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Planeta Criança



Poesia & Contos Infantis

 

 

 


UMA VIDA EXTRAORDINÁRIA / Juliana Dantas
UMA VIDA EXTRAORDINÁRIA / Juliana Dantas

                                                                                                                                                   

                                                                                                                                                  

 

Biblio VT

 

 

 

 

Quem nunca leu nos romances que, ao ser envolvida pela sublime sensação de um beijo de amor, a pessoa apaixonada deixa de sentir o chão sob seus pés?
A famosa frase “você me tira o chão” passa pela minha mente agora, enquanto sinto o gosto de Connor em minha língua. Embora seja uma verdade absoluta, Connor realmente não só me tira o chão como o ar e outros clichês românticos do tipo. Não é o amor que me impede de sentir o chão sob meus pés neste momento e sim o fato de estarmos nos beijando há horas, escondidos no quintal, com a neve caindo sobre nós e se acumulando em nossos pés agora congelados. Então, a verdade é que eu já não estou sentindo mais meus pés, isso sim! Este pensamento atravessa minha mente, me divertindo e fazendo com que a névoa de desejo e contentamento que mantinha meus braços presos a nuca de Connor e meus lábios submissos recebendo seus beijos se dissolvam lentamente, subjugados pelo frio enregelante.
Porém, era difícil abandonar aquele idílio, quando tínhamos combinado que levaríamos nosso relacionamento devagar perto das crianças, que, certamente, já deveriam estar se perguntando porque estávamos demorando tanto aqui fora.
Pensar nas crianças é o que faz meu ânimo esfriar de vez e descolo meus lábios dos dele com um suspiro, adorando quando ele solta um gemido de protesto enquanto seus braços me prendem ainda com mais força contra a árvore.

 


 


— Acho melhor entrarmos — murmuro contra sua boca que solta uma respiração quente dentro da minha.

— Por quê? — privados dos meus, seus lábios agora deslizam pelo meu rosto frio.

— As crianças devem estar perguntando onde nos metemos.

Ele ri dentro do meu ouvido, me fazendo arrepiar. E não é de frio.

— É justamente por isso que não quero te largar — sua voz é cheia de lamento e não posso deixar de me lamentar também.

Porém, depois de tudo o que eles passaram nos últimos meses, a confusão quando descobriram que troquei de lugar com a mãe deles que agora não existia mais, ter que lidar com um relacionamento entre mim e Connor seria demais.

— Eu sei — infiltro os dedos em seus cabelos, puxando sua boca para a minha de novo, e o beijo com vontade uma última vez antes de soltá-lo, empurrando-o gentilmente e ele me deixa afastar alguns centímetros. O frio, agora que ele não está mais grudado em mim é mais cruel. — Além disso, meus pés congelaram. Talvez tenha uma namorada perneta.

Ele ri, segurando minhas mãos.

— Namorada?

Eu mordo os lábios, corando.

— Bem, acho que já podemos pular algumas formalidades devido as circunstâncias. Quer namorar comigo, Connor Carter?

— E eu aqui cogitando um encontro...

Dou de ombros.

— Acho que sou bem fácil.

— Não vou reclamar.

— E então, não vai responder? Vai ser difícil? — Solto suas mãos para abraçar sua cintura, colando nele de novo e percebo uma sombra em sua expressão de repente.

— O que foi?

— Acho que... — Ele toca meu rosto — eu nem sei mais como se faz...

Um sorriso malicioso brinca em meus lábios.

— Acho que sabe muito bem.

— Não isso... — ele ri — Eu quero dizer... ter um relacionamento saudável.

Meu coração se aperta.

— Eu não quero... estragar tudo.

— Não vai acontecer.

— Como sabe?

— Eu não vou deixar. — Coloco fervor em minha voz, porque é o que eu sinto. Eu tenho fé em Connor. Fé em nós. Preciso ter, depois de tudo.

A vida era preciosa demais para viver com medo de errar.

Por outro lado, entendia Connor e seus receios. Ele passou dez anos em um relacionamento destrutivo com Melanie. Depois se apaixonou por mim, acreditando que eu fosse ela. Só o fato de ele ter me perdoado e querer ter um relacionamento comigo, já era incrível.

E eu sempre esperei alguém como ele. Que transformasse minha vida. Que quisesse construir um futuro comigo. E cheguei a acreditar que algo como Connor e eu juntos, nunca seria possível. Primeiro porque enquanto nos apaixonávamos estávamos no meio de uma farsa, depois perdemos Melanie e pensei que Connor jamais me perdoaria por enganá-lo, até mesmo duvidei da possibilidade de que ele pudesse me desassociar de Melanie. Voltei àquela casa, três meses após a morte da minha irmã, ansiando apenas poder ver meus sobrinhos, a quem eu amava como filhos. E talvez conseguir o perdão de Connor. E no fim, descobrir que ele já sabia de tudo, que Melanie havia estado na cidade e contado toda a verdade, que nos últimos dias que passei na casa Connor já sabia que eu não era Melanie... que ele amou a mim, Melissa... era extraordinário. E eu ainda mal podia acreditar que íamos ficar juntos. Porém, eu devia intuir que o caminho que tínhamos pela frente não seria fácil. Muito pelo contrário.

Sim, eu entendia Connor e seus medos. E também sentia um pouquinho deles. Só não ia desperdiçar a chance que o destino nos tinha dado de ser feliz.

— Papai!

A voz de Olívia chega até nós, vinda da casa e nós nos separamos rapidamente.

— Sim, vamos entrar — Connor diz e seguimos para casa. Tive vontade de segurar sua mão, mas me contive. Tinha que me lembrar que para as crianças eu ainda era apenas a tia Mel.

Entramos pela porta da cozinha e Olívia segurava Mandy, que chorava.

— Ei, o que está acontecendo? — Connor indaga se aproximando e Olivia solta Mandy, que se enrosca em Connor.

— Olivia não me deixou sair, papai!

— Eu disse a ela que estava frio — Olivia se justifica.

— Olívia tem razão, querida, está muito frio para sair.

— Mas a mamãe estava lá! — Mandy choraminga.

— Sua irmã está certa, querida, não deve sair está muito frio. — Eu endosso carinhosamente pegando-a no colo.

— Eu queria ver se estava aqui. Fiquei com medo que tivesse ido embora de novo.

Sinto meu coração se apertar e a aconchego em meus braços.

— Eu não vou embora, está bem?

— Estou com fome — resmunga, aparentemente satisfeita com minha resposta. Porém, eu não estou e também não ouso olhar para Connor.

Embora tenha prometido para Mandy, eu moro em outra cidade. A casa de Connor não é a minha casa. E, de repente, eu me lembro de que em breve ali não será mais a casa deles também, Connor vai se mudar de cidade para fazer faculdade. E eu havia dito mais cedo que estava disposta a ficar com ele onde quer que fosse, mas se combinamos ir devagar, quando é que seria possível?

— Ok, vamos comer — Connor se adianta até a geladeira e de repente fico sem saber o que fazer.

Olívia ainda está parada no mesmo lugar olhando de mim para Connor e percebo que tem uma interrogação em seu olhar. Olívia tem dez anos e já entende muitas coisas, com certeza está se perguntando qual é o meu papel naquela casa agora.

Antes que eu consiga pensar no que fazer, um choro rompe o ar vindo da sala e eu me lembro de Anthony.

— Olívia — Connor alerta a menina para cuidar do irmão e eu imagino que essa deve ser a rotina por ali nos últimos tempos, já que só havia ela para ajudar Connor. Coloco Mandy no chão e me adianto.

— Deixe que eu cuido dele — olho para Olívia. — Por que não leva Mandy para tomar um banho? Assim, as duas estarão prontas para o jantar.

— Está bem — ela segura a mão da irmã e vejo um certo alívio em sua expressão, antes de se afastar.

Precisávamos ter cuidado com Olivia. De todas as crianças, ela foi a que mais sofreu com toda aquela história. Foi a que viveu com Melanie e Connor enquanto o casamento deles descia ladeira abaixo e teve que crescer antes da hora, carente do afeto materno que Melanie nunca foi capaz de dar. E depois ainda teve a confusão com a troca de identidade, quando eu estive ali me passando por Melanie. Devolvendo a ela a confiança na mãe, lhe dando toda a atenção e carinho possível, para que ela se sentisse amada e cuidada, para no fim ela descobrir que eu não era sua mãe, que a estava enganando. Isso tudo ainda tendo que lidar com a morte de Melanie.

Vou para a sala e Anthony está esperneando no cercadinho.

— Calma, meu amor, vou cuidar de você! — Eu o pego no colo.

Ele me encara, enquanto eu o levo para o quarto para trocá-lo. Seus olhos me sondam curiosos e me pergunto se havia possibilidade de ele ainda se lembrar de mim.

— Sinto muito por te deixado — murmuro sentindo uma dor profunda no peito, pensando naqueles três meses que passei longe. Não deve ter sito fácil para Connor lidar com as três crianças sozinho, ainda mais depois da morte de Melanie e minha traição.

Anthony balbucia algo e eu sorrio, me ocupando em trocá-lo. Ele tinha dentinhos agora e parecia um tanto rebelde, dificultando um pouco meu trabalho.

— Você está querendo ficar independente, não é? — Faço cócegas em sua barriga o que o faz rir. Meu coração se aquece de amor. Abraço o corpinho quente, me enternecendo com sua proximidade. Senti tanta falta daquele bebê, que agora eu nem sabia como é que tinha vivido tanto tempo afastada.

— Você me ajuda a me vestir, mamãe? — Mandy surge no quarto enrolada em uma toalha e deixo Anthony no berço para ajudá-la.

— Claro que sim, querida!

Quando terminamos, pego Anthony e voltamos para a sala. Ligo a televisão e deixo Anthony no cercado com seus brinquedos e Mandy distraída com um desenho e retorno para a cozinha. Por um momento, apenas observo Connor ocupado com algo no fogo.

— Vai ficar aí me vigiando? — Pergunta e eu sorrio.

— É uma boa visão. Quer ajuda? — Indago ainda sem saber como me encaixar ali de novo. Sem saber meus limites. Antes eu estava ali como Melanie, agora eu era apenas Melissa. A tia das crianças. E a namorada de Connor.

Ainda era estranho pensar nisso. Estranho, porém delicioso.

— Pode colocar a mesa — Connor responde — já estou terminando.

Eu pego os pratos no armário e estou começando a por a mesa, quando Olivia surge. Ela para, hesitando. Como se também achasse muito estranho minha presença ali de novo.

— Quer me ajudar a por a mesa, Olívia? — arrisco, sorrindo e ela me lança um sorriso tímido, vindo me ajudar.

Fico surpresa quando Connor busca Anthony e o ajeita em um cadeirão e se ocupa em dar-lhe papinha.

— Nossa, ele está comendo!

— Sim, e ele também engatinha e até arrisca alguns passos incertos, acho que estará andando em menos de um mês.

— Percebi que ele também balbucia várias coisas, existe alguma palavra que ele já fala?

— Papa — Anthony grita e eu sorrio.

— Ele está tentando dizer papai — Olivia diz.

Sorrio tristemente. Gostaria de ter estado ali vendo Anthony crescer daquele jeito.

Connor termina de dar comida a ele e nós sentamos para jantar. Mandy insiste em sentar no meu colo e não a impeço. Adoro tê-la por perto novamente.

E por um momento é como antes, como quando morei com eles, fui a mãe daquelas crianças e a esposa daquele homem. No entanto, embora pareça tão igual, tudo é diferente atualmente. Eu já não tenho que me passar por quem não sou.

Olho em volta da mesa, aquelas pessoas tão queridas das quais senti tanta falta naqueles três meses afastada. E sinto uma gratidão incrível por este momento ser possível.

Eu podia facilmente me acostumar com aquilo de novo.

— Mãe — volto a atenção para a mesa quando Olivia me chama e ela cora — quer dizer... tia Mel — corrige.

Eu hesito também.

Mandy ainda me chamava de mãe, mas era porque era pequena demais para entender. Agora ela sabia que eu não era aquela mãe que conviveu com ela antes, porém, por causa da minha aparência tão igual a de Melanie, ela concluiu que eu era uma mãe também. Obviamente, não sei como seria quando crescesse o suficiente para entender melhor o conceito, mas Mandy era uma criaturinha tão amorosa, que acreditava que nunca seria um problema para ela. Em seu coração eu era a mamãe. Era a pessoa que ela amava como tal. E eu não me importava nem um pouco, porque no meu coração ela era minha filha também, como Olivia e Anthony. Porém, a situação de Olivia era um pouco mais complicada e eu tinha medo. Por isso, arrisco a lançar um olhar rápido para Connor que sorri me encorajando e entendo o que ele quer dizer. Está dizendo para eu seguir meu coração.

E é o que eu faço.

— Pode me chamar de mãe se quiser Olivia — respondo.

— Ela é a mamãe também, Olivia! — Mandy a repreende e nós rimos.

Olivia, embora também tenha rido, ainda não parecia à vontade e decido não forçar.

— Ou pode me chamar de Mel, ou tia Mel. Como você quiser.

Anthony começa a chorar e Connor se levanta o tirando do carrinho.

— Vou lhe dar um banho e colocá-lo para dormir.

A palavra dormir me deixa um tanto apreensiva. Sim, daqui a pouco as crianças iriam dormir e o que eu faria? Voltaria para a casa do meu pai?

Era o certo a fazer, porém...

— Estou com sono também, mamãe. — Mandy boceja e eu a levo para o quarto, a ajudando a vestir o pijama e a colocando na cama.

— Promete que não vai embora, mamãe? — ela pergunta com os olhinhos sonolentos.

Será que eu podia prometer?

— Olha Mandy, eu prometo que estarei aqui amanhã. E por alguns dias, talvez eu precise ir para minha casa. Porém, eu prometo que sempre voltarei.

— Gostava quando você morava aqui.

Ah Mandy, eu também gostava.

Depois que Mandy pega no sono vou para o quarto de Olivia que está se preparando para dormir também.

— Posso entrar? — peço e ela sacode a cabeça afirmativamente.

Sento-me ao seu lado na cama.

— Ouvi você conversando com a Mandy — ela diz.

— E...?

— Disse que vai voltar para sua casa.

— É onde eu moro, Olivia — respondo com cuidado.

Não quero fazer aquelas crianças sofrerem, mas não quero prometer coisas que não sei se poderei cumprir. Não quero mais mentir para elas. Já menti demais e agora preciso que elas aprendam a confiar em mim.

— Eu pensei... você e o papai... vocês estavam se beijando como antes.

Ops. É minha vez de ficar vermelha.

— Então você viu.

— Eu não estava espiando nem nada, só fiquei preocupada que estavam demorando e a Mandy queria sair...

Eu fico em silêncio por um momento, sem saber o que dizer. Lá se iam nossos planos de poupar as crianças.

Respiro fundo encarando-a.

— Olivia, você já é grandinha o suficiente para entender que as coisas não são tão fáceis ou simples em nosso caso, não é?

— Eu sei... quer dizer... a mamãe morreu e ela era a esposa do papai, mas ele me disse... — ela hesita.

— O que ele te disse? — Encorajo-a.

— Ele me disse que gostava de você, como namorada sabe?

— Ele disse? — Não consigo deixar de corar ainda mais. Então Connor tinha conversado com Olivia sobre mim? — E o que você sabe sobre isso?

— Eu sei que as pessoas se apaixonam como nos contos de fadas, namoram e se casam.

— Sim, nos contos de fadas é assim. Mas na vida real, às vezes as coisas não acabam tão bem.

— Com minha mãe e meu pai foi assim, eu sei que eles não se amavam como nos contos de fadas.

Eu não sei o que dizer. Sinto um grande pesar por Olivia ter sido testemunha do relacionamento horrível de Connor e Melanie.

— Mas você ama meu pai, não ama? — ela pergunta.

— Sim, amo muito.

— E não quer namorar com ele?

— Você gostaria?

— Meu pai era feliz quando estava aqui, quando ele achava que você era a mamãe, no começo não, depois... quando você estava tão diferente, ele gostava de você. E ficou triste quando foi embora.

— Ele precisava de um tempo. Todos nós precisávamos.

— Hoje... quando vi vocês juntos, achei... achei que ia ficar com a gente. Que agora seria como nos contos de fadas.

Eu esboço um sorriso com sua lógica infantil.

— Você pode guardar um segredo?

— Sim.

— Eu pedi seu pai para namorar comigo.

Ela sorriu de volta.

— Então... você vai ficar...

— Não é tão simples assim.

— É, tem sua casa em Nova York.

— Pois é. Eu prometo querida, desta vez, não vou embora para sempre. Pode ser que eu precise, por um tempo, voltar para Nova York, e vocês vão se mudar em breve também... Porém eu acredito que um dia ficaremos todos juntos novamente.

— E você vai voltar a morar com a gente?

— Tudo a seu tempo, ok?

Ela boceja e eu beijo sua testa.

— Agora vá dormir.

— Você vai... embora? Para a casa do vovô? É onde está hospedada, não é?

Sim, essa era uma boa pergunta.

— Eu prometo que amanhã estarei aqui quando acordar, pode ser?

Ela sorri satisfeita e ajeito as cobertas em seu corpinho e apago a luz, saindo do quarto.

Encontro Connor saindo do quarto de Anthony.

Ele segura minha mão e me leva para a sala.

Eu me sinto um tanto tímida subitamente.

— Acho que talvez eu devesse ir embora, está ficando tarde — digo.

— Está nevando.

— Estou vendo.

— Você não vai voltar para a casa de David, é perigoso.

— É?

— Pode dormir aqui.

— Não estou vendo uma cama no sofá.

Ele segura minha mão e seguimos para o quarto, onde me puxa para a cama, me mantendo muito próxima.

— É estranho estar aqui. Nesta cama. Não sendo...

— Não vamos falar do que passou. Somos só nos dois agora Mel... Melissa.

— Achei que iríamos devagar.

— Olívia disse que me viu te beijando.

— Ela me contou também.

— Eu perguntei o que ela achava e ela falou que ficou feliz, porque significava que você ia ficar.

— E o que disse a ela? — Sinto meu coração dar um pulo no peito.

— Que eu iria pedir para você ficar.

— Não está preocupado com as crianças, com... tudo?

— Sinto que já perdi muito tempo. Não quero mais. Eu quero ser aquele homem que luta pelo o que deseja. Eu não posso mais ver você indo embora, Mel.

— Nem eu quero ir para onde você não está.

— Então acho que é isso. — Ele infiltra os dedos nos meus cabelos e me puxa até que alcance meus lábios com um beijo e derreto completamente. Mesmo assim, não consigo relaxar e Connor percebe, parando o beijo e descansando o olhar em meu rosto apreensivo.

— O que foi?

— Acho que devo mesmo ir embora.

Ele franze a testa.

— Qual o problema?

— Estar aqui... Não sendo a Melanie é... não sei explicar, ainda é esquisito para mim.

— Você continua achando que eu a quero aqui porque se parece com a Melanie — não é uma pergunta.

— Não é isso...

— Então o que é?

— Não quero estragar tudo.

Ele ri, tocando meu rosto, porque foi a mesma coisa que ele disse mais cedo.

— Não tem como acontecer.

— Eu só quero... fazer direito desta vez. Não sente o mesmo? Que merecemos?

— Eu acho que mereço um orgasmo sem ser patrocinado pela minha mão, para variar.

Eu gargalho.

— Quantos anos você tem, Connor?

— Você deveria querer o mesmo.

— Quem disse que eu tenho orgasmos patrocinados pela minha própria mão?

— Eu gosto de imaginar, não destrua minha fantasia.

— Escute, agora falando sério. A gente combinou de ir devagar e você sabe, bem lá no fundo, que é o certo a fazer. Eu quero... fazer do jeito certo dessa vez.

— Não gosto de deixá-la ir.

— Eu sempre vou voltar.

— Mesmo assim... Sinto que perdemos tanto tempo...

— Foi preciso. Agora é diferente. Não tenha medo, Connor. Temos a vida inteira pela frente. Temos o para sempre.

— Promete?

— Prometo. Não vai se livrar de mim.

— Ainda bem.

Connor insiste em me levar para casa em seu carro e eu esgoto meus argumentos de que posso dirigir perfeitamente na neve.

— É uma amostra do seu jeito mandão? — brinco quando ele dirige com cuidado pelas ruas escorregadias.

Ele me lança um olhar estranho, em vez de divertido, como eu esperava.

— Não quis ser mandão.

— Eu estava brincando.

Ele não fala nada até que para o carro em frente a casa de David.

— O que foi? — Pergunto insegura.

Às vezes eu tinha a impressão que conhecia Connor a vida inteira. Esquecia-me que na verdade eu o conheço há apenas alguns meses e que, enquanto estava em sua companhia eu era outra pessoa.

— Você ficou irritada porque eu insisti em trazê-la?

— Não.

Ele levanta a sobrancelha.

— Irritada não é a palavra. Acho fofo que tenha ficado preocupado e que queira me proteger, mas... eu podia dirigir. Só não queria que duvidasse.

— É do que eu estava falando. De não ser quem você quer...

— Connor — seguro sua mão, angustiada com sua insegurança — Olhe para mim — peço. — Você é exatamente o que eu quero. O que sempre almejei. Sempre sonhei que um dia encontraria alguém que iria me completar e me entender. Que quisesse dividir a vida comigo. E você é essa pessoa. Como pode duvidar?

— Eu passei dez anos estragando tudo, Mel. Não, não posso colocar a culpa só em Melanie. Você mesma jogou na minha cara. Eu também estava lá e não fiz nada para mudar.

— Sim, tem razão. Só que existe uma grande diferença agora — eu sorri, tocando seu rosto — Algo que não existia antes. Eu te amo. E você me ama.

Ele segura minha mão, depositando um beijo em meu pulso, me puxando para perto, e nossos lábios e encontram no meio do caminho, famintos. Deixo naquele beijo todo meu amor, tudo o que eu quero dar a Connor e tiro dele o mesmo sentimento. Ele está me dando seu amor em troca e é tudo o que importa. E de repente meus medos que fizeram com que eu o parasse antes, querendo fazer o que eu achava que era certo, parecem bobos e sem sentido. Assim como os medos dele também o eram. Então, com um gemido, pulo para seu colo, aprofundando os dedos em seus cabelos e a língua em sua boca. Desta vez é Connor quem geme, me agarrando mais forte. Ah sim. Isto era o certo!

Ele para o beijo, nós dois respirando tropegamente enquanto, rimos.

— O que foi isto?

— Preciso mesmo dizer? — Lanço meus quadris muito ansiosos contra os dele e derreto ao sentir que ele não só sabe do que estou falando como está muito disposto.

— Achei que queria ir devagar, fazer o certo e tudo mais — ele diz, enquanto sua mão já está abrindo minha blusa.

E eu me apresso em fazer o mesmo com a dele.

— Isto é o certo.

— Que bom que concordamos em algo — nós rimos e ele me solta apenas para que possamos ir para o banco de trás, as roupas pesadas de inverno sendo tiradas do caminho não sem alguma dificuldade, mas não nos importamos. Estamos juntos, nesta dificuldade boba ou em qualquer outra que surgir. Essa certeza faz com que uma paz infinita aqueça meu coração do mesmo jeito que as mãos e os lábios de Connor aquecem meu corpo.

Ah, e como eu senti falta daquele calor! Não existia nada no mundo como o toque de Connor, a língua de Connor, os gemidos de Connor. Ele era perfeito para mim, como se tivéssemos sidos moldados na mesma matéria. E, quando nos encaixamos, essa certeza fica mais explícita. Nós nos completamos como peças perdidas de um único ser. E a sensação é sublime. Connor se move dentro de mim, devagar, quase com cuidado, deixando a pressa anterior de lado, porque ele sabe, assim como eu, que não precisamos nos apressar. E o prazer é construído até se tornar grande demais para suportar e eu me agarro em seus ombros e deixo as sensações dominarem não só meu corpo, mas minha alma inteira. Este momento é único, é o começo de algo extraordinário.

 

— Quantos anos você tem? — Connor brinca, depois de um tempo, quando estamos nos vestindo antes que congelemos. — Não posso ficar em um carro com você que me ataca!

Eu solto uma gargalhada.

— Eu já te falei uma vez, é irresistível.

Ele ajuda fechar minha blusa com um sorriso presunçoso.

— É sua vez de dizer o quanto sou irresistível também!

Ele toca meu rosto e um sorriso agora um tanto pesaroso se delineia em seu rosto.

— Gostaria que tivesse sido você aqui, há tanto tempo... tanta coisa seria diferente.

Eu toco seus lábios calando-o.

— Não vamos mais pensar no que passou. O passado não pode ser mudado. O futuro sim e ele é nosso.

Ele beija minha mão.

— Mal posso esperar pelo futuro com você.

Um sorriso bobo e feliz enche meu rosto e ainda estou com ele grudado no meu rosto, quando me deito para dormir. Sozinha, porém com o cheiro de Connor impregnado em mim.

Sim, o amanhã nunca foi tão aguardado.


***


Acordo cedo na manhã seguinte, com o firme propósito de ir para a casa de Connor, afinal, além de já estar morrendo de saudade, havia prometido às crianças que estaria lá quando acordassem.

Porém, quando desço e entro na cozinha, esperando ver apenas David, me surpreendo quando uma pessoinha corre em minha direção e se agarra às minhas pernas.

— Mamãe!

— Mandy! — Eu a pego, surpresa, olhando para cima e vendo meu pai com Anthony no colo e Connor e Olívia também sentados à mesa.

— O que fazem aqui? — entro na cozinha, colocando Mandy no chão.

— Viemos te buscar para tomar café na casa da vovó — Olivia explica.

Eu olho para Connor e ele confirma com um sorriso aproximando-se e beijando levemente minha boca. Fico vermelha e olho para David, que apenas dá de ombros, com seu jeito tranquilo, o que aparentemente significa que ele não se importa que Connor me beije na boca.

— Espero que não se importe.

— Eu estava justamente indo para sua casa!

— Bem, eu tenho que ir trabalhar — David passa Anthony para meu colo e eu o aconchego em meus braços, beijando seu rostinho.

— Te esperamos no carro, vamos meninas! — Connor segue com Mandy e Olívia e eu encaro David, que parece querer me perguntar algo.

— Vai estar aqui quando eu voltar, Mel?

— Está dizendo que eu tenho hora para volta pra casa? — levanto a sobrancelha.

— Na verdade eu me surpreendi por ter dormido em casa.

— Pai!

— O quê?

— Como sabia que eu ia fazer as pazes com Connor?

— O rapaz já tinha me dito que era sua intenção.

— Oh... Então ele te contou sobre Melanie?

— Sim, contou tudo.

— Por que não me falou?

— Ele só me contou um dia antes de você chegar. Queria saber se eu ia ficar zangado se ficassem juntos.

— E você não fica?

— É assunto entre você e Connor.

— Não acha esquisito depois de tudo e ele sendo o marido da minha irmã? — expressei a David meus medos internos. Não que duvidasse que eu e Connor tínhamos que ficar juntos, só não era inocente de achar que todo mundo aceitaria naturalmente. Era uma situação no mínimo inusitada.

— As pessoas vão falar. Pode ter certeza, mas quem gosta de vocês e se importa, vai apoiá-los.

De repente penso na família de Connor. Como é que eles reagiriam? E fico um tanto apreensiva.

— Espero que tenha razão.

Encontro Connor e as crianças no carro e tento dominar minha apreensão no caminho da casa dos Carter. Ontem, eles me trataram com cordialidade, parecendo ter superado toda a farsa que eu e Melanie forjamos. Agora que estava claro que Connor e eu estávamos juntos, será que aceitariam?

— O que foi? — Ele segura minha mão quando saltamos do carro. Olivia e Mandy seguem na frente empurrando o carrinho de Anthony o que me lembra demais a primeira vez que eu estive ali, há tantos meses, quando estava tentando convencer a todos que eu era Melanie.

— Estou com medo de como sua família vai reagi ao saber que estamos juntos.

— Eles já superaram o que aconteceu, Mel.

— Eu sei, mas isso é diferente.

— Não deve ficar preocupada. Eles sabem que eu sou apaixonado por você.

— Sabem?

Ele sorri.

— Não é obvio?

— Antes eu era Melanie.

— Você sempre foi Mel. E sabe disso. Nunca tentou ser Melanie, por isso todos nos apaixonamos por você, apesar de não entendermos como Melanie podia estar tão diferente.

Ele me puxa para dentro e, como naquele domingo perdido no tempo, seus pais, Helen e William, estavam na sala de estar acompanhados do irmão dele, Sam e sua esposa Natalie. E também o melhor amigo de Connor, Adam e sua esposa Lilian.

Todos param de falar quando entramos, não sei dizer o que aquele silêncio significa, mas certamente eles viram que Connor está segurando minha mão.

— Você veio! — Lilian se adianta, com sua barriga enorme de grávida e me abraça, aproveitando para sussurrar no meu ouvido — quero todos os detalhes depois. Principalmente os românticos. Não, comece pelos sexuais!

Eu rio, me sentindo mais relaxada e é a vez de Helen se aproximar, beijando meu rosto.

— Estou feliz que esteja aqui, Mel.

— Eu também estou, Helen.

O pai de Connor, que está carregando Mandy, monopolizando sua atenção acena e sorri e, como não podia deixar de ser, Natalie está com Anthony no colo.

— Oi Mel — ela diz simplesmente. Não parece muito contente, também não está cuspindo agressões verbais, como eu sabia que ela era bem capaz de fazer. Quando cheguei ali fingindo ser Melanie, Natalie foi a primeira pessoa com quem eu bati de frente. Não ajudou o fato de eu sentir ciúme dela com as crianças e nem ela ter uma obsessão por eles, por não poder ter filhos. A obsessão havia melhorado, assim como nosso relacionamento, mas isso aconteceu quando eu era Melanie. Ela ficou muito revoltada quando descobriu a mentira e chegou a me bater na época. Porém, quando cheguei ontem, foi ela quem me convidou a entrar. No entanto, me aceitar na família como tia dos filhos de Connor era diferente de me aceitar como namorada dele.

— Mel, bem-vinda à família de novo! — Sam me cumprimenta efusivamente.

— Olá Mel — Adam usa um tom mais neutro, o que me faz lembrar de que, por ser o melhor amigo de Connor, ele era bastante protetor e eu talvez devesse esperar alguma resistência da parte dele. Porém, ele apenas parecia quieto e reservado como sempre, sem exalar rancor ou raiva. Bem, era um começo.

— E já que estão de mãos dadas devo entender que estão namorando? — Sam pergunta na lata me fazendo corar feito um pimentão.

— Sam! — Helen o repreende.

— Sim, Sam, estamos juntos — Connor responde calmamente.

— Bem, já que tiramos esse elefante da sala, podemos ir comer — Lilian diz, passando a mão na barriga proeminente — meu bebê está faminto!

Nós seguimos para a sala de jantar e Connor aperta minha mão.

— Eu falei que estava tudo bem.

Eu apenas sorri. Sim, tudo estava bem.


Depois do brunch, Lilian e Adam se despediram, pois iriam viajar para a casa dos pais dela e Lilian perguntou até quando eu ia ficar para podermos marcar de conversar e colocar as novidades em dia.

— Eu não sei, na verdade.

— Hum, não conversaram a respeito ainda?

— Nem tivemos tempo.

— Sei muito bem para o que tiveram tempo! — ela revira os olhos e eu nem me dou ao trabalho de corar. — Espero que fique um pouco mais, até eu voltar, depois do ano novo, pelo menos. Embora ache que, mesmo se for, não vai demorar a voltar.

— Não sei como vai ser e Connor vai se mudar também...

— É, fico um pouco triste por perder o convívio com Connor e as crianças, e a oportunidade de te conhecer melhor, claro. Porém fico feliz por Connor estar seguindo seu caminho. Ele merece ser feliz.

Ela me abraça e entra no carro e é a vez de Adam se aproximar.

— Estou feliz que esteja com Connor — ele diz, me surpreendendo.

— Sério?

— Sério. Connor está apaixonado por você e merece alguém que o ame também.

— Sim, eu o amo muito.

— Então é o bastante.

— Será mesmo?

— Às vezes parece que não. Mas se existe amor a gente sempre dá um jeito. — Ele me abraça e entra no carro.

Volto para a casa e Natalie está sentada na varanda com Anthony.

Eu me sento ao seu lado.

— Não pareceu muito contente por me ver com Connor — vou direto ao assunto. Era melhor assim com Natalie.

— Na verdade eu não tenho nada a ver com a vida sexual do Connor.

— Não é só sexo.

— Não foi o que quis dizer. Apenas que não estou irritada, ou algo assim, por você e Connor estarem juntos. Acho que era algo já esperado.

— Acha mesmo?

— Connor estava louco por você e você por ele.

— E vocês achavam que eu era um sacana enganando todo mundo.

— E não pode nos culpar!

— É, não posso.

— O tempo passou e o rancor também. Acho que todos nós percebemos que você não era como a Melanie. Já tínhamos percebido. E Connor te ama.

— Eu o amo.

— Eu sei.

— Então você não está brava?

— Por que acha que estou brava com alguma coisa?

— Você é meio transparente.

Ela ri.

— Na verdade, estou chateada porque vocês vão levar as crianças embora.

Ah, agora eu entendo.

— Sinto muito, Natalie.

— Eu sei que é a vida do Connor, que ele já abriu mão de muita coisa e por muito tempo... Mas não deixa de ser dolorido.

— Eu entendo.

— Então é isso — ela sorri — estou apenas chateada, vai passar. Sam me prometeu até uma viagem de segunda lua de mel para me consolar.

— Isso é legal.

— É, para os homens tudo se resolve com sexo — ela rola os olhos e nós duas rimos.

— Se quiserem ir para Nova York. Eu os receberia na minha casa.

— Sério? Acho que pode ser uma boa ideia. E economizaríamos na hospedagem.

— Está vendo? Já pode começar a planejar.

— Mas... vai ficar em Nova York? Não vai morar com Connor?

— A gente está indo devagar e não sei quão devagar será para falar a verdade.

— Pensei que, devido a circunstância, poderiam pular algumas etapas. Afinal já viveu como esposa dele e tudo.

— É diferente agora. A gente não quer... ser precipitado e tem as crianças.

— Anthony não entende nada, Mandy te ama mais que tudo e vai fica chateada se for embora de novo. E Olivia, a primeira coisa que fez quando chegou aqui foi me contar que vocês estavam namorando e ela me parecia bem animada.

— Olivia reagiu muito bem, ela é nossa maior preocupação na verdade.

— E então?

— Então que não temos motivo para pressa. A vida de Connor está mudando radicalmente e terei que me encaixar de alguma maneira nela. A gente nem teve tempo de conversar sobre vários detalhes.

— Bom, a vida é de vocês. Tenho certeza que darão um jeito em tudo. Não é Anthony? — ela brinca com o menino que sorri para ela.

— Tenho certeza que, seja aonde estivermos, você será sempre vem vinda. As crianças te adoram.

Ela esboça um sorriso triste.

E por um momento eu me sinto triste por ela também. Espero que Natalie encontre sua felicidade um dia.


Nós saímos da casa no fim da tarde e Connor diz que precisa ir ao supermercado, pois as fraldas de Anthony estão acabando.

E é lá, andando por entre as prateleiras, com Mandy dentro do carrinho e Olívia brincando de motorista que eu percebo os olhares enviesados das pessoas.

Não posso negar que me afeta.

O que eu podia esperar? Eu era a irmã gêmea de Melanie Carter, cuja existência ninguém sabia e que tomou seu lugar por quase dois meses ao lado do marido, enganando a todos. Uma farsa que só foi descoberta com a morte de Melanie em um terrível acidente de carro. E claro que todo mundo naquela cidade pequena deve ter fofocado muito sobre o assunto. E eu me sinto observada e julgada por todos.

— Ei, não ligue para eles — Connor sussurra em meu ouvido e tento lhe dar ouvidos.

— É bem difícil. Devem estar especulando o que está fazendo comigo.

— Deixe que especulem. Ou melhor — ele de repente segura meu rosto e me beija — deixe que tenham algo melhor para fofocar.

— Connor! — não consigo deixar de corar, olhando em volta. Uma senhora chega a fazer o sinal da cruz, enquanto tenho certeza que uma adolescente tirou uma foto.

— Agora eles têm certeza.

Nós pagamos, ignorando os olhares curiosos e seguimos para casa de Connor. Ele nem cogitou me levar para a casa de David e nem eu pedi.

Quando chegamos em casa já é noite e Connor pergunta se eu quero fazer o jantar ou dar banho nas crianças.

E eu gosto demais daquelas opções. Era tão... normal. Tão... família.

Me enche de contentamento.

— Eu faço a comida, pode ser?

— Acho que sua comida é mesmo melhor que a minha. — Ele pisca, levando Anthony e Mandy para o chuveiro.

— Posso te ajudar? — Olivia pergunta ansiosa e sorrio para ela.

— Claro que sim!

Olivia parece bastante satisfeita por estar comigo na cozinha e eu gosto também. Ela estava crescendo rápido, eu quase que sentia muito. Mas as crianças cresciam um dia, pelo menos Mandy e Anthony ainda tinham muito tempo pela frente.

Quando terminamos, eu encaminho Olivia para o banho antes do jantar e preparo a mamadeira de Anthony. E é o tempo de Connor retornar com ele, deixando Mandy na sala assistindo desenho.

Eu o mantenho no colo, enquanto ele mama, agora já segurando a própria mamadeira com as mãozinhas ansiosas.

— Ele está tão crescido — ainda me admiro e Connor sorri.

— Ele sentiu sua falta.

— Acha mesmo? É só um bebê.

— Todos nós sentimos.

Trocamos um sorriso e então ele fica sério.

— Você pareceu ficar incomodada demais com os olhares das pessoas no mercado.

Eu desvio o olhar.

— Como não ficar? Sabe que detesto ser o centro das atenções. Ainda mais sendo alvo de fofoca. É algo terrível e nem posso culpar as pessoas.

— As pessoas são maldosas e adoram dar palpites na vida alheia, nós sabemos a verdade e não devemos nos importar. Em algum momento eles vão parar.

— Tenho medo da forma que isso pode afetar as crianças.

— Sim tem razão, eu queria mesmo conversar algo respeito das crianças com você.

Eu o encaro, esperando, enquanto ele pega a mamadeira de Anthony vazia e a leva para a pia.

Ele está quietinho e sonolento em meu colo, brincando com meus cabelos, enquanto o embalo.

— O que você diria se eu pedisse que levasse as crianças com você para Nova York?

Eu arregalo os olhos.

— O quê?

— Apenas por um tempo, até que eu acerte tudo para nossa mudança aqui e ache uma casa em Kenmore...

— Mas... — ainda me sinto atordoada.

— Não quero mais separá-las de você, Mel. Sei que elas precisam de uma mãe. Esses três meses não foram fáceis. Inferno, a vida inteira delas não foi fácil, você sabe como Melanie era... Enfim, elas sentiram muito sua falta.

— E você acha que é certo levá-las comigo? — pergunto com cuidado, achando a possibilidade maravilhosa e assustadora ao mesmo tempo.

— Eu preciso arrumar tudo para a mudança, preciso ir para Kenmore, alugar uma casa, vai ser difícil fazer isso com três crianças.

— Elas não poderiam ficar com Natalie?

— Poderiam, mas eu preferia que ficassem com você.

Eu me sinto envaidecida, não posso negar. Porém, ficar sozinha com as crianças em Nova York?

— Não sei se daria certo.

— Por que não? Você já provou que é capaz de cuidar delas. E elas te adoram.

— Mas você estava aqui.

Ele sorri e pega Anthony do meu colo, o colocando no carrinho. E escuto as meninas se aproximando.

— Depois continuamos a conversa.

— Está bem.

Após o jantar Connor vai brincar com Mandy e Olívia fica comigo, me ajudando enquanto lavo a louça e ela seca.

Percebo que ela sempre encontra uma desculpa para ficar perto de mim e acho incrível.

— Senti muita saudade — digo e ela sorri.

— Eu também.

— Você acharia ruim ficar em Nova York comigo por um tempo?

Ela arregala os olhos.

— Sério?

— Sim, você e seus irmãos. Só enquanto seu pai cuida da mudança para Kenmore.

— E você vai ficar com a gente em Kenmore?

Hum, era uma boa questão.

— Hum, certamente, só não sei quando ainda...

— Eu ia adorar ficar com você em Nova York!

Eu sorrio e a abraço.

— Então está decidido!


Após colocar as crianças para dormir, me junto a Connor na sala.

Ele me puxa para seu lado, passando o braço a minha volta e, por um momento, ficamos assim, apreciando a companhia um do outro.

— Eu conversei com Olívia sobre ficar em Nova York e ela amou a ideia.

— Eu sabia que iria amar. Ela quer ficar perto de você.

— Eu vou gostar de tê-los por perto, embora ainda esteja um tanto insegura...

— Não tem motivo. Mas, se achar muito...

— Não! Sabe que eu as adoro. Só me sinto um pouco insegura de levá-las para longe de tudo que lhes é conhecido e seguro.

— São crianças, vão se adaptar. De qualquer modo terão que se adaptar em Kenmore.

De repente eu me lembro de um assunto que queria muito tratar com ele e sabia que poderia ser difícil.

— Connor, queria te dizer algo...

Ele franze a testa.

— Por que parece com medo? Devo ficar preocupado?

— Não, é que... Eu quero dizer que não precisa alugar uma casa em Kenmore. Você pode comprar... com o meu dinheiro — digo rapidamente e vejo uma sombra em seu olhar quando ele retira os braços de mim.

Lá vamos nós.

— Eu não preciso do seu dinheiro Mel.

— Não seja bobo! Eu sei que não tem muita grana e...

— E eu achei que isso não era um problema para você.

— E não é. Só que eu tenho dinheiro. E nem sei o que fazer com tanto.

— Disse bem. É seu dinheiro.

— Eu quero ajudá-lo.

— Não.

— Por favor, Connor. Não seja radical. Eu não quero te ofender nem nada e sei que os homens têm essa visão machista e retrógrada de que todo o dinheiro deve vir deles...

— Não sou machista.

— Mas está agindo como um! Eu tenho mais dinheiro que você. E daí? Supere isso. Não vou guardar o dinheiro para mim somente se vamos viver juntos. O que é meu é seu. Você está dividindo tudo o que tem comigo, o que tem de mais precioso, seus filhos. É justamente por eles, que devia aceitar o dinheiro e comprar uma casa, dar-lhes o melhor, porque nós temos como.

— Você tem.

— Nós! — Insisto — Achei que estivéssemos dispostos a dividir uma vida e pra mim isso significa mais do que dividir uma cama, quem vai colocar as crianças para dormir ou fazer o jantar. Quero que saiba que pode contar comigo. Quero colaborar com tudo o que eu tenho e se tenho dinheiro, que assim seja. Pense que é para as crianças.

— Não quero que se sinta na obrigação de dar seu dinheiro, Mel. Eu tenho algum guardado.

— Eu sei, o que não me impede de colaborar também. Afinal, vou morar com você um dia, não vou? — Questiono devagar, arriscando um sorriso e ele acaba por sorrir lentamente também, me puxando para perto de novo.

— Vai?

Eu dou de ombros.

— Sei que a gente está indo devagar e até concordo que é o certo, porém... é para esse lugar que estamos indo, não? Juntos?

— Sim, estamos — ele me beija.

Eu o empurro gentilmente, pois ainda não terminamos a discussão.

— Então estamos combinados? Vai aceitar o dinheiro para comprar nossa casa?

— Nossa casa?

— hum, hum.

— Sim, senhora.

— E vai aceitar todo meu dinheiro como nosso, sem discussão?

— Você está fazendo eu me sentir um gigolô, Mel.

Eu rio alto.

— Você faz por onde ganhar bem.

— Hum, não posso discordar... — Ele me beija de novo — Vai ficar aqui hoje? Ou terei que implorar?

— Não vai precisar implorar.

— Graças a Deus!

E ele me pega no colo e me leva para a cama.


***


Nova York

 

— Olha, mamãe! — Desvio o olhar do livro que tenho comigo e sorrio para Mandy que está a poucos passos de distância, perto do rio, brincando com bolhas de sabão, junto com Olívia. O frio tinha finalmente dado um descanso e até um sol tímido deu as caras por trás das nuvens, anunciando que a primavera estava próxima. Então aproveitei para levar as crianças para brincar no Central Park.

Anthony dorme tranquilo em seu carrinho, depois de ter me cansado por um bom tempo, querendo andar para todos os lados e seus passinhos trôpegos, de quem tinha acabado de aprender a andar não eram muito confiáveis, o que me obrigava a ficar atrás dele, inclinada e atenta o tempo inteiro.

Aquele mês passado com as crianças estava sendo uma experiência cheia de descobertas, nem todas maravilhosas, devo dizer. Claro que eu já havia passado um tempo com elas antes e daquela vez também não foi fácil, afinal eu não tinha experiência em cuidar de crianças e ainda precisava lidar com o fato de que a família estava toda desestruturada e Anthony malcuidado, Mandy supercarente de afeto e Olivia cheia de revolta. Hoje tudo era diferente, eu não estava mais sob o peso de uma farsa, sendo obrigada a fingir ser quem eu não era e as crianças gostavam da minha companhia. Porém, era a primeira vez que eu ficava sozinha com todas as três, em uma cidade que elas não conheciam, longe do pai e de toda a família. E, por mais que as amasse e tivesse sim muita paciência com as manhas de Mandy, alguma cara emburrada de Olivia ou os cuidados óbvios que um bebê necessitava, às vezes eu me senti sobrecarregada sim.

Apesar de tudo, eu não trocaria essa vida com elas por nada no mundo. Era incrível sentir o amor com que elas retribuíam, poder ensinar cada dia uma coisa diferente e aprender com elas também. Saber que sempre poderiam contar comigo. Era uma grande responsabilidade, que tomava grande parte do meu tempo e podia claramente entender porque Melanie se sentiu presa numa armadilha. Para alguém que não estava preparada e disposta a tanto, era cruel ser obrigada a assumir algo tão sério.

Pensar em Melanie sempre me deixava triste. Ela se foi tão jovem e justamente quando parecia estar encontrando seu caminho. Não era justo. Eu sentia muita falta dela, apesar de termos convivido por tão pouco tempo, talvez até por isso mesmo. Não houve tempo suficiente para nós.

— Mamãe, estou com fome — Mandy se aproxima e eu a abraço.

— Então precisamos colocar comida nesta barriguinha! — Também já estava ficando tarde e daqui a pouco iria anoitecer e o vento estava começando a ficar frio de novo.

Olívia se aproxima e eu sorrio para ela.

— Tudo bem se formos embora?

— Sim, estou com fome também.

— Então vamos.

Quando chegamos ao meu apartamento, as meninas vão trocar de roupa e eu aproveito para olhar meu celular, esperando uma ligação de Connor. Ele tinha ido para Kenmore e estava vendo algumas casas, não via a hora de que ele desse o sinal verde para irmos encontrá-lo.

Não havia nem sinal de Connor. Apenas um recado de Charlote, dizendo para eu me arrumar que iríamos jantar juntas hoje.

— Ela enlouqueceu? — resmungo, discando seu número, enquanto retiro alguns ingredientes da geladeira.

— Olá, recebeu meu recado? — ela pergunta do outro lado da linha.

— Sim, e de onde tirou essa ideia?

— Faz tempo que não saímos para jantar.

— Tenho três crianças para cuidar, esqueceu?

— Não. Para isso existem babás.

— Não tenho babá.

— Deveria ter, acho que faz bem. Enfim, já cuidei de tudo a babá da minha irmã estará disponível esta noite e vai cuidar dos seus bebês.

— Eu não sei...

— Não está aberto a discussão. Já reservei nosso restaurante. Vai amar.

— Realmente, acho que...

— Ei, já falei, está decidido. Precisa de uma folga. É só uma noite. E eu sei bem que em breve vai mudar e me deixar sozinha.

— Esta bem, você venceu.

— Coloque uma roupa bem bonita.

— Por quê?

— Por que estou mandando!

Reviro os olhos e desligo.

Acabo de preparar o jantar das meninas, e até Anthony já está alimentado quando a babá, Carly, aparece. É uma garota adorável de uns vinte e poucos anos e parece bem responsável. Ela diz que trabalha com Stella, a irmã mais velha de Charlote, que tem dois meninos, há alguns anos.

— Então não se preocupe, vá se arrumar, cuidarei bem deles.

— Obrigada.

Mais relaxada tomo um banho e me arrumo como Charlote ordenou e era realmente gostoso colocar um vestido, maquiagem e arrumar o cabelo. A expectativa de uma noite de garotas, jogando conversa fora e comendo boa comida, parece bem empolgante agora. Charlote tinha razão, eu precisava de uma noite de folga.

Antes de sair, verifico o celular e nada de uma ligação de Connor. Tento ligar para ele, o telefone não atende, então deixo apenas um recado para ele retornar. Eu me despeço das crianças e desço para encontrar Charlote que já está no táxi, ainda encucada por ele não ter me ligado.

— Olá, está bonita. — Ela elogia.

— Você também. — retribuo o elogio.

— E que cara é essa?

— Connor não me ligou, estou preocupada.

— Ele vai ligar, não se preocupe. Relaxa!

— Está bem. E onde iremos jantar?

— É pertinho!

O táxi estaciona em frente ao Central Park.

— Central Park?

Ela paga o motorista e descemos.

A noite está caindo lentamente e Charlote engancha o braço no meu me guiando.

— Tem um restaurante incrível aqui, o The Boat House.

— Achei que fosse um lugar romântico...

— E é! — Escuto a voz que não é de Charlote e estaco surpresa, achando que tinha ouvido coisas, fico ainda mais estupefata vendo Connor surgir das sombras.

— Connor! O que... Como... O que faz aqui?

— Uma surpresa — ele sorri, aproximando-se e segurando minha mão.

Quando ele me toca, finalmente saio do estupor e lanço meus braços a sua volta, apertando-o com força, adorando quando ele me aperta em resposta.

— Acho que é minha deixa — Charlote diz e solto Connor para olhar para ela.

— Você sabia!

— De quem acha que foi a ideia? Embora não seja escritora, posso ser um tanto criativa também, meu bem!

— Eu disse a Charlote que queria lhe fazer alguma surpresa no dia dos namorados.

— Nossa, hoje é o dia dos namorados? Eu nem me lembrei!

— E ela me indicou este restaurante e me ajudou a trazê-la aqui sem que desconfiasse.

— Vocês armaram direitinho.

— Bom, eu fico por aqui. — Charlote se despede me abraçando.

— Me conte tudo depois! — sussurra em meu ouvido e retorna pelo caminho.

Eu volto a fitar Connor, ainda maravilhada por ele estar ali.

— Não acredito que esteja aqui!

— Eu queria ter vindo antes, porém, queria que tudo estivesse pronto em Kenmore.

— Quer dizer que encontrou a nossa casa?

— Sim, senhora! — O abraço, feliz e animada.

— Conte-me tudo! Estou tão empolgada, as crianças vão adorar saber! Por que não vamos para casa para contar a elas...

— Nós vamos contar às crianças sim, mas primeiro vamos jantar. Sozinhos. — Ele beija meus lábios levemente e eu concordaria com qualquer coisa, contanto que ele continuasse a me beijar para sempre.

— Tudo bem.

Em vez de irmos para o restaurante, Connor me leva para a beira do lago onde são oferecidos passeios de gôndola até o restaurante do outro lado.

— Sério?

Ele me puxa pela mão, me acomodando na gôndola.

— Acho que você merece um pouco de romantismo depois de ter ficado como babá por um mês inteiro, sozinha.

— Ah Connor, eu amei! — beijo seu rosto, quando ele se acomoda a minha frente e começamos a deslizar pela água. O crepúsculo cai lentamente sobre nós. — Mas não estou reclamando de ter ficado com as crianças.

— Sei que não deve ter sido fácil, cuidar das três sozinha.

De repente algo me passa pela cabeça.

— Era essa sua intenção, quando pediu que eu ficasse com elas? Me assustar?

Ele ri sem negar.

— Assustar não é a palavra, só queria que tivesse certeza de que é o que deseja. — Ele fica sério subitamente — tenho receio que seja demais para você...

— Connor — seguro sua mão — Eu não sou Melanie. Tudo o que viveu com ela é muito diferente de nós. Ela não estava preparada e nem você. Meu caso é diferente, quero uma família com filhos mais do que tudo no mundo.

Ele toca meus cabelos.

— Isso me preocupa também. Sei que quer ter os próprios filhos...

— Oh... Acho que nem tinha parado para pensar sobre o assunto.

— Eu sim. E eu já tenho três, Mel. E não foi fácil criá-los. E agora eu vou estudar e começar uma nova vida, e... Não sei quando poderemos pensar nessa possibilidade.

— Mas ela existe?

Ele sorri.

— Claro que sim. Eu gostaria muito de ter filhos com você, só não num futuro próximo e isso faz eu me sentir culpado. Sei o quanto é importante para você.

— Sim, eu sempre quis ter filhos. E eu os tenho. Olivia, Mandy e Anthony são meus filhos, mesmo não tendo nascido da minha barriga e mesmo se você me disser que não teremos mais filhos, eu estaria satisfeita. De verdade. Porém, saber que você quer ter filhos comigo, me deixa muito feliz e emocionada. E sim, eu posso esperar. Nós temos muita coisa para viver antes. Você vai se formar, vai realizar seu sonho de ser médico e eu estarei junto, te apoiando, ajudando a criar nossos filhos e, quando for a hora, poderemos fazer um bebê.

— Às vezes acho que não mereço você.

— Ah mas eu mereço você. Eu fui uma boa menina a vida inteira, mereço um cara lindo, gentil, que me leva a jantares românticos e fica muito sexy cortando lenha.

— O quê?

— Ah eu não te disse? Espero que nessa casa que comprou tenha bastante árvores em volta para você ficar cortando lenha e eu poder ficar observando.

Ele ri e me beija, me soltando, antes que eu possa aproveitar e, para minha surpresa, se ajoelha no chão da gôndola e pega algo no bolso.

Solto um grito e coloco a mão na boca, surpresa, quando vejo um lindo solitário surgir em suas mãos.

— Melissa Blake, quer se casar comigo?

— Oh Connor... — começo a chorar feito boba.

— Estou esperando a resposta...

— Claro que sim... — me jogo em seus braços e finalmente ele está me beijando como eu queria. Como sempre quero.

Depois ele coloca o anel em meu dedo e sinto que meu coração pode explodir.

Então esta é a felicidade suprema. Sentir que o mundo é perfeito e nos pertence. Porque nós encontramos nosso lugar nele. E alguém com quem dividi-lo. Para sempre.

E, enquanto estou ali abraçada a Connor, sinto a presença de Melanie. Ela está em minhas lembranças, sorrindo e dizendo que eu mereço sim ser feliz. Que me dá a sua benção.

A vida foi feita para sermos felizes, para aproveitarmos todos os momentos da melhor maneira possível, pois um dia ela pode nos ser tirada e será tarde mais. Como foi para Melanie.

Mas eu estou aqui, estou viva e posso fazer o meu melhor para ser feliz. E fazer as pessoas que amo felizes.


E essa sensação de ter a presença de Melanie a minha volta, como um sussurro do vento em meu rosto, fazendo uma paz serena acalmar a saudade em meu coração, permeou todos os momentos importantes da minha vida.

Quando Connor me levou no colo para dentro de nossa casa nova em Kenmore.

No dia de meu casamento, em Lakewood, rodeada por nossos familiares e amigos, no jardim dos Carter. Connor lindo em seu terno preto me esperando no fim do caminho florido e eu seguindo com meu vestido branco, com Mandy e Olivia jogando flores pelo chão, sorrindo felizes por finalmente estarmos oficializando nossa união que já era de coração.

Assim, como eu a senti no dia que nasceram minhas meninas, Emma e Mila. Tão lindas e iguais como eu e Melanie éramos, mas que teriam um destino muito diferente do que tivemos. Elas nunca seriam separadas. Elas nunca se sentiriam inadequadas em sua própria pele. Teriam todo o amor para crescerem saudáveis e capazes de tomarem suas próprias decisões. Juntas, como deve ser.

Melanie era parte de mim, e sua história permaneceu comigo, floresceu em minha mente e se transformou em um livro.

Das minhas mãos surgiu a história de uma mulher que viaja o mundo em busca de si mesma, de uma liberdade e de uma felicidade que lhe era desconhecida. No entanto, diferentemente da realidade, nesse livro ela encontrou seu destino. E teve o seu merecido final feliz.

Quem nunca leu nos romances que, ao ser envolvida pela sublime sensação de um beijo de amor, a pessoa apaixonada deixa de sentir o chão sob seus pés?
A famosa frase “você me tira o chão” passa pela minha mente agora, enquanto sinto o gosto de Connor em minha língua. Embora seja uma verdade absoluta, Connor realmente não só me tira o chão como o ar e outros clichês românticos do tipo. Não é o amor que me impede de sentir o chão sob meus pés neste momento e sim o fato de estarmos nos beijando há horas, escondidos no quintal, com a neve caindo sobre nós e se acumulando em nossos pés agora congelados. Então, a verdade é que eu já não estou sentindo mais meus pés, isso sim! Este pensamento atravessa minha mente, me divertindo e fazendo com que a névoa de desejo e contentamento que mantinha meus braços presos a nuca de Connor e meus lábios submissos recebendo seus beijos se dissolvam lentamente, subjugados pelo frio enregelante.
Porém, era difícil abandonar aquele idílio, quando tínhamos combinado que levaríamos nosso relacionamento devagar perto das crianças, que, certamente, já deveriam estar se perguntando porque estávamos demorando tanto aqui fora.
Pensar nas crianças é o que faz meu ânimo esfriar de vez e descolo meus lábios dos dele com um suspiro, adorando quando ele solta um gemido de protesto enquanto seus braços me prendem ainda com mais força contra a árvore.

 


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— Acho melhor entrarmos — murmuro contra sua boca que solta uma respiração quente dentro da minha.

— Por quê? — privados dos meus, seus lábios agora deslizam pelo meu rosto frio.

— As crianças devem estar perguntando onde nos metemos.

Ele ri dentro do meu ouvido, me fazendo arrepiar. E não é de frio.

— É justamente por isso que não quero te largar — sua voz é cheia de lamento e não posso deixar de me lamentar também.

Porém, depois de tudo o que eles passaram nos últimos meses, a confusão quando descobriram que troquei de lugar com a mãe deles que agora não existia mais, ter que lidar com um relacionamento entre mim e Connor seria demais.

— Eu sei — infiltro os dedos em seus cabelos, puxando sua boca para a minha de novo, e o beijo com vontade uma última vez antes de soltá-lo, empurrando-o gentilmente e ele me deixa afastar alguns centímetros. O frio, agora que ele não está mais grudado em mim é mais cruel. — Além disso, meus pés congelaram. Talvez tenha uma namorada perneta.

Ele ri, segurando minhas mãos.

— Namorada?

Eu mordo os lábios, corando.

— Bem, acho que já podemos pular algumas formalidades devido as circunstâncias. Quer namorar comigo, Connor Carter?

— E eu aqui cogitando um encontro...

Dou de ombros.

— Acho que sou bem fácil.

— Não vou reclamar.

— E então, não vai responder? Vai ser difícil? — Solto suas mãos para abraçar sua cintura, colando nele de novo e percebo uma sombra em sua expressão de repente.

— O que foi?

— Acho que... — Ele toca meu rosto — eu nem sei mais como se faz...

Um sorriso malicioso brinca em meus lábios.

— Acho que sabe muito bem.

— Não isso... — ele ri — Eu quero dizer... ter um relacionamento saudável.

Meu coração se aperta.

— Eu não quero... estragar tudo.

— Não vai acontecer.

— Como sabe?

— Eu não vou deixar. — Coloco fervor em minha voz, porque é o que eu sinto. Eu tenho fé em Connor. Fé em nós. Preciso ter, depois de tudo.

A vida era preciosa demais para viver com medo de errar.

Por outro lado, entendia Connor e seus receios. Ele passou dez anos em um relacionamento destrutivo com Melanie. Depois se apaixonou por mim, acreditando que eu fosse ela. Só o fato de ele ter me perdoado e querer ter um relacionamento comigo, já era incrível.

E eu sempre esperei alguém como ele. Que transformasse minha vida. Que quisesse construir um futuro comigo. E cheguei a acreditar que algo como Connor e eu juntos, nunca seria possível. Primeiro porque enquanto nos apaixonávamos estávamos no meio de uma farsa, depois perdemos Melanie e pensei que Connor jamais me perdoaria por enganá-lo, até mesmo duvidei da possibilidade de que ele pudesse me desassociar de Melanie. Voltei àquela casa, três meses após a morte da minha irmã, ansiando apenas poder ver meus sobrinhos, a quem eu amava como filhos. E talvez conseguir o perdão de Connor. E no fim, descobrir que ele já sabia de tudo, que Melanie havia estado na cidade e contado toda a verdade, que nos últimos dias que passei na casa Connor já sabia que eu não era Melanie... que ele amou a mim, Melissa... era extraordinário. E eu ainda mal podia acreditar que íamos ficar juntos. Porém, eu devia intuir que o caminho que tínhamos pela frente não seria fácil. Muito pelo contrário.

Sim, eu entendia Connor e seus medos. E também sentia um pouquinho deles. Só não ia desperdiçar a chance que o destino nos tinha dado de ser feliz.

— Papai!

A voz de Olívia chega até nós, vinda da casa e nós nos separamos rapidamente.

— Sim, vamos entrar — Connor diz e seguimos para casa. Tive vontade de segurar sua mão, mas me contive. Tinha que me lembrar que para as crianças eu ainda era apenas a tia Mel.

Entramos pela porta da cozinha e Olívia segurava Mandy, que chorava.

— Ei, o que está acontecendo? — Connor indaga se aproximando e Olivia solta Mandy, que se enrosca em Connor.

— Olivia não me deixou sair, papai!

— Eu disse a ela que estava frio — Olivia se justifica.

— Olívia tem razão, querida, está muito frio para sair.

— Mas a mamãe estava lá! — Mandy choraminga.

— Sua irmã está certa, querida, não deve sair está muito frio. — Eu endosso carinhosamente pegando-a no colo.

— Eu queria ver se estava aqui. Fiquei com medo que tivesse ido embora de novo.

Sinto meu coração se apertar e a aconchego em meus braços.

— Eu não vou embora, está bem?

— Estou com fome — resmunga, aparentemente satisfeita com minha resposta. Porém, eu não estou e também não ouso olhar para Connor.

Embora tenha prometido para Mandy, eu moro em outra cidade. A casa de Connor não é a minha casa. E, de repente, eu me lembro de que em breve ali não será mais a casa deles também, Connor vai se mudar de cidade para fazer faculdade. E eu havia dito mais cedo que estava disposta a ficar com ele onde quer que fosse, mas se combinamos ir devagar, quando é que seria possível?

— Ok, vamos comer — Connor se adianta até a geladeira e de repente fico sem saber o que fazer.

Olívia ainda está parada no mesmo lugar olhando de mim para Connor e percebo que tem uma interrogação em seu olhar. Olívia tem dez anos e já entende muitas coisas, com certeza está se perguntando qual é o meu papel naquela casa agora.

Antes que eu consiga pensar no que fazer, um choro rompe o ar vindo da sala e eu me lembro de Anthony.

— Olívia — Connor alerta a menina para cuidar do irmão e eu imagino que essa deve ser a rotina por ali nos últimos tempos, já que só havia ela para ajudar Connor. Coloco Mandy no chão e me adianto.

— Deixe que eu cuido dele — olho para Olívia. — Por que não leva Mandy para tomar um banho? Assim, as duas estarão prontas para o jantar.

— Está bem — ela segura a mão da irmã e vejo um certo alívio em sua expressão, antes de se afastar.

Precisávamos ter cuidado com Olivia. De todas as crianças, ela foi a que mais sofreu com toda aquela história. Foi a que viveu com Melanie e Connor enquanto o casamento deles descia ladeira abaixo e teve que crescer antes da hora, carente do afeto materno que Melanie nunca foi capaz de dar. E depois ainda teve a confusão com a troca de identidade, quando eu estive ali me passando por Melanie. Devolvendo a ela a confiança na mãe, lhe dando toda a atenção e carinho possível, para que ela se sentisse amada e cuidada, para no fim ela descobrir que eu não era sua mãe, que a estava enganando. Isso tudo ainda tendo que lidar com a morte de Melanie.

Vou para a sala e Anthony está esperneando no cercadinho.

— Calma, meu amor, vou cuidar de você! — Eu o pego no colo.

Ele me encara, enquanto eu o levo para o quarto para trocá-lo. Seus olhos me sondam curiosos e me pergunto se havia possibilidade de ele ainda se lembrar de mim.

— Sinto muito por te deixado — murmuro sentindo uma dor profunda no peito, pensando naqueles três meses que passei longe. Não deve ter sito fácil para Connor lidar com as três crianças sozinho, ainda mais depois da morte de Melanie e minha traição.

Anthony balbucia algo e eu sorrio, me ocupando em trocá-lo. Ele tinha dentinhos agora e parecia um tanto rebelde, dificultando um pouco meu trabalho.

— Você está querendo ficar independente, não é? — Faço cócegas em sua barriga o que o faz rir. Meu coração se aquece de amor. Abraço o corpinho quente, me enternecendo com sua proximidade. Senti tanta falta daquele bebê, que agora eu nem sabia como é que tinha vivido tanto tempo afastada.

— Você me ajuda a me vestir, mamãe? — Mandy surge no quarto enrolada em uma toalha e deixo Anthony no berço para ajudá-la.

— Claro que sim, querida!

Quando terminamos, pego Anthony e voltamos para a sala. Ligo a televisão e deixo Anthony no cercado com seus brinquedos e Mandy distraída com um desenho e retorno para a cozinha. Por um momento, apenas observo Connor ocupado com algo no fogo.

— Vai ficar aí me vigiando? — Pergunta e eu sorrio.

— É uma boa visão. Quer ajuda? — Indago ainda sem saber como me encaixar ali de novo. Sem saber meus limites. Antes eu estava ali como Melanie, agora eu era apenas Melissa. A tia das crianças. E a namorada de Connor.

Ainda era estranho pensar nisso. Estranho, porém delicioso.

— Pode colocar a mesa — Connor responde — já estou terminando.

Eu pego os pratos no armário e estou começando a por a mesa, quando Olivia surge. Ela para, hesitando. Como se também achasse muito estranho minha presença ali de novo.

— Quer me ajudar a por a mesa, Olívia? — arrisco, sorrindo e ela me lança um sorriso tímido, vindo me ajudar.

Fico surpresa quando Connor busca Anthony e o ajeita em um cadeirão e se ocupa em dar-lhe papinha.

— Nossa, ele está comendo!

— Sim, e ele também engatinha e até arrisca alguns passos incertos, acho que estará andando em menos de um mês.

— Percebi que ele também balbucia várias coisas, existe alguma palavra que ele já fala?

— Papa — Anthony grita e eu sorrio.

— Ele está tentando dizer papai — Olivia diz.

Sorrio tristemente. Gostaria de ter estado ali vendo Anthony crescer daquele jeito.

Connor termina de dar comida a ele e nós sentamos para jantar. Mandy insiste em sentar no meu colo e não a impeço. Adoro tê-la por perto novamente.

E por um momento é como antes, como quando morei com eles, fui a mãe daquelas crianças e a esposa daquele homem. No entanto, embora pareça tão igual, tudo é diferente atualmente. Eu já não tenho que me passar por quem não sou.

Olho em volta da mesa, aquelas pessoas tão queridas das quais senti tanta falta naqueles três meses afastada. E sinto uma gratidão incrível por este momento ser possível.

Eu podia facilmente me acostumar com aquilo de novo.

— Mãe — volto a atenção para a mesa quando Olivia me chama e ela cora — quer dizer... tia Mel — corrige.

Eu hesito também.

Mandy ainda me chamava de mãe, mas era porque era pequena demais para entender. Agora ela sabia que eu não era aquela mãe que conviveu com ela antes, porém, por causa da minha aparência tão igual a de Melanie, ela concluiu que eu era uma mãe também. Obviamente, não sei como seria quando crescesse o suficiente para entender melhor o conceito, mas Mandy era uma criaturinha tão amorosa, que acreditava que nunca seria um problema para ela. Em seu coração eu era a mamãe. Era a pessoa que ela amava como tal. E eu não me importava nem um pouco, porque no meu coração ela era minha filha também, como Olivia e Anthony. Porém, a situação de Olivia era um pouco mais complicada e eu tinha medo. Por isso, arrisco a lançar um olhar rápido para Connor que sorri me encorajando e entendo o que ele quer dizer. Está dizendo para eu seguir meu coração.

E é o que eu faço.

— Pode me chamar de mãe se quiser Olivia — respondo.

— Ela é a mamãe também, Olivia! — Mandy a repreende e nós rimos.

Olivia, embora também tenha rido, ainda não parecia à vontade e decido não forçar.

— Ou pode me chamar de Mel, ou tia Mel. Como você quiser.

Anthony começa a chorar e Connor se levanta o tirando do carrinho.

— Vou lhe dar um banho e colocá-lo para dormir.

A palavra dormir me deixa um tanto apreensiva. Sim, daqui a pouco as crianças iriam dormir e o que eu faria? Voltaria para a casa do meu pai?

Era o certo a fazer, porém...

— Estou com sono também, mamãe. — Mandy boceja e eu a levo para o quarto, a ajudando a vestir o pijama e a colocando na cama.

— Promete que não vai embora, mamãe? — ela pergunta com os olhinhos sonolentos.

Será que eu podia prometer?

— Olha Mandy, eu prometo que estarei aqui amanhã. E por alguns dias, talvez eu precise ir para minha casa. Porém, eu prometo que sempre voltarei.

— Gostava quando você morava aqui.

Ah Mandy, eu também gostava.

Depois que Mandy pega no sono vou para o quarto de Olivia que está se preparando para dormir também.

— Posso entrar? — peço e ela sacode a cabeça afirmativamente.

Sento-me ao seu lado na cama.

— Ouvi você conversando com a Mandy — ela diz.

— E...?

— Disse que vai voltar para sua casa.

— É onde eu moro, Olivia — respondo com cuidado.

Não quero fazer aquelas crianças sofrerem, mas não quero prometer coisas que não sei se poderei cumprir. Não quero mais mentir para elas. Já menti demais e agora preciso que elas aprendam a confiar em mim.

— Eu pensei... você e o papai... vocês estavam se beijando como antes.

Ops. É minha vez de ficar vermelha.

— Então você viu.

— Eu não estava espiando nem nada, só fiquei preocupada que estavam demorando e a Mandy queria sair...

Eu fico em silêncio por um momento, sem saber o que dizer. Lá se iam nossos planos de poupar as crianças.

Respiro fundo encarando-a.

— Olivia, você já é grandinha o suficiente para entender que as coisas não são tão fáceis ou simples em nosso caso, não é?

— Eu sei... quer dizer... a mamãe morreu e ela era a esposa do papai, mas ele me disse... — ela hesita.

— O que ele te disse? — Encorajo-a.

— Ele me disse que gostava de você, como namorada sabe?

— Ele disse? — Não consigo deixar de corar ainda mais. Então Connor tinha conversado com Olivia sobre mim? — E o que você sabe sobre isso?

— Eu sei que as pessoas se apaixonam como nos contos de fadas, namoram e se casam.

— Sim, nos contos de fadas é assim. Mas na vida real, às vezes as coisas não acabam tão bem.

— Com minha mãe e meu pai foi assim, eu sei que eles não se amavam como nos contos de fadas.

Eu não sei o que dizer. Sinto um grande pesar por Olivia ter sido testemunha do relacionamento horrível de Connor e Melanie.

— Mas você ama meu pai, não ama? — ela pergunta.

— Sim, amo muito.

— E não quer namorar com ele?

— Você gostaria?

— Meu pai era feliz quando estava aqui, quando ele achava que você era a mamãe, no começo não, depois... quando você estava tão diferente, ele gostava de você. E ficou triste quando foi embora.

— Ele precisava de um tempo. Todos nós precisávamos.

— Hoje... quando vi vocês juntos, achei... achei que ia ficar com a gente. Que agora seria como nos contos de fadas.

Eu esboço um sorriso com sua lógica infantil.

— Você pode guardar um segredo?

— Sim.

— Eu pedi seu pai para namorar comigo.

Ela sorriu de volta.

— Então... você vai ficar...

— Não é tão simples assim.

— É, tem sua casa em Nova York.

— Pois é. Eu prometo querida, desta vez, não vou embora para sempre. Pode ser que eu precise, por um tempo, voltar para Nova York, e vocês vão se mudar em breve também... Porém eu acredito que um dia ficaremos todos juntos novamente.

— E você vai voltar a morar com a gente?

— Tudo a seu tempo, ok?

Ela boceja e eu beijo sua testa.

— Agora vá dormir.

— Você vai... embora? Para a casa do vovô? É onde está hospedada, não é?

Sim, essa era uma boa pergunta.

— Eu prometo que amanhã estarei aqui quando acordar, pode ser?

Ela sorri satisfeita e ajeito as cobertas em seu corpinho e apago a luz, saindo do quarto.

Encontro Connor saindo do quarto de Anthony.

Ele segura minha mão e me leva para a sala.

Eu me sinto um tanto tímida subitamente.

— Acho que talvez eu devesse ir embora, está ficando tarde — digo.

— Está nevando.

— Estou vendo.

— Você não vai voltar para a casa de David, é perigoso.

— É?

— Pode dormir aqui.

— Não estou vendo uma cama no sofá.

Ele segura minha mão e seguimos para o quarto, onde me puxa para a cama, me mantendo muito próxima.

— É estranho estar aqui. Nesta cama. Não sendo...

— Não vamos falar do que passou. Somos só nos dois agora Mel... Melissa.

— Achei que iríamos devagar.

— Olívia disse que me viu te beijando.

— Ela me contou também.

— Eu perguntei o que ela achava e ela falou que ficou feliz, porque significava que você ia ficar.

— E o que disse a ela? — Sinto meu coração dar um pulo no peito.

— Que eu iria pedir para você ficar.

— Não está preocupado com as crianças, com... tudo?

— Sinto que já perdi muito tempo. Não quero mais. Eu quero ser aquele homem que luta pelo o que deseja. Eu não posso mais ver você indo embora, Mel.

— Nem eu quero ir para onde você não está.

— Então acho que é isso. — Ele infiltra os dedos nos meus cabelos e me puxa até que alcance meus lábios com um beijo e derreto completamente. Mesmo assim, não consigo relaxar e Connor percebe, parando o beijo e descansando o olhar em meu rosto apreensivo.

— O que foi?

— Acho que devo mesmo ir embora.

Ele franze a testa.

— Qual o problema?

— Estar aqui... Não sendo a Melanie é... não sei explicar, ainda é esquisito para mim.

— Você continua achando que eu a quero aqui porque se parece com a Melanie — não é uma pergunta.

— Não é isso...

— Então o que é?

— Não quero estragar tudo.

Ele ri, tocando meu rosto, porque foi a mesma coisa que ele disse mais cedo.

— Não tem como acontecer.

— Eu só quero... fazer direito desta vez. Não sente o mesmo? Que merecemos?

— Eu acho que mereço um orgasmo sem ser patrocinado pela minha mão, para variar.

Eu gargalho.

— Quantos anos você tem, Connor?

— Você deveria querer o mesmo.

— Quem disse que eu tenho orgasmos patrocinados pela minha própria mão?

— Eu gosto de imaginar, não destrua minha fantasia.

— Escute, agora falando sério. A gente combinou de ir devagar e você sabe, bem lá no fundo, que é o certo a fazer. Eu quero... fazer do jeito certo dessa vez.

— Não gosto de deixá-la ir.

— Eu sempre vou voltar.

— Mesmo assim... Sinto que perdemos tanto tempo...

— Foi preciso. Agora é diferente. Não tenha medo, Connor. Temos a vida inteira pela frente. Temos o para sempre.

— Promete?

— Prometo. Não vai se livrar de mim.

— Ainda bem.

Connor insiste em me levar para casa em seu carro e eu esgoto meus argumentos de que posso dirigir perfeitamente na neve.

— É uma amostra do seu jeito mandão? — brinco quando ele dirige com cuidado pelas ruas escorregadias.

Ele me lança um olhar estranho, em vez de divertido, como eu esperava.

— Não quis ser mandão.

— Eu estava brincando.

Ele não fala nada até que para o carro em frente a casa de David.

— O que foi? — Pergunto insegura.

Às vezes eu tinha a impressão que conhecia Connor a vida inteira. Esquecia-me que na verdade eu o conheço há apenas alguns meses e que, enquanto estava em sua companhia eu era outra pessoa.

— Você ficou irritada porque eu insisti em trazê-la?

— Não.

Ele levanta a sobrancelha.

— Irritada não é a palavra. Acho fofo que tenha ficado preocupado e que queira me proteger, mas... eu podia dirigir. Só não queria que duvidasse.

— É do que eu estava falando. De não ser quem você quer...

— Connor — seguro sua mão, angustiada com sua insegurança — Olhe para mim — peço. — Você é exatamente o que eu quero. O que sempre almejei. Sempre sonhei que um dia encontraria alguém que iria me completar e me entender. Que quisesse dividir a vida comigo. E você é essa pessoa. Como pode duvidar?

— Eu passei dez anos estragando tudo, Mel. Não, não posso colocar a culpa só em Melanie. Você mesma jogou na minha cara. Eu também estava lá e não fiz nada para mudar.

— Sim, tem razão. Só que existe uma grande diferença agora — eu sorri, tocando seu rosto — Algo que não existia antes. Eu te amo. E você me ama.

Ele segura minha mão, depositando um beijo em meu pulso, me puxando para perto, e nossos lábios e encontram no meio do caminho, famintos. Deixo naquele beijo todo meu amor, tudo o que eu quero dar a Connor e tiro dele o mesmo sentimento. Ele está me dando seu amor em troca e é tudo o que importa. E de repente meus medos que fizeram com que eu o parasse antes, querendo fazer o que eu achava que era certo, parecem bobos e sem sentido. Assim como os medos dele também o eram. Então, com um gemido, pulo para seu colo, aprofundando os dedos em seus cabelos e a língua em sua boca. Desta vez é Connor quem geme, me agarrando mais forte. Ah sim. Isto era o certo!

Ele para o beijo, nós dois respirando tropegamente enquanto, rimos.

— O que foi isto?

— Preciso mesmo dizer? — Lanço meus quadris muito ansiosos contra os dele e derreto ao sentir que ele não só sabe do que estou falando como está muito disposto.

— Achei que queria ir devagar, fazer o certo e tudo mais — ele diz, enquanto sua mão já está abrindo minha blusa.

E eu me apresso em fazer o mesmo com a dele.

— Isto é o certo.

— Que bom que concordamos em algo — nós rimos e ele me solta apenas para que possamos ir para o banco de trás, as roupas pesadas de inverno sendo tiradas do caminho não sem alguma dificuldade, mas não nos importamos. Estamos juntos, nesta dificuldade boba ou em qualquer outra que surgir. Essa certeza faz com que uma paz infinita aqueça meu coração do mesmo jeito que as mãos e os lábios de Connor aquecem meu corpo.

Ah, e como eu senti falta daquele calor! Não existia nada no mundo como o toque de Connor, a língua de Connor, os gemidos de Connor. Ele era perfeito para mim, como se tivéssemos sidos moldados na mesma matéria. E, quando nos encaixamos, essa certeza fica mais explícita. Nós nos completamos como peças perdidas de um único ser. E a sensação é sublime. Connor se move dentro de mim, devagar, quase com cuidado, deixando a pressa anterior de lado, porque ele sabe, assim como eu, que não precisamos nos apressar. E o prazer é construído até se tornar grande demais para suportar e eu me agarro em seus ombros e deixo as sensações dominarem não só meu corpo, mas minha alma inteira. Este momento é único, é o começo de algo extraordinário.

 

— Quantos anos você tem? — Connor brinca, depois de um tempo, quando estamos nos vestindo antes que congelemos. — Não posso ficar em um carro com você que me ataca!

Eu solto uma gargalhada.

— Eu já te falei uma vez, é irresistível.

Ele ajuda fechar minha blusa com um sorriso presunçoso.

— É sua vez de dizer o quanto sou irresistível também!

Ele toca meu rosto e um sorriso agora um tanto pesaroso se delineia em seu rosto.

— Gostaria que tivesse sido você aqui, há tanto tempo... tanta coisa seria diferente.

Eu toco seus lábios calando-o.

— Não vamos mais pensar no que passou. O passado não pode ser mudado. O futuro sim e ele é nosso.

Ele beija minha mão.

— Mal posso esperar pelo futuro com você.

Um sorriso bobo e feliz enche meu rosto e ainda estou com ele grudado no meu rosto, quando me deito para dormir. Sozinha, porém com o cheiro de Connor impregnado em mim.

Sim, o amanhã nunca foi tão aguardado.


***


Acordo cedo na manhã seguinte, com o firme propósito de ir para a casa de Connor, afinal, além de já estar morrendo de saudade, havia prometido às crianças que estaria lá quando acordassem.

Porém, quando desço e entro na cozinha, esperando ver apenas David, me surpreendo quando uma pessoinha corre em minha direção e se agarra às minhas pernas.

— Mamãe!

— Mandy! — Eu a pego, surpresa, olhando para cima e vendo meu pai com Anthony no colo e Connor e Olívia também sentados à mesa.

— O que fazem aqui? — entro na cozinha, colocando Mandy no chão.

— Viemos te buscar para tomar café na casa da vovó — Olivia explica.

Eu olho para Connor e ele confirma com um sorriso aproximando-se e beijando levemente minha boca. Fico vermelha e olho para David, que apenas dá de ombros, com seu jeito tranquilo, o que aparentemente significa que ele não se importa que Connor me beije na boca.

— Espero que não se importe.

— Eu estava justamente indo para sua casa!

— Bem, eu tenho que ir trabalhar — David passa Anthony para meu colo e eu o aconchego em meus braços, beijando seu rostinho.

— Te esperamos no carro, vamos meninas! — Connor segue com Mandy e Olívia e eu encaro David, que parece querer me perguntar algo.

— Vai estar aqui quando eu voltar, Mel?

— Está dizendo que eu tenho hora para volta pra casa? — levanto a sobrancelha.

— Na verdade eu me surpreendi por ter dormido em casa.

— Pai!

— O quê?

— Como sabia que eu ia fazer as pazes com Connor?

— O rapaz já tinha me dito que era sua intenção.

— Oh... Então ele te contou sobre Melanie?

— Sim, contou tudo.

— Por que não me falou?

— Ele só me contou um dia antes de você chegar. Queria saber se eu ia ficar zangado se ficassem juntos.

— E você não fica?

— É assunto entre você e Connor.

— Não acha esquisito depois de tudo e ele sendo o marido da minha irmã? — expressei a David meus medos internos. Não que duvidasse que eu e Connor tínhamos que ficar juntos, só não era inocente de achar que todo mundo aceitaria naturalmente. Era uma situação no mínimo inusitada.

— As pessoas vão falar. Pode ter certeza, mas quem gosta de vocês e se importa, vai apoiá-los.

De repente penso na família de Connor. Como é que eles reagiriam? E fico um tanto apreensiva.

— Espero que tenha razão.

Encontro Connor e as crianças no carro e tento dominar minha apreensão no caminho da casa dos Carter. Ontem, eles me trataram com cordialidade, parecendo ter superado toda a farsa que eu e Melanie forjamos. Agora que estava claro que Connor e eu estávamos juntos, será que aceitariam?

— O que foi? — Ele segura minha mão quando saltamos do carro. Olivia e Mandy seguem na frente empurrando o carrinho de Anthony o que me lembra demais a primeira vez que eu estive ali, há tantos meses, quando estava tentando convencer a todos que eu era Melanie.

— Estou com medo de como sua família vai reagi ao saber que estamos juntos.

— Eles já superaram o que aconteceu, Mel.

— Eu sei, mas isso é diferente.

— Não deve ficar preocupada. Eles sabem que eu sou apaixonado por você.

— Sabem?

Ele sorri.

— Não é obvio?

— Antes eu era Melanie.

— Você sempre foi Mel. E sabe disso. Nunca tentou ser Melanie, por isso todos nos apaixonamos por você, apesar de não entendermos como Melanie podia estar tão diferente.

Ele me puxa para dentro e, como naquele domingo perdido no tempo, seus pais, Helen e William, estavam na sala de estar acompanhados do irmão dele, Sam e sua esposa Natalie. E também o melhor amigo de Connor, Adam e sua esposa Lilian.

Todos param de falar quando entramos, não sei dizer o que aquele silêncio significa, mas certamente eles viram que Connor está segurando minha mão.

— Você veio! — Lilian se adianta, com sua barriga enorme de grávida e me abraça, aproveitando para sussurrar no meu ouvido — quero todos os detalhes depois. Principalmente os românticos. Não, comece pelos sexuais!

Eu rio, me sentindo mais relaxada e é a vez de Helen se aproximar, beijando meu rosto.

— Estou feliz que esteja aqui, Mel.

— Eu também estou, Helen.

O pai de Connor, que está carregando Mandy, monopolizando sua atenção acena e sorri e, como não podia deixar de ser, Natalie está com Anthony no colo.

— Oi Mel — ela diz simplesmente. Não parece muito contente, também não está cuspindo agressões verbais, como eu sabia que ela era bem capaz de fazer. Quando cheguei ali fingindo ser Melanie, Natalie foi a primeira pessoa com quem eu bati de frente. Não ajudou o fato de eu sentir ciúme dela com as crianças e nem ela ter uma obsessão por eles, por não poder ter filhos. A obsessão havia melhorado, assim como nosso relacionamento, mas isso aconteceu quando eu era Melanie. Ela ficou muito revoltada quando descobriu a mentira e chegou a me bater na época. Porém, quando cheguei ontem, foi ela quem me convidou a entrar. No entanto, me aceitar na família como tia dos filhos de Connor era diferente de me aceitar como namorada dele.

— Mel, bem-vinda à família de novo! — Sam me cumprimenta efusivamente.

— Olá Mel — Adam usa um tom mais neutro, o que me faz lembrar de que, por ser o melhor amigo de Connor, ele era bastante protetor e eu talvez devesse esperar alguma resistência da parte dele. Porém, ele apenas parecia quieto e reservado como sempre, sem exalar rancor ou raiva. Bem, era um começo.

— E já que estão de mãos dadas devo entender que estão namorando? — Sam pergunta na lata me fazendo corar feito um pimentão.

— Sam! — Helen o repreende.

— Sim, Sam, estamos juntos — Connor responde calmamente.

— Bem, já que tiramos esse elefante da sala, podemos ir comer — Lilian diz, passando a mão na barriga proeminente — meu bebê está faminto!

Nós seguimos para a sala de jantar e Connor aperta minha mão.

— Eu falei que estava tudo bem.

Eu apenas sorri. Sim, tudo estava bem.


Depois do brunch, Lilian e Adam se despediram, pois iriam viajar para a casa dos pais dela e Lilian perguntou até quando eu ia ficar para podermos marcar de conversar e colocar as novidades em dia.

— Eu não sei, na verdade.

— Hum, não conversaram a respeito ainda?

— Nem tivemos tempo.

— Sei muito bem para o que tiveram tempo! — ela revira os olhos e eu nem me dou ao trabalho de corar. — Espero que fique um pouco mais, até eu voltar, depois do ano novo, pelo menos. Embora ache que, mesmo se for, não vai demorar a voltar.

— Não sei como vai ser e Connor vai se mudar também...

— É, fico um pouco triste por perder o convívio com Connor e as crianças, e a oportunidade de te conhecer melhor, claro. Porém fico feliz por Connor estar seguindo seu caminho. Ele merece ser feliz.

Ela me abraça e entra no carro e é a vez de Adam se aproximar.

— Estou feliz que esteja com Connor — ele diz, me surpreendendo.

— Sério?

— Sério. Connor está apaixonado por você e merece alguém que o ame também.

— Sim, eu o amo muito.

— Então é o bastante.

— Será mesmo?

— Às vezes parece que não. Mas se existe amor a gente sempre dá um jeito. — Ele me abraça e entra no carro.

Volto para a casa e Natalie está sentada na varanda com Anthony.

Eu me sento ao seu lado.

— Não pareceu muito contente por me ver com Connor — vou direto ao assunto. Era melhor assim com Natalie.

— Na verdade eu não tenho nada a ver com a vida sexual do Connor.

— Não é só sexo.

— Não foi o que quis dizer. Apenas que não estou irritada, ou algo assim, por você e Connor estarem juntos. Acho que era algo já esperado.

— Acha mesmo?

— Connor estava louco por você e você por ele.

— E vocês achavam que eu era um sacana enganando todo mundo.

— E não pode nos culpar!

— É, não posso.

— O tempo passou e o rancor também. Acho que todos nós percebemos que você não era como a Melanie. Já tínhamos percebido. E Connor te ama.

— Eu o amo.

— Eu sei.

— Então você não está brava?

— Por que acha que estou brava com alguma coisa?

— Você é meio transparente.

Ela ri.

— Na verdade, estou chateada porque vocês vão levar as crianças embora.

Ah, agora eu entendo.

— Sinto muito, Natalie.

— Eu sei que é a vida do Connor, que ele já abriu mão de muita coisa e por muito tempo... Mas não deixa de ser dolorido.

— Eu entendo.

— Então é isso — ela sorri — estou apenas chateada, vai passar. Sam me prometeu até uma viagem de segunda lua de mel para me consolar.

— Isso é legal.

— É, para os homens tudo se resolve com sexo — ela rola os olhos e nós duas rimos.

— Se quiserem ir para Nova York. Eu os receberia na minha casa.

— Sério? Acho que pode ser uma boa ideia. E economizaríamos na hospedagem.

— Está vendo? Já pode começar a planejar.

— Mas... vai ficar em Nova York? Não vai morar com Connor?

— A gente está indo devagar e não sei quão devagar será para falar a verdade.

— Pensei que, devido a circunstância, poderiam pular algumas etapas. Afinal já viveu como esposa dele e tudo.

— É diferente agora. A gente não quer... ser precipitado e tem as crianças.

— Anthony não entende nada, Mandy te ama mais que tudo e vai fica chateada se for embora de novo. E Olivia, a primeira coisa que fez quando chegou aqui foi me contar que vocês estavam namorando e ela me parecia bem animada.

— Olivia reagiu muito bem, ela é nossa maior preocupação na verdade.

— E então?

— Então que não temos motivo para pressa. A vida de Connor está mudando radicalmente e terei que me encaixar de alguma maneira nela. A gente nem teve tempo de conversar sobre vários detalhes.

— Bom, a vida é de vocês. Tenho certeza que darão um jeito em tudo. Não é Anthony? — ela brinca com o menino que sorri para ela.

— Tenho certeza que, seja aonde estivermos, você será sempre vem vinda. As crianças te adoram.

Ela esboça um sorriso triste.

E por um momento eu me sinto triste por ela também. Espero que Natalie encontre sua felicidade um dia.


Nós saímos da casa no fim da tarde e Connor diz que precisa ir ao supermercado, pois as fraldas de Anthony estão acabando.

E é lá, andando por entre as prateleiras, com Mandy dentro do carrinho e Olívia brincando de motorista que eu percebo os olhares enviesados das pessoas.

Não posso negar que me afeta.

O que eu podia esperar? Eu era a irmã gêmea de Melanie Carter, cuja existência ninguém sabia e que tomou seu lugar por quase dois meses ao lado do marido, enganando a todos. Uma farsa que só foi descoberta com a morte de Melanie em um terrível acidente de carro. E claro que todo mundo naquela cidade pequena deve ter fofocado muito sobre o assunto. E eu me sinto observada e julgada por todos.

— Ei, não ligue para eles — Connor sussurra em meu ouvido e tento lhe dar ouvidos.

— É bem difícil. Devem estar especulando o que está fazendo comigo.

— Deixe que especulem. Ou melhor — ele de repente segura meu rosto e me beija — deixe que tenham algo melhor para fofocar.

— Connor! — não consigo deixar de corar, olhando em volta. Uma senhora chega a fazer o sinal da cruz, enquanto tenho certeza que uma adolescente tirou uma foto.

— Agora eles têm certeza.

Nós pagamos, ignorando os olhares curiosos e seguimos para casa de Connor. Ele nem cogitou me levar para a casa de David e nem eu pedi.

Quando chegamos em casa já é noite e Connor pergunta se eu quero fazer o jantar ou dar banho nas crianças.

E eu gosto demais daquelas opções. Era tão... normal. Tão... família.

Me enche de contentamento.

— Eu faço a comida, pode ser?

— Acho que sua comida é mesmo melhor que a minha. — Ele pisca, levando Anthony e Mandy para o chuveiro.

— Posso te ajudar? — Olivia pergunta ansiosa e sorrio para ela.

— Claro que sim!

Olivia parece bastante satisfeita por estar comigo na cozinha e eu gosto também. Ela estava crescendo rápido, eu quase que sentia muito. Mas as crianças cresciam um dia, pelo menos Mandy e Anthony ainda tinham muito tempo pela frente.

Quando terminamos, eu encaminho Olivia para o banho antes do jantar e preparo a mamadeira de Anthony. E é o tempo de Connor retornar com ele, deixando Mandy na sala assistindo desenho.

Eu o mantenho no colo, enquanto ele mama, agora já segurando a própria mamadeira com as mãozinhas ansiosas.

— Ele está tão crescido — ainda me admiro e Connor sorri.

— Ele sentiu sua falta.

— Acha mesmo? É só um bebê.

— Todos nós sentimos.

Trocamos um sorriso e então ele fica sério.

— Você pareceu ficar incomodada demais com os olhares das pessoas no mercado.

Eu desvio o olhar.

— Como não ficar? Sabe que detesto ser o centro das atenções. Ainda mais sendo alvo de fofoca. É algo terrível e nem posso culpar as pessoas.

— As pessoas são maldosas e adoram dar palpites na vida alheia, nós sabemos a verdade e não devemos nos importar. Em algum momento eles vão parar.

— Tenho medo da forma que isso pode afetar as crianças.

— Sim tem razão, eu queria mesmo conversar algo respeito das crianças com você.

Eu o encaro, esperando, enquanto ele pega a mamadeira de Anthony vazia e a leva para a pia.

Ele está quietinho e sonolento em meu colo, brincando com meus cabelos, enquanto o embalo.

— O que você diria se eu pedisse que levasse as crianças com você para Nova York?

Eu arregalo os olhos.

— O quê?

— Apenas por um tempo, até que eu acerte tudo para nossa mudança aqui e ache uma casa em Kenmore...

— Mas... — ainda me sinto atordoada.

— Não quero mais separá-las de você, Mel. Sei que elas precisam de uma mãe. Esses três meses não foram fáceis. Inferno, a vida inteira delas não foi fácil, você sabe como Melanie era... Enfim, elas sentiram muito sua falta.

— E você acha que é certo levá-las comigo? — pergunto com cuidado, achando a possibilidade maravilhosa e assustadora ao mesmo tempo.

— Eu preciso arrumar tudo para a mudança, preciso ir para Kenmore, alugar uma casa, vai ser difícil fazer isso com três crianças.

— Elas não poderiam ficar com Natalie?

— Poderiam, mas eu preferia que ficassem com você.

Eu me sinto envaidecida, não posso negar. Porém, ficar sozinha com as crianças em Nova York?

— Não sei se daria certo.

— Por que não? Você já provou que é capaz de cuidar delas. E elas te adoram.

— Mas você estava aqui.

Ele sorri e pega Anthony do meu colo, o colocando no carrinho. E escuto as meninas se aproximando.

— Depois continuamos a conversa.

— Está bem.

Após o jantar Connor vai brincar com Mandy e Olívia fica comigo, me ajudando enquanto lavo a louça e ela seca.

Percebo que ela sempre encontra uma desculpa para ficar perto de mim e acho incrível.

— Senti muita saudade — digo e ela sorri.

— Eu também.

— Você acharia ruim ficar em Nova York comigo por um tempo?

Ela arregala os olhos.

— Sério?

— Sim, você e seus irmãos. Só enquanto seu pai cuida da mudança para Kenmore.

— E você vai ficar com a gente em Kenmore?

Hum, era uma boa questão.

— Hum, certamente, só não sei quando ainda...

— Eu ia adorar ficar com você em Nova York!

Eu sorrio e a abraço.

— Então está decidido!


Após colocar as crianças para dormir, me junto a Connor na sala.

Ele me puxa para seu lado, passando o braço a minha volta e, por um momento, ficamos assim, apreciando a companhia um do outro.

— Eu conversei com Olívia sobre ficar em Nova York e ela amou a ideia.

— Eu sabia que iria amar. Ela quer ficar perto de você.

— Eu vou gostar de tê-los por perto, embora ainda esteja um tanto insegura...

— Não tem motivo. Mas, se achar muito...

— Não! Sabe que eu as adoro. Só me sinto um pouco insegura de levá-las para longe de tudo que lhes é conhecido e seguro.

— São crianças, vão se adaptar. De qualquer modo terão que se adaptar em Kenmore.

De repente eu me lembro de um assunto que queria muito tratar com ele e sabia que poderia ser difícil.

— Connor, queria te dizer algo...

Ele franze a testa.

— Por que parece com medo? Devo ficar preocupado?

— Não, é que... Eu quero dizer que não precisa alugar uma casa em Kenmore. Você pode comprar... com o meu dinheiro — digo rapidamente e vejo uma sombra em seu olhar quando ele retira os braços de mim.

Lá vamos nós.

— Eu não preciso do seu dinheiro Mel.

— Não seja bobo! Eu sei que não tem muita grana e...

— E eu achei que isso não era um problema para você.

— E não é. Só que eu tenho dinheiro. E nem sei o que fazer com tanto.

— Disse bem. É seu dinheiro.

— Eu quero ajudá-lo.

— Não.

— Por favor, Connor. Não seja radical. Eu não quero te ofender nem nada e sei que os homens têm essa visão machista e retrógrada de que todo o dinheiro deve vir deles...

— Não sou machista.

— Mas está agindo como um! Eu tenho mais dinheiro que você. E daí? Supere isso. Não vou guardar o dinheiro para mim somente se vamos viver juntos. O que é meu é seu. Você está dividindo tudo o que tem comigo, o que tem de mais precioso, seus filhos. É justamente por eles, que devia aceitar o dinheiro e comprar uma casa, dar-lhes o melhor, porque nós temos como.

— Você tem.

— Nós! — Insisto — Achei que estivéssemos dispostos a dividir uma vida e pra mim isso significa mais do que dividir uma cama, quem vai colocar as crianças para dormir ou fazer o jantar. Quero que saiba que pode contar comigo. Quero colaborar com tudo o que eu tenho e se tenho dinheiro, que assim seja. Pense que é para as crianças.

— Não quero que se sinta na obrigação de dar seu dinheiro, Mel. Eu tenho algum guardado.

— Eu sei, o que não me impede de colaborar também. Afinal, vou morar com você um dia, não vou? — Questiono devagar, arriscando um sorriso e ele acaba por sorrir lentamente também, me puxando para perto de novo.

— Vai?

Eu dou de ombros.

— Sei que a gente está indo devagar e até concordo que é o certo, porém... é para esse lugar que estamos indo, não? Juntos?

— Sim, estamos — ele me beija.

Eu o empurro gentilmente, pois ainda não terminamos a discussão.

— Então estamos combinados? Vai aceitar o dinheiro para comprar nossa casa?

— Nossa casa?

— hum, hum.

— Sim, senhora.

— E vai aceitar todo meu dinheiro como nosso, sem discussão?

— Você está fazendo eu me sentir um gigolô, Mel.

Eu rio alto.

— Você faz por onde ganhar bem.

— Hum, não posso discordar... — Ele me beija de novo — Vai ficar aqui hoje? Ou terei que implorar?

— Não vai precisar implorar.

— Graças a Deus!

E ele me pega no colo e me leva para a cama.


***


Nova York

 

— Olha, mamãe! — Desvio o olhar do livro que tenho comigo e sorrio para Mandy que está a poucos passos de distância, perto do rio, brincando com bolhas de sabão, junto com Olívia. O frio tinha finalmente dado um descanso e até um sol tímido deu as caras por trás das nuvens, anunciando que a primavera estava próxima. Então aproveitei para levar as crianças para brincar no Central Park.

Anthony dorme tranquilo em seu carrinho, depois de ter me cansado por um bom tempo, querendo andar para todos os lados e seus passinhos trôpegos, de quem tinha acabado de aprender a andar não eram muito confiáveis, o que me obrigava a ficar atrás dele, inclinada e atenta o tempo inteiro.

Aquele mês passado com as crianças estava sendo uma experiência cheia de descobertas, nem todas maravilhosas, devo dizer. Claro que eu já havia passado um tempo com elas antes e daquela vez também não foi fácil, afinal eu não tinha experiência em cuidar de crianças e ainda precisava lidar com o fato de que a família estava toda desestruturada e Anthony malcuidado, Mandy supercarente de afeto e Olivia cheia de revolta. Hoje tudo era diferente, eu não estava mais sob o peso de uma farsa, sendo obrigada a fingir ser quem eu não era e as crianças gostavam da minha companhia. Porém, era a primeira vez que eu ficava sozinha com todas as três, em uma cidade que elas não conheciam, longe do pai e de toda a família. E, por mais que as amasse e tivesse sim muita paciência com as manhas de Mandy, alguma cara emburrada de Olivia ou os cuidados óbvios que um bebê necessitava, às vezes eu me senti sobrecarregada sim.

Apesar de tudo, eu não trocaria essa vida com elas por nada no mundo. Era incrível sentir o amor com que elas retribuíam, poder ensinar cada dia uma coisa diferente e aprender com elas também. Saber que sempre poderiam contar comigo. Era uma grande responsabilidade, que tomava grande parte do meu tempo e podia claramente entender porque Melanie se sentiu presa numa armadilha. Para alguém que não estava preparada e disposta a tanto, era cruel ser obrigada a assumir algo tão sério.

Pensar em Melanie sempre me deixava triste. Ela se foi tão jovem e justamente quando parecia estar encontrando seu caminho. Não era justo. Eu sentia muita falta dela, apesar de termos convivido por tão pouco tempo, talvez até por isso mesmo. Não houve tempo suficiente para nós.

— Mamãe, estou com fome — Mandy se aproxima e eu a abraço.

— Então precisamos colocar comida nesta barriguinha! — Também já estava ficando tarde e daqui a pouco iria anoitecer e o vento estava começando a ficar frio de novo.

Olívia se aproxima e eu sorrio para ela.

— Tudo bem se formos embora?

— Sim, estou com fome também.

— Então vamos.

Quando chegamos ao meu apartamento, as meninas vão trocar de roupa e eu aproveito para olhar meu celular, esperando uma ligação de Connor. Ele tinha ido para Kenmore e estava vendo algumas casas, não via a hora de que ele desse o sinal verde para irmos encontrá-lo.

Não havia nem sinal de Connor. Apenas um recado de Charlote, dizendo para eu me arrumar que iríamos jantar juntas hoje.

— Ela enlouqueceu? — resmungo, discando seu número, enquanto retiro alguns ingredientes da geladeira.

— Olá, recebeu meu recado? — ela pergunta do outro lado da linha.

— Sim, e de onde tirou essa ideia?

— Faz tempo que não saímos para jantar.

— Tenho três crianças para cuidar, esqueceu?

— Não. Para isso existem babás.

— Não tenho babá.

— Deveria ter, acho que faz bem. Enfim, já cuidei de tudo a babá da minha irmã estará disponível esta noite e vai cuidar dos seus bebês.

— Eu não sei...

— Não está aberto a discussão. Já reservei nosso restaurante. Vai amar.

— Realmente, acho que...

— Ei, já falei, está decidido. Precisa de uma folga. É só uma noite. E eu sei bem que em breve vai mudar e me deixar sozinha.

— Esta bem, você venceu.

— Coloque uma roupa bem bonita.

— Por quê?

— Por que estou mandando!

Reviro os olhos e desligo.

Acabo de preparar o jantar das meninas, e até Anthony já está alimentado quando a babá, Carly, aparece. É uma garota adorável de uns vinte e poucos anos e parece bem responsável. Ela diz que trabalha com Stella, a irmã mais velha de Charlote, que tem dois meninos, há alguns anos.

— Então não se preocupe, vá se arrumar, cuidarei bem deles.

— Obrigada.

Mais relaxada tomo um banho e me arrumo como Charlote ordenou e era realmente gostoso colocar um vestido, maquiagem e arrumar o cabelo. A expectativa de uma noite de garotas, jogando conversa fora e comendo boa comida, parece bem empolgante agora. Charlote tinha razão, eu precisava de uma noite de folga.

Antes de sair, verifico o celular e nada de uma ligação de Connor. Tento ligar para ele, o telefone não atende, então deixo apenas um recado para ele retornar. Eu me despeço das crianças e desço para encontrar Charlote que já está no táxi, ainda encucada por ele não ter me ligado.

— Olá, está bonita. — Ela elogia.

— Você também. — retribuo o elogio.

— E que cara é essa?

— Connor não me ligou, estou preocupada.

— Ele vai ligar, não se preocupe. Relaxa!

— Está bem. E onde iremos jantar?

— É pertinho!

O táxi estaciona em frente ao Central Park.

— Central Park?

Ela paga o motorista e descemos.

A noite está caindo lentamente e Charlote engancha o braço no meu me guiando.

— Tem um restaurante incrível aqui, o The Boat House.

— Achei que fosse um lugar romântico...

— E é! — Escuto a voz que não é de Charlote e estaco surpresa, achando que tinha ouvido coisas, fico ainda mais estupefata vendo Connor surgir das sombras.

— Connor! O que... Como... O que faz aqui?

— Uma surpresa — ele sorri, aproximando-se e segurando minha mão.

Quando ele me toca, finalmente saio do estupor e lanço meus braços a sua volta, apertando-o com força, adorando quando ele me aperta em resposta.

— Acho que é minha deixa — Charlote diz e solto Connor para olhar para ela.

— Você sabia!

— De quem acha que foi a ideia? Embora não seja escritora, posso ser um tanto criativa também, meu bem!

— Eu disse a Charlote que queria lhe fazer alguma surpresa no dia dos namorados.

— Nossa, hoje é o dia dos namorados? Eu nem me lembrei!

— E ela me indicou este restaurante e me ajudou a trazê-la aqui sem que desconfiasse.

— Vocês armaram direitinho.

— Bom, eu fico por aqui. — Charlote se despede me abraçando.

— Me conte tudo depois! — sussurra em meu ouvido e retorna pelo caminho.

Eu volto a fitar Connor, ainda maravilhada por ele estar ali.

— Não acredito que esteja aqui!

— Eu queria ter vindo antes, porém, queria que tudo estivesse pronto em Kenmore.

— Quer dizer que encontrou a nossa casa?

— Sim, senhora! — O abraço, feliz e animada.

— Conte-me tudo! Estou tão empolgada, as crianças vão adorar saber! Por que não vamos para casa para contar a elas...

— Nós vamos contar às crianças sim, mas primeiro vamos jantar. Sozinhos. — Ele beija meus lábios levemente e eu concordaria com qualquer coisa, contanto que ele continuasse a me beijar para sempre.

— Tudo bem.

Em vez de irmos para o restaurante, Connor me leva para a beira do lago onde são oferecidos passeios de gôndola até o restaurante do outro lado.

— Sério?

Ele me puxa pela mão, me acomodando na gôndola.

— Acho que você merece um pouco de romantismo depois de ter ficado como babá por um mês inteiro, sozinha.

— Ah Connor, eu amei! — beijo seu rosto, quando ele se acomoda a minha frente e começamos a deslizar pela água. O crepúsculo cai lentamente sobre nós. — Mas não estou reclamando de ter ficado com as crianças.

— Sei que não deve ter sido fácil, cuidar das três sozinha.

De repente algo me passa pela cabeça.

— Era essa sua intenção, quando pediu que eu ficasse com elas? Me assustar?

Ele ri sem negar.

— Assustar não é a palavra, só queria que tivesse certeza de que é o que deseja. — Ele fica sério subitamente — tenho receio que seja demais para você...

— Connor — seguro sua mão — Eu não sou Melanie. Tudo o que viveu com ela é muito diferente de nós. Ela não estava preparada e nem você. Meu caso é diferente, quero uma família com filhos mais do que tudo no mundo.

Ele toca meus cabelos.

— Isso me preocupa também. Sei que quer ter os próprios filhos...

— Oh... Acho que nem tinha parado para pensar sobre o assunto.

— Eu sim. E eu já tenho três, Mel. E não foi fácil criá-los. E agora eu vou estudar e começar uma nova vida, e... Não sei quando poderemos pensar nessa possibilidade.

— Mas ela existe?

Ele sorri.

— Claro que sim. Eu gostaria muito de ter filhos com você, só não num futuro próximo e isso faz eu me sentir culpado. Sei o quanto é importante para você.

— Sim, eu sempre quis ter filhos. E eu os tenho. Olivia, Mandy e Anthony são meus filhos, mesmo não tendo nascido da minha barriga e mesmo se você me disser que não teremos mais filhos, eu estaria satisfeita. De verdade. Porém, saber que você quer ter filhos comigo, me deixa muito feliz e emocionada. E sim, eu posso esperar. Nós temos muita coisa para viver antes. Você vai se formar, vai realizar seu sonho de ser médico e eu estarei junto, te apoiando, ajudando a criar nossos filhos e, quando for a hora, poderemos fazer um bebê.

— Às vezes acho que não mereço você.

— Ah mas eu mereço você. Eu fui uma boa menina a vida inteira, mereço um cara lindo, gentil, que me leva a jantares românticos e fica muito sexy cortando lenha.

— O quê?

— Ah eu não te disse? Espero que nessa casa que comprou tenha bastante árvores em volta para você ficar cortando lenha e eu poder ficar observando.

Ele ri e me beija, me soltando, antes que eu possa aproveitar e, para minha surpresa, se ajoelha no chão da gôndola e pega algo no bolso.

Solto um grito e coloco a mão na boca, surpresa, quando vejo um lindo solitário surgir em suas mãos.

— Melissa Blake, quer se casar comigo?

— Oh Connor... — começo a chorar feito boba.

— Estou esperando a resposta...

— Claro que sim... — me jogo em seus braços e finalmente ele está me beijando como eu queria. Como sempre quero.

Depois ele coloca o anel em meu dedo e sinto que meu coração pode explodir.

Então esta é a felicidade suprema. Sentir que o mundo é perfeito e nos pertence. Porque nós encontramos nosso lugar nele. E alguém com quem dividi-lo. Para sempre.

E, enquanto estou ali abraçada a Connor, sinto a presença de Melanie. Ela está em minhas lembranças, sorrindo e dizendo que eu mereço sim ser feliz. Que me dá a sua benção.

A vida foi feita para sermos felizes, para aproveitarmos todos os momentos da melhor maneira possível, pois um dia ela pode nos ser tirada e será tarde mais. Como foi para Melanie.

Mas eu estou aqui, estou viva e posso fazer o meu melhor para ser feliz. E fazer as pessoas que amo felizes.


E essa sensação de ter a presença de Melanie a minha volta, como um sussurro do vento em meu rosto, fazendo uma paz serena acalmar a saudade em meu coração, permeou todos os momentos importantes da minha vida.

Quando Connor me levou no colo para dentro de nossa casa nova em Kenmore.

No dia de meu casamento, em Lakewood, rodeada por nossos familiares e amigos, no jardim dos Carter. Connor lindo em seu terno preto me esperando no fim do caminho florido e eu seguindo com meu vestido branco, com Mandy e Olivia jogando flores pelo chão, sorrindo felizes por finalmente estarmos oficializando nossa união que já era de coração.

Assim, como eu a senti no dia que nasceram minhas meninas, Emma e Mila. Tão lindas e iguais como eu e Melanie éramos, mas que teriam um destino muito diferente do que tivemos. Elas nunca seriam separadas. Elas nunca se sentiriam inadequadas em sua própria pele. Teriam todo o amor para crescerem saudáveis e capazes de tomarem suas próprias decisões. Juntas, como deve ser.

Melanie era parte de mim, e sua história permaneceu comigo, floresceu em minha mente e se transformou em um livro.

Das minhas mãos surgiu a história de uma mulher que viaja o mundo em busca de si mesma, de uma liberdade e de uma felicidade que lhe era desconhecida. No entanto, diferentemente da realidade, nesse livro ela encontrou seu destino. E teve o seu merecido final feliz. 

 

 

                                                                  Juliana Dantas

 

 

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