O pai de Avery Nolan nunca foi uma parte da vida dela.
Como resultado, ela torna-se uma cuidadora. Sempre tentando agradar os outros, disposta a deixar suas próprias preocupações de lado para a felicidade dos outros.
Ela é altruísta.
Ela é uma provedora.
Do lado de fora, parece que Kade Thomas tem tudo, mas ninguém pode entender a culpa e a dor que ele sente diariamente.
Ele é assombrado por seu passado.
Toda vez que fecha os olhos, encontra-se revivendo o mesmo pesadelo, uma e outra vez.
Ele se culpa pela perda de Jenna.
Ele a empurrou longe demais e ela pagou o preço.
Avery viu algo especial em Kade, desde o primeiro dia em que o conheceu, ela podia sentir isso.
Mas a escuridão que o consome é...
Incontrolável.
Será que ela finalmente será aquela que quebrará as paredes que ele construiu em torno de seu coração e alma?
Ou ela irá perceber que algumas paredes são simplesmente indestrutíveis...
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— Eu apenas pensei que nós poderíamos ficar aqui, talvez assistir a um filme. Só você e eu. — Jenna estava sentada na beira da minha cama, fazendo beicinho. Ela sempre fazia essa merda. Ela achava que tudo deveria vir em segundo lugar, depois de suas necessidades, e usava seus olhos tristes em uma tentativa de conseguir o que queria.
Normalmente funcionava, mas hoje eu ainda estava tão entusiasmado com a adrenalina de ganhar o jogo de futebol contra o nosso maior rival que eu precisava sair por um tempo. Todo mundo decidiu se reunir na praia e incinerar essa emoção – apenas um grupo de seniores comemorando nosso sucesso e ansiosos pela graduação.
Eu estava vasculhando meu armário, procurando minha Henley cinza, de costas para Jenna. Quando me virei, encontrei-a olhando para mim com aqueles malditos olhos. Lentamente, eu caminhei até a cama e me sentei ao lado dela, em seguida, cutuquei seu joelho com o meu em uma tentativa de aliviar seu humor. Quando ela olhou para mim através daqueles cílios longos e lindos, eu quase cedi. Olhar para aqueles olhos azuis bebê era como se perder no mais azul dos céus.
— Talvez pudéssemos encontrar com todos por apenas uma hora, então voltar aqui e terminar a noite juntos, — eu disse, dando o sorriso que ela disse que amava.
— Kade, eu só quero passar um tempo sozinha com você. Meus pais e eu sairemos na terça-feira, por uma semana, e eu só... — ela encolheu os ombros, dando aquele ferido olhar desolado que ela domina. — Pensei que você iria querer a mesma coisa, mas é evidente que eu estava errada.
Meu pai havia me dito em mais de uma ocasião que eu precisava parar de colocar Jenna em um pedestal, pois ela se aproveitava da minha bondade em todas as chances que tinha. Inferno, ela sabia como me alcançar e sabia que se ela empurrasse forte o suficiente, eu cederia. Ela estava acostumada com isso. Ela era filha única, assim seus pais a mimavam demais. Aos olhos deles, ela segurava a lua e não poderia fazer nada errado.
Naquela noite, eu podia ver exatamente o que ele queria dizer. Eu queria sair, me divertir um pouco, e comemorar. A última coisa que eu queria era me enrolar no sofá e assistir algum filme idiota de menina.
— Apenas não quero ir à praia e ficar em pé refazendo as jogadas mágicas que vocês realizaram, — ela gemeu; sua voz misturada com irritação. — Eu estava lá, Kade. Não preciso de um replay.
Lutei contra a vontade de ceder, mas eu também estava ficando irritado. Os truques que ela usava para me fazer ceder estavam ficando realmente velhos.
— Então não vá, — eu disse.
Ela virou a cabeça na minha direção e estreitou os olhos.
— Não sei o que mais você quer que eu diga, Jen. Eu quero ir e você não. Parece que é a única solução que nos resta.
— Que tal: Sim, Jen, eu preferiria passar o tempo com você a sair com os caras? — Ela olhou para mim, suas narinas dilatadas. Mas eu não estava mordendo a isca. Quando eu não disse mais nada, ela se levantou e pegou sua jaqueta da cama. — Tudo bem, eu vou para casa. Eu entendo que ficar na praia com Lacey e Regan enquanto elas se penduram em cada palavra sua soa muito mais atraente do que algum tempo a sós comigo. Não vou implorar por sua atenção, Kade.
Ultimamente, cada desacordo que tínhamos voltava a ela estar com ciúmes de outras garotas ou pensando que eu não fazia o suficiente por ela. Discutimos agora quase diariamente, e isso era exaustivo. — Por que diabos você está agindo como um bebê? — Perguntei. — Eu disse uma hora, Jen, isso é tudo.
— Esqueça. Vá se divertir. Eu vou para casa. — Ela virou as costas e saiu do quarto.
Eu deveria ter simplesmente deixado as coisas quietas, mas não, eu era um burro teimoso que sempre deixava a boca chegar à frente do meu cérebro. Andei atrás dela e a segurei pelo cotovelo quando ela estendia a mão para a porta.
— O que diabos há de errado com você? — Perguntei. — Todo dia, toda noite, nós fazemos o que você quer. Eu pedi uma hora, e você agiu como se fosse matá-la me deixar fazer o que eu quero, por uma vez?
Minha mãe entrou pela porta de entrada da sala de jantar e colocou a mão no meu ombro. — Ok, vocês dois, o que está acontecendo?
Jenna olhou para minha mãe com os olhos pidões, jogando o ato de Eu fui injustiçada. A ideia dela tentar ganhar a simpatia da minha mãe e fazer com que eu parecesse um idiota só intensificou a minha raiva. — Nem sequer pense nisso, — rebati. — Diga a verdade, Jenna. Diga que você está sendo controladora e fazendo uma cena porque pela primeira vez eu não estou cedendo.
— Por que está sendo tão idiota? — Ela cuspiu.
— Sabe o que, talvez você deva ir para casa. — Solto o cotovelo dela e dou um passo atrás, deixando cair minhas mãos para os meus lados. O corredor parecia se fechar sobre mim. Eu amava Jenna, não me interpretem mal. Nós estamos juntos há mais de dois anos, mas as coisas ficaram tão estressantes ultimamente. Agora eu me sentia claustrofóbico perto dela o tempo todo. — Na verdade, eu acho que nós precisamos ficar longe um do outro por um tempo, — acrescentei.
— O quê? — Ela sussurrou, e a dor era evidente em sua voz.
Eu estava tão irritado que não conseguia mais me preocupar com seus sentimentos. Neste momento eu só queria que ela fosse embora antes que falasse coisas que eu não poderia pegar de volta. — Acho que nós precisamos dar um tempo. Esta viagem que você fará com seus pais nos dará um tempo afastados.
Minha mãe ficou de lado, e eu podia dizer pelo olhar no rosto dela que ela não tinha ideia para qual de nós ela deveria oferecer seu apoio.
— Sabe o quê? — Jenna olhou para mim enquanto deslizava a jaqueta sobre os ombros. Lágrimas reunindo em seus olhos, e eu poderia dizer que ela estava tentando contê-las. — Não preciso de uma semana para me ajudar a decidir algo que eu já sei.
— Que diabos isso quer dizer? — Perguntei.
— Você dois poderiam se acalmar e, por favor, me dizer o que está acontecendo aqui? — Minha mãe perguntou. Eu esqueci que ela ainda estava parada ao meu lado. — Vocês dois estão chateados e nada será resolvido com toda esta briga.
Desviei o olhar de Jenna e meu olhar encontrou com a minha mãe. — Estou cansado de ser o fantoche dela. — Minha raiva havia assumido.
Ouvi um gemido e virei bem a tempo de ver Jenna abrir a porta e correr para seu pequeno conversível vermelho.
— Jenna, espere. — Minha mãe gritou em uma tentativa de detê-la, mas ela não ouviu. Ela pulou no carro e arrancou da garagem, fazendo com que um motorista que se aproximava apertasse a buzina e freasse para evitar bater nela. Minha mãe saltou de surpresa e colocou a mão no meu antebraço. — Ela não deveria dirigir quando está tão chateada.
A realidade da situação se estabeleceu e meu estômago afundou. Sem dizer uma palavra, eu saí correndo de casa, entrei em minha caminhonete, e decolei atrás dela. Ela sempre fazia o mesmo caminho quando deixava a minha casa, e eu sabia que ela não poderia estar tão longe de mim. Eu literalmente liguei o meu carro um minuto depois que ela saiu.
No momento em que virei à esquina em East Shore, meu coração parecia ter caído no meu estômago e eu lutava para respirar. Uma mistura de metal vermelho-e-preto mutilado estava empilhada no centro do cruzamento. Mesmo de dentro da cabine, eu podia ouvir uma buzina estridente.
Não me lembro de colocar minha caminhonete em ponto morto ou sequer de sair dela. Nem me lembro de andar em direção ao que já havia sido o veículo de Jenna. Fumaça saía sob o capô dos restos retorcidos de um pequeno carro preto que agora estava em cima do que foi o conversível vermelho de Jenna.
O lado do motorista do carro dela se assemelhava a uma lata que foi amassada para dentro. O persistente som da buzina estridente do carro de Jenna encheu o silêncio enquanto eu agarrava a maçaneta da porta do passageiro e a abria. Imediatamente, eu caí de joelhos no meio da rua com a visão diante de mim.
O cabelo uma vez loiro de Jenna agora estava coberto de sangue enquanto ela estava torta, debruçada sobre o console. Minha barriga apertou, meu estômago embrulhou, e eu me virei para o lado, esvaziando o seu conteúdo na calçada.
Ela não estava se movendo, e havia muito sangue.
Rastejei dentro do carro pelo lado do passageiro e coloquei minha mão no ombro dela. Sua cabeça pendia para frente, bem ao lado do volante, enquanto seu outro ombro estava interposto contra a buzina. Seu cabelo cobriu o rosto, e o escovei de lado, inclinando mais perto em direção a ela. Ela olhava para o assoalho do carro, seus olhos já não segurando a faísca que tiveram uma vez.
Alguém puxou meus ombros e tentou me afastar. Eu sequer ouvi os paramédicos chegarem, mas agora eu percebi que as sirenes estavam estridentes ao meu redor.
— Nós precisamos que você dê um passo atrás, filho, — disse um homem.
Balancei a cabeça violentamente e tentei sair de seu aperto. — Eu preciso tirá-la.
Precisou de dois deles para me tirar do carro de Jenna, e eles me colocaram na calçada apenas a um metro e meio de distância.
— Por favor, eu preciso ajudá-la, — implorei, olhando para eles. — Ela está sangrando. Eu preciso parar o sangramento. — Percebi que lágrimas foram trilhando meu rosto e escorrendo de minha mandíbula. — Por favor. — Minha garganta estava crua e meu corpo tremia.
Uma jovem mulher em um uniforme de paramédico ajoelhou diante de mim, não me dando outra escolha senão encontrar o seu olhar preocupado. — Eu sinto muito, — ela sussurrou.
Eu soube imediatamente o que suas palavras significavam. Eu acho que sabia qual seria o resultado no momento em que vi a condição em que estava o carro de Jenna, mas ouvir a voz da mulher vacilar e ver seus olhos se encherem de lágrimas confirmou.
Jenna foi embora, e era minha culpa.
Os sonhos eram sempre os mesmos. Toda vez que eu fechava meus olhos, eu podia ver os seus azuis olhando para mim com o mesmo olhar sem vida enquanto eu segurava seu belo rosto em minhas mãos, pedindo para ela apenas respirar. Para me mostrar algum sinal de vida.
Capítulo 01
KADE
Era o mesmo pesadelo que eu tinha há anos. Revivi aquela noite em minha cabeça um milhão de vezes e acordei em um estado de pânico, levando-me a pensar em todas as maneiras que eu poderia ter feito para que acabasse de forma diferente. Em vez disso, eu empurrei Jenna além de seus limites, e agora precisava viver com o fato de que eu era em parte responsável por sua morte. Se apenas eu tivesse cedido e passado a noite assistindo a um filme, ela ainda poderia estar aqui ao meu lado.
Não me lembro da última vez que me senti descansado quando acordei, a última vez em que fui capaz de abrir os olhos e sentir como se uma tonelada de tijolos não estivesse pressionando o meu peito. Era como se eu fosse um estranho em minha própria vida enquanto flutuava através dos meus dias, fingindo não ser uma bagunça por dentro.
Hoje, porém, eu tive que colocar um sorriso e assistir ao casamento do meu melhor amigo. Era a última coisa que eu tinha vontade de fazer, mas eu devia isso a Jett. Ele ficou comigo durante os tempos mais depressivos. Quando afastei todos e corri, ele ainda estendeu a mão, oferecendo apoio. Não, eu não aceitei. Não aceitei a ajuda de ninguém, mas ainda era muito importante para mim que ele continuou a oferecer.
Afastei o edredom vermelho escuro e saí do calor da minha cama. Um arrepio passou pelo meu corpo assim que meus pés descalços tocaram o chão de azulejos. Meu apartamento era no nível mais baixo do meu prédio e foi sempre muito mais frio do que as unidades acima, mesmo antes de eu ligar o ar central. Ele possuía apenas o essencial e faltava muito no departamento de conforto. Inferno, minha cozinha tinha uma mesa dobrável e cadeiras. Da mesma forma, meu sofá já havia visto dias melhores, e um dos braços só estava no lugar por causa da parede do outro lado.
Após um longo chuveiro quente, eu corri uma navalha ao longo da minha mandíbula a fim de igualar meu cavanhaque, e em seguida, meu bigode, antes de lavar a navalha e secar o rosto com uma toalha de mão.
Quando terminei, meu telefone tocava no quarto ao lado e não precisei ver a tela para saber que era Jett. Estava combinado que eu devia encontrá-los na igreja quinze minutos atrás. No entanto, deixar cair no correio de voz não resolveu nada, porque ele imediatamente começou a tocar novamente.
Corri para o meu quarto, peguei o meu celular, e passei o dedo pela tela. — Estou saindo agora, — assegurei a ele enquanto pegava minha camisa das costas da cadeira.
— Cara, sério, você fará com que eu me preocupe com você não aparecendo no dia do meu casamento? — Jett tentava soar todo sério, mas eu podia ouvir o sorriso em sua voz.
— Não seja um maricas. Eu disse que estarei aí em dez minutos.
— Melhor você estar. Seu smoking está esperando, — ele disse antes de desligar, deixando-me com visões do pinguim de terno dançando na minha cabeça.
Eu odiava me arrumar, todos esses laços e sapatos brilhantes. Essa merda não era eu. Eu era mais o tipo de cara de jeans e camiseta. Meu pai passou a sua oficina de automóveis para mim quando se aposentou e raramente você me veria sem graxa ou sujeira manchando algum lugar na minha roupa. Então, usar um smoking me faria sentir como se estivesse sendo sufocado. Tentei convencer Quinn a ter um casamento temático na praia, as meninas em biquínis e os rapazes vestindo bermudas. Ela não gostou, mas pensei que a ideia era genial. Entre a praia e minha oficina, não havia outros lugares que eu preferisse passar o meu tempo.
Após correr pelo meu apartamento recolhendo tudo o mais rápido possível, eu corri para a igreja. Quando entrei, eu fui abençoado com a visão de Avery e Callie saindo do banheiro. Fiquei congelado na entrada, tentando conter minha emoção ao vê-las. Callie sempre foi uma amiga para mim. Cresci em torno dela e posso dizer honestamente que ela é como a irmã mais nova que eu nunca tive. Ela é uma daquelas garotas para quem você pode dizer qualquer coisa sem se sentir culpado.
Mas Avery era diferente, e quanto mais eu a conhecia, mais difícil era parar de pensar nela. Ela é mal-humorada e travessa, mas tem um coração tão grande, e ela faz meu coração bater um pouco mais rápido cada vez que está perto. Ela tem esse jeito de sempre se preocupar com os outros, colocando as necessidades dela para trás. Isso só mostra quão compassiva ela realmente é para aqueles ao seu redor. Adoro encontrar maneiras de fazê-la sorrir, porque o sorriso dela faz meu coração sentir como se tivesse sido iniciado. Ambas estavam lindas nos simples e justos vestidos lavanda que destacavam suas peles bronzeadas.
Callie colocou a mão no quadril e estreitou os olhos para mim. — Estou surpresa por Jett não ter enviado Jude e Easton para escoltá-lo com segurança até ao provador. Ele está prestes a escalar as paredes esperando que este casamento acabe para que possa chegar a Quinn.
— Sim, ele me ligou. — Dei de ombros, sorrindo ao me lembrar de como ele parecia ansioso. — Você acha que ele conseguirá aguentar atravessar a cerimônia sem beijá-la?
— Provavelmente não, — Callie disse. — Ele fugiu de casa na primeira hora da manhã para vê-la, e nós tivemos que expulsá-lo. Ele está seriamente pendurado por um fino fio.
Meu olhar vagou para Avery. Seu cabelo longo e louro caindo em um ombro em cachos, deixando o outro lado completamente nu e exposto. A pele dourada implorou para ser beijada e provada. O vestido de seda abraçava seus seios, mergulhando no centro para mostrar a curva de seus seios perfeitos. O tecido justo destacou suas curvas e eu sei que estava encarando, mas porra, ela parecia sexy.
Ela se mexeu, e levantei o meu olhar para encontrar seus olhos. Um sorriso conhecedor apareceu em seus lábios enquanto ela olhava para mim.
— Vocês dois precisam de um minuto? — Callie perguntou, e as bochechas de Avery avermelharam de vergonha.
Avery era a única garota que me fez repensar na minha decisão de abster-se de qualquer relacionamento longo, mas até então esta é uma batalha que não venci. Toda vez que tentei encontrar maneiras de contornar a minha resistência a amar novamente, visões do corpo de Jenna e seu carro destruído sempre venciam.
— Precisamos voltar para o quarto antes de Quinn vir nos procurar, — Avery disse enquanto corria em direção à parte de trás da igreja. Ela teve que passar por mim no caminho e não quis deixar passar a oportunidade de lhe dizer quão bonita ela estava. Envolvi meu braço em volta da sua cintura, e ela deixou escapar um gritinho de surpresa. Puxei-a contra mim e me inclinei para mais perto, aproximando os meus lábios da sua orelha. — Você está tão bonita e incrivelmente sexy.
Ela virou em meus braços, trazendo seu corpo apenas um pouco mais perto do meu. Sua respiração fez seu peito vibrar, e seus olhos estavam fechados, como se estivesse se concentrando unicamente em estar ao meu lado. Seu perfume me envolveu, tornando difícil me concentrar.
— Obrigada, — ela sussurrou.
Eu me inclinei e beijei sua testa antes de recuar, porque precisei colocar algum espaço entre nós. O impulso irresistível de beijá-la até que ambos não conseguíssemos respirar era quase impossível de resistir.
— Guarda uma dança para mim na recepção? — Perguntei, mas soou mais como uma declaração.
Tudo o que ela ofereceu foi um aceno de cabeça antes de Callie agarrar seu braço e puxá-la para longe de mim.
— Meu Deus, vocês dois, apenas cedam. O calor entre vocês é sufocante, — Callie gemeu enquanto olhava por cima do ombro e piscava para mim.
Ela estava certa. A atmosfera era quente como o inferno quando Avery e eu estávamos dentro de um metro e meio de distância um do outro.
***
— Você está pronto para isso? — Easton perguntou a Jett enquanto Jett continuava andando. Nós estávamos trancados neste quarto minúsculo na parte de trás da igreja por quase uma hora, e as paredes se aproximavam de mim. Espaços confinados tinham uma tendência a me assustar.
— Porra sim, eu estou pronto. Na verdade, se isto não começar logo, eu vou encontrar Quinn e arrastá-la para Vegas. Esta merda é para os pássaros. Estou pronto para me casar.
Eu ri, e Jude sorriu maliciosamente de onde estava sentado no lado oposto do quarto.
— Você só está pronto para consumar o casamento, — eu declarei, endireitando minha gravata. A maldita coisa parecia estar me estrangulando.
— Inferno, sim, eu estou. Eu disse a Quinn que estaríamos fora daqui assim que eu ouvisse as palavras: Você pode beijar a noiva. — Era a vez dele de sorrir com um brilho tímido nos olhos. — Tenho uma limusine que é nossa para a noite. Tem vidro de privacidade em todas as janelas, para não falar, entre nós e o motorista. — Ele virou para encarar os caras. — Eu tenho toda a intenção de consumar meu grande casamento, pelo menos duas vezes antes de chegar à recepção. — Ele mexeu as sobrancelhas de forma sugestiva, e fez Jude rir.
***
Eu me senti mal do estômago. Atingiu-me no momento em que cheguei ao altar e me virei para encarar a multidão. Raiva imediatamente me envolveu e era quase impossível de conter. Olhei para ele com minhas narinas dilatadas e meu coração disparado.
Robert Archer não havia bebido naquela noite. Ele era um cidadão cumpridor da lei, que adormecera ao volante após trabalhar dois turnos, mas Jenna morreu no impacto. Se não fosse por ele e eu, a mulher com quem pensei que me casaria um dia ainda estaria viva hoje.
Eu não era a única pessoa que me culpava; os pais de Jenna me culparam também.
Jude bateu no meu braço, e olhei para ele, meu peito ainda agitado com a raiva.
— Você está bem? — Ele perguntou.
— Não. — Foi tudo o que eu ofereci antes de voltar a encarar o homem que matou Jenna.
Passei a cerimônia inteira olhando para ele enquanto ele se remexia em seu assento, esforçando-me para me lembrar de que era o dia de Jett e Quinn. No momento em que a cerimônia terminou, ele saiu correndo da capela, e eu saí atrás dele. Lá fora, o encurralei no lado do edifício.
— Por que você está aqui? — Gritei.
— Fui convidado, — ele declarou; nervoso.
A resposta dele só me deixou mais irritado. Ele vive a vida dele. Ele consegue acordar cada maldito dia e sorrir, rir e sentir o sol no rosto. Mas Jenna pagou o preço por algum dinheiro extra no bolso dele.
Dei um passo para mais perto até que meu peito estava apenas a alguns centímetros do dele. Ele tinha a minha altura e não era um homem pequeno, mas parecia fraco e derrotado.
— Pai? — Eu ouvi atrás de mim, e meu coração acelerado caiu na porra do chão aos meus pés. — Está tudo bem?
Dei um passo atrás e me virei para Avery. Ela olhava para mim com uma expressão confusa no rosto.
— Este é o seu pai? — Perguntei, esperando ter entendido mal.
— Meu padrasto, mas, sim, — ela esclareceu.
Baixei a cabeça e tomei uma respiração profunda. Não admira que eu não tivesse feito a conexão. Avery ainda tinha o sobrenome de seu pai biológico, mas o homem que levou Jenna de mim era o homem que agora ela chama de pai.
Capítulo 02
AVERY
— Kade, o que está acontecendo? — Perguntei.
A tensão entre eles me aterrorizava. Kade e o homem que era mais um pai do que aquele que abandonou a minha mãe e eu, olhavam um para o outro como se fossem inimigos. Eles pareciam estar prestes a atacar um ao outro a qualquer momento.
— Vocês dois se conhecem? — Perguntei.
— Sim, Robert e eu nos conhecemos há muito tempo. Não é, Robert? — A resposta de Kade era toda arrogância.
— Estou sentindo que, uh, — gaguejei, sem saber o que dizer sem que piorasse a situação, — Talvez amigos não seja a palavra certa para explicar o relacionamento de vocês.
Meu pai estava parado diante Kade silenciosamente. Raramente o vi nervoso ou até com raiva, mas agora ele parecia estar com um pouco de ambos.
— Eu acho que vou embora, Avery, — ele disse. — Preciso estar no trabalhar em uma hora. Diga a sua mãe que a verei esta noite. — Ele virou para encarar o seu carro e tentou sair apressadamente.
— Você ainda faz todas àquelas horas extras, Robert? — Kade perguntou, e achei o comentário estranho. — Você está dormindo o suficiente entre os turnos, certo? Quero dizer, você não gostaria de dirigir e causar um acidente, não é, Robert?
Meu pai não respondeu a Kade ou sequer olhou para trás enquanto se afastava. Ele apenas abriu a porta do carro e entrou.
— O que diabos está errado com você? — Estreitei os olhos para Kade. — O que você ganha falando com ele desse jeito?
— Você não sabe? — Perguntou.
— Sei o quê? — Disparei; cada vez mais irritada com ele.
As narinas dele dilataram, e sua respiração rápida ficou mais intensa. — Há quanto tempo ele está casado com sua mãe?
— Por que isso importa? — Eu não ia ceder as exigências dele para obter detalhes sobre a minha vida depois da maneira como ele se comportara. Ele me devia uma explicação pela forma que ele tratou meu pai. Até que eu conseguisse uma, ele poderia se foder.
— Quanto tempo? — Retrucou.
— Vá para o inferno, Kade. — Eu me virei em meus calcanhares e voltei para a igreja, mas eu podia ouvir seus passos me seguindo. Com estes saltos de tiras malditos era impossível me afastar. Ele agarrou meu cotovelo um pouco forte demais e eu gritei quando ele me girou para encará-lo.
— Solta, — eu disse, puxando meu braço. Ele agia como um louco e começava a me assustar. Kade sempre foi tão doce e gentil comigo. Sim, ele era calmo e muitas vezes difícil de ler, mas nunca se comportou assim.
Quando meus olhos se encheram de lágrimas, ele recuou boquiaberto. Tenho a sensação de que ele acabou de perceber que me machucou. — Avery, eu sinto muito. Eu machuquei você, querida? — Ele estendeu a mão para mim, e eu me afastei. — Eu não queria. Porra, eu sinto muito.
— Estou bem. Preciso voltar para dentro. Temos fotos. — Eu me virei e saí, não dando a ele a chance de dizer mais nada.
Quinn olhou para cima enquanto eu me aproximava do altar. Jett tinha um aperto de morte em sua cintura, como se ela pudesse escapar e ele não estava disposto a deixar. Eu ri com sua obsessão ridícula com ela. Sua necessidade por ela e o quanto ele amava tê-la perto eram sinceramente adoráveis. Eu tinha inveja de Quinn. O encontro anterior com Kade voltou correndo e encontrei minhas lágrimas iminentes retornando mais uma vez com a visão da doçura que os dois compartilhavam.
— Não se atreva a chorar, — Harper disse. — Você vai arruinar a sua maquiagem. Se eu tenho que ficar lá em cima e ter esse louco fotógrafo me posicionando como um manequim de alguma maldita janela de loja de departamento, você também vai. — Ela bateu seu quadril contra o meu. — E nós certamente vamos concluir esta tarefa aparentando o nosso melhor.
Harper sempre teve a capacidade de fazer qualquer um sorrir, e seus comentários desagradáveis ??e atitude vá pegá-los eram sempre refrescantes.
— Vamos falar sobre aquela cena entre você e Kade depois que o fotógrafo terminar com a gente. — Ela estreitou os olhos, desafiando-me a discutir.
A ideia de relembrar o que eu queria apenas esquecer que até mesmo aconteceu, revirou meu estômago. Mas Harper não aceitava merda nenhuma de ninguém, e se você fosse amigo dela você tinha que aceitar que ela não o deixaria fugir de um desafio.
Eu me abstive de fazer contato visual com Kade durante as fotos. Entretanto, eu podia senti-lo olhando, e até mesmo o peguei me olhando em mais de uma ocasião com o canto do olho. Eu só queria acabar logo com isso e colocar alguma distância muito necessária entre nós dois.
Eu me mudei roboticamente enquanto o fotógrafo me orientava onde ficar e como me mover. No entanto, no momento em que ele pediu a Kade para ficar ao meu lado e colocar a mão no meu quadril, eu congelei, e energia nervosa percorreu meu corpo. Suor escorria na minha testa, e náuseas atacaram meu estômago. Com o toque da mão dele eu fiquei rígida e prendi a respiração.
Ele soltou uma respiração profunda e me puxou contra seu peito. — Por favor, não faça isso, — ele sussurrou em meu ouvido. — Eu nunca... -— ele fez uma pausa, como se para controlar suas emoções. — Eu nunca poderia machucar você, Avery. Sinto muito por ter te assustado.
Contei até dez na minha cabeça, de novo e de novo, controlando as minhas emoções. Eu não podia quebrar, não aqui, não agora. Eu me concentrei em cada palavra dita ao nosso redor e não respondi ou ofereci sequer um olhar. Em vez disso, forcei um sorriso para a câmera, fingindo não estar completamente presa por dentro.
***
As coisas entre Kade e eu estavam tensas durante a recepção, para dizer o mínimo. Passei mais tempo me escondendo no banheiro do que interagindo com o resto dos convidados. Quando não estava lá, eu usei a minha mãe como uma barreira, junto com Harper, que atirava punhais em Kade em todas as chances que tinha. Ela continuou insistindo que eu explicasse o que havia acontecido entre nós, mas milagrosamente encontrei mais de uma maneira de distraí-la do tópico. Quando Easton a levou para a pista de dança, eu estava mais do que grata. Reviver a crise com Kade foi evitada.
Mas depois que minha mãe foi para casa e todos se juntaram para dançar, eu estava sobrando ao lado, me sentindo sozinha e vulnerável. Quando Kade se aproximou de mim de novo, meu coração acelerou tão rápido que senti como se fosse desmaiar.
— Por favor, acredite em mim quando eu digo que nunca a machucaria intencionalmente, Avery. — A voz dele era crua com emoção. — Deixe-me explicar.
— Está tudo bem. Vamos apenas esquecer, — insisti.
— Eu não posso. — Ele ergueu a mão e alisou meu queixo com as pontas dos dedos. — Eu te assustei e fui um idiota — Ele fechou os olhos com força, em seguida, se aproximou mais e me abraçou. Com seu peito pressionado firmemente contra o meu, eu me concentrei na minha respiração, tentando manter minha compostura.
Para qualquer um ao nosso redor, nós parecíamos dançar a música, mas eu sabia que Kade me abraçando assim era a sua maneira de pedir desculpas. Quando olhei para ele, eu podia ver a dor em seus olhos. Alguma coisa ruim acontecera entre ele e meu padrasto, e não saber o que era estava me assustando de uma maneira que eu não sabia como lidar.
Abaixei a cabeça no ombro dele mais uma vez. — Por que você não gosta de Robert? — Perguntei; minha voz abafada contra o pescoço dele.
Kade deu um beijo suave contra minha têmpora, e a respiração profunda que ele soltou se espalhou pelo meu ombro. — Não sei se lhe contar é a melhor ideia.
Empurrei contra seu peito, obrigando-o a me soltar. — Você pode me dizer ou ele pode dizer. — Limpei minha garganta. — Não importa para mim qual de vocês fará isso, porque posso te garantir que eu vou descobrir.
— Dance comigo, — ele disse. — Por favor.
Sua evasão só me deixou mais irritada. Mas me acalmei um pouco quando notei os seus olhos injetados de sangue e os círculos escuros sob eles. Ele obviamente estivera tão estressado hoje quanto eu. Depois de um momento, ele estendeu a mão e pegou a minha, em seguida, me levou para a pista de dança. Uma vez lá, eu o deixei me puxar para perto de novo, o que lhe permitiu pegar qualquer conforto de que precisava. Nós balançamos através de várias músicas e ele me segurou perto sem falar.
— Jenna foi meu primeiro amor, — Kade de repente sussurrou contra o meu pescoço, me assustando. Sua voz estava rouca, áspera, mais como um sussurro fraco. — Foi minha culpa ela ter ido embora chateada naquela noite. Deixei-a louca, e eu apenas a afastava. Eu deveria ter concordado em ficar em casa com ela. Se tivesse feito o que ela queria, ela ainda estaria viva.
Ele nunca compartilhou nada pessoal comigo. O pouco que eu sabia sobre ele até agora veio de nossos amigos em comum, e seu passado era um assunto que estava sempre fora dos limites. Quando Kade ficava quieto e retraído, eles diziam que ele tinha suas razões, mas que eram dele para contar. E agora ele estava me dizendo. A ideia dele finalmente se abrir me oprimia e me tocava. Realmente significou muito.
— Eu saí o que parecia ser segundos depois dela para impedi-la, mas eu estava muito atrasado. O acidente já havia acontecido. Ela já tinha ido embora. — Sua voz falhou na última palavra.
Meu peito doía com a dor nas palavras dele. Esfreguei suavemente a parte inferior das suas costas, dando um beijo suave contra a base de seu pescoço. Kade trouxe o rosto um pouco mais perto do meu, deixando nossas bocas apenas centímetros de distância. Nós dois permanecemos congelados, sem saber para onde ir em seguida.
No momento em que seus lábios deslizaram sobre os meus, eu apertei a camisa em sua cintura. O beijo gentil e suave que ele colocou contra os meus lábios foi tudo o que ofereceu antes de descansar a testa contra a minha. Um sentimento de profunda decepção liquidou no fundo do meu estômago. Eu queria o beijo por tanto tempo e ele estava brincando comigo, oferecendo apenas uma provocação do que eu sabia que ele poderia dar. Eu queria que ele pudesse se segurar em mim e me beijasse com tudo o que tinha. Em vez disso, ele deu um passo atrás se afastando de mim.
— Ele bateu nela, — ele disse, e confusão tomou conta de mim. — Robert é o cara que ultrapassou a luz vermelha e matou Jenna naquela noite.
Minhas pernas enfraqueceram, e eu não conseguia respirar. Vozes murmuravam levemente ao meu redor, mas eu não poderia dizer o que elas diziam. Senti-me como se eu estivesse em um túnel que lentamente diminuía em torno de mim.
Capítulo 03
KADE
— O que aconteceu? — Jude perguntou conforme Callie se ajoelhava no chão ao meu lado. Eu segurei Avery contra o meu corpo enquanto ela olhava para o espaço, seus olhos desfocados.
— O que você disse a ela? — Callie retrucou, tentando afastar minhas mãos dela. Mas eu não permitiria isso. Segurei Avery firmemente contra mim e rezei para que ela respondesse. Eu realmente não me importava como. Precisava apenas de uma reação dela.
— Eu estava contando para ela sobre Jenna.
Jude e Callie se viraram para olhar para mim.
— O que diabos você diria sobre Jenna que poderia causar esta reação? — Callie exigiu.
Avery agitou em meus braços, e olhei para ela. — Hey, baby, você pode me ouvir? — Perguntei.
Ela fechou os olhos com força e tentou sentar.
— Espera aí, Avery. Vá devagar, — eu dirigi, mas ela se recusou a ouvir. Mantive a minha mão nas costas dela, esforçando-me para garantir que ela estivesse firme o suficiente para sentar-se sozinha. Afinal, a menos de cinco minutos, eu tive que pegá-la quando ela caiu no chão.
— Eu estou bem, — ela insistiu.
— Você tem certeza disso? — Callie perguntou.
— Sim, eu, uh. — Seu olhar encontrou o meu. — Eu me senti um pouco tonta, mas estou bem agora.
Permaneci no chão enquanto Callie e Jude lentamente a ajudavam a ficar de pé, e Callie a levou para o banheiro no final do corredor longo e estreito bem ao lado do bar. Jude então cutucou meu ombro e estendeu a mão para me ajudar a levantar.
— Você está bem? — Ele perguntou.
— Não, eu não estou bem, — respondi. — Não estou bem a um longo tempo.
Eu alcançara o meu limite esta noite, aquele ponto em que não importa o quão duro você tente controlar esses sentimentos avassaladores, eles só o atravessam como um maremoto. Por anos eu segurei a raiva e a culpa, forçando-me a seguir em frente, mas tudo voltou correndo no momento em que vi Robert. Tudo mudou ao meu redor, e de repente eu estava de volta naquela noite, de volta para o momento em que encontrei o corpo sem vida de Jenna curvado no carro. As luzes piscando, a buzina estridente. Todo o sangue em minhas mãos enquanto eu estava sentado no meio-fio e eles a removiam do carro. A cabeça de Jenna caindo para o lado quando a colocaram na maca.
O momento em que tudo se desfez.
Voltar para meus velhos hábitos, a minha rede de segurança, era a única maneira que eu sabia como lidar. O bar aberto tornou isso possível.
No momento em que bebi tanto a ponto dos meus olhos começarem a cruzar involuntariamente, eu decidi que tive o suficiente. Não tinha ideia de quem me ajudou no bar e me tirou do salão de recepção. Enquanto caminhávamos, minha cabeça balançava de um lado para o outro, e fechei os olhos com força para me abster de vomitar enquanto o mundo girava ao meu redor e tudo borrava junto.
Lábios macios escovaram contra a borda da minha boca antes que um suave sussurro enchesse meus ouvidos. — Por favor, perdoe a si mesmo, e perdoe-o. Você precisa se curar, Kade. Deixe-me ajudá-lo.
***
Meus sonhos foram preenchidos com sussurros tranquilizadores e longos cabelos loiros e sedosos cobrindo meu peito. A trilha suave das pontas dos dedos ao longo do meu abdômen e quadril. Beijos suaves contra a minha pele quente enquanto eu caía dentro e fora da consciência.
Quando acordei sozinho na minha cama, ainda totalmente vestido com a roupa de ontem à noite, eu imediatamente me perguntei como diabos eu cheguei em casa. O toque de Avery parecera tão real, mas ela não estava aqui. E se eu tivesse sonhado com isso?
Quando Jude entrou no meu quarto carregando uma xícara de café, eu levantei uma sobrancelha para ele. Ele riu e colocou o copo na minha mesa de cabeceira, à esquerda da cama. Eu acho que foi ele quem me trouxe para casa.
— Bom dia, luz do sol, — ele chiou de uma forma muito não típica de Jude. — Como você gosta dos seus ovos?
— Por que, menino amante? Você fará café da manhã para mim? — Eu sentei na cama e imediatamente agarrei minha testa quando começou a pulsar.
— Você precisa ter algo em seu estômago – além de toda aquela porra de uísque que você consumiu ontem à noite, eu quero dizer. — Quando ele se afastou da borda da mesa de cabeceira, notei uma marca vermelha na sua bochecha esquerda.
— Que diabos aconteceu com seu rosto? — Perguntei, apontando para o local.
— Você e sua estupidez bêbada aconteceram. Melhor você agradecer Avery e Callie quando vê-las na próxima vez. Eu estava a dez segundos de bater na sua bunda, mas elas me convenceram que você já estava à beira da morte, matá-lo seria um desperdício do meu tempo.
Eu sabia que Jude era um filho da puta. Ouvi histórias de Jett sobre seu temperamento e seus constantes dedos machucados. O que só poderia significar uma coisa: ele gostava de bater nas coisas. Ninguém sabia completamente sobre o que ele estava batendo ou quem, mas era óbvio para qualquer um que ele não aceitava qualquer merda. Em mais de uma ocasião ele apareceu no Jett para seu turno como se ele tivesse tido dez rodadas com o campeão mundial dos pesos pesados. Ele nunca deu uma explicação, unicamente insistiu que seu negócio era privado e para se afastar.
Então, tudo voltou para mim – o casamento e a recepção, seguidos por contar a Avery que o padrasto dela era o responsável pela morte de Jenna. — Merda, — resmunguei. — Como Avery está?
Jude saiu, ignorando a minha pergunta.
Eu me arrastei da cama e o segui. — Jude, ela está bem?
— Ela está bem. Quero dizer, tão bem quanto poderia estar considerando que você disse a ela que o homem que ela chama de pai é um assassino. — A irritação apareceu alta e clara em sua voz. — Mas deixe-me perguntar uma coisa, — ele disse, virando para me encarar quando chegamos a minha pequena cozinha. — Essa merda era realmente necessária? Era o momento ou o lugar certo para quebrar o coração dela e jogar esse lixo em seu rosto?
Abaixei a cabeça. Saber que joguei meus problemas em Avery só me fez sentir como um completo idiota.
Capítulo 04
AVERY
Callie não deixaria ir. Ela começou a me interrogar no momento em que entrei no banheiro. Mas, sinceramente, eu queria tirar do meu peito o que havia acontecido entre Kade e eu hoje, porque senti que estava me contagiando. Então eu contei para ela tudo o que aconteceu durante o casamento e a recepção. Entre as lágrimas que derramei tanto por Kade quanto pelo meu padrasto, eu estava uma bagunça.
Depois que eu terminei, ela ficou olhando para mim em estado de choque. — Uau, — ela sussurrou.
— Sim, uau. — Eu me virei para encará-la, meu coração pesado enquanto eu me recostava contra a pia. — Estou presa no meio, e não quero estar.
— Ele nunca deveria ter falado disso aqui. Não era o momento nem o lugar. — Ela parecia irritada.
— Eu estou contente por ele ter dito. Foi apenas uma responsabilidade muito grande. Eu não estava preparada para ouvir que tínhamos essa ligação antes mesmo de conhecermos um ao outro. — Eu estava feliz por Kade finalmente encontrar a força para se abrir, mas nunca esperei ouvir que meu pai era responsável por seu sofrimento e esse conhecimento quebrou meu coração por ambos.
Quando finalmente saí do banheiro, eu percebi que estive lá por uma hora e Kade estava agora destruído. Ele estava debruçado sobre no bar, balbuciava as palavras com dificuldade. Doía vê-lo assim. Eu estava tão acostumada a sua atitude divertida, carinhosa, seus comentários brincalhões e sua brincadeira maluca.
Após ajudar Jude a colocar Kade no carro, Callie insistiu para que eu fosse para casa com ela. Passei a noite inteira pensando em tudo o que Kade disse, mais e mais. As palavras dele mudaram tudo. Eu já sabia que quando ele olhasse para mim, ele se lembraria de Robert e do acidente.
Então, quando eu ainda estava acordada às quatro e meia da manhã, olhando para teto da sala de Callie, decidi que era hora de conversar com Robert. Após chamar um táxi e escrever uma nota rápida para Callie, eu fechei a porta. Conforme caminhava pela calçada em direção ao táxi, meu estômago revirou com a ansiedade, o que só piorou quando o táxi pareceu demorar uma eternidade para chegar à casa dos meus pais. Quando finalmente parou junto ao meio-fio, eu entreguei ao motorista o dinheiro pela janela aberta entre a cabine e o banco de trás e abri a porta. Com o sol mal acima do horizonte, eu caminhei lentamente até a casa dos meus pais. Usei minha chave para abrir a porta da frente e fechei-a suavemente.
Planejei apenas me enrolar no sofá e esperar Robert sair da cama. Eu não esperava encontrar meu padrasto sozinho na sala de estar escurecida apenas à esquerda da porta de entrada, olhando para o espaço.
— Pai, — eu sussurrei.
Ele olhou para cima, e eu não conseguia ver sua expressão das sombras no canto onde ele estava sentado. Quando pisei mais para dentro da sala, ele se mexeu um pouco na cadeira.
— Avery, você está bem? — Ele perguntou, se levantando rapidamente e dando um passo em minha direção. — É tão cedo, querida. Aconteceu alguma coisa?
Balancei a cabeça. — Não, nada aconteceu. Eu só... — fiz uma pausa, sem saber como continuar. — Eu, hum, acho que devemos conversar.
Ele olhou para mim com um olhar vazio.
— Eu sei... Sobre o acidente, — eu disse.
Ele deu um passo atrás e abaixou-se em sua cadeira. Abaixando a cabeça, ele correu os dedos pelos cabelos castanhos e ondulados, puxando as extremidades na base do pescoço.
— Isso foi antes de eu conhecer sua mãe, — ele começou. — Seis meses antes, na verdade. Se não fosse por ela, eu não sei se teria me recuperado daquela noite. — Ele olhou para cima, e seu olhar encontrou o meu. — Aquele foi o ponto mais baixo da minha vida, o tempo mais escuro. Aquela pobre garota. — Sua voz falhou com a emoção.
— Foi um acidente, — eu sussurrei.
— Eu sei, — ele disse. — Mas isso nunca mudará o fato de que eu sou responsável pela morte de Jenna. Ela tinha apenas 17 anos de idade, era capitã do time de debate, e uma excelente estudante. — Ele fez uma pausa, mordendo o lábio superior. — Você sabia que ela queria ser médica?
O fato de saber muito sobre Jenna me disse que seu remorso não havia enfraquecido em todos estes anos.
— Ela costumava dizer a todos que tudo o que ela queria fazer era devolver a esperança para as pessoas, — ele continuou. — Ela queria curar o incurável, fazer a diferença para que ela sempre fosse lembrada.
Ouvi-lo falar sobre a menina que Kade tanto amara fez meu peito doer e meus olhos arderem com lágrimas. Eu me perguntei como ele sabia dessas coisas.
— Eu assisti horas de noticiários, — ele disse; como se tivesse lido minha mente. — Onde a família e amigos falavam sobre as coisas especiais que se lembravam sobre ela. Era uma tortura, mas eu não conseguia parar. Eu ficava acordado à noite chorando, sabendo que eu havia levado uma menina tão especial para longe das pessoas que a amavam tanto.
Enquanto ele secava os olhos, minha garganta se apertou com o conhecimento de que ele havia chorado. — Eu sei que Kade me odeia. Inferno, não se passou um dia desde o acidente que eu não me odiasse também. Roubei o mundo de uma bela e ambiciosa jovem garota, e nunca me perdoarei por isso.
— Ele não te odeia. — Tentei acalmá-lo.
Ele levantou uma sobrancelha para mim e torceu as mãos em seu colo.
— Ele só precisava de alguém para culpar, — assegurei a ele. — Ele se culpa também.
— Eu adormeci ao volante, Avery. Se eu tivesse ido para casa depois do meu turno, as coisas estariam bem. Mas escolhi fazer um plantão duplo, e isso coloca a morte de Jenna em mim. Eu fiz aquilo. Ultrapassei o farol. Não ele, eu. — Robert cobriu os olhos com as mãos e balançou os ombros enquanto soluçava.
Eu me senti perdida, sem saber o que fazer.
Quando minha mãe apareceu na porta e atravessou a sala para se ajoelhar diante de Robert, eu esforcei-me para lutar contra as lágrimas. Até então eu não tinha certeza se ela sabia sobre o acidente. Afinal, eu nunca os ouvi falar sobre isso.
— Você não pode continuar fazendo isso, Rob. Você precisa perdoar a si mesmo. Foi um acidente. — Ela colocou os braços ao redor dos ombros dele e o puxou para mais perto.
Assistir meu padrasto chorar com o rosto enterrado no pescoço da minha mãe era de quebrar o coração. Dois homens que eu amava se culpavam por algo que eles não tinham controle, e a culpa da morte de Jenna os rasgavam.
Capítulo 05
KADE
Fazia três dias que eu não via Avery. Pensei em ligar para ela algumas vezes, só para me convencer do contrário. Distância era a melhor coisa, e ela merecia coisa melhor. Eu sabia que só a machucaria. Eu tinha muitos demônios, e não precisava entristecer Avery com a minha depressão. Embora tudo dentro de mim ansiasse por sua presença reconfortante.
Segurei o frasco de Lexapro{1} em uma mão e meu velho amigo Jack na outra. Você deveria abster-se de beber álcool enquanto estiver tomando esta medicação, mas passei os últimos três dias com nada além de uísque e ainda estava de pé. Sim, eu me sentia cansado e grogue para caralho, mas pelo menos me ajudou a esquecer do inferno que acontecia dentro de mim.
Coloquei a pílula na boca e inclinei a garrafa para levá-la para baixo. A queimadura pareceu muito boa. Saber que a dormência logo se estabeleceria novamente me deu um pouco de esperança de que a dor que eu sentia quase constantemente pudesse ser apenas tolerável esta noite.
Todas as noites desde a manhã em que acordei na minha cama após Jude me trazer para casa, eu dormi na oficina, bebendo todas as noites. Meus dias foram preenchidos com eu arrastando minha bunda no trabalho enquanto Tom e James se escravizavam. Eles viam minha negligência, e eu deveria ter me sentido culpado por isso, mas estava muito abatido para me importar.
Era depois das oito da noite, e eu estava sentado no meu escritório nos fundos da oficina. A única luz vinha da estação de trabalho dois. Deixou apenas luz suficiente para ver enquanto eu me sentava na semiescuridão, tentando afogar novamente os demônios em minha mente. O único som era o compressor de ar, uma vez que cantarolava e, ocasionalmente, soltava um lento vaio de ar. Era quase hipnotizante.
Um nervosismo esmagador encheu meu corpo, e senti a necessidade de me movimentar. Levantei do sofá e tropecei alguns passos antes de conseguir me equilibrar. Vaguei na loja e até o Ford Mustang 1967 Shelby GT500, um carro que meu pai passou horas restaurando. Era seu orgulho e alegria, ou então eu pensei. Ele o comprou no meu último ano escolar, apenas três meses após a morte de Jenna. No dia em que decidiu se aposentar e me entregou as chaves da Garagem Korbin, ele também me entregou as chaves do Mustang. Ele esperava que pudéssemos trabalhar no carro juntos, como uma maneira de eu ter de volta uma noção de mim mesmo. Mas após um ano de flutuar dentro e fora da depressão e raiva, ele desistiu de esperar por mim. Olhando para trás agora, eu me sentia culpado pelo tempo que perdi com ele. Era um tempo que eu nunca poderia ter de volta. Ele faleceu menos de um ano depois de se aposentar, deixando-me com apenas mais arrependimento. Eu parecia viver em uma piscina de arrependimento.
Eu estava diante do carro, admirando o elegante corpo preto e assentos cromados. Eu ainda precisava levá-lo para dar uma volta, mas estava com medo de manchar a sua perfeição, de qualquer maneira.
Uma leve batida atrás de mim chamou minha atenção. Olhei por cima do meu ombro, e minha boca ficou instantaneamente seca.
Avery estava do outro lado da porta de vidro. Seu cabelo loiro claro caía sobre os ombros em ondas grandes, e sua camisa vermelha apertada abraçava a curva dos seios expostos e um pequeno pedaço do definido abdome logo acima da cintura de sua saia curta. Ela terminava no meio da coxa, fazendo com que suas pernas longas e bronzeadas parecessem esticar por quilômetros, e essas sandálias de tiras de salto alto só a deixava mais alta. Ela era linda, e jurei que eu podia ouvir meu coração batendo em meus ouvidos quando apertei a garrafa de Jack em minhas mãos um pouco mais forte.
Ela ofereceu um sorriso doce enquanto fazia sinal para a fechadura na porta, indicando que ela queria entrar. Minha respiração ficou um pouco menos controlada enquanto eu caminhava em sua direção. Eu morria de medo de magoá-la mais do que já fiz.
Abri a porta e dei um passo atrás, permitindo que ela entrasse. No momento que ela passou por mim, o limpo e refrescante aroma de lilases tomou conta de mim.
— O que você está fazendo aqui tão tarde? — Ela perguntou. — Fui ao seu apartamento primeiro, e quando você não estava lá, eu pensei em dar uma chance para a oficina.
Escondi a garrafa de uísque ao meu lado, e quando fechei a porta, coloquei-a na prateleira ao lado da porta enquanto ela olhava ao redor da oficina com curiosidade. Enfiando as mãos nos bolsos da frente, eu ofereci um encolher de ombros quando ela olhou por cima do ombro. Por que eu sentia que precisava escondê-la era um mistério. Eu tinha certeza que ela já percebera que eu estava bêbado.
— Apenas terminando algumas coisas aqui. Trabalho melhor quando estou sozinho. — A última coisa que eu ia admitir era que já fazia quatro horas que eu estava bebendo, estando muito bêbado para ir para casa.
Ela virou a cabeça para o Mustang no canto, e seus olhos se arregalaram. — Oh meu Deus, este é um Shelby 67?
O seu conhecimento sobre carros surpreendeu-me no silêncio, e ela não esperou pela minha resposta antes de caminhar até lá e correr os dedos sobre o para-choque. Quando se inclinou ligeiramente, sua saia subiu apenas um pouco mais. — É lindo, — ela suspirou; ainda o admirando.
Minha mente não podia registrar nada, a não ser Avery, as pernas tonificadas e sua bunda, que foi arrebitada quando ela olhou pela janela do passageiro. Em mais de uma ocasião eu lutara com minha atração por Avery. Ela era linda, e tudo dentro de mim queria senti-la pressionada contra o meu corpo. O problema era que meu corpo era tudo que eu poderia oferecer. Minha mente estava muito fodida para ser digna dela.
Ela endireitou-se e virou para me encarar. — Já viu o filme 60 Segundos?
Que diabos? De onde veio isso?
— Nicholas Cage? Eleanor? — Ela disse. — O Shelby GT500 era o unicórnio dele.
Ela me deixou perdido. Eu seriamente não fazia nenhuma ideia do que diabos ela estava falando. Por um minuto eu debati sobre qual de nós estava realmente bêbado e quem estava sóbrio.
— Oh wow, Kade, você está falando sério? Você nunca viu esse filme? — Ela parecia ofendida, e isso quase me fez rir.
— Querida, você me deixou perdido na merda de unicórnio. Não assisto esse tipo de porcaria, — assegurei. Merda como unicórnios, vampiros e pessoas que se transformam em uma espécie de animal quando ficam chateados não me agradam nem um pouco.
Ela riu e colocou a mão na testa. — Não. — Ela riu. — É um filme de carro. Nicholas Cage interpreta o irmão mais velho que vem em socorro de seu irmão quando ele falha em um assalto. Ele precisa roubar muitos carros em um determinado período de tempo para salvar a vida do irmão do cara que ele ferrou originalmente.
— Ok, então o que diabos isso tem a ver com um unicórnio? — Eu agora questionava a sanidade dela.
— Não é um unicórnio real, seu idiota. É uma metáfora. O personagem de Nicholas Cage refere-se ao Shelby como seu unicórnio. Uma criatura mítica que não existe na natureza. Ele parece ser um ser mágico que está sempre além de seu alcance.
Ela estava bonita para caralho enquanto tentava explicar o filme para mim.
— Então, você gosta do carro por causa de um filme?
— Uh, não. — Ela inclinou a cabeça para o lado. — Eu amo o Shelby porque é quente. Eu só me apaixonei ainda mais por ele depois que foi referido como o unicórnio dele. — Ela sorriu e deu de ombros.
Ela estava tornando difícil manter a minha distância. Honestamente, eu não queria nada mais do que me inclinar e beijá-la intensamente.
— Você é linda. — Eu disse isso antes que tivesse tempo para pensar nisso. Meu filtro cérebro-boca estava um pouco lento esta noite.
Ela olhou para mim por alguns segundos. — Obrigada, — ela sussurrou, sob a luz fluorescente sobre o Mustang, suas faces coradas enquanto olhava para o chão.
Fiquei incomodado por ela evitar o elogio. Fechei a distância entre nós e coloquei meu dedo abaixo de seu queixo. Quando o levantei suavemente, seus olhos se encontraram com os meus.
— Você é linda, Avery. Gentil e generosa, — eu disse enquanto arrastava meu polegar sobre seu lábio inferior. — Não posso deixar de sorrir quando você está por perto. Você traz a alegria, mesmo nos momentos mais sombrios.
Ela correu a língua para fora, quase pegando a ponta do meu polegar. O toque pareceu surpreendê-la, e isso fez meu pau saltar no meu jeans. Fazia muito tempo desde que eu estive com uma mulher, e Avery estava fazendo toda a necessidade reprimida vir correndo de uma vez para mim. Para não falar que ela foi protagonista em todos os meus sonhos sujos desde que eu a conheci há quase um ano.
Eu não conseguia desviar meus olhos de seus doces lábios. Eles estavam úmidos, cheios, e implorando para ser beijados.
— Eu quero te beijar, — confessei. — Não tenho certeza se é uma boa ideia.
A garganta dela balançava enquanto engolia em seco, e ela cerrou a mão na camisa na minha cintura. — Por que não seria? — Sua voz saiu num sussurro ofegante.
— Porque se eu te beijar, tenho certeza que não será suficiente para domar a minha fome.
Ela arregalou os olhos com as minhas palavras, e eu tinha certeza que forçara demais. Eu me sentia mais ousado do que o normal, graças ao cheiro de Avery e a quantidade de álcool que consumi. Misture com um pouco de antidepressivos e isso explicaria meu estado atual. Era definitivamente uma combinação perigosa.
— E se eu disser que estou tão faminta quanto você? — Ela mordeu o lábio, e o puxei com o meu polegar. — Talvez um pouco mais, — ela sussurrou.
Inclinei-me mais perto até que nossos lábios estavam apenas a centímetros de distância. Os sinos de advertência saíam pela direita e esquerda dentro da minha mente, me dizendo que isso só acabaria mal, mas me recusei a ouvir. Seu hálito doce roçou meus lábios, apenas me fazendo querê-la mais intensamente.
— Avery, eu não sou um tipo de cara doce e gentil. Não posso oferecer...
Ela colocou o dedo contra meus lábios para me impedir. — Não estou pedindo para você ser gentil, Kade. Pare de pensar tanto e apenas sinta, — ela disse antes de remover seu dedo e esmagar seus lábios contra os meus.
O contato abrupto me pegou desprevenido no início, e congelei. Mas no momento em que ela traçou a costura dos meus lábios com a língua, eu gemi e coloquei minha mão na parte de trás de seu pescoço. Nossos beijos rapidamente se transformaram em um frenesi aquecido. O jeito que as mãos dela percorriam meu estômago e logo abaixo da barra da minha camisa fazia com que formigamentos rolassem sobre meu peito e braços. Lentamente, ela levantou minha camisa enquanto trabalhava com as mãos. Seu toque provocou uma enchente de relaxamento em mim, e abandonei toda a minha dor, me permitindo estar no momento, sem questionar as consequências das minhas ações. Sentia-me bem para deixar ir, para viver o agora, mesmo que amanhã toda dor e tristeza voltassem com força total.
Afastando-me do nosso beijo quente, eu a levei em direção ao capô do Mustang enquanto olhava em seus olhos, à procura de qualquer hesitação. Quando suas pernas bateram contra o carro, me abaixei, levantei-a e coloquei a sua bunda sobre o capô.
Seu olhar estava trancado no meu enquanto eu tirava minha camisa e a jogava no chão.
— Você tem certeza que quer isso? — Perguntei.
Ela acenou para mim, sem um segundo pensamento. — Sim, — ela sussurrou. — Eu quero você há muito tempo.
Capítulo 06
AVERY
Eu não podia acreditar que isso estava acontecendo. Eu queria Kade desde o primeiro sorriso que ele atirou no meu caminho, mas ele sempre me afastou. Eu sabia que ele passara um longo tempo sofrendo e sabia que ele estava tendo um momento difícil agora, mas isso parecia tão certo. Também sabia que Kade era atraído por mim. Ele nunca escondeu isso. Mas sempre recuou antes de fazer qualquer coisa sobre isso.
No entanto, agora, neste momento, ele se soltou.
Ele estava diante de mim, sua camisa aos seus pés, seus jeans desafivelados e entreabertos, e o cós de sua boxer mal cobria sua ereção. Minha boca ficou molhada com o pensamento do que estava escondido embaixo.
Ele empurrou minha saia para cima, expondo minha calcinha enquanto descansava seus quadris entre meus joelhos. Ele traçou a borda da seda azul com o dedo, provocando e zombando de mim antes de inclinar e beijar minha coxa. Quando fez isso, ele colocou a língua para fora, fazendo-me ofegar de surpresa. Olhei para baixo apenas a tempo de ver um sorriso enfeitar seus lábios. Ele sabia que me tinha e estava adorando. Apenas quando pensei que não podia me provocar mais, ele empurrou o dedo sob a borda da minha calcinha. A maneira como ele levemente passou os dedos sobre o meu centro pulsante me fez empurrar para frente, implorando por mais.
Fiquei desapontada quando ele se levantou. Mas quando ele deslizou as mãos ao longo dos meus quadris, enganchando minha calcinha, eu não pude deixar de sorrir. Lentamente, ele a puxou pelas minhas pernas. Uma vez que as desembaraçou de minhas sandálias e deixou-as cair no chão, ele colocou as mãos sob a minha bunda e me deslizou mais perto da frente do capô, em seguida, separou minhas coxas. Meu rosto aqueceu, e calafrios se espalharam sobre a minha pele quando ele olhou para mim, lambendo o lábio lentamente.
— Sexy para caralho, — ele disse quando se ajoelhou diante de mim, ainda abrindo minhas pernas com as mãos, expondo-me completamente.
O primeiro golpe de sua língua sobre o meu clitóris fez o meu quadril empurrar. Por instinto, tentei fechar minhas coxas, mas ele as manteve separadas com força enquanto me devorava ??como um homem faminto.
Caí sobre o capô, arqueando as costas, me contorcendo e girando meus quadris em prazer, e me pressionando contra sua boca. Eu estava perdida, fora da minha mente enquanto ele me violava. Quando chupou meu clitóris, ele mordeu suavemente, e a raspagem de seus dentes me lançou enquanto eu gritava: — Sim, oh porra, sim.
Ele continuou rolando a língua ao longo do meu centro e a dirigia dentro de mim antes de se afastar para tomar o meu clitóris em sua boca novamente.
Eu não sabia exatamente quando ele se levantou, mas quando ele agarrou minhas coxas e empurrou seus quadris para frente, eu engasguei. Sua dureza me encheu conforme eu o apertava em razão das sequelas de meu orgasmo.
— Oh yeah, — ele gemeu. — É bom para caralho.
Ele começou a se mover forte e rápido, e nosso corpo bateu um contra o outro com cada impulso. Não havia nada lento sobre seus momentos; ele não estava brincando quando disse que não era gentil. Minhas costas esfregaram contra o capô, fazendo um barulho de rangido de resistência com cada empurrar de seus quadris.
A cabeça de Kade foi jogada para trás e seus olhos fechados com força enquanto seus grunhidos profundos enchiam o silêncio. Tentei não analisar quão afastado ele estava, mas isso estava me incomodando. Ele poderia ao menos olhar para mim, fingir que se preocupava um pouco. Desde o momento em que ele entrou em mim, ele não olhou nos meus olhos novamente.
Algo que começou tão incrível rapidamente se transformou em uma transa rápida entre estranhos.
Virei a cabeça para o lado, fazendo tudo o que podia para lutar contra as lágrimas que começaram a construir, me xingando por esperar algo mais de um homem que era incapaz de ter qualquer tipo de relacionamento. Quero dizer, eu estava delirante? Como eu poderia estar chateada com a falta de intimidade? Ele estava bêbado quando apareci, e eu percebi imediatamente. Por que me fiz acreditar que isso era algo mais do que apenas uma libertação para ele, eu nunca saberia.
Seus impulsos se tornaram mais vigorosos, e ele levantou minhas pernas, enganchando-as em torno de sua cintura, então agarrou a minha bunda enquanto batia mais forte e mais rápido. Os únicos sons eram os nossos corpos batendo juntos e sua respiração profunda.
Eu me mexi contra ele, girando meus quadris, esperando por algum tipo de reação. Mas ele manteve os olhos fechados enquanto continuava empurrando. Justo quando eu estava prestes a dizer para ele me soltar, ele bateu uma última vez, e eu podia senti-lo se contorcendo dentro de mim enquanto um jato quente de gozo me encheu.
Ele imediatamente soltou meus quadris e se afastou para desenganchar as pernas de sua cintura. Ele então saiu de mim e deu um passo atrás, ainda se recusando a olhar para mim. — Deixe-me pegar algo para te limpar, — ele disse, puxando as calças de volta no lugar, e caminhou em direção a seu escritório.
Eu me senti como uma idiota. Andei diretamente nisso e não tinha ninguém para culpar além de mim mesma por meu desapontamento. Saí do capô e peguei minha calcinha do chão, não parando nem mesmo para colocá-la, em seguida, corri até a porta, virei a fechadura e a abri. Eu não ficaria por aqui para ser mandada embora. Kade deixou perfeitamente claro que eu era apenas um meio de libertação para ele.
Lá fora, eu entrei no carro, fechei rapidamente a porta e corri para ligar o motor. Quando o liguei, eu olhei uma última vez para a oficina. Kade estava na porta, ainda sem camisa, com as mãos descansando sobre os quadris. Olhamos um para o outro, e ele não fez nenhuma tentativa de vir atrás de mim. Quando ele fechou a porta, meu peito se apertou e meu estômago parecia ter alcançado o fundo do poço.
Dei-lhe o dedo antes de pisar no acelerador e jogar cascalho para cima enquanto saía em disparada.
Kade Russell Thomas poderia ir para o inferno. Eu estava cansada de ansiar por um homem que escolheu viver no passado. Meu coração não aguentava mais.
Capítulo 07
KADE
Thump! Clank! Clank!
Apertei os olhos quando acordei completamente. A luz do sol derramando através da janela do meu escritório feria meus olhos, os quais pareciam ter uma britadeira saindo detrás deles. Tentei alcançar e torcer a haste nas cortinas, mas isso não fez nada para diminuir a luminosidade.
— Cara, você cheira a bunda, e você parece sem-teto, — disse alguém.
Pulei da minha posição no sofá e olhei para a sala. Jett e Easton estavam à beira da minha mesa, me olhando como se eu fosse algum tipo de show de horrores.
— O que diabos vocês idiotas querem? — Gemi, cobrindo os olhos com o braço. Um duro golpe na minha coxa me levou a levantar do sofá em defesa. — Que porra é essa? — Eu cuspi.
— Porra, Kade, você...
— Deixe comigo, — Jett rosnou, estendendo a mão em direção a um Easton carrancudo. Ele então se virou para me encarar. — Levante-se, — ele disse, parecendo estar prestes me rasgar. — Esta besteira que você está puxando não vai mais voar. — Ele pegou a garrafa meio vazia de uísque da pequena mesa ao lado do sofá. — Você está bebendo a porra da sua vida sobre o lixo que você não pode mudar. Você tentou essa merda uma vez, e te levou a lugar nenhum. Com certeza não ficarei à margem vendo você fazer isso de novo.
— Não pedi sua maldita ajuda, agora, pedi? — Levantei e inclinei meus ombros. — Não preciso de você aparecendo para salvar o dia, homem. Você não deveria estar com sua esposa ou alguma merda assim?
Ele estreitou os olhos. — Eu deveria. Mas quando Avery apareceu em nossa casa chorando, minha mulher muito nua saiu da nossa cama quente e se vestiu para acalmar a garota que você acabou de ferrar. — Ele parou por um minuto antes de dar outro golpe. — Ou eu deveria dizer a garota que você fodeu sobre o capô de seu carro apenas para jogar fora depois?
— Não a joguei fora. Ela saiu, — retruquei.
— Sim, e tenho certeza que não tinha nada a ver com você. Aposto que você foi o perfeito cavalheiro. — Ele ainda olhava para mim. — Você sequer se importa com algo? Você tem todas essas pessoas que se preocupam com você, mas age como se nenhum de nós pudesse entender o que você está passando.
A voz de Jett aumentou quando ele gritou comigo, e um dos caras na oficina olhou para a janela do meu escritório, uma expressão preocupada no rosto.
— Vi meu melhor amigo se perder uma vez. Não vou ficar parado e deixar que isso aconteça novamente. Quer você queira ou não, eu estou aqui. Você pode lutar comigo pela porra de cada passo, mas posso te garantir que vou revidar. Não deixarei você se afogar novamente, Kade. Foda-se essa merda.
— Estou bem, — eu disse, olhando para ele com uma raiva correspondente. Era tudo que eu poderia dizer. Meu peito estava apertado, e eu só queria que ambos saíssem.
Jett endireitou os ombros e estufou o peito, ficando mais irritado com o meu comentário. Seu olhar escureceu e ele se aproximou, até que estávamos nariz com nariz. A tensão no ar era espessa quando Easton pisou ao lado dele e colocou a mão em seu ombro.
— Ir para golpes não consertará a merda aqui, rapazes, — ele disse.
— Não, mas batendo uma porra de sentido em sua bunda teimosa com certeza me faria sentir melhor, — Jett disse a ele. — Você deve um pedido de desculpas a Avery, — ele então me disse. — Essa menina teve uma coisa por você por um tempo, e ela merece mais. Você deveria ter sido um homem e dado uma porra de passo atrás ontem à noite se sabia que não podia dar tudo de si.
Eu não podia discutir com ele sobre isso, porque ele estava certo. — Vou falar com ela, — eu disse.
— Tome um banho primeiro. Você fede a uísque, — disse Easton.
— Você acha que pode aparecer no restaurante para o jantar de aniversário de Callie esta noite, ou você é muito bom para seus amigos agora? — Jett ainda estava profundamente chateado.
— Estarei lá, — eu disse enquanto minhas narinas queimavam com tanta raiva quanto ele. Eles estavam em meu espaço, e eu precisava rapidamente de alguma distância.
***
Depois que Jett e Easton saíram, fui para casa e tomei banho por uns bons trinta minutos, na tentativa de lavar todo o suor e sujeira da minha noite de bebedeira.
Eu sei que fui um idiota com Avery, recusando-me a olhar para ela depois que deslizei dentro dela. Foi uma má escolha, mas olhar nos olhos dela e ver o seu prazer teria sido o pior erro que eu poderia cometer. Se nossos olhares estivessem ligados, eu não seria capaz de esconder meus sentimentos por ela. Eu desejava tomar meu tempo, e fazer amor com ela lentamente, mas sabia que ela merecia mais do que um homem mal-humorado e deprimido, que bebe demais e não pode controlar a raiva. Ela é tão extrovertida, feliz e cheia de vida, que eu só a entristeceria. Então, ao invés, eu fiz o oposto. Se não tivesse me separado emocionalmente, ela teria visto através de mim, e ir embora depois, teria sido ainda mais difícil.
Eu precisava explicar minhas ações. Ela precisava saber que eu não agi como agi por causa dela; eu era o problema.
No entanto, no momento em que entrei no Jett para a festa de Callie e a vi escondida na cabine no canto, eu tive que parar de andar e observá-la de longe. Ela sorria para uma foto que Quinn estava segurando. Quando Quinn apontou para ela e disse algo, Avery jogou a cabeça para trás e riu, fazendo seu cabelo se afastar de seu belo rosto.
— Você ainda se sente um idiota? — Jett perguntou quando saiu de seu escritório e caminhou em minha direção.
— Eu me senti como um idiota na hora que a deixei ir embora ontem à noite. — Olhei para ele enquanto continuava vendo as meninas do outro lado da sala. — Não estou orgulhoso da maneira como agi. Apenas não estou no lugar certo agora para oferecer-lhe algo mais. E você está certo, eu deveria ter parado antes mesmo de começar.
— Será que você estará no lugar certo? — Ele perguntou enquanto seu olhar finalmente encontrava o meu. — A morte de Jenna não foi sua culpa, Kade. Você sabe disso. Não pode viver toda a sua vida negando-se a felicidade. Você merece um fechamento, e você merece sentir a força do amor que uma mulher pode lhe dar.
Ele riu, uma ação que eu senti que foi um pouco fora do lugar, considerando o que ele acabara de dizer. — Mas agora você tem que sobreviver as trigêmeas da tortura.
— O quê? — Perguntei, e ele acenou com a cabeça em direção à área de jantar. As meninas me notaram por agora, e Avery olhava para seu colo. Quinn, Harper e Callie, por outro lado, olhavam para mim. — Foda-se, — murmurei.
— Sim, eu estive no fim dessa recepção com cada uma daquelas meninas. No entanto, vou admitir que nunca tive que suportar as três vindo até mim de uma vez. — Ele riu novamente. — Eu diria que suas chances de sobrevivência parecem bastante sombrias. — Ele bateu no meu ombro e se afastou.
— Imbecil, — murmurei.
— Será bom para você, — ele gritou por cima do ombro. — Você precisa de alguém para acordar sua bunda teimosa. Talvez elas possam fazer você ver a luz ou te matar no processo.
Depois de algumas respirações profundas, fui enfrentar as três meninas que já pareciam planejar meu funeral. Eu ainda não havia movido um metro antes de Quinn sair da cabine e começar a caminhar em minha direção.
— Você espera aí, — ela ordenou. Eu já vi Quinn bêbada e zangada. Já a vi bater em um cara nas bolas e deixá-lo como se não fosse nada, então eu com certeza não tinha intenção de irritá-la ainda mais do que já fiz.
— Inferno, quais são seus planos para Avery? — Ela perguntou. — Você está aqui para acabar com ela? Jogar fora outra desculpa a respeito do porque você não pode dar-lhe mais?
Bem. Olá, temperamento explosivo. Porra, Quinn com certeza não segurava seus socos.
— Preciso me desculpar pela forma como a tratei na última noite. Preciso...
Ela levantou a mão e deu mais um passo em minha direção. — Não, o que você precisa fazer é deixá-la em paz. Não vou deixá-lo jogar jogos mentais com ela. Em um minuto você diz que só quer ser amigo. Que não pode oferecer mais, porque decidiu viver em um mundo louco dentro de sua cabeça. No entanto, no minuto seguinte, você transa com ela sobre o capô do carro e, em seguida, a atira de lado como sobras de quatro dias.
— Não quero magoá-la, Quinn.
— Sim, bem, Kade, é extremamente tarde para isso. Você já a magoou.
Suas palavras me cortaram profundamente. Olhei em direção à mesa, onde Avery agora estava sentada sozinha e ainda se recusando a olhar em minha direção. Foi quando notei que tanto Callie quanto Harper se juntaram à festa de punir Kade.
Claro, os rapazes estavam sentados no bar, à minha esquerda, observando com sorrisos nos rostos. Babacas arrogantes estavam amando o show, assistindo a minha morte se desenrolar bem diante deles.
— Se você quer viver sua vida na tristeza, não arraste a minha melhor amiga junto com você. Ela merece um homem que a coloque em primeiro lugar, — acrescentou Quinn antes de virar e voltar para a mesa.
— Cara, você fodeu, — disse Harper.
Olhei para o bar para encontrar Easton olhando para ela com um olhar de orgulho no rosto. — Você acha? — Retruquei sarcasticamente.
— Você pode responder a uma pergunta? — Callie perguntou. Balancei a cabeça e olhei para Avery novamente, esperando que ela fosse apenas olhar em minha direção. — Quanto tempo você planeja fingir que merece ser punido?
— É hora de acordar e parar de se culpar por coisas que você não tinha controle, — disse Harper. — É difícil se afastar de eventos que mudam nossas vidas. Acredite em mim, eu sei. Mas chega um momento em que você tem que deixar ir toda essa raiva e culpa. Os e se o deixarão louco, Kade.
Capítulo 08
AVERY
Meu estômago estava em nós desde o momento que eu acordei esta manhã, não que eu tenha conseguido dormir muito noite passada. As meninas estavam irritadas após eu contar tudo a elas no café da manhã. Estavam prontas para ir até a casa de Kade e cortar sua masculinidade, ou assim Harper afirmou. Não importava quantas vezes eu dissesse que estava bem; elas continuaram planejando a morte de Kade. De certa forma eu senti pena dele, mais ou menos.
Consegui sentir o momento em que ele entrou no restaurante, porque as três meninas olharam para a porta e se recusaram a desviar o olhar. Quinn disparou da cabine, seguida de perto por Callie e Harper. Elas foram até Kade, prontas para atacar, e, claro, Jett o deixou sozinho para sofrer.
Eu não podia olhar para ele. Estava muito envergonhada e com raiva. Nunca esperei que ele declarasse seu amor por mim, mas me ignorar enquanto me tinha presa ao capô de um carro não era o que eu tinha em mente, também. Era como se eu fosse apenas uma garota aleatória que ele pegou no lado da estrada, não uma amiga que ele tinha há mais de um ano.
Eu não estava imaginando a atração entre Kade e eu. Estava lá. Mas ele fingia diariamente que não era nada de mais profundo e congelou cada vez que as coisas iam um pouco longe demais. Mas na noite passada ele abaixou a guarda, e sim, eu pensei por um momento que as coisas poderiam ter mudado. Acho que foi uma fantasia que eu criei no calor do momento – uma esperança, na verdade – que ele havia parado de me afastar, e eu não estava prestes a detê-lo. Era algo que eu queria há muito tempo.
— Eu poderia bater nesse homem idiota, — Quinn cuspiu enquanto desabava ao meu lado na cabine. — Ele nunca quis te machucar minha bunda.
— Talvez ele não quisesse, — sussurrei.
— Desculpe-me?
Dei de ombros e continuei torcendo minhas mãos nervosamente. — Na verdade, nós não entendemos o que ele está passando. Agimos como se entendêssemos, mas sério, ele luta com isso há anos. — Engoli após o nó de grandes dimensões na minha garganta. — Sabia que os pais de Jenna o culpavam? Que quando ele desapareceu logo após o acidente e todos pensaram que ele viajara, ele estava bem aqui, em Palm Beach? — Aproveitei a oportunidade e olhei para Quinn. Ela me olhava atentamente. — Ele bebia todos os dias para tentar abafar os demônios que aquela noite criou na mente dele.
Quinn olhou para Kade, sua expressão suavizando. Estava claro que ela o observava não como o idiota que ela viu há poucos momentos atrás, mas como a alma perturbada que eu sabia que ele era. — Não gosto de vê-la machucada, — ela disse enquanto seus olhos continuavam fixos em Kade.
— Eu sou uma menina grande, Quinny, — eu a lembrei.
— Avery, eu posso falar com você, por favor?
A voz profunda de Kade entrou em erupção ao meu lado, e pulei um pouco surpresa.
Quando Callie e Harper voltaram a se sentar na cabine, eu me virei para olhar para Kade. A expressão preocupada cobria o rosto dele, e meu coração doeu por ele. Balancei a cabeça e saí da cabine.
Caminhamos em direção as portas traseiras que se abriam para a varanda na parte de trás do restaurante. O cheiro do mar encheu meus sentidos quando respirei calmamente.
— Sinto muito, — ele disse atrás de mim. Eu não me virei, apenas me inclinei um pouco mais perto do parapeito, olhando para a água que lavava a praia em onda após onda, lembrando-me do padrão que Kade e eu compartilhamos ao longo do último ano. Nós progredimos, flertamos, oferecendo um pequeno toque aqui e ali, apenas para nos afastar quando as coisas ficavam muito perto. Exceto na noite passada, eu não havia me afastado até depois que já era tarde demais.
— A noite passada nunca deveria ter acontecido. — O arrependimento foi evidente em suas palavras, e elas deixaram uma dor vazia no meu estômago. — Eu não deveria ter...
Ele parou abruptamente quando eu empurrei contra a grade. Era a hora da dispensa, e eu seria condenada se saísse disso como a pobre moça que foi posta de lado. — Realmente, não foi grande coisa. Quero dizer, foi apenas sexo, certo? Nós dois tivemos uma coceira para coçar e nada mais. Não se preocupe com isso. Nós flertamos e nós jogamos, agora podemos seguir em frente. Não resta nenhum mistério, certo? Para coisas maiores e melhores. — Forcei um sorriso e virei em direção ao restaurante. — Honestamente, Kade, não perca o sono por isso. Estou bem.
Não esperei que ele discutisse ou dissesse algo. Recusei-me a deixá-lo com a impressão de que eu estaria ansiando por ele. O que eu sabia que era exatamente o que eu estaria fazendo em silêncio.
Passei as próximas três horas rindo com meus amigos e evitando contato visual com Kade, e bloqueei as últimas vinte e quatro horas da minha mente o melhor que pude. Eu vivia no momento, lembrando-me de que havia vida sem Kade Thomas, e antes dele eu costumava manter minha cabeça erguida. Eu não iria, não poderia ser aquela garota que chorava pelo cara que não queria as mesmas coisas que ela. Eu não aceitaria. Eu merecia mais do que uma transa aleatória.
***
— Bem, Sr. Hebner, parece que você precisará de alguns pontos, — eu disse enquanto inspecionava o corte acima do olho do rapaz. A sala de emergência foi bastante lenta hoje. Estava tão feliz por ter sido colocada no turno do dia. Noites eram horríveis.
— Você não pode apenas colocar uma daquelas ataduras sobre ele para mantê-lo fechado? — Ele respondeu.
— Temo que não. — Eu quase ri com o olhar de pânico nos olhos dele. Ele era um homem de vinte e poucos anos que se aproximava de um colapso total com a ideia de agulhas. — Nós podemos anestesiar a área para você, e, basicamente, você só sentirá uma pressão suave. Terminará antes que você perceba.
Ele parecia um pouco verde, talvez a ponto de desmaiar. — Eu odeio agulhas, — ele confessou enquanto agarrava a lateral da cama de hospital.
— Eu meio que captei isso. — Sorri, e ele abaixou a cabeça imediatamente. Mas então ele riu e levantou-a novamente para encontrar meu olhar.
— Aposto que você não tem muitos como eu aqui. Um homem crescido a ponto de ter um ataque de pânico.
— Oh, você ficaria espantado, — assegurei a ele. — Eu voltarei em poucos minutos, e vamos começar. — Então eu fui pegar o material que o médico precisaria para o procedimento, deixando para trás um homem muito nervoso.
Dra. Wilson pisou ao meu lado e entregou uma carta a Heather, a enfermeira que estava sentada do outro lado do balcão. — Quarto 6 pronto? — Ela perguntou.
— Sim, e ele é um fóbico. Odeia agulhas e pode precisar ser instruído ao longo do processo, — expliquei.
Dra. Wilson riu e deu um passo atrás do balcão. — Esses são sempre divertidos, — ela disse enquanto caminhava em direção ao quarto. Acompanhei de perto com os suprimentos.
— Boa tarde, Sr. Hebner, — ela disse ao entrar. — Vamos ver o que você tem. — Ela puxou uma cadeira para o lado da cama, e tirou a gaze da testa dele para analisar o corte acima do olho. — Isso não é muito ruim. Quatro pontos, talvez cinco. Você estará bom como novo em menos de dez minutos.
Quando comecei a retirar os itens que a Dra. Wilson precisaria para o procedimento, a cor sumiu do rosto de Sr. Hebner. Eu sabia que esse seria um daqueles momentos em que eu teria que segurar a mão do paciente. Eu apenas estava acostumada a que essa mão pertencesse a um paciente muito mais jovem.
Eu me formei em enfermagem há alguns meses e trabalhava na sala de emergência desde então. Não era a minha ideia de um trabalho a longo prazo, mas foi a primeira oferta que eu tive, e me daria a experiência que eu precisava para um dia trabalhar em consultório particular. Enquanto eu me ocupava, minha mente vagava para Kade. Se curar as feridas dele fosse tão simples quanto a cura do paciente que estávamos atualmente tratando – apenas um ponto ou bandagem para tampar o buraco em seu coração, uma dose de lidocaína para aliviar a dor. Eu daria qualquer coisa para ser capaz de ajudá-lo a ver através da escuridão, mas ele não me deixou entrar. Não totalmente.
Eu não tinha certeza se ele algum dia seria capaz de fazê-lo.
Capítulo 09
KADE
Sentei-me na praia enquanto a água batia ao meu redor. Estive ali por mais de uma hora, apenas absorvendo a tranquilidade. A água fria era refrescante enquanto o sol batia em mim. Saí da oficina e vim direto para cá, precisando do consolo do oceano.
Eu queria que Avery aceitasse o meu pedido de desculpas. Queria que as coisas permanecessem amigáveis entre nós, porque a amizade dela significava o mundo para mim. Mas por que diabos ela dispensar o que aconteceu entre nós me incomodava tanto? Foi uma saída fácil da bagunça que eu causei, no entanto ainda me corroía.
Olhei para o enorme copo na minha mão, ainda mais da metade cheio com uísque. O conteúdo não estava acalmando a dor que eu sentia – o vazio que se estabelecia mais e mais a cada dia. Eu sabia que tinha dispensado Jett, fingindo não precisar da ajuda dele. Mas a verdade era que eu precisava sair da minha própria cabeça. Eu estava me afogando, e não sabia como sair deste fodido humor depressivo.
Fazia sete dias desde que Avery agiu como se o que compartilhamos fosse apenas uma transa – e que ela faz a coisa de uma noite só o tempo todo. Não deveria me incomodar, mas toda a situação entre nós era fodida. E era completamente oposta ao resultado que eu disse que queria.
Levantei-me, escovando a areia dos meus calções e caminhei em direção a minha Tahoe, estacionada apenas alguns metros de distância. Talvez um pouco de tempo com o meu amigo pudesse lançar alguma luz sobre a minha confusão.
***
Quando parei na casa de Jett, eu podia ouvir a música saindo pelo quintal. Desliguei a ignição, peguei minhas chaves, e caminhei para o portão ao lado da casa.
Quando vi a piscina, eu parei bem na lateral da casa, onde eu ficava escondido pela escuridão.
Jett e Easton estavam sentados no deck, cada um segurando uma garrafa de cerveja. Avery, Harper, e Quinn estavam na lateral da piscina, dançando ao som da música. Callie flutuava em uma boia no centro da água, rindo das meninas enquanto elas gritavam os versos da canção.
Avery estendeu as mãos acima da cabeça e torceu-as, balançando os quadris. Quinn combinava os movimentos dela, como se tivessem praticado uma centena de vezes.
O som da risada de Avery puxou algo em mim. Eu sabia que a minha presença só afastaria o seu riso. Observei por mais alguns minutos, amando a visão dela sendo feliz. Harper, Avery e Quinn estavam agora de pé lado a lado na beira da piscina, de mãos dadas. Elas contaram até três e pularam na água como uma forte bola de canhão próximo à Callie. A boia vacilou em seu percurso antes dela cair de lado e afundar.
Eu ri, lembrando-me do tempo em que eu puxei uma bola de canhão em Jett, cerca de um ano atrás. Ele se sentia triste por causa de seu relacionamento com Quinn, e eu tentava animá-lo. Agora era eu que estava na lixeira, embora honestamente, eu não tinha o direito de estar. Fui eu quem permaneceu isolado e distante. Eu causei esta confusão entre Avery e eu, então por que me senti tão fodido?
Silenciosamente fugi e voltei para a minha caminhonete. Eu não estava a ponto de estragar o momento e sua diversão.
De repente, aquela garrafa de uísque soou bem real.
***
Meu telefone tocando na mesa ao lado da cama me acordou. Bebi até o esquecimento na noite passada e desmaiei no sofá. Era sábado de manhã, e apenas uma pessoa ligaria cedo assim.
Nem sequer olhei para a tela quando passei meu dedo através dela. — Bom dia, mãe, — eu disse, apertando os olhos com força. A voz dela era uma daquelas que o atravessa diretamente. Era sempre alguns decibéis muito elevados, e depois da noite que eu tive, ia me bater forte.
— Kade Russell, o que é preciso para uma mãe receber uma visita de seu único filho? — Ela perguntou. — Você se esqueceu de onde eu moro?
Eu ri da sua tentativa de me fazer sentir mal. Mesmo sem vê-la, eu sabia que ela estava sorrindo. Ela sempre tentou empurrar o ato de mãe ferida e solitária. — Está apenas um pouco louco, Ma. Desculpa.
— Bem, fiz um grande café da manhã, um grande, e darei até as dez para você chegar aqui. Se não aparecer, vou até aí arrastar seu traseiro. — Depois disso, ela desligou, não me dando nenhuma chance de argumentar.
Parece que eu tomaria café da manhã com a minha mãe.
Capítulo 10
AVERY
Sentei-me à mesa em frente à minha mãe e Robert. Eles me convidaram para o almoço, e eu precisava da distração. Ao invés de ficar sentada no meu apartamento com pena de mim mesma.
Não havia porque chorar sobre o impossível.
— Como Kade está indo? — A pergunta de Robert me pegou desprevenida, e engasguei com o pedaço de frango que tentava mastigar. Era o último tópico que eu esperava surgir.
— Acho que ele está bem. Quer dizer, eu não o vi muito ao longo das últimas semanas. Ele fica muito ocupado com a oficina e tudo o mais. — Usei a melhor desculpa que eu poderia pensar.
Robert balançou a cabeça e empurrou a sua comida. Um silêncio desconfortável se esticou.
— Nós decidimos fazer aquele cruzeiro no Alasca, — minha mãe começou a falar, quebrando o silêncio. — Levei um bom tempo empurrando, mas este grande bronco decidiu que ceder era sua melhor opção. — Ela cutucou Robert com o ombro, e ele ofereceu-lhe um sorriso.
— Isso é ótimo, — eu disse. — Quando vocês saem?
Meu padrasto colocou o braço sobre os ombros de minha mãe. — Saímos na próxima terça-feira, e vamos ficar fora por dez dias. — Ele puxou-a para si e beijou a testa dela. — Será bom para nós.
O comentário me deixou um pouco nervosa. Estavam tendo problemas que eu não estava ciente? Afastei à ideia, porque sinceramente, às vezes eles eram quase perfeitos demais para ser verdade. Eu pensava demais em cada situação depois do meu desentendimento com Kade, e foi fácil deixar minha mente vagar. — Vocês merecem algum tempo longe. Tirem muitas fotos, porém, — insisti.
— Veja, um... — minha mãe se inclinou e colocou os braços sobre a mesa. — Nós compramos três bilhetes.
Olhei por cima do ombro para o meu padrasto, que se recostou na cadeira ao lado dela, sorrindo.
— O que quer dizer, três bilhetes?
— Nós queremos que você venha também, — ela disse. — Você trabalhou tão duro, e merece uma pequena pausa também.
— Mãe, eu não posso simplesmente pegar e viajar. Acabei de começar no hospital. Pedir uma folga tão cedo... — mas enquanto eu dizia isso, eu senti que ela já havia tratado do assunto. Minha mãe era a melhor amiga do chefe da equipe do hospital, assim, pedir um favor para me dar uma folga não era nada. Eu apenas não gosto da ideia dela usar suas conexões para conseguir um tratamento especial para mim.
— Vamos fazer isso, Avery, — ela disse. — Nós queremos fazer isso.
Como se disser não para a minha mãe fosse uma possibilidade. Ela sempre foi uma daquelas mães que todos os meus amigos desejavam. Ela desistiu de muita coisa para se certificar de que eu tivesse uma vida incrível, e nunca me fez sentir como se eu não pudesse chegar até ela com nada. Mesmo depois que meu pai nos deixou, ela seguiu em frente.
— Estou sentindo que você já cuidou do hospital. — Levantei uma sobrancelha para ela, e meu padrasto e ela sorriram. — Bem, então é melhor eu tirar minhas roupas mais quentes.
***
— Um cruzeiro no Alasca por sete dias? — Quinn perguntou enquanto eu arrumava a mala na minha cama.
Concordei e contei mentalmente os pares de roupa íntima que eu tinha em comparação com os dias que eu ficaria fora. Tínhamos cerca de três dias de viagem e sete dias a bordo do navio de cruzeiro, então eu precisava arrumar para um total de dez dias.
— É melhor embalar uma abundância dessas. — Ela apontou para a pilha de roupas íntimas que eu segurava na minha mão. Então ela pegou a caixa de absorventes que ainda estava na cama e jogou-os em minha mala. Ela estava certa. Fiz uma nota mental para pegar alguns Pamprin{2} também.
— Você tem certeza que está bem? — Ela perguntou. — Você sabe, com toda a situação de Kade.
— Sim, eu estou bem, — assegurei. — Quero dizer, eu sinto falta da amizade dele. Mas ele tem muitas coisas na cabeça para poder oferecer alguma coisa a alguém. Ele precisa resolver tudo isso. Talvez um dia ele encontre alguém que possa fazê-lo feliz.
— Dez dias é muito tempo, — ela fez beicinho. — Eu sentirei sua falta.
Quinn era mais como uma irmã para mim do que apenas uma amiga. Nós crescemos juntas, e eu não conseguia me lembrar de um tempo quando ela não estava ao meu lado.
— Prometo que vou ligar. — Eu ri quando ela jogou o protetor diário de calcinha na minha mala também.
— Bem, de todas as semanas que você poderia ter ido, esta será a perfeita. Você é uma cadela quando está no período menstrual.
Estreitei os olhos para ela, mas não podia discutir. Eu realmente era terrível durante esses dias.
Capítulo 11
KADE
Passei a última semana lutando contra o desejo de beber. Minha mãe havia lido para mim o ato de motim{3} quando apareci na casa dela parecendo como se eu estivesse bebendo a uma semana. Eu sabia que se não me endireitasse ela chutaria a minha bunda. Minha mãe pode ser pequena, mas ela tinha um inferno de soco. Ela passou muitos anos recebendo merda de mim, e atingiu o limite há muito tempo. Atualmente, ela tinha pouca tolerância para a minha autopiedade e más escolhas.
Em vez de beber, eu me enterrei na oficina, me tornando um chefe e fazendo todo o trabalho que eu podia. Eu precisava da distração. Se minhas mãos não estavam ocupadas com as ferramentas, elas estavam ansiosas para pegar a garrafa mais próxima de álcool.
Não pude deixar de pensar em Avery cada vez que eu olhava para o meu Mustang, por mais de uma razão. O jeito que ela me contou a história sobre o filme que assistiu, algo com Nicholas Cage nele, e seu entusiasmo quando ela explicou em detalhes o significado atrás dele era bonito.
Então, depois de fechar a oficina, eu parei na locadora em busca deste filme de carro. Passei cinco minutos tentando descrevê-lo para o cara atrás do balcão. Ele olhou para mim como se eu fosse louco, até que alguma garota me ouviu e disse que o nome do filme era Sessenta Segundos. Então ela me levou até ele.
Eu não me sentava para assistir um filme há muito tempo. Pensei em ligar para Avery, mas decidi que era uma má ideia. Eu não tinha necessidade de continuar jogando com a cabeça dela. Então eu sentei com o filme e sorri de orelha a orelha durante a cena que ela me contou naquela noite, onde Nicholas Cage chamava o Mustang de seu unicórnio.
A necessidade de vê-la ficou ainda mais forte.
Indo contra todo o meu melhor julgamento, eu desliguei o filme e levantei do sofá, então peguei minhas chaves do gancho na parede, ao lado esquerdo da porta da frente.
Dirigi a minha caminhonete até a oficina e estacionei à direita da porta da garagem. Após destrancar a porta lateral, fui direto para o Shelby, e pela primeira vez desde que meu pai morreu, eu liguei o motor. O ronronar enviou um arrepio animado pelo meu corpo enquanto eu o tirava da garagem. Naquele momento, a alegria que senti me fez pensar em Avery. Após sair da garagem, eu tranquei a oficina novamente antes de dirigir em direção ao apartamento dela. Pronto, eu parei no espaço ao lado de seu carro e desliguei o motor, em seguida, peguei a pizza que comprei ao longo do caminho e saí do carro.
Meu estômago se apertou quando me aproximei da porta. Eu não tinha certeza se ela sequer a abriria quando me visse do outro lado. Testando, eu bati na porta. Quando fiquei sem resposta, eu tentei novamente, mas minha batida alta só ganhou a atenção de seu vizinho.
— Ela não está em casa. — A jovem morena ofereceu quando colocou a cabeça para fora da porta. — Ela saiu há poucos dias, e sei que ela disse que ficaria fora por dez dias.
Meu estômago caiu. — Você sabe onde ela foi?
— Um cara pegou-a e a levou em algum cruzeiro. Não sei onde. — Ela me ofereceu um sorriso amável, e eu assenti antes de me afastar e voltar para o meu carro, descartando a pizza no lixo ao longo do caminho.
Saber que ela saiu com outro cara me irritou mais do que eu tinha o direito de ficar, e saber que ela estava em um navio cruzeiro, provavelmente nos braços de outro homem, fez meu sangue ferver. Saber que eu poderia ter evitado tudo isso se não tivesse agido como um idiota em primeiro lugar só me irritava ainda mais.
Eu a empurrei para longe uma e outra vez, e agora ela encontrou alguém disposto a dar o que eu não podia.
Eu só podia culpar a mim mesmo.
Capítulo 12
AVERY
Eu estava no navio de cruzeiro por cinco dias agora, e havia mais dois antes de meus pés estarem mais uma vez plantados em terra firme. Eu não fui talhada para isso. Fiquei enjoada com o balanço após o primeiro dia. As ondas e o balanço, oh meu Deus. Eu precisava que tudo parasse, porque esta foi uma ideia muito, muito ruim.
Não me interpretem mal. O mar era bonito, como nada que eu já tivesse visto antes, mas prefiro ter meus pés em terra firme. Passei a maior parte do meu tempo pairando sobre o vaso sanitário ou deitada na cama, dormindo o dia todo.
Acabei de sair do banho e combinei de encontrar meus pais para jantar em menos de uma hora. Apenas a ideia de comida revirou meu estômago, mas eu daria uma chance. Abri minha mala em busca de uma calcinha e sutiã quando meu olhar caiu sobre o pacote de absorvente seguramente fechado ao lado de todas as minhas meias. Os cálculos começaram imediatamente na minha cabeça. Eu deveria estar quase na metade do meu período, mas estava olhando para a caixa fechada.
Pânico passou por mim, e freneticamente procurei meu telefone. Quando encontrei, eu puxei o meu calendário, e meu coração afundou imediatamente, apenas para deixar-me mais desconfortável.
— Oh merda, — murmurei.
Eu estava quatro dias atrasada. Nunca estive atrasada.
***
Passei os últimos dois dias em uma névoa, ainda rezando silenciosamente para o meu período chegar enquanto os absorventes em minha bagagem continuavam fechados. Meu estômago estava em nós.
Quando desembarcamos no aeroporto, eu já estava calculando o tempo que levaria para chegar ao meu apartamento e, em seguida, à farmácia mais próxima. Eu precisava saber, mas não estava pronta para compartilhar este bocado de informação com a minha mãe. Poderia ser um alarme falso.
Após Robert me ajudar a entrar com minha bagagem, vi pela janela do meu apartamento quando eles saíram da garagem. Assim que não conseguia mais ver a parte traseira do carro deles, eu saí correndo, apertando as chaves do carro na mão.
Minhas mãos tremiam todo o caminho até a farmácia e continuaram a tremer enquanto eu caminhava pelo corredor da farmácia, avaliando o número de diferentes testes de gravidez diante de mim. Não sabia qual escolher. Depois de finalmente me decidir por um intermediário em uma caixa rosa e branca, eu caminhei para frente. Minhas mãos tremiam novamente quando entreguei ao caixa o dinheiro. Em seguida, saí correndo para o meu carro, e enviei uma mensagem para Quinn, porque caramba, eu precisava da minha melhor amiga.
Eu: Encontre-me em minha casa, por favor. Eu preciso de você.
Apenas alguns segundos se passaram antes dela enviar uma resposta.
Quinn: No meu caminho.
Esperei impacientemente enquanto andava pelo chão da sala. Parecia uma eternidade até que ela chegou, ainda que tivesse sido menos de cinco minutos. Abri a porta enquanto ela caminhava pela calçada com um olhar preocupado no rosto.
— O que está acontecendo? — Ela perguntou ao entrar no meu apartamento. — Você está assustando tremendamente. — Corri para dentro e fechei a porta, sem responder à sua pergunta. — Sério, Avery, eu estou começando a surtar.
Apontei para o teste deixado na bancada da cozinha. — Aposto que você não está tão assustada quanto eu.
Ela esquadrinhou a área que eu havia apontado, e seus olhos se arregalaram no momento em que viu a caixa. — Você está?
Dei de ombros. — Eu estava esperando você chegar aqui antes de fazer. Não posso fazer isso sozinha.
Ela assentiu com a cabeça, ainda olhando para a caixa. — Ok, bem, vamos fazer, então. O suspense está me matando. — Quinn caminhou até o balcão, pegou a caixa, e foi em direção ao banheiro. Ela parou quando percebeu que eu não estava seguindo. — Você vem?
— E se for positivo? O que eu farei? — Lágrimas brotaram nos meus olhos com o pensamento de carregar o filho de Kade.
— Hey, as primeiras coisas primeiro, vamos ter certeza de que você ainda tem uma razão para perguntar e se, — Quinn insistiu.
Andei até ela e peguei a caixa de suas mãos.
— Eu vou esperar aqui, — ela disse, e eu entrei no banheiro.
Lá dentro, eu abri a caixa, e li rapidamente as instruções. Uma vez que a tarefa estava completa, eu enrolei algum papel higiênico e coloquei o teste em cima dele antes de colocar ambos na pia.
Quando saí do banheiro, andei diretamente para os acolhedores braços de Quinn. Ela me abraçou com força enquanto me guiava para o sofá.
— Não importa o que esse teste diz, tudo ficará bem. Eu prometo, — ela disse.
Balancei a cabeça em seu ombro, esperando profundamente que ela estivesse certa.
Capítulo 13
KADE
O táxi se aproximou da frente do meu apartamento e desacelerou até parar. Abri a porta e me concentrei em rastejar para fora. Assim que meus pés estavam no chão, o tropeço começou, e foi um milagre eu não cair de cara no chão. Comecei cedo hoje, e dirigir da oficina até em casa não era uma opção. Como me concentrei em colocar um pé na frente do outro, eu não percebi nada ao meu redor.
— Então você ainda está bebendo seus dias e noites, hein? Fingindo que seus problemas vão simplesmente desaparecer se você tem mais uma bebida.
Olhei para cima um pouco rápido demais e tive que me apoiar contra a parede ao lado da minha porta. Avery estava sentada, escondida no escuro, em frente à entrada do meu prédio.
— Vejo que você voltou do seu cruzeiro, — eu murmurei enquanto me concentrava em colocar a chave na fechadura. Quando errei um par de vezes, ela finalmente ficou impaciente e pegou as chaves da minha mão para abrir a porta.
Dei um passo atrás, girando apenas o suficiente para admirá-la de lado e deixar minha mente vagar sobre o que ela poderia ter feito nestas duas últimas semanas. Meus pensamentos só me fizeram ansiar outra bebida.
Uma vez que a porta foi aberta, fui direto para a geladeira, deixando-a em pé na porta.
— O que diabos está errado com você? — Ela retrucou, aborrecimento dominava sua voz.
Ignorei a pergunta dela e torci a tampa da garrafa que peguei da geladeira. Fiquei surpreso quando Avery estendeu a mão no meu ombro e arrancou da minha mão. Antes que eu pudesse detê-la, ela a esvaziou dentro da pia.
— Que porra é essa? — Lati em frustração. A dureza do meu tom surpreendeu até a mim.
— Você precisa ficar sóbrio, imbecil, e parar de tentar beber sua maldita vida. — Ela olhou para mim com desgosto. Avery estava claramente de mau humor; ela raramente levantava a voz. Ela deu um passo em minha direção. — Não estou te pedindo por amor, e não espero que você me ame. Mas você certamente estará na vida do nosso filho ou filha. Eu não vou deixar você roubar-lhe um pai, porque quer afogar suas mágoas diariamente em uma garrafa de uísque.
Ela caminhou em direção à lata de lixo e jogou a garrafa agora vazia. Ela clicou alto contra as garrafas que eu já havia tomado.
Avery abaixou a cabeça por um momento, como se tentasse limpar seus pensamentos. Então ela balançou a cabeça suavemente, e eu teria perdido se não estivesse olhando para ela, observando cada movimento seu.
— Acorde, Kade. Você não morreu naquela noite. Ela morreu. Lamento ser tão brusca, mas Jenna se foi. Ela não voltará. Não foi culpa sua. Não foi culpa do meu pai. Foi um acidente, e viver naquele momento para o resto de sua vida não a trará de volta.
O peito de Avery subia e descia rapidamente, e seus olhos brilhavam com as lágrimas que ela lutava para não deixar cair.
Honestamente eu perdi o controle de tudo o que ela disse depois de uma frase específica.
— Nosso filho? — Questionei. Eu deveria tê-la ouvido errado.
— Sim, — ela sussurrou antes de tomar algumas respirações calmantes.
Meu coração estava acelerado, e eu queria vomitar. — Você está grávida?
Quando ela acenou com a cabeça, minha frequência cardíaca acelerou, e me senti um pouco tonto. Estupidamente andei até a mesa e me sentei com um baque forte, a cadeira arrastando pelo chão com um ruído alto.
— É meu? — Perguntei, e seus olhos se estreitaram em raiva.
— Sim, Kade. Ao contrário do que você pensa, eu não sou uma prostituta.
— E o cara que levou você ao cruzeiro? — Perguntei.
As sobrancelhas dela se enrugaram em confusão. — Fui ao cruzeiro com minha mãe e padrasto.
— Sua vizinha disse apenas que era um cara.
— Sim, bem, Nancy é intrometida e deve cuidar da própria maldita vida, — Avery murmurou.
Silêncio estabeleceu enquanto eu olhava para ela, mudando meu olhar de seus olhos para seu estômago. — Você está me dizendo que eu serei pai? — Perguntei, ainda sentindo que isso deveria ser algum tipo de sonho.
Ela só balançou a cabeça em confirmação.
— Tem certeza? Quero dizer... — parei, porque minha mente estava em todo o lugar. — Você já foi ao médico?
— Fiz o teste hoje. Eu percebi isso quando estava no cruzeiro, mas não há muitos lugares para comprar um teste de gravidez a bordo de um navio de cruzeiro.
Corri a mão pelo meu cabelo e descansei na minha nuca. A ideia de que eu seria pai de alguém ainda parecia impossível.
— Você precisa ficar sóbrio, Kade. Não estou dizendo que não posso fazer isso sozinha, porque eu posso. Mas tê-lo a bordo facilitaria muito mais as coisas. — Seus olhos umedeceram. — Eu sei em primeira mão como é ter um pai que não se importava. Não quero que nosso filho cresça com essa mesma experiência. Você precisa fazer tudo que puder para limpar sua cabeça. O que for preciso para abandonar esta culpa e raiva que você tem dentro de você, você precisa encontrar isso. Porque você tem alguém para pensar agora. Alguém que olhará para você e buscará sua orientação. Se você estiver bêbado até o esquecimento o tempo todo, que tipo de exemplo você será?
Avery caminhou em direção à porta, e de repente entrei em pânico, suas palavras me tiraram do meu devaneio induzido pelo choque. Eu não queria que ela me deixasse. Dei um passo em sua direção e parei rapidamente quando ela falou de novo.
— Se não pode ficar sóbrio por você, pelo menos, faça pelo seu filho, — ela disse antes de sair do meu apartamento rapidamente, deixando-me com a palavra filho correndo pela minha cabeça como um trem de carga.
Capítulo 14
AVERY
Planejei ir a minha ginecologista sozinha, mas Quinn pegou as chaves do carro da minha mão e subiu ao volante do meu confiável Chevy Malibu. Ela, então, apontou para o banco do passageiro e ergueu a sobrancelha para mim, desafiando-me a discutir e não mostrando nenhuma indicação de ceder. Jett e sua personalidade exigente definitivamente a influenciara. Agora a minha melhor amiga sabia como manter-se firme, com força. Com medo de me atrasar para minha primeira consulta, eu não discuti com ela.
Estávamos sentadas na sala de espera durante cerca de vinte minutos, quando a enfermeira baixa chamou: — Avery Nolan. — Nervosismo e emoção me inundaram enquanto me levantava. Abaixei para pegar a minha bolsa no chão, apenas para ser parada quando uma mão grande e forte envolveu a minha.
— Deixe-me. — A voz profunda vibrava através de mim.
Olhei rapidamente para cima e engasguei quando me vi olhando nos esperançosos olhos verdes de Kade.
— O que você está fazendo aqui? — Sussurrei. Eu não havia dito a ele onde era a minha consulta. Ainda não falara com ele desde que deixei o apartamento dele há três dias, depois de dizer que eu estava grávida.
Ele hesitou por um momento antes de me oferecer um sorriso gentil. — Primeira consulta médica do meu bebê hoje. Eu não podia perder isso.
Eu me virei e olhei para Quinn com conhecimento de causa. Ela rapidamente desviou os olhos, olhando para longe, como se não tivesse nada a ver com Kade aparecendo aqui. Não preciso ser um gênio para ver que toda esta situação tinha o dedo do Jett e o dela.
— Espero que esteja tudo bem que eu esteja aqui, — Kade disse de forma hesitante. Imediatamente me senti culpada por pensar em maneiras de impedi-lo de ir lá comigo. Este dia era algo que ele deveria ser capaz de fazer parte.
— Hum. — Limpei minha garganta. — Está tudo bem, sério. Mas você tem certeza que está pronto para isso? A última coisa que eu quero é que você se sinta forçado com tudo isso.
— Não vou mentir, Avery, — ele começou. — Ainda estou um pouco surpreso com a coisa toda, mas não me afastarei de você ou do bebê. Estou aqui para vocês dois. Isso é uma promessa, — ele me assegurou com outro sorriso amável.
Não tinha ideia de onde este novo obstáculo nos levaria, mas precisava admitir que tê-lo aqui para compartilhá-lo comigo era bom. Embora eu ainda quisesse bater na minha melhor amiga por me jogar nessa situação sem aviso prévio.
A enfermeira chamou meu nome mais uma vez, soando um pouco impaciente. Ela manteve a porta aberta para o interior da clínica, olhando para Kade e eu enquanto torcia meu arquivo de lado a lado.
— Bem, eu acho que é melhor ir, então, — eu disse, contornando-o.
— Vou esperar aqui, — Quinn anunciou enquanto folheava a revista que agora segurava nas mãos. Ela fingia estar absorta em tudo o que estava na primeira página, mas eu sabia muito bem que ela tinha os olhos fixos em Kade e eu nem mesmo dez segundos atrás. Eu só podia balançar a cabeça para ela. Iria descobrir o que fazer com ela mais tarde. A merdinha sorrateira sabia quando saímos que Kade planejava estar aqui.
Quando entramos pela porta que a enfermeira segurou aberta, Kade descansou a palma da mão contra a parte baixa das minhas costas. Foi o mais gentil dos toques, mas isso fez meu coração disparar em antecipação por mais.
Precisei limpar minha cabeça e lembrar que isto não significava nada. Ele veio pelo bebê. Eu não podia me permitir pensar qualquer outra coisa.
Assim que entramos na sala de exame, a enfermeira, Linda, me passou um vestido de papel.
— Preciso que você tire sua roupa da cintura para baixo e sente-se na cama. Dr. Miles irá vê-la em alguns minutos.
— Obrigada, — eu sussurrei enquanto examinava o quarto, à procura de algum abrigo dos olhares curiosos de Kade. Quando vi o escuro mogno divisor no canto, uma sensação de alívio tomou conta de mim.
A sala ficou em silêncio quando fui para trás do divisor e comecei a me despir. Minhas mãos tremiam incontrolavelmente o tempo todo, e senti como se meu estômago estivesse em um grande nó. Quando tirei minha roupa, embrulhei firmemente o vestido de papel em volta da minha frente e soltei um suspiro de frustração quando percebi que a minha bunda ainda estaria exposta.
— Está tudo bem? — Kade perguntou. — Você precisa de ajuda?
— Hum, não, — eu disse apressadamente. — Estou bem. — O silêncio caiu novamente, apenas fazendo com que o nó no meu estômago apertasse ainda mais intensamente. — Na verdade, você pode se virar? — Quando ele não disse nada, eu fiquei mais inquieta. — Por favor, — sussurrei.
— Não estou olhando, Avery.
Balancei a cabeça, como se ele pudesse me ver.
Lentamente, eu espreitei do lado da divisória, e quando confirmei que ele estava, de fato, olhando pela janela, de costas para mim, eu subi na mesa e me deitei até que estava totalmente encaixada. Uma vez no lugar, eu dobrei o vestido de papel em torno de meus quadris o melhor que pude. Era inútil tentar cobrir minha bunda. Percebendo quão ridícula que eu estava sendo, eu revirei os olhos para mim.
— Você pode olhar agora, — eu disse.
Kade se afastou da janela e deu alguns passos em direção à cadeira colocada ao lado da cama. Uma vez que ele se sentou, ele recostou-se e cruzou as pernas, descansando o tornozelo sobre o joelho. Nossos olhares se encontraram e ele sorriu. — Você percebe que eu te vi nua, certo?
Apertei os olhos para ele. — O que lembro é de você olhando para o teto ou apertando os olhos bem fechados enquanto eu estava sem roupa diante de você. Imaginando outra pessoa enquanto você se aliviava, eu tenho certeza.
Um olhar atordoado substituiu seu sorriso uma vez arrogante. — Avery, isso não é o que eu estava...
Alguém bateu na porta, e eu estava secretamente feliz que o médico tenha escolhido aquele momento específico para entrar. Não queria refazer a noite que Kade e eu compartilhamos. A única coisa boa desse erro era o pequeno milagre que eu agora possuía.
— Olá, Sra. Nolan, — o médico disse enquanto me dava um sorriso amável.
Hoje era a primeira vez que eu vi Dr. Miles, que havia substituído o meu médico original quando ele se aposentou há alguns meses. Dr. Miles parecia estar em meados de seus trinta e tantos anos e era alto e em forma. O sorriso dele era suave, e a ideia do que eu estava prestes a tê-lo fazendo, com Kade na sala, de repente me fez sentir nauseada. Falar sobre momentos mais embaraçosos.
Eu estava seriamente indo matar Quinn e Jett, porque eu sabia que ele era cúmplice dela. Eles eram um time.
Capítulo 15
KADE
O destino deveria estar jogando uma porra de piada cruel em mim agora. Tudo o que eu queria fazer era explicar a Avery que ela não poderia estar mais errada sobre a nossa noite juntos, mas agora eu precisava esperar. A situação acabou ficando muito mais tensa. Ela não só queria se esconder de mim, cobrindo seu corpo tanto quanto o vestido de papel permitia, como agora eu precisava me afastar enquanto um jovem médico sentava-se entre suas coxas e brincava com sua boceta. Por que o médico não poderia ser uma mulher?
— Meu nome é Dr. Paxton Miles. — Ele estendeu a mão para Avery, e ela ofereceu a dela. — É bom conhecer você, Avery.
Ela sorriu educadamente, oferecendo um, — Eu também.
Uma enfermeira que ainda não havíamos conhecido trouxe sob um carrinho uma máquina de algum tipo. Assim que a colocou ao lado da cama, ela saiu do quarto.
Miles então se virou para mim e estendeu a mão. — Não se preocupe, isso é apenas a máquina que nos permitirá ver o seu filho hoje. Você deve ser o pai?
Mordi a língua, porque eu realmente queria dizer, Inferno de porra sim, eu sou o pai. A necessidade de uma reivindicação que eu não tinha direito de fazer era forte. Em vez disso, eu ofereci um aperto de mão firme e um aceno rápido.
— Ótimo. — Ele se virou para Avery e puxou uma cadeira, sentando-se diante dela. — Sua ficha diz que você descobriu através de um teste de gravidez, e nós confirmamos os resultados aqui no consultório.
— Sim. Eu estava atrasada, então... — o olhar dela vagou sobre o meu. Eu podia sentir como ela estava nervosa, e não gostava da ideia dela se sentindo desconfortável perto de mim.
— Tudo bem, primeiro eu vou examiná-la e vamos realizar uma ultrassonografia interna, — explicou o médico. — Você ainda está no início da gravidez, então eu acredito que o ultrassom será a nossa melhor chance de obter uma boa olhada em seu pequeno. Nós vamos tomar algumas medidas e tentar fazer o melhor para determinar sua provável data de parto. Se você puder deslizar para frente e colocar os pés nos estribos, — ele orientou enquanto colocava as luvas de látex e deslizava mais perto da borda da cama.
— Um pouco mais até sentir a borda da cama contra suas nádegas, — ele disse conforme ela mexia para baixo.
Eu me encolhi toda vez que ele falou, e podia sentir meu queixo tenso com irritação. Verdade, ela não era minha, mas estava carregando meu filho, e a ideia dele – ou qualquer homem, na verdade – tocando Avery me irritava.
— Ok, abra suas pernas apenas um pouco mais, — disse o caralho do Dr. Miles.
Segurei o braço da cadeira com tanta força que meus dedos começaram a ter cãibra. Eu me dispersei, porque o silêncio obsoleto enquanto examinava Avery estava me enlouquecendo.
— Ok, você sentirá a varinha, — ele disse. — Só um pouco de pressão. Aqui vai.
Uma varinha? Que porra é essa? Eu estava prestes a abrir a boca e dizer o quanto eu não gostava do que ele fazia com Avery, mas parei imediatamente quando um som encheu a sala. Meu olhar instantaneamente conectou com Avery, e seus olhos se arregalaram de surpresa.
Já vi filmes suficientes para saber que era o som do coração do nosso filho. Nesse momento, tudo se tornou tão claro. Embora não tivesse a intenção de conceber o bebê, agora eu não poderia estar mais feliz que ele existisse. O ritmo do coração do nosso bebê era quase hipnotizante, e nós dois permanecemos em silêncio, apenas escutando. Acho que eu poderia ficar nesse quarto durante todo o dia, ouvindo o som do nosso bebê.
— O coração soa forte, — disse o médico. Nem percebi que eu olhei feio para ele por interromper esse som bonito até que olhei para Avery. Ela estreitou os olhos em uma advertência silenciosa, dizendo que é melhor eu segurar minha atitude.
— Você vê este pequeno ponto escuro aqui? — Dr. Miles perguntou quando apontou para a tela.
— Sim, — Avery sussurrou, e me inclinei em direção à tela ao lado da máquina para conseguir ver melhor.
— Esse é o seu bebê, — explicou. — Você está em torno de seis semanas.
Não sei o que diabos acontecia dentro de mim, mas senti um ardor no peito quando tentei tomar um fôlego. Um arrepio me percorreu enquanto eu continuava olhando para a tela, ainda me concentrando apenas no doce som. Quando o barulho parou abruptamente, eu pulei da minha cadeira. — O que aconteceu?
Avery riu levemente com a minha reação, e o médico me deu um sorriso tranquilizador. — O ultrassom acabou.
Meu coração doeu com as palavras dele. Eu não estava pronto para isso ter acabado. Aquele lindo batimento cardíaco me deixou saber que o meu filho era saudável e forte. Sem ele, como eu poderia manter a calma?
— Tirei um par de fotos para vocês, no entanto, algo que você pode mostrar a seus amigos e família. — O médico estendeu uma tira de papel com duas imagens. Bebê Nolan estava escrito na parte superior.
As palavras acenderam uma necessidade de afirmar o meu filho. Peguei a caneta da bancada, curvei, e acrescentei um hífen e o nome Thomas antes de soltar a caneta na prancheta. Quando olhei para Avery, ela me observava com uma sobrancelha arqueada em questionamento.
— O quê? — Perguntei.
Dr. Miles entendeu. Eu podia ver isso nos olhos dele. Nenhum homem sensato queria ter a criança tendo um sobrenome diferente do seu. Dar ao bebê meu nome seria um obstáculo que Avery e eu teríamos que atravessar, mas já reconheci oficialmente que eu assumiria a responsabilidade pela vida crescendo dentro dela. Foi um daqueles momentos de mudança de vida, do tipo que basicamente bate na parte de trás de sua cabeça enquanto grita que é hora de acordar. Eu tinha um filho a caminho, e era hora de colocar para descansar todas as besteiras que eu estive puxando ao longo dos últimos dois meses.
Após o médico pedir licença, dei um passo para o lado da cama enquanto Avery se sentava. Ela olhou para mim em confusão quando tranquei meus olhos com ela.
— Por que você está me olhando assim? — Ela perguntou.
— Me desculpe, eu fui um idiota. Sinto muito sobre aquela noite na oficina.
Ela estremeceu e se afastou enquanto começava a saí da mesa, segurando o vestido de papel sobre sua metade inferior. Ela tentava fugir, mas eu não podia permitir isso. Segurei seus quadris com o braço e a mantive no lugar.
— Eu não olhei para você naquela noite porque sabia que se eu fizesse, você seria capaz de ler como eu realmente me sinto sobre você, — disse. — Eu não estava pronto para isso. De maneira nenhuma eu poderia ter escondido isso de você. Em vez disso, me forcei a me desinteressar, e sabia que era um movimento imbecil, um movimento idiota, pelo qual eu vou me arrepender todos os dias.
— Basta deixar ir, Kade, — ela insistiu e tentou se afastar de mim.
— Não, — rosnei. — Não deixarei ir. Eu vou consertar isso. Vou fazer direito por você e nosso bebê.
— A única coisa que você precisa fazer é cuidar de você, — ela disse. — Quando o bebê nascer, eu só quero que ele ou ela tenha o pai na vida dele. Não espero nada mais do que isso.
Seu olhar segurou o meu. Ela estava machucada, e eu esperava por isso. Ela tinha todo o direito de estar. Mas mesmo que demorasse muito, gostaria de provar a ela que a nossa noite juntos não foi apenas alguma transa aleatória, mas uma noite onde um homem teimoso cometeu um enorme erro. Eu deveria tê-la abraçado e lhe permitido ver a emoção nos meus olhos e a conexão esmagadora que senti quando nossos corpos se uniram – uma ligação que me bateu mais forte do que eu esperava.
— Eu vou corrigir meus erros, Avery. Isso é uma promessa. — Eu me inclinei e dei um beijo suave contra sua testa. Eu falava sério. Eu faria isso com ela ou morreria tentando.
Capítulo 16
AVERY
— Então, quão chateada você está? — Quinn perguntou enquanto caminhávamos em direção ao meu carro.
Eu estava exausta e emocionalmente esgotada, tanto da consulta quanto da forma como Kade reagiu. Eu não podia me permitir acreditar que ele falava sério. Eu sabia que ele faria a coisa certa onde o bebê estava envolvido; que era apenas o tipo de homem que ele era. Mas isso é tudo o que eu queria dele. O que nós compartilhamos foi um momento de insanidade. Meses e meses de luxúria que construíram até o ponto de explosão, e agora eu tinha o bolo no forno como resultado. Enquanto nos dirigíamos para a minha casa, me sentia mais e mais cansada. Minhas emoções estavam descontroladas, e era exaustivo.
Eu estava grávida. Ainda não podia acreditar.
— Eu me senti como se fosse o inimigo, e você e Kade estabeleceram este ataque secreto, — eu disse a ela quando virei meu carro na entrada da garagem. — Mas não estou chateada por ele estar lá. Eu só queria que você tivesse dito alguma coisa, isso é tudo que estou dizendo.
— Ele veio ontem à noite para conversar com Jett, — Quinn disse. — Ele ainda estava em estado de choque, eu acho, sobre o bebê. Mas, enquanto ele estava sentado no sofá com a cabeça abaixada, ele só parecia tão derrotado. Ele estava chateado por ter estragado as coisas com você e preocupado de não ser capaz de consertar tudo de novo. Tudo apenas meio que saiu, e Avery, você deveria ter visto a maneira como os olhos dele se iluminaram quando eu falei sobre o bebê.
Ela fez uma pausa, e coloquei o carro na garagem, olhando para encontrar seu olhar.
— Ele foi de parecer perdido a sorrir mais do que eu já o vi sorrir, — ela disse. — Ele pode ter ficado chocado com a notícia, mas acho que esse bebê é exatamente o que ele precisa para ver o lado bom na vida que ele esqueceu que existia. Ele passou tanto tempo na escuridão, eu acho que ele não consegue se lembrar como se sente ser feliz.
— Eu sei, — eu disse. — Vi esse olhar nos olhos dele hoje, quando ouvimos os batimentos cardíacos do bebê. Juro que quando o médico apontou para a imagem na tela, Kade estava à beira das lágrimas. Na verdade, eu mal podia me concentrar na imagem do nosso bebê, porque eu estava em êxtase pelo efeito que teve sobre ele.
— Mas não posso abandonar a raiva que sinto em relação a ele pela maneira como ele agiu e basicamente por desistir, — continuei. — Ele só precisa encontrar a felicidade dele sozinho, sem usar o bebê ou a mim como desculpa. Ele não pode simplesmente continuar enterrando essa merda dentro dele. Ele tem que aprender a enfrentar esses demônios, porque até que ele faça isso, ele nunca será realmente feliz.
Quinn assentiu com a cabeça. — Você está certa, ele precisa. Mas isso pode ser apenas o empurrão que ele precisava para perceber isso. — Ela parou por um momento. — Eu prometo que nunca planejarei um ataque secreto de novo.
Ela piscou e eu revirei os olhos. Ela era como um moleque às vezes, mas eu sabia que ela tinha boas intenções. Tirei a mão do console, passei meus braços ao redor de seus ombros, e lhe dei um abraço reconfortante. Quando me afastei, peguei um laço de cabelo do câmbio de marchas e tirei o cabelo do meu rosto. — Agora eu tenho que ir compartilhar a notícia com a minha mãe e meu pai.
— Quer que eu vá junto? — Ela perguntou.
— Não. — Eu sorri. — Deixa comigo. — Eu sabia que minha mãe não estaria chateada; ela ofereceria mais do que apoio suficiente. Isso era exatamente o tipo de mulher que ela era. A minha única preocupação era o conflito em curso entre Kade e meu padrasto. Quão bem tudo isso acabaria se os dois não poderiam sequer estar juntos na mesma sala?
— Não se esqueça que todos nós temos um dia de spa no Allure amanhã, cumprimentos de Harp. Pedicuras e tratamentos faciais, cortes de cabelo, depilação, só falar, está tudo em nossas mãos. — Quinn puxou a maçaneta e abriu a porta. — Posso buscá-la às dez. — Ela ficou ali, meio pendurada para fora do carro, esperando minha resposta.
— Tudo bem, soa bem, — eu disse.
Talvez um dia de spa com as meninas seja o que eu precisava. Amei a ideia de ser mimada e paparicada.
***
— Olá, querida. Esta é uma surpresa, — disse minha mãe enquanto lavava a alface para a salada que ela estava fazendo. — Você fica para o jantar?
Antes que eu pudesse responder, meu padrasto entrou pela porta traseira carregando um prato de carnes fumegantes e seguido de perto por Homer, seu muito velho e muito grande pastor alemão. — Bem, esta é uma agradável surpresa. Ficará para o jantar? — Ele perguntou ao me ver.
Eu ri quando ele repetiu a minha mãe quase palavra por palavra, em seguida, sorri enquanto ele dava um passo atrás dela e colocou o prato no balcão ao seu lado. Ele beijou a bochecha dela antes de se virar para mim.
— Claro, se vocês não se importam, — eu disse. — Na verdade, eu precisava falar com vocês.
Claro que isso chamou a atenção da minha mãe. Ela olhou por cima do ombro, a preocupação cobrindo suas feições. — Está tudo bem? — Ela perguntou, secando as mãos com um pano de prato.
— Avery? — Robert perguntou. Ambos me observavam atentamente.
— Vocês estão pirando tanto para nada, — eu disse. — Vocês precisam aprender a relaxar e ter paciência, especialmente desde que os bebês necessitam dessas duas coisas. — Eu vi quando seus olhos se arregalaram. — Se este pequenino for qualquer coisa como eu, todos nós precisaremos estar atentos, com certeza.
Minha mãe deu um passo adiante, e seu olhar mudou entre a minha barriga e meus olhos de novo e de novo enquanto ela tentava falar, apenas para continuar fechando a boca. Eu quase ri com o choque no rosto dela, mas segurei.
— Você terá um bebê? — Robert perguntou como a testa enrugada.
Concordei e peguei minha bolsa, retirando a imagem da ultrassonografia. Quando a empurrei para ela, ambos se aproximaram para verem melhor.
Eu gostaria de ter uma cópia para dar a eles, mas permiti que Kade ficasse com a outra para que pudesse compartilhar com quem ele quisesse. — Tive a minha primeira consulta com o médico hoje. Ele confirmou que estou com cerca de seis semanas. Parece que será um bebê de Natal.
— Avery. — A voz da minha mãe saiu como um sussurro suave, e seus lábios tremeram quando ela levantou a mão para cobrir a boca. — Meu bebê terá um bebê.
— Sim, mãe, eu terei um bebê.
Ela correu antes que eu tivesse tempo de me preparar e me abraçou. — Eu serei uma avó, — ela declarou orgulhosamente enquanto me balançava de um lado para o outro. — Como Kade se sente sobre isso?
Suas palavras me pegaram totalmente desprevenida. Ela sabia que eu estava atraída por ele. Eu dissera a ela inúmeras vezes ao longo do último ano o quanto eu desejava que ele pudesse me oferecer mais, mas não disse a ela que tínhamos violado a barreira de somente amigos. Eu me afastei e a olhei diretamente nos olhos, interrogando-a sem falar as palavras.
— Eu conheço a minha filha. Sei onde está o seu coração. Também sei que você é dedicada e leal, e ele é a única opção, — explicou. — Como ele se sente sobre se tornar um pai?
— Ele está feliz, — eu disse. — Ele ficou chocado no início, mas foi na consulta comigo, e você deveria ter visto o olhar no rosto dele quando ouvimos os batimentos cardíacos. Era incrível como ele estava apavorado. — Olhei para o meu padrasto, que nos observava em silêncio. — Ele tem um monte de coisas de seu passado para resolver na cabeça dele. Só espero que esta notícia o ajude a guiá-lo na direção certa.
— Ele está apenas segurando um monte de raiva dentro, Avery, — Robert disse. — Mas concordo com você. Esperemos que a notícia de se tornar um pai o ajude a seguir em frente. Rezo para que o leve no caminho certo.
Robert sabia mais do que ninguém como a escuridão pode consumi-lo e entristecê-lo. Eu queria mais do que qualquer outra coisa que Kade encontrasse a paz, que fosse capaz de abandonar a culpa e a dor que ele sentia desde aquele dia. Mas até que ele fosse capaz de fazer isso, só podemos sentar e esperar o melhor.
Eu tentei ajudá-lo, mas no final, somente ele pode salvar a si mesmo.
Capítulo 17
KADE
— Mãe, quantas dessas malditas prateleiras que você precisa? — Perguntei enquanto eu prendia a terceira estante na parede. Ela decidiu transformar o quarto no andar principal em uma biblioteca, ela disse que sempre quis. Após a morte do meu pai, ela começara lentamente a recriar cada cômodo e limpar as coisas do meu pai. Ele era um acumulador, e os cômodos estavam cheios de seus brinquedos e desorganização.
— Bem, eu tenho cerca de uma dúzia de caixas de livros no sótão, além de mais duas que acabei de comprar de uma venda de quintal e que estão no porta-malas do meu carro. Então eu preciso pensar nos livros que vou comprar no futuro. — Ela apontou para a parede oposta. — Quero uma parede livre. As outras podem ser revestidas com prateleiras. E no centro eu quero a minha grande e macia cadeira de leitura. — Ela fechou os olhos, imaginando como o projeto ficaria depois de concluído.
Eu arrastei os pés durante todo o dia. Vim cedo esta manhã com a intenção de contar a ela sobre Avery e o bebê, mas ainda não tive a coragem de partilhar a notícia. Ela ficaria animada, mas então eu teria que dizer a ela que Avery e eu não estávamos juntos. Essa história só levaria a ter que me explicar como eu jogara um jogo de ioiô com Avery durante o último ano e não merecia alguém tão bom como ela. Minha mãe brigaria comigo depois disso, e eu sabia que merecia.
— Então, quando você vai parar de enrolar? — Minha mãe perguntou. Olhei por cima do meu ombro e levantei uma sobrancelha em questionamento quando ela colocou um copo de chá gelado em cima da mesa logo atrás de mim. — Isso não funcionará comigo, Kade. Posso dizer que alguma coisa está incomodando você. Você esteve aqui o dia todo, consertando a pia da cozinha, limpando a garagem. Insistiu em fazer essas prateleiras hoje quando eu disse que podiam esperar. Eu sei que algo está corroendo você, e quero que você derrame. Pare de arrastar os pés e me fale diretamente.
Voltei-me para a prateleira e prendi o último parafuso. Respirando fundo, eu coloquei a chave de fenda em cima da mesa e me sentei na outra extremidade do sofá que ela já havia colocado no centro da sala.
— Você está certa, — eu disse.
Ela sorriu largamente e riu. — Claro que estou, — ela declarou orgulhosamente. — Não erro muitas vezes quando se trata de você.
Eu deveria saber que ela veria através do meu ato. — Você se lembra do Robert? O cara que estava no carro que atingiu Jenna? — Seu sorriso brilhante vacilou, e ela balançou a cabeça. — Ele é, na verdade, o padrasto de Avery.
Eu mencionara Avery uma ou duas vezes perto da minha mãe, e podia sentir a felicidade dela cada vez que o fiz.
— E? — Ela continuou olhando para mim, esperando por mais.
— Descobri no casamento de Jett, e isso meio que trouxe tudo de volta de uma só vez. Toda a raiva e...
— Kade Russell, não me diga que você tratou essa menina com desrespeito por causa de Robert. O que está errado com você? — Ela perguntou quando deixei o meu olhar cair no chão. — Aquele homem não quis ferir Jenna intencionalmente, você sabe disso. Ele sofreu por anos, assim como você, assim como os pais de Jenna. Droga, Kade.
— Há mais. — Se estaria na extremidade da vara de merda, eu também poderia colocar tudo para fora e lidar com a ira de Wynona Thomas. — Eu, uh... — limpei a garganta enquanto olhava para ela e tomei um gole rápido de chá, tentando me acalmar. — Eu meio que caí em meus velhos hábitos de consumo.
Decepção encheu seus olhos quando, sem dúvida, vieram os flashbacks das minhas bebedeiras. Joguei fora minha carreira de futebol e trouxe tanta dor para meus pais todos aqueles anos atrás.
— Não fui muito bom para ela, e lamento isso, — murmurei.
— Kade, — ela sussurrou e deslizou para mais perto. — Beber não afastará a dor. Mesmo que desapareça por um curto período de tempo, ainda estará esperando por você quando ficar sóbrio.
— Eu sei, — eu disse. — Preciso trabalhar sobre como lidar com a dor e raiva.
— Então você machucou Avery, e agora você precisa descobrir como corrigir.
— Sim, eu preciso, porque sinto falta da amizade dela, — confessei. — E, hum...
Os olhos dela se ergueram para encontrar os meus novamente.
— Percebi que é hora de limpar meu ato{4} e começar a agir como um homem. Considerando que eu serei pai e tudo. Preciso dar um bom exemplo para a minha pequena pessoa.
Ela olhou para mim em choque, a boca ligeiramente entreaberta, como se as palavras ainda estivessem afundando.
— Avery está grávida.
Seu olhar chocado lentamente se transformou em um sorriso. Eu sabia que a ideia de um neto seria algo pelo qual ela se apaixonaria. — Parece que é hora do meu filho crescer e enfrentar seus demônios, você não acha? — Ela disse. — Seu comportamento egoísta precisa acabar.
Balancei a cabeça. — Já passou da hora de fazer isso, mãe. É algo que eu deveria ter lidado anos atrás. Mas posso te prometer que será tratado agora. Sei que não será fácil, mas eu devo isso a mim mesmo, a Avery, e ao nosso bebê.
***
— Bem, se não é o Papai Kade, — disse Jett quando entrei em seu escritório no restaurante. Easton estava sentado do outro lado da mesa dele, segurando uma grande pilha de papeis nas mãos.
— Estou interrompendo alguma coisa? — Perguntei quando me sentei na borda da mesa, olhando entre os dois.
— Não, nós estávamos apenas repassando alguns números do restaurante em Miami. O que foi? — Jett se inclinou e colocou os cotovelos sobre a mesa.
— Eu esperava poder convencer Easton a me ajudar com uma coisa.
Easton acenou com a cabeça, indicando que eu deveria continuar.
— Preciso que você peça aos seus amigos para localizarem os pais de Jenna para mim.
Jett mudou de posição na cadeira. Ele sabia quão grande essa solicitação era para mim. Após a morte dela, eu fiquei fora do ar, mas ainda sabia quão irritados estavam os pais de Jenna. — Você tem certeza disso? — Perguntou.
— Preciso seguir em frente. Preciso abandonar as coisas que estão me segurando. Esta é uma dessas coisas, — assegurei a ele sem hesitação.
— Tudo que eu preciso são nomes e datas de nascimento, se os tiver. Talvez o último endereço que você saiba. Vou passá-las para Bennie e deixá-lo fazer o resto, — Easton disse, ainda olhando entre Jett e eu. Apenas algumas pessoas sabiam o quão difícil foram as coisas para mim, e Easton só conhecia o básico sobre a minha vida.
— Você tem um pedaço de papel? — Perguntei. Após escrever a informação que ele pediu, ele pegou seu celular e fez a ligação.
— Você está pronto para isso? Quero dizer, tem certeza? — Perguntou Jett.
Balancei a cabeça e enfiei a mão no bolso de trás para a minha carteira. Após abri-la, tirei a imagem da ultrassonografia que eu agora levava a todos os lugares. Deixei-a sobre a mesa, na frente de Jett, e ele a pegou e sorriu.
— Nunca estive mais certo, — eu disse. — Eu devo isso a ambos, Jett. Avery merece mais do que eu lhe dei.
Capítulo 18
AVERY
— Oh sim, — eu gemi muito mais alto do que previa. O problema era que não me senti nem um pouco envergonhada. — Sim, bem aí, um pouco mais forte, mais fundo. — Instruí enquanto os meus olhos reviravam em minha cabeça e apertei o lençol debaixo de mim.
— Se sente bem aí?
Tudo o que eu podia fazer era acenar com a cabeça. Estava completamente investida no prazer para formar frases completas com sentido.
— Uau. — A voz de Harper rompeu minha euforia. — Se não soubesse melhor, eu pensaria que havia um monte de perversão acontecendo aqui. Meus clientes vão pensar que estou correndo um sex shop secreto na sala de massagem.
Eu queria gritar com ela para parar de matar a minha alegria, mas as palavras ficaram penduradas quando tentei forçá-las a sair. O único som que eu poderia fazer era gemer após gemido de êxtase.
Sequer notei os gemidos vindos de Quinn na cama ao lado até aquele momento. — Harper, você é sem dúvida a mais incrível cunhada. — Quinn gemeu quando o massagista, Greg, esfregou a parte inferior das suas costas, pressionando um pouco mais forte.
— Também serei sua cunhada morta se você continuar gemendo assim. Jett vai me matar se ele te ouvir. Já levou horas para convencê-lo a deixá-la vir hoje. Na semana passada, quando vocês entraram, ele ficou de guarda do lado de fora da porta.
— Greg achava que morreria lentamente. Jett assustou o intensamente. — Peguei o olhar alarmado no rosto de Greg e enterrei meu rosto no encosto de cabeça para esconder o meu riso. Jett já era um homem das cavernas, mas o comportamento dele só se intensificou após o casamento.
— Ok, ok, o suficiente sobre Jett, — Quinn choramingou. — Greg não consegue se concentrar quando você está assustando-o. Por favor, não mate a minha massagem.
Harper riu e se virou para mim, digitalizando seu olhar sobre mim. — Como se sente? — Era uma pergunta complexa. Ela perguntava sobre a gravidez, Kade e a situação entre ele e eu.
— Bem, — assegurei, sem dar qualquer coisa mais. Fechei os olhos e esperava que ela deixasse ir.
Não tenho ideia por que eu realmente pensei que Harper deixaria morrer.
— Isso é tudo que você está me dando? Honestamente, Avery, derrame alguns detalhes. — Quando abri os olhos, ela usava o determinado olhar Harper.
Eu a encarei. — Incomode Quinn por fofocas.
— Hum, não. — Ela se inclinou contra a parede, cruzando os braços sobre o peito. — Jett é o meu irmão, e a última coisa que eu quero são muitos detalhes quando se trata daqueles dois. Quinn sabe disso. É por isso que ela sempre joga as coisas para mim, as quais eu não preciso saber. Meu irmão me ensinou a fugir disso, de modo que receber detalhes dela não é nenhuma diversão. A última coisa que eu quero saber é quanto tempo meu irmão durou esta manhã ou como eles fizeram sexo na mesa da cozinha.
Ela fingiu um calafrio e eu ri. Olhei para Quinn, e ela balançou a cabeça para confirmar o que Harper acabara de dizer.
— Muito bem, — eu disse a ela. — Sexo na mesa. — Então, um pensamento me ocorreu. — Você desinfetará a dita mesa quando chegar em casa, certo? Quero dizer, nós jantamos nela.
Quinn riu, e Harper abaixou a cabeça, suas narinas dilatadas em desgosto. — Honestamente, pare de tentar evitar a questão, — Harper gemeu.
— Não estou evitando, — respondi. — Você me perguntou como estavam as coisas, e eu disse que elas estão boas.
— Você é espertinha. Você já ouviu falar de Kade?
E então começou. — Não o vi ou ouvi falar dele desde a consulta médica, — disse a ela, esperando que fosse informação suficiente.
— Ele foi lá em casa algumas vezes, — Quinn anunciou, pegando tanto a minha atenção e quanto a de Harper. — Ouvi Jett e ele conversando uma noite, e ele disse que está trabalhando em limpar a cabeça. Quer seguir em frente sobre a morte de Jenna. Ele disse a Jett que não podia mais viver com a culpa.
A ideia de Kade ser capaz de seguir em frente e se curar criou uma pequena centelha de esperança dentro de mim. Um sentimento de orgulho seguiu, porque eu sabia que ele poderia fazer isso; ele só precisava querer progredir.
***
Em mais de uma ocasião, a cuidadora em mim queria ligar para Kade e verificá-lo, dar o meu apoio e amizade. Mas eu sabia que precisava deixá-lo passar por isso sozinho. Fazia dias desde a última vez que falei com ele, e eu esperava que isso significasse que ele estava trabalhando na cura. Preenchi os dias o melhor que pude com o trabalho, dias de spa, compras e idas ao supermercado para estocar junk food, e entre o meu trabalho e as meninas, eu tinha pouco tempo para pensar.
— Tempo para praia antes de você não poder mais usar um biquíni. — Callie balançou os quadris e rodou. Ela esteve me incomodando para ir desde o dia em Allure, e agora ela não me deixou escolha. — Mova-se, mamãe, eu preciso de algum sol. É domingo, meu dia de folga, e me recuso a passá-lo dentro de casa. — Ela passou correndo por mim, batendo na minha bunda no caminho.
— Ow. — Eu caí para frente e estreitei os olhos para ela.
— Oh, por favor. Em seis ou sete meses você estará com muito mais dor. É melhor se acostumar com a picada, mulher, porque a sua vagina estará pegando fogo.
Meus olhos se arregalaram. — Que diabos minha vagina tem a ver com você batendo na minha bunda?
Callie deu de ombros enquanto colocava uma canga sobre seu biquíni. — Dor é dor, adorável, agora mova o seu traseiro. Estou pronta para aproveitar o sol.
Ela me perdeu, fiquei completamente perdida três frases atrás. Às vezes ela era uma cabeça oca.
***
Ao chegar à praia, Callie e eu pegamos nossas bolsas no banco de trás do seu bonito pequeno conversível e esquadrinhamos a área para o melhor local. Quando caminhamos em direção a um espaço aberto na esquerda, Callie colocou a mão no meu braço para me impedir.
— O quê? — Perguntei logo quando meus olhos conectaram com Kade. Ele estava encostado na parede de retenção e perto das cadeiras próximas da cabana de hambúrguer. Os braços estavam cruzados sobre o peito e conversava com uma menina com cabelos negros. Ela usava um pequeno biquíni e tinha uma bolsa de praia sobre seu ombro.
Meu estômago se apertou com ciúmes, mas desconsiderei isso e continuei seguindo em frente, como se a cena não me incomodasse. Mas o olhar dele se levantou e encontrou o meu antes que eu pudesse desviar o olhar. Ele inclinou a cabeça para o lado, e um sorriso se espalhou pelos seus lábios. Desviando rapidamente os olhos, olhei em direção a área que estávamos reivindicando como nossa para o dia e apontei para Callie, fingindo que simplesmente não fui apanhada encarando.
— Você percebe que ele virá até aqui, certo? — Ela perguntou, e juro que meu estômago pareceu bater no chão. — E deixe-me acrescentar que ele parece muito gostoso. Todo bronzeado e molhado, seus músculos salientes e chamando para...
Apertei os olhos para ela. — Chega, — eu bati.
Ela riu de mim. Literalmente riu conforme balançava a cabeça e pegava a toalha da bolsa. — Você sabe que estava pensando a mesma coisa, — ela disse, virando-se de costas para mim.
Eu estava prestes a fazer algum comentário sobre Jude e como ela deve apenas jogar-se sobre ele e me deixar em paz, mas a voz de Kade atrás de mim quebrou minha linha de pensamento.
— Como você está, Avery?
Olhei por cima do meu ombro, e meus olhos encontraram os dele. — Estou bem. E quanto a você?
— Estou chegando lá, — ele respondeu com seu olhar ainda preso nos meus.
Eu me virei para encará-lo totalmente, e quando o fiz, ele examinou meu corpo, parando na minha cintura. — Está tudo indo ok com...? — ele apontou para o meu estômago.
Eu sorri e acenei. Ele levantou a cabeça, e quando viu o meu sorriso, ele não conseguiu segurar o dele. — Precisa de alguma coisa?
— Não, sério, eu estou bem, — assegurei a ele.
— Se precisar, você sabe que pode me chamar. A qualquer hora, não importa o que seja.
— Eu sei, Kade, — respondi. — Você apenas continue cuidando de você. Estou bem, sério. O bebê está bem.
Ele deu um passo atrás, e eu quis instantaneamente tocá-lo. Apertei as mãos para controlar o impulso.
— Bem, uh, eu vou indo, — ele disse. Ele parecia vazio e triste em relação a alguns momentos atrás. Balancei a cabeça em resposta, e ele deu outro passo atrás.
— Tchau, Callie. — Ele ergueu a mão e olhou por cima do ombro para ela.
— Até mais tarde, Kade, — ela disse.
Assisti suas costas enquanto caminhava em direção ao estacionamento. Assim que chegou ao topo da colina, ele olhou por cima do ombro e acenou novamente.
Lentamente levantei minha mão e sorri enquanto meu estômago adquiria esse sentimento de vazio novamente. Esperar nos bastidores, esperar que Kade pudesse encontrar uma maneira de se curar sozinho, seria mais difícil do que eu pensava. Estava em minha natureza querer consertar as coisas; é apenas quem eu sou.
Capítulo 19
KADE
Fiquei lá trás, escondido entre os carros enquanto assistia Avery. Ela parecia tão bonita na praia com seu cabelo loiro fluindo na brisa suave fora da água. As ondas atrás dela só aumentou a sua beleza. Quando ela tirou a camisa, meu corpo respondeu imediatamente. Ela pode pensar em sua cabeça louca que eu não estava atraído por ela, mas não poderia estar mais errada. Eu a tive uma vez, e sim, foi um desastre porque fui um burro, mas esta única vez me deixou sabendo o que eu estava perdendo. O forte desejo de tocá-la se apoderou de mim. Ela curvando-se para arrumar a toalha aos seus pés não ajudou a acalmar o meu desejo.
Eu desejava nada mais do que voltar para a praia e puxar seu corpo contra o meu. Queria dizer a ela que eu precisava dela e fui um idiota em pensar que poderia ficar de fora. Só que não podia, porque eu precisava ter certeza de que era capaz de seguir em frente completamente. Eu não queria machucar Avery mais do que já machuquei. Limpar todo o lixo da minha mente era a primeira prioridade. Então eu gostaria de pedir perdão a Avery. Só esperava que ela não me dissesse que era tarde demais.
Caminhei em direção a minha caminhonete, e assim que entrei eu abri o porta-luvas, puxei minha carteira, e tirei a imagem em preto-e-branco do meu filho. Segurando-a firmemente em minhas mãos, eu sorri brilhantemente. Ainda estava espantado com o fato de que eu realmente seria pai. Imagens minha segurando um bebê em meus braços enquanto Avery sentava ao meu lado encheu minha mente.
Vivi na escuridão da minha culpa por tanto tempo que realmente nunca acreditei que merecia a felicidade. Afinal, a culpa era minha por Jenna nunca ter uma família ou até mesmo ser capaz de casar. Esse conhecimento me rasgou diariamente. Mas eu fazia tudo que podia para seguir em frente com essa culpa. Eu queria essa felicidade com Avery. Ela cuidou de mim naquele dia no consultório do médico, e nunca senti nada parecido antes. Eu não queria dar a Avery apenas uma parte de mim, também. Ela era tão altruísta, e dar outra coisa senão tudo de mim não era aceitável.
Parei o meu polegar sobre a imagem da ultrassonografia, em seguida, a coloquei na segurança da minha carteira. Em breve, voltaria ao consultório do médico, e eu poderia ouvir o som incrível da pulsação do meu filho novamente.
Naquele momento eu percebi com quão grande presente eu fui abençoado. Um dia, em breve, eu estaria segurando a pequena pessoa cujo coração batia naquele consultório – a mesma pequena pessoa por quem eu seria responsável. Também percebi, mais do que nunca, quão importante era que eu mudasse. Um dia essa criança podia ser confrontada com um evento que mudaria a vida dela, e a última coisa que eu gostaria era que ela lidasse do jeito que eu havia escolhido.
Capítulo 20
AVERY
Eu me apoiei na beira do balcão, o bocejo tão grande que me preocupei que minha mandíbula pudesse quebrar.
— Uau, garota, — Helen disse, estendendo a mão para pegar um gráfico do suporte na parede. — Seu turno apenas começou e você já está exausta.
Forcei um sorriso enquanto esfregava meus olhos. — Eu me sinto como se não dormisse há dias. Estas últimas semanas têm realmente me drenado.
— Bem, graças a Deus que o primeiro trimestre dura apenas três meses. Você tem, o que, um pouco mais de uma semana sobrando?
— Sim. — Bocejei novamente. — Eu realmente espero que melhore.
Um alto slap, slap na porta nos fez virar rapidamente. — Animem-se, meninas. A ambulância está a caminho. Eles estão trazendo uma mulher, quarenta e tantos anos, ferimentos na cabeça. — Brad, outro enfermeiro, saiu correndo enquanto nós saíamos atrás dele. — Colisão frontal. Ela não responde e está sangrando muito de um corte na testa, — ele continuou quando nós o seguimos. — Parece ter uma perna quebrada. Quaisquer outros ferimentos ainda não foram relatados.
Até agora, podíamos ouvir as sirenes, e nós assistimos através das portas de vidro quando a ambulância parou e os paramédicos correram para abrir a traseira. Uma vez que as portas da emergência se abriram, eles correram com a maca pela entrada.
— Os sinais vitais estão bons. O sangramento diminuiu. Ela recuperou a consciência duas vezes ao longo do caminho, mas apenas brevemente.
O paramédico continuou relatando o estado do paciente, mas tudo o que ele disse rapidamente desapareceu quando vi a mulher deitada na maca enquanto passava diante de mim. Minhas pernas cederam, e eu caí no chão quando a maca segurando a minha mãe passou.
— Avery, você está bem? — Brad perguntou quando se ajoelhou ao meu lado e me ajudou a levantar.
Tudo o que eu podia fazer era balançar a cabeça enquanto as lágrimas caíam fortemente. Meu peito estava apertado, e a sensação de formigamento que você tem um pouco antes de estar prestes a desmaiar encheu meu rosto e as mãos.
— Conhece a paciente? — Ele perguntou com uma expressão preocupada.
— Sim, — eu respirei, me esforçando para recuperar a compostura apenas para falhar miseravelmente. — Minha mãe. — As palavras queimaram minha garganta quando um soluço me rasgou.
Ele balançou a cabeça e me levou para a pequena sala de estar que, por vezes, almoçamos.
— Preciso ir até ela. Preciso saber, — eu insisti enquanto tentava me movimentar ao redor de seu grande corpo. Em vez disso, Brad passou os braços em volta dos meus ombros e me puxou para perto em um abraço.
— Você precisa relaxar, tanto quanto possível, e deixar que os médicos façam o trabalho deles. — Ele esfregou a mão nas minhas costas para me acalmar. — Apenas respire, Avery. Você tem que manter a calma por causa do bebê.
Permiti que meu corpo relaxasse um pouco antes de perceber outra coisa. — Oh meu Deus, — engasguei. — Preciso ligar para o meu pai.
***
Nem mesmo trinta minutos depois, os sons de gritos do meu padrasto encheram a recepção. Ouvir a angústia dele quebrou algo dentro de mim.
Um pouco mais tarde, sentei-me ao lado de Robert. Enquanto segurava a mão dele, eu escutei a conversa da equipe. O que eles diziam apenas me fez sentir vazia por dentro. A força do impacto fez com que minha mãe batesse a cabeça contra o volante, e o médico assistente, Dr. Heather Mynes, chamara um neurocirurgião para avaliar as lesões da minha mãe. Quando o neurocirurgião chegou, ele determinou que minha mãe teve uma lesão cerebral traumática e seu lobo frontal estava sangrando, mas ainda não sabia a extensão dos danos.
Minha mãe, a mulher que passara toda a sua vida correndo para que pudesse me dar tudo, jazia imóvel na cama diante de nós enquanto os médicos e enfermeiros se apressavam ao redor preparando-a para a cirurgia.
O tempo parecia passar em câmera lenta, embora tudo estivesse acontecendo rapidamente. Com a vida da minha mãe pendurada na balança, meu mundo parecia estar paralisado.
Mesmo depois que eles saíram correndo do quarto, meu pai e eu permanecemos perfeitamente imóveis, nenhum de nós falou enquanto olhávamos para o espaço vazio que uma vez possuía a minha mãe. Eu não sabia quanto tempo passou antes de Brad entrar.
— Avery, — ele sussurrou quando se ajoelhou diante de mim.
Levei o meu olhar lentamente ao encontro do dele e pisquei, tentando registrar seu rosto. — Sim? — Perguntei finalmente. A quantidade de esforço para dizer apenas uma palavra foi exaustivo.
— Querida, há pessoas esperando no saguão. Família e amigos, — ele disse.
Balancei a cabeça e olhei para o meu padrasto, que ainda permanecia imóvel. — Nós não podemos. Ainda está muito recente. Precisamos de algum tempo, por favor.
Ele apertou minha mão e se inclinou para beijar minha testa. — Ok, eu vou atualizá-los brevemente e informar que você sairá logo, — ele sussurrou antes de se levantar e caminhar até a porta.
Quando ouvi o clique fechando atrás dele, virei-me na minha cadeira para encarar Robert, que olhava para o espaço que a cama da minha mãe havia desocupado. — Pai? — Tentei esconder a dor na minha voz, mas não havia esperança. Eu estava morrendo por dentro, e eu precisava dele.
Quando ele levantou a cabeça, seus olhos brilhavam com lágrimas não derramadas. — Ela tem que sobreviver, Avery. Acho que eu não vou sobreviver sem ela. — A voz dele falhou enquanto falava, cortando-me profundamente, porque eu pensava a mesma coisa. Eu precisava da minha mãe; ela precisava estar bem. Mas eu sabia que deveria ser forte para Robert agora.
— Ela vai, — garanti a ele. — E nós estaremos aqui para ajudá-la a cada passo do caminho.
Capítulo 21
KADE
— Sério, imbecil? — Jett resmungou.
Eu ri quando olhei para ele estirado no chão aos meus pés, com a cabeça enfiada sob a pia da cozinha enquanto torcia a chave. Ele acabara de tirar o cano em busca do anel de Quinn. Ela estava lavando os pratos e aparentemente o derrubou da prateleira para o ralo.
Quinn ficou de lado dando risadinhas enquanto ele limpava a água de seu peito nu.
— Molhe-me com o pulverizador mais uma vez, Kade, e eu vou jogar sua bunda na piscina, — ameaçou, em seguida, virou para Quinn e estreitou os olhos. — Continue rindo, querida, e você será a próxima.
Peguei o pulverizador mais uma vez e segurei meu dedo nos lábios para silenciá-la. Ela mordeu o lábio para abafar o riso quando seu olhar voltou para Jett. Esperei até que ele estivesse totalmente sob a pia e apertei o botão.
— Filho da puta! — As pernas de Jett chutaram para fora, e ele deixou cair a chave no chão ao seu lado antes de começar a rastejar de debaixo da pia.
Quinn e eu corremos para a porta, mas ele nos venceu e segurou Quinn pela cintura antes de jogá-la sobre o ombro.
— Eu não fiz isso, foi Kade, — ela lamentou enquanto batia nos braços dele. Ele bateu na bunda dela e ela gritou. — Que Deus me ajude, Jett, se você me jogar nessa piscina, vou cortá-lo fora. Eu juro! Você não terá nada por um ano.
Ele parou na porta e sorriu para mim. Eu havia conseguido me enfiar na pequena abertura entre a mesa da cozinha e a parede bem à esquerda das portas de correr que levam até a piscina.
— Agora, baby, você sabe que não será capaz de seguir com essa ameaça. Você não consegue manter suas mãos longe de mim, — ele zombou.
Ela parou de lutar. — Tente-me, Jett Jameson. Não sou de recuar de um desafio. Serão longos e solitários doze meses para você, isso eu garanto.
O sorriso dele vacilou, e ele a colocou no chão, vendo sua expressão severa enquanto o encarava. — Essa merda não é engraçada, — ele disse. — Um dia também é extremamente longo. Como diabos você espera que eu dure um ano?
Sua boca inclinou num sorriso, e ela ficou nas pontas dos dedos dos pés até que sua boca pairava sobre a dele. — Foi bom você ter me colocado no chão, então. — Ela apertou seus lábios contra os dele, e eu tive que desviar o olhar. A cena acabara de ficar um pouco íntima demais para assistir, e isso me fez lamentar ainda mais a maneira que eu havia afastado Avery.
O toque de um telefone quebrou o transe cheio de luxúria deles. Quinn estendeu a mão e pegou o celular da mesa. Um sorriso agraciou seus lábios quando ela olhou para a tela. Após um golpe rápido de seu dedo, ela trouxe o telefone no ouvido. — Hey, grávida, como está meu afilhado? — Meu estômago se contraiu imediatamente quando percebi que ela falava com Avery.
— O quê? Devagar, — Quinn insistiu, o pânico na voz dela. Jett se aproximou dela e colocou a mão em suas costas. — Querida, respire fundo. — Ela fez uma pausa. — Onde você está? — Outra pausa. — Quem está com você?
Meu coração bateu contra minhas costelas enquanto eu imaginava Avery e meu filho se machucando.
— Estou no meu caminho, Avery. Por favor, fique calma, por você e pelo bebê. Estarei aí em dez minutos. — Quinn esperou Avery responder antes de desligar o telefone e olhar nos olhos de Jett com lágrimas rolando pelo seu rosto.
— Angela sofreu um acidente, — ela engasgou. — Ela está em cirurgia por causa de um sangramento no cérebro. — Seus lábios tremiam, e Jett passou os braços ao redor dela e a puxou para perto.
— Quem é Angela? — Perguntei, me sentindo completamente perdido. Fiquei imediatamente aliviado que Avery e o bebê estavam ok, mas pelo som, a vítima era alguém próximo a ela.
— A mãe de Avery, — Quinn sussurrou.
Meu estômago parecia ter batido no chão. Eu estava trabalhando em ficar sóbrio e exorcizar meus demônios internos para que eu pudesse ser uma pessoa melhor para Avery e meu filho. Enquanto fazia isso, eu escolhi ficar distante dela, mas naquele momento, tudo o que eu queria era abraçá-la e dizer que estaria sempre lá para ela e que poderia contar comigo.
Deslizei em torno da borda da mesa e caminhei em direção à porta da frente.
— Aonde você vai? — Quinn perguntou.
— Para Avery, — eu disse sem hesitar.
— Kade, eu não sei se agora...
— Não há absolutamente nada que me impedirá de ir até ela, Quinn. Ainda que ela só queira alguém para atirar sua raiva, eu serei essa pessoa. — Abri a porta e fui até o meu Tahoe. Quando eu estava prestes a entrar, Jett e Quinn correram para o lado do passageiro.
— Vamos com você, — Jett disse enquanto ajudava Quinn a entrar.
Enquanto ligava o motor, eu estava feliz pela discussão ter sido resolvida, porque eu odiaria ter Jett chutando a minha bunda por dispensar as preocupações de Quinn. Avery estava sofrendo e precisava de apoio, e dane-se, eu ofereceria a ela tudo o que pudesse.
Capítulo 22
AVERY
Eu estava emocionalmente e fisicamente exausta, e até mesmo a respiração parecia forçada.
Minha mãe ainda estava em cirurgia enquanto eu permanecia na sala de espera da família, me sentindo tão sozinha, apesar de estar cercada pela família. Os pais da minha mãe morreram há muito tempo, então eu nunca os conheci, mas os pais de Robert sempre me aceitaram e me trataram como se eu fosse a neta de sangue deles. Seu irmão e cunhada se sentaram na nossa frente, mas eu raramente falava com eles. Ainda assim, eles estavam preocupados e sendo solidários agora, me perguntando se precisávamos de algo. Mas eles não se equiparavam as únicas pessoas que eu precisava – Quinn, Jett, e qualquer um que pudesse me oferecer até mesmo um pedaço de esperança.
Quando a porta se abriu e minha cabeça levantou, meu peito começou a tremer com os soluços que eu segurava. Kade estava na porta com Jett e Quinn ao lado dele, e os três olharam para mim com preocupação.
Kade correu em minha direção e caiu de joelhos na frente da minha cadeira. Ele segurou meu rosto com as mãos enquanto olhava diretamente nos meus olhos. — Nós estamos aqui, — ele disse. — Tudo ficará bem. Ela ficará bem.
Meu lábio tremeu e assenti. Ele me abraçou, e sem pensar duas vezes eu me afundei nele, pegando tudo o que tinha para oferecer. A segurança do seu abraço me deu o conforto que eu tanto precisava. Deixei de lado minha dor só por agora e me concentrei na força recém-descoberta que a presença dele me dava.
— Eu tenho você. Eu prometo, — ele sussurrou em meu ouvido, e deixei-me acreditar que aquelas palavras eram verdadeiras.
Kade me segurou pelo tempo que precisei, e mesmo quando ele se sentou na cadeira ao meu lado, ele ainda segurou a minha mão. Quinn e Jett deram um passo adiante, uma vez que Kade deu-lhes espaço, e ambos me abraçaram e compartilharam suas palavras de apoio também. Somente tê-los por perto me deu a esperança que eu almejava. Eu precisava acreditar minha mãe sobreviveria. Qualquer outra coisa seria apenas injusta.
Quando o médico entrou na sala, todo mundo ficou em silêncio.
— A cirurgia correu bem, — disse. Você pode ouvir os suspiros de alívio quando a tensão que era tão espessa a poucos momentos atrás foi agora substituída por calma. — O inchaço é extenso, e a equipe de reabilitação a acompanhará assim que ela recuperar a consciência, observando mudanças de comportamento ou qualquer perda de memória. Uma vez que soubermos a extensão da lesão, vamos começar os procedimentos adequados para ajudá-la em seu caminho para a recuperação. A Sra. Archer tem um longo caminho pela frente.
Todos permaneceram em silêncio, absorvendo a informação que ele acabara de nos dar.
— Não posso dar a garantia de uma recuperação completa. Desculpe-me por isso. Eu queria poder. Posso dizer que paramos o sangramento no cérebro e não esperamos quaisquer outras complicações. No entanto, a recuperação dela permanece nas mãos dela. Temos uma equipe bem treinada para observá-la o tempo todo. Vamos dar quaisquer respostas que possamos oferecer.
Ainda silêncio.
Kade me puxou contra ele um pouco mais apertado, com o braço que jazia estendido sobre meus ombros. Eu podia ouvir meu coração batendo em meus ouvidos, e de repente eu me senti tonta. A informação que acabara de ser dada e o medo que minha mãe sofreria efeitos a longo prazo que a mudariam para sempre correram por mim como uma onda.
— Baby, olhe para mim. — As palavras de Kade, atadas com preocupação, pareciam abafadas em meus ouvidos. Senti suas mãos apertando meu rosto, mas não conseguia ver nada conforme a minha visão ficava turva. — Avery. — Sua voz rouca me envolveu. — Olhe para mim, menina bonita, — ele insistiu. — Avery, estamos todos aqui. Olhe para mim, por favor. Respire lentamente, dentro e fora. Volte para mim, baby.
Quando pisquei passando as lágrimas, seu rosto ficou mais claro. A dor atrás dos olhos dele não podia ser escondida. — Aí está você, querida. — Ele limpou as lágrimas do meu rosto com os polegares e se inclinou para pressionar seus lábios suavemente contra os meus. O toque suave me surpreendeu, mas acordou meus sentidos.
Quando ele se afastou, descansou a testa contra a minha, respirando lentamente. — Não me assuste assim, querida. — Quando ele respirou profundamente e se afastou um pouco, notei que todos nos observavam atentamente. Meu medo foi subitamente substituído por constrangimento, ainda que Kade não parecesse se importar com quem havia testemunhado a nossa troca. Ele só continuou olhando para mim como se eu fosse a única pessoa na sala.
— Você já comeu hoje? — Ele perguntou, e balancei a cabeça. — Vamos pegar alguma coisa, — ele sussurrou. — Mesmo que seja pouco. Você precisa de comida, assim como o meu bebê. — Ele piscou, e não pude segurar o sorrisinho que puxou os cantos da minha boca.
— Ok. — Parte de mim estava com um pouco de fome, mas a outra parte só queria ficar longe de nosso público.
Não sabia onde estávamos agora, mas algo estava diferente em Kade. Ele parecia mais leve, mais calmo.
Capítulo 23
KADE
Não sei o que deu em mim. Mantive minha distância de Avery na esperança de que quando a visse novamente, eu pudesse oferecer mais a ela e ao meu bebê. Mas ao vê-la tão perdida e quebrada, não pude deixar de correr até ela e abraçá-la. O instinto para confortá-la era quase automático.
Quando ela se dispersou depois que o médico nos atualizou, fiquei assustado. Fiquei tão aliviado quando ela finalmente olhou nos meus olhos que não consegui conter a necessidade de beijá-la.
Quando nós nos sentamos no refeitório enquanto Avery mordiscava um sanduíche que eu insisti que comesse, Jett e Quinn olhavam para mim como se eu tivesse duas cabeças. Mas eu certamente não tinha nada a explicar-lhes. Pela primeira vez nos últimos dez anos, eu agi sem pesar. A necessidade de proteger Avery bateu no momento em que a vi sentada na sala de espera parecendo devastada. Mesmo agora, enquanto a observava apenas comer uma coisa, eu queria acalmá-la.
— Você quer algo diferente? — Perguntei, alcançando o outro lado da mesa para colocar a minha mão sobre a dela.
Avery balançou suavemente a cabeça uma vez enquanto pegava o pão que estava no guardanapo na frente dela. — Não, — ela sussurrou. — Obrigada, mas eu realmente não estou com tanta fome. — Seu olhar se levantou para encontrar os meus, e eu poderia dizer que ela se sentia culpada.
— Bem, comida de hospital não é tão boa, — eu disse. — Nós teremos que tentar novamente mais tarde. Talvez pegar algo no caminho de casa.
Ela olhou para cima imediatamente com uma expressão de pânico. — Não vou para casa. Não posso deixá-la aqui.
— Avery. — Quinn encostou ao lado dela. — Você está aqui no hospital desde as seis da manhã. Você precisa ir para casa e descansar um pouco, querida.
— Não posso, — ela sussurrou enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas. — Estou com medo.
Eu senti como se alguém tivesse entrado em mim e apertado meu coração. A dor dela era tão difícil de suportar.
— E se for apenas por algumas horas? — Perguntei. — Eu poderia te levar para casa, e você pode tomar banho e se trocar. Então, depois de descansar um pouco, eu trago você de volta.
— E se algo acontecer e eu não estiver aqui? — Seu lábio tremeu.
Levantei e caminhei ao redor da mesa, então me ajoelhei ao lado dela. Coloquei minhas mãos em suas coxas, a puxando para a borda do banco, e virei seu rosto para mim.
— Olhe para mim, — insisti. — Querida, ela está em boas mãos. E nada... — olhei para ela atentamente. — ...nada vai acontecer.
A lágrima agora rolando pelo seu rosto fez meu peito se sentir apertado.
— Ela iria querer que você cuidasse de você, Avery. Ela não iria querer que você se cansasse e comprometesse a sua saúde ou a do bebê. — Deixei minha mão deslizar sobre seu abdômen, e seu lábio tremeu. — Por favor, deixe-me cuidar de você. Mesmo que seja apenas por um curto período de tempo, querida.
Quando ela acenou com a cabeça, uma sensação de alívio tomou conta de mim. Ela estava tão exausta que a luta dela desapareceu.
— Ok, — ela sussurrou.
Levantei o meu polegar e afastei a lágrima do rosto dela.
***
Quinn decidiu ficar com Robert até voltarmos. Avery ficou mais calma por saber que Quinn ligaria se alguma coisa mudasse. Jett nos seguiu, parecendo ter perdido o seu melhor amigo. Para ele, ir para casa sem sua esposa era como deixar um de seus braços para trás. Se a situação fosse diferente, eu o teria provocado e o apelidado com alguns nomes. Mas agora não era o momento.
Fui até a Tahoe com Avery encostada firmemente contra mim, o meu braço jogado por cima do ombro dela, e a ajudei a subir no banco do passageiro. Após deixarmos Jett na casa dele, eu dirigi para o apartamento dela.
Agora eu estava sentado em seu sofá, olhando para alguns dos velhos programas em preto-e-branco na TV. Entretanto, eu não estava assistindo. Todo o meu foco estava em Avery. Ela esteve no banheiro tomando banho por cerca de trinta minutos, e eu ficava cada vez mais nervoso a cada momento que passava. Finalmente, me levantei do sofá e caminhei até a porta do banheiro, então me inclinei, coloquei meu ouvido sobre a porta e escutei em silêncio. Eu me senti como um pervertido, até que ouvi os soluços suaves escondidos sob o som da água batendo nas paredes do chuveiro.
Bati na porta. — Avery?
Quando tudo que eu ouvi foram soluços mais intensos, eu coloquei minha mão na maçaneta da porta e a abri. Alívio tomou conta de mim quando abriu, e entrei. O vapor embaçou o espelho e encheu o ar com a umidade, mas eu ainda podia ver através da nebulosidade, as portas do box fechadas. No interior, Avery estava enrolada dentro da banheira.
— Baby, eu não quero invadir sua privacidade, mas você está me assustando, — eu disse.
O suspiro trêmulo que ela deu me bateu no fundo do estômago. Abri o box apenas o suficiente para alcançar lá dentro. A água que caiu contra a minha mão estava gelada. Eu a desliguei. — Vamos tirá-la daí. Você deve estar congelando.
Estendi a mão para a toalha dobrada sobre a bancada e a sacudi aberta. Era uma daquelas enormes, macias, que eu sabia que a cobriria completamente.
Deslizei a porta do box um pouco mais e segurei a toalha esticada na minha frente. — Vamos lá, querida.
Ela olhou para cima e encontrou meu olhar com os olhos vermelhos e inchados. Ela parecia tão frágil, e desejei poder simplesmente levar sua dor.
Depois que ela saiu, envolvi-a na toalha e a levei para o quarto. Era um sentimento estranho estar sentado na beira da cama, secando os cabelos dela com uma segunda toalha. Eu havia imaginado um cenário muito diferente para a próxima vez em que nós estivéssemos sozinhos. Avery olhava para frente, sem dizer uma palavra. Quase como se estivesse em um mundo próprio.
Capítulo 24
AVERY
Durante três longos e cansativos dias, permaneci ao lado da cama da minha mãe, me sentindo vazia enquanto orava com tudo dentro de mim para que ela apenas abrisse os olhos. Seu cabelo loiro arenoso uma vez longo e belo agora estava empilhado em cima de sua cabeça, e um pequeno local foi raspado e enfaixado. Eu sorri, pensando em quão irritada ela estaria se soubesse que eles fizeram isso.
— Ei, mamãe, — ouvi atrás de mim. Virei-me para encontrar Callie, Quinn e Harper na porta, segurando um saco da sorveteria logo abaixo da rua.
— Trouxemos as coisas boas, — Callie anunciou, balançando levemente o saco, sacudindo-o de uma forma tentadora.
Forcei um sorriso. Eu sabia que deveria comer, mas era tão difícil. Meu estômago estava constantemente em nós, e a ideia de comida só piorava.
Após elas entrarem e tirarem os recipientes do saco, Quinn passou o menor para mim. Inclinando-se, ela sussurrou junto ao meu ouvido — Kade me fez prometer que a faria comer pelo menos um pouco. Ele disse que o bebê dele adora calda de chocolate.
Eu sorri, imaginando-o dizendo exatamente isso. — Eu vou tentar. — A ideia de até mesmo dar a primeira mordida me provocou náuseas, mas eu precisava pelo menos tentar. Tirei a tampa do recipiente, e meu estômago embrulhou imediatamente. Todos nós ficamos em silêncio enquanto eu forçava cada mordida, lembrando-me que eu não comia apenas para um. Finalmente, coloquei a colher na tigela e o recipiente quase vazio na mesa ao meu lado.
Nenhuma de nós falou. O único som era o sinal sonoro das máquinas que monitoravam os sinais vitais da minha mãe. Quanto mais tempo eu me ficava ao lado dela imaginando o pior, mais vontade de chorar eu sentia.
— E se ela não acordar? — Perguntei; minha voz saindo mais como um soluço. — E se este acidente danificou sua capacidade de funcionar? Comer, andar, falar, até mesmo a capacidade de sorrir, tudo pode ser perdido. — As lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto.
Passei os últimos três dias sendo a mais forte. Meu padrasto mal era capaz de atravessar cada dia sem cair em lágrimas, e eu precisava ter cuidado para não disparar suas emoções, o que significava esconder a minha. Mas agora, eu não podia mais fingir que era resistente e forte. Sentada aqui sozinha com minhas meninas, eu me senti segura para deixar tudo sair.
— Estou com tanto medo que a mulher que eu conheci como minha mãe não exista mais, — eu soluçava. — Não sei como lidar com isso. Não sei se sou forte o suficiente.
Harper se levantou e caminhou em minha direção com um olhar determinado no rosto. — Não se atreva, — ela disse. — Você não é fraca, Avery. Você não é uma desistente. — Ela segurou meu queixo com força, obrigando-me a olhar para ela novamente. — Quando, e falo sério, quando ela acordar, porque ela vai acordar, ela ainda será a mãe que você adora. Se ela precisar de ajuda a reaprender qualquer uma dessas coisas, nós iremos nos certificar que ela tenha.
Mordi o lábio para sufocar o meu gemido.
— Avery, você é a pessoa mais carinhosa que eu conheço, — Harper continuou. — Você dá tudo que pode para quem precisa, sem sequer piscar um olho. Agora é hora de se apoiar em todos nós. Deixe-nos ajudar por uma vez, por favor. — Ela olhou para mim, me fazendo a ver todo o apoio que eu tinha ao meu redor.
— Quero apenas que ela acorde, — confessei. — Quero que ela me abrace e me diga que está bem. Eu sou egoísta, porque, caramba, eu quero que ela me ajude a decorar o quarto do meu bebê e escolher a roupa dele. Quero ser capaz de ligar no meio da noite e saber que ela correrá para me ajudar a acalmar meu filho quando eu simplesmente não tiver a menor ideia de como. — Limpei a lágrima do meu rosto. — Eu preciso dela, — sussurrei.
— Ela vai acordar, — Harper insistiu.
Callie e ela se aproximaram e ambas colocaram as mãos sobre meus ombros, me dando um aperto reconfortante. Fiz o que elas pediram e usei a força que elas me ofereciam para reconstruir a minha. Harper estava certa; não importava o que, eu ajudaria minha mãe com o que ela pudesse precisar. Eu precisava acreditar que ela se recuperaria, porque o meu coração não poderia lidar com a alternativa.
Capítulo 25
KADE
Cheguei à oficina às quatro e meia da manhã para poder sair de lá às três horas. Quando terminei tudo, corri para casa e tomei um banho rápido antes de correr para o hospital, onde entrei no elevador e observei os números mudarem enquanto eu subia até o quarto andar. Quando as portas se abriram e saí, eu parei no meu caminho. Fui capaz de evitar Robert nestes últimos dias, mas isso agora estava prestes a mudar.
— Robert. — Balancei a cabeça em saudação.
— Olá, Kade, — ele respondeu, parecendo derrotado.
Eu havia parado e pegado uma bandeja de café, sem sequer pensar que Avery não podia ter, então a levantei e estendi para ele.
— Obrigado, — ele disse quando pegou o copo.
Eu o segui até a sala de espera e me sentei ao lado dele. Ficamos em silêncio, olhando para a porta dupla que levava para a sala que possuía ambas as nossas meninas. Ele estava tão distante, e meu coração doeu por ele.
— Eu sei o que você está pensando. — A voz séria de Robert quebrou o silêncio. Olhei para ele quando ele abaixou o café de seus lábios. — Estou do outro lado do assento agora... sou eu sentindo a dor. Esse desamparo e falta de controle.
Olhei para ele em confusão.
— Vá em frente e diga. — Ele deu de ombros. — Eu mereço.
Eu me inclinei e apoiei os cotovelos sobre os joelhos. — Eu não ia dizer isso. — Esperava que esta conversa pudesse esperar. Eu tinha toda a intenção de enterrar a raiva entre nós, mas não planejei fazer isso quando a esposa dele ainda estava inconsciente no hospital. Conversar com Robert fazia parte da minha jornada para abandonar o passado a fim de poder seguir em frente sem pesar ou raiva.
— Ninguém merece passar pelo que você está passando, Robert. — Torci o copo na mão. — Eu era jovem, irritado, e com o coração partido. Segurei muita raiva dentro de mim e tenho feito isso por todos esses anos, e me fez miserável. Eu não tinha ideia do que fazer com toda essa ira, de modo que refletir em você era a solução mais fácil.
— Sinto muito por tomar alguém que você amava. Desculpe-me por tirar a vida de alguém. É algo que não importa o quanto você tente, você nunca pode esquecer. — Robert soou tão triste.
— Eu preciso te perdoar. Preciso ser um homem melhor para Avery, e o meu filho precisa disso também. Eles merecem. Eu mereço. — Admitir era difícil, mas era verdade. — Então, eu estou abandonando toda a raiva que senti durante todos esses anos.
Robert olhou para mim sem expressão.
Eu mesmo mal podia acreditar. Apenas um pouco mais de três meses atrás eu mal me pendurava no limite do controle. Não queria nada mais do que fazer com que ele sofresse assim como eu. Agora, porém, eu percebi que terrível pensamento era.
As portas que levavam até a UTI tilintaram quando elas foram abertas, chamando a nossa atenção, e nós olhamos para cima para ver Callie, Quinn e Harper caminhando por elas. Os olhos de Quinn se arregalaram quando ela olhou entre Robert e eu e aumentou mais quando eles encontraram os meus. Eu pisquei, indicando que as coisas entre Robert e eu estavam boas. Nós demos um passo na direção certa, e com o tempo, nós dois curaríamos.
Quinn inclinou-se e deu um abraço em Robert antes de se afastar e olhar para mim. — Avery esteve lá por horas. Ela comeu um pouco, mas não o suficiente. Está cansada e mal pendurada em sua sanidade. Não será fácil convencê-la, mas ela precisa de uma pausa.
Balancei a cabeça. — Eu farei isso acontecer.
Callie se curvou e beijou meu rosto. — Você é um bom homem, Kade. Estou orgulhosa de você, — ela sussurrou antes de recuar.
Robert e eu vimos as três meninas se virarem e caminharem em direção aos elevadores.
— Você está pronto para ir ver nossas mulheres, Robert? — Perguntei.
Um sorriso puxou no canto de sua boca enquanto ele assentia com a cabeça e se levantava.
Quando abrimos a porta do quarto, meu peito parecia queimar ao ver a cena diante de mim.
Avery estava curvada na beira da cama de sua mãe com os braços por cima das pernas de sua mãe e a cabeça apoiada em cima delas. Ela segurava a mão de sua mãe enquanto sussurrava mais e mais, — Por favor, volte para mim, mãe. Eu preciso de você.
— Avery, — Robert disse da porta. — Querida, por que você não faz uma pausa?
— Estou bem, — ela insistiu.
— Eu sei, mas eu realmente gostaria de algum tempo sozinho com sua mãe. — Robert dizia tudo o que ele poderia pensar para convencê-la. Eu esperava que ela ouvisse. Ela mal estava comendo ou dormindo, e eu me preocupava que com todo esse estresse ela prejudicasse tanto ela quanto o nosso bebê.
— Ok. — Ela levantou e se inclinou para dar um beijo na testa de sua mãe. Então caminhou ao redor da cama, parou ao lado de Robert e olhou para ele. — Prometa que vai me ligar se alguma coisa mudar?
— Você sabe que eu vou, — ele disse enquanto passava os braços em volta dela e a puxava para perto. — Obrigado por ser tão forte durante essa coisa toda. Você me manteve são, querida. Não sei o que eu teria feito sem você.
Senti como se estivesse invadindo um momento muito particular, então me virei, tentando não assistir este intercâmbio entre pai e filha.
Capítulo 26
AVERY
Eu estava além de exausta. Exausta demais para lutar contra meu pai quando ele insistiu que eu lhe desse algum tempo sozinho com a minha mãe. Sabia que era apenas sua maneira de me fazer ficar algum tempo longe do estresse, e ele estava certo; eu precisava de uma pausa.
Também estava muito cansada para discutir quando Kade me obrigou a subir no banco do passageiro de sua caminhonete e disse que me levaria para a casa dele porque era mais perto.
Quando ele ligou o chuveiro e pegou algo para eu vestir, ele me deixou sozinha para lavar os dias de sujeira. Dormir no hospital não era tão fácil como eu havia deixado entender, e a água quente correndo sobre meus ombros doloridos parecia incrível. Kade tinha um daqueles enormes chuveiros com duchas múltiplas. A pressão da água também foi muito impressionante conforme massageava todos os lugares certos.
Quando permiti que o meu corpo relaxasse quase um pouco demais, eu senti que era hora de sair. Minhas pernas realmente pareciam geleia.
Sequei e deslizei meus braços na camiseta vermelha que Kade deixara para mim, notando que ainda mantinha o perfume dele. Eu não estava muito cansada para sentir os efeitos que teve sobre mim. Fiquei ali no banheiro, segurando a camisa no meu nariz, respirando-o.
Depois de um tempo, eu lentamente abri a porta do banheiro que ligava ao quarto dele. A porta do quarto estava fechada, permitindo-me a privacidade. Abri e aproveitei a oportunidade para olhar em volta, notando que continha apenas alguns móveis simples. Sentei-me na borda do colchão e me disse que eu apenas relaxaria por alguns minutos. Mas quando descansei minha cabeça no travesseiro, senti-me ir.
A cama de Kade era o paraíso.
***
Quando acordei, o quarto estava escuro, mas uma luz fraca derramava no meio do corredor.
Pânico me inundou, e tentei sentar apenas para ser retida por um braço forte envolto em minha cintura.
Olhando por cima do meu ombro, eu encontrei Kade enrolado atrás de mim. Ele estava sem camisa, e a suavidade de sua pele contra meu braço era calmante. Ele estava dormindo, e um ronco suave encheu o silêncio.
Lentamente, mas com muito cuidado, me virei em seus braços para encará-lo. Permitindo que o meu olhar passasse sobre o peito esculpido e braços, eu aproveitei a oportunidade para colocar a palma da mão bem acima de seu coração e o senti bater embaixo dos meus dedos.
Seu braço que ainda jazia caído sobre mim apertou enquanto ele estendia a mão sobre a parte inferior das minhas costas. — Como você dormiu, menina bonita? — Perguntou. O som de sua voz rouca me fez fechar os olhos com força.
— Bem, — sussurrei. — Preciso voltar para o hospital, no entanto. Já faz algumas horas.
Ele abriu os olhos, e imediatamente encontrou os meus. — Eu liguei para Robert. Ele disse que as coisas ainda estão na mesma. Ele vai dormir no quarto dela esta noite para que você possa dormir em uma cama de verdade. — Comecei a discutir, mas ele me interrompeu. — Ordens de seu pai, não minhas. Embora eu concorde completamente.
— Então, você e meu pai, — eu disse. — Posso ter estado cansada, mas não pense que não percebi que vocês dois estavam realmente a uma curta distância e nenhum de vocês parecia com raiva.
Ele ergueu a mão e afastou meu cabelo do meu rosto. O toque de seus dedos contra minhas bochechas provocou uma emoção vibrante em meu estômago.
— Tivemos uma conversa muito necessária sobre uma xícara de café quente mais cedo, — ele disse. — Não somos melhores amigos, mas é um passo na direção certa. Não posso continuar vivendo no passado. É hora de abandonar toda a raiva.
Engoli, pensando na emoção que suas palavras me fizeram sentir e deslizei minha mão até que ela descansou no lado de seu pescoço. — Estou orgulhosa de você, — sussurrei. Eu sabia o que significava essa etapa.
— Obrigado, — ele respondeu, e então se inclinou um pouco, fechando a distância entre nós. — Senti sua falta, Avery. Eu sei que nem sempre fui bom para você, mas preciso que saiba que você não fez nada de errado. O único motivo das minhas absolutas reservas quando vim para você era porque eu sabia que você merecia alguém melhor do que eu.
Um sentimento de tristeza se sentou dentro de mim. Eu odiava o fato de que ele sentia que era tão indigno de amor. — Você é um bom rapaz, Kade. Não entendo por que você não pode ver isso. — Pressionei meus lábios nos dele antes que ele pudesse discutir.
Capítulo 27
KADE
A sensação de seus lábios contra os meus causou arrepios por todo meu corpo. Quando eu disse que sentia falta dela, eu falei da forma mais sincera. Avery e eu éramos amigos antes das coisas entre nós ficarem complicadas. Ela era alguém com quem eu poderia sorrir e rir, e odiava ter tirado um pouco de sua faísca com as minhas más escolhas e comportamentos. Embora eu tivesse dificuldade para mostrar isso, a felicidade dela significava muito para mim.
Quando terminei o nosso beijo, nós dois apenas olhamos um para o outro, respirando um pouco mais rápido do que antes.
— Eu quero tentar, — confessei. — Quero que nós tentemos.
Seu olhar deixou o meu, e meu coração afundou. — Avery?
— Eu só... — ela fechou os olhos com força e respirou estremecendo. — Sei que você está tentando fazer a coisa certa, Kade. E sou grata, mas a única coisa que eu peço para você fazer é ser um bom pai. Não posso forçá-lo a fornecer mais nada.
— Você não está forçando nada, menina bonita. Quero tentar. — A resistência dela fez meu peito doer.
— Não quero estar com alguém por piedade ou...
Eu rolei sobre ela e me coloquei sobre seu corpo minúsculo de forma segura. Ela parou de falar e seus olhos se arregalaram.
— Isto não é por piedade, — eu disse. — Não estou dizendo nada disso porque sinto que eu devo isso a você. Meu Deus, Avery, você deve me conhecer melhor do que isso. — Deslizei o meu polegar ao longo de sua bochecha. — Sim, eu quero estar lá para você e nosso filho, mas é mais do que isso. — Seu afastamento gerou um novo sentimento. Era como se os nossos papeis fossem invertidos e era ela quem se afastava agora.
Ela continuou olhando para mim. Eu sabia que ela queria discutir, mas ela segurou a língua.
— Eu senti falta da minha amiga. Senti falta do seu sorriso. — Inclinei-me e a beijei, em seguida, coloquei a minha testa contra a dela. — Estraguei tudo, ok? Eu sei disso. Mas, ao longo das últimas semanas, eu realmente tentei me perdoar, e sei que eu quero você. Porque viver sem você não é uma opção.
— Kade. — Ela acariciou minha barba por fazer.
— Eu fui ao seu apartamento algumas semanas atrás, antes de descobrir que você saiu em um cruzeiro. Eu não sabia o que lhe ofereceria. Só sabia que precisava estar perto de você. Isso foi antes mesmo de saber que você estava grávida, — expliquei. — Eu estava na oficina e comecei a pensar naquele filme com Nicholas Cage. Eu imediatamente quis ver você, então comprei uma pizza e fui para a sua casa.
A mão dela congelou no meu queixo, e ela sorriu. — Sério?
— Sim, — eu disse, sorrindo muito, porque ela agora olhava para mim com uma expressão esperançosa. — Estou me curando, menina bonita. Estou trabalhando em ser um homem melhor, porque você merece ser amada, Avery. E sendo sincero aqui, a ideia de qualquer outro homem te amar ou ao meu filho cria um fogo dentro de mim. Não posso deixar isso acontecer. Eu não vou.
Quando Avery agarrou meu rosto e me puxou até ela, nossos lábios fizeram o resto. Sua língua pressionando contra os meus lábios me convidou a tomar mais dela. E eu fiz.
— Eu cuidarei de você, — sussurrei entre beijos. — Você significa mais para mim do que eu jamais admiti. É hora de eu parar de correr.
Ela enrolou as pernas em volta da minha cintura e me prendeu a ela. — Estou com medo.
— Eu sei. Assim como eu. Mas vamos ficar com medo juntos. Vamos fazer isso juntos. Lado a lado, querida, eu prometo que você me tem. — Seu peito estremeceu contra o meu, e puxou algo dentro de mim. — Você me tem, baby. Você tem minha palavra.
Nunca havia unicamente desfrutado de beijar alguém. Nunca passei tempo degustando e memorizando a sensação dos lábios de alguém. Esse não foi o caso com Avery. Tudo com ela apenas parecia diferente, melhor.
***
Acordar com Avery em meus braços era algo que eu poderia me acostumar. Depois de beijar pelo que pareceram horas, ela enrolou-se contra mim e deixou o esgotamento assumir. A cabeça dela estava em cima do meu peito agora, enquanto seu cabelo estava espalhado por cima do meu braço e ombro. Sua perna direita estava enrolada em torno das minhas, e a cabeça esteve na mesma posição por muito tempo, sua bochecha parecia ter sido fundida com a pele do meu peito. Seus roncos eram quase inaudíveis, e não pude deixar de sorrir ao ouvir o som.
Abaixar minha guarda se sentiu bem por uma vez.
Quando olhei para o relógio-alarme, vi que era 7:22 da manhã. Eu sabia que ela iria querer voltar para o hospital, mas por um pouco mais de tempo eu me permiti ser egoísta.
Meu telefone tocando na mesa de cabeceira a fez saltar de surpresa. Quando o agarrei e vi o número do padrasto dela na tela, meu coração bateu no meu peito.
— Quem é? — Ela perguntou, e levantei o dedo para ela esperar.
Com um golpe rápido do meu dedo, eu respirei fundo e atendi a chamada. — Olá? — Minha voz falhou.
— Kade? — A voz de Robert estava abafada.
— Sim, sou eu, — respondi apressadamente. Havia apenas duas razões pelas quais ele poderia ligar. Eu rezava silenciosamente por uma boa notícia quando Avery sentou ao meu lado, se concentrando unicamente em mim enquanto esperava.
— Ela está acordada, — ele gritou, e uma enorme sensação de alívio tomou conta de mim. — Angela acordou.
Encontrei o olhar de Avery e sorri. — Ela está acordada, menina bonita.
Essa frase curta foi tudo o que levou para as comportas se abrir. Avery gritou alegremente enquanto começava a se mover pelo quarto em busca de suas coisas.
Era hora de levar a minha menina para ver a mãe dela.
Capítulo 28
AVERY
Quando entrei no quarto de hospital de minha mãe e a encontrei sorrindo para o meu padrasto, um soluço profundo me rasgou. Por dias eu pensei que ela estivesse perdida de mim. Deixei minha mente vagar em um território muito assustador, e os meus medos foram aos poucos tomando meu coração.
Agora eu tinha apenas uma pequena amostra da tristeza com a qual Kade viveu durante anos. Apertei a mão dele enquanto ele me levava para o quarto.
— Aí está a minha garota, — ela sussurrou. Sua voz era fraca e havia um leve arrastar que não tinha antes. Para não mencionar os tubos e máquinas que ainda permaneceram ligados, e monitoravam seus sinais vitais. — Como está o meu neto?
Olhei para Kade quando seus olhos se voltaram na direção dele. — Os dois estão bem, minha senhora. Eu garanti isso, — ele disse.
Ela sorriu para ele e, lentamente, levantou a mão da cama. — Venha sentar perto de mim, querida.
Corri para o lado dela. — Estava com tanto medo que tivesse perdido você.
Seus olhos se agitaram, e ela pegou a minha mão na dela. — Não vou a lugar nenhum, doce menina. Eu tenho um neto para estragar.
Eu ri e enterrei meu rosto no ombro dela.
Minha mãe estava acordada.
***
Ao longo da última semana vi minha mãe fazer progressos em sua recuperação. A voz dela foi permanentemente danificada devido à lesão do cérebro, e ela agora arrastava um pouco as palavras quando falava. Os médicos disseram que podia melhorar com o tempo, mas sua voz nunca voltará a ser como era antes do acidente. Pela quantidade de trauma que sofreu, eu diria que, no final, ela teve sorte. Poderia ter sido muito pior. Ela já começou a terapia da fala e continuava se encontrando com o terapeuta duas vezes por semana, mesmo após deixar o hospital.
Eu me aproximava da marca de doze semanas, e com tudo o que aconteceu ultimamente, eu me senti um pouco culpada por passar tão pouco tempo me concentrando em minha gravidez. Estava nervosa quando me sentei na sala de espera do consultório do médico com Kade ao meu lado. Apenas a ideia do Dr. Miles Paxton e ele estarem no mesmo quarto novamente enquanto eu estava nua da cintura para baixo fez o meu estômago doer. Senti a aversão de Kade com a situação na primeira consulta, e eu sabia que como as coisas entre nós mudaram, ele só se sentiria mais desconfortável desta vez.
— Avery Nolan, — a voz familiar disse do outro lado da sala. — Estamos prontos para você agora.
Kade se levantou rapidamente e estendeu a mão para mim. — Vamos ver o nosso pequenino.
Sorri com o comentário dele. Ele pegara o meu apelido para o bebê durante a última semana. Era realmente muito bonito ouvi-lo dizer isso quando falamos com nossos amigos.
Ele agarrou minha mão com força e me levou pela porta.
— Vamos começar com a sua pressão arterial, e então nós vamos prepará-la para o ultrassom, — a enfermeira anunciou.
Kade sorriu de orelha a orelha, e sua excitação me deixou tonta. Eu adorava que ele estivesse ansioso para ver e ouvir o batimento cardíaco do nosso filho novamente. Ali estava aquele homem grande e durão, que aparentemente poderia quebrar qualquer um, mas que era um grande bobo do começo ao fim.
Após verificar a minha pressão arterial e dizer que estava normal, a enfermeira nos levou à sala de ecografia.
— Por enquanto, você pode apenas abaixar a cintura de suas calças, — ela disse. — Nós não teremos que a despir até que você esteja no quarto. — Balancei a cabeça enquanto ela saía pela porta.
— Você está me fodendo agora, — Kade latiu. — Quantas vezes esse médico idiota terá as mãos enterradas entre suas pernas? — Seu rosto ficara vermelho, e eu pude ver que ele tentava controlar sua irritação.
— Hum, Kade. — Apertei os lábios com força para controlar o riso fervendo dentro de mim. Agora não era o momento de gargalhar. — Você entende que esse é o trabalho dele, certo? Quero dizer, ele faz isso dia após dia. Ele fará o parto do nosso bebê.
Kade deu um passo adiante, colocou as mãos nos meus quadris, e puxou meu corpo contra o dele. — Eu sei disso, mas isso não muda o fato de que ele é um homem, e está tocando algo que é meu. — Levantei uma sobrancelha para ele, e ele riu. — Sim, não me olhe assim. Eu disse que quero você e quero isso entre nós. Você não discutiu, o que me diz que você quer também. — Ele esperou eu protestar, mas não o fiz porque o que ele disse era verdade.
— Inverta os papeis, baby. — Ele sorriu. — E se eu tivesse que ver uma médica do sexo feminino todos os meses, e ela tivesse que tatear meu pau?
Minha risada saiu livre porque ele não poderia comparar os dois. Eu abrigava uma vida humana dentro de mim.
Ele imediatamente estreitou os olhos. — Merda, não é engraçado.
Coloquei minha mão sobre a boca para abafar o riso. Quando estava sob controle, eu forcei uma cara séria. — Ok, eu entendo. — Não tinha ideia do que dizer para fazê-lo se sentir melhor.
Ele se inclinou e colocou seus lábios contra os meus no exato momento em que ouvi a porta atrás de nós se abrir. Tentei me afastar, mas Kade agarrou minha nuca e segurou a minha boca contra a dele.
O beijo que ele continuou me dando era um daqueles beijos de enrolar os dedos, que deveriam ser reservados somente para o quarto. Ele me consumia, enfraquecia os meus joelhos, e fazia meu corpo implorar por mais. Agora não era o momento de estar excitada.
Quando finalmente me soltou, ele tinha um sorriso autoconfiante, e tudo que eu podia fazer era revirar meus olhos. Ele era um idiota arrogante, reclamando um direito quando não tinha razão para isso.
Calor subiu meu pescoço quando me virei para encarar o médico. Ele ficou congelado na porta, tentando se recompor após o que acabou de presenciar.
Esta consulta, sem dúvida, seria interessante.
Capítulo 29
KADE
— Aqui está o endereço, — Easton disse quando passou o papel para mim. — Bennie disse que moram em uma casa em estilo fazenda no final da rua.
Vermont. Eles ficaram alguns meses após o funeral e depois se mudaram para milhares de quilômetros de distância. Correndo do lugar onde viam sua filha em todos os lugares que olhavam.
— Você tem certeza disso, Kade? — Jett perguntou quando se sentou na cabine ao meu lado.
— Sim, eu tenho. É algo que eu preciso fazer. É o último passo antes que eu possa dizer adeus a Jenna — Expliquei enquanto torcia o papel entre os dedos. — Estou pronto para seguir em frente com Avery, e não posso fazê-lo até que eu faça isso.
Meu estômago estava em nós com a ideia de enfrentar os pais de Jenna. Não tinha ideia do que esperar, mas eu queria encerrar este capítulo.
— Precisarei de algo de você, Jett, — eu disse quando desviei os olhos das minhas mãos.
— E o que seria isso, irmão? — Perguntou.
— Fique de olho na minha garota, — eu disse, e ele sorriu amplamente, assentindo enquanto Easton ria. — Sim, eu sei. Você nunca pensou que veria o dia, certo?
Jett colocou a mão no meu ombro e deu um tapinha. — Não, eu não pensei, mas parece bom em você.
— O quê? — Perguntei.
— O amor, a paixão, o que você quiser chamá-lo, — Easton disse.
— Pau mandado, dominado pela mulher, não importa como vocês se referem? — Jude deixou-se cair no assento ao lado de Easton, rindo. — Avery tem você enrolado no dedo mindinho, e você está afundado até as profundezas mais profundas, irmão.
Sorri. — De onde diabos você veio?
— Estive observando em silêncio essa troca que vocês três estavam tendo. — Ele se reclinou, esperando eu discutir com o que ele havia dito. Mas ele estava certo. Era inútil. Avery me amarrara apertado, e não havia volta.
***
— Então você realmente irá de manhã? — Avery perguntou quando se sentou enrolada contra mim. Assim que saí do restaurante, eu dirigi direto para a casa dela a fim de avisá-la sobre os meus planos.
— Sim, — sussurrei em seu cabelo enquanto a segurava perto de mim. — Eu queria passar a noite com você antes de ir. Mas não vou demorar. Eu apenas preciso fazer isso.
Seu domínio sobre minha cintura ficou um pouco mais forte. — Eu entendo, — ela sussurrou. — Então, você passará a noite?
A pergunta fez meu coração sentir como estivesse apertado no peito. Era bom saber que ela precisava de mim e me queria.
— Você quer que eu passe a noite com você? — Perguntei.
Quando ela acenou com a cabeça contra o meu peito, outra onda de alívio tomou conta de mim. Eu não queria nada mais do que segurá-la em meus braços a noite toda.
— Então, nós vamos assistir a aquele filme? — Perguntei, e ela riu.
— O quê, você quer dizer o estranho filme de unicórnio? — Ela provocou. — Pensei que você não gostava desse tipo de coisa.
Não lhe dei qualquer aviso antes de virá-la e comecei a fazer cócegas em seus lados. A espertinha esteve pegando no meu pé a noite toda, desde que entrei pela porta segurando Sessenta Segundos e uma grande pizza.
— Oh meu Deus, Kade, pare, — ela gritou enquanto tentava fugir de mim. — Oh pare, oh merda, eu juro que não vou mais pegar no seu pé.
Seu riso era um som bem-vindo. Ela estivera quieta desde que eu disse a ela que ia para Vermont pela manhã, e a última coisa que eu queria era terminar a nossa noite com uma nota amarga.
— Vou fazer xixi nas calças, você tem que parar, — ela implorou, e meu próprio riso estourou.
Liguei meu braço em volta da sua cintura e a levantei para o meu colo. — Adoro ouvir você rir, — confessei, e ela sorriu para mim, sua respiração ainda difícil enquanto ela tentava se recuperar das cócegas.
— Após esta viagem, você tem tudo de mim, garota bonita. Prometo não mais me segurar. Eu só preciso dizer adeus a essa parte da minha vida, e pedir o perdão deles é a única maneira que eu posso fazer isso. Posso te prometer que as coisas serão diferentes. Eu não vou te machucar novamente, baby.
Ela assentiu com a cabeça, e notei as lágrimas brilhando em seus olhos. — Ok, — ela sussurrou. — Podemos deixar o filme para outro dia? Prefiro que você me leve para a cama.
— Você tem certeza?
— Completamente certa, — ela disse. — Quero começar a fazer novas memórias.
Uma dor indesejada apertou meu estômago. Eu sabia exatamente o que suas palavras significavam. Eu realmente errei em nossa primeira vez juntos naquela noite na oficina, e ela queria apagar. Eu queria isso também. Criação de novas memórias parecia uma boa ideia. Era hora de começar a mostrar a Avery o quanto ela realmente significava para mim, e sempre significou.
Levantei-me e a levantei do meu colo no processo. Uma vez que a coloquei seguramente em seus pés, eu peguei a mão dela e a levei para o corredor em direção ao quarto dela.
Seu quarto estava escuro, e a luz do banheiro deu ao lugar um brilho suave. Puxei-a para minha frente e a abracei. — Novas memórias, — sussurrei. — Todas elas começam agora.
Ela deslizou as mãos sob a barra da minha camisa. No momento em que seus dedos deslizaram sobre meus lados, arrepios irromperam sobre meus braços e costas. Fechei os olhos e me concentrei em seu toque quando passou por cima do meu abdômen antes de apoiar as mãos no meu peito. Lentamente e quase tortuosamente, ela começou a levantar minha camisa.
Quando seus lábios apertaram contra o centro do meu peito, minha cabeça caiu para trás. Se isso não fosse o suficiente para enfraquecer minhas pernas, eu fiquei completamente perdido quando sua língua traçou um caminho até o meu mamilo.
— Avery. — O nome dela caiu de meus lábios em um gemido. Afrouxei meu aperto na sua cintura e levei seus quadris em minhas mãos antes de lentamente guiá-la para a cama. Fiquei para trás por um momento para que eu pudesse olhar para ela, permitindo que meus olhos a percorressem lentamente, da cabeça aos pés. Ela me olhou também, com os olhos cheios de luxúria.
Meu coração estava acelerado, tão rápido que parecia poder sair do meu peito. Eu nunca quis tanto algo quanto este momento com Avery. Precisava apagar meu erro, criando uma nova primeira vez. A nossa primeira vez juntos como um casal. Desta vez eu olharia nos olhos dela e me certificaria de que ela pudesse ver o que tentei tão duramente esconder anteriormente. Depois desta noite, ela deixaria de questionar o que eu sentia por ela.
Capítulo 30
AVERY
Eu podia sentir uma mudança, uma mudança na maneira como ele olhou para mim. Até mesmo os beijos que compartilhamos eram tão cheios de paixão. Era difícil explicar, mas o homem que estava aqui diante de mim agora não era o mesmo da noite na oficina.
Enquanto ele pairava sobre mim, nossos corpos unidos da maneira mais íntima, seu olhar nunca vacilou. Ele olhou para mim com tal intensidade.
— Você é tão linda, — ele sussurrou antes de seus lábios encontrarem os meus. Nossas línguas entrelaçadas enquanto ele girava os quadris, moendo contra mim. Ele se afastou, e seu olhar mais uma vez encontrou o meu. — Esta deveria ter sido a nossa primeira vez, — ele sussurrou, empurrando mais profundo dentro de mim. Minha respiração engatou, e cravei minhas unhas em seus ombros.
— Oh meu Deus, — engasguei. — Mm. — Um gemido saiu dos meus lábios antes dele cobrir minha boca com a dele. Imediatamente o balanço de seus quadris aumentou, e ele começou a empurrar para dentro de mim mais e mais rápido, seus músculos tensos sob meus dedos com os seus movimentos vigorosos.
— Estou tão perto, baby, — ele gemeu antes de entrelaçar sua língua com a minha. Ele agarrou meus quadris e me puxou mais forte contra ele assim que meu corpo ficou tenso em torno dele. A mais deliciosa sensação assumiu quando um orgasmo intenso me rasgou.
Ele engoliu meus gemidos enquanto empurrava em mim antes de seu próprio orgasmo estourar.
— Avery, — ele gemeu.
Após se acalmar, ele se moveu para o lado para me aliviar do peso de seu corpo. Olhando para mim, ele afastou o cabelo que caía em meu rosto. — Você está bem? — Ele perguntou. — Eu não te machuquei, não é?
Sorri com sua consideração. — Não, você foi perfeito, — assegurei a ele.
O sorriso que se espalhou sobre o rosto dele enviou arrepios por todo o meu corpo e uma sensação de calor bateu direto em meu núcleo. Ele estava feliz, e foi bonito testemunhar isso.
***
— Bem, você não é um coelhinho encantador? — Quinn disse.
— Mais como um rabugento. — Estreitei os olhos para Callie enquanto ela colocava o shake de chocolate na minha frente. Ela retirou a mão rapidamente como se eu estivesse prestes a atacá-la.
Quinn gargalhou e Harper apenas riu. Ela não se importava com quem a ouvisse.
— Kade viajou essa manhã, ela está grávida, e ouvi que as mulheres grávidas ficam com tesão, o tempo todo, — declarou Harper, segurando minha colher e pegando uma colherada de chantilly de cima do meu copo.
Golpeei a mão dela e redirecionei meu olhar para ela. — Largue a colher.
Harper riu tanto que começou a tossir, e agora foi a vez de Callie rir.
— Faça novamente, Harp, eu quero ver você perder um braço, — ela disse.
Harper estendeu a mão na frente do rosto e mostrou o dedo para Callie. Dessa vez, todas nós começamos a rir.
Era verdade que eu estava temperamental. Kade voou esta manhã, e eu ainda não tinha notícias dele. Estava preocupada, e queria saber se ele estava bem. A ideia dele aparecendo na casa dos pais de Jenna apenas para tê-los batendo a porta na cara dele quebrou meu coração. Eu queria que eles o aceitassem e lhe dissessem que tudo ficaria bem. Ele merecia um fechamento, e jurei que se eles o machucassem eu pegaria o primeiro avião e voaria para Vermont para dar a ambos a minha opinião.
— Você teve notícias dele? — Jett perguntou quando deslizou para dentro da cabine ao lado de Quinn. Senti imediatamente a ausência de Kade. Não, nós não estávamos juntos como um casal há muito tempo, mas desde o momento que ele disse que queria tentar que nós ficássemos juntos, eu deixei meu coração acabar de cair. Não havia como me salvar.
Balancei a cabeça. — Não, você?
— Não, — ele disse, mergulhando um chip de tortilha na salsa e a levantando à boca.
Sem pensar, eu agarrei um chip. Quando ignorei a salsa e a mergulhei no meu shake, ouvi um eww e alguém sussurrou, nojento. Levantei-a aos lábios e sorri quando coloquei a doçura salgada contra a minha língua. Foi a mistura perfeita.
— Isso tem que ser uma coisa da gravidez, — Callie disse. — Isso é apenas estranho.
Easton e Jude caminharam até nós, e me senti um pouco triste. Kade era o único ausente do nosso grupinho.
— Já mergulhou chips de milho em seu sorvete? — Jude perguntou quando olhou para mim enquanto eu continuava mergulhando os chips no shake.
Balancei a cabeça enquanto desfrutava de ser capaz de causar nojo a Callie.
— É bom, — ele confirmou. — Um pouco salgado e um pouco doce. — Ele lambeu seu lábio e deixou seu olhar vagar para Callie. Meu Deus, esses dois e as fantasias sujas que eles têm sobre o outro.
— Na verdade, estou no humor para nachos. Tem algum queijo? — Perguntei a Jude com a boca cheia de batatas fritas. — Queijo nacho picante, na verdade, e azeitonas pretas.
— Este é o meu restaurante, Avery, temos de tudo, — Jett anunciou orgulhosamente.
— Vou fazer alguns nachos para você, Avery, e eles serão os melhores malditos nachos que você já comeu, — Jude me garantiu enquanto saía, oferecendo uma piscadela antes de se virar e caminhar em direção à cozinha.
— E quanto a mim? — Callie gritou atrás dele.
Todos nós assistimos quando Jude olhou por cima do ombro, um sorriso cobrindo sua boca. — Por que, Cal, se eu fizer o jantar, você me oferecerá a sobremesa depois?
Easton e Jett riram, e cada garota na mesa abriu um grande sorriso. Bem, toda garota, menos Callie. Em vez disso, seu rosto ficou vermelho e ela se virou para encarar o grupo, escolhendo evitar as palavras sexualmente atadas de Jude. Eu não tinha dúvida os dois seriam explosivos se simplesmente cedessem à tensão que estivera em ebulição entre eles durante meses, se não mais. Ambos sempre observavam um ao outro quando o outro não estava olhando, e Jude estava sempre vigiando quando qualquer outro cara ficava dentro de alguns metros de Callie. Eles realmente só precisavam se trancar em uma sala juntos por alguns dias. Era quase demasiado quente para assistir.
Capítulo 31
KADE
Acho que nunca estive tão nervoso quanto estava no momento em que parei na frente da casa de Lori e Paul. Minhas mãos tremiam, eu suava como um louco, e sentia que ia vomitar a qualquer momento.
Não tinha ideia do que esperar. Tê-los batendo a porta na minha cara seria o resultado mais difícil de aceitar. Realmente não pensei no que eu faria se isso acontecesse. Eu só precisava esperar o melhor. Estava tão perto de recuar, mas sabia que só me arrependeria dessa decisão. Precisando apenas de um pequeno empurrão, eu peguei meu telefone e disquei o número de Jett. Ele era um cara não-besteira, e sabia que ele seria o empurrão que eu precisava.
— E aí? Como vão as coisas? — Ele perguntou, ignorando o Olá.
— Não sei, cara, — eu disse. — Não consigo tirar a minha bunda do carro.
O silêncio se instalou, e eu sabia que ele esperava que eu continuasse.
— O que diabos eu faço se eles se recusarem a falar comigo? E se baterem a porta antes que eu possa explicar por que estou aqui? Não sei se eu pensei nisso muito bem. — Meu coração estava disparado enquanto eu divagava.
— Irmão, você não pode fazer isso com você. Você entrou em uma porra de avião para voar milhares de milhas para pedir perdão. Droga, Kade, você merece perdão. Se eles não podem oferecer isso, então que se fodam. Coloque a cabeça no lugar, tire a bunda desse carro e bata na porra da porta. Se eles não te derem a oportunidade de falar, então é a perda dele. Você fez a sua parte.
Ele me empurrou, assim como pensei que ele faria. Deixo meu olhar vagar até a casa de tijolos à minha esquerda.
— Jude preparou o jantar para sua mulher e o bebê hoje à noite. — O comentário dele imediatamente chamou minha atenção. — Nunca ouvi aqueles tipos de gemidos de uma mulher simplesmente desfrutando de uma boa refeição.
Burro do caralho estava jogando duro, jogando um jogo que ele sabia que me tiraria da minha própria cabeça.
— Enquanto ela comia, ele veio correndo e pegou um saco de fritas. E então eles se sentaram em uma cabine e compartilharam uma grande tigela de sorvete enquanto mergulhavam os chips. Aparentemente, eles compartilham de um amor por uma mistura de salgado e doce. — O imbecil riu. Ele sabia exatamente o efeito que suas palavras teriam sobre mim.
— Foda-se, homem, — rosnei.
— Apresse sua bunda e volte para sua garota. Ela sente falta de você, cara. Deixe seus medos e reservas na porta do hotel. Vá lá com a cabeça erguida, porque não tem nada que se desculpar. Você amava Jenna, ela te amava. Merda aconteceu, e no final ela escolheu ficar atrás do volante. Você não a forçou a fazer isso. Quer você queira acreditar ou não, Kade, você não causou o acidente.
Minha garganta ardia como fogo.
— Limpe sua mente e faça o que você foi fazer aí. Vá conseguir a paz.
Um silêncio tomou conta por alguns segundos antes de ouvir a linha ficar muda. Jett me deu a motivação para seguir em frente. Ele fez exatamente o que eu precisava que ele fizesse. Silenciei meu telefone, coloquei-o no bolso de trás, e abri a porta do carro.
Minha mente correu com coisas para dizer conforme eu caminhava para a casa dos pais de Jenna. Parando em frente à porta, tomei um último suspiro calmante e levantei a mão para bater.
Assim que puxei minha mão para trás, a porta se abriu. Paul ficou na porta, olhando para mim com um olhar que eu não conseguia decifrar.
— Eu me perguntava quanto tempo você demoraria a sair do carro, — ele disse, pegando-me desprevenido. — Eu estava sentado na minha sala de estar assistindo você se preparar durante os últimos quarenta e cinco minutos.
Dei de ombros. — Eu estava um pouco nervoso, — admiti sem hesitação.
Ele deu um passo para o lado e estendeu a mão, indicando que eu poderia entrar. Enquanto eu caminhava ao redor dele, meu coração afundou.
Havia fotos de Jenna nas paredes da entrada e da escada que leva ao andar de cima, como uma colagem de seus primeiros dezoito anos de vida. Meu olhar pousou em uma imagem específica de uma noite que eu lembrava bem – o nosso baile. Jenna usava um vestido prateado, seu cabelo caindo por cima do ombro em um monte de ondas longas. Eu estava ao lado dela, com um sorriso enorme que eu mal reconhecia mais. Sua mão repousava sobre o meu coração, e ela olhava para mim com um sorriso combinando.
— Sabe, ela contou que esta noite foi uma das melhores noites que ela já teve. — A voz de Lori me assustou, e olhei por cima do meu ombro.
Meus olhos estavam nublados com lágrimas não derramadas. — A minha também, — confessei. Tivemos um tempo maravilhoso, e nada poderia ter sido melhor. Foi também a noite em que tivemos relações sexuais pela primeira vez e uma noite perfeita que eu lembrarei para sempre.
— Por que não vamos para a sala de estar? — Paul ofereceu.
Segui os dois até uma grande área de estar rodeada por janelas.
— Sente-se, — Lori disse quando eles tomaram a namoradeira no lado oposto. — Posso dizer que esta visita é uma surpresa. Não que não seja bem-vinda, apenas inesperada.
— Sinto muito por passar sem aviso, mas há anos que eu queria encontrar vocês, — confessei. Minha cabeça começou a correr novamente, e meu estômago ficou tenso. Quando olhei para cima, eu não conseguia mais segurar as memórias da noite do acidente e todos os anos que se seguiram.
— Por anos eu desejei que tivesse sido eu naquela noite, em vez de Jenna. — A minha visão nublou novamente enquanto falava. — Eu costumava sentar sozinho na praia à noite, exigindo saber por que Deus levou uma pessoa tão incrível. Jenna merecia viver porque ela tinha muito para dar. — Engoli o nó na minha garganta. — Passei anos bêbado e zangado. Desperdicei a minha vida, e ela teria prosperado. Ela teria salvado tantos por agora, porque ela desejava salvar o mundo. Foi ela quem me manteve em linha reta na época, e sem ela, eu simplesmente me desfiz.
Não conseguia mais segurar as lágrimas. — Sinto muito, eu não a salvei. — Um soluço me rasgou e abaixei minha cabeça, enterrando meu rosto em minhas mãos.
— Filho, — Paul sussurrou enquanto colocava a mão no meu ombro. O toque me assustou, e olhei para cima. Ele estava ao meu lado, seus olhos suaves. — Você não poderia tê-la salvado.
Ele sentou ao meu lado enquanto Lori fungava.
— Erramos ao culpar você. Erramos ao recusar vê-lo, mas era muito difícil. Você era um lembrete constante do que havíamos perdido. Jenna amou você, Kade, e cada vez que víamos você... — a voz dele falhou e ele teve que limpar a emoção de sua garganta. — Apenas tornava mais difícil de curar. Tornava mais difícil de aceitar que nunca veríamos a nossa bela garota de novo.
Balancei a cabeça porque entendi o que ele quis dizer. Essa foi a mesma razão que os ver era difícil para mim. Foi difícil passar perto da casa deles ou até mesmo ouvir o sobrenome deles. Tudo sobre eles era um lembrete constante do fato de que Jenna havia partido.
— A culpa que você sente é desnecessária, — Lori disse, enxugando as lágrimas de seus olhos. — Você precisa deixar ir. Precisa seguir em frente e viver a sua vida. Jenna iria querer isso.
— Estou tentando, mas primeiro eu precisava fazer esta viagem. — Limpei minhas próprias lágrimas com o lenço de papel que Lori estendeu em minha direção. — Então eu vou visitar Jenna. — Dei de ombros. — Algo que sempre fui muito covarde para fazer. Está na hora.
— Você é casado, Kade? — Lori perguntou.
Balancei minha cabeça. — Não, uma namorada, — eu disse — E um bebê a caminho. — Não conseguir segurar o sorriso com a menção do nosso pequenino. O reconhecimento de que eu seria um pai era muito bom.
— Parabéns, — Paul ofereceu.
— Obrigado.
Nós nos sentamos ao redor e falamos mais sobre Jenna, os anos que ela teve e as lembranças dela comigo, como as vezes que ela e eu adormecíamos juntos no telefone à noite, apenas para acordar na manhã seguinte com os receptores ainda preso a nossos ouvidos.
O pai dela costumava odiar isso, mas agora ele riu disso.
Quando saí da casa deles por volta da meia-noite, eu senti como se o peso que eu carreguei por anos tivesse sido retirado.
Quando entrei no quarto de hotel, eu tinha um forte desejo de ouvir a doce voz de Avery. Já era tarde e eu realmente deveria deixá-la dormir, mas só precisava de alguns minutos.
Capítulo 32
AVERY
Meu telefone tocando me acordou. Adormeci no sofá na esperança de ouvir notícias de Kade. O pensamento de ser ferido ou rejeitado me assombrava. Enquanto eu movimentei para alcançá-lo, o derrubei no chão. Rapidamente o agarrei do chão e atendi. — Olá, oi, eu estou aqui. — Eu divagava.
Uma risada profunda encheu o outro lado da linha, e alívio correu por mim. A risada dele me aqueceu instantaneamente. Isso só poderia significar uma coisa: que correu tudo bem.
— Ei, menina bonita, me desculpe por te acordar, — ele disse suavemente. Ele parecia exausto, mas sua voz estava atada com uma felicidade que eu raramente ouvira no passado.
— Está tudo bem. Estive preocupada com você, — confessei.
— Não há necessidade de se preocupar, baby, — ele respondeu. — Estou bem. Tudo está bem.
— Sim? — Perguntei animadamente.
— Sim, — ele me assegurou. — Realmente bem, querida. — Ele tomou uma respiração longa e profunda. — Estou voltando para casa. Sinto falta da minha garota.
Lágrimas encheram os meus olhos, e mordi meu lábio.
— Você está pronta para isso? — Perguntou.
— Pronta para quê?
— Para mim. — Ele riu. — Para nós?
Concordei com entusiasmo, embora ele não pudesse me ver. — Kade Thomas, eu estou pronta para você há um longo tempo. Apenas esperando você se recuperar.
— Estarei em casa amanhã à noite.
— Mal posso esperar, — respondi, sorrindo tanto que meu rosto doía.
***
— Avery, — Brad chamou da porta da sala de descanso. — Eles precisam de você na recepção. — Ele desapareceu antes que eu pudesse perguntar quaisquer detalhes. Tampei a minha garrafa de água antes de colocá-la na geladeira e saí para o corredor.
Recebi alguns olhares estranhos enquanto passava pelo posto de enfermagem e dobrei a esquina em direção às portas duplas que levavam à recepção. Quando as empurrei, eu parei com a minha mão ainda pressionada contra a porta, mantendo-a aberta enquanto a minha boca também estava aberta.
Kade estava recostado contra a borda da recepção. Ele tinha, obviamente, encantado Lydia e Rose, as senhoras que recepcionavam os pacientes, porque ambas estavam com olhos pegajosos. Ele segurava um grande buquê de rosas vermelhas em uma mão e um pequeno bicho de pelúcia marrom na outra.
— Ei, menina bonita, — ele murmurou, e sim, eu acho que posso ter desmaiado um pouco. Ele parecia suave, convidativo e tão sexy ao mesmo tempo.
— Pensei que você disse hoje à noite? — Perguntei enquanto olhava o corpo dele, que estava muito bem destacado por sua camisa apertada e jeans gastos.
— Queria surpreendê-la, — ele disse enquanto se afastava da bancada e caminhava em minha direção. Assim que estava a centímetros de mim, ele se inclinou e me beijou. — Eu senti sua falta, — ele sussurrou contra os meus lábios. — Que horas eu posso te roubar deste lugar?
— Eu tenho mais uma hora, — respondi. Olhei para as rosas, e seu olhar seguiu o meu. Seu sorriso ficou ainda maior quando as estendeu para mim.
— Para você, — ele disse.
Peguei-as e as levei ao nariz. Tomando uma respiração profunda, eu deixei meus olhos fecharem quando o fresco aroma floral encheu minhas narinas. Tudo parecia mais aguçado com esta gravidez.
— E este ser pequeno é para o nosso pequenino, — Kade anunciou quando estendeu o pequeno cachorro de pelúcia marrom. Ele usava uma pequena camiseta amarela em que se lia bebê Thomas.
Imediatamente olhei para ele e levantei uma sobrancelha. — Sério?
— O quê? — Ele puxou o ato sou inocente um pouco demais. Não só continuou delimitando sua recém-descoberta reinvindicação em mim, agora ele fazia isso com o bebê também. Depois de todo esse tempo invejando Quinn pela captura de um homem das cavernas dominador, agora eu tinha o meu, e era incrível. Era definitivamente um sentimento com o qual eu poderia me acostumar.
— Vou encontrá-la na sua casa em um pouco mais de uma hora, — acrescentou, antes de se inclinar mais uma vez e me dar um beijo de parar o coração. Um que ganhou a atenção de Lydia e Rose, e eu tinha certeza que ouvi uma delas suspirar.
Capítulo 33
KADE
Deixei Vermont me sentindo resolvido, e pela primeira vez em muito tempo, eu estava feliz. Estava pronto para começar a minha vida. Para alguns pode parecer estranho, mas era verdade. Por muito tempo eu fugi de qualquer chance possível de felicidade e escolhi me culpar pela morte de Jenna. Escolhi ser miserável, mas isso pararia agora.
Quando Avery caminhou por aquelas portas e sorriu para mim, confirmou que eu escolhera o caminho certo. Ela era meu futuro, ela e nosso filho. Agora, eu tinha mais de uma hora para gastar antes que eu pudesse segurá-la em meus braços. Primeiro, eu tinha outra mulher que precisava ouvir de mim que as coisas ficariam bem.
Quando estacionei na casa da minha mãe e a encontrei sentada na varanda, bebendo chá com a tia Jackie, outra sacudida de felicidade me bateu. Assim que minha mãe me viu, ela acenou e sorriu amplamente. Depois de tudo que eu fiz minha mãe passar, ela ainda tinha seu espírito. Ainda amava as minhas visitas. Eu podia ouvir as risadas delas enquanto caminhava até a casa e estendi o outro buquê de flores para ela, desta vez margaridas.
— Boa tarde, senhoras, — eu disse ao me inclinar, dando um beijo na bochecha da minha mãe. Voltando-me para a tia Jackie, eu então fiz o mesmo. — Se soubesse que você estava aqui, eu teria trazido alguns lírios. — Eles eram o favorito da minha tia, e o fato de saber pareceu surpreendê-la. Ela olhou para a minha mãe e abriu um grande sorriso.
— Ok, bonito, — minha mãe disse, — Você está sorrindo. Então eu acho que isso significa que a viagem correu bem?
Balancei a cabeça e me sentei ao lado delas. — Foi realmente bom. Acho que todos nós deixamos coisas não resolvidas. Nós conversamos, e tenho o encerramento que eu precisava para seguir em frente.
Seus sorrisos só ficaram mais intensos. O da minha mãe, é claro, foi acompanhado pelas lágrimas que escorreram por suas bochechas. Ela colocou a mão na minha. — Então, quando eu vou conhecer oficialmente a minha futura nora?
— Ela sai do trabalho em meia hora. O que fará no jantar? — Perguntei. — Eu poderia pegar alguma coisa de Jett, e nós poderíamos estar aqui por volta das seis.
Ela assentiu com a cabeça. — Soa perfeito.
Com isso resolvido. Hoje à noite, as duas mulheres na minha vida finalmente conheceriam uma a outra.
***
Pulei o degrau da frente do apartamento de Avery quando ela entrou no estacionamento e corri em direção a ela. Uma vez que a porta do carro foi aberta, eu estendi a mão para ajudá-la. Ela me olhou atentamente, e eu sabia que ela estava avaliando o meu humor. Não conseguia me lembrar da última vez que me senti bem assim, tão descontraído.
— Esse sorriso certamente fica bem em você, — ela disse.
Afastei o cabelo do rosto dela e envolvi a minha mão em torno de sua nuca. — Estou feliz, menina bonita. As coisas estão prestes a mudar. Você não saberá o que a atingiu. — Coloquei meus lábios contra os dela em um lento beijo reconfortante. — Estou pronto para isso, para a nossa pequena família. — Passei os dedos da outra mão sobre a barriga dela, logo abaixo da bainha de seu scrub{5}. A ouvi tomar um fôlego trêmulo, e sabia o efeito que meu toque tinha sobre ela. Eu sentia a mesma coisa.
— Nós temos um pouco mais de uma hora antes de termos que estar no Jett para pegar o jantar. — Ela se concentrou em meus lábios até que eu trouxe o assunto do jantar, e então seu olhar se levantou para encontrar o meu, suas sobrancelhas franzindo em confusão. — Parece que minha mãe está mais do que pronta para conhecer a mãe do meu filho e sua futura nora, — expliquei. Apenas dizer as palavras fez meu coração disparar. Eu só podia imaginar o que elas estavam fazendo-a sentir.
— O que você acha se eu ajudá-la a se limpar do trabalho? Eu poderia precisar de um banho também. — Eu ainda roçava meu polegar ao longo do cós de sua calça enquanto nossos olhos continuavam trancados um no outro.
Um simples aceno dela era tudo que eu precisava. Tirando a mão de sua barriga, eu segurei a mão dela e a conduzi até a porta da frente.
Uma vez que ela entrou, eu a tranquei e comecei a guiá-la ao banheiro no final do corredor. Quando ela passou pela porta aberta, eu a parei pouco antes da bancada. Agarrei sua cintura por trás, a curva de seus quadris encaixando perfeitamente em minhas palmas. Deslizando minhas mãos para frente, eu as estendi ao longo de sua barriga enquanto me inclinava e comecei a beijar o pescoço dela. Sua cabeça caiu para trás para descansar no meu ombro, um pequeno gemido saindo de seus lábios.
Eu crescia duramente contra ela enquanto minha mente começava a correr. Lentamente, eu trouxe as minhas mãos para cima, levantando sua camisa ao longo do caminho, em seguida, segurei seus seios através do sutiã.
— Kade, — ela ofegou e empurrou sua bunda contra a minha ereção crescente. Moendo contra mim, ela implorou por mais.
— Vamos entrar no chuveiro, — sussurrei no ouvido dela antes de sugar o lado do seu pescoço suavemente.
O balançar da cabeça era a única resposta que ela ofereceu antes de começar a retirar suas roupas. Quase ri de sua urgência. Era como se ela não pudesse ficar nua rápido o suficiente. Seu corpo era magro e ainda não mostrava sinais de que carregava meu filho, com exceção de seus seios. Eles estavam maiores agora, muito mais cheios do que eram antes.
Sorri quando entrei no chuveiro com ela, deixando meus olhos vagarem sobre sua perfeição.
— Por que você está sorrindo tanto? — Ela perguntou com um sorriso correspondente.
Mudei-me para frente, colocando minhas mãos em seus quadris, e a puxei contra o meu corpo. — Não posso esperar até você começar a mostrar, — sussurrei logo antes de enterrar a cabeça na dobra de seu pescoço. Ela gemeu, e sorri contra ela. — Eu te farei tão delirantemente feliz, menina bonita.
— Promete?
— Prometo, querida, você e nosso filho não saberão o que fazer com todo o amor que eu darei para vocês. Toda a felicidade que eu trarei — assegurei a ela, e quis dizer cada palavra. Estava totalmente pronto para começar a minha vida com Avery e deixar toda a escuridão que meu coração uma vez segurou no passado.
— Ame-me agora, Kade, — ela sussurrou, arrastando as mãos entre nós e envolvendo os dedos em torno do meu pau. — Mostre-me agora.
Essas palavras foram tudo que precisou para eu fazer exatamente isso. Avery precisava do meu toque, e eu não queria nada mais do que dar a ela o que ela precisava. Nossa vida juntos começava agora, deste momento em diante. Éramos nós agora, e isso nunca mudaria.
A virei para que suas costas estivessem contra mim e gentilmente pressionei minha mão no seu centro. Ela se inclinou e encostou-se aos azulejos, dando-me um convite aberto.
No momento em que eu deslizei dentro dela, nós dois gememos em uníssono, e os nossos corpos assumiram quando começamos a nos mover lentamente como um. Sua bunda pressionava contra mim cada vez que eu empurrava meu quadril para frente.
Inclinando-me sobre as costas dela, estendi minha mão direita até encontrar o clitóris. Quando criei o atrito que ela precisava, ela levantou os braços e se apoiou contra a parede do chuveiro.
— Oh meu Deus, sim, — ela gemeu, abrindo as pernas ainda mais.
— Como se sente? — Perguntei em um gemido ofegante. Eu estava à beira de combustão, e precisava levá-la à linha de chegada antes que eu perdesse.
— Tão bom, eu estou tão perto. Por favor, não pare, — ela exigiu enquanto começava a balançar contra mim. Parei de empurrar, permitindo-lhe assumir. Avery era um pouco selvagem no calor do momento, e sabia o que queria. — Sim, baby, apenas assim, — eu disse enquanto ela continuava a me foder.
— Sim, — ela gemeu. — Kade, por favor.
Apliquei um pouco mais de pressão em seu clitóris, e ela saiu como um foguete, resistindo contra mim. Sua vagina palpitou ao meu redor, e eu já não tinha esperança de segurar. Gozamos juntos enquanto meus olhos reviravam em minha cabeça e meus dedos curvavam pela intensidade.
Capítulo 34
AVERY
A mãe de Kade me envolveu em seus braços e me segurou perto. — É tão bom finalmente conhecê-la. Chame-me de Wynona. — Ela deu um passo atrás e me olhou atentamente. — Kade, se vocês dois tiverem uma menina e ela se parecer com a mãe, você terá que lutar contra os meninos com um chicote.
— Oh, não, — Kade disse. — Se tivermos uma menina, ela não sairá de casa até que tenha vinte e cinco anos.
Eu ri da resposta dele. Com tudo o que aconteceu entre Kade e eu, e, em seguida, com a forma como as coisas foram loucas após o acidente da minha mãe, eu realmente não dei muita atenção a qual seria o sexo do bebê. No entanto, quando os escutei falando de uma menina, eu finalmente me deixei imaginar. Ela seria um anjinho loiro de olhos verdes, que sem dúvida amaria seu grande pai protetor.
Kade levou os sacos de comida para o balcão da cozinha e começou a retirar os recipientes, um por um.
— Como vai a sua mãe? — Wynona perguntou.
— Ela está melhor. Vai para a terapia de fala duas vezes por semana, e tenho notado uma grande diferença, — respondi enquanto ajudava a arrumar a mesa.
— Bom. Eu gostaria de conhecê-la e ao seu pai, depois que as coisas se acalmarem. Com o bebê, tenho certeza que no futuro vamos nos ver bastante. — Ela sorriu.
A vida realmente havia tomado um rumo novo. Nunca pensei que Kade e eu chegaríamos a este ponto. Ele se culpava tanto e mostrava sinais de nunca ser capaz de seguir em frente, e agora aqui estamos nós. Passamos a montanha de dor de cabeça que nos separara, e agora estávamos juntos.
— Isso seria ótimo, — eu disse. — Sei que minha mãe adoraria conhecer você também. Talvez possamos combinar algo em algumas semanas. — Um pensamento me ocorreu. — Estou alcançando a marca de dezesseis semanas, e nós devemos ser capazes de descobrir o sexo do bebê em nossa próxima consulta. Talvez pudéssemos reunir todos para jantar e anunciá-lo.
O sorriso de Kade aumentou, e ele colocou a comida no centro da mesa antes de se inclinar e beijar o lado da minha cabeça. — Eu gosto desse plano. Podemos ter todos lá. Talvez no Jett.
— Isso soa perfeito. — Eu disse quando olhei para ele, lutando contra a emoção fervendo dentro de mim. Kade chegara tão longe, e não sei se foi o nosso filho que o obrigou a fazer as escolhas necessárias para chegar lá, mas estava tão orgulhosa dele tomar essas etapas. Quando tudo isso começou, eu disse que poderia criar a nossa criança sozinha, mas no fundo, eu sabia que precisava dele. Eu queria ser capaz de compartilhar cada momento da vida do nosso filho como uma família.
***
— Solte o hambúrguer, cara, — Kade grunhiu. Sim, ele rosnou enquanto estreitava os olhos para Jude.
Olhei entre os dois, sem saber exatamente o que dizer ou fazer. Não tinha ideia do que havia disparado Kade.
Jude se ofereceu para fazer um delicioso hambúrguer para mim – palavras dele, não minhas. Então, eu estava ao lado da mesa cheia de comida enquanto ele criava este hambúrguer incrível. Nós fomos convidados para um churrasco na casa de Easton e Harper, e toda a gangue estava lá.
— Não, homem, sua mulher quer um hambúrguer, por isso estou fazendo um hambúrguer para ela. — Jude continuou trabalhando sua magia, não afetado pela óbvia irritação de Kade.
A risada de Jett chamou minha atenção, e me virei para vê-lo com Easton, assistindo Kade com interesse. Imediatamente eu soube que, de alguma forma, eles eram responsáveis pela cena que se desenrolava diante de mim.
— Não preciso que você alimente a minha menina. Posso fazer isso. — Kade endireitou os ombros e deu um passo mais perto.
Jude olhou para cima para encontrar o olhar dele e um sorriso se estendeu sobre seus lábios enquanto olhava por cima do ombro em direção a Jett. Uma risada profunda sacudiu seu peito enquanto se voltava para Kade.
— Aquele idiota te irritou, não foi? — Jude perguntou. — Ele te disse sobre os nachos e o sorvete.
A irritação de Kade vacilou um pouco quando um sorriso puxou o canto de sua boca. — Sim, — respondeu. — E como disse, eu posso alimentar a minha mulher sem a sua ajuda.
Jude abaixou a cabeça e riu enquanto empurrava o prato, segurando um hambúrguer feito pela metade em direção Kade.
Assisti confusa Kade pegar o prato e Jude recuar lentamente. Ele caminhou até os outros dois caras, e os três começaram a rir.
— O que foi isso? — Perguntei.
Kade olhou diretamente nos meus olhos. — Eu sou responsável por seu salgado e doce, — ele disse com autoridade, — E tudo mais. Entendeu?
Olhei para Jett, percebendo que ele ainda observava Kade atentamente. Então algo clicou. Jett, ainda sorrindo, me ofereceu uma piscadela reconfortante, e soube imediatamente que ele era responsável pela exibição de testosterona.
Dei um passo em direção a Kade e coloquei minhas mãos em sua cintura. — Eu entendo, — sussurrei, levantando nos dedos dos pés e colocando um beijo suave contra seus lábios. — Eu te amo, Kade Thomas, — eu disse sem hesitação ou remorso. — Agora me faça aquele hambúrguer, papai. Seu bebê está com fome.
Suas feições suavizaram. — Um hambúrguer chegando, menina bonita. — Ele me deu um último beijo antes de ocupar suas mãos.
Homens. E eles dizem que as mulheres são dramáticas.
Capítulo 35
KADE
Eu já havia tentado ligar para Avery quatro vezes, mas todas as chamadas ficaram sem resposta. Então eu saí da oficina e corri para o apartamento dela. Ela saiu do trabalho mais cedo ontem porque não estava se sentindo bem e ligou dizendo que faltaria hoje, o fato de não atender estava me assustando. Sem sequer um segundo pensamento, eu usei a chave que ela me deu alguns dias atrás e entrei no apartamento dela. Parei na porta ao ver minha doce menina toda enrolada na poltrona, debaixo de um cobertor, com fones de ouvido.
Um grande alívio me encheu enquanto fechava a porta e caminhava até a poltrona. Ajoelhei-me ao lado dela e tracei o lábio inferior com o polegar. Meu toque deve ter agradado, porque seu lábio se contraiu e seus olhos se abriram.
— Oi, — ela sussurrou com voz rouca. — O que você está fazendo aqui? Deveria estar no trabalho.
— Tentei ligar. — Dei de ombros, e seus olhos se arregalaram.
— Me desculpe. Adormeci. Não ouvi tocar.
— Eu sei, — respondi. — Mas não sinta muito. Como se sente?
— Minha garganta parece uma lixa quando engulo. E dói quando eu tusso. Liguei para o meu médico, mas ele foi chamado ao hospital para uma cesariana de emergência em uma de suas pacientes. Eles deveriam me ligar de volta. Ou eu ligaria se precisasse de algo. Mas com a consulta sendo amanhã, ele pode apenas me tratar então.
Ela tinha um resfriado no meio do verão, e me senti horrível por ela. — Não, — eu disse um pouco mais agressivo do que pretendia. — Ele a tratará hoje ou eu a levarei para o atendimento de urgência.
Ela sorriu e fechou os olhos, rindo baixinho. — Você é um urso, — ela sussurrou.
— Não, só estou cuidando da mulher que eu amo.
Ela abriu os olhos.
— Eu sei que você me disse a algumas semanas que me ama, — eu disse. — Eu não disse isso de volta, mas não porque não te ame. Eu estava sinceramente sobrecarregado com os sentimentos que me atravessaram quando você disse isso. Meio que me deixou estúpido por alguns momentos.
Ela riu, continuando a me assistir.
— Mas eu amo você, Avery. Eu te amo desde o dia em que nos conhecemos. Quando éramos amigos e você cuidou de mim, mesmo quando eu agia como se nós não tivéssemos futuro. Mas esse amor apenas cresceu de amizade para algo mais intenso ao longo do tempo, e agora eu posso dizer, sem um segundo pensamento que estou apaixonado por você.
Ela piscou, e uma lágrima rolou pelo seu rosto. — Eu também te amo.
***
Eu estava irritado quando me sentei na sala de exame. Na esperança de domar a irritação que nosso amigo Dr. Miles parecia aflorar em mim, eu passava as fotos no meu telefone como meio de distração.
— Pare de fazer beicinho, — Avery disse. Quando olhei para cima, ela estava olhando para mim com um grande sorriso no rosto.
— Não estou fazendo beicinho, — respondi, estreitando meus olhos.
Ela deu uma risadinha. — Sim, certo, então como você chama isso?
Estava prestes a responder a ela quando ouvi uma leve batida na porta. Meu queixo flexionou enquanto eu cerrava meus dentes. Mas quando a porta se abriu, a irritação rolando em mim lentamente desapareceu. Uma mulher jovem, não muito mais velha do que eu, entrou, usando o mesmo tipo de jaleco que o Dr. Miles normalmente usava.
— Olá, sou a Dra. Allison Graynes. — Ela estendeu a mão para Avery, mas seus olhos levaram um pouco mais de tempo para deixar os meus. — Sou colega do Dr. Miles. Ele foi chamado para uma emergência com outra paciente, então espero que não haja problema que eu veja você hoje?
Ela esperou Avery responder. Minha garota olhou para mim e, sim, revirou os olhos quando sorri de orelha a orelha. Eu não teria que lidar com o Dr. Desprezível tocando a minha menina hoje.
— Está tudo bem, — Avery respondeu. — Mas ainda seremos capazes de fazer a ultrassom hoje?
— É claro, — a médica disse enquanto olhava a ficha de Avery. — Diz aqui que você tem dezesseis semanas e dois dias. Nós devemos ser capazes de descobrir o sexo.
— Espero que sim, — Avery sussurrou.
Sentei-me sentindo muito relaxado quando a Dra. Graynes olhou para Avery, fazendo todas as perguntas necessárias. Feliz com a ideia de ver e ouvir o nosso bebê em breve, eu sorri. Tinha certeza que eu me assemelhava ao Coringa, apenas sem o fator bizarrice.
— Tudo parece muito bom, — a Dra. Graynes disse. — Tem alguma pergunta? Qualquer coisa está a preocupando? Parece que nos ligou pedindo alguns antibióticos ontem. Como se sente hoje?
A médica e Avery continuaram conversando enquanto eu sentava e desfrutava quão relaxada esta visita era comparada com as anteriores.
— Ok. Bem, então, vocês estão prontos para ver o bebê? — Ela perguntou.
Levantei da cadeira antes mesmo dela concluir a sentença e estendi a mão para ajudar Avery a sair da cadeira.
— Alguém está muito ansioso. — Avery riu, e eu sorri.
— Claro que estou, — eu disse enquanto a conduzia pelo corredor até a sala de ecografia.
Uma vez que Avery estava em posição e as luzes foram apagadas, nós sentamos e observamos. Aquele som incrível começou a encher a sala, e meu peito se apertou com um sentimento feliz que às vezes ainda parecia estrangeiro.
— Eu diria que as chances de descobrirmos o sexo parecem muito boas, — a Dra. Graynes disse. — Este pequeno não tem nada a esconder.
Eu ri quando notei ao que ela se referia. O pequenino estava espalhado como águia.
— Deixe-me apenas tomar mais algumas medidas, e então nós vamos revelar o segredo. — Dra. Graynes digitalizou sobre a cabeça e o torso do nosso bebê com a sonda de ultrassom. Uma vez que o tinha na posição exata que ela queria, ela conectou o teclado na parte inferior da tela. Durante todo o tempo, o forte batimento cardíaco ainda me dava o melhor tipo de garantia de que o nosso milagre estava saudável.
— Vocês estão prontos? — A médica perguntou, e eu olhei para cima para encontrar o olhar de Avery. Um grande sorriso agraciava seus lábios.
— Sim, estamos prontos, — eu disse, sem tirar os olhos da mulher que em pouco tempo me dera mais do que eu jamais poderia ter pedido.
Capítulo 36
AVERY
Kade e eu ficamos na extremidade da mesa que possuía a cada um de nossos amigos e membros de nossas famílias. Todos olhavam para nós com olhos ansiosos enquanto aguardavam as nossas notícias.
Kade apertou minha mão, e me virei para olhar para ele. Ele parecia tão incrivelmente feliz.
— Você diz, — eu disse.
Eu queria que ele tivesse este belo momento, embora estivesse compartilhando-o também. Kade começaria a contar a nossa notícia, e por sua vez eu começaria a ver a emoção em seus olhos quando ele falasse aquelas quatro palavras.
Ele virou para encarar todos quando começaram a ficar impacientes.
— Nós teremos uma menina. — Ele sorriu tão brilhantemente que uma covinha pequena puxou sua bochecha esquerda.
Palmas e gritos encheram a sala. Parabéns vieram de todas as direções, mas foi Harper quem respondeu com sua atitude engraçadinha.
— Você está em tantos problemas, — ela disse. — Você entende que quando você tem um menino, você só tem um pequeno pinto para se preocupar, mas quando tem uma filha, você tem um milhão de pequenos pintos com que se preocupar?
Easton riu porque ele imediatamente entendeu. Eu, por outro lado, apenas franzi as sobrancelhas, perguntando o que diabos ela estava falando.
— Oh meu Deus, é sério, Avery? — Ela perguntou antes de rir. — Você terá que lutar contra todos os meninos que correrão atrás da sua filha... Daí a palavra pintos.
Quando ela disse a palavra, ela apontou para a virilha de Easton, e meus olhos se arregalaram. Bati minha mão contra a minha testa e balancei a cabeça. Harper tinha a melhor maneira de tornar cada momento memorável.
— Não há pintos chegando a qualquer lugar perto da nossa filha, — Kade afirmou. — Ela terá homens o suficiente ao redor dela para garantir isso.
***
Jude se superara. Ele saiu da cozinha por um curto período de tempo para compartilhar o nosso momento com a gente, só para voltar para lá logo depois. Quando Jett disse para ele deixar a cozinha com Marco, Jude olhou para ele como se fosse louco e insistiu que ele era necessário para fazer as coisas fluírem sem problemas. Ele era uma espécie de maníaco por controle.
Notei que ele tinha um novo corte na bochecha esquerda, e os dedos da mão direita estavam machucados. Eu quis perguntar se ele estava bem tantas vezes, mas sabia que ele só me diria que estava bem. Jude era leal e nunca recusou um amigo em necessidade, mas quando se tratava de sua vida pessoal, as coisas estavam apenas fora dos limites, até mesmo Jett. No entanto, era tão difícil não tentar consertar o que o incomodava. No mínimo, eu queria ajudá-lo a descobrir as coisas com Callie, quem ele sempre parecia olhar ansiosamente.
Quando todos nós sentamos à enorme mesa no centro do restaurante de Jett, olhando para a variedade de itens que Jude criou, ouvimos um longo estrondo na cozinha. Segundos depois, Jude saiu correndo em direção à saída. Sem dizer uma palavra, ele passou correndo pela porta e ela se fechou atrás dele.
Todo mundo olhou ao redor em choque, e Jett empurrou sua cadeira para ver o que havia acontecido na cozinha.
Quando Kade se levantou para seguir, agarrei o braço dele. — Onde você vai?
Ele se inclinou e beijou minha testa. — Quero ver se há alguma coisa que eu possa fazer. Eu voltarei.
Permaneci em silêncio enquanto ele caminhava em direção à cozinha e desaparecia atrás da porta.
— Isso pareceu intenso, — Callie sussurrou, e olhei para cima para encontrá-la olhando a porta por onde Jude saiu correndo. Quinn parecia arrasada, e provavelmente, pela primeira vez em sua vida, Harper estava sem palavras.
Capítulo 37
KADE
— O que diabos aconteceu? — Jett exigiu quando ficou de frente para o pessoal restante da cozinha. Um olhar de horror enfeitava todos e cada um de seus rostos.
— Não sei, chefe, — respondeu Marco. — Num minuto ele amaciava a galinha quando o telefone dele tocou. Ele atendeu, e a próxima coisa que nós sabíamos, a bandeja batia contra a parede e ele corria por aquelas portas. Mas o grunhido que o atravessou quando atendeu ao telefone significa que a merda que ele ouviu não foi uma boa notícia.
Eu fiquei para trás, esperando Jett me dizer que iríamos atrás de Jude.
Quando se virou para mim, ele tinha um olhar determinado no rosto. — Você está comigo? — Perguntou. — Sei que esta noite era sobre o bebê, e eu não poderia estar mais feliz por você e Avery, mas preciso descobrir o que está acontecendo com ele. Estive ignorando completamente por muito tempo.
— Estou dentro, — eu disse.
— Eu também, — Easton disse quando entrou na cozinha. Sequer o ouvi empurrar as portas.
Jett acenou para ele antes de se virar e voltar para a sala de jantar. — Callie, — Jett gritou.
Os olhos dela se arregalaram, e ela lentamente se levantou de seu assento à mesa. — Sim? — A resposta dela foi um sussurro tímido, não como o tipo de pessoa que ela era.
— Preciso do endereço de Jude.
Ela assentiu com a cabeça antes de correr em direção ao escritório de Jett.
Fui até lá e me sentei ao lado de Avery, então coloquei meu braço sobre o encosto da cadeira.
— O que está acontecendo? — Ela perguntou.
— Eu gostaria de saber. Ele recebeu um telefonema e ficou com raiva, em seguida, jogou alguma merda e decolou. Jett quer vê-lo, e não quer ir sozinho. Easton e eu vamos juntos.
Imediatamente eu vi a decepção nos olhos dela, e pensei em mudar minha mente. Ela olhou para Quinn, e elas compartilharam algum olhar que eu sabia que apenas elas entendiam.
— Ok, um... — ela encolheu os ombros. — Acho que Quinn ou talvez meus pais me levem para casa.
Tirei as chaves do bolso e as estendi para ela. — Conduza o Tahoe, vá para a minha casa, e eu te encontrarei lá mais tarde. — Ela olhou para mim com um olhar vazio. — Nós precisamos conversar sobre os nossos arranjos de moradia, de qualquer maneira. Essa coisa de dois apartamentos separados não vai funcionar.
— Mas...
Inclinei-me e coloquei meus lábios nos dela antes que ela pudesse terminar. Mantive o beijo simples porque estávamos em público, mas acho que fiz o meu ponto.
Afastando, ela olhou para mim com os olhos arregalados.
— Sem mas, — eu disse. — Tenho dois quartos, você tem um. Tenho mais espaço, você vive em um loft. Faz sentido você vir morar comigo. Além disso, você disse que meu chuveiro é melhor. — Levantei-me, e dei-lhe um último beijo antes de me virar para sair.
— A gente se vê em casa, menina bonita, — eu gritei por cima do meu ombro enquanto seguia Jett e Easton. Não perdi a risada de Jett ou o sorriso nos lábios de Easton quando ele balançou a cabeça. Sim, eu havia caído forte.
***
Quando Jett me deixou em casa, eu estava exausto, e meu coração doía, literalmente. Nós ficamos do lado de fora do meu apartamento, no carro de Jett, por pelo menos trinta minutos, apenas olhando para longe, perguntando como poderíamos ter sido tão egoístas. Estávamos enojados com nós mesmos por não percebermos o que Jude vinha passando, por não nos preocuparmos o suficiente para empurrar mais forte ou oferecer ajuda, ainda que ele tivesse nos recusado.
Tomei uma respiração profunda e olhei para Jett, que parecia igualmente enojado. — Todas as vezes que ele apareceu com olhos pretos e cortes, nós apenas dispensamos.
— Eu sei, — Jett respondeu, ainda olhando para as mãos enquanto agarrava seu volante com força.
— Você acha que ele voltará? — Perguntei.
— Ele precisa do dinheiro, — disse Jett. — Ele tem bocas para alimentar, remédio para comprar. Eu só queria que ele tivesse dito alguma coisa. — Ele balançou a cabeça. — Eu poderia ter ajudado.
Ele pensava as mesmas coisas que eu.
Jett finalmente olhou para cima. — Preciso consertar isso. — Ele parecia tão derrotado. — Não importa quão duro ele empurre e lute. Jett’s está onde está por causa de Jude. Tenho restaurantes em dois locais diferentes e agora a possibilidade de ter um terceiro. No entanto, ele está sempre à procura de seu próximo salário para poder cuidar de seus entes queridos. Essa merda não está certa para mim.
Tudo o que eu podia fazer era acenar a cabeça, porque ele estava certo. Era hora de Jude saber quem eram seus amigos.
Epílogo
KADE
— Não posso acreditar que estou com quase 30 semanas, — Avery sussurrou na escuridão. Meu braço estava em volta de sua cintura enquanto minha mão estava estendida sobre sua barriga arredondada. Eu podia sentir o movimento de nossa filha contra a palma da minha mão. Não podia esperar para segurá-la em meus braços.
— Ela estará aqui antes de sabermos, — sussurrei contra seu pescoço.
Avery balançou sua bunda contra mim, e eu gemi. Sua risadinha me fez saber que ela sabia exatamente o que estava fazendo.
— Então é melhor tirar proveito do nosso tempo sozinhos, você não acha? — Ela balbuciou.
Abaixei a mão lentamente, e ela abriu as pernas apenas o suficiente para me permitir um melhor acesso. Deslizei meus dedos entre suas pernas e descobri que ela estava molhada e pronta. Um pequeno suspiro caiu de seus lábios quando escorreguei um dedo dentro dela.
— Acho que é uma ótima ideia, — eu disse enquanto arrastava minha língua ao longo de seu pescoço. Ela arqueou sua bunda contra a minha ereção crescente, levando o último pedaço de controle que eu tinha.
No momento em que ela levou a mão para trás e pegou minha dureza, eu estava perdido. — Abra suas pernas, baby, — instruí, colocando minha mão sobre a dela e acariciando delicadamente.
Ela abriu as pernas e deixou sua mão escapar de meu pau. Inclinando meus quadris no ângulo certo, me guiei em direção a sua umidade. Ela arqueou as costas quando deslizei dentro dela.
— Mm, — ela gemia baixinho, empurrando seus quadris para trás. Nossos corpos começaram a se mover como se tivéssemos partilhado momentos como este toda a nossa vida.
Avery foi feita para mim. Eu acreditava nisso agora. Ela era meu anjo na escuridão. O doce ao meu salgado.
— Eu amo você, menina bonita, — sussurrei no ouvido dela enquanto lentamente me retirava, só para entrar lentamente novamente. Sua respiração saiu em pequenos ofegos enquanto gemia baixinho. — Obrigado por não desistir, por esperar eu encontrar o meu caminho.
— Valeu a pena esperar por você, — ela gemeu quando empurrei meu quadril para frente. — Oh meu Deus, Kade.
Antes que eu pudesse responder, ela me apertou, e a sensação me impulsionou. Comecei a girar os quadris, correndo para minha própria liberação. — Avery, — eu gemi quando meu corpo começou a tremer e minhas pernas ficaram tensas com o prazer extremo. Meu orgasmo rolou através de mim enquanto eu enterrava meu rosto contra o cabelo dela.
Nós dois ficamos em silêncio, tomando o tempo para recuperar o nosso autocontrole. Com Avery perto, era fácil me perder. Nada era melhor do que tê-la perto. Precisei lutar contra a teimosia dela, mas ela finalmente veio morar comigo. Vivíamos juntos há apenas quatro semanas, mas eu não conseguia lembrar como era viver sem ela. Não queria lembrar nunca, também.
Esta era a minha vida agora, com Avery e nossa menina. Eu não poderia pensar em qualquer lugar no mundo que eu preferiria estar.
***
AVERY
Sair da cama ficava mais difícil a cada dia. Minha bola de basquete, ou assim Quinn a chamava, era difícil de manobrar.
Escorreguei de debaixo do braço Kade tão cuidadosamente quanto possível sem acordá-lo. Meu turno iniciava no hospital em menos de uma hora. Eu pegara horas extras quando Brad caíra e quebrara o tornozelo, então eu iria às cinco da manhã em vez de sete pelo resto da semana.
Kade não gostou, mas ele superou isso.
Enquanto caminhava até a cozinha, eu sorri, lembrando o que Jett disse sábado à noite, quando ele e Quinn passaram.
— Este lugar parece um lugar de mulher. Você ainda mora aqui, Kade?
Claro, tudo que Kade fez foi sorrir brilhantemente e dar uma piscadela para mim. Ele disse que amava que todas as minhas coisas agora enchessem seu apartamento, que parecia uma casa agora, quando antes era apenas um local para repousar a cabeça.
Após beber um copo de suco de laranja e comer um pedaço de pão, peguei minha bolsa e minhas chaves. Sabia que esta agenda não poderia continuar por muito tempo; eu já sentia os efeitos.
Poucos minutos depois, eu parei no hospital, saí do carro, e ginguei para a porta da frente. Passei a maior parte do tempo preenchendo papelada ou qualquer coisa para evitar ficar de pé, e deixei os itens maiores para a equipe que poderia andar melhor.
— Olá, mamãe, como se sente nesta manhã de terça? — Judy perguntou. Conheci Judy na escola de enfermagem, e quando descobri que ela também foi contratada no hospital local, eu fiquei feliz de ver um rosto familiar.
— Gorda e alegre, — eu disse, colocando minha bolsa em cima da mesa na sala dos fundos. — Alguma coisa emocionante aconteceu na noite passada?
— Bem, estava bastante calmo até cerca de uma hora atrás. Eles trouxeram um cara que foi encontrado do lado de fora do Mason’s Bar, muito espancado.
— Mason? — Perguntei. — Isso não é um lugar difícil?
— Sim. — Ela tomou um grande gole de café. — Eles fazem essas lutas amadoras, e se me perguntar, eles são obscuros.
— Você acha que o cara era um lutador?
— Ele estava muito confuso – concussão e um colapso pulmonar. Mas o estabilizaram, e ele ainda está alto dos remédios. Tudo o que resta é entrar em contato com a família. Encontramos um telefone no bolso, mas acho que ninguém ligou ainda. — Judy deu de ombros.
— Não se preocupe, eu entendi, — eu disse quando me virei e caminhei em direção a sala das enfermeiras.
— Preciso do telefone que vocês encontraram no cara que foi trazido do beco atrás do Mason, — disse a Gina.
— Na verdade, está na bancada do quarto dele. Número 4. Não queremos que se extravie, então deixei lá mesmo. — Ela não levantou os olhos da papelada que preenchia.
— Ok, eu entendi, — eu disse, me virando e caminhando em direção ao quarto 4.
Sequer olhei para a cama até que tinha o telefone na mão. Quando me virei para sair, notei a pessoa lá, e minha mão apertou o telefone. Meu coração batia forte no meu peito, náuseas correndo por mim.
Disquei o número de Kade e esperei ele atender.
— Que porra é essa, Jude? É melhor ter um motivo muito bom para acordar minha bunda às cinco da manhã.
— Kade, sou eu, — sussurrei enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto.
— Baby, por que você está com o telefone de Jude? — Perguntou.
— Você precisa pegar Jett e vir para a sala de emergência. Eles trouxeram Jude cerca de uma hora atrás, — sussurrei entre os suaves soluços que me abalaram.
— Avery? — Eu podia ouvir o arrastar de seus movimentos do outro lado da linha.
— Kade, apenas venha aqui, por favor, — eu disse.
— Nós estaremos aí, menina bonita.
Uma vez que ele desligou, eu percorri o telefone. O nome Katelynn foi listado como um contato de emergência.
Respirando fundo, eu pressionei o nome dela e ouvi quando o telefone começou a tocar.
— Oi, — uma pequena voz disse do outro lado. A última coisa que eu esperava era que uma garotinha atendesse ao telefone.
— Uh, hum, — tropecei. — Eu tentava falar com a Katelynn.
— Ela é a minha mamãe. Ela está dormindo. O remédio dela a deixa super cansada,?? — a doce menina disse.
A mamãe dela? Quem eram Katelynn e esta menina? A ideia de Jude ser casado ou ter uma família fez meu coração doer por Callie. Por que ele esconderia isso?
— Querida, eu realmente preciso falar com sua mãe sobre alguém que ela conhece. Você pode acordá-la para mim? — Perguntei.
— Ela não vai acordar, — ela respondeu. — Tio Jude espera até depois do almoço para levá-la para seu exercício.
Tio Jude?
— Eu tentarei novamente mais tarde, ok? — Sussurrei. Não tinha ideia do que mais dizer.
Quando desliguei, a porta abriu lentamente, e Jett e Kade estavam na porta, olhando para a cama diante deles. Para um homem que consideravam um irmão.
Segurei o telefone quando os olhos de Kade se deslocaram para os meus. — Tentei ligar para o contato de emergência dele. — Fiz uma pausa, engolindo em seco. — Você conhece uma Katelynn?
O olhar de Jett mudou para o meu. — Merda, — ele gemeu.
— O quê? — Perguntei.
Nenhum deles me respondeu, e se entreolharam em estresse.
— O que diabos está acontecendo? — Minha voz aumentou apenas o suficiente para mostrar que eu não estava jogando este jogo de segredos.
— Katelynn é a irmã dele, — Jett explicou. — Ela está debilitada, em uma cadeira de rodas. Jude cuida dela e de seus filhos depois que o marido dela fugiu. Ele é tudo o que eles têm. Seus pais morreram anos atrás. Antes mesmo do acidente de Katelynn. Ela não está apenas em uma cadeira de rodas, está também em estágio avançado de câncer de mama. Jude é tudo o que ela e as crianças têm.
— Quem cuidará deles? — Kade perguntou com uma preocupação em sua voz.
— Nós vamos, — eu disse. — Todos nós. Sei que ele é misterioso e mantém tudo sobre sua vida escondido. Mas alguém precisa ajudá-los. Não podemos deixá-los sozinhos.
Jett e Kade olharam para mim, correndo claramente sobre as opções que eles sabiam que não tínhamos.
Eu estava prestes a dizer outro argumento quando Jett falou. — Precisamos chamar as meninas. Katelynn precisará de alguma ajuda com Zoey e Matthew.
{1} Remédio para depressão.
{2} Remédio para cólica.
{3} Ler o ato de motim quer dizer que a mãe dele lhe deu uma bronca e o repreendeu.
{4} Começar a comportar-se de uma maneira melhor, especialmente ao desistir de álcool, drogas ou atividades ilegais.
{5} É a roupa de enfermeiro, geralmente azul ou verde.
C. A. Harms
O melhor da literatura para todos os gostos e idades