto. - Kaylee o fitou e ficou sem fôlego.
- Colt?
- Sshu - respondeu ele, inclinando-se sobre ela.
Kaylee não teve tempo de reagir. lhe Colt soltou a mão e passou o braço pelos ombros para a atrair para si. Ela nem sequer protestou. Fechou os olhos e deixou-se levar.
Colt deslizou a língua pelos seus lábios e Kaylee abriu a boca sem hesitar. Quando as suas línguas se encontraram, Kaylee sentiu um aperto no coração, e quando Colt deslizou as mãos até ao seu traseiro e a apertou contra a sua ereção, sentiu que o mundo dava voltas a toda a velocidade. As suas pernas tremiam e teve que se agarrar à camisa de Colt.
- Mãe, colo - disse Amber, tocando a perna da sua mãe. - Colo.
- Parece que há aqui um certo ratinho que está com ciúmes - comentou Colt com carinho, antes de a soltar.
Kaylee deu um passo atrás e sacudiu a cabeça.
- Isto não devia ter acontecido.
Colt ficou a olhá-la nos olhos e Kaylee sentiu que se afogava naquelas profundidades azuis.
- Talvez não, mas garanto-te que não me arrependo de que tenha acontecido - disse.
Kaylee engoliu em seco e pegou em Amber ao colo. O que devia fazer era sair dali a correr e voltar para Oklahoma City.
- Colt, não me parece...
- SSh - disse ele, pondo-lhe um dedo sobre os lábios e dirigindo-se depois para a porta. - Preciso que me ajude com outra coisa.
Kaylee seguiu-o pelo corredor, grata pela interrupção. Tinha enlouquecido? Porque é que tinha deixado que a beijasse? Não tinha já aprendido a lição há três anos?
Colt tinha-a decepcionado e, se não tinha cuidado, poderia voltar a fazê-lo.
- Gostaria que decorasses este quarto para Amber - disse, conduzindo-a até outro quarto que estava vazio. - Compra tudo o que precisar: móveis, objetos de decoração, brinquedos... o que quiseres.
- Tens certeza? - perguntou Kaylee, colocando a criança no chão. - Isso custa muito dinheiro e nem sequer decidimos ainda com que freqüência ela vai vir a Lonetree.
- Não me importa o que custe - respondeu Colt. - Quero que ela goste - acrescentou, olhando para a sua filha e sorrindo.
Kaylee observou-o e compreendeu que Colt adorava a sua filha e que ia ser um pai estupendo. Aquele pensamento fez com que sentisse uma opressão no peito.
- Kaylee, está bem? - perguntou Colt preocupado, aproximando-se dela e secando-lhe uma lágrima na face. - O que foi querida?
Kaylee não se tinha apercebido que tinha começado a chorar e corou zangada consigo mesma.
- Imagino que só agora me estou a aperceber de como a minha filha cresceu rapidamente - respondeu em tom de justificação. Se não te importa, vou até a cozinha ver o que posso fazer para o jantar.
- Claro - respondeu. - Faz o que quiser. Quero que Amber e você se sintam como se fossem sua casa.
Kaylee agarrou na sua filha com as mãos trêmulas.
- Vamos querida. Vamos para a cozinha. - Amber olhou para a sua mãe e sorriu.
- Comer. Colt riu.
- Como se nota que é minha filha - comentou. – O que você acha de me deixar ficar com ela enquanto cozinha?
- Talvez - respondeu Kaylee. - Tem o canal infantil?
- De certeza que sim - respondeu Colt. - Tenho antena parabólica e mil canais, por isso com certeza terei algum que seja para crianças.
- Aposto que a colocou para ver os jogos de futebol - comentou Kaylee, descendo as escadas.
- Vejo que me conhece bem - riu Colt.
- Achei que te conhecia bem no passado, mas estava enganada - respondeu Kaylee, encolhendo os ombros.
- Kaylee, temos que falar de...
- Agora não - interrompeu ela. - Porque é que não tenta encontrar o canal infantil?
Colt abriu a boca como se fosse protestar, mas finalmente assentiu e foi até a sala ligar a televisão.
Uma vez a só, Kaylee suspirou aliviada. Não estava preparada para falar daquela noite de há três anos e não tinha a certeza de querer saber as razões que fizeram com que Colt fosse embora.
Observou como a sua filha avançava para a sala onde estava Colt e mordeu o lábio inferior perante a tristeza que a invadiu.
Ir para Lonetree tinha sido um grande erro. Ia ter que estar durante dois meses inteiros, dia e noite, com Colt, a ver como ele e a sua filha se começavam a conhecer e a experimentar como poderia ter sido a sua vida se Colt a amasse tanto como ela amava a ele.
Afastou aquele pensamento da sua cabeça e começou a abrir armários para preparar o jantar. O que é que lhe estava a acontecer? Tinha conseguido ultrapassar aquele episódio com Colt há muito tempo e tinha que seguir com a sua vida.
No entanto, enquanto descascava batatas e cenouras para fazer um guisado, não pôde evitar pensar como é que iria sobreviver dois meses sem enlouquecer.
Colt sorriu enquanto verificava como estavam o seu ombro e o seu peito sem as ligaduras. Ainda tinha algumas dores, mas quase nada.
-Já era hora - murmurou. Saiu do quarto.
Desde que a tinha beijado, Kaylee estava pensativa e, embora passassem muito tempo juntos, estava distante tanto física como emocionalmente. Colt não sabia o que se passava naquela sua linda cabecinha, mas estava decidido a descobrir.
Ao reparar no cheiro do café acabado de fazer e a bacon frito, Colt acelerou o passo. Desde que Kaylee e Amber viviam com ele, comia melhor do que nunca. Ao chegar ao fundo das escadas, saltou por cima da cerca de proteção que tinham colocado para Amber e entrou na cozinha.
- Bom dia - cumprimentou com alegria. Aqui cheira muito bem.
- Bom dia - respondeu Kaylee, servindo o pequeno-almoço. - Porque é que já não tem o braço ao peito?
-Já me sinto muito melhor - respondeu Colt, sentando-se junto à cadeira de Amber e sorrindo para a sua filha. - Acha que a mãe se vai pôr a gritar ao pai à tua frente?
- Mãe - disse Amber, apontando para Kaylee.
- E pai? - perguntou Colt, com esperança. Amber assentiu e agarrou num punhado de ovos mexidos com a mão para a seguir os colocar sobre a colher.
Amber e Colt tinham progredido muito. A pequena ainda não deixava que a pegasse ao colo, mas tinha deixado de se esconder cada vez que olhava para ela e já não ria com timidez sempre que lhe falava.
- Não, não te vou gritar - respondeu Kaylee, entregando-lhe um prato com ovos mexidos, bacon e salsichas e sentando-se do outro lado de Amber. - Se diz que não te dói, não parece que te faça mal não usar o braço ao peito, mas aviso-te já que se começar a incomodar devia voltar a prendê-lo. Caso contrário, sim, vou ralhar contigo como faço com os meus pacientes nervosos.
Colt sorriu.
- Sim, senhora.
Aquilo fez rir a pequena. O riso da criança era tão contagioso que Colt deu por si a rir-se também. Ficava maravilhado com tudo o que Amber fazia, pois, para ele, ela era a menina mais encantadora do mundo.
- As meninas gostariam de me acompanhar esta manhã a dar um passeio pelo meu rancho? - propôs.
No dia após a sua chegada, tinha começado a fazer frio, mas a previsão meteorológica para esse dia era bastante mais cálida.
- Não - respondeu Amber, assentindo com a cabeça.
Colt riu e olhou para Kaylee.
- Isso é um sim ou um não?
Kaylee sorriu e Colt sentiu como uma criança com sapatos novos. Era a primeira vez que a via sorrir de uma maneira genuína desde há vários dias.
- Se lhe perguntares se quer ir à rua, com certeza obterá uma resposta melhor.
- Amber, quer que o pai e a mãe te leve a dar um passeio depois do pequeno almoço?
A pequena sorriu e assentiu com a cabeça com tanta força que os seus caracóis pretos pareciam pular.
- Rua, agora.
- Não, querida, primeiro tem que comer disse Kaylee com afeto.
- Já decidiu o que vai fazer com o quarto dela? - perguntou Colt.
- Para dizer a verdade, não - respondeu Kaylee, encolhendo os ombros. - Acho que vou dar uma olhada na internet para ver o que encontro.
- Boa idéia - disse Colt, terminando o que tinha no prato.
A seguir, levantou a mesa, lavou a louca e arrumou as coisas nos armários.
- Podia telefonar a Annie e a Samantha. Com certeza iam adorar ir contigo às compras a Laramie.
- Sim, talvez lhes telefone - respondeu Kaylee enquanto limpava as mãos e o rosto de Amber. - A que horas quer ir dar um passeio?
- Quando estiverem prontas.
Kaylee tirou a filha da cadeira e pegou-lhe pela mão.
- Assim que te tire o pijama, vamos.
- Colt observou-as enquanto se dirigiam às escadas. Embora Kaylee parecesse mais alegre naquela manhã, havia uma componente de tristeza no seu comportamento que o desconcertava. Saber que a causa da sua tristeza era ele fazia-o sentir-se como o maior canalha do mundo.
O que é que ia fazer para resolver as coisas entre eles? O que é que podia fazer para conseguir que Kaylee voltasse a sorrir?
Kaylee nem sequer queria ouvir falar dos motivos porque a tinha deixado naquela manhã depois de terem feito amor. Não queria ouvir as suas desculpas e Colt não a podia censurar. Durante todos aqueles anos, Colt havia tentado convencer-se de que tinha fugido por sentir como tivesse atraiçoado a confiança de Mitch, mas a verdade era que tinha se assustado pelo que Kaylee o tinha feito sentir naquela noite. Nunca se tinha sentido tão emocionalmente unido a outra pessoa. Tinha entrado em pânico. Estaria prestes a apaixonar-se por ela? Imediatamente, rejeitou a possibilidade. Naquela noite estavam ambos muito sensíveis por causa da morte de Mitch. Por isso, tinham procurado consolo nos braços um do outro.
- Está a enlouquecer - murmurou para si mesmo.
Sacudiu a cabeça, foi até ao corredor e, uma vez no vestíbulo, pôs o chapéu. O que tinha que fazer era encontrar uma maneira de resolver a situação que havia criado há três anos e conseguir voltar a ser amigo de Kaylee.
- Que idade tem o cavalo reprodutor? - perguntou Kaylee em frente à cerca onde estava o animal.
- Faz cinco anos na Primavera.
Colt estava tão próximo que Kaylee sentia o calor do seu corpo, e notava o. Para colocar um pouco de distância entre eles, pegou na mão de Amber e aproximou-se da vedação. Sentiu que o coração lhe caía aos pés quando Colt a seguiu.
- Tenho saudades de ter um cavalo - comentou Kaylee pensativa.
- O que aconteceu à tua égua?
- Tive que a vender quando vendi o rancho - respondeu Kaylee, sentindo ainda pena ao pensar na égua que lhe tinha oferecido o seu irmão quando tinha feito vinte anos.
- Porque é que vendou o rancho, Kaylee? - Perante o carinho que notou na sua voz,
Kaylee sentiu que ficava corada. Não lhe tinha contado porque não tinham falado de nada pessoal nas últimas duas semanas.
- Não tinha dinheiro para mantê-lo - admitiu por fim.
Tinha muita pena de ter tido que se desfazer de uma propriedade que pertencia à sua família ha setenta e cinco anos, mas não tinha alternativa.
Colt fitou-a, franziu o sobrolho e apoiou-se na vedação.
- Mas Mitch me disse em mais de uma ocasião que investia tudo o que ganhava desde que os vossos pais morreram - comentou.
- É verdade - sorriu Kaylee, olhando-o. - Investiu no rancho.
- Não poupou nada? - perguntou Colt com incredulidade.
- Não - respondeu Kaylee. - Quando começou a criar touros, cancelou todas as suas contas bancárias.
- Estava muito orgulhoso dos seus touros recordou Colt.
- Tinha razões para isso, mas o que não te disse nem a ti nem a mim nem a ninguém foi que não só investiu nisso todas as suas poupanças, como também hipotecou o rancho.
- Não sabia querida - disse Colt, acariciando-lhe a face.
Imediatamente, Kaylee sentiu uma descarga elétrica por todo o corpo.
- Eu também não. Estava na universidade e só soube o que se passava uma semana depois da sua morte, quando comecei a organizar os meus papéis - explicou Kaylee engolindo em seco. - Tê-lo-ia recuperado com o tempo, mas... morreu - acrescentou, com lágrimas nos olhos. - Sem as receitas que provinham dos seus prêmios nos rodeios, eu não podia manter o rancho.
- Tenho muita pena - disse Colt, abraçando-a.
Kaylee pensou que se devia afastar antes de cometer uma estupidez, mas senti-lo tão próximo era tão consolador que não conseguiu.
- Mãe, colo - disse Amber.
Colt soltou Kaylee e agachou-se para pegar na sua filha ao colo, mas a pequena afastou-se.
- Não! Mãe.
Kaylee secou as lágrimas e pegou na sua filha ao colo. Imediatamente, a menina agarrou-se ao seu pescoço e escondeu a cara.
- Está tudo bem, querida - afirmou Kaylee.
- Vou levar Amber para dentro de casa - interrompeu Kaylee, afastando-se.
Sentia o olhar de Colt cravado nela. A única coisa que lhe restava era o orgulho e precisava de tempo para se recompor antes de voltar a vê-lo. Tinha passado três anos a lutar para não se lamentar sobre tudo o que tinha perdido e agora se sentia envergonhada por tê-lo feito à frente de Colt.
Colt ficou a olhar para Kaylee enquanto entrava em casa e, naquele momento, ficou irritado consigo mesmo. Como é que a tinha deixado sozinha depois da morte de Mitch? Porque é que, pelo menos, não lhe tinha telefonado para ver como é que estava? Por outro lado, sabia que Kaylee jamais teria admitido que precisasse de ajuda, jamais a teria aceitado, ainda que precisasse. Colt sacudiu a cabeça. Kaylee era uma mulher muito orgulhosa.
- Em que é que estava a pensar, Mitch? murmurou.
Não podia mudar o passado, não podia ressuscitar o seu amigo para lhe perguntar por que é que tinha deixado a sua irmã sem recursos para manter o rancho e não fazia sentido perder o tempo a pensar nisso. O passado não se podia mudar, mas à sua frente estendia-se o futuro, um futuro que podia ser mais fácil para Kaylee. Estava decidido ela tivessem uma vida feliz.
De repente, Colt sorriu. Meteu-se em casa e fechou-se no seu escritório. Em seguida, marcou o número de um dos seus irmãos.
- Morgan, preciso que Brant e tu me ajudem a encontrar a égua de Kaylee.
- Colt, só te vou dizer uma vez - disse Kaylee muito séria. - Se não deixar de s e fazer de parvo com a reabilitação, me demito. Vou-me embora e arranja outra pessoa que te ajude.
- Não me parece que me faça mal uma série extra de exercícios isométricos - protestou Colt. - além disso, se não me esforço um pouco mais não consigo estar curado a tempo das finais.
- Estou pouco preocupada que não possa ir a Las Vegas - disse Kaylee sinceramente. - Não estou a ajudar para que volte a estar em forma e possa voltar a competir e caia ou algo pior.
- Calma querida - disse Colt, aproximando-se dela.
- Estou muito calma - mentiu Kaylee, dando um passo atrás. Não queria que Colt soubesse que o simples fato de o imaginar sobre um touro a fazia estremecer.
- Não penso te ajudar a arriscar a vida para obter um momento de adrenalina de oito segundos - acrescentou.
- Sempre soube o que o rodeio significa na minha vida. Porque é que não quer agora que volte a competir?
Kaylee engoliu em seco e deu outro passo atrás. Como é que lhe podia dizer, embora soubesse que não tinham um futuro juntos, não sabia se poderia suportar que lhe acontecesse alguma coisa?
Antes que tivesse tempo de inventar uma desculpa, Colt avançou para ela, lhe levantou o queixo e olhou-a nos olhos.
- É pelo que aconteceu com Mitch? Tens medo que me aconteça o mesmo?
- Sim... quero dizer, não - respondeu Kaylee. - Não é isso - acrescentou, tentando dar outro passo atrás, mas deparou-se com a parede.
- Então o que é Kaylee? A idéia de me ver ferido te assusta?
- Não gosto de ver ninguém ferido - respondeu Kaylee de forma evasiva.
De repente, apercebeu de que tinha dificuldade em respirar tendo-a assim tão perto. Colt tinha tirado a camisa para fazer os exercícios e devido ao suor todos os músculos do seu torso brilhavam. Kaylee nunca o tinha visto tão atraente.
- Sabe o que é que eu acho? - disse-lhe Colt ao seu ouvido.
Kaylee negou com a cabeça. Não conseguia falar.
- Acho que não quer admitir que está preocupada comigo. Embora não diga, acho que te causaria um grande sofrimento me ver ferido - disse Colt deslizando os lábios pelo seu pescoço. - Acertei?
Kaylee fechou os olhos e tentou retomar o controle. O que é que ele esperava que ela respondesse se tinha o coração a mil à hora e as pernas a tremer?
Quando sentiu os seus braços à sua volta, abriu os olhos e colocou-lhe as mãos no peito para o manter à distância.
- Colt, eu...
- Não faz mal, querida - disse ele, inclinando-se sobre ela. - Só te vou beijar.
Desde o primeiro toque dos seus lábios, Kaylee soube que estava perdida. Não conseguia pensar com clareza e, muito menos, protestar.
Voltou a fechar os olhos e abriu a boca sem opor resistência. Sabia que aquilo era perigoso, mas ao sentir a língua de Colt o seu corpo retomou vida e Kaylee apertou-se contra ele sem pudor.
Queria beijá-lo, voltar a saborear os seus beijos. O coração batia aceleradamente e faltava-lhe o fôlego enquanto a paixão que tinha mantido à flor da pele durante três anos se libertava.
Quando Colt tomou um dos seus seios na palma da sua mão e os dedos exploraram o mamilo ereto, Kaylee sentiu que o estômago lhe dava voltas. Nenhum outro homem na sua vida a tinha feito sentir assim.
Kaylee avançou as ancas para a frente e sentiu a sua ereção. Colt desejava-a tanto como ela a ele.
Ao compreender que não podia voltar a sentir por ele o que tinha sentido no passado, Kaylee recuperou a conduta. Se não parava com aquilo, corria o risco de voltar a fazer figura de parva.
Não tinha já aprendido que o desejo físico não era o mesmo que o amor? Não podia e não devia voltar a se apaixonar por ele.
- Por favor... Colt. Larga-me. - Colt olhou-a nos olhos.
- Temos que falar.
Kaylee negou com a cabeça e afastou-se dele.
- Tenho que ir acordar Amber da sesta. Annie telefonou-me esta manhã e combinei ir com ela às compras.
Colt agarrou-lhe no braço.
- Kaylee, algum dia vai ter que me ouvir.
- Não sei para quê, Colt - respondeu Kaylee, soltando o braço. - Nunca estivemos no mesmo plano e não me parece que alguma vez cheguemos a estar.
Colt observou-a enquanto ela se afastava, com a cabeça bem erguida e rodeada de orgulho como se fosse uma armadura. Como é que ia fazer para chegar até ela? Como é que lhe ia explicar o que tinha acontecido naquela noite de há três anos se Kaylee se recusava a ouvi-lo?
Sentou-se no banco de abdominais e ficou a fitar o vazio. Precisava que Kaylee lhe prestasse atenção, mas, como é que ia conseguir isso? O único momento em que estavam sozinhos era quando Amber dormia a sesta e Kaylee tinha insistido em que aproveitassem essa altura para fazer a fisioterapia. No decorrer da última semana, tinha tentado falar com ela umas três vezes enquanto faziam os exercícios, mas Kaylee tinha se convertido então numa fisioterapeuta desconhecida de caráter impenetrável.
Além de a amordaçar e atar, Colt não se lembrava de outra maneira para conseguir que ela o ouvisse.
- Pareces estar noutro mundo, Colt. Passa-se alguma coisa? - perguntou a sua cunhada Annie desde a porta.
Colt fitou-a e negou com a cabeça, mas depois assentiu.
- Tenho um horrível problema que se chama Kaylee.
- Posso te ajudar em alguma coisa?
- Não terá uma corda e uma mordaça, não? - gracejou Colt.
- Não, não costumo andar com esse tipo de coisas na mala - respondeu Annie, sentando-se ao seu lado. - Embora, para dizer a verdade, às vezes gostava de tê-los à mão para conseguir que o teu irmão me dê ouvidos.
- É muito teimoso, não é? - sorriu Colt.
- Exatamente igual a ti e a Morgan - sorriu Annie. - Em que é que te posso ajudar, então?
- Brant e você têm planos para amanhã à noite? - perguntou Colt, enquanto uma idéia começava a tomar forma na sua cabeça.
- Não. O teu irmão não tem rodeio este fim de semana, por isso estamos livres. O queres que façamos?
- Acho que faria bem a Kaylee sair uma noite. Não se importavam de vir até aqui com Zach e tomar conta de Amber enquanto nós vamos a Laramie?
Annie sorriu.
- Não nos importamos nada - respondeu. Vou telefonar a Morgan e a Samantha para que venham também e tragam Timmy e Jared. Acho que já vai sendo altura de que os primos Wakefield se conheçam.
Colt assentiu.
- Não te importavas de não contar nada disto a Kaylee quando forem às compras? Quero fazer-lhe uma surpresa.
- Tens a certeza? Digo por experiência própria que as mulheres gostam de saber com alguma antecedência quando vamos ter um encontro.
- Mas é que não é um encontro.
- Como queira, Colt - respondeu Annie, pondo-se de pé ao ouvir que Kaylee e Amber desciam as escadas. - Onde é que a vai levar?
Onde é que a ia levar?
- Calculo que a jantar fora - respondeu Colt por fim. - Talvez, também ao cinema.
- E dizes que não é um encontro? - sorriu a sua cunhada. - Então como é que lhe chamaria?
- Não sei... só sei que não é um encontro.
Acompanhou Annie à sala e viu como se cumprimentavam as duas mulheres.
- Fico tão feliz de voltar a te ver, Annie - disse Kaylee.
- Eu digo o mesmo - respondeu Annie. - E você garotinha deves ser Amber - acrescentou, inclinando-se sobre a criança.
Amber sorriu e abriu os braços para que Annie lhe pegasse ao colo. Colt não pôde evitar sentir inveja ao ver a sua filha nos braços da sua cunhada. Tinham decorrido três semanas desde que se conheciam e tinha conseguido que a sua filha falasse com ele, risse com ele, mas não o deixava lhe pegar ao colo.
Enquanto Kaylee vestia o casaco e punha a mala ao ombro, as duas mulheres começaram a falar de ir a uma loja chamada Baby World para que Annie pudesse comprar coisa que Colt nem percebeu o nome e que, pelos visto, precisava para quando nascesse o bebê daí a dois meses.
Colt tirou o cartão de crédito da carteira e entregou-o a Kaylee.
- Compra o que quiser - disse. - Se encontrar os móveis para o quarto de Amber, não hesite em comprá-los. Amanhã posso ir buscá-los - insistiu quando Kaylee começou a protestar.
Kaylee aceitou por fim o cartão, mas Colt reparou que tinha cuidado para que os seus dedos não se tocassem.
- Talvez estejam em saldos - comentou, Colt encolheu os ombros.
- Não me importa o que custe. Compra o que quiseres.
Annie colocou Amber no chão.
- Preparada para ir gastar o dinheiro do pai, Amber? - sorriu.
- Pai - repetiu Amber, apontando para Colt. Colt sentiu que se inchava como um pavão e que o sorriso lhe saltava da cara. Era a primeira vez que a sua filha lhe chamava pai e nunca teria imaginado que ia gostar tanto.
- Colt, mantém o cotovelo direito e o ombro levantado para que o teu braço fique paralelo ao chão - disse Kaylee, aproximando-se. Agora, junta-o ao corpo.
Kaylee pegou-lhe no braço e tentou ignorar o fato de estar tão forte e o muito que a afetava estar assim tão próxima dele.
- Com o braço esticado, quero que puxe este elástico o mais que puderes sem que te doa - indicou.
- Isso é fácil - respondeu Colt.
No entanto, quando começou o exercício, Kaylee apercebeu-se de que fazia uma careta de dor quando o elástico estava quase à mesma altura do ombro.
-Já chega. Agora, baixa lentamente - disse.
- Da próxima vez, não suba tanto. Não quero que doa.
- É preciso alguma dor para alcançar objetivos - respondeu Colt, voltando a esticar o elástico.
Ao aperceber-se de que estava a suar, Kaylee tirou-lhe o elástico.
-Já está - anunciou, dirigindo-se à porta.
- Hei, ainda não terminei - protestou Colt, franzindo o sobrolho. - Disseste-me que fizesse duas séries de dez e ainda estou na primeira.
- Também te disse que parasses se te estivesse a doer - argumentou Kaylee, voltando-se para ele.
- Não me doía muito - insistiu Colt. Kaylee dirigiu-se a ele, irritada.
- Olha, senhor Macho Cowboy - disse, espetando-lhe um dedo no peito - eu não te disse nada sobre dor. Que parte da frase é que não compreendeste?
Colt enxugou o suor com uma toalha.
- Compreendo a frase, mas não concordo.
- Então, o melhor será arranje outra terapeuta - disse Kaylee, saindo da sala.
- Não quero outra terapeuta - respondeu Colt, pegando-lhe no braço. Kaylee olhou para a mão dele e, em seguida, olhou-o nos olhos.
- Eu não trabalho com pacientes que se recusam a seguir as minhas instruções.
Ficaram a olhar um para o outro em silêncio durante vários segundos até que, por fim, Colt assentiu e soltou-a.
- Está bem. Farei o que me diz, mas com uma condição.
- Vai impor condições? - riu Kaylee. É incrível.
Colt sorriu encantado.
- Sim, é por isso que gosta de mim.
- Vá lá, então - disse Kaylee com impaciência. - Qual é a tua condição?
- Quero que me acompanhe a Laramie para ir buscar os móveis do quarto de Amber respondeu Colt. - Saímos às cinco.
Kaylee olhou para o relógio.
- Quando lá chegarmos já estará fechado. - Colt negou com a cabeça.
- Falei com eles ao telefone e à sexta-feira só fecham às oito.
- Não me parece que deva ir por que...
- Por favor - suplicou Colt.
Ao ver o seu olhar esperança, Kaylee não conseguiu dizer que não.
- Está bem - respondeu, - mas não te esqueça da tua parte do acordo.
- Qual era? - perguntou Colt, franzindo o sobrolho.
Kaylee deu-lhe pancadinhas com o dedo no ombro.
- Nada de dor.
- Ah, sim - sorriu Colt. - Não te preocupe. - Kaylee pensou que Colt tinha se rendido com demasiada facilidade, mas não teve tempo de lhe perguntar por que, pois ouviu que a sua filha acabava de acordar da sesta.
- Vou buscar Amber e venho já para terminarmos os teus exercícios.
- O que é que achas de darmos a terapia por concluída por hoje? - propôs Colt.
Kaylee fitou-o, admirada.
- Acabas de passar dez minutos a insistir em forçar a terapia e agora diz que quer parar por hoje? - disse, franzindo o sobrolho.
- Está doendo?
- Não - riu Colt enquanto subiam as escadas, - simplesmente comecei a pensar que talvez seja melhor que nos comecemos a arrumar para sair.
Kaylee parou de repente, o que fez com que Colt chocasse contra ela. Ao fazê-lo, Kaylee sentiu uma descarga elétrica da cabeça aos pés.
- Vamos só buscar uma cama, um colchão e uma cômoda - disse, afastando-se rapidamente. - Isto não é um encontro.
- Não, claro que não é um encontro - disse Colt, negando com a cabeça.
- Se isto não é um encontro, Colt Wakefield, como é que chamaria?
Colt olhou para Kaylee ao canto do olho enquanto conduzia para Laramie. Nunca a tinha visto tão aborrecida, mas, pelo menos agora, falava com ele. Aquilo era melhor do que o horrível silêncio no qual se tinha afundado quando tinha visto aparecer em sua casa Brant, Annie e o seu filho a que vinham tomarem conta de Amber.
Durante uns minutos, Colt tinha tido a certeza de que Kaylee se ia recusar a acompanhá-lo.
- É só sair uma noite - respondeu com calma.
Talvez Annie tivesse razão. Talvez as mulheres não gostassem desse tipo de surpresas.
- Tinhas tudo preparado, não era? - acusou Kaylee. - Não foi uma coincidência que Annie e o teu irmão tivessem chegado precisamente quando estávamos a sair.
- Não te vou mentir - respondeu Colt. - Tinha falado com eles para que ficassem a tomar conta de Amber esta noite - admitiu, olhando para o relógio. - Imagino que Samantha, Morgan e os seus dois filhos tenham já chegado também.
- Por quê? - quis saber Kaylee.
- Porque pensei que precisavas de um descanso - respondeu Colt sinceramente. - Passas o dia a cozinhar e a me ajudar com a minha reabilitação e queria agradecer. Por isso, decidi te convidar para jantar e para ir ao cinema.
- E não te parece que teria sido mais atencioso da tua parte perguntar-me antes de combinar tudo? - perguntou Kaylee, irritada, mas já não tão aborrecida.
- Queria te fazer uma surpresa - defendeu-se Colt. Claro que não mencionou que sabia que Kaylee jamais teria concordado se a tivesse convidado simplesmente.
- Bem, parece que conseguiu os teus intentos. Sinto-me como se tivesse sido seqüestrada - disse Kaylee, olhando pela janela. - Podia prometer-me uma coisa, Colt?
- De que é que se trata?
- Por favor, não brinque comigo. Nunca gostei de joguinhos.
Ao notar o seu tom de voz, Colt parou o carro, desligou o motor e olhou-a nos olhos.
- Kaylee, olha para mim - pediu.
Mas ela negou com a cabeça, por isso, Colt levantou-lhe o queixo e ficou a olhar para ela.
- Dou-te a minha palavra de honra que não estou a brincar contigo. Nas últimas três semanas não parou e eu achei sinceramente que precisava se descontrair um pouco - disse, afastando a mão. - Esta noite não é mais do que uma saída entre dois velhos amigos que pretendem se descontrair e conversar um bocado. Só isso.
Kaylee olhou-o fixamente e assentiu, resignada.
- Está bem - disse, - mas gostaria de voltar cedo para casa. Amber está bem entregue nas mãos de Annie e sei que se vai divertir muito a brincar com os teus sobrinhos, mas está habituada a que eu a meta na cama e podia assustar-se.
- Está bem - respondeu Colt, arrancando com a furgão e regressando à estrada. - Vamos buscar os móveis e, à volta, paramos no Spoke Broken Steakhouse.
- Esse é o lugar em que oferecem o jantar a todos os acompanhantes da pessoa que consiga comer o maior bife que têm? - perguntou Kaylee, mais descontraída.
- Exato. Trata-se de uma costeleta de novilho de novecentos gramas, mas isso não é complicado, o pior é que tem que comer também a enorme montanha de batatas fritas que o acompanha. Sempre que Mitch vinha para minha casa, parávamos ali - recordou Colt. - E acabavam sempre por nos oferecer o jantar.
- Eu acredito - sorriu Kaylee. - Mitch comia muito. Na realidade, acho que nunca conheci uma pessoa que comesse tanto como ele.
- O que é incrível era que não era gordo.
- Sim - riu Kaylee. - Era injusto. Mitch comia como um animal e nunca engordava, enquanto que eu fazia dieta e ganhava quilos.
Ambos se riram.
- Mitch e eu passamos bons momentos juntos - recordou Colt, fitando a estrada.
- Ele gostava muito de ti - disse Kaylee. - Eras como um irmão para ele.
Colt sentiu um nó na garganta, tal como sentia sempre que se lembrava da perda do
seu melhor amigo.
- Ele também era como um irmão para mim.
Nenhum dos dois disse uma palavra durante vários quilômetros. Colt pensou se não seria pior a emenda do que o soneto, mas tinha que esclarecer o que se tinha passado há três anos. - Kaylee, sei que não quer falar disso, mas me parece que chegou o momento de o fazer. Temos que falar do que se passou na manhã após termos feito amor. Se não o fizermos, dificilmente poderemos avançar.
Kaylee respirou fundo e não disse nada.
- Não sei se vou ser capaz de fazê-lo, Colt confessou com voz trêmula.
Colt apercebeu de que aquilo não ia ser fácil para nenhum deles.
- Temos que falar, querida - disse, pegando-lhe na mão. - Temos uma filha que conta conosco para ser feliz e a sua felicidade depende de que entre nós não haja mal entendidos.
Kaylee manteve-se em silêncio durante tanto tempo que Colt achou que se ia recusar.
- Está bem - disse por fim. - Diz o que acha que tens que dizer e acabemos com isto.
Colt ficou a olhar para a estrada enquanto tentava organizar os seus pensamentos.
- Para começar, saiba que não houve um só dia desde então, que não tenha me arrependido de como me comportei - começou, pensando que era melhor ir direto ao assunto. - Naquela manhã fui me embora sem te acordar porque me envergonhava do que tinha feito. Não te consegui encarar, Kaylee. Sei que sou um covarde, mas não conseguia suportar a idéia de ver o arrependimento ou o ódio no teu olhar pelo que te tinha feito.
- O que é que te fez pensar que te ia odiar? - respondeu ela, surpreendida.
- Recorreu a mim à procura de consolo e eu deixei que as coisas fugissem ao meu controle - disse Colt, engolindo em seco. - Devia ter parado antes de me deixar levar pelos acontecimentos.
- O que é que está a dizer? O que faz pensar que era o único a ter o poder para parar o que aconteceu? Se não te lembras bem, não estava sozinho naquela cama, eu também poderia ter...
- Não, Kaylee - interrompeu Colt que não estava disposto a dividir a culpa com ela. - Mitch era o meu melhor amigo, e quando o seu corpo ainda estava quente, roubei a virgindade da sua irmã. Acha que estou orgulhoso disso?
- Colt... - disse Kaylee, tocando-lhe no braço.
- Garanto que, se pudesse, voltaria atrás no tempo e mudaria o que aconteceu.
- Há uma coisa que eu nunca mudaria do que aconteceu há três anos, ainda que pudesse.
- O quê?
- Amber - respondeu Kaylee sem hesitações. - Agora é a minha vida.
Colt ficou a pensar no que acabava de ouvir. Kaylee não se arrependia de ter tido uma filha com ele. Isso queria dizer que também não se arrependia de ter ido para a cama com ele?
- Tenho que te perguntar uma coisa e quero que seja completamente sincera comigo - disse com o coração a bater descontroladamente.
- Parece-me que já falamos de tudo...
- Não te perguntaria se não fosse importante para mim, Kaylee - insistiu Colt, pegando-lhe na mão.
- Muito bem, o que é que quer saber?
- Acaba de dizer que não te arrependes de ter tido Amber - disse Colt, retomando o fôlego. - Arrepende de ter ido para a cama comigo naquela noite?
Kaylee negou com a cabeça.
- Não - respondeu. - Nunca me arrependi do que se passou entre nós naquela noite.
Duas horas mais tarde, ao sair do restaurante, Colt continuava a pensar no que Kaylee lhe tinha confessado. Não conseguiu pensar noutra coisa toda a noite. Teria estado enganado todo aquele tempo?
Durante os últimos três anos, tinha se convencido de que se tinha aproveitado dela, que a tinha seduzido quando estava vulnerável, mas teria realmente sido assim? Não teria ela passado pelo mesmo processo que ele, e tinha procurado consolo pela perda do seu irmão com uma pessoa de quem gostava realmente?
- Colt, está bem? - perguntou Kaylee, fazendo-o regressar ao presente.
- Claro - respondeu. - Porque é que pergunta?
- Tens estado à noite toda distraído - disse Kaylee preocupada. - Nem sequer aquele bife suculento te fez reagir. Nunca pensei que pudesse perder o apetite.
- Sim, realmente foi um pouco estranho.
- Muito estranho - sorriu Kaylee.
O seu sorriso e a sua voz aveludada fizeram com que o coração de Colt disparasse. Nunca a tinha visto tão bonita e tão desejável. Mas não queria dar um passo em falso. Não queria estragar a boa disposição que se tinha instalado entre eles.
- Divertiu-se? - perguntou.
- Sim - respondeu Kaylee, - mas devo-te um pedido de desculpas.
- Por quê?
- Pela maneira como me comportei antes - respondeu Kaylee. - Com a surpresa.
Ao falar tinha mexido a cabeça e os seus caracóis acariciaram os dedos de Colt, que tinha colocado o braço por cima das costas do assento.
- Fico feliz por ter se divertido - disse, acariciando-lhe o cabelo.
- Não devia ter reagido dessa maneira tão exagerada - insistiu Kaylee. - Você só queria ser agradável e...
- Acho que esta noite aprendemos ambos algo um sobre o outro - interrompeu Colt.
Kaylee voltou-se para ele.
- Ah, sim?
- Eu não sou tão mau como achavas - riu Colt, entrando no caminho que conduzia a casa - e tu não gosta de surpresas.
- Isso não é totalmente verdade. Depende da surpresa - sorriu Kaylee. - Às vezes, podem ser muito agradáveis.
Colt estacionou saiu e abriu a porta a Kaylee.
- Da próxima vez que te quiser fazer uma surpresa, vou lembrar-te do que acaba de dizer.
Apesar de estar a sorrir, Kaylee fitou-o com certa apreensão.
- Da próxima vez?
- Claro - respondeu Colt, ajudando-a a sair e passando-lhe um braço sobre os ombros enquanto caminhavam para casa. - Não sabias que a vida não é mais do que uma série de acontecimentos incríveis, interrompidos por momentos pontuais de monotonia?
- Sim, senhor, que profundo para um cowboy - riu Kaylee.
- Tem cuidado com o que diz - gracejou Colt, beijando-a na testa. - Para que saiba, na universidade tive sempre boa nota a filosofia.
- Ah, mas ias às aulas e tudo? Pensava que Mitch e tu tinham ido para a universidade só para conhecer garotas.
- Bem, para isso também - admitiu Colt, sorrindo enquanto subia os degraus da entrada, - mas a verdade é que as bolsas de estudo que nos deram por pertencermos a equipa de rodeio da universidade tinham um aspecto muito curioso.
- E o que era?
- Que realmente a direção da universidade pretendia que passássemos nos exames - riu Colt.
- Que chatice, não é? - riu Kaylee.
Quando chegaram à porta principal, Colt ficou a observá-la. Não queria que aquela noite terminasse.
- Sei que não gostas de surpresas - disse, tirando o chapéu, - por isso aviso-te já, Kaylee, que te vou beijar.
Kaylee olhou-o nos olhos e Colt pensou que se ia esquivar, mas não foi assim.
Colt inclinou-se sobre ela e, no momento em que os seus lábios se tocaram, a chama do desejo apoderou de todo o seu ser. Quando Kaylee abriu a boca e suspirou, Colt sentiu que o seu coração disparava.
As suas línguas encontraram-se e Kaylee passou-lhe os braços pelo pescoço. Ao sentir as suas unhas a acariciar-lhe a nuca e a sua intenção de se apertar contra ele, Colt sentiu como se tivesse fogo nas veias.
Ao sentir o corpo dela colado ao seu, a ereção foi imediata e intensa. Colt agarrou-lhe no traseiro com ambas as mãos e puxou-a contra si. Queria que sentisse a necessidade que provocava nele, compreendesse como estava enganada ao pensar que ele não se sentia atraído por ela.
Ergueu uma mão até ao seu seio e começou a brincar com o seu mamilo por cima da blusa. O mamilo endureceu ainda mais e Colt sentiu que todo o seu corpo acompanhava este fenômeno.
Nunca tinha desejado tanto uma mulher.
Deixou de beijá-la e abraçou-a com força, tentando recuperar o fôlego. Como é que alguma vez tinha pensado que Kaylee e ele iam poder retomar a amizade que tinham no passado? Nada mais longe da realidade. Colt compreendeu que tinham ultrapassado certa linha há três anos e que já não podiam voltar atrás. A única coisa que podiam fazer era olhar em frente e tentar construir algo de novo.
- Colt, eu... nós... - disse Kaylee, sacudindo a cabeça. - Isto não pode acontecer.
- Não faz mal, querida.
Colt inclinou-se para trás e olhou-a nos olhos.
- Não tenha medo do que se está a passar entre nós, Kaylee - disse, acariciando-lhe o cabelo. - Não nos vamos precipitar, não vamos fazer nada enquanto não estivermos os dois preparados. Desta vez, vamos a pouco e pouco e logo se vê aonde chegamos - disse, beijando-lhe a ponta do nariz. - Agora, vamos entrar para que os meus irmãos e as minhas cunhadas nos possam dizer como a nossa filha é adorável e como se divertiram enquanto os primos se conheciam.
Kaylee compreendeu que o que sentia por Colt continuava a ser tão forte como sempre, ou talvez ainda mais. Sentiu Um aperto no coração.
Tinha-se convencido durante os últimos anos que já não estava apaixonada por ele,
mas não devia continuar a enganar-se a si própria. Nunca tinha deixado de amar Colt
e nunca poderia deixar de amá-lo.
Mordeu o lábio inferior ao sentir uma vaga de pânico, mas, antes que tivesse tempo de reagir, Colt pegou-lhe na mão e abriu a porta de casa. Deixou que a conduzisse pelo corredor e, ao chegar à sala, viu a sua filha abraçada a um menino que devia ser um ano mais velho do que ela e a beijá-lo na face.
- Bebê - disse Amber, sorrindo a Annie e a outra mulher que estava sentada no sofá. Quando aquela mulher, que Kaylee concluiu que era Samantha, a mulher de Morgan, se voltou para sorrir para Amber, percebeu-se de que Kaylee e Colt tinham chegado.
- Olha quem chegou Amber.
- Mãe! - exclamou a pequena correndo para Kaylee para que a pegasse ao colo.
- Divertiste-te com os teus primos? - perguntou a sua mãe.
- Não - respondeu Amber, assentindo com a cabeça. - Chão - riu.
- Olá, Kaylee - cumprimentou Brant, pondo-se de pé ao mesmo tempo em que Morgan e avança para ela para a abraçar com afeto. - Fico muito feliz de te voltar a ver.
- Eu também - respondeu Kaylee sinceramente.
Tinha tido muitas saudades dos irmãos de Colt que sempre a tinham tratado a ela e a Mitch como se pertencessem à família.
- Há muito tempo que não tínhamos notícias tuas - disse Morgan, abraçando-a também.
- Tivemos muitas saudades tuas.
- Calculo que tenham tido saudades minhas porque deixaram de ter alguém de quem fazer troça - gracejou Kaylee, abraçando o mais velho dos irmãos Wakefield.
- Quero apresentar-te a minha mulher, Samantha - disse Morgan, abraçando a mulher que Kaylee ainda não conhecia.
- Olá, Kaylee, muito prazer em te conhecer - sorriu Samantha. - Ouvi falar tanto de ti que é como se já te conhecesse há anos. Annie e eu estávamos precisamente a falar que podíamos ir as três almoçar e fazer algumas compras a Laramie para a semana que vem.
- Pensamos que seria divertido fazer uma tarde só para as mulheres - sorriu Annie.
- Perfeito. Parece um plano estupendo - respondeu Kaylee, percebendo-se de que Morgan e Brant se entreolhavam orgulhosos das suas mulheres, como se entre os quatro guardassem um segredo.
Não teve tempo de especular de que se trataria, pois um rapazinho pequeno se aproximou deles e começou a falar com Colt.
- Tio Colt - disse, estendendo os braços para que o agarrasse, - tenho um boneco novo, igual ao da televisão.
- Ah, sim, Timmy? - respondeu Colt, pegando no pequeno ao colo.
- Não - disse Amber, negando com a cabeça.
Surpreendida perante a pouco usual veemência com que a sua filha tinha falado e o uso correto do gesto negativo, Kaylee observou como Amber atravessava a correr a divisão e se dirigia aos adultos. Parou em frente à Colt e estendeu os bracinhos.
- Colo, pai - disse. - Colo.
Perante a insistência de Amber para que lhe pegasse ao colo, Colt sentiu que o coração se lhe encolhia para depois disparar num ritmo frenético. Era a primeira vez que a sua filha queria que lhe pegasse ao colo e não estava disposto a deixar escapar a oportunidade. O problema era que não podia utilizar o braço esquerdo e tinha Timmy no braço direito. Teria que colocar o seu sobrinho de três anos no chão para poder pegar na sua filha e receava que isso ferisse os sentimentos do pequeno, algo que pretendia evitar a todo o custo. Como se lhe tivesse lido o pensamento, o seu irmão Morgan ajudou-o.
- Eu me encarrego de Timmy - anunciou.
- Obrigado - respondeu Colt, passando a criança ao seu pai.
Colt agachou-se e pegou na sua filha ao colo, a criança passou-lhe os bracinhos à volta do pescoço e olhou para o seu primo.
- Meu pai - declarou.
Colt sentiu que se enchia de orgulho e que se lhe formava um nó na garganta. O sentimento de ter por fim a sua filha nos seus braços, de saber que por fim a criança o aceitava, era incrível.
Sentiu Kaylee próxima dele e com cuidado para não forçar o ombro, passou-lhe o braço esquerdo pela cintura. Olhou para ela e, de repente, sentiu que tinha tudo o que sempre tinha desejado. Aquilo devia tê-lo alarmado, mas, em vez disso, sentiu-se o homem mais realizado do mundo. Sem ter consciência de que acabava de proporcionar ao seu pai um momento que ele recordaria para sempre, Amber começou a apontar para o seu chapéu.
- Eu, eu.
Colt tirou o chapéu e colocou-o com cuidado sobre a cabeça da menina, tentando evitar que lhe tapasse os olhos.
-Já está, ratinho.
Então, Jared levantou os braços em direção à sua mãe.
- Desculpem por ser uma desmancha prazeres, mas parece que as crianças querem ir para casa - disse Samantha.
Annie assentiu.
- Sim, Brant e eu também temos que ir. Temos que meter Zach na cama.
- Vamos campeão - disse Brant colocando o seu filho sobre os seus ombros. – A mãe diz que vamos para casa.
Colt, com Amber nos braços e Kaylee ao seu lado, acompanhou os seus irmãos e as suas famílias à porta.
- Obrigado por terem tomado conta de Amber.
- De nada, foi um prazer - respondeu Samantha, dando um beijo na face da menina. - Adeus Amber.
Amber disse-lhe adeus com a mão e, depois, apoiou a cabeça no ombro de Colt. Aquele gesto demonstrava confiança e Colt sentiu que o seu coração transbordava de amor.
- Tens uma filha que é uma delícia, Colt despediu-se Morgan. - Se este rapaz te der algum problema, não hesite em me telefonar. Ponho-o na linha num instante - acrescentou, olhando para Kaylee.
- E se não conseguir apanhar Morgan, telefona a mim - sorriu Brant.
- Obrigado aos dois pelo voto de confiança - grunhiu Colt, enquanto Kaylee abraçava os dois homens.
- Ligo-te amanhã à tarde para irmos ao centro comercial, Kaylee - disse Annie, olhando para Colt sorridente.
O que é que estava ali a acontecer? Colt tinha reparado que os seus irmãos e as suas cunhadas se entreolhavam divertidos sempre que se mencionava ir ao centro comercial, mas não teve tempo de perguntar nada, pois Annie despediu-se deles e saiu a correr.
Quando fechou a porta, voltou-se para Kaylee, que o observava. Parecia um pouco indecisa e Colt sabia que estava a pensar no que ele lhe tinha dito sobre avançar devagar.
- Kaylee, eu...
- Está na hora desta menina ir para a cama - interrompeu ela. - Foi uma noite muito especial.
Colt compreendeu que Kaylee se referia a ela também.
- Sonha com os anjos, ratinho - despediu-se de Amber, entregando-a sua mãe. - Queres que te ajude?
Kaylee negou com a cabeça.
- Normalmente, adormece sem problemas - respondeu, voltando-se para ele já nas escadas.
- Eu estou muito cansada. Acho que também vou já para a cama. Obrigada por me ter levado a sair. Vemo-nos amanhã ao café da manhã. Boa noite.
- Boa noite - respondeu Colt enquanto Kaylee subia as escadas a toda à velocidade com Amber nos braços.
Colt sacudiu a cabeça. Kaylee precisava de tempo para chegar à mesma conclusão que ele tinha chegado naquela noite: nunca seriam só amigos. Talvez nunca o tivessem sido.
Kaylee passou a Colt um pequeno halter.
- Aviso, antes de começar a fase seguinte da terapia, não vou consentir que tentes levantar nada que pese mais do que isto. Percebeu?
- Podia levantar coisas mais pesadas do que isto só com o dedo mindinho - respondeu ele, experimentando o peso de um quilo e meio que tinha na mão esquerda.
- É melhor que não o faças - insistiu Kaylee, sabendo que devia ser dura com Colt porque, caso contrário, ele excederia e voltaria a lesionar-se.
- Vá lá, então. Sei que posso levantar pelo menos o dobro - sorriu encantador, fazendo com que Kaylee sentisse um formigueiro na barriga - Pelo menos me deixa tentar.
- Não enquanto não soubermos se fazer bíceps te prejudica.
- Claro que não me prejudica.
- Faz três séries de dez com este peso e depois falamos - insistiu Kaylee.
Colt ficou a olhar para ela fixamente, como que a tentar intimidá-la. Mas Kaylee não se deixava vencer com tanta facilidade.
- Está bem - disse Colt por fim, sentando-se no banco.
Enquanto o via fazer os exercícios, Kaylee tentou lembrar-se que Colt era como qualquer outro paciente, mas enganava-se. Colt não era como nenhuma outra pessoa do mundo. Já sabia disto antes, mas na noite passada tinha ficado bem claro. Nunca a tinha beijado como ontem ao voltar de Laramie. Enquanto o fazia, Kaylee tinha sentido como se um milhão de foguetes estalasse no seu interior.
E como se aquilo não bastasse, Colt tinha-lhe dito que não tivesse medo do que se estava a passar entre eles, que não se ia precipitar daquela vez ia fazer as coisas devagar. Daquela vez. Duas palavras que lhe provocavam autêntico pânico. Kaylee estremeceu ao pensar no que implicavam. Colt tinha deixado entender que queria explorar uma relação que ia mais além do que a simples amizade. Podia Kaylee segui-lo? Sobreviveria se as coisas não corressem bem?
Três anos atrás, após ter perdido o seu irmão e depois Colt, a única coisa que a tinha feito seguir em frente tinha sido Amber. Tinha se concentrado na gravidez e, após o parto, tinha concentrado todas as suas energias em ser uma boa mãe. E tinha sido bem sucedida. Tinha reunido os pedaços da sua vida e tinha seguido em frente porque Colt não estava perto para lembrá-la do que tinha arriscado e tinha perdido. Mas, desta vez, era tudo diferente. Agora que Colt sabia da existência da sua filha, ia ter que vê-lo com regularidade quando fosse visitar Amber. E se as coisas corressem bem entre eles? Seria Kaylee capaz de aceitar que Colt ganhasse a vida no rodeio?
Quando tinha perdido Mitch, perdeu o único familiar vivo que lhe restava e isso quase tinha acabado com ela. Como é que poderia sobreviver se acontecesse alguma coisa a Colt?
A hipótese dava-lhe tanto medo que inconscientemente esfregou os braços para tentar fazer frente ao arrepio que percorria todo o seu corpo.
- Kaylee, está bem?
Kaylee ergueu o olhar e viu que Colt tinha levantado e estava ao seu lado.
- Sim, estou bem - mentiu. - Só estava a pensar na fase seguinte da tua terapia.
Colt ficou a observá-la fixamente e negou com a cabeça.
- Não, isso não é verdade - disse, acariciando-lhe a face e sorrindo com ternura. Ambos temos que deixar de mentir sobre o que pensamos. Ser honestos um com o outro é a única hipótese que temos de que isto corra bem desta vez - acrescentou. – E te garanto que estou decidido a que as coisas corram bem.
Aquelas palavras fizeram com que Kaylee voltasse a estremecer.
- A sério, estava só a...
Kaylee interrompeu-se e ficou a olhá-lo nos olhos. Colt tinha razão. Se queriam construir uma relação entre eles, esta devia basear-se em sinceridade total. Já tinha admitido a si mesma que ainda o amava que nunca tinha deixado de o amar, mas teria a coragem necessária para o admitir perante ele? Queria correr o risco de
voltar a sofrer?
- O que é que quer Kaylee? – perguntou Colt com ternura. - Conta-me em que é que estás a pensar.
- Tenho medo - admitiu Kaylee, perdendo-se nos seus olhos. Colt abraçou-a, apertando-a contra si.
- Querida, eu também tenho medo, mas temos que arriscar - disse, acariciando-lhe as costas. - Temos que tentar.
Sentindo-se segura entre os seus braços, Kaylee decidiu abrir o seu coração.
- A idéia de fracassar me assusta, mas me assusta ainda mais nunca chegar, a saber, se as coisas teriam funcionado entre nós - disse. Sim, Colt, quero tentar.
Enquanto Colt mudava de canal, Amber sentou-se ao seu colo e apontou para o televisor.
- Mate!
- Quer ver isto? - perguntou o seu pai, indicando-lhe um tomate e um pepino que dançavam.
- Sim, sim, sim - respondeu Amber, negando com a cabeça.
- Está bem, ratinho - disse Colt, beijando-a na testa. - Vamos ver isto até que a mãe venha para te levar para a cama.
Colt franziu o sobrolho, pensando no que se tinha passado com os desenhos animados do seu tempo. O que é que tinha acontecido aos carros e os aviões que se transformavam em robôs, em leões e em tigres?
No entanto, passados apenas alguns minutos, ria-se às gargalhadas das tropelias de um ramo de brócolos.
- Isto é ótimo, ratinho.
Amber voltou-se para o seu pai e riu. A seguir, trepou pelo seu peito e deu-lhe um beijo.
- Como é que estão os dois? - perguntou Kaylee, entrando na sala.
- Agora compreendo porque é que decorou o quarto da Amber com estas personagens - sorriu Colt. - Adora-os.
- Pela maneira como estava a rir, parece que tu também gostas muito deles - sorriu Kaylee.
Colt engoliu em seco. Como é que ia conseguir impedir de lhe tocar se continuava a sorrir-lhe assim? Depois da conversa que tinha tido aquela tarde, Colt tinha decidido que era mais importante do que nunca não se precipitar. Deviam deixar que os sentimentos se fossem desenvolvendo a pouco e pouco para que, quando chegasse o momento de fazerem amor, estivessem ambos certos do que faziam. No entanto, essa determinação não lhe parecia agora tão fácil. Tudo o que Kaylee fazia ou dizia lhe parecia sensual. E para cúmulo, a certeza de que em algum momento voltariam a explorar a química que sempre tinha existido entre eles, mantinha-o numa ereção constante.
- Colt, ouviu o que eu disse? - perguntou Kaylee, pegando em Amber. Colt negou com a cabeça.
- Desculpa, estava a pensar numa coisa que... tenho que fazer.
- Perguntei se não te importa de ficar com Amber segunda-feira de manhã enquanto eu vou ao centro comercial com Annie e com Samantha - repetiu Kaylee.
- Vai descansada, eu fico com ela - respondeu Colt, desligando a televisão e pondo-se de pé, - mas pensava que iam esta tarde.
Kaylee assentiu.
- Sim, mas Annie tem uma consulta no médico na segunda-feira e pediu a Samantha e a mim que a acompanhássemos e, já que vamos, aproveitamos e almoçamos por ali para depois fazermos algumas compras.
- Quer levar o meu cartão de crédito? Perguntou Colt, enquanto Kaylee se dirigia às escadas.
- Não.
- Espera um momento - disse Colt, agarrando-lhe no braço. - Quero que compres mais coisas para o quarto de Amber - acrescentou, entregando-lhe o cartão.
- Que coisas? - disse Kaylee, aceitando o cartão e fitando-o desconfiada.
Colt encolheu os ombros.
- Brinquedos, roupa, o que achar que ela vai gostar - respondeu, dando um beijo à sua filha. - Dorme bem, ratinho - acrescentou, beijando Kaylee também. Quando a tiveres metido na cama, desce.
Nesse momento, antes que Kaylee tivesse tido tempo de responder, tocou o telefone.
- Atende tu enquanto eu vou deitar à pequena - disse, subindo as escadas.
Colt amaldiçoou a falta de sentido de oportunidade da pessoa que telefonava, enquanto observava como o delicioso traseiro de Kaylee se bamboleava ao subir as escadas.
- Sim? - ladrou ao atender ao telefone.
- Interrompo alguma coisa importante? Perguntou Morgan do outro lado da linha.
- Nunca te disseram que é um inoportuno? Disse Colt frustrado.
Morgan riu.
- Sim, acho que Brant me disse qualquer coisa parecida da primeira vez que trouxe Annie a Lonetree.
- E tinha razão - sorriu Colt. - O que é que me contas?
- Localizamos a égua que queria.
- Está à venda?
-Já não - respondeu o seu irmão, - a não ser que tu a queiras vender.
- Não - respondeu Colt, feliz com a boa notícia. - Onde é que a encontraste?
- No Texas - respondeu Morgan. - Depois de entrarmos em contacto com a agência imobiliária que vendeu o rancho de Kaylee, informaram-nos de que o comprador era do Texas e então Brant telefonou ao seu colega de rodeio, Cooper Adams. Em duas horas, nos disse quem era o atual proprietário da égua e quanto pedia por ela.
- Sempre gostei de Cooper - sorriu Colt. Quando é que a posso ir buscar?
- Não vais ter que o fazer - disse Morgan. A irmã de Cooper, Jenna, e o seu marido, Flint, vêm a Denver a uma feira de cavalos e ofereceram-se para a levar até lá. Brant e eu passamos lá na segunda-feira de manhã para a buscar.
- Fico a te dever uma - disse Colt sinceramente.
- Não te preocupe, estamos muito contentes por a termos conseguido encontrar. Sabemos que foi um presente de Mitch para Kaylee ter essa égua significa muito,
- Obrigado, Morgan.
Depois de se despedir do seu irmão, Colt subiu os degraus de dois em dois em direção ao quarto de Amber. Não podia esperar para contar a novidade a Kaylee.
- Kaylee, tenho que te dizer uma coisa anunciou ao entrar.
Kaylee estava sentada na cadeira de balanço com Amber nos braços e levou um dedo aos lábios.
Acaba de adormecer - murmurou, Desculpa - disse Colt, dirigindo-se a elas. observava Kaylee a embalar a sua filha, sentiu um profundo amor que lhe brotava desde o mais profundo do seu coração e pensou que, ainda que vivesse cem anos, nunca voltaria a ver uma cena tão bonita.
Quando Kaylee se levantou, Colt pegou em Amber ao colo. Ao fazê-lo, tocou ao de leve no seio de Kaylee e teve que fazer um esforço sobre-humano para não gemer de prazer.
- Disse esta tarde que não devias levantar nada que pesasse mais do que um quilo e meio - murmurou Kaylee excitada.
- E eu disse-te que esse peso consigo levantar com o dedo mindinho - respondeu Colt.
Claro que não lhe ia dizer que o ombro lhe tinha doído um pouco. Não era importante e preferia saborear o momento de ajudar Kaylee a meter Amber na cama.
Enquanto Kaylee aconchegava Amber, Colt sorriu encantado.
- Obrigado.
- Por quê? - disse ela, endireitando-se. Colt abraçou-a.
- Por me dar o tesouro mais valioso que uma mulher pode dar a um homem: o seu filho.
Kaylee apoiou a cabeça no seu peito e passou-lhe os braços à volta da cintura enquanto ambos admiravam a sua filha adormecida.
- Eu é que te devia agradecer - disse em voz baixa. - Amber é a melhor coisa da minha vida. Desde o primeiro momento em que desconfiei que estava grávida, senti-me feliz.
Aquelas palavras deixaram Colt sem fôlego.
Tendo em conta as circunstâncias de Kaylee naquela altura, não o surpreenderia que uma gravidez não planeada não tivesse sido bem recebida, mas ela apenas tinha sentido felicidade.
- Porque é que te sentiste feliz perante a idéia de ter um filho meu?
Kaylee olhou-o nos olhos e respirou fundo.
- Porque esse filho fazia parte de ti.
Colt sentiu um aperto no coração. Kaylee tinha amado e desejado aquela criança ainda antes de ter a certeza de que estava grávida.
Sentiu que as pernas lhe fraquejavam e compreendeu que não sabia pôr em palavras o muito que aquilo significava para ele, por isso, beijou a mãe da sua filha com toda a gratidão do mundo.
Assim que tocou nos seus lábios, a sua temperatura corporal subiu disparada, mas quando o beijo se tornou mais profundo todas as terminações nervosas do seu corpo estalaram e sentiu que era fogo o que lhe corria pelas veias. Ergueu uma mão para lhe acariciar um seio e foi recompensado com um doce gemido. Aquele som fez com que a sua decisão de avançar devagar se desvanecesse. Tinham decorrido três longos anos desde a última vez que tinham feito amor e a necessidade de voltar a sentir o corpo de Kaylee turvava-lhe a mente. Não havia maneira de ir devagar. Desejavam-se com ferocidade e esse desejo era impossível de conter.
- Quero fazer amor contigo, Kaylee - disse, olhando-a nos olhos. - Quero encontrar-me dentro do teu corpo e não saber onde eu começo e onde terminas - acrescentou, afastando-lhe uma madeixa de cabelo. Tu queres o mesmo?
Kaylee fitou-o, indecisa, e quando Colt pensava que lhe ia dizer que não estava preparada para dar esse passo, fechou os olhos e assentiu.
- O que mais quero no mundo é que me ames, Colt.
Kaylee observou como o azul dos olhos de Colt se tornava escuro. - Vamos para o meu quarto - disse, agarrando-lhe na mão. Enquanto Colt a guiava pelo corredor, Kaylee sentiu centenas de borboletas a esvoaçar no seu estômago. Uma ínfima parte dela receava estar a cometer o maior erro da sua vida, estar a expor-se ao mesmo terrível sofrimento por que tinha passado três anos atrás. No entanto, o seu coração dizia-lhe que não tinha outra escolha. Desde a primeira vez que tinha visto Colt Wakefield, há catorze anos atrás, que o amava.
Ao entrar no quarto, Colt foi até a mesa de cabeceira e acendeu o candeeiro.
- Kaylee, não quero que te sinta pressionada - disse, tomando-lhe o rosto entre as mãos. - Se não está preparada, quero que me diga. Não quero que de arrependas de fazer amor comigo.
Kaylee respirou fundo e falou com sinceridade.
- Sei que não me vou me arrepender de fazer amor contigo, Colt.
Colt abraçou-a com força.
- Não podes imaginar o que essas palavras significam para mim.
Antes que Kaylee tivesse tempo de responder, sentiu a sua boca sobre os seus lábios e as borboletas que tinham estado a esvoaçar no seu estômago iniciaram uma dança frenética. Ao sentir a paixão dos lábios de Colt e a sua potente ereção, teve que se agarrar à sua camisa para não desfalecer. Aquele homem sempre tinha beijado muito bem, mas daquela vez estava a ser ainda mais especial.
- Vou tentar ir devagar, mas te aviso que nunca desejei uma mulher como te desejo a ti - disse Colt com a respiração entrecortada.
- Eu também te desejo - respondeu Kaylee igualmente excitada.
- Toma pílula ou alguma coisa? - perguntou Colt.
Kaylee corou. Falar de algo tão íntimo parecia embaraçoso, mas tinha sido precisamente o fato de não o terem feito há três anos atrás que a tinha levado a encontrar-se atualmente em Lonetree.
- Eu, bem, não tenho tido que me preocupar com métodos contraceptivos - confessou.
- Kaylee, sei que não tenho nenhum direito de perguntar, mas...
- Não voltei a ter nenhum homem na minha vida desde aquela noite que passei contigo - disse ela.
Colt sentiu um aperto no coração. Quando tinha ido para a cama com ela, Kaylee era virgem, e saber que ele era o único homem com o qual ela se tinha deitado em toda a sua vida, fazia-o sentir-se muito especial.
Colt fechou os olhos, respirou fundo e voltou a abri-los para olhar para ela.
- Prometo que desta vez não vai ter que te preocupar - disse, beijando-a antes de lhe tirar os sapatos e de se descalçar também.
Depois, deslizou a mão dentro das suas calças para lhe puxar a blusa.
- Eu encarrego de te proteger.
Kaylee sorriu e começou a desabotoar-lhe a camisa. Quando terminou de o fazer, colocou-lhe as palmas das mãos sobre o tronco e Colt sentiu como se tivesse um fogo incandescente a crepitar no seu interior. - Alguma vez te disseram que tens um corpo impressionante, cowboy? - disse Kaylee, acariciando-lhe os músculos do peito e do abdômen. - Já me chamaram muitas coisas nesta vida, mas nunca empregaram a palavra "impressionante" para me descrever - sorriu. A primeira vez que tinham feito amor tinha sido um encontro muito rápido, desesperado, mas desta vez ia ser diferente. Desta vez iam explorar-se, iam aprender de que é que o outro gostava e iam empenhar-se em dar prazer um ao outro.
Colt desapertou-lhe o soutien e deslizou as alças pelos seus ombros. As suas mãos tremiam enquanto acariciava os seus seios.
- Hummm - disse Kaylee.
- Gosta? - perguntou Colt sem deixar de acariciá-la.
- Sim.
Colt inclinou-se sobre ela e beijou-lhe o mamilo de coral. Kaylee arqueou as costas e Colt encarregou-se do outro seio.
- Acho que tens roupa a mais - gracejou Kaylee, tirando-lhe a camisa.
- Isso já se resolve - sorriu Colt, desapertando o cinto.
Para seu deleite, Kaylee negou com a cabeça e apressou-se a afastar-lhe as mãos.
- Deixa que eu o faça.
- A última vez que me desapertou o cinto, estava chateada comigo - disse Colt, recordando a noite que tinham passado no motel a caminho de Lonetree.
- E merecia. Corria o risco de voltar a lesionar a clavícula por seres um exagerado respondeu Kaylee.
- Mas agora não estás chateada comigo, pois não? - sorriu Colt.
Kaylee negou com a cabeça enquanto começava a desapertar-lhe as calças. Ao sentir os dedos de Kaylee no baixo ventre, Colt sentiu uma vaga de desejo. Respirou fundo e começou a desapertar o cinto de Kaylee.
Kaylee olhou-o nos olhos enquanto lentamente lhe abria o fecho das calças. Colt pensou que se ia derreter. Teve que respirar fundo várias vezes para tentar não perder o controle.
- Adoro te sentir entre os meus braços disse, abraçando-a.
- Colt...
- Confia em mim, Kaylee?
-Sim.
- Vai correr tudo bem - sorriu Colt.
- Passou-se muito tempo, Colt.
- Eu sei querida, mas prometo-te que não te vou magoar - garantiu, beijando-a na testa.
- Prometo que só vai sentir prazer.
Dito aquilo, deslizou ambas as mãos até ao seu traseiro e apertou-se contra ela. Ao sentir a sua ereção contra a pele de Kaylee, Colt teve que cerrar os dentes.
- Nunca tenhas dúvida de que me sinto atraído por ti, Kaylee. Sempre te desejei - conseguiu dizer.
Kaylee estremeceu, pegou-lhe na mão e conduziu-o à cama. Afastou os lençóis, deitou-se e sorriu.
- Venho já - disse Colt, dirigindo-se ao banheiro.
Ao regressar, meteu uma caixa de preservativos debaixo da almofada e deitou-se ao seu lado. Abraçou-a e beijou-a até que ficaram ambos sem fôlego.
- Quero que me diga do que é que gosta disse, acariciando-lhe os seus quadris.
Kaylee sentiu que estremecia onde Colt a ia acariciando. Começou a sentir um desejo incrível entre as pernas enquanto ele deslizava a sua boca pelo seu pescoço e chegava ao seu decote.
Ao sentir os seus lábios sobre o mamilo e a sua língua a acariciá-lo, respirou fundo, pois sentia que o ar não lhe chegava aos pulmões. Passou-lhe os dedos por entre o cabelo enquanto as vagas de prazer sacudiam o seu corpo. Da primeira vez que tinham feito amor, tinham ido demasiado depressa, mas, desta vez, avançavam lentamente para se explorarem mutuamente.
- Querida, desejo-te tanto que chega a doer - confessou Colt, olhando-a nos olhos e deslizando uma mão entre as suas pernas.
Kaylee estremeceu. Nunca tinha sentido um desejo assim tão forte. Os dedos de Colt procuraram e encontraram o seu clitóris e Kaylee gritou de prazer.
- O que é que queres Kaylee?
- Quero-te a ti, Colt - respondeu Kaylee com voz rouca. - Só a ti.
Queria acariciá-lo para lhe dar o mesmo prazer que ele lhe estava a dar a ela, por isso deslizou a mão até tocar na sua ereção e começou a acariciá-la com cuidado. Sentiu que Colt estremecia e ouviu-o gemer antes de apoiar a cabeça no seu ombro.
- Se continuas por esse caminho, não vou agüentar nem os oito segundos da praxe - disse, apertando-lhe a mão com carinho.
- Então, faz amor comigo, Colt - disse Kaylee, desejando-o como nunca tinha sonhado que se podia desejar alguém.
Colt beijou-a e meteu uma mão debaixo da almofada. Assim que tinha colocado o preservativo, abraçou-a e afastou-lhe as pernas.
Kaylee olhou-o nos olhos e soube que estava perdida. Então, Colt introduziu-se no seu corpo e Kaylee ficou tensa perante aquela deliciosa intromissão.
- Relaxe - disse ele quando se encontrava já completamente dentro dela.
Kaylee acariciou-lhe as faces com as mãos trêmulas e beijou-o.
- Colt, preciso...
Colt abriu os olhos e olhou-a de uma maneira que fez com que o coração de Kaylee disparasse.
- Kaylee, quero agüentar, mas passou-se tanto tempo e desejo-te tanto...
Ela sentia o mesmo. Incapaz de expressar o que estava a acontecer por palavras, abraçou-o com as pernas e apertou-se contra ele.
- Querida, vai me matar - gemeu Colt, acariciando-lhe o cabelo e beijando-a com paixão até que os seus corpos responderam instintivamente e foram marcando o passo de um ritmo que leva os amantes a um lugar que só eles conhecem.
Enquanto Colt a abraçava, Kaylee sentia que o mundo era só deles. Um homem e uma mulher a dançar a velha dança do amor. Em pouco tempo encontrava-se numa escalada irreversível para o orgasmo, alcançando o desconhecido. O seu corpo agitou-se e acabou a gritar de prazer.
Kaylee sentiu como se mil estrelas explodissem na sua alma e deixou-se levar, compreendendo que o seu universo se reduzia ao homem que a abraçava naquele momento. Via a luz embora tivesse os olhos fechados e o prazer apoderou-se de todas e cada uma das células do seu corpo, enquanto Colt realizava uma última investida que os levou aos dois a alcançar o clímax ao mesmo tempo.
Ao voltar à realidade, sentiu um amor tão puro que lhe saltaram as lágrimas e agarrou-se a Colt com o desejo de que aquele momento durasse para sempre. Não sabia onde é que aquela relação os levaria, nem se havia futuro para eles, mas sabia que nunca deixaria de o amar. Aos dez anos, amava-o com a adoração inocente própria de uma criança, mas, aos vinte e quatro, amava-o com o coração apaixonado de uma mulher.
- Temos que dar um último recado antes de regressar a casa - disse Annie. Samantha assentiu sorridente.
- Deixamos sempre o melhor para o fim.
Enquanto saíam do restaurante onde tinham almoçado, Kaylee reparou que as outras duas mulheres trocavam um sorriso misterioso entre si. Não era a primeira vez que aquilo acontecia. Tinham feito o mesmo na noite em que tinham ido tomar conta de Amber.
- O que é que estão a tramar? - perguntou.
- Têm alguma coisa para me dizer?
- Não é nada - respondeu Samantha. - É só que Annie e eu temos que comprar roupa intima.
- E o que isso tem de especial? - riu Kaylee.
- O que é especial é a loja onde a compramos - responderam as duas em coro.
Kaylee franziu o sobrolho.
- De que loja é que se trata? Não será...! Vão a...?
- À Boutique da Lingerie Provocante e Descarada - riu Annie.
De repente, Samantha fitou-a, hesitante.
- Kaylee, não sabemos a relação que tem com Colt e não nos diz respeito. Se não quiser ir comprar lingerie, compreendemos.
- Claro - acrescentou Annie.
Kaylee mordeu o lábio inferior. Recordou as expressões de Brant e de Morgan quando as suas mulheres tinham comentado que iam às compras. Nenhum deles tinha sido capaz de esconder o seu nervosismo perante o que as suas esposas pudessem comprar.
- Eu uso sempre roupa intima de algodão branco - refletiu. - Não me quero intrometer, mas os seus maridos gostam do que se compra nessa loja?
- Há quatro coisas que todos os homens da família Wakefield têm em comum: o cabelo preto, os olhos azuis, uma enorme paixão pelo seu rancho e... um profundo afeto pelos artigos da Boutique da Lingerie Provocante e Descarada - riu Annie.
- Temos a certeza de que Colt não é diferente - sorriu Samantha.
- Eu... oh, meu Deus - disse Kaylee, corando.
Ia ter coragem para comprar lingerie sexy? Gostaria Colt de a ver assim? Algo lhe dizia que
se mostraria tão entusiasmado como os seus irmãos.
- Não sei se foi boa idéia - disse Samantha, franzindo o sobrolho.
- Esquece - disse Annie, sacudindo a cabeça.
Kaylee respirou fundo e sorriu às suas duas novas amigas.
- Para dizer a verdade, tenho alguma curiosidade em saber se Colt gosta tanto de lingerie como os seus irmãos - admitiu com um risinho nervoso.
- Então, vamos ver o que é que encontramos - riu Samantha.
Uma hora depois, Kaylee saiu do centro comercial com vários sacos de compras da Boutique da Lingerie Provocante e Descarada. Apesar de Colt lhe ter dado o seu cartão de crédito, tinha comprado a lingerie com o seu dinheiro. Havia coisas que devia ser ela a pagar.
- Adorei o body de renda branca que comprou - comentou Annie enquanto entravam para o carro. - Assim que nasça o bebê, acho que vou comprar um igual em azul.
- Pois eu adorei a camisa de noite verde esmeralda - acrescentou Samantha. - Com o teu tom de pele e o teu cabelo castanho vai ficar linda.
- Espero ter coragem para vestir - riu Kaylee. - É tão diferente do que estou habituada.
- A roupa intima de velha - disseram Samantha e Annie ao mesmo tempo.
- Bem, eu não ia dizer isso - riu Kaylee, mas admito que seja uma descrição bastante acertada.
- Quando é que vai surpreender Colt? quis saber Samantha.
- Não sei, mas em breve - respondeu Kaylee com tristeza. - Vou ter que voltar ao trabalho em breve.
- Não vai ficar? - perguntou Samantha, surpreendida. - Eu achava que...
Kaylee encolheu os ombros. Colt e ela não tinham falado do que se passaria quando chegasse à altura de ela voltar para Oklahoma.
- É complicado.
- Não vai à final do rodeio com Colt? - perguntou Annie.
- Eu... não posso - respondeu Kaylee. - Depois do que aconteceu ao meu irmão, não posso.
Annie abraçou-a.
- Espero que tudo corra bem entre vocês.
- Eu também - disse Samantha, abraçando-a também. - Queremos que fiques em Lonetree.
Kaylee lutou contra as lágrimas. Ela também queria ficar a viver em Lonetree com a sua família, mas Colt ganhava a vida a participar em rodeios e, embora não pudesse suportar a idéia de que alguma coisa lhe pudesse acontecer, não podia pedir-lhe para abandonar a sua paixão.
Seria como pedir-lhe que deixasse de ser quem era e Kaylee nunca faria isso.
Colt esperava impaciente que Kaylee descesse. Tinha ido lá acima buscar uma roupa que tinha lavado assim que tinha voltado do centro comercial.
- Vai ver como a mãe vai gostar da surpresa - disse a Amber, ajudando-a a vestir um casaquinho de ganga.
Franziu o sobrolho e olhou em direção às escadas. Porque é que estava a demorar tanto? Já tinha subido há mais de um quarto de hora.
Quando por fim apareceu, vinha a sorrir.
- Estão os dois muito calados. Estavam à minha espera para alguma coisa?
Colt assentiu e agarrou-a pela cintura.
- Tivemos muitas saudades tuas - respondeu, beijando-a.
- Eu também tive saudades tuas - sorriu Kaylee. - O que é que estiveram a fazer? Passaram o dia todo a ver televisão?
Colt negou com a cabeça.
- Não, Morgan e Brant vieram ver-nos esta manhã...
- Mas, não iam ficar a tomar conta dos crianças? - interrompeu Kaylee, franzindo o sobrolho.
- Telefonaram a Bettylou Milford para que tomasse conta deles enquanto iam buscar... uma coisa que lhes tinha pedido - respondeu Colt, tentando disfarçar a importância da visita.
- Cãozinho - sorriu Amber.
- Viu um cãozinho? - perguntou a sua mãe.
- Sim - respondeu Amber, negando com a cabeça.
Felizmente, Kaylee não fazia idéia de que Amber chamava cãozinho à égua.
- E depois, quando Brant e Morgan se foram embora, fizemos uns sanduíches de manteiga de amendoim e doce de morango e vimos o programa dos vegetais.
- Mate - disse Amber, esticando os braços para que o seu pai lhe pegasse ao colo. Colt inclinou-se e pegou nela com o braço direito. Novamente, com Kaylee de um lado e Amber do outro, voltou a sentir-se o homem mais completo do mundo.
- Porque é que vestiste o casaco à Amber? Perguntou Kaylee. - Iam a algum lugar?
- Sim - sorriu Colt de orelha a orelha. - E tu vens conosco.
- Onde é que vamos? - riu Kaylee.
Colt piscou o olho a Amber enquanto vestia o casaco.
- Dar uma volta pelos estábulos.
- Cãozinho - riu Amber.
Colt pegou na mão de Kaylee e pediu-lhe que fechasse os olhos.
- Outra surpresa? - disse ela, arqueando uma sobrancelha.
- Sim, mas garanto que vai gostar - afirmou Colt já a sair de casa.
- Estás muito seguro de ti mesmo - sorriu Kaylee.
- Sim, vá, fecha os olhos - insistiu ele. Esperou que o fizesse e, depois, conduziu-a até aos estábulos.
- Não os abras enquanto eu não te disser.
- Não será alguma coisa que me vá saltar para cima, pois não? - perguntou Kaylee, assustada.
Não - respondeu Colt enquanto entravam nos estábulos.
Depois, colocou Kaylee em frente aos dois cavalos que já estavam prontos a ser montados.
- Muito bem, já podes abrir os olhos.
Ao ver que Kaylee abria os olhos com cuidado, Colt sorriu. Ao abri-los por completo, pestanejou, como se não pudesse acreditar no que estava a ver.
- Meu Deus, Colt! - exclamou, tapando a boca com ambas as mãos e olhando-o nos olhos. - Onde é que a encontrou? - perguntou, com os olhos cheios de lágrimas. - Não posso acreditar - disse, abraçando-o e beijando-o na face.
- Vejo que não estava à espera - respondeu Colt, abraçando-a pela cintura.
- Oh, Colt, muito obrigada - disse Kaylee, voltando a beijá-lo antes de se aproximar da sua égua.
- Cãozinho - disse Amber, apontando para os cavalos.
Colt pegou na sua filha ao colo e riu.
- Não, ratinho. Isto são cavalos e quando tu fores mais crescida, o teu pai vai comprar-te um.
- Estou morta de vontade de montar - disse Kaylee, tomando as rédeas da sua égua e conduzindo-a para fora dos estábulos.
Quando se voltou para Colt e o beijou novamente, ele compreendeu que teria valido a pena pagar até o dobro do que tinha pago para ver Kaylee tão feliz.
- Monta-a - disse sorridente. - Amber e eu vamos atrás de ti no meu.
Depois, montou e acomodou a criança ao seu colo. Assim que o seu cavalo começou a andar com cautela, Amber começou a rir sem parar.
- Gosta de montar com o pai? - perguntou Colt enquanto avançavam para os verdes prados que rodeavam a casa.
- Não - respondeu Amber, assentindo com a cabeça.
- Colt, não te importas se eu...?
- Força - disse Colt, sabendo que Kaylee queria galopar.
Kaylee apressou-se a espicaçar a sua égua e em poucos minutos atravessava os prados a galope, com o cabelo ao vento. Era uma amazona experiente e estava a divertir-se muito. Colt gostava de vê-la assim tão feliz. Não a tinha visto assim desde antes da morte de Mitch. A verdade era que nunca se cansaria de fazê-la feliz. De repente, respirou fundo e parou. Tinha-se apaixonado por Kaylee? Sentiu um aperto no coração. Sempre tinha gostado dela e quando se tornou uma mulher, sentia-se profundamente atraído por ela. Mas estar apaixonado? Colt soube durante anos que ela sim, estava apaixonada por ele, mas embora se sentisse fisicamente atraído por ela, sempre se tinha controlado. Até àquela noite de três anos atrás, claro.
Sempre tinha pensado que a tinha deixado naquela manhã porque se sentia culpado e envergonhado por se ter aproveitado dela, mas não estaria na realidade a fugir de si mesmo? Não seria que se tinha apaixonado por ela?
Observou Kaylee, que continuava a cavalgar alegremente. A verdade era que sempre a tinha amado, mas tinha estado demasiado cego para ver.
- Amber, o teu pai foi um estúpido - disse à sua filha, beijando-a na testa. - Agora que já recuperou o juízo, vai fazer as coisas bem com a tua mãe.
Amber apontou para Kaylee, que se dirigia para eles.
- Mãe, cãozinho.
Colt sentia-se mais jovem e feliz do que nunca.
- Um destes dias, o pai vai te trazer um cavalo e um cãozinho também - riu, - mas agora tenho que encontrar uma maneira de dizer à tua mãe como tenho sido idiota e que quero passar o resto da minha vida a dizer-lhe que a amo.
- Não estou em forma - murmurou Kaylee na cozinha.
Doíam-lhe todos os músculos da cintura para baixo, mas, ainda assim, sentia-se feliz por ter podido voltar a montar a sua égua. Não se tinha apercebido até então de como sentia a falta de sentir o vento na cara. Os seus olhos encheram-se de lágrimas ao pensar no gesto tão atencioso de Colt. Ele sabia que aquela égua significava muito para ela. Tinha sido o último presente do seu irmão antes de morrer e tinha sido muito triste ter que se desfazer dela.
Agora a égua era de Colt e podia montá-la de vez em quando, quando fosse levar Amber a Lonetree. Cada vez que pensava em regressar a casa, sentia um aperto no peito. Ao princípio, não tinha querido ir para Lonetree por receio de se voltar a apaixonar por Colt. Só lhe apetecia rir às gargalhadas. A verdade é que nunca tinha deixado de o amar. O pior era que, ainda que por qualquer milagre Colt se apaixonasse por ela, Kaylee não achava que tivessem um futuro juntos. Pelo menos enquanto ele continuasse a se dedicar ao rodeio.
Só de pensar que lhe podia acontecer alguma coisa, ou que podia...
Estremeceu.
De repente, sentiu dois braços que a agarravam por trás e a apertavam contra um torso forte e musculoso.
- Em que é que está a pensar?
Kaylee fechou os olhos para afastar da sua mente aqueles pensamentos tão assustadores e voltou-se para Colt.
- Estava a pensar que estou muito grata por teres encontrado a minha égua e que foi incrível voltar a montá-la - mentiu, com um esgar de dor.
- Tem as pernas todas doridas, não é? Kaylee assentiu.
- Descobri músculos que já não sabia que tinha.
- Porque é que não te metes um momento na banheira de hidromassagem? - propôs Colt, dando-lhe um beijo na boca.
Era uma idéia maravilhosa, mas Kaylee ainda tinha coisas que fazer.
- Ia adorar, mas ainda tenho que ir meter Amber na cama - respondeu.
- Porque é que não tiras a noite de folga e me deixas tratar de tudo? – perguntou Colt, acariciando-lhe a nuca.
- Acha que dá conta do recado? - perguntou, tentada em se meter num banho de espuma. - Às vezes, o banho da tua filha se converte numa batalha naval.
- Tenho que te lembrar que ganho a vida a enfrentar um touro - gracejou Colt. - Não me parece que dar banho a uma criança e metê-la na cama seja mais difícil.
-Já vai ver - disse Kaylee, evitando pensar em como Colt ganhava a vida.
- Colo, pai.
Colt inclinou-se para pegar em Amber.
- O que é que me dizes se lhe damos banho juntos e depois eu preparo um banho para ti? - sorriu, olhando-a nos olhos.
Kaylee corou e sentiu que se derretia por dentro.
- Logo se vê.
- Hei isso não vale ratinho - disse Colt, olhando para a camisa encharcada.
- Pai, molhado - disse Amber alegremente. A seguir, dirigiu ao seu pai um sorriso que lhe chegou ao coração e voltou a bater com as mãos na superfície da água.
Desta vez, a água foi parar à cara de Colt.
- Kaylee!
- Algum problema?
Colt voltou-se e viu-a calmamente apoiada contra a porta, a sorrir.
- Porque é que não me disse que a Amber gosta de esportes aquáticos? - perguntou, pegando numa toalha.
- Para não perder esta cena: a tua filha de dois anos a demonstrar como pode ser difícil dar-
lhe banho - respondeu Kaylee, sacudindo a cabeça. - Não queria perder isto por nada deste
mundo.
Colt enxugou a cara.
- É assim todos os dias?
- Bem, às vezes é pior - respondeu Kaylee a rir.
Colt observou a sua filha.
- Não me vai salpicar mais, pois não?
Em jeito de resposta, Amber começou a sacudir ambas as pernas e a bater com as mãos na
superfície da água, demonstrando ao seu pai que, efetivamente, o banho podia ser mesmo
muito pior.
- Está bem, está bem, já tenho uma idéia - riu Colt.
Quando Colt tirou a pequena da banheira e a passou à sua mãe, estava encharcado dos pés à
cabeça.
- Vou ter piedade de ti - disse Kaylee. - Eu encarrego-me de a colocar na cama enquanto trocas de roupa - disse Kaylee, secando a menina e vestindo-lhe o pijama.
- Obrigado - respondeu Colt, despedindo-se da sua filha com um beijo. - Boa noite, ratinho
- disse. - Acho que a partir de agora te vais encarregar tu do banho e eu de a deitar.
Enquanto avançava pelo corredor até ao seu quarto, o riso de Kaylee parecia-lhe música. Estava a divertir-se à grande às suas custas.
Depois de vestir uma camisa seca, decidiu que a banheira de hidromassagem era suficientemente grande para duas pessoas e era preciso aproveitá-la, por isso, encheu-a de água, baixou a intensidade das luzes e sentou-se para tirar as botas. Tirou também as calças, as meias e os boxers e enfiou-se na banheira.
Uns minutos depois, sorriu ao ouvir entrar Kaylee.
- Colt, onde estás?
- Aqui.
Kaylee entrou no banheiro e Colt lhe fez sinal para que se juntasse a ele.
- Decidi te encher a banheira.
- Pensava que ia ser eu quem ia tomar um banho esta noite - sorriu Kaylee, fazendo-o sentir como se a temperatura dá água tivesse subido dez graus.
- Sou um homem de palavra - sorriu Colt. Disse-te que te ia preparar um banho e é isso mesmo que estou a fazer.
Colt observou como Kaylee mordia com nervosismo o lábio inferior durante uns segundos antes de respirar fundo e começar a despir a camisa.
- Morgan ou Brant alguma vez te falaram sobre as compras de Samantha e Annie?
- Não, mas já percebi que adoram que as suas mulheres vão às compras - respondeu Colt, franzindo o sobrolho. - Em qualquer caso, agora não me apetece falar de... - interrompeu quando Kaylee despiu a blusa e a atirou ao chão.
Até então, tinha sempre usou roupa intima de algodão branca. No entanto, naquela noite vestia um conjunto de seda e renda preta.
- Comprou isso hoje? - gaguejou. Kaylee assentiu.
- Gostas?
Ia dizer-lhe que ia gostar ainda mais quando o despisse, mas compreendeu que o sorriso de Kaylee prometia muito mais. Colt apoiou-se no bordo da banheira e não teve que esperar muito.
Kaylee desapertou as calças e deslizou-as pelas suas pernas com uma lentidão deliberada. Colt observava-a com os olhos muito abertos, sabendo que nunca ia voltar a ver nada tão provocativo como aquilo.
Quando viu o pequeno triângulo que mal cobria a sua feminilidade, Colt achou que os seus olhos iam saltar das órbitas. Aquele conjunto era incrível.
- Querida, onde é que comprou isso? perguntou por fim.
- Na Boutique da Lingerie Provocante e Descarada.
- Parece-me que a partir de agora essa vai ser a minha loja preferida - disse Colt sinceramente.
- Annie e Samantha dizem que Brant e Morgan adoram essa loja - disse Kaylee, voltando-se para que Colt apreciasse o conjunto na sua totalidade.
- Oh, sim. Eu também a adoro - disse Colt, engolindo em seco.
Aquilo fez sorrir Kaylee.
- Agora compreende porque é que os teus irmãos gostam que as suas mulheres vão ao centro comercial?
Colt assentiu, sentindo que a sua tensão arterial disparava.
- Comprei vários conjuntos - explicou Kaylee enquanto desapertava o soutien e o
lançava ao chão. - São de diferentes cores e estilos.
Se Colt conseguisse falar naquele momento, ter-lhe-ia dito que estava morto por vê-los a todos, mas não conseguia articular palavra.
Quando Kaylee fez deslizar as calcinha pelas suas pernas, gemeu e sentiu que o coração ameaçava saltar-lhe do peito.
Colt fechou os olhos e tentou respirar normalmente. Estava tão excitado que não sabia o que fazer.
- Essas lojas mereciam um prêmio - conseguiu dizer.
Quando sentiu que Kaylee se metia na banheira, abriu os olhos para a ajudar a colocar-se entre as suas pernas. Abraçou-a e apertou-a contra o seu corpo. Cerrou os dentes ao sentir o seu traseiro contra aquela parte da sua anatomia que crescia a cada minuto que passava.
Kaylee suspirou.
- Tu podes adorar a Boutique da Lingerie Provocante e Descarada, mas eu adoro esta banheira.
Colt deu-lhe um beijo no pescoço e começou a massagear as pernas.
- Está melhor assim?
- Hummm.
A água fazia com que a sua pele, já por si suave, se tornasse mais sedosa do que nunca, e Colt deslizou as mãos com facilidade sobre as suas coxas, até chegar aos seus seios.
- Kaylee?
Kaylee voltou-se para ele e Colt apoderou-se da sua boca. Adorava abraçá-la e beijá-la. Adorava tudo o que tinha a ver com ela. Devia confessar-lhe os seus sentimentos assim que recuperasse o seu autocontrole.
Mas naquele momento estava perdido e só se podia concentrar em tocá-la, acariciá-la e beijá-la. Saber que Kaylee o desejava tanto como ele a ela incendiava-o.
Deslizou uma mão entre as suas pernas e começou a acariciá-la. Quando Kaylee gemeu contra os seus lábios, Colt sentiu fogo nas veias.
- Volta-te, Kaylee, quero fazer amor contigo - sussurrou.
- Mas...
- Confia em mim.
Para sua satisfação, Kaylee não hesitou e voltou-se para ele. Colt ajudou-a a colocar
as pernas à volta da sua cintura.
- Não é assim tão difícil - disse, beijando-a. Continuou, deslizando os seus lábios até ao seu seio e sentindo-a estremecer. A seguir, Kaylee passou-lhe os braços pelo pescoço e deixou tombar a cabeça para trás.
- Colt, preciso...
Colt olhou-a nos olhos e a paixão e o amor que viu neles emocionaram-no. Beijou-a enquanto os seus corpos se uniam e se tornavam um. Sentir Kaylee assim ouvi-la suspirar de prazer e saborear o desejo dos seus lábios turvavam-lhe a razão e só o deixavam pensar numa coisa: em amá-la.
Colt agarrou-a pelas ancas e começou o seu movimento até que deu por si a apertar os dentes perante a necessidade de alcançar o orgasmo. Sentia o corpo tenso e o coração a mil à hora, mas recusou-se a deixar-se levar antes de ter a certeza de que Kaylee ficava satisfeita. Quando Colt sentiu que os seus músculos femininos internos se contraíam, soube que Kaylee estava à beira do clímax. Kaylee ficou completamente quieta e, depois, sussurrou o seu nome e o seu corpo começou a estremecer.
Só então Colt se deixou ir. Gemeu e espalhou a sua semente no interior de Kaylee. Enquanto as bolhas de água os devolviam à realidade, Colt abraçou-a e apercebeu-se de que tinha feito algo impensável: não a tinha protegido. Tal como tinha feito três anos atrás, tinha deixado que o desejo lhe turvasse a razão. No entanto, não se arrependia. Não havia nada no mundo que lhe agradasse tanto como ter outro filho com ela. Infelizmente, não sabia o que é que ela pensaria de conceber um irmãozinho ou uma irmãzinha para Amber. Nem sequer tinham falado do futuro. Colt tinha a certeza que Kaylee o amava e sabia que a amava a ela, mas aceitaria casar-se com ele sabendo que ganhava a vida nos rodeios?
- Kaylee?
- Humm.
- Tens idéia do muito que te amo? - Kaylee abriu os olhos como pratos.
- Amas-me? - gaguejou, voltando-se para ele.
Colt assentiu muito sorridente.
- Sempre te amei, mas comportei-me como um imbecil e não o soube ver.
Os olhos de Kaylee encheram-se de lágrimas.
- Oh, Colt. Eu sempre te amei, desde a primeira vez que te vi.
Colt sentiu que o seu coração se inflamava. Ia correr tudo bem. Não estava disposto voltar a arruinar as coisas entre eles pela segunda vez.
- Temos que falar, querida - disse, beijando-lhe o ombro.
- Kaylee, quero que Amber e tu venham comigo à final do rodeio de Las Vegas. Sentada na cama de Colt, Kaylee estremeceu. Amava-o mais do que a sua própria vida, mas ele estava a pedir-lhe algo que não podia fazer.
- Colt, te amo. Sempre te amei, mas não posso suportar a idéia de te ver sobre um touro.
Colt tomou-lhe as mãos entre as suas.
- Sei que tem medo que possa acontecer alguma coisa, mas sempre soube que é assim onde ganho a vida e sempre o aceitou.
- Isso... era antes - respondeu Kaylee, afastando-se dele e levantando-se da cama.
- Querida, estou a um passo de ganhar o campeonato - protestou Colt. - Agora não posso desistir.
Percorrendo o seu quarto de um lado ao outro, Kaylee tentou explicar-lhe como se sentia.
- Colt, nunca te pediria que deixe o rodeio. Sei que faz parte de ti, da tua forma de ser, mas não consigo suportar a idéia de que te possa acontecer o mesmo que aconteceu a Mitch naquela noite em Houston - disse, respirando fundo.
- Kaylee, sabe que tenho cuidado. Mantenho-me em forma e...
- Mitch também estava em boa forma e também tinha sempre cuidado - interrompeu ela, impaciente, enxugando uma lágrima que lhe tinha escorrido pela face. - E olha o que lhe aconteceu.
- Mas...
Kaylee negou com a cabeça.
- Colt, não poderia sobreviver se tivesse que voltar a passar por aquilo, se me voltasse a encontrar na sala de espera de um hospital, enquanto um médico me diz que não pode fazer nada por ti - soluçou, estremecendo. - Não agüento voltar a passar por isso.
Colt pôs-se de pé e aproximou-se dela para abraçá-la.
- Kaylee, é impossível saber o que vai acontecer. Podia acontecer-me qualquer coisa independentemente da minha profissão.
- Eu sei - respondeu Kaylee, tentando deixar de tremer, - mas ambos sabemos que o rodeio é arriscado.
- Eu amo a Amber e a ti. É por isso que quero que venham as duas comigo - insistiu, acariciando-lhe as costas. - É importante para mim - acrescentou, beijando-a na testa. - além disso, não vai estar sozinha. Morgan, Samantha e Annie vão estar nas bancadas contigo enquanto Brant e eu competimos.
- Colt, não compreende? - afirmou Kaylee com os olhos banhados por lágrimas. -Não faz diferença quanta gente estiver à minha volta. Eles também não poderão impedir que alguma coisa te aconteça.
- Kaylee, espera...
- Não - respondeu ela, sentindo que os seus joelhos fraquejavam. - Sempre foi e sempre serás a minha fraqueza, Colt. Amo-te mais do que alguma vez possas imaginar, mas não posso suportar a idéia de te ver sobre um touro - acrescentou, respirando fundo e continuando antes que Colt a pudesse interromper. -Já tens o ombro completamente recuperado, por isso, já não precisa de mim...
- Claro que preciso Kaylee - respondeu Colt, dando um passo em direção a ela.
- Prometi que te ajudava a voltar a mexer o braço sem dificuldade e já cumpri a minha promessa, mas também te disse que não pretendia ajudar-te a competir na final.
- Kaylee, não me faça isto - disse Colt, dando outro passo em direção a ela.
Pela expressão do seu rosto, Kaylee compreendeu que Colt tinha adivinhado o que lhe ia dizer a seguir. Devia fazê-lo. A sua sobrevivência dependia disso.
- Amber e eu vamos amanhã para Oklahoma City. Vou pedir a Annie ou a Samantha que nos levem ao aeroporto de Laramie e dali, voltaremos a Denver.
Antes que Colt tivesse tempo de responder, Kaylee voltou-se e dirigiu-se ao seu quarto. Sabia que estava a ser covarde, mas não lhe restava alternativa.
Se alguma coisa acontecesse a Colt em qualquer momento da vida, sabia ficaria destroçada, mas se tivesse que testemunhá-lo sabia que jamais sobreviveria, e tinha que sobreviver a qualquer preço. Tinha que pensar na sua filha. Amber dependia dela e não lhe podia faltar.
Colt esperou que introduzissem os touros na arena. Tinha feito uma boa temporada e agora, no último dia da final, estava empatado em pontos com outro participante.
Sabia que, ainda que conseguisse ganhar o campeonato nesse ano, aquela vitória ia estar vazia de sentido. A verdade era que a sua vida tinha estado vazia nas últimas duas semanas, desde que Kaylee e Amber tinham partido.
- Está pronto para domar Kamikaze de uma vez por todas? - perguntou Brant, referindo-se ao touro que Colt nunca tinha conseguido vencer.
Colt encolheu os ombros.
- Mantém a cabeça fria - aconselhou o seu irmão. - Amanhã vai poder ir a Oklahoma City e vais poder conversar com Kaylee.
- O que é que te faz pensar que quero ir a Oklahoma? - respondeu Colt, calçando as luvas.
- Duas razões - respondeu Brant muito seguro de si mesmo.
- Quais são essas duas razões?
- A primeira é que te têm comportado como um urso desde que Kaylee se foi embora. Eu acho que o melhor que podia fazer é admitir de uma vez por todas que não há nada na vida mais importante do quê partilhá-la com a mulher amada - explicou, apertando-lhe as proteções dos joelhos. - Digo-te isso por experiência própria. Se não o fizer, vais acabar amargo e desiludido.
- Desde quando é que é um perito em assuntos do coração? - perguntou Colt com amargura.
Brant sorriu.
- Lembro-te que entre mim e Annie se passou mais ou menos o mesmo, até apercebi que não havia nada mais importante na vida que estar com ela.
Colt ficou a olhar fixamente para o seu irmão.
- Isso foi diferente porque estavas absurdamente convencido de que Annie e tu não tinham nada em comum.
Brant sorriu e continuou a falar ignorando o seu irmão.
- E a segunda razão pela qual sei que vais a Oklahoma City é porque, se não vai por iniciativa própria, Morgan e eu te obrigamos a subir para o avião.
Colt não teve tempo de responder, pois Brant voltou-se e saiu da arena.
Enquanto observava o seu irmão a afastar-se, Colt pensava no que ele lhe tinha dito. A verdade era que a sua vida sem Kaylee e sem Amber estava vazia. Elas eram a sua vida e eram muito mais importantes do que montar um animal endiabrado de mil quilos.
Colt sacudiu a cabeça. Kaylee tinha-lhe dito que ele vivia por e para o rodeio e ele tinha concordado com ela, mas ambos se enganavam.
Em vez de procurar a vitória num rodeio para se sentir satisfeito, devia ter parado para pensar que outras coisas importantes havia na sua vida. Era um bom pai de uma menina linda e estava apaixonado por Kaylee Simpson com todo o seu coração.
Colt olhou para Kamikaze. Tinha tentado montá-lo várias vezes nos últimos anos e, de momento, o touro ganhava três à zero. Kamikaze tinha sido o touro que o tinha atirado ao chão no dia em que tinha partido a clavícula.
- A verdade é que não me importo nada de deixar quatro à zero - disse, decidindo que era mais importante não perder Kaylee. - Hei Jim.
- O que foi? - perguntou Jim Elliot, o árbitro.
-Não vou...
- Colt - disse uma familiar voz feminina atrás dele.
Colt interrompeu-se justamente quando ia dizer que não ia montar Kamikaze. Voltou-se e viu Kaylee e Amber.
Correu para elas para abraçá-las e ter a certeza de que não estava a sofrer uma alucinação.
- O que é que fazem aqui?
- Pai - respondeu Amber.
- Efetivamente, ratinho - disse Colt, beijando a sua filha na face.
- Tinha que vir - disse Kaylee, abraçando-o com força. - Se te acontecesse alguma coisa e eu não estivéssemos contigo, nunca me perdoaria.
Colt sacudiu a cabeça e viu o seu reflexo naqueles lindos olhos violeta.
-Já não tens nada a temer - disse, beijando-a. - Apanhaste-me justamente a dizer a Jim que não vou montar.
Kaylee fitou-o, confusa.
- Por quê?
- Porque te amo - respondeu Colt sinceramente. - Amber e tu são as pessoas mais importantes da minha vida e sei que não gostas que me dedique a isto.
- Colt, eu também te amo - respondeu Kaylee, beijando-o - e é precisamente por isso que não quero que desistas. Quero que montes esse touro.
- Porque é que mudou de idéia?
- Quero que monte porque te amo e porque não quero que de arrependas nunca de nada - confessou Kaylee. - Não quero que passes a vida a pensar como é que as coisas seriam se tivesse ganhado este campeonato.
- Wakefield, é a tua vez - chamou Jim.
- Um momento - respondeu Colt. - Tem a certeza? Se não quiser que eu monte, basta dizer.
Kaylee respirou fundo e olhou-o nos olhos.
- Sim, Colt. Se Mitch aqui estivesse, te obrigaria a competir porque saberia que pode com esse touro.
- Última chamada, Wakefield - gritou Jim por cima do rugido da multidão.
Colt beijou Kaylee nos lábios.
- Venho já - sorriu.
Subiu pelas bancadas a toda a velocidade, colocou-se em cima do touro e agarrou o animal com uma mão.
Kamikaze sentiu-o e encolerizou-se, mas Colt ignorou-o. Estava decidido a poder com aquela besta, mas com cuidado. Kaylee contava com ele e não lhe podia falhar. Colt pôs o chapéu, respirou fundo e fez sinal de que estava pronto para começar. Tal como esperava, quando a porta se abriu, Kamikaze saltou para a arena em fúria.
Colt levantou o braço esquerdo para manter o equilíbrio e agarrou-se com força a ambos os lados do animal com as pernas, concentrado em seguir os seus movimentos. Kamikaze deu dois saltos, virou à esquerda e começou a dar voltas.
Com cada movimento daquele animal de mil quilos, Colt sentia como se alguém o levantasse pelos ares uns metros e depois o deixasse cair com força. Concentrou todas as suas energias em agarrar-se bem e em antecipar o movimento seguinte do touro.
Sentia a adrenalina por todo o corpo e quando ouviu o sino dos oito segundos soube que, por fim, tinha vencido o seu velho inimigo. Soltou-se dele e desmontou.
Kaylee abraçava Amber com força enquanto, sem fôlego, observava como Colt tinha conseguido agüentar o tempo estipulado sobre Kamikaze. Rezou para que não se lhe prendesse a corda e caísse ao desmontar, mas, para seu alívio, Colt conseguiu aterrar sobre os dois pés e sair da pista enquanto Brant e outros dois participantes distraíam o animal.
Ao ver Brant abraçar o seu irmão e o grande sorriso de satisfação de Colt, soube que tinha feito bem em ter ido à final. Tinha passado duas semanas horríveis a pensar se devia ficar em Oklahoma City ou estar ao seu lado. Por fim, compreendeu que não tinha escolha. Quando uma pessoa ama alguém tanto como ela amava Colt, simplesmente tem que aceitar essa pessoa tal como ela é e não tentar mudá-la.
Não sabia ainda como é que ia fazer para lidar com o fato de Colt montar um touro todos os fins de semana durante vários anos, mas durante aquelas duas últimas semanas tinha compreendido que teria que aprender a viver com o medo porque viver sem Colt era impossível de imaginar.
- Pai - disse Amber, lançando os bracinhos para Colt quando este se aproximou delas. Feliz por ele, Kaylee entregou-lhe a bebê e abraçou-o.
- Conseguiu Colt, ganhaste. - Colt assentiu sorridente.
- Sim, ganhei - disse mais sério ao ver que Kaylee deixava escapar uma lágrima. - Está bem?
Kaylee assentiu.
- Estou feliz por teres ganho e aliviada porque não te aconteceu nada.
- Kaylee, quero dizer-te uma coisa...
Teve que se interromper ao ouvir que o chamavam pelos alto falantes.
- Bolas, tenho que ir para...
Kaylee deu-lhe um beijo e sorriu, tomando Amber novamente nos seus braços.
- Vai receber o teu prêmio, o merece. Esperaremos aqui.
- Não sabes como fico feliz por ouvir isso - respondeu ele, beijando-a e se afastando para ir receber o seu troféu.
Kaylee ouviu que entregavam a taça do campeonato e o avultado cheque que o concorrente com mais pontos tinha conseguido. O cowboy deu graças a Deus por o ter protegido e ao público pelo seu apoio.
Quando chegou a vez de Colt deram-lhe a grande taça dourada e o cheque correspondente ao prêmio da final, Colt agradeceu a todos e perguntou se podia utilizar o microfone por um momento para fazer um anúncio.
- Claro, não há problema - respondeu o homem um pouco surpreendido.
- Sempre me diverti muito a participar no rodeio - declarou Colt perante um público silencioso - e não podia ter pedido que a temporada terminasse melhor. Precisamente por isso, decidi deixá-lo agora, no meu melhor momento de glória.
O público pôs-se de pé e saudou-o com uma grande ovação. Kaylee sentiu que as lágrimas não a deixavam ver. Colt tinha-se retirado. Não ia continuar a tentar a sua sorte.
Quando chegou junto a ela, encontrou-a a tremer.
- Por que, Colt?
Colt sorriu e abraçou as duas mulheres da sua vida.
- Porque vocês são mais importantes para mim do que qualquer outra coisa.
- Por favor, não deixes o rodeio por mim implorou Kaylee. - Não quero que te arrependa mais tarde.
- Não me vou arrepender - garantiu Colt, pegando em Amber ao colo e agarrando em Kaylee pela cintura. - Ganhei, ao fim de muitos anos de esforço, por isso já não tenho nada mais que demonstrar. Só que vos amo muito disse, beijando-a na face. - além disso, não me apetece estar todo desfeito e sem conseguir amor contigo todos os dias da minha vida.
Kaylee sentiu um aperto no coração.
- Todos os dias da tua vida?
- Sim - respondeu Colt, olhando-a nos olhos. - me Daria à honra de ser a minha esposa, Kaylee Simpson? Queres viver comigo em Lonetree, deixar-me ser o pai de Amber a tempo inteiro e ter mais filhos?
- Sim - respondeu Kaylee, fechando os olhos ao sentir uma vertigem.
- Está bem? - disse Colt, agarrando-lhe no braço.
- Ultimamente, tenho vertigens quando me emociono - respondeu Kaylee, franzindo o sobrolho. - A única vez que isto me aconteceu antes foi quando estava grávida...
- A banheira de hidromassagem - sorriu Colt, abraçando-a com força.
- Pai, mãe - disse Amber, abraçando os dois.
- Gostavas de ter um irmãozinho ou uma irmãzinha, ratinho? - perguntou Colt.
- Sim - respondeu Amber, assentindo com a cabeça.
- Olha desta vez fez bem - riu Colt. - Kaylee, apetece-te ter outro filho? - acrescentou, pondo-se sério de repente.
Kaylee sorriu e olhou para aquele homem que ela amava com todo o seu coração.
- Adorava ter outro filho com o cabelo preto como o azeviche e os olhos azuis Wakefield.
- Vamos falar com o pároco para tornar as coisas oficiais - sorriu Colt.
- Não - respondeu Kaylee.
- Porque não? - disse Colt, surpreendido. Não, mudou de opinião e já não te queres casar comigo, ou não, não te quer casar em Las Vegas?
- Não, não me quero casar em Las Vegas respondeu Kaylee. - Se não te importas, prefiro que nos casemos em Lonetree. É o lugar onde vamos viver e quero que comecemos ali a nossa vida em comum.
- A mim parece-me perfeito, querida - disse Colt, beijando-a. - Amo-te, Kaylee.
- Eu também te amo, cowboy. Mais do que tu possas imaginar.
Véspera de Natal
- Sinto-me como se me estivesse a sufocar - disse Colt, puxando pelo colarinho da camisa.
- Bem feito, pelo que te riste de Morgan e de mim quando nos casamos há uns anos - disse Brant.
- Porque é que estão a demorar tanto? Perguntou Colt, disposto a ir buscar Kaylee pessoalmente.
- Suponho que porque Annie e Samantha estarão às voltas com o vestido ou com o penteado de Kaylee ou com, vai-se lá saber com quê - respondeu Brant, encolhendo os ombros. - Vai ver, quando estiver casado há um tempo, compreenderá que as mulheres nestas ocasiões se enredam com qualquer pormenor.
- Até parece que não tiveram mais do que tempo para preparar tudo - respondeu Colt, franzindo o sobrolho.
Annie e Samantha tinham insistido em que Kaylee passasse a noite anterior na casa principal com elas enquanto Colt, Brant, Morgan e os miúdos dormiam em casa de Colt.
Tinham dito que era porque o noivo não podia ver a noiva enquanto não estivesse à espera dela no altar. Colt não sabia nada sobre aquele protocolo, mas o que sabia era que tinha tido imensas saudades de Kaylee e que estava morto por voltar a vê-la.
Quando Samantha apareceu na escada com Amber pela mão, Colt sorriu. A sua filha parecia um ratinho com aquele vestido de veludo encarnado e renda branca.
- Pai - disse a pequena, apontando para Colt enquanto descia as escadas de mão dada com Samantha. - Colo, pai, colo - acrescentou já ao seu lado.
Sem hesitação, Colt inclinou-se e pegou-lhe ao colo. Colt estava encantado com a rapidez com que a criança se tinha apegado a ele.
- Preparada para ajudar o pai e a mãe a casar? - perguntou, beijando-a na face. Amber assentiu e sorriu. -Sim.
- Prepara-te, irmão - disse Brant, quando Annie desceu as escadas também. – Está prestes a entrar para o clube, preste a tornar-te um de nós.
Colt sorriu.
- Nunca pensei que fosse dizer isto, mas ainda bem.
Samantha deu início à música e colocou as crianças junto à árvore de Natal. A seguir, Brant e Annie colocaram-se junto à lareira onde os esperava o padre Hill, da igreja metodista de Bear Creek.
- Mãe linda - disse Amber de repente, apontando para as escadas.
Colt ergueu o olhar e ficou sem fôlego. Kaylee estava ao alto da escada, de braço dado com Morgan, com um lindo vestido de renda branco e o cabelo apanhado.
Estava linda.
- Sim, Amber - disse Colt, dando um passo em frente, - a tua mãe é a mulher mais bonita do mundo.
Ao chegar ao fundo das escadas, Morgan sorriu e colocou a mão de Kaylee na de Colt. Deu um beijo a Kaylee na face e uma palmadinha no ombro do seu irmão.
O sorriso que a sua futura mulher lhe dedicou fez com que a temperatura corporal de Colt se elevasse. Com Kaylee por um braço e Amber no outro, Colt aproximou-se da lareira onde o padre Hill os esperava para os casar.
Três horas mais tarde, depois de terem metido Amber na cama, Kaylee e Colt sentaram-se no sofá da sala e abraçaram-se.
A sala estava às escuras com exceção do fogo da lareira e das luzinhas da árvore de Natal, o que conferia à divisão um ambiente absolutamente romântico.
- Colt?
- Sim.
- Tenho um presente de Natal para ti - disse Kaylee, levantando-se para ir buscar um embrulho que havia debaixo da árvore.
- Achava que íamos esperar até amanhã de manhã para distribuir os presentes - disse Colt, franzindo o sobrolho.
Kaylee negou com a cabeça.
- Prefiro dar-te agora.
Kaylee mordeu o lábio inferior enquanto entregava a caixa a Colt e este a sacudia.
- É muito leve - sorriu, rasgando o papel. O que é isto?
- Uma cópia do exame de ultra-som - respondeu Kaylee, muito sorridente. - Fiz ontem a segunda ecografia.
Colt não sabia, pois não tinha voltado a ver a sua mulher até a cerimônia e aquilo não era algo de que se falasse ao telefone.
- O que é que o médico te disse? - perguntou Colt, observando o papel que tinha nas mãos. - Está tudo bem?
Kaylee sorriu e apontou para a ecografia.
- Disse-me que estou sã e os bebês também.
- Os bebês?
Kaylee riu-se da sua cara de surpresa.
- O médico insistiu em fazer-me esta ecografia porque dizia que estava a engordar demasiado para estar grávida de apenas dois meses sorriu Kaylee, beijando-o nos lábios. - Vamos ter gêmeos, cowboy.
Colt sorriu, pegou na mão de Kaylee e beijou-lhe a aliança.
- além do casamento, este foi o melhor presente de Natal de sempre.
Estiveram um momento abraçados em silêncio antes que Colt voltasse a falar.
- Se forem rapazes, gostaria que chamássemos Mitch a um deles?
Kaylee sentiu que lhe saltavam as lágrimas.
- Gostava muito - respondeu. - Amo-te, Colt.
- Eu também te amo.
- Este vai ser o melhor Natal da nossa vida disse Kaylee, aninhando-se contra o seu corpo.
- Este foi o primeiro de muitos dias especiais - respondeu Colt com um beijo, estendendo-lhe a mão. - Agora vamos para o quarto para que me mostres como vão ser especiais as nossas noites.
Sem qualquer hesitação, Kaylee aceitou a sua mão, ansiosa por começar a sua vida como marido e mulher em Lonetree.
Katie DeNosky
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