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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


UMA NOITE EM CLARO / Artur Azevedo
UMA NOITE EM CLARO / Artur Azevedo

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                   

 

 

Artur Azevedo

 

 

 

 

PERSONAGENS: UM SUJEITO UMA SENHORA
Quarto de hotel. Porta à direita. Ao fundo, porta condenada. Mesinhatoucador, cama, móveis, janela à esquerda. A senhora entra trazendo uma vela acesa num castiçal, e fala para fora.


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CENA I
 
A SENHORA Deixe ficar a chave na porta. (Só) Meu marido, quando voltar verá quem o espera no seu quarto. (De volta à cena, depois de colocar o castiçal sobre a mesinha) Terá ele percebido? Estes criados de hotel fazem-se tão desentendidos! E então este estava a dormir em pé... Eis-me chegada, afinal... Romualdo não me espera. Que agradável surpresa vai ter! contra a sua mulherzinha tranquilamente deitada, à sua espera, quando a supõe a tantas léguas de distância! Eu deveria tê-lo prevenido... Se o fizesse, ele iria buscar-me à estação, e eu não estaria a estas horas sozinha no quarto de um hotel... Que estará ele fazendo? ele, que, nas suas cartas, me afirma todos os dias que se recolhe à boca da noite? Provavelmente foi ao espetáculo... já passa de nove horas... Desde pela manhã que viajo em caminho de ferro... Sou muito caipora! Logo hoje é que o trem havia de descarrilhar e chegar com três horas de atraso! Felizmente não passou do susto... Mas como estou fatigada! (Tira o chapéu e a capa, que atira sobre um canapé) Que calor! Que poeira! (Vai ao toucador) Não está cá a escova de marfim, nem o meu pente de tartaruga! Dar-se-á caso que Romualdo os tenha perdido? (Arranja os cabelos) Que cansaço, meu Deus! Se eu me deitasse? Não... teria muito medo assim sozinha... Mas, ora adeus! Vou deitar-me assim mesmo vestida... talvez passe o sono... A cama é tão estreita... (acomoda-se) e tão dura! Ainda assim, que bom! Romualdo vai ficar bem satisfeito, tanto mais que é muito ciumento... ele diz que não, mas é... Só vendo! Quando desconfia que alguém me faz a corte, fica logo com uma cara, ih! Que culpa tenho eu de ser moça e bonita? Em todo o caso, se isso é um defeito, Deus queira que tão cedo não me corrija... Decididamente não resisto... os meus olhos fecham-se... Já deve ser muito tarde... Ah! é tão bom dormir depois de uma viagem... É tão bom! Tão... (Adormece. Pausa) 
 
 
CENA II A Senhora, adormecida, o Sujeito.
 
O SUJEITO (falando para fora)  Venha escovar-me o fato amanhã às sete horas em ponto. Leve a chave consigo para poder entrar sem me despertar. (Desce à cena. Ouve-se dar duas voltas à chave) É muito aborrecido ter a gente que se levantar de manhã para abrir a porta... Olá! Uma vela acesa... Esqueceram-na aqui... (Vai para apagá-la) Não!... uma vez que não é minha, não a pago, e uma vez que não a pago, não a apago. Fiquemos às claras, como os positivistas. O mesmo não diria minha mulher se aqui estivesse... tão econômica... tão apertada... (Enquanto fala, tem tirado as luvas, que dobra com cuidado, alisa o chapéu com a manga e põe tudo sobre a mesinha) Ernestina é uma senhora honesta, não há dúvida, mas tem cabelinho na venta... quando se zanga, vai tudo raso! Aqui estou, felizmente, no gozo da mais completa liberdade. Entro, saio; torno a entrar, torno a sair, sem dar satisfações a ninguém. Note-se que há três dias estou na corte, e não tenho ainda a mais leve infidelidade na consciência. O mais que minha mulher pode dizer é que tenho gasto dinheiro como quem se despede deste mundo. Isso tenho. Só em artigo bondes, o que lá vai! E todas as noites tomo o meu chope no Cailteau e compro uma cadeira de 2ª classe para ir ver o Excelsior... Isto continuadamente, no fim da viagem, há de ser cá uma continha calada... mas também, que vilão! Oh! Rio de Janeiro!
 
Rio de Janeiro! ...que cidade! Por toda a parte vejo mulheres... Que mulheres, Santo Deus! Eu olho... não custa nada... Não custa nada, mas sabe Deus quanto me custa não saber do custo! Quando saio do Excelsior, venho extasiado, arrebatado, apaixonado! Que pernas! que pés! que olhos! São de endoidecer um homem! Ah! mas eu sou prudente... estou farto de saber que essas dançarinas são capazes de deixar um homem com a camisa do corpo, enquanto o diabo esfrega um olho! Nada... tenho medo que me pelo... Há entre elas uma muito loura, muito delgadinha, que não tirava hoje os olhos de mim... (Vai mirar-se ao espelho) Eu tenho ainda uma cara muito apresentável... ainda há muita mocidade nesta fisionomia...É o resultado de me haver casado muito novo, e de viver na província... Fui sempre homem de muito juízo...Aqui na corte dizem-me que não há meio de conseguir que um homem não se desvie do bom caminho... E os perigos que se corre? Ainda ontem um comprovinciano meu, um solteirão que aqui reside há muitos anos, me disse que, por piedade, ofereceu hospedagem, por uma noite, a uma moça bonita e decentemente vestida que encontrou abandonada e queixosa no Largo da Carioca, e no dia seguinte, quando se ergueu, não encontrou nem ela, nem o relógio, nem a corrente, nem a carteira...é o diabo! Livrem-se lá de uma destas! Por bem fazer, mal haver. (Tem tirado o paletó e vai colocá-lo no canapé) Que é isto? (Vê o chapéu) Um chapéu de senhora!... Entrou aqui uma mulher?! Estou roubado! (Apalpa-se) Não, o relógio cá está, e o dinheiro. (Vai a uma gaveta) A minha roupa está também intacta... Provavelmente foi surpreendida, e não teve tempo de roubar... Agora explico por que a chave estava na fechadura. (Vai pôr o castiçal sobre o criado-mudo e recua amedrontado) Quem está aí na cama? (Examinando de longe) Não há que ver, é uma mulher... ou um homem disfarçado que pretende assassinar-me! E a porta, que está fechada por fora! (Vai para aproximar-se da porta, e derriba uma cadeira. Com a bulha, a senhora desperta) 
 
A SENHORA Quem é?
 
O SUJEITO Disfarça a voz.
 
A SENHORA Romualdo, sou eu! (Salta da cama) 
 
O SUJEITO Para trás!
 
A SENHORA Não é meu marido!...
 
O SUJEITO Parece-me que é realmente uma mulher. Onde estará o cúmplice?
 
A SENHORA (medrosa)  Que faz o senhor aqui?
 
O SUJEITO Perdão: eu que tenho o direito de lhe fazer essa pergunta!
 
A SENHORA Estou no quarto do meu marido!
 
O SUJEITO Essa agora é má! Este quarto é meu, minha senhora, e minha mulher está muito longe!
 
A SENHORA Será possível?! Quero sair imediatamente!
 
O SUJEITO Não consinto que saia sem explicar a sua presença no meu quarto!
 
A SENHORA Eu grito!
 
O SUJEITO Não grite! Se Ernestina sabe que estive fechado no quarto com outra mulher, estou bem aviado!
 
A SENHORA Abra a porta, senhor!
 
O SUJEITO É impossível!
 
A SENHORA Decididamente eu grito! (Corre para a porta) 
 
O SUJEITO (interpondo-se)  Menos essa! Não faça escândalo!
 
A SENHORA Tem razão...Amanhã todos os jornais falarão... Mas, pelo amor de Deus, senhor, não faça mau juízo de mim... Acredite que sou uma senhora honesta!
 
O SUJEITO Que se introduz furtivamente na casa alheia... boas!
 
A SENHORA Foi um engano, senhor, um lastimável engano... Cheguei hoje de São Paulo com a ideia de causar uma surpresa a meu marido... o criado do hotel me conduziu a este quarto, dizendo-me que era o dele... naturalmente acreditei... como estivesse muito fatigada da viagem, deitei-me naquela cama e adormeci. Aí tem o que se passou... aí tem o engano que só para mim poderá ter consequências terríveis, porque meu marido é muito desconfiado. Depois desta explicação, creio que o senhor não hesitará um momento em me abrir aquela porta...
 
O SUJEITO Já lhe disse que é impossível!
 
A SENHORA Cautela... o senhor não me insultará impunemente!
 
O SUJEITO (à parte)  Parece sincera. (Alto) Minha senhora, eu sou o primeiro a desejar evitar suposições injuriosas a seu respeito... Creio que a meu pesar que me vejo obrigado a guardá-la neste quarto até às sete horas da manhã.
 
A SENHORA O senhor é um miserável! (Vai bater à porta) 
 
O SUJEITO (agarrando-a pela cintura)  A senhora perde-se!... Juro que não abusarei da nossa situação!
 
A SENHORA Deixe-me! Meu marido me vingará dos seus insultos! 
 
O SUJEITO Mas, minha senhora, infelizmente a sua liberdade não está nas minhas mãos. Estamos fechados! 
 
A SENHORA Fechados!
 
O SUJEITO O criado tem a chave da porta na algibeira. 
 
A SENHORA Chame por ele...
 
O SUJEITO Com todo o prazer; mas reflita, minha senhora, há duas horas que vossa excelência está em casa de um homem ainda novo, e vigoroso.
 
A SENHORA Meu Deus! E meu marido? Que devo fazer? 
 
O SUJEITO Sei lá!
 
A SENHORA Veja se se lembra de algum meio... Disso depende a minha honra.
 
O SUJEITO E o meu sossego.
 
A SENHORA Se o senhor saltasse pela janela?
 
O SUJEITO Minha senhora, nós estamos num terceiro andar!
 
A SENHORA Não posso, de forma alguma, passar aqui a noite. Meu marido...
 
O SUJEITO É muito desconfiado, vossa excelência já o disse. (Depois de uma pausa) Mesmo quando não fosse.
 
A SENHORA Mas, vamos, vamos, senhor!
 
O SUJEITO Mas pelo amor de Deus, minha senhora! Quando se tem um marido assim, deve-se andar com mais cuidado, para não expor ao ferro homicida os preciosos dias de um pai de família. Eu não fui procurá-la; eu não a conheço; eu nunca a vi mais gorda; não é justo que pague com a vida uma imprudência que não cometi; uma senhora deve saber onde entra, principalmente se está num hotel, que, afinal de contas, uma casa pública.
 
A SENHORA O senhor tem razão... a culpa é toda minha... mas que quer? Tenho medo...
 
O SUJEITO Também eu, pudera! E se não fosse vossa excelência, eu estaria neste momento em vale de lençóis e no melhor dos sonhos!
 
A SENHORA Creia que estou bastante contrariada por haver, embora involuntariamente, perturbado o seu repouso... Só lhe peço uma coisa: é que, por fás ou por nefas, me proporcione os meios de sair daqui... O senhor, pelo meu todo, deve ter percebido que sou uma senhora da melhor sociedade... imagine o receio em que me acho de perder uma reputação que até hoje ninguém se atreveu a atacar... E é tão fácil perder uma reputação quando se é moça...
 
O SUJEITO Moça e bonita. (À parte) Porque na realidade é muito bonitinha!
 
A SENHORA Demais, conheço o gênio do meu marido... corremos ambos um sério perigo.
 
O SUJEITO Que o leve à breca!
 
A SENHORA Antes que o leve à breca, ele é capaz de o estrangular! 
 
O SUJEITO Pois se assim é, minha senhora... Se eu tenho de morrer estupidamente, ao menos quero merecer a morte. (Aproxima-se dela) 
 
A SENHORA Não me toque!
 
O SUJEITO O Excelsior, a dançarina loura e delgada, esta situação noturna, o perigo que nos ameaça – tudo isto me faz sair do meu natural...
 
Afinal de contas, eu também tenho sangue nas veias, eu também sou destemido e resoluto! Ah! Ah! Minha senhora! Seu marido não matará um homem inocente.
 
A SENHORA Por piedade, senhor!
 
O SUJEITO E ele? Terá ele piedade de um homem de bem, pacato, morigerado, bom esposo, bom pai de família, e que se acha na corte, não à cata de aventuras amorosas, mas simplesmente à cata de um tabelionato de público, judicial e notas?
 
A SENHORA O senhor assusta-me!
 
O SUJEITO Assustado devo estar eu, se me faz favor! Não me faz senão repetir-me que seu marido me dará cabo do canastro, como se eu fosse para aí um frango ou uma galinha!... Eu vingo-me, ora aí tem, eu vingo-me! Depois, não tenho medo! Com um murro, escangalho-o, como escangalho esta cadeira! (Atira uma cadeira) 
 
A SENHORA Meu Deus!
 
UMA VOZ DE HOMEM  Ó vizinho! O senhor não me deixa dormir! Olhe que ainda não é dia.
 
A SENHORA É ele!
 
O SUJEITO Ele quem?
 
A SENHORA É a voz do meu marido!
 
O SUJEITO (baixo)  Não fale tão alto.
 
A SENHORA O senhor tem medo, e eu também.
 
O SUJEITO Ter medo eu? Ora vamos lá. (Indo à parede e falando baixo) Estou em minha casa, senhor. Os incomodados é que se mudam. Venha cá ao meu quarto repetir as suas ordens, se é capaz!
 
A SENHORA (à parte)  Coitado! Não tem pinga de sangue!
 
O SUJEITO Como vê, minha senhora, não ficou sem troco; não o temo; sim... mas Vossa Excelência pode perfeitamente evitar que se dê entre nós qualquer conflito.
 
A SENHORA Certamente... direi amanhã a Romualdo que, na incerteza de o encontrar, não quis entrar à noite, sozinha num hotel, e fui dormir à casa de minha tia.
 
O SUJEITO E é o que devia ter feito.
 
A SENHORA E nunca saberá que eu passei aqui a noite.
 
O SUJEITO E a sua tia? É preciso preveni-la.
 
A SENHORA Não; porque meu marido não se dá com ela.
 
O SUJEITO Será melhor assim, porque eu não me quero envolver em questões de família, para as quais não contribuí direta nem indiretamente.
 
A SENHORA Esteja descansado... tudo se arranjará.
 
O SUJEITO  É um caso virgem; uma senhora enganar honradamente a seu marido.
 
A SENHORA Estou certa de que Deus me perdoará.
 
O SUJEITO Vossa Excelência é adorável... E, não sei por quê, seria capaz de apostar de que não é feliz...
 
A SENHORA (depois de uma ligeira hesitação)  Quer dizer, meu marido é bom, é leal, é sincero... Confesso que o preferia menos ciumento, menos desconfiado, mas eu tenho muito bom gênio... ele ama-me... e quando amanhã me lançar nos braços dele, e der-lhe um beijo...
 
O SUJEITO (elevando a voz)  Então, minha senhora? Pelo amor de Deus! Não leve a conversação por esse atalho! Agora que meu receios desapareceram, e que eu a contemplo sem outra preocupação mais que o respeito que vossa excelência me merece... essa ideia de beijo perturba-me... o coração bate-me descompassadamente...
as paixões ruins despertam... porque, afinal de contas, minha senhora, vai alta noite, nós estamos sós e vossa excelência é bela!
 
A SENHORA (baixinho)  Senhor, esquece-se que meu marido pode ouvi-lo...
 
O SUJEITO Ora!
 
A VOZ  Mas com os diabos! Fale mais baixo... Tenha contemplação com os vizinhos!
 
O SUJEITO (baixo)  Este animal tem ouvidor de tísico!
 
SENHORA (baixinho)  Cale-se por favor... olhe... sentemo-nos, o senhor no canapé, eu nesta poltrona... e durmamos...
 
(Sentam-se) 
 
O SUJEITO Obedeço, minha senhora... não posso, não devo resistir às suas ordens. (Depois de uma pausa) Dormir... dormir, quando tenho ao meu lado uma mulher bonita... uma mulher que não é a minha... Oh! Vossa excelência imagina que eu sou de mármore?... (A um movimento da senhora) Tranquilize-se... Eu saberei conter-me... Resistirei ao encanto que me arrasta... Vossa excelência não me conhece... eu sou de Sergipe... Sou chefe de seção da Secretaria do Governo em Aracaju, e vim à corte solicitar um lugar de tabelião do público, judicial e notas, que está vago... Entrei em concurso na província, e fui habilitado... Sou um homem de bem... Tenho mulher e quatro filhos... (A senhora boceja. Pausa) Quantas vezes sonhei com a felicidade de ser amado... Eu tinha um ideal... Que diabo! Todos têm um ideal, mesmo em Sergipe... E o meu ideal era vossa excelência... talvez menos bela, talvez menos esbelta... Não tinha talvez esses olhos, ó doce companheira desta noite agitada... não possuía talvez esse encanto que neste momento transforma em heroísmo a minha virtude... (Aproximando-se pouco a pouco da senhora, que tem as costas voltadas para ele) Ouça... compreenda o meu tormento... tenha compaixão de um homem subjugado. (Tomando-lhe a mão) Faça com que esta noite seja o mais belo dia de minha vida! (A senhora ressona sem estrépito) Que! Ela dorme! (O sujeito esquece-se e derriba a mesinha) 
 
A SENHORA (erguendo-se sobressaltada)  Que bulha!... endoideceu, senhor? (Ouve-se uma campainha sendo violentamente agitada) 
 
A VOZ  Ah! Ele é isso? Vou queixar-me ao dono do hotel! (Continua a campainha) 
 
A SENHORA Valha-me Deus! Meu marido vem aí!
 
O SUJEITO A porta está fechada!
 
A SENHORA Arrombá-la-á!
 
O SUJEITO É um ferrabrás! Vem alguém. Esconda-se atrás desta cortina... Esconda-se mais... assim... 
 
(Abre-se a porta. O criado, que não se vê, fala) 
 
A VOZ DO CRIADO  O vizinho do nº 7 queixa-se de que o senhor o não deixa dormir.
 
O SUJEITO Pois diga ao vizinho do nº 7 que eu sou sonâmbulo. Sonhava alto... Peço-lhe mil desculpas por tê-lo incomodado... 
 
(Passa a chave para o lado de dentro e fecha a porta) 
 
A SENHORA Que susto! A chave?
 
O SUJEITO Lá está na porta.
 
A SENHORA Peço-lhe também mil desculpas pelo incômodo que lhe dei.
 
O SUJEITO Quê! Vossa Excelência vai-se embora?
 
A SENHORA  Se lhe parece...
 
O SUJEITO Sem me deixar a mínima recompensa?
 
A SENHORA (abrindo a porta)  Trate de dormir, que é tempo, e sonhe com sua senhora. (Vai rindose) 
 
O SUJEITO (interdito)  E ri-se! Ora aí tem! Não há que ver, fiz uma bonita figura!
 
A VOZ DA SENHORA Romualdo! Romualdo!
 
O SUJEITO É a sua voz... Está no quarto do marido... (Aplicando o ouvido) Um beijo!... (Vestindo o paletó) Decididamente não fico aqui...Vou até a Praça do Mercado, que dizem ser muito divertida de manhã cedinho. (Toma o chapéu e sai correndo)

 

 

                                                                  Artur Azevedo

 

 

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