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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


UMA PITADA DE RAPÉ / Qorpo Santo
UMA PITADA DE RAPÉ / Qorpo Santo

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                   

 

 

Qorpo-Santo

 

 

 

  

COMÉDIA EM TRÊS ATOS ( INCOMPLETA )

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ATO I Mário;  uma filha.
 
CENA I
 
MÁRIO (velho estúrdio, batendo em uma formidável caixa)  É do mais fino que encontrei na Praça do Mercado! (Sorvendo) Oh! isto é mais doce que o pão do Céu! Mais puro que a mais pura virgem! Mais inocente que a mais nova flor! Quanto ao cheiro ou aroma... ah (sorvendo outra) é mais aromático que quanto espiritoflor, sabonete, óleo e essência há! Ah! se os fumadores pudessem apreciar, como eu, os prazeres que gozo (sorvendo outra) ao encher estas ventas deste macio pó! Se pudessem conhecer a frescura que sinto em meu cérebro; a abundância que traz de novas e sublimes ideias à minha imaginação; com que dor de coração não gastariam eles um charuto, ainda dos melhores havanas, em vez de uma econômica pitada de rapé! 
 
UMA FILHA (entrando)  Meu pai! então vai hoje à missa!? 
 
MÁRIO  Ora, menina, isto de ir à missa é cousa só própria de velhas, que já estão próximas a ir à cova! Como sabes, eu ainda sou moço! (Arrastando um pé) Apenas este diabo desta perna algumas vezes me incomoda, de modo que me custa andar. 
 
A FILHA Pois está hoje lhe incomodando!? Se não estivesse, eu o convidava a fazermos um passeio agora. 
 MÁRIO Sim! sim! (Esfregando a perna, o nariz e os olhos) vocês o que querem (sentando-se) é bailes, passeios, visitas, festas, enfeites, alfinetes, e não sei que mais! Entretanto que eu... já não gosto dessas cousas. Gosto mais do meu descanso; da tua Mãe; e das minhas apreciabilíssimas pitadas! 
 
A FILHA Não duvido que tudo isso seja assim; mas fique certo que se as moças gostam de divertir-se; e os velhos de se meterem cm casa a tomarem pitadas; é isso devido à pouco idade e vontade própria destas, ou de uma natureza, de um vigor, atividade e esforço incalculáveis; bem como aos velhos, ao estado decadente de sua natureza, isto é, de seu físico; ao cansaço de longos anos de trabalhos; e ao aborrecimento do mundo para o qual se envelhece e aborrece, à proporção que a gente vai envelhecendo e aborrecendose de si própria!
 
MÁRIO (levantando-se e abraçando a filha)  És a minha primogênita; não há remédio senão fazer-te a vontade! Vamos lá! Mas (olhando para as calças) esta calça está cheia de nódoas! Vai-me buscar outra (tocando-lhe no ombro).
 
A FILHA Pronto, papai! Já vou! (Dá três ou quatro pulos, entra em um quarto e traz outra calça) Aqui está, papai; aqui está; esta está muito boa; não tem um fio de mais; nem um botão de menos. 
 
MÁRIO  (pagando)  Ah! isto sim; parece calça de moço. (Cheira e espirra) Botaste aqui espirradeira, menina? 
 
A FILHA (rindo-se)  Não, meu pai: apenas orvalhei-a com um pouco de espírito de cravo, de que costumo servir-me, quando vou aos bailes, ou à missa. 
 
MÁRIO (despindo-se com alguma dificuldade a que tinha vestido, e fazendo caretas; pega a outra e veste)  Ah! isto sim. Quem dirá que sou hoje um velho. (Dando um passeio com muita firmeza nas pernas) Vejam lá a mudança que faz vestido novo em um corpo velho. É o mesmo que o calçamento de ferro ou de aço por bom ferreiro, em qualquer instrumento já quase inservível. Mas (olhando para o paletó ou sobrecasaca), agora é que eu reparo, estou de paletó, e isto é traste impróprio para se ir à casa de Deus, ou dos moços e das moças, como muita gente chama (para a filha) sabes que mais? (Afagando-a) vai, vai ver a casaca sim; sim, minha queridinha, meu anjinho, minha beldade! 
 
A FILHA Pois não, papai. Eu vou, e vou já! O que quero é dar-lhe gosto em tudo, para que o senhor. Também... digo? (volta-se para ele) não responda? Digo, digo. Para que o papai também me dê o prazer de consentir que eu case com o moço que eu quiser! (Safa-se aos pulinhos) 
 
MÁRIO Ah, brejeira! Vai, vai, anda, que eu hei de fazer-te a vontade! São muito atilados estes anjinhos! Já se sabe — quando afagam muito, querem alguma graça do velho. E o que é verdade é que sempre o conseguem! Vamos gozando as suas amabilidades até que... ou enquanto algum velhaco por bem ou por... 
 
--- Nota:  No Livro 4 da "Enciclopédia, obra em que foi publicada originalmente a peça, o texto ocupa apenas uma página, sem qualquer justificativa à interrupção.

 

 

                                                                  Qorpo-Santo

 

 

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