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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


UMA NOITE INESQUECÍVEL / Kathie DeNosky
UMA NOITE INESQUECÍVEL / Kathie DeNosky

 

 

                                                                                                                                   

 

 

 

11° livro  / UMA NOITE INESQUECÍVEL

 

 

Quando a alta sociedade da Costa Leste se rende , ao charme do Oeste...

Travis jamais esqueceu aquela noite... ou Finola. Ele sabe que a vida dela está nos desfiladeiros de concreto de Manhattan, e não no sopé das Montanhas Rochosas. Ainda assim, Travis está determinado a ser um pai presente. E ele sempre consegue o que quer...

Após desfrutar uma única noite com Travis Ciayton, um rancheiro rico e sensual, a editora da revista de moda Charisma, Finola Elliot, descobriu que estava grávida. O bebê é uma surpresa bem-vinda, mas Fin precisará dos próximos nove meses para descobrir o que fazer a respeito do pai...

 

                   Do Diário de Finola Elliot

 

Travis Clayton alega ser "um simples rapaz do inte­rior ", mas nada a seu respeito pode ser descrito como "simples "! Sob aquele seu chapéu de vaqueiro, o ho­mem è um metro e noventa e dois depura sensualidade, capaz de aquecer uma noite de outono mais rápido do que uma fornalha.

Estar em sua presença me deixa perplexa. Sou Fin Elliot, editora chefe de uma das maiores revistas de mo­da do mundo. Uma executiva audaz, capaz de enfrentar e vencer qualquer desafio que apareça em meu caminho. Assim, por que não consigo encarar meus sentimentos por Travis?

Deve ser o bebê. Meus hormônios estão mexendo com a minha cabeça. Daqui a dois meses a competição absurda de Patrick pelo controle do império editorial Elliot terminará, e já posso sentir o sabor da vitória. Não vejo a hora de olhar para aquele rosto envelhecido quando eu assumir como presidente. Mas como posso trabalhar vinte horas por dia quando estou para me tor­nar mãe? O que fazer em relação ao bebê?

E, Deus me ajude, o que faço com relação a Travis?

Será ele o único desafio que não conseguirei vencer?

 

 

 

 

 

— Não acredito que já é primeiro de novembro — murmurou Finola Elliot ao examinar as anotações na agenda eletrônica.

Faltavam apenas dois meses para que Patrick, fun­dador e presidente da Editora Elliot e patriarca do clã dos Elliots de Long Island, se aposentasse e nomeasse um dos quatro filhos seu sucessor à frente do império editorial que construíra ao longo dos anos. E Fin es­tava determinada a ser a vencedora incontestável da competição que ele promovera para determinar quem estaria mais apto para a posição.

Passara toda a vida adulta trabalhando para assu­mir a Editora Elliot, e embora os dois irmãos e um dos sobrinhos fossem igualmente qualificados para a posição, Patrick — havia anos que não o chama­va de pai — lhe devia o cargo e muito mais. Mas, quando ele examinasse as margens de lucro e cres­cimento das revistas The Buzz, Snap, Pulse e Charisma, Fin queria que não houvesse dúvidas de que seu "bebê", a Charisma, havia deixado as outras co­mendo poeira.

Ao final do segundo trimestre, sua revista de moda estivera na liderança. Infelizmente, nos dois últimos meses, seu irmão gêmeo, Shane, havia assumido a liderança com sua publicação que cobria o mundo d televisão, do teatro, da música e do cinema, The Buzz. Mas Fin não tinha com o que se preocupar. Tudo esta­va de volta aos trilhos, e favorecendo-a novamente.

Sorrindo, ela olhou para o novo retrato sobre sua mesa e o motivo pelo qual sua atenção fora desviada do objetivo. Fin descobrira que sua estagiária, Jessica Clayton, era o bebê que Patrick a forçara a entregar para a adoção vinte e três anos antes, e ela e a filha vi­nham tentando recuperar o tempo perdido. Jessie era uma jovem maravilhosa, e as duas haviam se tornado bem próximas nos dois últimos meses. Fin chegara a acompanhar a filha ao Silver Moon Ranch, no Colo­rado, para conhecer o pai adotivo de Jessie e ver onde ela crescera.

Mas, agora que Jessie e Cade McMann, o braço direito de Fin na Charisma, estavam ocupados com os últimos preparativos para o casamento dos dois no final do mês, Fin precisava retomar seu foco. Ela es­condeu um bocejo com a mão. Só gostaria de não se sentir cansada o tempo todo.

Ao verificar em sua agenda as projeções de cresci­mento para o mês de novembro nas anotações de ou­tubro, sentiu um arrepio na coluna.

Algo estava faltando. Onde estava a anotação que ela fazia todo mês para indicar o início do ciclo mens­trual?

Consultando as anotações de setembro, sentiu o cora­ção quase parar... e, então, começar a bater em dispara­da. Havia quase seis semanas que sua regra não vinha?

— Isso não pode estar certo.

Com certeza apenas se esquecera de marcar a data em outubro. Mas, pensando bem, a última vez de que se recordava fora bem antes de acompanhar Jessie ao Colorado.

Atordoada, Fin se recostou na poltrona de couro de espaldar alto e fitou a cidade pela enorme janela que ia do chão ao teto, substituindo uma das paredes de seu es­critório. A única outra vez em que a regra deixara de vir fora aos 15 anos, quando engravidara após sua primeira noite de paixão com o namorado de 16, Sebastian Deveraux. Mas não havia como ela estar grávida desta vez.

Fin quase riu. Para haver a mínima possibilidade de isso ser verdade, ela precisaria ter uma vida amorosa. E não tinha. Sequer se recordava da última vez em que saíra na companhia de um homem, exceto para tratar de negócios — quer fosse cortejando um anunciante em potencial ou entretendo um dos inúmeros estilistas cuja nova coleção estava aparecendo na Charisma.

Sua vida social sempre viera em segundo lugar, depois da revista que se tornara sua obsessão ao lon­go dos anos. Mas um súbito pensamento roubou-lhe o fôlego. Houvera aquela noite... Na festa que Travis Clayton, o pai adotivo de Jessie, organizara em come­moração pelo noivado de Jessie e Cade.

Fin enrubesceu com a lembrança do que acontecera quando ela e Travis haviam entrado no celeiro para ver uma égua e seu potro recém-nascido. O que começara como um abraço inocente para expressar sua gratidão pelo trabalho maravilhoso que Travis e sua falecida esposa, Lauren, haviam feito ao criar Jessie, acabara se transformando em uma noite de paixão cuja lembrança ainda era capaz de deixar Fin sem fôlego. Houvera apenas uma outra vez na vida em que se per­mitira perder o controle e ignorar a prudência daquela maneira. A noite em que concebera Jessie.

Pensativamente, ela mordiscou o lábio inferior. Não poderia ter engravidado só com aquela noite com Travis, poderia?

Sacudindo a cabeça, descartou por completo a idéia. Podia até ser possível, mas definitivamente era improvável. Lera em algum lugar que, quanto mais uma mulher se aproximava da casa dos quarenta, mais demorava para conseguir engravidar. E, aos trinta e oito anos de idade, estava mais perto dos quarenta do que gostaria de admitir.

Além do mais, o destino não podia ser tão cruel. Concebera Jessie na noite em que perdera a virginda­de com Sebastian. Decerto, as probabilidades de ter engravidado após uma única noite de amor com outro homem deveriam ser ínfimas.

Não. A regra atrasada devia ser indício de que algo mais estava errado.

Girando a cadeira, estendeu a mão na direção do te­lefone para marcar uma consulta com a ginecologista. Mas soltou uma exclamação de surpresa ao se deparar com a visão inesperada de Travis Clayton apoiando o ombro largo no batente da porta.

— Sei que não sou a coisa mais bonita que já pintou por essas bandas, mas não sabia que já estava assus­tando criancinhas e mulheres bonitas — disse, com um tom jocoso na voz grave.

O brilho provocador nos olhos azuis fez com que um agradável calor percorresse o corpo de Fin. Ela não se recordava de já ter visto um homem tão rusticamente atraente quanto o pai adotivo de Jessie. Aparentando muito menos do que seus 49 anos de idade, com o chapéu branco de abas largas e as bo­tas, ele era o próprio retrato do vaqueiro moderno. Com o jeans surrado, a camisa de cambraia e o pale­tó esportivo ao estilo dos vaqueiros, que lhe ressal­tava os ombros largos, ele poderia facilmente passar por um modelo de anúncios de água-de-colônia para homens.

— Travis, é bom vê-lo novamente. Não me recordo de Jessie ter mencionado que viria visitá-la esta se­mana. — Levantando, Fin deu a volta na mesa para cumprimentá-lo. — Por favor, entre e sente-se.

Contemplando-a com um sorriso que a deixou toda arrepiada, ele se empertigou e cruzou a sala com a confiança e a graça de um homem à vontade consigo mesmo e com seu lugar no mundo.

— Outro dia, quando falei com Jessie, ela me pare­ceu estar um pouco perturbada com toda essa correria de casamento. Então decidi lhe fazer uma surpresa — ele disse, acomodando-se em uma das cadeiras diante de Fin.

— Um pouco de apoio paterno nunca é demais — ela concordou, tentando imaginar como deveria ser ter um pai atento às necessidades emocionais de sua filha.

Como pai, Patrick chegara quase a ser um ditador, e jamais ligara para como suas ordens afetavam os sen­timentos dos filhos — em especial os dela.

— Como tem passado, Fin? — indagou Travis quando ela se sentou na poltrona ao lado dele.

O interesse genuíno a fez se sentir bem.

— Ótima. E você? Ele deu de ombros.

— Não posso me queixar. — Olhando ao redor, ele notou a pilha de anúncios esperando aprovação sobre a mesa de Fin. — Quando perguntei a Jessie como você estava, ela me disse que tem trabalhado sem pa­rar para ganhar o tal concurso organizado pelo seu pai.

— A competição e a ajuda a Jessie e Cade com os preparativos para o casamento têm me deixado bem ocupada.

— Eu acredito. — Ele riu. — Toda essa agitação de casamento me deixa contente de só ter que vir para en­tregá-la no altar. Jessie me disse que tudo o que tenho de fazer enquanto estiver na cidade é aparecer para o ajuste final do meu meio-fraque. Está ótimo para mim.

Mas ele não conseguia enganá-la. Travis e Jessie tinham um relacionamento maravilhoso, e, para ele ter voado do Colorado para Nova York, devia estar se sentindo um tanto deixado de lado.

— Isso não está sendo fácil para você, não é?

Ele fez menção de balançar a cabeça, mas depois sorriu.

— Está tão na cara assim? Pensei que estava disfar­çando melhor... mas acho que me enganei.

Fin assentiu, de modo solidário.

— Estou certa de que não deve ser fácil se acostu­mar com a idéia de que, de repente, de uma hora para a outra, não é mais o homem mais importante na vida de sua filha.

— Não consigo acreditar que ela já está crescida o suficiente para se casar. Parece que foi ontem que eu estava lhe ensinando a escrever o próprio nome no jardim de infância.

Fin sentiu uma ligeira pontada de inveja. Fora pri­vada de tanta coisa quando Patrick a forçara a entregar a filha recém-nascida para a adoção...

Ficaram em silêncio por um bom tempo antes que Travis falasse novamente.

— Sei que é meio em cima da hora, mas só passei aqui para convidá-la para jantar comigo e Jessie hoje à noite. Vamos nos encontrar em algum lugar que ela chamou de Lemon Grill. — Ele sorriu. — Pelo nome, parece um bom lugar para se comer um filé decente.

Fin sorriu.

— E é. É um bistrô pequeno e encantador, com uma ótima comida.

— Então, aceita o convite?

Ela não deveria aceitá-lo. Além do amor por Jes­sie, Fin e Travis não tinham absolutamente nada em comum. Mas, por motivos que iam além de sua com­preensão, se sentira atraída por Travis desde o instante em que o conhecera.

— Não quero me intrometer no pouco tempo que tem com sua filha — Procurou esquivar-se.

Ele sacudiu a cabeça.

— Ela também é sua filha. Além do mais, não teria feito o convite se não quisesse a sua companhia. E tenho certeza de que quer passar o máximo de tempo possível com ela agora que se reencontraram.

Seu coração se inflou de emoção ao escutá-lo se re­ferindo a Jessie como sua filha também.

— Tem certeza de que não se importa?

Quando ele pegou sua mão, ela sentiu um arrepio subindo pelo braço.

— Tenho. — A ternura nos olhos azuis a tranquili­zava. Ele realmente desejava sua companhia no jantar. — Que homem não gostaria de ser visto na companhia das duas mulheres mais bonitas da cidade?

A verdade era que a perspectiva de passar a noite com Travis e Jessie era bem mais atraente do que a de ficar sozinha em seu enorme apartamento, comen­do pizza e examinando relatórios com as projeções de crescimento e as margens de lucro da Charisma. Decerto, adiar mais uma noite tal tarefa não afetaria suas chances de vencer a competição pela Editora Elliot.

— A que-que horas devo encontrá-los no bistrô?

Por que subitamente sentia-se como uma adoles­cente convidada para o baile de formatura pelo meni­no mais bonito e popular da escola?

— Às oito. — Ainda segurando-lhe a mão, ele se levantou e a puxou, de modo que ela ficasse de pé a seu lado. — Se é realmente para você vencer a compe­tição do seu pai, é melhor eu deixá-la trabalhar.

— Acho uma boa idéia.

Ele se inclinou para frente, dando-lhe um beijo ca­rinhoso na testa.

— Então, eu a verei hoje à noite, Fin.

Sua pele formigava no local onde os lábios dele ha­viam encostado, e antes que Fin pudesse encontrar a voz, em um gesto galante, Travis levou a mão à aba do chapéu de vaqueiro e se virou para ir embora.

Vendo-o deixar o escritório, Fin precisou se abanar. Deus, o homem era um metro e noventa e dois de pura sensualidade, e aquecia o ambiente mais rápido do que uma fornalha. O beijo fora apenas um gesto ami­gável, mas seu coração palpitara apenas com o toque dos lábios em sua pele.

— Aquele era o modelo da nova água-de-colônia para vaqueiros da Calvin Kline? — perguntou Chloe Davenport, assistente executiva de Fin, entran­do na sala da chefe. Ela olhou para Travis por sobre o ombro. — Se for, como me candidato para ser a vaqueira?

Fin riu diante do comentário da assistente.

— Não. Aquele é Travis Clayton, o pai de Jessie.

— Fala sério. — Fin viu a jovem olhar novamente para fora antes de fechar a porta do escritório. — Ele é de verdade, não é?

— Se você quer saber se ele é de fato um vaqueiro, então, sim, ele é de verdade.

Chloe suspirou.

— Se eles são assim no Colorado, acho que vou ter que me mudar para lá um dia desses.

Fin riu.

— E abandonar o belo apartamento que você tem em Chelsea?

— É, isso seria um problema. Enfim consegui dei­xá-lo do jeitinho que eu queria — disse Chloe, en­tregando a Fin os últimos relatórios da contabilidade. — Acho que vou ter que me contentar com ficar em Nova York e encontrar um vaqueiro urbano.

Distraída com o relatório, Fin assentiu.

— O que andam dizendo pelos corredores da edito­ra? Tem algo acontecendo nas outras revistas de que eu deva estar a par?

A jovem sacudiu a cabeça.

— Não que eu saiba. Você e Shane ainda estão na liderança da disputa. As margens de crescimento e lu­cro da The Buzz estão ligeiramente melhores do que as da Charisma, mas o consenso na contabilidade é de que a Charisma ainda pode ser a vencedora.

— Ótimo.

Subitamente sentindo-se tonta, Fin deu a volta na escrivaninha para se sentar em sua poltrona de espal­dar alto. Ela decididamente precisava consultar um médico.

— Fin, você está bem? — Chloe perguntou, preo­cupada.

Assentindo, Fin deu um sorriso ténue.

— Estou cansada. Só isso.

— Estou preocupada com você, Fin. Tem trabalha­do demais. — Chloe franziu a testa. — Você sempre foi dedicada, mas nesses últimos dez meses tem dei­xado muito trabalhador compulsivo no chinelo.

— Vou ficar bem, Chloe.

A assistente não parecia convencida.

— Tem certeza?

Sorrindo, Fin assentiu e devolveu os relatórios.

— Agora entregue isso a Cade e lhe diga que quero me reunir com ele amanhã bem cedo para analisarmos esses números.

— Mais alguma coisa? Fin olhou para o relógio.

— Não. Tenho alguns telefonemas para dar e de­pois acho que vou tirar o restante do dia de folga.

Chloe aparentava incredulidade.

— Não brinca. Você nunca vai para casa antes das oito ou nove da noite, e já cansei de encontrá-la dor­mindo no sofá quando chego para trabalhar. Tem cer­teza de que está se sentindo bem? Quer que eu ligue para alguém?

— Não, não precisa ligar para ninguém. — Sor­rindo, Fin disfarçou um bocejo com a mão. — Tenho compromisso para o jantar e acho que vou precisar de um cochilo para aguentar a noite toda. Caso contrário, acho que posso acabar caindo no sono entre a entrada e o prato principal.

— Isso não seria muito bom para os negócios — concordou Chloe, sacudindo a cabeça ao deixar a sala.

Fin não se deu ao trabalho de corrigir a assistente. O jantar daquela noite nada tinha a ver com negócios e tudo a ver com prazer. Sua única preocupação era decidir o que lhe traria mais prazer — passar a noite com a filha que reencontrara ou com o pai adotivo desta.

Travis se sentia como um peixe fora d'água. Todo o aço e concreto de Nova York eram bem diferentes dos espaços abertos aos quais estava acostumado, e o Lemon Grill em nada se comparava ao pequeno restaurante que ocasionalmente frequentava quando seguia para o condado de Winchester para vender o gado. Lá estava ele em um bistrô sofisticado no meio de Manhattan sendo atendido por um pretenso janota com um bigodinho fininho e cabelo engomado, que o rondava como abelha sobre o mel.

— Meu nome é Henri, e será um prazer atendê-lo esta noite. — O sujeito, excessivamente refinado, exi­biu uma fileira de dentes por demais brancos. — Será que o cavalheiro gostaria de beber alguma coisa en­quanto aguarda o resto de sua comitiva?

Travis franziu a testa. Quantas palavras para fazer uma simples pergunta! Estava acostumado com as pessoas sendo mais diretas ao lhe oferecerem uma bebida.

— Quero uma cerveja.

— E o cavalheiro gostaria de uma marca nacional ou importada?

Incapaz de resistir à tentação de zombar do homen­zinho afetado, Travis sorriu.

— Não sei quanto ao cavalheiro, mas eu vou querer uma nacional.

Quando Henri fez menção de se afastar da mesa, Travis acrescentou o nome de uma cerveja produzida exclusivamente na região das Rochosas.

— Sinto muito, senhor, mas não trabalhamos com a marca em questão — disse Henri, sua desculpa pa­recendo tão falsa quanto o sorriso alvejado. Listando todas as cervejas servidas pelo restaurante, ele, por fim, perguntou: — E qual a marca de que o cavalheiro gostaria?

— Por que não me faz uma surpresa?

— Muito bem, senhor.

Quando o garçom se afastou para ir pegar sua be­bida, Travis avistou Fin entrando no restaurante. Ela conversou brevemente com a recepcionista e, quando veio na sua direção, ele não pôde deixar de lhe admirar a beleza. Com os cabelos ruivos e lisos cobrindo-lhe os ombros e parecendo uma modelo no justo vestido preto, ela parecia por demais jovem para ser a mãe de sua filha de 23 anos.

Levantando-se quando ela se aproximou, Travis chegou a pensar que o coração fosse pular do peito quando os lábios perfeitos de Fin exibiram um sorriso cordial.

— Espero não estar muito atrasada. O trânsito esta­va terrível hoje.

— Veio de carro? — Ele puxou a cadeira para que ela se sentasse. — Lembro de Jessie me contando que você jamais aprendeu a dirigir.

A deliciosa risada de Fin lhe provocou um calor inesperado. Ele retomou a sua cadeira.

— Eu admito. Jamais me sentei ao volante de um carro.

— Não está falando sério, está? — Diabos, no rancho ele dirigia caminhonetes e tratores desde que tinha 10 anos, e ensinara Jessie a dirigir quando ela completara 12. — Você nunca...

— Não. Quando meus irmãos e eu morávamos em casa, sempre tivemos motoristas para nos levar onde quiséssemos. Depois, quando me mudei para o meu apartamento em Manhattan, não havia mais necessi­dade de dirigir. Tudo de que preciso fica tão perto que acabo andando um bocado. E quando o que eu quero fica longe demais para ir andando, uso a limusine da empresa ou pego um táxi. — Seus olhos brilharam ao acrescentar. — Mas, sempre achei que poderia ser divertido aprender a dirigir.

— Na próxima vez que visitar o Silver Moon Ranch, eu a ensinarei — ele disse, incapaz de apagar o sorriso do rosto.

A ternura nos olhos dela chegou a lhe tirar o fôlego.

— Eu gostaria muito, Travis. Obrigada.

Seu coração disparou apenas com o pensamento de Fin voltar ao rancho. Mas foram o ligeiro rubor da face e a ternura contida nos belos olhos verdes os responsáveis pelo aperto que sentiu abaixo do cinto. Assim como ele, Fin também se lembrava do que ocorrera entre os dois quando ela visitara o rancho no mês anterior.

— A dama gostaria de algo para beber antes de fa­zer o pedido? — indagou Henri, voltando com a cer­veja de Travis.

Por razões nas quais Travis preferia não pensar, o sorriso de admiração do homem ao olhar para Fin o irritava tremendamente.

— Apenas um pouco de água com limão, por favor. — Quando o garçom se afastou para atender o pedido, ela perguntou: — Onde está Jessie? Pensei que ela já estaria aqui.

Travis sacudiu a cabeça.

— Não sei. Ela falou que ia com Cade buscar as passagens para a lua-de-mel quando saíssem do traba­lho. Mas isso já tem três horas. Decerto não se demora tanto para...

Sua voz falhou ao sentir o toque delicado de Fin sobre a mão.

— Tenho certeza de que está tudo bem, Travis. Eu escutei quando ela e Cade estavam combinando de dar uma passada na joalheria para pegar algumas lembranças para as madrinhas e os padrinhos. Talvez tenha demorado mais do que haviam pensado.

Enquanto ele se esforçava para encontrar palavras que atravessassem a barreira que subitamente se er­guera em sua garganta, Henri pôs o copo com água diante de Fin.

— Há uma ligação para o senhor. Se puder me acom­panhar, poderá atendê-la na mesa da recepcionista.

Fin sorriu.

— Provavelmente é Jessie avisando que está presa no trânsito.

— Espero que tenha razão.

Por um instante, se perguntou por que a filha não havia ligado para o celular. Mas, depois, se lembrou de que havia desligado o aparelho ao entrar no res­taurante.

Pedindo licença, Travis se dirigiu para a entrada do restaurante. Embora Jessie já estivesse morando em Nova York havia quase um ano, ele ainda ficava apreen­sivo só de pensar em sua menininha andando pelas ruas perigosas da cidade grande. Relaxara um pouco ao conhecer seu noivo, Cade McMann, e se certificar de que o homem tinha toda a intenção de protegê-la e fazê-la feliz. Mas, se algo acontecesse à filha, Travis iria exigir a cabeça de Cade em uma bandeja de prata por não cuidar melhor dela.

Quando a recepcionista lhe passou o telefone, ele ficou aliviado de escutar a voz da filha do outro lado da linha.

— Oi, papai!

— Onde você está, meu anjo? Está tudo bem?

— Está, mas receio que não vá conseguir encontrá-los para o jantar. — Seguiu-se uma breve pausa antes de ela acrescentar: — Estou, hã, com dor de cabeça, e acho que vou para a cama mais cedo. Não se importa de jantar sozinho com Fin, se importa?

— Claro que não, princesa.

Travis olhou para a beldade que o aguardava em sua mesa. Teria de ser louco para não querer passar algum tempo em sua companhia.

— Ótimo, estou certa de que vão se divertir. A co­mida no Lemon Grill é ótima. —A voz de Jessie pare­cia excessivamente entusiasmada, e ela, com certeza, não dava a impressão de estar passando mal. — Por favor, se desculpe com Fin por mim e diga que a verei amanhã de manhã no escritório.

— Pode deixar, meu anjo.

Ela não o iludira nem mesmo por um segundo. Nos últimos anos, Jess vinha insistindo para que ele saísse mais e, nas palavras dela, "revitalizasse sua vida social". E, a não ser que estivesse enganado, ela estava tentando bancar o cupido entre ele e a mãe biológica!

— Ah, e não se esqueça, papai. Combinamos de al­moçar juntos amanhã para depois irmos experimentar o seu meio-fraque.

— Você está mesmo determinada a me fazer usar aquela roupa de pinguim, não está?

— Vai ser o pinguim mais bonito do casamento — ela disse, rindo. —Amo você, papai. Até amanhã.

— Eu também amo você, Jess.

Entregando o telefone para a recepcionista, Travis voltou para a mesa, onde Fin o aguardava.

— Parece que hoje seremos só nós dois — ele dis­se, sentando.

Ela lançou-lhe um olhar confuso.

— Jessie não vem?

— Não. — Ele sacudiu a cabeça. — Disse que esta­va com dor de cabeça e ia para a cama cedo.

— Como a pessoa que aguardavam não vem, será que estão prontos para fazer o pedido? — perguntou Henri, aparecendo subitamente atrás de Travis.

Parecia óbvio que o homem vinha escutando a con­versa deles.

Cansado da atitude do garçom, Travis lhe lançou um olhar que o fez recuar sem dizer mais nada.

— O que me diz de irmos para algum lugar onde possamos conversar sem intromissões?

O sorriso da mulher quase lhe roubou o fôlego.

— Conheço um lugar perfeito.

— Então vamos.

Erguendo a mão, Travis fez um sinal para Henri.

— A dama e o cavalheiro gostariam de fazer seus pedidos?

Fin falou antes que Travis tivesse a chance de responder.

— Não, mudamos de idéia e resolvemos ir para ou­tro lugar.

Deixando o restaurante, Travis passou o braço ao redor dos ombros de Fin para protegê-la do vento frio de novembro. Sentir o corpo esbelto da mulher colado ao seu fez com que a pressão de Travis subisse uns cinquenta pontos, e trouxe lembranças da última vez em que ele a sentira tão perto.

— E qual é o nome deste restaurante onde os garçons deixam os fregueses conversarem em paz? — perguntou, quando enfim conseguiu fazer a voz funcionar.

— Chez Fin Elliot.

Seu coração palpitou, e ele teve de fazer um esforço consciente para respirar.

— Vamos para o seu apartamento?

Assentindo, ela sorriu. — Se você não se importar de não comer o seu filé, pensei em irmos para o meu apartamento, pedir um pouco de comida chinesa e conversar sem ninguém de orelha em pé por perto.

Ele não era lá muito fã de rolinhos primavera e chopsuey, mas teria de ser um idiota para deixar escapar a oportunidade de passar a noite sozinho na companhia de uma das mulheres mais lindas que já tivera o privilégio de conhecer.

Antes que ela tivesse chance de mudar de idéia, Travis ergueu o braço e fez sinal.    —Táxi!

 

Enquanto ligava para fazer o pedido a seu restaurante chinês favorito, Fin observou Travis admirando seu enorme apartamento no Upper East Side, e não pôde deixar de se perguntar o que ele estaria achando da­quilo. Obscenamente espaçoso para apenas uma única pessoa, o lugar era quase um exagero de cromados e vidros, branco e preto. Anos-luz de distância do lar calorosamente decorado de Travis, no Colorado.

Quando visitara o Silver Moon Ranch, Fin achara a casa espaçosa e agradavelmente atravancada, mas também acolhedora, aconchegante e tudo que seu apartamento não era. O lar rústico de Travis tinha aparência, e dava a sensação, de ser um lar há muito tempo, com uma família e amor. Seu apartamento, em comparação, parecia austero, frio e inabitado.      

É claro que isso podia ser atribuído ao fato de ela nunca passar mais de algumas horas por dia ali, nem jamais ter se esforçado para acrescentar qualquer coi­sa que lhe refletisse a personalidade após a decoradora ter terminado seu trabalho. Realmente triste era que já fazia vários anos e, desde então, ela jamais tivera interesse em dar um toque pessoal à própria casa.

— O sr. Chang me garantiu que a comida estará aqui em menos de quinze minutos — disse ela ao desligar o telefone. — Quer algo para beber enquan­to esperamos? Acho que tenho uma garrafa de vinho na geladeira, ou posso fazer um pouco de café ou chá.

— Uma xícara de café seria ótimo.

O sorriso de Travis a deixou toda arrepiada, e fez com que um delicioso calafrio lhe percorresse a es­pinha. Ele era, sem dúvida alguma, um dos homens mais sensuais que ela já conhecera. E também não acreditava que ele tivesse noção de como era bonito, e do efeito que provocava nas mulheres.

De repente, sentindo a necessidade de colocar um pouco de distância entre os dois antes que fizesse pa­pel de tola, Fin seguiu para a cozinha. Ele era o pai adotivo de sua filha, o homem que, ao lado da falecida esposa, havia criado a menininha que Fin fora forçada a entregar para a adoção anos atrás. A última coisa de que precisava era complicar a nova relação com Jessica ao cobiçar Travis. Pensando bem, não era do feitio dela cobiçar ninguém.

— Vou preparar a cafeteira.

— Precisa de ajuda?

Ela, no mesmo instante, se deteve. Depois, lenta­mente, se virou na direção do rancheiro. Mesmo de pé na outra extremidade da sala, sua presença era o suficiente para fazer o espaço parecer bem menor do que quando haviam chegado. Fin só pôde imaginar como a cozinha pareceria minúscula com ele tão pró­ximo. Além do mais, convidá-lo a vir com ela só atra­palharia seus planos de colocar a tal distância entre os dois.

— Não. — Tentando suavizar a recusa, ela sorriu. — Não que eu seja de maneira alguma uma mulher doméstica, mas acho que posso me virar com a ca­feteira elétrica. — Fazendo um gesto com a mão na direção do sofá branco, Fin acrescentou. — Só vou demorar alguns minutinhos. Por que não se senta um pouco e fica à vontade?

— Acho que vou aceitar a sugestão.

O sorriso dele fez com que um ardor a percorresse dos pés à cabeça.

Como se colada ao chão, Fin o observou tirar o chapéu de aba larga e o casaco de vaqueiro e depois os jogar sobre o encosto de uma poltrona. Anos escu­tando a mãe falar sobre etiqueta foram devidamente ignorados quando Fin se virou e seguiu direto para a cozinha.

O mais educado a se fazer teria sido pegar o casa­co e o chapéu e pendurá-los no armário. Mas, quan­do Travis começou a enrolar as mangas da camisa de cambraia sobre os antebraços bronzeados e musculo­sos, ela rapidamente concluiu que havia um fundo de verdade no ditado que dizia que o importante era sa­ber a hora de recuar.

Apenas a lembrança daqueles braços a envolven­do com tanto carinho quando haviam sucumbido à paixão, naquela noite no celeiro um mês antes, era o suficiente para fazer com que seu coração disparasse e sua respiração ficasse alterada. Aquela noite havia sido pura magia, e ela passara o último mês fazendo de tudo para esquecê-la.

— Você precisa se controlar — ela murmurou, ao notar a mão tremendo, quando pegou o café.

— Disse alguma coisa? — ele perguntou da sala de estar.

— Não. Só estava falando comigo mesma.

Fechando os olhos, sacudiu a cabeça em uma ten­tativa de se livrar da lembrança perturbadora. O que diabos dera nela?

Era editora-chefe de uma das maiores revistas de moda do mundo, implacável nas reuniões de diretoria e capaz de fazer o mais intrépido dos estagiários tre­mer nas bases apenas com o erguer de uma sobrance­lha. Mas, na presença de Travis, parecia ser constan-temente relembrada do fato de que, em primeiro lugar, era uma mulher que ignorara suas necessidades e seus desejos femininos em favor da carreira.

Só que, nos últimos meses, começara a se dar conta de que sua carreira não a satisfazia tanto quanto pensara. Desde que descobrira que Jessica Clayton era a filha que pensara jamais reencontrar, e desde que conhecera Travis, Fin vinha sendo lem­brada do quanto abrira mão para se dedicar a fazer da Charisma a revista mais importante do mundo da moda.

Quando jovem, tudo com que sempre sonhara era ser mãe e esposa, e ter a própria família. Mas o sonho fora destruído quando Patrick a forçara a abrir mão de seu bebê e a proibira de ver o pai de Jessie. Ela jamais perdoara Patrick por se recusar a dar ouvidos a seus apelos desesperados para ficar com a filha, e jamais se recuperara da perda. Depois que voltara do convento no Canadá, para o qual os pais a haviam enviado para esconder sua condição "vergonhosa" das relações sociais e comerciais da família, ela se dedicara total­mente aos estudos, e, mais tarde, à carreira, em uma tentativa de diminuir a dor.

Mas não fora bem sucedida. Ela suspirou profunda­mente. Tudo que conseguira fora descobrir que, ao se aproximar da meia idade, estava sozinha, sem filhos e se tornara uma trabalhadora compulsiva. — Você está bem?

O som da voz de Travis a fez se sobressaltar. Vi-rando-se, ela o viu apoiado no batente da porta, exatamente como o fizera na tarde anterior, no escritório da editora.

— É claro. Por que não estaria?

Ele endireitou-se e caminhou na direção dela.

— Estava parada, com o olhar perdido, como se es­tivesse com a cabeça a milhões de quilometros daqui.

Sacudindo a cabeça, ela acionou a cafeteira que acabara de encher.

— Estava apenas pensando nos últimos relatórios contábeis da Charisma — mentiu. — Se eu e a minha equipe trabalharmos o bastante, ainda temos chance de passar à frente do meu irmão Shane e da revista dele, a The Buzz.

— Eu acho que não.

— Acha que não seremos capazes de vencer? — ela indagou, franzindo a testa.

Ele deu de ombros.

— Não sei se serão ou não. Estava me referindo a sobre o que estava pensando. Fosse lá o que fosse, parecia que o seu cavalo preferido tinha ficado man­co, e não que estivesse preocupada em ganhar uma competição.

Sacudindo a cabeça, ela torceu para que sua risada não soasse tão forçada para o homem quanto para si mesma.

— Nunca andei a cavalo. Quanto mais ter um, e que dirá um preferido.

— Nunca andou a cavalo? — perguntou ele, clara­mente chocado.

Feliz por ter sido bem sucedida em mudar de assun­to, Fin sacudiu a cabeça.

— Não, a não ser que queira contar o cavalo de balanço que eu tinha quando criança.

Seu sorriso voltou a arrepiá-la todinha.

— Parece que, da próxima vez que visitar o Silver Moon Ranch, vou ter que fazer muito mais do que apenas ensiná-la a dirigir.

Ela engoliu em seco, tentando não pensar em todas as coisas que ele poderia lhe ensinar. E nenhuma delas envolvia cavalos...

Antes que pudesse pensar em algo para dizer sem expor seus pensamentos íntimos, escutou alguém ba­tendo à porta de seu apartamento.

— Acho que nosso jantar chegou — disse, grata pela habitual pontualidade do sr. Chang.

— Por que não põe a mesa enquanto eu recebo o entregador? — Travis sugeriu, caminhando na direção da porta.

Ao atravessar a sala de estar, ele se perguntou no que diabos estava pensando ao aceitar a oferta de Fin de jantarem no apartamento dela. Não podiam ficar a menos de cinco metros de distância um do outro por mais de alguns minutos sem que a tensão sexual ficasse palpável. E apenas a lembrança de como ela reagira a seu toque naquela noite no celeiro era o bastante para deixá-lo duro como pedra.

Mas, independente do quão forte era a atração entre eles ou de como o sexo fora fantástico, nada de bom poderia vir daquilo. Fin Elliot não só era a mãe biológica de Jessie como também uma sofisti­cada mulher de carreira. Era metropolitana dos pés perfeitos à ponta dos cabelos ruivos. Seu estilo de vida era resplandecente e glamouroso, e totalmente diferente da vida simples que ele levava no amplo espaço aberto do Silver Moon Ranch. Enquanto ela comparecia a bailes formais e frequentava boates da moda, ele se sentia mais confortável indo a leilões de gado e tomando uma cerveja gelada na espelunca local.

Ao pagar o entregador, Travis inspirou profun­damente. O melhor que poderia fazer por sua paz de espírito era evitar ao máximo a tentação que Fin Elliot representava para sua libido, de súbito exces­sivamente ativa. Ele deixaria a comida na sala de jantar, se desculparia e voltaria para o hotel, onde pediria algo para o serviço de quarto e tomaria uma chuveirada gelada o suficiente para fazer cubos de gelo.

Mas, ao colocar a bolsa sobre a mesa cromada de vidro, o sorriso caloroso de Fin fez com que ele se sentasse na cadeira diante dela. Observando-a tirar as embalagens brancas com símbolos chineses em ver­melho de dentro da sacola, contou pelo menos seis recipientes.

— Quanta comida você pediu? Ela sorriu timidamente.

— Por algum motivo, tudo me pareceu tão gosto­so... — Ela mordeu o lábio perfeito. — Mas suponho que possa ter exagerado um pouco.

— Parece que está pronta para alimentar um exér­cito. — Rindo, ele pegou uma das caixas. — Sorte sua que eu sempre tive um senhor apetite.

— Em geral, procuro me controlar quanto ao que eu como, mas recentemente tenho andado faminta — ela disse, pondo uma colher cheia de arroz no próprio prato.

Comeram em silêncio por algum tempo, mas Travis mal prestou atenção na saborosa comida. Sua boca fi­cou seca como o deserto só de ver Fin mordiscando um pedaço de costeleta. Mas, quando Fin limpou os últi­mos vestígios do molho e o dedo dela desapareceu en­tre os lábios, o coração de Travis quase parou, e ele se sentiu como se houvesse levado um soco estômago.

— Estava muito bom — mentiu ele quando, vários minutos mais tarde, se sentaram no sofá para tomar café.

Na verdade, não fazia idéia do que havia ingerido. Quanto mais se estava bom ou não. Mas era melhor dizer isso do que a verdade — que estava tão entretido observando-a que praticamente esquecera o próprio nome.

— Lamento que não tenha podido comer o seu filé — ela disse.

— De qualquer maneira eu não o teria apreciado muito.

Ele tomou um gole do pior café que já provara na vida. Fin podia ser linda e sensual, mas seu café era uma droga.

— Não teria apreciado o jantar porque acabou não podendo passar algum tempo na companhia de Jessie?

— Não é bem isso. — Sacudindo a cabeça, ele es­tendeu o braço sobre o encosto do sofá, por trás de Fin. — Já estava de saco cheio do velho Henri e de seus modos. Era o bastante para tirar o apetite de qual­quer homem.

— Ele exagerou um pouco, não foi?

O som da gargalhada dela foi o suficiente para fazer uma onda de calor percorrer todo o corpo de Travis. Ele assentiu, tocando em uma das mechas ruivas de Fin com a ponta do dedo.

— O velho Henri cruzou a linha entre oferecer um bom serviço e ser um pé no saco.

Quando Travis moveu a mão para, suavemente, lhe acariciar a pele sedosa da nuca, a sentiu estremecer. Foi o mais sutil dos movimentos, mas não havia como não deixar de notar que ela sentia a mesma atração irresistível que ele. Ela fechou os olhos e se recostou na mão dele.

— Você sabe o que Jessie estava tentando fazer esta noite, não sabe?

Envolvendo os ombros de Fin com o braço, ele se aproximou mais.

— Nossa filha está bancando o cupido.

— É o que eu acho.

A voz de Fin estava mais suave do que de costume, e ela parecia ligeiramente ofegante.

— Há muito que Jess vem insistindo que preciso melhorar minha vida social. — Ele riu. —Antes de se mudar para cá, ela chegou a sugerir que, desde a morte de minha mulher, venho me escondendo no rancho.

Fin assentiu.

— Já fui acusada de usar a carreira para evitar rela­cionamentos...

— E usa? — Percebendo que ela poderia se ofender com a pergunta, ele sacudiu a cabeça. — Não é da minha conta.

— Eu não me importo. — Ela abriu os olhos para fitá-lo. — Não tenho usado minha carreira como des­culpa. Apenas não sou boa com relacionamentos. — Fin sorriu. — Já que estamos sendo sinceros, e quanto a você? Qual é a sua desculpa?

Ele não sabia muito bem como responder. Haviam sido necessários alguns anos, mas enfim superara a dor da perda e aceitara o fato de que ele e a esposa, Lauren, tinham sido privados da chance de envelhecer juntos. Mas a perspectiva de voltar a namorar na idade dele parecia ser um tanto ridícula. E, para falar a ver­dade, jamais se dera ao trabalho de tentar.

—Algumas pessoas podem achar que venho me es­condendo. — Ele deu de ombros. — Acho que o caso é mais não saber como ser solteiro de novo. Conheci minha mulher quando tínhamos 18 anos, e ficamos juntos até a morte dela, há alguns anos atrás. Se eu algum dia soube como namorar, estou completamente enferrujado. E, além do mais, as regras do jogo muda­ram muito nos últimos trinta anos.

Ela sorriu.

— Alguns de nós, desde o início, jamais nos demos muito bem com as regras.

Quando o olhar dele encontrou o dela, Travis teve sérias dúvidas de que Fin algum dia houvesse tido di­ficuldades com o protocolo dos namoros, ou mesmo de ser convidada para sair.

— Provavelmente você é muito melhor do que pen­sa, minha querida.

Fitando os lindos olhos cor-de-esmeralda, Travis não conseguiu se conter. Inclinou-se para frente e bei­jou aqueles lábios perfeitos, como se sua própria vida dependesse disso. Mas não foi o selinho breve e ami­gável que pretendia dar, pois a sensação quando ela retribuiu e o beijou de volta atingiu o fundo de sua alma. Ele sequer pensou, e levou o beijo ao próximo nível.

Quando os lábios firmes e másculos de Travis co­briram os seus, com tanto carinho que chegaram a brotar lágrimas em seus olhos, Fin sentiu algo cálido e sedutor despertar no seu íntimo. A sensação logo se espalhou por todo o corpo. Nos trinta e oito anos de vida, não se recordava de um beijo ter sido tão mara­vilhoso, tão cativante, quanto aquela suave carícia.

Sem pensar nas consequências ou no fato de que estavam dando início a um jogo que poderia acabar em catástrofe, sem falar em destruir sua recém-estabelecida relação com Jessie, Fin sequer hesitou em apro­ximar-se e envolver os ombros largos de Travis com os braços. Era completamente insano, mas queria se sentir envolvida pela força dele, precisava mais uma vez saborear o gosto de seu desejo másculo.

Quando ele passou a língua pelo lábio inferior dela, Fin sentiu como se seu sangue se houvesse transformado em mel quente e, com um suspiro, se abriu para ele. Recordou cada detalhe daquela noite que passaram juntos no Colorado, quando ele a provara e a ex­plorara carinhosamente.

Jamais se considerara uma mulher sensual, mas, nos braços de Travis, sentia-se mais voluptuosa, mais viva do que nunca. Hesitante, sua língua respondeu às carícias da dele. Sua recompensa foi um gemido profundo e um abraço ainda mais apertado. Sentin­do-se poderosa e feminina, como havia muito não se sentia, ela se apertou de encontro ao tórax largo. Era mais fácil para Fin se privar da respiração do que deter aquela insanidade.

O desejo, doce e puro, preencheu cada célula de seu ser. Mas, quando ele interrompeu o beijo para lhe mordiscar uma trilha pescoço abaixo, a paixão cres­cente fez com que ondas de sensações deliciosas lhe percorressem todo o corpo. Seu íntimo estremeceu, e um pequeno gemido escapou de seus lábios.

— Me peça para parar, Fin. Me mande embora an­tes que isso vá mais longe — disse ele, com a voz entrecortada.

— Não acho que... consigo — ela respondeu com sinceridade.

Ele riu nervosamente.

— Então acho que estamos em um mato sem cachor­ro, minha querida, porque não sei se tenho forças para agir como um cavalheiro e ir embora por conta própria.

— Tem razão. Estamos com um sério problema, porque não estou certa de que quero que você banque o bom moço.

Ele inspirou profundamente.

— Não tenho conseguido tirar da cabeça aquela noite em outubro, quando foi visitar o rancho.

— Eu também não.

— Não sei como é possível, mas eu a quero mais agora do que naquela ocasião.

Ela se viu sem fôlego, e o coração quase parou quando Travis deslizou-lhe a mão pelas costelas até a parte inferior do seio.

— I-isso é loucura.

— Concordo — ele disse, segurando o monte ma­cio sob as roupas.

— Não sou boa com... relacionamentos — ela argu­mentou, quando ele começou a traçar círculos lentos sobre o mamilo sensível.

— Como já disse, não estou procurando por um. — Ele lhe beijou lentamente o pescoço. — Mas sei como é fazer amor com você e quero repetir a experiência.

— Nada de compromisso? Ele assentiu.

— Já abrimos a porta deste curral e o cavalo fugiu. Não vejo mal em termos uma última noite juntos.

Encostando a cabeça no ombro de Travis, Fin ten­tou se lembrar de todas as complicações que estar com este homem poderia trazer. Mas, naquele instante, não se lembrou de nenhuma. E, para ser sincera, nem que­ria se lembrar.

Antes que pudesse mudar de idéia, afastou-se dele, ficou de pé e estendeu a mão. Quando ele a tomou e se levantou, aqueles incríveis olhos azuis prometiam êxtases proibidos e prazeres ocultos.

— Uma última noite — ela disse, ao conduzi-lo até o quarto e fechar a porta.

 

O coração de Fin estava disparado e seus joelhos ha­viam começado a tremer, mas desistir do que ela e Travis estavam prestes a fazer não era sequer consi­derável. Sentia como se fosse arder até virar cinzas se não sentisse mais uma vez a ternura de seu toque e experimentasse o poder de sua paixão.

— Sei que vai parecer que eu perdi a cabeça, mas tenho de saber — ele disse, baixinho, quando ela se virou para fitá-lo. — Tem certeza de que quer fazer isso, Fin?

Como acontecia com todo mundo, houve inúmeras ocasiões na vida em que manifestara incerteza quanto a suas decisões, mas esta não era uma delas.

— Se não fizermos amor, Travis, acho que vou pe­gar fogo.

— Nada de arrependimentos amanhã?

— Talvez. — Ela mordeu o lábio inferior, para im­pedi-lo de tremer, antes de sacudir a cabeça. — Mas não no que diz respeito a você e ao fato de termos feito amor.

Ela sabia que sua resposta o havia confundido, mas não sabia como explicar que seus arrependimentos nada tinham a ver com ele. Diziam respeito a sua tris­te incapacidade de compartilhar mais do que apenas o corpo.

Mas tomara esta decisão no dia em que o pai a for­çara a abrir mão da própria filha. Jurara se dedicar a construir uma carreira, algo que ninguém poderia to­mar dela. Poucos homens aceitariam vir em segundo lugar, atrás da dedicação de uma mulher ao trabalho. Quanto mais tentar compreender sua necessidade de ser bem-sucedida.

Com Travis, isso não fazia diferença. Assim como ela, ele não estava atrás de um relacionamento, nem tinha expectativas quanto a eles terem qualquer coisa além daquela noite juntos. No entanto, era triste pen­sar em tudo que sacrificara para garantir o próprio su­cesso.

Estendendo a mão, ela acariciou com o dedo indica­dor as linhas que lhe marcavam a testa.

— Saiba que não me arrependo daquela noite no seu rancho e que não me arrependerei de fazer amor com você hoje.

— Então, o que...

— Não importa. — Ela levou o dedo aos lábios dele para silenciá-lo. — Por favor, me abrace, Travis. Pre­ciso que me beije e faça amor comigo.

Ele a fitou por longos segundos, como se estivesse tentando assimilar o que ela dissera antes de tomá-la nos braços. Abaixando a cabeça com cuidado, Travis a beijou com tanta ternura que lágrimas vieram nova­mente aos olhos dela.

O coração de Fin disparou, e ela sentiu um frio de expectativa na boca do estômago quando ele aprofun­dou o beijo e mostrou sua voracidade incontestável. Ao se render à maneira como ele a fazia sentir, todo o corpo de Fin se acendeu, e um intenso ardor se espa­lhou por suas veias.

Ela mal percebeu quando ele trouxe as mãos de suas costas para a cintura. Mas quando ele as deslizou pelas costelas, seu coração quase parou, e os mamilos se enrijeceram de expectativa.

Quando haviam feito amor no celeiro, o ato havia sido espontâneo e corrido, uma união não planejada com o risco de ser flagrada. Embora nenhum dos dois houvesse planejado que a noite terminasse com eles dormindo juntos, desta vez teriam tempo para explo­rar, para descobrir o que dava prazer ao parceiro. E estavam completamente sozinhos, de modo que não havia muita chance de alguém interromper as duas al­mas solitárias em busca de conforto e companheiris­mo nos braços um do outro.

As sensações maravilhosas em seus seios quando ele por fim acariciou os mamilos sensíveis através das roupas provocaram uma enxurrada de calor por suas veias e fizeram com que as pernas tremessem. O gosto do beijo e a sensação das carícias eram excitantes e ao mesmo tempo extremamente frustrantes. Ela queria sentir-lhe as mãos no corpo, a firmeza dos lábios e a umidade da língua saboreando sua pele, sem o estorvo do cetim e da renda.

— Adoro sentir você — disse ele, erguendo a ca­beça, com a respiração entrecortada, e acendendo o abajur ao lado da cama. — Mas não é o bastante. Te­nho de enxergá-la. Quero admirar o seu corpo lindo enquanto estou lhe dando prazer.

— Também quero vê-lo e tocá-lo, Travis.

Com apenas um sorriso promissor, ele puxou a ca­misa de dentro do jeans e, depois, tomando-lhe a mão, guiou-a até os botões.

— Tirar as roupas um do outro é uma das muitas coisas que não fizemos da primeira vez.

Ela sentiu um frio na barriga diante da perspectiva de despi-lo.

— E o que mais deixamos de fazer? — perguntou, concentrando-se no primeiro botão.

— Não pudemos ir devagar, como eu gostaria de ter ido — respondeu ele, se inclinando para lhe mordiscar o lóbulo da orelha.

— Quanto tempo...

— O que tenho em mente durará a noite toda, mi­nha querida.

Um arrepio percorreu-lhe a espinha, e seus dedos pareciam ter perdido as forças ao chegar ao próximo botão.

— Ma-mais alguma coisa?

O olhar dele quase a incendiou.

— Não consegui beijá-la de uma forma que ficasse ruborizada só de pensar no beijo.

— N-não me ruborizo com facilidade.

Por que ela não conseguia fazer a voz funcionar di­reito?

Quando ele sussurrou o que pretendia fazer, uma descarga de puro desejo eletrificado se espalhou por seu corpo, e ela se deu conta do porquê de suas cordas vocais estarem falhando. Ele estava fazendo com que ela se derretesse em sensualidade.

— É isso que quer, Fin?

Incapaz de proferir as palavras, ela assentiu. Que­ria tudo que este homem maravilhoso estava disposto a lhe oferecer, e tinha toda a intenção de retribuir o favor.

Quando ela por fim abriu o último botão da cami­sa dele, afastou o tecido para poder fitar o peito e o abdome perfeitamente esculpidos. Conhecia vários modelos masculinos que matariam para ter a defini­ção muscular de Travis. Mas o peitoral perfeitamen­te modelado e o abdome ondulado, cobertos por uma espessa camada de escuros pelos louros, eram resul­tados de anos de exaustivos trabalhos físicos, e não seriam obtidos com apenas algumas horas por dia em academias.

— Você é magnífico — ela disse, decidindo que ele tinha razão ao dizer que haviam deixado de aproveitar muita coisa ao pular as preliminares.

Ele riu.

— Já me chamaram de muita coisa nesta vida, a maior parte não muito lisonjeira, mas esta é a primeira vez que alguém se referiu a mim como magnífico.

Ela sorriu ao tirar os sapatos.

— Pode acreditar no que estou dizendo, querido. Seu corpo é realmente notável.

— Aposto como o seu me deixa no chinelo — ele disse, curvando-se para tirar as botas. Endireitando-se, passou o braço ao redor da cintura de Fin e a puxou para si. — E acho que já está mais do que na hora de conferir isso.

Em questão de segundos, ele lhe tirou o vestido por sobre a cabeça. Depois, lhe abriu o sutiã e deslizou as alças dos ombros. A peça de renda se juntou ao vesti­do no chão.

Quando ele recuou para admirá-la, Fin torceu para que Travis não notasse o fato de que a gravidade já havia afetado certas partes de sua anatomia, e nem tudo estava tão empinado quanto dez anos antes. É claro que ainda não se conheciam naquela época, de modo que, talvez, ele não notasse que, embora ainda fosse esbelta e elegante, estava chegando na casa dos quarenta.

— Meu Deus, Fin, você é linda.

Pelo brilho de apreciação nos olhos dele, Fin não teve dúvidas de que o rancheiro estava falando sério.

Sentindo-se mais feminina e atraente do que se sentira em muitos anos, ela empurrou a camisa por sobre os ombros inacreditavelmente largos e a jogou no topo da crescente pilha de roupas sobre o tapete branco. Fagulhas de ardor lhe percorreram o corpo à velocidade da luz quando ele a tomou novamente nos braços, e ela teve de se forçar a respirar ao primeiro contato da pele feminina e sensível com o corpo mus­culoso e másculo.

— Sentir você é tão bom quanto eu sabia que seria — ele disse, com a respiração entrecortada.

— Posso... dizer... o mesmo.

Ele não era o único a ter dificuldades para recuperar o fôlego.

As mãos largas espalmando-lhe as costas eram absolutamente maravilhosas, e ela ficou fascinada ao sentir como era gostosa a pele calejada sobre a sua, macia. Fechando os olhos, ela se deliciou com os ligeiros arrepios provocados pelo toque. Mas, quan­do ele se curvou para beijar-lhe os seios, ela sen­tiu como se fosse derreter até formar uma poça no chão.

Os lábios firmes a mordiscaram e atiçaram. Ela achou que fosse enlouquecer se ele não tomasse na boca o mamilo retesado. Mas, no instante em que os lábios de Travis se fecharam sobre ela, Fin sentiu as pernas ficarem bambas, e teve de buscar apoio nos bíceps rijos dele para não cair no chão de modo não muito digno.

— Calma, meu bem. — Os lábios roçando-lhe o mamilo sensível à medida que ele falava intensifica­vam as sensações que tomavam conta de seu corpo, e Fin mal foi capaz de reprimir um gemido. — Estamos apenas começando.

— Você estava mesmo falando sério... quando disse que faríamos amor... durante toda a noite — ela disse, esforçando-se para encher os pulmões de ar.

Ele ergueu a cabeça, fitando-a nos olhos.

— Vou bem devagar, e amanhã de manhã não ha­verá sequer um centímetro do seu corpo que eu não terei beijado, ou com o qual não terei feito amor. — O sorriso dele foi como uma flecha de calor em direção à sua região mais feminina. — Não sou de Nova York, Fin. Sou um rapaz do interior, acostumado a deixar que as coisas aconteçam ao seu próprio tempo e a não me apressar para nada. Especialmente quando estou fazendo amor com uma mulher.

O som grave e firme da voz de Travis ao pé de seu ouvido e a promessa que notou nos olhos azuis escu­ros fizeram com que Fin sentisse como se derretesse por dentro.

— N-não restará nada de mim que não uma pilha de cinzas — ela sussurrou, mal reconhecendo a própria voz, de tão rouca.

O sorriso sensual de Travis ao lhe guiar as mãos até a fivela do cinto só serviu para aumentar o calor que se acumulava no seu íntimo.

— Então acho que nos incendiaremos juntos, mi­nha querida.

Lentamente desafivelando a tira de couro, Fin concentrou sua atenção no botão de metal na cintu­ra de Travis. Deleitou-se com o tremor que lhe per­correu o corpo forte quando seus dedos roçaram no volume que forçava a braguilha no instante em se preparou para baixá-la. Mas, em vez de abri-la, ela decidiu retribuir a doce tortura à qual ele a vinha submetendo.

— Acho que vou gostar desta maneira interiorana lenta de fazer amor — disse, displicentemente percor­rendo com o dedo a linha da cintura de Travis, cujos músculos da barriga se contraíram em resposta.

— Não quero que tenha a impressão errada. — Ele inspirou fundo. — Juro que não estou tentando apres­sar as coisas, mas essa calça está começando a ficar meio apertada.

— Realmente, você parece estar tendo problemas. — Apiedando-se dele, Fin abaixou o zíper. — Assim está melhor?

— E como. — Dando um passo para trás, ele ra­pidamente abaixou as calças pelas coxas musculosas. — Não tem idéia de como pode ser dolorosa uma cal­ça jeans para um homem nas minhas condições.

Ele passou a mão ao redor da cintura de Fin, e en­ganchou o polegar no elástico da calcinha.

— Por melhor que essa peça de cetim fique em você, vai ficar ainda mais estonteante sem ela — dis­se, puxando a peça de roupa íntima para baixo.

Suas pernas tremeram, e ela teve de apoiar as mãos nos ombros dele. Quando enfim conseguiu encontrar a voz, estendeu a mão na direção do elástico da cueca de algodão de Travis.

— Em contrapartida, estou certa de que você vai ficar incrível sem isso.

Quando ela retirou a última barreira que os separa­va, sentiu como se a temperatura do quarto houvesse subido vários graus. Nas sombras do celeiro naquela noite, não tivera chance de enxergar muita coisa. Mas, agora, tinha a oportunidade de estudar a perfeição que era Travis Clayton.

As pernas compridas e os flancos magros eram tão bem definidos quanto o tronco, mas foi a visão de sua plena ereção que causou um arrepio de expectativa e desejo no coração de sua feminilidade. Era um homem de constituição impressionante, extremamente excita­do, que olhava para Fin como se ela fosse a criatura mais desejável que já vira.

— Vai acabar me fazendo parecer mentiroso, minha querida — ele disse, tomando-a nos braços.

— Por que diz isso? — Fin perguntou, sentindo-se como se estivesse prestes a pegar fogo com a sen­sação do corpo dele tocando-a dos ombros até os joelhos.

— Prometi que faria amor com você durante toda a noite, mas agora, já não estou certo se isso ainda é uma opção. — Travis sacudiu a cabeça. — Só de olhar para você já estou quase a ponto de explodir, que nem fogos de artifício.

— Então somos dois. — O corpo dela tremia só de sentir a excitação rija do homem pressionando-lhe a barriga. — Sinto como se, a qualquer instante, fosse me incendiar.

— Acho melhor irmos para a cama enquanto ainda temos energia para chegar lá — ele disse, levantando-a nos braços.

Sorrindo, Fin envolveu-lhe o pescoço com os braços.

— Eu poderia ter andado. A cama está a poucos me­tros de distância.

— Eu sei. Mas teria sido necessário que eu a soltas­se, e não queria fazer isso.

A candura dele fez com que o coração de Fin dei­xasse de bater por alguns instantes. Travis sabia exatamente o que dizer para fazê-la se sentir especial e querida. Mas não era só isso. Ela podia sentir que ele estava sendo sincero. Não queria soltá-la, e ela não queria que ele o fizesse.

Quando chegaram à cama, ele arrancou a colcha de cetim negra, e a pousou gentilmente no centro do colchão modelo queen. Depois, Fin o viu voltar até a calça para pegar algo no bolso, que ele colocou sob o travesseiro antes de se deitar ao lado dela.

Ele a puxou para perto e fundiu seus lábios aos dela em um beijo que deixou Fin zonza. Ela provou sua voracidade masculina e a profundidade de sua paixão, e se deleitou com o fato de ser o objeto do desejo da­quele homem fantástico.

Fin se viu respirando com dificuldade quando o rancheiro interrompeu o beijo para lhe mordiscar uma trilha até a clavícula. Mas, quando ele prosseguiu até o volume dos seios e, depois, até os bicos retesados, ela se viu completamente sem fôlego. Diante do primeiro toque da língua do homem em sua pele sensível, ela se agarrou à cabeça dele e ficou imaginando se algum dia seria capaz de respirar novamente.

Tomando o mamilo na boca, Travis o sugou gen­tilmente, enquanto deslizava as mãos pelas laterais do corpo de Fin e, depois, pelas coxas. Quando ele moveu as mãos para a parte interna das pernas, che­gando a seu ninho de pêlos femininos, uma deliciosa descarga de tensão, mais poderosa do que ela jamais poderia ter imaginado, percorreu cada centímetro de seu corpo.

Mas nada poderia tê-la preparado para o nível de excitação que Travis gerou ao separar-lhe as dobras macias e gentilmente acariciar o pequeno botão ali es­condido. Seu coração batia forte, e ela o pressionava incessantemente enquanto ondas e mais ondas de sen­sações intensas lhe percorriam o corpo.

Travis a estava levando a uma paixão que ela jamais soubera existir, e Fin teve certeza de que em breve entraria em combustão espontânea se ele não fizesse logo amor com ela.

— Por favor, Travis... Eu não aguento... mais...

— O que quer, Fin?

Distraída pelas carícias incessantes e pela sensação de seus lábios úmidos lhe roçando o mamilo quando ele falava, ela teve de se concentrar para valer para falar:

— Quero que faça amor comigo. Agora!

— Mas, estou apenas começando — ele disse, aca­riciando-a ainda mais profundamente.

— Jamais... sobreviverei.

— Tem certeza?

— Tenho.

Abaixando a mão entre os dois, ela o encontrou e usou a palma para medir o tamanho e a força de seu desejo por ela. Com um gemido vindo do fundo do peito, ele estremeceu.

Ele segurou-lhe as mãos para detê-la.

__Eu já entendi, minha querida.

Com a respiração ofegante, ele pegou a pequena embalagem plástica que colocara sob o travesseiro. Tendo vestido a proteção, ele se acomodou entre as pernas de Fin.

— Vamos fazer isso juntos — disse, sorrindo ao segurar-lhe a mão e ao ajudá-la a guiá-lo até o ponto certo.

Fitando-se nos olhos, eles se tornaram um só e Fin soube que jamais experimentara algo tão sensual ou erótico. Mas, quando ele forçou os quadris para frente e o corpo dela se alongou para recebê-lo, ela se entre­gou à deliciosa sensação e abandonou qualquer outro pensamento.

Ela o notou cerrando os dentes à medida que ia mais fundo no interior dela.

— É tão gostoso poder senti-la, minha querida.

— É tão gostoso poder sentir você — ela disse, envolvendo-lhe os ombros largos com os braços e os quadris esbeltos com as pernas.

Quando estava completamente no interior dela, Travis fitou-a nos olhos e estabeleceu o ritmo lento e ritmado. A fricção deliciosa provocava fagulhas que a incendiavam, e ela logo começou a sentir a tensão acumulada no ventre atingindo o ponto má­ximo.

Puxando-o para si, Fin lutou para prolongar a sensação de ser uma só com aquele homem fabulo­so. Mas logo a tensão em seu íntimo se estilhaçou em milhares de sensações, e ela gemeu o nome dele quando as doces ondas de relaxamento lhe percorre­ram o corpo.

Sua satisfação deve tê-lo levado ao clímax, porque instantes depois, o corpo de Travis enrijeceu e arre­meteu uma última vez de encontro a ela. E ele libertou sua essência com um gemido que lhe estremeceu.

Travis permanecia abraçado ao corpo esbelto de Fin quando as luzes da alvorada começaram a entrar pela janela. Após fazer amor novamente em algum momento no meio da noite, ela adormecera. Mas ele ficara acordado, pensando naquele que talvez houves­se sido o ato mais excitante de sua vida.

Quando Lauren estava viva, relacionavam-se como duas pessoas à vontade uma com a outra. E, embora a intimidade não houvesse sido excessivamente passio-nal, fora satisfatória.

Mas o que compartilhava com Fin chegava a ser explosivo. A forma como ela respondia a suas carícias acendia um fogo que ele jamais imaginara existir em seu íntimo. Diabos, ela o fazia se sentir mais como um adolescente atrevido do que como um homem de quase cinquenta anos.

Era uma pena que com a aurora seu tempo juntos acabaria. Ela voltaria para a sua vida glamourosa de editora-chefe de uma revista de moda, enquanto ele voltaria a ser apenas um rancheiro do Colorado

Quando Fin gemeu e se mexeu ao seu lado ele olhou para ela e viu que suas faces acetinadas haviam ficado pálidas, e seus olhos cor de esmeralda estavam lacrimejando.

— O que foi, minha querida?

Ele a viu fechar os olhos e engolir em seco.

— Acho que... vou... passar mal.

As palavras mal haviam saído de seus lábios pá­lidos quando ela pulou da cama e saiu correndo na direção do banheiro.

Seguindo-a, ele a segurou pelos ombros quando ela se ajoelhou e perdeu sua batalha contra a náusea. Quando ela por fim ergueu a cabeça em busca de ar Travis a soltou apenas o bastante para pegar uma toalha sobre a bancada e molhá-la.

— O-obrigada - ela sussurrou debilmente quando ele usou a toalha para limpar o suor de sua testa e a ajudou a vestir o roupão que estava pendurado atrás da porta do banheiro.

—Está se sentindo melhor? - Quando ela assen­tiu, ele a ajudou a se levantar e a voltar para a cama - Você tem água mineral gasosa em casa?

— Acho que tenho um pouco de água tônica... na geladeira... atrás do bar — disse ela, com dificuldade.

Vestindo rapidamente a calça, Travis se dirigiu ao outro aposento. Quando voltou ao quarto, encontrou-a novamente ajoelhada no toalete.

— Será que alguma coisa que você comeu não lhe fez bem? — perguntou ele, ao se ajoelhar ao seu lado e ajudá-la a tomar alguns goles da água tônica.

Ela deu de ombros.

— Recentemente venho me sentido meio nauseada, mas esta foi a primeira vez que vomitei.

Suas palavras o atingiram como um murro, e Travis teve de se forçar a respirar.

— E quando foi que isso começou?

— Não sei. Talvez há umas duas semanas. Desde que isso começou que estou para marcar uma hora com minha médica, mas ainda não tive tempo.

O coração dele disparou, e Travis começou a sentir um friozinho na boca do estômago.

— Por acaso a sua regra já veio desde sua visita a Silver Moon Ranch?

Só de vê-la morder o lábio inferior de preocupação, ele soube qual seria sua resposta antes mesmo de ela proferir a simples palavra:

— Não.

Pelo tempo já era para ter vindo, e o fato de que não haviam usado proteção naquela noite no celeiro só lhe oferecia uma única conclusão. Inspirando fun­do duas vezes, Travis começou a se sentir meio tonto e até também um pouco nauseado.

— Fin, acho que há uma boa chance de você estar grávida.

 

Quando enfim começou a se dar conta da gravidade da situação, as palavras de Travis foram tão eficientes quanto uma dose de sais aromáticos para dissipar a confusão do cérebro de Fin. Durante a última semana, propositalmente ignorara os sintomas indicadores da gravidez, mas já estava mais do que na hora de encarar os fatos.

Racionalizara a tonteira ocasional e as náuseas ma­tinais como sendo resultado do desgaste da competi­ção e da quantidade excepcional de horas extras que estava fazendo para ganhar. Mas, aparentemente, esse não era o caso. Parecia que a história estava se repe­tindo, e ela estava grávida novamente após um único incidente de sexo desprotegido.

— Isso não pode estar acontecendo — gemeu, en­terrando a cabeça nas mãos. — De novo não.

— Tudo vai dar certo, Fin. Não teremos certeza até que tenha feito um exame — disse Travis, com a voz suave, tomando-a nos braços fortes e carregan­do-a de volta para o quarto. Depositando-a na cama, sentou ao seu lado e lhe tomou as mãos nas suas. — Se me disser onde fica a farmácia mais próxima, posso ir correndo buscar um daqueles exames casei­ros. Assim que tivermos o resultado, nós saberemos exatamente qual é a situação e discutiremos como lidar com ela.

Ela o fitou nos olhos.

— Nós?

Ele assentiu sem um segundo sequer de hesitação.

- Se está esperando um filho meu, não vai encarar essa sozinha. Estarei ao seu lado durante todo o pro­cesso, e qualquer decisão que tenha de ser tomada será tomada em conjunto.

A promessa dele de apoio moral era muito bem vin­da mas, enquanto o bastão não ficasse azul, Fin tinha toda a intenção de se agarrar à esperança de não estar grávida.

— Vamos comprar logo o exame caseiro e desco­brir de uma vez por todas.

Entregando a Travis a chave, para que ele pudesse entrar sozinho ao voltar, e lhe dizendo como chegar à farmácia nas redondezas, ela esperou que ele saísse antes de se entregar às lagrimas.

No que diabos se metera desta vez? E não poderia ter escolhido uma época melhor para fazê-lo?

Estava em meio a uma feroz competição com a fa­mília, especialmente com o irmão gêmeo, Shane, para ser nomeada presidente da Editora Elliot quando Pa-trick se aposentasse, em menos de dois meses. Mesmo que o crescimento da Charisma se destacasse e ela se tornasse a vencedora inconteste da competição, tinha sinceras dúvidas de que o pai farisaico entregaria as rédeas do seu império de revistas para a filha que tinha o péssimo hábito de desgraçá-lo com filhos ilegítimos. E, embora os tempos fossem outros e fosse perfeita­mente aceitável para uma mulher solteira dar à luz e criar seu filho sozinha, Patrick ainda pertencia a uma outra geração. De modo algum entregaria a preciosa empresa a uma mulher que considerava incapaz de ge­rir adequadamente a própria vida.

Soluçando, fechou os olhos com força ao pensar em tudo que estava correndo o risco de perder.

— Jessie — disse, em voz alta.

O que isso faria com a relação que estava começan­do a ter com a filha? Haviam acabado de se reencon­trar. Como Jessie reagiria diante da notícia de que a mãe biológica e o pai adotivo haviam sido incapazes de se controlar e que em breve teria um irmãozinho ou uma irmãzinha?

Recostando-se nos travesseiros, Fin tentou não pensar nas repercussões de uma gravidez inesperada. As impli­cações eram infinitas, e só de pensar nelas já sentia a ca­beça latejar e um enorme receio lhe preenchia o peito.

Quando escutou Travis destrancando a porta do apartamento, sentou-se na cama e enxugou o rosto. Não era mais a amedrontada menina de quinze anos de idade que não tinha opção senão acatar qualquer decisão que os pais tomassem. Era uma mulher agora, e independente dos resultados do exame, se encarre­garia da situação com a dignidade, a graça e a força de vontade de que não dispunha 23 anos antes.

- Já apareceu alguma coisa? — perguntou Travis, enquanto andava de um lado para o outro diante da porta do banheiro de Fin.

O farmacêutico com quem falara lhe garantira que o teste de gravidez que comprara era o mais fácil, o mais preciso exame que podia ser comprado no balcão do mercado. Se o mostrador digital exibisse a palavra "grávida", então ele e Fin estavam esperando um fi­lho, juntos.

O coração batia desconsoladamente no peito sem­pre que pensava que Fin estava grávida. Jamais sequer imaginara que aos 49 anos estaria ansiosamente es­perando os resultados de um teste caseiro para ver se "embarrigara" uma mulher.

Parou de andar de um lado para o outro ao escutar a porta do banheiro se abrindo. A expressão no belo rosto de Finola respondeu a pergunta antes sequer que ele pudesse dizer:

— Você está grávida, não está?

Ele a viu inspirar fundo repetidamente, como se es­tivesse acumulando forças, e depois assentir. — Foi um positivo tão forte que nem levou todo o tempo que as instruções disseram que seria neces­sário.

Antes que as pernas lhe falhassem, ele afundou no colchão ao lado dela, depois, passando o braço ao redor de seus ombros, tentando pensar em algo para falar. Diabos, o que poderia dizer? Sentia-se como se houvesse levado uma paulada bem no meio da testa.

— Não sei o que pensa a respeito de tudo isso, mas eu vou ter este bebê — ela disse, subitamente.

Enfaticamente.

Ele sacudiu a cabeça.

— Nem me passou pela cabeça que não teria.

Ela se empertigou e se virou para fitá-lo. O único indício do caos que tomara conta de seus pensamentos foi o ligeiro tremor dos lábios.

— Patrick me forçou a abrir mão de Jessica. Mas, desta vez, não permitirei que ninguém tome de mim esta criança.

Travis podia entender o porquê de ela se sentir da­quela forma, visto que os pais a haviam forçado a en­tregar Jessie para a adoção. Mas o filho também era dele, e Travis tinha toda a intenção de fazer parte da vida da criança.

Só que aquela não era a hora de começar a discutir sobre compartilhar a custódia. Fin estava muito fragilizada, e precisava de seu apoio. E ele estava deter­minado a oferecer todo o encorajamento de que ela precisasse.

- Eu lhe dou minha palavra de que, enquanto hou­ver vida no meu corpo, ninguém vai separá-la de seu bebê — ele disse, gentilmente.

As lágrimas se acumularam nos lindos olhos cor de esmeralda.

- Não suportaria passar por isso novamente, Travis.

- Eu sei, minha querida, e prometo que não terá de fazê-lo. — Ele a tomou nos braços e a abraçou bem apertado. — Estarei ao seu lado durante tudo isso, e não permitirei que nada e nem ninguém faça mal a você ou ao bebê.

Eles ficaram sentados em silêncio por alguns ins­tantes antes que ela se soltasse de seus braços.

— Se não se incomoda, acho que quero ficar um pouco sozinha.

Ele podia entender a necessidade de solidão de Fin. Muita coisa havia acontecido na última hora, e ambos precisavam pensar no que estavam sentindo.

— Você vai trabalhar hoje? — ele perguntou, levan­tando da cama.

Ela sacudiu a cabeça.

— Minha ausência vai gerar um bocado de espe­culação, mas vou ligar para Cade e pedir que ele me cubra hoje. Além do fato de que não conseguiria me concentrar, quero ver minha ginecologista o mais rápido que puder. Espero que ela possa me receber hoje.

Ela o acompanhou até a porta, onde ele pegou o chapéu e o casaco.

— Prefere ir sozinha, ou quer que eu a acompanhe no médico?

— Você estava falando sério quando disse que es­taria ao meu lado.

Sua expressão de espanto e o som de sua voz não deixavam dúvidas de que ele a surpreendera. Ele lhe acariciou a face com o indicador.

— Não sou de dizer as coisas só por dizer, Fin. — Dando-lhe um beijo rápido, ele abriu a porta. — Passo aqui hoje à noite para ver como está e se está preci­sando de algo.

Colocando o chapéu, ele deixou o apartamento e fechou a porta. A última coisa que queria era deixá-la sozinha. Mas ambos tinham muito a fazer e no que pensar. Fin tentaria marcar um horário com a gine­cologista e ele precisava ligar para o caseiro, Spud, para ver como estavam as coisas no rancho durante sua ausência. Depois, após um rápido almoço com Jessie, tinha de experimentar aquela droga de traje de pinguim que a filha o faria usar para levá-la ao altar.

Enquanto esperava um táxi, não conseguia parar de pensar no bebê que Fin estava carregando. Ele sacu­diu a cabeça, em um gesto de incredulidade. A maioria dos amigos no Colorado estava se transforman­do em avô, e ali estava ele começando uma segunda família.

Quando ele e Lauren descobriram que ela era inca­paz de ter filhos, aceitaram o fato de que jamais gera­riam uma criança e deram início ao processo de adoção. E, embora Jessie não fosse sua filha biológica, ela era, e sempre seria, a sua menininha. Ele a amava mais do que a própria vida, e isso nunca mudaria.

Mas o bebê crescendo dentro de Fin seria sangue do seu sangue — um filho que nem em um milhão de anos esperaria ter. Era algo com o que demoraria a se acostumar, especialmente após todo esse tempo. Também demoraria um pouco para se acostumar com o fato de que a filha adotiva e o filho biológico tinham a mesma mãe.

E, se ele já estava tendo dificuldade para aceitar isso, não fazia idéia de como devia estar sendo difícil para Fin. Em poucos meses, reencontrara Jessie e en­gravidara do pai adotivo da filha desaparecida.

Sentando-se no banco de trás de um táxi, ele deu ao motorista o nome de seu hotel. Depois, uma idéia lhe ocorreu, e ele perguntou:

— Sabe onde posso encomendar flores?

— Meu primo Vinnie é florista — disse o homem. — A loja dele fica a um quarteirão de seu hotel. Pode dizer para ele que foi o Joe quem o mandou. Vinnie lhe dará um bom desconto.

— Obrigado. Farei isso.

Travis não tinha lá muita certeza quanto ao proto­colo, nem se realmente havia um para a súbita desco­berta de que engravidara a mulher com quem passara a noite de amor mais incrível de sua vida. Mas achou que um belo buque de flores não seria considerado ofensivo. Queria mostrar para Fin não apenas que es­tava falando sério quando disse lhe daria todo o apoio, mas também o quanto se sentia honrado de que ela es­tivesse lhe proporcionado uma segunda oportunidade de ser pai.

— O que diabos está acontecendo, Fin?

Shane, seu irmão gêmeo, invadiu o apartamento as­sim que ela abriu a porta.

— Boa noite para você também, Shane — Fin cum­primentou, secamente.

Não se surpreendera com o fato de ele ter passa­do ali a caminho de casa, vindo do escritório. Seu apartamento ficava apenas alguns andares acima do dela.

Quando ele se virou para ela, a expressão em seu rosto era de preocupação.

— Está se sentindo bem?

— Estou ótima. Ele franziu a testa.

— Então por que não foi trabalhar hoje? Não me recordo da última vez em que tirou o dia de folga. Cade e Jessie não fazem idéia do que está acontecen­do e você quase matou a pobre Chloe de preocupação. Ela disse que você tem sentido algumas tonteiras e está convencida que você conseguiu trabalhar até a exaustão.

Fin sabia que sua ausência traria problemas, mas isso não podia ser evitado.

— Quer se sentar enquanto me passa o sermão, ou será que pretende fazer isso de pé?

A pergunta parecia ter apagado um pouco da irrita­ção do rosto bonito do homem.

— Olhe, desculpe se peguei meio pesado, mas você tem de admitir que perder um dia de trabalho na Charisma não é típico de você. Especialmente quando estamos cabeça a cabeça na competição para a pre­sidência.

Fin podia entender a confusão do irmão gêmeo. Desde o instante em que Patrick anunciara a compe­tição, ela deixara bem claro que tinha toda a intenção de vencer. Mas, nos últimos meses, muitas coisas ha­viam mudado, e ela estava tendo que redefinir suas prioridades.

— Agradeço a preocupação de todos, e realmente não foi a minha intenção alarmar ninguém, mas eu ti­nha uns assuntos pessoais para resolver.

Ele ergueu uma das sobrancelhas escuras.

— Pode ser mais específica?

— Não.

Ele pareceu ter se surpreendido com a resposta da irmã.

— Mas...

— Já disse, é pessoal.

Ela podia ver que ele estava mais do que um pou­co intrigado pela ausência de detalhes. Mas, por mais chegados que ela e Shane sempre houvessem sido, Fin não estava disposta a conversar sobre esta gravidez, com ele e com quem quer que fosse. Pelo menos não até que ela e Travis tivessem conversado sobre o as­sunto e decidido como dar a notícia a todos.

Para amenizar sua recusa em discutir o assunto, ela sorriu.

— Tenho certeza de que você tem coisas a seu res­peito que prefere manter em segredo, não tem?

Ele sorriu.

— Algumas.

— Então será que podemos deixar o assunto de lado?

Ele assentiu.

— De acordo. — O irmão voltou sua atenção para o lindo buque de duas dúzias de rosas vermelhas disposto em um vaso de cristal sob a mesa de centro.

— Será que aquilo tem algo a ver com a parte pessoal de seu dia de folga?            — acrescentou ele, com um sor­riso maroto.

Ela conseguiu pegar o cartão de Travis antes que Shane tivesse a oportunidade de lê-lo.

— Isso, querido irmão, não é da sua conta. Shane jogou a cabeça para trás e riu.

— Vou entender isso como uma confirmação de mi­nha suposição.

— Será que já não está na hora de você subir para o seu apartamento e me deixar em paz?

— Está esperando uma visita de quem lhe mandou aquelas flores, querida irmãzinha? — Antes que ela pudesse dizer algo, ele respondeu à própria pergunta. — É, eu sei, não é da minha conta.

— Ainda bem que sabe disso — ela disse, acompa­nhando-o até a porta.

— Tudo bem, eu estou indo. — Abrindo a porta, ele saiu para o corredor e virou-se para a irmã. — Então? Pretende estar no escritório amanhã de manhã?

Ela assentiu.

— É claro que sim. Onde mais eu estaria? Ele voltou a exibir o sorriso maroto.

— Nos braços de quem lhe mandou aquelas flores?

— Cuide da sua própria vida, Shane. Passar bem — ela disse, fechando a porta atrás dele.

Ela mal chegara ao meio da sala quando uma batida de leve na porta a fez voltar.

— Que parte de "não é da sua conta" você não en­tendeu? — indagou ao abrir violentamente a porta.

— Presumo que não sou quem você estava espe­rando ver.

O coração de Fin quase parou diante da visão de Travis. Ele e Shane devem ter se desencontrado por uma questão de segundos.

— Peço que me desculpe, Travis — ela se descul­pou, dando um passo para o lado e convidando-o a en­trar com um gesto. — Shane achou que era o seu dever me passar um sermão por ter faltado ao trabalho.

Ele assentiu ao retirar o casaco e o chapéu, que jo­gou sobre a cadeira. Depois, tomou-a nos braços.

— É, quando almocei com Jessie hoje à tarde ela me contou que você havia colocado Cade à frente de tudo por hoje, e me perguntou se, durante nosso jan­tar de ontem, você não havia mencionado não estar se sentindo bem.

Considerando as circunstâncias, era pura insanida­de, mas os braços fortes ao seu redor a faziam se sentir segura e em paz, como havia muito não se sentia.

— O que você disse?

— A verdade.

Temendo a reação de Jessie, Fin falou com a voz trémula:

— D-disse que estou grávida?

— Não — Dando um passo atrás, ele manteve o braço ao redor dos ombros dela e a conduziu até o sofá, onde se sentaram. — Jessie perguntou se men­cionou algo durante o jantar, o que você não fez. Deliberadamente me esquivei de dizer qualquer coisa que desse a entender que estava com você quando passou mal, hoje de manhã.

Fin soltou um suspiro de alívio.

— Sei como você e Jessie são chegados, mas será que se incomoda que eu lhe conte sobre o bebê?

— Para ser sincero, preferiria mesmo que o fizesse. — Ele sorriu e a puxou para perto de si. — Quando Jessie era adolescente, um de meus maiores temores como pai era que um dia ela viesse me dizer que al­gum moleque metido a besta a engravidara.

— Não confiava nela?

Será que Travis tinha mais em comum com Patrick do que ela pensava?

— Não me entenda mal — ele disse, sacudindo a cabeça. — Sempre tive toda a confiança do mundo na minha filha. Eram os adolescentes movidos a hormô-nios e sem bom senso, tentando convencer a menina mais bonita do condado a subir na traseira da cami­nhonete do papai, que me davam pesadelos.

Fin não pôde deixar de sorrir.

— Você é um pai maravilhoso, Travis.

Ele deu de ombros.

— Por mais difícil que seja acreditar, eu também já fui adolescente. — Ele riu. — Diabos, aos dezessete anos de idade acho que passava setenta e cinco por cento do tempo rijo. E, a verdade seja dita, provavel­mente fiz muitos pais perderem o sono.

Considerando que ele devia ter sido quase tão atraente quando jovem quanto era agora, ela podia acreditar que Travis havia preocupado um bocado de pais.

— Suponho que seja irônico o fato de que justa­mente o que receava para a Jessie acabasse aconte­cendo com você.

Ele a fitou.

— Sei que esta é a última coisa que esperava que acontecesse, e que tem todo o direito de me culpar por não protegê-la naquela noite no celeiro, mas passei o dia inteiro pensando nisso. — Ele passou a mão pelos cabelos espessos. — Diabos, não tenho conseguido pensar em mais nada.

— Eu também não — disse Fin, levando a mão ao rosto de Travis. — Mas não quero que pense que o culpo por nada e nem que me arrependo do que aconteceu.

— E não é o que está passando pela sua cabeça?

— De modo algum. — Levando a mão à barriga, ela sorriu. — Esta é a minha segunda chance. Perdi tanta coisa quando fui forçada a entregar Jessie para a adoção... Nunca tive a chance de ver seus primeiros passos ou escutar suas primeiras palavras.

— Cavalinho.

— Como é que é?

O sorriso dele se alargou.

— "Cavalinho" foi a primeira coisa que ela disse.

Fin riu.

— E por que é que isso não me surpreende? Ela vive falando no cavalo, Oscar.

— Pois ele a ama quase tanto quanto ela o ama. — Rindo, Travis sacudiu a cabeça. — Nunca vi um cavalo ficar tão cabisbaixo por semanas, como se es­tivesse nas últimas, e depois se animar todo, como se fosse um potro novo, no instante em que ela volta para casa para uma visita.

Embora isso normalmente fosse muito raro de acontecer, lágrimas encheram outra vez os olhos de Fin, e ela amaldiçoou os hormônios por deixarem-na tão emotiva.

— Obrigada por lhe dar uma infância tão maravi­lhosa, Travis.

Quando ele enxugou a lágrima da face de Finola com o polegar, a pele dela começou a formigar devido ao contato, e o afeto lhe preencheu o peito.

— Eu é que a agradeço por tê-la tido. Sei que entre­gá-la para adoção foi a coisa mais difícil que já teve de fazer, mas criar Jess e vê-la crescer foi a melhor coisa que já me aconteceu. Eu não teria tido nada disso se não fosse por você.

— É por isso que ter este bebê é tão importante para mim — ela retrucou, assentindo. — Vou fazer parte da vida deste bebê como jamais tive a oportunidade com Jessie. — Pela expressão nos olhos azuis de Travis, Fin pôde perceber que ele entendia, mas também notou neles uma sombra de preocupação. Prevendo o que o incomodava, ela tratou de tranquilizá-lo. — Quero que você também faça parte da vida dele, ou dela. Você é o pai do bebê, e eu jamais o privaria de seu filho.

A dúvida dissipou-se na mesma hora, e ela podia perceber que ele estava aliviado de saber que ela não pretendia tirá-lo do jogo.

— Como vamos fazer isso? Com você morando em Nova York e eu no Colorado isso vai exigir um boca­do de trabalho.

— Não sei ao certo — ela respondeu, com sinceri­dade. — Mas temos oito meses para conversar a res­peito e planejar tudo.

— Com o casamento de Jessie e Cade se aproxi­mando, as próximas duas semanas vão ser bem corri­das. — Ele a abraçou e se recostou no sofá. — O que me diz de deixarmos qualquer discussão para depois da cerimônia? Isso nos dará algum tempo para pensar e ver se chegamos a alguma conclusão.

—Essa me parece uma idéia excelente. E, enquan­to isso, pensarei em como vou dar a notícia a Jessie. — Encostando a cabeça no ombro dele, ela disfarçou um bocejo. — Como acha que ela vai reagir?

Ele deu um profundo suspiro antes de abraçá-la com mais força.

— Não faço a menor idéia, minha querida.

 

Fin fitou a jovem do outro lado da mesa de jantar e se perguntou como diabos iria abordar o assunto de sua gravidez. Dizer que estava uma pilha de nervos era pouco.

Ela e Travis haviam planejado contar a novidade a Jessie antes que ele tivesse de voltar para o Colorado. Mas, infelizmente, com o dia do casamento se aproxi­mando e todos os detalhes de última hora, não tivera tempo.

Mas, quando soube que Cade estava indo passar uns dias na Costa Oeste para fechar um lucrativo contrato de publicidade para a Charisma uma semana antes do casamento, Fin resolveu aproveitar a oportunidade e convidou Jessie para jantar.

— Fin, nosso relacionamento significa muito para mim e quero que ele continue a crescer — disse Jes­sie, sem mais preâmbulos. Ela baixou o garfo e mor­deu o lábio inferior, como se estivesse tentando reunir coragem. Depois, respirando fundo, perguntou: — Eu disse ou fiz algo que possa tê-la ofendido?

A pergunta da filha era a última coisa que Fin espe­rava, e ela tratou logo de tranquilizá-la.

—Não, minha querida. Você não fez nada. — Ela deu a mão a Jessie. — Sei que deixamos de viver um bocado de coisas ao longo dos anos, mas você ainda é minha filha. Eu amo você. E você nunca poderia fazer coisa alguma que mudasse isso.

— Graças a Deus!

O alívio no rosto de Jessie provocou um aperto no coração de Fin. Detestava ter deixado a filha desne­cessariamente preocupada. Mas não sabia o quanto duraria a euforia quando Jessie soubesse da gravidez de Fin, e quem era o pai.

__Você tem estado diferente desde que eu cance­lei o jantar com você e papai, semana passada. — O sorriso de Jessie deixava transparecer certa culpa.

—Achei que pudesse estar zangada comigo por tentar promover um encontro entre você e papai.

O coração de Fin disparou. Esta era a abertura que procurava. Só torcia para que seu comunicado não prejudicasse irremediavelmente os sentimentos de Jessie por ela.

— Preciso lhe falar sobre isso. — Fin dobrou o guardanapo e o depositou sobre a mesa. Depois ficou de pé e fez um gesto na direção da sala de estar. — Por que não nos sentamos em um lugar mais confortável?

De súbito, Jessie parecia apreensiva.

— Está começando a me deixar assustada, Fin. Conduzindo-a até o sofá, Fin sacudiu a cabeça.

— Não há nada com o que se assustar, minha que­rida.

Eu, por outro lado, tenho motivos de sobra para es­tar apavorada, pensou.

Quando já estavam acomodadas em extremidades opostas do sofá, de frente uma para a outra, Fin inspi­rou fundo.

— Tenho estado meio distraída recentemente, por­que algo aconteceu...

— Você está bem? — Jessie interrompeu, tomada de ansiedade.

— Estou ótima, querida. — Fin torcia para que seu sorriso fosse tranquilizador, mas estava tão nervosa que era difícil ter certeza. — Para falar a verdade, fui ver minha médica semana passada, e ela me disse que estou na mais perfeita saúde.

— Então qual é o problema? — Jessie indagou, ob­viamente confusa.

— No que me diz respeito, não é um problema. — Fin não pôde deixar de sorrir. — A princípio foi um choque, mas já tive algum tempo para me acostumar com a idéia. E, na verdade, estou muito feliz. — Ins­pirando fundo, fitou sem vacilar os olhos curiosos da filha. — Estou grávida.

Os olhos de Jessie se arregalaram e ela cobriu a boca com as mãos, ao deixar escapar um gritinho de alegria.

— Fin, isso é maravilhoso! — Ela sacudiu a cabe­ça, — Eu nem sabia que você estava envolvida com alguém.

— Não estou... exatamente. — A próxima parte da notícia era a mais temida por Fin. Dizer a Jessie quem era o pai... — Travis é o pai.

Jessie fitou Fin boquiaberta por vários interminá­veis segundos.

— Meu pai?... O pai do seu bebê é o meu pai? Tra­vis?... Travis Clayton?

Fin assentiu lentamente. Não sabia se Jessie repetia o nome de Travis devido à surpresa ou ao desgosto.

— Foi aquela noite no Silver Moon Ranch, não foi? — Jessie adivinhou. A expressão do rosto nada revela­va. — Vocês dois deixaram a festa para ir até o celeiro olhar como estavam passando a égua e o novo potro.

Assentindo, Fin tentou explicar.

— Dei um abraço em Travis para lhe mostrar mi­nha gratidão por ele tê-la criado e cuidado tão bem de você, e... simplesmente acabou acontecendo.

— Isso é maravilhoso! — disse Jessie, dando um pulo para frente e abraçando Fin. — Desconfiei que alguma coisa estava acontecendo entre vocês dois. — Afastando-se, ela sorriu. — Dava para notar a atração desde o instante em que se conheceram.

— Não está aborrecida? — indagou Fin, cautelosa­mente, ao retribuir o abraço.

Jessie sacudiu a cabeça e se recostou no sofá, lhe dando um sorriso encorajador.

— Admito que é um tremendo choque, mas estou muito feliz por vocês dois. Sei o quanto você lamenta não ter podido me ver crescer, e papai é o melhor pai do mundo. Esse bebê não sabe a sorte que tem de ter vocês como pais!

Diante do tom enfático de Jessie, Fin foi tomada de alívio, o que a deixou se sentindo fraca e emotiva.

— Fico feliz de saber que não está aborrecida.

— E por que estaria? Estou contentíssima de saber que finalmente vou ter um irmãozinho! — Jessie sor­riu de uma orelha a outra. — E aposto que papai tam­bém está radiante. — Ela se deteve, de súbito. — Já contou para ele, não contou?

Fin assentiu.

— Descobri que estava grávida semana passada, enquanto ele estava na cidade para visitá-la e para fa­zer a última prova do meio-fraque.

Ela deliberadamente omitiu o fato de que estavam juntos quando fizera o teste caseiro de gravidez e de que haviam passado a noite anterior fazendo amor.

— Por que será que papai não me disse nada?

— Pedi a ele que me deixasse lhe dar a notícia do bebê, porque, se nossa situação a desagradasse, queria que eu, e não ele, fosse alvo de sua raiva — explicou Fin. — Achei que, se assumisse a maior parte da culpa poderia impedir que seu relacionamento com ele fosse prejudicado.

Jessie tomou a mão de Fin nas suas.

— Isso é muito nobre de sua parte. Mas não estou de forma alguma aborrecida com a notícia. — Ela sorriu — Muito pelo contrário.

Fin sentiu como se um enorme peso houvesse sido retirado de seus ombros.

— Não imagina quantas vezes quis falar a respeito disso com você, mas nunca parecia ser o melhor mo­mento.

— Tem sido uma correria tão grande para preparar tudo para o casamento que estou até surpresa de ter­mos encontrado tempo para jantarmos juntas esta noi­te — concordou Jessie, assentindo. — Você já contou para mais alguém?

— Não. Seu pai e eu concordamos que você deveria ser a primeira a saber.

— Eu sei que tenho muitas perguntas — disse Jes­sie, com o rosto subitamente tornando sério —, mas vocês já tomaram alguma decisão sobre como vão criar o bebê? Os dois vão dividir a responsabilidade?

— É a coisa certa a se fazer. — Fin suspirou. — Mas não tenho idéia de como vamos conseguir isso.

— Você tem a Charisma, e não consigo imaginar papai deixando o Silver Moon Ranch para se mudar para Nova York.

— Vamos explorar nossas opções enquanto ele es­tiver aqui para o casamento, e esperamos chegar a um consenso sobre um plano sensato. — Sorrindo, Fin abraçou sua filha linda e compreensiva. — Cruze os dedos e torça para que possamos encontrar uma solu­ção, e para que, quando anunciarmos a minha gravi­dez, o resto da família fique tão entusiasmado quanto nós.

 

As lágrimas encheram os olhos de Fin ao ver Travis, fabulosamente lindo no seu meio-fraque preto, es­coltando a bela filha dos dois escada abaixo na Tides, Jessie estava absolutamente deslumbrante no vestido de noiva branco de cetim e renda, e, a julgar pelo olhar fascinado de Cade, o noivo estava de pleno acordo com tal afirmação.

Olhando para a mãe e Patrick, Fin se sentiu agrade­cida pelos dois terem aceitado a neta há muito afastada de volta ao clã dos Elliot e insistido que a cerimônia fosse realizada na propriedade deles em Hamptons. Pensando bem, era o mínimo que poderiam ter feito por Jessie.

Quando Travis acompanhou a filha até o altar, atravessando o corredor entre as fileiras de cadeiras dispostas na enorme sala de estar, Fin se sentiu emo­cionada ao vê-lo beijar a face de Jessie, e depois se afastar, dando a Cade a chance de ocupar seu lugar ao lado dela. Devia ter sido uma das coisas mais duras que Travis já tivera de fazer: entregar o futuro e a feli­cidade da filha nas mãos de outro homem.

— Iss0 não foi fácil — ele sussurrou, ao se sentar ao lado de Fin para assistir à troca de votos de Jessie e Cade.

Incapaz de falar algo devido a tanta emoção, Fin lhe apertou a mão. Não ficou surpresa quando ele per­maneceu de mãos dadas com ela durante o restante da cerimônia.

Quando Jessie e Cade já haviam sido declarados marido e mulher e os convidados já começavam a se dirigir para a tenda aquecida que havia sido montada ao lado da sala de estar para acomodar a recepção, Fin precisou de alguns momentos sozinha para se recompor.

— Se me der licença, Travis, acho que preciso reto­car a maquiagem.

— Acho que eu também gostaria de ficar um pouco sozinho — ele disse, com o rosto sério e em um tom de voz áspero. — Se não se importa, acho que vou dar uma volta por aí e respirar um pouco de ar puro.

— Eu o vejo mais tarde — disse ela, beijando-o na face.

Ao observar Travis se dirigindo à porta da frente, não pôde deixar de imaginar como deveria ser ter um pai que amasse a filha tanto quanto Travis amava Jessie. Nunca tivera esse prazer. Nunca soubera o que era ter um pai que a amasse incondicionalmente. Colocando a mão sobre a barriga, se confortou em saber que seu bebê tinha muita sorte de ter Travis como pai.

— Fin, está se sentindo bem? Notei que estava um pouco pálida.

Diante do ligeiro sotaque irlandês, Fin virou-se para fitar a mãe, Maeve Elliot.

— Mãe, será que podemos falar em particular? — ela perguntou, achando que não haveria momento melhor para contar à mãe sobre o bebê.

Uma expressão de alarme arregalou os olhos esver­deados de Maeve, e Fin percebeu que a mãe previa más notícias.

— É claro, meu bem. — Acompanhando Fin até a biblioteca, Maeve fechou a porta atrás delas. — O que foi, Finola? O que há de errado?

A utilização do nome de batismo de Fin era um in­dício do nível de preocupação da mãe.

— Não há nada de errado — disse Fin, colocan­do a mão sobre o braço da mãe para tranquilizá-la.

— Na verdade, pela primeira vez em 23 anos, tudo está como deveria ser.

As rugas de preocupação no rosto da mãe se suavi­zaram até se transformarem em um sorriso, e Maeve abraçou Fin.

— É o que eu acho também, Finny.

Fin permaneceu abraçada à mãe por algum tempo, antes de seguir na direção das poltronas de couro de espaldar alto, viradas para a lareira.

— Por favor, sente-se, mamãe. Tenho algo que pre­ciso lhe contar. — Quando ambas estavam acomoda­das nas poltronas confortáveis, Fin enfrentou o olhar intrigado da mãe. — Estou grávida. Vou ter um filho com o pai adotivo de Jessie, Travis.

Maeve a fitou por um instante, antes de cobrir os olhos e começar a chorar.

Uma sensação de déjà vu tomou conta de Fin. A reação da mãe fora a mesma que na noite em que Fin lhe dissera estar grávida de Jessie. A única diferença entre agora e aquela ocasião é que Patrick não estava presente para receber a notícia.

— Esperava que, desta vez, fosse ficar feliz por mim — Fin disse, suspirando profundamente. — Mas parece que, mais uma vez, eu a desapontei.

— Ah, não, Finny. — A mãe estendeu a mão para segurar a da filha. — Minhas lágrimas são de alegria. Você jamais teve chance de segurar Jessie, de vê-la crescer até se transformar em uma linda mulher. Já está mais do que na hora de que tenha a oportunidade de ter nos braços e criar o seu próprio bebê.

— Eu deveria ter tido a chance de criar Jessie. — Por mais que tentasse, Fin não conseguiu conter as lágrimas de amargura. — Por que, mamãe? Por que não impediu Patrick de me forçar a entregar o bebê para a adoção? Você, de todas as pessoas, devia saber como seria perder a própria filha. Tê-la arrancada de si sem poder fazer nada para... impedi-lo. — Esforçando-se para controlar a voz, ela sacudiu a cabeça — Por acaso não sentiu como se seu coração houvesse sido arrancado do peito quando Anna morreu?

A dor que viu nos olhos de Maeve provocou um aperto no coração de Fin. Não tivera a intenção de mencionar a irmã. Devia ter sido devastador para a mãe perder a filha de sete anos de idade para o câncer mas o que Fin dizia era verdade. Maeve deveria saber como seria para Fin ter sua filha arrancada de si sem nada poder fazer para impedi-lo.

— Ah, Fin, eu sinto tanto que tenha tido de passar por isso — disse Maeve, com o sotaque irlandês fican­do cada vez mais evidente, como costumava acontecer quando se aborrecia ou ficava emotiva demais. Enxu­gando as lágrimas com o lenço, ela sacudiu a cabeça. — Até hoje, anos depois, lamento aquele que foi um dia triste para toda a família.

— Então? Por que deixou Patrick tirá-la de mim? Não poderia tê-lo impedido?

A mãe sacudiu a cabeça.

— Eu tentei. Mas, seu pai não quis me dar ouvidos, e, quando a questão começou a ameaçar o nosso casa­mento, eu senti a necessidade de recuar.

— Você e Patrick tiveram problemas por causa da minha situação?

Se tiveram, era a primeira vez que Fin sabia de algo a esse respeito. Maeve assentiu.

— Seu pai é um homem teimoso. Ele colocou o or­gulho na frente do que era certo para você e para esta família.

— Eu nunca soube — Fin sempre pensara que a mãe apoiava todas as decisões de Patrick. — Vocês dois sempre apresentaram uma frente unida, e eu pen­sei que o houvesse deixado me forçar a abrir mão de minha filha sem sequer erguer um dedo.

— Não era para você saber — retrucou Maeve, sor­rindo com tristeza. — O que acontece entre marido e mulher atrás de portas fechadas não diz respeito a ninguém além dos dois.

— Peço que me desculpe, mamãe. — Desfazendo-se dos últimos vestígios de sua raiva erroneamente dirigida à mãe, Fin se ajoelhou e envolveu com os braços os ombros finos de Maeve. — Sei o quanto sempre amou Patrick. Deve ter sido horrível para você ficar ali, dividida, no meio de tudo aquilo.

— O que passou, passou. — A mãe, com suavida­de, acariciou o cabelo de Fin. — Como estamos todos aqui reunidos para o casamento de Jessie, acho que deve dar a notícia para a família sobre o bebê que está esperando — ela disse, baixinho, enquanto permane­cia abraçada à filha.

Fin sacudiu a cabeça.

— Não acho que seja a hora certa. Este é o dia de Jessie, e não quero fazer uma cena, nem nada que pos­sa lhe diminuir a felicidade.

— Ela sabe? Fin assentiu.

— Não quis que ela descobrisse por intermédio de mais ninguém.

— Ela ficou feliz por você e pelo pai dela?

— Ficou animadíssima.

— É tão raro estarmos todos reunidos ao mesmo tempo. — Sorrindo, Maeve ficou de pé, e puxou Fin pela mão, para que ela fizesse o mesmo. — Devería­mos estar comemorando esse bebê que está a cami­nho, junto com o casamento.

Fin engoliu em seco, tentando ignorar a apreensão que ameaçava tomar conta dela.

— Não quero que Patrick estrague este dia para Jessie por minha causa.

Maeve sacudiu a cabeça.

— Não tem com o que se preocupar, Finny. Seu pai está mudado.

— Desde quando?

— Dê-lhe uma chance — Maeve disse, com um sorriso encorajador.

Ao saírem da biblioteca e descerem o corredor, Fin avistou Travis ao pé da escadaria. Precisava alertá-lo sobre o pedido da mãe, assim como Jessie e Cade, e lhes perguntar se tinham alguma objeção quanto a ela anunciar a gravidez.

— Iremos logo em seguida, mamãe — disse, Fin, esperando que a mãe desaparecesse corredor abaixo, antes de virar-se para Travis. — Como todo mundo está aqui, minha mãe acha que devemos contar à famí­lia sobre o bebê — ela disse, tomando todo o cuidado para não falar muito alto. — Você está de acordo? Ele assentiu.

— Para mim não há problemas. A questão é: o que você acha disso?

— Não sei ao certo — ela disse, com sinceridade. — Não poderia estar mais empolgada, e quero contar para todo mundo como estou feliz de ter recebido uma segunda chance de ser mãe. Mas, ao mesmo tempo, estou apreensiva quanto à reação de Patrick. Não que­ro que ele estrague o grande dia de Jessie e Cade.

Travis sacudiu a cabeça.

— Ele não vai estragar nada.

— Não conhece Patrick Elliot tão bem quanto eu. — Ela suspirou. — E pode dar graças a Deus por isso.

— Ele se importa muito com as aparências, não é?

— É tudo com o que ele se importa — disse ela, incapaz de disfarçar o desgosto na voz.

Assentindo, Travis sorriu.

— Então, não acha que ele vai ficar de boca fecha­da, mesmo que só para não lavar a roupa suja da famí­lia diante de todas essas pessoas?

Quanto mais pensava no assunto, mais percebia que Travis estava certo. Nem todos os convidados eram da família. E Patrick sequer sonharia em falar algo diante de estranhos que poderiam ter uma má impressão a respeito de sua família.

— Acho que tem razão.

Tomando-a pelo braço, ele a guiou na direção do burburinho que vinha da recepção.

— Vamos ver se achamos Jessie e Cade, e se eles estão de acordo.

— Quero que me prometa que vai me contar se esse brutamontes não estiver cuidando bem de você — dis­se Travis, durante a dança do pai da noiva com a filha. — Pego o primeiro avião para cá, e, quando tiver acabado com ele, não sobrará o suficiente para encher uma pá de lixo.

— Ah, papai, deixe de se portar como um vaqueiro — disse Jessie, rindo e abraçando-o.

Ele retribuiu o abraço.

— Só quero que seja feliz, meu anjo.

— A única coisa que poderia me deixar mais feliz era se mamãe estivesse aqui — ela disse, baixinho.

O tempo suavizara bastante a dor da perda, mas ele detestava que Lauren não pudesse estar ali para ver a menininha deles no seu dia especial.

— Sua mãe teria adorado participar de tudo isso. Uma lágrima desceu pela face de Jessie.

— Eu sei.

Ficaram em silêncio por um instante antes que ele perguntasse:

— Você e Cade têm certeza de que não se opõem a Fin dar à família a notícia sobre o bebê aqui na re­cepção?

Ela assentiu.

— Acho que esta é a melhor hora. Para falar a ver­dade, se não se importarem, gostaria de ter a honra de contar para todo mundo. Acha que Fin vai se incomo­dar?

— Para ser sincero, acho que se sentirá aliviada de ser outra pessoa a dar a notícia. — Travis olhou para o patriarca dos Elliots. — Ela está receosa quanto à reação do manda-chuva.

— É difícil imaginar Fin receando alguma coisa — Jessie disse, franzindo a testa.

— Acho que é mais nervosismo do que medo. Ela só quer que este dia seja perfeito para você e para Cade. — Ele riu. — Acho que, se o velho Tio Pati­nhas ali começar a ficar nervosinho demais, Fin vai pular no seu pescoço como a mamãe-ursa protegendo o filhote.

Jessie sorriu.

— Muito bonito da parte dela. — Ela fez uma pau­sa. — Não acho que vovô vá dizer uma única palavra depois que eu der a notícia. Mas fique ao lado de Fin. Estou certa de que ela vai precisar de todo o apoio moral possível.

Travis não tinha idéia do que Jessie tinha em men­te, mas ela costumava ter o pé no chão. Confiava no julgamento da filha, e, se esta dizia saber como dar a notícia sem que os Elliots provocassem uma cena, ele não tinha por que duvidar dela.

— Muito bem, meu anjo. Este é o seu dia. Faça o que achar melhor.

Quando a dança terminou, Travis lhe beijou a face e, dando um passo atrás para que Cade tomasse seu lugar, se dirigiu para a mesa onde Fin e Shane estavam sentados.

— Jessie se encarregará de contar para todo mundo o grande segredo — ele cochichou ao ouvido de Fin ao se sentar. —Alguma objeção?

Ela sacudiu a cabeça, e os sedosos cabelos ruivos roçando nos ombros claros o deixaram fascinado.

— Não me incomodo, mas quando ela pretende fa­zer o comunicado?

— Não faço idéia. — Ele segurou a mão dela. — Mas, se bem conheço Jessie, não vai demorar muito.

Ele mal acabara de dizer isso, quando Jessie e Cade se dirigiram a um dos microfones da banda.

— Se puderem me dar um minuto de sua atenção, minha esposa tem um comunicado a fazer — disse Cade, olhando para Jessie de tal maneira que Travis já não teve mais nenhuma dúvida sobre o quanto o novo genro adorava sua filha.

Quando todos os olhos se voltaram para ela e o si­lêncio tomou conta do recinto, Jessie olhou amorosa­mente para o homem a seu lado.

— Este é um dos dias mais felizes de nossas vi­das e Cade e eu gostaríamos de agradecê-los por nos ajudar a comemorar nosso casamento. — Voltando a atenção para a mesa onde Travis estava sentado com Fin, ela sorriu. — Também gostaria de anunciar que temos outro motivo para comemorar. Meu sonho de ser uma irmã mais velha enfim vai se realizar. Fin e meu pai acabaram de descobrir que vão me dar uma irmãzinha ou um irmãozinho até o final do verão.

0 silêncio atordoado que se seguiu foi subitamen­te interrompido por aplausos, e Travis e Fin se viram cercados por uma manada de Elliots, que os felicitava. À medida que os irmãos de Fin, as esposas destes e o que parecia ser uma interminável fila de sobrinhos e sobrinhas os parabenizavam, ele não pôde deixar de notar que o olhar de Fin insistia em se voltar para o grisalho cavalheiro, alto e silencioso, que estava de pé, imóvel como uma estátua de mármore, do outro lado do recinto.

Parecia que Patrick Elliot não ficara muito contente com a notícia, embora sua esposa, Maeve, demons­trasse exatamente o contrário. Travis viu Maeve sus­surrar algo para Patrick e, puxando o velho cavalheiro pelo braço, conduzi-lo na direção da multidão que os congratulava. Passando o braço ao redor dos ombros de Fin, Travis a apertou de encontro ao próprio cor­po, enquanto enfrentava o olhar sério do homem mais idoso, deixando bem claro que ele não permitiria que Fin sofresse qualquer tipo de intimidação ou de abor­recimento.

Quando o patriarca dos Elliots se aproximou, foi como assistir ao Mar Vermelho se abrindo. A família se dividiu em dois grupos, e, exatamente como Travis imaginara ter acontecido há milhares de anos, um silêncio pesado imperou. Nem mesmo o menor dos bebês presentes emitiu sequer um som.

— Um bebezinho é um acontecimento maravilho­so, e nós damos boas-vindas ao mais novo membro da família — disse Maeve, rompendo o silêncio cons­trangedor.

Adiantando-se, Fin sorriu e abraçou a mãe.

— Obrigada, mamãe.

A multidão parecia estar aguardando que Patrick acrescentasse sua benção, mas esta jamais veio. O ho­mem permanecia tão impassível como sempre.

Embora a expressão de Fin jamais houvesse muda­do, Travis poderia jurar ter visto uma sombra de dor lhe cobrir momentaneamente os belos olhos verdes. Mas ela logo foi substituída por uma rebeldia que es­pelhava a do pai.

O silêncio constrangedor era quase ensurdecedor, e, logo quando Travis pensou que todos fossem des­maiar por estarem prendendo a respiração de expecta­tiva, Maeve se virou para o marido.

— Já está na hora de lhes dizer por que colocou uns contra os outros pelo controle da empresa, não acha?

Patrick franziu a testa e sacudiu a cabeça.

— Deixe estar, Maeve — disse, com aspereza, o homem idoso. — Eles logo vão entender.

Dito isso, o patriarca dos Elliot passou o braço da esposa por dentro do seu, virou as costas e foi embora.

— Não deixe o velho acabar com a sua alegria, mana — disse Shane, abraçando-a.

Fin não parecia nem um pouco surpresa com a reação do pai.

— Não esperava nada diferente da parte dele — disse, sacudindo a cabeça ao retribuir o abraço do ir­mão.

Quando a multidão começou a se dissipar e a banda voltou a tocar, Travis notou uma jovem loura apro­ximando-se de Shane. Quando ela sussurrou algo no ouvido dele, o homem soltou um berro alto o suficien­te para acordar os mortos, depois a envolveu em um abraço de urso e, sorrindo de orelha a orelha, girou em círculos com a mulher nos braços.

Quando todo mundo parou para fitá-los, Travis teve de reprimir uma risada diante do rubor que tomou conta do rosto de Shane. A lourinha ao seu lado estava igualmente constrangida, e parecia pronta para mer­gulhar debaixo da mesa a qualquer momento.

— Travis Clayton, esta é Rachel Adler, a assistente executiva de Shane — Fin disse, sorrindo ao apresen­tá-la.

— É um prazer conhecê-lo, sr. Clayton — disse Ra­chel, ainda ruborizada. — Se me derem licença, eu realmente tenho de ir agora. Eu o vejo no escritório na segunda-feira, Shane.

Observando Rachel caminhar na direção da porta da sala de estar, Fin se virou para o irmão.

— Será que pode me explicar a manifestação osten­siva de emoção e o sorriso enorme no seu rosto?

— Não.

— Quer saber o que eu acho? — Fin indagou.

— Não. Não estou nem aí para o que você acha — Shane disse, de modo defensivo.

— É uma pena. — Quando ela piscou para Travis, seu sorriso provocou um ardor que se espalhou pelo peito dele, que não conseguiu se lembrar de já tê-la visto tão bonita. — Porque eu vou lhe dizer de qual­quer forma, meu irmão.

Shane franziu a testa.

— Preferiria que não o fizesse.

— Não sei o que foi que Rachel lhe disse, mas acho que você chegou ao ponto em que usará de qualquer desculpa para, enfim, tê-la nos braços — disse Fin, deliberadamente ignorando o irmão.

— Você, querida irmã, precisa ficar de bico calado e cuidar da própria vida — disse Shane, ao virar-se para ir embora.

— Apenas confirmou minhas suspeitas, Shane — Fin gritou.

Por motivos que ele nem queria começar a analisar, a risada deliciosa da bela mulher ruiva exercia um es­tranho efeito sobre o íntimo de Travis.

— Vamos dançar — ele disse, subitamente, puxan­do-a pela mão na direção da pista de dança.

— Pensei que Jessie houvesse dito que você não gosta de dançar — ela disse, meio ofegante, quando ele a puxou para si.

— E não gosto. — Ele sorriu diante do tremor que sentiu percorrer o corpo de Fin quando sussurrou: — Seu irmão não é o único homem aqui que usará de qualquer desculpa para ter a mulher que deseja em seus braços.

 

— Acho que jamais vi um casal mais bonito — dis­se Fin, acomodando-se no banco de trás da limusine corporativa da Editora Elliot para o passeio de volta para a cidade. Suspirou de alegria. — Jessie estava sem dúvida nenhuma estonteante.

— Ela lembrava muito você — disse Travis, to­mando a mão dela.

— Talvez uma versão mais jovem — disse ela rindo.

O sorriso dele a deixou arrepiada até as pontas dos pés.

— Acho que não tive a oportunidade de lhe dizer como está sensual nesse vestido verde colante — Com o indicador, ele encostou gentilmente na seda de seu vestido Versace. — Você e Jessie eram as mulheres mais lindas de todo o casamento.

— Você também não estava nada mal, vaqueiro.

— Ela pousou a mão no braço do meio-fraque preto.

— Você fica incrivelmente lindo usando trajes for­mais, Travis.

Ele resmungou.

— Me sinto como um pinguim adestrado me apre­sentando em um circo.

— Pois eu o considero um belo pinguim — Fin re­trucou, rindo.

— É, pois trate de aproveitar, porque pretendo nun­ca mais usar essa coisa — ele disse, passando o braço ao redor do ombro dela. — Planejo levá-lo para casa, pendurá-lo no armário, e jamais permitir que veja no­vamente a luz do dia.

— Nunca diga nunca.

— Acho que, desta vez, posso dizer jamais com toda a tranquilidade. — O braço dele ao redor dela, apertando-a de encontro a si, e a risada baixa de Travis incendiaram o corpo de Fin. — Vacas tossirão antes que me veja usando esta coisa novamente.

Ao deixarem as luzes da Tides para trás e se senti­rem envoltos pela intimidade, Travis estendeu a mão, apertou um botão e ergueu o painel de privacidade en­tre eles e o motorista.

— E como você está? — indagou. — Sei que o dia de hoje foi uma montanha russa emocional para você e que deve estar se sentindo exausta.

— Deveria estar, mas, por mais surpreendente que isso possa parecer, estou me sentindo muito bem. — Tirando os sapatos altos, em uma tentativa de se acomodar confortavelmente para a viagem de duas horas, ela acrescentou: — Agora que minha gravi­dez não é mais segredo, estou mais relaxada do que nunca.

Quando ele a abraçou, uma onda de calafrios per­correu o braço de Fin, e o ardor provocado pela res­piração quente de Travis ao agitar os cabelos de sua têmpora se intensificou.

— Eu disse que seu pai não diria nada.

— Não havia muito que ele pudesse dizer após o discurso de Jessie. — Incapaz de descrever em pala­vras como estava comovida com o apoio da filha à sua gravidez, Fin sorriu. — Ela vai dar uma irmã mais velha maravilhosa.

— Provavelmente vai mimar ao extremo o pobre coitadinho.

— E você não vai?

Ele riu e a abraçou mais apertado.

— Eu não disse que não iria.

Eles seguiram em um confortável silêncio por vá­rios minutos, até que Travis falasse novamente.

— Já chegou a alguma conclusão sobre como po­demos lidar com sua gravidez e a distância que nos separa?

— Com todos os detalhes de última hora do casa­mento? Não tive tempo. — Ela sacudiu a cabeça. — E quanto a você? Já pensou em alguma coisa?

— Não, mas logo vamos ter que pensar em algo. — Ele levou o indicador ao queixo dela, inclinando-lhe a cabeça para trás. Quando seus olhares se encontraram, ele sorriu de tal maneira que os dedos dos pés de Fin se enroscaram no carpete espesso que cobria o chão da limusine. — Isso é tudo novidade para mim, mas eu estava falando sério quando disse que estaria ao seu lado durante todo o processo. E eu não estava apenas falando de criar o bebê quando ele chegar. Pretendo estar à sua disposição também durante a gravidez.

Antes que ela pudesse responder, ele inclinou a ca­beça e capturou seus lábios em um beijo tão gentil que lhe trouxe lágrimas aos olhos. As carícias suaves da boca de Travis sobre a sua a fizeram sentir como se a temperatura no interior do carro subitamente hou­vesse subido vários graus. Mas, quando o homem a persuadiu a se abrir para ele e usou a língua em um ato mais íntimo, uma fagulha se acendeu no íntimo de sua alma e o calor se espalhou por suas veias, incen­diando-lhe o corpo.

Fagulhas dançavam por trás dos olhos fechados, e um desejo intenso começou a se acumular na região mais feminina de seu corpo quando Travis deslizou a mão para dentro do decote ousado do vestido de gala e afastou o sutiã para lhe acariciar o seio. Os calos endurecidos ao longo de anos de trabalho arranharam o mamilo sensível, provocando ondas de puro prazer que se espalharam por cada célula de Finola. Mas, quando ele lhe acariciou o bico rijo com o polegar, seu coração quase parou, e sua respiração se tornou extremamente difícil.

À medida que girava o bico entre o polegar e o indi­cador, ele continuou a lhe excitar o íntimo com a lín­gua, e ela se sentiu tremer por dentro com um desejo que jamais conhecera. Deus a ajudasse, mas, mesmo que sua vida dependesse disso, ela teria sido incapaz de impedir que um ligeiro gemido àe prazer lhe esca­passe dos lábios.

— Está gostando disso, querida?

A voz dele vibrou de encontro aos lábios de Fin e só fez aumentar a poça de desejo que se acumulava em seu ventre.

— Mmm.

Ao ser colocada sobre o colo de Travis, ela pôde sentir o volume rijo da ereção de encontro às suas co­xas, e a reação de seu corpo chegou a deixá-la tonta. A tensão que se acumulava em seu intimo era enlouquecedora, e tudo que ela queria fazer era se render novamente ao hábil estilo de fazer amor de Travis.

O gemido de frustração dele ao tentar colocá-los em uma posição mais confortável a despertou de seu torpor.

— Já faz muito tempo desde a última vez que fiz amor no banco de trás de um carro, minha querida. — Ele a colocou de volta ao seu lado no assento ave­ludado da limusine. — E, para o que quero fazer com você, vamos precisar de mais espaço do que oferece esta maldita limusine.

— Quando vai voltar para o Colorado? — ela per­guntou, esbaforida.

— Amanhã à tarde. — Ele beijou-lhe o pescoço. — Passe a noite comigo, Fin — disse, mordiscando o pescoço da mulher.

Se houvesse se detido um instante que fosse para pensar, talvez tivesse refletido sobre todos os motivos para terminar o que quer que estivesse acontecendo entre os dois. Embora estivessem para ter um bebê juntos, ele morava a milhares de quilómetros de dis­tância, em seu rancho pacato e agradável no Colorado, e a vida dela era na cidade mais excitante e glamourosa do mundo.

Mas, sem pensar duas vezes, ela se aconchegou junto ao homem mais incrível e generoso que já conhecera.

— Sua cama ou a minha?

— Por que diabos esses lugares não podem usar chaves normais de metal? — resmungou Travis, ao encaixar o cartão de plástico na fechadura da porta de seu quarto de hotel.

A viagem de Hamptons até o hotel havia sido a mais longa de sua vida. Somado ao fato de que ele e Fin haviam sido incapazes de manter as mãos longe um do outro, ele estava mais aceso do que uma forna­lha. E a situação de Fin não era lá muito diferente. Seu rosto de porcelana exibia o rubor da paixão contida, e ele não se recordava de tê-la visto mais sensual ou sedutora.

Quando a luzinha na fechadura enfim mudou para o verde, ele empurrou a porta e a puxou para dentro do quarto. A porta mal havia se fechado e Travis já havia acendido a luz e a puxado de volta para seus braços.

— Sabe o que eu descobri a respeito desses vesti­dos de grife? — ele perguntou, ao lhe deslizar o zíper até abaixo da cintura.

— O quê? — perguntou ela, aparentemente se sen­tindo tão excitada quanto ele.

— Que eles são feitos para deixar um homem louco de desejo.

Desnudando a parte superior do corpo delicioso de Fin, ele a tomou nos braços, e o vestido de gala deslizou até o chão, transformando-se em uma poça de seda esverdeada. Ao lhe beijar os ombros e des­cer até o volume dos seios, Travis não deu a mínima para o fato de que havia acabado de descartar, em uma pilha amontoada no chão, um vestido de milhares de dólares.

Fin estremeceu de encontro a ele quando Travis lhe tomou o mamilo na boca. Sentindo-lhe a doçura, sentindo o bico se enrijecer ainda mais, ele se sentiu cada vez mais rígido, chegando a atingir uma rigidez dolorosa.

— Você está me levando à loucura — disse ela, pressionando-se de encontro a ele.

— Posso dizer o mesmo, minha querida. — Sua respiração estava um bocado alterada. — Agora, é melhor tirarmos o resto desses trajes de festa antes que eu faça uma besteira e os arranque de nós dois.

A risada de Fin fez uma onda de ardor percorrer o corpo de Travis à velocidade da luz.

— No momento, acho que você é o único com ex­cesso de roupas, sr. Clayton.

Ele sorriu ante à visão da mulher usando nada mais do que um pequeno triângulo de seda e renda. O ves­tido de Fin vinha com sutiã e anáguas embutidos. Ele não sabia ao certo quem tivera a idéia de combinar o vestido com as roupas de baixo femininas, mas podia apostar que todos os homens do planeta brindavam à sua saúde.

— Acho que tem razão quanto a isso, srta. Elliot. Puxando a camisa para fora da calça, ele sentiu vontade de matar o idiota que pensou que seria melhor usar abotoaduras do que botões em trajes formais.

— Deixe-me ajudá-lo — ofereceu ela, se adian­tando.

Para o alívio de Travis, segundos depois, Fin estava lhe afastando a camisa e colocando as mãos em seu peito. O primeiro contato das mãos macias com sua pele provocou um efeito semelhante a uma descarga elétrica, das pontas dos pés ao topo da cabeça.

Sobressaltando-se, como se atingido por um ferro de marcar bois, Travis sacudiu a cabeça e se afastou um pouco dela.

— É melhor eu tratar de me despir logo, ou a cor­rida vai terminar antes deste velho cavalo ter chance de largar.

— Isso não seria bom — disse ela, tirando os sapa­tos e puxando a pequena tira de renda que lhe cobria os quadris.

Quando Fin jogou a calcinha sobre o vestido e des­lizou sob as cobertas da cama king size, ele engoliu em seco e se esforçou para se concentrar em tirar o restante das roupas. Quando se deitou na cama ao lado da mulher, estava ofegante como se houvesse corrido uma maratona. Teve certeza de que havia quebrado algum recorde de velocidade para se despir.

Ao tomá-la nos braços e beijá-la, ficou zonzo de­vido à reação dela, que fez o sangue ferver em suas veias, intensificando a ereção. Desejava-a com uma avidez que lhe tirava o fôlego, e tudo que queria era unir seus corpos na antiga dança do amor. Mas o que mais o chocava era o desejo profundo de unir suas almas — de torná-la sua de todas as maneiras possíveis.

Isso já deveria ter sido o bastante para deixá-lo apa­vorado. Mas a sensação do corpo macio de Fin colado ao seu e o gosto de seus doces lábios lhe retribuindo os beijos tornavam impossível qualquer pensamento racional.

Enquanto continuava a beijá-la, sentiu as mãos dela descendo pelo peito, como se estivesse tentando ma­near cada músculo. Mas, quando os dedos da mulher tocaram os mamilos rijos, Travis interrompeu o beij0 se esforçando para respirar. Jogando-se para trás nos travesseiros, cerrou os dentes com tanta força que supôs que apenas um pé de cabra seria capaz de se­pará-los, enquanto tentava conter sua libido fora de controle.

— Isso é tão gostoso para você quanto é para mim quando você me toca assim, meu querido? — Fin per­guntou.

— Ah, se é. — O sangue correndo por suas veias fez com que seus ouvidos zunissem, e enviou direto até a virilha uma descarga de energia.

Caso houvesse tido a presença de espírito, ele a teria detido antes que aquilo fosse mais longe, mas a sensação das mãos dela em seu corpo era tão de­liciosa que ele sequer considerou a opção. Depois, quando a mão dela seguiu mais para baixo, ao longo da estreita linha de pêlos que descia até o umbigo e mais além, ele se viu incapaz de proferir qualquer palavra.

Mas, quando os dedinhos talentosos de Fin se fe­charam ao redor dele para lhe medir o comprimento e a espessura, ele sentiu como se a cabeça fosse sim­plesmente pular dos ombros, e teve de se concentrar muito para não perder o pouco controle que ainda ti­nha. Uma onda de desejo mais forte do que qualquer coisa que já experimentara ameaçou tomar conta dele e, quando enfim encontrou forças, segurou as mãos de Fin para deter aquele ataque de carícias.

— Meu bem, não quero que pense que não gosto do que está fazendo, porque, com certeza, isso não é ver­dade. — Sua voz parecia o ranger da dobradiça de um velho portão enferrujado, e Travis teve de pigarrear antes de prosseguir. — Mas estou mais excitado do que um garanhão em um curral lotado de éguas no cio, e não vou durar mais do que neve no início da prima­vera se você não for um pouquinho mais devagar.

Envolvendo-o com os braços, ela sorriu.

— Adoro essas metáforas interioranas pitorescas que você costuma usar, mesmo que nem sempre as entenda.

Ele riu, aliviando um pouco da tensão que o domi­nava.

— Um dia desses teremos de nos sentar para que eu lhe dê um curso relâmpago sobre o dialeto dos vaquei­ros. Mas, neste instante, tenho outras atividades mais prazerosas em mente.

Com os hormônios momentaneamente sob contro­le, Travis abaixou a cabeça para beijá-la, ao mesmo tempo em que lhe afastou as pernas com o joelho e se posicionou sobre ela. Queria ir devagar. Queria que fizessem amor durante muito tempo. Mas o passeio de duas horas na limusine havia lhes custado caro. Quan­do ele e Fin chegaram ao hotel, ambos haviam chega­do ao máximo de excitação que poderiam aguentar, e ir devagar não era mais uma opção.

Ele fitou a mulher em seus braços, a mulher que es­tava esperando o seu filho. Não se recordava de já ter visto algo mais belo do que a paixão naqueles olhos cor de esmeralda e o sorriso convidativo que lhe cur­vava os lábios.

— Mostre-me onde me quer, Fin.

O rubor de desejo que lhe coloria as faces aprofun­dou-se, quando, sem dizer sequer uma palavra, ela es­tendeu a mão e o guiou para dentro dela.

Com o peito estufado por uma emoção que ainda não estava pronto para identificar, ele se acomodou no interior daquele corpo delgado. Travis sentia como se houvesse reencontrado a outra metade de si mesmo, a metade que perdera no dia em que a mulher falecera. Tentando não pensar a respeito do sentimento e nem em suas repercussões, ele estabeleceu um ritmo lento e se concentrou em proporcionar a ambos a satisfação de que tanto necessitavam.

Adorava a sensação de estar envolto por Fin, e o balançar perfeitamente ritmado de seus corpos os levava em direção ao clímax. Logo sentiu os músculos internos de Fin se apertando ao redor dele, instantes antes do clímax feminino.

Determinado a lhe garantir o prazer supremo antes de dar atenção ao seu próprio, Travis arremeteu pro­fundamente, e viu os olhos da parceira se arregalarem instantes antes de ela desmoronar nos seus braços. Abraçando-a, ele se entregou ao prazer, se juntando a ela. Seu corpo estremeceu ao entregar sua essência e Travis teve a certeza de sentir fogos de artifício ilumi­nando os recessos mais escuros de sua alma.

Com a respiração acelerada, Travis fechou os olhos e enterrou o rosto nos cabelos ruivos de Fin. Não ti­nha idéia de para onde seguiriam dali ou como fariam para criar a criança que haviam gerado juntos. Mas tão certo quanto sabia o próprio nome, sabia que faria tudo o que pudesse para encontrar tais respostas.

E, se tudo corresse como planejava, não faria parte apenas da vida do bebê, mas também da de Fin.

Na tarde da sexta-feira seguinte, Fin estava sentada em seu escritório escutando o relatório de Chloe sobre as atuais projeções do departamento de contabilida­de e sobre as mais recentes fofocas da Editora Elliot. Normalmente, estaria interessada em qualquer coisa que pudesse ajudá-la a levar a Charisma ao topo da competição e a conseguir a posição de presidente da Editora Elliot quando Patrick se aposentasse. Mas, nas últimas semanas, vinha pensando cada vez menos na revista de moda e cada vez mais em um certo vaqueiro bonitão do interior do Colorado.

Quando cada um seguiu o seu caminho na manhã seguinte ao casamento de Jessie e Cade, ainda não haviam chegado a nenhuma conclusão com relação à distância que os separava, e nem sobre como lida­riam com isso durante a gravidez e após o nascimen­to do bebê. Para falar a verdade, desde os beijos no banco de trás da limusine sequer haviam tocado no assunto.

Seu corpo formigou só de recordar os beijos expe­rientes, mas foi a lembrança dos dois fazendo amor que rapidamente a fez se sentir como se houvesse der­retido por dentro. Talvez, a princípio, houvessem se aproximado apenas como duas pessoas solitárias bus­cando consolo e alívio físico nos braços um do outro. Mas, em algum momento, a coisa toda se transforma­ra em algo muito mais significativo e profundo.

Era pura insanidade, considerando que nada tinham em comum, com exceção do bebê que ela estava es­perando e do amor dos dois por Jessie. Mas Fin se via incapaz de pensar em outra coisa que não o convite de Travis para que ela o fosse visitar no Colorado assim que possível. E o que mais a surpreendia era que que­ria desesperadamente ir.

— Fin, você escutou uma só palavra do que eu dis­se? — perguntou Chloe.

O tom de voz da assistente a trouxe de volta para o presente.

— Sinto muito. Acho que estava sonhando acorda­da — ela se desculpou. Precisava colocar a cabeça no lugar, ou poderia dar adeus às suas chances de vencer a competição de Patrick. — O que estava dizendo?

A expressão irritada no rosto de Chloe indicava que Fin havia perdido algo que a jovem acreditava ser muito importante.

— Eu disse que você ainda tem uma boa chance de derrotar Shane na competição pela presidência da Editora Elliot. — A expressão no rosto de Chloe pas­sou a ser de empolgação. — Segundo os boatos que rodam pelo departamento de contabilidade, os núme­ros da Charisma subiram bastante e, no ritmo que es­tamos crescendo, passaremos a The Buzz logo antes do final do prazo.

— É mesmo?

Um mês atrás, a informação de Chloe teria sido a melhor notícia que Fin poderia ter recebido. Ela a in­centivaria a fazer de tudo para torná-la realidade e não tinha dúvidas de que sua assistente conseguiria. Mas e agora?

Não tinha certeza se sua falta de entusiasmo era devido à gravidez ou ao fato de que a posição de presidente a impediria de dedicar tanto tempo à criança quanto sabia que desejaria fazê-lo. Ou talvez fosse de­vido à descoberta de que, desde que Travis retornara ao rancho, ela se sentia mais sozinha do que nunca. De qualquer forma, estava bem claro que suas prioridades haviam mudado, e que não estava mais tão dedicada quanto antes à disputa pela sucessão de Patrick.

— Fin, o que há de errado com você? — Chloe per­guntou, obviamente confusa. — Pensei que a notícia a deixaria pulando de alegria.

Sorrindo para a assistente, Fin deu de ombros.

— Fico muito satisfeita de saber que a Charisma está indo tão bem. E torço para valer para que vença­mos.

— Mas?

— Só isso. — Fin entregou algumas provas à as­sistente e fez um gesto na direção da porta. — Deixe isso na mesa de Cade com um bilhete pedindo para que ele dê uma olhada assim que voltar da lua-de-mel com Jessie.

Ela pôde entender a confusão de Chloe quando esta pegou a pilha de documentos e, em silêncio, deixou a sala. Mas não podia fazer nada a respeito. Não estava disposta a revelar à assistente, e nem a ninguém mais, que estava praticamente entregando a vitória na competição pelo cargo de presidente da editora a Shane.

Tomada sua decisão, ela virou sua cadeira para ad­mirar a vista da parte oeste de Manhattan. Sem dúvida gostaria de vencer a competição, mas não por cobiçar o título de Patrick. Mesmo que a Charisma viesse na frente da The Buzz, ela tinha a intenção de recusar a posição. Mas vencer, com certeza, provaria a Patrick que Fin não era o fracasso decepcionante que ele sem­pre pensara que ela fosse.

Satisfeita consigo mesma pela primeira vez em anos, ela relaxou e pensou sobre a sua ausência de planos para o final de semana. A ginecologista a aler­tara que bastante descanso era essencial para a saúde e o bem-estar, tanto dela quanto do bebê. E, na última semana, vinha reduzindo a quantidade de horas que passava no trabalho. Mas não apreciava em nada a idéia de passar o final de semana inteiro sozinha em seu enorme apartamento.

Mordiscando o lábio inferior, ela tentou imaginar como Travis pretendia passar o tempo. Ele já lhe dis­sera torcer para que ela não demorasse muito a visitá-lo no Silver Moon Ranch.

Ela virou novamente a cadeira para a escrivani­nha, depois fez uma busca rápida no seu computador. Quando a informação que desejava apareceu na tela, Fin pegou o telefone e discou o número das compa­nhias aéreas.

Quando o setor de reservas atendeu, o coração de Fin pareceu parar por um instante. Não conseguiu acreditar no nível de empolgação que tomou conta dela ao fazer o pedido.

— Quero reservar um lugar na primeira classe do primeiro vôo de Nova York para Denver, no Colorado, por favor.

 

Parando a caminhonete em uma vaga temporária no aeroporto de Denver, Travis verificou impacientemen­te o relógio, e começou a caminhar na direção do ter­minal. Ficara preso em um engarrafamento na interes­tadual devido a um acidente, e durante todo o tempo que teve de ficar parado lá, pôde perceber como sentia saudades de Fin desde que deixara Nova York.

Não fazia diferença o fato de que se despedira dela havia apenas alguns dias, na manhã seguinte ao casa­mento de Jessie, ou que mal se conheciam. Sentia-se como se já fizesse uma eternidade desde que a vira, e, quando ela ligara, naquela manhã, pára ver se ele tinha planos para o final de semana, Travis não conse­guira dizer rápido o bastante que não.

Recusava-se a pensar no porquê de estar tão ansioso para vê-la novamente, ou de estar tão irritadiço quanto um urso com um espinho na pata desde que voltara. Tudo o que importava eram os três dias que teriam sozinhos em seu rancho tranquilo. Sozinhos.

Assim que o caseiro, Spud Jenkins, soubera que Fin estava a caminho, subitamente se lembrara de que ha­via feito planos para ir visitar a família do irmão em Santa Fé. Travis sabia que o velhote havia apenas in­ventado uma desculpa. Havia mais de vinte anos que Spud e o irmão não se falavam. Mas Travis não se dera ao trabalho de mencionar isso ao velho vaqueiro.

A verdade era que precisava de um tempo sozinho com Fin para chegar a uma conclusão sobre o que realmente havia entre os dois. E não era apenas seu papel na gravidez e na subsequente criação da criança que o preocupava.

Quando chegou ao setor de bagagens, avistou Fin na mesma hora, aguardando que suas malas apareces­sem na esteira rolante. Diabos, mas ela estava linda com aquele jeans e o suéter folgado.

Era a primeira vez que a via usando algo que não fossem roupas de gala ou sociais, e não se surpreen­deu por achá-la mais atraente em roupas casuais. Droga que diferença fazia o que Fin usava? Ela sempre o deixava de queixo caído.

Esquivando-se de um casal de adolescentes carre­gando mochilas surradas e uma senhora puxando uma mala grande o suficiente para esconder um corpo, Tra­vis caminhou até Fin. Tomou-a nos braços e a puxou para si. Ele a beijou como um soldado voltando da guerra e, quando a colocou de volta no chão, ambos se viram sem fôlego.

— Não me lembro de ter sido recebida assim da primeira vez que vim visitá-lo — ela disse, com a voz ofegante e extremamente sensual.

Ele se sentia um idiota, mas, por mais que tentasse não conseguia parar de sorrir.

— Na ocasião, nós ainda não tínhamos um passado juntos, minha querida.

Ela riu e estendeu a mão na direção de uma mala que chegava pela esteira rolante.

— Sua definição de passado é nos conhecermos por mais de um mês?

Dando de ombros, ele pegou a mala antes dela.

— Se quiser falar tecnicamente, o que aconteceu ontem já é passado.

Ao caminharem pelo terminal, o doce sorriso dela fez com que a pressão de Travis subisse consideravelmente.

— Suponho que tenha razão.

Quando alcançaram as portas automáticas na saída, ele sacudiu a cabeça.

— Espere aqui, onde não está frio, enquanto vou buscar minha caminhonete.

— Não precisa fazer isso — ela disse, adiantando-se. — Não me incomodo de andar. Estou acostumada com longas caminhadas e estou certa de que a caminhonete não está tão longe assim.

— Está bem frio lá fora e você não está acostuma­da com a altitude. — Ele tirou as chaves da caminho­nete do bolso. — Talvez não seja muito bom para o bebê.

Ela o fitou como se ele houvesse dito a maior das besteiras.

— Travis, estar grávida não significa estar invá­lida.

— Sei disso. — Beijando-lhe a testa, ele sorriu e sacudiu a cabeça. — Mas agora você está no meu ter­ritório, meu bem. E se eu quiser dar uma de cavalheiro e cuidar do seu bem-estar, estou mais do que no meu direito.

Fin acomodou a cabeça no ombro de Travis quan­do se sentaram no sofá de couro diante da chama da enorme lareira de pedra. Ela adorava a atmosfe­ra aconchegante da sede do Silver Moon Ranch. Da mobília de madeira e de couro até o pitoresco sotaque ameríndio de algumas pessoas, tudo era cordial, aconchegante e dava toda a sensação de ser um ver­dadeiro lar. Algo de que seu apartamento sequer che­gava perto.

Quando voltasse para Nova York, a primeira coisa que pretendia fazer era ligar para uma decoradora. O visual de museu ultra-moderno não era nada propí­cio para crianças, e ela queria um lugar confortável e descontraído como a sede do rancho para seu filho chamar de lar.

— Eu lhe dou 25 centavos pelos seus pensamentos — disse ele, encostando a cabeça na dela.

— Pensei que as pessoas costumassem oferecer um centavo pelos pensamentos alheios — Fin retrucou, se sentindo mais relaxada e em paz do que nunca.

— É a inflação, minha querida. — Ele a puxou mais para perto, lhe beijou o topo da cabeça. — Soube que hoje em dia, até a fada do dente está tendo que pagar mais pelos dentes que ela coleta.

Ela se recostou para fitá-lo.

— O que ela costumava deixar quando Jessie esta­va crescendo?

— Cinquenta centavos. — O sorriso de Travis fez a mulher formigar dos pés à cabeça. — Pelo menos até ela aprender a negociar o preço.

— Você está brincando.

— Não. — Rindo, ele sacudiu a cabeça. — Certa vez, quando fui buscar o dente dela sob o travesseiro e deixar uma moeda, encontrei um bilhete para a fada do dente.

Curiosa para saber mais a respeito da infância da filha, Fin perguntou:

— E o que dizia o bilhete?

— Que, como o dente em questão ficava mais no fundo da boca e ela o usava na mastigação, Jessie achava que ele deveria valer pelo menos setenta e cin­co centavos.

Rindo, Fin sacudiu a cabeça.

— Fala sério!

— Eu estou falando sério. — Ele sorriu. — A fada do dente aqui riu tão alto que quase a acordou.

— Ela conseguiu os setenta e cinco centavos?

— Não, aquele dente lhe rendeu cinco dólares. — Ele sacudiu a cabeça. — Achei que só o bilhete já valia mais do que isso.

— Você é um pai maravilhoso — disse Fin, quando pararam de rir.

Ele deu de ombros mas, pelo brilho nos seus incrí­veis olhos azuis, Fin pôde perceber que o comentário o agradara.

— Sempre fiz o que achei melhor. — Ele lhe beijou a face e lhe pousou a mão sobre a barriga. — O mes­mo que farei com este bebê.

A emoção tomou conta de Fin.

— Estou tão feliz que seja você o pai do meu bebê. O sorriso meigo de Travis só contribuiu para o aper­to que ela sentia no peito.

— Nosso bebê. Lembre-se que estamos nisso jun­tos, Fin.

Ela foi incapaz de impedir que uma lágrima solitá­ria lhe descesse pela face.

— Obrigada.

Ele demonstrou surpresa.

— Pelo quê?

Levando a mão à face do homem, ela sorriu.

— Por ser você.

Diante do sorriso lento e promissor que se desenhou nos firmes lábios masculinos, a expectativa provocou um frio na barriga de Fin. Ele a beijaria e, se a intensi­dade de seu olhar pudesse servir de indício, iria ainda mais longe.

Quando a boca de Travis tocou a sua, Fin se entre­gou ao momento e àquele lugar que passara a associar à sensação de estar nos braços de Travis. Nunca, em toda a sua existência, se sentira mais desejada e queri­da do que quando ele a abraçava, do que quando fazia amor com ela.

O fato de se conhecerem havia muito pouco tempo e de terem muito pouco em comum não parecia fazer diferença alguma. Nada jamais fora tão certo ou verdadeiro do que o que sentia quando estava com ele.

Seu coração batia com força no peito. Será que es­tava se apaixonando por ele?

Na verdade, não tinha muita experiência em se apaixonar, de modo que não sabia muito bem qual era a sensação. Tivera certeza de amar o jovem pai de Jessie, Sebastian Deveraux. Mas isso já fazia muito tempo, e Fin desconfiava que toda menina de quin­ze anos jurava amar o primeiro namorado. Infelizmente, nos anos seguintes, dedicara toda a energia a alavancar a carreira em vez de investir em relacio­namentos pessoais, e, por isso, não tinha nada com o que comparar o modo como se sentia a respeito de Travis.

Os lábios dele se moveram sobre os dela, persua­dindo-os a se entreabrirem, encorajando-a a corres­ponder. Fin abandonou toda e qualquer especulação e se entregou às deliciosas sensações que começa­vam a tomar conta dela. Só conseguiria avaliar os próprios sentimentos depois que voltasse para Nova York. Quando ele forçou a passagem para excitar-lhe o interior da boca, faíscas luminosas dançaram por trás dos olhos fechados de Fin. Mas quando a língua de Travis acariciou a sua, foi como se houvessem lhe acendido os recônditos mais escuros da alma. A vora­cidade de seu beijo, o gosto de sua paixão, fez a exci­tação percorrer suas veias e cada uma das células de seu corpo formigar.

Tremores de prazer percorreram sua espinha ao sentir a mão de Travis deslizar por baixo do suéter para lhe acariciar a barriga, e depois se deter logo abaixo dos seios. Uma ansiedade tomou conta dela quando ele interrompeu a exploração tempo o sufi­ciente para abrir o fecho anterior do sutiã. Precisava sentir suas mãos, queria os beijos úmidos na pele sen­sível.

Os músculos rijos dos braços de Travis subitamente se retesaram, quando ele a ergueu e depois a deitou ao seu lado no sofá comprido. Ela se deleitou com o bater acelerado do coração dele e a protuberância rígida de sua ereção de encontro a sua coxa, onde as pernas de ambos se emaranhavam. Mas, quando ele abriu um espaço entre os dois para cobrir-lhe o seio com a pal­ma da mão, a pulsação de Fin se acelerou e o desejo ardeu em seus quadris.

Necessitando tocá-lo como ele a tocava, ela lhe desabotoou a camisa para tatear os músculos rijos do peito largo e do abdomen. A penugem que lhe cobria os fortes músculos peitorais fez cócegas nas palmas de suas mãos, e ela se maravilhou com as diferenças extraordinárias entre uma mulher e um homem. Mas, quando tocou no mamilo masculino com a ponta do dedo, a reação da pequena protube­rância foi praticamente a mesma de quando ele lhe tocava os seios.

O gemido de prazer de Travis a excitou e, ao pros­seguir, tentando gravar na memória cada sensação, ela chegou à conclusão de que o corpo dele era, de todas as maneiras, perfeito. Rijos e firmes, os músculos es­condiam uma força que contradizia a gentileza de seu toque, e contrastavam perfeitamente com os contor­nos suaves dela.

— Não tem espaço o suficiente neste maldito sofá para beijá-la e saboreá-la da maneira que eu quero — ele disse, mordiscando-lhe o lóbulo da orelha.

O tom de voz baixinho e a promessa de suas pala­vras a fizeram tremer de excitação.

— É meio apertado, não acha?

— Se é. — Ele se sentou, puxando-a consigo. — Vamos achar um lugar mais espaçoso para nos movi­mentar.

— Aquilo me parece bem convidativo — Fin disse, olhando para o colorido tapete indígena cobrindo o chão à frente deles. Diante da expressão indagadora de Travis, ela deu de ombros. — Nunca fiz amor dian­te de uma lareira acessa.

Um sorriso lento começou a se desenhar no rosto dele ao olhar para o tapete e depois para ela.

— Ele realmente parece ser muito confortável, não parece?

Antes que ela tivesse a chance de concordar com a observação, ele já estava se ajoelhando no chão.

—Vou adorar admirar o seu corpo sob a luz do fogo — disse, puxando-a para o seu lado e apagando o aba­jur no pé do sofá.

Com nada além da luz fraca da lareira, o recinto subitamente se tornou incrivelmente aconchegante. E, à medida que o olhar ardente de Travis parecia hip­notizá-la, tornando-a sua prisioneira, ele começou a deslizar as mãos por debaixo do suéter, empurrando-o lentamente para cima. Erguendo os braços para aju­dá-lo a passar o agasalho pela cabeça, ela deslizou as alças do sutiã pelo braço e o entregou a Travis, que a fitava fixamente.

—Venho sonhando com você assim todas as noites, desde aquela noite no seu apartamento — ele disse, com a respiração entrecortada e a voz carregada de paixão.

Empurrando por cima dos ombros largos e pelos braços musculosos a camisa dele, Fin sorriu ao deixá-la cair sobre suas próprias vestes.

— E eu venho sonhando com você. — Ela voltou a colocar as mãos sobre seu tórax. — Não via a hora de tocá-lo assim novamente.

Ele segurou o rosto de Fin entre as mãos e a beijou profundamente, deixando que ela provasse uma vora­cidade equivalente à sua própria.

— Tenho toda a intenção de tocar e provar cada centímetro de você, minha querida. E, quando tiver terminado, pretendo começar tudo de novo.

À medida que ele lhe mordiscava o pescoço, des­cendo na direção dos ombros, Fin foi jogando a ca­beça para trás, se perdendo na deliciosa sensação de ter os lábios de Travis sobre a pele. Mas, quando a boca quente se fechou sobre o mamilo teso e ele aca­riciou o bico com a língua, ela tremeu com as ondas de prazer que lhe percorreram o corpo, e o latejar do desejo começou a se intensificar em suas partes mais íntimas.

Quando ele enfim ergueu a cabeça, ela sentiu como se, a qualquer momento, fosse derreter até formar uma poça no chão.

— Isso não é justo. Também quero beijar você assim.

— O que me diz de tirarmos o resto dessas roupas? — indagou ele, se colocando de pé e ajudando-a a se levantar.

Assim que terminaram de se despir, ambos volta­ram a se ajoelhar de frente um para o outro e ele a to­mou nos braços. A sensação da pele tocando a pele, da rigidez masculina pressionando sua maciez feminina, provocou pequenos choques de desejo eletrificado em todo o corpo de Fin.

— É tão bom senti-la — disse ele, com a voz rouca.

A paixão na voz dele a fez estremecer.

— Estava pensando a mesma coisa a seu respeito.

O timbre tórrido de sua própria voz a surpreen­deu. Jamais se considerara uma mulher sensual, mas, na companhia de Travis, tudo parecia se tornar pos­sível.

Quando ele a deitou sobre o tapete e a fitou, a ne­cessidade ardente e a promessa de completa satisfa­ção que viu presente em seus olhos fizeram com que um desejo quente e estonteante jorrasse para sua parte mais feminina. Travis a beijou e deslizou a língua por entre seus lábios. Fin ofegou com a intensidade do la­tejar que sentia no ventre.

Mas prendeu a respiração quando ele começou a trilhar com beijos o vale que lhe separava os seios, seguindo mais para baixo... Ele não ia...?

— T-Travis?

Erguendo a cabeça, ele lhe lançou um olhar de pa­rar o coração.

— Você confia em mim, Fin?

Incapaz de falar, ela pôde apenas acenar. Nenhum outro homem jamais fizera amor com ela da maneira que Travis estava fazendo agora, e, que Deus a ajudasse, ela não queria que ele parasse. Nunca!

Os lábios dele trilharam uma linha de fogo em sua barriga, ela fechou os olhos e se esforçou para lembrar de respirar quando uma onda de prazer após a outra percorreu seu corpo. Mas, quando ele a beijou da ma­neira mais íntima que um homem poderia beijar uma mulher, as sensações ameaçaram consumi-la.

— P-por favor.... Eu não vou aguentar... muito mais...

Ele devia ter percebido a intensidade de sua voraci­dade, porque se ergueu e a puxou para si, carinhosa­mente cobrindo os lábios de Fin com os seus. A mão calejada lhe acariciou a pele com tamanho cuidado que chegou a lhe trazer mais uma vez lágrimas aos olhos, e ela se sentiu marcada pelo toque de Travis.

Seu corpo tremia de desejo quando ele desceu as mãos pelas laterais dela, lhe acariciando os quadris e a parte interna das coxas. Mas, quando ele tocou na penugem ruiva e o dedo mergulhou nas dobras umedecidas, espirais de puro êxtase percorreram seu corpo. As sensações eram tão intensas que, mesmo que sua vida dependesse disso, ela jamais teria conseguido impedir as reações de seu corpo.

Arqueando sob o toque de Travis, ela lutou para manter a sanidade enquanto ondas de pura excitação a percorriam.

— P-por favor...

— Está gostando, minha querida?

O sussurro dele, bem próximo ao seu ouvido, ape­nas contribuía para a doce tensão que a dominava.

— Eu... preciso... de você...

Em resposta ao apelo ofegante, ele lhe afastou as pernas com o joelho e se posicionou sobre ela. Fin sentiu a ponta da enorme ereção tocá-la, mas, em vez de unir os dois corpos, ele ordenou:

— Abra os olhos, Fin.

A chama de desejo nos olhos azuis lhe roubou o fôlego. Ele estava se contendo ao, lenta e gentilmente, forçar a passagem, preenchendo-a por completo. Ele ficou imóvel por vários longos segundos, e Fin sabia que Travis estava saboreando o momento, saborean­do-a.

Quando ele recuou com a parte inferior do corpo, e depois arremeteu para a frente, o tempo parou. Ele estabeleceu um ritmo lento e cadenciado que lhe aumentou a excitação mais do que ela jamais sonhara ser possível. O ardor que tomava conta dela começou a se intensificar cada vez mais, e Fin lhe envolveu as costas largas com os braços para se segurar.

Mas, cedo demais, a deliciosa tensão em seu íntimo cedeu e, onda após onda, o êxtase tomou conta dela. O gemido de satisfação de Fin se tornou uma lamú­ria indefesa quando o corpo relaxou, e ela lentamente voltou à realidade.

Foi só então que escutou o rugido de Travis e o sen­tiu estremecendo à medida que os espasmos de alívio tomavam conta dele. Quando ele enterrou o rosto ao lado de seu pescoço e desabou sobre ela, Fin apertou os braços ao redor dele. Puxou-o para si em um esfor­ço para prolongar a sensação de unidade que compar­tilhavam.

Quando a respiração de Travis se acalmou, ele se apoiou nos ombros. Gentilmente, afastou um cacho de cabelo da face de Fin.

— Você está bem?

Sorrindo, ela levou a mão ao rosto forte de Travis.

— Essa foi, sem dúvida alguma, a experiência mais incrível de minha vida.

A risada baixinha de Travis ao se deitar ao lado dela e abraçá-la fez com que uma nova onda de ardor lhe percorresse o corpo.

—No que depender de mim, é apenas a primeira de muitas experiências incríveis que vamos ter este final de semana.

Um arrepio de êxtase percorreu a espinha de Fin.

— Pois saiba que vou cobrar esta promessa, va­queiro.

Roçando os lábios nos dela, ele disse:

— Neste caso, pode começar a cobrar.

Ela sentiu o corpo dele se excitar de encontro a sua coxa, e seu próprio corpo reagiu com um delicioso aperto na boca do estômago. Envolvendo-lhe os om­bros com os braços, ela sorriu.

— Considere-se cobrado.

O sorriso promissor de Travis fez seu coração dis­parar.

— Querida, estou prestes a surpreender a nós dois. E, para o deleite dela, foi exatamente o que ele fez.

Abraçando Fin enquanto ela dormia, Travis fitou o teto sobre sua cama e tentou imaginar o que seria deles. Estavam seguindo por uma trilha que poderia muito bem levar ao desastre.

Se fossem apenas os dois, não haveria tanto assim em jogo. Poderiam explorar o que estava acontecendo entre os dois e, se não desse certo, cada um simplesmente seguiria seu caminho sem muito alarde.

Mas não eram apenas os dois. Tinham de pensar também em Jessie e no bebê. O que quer que aconte­cesse com Fin e com ele também os afetaria.

Fin lhe dissera claramente não ser boa com relacio­namentos, e ele lhe dissera a verdade ao afirmar que não estava à procura de um.

Depois da morte da mulher, tivera certeza de que jamais sentiria por outra mulher o que sentira por Lauren. Mas estava começando a achar que se precipitara ao fazer tal suposição.

No instante em que pusera os olhos em Fin, se sen­tira atraído por ela como uma abelha pelo mel. E, apa­rentemente, o mesmo acontecera com ela em relação a ele. A primeira visita que ela fizera ao rancho provara esse ponto. Não conseguiram ficar com as mãos longe um do outro. Mas será que um sexo fenomenal era o suficiente para servir de base para um relacionamento duradouro?

Pelo o que ele sabia, só tinham três coisas em co­mum — Jessie, o bebê que Fin estava esperando, e um apetite insaciável um pelo outro. Tirando isso, suas vidas eram diferentes como o dia e a noite.

Ele era um homem do interior, da ponta das botas até o topo do chapéu de aba larga. Sua vida era dura, horas e mais horas de trabalho exaustivo ao ar livre, em qualquer tempo. E, à noite, dormia escutando nada além de grilos e um coiote ocasional uivando ao longe. Ficava muito mais à vontade em uma espelunca onde a música tocava alto, a cerveja era barata e uma calça jeans nova e uma camisa comprada no hipermercado local eram o suficiente para ser considerado mais bem vestido do que jamais se sentiria usando um terno para ir à Broadway ou a uma boate da moda.

E a vida dele era tão estranha para Fin quanto a dela era para ele. Ela morava e trabalhava na cidade que jamais dormia. Diabos, e como poderia? Com táxis buzinando e sirenes tocando sem parar, não o sur­preendia que as pessoas ficassem acordadas o tempo todo. E isso era só o começo da história.

Dia após dia ela trabalhava em um escritório com ar-condicionado, onde a única hora em que sentia o calor do sol no rosto era quando se aproximava da janela, e todas as suas roupas vinham com o nome de algum estilista famoso costurado na etiqueta. Até o jeans que estava usando no rancho tinha o nome de algum sujeito escrito no bolso de trás.

Quando Fin se mexeu, ainda dormindo, ele apertou os braços ao redor dela e lhe deu um beijo no topo da cabeça. Em sua primeira visita ao Silver Moon Ranch, da mencionara adorar amplos espaços ao ar livre. Mas, após algum tempo, a novidade perderia a atratividade e ela enlouqueceria de saudades da agitação de Nova York. Ele não tinha dúvidas de que seria igualmente infeliz se tivesse que morar na cidade grande.

À medida que Travis sentia o sono se aproximando, fechou os olhos e se indagou como seria possível para os dois criarem juntos um filho. Crianças precisavam de estabilidade e rotina, e não serem jogadas de um lado para o outro entre dois mundos completamente opostos.

Ao adormecer, ainda sem respostas, seus sonhos fo­ram repletos de imagens de sua vida em Silver Moon Ranch, compartilhada com uma mulher e uma criança de cabelos ruivos e olhos cor de esmeralda.

 

— O que faço primeiro?

Sorrindo, Travis entregou a Fin as chaves da antiga caminhonete que usava para transportar feno.

— Coloque a chave na ignição e o pé direto no freio.

— Isso parece ser bem simples — disse ela, obede­cendo às instruções. — E depois?

A expressão satisfeita no rosto de Fin fez com que Travis sentisse um aperto no peito. Estava radiante de ver como ela estava empolgada para aprender a diri­gir, e não perderia a oportunidade de lhe ensinar por nada neste mundo.

— Gire a chave na direção do painel. Quando escu­tar o motor pegar, solte a chave.

Ela sorriu ao escutar o motor roncar.

— Nem acredito que vou fazer isso.

— Acho que foi isso que disse ontem à noite, quan­do nós...

— Você só pensa em uma coisa, vaqueiro — ela interrompeu, rindo.

Sentido-se mais jovem do que em muitos anos, ele Sorriu.

— É incrível, e surpreendente, não acha?

— O fato de só pensar na mesma coisa, ou ontem à noite?

— Os dois.

Quando ela tirou o pé do freio, o motor morreu.

— O que houve?

Ele lhe deu um beijo que deixou ambos necessitan­do de respiração boca a boca, e, quando enfim ergueu a cabeça, ela o fitou. Esforçava-se para aparentar seriedade, mas só conseguia parecer ainda mais adorável.

— De volta ao que estávamos fazendo, vaqueiro. Você está aqui para me ensinar a dirigir.

— Você tem que manter o pé no freio até engatar a marcha, ou o motor morre.

Ela franziu a testa.

— Isso vai começar a ficar complicado, não vai?

— Não vai, não. Antes que se dê conta, estará fazendo tudo automaticamente. — Ele apontou para a ignição. — Ponha o pé no freio, ligue o veículo e ponha a mão no câmbio. Depois, sem tirar o pé do freio, empurre a alavanca ligeiramente para frente e depois para baixo, até que a letra D acenda no indicador no painel.

— Pronto — ela disse, aparentando mais confiança, ao lhe seguir as orientações.

— Você está indo muito bem. Agora pise de leve no acelerador.

Ele mal acabara de falar, quando ela afundou o pé no acelerador, fazendo com que a caminhonete arran­casse ao que parecia ser a velocidade da luz.

— Isso é divertido.

— Com todos os diabos!

Já fazia dez anos desde que dera algumas aulas de direção a Jessie, ali naquele mesmo pasto, mas Travis se lembrava como se houvesse sido ontem. Eles cruzaram o campo em disparada e por pouco não acaba­ram dentro de um pequeno lago.

À medida que a caminhonete atravessava quicando o pasto, Travis se esforçava para apertar o cinto de se­gurança. Pelo jeito, a aparência não era a única coisa que mãe e filha tinham em comum. Ambas pareciam ter pé de chumbo.

— Talvez seja melhor aliviar um pouco a pressão no pedal, meu bem. — ele disse, segurando o chapéu para que este não caísse da cabeça.

Sentia-se como na juventude, quando montava tou­ros bravios em rodeios da região.

Quando ela tirou um pouco o pé do acelerador, Travis respirou ligeiramente mais aliviado. O lago havia sido aterrado alguns anos antes e, embora o pasto fosse completamente livre e não houvesse nada em que Fin pudesse bater, ele ainda se sentiu conten­te pelos cavalos estarem a salvo em suas baias nos currais.

— Há anos que já deveria ter aprendido a dirigir — disse ela, com as faces rubras de empolgação. — Isso é muito mais divertido do que depender de um motorista para me levar aonde eu quero ir.

— Eu criei um monstro — ele resmungou. Sentiu um frio na barriga só de imaginar Fin tentando dirigir no trânsito de Nova York. — Não está pensando em tirar a carteira e arrumar um carro, está?

— Pouco provável. Agora já não tem lugar nas ruas da cidade para todos os carros. E estacionar é um ver­dadeiro pesadelo. — Ela olhou para ele. — Vou me limitar a dirigir aqui no Silver Moon Ranch, neste pasto.

O coração de Travis se deteve e, depois, disparou a pleno galope. Ela estava falando como se pretendesse visitar o rancho com certa frequência, o que o deixava muito feliz.

— Isso me tranquiliza um pouco — disse, quando Fin fez uma curva de cento e oitenta graus com a ca­minhonete e retornou pelo caminho por aonde vieram. Vendo que a caminhonete seguia na direção do celei­ro, Travis reconsiderou a hipótese de que os cavalos estavam em segurança. — Ao colocar o pé no freio precisa se dar um bocado de espaço. Carros em movi­mento não param de imediato.

Aparentemente, ela resolveu acreditar nele, pois, no instante seguinte, Fin afundou o pé no freio e a cami­nhonete deslizou um pouco, parando bruscamente.

— Suponho que preciso de mais prática para conse­guir frear com mais suavidade.

Estendendo a mão na direção da barra de direção, ele girou a chave e mudou o câmbio para "Estacionar".

— Da próxima vez trabalharemos um pouco mais nisso — disse, agradecendo a Deus por terem inven­tado os freios ABS.

Ela o surpreendeu ao tirar o cinto de segurança, se inclinar na direção dele e lhe envolver o pescoço com os braços.

— Obrigada, Travis.

— Por quê?

— Estou aprendendo cada coisa incrível neste final de semana! — disse ela, com um sorriso que fez a temperatura dele ir ao teto.

Ele sorriu, e a puxou para perto de si.

— Está mesmo?

O brilho malicioso nos olhos verdes ao assentir o fascinou.

— Algumas das coisas que aprendi foram mais sur­preendentes do que as outras.

Inclinando a cabeça, ele a beijou.

— O que me diz de voltarmos um pouco para den­tro de casa?

— Tem algo em mente?

As palavras sussurradas ao ouvido de Travis o dei­xaram dolorosamente rígido em menos de dois segun­dos. Assentindo, tirou o cinto de segurança, desceu da caminhonete e deu a volta pela frente do veículo para se sentar atrás do volante.

— Quero lhe mostrar uma coisa.

Ela sorriu.

— E é incrível?

Ele ligou o motor, engatou a marcha e riu ao dirigir na direção da sede.

— Minha querida, se prepare para algo decidida­mente fabuloso.

 

— Já pensou no que vamos fazer quanto à nossa situação? — perguntou Fin, quando ela e Travis pre­paravam juntos o jantar.

Ela voltaria para Nova York na manhã do dia se­guinte e ainda não haviam conversado nada a respeito do bebê. Quanto mais chegado a uma decisão!

— Pensei um pouco, mas ainda não consegui che­gar a nenhuma conclusão — respondeu ele, prestando atenção nos dois filés que fritava na enorme caçarola de ferro fundido.

— Eu também não. — Cortando legumes para a sa­lada, Fin mordiscava pensativamente um pedaço de cenoura. — Acho que seria justo que ambos desfrutás­semos de semelhantes períodos de tempo com ela.

— Ou ele. — Travis lançou um sorriso que fez a pulsação de Fin disparar. — Há cinquenta por cento de chance de o bebê ser um menino.

— É verdade.

Fin voltou a se concentrar na sua tarefa antes que os hormônios desviassem sua atenção do assunto. Parecia que, com apenas um olhar ou um toque, ela e Tra­vis se entregavam à paixão e se jogavam nos braços um do outro.

Fatiando um pepino, ela dispôs as rodelas em um circulo sobre uma camada de alface.

— Acho que não teremos dificuldades em dividir o tempo em períodos iguais, pelo menos até que ele, ou ela, atinja a idade escolar.

Ele riu.

— Você já está pensando muito mais adiante do que eu. Ainda nem consegui resolver como vou fazer para conciliar estar presente para suas consultas com o obstetra e cuidar de minhas obrigações aqui. — Travis serviu os dois filés em pratos separados e cobriu cada um deles com uma colherada de molho. — As coisas no rancho costumam ficar bem agitadas entre a prima­vera e o verão.

— Como é por aqui durante o verão?

Ela adorava escutar Travis falando sobre o rancho. Levando em conta tudo que vira e ouvira, aquele pare­cia ser um dos locais mais tranquilos do planeta.

— Depois que a neve derrete, tudo fica verde. —- Ele sorriu. — E, em seguida, as flores do campo começam a desabrochar, dando um colorido maravi­lhoso ao lugar.

— Parece tão lindo! Ele assentiu.

— Com as montanhas cobertas de neve ao fundo fica parecendo aquelas imagens de cartão postal que costumam vender aos turistas em Colorado Springs.

— Adoraria estar aqui para ver — disse ela, incapaz de esconder a melancolia na voz.

Quando ele veio por trás e lhe envolveu a cintura com os braços, Fin se recostou naquele corpo forte.

— Se você quiser, após o nascimento do bebê, pos­so levá-la em um passeio até algumas das campinas nas montanhas.

Virando-se para fitá-lo, Fin apoiou os braços nos ombros de Travis, ficou na ponta dos pés e lhe beijou a face.

— Eu adoraria, Travis. Só que ainda não aprendi a andar a cavalo.

— E só vai aprender depois que o bebê nascer. — Ele sacudiu a cabeça. — Não estou disposto a correr o risco de você cair do animal. Algo assim pode acabar fazendo você perder esse carinha aí dentro.

Era ridículo, mas a preocupação de Travis lhe pro­vocou um aperto no coração. Ela sabia que essa crian­ça seria seu único filho biológico, e, sendo assim, tão importante para ele quanto para ela. Mas será que o bebê era sua única preocupação?

Não havia como negar o fato de que se sentiam ex­tremamente atraídos um pelo outro fisicamente. Era esse justamente o motivo de estarem na atual situação. Mas será que para ele não passava disso? Será que ele só ligava para o bebê? E, por que, de repente, estava tão obcecada com isso?

— Querida, você está bem?

— Estou um pouco cansada. — Ela recuou, se sol­tando dos braços dele. — Se não se importa, acho que vou deixar o jantar para lá e vou me deitar um pouco.

Fin sabia que a súbita mudança de humor o deixa­ra confuso, mas nada podia fazer a respeito. Precisa­va de um tempo para pensar, tempo para analisar os próprios sentimentos e tentar compreender por que, subitamente, era tão importante assim que o bebê não fosse a única preocupação de Travis.

Querendo se afastar dele antes que fizesse uma bes­teira, como começar a chorar, ela saiu em disparada pelo corredor e começou a subir as escadas. Mas, su­bitamente, teve a sensação de levantar vôo, um instan­te antes de desabar sobre o chão de madeira.

Ao ficar ali deitada, tentando descobrir o que dia­bos acontecera, sentiu uma punhalada de dor do lado esquerdo, que a deixou sem fôlego e a fez encolher as pernas até ficar em posição fetal. O coração batia acelerado, e o aposento começou a girar. Ela se sentiu sendo tragada para o interior de um profundo abismo negro.

Pensou ter escutado Travis chamar seu nome, mas a escuridão envolvente se recusava a libertá-la. Ao se entregar à névoa que se aproximava dela, o último pensamento de Fin foi o receio de perder obebê que tanto desejava e o homem pelo qual se apaixonara.

 

Sentado na sala de espera da emergência, Travis tava a ponto de demolir o hospital, tijolo por tijolo alguém não lhe desse logo alguma informação o estado de Fin. Quando a trouxera para ser atendida fora retirado da sala de exame e, desde então, não tivera nenhuma notícia.

Ele suspirou de frustração e passou as mãos pelo rosto. Quando escutara o baque surdo na sala de estar, seguido de um silêncio sinistro, sentira o coração despencando até o chão. Ele a chamara e correra pelo corredor para ver o que havia acontecido. Mas, diante da visão do corpo encolhido de Fin, deitado no chão no pé da escada, o sangue de Travis gelou nas veias, e ele sentiu como se alguém lhe houvesse tomado dez anos de sua vida. — Sr. Clayton?

Quando ergueu a cabeça, viu uma mulher de jaleco branco de pé diante das portas que levavam à en­fermaria. Erguendo-se prontamente, ele caminhou na direção dela.

— O que está acontecendo?

— Eu sou a dra. Santos. Sou a obstetra de plantão — ela apresentou-se, apertando-lhe a mão.

— Fin vai ficar bem? — exigiu saber.

Se ela perdesse o bebê, ele lamentaria muito. Mas, se fosse para escolher entre a vida dela e a do bebê, não havia o que discutir. Queria que Fin recebesse os melhores cuidados possíveis.

Sorrindo, a médica assentiu.

— A srta. Elliot fissurou uma costela ao cair, mas acho que tanto ela quanto o bebê ficarão bem. Ela é uma mulher saudável e a gravidez parece estar seguin­do o seu curso normal, de modo que não antecipo ne­nhum problema.

— Graças a Deus. — O alívio que sentiu foi tanto que suas pernas bambearam como se tivessem se transformado em borracha.

— Ela precisará ficar de cama pelos próximos três dias, e não aconselho viagens pelas próximas duas se­manas. Mas, após isso, se ela não sentir mais nada, deverá poder retomar suas atividades normais. — A mu­lher rabiscou alguma coisa no prontuário que trazia nas mãos e ergueu a cabeça para fitá-lo com os olhos cas­tanhos. — E também é uma boa idéia evitar relações sexuais até que ela faça o próximo exame pré-natal.

— Posso vê-la? — perguntou, ansioso para ver com os próprios olhos que Fin estava passando bem.

— Ela está acabando de se vestir — informou a dra. Santos, virando-se na direção das portas da enferma­ria. — Talvez seja melhor o senhor ir buscar o seu carro e trazê-lo até a porta da saída dos pacientes.

Ele franziu a testa.

— Já a está mandando para casa? Não é melhor ela passar a noite em observação ou coisa que o valha?

Não é que não quisesse levar Fin de volta para o rancho. Claro que queria. Mas também queria que ela tivesse os melhores cuidados possíveis.

— Relaxe, sr. Clayton. — Os olhos escuros da mu­lher brilharam. — Pode acreditar que ela repousará melhor em casa do que aqui. E, é claro, se ela sentir mais alguma coisa, pode trazê-la para cá.

Cinco minutos mais tarde, quando estacionou, em frente à porta por onde saíam os pacientes liberados uma enfermeira veio empurrando Fin em uma cadeira de rodas. Assim que se certificou de que ela estava confortavelmente acomodada no assento do carona ele se sentou ao volante e deu início à viagem de cinquenta quilómetros de volta para o Silver Moon Ranch.

— A médica lhe disse que vou ter que estender mi­nha estada aqui com você?

Travis sentiu um aperto no coração ao escutar a voz fraca e trémula de Fin. Ela era uma das mulheres mais fortes que ele já tivera o prazer de conhecer, e não se deixava abater facilmente. Mas ele supôs que, mais do que a dor física, o que a abalara fora a idéia de perder o bebê.

— No que dependesse de mim, você podia passar o resto de sua gravidez no Silver Moon Ranch — ele disse, segurando a sua mão.

Ela exibiu um sorriso cansado.

— Eu adoraria, mas preciso voltar para a revista.

As palavras o atingiram como um murro na boca do estômago, e serviram para despertá-lo. É claro que ela iria voltar para a maldita revista e para a competi­ção pela presidência da editora do pai. Jess já lhe dis­sera que a Charisma era a vida de Fin. Era a primeira a chegar ao escritório e a última a ir embora.

Perdera um bocado de sono especulando se algo poderia resultar da atração que sentiam um pelo outro. Aparentemente, acabara de ter sua resposta.

— Ahh. Isso não é nada bom — disse Fin, levando a mão à lateral do corpo ao se levantar e dar um passo hesitante na direção da cômoda. Sabia que andar seria doloroso, só não fazia idéia do quanto.

Sentada na beirada da cama de Travis pelos últimos minutos, vinha tentando reunir coragem para ir até o móvel buscar a bolsa. Precisava ligar para o escritório e falar com Cade. Ele teria de assumir suas funções pelas próximas duas semanas e manter a Charisma no rumo para vencer a competição promovida por Patrick. Embora não tivesse a intenção de assumir a posição, queria ganhar só para provar de uma vez por todas para Patrick que não era uma completa decepção.

— O que diabos pensa que está fazendo?

A voz grave de Travis a sobressaltou, e o movimen­to provocou ainda mais dor nas costelas sensíveis.

— Preciso do celular.

— Por que não me pediu para pegar para você? — Depositando a bandeja que trazia nas mãos sobre a cômoda, ele a ajudou a voltar para a cama. — Está na sua bolsa?

— Está. — Ao se recostar de novo na montanha de travesseiros, ela inspirou fundo várias vezes, até sentir a dor aliviar. — Preciso ligar para o escritório e pedir que Cade assuma o comando de tudo até eu voltar.

Ele lhe passou a bolsa.

— Este não é o primeiro dia dele e Jessie após a lua-de-mel?

Assentindo, ela revirou o fundo da bolsa atrás do celular.

— Que retorno maravilhoso estou preparando para ele... O pobre coitado ainda vai estar nas nuvens por estar recém-casado, e vou lhe dizer que vai ter que fazer muita hora extra até eu poder voltar.

Travis riu.

— Acho que Jessie também não vai ficar muito feliz com a notícia.

— Posso apostar que ela vai ficar fazendo serão com ele no escritório. — Rindo, ela levou a mão às costelas. —Até rir dói.

Na mesma hora, a preocupação se estampou no ros­to de Travis.

— Tem certeza de que está se sentindo bem? Ne­nhum outro indício de que há algo errado?

— Nenhum — disse ela, sacudindo a cabeça.

Ela se concentrou no telefone em sua mão para que Travis não lhe notasse a decepção diante da preocupa­ção dele pela sua gravidez, e não por ela.

Ela pôde senti-lo observando-a por vários longos instantes antes que Travis, enfim, pigarreasse e apon­tasse na direção da cômoda.

— Vou levar seu café da manhã de volta para a co­zinha, para que não fique frio. Me avise quando sair do telefone e eu o trago novamente.

— Obrigada — sussurrou ela. Chloe atendeu no ou­tro lado da linha.

Enquanto a assistente anunciava para qual departa­mento ela ligara e com quem estava falando, Fin viu Travis olhar mais uma vez para ela, ao levar a bandeja embora. Pôde perceber que ele não estava nada sa­tisfeito por ela estar cuidando de negócios em vez de descansar, mas ele teve bom senso o suficiente para nada dizer.

— Chloe, aqui é Fin — disse, interrompendo a jo­vem.

— Onde você está? Por que não está aqui no escri­tório, está tudo bem?

A rápida sucessão de perguntas era típica de Chloe. Sorrindo, Fin respondeu:

— Decidi passar o final de semana no Colorado.

— Ah, foi ver o pai de Jessie, o vaqueiro, não foi?

— Fui. — Ficou escutando por alguns instantes, en­quanto Chloe falava como Travis era bonito e como ela havia ficado contente de saber do bebê, antes de interromper. — Cade está na sala dele?

— Ele e Jessie chegaram há cerca de uma hora, desapareceram na sala dele, e, desde então, ninguém sabe dos dois. — Chloe riu. — Sabe como são esses recém-casados.

Fin estremeceu. Detestava ser ela a interromper a alegria dos dois, mas esta era uma ligação de negó­cios. Precisava falar com Cade como a chefe dele, não como a nova sogra.

— Pode transferir a ligação para a sala dele?

— Quando você vai voltar, Fin?

Havia certa empolgação na voz de Chloe, e Fin pôde ver que havia algo que ela queria contar.

— Provavelmente, só daqui a duas semanas. Chloe soltou uma exclamação de surpresa.

— Você está brincando, não está?

— Infelizmente não. — Esfregando a ponta do na­riz, ela tentou aliviar a tensão que ameaçava lhe dar uma dor de cabeça. — Agora, transfira minha ligação para a sala de Cade.

Ela falou de tal modo, que Chloe logo viu que a parte social do telefonema havia terminado.

— Cade McMann.

Pelo ligeiro eco, Fin notou que ele estava usando a função de viva-voz do telefone.

— Cade, é Fin. Tem algo que preciso que faça para mim.

— Quer que eu dê um pulo no seu escritório?

Fin suspirou. — Não ia adiantar de nada. Estou no Colorado.

— Está com o meu pai no rancho? — indagou Jes­sie, empolgada.

— Estou.

— Desde quando está aí? Vai ficar até quando?

A empolgação de Jessie parecia crescer exponen­cialmente. — Desde sexta. E vou ficar mais duas semanas.

— Duas semanas! — O tom de voz de Cade forçou Fin a afastar o telefone do ouvido. — Com a competi­ção apertada como está, você não vai estar aqui?

— Primeiro, acalme-se e me escute. — No que di­zia respeito à Charisma, ela era capaz de se impor e se fazer obedecer sem nenhuma dificuldade. — Você assumirá como editor-chefe interino até que eu volte no final do mês, Cade. Não deixe ninguém fazer cor­po mole nesta reta final para aumentar os lucros. Peça a Chloe relatórios diários sobre o que ela descobrir no departamento de contabilidade. E examine minu­ciosamente todas as provas antes de enviá-las para o departamento de produção.

— Mais alguma coisa?

— Quero que me ligue todos os dias para me avisar como estamos indo. — Ela se interrompeu. — Não preciso lhe dizer o quanto quero vencer esta compe­tição.

— Não, Fin. Desde o início você deixou bem claro o quanto isso é importante.

Seguiu-se uma prolongada pausa, e ela pôde perce­ber que ele estava tentando achar a melhor maneira de formular sua próxima pergunta.

— O que foi?

Pôde imaginar o seu braço direito, que agora era também seu genro, emitindo um suspiro de frustra­ção.

— Há anos que você não tira férias. Por que agora? Por que não poderia ter esperado até janeiro, após a conquista da posição de presidente?

— Pode acreditar, se eu pudesse, estaria aí.

— Fin, qual é o problema?

Poucas coisas poderiam tê-la comovido tanto quan­to a preocupação na voz da filha.

— Eu estou bem, meu amor. É sério. — Explicando o que acontecera e as recomendações da médica, Fin acrescentou: — Mas não sei bem quanto ao seu pai.

— Ele não sai de perto, não é? — adivinhou Jessie. — Ele não suporta não estar no controle de tudo à sua volta, e quando algo assim acontece ele sempre extra­pola na reação.

— Extrapolar é pouco. Ele está agora mesmo espe­rando que eu saia do telefone para me trazer o café da manhã na cama.

— Você sabe que ele vai levá-la à loucura, não sabe?

Erguendo a cabeça, Fin viu Travis entrar no quar­to trazendo uma bandeja com todo tipo de comida de café da manhã imaginável.

— Pois eleja está me levando, minha querida.

 

Travis cuidadosamente observou Fin caminhar até o sofá e se sentar. Ele tentara convencê-la a ficar mais um dia de cama, mas ela lembrou que a médica só dissera para ela descansar dois dias, e já fazia quatro des­de sua queda. A contragosto, ele concordara que ela circulasse pela casa desde que ele estivesse presente no mesmo aposento que ela quando se levantasse para fazer alguma coisa.

Ela lhe lançou um daqueles olhares que teria des­concertado qualquer um de seus colegas masculinos, mas ele em nada se deixou intimidar. Ela estava agora no território dele, e não em alguma sala de reuniões corporativa onde podia dizer "pule", e as pessoas per­guntavam: "A que altura?"

— Travis, dá para parar de me olhar como se achas­se que eu fosse desmoronar a qualquer momento? — Ela sacudiu a cabeça. — Tirando as costelas ain­da doloridas, estou tão saudável quanto um de seus cavalos.

Ele deu de ombros.

— Não se parece com um cavalo.

— Obrigada. — Ela franziu a testa. — Eu acho.

— Srta. Fin, gostaria que eu lhe preparasse algo para comer ou beber — perguntou Spud, entrando na sala.

— Não, mas obrigada assim mesmo, sr. Jenkins — respondeu Fin, com toda a educação.

— Bom, se precisar de alguma coisa, basta gritar — disse Spud, exibindo um sorriso desdentado. — Eu providencio rapidinho.

— Obrigada pela gentileza — disse ela, sorrindo. Travis ficou olhando o velho quando este voltou para a cozinha. Fin conquistara o caseiro logo de cara, na primeira vez que visitara o rancho, e, quando Spud soube que ela passaria algumas semanas com eles, fi­cou mais feliz do que porco na lama.

— Pensando bem, acho que tem algo de que eu pre­ciso.

Ela se pôs de pé, antes que Travis pudesse atraves­sar a sala para ajudá-la a sair do sofá.

— Aonde você vai? — Ele apontou na direção da escada. — Se precisa de algo do quarto, posso ir buscar.

Sacudindo a cabeça, ela se dirigiu ao cabide ao lado da porta da frente.

— Vou lá fora, respirar um pouco de ar puro.

— Acha mesmo que isso é uma boa idéia? — ele perguntou, seguindo-a.

Ele teve o bom senso de não tentar dissuadi-la. Se havia algo que aprendera quando casado era jamais dizer para uma mulher o que ela podia ou não fazer. Este era o tipo de coisa que podia trazer muita dor de cabeça para um homem.

Segurando o casaco para que ela o vestisse, e de­pois colocando o seu próprio, ele tentou uma aborda­gem diferente.

— A temperatura caiu bastante desde hoje de ma­nhã e tivemos algumas pancadas de neve. Você pode acabar tremendo de frio, e isso provavelmente fará com que suas costelas doam.

— Pode desistir, vaqueiro. Você e o sr. Jenkins não me deixam fazer nada, e eu estou enlouquecendo aqui dentro. — Ela sorriu. — Agora, vamos ficar aqui discutindo ou você vem comigo?

Resignado, ele passou o braço por trás dela para abrir a porta.

— Já que vamos lá fora, podemos aproveitar para ver como estão os cavalos e checar se eles têm bastan­te feno e água.

Pelo menos no celeiro ela estaria protegida do vento.

Seus olhos verdes brilharam de alegria, e ela lhe pa­receu tão bonita que Travis sentiu uma chama familiar se acender.

— Vamos voltar à cena do crime?

Gargalhando ruidosamente, ele assentiu. — Algo parecido.

Ele nada disse, mas, desde aquela noite, se vira in­capaz de entrar no celeiro e não pensar nela e nos dois fazendo amor.

— Como está o potro? — Fin indagou, quando co­meçaram a atravessar o curral.

Ele sequer tentou reprimir o sorriso malicioso.

— Quer dizer que você se lembra que havia um potro?

— Você não tem jeito, sr. Clayton. É claro que me lembro do potro. Foi por causa dele que, naquela noite, entramos no celeiro, em primeiro lugar. — O sorriso dela mexeu com o seu íntimo e o fez lembrar que não fazia amor com ela pelo que parecia ser um mês. — Aposto que ele cresceu bastante nestes últi­mos trinta dias.

— Todos os bebês, independente da espécie, cres­cem mais no primeiro ano de vida do que nos anos subsequentes — Travis disse, assentindo. Abrindo a porta do celeiro, ele deixou que Fin entrasse primeiro. — Quando Jessie era bebê, ela crescia tão depressa que houve ocasiões em que cheguei a pensar que ela havia mudado de um dia para o outro.

— Infelizmente, a única lembrança que tenho de Jessie quando bebê é a de vê-la sendo levada embora pela freira. Patrick havia deixado ordens explícitas de que não queria que eu sequer soubesse se tinha tido um menino ou uma menina. Mas uma das freiras me contou que eu tinha tido uma menina perfeita antes de deixar a sala de parto.

Travis sentiu um aperto no peito ao pensar em Fin sendo forçada a assistir a seu bebe ser levado embora sem saber se algum dia voltaria a vê-lo.

— Terá a oportunidade de ver este bebê crescer des­de o instante em que ele vier ao mundo, Fin. — Envol­vendo-a com os braços, ele a puxou para perto. — Nós dois teremos.

Assentindo, ela permaneceu em silêncio, e Travis supôs que ela estivesse se esforçando para controlar as emoções.

Ele se sentia arrasado só de pensar em qualquer coisa lhe causando tamanha mágoa. E soube, naquele instante, ali mesmo, que queria passar o resto da vida fazendo de tudo para que ela jamais conhecesse a tris­teza novamente.

Ele inspirou fundo repetidamente, ao se dar conta da conclusão à qual havia chegado. Não havia mais dúvidas. Independentemente do fato de virem de dois mundos diferentes, Travis havia se apaixonado por Fin.

Pensar que ela pudesse não sentir o mesmo o deixa­va apavorado. Mas sabia, sem sombra de dúvida, que precisava abrir seu coração e correr esse risco. Quer morassem no Silver Moon Ranch ou em Nova York, Fin e o bebê eram mais importantes para ele do que o próprio ar que respirava. E Travis tinha toda a inten­ção de lhe contar isso.

Inclinando sua boca na direção da dela, ele lhe deu um beijo que chegou a    fazê-la tremer e deixou a am­bos sem fôlego. Depois, soltando-a, ele recuou alguns passos para não cair na tentação de tomá-la novamen­te nos braços.

—Assim que terminarmos de alimentar os cavalos, vamos voltar para a casa para uma longa conversa, meu bem.

 

— Cade, tem certeza disso? — perguntou Fin, an­dando de um lado para o outro na sala de estar. — A Charisma está empatada na competição com a The Buzz?

Quando ela e Travis retornaram do celeiro, Spud lhe informara que seu celular, nas palavras dele, "cri-crilara como um grilo com quatro pernas traseiras" a cada cinco minutos desde que ela saíra pela porta. Após verificar a lista de ligações perdidas, ela tratou de ligar para o escritório para descobrir o que era tão importante para Cade lhe telefonar quatro vezes em menos de meia-hora.

— Foi Chloe quem soube primeiro, durante a pau­sa para o café hoje de manhã. Depois Jessie escutou alguém da contabilidade falando a esse respeito no corredor. — Cade se interrompeu momentaneamen-te. — Ainda estou aguardando a confirmação oficial, mas, ao que tudo indica, eliminamos a diferença e es­tamos cabeça a cabeça com Shane e a The Buzz.

A informação deveria tê-la deixado pulando de ale­gria. Mas, à medida que a notícia de Cade ia sendo assimilada, Fin ia se dando conta de que, embora esti­vesse orgulhosa por todo o trabalho duro investido por ela e pela equipe parecer estar rendendo seus frutos, isto não parecia tão importante quanto teria sido três semanas antes.

— Assim que tiver qualquer informação, positiva ou negativa, me ligue. — Ela olhou para Travis, de pé do outro lado do aposento. Com o rosto impassí­vel, ele a observava atentamente. — Tenho de desligar agora. Mande um beijo para Jessie.

Quando ela desligou o celular e o depositou sobre a mesinha ao lado do sofá, Travis assentiu.

— Suponho que sua revista esteja indo bem na competição.

— A essa altura, estamos no páreo — ela disse, as­sentindo. — Mais um pouco de esforço e não tenho dúvidas de que passaremos à frente e venceremos.

Ela viu o peito largo se expandir quando ele inspi­rou fundo.

— Então, você vai assumir a presidência da empre­sa de seu pai em janeiro?

— É o que foi proposto por Patrick — ela disse, se esforçando para se comprometer o mínimo possível.

Ainda não contara para ninguém que, caso vencesse a competição, recusaria o cargo para passar o máximo de tempo possível com o bebê.

Travis sacudiu a cabeça.

— Ainda não respondeu minha pergunta.

Será que ela deveria lhe dizer que a presidência não era mais tão importante para ela quanto outrora fora? Será que deveria admitir que suas prioridades haviam mudado e que tudo que ela queria era ser esposa dele e mãe do bebê?

— Eu... quero dizer... nós...

Ela fechou a boca, enquanto se esforçava para en­contrar uma resposta. Mentir não fazia parte de sua natureza. Mas também não sabia se teria a coragem necessária para contar a verdade.

Será que Travis acreditaria se ela lhe dissesse que, durante todos esses anos, só usara a Charisma como substituta da família que realmente desejava? Como poderia colocar em palavras o que sentia por ele sem correr o risco da rejeição e de ter o coração destroça­do. E se ele quisesse o bebê, mas não ela? O que    acon­teceria se lhe dissesse que se apaixonara irremedia­velmente por ele e queria abandonar seu apartamento frio e solitário com vista para o Central Park para vir morar com ele e o bebê no Silver Moon Ranch? Será que sobreviveria se ele não quisesse o mesmo?

Ele deu um passo em sua direção.

— Fin?

Ela se esforçou para pensar com clareza. O que ha­via de errado com ela? Era Finola Elliot, a intrépida executiva capaz de enfrentar e superar qualquer desafio que se colocasse no seu caminho. Por que era tão difícil para ela achar a coragem para dizer ao homem dos seus sonhos como se sentia e o que queria?

Ao fitar os incríveis olhos azuis, soube exatamente por quê estava tendo tanta dificuldade para se expres­sar. Travis era mais importante para ela do que a Charisma e a presidência da Editora Elliot jamais haviam sido, ou seriam.

Mas, quando abriu a boca para lhe dizer isso, Travis sacudiu a cabeça.

— Antes que diga qualquer coisa, tem algo que eu quero lhe dizer.

— Também quero lhe dizer algo — ela disse, dese­josa de que ele a tomasse nos braços e lhe desse algum indício de que, emocionalmente, estavam no mesmo lugar.

— Pode dizer o que quiser, depois que eu o fizer primeiro. — Travis apontou para o sofá. — Talvez seja melhor se sentar. Não sou muito bom nessas coi­sas... E isso pode demorar um pouco.

Sentando-se no sofá de couro, Fin prendeu a respi­ração enquanto aguardava que ele lhe contasse o que considerava tão importante assim.

— Quando Jessie veio com a história de tentar en­contrá-la, fui terminantemente contra.

Fin teve certeza de que seu coração havia acaba­do de se despedaçar em um milhão de pedacinhos, e achou que não seria capaz de respirar de novo devi­do à devastadora emoção que se acumulava em seu peito.

— Eu... não sabia. Jessie nunca me disse o que você achava de nosso reencontro.

— Eu estava errado, e ela estava coberta de ra­zão ao não lhe contar. — Ele coçou a nuca, em uma tentativa de aliviar a tensão. — Você tem que enten­der, Fin. Eu não sabia se seria receptiva à idéia de reencontrar a filha que entregou para a adoção anos atrás. Você era muito jovem, e algumas mulheres preferem esquecer que algo assim já aconteceu com elas. — Travis olhou sério para ela. —Desde o instante em que minha mulher e eu adotamos Jessie, dediquei minha vida a protegê-la de qualquer coisa que pudesse vir a lhe fazer mal, fosse física ou emo­cionalmente.

Fin engoliu em seco. Jessie não poderia ter encon­trado uma família melhor do que os Clayton. E, em­bora houvesse sido a coisa mais difícil que já fizera, fora melhor para Jessie ter Travis como pai do que simplesmente ser criada sozinha por Fin.

Ela podia entender o raciocínio, mas ainda a ma­goava saber que, se Jessie houvesse lhe dado ouvidos, as duas jamais teriam se reencontrado.

— Você tinha receio de que eu fosse rejeitá-la — sussurrou Fin, com a voz entrecortada.

Ele assentiu.

— Passei muitas noites sem dormir antes que Jessie me ligasse para me contar como você ficou feliz quan­do ela enfim lhe contou quem era.

Os olhos de Fin se encheram de lágrimas.

— Eu a amei, e a quis, desde o instante em que sou­be que estava grávida.

— Eu sei disso, agora. — Ele sorriu. — Para ser sincero, desde a primeira vez que a vi, soube que não tinha absolutamente nada a ver com a pessoa que eu

receava que fosse.

— É mesmo? — indagou ela, cautelosamente.

Ele se sentou diante dela.

— Em vez da executiva profissional dotada de instinto assassino, você era agradável, calorosa e mais sensual do que eu jamais poderia ter imagi­nado.

Fin quase engasgou. Jamais considerara que "sen­sual" estivesse entre suas qualidades.

— Eu?

— Querida, você me virou do avesso logo na primeira vez em que pus os olhos em você.

A risada dele a acalentou, mas Fin procurou não se deixar dominar pela esperança. Atração sexual era uma coisa, mas ele nada falara sobre amá-la.

— Acho que nunca houve dúvidas quanto ao fato de compartilharmos uma química irresistível — disse ela assentindo.

— Mas, desde o início, tivemos um bocado de pro­blemas — Travis prosseguiu, com uma expressão sé­ria no rosto. — Você vive em Nova York, minha vida é aqui no interior. Sua carreira é glamourosa e incrivel­mente impressionante. — Ele deu de ombros. — Não passo de um rancheiro levando uma vida simples e descomplicada. Não via essa atração entre nós levan­do a lugar algum.

0 coração de Fin quase parou. Será que ele estava tentando lhe dizer todos os motivos pelos quais um relacionamento entre os dois não funcionaria? Que não estava disposto a sequer lhes conceder a oportunidade de tentar?

O olhar dele se desviou para as próprias mãos en­trelaçadas que pendiam sobre os joelhos.

— Foi então que colocamos o carro na frente dos bois. Descobrimos que eu a engravidara antes mesmo que tivéssemos chance de nos conhecer direito.

Ela enxugou uma lágrima solitária que lhe escorria pela face.

— Você vê esse bebê como um impedimento?

— Meu Deus, não! — Não houve nenhuma he­sitação na resposta veemente de Travis. — Não po­deria estar mais feliz por estarmos tendo um bebê juntos. — Ele ficou de pé e caminhou até o sofá — Mas o que não está me deixando feliz é ter de achar um modo de conciliar tempo e distância na criação dele.

— Ou dela.

— Isso mesmo. — Ele se ajoelhou e tomou as mãos dela nas suas. — Nunca fiz nada pela metade em toda a minha vida, e não pretendo começar a fazê-lo agora. Não quero ser um pai em meio período, e também não acredito que você queira ser uma mãe em meio período.

O coração dela batia em compasso de espera.

— O que quer dizer, Travis?

— Quero me casar com você, Fin — ele disse, com uma expressão séria no rosto. — Quero que ambos sejamos pais em tempo integral e que criemos nosso bebê juntos.

Ele falara sobre querer o bebê e de seu desejo de estar ao lado da criança para vê-la crescer. Mas, em momento algum, mencionara algo sobre amá-la ou querer ficar com ela.

— N-não sei o que dizer.

Ele se inclinou para frente, e suavemente encostou os lábios nos dela.

— Para mim, "sim" seria a melhor resposta, minha querida.

Diante da garganta subitamente seca, ela teve de pigarrear antes de conseguir que as cordas vocais funcionassem. Ser a esposa de Travis era o que ela mais queria na vida, mas não sem o amor dele.

Acariciando com a mão a face dele, ela sacudiu a cabeça.

— Infelizmente, não é a melhor resposta para mim.

 

Travis se sentia um completo idiota. Acabara de abrir seu coração, assim como despojar-se de todo o seu orgulho, e Fin simplesmente o pisoteara.

Soltando a mão dela, ele inspirou fundo e ficou de pé. Em todos os seus quarenta e nove anos de idade, jamais imaginara que poderia sentir tanta dor e, em troca, não ter nenhum ferimento físico para mostrar. Reunindo o que sobrara de sua dignidade, ele endirei­tou os ombros e a fitou nos olhos.

— Bem, acho que a única coisa que nos resta a fa­zer agora é combinar quem vai ficar com o bebê em qual feriado e onde ele...

— Ou ela.

Ele assentiu. — Ou ela, vai passar o verão.

Subitamente, sentindo a necessidade de se distan­ciar dela, Travis virou-se para a porta.

— Concordarei com o que decidir ser justo. Basta me avisar.

— Alto lá, vaqueiro.

A mão de Fin no seu braço o deteve. O toque dela queimava através da camisa e a dor no peito se tornou ainda mais insuportável. Olhando para a mão macia que lhe segurava o braço e depois para o seu lindo rosto, Travis queria apenas tomá-la nos braços e convencê-la de que eles pertenciam um ao outro. Mas jamais implorara por nada em toda a sua vida. Mas, que Deus o ajudasse, jamais se vira tão tentado a fazê-lo.

— Você disse o que queria. Agora é a minha vez. — Os olhos verdes faiscavam de determinação, e, naquele instante, ele a amou mais do que a própria vida.

— O que quer de mim, Fin? Já me ofereci para me casar com você, e você não aceitou.

— Mas é justamente isso. — Ela ficou de pé e o em­purrou na direção do sofá, fazendo com que ele caísse sentado. Depois, plantou as mãos nos quadris esbeltos e o fitou. — Você não me pediu em casamento. Se ofereceu para casar comigo.

Diabos, mas ela era deslumbrante quando ficava furiosa. Travis franziu a testa diante das palavras de Fin.

— É a mesma coisa.

— Não é não! — Ela começou a andar de um lado para o outro. — Há uma enorme diferença. Eu diria até gigantesca.

Ele notou que Spud havia entrado da sala para ver que gritaria toda era aquela. Mas bastou um olhar da mulher enraivecida dando uma bronca em Travis para que o velho voltasse correndo para a cozinha o mais rápido que seus setenta e tantos anos e a artrite per­mitiam.

— Será que não lhe ocorreu que eu poderia querer um pedido de casamento que parecesse um pouquinho mais pessoal e não uma fusão corporativa?

Ele franziu a testa.

— Não foi essa a minha intenção... Ela ergueu a mão.

— Pode ficar quietinho aí. Eu ainda não acabei. — Aparentando a mesma autoridade que ele sabia que Fin exibia nas suas reuniões executivas, ela estreitou os lindos olhos verdes. — Comigo é tudo ou nada, vaqueiro. E eu quero tudo. O casamento, um lar aconchegante e este bebê. E talvez mais um ou dois.

A pressão no peito de Travis se aliviou um pouco.

— Posso lhe oferecer tudo isso.

— Eu sei que pode. — Interrompendo-se por um instante, a voz de Fin assumiu uma qualidade mais suave. — Mas será que pode me dar aquilo de que eu mais preciso?

As lágrimas nos olhos de esmeralda provocaram um frio na boca do estômago de Travis. A noção de que ele a fizera chorar era insuportável.

Pondo-se de pé, ele caminhou até Fin e a tomou nos braços.

— O que você quer, minha querida? Diga e será seu.

— Quero que não queira apenas o bebê. Quero que você me queira. Quero ser sua esposa. Quero compar­tilhar uma vida com você, aqui no Silver Moon Ranch.

— Sua voz se tornou um sussurro entrecortado. — Eu quero... Eu quero o seu amor, Travis.

Se fosse capaz de fazê-lo, teria dado um chute no próprio traseiro. Podia até   tê-la pedido em casamento, mas não se dera ao trabalho de dizer para Fin como ela era importante para ele, o quanto a amava e como pre­cisava mais dela do que o próprio ar que respirava.

Puxando-a para perto de si, e abraçando-a com for­ça, ele lhe cobriu a boca com a sua e lhe deu um beijo no qual prometia uma vida repleta de tudo o que ela mais desejava.

— Peço que me desculpe, meu amor. Eu disse que não era muito bom nesse tipo de coisa. — Usando o indicador para lhe inclinar para cima o queixo até que seus olhares se encontrassem, ele sorriu. — Desde o instante em que a vi pela primeira vez, eu a amo mais do que você jamais poderia imaginar.

— Ah, Travis, eu também amo você. Amo tanto você. — Passando os braços ao redor da cintura dele, ela encostou a cabeça no peito do homem. — Pensei que quisesse apenas o bebê.

Ele beijou o sedoso cabelo ruivo.

— Quero que jamais tenha qualquer duvida de que a amo e a desejo. Você é a dona de meu coração, Finola Elliot. Esse bebê é uma extensão deste amor. — Inclinando a cabeça para baixo, ele sorriu. — Embora eu não a mereça, será que me concederá a honra de ser minha esposa?

—Assim fica bem melhor, vaqueiro. — Ela lhe ofe­receu um sorriso tímido. — Sim, eu serei sua esposa.

Ele se sentiu o homem mais afortunado na face da Terra.

— Prometo que passarei o resto de minha vida fa­zendo de tudo para que não se arrependa desta deci­são, meu amor. Mas tem certeza de que quer mesmo morar aqui no rancho? E quanto à sua carreira? E o seu apartamento em Nova York? Será que eventual­mente não acabará sentindo falta deles?

— Não. — Ela acariciou o queixo dele com a mão macia e o fitou com tanto amor que Travis chegou a ficar sem fôlego. — Quando era criança, o sonho de minha vida era ter um marido e uma família. Mas, de­pois que me tiraram Jessie, transformei a Charisma no meu bebê. Me dediquei por completo a ela e a vi crescer. Mas está na hora de soltar o meu "bebê" no mundo. Eu a criei para ser uma presença marcante no meio da moda. Mas, agora, está na hora de eu dar es­paço para que outra pessoa cuide dela e a oriente en­quanto me dedico ao meu primeiro sonho.

— Não sentirá falta de Nova York? — indagou ele, ainda incapaz de acreditar que ela quisesse abrir mão da vida que conhecia para se casar com ele e criar o filho dos dois sob o céu azul do Colorado.

Ela sacudiu a cabeça.

— Meu lugar é aqui, ao seu lado, neste lindo ran­cho. — O sorriso dela o deixou com as pernas tre­mulas. — Quero criar nossos filhos aqui neste lugar maravilhoso. Quero fazer amor com você todas as noites, naquela enorme cama lá em cima. E quero que se sente ao meu lado no balanço da varanda da frente para olhar os nossos netos brincando no pátio.

Ele estava louco para lhe dizer que também queria tudo isso, mas a emoção que lhe preenchia o peito era tanta que ele se viu incapaz de pronunciar as palavras. Em vez disso, resolveu mostrar para Fin o que sentia ao lhe cobrir os lábios com os seus e beijá-la com todo o sentimento que não conseguira transformar em palavras.

Quando, por fim, ergueu a cabeça, ele sorriu.

— Quem será que seu pai vai indicar para o cargo de editor-chefe da Charisma?

— Não sei bem ao certo. — Ela sorriu. — Mas é melhor ele tomar uma decisão logo, porque, tirando algumas visitas ocasionais para ver como estão Jessie, Cade e o resto da família, eu não vou mais voltar.

— Como você acha que seu pai vai receber a notí­cia?

Fin mordiscou o lábio inferior ao pensar a respei­to do pai. Ela se ressentira dele durante todos esses anos, mas na verdade só se desgastara à toa. Seu ressentimento não lhe devolvera seu bebê. Só o tempo fora capaz de fazer isso. E, para ser totalmente sin­cera consigo mesma, teria de admitir que não haveria encontrado o amor de sua vida e não teria tido uma segunda chance de ser mãe se Patrick não houvesse insistido que ela abrisse mão de Jessie para que Travis e a esposa a adotassem.

— Por que não liga para ele? — sugeriu Travis, como se houvesse lido os pensamentos dela.

Fin suspirou.

— Não sei bem o que dizer.

— Pode começar dizendo "alô". — Ele a levou até o telefone. — A partir daí, vamos ver o que acontece.

Ao discar o número dos pais, na Tides, Fin viu Tra­vis desaparecer para dentro da cozinha, e percebeu que ele estava tentando lhe conceder a privacidade de que achava que ela precisava para a conversa difícil que teria ao telefone. Ela o amava por demonstrar tan­ta consideração, mas, na verdade, ele não precisava ter se dado ao trabalho. Fin tinha toda a intenção de assegurar que não houvesse segredos entre os dois.

Felizmente, em lugar da empregada, a mãe atendeu o telefone após apenas dois toques.

— Oi, mãe.

— Finny, é tão bom escutar a sua voz.

O som do sotaque irlandês da mãe trouxe um sor­riso aos lábios de Fin. Maeve sempre fora o cimento que mantinha o clã dos Elliots unido apesar de todos os problemas.

— Também é bom escutar a sua voz. — Depois de conversarem brevemente sobre amenidades, Fin per­guntou: — Patrick já chegou do trabalho?

— Já, minha querida. Ele chegou da cidade há cerca de uma hora.

Fin fechou os olhos, se esforçando para reunir toda a coragem de que dispunha.

— Será que eu poderia dar uma palavrinha com ele, por favor?

Quando a mão passou o telefone para Patrick, sua voz retumbante preencheu-lhe os ouvidos.

— Olá, Finola.

Respirando fundo, ela se forçou a mencionar o as­sunto que havia vinte anos representava um obstáculo intransponível no relacionamento dos dois.

— Quero que me conte a verdade, Patrick. Alguma vez se arrependeu de ter me forçado a abrir mão de Jessie?

A respiração ruidosa do pai foi o único som que ela escutou por longos e tensos segundos. Quando, por fim, ele falou, havia uma aspereza na voz dele que Fin jamais escutara.

— Na época, pensei que estava fazendo o melhor para você, Finola. Mas, olhando para trás, é possível que essa tenha sido a pior decisão que já tomei na vida.

A aceitação de Patrick de que cometera um erro era a última coisa que Fin esperava escutar.

— Você nunca me disse isso.

Houve uma breve pausa antes que ele prosseguisse.

— Nunca soube como lhe dizer o quanto eu lamen­tava ter dado mais importância ao orgulho e à minha preocupação com as aparências sociais do que à sua felicidade.

— Para ser sincera, acho que jamais lhe dei a chan­ce de fazer isso — disse Fin, admitindo sua parcela de culpa no distanciamento entre os dois.

— Eu... — Ele se interrompeu para pigarrear. — Eu fico feliz que finalmente tenhamos conversado sobre isso, mocinha.

O uso do apelido carinhoso pelo qual ele costumava chamá-la quando não passava de uma menininha fez com que as lágrimas se acumulassem nos olhos verdes de Fin.

— Eu também, papai.

— Eu... amo você, Fin. Será que, algum dia, você poderá me perdoar?

O nó na voz do pai fez com que as lágrimas rolas­sem pelas faces de Fin.

— É claro que perdoo você, papai.

Seguiu-se uma prolongada pausa, como se ambos precisassem de um tempo para se acostumar com a idéia de que, enfim, haviam feito as pazes com o passado.

— Vou me casar com o pai adotivo de Jessie — Fin anunciou, rompendo o silêncio.

— Ele a faz feliz, minha filha?

A voz de Patrick exibia uma preocupação paternal que ela estava certa de jamais ter escutado.

— Faz, papai. Travis me faz muito feliz.

— Fico feliz que o tenha encontrado. Ele me pa­rece ser um homem bom e trabalhador. E ele fez um trabalho maravilhoso ao criar Jessica. — Seu pai a surpreendeu mais uma vez ao acrescentar: — Também acho maravilhoso que em breve teremos mais um netinho na família.

— Você não tem idéia do quanto escutar isso signi­fica para mim, papai — disse ela, com toda a sinceri­dade.

— E como você vai conciliar o trabalho com o novo bebê? — indagou Patrick, fornecendo a Fin a oportu­nidade perfeita para abordar o segundo motivo pelo qual ligara.

— Não vou nem tentar. — Ela inspirou fundo, se preparando para encerrar a própria carreira e se des­pedir de uma vez por todas da presidência da Editora Elliot. — A partir deste exato instante, não sou mais a editora-chefe da Charisma.

— Tem certeza de que é isso mesmo que quer? Pelo seu tom de voz, Fin percebeu que o pai já sabia qual seria a resposta.

— Tenho, papai. Quero para mim o que mamãe sempre teve: tempo para se dedicar aos filhos.

— Não tenho como argumentar contra isso, minha filha.

— Tem só mais uma coisa, papai.

— O quê?

— Acho que Cade McMann é um excelente candi­dato para me substituir no cargo. Ele conhece a revista como ninguém, e seus instintos são fantásticos. Acho que pode confiar nele e em suas decisões para manter a Charisma no rumo certo.

— E, além de tudo, ele agora faz parte da família — disse Patrick, em tom pensativo.

Depois de dizer novamente para os pais que os ama­va e que os veria na festa de Ano-Novo que estavam planejando oferecer na Tides, ela desligou o telefone e foi procurar Travis. Sentia-se mais em paz do que em qualquer outra ocasião em 23 anos, e, finalmente, estava pronta para dar início ao resto de sua vida.

 

— Você está simplesmente linda, Fin. Sorrindo para a filha, Finola perguntou:

— Seu pai já está pronto?

— Acho que ele vai cavar um buraco no chão de tanto andar de um lado para o outro — disse Jessie, rindo, enquanto terminava de fechar os pequenos bo­tões nas costas do vestido de noiva de Fin. — Tanto Cade quanto Mac já ameaçaram amarrá-lo no lugar, e Spud já se ofereceu para ir buscar a corda.

Fin riu.

— Dois dias atrás ele me perguntou se não podería­mos simplesmente fugir e casar escondidos.

Os olhos de Jessie se encheram de lágrimas quando ela assentiu.

— Papai a ama tanto... Todos nós amamos.

— E eu amo todos vocês. — Fin sorriu encabula­da para a filha. — E lá vamos nós de novo. Se não pararmos de chorar vamos estragar toda a nossa maquiagem. Enxugando os olhos com um lenço, Jessie sorriu.

— É que eu estou tão feliz por vocês dois! — Fin abraçou a filha.

— E eu estou feliz por todos nós. Tenho uma filha linda, um genro maravilhoso, e vou me casar com o homem que eu amo.

— Está na hora, tia Finny.

Erguendo a cabeça, Fin sorriu para a sobrinha. O casamento com Mac Rigga definitivamente havia sido bom para Bridget. Ela vivia radiante e havia um brilho em seus olhos que não estava lá antes de ela conhecer o xerife alto e de cabelos escuros do condado de Win­chester.

— Nós já vamos, Bridget — disse Jessie, abraçan­do Fin mais uma vez. — Vamos lá ter piedade de pa­pai antes que ele tenha que mandar refazer o chão da sala.

Quando Fin desceu as escadas da casa principal do Silver Moon Ranch atrás das duas jovens, seu coração parou de bater por um instante. Avistara Travis, de pé todo empertigado, usando o meio-fraque que usara para o casamento de Jessie e Cade. Quando lhe perguntara o que ele ia usar para o casamento deles, o rancheiro apenas sorrira e dissera para Fin não se preocupar.

Quando ele foi ao encontro dela no pé da escada, ela levou a mão ao belo rosto.

— Você havia me dito que o meio-fraque ficaria pendurado no armário para sempre.

Ele sorriu.

—Você se lembra do que me disse quando as crian­ças se casaram?

— Eu disse que você estava lindo e... — seu rosto se enrubesceu e Fin sorriu ao se dar conta do motivo de Travis estar usando o meio-fraque — incrível.

A risada baixinha dele fez seu corpo todo ser avas­salado por ondas de desejo.

— Isso mesmo. E como a médica lhe deu alta ontem...

— Você fez isso para me impressionar? — pergun­tou Fin, gargalhando com deleite.

— Meu amor, eu pretendo impressionar a nós dois hoje à noite, quando estivermos sozinhos. — A pro­messa daqueles olhos azuis a fez formigar dos pés a cabeça. — Mas, neste exato momento, o que quero fazer é torná-la minha.

Ela sorriu para o homem que amava mais do que a própria vida.

— Eu sou sua, Travis. Agora e para todo o sempre. Jamais duvide disso.

— E eu sou seu, minha querida. — Ele a beijou com tanta ternura que Fin chegou a pensar que fosse se derreter ali mesmo. Quando ergueu a cabeça, Travis lhe ofereceu o braço. — Agora, vamos caminhar até a lareira para que Mac possa tornar tudo oficial.

E, à medida que faziam os votos que os tornariam marido e mulher, Fin se viu aguardando ansiosamente o fantástico futuro recheado de amor e felicidade sob o céu azul do Colorado, que se estendia diante deles.

 

                                                                                Kathie DeNosky 

 

 

                      

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