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Series & Trilogias Literarias
[12]
O mais alto, John, apontou seu rifle automático para o Av1 e soltou uma rajada de balas.
Como um feixe de destruição, elas acertaram o aquilino crânio do Dac e estourou o outro lado, fluídos escuros
espirrando nas recém pintadas árvores. Ambos os olhos estouraram como bexigas d'água.
Droga. Baixa resistência; são esses ossos ocos.
Reston olhou o outro armado mirar no segundo Dac que pousou na clareira. Mesmo sem som, Reston podia ver
o revólver pular três, quatro vezes, acertando o espécime em seu estreito peito. O esbelto pescoço do Dac
curvava selvagemente para frente e para trás numa rabiscante dança da morte antes de se esparramar no
chão, sangrando.
Reston não viu mais nenhum pousar e os três homens estavam batendo em retirada, voltando para a floresta. O
pobre Cole parecia desfeito, sua boca aberta em um calado grito, seu frouxo cabelo castanho praticamente
grudado de suor na cabeça, seus braços requebrando.
Ele merecia por não ter consertado o áudio. A falta de som o estava irritando, apesar de achar que a filmagem
não sofreria com isso. As pessoas sabiam como tiros soavam.
Os três estavam saindo do alcance, indo à oeste agora. Reston intercalou entre a câmera da árvore e a
panorâmica da parede norte. Era óbvio que Cole os estava levando para a porta de conexão - apesar de não
saber que a segunda clareira agora estava em seu caminho. Por enquanto, os Dacs também tinham recuado;
eles geralmente são atraídos para áreas abertas. Eles só tinham matado dois, o que significava que ainda havia
seis espécimes saudáveis os esperando no prado.
Reston havia soltado todas as criaturas em seus habitats logo após a ligação do Sargento Steve Hawkinson, o
homem que liderava a equipe da superfície. Ele informou que apenas duas equipes da Umbrella - nove homens
incluindo o próprio - estavam começando a varrer o complexo, e que o transporte dos fugitivos havia sido
localizado; os três ainda estavam na área, a não ser que houvesse outro veículo, uma possibilidade altamente
improvável. Reston lhe disse que a câmera da entrada foi coberta por um intruso e pediu uma reparação assim
que possível. Depois disso sentou para assistir o espetáculo.
Ele serviu outro conhaque enquanto observava os três avançarem sinuosa e lentamente por entre as árvores,
John com sua arma apontada para cima, o outro vasculhando as sombras em volta...
Esse aí também precisa de um nome. Nós temos Henry, John, e Ruivo? O cabelo dele é meio avermelhado.
Por aí, mas servirá do mesmo jeito que "Dac" serviu para os Av1. Eles não tinham relação com pterodátilos, claro,
e a sigla "Av" vinha de "Aves" - e de fato os Dacs eram mais próximos dos morcegos do que qualquer outra
coisa. Já haviam muitos na série de mamíferos. O pedido veio do próprio Jackson, os criadores de espécimes
adicionaram novas classificações para o amor de Deus, usando um pouco dos contribuintes secundários para a
seqüência de genes daquela série. Os Spitters (cuspidores), que estavam mais próximos das cobras do que dos
bodes, foram rotulados de Ca6, de Capra (caprinos), por causa dos cascos rachados....
E os Dacs se pareciam com pterodátilos, ou pelo menos com o nosso moderno conceito deles, Reston pensou,
olhando para a tela que mostrava a entrada da jaula. Dois dos animais ainda estavam lá dentro. O aerodinâmico
e musculoso corpo, o fino bico, a "crista" de osso no topo da cabeça, as asas fibrosas... eles até eram elegantes
no modo brutal de ver. Os dois na grande "caverna" dos bastidores estavam claramente agitados com todo o
movimento, andando para frente e para trás com suas asas dobradas, virando suas cabeças de lado a lado.
Reston não sabia muito do fim biológico, mas sabia que caçavam pelo movimento e pelo olfato, e que só dois
deles podiam derrubar um cavalo em menos de cinco minutos.
Mas não muito eficientes contra poder de fogo.
Não fazia diferença mesmo. Os Av1 foram criados para situações de terceiro mundo, onde as manchetes ainda
não relatavam metralhadoras. Era muito ruim morrerem tão rápido, os adestradores ficariam bem desapontados
com as perdas - mas pelo menos já foram testados contra poder de fogo.
E por falar nisso...
Os três homens estavam se aproximando da clareira, saindo do alcance da câmera norte. Lá será onde os Dacs
brincarão. Reston se inclinou para olhar, percebendo que as imagens que estava gravando fariam sua carreira - e
apesar da situação, ele estava realmente se divertindo.
David abriu fogo assim que a luz do soldado os achou, ouvindo o único tiro de uma arma lá embaixo -
- e sentiu os estilhaços de madeira à sua esquerda, um monte deles espirrando em seu braço. Ele queria muito
fazer o atirador parar de atirar, mas sabia com terror que iriam cair, que as duas mulheres se esborrachariam no
concreto se ele não fizesse algo -
- e então ele estava caindo também, as tábuas sob seu corpo desaparecendo de repente, mergulhando na fria
escuridão. David segurou sua arma, esticando seus braços para fora e dobrando os joelhos no meio segundo de
queda livre -
- e seus joelhos tocaram papelão, uma não vista caixa que foi esmagada com seu peso. Instantaneamente, ele
ficou de pé, virando na direção da outra lanterna que ainda brilhava no meio do galpão, o primeiro homem já no
chão. Sem tempo para checar Rebecca e Claire - os gritos aumentaram lá fora, quase chegando.
O portador da lanterna veio abaixo com a curta linha de tiros que David mandou da M-16, um arco de um metro
cruzando a escuridão. Os ecos das balas estouraram por entre as caixas, e quando a lanterna caiu, um único
gemido de dor e surpresa caiu junto com ela, David mirou na direção da porta aberta.
Vamos, então -
Rattatattatt-
Tiros de metralhadora lá fora... mas ninguém entrou. David foi para a esquerda e mandou uma rajada de sua
arma em resposta, não esperando acertar ninguém, as balas acertando o entorno da porta. Ele precisava ganhar
tempo, mesmo se forem alguns segundos.
"Unha". Um suave e feminino gemido veio de trás dele.
"Rebecca! Claire! Respondam!". Ele sussurrou asperamente, ainda olhando o pálido e vazio quadrado da porta
aberta.
"Aqui. Eu, Claire, estou bem, mas acho que ela está ferida -".
Droga!
David sentiu seu coração pular uma batida e recuou um passo, seus pensamentos correndo, um nó de horror em
seu estômago. Só haviam passado trinta segundos desde o primeiro tiro, e a equipe da Umbrella já devia ter
cercado o prédio, se forem mesmo bons. Eles tinham que sair antes que os atiradores se organizassem por
completo.
"Claire, venha até mim, siga minha voz - eu preciso de você cobrindo a porta. Se vir alguém, mesmo uma
sombra, atire para matar. Entendido?"
Ele a ouviu se movimentar enquanto falava e a agarrou quando chegou mais perto, puxando seu braço.
"Espere". Ele disse, e soltou outra rajada de sua arma, acertando a parede perto da porta. Ele imediatamente
entregou a M-16 para Claire enquanto retornavam fogo lá fora, as balas viajando sem direção no escuro.
"Você consegue usá-la?".
"Consigo -". Ela soou ansiosa, porém firme o bastante.
"Bom. Assim que eu disser, nós começaremos a ir para a porta oeste; você vai nos cobrir".
Ele já estava virando na direção do canto onde Rebecca estaria, quando ouviu outro abafado murmúrio de dor e
fixou-se nele, movendo-se rapidamente, ajoelhando-se perto da garota ferida. Ele sentiu o cabelo sedoso de
Rebecca sobre sua mão, sentindo o pegajoso e morno sangue.
"Rebecca, você consegue falar? Você sabe onde está ferida?".
Uma tosse - e sentiu os dedos dela tocarem seu braço, e soube que estava bem mesmo antes de falar.
"Atrás da cabeça". Ela falou, suave mas bem claro. "Possível concussão, caí com tudo sentada, os membros
parecem bem...".
"Eu vou te ajudar. Se você não puder andar, eu te carregarei, mas nós temos que ir agora -".
Para provar suas palavras, houve outro disparo da metralhadora lá fora -
- e um grito que o fez se mover mesmo antes de terminar.
"Atire na abertura!". Disseram lá fora.
David girou, se levantou e segurou Claire por trás, gritando, "Feche os olhos -". E enquanto fechava os seus no
caso de uma incendiária, rezando para que não fosse uma granada -
- mas o whump de um lançador, seguido por um alto pop e um hiss o disse que era gás. Ele se afastou de Claire,
e a sentiu ao seu lado, ouviu sua ofegante e assustada respiração.
Deus, que não seja sarin ou soman, que eles nos queiram vivos -
Em segundos, os olhos e nariz de David começaram a lacrimejar fortemente e sentiu um onda de alívio. Não é
gás nervoso; eles usaram um gás lacrimejante CN ou CS.
"Porta oeste". David disse, e Claire engasgou um afirmativo, o composto químico disseminando rapidamente no
frio ar, uma efetiva, porém não letal arma. Ainda bem.
Ele virou para trás e sentiu uma mão esfregar seu peito.
"Eu não consigo andar". Rebecca disse, tossindo, e David jogou o braço dela em volta de seu pescoço e começou
a ir para a porta o mais rápido que podia através da escuridão. Ele ouviu Claire ofegando, mas agüentando,
acompanhando eles.
David se apressou, bolando um plano, tentando não respirar muito fundo. Haverá gente em ambas as portas,
esperando -
- mas a que distância? Eles vão querer estar bem lá para dominar suas vítimas chocadas...
O plano estava pronto. Assim que alcançaram a porta, David procurou em seu estojo de perna, tirando a lisa e
redonda granada anti-pessoas, puxando o pino.
"Claire, Rebecca, atrás de mim!".
Já cegos no escuro, as lágrimas só ardiam mas não interferiram em sua mira enquanto empunhava a 9mm e a
esticava à frente, procurando a porta.
BAM!
Ele abriu um buraco na fechadura, destrancando-a, ouvindo os gritos de surpresa dos homens lá fora. Quase
sem parar, David abriu a porta, o quanto até a cerca? Cinqüenta, sessenta metros -
- e jogou a granada, um gentil arremesso pela porta, fechando-a o mais rápido possível, jogando seu peso contra
ela e agradecendo à Deus por ser bem resistente -
- e KA-WHAM, a porta lutou contra ele enquanto o impacto durou, os estilhaços martelando contra ela como uma
fera selvagem socando para entrar. David esperou. A trovoada da M68 deu lugar a gemidos e uivos de dor,
quase inaudíveis sob o apito em seus ouvidos e o grito de seus sufocados pulmões.
"Cubra a direita e vá para a esquerda!". Ele gritou, e escancarou a porta, girando a H&K de lado a lado. A pálida
luz da lua só mostrou três homens, todos no chão, todos feridos e gritando atrás do véu de suas lágrimas.
Coletes, no corpo inteiro, talvez -
Ele esperava uma corrida para frente, para seu veículo de fuga, mas virou à esquerda. Ele fixou seu molhado
olhar na escura cerca enquanto Claire e Rebecca vinham atrás dele, tossindo e lacrimejando.
"Cerca". Ele disse, o mais alto que pôde, e voltou para Rebecca, deslizando seu braço na cintura dela. Eles
pularam um dos homens no chão e começaram uma forte corrida na direção da fuga, Claire bem atrás. Ela corria
de lado, a M-16 apontada para trás, na direção da frente do complexo.
Boa garota, nós vamos conseguir, passamos pela cerca, e contornamos o complexo pelo deserto até a van -
Eles correram, diminuindo a distância mais rápido do que David esperava, a grade a 9 metros da parte de trás do
galpão o qual estavam, o galpão que havia escolhido por causa disso; os outros angulavam para frente, seria
muita distância, e o primeiro era muito óbvio -
- e estavam quase na cerca quando alguém disparou uma metralhadora atrás deles, vindo de entre o outro lado
do galpão. Pelo menos alguém da Umbrella usou a lógica e deu a volta para verificar a inesperada rota de fuga.
Claire estava lá, retornando fogo, a rápida trepidação das duas automáticas mergulhando num explosivo dueto. O
atirador invisível foi pego ou estava agachado quando as trovoadas viraram um solo, Claire perfurando o escuro
com a .233.
Rebecca vai precisar de ajuda.
"Claire! Suba e passe!". David gritou, segurando a M-16. Ela virou e escalou a cerca facilmente.
"Rebecca, vai!". David puxou o gatilho e o segurou, espalhando balas pela fria noite, ouvindo retorno
aparentemente de todo o lado, três talvez quatro atiradores -
- e houve um choro atrás dele, de Rebecca, apenas na metade da cerca. Algumas gotas mornas pingaram no
rosto de David que parou de atirar, pulando para segurá-la antes que caísse.
"Eu cubro!". Claire gritou do outro lado, e atirou pela cerca, a 9mm pulando forte, o punho de David mais ainda.
Rebecca estava pálida, ofegando asperamente, certamente com dor - mas ela conseguiu se segurar na cerca,
até mesmo subir um pouco enquanto David se apoiava na cerca e a empurrava par cima.
Ele praticamente a levou até o topo e assim que Claire a alcançou para ajudar, David virou e atirou de novo nos
soldados, ainda escondidos nas sombras, sua fúria secando as últimas lágrimas.
Malditos idiotas, ela ainda é só uma garota -
A M-16 secou e ele pulou, aí Rebecca estava entre eles, encostada pesadamente nos ombro de David, e já
estavam correndo na gelada noite do deserto.
[13]
Com apenas minutos de ataque, Leon pôde ver que Cole não tinha condições de liderar. O funcionário da Umbrella
estava andando cegamente, indo vagamente na direção que precisavam ir.
E agora que sabemos que podem atacar pelo chão... ele e John não precisavam ficar olhando para o céu.
"Henry - posso assumir a ponta como guia por alguns minutos?" Leon perguntou, olhando para John. John
acenou, não parecendo tão emotivo; ele estava firme, seu olhar pulando par lá e para cá rapidamente, suas
mãos apertando a M-16.
Talvez esteja pensando nos outros. Sobre terem sido "pegos".
"Tá, tá bom, por mim, tudo bem". Cole acenou, seu alívio bem aparente. Ele pôs seu suado e castanho cabelo
de lado e correu para trás de Leon, John ainda lá atrás.
Leon estava nervoso, os pássaros, Dacs, eram desagradáveis e perigosos, e foi um alívio tê-los visto; eles não
eram tão terríveis quanto sua imaginação o tinha feito acreditar, quando ouviu os primeiros berros. Os monstros
da mente são sempre piores do que os de verdade, e os Dacs nem resistiam muito. Enquanto John e ele ficarem
de guarda, todos conseguirão.
Ele tinham sido espantados para sul e Leon corrigiu a rota, percebendo que estava começando a identificar o que
poderia ser a parede. A disposição das árvores causava confusões; não eram tão juntas, mas estavam
espalhadas dando a impressão de densidade ao olhar para a floresta; a grossa cobertura do chão, algum tipo de
plástico moldado, não se movia sobre os pés, o relevo e as depressões do material tornavam ainda mais difícil
sentir o tamanho do lugar.
É tão estranho, tão acima - tão parecido com a Umbrella.
Era como aquele vasto laboratório sob Raccoon, completo com sua própria casa de fundição e ferrovia particular -
inacreditável, mas viu tudo pessoalmente. E Leon soube através dos ex-S.T.A.R.S., que havia uma isolada
enseada na costa de Maine guardada por equipes de zumbis, e uma mansão "deserta" na floresta, a mansão de
Spencer, aquela equipada com segredos, chaves, códigos e passagens, como o cenário de um filme de
espionagem que a ninguém convence.
Agora isso - ambientes simulados sob as áridas e planas salinas de Utah. Como Reston o havia chamado? O
Planeta. Era extravagante, decadente, desperdício imoral; ridículo, exceto -
- exceto por estarmos presos nele, e só Deus saber o que enfrentaremos depois.
Leon continuou andando, tentando não pensar como Claire e os outros estavam. Reston presumiu que o resto da
equipe havia sido capturada, mas Leon não sabia. Também não sabia o quanto Claire e Rebecca eram
engenhosas, ou o quanto brilhante David era como estrategista. Todos eles já escaparam da Umbrella antes, e
não havia motivos para não conseguirem de novo.
Leon estava tão entretido na sua conversa particular que não viu a clareira até estar praticamente na beira dela, a
menos de seis metros. Ele parou, lembrando do último ataque - e se repreendeu por não ter prestado atenção.
"Vamos recuar e retornar". Ele disse - e aí ouviu o bater de asas, e sabia que já era tarde demais. Nas murchas
sombras sobre o espaço aberto, um, dois, três deles estavam mergulhando das traves de pouso, planando em
torno da clareira.
Droga!
Um deles começou a gritar e os outros acima se esconderam nas árvores, juntando-se na música, uma
ensurdecedora e horrorosa cacofonia aguda. Leon recuou, John ao seu lado de repente, mirando o rifle na
clareira.
O primeiro voou para as árvores, chacoalhando-se de lado a lado como se para voar entre elas. Ele arremeteu no
último segundo, tão rápido que não acertaram um tiro. Assim que subiu, Leon viu dois no chão, carregando seus
vigorosos corpos entre as asas dobradas.
O barulho! Era doloroso, tão estridente e terrível quanto mil bebês gritando, e Leon sentiu a 9mm atirar mais do
que podia ouvir, o pesado metal pulando em suas mãos. Os pássaros ficaram quietos quando o mais próximo
teve sua garganta baleada. Um esfarrapado buraco estourou um pouco acima de seu estreito peito, abas de pele
escura abrindo como uma flor. Um fino sangue espirrou do ferimento e o segundo pássaro passou por cima do
outro, no chão se debatendo, fixo no ataque. Leon mirou e -
"Ei ei, ah droga -".
O histérico grito de Cole o distraiu, o tiro indo para a direita, perdendo o alvo. John abriu fogo contra o segundo
Dac, o bater da automática furando o animal. Leon girou e viu Cole recuando, outro dos ferozes pássaros
investindo na direção dele.
Como ele passou por nós?
Leon mirou, o Dac a não mais que um metro e meio de Cole, e mesmo enquanto apertava o gatilho, outra das
criaturas estava descendo diretamente sobre eles. A tão pouca distância, a bala de 9mm perfurou o peito da ave
e abriu um buraco do tamanho de um punho nas costas, o Dac morrendo antes de cair no chão. O outro
arremeteu, as pontas de suas enormes asas esfregando no chão, voltando para cima.
"Henry, fique atrás de mim!". Leon gritou, olhando para cima - e vendo outro Dac descendo das traves
diretamente acima, franzindo as asas e mergulhando na direção deles.
Ele precisava de ajuda. "John...!".
O pássaro só abriu suas asas a alguns palmos do chão, surpreendentemente gracioso no pouso. Ele virou para
Leon e iniciou o ataque. Leon ouviu os tiros atrás dele - e os ouviu parar, ouviu John resmungar, ouviu o alumínio
da M-16 bater no chão.
O Dac na frente de Leon abriu seu longo bico e berrou, uma explosão de raiva, um som de fome, andando tão
rápido quanto Leon recuava. A criatura balançava para frente e para trás e Leon não tinha munição o suficiente
para gastar, ele precisava de um tiro certeiro -
- e o pássaro pulou, um estranho e súbito salto que o deixou a trinta centímetros de distância. Com outro agudo
berro, a criatura esticou a cabeça, seu bico aberto fechando em seu tornozelo. Mesmo com a grossa bota de
couro, Leon pôde sentir a ponta dos dentes, sentir o poder da mandíbula -
- e antes que pudesse atirar, John estava lá, estava pisando no longo pescoço do Dac e apontando o revólver -
- e bam, a bala acertou sua espinha, uma vértebra em suas costas estourando, estilhaços de osso e sangue
jorrando. A ave soltou seu tornozelo e apesar do pescoço ainda se contorcer, o resto do corpo estava parado,
sangrando e imóvel.
Quantos, quantos ainda restam -
"Vamos lá". John chamou, pegando o rifle do chão e virando para correr. "Vão para a porta, nós temos que
chegar nela!".
Eles correram pela clareira, Cole atrás, o bater de asas mais atrás, outra voz aguda gritando pelo ar. Eles
voltaram às árvores, a floresta sem vida, tropeçando sobre galhos e desviando de contorcidos troncos de
plástico.
A parede. Lá está ela!
E lá estava a porta, metálica e de folha dupla, um pino solto no lado direito -
- e Leon ouviu o terrível berro em seu ouvido, a centímetros de distância, e sentiu o sopro de ar em seu pescoço
-
- e deixou suas pernas cederem, caindo no chão, e sentiu uma súbita dor assim que algo arrancou um pedaço de
cabelo de seu couro cabeludo, da parte de trás da cabeça.
"Cuidado!". Leon gritou, erguendo o olhar para ver o enorme pássaro investindo em John, quase na porta, Cole
ao seu lado.
John se virou, sem recuar. Ele ergueu seu revólver e apertou o gatilho, um tiro certeiro, e o Dac caiu como se
fosse feito de chumbo, seu pequeno cérebro de repente líquido, estourando.
Cole estava mexendo na porta, John ainda mirando sobre a cabeça de Leon, e Leon ouviu outro grito de fúria em
algum lugar atrás -
- e a porta estava aberta - e Leon correu, John o cobrindo enquanto cambaleava até Cole, saindo da fria e escura
floresta para um ofuscante calor. John vinha logo atrás, batendo a porta para fechá-la -
- e estavam na Fase Dois.
Rebecca estava correndo, sem fôlego e exausta, incapaz de parar e descansar. David e Claire estavam correndo
com ela, carregando-a, mas ainda sentia que cada passo era um esforço de pura vontade; seus músculos não
queriam cooperar, e estava desorientada, seu equilíbrio uma bagunça e seus ouvidos apitando. Ela estava ferida e
não sabia o quanto grave era - só sabia que tinha sido baleada, que tinha batido a cabeça, e que não podiam
parar até estarem bem longe do complexo.
Estava escuro, muito escuro para ver onde o chão estava, e frio; cada respiração era uma gelada punhalada em
sua garganta e pulmões. Seus pensamentos estavam confusos, mas sabia que tinha sofrido alguma disfunção
cerebral, incerta de qual; as possibilidades a assombravam enquanto pensava nelas. A bala era mais fácil; ela
sabia pela quente e latejante dor. Doía terrivelmente, mas não achava que tinha alguma fratura, e não estava
sangrando; estava mais preocupada com a perda de coerência.
Baleada no glúteo esquerdo, alojada no ísquio, sortuda, sortuda, sortuda... choque ou concussão? Concussão ou
choque?
Ela precisava parar, checar o pulso temporal, procurar sangue nos ouvidos... ou por CSF, algo que nem queria
pensar. Mesmo em seu confuso estado, ela sabia que sangrar fluído cerebrospinal era a pior conseqüência de
uma pancada na cabeça.
Depois do que pareceu um bom tempo, e mais balanços e mudanças de direção do que pôde contar, David
diminuiu, pedindo Claire que diminuísse, e que iriam deitar Rebecca no chão.
"No meu lado". Rebecca ofegou. "A bala está no lado esquerdo".
David e Claire a deitaram cuidadosamente na plana terra, respirando, recuperando o fôlego, e Rebecca nunca
ficou tão grata por deitar. Ela só pegou um lance do céu preto enquanto David a rolou; as estrelas estavam
incríveis, claras e frias sobre o fundo oceano negro...
"Lanterna". Ela disse, percebendo o quanto estranhos seus pensamentos tinham se tornado. "Tem que verificar".
"Estamos longe o bastante?". Claire perguntou, e demorou um pouco para Rebecca perceber que Claire falava
com David.
Ah, porcaria, isso não é bom...
"Deveríamos. E nós os veremos chegar". David disse brevemente e ligou sua lanterna, o feixe indo para o chão a
centímetros do rosto de Rebecca.
"Rebecca, o que podemos fazer?". Ele perguntou, e ela ouviu a preocupação em sua voz, amando-o por isso.
Eles eram como uma família, desde Caliban, ele foi um bom homem e um bom amigo...
"Rebecca?". Desta vez ele soou amedrontado.
"Ah, desculpe". Ela disse, imaginando como explicar o que estava sentindo, o que estava acontecendo. Ela decidiu
que era melhor só falar e esperá-los descobrir.
"Olhe para minha orelha". Ela disse. "Procure sangue ou um líquido claro, eu acho que tive uma concussão. Eu
não estou pensando bem. A outra orelha, também. Fui baleada e acho que a bala está alojada no meu ísquio.
Pélvis. Sortuda, sortuda. Não deve estar sangrando muito, eu posso desinfetar e cobrir se me derem meu estojo.
Tem gaze e isso é bom, a bala podia ter acertado a espinha ou ter pego a artéria femoral. Muito sangue, isso é
ruim, ferida e sendo eu a única médica -
Enquanto falava, David iluminou seu rosto e gentilmente o levantou para checar o outro lado antes de apoiar sua
cabeça no colo. As pernas dele estavam quentes, seus músculos se contorcendo.
"Um pouco de sangue no ouvido esquerdo". Ele disse. Claire, tire o estojo de Rebecca, por favor. Rebecca, você
não precisa mais falar, nós vamos te consertar; tente descansar se puder".
Sem CSF, graças a Deus...
Ela queria fechar os olhos para dormir, mas precisava terminar de dizer tudo. "Concussão soa menos importante;
significa desorientação, zumbido nos ouvidos, falta de equilíbrio - pode durar algumas horas ou talvez semanas.
Não deve ser tão grave, não é bom se mexer. Repouso. Ache o meu pulso temporal, na lateral da minha
cabeça. Se não conseguir, eu devo estar em choque - elevação de temperatura...".
Ela respirou, e percebeu que a escuridão não estava só do lado de fora. Ela estava cansada, muito, muito
cansada, e um tipo de névoa escura estava tomando conta de sua visão.
Isso é tudo, já disse tudo -
John. Leon.
"John e Leon". Ela disse, horrorizada por ter esquecido deles por um momento, forçando para se sentar. Perceber
isso foi como um tapa na cara. "Eu posso andar, eu estou bem, nós temos que voltar -".
David mau a tocou e de alguma forma, sua cabeça estava no colo dele de novo. Então Claire levantou a parte de
trás da camisa de Rebecca, dando tapinhas de leve na coxa, mandando frescas ondas de dor por seu corpo. Ela
franziu os olhos, tentando respirar fundo, tentando ao menos respirar.
"Nós vamos voltar". David disse, e a voz dele parecia estar vindo de muito longe, do topo de um poço ao qual ela
caiu.
David continuou. "Mas precisamos esperar o helicóptero partir, se é que ele o fará - e você precisará de tempo
para se recuperar..."..
Se ele disse mais alguma coisa, Rebecca não ouviu. Ela dormiu e sonhou que era uma criança, brincando na fria,
fria neve.
Deserto!
Não haviam animais à vista, deviam estar do outro lado da duna, e Cole achava que sabia quais pertenciam à
Fase Dois. Antes que John e Leon dessem um passo, antes que os ouvidos de Cole parassem de apitar devido
aos gritos dos Dacs, ele começou a tagarelar.
"Deserto, a Fase Dois é um deserto, então deve ter os Scorps, escorpiões, entenderam?".
John estava tirando um clip curvo de seu estojo de perna, franzindo sobre a artificial luz solar que vinha de cima.
Devia estar uns quarenta graus na câmara, e com as paredes brancas e a ofuscante luz, parecia estar bem mais
quente. Leon vasculhou a brilhante areia na frente deles, e virou para Cole, olhando como se tivesse comendo
algo azedo.
"Maravilhoso, isso é ótimo. Escorpiões? Scorps e Dacs... quais são os outros, Henry, você se lembra?".
Por um segundo, a mente de Cole ficou vazia. Ele acenou, revirando seu cérebro, todo o suor de seu corpo já
evaporado com o calor. "Ah - esses são apelidos, Dacs, Scorps... Hunters! Hunters e Spitters, os criadores tinham
esses apelidos -".
"Uma gracinha, como fofinho e totó". John interrompeu, alisando sua sobrancelha com as costas da mão. "Então,
onde eles estão?".
Os três olharam em volta na Fase Dois, para a enorme duna de areia que estava no meio do lugar, brilhando
como purpurina sob a gigante grade de luminárias acima. Sete, nove metros de altura, a duna bloqueava a visão
da parede sul, inclusive a porta no extremo canto direito. Não tinha mais nada para ver.
Cole balançou a cabeça sem dizer nada; os Scorps estavam por lá, e eles tinham que cruzar as quente dunas de
areia ara chegar à saída.
"Quais eram as outras fases, montanhas e cidade? Você já as viu?". Leon perguntou.
"A Três é parecida com um, como posso dizer, um abismo, no alto de uma montanha. Como um desfiladeiro
rochoso. E a Quatro é uma cidade - alguns quarteirões. Eu tive que checar as entradas de vídeo quando vim para
cá".
John olhou para cima e em volta, franzindo os olhos contra a forte luz. "Certo, vídeo... você lembra onde estão?
As câmeras?".
Por que ele quer saber isso? Cole apontou para a esquerda, para o pequeno olho de vidro embutido no alto da
parede branca. "Tem cinco delas aqui; aquela é a mais próxima...".
Com um largo sorriso, John ergueu as duas mãos e estendeu os dedos do meio para a lente. "Toma, Reston".
Ele disse bem alto, e Cole decidiu que gostava dele, e muito. Leon também, mas não só por serem seu ingresso
de saída. Seja lá quais eram suas motivações, eles certamente estavam no lado certo das coisas; e o fato de
que podiam fazer piadas numa hora como essa...
"Então, nós temos um plano?". Leon perguntou, ainda olhando para a parede de areia à frente.
"Por ali,". John disse, apontando à direita. "E depois subimos. Se ver algo, atire".
"Brilhante, John. Você devia escrever isso. Sabe, eu -".
Leon parou de repente, e Cole ouviu. Uma batida. Um som como unhas batendo em madeira oca, o mesmo som
que ouviu quando consertava uma das câmeras semana passada.
Um som de garra, abrindo e fechando. Como mandíbulas clicando...
"Scorps". John disse suavemente. "Escorpiões não deviam ser noturnos?".
"Mas isso é a Umbrella, lembra?". Leon disse. "Você tem duas granadas, eu tenho uma...".
John acenou e disse. "Você sabe usar uma semiautomática?".
O grande soldado estava observando a duna, e levou um segundo para Cole perceber que John estava falando
com ele.
"Ah, sim. Eu nunca usei uma, mas já fiz tiro ao algo algumas vezes com meu irmão, seis ou sete anos atrás...".
Ele também falou baixo, ouvindo aquele barulho estranho.
John olhou diretamente para ele, como se o analisasse, e puxou um pesado revólver de seu coldre de perna. Ele
a deu para Cole, segurando-a pelo cano.
"É uma 9mm, leva dezoito. Eu tenho mais clips se acabar. Você conhece todas as regras de segurança de uma
arma? Não aponte para ninguém ao menos que queira matar, não atire em mim ou no Leon, coisas do tipo?".
Cole acenou, pegando a arma, e era pesada - e apesar de nunca ter estado tão assustado em seus trinta e
quatro anos, o sólido peso da arma em suas mãos era um tremendo alívio. Lembrando do que seu irmão dizia
sobre segurança, Cole fuçou a arma para ver se estava carregada antes de olhar para John de novo.
"Obrigado". Ele disse, e era verdade. Ele tinha atraído esses caras para uma armadilha e eles o estavam dando
uma arma; dando-o uma chance.
"Pode esquecer. Isso significa que não temos que nos preocupar em proteger o seu traseiro ao invés dos
nossos". John disse, mas sentia um suave sorriso. "Vamos".
John na frente e Leon logo atrás, eles começaram à leste, andando devagar pelo parado cenário. A areia era de
verdade; se movia sob os pés, e com o terrível calor, seria um verdadeiro esforço.
Eles só andaram uma pequena distância quando Leon pediu uma pausa.
"Roupa de baixo térmica". Ele murmurou, guardando sua arma antes de tirar sua camisa preta e amarrá-la na
cintura. Ele vestia uma grossa e texturizada camisa por baixo. "Eu não imaginei que chegaríamos no Saara -".
Todos ouviram o som, só um segundo antes de verem - antes de vê-los, três deles, alinhando-se no topo da
duna. Pequenos rios de areia desceram por debaixo de suas múltiplas pernas, cada uma tão grossa quanto um
taco de baseball. Eles tinham garras, eram como gigantes pinças estreitas e pretas, serrilhadas no lado, e longos
e segmentados corpos que terminavam em caldas, curvando-se acima de suas costas - com um ferrão nas
pontas. Feios e caídos ferrões de pelo menos trinta centímetros.
As três criaturas cor de areia, cada uma com cerca de um metro e meio de comprimento e noventa centímetros
de altura, começaram a fazer barulho - as lisas e pontudas presas sob seus arredondados olhos aracnídeos
batiam umas nas outras, soltando aqueles cliques -
- e então todas as três criaturas, os monstros, estavam deslizando na direção deles, perfeitamente equilibrados,
apressando-se pela areia com facilidade.
E no topo da duna, outros três apareceram.
[14]
"Droga". John exalou, nem a par de que falou, e ergueu a M-16, abrindo fogo.
- bambambambam -
- e o primeiro dos escorpiões soltou um estranho e seco hiss, como ar saindo de um pneu gigante, assim que as
balas martelaram seu corpo curvado. Um grosso fluído espirrou dos ferimentos em sua face, uma face de presas
babantes e olhos de aranha, uma face com um buraco escuro para a boca. As contorcidas garras se ergueram,
caindo ao lado e se debatendo ferozmente, cavando sua própria cova rasa na areia.
Leon e Cole estavam atirando, o trovão das 9mm afogando qualquer outro hiss, produzindo ainda mais sangue
branco no segundo e terceiro dos Scorps. O fluído branco estourava em bolhas, como vômito, e haviam mais três
deles descendo -
- e o primeiro, aquele que John havia enchido de furos estava se levantando. Instavelmente, mas se levantando.
Os buracos estavam vazando com aquela meleca viscosa - e mesmo enquanto avançava para eles, John viu que
o líquido estava endurecendo, tampando os ferimentos, tão eficiente quanto gesso numa parede.
"Vai vai vai!". John gritou assim que as outras duas criaturas, derrubadas por Leon e Cole, começaram a se
mover, seus ferimentos já virando casca. O segundo trio estava na metade da duna e se aproximando rápido.
Temos que sair.
Ainda havia dois "ambientes", e já tinham usado pelo menos um terço da munição; isso passou na mente de
John na fração de segundo que levou para ele espirrar mais bolhas nos Scorps, enquanto Leon e Cole corriam à
leste.
Ele nem tentou derrubar nenhum dos seis, sabia que não faria diferença. A linha de balas era só para afastá-los
enquanto os outros dois homens fugiam, sua mente forçando para achar uma solução enquanto os impossíveis
animais balançavam suas tortas garras, escorregando na granulosa areia e jorrando mais da cola bizarra.
- granada, mas como eu pego todos de uma vez, como evitaremos os estilhaços -
O mais próximo dos Scorps estava a uns três metros a sua frente quando virou e correu, o mais rápido que podia
pelo terrível calor, sua adrenalina alta e forte. Leon e Cole estavam a cinqüenta metros à frente, Leon
ziguezagueando - olhando para frente e para trás, mirando com a semi.
John olhou para trás, viu que os escorpiões ainda vinham. Mais lentos porém sem vacilar, seus corpos vespóides
pingando branco, suas encurvadas garras erguidas e clicando. Eles também ganhavam velocidade, a cada passo,
um monte de insetos procurando almoço -
- em bando -
Eles podem não ter uma chance melhor, John soltou o rifle, a alça parando em seu pescoço, e afundou uma mão
em seu bolso, ainda conseguindo correr. Ele tirou uma das granadas, liberou o pino, virou e correu de costas. Ele
tentou avaliar a distância, o processo da M68 passando em sua frenética mente, os Scorps a uns vinte metros
atrás.
- detonador de impacto, se arma dois segundos depois do impacto, recuar por seis segundos -
"Granada!". Ele gritou, e atirou o redondo objeto para o alto, rezando para ter feito uma boa decisão enquanto
virava e corria, a granada ainda subindo enquanto John mergulhava na lateral da duna..
John se enterrou nela, empurrando com todos os músculos, escavando cego e sem fôlego. A areia estava mais
fria por baixo, ondas dela em seu rosto, tentando forçar a entrada em seu nariz e boca, mas não conseguia
pensar em mais nada além de puxar as pernas para dentro - e no que os estilhaços poderiam fazer com a carne
humana.
Um último e desesperado chute e -
- KA-WHAM -
- houve um enorme balanço em volta dele, uma incrível pressão acertando a cobertura de areia sobre ele. Ele
sentiu o peso acima dele forçar o ar para fora de seus pulmões, e usou tudo o que tinha para levar a mão à boca
para cobri-la. Respirando superficialmente, ele começou a sair, se contorcendo e chutando como uma minhoca.
Leon, será que eles se abaixaram a tempo, será que funcionou -
Ele ainda lutava contra as correntes deslizantes de grãos, respirando mais uma vez antes de usar as duas mãos
para afastar a areia. Em poucos segundos ele estava fora, cascatas de areia caindo de seu corpo, seus irritados
olhos lacrimejando. Ele as secou com uma mão, erguendo a M-16, olhando para a ameaça primeiro -
- e não eram mais ameaça. A granada deve ter caído bem na frente deles; dos seis escorpiões, quatro estavam
em pedaços. John viu uma garra ainda se mexendo, caída na areia em uma poça de branco, uma calda com um
ferrão ainda preso, uma perna, outra perna; o resto estava irreconhecível, grandes pedaços de mingau
espalhados num semicírculo.
Os dois restantes ainda estavam inteiros lá atrás, mas definitivamente não se levantariam de novo; os corpos
estavam intactos, mas os olhos e boca, as estranhas mandíbulas e os rostos se foram.
Todos explodidos. Nem um monte de meleca branca vai grudar tudo aquilo de novo...
"John!".
Ele virou, viu Leon e Cole retornando, expressões maravilhadas em ambos os rostos. John se permitiu um breve
momento de completo orgulho, vendo-os se aproximarem; ele foi brilhante, no tempo, na mira, em tudo.
Bom. o verdadeiro soldado não ganha louvores por um trabalho bem feito; para ele já bastava saber disso...
Quando o alcançaram, John voltou a si; pensar na situação deles já era o suficiente.
Eles estavam numa área de teste psicótica por causa de um maluco da Umbrella; sua equipe foi separada,
tinham munição limitada, e não havia uma saída clara de lá.
Vocês estão ferrados. Dar um tapinha nas próprias costas era como dar uma aspirina para um morto; não
adiantava nada.
Ainda assim, vendo a leve esperança nos rostos dos dois... podia não ser esperança, mas raramente é uma
coisa ruim.
"Podem haver mais deles". Ele disse, tirando areia da M-16. "Vamos sair daqui -".
- clickclickclick -
Aquele som. Todos eles congelaram, olhando um para o outro. Não estava tão perto, mas em algum lugar sobre
a duna havia pelo menos mais um Scorp.
David tinha avistado uma luz a pelo menos quatrocentos metros à sudoeste de sua posição, mas nem chegou
perto; se não fosse o frio, Claire teria se sentido aliviada. As chances de alguém encontrá-los nos intermináveis
quilômetros de escuridão eram perto de zero; os caras da Umbrella tinham fracassado. Mesmo com um holofote
do helicóptero - o qual aparentemente não iriam mais usar - seria pura sorte acharem os três...
"Como você está, Claire?".
Ela se esforçou para não bater os dentes, mas falhou. Deve ter passado uma hora, talvez mais. "Está frio pra
caramba, David, e você?".
"Também. Foi bom termos nos vestido bem, né?".
Se foi uma piada, ela não percebeu. Claire se aconchegou mais perto de Rebecca, pensando em que hora perdeu
a sensibilidade nos membros; suas mãos estavam dormentes e seu rosto parecia congelado numa máscara,
mesmo com as quase constantes mudanças de posição. David estava do outro lado de Rebecca, os três juntos o
mais próximo possível. Rebecca não tinha acordado, mas sua respiração estava lenta e constante; pelo menos
ela descansava confortavelmente.
Só ela...
"Não deve demorar muito". David disse. "Vinte, talvez vinte e cinco minutos. Eles posicionarão um ou dois
homens, depois partirão".
"É, você é quem manda". Claire disse. "Como você deduz o tempo?". Seus lábios pareciam picolés.
"Busca no perímetro, uma volta de pelo menos quatrocentos metros - considerando que eles tenham seis ou
menos homens ainda capacitados fisicamente, eu estimo quatro - ".
"Por quê?".
A voz de David tremeu com o frio. "Três homens estavam na porta de trás do prédio, dois entraram - e pelos
sons, eu diria que haviam de três a sete na frente. Oito ou doze homens; mais que isso não caberiam todos no
helicóptero. Menos que isso, eles não conseguiriam ter coberto as duas entradas".
Claire estava impressionada. "E por que vinte a vinte e cinco minutos?".
"Como eu disse, eles vão cobrir uma certa distância em volta do complexo antes de desistirem. O tamanho do
complexo vai de quatrocentos à oitocentos metros, e quanto tempo leva para um homem mediano andar essa
distância. Nós vimos aquela luz há talvez uma hora, e desde que certamente cada um foi para um lado e
verificado aquele segmento... bom, vinte a vinte e cinco minutos. Isso incluindo o tempo que levaria para verificar
a van. Essa é a minha opinião".
Claire sentiu seus lábios congelados tentarem um sorriso. "Você está tirando uma com a minha cara, não está?
Inventando?".
David pareceu chocado. "Não estou. Eu repassei isso várias vezes e eu acho -".
"Estou brincando". Claire disse. "Sério".
Um curto silêncio e então David riu, o baixo som carregado facilmente pelo frio escuro. "Claro que está. Desculpe.
Eu acho que temperatura afetou o meu senso de humor".
Claire alternou as mãos, tirando a direita de debaixo da perna de Rebecca e colocando a esquerda. "Não. Eu peço
desculpas. Não devia ter interrompido. Continue, é muito interessante".
"Nada mais a dizer". David disse, e ela ouviu o leve e rápido bater de dentes dele. "Eles vão querer ajuda médica
para os feridos, e eu duvido que a Umbrella queira que um de seus helicópteros seja visto voando pelas salinas à
luz do dia; eles deixarão um guarda e partirão".
Ela o ouviu tremer, sentiu o corpo de Rebecca mexer enquanto ele trocava sua posição. "De qualquer modo, é aí
que nós andamos. Primeiro para o complexo, um pouco de sabotagem - e então só veremos o que acontece...".
O modo como sua voz parou, o humor forçado em seu tom que se quer cobriu o desespero - diziam exatamente
o que estava pensando.
O que ambos estavam pensando...
"E Rebecca?". Ela perguntou gentilmente. Eles não podiam deixá-la, ela congelaria. Tentar invadir o complexo de
novo, tentar derrubar alguns homens armados enquanto carregavam uma mulher inconsciente...
"Eu não sei". David disse. "Antes que ela - ela disse que poderia se recuperar em algumas horas, com descanso".
Claire não respondeu. Afirmar o óbvio não ajudaria em nada.
Eles caíram no silêncio, Claire ouvindo a suave respiração de Rebecca, pensando em Chris. A afeição de David por
Rebecca era evidente; era como amor de pai e filha. Ou de irmão e irmã. Pensar nele era um modo de passar o
tempo.
-o que você está fazendo nesse momento, Chris? Trent disse que estava bem, mas por quanto tempo? Deus,
eu queria que você nunca tivesse sido convocado para a mansão de Spencer. Ou para Raccoon, para lutar pela
verdade e justiça... é desgastante, irmão...
"Você está dormindo, não está?". David perguntava isso toda vez que ficavam mais de um minuto sem falar.
"Não, pensando em Chris". Ela disse. Formar palavras era difícil, porém melhor do que deixar a boca fechada,
congelando. "E eu aposto que você está começando a desejar ter ido à Europa a final de contas".
"Eu queria". Rebecca disse fracamente. "Eu odeio esse tempo...".
Rebecca!
Claire sorriu sem sentir e nem se importou. Ela abraçou a garota enquanto David se sentava, procurando a
lanterna - e apesar de estar congelando, apesar de separada dos amigos, longe da saída e contando com
incertas probabilidades, Claire sentiu que definitivamente as coisas estavam começando a dar certo. * * * A
ligação veio logo depois que John explodiu seis dos Ar12.
Reston pensava em pipoca até então; o sistema de defesa dos Scorps estava funcionando como as projeções
sugeriam, o reparador de danos mais rápido do que esperava. O que não era esperado foi a fragilidade dos
tecidos conectivos entre os segmentos aracnídeos.
Uma granada. Uma maldita granada.
O desejo por pipoca estava tão morto quanto os Ar12. Ainda restavam dois, vagando pelo canto sudoeste, mas
Reston não tinha mais fé nos Ar - e apesar de ser uma informação importante, ele não estava tão certo de que
Jackson o agradeceria por tê-la conseguido.
Ele vai querer saber porque eu não tirei os explosivos deles antes. Porque eu soltei todos os espécimes. Porque
não liguei para Sidney, pelo menos, por um conselho. E nenhuma resposta que eu desse seria suficiente...
Quando o telefone tocou, Reston pulou na cadeira, de repente certo de que era Jackson. Essa noção ridícula
desaparecendo ao pegar o gancho - e o fez certo de que seus objetos de teste não sobreviveriam à Três.
"Reston".
"Sr. Reston - aqui é o Sargento Hawkinson, Equipe de Terra Branco Um-Sete-Zero-".
"Sim, sim. Reston suspirou, observando Cole e os dois S.T.A.R.S. se reunindo. "O que está acontecendo aí em
cima?".
"Nós-". Hawkinson respirou fundo. "Senhor, eu lamento informar que houve altercação com os intrusos e eles
escaparam do local". Ele disse muito rápido, certamente desconfortável.
"O quê?". Reston se levantou, quase derrubando a cadeira. "Como? Como isso aconteceu?".
"Senhor, nós os encurralamos no galpão de estocagem, mas houve uma explosão, dois de meus homens foram
baleados e mais três ficaram feridos - ".
"Eu não quero mais ouvir isso!". Reston estava furioso, incapaz de acreditar que tinha tais incompetentes
trabalhando para ele. "O que eu quero ouvir é que vocês não só falharam miseravelmente, como não só deixou
os três passarem pela sua droga de equipe, e que não ligou para me dizer que não conseguiu achá-los".
Houve um momento de silêncio do outro lado e Reston conseguiu calá-lo, conseguiu dar um motivo para tornar a
vida dele um inferno.
Mas Hawkinson soou propriamente arrependido. "Claro, senhor. Eu lamento, senhor. Eu voltarei com o helicóptero
para Salt Lake City e trazer alguns de nossos novos recrutas para estender nossos parâmetros de busca. Estarei
deixando meus três últimos homens de guarda, dois à leste e oeste do complexo, e um no veículo de fuga. Eu
voltarei em - noventa minutos, senhor, e nós vamos achá-los. Senhor".
Os lábios de Reston curvaram. "Assim espero, Sargento. Se não o fizer, seu traseiro não valerá nada".
Ele desligou a comunicação e jogou o telefone no gancho, ao menos pensando ter feito algo para facilitar o
processo. Um bom puxão de orelha funciona maravilhas; Hawkinson engatinharia sobre vidro para obter
resultados, exatamente como deve ser.
Reston sentou de novo, olhando para as cobaias enquanto caminhavam sobre a duna. Cole tinha uma arma
agora, e estava levando-os para a porta de conexão. Reston imaginava se John ou Ruivo faziam alguma idéia do
quanto inútil Cole era. Provavelmente não, se eles o deram uma arma...
Quando os três chegaram no topo da duna e começaram a descer do outro lado, os dois Scorps finalmente se
moveram. Diferente da última vez, Reston observou bem de perto, segurando no laço de esperança - de que
acabaria ali, de que os homens seriam derrubados. Não que Reston tivesse dúvidas sobre os Ca6 da Três, eles
certamente não sobreviverão à próxima fase...
... mas e se sobreviverem, hein? Se sobreviverem e forem para a Quatro, e acharem uma saída? O que você
dirá à Jackson, o que você dirá no tour sem nenhum espécime vivo para ver? Aí será o meu traseiro sem valor,
não é?
Reston ignorou a baixa voz, concentrando-se no monitor. Ambos os Scorps andaram rapidamente, garras e
ferrões para o alto, seus frágeis corpos de inseto armados para atacar -
- os três homens estavam atirando, uma silenciosa batalha, os Ar desviando e simulando botes, e caindo sob as
rajadas de balas. As mãos de Reston estavam apertadas e nem percebeu; sua atenção voltada para os Scorps
no chão, esperando vê-los atacarem novamente antes dos homens alcançarem a porta -
-exceto por John e Ruivo estarem indo na direção dos animais, apontando as armas -
- e atirando nos olhos. Eles o fizeram rápido e eficiente, e mesmo com ambos os escorpiões se movendo
enquanto os três iam para a porta, as criaturas cegas só golpearam a areia. Um deles achou um alvo; em um
movimento, ele desceu seu ferrão extraordinariamente tóxico nas costas do outro. O Ar envenenado girou e
cravou sua dentada garra no abdômen do agressor; se contorceu fracamente, vivo porém incapaz de ver ou se
mover - morrendo ao lado do irmão morto.
Reston balançou a cabeça devagar, com nojo do tempo e dinheiro perdido, dos milhões de dólares e
horas-homem que gastaram no desenvolvimento dos habitantes das fases Um e Dois.
E Jackson vai querer essa informação. Uma vez as cobaias mortas e seus amigos pegos, eu conseguirei dar a
volta por cima; como alguns de nossos "prezados" espécimes. É melhor valer agora...
O ruivo estava destrancando a porta que os levaria para a Três; se não tiverem uma caixa de granadas, estarão
mortos em minutos.
Reston respirou fundo, lembrando de quem estava no controle. Hawkinson cuidaria da superfície, Jackson ficaria
agradecido, os três mosqueteiros estavam prestes a serem cegados, pisoteados e devorados. Não havia nada
para se preocupar.
Reston exalou fortemente, conseguindo de alguma forma dar um inseguro sorriso, e forçando a si mesmo relaxar
na cadeira, chamando os monitores que o mostrariam o habitat dos Ca6.
"Digam adeus". Ele disse, e serviu-se de outro conhaque.
[15]
Do terrível e ofuscante calor do deserto, eles pisaram na fria sombra de uma montanha. Eles ficaram na porta,
vasculhando a novo campo de teste, Leon imaginando se estariam enfrentando Hunters ou Spitters nessa grande
e acinzentada sala.
A cinza e pontiaguda pedra do cume da montanha se verticalizava à frente deles. Cinza também as paredes e o
teto, e a sinuosa trilha a oeste, contornando o "pico". Até a grama cerrada era cinza. A montanha parecia bem
real, talhados blocos de granito misturados com cimento, esculpidos como rochedos e pintados para combinar. O
efeito geral era de uma inóspita trilha no alto de uma árida montanha.
Exceto por não haver vento - nem cheiro. Igual às outras duas, nenhum cheiro mesmo.
"Você vai querer colocar sua blusa de novo". John disse, e Leon já estava desatando as mangas da cintura. A
temperatura tinha caído pelo menos quinze graus, já congelando o suor que ganharam na Fase 2.
"Então, para onde vamos?". Cole perguntou, seus olhos arregalados e nervosos.
John apontou diagonalmente pela sala, à sudoeste. "Que tal a porta?".
"Eu acho que ele quis dizer qual é o caminho". Leon disse, mantendo a voz baixa como os outros. Não há porque
alertar os habitantes do lugar sobre suas posições; eles estarão interagindo em breve.
Os três examinaram as opções, todas as duas: pegar a trilha cinza ou subir a montanha cinza.
Hunters ou Spitters... Leon suspirou, seu estômago já dando nó. Se eles conseguirem escapar, se ele achar
Reston, ele daria um sólido chute no traseiro do velho Sr. Blue. Seria contra o sistema que o fez ser policial, mas
aí veio a Umbrella...
"Do ponto de vista defensivo, eu optaria pela trilha". John disse, olhando para a irregular superfície da montanha.
"Nós podemos nos encurralar se subirmos".
"Tem uma ponte, eu acho". Cole disse. "Eu só fiz uma das câmeras aqui, aquela -".
Ele apontou para cima à direita, no canto. Leon mau podia vê-la - as paredes tinham uns quinze metros de altura
e sua pintura monotônica se juntava com a do teto. Criava uma ilusão de ótica fazendo a sala parecer
infinitamente vasta.
"- eu estava numa escada, eu vi por cima, mais ou menos". Cole continuou. 'Há um desfiladeiro do outro lado, e
uma daquelas pontes de madeira e corda para cruzá-lo".
Leon abriu seu estojo enquanto Cole falava, verificando a munição. "Como está a M-16?".
"Talvez quinze sobrando neste". John respondeu, tocando o pente curvo. "Mais dois completos, trinta cada... dois
clips para a H&K, e mais uma granada. "Você?".
"Sete balas aqui, três clips, uma granada. Henry, você contou?".
O funcionário da Umbrella balançou a cabeça. "Eu acho que - cinco tiros, eu atirei cinco vezes".
Ele pareceu querer dizer algo mais, trocando olhares entre Leon e John, finalmente olhando para suas botas
sujas. John olhou para Leon, que deu com os ombros; eles não sabiam nada mesmo sobre Henry Cole, exceto
por não pertencer àquele lugar como eles próprios.
"Ouçam... eu acho que essa não é a hora e lugar, mas só queria dizer que sinto muito. Quer dizer, eu sabia que
havia algo estranho sobre tudo isso. Sobre a Umbrella. E eu sabia que Reston era um idiota, e se eu não tivesse
sido tão ganancioso e burro, eu nunca teria colocado vocês nessa".
"Henry". Leon disse. "Você não sabia, tá bom? E acredite em mim, você não é o primeiro a ser enganado -".
"Sem dúvida". John interrompeu. "É sério. Os colarinhos são o problema aqui, e não caras como você".
Cole não ergueu o olhar, mas acenou, seus finos ombros baixando de alívio. John o passou mais um clip,
acenando para a trilha enquanto Cole o colocava no bolso.
"Vamos nessa". John disse para ambos mas endereçando à Cole. Leon percebeu na profunda voz uma nota de
encorajamento sugerindo que John estava começando a gostar do empregado da Umbrella. "Se ficar difícil nós
podemos voltar para a Dois. Fiquem juntos, calados e tentem atirar na cabeça ou olhos - se é que eles tem
olhos".
Cole sorriu de leve.
"Eu vou na frente". Leon disse e John acenou antes de se afastar da porta e virar à esquerda. O frio ar estava
quieto desde que entraram, nenhum som exceto o deles. Leon foi para trás, Cole andando devagar à sua frente.
A trilha era arranhada; como se alguém tivesse passado um rodo antes do cimento secar. Com o pico à direita
deles, o caminho se estendia por uns vinte metros e depois virava angulosamente à sul, desaparecendo atrás da
íngreme encosta.
Depois dos quinze metros, Leon ouviu o bater de pedras atrás deles. Cascalho solto rolando abaixo do pico.
Ele virou, surpreso, e viu o animal perto do topo do pico, a uns nove metros. Viu mas não tinha certeza do que
estava vendo, exceto por estar descendo, saltitando sobre as quatro robustas patas, como um bode das
montanhas.
Como um bode sem pele. Como - como -
Como nada que já tinha visto antes, e estava quase no chão quando ouviram um molhado som de sacudir em
algum lugar à frente, o som de uma garganta congestionada sendo limpa, ou um cachorro rosnando com a boca
cheia de sangue - e estavam cercados, os terríveis sons vindo de ambos os lados na direção deles.
Voltar para o complexo foi muito fácil. Rebecca precisou de ajuda para subir a cerca, mas parecia melhorar a cada
minuto, recuperando o equilíbrio e a coordenação. David estava mais aliviado do que pretendia, e grato pela
guarda da Umbrella, ou pela falta dela, três homens, dois na cerca e outro na van; patético.
Eles começaram a voltar assim que o helicóptero decolou e foi para o sul, esticando os músculos congelados
enquanto se moviam pelo escuro. Depois de algumas centenas de metros, David se separou das garotas para
fazer um rápido reconhecimento, depois voltou e guiou-as para a cerca e por cima dela. Antes de derrubarem os
guardas, David precisava de algum lugar seguro e quente para rever os procedimentos e melhorar a condição de
Rebecca; ele escolheu o mais óbvio dos galpões, o do meio. O que tinha duas parabólicas, uma série de antenas
e cabos descendo de um lado. Se ele estiver certo, se for o setor de comunicações, seria exatamente o lugar
que queriam estar.
E se eu estiver errado, restam mais dois para vasculhar; um será a sala do gerador, que deve ter algum tipo de
controle climático. Eu posso deixá-las lá e fazer a sabotagem sozinho...
Depois que escalaram a cerca sul, David ficou impressionado com a pobreza do plano da Umbrella. Os dois
guardas protegendo o perímetro estavam posicionados na frente e atrás, como se não houvesse chances de
alguém entrar pelas laterais. Uma vez dentro, David as guiou para o lado mais longe do último galpão, e acenou
para se juntarem.
"Prédio do meio". Ele cochichou. "Deve estar destrancado se for o que acho que é. As luzes estarão acesas. Eu
entro e depois aceno para me seguirem; se ouvirem tiros, entrem o mais rápido possível. Fiquem próximas aos
prédios e abaixem-se ao cruzá-los. Certo?".
Claire e Rebecca acenaram, Rebecca se apoiando em Claire; apesar de fraca, ela estava bem. Ela disse que ainda
estava enjoada e que sua cabeça doía, mas os confusos pensamentos que o atormentavam já tinham passado.
David virou e deslizou pela parede da estrutura mais próxima da cerca, abraçando as sombras, olhando para ter
certeza de que nenhum guarda apareça. Eles chegaram no fim, de frente à oeste e deram a volta. David
primeiro, verificando a posição do guarda. Estava muito escuro para ver, mas havia uma sombra densa atrás da
cerca metálica que o identificava. David ergueu a M-16 e mirou nele, preparado para atirar caso fossem vistos.
Pena não poder atirar agora... mas um tiro alertaria os outros. Como David não estava preocupado com os
guardas na cerca, o guarda da van poderia ser um problema; ele estava longe o bastante para usar o rádio antes
de vir para cá.
Esses dois serão fáceis, mas como se aproximar deles?
Não havia cobertura se o guarda da van os visse chegando -
Isso podia esperar; eles tinham serviço antes de se preocuparem com os guardas. Agachado, David levou Claire
e Rebecca com a M-16 apontada para a sombra na cerca. Ele segurou a respiração enquanto cruzavam o espaço
aberto. Eles conseguiram quase sem um ruído;
Depois que cruzaram, David continuou, seus anos de treinamento permitindo-o se mover tão silenciosamente
quanto um fantasma. Uma vez cobertos pela sombra do galpão, David relaxou um pouco, o pior de tudo se foi.
Eles podiam ir para o prédio do meio através do negro corredor entre as estruturas.
Em menos de um minuto eles chegaram ao destino. Acenando para as mulheres recuarem, David cruzou,
parando na porta fechada. Ele tocou a fria maçaneta de metal e a empurrou para baixo, acenando para si
mesmo ao ouvir o leve click da porta destrancada.
É aqui; o líder da equipe a deixou aberta para os guardas acessarem o satélite no caso de voltarmos. Foi um
chute, mas foi um chute calculado.
Era hora de rezar por um pouco de sorte; se as luzes estiverem acesas, abrir a porta seria como um farol para
qualquer um olhando nessa direção. Os guardas deviam estar olhando para o deserto, mas isso não significava
muito.
Respirando fundo, David empurrou a porta, percebendo que a luz estava fraca enquanto entrava e fechava a
porta. Ele encostou na porta e contou até dez, e relaxou, inalando o morno ar agradecidamente enquanto
estudava o interior. O galpão havia sido dividido em salas - e a sala a qual havia entrado estava forrada de
equipamentos de computador, grossos cabos cruzavam o chão e subiam pelas paredes...
... tudo o que liga esse complexo ao mundo exterior...
David apertou o botão na parede, desligando a única luminária no teto. Sorrindo, ele abriu a porta para que
Rebecca e Claire se juntassem à ele.
"Fiquem contra a parede". Leon gritou, e Cole obedeceu antes mesmo de saber porque. O agitado barulho de
catarro parecia vir de algum lugar acima -
- e então viu a criatura vindo vagarosamente na direção deles, tornando impossível fugir, e mau conteve o grito.
Ele parou a uns quatro ou cinco metros de distância, e Cole ainda não parecia entender; era tão bizarro.
Ah, Jesus, o que é aquilo?
Tinha quatro patas, com cascos divididos, como um carneiro ou bode, e tinha o mesmo tamanho - só que sem
pelos, sem chifres, nada que lembrasse o desenvolvimento natural. Seus corpos atléticos eram manchados com
pequenas variações de marrom avermelhado, como a pele de uma cobra, só que sem brilho; à primeira vista,
parecia coberta de sangue seco. Sua cabeça de algum modo era anfíbia, como a de um sapo - um rosto
achatado sem orelhas com pequenos olhos escuros que saltavam de cada lado, uma boca larga também - mas
com dentes pontudos saindo de uma proeminente mandíbula inferior, um queixo de bulldog, sua cabeça também
manchada com as variações de sangue seco.
A coisa abriu a boca, expondo só alguns dentes afiados, superiores e inferiores, nenhum deles na frente - e
aquele terrível som molhado veio da escuridão de sua garganta, o bizarro chamado acompanhado pelos outros
em algum lugar do outro lado da montanha artificial.
O chamado cresceu, mais alto e profundo enquanto a coisa erguia a cabeça, voltando o rosto para o teto -
- e com um súbito movimento, a coisa abaixou a cabeça e cuspiu neles. Uma grossa bolha de semilíquido
avermelhado voou neles, em Leon, cruzando a longa distância -
- e Leon ergueu o braço para bloquear ao mesmo tempo que John começou a atirar, se afastando da parede e
espirrando no monstro -
- Cuspidor -
- com balas. A meleca atingiu o braço de Leon, teria acertado seu rosto se não tivesse se protegido, e em
resposta às balas, o cuspidor virou e saltou para a montanha esculpida - em longos e fáceis saltos que não
denotavam pânico, dor ou qualquer sentimento, levando-o para o topo em segundos. Ele começou a descer por
seis metros depois pulou agilmente para o chão, parando na frente da porta de conexão. Como se soubesse que
estava bloqueando a saída.
E nem cambaleou, meu Deus -
Os múltiplos berros de onde não tinham visão não aumentaram mais, e também não diminuíram. Os gargarejos
foram parando, um por vez, a falta de alvos tirando-os o motivo; de repente, tudo estava quieto, do mesmo jeito
que estava quando entraram.
"Mas o que bom Deus foi aquilo? John disse, tirando outro clip do estojo, suas expressões desacreditadas.
"Nem se machucou". Cole sussurrou, apertando a 9mm com tanta força que seus dedos ficaram dormentes. Ele
nem percebeu, olhando enquanto Leon tocava o pastoso e úmido punhado de meleca em sua manga -
- e soprou de dor, tirando a mão como se tivesse se queimando.
"Essa coisa é tóxica". Ele disse, rapidamente limpando os dedos na roupa e mantendo-os no alto. As pontas do
dedo do meio e indicador de sua mão esquerda ficaram vermelhos. Ele imediatamente guardou a arma no cinto e
tirou a blusa preta, cuidando para evitar contato com a gosma tóxica, empurrando-a no chão de pedra.
Cole ficou enjoado. Se Leon não tivesse bloqueado...
"Tá bom, tá bom, tá bom" John suspirou. "Isso é ruim, temos que sair daqui o mais rápido possível... você disse
que há uma ponte?".
"Sim, passa por cima do, é, penhasco". Cole disse rapidamente. "Tem uns seis metros, e não sei qual a
profundidade".
"Vamos". John disse. Ele começou a andar na direção de onde a trilha virava, bem depressa. Cole seguiu, Leon
bem atrás.
John parou a uns três metros da curva e encostou na parede, olhando para Leon.
"Você quer cobrir, ou eu?". Leon perguntou suavemente. "Eu". John disse. "Eu vou primeiro. Você corre, Henry,
vá atrás dele - e sigam em frente, entenderam? Cruzem a ponte e vão para a porta - se puderem, me ajudem
-".
O rosto de John era solene. "- e se não puderem, então não podem".
Cole sentiu a já familiar vergonha. Eles estão tentando me proteger, nem me conhecem e eu os coloquei nisso...
se ele pudesse fazer algo para retornar o favor, ele faria, apesar de ter certeza de repente de que nunca faria
algo que ajudasse; ele devia sua vida a esses caras, e várias delas já.
"Prontos?". John perguntou.
"Espere -". Leon virou e correu para onde tinha jogado a blusa. O Spitter na porta ficou quieto e imóvel como
uma estátua, observando-os. Leon recuperou a blusa e voltou, tirando um canivete de seu estojo. Ele cortou a
manga atingida e deu o resto para John.
"Se você for ficar parado, fique com o rosto coberto". Leon disse. "Já que eles não sentem as balas, você não
precisará enxergar nem atirar. Quando cruzarmos, eu gritarei. E se não for seguro do outro lado, eu vou -".
Os autoritários chamados começaram de novo, fazendo Cole lembrar de cigarras por algum motivo, o quase
mecânico ree-ree-ree de cigarras numa quente noite de verão. Ele exalou forte, tentando fingir para si mesmo
que estava preparado.
"Sem tempo". John disse. "Preparem-se para ir -".
Ele pegou a blusa, quando - pasmo - sorriu para Leon. "Cara, você precisa investir num desodorante mais forte;
você fede como um cachorro morto".
Sem esperar uma resposta, John colocou a blusa sobre a cabeça, segurando-a aberta na parte de baixo para ver
o chão. Ele correu, de cabeça baixa, Cole e Leon se preparando até que -
- houve um rápido patpatpatpat, e de repente o material preto sobre o rosto de John ficou pingando com grandes
porções de catarro venenoso vermelho, e balançou a mão para eles -
- e Leon disse. "Agora!". E Cole correu, de cabeça baixa, vendo só as botas de Leon a sua frente, o borrão cinza
do chão e suas próprias pernas. Ele ouviu um grito borbulhante à esquerda e se abaixou mais ainda, aterrorizado
-
- e ouviu passos sobre madeira à frente, e então estava na ponte, tábuas de madeira balançando sob os pés,
amarradas com finas cordas. Ele viu o precipício em forma de "V" por debaixo delas, viu que era fundo, que havia
sido escavado abaixo do nível do Planeta, uns quinze metros -
- e então estava de volta ao chão cinza, antes mesmo de ter vertigem. Ele correu, pensando em como era bom
ter apenas as botas de Leon para se preocupar, seu coração martelando as costelas.
Segundos ou minutos depois, ele não sabia, as botas foram parando, e Cole ousou erguer o olhar. A parede, a
parede, e lá estava a porta! Eles conseguiram!
"John, vai!". Leon gritou, dando alguns passos na direção a qual vieram, sua semi para o alto e preparada. "Vai!".
Cole virou, viu John arrancar a blusa preta, viu um monte de Spitters se agruparem na frente dele, seis, sete
deles berrando. John rasgou um caminho entre eles e pelo menos dois deles cuspiram. Mas John foi rápido, rápido
o bastante tal que só um pouco atingiu seu ombro, até onde Cole pode ver. As monstruosas criaturas foram
atrás dele em seus pulos, não tão rápido, mas quase.
Corre corre corre!
Cole apontou a 9mm na direção dos Spitters, pronto para atirar se conseguir um tiro certeiro, enquanto John
pisava na ponte -
- e desaparecia. A ponte ruiu e John desapareceu.
[16]
John sentiu a ponte ceder alguns segundos após as cordas arrebentarem. Ele instintivamente abriu os braços,
ainda correndo, pensando que fosse conseguir -
- mas começou a cair, seu joelhos batendo na móvel parede de tábuas de madeira, seus dedos fechado no
momento em que acharam algo sólido -
- e tudo o que ouviu foi um whoosh, depois as articulações dos dedos de sua mão direita bateram em pedra, e
agora estava balançando sobre um precipício muito fundo com um pedaço solto de madeira na mão esquerda. Ele
tinha conseguido se segurar num dos pedaços ainda presos na agora pendurada ponte; ambas as cordas que
prendiam o lado norte da ponte tinham se soltado.
John soltou a inútil tábua, ouvindo-a bater no fundo do vale com outros pedaços que haviam se soltado. Ele se
puxou para ter um melhor agarre quando -
- thwock, uma bola de muco vermelho apareceu de repente à sua frente, a menos de trinta centímetros à direita
de seu rosto, deslizando pela parede como uma corda derretida.
- como merda derretida -
Bambambam, alguém estava disparando uma 9mm. O crescente berro dos Spitters se preparando para cuspir o
disseram que definitivamente precisava sair de lá.
Ele subiu de novo, seus bíceps flexionando, a tensão contra o tecido de sua camiseta enquanto agarrava uma
das tábuas e se erguia. Lá em cima, mais tiros, mais próximos, e um grito de Leon que foi cortado por mais
disparos.
Detonem, garotos, eu estou indo -
Mão sobre mão era terrível, ainda mais com dedos sangrando e uma metralhadora pendurada no pescoço, mas
estava indo bem, segurando a próxima tábua -
- até que uma quente umidade acertou as costas de sua mão direita, e doía, era como ácido, queimando -
- e ele soltou, sacudindo o ácido da mão, esfregando-a na blusa violentamente. Ele se segurou com a esquerda,
a dor como fogo crescendo. Tudo o que podia fazer para resistir ao instinto natural era apertar o ferimento
ardente - e o modo como seu dedos começaram a formigar, ele não tinha muito tempo para se preocupar.
"Ele está bem aqui!".
Um histérico grito veio lá de cima. John jogou a cabeça para trás, viu Cole agachado na beira do abismo, sua
camisa de trabalho à frente do nariz, seu olhar frenético e assustado.
"John, me dê a sua mão". Ele gritou, e se esticou para baixo o máximo que podia, flocos de cimento caindo do
chão sob suas botas. Se ele disse mais alguma coisa, ficou perdido sob outra série de tiros explosivos que Leon
usava para manter os cuspidores afastados.
Só levou uma fração de segundo para John reagir à ordem de Cole, e naquele instante entendeu que iria sair de
lá. Henry Cole tinha um metro e sessenta e quatro e pesava uns setenta quilos - vestido. Ele estava parecendo
uma tartaruga assustada pendurada no casco de sua blusa.
Muito engraçado. Engraçado, e conveniente de um modo idiota, e apesar de sua mão ainda doer como o inferno,
ele esqueceu de senti-la por um segundo ou dois.
John sorriu, ignorando os trêmulos dedos de Cole, concentrando-se para se erguer com mão ferida. Houveram
mais daqueles sons atrás deles, mas nenhuma bomba de cuspe por enquanto.
"Mande Leon usar a granada!" Ele suspirou, e Cole virou, gritando sob outra explosão da semi de Leon. John disse
para usar a granada!".
"... disse granada! John disse para usar a granada!".
"Ainda não!". Leon gritou. "Saiam daí!".
Thwap-wap, mais duas escarradas voaram pelo abismo, uma acertando as botas de Cole, a outra à somente
centímetro do suado rosto de John.
Use sua força, John - com um último e profundo gemido, John agarrou a madeira no topo e puxou o corpo para
cima, puxando e empurrando para baixo, trazendo o joelho acima para sair.
"Estou bem, vai!".
Cole, a tartaruga assustada, não precisou de mais incentivo. Ele decolou, correndo enquanto Leon cobria John,
enquanto John corria em sua direção agachado, enfiando a mão ferida no estojo e tirando sua última granada -
ele já tinha tirado o pino quando viu Leon com a dele na mão.
"Jogue!". John berrou, alcançando Leon, Leon arremessando ao alto o poderoso explosivo nos Spitters. Os dois
estavam correndo, John olhando para trás só para ver que três, quatro animais já tinham caído no penhasco.
Sem tempo para pensar, John arremessou baixo, o mais forte que podia, sua granada desaparecendo no buraco
enquanto a de Leon caía na frente dos outros -
- e os dois estavam mergulhando e rolando, as explosões quase simultâneas, KA-WHAM-WHAM, o som de pedra
dissolvida chovendo, uma incrivelmente alta gritaria atrás deles -
"Vocês os pegaram! Vocês os pegaram!".
Cole estava de pé na frente deles, um descontraído olhar de alegria em seu rosto. John sentou, Leon ao seu
lado, ambos virando para olhar.
Eles não tinham matado todos. Dois deles ainda estavam intactos no outro lado do abismo, vivos - mas cegos e
feridos, suas pernas estouradas, um líquido escuro cobrindo o que havia sobrado de seus rostos enquanto
berravam em fúria, como um porco sendo pisado. Os outros dois deviam ter estado bem à frente da explosão;
estavam sangrando, seus corpos estilhaçados, ossos saindo do líquido como - como ossos quebrados. Do fundo
do precipício vinham mais berros, e nada apareceu para atacar. Para todos os efeitos, estava acabado.
John se levantou, estudando as costas de sua mão. Ao contrário do que parecia, a pele não tinha derretido.
Havia algumas pequenas bolhas se formando e a pele parecia queimada, mas não estava sangrando.
"Você está bem?". Leon perguntou, se levantando e sacudindo as roupas, suas jovens feições muito menos
jovens para John.
Eu não vou mais chamá-lo de recruta.
John deu com os ombros. "Acho que quebrei uma unha, mas vou viver".
Ele viu que Cole ainda estava olhando para os dois, seu corpo tremendo com o estouro de adrenalina; ele não
tinha palavras e John de repente se lembrou de como se sentiu depois da primeira batalha na qual atuou
corajosamente. O quanto ficou animado. O quanto vivo ficou.
"Henry, você é um cara engraçado". John disse, batendo no ombro do homem e sorrindo.
O eletricista sorriu incerto e os três foram para a Quatro, deixando os furiosos berros para trás.
Quando a poeira abaixou e os três homens ainda estavam vivos, Reston bateu o punho na mesa, sua raiva e
medo crescendo, seu estômago dando um nó, seus olhos largos com descrença.
"Não, não, não, seus idiotas estúpidos, vocês estão mortos!".
Sua voz estava um pouco enrolada, mas estava muito chocado para reparar nisso, para se preocupar. Eles não
sobreviverão aos Hunters, ele sabia -
- mas também não sobreviveriam aos Ca6.
Reston não conseguia acreditar que tinham chegado até esse ponto; não conseguia acreditar que dos vinte e
quatro espécimes que encontraram, todos exceto um Dac foram deixados mortos ou morrendo. E pior, não
conseguia acreditar que deixou o programa continuar, que seu orgulho e ambição não o deixaram fazer o que
devia ter feito a princípio. Não que estivesse fora de uma "liga", ele estava no círculo interno, ele já tinha superado
esse tipo de insegurança - mas já devia ter falado com Sidney, ou mesmo com Duvall; não por um conselho, mas
para ter um apoio. Afinal de contas, ele não podia ser totalmente responsável se tivesse o apoio de um dos
membros mais velhos...
Não era tarde demais. Ele faria uma ligação explicaria seu plano, explicaria que tinha algumas preocupações - ele
podia dizer que os intrusos estavam na Dois, isso pode ajudar, ele podia acertar os vídeos mais tarde... e os
Hunterts já foram testados antes, não os 3K, e sim os 121. Alguns foram soltos na mansão de Spencer; pelos
dados recolhidos, ele sabia que os homens seriam mortos na Quatro. Mesmo se não forem, não conseguirão sair,
e com o reforço da central, ele ficaria livre.
Certo de ser a decisão correta, Reston pegou o telefone.
"Umbrella, Divisões Especiais e -".
- e silêncio. A doce voz feminina foi cortada no meio da frase, sem se quer um ruído de estática.
"Aqui é Reston". Ele disse afiadamente, percebendo que uma fria mão estava tocando seu coração,
esfregando-o. "Alô? Aqui é Reston!".
Nada; e de repente percebeu que a qualidade da luz na sala havia mudado, ficou mais brilhante. Ele virou a
cadeira esperando desesperadamente que não fosse o que achava ser -
- até que os monitores que mostravam a superfície começaram a chuviscar. Todas as sete desligadas - e alguns
segundos depois, antes que Reston pudesse entender, os sete monitores apagaram.
"Alô?". Ele sussurrou no telefone mudo, sua rápida respiração quente e dolorida. Silêncio.
Ele estava só.
Andrew "Matador" Berman estava morrendo de frio e tédio, imaginando porque os Sargento se incomodou em
postar alguém na van. Os caras maus iriam voltar, eles já tinham fugido - e mesmo se decidirem voltar,
certamente não tentariam pegar o veículo. Seria suicídio.
Ou eles têm um carro reserva ou estão congelados em algum lugar na planície. Isso aqui é uma total besteira.
Andy subiu seu cachecol até as orelhas e reajustou a pega da M41. Seis quilos de rifle não parecia muito, mas
estava de pé há muito tempo. Se o Sargento não voltar logo, ele ficaria dentro da van, descansaria os pés e
sairia do frio; ele não estava sendo pago o bastante para se congelar na escuridão.
Ele se encostou no pára-choque traseiro e imaginou se Rick estava bem; ele não conhecia os outros, mas Rick
Shannon era seu amigo, e estava todo ensangüentado ao ser posto no helicóptero.
Aqueles idiotas, voltem aqui e eu lhes mostrarei sangue...
Andy deu um sorriso, pensando. Não era à toa que o chamavam de matador. Ele era um excelente atirador, o
melhor da equipe, o resultado de uma vida inteira de caça à cervos. Se o trio de imbecis aparecer...
Ele ainda estava pensando nisso quando ouviu um suave apelo sair do escuro.
"Ajude-me, por favor - não atire, por favor, me ajude, eu fui baleada -".
Uma sufocada voz feminina. Uma sensual voz e Andy pegou sua lanterna e mirou no escuro, achando a dona da
voz a menos de nove metros de distância.
Uma garota, vestida numa roupa preta apertada, cambaleando para ele. Ela estava desarmada e ferida,
mancando, seu pálido rosto aberto e vulnerável sob a brilhante luz.
"Ei, espere". Andy disse, não muito bravo. Ela era jovem. Parecia ainda mais jovem do que Andy com seus tinha
vinte e três anos.
Andy baixou a arma devagar, pensando no quanto bom seria ajudar uma mocinha aflita. Ela podia estar com os
três criminosos, provavelmente estava, mas certamente não era uma ameaça para ele; podia segurá-la até o
helicóptero chegar. E talvez fique grata pela ajuda...
... e bancar o herói é um bom modo de ganhar pontos. Caras bons podem terminar por último, mas certamente
tem muita sorte no caminho.
A garota mancou até ele e Andy tirou a lanterna de seu rosto, não querendo cegá-la. Usando somente a nota
certa de sinceridade em sua voz - garotas engoliam essa baboseira - ele deu um passo até ela, segurando uma
mão.
"O que aconteceu? Aqui, deixe me ajudar -?".
Uma escura e pesada coisa bateu nele pelo lado, forte, levando-o ao chão e tirando o ar de si. Antes de saber o
que aconteceu, uma luz estava brilhando em seu rosto, e a M41 estava sendo tirada de suas mãos enquanto
lutava para respirar.
"Não se mexa e eu não atiro". Um homem disse, um britânico, e Andy sentiu o frio cano da arma em seu
pescoço. Ele congelou, sem ousar mover um músculo.
Ah, droga!
Andy olhou para cima, viu a garota segurando o rifle, seu rifle, olhando para ele. Ela não parecia mais indefesa.
"Vagabunda". Ele rosnou, e ela sorriu um pouco, dando com os ombros.
"Desculpe. Se servir de consolo, seus outros dois amigos caíram nessa também".
Ele ouviu outra voz feminina atrás, suave e animada. "Ei, você vai se esquentar. A sala do gerador está bem
tostada".
O matador não estava animado, e enquanto o levantavam e marchavam com ele para o complexo, ele jurou
para si mesmo que essa seria a última vez que subestimaria uma garota - e certamente lembrará disso da
próxima vez que se sentir entediado.
[17]
A Fase Quatro era mesmo uma cidade, a coisa mais esquisita que Leon já tinha visto. As três primeiras eram
bizarras, irreais, mas também eram falsas - a calma floresta, as paredes brancas do deserto, a montanha
esculpida. Em nenhum momento ele esqueceu que era tudo falso.
Isto... não é uma imitação de um habitat orgânico; isto é como deveria se parecer.
A Quatro eram vários quarteirões de uma pequena cidade à noite. Nenhum dos prédios tinham mais de três
andares - postes de luz, calçadas, lojas e apartamentos, carros estacionados e ruas de asfalto. Eles desceram de
uma montanha e caíram em Hometown, E.U.A..
Só haviam duas coisas erradas nela à primeira vista - as cores e a atmosfera. Os prédios, ou eram vermelho tijolo
ou um tipo de bronzeado ao anoitecer, eles pareciam inacabados e os poucos carros que Leon podia ver pareciam
todos pretos; era difícil dizer com as pesadas sombras.
E a atmosfera...
"Assombrada". John disse baixo, e Leon e Cole acenaram. De costas na porta, eles vasculharam a quieta cidade
e a acharam completamente calma.
Como num sonho ruim, um daqueles em que você está perdido e não consegue achar ninguém, e tudo parece
errado...
Não era como uma cidade fantasma, não tinha o ar de um lugar abandonado ou de um lugar que tinha
sobrevivido à sua utilidade; ninguém jamais viveu lá, e ninguém jamais irá. Nenhum carro já foi dirigido por suas
ruas, nenhuma criança já brincou nas esquinas, nenhuma vida já a chamou de lar... e o sentimento de vazio sem
vida era - assustador.
A porta os deixou numa rua que corria de leste à oeste, terminando bem à esquerda deles numa parede pintada
de azul meia-noite. De onde estavam, podiam ver todo o caminho de uma larga rua pavimentada. A suave luz
das luminárias causavam longas sombras, claras o bastante para andar e escuras demais para ver direito.
Havia um carro na frente deles, parado na frente de uma construção bronzeada de dois andares. John foi até ele
e socou o capô. Leon pode ouvir o vazio "tink" sob a mão dele; só a carroceria.
John voltou, vasculhando as sombras com muito cuidado.
"Então... Hunters". Ele disse, e Leon percebeu de repente o que era mais assustador do que os quarteirões na
frente deles.
"Os apelidos são todos descritivos". Ele disse, ejetando o clip de sua semi e contando as balas. Cinco sobrando, e
só tinha mais um clip cheio, apesar de John ainda ter mais dois - não, ele só tinha um, Cole estava com o outro.
E a não ser que Leon estivesse errado, John só tinha um clip cheio para a M-16; trinta balas, e mais o que
restava no rifle.
Sem mais granadas e quase sem munição....
"E agora?". Cole perguntou e John respondeu, seu olhar estreitando enquanto falava, suas expressões mais
alertas enquanto vasculhava cada esquina, cada janela.
"Pense nisso". John disse. "Pterodátilos, escorpiões, bichos cuspidores... caçadores".
"Eu - ah". Cole piscou, olhando em volta com um novo medo. "Isso não é bom".
"Você quer dizer que a saída está trancada?". Leon perguntou.
Cole acenou, e John balançou a cabeça ao mesmo tempo.
"E burro, eu usei a última granada". Ele disse suavemente. "Sem chance de explodir a porta".
"Se você não tivesse usado, nós estaríamos mortos". Leon disse. "E provavelmente não funcionaria se fosse do
mesmo tipo da porta de entrada".
John suspirou pesado, mas acenou. "Acho que devemos queimar aquela ponte quando a acharmos".
Todos ficaram quietos por um momento, um profundo e desconfortável silêncio que Cole finalmente quebrou.
"Então... olhos e ouvidos abertos, e juntos". Ele experimentou dizer, uma pergunta mais do que uma afirmação.
John levantou as sobrancelhas, afetado e sorrindo. "Nada mal. Ei, o que você vai fazer da vida se sairmos daqui?
Quer se juntar à nossa causa e ficar no pé da Umbrella?".
Cole sorriu de nervosismo. "Se sairmos daqui, me pergunte de novo".
Preparados como estariam, eles começaram à sul, andando devagar no meio da rua, os prédios escuros
observando-os com olhos vazios de vidro. Apesar de todos estarem tentando se mover silenciosamente, a vazia
cidade parecia devolver os ecos de seus suaves passos no asfalto, até de suas respirações. Nenhum dos prédios
tinham sinais de decoração, e não havia luzes até onde Leon podia ver. O sentimento de ausência de vida e
opressão o deu uma desagradável lembrança da noite em que chegou a Raccoon para seu primeiro dia de
trabalho no R.P.D., depois que a Umbrella soltou o vírus.
Exceto pelas ruas de lá cheirarem morte e por haverem canibais perambulando pela escuridão e corvos se
alimentando de cadáveres. Era uma cidade na agonia da morte...
Na metade do quarteirão, John ergueu uma mão, trazendo Leon para o presente.
'Só um minuto". Ele disse, e correu par uma das "lojas" à esquerda, uma vitrine de vidro que o lembrava uma
confeitaria, daquelas que sempre tinham bolos de casamento à mostra. John espiou pelo vidro, tentou a porta.
Para a surpresa de Leon ela abriu; John se inclinou para dentro por um longo segundo, depois fechou a porta e
voltou.
"Nem balcão nem nada, mas é uma sala de verdade". Ele disse de voz baixa. "Tem paredes e teto".
"Talvez os Hunters estejam escondidos em uma delas". Leon disse.
Isso aí, mais assustados com nós do que nós com eles, não seria bom. Devíamos ter essa sorte -
"É isso aí!". Cole disse alto, e imediatamente derrubou a voz, ficando vermelho. "Como vamos sair. Os, é, animais
são todos mantidos em celas ou túneis atrás das paredes. Eu não sei quanto as outras fases, mas há um
corredor que circunda a Quatro. Eu vi a porta dele, fica a uns seis metros do canto sudoeste. Tem que ser mais
fácil que a saída normal; pode estar trancada mas não reforçada".
John estava acenando e Leon achou mais plausível do que tentar passar por uma porta trancada pelo lado de
fora.
"Bom". John disse. "Boa idéia. Vamos ver se conseguimos -".
Algo se moveu. Algo nas sombras de um prédio de dois andares bronzeado à direita, algo que calou John e fez
todos mirarem na escuridão, tensos e atentos. Dez segundos passaram, vinte - e seja lá o que era, estava
conseguindo ficar perfeitamente imóvel. Ou...
Ou não vimos absolutamente nada.
"Não há nada lá". Cole cochichou, e Leon começou a abaixar a 9mm, pensando que algo realmente pareceu ter
se movido -
- e de repente a coisa que não podiam ver gritou, um esganiçado e terrível berro como algum tipo de pássaro,
uma besta feroz cega de raiva -
- e o escuro se moveu - Leon ainda não podia ver claramente, era como uma sombra, uma parte do prédio que
se movia, até ver os estreitos olhos brilhantes, eram claros e estavam a pelo menos dois metros do chão, e as
escuras e esfarrapadas unhas quase tocando o asfalto, e percebeu que era um camaleão assim que correu para
eles, ainda gritando.
Reston se apressou na direção da sala de controle, o peso do coldre contra sua perna fazendo-o se sentir melhor.
Sentiria-se ainda melhor se voltasse a tempo de ver os Hunters estraçalharem os três homens, apesar de se
contentar em ver apenas os corpos mortos.
Estaria perfeitamente bem, nenhum problema desde que estivessem mortos.
Reston queria beber, queria se trancar na sala de controle e esperar Hawkinson voltar. Ele sentiu um momento de
quase histeria quando percebeu que as comunicações tinham caído, mas nada tinha mudado, mesmo. O elevador
ainda estava desligado e o sargento incompetente voltaria com o helicóptero a qualquer momento; se foi o trio na
superfície que cortou as linhas - coisa que ele não duvidava - Hawkinson cuidaria deles. Se por uma pequena
chance fosse um problema técnico, um novo eletricista seria contratado assim que liberar o relatório pela manhã.
A parte ruim foi ser incapaz de contatar seus colegas, mas ele decidiu que isso funcionaria a seu favor; quem não
ficaria impressionado, que em tais circunstâncias ele ainda seria capaz de lidar com as coisas? Levando tudo em
consideração, prender os invasores no programa de teste foi seu único recurso. Ninguém o culparia, pelo menos
não muito.
Recuperar o .38 de sua sala tinha aliviado sua mente ainda mais; ele trouxe o revólver para o Planeta mais por ter
sido um presente de Jackson, e apesar de saber pouco sobre armas, puxar o gatilho era tudo o que precisava
fazer com o .38. O pesado revólver praticamente atirava sozinho, nem tinha trava de segurança...
Reston estava no meio do caminho até a sala de controle quando lhe ocorreu que deveria tirar os funcionários do
refeitório; ele tinha passado pela porta trancada duas vezes e nem se deu conta. Conhaque demais, talvez. Ele
pensou em voltar por uma batida de coração, decidindo que eles podiam muito bem esperar; acreditar que os 3K
estavam atuando como deveriam era muito mais importante. Além disso, ele pretendia demitir todos eles assim
que restabelecer contato com a sede; nenhum deles tentou defender o planeta nem seu empregador.
Sala de controle, logo à direita. Reston apressou o passo, entrando na passagem e correndo para a porta. Havia
movimento numa das telas e ele correu para a poltrona, empolgado e ansioso para vê-los morrer. Não havia
nada com que se envergonhar, eles estavam errados, afinal -
- e não estavam mortos, nenhum deles, mas Reston viu que agora era só uma questão de tempo.
Todos os três estavam atirando num dos Hunters, e enquanto olhava, um segundo animal entrou na cena, ainda
tão preto quanto o carro onde estava.
Ruivo girou para a direita, atirando na nova ameaça, mas os 3K não eram derrubados com algumas balinhas;
com um único e grande salto, o caçador diminuiu a distância entre eles, seis metros com um poderoso impulso.
Eles podiam fazer quase nove, Reston sabia através dos dados preliminares -
- e Cole passou a atirar nele também, enquanto John continuava atirando no primeiro, já da cor do asfalto. O
primeiro tinha levado tiros dos três homens; enquanto Reston olhava, o Hunter virou e se esparramou fora da
tela.
O segundo ainda brilhava preto, perfeitamente definido enquanto erguia seu musculoso braço para estapear as
balas que martelavam seu corpo. Enorme, uma figura humanóide pelada e sem sexo, a alta besta de crânio réptil
e unhas de dez centímetros jogou a cabeça para trás e uivou. Reston conhecia o som, sua mente completando a
cena enquanto a criatura começava a desaparecer na rua, as cores quase perfeitas, enquanto girava seu braço
novamente e ruivo era golpeado, caindo.
Isso!
John parou na frente do colega no chão e atirou no monstro, enquanto Cole levantava Ruivo, os dois recuando.
Houve um diálogo -
- e os dois saíram da tela, indo para sul... a criatura se machucou? John parou de atirar e houve sangue jorrando
em algum lugar, cobrindo a face do 3K, seu peito -
- os olhos, deve ter acertado nos olhos. Droga! Ele rolou e caiu. Não era um ferimento fatal mas o incapacitaria
por um tempo.
John virou e correu para seu companheiros, sem mais Hunters à vista - até onde Reston pensava. Não que
importasse, eles estavam mortos; não havia como cruzarem a cidade sem serem atacados, não podiam se
esconder - só para garantir, Reston apertou a trava da porta de conexão da Três.
Nada de partir em retirada, pessoal...
Eles não apareceram na tela que mostrava a rua a sul do ângulo da primeira câmera. Franzindo, Reston intercalou
as câmeras, usando a da fachada de um prédio -
- e viu uma porta fechar, os homens procurando abrigo dentro de uma das lojas. Reston balançou a cabeça.
Aquilo provavelmente os protegeria por mais uns cinco minutos, não mais que isso; os 3K tinham força para
rasgar essa cidade, se assim quisessem, e caçavam basicamente pelo olfato. Eles iriam rastrear os homens e
finalmente colocar um ponto final no problema, vida inúteis.
Não havia câmera no prédio o qual entraram; ele terá que esperar até eles saírem, ou até os caçadores traze-los
para fora. Reston sorriu, seus dentes rangendo, impaciente, imaginando porque os 3K estavam demorando
tanto. Era hora do teste acabar, hora do Planeta ser restaurado.
Os Hunters não iriam falhar. Ele só tinha que esperar mais alguns minutos.
Eles acharam a entrada na parte de trás do prédio do meio, depois da sala do gerador, onde haviam colocado os
três guardas resmungões. Foi uma perda de tempo ter procurado pelos controles do elevador de serviço no
primeiro prédio.
Neste há quatro, uma bateria de elevadores numa câmara carpetada contra a parede oeste. Eles não estavam
operando, mas havia uma plataforma para dois no primeiro poço que acharam, David e Claire abrindo as portas
sem esforço. Mesmo cansada e exausta, a visão da pequena plataforma presa em seu próprio sistema de polia
fez Rebecca querer rir bem alto.
Eles nunca suspeitariam, vamos entrar como sombras.
"Parece que esqueceram de trancar a porta de trás". David disse, um olhar de triunfo em seu abatido rosto.
Claire olhou para o quadrado metálico cheia de dúvidas. "Nós vamos caber aí?".
David não respondeu de imediato, virando para olhar Rebecca. Ela sabia que ele ia sugerir algo e começou a achar
um bom argumento antes de abrir a boca.
O helicóptero pode voltar, e voltará, se estiverem feridos você vai precisar de mim, e se os guardas conseguirem
fugir -
"Rebecca - eu preciso de um honesto relato de suas condições". Ele disse, suas expressões neutras.
"Estou cansada, com dor de cabeça e manca - e você precisará de mim lá embaixo, David, não estou cem por
cento, mas também não estou à beira de um colapso, e você mesmo disse que outra equipe está provavelmente
à caminho -".
David estava sorrindo, segurando as mãos no alto. "Tá bom, vamos todos. Será bem apertado, mas o peso não
será problema, vocês são pequenas...".
Ele entrou, tirando a lanterna e iluminando os cabos, depois a simples caixa dos controles na meia grade de
proteção. "... acho que cabe todo mundo. Devemos?".
Rebecca e depois Claire entraram no poço do elevador, a improvisada plataforma de serviço preenchendo só um
quarto do escuro espaço frio. Vazio acima e abaixo e só havia guarda-corpo de um lado. Claire se apoiou
desconfortavelmente na barra de metal; os três bem apertados um no outro.
"Eu queria ter uma bala de menta". Claire murmurou.
"Eu queria que você tivesse uma". Rebecca disse, e Claire riu abafado. Rebecca podia sentir o movimento das
costelas de Claire em seu braço; eles estavam embalados.
"Aqui vamos nós". David disse, e apertou os controles.
O elevador começou a descer com um alto zumbido, tão alto que Rebecca começou a pensar duas vezes sobre
esse ataque surpresa. Descia devagar, também, metade da velocidade de um elevador normal.
Deus, isso pode levar uma eternidade...
Só de pensar, Rebecca sentiu-se exausta, o barulho do motor bagunçando sua dor de cabeça. Ficar parada a fez
perceber o quanto estava doente, e enquanto o quadrado brilhante das portas abertas subia, Rebecca ficou grata
de repente por estarem grudados; servia como desculpa para se apoiar pesadamente em David, de olhos
fechados, tentando se manter sã por mais um tempo.
[18]
Eles estavam encrencados, entrando no prédio e indo para a parede de trás no escuro, suando e ofegando, Cole
esperando a fina porta estourar a qualquer segundo.
- boom, e eles entram correndo, gritando, cortando a gente em fatias antes mesmo de vê-los -
"Tenho um plano". John ofegou, e Cole sentiu um piscar de esperança, uma esperança que durou até a próxima
frase de John.
"Nós corremos que nem loucos para a parede de trás". Ele disse finalmente.
"Você ficou maluco?". Leon disse. Você viu aquele pulo, não há como correr deles -".
John respirou fundo e começou a falar, baixo e rápido. "Você está certo, mas você e eu somos bons atiradores,
podemos apagar algumas luzes da rua pelo caminho. Mesmo se puderem ver no escuro, será uma distração,
armar uma confusão, talvez".
Leon não disse nada, e apesar de não poder ver seu rosto claramente, Cole o viu esfregar seu ombro, onde a
criatura o havia golpeado. Devagar, ele já estava começando a considerar a idéia de John.
Os dois são malucos?
Cole lutou para manter o terror fora de sua voz. "Não há outra opção? Sei lá, nós podíamos... podíamos subir,
andar pelos telhados".
"Todos os prédios tem diferentes alturas". John falou. "E eu não acho que agüentariam tanto peso".
"E se nós -".
Leon interrompeu suavemente. "Nós não temos a munição, Henry".
"Então voltamos para a Fase Três, pense nisso...".
"Estamos mais perto do canto sudoeste". John disse e Cole sabia que estavam certos, sabia e não gostava nem
um pouco. Mesmo assim ele procurou outra alternativa, tentando pensar em outro caminho.
Os Hunters eram terríveis, eram as coisas mais terríveis que Cole já tinha visto -
- e de algum lugar lá fora, um deles gritou, o arranhado e furioso som estourando pelas finas paredes, e Cole
percebeu que não tinham tempo para um plano melhor.
"Tá bom, certo, tá". Ele disse, pensando que o mínimo a se fazer era aceitar e encarar o inevitável como se
tivesse coragem.
Eu não vou atrasá-los, pensou, e respirou fundo, endireitando os ombros um pouco. Se tem que ser assim, ele
não iria se envergonhar na frente deles virando um convarde chorão - e não iria diminuir suas chances de
sobreviverem tornando-se uma mala.
Cole tirou do bolso o clip que John o havia dado e trocou pelo vazio, seu coração pulando - e ficou um pouco
surpreso por perceber que agora que se comprometeu, que fez uma decisão, sentiu-se mais forte, mais
corajoso.
Eu posso muito bem morrer nessa, disse para si, e esperou pela leva de terror - mas ela não veio. Ele já estaria
morto se não fosse John e Leon, e talvez essa seria sua chance de evitar que um deles se machucasse.
Sem outra palavra, os três foram para a porta, Cole pensando em como sua vida mudou mais nas últimas horas
do que nos últimos dez anos - e do jeito que aconteceu, ele estava grato - sentia-se completo. Sentia-se real.
"Preparar...". John disse, e Cole respirou fundo, Leon sorrindo para ele sobre a suave luz da janela.
"... agora".
John puxou a porta e eles correram para a rua enquanto, envolta deles, a noite era rasgada pelos selvagens
gritos dos Hunters.
Os olhos de Reston brilhavam. Ele se inclinou para frente, olhando para a tela intensamente, deliciado com a
decisão suicida. Todos os três, arremetendo no escuro como lunáticos. Como homens mortos que não sabiam
parar de se mover.
Eles correram à sul, John na frente, Ruivo e Cole bem atrás. De uma calçada à direita deles, um Hunter saltou
para recebê-los -
- e houve um flash de luz, um brilhante estouro alaranjado vindo de cima, vidro em chamas como chuva de
purpurina na rua. Foi uma das lâmpadas da rua, e os 3K pareceram ficar furiosos enquanto o vidro caía. O
caçador vermelho-virando cinza girou o corpo em torno de si, frenético e gritando, procurando o agressor -
- e ignorou completamente os três homens. Todos os três estavam passando, erguendo as armas e atirando
para o céu, acertando mais lâmpadas, e Reston viu outro Hunter pular na rua, quase perdido, como uma sombra
entre sombras -
- e Cole, Henry Cole fintou para a esquerda depois para a direita, cravando uma bala de sua arma na cabeça de
um 3K -
- e houve um estouro de líquido, pedaços de cérebro e sangue jorrando de sua têmpora, o eletricista atirando às
cegas. Os braços do Hunter estavam espasmando, tremendo, mas já estava morto.
Cole continuou correndo, alcançando os outros enquanto mais lâmpadas explodiam.
"Não". Reston sussurrou, sem perceber que havia falado, mas bem certo de que as coisas estavam indo
horrivelmente erradas.
John correu, parou para atirar, correu de novo. Os violentos berros o seguiam, a chuva de vidro e cheiro de metal
queimado vinham até eles de toda a parte -
- e viu um caçador na rua, na frente deles, na interseção que os levaria à jaula, viu os estranhos olhos brilhantes
e o escuro buraco de sua gritante boca -
- guarde munição Jesus ele é igual à rua -
- e continuou correndo direto para a criatura, mirando, as explosivas balas de 9mm atrás dele, o monstro
barulhento a menos de três metros de distância quando John atirou.
Um curto estouro, calculado, direto na gritante e sobrenatural face -
- e o monstro não caiu. E apesar de John ter desviado, não foi o suficiente. Quase cara a cara com ele, o sangue
estava visível e abundante, a coisa levantou um dos longos braços e acertou John no peito.
O golpe acertou seu peito esquerdo e John esperava ser esmagado, jogado no ar, seu corpo esfarrapado - mas
a criatura deve ter sido enfraquecida pela bala, desorientada, cega talvez. Mesmo sentindo seu pulmão contraindo
de dor - e a porrada foi brutalmente sólida - ele já havia tomado golpes mais fortes. Ele cambaleou, mas não
caiu, e já o tinha passado virando para esquerda, indo para oeste.
John olhou para trás, viu que os outros ainda o acompanhavam, olhou para frente -
- lá está ela!
A rua terminava numa parede pintada a menos de um quarteirão à frente - e havia uma abertura feita a um
metro e meio do chão, com uns dois e meio de largura por no mínimo três de altura -
- e houve outro grito à sua direita, ele não conseguia ver o Hunter camuflado, mas bam-bam, Leon ou Cole atirou
nele, o berro ficando frenético de raiva. John ergueu a M-16 e apagou outra lâmpada, dez segundos e estamos lá
-
- e um painel azul marinho da cor da parede começou a deslizar para baixo sobre a abertura, devagar, mas
constante. Em segundos, não haveria saída.
Reston bateu desesperadamente na trava da jaula, a comporta descendo como uma lesma, suas mãos suando,
sua mente embriagada e girando com descrença.
Não não não não -
Rápido!
Ele havia fechado a Dois e a Três, mas ainda havia um Hunter dentro da jaula e se esqueceu dela - e agora o
animal tinha ido embora e os três homens iam fugir. Fugir dele, de suas mortes.
John estava olhando para trás, gritando, Ruivo bem atrás, Cole quase ao seu lado -
- e havia um Hunter a menos de seis metros atrás deles, diminuindo a distância, seu enorme corpo mudando
entre asfalto e bronze, suas garras traçando canaletas na rua.
Mate eles, mate, pule, mate!
John chegou na abertura, suas mãos no chão, impulsionando-o graciosamente. Uma de suas mãos voltou e
Ruivo estava lá, agarrando-a, sendo puxado para dentro num instante -
- e lá estava Cole, e também ia passar, a comporta não fecharia a tempo, mãos se esticando para ele -
- e o Hunter atrás dele varreu os braços para baixo, suas unhas rasgando as costas de Cole, através da blusa e
da pele, através dos músculos e talvez dos ossos.
Os outros puxaram Cole para dentro enquanto a comporta fechava.
Cole não gritou enquanto o sentavam, devendo estar em agonia. Eles os deitaram de barriga para baixo e mais
gentil possível, Leon enjoado de tristeza quanto viu o estado das costas de Cole.
Morrendo. Ele está morrendo.
Em segundos, ele ficou numa piscina do próprio sangue. Através dos farrapos de sua ensopada camisa, Leon
podia ver a carne rasgada, as fibras dos músculos cortados e o liso brilho do osso logo abaixo. Um osso
arranhado. O dano foi feito por dois longos cortes, cada um começando abaixo dos ombros e terminando na
parte inferior das costas. Ferimentos mortais.
Ele respirava baixo, leves suspiros, seus olhos fechados e suas mãos tremendo.
Inconsciente. Leon olhou para John, viu a acometida expressão, o desvio de olhar; não havia nada que podiam
fazer por ele.
Eles estavam numa gigante cela que fedia animais selvagens no final de um longo corredor de cimento, um que
aparentemente corria o comprimento das quatro áreas de teste. Estava escuro, só algumas luzes ligadas,
mostrando a jaula em sombras; as jaulas eram separadas por paredes com grandes janelas, e Leon só podia ver
a que estava perto deles, o lar dos Spitters. Estava coberto com um claro e grosso plástico, o chão coberto de
ossos.
A cela dos Hunters estava vazia, tinha pelo menos 9 metros de largura e o dobro do comprimento, com dois
baixos cochos perto da cerca. Era um frio e solitário lugar para morrer, mas pelo menos estava seguro, não
estava sentindo nenhum -
"Vire... me". Cole suspirou. Seus olhos estavam abertos, seus lábios tremendo.
"Ei, não se mexa". John disse gentilmente. "Você ficará bem, Henry, só fique onde está, não se mexa, tá bom?".
"Besteira". Cole disse. "Me virem, estou morrendo...".
John travou o olhar com o de Leon que acenou relutante. Ele não queria causar mais dor para Henry, mas
também não queria recusá-lo nada; ele estava morrendo e deviam dá-lo o que podiam.
Devagar e cuidadosamente, John ergueu Cole e o virou. Cole gemeu quando suas costas tocaram o chão, seus
olhos largos rolando, mas pareceu aliviado depois de um momento. Talvez o frio... ou talvez já tinha passado do
ponto da dor, ficando dormente.
"Obrigado". Ele suspirou, uma bolha de sangue estourando em seus pálidos lábios.
"Henry, tente descansar agora". Leon disse suavemente querendo chorar. O homem tentou tanto ser corajoso,
acompanhá-los...
"Fóssil". Cole disse, seu olhar fixando-se no de Leon. "No tubo. O pessoal disse - se sair, ele - destruir tudo. Coisa
no laboratório. Oeste. Entendeu?".
Leon acenou, entendendo perfeitamente. "Uma criatura da Umbrella no laboratório. Fóssil. Você quer que nós o
soltemos".
Cole fechou os olhos, sua branca face tão parada que Leon pensou estar acabado - mas Cole falou de novo, tão
baixo que Leon precisou se inclinar para ouvi-lo.
"Isso". Ele suspirou. "Bom".
Cole deu um último suspiro e exalou - e seu peito não levantou mais.
Minutos depois da morte de Cole, os dois homens descobriram como sair da cela dos Hunters. Reston encarou o
monitor, não sentindo nada, determinado a não ficar surpreso. Eles simplesmente não eram humanos e pronto;
quando aceitar isso nada mais o surpreenderá.
A comida era presa firmemente na cerca de aço tal que os manipuladores não precisavam entrar nas celas; a
maior parte do cocho ficava para fora; o suficiente para jogar a comida dentro e os animais a puxarem pelo lado
de dentro. Não havia preocupação de os 3K puxarem as bacias de comida para dentro ou empurrá-las para fora,
as aberturas eram muito estreitas para seus corpos.
Mas não para humanos... ou seja lá o que forem.
John e Ruivo começaram a chutar o cocho, e assim que começou a se deslocar, Reston pegou o revólver e se
levantou, afastando-se dos monitores. Não havia porque olhar. Ele falhou, os testes do Planeta provaram ser
fáceis demais e seria punido severamente pelo que fez, ou talvez morto. Mas ele não estava pronto para morrer,
ainda não - e não pelas mãos deles.
Mas e o elevador, o pessoal na superfície...
Não era seguro subir também. O complexo já devia estar infestados por esses S.T.A.R.S. agora, eles cortaram a
força e estavam esperando seus dois rapazes terminarem o serviço...
Não dá para subir, não dá para matá-los, não há tempo... o refeitório!
Seus empregados o ajudariam. Quando libertá-los, quando explicar as coisas, eles correriam ao seu lado, o
protegeriam.
Preciso ir agora, eles sairão em breve e virão atrás de mim. Tentarão vingar Cole, talvez. Tentarão me deixar
arrependido por ter feito o meu trabalho, o que qualquer um teria feito.
De alguma forma, ele duvidou que tentariam. Reston saiu, já preparando sua história, imaginando como as coisas
ficaram tão terrivelmente erradas.
[19]
Das jaulas, eles pisaram num limpo e esterilizado corredor, e viraram à esquerda - oeste - andando rapidamente
pelo vazio corredor. Nenhum deles falou; não havia nada para falar até acharem o que Cole havia chamado de
Fóssil, até descobrirem se era a decisão certa.
Pela primeira vez desde que entraram no Planeta, John não sentiu vontade de fazer piadas. Cole era um cara
bom, fez o possível para retribuir o erro de tê-los atraído para o programa de teste, fez o que pediram para fazer
- e agora estava acabado, brutalmente ferido, morrendo com sangue e dor no chão de uma jaula.
Reston. Reston pagaria por isso, e se o melhor jeito de pegá-lo era soltando um monstro da Umbrella, assim
seria. A justiça cabível.
Dane-se o livro de códigos. Se o Fóssil é tão mau quanto Cole achava ser, nós o soltaremos, libertaremos os
funcionários e fugiremos. Deixaremos o monstro encontrar Reston e derrubar esse lugar...
O corredor entortava à direita, depois seguia reto, ainda à oeste. Quando fizeram a curva, eles viram a porta à
direita - e John sabia que era o laboratório de Cole. Ele sentia.
E estava certo. A porta de metal abriu - depois de usar a chave de 9mm - e deu num pequeno laboratório com
balcões e computadores, que depois abria numa sala cirúrgica, brilhando de aço e porcelana. A porta na parede
atrás da sala de operações era a qual Cole se referia - e quando viram a criatura, John pôde ver porque Cole
insistiu em contar sobre ela, mesmo em seus últimos momentos. Mesmo se tivesse metade do poder o Planeta
viraria história.
"Cristo". Leon disse, John não achou nada para adicionar. Eles andaram devagar até o gigante cilindro no canto da
gigante sala, depois da mesa de autópsia de inox e bandejas de ferramentas brilhantes, parando na frente do
tubo. As luzes da sala estavam apagadas, mas havia uma luz direcional no teto apontada para o container,
iluminando a coisa. O Fóssil.
O tubo tinha quatro metros e meio de altura e pelo menos três de diâmetro, cheio de um claro líquido
avermelhado - e envolto no fluído, preso em tubos e fios que vinham de cima, estava o monstro. Um pesadelo.
John imaginou que se chamasse Fóssil por causa do que se parecia, ou parte disso - algum tipo de dinossauro,
um que jamais caminhou pela superfície da Terra. A criatura de três metros de altura tinha uma cor pálida, sua
granulada pele rosada por causa do líquido em volta. Não tinha rabo, mas tinha a grossa pele e as pernas de um
dinossauro. Foi certamente criado para andar erguido, e além dos pequenos olhos, o focinho arredondado de um
dinossauro carnívoro, um T-Rex ou um velociraptor, também tinha longos e musculosos braços, e mãos com lisos
e curvos dedos. Impossível como era, parecia uma mutação entre homem e dinossauro.
O que estavam pensando? Por que - por que fazer algo assim?
Estava adormecido, ou em algum tipo de coma, mas estava vivo. Conectada a uma fina mangueira, estava uma
máscara que cobria seus orifícios nasais, e uma bandana de plástico envolvendo sua gigante mandíbula, para
mantê-la fechada.
John podia não vê-los, mas tinha certeza que havia fileiras de dentes afiados na larga e curva boca da criatura.
Seus olhos estavam cobertos por uma pálpebra interna, uma fina camada de pele roxa, e podiam ver o lento
erguer de seu grande peito, os gentis movimentos de seu corpo na meleca vermelha.
Havia uma prancheta pendurada na parede próxima a Fóssil, sobre um pequeno monitor onde finas linhas verdes
piscavam.
Leon ergueu a prancheta, virando as folhas enquanto John olhava, admirado com horror. Uma de suas mãos
aracnídeas torceu, os dedos de vinte centímetros quase formando um punho.
"Aqui diz que uma autópsia está marcada para daqui três semanas e meia". Leon disse, ainda procurando. "O
espécime ficará em estase, blá blá blá... quando será injetado com uma dose letal de Hyptheion antes do
dissecamento".
John olhou para a mesa de autópsia, viu as presilhas de aço em cada lado e três serrotes de ossos embaixo. A
mesa foi aparentemente construída para acomodar grandes animais.
"Por que mantê-lo vivo afinal?". John perguntou, virando para o Fóssil adormecido. Era difícil não olhar; a criatura
era chamativa, horrível e impressionante, uma aberração que exigia atenção.
"Talvez para os órgãos ficarem frescos". Leon disse, e respirou fundo. "Então... vamos fazer?".
É uma pergunta valendo um milhão de dólares, não é? Nós não teremos os códigos - mas a Umbrella terá um
parquinho a menos para suas brincadeiras. E talvez um gerente a menos.
"É." John disse. "Sim, acho que vamos".
Os homens o ouviram quietos, seus rostos pensativos enquanto absorviam o terror que havia invadido o Planeta.
A invasão de cima, seu pedido de ajuda, como os invasores o derrubaram depois de matarem Cole a sangue frio.
Os empregados não fizeram perguntas, só ficaram sentados tomando café - alguém tinha feito café - e ficaram
ouvindo. Ninguém o ofereceu uma xícara.
"... e quando me recuperei, eu vim aqui". Reston disse, e correu uma trêmula mão sobre o cabelo,
estremecendo apropriadamente. Ele não precisava inventar tremores. "Eu - eles ainda estão por aí, em algum
lugar, talvez instalando explosivos, eu não sei... mas podemos impedi-los se trabalharmos juntos".
Ele podia ver em seus olhos que não estava funcionando, ele não os inspirava ação. Ele não era bom com
pessoas, mas podia lê-las bem o bastante.
Eles não estão acreditando, use Henry...
Os ombros de Reston pularam, um assombrado tom em sua voz. "Eles atiraram nele". Ele disse, olhando para
baixo, atordoado de tristeza. "Ele estava implorando, apelando para o deixarem viver, e eles - eles atiraram".
"Onde está o corpo?".
Reston olhou para cima, viu que Leo Yan tinha falado, um dos manipuladores de 3K. Yan não tinha nenhuma
expressão, apoiado na ponta da mesa de braços cruzados.
"O quê?". Reston perguntou, parecendo confuso, mas sabendo exatamente do que Yan estava falando. Pense,
droga, já devia ter pensado nisso -
"Henry". Alguém disse, e Reston viu que era Tom alguma coisa, da construção. Sua áspera voz estava
abertamente céptica. "Eles atiraram em Cole, te apagaram - então o corpo ainda está no bloco das celas,
certo?".
"Eu - eu não sei". Reston disse, sentindo-se quente e desidratado de tanto conhaque. Sentindo que não se
recuperaria da inesperada pergunta. "Sim, deve estar, a não ser que o moveram por algum motivo. Eu acordei
confuso, enjoado, eu queria achar vocês imediatamente, ter certeza de que não foram feridos. Eu não reparei se
ainda estava lá...".
Eles olharam para Reston, um mar de rudes faces que não estavam mais tão neutras. Reston viu descrença,
desrespeito e raiva - e nos olhos de um ou dois, viu rancor.
Por quê, o que eu fiz para inspirar tal desprezo? Eu sou o chefe e empregador deles, eu pago seus malditos
salários -
Um dos mecânicos se levantou da mesa e se adereçou aos outros. Era Nick Frewer, o que parecia ser o mais
popular entre eles.
"O que me dizem de sairmos daqui?". Nick perguntou. "Tommy, você tem as chaves do caminhão?".
Tom acenou. "Claro, mas não a chave do depósito".
"Eu tenho". Disse Ken Carson, o cozinheiro. Ele se levantou também, e aí a maioria estava de pé, se
espreguiçando e bocejando, terminando com o café.
Nick acenou. "Bom, todos façam as malas e estejam no elevador em cinco -".
"Esperem!". Reston disse, incapaz de acreditar no que estava ouvindo, que iriam fugir de suas obrigações. Que
podiam ignorá-lo. "Há mais na superfície, eles vão matar vocês! Vocês têm que me ajudar!".
Nick virou e olhou para ele, seu olhar calmo. "Sr. Reston, nós não temos que fazer nada. Eu não sei o que
realmente está acontecendo, mas acredito que você é um mentiroso - e posso não falar por todos, mas eu não
sou pago o bastante para ser seu guarda-costas.
Ele sorriu de repente, seus olhos azuis brilhando. "Além disso, eles não estão atrás de nós".
Nick virou e foi embora, e Reston pensou em atirar nele por um instante - mas só tinha seis balas e nenhuma
dúvida de que seus colegas cairiam em cima dele se ferisse um dos operários. Ele pensou em dizer que suas
vidas estavam acabadas, que não esqueceria dessa traição, mas não queria desperdiçar seu ar. E não tinha
tempo para isso.
Esconda-se.
Era tudo a se fazer.
Reston deu as costas para os insubordinados e correu, sua mente pensando nos lugares para ir, rejeitando
algumas opções por serem óbvias demais, muito expostas -
- e se decidiu. A bateria de elevadores, perto da ala médica. Era perfeito. Ninguém pensaria em olhar dentro de
um elevador que nem funcionava. Ele podia forçar a entrada em um deles e ficar a salvo lá dentro. Ao menos por
um tempo, até pensar em outra coisa para fazer.
Suando, apesar do frio cinza do quieto corredor principal, Reston virou à direita e começou a correr.
Depois do que pareceram horas de descida pelo escuro e frio duto do barulhento elevador, eles chegaram ao
fundo.
Ou no topo, dependendo de como você olha, Claire pensou, enquanto a lanterna de David acendia e o motor
desligava. Eles pararam em cima de uma cabine de elevador, vazia exceto por uma escada de mão ao lado.
Eles saíram do quadrado de metal, Claire aliviada por voltar a uma superfície mais sólida. Descer por um poço
aberto de elevador onde um passo em falso podia levá-la à morte não era sua idéia de diversão.
"Acha que alguém nos ouviu?". Claire perguntou, e viu silhueta de David mexer os ombros.
"Mesmo se estivessem a trezentos metros daqui, acho que sim". Ele disse. "Espere, eu vou descer...".
Claire acendeu sua lanterna enquanto David sentava, segurando as pontas do painel e se abaixava. Enquanto
movia a escada, Rebecca também ligou a lanterna, e Claire viu seu rosto.
"Ei, você está bem?". Claire perguntou, preocupada. Rebecca parecia doente, muito pálida e com olheiras
escuras.
"Sim, já estive melhor, mas vou sobreviver". Ela disse de leve.
Claire não estava convencida, mas antes de insistir no assunto, David as chamou.
"Certo - deixem os pés pendurados, eu os guiarei até os degraus e as ajudarei a descer".
Claire acenou para Rebecca ir primeiro, decidindo que se ela não conseguisse funcionar, provavelmente diria algo.
Enquanto David ajudava Rebecca, ocorreu a Claire que ela não diria nada se estivesse na pele da garota.
Eu iria ajudar, e não gostaria de ser deixada para trás; eu continuaria mesmo se isso fosse me matar...
Claire limpou a mente, passando pelo teto do elevador. Rebecca não era tão rebelde, ela era médica. Ela era
normal.
Assim que desceu, David acenou para Claire e os dois puxaram as frias portas de metal, Rebecca mirando sua
semi aleatoriamente na abertura que aumentava. Quando conseguiram afastar as portas alguns centímetros,
David saiu primeiro e depois acenou para o seguirem.
Uau...
Ela não sabia ao certo o que veria, e um corredor cinza não era uma das possibilidades. Ele se prolongava à
direita, terminando numa porta, e virava à esquerda, cerca de seis metros do elevador que levava à leste. Claire
não sabia sobre as direções, mas sabia que o elevador que Leon e John pegaram estava à sudoeste -
considerando que desceu reto.
Estava silencioso, perfeitamente quieto. David moveu a cabeça para a esquerda, indicando que seguiriam naquela
direção, as duas garotas acenaram.
Podemos começar pelo elevador, ver se podemos descobrir que caminho seguiram...
Claire olhou Rebecca de novo, sem querer encará-la porém insegura sobre sua saúde, ela não parecia bem e
quando Rebecca virou para a curva do corredor, Claire viu o olhar de David, acenando de leve na direção da
médica, franzindo.
Ele hesitou, e ela viu que ele sabia sobre a condição de Rebecca. Pelo menos -
- e Rebecca soltou um agudo grito de surpresa, já na curva -
- assim que um homem de terno azul apareceu e a agarrou, tirando a arma da mão dela e colocando um
revólver em sua cabeça.
Ele travou seu braço no pescoço dela, apertando, e virou seus selvagens olhos para eles, seu dedo no gatilho, um
trêmulo sorriso em seu velho rosto.
"Eu vou matá-la! Eu vou! Não me façam matá-la!".
Rebecca segurou o braço dele e ele apertou mais, suas mãos tremendo e seus olhos azuis intercalando entre
David e Claire. Rebecca fechou um pouco os olhos, seus dedos cedendo e Claire viu que estava muito fraca, que
estava a ponto de um colapso.
"Vocês não vão me matar, fiquem longe! Fiquem longe ou eu mato ela!".
O cano do revólver estava apertado na cabeça dela, se David ou Claire se moverem...
Eles só olharam enquanto o maluco começou a recuar, arrastando Rebecca para a porta no fim do corredor.
[20]
Foi assustadoramente fácil tirar Fóssil do coma. Em questão de momentos, Leon entrou no programa de
monitoramento e descobriu como drenar o cilindro. De acordo com o relógio digital que surgiu na tela, só levaria
cinco minutos.
Deus, qualquer um trabalhando aqui poderia ter feito isso, a qualquer hora. Para uma companhia tão paranóica, a
Umbrella dá muita moleza...
"Ei, olhe isso". John disse, e Leon virou-se do pequeno computador, olhando cautelosamente para o monstro.
Mesmo depois de sobreviver ao inferno de Raccoon, depois de lutar com zumbis e aranhas gigantes e até mesmo
com um crocodilo gigante, essa foi a coisa mais estranha que já tinha visto.
John estava de pé na parede do outro lado da sala, olhando para uma pintura laminada. Assim que se aproximou,
Leon viu que era um mapa do Planeta, cada área claramente identificada. O complexo tinha um layout bem
simples, basicamente um corredor que cercava as quatro fases, a maioria dos escritórios e salas em pequenas
partições do corredor.
John tocou um pequeno quadrado à leste, logo depois do elevador de serviço. "Aqui diz 'controle de teste/sala de
monitoramento,'". Ele disse. "e fica a caminho da saída".
"Você acha que Reston se escondeu lá?". Leon perguntou.
John balançou os ombros. "Se ele estava vendo as fases, é lá que deveria estar - o que me intriga é se ele não
deixou aquele livro por lá".
"Não custa tentar". Leon disse. "Vai levar uns cinco minutos para esvaziar o tubo, dá tempo - considerando que o
elevador não seja um problema".
John virou para olhar Fóssil, adormecido no gel. "Você acha que ele vai mesmo acordar?".
Leon acenou. As condições listadas no programa de monitoramento pareciam boas, a pulsação e a respiração
indicando sono profundo; não haveria porque não acordar quando o quente nutriente for drenado.
E provavelmente acordará com frio, bravo e faminto...
"É". Leon disse. "E não queremos estar aqui quando isso acontecer".
John sorriu um pouco, não seu sorriso normal, mas um sorriso. "Então vamos". Disse suavemente.
Leon voltou para o computador, banhado pelo reflexo vermelho do tubo. Fóssil flutuava pacificamente, um
gigante adormecido. Uma monstruosidade criada por monstruosas pessoas, levando uma vida inútil num lugar
construído para a morte.
Derrube tudo, Leon pensou e apertou "enter". O relógio começou a retroceder; eles tinham cinco minutos.
David achou que era Reston, mas não dava para saber. Não importava; só queria saber como tirar Rebecca dele,
e enquanto o enlouquecido homem de terno azul recuava para a porta, David percebeu que não havia nada para
fazer.
Ainda não.
"Vão embora! Me deixem em paz!". O homem - Reston - gritou, e desapareceu. Rebecca se foi, e fraca como
parecia antes da porta fechar, deixou David muito assustado.
"O que faremos?".
Ele olhou para Claire, viu a ansiedade e o medo no rosto dela, fazendo-o respirar fundo, exalando
vagarosamente. Eles não fariam nada se entrassem em pânico -
- e acabaríamos matando ela.
"Fique calma". Ele disse, sem sentir nada. "Nós não conhecemos o lugar, não podemos dar a volta e cercá-lo...
nós teremos que seguí-lo?".
"Mas ele -".
"Sim eu sei o que ele disse". David interrompeu. "Não há alternativas. Nós deixaremos eles ganharem distância e
depois os seguiremos".
E esperamos que não seja tão instável quanto parece.
"Claire - é uma tarefa cautelosa, não podemos fazer barulho. Talvez seja melhor você ficar aqui...".
Claire balançou a cabeça, um olhar de determinação em seus olhos. "Eu consigo". Disse, firme e clara. Ela não
tinha dúvidas, e apesar de não ser treinada, provou ser rápida e equilibrada.
David acenou e ambos andaram para esperar na porta, dois minutos a não ser que ouçamos algo, abriremos a
porta devagar -
Ele se forçou a respirar fundo novamente, bravo consigo mesmo por tê-la trazido com eles. Ela estava exausta e
ferida, não conseguiria lutar se Reston decidisse apertar mais sua garganta...
Não. Agüente firme, Rebecca. Nós estamos indo, e podemos esperar a noite toda para achar uma oportunidade.
Eles esperaram, David rezando para que Reston não a machucasse, jurando que se o fizer, arrancaria seu fígado
e o faria comê-lo.
***
Eles procuraram pelo elevador no interminável corredor, sem correr. O refeitório estava vazio e uma rápida
procurada nos dormitórios disse a John que os funcionários tinham fugido. Havia claros sinais de que eles estavam
com pressa em arrumar as coisas.
Espero que Reston ainda esteja aqui...
Enquanto corriam à norte pelo corredor, John decidiu que se Reston ainda estiver na sala de controle, ele o
nocautearia. Um bom e sólido soco na cara; e se não levantar antes do Fóssil, já era.
Os dois passaram pela entrada da sala de controle, ambos sabendo que precisariam mais de um elevador
funcionando do que de Reston, e como Leon disse, eles não queriam estar presentes no grand finale do Planeta.
O painel aberto na parede e a pequena luz sobre o aviso "em uso" foram o suficiente para fazer John sorrir como
criança. Um alívio, pois eles se arriscaram soltando Fóssil antes de garantir uma rota de fuga.
Leon chamou o elevador, também aliviado. "Dois, dois minutos e meio". E John acenou.
"Só uma olhadinha". Ele disse, e virou para a pequena quebra no corredor. Leon estava sem balas, mas John
ainda tinha algumas na M-16 caso Reston fizesse algo estúpido.
A porta estava destrancada. John foi primeiro, varrendo a grande sala com o rifle, e ficou espantado com o lugar.
"Caramba". Ele disse de leve. Uma fileira de cadeiras de couro de frente para uma parede cheia de monitores.
Um carpete vermelho escuro de veludo. Um brilhante e ultra-moderno console prateado e polido, e uma mesa
que parecia de mármore branco atrás.
Pelo menos não temos que revirar tudo...
Exceto por uma mesinha de café e um cantil prateado no console, não havia nada para ver. Nenhum papel ou
coisas de escritório, nem itens pessoais nem livro de códigos secretos.
"Provavelmente temos que ir". Leon disse. "Estou estimando tempo aqui, eu odiaria me atrasar".
"Tá bom, vamos -".
Houve movimento na parede de monitores, no meio da segunda fileira de cima para baixo. John se aproximou,
imaginando o que seria, os empregados se foram e havia duas pessoas na tela, não pode ser -
"Essa não". John disse, e sentiu seu estômago cair, seu olhar horrorizado fixado na tela.
Reston com uma arma. Arrastando Rebecca por um corredor, seu braço em volta do pescoço dela, seus pés
arrastando no chão, sua cabeça pendurada, seus braços frouxos.
"Claire!".
John olhou para Leon, que estava olhando para outro monitor, viu David e Claire armados, andando rapidamente
por outro corredor.
"Dá pra reencher o tubo?". John falou, seu estômago ainda amarrado, mais aterrorizado do que esteve durante a
noite toda, aquele miserável pegou a 'becca -
"Não sei,". Leon disse rapidamente. "podemos tentar, mas temos que ir agora -".
John se afastou dos monitores, procurando o laboratório num deles, sua exaustão sumindo quando mais
adrenalina caiu em sua circulação.
Ali, uma sala escura, uma única luz apontada para o tubo, para a inquieta coisa lá dentro. Em segundos, mãos
ensopadas socaram o material, arranhando, estraçalhando, uma grande e pálida perna réptil atravessando o
vidro.
Tarde demais: Fóssil acordou.
[21]
A criatura designada ReH1a da série Tyrant, mais conhecida como Fóssil, estava puramente motivada pelo seu
único instinto: comer. Todas as suas ações vinham desse único e primário impulso. Se houver algo entre ele e a
comida, Fóssil o destruiria. Se algo o atacar, se algo tentar tirá-lo da comida, Fóssil o mataria. Não havia impulso
reprodutivo porque Fóssil era o único membro de sua espécie.
Fóssil acordou com fome. Ele sentia a comida, em cargas elétricas no ar, mornas ondas de calor - e destruiria o
que a tivesse. O ambiente não era familiar para Fóssil, mas não importava; continha comida e estava com fome.
Com três metros de altura e pesando cerca de quatrocentos e cinqüenta quilos, a parede que separava fóssil da
comida não agüentou muito tempo. Havia outra parede depois da primeira, e mais outra - e as ricas sensações e
cheiros de comida estavam perto, muito perto para que Fóssil sentisse uma emoção: ele queria, uma coisa que ia
além da fome, uma poderosa extensão de seu instinto que o encorajava a ir mais rápido. Fóssil comeria qualquer
coisa, porém comida viva o fazia querer mais.
A parede que o separava da comida era mais grossa e mais dura que as outras, mas não o suficiente para que
Fóssil parasse. Ele rasgou as camadas da substância e saiu num lugar estranho, nada orgânico além do arrastar
de comida.
A comida corria para ele, era difícil de ver, mas cheirava forte. A comida ergueu uma garra e a varreu em Fóssil,
gritando de raiva, com desejo de atacar e matar; Fóssil sabia por causa do cheiro. Em segundos, Fóssil foi
cercado pela comida e de novo, ele quis. Os animais que eram comida uivaram e gritaram, dançando e pulando.
Fóssil se esticou e pegou o mais próximo.
A comida tinha unhas afiadas, mas a pele de Fóssil era grossa. Ele mordeu a comida, rasgando um grande
pedaço do corpo contorcido, e se encheu. Seu senso de propósito alcançado assim que mastigou e engoliu,
sangue quente descendo pela sua garganta, carne quente rasgando entre seus dentes.
Os outros animais continuaram atacando, ficando fácil para Fóssil comer. Ele comeu toda a comida em pouco
tempo e seu metabolismo a consumiu no mesmo período, dando à Fóssil mais força para encontrar mais. Era um
processo extremamente fácil que continuaria enquanto estivesse vivo.
Terminando com a escura e cavernosa sala que continha a barulhenta comida, Fóssil lambeu o sangue dos dedos
e abriu os sentidos, procurando pela próxima refeição. Em segundos, descobriu que havia mais, se mexendo por
perto.
Fóssil queria. Fóssil estava com fome.
[22]
A garota estava mau, sua pele branca e suas tentativas de se soltar inúteis e fracas. Reston queria se livrar dela,
largá-la e correr, mas não ousou. Ela era sua passagem para superfície; certamente não matariam um dos seus.
Ainda assim, ele queria que ela não estivesse tão doente. Ela o estava atrasando, quase incapaz de andar, e não
tinha escolha além de continuar carregando ela, ao norte pelo corredor de trás, depois a leste no canto mais
distante do complexo, na direção da porta do bloco das celas. De lá, o elevador de serviço ficaria a dois minutos
de caminhada.
Quase lá, quase no fim desta impossível e incrível noite, falta pouco...
Ele era um homem extremamente importante, era um respeitado membro de um grupo que tinha mais poder e
dinheiro que alguns países, ele era Jay Wallingford Reston - e ali estava, sendo caçado em seu próprio território,
forçado a fazer uma refém, colocando uma arma em sua cabeça e fugindo como um criminoso; era ridículo e
inacreditável.
"Muito apertado". A garota sussurrou, sua voz esganada e áspera.
"Que pena". Ele respondeu, continuando a arrastá-la pelo fino pescoço; ela devia ter pensado nisso antes de
invadir o Planeta.
Ele a puxou pela porta que dava acesso ao bloco das celas, sentindo-se melhor a cada passo. Cada passo o
deixava mais perto da saída, da sobrevivência. Ele não seria caçado por um grupo de capangas justiceiros sem
visão; ele se mataria antes.
Passadas as celas vazias, quase na porta - e a garota tropeçou, caindo nele tão forte que quase o derrubou. Ela
agarrou forte nele, tentando recuperar o equilíbrio, e Reston sentiu uma súbita leva de raiva por ela.
Vagabunda estúpida, assassina, espiã, eu devia atirar em você aqui, agora, e espalhar seu preguiçosos miolos
nas paredes -
Ele recuperou o controle antes de apertar o gatilho, a perda de compostura o assustando um pouco. Teria sido
um erro, e teria custado caro.
"Faça isso de novo e eu te mato". Ele disse friamente e chutou a porta que dava no corredor principal, gostando
do quanto impiedosa sua voz tinha soado. Tinha soado forte, como um homem que não hesitaria matar se
servisse seus propósitos - os quais descobriria seja lá quais fossem.
Depois da porta, já no corredor -
"Deixe-a ir, Reston!".
John e Ruivo estavam na curva, ambos apontando suas armas para ele. Bloqueando a passagem para o
elevador.
Imediatamente, Reston arrastou a garota de volta para dentro enquanto decidia o que fazer -
"Esqueça". Ruivo gritou. "Eles estão atrás de você, nós os vimos te seguindo. Você está cercado".
Reston apertou o cano da arma na cabeça da garota desesperado, eu tenho a refém, eles não podem, eles tem
que me deixar ir -
"Eu vou matá-la!". Ele recuou de novo, indo para a ante-sala do programa de teste, a garota forçando para ficar
de pé.
"E depois nós matamos você". John disse, sem um pingo de mentira em sua voz. "Se você machucá-la, nós
vamos te machucar. Solte-a e nós vamos embora".
Reston alcançou a porta de metal e apertou o botão que destrancava a porta da Fase Um.
"Você não quer que eu acredite nisso". Ele sorriu assim que a porta subiu; só restava um Dac vivo e havia
deixado as jaulas abertas - eu posso subir, ainda posso fugir deles, não é tarde demais!
Naquele segundo, a porta do bloco das celas abriu e os outros dois apareceram - entre Reston e os outros dois, e
agiu antes de pensar, aproveitando a chance.
Reston empurrou a garota, com força, jogando-a contra os quatro e pulando à esquerda no mesmo instante,
acertando a porta com o ombro. A porta para a Um abriu e ele passou, fechando-a. Havia uma trava e ele a
acionou, o metal soando como música.
Quanto mais longe das clareiras mais seguro estaria. Eles não podiam tocá-lo.
Fortes mãos a seguraram antes de cair no chão - e podia respirar de novo - e John e Leon estavam vivos... o
alívio era um oceano de calor crescendo nela, fazendo-a se sentir ainda mais fraca. O sufocamento prolongado
tirou quase toda a pouca força que ainda tinha. E pensar nisso fez suas duas pernas carregarem algo como a
morte; como cocô no biscoito; costumava dizer isso quando criança...
Claire a segurou - eram as fortes mãos de Claire - e todos se juntaram entorno dela, John a levantando
facilmente.
Rebecca fechou os olhos, relaxando na exaustão.
"Você está bem?". David perguntou, e ela acenou, aliviada e feliz por estarem juntos de novo, por ninguém ter se
ferido -
- ninguém exceto eu -
- e sabia que quando puder descansar, ficaria bem.
"Nós temos que sair daqui, agora. Leon disse, uma urgência em sua voz que fez Rebecca abrir os olhos, a
confortante sonolência sumindo instantaneamente.
"O que foi?". David perguntou, sua voz aguda.
John virou e começou a carregá-la pelo corredor rapidamente, chamando por sobre os ombros. "Nós dizemos na
subida, mas temos que ir o mais rápido possível, sem brincadeira".
"John?". Ela disse, e ele olhou para baixo, dando um sorriso, seus olhos escuros contando uma história diferente.
"Nós ficaremos bem,". Ele disse. "é só relaxar e começar a inventar histórias sobre seu ferimentos de guerra para
nós".
Ela nunca o viu tão inseguro. Ela começou a dizer que os ferimentos não a tinham deixado burra -
- quando um tremendo barulho veio de algum lugar à frente, um som como paredes sendo quebradas, como
vidro explodindo, como um touro numa loja chinesa -
- e John virou, correndo por onde vieram - não conseguia ver, mas ouviu o forte suspiro de Claire, ouviu David
dizer desacreditado, "Ah, meu Deus", e sentiu seu coração parar de bater com medo.
Algo muito ruim estava vindo.
[23]
Droga, não estamos rápido o bastante -
Numa nuvem de poeira e entulho, concreto e gesso, Fóssil bateu na parede da frente do elevador como a visão
do inferno. Seu focinho e mãos estavam vermelhos, espirros da violenta cor sobre o adoentado branco de sua
pele, seu gigante corpo enchendo o corredor.
"Clip!". Leon gritou, sem tirar o olhar do assombroso monstro, ainda a uns trinta metros à frente deles e não
longe o bastante. Ele ejetou o clip vazio de sua H&K, sem saber que Claire havia lhe dado um cheio enquanto
Fóssil dava um passo até eles -
- e David estava disparando a M-16, o estouro das balas no longo corredor, Fóssil dando outro longo passo
enquanto Leon carregava a arma. De repente John estava ao seu lado, pegando um clip para a metralhadora
com David, Claire do outro lado de David, os quatro mirando na criatura.
Leon achou o olho direito do monstro e apertou o gatilho, o som da 9mm perdido no meio do tiroteio, todos
atirando -
- bambambam, os sons se misturaram, ensurdecendo, Fóssil entortando a cabeça como se estivesse curioso,
dando outro passo contra a parede de balas.
"Recuem!". David gritou, e Leon recuou um passo, horrorizado pela falta de ferimentos de Fóssil. Se estava
doendo, não dava para ver, mas era tudo o que tinham. Ele tentou os olhos de novo -
- e ouviu Claire gritar algo, virando e vendo que ela tinha uma granada e a estava entregando à David.
"Vai, vai, vai!". David gritou, e John puxou o braço de Leon e ambos correram, Claire os guiando, Leon rezando
para estarem longe o bastante e não serem pegos pelos estilhaços de metal quente.
Claire correu, aterrorizada, nunca tinha visto algo assim. Um pesadelo branco manchado de vermelho, um sorriso
curvo com afiados dentes, e suas mãos, dedos longos e vermelhos -
- o que é ele, como é -
"Atire no buraco!". David gritou, e Claire pulou, tentando voar, vendo naquele segundo o rosto pálido e cansado
de Rebecca, a garota se jogando na parede de trás ainda a trinta metros de distância -
- e BOOM, ela estava voando, John à sua direita, um quente corpo caindo em suas costas - e todos caíram no
chão, Claire tentando cair sobre o ombro, mas aterrissou forte sobre o braço.
Ai ai ai!
David tinha se jogado nela, ou de propósito ou pela explosão, e quando sentou e virou, o achou franzindo de dor.
Ela viu dois, três pedaços escuros de metal fincados em suas costas, atravessando a vestimenta especial, e foi
ajudá-lo -
- e viu o monstro ainda de pé. Esfregando o peito e a barriga, as marcas escuras dos fragmentos. Algumas
lascas furaram sua carne - mas era difícil dizer com seu silêncio - e não parecia bravo do modo como deu outro
passo. Ele abriu a boca, sua pesada mandíbula de lagarto - expondo fiapos de uma carne desconhecida em seus
dentes. Silenciosamente, ele deu outro passo, sorrindo, e Claire imaginou que podia sentir seu hálito de carne ou
seja lá o que estava apodrecendo dentro dele -
Caia fora daí!
Ela se levantou, ignorando a dor em seu braço, abaixando para pegar a mão estendida de David e puxá-lo. No
segundo em que ele se levantou, ela apontou sua 9mm e começou a atirar de novo, sabendo que não era
suficiente, não sabendo mais o que fazer.
Quatro ferimentos, todos nas costas, todos queimando. David soprou o ar por entre os dentes, considerando a
dor suportável e a deixando de lado. O monstro não tinha caído, podia ter ficado mais lento, mas não estava
parando, e não tinham nada pior para jogar além de tudo o que já tinham tentado.
Corram, nós teremos que correr -
Mesmo enquanto pensava, ele estava abrindo a boca para gritar, para ser ouvido por John, Leon e Claire
enquanto esvaziavam suas armas, as balas tão inúteis quanto a granada.
"John, pegue Rebecca! Recuem, nós não podemos com ele!".
John já foi, Leon e Claire deslizando para trás e atirando - com a pequena esperança de que pudessem causar
algum dano, que uma das balas pudesse acertar alguma coisa que doesse.
"David, nós podemos entrar na área de teste, aço reforçado!". John gritou e David não estava certo do que eles
estavam falando, entendendo apenas "aço reforçado". Provavelmente não seria suficiente, mas os daria algum
tempo para bolar um plano.
"Faça isso!". David gritou, e o monstro deu dois, três passos, aparentemente sem se preocupar em hesitar.
Naquela velocidade, estaria neles em alguns segundos.
"Corram atrás de John!". Ele gritou, e deu a Leon e Claire um segundo de cobertura antes de virar e seguí-los.
Aço, aço reforçado - um pensamento que pulava em sua mente enquanto corria, Claire e Leon fazendo a curva,
a quina passando por ele enquanto via Rebecca e John na sala no fim do corredor. A sala para onde o maluco
tinha ido.
"David, aperte os botões, feche a porta!". John gritou e David viu os controles, as pequenas luzes sobre os
botões circulares, e foi até eles, ainda correndo.
Claire e Leon estavam dentro. David esticou os braços e socou o maior dos botões, esperando que fosse o certo
-
- e entrou na sala enquanto a placa de metal guilhotinava o ar logo atrás, perto o bastante para senti-lo em seu
pescoço.
Ele girou a tempo de ver o branco corpo da criatura acertar a porta, seu peito pressionando contra a grossa
janela de vidro. A porta tremeu e David viu que não duraria muito tempo.
Agüente por favor, só um minuto -
Ele virou, viu Leon na porta menor da parede sul, viu terror em seus olhos, a cor tinha abandonado seu rosto,
sua trêmula mão na maçaneta.
"Trancada". Ele disse, e lá fora o monstro batia na porta outra vez..
Reston ouviu o barulho quando estava pensando em como subir na jaula dos Av. A abertura estava a três
metros e meio do chão e não havia escada. A árvore mais próxima estava a uns dois metros, impossível - a
única saída era por onde veio, e não ousaria voltar para o corredor principal. Ele já tinha se convencido a subir na
árvore e tentar o pulo quando ouviu as batidas ecoarem da Fase Dois.
Reston andou até a porta de conexão, curioso apesar do medo. As fases eram muito bem protegidas
acusticamente; um barulho como aquele só poderia ter sido de uma bomba ou de uma equipe de demolição...
... então é uma bomba. Eles implantaram explosivos, aqueles monstros.
Explosivos...
Reston esperou na porta por um momento e não ouviu mais nada. O Dac solitário deu um berro em algum lugar
da câmara, aparentemente abatido com a perda de seus irmãos; ele não tentou atacar.
A Fase Dois estava diretamente atrás da sala de controle, uma parede duas vezes mais grossa entre elas, o que
nos leva a crer que os renegados explodiram o centro de controle, a mais importante - e mais cara - sala do
Planeta. Não havia alvo melhor; o complexo é praticamente inútil sem a sala de controle.
Talvez me arranjaram outra saída...
- e se foram...?
Reston não faria apostas sobre os mercenários bárbaros terem finalmente ido embora, deixando os restos do
Planeta para trás -
Se foram, ele conseguirá sair. Talvez não só do Planeta mas da White Umbrella também. Ele estava certo de que
Jackson o mataria pelo que aconteceu... mas não se Reston desaparecesse.
Algumas centenas de milhares para Hawkinson, uma carona para um lugar seguro...
Podia funcionar se estimasse o tempo certo, mudasse de nome, identidade, e fosse para longe, bem longe.
Funcionaria, sim.
Acenando para si mesmo, ele abriu a porta da Dois, incerto sobre o que esperar - e ainda assim foi uma surpresa
ver os enormes buracos em duas da paredes do deserto, o cimento, madeira e aço em pedaços; cada buraco
tinha pelo menos três metros de largura por seis de altura. Ele não viu fumaça e imaginou que os sabotadores
usaram algum tipo de composto ultra-moderno, algum material que gentinha como aquela sempre tinha acesso.
O calor ainda era forte apesar das luzes, porém mais fresco com a nova ventilação - apesar de ter escutado por
longos segundos, não ouviu nada que indicasse a presença deles. A não ser que fosse alguma armadilha...
Reston balançou a cabeça, impressionado com a própria paranóia. Agora que decidiu ser livre e abandonar as
ruínas de sua vida, sentiu um tipo de elevação. Uma sensação de novas possibilidades, um renascimento. Eles se
foram, completaram a missão, arrasaram o Planeta. Reston andou pela quente areia, pulando pedaços de Scorps
espalhados, finalmente subindo na duna para espiar o buraco.
Meu deus, eles conseguiram destruir tudo!
A destruição foi quase total, o buraco quase exatamente onde a parede dos monitores estava. Vidro, arames e
circuitos, um leve cheiro de ozônio - foi tudo o que sobrou do brilhantemente projetado sistema de retorno de
vídeo.
Quatro das cadeiras de couro foram arrancadas do chão, a mesa de mármore única partida em dois - e no canto
nordeste da sala havia outro gigante buraco cercado de destroços.
E através daquele buraco...
Reston podia ver o elevador. Funcionando, as luzes acesas e a plataforma no ponto.
Foi uma armadilha? Parecia bom demais para ser verdade - mas então ouviu uma distante pancada, em algum
lugar perto do bloco das celas, e pensou na sorte estar finalmente consigo; os empregados se foram e esse som
devia ser dos S.T.A.R.S.. Longe o bastante para estar a meio caminho da superfície antes que pudessem voltar.
Reston sorriu, maravilhado por terminar assim; parecia tão anticlimático, tão mundano...
... e eu estou reclamando? Não, nada de reclamações. Não de minha parte.
Reston cruzou o buraco, andando com cuidado para evitar os cacos de vidro.
A batalha com a comida o deixou com fome, o deixou ansioso; a parede na frente de Fóssil o deixando mais
empolgado para comer. Ele golpeou o forte obstáculo, sentindo o material ceder, ficar menos rígido -
- e apesar de não levar muito tempo para pegar os animais, Fóssil sentiu de repente o cheiro de comida nova. No
caminho por onde veio, comida livre e exposta, nada entre ela e Fóssil.
Ele voltará assim que a tiver comido. Fóssil virou e correu, faminto e querendo, determinado a comê-la antes que
fugisse.
Assim que Fóssil virou e correu, John começou a chutar a porta de aço, percebendo que era a única chance. A
incrível pancada que o monstro havia dado a deixou fraca, o grosso metal metade fora dos trilhos.
Claire e Leon começaram a chutar. Em segundos, eles a jogaram longe o bastante dos dentes de metal e acabou
caindo no chão - e segundos depois disso, eles estavam correndo para o elevador, David carregando Rebecca e
todos quietos. Fóssil voltaria, todos sabiam e não teriam chance contra ele.
"NÃO! NÃO! NÃO!".
Um homem estava gritando e quando John fez a curva, viu que era Reston, viu que estava correndo pelo longo
corredor, Fóssil se aproximando rapidamente.
Eles correram, John imaginando quanto tempo levaria para o monstro comer um ser humano inteiro. E quando
alcançaram o elevador, cruzaram as portas e Leon puxou a grade -
- todos ouviram o lamentável grito se elevar a uma intensidade sobrenatural - e parar de repente, interrompido
por um pesado e molhado som de esmagamento.
O elevador começou a subir.
[24]
Rebecca estava adormecida, o som do elevador tão calmo quanto o coração de David. Cansada como estava,
ela levantou uma incrivelmente pesada mão até o fino e preto livro preso no cinto de sua calça. Reston nem tinha
percebido, aparentemente não sabia que podia fingir um tropeço tão bem.
Ela pensou em dizer aos outros, em quebrar o silêncio no elevador para dá-los a notícia, mas achou melhor
esperar; eles mereciam a agradável surpresa.
Rebecca fechou os olhos, descansando. Eles ainda tinham um longo caminho, mas o quadro estava mudando; a
Umbrella iria pagar por seus crimes. E eles cuidariam disso.
[Epílogo]
Com John e David segurando a jovem Rebecca, e Leon e Claire sorrindo um para o outro como namorados, os
cinco exaustos soldados saíram da tela para a gentil manhã de Utah...
Suspirando, Trent reclinou em sua cadeira, girando ansiosamente seu anel de ônix. Ele esperava que tirassem um
ou dois dias de descanso antes da próxima grande batalha... talvez a última; eles mereciam um pouco de
descanso depois de tudo o que fizeram. Caso sobrevivessem ao que está por vir, ele terá que recompensá-los
amplamente.
Considerando que eu ainda estarei na posição de dar presentes...
Ele certamente estará. Quando, e se Jackson e os outros descobrirem o que realmente estava fazendo, ele terá
que desaparecer - mas haviam meia dúzia de identidades irrastreáveis que poderia escolher em qualquer canto do
mundo, cada uma delas extremamente bem remuneradas. E a White Umbrella não tinha condições de localizá-lo.
É verdadde que eles tinham poder e dinheiro, mas simplesmente não eram espertos o bastante.
E eu já vim até aqui?
Trent suspirou de novo, lembrando para não pensar com maldosa satisfação, pelo menos ainda não. Não valeria
a pena ser super confiável, ele sabia; homens melhores que os dele já morreram nas mãos da Umbrella. De
qualquer forma, ou Trent ou eles estariam mortos. E fim do problema, de um modo ou de outro.
Ele se levantou, esticando os braços sobre a cabeça e balançando os ombros para tirar a tensão; o satélite
"pirata" o permitiu ver e ouvir quase tudo e foi um noite longa e movimentada. Algumas horas de sono era tudo o
que precisava. Ele planejou ficar isolado até meio-dia, mas teria que ligar para Sidney - e o velho bebedor de chá
já devia estar agitado a essa hora, junto com os outros. Os misteriosos serviços do Sr. Trent seriam investigados
em breve, e ele teria que pegar o próximo avião; por mais que quisesse ver Hawkinson voltar e tentar derrubar
Fóssil, Trent precisava dormir mais.
Trent desligou os monitores e saiu de sua sala de operações - uma sala de estar com alguns caros ajustes - e foi
para a cozinha, que era uma cozinha normal.
A pequena casa no interior de Nova York era seu esconderijo além de lar; era dali que conduzia a maior parte de
seu trabalho. Não o grandioso e intrigante trabalho que fazia na White Umbrella, mas, sim, seu verdadeiro
trabalho. Se alguém investigasse o lugar, descobriria que a casa Vitoriana de três dormitórios pertencia a uma
velha senhora chamada Helen Black. Uma piada das suas.
Trent abriu a geladeira e tirou uma garrafa de água mineral, pensando em como Reston ficou em seu último
momento, olhando para face de sua própria morte. Adorável trabalho, esse, usando Fóssil contra ele; foi
realmente uma pena em relação a Cole. O homem teria sido uma adição para a pequena, porém crescente
resistência.
Levando a água escada acima, Trent usou o banheiro e depois andou pelo curto corredor, pensando no tempo
que ainda tinha. Nas primeiras semanas de contato com a White Umbrella, ele meio que esperava ser chamado à
sala de Jackson e levar um tiro sumariamente. Mas as semanas viraram meses e não recebeu um suspiro de
dúvida - de ninguém.
Em seu quarto, ele separou as roupas para o vôo e se despiu, decidindo que faria as malas enquanto tomava o
café, depois de ligar para Sidney. Apagando a luz, Trent sentou-se na cama por um momento, tomando um gole
da garrafa de água, repassando seus meticulosos planos para a próxima semana. Ele estava cansado, mas o
objetivo de sua vida estava finalmente sendo alcançado; não era tão fácil pegar no sono quando se estava a um
passo de culminar três décadas de planejamento e sonhos, de um desejo guardado por tanto tempo que o havia
transformado no que era...
A reta final, pensou. Ainda havia várias coisas que precisavam acontecer antes de acabar, e a maioria delas
tinham a ver com o quanto bem seus rebeldes haviam se saído. Ele tinha fé neles, mas sempre havia chance de
falharem - e na qual teria que começar tudo de novo. Não do zero, mas seria uma difícil retomada.
Eventualmente...
Trent sorriu, colocando a água no criado mudo e deslizando sob o cobertor. Eventualmente, o mal da White
Umbrella seria exposto ao clarear do dia. Matar os jogadores seria fácil, mas não ficaria satisfeito; ele queria vê-los
destruídos, financeira e emocionalmente, suas vidas tiradas em todos os sentidos. E quando esse dia chegar,
quando os líderes terminarem de ver seu preciosos esforços virando cinzas, ele estaria lá. Estaria lá para dançar
no cemitério de seus sonhos. E seria um belo dia.
Trent repassou seu discurso mentalmente, o discurso que ensaiou durante toda a vida para aquele dia. Jackson e
Sidney teriam que estar lá, tal como os "garotos" europeus e os financiadores do Japão, Mikami e Kamiya. Todos
eles sabiam da verdade, todos foram co-conspiradores na traição...
Eu estou de pé na frente deles, sorrindo, e aí digo. "Um pouco de história, caso tenham se esquecido".
"No começo da história da Umbrella - antes de haver algo como a White Umbrella - havia um cientista chamado
James Darius. Dr. Darius era um ético e comprometido microbiologista que, ao lado de sua amada esposa Helen -
uma doutora em farmacologia - gastou incontáveis horas desenvolvendo uma síntese reparadora de tecidos para
seus empregadores, um que James havia criado sozinho. Esta síntese que ocupou tanto o tempo de Darius, era
um complexo viral brilhantemente projetado que - se bem desenvolvido - tinha o potencial de reduzir incrivelmente
o sofrimento humano, podendo evitar a morte por sofrimento traumático um dia antes.
Ambos James e Helen tinham as maiores esperanças por seu trabalho - e eram tão responsáveis, tão leais e
confiantes que imediatamente foram à Umbrella, assim que perceberam o potencial do que estavam criando. E a
Umbrella Inc. também percebeu o potencial. Mas o que ela viu foi um afogamento financeiro caso esse milagre
fosse realizado. Imagine todo o dinheiro que uma companhia farmacêutica poderia perder se milhões de pessoas
parassem de morrer todo ano; então imagine o dinheiro que poderia ser feito com esse complexo viral para fins
militares. Imagine o poder.
Com incentivos assim, a Umbrella realmente não teve escolha. Ela tirou a síntese de Darius, levou as anotações e
pesquisa entregando tudo a um jovem e brilhante cientista chamado William Birkin, recém saído da adolescência e
já chefe de seu próprio laboratório. Birkin era um deles, veja. Um homem com a mesma visão, a mesma falta de
moral, um homem que podiam usar. E com sua própria marionete no lugar, eles perceberam que ter o bom Dr.
Darius por perto seria um inconveniente.
Então houve um incêndio. Um acidente; foi o que disseram, uma terrível tragédia - dois cientistas e três leais
assistentes carbonizados. Tão ruim, tão triste, caso encerrado - e assim surgiu a divisão da Umbrella chamada
White Umbrella. Pesquisa com armas biológicas. Um parque de diversões para os ricos sujos e seu bajuladores,
para homens que perderam qualquer coisa que lembrasse uma consciência há muito, muito tempo". Eu sorrio de
novo. "Por homens como vocês".
"A White Umbrella pensou em tudo, ou assim acreditavam. O que não consideraram - ou por terem pouca visão
ou por serem ignorantemente desligados - foi que o jovem filho de James e Helen, seu único filho, estava
estudando num internato enquanto seus pais eram queimados vivos. Talvez simplesmente esqueceram dele. Mas
Victor Darius não esqueceu. De fato, Victor cresceu pensando no que a Umbrella tinha feito, ou devo dizer
obcecado por isso. Chegou um tempo em que Victor não pensava em outra coisa. Foi quando decidiu fazer
alguma coisa.
"Para vingar seu pai e sua mãe, Victor Darius sabia que deveria ser extremamente engenhosos e muito, muito
cuidadoso. Desse modo, passou anos planejando. Anos aprendendo o que precisava e ainda mais, fazendo
contatos certos e movendo-se nos círculos certos, sendo mais solitário e secreto que seu inimigo. E um dia ele
assassinaria a Umbrella do mesmo jeito que assassinaram seus pais. Não era fácil, mas estava determinado, e
devotou sua vida inteira para o projeto".
Eu sorrio e digo. "Ah, e eu não mencionei que Victor Darius mudou de nome? Seria arriscado, mas decidiu usar o
nome do meio de seu pai, ou pelo menos parte dele. James Trenton Darius não o estava mais usando mesmo".
O discurso sempre mudava um pouco, mas o essencial permanecia o mesmo. Trent sabia que nunca conseguiria
se pronunciar para todos de uma vez, mas era a idéia que o fazia continuar, todos esses anos. Nas noites
quando estava tão enraivecido que não conseguia dormir, recontar essa história virou uma espécie de canção de
ninar; ele imaginava os olhares em suas cansadas e velhas faces, o terror em seus caídos olhos, a trêmula
indignação por sua traição. De alguma forma, a visão sempre amenizava sua fúria e o dava uma pequena paz.
Em breve. Depois da Europa, meus amigos...
O pensamento o guiou para a escuridão, para o doce e ausente de sonhos sono dos justos.[12]
O mais alto, John, apontou seu rifle automático para o Av1 e soltou uma rajada de balas.
Como um feixe de destruição, elas acertaram o aquilino crânio do Dac e estourou o outro lado, fluídos escuros
espirrando nas recém pintadas árvores. Ambos os olhos estouraram como bexigas d'água.
Droga. Baixa resistência; são esses ossos ocos.
Reston olhou o outro armado mirar no segundo Dac que pousou na clareira. Mesmo sem som, Reston podia ver
o revólver pular três, quatro vezes, acertando o espécime em seu estreito peito. O esbelto pescoço do Dac
curvava selvagemente para frente e para trás numa rabiscante dança da morte antes de se esparramar no
chão, sangrando.
Reston não viu mais nenhum pousar e os três homens estavam batendo em retirada, voltando para a floresta. O
pobre Cole parecia desfeito, sua boca aberta em um calado grito, seu frouxo cabelo castanho praticamente
grudado de suor na cabeça, seus braços requebrando.
Ele merecia por não ter consertado o áudio. A falta de som o estava irritando, apesar de achar que a filmagem
não sofreria com isso. As pessoas sabiam como tiros soavam.
Os três estavam saindo do alcance, indo à oeste agora. Reston intercalou entre a câmera da árvore e a
panorâmica da parede norte. Era óbvio que Cole os estava levando para a porta de conexão - apesar de não
saber que a segunda clareira agora estava em seu caminho. Por enquanto, os Dacs também tinham recuado;
eles geralmente são atraídos para áreas abertas. Eles só tinham matado dois, o que significava que ainda havia
seis espécimes saudáveis os esperando no prado.
Reston havia soltado todas as criaturas em seus habitats logo após a ligação do Sargento Steve Hawkinson, o
homem que liderava a equipe da superfície. Ele informou que apenas duas equipes da Umbrella - nove homens
incluindo o próprio - estavam começando a varrer o complexo, e que o transporte dos fugitivos havia sido
localizado; os três ainda estavam na área, a não ser que houvesse outro veículo, uma possibilidade altamente
improvável. Reston lhe disse que a câmera da entrada foi coberta por um intruso e pediu uma reparação assim
que possível. Depois disso sentou para assistir o espetáculo.
Ele serviu outro conhaque enquanto observava os três avançarem sinuosa e lentamente por entre as árvores,
John com sua arma apontada para cima, o outro vasculhando as sombras em volta...
Esse aí também precisa de um nome. Nós temos Henry, John, e Ruivo? O cabelo dele é meio avermelhado.
Por aí, mas servirá do mesmo jeito que "Dac" serviu para os Av1. Eles não tinham relação com pterodátilos, claro,
e a sigla "Av" vinha de "Aves" - e de fato os Dacs eram mais próximos dos morcegos do que qualquer outra
coisa. Já haviam muitos na série de mamíferos. O pedido veio do próprio Jackson, os criadores de espécimes
adicionaram novas classificações para o amor de Deus, usando um pouco dos contribuintes secundários para a
seqüência de genes daquela série. Os Spitters (cuspidores), que estavam mais próximos das cobras do que dos
bodes, foram rotulados de Ca6, de Capra (caprinos), por causa dos cascos rachados....
E os Dacs se pareciam com pterodátilos, ou pelo menos com o nosso moderno conceito deles, Reston pensou,
olhando para a tela que mostrava a entrada da jaula. Dois dos animais ainda estavam lá dentro. O aerodinâmico
e musculoso corpo, o fino bico, a "crista" de osso no topo da cabeça, as asas fibrosas... eles até eram elegantes
no modo brutal de ver. Os dois na grande "caverna" dos bastidores estavam claramente agitados com todo o
movimento, andando para frente e para trás com suas asas dobradas, virando suas cabeças de lado a lado.
Reston não sabia muito do fim biológico, mas sabia que caçavam pelo movimento e pelo olfato, e que só dois
deles podiam derrubar um cavalo em menos de cinco minutos.
Mas não muito eficientes contra poder de fogo.
Não fazia diferença mesmo. Os Av1 foram criados para situações de terceiro mundo, onde as manchetes ainda
não relatavam metralhadoras. Era muito ruim morrerem tão rápido, os adestradores ficariam bem desapontados
com as perdas - mas pelo menos já foram testados contra poder de fogo.
E por falar nisso...
Os três homens estavam se aproximando da clareira, saindo do alcance da câmera norte. Lá será onde os Dacs
brincarão. Reston se inclinou para olhar, percebendo que as imagens que estava gravando fariam sua carreira - e
apesar da situação, ele estava realmente se divertindo.
David abriu fogo assim que a luz do soldado os achou, ouvindo o único tiro de uma arma lá embaixo -
- e sentiu os estilhaços de madeira à sua esquerda, um monte deles espirrando em seu braço. Ele queria muito
fazer o atirador parar de atirar, mas sabia com terror que iriam cair, que as duas mulheres se esborrachariam no
concreto se ele não fizesse algo -
- e então ele estava caindo também, as tábuas sob seu corpo desaparecendo de repente, mergulhando na fria
escuridão. David segurou sua arma, esticando seus braços para fora e dobrando os joelhos no meio segundo de
queda livre -
- e seus joelhos tocaram papelão, uma não vista caixa que foi esmagada com seu peso. Instantaneamente, ele
ficou de pé, virando na direção da outra lanterna que ainda brilhava no meio do galpão, o primeiro homem já no
chão. Sem tempo para checar Rebecca e Claire - os gritos aumentaram lá fora, quase chegando.
O portador da lanterna veio abaixo com a curta linha de tiros que David mandou da M-16, um arco de um metro
cruzando a escuridão. Os ecos das balas estouraram por entre as caixas, e quando a lanterna caiu, um único
gemido de dor e surpresa caiu junto com ela, David mirou na direção da porta aberta.
Vamos, então -
Rattatattatt-
Tiros de metralhadora lá fora... mas ninguém entrou. David foi para a esquerda e mandou uma rajada de sua
arma em resposta, não esperando acertar ninguém, as balas acertando o entorno da porta. Ele precisava ganhar
tempo, mesmo se forem alguns segundos.
"Unha". Um suave e feminino gemido veio de trás dele.
"Rebecca! Claire! Respondam!". Ele sussurrou asperamente, ainda olhando o pálido e vazio quadrado da porta
aberta.
"Aqui. Eu, Claire, estou bem, mas acho que ela está ferida -".
Droga!
David sentiu seu coração pular uma batida e recuou um passo, seus pensamentos correndo, um nó de horror em
seu estômago. Só haviam passado trinta segundos desde o primeiro tiro, e a equipe da Umbrella já devia ter
cercado o prédio, se forem mesmo bons. Eles tinham que sair antes que os atiradores se organizassem por
completo.
"Claire, venha até mim, siga minha voz - eu preciso de você cobrindo a porta. Se vir alguém, mesmo uma
sombra, atire para matar. Entendido?"
Ele a ouviu se movimentar enquanto falava e a agarrou quando chegou mais perto, puxando seu braço.
"Espere". Ele disse, e soltou outra rajada de sua arma, acertando a parede perto da porta. Ele imediatamente
entregou a M-16 para Claire enquanto retornavam fogo lá fora, as balas viajando sem direção no escuro.
"Você consegue usá-la?".
"Consigo -". Ela soou ansiosa, porém firme o bastante.
"Bom. Assim que eu disser, nós começaremos a ir para a porta oeste; você vai nos cobrir".
Ele já estava virando na direção do canto onde Rebecca estaria, quando ouviu outro abafado murmúrio de dor e
fixou-se nele, movendo-se rapidamente, ajoelhando-se perto da garota ferida. Ele sentiu o cabelo sedoso de
Rebecca sobre sua mão, sentindo o pegajoso e morno sangue.
"Rebecca, você consegue falar? Você sabe onde está ferida?".
Uma tosse - e sentiu os dedos dela tocarem seu braço, e soube que estava bem mesmo antes de falar.
"Atrás da cabeça". Ela falou, suave mas bem claro. "Possível concussão, caí com tudo sentada, os membros
parecem bem...".
"Eu vou te ajudar. Se você não puder andar, eu te carregarei, mas nós temos que ir agora -".
Para provar suas palavras, houve outro disparo da metralhadora lá fora -
- e um grito que o fez se mover mesmo antes de terminar.
"Atire na abertura!". Disseram lá fora.
David girou, se levantou e segurou Claire por trás, gritando, "Feche os olhos -". E enquanto fechava os seus no
caso de uma incendiária, rezando para que não fosse uma granada -
- mas o whump de um lançador, seguido por um alto pop e um hiss o disse que era gás. Ele se afastou de Claire,
e a sentiu ao seu lado, ouviu sua ofegante e assustada respiração.
Deus, que não seja sarin ou soman, que eles nos queiram vivos -
Em segundos, os olhos e nariz de David começaram a lacrimejar fortemente e sentiu um onda de alívio. Não é
gás nervoso; eles usaram um gás lacrimejante CN ou CS.
"Porta oeste". David disse, e Claire engasgou um afirmativo, o composto químico disseminando rapidamente no
frio ar, uma efetiva, porém não letal arma. Ainda bem.
Ele virou para trás e sentiu uma mão esfregar seu peito.
"Eu não consigo andar". Rebecca disse, tossindo, e David jogou o braço dela em volta de seu pescoço e começou
a ir para a porta o mais rápido que podia através da escuridão. Ele ouviu Claire ofegando, mas agüentando,
acompanhando eles.
David se apressou, bolando um plano, tentando não respirar muito fundo. Haverá gente em ambas as portas,
esperando -
- mas a que distância? Eles vão querer estar bem lá para dominar suas vítimas chocadas...
O plano estava pronto. Assim que alcançaram a porta, David procurou em seu estojo de perna, tirando a lisa e
redonda granada anti-pessoas, puxando o pino.
"Claire, Rebecca, atrás de mim!".
Já cegos no escuro, as lágrimas só ardiam mas não interferiram em sua mira enquanto empunhava a 9mm e a
esticava à frente, procurando a porta.
BAM!
Ele abriu um buraco na fechadura, destrancando-a, ouvindo os gritos de surpresa dos homens lá fora. Quase
sem parar, David abriu a porta, o quanto até a cerca? Cinqüenta, sessenta metros -
- e jogou a granada, um gentil arremesso pela porta, fechando-a o mais rápido possível, jogando seu peso contra
ela e agradecendo à Deus por ser bem resistente -
- e KA-WHAM, a porta lutou contra ele enquanto o impacto durou, os estilhaços martelando contra ela como uma
fera selvagem socando para entrar. David esperou. A trovoada da M68 deu lugar a gemidos e uivos de dor,
quase inaudíveis sob o apito em seus ouvidos e o grito de seus sufocados pulmões.
"Cubra a direita e vá para a esquerda!". Ele gritou, e escancarou a porta, girando a H&K de lado a lado. A pálida
luz da lua só mostrou três homens, todos no chão, todos feridos e gritando atrás do véu de suas lágrimas.
Coletes, no corpo inteiro, talvez -
Ele esperava uma corrida para frente, para seu veículo de fuga, mas virou à esquerda. Ele fixou seu molhado
olhar na escura cerca enquanto Claire e Rebecca vinham atrás dele, tossindo e lacrimejando.
"Cerca". Ele disse, o mais alto que pôde, e voltou para Rebecca, deslizando seu braço na cintura dela. Eles
pularam um dos homens no chão e começaram uma forte corrida na direção da fuga, Claire bem atrás. Ela corria
de lado, a M-16 apontada para trás, na direção da frente do complexo.
Boa garota, nós vamos conseguir, passamos pela cerca, e contornamos o complexo pelo deserto até a van -
Eles correram, diminuindo a distância mais rápido do que David esperava, a grade a 9 metros da parte de trás do
galpão o qual estavam, o galpão que havia escolhido por causa disso; os outros angulavam para frente, seria
muita distância, e o primeiro era muito óbvio -
- e estavam quase na cerca quando alguém disparou uma metralhadora atrás deles, vindo de entre o outro lado
do galpão. Pelo menos alguém da Umbrella usou a lógica e deu a volta para verificar a inesperada rota de fuga.
Claire estava lá, retornando fogo, a rápida trepidação das duas automáticas mergulhando num explosivo dueto. O
atirador invisível foi pego ou estava agachado quando as trovoadas viraram um solo, Claire perfurando o escuro
com a .233.
Rebecca vai precisar de ajuda.
"Claire! Suba e passe!". David gritou, segurando a M-16. Ela virou e escalou a cerca facilmente.
"Rebecca, vai!". David puxou o gatilho e o segurou, espalhando balas pela fria noite, ouvindo retorno
aparentemente de todo o lado, três talvez quatro atiradores -
- e houve um choro atrás dele, de Rebecca, apenas na metade da cerca. Algumas gotas mornas pingaram no
rosto de David que parou de atirar, pulando para segurá-la antes que caísse.
"Eu cubro!". Claire gritou do outro lado, e atirou pela cerca, a 9mm pulando forte, o punho de David mais ainda.
Rebecca estava pálida, ofegando asperamente, certamente com dor - mas ela conseguiu se segurar na cerca,
até mesmo subir um pouco enquanto David se apoiava na cerca e a empurrava par cima.
Ele praticamente a levou até o topo e assim que Claire a alcançou para ajudar, David virou e atirou de novo nos
soldados, ainda escondidos nas sombras, sua fúria secando as últimas lágrimas.
Malditos idiotas, ela ainda é só uma garota -
A M-16 secou e ele pulou, aí Rebecca estava entre eles, encostada pesadamente nos ombro de David, e já
estavam correndo na gelada noite do deserto.
[13]
Com apenas minutos de ataque, Leon pôde ver que Cole não tinha condições de liderar. O funcionário da Umbrella
estava andando cegamente, indo vagamente na direção que precisavam ir.
E agora que sabemos que podem atacar pelo chão... ele e John não precisavam ficar olhando para o céu.
"Henry - posso assumir a ponta como guia por alguns minutos?" Leon perguntou, olhando para John. John
acenou, não parecendo tão emotivo; ele estava firme, seu olhar pulando par lá e para cá rapidamente, suas
mãos apertando a M-16.
Talvez esteja pensando nos outros. Sobre terem sido "pegos".
"Tá, tá bom, por mim, tudo bem". Cole acenou, seu alívio bem aparente. Ele pôs seu suado e castanho cabelo
de lado e correu para trás de Leon, John ainda lá atrás.
Leon estava nervoso, os pássaros, Dacs, eram desagradáveis e perigosos, e foi um alívio tê-los visto; eles não
eram tão terríveis quanto sua imaginação o tinha feito acreditar, quando ouviu os primeiros berros. Os monstros
da mente são sempre piores do que os de verdade, e os Dacs nem resistiam muito. Enquanto John e ele ficarem
de guarda, todos conseguirão.
Ele tinham sido espantados para sul e Leon corrigiu a rota, percebendo que estava começando a identificar o que
poderia ser a parede. A disposição das árvores causava confusões; não eram tão juntas, mas estavam
espalhadas dando a impressão de densidade ao olhar para a floresta; a grossa cobertura do chão, algum tipo de
plástico moldado, não se movia sobre os pés, o relevo e as depressões do material tornavam ainda mais difícil
sentir o tamanho do lugar.
É tão estranho, tão acima - tão parecido com a Umbrella.
Era como aquele vasto laboratório sob Raccoon, completo com sua própria casa de fundição e ferrovia particular -
inacreditável, mas viu tudo pessoalmente. E Leon soube através dos ex-S.T.A.R.S., que havia uma isolada
enseada na costa de Maine guardada por equipes de zumbis, e uma mansão "deserta" na floresta, a mansão de
Spencer, aquela equipada com segredos, chaves, códigos e passagens, como o cenário de um filme de
espionagem que a ninguém convence.
Agora isso - ambientes simulados sob as áridas e planas salinas de Utah. Como Reston o havia chamado? O
Planeta. Era extravagante, decadente, desperdício imoral; ridículo, exceto -
- exceto por estarmos presos nele, e só Deus saber o que enfrentaremos depois.
Leon continuou andando, tentando não pensar como Claire e os outros estavam. Reston presumiu que o resto da
equipe havia sido capturada, mas Leon não sabia. Também não sabia o quanto Claire e Rebecca eram
engenhosas, ou o quanto brilhante David era como estrategista. Todos eles já escaparam da Umbrella antes, e
não havia motivos para não conseguirem de novo.
Leon estava tão entretido na sua conversa particular que não viu a clareira até estar praticamente na beira dela, a
menos de seis metros. Ele parou, lembrando do último ataque - e se repreendeu por não ter prestado atenção.
"Vamos recuar e retornar". Ele disse - e aí ouviu o bater de asas, e sabia que já era tarde demais. Nas murchas
sombras sobre o espaço aberto, um, dois, três deles estavam mergulhando das traves de pouso, planando em
torno da clareira.
Droga!
Um deles começou a gritar e os outros acima se esconderam nas árvores, juntando-se na música, uma
ensurdecedora e horrorosa cacofonia aguda. Leon recuou, John ao seu lado de repente, mirando o rifle na
clareira.
O primeiro voou para as árvores, chacoalhando-se de lado a lado como se para voar entre elas. Ele arremeteu no
último segundo, tão rápido que não acertaram um tiro. Assim que subiu, Leon viu dois no chão, carregando seus
vigorosos corpos entre as asas dobradas.
O barulho! Era doloroso, tão estridente e terrível quanto mil bebês gritando, e Leon sentiu a 9mm atirar mais do
que podia ouvir, o pesado metal pulando em suas mãos. Os pássaros ficaram quietos quando o mais próximo
teve sua garganta baleada. Um esfarrapado buraco estourou um pouco acima de seu estreito peito, abas de pele
escura abrindo como uma flor. Um fino sangue espirrou do ferimento e o segundo pássaro passou por cima do
outro, no chão se debatendo, fixo no ataque. Leon mirou e -
"Ei ei, ah droga -".
O histérico grito de Cole o distraiu, o tiro indo para a direita, perdendo o alvo. John abriu fogo contra o segundo
Dac, o bater da automática furando o animal. Leon girou e viu Cole recuando, outro dos ferozes pássaros
investindo na direção dele.
Como ele passou por nós?
Leon mirou, o Dac a não mais que um metro e meio de Cole, e mesmo enquanto apertava o gatilho, outra das
criaturas estava descendo diretamente sobre eles. A tão pouca distância, a bala de 9mm perfurou o peito da ave
e abriu um buraco do tamanho de um punho nas costas, o Dac morrendo antes de cair no chão. O outro
arremeteu, as pontas de suas enormes asas esfregando no chão, voltando para cima.
"Henry, fique atrás de mim!". Leon gritou, olhando para cima - e vendo outro Dac descendo das traves
diretamente acima, franzindo as asas e mergulhando na direção deles.
Ele precisava de ajuda. "John...!".
O pássaro só abriu suas asas a alguns palmos do chão, surpreendentemente gracioso no pouso. Ele virou para
Leon e iniciou o ataque. Leon ouviu os tiros atrás dele - e os ouviu parar, ouviu John resmungar, ouviu o alumínio
da M-16 bater no chão.
O Dac na frente de Leon abriu seu longo bico e berrou, uma explosão de raiva, um som de fome, andando tão
rápido quanto Leon recuava. A criatura balançava para frente e para trás e Leon não tinha munição o suficiente
para gastar, ele precisava de um tiro certeiro -
- e o pássaro pulou, um estranho e súbito salto que o deixou a trinta centímetros de distância. Com outro agudo
berro, a criatura esticou a cabeça, seu bico aberto fechando em seu tornozelo. Mesmo com a grossa bota de
couro, Leon pôde sentir a ponta dos dentes, sentir o poder da mandíbula -
- e antes que pudesse atirar, John estava lá, estava pisando no longo pescoço do Dac e apontando o revólver -
- e bam, a bala acertou sua espinha, uma vértebra em suas costas estourando, estilhaços de osso e sangue
jorrando. A ave soltou seu tornozelo e apesar do pescoço ainda se contorcer, o resto do corpo estava parado,
sangrando e imóvel.
Quantos, quantos ainda restam -
"Vamos lá". John chamou, pegando o rifle do chão e virando para correr. "Vão para a porta, nós temos que
chegar nela!".
Eles correram pela clareira, Cole atrás, o bater de asas mais atrás, outra voz aguda gritando pelo ar. Eles
voltaram às árvores, a floresta sem vida, tropeçando sobre galhos e desviando de contorcidos troncos de
plástico.
A parede. Lá está ela!
E lá estava a porta, metálica e de folha dupla, um pino solto no lado direito -
- e Leon ouviu o terrível berro em seu ouvido, a centímetros de distância, e sentiu o sopro de ar em seu pescoço
-
- e deixou suas pernas cederem, caindo no chão, e sentiu uma súbita dor assim que algo arrancou um pedaço de
cabelo de seu couro cabeludo, da parte de trás da cabeça.
"Cuidado!". Leon gritou, erguendo o olhar para ver o enorme pássaro investindo em John, quase na porta, Cole
ao seu lado.
John se virou, sem recuar. Ele ergueu seu revólver e apertou o gatilho, um tiro certeiro, e o Dac caiu como se
fosse feito de chumbo, seu pequeno cérebro de repente líquido, estourando.
Cole estava mexendo na porta, John ainda mirando sobre a cabeça de Leon, e Leon ouviu outro grito de fúria em
algum lugar atrás -
- e a porta estava aberta - e Leon correu, John o cobrindo enquanto cambaleava até Cole, saindo da fria e escura
floresta para um ofuscante calor. John vinha logo atrás, batendo a porta para fechá-la -
- e estavam na Fase Dois.
Rebecca estava correndo, sem fôlego e exausta, incapaz de parar e descansar. David e Claire estavam correndo
com ela, carregando-a, mas ainda sentia que cada passo era um esforço de pura vontade; seus músculos não
queriam cooperar, e estava desorientada, seu equilíbrio uma bagunça e seus ouvidos apitando. Ela estava ferida e
não sabia o quanto grave era - só sabia que tinha sido baleada, que tinha batido a cabeça, e que não podiam
parar até estarem bem longe do complexo.
Estava escuro, muito escuro para ver onde o chão estava, e frio; cada respiração era uma gelada punhalada em
sua garganta e pulmões. Seus pensamentos estavam confusos, mas sabia que tinha sofrido alguma disfunção
cerebral, incerta de qual; as possibilidades a assombravam enquanto pensava nelas. A bala era mais fácil; ela
sabia pela quente e latejante dor. Doía terrivelmente, mas não achava que tinha alguma fratura, e não estava
sangrando; estava mais preocupada com a perda de coerência.
Baleada no glúteo esquerdo, alojada no ísquio, sortuda, sortuda, sortuda... choque ou concussão? Concussão ou
choque?
Ela precisava parar, checar o pulso temporal, procurar sangue nos ouvidos... ou por CSF, algo que nem queria
pensar. Mesmo em seu confuso estado, ela sabia que sangrar fluído cerebrospinal era a pior conseqüência de
uma pancada na cabeça.
Depois do que pareceu um bom tempo, e mais balanços e mudanças de direção do que pôde contar, David
diminuiu, pedindo Claire que diminuísse, e que iriam deitar Rebecca no chão.
"No meu lado". Rebecca ofegou. "A bala está no lado esquerdo".
David e Claire a deitaram cuidadosamente na plana terra, respirando, recuperando o fôlego, e Rebecca nunca
ficou tão grata por deitar. Ela só pegou um lance do céu preto enquanto David a rolou; as estrelas estavam
incríveis, claras e frias sobre o fundo oceano negro...
"Lanterna". Ela disse, percebendo o quanto estranhos seus pensamentos tinham se tornado. "Tem que verificar".
"Estamos longe o bastante?". Claire perguntou, e demorou um pouco para Rebecca perceber que Claire falava
com David.
Ah, porcaria, isso não é bom...
"Deveríamos. E nós os veremos chegar". David disse brevemente e ligou sua lanterna, o feixe indo para o chão a
centímetros do rosto de Rebecca.
"Rebecca, o que podemos fazer?". Ele perguntou, e ela ouviu a preocupação em sua voz, amando-o por isso.
Eles eram como uma família, desde Caliban, ele foi um bom homem e um bom amigo...
"Rebecca?". Desta vez ele soou amedrontado.
"Ah, desculpe". Ela disse, imaginando como explicar o que estava sentindo, o que estava acontecendo. Ela decidiu
que era melhor só falar e esperá-los descobrir.
"Olhe para minha orelha". Ela disse. "Procure sangue ou um líquido claro, eu acho que tive uma concussão. Eu
não estou pensando bem. A outra orelha, também. Fui baleada e acho que a bala está alojada no meu ísquio.
Pélvis. Sortuda, sortuda. Não deve estar sangrando muito, eu posso desinfetar e cobrir se me derem meu estojo.
Tem gaze e isso é bom, a bala podia ter acertado a espinha ou ter pego a artéria femoral. Muito sangue, isso é
ruim, ferida e sendo eu a única médica -
Enquanto falava, David iluminou seu rosto e gentilmente o levantou para checar o outro lado antes de apoiar sua
cabeça no colo. As pernas dele estavam quentes, seus músculos se contorcendo.
"Um pouco de sangue no ouvido esquerdo". Ele disse. Claire, tire o estojo de Rebecca, por favor. Rebecca, você
não precisa mais falar, nós vamos te consertar; tente descansar se puder".
Sem CSF, graças a Deus...
Ela queria fechar os olhos para dormir, mas precisava terminar de dizer tudo. "Concussão soa menos importante;
significa desorientação, zumbido nos ouvidos, falta de equilíbrio - pode durar algumas horas ou talvez semanas.
Não deve ser tão grave, não é bom se mexer. Repouso. Ache o meu pulso temporal, na lateral da minha
cabeça. Se não conseguir, eu devo estar em choque - elevação de temperatura...".
Ela respirou, e percebeu que a escuridão não estava só do lado de fora. Ela estava cansada, muito, muito
cansada, e um tipo de névoa escura estava tomando conta de sua visão.
Isso é tudo, já disse tudo -
John. Leon.
"John e Leon". Ela disse, horrorizada por ter esquecido deles por um momento, forçando para se sentar. Perceber
isso foi como um tapa na cara. "Eu posso andar, eu estou bem, nós temos que voltar -".
David mau a tocou e de alguma forma, sua cabeça estava no colo dele de novo. Então Claire levantou a parte de
trás da camisa de Rebecca, dando tapinhas de leve na coxa, mandando frescas ondas de dor por seu corpo. Ela
franziu os olhos, tentando respirar fundo, tentando ao menos respirar.
"Nós vamos voltar". David disse, e a voz dele parecia estar vindo de muito longe, do topo de um poço ao qual ela
caiu.
David continuou. "Mas precisamos esperar o helicóptero partir, se é que ele o fará - e você precisará de tempo
para se recuperar..."..
Se ele disse mais alguma coisa, Rebecca não ouviu. Ela dormiu e sonhou que era uma criança, brincando na fria,
fria neve.
Deserto!
Não haviam animais à vista, deviam estar do outro lado da duna, e Cole achava que sabia quais pertenciam à
Fase Dois. Antes que John e Leon dessem um passo, antes que os ouvidos de Cole parassem de apitar devido
aos gritos dos Dacs, ele começou a tagarelar.
"Deserto, a Fase Dois é um deserto, então deve ter os Scorps, escorpiões, entenderam?".
John estava tirando um clip curvo de seu estojo de perna, franzindo sobre a artificial luz solar que vinha de cima.
Devia estar uns quarenta graus na câmara, e com as paredes brancas e a ofuscante luz, parecia estar bem mais
quente. Leon vasculhou a brilhante areia na frente deles, e virou para Cole, olhando como se tivesse comendo
algo azedo.
"Maravilhoso, isso é ótimo. Escorpiões? Scorps e Dacs... quais são os outros, Henry, você se lembra?".
Por um segundo, a mente de Cole ficou vazia. Ele acenou, revirando seu cérebro, todo o suor de seu corpo já
evaporado com o calor. "Ah - esses são apelidos, Dacs, Scorps... Hunters! Hunters e Spitters, os criadores tinham
esses apelidos -".
"Uma gracinha, como fofinho e totó". John interrompeu, alisando sua sobrancelha com as costas da mão. "Então,
onde eles estão?".
Os três olharam em volta na Fase Dois, para a enorme duna de areia que estava no meio do lugar, brilhando
como purpurina sob a gigante grade de luminárias acima. Sete, nove metros de altura, a duna bloqueava a visão
da parede sul, inclusive a porta no extremo canto direito. Não tinha mais nada para ver.
Cole balançou a cabeça sem dizer nada; os Scorps estavam por lá, e eles tinham que cruzar as quente dunas de
areia ara chegar à saída.
"Quais eram as outras fases, montanhas e cidade? Você já as viu?". Leon perguntou.
"A Três é parecida com um, como posso dizer, um abismo, no alto de uma montanha. Como um desfiladeiro
rochoso. E a Quatro é uma cidade - alguns quarteirões. Eu tive que checar as entradas de vídeo quando vim para
cá".
John olhou para cima e em volta, franzindo os olhos contra a forte luz. "Certo, vídeo... você lembra onde estão?
As câmeras?".
Por que ele quer saber isso? Cole apontou para a esquerda, para o pequeno olho de vidro embutido no alto da
parede branca. "Tem cinco delas aqui; aquela é a mais próxima...".
Com um largo sorriso, John ergueu as duas mãos e estendeu os dedos do meio para a lente. "Toma, Reston".
Ele disse bem alto, e Cole decidiu que gostava dele, e muito. Leon também, mas não só por serem seu ingresso
de saída. Seja lá quais eram suas motivações, eles certamente estavam no lado certo das coisas; e o fato de
que podiam fazer piadas numa hora como essa...
"Então, nós temos um plano?". Leon perguntou, ainda olhando para a parede de areia à frente.
"Por ali,". John disse, apontando à direita. "E depois subimos. Se ver algo, atire".
"Brilhante, John. Você devia escrever isso. Sabe, eu -".
Leon parou de repente, e Cole ouviu. Uma batida. Um som como unhas batendo em madeira oca, o mesmo som
que ouviu quando consertava uma das câmeras semana passada.
Um som de garra, abrindo e fechando. Como mandíbulas clicando...
"Scorps". John disse suavemente. "Escorpiões não deviam ser noturnos?".
"Mas isso é a Umbrella, lembra?". Leon disse. "Você tem duas granadas, eu tenho uma...".
John acenou e disse. "Você sabe usar uma semiautomática?".
O grande soldado estava observando a duna, e levou um segundo para Cole perceber que John estava falando
com ele.
"Ah, sim. Eu nunca usei uma, mas já fiz tiro ao algo algumas vezes com meu irmão, seis ou sete anos atrás...".
Ele também falou baixo, ouvindo aquele barulho estranho.
John olhou diretamente para ele, como se o analisasse, e puxou um pesado revólver de seu coldre de perna. Ele
a deu para Cole, segurando-a pelo cano.
"É uma 9mm, leva dezoito. Eu tenho mais clips se acabar. Você conhece todas as regras de segurança de uma
arma? Não aponte para ninguém ao menos que queira matar, não atire em mim ou no Leon, coisas do tipo?".
Cole acenou, pegando a arma, e era pesada - e apesar de nunca ter estado tão assustado em seus trinta e
quatro anos, o sólido peso da arma em suas mãos era um tremendo alívio. Lembrando do que seu irmão dizia
sobre segurança, Cole fuçou a arma para ver se estava carregada antes de olhar para John de novo.
"Obrigado". Ele disse, e era verdade. Ele tinha atraído esses caras para uma armadilha e eles o estavam dando
uma arma; dando-o uma chance.
"Pode esquecer. Isso significa que não temos que nos preocupar em proteger o seu traseiro ao invés dos
nossos". John disse, mas sentia um suave sorriso. "Vamos".
John na frente e Leon logo atrás, eles começaram à leste, andando devagar pelo parado cenário. A areia era de
verdade; se movia sob os pés, e com o terrível calor, seria um verdadeiro esforço.
Eles só andaram uma pequena distância quando Leon pediu uma pausa.
"Roupa de baixo térmica". Ele murmurou, guardando sua arma antes de tirar sua camisa preta e amarrá-la na
cintura. Ele vestia uma grossa e texturizada camisa por baixo. "Eu não imaginei que chegaríamos no Saara -".
Todos ouviram o som, só um segundo antes de verem - antes de vê-los, três deles, alinhando-se no topo da
duna. Pequenos rios de areia desceram por debaixo de suas múltiplas pernas, cada uma tão grossa quanto um
taco de baseball. Eles tinham garras, eram como gigantes pinças estreitas e pretas, serrilhadas no lado, e longos
e segmentados corpos que terminavam em caldas, curvando-se acima de suas costas - com um ferrão nas
pontas. Feios e caídos ferrões de pelo menos trinta centímetros.
As três criaturas cor de areia, cada uma com cerca de um metro e meio de comprimento e noventa centímetros
de altura, começaram a fazer barulho - as lisas e pontudas presas sob seus arredondados olhos aracnídeos
batiam umas nas outras, soltando aqueles cliques -
- e então todas as três criaturas, os monstros, estavam deslizando na direção deles, perfeitamente equilibrados,
apressando-se pela areia com facilidade.
E no topo da duna, outros três apareceram.
[14]
"Droga". John exalou, nem a par de que falou, e ergueu a M-16, abrindo fogo.
- bambambambam -
- e o primeiro dos escorpiões soltou um estranho e seco hiss, como ar saindo de um pneu gigante, assim que as
balas martelaram seu corpo curvado. Um grosso fluído espirrou dos ferimentos em sua face, uma face de presas
babantes e olhos de aranha, uma face com um buraco escuro para a boca. As contorcidas garras se ergueram,
caindo ao lado e se debatendo ferozmente, cavando sua própria cova rasa na areia.
Leon e Cole estavam atirando, o trovão das 9mm afogando qualquer outro hiss, produzindo ainda mais sangue
branco no segundo e terceiro dos Scorps. O fluído branco estourava em bolhas, como vômito, e haviam mais três
deles descendo -
- e o primeiro, aquele que John havia enchido de furos estava se levantando. Instavelmente, mas se levantando.
Os buracos estavam vazando com aquela meleca viscosa - e mesmo enquanto avançava para eles, John viu que
o líquido estava endurecendo, tampando os ferimentos, tão eficiente quanto gesso numa parede.
"Vai vai vai!". John gritou assim que as outras duas criaturas, derrubadas por Leon e Cole, começaram a se
mover, seus ferimentos já virando casca. O segundo trio estava na metade da duna e se aproximando rápido.
Temos que sair.
Ainda havia dois "ambientes", e já tinham usado pelo menos um terço da munição; isso passou na mente de
John na fração de segundo que levou para ele espirrar mais bolhas nos Scorps, enquanto Leon e Cole corriam à
leste.
Ele nem tentou derrubar nenhum dos seis, sabia que não faria diferença. A linha de balas era só para afastá-los
enquanto os outros dois homens fugiam, sua mente forçando para achar uma solução enquanto os impossíveis
animais balançavam suas tortas garras, escorregando na granulosa areia e jorrando mais da cola bizarra.
- granada, mas como eu pego todos de uma vez, como evitaremos os estilhaços -
O mais próximo dos Scorps estava a uns três metros a sua frente quando virou e correu, o mais rápido que podia
pelo terrível calor, sua adrenalina alta e forte. Leon e Cole estavam a cinqüenta metros à frente, Leon
ziguezagueando - olhando para frente e para trás, mirando com a semi.
John olhou para trás, viu que os escorpiões ainda vinham. Mais lentos porém sem vacilar, seus corpos vespóides
pingando branco, suas encurvadas garras erguidas e clicando. Eles também ganhavam velocidade, a cada passo,
um monte de insetos procurando almoço -
- em bando -
Eles podem não ter uma chance melhor, John soltou o rifle, a alça parando em seu pescoço, e afundou uma mão
em seu bolso, ainda conseguindo correr. Ele tirou uma das granadas, liberou o pino, virou e correu de costas. Ele
tentou avaliar a distância, o processo da M68 passando em sua frenética mente, os Scorps a uns vinte metros
atrás.
- detonador de impacto, se arma dois segundos depois do impacto, recuar por seis segundos -
"Granada!". Ele gritou, e atirou o redondo objeto para o alto, rezando para ter feito uma boa decisão enquanto
virava e corria, a granada ainda subindo enquanto John mergulhava na lateral da duna..
John se enterrou nela, empurrando com todos os músculos, escavando cego e sem fôlego. A areia estava mais
fria por baixo, ondas dela em seu rosto, tentando forçar a entrada em seu nariz e boca, mas não conseguia
pensar em mais nada além de puxar as pernas para dentro - e no que os estilhaços poderiam fazer com a carne
humana.
Um último e desesperado chute e -
- KA-WHAM -
- houve um enorme balanço em volta dele, uma incrível pressão acertando a cobertura de areia sobre ele. Ele
sentiu o peso acima dele forçar o ar para fora de seus pulmões, e usou tudo o que tinha para levar a mão à boca
para cobri-la. Respirando superficialmente, ele começou a sair, se contorcendo e chutando como uma minhoca.
Leon, será que eles se abaixaram a tempo, será que funcionou -
Ele ainda lutava contra as correntes deslizantes de grãos, respirando mais uma vez antes de usar as duas mãos
para afastar a areia. Em poucos segundos ele estava fora, cascatas de areia caindo de seu corpo, seus irritados
olhos lacrimejando. Ele as secou com uma mão, erguendo a M-16, olhando para a ameaça primeiro -
- e não eram mais ameaça. A granada deve ter caído bem na frente deles; dos seis escorpiões, quatro estavam
em pedaços. John viu uma garra ainda se mexendo, caída na areia em uma poça de branco, uma calda com um
ferrão ainda preso, uma perna, outra perna; o resto estava irreconhecível, grandes pedaços de mingau
espalhados num semicírculo.
Os dois restantes ainda estavam inteiros lá atrás, mas definitivamente não se levantariam de novo; os corpos
estavam intactos, mas os olhos e boca, as estranhas mandíbulas e os rostos se foram.
Todos explodidos. Nem um monte de meleca branca vai grudar tudo aquilo de novo...
"John!".
Ele virou, viu Leon e Cole retornando, expressões maravilhadas em ambos os rostos. John se permitiu um breve
momento de completo orgulho, vendo-os se aproximarem; ele foi brilhante, no tempo, na mira, em tudo.
Bom. o verdadeiro soldado não ganha louvores por um trabalho bem feito; para ele já bastava saber disso...
Quando o alcançaram, John voltou a si; pensar na situação deles já era o suficiente.
Eles estavam numa área de teste psicótica por causa de um maluco da Umbrella; sua equipe foi separada,
tinham munição limitada, e não havia uma saída clara de lá.
Vocês estão ferrados. Dar um tapinha nas próprias costas era como dar uma aspirina para um morto; não
adiantava nada.
Ainda assim, vendo a leve esperança nos rostos dos dois... podia não ser esperança, mas raramente é uma
coisa ruim.
"Podem haver mais deles". Ele disse, tirando areia da M-16. "Vamos sair daqui -".
- clickclickclick -
Aquele som. Todos eles congelaram, olhando um para o outro. Não estava tão perto, mas em algum lugar sobre
a duna havia pelo menos mais um Scorp.
David tinha avistado uma luz a pelo menos quatrocentos metros à sudoeste de sua posição, mas nem chegou
perto; se não fosse o frio, Claire teria se sentido aliviada. As chances de alguém encontrá-los nos intermináveis
quilômetros de escuridão eram perto de zero; os caras da Umbrella tinham fracassado. Mesmo com um holofote
do helicóptero - o qual aparentemente não iriam mais usar - seria pura sorte acharem os três...
"Como você está, Claire?".
Ela se esforçou para não bater os dentes, mas falhou. Deve ter passado uma hora, talvez mais. "Está frio pra
caramba, David, e você?".
"Também. Foi bom termos nos vestido bem, né?".
Se foi uma piada, ela não percebeu. Claire se aconchegou mais perto de Rebecca, pensando em que hora perdeu
a sensibilidade nos membros; suas mãos estavam dormentes e seu rosto parecia congelado numa máscara,
mesmo com as quase constantes mudanças de posição. David estava do outro lado de Rebecca, os três juntos o
mais próximo possível. Rebecca não tinha acordado, mas sua respiração estava lenta e constante; pelo menos
ela descansava confortavelmente.
Só ela...
"Não deve demorar muito". David disse. "Vinte, talvez vinte e cinco minutos. Eles posicionarão um ou dois
homens, depois partirão".
"É, você é quem manda". Claire disse. "Como você deduz o tempo?". Seus lábios pareciam picolés.
"Busca no perímetro, uma volta de pelo menos quatrocentos metros - considerando que eles tenham seis ou
menos homens ainda capacitados fisicamente, eu estimo quatro - ".
"Por quê?".
A voz de David tremeu com o frio. "Três homens estavam na porta de trás do prédio, dois entraram - e pelos
sons, eu diria que haviam de três a sete na frente. Oito ou doze homens; mais que isso não caberiam todos no
helicóptero. Menos que isso, eles não conseguiriam ter coberto as duas entradas".
Claire estava impressionada. "E por que vinte a vinte e cinco minutos?".
"Como eu disse, eles vão cobrir uma certa distância em volta do complexo antes de desistirem. O tamanho do
complexo vai de quatrocentos à oitocentos metros, e quanto tempo leva para um homem mediano andar essa
distância. Nós vimos aquela luz há talvez uma hora, e desde que certamente cada um foi para um lado e
verificado aquele segmento... bom, vinte a vinte e cinco minutos. Isso incluindo o tempo que levaria para verificar
a van. Essa é a minha opinião".
Claire sentiu seus lábios congelados tentarem um sorriso. "Você está tirando uma com a minha cara, não está?
Inventando?".
David pareceu chocado. "Não estou. Eu repassei isso várias vezes e eu acho -".
"Estou brincando". Claire disse. "Sério".
Um curto silêncio e então David riu, o baixo som carregado facilmente pelo frio escuro. "Claro que está. Desculpe.
Eu acho que temperatura afetou o meu senso de humor".
Claire alternou as mãos, tirando a direita de debaixo da perna de Rebecca e colocando a esquerda. "Não. Eu peço
desculpas. Não devia ter interrompido. Continue, é muito interessante".
"Nada mais a dizer". David disse, e ela ouviu o leve e rápido bater de dentes dele. "Eles vão querer ajuda médica
para os feridos, e eu duvido que a Umbrella queira que um de seus helicópteros seja visto voando pelas salinas à
luz do dia; eles deixarão um guarda e partirão".
Ela o ouviu tremer, sentiu o corpo de Rebecca mexer enquanto ele trocava sua posição. "De qualquer modo, é aí
que nós andamos. Primeiro para o complexo, um pouco de sabotagem - e então só veremos o que acontece...".
O modo como sua voz parou, o humor forçado em seu tom que se quer cobriu o desespero - diziam exatamente
o que estava pensando.
O que ambos estavam pensando...
"E Rebecca?". Ela perguntou gentilmente. Eles não podiam deixá-la, ela congelaria. Tentar invadir o complexo de
novo, tentar derrubar alguns homens armados enquanto carregavam uma mulher inconsciente...
"Eu não sei". David disse. "Antes que ela - ela disse que poderia se recuperar em algumas horas, com descanso".
Claire não respondeu. Afirmar o óbvio não ajudaria em nada.
Eles caíram no silêncio, Claire ouvindo a suave respiração de Rebecca, pensando em Chris. A afeição de David por
Rebecca era evidente; era como amor de pai e filha. Ou de irmão e irmã. Pensar nele era um modo de passar o
tempo.
-o que você está fazendo nesse momento, Chris? Trent disse que estava bem, mas por quanto tempo? Deus,
eu queria que você nunca tivesse sido convocado para a mansão de Spencer. Ou para Raccoon, para lutar pela
verdade e justiça... é desgastante, irmão...
"Você está dormindo, não está?". David perguntava isso toda vez que ficavam mais de um minuto sem falar.
"Não, pensando em Chris". Ela disse. Formar palavras era difícil, porém melhor do que deixar a boca fechada,
congelando. "E eu aposto que você está começando a desejar ter ido à Europa a final de contas".
"Eu queria". Rebecca disse fracamente. "Eu odeio esse tempo...".
Rebecca!
Claire sorriu sem sentir e nem se importou. Ela abraçou a garota enquanto David se sentava, procurando a
lanterna - e apesar de estar congelando, apesar de separada dos amigos, longe da saída e contando com
incertas probabilidades, Claire sentiu que definitivamente as coisas estavam começando a dar certo. * * * A
ligação veio logo depois que John explodiu seis dos Ar12.
Reston pensava em pipoca até então; o sistema de defesa dos Scorps estava funcionando como as projeções
sugeriam, o reparador de danos mais rápido do que esperava. O que não era esperado foi a fragilidade dos
tecidos conectivos entre os segmentos aracnídeos.
Uma granada. Uma maldita granada.
O desejo por pipoca estava tão morto quanto os Ar12. Ainda restavam dois, vagando pelo canto sudoeste, mas
Reston não tinha mais fé nos Ar - e apesar de ser uma informação importante, ele não estava tão certo de que
Jackson o agradeceria por tê-la conseguido.
Ele vai querer saber porque eu não tirei os explosivos deles antes. Porque eu soltei todos os espécimes. Porque
não liguei para Sidney, pelo menos, por um conselho. E nenhuma resposta que eu desse seria suficiente...
Quando o telefone tocou, Reston pulou na cadeira, de repente certo de que era Jackson. Essa noção ridícula
desaparecendo ao pegar o gancho - e o fez certo de que seus objetos de teste não sobreviveriam à Três.
"Reston".
"Sr. Reston - aqui é o Sargento Hawkinson, Equipe de Terra Branco Um-Sete-Zero-".
"Sim, sim. Reston suspirou, observando Cole e os dois S.T.A.R.S. se reunindo. "O que está acontecendo aí em
cima?".
"Nós-". Hawkinson respirou fundo. "Senhor, eu lamento informar que houve altercação com os intrusos e eles
escaparam do local". Ele disse muito rápido, certamente desconfortável.
"O quê?". Reston se levantou, quase derrubando a cadeira. "Como? Como isso aconteceu?".
"Senhor, nós os encurralamos no galpão de estocagem, mas houve uma explosão, dois de meus homens foram
baleados e mais três ficaram feridos - ".
"Eu não quero mais ouvir isso!". Reston estava furioso, incapaz de acreditar que tinha tais incompetentes
trabalhando para ele. "O que eu quero ouvir é que vocês não só falharam miseravelmente, como não só deixou
os três passarem pela sua droga de equipe, e que não ligou para me dizer que não conseguiu achá-los".
Houve um momento de silêncio do outro lado e Reston conseguiu calá-lo, conseguiu dar um motivo para tornar a
vida dele um inferno.
Mas Hawkinson soou propriamente arrependido. "Claro, senhor. Eu lamento, senhor. Eu voltarei com o helicóptero
para Salt Lake City e trazer alguns de nossos novos recrutas para estender nossos parâmetros de busca. Estarei
deixando meus três últimos homens de guarda, dois à leste e oeste do complexo, e um no veículo de fuga. Eu
voltarei em - noventa minutos, senhor, e nós vamos achá-los. Senhor".
Os lábios de Reston curvaram. "Assim espero, Sargento. Se não o fizer, seu traseiro não valerá nada".
Ele desligou a comunicação e jogou o telefone no gancho, ao menos pensando ter feito algo para facilitar o
processo. Um bom puxão de orelha funciona maravilhas; Hawkinson engatinharia sobre vidro para obter
resultados, exatamente como deve ser.
Reston sentou de novo, olhando para as cobaias enquanto caminhavam sobre a duna. Cole tinha uma arma
agora, e estava levando-os para a porta de conexão. Reston imaginava se John ou Ruivo faziam alguma idéia do
quanto inútil Cole era. Provavelmente não, se eles o deram uma arma...
Quando os três chegaram no topo da duna e começaram a descer do outro lado, os dois Scorps finalmente se
moveram. Diferente da última vez, Reston observou bem de perto, segurando no laço de esperança - de que
acabaria ali, de que os homens seriam derrubados. Não que Reston tivesse dúvidas sobre os Ca6 da Três, eles
certamente não sobreviverão à próxima fase...
... mas e se sobreviverem, hein? Se sobreviverem e forem para a Quatro, e acharem uma saída? O que você
dirá à Jackson, o que você dirá no tour sem nenhum espécime vivo para ver? Aí será o meu traseiro sem valor,
não é?
Reston ignorou a baixa voz, concentrando-se no monitor. Ambos os Scorps andaram rapidamente, garras e
ferrões para o alto, seus frágeis corpos de inseto armados para atacar -
- os três homens estavam atirando, uma silenciosa batalha, os Ar desviando e simulando botes, e caindo sob as
rajadas de balas. As mãos de Reston estavam apertadas e nem percebeu; sua atenção voltada para os Scorps
no chão, esperando vê-los atacarem novamente antes dos homens alcançarem a porta -
-exceto por John e Ruivo estarem indo na direção dos animais, apontando as armas -
- e atirando nos olhos. Eles o fizeram rápido e eficiente, e mesmo com ambos os escorpiões se movendo
enquanto os três iam para a porta, as criaturas cegas só golpearam a areia. Um deles achou um alvo; em um
movimento, ele desceu seu ferrão extraordinariamente tóxico nas costas do outro. O Ar envenenado girou e
cravou sua dentada garra no abdômen do agressor; se contorceu fracamente, vivo porém incapaz de ver ou se
mover - morrendo ao lado do irmão morto.
Reston balançou a cabeça devagar, com nojo do tempo e dinheiro perdido, dos milhões de dólares e
horas-homem que gastaram no desenvolvimento dos habitantes das fases Um e Dois.
E Jackson vai querer essa informação. Uma vez as cobaias mortas e seus amigos pegos, eu conseguirei dar a
volta por cima; como alguns de nossos "prezados" espécimes. É melhor valer agora...
O ruivo estava destrancando a porta que os levaria para a Três; se não tiverem uma caixa de granadas, estarão
mortos em minutos.
Reston respirou fundo, lembrando de quem estava no controle. Hawkinson cuidaria da superfície, Jackson ficaria
agradecido, os três mosqueteiros estavam prestes a serem cegados, pisoteados e devorados. Não havia nada
para se preocupar.
Reston exalou fortemente, conseguindo de alguma forma dar um inseguro sorriso, e forçando a si mesmo relaxar
na cadeira, chamando os monitores que o mostrariam o habitat dos Ca6.
"Digam adeus". Ele disse, e serviu-se de outro conhaque.
[15]
Do terrível e ofuscante calor do deserto, eles pisaram na fria sombra de uma montanha. Eles ficaram na porta,
vasculhando a novo campo de teste, Leon imaginando se estariam enfrentando Hunters ou Spitters nessa grande
e acinzentada sala.
A cinza e pontiaguda pedra do cume da montanha se verticalizava à frente deles. Cinza também as paredes e o
teto, e a sinuosa trilha a oeste, contornando o "pico". Até a grama cerrada era cinza. A montanha parecia bem
real, talhados blocos de granito misturados com cimento, esculpidos como rochedos e pintados para combinar. O
efeito geral era de uma inóspita trilha no alto de uma árida montanha.
Exceto por não haver vento - nem cheiro. Igual às outras duas, nenhum cheiro mesmo.
"Você vai querer colocar sua blusa de novo". John disse, e Leon já estava desatando as mangas da cintura. A
temperatura tinha caído pelo menos quinze graus, já congelando o suor que ganharam na Fase 2.
"Então, para onde vamos?". Cole perguntou, seus olhos arregalados e nervosos.
John apontou diagonalmente pela sala, à sudoeste. "Que tal a porta?".
"Eu acho que ele quis dizer qual é o caminho". Leon disse, mantendo a voz baixa como os outros. Não há porque
alertar os habitantes do lugar sobre suas posições; eles estarão interagindo em breve.
Os três examinaram as opções, todas as duas: pegar a trilha cinza ou subir a montanha cinza.
Hunters ou Spitters... Leon suspirou, seu estômago já dando nó. Se eles conseguirem escapar, se ele achar
Reston, ele daria um sólido chute no traseiro do velho Sr. Blue. Seria contra o sistema que o fez ser policial, mas
aí veio a Umbrella...
"Do ponto de vista defensivo, eu optaria pela trilha". John disse, olhando para a irregular superfície da montanha.
"Nós podemos nos encurralar se subirmos".
"Tem uma ponte, eu acho". Cole disse. "Eu só fiz uma das câmeras aqui, aquela -".
Ele apontou para cima à direita, no canto. Leon mau podia vê-la - as paredes tinham uns quinze metros de altura
e sua pintura monotônica se juntava com a do teto. Criava uma ilusão de ótica fazendo a sala parecer
infinitamente vasta.
"- eu estava numa escada, eu vi por cima, mais ou menos". Cole continuou. 'Há um desfiladeiro do outro lado, e
uma daquelas pontes de madeira e corda para cruzá-lo".
Leon abriu seu estojo enquanto Cole falava, verificando a munição. "Como está a M-16?".
"Talvez quinze sobrando neste". John respondeu, tocando o pente curvo. "Mais dois completos, trinta cada... dois
clips para a H&K, e mais uma granada. "Você?".
"Sete balas aqui, três clips, uma granada. Henry, você contou?".
O funcionário da Umbrella balançou a cabeça. "Eu acho que - cinco tiros, eu atirei cinco vezes".
Ele pareceu querer dizer algo mais, trocando olhares entre Leon e John, finalmente olhando para suas botas
sujas. John olhou para Leon, que deu com os ombros; eles não sabiam nada mesmo sobre Henry Cole, exceto
por não pertencer àquele lugar como eles próprios.
"Ouçam... eu acho que essa não é a hora e lugar, mas só queria dizer que sinto muito. Quer dizer, eu sabia que
havia algo estranho sobre tudo isso. Sobre a Umbrella. E eu sabia que Reston era um idiota, e se eu não tivesse
sido tão ganancioso e burro, eu nunca teria colocado vocês nessa".
"Henry". Leon disse. "Você não sabia, tá bom? E acredite em mim, você não é o primeiro a ser enganado -".
"Sem dúvida". John interrompeu. "É sério. Os colarinhos são o problema aqui, e não caras como você".
Cole não ergueu o olhar, mas acenou, seus finos ombros baixando de alívio. John o passou mais um clip,
acenando para a trilha enquanto Cole o colocava no bolso.
"Vamos nessa". John disse para ambos mas endereçando à Cole. Leon percebeu na profunda voz uma nota de
encorajamento sugerindo que John estava começando a gostar do empregado da Umbrella. "Se ficar difícil nós
podemos voltar para a Dois. Fiquem juntos, calados e tentem atirar na cabeça ou olhos - se é que eles tem
olhos".
Cole sorriu de leve.
"Eu vou na frente". Leon disse e John acenou antes de se afastar da porta e virar à esquerda. O frio ar estava
quieto desde que entraram, nenhum som exceto o deles. Leon foi para trás, Cole andando devagar à sua frente.
A trilha era arranhada; como se alguém tivesse passado um rodo antes do cimento secar. Com o pico à direita
deles, o caminho se estendia por uns vinte metros e depois virava angulosamente à sul, desaparecendo atrás da
íngreme encosta.
Depois dos quinze metros, Leon ouviu o bater de pedras atrás deles. Cascalho solto rolando abaixo do pico.
Ele virou, surpreso, e viu o animal perto do topo do pico, a uns nove metros. Viu mas não tinha certeza do que
estava vendo, exceto por estar descendo, saltitando sobre as quatro robustas patas, como um bode das
montanhas.
Como um bode sem pele. Como - como -
Como nada que já tinha visto antes, e estava quase no chão quando ouviram um molhado som de sacudir em
algum lugar à frente, o som de uma garganta congestionada sendo limpa, ou um cachorro rosnando com a boca
cheia de sangue - e estavam cercados, os terríveis sons vindo de ambos os lados na direção deles.
Voltar para o complexo foi muito fácil. Rebecca precisou de ajuda para subir a cerca, mas parecia melhorar a cada
minuto, recuperando o equilíbrio e a coordenação. David estava mais aliviado do que pretendia, e grato pela
guarda da Umbrella, ou pela falta dela, três homens, dois na cerca e outro na van; patético.
Eles começaram a voltar assim que o helicóptero decolou e foi para o sul, esticando os músculos congelados
enquanto se moviam pelo escuro. Depois de algumas centenas de metros, David se separou das garotas para
fazer um rápido reconhecimento, depois voltou e guiou-as para a cerca e por cima dela. Antes de derrubarem os
guardas, David precisava de algum lugar seguro e quente para rever os procedimentos e melhorar a condição de
Rebecca; ele escolheu o mais óbvio dos galpões, o do meio. O que tinha duas parabólicas, uma série de antenas
e cabos descendo de um lado. Se ele estiver certo, se for o setor de comunicações, seria exatamente o lugar
que queriam estar.
E se eu estiver errado, restam mais dois para vasculhar; um será a sala do gerador, que deve ter algum tipo de
controle climático. Eu posso deixá-las lá e fazer a sabotagem sozinho...
Depois que escalaram a cerca sul, David ficou impressionado com a pobreza do plano da Umbrella. Os dois
guardas protegendo o perímetro estavam posicionados na frente e atrás, como se não houvesse chances de
alguém entrar pelas laterais. Uma vez dentro, David as guiou para o lado mais longe do último galpão, e acenou
para se juntarem.
"Prédio do meio". Ele cochichou. "Deve estar destrancado se for o que acho que é. As luzes estarão acesas. Eu
entro e depois aceno para me seguirem; se ouvirem tiros, entrem o mais rápido possível. Fiquem próximas aos
prédios e abaixem-se ao cruzá-los. Certo?".
Claire e Rebecca acenaram, Rebecca se apoiando em Claire; apesar de fraca, ela estava bem. Ela disse que ainda
estava enjoada e que sua cabeça doía, mas os confusos pensamentos que o atormentavam já tinham passado.
David virou e deslizou pela parede da estrutura mais próxima da cerca, abraçando as sombras, olhando para ter
certeza de que nenhum guarda apareça. Eles chegaram no fim, de frente à oeste e deram a volta. David
primeiro, verificando a posição do guarda. Estava muito escuro para ver, mas havia uma sombra densa atrás da
cerca metálica que o identificava. David ergueu a M-16 e mirou nele, preparado para atirar caso fossem vistos.
Pena não poder atirar agora... mas um tiro alertaria os outros. Como David não estava preocupado com os
guardas na cerca, o guarda da van poderia ser um problema; ele estava longe o bastante para usar o rádio antes
de vir para cá.
Esses dois serão fáceis, mas como se aproximar deles?
Não havia cobertura se o guarda da van os visse chegando -
Isso podia esperar; eles tinham serviço antes de se preocuparem com os guardas. Agachado, David levou Claire
e Rebecca com a M-16 apontada para a sombra na cerca. Ele segurou a respiração enquanto cruzavam o espaço
aberto. Eles conseguiram quase sem um ruído;
Depois que cruzaram, David continuou, seus anos de treinamento permitindo-o se mover tão silenciosamente
quanto um fantasma. Uma vez cobertos pela sombra do galpão, David relaxou um pouco, o pior de tudo se foi.
Eles podiam ir para o prédio do meio através do negro corredor entre as estruturas.
Em menos de um minuto eles chegaram ao destino. Acenando para as mulheres recuarem, David cruzou,
parando na porta fechada. Ele tocou a fria maçaneta de metal e a empurrou para baixo, acenando para si
mesmo ao ouvir o leve click da porta destrancada.
É aqui; o líder da equipe a deixou aberta para os guardas acessarem o satélite no caso de voltarmos. Foi um
chute, mas foi um chute calculado.
Era hora de rezar por um pouco de sorte; se as luzes estiverem acesas, abrir a porta seria como um farol para
qualquer um olhando nessa direção. Os guardas deviam estar olhando para o deserto, mas isso não significava
muito.
Respirando fundo, David empurrou a porta, percebendo que a luz estava fraca enquanto entrava e fechava a
porta. Ele encostou na porta e contou até dez, e relaxou, inalando o morno ar agradecidamente enquanto
estudava o interior. O galpão havia sido dividido em salas - e a sala a qual havia entrado estava forrada de
equipamentos de computador, grossos cabos cruzavam o chão e subiam pelas paredes...
... tudo o que liga esse complexo ao mundo exterior...
David apertou o botão na parede, desligando a única luminária no teto. Sorrindo, ele abriu a porta para que
Rebecca e Claire se juntassem à ele.
"Fiquem contra a parede". Leon gritou, e Cole obedeceu antes mesmo de saber porque. O agitado barulho de
catarro parecia vir de algum lugar acima -
- e então viu a criatura vindo vagarosamente na direção deles, tornando impossível fugir, e mau conteve o grito.
Ele parou a uns quatro ou cinco metros de distância, e Cole ainda não parecia entender; era tão bizarro.
Ah, Jesus, o que é aquilo?
Tinha quatro patas, com cascos divididos, como um carneiro ou bode, e tinha o mesmo tamanho - só que sem
pelos, sem chifres, nada que lembrasse o desenvolvimento natural. Seus corpos atléticos eram manchados com
pequenas variações de marrom avermelhado, como a pele de uma cobra, só que sem brilho; à primeira vista,
parecia coberta de sangue seco. Sua cabeça de algum modo era anfíbia, como a de um sapo - um rosto
achatado sem orelhas com pequenos olhos escuros que saltavam de cada lado, uma boca larga também - mas
com dentes pontudos saindo de uma proeminente mandíbula inferior, um queixo de bulldog, sua cabeça também
manchada com as variações de sangue seco.
A coisa abriu a boca, expondo só alguns dentes afiados, superiores e inferiores, nenhum deles na frente - e
aquele terrível som molhado veio da escuridão de sua garganta, o bizarro chamado acompanhado pelos outros
em algum lugar do outro lado da montanha artificial.
O chamado cresceu, mais alto e profundo enquanto a coisa erguia a cabeça, voltando o rosto para o teto -
- e com um súbito movimento, a coisa abaixou a cabeça e cuspiu neles. Uma grossa bolha de semilíquido
avermelhado voou neles, em Leon, cruzando a longa distância -
- e Leon ergueu o braço para bloquear ao mesmo tempo que John começou a atirar, se afastando da parede e
espirrando no monstro -
- Cuspidor -
- com balas. A meleca atingiu o braço de Leon, teria acertado seu rosto se não tivesse se protegido, e em
resposta às balas, o cuspidor virou e saltou para a montanha esculpida - em longos e fáceis saltos que não
denotavam pânico, dor ou qualquer sentimento, levando-o para o topo em segundos. Ele começou a descer por
seis metros depois pulou agilmente para o chão, parando na frente da porta de conexão. Como se soubesse que
estava bloqueando a saída.
E nem cambaleou, meu Deus -
Os múltiplos berros de onde não tinham visão não aumentaram mais, e também não diminuíram. Os gargarejos
foram parando, um por vez, a falta de alvos tirando-os o motivo; de repente, tudo estava quieto, do mesmo jeito
que estava quando entraram.
"Mas o que bom Deus foi aquilo? John disse, tirando outro clip do estojo, suas expressões desacreditadas.
"Nem se machucou". Cole sussurrou, apertando a 9mm com tanta força que seus dedos ficaram dormentes. Ele
nem percebeu, olhando enquanto Leon tocava o pastoso e úmido punhado de meleca em sua manga -
- e soprou de dor, tirando a mão como se tivesse se queimando.
"Essa coisa é tóxica". Ele disse, rapidamente limpando os dedos na roupa e mantendo-os no alto. As pontas do
dedo do meio e indicador de sua mão esquerda ficaram vermelhos. Ele imediatamente guardou a arma no cinto e
tirou a blusa preta, cuidando para evitar contato com a gosma tóxica, empurrando-a no chão de pedra.
Cole ficou enjoado. Se Leon não tivesse bloqueado...
"Tá bom, tá bom, tá bom" John suspirou. "Isso é ruim, temos que sair daqui o mais rápido possível... você disse
que há uma ponte?".
"Sim, passa por cima do, é, penhasco". Cole disse rapidamente. "Tem uns seis metros, e não sei qual a
profundidade".
"Vamos". John disse. Ele começou a andar na direção de onde a trilha virava, bem depressa. Cole seguiu, Leon
bem atrás.
John parou a uns três metros da curva e encostou na parede, olhando para Leon.
"Você quer cobrir, ou eu?". Leon perguntou suavemente. "Eu". John disse. "Eu vou primeiro. Você corre, Henry,
vá atrás dele - e sigam em frente, entenderam? Cruzem a ponte e vão para a porta - se puderem, me ajudem
-".
O rosto de John era solene. "- e se não puderem, então não podem".
Cole sentiu a já familiar vergonha. Eles estão tentando me proteger, nem me conhecem e eu os coloquei nisso...
se ele pudesse fazer algo para retornar o favor, ele faria, apesar de ter certeza de repente de que nunca faria
algo que ajudasse; ele devia sua vida a esses caras, e várias delas já.
"Prontos?". John perguntou.
"Espere -". Leon virou e correu para onde tinha jogado a blusa. O Spitter na porta ficou quieto e imóvel como
uma estátua, observando-os. Leon recuperou a blusa e voltou, tirando um canivete de seu estojo. Ele cortou a
manga atingida e deu o resto para John.
"Se você for ficar parado, fique com o rosto coberto". Leon disse. "Já que eles não sentem as balas, você não
precisará enxergar nem atirar. Quando cruzarmos, eu gritarei. E se não for seguro do outro lado, eu vou -".
Os autoritários chamados começaram de novo, fazendo Cole lembrar de cigarras por algum motivo, o quase
mecânico ree-ree-ree de cigarras numa quente noite de verão. Ele exalou forte, tentando fingir para si mesmo
que estava preparado.
"Sem tempo". John disse. "Preparem-se para ir -".
Ele pegou a blusa, quando - pasmo - sorriu para Leon. "Cara, você precisa investir num desodorante mais forte;
você fede como um cachorro morto".
Sem esperar uma resposta, John colocou a blusa sobre a cabeça, segurando-a aberta na parte de baixo para ver
o chão. Ele correu, de cabeça baixa, Cole e Leon se preparando até que -
- houve um rápido patpatpatpat, e de repente o material preto sobre o rosto de John ficou pingando com grandes
porções de catarro venenoso vermelho, e balançou a mão para eles -
- e Leon disse. "Agora!". E Cole correu, de cabeça baixa, vendo só as botas de Leon a sua frente, o borrão cinza
do chão e suas próprias pernas. Ele ouviu um grito borbulhante à esquerda e se abaixou mais ainda, aterrorizado
-
- e ouviu passos sobre madeira à frente, e então estava na ponte, tábuas de madeira balançando sob os pés,
amarradas com finas cordas. Ele viu o precipício em forma de "V" por debaixo delas, viu que era fundo, que havia
sido escavado abaixo do nível do Planeta, uns quinze metros -
- e então estava de volta ao chão cinza, antes mesmo de ter vertigem. Ele correu, pensando em como era bom
ter apenas as botas de Leon para se preocupar, seu coração martelando as costelas.
Segundos ou minutos depois, ele não sabia, as botas foram parando, e Cole ousou erguer o olhar. A parede, a
parede, e lá estava a porta! Eles conseguiram!
"John, vai!". Leon gritou, dando alguns passos na direção a qual vieram, sua semi para o alto e preparada. "Vai!".
Cole virou, viu John arrancar a blusa preta, viu um monte de Spitters se agruparem na frente dele, seis, sete
deles berrando. John rasgou um caminho entre eles e pelo menos dois deles cuspiram. Mas John foi rápido, rápido
o bastante tal que só um pouco atingiu seu ombro, até onde Cole pode ver. As monstruosas criaturas foram
atrás dele em seus pulos, não tão rápido, mas quase.
Corre corre corre!
Cole apontou a 9mm na direção dos Spitters, pronto para atirar se conseguir um tiro certeiro, enquanto John
pisava na ponte -
- e desaparecia. A ponte ruiu e John desapareceu.
[16]
John sentiu a ponte ceder alguns segundos após as cordas arrebentarem. Ele instintivamente abriu os braços,
ainda correndo, pensando que fosse conseguir -
- mas começou a cair, seu joelhos batendo na móvel parede de tábuas de madeira, seus dedos fechado no
momento em que acharam algo sólido -
- e tudo o que ouviu foi um whoosh, depois as articulações dos dedos de sua mão direita bateram em pedra, e
agora estava balançando sobre um precipício muito fundo com um pedaço solto de madeira na mão esquerda. Ele
tinha conseguido se segurar num dos pedaços ainda presos na agora pendurada ponte; ambas as cordas que
prendiam o lado norte da ponte tinham se soltado.
John soltou a inútil tábua, ouvindo-a bater no fundo do vale com outros pedaços que haviam se soltado. Ele se
puxou para ter um melhor agarre quando -
- thwock, uma bola de muco vermelho apareceu de repente à sua frente, a menos de trinta centímetros à direita
de seu rosto, deslizando pela parede como uma corda derretida.
- como merda derretida -
Bambambam, alguém estava disparando uma 9mm. O crescente berro dos Spitters se preparando para cuspir o
disseram que definitivamente precisava sair de lá.
Ele subiu de novo, seus bíceps flexionando, a tensão contra o tecido de sua camiseta enquanto agarrava uma
das tábuas e se erguia. Lá em cima, mais tiros, mais próximos, e um grito de Leon que foi cortado por mais
disparos.
Detonem, garotos, eu estou indo -
Mão sobre mão era terrível, ainda mais com dedos sangrando e uma metralhadora pendurada no pescoço, mas
estava indo bem, segurando a próxima tábua -
- até que uma quente umidade acertou as costas de sua mão direita, e doía, era como ácido, queimando -
- e ele soltou, sacudindo o ácido da mão, esfregando-a na blusa violentamente. Ele se segurou com a esquerda,
a dor como fogo crescendo. Tudo o que podia fazer para resistir ao instinto natural era apertar o ferimento
ardente - e o modo como seu dedos começaram a formigar, ele não tinha muito tempo para se preocupar.
"Ele está bem aqui!".
Um histérico grito veio lá de cima. John jogou a cabeça para trás, viu Cole agachado na beira do abismo, sua
camisa de trabalho à frente do nariz, seu olhar frenético e assustado.
"John, me dê a sua mão". Ele gritou, e se esticou para baixo o máximo que podia, flocos de cimento caindo do
chão sob suas botas. Se ele disse mais alguma coisa, ficou perdido sob outra série de tiros explosivos que Leon
usava para manter os cuspidores afastados.
Só levou uma fração de segundo para John reagir à ordem de Cole, e naquele instante entendeu que iria sair de
lá. Henry Cole tinha um metro e sessenta e quatro e pesava uns setenta quilos - vestido. Ele estava parecendo
uma tartaruga assustada pendurada no casco de sua blusa.
Muito engraçado. Engraçado, e conveniente de um modo idiota, e apesar de sua mão ainda doer como o inferno,
ele esqueceu de senti-la por um segundo ou dois.
John sorriu, ignorando os trêmulos dedos de Cole, concentrando-se para se erguer com mão ferida. Houveram
mais daqueles sons atrás deles, mas nenhuma bomba de cuspe por enquanto.
"Mande Leon usar a granada!" Ele suspirou, e Cole virou, gritando sob outra explosão da semi de Leon. John disse
para usar a granada!".
"... disse granada! John disse para usar a granada!".
"Ainda não!". Leon gritou. "Saiam daí!".
Thwap-wap, mais duas escarradas voaram pelo abismo, uma acertando as botas de Cole, a outra à somente
centímetro do suado rosto de John.
Use sua força, John - com um último e profundo gemido, John agarrou a madeira no topo e puxou o corpo para
cima, puxando e empurrando para baixo, trazendo o joelho acima para sair.
"Estou bem, vai!".
Cole, a tartaruga assustada, não precisou de mais incentivo. Ele decolou, correndo enquanto Leon cobria John,
enquanto John corria em sua direção agachado, enfiando a mão ferida no estojo e tirando sua última granada -
ele já tinha tirado o pino quando viu Leon com a dele na mão.
"Jogue!". John berrou, alcançando Leon, Leon arremessando ao alto o poderoso explosivo nos Spitters. Os dois
estavam correndo, John olhando para trás só para ver que três, quatro animais já tinham caído no penhasco.
Sem tempo para pensar, John arremessou baixo, o mais forte que podia, sua granada desaparecendo no buraco
enquanto a de Leon caía na frente dos outros -
- e os dois estavam mergulhando e rolando, as explosões quase simultâneas, KA-WHAM-WHAM, o som de pedra
dissolvida chovendo, uma incrivelmente alta gritaria atrás deles -
"Vocês os pegaram! Vocês os pegaram!".
Cole estava de pé na frente deles, um descontraído olhar de alegria em seu rosto. John sentou, Leon ao seu
lado, ambos virando para olhar.
Eles não tinham matado todos. Dois deles ainda estavam intactos no outro lado do abismo, vivos - mas cegos e
feridos, suas pernas estouradas, um líquido escuro cobrindo o que havia sobrado de seus rostos enquanto
berravam em fúria, como um porco sendo pisado. Os outros dois deviam ter estado bem à frente da explosão;
estavam sangrando, seus corpos estilhaçados, ossos saindo do líquido como - como ossos quebrados. Do fundo
do precipício vinham mais berros, e nada apareceu para atacar. Para todos os efeitos, estava acabado.
John se levantou, estudando as costas de sua mão. Ao contrário do que parecia, a pele não tinha derretido.
Havia algumas pequenas bolhas se formando e a pele parecia queimada, mas não estava sangrando.
"Você está bem?". Leon perguntou, se levantando e sacudindo as roupas, suas jovens feições muito menos
jovens para John.
Eu não vou mais chamá-lo de recruta.
John deu com os ombros. "Acho que quebrei uma unha, mas vou viver".
Ele viu que Cole ainda estava olhando para os dois, seu corpo tremendo com o estouro de adrenalina; ele não
tinha palavras e John de repente se lembrou de como se sentiu depois da primeira batalha na qual atuou
corajosamente. O quanto ficou animado. O quanto vivo ficou.
"Henry, você é um cara engraçado". John disse, batendo no ombro do homem e sorrindo.
O eletricista sorriu incerto e os três foram para a Quatro, deixando os furiosos berros para trás.
Quando a poeira abaixou e os três homens ainda estavam vivos, Reston bateu o punho na mesa, sua raiva e
medo crescendo, seu estômago dando um nó, seus olhos largos com descrença.
"Não, não, não, seus idiotas estúpidos, vocês estão mortos!".
Sua voz estava um pouco enrolada, mas estava muito chocado para reparar nisso, para se preocupar. Eles não
sobreviverão aos Hunters, ele sabia -
- mas também não sobreviveriam aos Ca6.
Reston não conseguia acreditar que tinham chegado até esse ponto; não conseguia acreditar que dos vinte e
quatro espécimes que encontraram, todos exceto um Dac foram deixados mortos ou morrendo. E pior, não
conseguia acreditar que deixou o programa continuar, que seu orgulho e ambição não o deixaram fazer o que
devia ter feito a princípio. Não que estivesse fora de uma "liga", ele estava no círculo interno, ele já tinha superado
esse tipo de insegurança - mas já devia ter falado com Sidney, ou mesmo com Duvall; não por um conselho, mas
para ter um apoio. Afinal de contas, ele não podia ser totalmente responsável se tivesse o apoio de um dos
membros mais velhos...
Não era tarde demais. Ele faria uma ligação explicaria seu plano, explicaria que tinha algumas preocupações - ele
podia dizer que os intrusos estavam na Dois, isso pode ajudar, ele podia acertar os vídeos mais tarde... e os
Hunterts já foram testados antes, não os 3K, e sim os 121. Alguns foram soltos na mansão de Spencer; pelos
dados recolhidos, ele sabia que os homens seriam mortos na Quatro. Mesmo se não forem, não conseguirão sair,
e com o reforço da central, ele ficaria livre.
Certo de ser a decisão correta, Reston pegou o telefone.
"Umbrella, Divisões Especiais e -".
- e silêncio. A doce voz feminina foi cortada no meio da frase, sem se quer um ruído de estática.
"Aqui é Reston". Ele disse afiadamente, percebendo que uma fria mão estava tocando seu coração,
esfregando-o. "Alô? Aqui é Reston!".
Nada; e de repente percebeu que a qualidade da luz na sala havia mudado, ficou mais brilhante. Ele virou a
cadeira esperando desesperadamente que não fosse o que achava ser -
- até que os monitores que mostravam a superfície começaram a chuviscar. Todas as sete desligadas - e alguns
segundos depois, antes que Reston pudesse entender, os sete monitores apagaram.
"Alô?". Ele sussurrou no telefone mudo, sua rápida respiração quente e dolorida. Silêncio.
Ele estava só.
Andrew "Matador" Berman estava morrendo de frio e tédio, imaginando porque os Sargento se incomodou em
postar alguém na van. Os caras maus iriam voltar, eles já tinham fugido - e mesmo se decidirem voltar,
certamente não tentariam pegar o veículo. Seria suicídio.
Ou eles têm um carro reserva ou estão congelados em algum lugar na planície. Isso aqui é uma total besteira.
Andy subiu seu cachecol até as orelhas e reajustou a pega da M41. Seis quilos de rifle não parecia muito, mas
estava de pé há muito tempo. Se o Sargento não voltar logo, ele ficaria dentro da van, descansaria os pés e
sairia do frio; ele não estava sendo pago o bastante para se congelar na escuridão.
Ele se encostou no pára-choque traseiro e imaginou se Rick estava bem; ele não conhecia os outros, mas Rick
Shannon era seu amigo, e estava todo ensangüentado ao ser posto no helicóptero.
Aqueles idiotas, voltem aqui e eu lhes mostrarei sangue...
Andy deu um sorriso, pensando. Não era à toa que o chamavam de matador. Ele era um excelente atirador, o
melhor da equipe, o resultado de uma vida inteira de caça à cervos. Se o trio de imbecis aparecer...
Ele ainda estava pensando nisso quando ouviu um suave apelo sair do escuro.
"Ajude-me, por favor - não atire, por favor, me ajude, eu fui baleada -".
Uma sufocada voz feminina. Uma sensual voz e Andy pegou sua lanterna e mirou no escuro, achando a dona da
voz a menos de nove metros de distância.
Uma garota, vestida numa roupa preta apertada, cambaleando para ele. Ela estava desarmada e ferida,
mancando, seu pálido rosto aberto e vulnerável sob a brilhante luz.
"Ei, espere". Andy disse, não muito bravo. Ela era jovem. Parecia ainda mais jovem do que Andy com seus tinha
vinte e três anos.
Andy baixou a arma devagar, pensando no quanto bom seria ajudar uma mocinha aflita. Ela podia estar com os
três criminosos, provavelmente estava, mas certamente não era uma ameaça para ele; podia segurá-la até o
helicóptero chegar. E talvez fique grata pela ajuda...
... e bancar o herói é um bom modo de ganhar pontos. Caras bons podem terminar por último, mas certamente
tem muita sorte no caminho.
A garota mancou até ele e Andy tirou a lanterna de seu rosto, não querendo cegá-la. Usando somente a nota
certa de sinceridade em sua voz - garotas engoliam essa baboseira - ele deu um passo até ela, segurando uma
mão.
"O que aconteceu? Aqui, deixe me ajudar -?".
Uma escura e pesada coisa bateu nele pelo lado, forte, levando-o ao chão e tirando o ar de si. Antes de saber o
que aconteceu, uma luz estava brilhando em seu rosto, e a M41 estava sendo tirada de suas mãos enquanto
lutava para respirar.
"Não se mexa e eu não atiro". Um homem disse, um britânico, e Andy sentiu o frio cano da arma em seu
pescoço. Ele congelou, sem ousar mover um músculo.
Ah, droga!
Andy olhou para cima, viu a garota segurando o rifle, seu rifle, olhando para ele. Ela não parecia mais indefesa.
"Vagabunda". Ele rosnou, e ela sorriu um pouco, dando com os ombros.
"Desculpe. Se servir de consolo, seus outros dois amigos caíram nessa também".
Ele ouviu outra voz feminina atrás, suave e animada. "Ei, você vai se esquentar. A sala do gerador está bem
tostada".
O matador não estava animado, e enquanto o levantavam e marchavam com ele para o complexo, ele jurou
para si mesmo que essa seria a última vez que subestimaria uma garota - e certamente lembrará disso da
próxima vez que se sentir entediado.
[17]
A Fase Quatro era mesmo uma cidade, a coisa mais esquisita que Leon já tinha visto. As três primeiras eram
bizarras, irreais, mas também eram falsas - a calma floresta, as paredes brancas do deserto, a montanha
esculpida. Em nenhum momento ele esqueceu que era tudo falso.
Isto... não é uma imitação de um habitat orgânico; isto é como deveria se parecer.
A Quatro eram vários quarteirões de uma pequena cidade à noite. Nenhum dos prédios tinham mais de três
andares - postes de luz, calçadas, lojas e apartamentos, carros estacionados e ruas de asfalto. Eles desceram de
uma montanha e caíram em Hometown, E.U.A..
Só haviam duas coisas erradas nela à primeira vista - as cores e a atmosfera. Os prédios, ou eram vermelho tijolo
ou um tipo de bronzeado ao anoitecer, eles pareciam inacabados e os poucos carros que Leon podia ver pareciam
todos pretos; era difícil dizer com as pesadas sombras.
E a atmosfera...
"Assombrada". John disse baixo, e Leon e Cole acenaram. De costas na porta, eles vasculharam a quieta cidade
e a acharam completamente calma.
Como num sonho ruim, um daqueles em que você está perdido e não consegue achar ninguém, e tudo parece
errado...
Não era como uma cidade fantasma, não tinha o ar de um lugar abandonado ou de um lugar que tinha
sobrevivido à sua utilidade; ninguém jamais viveu lá, e ninguém jamais irá. Nenhum carro já foi dirigido por suas
ruas, nenhuma criança já brincou nas esquinas, nenhuma vida já a chamou de lar... e o sentimento de vazio sem
vida era - assustador.
A porta os deixou numa rua que corria de leste à oeste, terminando bem à esquerda deles numa parede pintada
de azul meia-noite. De onde estavam, podiam ver todo o caminho de uma larga rua pavimentada. A suave luz
das luminárias causavam longas sombras, claras o bastante para andar e escuras demais para ver direito.
Havia um carro na frente deles, parado na frente de uma construção bronzeada de dois andares. John foi até ele
e socou o capô. Leon pode ouvir o vazio "tink" sob a mão dele; só a carroceria.
John voltou, vasculhando as sombras com muito cuidado.
"Então... Hunters". Ele disse, e Leon percebeu de repente o que era mais assustador do que os quarteirões na
frente deles.
"Os apelidos são todos descritivos". Ele disse, ejetando o clip de sua semi e contando as balas. Cinco sobrando, e
só tinha mais um clip cheio, apesar de John ainda ter mais dois - não, ele só tinha um, Cole estava com o outro.
E a não ser que Leon estivesse errado, John só tinha um clip cheio para a M-16; trinta balas, e mais o que
restava no rifle.
Sem mais granadas e quase sem munição....
"E agora?". Cole perguntou e John respondeu, seu olhar estreitando enquanto falava, suas expressões mais
alertas enquanto vasculhava cada esquina, cada janela.
"Pense nisso". John disse. "Pterodátilos, escorpiões, bichos cuspidores... caçadores".
"Eu - ah". Cole piscou, olhando em volta com um novo medo. "Isso não é bom".
"Você quer dizer que a saída está trancada?". Leon perguntou.
Cole acenou, e John balançou a cabeça ao mesmo tempo.
"E burro, eu usei a última granada". Ele disse suavemente. "Sem chance de explodir a porta".
"Se você não tivesse usado, nós estaríamos mortos". Leon disse. "E provavelmente não funcionaria se fosse do
mesmo tipo da porta de entrada".
John suspirou pesado, mas acenou. "Acho que devemos queimar aquela ponte quando a acharmos".
Todos ficaram quietos por um momento, um profundo e desconfortável silêncio que Cole finalmente quebrou.
"Então... olhos e ouvidos abertos, e juntos". Ele experimentou dizer, uma pergunta mais do que uma afirmação.
John levantou as sobrancelhas, afetado e sorrindo. "Nada mal. Ei, o que você vai fazer da vida se sairmos daqui?
Quer se juntar à nossa causa e ficar no pé da Umbrella?".
Cole sorriu de nervosismo. "Se sairmos daqui, me pergunte de novo".
Preparados como estariam, eles começaram à sul, andando devagar no meio da rua, os prédios escuros
observando-os com olhos vazios de vidro. Apesar de todos estarem tentando se mover silenciosamente, a vazia
cidade parecia devolver os ecos de seus suaves passos no asfalto, até de suas respirações. Nenhum dos prédios
tinham sinais de decoração, e não havia luzes até onde Leon podia ver. O sentimento de ausência de vida e
opressão o deu uma desagradável lembrança da noite em que chegou a Raccoon para seu primeiro dia de
trabalho no R.P.D., depois que a Umbrella soltou o vírus.
Exceto pelas ruas de lá cheirarem morte e por haverem canibais perambulando pela escuridão e corvos se
alimentando de cadáveres. Era uma cidade na agonia da morte...
Na metade do quarteirão, John ergueu uma mão, trazendo Leon para o presente.
'Só um minuto". Ele disse, e correu par uma das "lojas" à esquerda, uma vitrine de vidro que o lembrava uma
confeitaria, daquelas que sempre tinham bolos de casamento à mostra. John espiou pelo vidro, tentou a porta.
Para a surpresa de Leon ela abriu; John se inclinou para dentro por um longo segundo, depois fechou a porta e
voltou.
"Nem balcão nem nada, mas é uma sala de verdade". Ele disse de voz baixa. "Tem paredes e teto".
"Talvez os Hunters estejam escondidos em uma delas". Leon disse.
Isso aí, mais assustados com nós do que nós com eles, não seria bom. Devíamos ter essa sorte -
"É isso aí!". Cole disse alto, e imediatamente derrubou a voz, ficando vermelho. "Como vamos sair. Os, é, animais
são todos mantidos em celas ou túneis atrás das paredes. Eu não sei quanto as outras fases, mas há um
corredor que circunda a Quatro. Eu vi a porta dele, fica a uns seis metros do canto sudoeste. Tem que ser mais
fácil que a saída normal; pode estar trancada mas não reforçada".
John estava acenando e Leon achou mais plausível do que tentar passar por uma porta trancada pelo lado de
fora.
"Bom". John disse. "Boa idéia. Vamos ver se conseguimos -".
Algo se moveu. Algo nas sombras de um prédio de dois andares bronzeado à direita, algo que calou John e fez
todos mirarem na escuridão, tensos e atentos. Dez segundos passaram, vinte - e seja lá o que era, estava
conseguindo ficar perfeitamente imóvel. Ou...
Ou não vimos absolutamente nada.
"Não há nada lá". Cole cochichou, e Leon começou a abaixar a 9mm, pensando que algo realmente pareceu ter
se movido -
- e de repente a coisa que não podiam ver gritou, um esganiçado e terrível berro como algum tipo de pássaro,
uma besta feroz cega de raiva -
- e o escuro se moveu - Leon ainda não podia ver claramente, era como uma sombra, uma parte do prédio que
se movia, até ver os estreitos olhos brilhantes, eram claros e estavam a pelo menos dois metros do chão, e as
escuras e esfarrapadas unhas quase tocando o asfalto, e percebeu que era um camaleão assim que correu para
eles, ainda gritando.
Reston se apressou na direção da sala de controle, o peso do coldre contra sua perna fazendo-o se sentir melhor.
Sentiria-se ainda melhor se voltasse a tempo de ver os Hunters estraçalharem os três homens, apesar de se
contentar em ver apenas os corpos mortos.
Estaria perfeitamente bem, nenhum problema desde que estivessem mortos.
Reston queria beber, queria se trancar na sala de controle e esperar Hawkinson voltar. Ele sentiu um momento de
quase histeria quando percebeu que as comunicações tinham caído, mas nada tinha mudado, mesmo. O elevador
ainda estava desligado e o sargento incompetente voltaria com o helicóptero a qualquer momento; se foi o trio na
superfície que cortou as linhas - coisa que ele não duvidava - Hawkinson cuidaria deles. Se por uma pequena
chance fosse um problema técnico, um novo eletricista seria contratado assim que liberar o relatório pela manhã.
A parte ruim foi ser incapaz de contatar seus colegas, mas ele decidiu que isso funcionaria a seu favor; quem não
ficaria impressionado, que em tais circunstâncias ele ainda seria capaz de lidar com as coisas? Levando tudo em
consideração, prender os invasores no programa de teste foi seu único recurso. Ninguém o culparia, pelo menos
não muito.
Recuperar o .38 de sua sala tinha aliviado sua mente ainda mais; ele trouxe o revólver para o Planeta mais por ter
sido um presente de Jackson, e apesar de saber pouco sobre armas, puxar o gatilho era tudo o que precisava
fazer com o .38. O pesado revólver praticamente atirava sozinho, nem tinha trava de segurança...
Reston estava no meio do caminho até a sala de controle quando lhe ocorreu que deveria tirar os funcionários do
refeitório; ele tinha passado pela porta trancada duas vezes e nem se deu conta. Conhaque demais, talvez. Ele
pensou em voltar por uma batida de coração, decidindo que eles podiam muito bem esperar; acreditar que os 3K
estavam atuando como deveriam era muito mais importante. Além disso, ele pretendia demitir todos eles assim
que restabelecer contato com a sede; nenhum deles tentou defender o planeta nem seu empregador.
Sala de controle, logo à direita. Reston apressou o passo, entrando na passagem e correndo para a porta. Havia
movimento numa das telas e ele correu para a poltrona, empolgado e ansioso para vê-los morrer. Não havia
nada com que se envergonhar, eles estavam errados, afinal -
- e não estavam mortos, nenhum deles, mas Reston viu que agora era só uma questão de tempo.
Todos os três estavam atirando num dos Hunters, e enquanto olhava, um segundo animal entrou na cena, ainda
tão preto quanto o carro onde estava.
Ruivo girou para a direita, atirando na nova ameaça, mas os 3K não eram derrubados com algumas balinhas;
com um único e grande salto, o caçador diminuiu a distância entre eles, seis metros com um poderoso impulso.
Eles podiam fazer quase nove, Reston sabia através dos dados preliminares -
- e Cole passou a atirar nele também, enquanto John continuava atirando no primeiro, já da cor do asfalto. O
primeiro tinha levado tiros dos três homens; enquanto Reston olhava, o Hunter virou e se esparramou fora da
tela.
O segundo ainda brilhava preto, perfeitamente definido enquanto erguia seu musculoso braço para estapear as
balas que martelavam seu corpo. Enorme, uma figura humanóide pelada e sem sexo, a alta besta de crânio réptil
e unhas de dez centímetros jogou a cabeça para trás e uivou. Reston conhecia o som, sua mente completando a
cena enquanto a criatura começava a desaparecer na rua, as cores quase perfeitas, enquanto girava seu braço
novamente e ruivo era golpeado, caindo.
Isso!
John parou na frente do colega no chão e atirou no monstro, enquanto Cole levantava Ruivo, os dois recuando.
Houve um diálogo -
- e os dois saíram da tela, indo para sul... a criatura se machucou? John parou de atirar e houve sangue jorrando
em algum lugar, cobrindo a face do 3K, seu peito -
- os olhos, deve ter acertado nos olhos. Droga! Ele rolou e caiu. Não era um ferimento fatal mas o incapacitaria
por um tempo.
John virou e correu para seu companheiros, sem mais Hunters à vista - até onde Reston pensava. Não que
importasse, eles estavam mortos; não havia como cruzarem a cidade sem serem atacados, não podiam se
esconder - só para garantir, Reston apertou a trava da porta de conexão da Três.
Nada de partir em retirada, pessoal...
Eles não apareceram na tela que mostrava a rua a sul do ângulo da primeira câmera. Franzindo, Reston intercalou
as câmeras, usando a da fachada de um prédio -
- e viu uma porta fechar, os homens procurando abrigo dentro de uma das lojas. Reston balançou a cabeça.
Aquilo provavelmente os protegeria por mais uns cinco minutos, não mais que isso; os 3K tinham força para
rasgar essa cidade, se assim quisessem, e caçavam basicamente pelo olfato. Eles iriam rastrear os homens e
finalmente colocar um ponto final no problema, vida inúteis.
Não havia câmera no prédio o qual entraram; ele terá que esperar até eles saírem, ou até os caçadores traze-los
para fora. Reston sorriu, seus dentes rangendo, impaciente, imaginando porque os 3K estavam demorando
tanto. Era hora do teste acabar, hora do Planeta ser restaurado.
Os Hunters não iriam falhar. Ele só tinha que esperar mais alguns minutos.
Eles acharam a entrada na parte de trás do prédio do meio, depois da sala do gerador, onde haviam colocado os
três guardas resmungões. Foi uma perda de tempo ter procurado pelos controles do elevador de serviço no
primeiro prédio.
Neste há quatro, uma bateria de elevadores numa câmara carpetada contra a parede oeste. Eles não estavam
operando, mas havia uma plataforma para dois no primeiro poço que acharam, David e Claire abrindo as portas
sem esforço. Mesmo cansada e exausta, a visão da pequena plataforma presa em seu próprio sistema de polia
fez Rebecca querer rir bem alto.
Eles nunca suspeitariam, vamos entrar como sombras.
"Parece que esqueceram de trancar a porta de trás". David disse, um olhar de triunfo em seu abatido rosto.
Claire olhou para o quadrado metálico cheia de dúvidas. "Nós vamos caber aí?".
David não respondeu de imediato, virando para olhar Rebecca. Ela sabia que ele ia sugerir algo e começou a achar
um bom argumento antes de abrir a boca.
O helicóptero pode voltar, e voltará, se estiverem feridos você vai precisar de mim, e se os guardas conseguirem
fugir -
"Rebecca - eu preciso de um honesto relato de suas condições". Ele disse, suas expressões neutras.
"Estou cansada, com dor de cabeça e manca - e você precisará de mim lá embaixo, David, não estou cem por
cento, mas também não estou à beira de um colapso, e você mesmo disse que outra equipe está provavelmente
à caminho -".
David estava sorrindo, segurando as mãos no alto. "Tá bom, vamos todos. Será bem apertado, mas o peso não
será problema, vocês são pequenas...".
Ele entrou, tirando a lanterna e iluminando os cabos, depois a simples caixa dos controles na meia grade de
proteção. "... acho que cabe todo mundo. Devemos?".
Rebecca e depois Claire entraram no poço do elevador, a improvisada plataforma de serviço preenchendo só um
quarto do escuro espaço frio. Vazio acima e abaixo e só havia guarda-corpo de um lado. Claire se apoiou
desconfortavelmente na barra de metal; os três bem apertados um no outro.
"Eu queria ter uma bala de menta". Claire murmurou.
"Eu queria que você tivesse uma". Rebecca disse, e Claire riu abafado. Rebecca podia sentir o movimento das
costelas de Claire em seu braço; eles estavam embalados.
"Aqui vamos nós". David disse, e apertou os controles.
O elevador começou a descer com um alto zumbido, tão alto que Rebecca começou a pensar duas vezes sobre
esse ataque surpresa. Descia devagar, também, metade da velocidade de um elevador normal.
Deus, isso pode levar uma eternidade...
Só de pensar, Rebecca sentiu-se exausta, o barulho do motor bagunçando sua dor de cabeça. Ficar parada a fez
perceber o quanto estava doente, e enquanto o quadrado brilhante das portas abertas subia, Rebecca ficou grata
de repente por estarem grudados; servia como desculpa para se apoiar pesadamente em David, de olhos
fechados, tentando se manter sã por mais um tempo.
[18]
Eles estavam encrencados, entrando no prédio e indo para a parede de trás no escuro, suando e ofegando, Cole
esperando a fina porta estourar a qualquer segundo.
- boom, e eles entram correndo, gritando, cortando a gente em fatias antes mesmo de vê-los -
"Tenho um plano". John ofegou, e Cole sentiu um piscar de esperança, uma esperança que durou até a próxima
frase de John.
"Nós corremos que nem loucos para a parede de trás". Ele disse finalmente.
"Você ficou maluco?". Leon disse. Você viu aquele pulo, não há como correr deles -".
John respirou fundo e começou a falar, baixo e rápido. "Você está certo, mas você e eu somos bons atiradores,
podemos apagar algumas luzes da rua pelo caminho. Mesmo se puderem ver no escuro, será uma distração,
armar uma confusão, talvez".
Leon não disse nada, e apesar de não poder ver seu rosto claramente, Cole o viu esfregar seu ombro, onde a
criatura o havia golpeado. Devagar, ele já estava começando a considerar a idéia de John.
Os dois são malucos?
Cole lutou para manter o terror fora de sua voz. "Não há outra opção? Sei lá, nós podíamos... podíamos subir,
andar pelos telhados".
"Todos os prédios tem diferentes alturas". John falou. "E eu não acho que agüentariam tanto peso".
"E se nós -".
Leon interrompeu suavemente. "Nós não temos a munição, Henry".
"Então voltamos para a Fase Três, pense nisso...".
"Estamos mais perto do canto sudoeste". John disse e Cole sabia que estavam certos, sabia e não gostava nem
um pouco. Mesmo assim ele procurou outra alternativa, tentando pensar em outro caminho.
Os Hunters eram terríveis, eram as coisas mais terríveis que Cole já tinha visto -
- e de algum lugar lá fora, um deles gritou, o arranhado e furioso som estourando pelas finas paredes, e Cole
percebeu que não tinham tempo para um plano melhor.
"Tá bom, certo, tá". Ele disse, pensando que o mínimo a se fazer era aceitar e encarar o inevitável como se
tivesse coragem.
Eu não vou atrasá-los, pensou, e respirou fundo, endireitando os ombros um pouco. Se tem que ser assim, ele
não iria se envergonhar na frente deles virando um convarde chorão - e não iria diminuir suas chances de
sobreviverem tornando-se uma mala.
Cole tirou do bolso o clip que John o havia dado e trocou pelo vazio, seu coração pulando - e ficou um pouco
surpreso por perceber que agora que se comprometeu, que fez uma decisão, sentiu-se mais forte, mais
corajoso.
Eu posso muito bem morrer nessa, disse para si, e esperou pela leva de terror - mas ela não veio. Ele já estaria
morto se não fosse John e Leon, e talvez essa seria sua chance de evitar que um deles se machucasse.
Sem outra palavra, os três foram para a porta, Cole pensando em como sua vida mudou mais nas últimas horas
do que nos últimos dez anos - e do jeito que aconteceu, ele estava grato - sentia-se completo. Sentia-se real.
"Preparar...". John disse, e Cole respirou fundo, Leon sorrindo para ele sobre a suave luz da janela.
"... agora".
John puxou a porta e eles correram para a rua enquanto, envolta deles, a noite era rasgada pelos selvagens
gritos dos Hunters.
Os olhos de Reston brilhavam. Ele se inclinou para frente, olhando para a tela intensamente, deliciado com a
decisão suicida. Todos os três, arremetendo no escuro como lunáticos. Como homens mortos que não sabiam
parar de se mover.
Eles correram à sul, John na frente, Ruivo e Cole bem atrás. De uma calçada à direita deles, um Hunter saltou
para recebê-los -
- e houve um flash de luz, um brilhante estouro alaranjado vindo de cima, vidro em chamas como chuva de
purpurina na rua. Foi uma das lâmpadas da rua, e os 3K pareceram ficar furiosos enquanto o vidro caía. O
caçador vermelho-virando cinza girou o corpo em torno de si, frenético e gritando, procurando o agressor -
- e ignorou completamente os três homens. Todos os três estavam passando, erguendo as armas e atirando
para o céu, acertando mais lâmpadas, e Reston viu outro Hunter pular na rua, quase perdido, como uma sombra
entre sombras -
- e Cole, Henry Cole fintou para a esquerda depois para a direita, cravando uma bala de sua arma na cabeça de
um 3K -
- e houve um estouro de líquido, pedaços de cérebro e sangue jorrando de sua têmpora, o eletricista atirando às
cegas. Os braços do Hunter estavam espasmando, tremendo, mas já estava morto.
Cole continuou correndo, alcançando os outros enquanto mais lâmpadas explodiam.
"Não". Reston sussurrou, sem perceber que havia falado, mas bem certo de que as coisas estavam indo
horrivelmente erradas.
John correu, parou para atirar, correu de novo. Os violentos berros o seguiam, a chuva de vidro e cheiro de metal
queimado vinham até eles de toda a parte -
- e viu um caçador na rua, na frente deles, na interseção que os levaria à jaula, viu os estranhos olhos brilhantes
e o escuro buraco de sua gritante boca -
- guarde munição Jesus ele é igual à rua -
- e continuou correndo direto para a criatura, mirando, as explosivas balas de 9mm atrás dele, o monstro
barulhento a menos de três metros de distância quando John atirou.
Um curto estouro, calculado, direto na gritante e sobrenatural face -
- e o monstro não caiu. E apesar de John ter desviado, não foi o suficiente. Quase cara a cara com ele, o sangue
estava visível e abundante, a coisa levantou um dos longos braços e acertou John no peito.
O golpe acertou seu peito esquerdo e John esperava ser esmagado, jogado no ar, seu corpo esfarrapado - mas
a criatura deve ter sido enfraquecida pela bala, desorientada, cega talvez. Mesmo sentindo seu pulmão contraindo
de dor - e a porrada foi brutalmente sólida - ele já havia tomado golpes mais fortes. Ele cambaleou, mas não
caiu, e já o tinha passado virando para esquerda, indo para oeste.
John olhou para trás, viu que os outros ainda o acompanhavam, olhou para frente -
- lá está ela!
A rua terminava numa parede pintada a menos de um quarteirão à frente - e havia uma abertura feita a um
metro e meio do chão, com uns dois e meio de largura por no mínimo três de altura -
- e houve outro grito à sua direita, ele não conseguia ver o Hunter camuflado, mas bam-bam, Leon ou Cole atirou
nele, o berro ficando frenético de raiva. John ergueu a M-16 e apagou outra lâmpada, dez segundos e estamos lá
-
- e um painel azul marinho da cor da parede começou a deslizar para baixo sobre a abertura, devagar, mas
constante. Em segundos, não haveria saída.
Reston bateu desesperadamente na trava da jaula, a comporta descendo como uma lesma, suas mãos suando,
sua mente embriagada e girando com descrença.
Não não não não -
Rápido!
Ele havia fechado a Dois e a Três, mas ainda havia um Hunter dentro da jaula e se esqueceu dela - e agora o
animal tinha ido embora e os três homens iam fugir. Fugir dele, de suas mortes.
John estava olhando para trás, gritando, Ruivo bem atrás, Cole quase ao seu lado -
- e havia um Hunter a menos de seis metros atrás deles, diminuindo a distância, seu enorme corpo mudando
entre asfalto e bronze, suas garras traçando canaletas na rua.
Mate eles, mate, pule, mate!
John chegou na abertura, suas mãos no chão, impulsionando-o graciosamente. Uma de suas mãos voltou e
Ruivo estava lá, agarrando-a, sendo puxado para dentro num instante -
- e lá estava Cole, e também ia passar, a comporta não fecharia a tempo, mãos se esticando para ele -
- e o Hunter atrás dele varreu os braços para baixo, suas unhas rasgando as costas de Cole, através da blusa e
da pele, através dos músculos e talvez dos ossos.
Os outros puxaram Cole para dentro enquanto a comporta fechava.
Cole não gritou enquanto o sentavam, devendo estar em agonia. Eles os deitaram de barriga para baixo e mais
gentil possível, Leon enjoado de tristeza quanto viu o estado das costas de Cole.
Morrendo. Ele está morrendo.
Em segundos, ele ficou numa piscina do próprio sangue. Através dos farrapos de sua ensopada camisa, Leon
podia ver a carne rasgada, as fibras dos músculos cortados e o liso brilho do osso logo abaixo. Um osso
arranhado. O dano foi feito por dois longos cortes, cada um começando abaixo dos ombros e terminando na
parte inferior das costas. Ferimentos mortais.
Ele respirava baixo, leves suspiros, seus olhos fechados e suas mãos tremendo.
Inconsciente. Leon olhou para John, viu a acometida expressão, o desvio de olhar; não havia nada que podiam
fazer por ele.
Eles estavam numa gigante cela que fedia animais selvagens no final de um longo corredor de cimento, um que
aparentemente corria o comprimento das quatro áreas de teste. Estava escuro, só algumas luzes ligadas,
mostrando a jaula em sombras; as jaulas eram separadas por paredes com grandes janelas, e Leon só podia ver
a que estava perto deles, o lar dos Spitters. Estava coberto com um claro e grosso plástico, o chão coberto de
ossos.
A cela dos Hunters estava vazia, tinha pelo menos 9 metros de largura e o dobro do comprimento, com dois
baixos cochos perto da cerca. Era um frio e solitário lugar para morrer, mas pelo menos estava seguro, não
estava sentindo nenhum -
"Vire... me". Cole suspirou. Seus olhos estavam abertos, seus lábios tremendo.
"Ei, não se mexa". John disse gentilmente. "Você ficará bem, Henry, só fique onde está, não se mexa, tá bom?".
"Besteira". Cole disse. "Me virem, estou morrendo...".
John travou o olhar com o de Leon que acenou relutante. Ele não queria causar mais dor para Henry, mas
também não queria recusá-lo nada; ele estava morrendo e deviam dá-lo o que podiam.
Devagar e cuidadosamente, John ergueu Cole e o virou. Cole gemeu quando suas costas tocaram o chão, seus
olhos largos rolando, mas pareceu aliviado depois de um momento. Talvez o frio... ou talvez já tinha passado do
ponto da dor, ficando dormente.
"Obrigado". Ele suspirou, uma bolha de sangue estourando em seus pálidos lábios.
"Henry, tente descansar agora". Leon disse suavemente querendo chorar. O homem tentou tanto ser corajoso,
acompanhá-los...
"Fóssil". Cole disse, seu olhar fixando-se no de Leon. "No tubo. O pessoal disse - se sair, ele - destruir tudo. Coisa
no laboratório. Oeste. Entendeu?".
Leon acenou, entendendo perfeitamente. "Uma criatura da Umbrella no laboratório. Fóssil. Você quer que nós o
soltemos".
Cole fechou os olhos, sua branca face tão parada que Leon pensou estar acabado - mas Cole falou de novo, tão
baixo que Leon precisou se inclinar para ouvi-lo.
"Isso". Ele suspirou. "Bom".
Cole deu um último suspiro e exalou - e seu peito não levantou mais.
Minutos depois da morte de Cole, os dois homens descobriram como sair da cela dos Hunters. Reston encarou o
monitor, não sentindo nada, determinado a não ficar surpreso. Eles simplesmente não eram humanos e pronto;
quando aceitar isso nada mais o surpreenderá.
A comida era presa firmemente na cerca de aço tal que os manipuladores não precisavam entrar nas celas; a
maior parte do cocho ficava para fora; o suficiente para jogar a comida dentro e os animais a puxarem pelo lado
de dentro. Não havia preocupação de os 3K puxarem as bacias de comida para dentro ou empurrá-las para fora,
as aberturas eram muito estreitas para seus corpos.
Mas não para humanos... ou seja lá o que forem.
John e Ruivo começaram a chutar o cocho, e assim que começou a se deslocar, Reston pegou o revólver e se
levantou, afastando-se dos monitores. Não havia porque olhar. Ele falhou, os testes do Planeta provaram ser
fáceis demais e seria punido severamente pelo que fez, ou talvez morto. Mas ele não estava pronto para morrer,
ainda não - e não pelas mãos deles.
Mas e o elevador, o pessoal na superfície...
Não era seguro subir também. O complexo já devia estar infestados por esses S.T.A.R.S. agora, eles cortaram a
força e estavam esperando seus dois rapazes terminarem o serviço...
Não dá para subir, não dá para matá-los, não há tempo... o refeitório!
Seus empregados o ajudariam. Quando libertá-los, quando explicar as coisas, eles correriam ao seu lado, o
protegeriam.
Preciso ir agora, eles sairão em breve e virão atrás de mim. Tentarão vingar Cole, talvez. Tentarão me deixar
arrependido por ter feito o meu trabalho, o que qualquer um teria feito.
De alguma forma, ele duvidou que tentariam. Reston saiu, já preparando sua história, imaginando como as coisas
ficaram tão terrivelmente erradas.
[19]
Das jaulas, eles pisaram num limpo e esterilizado corredor, e viraram à esquerda - oeste - andando rapidamente
pelo vazio corredor. Nenhum deles falou; não havia nada para falar até acharem o que Cole havia chamado de
Fóssil, até descobrirem se era a decisão certa.
Pela primeira vez desde que entraram no Planeta, John não sentiu vontade de fazer piadas. Cole era um cara
bom, fez o possível para retribuir o erro de tê-los atraído para o programa de teste, fez o que pediram para fazer
- e agora estava acabado, brutalmente ferido, morrendo com sangue e dor no chão de uma jaula.
Reston. Reston pagaria por isso, e se o melhor jeito de pegá-lo era soltando um monstro da Umbrella, assim
seria. A justiça cabível.
Dane-se o livro de códigos. Se o Fóssil é tão mau quanto Cole achava ser, nós o soltaremos, libertaremos os
funcionários e fugiremos. Deixaremos o monstro encontrar Reston e derrubar esse lugar...
O corredor entortava à direita, depois seguia reto, ainda à oeste. Quando fizeram a curva, eles viram a porta à
direita - e John sabia que era o laboratório de Cole. Ele sentia.
E estava certo. A porta de metal abriu - depois de usar a chave de 9mm - e deu num pequeno laboratório com
balcões e computadores, que depois abria numa sala cirúrgica, brilhando de aço e porcelana. A porta na parede
atrás da sala de operações era a qual Cole se referia - e quando viram a criatura, John pôde ver porque Cole
insistiu em contar sobre ela, mesmo em seus últimos momentos. Mesmo se tivesse metade do poder o Planeta
viraria história.
"Cristo". Leon disse, John não achou nada para adicionar. Eles andaram devagar até o gigante cilindro no canto da
gigante sala, depois da mesa de autópsia de inox e bandejas de ferramentas brilhantes, parando na frente do
tubo. As luzes da sala estavam apagadas, mas havia uma luz direcional no teto apontada para o container,
iluminando a coisa. O Fóssil.
O tubo tinha quatro metros e meio de altura e pelo menos três de diâmetro, cheio de um claro líquido
avermelhado - e envolto no fluído, preso em tubos e fios que vinham de cima, estava o monstro. Um pesadelo.
John imaginou que se chamasse Fóssil por causa do que se parecia, ou parte disso - algum tipo de dinossauro,
um que jamais caminhou pela superfície da Terra. A criatura de três metros de altura tinha uma cor pálida, sua
granulada pele rosada por causa do líquido em volta. Não tinha rabo, mas tinha a grossa pele e as pernas de um
dinossauro. Foi certamente criado para andar erguido, e além dos pequenos olhos, o focinho arredondado de um
dinossauro carnívoro, um T-Rex ou um velociraptor, também tinha longos e musculosos braços, e mãos com lisos
e curvos dedos. Impossível como era, parecia uma mutação entre homem e dinossauro.
O que estavam pensando? Por que - por que fazer algo assim?
Estava adormecido, ou em algum tipo de coma, mas estava vivo. Conectada a uma fina mangueira, estava uma
máscara que cobria seus orifícios nasais, e uma bandana de plástico envolvendo sua gigante mandíbula, para
mantê-la fechada.
John podia não vê-los, mas tinha certeza que havia fileiras de dentes afiados na larga e curva boca da criatura.
Seus olhos estavam cobertos por uma pálpebra interna, uma fina camada de pele roxa, e podiam ver o lento
erguer de seu grande peito, os gentis movimentos de seu corpo na meleca vermelha.
Havia uma prancheta pendurada na parede próxima a Fóssil, sobre um pequeno monitor onde finas linhas verdes
piscavam.
Leon ergueu a prancheta, virando as folhas enquanto John olhava, admirado com horror. Uma de suas mãos
aracnídeas torceu, os dedos de vinte centímetros quase formando um punho.
"Aqui diz que uma autópsia está marcada para daqui três semanas e meia". Leon disse, ainda procurando. "O
espécime ficará em estase, blá blá blá... quando será injetado com uma dose letal de Hyptheion antes do
dissecamento".
John olhou para a mesa de autópsia, viu as presilhas de aço em cada lado e três serrotes de ossos embaixo. A
mesa foi aparentemente construída para acomodar grandes animais.
"Por que mantê-lo vivo afinal?". John perguntou, virando para o Fóssil adormecido. Era difícil não olhar; a criatura
era chamativa, horrível e impressionante, uma aberração que exigia atenção.
"Talvez para os órgãos ficarem frescos". Leon disse, e respirou fundo. "Então... vamos fazer?".
É uma pergunta valendo um milhão de dólares, não é? Nós não teremos os códigos - mas a Umbrella terá um
parquinho a menos para suas brincadeiras. E talvez um gerente a menos.
"É." John disse. "Sim, acho que vamos".
Os homens o ouviram quietos, seus rostos pensativos enquanto absorviam o terror que havia invadido o Planeta.
A invasão de cima, seu pedido de ajuda, como os invasores o derrubaram depois de matarem Cole a sangue frio.
Os empregados não fizeram perguntas, só ficaram sentados tomando café - alguém tinha feito café - e ficaram
ouvindo. Ninguém o ofereceu uma xícara.
"... e quando me recuperei, eu vim aqui". Reston disse, e correu uma trêmula mão sobre o cabelo,
estremecendo apropriadamente. Ele não precisava inventar tremores. "Eu - eles ainda estão por aí, em algum
lugar, talvez instalando explosivos, eu não sei... mas podemos impedi-los se trabalharmos juntos".
Ele podia ver em seus olhos que não estava funcionando, ele não os inspirava ação. Ele não era bom com
pessoas, mas podia lê-las bem o bastante.
Eles não estão acreditando, use Henry...
Os ombros de Reston pularam, um assombrado tom em sua voz. "Eles atiraram nele". Ele disse, olhando para
baixo, atordoado de tristeza. "Ele estava implorando, apelando para o deixarem viver, e eles - eles atiraram".
"Onde está o corpo?".
Reston olhou para cima, viu que Leo Yan tinha falado, um dos manipuladores de 3K. Yan não tinha nenhuma
expressão, apoiado na ponta da mesa de braços cruzados.
"O quê?". Reston perguntou, parecendo confuso, mas sabendo exatamente do que Yan estava falando. Pense,
droga, já devia ter pensado nisso -
"Henry". Alguém disse, e Reston viu que era Tom alguma coisa, da construção. Sua áspera voz estava
abertamente céptica. "Eles atiraram em Cole, te apagaram - então o corpo ainda está no bloco das celas,
certo?".
"Eu - eu não sei". Reston disse, sentindo-se quente e desidratado de tanto conhaque. Sentindo que não se
recuperaria da inesperada pergunta. "Sim, deve estar, a não ser que o moveram por algum motivo. Eu acordei
confuso, enjoado, eu queria achar vocês imediatamente, ter certeza de que não foram feridos. Eu não reparei se
ainda estava lá...".
Eles olharam para Reston, um mar de rudes faces que não estavam mais tão neutras. Reston viu descrença,
desrespeito e raiva - e nos olhos de um ou dois, viu rancor.
Por quê, o que eu fiz para inspirar tal desprezo? Eu sou o chefe e empregador deles, eu pago seus malditos
salários -
Um dos mecânicos se levantou da mesa e se adereçou aos outros. Era Nick Frewer, o que parecia ser o mais
popular entre eles.
"O que me dizem de sairmos daqui?". Nick perguntou. "Tommy, você tem as chaves do caminhão?".
Tom acenou. "Claro, mas não a chave do depósito".
"Eu tenho". Disse Ken Carson, o cozinheiro. Ele se levantou também, e aí a maioria estava de pé, se
espreguiçando e bocejando, terminando com o café.
Nick acenou. "Bom, todos façam as malas e estejam no elevador em cinco -".
"Esperem!". Reston disse, incapaz de acreditar no que estava ouvindo, que iriam fugir de suas obrigações. Que
podiam ignorá-lo. "Há mais na superfície, eles vão matar vocês! Vocês têm que me ajudar!".
Nick virou e olhou para ele, seu olhar calmo. "Sr. Reston, nós não temos que fazer nada. Eu não sei o que
realmente está acontecendo, mas acredito que você é um mentiroso - e posso não falar por todos, mas eu não
sou pago o bastante para ser seu guarda-costas.
Ele sorriu de repente, seus olhos azuis brilhando. "Além disso, eles não estão atrás de nós".
Nick virou e foi embora, e Reston pensou em atirar nele por um instante - mas só tinha seis balas e nenhuma
dúvida de que seus colegas cairiam em cima dele se ferisse um dos operários. Ele pensou em dizer que suas
vidas estavam acabadas, que não esqueceria dessa traição, mas não queria desperdiçar seu ar. E não tinha
tempo para isso.
Esconda-se.
Era tudo a se fazer.
Reston deu as costas para os insubordinados e correu, sua mente pensando nos lugares para ir, rejeitando
algumas opções por serem óbvias demais, muito expostas -
- e se decidiu. A bateria de elevadores, perto da ala médica. Era perfeito. Ninguém pensaria em olhar dentro de
um elevador que nem funcionava. Ele podia forçar a entrada em um deles e ficar a salvo lá dentro. Ao menos por
um tempo, até pensar em outra coisa para fazer.
Suando, apesar do frio cinza do quieto corredor principal, Reston virou à direita e começou a correr.
Depois do que pareceram horas de descida pelo escuro e frio duto do barulhento elevador, eles chegaram ao
fundo.
Ou no topo, dependendo de como você olha, Claire pensou, enquanto a lanterna de David acendia e o motor
desligava. Eles pararam em cima de uma cabine de elevador, vazia exceto por uma escada de mão ao lado.
Eles saíram do quadrado de metal, Claire aliviada por voltar a uma superfície mais sólida. Descer por um poço
aberto de elevador onde um passo em falso podia levá-la à morte não era sua idéia de diversão.
"Acha que alguém nos ouviu?". Claire perguntou, e viu silhueta de David mexer os ombros.
"Mesmo se estivessem a trezentos metros daqui, acho que sim". Ele disse. "Espere, eu vou descer...".
Claire acendeu sua lanterna enquanto David sentava, segurando as pontas do painel e se abaixava. Enquanto
movia a escada, Rebecca também ligou a lanterna, e Claire viu seu rosto.
"Ei, você está bem?". Claire perguntou, preocupada. Rebecca parecia doente, muito pálida e com olheiras
escuras.
"Sim, já estive melhor, mas vou sobreviver". Ela disse de leve.
Claire não estava convencida, mas antes de insistir no assunto, David as chamou.
"Certo - deixem os pés pendurados, eu os guiarei até os degraus e as ajudarei a descer".
Claire acenou para Rebecca ir primeiro, decidindo que se ela não conseguisse funcionar, provavelmente diria algo.
Enquanto David ajudava Rebecca, ocorreu a Claire que ela não diria nada se estivesse na pele da garota.
Eu iria ajudar, e não gostaria de ser deixada para trás; eu continuaria mesmo se isso fosse me matar...
Claire limpou a mente, passando pelo teto do elevador. Rebecca não era tão rebelde, ela era médica. Ela era
normal.
Assim que desceu, David acenou para Claire e os dois puxaram as frias portas de metal, Rebecca mirando sua
semi aleatoriamente na abertura que aumentava. Quando conseguiram afastar as portas alguns centímetros,
David saiu primeiro e depois acenou para o seguirem.
Uau...
Ela não sabia ao certo o que veria, e um corredor cinza não era uma das possibilidades. Ele se prolongava à
direita, terminando numa porta, e virava à esquerda, cerca de seis metros do elevador que levava à leste. Claire
não sabia sobre as direções, mas sabia que o elevador que Leon e John pegaram estava à sudoeste -
considerando que desceu reto.
Estava silencioso, perfeitamente quieto. David moveu a cabeça para a esquerda, indicando que seguiriam naquela
direção, as duas garotas acenaram.
Podemos começar pelo elevador, ver se podemos descobrir que caminho seguiram...
Claire olhou Rebecca de novo, sem querer encará-la porém insegura sobre sua saúde, ela não parecia bem e
quando Rebecca virou para a curva do corredor, Claire viu o olhar de David, acenando de leve na direção da
médica, franzindo.
Ele hesitou, e ela viu que ele sabia sobre a condição de Rebecca. Pelo menos -
- e Rebecca soltou um agudo grito de surpresa, já na curva -
- assim que um homem de terno azul apareceu e a agarrou, tirando a arma da mão dela e colocando um
revólver em sua cabeça.
Ele travou seu braço no pescoço dela, apertando, e virou seus selvagens olhos para eles, seu dedo no gatilho, um
trêmulo sorriso em seu velho rosto.
"Eu vou matá-la! Eu vou! Não me façam matá-la!".
Rebecca segurou o braço dele e ele apertou mais, suas mãos tremendo e seus olhos azuis intercalando entre
David e Claire. Rebecca fechou um pouco os olhos, seus dedos cedendo e Claire viu que estava muito fraca, que
estava a ponto de um colapso.
"Vocês não vão me matar, fiquem longe! Fiquem longe ou eu mato ela!".
O cano do revólver estava apertado na cabeça dela, se David ou Claire se moverem...
Eles só olharam enquanto o maluco começou a recuar, arrastando Rebecca para a porta no fim do corredor.
[20]
Foi assustadoramente fácil tirar Fóssil do coma. Em questão de momentos, Leon entrou no programa de
monitoramento e descobriu como drenar o cilindro. De acordo com o relógio digital que surgiu na tela, só levaria
cinco minutos.
Deus, qualquer um trabalhando aqui poderia ter feito isso, a qualquer hora. Para uma companhia tão paranóica, a
Umbrella dá muita moleza...
"Ei, olhe isso". John disse, e Leon virou-se do pequeno computador, olhando cautelosamente para o monstro.
Mesmo depois de sobreviver ao inferno de Raccoon, depois de lutar com zumbis e aranhas gigantes e até mesmo
com um crocodilo gigante, essa foi a coisa mais estranha que já tinha visto.
John estava de pé na parede do outro lado da sala, olhando para uma pintura laminada. Assim que se aproximou,
Leon viu que era um mapa do Planeta, cada área claramente identificada. O complexo tinha um layout bem
simples, basicamente um corredor que cercava as quatro fases, a maioria dos escritórios e salas em pequenas
partições do corredor.
John tocou um pequeno quadrado à leste, logo depois do elevador de serviço. "Aqui diz 'controle de teste/sala de
monitoramento,'". Ele disse. "e fica a caminho da saída".
"Você acha que Reston se escondeu lá?". Leon perguntou.
John balançou os ombros. "Se ele estava vendo as fases, é lá que deveria estar - o que me intriga é se ele não
deixou aquele livro por lá".
"Não custa tentar". Leon disse. "Vai levar uns cinco minutos para esvaziar o tubo, dá tempo - considerando que o
elevador não seja um problema".
John virou para olhar Fóssil, adormecido no gel. "Você acha que ele vai mesmo acordar?".
Leon acenou. As condições listadas no programa de monitoramento pareciam boas, a pulsação e a respiração
indicando sono profundo; não haveria porque não acordar quando o quente nutriente for drenado.
E provavelmente acordará com frio, bravo e faminto...
"É". Leon disse. "E não queremos estar aqui quando isso acontecer".
John sorriu um pouco, não seu sorriso normal, mas um sorriso. "Então vamos". Disse suavemente.
Leon voltou para o computador, banhado pelo reflexo vermelho do tubo. Fóssil flutuava pacificamente, um
gigante adormecido. Uma monstruosidade criada por monstruosas pessoas, levando uma vida inútil num lugar
construído para a morte.
Derrube tudo, Leon pensou e apertou "enter". O relógio começou a retroceder; eles tinham cinco minutos.
David achou que era Reston, mas não dava para saber. Não importava; só queria saber como tirar Rebecca dele,
e enquanto o enlouquecido homem de terno azul recuava para a porta, David percebeu que não havia nada para
fazer.
Ainda não.
"Vão embora! Me deixem em paz!". O homem - Reston - gritou, e desapareceu. Rebecca se foi, e fraca como
parecia antes da porta fechar, deixou David muito assustado.
"O que faremos?".
Ele olhou para Claire, viu a ansiedade e o medo no rosto dela, fazendo-o respirar fundo, exalando
vagarosamente. Eles não fariam nada se entrassem em pânico -
- e acabaríamos matando ela.
"Fique calma". Ele disse, sem sentir nada. "Nós não conhecemos o lugar, não podemos dar a volta e cercá-lo...
nós teremos que seguí-lo?".
"Mas ele -".
"Sim eu sei o que ele disse". David interrompeu. "Não há alternativas. Nós deixaremos eles ganharem distância e
depois os seguiremos".
E esperamos que não seja tão instável quanto parece.
"Claire - é uma tarefa cautelosa, não podemos fazer barulho. Talvez seja melhor você ficar aqui...".
Claire balançou a cabeça, um olhar de determinação em seus olhos. "Eu consigo". Disse, firme e clara. Ela não
tinha dúvidas, e apesar de não ser treinada, provou ser rápida e equilibrada.
David acenou e ambos andaram para esperar na porta, dois minutos a não ser que ouçamos algo, abriremos a
porta devagar -
Ele se forçou a respirar fundo novamente, bravo consigo mesmo por tê-la trazido com eles. Ela estava exausta e
ferida, não conseguiria lutar se Reston decidisse apertar mais sua garganta...
Não. Agüente firme, Rebecca. Nós estamos indo, e podemos esperar a noite toda para achar uma oportunidade.
Eles esperaram, David rezando para que Reston não a machucasse, jurando que se o fizer, arrancaria seu fígado
e o faria comê-lo.
***
Eles procuraram pelo elevador no interminável corredor, sem correr. O refeitório estava vazio e uma rápida
procurada nos dormitórios disse a John que os funcionários tinham fugido. Havia claros sinais de que eles estavam
com pressa em arrumar as coisas.
Espero que Reston ainda esteja aqui...
Enquanto corriam à norte pelo corredor, John decidiu que se Reston ainda estiver na sala de controle, ele o
nocautearia. Um bom e sólido soco na cara; e se não levantar antes do Fóssil, já era.
Os dois passaram pela entrada da sala de controle, ambos sabendo que precisariam mais de um elevador
funcionando do que de Reston, e como Leon disse, eles não queriam estar presentes no grand finale do Planeta.
O painel aberto na parede e a pequena luz sobre o aviso "em uso" foram o suficiente para fazer John sorrir como
criança. Um alívio, pois eles se arriscaram soltando Fóssil antes de garantir uma rota de fuga.
Leon chamou o elevador, também aliviado. "Dois, dois minutos e meio". E John acenou.
"Só uma olhadinha". Ele disse, e virou para a pequena quebra no corredor. Leon estava sem balas, mas John
ainda tinha algumas na M-16 caso Reston fizesse algo estúpido.
A porta estava destrancada. John foi primeiro, varrendo a grande sala com o rifle, e ficou espantado com o lugar.
"Caramba". Ele disse de leve. Uma fileira de cadeiras de couro de frente para uma parede cheia de monitores.
Um carpete vermelho escuro de veludo. Um brilhante e ultra-moderno console prateado e polido, e uma mesa
que parecia de mármore branco atrás.
Pelo menos não temos que revirar tudo...
Exceto por uma mesinha de café e um cantil prateado no console, não havia nada para ver. Nenhum papel ou
coisas de escritório, nem itens pessoais nem livro de códigos secretos.
"Provavelmente temos que ir". Leon disse. "Estou estimando tempo aqui, eu odiaria me atrasar".
"Tá bom, vamos -".
Houve movimento na parede de monitores, no meio da segunda fileira de cima para baixo. John se aproximou,
imaginando o que seria, os empregados se foram e havia duas pessoas na tela, não pode ser -
"Essa não". John disse, e sentiu seu estômago cair, seu olhar horrorizado fixado na tela.
Reston com uma arma. Arrastando Rebecca por um corredor, seu braço em volta do pescoço dela, seus pés
arrastando no chão, sua cabeça pendurada, seus braços frouxos.
"Claire!".
John olhou para Leon, que estava olhando para outro monitor, viu David e Claire armados, andando rapidamente
por outro corredor.
"Dá pra reencher o tubo?". John falou, seu estômago ainda amarrado, mais aterrorizado do que esteve durante a
noite toda, aquele miserável pegou a 'becca -
"Não sei,". Leon disse rapidamente. "podemos tentar, mas temos que ir agora -".
John se afastou dos monitores, procurando o laboratório num deles, sua exaustão sumindo quando mais
adrenalina caiu em sua circulação.
Ali, uma sala escura, uma única luz apontada para o tubo, para a inquieta coisa lá dentro. Em segundos, mãos
ensopadas socaram o material, arranhando, estraçalhando, uma grande e pálida perna réptil atravessando o
vidro.
Tarde demais: Fóssil acordou.
[21]
A criatura designada ReH1a da série Tyrant, mais conhecida como Fóssil, estava puramente motivada pelo seu
único instinto: comer. Todas as suas ações vinham desse único e primário impulso. Se houver algo entre ele e a
comida, Fóssil o destruiria. Se algo o atacar, se algo tentar tirá-lo da comida, Fóssil o mataria. Não havia impulso
reprodutivo porque Fóssil era o único membro de sua espécie.
Fóssil acordou com fome. Ele sentia a comida, em cargas elétricas no ar, mornas ondas de calor - e destruiria o
que a tivesse. O ambiente não era familiar para Fóssil, mas não importava; continha comida e estava com fome.
Com três metros de altura e pesando cerca de quatrocentos e cinqüenta quilos, a parede que separava fóssil da
comida não agüentou muito tempo. Havia outra parede depois da primeira, e mais outra - e as ricas sensações e
cheiros de comida estavam perto, muito perto para que Fóssil sentisse uma emoção: ele queria, uma coisa que ia
além da fome, uma poderosa extensão de seu instinto que o encorajava a ir mais rápido. Fóssil comeria qualquer
coisa, porém comida viva o fazia querer mais.
A parede que o separava da comida era mais grossa e mais dura que as outras, mas não o suficiente para que
Fóssil parasse. Ele rasgou as camadas da substância e saiu num lugar estranho, nada orgânico além do arrastar
de comida.
A comida corria para ele, era difícil de ver, mas cheirava forte. A comida ergueu uma garra e a varreu em Fóssil,
gritando de raiva, com desejo de atacar e matar; Fóssil sabia por causa do cheiro. Em segundos, Fóssil foi
cercado pela comida e de novo, ele quis. Os animais que eram comida uivaram e gritaram, dançando e pulando.
Fóssil se esticou e pegou o mais próximo.
A comida tinha unhas afiadas, mas a pele de Fóssil era grossa. Ele mordeu a comida, rasgando um grande
pedaço do corpo contorcido, e se encheu. Seu senso de propósito alcançado assim que mastigou e engoliu,
sangue quente descendo pela sua garganta, carne quente rasgando entre seus dentes.
Os outros animais continuaram atacando, ficando fácil para Fóssil comer. Ele comeu toda a comida em pouco
tempo e seu metabolismo a consumiu no mesmo período, dando à Fóssil mais força para encontrar mais. Era um
processo extremamente fácil que continuaria enquanto estivesse vivo.
Terminando com a escura e cavernosa sala que continha a barulhenta comida, Fóssil lambeu o sangue dos dedos
e abriu os sentidos, procurando pela próxima refeição. Em segundos, descobriu que havia mais, se mexendo por
perto.
Fóssil queria. Fóssil estava com fome.
[22]
A garota estava mau, sua pele branca e suas tentativas de se soltar inúteis e fracas. Reston queria se livrar dela,
largá-la e correr, mas não ousou. Ela era sua passagem para superfície; certamente não matariam um dos seus.
Ainda assim, ele queria que ela não estivesse tão doente. Ela o estava atrasando, quase incapaz de andar, e não
tinha escolha além de continuar carregando ela, ao norte pelo corredor de trás, depois a leste no canto mais
distante do complexo, na direção da porta do bloco das celas. De lá, o elevador de serviço ficaria a dois minutos
de caminhada.
Quase lá, quase no fim desta impossível e incrível noite, falta pouco...
Ele era um homem extremamente importante, era um respeitado membro de um grupo que tinha mais poder e
dinheiro que alguns países, ele era Jay Wallingford Reston - e ali estava, sendo caçado em seu próprio território,
forçado a fazer uma refém, colocando uma arma em sua cabeça e fugindo como um criminoso; era ridículo e
inacreditável.
"Muito apertado". A garota sussurrou, sua voz esganada e áspera.
"Que pena". Ele respondeu, continuando a arrastá-la pelo fino pescoço; ela devia ter pensado nisso antes de
invadir o Planeta.
Ele a puxou pela porta que dava acesso ao bloco das celas, sentindo-se melhor a cada passo. Cada passo o
deixava mais perto da saída, da sobrevivência. Ele não seria caçado por um grupo de capangas justiceiros sem
visão; ele se mataria antes.
Passadas as celas vazias, quase na porta - e a garota tropeçou, caindo nele tão forte que quase o derrubou. Ela
agarrou forte nele, tentando recuperar o equilíbrio, e Reston sentiu uma súbita leva de raiva por ela.
Vagabunda estúpida, assassina, espiã, eu devia atirar em você aqui, agora, e espalhar seu preguiçosos miolos
nas paredes -
Ele recuperou o controle antes de apertar o gatilho, a perda de compostura o assustando um pouco. Teria sido
um erro, e teria custado caro.
"Faça isso de novo e eu te mato". Ele disse friamente e chutou a porta que dava no corredor principal, gostando
do quanto impiedosa sua voz tinha soado. Tinha soado forte, como um homem que não hesitaria matar se
servisse seus propósitos - os quais descobriria seja lá quais fossem.
Depois da porta, já no corredor -
"Deixe-a ir, Reston!".
John e Ruivo estavam na curva, ambos apontando suas armas para ele. Bloqueando a passagem para o
elevador.
Imediatamente, Reston arrastou a garota de volta para dentro enquanto decidia o que fazer -
"Esqueça". Ruivo gritou. "Eles estão atrás de você, nós os vimos te seguindo. Você está cercado".
Reston apertou o cano da arma na cabeça da garota desesperado, eu tenho a refém, eles não podem, eles tem
que me deixar ir -
"Eu vou matá-la!". Ele recuou de novo, indo para a ante-sala do programa de teste, a garota forçando para ficar
de pé.
"E depois nós matamos você". John disse, sem um pingo de mentira em sua voz. "Se você machucá-la, nós
vamos te machucar. Solte-a e nós vamos embora".
Reston alcançou a porta de metal e apertou o botão que destrancava a porta da Fase Um.
"Você não quer que eu acredite nisso". Ele sorriu assim que a porta subiu; só restava um Dac vivo e havia
deixado as jaulas abertas - eu posso subir, ainda posso fugir deles, não é tarde demais!
Naquele segundo, a porta do bloco das celas abriu e os outros dois apareceram - entre Reston e os outros dois, e
agiu antes de pensar, aproveitando a chance.
Reston empurrou a garota, com força, jogando-a contra os quatro e pulando à esquerda no mesmo instante,
acertando a porta com o ombro. A porta para a Um abriu e ele passou, fechando-a. Havia uma trava e ele a
acionou, o metal soando como música.
Quanto mais longe das clareiras mais seguro estaria. Eles não podiam tocá-lo.
Fortes mãos a seguraram antes de cair no chão - e podia respirar de novo - e John e Leon estavam vivos... o
alívio era um oceano de calor crescendo nela, fazendo-a se sentir ainda mais fraca. O sufocamento prolongado
tirou quase toda a pouca força que ainda tinha. E pensar nisso fez suas duas pernas carregarem algo como a
morte; como cocô no biscoito; costumava dizer isso quando criança...
Claire a segurou - eram as fortes mãos de Claire - e todos se juntaram entorno dela, John a levantando
facilmente.
Rebecca fechou os olhos, relaxando na exaustão.
"Você está bem?". David perguntou, e ela acenou, aliviada e feliz por estarem juntos de novo, por ninguém ter se
ferido -
- ninguém exceto eu -
- e sabia que quando puder descansar, ficaria bem.
"Nós temos que sair daqui, agora. Leon disse, uma urgência em sua voz que fez Rebecca abrir os olhos, a
confortante sonolência sumindo instantaneamente.
"O que foi?". David perguntou, sua voz aguda.
John virou e começou a carregá-la pelo corredor rapidamente, chamando por sobre os ombros. "Nós dizemos na
subida, mas temos que ir o mais rápido possível, sem brincadeira".
"John?". Ela disse, e ele olhou para baixo, dando um sorriso, seus olhos escuros contando uma história diferente.
"Nós ficaremos bem,". Ele disse. "é só relaxar e começar a inventar histórias sobre seu ferimentos de guerra para
nós".
Ela nunca o viu tão inseguro. Ela começou a dizer que os ferimentos não a tinham deixado burra -
- quando um tremendo barulho veio de algum lugar à frente, um som como paredes sendo quebradas, como
vidro explodindo, como um touro numa loja chinesa -
- e John virou, correndo por onde vieram - não conseguia ver, mas ouviu o forte suspiro de Claire, ouviu David
dizer desacreditado, "Ah, meu Deus", e sentiu seu coração parar de bater com medo.
Algo muito ruim estava vindo.
[23]
Droga, não estamos rápido o bastante -
Numa nuvem de poeira e entulho, concreto e gesso, Fóssil bateu na parede da frente do elevador como a visão
do inferno. Seu focinho e mãos estavam vermelhos, espirros da violenta cor sobre o adoentado branco de sua
pele, seu gigante corpo enchendo o corredor.
"Clip!". Leon gritou, sem tirar o olhar do assombroso monstro, ainda a uns trinta metros à frente deles e não
longe o bastante. Ele ejetou o clip vazio de sua H&K, sem saber que Claire havia lhe dado um cheio enquanto
Fóssil dava um passo até eles -
- e David estava disparando a M-16, o estouro das balas no longo corredor, Fóssil dando outro longo passo
enquanto Leon carregava a arma. De repente John estava ao seu lado, pegando um clip para a metralhadora
com David, Claire do outro lado de David, os quatro mirando na criatura.
Leon achou o olho direito do monstro e apertou o gatilho, o som da 9mm perdido no meio do tiroteio, todos
atirando -
- bambambam, os sons se misturaram, ensurdecendo, Fóssil entortando a cabeça como se estivesse curioso,
dando outro passo contra a parede de balas.
"Recuem!". David gritou, e Leon recuou um passo, horrorizado pela falta de ferimentos de Fóssil. Se estava
doendo, não dava para ver, mas era tudo o que tinham. Ele tentou os olhos de novo -
- e ouviu Claire gritar algo, virando e vendo que ela tinha uma granada e a estava entregando à David.
"Vai, vai, vai!". David gritou, e John puxou o braço de Leon e ambos correram, Claire os guiando, Leon rezando
para estarem longe o bastante e não serem pegos pelos estilhaços de metal quente.
Claire correu, aterrorizada, nunca tinha visto algo assim. Um pesadelo branco manchado de vermelho, um sorriso
curvo com afiados dentes, e suas mãos, dedos longos e vermelhos -
- o que é ele, como é -
"Atire no buraco!". David gritou, e Claire pulou, tentando voar, vendo naquele segundo o rosto pálido e cansado
de Rebecca, a garota se jogando na parede de trás ainda a trinta metros de distância -
- e BOOM, ela estava voando, John à sua direita, um quente corpo caindo em suas costas - e todos caíram no
chão, Claire tentando cair sobre o ombro, mas aterrissou forte sobre o braço.
Ai ai ai!
David tinha se jogado nela, ou de propósito ou pela explosão, e quando sentou e virou, o achou franzindo de dor.
Ela viu dois, três pedaços escuros de metal fincados em suas costas, atravessando a vestimenta especial, e foi
ajudá-lo -
- e viu o monstro ainda de pé. Esfregando o peito e a barriga, as marcas escuras dos fragmentos. Algumas
lascas furaram sua carne - mas era difícil dizer com seu silêncio - e não parecia bravo do modo como deu outro
passo. Ele abriu a boca, sua pesada mandíbula de lagarto - expondo fiapos de uma carne desconhecida em seus
dentes. Silenciosamente, ele deu outro passo, sorrindo, e Claire imaginou que podia sentir seu hálito de carne ou
seja lá o que estava apodrecendo dentro dele -
Caia fora daí!
Ela se levantou, ignorando a dor em seu braço, abaixando para pegar a mão estendida de David e puxá-lo. No
segundo em que ele se levantou, ela apontou sua 9mm e começou a atirar de novo, sabendo que não era
suficiente, não sabendo mais o que fazer.
Quatro ferimentos, todos nas costas, todos queimando. David soprou o ar por entre os dentes, considerando a
dor suportável e a deixando de lado. O monstro não tinha caído, podia ter ficado mais lento, mas não estava
parando, e não tinham nada pior para jogar além de tudo o que já tinham tentado.
Corram, nós teremos que correr -
Mesmo enquanto pensava, ele estava abrindo a boca para gritar, para ser ouvido por John, Leon e Claire
enquanto esvaziavam suas armas, as balas tão inúteis quanto a granada.
"John, pegue Rebecca! Recuem, nós não podemos com ele!".
John já foi, Leon e Claire deslizando para trás e atirando - com a pequena esperança de que pudessem causar
algum dano, que uma das balas pudesse acertar alguma coisa que doesse.
"David, nós podemos entrar na área de teste, aço reforçado!". John gritou e David não estava certo do que eles
estavam falando, entendendo apenas "aço reforçado". Provavelmente não seria suficiente, mas os daria algum
tempo para bolar um plano.
"Faça isso!". David gritou, e o monstro deu dois, três passos, aparentemente sem se preocupar em hesitar.
Naquela velocidade, estaria neles em alguns segundos.
"Corram atrás de John!". Ele gritou, e deu a Leon e Claire um segundo de cobertura antes de virar e seguí-los.
Aço, aço reforçado - um pensamento que pulava em sua mente enquanto corria, Claire e Leon fazendo a curva,
a quina passando por ele enquanto via Rebecca e John na sala no fim do corredor. A sala para onde o maluco
tinha ido.
"David, aperte os botões, feche a porta!". John gritou e David viu os controles, as pequenas luzes sobre os
botões circulares, e foi até eles, ainda correndo.
Claire e Leon estavam dentro. David esticou os braços e socou o maior dos botões, esperando que fosse o certo
-
- e entrou na sala enquanto a placa de metal guilhotinava o ar logo atrás, perto o bastante para senti-lo em seu
pescoço.
Ele girou a tempo de ver o branco corpo da criatura acertar a porta, seu peito pressionando contra a grossa
janela de vidro. A porta tremeu e David viu que não duraria muito tempo.
Agüente por favor, só um minuto -
Ele virou, viu Leon na porta menor da parede sul, viu terror em seus olhos, a cor tinha abandonado seu rosto,
sua trêmula mão na maçaneta.
"Trancada". Ele disse, e lá fora o monstro batia na porta outra vez..
Reston ouviu o barulho quando estava pensando em como subir na jaula dos Av. A abertura estava a três
metros e meio do chão e não havia escada. A árvore mais próxima estava a uns dois metros, impossível - a
única saída era por onde veio, e não ousaria voltar para o corredor principal. Ele já tinha se convencido a subir na
árvore e tentar o pulo quando ouviu as batidas ecoarem da Fase Dois.
Reston andou até a porta de conexão, curioso apesar do medo. As fases eram muito bem protegidas
acusticamente; um barulho como aquele só poderia ter sido de uma bomba ou de uma equipe de demolição...
... então é uma bomba. Eles implantaram explosivos, aqueles monstros.
Explosivos...
Reston esperou na porta por um momento e não ouviu mais nada. O Dac solitário deu um berro em algum lugar
da câmara, aparentemente abatido com a perda de seus irmãos; ele não tentou atacar.
A Fase Dois estava diretamente atrás da sala de controle, uma parede duas vezes mais grossa entre elas, o que
nos leva a crer que os renegados explodiram o centro de controle, a mais importante - e mais cara - sala do
Planeta. Não havia alvo melhor; o complexo é praticamente inútil sem a sala de controle.
Talvez me arranjaram outra saída...
- e se foram...?
Reston não faria apostas sobre os mercenários bárbaros terem finalmente ido embora, deixando os restos do
Planeta para trás -
Se foram, ele conseguirá sair. Talvez não só do Planeta mas da White Umbrella também. Ele estava certo de que
Jackson o mataria pelo que aconteceu... mas não se Reston desaparecesse.
Algumas centenas de milhares para Hawkinson, uma carona para um lugar seguro...
Podia funcionar se estimasse o tempo certo, mudasse de nome, identidade, e fosse para longe, bem longe.
Funcionaria, sim.
Acenando para si mesmo, ele abriu a porta da Dois, incerto sobre o que esperar - e ainda assim foi uma surpresa
ver os enormes buracos em duas da paredes do deserto, o cimento, madeira e aço em pedaços; cada buraco
tinha pelo menos três metros de largura por seis de altura. Ele não viu fumaça e imaginou que os sabotadores
usaram algum tipo de composto ultra-moderno, algum material que gentinha como aquela sempre tinha acesso.
O calor ainda era forte apesar das luzes, porém mais fresco com a nova ventilação - apesar de ter escutado por
longos segundos, não ouviu nada que indicasse a presença deles. A não ser que fosse alguma armadilha...
Reston balançou a cabeça, impressionado com a própria paranóia. Agora que decidiu ser livre e abandonar as
ruínas de sua vida, sentiu um tipo de elevação. Uma sensação de novas possibilidades, um renascimento. Eles se
foram, completaram a missão, arrasaram o Planeta. Reston andou pela quente areia, pulando pedaços de Scorps
espalhados, finalmente subindo na duna para espiar o buraco.
Meu deus, eles conseguiram destruir tudo!
A destruição foi quase total, o buraco quase exatamente onde a parede dos monitores estava. Vidro, arames e
circuitos, um leve cheiro de ozônio - foi tudo o que sobrou do brilhantemente projetado sistema de retorno de
vídeo.
Quatro das cadeiras de couro foram arrancadas do chão, a mesa de mármore única partida em dois - e no canto
nordeste da sala havia outro gigante buraco cercado de destroços.
E através daquele buraco...
Reston podia ver o elevador. Funcionando, as luzes acesas e a plataforma no ponto.
Foi uma armadilha? Parecia bom demais para ser verdade - mas então ouviu uma distante pancada, em algum
lugar perto do bloco das celas, e pensou na sorte estar finalmente consigo; os empregados se foram e esse som
devia ser dos S.T.A.R.S.. Longe o bastante para estar a meio caminho da superfície antes que pudessem voltar.
Reston sorriu, maravilhado por terminar assim; parecia tão anticlimático, tão mundano...
... e eu estou reclamando? Não, nada de reclamações. Não de minha parte.
Reston cruzou o buraco, andando com cuidado para evitar os cacos de vidro.
A batalha com a comida o deixou com fome, o deixou ansioso; a parede na frente de Fóssil o deixando mais
empolgado para comer. Ele golpeou o forte obstáculo, sentindo o material ceder, ficar menos rígido -
- e apesar de não levar muito tempo para pegar os animais, Fóssil sentiu de repente o cheiro de comida nova. No
caminho por onde veio, comida livre e exposta, nada entre ela e Fóssil.
Ele voltará assim que a tiver comido. Fóssil virou e correu, faminto e querendo, determinado a comê-la antes que
fugisse.
Assim que Fóssil virou e correu, John começou a chutar a porta de aço, percebendo que era a única chance. A
incrível pancada que o monstro havia dado a deixou fraca, o grosso metal metade fora dos trilhos.
Claire e Leon começaram a chutar. Em segundos, eles a jogaram longe o bastante dos dentes de metal e acabou
caindo no chão - e segundos depois disso, eles estavam correndo para o elevador, David carregando Rebecca e
todos quietos. Fóssil voltaria, todos sabiam e não teriam chance contra ele.
"NÃO! NÃO! NÃO!".
Um homem estava gritando e quando John fez a curva, viu que era Reston, viu que estava correndo pelo longo
corredor, Fóssil se aproximando rapidamente.
Eles correram, John imaginando quanto tempo levaria para o monstro comer um ser humano inteiro. E quando
alcançaram o elevador, cruzaram as portas e Leon puxou a grade -
- todos ouviram o lamentável grito se elevar a uma intensidade sobrenatural - e parar de repente, interrompido
por um pesado e molhado som de esmagamento.
O elevador começou a subir.
[24]
Rebecca estava adormecida, o som do elevador tão calmo quanto o coração de David. Cansada como estava,
ela levantou uma incrivelmente pesada mão até o fino e preto livro preso no cinto de sua calça. Reston nem tinha
percebido, aparentemente não sabia que podia fingir um tropeço tão bem.
Ela pensou em dizer aos outros, em quebrar o silêncio no elevador para dá-los a notícia, mas achou melhor
esperar; eles mereciam a agradável surpresa.
Rebecca fechou os olhos, descansando. Eles ainda tinham um longo caminho, mas o quadro estava mudando; a
Umbrella iria pagar por seus crimes. E eles cuidariam disso.
[Epílogo]
Com John e David segurando a jovem Rebecca, e Leon e Claire sorrindo um para o outro como namorados, os
cinco exaustos soldados saíram da tela para a gentil manhã de Utah...
Suspirando, Trent reclinou em sua cadeira, girando ansiosamente seu anel de ônix. Ele esperava que tirassem um
ou dois dias de descanso antes da próxima grande batalha... talvez a última; eles mereciam um pouco de
descanso depois de tudo o que fizeram. Caso sobrevivessem ao que está por vir, ele terá que recompensá-los
amplamente.
Considerando que eu ainda estarei na posição de dar presentes...
Ele certamente estará. Quando, e se Jackson e os outros descobrirem o que realmente estava fazendo, ele terá
que desaparecer - mas haviam meia dúzia de identidades irrastreáveis que poderia escolher em qualquer canto do
mundo, cada uma delas extremamente bem remuneradas. E a White Umbrella não tinha condições de localizá-lo.
É verdadde que eles tinham poder e dinheiro, mas simplesmente não eram espertos o bastante.
E eu já vim até aqui?
Trent suspirou de novo, lembrando para não pensar com maldosa satisfação, pelo menos ainda não. Não valeria
a pena ser super confiável, ele sabia; homens melhores que os dele já morreram nas mãos da Umbrella. De
qualquer forma, ou Trent ou eles estariam mortos. E fim do problema, de um modo ou de outro.
Ele se levantou, esticando os braços sobre a cabeça e balançando os ombros para tirar a tensão; o satélite
"pirata" o permitiu ver e ouvir quase tudo e foi um noite longa e movimentada. Algumas horas de sono era tudo o
que precisava. Ele planejou ficar isolado até meio-dia, mas teria que ligar para Sidney - e o velho bebedor de chá
já devia estar agitado a essa hora, junto com os outros. Os misteriosos serviços do Sr. Trent seriam investigados
em breve, e ele teria que pegar o próximo avião; por mais que quisesse ver Hawkinson voltar e tentar derrubar
Fóssil, Trent precisava dormir mais.
Trent desligou os monitores e saiu de sua sala de operações - uma sala de estar com alguns caros ajustes - e foi
para a cozinha, que era uma cozinha normal.
A pequena casa no interior de Nova York era seu esconderijo além de lar; era dali que conduzia a maior parte de
seu trabalho. Não o grandioso e intrigante trabalho que fazia na White Umbrella, mas, sim, seu verdadeiro
trabalho. Se alguém investigasse o lugar, descobriria que a casa Vitoriana de três dormitórios pertencia a uma
velha senhora chamada Helen Black. Uma piada das suas.
Trent abriu a geladeira e tirou uma garrafa de água mineral, pensando em como Reston ficou em seu último
momento, olhando para face de sua própria morte. Adorável trabalho, esse, usando Fóssil contra ele; foi
realmente uma pena em relação a Cole. O homem teria sido uma adição para a pequena, porém crescente
resistência.
Levando a água escada acima, Trent usou o banheiro e depois andou pelo curto corredor, pensando no tempo
que ainda tinha. Nas primeiras semanas de contato com a White Umbrella, ele meio que esperava ser chamado à
sala de Jackson e levar um tiro sumariamente. Mas as semanas viraram meses e não recebeu um suspiro de
dúvida - de ninguém.
Em seu quarto, ele separou as roupas para o vôo e se despiu, decidindo que faria as malas enquanto tomava o
café, depois de ligar para Sidney. Apagando a luz, Trent sentou-se na cama por um momento, tomando um gole
da garrafa de água, repassando seus meticulosos planos para a próxima semana. Ele estava cansado, mas o
objetivo de sua vida estava finalmente sendo alcançado; não era tão fácil pegar no sono quando se estava a um
passo de culminar três décadas de planejamento e sonhos, de um desejo guardado por tanto tempo que o havia
transformado no que era...
A reta final, pensou. Ainda havia várias coisas que precisavam acontecer antes de acabar, e a maioria delas
tinham a ver com o quanto bem seus rebeldes haviam se saído. Ele tinha fé neles, mas sempre havia chance de
falharem - e na qual teria que começar tudo de novo. Não do zero, mas seria uma difícil retomada.
Eventualmente...
Trent sorriu, colocando a água no criado mudo e deslizando sob o cobertor. Eventualmente, o mal da White
Umbrella seria exposto ao clarear do dia. Matar os jogadores seria fácil, mas não ficaria satisfeito; ele queria vê-los
destruídos, financeira e emocionalmente, suas vidas tiradas em todos os sentidos. E quando esse dia chegar,
quando os líderes terminarem de ver seu preciosos esforços virando cinzas, ele estaria lá. Estaria lá para dançar
no cemitério de seus sonhos. E seria um belo dia.
Trent repassou seu discurso mentalmente, o discurso que ensaiou durante toda a vida para aquele dia. Jackson e
Sidney teriam que estar lá, tal como os "garotos" europeus e os financiadores do Japão, Mikami e Kamiya. Todos
eles sabiam da verdade, todos foram co-conspiradores na traição...
Eu estou de pé na frente deles, sorrindo, e aí digo. "Um pouco de história, caso tenham se esquecido".
"No começo da história da Umbrella - antes de haver algo como a White Umbrella - havia um cientista chamado
James Darius. Dr. Darius era um ético e comprometido microbiologista que, ao lado de sua amada esposa Helen -
uma doutora em farmacologia - gastou incontáveis horas desenvolvendo uma síntese reparadora de tecidos para
seus empregadores, um que James havia criado sozinho. Esta síntese que ocupou tanto o tempo de Darius, era
um complexo viral brilhantemente projetado que - se bem desenvolvido - tinha o potencial de reduzir incrivelmente
o sofrimento humano, podendo evitar a morte por sofrimento traumático um dia antes.
Ambos James e Helen tinham as maiores esperanças por seu trabalho - e eram tão responsáveis, tão leais e
confiantes que imediatamente foram à Umbrella, assim que perceberam o potencial do que estavam criando. E a
Umbrella Inc. também percebeu o potencial. Mas o que ela viu foi um afogamento financeiro caso esse milagre
fosse realizado. Imagine todo o dinheiro que uma companhia farmacêutica poderia perder se milhões de pessoas
parassem de morrer todo ano; então imagine o dinheiro que poderia ser feito com esse complexo viral para fins
militares. Imagine o poder.
Com incentivos assim, a Umbrella realmente não teve escolha. Ela tirou a síntese de Darius, levou as anotações e
pesquisa entregando tudo a um jovem e brilhante cientista chamado William Birkin, recém saído da adolescência e
já chefe de seu próprio laboratório. Birkin era um deles, veja. Um homem com a mesma visão, a mesma falta de
moral, um homem que podiam usar. E com sua própria marionete no lugar, eles perceberam que ter o bom Dr.
Darius por perto seria um inconveniente.
Então houve um incêndio. Um acidente; foi o que disseram, uma terrível tragédia - dois cientistas e três leais
assistentes carbonizados. Tão ruim, tão triste, caso encerrado - e assim surgiu a divisão da Umbrella chamada
White Umbrella. Pesquisa com armas biológicas. Um parque de diversões para os ricos sujos e seu bajuladores,
para homens que perderam qualquer coisa que lembrasse uma consciência há muito, muito tempo". Eu sorrio de
novo. "Por homens como vocês".
"A White Umbrella pensou em tudo, ou assim acreditavam. O que não consideraram - ou por terem pouca visão
ou por serem ignorantemente desligados - foi que o jovem filho de James e Helen, seu único filho, estava
estudando num internato enquanto seus pais eram queimados vivos. Talvez simplesmente esqueceram dele. Mas
Victor Darius não esqueceu. De fato, Victor cresceu pensando no que a Umbrella tinha feito, ou devo dizer
obcecado por isso. Chegou um tempo em que Victor não pensava em outra coisa. Foi quando decidiu fazer
alguma coisa.
"Para vingar seu pai e sua mãe, Victor Darius sabia que deveria ser extremamente engenhosos e muito, muito
cuidadoso. Desse modo, passou anos planejando. Anos aprendendo o que precisava e ainda mais, fazendo
contatos certos e movendo-se nos círculos certos, sendo mais solitário e secreto que seu inimigo. E um dia ele
assassinaria a Umbrella do mesmo jeito que assassinaram seus pais. Não era fácil, mas estava determinado, e
devotou sua vida inteira para o projeto".
Eu sorrio e digo. "Ah, e eu não mencionei que Victor Darius mudou de nome? Seria arriscado, mas decidiu usar o
nome do meio de seu pai, ou pelo menos parte dele. James Trenton Darius não o estava mais usando mesmo".
O discurso sempre mudava um pouco, mas o essencial permanecia o mesmo. Trent sabia que nunca conseguiria
se pronunciar para todos de uma vez, mas era a idéia que o fazia continuar, todos esses anos. Nas noites
quando estava tão enraivecido que não conseguia dormir, recontar essa história virou uma espécie de canção de
ninar; ele imaginava os olhares em suas cansadas e velhas faces, o terror em seus caídos olhos, a trêmula
indignação por sua traição. De alguma forma, a visão sempre amenizava sua fúria e o dava uma pequena paz.
Em breve. Depois da Europa, meus amigos...
O pensamento o guiou para a escuridão, para o doce e ausente de sonhos sono dos justos.[12]
O mais alto, John, apontou seu rifle automático para o Av1 e soltou uma rajada de balas.
Como um feixe de destruição, elas acertaram o aquilino crânio do Dac e estourou o outro lado, fluídos escuros
espirrando nas recém pintadas árvores. Ambos os olhos estouraram como bexigas d'água.
Droga. Baixa resistência; são esses ossos ocos.
Reston olhou o outro armado mirar no segundo Dac que pousou na clareira. Mesmo sem som, Reston podia ver
o revólver pular três, quatro vezes, acertando o espécime em seu estreito peito. O esbelto pescoço do Dac
curvava selvagemente para frente e para trás numa rabiscante dança da morte antes de se esparramar no
chão, sangrando.
Reston não viu mais nenhum pousar e os três homens estavam batendo em retirada, voltando para a floresta. O
pobre Cole parecia desfeito, sua boca aberta em um calado grito, seu frouxo cabelo castanho praticamente
grudado de suor na cabeça, seus braços requebrando.
Ele merecia por não ter consertado o áudio. A falta de som o estava irritando, apesar de achar que a filmagem
não sofreria com isso. As pessoas sabiam como tiros soavam.
Os três estavam saindo do alcance, indo à oeste agora. Reston intercalou entre a câmera da árvore e a
panorâmica da parede norte. Era óbvio que Cole os estava levando para a porta de conexão - apesar de não
saber que a segunda clareira agora estava em seu caminho. Por enquanto, os Dacs também tinham recuado;
eles geralmente são atraídos para áreas abertas. Eles só tinham matado dois, o que significava que ainda havia
seis espécimes saudáveis os esperando no prado.
Reston havia soltado todas as criaturas em seus habitats logo após a ligação do Sargento Steve Hawkinson, o
homem que liderava a equipe da superfície. Ele informou que apenas duas equipes da Umbrella - nove homens
incluindo o próprio - estavam começando a varrer o complexo, e que o transporte dos fugitivos havia sido
localizado; os três ainda estavam na área, a não ser que houvesse outro veículo, uma possibilidade altamente
improvável. Reston lhe disse que a câmera da entrada foi coberta por um intruso e pediu uma reparação assim
que possível. Depois disso sentou para assistir o espetáculo.
Ele serviu outro conhaque enquanto observava os três avançarem sinuosa e lentamente por entre as árvores,
John com sua arma apontada para cima, o outro vasculhando as sombras em volta...
Esse aí também precisa de um nome. Nós temos Henry, John, e Ruivo? O cabelo dele é meio avermelhado.
Por aí, mas servirá do mesmo jeito que "Dac" serviu para os Av1. Eles não tinham relação com pterodátilos, claro,
e a sigla "Av" vinha de "Aves" - e de fato os Dacs eram mais próximos dos morcegos do que qualquer outra
coisa. Já haviam muitos na série de mamíferos. O pedido veio do próprio Jackson, os criadores de espécimes
adicionaram novas classificações para o amor de Deus, usando um pouco dos contribuintes secundários para a
seqüência de genes daquela série. Os Spitters (cuspidores), que estavam mais próximos das cobras do que dos
bodes, foram rotulados de Ca6, de Capra (caprinos), por causa dos cascos rachados....
E os Dacs se pareciam com pterodátilos, ou pelo menos com o nosso moderno conceito deles, Reston pensou,
olhando para a tela que mostrava a entrada da jaula. Dois dos animais ainda estavam lá dentro. O aerodinâmico
e musculoso corpo, o fino bico, a "crista" de osso no topo da cabeça, as asas fibrosas... eles até eram elegantes
no modo brutal de ver. Os dois na grande "caverna" dos bastidores estavam claramente agitados com todo o
movimento, andando para frente e para trás com suas asas dobradas, virando suas cabeças de lado a lado.
Reston não sabia muito do fim biológico, mas sabia que caçavam pelo movimento e pelo olfato, e que só dois
deles podiam derrubar um cavalo em menos de cinco minutos.
Mas não muito eficientes contra poder de fogo.
Não fazia diferença mesmo. Os Av1 foram criados para situações de terceiro mundo, onde as manchetes ainda
não relatavam metralhadoras. Era muito ruim morrerem tão rápido, os adestradores ficariam bem desapontados
com as perdas - mas pelo menos já foram testados contra poder de fogo.
E por falar nisso...
Os três homens estavam se aproximando da clareira, saindo do alcance da câmera norte. Lá será onde os Dacs
brincarão. Reston se inclinou para olhar, percebendo que as imagens que estava gravando fariam sua carreira - e
apesar da situação, ele estava realmente se divertindo.
David abriu fogo assim que a luz do soldado os achou, ouvindo o único tiro de uma arma lá embaixo -
- e sentiu os estilhaços de madeira à sua esquerda, um monte deles espirrando em seu braço. Ele queria muito
fazer o atirador parar de atirar, mas sabia com terror que iriam cair, que as duas mulheres se esborrachariam no
concreto se ele não fizesse algo -
- e então ele estava caindo também, as tábuas sob seu corpo desaparecendo de repente, mergulhando na fria
escuridão. David segurou sua arma, esticando seus braços para fora e dobrando os joelhos no meio segundo de
queda livre -
- e seus joelhos tocaram papelão, uma não vista caixa que foi esmagada com seu peso. Instantaneamente, ele
ficou de pé, virando na direção da outra lanterna que ainda brilhava no meio do galpão, o primeiro homem já no
chão. Sem tempo para checar Rebecca e Claire - os gritos aumentaram lá fora, quase chegando.
O portador da lanterna veio abaixo com a curta linha de tiros que David mandou da M-16, um arco de um metro
cruzando a escuridão. Os ecos das balas estouraram por entre as caixas, e quando a lanterna caiu, um único
gemido de dor e surpresa caiu junto com ela, David mirou na direção da porta aberta.
Vamos, então -
Rattatattatt-
Tiros de metralhadora lá fora... mas ninguém entrou. David foi para a esquerda e mandou uma rajada de sua
arma em resposta, não esperando acertar ninguém, as balas acertando o entorno da porta. Ele precisava ganhar
tempo, mesmo se forem alguns segundos.
"Unha". Um suave e feminino gemido veio de trás dele.
"Rebecca! Claire! Respondam!". Ele sussurrou asperamente, ainda olhando o pálido e vazio quadrado da porta
aberta.
"Aqui. Eu, Claire, estou bem, mas acho que ela está ferida -".
Droga!
David sentiu seu coração pular uma batida e recuou um passo, seus pensamentos correndo, um nó de horror em
seu estômago. Só haviam passado trinta segundos desde o primeiro tiro, e a equipe da Umbrella já devia ter
cercado o prédio, se forem mesmo bons. Eles tinham que sair antes que os atiradores se organizassem por
completo.
"Claire, venha até mim, siga minha voz - eu preciso de você cobrindo a porta. Se vir alguém, mesmo uma
sombra, atire para matar. Entendido?"
Ele a ouviu se movimentar enquanto falava e a agarrou quando chegou mais perto, puxando seu braço.
"Espere". Ele disse, e soltou outra rajada de sua arma, acertando a parede perto da porta. Ele imediatamente
entregou a M-16 para Claire enquanto retornavam fogo lá fora, as balas viajando sem direção no escuro.
"Você consegue usá-la?".
"Consigo -". Ela soou ansiosa, porém firme o bastante.
"Bom. Assim que eu disser, nós começaremos a ir para a porta oeste; você vai nos cobrir".
Ele já estava virando na direção do canto onde Rebecca estaria, quando ouviu outro abafado murmúrio de dor e
fixou-se nele, movendo-se rapidamente, ajoelhando-se perto da garota ferida. Ele sentiu o cabelo sedoso de
Rebecca sobre sua mão, sentindo o pegajoso e morno sangue.
"Rebecca, você consegue falar? Você sabe onde está ferida?".
Uma tosse - e sentiu os dedos dela tocarem seu braço, e soube que estava bem mesmo antes de falar.
"Atrás da cabeça". Ela falou, suave mas bem claro. "Possível concussão, caí com tudo sentada, os membros
parecem bem...".
"Eu vou te ajudar. Se você não puder andar, eu te carregarei, mas nós temos que ir agora -".
Para provar suas palavras, houve outro disparo da metralhadora lá fora -
- e um grito que o fez se mover mesmo antes de terminar.
"Atire na abertura!". Disseram lá fora.
David girou, se levantou e segurou Claire por trás, gritando, "Feche os olhos -". E enquanto fechava os seus no
caso de uma incendiária, rezando para que não fosse uma granada -
- mas o whump de um lançador, seguido por um alto pop e um hiss o disse que era gás. Ele se afastou de Claire,
e a sentiu ao seu lado, ouviu sua ofegante e assustada respiração.
Deus, que não seja sarin ou soman, que eles nos queiram vivos -
Em segundos, os olhos e nariz de David começaram a lacrimejar fortemente e sentiu um onda de alívio. Não é
gás nervoso; eles usaram um gás lacrimejante CN ou CS.
"Porta oeste". David disse, e Claire engasgou um afirmativo, o composto químico disseminando rapidamente no
frio ar, uma efetiva, porém não letal arma. Ainda bem.
Ele virou para trás e sentiu uma mão esfregar seu peito.
"Eu não consigo andar". Rebecca disse, tossindo, e David jogou o braço dela em volta de seu pescoço e começou
a ir para a porta o mais rápido que podia através da escuridão. Ele ouviu Claire ofegando, mas agüentando,
acompanhando eles.
David se apressou, bolando um plano, tentando não respirar muito fundo. Haverá gente em ambas as portas,
esperando -
- mas a que distância? Eles vão querer estar bem lá para dominar suas vítimas chocadas...
O plano estava pronto. Assim que alcançaram a porta, David procurou em seu estojo de perna, tirando a lisa e
redonda granada anti-pessoas, puxando o pino.
"Claire, Rebecca, atrás de mim!".
Já cegos no escuro, as lágrimas só ardiam mas não interferiram em sua mira enquanto empunhava a 9mm e a
esticava à frente, procurando a porta.
BAM!
Ele abriu um buraco na fechadura, destrancando-a, ouvindo os gritos de surpresa dos homens lá fora. Quase
sem parar, David abriu a porta, o quanto até a cerca? Cinqüenta, sessenta metros -
- e jogou a granada, um gentil arremesso pela porta, fechando-a o mais rápido possível, jogando seu peso contra
ela e agradecendo à Deus por ser bem resistente -
- e KA-WHAM, a porta lutou contra ele enquanto o impacto durou, os estilhaços martelando contra ela como uma
fera selvagem socando para entrar. David esperou. A trovoada da M68 deu lugar a gemidos e uivos de dor,
quase inaudíveis sob o apito em seus ouvidos e o grito de seus sufocados pulmões.
"Cubra a direita e vá para a esquerda!". Ele gritou, e escancarou a porta, girando a H&K de lado a lado. A pálida
luz da lua só mostrou três homens, todos no chão, todos feridos e gritando atrás do véu de suas lágrimas.
Coletes, no corpo inteiro, talvez -
Ele esperava uma corrida para frente, para seu veículo de fuga, mas virou à esquerda. Ele fixou seu molhado
olhar na escura cerca enquanto Claire e Rebecca vinham atrás dele, tossindo e lacrimejando.
"Cerca". Ele disse, o mais alto que pôde, e voltou para Rebecca, deslizando seu braço na cintura dela. Eles
pularam um dos homens no chão e começaram uma forte corrida na direção da fuga, Claire bem atrás. Ela corria
de lado, a M-16 apontada para trás, na direção da frente do complexo.
Boa garota, nós vamos conseguir, passamos pela cerca, e contornamos o complexo pelo deserto até a van -
Eles correram, diminuindo a distância mais rápido do que David esperava, a grade a 9 metros da parte de trás do
galpão o qual estavam, o galpão que havia escolhido por causa disso; os outros angulavam para frente, seria
muita distância, e o primeiro era muito óbvio -
- e estavam quase na cerca quando alguém disparou uma metralhadora atrás deles, vindo de entre o outro lado
do galpão. Pelo menos alguém da Umbrella usou a lógica e deu a volta para verificar a inesperada rota de fuga.
Claire estava lá, retornando fogo, a rápida trepidação das duas automáticas mergulhando num explosivo dueto. O
atirador invisível foi pego ou estava agachado quando as trovoadas viraram um solo, Claire perfurando o escuro
com a .233.
Rebecca vai precisar de ajuda.
"Claire! Suba e passe!". David gritou, segurando a M-16. Ela virou e escalou a cerca facilmente.
"Rebecca, vai!". David puxou o gatilho e o segurou, espalhando balas pela fria noite, ouvindo retorno
aparentemente de todo o lado, três talvez quatro atiradores -
- e houve um choro atrás dele, de Rebecca, apenas na metade da cerca. Algumas gotas mornas pingaram no
rosto de David que parou de atirar, pulando para segurá-la antes que caísse.
"Eu cubro!". Claire gritou do outro lado, e atirou pela cerca, a 9mm pulando forte, o punho de David mais ainda.
Rebecca estava pálida, ofegando asperamente, certamente com dor - mas ela conseguiu se segurar na cerca,
até mesmo subir um pouco enquanto David se apoiava na cerca e a empurrava par cima.
Ele praticamente a levou até o topo e assim que Claire a alcançou para ajudar, David virou e atirou de novo nos
soldados, ainda escondidos nas sombras, sua fúria secando as últimas lágrimas.
Malditos idiotas, ela ainda é só uma garota -
A M-16 secou e ele pulou, aí Rebecca estava entre eles, encostada pesadamente nos ombro de David, e já
estavam correndo na gelada noite do deserto.
[13]
Com apenas minutos de ataque, Leon pôde ver que Cole não tinha condições de liderar. O funcionário da Umbrella
estava andando cegamente, indo vagamente na direção que precisavam ir.
E agora que sabemos que podem atacar pelo chão... ele e John não precisavam ficar olhando para o céu.
"Henry - posso assumir a ponta como guia por alguns minutos?" Leon perguntou, olhando para John. John
acenou, não parecendo tão emotivo; ele estava firme, seu olhar pulando par lá e para cá rapidamente, suas
mãos apertando a M-16.
Talvez esteja pensando nos outros. Sobre terem sido "pegos".
"Tá, tá bom, por mim, tudo bem". Cole acenou, seu alívio bem aparente. Ele pôs seu suado e castanho cabelo
de lado e correu para trás de Leon, John ainda lá atrás.
Leon estava nervoso, os pássaros, Dacs, eram desagradáveis e perigosos, e foi um alívio tê-los visto; eles não
eram tão terríveis quanto sua imaginação o tinha feito acreditar, quando ouviu os primeiros berros. Os monstros
da mente são sempre piores do que os de verdade, e os Dacs nem resistiam muito. Enquanto John e ele ficarem
de guarda, todos conseguirão.
Ele tinham sido espantados para sul e Leon corrigiu a rota, percebendo que estava começando a identificar o que
poderia ser a parede. A disposição das árvores causava confusões; não eram tão juntas, mas estavam
espalhadas dando a impressão de densidade ao olhar para a floresta; a grossa cobertura do chão, algum tipo de
plástico moldado, não se movia sobre os pés, o relevo e as depressões do material tornavam ainda mais difícil
sentir o tamanho do lugar.
É tão estranho, tão acima - tão parecido com a Umbrella.
Era como aquele vasto laboratório sob Raccoon, completo com sua própria casa de fundição e ferrovia particular -
inacreditável, mas viu tudo pessoalmente. E Leon soube através dos ex-S.T.A.R.S., que havia uma isolada
enseada na costa de Maine guardada por equipes de zumbis, e uma mansão "deserta" na floresta, a mansão de
Spencer, aquela equipada com segredos, chaves, códigos e passagens, como o cenário de um filme de
espionagem que a ninguém convence.
Agora isso - ambientes simulados sob as áridas e planas salinas de Utah. Como Reston o havia chamado? O
Planeta. Era extravagante, decadente, desperdício imoral; ridículo, exceto -
- exceto por estarmos presos nele, e só Deus saber o que enfrentaremos depois.
Leon continuou andando, tentando não pensar como Claire e os outros estavam. Reston presumiu que o resto da
equipe havia sido capturada, mas Leon não sabia. Também não sabia o quanto Claire e Rebecca eram
engenhosas, ou o quanto brilhante David era como estrategista. Todos eles já escaparam da Umbrella antes, e
não havia motivos para não conseguirem de novo.
Leon estava tão entretido na sua conversa particular que não viu a clareira até estar praticamente na beira dela, a
menos de seis metros. Ele parou, lembrando do último ataque - e se repreendeu por não ter prestado atenção.
"Vamos recuar e retornar". Ele disse - e aí ouviu o bater de asas, e sabia que já era tarde demais. Nas murchas
sombras sobre o espaço aberto, um, dois, três deles estavam mergulhando das traves de pouso, planando em
torno da clareira.
Droga!
Um deles começou a gritar e os outros acima se esconderam nas árvores, juntando-se na música, uma
ensurdecedora e horrorosa cacofonia aguda. Leon recuou, John ao seu lado de repente, mirando o rifle na
clareira.
O primeiro voou para as árvores, chacoalhando-se de lado a lado como se para voar entre elas. Ele arremeteu no
último segundo, tão rápido que não acertaram um tiro. Assim que subiu, Leon viu dois no chão, carregando seus
vigorosos corpos entre as asas dobradas.
O barulho! Era doloroso, tão estridente e terrível quanto mil bebês gritando, e Leon sentiu a 9mm atirar mais do
que podia ouvir, o pesado metal pulando em suas mãos. Os pássaros ficaram quietos quando o mais próximo
teve sua garganta baleada. Um esfarrapado buraco estourou um pouco acima de seu estreito peito, abas de pele
escura abrindo como uma flor. Um fino sangue espirrou do ferimento e o segundo pássaro passou por cima do
outro, no chão se debatendo, fixo no ataque. Leon mirou e -
"Ei ei, ah droga -".
O histérico grito de Cole o distraiu, o tiro indo para a direita, perdendo o alvo. John abriu fogo contra o segundo
Dac, o bater da automática furando o animal. Leon girou e viu Cole recuando, outro dos ferozes pássaros
investindo na direção dele.
Como ele passou por nós?
Leon mirou, o Dac a não mais que um metro e meio de Cole, e mesmo enquanto apertava o gatilho, outra das
criaturas estava descendo diretamente sobre eles. A tão pouca distância, a bala de 9mm perfurou o peito da ave
e abriu um buraco do tamanho de um punho nas costas, o Dac morrendo antes de cair no chão. O outro
arremeteu, as pontas de suas enormes asas esfregando no chão, voltando para cima.
"Henry, fique atrás de mim!". Leon gritou, olhando para cima - e vendo outro Dac descendo das traves
diretamente acima, franzindo as asas e mergulhando na direção deles.
Ele precisava de ajuda. "John...!".
O pássaro só abriu suas asas a alguns palmos do chão, surpreendentemente gracioso no pouso. Ele virou para
Leon e iniciou o ataque. Leon ouviu os tiros atrás dele - e os ouviu parar, ouviu John resmungar, ouviu o alumínio
da M-16 bater no chão.
O Dac na frente de Leon abriu seu longo bico e berrou, uma explosão de raiva, um som de fome, andando tão
rápido quanto Leon recuava. A criatura balançava para frente e para trás e Leon não tinha munição o suficiente
para gastar, ele precisava de um tiro certeiro -
- e o pássaro pulou, um estranho e súbito salto que o deixou a trinta centímetros de distância. Com outro agudo
berro, a criatura esticou a cabeça, seu bico aberto fechando em seu tornozelo. Mesmo com a grossa bota de
couro, Leon pôde sentir a ponta dos dentes, sentir o poder da mandíbula -
- e antes que pudesse atirar, John estava lá, estava pisando no longo pescoço do Dac e apontando o revólver -
- e bam, a bala acertou sua espinha, uma vértebra em suas costas estourando, estilhaços de osso e sangue
jorrando. A ave soltou seu tornozelo e apesar do pescoço ainda se contorcer, o resto do corpo estava parado,
sangrando e imóvel.
Quantos, quantos ainda restam -
"Vamos lá". John chamou, pegando o rifle do chão e virando para correr. "Vão para a porta, nós temos que
chegar nela!".
Eles correram pela clareira, Cole atrás, o bater de asas mais atrás, outra voz aguda gritando pelo ar. Eles
voltaram às árvores, a floresta sem vida, tropeçando sobre galhos e desviando de contorcidos troncos de
plástico.
A parede. Lá está ela!
E lá estava a porta, metálica e de folha dupla, um pino solto no lado direito -
- e Leon ouviu o terrível berro em seu ouvido, a centímetros de distância, e sentiu o sopro de ar em seu pescoço
-
- e deixou suas pernas cederem, caindo no chão, e sentiu uma súbita dor assim que algo arrancou um pedaço de
cabelo de seu couro cabeludo, da parte de trás da cabeça.
"Cuidado!". Leon gritou, erguendo o olhar para ver o enorme pássaro investindo em John, quase na porta, Cole
ao seu lado.
John se virou, sem recuar. Ele ergueu seu revólver e apertou o gatilho, um tiro certeiro, e o Dac caiu como se
fosse feito de chumbo, seu pequeno cérebro de repente líquido, estourando.
Cole estava mexendo na porta, John ainda mirando sobre a cabeça de Leon, e Leon ouviu outro grito de fúria em
algum lugar atrás -
- e a porta estava aberta - e Leon correu, John o cobrindo enquanto cambaleava até Cole, saindo da fria e escura
floresta para um ofuscante calor. John vinha logo atrás, batendo a porta para fechá-la -
- e estavam na Fase Dois.
Rebecca estava correndo, sem fôlego e exausta, incapaz de parar e descansar. David e Claire estavam correndo
com ela, carregando-a, mas ainda sentia que cada passo era um esforço de pura vontade; seus músculos não
queriam cooperar, e estava desorientada, seu equilíbrio uma bagunça e seus ouvidos apitando. Ela estava ferida e
não sabia o quanto grave era - só sabia que tinha sido baleada, que tinha batido a cabeça, e que não podiam
parar até estarem bem longe do complexo.
Estava escuro, muito escuro para ver onde o chão estava, e frio; cada respiração era uma gelada punhalada em
sua garganta e pulmões. Seus pensamentos estavam confusos, mas sabia que tinha sofrido alguma disfunção
cerebral, incerta de qual; as possibilidades a assombravam enquanto pensava nelas. A bala era mais fácil; ela
sabia pela quente e latejante dor. Doía terrivelmente, mas não achava que tinha alguma fratura, e não estava
sangrando; estava mais preocupada com a perda de coerência.
Baleada no glúteo esquerdo, alojada no ísquio, sortuda, sortuda, sortuda... choque ou concussão? Concussão ou
choque?
Ela precisava parar, checar o pulso temporal, procurar sangue nos ouvidos... ou por CSF, algo que nem queria
pensar. Mesmo em seu confuso estado, ela sabia que sangrar fluído cerebrospinal era a pior conseqüência de
uma pancada na cabeça.
Depois do que pareceu um bom tempo, e mais balanços e mudanças de direção do que pôde contar, David
diminuiu, pedindo Claire que diminuísse, e que iriam deitar Rebecca no chão.
"No meu lado". Rebecca ofegou. "A bala está no lado esquerdo".
David e Claire a deitaram cuidadosamente na plana terra, respirando, recuperando o fôlego, e Rebecca nunca
ficou tão grata por deitar. Ela só pegou um lance do céu preto enquanto David a rolou; as estrelas estavam
incríveis, claras e frias sobre o fundo oceano negro...
"Lanterna". Ela disse, percebendo o quanto estranhos seus pensamentos tinham se tornado. "Tem que verificar".
"Estamos longe o bastante?". Claire perguntou, e demorou um pouco para Rebecca perceber que Claire falava
com David.
Ah, porcaria, isso não é bom...
"Deveríamos. E nós os veremos chegar". David disse brevemente e ligou sua lanterna, o feixe indo para o chão a
centímetros do rosto de Rebecca.
"Rebecca, o que podemos fazer?". Ele perguntou, e ela ouviu a preocupação em sua voz, amando-o por isso.
Eles eram como uma família, desde Caliban, ele foi um bom homem e um bom amigo...
"Rebecca?". Desta vez ele soou amedrontado.
"Ah, desculpe". Ela disse, imaginando como explicar o que estava sentindo, o que estava acontecendo. Ela decidiu
que era melhor só falar e esperá-los descobrir.
"Olhe para minha orelha". Ela disse. "Procure sangue ou um líquido claro, eu acho que tive uma concussão. Eu
não estou pensando bem. A outra orelha, também. Fui baleada e acho que a bala está alojada no meu ísquio.
Pélvis. Sortuda, sortuda. Não deve estar sangrando muito, eu posso desinfetar e cobrir se me derem meu estojo.
Tem gaze e isso é bom, a bala podia ter acertado a espinha ou ter pego a artéria femoral. Muito sangue, isso é
ruim, ferida e sendo eu a única médica -
Enquanto falava, David iluminou seu rosto e gentilmente o levantou para checar o outro lado antes de apoiar sua
cabeça no colo. As pernas dele estavam quentes, seus músculos se contorcendo.
"Um pouco de sangue no ouvido esquerdo". Ele disse. Claire, tire o estojo de Rebecca, por favor. Rebecca, você
não precisa mais falar, nós vamos te consertar; tente descansar se puder".
Sem CSF, graças a Deus...
Ela queria fechar os olhos para dormir, mas precisava terminar de dizer tudo. "Concussão soa menos importante;
significa desorientação, zumbido nos ouvidos, falta de equilíbrio - pode durar algumas horas ou talvez semanas.
Não deve ser tão grave, não é bom se mexer. Repouso. Ache o meu pulso temporal, na lateral da minha
cabeça. Se não conseguir, eu devo estar em choque - elevação de temperatura...".
Ela respirou, e percebeu que a escuridão não estava só do lado de fora. Ela estava cansada, muito, muito
cansada, e um tipo de névoa escura estava tomando conta de sua visão.
Isso é tudo, já disse tudo -
John. Leon.
"John e Leon". Ela disse, horrorizada por ter esquecido deles por um momento, forçando para se sentar. Perceber
isso foi como um tapa na cara. "Eu posso andar, eu estou bem, nós temos que voltar -".
David mau a tocou e de alguma forma, sua cabeça estava no colo dele de novo. Então Claire levantou a parte de
trás da camisa de Rebecca, dando tapinhas de leve na coxa, mandando frescas ondas de dor por seu corpo. Ela
franziu os olhos, tentando respirar fundo, tentando ao menos respirar.
"Nós vamos voltar". David disse, e a voz dele parecia estar vindo de muito longe, do topo de um poço ao qual ela
caiu.
David continuou. "Mas precisamos esperar o helicóptero partir, se é que ele o fará - e você precisará de tempo
para se recuperar..."..
Se ele disse mais alguma coisa, Rebecca não ouviu. Ela dormiu e sonhou que era uma criança, brincando na fria,
fria neve.
Deserto!
Não haviam animais à vista, deviam estar do outro lado da duna, e Cole achava que sabia quais pertenciam à
Fase Dois. Antes que John e Leon dessem um passo, antes que os ouvidos de Cole parassem de apitar devido
aos gritos dos Dacs, ele começou a tagarelar.
"Deserto, a Fase Dois é um deserto, então deve ter os Scorps, escorpiões, entenderam?".
John estava tirando um clip curvo de seu estojo de perna, franzindo sobre a artificial luz solar que vinha de cima.
Devia estar uns quarenta graus na câmara, e com as paredes brancas e a ofuscante luz, parecia estar bem mais
quente. Leon vasculhou a brilhante areia na frente deles, e virou para Cole, olhando como se tivesse comendo
algo azedo.
"Maravilhoso, isso é ótimo. Escorpiões? Scorps e Dacs... quais são os outros, Henry, você se lembra?".
Por um segundo, a mente de Cole ficou vazia. Ele acenou, revirando seu cérebro, todo o suor de seu corpo já
evaporado com o calor. "Ah - esses são apelidos, Dacs, Scorps... Hunters! Hunters e Spitters, os criadores tinham
esses apelidos -".
"Uma gracinha, como fofinho e totó". John interrompeu, alisando sua sobrancelha com as costas da mão. "Então,
onde eles estão?".
Os três olharam em volta na Fase Dois, para a enorme duna de areia que estava no meio do lugar, brilhando
como purpurina sob a gigante grade de luminárias acima. Sete, nove metros de altura, a duna bloqueava a visão
da parede sul, inclusive a porta no extremo canto direito. Não tinha mais nada para ver.
Cole balançou a cabeça sem dizer nada; os Scorps estavam por lá, e eles tinham que cruzar as quente dunas de
areia ara chegar à saída.
"Quais eram as outras fases, montanhas e cidade? Você já as viu?". Leon perguntou.
"A Três é parecida com um, como posso dizer, um abismo, no alto de uma montanha. Como um desfiladeiro
rochoso. E a Quatro é uma cidade - alguns quarteirões. Eu tive que checar as entradas de vídeo quando vim para
cá".
John olhou para cima e em volta, franzindo os olhos contra a forte luz. "Certo, vídeo... você lembra onde estão?
As câmeras?".
Por que ele quer saber isso? Cole apontou para a esquerda, para o pequeno olho de vidro embutido no alto da
parede branca. "Tem cinco delas aqui; aquela é a mais próxima...".
Com um largo sorriso, John ergueu as duas mãos e estendeu os dedos do meio para a lente. "Toma, Reston".
Ele disse bem alto, e Cole decidiu que gostava dele, e muito. Leon também, mas não só por serem seu ingresso
de saída. Seja lá quais eram suas motivações, eles certamente estavam no lado certo das coisas; e o fato de
que podiam fazer piadas numa hora como essa...
"Então, nós temos um plano?". Leon perguntou, ainda olhando para a parede de areia à frente.
"Por ali,". John disse, apontando à direita. "E depois subimos. Se ver algo, atire".
"Brilhante, John. Você devia escrever isso. Sabe, eu -".
Leon parou de repente, e Cole ouviu. Uma batida. Um som como unhas batendo em madeira oca, o mesmo som
que ouviu quando consertava uma das câmeras semana passada.
Um som de garra, abrindo e fechando. Como mandíbulas clicando...
"Scorps". John disse suavemente. "Escorpiões não deviam ser noturnos?".
"Mas isso é a Umbrella, lembra?". Leon disse. "Você tem duas granadas, eu tenho uma...".
John acenou e disse. "Você sabe usar uma semiautomática?".
O grande soldado estava observando a duna, e levou um segundo para Cole perceber que John estava falando
com ele.
"Ah, sim. Eu nunca usei uma, mas já fiz tiro ao algo algumas vezes com meu irmão, seis ou sete anos atrás...".
Ele também falou baixo, ouvindo aquele barulho estranho.
John olhou diretamente para ele, como se o analisasse, e puxou um pesado revólver de seu coldre de perna. Ele
a deu para Cole, segurando-a pelo cano.
"É uma 9mm, leva dezoito. Eu tenho mais clips se acabar. Você conhece todas as regras de segurança de uma
arma? Não aponte para ninguém ao menos que queira matar, não atire em mim ou no Leon, coisas do tipo?".
Cole acenou, pegando a arma, e era pesada - e apesar de nunca ter estado tão assustado em seus trinta e
quatro anos, o sólido peso da arma em suas mãos era um tremendo alívio. Lembrando do que seu irmão dizia
sobre segurança, Cole fuçou a arma para ver se estava carregada antes de olhar para John de novo.
"Obrigado". Ele disse, e era verdade. Ele tinha atraído esses caras para uma armadilha e eles o estavam dando
uma arma; dando-o uma chance.
"Pode esquecer. Isso significa que não temos que nos preocupar em proteger o seu traseiro ao invés dos
nossos". John disse, mas sentia um suave sorriso. "Vamos".
John na frente e Leon logo atrás, eles começaram à leste, andando devagar pelo parado cenário. A areia era de
verdade; se movia sob os pés, e com o terrível calor, seria um verdadeiro esforço.
Eles só andaram uma pequena distância quando Leon pediu uma pausa.
"Roupa de baixo térmica". Ele murmurou, guardando sua arma antes de tirar sua camisa preta e amarrá-la na
cintura. Ele vestia uma grossa e texturizada camisa por baixo. "Eu não imaginei que chegaríamos no Saara -".
Todos ouviram o som, só um segundo antes de verem - antes de vê-los, três deles, alinhando-se no topo da
duna. Pequenos rios de areia desceram por debaixo de suas múltiplas pernas, cada uma tão grossa quanto um
taco de baseball. Eles tinham garras, eram como gigantes pinças estreitas e pretas, serrilhadas no lado, e longos
e segmentados corpos que terminavam em caldas, curvando-se acima de suas costas - com um ferrão nas
pontas. Feios e caídos ferrões de pelo menos trinta centímetros.
As três criaturas cor de areia, cada uma com cerca de um metro e meio de comprimento e noventa centímetros
de altura, começaram a fazer barulho - as lisas e pontudas presas sob seus arredondados olhos aracnídeos
batiam umas nas outras, soltando aqueles cliques -
- e então todas as três criaturas, os monstros, estavam deslizando na direção deles, perfeitamente equilibrados,
apressando-se pela areia com facilidade.
E no topo da duna, outros três apareceram.
[14]
"Droga". John exalou, nem a par de que falou, e ergueu a M-16, abrindo fogo.
- bambambambam -
- e o primeiro dos escorpiões soltou um estranho e seco hiss, como ar saindo de um pneu gigante, assim que as
balas martelaram seu corpo curvado. Um grosso fluído espirrou dos ferimentos em sua face, uma face de presas
babantes e olhos de aranha, uma face com um buraco escuro para a boca. As contorcidas garras se ergueram,
caindo ao lado e se debatendo ferozmente, cavando sua própria cova rasa na areia.
Leon e Cole estavam atirando, o trovão das 9mm afogando qualquer outro hiss, produzindo ainda mais sangue
branco no segundo e terceiro dos Scorps. O fluído branco estourava em bolhas, como vômito, e haviam mais três
deles descendo -
- e o primeiro, aquele que John havia enchido de furos estava se levantando. Instavelmente, mas se levantando.
Os buracos estavam vazando com aquela meleca viscosa - e mesmo enquanto avançava para eles, John viu que
o líquido estava endurecendo, tampando os ferimentos, tão eficiente quanto gesso numa parede.
"Vai vai vai!". John gritou assim que as outras duas criaturas, derrubadas por Leon e Cole, começaram a se
mover, seus ferimentos já virando casca. O segundo trio estava na metade da duna e se aproximando rápido.
Temos que sair.
Ainda havia dois "ambientes", e já tinham usado pelo menos um terço da munição; isso passou na mente de
John na fração de segundo que levou para ele espirrar mais bolhas nos Scorps, enquanto Leon e Cole corriam à
leste.
Ele nem tentou derrubar nenhum dos seis, sabia que não faria diferença. A linha de balas era só para afastá-los
enquanto os outros dois homens fugiam, sua mente forçando para achar uma solução enquanto os impossíveis
animais balançavam suas tortas garras, escorregando na granulosa areia e jorrando mais da cola bizarra.
- granada, mas como eu pego todos de uma vez, como evitaremos os estilhaços -
O mais próximo dos Scorps estava a uns três metros a sua frente quando virou e correu, o mais rápido que podia
pelo terrível calor, sua adrenalina alta e forte. Leon e Cole estavam a cinqüenta metros à frente, Leon
ziguezagueando - olhando para frente e para trás, mirando com a semi.
John olhou para trás, viu que os escorpiões ainda vinham. Mais lentos porém sem vacilar, seus corpos vespóides
pingando branco, suas encurvadas garras erguidas e clicando. Eles também ganhavam velocidade, a cada passo,
um monte de insetos procurando almoço -
- em bando -
Eles podem não ter uma chance melhor, John soltou o rifle, a alça parando em seu pescoço, e afundou uma mão
em seu bolso, ainda conseguindo correr. Ele tirou uma das granadas, liberou o pino, virou e correu de costas. Ele
tentou avaliar a distância, o processo da M68 passando em sua frenética mente, os Scorps a uns vinte metros
atrás.
- detonador de impacto, se arma dois segundos depois do impacto, recuar por seis segundos -
"Granada!". Ele gritou, e atirou o redondo objeto para o alto, rezando para ter feito uma boa decisão enquanto
virava e corria, a granada ainda subindo enquanto John mergulhava na lateral da duna..
John se enterrou nela, empurrando com todos os músculos, escavando cego e sem fôlego. A areia estava mais
fria por baixo, ondas dela em seu rosto, tentando forçar a entrada em seu nariz e boca, mas não conseguia
pensar em mais nada além de puxar as pernas para dentro - e no que os estilhaços poderiam fazer com a carne
humana.
Um último e desesperado chute e -
- KA-WHAM -
- houve um enorme balanço em volta dele, uma incrível pressão acertando a cobertura de areia sobre ele. Ele
sentiu o peso acima dele forçar o ar para fora de seus pulmões, e usou tudo o que tinha para levar a mão à boca
para cobri-la. Respirando superficialmente, ele começou a sair, se contorcendo e chutando como uma minhoca.
Leon, será que eles se abaixaram a tempo, será que funcionou -
Ele ainda lutava contra as correntes deslizantes de grãos, respirando mais uma vez antes de usar as duas mãos
para afastar a areia. Em poucos segundos ele estava fora, cascatas de areia caindo de seu corpo, seus irritados
olhos lacrimejando. Ele as secou com uma mão, erguendo a M-16, olhando para a ameaça primeiro -
- e não eram mais ameaça. A granada deve ter caído bem na frente deles; dos seis escorpiões, quatro estavam
em pedaços. John viu uma garra ainda se mexendo, caída na areia em uma poça de branco, uma calda com um
ferrão ainda preso, uma perna, outra perna; o resto estava irreconhecível, grandes pedaços de mingau
espalhados num semicírculo.
Os dois restantes ainda estavam inteiros lá atrás, mas definitivamente não se levantariam de novo; os corpos
estavam intactos, mas os olhos e boca, as estranhas mandíbulas e os rostos se foram.
Todos explodidos. Nem um monte de meleca branca vai grudar tudo aquilo de novo...
"John!".
Ele virou, viu Leon e Cole retornando, expressões maravilhadas em ambos os rostos. John se permitiu um breve
momento de completo orgulho, vendo-os se aproximarem; ele foi brilhante, no tempo, na mira, em tudo.
Bom. o verdadeiro soldado não ganha louvores por um trabalho bem feito; para ele já bastava saber disso...
Quando o alcançaram, John voltou a si; pensar na situação deles já era o suficiente.
Eles estavam numa área de teste psicótica por causa de um maluco da Umbrella; sua equipe foi separada,
tinham munição limitada, e não havia uma saída clara de lá.
Vocês estão ferrados. Dar um tapinha nas próprias costas era como dar uma aspirina para um morto; não
adiantava nada.
Ainda assim, vendo a leve esperança nos rostos dos dois... podia não ser esperança, mas raramente é uma
coisa ruim.
"Podem haver mais deles". Ele disse, tirando areia da M-16. "Vamos sair daqui -".
- clickclickclick -
Aquele som. Todos eles congelaram, olhando um para o outro. Não estava tão perto, mas em algum lugar sobre
a duna havia pelo menos mais um Scorp.
David tinha avistado uma luz a pelo menos quatrocentos metros à sudoeste de sua posição, mas nem chegou
perto; se não fosse o frio, Claire teria se sentido aliviada. As chances de alguém encontrá-los nos intermináveis
quilômetros de escuridão eram perto de zero; os caras da Umbrella tinham fracassado. Mesmo com um holofote
do helicóptero - o qual aparentemente não iriam mais usar - seria pura sorte acharem os três...
"Como você está, Claire?".
Ela se esforçou para não bater os dentes, mas falhou. Deve ter passado uma hora, talvez mais. "Está frio pra
caramba, David, e você?".
"Também. Foi bom termos nos vestido bem, né?".
Se foi uma piada, ela não percebeu. Claire se aconchegou mais perto de Rebecca, pensando em que hora perdeu
a sensibilidade nos membros; suas mãos estavam dormentes e seu rosto parecia congelado numa máscara,
mesmo com as quase constantes mudanças de posição. David estava do outro lado de Rebecca, os três juntos o
mais próximo possível. Rebecca não tinha acordado, mas sua respiração estava lenta e constante; pelo menos
ela descansava confortavelmente.
Só ela...
"Não deve demorar muito". David disse. "Vinte, talvez vinte e cinco minutos. Eles posicionarão um ou dois
homens, depois partirão".
"É, você é quem manda". Claire disse. "Como você deduz o tempo?". Seus lábios pareciam picolés.
"Busca no perímetro, uma volta de pelo menos quatrocentos metros - considerando que eles tenham seis ou
menos homens ainda capacitados fisicamente, eu estimo quatro - ".
"Por quê?".
A voz de David tremeu com o frio. "Três homens estavam na porta de trás do prédio, dois entraram - e pelos
sons, eu diria que haviam de três a sete na frente. Oito ou doze homens; mais que isso não caberiam todos no
helicóptero. Menos que isso, eles não conseguiriam ter coberto as duas entradas".
Claire estava impressionada. "E por que vinte a vinte e cinco minutos?".
"Como eu disse, eles vão cobrir uma certa distância em volta do complexo antes de desistirem. O tamanho do
complexo vai de quatrocentos à oitocentos metros, e quanto tempo leva para um homem mediano andar essa
distância. Nós vimos aquela luz há talvez uma hora, e desde que certamente cada um foi para um lado e
verificado aquele segmento... bom, vinte a vinte e cinco minutos. Isso incluindo o tempo que levaria para verificar
a van. Essa é a minha opinião".
Claire sentiu seus lábios congelados tentarem um sorriso. "Você está tirando uma com a minha cara, não está?
Inventando?".
David pareceu chocado. "Não estou. Eu repassei isso várias vezes e eu acho -".
"Estou brincando". Claire disse. "Sério".
Um curto silêncio e então David riu, o baixo som carregado facilmente pelo frio escuro. "Claro que está. Desculpe.
Eu acho que temperatura afetou o meu senso de humor".
Claire alternou as mãos, tirando a direita de debaixo da perna de Rebecca e colocando a esquerda. "Não. Eu peço
desculpas. Não devia ter interrompido. Continue, é muito interessante".
"Nada mais a dizer". David disse, e ela ouviu o leve e rápido bater de dentes dele. "Eles vão querer ajuda médica
para os feridos, e eu duvido que a Umbrella queira que um de seus helicópteros seja visto voando pelas salinas à
luz do dia; eles deixarão um guarda e partirão".
Ela o ouviu tremer, sentiu o corpo de Rebecca mexer enquanto ele trocava sua posição. "De qualquer modo, é aí
que nós andamos. Primeiro para o complexo, um pouco de sabotagem - e então só veremos o que acontece...".
O modo como sua voz parou, o humor forçado em seu tom que se quer cobriu o desespero - diziam exatamente
o que estava pensando.
O que ambos estavam pensando...
"E Rebecca?". Ela perguntou gentilmente. Eles não podiam deixá-la, ela congelaria. Tentar invadir o complexo de
novo, tentar derrubar alguns homens armados enquanto carregavam uma mulher inconsciente...
"Eu não sei". David disse. "Antes que ela - ela disse que poderia se recuperar em algumas horas, com descanso".
Claire não respondeu. Afirmar o óbvio não ajudaria em nada.
Eles caíram no silêncio, Claire ouvindo a suave respiração de Rebecca, pensando em Chris. A afeição de David por
Rebecca era evidente; era como amor de pai e filha. Ou de irmão e irmã. Pensar nele era um modo de passar o
tempo.
-o que você está fazendo nesse momento, Chris? Trent disse que estava bem, mas por quanto tempo? Deus,
eu queria que você nunca tivesse sido convocado para a mansão de Spencer. Ou para Raccoon, para lutar pela
verdade e justiça... é desgastante, irmão...
"Você está dormindo, não está?". David perguntava isso toda vez que ficavam mais de um minuto sem falar.
"Não, pensando em Chris". Ela disse. Formar palavras era difícil, porém melhor do que deixar a boca fechada,
congelando. "E eu aposto que você está começando a desejar ter ido à Europa a final de contas".
"Eu queria". Rebecca disse fracamente. "Eu odeio esse tempo...".
Rebecca!
Claire sorriu sem sentir e nem se importou. Ela abraçou a garota enquanto David se sentava, procurando a
lanterna - e apesar de estar congelando, apesar de separada dos amigos, longe da saída e contando com
incertas probabilidades, Claire sentiu que definitivamente as coisas estavam começando a dar certo. * * * A
ligação veio logo depois que John explodiu seis dos Ar12.
Reston pensava em pipoca até então; o sistema de defesa dos Scorps estava funcionando como as projeções
sugeriam, o reparador de danos mais rápido do que esperava. O que não era esperado foi a fragilidade dos
tecidos conectivos entre os segmentos aracnídeos.
Uma granada. Uma maldita granada.
O desejo por pipoca estava tão morto quanto os Ar12. Ainda restavam dois, vagando pelo canto sudoeste, mas
Reston não tinha mais fé nos Ar - e apesar de ser uma informação importante, ele não estava tão certo de que
Jackson o agradeceria por tê-la conseguido.
Ele vai querer saber porque eu não tirei os explosivos deles antes. Porque eu soltei todos os espécimes. Porque
não liguei para Sidney, pelo menos, por um conselho. E nenhuma resposta que eu desse seria suficiente...
Quando o telefone tocou, Reston pulou na cadeira, de repente certo de que era Jackson. Essa noção ridícula
desaparecendo ao pegar o gancho - e o fez certo de que seus objetos de teste não sobreviveriam à Três.
"Reston".
"Sr. Reston - aqui é o Sargento Hawkinson, Equipe de Terra Branco Um-Sete-Zero-".
"Sim, sim. Reston suspirou, observando Cole e os dois S.T.A.R.S. se reunindo. "O que está acontecendo aí em
cima?".
"Nós-". Hawkinson respirou fundo. "Senhor, eu lamento informar que houve altercação com os intrusos e eles
escaparam do local". Ele disse muito rápido, certamente desconfortável.
"O quê?". Reston se levantou, quase derrubando a cadeira. "Como? Como isso aconteceu?".
"Senhor, nós os encurralamos no galpão de estocagem, mas houve uma explosão, dois de meus homens foram
baleados e mais três ficaram feridos - ".
"Eu não quero mais ouvir isso!". Reston estava furioso, incapaz de acreditar que tinha tais incompetentes
trabalhando para ele. "O que eu quero ouvir é que vocês não só falharam miseravelmente, como não só deixou
os três passarem pela sua droga de equipe, e que não ligou para me dizer que não conseguiu achá-los".
Houve um momento de silêncio do outro lado e Reston conseguiu calá-lo, conseguiu dar um motivo para tornar a
vida dele um inferno.
Mas Hawkinson soou propriamente arrependido. "Claro, senhor. Eu lamento, senhor. Eu voltarei com o helicóptero
para Salt Lake City e trazer alguns de nossos novos recrutas para estender nossos parâmetros de busca. Estarei
deixando meus três últimos homens de guarda, dois à leste e oeste do complexo, e um no veículo de fuga. Eu
voltarei em - noventa minutos, senhor, e nós vamos achá-los. Senhor".
Os lábios de Reston curvaram. "Assim espero, Sargento. Se não o fizer, seu traseiro não valerá nada".
Ele desligou a comunicação e jogou o telefone no gancho, ao menos pensando ter feito algo para facilitar o
processo. Um bom puxão de orelha funciona maravilhas; Hawkinson engatinharia sobre vidro para obter
resultados, exatamente como deve ser.
Reston sentou de novo, olhando para as cobaias enquanto caminhavam sobre a duna. Cole tinha uma arma
agora, e estava levando-os para a porta de conexão. Reston imaginava se John ou Ruivo faziam alguma idéia do
quanto inútil Cole era. Provavelmente não, se eles o deram uma arma...
Quando os três chegaram no topo da duna e começaram a descer do outro lado, os dois Scorps finalmente se
moveram. Diferente da última vez, Reston observou bem de perto, segurando no laço de esperança - de que
acabaria ali, de que os homens seriam derrubados. Não que Reston tivesse dúvidas sobre os Ca6 da Três, eles
certamente não sobreviverão à próxima fase...
... mas e se sobreviverem, hein? Se sobreviverem e forem para a Quatro, e acharem uma saída? O que você
dirá à Jackson, o que você dirá no tour sem nenhum espécime vivo para ver? Aí será o meu traseiro sem valor,
não é?
Reston ignorou a baixa voz, concentrando-se no monitor. Ambos os Scorps andaram rapidamente, garras e
ferrões para o alto, seus frágeis corpos de inseto armados para atacar -
- os três homens estavam atirando, uma silenciosa batalha, os Ar desviando e simulando botes, e caindo sob as
rajadas de balas. As mãos de Reston estavam apertadas e nem percebeu; sua atenção voltada para os Scorps
no chão, esperando vê-los atacarem novamente antes dos homens alcançarem a porta -
-exceto por John e Ruivo estarem indo na direção dos animais, apontando as armas -
- e atirando nos olhos. Eles o fizeram rápido e eficiente, e mesmo com ambos os escorpiões se movendo
enquanto os três iam para a porta, as criaturas cegas só golpearam a areia. Um deles achou um alvo; em um
movimento, ele desceu seu ferrão extraordinariamente tóxico nas costas do outro. O Ar envenenado girou e
cravou sua dentada garra no abdômen do agressor; se contorceu fracamente, vivo porém incapaz de ver ou se
mover - morrendo ao lado do irmão morto.
Reston balançou a cabeça devagar, com nojo do tempo e dinheiro perdido, dos milhões de dólares e
horas-homem que gastaram no desenvolvimento dos habitantes das fases Um e Dois.
E Jackson vai querer essa informação. Uma vez as cobaias mortas e seus amigos pegos, eu conseguirei dar a
volta por cima; como alguns de nossos "prezados" espécimes. É melhor valer agora...
O ruivo estava destrancando a porta que os levaria para a Três; se não tiverem uma caixa de granadas, estarão
mortos em minutos.
Reston respirou fundo, lembrando de quem estava no controle. Hawkinson cuidaria da superfície, Jackson ficaria
agradecido, os três mosqueteiros estavam prestes a serem cegados, pisoteados e devorados. Não havia nada
para se preocupar.
Reston exalou fortemente, conseguindo de alguma forma dar um inseguro sorriso, e forçando a si mesmo relaxar
na cadeira, chamando os monitores que o mostrariam o habitat dos Ca6.
"Digam adeus". Ele disse, e serviu-se de outro conhaque.
[15]
Do terrível e ofuscante calor do deserto, eles pisaram na fria sombra de uma montanha. Eles ficaram na porta,
vasculhando a novo campo de teste, Leon imaginando se estariam enfrentando Hunters ou Spitters nessa grande
e acinzentada sala.
A cinza e pontiaguda pedra do cume da montanha se verticalizava à frente deles. Cinza também as paredes e o
teto, e a sinuosa trilha a oeste, contornando o "pico". Até a grama cerrada era cinza. A montanha parecia bem
real, talhados blocos de granito misturados com cimento, esculpidos como rochedos e pintados para combinar. O
efeito geral era de uma inóspita trilha no alto de uma árida montanha.
Exceto por não haver vento - nem cheiro. Igual às outras duas, nenhum cheiro mesmo.
"Você vai querer colocar sua blusa de novo". John disse, e Leon já estava desatando as mangas da cintura. A
temperatura tinha caído pelo menos quinze graus, já congelando o suor que ganharam na Fase 2.
"Então, para onde vamos?". Cole perguntou, seus olhos arregalados e nervosos.
John apontou diagonalmente pela sala, à sudoeste. "Que tal a porta?".
"Eu acho que ele quis dizer qual é o caminho". Leon disse, mantendo a voz baixa como os outros. Não há porque
alertar os habitantes do lugar sobre suas posições; eles estarão interagindo em breve.
Os três examinaram as opções, todas as duas: pegar a trilha cinza ou subir a montanha cinza.
Hunters ou Spitters... Leon suspirou, seu estômago já dando nó. Se eles conseguirem escapar, se ele achar
Reston, ele daria um sólido chute no traseiro do velho Sr. Blue. Seria contra o sistema que o fez ser policial, mas
aí veio a Umbrella...
"Do ponto de vista defensivo, eu optaria pela trilha". John disse, olhando para a irregular superfície da montanha.
"Nós podemos nos encurralar se subirmos".
"Tem uma ponte, eu acho". Cole disse. "Eu só fiz uma das câmeras aqui, aquela -".
Ele apontou para cima à direita, no canto. Leon mau podia vê-la - as paredes tinham uns quinze metros de altura
e sua pintura monotônica se juntava com a do teto. Criava uma ilusão de ótica fazendo a sala parecer
infinitamente vasta.
"- eu estava numa escada, eu vi por cima, mais ou menos". Cole continuou. 'Há um desfiladeiro do outro lado, e
uma daquelas pontes de madeira e corda para cruzá-lo".
Leon abriu seu estojo enquanto Cole falava, verificando a munição. "Como está a M-16?".
"Talvez quinze sobrando neste". John respondeu, tocando o pente curvo. "Mais dois completos, trinta cada... dois
clips para a H&K, e mais uma granada. "Você?".
"Sete balas aqui, três clips, uma granada. Henry, você contou?".
O funcionário da Umbrella balançou a cabeça. "Eu acho que - cinco tiros, eu atirei cinco vezes".
Ele pareceu querer dizer algo mais, trocando olhares entre Leon e John, finalmente olhando para suas botas
sujas. John olhou para Leon, que deu com os ombros; eles não sabiam nada mesmo sobre Henry Cole, exceto
por não pertencer àquele lugar como eles próprios.
"Ouçam... eu acho que essa não é a hora e lugar, mas só queria dizer que sinto muito. Quer dizer, eu sabia que
havia algo estranho sobre tudo isso. Sobre a Umbrella. E eu sabia que Reston era um idiota, e se eu não tivesse
sido tão ganancioso e burro, eu nunca teria colocado vocês nessa".
"Henry". Leon disse. "Você não sabia, tá bom? E acredite em mim, você não é o primeiro a ser enganado -".
"Sem dúvida". John interrompeu. "É sério. Os colarinhos são o problema aqui, e não caras como você".
Cole não ergueu o olhar, mas acenou, seus finos ombros baixando de alívio. John o passou mais um clip,
acenando para a trilha enquanto Cole o colocava no bolso.
"Vamos nessa". John disse para ambos mas endereçando à Cole. Leon percebeu na profunda voz uma nota de
encorajamento sugerindo que John estava começando a gostar do empregado da Umbrella. "Se ficar difícil nós
podemos voltar para a Dois. Fiquem juntos, calados e tentem atirar na cabeça ou olhos - se é que eles tem
olhos".
Cole sorriu de leve.
"Eu vou na frente". Leon disse e John acenou antes de se afastar da porta e virar à esquerda. O frio ar estava
quieto desde que entraram, nenhum som exceto o deles. Leon foi para trás, Cole andando devagar à sua frente.
A trilha era arranhada; como se alguém tivesse passado um rodo antes do cimento secar. Com o pico à direita
deles, o caminho se estendia por uns vinte metros e depois virava angulosamente à sul, desaparecendo atrás da
íngreme encosta.
Depois dos quinze metros, Leon ouviu o bater de pedras atrás deles. Cascalho solto rolando abaixo do pico.
Ele virou, surpreso, e viu o animal perto do topo do pico, a uns nove metros. Viu mas não tinha certeza do que
estava vendo, exceto por estar descendo, saltitando sobre as quatro robustas patas, como um bode das
montanhas.
Como um bode sem pele. Como - como -
Como nada que já tinha visto antes, e estava quase no chão quando ouviram um molhado som de sacudir em
algum lugar à frente, o som de uma garganta congestionada sendo limpa, ou um cachorro rosnando com a boca
cheia de sangue - e estavam cercados, os terríveis sons vindo de ambos os lados na direção deles.
Voltar para o complexo foi muito fácil. Rebecca precisou de ajuda para subir a cerca, mas parecia melhorar a cada
minuto, recuperando o equilíbrio e a coordenação. David estava mais aliviado do que pretendia, e grato pela
guarda da Umbrella, ou pela falta dela, três homens, dois na cerca e outro na van; patético.
Eles começaram a voltar assim que o helicóptero decolou e foi para o sul, esticando os músculos congelados
enquanto se moviam pelo escuro. Depois de algumas centenas de metros, David se separou das garotas para
fazer um rápido reconhecimento, depois voltou e guiou-as para a cerca e por cima dela. Antes de derrubarem os
guardas, David precisava de algum lugar seguro e quente para rever os procedimentos e melhorar a condição de
Rebecca; ele escolheu o mais óbvio dos galpões, o do meio. O que tinha duas parabólicas, uma série de antenas
e cabos descendo de um lado. Se ele estiver certo, se for o setor de comunicações, seria exatamente o lugar
que queriam estar.
E se eu estiver errado, restam mais dois para vasculhar; um será a sala do gerador, que deve ter algum tipo de
controle climático. Eu posso deixá-las lá e fazer a sabotagem sozinho...
Depois que escalaram a cerca sul, David ficou impressionado com a pobreza do plano da Umbrella. Os dois
guardas protegendo o perímetro estavam posicionados na frente e atrás, como se não houvesse chances de
alguém entrar pelas laterais. Uma vez dentro, David as guiou para o lado mais longe do último galpão, e acenou
para se juntarem.
"Prédio do meio". Ele cochichou. "Deve estar destrancado se for o que acho que é. As luzes estarão acesas. Eu
entro e depois aceno para me seguirem; se ouvirem tiros, entrem o mais rápido possível. Fiquem próximas aos
prédios e abaixem-se ao cruzá-los. Certo?".
Claire e Rebecca acenaram, Rebecca se apoiando em Claire; apesar de fraca, ela estava bem. Ela disse que ainda
estava enjoada e que sua cabeça doía, mas os confusos pensamentos que o atormentavam já tinham passado.
David virou e deslizou pela parede da estrutura mais próxima da cerca, abraçando as sombras, olhando para ter
certeza de que nenhum guarda apareça. Eles chegaram no fim, de frente à oeste e deram a volta. David
primeiro, verificando a posição do guarda. Estava muito escuro para ver, mas havia uma sombra densa atrás da
cerca metálica que o identificava. David ergueu a M-16 e mirou nele, preparado para atirar caso fossem vistos.
Pena não poder atirar agora... mas um tiro alertaria os outros. Como David não estava preocupado com os
guardas na cerca, o guarda da van poderia ser um problema; ele estava longe o bastante para usar o rádio antes
de vir para cá.
Esses dois serão fáceis, mas como se aproximar deles?
Não havia cobertura se o guarda da van os visse chegando -
Isso podia esperar; eles tinham serviço antes de se preocuparem com os guardas. Agachado, David levou Claire
e Rebecca com a M-16 apontada para a sombra na cerca. Ele segurou a respiração enquanto cruzavam o espaço
aberto. Eles conseguiram quase sem um ruído;
Depois que cruzaram, David continuou, seus anos de treinamento permitindo-o se mover tão silenciosamente
quanto um fantasma. Uma vez cobertos pela sombra do galpão, David relaxou um pouco, o pior de tudo se foi.
Eles podiam ir para o prédio do meio através do negro corredor entre as estruturas.
Em menos de um minuto eles chegaram ao destino. Acenando para as mulheres recuarem, David cruzou,
parando na porta fechada. Ele tocou a fria maçaneta de metal e a empurrou para baixo, acenando para si
mesmo ao ouvir o leve click da porta destrancada.
É aqui; o líder da equipe a deixou aberta para os guardas acessarem o satélite no caso de voltarmos. Foi um
chute, mas foi um chute calculado.
Era hora de rezar por um pouco de sorte; se as luzes estiverem acesas, abrir a porta seria como um farol para
qualquer um olhando nessa direção. Os guardas deviam estar olhando para o deserto, mas isso não significava
muito.
Respirando fundo, David empurrou a porta, percebendo que a luz estava fraca enquanto entrava e fechava a
porta. Ele encostou na porta e contou até dez, e relaxou, inalando o morno ar agradecidamente enquanto
estudava o interior. O galpão havia sido dividido em salas - e a sala a qual havia entrado estava forrada de
equipamentos de computador, grossos cabos cruzavam o chão e subiam pelas paredes...
... tudo o que liga esse complexo ao mundo exterior...
David apertou o botão na parede, desligando a única luminária no teto. Sorrindo, ele abriu a porta para que
Rebecca e Claire se juntassem à ele.
"Fiquem contra a parede". Leon gritou, e Cole obedeceu antes mesmo de saber porque. O agitado barulho de
catarro parecia vir de algum lugar acima -
- e então viu a criatura vindo vagarosamente na direção deles, tornando impossível fugir, e mau conteve o grito.
Ele parou a uns quatro ou cinco metros de distância, e Cole ainda não parecia entender; era tão bizarro.
Ah, Jesus, o que é aquilo?
Tinha quatro patas, com cascos divididos, como um carneiro ou bode, e tinha o mesmo tamanho - só que sem
pelos, sem chifres, nada que lembrasse o desenvolvimento natural. Seus corpos atléticos eram manchados com
pequenas variações de marrom avermelhado, como a pele de uma cobra, só que sem brilho; à primeira vista,
parecia coberta de sangue seco. Sua cabeça de algum modo era anfíbia, como a de um sapo - um rosto
achatado sem orelhas com pequenos olhos escuros que saltavam de cada lado, uma boca larga também - mas
com dentes pontudos saindo de uma proeminente mandíbula inferior, um queixo de bulldog, sua cabeça também
manchada com as variações de sangue seco.
A coisa abriu a boca, expondo só alguns dentes afiados, superiores e inferiores, nenhum deles na frente - e
aquele terrível som molhado veio da escuridão de sua garganta, o bizarro chamado acompanhado pelos outros
em algum lugar do outro lado da montanha artificial.
O chamado cresceu, mais alto e profundo enquanto a coisa erguia a cabeça, voltando o rosto para o teto -
- e com um súbito movimento, a coisa abaixou a cabeça e cuspiu neles. Uma grossa bolha de semilíquido
avermelhado voou neles, em Leon, cruzando a longa distância -
- e Leon ergueu o braço para bloquear ao mesmo tempo que John começou a atirar, se afastando da parede e
espirrando no monstro -
- Cuspidor -
- com balas. A meleca atingiu o braço de Leon, teria acertado seu rosto se não tivesse se protegido, e em
resposta às balas, o cuspidor virou e saltou para a montanha esculpida - em longos e fáceis saltos que não
denotavam pânico, dor ou qualquer sentimento, levando-o para o topo em segundos. Ele começou a descer por
seis metros depois pulou agilmente para o chão, parando na frente da porta de conexão. Como se soubesse que
estava bloqueando a saída.
E nem cambaleou, meu Deus -
Os múltiplos berros de onde não tinham visão não aumentaram mais, e também não diminuíram. Os gargarejos
foram parando, um por vez, a falta de alvos tirando-os o motivo; de repente, tudo estava quieto, do mesmo jeito
que estava quando entraram.
"Mas o que bom Deus foi aquilo? John disse, tirando outro clip do estojo, suas expressões desacreditadas.
"Nem se machucou". Cole sussurrou, apertando a 9mm com tanta força que seus dedos ficaram dormentes. Ele
nem percebeu, olhando enquanto Leon tocava o pastoso e úmido punhado de meleca em sua manga -
- e soprou de dor, tirando a mão como se tivesse se queimando.
"Essa coisa é tóxica". Ele disse, rapidamente limpando os dedos na roupa e mantendo-os no alto. As pontas do
dedo do meio e indicador de sua mão esquerda ficaram vermelhos. Ele imediatamente guardou a arma no cinto e
tirou a blusa preta, cuidando para evitar contato com a gosma tóxica, empurrando-a no chão de pedra.
Cole ficou enjoado. Se Leon não tivesse bloqueado...
"Tá bom, tá bom, tá bom" John suspirou. "Isso é ruim, temos que sair daqui o mais rápido possível... você disse
que há uma ponte?".
"Sim, passa por cima do, é, penhasco". Cole disse rapidamente. "Tem uns seis metros, e não sei qual a
profundidade".
"Vamos". John disse. Ele começou a andar na direção de onde a trilha virava, bem depressa. Cole seguiu, Leon
bem atrás.
John parou a uns três metros da curva e encostou na parede, olhando para Leon.
"Você quer cobrir, ou eu?". Leon perguntou suavemente. "Eu". John disse. "Eu vou primeiro. Você corre, Henry,
vá atrás dele - e sigam em frente, entenderam? Cruzem a ponte e vão para a porta - se puderem, me ajudem
-".
O rosto de John era solene. "- e se não puderem, então não podem".
Cole sentiu a já familiar vergonha. Eles estão tentando me proteger, nem me conhecem e eu os coloquei nisso...
se ele pudesse fazer algo para retornar o favor, ele faria, apesar de ter certeza de repente de que nunca faria
algo que ajudasse; ele devia sua vida a esses caras, e várias delas já.
"Prontos?". John perguntou.
"Espere -". Leon virou e correu para onde tinha jogado a blusa. O Spitter na porta ficou quieto e imóvel como
uma estátua, observando-os. Leon recuperou a blusa e voltou, tirando um canivete de seu estojo. Ele cortou a
manga atingida e deu o resto para John.
"Se você for ficar parado, fique com o rosto coberto". Leon disse. "Já que eles não sentem as balas, você não
precisará enxergar nem atirar. Quando cruzarmos, eu gritarei. E se não for seguro do outro lado, eu vou -".
Os autoritários chamados começaram de novo, fazendo Cole lembrar de cigarras por algum motivo, o quase
mecânico ree-ree-ree de cigarras numa quente noite de verão. Ele exalou forte, tentando fingir para si mesmo
que estava preparado.
"Sem tempo". John disse. "Preparem-se para ir -".
Ele pegou a blusa, quando - pasmo - sorriu para Leon. "Cara, você precisa investir num desodorante mais forte;
você fede como um cachorro morto".
Sem esperar uma resposta, John colocou a blusa sobre a cabeça, segurando-a aberta na parte de baixo para ver
o chão. Ele correu, de cabeça baixa, Cole e Leon se preparando até que -
- houve um rápido patpatpatpat, e de repente o material preto sobre o rosto de John ficou pingando com grandes
porções de catarro venenoso vermelho, e balançou a mão para eles -
- e Leon disse. "Agora!". E Cole correu, de cabeça baixa, vendo só as botas de Leon a sua frente, o borrão cinza
do chão e suas próprias pernas. Ele ouviu um grito borbulhante à esquerda e se abaixou mais ainda, aterrorizado
-
- e ouviu passos sobre madeira à frente, e então estava na ponte, tábuas de madeira balançando sob os pés,
amarradas com finas cordas. Ele viu o precipício em forma de "V" por debaixo delas, viu que era fundo, que havia
sido escavado abaixo do nível do Planeta, uns quinze metros -
- e então estava de volta ao chão cinza, antes mesmo de ter vertigem. Ele correu, pensando em como era bom
ter apenas as botas de Leon para se preocupar, seu coração martelando as costelas.
Segundos ou minutos depois, ele não sabia, as botas foram parando, e Cole ousou erguer o olhar. A parede, a
parede, e lá estava a porta! Eles conseguiram!
"John, vai!". Leon gritou, dando alguns passos na direção a qual vieram, sua semi para o alto e preparada. "Vai!".
Cole virou, viu John arrancar a blusa preta, viu um monte de Spitters se agruparem na frente dele, seis, sete
deles berrando. John rasgou um caminho entre eles e pelo menos dois deles cuspiram. Mas John foi rápido, rápido
o bastante tal que só um pouco atingiu seu ombro, até onde Cole pode ver. As monstruosas criaturas foram
atrás dele em seus pulos, não tão rápido, mas quase.
Corre corre corre!
Cole apontou a 9mm na direção dos Spitters, pronto para atirar se conseguir um tiro certeiro, enquanto John
pisava na ponte -
- e desaparecia. A ponte ruiu e John desapareceu.
[16]
John sentiu a ponte ceder alguns segundos após as cordas arrebentarem. Ele instintivamente abriu os braços,
ainda correndo, pensando que fosse conseguir -
- mas começou a cair, seu joelhos batendo na móvel parede de tábuas de madeira, seus dedos fechado no
momento em que acharam algo sólido -
- e tudo o que ouviu foi um whoosh, depois as articulações dos dedos de sua mão direita bateram em pedra, e
agora estava balançando sobre um precipício muito fundo com um pedaço solto de madeira na mão esquerda. Ele
tinha conseguido se segurar num dos pedaços ainda presos na agora pendurada ponte; ambas as cordas que
prendiam o lado norte da ponte tinham se soltado.
John soltou a inútil tábua, ouvindo-a bater no fundo do vale com outros pedaços que haviam se soltado. Ele se
puxou para ter um melhor agarre quando -
- thwock, uma bola de muco vermelho apareceu de repente à sua frente, a menos de trinta centímetros à direita
de seu rosto, deslizando pela parede como uma corda derretida.
- como merda derretida -
Bambambam, alguém estava disparando uma 9mm. O crescente berro dos Spitters se preparando para cuspir o
disseram que definitivamente precisava sair de lá.
Ele subiu de novo, seus bíceps flexionando, a tensão contra o tecido de sua camiseta enquanto agarrava uma
das tábuas e se erguia. Lá em cima, mais tiros, mais próximos, e um grito de Leon que foi cortado por mais
disparos.
Detonem, garotos, eu estou indo -
Mão sobre mão era terrível, ainda mais com dedos sangrando e uma metralhadora pendurada no pescoço, mas
estava indo bem, segurando a próxima tábua -
- até que uma quente umidade acertou as costas de sua mão direita, e doía, era como ácido, queimando -
- e ele soltou, sacudindo o ácido da mão, esfregando-a na blusa violentamente. Ele se segurou com a esquerda,
a dor como fogo crescendo. Tudo o que podia fazer para resistir ao instinto natural era apertar o ferimento
ardente - e o modo como seu dedos começaram a formigar, ele não tinha muito tempo para se preocupar.
"Ele está bem aqui!".
Um histérico grito veio lá de cima. John jogou a cabeça para trás, viu Cole agachado na beira do abismo, sua
camisa de trabalho à frente do nariz, seu olhar frenético e assustado.
"John, me dê a sua mão". Ele gritou, e se esticou para baixo o máximo que podia, flocos de cimento caindo do
chão sob suas botas. Se ele disse mais alguma coisa, ficou perdido sob outra série de tiros explosivos que Leon
usava para manter os cuspidores afastados.
Só levou uma fração de segundo para John reagir à ordem de Cole, e naquele instante entendeu que iria sair de
lá. Henry Cole tinha um metro e sessenta e quatro e pesava uns setenta quilos - vestido. Ele estava parecendo
uma tartaruga assustada pendurada no casco de sua blusa.
Muito engraçado. Engraçado, e conveniente de um modo idiota, e apesar de sua mão ainda doer como o inferno,
ele esqueceu de senti-la por um segundo ou dois.
John sorriu, ignorando os trêmulos dedos de Cole, concentrando-se para se erguer com mão ferida. Houveram
mais daqueles sons atrás deles, mas nenhuma bomba de cuspe por enquanto.
"Mande Leon usar a granada!" Ele suspirou, e Cole virou, gritando sob outra explosão da semi de Leon. John disse
para usar a granada!".
"... disse granada! John disse para usar a granada!".
"Ainda não!". Leon gritou. "Saiam daí!".
Thwap-wap, mais duas escarradas voaram pelo abismo, uma acertando as botas de Cole, a outra à somente
centímetro do suado rosto de John.
Use sua força, John - com um último e profundo gemido, John agarrou a madeira no topo e puxou o corpo para
cima, puxando e empurrando para baixo, trazendo o joelho acima para sair.
"Estou bem, vai!".
Cole, a tartaruga assustada, não precisou de mais incentivo. Ele decolou, correndo enquanto Leon cobria John,
enquanto John corria em sua direção agachado, enfiando a mão ferida no estojo e tirando sua última granada -
ele já tinha tirado o pino quando viu Leon com a dele na mão.
"Jogue!". John berrou, alcançando Leon, Leon arremessando ao alto o poderoso explosivo nos Spitters. Os dois
estavam correndo, John olhando para trás só para ver que três, quatro animais já tinham caído no penhasco.
Sem tempo para pensar, John arremessou baixo, o mais forte que podia, sua granada desaparecendo no buraco
enquanto a de Leon caía na frente dos outros -
- e os dois estavam mergulhando e rolando, as explosões quase simultâneas, KA-WHAM-WHAM, o som de pedra
dissolvida chovendo, uma incrivelmente alta gritaria atrás deles -
"Vocês os pegaram! Vocês os pegaram!".
Cole estava de pé na frente deles, um descontraído olhar de alegria em seu rosto. John sentou, Leon ao seu
lado, ambos virando para olhar.
Eles não tinham matado todos. Dois deles ainda estavam intactos no outro lado do abismo, vivos - mas cegos e
feridos, suas pernas estouradas, um líquido escuro cobrindo o que havia sobrado de seus rostos enquanto
berravam em fúria, como um porco sendo pisado. Os outros dois deviam ter estado bem à frente da explosão;
estavam sangrando, seus corpos estilhaçados, ossos saindo do líquido como - como ossos quebrados. Do fundo
do precipício vinham mais berros, e nada apareceu para atacar. Para todos os efeitos, estava acabado.
John se levantou, estudando as costas de sua mão. Ao contrário do que parecia, a pele não tinha derretido.
Havia algumas pequenas bolhas se formando e a pele parecia queimada, mas não estava sangrando.
"Você está bem?". Leon perguntou, se levantando e sacudindo as roupas, suas jovens feições muito menos
jovens para John.
Eu não vou mais chamá-lo de recruta.
John deu com os ombros. "Acho que quebrei uma unha, mas vou viver".
Ele viu que Cole ainda estava olhando para os dois, seu corpo tremendo com o estouro de adrenalina; ele não
tinha palavras e John de repente se lembrou de como se sentiu depois da primeira batalha na qual atuou
corajosamente. O quanto ficou animado. O quanto vivo ficou.
"Henry, você é um cara engraçado". John disse, batendo no ombro do homem e sorrindo.
O eletricista sorriu incerto e os três foram para a Quatro, deixando os furiosos berros para trás.
Quando a poeira abaixou e os três homens ainda estavam vivos, Reston bateu o punho na mesa, sua raiva e
medo crescendo, seu estômago dando um nó, seus olhos largos com descrença.
"Não, não, não, seus idiotas estúpidos, vocês estão mortos!".
Sua voz estava um pouco enrolada, mas estava muito chocado para reparar nisso, para se preocupar. Eles não
sobreviverão aos Hunters, ele sabia -
- mas também não sobreviveriam aos Ca6.
Reston não conseguia acreditar que tinham chegado até esse ponto; não conseguia acreditar que dos vinte e
quatro espécimes que encontraram, todos exceto um Dac foram deixados mortos ou morrendo. E pior, não
conseguia acreditar que deixou o programa continuar, que seu orgulho e ambição não o deixaram fazer o que
devia ter feito a princípio. Não que estivesse fora de uma "liga", ele estava no círculo interno, ele já tinha superado
esse tipo de insegurança - mas já devia ter falado com Sidney, ou mesmo com Duvall; não por um conselho, mas
para ter um apoio. Afinal de contas, ele não podia ser totalmente responsável se tivesse o apoio de um dos
membros mais velhos...
Não era tarde demais. Ele faria uma ligação explicaria seu plano, explicaria que tinha algumas preocupações - ele
podia dizer que os intrusos estavam na Dois, isso pode ajudar, ele podia acertar os vídeos mais tarde... e os
Hunterts já foram testados antes, não os 3K, e sim os 121. Alguns foram soltos na mansão de Spencer; pelos
dados recolhidos, ele sabia que os homens seriam mortos na Quatro. Mesmo se não forem, não conseguirão sair,
e com o reforço da central, ele ficaria livre.
Certo de ser a decisão correta, Reston pegou o telefone.
"Umbrella, Divisões Especiais e -".
- e silêncio. A doce voz feminina foi cortada no meio da frase, sem se quer um ruído de estática.
"Aqui é Reston". Ele disse afiadamente, percebendo que uma fria mão estava tocando seu coração,
esfregando-o. "Alô? Aqui é Reston!".
Nada; e de repente percebeu que a qualidade da luz na sala havia mudado, ficou mais brilhante. Ele virou a
cadeira esperando desesperadamente que não fosse o que achava ser -
- até que os monitores que mostravam a superfície começaram a chuviscar. Todas as sete desligadas - e alguns
segundos depois, antes que Reston pudesse entender, os sete monitores apagaram.
"Alô?". Ele sussurrou no telefone mudo, sua rápida respiração quente e dolorida. Silêncio.
Ele estava só.
Andrew "Matador" Berman estava morrendo de frio e tédio, imaginando porque os Sargento se incomodou em
postar alguém na van. Os caras maus iriam voltar, eles já tinham fugido - e mesmo se decidirem voltar,
certamente não tentariam pegar o veículo. Seria suicídio.
Ou eles têm um carro reserva ou estão congelados em algum lugar na planície. Isso aqui é uma total besteira.
Andy subiu seu cachecol até as orelhas e reajustou a pega da M41. Seis quilos de rifle não parecia muito, mas
estava de pé há muito tempo. Se o Sargento não voltar logo, ele ficaria dentro da van, descansaria os pés e
sairia do frio; ele não estava sendo pago o bastante para se congelar na escuridão.
Ele se encostou no pára-choque traseiro e imaginou se Rick estava bem; ele não conhecia os outros, mas Rick
Shannon era seu amigo, e estava todo ensangüentado ao ser posto no helicóptero.
Aqueles idiotas, voltem aqui e eu lhes mostrarei sangue...
Andy deu um sorriso, pensando. Não era à toa que o chamavam de matador. Ele era um excelente atirador, o
melhor da equipe, o resultado de uma vida inteira de caça à cervos. Se o trio de imbecis aparecer...
Ele ainda estava pensando nisso quando ouviu um suave apelo sair do escuro.
"Ajude-me, por favor - não atire, por favor, me ajude, eu fui baleada -".
Uma sufocada voz feminina. Uma sensual voz e Andy pegou sua lanterna e mirou no escuro, achando a dona da
voz a menos de nove metros de distância.
Uma garota, vestida numa roupa preta apertada, cambaleando para ele. Ela estava desarmada e ferida,
mancando, seu pálido rosto aberto e vulnerável sob a brilhante luz.
"Ei, espere". Andy disse, não muito bravo. Ela era jovem. Parecia ainda mais jovem do que Andy com seus tinha
vinte e três anos.
Andy baixou a arma devagar, pensando no quanto bom seria ajudar uma mocinha aflita. Ela podia estar com os
três criminosos, provavelmente estava, mas certamente não era uma ameaça para ele; podia segurá-la até o
helicóptero chegar. E talvez fique grata pela ajuda...
... e bancar o herói é um bom modo de ganhar pontos. Caras bons podem terminar por último, mas certamente
tem muita sorte no caminho.
A garota mancou até ele e Andy tirou a lanterna de seu rosto, não querendo cegá-la. Usando somente a nota
certa de sinceridade em sua voz - garotas engoliam essa baboseira - ele deu um passo até ela, segurando uma
mão.
"O que aconteceu? Aqui, deixe me ajudar -?".
Uma escura e pesada coisa bateu nele pelo lado, forte, levando-o ao chão e tirando o ar de si. Antes de saber o
que aconteceu, uma luz estava brilhando em seu rosto, e a M41 estava sendo tirada de suas mãos enquanto
lutava para respirar.
"Não se mexa e eu não atiro". Um homem disse, um britânico, e Andy sentiu o frio cano da arma em seu
pescoço. Ele congelou, sem ousar mover um músculo.
Ah, droga!
Andy olhou para cima, viu a garota segurando o rifle, seu rifle, olhando para ele. Ela não parecia mais indefesa.
"Vagabunda". Ele rosnou, e ela sorriu um pouco, dando com os ombros.
"Desculpe. Se servir de consolo, seus outros dois amigos caíram nessa também".
Ele ouviu outra voz feminina atrás, suave e animada. "Ei, você vai se esquentar. A sala do gerador está bem
tostada".
O matador não estava animado, e enquanto o levantavam e marchavam com ele para o complexo, ele jurou
para si mesmo que essa seria a última vez que subestimaria uma garota - e certamente lembrará disso da
próxima vez que se sentir entediado.
[17]
A Fase Quatro era mesmo uma cidade, a coisa mais esquisita que Leon já tinha visto. As três primeiras eram
bizarras, irreais, mas também eram falsas - a calma floresta, as paredes brancas do deserto, a montanha
esculpida. Em nenhum momento ele esqueceu que era tudo falso.
Isto... não é uma imitação de um habitat orgânico; isto é como deveria se parecer.
A Quatro eram vários quarteirões de uma pequena cidade à noite. Nenhum dos prédios tinham mais de três
andares - postes de luz, calçadas, lojas e apartamentos, carros estacionados e ruas de asfalto. Eles desceram de
uma montanha e caíram em Hometown, E.U.A..
Só haviam duas coisas erradas nela à primeira vista - as cores e a atmosfera. Os prédios, ou eram vermelho tijolo
ou um tipo de bronzeado ao anoitecer, eles pareciam inacabados e os poucos carros que Leon podia ver pareciam
todos pretos; era difícil dizer com as pesadas sombras.
E a atmosfera...
"Assombrada". John disse baixo, e Leon e Cole acenaram. De costas na porta, eles vasculharam a quieta cidade
e a acharam completamente calma.
Como num sonho ruim, um daqueles em que você está perdido e não consegue achar ninguém, e tudo parece
errado...
Não era como uma cidade fantasma, não tinha o ar de um lugar abandonado ou de um lugar que tinha
sobrevivido à sua utilidade; ninguém jamais viveu lá, e ninguém jamais irá. Nenhum carro já foi dirigido por suas
ruas, nenhuma criança já brincou nas esquinas, nenhuma vida já a chamou de lar... e o sentimento de vazio sem
vida era - assustador.
A porta os deixou numa rua que corria de leste à oeste, terminando bem à esquerda deles numa parede pintada
de azul meia-noite. De onde estavam, podiam ver todo o caminho de uma larga rua pavimentada. A suave luz
das luminárias causavam longas sombras, claras o bastante para andar e escuras demais para ver direito.
Havia um carro na frente deles, parado na frente de uma construção bronzeada de dois andares. John foi até ele
e socou o capô. Leon pode ouvir o vazio "tink" sob a mão dele; só a carroceria.
John voltou, vasculhando as sombras com muito cuidado.
"Então... Hunters". Ele disse, e Leon percebeu de repente o que era mais assustador do que os quarteirões na
frente deles.
"Os apelidos são todos descritivos". Ele disse, ejetando o clip de sua semi e contando as balas. Cinco sobrando, e
só tinha mais um clip cheio, apesar de John ainda ter mais dois - não, ele só tinha um, Cole estava com o outro.
E a não ser que Leon estivesse errado, John só tinha um clip cheio para a M-16; trinta balas, e mais o que
restava no rifle.
Sem mais granadas e quase sem munição....
"E agora?". Cole perguntou e John respondeu, seu olhar estreitando enquanto falava, suas expressões mais
alertas enquanto vasculhava cada esquina, cada janela.
"Pense nisso". John disse. "Pterodátilos, escorpiões, bichos cuspidores... caçadores".
"Eu - ah". Cole piscou, olhando em volta com um novo medo. "Isso não é bom".
"Você quer dizer que a saída está trancada?". Leon perguntou.
Cole acenou, e John balançou a cabeça ao mesmo tempo.
"E burro, eu usei a última granada". Ele disse suavemente. "Sem chance de explodir a porta".
"Se você não tivesse usado, nós estaríamos mortos". Leon disse. "E provavelmente não funcionaria se fosse do
mesmo tipo da porta de entrada".
John suspirou pesado, mas acenou. "Acho que devemos queimar aquela ponte quando a acharmos".
Todos ficaram quietos por um momento, um profundo e desconfortável silêncio que Cole finalmente quebrou.
"Então... olhos e ouvidos abertos, e juntos". Ele experimentou dizer, uma pergunta mais do que uma afirmação.
John levantou as sobrancelhas, afetado e sorrindo. "Nada mal. Ei, o que você vai fazer da vida se sairmos daqui?
Quer se juntar à nossa causa e ficar no pé da Umbrella?".
Cole sorriu de nervosismo. "Se sairmos daqui, me pergunte de novo".
Preparados como estariam, eles começaram à sul, andando devagar no meio da rua, os prédios escuros
observando-os com olhos vazios de vidro. Apesar de todos estarem tentando se mover silenciosamente, a vazia
cidade parecia devolver os ecos de seus suaves passos no asfalto, até de suas respirações. Nenhum dos prédios
tinham sinais de decoração, e não havia luzes até onde Leon podia ver. O sentimento de ausência de vida e
opressão o deu uma desagradável lembrança da noite em que chegou a Raccoon para seu primeiro dia de
trabalho no R.P.D., depois que a Umbrella soltou o vírus.
Exceto pelas ruas de lá cheirarem morte e por haverem canibais perambulando pela escuridão e corvos se
alimentando de cadáveres. Era uma cidade na agonia da morte...
Na metade do quarteirão, John ergueu uma mão, trazendo Leon para o presente.
'Só um minuto". Ele disse, e correu par uma das "lojas" à esquerda, uma vitrine de vidro que o lembrava uma
confeitaria, daquelas que sempre tinham bolos de casamento à mostra. John espiou pelo vidro, tentou a porta.
Para a surpresa de Leon ela abriu; John se inclinou para dentro por um longo segundo, depois fechou a porta e
voltou.
"Nem balcão nem nada, mas é uma sala de verdade". Ele disse de voz baixa. "Tem paredes e teto".
"Talvez os Hunters estejam escondidos em uma delas". Leon disse.
Isso aí, mais assustados com nós do que nós com eles, não seria bom. Devíamos ter essa sorte -
"É isso aí!". Cole disse alto, e imediatamente derrubou a voz, ficando vermelho. "Como vamos sair. Os, é, animais
são todos mantidos em celas ou túneis atrás das paredes. Eu não sei quanto as outras fases, mas há um
corredor que circunda a Quatro. Eu vi a porta dele, fica a uns seis metros do canto sudoeste. Tem que ser mais
fácil que a saída normal; pode estar trancada mas não reforçada".
John estava acenando e Leon achou mais plausível do que tentar passar por uma porta trancada pelo lado de
fora.
"Bom". John disse. "Boa idéia. Vamos ver se conseguimos -".
Algo se moveu. Algo nas sombras de um prédio de dois andares bronzeado à direita, algo que calou John e fez
todos mirarem na escuridão, tensos e atentos. Dez segundos passaram, vinte - e seja lá o que era, estava
conseguindo ficar perfeitamente imóvel. Ou...
Ou não vimos absolutamente nada.
"Não há nada lá". Cole cochichou, e Leon começou a abaixar a 9mm, pensando que algo realmente pareceu ter
se movido -
- e de repente a coisa que não podiam ver gritou, um esganiçado e terrível berro como algum tipo de pássaro,
uma besta feroz cega de raiva -
- e o escuro se moveu - Leon ainda não podia ver claramente, era como uma sombra, uma parte do prédio que
se movia, até ver os estreitos olhos brilhantes, eram claros e estavam a pelo menos dois metros do chão, e as
escuras e esfarrapadas unhas quase tocando o asfalto, e percebeu que era um camaleão assim que correu para
eles, ainda gritando.
Reston se apressou na direção da sala de controle, o peso do coldre contra sua perna fazendo-o se sentir melhor.
Sentiria-se ainda melhor se voltasse a tempo de ver os Hunters estraçalharem os três homens, apesar de se
contentar em ver apenas os corpos mortos.
Estaria perfeitamente bem, nenhum problema desde que estivessem mortos.
Reston queria beber, queria se trancar na sala de controle e esperar Hawkinson voltar. Ele sentiu um momento de
quase histeria quando percebeu que as comunicações tinham caído, mas nada tinha mudado, mesmo. O elevador
ainda estava desligado e o sargento incompetente voltaria com o helicóptero a qualquer momento; se foi o trio na
superfície que cortou as linhas - coisa que ele não duvidava - Hawkinson cuidaria deles. Se por uma pequena
chance fosse um problema técnico, um novo eletricista seria contratado assim que liberar o relatório pela manhã.
A parte ruim foi ser incapaz de contatar seus colegas, mas ele decidiu que isso funcionaria a seu favor; quem não
ficaria impressionado, que em tais circunstâncias ele ainda seria capaz de lidar com as coisas? Levando tudo em
consideração, prender os invasores no programa de teste foi seu único recurso. Ninguém o culparia, pelo menos
não muito.
Recuperar o .38 de sua sala tinha aliviado sua mente ainda mais; ele trouxe o revólver para o Planeta mais por ter
sido um presente de Jackson, e apesar de saber pouco sobre armas, puxar o gatilho era tudo o que precisava
fazer com o .38. O pesado revólver praticamente atirava sozinho, nem tinha trava de segurança...
Reston estava no meio do caminho até a sala de controle quando lhe ocorreu que deveria tirar os funcionários do
refeitório; ele tinha passado pela porta trancada duas vezes e nem se deu conta. Conhaque demais, talvez. Ele
pensou em voltar por uma batida de coração, decidindo que eles podiam muito bem esperar; acreditar que os 3K
estavam atuando como deveriam era muito mais importante. Além disso, ele pretendia demitir todos eles assim
que restabelecer contato com a sede; nenhum deles tentou defender o planeta nem seu empregador.
Sala de controle, logo à direita. Reston apressou o passo, entrando na passagem e correndo para a porta. Havia
movimento numa das telas e ele correu para a poltrona, empolgado e ansioso para vê-los morrer. Não havia
nada com que se envergonhar, eles estavam errados, afinal -
- e não estavam mortos, nenhum deles, mas Reston viu que agora era só uma questão de tempo.
Todos os três estavam atirando num dos Hunters, e enquanto olhava, um segundo animal entrou na cena, ainda
tão preto quanto o carro onde estava.
Ruivo girou para a direita, atirando na nova ameaça, mas os 3K não eram derrubados com algumas balinhas;
com um único e grande salto, o caçador diminuiu a distância entre eles, seis metros com um poderoso impulso.
Eles podiam fazer quase nove, Reston sabia através dos dados preliminares -
- e Cole passou a atirar nele também, enquanto John continuava atirando no primeiro, já da cor do asfalto. O
primeiro tinha levado tiros dos três homens; enquanto Reston olhava, o Hunter virou e se esparramou fora da
tela.
O segundo ainda brilhava preto, perfeitamente definido enquanto erguia seu musculoso braço para estapear as
balas que martelavam seu corpo. Enorme, uma figura humanóide pelada e sem sexo, a alta besta de crânio réptil
e unhas de dez centímetros jogou a cabeça para trás e uivou. Reston conhecia o som, sua mente completando a
cena enquanto a criatura começava a desaparecer na rua, as cores quase perfeitas, enquanto girava seu braço
novamente e ruivo era golpeado, caindo.
Isso!
John parou na frente do colega no chão e atirou no monstro, enquanto Cole levantava Ruivo, os dois recuando.
Houve um diálogo -
- e os dois saíram da tela, indo para sul... a criatura se machucou? John parou de atirar e houve sangue jorrando
em algum lugar, cobrindo a face do 3K, seu peito -
- os olhos, deve ter acertado nos olhos. Droga! Ele rolou e caiu. Não era um ferimento fatal mas o incapacitaria
por um tempo.
John virou e correu para seu companheiros, sem mais Hunters à vista - até onde Reston pensava. Não que
importasse, eles estavam mortos; não havia como cruzarem a cidade sem serem atacados, não podiam se
esconder - só para garantir, Reston apertou a trava da porta de conexão da Três.
Nada de partir em retirada, pessoal...
Eles não apareceram na tela que mostrava a rua a sul do ângulo da primeira câmera. Franzindo, Reston intercalou
as câmeras, usando a da fachada de um prédio -
- e viu uma porta fechar, os homens procurando abrigo dentro de uma das lojas. Reston balançou a cabeça.
Aquilo provavelmente os protegeria por mais uns cinco minutos, não mais que isso; os 3K tinham força para
rasgar essa cidade, se assim quisessem, e caçavam basicamente pelo olfato. Eles iriam rastrear os homens e
finalmente colocar um ponto final no problema, vida inúteis.
Não havia câmera no prédio o qual entraram; ele terá que esperar até eles saírem, ou até os caçadores traze-los
para fora. Reston sorriu, seus dentes rangendo, impaciente, imaginando porque os 3K estavam demorando
tanto. Era hora do teste acabar, hora do Planeta ser restaurado.
Os Hunters não iriam falhar. Ele só tinha que esperar mais alguns minutos.
Eles acharam a entrada na parte de trás do prédio do meio, depois da sala do gerador, onde haviam colocado os
três guardas resmungões. Foi uma perda de tempo ter procurado pelos controles do elevador de serviço no
primeiro prédio.
Neste há quatro, uma bateria de elevadores numa câmara carpetada contra a parede oeste. Eles não estavam
operando, mas havia uma plataforma para dois no primeiro poço que acharam, David e Claire abrindo as portas
sem esforço. Mesmo cansada e exausta, a visão da pequena plataforma presa em seu próprio sistema de polia
fez Rebecca querer rir bem alto.
Eles nunca suspeitariam, vamos entrar como sombras.
"Parece que esqueceram de trancar a porta de trás". David disse, um olhar de triunfo em seu abatido rosto.
Claire olhou para o quadrado metálico cheia de dúvidas. "Nós vamos caber aí?".
David não respondeu de imediato, virando para olhar Rebecca. Ela sabia que ele ia sugerir algo e começou a achar
um bom argumento antes de abrir a boca.
O helicóptero pode voltar, e voltará, se estiverem feridos você vai precisar de mim, e se os guardas conseguirem
fugir -
"Rebecca - eu preciso de um honesto relato de suas condições". Ele disse, suas expressões neutras.
"Estou cansada, com dor de cabeça e manca - e você precisará de mim lá embaixo, David, não estou cem por
cento, mas também não estou à beira de um colapso, e você mesmo disse que outra equipe está provavelmente
à caminho -".
David estava sorrindo, segurando as mãos no alto. "Tá bom, vamos todos. Será bem apertado, mas o peso não
será problema, vocês são pequenas...".
Ele entrou, tirando a lanterna e iluminando os cabos, depois a simples caixa dos controles na meia grade de
proteção. "... acho que cabe todo mundo. Devemos?".
Rebecca e depois Claire entraram no poço do elevador, a improvisada plataforma de serviço preenchendo só um
quarto do escuro espaço frio. Vazio acima e abaixo e só havia guarda-corpo de um lado. Claire se apoiou
desconfortavelmente na barra de metal; os três bem apertados um no outro.
"Eu queria ter uma bala de menta". Claire murmurou.
"Eu queria que você tivesse uma". Rebecca disse, e Claire riu abafado. Rebecca podia sentir o movimento das
costelas de Claire em seu braço; eles estavam embalados.
"Aqui vamos nós". David disse, e apertou os controles.
O elevador começou a descer com um alto zumbido, tão alto que Rebecca começou a pensar duas vezes sobre
esse ataque surpresa. Descia devagar, também, metade da velocidade de um elevador normal.
Deus, isso pode levar uma eternidade...
Só de pensar, Rebecca sentiu-se exausta, o barulho do motor bagunçando sua dor de cabeça. Ficar parada a fez
perceber o quanto estava doente, e enquanto o quadrado brilhante das portas abertas subia, Rebecca ficou grata
de repente por estarem grudados; servia como desculpa para se apoiar pesadamente em David, de olhos
fechados, tentando se manter sã por mais um tempo.
[18]
Eles estavam encrencados, entrando no prédio e indo para a parede de trás no escuro, suando e ofegando, Cole
esperando a fina porta estourar a qualquer segundo.
- boom, e eles entram correndo, gritando, cortando a gente em fatias antes mesmo de vê-los -
"Tenho um plano". John ofegou, e Cole sentiu um piscar de esperança, uma esperança que durou até a próxima
frase de John.
"Nós corremos que nem loucos para a parede de trás". Ele disse finalmente.
"Você ficou maluco?". Leon disse. Você viu aquele pulo, não há como correr deles -".
John respirou fundo e começou a falar, baixo e rápido. "Você está certo, mas você e eu somos bons atiradores,
podemos apagar algumas luzes da rua pelo caminho. Mesmo se puderem ver no escuro, será uma distração,
armar uma confusão, talvez".
Leon não disse nada, e apesar de não poder ver seu rosto claramente, Cole o viu esfregar seu ombro, onde a
criatura o havia golpeado. Devagar, ele já estava começando a considerar a idéia de John.
Os dois são malucos?
Cole lutou para manter o terror fora de sua voz. "Não há outra opção? Sei lá, nós podíamos... podíamos subir,
andar pelos telhados".
"Todos os prédios tem diferentes alturas". John falou. "E eu não acho que agüentariam tanto peso".
"E se nós -".
Leon interrompeu suavemente. "Nós não temos a munição, Henry".
"Então voltamos para a Fase Três, pense nisso...".
"Estamos mais perto do canto sudoeste". John disse e Cole sabia que estavam certos, sabia e não gostava nem
um pouco. Mesmo assim ele procurou outra alternativa, tentando pensar em outro caminho.
Os Hunters eram terríveis, eram as coisas mais terríveis que Cole já tinha visto -
- e de algum lugar lá fora, um deles gritou, o arranhado e furioso som estourando pelas finas paredes, e Cole
percebeu que não tinham tempo para um plano melhor.
"Tá bom, certo, tá". Ele disse, pensando que o mínimo a se fazer era aceitar e encarar o inevitável como se
tivesse coragem.
Eu não vou atrasá-los, pensou, e respirou fundo, endireitando os ombros um pouco. Se tem que ser assim, ele
não iria se envergonhar na frente deles virando um convarde chorão - e não iria diminuir suas chances de
sobreviverem tornando-se uma mala.
Cole tirou do bolso o clip que John o havia dado e trocou pelo vazio, seu coração pulando - e ficou um pouco
surpreso por perceber que agora que se comprometeu, que fez uma decisão, sentiu-se mais forte, mais
corajoso.
Eu posso muito bem morrer nessa, disse para si, e esperou pela leva de terror - mas ela não veio. Ele já estaria
morto se não fosse John e Leon, e talvez essa seria sua chance de evitar que um deles se machucasse.
Sem outra palavra, os três foram para a porta, Cole pensando em como sua vida mudou mais nas últimas horas
do que nos últimos dez anos - e do jeito que aconteceu, ele estava grato - sentia-se completo. Sentia-se real.
"Preparar...". John disse, e Cole respirou fundo, Leon sorrindo para ele sobre a suave luz da janela.
"... agora".
John puxou a porta e eles correram para a rua enquanto, envolta deles, a noite era rasgada pelos selvagens
gritos dos Hunters.
Os olhos de Reston brilhavam. Ele se inclinou para frente, olhando para a tela intensamente, deliciado com a
decisão suicida. Todos os três, arremetendo no escuro como lunáticos. Como homens mortos que não sabiam
parar de se mover.
Eles correram à sul, John na frente, Ruivo e Cole bem atrás. De uma calçada à direita deles, um Hunter saltou
para recebê-los -
- e houve um flash de luz, um brilhante estouro alaranjado vindo de cima, vidro em chamas como chuva de
purpurina na rua. Foi uma das lâmpadas da rua, e os 3K pareceram ficar furiosos enquanto o vidro caía. O
caçador vermelho-virando cinza girou o corpo em torno de si, frenético e gritando, procurando o agressor -
- e ignorou completamente os três homens. Todos os três estavam passando, erguendo as armas e atirando
para o céu, acertando mais lâmpadas, e Reston viu outro Hunter pular na rua, quase perdido, como uma sombra
entre sombras -
- e Cole, Henry Cole fintou para a esquerda depois para a direita, cravando uma bala de sua arma na cabeça de
um 3K -
- e houve um estouro de líquido, pedaços de cérebro e sangue jorrando de sua têmpora, o eletricista atirando às
cegas. Os braços do Hunter estavam espasmando, tremendo, mas já estava morto.
Cole continuou correndo, alcançando os outros enquanto mais lâmpadas explodiam.
"Não". Reston sussurrou, sem perceber que havia falado, mas bem certo de que as coisas estavam indo
horrivelmente erradas.
John correu, parou para atirar, correu de novo. Os violentos berros o seguiam, a chuva de vidro e cheiro de metal
queimado vinham até eles de toda a parte -
- e viu um caçador na rua, na frente deles, na interseção que os levaria à jaula, viu os estranhos olhos brilhantes
e o escuro buraco de sua gritante boca -
- guarde munição Jesus ele é igual à rua -
- e continuou correndo direto para a criatura, mirando, as explosivas balas de 9mm atrás dele, o monstro
barulhento a menos de três metros de distância quando John atirou.
Um curto estouro, calculado, direto na gritante e sobrenatural face -
- e o monstro não caiu. E apesar de John ter desviado, não foi o suficiente. Quase cara a cara com ele, o sangue
estava visível e abundante, a coisa levantou um dos longos braços e acertou John no peito.
O golpe acertou seu peito esquerdo e John esperava ser esmagado, jogado no ar, seu corpo esfarrapado - mas
a criatura deve ter sido enfraquecida pela bala, desorientada, cega talvez. Mesmo sentindo seu pulmão contraindo
de dor - e a porrada foi brutalmente sólida - ele já havia tomado golpes mais fortes. Ele cambaleou, mas não
caiu, e já o tinha passado virando para esquerda, indo para oeste.
John olhou para trás, viu que os outros ainda o acompanhavam, olhou para frente -
- lá está ela!
A rua terminava numa parede pintada a menos de um quarteirão à frente - e havia uma abertura feita a um
metro e meio do chão, com uns dois e meio de largura por no mínimo três de altura -
- e houve outro grito à sua direita, ele não conseguia ver o Hunter camuflado, mas bam-bam, Leon ou Cole atirou
nele, o berro ficando frenético de raiva. John ergueu a M-16 e apagou outra lâmpada, dez segundos e estamos lá
-
- e um painel azul marinho da cor da parede começou a deslizar para baixo sobre a abertura, devagar, mas
constante. Em segundos, não haveria saída.
Reston bateu desesperadamente na trava da jaula, a comporta descendo como uma lesma, suas mãos suando,
sua mente embriagada e girando com descrença.
Não não não não -
Rápido!
Ele havia fechado a Dois e a Três, mas ainda havia um Hunter dentro da jaula e se esqueceu dela - e agora o
animal tinha ido embora e os três homens iam fugir. Fugir dele, de suas mortes.
John estava olhando para trás, gritando, Ruivo bem atrás, Cole quase ao seu lado -
- e havia um Hunter a menos de seis metros atrás deles, diminuindo a distância, seu enorme corpo mudando
entre asfalto e bronze, suas garras traçando canaletas na rua.
Mate eles, mate, pule, mate!
John chegou na abertura, suas mãos no chão, impulsionando-o graciosamente. Uma de suas mãos voltou e
Ruivo estava lá, agarrando-a, sendo puxado para dentro num instante -
- e lá estava Cole, e também ia passar, a comporta não fecharia a tempo, mãos se esticando para ele -
- e o Hunter atrás dele varreu os braços para baixo, suas unhas rasgando as costas de Cole, através da blusa e
da pele, através dos músculos e talvez dos ossos.
Os outros puxaram Cole para dentro enquanto a comporta fechava.
Cole não gritou enquanto o sentavam, devendo estar em agonia. Eles os deitaram de barriga para baixo e mais
gentil possível, Leon enjoado de tristeza quanto viu o estado das costas de Cole.
Morrendo. Ele está morrendo.
Em segundos, ele ficou numa piscina do próprio sangue. Através dos farrapos de sua ensopada camisa, Leon
podia ver a carne rasgada, as fibras dos músculos cortados e o liso brilho do osso logo abaixo. Um osso
arranhado. O dano foi feito por dois longos cortes, cada um começando abaixo dos ombros e terminando na
parte inferior das costas. Ferimentos mortais.
Ele respirava baixo, leves suspiros, seus olhos fechados e suas mãos tremendo.
Inconsciente. Leon olhou para John, viu a acometida expressão, o desvio de olhar; não havia nada que podiam
fazer por ele.
Eles estavam numa gigante cela que fedia animais selvagens no final de um longo corredor de cimento, um que
aparentemente corria o comprimento das quatro áreas de teste. Estava escuro, só algumas luzes ligadas,
mostrando a jaula em sombras; as jaulas eram separadas por paredes com grandes janelas, e Leon só podia ver
a que estava perto deles, o lar dos Spitters. Estava coberto com um claro e grosso plástico, o chão coberto de
ossos.
A cela dos Hunters estava vazia, tinha pelo menos 9 metros de largura e o dobro do comprimento, com dois
baixos cochos perto da cerca. Era um frio e solitário lugar para morrer, mas pelo menos estava seguro, não
estava sentindo nenhum -
"Vire... me". Cole suspirou. Seus olhos estavam abertos, seus lábios tremendo.
"Ei, não se mexa". John disse gentilmente. "Você ficará bem, Henry, só fique onde está, não se mexa, tá bom?".
"Besteira". Cole disse. "Me virem, estou morrendo...".
John travou o olhar com o de Leon que acenou relutante. Ele não queria causar mais dor para Henry, mas
também não queria recusá-lo nada; ele estava morrendo e deviam dá-lo o que podiam.
Devagar e cuidadosamente, John ergueu Cole e o virou. Cole gemeu quando suas costas tocaram o chão, seus
olhos largos rolando, mas pareceu aliviado depois de um momento. Talvez o frio... ou talvez já tinha passado do
ponto da dor, ficando dormente.
"Obrigado". Ele suspirou, uma bolha de sangue estourando em seus pálidos lábios.
"Henry, tente descansar agora". Leon disse suavemente querendo chorar. O homem tentou tanto ser corajoso,
acompanhá-los...
"Fóssil". Cole disse, seu olhar fixando-se no de Leon. "No tubo. O pessoal disse - se sair, ele - destruir tudo. Coisa
no laboratório. Oeste. Entendeu?".
Leon acenou, entendendo perfeitamente. "Uma criatura da Umbrella no laboratório. Fóssil. Você quer que nós o
soltemos".
Cole fechou os olhos, sua branca face tão parada que Leon pensou estar acabado - mas Cole falou de novo, tão
baixo que Leon precisou se inclinar para ouvi-lo.
"Isso". Ele suspirou. "Bom".
Cole deu um último suspiro e exalou - e seu peito não levantou mais.
Minutos depois da morte de Cole, os dois homens descobriram como sair da cela dos Hunters. Reston encarou o
monitor, não sentindo nada, determinado a não ficar surpreso. Eles simplesmente não eram humanos e pronto;
quando aceitar isso nada mais o surpreenderá.
A comida era presa firmemente na cerca de aço tal que os manipuladores não precisavam entrar nas celas; a
maior parte do cocho ficava para fora; o suficiente para jogar a comida dentro e os animais a puxarem pelo lado
de dentro. Não havia preocupação de os 3K puxarem as bacias de comida para dentro ou empurrá-las para fora,
as aberturas eram muito estreitas para seus corpos.
Mas não para humanos... ou seja lá o que forem.
John e Ruivo começaram a chutar o cocho, e assim que começou a se deslocar, Reston pegou o revólver e se
levantou, afastando-se dos monitores. Não havia porque olhar. Ele falhou, os testes do Planeta provaram ser
fáceis demais e seria punido severamente pelo que fez, ou talvez morto. Mas ele não estava pronto para morrer,
ainda não - e não pelas mãos deles.
Mas e o elevador, o pessoal na superfície...
Não era seguro subir também. O complexo já devia estar infestados por esses S.T.A.R.S. agora, eles cortaram a
força e estavam esperando seus dois rapazes terminarem o serviço...
Não dá para subir, não dá para matá-los, não há tempo... o refeitório!
Seus empregados o ajudariam. Quando libertá-los, quando explicar as coisas, eles correriam ao seu lado, o
protegeriam.
Preciso ir agora, eles sairão em breve e virão atrás de mim. Tentarão vingar Cole, talvez. Tentarão me deixar
arrependido por ter feito o meu trabalho, o que qualquer um teria feito.
De alguma forma, ele duvidou que tentariam. Reston saiu, já preparando sua história, imaginando como as coisas
ficaram tão terrivelmente erradas.
[19]
Das jaulas, eles pisaram num limpo e esterilizado corredor, e viraram à esquerda - oeste - andando rapidamente
pelo vazio corredor. Nenhum deles falou; não havia nada para falar até acharem o que Cole havia chamado de
Fóssil, até descobrirem se era a decisão certa.
Pela primeira vez desde que entraram no Planeta, John não sentiu vontade de fazer piadas. Cole era um cara
bom, fez o possível para retribuir o erro de tê-los atraído para o programa de teste, fez o que pediram para fazer
- e agora estava acabado, brutalmente ferido, morrendo com sangue e dor no chão de uma jaula.
Reston. Reston pagaria por isso, e se o melhor jeito de pegá-lo era soltando um monstro da Umbrella, assim
seria. A justiça cabível.
Dane-se o livro de códigos. Se o Fóssil é tão mau quanto Cole achava ser, nós o soltaremos, libertaremos os
funcionários e fugiremos. Deixaremos o monstro encontrar Reston e derrubar esse lugar...
O corredor entortava à direita, depois seguia reto, ainda à oeste. Quando fizeram a curva, eles viram a porta à
direita - e John sabia que era o laboratório de Cole. Ele sentia.
E estava certo. A porta de metal abriu - depois de usar a chave de 9mm - e deu num pequeno laboratório com
balcões e computadores, que depois abria numa sala cirúrgica, brilhando de aço e porcelana. A porta na parede
atrás da sala de operações era a qual Cole se referia - e quando viram a criatura, John pôde ver porque Cole
insistiu em contar sobre ela, mesmo em seus últimos momentos. Mesmo se tivesse metade do poder o Planeta
viraria história.
"Cristo". Leon disse, John não achou nada para adicionar. Eles andaram devagar até o gigante cilindro no canto da
gigante sala, depois da mesa de autópsia de inox e bandejas de ferramentas brilhantes, parando na frente do
tubo. As luzes da sala estavam apagadas, mas havia uma luz direcional no teto apontada para o container,
iluminando a coisa. O Fóssil.
O tubo tinha quatro metros e meio de altura e pelo menos três de diâmetro, cheio de um claro líquido
avermelhado - e envolto no fluído, preso em tubos e fios que vinham de cima, estava o monstro. Um pesadelo.
John imaginou que se chamasse Fóssil por causa do que se parecia, ou parte disso - algum tipo de dinossauro,
um que jamais caminhou pela superfície da Terra. A criatura de três metros de altura tinha uma cor pálida, sua
granulada pele rosada por causa do líquido em volta. Não tinha rabo, mas tinha a grossa pele e as pernas de um
dinossauro. Foi certamente criado para andar erguido, e além dos pequenos olhos, o focinho arredondado de um
dinossauro carnívoro, um T-Rex ou um velociraptor, também tinha longos e musculosos braços, e mãos com lisos
e curvos dedos. Impossível como era, parecia uma mutação entre homem e dinossauro.
O que estavam pensando? Por que - por que fazer algo assim?
Estava adormecido, ou em algum tipo de coma, mas estava vivo. Conectada a uma fina mangueira, estava uma
máscara que cobria seus orifícios nasais, e uma bandana de plástico envolvendo sua gigante mandíbula, para
mantê-la fechada.
John podia não vê-los, mas tinha certeza que havia fileiras de dentes afiados na larga e curva boca da criatura.
Seus olhos estavam cobertos por uma pálpebra interna, uma fina camada de pele roxa, e podiam ver o lento
erguer de seu grande peito, os gentis movimentos de seu corpo na meleca vermelha.
Havia uma prancheta pendurada na parede próxima a Fóssil, sobre um pequeno monitor onde finas linhas verdes
piscavam.
Leon ergueu a prancheta, virando as folhas enquanto John olhava, admirado com horror. Uma de suas mãos
aracnídeas torceu, os dedos de vinte centímetros quase formando um punho.
"Aqui diz que uma autópsia está marcada para daqui três semanas e meia". Leon disse, ainda procurando. "O
espécime ficará em estase, blá blá blá... quando será injetado com uma dose letal de Hyptheion antes do
dissecamento".
John olhou para a mesa de autópsia, viu as presilhas de aço em cada lado e três serrotes de ossos embaixo. A
mesa foi aparentemente construída para acomodar grandes animais.
"Por que mantê-lo vivo afinal?". John perguntou, virando para o Fóssil adormecido. Era difícil não olhar; a criatura
era chamativa, horrível e impressionante, uma aberração que exigia atenção.
"Talvez para os órgãos ficarem frescos". Leon disse, e respirou fundo. "Então... vamos fazer?".
É uma pergunta valendo um milhão de dólares, não é? Nós não teremos os códigos - mas a Umbrella terá um
parquinho a menos para suas brincadeiras. E talvez um gerente a menos.
"É." John disse. "Sim, acho que vamos".
Os homens o ouviram quietos, seus rostos pensativos enquanto absorviam o terror que havia invadido o Planeta.
A invasão de cima, seu pedido de ajuda, como os invasores o derrubaram depois de matarem Cole a sangue frio.
Os empregados não fizeram perguntas, só ficaram sentados tomando café - alguém tinha feito café - e ficaram
ouvindo. Ninguém o ofereceu uma xícara.
"... e quando me recuperei, eu vim aqui". Reston disse, e correu uma trêmula mão sobre o cabelo,
estremecendo apropriadamente. Ele não precisava inventar tremores. "Eu - eles ainda estão por aí, em algum
lugar, talvez instalando explosivos, eu não sei... mas podemos impedi-los se trabalharmos juntos".
Ele podia ver em seus olhos que não estava funcionando, ele não os inspirava ação. Ele não era bom com
pessoas, mas podia lê-las bem o bastante.
Eles não estão acreditando, use Henry...
Os ombros de Reston pularam, um assombrado tom em sua voz. "Eles atiraram nele". Ele disse, olhando para
baixo, atordoado de tristeza. "Ele estava implorando, apelando para o deixarem viver, e eles - eles atiraram".
"Onde está o corpo?".
Reston olhou para cima, viu que Leo Yan tinha falado, um dos manipuladores de 3K. Yan não tinha nenhuma
expressão, apoiado na ponta da mesa de braços cruzados.
"O quê?". Reston perguntou, parecendo confuso, mas sabendo exatamente do que Yan estava falando. Pense,
droga, já devia ter pensado nisso -
"Henry". Alguém disse, e Reston viu que era Tom alguma coisa, da construção. Sua áspera voz estava
abertamente céptica. "Eles atiraram em Cole, te apagaram - então o corpo ainda está no bloco das celas,
certo?".
"Eu - eu não sei". Reston disse, sentindo-se quente e desidratado de tanto conhaque. Sentindo que não se
recuperaria da inesperada pergunta. "Sim, deve estar, a não ser que o moveram por algum motivo. Eu acordei
confuso, enjoado, eu queria achar vocês imediatamente, ter certeza de que não foram feridos. Eu não reparei se
ainda estava lá...".
Eles olharam para Reston, um mar de rudes faces que não estavam mais tão neutras. Reston viu descrença,
desrespeito e raiva - e nos olhos de um ou dois, viu rancor.
Por quê, o que eu fiz para inspirar tal desprezo? Eu sou o chefe e empregador deles, eu pago seus malditos
salários -
Um dos mecânicos se levantou da mesa e se adereçou aos outros. Era Nick Frewer, o que parecia ser o mais
popular entre eles.
"O que me dizem de sairmos daqui?". Nick perguntou. "Tommy, você tem as chaves do caminhão?".
Tom acenou. "Claro, mas não a chave do depósito".
"Eu tenho". Disse Ken Carson, o cozinheiro. Ele se levantou também, e aí a maioria estava de pé, se
espreguiçando e bocejando, terminando com o café.
Nick acenou. "Bom, todos façam as malas e estejam no elevador em cinco -".
"Esperem!". Reston disse, incapaz de acreditar no que estava ouvindo, que iriam fugir de suas obrigações. Que
podiam ignorá-lo. "Há mais na superfície, eles vão matar vocês! Vocês têm que me ajudar!".
Nick virou e olhou para ele, seu olhar calmo. "Sr. Reston, nós não temos que fazer nada. Eu não sei o que
realmente está acontecendo, mas acredito que você é um mentiroso - e posso não falar por todos, mas eu não
sou pago o bastante para ser seu guarda-costas.
Ele sorriu de repente, seus olhos azuis brilhando. "Além disso, eles não estão atrás de nós".
Nick virou e foi embora, e Reston pensou em atirar nele por um instante - mas só tinha seis balas e nenhuma
dúvida de que seus colegas cairiam em cima dele se ferisse um dos operários. Ele pensou em dizer que suas
vidas estavam acabadas, que não esqueceria dessa traição, mas não queria desperdiçar seu ar. E não tinha
tempo para isso.
Esconda-se.
Era tudo a se fazer.
Reston deu as costas para os insubordinados e correu, sua mente pensando nos lugares para ir, rejeitando
algumas opções por serem óbvias demais, muito expostas -
- e se decidiu. A bateria de elevadores, perto da ala médica. Era perfeito. Ninguém pensaria em olhar dentro de
um elevador que nem funcionava. Ele podia forçar a entrada em um deles e ficar a salvo lá dentro. Ao menos por
um tempo, até pensar em outra coisa para fazer.
Suando, apesar do frio cinza do quieto corredor principal, Reston virou à direita e começou a correr.
Depois do que pareceram horas de descida pelo escuro e frio duto do barulhento elevador, eles chegaram ao
fundo.
Ou no topo, dependendo de como você olha, Claire pensou, enquanto a lanterna de David acendia e o motor
desligava. Eles pararam em cima de uma cabine de elevador, vazia exceto por uma escada de mão ao lado.
Eles saíram do quadrado de metal, Claire aliviada por voltar a uma superfície mais sólida. Descer por um poço
aberto de elevador onde um passo em falso podia levá-la à morte não era sua idéia de diversão.
"Acha que alguém nos ouviu?". Claire perguntou, e viu silhueta de David mexer os ombros.
"Mesmo se estivessem a trezentos metros daqui, acho que sim". Ele disse. "Espere, eu vou descer...".
Claire acendeu sua lanterna enquanto David sentava, segurando as pontas do painel e se abaixava. Enquanto
movia a escada, Rebecca também ligou a lanterna, e Claire viu seu rosto.
"Ei, você está bem?". Claire perguntou, preocupada. Rebecca parecia doente, muito pálida e com olheiras
escuras.
"Sim, já estive melhor, mas vou sobreviver". Ela disse de leve.
Claire não estava convencida, mas antes de insistir no assunto, David as chamou.
"Certo - deixem os pés pendurados, eu os guiarei até os degraus e as ajudarei a descer".
Claire acenou para Rebecca ir primeiro, decidindo que se ela não conseguisse funcionar, provavelmente diria algo.
Enquanto David ajudava Rebecca, ocorreu a Claire que ela não diria nada se estivesse na pele da garota.
Eu iria ajudar, e não gostaria de ser deixada para trás; eu continuaria mesmo se isso fosse me matar...
Claire limpou a mente, passando pelo teto do elevador. Rebecca não era tão rebelde, ela era médica. Ela era
normal.
Assim que desceu, David acenou para Claire e os dois puxaram as frias portas de metal, Rebecca mirando sua
semi aleatoriamente na abertura que aumentava. Quando conseguiram afastar as portas alguns centímetros,
David saiu primeiro e depois acenou para o seguirem.
Uau...
Ela não sabia ao certo o que veria, e um corredor cinza não era uma das possibilidades. Ele se prolongava à
direita, terminando numa porta, e virava à esquerda, cerca de seis metros do elevador que levava à leste. Claire
não sabia sobre as direções, mas sabia que o elevador que Leon e John pegaram estava à sudoeste -
considerando que desceu reto.
Estava silencioso, perfeitamente quieto. David moveu a cabeça para a esquerda, indicando que seguiriam naquela
direção, as duas garotas acenaram.
Podemos começar pelo elevador, ver se podemos descobrir que caminho seguiram...
Claire olhou Rebecca de novo, sem querer encará-la porém insegura sobre sua saúde, ela não parecia bem e
quando Rebecca virou para a curva do corredor, Claire viu o olhar de David, acenando de leve na direção da
médica, franzindo.
Ele hesitou, e ela viu que ele sabia sobre a condição de Rebecca. Pelo menos -
- e Rebecca soltou um agudo grito de surpresa, já na curva -
- assim que um homem de terno azul apareceu e a agarrou, tirando a arma da mão dela e colocando um
revólver em sua cabeça.
Ele travou seu braço no pescoço dela, apertando, e virou seus selvagens olhos para eles, seu dedo no gatilho, um
trêmulo sorriso em seu velho rosto.
"Eu vou matá-la! Eu vou! Não me façam matá-la!".
Rebecca segurou o braço dele e ele apertou mais, suas mãos tremendo e seus olhos azuis intercalando entre
David e Claire. Rebecca fechou um pouco os olhos, seus dedos cedendo e Claire viu que estava muito fraca, que
estava a ponto de um colapso.
"Vocês não vão me matar, fiquem longe! Fiquem longe ou eu mato ela!".
O cano do revólver estava apertado na cabeça dela, se David ou Claire se moverem...
Eles só olharam enquanto o maluco começou a recuar, arrastando Rebecca para a porta no fim do corredor.
[20]
Foi assustadoramente fácil tirar Fóssil do coma. Em questão de momentos, Leon entrou no programa de
monitoramento e descobriu como drenar o cilindro. De acordo com o relógio digital que surgiu na tela, só levaria
cinco minutos.
Deus, qualquer um trabalhando aqui poderia ter feito isso, a qualquer hora. Para uma companhia tão paranóica, a
Umbrella dá muita moleza...
"Ei, olhe isso". John disse, e Leon virou-se do pequeno computador, olhando cautelosamente para o monstro.
Mesmo depois de sobreviver ao inferno de Raccoon, depois de lutar com zumbis e aranhas gigantes e até mesmo
com um crocodilo gigante, essa foi a coisa mais estranha que já tinha visto.
John estava de pé na parede do outro lado da sala, olhando para uma pintura laminada. Assim que se aproximou,
Leon viu que era um mapa do Planeta, cada área claramente identificada. O complexo tinha um layout bem
simples, basicamente um corredor que cercava as quatro fases, a maioria dos escritórios e salas em pequenas
partições do corredor.
John tocou um pequeno quadrado à leste, logo depois do elevador de serviço. "Aqui diz 'controle de teste/sala de
monitoramento,'". Ele disse. "e fica a caminho da saída".
"Você acha que Reston se escondeu lá?". Leon perguntou.
John balançou os ombros. "Se ele estava vendo as fases, é lá que deveria estar - o que me intriga é se ele não
deixou aquele livro por lá".
"Não custa tentar". Leon disse. "Vai levar uns cinco minutos para esvaziar o tubo, dá tempo - considerando que o
elevador não seja um problema".
John virou para olhar Fóssil, adormecido no gel. "Você acha que ele vai mesmo acordar?".
Leon acenou. As condições listadas no programa de monitoramento pareciam boas, a pulsação e a respiração
indicando sono profundo; não haveria porque não acordar quando o quente nutriente for drenado.
E provavelmente acordará com frio, bravo e faminto...
"É". Leon disse. "E não queremos estar aqui quando isso acontecer".
John sorriu um pouco, não seu sorriso normal, mas um sorriso. "Então vamos". Disse suavemente.
Leon voltou para o computador, banhado pelo reflexo vermelho do tubo. Fóssil flutuava pacificamente, um
gigante adormecido. Uma monstruosidade criada por monstruosas pessoas, levando uma vida inútil num lugar
construído para a morte.
Derrube tudo, Leon pensou e apertou "enter". O relógio começou a retroceder; eles tinham cinco minutos.
David achou que era Reston, mas não dava para saber. Não importava; só queria saber como tirar Rebecca dele,
e enquanto o enlouquecido homem de terno azul recuava para a porta, David percebeu que não havia nada para
fazer.
Ainda não.
"Vão embora! Me deixem em paz!". O homem - Reston - gritou, e desapareceu. Rebecca se foi, e fraca como
parecia antes da porta fechar, deixou David muito assustado.
"O que faremos?".
Ele olhou para Claire, viu a ansiedade e o medo no rosto dela, fazendo-o respirar fundo, exalando
vagarosamente. Eles não fariam nada se entrassem em pânico -
- e acabaríamos matando ela.
"Fique calma". Ele disse, sem sentir nada. "Nós não conhecemos o lugar, não podemos dar a volta e cercá-lo...
nós teremos que seguí-lo?".
"Mas ele -".
"Sim eu sei o que ele disse". David interrompeu. "Não há alternativas. Nós deixaremos eles ganharem distância e
depois os seguiremos".
E esperamos que não seja tão instável quanto parece.
"Claire - é uma tarefa cautelosa, não podemos fazer barulho. Talvez seja melhor você ficar aqui...".
Claire balançou a cabeça, um olhar de determinação em seus olhos. "Eu consigo". Disse, firme e clara. Ela não
tinha dúvidas, e apesar de não ser treinada, provou ser rápida e equilibrada.
David acenou e ambos andaram para esperar na porta, dois minutos a não ser que ouçamos algo, abriremos a
porta devagar -
Ele se forçou a respirar fundo novamente, bravo consigo mesmo por tê-la trazido com eles. Ela estava exausta e
ferida, não conseguiria lutar se Reston decidisse apertar mais sua garganta...
Não. Agüente firme, Rebecca. Nós estamos indo, e podemos esperar a noite toda para achar uma oportunidade.
Eles esperaram, David rezando para que Reston não a machucasse, jurando que se o fizer, arrancaria seu fígado
e o faria comê-lo.
***
Eles procuraram pelo elevador no interminável corredor, sem correr. O refeitório estava vazio e uma rápida
procurada nos dormitórios disse a John que os funcionários tinham fugido. Havia claros sinais de que eles estavam
com pressa em arrumar as coisas.
Espero que Reston ainda esteja aqui...
Enquanto corriam à norte pelo corredor, John decidiu que se Reston ainda estiver na sala de controle, ele o
nocautearia. Um bom e sólido soco na cara; e se não levantar antes do Fóssil, já era.
Os dois passaram pela entrada da sala de controle, ambos sabendo que precisariam mais de um elevador
funcionando do que de Reston, e como Leon disse, eles não queriam estar presentes no grand finale do Planeta.
O painel aberto na parede e a pequena luz sobre o aviso "em uso" foram o suficiente para fazer John sorrir como
criança. Um alívio, pois eles se arriscaram soltando Fóssil antes de garantir uma rota de fuga.
Leon chamou o elevador, também aliviado. "Dois, dois minutos e meio". E John acenou.
"Só uma olhadinha". Ele disse, e virou para a pequena quebra no corredor. Leon estava sem balas, mas John
ainda tinha algumas na M-16 caso Reston fizesse algo estúpido.
A porta estava destrancada. John foi primeiro, varrendo a grande sala com o rifle, e ficou espantado com o lugar.
"Caramba". Ele disse de leve. Uma fileira de cadeiras de couro de frente para uma parede cheia de monitores.
Um carpete vermelho escuro de veludo. Um brilhante e ultra-moderno console prateado e polido, e uma mesa
que parecia de mármore branco atrás.
Pelo menos não temos que revirar tudo...
Exceto por uma mesinha de café e um cantil prateado no console, não havia nada para ver. Nenhum papel ou
coisas de escritório, nem itens pessoais nem livro de códigos secretos.
"Provavelmente temos que ir". Leon disse. "Estou estimando tempo aqui, eu odiaria me atrasar".
"Tá bom, vamos -".
Houve movimento na parede de monitores, no meio da segunda fileira de cima para baixo. John se aproximou,
imaginando o que seria, os empregados se foram e havia duas pessoas na tela, não pode ser -
"Essa não". John disse, e sentiu seu estômago cair, seu olhar horrorizado fixado na tela.
Reston com uma arma. Arrastando Rebecca por um corredor, seu braço em volta do pescoço dela, seus pés
arrastando no chão, sua cabeça pendurada, seus braços frouxos.
"Claire!".
John olhou para Leon, que estava olhando para outro monitor, viu David e Claire armados, andando rapidamente
por outro corredor.
"Dá pra reencher o tubo?". John falou, seu estômago ainda amarrado, mais aterrorizado do que esteve durante a
noite toda, aquele miserável pegou a 'becca -
"Não sei,". Leon disse rapidamente. "podemos tentar, mas temos que ir agora -".
John se afastou dos monitores, procurando o laboratório num deles, sua exaustão sumindo quando mais
adrenalina caiu em sua circulação.
Ali, uma sala escura, uma única luz apontada para o tubo, para a inquieta coisa lá dentro. Em segundos, mãos
ensopadas socaram o material, arranhando, estraçalhando, uma grande e pálida perna réptil atravessando o
vidro.
Tarde demais: Fóssil acordou.
[21]
A criatura designada ReH1a da série Tyrant, mais conhecida como Fóssil, estava puramente motivada pelo seu
único instinto: comer. Todas as suas ações vinham desse único e primário impulso. Se houver algo entre ele e a
comida, Fóssil o destruiria. Se algo o atacar, se algo tentar tirá-lo da comida, Fóssil o mataria. Não havia impulso
reprodutivo porque Fóssil era o único membro de sua espécie.
Fóssil acordou com fome. Ele sentia a comida, em cargas elétricas no ar, mornas ondas de calor - e destruiria o
que a tivesse. O ambiente não era familiar para Fóssil, mas não importava; continha comida e estava com fome.
Com três metros de altura e pesando cerca de quatrocentos e cinqüenta quilos, a parede que separava fóssil da
comida não agüentou muito tempo. Havia outra parede depois da primeira, e mais outra - e as ricas sensações e
cheiros de comida estavam perto, muito perto para que Fóssil sentisse uma emoção: ele queria, uma coisa que ia
além da fome, uma poderosa extensão de seu instinto que o encorajava a ir mais rápido. Fóssil comeria qualquer
coisa, porém comida viva o fazia querer mais.
A parede que o separava da comida era mais grossa e mais dura que as outras, mas não o suficiente para que
Fóssil parasse. Ele rasgou as camadas da substância e saiu num lugar estranho, nada orgânico além do arrastar
de comida.
A comida corria para ele, era difícil de ver, mas cheirava forte. A comida ergueu uma garra e a varreu em Fóssil,
gritando de raiva, com desejo de atacar e matar; Fóssil sabia por causa do cheiro. Em segundos, Fóssil foi
cercado pela comida e de novo, ele quis. Os animais que eram comida uivaram e gritaram, dançando e pulando.
Fóssil se esticou e pegou o mais próximo.
A comida tinha unhas afiadas, mas a pele de Fóssil era grossa. Ele mordeu a comida, rasgando um grande
pedaço do corpo contorcido, e se encheu. Seu senso de propósito alcançado assim que mastigou e engoliu,
sangue quente descendo pela sua garganta, carne quente rasgando entre seus dentes.
Os outros animais continuaram atacando, ficando fácil para Fóssil comer. Ele comeu toda a comida em pouco
tempo e seu metabolismo a consumiu no mesmo período, dando à Fóssil mais força para encontrar mais. Era um
processo extremamente fácil que continuaria enquanto estivesse vivo.
Terminando com a escura e cavernosa sala que continha a barulhenta comida, Fóssil lambeu o sangue dos dedos
e abriu os sentidos, procurando pela próxima refeição. Em segundos, descobriu que havia mais, se mexendo por
perto.
Fóssil queria. Fóssil estava com fome.
[22]
A garota estava mau, sua pele branca e suas tentativas de se soltar inúteis e fracas. Reston queria se livrar dela,
largá-la e correr, mas não ousou. Ela era sua passagem para superfície; certamente não matariam um dos seus.
Ainda assim, ele queria que ela não estivesse tão doente. Ela o estava atrasando, quase incapaz de andar, e não
tinha escolha além de continuar carregando ela, ao norte pelo corredor de trás, depois a leste no canto mais
distante do complexo, na direção da porta do bloco das celas. De lá, o elevador de serviço ficaria a dois minutos
de caminhada.
Quase lá, quase no fim desta impossível e incrível noite, falta pouco...
Ele era um homem extremamente importante, era um respeitado membro de um grupo que tinha mais poder e
dinheiro que alguns países, ele era Jay Wallingford Reston - e ali estava, sendo caçado em seu próprio território,
forçado a fazer uma refém, colocando uma arma em sua cabeça e fugindo como um criminoso; era ridículo e
inacreditável.
"Muito apertado". A garota sussurrou, sua voz esganada e áspera.
"Que pena". Ele respondeu, continuando a arrastá-la pelo fino pescoço; ela devia ter pensado nisso antes de
invadir o Planeta.
Ele a puxou pela porta que dava acesso ao bloco das celas, sentindo-se melhor a cada passo. Cada passo o
deixava mais perto da saída, da sobrevivência. Ele não seria caçado por um grupo de capangas justiceiros sem
visão; ele se mataria antes.
Passadas as celas vazias, quase na porta - e a garota tropeçou, caindo nele tão forte que quase o derrubou. Ela
agarrou forte nele, tentando recuperar o equilíbrio, e Reston sentiu uma súbita leva de raiva por ela.
Vagabunda estúpida, assassina, espiã, eu devia atirar em você aqui, agora, e espalhar seu preguiçosos miolos
nas paredes -
Ele recuperou o controle antes de apertar o gatilho, a perda de compostura o assustando um pouco. Teria sido
um erro, e teria custado caro.
"Faça isso de novo e eu te mato". Ele disse friamente e chutou a porta que dava no corredor principal, gostando
do quanto impiedosa sua voz tinha soado. Tinha soado forte, como um homem que não hesitaria matar se
servisse seus propósitos - os quais descobriria seja lá quais fossem.
Depois da porta, já no corredor -
"Deixe-a ir, Reston!".
John e Ruivo estavam na curva, ambos apontando suas armas para ele. Bloqueando a passagem para o
elevador.
Imediatamente, Reston arrastou a garota de volta para dentro enquanto decidia o que fazer -
"Esqueça". Ruivo gritou. "Eles estão atrás de você, nós os vimos te seguindo. Você está cercado".
Reston apertou o cano da arma na cabeça da garota desesperado, eu tenho a refém, eles não podem, eles tem
que me deixar ir -
"Eu vou matá-la!". Ele recuou de novo, indo para a ante-sala do programa de teste, a garota forçando para ficar
de pé.
"E depois nós matamos você". John disse, sem um pingo de mentira em sua voz. "Se você machucá-la, nós
vamos te machucar. Solte-a e nós vamos embora".
Reston alcançou a porta de metal e apertou o botão que destrancava a porta da Fase Um.
"Você não quer que eu acredite nisso". Ele sorriu assim que a porta subiu; só restava um Dac vivo e havia
deixado as jaulas abertas - eu posso subir, ainda posso fugir deles, não é tarde demais!
Naquele segundo, a porta do bloco das celas abriu e os outros dois apareceram - entre Reston e os outros dois, e
agiu antes de pensar, aproveitando a chance.
Reston empurrou a garota, com força, jogando-a contra os quatro e pulando à esquerda no mesmo instante,
acertando a porta com o ombro. A porta para a Um abriu e ele passou, fechando-a. Havia uma trava e ele a
acionou, o metal soando como música.
Quanto mais longe das clareiras mais seguro estaria. Eles não podiam tocá-lo.
Fortes mãos a seguraram antes de cair no chão - e podia respirar de novo - e John e Leon estavam vivos... o
alívio era um oceano de calor crescendo nela, fazendo-a se sentir ainda mais fraca. O sufocamento prolongado
tirou quase toda a pouca força que ainda tinha. E pensar nisso fez suas duas pernas carregarem algo como a
morte; como cocô no biscoito; costumava dizer isso quando criança...
Claire a segurou - eram as fortes mãos de Claire - e todos se juntaram entorno dela, John a levantando
facilmente.
Rebecca fechou os olhos, relaxando na exaustão.
"Você está bem?". David perguntou, e ela acenou, aliviada e feliz por estarem juntos de novo, por ninguém ter se
ferido -
- ninguém exceto eu -
- e sabia que quando puder descansar, ficaria bem.
"Nós temos que sair daqui, agora. Leon disse, uma urgência em sua voz que fez Rebecca abrir os olhos, a
confortante sonolência sumindo instantaneamente.
"O que foi?". David perguntou, sua voz aguda.
John virou e começou a carregá-la pelo corredor rapidamente, chamando por sobre os ombros. "Nós dizemos na
subida, mas temos que ir o mais rápido possível, sem brincadeira".
"John?". Ela disse, e ele olhou para baixo, dando um sorriso, seus olhos escuros contando uma história diferente.
"Nós ficaremos bem,". Ele disse. "é só relaxar e começar a inventar histórias sobre seu ferimentos de guerra para
nós".
Ela nunca o viu tão inseguro. Ela começou a dizer que os ferimentos não a tinham deixado burra -
- quando um tremendo barulho veio de algum lugar à frente, um som como paredes sendo quebradas, como
vidro explodindo, como um touro numa loja chinesa -
- e John virou, correndo por onde vieram - não conseguia ver, mas ouviu o forte suspiro de Claire, ouviu David
dizer desacreditado, "Ah, meu Deus", e sentiu seu coração parar de bater com medo.
Algo muito ruim estava vindo.
[23]
Droga, não estamos rápido o bastante -
Numa nuvem de poeira e entulho, concreto e gesso, Fóssil bateu na parede da frente do elevador como a visão
do inferno. Seu focinho e mãos estavam vermelhos, espirros da violenta cor sobre o adoentado branco de sua
pele, seu gigante corpo enchendo o corredor.
"Clip!". Leon gritou, sem tirar o olhar do assombroso monstro, ainda a uns trinta metros à frente deles e não
longe o bastante. Ele ejetou o clip vazio de sua H&K, sem saber que Claire havia lhe dado um cheio enquanto
Fóssil dava um passo até eles -
- e David estava disparando a M-16, o estouro das balas no longo corredor, Fóssil dando outro longo passo
enquanto Leon carregava a arma. De repente John estava ao seu lado, pegando um clip para a metralhadora
com David, Claire do outro lado de David, os quatro mirando na criatura.
Leon achou o olho direito do monstro e apertou o gatilho, o som da 9mm perdido no meio do tiroteio, todos
atirando -
- bambambam, os sons se misturaram, ensurdecendo, Fóssil entortando a cabeça como se estivesse curioso,
dando outro passo contra a parede de balas.
"Recuem!". David gritou, e Leon recuou um passo, horrorizado pela falta de ferimentos de Fóssil. Se estava
doendo, não dava para ver, mas era tudo o que tinham. Ele tentou os olhos de novo -
- e ouviu Claire gritar algo, virando e vendo que ela tinha uma granada e a estava entregando à David.
"Vai, vai, vai!". David gritou, e John puxou o braço de Leon e ambos correram, Claire os guiando, Leon rezando
para estarem longe o bastante e não serem pegos pelos estilhaços de metal quente.
Claire correu, aterrorizada, nunca tinha visto algo assim. Um pesadelo branco manchado de vermelho, um sorriso
curvo com afiados dentes, e suas mãos, dedos longos e vermelhos -
- o que é ele, como é -
"Atire no buraco!". David gritou, e Claire pulou, tentando voar, vendo naquele segundo o rosto pálido e cansado
de Rebecca, a garota se jogando na parede de trás ainda a trinta metros de distância -
- e BOOM, ela estava voando, John à sua direita, um quente corpo caindo em suas costas - e todos caíram no
chão, Claire tentando cair sobre o ombro, mas aterrissou forte sobre o braço.
Ai ai ai!
David tinha se jogado nela, ou de propósito ou pela explosão, e quando sentou e virou, o achou franzindo de dor.
Ela viu dois, três pedaços escuros de metal fincados em suas costas, atravessando a vestimenta especial, e foi
ajudá-lo -
- e viu o monstro ainda de pé. Esfregando o peito e a barriga, as marcas escuras dos fragmentos. Algumas
lascas furaram sua carne - mas era difícil dizer com seu silêncio - e não parecia bravo do modo como deu outro
passo. Ele abriu a boca, sua pesada mandíbula de lagarto - expondo fiapos de uma carne desconhecida em seus
dentes. Silenciosamente, ele deu outro passo, sorrindo, e Claire imaginou que podia sentir seu hálito de carne ou
seja lá o que estava apodrecendo dentro dele -
Caia fora daí!
Ela se levantou, ignorando a dor em seu braço, abaixando para pegar a mão estendida de David e puxá-lo. No
segundo em que ele se levantou, ela apontou sua 9mm e começou a atirar de novo, sabendo que não era
suficiente, não sabendo mais o que fazer.
Quatro ferimentos, todos nas costas, todos queimando. David soprou o ar por entre os dentes, considerando a
dor suportável e a deixando de lado. O monstro não tinha caído, podia ter ficado mais lento, mas não estava
parando, e não tinham nada pior para jogar além de tudo o que já tinham tentado.
Corram, nós teremos que correr -
Mesmo enquanto pensava, ele estava abrindo a boca para gritar, para ser ouvido por John, Leon e Claire
enquanto esvaziavam suas armas, as balas tão inúteis quanto a granada.
"John, pegue Rebecca! Recuem, nós não podemos com ele!".
John já foi, Leon e Claire deslizando para trás e atirando - com a pequena esperança de que pudessem causar
algum dano, que uma das balas pudesse acertar alguma coisa que doesse.
"David, nós podemos entrar na área de teste, aço reforçado!". John gritou e David não estava certo do que eles
estavam falando, entendendo apenas "aço reforçado". Provavelmente não seria suficiente, mas os daria algum
tempo para bolar um plano.
"Faça isso!". David gritou, e o monstro deu dois, três passos, aparentemente sem se preocupar em hesitar.
Naquela velocidade, estaria neles em alguns segundos.
"Corram atrás de John!". Ele gritou, e deu a Leon e Claire um segundo de cobertura antes de virar e seguí-los.
Aço, aço reforçado - um pensamento que pulava em sua mente enquanto corria, Claire e Leon fazendo a curva,
a quina passando por ele enquanto via Rebecca e John na sala no fim do corredor. A sala para onde o maluco
tinha ido.
"David, aperte os botões, feche a porta!". John gritou e David viu os controles, as pequenas luzes sobre os
botões circulares, e foi até eles, ainda correndo.
Claire e Leon estavam dentro. David esticou os braços e socou o maior dos botões, esperando que fosse o certo
-
- e entrou na sala enquanto a placa de metal guilhotinava o ar logo atrás, perto o bastante para senti-lo em seu
pescoço.
Ele girou a tempo de ver o branco corpo da criatura acertar a porta, seu peito pressionando contra a grossa
janela de vidro. A porta tremeu e David viu que não duraria muito tempo.
Agüente por favor, só um minuto -
Ele virou, viu Leon na porta menor da parede sul, viu terror em seus olhos, a cor tinha abandonado seu rosto,
sua trêmula mão na maçaneta.
"Trancada". Ele disse, e lá fora o monstro batia na porta outra vez..
Reston ouviu o barulho quando estava pensando em como subir na jaula dos Av. A abertura estava a três
metros e meio do chão e não havia escada. A árvore mais próxima estava a uns dois metros, impossível - a
única saída era por onde veio, e não ousaria voltar para o corredor principal. Ele já tinha se convencido a subir na
árvore e tentar o pulo quando ouviu as batidas ecoarem da Fase Dois.
Reston andou até a porta de conexão, curioso apesar do medo. As fases eram muito bem protegidas
acusticamente; um barulho como aquele só poderia ter sido de uma bomba ou de uma equipe de demolição...
... então é uma bomba. Eles implantaram explosivos, aqueles monstros.
Explosivos...
Reston esperou na porta por um momento e não ouviu mais nada. O Dac solitário deu um berro em algum lugar
da câmara, aparentemente abatido com a perda de seus irmãos; ele não tentou atacar.
A Fase Dois estava diretamente atrás da sala de controle, uma parede duas vezes mais grossa entre elas, o que
nos leva a crer que os renegados explodiram o centro de controle, a mais importante - e mais cara - sala do
Planeta. Não havia alvo melhor; o complexo é praticamente inútil sem a sala de controle.
Talvez me arranjaram outra saída...
- e se foram...?
Reston não faria apostas sobre os mercenários bárbaros terem finalmente ido embora, deixando os restos do
Planeta para trás -
Se foram, ele conseguirá sair. Talvez não só do Planeta mas da White Umbrella também. Ele estava certo de que
Jackson o mataria pelo que aconteceu... mas não se Reston desaparecesse.
Algumas centenas de milhares para Hawkinson, uma carona para um lugar seguro...
Podia funcionar se estimasse o tempo certo, mudasse de nome, identidade, e fosse para longe, bem longe.
Funcionaria, sim.
Acenando para si mesmo, ele abriu a porta da Dois, incerto sobre o que esperar - e ainda assim foi uma surpresa
ver os enormes buracos em duas da paredes do deserto, o cimento, madeira e aço em pedaços; cada buraco
tinha pelo menos três metros de largura por seis de altura. Ele não viu fumaça e imaginou que os sabotadores
usaram algum tipo de composto ultra-moderno, algum material que gentinha como aquela sempre tinha acesso.
O calor ainda era forte apesar das luzes, porém mais fresco com a nova ventilação - apesar de ter escutado por
longos segundos, não ouviu nada que indicasse a presença deles. A não ser que fosse alguma armadilha...
Reston balançou a cabeça, impressionado com a própria paranóia. Agora que decidiu ser livre e abandonar as
ruínas de sua vida, sentiu um tipo de elevação. Uma sensação de novas possibilidades, um renascimento. Eles se
foram, completaram a missão, arrasaram o Planeta. Reston andou pela quente areia, pulando pedaços de Scorps
espalhados, finalmente subindo na duna para espiar o buraco.
Meu deus, eles conseguiram destruir tudo!
A destruição foi quase total, o buraco quase exatamente onde a parede dos monitores estava. Vidro, arames e
circuitos, um leve cheiro de ozônio - foi tudo o que sobrou do brilhantemente projetado sistema de retorno de
vídeo.
Quatro das cadeiras de couro foram arrancadas do chão, a mesa de mármore única partida em dois - e no canto
nordeste da sala havia outro gigante buraco cercado de destroços.
E através daquele buraco...
Reston podia ver o elevador. Funcionando, as luzes acesas e a plataforma no ponto.
Foi uma armadilha? Parecia bom demais para ser verdade - mas então ouviu uma distante pancada, em algum
lugar perto do bloco das celas, e pensou na sorte estar finalmente consigo; os empregados se foram e esse som
devia ser dos S.T.A.R.S.. Longe o bastante para estar a meio caminho da superfície antes que pudessem voltar.
Reston sorriu, maravilhado por terminar assim; parecia tão anticlimático, tão mundano...
... e eu estou reclamando? Não, nada de reclamações. Não de minha parte.
Reston cruzou o buraco, andando com cuidado para evitar os cacos de vidro.
A batalha com a comida o deixou com fome, o deixou ansioso; a parede na frente de Fóssil o deixando mais
empolgado para comer. Ele golpeou o forte obstáculo, sentindo o material ceder, ficar menos rígido -
- e apesar de não levar muito tempo para pegar os animais, Fóssil sentiu de repente o cheiro de comida nova. No
caminho por onde veio, comida livre e exposta, nada entre ela e Fóssil.
Ele voltará assim que a tiver comido. Fóssil virou e correu, faminto e querendo, determinado a comê-la antes que
fugisse.
Assim que Fóssil virou e correu, John começou a chutar a porta de aço, percebendo que era a única chance. A
incrível pancada que o monstro havia dado a deixou fraca, o grosso metal metade fora dos trilhos.
Claire e Leon começaram a chutar. Em segundos, eles a jogaram longe o bastante dos dentes de metal e acabou
caindo no chão - e segundos depois disso, eles estavam correndo para o elevador, David carregando Rebecca e
todos quietos. Fóssil voltaria, todos sabiam e não teriam chance contra ele.
"NÃO! NÃO! NÃO!".
Um homem estava gritando e quando John fez a curva, viu que era Reston, viu que estava correndo pelo longo
corredor, Fóssil se aproximando rapidamente.
Eles correram, John imaginando quanto tempo levaria para o monstro comer um ser humano inteiro. E quando
alcançaram o elevador, cruzaram as portas e Leon puxou a grade -
- todos ouviram o lamentável grito se elevar a uma intensidade sobrenatural - e parar de repente, interrompido
por um pesado e molhado som de esmagamento.
O elevador começou a subir.
[24]
Rebecca estava adormecida, o som do elevador tão calmo quanto o coração de David. Cansada como estava,
ela levantou uma incrivelmente pesada mão até o fino e preto livro preso no cinto de sua calça. Reston nem tinha
percebido, aparentemente não sabia que podia fingir um tropeço tão bem.
Ela pensou em dizer aos outros, em quebrar o silêncio no elevador para dá-los a notícia, mas achou melhor
esperar; eles mereciam a agradável surpresa.
Rebecca fechou os olhos, descansando. Eles ainda tinham um longo caminho, mas o quadro estava mudando; a
Umbrella iria pagar por seus crimes. E eles cuidariam disso.
[Epílogo]
Com John e David segurando a jovem Rebecca, e Leon e Claire sorrindo um para o outro como namorados, os
cinco exaustos soldados saíram da tela para a gentil manhã de Utah...
Suspirando, Trent reclinou em sua cadeira, girando ansiosamente seu anel de ônix. Ele esperava que tirassem um
ou dois dias de descanso antes da próxima grande batalha... talvez a última; eles mereciam um pouco de
descanso depois de tudo o que fizeram. Caso sobrevivessem ao que está por vir, ele terá que recompensá-los
amplamente.
Considerando que eu ainda estarei na posição de dar presentes...
Ele certamente estará. Quando, e se Jackson e os outros descobrirem o que realmente estava fazendo, ele terá
que desaparecer - mas haviam meia dúzia de identidades irrastreáveis que poderia escolher em qualquer canto do
mundo, cada uma delas extremamente bem remuneradas. E a White Umbrella não tinha condições de localizá-lo.
É verdadde que eles tinham poder e dinheiro, mas simplesmente não eram espertos o bastante.
E eu já vim até aqui?
Trent suspirou de novo, lembrando para não pensar com maldosa satisfação, pelo menos ainda não. Não valeria
a pena ser super confiável, ele sabia; homens melhores que os dele já morreram nas mãos da Umbrella. De
qualquer forma, ou Trent ou eles estariam mortos. E fim do problema, de um modo ou de outro.
Ele se levantou, esticando os braços sobre a cabeça e balançando os ombros para tirar a tensão; o satélite
"pirata" o permitiu ver e ouvir quase tudo e foi um noite longa e movimentada. Algumas horas de sono era tudo o
que precisava. Ele planejou ficar isolado até meio-dia, mas teria que ligar para Sidney - e o velho bebedor de chá
já devia estar agitado a essa hora, junto com os outros. Os misteriosos serviços do Sr. Trent seriam investigados
em breve, e ele teria que pegar o próximo avião; por mais que quisesse ver Hawkinson voltar e tentar derrubar
Fóssil, Trent precisava dormir mais.
Trent desligou os monitores e saiu de sua sala de operações - uma sala de estar com alguns caros ajustes - e foi
para a cozinha, que era uma cozinha normal.
A pequena casa no interior de Nova York era seu esconderijo além de lar; era dali que conduzia a maior parte de
seu trabalho. Não o grandioso e intrigante trabalho que fazia na White Umbrella, mas, sim, seu verdadeiro
trabalho. Se alguém investigasse o lugar, descobriria que a casa Vitoriana de três dormitórios pertencia a uma
velha senhora chamada Helen Black. Uma piada das suas.
Trent abriu a geladeira e tirou uma garrafa de água mineral, pensando em como Reston ficou em seu último
momento, olhando para face de sua própria morte. Adorável trabalho, esse, usando Fóssil contra ele; foi
realmente uma pena em relação a Cole. O homem teria sido uma adição para a pequena, porém crescente
resistência.
Levando a água escada acima, Trent usou o banheiro e depois andou pelo curto corredor, pensando no tempo
que ainda tinha. Nas primeiras semanas de contato com a White Umbrella, ele meio que esperava ser chamado à
sala de Jackson e levar um tiro sumariamente. Mas as semanas viraram meses e não recebeu um suspiro de
dúvida - de ninguém.
Em seu quarto, ele separou as roupas para o vôo e se despiu, decidindo que faria as malas enquanto tomava o
café, depois de ligar para Sidney. Apagando a luz, Trent sentou-se na cama por um momento, tomando um gole
da garrafa de água, repassando seus meticulosos planos para a próxima semana. Ele estava cansado, mas o
objetivo de sua vida estava finalmente sendo alcançado; não era tão fácil pegar no sono quando se estava a um
passo de culminar três décadas de planejamento e sonhos, de um desejo guardado por tanto tempo que o havia
transformado no que era...
A reta final, pensou. Ainda havia várias coisas que precisavam acontecer antes de acabar, e a maioria delas
tinham a ver com o quanto bem seus rebeldes haviam se saído. Ele tinha fé neles, mas sempre havia chance de
falharem - e na qual teria que começar tudo de novo. Não do zero, mas seria uma difícil retomada.
Eventualmente...
Trent sorriu, colocando a água no criado mudo e deslizando sob o cobertor. Eventualmente, o mal da White
Umbrella seria exposto ao clarear do dia. Matar os jogadores seria fácil, mas não ficaria satisfeito; ele queria vê-los
destruídos, financeira e emocionalmente, suas vidas tiradas em todos os sentidos. E quando esse dia chegar,
quando os líderes terminarem de ver seu preciosos esforços virando cinzas, ele estaria lá. Estaria lá para dançar
no cemitério de seus sonhos. E seria um belo dia.
Trent repassou seu discurso mentalmente, o discurso que ensaiou durante toda a vida para aquele dia. Jackson e
Sidney teriam que estar lá, tal como os "garotos" europeus e os financiadores do Japão, Mikami e Kamiya. Todos
eles sabiam da verdade, todos foram co-conspiradores na traição...
Eu estou de pé na frente deles, sorrindo, e aí digo. "Um pouco de história, caso tenham se esquecido".
"No começo da história da Umbrella - antes de haver algo como a White Umbrella - havia um cientista chamado
James Darius. Dr. Darius era um ético e comprometido microbiologista que, ao lado de sua amada esposa Helen -
uma doutora em farmacologia - gastou incontáveis horas desenvolvendo uma síntese reparadora de tecidos para
seus empregadores, um que James havia criado sozinho. Esta síntese que ocupou tanto o tempo de Darius, era
um complexo viral brilhantemente projetado que - se bem desenvolvido - tinha o potencial de reduzir incrivelmente
o sofrimento humano, podendo evitar a morte por sofrimento traumático um dia antes.
Ambos James e Helen tinham as maiores esperanças por seu trabalho - e eram tão responsáveis, tão leais e
confiantes que imediatamente foram à Umbrella, assim que perceberam o potencial do que estavam criando. E a
Umbrella Inc. também percebeu o potencial. Mas o que ela viu foi um afogamento financeiro caso esse milagre
fosse realizado. Imagine todo o dinheiro que uma companhia farmacêutica poderia perder se milhões de pessoas
parassem de morrer todo ano; então imagine o dinheiro que poderia ser feito com esse complexo viral para fins
militares. Imagine o poder.
Com incentivos assim, a Umbrella realmente não teve escolha. Ela tirou a síntese de Darius, levou as anotações e
pesquisa entregando tudo a um jovem e brilhante cientista chamado William Birkin, recém saído da adolescência e
já chefe de seu próprio laboratório. Birkin era um deles, veja. Um homem com a mesma visão, a mesma falta de
moral, um homem que podiam usar. E com sua própria marionete no lugar, eles perceberam que ter o bom Dr.
Darius por perto seria um inconveniente.
Então houve um incêndio. Um acidente; foi o que disseram, uma terrível tragédia - dois cientistas e três leais
assistentes carbonizados. Tão ruim, tão triste, caso encerrado - e assim surgiu a divisão da Umbrella chamada
White Umbrella. Pesquisa com armas biológicas. Um parque de diversões para os ricos sujos e seu bajuladores,
para homens que perderam qualquer coisa que lembrasse uma consciência há muito, muito tempo". Eu sorrio de
novo. "Por homens como vocês".
"A White Umbrella pensou em tudo, ou assim acreditavam. O que não consideraram - ou por terem pouca visão
ou por serem ignorantemente desligados - foi que o jovem filho de James e Helen, seu único filho, estava
estudando num internato enquanto seus pais eram queimados vivos. Talvez simplesmente esqueceram dele. Mas
Victor Darius não esqueceu. De fato, Victor cresceu pensando no que a Umbrella tinha feito, ou devo dizer
obcecado por isso. Chegou um tempo em que Victor não pensava em outra coisa. Foi quando decidiu fazer
alguma coisa.
"Para vingar seu pai e sua mãe, Victor Darius sabia que deveria ser extremamente engenhosos e muito, muito
cuidadoso. Desse modo, passou anos planejando. Anos aprendendo o que precisava e ainda mais, fazendo
contatos certos e movendo-se nos círculos certos, sendo mais solitário e secreto que seu inimigo. E um dia ele
assassinaria a Umbrella do mesmo jeito que assassinaram seus pais. Não era fácil, mas estava determinado, e
devotou sua vida inteira para o projeto".
Eu sorrio e digo. "Ah, e eu não mencionei que Victor Darius mudou de nome? Seria arriscado, mas decidiu usar o
nome do meio de seu pai, ou pelo menos parte dele. James Trenton Darius não o estava mais usando mesmo".
O discurso sempre mudava um pouco, mas o essencial permanecia o mesmo. Trent sabia que nunca conseguiria
se pronunciar para todos de uma vez, mas era a idéia que o fazia continuar, todos esses anos. Nas noites
quando estava tão enraivecido que não conseguia dormir, recontar essa história virou uma espécie de canção de
ninar; ele imaginava os olhares em suas cansadas e velhas faces, o terror em seus caídos olhos, a trêmula
indignação por sua traição. De alguma forma, a visão sempre amenizava sua fúria e o dava uma pequena paz.
Em breve. Depois da Europa, meus amigos...
O pensamento o guiou para a escuridão, para o doce e ausente de sonhos sono dos justos.[12]
O mais alto, John, apontou seu rifle automático para o Av1 e soltou uma rajada de balas.
Como um feixe de destruição, elas acertaram o aquilino crânio do Dac e estourou o outro lado, fluídos escuros
espirrando nas recém pintadas árvores. Ambos os olhos estouraram como bexigas d'água.
Droga. Baixa resistência; são esses ossos ocos.
Reston olhou o outro armado mirar no segundo Dac que pousou na clareira. Mesmo sem som, Reston podia ver
o revólver pular três, quatro vezes, acertando o espécime em seu estreito peito. O esbelto pescoço do Dac
curvava selvagemente para frente e para trás numa rabiscante dança da morte antes de se esparramar no
chão, sangrando.
Reston não viu mais nenhum pousar e os três homens estavam batendo em retirada, voltando para a floresta. O
pobre Cole parecia desfeito, sua boca aberta em um calado grito, seu frouxo cabelo castanho praticamente
grudado de suor na cabeça, seus braços requebrando.
Ele merecia por não ter consertado o áudio. A falta de som o estava irritando, apesar de achar que a filmagem
não sofreria com isso. As pessoas sabiam como tiros soavam.
Os três estavam saindo do alcance, indo à oeste agora. Reston intercalou entre a câmera da árvore e a
panorâmica da parede norte. Era óbvio que Cole os estava levando para a porta de conexão - apesar de não
saber que a segunda clareira agora estava em seu caminho. Por enquanto, os Dacs também tinham recuado;
eles geralmente são atraídos para áreas abertas. Eles só tinham matado dois, o que significava que ainda havia
seis espécimes saudáveis os esperando no prado.
Reston havia soltado todas as criaturas em seus habitats logo após a ligação do Sargento Steve Hawkinson, o
homem que liderava a equipe da superfície. Ele informou que apenas duas equipes da Umbrella - nove homens
incluindo o próprio - estavam começando a varrer o complexo, e que o transporte dos fugitivos havia sido
localizado; os três ainda estavam na área, a não ser que houvesse outro veículo, uma possibilidade altamente
improvável. Reston lhe disse que a câmera da entrada foi coberta por um intruso e pediu uma reparação assim
que possível. Depois disso sentou para assistir o espetáculo.
Ele serviu outro conhaque enquanto observava os três avançarem sinuosa e lentamente por entre as árvores,
John com sua arma apontada para cima, o outro vasculhando as sombras em volta...
Esse aí também precisa de um nome. Nós temos Henry, John, e Ruivo? O cabelo dele é meio avermelhado.
Por aí, mas servirá do mesmo jeito que "Dac" serviu para os Av1. Eles não tinham relação com pterodátilos, claro,
e a sigla "Av" vinha de "Aves" - e de fato os Dacs eram mais próximos dos morcegos do que qualquer outra
coisa. Já haviam muitos na série de mamíferos. O pedido veio do próprio Jackson, os criadores de espécimes
adicionaram novas classificações para o amor de Deus, usando um pouco dos contribuintes secundários para a
seqüência de genes daquela série. Os Spitters (cuspidores), que estavam mais próximos das cobras do que dos
bodes, foram rotulados de Ca6, de Capra (caprinos), por causa dos cascos rachados....
E os Dacs se pareciam com pterodátilos, ou pelo menos com o nosso moderno conceito deles, Reston pensou,
olhando para a tela que mostrava a entrada da jaula. Dois dos animais ainda estavam lá dentro. O aerodinâmico
e musculoso corpo, o fino bico, a "crista" de osso no topo da cabeça, as asas fibrosas... eles até eram elegantes
no modo brutal de ver. Os dois na grande "caverna" dos bastidores estavam claramente agitados com todo o
movimento, andando para frente e para trás com suas asas dobradas, virando suas cabeças de lado a lado.
Reston não sabia muito do fim biológico, mas sabia que caçavam pelo movimento e pelo olfato, e que só dois
deles podiam derrubar um cavalo em menos de cinco minutos.
Mas não muito eficientes contra poder de fogo.
Não fazia diferença mesmo. Os Av1 foram criados para situações de terceiro mundo, onde as manchetes ainda
não relatavam metralhadoras. Era muito ruim morrerem tão rápido, os adestradores ficariam bem desapontados
com as perdas - mas pelo menos já foram testados contra poder de fogo.
E por falar nisso...
Os três homens estavam se aproximando da clareira, saindo do alcance da câmera norte. Lá será onde os Dacs
brincarão. Reston se inclinou para olhar, percebendo que as imagens que estava gravando fariam sua carreira - e
apesar da situação, ele estava realmente se divertindo.
David abriu fogo assim que a luz do soldado os achou, ouvindo o único tiro de uma arma lá embaixo -
- e sentiu os estilhaços de madeira à sua esquerda, um monte deles espirrando em seu braço. Ele queria muito
fazer o atirador parar de atirar, mas sabia com terror que iriam cair, que as duas mulheres se esborrachariam no
concreto se ele não fizesse algo -
- e então ele estava caindo também, as tábuas sob seu corpo desaparecendo de repente, mergulhando na fria
escuridão. David segurou sua arma, esticando seus braços para fora e dobrando os joelhos no meio segundo de
queda livre -
- e seus joelhos tocaram papelão, uma não vista caixa que foi esmagada com seu peso. Instantaneamente, ele
ficou de pé, virando na direção da outra lanterna que ainda brilhava no meio do galpão, o primeiro homem já no
chão. Sem tempo para checar Rebecca e Claire - os gritos aumentaram lá fora, quase chegando.
O portador da lanterna veio abaixo com a curta linha de tiros que David mandou da M-16, um arco de um metro
cruzando a escuridão. Os ecos das balas estouraram por entre as caixas, e quando a lanterna caiu, um único
gemido de dor e surpresa caiu junto com ela, David mirou na direção da porta aberta.
Vamos, então -
Rattatattatt-
Tiros de metralhadora lá fora... mas ninguém entrou. David foi para a esquerda e mandou uma rajada de sua
arma em resposta, não esperando acertar ninguém, as balas acertando o entorno da porta. Ele precisava ganhar
tempo, mesmo se forem alguns segundos.
"Unha". Um suave e feminino gemido veio de trás dele.
"Rebecca! Claire! Respondam!". Ele sussurrou asperamente, ainda olhando o pálido e vazio quadrado da porta
aberta.
"Aqui. Eu, Claire, estou bem, mas acho que ela está ferida -".
Droga!
David sentiu seu coração pular uma batida e recuou um passo, seus pensamentos correndo, um nó de horror em
seu estômago. Só haviam passado trinta segundos desde o primeiro tiro, e a equipe da Umbrella já devia ter
cercado o prédio, se forem mesmo bons. Eles tinham que sair antes que os atiradores se organizassem por
completo.
"Claire, venha até mim, siga minha voz - eu preciso de você cobrindo a porta. Se vir alguém, mesmo uma
sombra, atire para matar. Entendido?"
Ele a ouviu se movimentar enquanto falava e a agarrou quando chegou mais perto, puxando seu braço.
"Espere". Ele disse, e soltou outra rajada de sua arma, acertando a parede perto da porta. Ele imediatamente
entregou a M-16 para Claire enquanto retornavam fogo lá fora, as balas viajando sem direção no escuro.
"Você consegue usá-la?".
"Consigo -". Ela soou ansiosa, porém firme o bastante.
"Bom. Assim que eu disser, nós começaremos a ir para a porta oeste; você vai nos cobrir".
Ele já estava virando na direção do canto onde Rebecca estaria, quando ouviu outro abafado murmúrio de dor e
fixou-se nele, movendo-se rapidamente, ajoelhando-se perto da garota ferida. Ele sentiu o cabelo sedoso de
Rebecca sobre sua mão, sentindo o pegajoso e morno sangue.
"Rebecca, você consegue falar? Você sabe onde está ferida?".
Uma tosse - e sentiu os dedos dela tocarem seu braço, e soube que estava bem mesmo antes de falar.
"Atrás da cabeça". Ela falou, suave mas bem claro. "Possível concussão, caí com tudo sentada, os membros
parecem bem...".
"Eu vou te ajudar. Se você não puder andar, eu te carregarei, mas nós temos que ir agora -".
Para provar suas palavras, houve outro disparo da metralhadora lá fora -
- e um grito que o fez se mover mesmo antes de terminar.
"Atire na abertura!". Disseram lá fora.
David girou, se levantou e segurou Claire por trás, gritando, "Feche os olhos -". E enquanto fechava os seus no
caso de uma incendiária, rezando para que não fosse uma granada -
- mas o whump de um lançador, seguido por um alto pop e um hiss o disse que era gás. Ele se afastou de Claire,
e a sentiu ao seu lado, ouviu sua ofegante e assustada respiração.
Deus, que não seja sarin ou soman, que eles nos queiram vivos -
Em segundos, os olhos e nariz de David começaram a lacrimejar fortemente e sentiu um onda de alívio. Não é
gás nervoso; eles usaram um gás lacrimejante CN ou CS.
"Porta oeste". David disse, e Claire engasgou um afirmativo, o composto químico disseminando rapidamente no
frio ar, uma efetiva, porém não letal arma. Ainda bem.
Ele virou para trás e sentiu uma mão esfregar seu peito.
"Eu não consigo andar". Rebecca disse, tossindo, e David jogou o braço dela em volta de seu pescoço e começou
a ir para a porta o mais rápido que podia através da escuridão. Ele ouviu Claire ofegando, mas agüentando,
acompanhando eles.
David se apressou, bolando um plano, tentando não respirar muito fundo. Haverá gente em ambas as portas,
esperando -
- mas a que distância? Eles vão querer estar bem lá para dominar suas vítimas chocadas...
O plano estava pronto. Assim que alcançaram a porta, David procurou em seu estojo de perna, tirando a lisa e
redonda granada anti-pessoas, puxando o pino.
"Claire, Rebecca, atrás de mim!".
Já cegos no escuro, as lágrimas só ardiam mas não interferiram em sua mira enquanto empunhava a 9mm e a
esticava à frente, procurando a porta.
BAM!
Ele abriu um buraco na fechadura, destrancando-a, ouvindo os gritos de surpresa dos homens lá fora. Quase
sem parar, David abriu a porta, o quanto até a cerca? Cinqüenta, sessenta metros -
- e jogou a granada, um gentil arremesso pela porta, fechando-a o mais rápido possível, jogando seu peso contra
ela e agradecendo à Deus por ser bem resistente -
- e KA-WHAM, a porta lutou contra ele enquanto o impacto durou, os estilhaços martelando contra ela como uma
fera selvagem socando para entrar. David esperou. A trovoada da M68 deu lugar a gemidos e uivos de dor,
quase inaudíveis sob o apito em seus ouvidos e o grito de seus sufocados pulmões.
"Cubra a direita e vá para a esquerda!". Ele gritou, e escancarou a porta, girando a H&K de lado a lado. A pálida
luz da lua só mostrou três homens, todos no chão, todos feridos e gritando atrás do véu de suas lágrimas.
Coletes, no corpo inteiro, talvez -
Ele esperava uma corrida para frente, para seu veículo de fuga, mas virou à esquerda. Ele fixou seu molhado
olhar na escura cerca enquanto Claire e Rebecca vinham atrás dele, tossindo e lacrimejando.
"Cerca". Ele disse, o mais alto que pôde, e voltou para Rebecca, deslizando seu braço na cintura dela. Eles
pularam um dos homens no chão e começaram uma forte corrida na direção da fuga, Claire bem atrás. Ela corria
de lado, a M-16 apontada para trás, na direção da frente do complexo.
Boa garota, nós vamos conseguir, passamos pela cerca, e contornamos o complexo pelo deserto até a van -
Eles correram, diminuindo a distância mais rápido do que David esperava, a grade a 9 metros da parte de trás do
galpão o qual estavam, o galpão que havia escolhido por causa disso; os outros angulavam para frente, seria
muita distância, e o primeiro era muito óbvio -
- e estavam quase na cerca quando alguém disparou uma metralhadora atrás deles, vindo de entre o outro lado
do galpão. Pelo menos alguém da Umbrella usou a lógica e deu a volta para verificar a inesperada rota de fuga.
Claire estava lá, retornando fogo, a rápida trepidação das duas automáticas mergulhando num explosivo dueto. O
atirador invisível foi pego ou estava agachado quando as trovoadas viraram um solo, Claire perfurando o escuro
com a .233.
Rebecca vai precisar de ajuda.
"Claire! Suba e passe!". David gritou, segurando a M-16. Ela virou e escalou a cerca facilmente.
"Rebecca, vai!". David puxou o gatilho e o segurou, espalhando balas pela fria noite, ouvindo retorno
aparentemente de todo o lado, três talvez quatro atiradores -
- e houve um choro atrás dele, de Rebecca, apenas na metade da cerca. Algumas gotas mornas pingaram no
rosto de David que parou de atirar, pulando para segurá-la antes que caísse.
"Eu cubro!". Claire gritou do outro lado, e atirou pela cerca, a 9mm pulando forte, o punho de David mais ainda.
Rebecca estava pálida, ofegando asperamente, certamente com dor - mas ela conseguiu se segurar na cerca,
até mesmo subir um pouco enquanto David se apoiava na cerca e a empurrava par cima.
Ele praticamente a levou até o topo e assim que Claire a alcançou para ajudar, David virou e atirou de novo nos
soldados, ainda escondidos nas sombras, sua fúria secando as últimas lágrimas.
Malditos idiotas, ela ainda é só uma garota -
A M-16 secou e ele pulou, aí Rebecca estava entre eles, encostada pesadamente nos ombro de David, e já
estavam correndo na gelada noite do deserto.
[13]
Com apenas minutos de ataque, Leon pôde ver que Cole não tinha condições de liderar. O funcionário da Umbrella
estava andando cegamente, indo vagamente na direção que precisavam ir.
E agora que sabemos que podem atacar pelo chão... ele e John não precisavam ficar olhando para o céu.
"Henry - posso assumir a ponta como guia por alguns minutos?" Leon perguntou, olhando para John. John
acenou, não parecendo tão emotivo; ele estava firme, seu olhar pulando par lá e para cá rapidamente, suas
mãos apertando a M-16.
Talvez esteja pensando nos outros. Sobre terem sido "pegos".
"Tá, tá bom, por mim, tudo bem". Cole acenou, seu alívio bem aparente. Ele pôs seu suado e castanho cabelo
de lado e correu para trás de Leon, John ainda lá atrás.
Leon estava nervoso, os pássaros, Dacs, eram desagradáveis e perigosos, e foi um alívio tê-los visto; eles não
eram tão terríveis quanto sua imaginação o tinha feito acreditar, quando ouviu os primeiros berros. Os monstros
da mente são sempre piores do que os de verdade, e os Dacs nem resistiam muito. Enquanto John e ele ficarem
de guarda, todos conseguirão.
Ele tinham sido espantados para sul e Leon corrigiu a rota, percebendo que estava começando a identificar o que
poderia ser a parede. A disposição das árvores causava confusões; não eram tão juntas, mas estavam
espalhadas dando a impressão de densidade ao olhar para a floresta; a grossa cobertura do chão, algum tipo de
plástico moldado, não se movia sobre os pés, o relevo e as depressões do material tornavam ainda mais difícil
sentir o tamanho do lugar.
É tão estranho, tão acima - tão parecido com a Umbrella.
Era como aquele vasto laboratório sob Raccoon, completo com sua própria casa de fundição e ferrovia particular -
inacreditável, mas viu tudo pessoalmente. E Leon soube através dos ex-S.T.A.R.S., que havia uma isolada
enseada na costa de Maine guardada por equipes de zumbis, e uma mansão "deserta" na floresta, a mansão de
Spencer, aquela equipada com segredos, chaves, códigos e passagens, como o cenário de um filme de
espionagem que a ninguém convence.
Agora isso - ambientes simulados sob as áridas e planas salinas de Utah. Como Reston o havia chamado? O
Planeta. Era extravagante, decadente, desperdício imoral; ridículo, exceto -
- exceto por estarmos presos nele, e só Deus saber o que enfrentaremos depois.
Leon continuou andando, tentando não pensar como Claire e os outros estavam. Reston presumiu que o resto da
equipe havia sido capturada, mas Leon não sabia. Também não sabia o quanto Claire e Rebecca eram
engenhosas, ou o quanto brilhante David era como estrategista. Todos eles já escaparam da Umbrella antes, e
não havia motivos para não conseguirem de novo.
Leon estava tão entretido na sua conversa particular que não viu a clareira até estar praticamente na beira dela, a
menos de seis metros. Ele parou, lembrando do último ataque - e se repreendeu por não ter prestado atenção.
"Vamos recuar e retornar". Ele disse - e aí ouviu o bater de asas, e sabia que já era tarde demais. Nas murchas
sombras sobre o espaço aberto, um, dois, três deles estavam mergulhando das traves de pouso, planando em
torno da clareira.
Droga!
Um deles começou a gritar e os outros acima se esconderam nas árvores, juntando-se na música, uma
ensurdecedora e horrorosa cacofonia aguda. Leon recuou, John ao seu lado de repente, mirando o rifle na
clareira.
O primeiro voou para as árvores, chacoalhando-se de lado a lado como se para voar entre elas. Ele arremeteu no
último segundo, tão rápido que não acertaram um tiro. Assim que subiu, Leon viu dois no chão, carregando seus
vigorosos corpos entre as asas dobradas.
O barulho! Era doloroso, tão estridente e terrível quanto mil bebês gritando, e Leon sentiu a 9mm atirar mais do
que podia ouvir, o pesado metal pulando em suas mãos. Os pássaros ficaram quietos quando o mais próximo
teve sua garganta baleada. Um esfarrapado buraco estourou um pouco acima de seu estreito peito, abas de pele
escura abrindo como uma flor. Um fino sangue espirrou do ferimento e o segundo pássaro passou por cima do
outro, no chão se debatendo, fixo no ataque. Leon mirou e -
"Ei ei, ah droga -".
O histérico grito de Cole o distraiu, o tiro indo para a direita, perdendo o alvo. John abriu fogo contra o segundo
Dac, o bater da automática furando o animal. Leon girou e viu Cole recuando, outro dos ferozes pássaros
investindo na direção dele.
Como ele passou por nós?
Leon mirou, o Dac a não mais que um metro e meio de Cole, e mesmo enquanto apertava o gatilho, outra das
criaturas estava descendo diretamente sobre eles. A tão pouca distância, a bala de 9mm perfurou o peito da ave
e abriu um buraco do tamanho de um punho nas costas, o Dac morrendo antes de cair no chão. O outro
arremeteu, as pontas de suas enormes asas esfregando no chão, voltando para cima.
"Henry, fique atrás de mim!". Leon gritou, olhando para cima - e vendo outro Dac descendo das traves
diretamente acima, franzindo as asas e mergulhando na direção deles.
Ele precisava de ajuda. "John...!".
O pássaro só abriu suas asas a alguns palmos do chão, surpreendentemente gracioso no pouso. Ele virou para
Leon e iniciou o ataque. Leon ouviu os tiros atrás dele - e os ouviu parar, ouviu John resmungar, ouviu o alumínio
da M-16 bater no chão.
O Dac na frente de Leon abriu seu longo bico e berrou, uma explosão de raiva, um som de fome, andando tão
rápido quanto Leon recuava. A criatura balançava para frente e para trás e Leon não tinha munição o suficiente
para gastar, ele precisava de um tiro certeiro -
- e o pássaro pulou, um estranho e súbito salto que o deixou a trinta centímetros de distância. Com outro agudo
berro, a criatura esticou a cabeça, seu bico aberto fechando em seu tornozelo. Mesmo com a grossa bota de
couro, Leon pôde sentir a ponta dos dentes, sentir o poder da mandíbula -
- e antes que pudesse atirar, John estava lá, estava pisando no longo pescoço do Dac e apontando o revólver -
- e bam, a bala acertou sua espinha, uma vértebra em suas costas estourando, estilhaços de osso e sangue
jorrando. A ave soltou seu tornozelo e apesar do pescoço ainda se contorcer, o resto do corpo estava parado,
sangrando e imóvel.
Quantos, quantos ainda restam -
"Vamos lá". John chamou, pegando o rifle do chão e virando para correr. "Vão para a porta, nós temos que
chegar nela!".
Eles correram pela clareira, Cole atrás, o bater de asas mais atrás, outra voz aguda gritando pelo ar. Eles
voltaram às árvores, a floresta sem vida, tropeçando sobre galhos e desviando de contorcidos troncos de
plástico.
A parede. Lá está ela!
E lá estava a porta, metálica e de folha dupla, um pino solto no lado direito -
- e Leon ouviu o terrível berro em seu ouvido, a centímetros de distância, e sentiu o sopro de ar em seu pescoço
-
- e deixou suas pernas cederem, caindo no chão, e sentiu uma súbita dor assim que algo arrancou um pedaço de
cabelo de seu couro cabeludo, da parte de trás da cabeça.
"Cuidado!". Leon gritou, erguendo o olhar para ver o enorme pássaro investindo em John, quase na porta, Cole
ao seu lado.
John se virou, sem recuar. Ele ergueu seu revólver e apertou o gatilho, um tiro certeiro, e o Dac caiu como se
fosse feito de chumbo, seu pequeno cérebro de repente líquido, estourando.
Cole estava mexendo na porta, John ainda mirando sobre a cabeça de Leon, e Leon ouviu outro grito de fúria em
algum lugar atrás -
- e a porta estava aberta - e Leon correu, John o cobrindo enquanto cambaleava até Cole, saindo da fria e escura
floresta para um ofuscante calor. John vinha logo atrás, batendo a porta para fechá-la -
- e estavam na Fase Dois.
Rebecca estava correndo, sem fôlego e exausta, incapaz de parar e descansar. David e Claire estavam correndo
com ela, carregando-a, mas ainda sentia que cada passo era um esforço de pura vontade; seus músculos não
queriam cooperar, e estava desorientada, seu equilíbrio uma bagunça e seus ouvidos apitando. Ela estava ferida e
não sabia o quanto grave era - só sabia que tinha sido baleada, que tinha batido a cabeça, e que não podiam
parar até estarem bem longe do complexo.
Estava escuro, muito escuro para ver onde o chão estava, e frio; cada respiração era uma gelada punhalada em
sua garganta e pulmões. Seus pensamentos estavam confusos, mas sabia que tinha sofrido alguma disfunção
cerebral, incerta de qual; as possibilidades a assombravam enquanto pensava nelas. A bala era mais fácil; ela
sabia pela quente e latejante dor. Doía terrivelmente, mas não achava que tinha alguma fratura, e não estava
sangrando; estava mais preocupada com a perda de coerência.
Baleada no glúteo esquerdo, alojada no ísquio, sortuda, sortuda, sortuda... choque ou concussão? Concussão ou
choque?
Ela precisava parar, checar o pulso temporal, procurar sangue nos ouvidos... ou por CSF, algo que nem queria
pensar. Mesmo em seu confuso estado, ela sabia que sangrar fluído cerebrospinal era a pior conseqüência de
uma pancada na cabeça.
Depois do que pareceu um bom tempo, e mais balanços e mudanças de direção do que pôde contar, David
diminuiu, pedindo Claire que diminuísse, e que iriam deitar Rebecca no chão.
"No meu lado". Rebecca ofegou. "A bala está no lado esquerdo".
David e Claire a deitaram cuidadosamente na plana terra, respirando, recuperando o fôlego, e Rebecca nunca
ficou tão grata por deitar. Ela só pegou um lance do céu preto enquanto David a rolou; as estrelas estavam
incríveis, claras e frias sobre o fundo oceano negro...
"Lanterna". Ela disse, percebendo o quanto estranhos seus pensamentos tinham se tornado. "Tem que verificar".
"Estamos longe o bastante?". Claire perguntou, e demorou um pouco para Rebecca perceber que Claire falava
com David.
Ah, porcaria, isso não é bom...
"Deveríamos. E nós os veremos chegar". David disse brevemente e ligou sua lanterna, o feixe indo para o chão a
centímetros do rosto de Rebecca.
"Rebecca, o que podemos fazer?". Ele perguntou, e ela ouviu a preocupação em sua voz, amando-o por isso.
Eles eram como uma família, desde Caliban, ele foi um bom homem e um bom amigo...
"Rebecca?". Desta vez ele soou amedrontado.
"Ah, desculpe". Ela disse, imaginando como explicar o que estava sentindo, o que estava acontecendo. Ela decidiu
que era melhor só falar e esperá-los descobrir.
"Olhe para minha orelha". Ela disse. "Procure sangue ou um líquido claro, eu acho que tive uma concussão. Eu
não estou pensando bem. A outra orelha, também. Fui baleada e acho que a bala está alojada no meu ísquio.
Pélvis. Sortuda, sortuda. Não deve estar sangrando muito, eu posso desinfetar e cobrir se me derem meu estojo.
Tem gaze e isso é bom, a bala podia ter acertado a espinha ou ter pego a artéria femoral. Muito sangue, isso é
ruim, ferida e sendo eu a única médica -
Enquanto falava, David iluminou seu rosto e gentilmente o levantou para checar o outro lado antes de apoiar sua
cabeça no colo. As pernas dele estavam quentes, seus músculos se contorcendo.
"Um pouco de sangue no ouvido esquerdo". Ele disse. Claire, tire o estojo de Rebecca, por favor. Rebecca, você
não precisa mais falar, nós vamos te consertar; tente descansar se puder".
Sem CSF, graças a Deus...
Ela queria fechar os olhos para dormir, mas precisava terminar de dizer tudo. "Concussão soa menos importante;
significa desorientação, zumbido nos ouvidos, falta de equilíbrio - pode durar algumas horas ou talvez semanas.
Não deve ser tão grave, não é bom se mexer. Repouso. Ache o meu pulso temporal, na lateral da minha
cabeça. Se não conseguir, eu devo estar em choque - elevação de temperatura...".
Ela respirou, e percebeu que a escuridão não estava só do lado de fora. Ela estava cansada, muito, muito
cansada, e um tipo de névoa escura estava tomando conta de sua visão.
Isso é tudo, já disse tudo -
John. Leon.
"John e Leon". Ela disse, horrorizada por ter esquecido deles por um momento, forçando para se sentar. Perceber
isso foi como um tapa na cara. "Eu posso andar, eu estou bem, nós temos que voltar -".
David mau a tocou e de alguma forma, sua cabeça estava no colo dele de novo. Então Claire levantou a parte de
trás da camisa de Rebecca, dando tapinhas de leve na coxa, mandando frescas ondas de dor por seu corpo. Ela
franziu os olhos, tentando respirar fundo, tentando ao menos respirar.
"Nós vamos voltar". David disse, e a voz dele parecia estar vindo de muito longe, do topo de um poço ao qual ela
caiu.
David continuou. "Mas precisamos esperar o helicóptero partir, se é que ele o fará - e você precisará de tempo
para se recuperar..."..
Se ele disse mais alguma coisa, Rebecca não ouviu. Ela dormiu e sonhou que era uma criança, brincando na fria,
fria neve.
Deserto!
Não haviam animais à vista, deviam estar do outro lado da duna, e Cole achava que sabia quais pertenciam à
Fase Dois. Antes que John e Leon dessem um passo, antes que os ouvidos de Cole parassem de apitar devido
aos gritos dos Dacs, ele começou a tagarelar.
"Deserto, a Fase Dois é um deserto, então deve ter os Scorps, escorpiões, entenderam?".
John estava tirando um clip curvo de seu estojo de perna, franzindo sobre a artificial luz solar que vinha de cima.
Devia estar uns quarenta graus na câmara, e com as paredes brancas e a ofuscante luz, parecia estar bem mais
quente. Leon vasculhou a brilhante areia na frente deles, e virou para Cole, olhando como se tivesse comendo
algo azedo.
"Maravilhoso, isso é ótimo. Escorpiões? Scorps e Dacs... quais são os outros, Henry, você se lembra?".
Por um segundo, a mente de Cole ficou vazia. Ele acenou, revirando seu cérebro, todo o suor de seu corpo já
evaporado com o calor. "Ah - esses são apelidos, Dacs, Scorps... Hunters! Hunters e Spitters, os criadores tinham
esses apelidos -".
"Uma gracinha, como fofinho e totó". John interrompeu, alisando sua sobrancelha com as costas da mão. "Então,
onde eles estão?".
Os três olharam em volta na Fase Dois, para a enorme duna de areia que estava no meio do lugar, brilhando
como purpurina sob a gigante grade de luminárias acima. Sete, nove metros de altura, a duna bloqueava a visão
da parede sul, inclusive a porta no extremo canto direito. Não tinha mais nada para ver.
Cole balançou a cabeça sem dizer nada; os Scorps estavam por lá, e eles tinham que cruzar as quente dunas de
areia ara chegar à saída.
"Quais eram as outras fases, montanhas e cidade? Você já as viu?". Leon perguntou.
"A Três é parecida com um, como posso dizer, um abismo, no alto de uma montanha. Como um desfiladeiro
rochoso. E a Quatro é uma cidade - alguns quarteirões. Eu tive que checar as entradas de vídeo quando vim para
cá".
John olhou para cima e em volta, franzindo os olhos contra a forte luz. "Certo, vídeo... você lembra onde estão?
As câmeras?".
Por que ele quer saber isso? Cole apontou para a esquerda, para o pequeno olho de vidro embutido no alto da
parede branca. "Tem cinco delas aqui; aquela é a mais próxima...".
Com um largo sorriso, John ergueu as duas mãos e estendeu os dedos do meio para a lente. "Toma, Reston".
Ele disse bem alto, e Cole decidiu que gostava dele, e muito. Leon também, mas não só por serem seu ingresso
de saída. Seja lá quais eram suas motivações, eles certamente estavam no lado certo das coisas; e o fato de
que podiam fazer piadas numa hora como essa...
"Então, nós temos um plano?". Leon perguntou, ainda olhando para a parede de areia à frente.
"Por ali,". John disse, apontando à direita. "E depois subimos. Se ver algo, atire".
"Brilhante, John. Você devia escrever isso. Sabe, eu -".
Leon parou de repente, e Cole ouviu. Uma batida. Um som como unhas batendo em madeira oca, o mesmo som
que ouviu quando consertava uma das câmeras semana passada.
Um som de garra, abrindo e fechando. Como mandíbulas clicando...
"Scorps". John disse suavemente. "Escorpiões não deviam ser noturnos?".
"Mas isso é a Umbrella, lembra?". Leon disse. "Você tem duas granadas, eu tenho uma...".
John acenou e disse. "Você sabe usar uma semiautomática?".
O grande soldado estava observando a duna, e levou um segundo para Cole perceber que John estava falando
com ele.
"Ah, sim. Eu nunca usei uma, mas já fiz tiro ao algo algumas vezes com meu irmão, seis ou sete anos atrás...".
Ele também falou baixo, ouvindo aquele barulho estranho.
John olhou diretamente para ele, como se o analisasse, e puxou um pesado revólver de seu coldre de perna. Ele
a deu para Cole, segurando-a pelo cano.
"É uma 9mm, leva dezoito. Eu tenho mais clips se acabar. Você conhece todas as regras de segurança de uma
arma? Não aponte para ninguém ao menos que queira matar, não atire em mim ou no Leon, coisas do tipo?".
Cole acenou, pegando a arma, e era pesada - e apesar de nunca ter estado tão assustado em seus trinta e
quatro anos, o sólido peso da arma em suas mãos era um tremendo alívio. Lembrando do que seu irmão dizia
sobre segurança, Cole fuçou a arma para ver se estava carregada antes de olhar para John de novo.
"Obrigado". Ele disse, e era verdade. Ele tinha atraído esses caras para uma armadilha e eles o estavam dando
uma arma; dando-o uma chance.
"Pode esquecer. Isso significa que não temos que nos preocupar em proteger o seu traseiro ao invés dos
nossos". John disse, mas sentia um suave sorriso. "Vamos".
John na frente e Leon logo atrás, eles começaram à leste, andando devagar pelo parado cenário. A areia era de
verdade; se movia sob os pés, e com o terrível calor, seria um verdadeiro esforço.
Eles só andaram uma pequena distância quando Leon pediu uma pausa.
"Roupa de baixo térmica". Ele murmurou, guardando sua arma antes de tirar sua camisa preta e amarrá-la na
cintura. Ele vestia uma grossa e texturizada camisa por baixo. "Eu não imaginei que chegaríamos no Saara -".
Todos ouviram o som, só um segundo antes de verem - antes de vê-los, três deles, alinhando-se no topo da
duna. Pequenos rios de areia desceram por debaixo de suas múltiplas pernas, cada uma tão grossa quanto um
taco de baseball. Eles tinham garras, eram como gigantes pinças estreitas e pretas, serrilhadas no lado, e longos
e segmentados corpos que terminavam em caldas, curvando-se acima de suas costas - com um ferrão nas
pontas. Feios e caídos ferrões de pelo menos trinta centímetros.
As três criaturas cor de areia, cada uma com cerca de um metro e meio de comprimento e noventa centímetros
de altura, começaram a fazer barulho - as lisas e pontudas presas sob seus arredondados olhos aracnídeos
batiam umas nas outras, soltando aqueles cliques -
- e então todas as três criaturas, os monstros, estavam deslizando na direção deles, perfeitamente equilibrados,
apressando-se pela areia com facilidade.
E no topo da duna, outros três apareceram.
[14]
"Droga". John exalou, nem a par de que falou, e ergueu a M-16, abrindo fogo.
- bambambambam -
- e o primeiro dos escorpiões soltou um estranho e seco hiss, como ar saindo de um pneu gigante, assim que as
balas martelaram seu corpo curvado. Um grosso fluído espirrou dos ferimentos em sua face, uma face de presas
babantes e olhos de aranha, uma face com um buraco escuro para a boca. As contorcidas garras se ergueram,
caindo ao lado e se debatendo ferozmente, cavando sua própria cova rasa na areia.
Leon e Cole estavam atirando, o trovão das 9mm afogando qualquer outro hiss, produzindo ainda mais sangue
branco no segundo e terceiro dos Scorps. O fluído branco estourava em bolhas, como vômito, e haviam mais três
deles descendo -
- e o primeiro, aquele que John havia enchido de furos estava se levantando. Instavelmente, mas se levantando.
Os buracos estavam vazando com aquela meleca viscosa - e mesmo enquanto avançava para eles, John viu que
o líquido estava endurecendo, tampando os ferimentos, tão eficiente quanto gesso numa parede.
"Vai vai vai!". John gritou assim que as outras duas criaturas, derrubadas por Leon e Cole, começaram a se
mover, seus ferimentos já virando casca. O segundo trio estava na metade da duna e se aproximando rápido.
Temos que sair.
Ainda havia dois "ambientes", e já tinham usado pelo menos um terço da munição; isso passou na mente de
John na fração de segundo que levou para ele espirrar mais bolhas nos Scorps, enquanto Leon e Cole corriam à
leste.
Ele nem tentou derrubar nenhum dos seis, sabia que não faria diferença. A linha de balas era só para afastá-los
enquanto os outros dois homens fugiam, sua mente forçando para achar uma solução enquanto os impossíveis
animais balançavam suas tortas garras, escorregando na granulosa areia e jorrando mais da cola bizarra.
- granada, mas como eu pego todos de uma vez, como evitaremos os estilhaços -
O mais próximo dos Scorps estava a uns três metros a sua frente quando virou e correu, o mais rápido que podia
pelo terrível calor, sua adrenalina alta e forte. Leon e Cole estavam a cinqüenta metros à frente, Leon
ziguezagueando - olhando para frente e para trás, mirando com a semi.
John olhou para trás, viu que os escorpiões ainda vinham. Mais lentos porém sem vacilar, seus corpos vespóides
pingando branco, suas encurvadas garras erguidas e clicando. Eles também ganhavam velocidade, a cada passo,
um monte de insetos procurando almoço -
- em bando -
Eles podem não ter uma chance melhor, John soltou o rifle, a alça parando em seu pescoço, e afundou uma mão
em seu bolso, ainda conseguindo correr. Ele tirou uma das granadas, liberou o pino, virou e correu de costas. Ele
tentou avaliar a distância, o processo da M68 passando em sua frenética mente, os Scorps a uns vinte metros
atrás.
- detonador de impacto, se arma dois segundos depois do impacto, recuar por seis segundos -
"Granada!". Ele gritou, e atirou o redondo objeto para o alto, rezando para ter feito uma boa decisão enquanto
virava e corria, a granada ainda subindo enquanto John mergulhava na lateral da duna..
John se enterrou nela, empurrando com todos os músculos, escavando cego e sem fôlego. A areia estava mais
fria por baixo, ondas dela em seu rosto, tentando forçar a entrada em seu nariz e boca, mas não conseguia
pensar em mais nada além de puxar as pernas para dentro - e no que os estilhaços poderiam fazer com a carne
humana.
Um último e desesperado chute e -
- KA-WHAM -
- houve um enorme balanço em volta dele, uma incrível pressão acertando a cobertura de areia sobre ele. Ele
sentiu o peso acima dele forçar o ar para fora de seus pulmões, e usou tudo o que tinha para levar a mão à boca
para cobri-la. Respirando superficialmente, ele começou a sair, se contorcendo e chutando como uma minhoca.
Leon, será que eles se abaixaram a tempo, será que funcionou -
Ele ainda lutava contra as correntes deslizantes de grãos, respirando mais uma vez antes de usar as duas mãos
para afastar a areia. Em poucos segundos ele estava fora, cascatas de areia caindo de seu corpo, seus irritados
olhos lacrimejando. Ele as secou com uma mão, erguendo a M-16, olhando para a ameaça primeiro -
- e não eram mais ameaça. A granada deve ter caído bem na frente deles; dos seis escorpiões, quatro estavam
em pedaços. John viu uma garra ainda se mexendo, caída na areia em uma poça de branco, uma calda com um
ferrão ainda preso, uma perna, outra perna; o resto estava irreconhecível, grandes pedaços de mingau
espalhados num semicírculo.
Os dois restantes ainda estavam inteiros lá atrás, mas definitivamente não se levantariam de novo; os corpos
estavam intactos, mas os olhos e boca, as estranhas mandíbulas e os rostos se foram.
Todos explodidos. Nem um monte de meleca branca vai grudar tudo aquilo de novo...
"John!".
Ele virou, viu Leon e Cole retornando, expressões maravilhadas em ambos os rostos. John se permitiu um breve
momento de completo orgulho, vendo-os se aproximarem; ele foi brilhante, no tempo, na mira, em tudo.
Bom. o verdadeiro soldado não ganha louvores por um trabalho bem feito; para ele já bastava saber disso...
Quando o alcançaram, John voltou a si; pensar na situação deles já era o suficiente.
Eles estavam numa área de teste psicótica por causa de um maluco da Umbrella; sua equipe foi separada,
tinham munição limitada, e não havia uma saída clara de lá.
Vocês estão ferrados. Dar um tapinha nas próprias costas era como dar uma aspirina para um morto; não
adiantava nada.
Ainda assim, vendo a leve esperança nos rostos dos dois... podia não ser esperança, mas raramente é uma
coisa ruim.
"Podem haver mais deles". Ele disse, tirando areia da M-16. "Vamos sair daqui -".
- clickclickclick -
Aquele som. Todos eles congelaram, olhando um para o outro. Não estava tão perto, mas em algum lugar sobre
a duna havia pelo menos mais um Scorp.
David tinha avistado uma luz a pelo menos quatrocentos metros à sudoeste de sua posição, mas nem chegou
perto; se não fosse o frio, Claire teria se sentido aliviada. As chances de alguém encontrá-los nos intermináveis
quilômetros de escuridão eram perto de zero; os caras da Umbrella tinham fracassado. Mesmo com um holofote
do helicóptero - o qual aparentemente não iriam mais usar - seria pura sorte acharem os três...
"Como você está, Claire?".
Ela se esforçou para não bater os dentes, mas falhou. Deve ter passado uma hora, talvez mais. "Está frio pra
caramba, David, e você?".
"Também. Foi bom termos nos vestido bem, né?".
Se foi uma piada, ela não percebeu. Claire se aconchegou mais perto de Rebecca, pensando em que hora perdeu
a sensibilidade nos membros; suas mãos estavam dormentes e seu rosto parecia congelado numa máscara,
mesmo com as quase constantes mudanças de posição. David estava do outro lado de Rebecca, os três juntos o
mais próximo possível. Rebecca não tinha acordado, mas sua respiração estava lenta e constante; pelo menos
ela descansava confortavelmente.
Só ela...
"Não deve demorar muito". David disse. "Vinte, talvez vinte e cinco minutos. Eles posicionarão um ou dois
homens, depois partirão".
"É, você é quem manda". Claire disse. "Como você deduz o tempo?". Seus lábios pareciam picolés.
"Busca no perímetro, uma volta de pelo menos quatrocentos metros - considerando que eles tenham seis ou
menos homens ainda capacitados fisicamente, eu estimo quatro - ".
"Por quê?".
A voz de David tremeu com o frio. "Três homens estavam na porta de trás do prédio, dois entraram - e pelos
sons, eu diria que haviam de três a sete na frente. Oito ou doze homens; mais que isso não caberiam todos no
helicóptero. Menos que isso, eles não conseguiriam ter coberto as duas entradas".
Claire estava impressionada. "E por que vinte a vinte e cinco minutos?".
"Como eu disse, eles vão cobrir uma certa distância em volta do complexo antes de desistirem. O tamanho do
complexo vai de quatrocentos à oitocentos metros, e quanto tempo leva para um homem mediano andar essa
distância. Nós vimos aquela luz há talvez uma hora, e desde que certamente cada um foi para um lado e
verificado aquele segmento... bom, vinte a vinte e cinco minutos. Isso incluindo o tempo que levaria para verificar
a van. Essa é a minha opinião".
Claire sentiu seus lábios congelados tentarem um sorriso. "Você está tirando uma com a minha cara, não está?
Inventando?".
David pareceu chocado. "Não estou. Eu repassei isso várias vezes e eu acho -".
"Estou brincando". Claire disse. "Sério".
Um curto silêncio e então David riu, o baixo som carregado facilmente pelo frio escuro. "Claro que está. Desculpe.
Eu acho que temperatura afetou o meu senso de humor".
Claire alternou as mãos, tirando a direita de debaixo da perna de Rebecca e colocando a esquerda. "Não. Eu peço
desculpas. Não devia ter interrompido. Continue, é muito interessante".
"Nada mais a dizer". David disse, e ela ouviu o leve e rápido bater de dentes dele. "Eles vão querer ajuda médica
para os feridos, e eu duvido que a Umbrella queira que um de seus helicópteros seja visto voando pelas salinas à
luz do dia; eles deixarão um guarda e partirão".
Ela o ouviu tremer, sentiu o corpo de Rebecca mexer enquanto ele trocava sua posição. "De qualquer modo, é aí
que nós andamos. Primeiro para o complexo, um pouco de sabotagem - e então só veremos o que acontece...".
O modo como sua voz parou, o humor forçado em seu tom que se quer cobriu o desespero - diziam exatamente
o que estava pensando.
O que ambos estavam pensando...
"E Rebecca?". Ela perguntou gentilmente. Eles não podiam deixá-la, ela congelaria. Tentar invadir o complexo de
novo, tentar derrubar alguns homens armados enquanto carregavam uma mulher inconsciente...
"Eu não sei". David disse. "Antes que ela - ela disse que poderia se recuperar em algumas horas, com descanso".
Claire não respondeu. Afirmar o óbvio não ajudaria em nada.
Eles caíram no silêncio, Claire ouvindo a suave respiração de Rebecca, pensando em Chris. A afeição de David por
Rebecca era evidente; era como amor de pai e filha. Ou de irmão e irmã. Pensar nele era um modo de passar o
tempo.
-o que você está fazendo nesse momento, Chris? Trent disse que estava bem, mas por quanto tempo? Deus,
eu queria que você nunca tivesse sido convocado para a mansão de Spencer. Ou para Raccoon, para lutar pela
verdade e justiça... é desgastante, irmão...
"Você está dormindo, não está?". David perguntava isso toda vez que ficavam mais de um minuto sem falar.
"Não, pensando em Chris". Ela disse. Formar palavras era difícil, porém melhor do que deixar a boca fechada,
congelando. "E eu aposto que você está começando a desejar ter ido à Europa a final de contas".
"Eu queria". Rebecca disse fracamente. "Eu odeio esse tempo...".
Rebecca!
Claire sorriu sem sentir e nem se importou. Ela abraçou a garota enquanto David se sentava, procurando a
lanterna - e apesar de estar congelando, apesar de separada dos amigos, longe da saída e contando com
incertas probabilidades, Claire sentiu que definitivamente as coisas estavam começando a dar certo. * * * A
ligação veio logo depois que John explodiu seis dos Ar12.
Reston pensava em pipoca até então; o sistema de defesa dos Scorps estava funcionando como as projeções
sugeriam, o reparador de danos mais rápido do que esperava. O que não era esperado foi a fragilidade dos
tecidos conectivos entre os segmentos aracnídeos.
Uma granada. Uma maldita granada.
O desejo por pipoca estava tão morto quanto os Ar12. Ainda restavam dois, vagando pelo canto sudoeste, mas
Reston não tinha mais fé nos Ar - e apesar de ser uma informação importante, ele não estava tão certo de que
Jackson o agradeceria por tê-la conseguido.
Ele vai querer saber porque eu não tirei os explosivos deles antes. Porque eu soltei todos os espécimes. Porque
não liguei para Sidney, pelo menos, por um conselho. E nenhuma resposta que eu desse seria suficiente...
Quando o telefone tocou, Reston pulou na cadeira, de repente certo de que era Jackson. Essa noção ridícula
desaparecendo ao pegar o gancho - e o fez certo de que seus objetos de teste não sobreviveriam à Três.
"Reston".
"Sr. Reston - aqui é o Sargento Hawkinson, Equipe de Terra Branco Um-Sete-Zero-".
"Sim, sim. Reston suspirou, observando Cole e os dois S.T.A.R.S. se reunindo. "O que está acontecendo aí em
cima?".
"Nós-". Hawkinson respirou fundo. "Senhor, eu lamento informar que houve altercação com os intrusos e eles
escaparam do local". Ele disse muito rápido, certamente desconfortável.
"O quê?". Reston se levantou, quase derrubando a cadeira. "Como? Como isso aconteceu?".
"Senhor, nós os encurralamos no galpão de estocagem, mas houve uma explosão, dois de meus homens foram
baleados e mais três ficaram feridos - ".
"Eu não quero mais ouvir isso!". Reston estava furioso, incapaz de acreditar que tinha tais incompetentes
trabalhando para ele. "O que eu quero ouvir é que vocês não só falharam miseravelmente, como não só deixou
os três passarem pela sua droga de equipe, e que não ligou para me dizer que não conseguiu achá-los".
Houve um momento de silêncio do outro lado e Reston conseguiu calá-lo, conseguiu dar um motivo para tornar a
vida dele um inferno.
Mas Hawkinson soou propriamente arrependido. "Claro, senhor. Eu lamento, senhor. Eu voltarei com o helicóptero
para Salt Lake City e trazer alguns de nossos novos recrutas para estender nossos parâmetros de busca. Estarei
deixando meus três últimos homens de guarda, dois à leste e oeste do complexo, e um no veículo de fuga. Eu
voltarei em - noventa minutos, senhor, e nós vamos achá-los. Senhor".
Os lábios de Reston curvaram. "Assim espero, Sargento. Se não o fizer, seu traseiro não valerá nada".
Ele desligou a comunicação e jogou o telefone no gancho, ao menos pensando ter feito algo para facilitar o
processo. Um bom puxão de orelha funciona maravilhas; Hawkinson engatinharia sobre vidro para obter
resultados, exatamente como deve ser.
Reston sentou de novo, olhando para as cobaias enquanto caminhavam sobre a duna. Cole tinha uma arma
agora, e estava levando-os para a porta de conexão. Reston imaginava se John ou Ruivo faziam alguma idéia do
quanto inútil Cole era. Provavelmente não, se eles o deram uma arma...
Quando os três chegaram no topo da duna e começaram a descer do outro lado, os dois Scorps finalmente se
moveram. Diferente da última vez, Reston observou bem de perto, segurando no laço de esperança - de que
acabaria ali, de que os homens seriam derrubados. Não que Reston tivesse dúvidas sobre os Ca6 da Três, eles
certamente não sobreviverão à próxima fase...
... mas e se sobreviverem, hein? Se sobreviverem e forem para a Quatro, e acharem uma saída? O que você
dirá à Jackson, o que você dirá no tour sem nenhum espécime vivo para ver? Aí será o meu traseiro sem valor,
não é?
Reston ignorou a baixa voz, concentrando-se no monitor. Ambos os Scorps andaram rapidamente, garras e
ferrões para o alto, seus frágeis corpos de inseto armados para atacar -
- os três homens estavam atirando, uma silenciosa batalha, os Ar desviando e simulando botes, e caindo sob as
rajadas de balas. As mãos de Reston estavam apertadas e nem percebeu; sua atenção voltada para os Scorps
no chão, esperando vê-los atacarem novamente antes dos homens alcançarem a porta -
-exceto por John e Ruivo estarem indo na direção dos animais, apontando as armas -
- e atirando nos olhos. Eles o fizeram rápido e eficiente, e mesmo com ambos os escorpiões se movendo
enquanto os três iam para a porta, as criaturas cegas só golpearam a areia. Um deles achou um alvo; em um
movimento, ele desceu seu ferrão extraordinariamente tóxico nas costas do outro. O Ar envenenado girou e
cravou sua dentada garra no abdômen do agressor; se contorceu fracamente, vivo porém incapaz de ver ou se
mover - morrendo ao lado do irmão morto.
Reston balançou a cabeça devagar, com nojo do tempo e dinheiro perdido, dos milhões de dólares e
horas-homem que gastaram no desenvolvimento dos habitantes das fases Um e Dois.
E Jackson vai querer essa informação. Uma vez as cobaias mortas e seus amigos pegos, eu conseguirei dar a
volta por cima; como alguns de nossos "prezados" espécimes. É melhor valer agora...
O ruivo estava destrancando a porta que os levaria para a Três; se não tiverem uma caixa de granadas, estarão
mortos em minutos.
Reston respirou fundo, lembrando de quem estava no controle. Hawkinson cuidaria da superfície, Jackson ficaria
agradecido, os três mosqueteiros estavam prestes a serem cegados, pisoteados e devorados. Não havia nada
para se preocupar.
Reston exalou fortemente, conseguindo de alguma forma dar um inseguro sorriso, e forçando a si mesmo relaxar
na cadeira, chamando os monitores que o mostrariam o habitat dos Ca6.
"Digam adeus". Ele disse, e serviu-se de outro conhaque.
[15]
Do terrível e ofuscante calor do deserto, eles pisaram na fria sombra de uma montanha. Eles ficaram na porta,
vasculhando a novo campo de teste, Leon imaginando se estariam enfrentando Hunters ou Spitters nessa grande
e acinzentada sala.
A cinza e pontiaguda pedra do cume da montanha se verticalizava à frente deles. Cinza também as paredes e o
teto, e a sinuosa trilha a oeste, contornando o "pico". Até a grama cerrada era cinza. A montanha parecia bem
real, talhados blocos de granito misturados com cimento, esculpidos como rochedos e pintados para combinar. O
efeito geral era de uma inóspita trilha no alto de uma árida montanha.
Exceto por não haver vento - nem cheiro. Igual às outras duas, nenhum cheiro mesmo.
"Você vai querer colocar sua blusa de novo". John disse, e Leon já estava desatando as mangas da cintura. A
temperatura tinha caído pelo menos quinze graus, já congelando o suor que ganharam na Fase 2.
"Então, para onde vamos?". Cole perguntou, seus olhos arregalados e nervosos.
John apontou diagonalmente pela sala, à sudoeste. "Que tal a porta?".
"Eu acho que ele quis dizer qual é o caminho". Leon disse, mantendo a voz baixa como os outros. Não há porque
alertar os habitantes do lugar sobre suas posições; eles estarão interagindo em breve.
Os três examinaram as opções, todas as duas: pegar a trilha cinza ou subir a montanha cinza.
Hunters ou Spitters... Leon suspirou, seu estômago já dando nó. Se eles conseguirem escapar, se ele achar
Reston, ele daria um sólido chute no traseiro do velho Sr. Blue. Seria contra o sistema que o fez ser policial, mas
aí veio a Umbrella...
"Do ponto de vista defensivo, eu optaria pela trilha". John disse, olhando para a irregular superfície da montanha.
"Nós podemos nos encurralar se subirmos".
"Tem uma ponte, eu acho". Cole disse. "Eu só fiz uma das câmeras aqui, aquela -".
Ele apontou para cima à direita, no canto. Leon mau podia vê-la - as paredes tinham uns quinze metros de altura
e sua pintura monotônica se juntava com a do teto. Criava uma ilusão de ótica fazendo a sala parecer
infinitamente vasta.
"- eu estava numa escada, eu vi por cima, mais ou menos". Cole continuou. 'Há um desfiladeiro do outro lado, e
uma daquelas pontes de madeira e corda para cruzá-lo".
Leon abriu seu estojo enquanto Cole falava, verificando a munição. "Como está a M-16?".
"Talvez quinze sobrando neste". John respondeu, tocando o pente curvo. "Mais dois completos, trinta cada... dois
clips para a H&K, e mais uma granada. "Você?".
"Sete balas aqui, três clips, uma granada. Henry, você contou?".
O funcionário da Umbrella balançou a cabeça. "Eu acho que - cinco tiros, eu atirei cinco vezes".
Ele pareceu querer dizer algo mais, trocando olhares entre Leon e John, finalmente olhando para suas botas
sujas. John olhou para Leon, que deu com os ombros; eles não sabiam nada mesmo sobre Henry Cole, exceto
por não pertencer àquele lugar como eles próprios.
"Ouçam... eu acho que essa não é a hora e lugar, mas só queria dizer que sinto muito. Quer dizer, eu sabia que
havia algo estranho sobre tudo isso. Sobre a Umbrella. E eu sabia que Reston era um idiota, e se eu não tivesse
sido tão ganancioso e burro, eu nunca teria colocado vocês nessa".
"Henry". Leon disse. "Você não sabia, tá bom? E acredite em mim, você não é o primeiro a ser enganado -".
"Sem dúvida". John interrompeu. "É sério. Os colarinhos são o problema aqui, e não caras como você".
Cole não ergueu o olhar, mas acenou, seus finos ombros baixando de alívio. John o passou mais um clip,
acenando para a trilha enquanto Cole o colocava no bolso.
"Vamos nessa". John disse para ambos mas endereçando à Cole. Leon percebeu na profunda voz uma nota de
encorajamento sugerindo que John estava começando a gostar do empregado da Umbrella. "Se ficar difícil nós
podemos voltar para a Dois. Fiquem juntos, calados e tentem atirar na cabeça ou olhos - se é que eles tem
olhos".
Cole sorriu de leve.
"Eu vou na frente". Leon disse e John acenou antes de se afastar da porta e virar à esquerda. O frio ar estava
quieto desde que entraram, nenhum som exceto o deles. Leon foi para trás, Cole andando devagar à sua frente.
A trilha era arranhada; como se alguém tivesse passado um rodo antes do cimento secar. Com o pico à direita
deles, o caminho se estendia por uns vinte metros e depois virava angulosamente à sul, desaparecendo atrás da
íngreme encosta.
Depois dos quinze metros, Leon ouviu o bater de pedras atrás deles. Cascalho solto rolando abaixo do pico.
Ele virou, surpreso, e viu o animal perto do topo do pico, a uns nove metros. Viu mas não tinha certeza do que
estava vendo, exceto por estar descendo, saltitando sobre as quatro robustas patas, como um bode das
montanhas.
Como um bode sem pele. Como - como -
Como nada que já tinha visto antes, e estava quase no chão quando ouviram um molhado som de sacudir em
algum lugar à frente, o som de uma garganta congestionada sendo limpa, ou um cachorro rosnando com a boca
cheia de sangue - e estavam cercados, os terríveis sons vindo de ambos os lados na direção deles.
Voltar para o complexo foi muito fácil. Rebecca precisou de ajuda para subir a cerca, mas parecia melhorar a cada
minuto, recuperando o equilíbrio e a coordenação. David estava mais aliviado do que pretendia, e grato pela
guarda da Umbrella, ou pela falta dela, três homens, dois na cerca e outro na van; patético.
Eles começaram a voltar assim que o helicóptero decolou e foi para o sul, esticando os músculos congelados
enquanto se moviam pelo escuro. Depois de algumas centenas de metros, David se separou das garotas para
fazer um rápido reconhecimento, depois voltou e guiou-as para a cerca e por cima dela. Antes de derrubarem os
guardas, David precisava de algum lugar seguro e quente para rever os procedimentos e melhorar a condição de
Rebecca; ele escolheu o mais óbvio dos galpões, o do meio. O que tinha duas parabólicas, uma série de antenas
e cabos descendo de um lado. Se ele estiver certo, se for o setor de comunicações, seria exatamente o lugar
que queriam estar.
E se eu estiver errado, restam mais dois para vasculhar; um será a sala do gerador, que deve ter algum tipo de
controle climático. Eu posso deixá-las lá e fazer a sabotagem sozinho...
Depois que escalaram a cerca sul, David ficou impressionado com a pobreza do plano da Umbrella. Os dois
guardas protegendo o perímetro estavam posicionados na frente e atrás, como se não houvesse chances de
alguém entrar pelas laterais. Uma vez dentro, David as guiou para o lado mais longe do último galpão, e acenou
para se juntarem.
"Prédio do meio". Ele cochichou. "Deve estar destrancado se for o que acho que é. As luzes estarão acesas. Eu
entro e depois aceno para me seguirem; se ouvirem tiros, entrem o mais rápido possível. Fiquem próximas aos
prédios e abaixem-se ao cruzá-los. Certo?".
Claire e Rebecca acenaram, Rebecca se apoiando em Claire; apesar de fraca, ela estava bem. Ela disse que ainda
estava enjoada e que sua cabeça doía, mas os confusos pensamentos que o atormentavam já tinham passado.
David virou e deslizou pela parede da estrutura mais próxima da cerca, abraçando as sombras, olhando para ter
certeza de que nenhum guarda apareça. Eles chegaram no fim, de frente à oeste e deram a volta. David
primeiro, verificando a posição do guarda. Estava muito escuro para ver, mas havia uma sombra densa atrás da
cerca metálica que o identificava. David ergueu a M-16 e mirou nele, preparado para atirar caso fossem vistos.
Pena não poder atirar agora... mas um tiro alertaria os outros. Como David não estava preocupado com os
guardas na cerca, o guarda da van poderia ser um problema; ele estava longe o bastante para usar o rádio antes
de vir para cá.
Esses dois serão fáceis, mas como se aproximar deles?
Não havia cobertura se o guarda da van os visse chegando -
Isso podia esperar; eles tinham serviço antes de se preocuparem com os guardas. Agachado, David levou Claire
e Rebecca com a M-16 apontada para a sombra na cerca. Ele segurou a respiração enquanto cruzavam o espaço
aberto. Eles conseguiram quase sem um ruído;
Depois que cruzaram, David continuou, seus anos de treinamento permitindo-o se mover tão silenciosamente
quanto um fantasma. Uma vez cobertos pela sombra do galpão, David relaxou um pouco, o pior de tudo se foi.
Eles podiam ir para o prédio do meio através do negro corredor entre as estruturas.
Em menos de um minuto eles chegaram ao destino. Acenando para as mulheres recuarem, David cruzou,
parando na porta fechada. Ele tocou a fria maçaneta de metal e a empurrou para baixo, acenando para si
mesmo ao ouvir o leve click da porta destrancada.
É aqui; o líder da equipe a deixou aberta para os guardas acessarem o satélite no caso de voltarmos. Foi um
chute, mas foi um chute calculado.
Era hora de rezar por um pouco de sorte; se as luzes estiverem acesas, abrir a porta seria como um farol para
qualquer um olhando nessa direção. Os guardas deviam estar olhando para o deserto, mas isso não significava
muito.
Respirando fundo, David empurrou a porta, percebendo que a luz estava fraca enquanto entrava e fechava a
porta. Ele encostou na porta e contou até dez, e relaxou, inalando o morno ar agradecidamente enquanto
estudava o interior. O galpão havia sido dividido em salas - e a sala a qual havia entrado estava forrada de
equipamentos de computador, grossos cabos cruzavam o chão e subiam pelas paredes...
... tudo o que liga esse complexo ao mundo exterior...
David apertou o botão na parede, desligando a única luminária no teto. Sorrindo, ele abriu a porta para que
Rebecca e Claire se juntassem à ele.
"Fiquem contra a parede". Leon gritou, e Cole obedeceu antes mesmo de saber porque. O agitado barulho de
catarro parecia vir de algum lugar acima -
- e então viu a criatura vindo vagarosamente na direção deles, tornando impossível fugir, e mau conteve o grito.
Ele parou a uns quatro ou cinco metros de distância, e Cole ainda não parecia entender; era tão bizarro.
Ah, Jesus, o que é aquilo?
Tinha quatro patas, com cascos divididos, como um carneiro ou bode, e tinha o mesmo tamanho - só que sem
pelos, sem chifres, nada que lembrasse o desenvolvimento natural. Seus corpos atléticos eram manchados com
pequenas variações de marrom avermelhado, como a pele de uma cobra, só que sem brilho; à primeira vista,
parecia coberta de sangue seco. Sua cabeça de algum modo era anfíbia, como a de um sapo - um rosto
achatado sem orelhas com pequenos olhos escuros que saltavam de cada lado, uma boca larga também - mas
com dentes pontudos saindo de uma proeminente mandíbula inferior, um queixo de bulldog, sua cabeça também
manchada com as variações de sangue seco.
A coisa abriu a boca, expondo só alguns dentes afiados, superiores e inferiores, nenhum deles na frente - e
aquele terrível som molhado veio da escuridão de sua garganta, o bizarro chamado acompanhado pelos outros
em algum lugar do outro lado da montanha artificial.
O chamado cresceu, mais alto e profundo enquanto a coisa erguia a cabeça, voltando o rosto para o teto -
- e com um súbito movimento, a coisa abaixou a cabeça e cuspiu neles. Uma grossa bolha de semilíquido
avermelhado voou neles, em Leon, cruzando a longa distância -
- e Leon ergueu o braço para bloquear ao mesmo tempo que John começou a atirar, se afastando da parede e
espirrando no monstro -
- Cuspidor -
- com balas. A meleca atingiu o braço de Leon, teria acertado seu rosto se não tivesse se protegido, e em
resposta às balas, o cuspidor virou e saltou para a montanha esculpida - em longos e fáceis saltos que não
denotavam pânico, dor ou qualquer sentimento, levando-o para o topo em segundos. Ele começou a descer por
seis metros depois pulou agilmente para o chão, parando na frente da porta de conexão. Como se soubesse que
estava bloqueando a saída.
E nem cambaleou, meu Deus -
Os múltiplos berros de onde não tinham visão não aumentaram mais, e também não diminuíram. Os gargarejos
foram parando, um por vez, a falta de alvos tirando-os o motivo; de repente, tudo estava quieto, do mesmo jeito
que estava quando entraram.
"Mas o que bom Deus foi aquilo? John disse, tirando outro clip do estojo, suas expressões desacreditadas.
"Nem se machucou". Cole sussurrou, apertando a 9mm com tanta força que seus dedos ficaram dormentes. Ele
nem percebeu, olhando enquanto Leon tocava o pastoso e úmido punhado de meleca em sua manga -
- e soprou de dor, tirando a mão como se tivesse se queimando.
"Essa coisa é tóxica". Ele disse, rapidamente limpando os dedos na roupa e mantendo-os no alto. As pontas do
dedo do meio e indicador de sua mão esquerda ficaram vermelhos. Ele imediatamente guardou a arma no cinto e
tirou a blusa preta, cuidando para evitar contato com a gosma tóxica, empurrando-a no chão de pedra.
Cole ficou enjoado. Se Leon não tivesse bloqueado...
"Tá bom, tá bom, tá bom" John suspirou. "Isso é ruim, temos que sair daqui o mais rápido possível... você disse
que há uma ponte?".
"Sim, passa por cima do, é, penhasco". Cole disse rapidamente. "Tem uns seis metros, e não sei qual a
profundidade".
"Vamos". John disse. Ele começou a andar na direção de onde a trilha virava, bem depressa. Cole seguiu, Leon
bem atrás.
John parou a uns três metros da curva e encostou na parede, olhando para Leon.
"Você quer cobrir, ou eu?". Leon perguntou suavemente. "Eu". John disse. "Eu vou primeiro. Você corre, Henry,
vá atrás dele - e sigam em frente, entenderam? Cruzem a ponte e vão para a porta - se puderem, me ajudem
-".
O rosto de John era solene. "- e se não puderem, então não podem".
Cole sentiu a já familiar vergonha. Eles estão tentando me proteger, nem me conhecem e eu os coloquei nisso...
se ele pudesse fazer algo para retornar o favor, ele faria, apesar de ter certeza de repente de que nunca faria
algo que ajudasse; ele devia sua vida a esses caras, e várias delas já.
"Prontos?". John perguntou.
"Espere -". Leon virou e correu para onde tinha jogado a blusa. O Spitter na porta ficou quieto e imóvel como
uma estátua, observando-os. Leon recuperou a blusa e voltou, tirando um canivete de seu estojo. Ele cortou a
manga atingida e deu o resto para John.
"Se você for ficar parado, fique com o rosto coberto". Leon disse. "Já que eles não sentem as balas, você não
precisará enxergar nem atirar. Quando cruzarmos, eu gritarei. E se não for seguro do outro lado, eu vou -".
Os autoritários chamados começaram de novo, fazendo Cole lembrar de cigarras por algum motivo, o quase
mecânico ree-ree-ree de cigarras numa quente noite de verão. Ele exalou forte, tentando fingir para si mesmo
que estava preparado.
"Sem tempo". John disse. "Preparem-se para ir -".
Ele pegou a blusa, quando - pasmo - sorriu para Leon. "Cara, você precisa investir num desodorante mais forte;
você fede como um cachorro morto".
Sem esperar uma resposta, John colocou a blusa sobre a cabeça, segurando-a aberta na parte de baixo para ver
o chão. Ele correu, de cabeça baixa, Cole e Leon se preparando até que -
- houve um rápido patpatpatpat, e de repente o material preto sobre o rosto de John ficou pingando com grandes
porções de catarro venenoso vermelho, e balançou a mão para eles -
- e Leon disse. "Agora!". E Cole correu, de cabeça baixa, vendo só as botas de Leon a sua frente, o borrão cinza
do chão e suas próprias pernas. Ele ouviu um grito borbulhante à esquerda e se abaixou mais ainda, aterrorizado
-
- e ouviu passos sobre madeira à frente, e então estava na ponte, tábuas de madeira balançando sob os pés,
amarradas com finas cordas. Ele viu o precipício em forma de "V" por debaixo delas, viu que era fundo, que havia
sido escavado abaixo do nível do Planeta, uns quinze metros -
- e então estava de volta ao chão cinza, antes mesmo de ter vertigem. Ele correu, pensando em como era bom
ter apenas as botas de Leon para se preocupar, seu coração martelando as costelas.
Segundos ou minutos depois, ele não sabia, as botas foram parando, e Cole ousou erguer o olhar. A parede, a
parede, e lá estava a porta! Eles conseguiram!
"John, vai!". Leon gritou, dando alguns passos na direção a qual vieram, sua semi para o alto e preparada. "Vai!".
Cole virou, viu John arrancar a blusa preta, viu um monte de Spitters se agruparem na frente dele, seis, sete
deles berrando. John rasgou um caminho entre eles e pelo menos dois deles cuspiram. Mas John foi rápido, rápido
o bastante tal que só um pouco atingiu seu ombro, até onde Cole pode ver. As monstruosas criaturas foram
atrás dele em seus pulos, não tão rápido, mas quase.
Corre corre corre!
Cole apontou a 9mm na direção dos Spitters, pronto para atirar se conseguir um tiro certeiro, enquanto John
pisava na ponte -
- e desaparecia. A ponte ruiu e John desapareceu.
[16]
John sentiu a ponte ceder alguns segundos após as cordas arrebentarem. Ele instintivamente abriu os braços,
ainda correndo, pensando que fosse conseguir -
- mas começou a cair, seu joelhos batendo na móvel parede de tábuas de madeira, seus dedos fechado no
momento em que acharam algo sólido -
- e tudo o que ouviu foi um whoosh, depois as articulações dos dedos de sua mão direita bateram em pedra, e
agora estava balançando sobre um precipício muito fundo com um pedaço solto de madeira na mão esquerda. Ele
tinha conseguido se segurar num dos pedaços ainda presos na agora pendurada ponte; ambas as cordas que
prendiam o lado norte da ponte tinham se soltado.
John soltou a inútil tábua, ouvindo-a bater no fundo do vale com outros pedaços que haviam se soltado. Ele se
puxou para ter um melhor agarre quando -
- thwock, uma bola de muco vermelho apareceu de repente à sua frente, a menos de trinta centímetros à direita
de seu rosto, deslizando pela parede como uma corda derretida.
- como merda derretida -
Bambambam, alguém estava disparando uma 9mm. O crescente berro dos Spitters se preparando para cuspir o
disseram que definitivamente precisava sair de lá.
Ele subiu de novo, seus bíceps flexionando, a tensão contra o tecido de sua camiseta enquanto agarrava uma
das tábuas e se erguia. Lá em cima, mais tiros, mais próximos, e um grito de Leon que foi cortado por mais
disparos.
Detonem, garotos, eu estou indo -
Mão sobre mão era terrível, ainda mais com dedos sangrando e uma metralhadora pendurada no pescoço, mas
estava indo bem, segurando a próxima tábua -
- até que uma quente umidade acertou as costas de sua mão direita, e doía, era como ácido, queimando -
- e ele soltou, sacudindo o ácido da mão, esfregando-a na blusa violentamente. Ele se segurou com a esquerda,
a dor como fogo crescendo. Tudo o que podia fazer para resistir ao instinto natural era apertar o ferimento
ardente - e o modo como seu dedos começaram a formigar, ele não tinha muito tempo para se preocupar.
"Ele está bem aqui!".
Um histérico grito veio lá de cima. John jogou a cabeça para trás, viu Cole agachado na beira do abismo, sua
camisa de trabalho à frente do nariz, seu olhar frenético e assustado.
"John, me dê a sua mão". Ele gritou, e se esticou para baixo o máximo que podia, flocos de cimento caindo do
chão sob suas botas. Se ele disse mais alguma coisa, ficou perdido sob outra série de tiros explosivos que Leon
usava para manter os cuspidores afastados.
Só levou uma fração de segundo para John reagir à ordem de Cole, e naquele instante entendeu que iria sair de
lá. Henry Cole tinha um metro e sessenta e quatro e pesava uns setenta quilos - vestido. Ele estava parecendo
uma tartaruga assustada pendurada no casco de sua blusa.
Muito engraçado. Engraçado, e conveniente de um modo idiota, e apesar de sua mão ainda doer como o inferno,
ele esqueceu de senti-la por um segundo ou dois.
John sorriu, ignorando os trêmulos dedos de Cole, concentrando-se para se erguer com mão ferida. Houveram
mais daqueles sons atrás deles, mas nenhuma bomba de cuspe por enquanto.
"Mande Leon usar a granada!" Ele suspirou, e Cole virou, gritando sob outra explosão da semi de Leon. John disse
para usar a granada!".
"... disse granada! John disse para usar a granada!".
"Ainda não!". Leon gritou. "Saiam daí!".
Thwap-wap, mais duas escarradas voaram pelo abismo, uma acertando as botas de Cole, a outra à somente
centímetro do suado rosto de John.
Use sua força, John - com um último e profundo gemido, John agarrou a madeira no topo e puxou o corpo para
cima, puxando e empurrando para baixo, trazendo o joelho acima para sair.
"Estou bem, vai!".
Cole, a tartaruga assustada, não precisou de mais incentivo. Ele decolou, correndo enquanto Leon cobria John,
enquanto John corria em sua direção agachado, enfiando a mão ferida no estojo e tirando sua última granada -
ele já tinha tirado o pino quando viu Leon com a dele na mão.
"Jogue!". John berrou, alcançando Leon, Leon arremessando ao alto o poderoso explosivo nos Spitters. Os dois
estavam correndo, John olhando para trás só para ver que três, quatro animais já tinham caído no penhasco.
Sem tempo para pensar, John arremessou baixo, o mais forte que podia, sua granada desaparecendo no buraco
enquanto a de Leon caía na frente dos outros -
- e os dois estavam mergulhando e rolando, as explosões quase simultâneas, KA-WHAM-WHAM, o som de pedra
dissolvida chovendo, uma incrivelmente alta gritaria atrás deles -
"Vocês os pegaram! Vocês os pegaram!".
Cole estava de pé na frente deles, um descontraído olhar de alegria em seu rosto. John sentou, Leon ao seu
lado, ambos virando para olhar.
Eles não tinham matado todos. Dois deles ainda estavam intactos no outro lado do abismo, vivos - mas cegos e
feridos, suas pernas estouradas, um líquido escuro cobrindo o que havia sobrado de seus rostos enquanto
berravam em fúria, como um porco sendo pisado. Os outros dois deviam ter estado bem à frente da explosão;
estavam sangrando, seus corpos estilhaçados, ossos saindo do líquido como - como ossos quebrados. Do fundo
do precipício vinham mais berros, e nada apareceu para atacar. Para todos os efeitos, estava acabado.
John se levantou, estudando as costas de sua mão. Ao contrário do que parecia, a pele não tinha derretido.
Havia algumas pequenas bolhas se formando e a pele parecia queimada, mas não estava sangrando.
"Você está bem?". Leon perguntou, se levantando e sacudindo as roupas, suas jovens feições muito menos
jovens para John.
Eu não vou mais chamá-lo de recruta.
John deu com os ombros. "Acho que quebrei uma unha, mas vou viver".
Ele viu que Cole ainda estava olhando para os dois, seu corpo tremendo com o estouro de adrenalina; ele não
tinha palavras e John de repente se lembrou de como se sentiu depois da primeira batalha na qual atuou
corajosamente. O quanto ficou animado. O quanto vivo ficou.
"Henry, você é um cara engraçado". John disse, batendo no ombro do homem e sorrindo.
O eletricista sorriu incerto e os três foram para a Quatro, deixando os furiosos berros para trás.
Quando a poeira abaixou e os três homens ainda estavam vivos, Reston bateu o punho na mesa, sua raiva e
medo crescendo, seu estômago dando um nó, seus olhos largos com descrença.
"Não, não, não, seus idiotas estúpidos, vocês estão mortos!".
Sua voz estava um pouco enrolada, mas estava muito chocado para reparar nisso, para se preocupar. Eles não
sobreviverão aos Hunters, ele sabia -
- mas também não sobreviveriam aos Ca6.
Reston não conseguia acreditar que tinham chegado até esse ponto; não conseguia acreditar que dos vinte e
quatro espécimes que encontraram, todos exceto um Dac foram deixados mortos ou morrendo. E pior, não
conseguia acreditar que deixou o programa continuar, que seu orgulho e ambição não o deixaram fazer o que
devia ter feito a princípio. Não que estivesse fora de uma "liga", ele estava no círculo interno, ele já tinha superado
esse tipo de insegurança - mas já devia ter falado com Sidney, ou mesmo com Duvall; não por um conselho, mas
para ter um apoio. Afinal de contas, ele não podia ser totalmente responsável se tivesse o apoio de um dos
membros mais velhos...
Não era tarde demais. Ele faria uma ligação explicaria seu plano, explicaria que tinha algumas preocupações - ele
podia dizer que os intrusos estavam na Dois, isso pode ajudar, ele podia acertar os vídeos mais tarde... e os
Hunterts já foram testados antes, não os 3K, e sim os 121. Alguns foram soltos na mansão de Spencer; pelos
dados recolhidos, ele sabia que os homens seriam mortos na Quatro. Mesmo se não forem, não conseguirão sair,
e com o reforço da central, ele ficaria livre.
Certo de ser a decisão correta, Reston pegou o telefone.
"Umbrella, Divisões Especiais e -".
- e silêncio. A doce voz feminina foi cortada no meio da frase, sem se quer um ruído de estática.
"Aqui é Reston". Ele disse afiadamente, percebendo que uma fria mão estava tocando seu coração,
esfregando-o. "Alô? Aqui é Reston!".
Nada; e de repente percebeu que a qualidade da luz na sala havia mudado, ficou mais brilhante. Ele virou a
cadeira esperando desesperadamente que não fosse o que achava ser -
- até que os monitores que mostravam a superfície começaram a chuviscar. Todas as sete desligadas - e alguns
segundos depois, antes que Reston pudesse entender, os sete monitores apagaram.
"Alô?". Ele sussurrou no telefone mudo, sua rápida respiração quente e dolorida. Silêncio.
Ele estava só.
Andrew "Matador" Berman estava morrendo de frio e tédio, imaginando porque os Sargento se incomodou em
postar alguém na van. Os caras maus iriam voltar, eles já tinham fugido - e mesmo se decidirem voltar,
certamente não tentariam pegar o veículo. Seria suicídio.
Ou eles têm um carro reserva ou estão congelados em algum lugar na planície. Isso aqui é uma total besteira.
Andy subiu seu cachecol até as orelhas e reajustou a pega da M41. Seis quilos de rifle não parecia muito, mas
estava de pé há muito tempo. Se o Sargento não voltar logo, ele ficaria dentro da van, descansaria os pés e
sairia do frio; ele não estava sendo pago o bastante para se congelar na escuridão.
Ele se encostou no pára-choque traseiro e imaginou se Rick estava bem; ele não conhecia os outros, mas Rick
Shannon era seu amigo, e estava todo ensangüentado ao ser posto no helicóptero.
Aqueles idiotas, voltem aqui e eu lhes mostrarei sangue...
Andy deu um sorriso, pensando. Não era à toa que o chamavam de matador. Ele era um excelente atirador, o
melhor da equipe, o resultado de uma vida inteira de caça à cervos. Se o trio de imbecis aparecer...
Ele ainda estava pensando nisso quando ouviu um suave apelo sair do escuro.
"Ajude-me, por favor - não atire, por favor, me ajude, eu fui baleada -".
Uma sufocada voz feminina. Uma sensual voz e Andy pegou sua lanterna e mirou no escuro, achando a dona da
voz a menos de nove metros de distância.
Uma garota, vestida numa roupa preta apertada, cambaleando para ele. Ela estava desarmada e ferida,
mancando, seu pálido rosto aberto e vulnerável sob a brilhante luz.
"Ei, espere". Andy disse, não muito bravo. Ela era jovem. Parecia ainda mais jovem do que Andy com seus tinha
vinte e três anos.
Andy baixou a arma devagar, pensando no quanto bom seria ajudar uma mocinha aflita. Ela podia estar com os
três criminosos, provavelmente estava, mas certamente não era uma ameaça para ele; podia segurá-la até o
helicóptero chegar. E talvez fique grata pela ajuda...
... e bancar o herói é um bom modo de ganhar pontos. Caras bons podem terminar por último, mas certamente
tem muita sorte no caminho.
A garota mancou até ele e Andy tirou a lanterna de seu rosto, não querendo cegá-la. Usando somente a nota
certa de sinceridade em sua voz - garotas engoliam essa baboseira - ele deu um passo até ela, segurando uma
mão.
"O que aconteceu? Aqui, deixe me ajudar -?".
Uma escura e pesada coisa bateu nele pelo lado, forte, levando-o ao chão e tirando o ar de si. Antes de saber o
que aconteceu, uma luz estava brilhando em seu rosto, e a M41 estava sendo tirada de suas mãos enquanto
lutava para respirar.
"Não se mexa e eu não atiro". Um homem disse, um britânico, e Andy sentiu o frio cano da arma em seu
pescoço. Ele congelou, sem ousar mover um músculo.
Ah, droga!
Andy olhou para cima, viu a garota segurando o rifle, seu rifle, olhando para ele. Ela não parecia mais indefesa.
"Vagabunda". Ele rosnou, e ela sorriu um pouco, dando com os ombros.
"Desculpe. Se servir de consolo, seus outros dois amigos caíram nessa também".
Ele ouviu outra voz feminina atrás, suave e animada. "Ei, você vai se esquentar. A sala do gerador está bem
tostada".
O matador não estava animado, e enquanto o levantavam e marchavam com ele para o complexo, ele jurou
para si mesmo que essa seria a última vez que subestimaria uma garota - e certamente lembrará disso da
próxima vez que se sentir entediado.
[17]
A Fase Quatro era mesmo uma cidade, a coisa mais esquisita que Leon já tinha visto. As três primeiras eram
bizarras, irreais, mas também eram falsas - a calma floresta, as paredes brancas do deserto, a montanha
esculpida. Em nenhum momento ele esqueceu que era tudo falso.
Isto... não é uma imitação de um habitat orgânico; isto é como deveria se parecer.
A Quatro eram vários quarteirões de uma pequena cidade à noite. Nenhum dos prédios tinham mais de três
andares - postes de luz, calçadas, lojas e apartamentos, carros estacionados e ruas de asfalto. Eles desceram de
uma montanha e caíram em Hometown, E.U.A..
Só haviam duas coisas erradas nela à primeira vista - as cores e a atmosfera. Os prédios, ou eram vermelho tijolo
ou um tipo de bronzeado ao anoitecer, eles pareciam inacabados e os poucos carros que Leon podia ver pareciam
todos pretos; era difícil dizer com as pesadas sombras.
E a atmosfera...
"Assombrada". John disse baixo, e Leon e Cole acenaram. De costas na porta, eles vasculharam a quieta cidade
e a acharam completamente calma.
Como num sonho ruim, um daqueles em que você está perdido e não consegue achar ninguém, e tudo parece
errado...
Não era como uma cidade fantasma, não tinha o ar de um lugar abandonado ou de um lugar que tinha
sobrevivido à sua utilidade; ninguém jamais viveu lá, e ninguém jamais irá. Nenhum carro já foi dirigido por suas
ruas, nenhuma criança já brincou nas esquinas, nenhuma vida já a chamou de lar... e o sentimento de vazio sem
vida era - assustador.
A porta os deixou numa rua que corria de leste à oeste, terminando bem à esquerda deles numa parede pintada
de azul meia-noite. De onde estavam, podiam ver todo o caminho de uma larga rua pavimentada. A suave luz
das luminárias causavam longas sombras, claras o bastante para andar e escuras demais para ver direito.
Havia um carro na frente deles, parado na frente de uma construção bronzeada de dois andares. John foi até ele
e socou o capô. Leon pode ouvir o vazio "tink" sob a mão dele; só a carroceria.
John voltou, vasculhando as sombras com muito cuidado.
"Então... Hunters". Ele disse, e Leon percebeu de repente o que era mais assustador do que os quarteirões na
frente deles.
"Os apelidos são todos descritivos". Ele disse, ejetando o clip de sua semi e contando as balas. Cinco sobrando, e
só tinha mais um clip cheio, apesar de John ainda ter mais dois - não, ele só tinha um, Cole estava com o outro.
E a não ser que Leon estivesse errado, John só tinha um clip cheio para a M-16; trinta balas, e mais o que
restava no rifle.
Sem mais granadas e quase sem munição....
"E agora?". Cole perguntou e John respondeu, seu olhar estreitando enquanto falava, suas expressões mais
alertas enquanto vasculhava cada esquina, cada janela.
"Pense nisso". John disse. "Pterodátilos, escorpiões, bichos cuspidores... caçadores".
"Eu - ah". Cole piscou, olhando em volta com um novo medo. "Isso não é bom".
"Você quer dizer que a saída está trancada?". Leon perguntou.
Cole acenou, e John balançou a cabeça ao mesmo tempo.
"E burro, eu usei a última granada". Ele disse suavemente. "Sem chance de explodir a porta".
"Se você não tivesse usado, nós estaríamos mortos". Leon disse. "E provavelmente não funcionaria se fosse do
mesmo tipo da porta de entrada".
John suspirou pesado, mas acenou. "Acho que devemos queimar aquela ponte quando a acharmos".
Todos ficaram quietos por um momento, um profundo e desconfortável silêncio que Cole finalmente quebrou.
"Então... olhos e ouvidos abertos, e juntos". Ele experimentou dizer, uma pergunta mais do que uma afirmação.
John levantou as sobrancelhas, afetado e sorrindo. "Nada mal. Ei, o que você vai fazer da vida se sairmos daqui?
Quer se juntar à nossa causa e ficar no pé da Umbrella?".
Cole sorriu de nervosismo. "Se sairmos daqui, me pergunte de novo".
Preparados como estariam, eles começaram à sul, andando devagar no meio da rua, os prédios escuros
observando-os com olhos vazios de vidro. Apesar de todos estarem tentando se mover silenciosamente, a vazia
cidade parecia devolver os ecos de seus suaves passos no asfalto, até de suas respirações. Nenhum dos prédios
tinham sinais de decoração, e não havia luzes até onde Leon podia ver. O sentimento de ausência de vida e
opressão o deu uma desagradável lembrança da noite em que chegou a Raccoon para seu primeiro dia de
trabalho no R.P.D., depois que a Umbrella soltou o vírus.
Exceto pelas ruas de lá cheirarem morte e por haverem canibais perambulando pela escuridão e corvos se
alimentando de cadáveres. Era uma cidade na agonia da morte...
Na metade do quarteirão, John ergueu uma mão, trazendo Leon para o presente.
'Só um minuto". Ele disse, e correu par uma das "lojas" à esquerda, uma vitrine de vidro que o lembrava uma
confeitaria, daquelas que sempre tinham bolos de casamento à mostra. John espiou pelo vidro, tentou a porta.
Para a surpresa de Leon ela abriu; John se inclinou para dentro por um longo segundo, depois fechou a porta e
voltou.
"Nem balcão nem nada, mas é uma sala de verdade". Ele disse de voz baixa. "Tem paredes e teto".
"Talvez os Hunters estejam escondidos em uma delas". Leon disse.
Isso aí, mais assustados com nós do que nós com eles, não seria bom. Devíamos ter essa sorte -
"É isso aí!". Cole disse alto, e imediatamente derrubou a voz, ficando vermelho. "Como vamos sair. Os, é, animais
são todos mantidos em celas ou túneis atrás das paredes. Eu não sei quanto as outras fases, mas há um
corredor que circunda a Quatro. Eu vi a porta dele, fica a uns seis metros do canto sudoeste. Tem que ser mais
fácil que a saída normal; pode estar trancada mas não reforçada".
John estava acenando e Leon achou mais plausível do que tentar passar por uma porta trancada pelo lado de
fora.
"Bom". John disse. "Boa idéia. Vamos ver se conseguimos -".
Algo se moveu. Algo nas sombras de um prédio de dois andares bronzeado à direita, algo que calou John e fez
todos mirarem na escuridão, tensos e atentos. Dez segundos passaram, vinte - e seja lá o que era, estava
conseguindo ficar perfeitamente imóvel. Ou...
Ou não vimos absolutamente nada.
"Não há nada lá". Cole cochichou, e Leon começou a abaixar a 9mm, pensando que algo realmente pareceu ter
se movido -
- e de repente a coisa que não podiam ver gritou, um esganiçado e terrível berro como algum tipo de pássaro,
uma besta feroz cega de raiva -
- e o escuro se moveu - Leon ainda não podia ver claramente, era como uma sombra, uma parte do prédio que
se movia, até ver os estreitos olhos brilhantes, eram claros e estavam a pelo menos dois metros do chão, e as
escuras e esfarrapadas unhas quase tocando o asfalto, e percebeu que era um camaleão assim que correu para
eles, ainda gritando.
Reston se apressou na direção da sala de controle, o peso do coldre contra sua perna fazendo-o se sentir melhor.
Sentiria-se ainda melhor se voltasse a tempo de ver os Hunters estraçalharem os três homens, apesar de se
contentar em ver apenas os corpos mortos.
Estaria perfeitamente bem, nenhum problema desde que estivessem mortos.
Reston queria beber, queria se trancar na sala de controle e esperar Hawkinson voltar. Ele sentiu um momento de
quase histeria quando percebeu que as comunicações tinham caído, mas nada tinha mudado, mesmo. O elevador
ainda estava desligado e o sargento incompetente voltaria com o helicóptero a qualquer momento; se foi o trio na
superfície que cortou as linhas - coisa que ele não duvidava - Hawkinson cuidaria deles. Se por uma pequena
chance fosse um problema técnico, um novo eletricista seria contratado assim que liberar o relatório pela manhã.
A parte ruim foi ser incapaz de contatar seus colegas, mas ele decidiu que isso funcionaria a seu favor; quem não
ficaria impressionado, que em tais circunstâncias ele ainda seria capaz de lidar com as coisas? Levando tudo em
consideração, prender os invasores no programa de teste foi seu único recurso. Ninguém o culparia, pelo menos
não muito.
Recuperar o .38 de sua sala tinha aliviado sua mente ainda mais; ele trouxe o revólver para o Planeta mais por ter
sido um presente de Jackson, e apesar de saber pouco sobre armas, puxar o gatilho era tudo o que precisava
fazer com o .38. O pesado revólver praticamente atirava sozinho, nem tinha trava de segurança...
Reston estava no meio do caminho até a sala de controle quando lhe ocorreu que deveria tirar os funcionários do
refeitório; ele tinha passado pela porta trancada duas vezes e nem se deu conta. Conhaque demais, talvez. Ele
pensou em voltar por uma batida de coração, decidindo que eles podiam muito bem esperar; acreditar que os 3K
estavam atuando como deveriam era muito mais importante. Além disso, ele pretendia demitir todos eles assim
que restabelecer contato com a sede; nenhum deles tentou defender o planeta nem seu empregador.
Sala de controle, logo à direita. Reston apressou o passo, entrando na passagem e correndo para a porta. Havia
movimento numa das telas e ele correu para a poltrona, empolgado e ansioso para vê-los morrer. Não havia
nada com que se envergonhar, eles estavam errados, afinal -
- e não estavam mortos, nenhum deles, mas Reston viu que agora era só uma questão de tempo.
Todos os três estavam atirando num dos Hunters, e enquanto olhava, um segundo animal entrou na cena, ainda
tão preto quanto o carro onde estava.
Ruivo girou para a direita, atirando na nova ameaça, mas os 3K não eram derrubados com algumas balinhas;
com um único e grande salto, o caçador diminuiu a distância entre eles, seis metros com um poderoso impulso.
Eles podiam fazer quase nove, Reston sabia através dos dados preliminares -
- e Cole passou a atirar nele também, enquanto John continuava atirando no primeiro, já da cor do asfalto. O
primeiro tinha levado tiros dos três homens; enquanto Reston olhava, o Hunter virou e se esparramou fora da
tela.
O segundo ainda brilhava preto, perfeitamente definido enquanto erguia seu musculoso braço para estapear as
balas que martelavam seu corpo. Enorme, uma figura humanóide pelada e sem sexo, a alta besta de crânio réptil
e unhas de dez centímetros jogou a cabeça para trás e uivou. Reston conhecia o som, sua mente completando a
cena enquanto a criatura começava a desaparecer na rua, as cores quase perfeitas, enquanto girava seu braço
novamente e ruivo era golpeado, caindo.
Isso!
John parou na frente do colega no chão e atirou no monstro, enquanto Cole levantava Ruivo, os dois recuando.
Houve um diálogo -
- e os dois saíram da tela, indo para sul... a criatura se machucou? John parou de atirar e houve sangue jorrando
em algum lugar, cobrindo a face do 3K, seu peito -
- os olhos, deve ter acertado nos olhos. Droga! Ele rolou e caiu. Não era um ferimento fatal mas o incapacitaria
por um tempo.
John virou e correu para seu companheiros, sem mais Hunters à vista - até onde Reston pensava. Não que
importasse, eles estavam mortos; não havia como cruzarem a cidade sem serem atacados, não podiam se
esconder - só para garantir, Reston apertou a trava da porta de conexão da Três.
Nada de partir em retirada, pessoal...
Eles não apareceram na tela que mostrava a rua a sul do ângulo da primeira câmera. Franzindo, Reston intercalou
as câmeras, usando a da fachada de um prédio -
- e viu uma porta fechar, os homens procurando abrigo dentro de uma das lojas. Reston balançou a cabeça.
Aquilo provavelmente os protegeria por mais uns cinco minutos, não mais que isso; os 3K tinham força para
rasgar essa cidade, se assim quisessem, e caçavam basicamente pelo olfato. Eles iriam rastrear os homens e
finalmente colocar um ponto final no problema, vida inúteis.
Não havia câmera no prédio o qual entraram; ele terá que esperar até eles saírem, ou até os caçadores traze-los
para fora. Reston sorriu, seus dentes rangendo, impaciente, imaginando porque os 3K estavam demorando
tanto. Era hora do teste acabar, hora do Planeta ser restaurado.
Os Hunters não iriam falhar. Ele só tinha que esperar mais alguns minutos.
Eles acharam a entrada na parte de trás do prédio do meio, depois da sala do gerador, onde haviam colocado os
três guardas resmungões. Foi uma perda de tempo ter procurado pelos controles do elevador de serviço no
primeiro prédio.
Neste há quatro, uma bateria de elevadores numa câmara carpetada contra a parede oeste. Eles não estavam
operando, mas havia uma plataforma para dois no primeiro poço que acharam, David e Claire abrindo as portas
sem esforço. Mesmo cansada e exausta, a visão da pequena plataforma presa em seu próprio sistema de polia
fez Rebecca querer rir bem alto.
Eles nunca suspeitariam, vamos entrar como sombras.
"Parece que esqueceram de trancar a porta de trás". David disse, um olhar de triunfo em seu abatido rosto.
Claire olhou para o quadrado metálico cheia de dúvidas. "Nós vamos caber aí?".
David não respondeu de imediato, virando para olhar Rebecca. Ela sabia que ele ia sugerir algo e começou a achar
um bom argumento antes de abrir a boca.
O helicóptero pode voltar, e voltará, se estiverem feridos você vai precisar de mim, e se os guardas conseguirem
fugir -
"Rebecca - eu preciso de um honesto relato de suas condições". Ele disse, suas expressões neutras.
"Estou cansada, com dor de cabeça e manca - e você precisará de mim lá embaixo, David, não estou cem por
cento, mas também não estou à beira de um colapso, e você mesmo disse que outra equipe está provavelmente
à caminho -".
David estava sorrindo, segurando as mãos no alto. "Tá bom, vamos todos. Será bem apertado, mas o peso não
será problema, vocês são pequenas...".
Ele entrou, tirando a lanterna e iluminando os cabos, depois a simples caixa dos controles na meia grade de
proteção. "... acho que cabe todo mundo. Devemos?".
Rebecca e depois Claire entraram no poço do elevador, a improvisada plataforma de serviço preenchendo só um
quarto do escuro espaço frio. Vazio acima e abaixo e só havia guarda-corpo de um lado. Claire se apoiou
desconfortavelmente na barra de metal; os três bem apertados um no outro.
"Eu queria ter uma bala de menta". Claire murmurou.
"Eu queria que você tivesse uma". Rebecca disse, e Claire riu abafado. Rebecca podia sentir o movimento das
costelas de Claire em seu braço; eles estavam embalados.
"Aqui vamos nós". David disse, e apertou os controles.
O elevador começou a descer com um alto zumbido, tão alto que Rebecca começou a pensar duas vezes sobre
esse ataque surpresa. Descia devagar, também, metade da velocidade de um elevador normal.
Deus, isso pode levar uma eternidade...
Só de pensar, Rebecca sentiu-se exausta, o barulho do motor bagunçando sua dor de cabeça. Ficar parada a fez
perceber o quanto estava doente, e enquanto o quadrado brilhante das portas abertas subia, Rebecca ficou grata
de repente por estarem grudados; servia como desculpa para se apoiar pesadamente em David, de olhos
fechados, tentando se manter sã por mais um tempo.
[18]
Eles estavam encrencados, entrando no prédio e indo para a parede de trás no escuro, suando e ofegando, Cole
esperando a fina porta estourar a qualquer segundo.
- boom, e eles entram correndo, gritando, cortando a gente em fatias antes mesmo de vê-los -
"Tenho um plano". John ofegou, e Cole sentiu um piscar de esperança, uma esperança que durou até a próxima
frase de John.
"Nós corremos que nem loucos para a parede de trás". Ele disse finalmente.
"Você ficou maluco?". Leon disse. Você viu aquele pulo, não há como correr deles -".
John respirou fundo e começou a falar, baixo e rápido. "Você está certo, mas você e eu somos bons atiradores,
podemos apagar algumas luzes da rua pelo caminho. Mesmo se puderem ver no escuro, será uma distração,
armar uma confusão, talvez".
Leon não disse nada, e apesar de não poder ver seu rosto claramente, Cole o viu esfregar seu ombro, onde a
criatura o havia golpeado. Devagar, ele já estava começando a considerar a idéia de John.
Os dois são malucos?
Cole lutou para manter o terror fora de sua voz. "Não há outra opção? Sei lá, nós podíamos... podíamos subir,
andar pelos telhados".
"Todos os prédios tem diferentes alturas". John falou. "E eu não acho que agüentariam tanto peso".
"E se nós -".
Leon interrompeu suavemente. "Nós não temos a munição, Henry".
"Então voltamos para a Fase Três, pense nisso...".
"Estamos mais perto do canto sudoeste". John disse e Cole sabia que estavam certos, sabia e não gostava nem
um pouco. Mesmo assim ele procurou outra alternativa, tentando pensar em outro caminho.
Os Hunters eram terríveis, eram as coisas mais terríveis que Cole já tinha visto -
- e de algum lugar lá fora, um deles gritou, o arranhado e furioso som estourando pelas finas paredes, e Cole
percebeu que não tinham tempo para um plano melhor.
"Tá bom, certo, tá". Ele disse, pensando que o mínimo a se fazer era aceitar e encarar o inevitável como se
tivesse coragem.
Eu não vou atrasá-los, pensou, e respirou fundo, endireitando os ombros um pouco. Se tem que ser assim, ele
não iria se envergonhar na frente deles virando um convarde chorão - e não iria diminuir suas chances de
sobreviverem tornando-se uma mala.
Cole tirou do bolso o clip que John o havia dado e trocou pelo vazio, seu coração pulando - e ficou um pouco
surpreso por perceber que agora que se comprometeu, que fez uma decisão, sentiu-se mais forte, mais
corajoso.
Eu posso muito bem morrer nessa, disse para si, e esperou pela leva de terror - mas ela não veio. Ele já estaria
morto se não fosse John e Leon, e talvez essa seria sua chance de evitar que um deles se machucasse.
Sem outra palavra, os três foram para a porta, Cole pensando em como sua vida mudou mais nas últimas horas
do que nos últimos dez anos - e do jeito que aconteceu, ele estava grato - sentia-se completo. Sentia-se real.
"Preparar...". John disse, e Cole respirou fundo, Leon sorrindo para ele sobre a suave luz da janela.
"... agora".
John puxou a porta e eles correram para a rua enquanto, envolta deles, a noite era rasgada pelos selvagens
gritos dos Hunters.
Os olhos de Reston brilhavam. Ele se inclinou para frente, olhando para a tela intensamente, deliciado com a
decisão suicida. Todos os três, arremetendo no escuro como lunáticos. Como homens mortos que não sabiam
parar de se mover.
Eles correram à sul, John na frente, Ruivo e Cole bem atrás. De uma calçada à direita deles, um Hunter saltou
para recebê-los -
- e houve um flash de luz, um brilhante estouro alaranjado vindo de cima, vidro em chamas como chuva de
purpurina na rua. Foi uma das lâmpadas da rua, e os 3K pareceram ficar furiosos enquanto o vidro caía. O
caçador vermelho-virando cinza girou o corpo em torno de si, frenético e gritando, procurando o agressor -
- e ignorou completamente os três homens. Todos os três estavam passando, erguendo as armas e atirando
para o céu, acertando mais lâmpadas, e Reston viu outro Hunter pular na rua, quase perdido, como uma sombra
entre sombras -
- e Cole, Henry Cole fintou para a esquerda depois para a direita, cravando uma bala de sua arma na cabeça de
um 3K -
- e houve um estouro de líquido, pedaços de cérebro e sangue jorrando de sua têmpora, o eletricista atirando às
cegas. Os braços do Hunter estavam espasmando, tremendo, mas já estava morto.
Cole continuou correndo, alcançando os outros enquanto mais lâmpadas explodiam.
"Não". Reston sussurrou, sem perceber que havia falado, mas bem certo de que as coisas estavam indo
horrivelmente erradas.
John correu, parou para atirar, correu de novo. Os violentos berros o seguiam, a chuva de vidro e cheiro de metal
queimado vinham até eles de toda a parte -
- e viu um caçador na rua, na frente deles, na interseção que os levaria à jaula, viu os estranhos olhos brilhantes
e o escuro buraco de sua gritante boca -
- guarde munição Jesus ele é igual à rua -
- e continuou correndo direto para a criatura, mirando, as explosivas balas de 9mm atrás dele, o monstro
barulhento a menos de três metros de distância quando John atirou.
Um curto estouro, calculado, direto na gritante e sobrenatural face -
- e o monstro não caiu. E apesar de John ter desviado, não foi o suficiente. Quase cara a cara com ele, o sangue
estava visível e abundante, a coisa levantou um dos longos braços e acertou John no peito.
O golpe acertou seu peito esquerdo e John esperava ser esmagado, jogado no ar, seu corpo esfarrapado - mas
a criatura deve ter sido enfraquecida pela bala, desorientada, cega talvez. Mesmo sentindo seu pulmão contraindo
de dor - e a porrada foi brutalmente sólida - ele já havia tomado golpes mais fortes. Ele cambaleou, mas não
caiu, e já o tinha passado virando para esquerda, indo para oeste.
John olhou para trás, viu que os outros ainda o acompanhavam, olhou para frente -
- lá está ela!
A rua terminava numa parede pintada a menos de um quarteirão à frente - e havia uma abertura feita a um
metro e meio do chão, com uns dois e meio de largura por no mínimo três de altura -
- e houve outro grito à sua direita, ele não conseguia ver o Hunter camuflado, mas bam-bam, Leon ou Cole atirou
nele, o berro ficando frenético de raiva. John ergueu a M-16 e apagou outra lâmpada, dez segundos e estamos lá
-
- e um painel azul marinho da cor da parede começou a deslizar para baixo sobre a abertura, devagar, mas
constante. Em segundos, não haveria saída.
Reston bateu desesperadamente na trava da jaula, a comporta descendo como uma lesma, suas mãos suando,
sua mente embriagada e girando com descrença.
Não não não não -
Rápido!
Ele havia fechado a Dois e a Três, mas ainda havia um Hunter dentro da jaula e se esqueceu dela - e agora o
animal tinha ido embora e os três homens iam fugir. Fugir dele, de suas mortes.
John estava olhando para trás, gritando, Ruivo bem atrás, Cole quase ao seu lado -
- e havia um Hunter a menos de seis metros atrás deles, diminuindo a distância, seu enorme corpo mudando
entre asfalto e bronze, suas garras traçando canaletas na rua.
Mate eles, mate, pule, mate!
John chegou na abertura, suas mãos no chão, impulsionando-o graciosamente. Uma de suas mãos voltou e
Ruivo estava lá, agarrando-a, sendo puxado para dentro num instante -
- e lá estava Cole, e também ia passar, a comporta não fecharia a tempo, mãos se esticando para ele -
- e o Hunter atrás dele varreu os braços para baixo, suas unhas rasgando as costas de Cole, através da blusa e
da pele, através dos músculos e talvez dos ossos.
Os outros puxaram Cole para dentro enquanto a comporta fechava.
Cole não gritou enquanto o sentavam, devendo estar em agonia. Eles os deitaram de barriga para baixo e mais
gentil possível, Leon enjoado de tristeza quanto viu o estado das costas de Cole.
Morrendo. Ele está morrendo.
Em segundos, ele ficou numa piscina do próprio sangue. Através dos farrapos de sua ensopada camisa, Leon
podia ver a carne rasgada, as fibras dos músculos cortados e o liso brilho do osso logo abaixo. Um osso
arranhado. O dano foi feito por dois longos cortes, cada um começando abaixo dos ombros e terminando na
parte inferior das costas. Ferimentos mortais.
Ele respirava baixo, leves suspiros, seus olhos fechados e suas mãos tremendo.
Inconsciente. Leon olhou para John, viu a acometida expressão, o desvio de olhar; não havia nada que podiam
fazer por ele.
Eles estavam numa gigante cela que fedia animais selvagens no final de um longo corredor de cimento, um que
aparentemente corria o comprimento das quatro áreas de teste. Estava escuro, só algumas luzes ligadas,
mostrando a jaula em sombras; as jaulas eram separadas por paredes com grandes janelas, e Leon só podia ver
a que estava perto deles, o lar dos Spitters. Estava coberto com um claro e grosso plástico, o chão coberto de
ossos.
A cela dos Hunters estava vazia, tinha pelo menos 9 metros de largura e o dobro do comprimento, com dois
baixos cochos perto da cerca. Era um frio e solitário lugar para morrer, mas pelo menos estava seguro, não
estava sentindo nenhum -
"Vire... me". Cole suspirou. Seus olhos estavam abertos, seus lábios tremendo.
"Ei, não se mexa". John disse gentilmente. "Você ficará bem, Henry, só fique onde está, não se mexa, tá bom?".
"Besteira". Cole disse. "Me virem, estou morrendo...".
John travou o olhar com o de Leon que acenou relutante. Ele não queria causar mais dor para Henry, mas
também não queria recusá-lo nada; ele estava morrendo e deviam dá-lo o que podiam.
Devagar e cuidadosamente, John ergueu Cole e o virou. Cole gemeu quando suas costas tocaram o chão, seus
olhos largos rolando, mas pareceu aliviado depois de um momento. Talvez o frio... ou talvez já tinha passado do
ponto da dor, ficando dormente.
"Obrigado". Ele suspirou, uma bolha de sangue estourando em seus pálidos lábios.
"Henry, tente descansar agora". Leon disse suavemente querendo chorar. O homem tentou tanto ser corajoso,
acompanhá-los...
"Fóssil". Cole disse, seu olhar fixando-se no de Leon. "No tubo. O pessoal disse - se sair, ele - destruir tudo. Coisa
no laboratório. Oeste. Entendeu?".
Leon acenou, entendendo perfeitamente. "Uma criatura da Umbrella no laboratório. Fóssil. Você quer que nós o
soltemos".
Cole fechou os olhos, sua branca face tão parada que Leon pensou estar acabado - mas Cole falou de novo, tão
baixo que Leon precisou se inclinar para ouvi-lo.
"Isso". Ele suspirou. "Bom".
Cole deu um último suspiro e exalou - e seu peito não levantou mais.
Minutos depois da morte de Cole, os dois homens descobriram como sair da cela dos Hunters. Reston encarou o
monitor, não sentindo nada, determinado a não ficar surpreso. Eles simplesmente não eram humanos e pronto;
quando aceitar isso nada mais o surpreenderá.
A comida era presa firmemente na cerca de aço tal que os manipuladores não precisavam entrar nas celas; a
maior parte do cocho ficava para fora; o suficiente para jogar a comida dentro e os animais a puxarem pelo lado
de dentro. Não havia preocupação de os 3K puxarem as bacias de comida para dentro ou empurrá-las para fora,
as aberturas eram muito estreitas para seus corpos.
Mas não para humanos... ou seja lá o que forem.
John e Ruivo começaram a chutar o cocho, e assim que começou a se deslocar, Reston pegou o revólver e se
levantou, afastando-se dos monitores. Não havia porque olhar. Ele falhou, os testes do Planeta provaram ser
fáceis demais e seria punido severamente pelo que fez, ou talvez morto. Mas ele não estava pronto para morrer,
ainda não - e não pelas mãos deles.
Mas e o elevador, o pessoal na superfície...
Não era seguro subir também. O complexo já devia estar infestados por esses S.T.A.R.S. agora, eles cortaram a
força e estavam esperando seus dois rapazes terminarem o serviço...
Não dá para subir, não dá para matá-los, não há tempo... o refeitório!
Seus empregados o ajudariam. Quando libertá-los, quando explicar as coisas, eles correriam ao seu lado, o
protegeriam.
Preciso ir agora, eles sairão em breve e virão atrás de mim. Tentarão vingar Cole, talvez. Tentarão me deixar
arrependido por ter feito o meu trabalho, o que qualquer um teria feito.
De alguma forma, ele duvidou que tentariam. Reston saiu, já preparando sua história, imaginando como as coisas
ficaram tão terrivelmente erradas.
[19]
Das jaulas, eles pisaram num limpo e esterilizado corredor, e viraram à esquerda - oeste - andando rapidamente
pelo vazio corredor. Nenhum deles falou; não havia nada para falar até acharem o que Cole havia chamado de
Fóssil, até descobrirem se era a decisão certa.
Pela primeira vez desde que entraram no Planeta, John não sentiu vontade de fazer piadas. Cole era um cara
bom, fez o possível para retribuir o erro de tê-los atraído para o programa de teste, fez o que pediram para fazer
- e agora estava acabado, brutalmente ferido, morrendo com sangue e dor no chão de uma jaula.
Reston. Reston pagaria por isso, e se o melhor jeito de pegá-lo era soltando um monstro da Umbrella, assim
seria. A justiça cabível.
Dane-se o livro de códigos. Se o Fóssil é tão mau quanto Cole achava ser, nós o soltaremos, libertaremos os
funcionários e fugiremos. Deixaremos o monstro encontrar Reston e derrubar esse lugar...
O corredor entortava à direita, depois seguia reto, ainda à oeste. Quando fizeram a curva, eles viram a porta à
direita - e John sabia que era o laboratório de Cole. Ele sentia.
E estava certo. A porta de metal abriu - depois de usar a chave de 9mm - e deu num pequeno laboratório com
balcões e computadores, que depois abria numa sala cirúrgica, brilhando de aço e porcelana. A porta na parede
atrás da sala de operações era a qual Cole se referia - e quando viram a criatura, John pôde ver porque Cole
insistiu em contar sobre ela, mesmo em seus últimos momentos. Mesmo se tivesse metade do poder o Planeta
viraria história.
"Cristo". Leon disse, John não achou nada para adicionar. Eles andaram devagar até o gigante cilindro no canto da
gigante sala, depois da mesa de autópsia de inox e bandejas de ferramentas brilhantes, parando na frente do
tubo. As luzes da sala estavam apagadas, mas havia uma luz direcional no teto apontada para o container,
iluminando a coisa. O Fóssil.
O tubo tinha quatro metros e meio de altura e pelo menos três de diâmetro, cheio de um claro líquido
avermelhado - e envolto no fluído, preso em tubos e fios que vinham de cima, estava o monstro. Um pesadelo.
John imaginou que se chamasse Fóssil por causa do que se parecia, ou parte disso - algum tipo de dinossauro,
um que jamais caminhou pela superfície da Terra. A criatura de três metros de altura tinha uma cor pálida, sua
granulada pele rosada por causa do líquido em volta. Não tinha rabo, mas tinha a grossa pele e as pernas de um
dinossauro. Foi certamente criado para andar erguido, e além dos pequenos olhos, o focinho arredondado de um
dinossauro carnívoro, um T-Rex ou um velociraptor, também tinha longos e musculosos braços, e mãos com lisos
e curvos dedos. Impossível como era, parecia uma mutação entre homem e dinossauro.
O que estavam pensando? Por que - por que fazer algo assim?
Estava adormecido, ou em algum tipo de coma, mas estava vivo. Conectada a uma fina mangueira, estava uma
máscara que cobria seus orifícios nasais, e uma bandana de plástico envolvendo sua gigante mandíbula, para
mantê-la fechada.
John podia não vê-los, mas tinha certeza que havia fileiras de dentes afiados na larga e curva boca da criatura.
Seus olhos estavam cobertos por uma pálpebra interna, uma fina camada de pele roxa, e podiam ver o lento
erguer de seu grande peito, os gentis movimentos de seu corpo na meleca vermelha.
Havia uma prancheta pendurada na parede próxima a Fóssil, sobre um pequeno monitor onde finas linhas verdes
piscavam.
Leon ergueu a prancheta, virando as folhas enquanto John olhava, admirado com horror. Uma de suas mãos
aracnídeas torceu, os dedos de vinte centímetros quase formando um punho.
"Aqui diz que uma autópsia está marcada para daqui três semanas e meia". Leon disse, ainda procurando. "O
espécime ficará em estase, blá blá blá... quando será injetado com uma dose letal de Hyptheion antes do
dissecamento".
John olhou para a mesa de autópsia, viu as presilhas de aço em cada lado e três serrotes de ossos embaixo. A
mesa foi aparentemente construída para acomodar grandes animais.
"Por que mantê-lo vivo afinal?". John perguntou, virando para o Fóssil adormecido. Era difícil não olhar; a criatura
era chamativa, horrível e impressionante, uma aberração que exigia atenção.
"Talvez para os órgãos ficarem frescos". Leon disse, e respirou fundo. "Então... vamos fazer?".
É uma pergunta valendo um milhão de dólares, não é? Nós não teremos os códigos - mas a Umbrella terá um
parquinho a menos para suas brincadeiras. E talvez um gerente a menos.
"É." John disse. "Sim, acho que vamos".
Os homens o ouviram quietos, seus rostos pensativos enquanto absorviam o terror que havia invadido o Planeta.
A invasão de cima, seu pedido de ajuda, como os invasores o derrubaram depois de matarem Cole a sangue frio.
Os empregados não fizeram perguntas, só ficaram sentados tomando café - alguém tinha feito café - e ficaram
ouvindo. Ninguém o ofereceu uma xícara.
"... e quando me recuperei, eu vim aqui". Reston disse, e correu uma trêmula mão sobre o cabelo,
estremecendo apropriadamente. Ele não precisava inventar tremores. "Eu - eles ainda estão por aí, em algum
lugar, talvez instalando explosivos, eu não sei... mas podemos impedi-los se trabalharmos juntos".
Ele podia ver em seus olhos que não estava funcionando, ele não os inspirava ação. Ele não era bom com
pessoas, mas podia lê-las bem o bastante.
Eles não estão acreditando, use Henry...
Os ombros de Reston pularam, um assombrado tom em sua voz. "Eles atiraram nele". Ele disse, olhando para
baixo, atordoado de tristeza. "Ele estava implorando, apelando para o deixarem viver, e eles - eles atiraram".
"Onde está o corpo?".
Reston olhou para cima, viu que Leo Yan tinha falado, um dos manipuladores de 3K. Yan não tinha nenhuma
expressão, apoiado na ponta da mesa de braços cruzados.
"O quê?". Reston perguntou, parecendo confuso, mas sabendo exatamente do que Yan estava falando. Pense,
droga, já devia ter pensado nisso -
"Henry". Alguém disse, e Reston viu que era Tom alguma coisa, da construção. Sua áspera voz estava
abertamente céptica. "Eles atiraram em Cole, te apagaram - então o corpo ainda está no bloco das celas,
certo?".
"Eu - eu não sei". Reston disse, sentindo-se quente e desidratado de tanto conhaque. Sentindo que não se
recuperaria da inesperada pergunta. "Sim, deve estar, a não ser que o moveram por algum motivo. Eu acordei
confuso, enjoado, eu queria achar vocês imediatamente, ter certeza de que não foram feridos. Eu não reparei se
ainda estava lá...".
Eles olharam para Reston, um mar de rudes faces que não estavam mais tão neutras. Reston viu descrença,
desrespeito e raiva - e nos olhos de um ou dois, viu rancor.
Por quê, o que eu fiz para inspirar tal desprezo? Eu sou o chefe e empregador deles, eu pago seus malditos
salários -
Um dos mecânicos se levantou da mesa e se adereçou aos outros. Era Nick Frewer, o que parecia ser o mais
popular entre eles.
"O que me dizem de sairmos daqui?". Nick perguntou. "Tommy, você tem as chaves do caminhão?".
Tom acenou. "Claro, mas não a chave do depósito".
"Eu tenho". Disse Ken Carson, o cozinheiro. Ele se levantou também, e aí a maioria estava de pé, se
espreguiçando e bocejando, terminando com o café.
Nick acenou. "Bom, todos façam as malas e estejam no elevador em cinco -".
"Esperem!". Reston disse, incapaz de acreditar no que estava ouvindo, que iriam fugir de suas obrigações. Que
podiam ignorá-lo. "Há mais na superfície, eles vão matar vocês! Vocês têm que me ajudar!".
Nick virou e olhou para ele, seu olhar calmo. "Sr. Reston, nós não temos que fazer nada. Eu não sei o que
realmente está acontecendo, mas acredito que você é um mentiroso - e posso não falar por todos, mas eu não
sou pago o bastante para ser seu guarda-costas.
Ele sorriu de repente, seus olhos azuis brilhando. "Além disso, eles não estão atrás de nós".
Nick virou e foi embora, e Reston pensou em atirar nele por um instante - mas só tinha seis balas e nenhuma
dúvida de que seus colegas cairiam em cima dele se ferisse um dos operários. Ele pensou em dizer que suas
vidas estavam acabadas, que não esqueceria dessa traição, mas não queria desperdiçar seu ar. E não tinha
tempo para isso.
Esconda-se.
Era tudo a se fazer.
Reston deu as costas para os insubordinados e correu, sua mente pensando nos lugares para ir, rejeitando
algumas opções por serem óbvias demais, muito expostas -
- e se decidiu. A bateria de elevadores, perto da ala médica. Era perfeito. Ninguém pensaria em olhar dentro de
um elevador que nem funcionava. Ele podia forçar a entrada em um deles e ficar a salvo lá dentro. Ao menos por
um tempo, até pensar em outra coisa para fazer.
Suando, apesar do frio cinza do quieto corredor principal, Reston virou à direita e começou a correr.
Depois do que pareceram horas de descida pelo escuro e frio duto do barulhento elevador, eles chegaram ao
fundo.
Ou no topo, dependendo de como você olha, Claire pensou, enquanto a lanterna de David acendia e o motor
desligava. Eles pararam em cima de uma cabine de elevador, vazia exceto por uma escada de mão ao lado.
Eles saíram do quadrado de metal, Claire aliviada por voltar a uma superfície mais sólida. Descer por um poço
aberto de elevador onde um passo em falso podia levá-la à morte não era sua idéia de diversão.
"Acha que alguém nos ouviu?". Claire perguntou, e viu silhueta de David mexer os ombros.
"Mesmo se estivessem a trezentos metros daqui, acho que sim". Ele disse. "Espere, eu vou descer...".
Claire acendeu sua lanterna enquanto David sentava, segurando as pontas do painel e se abaixava. Enquanto
movia a escada, Rebecca também ligou a lanterna, e Claire viu seu rosto.
"Ei, você está bem?". Claire perguntou, preocupada. Rebecca parecia doente, muito pálida e com olheiras
escuras.
"Sim, já estive melhor, mas vou sobreviver". Ela disse de leve.
Claire não estava convencida, mas antes de insistir no assunto, David as chamou.
"Certo - deixem os pés pendurados, eu os guiarei até os degraus e as ajudarei a descer".
Claire acenou para Rebecca ir primeiro, decidindo que se ela não conseguisse funcionar, provavelmente diria algo.
Enquanto David ajudava Rebecca, ocorreu a Claire que ela não diria nada se estivesse na pele da garota.
Eu iria ajudar, e não gostaria de ser deixada para trás; eu continuaria mesmo se isso fosse me matar...
Claire limpou a mente, passando pelo teto do elevador. Rebecca não era tão rebelde, ela era médica. Ela era
normal.
Assim que desceu, David acenou para Claire e os dois puxaram as frias portas de metal, Rebecca mirando sua
semi aleatoriamente na abertura que aumentava. Quando conseguiram afastar as portas alguns centímetros,
David saiu primeiro e depois acenou para o seguirem.
Uau...
Ela não sabia ao certo o que veria, e um corredor cinza não era uma das possibilidades. Ele se prolongava à
direita, terminando numa porta, e virava à esquerda, cerca de seis metros do elevador que levava à leste. Claire
não sabia sobre as direções, mas sabia que o elevador que Leon e John pegaram estava à sudoeste -
considerando que desceu reto.
Estava silencioso, perfeitamente quieto. David moveu a cabeça para a esquerda, indicando que seguiriam naquela
direção, as duas garotas acenaram.
Podemos começar pelo elevador, ver se podemos descobrir que caminho seguiram...
Claire olhou Rebecca de novo, sem querer encará-la porém insegura sobre sua saúde, ela não parecia bem e
quando Rebecca virou para a curva do corredor, Claire viu o olhar de David, acenando de leve na direção da
médica, franzindo.
Ele hesitou, e ela viu que ele sabia sobre a condição de Rebecca. Pelo menos -
- e Rebecca soltou um agudo grito de surpresa, já na curva -
- assim que um homem de terno azul apareceu e a agarrou, tirando a arma da mão dela e colocando um
revólver em sua cabeça.
Ele travou seu braço no pescoço dela, apertando, e virou seus selvagens olhos para eles, seu dedo no gatilho, um
trêmulo sorriso em seu velho rosto.
"Eu vou matá-la! Eu vou! Não me façam matá-la!".
Rebecca segurou o braço dele e ele apertou mais, suas mãos tremendo e seus olhos azuis intercalando entre
David e Claire. Rebecca fechou um pouco os olhos, seus dedos cedendo e Claire viu que estava muito fraca, que
estava a ponto de um colapso.
"Vocês não vão me matar, fiquem longe! Fiquem longe ou eu mato ela!".
O cano do revólver estava apertado na cabeça dela, se David ou Claire se moverem...
Eles só olharam enquanto o maluco começou a recuar, arrastando Rebecca para a porta no fim do corredor.
[20]
Foi assustadoramente fácil tirar Fóssil do coma. Em questão de momentos, Leon entrou no programa de
monitoramento e descobriu como drenar o cilindro. De acordo com o relógio digital que surgiu na tela, só levaria
cinco minutos.
Deus, qualquer um trabalhando aqui poderia ter feito isso, a qualquer hora. Para uma companhia tão paranóica, a
Umbrella dá muita moleza...
"Ei, olhe isso". John disse, e Leon virou-se do pequeno computador, olhando cautelosamente para o monstro.
Mesmo depois de sobreviver ao inferno de Raccoon, depois de lutar com zumbis e aranhas gigantes e até mesmo
com um crocodilo gigante, essa foi a coisa mais estranha que já tinha visto.
John estava de pé na parede do outro lado da sala, olhando para uma pintura laminada. Assim que se aproximou,
Leon viu que era um mapa do Planeta, cada área claramente identificada. O complexo tinha um layout bem
simples, basicamente um corredor que cercava as quatro fases, a maioria dos escritórios e salas em pequenas
partições do corredor.
John tocou um pequeno quadrado à leste, logo depois do elevador de serviço. "Aqui diz 'controle de teste/sala de
monitoramento,'". Ele disse. "e fica a caminho da saída".
"Você acha que Reston se escondeu lá?". Leon perguntou.
John balançou os ombros. "Se ele estava vendo as fases, é lá que deveria estar - o que me intriga é se ele não
deixou aquele livro por lá".
"Não custa tentar". Leon disse. "Vai levar uns cinco minutos para esvaziar o tubo, dá tempo - considerando que o
elevador não seja um problema".
John virou para olhar Fóssil, adormecido no gel. "Você acha que ele vai mesmo acordar?".
Leon acenou. As condições listadas no programa de monitoramento pareciam boas, a pulsação e a respiração
indicando sono profundo; não haveria porque não acordar quando o quente nutriente for drenado.
E provavelmente acordará com frio, bravo e faminto...
"É". Leon disse. "E não queremos estar aqui quando isso acontecer".
John sorriu um pouco, não seu sorriso normal, mas um sorriso. "Então vamos". Disse suavemente.
Leon voltou para o computador, banhado pelo reflexo vermelho do tubo. Fóssil flutuava pacificamente, um
gigante adormecido. Uma monstruosidade criada por monstruosas pessoas, levando uma vida inútil num lugar
construído para a morte.
Derrube tudo, Leon pensou e apertou "enter". O relógio começou a retroceder; eles tinham cinco minutos.
David achou que era Reston, mas não dava para saber. Não importava; só queria saber como tirar Rebecca dele,
e enquanto o enlouquecido homem de terno azul recuava para a porta, David percebeu que não havia nada para
fazer.
Ainda não.
"Vão embora! Me deixem em paz!". O homem - Reston - gritou, e desapareceu. Rebecca se foi, e fraca como
parecia antes da porta fechar, deixou David muito assustado.
"O que faremos?".
Ele olhou para Claire, viu a ansiedade e o medo no rosto dela, fazendo-o respirar fundo, exalando
vagarosamente. Eles não fariam nada se entrassem em pânico -
- e acabaríamos matando ela.
"Fique calma". Ele disse, sem sentir nada. "Nós não conhecemos o lugar, não podemos dar a volta e cercá-lo...
nós teremos que seguí-lo?".
"Mas ele -".
"Sim eu sei o que ele disse". David interrompeu. "Não há alternativas. Nós deixaremos eles ganharem distância e
depois os seguiremos".
E esperamos que não seja tão instável quanto parece.
"Claire - é uma tarefa cautelosa, não podemos fazer barulho. Talvez seja melhor você ficar aqui...".
Claire balançou a cabeça, um olhar de determinação em seus olhos. "Eu consigo". Disse, firme e clara. Ela não
tinha dúvidas, e apesar de não ser treinada, provou ser rápida e equilibrada.
David acenou e ambos andaram para esperar na porta, dois minutos a não ser que ouçamos algo, abriremos a
porta devagar -
Ele se forçou a respirar fundo novamente, bravo consigo mesmo por tê-la trazido com eles. Ela estava exausta e
ferida, não conseguiria lutar se Reston decidisse apertar mais sua garganta...
Não. Agüente firme, Rebecca. Nós estamos indo, e podemos esperar a noite toda para achar uma oportunidade.
Eles esperaram, David rezando para que Reston não a machucasse, jurando que se o fizer, arrancaria seu fígado
e o faria comê-lo.
***
Eles procuraram pelo elevador no interminável corredor, sem correr. O refeitório estava vazio e uma rápida
procurada nos dormitórios disse a John que os funcionários tinham fugido. Havia claros sinais de que eles estavam
com pressa em arrumar as coisas.
Espero que Reston ainda esteja aqui...
Enquanto corriam à norte pelo corredor, John decidiu que se Reston ainda estiver na sala de controle, ele o
nocautearia. Um bom e sólido soco na cara; e se não levantar antes do Fóssil, já era.
Os dois passaram pela entrada da sala de controle, ambos sabendo que precisariam mais de um elevador
funcionando do que de Reston, e como Leon disse, eles não queriam estar presentes no grand finale do Planeta.
O painel aberto na parede e a pequena luz sobre o aviso "em uso" foram o suficiente para fazer John sorrir como
criança. Um alívio, pois eles se arriscaram soltando Fóssil antes de garantir uma rota de fuga.
Leon chamou o elevador, também aliviado. "Dois, dois minutos e meio". E John acenou.
"Só uma olhadinha". Ele disse, e virou para a pequena quebra no corredor. Leon estava sem balas, mas John
ainda tinha algumas na M-16 caso Reston fizesse algo estúpido.
A porta estava destrancada. John foi primeiro, varrendo a grande sala com o rifle, e ficou espantado com o lugar.
"Caramba". Ele disse de leve. Uma fileira de cadeiras de couro de frente para uma parede cheia de monitores.
Um carpete vermelho escuro de veludo. Um brilhante e ultra-moderno console prateado e polido, e uma mesa
que parecia de mármore branco atrás.
Pelo menos não temos que revirar tudo...
Exceto por uma mesinha de café e um cantil prateado no console, não havia nada para ver. Nenhum papel ou
coisas de escritório, nem itens pessoais nem livro de códigos secretos.
"Provavelmente temos que ir". Leon disse. "Estou estimando tempo aqui, eu odiaria me atrasar".
"Tá bom, vamos -".
Houve movimento na parede de monitores, no meio da segunda fileira de cima para baixo. John se aproximou,
imaginando o que seria, os empregados se foram e havia duas pessoas na tela, não pode ser -
"Essa não". John disse, e sentiu seu estômago cair, seu olhar horrorizado fixado na tela.
Reston com uma arma. Arrastando Rebecca por um corredor, seu braço em volta do pescoço dela, seus pés
arrastando no chão, sua cabeça pendurada, seus braços frouxos.
"Claire!".
John olhou para Leon, que estava olhando para outro monitor, viu David e Claire armados, andando rapidamente
por outro corredor.
"Dá pra reencher o tubo?". John falou, seu estômago ainda amarrado, mais aterrorizado do que esteve durante a
noite toda, aquele miserável pegou a 'becca -
"Não sei,". Leon disse rapidamente. "podemos tentar, mas temos que ir agora -".
John se afastou dos monitores, procurando o laboratório num deles, sua exaustão sumindo quando mais
adrenalina caiu em sua circulação.
Ali, uma sala escura, uma única luz apontada para o tubo, para a inquieta coisa lá dentro. Em segundos, mãos
ensopadas socaram o material, arranhando, estraçalhando, uma grande e pálida perna réptil atravessando o
vidro.
Tarde demais: Fóssil acordou.
[21]
A criatura designada ReH1a da série Tyrant, mais conhecida como Fóssil, estava puramente motivada pelo seu
único instinto: comer. Todas as suas ações vinham desse único e primário impulso. Se houver algo entre ele e a
comida, Fóssil o destruiria. Se algo o atacar, se algo tentar tirá-lo da comida, Fóssil o mataria. Não havia impulso
reprodutivo porque Fóssil era o único membro de sua espécie.
Fóssil acordou com fome. Ele sentia a comida, em cargas elétricas no ar, mornas ondas de calor - e destruiria o
que a tivesse. O ambiente não era familiar para Fóssil, mas não importava; continha comida e estava com fome.
Com três metros de altura e pesando cerca de quatrocentos e cinqüenta quilos, a parede que separava fóssil da
comida não agüentou muito tempo. Havia outra parede depois da primeira, e mais outra - e as ricas sensações e
cheiros de comida estavam perto, muito perto para que Fóssil sentisse uma emoção: ele queria, uma coisa que ia
além da fome, uma poderosa extensão de seu instinto que o encorajava a ir mais rápido. Fóssil comeria qualquer
coisa, porém comida viva o fazia querer mais.
A parede que o separava da comida era mais grossa e mais dura que as outras, mas não o suficiente para que
Fóssil parasse. Ele rasgou as camadas da substância e saiu num lugar estranho, nada orgânico além do arrastar
de comida.
A comida corria para ele, era difícil de ver, mas cheirava forte. A comida ergueu uma garra e a varreu em Fóssil,
gritando de raiva, com desejo de atacar e matar; Fóssil sabia por causa do cheiro. Em segundos, Fóssil foi
cercado pela comida e de novo, ele quis. Os animais que eram comida uivaram e gritaram, dançando e pulando.
Fóssil se esticou e pegou o mais próximo.
A comida tinha unhas afiadas, mas a pele de Fóssil era grossa. Ele mordeu a comida, rasgando um grande
pedaço do corpo contorcido, e se encheu. Seu senso de propósito alcançado assim que mastigou e engoliu,
sangue quente descendo pela sua garganta, carne quente rasgando entre seus dentes.
Os outros animais continuaram atacando, ficando fácil para Fóssil comer. Ele comeu toda a comida em pouco
tempo e seu metabolismo a consumiu no mesmo período, dando à Fóssil mais força para encontrar mais. Era um
processo extremamente fácil que continuaria enquanto estivesse vivo.
Terminando com a escura e cavernosa sala que continha a barulhenta comida, Fóssil lambeu o sangue dos dedos
e abriu os sentidos, procurando pela próxima refeição. Em segundos, descobriu que havia mais, se mexendo por
perto.
Fóssil queria. Fóssil estava com fome.
[22]
A garota estava mau, sua pele branca e suas tentativas de se soltar inúteis e fracas. Reston queria se livrar dela,
largá-la e correr, mas não ousou. Ela era sua passagem para superfície; certamente não matariam um dos seus.
Ainda assim, ele queria que ela não estivesse tão doente. Ela o estava atrasando, quase incapaz de andar, e não
tinha escolha além de continuar carregando ela, ao norte pelo corredor de trás, depois a leste no canto mais
distante do complexo, na direção da porta do bloco das celas. De lá, o elevador de serviço ficaria a dois minutos
de caminhada.
Quase lá, quase no fim desta impossível e incrível noite, falta pouco...
Ele era um homem extremamente importante, era um respeitado membro de um grupo que tinha mais poder e
dinheiro que alguns países, ele era Jay Wallingford Reston - e ali estava, sendo caçado em seu próprio território,
forçado a fazer uma refém, colocando uma arma em sua cabeça e fugindo como um criminoso; era ridículo e
inacreditável.
"Muito apertado". A garota sussurrou, sua voz esganada e áspera.
"Que pena". Ele respondeu, continuando a arrastá-la pelo fino pescoço; ela devia ter pensado nisso antes de
invadir o Planeta.
Ele a puxou pela porta que dava acesso ao bloco das celas, sentindo-se melhor a cada passo. Cada passo o
deixava mais perto da saída, da sobrevivência. Ele não seria caçado por um grupo de capangas justiceiros sem
visão; ele se mataria antes.
Passadas as celas vazias, quase na porta - e a garota tropeçou, caindo nele tão forte que quase o derrubou. Ela
agarrou forte nele, tentando recuperar o equilíbrio, e Reston sentiu uma súbita leva de raiva por ela.
Vagabunda estúpida, assassina, espiã, eu devia atirar em você aqui, agora, e espalhar seu preguiçosos miolos
nas paredes -
Ele recuperou o controle antes de apertar o gatilho, a perda de compostura o assustando um pouco. Teria sido
um erro, e teria custado caro.
"Faça isso de novo e eu te mato". Ele disse friamente e chutou a porta que dava no corredor principal, gostando
do quanto impiedosa sua voz tinha soado. Tinha soado forte, como um homem que não hesitaria matar se
servisse seus propósitos - os quais descobriria seja lá quais fossem.
Depois da porta, já no corredor -
"Deixe-a ir, Reston!".
John e Ruivo estavam na curva, ambos apontando suas armas para ele. Bloqueando a passagem para o
elevador.
Imediatamente, Reston arrastou a garota de volta para dentro enquanto decidia o que fazer -
"Esqueça". Ruivo gritou. "Eles estão atrás de você, nós os vimos te seguindo. Você está cercado".
Reston apertou o cano da arma na cabeça da garota desesperado, eu tenho a refém, eles não podem, eles tem
que me deixar ir -
"Eu vou matá-la!". Ele recuou de novo, indo para a ante-sala do programa de teste, a garota forçando para ficar
de pé.
"E depois nós matamos você". John disse, sem um pingo de mentira em sua voz. "Se você machucá-la, nós
vamos te machucar. Solte-a e nós vamos embora".
Reston alcançou a porta de metal e apertou o botão que destrancava a porta da Fase Um.
"Você não quer que eu acredite nisso". Ele sorriu assim que a porta subiu; só restava um Dac vivo e havia
deixado as jaulas abertas - eu posso subir, ainda posso fugir deles, não é tarde demais!
Naquele segundo, a porta do bloco das celas abriu e os outros dois apareceram - entre Reston e os outros dois, e
agiu antes de pensar, aproveitando a chance.
Reston empurrou a garota, com força, jogando-a contra os quatro e pulando à esquerda no mesmo instante,
acertando a porta com o ombro. A porta para a Um abriu e ele passou, fechando-a. Havia uma trava e ele a
acionou, o metal soando como música.
Quanto mais longe das clareiras mais seguro estaria. Eles não podiam tocá-lo.
Fortes mãos a seguraram antes de cair no chão - e podia respirar de novo - e John e Leon estavam vivos... o
alívio era um oceano de calor crescendo nela, fazendo-a se sentir ainda mais fraca. O sufocamento prolongado
tirou quase toda a pouca força que ainda tinha. E pensar nisso fez suas duas pernas carregarem algo como a
morte; como cocô no biscoito; costumava dizer isso quando criança...
Claire a segurou - eram as fortes mãos de Claire - e todos se juntaram entorno dela, John a levantando
facilmente.
Rebecca fechou os olhos, relaxando na exaustão.
"Você está bem?". David perguntou, e ela acenou, aliviada e feliz por estarem juntos de novo, por ninguém ter se
ferido -
- ninguém exceto eu -
- e sabia que quando puder descansar, ficaria bem.
"Nós temos que sair daqui, agora. Leon disse, uma urgência em sua voz que fez Rebecca abrir os olhos, a
confortante sonolência sumindo instantaneamente.
"O que foi?". David perguntou, sua voz aguda.
John virou e começou a carregá-la pelo corredor rapidamente, chamando por sobre os ombros. "Nós dizemos na
subida, mas temos que ir o mais rápido possível, sem brincadeira".
"John?". Ela disse, e ele olhou para baixo, dando um sorriso, seus olhos escuros contando uma história diferente.
"Nós ficaremos bem,". Ele disse. "é só relaxar e começar a inventar histórias sobre seu ferimentos de guerra para
nós".
Ela nunca o viu tão inseguro. Ela começou a dizer que os ferimentos não a tinham deixado burra -
- quando um tremendo barulho veio de algum lugar à frente, um som como paredes sendo quebradas, como
vidro explodindo, como um touro numa loja chinesa -
- e John virou, correndo por onde vieram - não conseguia ver, mas ouviu o forte suspiro de Claire, ouviu David
dizer desacreditado, "Ah, meu Deus", e sentiu seu coração parar de bater com medo.
Algo muito ruim estava vindo.
[23]
Droga, não estamos rápido o bastante -
Numa nuvem de poeira e entulho, concreto e gesso, Fóssil bateu na parede da frente do elevador como a visão
do inferno. Seu focinho e mãos estavam vermelhos, espirros da violenta cor sobre o adoentado branco de sua
pele, seu gigante corpo enchendo o corredor.
"Clip!". Leon gritou, sem tirar o olhar do assombroso monstro, ainda a uns trinta metros à frente deles e não
longe o bastante. Ele ejetou o clip vazio de sua H&K, sem saber que Claire havia lhe dado um cheio enquanto
Fóssil dava um passo até eles -
- e David estava disparando a M-16, o estouro das balas no longo corredor, Fóssil dando outro longo passo
enquanto Leon carregava a arma. De repente John estava ao seu lado, pegando um clip para a metralhadora
com David, Claire do outro lado de David, os quatro mirando na criatura.
Leon achou o olho direito do monstro e apertou o gatilho, o som da 9mm perdido no meio do tiroteio, todos
atirando -
- bambambam, os sons se misturaram, ensurdecendo, Fóssil entortando a cabeça como se estivesse curioso,
dando outro passo contra a parede de balas.
"Recuem!". David gritou, e Leon recuou um passo, horrorizado pela falta de ferimentos de Fóssil. Se estava
doendo, não dava para ver, mas era tudo o que tinham. Ele tentou os olhos de novo -
- e ouviu Claire gritar algo, virando e vendo que ela tinha uma granada e a estava entregando à David.
"Vai, vai, vai!". David gritou, e John puxou o braço de Leon e ambos correram, Claire os guiando, Leon rezando
para estarem longe o bastante e não serem pegos pelos estilhaços de metal quente.
Claire correu, aterrorizada, nunca tinha visto algo assim. Um pesadelo branco manchado de vermelho, um sorriso
curvo com afiados dentes, e suas mãos, dedos longos e vermelhos -
- o que é ele, como é -
"Atire no buraco!". David gritou, e Claire pulou, tentando voar, vendo naquele segundo o rosto pálido e cansado
de Rebecca, a garota se jogando na parede de trás ainda a trinta metros de distância -
- e BOOM, ela estava voando, John à sua direita, um quente corpo caindo em suas costas - e todos caíram no
chão, Claire tentando cair sobre o ombro, mas aterrissou forte sobre o braço.
Ai ai ai!
David tinha se jogado nela, ou de propósito ou pela explosão, e quando sentou e virou, o achou franzindo de dor.
Ela viu dois, três pedaços escuros de metal fincados em suas costas, atravessando a vestimenta especial, e foi
ajudá-lo -
- e viu o monstro ainda de pé. Esfregando o peito e a barriga, as marcas escuras dos fragmentos. Algumas
lascas furaram sua carne - mas era difícil dizer com seu silêncio - e não parecia bravo do modo como deu outro
passo. Ele abriu a boca, sua pesada mandíbula de lagarto - expondo fiapos de uma carne desconhecida em seus
dentes. Silenciosamente, ele deu outro passo, sorrindo, e Claire imaginou que podia sentir seu hálito de carne ou
seja lá o que estava apodrecendo dentro dele -
Caia fora daí!
Ela se levantou, ignorando a dor em seu braço, abaixando para pegar a mão estendida de David e puxá-lo. No
segundo em que ele se levantou, ela apontou sua 9mm e começou a atirar de novo, sabendo que não era
suficiente, não sabendo mais o que fazer.
Quatro ferimentos, todos nas costas, todos queimando. David soprou o ar por entre os dentes, considerando a
dor suportável e a deixando de lado. O monstro não tinha caído, podia ter ficado mais lento, mas não estava
parando, e não tinham nada pior para jogar além de tudo o que já tinham tentado.
Corram, nós teremos que correr -
Mesmo enquanto pensava, ele estava abrindo a boca para gritar, para ser ouvido por John, Leon e Claire
enquanto esvaziavam suas armas, as balas tão inúteis quanto a granada.
"John, pegue Rebecca! Recuem, nós não podemos com ele!".
John já foi, Leon e Claire deslizando para trás e atirando - com a pequena esperança de que pudessem causar
algum dano, que uma das balas pudesse acertar alguma coisa que doesse.
"David, nós podemos entrar na área de teste, aço reforçado!". John gritou e David não estava certo do que eles
estavam falando, entendendo apenas "aço reforçado". Provavelmente não seria suficiente, mas os daria algum
tempo para bolar um plano.
"Faça isso!". David gritou, e o monstro deu dois, três passos, aparentemente sem se preocupar em hesitar.
Naquela velocidade, estaria neles em alguns segundos.
"Corram atrás de John!". Ele gritou, e deu a Leon e Claire um segundo de cobertura antes de virar e seguí-los.
Aço, aço reforçado - um pensamento que pulava em sua mente enquanto corria, Claire e Leon fazendo a curva,
a quina passando por ele enquanto via Rebecca e John na sala no fim do corredor. A sala para onde o maluco
tinha ido.
"David, aperte os botões, feche a porta!". John gritou e David viu os controles, as pequenas luzes sobre os
botões circulares, e foi até eles, ainda correndo.
Claire e Leon estavam dentro. David esticou os braços e socou o maior dos botões, esperando que fosse o certo
-
- e entrou na sala enquanto a placa de metal guilhotinava o ar logo atrás, perto o bastante para senti-lo em seu
pescoço.
Ele girou a tempo de ver o branco corpo da criatura acertar a porta, seu peito pressionando contra a grossa
janela de vidro. A porta tremeu e David viu que não duraria muito tempo.
Agüente por favor, só um minuto -
Ele virou, viu Leon na porta menor da parede sul, viu terror em seus olhos, a cor tinha abandonado seu rosto,
sua trêmula mão na maçaneta.
"Trancada". Ele disse, e lá fora o monstro batia na porta outra vez..
Reston ouviu o barulho quando estava pensando em como subir na jaula dos Av. A abertura estava a três
metros e meio do chão e não havia escada. A árvore mais próxima estava a uns dois metros, impossível - a
única saída era por onde veio, e não ousaria voltar para o corredor principal. Ele já tinha se convencido a subir na
árvore e tentar o pulo quando ouviu as batidas ecoarem da Fase Dois.
Reston andou até a porta de conexão, curioso apesar do medo. As fases eram muito bem protegidas
acusticamente; um barulho como aquele só poderia ter sido de uma bomba ou de uma equipe de demolição...
... então é uma bomba. Eles implantaram explosivos, aqueles monstros.
Explosivos...
Reston esperou na porta por um momento e não ouviu mais nada. O Dac solitário deu um berro em algum lugar
da câmara, aparentemente abatido com a perda de seus irmãos; ele não tentou atacar.
A Fase Dois estava diretamente atrás da sala de controle, uma parede duas vezes mais grossa entre elas, o que
nos leva a crer que os renegados explodiram o centro de controle, a mais importante - e mais cara - sala do
Planeta. Não havia alvo melhor; o complexo é praticamente inútil sem a sala de controle.
Talvez me arranjaram outra saída...
- e se foram...?
Reston não faria apostas sobre os mercenários bárbaros terem finalmente ido embora, deixando os restos do
Planeta para trás -
Se foram, ele conseguirá sair. Talvez não só do Planeta mas da White Umbrella também. Ele estava certo de que
Jackson o mataria pelo que aconteceu... mas não se Reston desaparecesse.
Algumas centenas de milhares para Hawkinson, uma carona para um lugar seguro...
Podia funcionar se estimasse o tempo certo, mudasse de nome, identidade, e fosse para longe, bem longe.
Funcionaria, sim.
Acenando para si mesmo, ele abriu a porta da Dois, incerto sobre o que esperar - e ainda assim foi uma surpresa
ver os enormes buracos em duas da paredes do deserto, o cimento, madeira e aço em pedaços; cada buraco
tinha pelo menos três metros de largura por seis de altura. Ele não viu fumaça e imaginou que os sabotadores
usaram algum tipo de composto ultra-moderno, algum material que gentinha como aquela sempre tinha acesso.
O calor ainda era forte apesar das luzes, porém mais fresco com a nova ventilação - apesar de ter escutado por
longos segundos, não ouviu nada que indicasse a presença deles. A não ser que fosse alguma armadilha...
Reston balançou a cabeça, impressionado com a própria paranóia. Agora que decidiu ser livre e abandonar as
ruínas de sua vida, sentiu um tipo de elevação. Uma sensação de novas possibilidades, um renascimento. Eles se
foram, completaram a missão, arrasaram o Planeta. Reston andou pela quente areia, pulando pedaços de Scorps
espalhados, finalmente subindo na duna para espiar o buraco.
Meu deus, eles conseguiram destruir tudo!
A destruição foi quase total, o buraco quase exatamente onde a parede dos monitores estava. Vidro, arames e
circuitos, um leve cheiro de ozônio - foi tudo o que sobrou do brilhantemente projetado sistema de retorno de
vídeo.
Quatro das cadeiras de couro foram arrancadas do chão, a mesa de mármore única partida em dois - e no canto
nordeste da sala havia outro gigante buraco cercado de destroços.
E através daquele buraco...
Reston podia ver o elevador. Funcionando, as luzes acesas e a plataforma no ponto.
Foi uma armadilha? Parecia bom demais para ser verdade - mas então ouviu uma distante pancada, em algum
lugar perto do bloco das celas, e pensou na sorte estar finalmente consigo; os empregados se foram e esse som
devia ser dos S.T.A.R.S.. Longe o bastante para estar a meio caminho da superfície antes que pudessem voltar.
Reston sorriu, maravilhado por terminar assim; parecia tão anticlimático, tão mundano...
... e eu estou reclamando? Não, nada de reclamações. Não de minha parte.
Reston cruzou o buraco, andando com cuidado para evitar os cacos de vidro.
A batalha com a comida o deixou com fome, o deixou ansioso; a parede na frente de Fóssil o deixando mais
empolgado para comer. Ele golpeou o forte obstáculo, sentindo o material ceder, ficar menos rígido -
- e apesar de não levar muito tempo para pegar os animais, Fóssil sentiu de repente o cheiro de comida nova. No
caminho por onde veio, comida livre e exposta, nada entre ela e Fóssil.
Ele voltará assim que a tiver comido. Fóssil virou e correu, faminto e querendo, determinado a comê-la antes que
fugisse.
Assim que Fóssil virou e correu, John começou a chutar a porta de aço, percebendo que era a única chance. A
incrível pancada que o monstro havia dado a deixou fraca, o grosso metal metade fora dos trilhos.
Claire e Leon começaram a chutar. Em segundos, eles a jogaram longe o bastante dos dentes de metal e acabou
caindo no chão - e segundos depois disso, eles estavam correndo para o elevador, David carregando Rebecca e
todos quietos. Fóssil voltaria, todos sabiam e não teriam chance contra ele.
"NÃO! NÃO! NÃO!".
Um homem estava gritando e quando John fez a curva, viu que era Reston, viu que estava correndo pelo longo
corredor, Fóssil se aproximando rapidamente.
Eles correram, John imaginando quanto tempo levaria para o monstro comer um ser humano inteiro. E quando
alcançaram o elevador, cruzaram as portas e Leon puxou a grade -
- todos ouviram o lamentável grito se elevar a uma intensidade sobrenatural - e parar de repente, interrompido
por um pesado e molhado som de esmagamento.
O elevador começou a subir.
[24]
Rebecca estava adormecida, o som do elevador tão calmo quanto o coração de David. Cansada como estava,
ela levantou uma incrivelmente pesada mão até o fino e preto livro preso no cinto de sua calça. Reston nem tinha
percebido, aparentemente não sabia que podia fingir um tropeço tão bem.
Ela pensou em dizer aos outros, em quebrar o silêncio no elevador para dá-los a notícia, mas achou melhor
esperar; eles mereciam a agradável surpresa.
Rebecca fechou os olhos, descansando. Eles ainda tinham um longo caminho, mas o quadro estava mudando; a
Umbrella iria pagar por seus crimes. E eles cuidariam disso.
[Epílogo]
Com John e David segurando a jovem Rebecca, e Leon e Claire sorrindo um para o outro como namorados, os
cinco exaustos soldados saíram da tela para a gentil manhã de Utah...
Suspirando, Trent reclinou em sua cadeira, girando ansiosamente seu anel de ônix. Ele esperava que tirassem um
ou dois dias de descanso antes da próxima grande batalha... talvez a última; eles mereciam um pouco de
descanso depois de tudo o que fizeram. Caso sobrevivessem ao que está por vir, ele terá que recompensá-los
amplamente.
Considerando que eu ainda estarei na posição de dar presentes...
Ele certamente estará. Quando, e se Jackson e os outros descobrirem o que realmente estava fazendo, ele terá
que desaparecer - mas haviam meia dúzia de identidades irrastreáveis que poderia escolher em qualquer canto do
mundo, cada uma delas extremamente bem remuneradas. E a White Umbrella não tinha condições de localizá-lo.
É verdadde que eles tinham poder e dinheiro, mas simplesmente não eram espertos o bastante.
E eu já vim até aqui?
Trent suspirou de novo, lembrando para não pensar com maldosa satisfação, pelo menos ainda não. Não valeria
a pena ser super confiável, ele sabia; homens melhores que os dele já morreram nas mãos da Umbrella. De
qualquer forma, ou Trent ou eles estariam mortos. E fim do problema, de um modo ou de outro.
Ele se levantou, esticando os braços sobre a cabeça e balançando os ombros para tirar a tensão; o satélite
"pirata" o permitiu ver e ouvir quase tudo e foi um noite longa e movimentada. Algumas horas de sono era tudo o
que precisava. Ele planejou ficar isolado até meio-dia, mas teria que ligar para Sidney - e o velho bebedor de chá
já devia estar agitado a essa hora, junto com os outros. Os misteriosos serviços do Sr. Trent seriam investigados
em breve, e ele teria que pegar o próximo avião; por mais que quisesse ver Hawkinson voltar e tentar derrubar
Fóssil, Trent precisava dormir mais.
Trent desligou os monitores e saiu de sua sala de operações - uma sala de estar com alguns caros ajustes - e foi
para a cozinha, que era uma cozinha normal.
A pequena casa no interior de Nova York era seu esconderijo além de lar; era dali que conduzia a maior parte de
seu trabalho. Não o grandioso e intrigante trabalho que fazia na White Umbrella, mas, sim, seu verdadeiro
trabalho. Se alguém investigasse o lugar, descobriria que a casa Vitoriana de três dormitórios pertencia a uma
velha senhora chamada Helen Black. Uma piada das suas.
Trent abriu a geladeira e tirou uma garrafa de água mineral, pensando em como Reston ficou em seu último
momento, olhando para face de sua própria morte. Adorável trabalho, esse, usando Fóssil contra ele; foi
realmente uma pena em relação a Cole. O homem teria sido uma adição para a pequena, porém crescente
resistência.
Levando a água escada acima, Trent usou o banheiro e depois andou pelo curto corredor, pensando no tempo
que ainda tinha. Nas primeiras semanas de contato com a White Umbrella, ele meio que esperava ser chamado à
sala de Jackson e levar um tiro sumariamente. Mas as semanas viraram meses e não recebeu um suspiro de
dúvida - de ninguém.
Em seu quarto, ele separou as roupas para o vôo e se despiu, decidindo que faria as malas enquanto tomava o
café, depois de ligar para Sidney. Apagando a luz, Trent sentou-se na cama por um momento, tomando um gole
da garrafa de água, repassando seus meticulosos planos para a próxima semana. Ele estava cansado, mas o
objetivo de sua vida estava finalmente sendo alcançado; não era tão fácil pegar no sono quando se estava a um
passo de culminar três décadas de planejamento e sonhos, de um desejo guardado por tanto tempo que o havia
transformado no que era...
A reta final, pensou. Ainda havia várias coisas que precisavam acontecer antes de acabar, e a maioria delas
tinham a ver com o quanto bem seus rebeldes haviam se saído. Ele tinha fé neles, mas sempre havia chance de
falharem - e na qual teria que começar tudo de novo. Não do zero, mas seria uma difícil retomada.
Eventualmente...
Trent sorriu, colocando a água no criado mudo e deslizando sob o cobertor. Eventualmente, o mal da White
Umbrella seria exposto ao clarear do dia. Matar os jogadores seria fácil, mas não ficaria satisfeito; ele queria vê-los
destruídos, financeira e emocionalmente, suas vidas tiradas em todos os sentidos. E quando esse dia chegar,
quando os líderes terminarem de ver seu preciosos esforços virando cinzas, ele estaria lá. Estaria lá para dançar
no cemitério de seus sonhos. E seria um belo dia.
Trent repassou seu discurso mentalmente, o discurso que ensaiou durante toda a vida para aquele dia. Jackson e
Sidney teriam que estar lá, tal como os "garotos" europeus e os financiadores do Japão, Mikami e Kamiya. Todos
eles sabiam da verdade, todos foram co-conspiradores na traição...
Eu estou de pé na frente deles, sorrindo, e aí digo. "Um pouco de história, caso tenham se esquecido".
"No começo da história da Umbrella - antes de haver algo como a White Umbrella - havia um cientista chamado
James Darius. Dr. Darius era um ético e comprometido microbiologista que, ao lado de sua amada esposa Helen -
uma doutora em farmacologia - gastou incontáveis horas desenvolvendo uma síntese reparadora de tecidos para
seus empregadores, um que James havia criado sozinho. Esta síntese que ocupou tanto o tempo de Darius, era
um complexo viral brilhantemente projetado que - se bem desenvolvido - tinha o potencial de reduzir incrivelmente
o sofrimento humano, podendo evitar a morte por sofrimento traumático um dia antes.
Ambos James e Helen tinham as maiores esperanças por seu trabalho - e eram tão responsáveis, tão leais e
confiantes que imediatamente foram à Umbrella, assim que perceberam o potencial do que estavam criando. E a
Umbrella Inc. também percebeu o potencial. Mas o que ela viu foi um afogamento financeiro caso esse milagre
fosse realizado. Imagine todo o dinheiro que uma companhia farmacêutica poderia perder se milhões de pessoas
parassem de morrer todo ano; então imagine o dinheiro que poderia ser feito com esse complexo viral para fins
militares. Imagine o poder.
Com incentivos assim, a Umbrella realmente não teve escolha. Ela tirou a síntese de Darius, levou as anotações e
pesquisa entregando tudo a um jovem e brilhante cientista chamado William Birkin, recém saído da adolescência e
já chefe de seu próprio laboratório. Birkin era um deles, veja. Um homem com a mesma visão, a mesma falta de
moral, um homem que podiam usar. E com sua própria marionete no lugar, eles perceberam que ter o bom Dr.
Darius por perto seria um inconveniente.
Então houve um incêndio. Um acidente; foi o que disseram, uma terrível tragédia - dois cientistas e três leais
assistentes carbonizados. Tão ruim, tão triste, caso encerrado - e assim surgiu a divisão da Umbrella chamada
White Umbrella. Pesquisa com armas biológicas. Um parque de diversões para os ricos sujos e seu bajuladores,
para homens que perderam qualquer coisa que lembrasse uma consciência há muito, muito tempo". Eu sorrio de
novo. "Por homens como vocês".
"A White Umbrella pensou em tudo, ou assim acreditavam. O que não consideraram - ou por terem pouca visão
ou por serem ignorantemente desligados - foi que o jovem filho de James e Helen, seu único filho, estava
estudando num internato enquanto seus pais eram queimados vivos. Talvez simplesmente esqueceram dele. Mas
Victor Darius não esqueceu. De fato, Victor cresceu pensando no que a Umbrella tinha feito, ou devo dizer
obcecado por isso. Chegou um tempo em que Victor não pensava em outra coisa. Foi quando decidiu fazer
alguma coisa.
"Para vingar seu pai e sua mãe, Victor Darius sabia que deveria ser extremamente engenhosos e muito, muito
cuidadoso. Desse modo, passou anos planejando. Anos aprendendo o que precisava e ainda mais, fazendo
contatos certos e movendo-se nos círculos certos, sendo mais solitário e secreto que seu inimigo. E um dia ele
assassinaria a Umbrella do mesmo jeito que assassinaram seus pais. Não era fácil, mas estava determinado, e
devotou sua vida inteira para o projeto".
Eu sorrio e digo. "Ah, e eu não mencionei que Victor Darius mudou de nome? Seria arriscado, mas decidiu usar o
nome do meio de seu pai, ou pelo menos parte dele. James Trenton Darius não o estava mais usando mesmo".
O discurso sempre mudava um pouco, mas o essencial permanecia o mesmo. Trent sabia que nunca conseguiria
se pronunciar para todos de uma vez, mas era a idéia que o fazia continuar, todos esses anos. Nas noites
quando estava tão enraivecido que não conseguia dormir, recontar essa história virou uma espécie de canção de
ninar; ele imaginava os olhares em suas cansadas e velhas faces, o terror em seus caídos olhos, a trêmula
indignação por sua traição. De alguma forma, a visão sempre amenizava sua fúria e o dava uma pequena paz.
Em breve. Depois da Europa, meus amigos...
O pensamento o guiou para a escuridão, para o doce e ausente de sonhos sono dos justos.
S.D. Perry
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