Jabril acomodou-se atrás de sua mesa, tomando um gole de vinho tinto temperado com sangue o suficiente para torná-lo palatável. Ele considerou o seu próximo movimento cuidadosamente. Se ele esperasse, Raphael certamente lhe telefonaria diretamente. Não havia dúvidas quanto ao paradeiro de Mirabelle, ou quem a estava abrigando. Raphael saberia disso tão bem quanto ele. E se a menina achava que ia mudar definitivamente sua lealdade… Ele tomou um longo gole de vinho, engolindo sua raiva com o pensamento de tal coisa. Mas se ela o fizesse, havia as formalidades a serem observadas.
Ele levantou o marfim delicado do aparelho de ouro de seu telefone de mesa antigo e discou um número muito particular.
Foi o próprio Raphael quem respondeu. — Jabril. — disse ele.
— Raphael. — Ele ouviu o outro vampiro rir baixinho e rangeu os dentes.
— Eu acredito que você tem algo que é meu. — disse ele, finalmente, não permitindo nenhuma de suas frustrações infiltrarem-se em sua voz.
— É do meu conhecimento que ela não pretende continuar a ser sua.
— Estou certo de que é do seu conhecimento.
— Você pode, é claro, mandar uma testemunha.
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Jabril enrijeceu em surpresa, grato que o vampiro do outro lado da linha não podia vê-lo. Ele não esperava que Raphael movesse isso tão rapidamente, ou Mirabelle agisse de forma tão decisiva. Raphael, pelo menos, tinha de saber a importância da garota estúpida para ele. Ela era mais do que um simples servo.Muito mais.
— Você tem uma data em mente? — Perguntou.
— Sete dias, como é costume — disse Raphael. — A cerimônia será no próximo domingo.
— Hmm. — Jabril respondeu, inclinando-se para frente e virando umas páginas, como se verificando um calendário, sabendo que o outro lorde vampiro podia ouvir cada movimento. — Sim, eu posso reorganizar algumas coisas e participar eu mesmo.
Jabril podia sentir o sorriso presunçoso de Raphael antes mesmo de ele dizer: — Eu acho que nós dois sabemos que isso não vai ser possível.
— Sério? — Jabril disse, fingindo surpresa. — O que aconteceu com essa sua confiança tão alardeada?
— Eu estava pensando mais no conforto de Mirabelle do que no meu. Ela estava muito traumatizada quando chegou.
— Tenho certeza de que é assim. Deve ter sido um choque para ela acordar e descobrir que tinha sido raptada de sua própria casa enquanto estava indefesa no sono.
— Foi isso que aconteceu?
Jabril lutou com sua ira mais uma vez. — Asim, então. — disse ele com uma calma perfeita.
— Não.
— Realmente, Raphael. Se você se importa tanto com os sentimentos da menina, eu acho que você quer alguém em quem ela confia de pé com ela para esta importante decisão.
— De fato. Você tem um desses?
Jabril teve vontade de cuspir. — Muito bem. — Pensou rapidamente, correndo através da lista de seus lacaios e não encontrando um de uso particular para ele sobre este assunto. Na verdade, se ele não pudesse estar presente ele mesmo, quem quer que ele escolhesse não seria mais do que uma testemunha, por isso pouco importava. Ele escolheu um nome quase ao acaso.
— Nasir, então.
— O seu povo que forneça os detalhes e o meu povo vai encontrá-lo no aeroporto.
— Feito. — Jabril desligou sem se preocupar com gentilezas. Ele nunca gostou de Raphael, mas também ele não gostava de nenhum de seus colegas membros do Conselho. Ele enviou uma ordem mental para Asim, que estava esperando no corredor. Sem dúvida, ouvindo cada palavra, Jabril pensou com desdém.
A porta se abriu e seu tenente entrou, abaixando a cabeça respeitosamente. — Meu senhor?
— Faça os arranjos, Assim. — disse ele distraidamente, pensando em seu próximo movimento.
— Sim, meu senhor.
Asim se virou para sair, mas Jabril o chamou de volta. — Onde está aquele seu investigador, Asim? Qual o seu nome — Windle. Será que ele tem algo de útil a dizer sobre Elizabeth? — Ele não acreditava que chegasse a isso, mas se ele perdesse Mirabelle, ele precisaria ter certeza que tinha a mais nova.
— Ele relatou nesta noite, meu senhor, enquanto você estava… Ocupado. Ele está confiante de que a terá sob custódia dentro de dias.
— Excelente. Onde ele acredita que ela está se escondendo?
— Ah. — disse Asim, obviamente relutante em dar este pedaço da notícia. Ele engoliu em seco. — Na Califórnia, meu senhor.
Jabril subiu por trás de sua mesa, sua raiva quebrando finalmente livre.
Seu poder varreu numa torrente de fúria, varrendo tudo diante dela. Paredes tremeram, portas se separaram de suas amarras e voaram abaixo pelos corredores, janelas rachavam e quebravam, enviando cacos de vidro voando para cortar cada superfície. Vampiros se prostraram no chão, gemendo de medo e pedindo misericórdia. Em todo o complexo, os quartos dos empregados sacudiram como se de um terramoto se tratasse, mas os humanos sabiam melhor. Eles caíram de joelhos, tremendo, e orando a qualquer deus que tivessem para que sobrevivessem a essa noite.
Jabril estava em pé, olhos ardendo, braços estendidos para os lados, sentindo o terror de seus lacaios, o horror distante dos seres humanos. Ele absorveu tudo isso como o mais doce néctar, sentindo que ele penetrou em seus ossos e sangue, dando-lhe força, dando-lhe poder. Ele era mais do que um Vampiro, ele era o seu senhor e eles iam se curvar perante sua majestade como devia ser.
Ele fechou os olhos ao passado, trazendo seus braços juntos sobre o peito e abraçando-se bem, saboreando a sensação de plenitude, a corrida esmagadora de invencibilidade. Ele arreganhou os dentes e abriu os olhos para encontrar Asim encostado contra uma parede perto da porta, com um braço quebrado e sangue escorrendo de um corte na testa.
Jabril o encarou, sabendo que seus olhos ainda brilhavam com poder residual. — Eu quero Elizabeth encontrada e eu a quero de volta sob meu controle. Você me entendeu, Asim? Contrate quem você precisar, gaste tudo o que precisar, mas recupere-a. Não falhe nisso.
— Sim, meu senhor — Asim sussurrou.
— Agora, levante-se — Jabril ordenou. — Temos trabalho a fazer.
— Sim, meu senhor. — Asim cambaleou aos seus pés, puxando os pedaços de sua roupa rasgada em alguma ordem e varrendo a mão boa ao longo do corte sangrento na testa, que já havia começado a se curar. Ele olhou para o sangue em seus dedos por um momento e depois levou-os à boca e lambeu-os limpos.
Jabril viu tudo isso com crescente impaciência. Como se sentindo o desgosto de seu mestre, Asim olhou para cima e empalideceu ainda mais quando ele se apressou através da sala. — Em que posso servi-lo, Mestre?
— Vou exigir a sua assistência com os contabilistas. Duvido que Mirabelle encontrará a coragem de permanecer na Califórnia, mas devemos estar preparados para a possibilidade. Raphael não é bobo, ele vai ver a vantagem de mantê-la para si mesmo. Felizmente, ainda tenho acesso a grande parte da sua riqueza, que é adequada, mas eu quero cada centavo que possamos pôr em nossas mãos transferido para fora do país o mais rapidamente possível.
— Sua vontade seja feita, meu senhor.
— De fato, Asim. De fato.
Capítulo 26
Malibu, Califórnia
Era quase meia-noite quando Cyn puxou o Range Rover até ao portão principal da propriedade de Raphael em Malibu. O guarda, um dos seis presentes, acenou para Elke e reconheceu Cyn, mas ele olhou o carro com cuidado, franzindo a testa quando viu Mirabelle sentada no banco do passageiro. Os guardas de Raphael estavam hipervigilantes após o ataque do mês passado na fazenda, e Cyn aprovava essa cautela.
— Alexandra está esperando por nós. — garantiu-lhe Cyn.
Ele olhou nervosamente para Elke que não disse uma palavra, apenas ficou olhando-o com aqueles olhos cinza pálido quase brancos no brilho ofuscante das luzes no portão. O guarda fez uma pausa, depois pareceu tomar uma decisão e esperou seu parceiro acabar a ligação com os guardas de Alexandra, antes de sinalizar para abrirem o portão. Cyn ouviu Elke rindo baixinho para si mesma enquanto dirigia para a fazenda apropriada, e percebeu que o guarda tinha ficado dividido entre seguir a rotina ou dar-lhes passagem por causa da presença de Elke. Ela tomou-o como um bom sinal de que a vampira estava se divertindo. Embora, agora que pensava, se Elke tivesse sido ofendida, o guarda provavelmente estaria em suas costas e implorando por sua vida. Elke não era um membro da segurança interna de Raphael por nada.
Ela dirigiu pela expansiva casa principal, com linhas limpas do sudoeste e piscina infinita, passou por baixo de um dossel pendendo de árvores de eucalipto e entrou na pequena clareira onde Alexandra mantinha sua própria residência. Era uma mansão francesa do século 18, com paredes cobertas de hera e telhas azuis no telhado.
Cyn estacionou e alguém da equipe de segurança de Alexandra se aproximou do carro quando elas saíram. Elke se aproximou e conferiu brevemente com ele antes de voltar para onde Cyn e Mirabelle estavam à espera. — Não há mais compras esta noite, certo? — Perguntou ela. Cyn era mais alta do que Elke vários centímetros e a vampira estava olhando para ela com uma carranca, como se a desafiando a sugerir o contrário.
Cyn sorriu. Elke tinha sido uma boa esportiva, mas não corria perigo de se tornar uma fanática por compras — Não hoje à noite. — ela concordou. — Mirabelle vai ficar na propriedade, seja aqui ou na casa principal.
— Ótimo. — disse Elke, suspirando de alívio. — Mirabelle, falaremos depois. Leighton… — Ela fez uma pausa incerta, optando por… — Que seja. — Ela deu ao guarda de Alexandra algum tipo de sinal, e então ela se foi, correndo pela calçada e desaparecendo nas sombras sob as árvores mais rapidamente do que olho humano de Cyn poderia seguir.
Cyn deu seu suspiro próprio. Isso era um truque legal. Ela poderia pensar em mais do que algumas vezes em que teria realmente vindo a calhar. Ela se virou para Mirabelle com um sorriso. — Vamos, Mirabelle. É por aqui.
Elas passaram pela cozinha e por um longo corredor para encontrar Alexandra à espera delas, de pé, no fundo de uma escadaria larga e obviamente posando para efeito dramático. Cyn a viu e parou abruptamente.
Quando Alexandra tinha sido sequestrada no mês passado, ela estava vestindo a moda pré-revolucionária de Paris — um vestido de cetim elaborado com rendas e uma saia que estendia de forma alarmante para ambos os lados da sua cintura fina. Seus longos cabelos tinham estado cuidadosamente penteados e enrolados, pendurando em cachos grossos pelas costas. Tudo nela gritara século 18. Ela tinha evitado até mesmo luz elétrica na casa em favor das velas, com todos os quartos decorados — ou demasiadamente decorados, na opinião de Cyn — no estilo de Louis XVI e sua condenada corte.
Mas as coisas tinham mudado. A Alexandra esperando para cumprimentá-las esta noite usava uma calça preta solta com uma blusa de seda dobrada na cintura impossivelmente pequena e abotoada quase até ao pescoço.
A blusa era vermelha escura de um fino Cabernet que mostrava o rico e brilhante preto de seus cabelos, que ainda eram longos, mas soltos para trás com uma faixa de veludo preto. Alexandra era pequena, pouco mais de um metro e cinquenta e dois de altura quando usava salto, e poderia facilmente passar por uma bem-conservada esposa de Beverly Hills… Extremamente bem conservada devido a que sua face era a de uma menina de dezesseis anos de idade. Ela sorriu e estendeu ambas as mãos em saudação.
— Cynthia. — disse ela calorosamente. — Estou tão feliz que você decidiu visitar. Estive perguntando a Raphael quando você viria.
Por sua parte, Cyn estava um pouco surpresa. Ela não conhecia Alexandra tão bem, tinha trocado não mais do que dez palavras com ela em seu único encontro anterior. Mas tendo sido tutelada em cortesia nas melhores escolas que a Califórnia tinha para oferecer, Cyn aproveitou a oportunidade e pegou a mão que Alexandra oferecia, dando-lhe um aperto educado, antes de recuar para colocar Mirabelle ao lado dela.
— Alexandra, esta é Mirabelle. Duncan provavelmente lhe disse algo a respeito de sua situação.
Os olhos negros de Alexandra, assim como eram os de seu irmão, passaram a considerar a jovem vampira, olhando as calças caqui e a blusa personalizada que substituíam o jeans mal ajustado e camiseta. — Mirabelle. — disse ela graciosamente, se não exatamente com o mesmo calor com que tinha recebido Cyn. — Bem-vinda à minha casa.
Mirabelle sorriu timidamente. — Obrigado. Espero que não estejamos invadindo.
— Oh, não. Congratulo-me com a visita. Agora que eu voltei à vida, por assim dizer. — ela acrescentou com um olhar significativo na direção de Cyn. — Eu não sei por que não o fiz isso antes. A roupa por si só já teria valido o esforço. — Ela acariciou o tecido mole sobre o braço dela. — Tão mais confortável… E sem espartilhos! Posso realmente respirar. — Ela respirou fundo como que para provar a verdade de suas palavras.
— Vem, vamos subir para a sala de música. — Alexandra colocou um pezinho na escada, fazendo uma pausa para contar a Cyn — Ainda é meu lugar favorito, apesar de eu ter redecorado um pouco.
Ela tinha redecorado mais do que um pouco e mais do que a sala de música, Cyn pensou quando ela e Mirabelle a seguiram até as escadas. A diferença mais óbvia era a luz brilhante dançando fora de um enorme lustre de cristal e lançando pedaços de cor contra as paredes pálidas. Havia desaparecido o cheiro penetrante de cera de vela. Revestimentos de paredes ornamentadas de cetim tinham sido arrancados, as paredes ressurgiram e foram pintadas com uma cor delicada que era pouco mais do que um rubor de ouro quente.
Na sala de música, o piano de cauda Steinway ainda estava no lugar de honra, mas as frágeis e antigas mesas de cetim, os sofás estufados com brocados e as cadeiras que tinham lotado aquele mesmo espaço, tinham ido embora. Em seu lugar, estavam algumas peças bem escolhidas, tal com um sofá confortável e cadeiras estofadas. Flores frescas enfeitavam a toalha e revistas de design cobriam a mesa baixa. Aparentemente Alexandra ainda estava remodelando.
Mirabelle deu uma pequena exclamação de alegria ao ver o piano e correu, parando pouco antes de seus dedos tocarem o acabamento em preto brilhante. — Posso?
Alexandra assentiu em uma forma de senhora fina, e Cyn se virou para esconder sua reação. Algumas coisas, ao que parece, não haviam mudado. Ela vagou até o piano, observando como Mirabelle passava os dedos um pouco tensos ao longo das teclas. — Minha mãe tocava. — Mirabelle disse suavemente. — Eu tive aulas quando criança, antes… — A voz dela quebrou, e depois endureceu. — Jabril se recusou a ter um piano em casa, disse que não suportava o barulho. Essas são suas palavras. Ele o jogou fora. O piano de minha mãe.
Cyn olhou para ver Alexandra observando.
— Posso pegar Cynthia emprestada por um momento, Mirabelle? — Alexandra pediu.
Mirabelle franziu a testa, concentrando-se fortemente em seus dedos à medida que escolheu uma série de notas.
Cyn tocou seu ombro e encontrou o olhar interrogativo de Mirabelle com um rápido sorriso de tranquilidade. — Nós já voltamos. — disse ela.
Cyn seguiu Alexandra pelo corredor, para uma sala que foi criada como uma espécie de escritório caseiro.
— Minha sala de dia. — disse Alexandra, com um truque irônico de seus lábios. — O tipo de sala que uma dama teria usado para manter sua casa, livros ou o manuseio de sua correspondência. Não que eu esteja sobrecarregada com tais coisas, é claro. As pessoas de Raphael cuidam de tudo. — Ela continuou andando, levando Cyn através da sala e para uma varanda generosa com vista para frente da mansão.
— Você mudou algumas coisas. — comentou Cyn enquanto saía.
— Sim. — Alexandra sorriu levemente. — Algumas coisas. Senti que era hora. Tempos passados, realmente.
— Você parece bem.
Alexandra olhou para si e de volta para Cyn, sua boca curvando-se ligeiramente com prazer. — Pareço, não é? Eu não estava brincando sobre as roupas. Não sei por que me debati com aqueles vestidos horríveis por tanto tempo. — Ela fez uma pausa, ouvindo Mirabelle tocar o piano, e fez uma careta de desgosto. — Ela é uma criança.
— Ela tinha quinze anos quando seus pais morreram, quando os tribunais a entregaram e sua irmã de dez anos aos cuidados de Jabril Karim. Ela tinha dezoito anos e um dia quando ele a estuprou e a fez sua Vampira.
— Eu vejo. E ela quer ficar aqui?
— Eu acho que ela ainda não sabe.
Alexandra se virou para estudar Cyn. Ela era uma criatura adorável, mas com um sorriso que não era genuíno e de alguma parecia calculado, como se pudesse ser ligado e desligado à vontade. — Eu gosto de você, Cynthia. — disse ela. — Você não tem nenhum fingimento em você, e minha vida tem sido nada mais do que um fingimento por muito tempo.
Ela caminhou até a borda da varanda e inclinou-se delicadamente contra a balaustrada de pedra para contemplar o pátio abaixo. Foi pavimentado em preto e branco de mármore marcado, cercado por uma sebe alta que impedia qualquer um de confundi-la com uma entrada utilizável. Alexandra olhou para Cyn. — Diga-me. — ela disse, com olhar retornando ao mármore berrante. — O que você acha deste pátio?
Cyn descansou um quadril na pedra e olhou para o mármore, querendo saber o que dizer. Mas então, de acordo com Alexandra, ela era a menina “sem pretensão” certo? — Eu acho que é verdadeiramente horrível. — disse ela.
Alexandra riu, a primeira emoção genuína que Cyn tinha ouvido dela. — Eu também. — ela confidenciou. — Apesar de que, uma vez me fez lembrar de um tempo melhor, mas acho que eu só o instalei para ver a reação de Raphael.
Fiquei tentando encontrar algo que ele se recusaria a me dar.
— Por quê? — Cyn perguntou sem rodeios.
Alexandra pensou sobre isso. — Você tem irmãos? Um irmão ou uma irmã?
— Uma meia irmã. Nós não somos chegadas.
— Raphael e eu éramos. Tivemos outros dois irmãos, gêmeos, que eram muito mais velhos e se foram antes que eu tivesse idade suficiente para sentir falta deles. Sempre foi Raphael quem cuidou de mim, me protegeu da raiva do nosso pai e dos homens das fazendas vizinhas que estavam negociando com meu pai para um casamento antes mesmo que eu tivesse meu primeiro sangramento. — Ela deu de ombros casualmente. — Nossa mãe era bonita, eu pareço com ela, é claro. O mesmo acontece com Raphael, embora ele tenha a estatura considerável de nosso pai.
Ela olhou novamente para Cyn, avaliando a reação dela. — Naquela noite terrível há muito tempo, a noite que nossa família foi atacada e Raphael e eu fomos feitos vampiros. Não sei agora se eu mudaria esses eventos, mesmo se pudesse, mas na época eu odiei o que tinha sido feito comigo. Odiava o que me tinha tornado. Culpei Raphael por não me ter protegido como deveria ter feito, por não me ter salvo daquelas criaturas. Por tudo. Eu sabia que ele ainda estava vivo em algum lugar, meu mestre vampiro me provocava com o conhecimento, dizendo que Raphael tinha escolhido servir a sua nova amante em vez de ser sobrecarregado durante séculos com uma irmã inútil. Era mentira, é claro.
Agora sei que Raphael pensou que eu estava morta junto com nossos pais. Mas eu acreditei na mentira. Ou talvez fosse só isso que eu queria acreditar.
— Claro, Raphael salvou-me eventualmente, embora tenha sido por acaso. Ele me encontrou num calabouço em Paris durante a Revolução. Lá estava eu, pouco melhor do que uma prostituta, vivendo nas ruas, roubando, matando, seduzindo homens para meu Senhor e seus outros filhos os poderem drenar, deixando-me a borra. E então Raphael apareceu — poderoso, elegante, um mestre por direito próprio. Ele tinha finalmente chegado em meu socorro e eu o odiei por isso, por ele nunca se render, por ele nunca ter caído tão baixo quanto eu tinha feito.
Ela se virou, colocando-se de volta para o pátio e dando um elegante e pequeno encolher de ombros. — Então eu o fiz pagar. Foi tão fácil como se nunca tivéssemos sido separados. Ele estava cheio de culpa por eu ter sido escravizada por tanto tempo, por ter vivido na sarjeta enquanto ele vestia roupas finas e dormia em lençóis macios. E ele estava desesperado por me recompensar. Não havia nada que ele não faria, eu só tinha que pedir.
Eventualmente, eu comecei a testar a sua devoção.
— Alguma vez você encontrou? — Cyn perguntou.
— O quê?
— Algo que ele não lhe daria?
— Você sabe, Cynthia, eu fiz. Muito recentemente, na verdade.
— O que foi?
— Você.
— O quê? — Cyn se afastou da pequena vampira, de repente desconfortável.
Alexandra riu de sua reação. — Eu disse ao meu irmão que estava solitária. Com Matias morto — ele morreu tentando me defender, mas você sabe disso, é claro — eu não tinha ninguém. Eu a admirava, sua força, sua coragem. Eu queria você como minha amiga, minha companheira.
— Você poderia ter me chamado no telefone. — comentou Cyn.
Alexandra deu um sorriso minúsculo muito satisfeito. — Oh não, você não entendeu. Eu queria que ele transformasse você em vampira, assim você poderia ser minha amiga para sempre.
Cyn congelou, sem saber como responder. Mas algo deve ter se mostrado em seu rosto, porque Alexandra riu de novo, totalmente satisfeita com a reação dela. — Oh, não se preocupe, Cynthia. — disse ela despreocupadamente. — Ele disse que não. — Ela depois ficou séria, olhando pensativa para o pátio de mármore. — Eu acho que nunca vi meu irmão tão furioso quanto ele estava naquela noite, certamente jamais para mim. Ele não falou comigo durante dias, e apenas me informou que se algo acontecesse com você por minha culpa, ele pessoalmente me estacaria.
O rosto de Cyn deve ter mostrado sua dúvida.
— Ele estava muito sério, Cynthia. E ele ficaria muito infeliz se soubesse que você está aqui hoje, acho que ele ainda não confia em mim o bastante. — Mais uma vez ela deu aquele privado e pequeno sorriso antes de dizer brilhantemente: — Me disseram que o contratante estará aqui amanhã para arrancar este mármore ridículo.
Cyn forçou uma risada, aliviada com a mudança de assunto. — Bem, graças a Deus por isso.
— Ele sente a sua falta, você sabe. — Alexandra disse, dando uma olhada a Cyn. — Eu nunca vi o meu irmão tentar esquecer uma mulher ou sentir falta de uma, até que ele o fez quando estávamos trancados lá em Colorado.
Cyn soltou uma respiração, frustrada. — Você sabe, eu estou ficando meio cansada de todo mundo fingindo que isso é culpa minha. Raphael foi quem se afastou, não eu.
— Os homens são tolos, Cynthia. Você certamente sabe disso.
— Nem me diga. — ela murmurou. A nova rodada entusiasmada de música de piano irrompeu da sala de música. Ambas as mulheres olharam para cima.
— Talvez Mirabelle desfrutasse de algumas aulas de piano. — Alexandra disse severamente.
Cyn estremeceu. — Boa ideia. Posso alcançar você através do operador da propriedade? — Quando Alexandra assentiu, Cyn disse: — Vou manter contato então. Mirabelle tem o meu número de celular se ela precisar de alguma coisa. Obrigado por isso, Alexandra.
— Sim. Talvez iremos ser amigas, depois de tudo.
Cyn duvidou, mas esperava pelo bem de Mirabelle que elas pudessem permanecer amigáveis. Pelo menos até que elaborasse algo a longo prazo para a menina. Ela sorriu para Alexandra. A vampira não era a única que podia fingir um sorriso. — Eu gostaria disso. — ela mentiu.
Os olhos de Alexandra brilhavam com uma espécie voraz de alegria, como uma criança olhando para um doce favorito. Abruptamente desconfortável Cyn se afastou do parapeito. — Vou dizer adeus a Mirabelle e partir.
— Qual é a pressa? — Disse Alexandra, espelhando o movimento de Cyn e mais, chegando perto o suficiente para que Cyn pudesse ver os vincos minúsculos em sua maquiagem cuidadosamente aplicada.
— Cynthia! — A voz assustada de Mirabelle quebrou a súbita tensão e as duas mulheres correram de volta para a mansão.
Capítulo 27
Foi um falso alarme — Mirabelle reagindo ao súbito aparecimento de um dos muitos seguranças vampiros de Alexandra. Habituada aos Neandertais que habitava o covil de Jabril, Mirabelle tinham se encolhido em um canto quando Cyn voltou para a sala de música. O guarda vampiro estava quase tão estressado com a situação quanto Mirabelle. Levou apenas alguns momentos para tranqüilizar todos os lados, mas Cyn tinha odiado mesmo isso. Ela não podia sair da presença de Alexandra rápido o suficiente. A velha Alexandra tinha sido uma bonita anacrônica. Esta nova Alexandra fazia os tubarões de Beverly Hills parecerem brinquedos infantis.
Pouco tempo depois, Cyn deixou Malibu e o lado oeste da cidade para trás, dirigindo sem rumo para cima e para baixo na Hollywood Boulevard e suas ruas laterais, parando ocasionalmente para mostrar uma foto de Liz. Ela sempre achou que devia ser um choque desagradável quando os visitantes viam que a cidade mundialmente famosa de Hollywood era na verdade desagradável, uma parte decadente de Los Angeles, abrigava mais prostitutas e sem-tetos do que estrelas de cinema. Com a exceção de um hotel moderno ou dois, Cyn não podia imaginar alguém que ela conhecia, ou sabia que realmente vivia em Hollywood.
Hollywood Hills, talvez, no alto, onde a sujeira e o crime eram nada mais do que luzes cintilantes à distância, mas não em baixo, entre os habitantes decadentes de Hollywood em si. Ela cruzou a rua conhecida pelos seus fugitivos adolescentes, as covas de tiro, as movimentadas ruas onde os carros diminuíam a velocidade e, por vezes, uma menina ou um menino pegavam uma carona para ganhar alguns dólares.
Deprimida com toda a cena, Cyn virou a oeste, uma vez mais, aderindo às laterais, pelas ruas e becos onde uma jovem poderia sentar e esperar a noite.
Ela marcou o número de Luci enquanto dirigia, na esperança de que Liz tenha feito check-in. Luci soou estranhamente cansada e sem paciência quando veio ao telefone, e Cyn podia ouvir gritos ao fundo.
— Você precisa de apoio aí, Luce?
— O que eu preciso é de uma gaiola e algumas algemas. — Luci disse, então respirou fundo. — Não se preocupe. Foi uma noite difícil. Amanhã será melhor. Algum sinal de sua garota desaparecida?
— Nem um sussurro, mas eu mal comecei a olhar. Eu finalmente me encontrei com Eckhoff ontem à noite e dei uma olhada nos uh… Arquivos.
Tenho certeza de que os policiais estão no caminho errado, mas ninguém vai me ouvir. Pelo menos não até que eu encontre provas. Eu estou trabalhando nisso também — Cyn chegou a um sinal de stop e olhou em volta. Ela estava quase no lugar de uma das cenas de assassinato. Todas as razões para não parar ali passaram através de seu cérebro. Já era tarde, ela estava cansada, não era o seu trabalho. Que diabos. — Depois eu ligo para você, Luce.
Ela desligou e deu uma guinada à esquerda, estacionando tão perto da cena quanto conseguiu, mantendo-se razoavelmente confiante de que seu carro ainda estaria em uma só peça quando voltasse. Ela andou o resto do caminho, muito consciente da noite ao seu redor, deslizando uma mão sob o seu casaco e liberando a alça de segurança do seu coldre de ombro. Ela não esperava nenhum problema, mas neste bairro, era melhor ter certeza.
Ela encontrou a cena do crime com bastante facilidade. Era a alguns quarteirões da avenida, um pequeno beco usado pelas lojas para entregas e coleta de lixo. O beco era escuro e cheirava da mesma forma que os becos em toda parte, cheirava a lixo com um toque de desespero e de urina. Ela se agachou, estudando a área.
— Você não se parece com uma policial.
Cyn girou quando a voz desencarnada saiu das sombras, a mão direita foi reflexivamente para a coronha de sua arma. Um menino entrou na luz escassa, talvez 16 anos de idade, magro e desnutrido como todos os outros. Seus olhos estavam machucados, os nós dos dedos raspados. Ele obviamente esteve em uma briga recentemente. Provavelmente não a primeira nem a última.
— Isso é porque eu não sou. — Cyn disse calmamente, sua mão relaxando, seus os olhos voltando para a cena do crime com semanas de idade.
— Joni morreu aqui. — disse o garoto.
Cyn olhou para cima. — Você a conhecia?
— Claro. Todo mundo conhecia Joni. Ela era muito ligada, sempre tinha dinheiro e estava disposta a compartilhar.
— Compartilhar o quê? — Cyn perguntou, pensando que eram provavelmente drogas, lembrando que os corpos tinham mostrado sinais visíveis de uso de drogas.
— Comida, principalmente. — disse o menino, surpreendendo-a. — Joni ficava bêbada às vezes, mas ela não usava drogas. Ela tinha alguns clientes regulares, caras mais velhos que gostavam de foder uma menina e não se importavam em pagar um pouco mais para repetir a experiência.
— Sim. — Cyn suspirou, muito familiarizada com a história. — Você acha que talvez um de seus clientes a matou?
— Talvez, mas era muito tarde. Quase de manhã.
Cyn rapidamente recapitulou o que ela se lembrava do arquivo. A vítima desta cena tinha sido relatada em um 911 anônimo. — Como você sabe que horas eram?
— Eu a encontrei. Sentei com ela até que a polícia veio.
O coração de Cyn pulou uma batida. Não havia quaisquer relatos de testemunhas que ela tenha visto. — Você viu quem fez isso?
— Não vi. Ouvi. Eu acho que assustei o cara.
— O que você ouviu?
O garoto olhou para ela, de repente suspeito. — Por que você faz todas estas perguntas, se você não é uma policial?
— Eu sou uma investigadora particular. — Ela puxou um cartão e o entregou. — Um membro da família me contratou para descobrir o que está acontecendo. — Não era exatamente uma mentira.
O menino olhou para o cartão e de volta para Cyn. — Mais ou menos como aquele cara bruxo Harry Dresden dos livros?
— Mais ou menos, mas sem a magia. Então, ela estava viva quando você chegou aqui?
— Eu acho que não. — Uma espécie de tristeza tomou conta de suas feições e ele desviou o olhar. — Não muito, de qualquer maneira.
— O que você ouviu antes de encontrá-la?
— Um carro e um monte de barulho, como algo grande sendo jogado no lixo. Fui ver o que era porque às vezes as pessoas jogam fora coisas boas, sabe?
Era um bom carro, então eu achei que fosse algo bom.
— Você viu o carro?
— Nah, mas percebi. O motor parecia todo suave e baixo e quando as portas fechavam, você poderia ouvir aquele barulho agradável, não todos os tipos de chocalhos e merda.
Observador, Cyn pensou, inteligente. Ela sentiu um momento de desespero e se perguntou pela milésima vez por que a sociedade jogou essas crianças longe.
— O que aconteceu então?
— Como eu disse, acho que o cara deve ter me ouvido chegar. Ele arrancou muito rápido, borracha queimada por todo o caminho. — Ele apontou para o chão e Cyn se aproximou, agachando-se para olhar de perto as linhas grossas pretas indistinguíveis.
— Se você não viu, como você sabe que era um cara?
Ele pensou um pouco sobre a sua pergunta. — Só percebi, eu acho. — disse ele finalmente. — Eu quero dizer… Não são sempre eles?
— Eles?
— Você sabe, serial killers, os caras que matam prostitutas.
Cyn considerou. — Você fez a chamada ao 911?
— Como? — Ele zombou.
— Então, como a polícia soube?
O menino deu de ombros. — Alguém chamou, eu acho.
— Você falou com a polícia? Disse o que você viu?
— Não. Corri quando ouvi as sirenes. Não fui longe, no caso de eles não estarem vindo aqui, mas eles vieram, então… — Ele encolheu os ombros novamente.
Cyn olhou para o chão, pensando muito. O assassino provavelmente os tinha chamado. E por que ele faria isso? Porque ele queria que se relatasse antes que o sol nascesse, porque ele queria que a polícia pensasse em um vampiro. Ela se levantou lentamente, chegando em sua mochila. — Quando foi a última vez que você comeu? — Ela perguntou casualmente.
Outro encolher de ombros.
Ela tirou vários vales oferta para o McDonalds, juntamente com a imagem de Liz. Ela entregou-lhe os cupons. — Arranja um pouco de comida, compartilha se quiser, mas não se esqueça de comer algo. — Ela virou a fotografia. — Você já viu esta menina?
O menino olhou para a foto, mas não disse nada.
— Você não vai acreditar, mas eu estou tentando ajudá-la.
— Como eu sei disso?
— Você não sabe. Ouça, eu entendo se não quiser falar comigo, mas… — Ela encontrou um dos cartões de Luci e segurou para fora. — Se você vir a menina na foto, dê-lhe este número. Diga-lhe para chamar. Diga a ela que Mirabelle diz que é hora das vacas voltarem para casa. Isso é importante. Ela vai saber o que significa.
Ele deu um olhar a Cyn que dizia que ele duvidava da sua sanidade mental. — Vacas?
— Sim, eu sei, mas diga de qualquer maneira. Se você a vir.
Ele estudou o cartão de Luci, com suas informações sobre o abrigo de fuga. — Já ouvi falar deste lugar. — disse ele, gesticulando para o cartão.
— Sim?
— É suposto ser legal.
— É.
— Talvez eu pudesse chamar também?
— Absolutamente. — Cyn entregou alguns cartões a mais. — Há sempre espaço.
— Eu não estou dizendo que eu vou.
— Não. Mas apenas no caso.
— É isso mesmo. Apenas no caso.
Cyn foi embora, pensando que ele poderia ir para o abrigo, sabendo que ele provavelmente não iria. Mas esperando que ele ao menos usasse os cupons de alimentos e não os trocasse por bebida ou drogas. Não se pode salvar todos, Cyn.
Ela caminhou lentamente de volta para seu carro, cansada e desanimada.
Ela odiava os casos de fuga. Essas crianças nunca queriam falar com ninguém, e com razão, mas tornava seu trabalho muito mais difícil quando ela realmente queria ajudar. Ela alcançou o Range Rover e abriu a porta, jogando sua mochila através do assento. Por outro lado, o garoto parecia reconhecer a imagem de Liz. Talvez ele passasse a mensagem. Talvez Liz soubesse que sua irmã estava procurando por ela e entraria em contato. Talvez.
O sol nascente brilhou em seu espelho retrovisor todo o caminho de volta para Malibu. Ela puxou para dentro da escuridão fria de sua garagem com alívio e fechou o portão atrás dela, expulsando a luz do dia. Dez minutos depois, ela estava em sua própria cama, com os sons do oceano calmo a embalando para dormir. Ela disse a si mesma que não se importava se ela sonhava ou não. Mas era uma mentira.
Capítulo 28
Ela acordou menos de uma hora depois, com a vaga lembrança de um helicóptero sobrevoando a praia. Irritada, ela se virou de costas para a porta aberta e puxou o cobertor para cima, determinada a afundar de volta na inconsciência. Depois de rolar pela terceira vez agitada, ela se rendeu, afastando as cobertas com nojo. Ela nunca conseguia voltar a dormir uma vez que acordava e sua mente começava a ficar agitada.
Sentada à beira da cama, cotovelos sobre os joelhos, esfregou os dedos através de seus cabelos e se levantou com uma maldição. Poderia muito bem fazer alguma coisa. Talvez ela pudesse tirar uma soneca depois. Agora, ela precisava de um café. Muito café. Sozinha no apartamento, ela evitou qualquer roupa além da camiseta com que ela dormiu e fez seu caminho até a cozinha, onde tomou duas xícaras de café e o início de uma terceira antes de seu cérebro limpar o suficiente para se concentrar em qualquer atividade significativa. Um olhar turvo em torno da cozinha trouxe uma luz piscando em foco, e ela percebeu que seu telefone estava tentando lhe dizer alguma coisa. Ela bateu na discagem rápida para o seu correio de voz.
O Bourbon suave de um sotaque sulista se derramou. — Ei, Cyn, é Nick.
Estou ficando um pouco preocupado aqui, querida. Já faz um tempo. Me liga.
Nick era um velho amigo. Na verdade, mais e menos, que um amigo. Um amigo com privilégios. Os dois tinham um arranjo de longa data que era mutuamente gratificante, tanto física como emocionalmente. Nick vivia na outra costa e chamava sempre que estava na cidade. Ao longo dos anos, ambos tinham desfrutado de um ótimo sexo sem compromisso, cada um sendo livre para seguir em frente se conhecesse alguém com quem queria passar o tempo.
Quando as outras relações terminavam, como invariavelmente acontecia, a antiga conveniência estava sempre esperando. O caso com Raphael tinha ido e vindo tão rápido, Cyn nunca tinha tido a oportunidade de dizer a Nick sobre isso, e a ferida ainda era muito grande para sequer pensar em outra pessoa.
Nick, sem saber, tinha deixado um par de suas mensagens habituais enquanto isso, mas ela nunca ligou de volta. Mas agora… Agora, o que, Cyn?
Ela discou. Tocou duas vezes antes de ele atender. — Bem, já era tempo, Leighton. Onde diabos você está?
— Prazer em falar com você também, Nicky.
— Yeah, yeah. Vamos lá, Cyn. Eu estava preocupado.
— Você está certo. Sinto muito.
— Porque nós somos amigos, certo?
— Yeah. Eu disse que estava arrependida.
— Então o que é? Caso importante tomando todo o seu tempo? Conheceu um cara novo, loucamente apaixonada? Mas então você estaria feliz e me ligaria. Então eu acho que alguém quebrou o seu coração. Você quer que eu o mate para você?
Cyn riu. — Ele pode ser difícil de matar.
— Yeah? E eu poderia surpreendê-la. Então, o que está acontecendo? Vou estar na cidade na próxima semana, se você quiser que fiquemos juntos.
Cyn ficou em silêncio, pensando.
— Cyn, querida, se você tem que pensar tanto nisso, você não está pronta. O bastardo. Que tal eu quebrar apenas alguns de seus ossos?
— Eu agradeço a oferta, Nicky. Ambas. E você está certo, eu não estou pronta. Ainda não de qualquer maneira. Mas eu queria que você soubesse que estava tudo bem.
— Bem, eu aprecio a chamada. Então você se mantém ocupada pelo menos? Você não é do tipo de ficar em casa e comer sorvete direto da embalagem, não é? Porque seria uma pena se você arruinasse essa sua bunda bonita.
— Nossa, Nicky. Aqui eu pensando que você estava preocupado comigo e acontece que é só com minha bunda.
— Bem, é uma bunda muito bonita, querida.
— Talvez eu leve minha bunda para uma corrida na praia mais tarde.
Poderia limpar algumas teias de aranha e me ajudar a descobrir uma maneira de obter algumas respostas.
— Então você está trabalhando em um novo caso.
— Garota desaparecida, meu tipo favorito. E para ficar mais interessante, temos um serial killer solto na cidade, e ele parece favorecer as meninas em fuga. Não há pressão.
— Você ainda tem laços muito bons no departamento, no entanto, certo?
Isso deve ajudar um pouco.
— O departamento não está muito feliz comigo estes dias. Até o meu cara regular está sendo cauteloso. Ele me deixou um pouco, mas ele fechou a porta por enquanto. É frustrante.
— Então fale com a secretária ou balconista ou qualquer coisa que esses caras têm. Isso é o que eu faço. Secretárias sabem tudo o que está acontecendo, e se elas gostarem de você, elas falam.
— Como a maioria das secretárias são do sexo feminino, tenho certeza que não é um problema para você.
— Hey, as senhoras gostam de mim, o que posso dizer?
Cyn não respondeu imediatamente. — Você sabe, Nicky… — disse ela pensativa. — Você não é apenas um rostinho bonito, depois de tudo. Essa é uma grande idéia.
— Okaaay… Eu não tenho certeza se isso foi um insulto ou um elogio.
— Com certeza um elogio. Estou contente por ter ligado.
— Sim, eu também. Eu não tenho idéia do que você está falando, mas tudo bem.
Cyn riu. — Obrigado, Nick. Eu vou ficar em contato.
— Faça isso. E cuide dessa bunda bonita.
Cyn desligou, então correu para cima para vasculhar o seu armário. Ela achou o papel que Hartzler tinha enfiado no seu bolso e desdobrou-o. Ele tinha escrito o seu nome e um número de telefone celular em letras maiúsculas. Ela consultou o relógio. Era muito cedo para chamar um cara que trabalhava à noite. Talvez ela tivesse que correr na praia afinal de contas, obter alguma luz natural e ar fresco para variar. Quando ela voltasse, tomasse banho e se vestisse, o Sr. Ian Hartzler deveria estar se preparando para o seu turno na instalação especial do condado. Que era precisamente onde Cyn o queria.
Capítulo 29
O sol era uma mancha de luz no pôr do sol envolvido por nevoeiro quando Cyn estacionou novamente em frente ao prédio de dois andares. O dia tinha sido frio e úmido, o sol completamente obscurecido por nuvens baixas e suspensas. Ela tinha tomado um banho após sua corrida, ficando um longo tempo debaixo da água quente, tentando aquecer.
As câmeras de segurança giraram quando ela fez seu caminho até a instalação. As câmeras eram mais óbvias na luz do dia, seus movimentos quase uma distração enquanto acompanhavam seu progresso. A porta se abriu antes que ela pudesse apertar a campainha.
— Sra. Leighton. — A voz de Hartzler retinha um animado tremor. Ele tinha ficado ansioso quando Cyn tinha ligado mais cedo, dizendo-lhe em voz baixa de sua honra nesta oportunidade de ajudar lorde Raphael. Ele estava tentando se acalmar agora, com sucesso limitado. Cyn ainda estava um pouco assustada, mas deu-lhe um sorriso amigável. Afinal, ele se ofereceu para ajudá-la, sabendo muito bem que poderia custar-lhe o emprego se alguém descobrisse.
— Sr. Hartzler. Obrigado por concordar em me encontrar.
— Oh, é claro. — Ele fechou a porta cuidadosamente atrás dela. — Como eu disse ao telefone, estou honrado por ser solicitado.
— Bem. Obrigado de qualquer maneira. Como eu mencionei, o que eu realmente gostaria é outra chance de rever os arquivos que você tem sobre as vítimas. Claro, os arquivos do caso seriam ideais, mas eu entendo que você provavelmente não tem acesso…
— Mas eu tenho esses também. — disse ele ansiosamente. — Bem, não os últimos, é claro, e não o livro de assassinato do detetive, mas eu tenho todos os relatórios iniciais, as fotos da cena do crime, declarações de testemunhas.
Tenho um amigo… — Ele fez uma pausa, como se ciente de que ele estava prestes a admitir algo que era definitivamente contra o procedimento e possivelmente criminoso. — Bem, digamos que eu não sou o único que deseja servir.
Cyn piscou. Deseja servir? — Ótimo, isso é ótimo. — disse ela, tentando esconder seu desconforto. — Lá embaixo, então?
Hartzler tinha estado ali olhando para ela, os olhos claros brilhando de excitação. Ele sorriu. — Sim, é claro. Nós vamos tomar as escadas.
Lá embaixo, de volta em seu próprio domínio, o técnico do necrotério tornou-se eficiente e profissionalmente conhecedor mais uma vez. Seus olhos ainda a observavam um pouco de perto e um sorriso continuava tocando ao redor de sua boca, mas na maioria das vezes, ele era todo negócios.
— Corpos ou arquivos primeiro? — Houve um toque de desafio em suas palavras. Como se Cyn tivesse alguma coisa a provar para esse cara.
— Os arquivos, eu acho.
Ele abriu uma gaveta da mesa e retirou várias pastas. — Estes são os meus próprios arquivos, uma combinação dos registos do médico legista e do que eu tenho sido capaz de recolher a partir de outras fontes. Eles são confidenciais, você entende, e não existem em qualquer sentido oficial.
— É claro. — murmurou Cyn. Ela pegou as pastas, olhando ao redor por um lugar para sentar.
— Use minha mesa. — disse Hartzler, varrendo a cadeira para fora grandiosamente. — Leve o tempo todo que você precisar.
Cyn escreveu uma nota final e fechou o último arquivo. Ela encheu um bloco amarelo com notas e esboços, Hartzler há muito havia ficado entediado e se afastado para seus próprios deveres. Aparentemente assistir Cyn ler os arquivos do caso não era assim tanto uma honra, afinal.
Ele não estava em lugar nenhum quando ela empurrou as portas duplas para o corredor, então ela foi no andar de cima, imaginando que era aí que ele estava. Ela podia não gostar muito do cara, mas seus arquivos tinham sido surpreendentemente completos, tão completos que ela quis saber exatamente onde os tinha conseguido. Não que isso importasse. A informação tinha sido tremendamente útil e isso era o que importava.
A porta no topo da escada se fechou atrás dela e ela ouviu vozes no corredor. Imaginando ser Hartzler, ela foi nessa direção, já cavando as chaves fora de sua mochila. — Que porra é que ela está fazendo aqui?
Cyn reconheceu a voz e se virou com um sorriso enganador. — Prazer em ver você também, Santillo.
— Eu vou repetir. — disse o detetive Charlie Santillo, ignorando-a para olhar para Hartzler. — Que porra é que ela está fazendo aqui?
Cyn falou antes que Hartzler colocasse ambos em apuros. — Eu sou uma investigadora particular licenciada, Santillo, à procura de uma garota desaparecida. Eu solicitei e recebi através dos canais apropriados a permissão para ver os corpos das Jane Does nesta instalação, em caso de uma delas ser a minha menina. Estou feliz em dizer que ela não está aqui.
Santillo deu-lhe um olhar hostil. — Da próxima vez que você quiser ver um corpo em um dos meus casos, Leighton, você me chama, entendeu? Eu não dou a mínima às cordas que seu pai puxou para você chegar aqui, eu sei para quem você trabalha e eu não quero você se metendo no meu caso.
— Você não tem idéia para quem eu trabalho, Santillo. Mas então você está consideravelmente desinformado sobre um monte de coisas, especialmente esses assassinatos. — Ela se afastou dele deliberadamente. — Obrigado pelo seu tempo, Sr. Hartzler. Lamento não ter sido capaz de ajudar. — Ela começou a descer o corredor em direção à porta, mas a mão de Santillo agarrou seu braço, segurando-a de volta.
— Que porra é que isso significa?
Santillo era quatro ou cinco centímetros mais baixo que ela, mas seu corpo estava coberto de músculo e gordura. Ela olhou para a mão em seu braço e depois revirou os olhos deliberadamente ao encontro dos dele com um olhar frio. Sua mão caiu fora.
— Nós temos o seu cara morto encurralado, Leighton. Ele não vai escapar impune.
— Você não tem nada, Santillo, e eu mal posso esperar para ver o olhar em seu rosto quando você perceber isso. — Ela começou a andar novamente, mas foi novamente interrompida por sua voz.
— E quanto a Carballo, Leighton? Não te incomoda trabalhar para as criaturas que assassinaram sua amiga Benita? Ou talvez foi você quem ajudou a encobrir a coisa toda, hein? Você sabe, ouvi que o sexo com um vampiro é fantástico. É isso que é preciso para comprá-la, Leighton? Uma boa trepada?
Cyn girou sobre seus calcanhares. — É disso que se trata, Santillo? Você tem seus sentimentos feridos? Será que fez você sentir tudo inadequado quando descobriu que Benita estava fodendo um sugador de sangue ao invés de você? — As palavras deliberadamente cruéis foram entregues com um doce sorriso solícito. E elas tiveram o efeito desejado.
— Cadela — Santillo explodiu, fechando a distância até que ele estava em frente de seu rosto. Sua boca cheirava ao alho do almoço, pouco mascarado pela hortelã e as narinas de Cyn beliscaram em protesto enquanto ela se mantinha no lugar.
— Você fez com que Benita fosse morta, Leighton. Eles a drenaram e a deixaram na estrada para morrer, e você ainda está defendendo aqueles bastardos.
— Benita se matou. Ela era uma traidora e você sabe disso. Assim como você sabe que essas meninas não foram mortas por um vampiro. — Ela apontou o seu dedo para o chão, em direção à cave embaixo.
Os músculos rangiram quanto suas mãos se enrolaram em punhos em seus lados. — Não fale de Benita. Não se atreva.
Ele teria dito mais, mas a porta se abriu atrás de Cyn para admitir outro policial, alguém que ela não conhecia, mas que, obviamente, conhecia bem Santillo. Ele deu uma olhada na situação e se colocou entre os dois. Cyn deu um passo para trás ao invés de empurrar contra o seu volume.
— Calma, Charlie. — disse ele para Santillo. — Você não quer arruinar isso agora.
— Você sabe quem é ela? — O braço de Santillo balançou em sua direção.
— Sim, eu sei. E eu sei que ela não vale a pena, então recue.
Cyn se eriçou pelo desprezo de alguém que ela nem mesmo conhecia e estava tentada a empurrá-lo para fora do caminho depois de tudo. Mas ela viu o rosto pálido de Hartzler assistindo do corredor, com os olhos arregalados em pânico e, de repente lembrou-se da verdadeira razão para ela estar aqui. Ela deu mais um passo para trás voluntariamente e estendeu a mão cegamente para a maçaneta da porta atrás dela.
— Isso não acabou, Leighton! — A voz forte de Santillo a seguiu.
— Deixa para lá. — disse o policial. — Não estrague isso, cara.
Cyn olhou por cima do ombro, rapidamente abriu a porta e se virou para sair. Quando ela saiu, a porta se fechou atrás dela, mas devagar o suficiente para que ela ouvisse a voz do policial desconhecido novamente. — Quanto ela sabe?
— Nada. — respondeu Santillo. — Alega que estava aqui por uma garota desaparecida. Além disso, ninguém além de você e…
A porta se fechou, cortando suas palavras. Cyn parou no pé da escada e fez uma careta para o edifício sem janelas. Santillo era o investigador principal deste caso. Foi ele que direcionou todo mundo para a ideia do assassino ser um vampiro, quem pressionou tanto que agora essa era a única ideia que todos estavam seguindo. Se algo estava prestes a acontecer, ela realmente gostaria de saber o que era. Hartzler provavelmente lhe diria, mas ele já tinha arriscado o pescoço o suficiente. Voluntariamente, com certeza, mas ela não queria empurrá-lo ainda mais. Não agora. Ela talvez precise dele mais tarde, e, além disso, essas meninas não tinham sido mortas por nenhum vampiro. Ela tinha certeza disso. Se Santillo tentasse jogar isso em Raphael ou qualquer um de seus vampiros, ele ia ter uma surpresa grande. E definitivamente não do tipo bom.
Capítulo 30
Era tarde, mas ela parou em uma loja de eletrônicos momentos antes de eles fecharem, ganhando olhares de reprovação de todos, exceto do cara que fez as vendas de um computador portátil e de um telefone celular pré-pago. Mais tarde, ela arranjaria para Mirabelle a coisa real, mas o pré-pago teria que servir por agora. Mirabelle queria ajudar na busca de sua irmã, e Cyn tinha descoberto uma maneira dela fazer isso sem se tornar ainda mais perdida do que Liz estava. Ela jogou suas compras no banco de trás e virou para Malibu.
A casa de Alexandra estava iluminada quando Cyn fez a curva final da entrada. A luz elétrica preenchendo todas as janelas, fazendo o edifício formal parecer caloroso e acolhedor, o tipo de casa que sempre mostravam naqueles filmes festivos, exceto pela ausência da árvore na janela. Perguntou-se se Alexandra planejava obter uma árvore de Natal este ano. Provavelmente dependia das revistas que ela estaria lendo na época.
— Cyn! — Mirabelle veio voando para fora da casa quando Cyn estava descarregando suas compras. — Eu não sabia que você viria! — Ela disse com um grande sorriso no rosto.
— Eu queria ver como você está indo. Tudo bem aqui?
— Definitivamente! Esta é uma casa legal e todos os outros vampiros são tão amigáveis. Os caras até me provocam sobre meu jeito de tocar piano. Ah, Alexandra e eu fomos às compras! Sabia que você pode comprar quase tudo na internet se você tiver um cartão de crédito? Se eu soubesse teria gasto uma fortuna. Claro, eu teria tido que ter um cartão de crédito, mas eu aposto que Liz j| percebeu isso e…
Cyn levantou a mão, sem fôlego só de ouvir. — Ótimo. Isso é ótimo, Mirabelle. Na verdade, eu tenho um laptop novo para você aqui. — Ela balançou a caixa quadrada grande para fora do carro, com intenção de levá-la para dentro ela mesma, mas Mirabelle a deslizou facilmente de seus braços. Ah, certo. Vampira. — Eu quero que você comece a procurar em torno dessas mensagens online que você e Liz usam. — disse Cyn. — Espalhe algumas mensagens por aí dizendo que você está segura e procurando por ela. Eu comprei para você um telefone celular também.
— Legal! Obrigada, Cyn. Eu estive verificando os nossos fóruns de mensagens usuais; Alexandra me deixou usar seu computador. Mas não há nada desde a primeira mensagem. — A testa de Mirabelle estava enrugada com preocupação.
— Sim, isso não me surpreende muito. Embora, o computador de Liz pode ter sido perdido ou mesmo roubado, ou talvez ela colocou em um armário em algum lugar por segurança. De qualquer forma, ela poderia fazer logon a qualquer momento, em um café ou no computador de outra pessoa, e eu quero você lá esperando por ela.
Elas começaram a caminhar em direção à casa, passando a cobertura de alfena que cercava o pátio de mármore. Cyn olhou e viu que o mármore brilhante havia sido removido, deixando uma parcela de terra poeirenta. — Os operários vieram, hein? — Disse ela.
Mirabelle encolheu os ombros. — Eu acho. Quando acordei esta noite, estava assim. Alexandra diz que vai colocar um labirinto. Eu sempre os achei assustadores.
Cyn inclinou um olhar a Mirabelle, mas claramente a ironia de um vampiro chamar um labirinto de assustador se perdeu nela. — Vamos lá. — disse ela. — Vamos entrar e começar a configurar as coisas. Inferno, se eles têm uma conexão sem fio aqui, em breve você vai ser capaz de fazer compras a partir de qualquer divisão da casa.
— Espere até Alexandra vê-lo. Ela vai querer um também. Nós já falamos sobre como seria melhor ela ser capaz de fazer logon a partir de qualquer quarto. Você sabe, porque ela está fazendo um monte de remodelação e dessa maneira nós poderíamos realmente estar no quarto em que estávamos trabalhando.
— Então vocês estão se dando bem?
— Oh, yeah. Absolutamente. — Mirabelle baixou a voz à medida que entraram na casa. — Me sinto um pouco mal por vir morar com ela, mas ela realmente parece não se importar. Ela é meio solitária, eu acho. Ela esteve me contando tudo sobre sua vida e sobre Matias. Esse é o cara que morreu a defendendo. Ele parece realmente doce. Ele era um dançarino, você sabia…
— Não, eu não…
—… Na Europa, eu não sei há cem anos ou algo assim, talvez mais. De qualquer forma, é tão romântico.
Cyn acenou com a cabeça em concordância e a deixou falar, contente que Mirabelle estava se estabelecendo, e que Cyn estava livre para continuar sua busca pela desaparecida Elizabeth.
Capítulo 31
Três noites se passaram. Noite gastas subindo e descendo as ruas escuras de L.A, conversando com as crianças em fuga e operadores de abrigos, cafés e clubes de visita, mostrando a foto de Liz para quem quisesse olhar. Mas Cyn não estava mais perto de encontrá-la. Ela estava em seu armário na quarta noite, vestindo apenas sua calcinha e olhando fixamente para as prateleiras de roupas, enquanto seu cérebro lutava para pensar em uma nova abordagem, algo novo que a ajudasse a encontrar Elizabeth. Vários dos meninos com quem ela tinha falado claramente reconheceram Liz, embora nenhum deles admitisse isso. Era frustrante, mas disselhe, pelo menos, que Liz estava viva e bem em algum lugar nas ruas de L.A. Agora tudo o que tinha a fazer era convencer a menina a vir para a luz.
Muito mais preocupante, porém, era a crescente evidência de que o verdadeiro investigador de Jabril tinha finalmente seguido o rastro para a Califórnia. Mais de um dos meninos de rua tinha sido questionado por alguém antes de Cyn chegar lá, alguém que as crianças tinham descrito como o investigador de cabelos brancos que ela viu na casa de Jabril. O que significava não só que ele estava no caminho certo para encontrar Elizabeth, mas ele estava demasiado perto de Mirabelle para o conforto de Cyn.
Naturalmente, as pessoas da segurança de Raphael compreenderam a importância de manter Mirabelle na propriedade e longe da vista, e Cyn fez questão de mencionar isso para Alexandra. Ela também falou em particular com Duncan, que assegurou que os guardas do portão tinham sido instruídos a não permitir Mirabelle sair da propriedade sem autorização específica dele ou de Raphael. Ela respirou um pouco melhor depois disso, impulsionada pelo conhecimento de que o perigo para Mirabelle era temporário, somente até que a jovem vampira estivesse formalmente sob a proteção de Raphael. Uma vez que isso acontecesse, Jabril arriscaria um conflito direto com o Raphael se tentasse forçá-la de volta ao Texas, algo que Duncan tinha dito que Jabril não arriscaria uma vez que o Conselho Vampiro certamente estaria do lado de Raphael neste caso. Sua linha de pensamento a fez lembrar que a nomeação de Mirabelle com o lorde vampiro estava a três dias de distância e Raphael esperava que Cyn estivesse lá. Ela suspirou.
Quanto a Raphael e seu envolvimento nos assassinatos, não tinha havido um pio de ninguém nos últimos dias sobre a investigação. Nada de Eckhoff, o que já era esperado dado o seu encontro com Santillo, mas Duncan tinha estado bem silencioso. Será que isso queria dizer que a polícia tinha parado de olhar para Raphael? Certamente Duncan a deixaria saber se as coisas estivessem esquentando. Ela sentou-se para dar um puxão em suas botas Fryem, dizendo a si mesma que ela era uma idiota. Por que ela estava se preocupando, afinal?
Raphael? O vampiro mau e grande poderia cuidar de si mesmo.
Ela balançou a cabeça, rejeitando o pensamento. Ele estava provavelmente viajando ou ocupado ou quem sabe o quê mais? Então ninguém lhe tinha ligado. Não era isso o que ela queria todas essas semanas? Ser deixada sozinha, para poder superá-lo?
Uh-huh. Ela agarrou o primeiro suéter que encontrou e puxou-o sobre sua cabeça. Era hora de parar de insistir sobre o vampiro e começar a trabalhar.
Ela precisava encontrar Liz e colocá-la a salvo antes que alguém a encontrasse.
Capítulo 32
Mirabelle deixou cair a bolsa de sangue vazia num caixote de plástico e limpou a boca delicadamente com o fino guardanapo de linho. Havia um pouco de sangue em um dedo e ela o lambeu rapidamente, saboreando o sabor rico do líquido espesso. Ela nunca imaginou que sangue pudesse ter um gosto tão bom.
Lonnie disse que Jabril provavelmente tinha adicionado água ao seu fornecimento de sangue todos estes anos, mantendo-a fraca, mantendo-a obediente. A raiva reprimida há tempo apertou seu intestino e ela ficou de pé, pisando sobre o seu pequeno banheiro privado para lavar as mãos e o rosto.
A deixava doente pensar o que sua vida tinha sido todos esses anos, quão completamente intimidada ela tinha ficado com o lorde vampiro do Texas. Ela queria acreditar que tinha sido a desnutrição ou a simples ignorância. Mas a honestidade obrigou-a a admitir que tinha sentido medo. Terror, na verdade.
Não que Jabril Karim não lhe tenha dado muitos motivos para temê-lo, mas ela deveria ter lutado de alguma forma. Inferno, ela deveria tê-lo deixado. Deveria ter saído pela porta, ido para o advogado de seus pais, para os policiais, ou mesmo para Ramona Hewitt. Alguém a teria ajudado, mesmo que apenas pelo dinheiro. E os deuses sabiam que havia o suficiente para isso. Cynthia já tinha conversado com ela sobre tomar o controle da parte da fortuna Hawthorn de Jabril. Ela colocou-a em contato com alguns grandes advogados aqui em LA, e eles já tinham vindo encontrar-se com ela. Cynthia tinha estado lá também, mas por pouco tempo. Ela estava ansiosa para voltar às ruas, à procura de Liz. Cyn não tinha dito nada, mas Mirabelle sabia que ela estava preocupada com o tempo que ela estava levando para encontrar sua irmã.
Mirabelle também estava preocupada. Ela tinha deixado diversas mensagens na sala de bate-papo para Liz, cada uma essencialmente o mesmo.
Está tudo bem, estou segura. Onde você está? O pensamento sobre Liz a enviou para a nova mesa, que tinha sido entregue ontem. Era uma bela peça, se não fosse até mesmo exatamente o que Mirabelle teria escolhido. Mas, afinal, esta era a casa de Alexandra, Mirabelle era apenas uma convidada. Um dia em breve, depois de Cyn encontrar Liz, as duas irmãs encontrariam um lugar e elas o iriam decorar da forma que queriam. A deixava um pouco triste pensar em deixar a propriedade, no entanto. Todos os vampiros aqui eram tão agradáveis, tão aparentemente comuns. Ela até encontrou várias outras vampiras, além de Elke que parecia um pouco assustadora, mas que tinha sido muito simpática, brincando que Mirabelle precisava de alguns músculos e se oferecendo para ajudá-la a se exercitar no ginásio.
Pela primeira vez, ela sentiu-se parte de uma comunidade. Ela engordou dez quilos no pouco tempo que estava em L.A e sua pele estava corada com uma cor rosada que era pálido, mas muito mais saudável que ela esperava ser novamente. E dez quilos! Quem teria pensado que isso seria uma coisa boa. Ela riu baixinho. Talvez ela pegaria Elke para aquele treino depois de tudo. Ela gostava da guarda feminina, apesar de Alexandra não aprovar. Alexandra tinha algumas ideias muito antigas sobre como uma mulher deveria se comportar, e ser uma guarda-costas não era uma delas.
Mas Mirabelle pensava que era ótimo Elke fazer parte da segurança interna de Raphael. Era uma honra, uma marca de sua confiança. Claro, todo mundo aqui levava a segurança muito a sério. E não apenas nos portões. Todos os vampiros na propriedade dormiam durante o dia na segurança dos porões.
Não apenas Raphael ou Alexandra, mas todos os guardas e Mirabelle, também.
Cada um deles tinha uma câmara privada especialmente construída nos subterrâneos, uma sob a casa principal e outra na mansão de Alexandra. Elas eram como cofres bancários gigantes, mas uma vez fechada para o dia, a porta só poderia ser aberta por dentro. Mirabelle nunca tinha conhecido esse tipo de segurança como uma vampira.
Ela ainda não tinha realmente visitado a casa principal, mas ela logo iria.
Este fim de semana, ela iria apresentar-se a Raphael e pedir formalmente a sua proteção. Alexandra a tinha perfurado com as palavras adequadas para dizer e como agir. Ela estava com medo de Mirabelle se envergonhar, e por associação, Alexandra, se ela estivesse desarrumada. Então elas ensaiaram o ritual todas as noites até que Mirabelle estivesse sonhando com as palavras durante seu descanso diurno. Não era complicado nem nada, mas era importante para Alexandra, então Mirabelle praticava porque ela definitivamente queria ficar com Raphael.
De volta ao seu computador, ela foi primeiro à sala de chat familiar e iniciou a sessão. O ícone de mensagem em espera surgiu imediatamente. Ela ficou tão surpresa que olhou estupidamente para ele por vários minutos.
Quando finalmente lhe ocorreu o que podia significar, seus olhos se arregalaram e seu coração começou a acelerar; sua mão tremia tanto que ela teve que tentar duas vezes antes de conseguir manobrar o cursor e clicar na mensagem para abrir.
Liz! Era de Liz! Uma combinação de lágrimas de felicidade e alívio lhe encheu os olhos, e ela agarrou um lenço de papel antes de voltar para o computador. Ela leu a mensagem rapidamente, sua euforia rapidamente mudando para preocupação. Sua irmã ficou feliz ao ouvir dela, espantada que Mirabelle tivesse escapado de Jabril e estava aqui em L.A. Mas todos os pertences de Liz haviam sido roubados em seu segundo dia na cidade, deixando-a com nada, exceto a bolsa pequena e, felizmente, o pouco de dinheiro que ela conseguiu reunir antes de fugir. Tinha sido difícil por algum tempo, mas estava segura agora, ela disse. Ela conheceu um cara, alguém mais velho, que a estava deixando ficar em seu quarto de reposição, até que ela descobrisse o que fazer. O cara tinha até se oferecido para ajudá-la a arrumar um advogado ou algo assim, uma vez que ela completasse dezoito anos e pudesse reclamar legalmente sua herança.
Não se preocupe, ela escreveu, antecipando corretamente a reação de Mirabelle. Ele não é um pervertido e nem um cretino. Ele é alguém que sabe o que estou passando, porque teve que fugir de casa quando ele tinha dezesseis anos. O padrasto abusava dele. Você pode acreditar nisso? Repugnante. Ele não gosta de falar sobre isso, mas eu acho que foi bem difícil. Uma vez que receber o dinheiro do papai, eu vou ajudá-lo a criar seu próprio negócio. É o mínimo que eu posso fazer.
Mirabelle encarou a mensagem de sua irmã, o sangue que ela gostou tanto há pouco tempo atrás estava pesado em um estômago enjoado. Deus sabia que ela certamente não era uma mulher do mundo, não como Cynthia, que sempre foi tão confiante, tão corajosa. Ela suspirou. Mas até mesmo Mirabelle sabia que esse cara estava usando Liz. A deixava doente pensar que jogos ele podia estar jogando com sua irmãzinha, mesmo agora. Ela apertou o botão de responder.
Vaca Bebê! Ela colocou um grande emotion sorrindo depois das palavras.
Eu tenho um lugar que você pode ficar. Um lugar seguro, COMIGO! Chame-me. Ela inseriu o seu número de telefone temporário. Ou me encontre no chat. Estarei esperando por você. Ela fez uma pausa em sua digitação, tentando pensar na melhor hora, quando ela sabia que estaria acordada e já sentada em seu computador. Ela encolheu os ombros e digitou, todas as noites. Tick tock, tick tock. Estou esperaaaaando. Ela terminou com um emotion de um vampiro, dentes pequenos e couro cabeludo terminando em bico na testa e com uma capa no pescoço.
Os guardas humanos tinham começado a chegar para o turno diurno, e Mirabelle ainda não tinha conseguido uma resposta de sua irmã. Ela não deveria ter esperado uma reposta imediata, ela supunha. Esse cara estava deixando Liz usar seu computador, mas talvez não o tempo todo. Ainda assim, Mirabelle esteve entrando e saindo da sala de bate-papo durante toda a noite, enquanto vagava pela mansão, com o laptop a tiracolo, tentando evitar o último grupo de artesãos que Alexandra tinha contratado em sua busca obstinada pela remodelação perfeita. Aparentemente, uma vez que a mulher começava alguma coisa, ela perseguia com uma vingança.
Mirabelle olhou para o relógio. Em pouco tempo, ela teria que descer as escadas para seu pequeno quarto no cofre. Os operários humanos começaram a arrumar as malas, ferramentas barulhentas, conversando entre si em voz alta.
Os guardas vampiros assistiam os visitantes de perto, conscientes do nascer do sol que estava chegando, ansiosos para que eles tivessem ido.
Procurando um lugar calmo, Mirabelle correu através da cozinha se dirigindo para fora, para baixo da unidade e ao longo do caminho entre as duas casas. Era tranqüilo aqui, os operários barulhentos e os guardas preocupados tinham ficado para trás. Depois de viver como prisioneira de Jabril por tantos anos, ela saboreava a liberdade de caminhar na terra silenciosa sob as árvores frondosas e respirar o ar fresco. A lua pálida, baixa no horizonte, quase não se intrometeu, mas sua visão de vampiro facilmente seguiu o caminho de cascalho.
Bancos foram pontilhados em intervalos regulares, pequenas construções de concreto com gárgulas fantasiosas e assentos. Algumas olhavam corajosamente o céu aberto. Outras espiavam atrás ou abaixo. Elas a tinham feito rir em voz alta na primeira vez que as tinha visto e agora ela pensava nelas como ela própria. Ela vinha aqui quase todas as noites antes do amanhecer e nunca tinha visto alguém que não os ocasionais guardas de patrulha.
Quando ela tinha ido longe o suficiente para que casa de Alexandra não fosse mais visível por entre as árvores, ela sentou-se em um dos bancos de concreto e iniciou sessão para fazer uma rápida pesquisa. Ainda nada e não havia muito mais tempo esta noite, menos de uma hora antes que ela tivesse que se dobrar em sua cama, embora para os outros demoraria um pouco mais.
Ela se inclinou para trás e virou a cabeça em direção à mansão, escutando.
Portas bateram no meio de sons de motores, os trabalhadores deveriam finalmente estar saindo. Ela se levantou, pronta para voltar, mas uma onda de ruído atraiu-a em outra direção, em direção à elegante e expansiva mansão, onde Raphael e seus vampiros viviam e conduziam o negócio conhecido como Raphael Enterprises. Ela hesitou, dividida entre a curiosidade e o desejo instintivo de descer para a segurança do cofre sob a mansão.
A curiosidade venceu, é claro. Ela muitas vezes sentou-se à noite e assistiu as idas e vindas na casa principal. Na maioria das noites, havia um agitado desfile de vampiros e humanos. Alguns estavam lá para fazer negócios com Raphael. Outros, e Mirabelle os reconheceu facilmente, estavam lá para oferecer-se aos vampiros como doadores de sangue. Tanto homens como mulheres, foram levados às casas de sangue mantidas por toda a cidade, muito bem guardadas por vampiros de Raphael, escoltados para a noite e sempre indo antes do amanhecer. Ao contrário de Jabril, Raphael não mantinha qualquer escravo, de sangue ou outra coisa.
Ela se aproximou da curva final no caminho. A casa principal não estava completamente visível ainda. Sentou-se a vários metros abaixo do caminho mesmo à beira do precipício. Mas ela podia ver luzes a piscar contra o céu escuro. Vermelho e azul em um padrão de rotação. Parecia familiar por algum motivo, e ela se apressou para frente só para se abaixar rapidamente atrás das árvores.
Dois veículos policiais estavam na calçada abaixo, um preto e branco, a sua barra de luz piscando em silêncio, o outro um modelo atrasado do sedã americano com uma daquelas luzes portáteis vermelhas que piscavam no telhado. Em pé ao lado do carro-patrulha estava um casal de policiais uniformizados, com as mãos repousando nervosamente em suas armas enquanto olhavam para os vários grandes e muito chateados vampiros ao seu redor. O sedã estava com as duas portas abertas, o interior com luzes acesas, mas sem ninguém dentro.
Enquanto ela o observava, as portas de vidro duplo da casa principal se abriram e surgiu Duncan, seguido por dois enormes vampiros asiáticos que pareciam ir a todo o lado com Raphael. Duncan parecia estar furioso. Ele se movia rigidamente e ela podia ver a ponta de suas presas salientes abaixo de seu lábio superior. Ele sacudiu a cabeça para os vampiros em torno dos veículos da polícia e eles se afastaram, formando um semicírculo ao redor do guarda-costas e dos dois humanos que os seguiam com… Mirabelle engasgou. Raphael!
Um baixo rosnado de raiva ressuscitou dos vampiros quando Raphael surgiu, as mãos algemadas atrás de suas costas, detido entre dois homens humanos, provavelmente os policiais do carro sem identificação. Pararam ao pé das escadas e o policial de cabelos escuros ao lado de Raphael disse algo.
O poderoso vampiro girou lentamente a cabeça olhando para baixo para o homem. Seus olhos negros cintilavam prateados com raiva e ele virou aquele olhar para seus vampiros, verificando-os lentamente, tocando cada um deles, atraindo-os para uma singular, focada entidade, totalmente sob seu controle, aguardando o seu comando.
De onde ela estava a vigiar, Mirabelle também sentiu a atração irresistível de sua vontade. Ela tremia com a força disso, sabendo com absoluta certeza que ela iria correr colina abaixo em seu socorro, até mesmo para sua própria morte, se ele desejasse. Ela ficou tensa, pronta para lançar-se ao seu comando, mas uma onda de tranquilidade inundou seus sentidos em seu lugar.
Ela sentiu de repente como se estivesse ombro a ombro com os vampiros reunidos abaixo, como eles pisaram para trás em um movimento único e unificado para permitir que os humanos passassem com o seu prisioneiro.
Raphael falou em voz baixa para Duncan, que deu um aceno de cabeça afiado e ficou de lado, seu rosto uma máscara de algo próximo ao desespero, vendo como seu senhor deslizou graciosamente para o banco de trás do carro sem identificação.
Com uma caótica agitação de portas batidas e rodas a chiar, os veículos da polícia giraram em torno da unidade e voltaram em direção ao portão principal. Quase que imediatamente dois SUVs pesados rugiram e os guarda-costas vampiros estavam empilhados dentro, Duncan entre eles. Os grandes SUVs partiram com um grito de borracha, logo nos calcanhares de Raphael e da polícia.
O silêncio em seu rastro era ensurdecedor. Vampiros ficaram paralisados, olhando para a partida de seu mestre, incapazes ou sem vontade de voltar para dentro. Finalmente, um dos vampiros que seguira Raphael da casa deu uma ordem e todos se moveram sem demora. Mirabelle sacudiu-se.
Ela tinha que voltar para a casa, tinha que contar a Alexandra e aos outros na mansão, se ainda não sabiam. Ela correu de volta para o caminho, o laptop debaixo do braço quase esquecido. Ela tinha que… Ela tinha que ligar para Cynthia!
Capítulo 33
Cyn fechou seu telefone celular com uma maldição, correndo do abrigo para crianças desabrigadas onde ela tinha estado a seguir uma pista sobre Elizabeth. Ela correu para seu Range Rover, abrindo as fechaduras e deslizando atrás do volante em um único movimento. As buzinas estridentes dos motoristas indignados foram ignoradas enquanto arrancava do meio-fio, abrindo seu telefone novamente para ligar para Eckhoff. Ele tocou várias vezes antes de seu correio de voz atender.
— Obrigada pelo aviso, Eckhoff. — ela rosnou. — Diga ao pedaço de merda Santillo que ele pode dar um beijo de despedida na bunda dele quando isso acabar, porque ele tem o cara errado. — Ela desligou e chamou imediatamente Duncan.
A voz do vampiro era pouco mais que um grunhido.
— Eu estou a caminho. — disse ela.
— Você sabe onde? — As palavras eram grossas, mostrando a sua raiva.
— Sei. Eu estarei lá. — Ela fechou o telefone e fez uma curva à direita para pegar a auto-estrada. Ao inferno com o limite de velocidade. Era quase dia.
A instalação estava equipada para lidar com o sono de um vampiro? E quanto a Duncan e os outros, sua necessidade de proteger Raphael superaria até mesmo os instintos de retirar-se do sol nascente. Ela bateu no volante com raiva.
Maldito Santillo. Ela mal podia esperar para contar-lhe como ele estava errado.
Ela só esperava que os vampiros não chegassem a ele primeiro.
Capítulo 34
Duncan estava esperando lá na frente quando ela chegou, andando para cima e para baixo na calçada estreita. Ele olhou para cima quando ela estacionou sua caminhonete e praticamente se jogou do assento do motorista, os olhos brilhando vagamente no brilho das luzes de segurança em torno da instalação.
— Onde ele está? — Ela perguntou secamente.
Ele olhou-a em silêncio, o escrutínio invulgarmente intenso, mesmo para Duncan. — Dentro. — disse ele finalmente. — Eles não me deixaram ficar com ele, mas os seus advogados estão lá.
Cyn continuou andando e Duncan acertou o passo ao lado dela. — Onde está todo mundo? — Perguntou ela. — Mirabelle disse que havia um monte de vocês que o seguiram.
— É quase dia. Enviei os outros para casa. Não fazia sentido ficar todo mundo em pé aqui fora. — O celular de Duncan tocou. Ele olhou para o identificador de chamadas e atendeu. — Ela está aqui. — disse ele e desligou quase que imediatamente.
Cyn olhou para ele. — Quem era?
— A advogada do Senhor Raphael. Ela está vindo para fora para falar com você.
— Eu? Por quê?
Duncan teve a graça de parecer desconfortável. — Você já ouviu falar de Obaker?
— Claro, eu ouvi falar de Obaker, mas o que…
— Obaker versos Oklahoma. — uma voz de mulher se intrometeu. — Qualquer vampiro levado sobre custódia tem o direito de designar uma presença de custódia, a fim de garantir sua segurança, se realizada fora dos recintos de uma instalação federal especificamente mandatada. E, felizmente para nós, esta estrutura maravilhosa definitivamente não é uma dessas instalações federais.
Cyn virou-se para ver uma graciosa vampira descer a passarela. Longos cabelos brancos brilhavam na fraca luz, contrastando fortemente com a pele dourada e características asiáticas para dar-lhe uma aparência exótica que se ajustava perfeitamente com as delicadas presas descobertas num sorriso cruel.
Quando ela se aproximou, ela estendeu a mão bem torneada. — Kimiko Lorick.
— disse ela. — O Senhor Raphael me confiou sua defesa. Não que ele precise muito, uma vez que estas acusações são claramente absurdas e completamente sem mérito. — Ela olhou para Cyn criticamente. — Você está pronta?
— Pronta para quê? — Cyn perguntou, embora tivesse uma boa ideia e não gostava nem um pouco.
— Duncan não explicou? — Kimiko olhou para o tenente de Raphael, que balançou a cabeça.
— Sra. Leighton acaba de chegar, Kimiko. Eu estava prestes a discutir o assunto…
— O sol está quase nascendo, Duncan. Não há tempo para a diplomacia.
— Ela girou seu olhar de volta para Cyn. — O Senhor Raphael afirmou os seus direitos de Obaker e designou você, Cynthia Leighton. Se você não vai servir, eu preciso saber agora, enquanto eu ainda posso persuadi-lo a aceitar a outra pessoa. Eu não vou deixá-lo desprotegido. Se necess|rio…
— Por quê? — Cyn exigiu a Duncan. — Por que ele faria isso?
— Porque ele confia em você, Cynthia.
— Por que não os advogados? — Ela virou-se para Kimiko. — Um de vocês deve ser humano, certo?
Kimiko assentiu. — Meu marido, Boyd. E ele ficaria honrado em permanecer, mas ele vai ser melhor utilizado no tribunal, garantindo a liberação do Senhor Raphael. Ele não pode ser trancado aqui. Além disso, meu senhor te escolheu.
— E se eu disser não?
Kimiko deu a Cyn um olhar funesto. — Então eu vou tentar fazer outros acordos com o pouco tempo que tenho. Se eu falhar, o Senhor Raphael vai dormir inseguro e vulnerável a qualquer coisa que os humanos planejaram. E eu não duvido por um momento que esta farsa toda foi orquestrada para esse fim. O momento da prisão foi muito conveniente para o meu gosto.
Cyn olhou para Duncan. — Não olhe para mim desse jeito. — ela retrucou. — Vou fazer. Então o que acontece agora?
Kimiko deu-lhe um sorriso muito satisfeito, como se a coisa toda fora ideia dela. — Você está carregando uma arma?
— É claro. Por quê?
— Dê-me. — Kimiko ergueu a mão para evitar o protesto automático de Cyn. — Eles vão revistar você uma vez que esteja dentro. — Ela fez uma pausa, tomando a Glock de Cyn e aconchegando dentro de sua jaqueta de couro. — Mas eles não irão me revistar. Certifique-se de ficar perto depois. Eles esperam que nós a consultemos e, claro, nós não queremos ser ouvidos, por isso vamos nos aproximar. Eu lhe darei a arma de volta então. Você pode lidar com isso?
— Sim. — disse Cyn, insultada por isso ter sido perguntado.
Kimiko tomou seu braço. — Duncan. — disse ela sobre o ombro. — Vai ser apertado. Boyd irá dirigir de volta para a propriedade, mas esteja pronto para vir conosco assim que sairmos de lá.
Como se para enfatizar seu aviso, as luzes de segurança se desligaram em seu temporizador automático e Cyn olhou para o leste, vendo a primeira luz aquosa do nascer do sol. Eles correram em direção à porta e ela perguntou logo: — Você viu os corpos? — Ao lado dela Kimiko hesitou.
— Não, — ela disse, um pouco intrigada. — Eu requeri cópias…
— As vítimas foram drenadas com feridas de punção na artéria carótida.
— Merda. Não admira que tenham atrasado em me entregar os relatórios daquele legista. Merda. — Ela apontou a porta.
Cyn entregou a Kimiko sua mochila. — Existe um arquivo aqui que Boyd precisa ver. Tenha cuidado com ele. Parte dele, inferno a maior parte, é coisa que não deveria ter.
Kimiko jogou a mochila para Duncan e bateu seu punho na porta, impaciente. — Os bastardos sabem que estamos aqui, eles estão me irritando.
Eu vou processar suas bundas quando… — A porta finalmente deu um zumbido severo e avançou ligeiramente aberta. Kimiko empurrou o resto do caminho, ignorando o policial novato que estava correndo pelo corredor em direção a eles. Eles seguiram pelo corredor, passando pela escada, por todo o caminho até a parte traseira do edifício. Enquanto caminhava, ela falou rapidamente.
— Ok ouça, estas são as regras. Ninguém entra na cela, a menos que você especificamente solicite. Uma vez que você estiver dentro, a porta será trancada atrás de você. Não pode haver vigilância de qualquer tipo dentro da cela, outro mandado Obaker e como eles o odeiam…
Houve um flash de branco e de repente Ian Hartzler saiu de um dos escritórios, segurando uma pilha de arquivos na frente de seu peito. Ele correu direto para Cyn, atingindo-a com força suficiente para desequilibrá-los aos dois, enviando os arquivos ao chão. — Sra. Leighton. — disse ele. — Eu sinto muito.
— Agachou-se para recolher os arquivos dispersos e Cyn automaticamente se abaixou para ajudar, com o rosto apenas alguns centímetros de distância do técnico confuso. — Câmeras. — ele sussurrou urgentemente. Cyn deu-lhe um olhar confuso. Ele encontrou o seu olhar atentamente e sussurrou: — Há câmeras na cela!
Cyn rapidamente devolveu as pastas que tinha recuperado quando Kimiko agarrou-a pelo cotovelo e começou a puxá-la de volta para o corredor.
— Você tem algum chiclete? — Cyn perguntou. Kimiko deu-lhe um olhar distraído. Cyn parou abruptamente, impedindo seu progresso. — Kimiko. Eu realmente gostaria de um chiclete. Eles devem ter uma máquina aqui em algum lugar.
— Jesus, Cynthia, não pode esperar? Você tem alguma ideia de… — Seus olhos se arregalaram em compreensão súbita. — Chicletes. Ok. — Ela olhou ao redor descontroladamente, então pediu a Cyn para ir em frente novamente. — Vou cuidar disso. Você precisa chegar lá atrás.
O corredor da cela tinha três homens de uniformes azuis, que deram passagem a contragosto quando Cyn e Kimiko empurraram. Santillo estava do lado de fora de uma porta fechada, a gritar com um homem alto, com cabelo preto e grosso, que estava vestindo um bem adaptado terno azul. Boyd Lorick, Cyn assumiu, o que se confirmou quando Kimiko apareceu e se juntou à discussão. Cyn encontrou uma parede, planejando esperar enquanto os três estavam lá. Ela olhou para o relógio e pensou em Duncan esperando lá fora enquanto o sol nascia.
— Assuma a posição, Leighton.
Cyn olhou para cima e encontrou o parceiro sem nome de Santillo olhando para ela. Uma jovem mulher de uniforme azul estava ao seu lado, parecendo claramente desconfortável. Cyn concordou com um negligente encolher de ombros, e se afastou da parede, abrindo os braços para os lados enquanto a policial feminina fazia uma rápida, mas completa revista.
— Ela está limpa. — disse a mulher e desapareceu na multidão. Cyn assistiu-a ir e avistou um banco de máquinas de venda automática no final do corredor. Ela assentiu com a cabeça naquela direção. — Você se importa? Eu não jantei.
O parceiro deu-lhe um olhar cético e a seguiu quando ela foi lentamente até as duas máquinas. Uma delas era de bebidas geladas, mas a outra… Ela cavou uns enrugados cinco dólares de seu bolso jeans, alisou-os e deslizou para o leitor. A máquina refletiu sobre a qualidade do seu dinheiro por um tempo, decidindo que estava tudo bem e a informou em brilhantes números vermelhos de sua boa fortuna. Cyn comprou um pacote de bolachas que não queria, esperou enquanto elas caíam para baixo, e depois pediu chicletes de menta. Não exatamente seu sabor favorito, mas ela não estava comprando pelo sabor.
Enquanto ela regressava a discussão continuava, ela desembrulhou um par de chicletes e empurrou-as em sua boca, alisando ociosamente os invólucros com os dedos.
O parceiro de Santillo olhou para os pequenos pedaços de papel alumínio e Cyn sorriu para ele, mastigando ruidosamente. — Você quer os invólucros do meu chiclete, detetive?
Ele fez uma careta e Cyn riu alto. Ela abaixou-se atrás de uma mesa e jogou os invólucros em uma lata de lixo. — Você esteve assistindo filmes demais. — ela repreendeu, então olhou para cima quando os gritos finalmente pararam.
— Ela está desarmada. — o parceiro confirmou, para o óbvio desapontamento de todos menos de Cyn e dos dois advogados.
— Legal, Leighton. — rosnou Santillo. — Protegendo-os contra a sua própria espécie. Não pensei que você fosse descer tão baixo.
Cyn sorriu docemente, recusando-se a ser manipulada. — Kimiko. — disse ela, virando o olhar para a advogada vampira. — Um momento, por favor?
— É claro. Dê-nos algum espaço, Santillo. — Kimiko nem sequer tentou ser educada, prendendo o volumoso detetive com um olhar lento e frio. Santillo praguejou sob sua respiração, mas recuou vários metros. Kimiko e seu marido Boyd puxaram Cyn, virando as costas para o corredor e protegendo-a de olhares indiscretos. Colocando suas cabeças juntas para conferenciar, Boyd Lorick deu à sua esposa um olhar duro. — Você está bem, Kimmi?
Kimiko piscou várias vezes e respirou fundo. — Não por muito mais tempo. — Ela deslizou silenciosamente a arma no cós de Cyn. — Você encontrou alguns chicletes. — ela respirou de alívio. — Bom. — Boyd deu a Kimiko um olhar interrogativo, mas ela balançou a cabeça, deu um passo para trás e olhou para Santillo. — Vamos fazer isso. — ela rosnou.
Capítulo 35
Raphael estava parado no meio da sala à espera de Cyn quando ela entrou pela porta. Eles tinham tirado a sua gravata e cinto — como se ele fosse lhes fazer o favor de cometer suicídio por causa disso, se isso era mesmo possível para um vampiro — mas ele ainda estava usando seu terno, um carvão quase negro de lã bem tratada e camisa branca aberta no colarinho. Cyn suspirou. Era preciso muito mais do que a ausência de uma gravata para fazer Raphael parecer menos do que lindo. Ela olhou para cima para encontrar seus olhos negros olhando para ela. Incapaz de desviar o olhar, ela engoliu nervosamente para evitar se engasgar com o chiclete e forçou um sorriso fraco.
O olhar de Raphael nunca vacilou.
Kimiko avançou para assegurar-lhe que Boyd cuidaria de tudo. — Vai, Kimiko. — disse Raphael suavemente, seus olhos nunca deixando Cyn. — Está ficando tarde e eu não lhes darei a satisfação. — Kimiko assentiu tristemente, mas saiu correndo pela porta aberta, passando por Santillo que estava fingindo ter uma razão para estar ali. Cyn saltou quando Boyd deu um toque suave no seu ombro e ela virou-se para encontrá-lo mesmo ao lado dela. — Eu estarei de volta antes de anoitecer. — disse ele em voz baixa.
Cyn acenou com compreensão, intensamente consciente do contínuo escrutínio de Raphael. — Vejo você depois. — disse ela.
Boyd empurrou Santillo para fora do quarto, dando a Cyn um último polegar levantado antes de a porta se fechar. Ela olhou para a porta até que o arrastar de passos pelo corredor terminou, e depois se voltou para Raphael, tentando pensar em algo racional para dizer. Ele ergueu a mão para ela esperar, com a cabeça ligeiramente inclinada enquanto ouvia com seus sentidos muito mais aguçados de vampiro.
Cyn aproveitou o tempo para olhar ao redor. Sabendo que elas estavam lá, ela encontrou duas lentes de câmeras rapidamente. Ela puxou o chiclete agora sem gosto para fora de sua boca com uma careta — ela odiava chiclete — e dentro de um curto período de tempo tinha bloqueado essas duas câmeras e mais uma sobre a porta. Ela deu a Raphael um olhar interrogativo.
Ele estendeu a mão. Cyn olhou para ela, desviou o olhar para seu rosto e suspirou resignada. Ela tomou sua mão e o deixou puxá-la em um abraço. Todo o corpo dele relaxou quando os seus braços vieram ao redor dela, e então enrijeceu novamente quando ele inalou profundamente pelo nariz. — Você está carregando uma arma, minha Cyn. — Sua voz estava apenas lá, pouco mais de uma respiração contra sua orelha.
Ela havia bloqueado o visual das câmaras, mas elas ainda podiam gravar o som. — Eles não revistaram você?
Cyn acenou com a cabeça e sussurrou de volta, sabendo que ele podia ouvir. — Mas não Kimiko.
Raphael deu uma risada. — Uma mulher formidável, Kimiko, mesmo antes… Ele deu um engasgo que era uma espécie de tosse e pareceu perder o equilíbrio por um momento, inclinando-se fortemente contra ela. Cyn recuou em alarme.
— Raphael?
— Minhas desculpas, Cyn, parece… — Com um esforço visível, ele se endireitou e balançou a cabeça. Em um bizarro flashback de Mirabelle no avião, Cyn enfiou o ombro sob o seu braço e insistiu com ele em direção à cama, antes que sua natureza vampírica tirasse a opção. Eles quase não conseguiram. Cyn conseguiu puxar para trás o cobertor e Raphael caiu no colchão estreito, puxando-a para baixo com ele. Ela deu-lhe um olhar cético, imaginando se ele estava tão fora de si como parecia, mas suas pálpebras nem sequer se mexeram.
Sua cabeça bateu no travesseiro, ele exalou um último suspiro profundo e então… Nada.
Ela entrou em pânico um pouco quando ele parou de respirar, seus pulmões apreendidos em simpatia quando ela pressionou a sua mão sobre o coração dele. Uma pálida batida pulsou sob a palma da mão, e ela suspirou de alívio, apenas para saltar de surpresa quando seu peito se expandiu e ele puxou outro fôlego. Ela assistiu durante alguns minutos, controlando seus sinais vitais e finalmente relaxando quando o seu corpo pareceu assentar em um ritmo regular e distintamente lento.
Cyn tinha visto cadáveres, corpos no necrotério, corpos mortos recentemente por violência ou até mesmo mortos que tiveram mortes tranqüilas em casa ou no hospital. Mas, apesar da ficção de filmes e televisão, a verdade era que a vida fugia do corpo com bastante rapidez. A personalidade que outrora animou a carne, as expressões únicas que esculpiam o rosto que seus entes queridos reconheciam… Essas tinham ido embora para sempre. Ela olhou para Raphael e se perguntou como alguém poderia confundir esta beleza serena com morte. Ela escovou um cabelo imaginário da testa dele, correndo os dedos de volta ao longo de seu couro cabeludo e acariciando o rosto suavemente. Seu coração apertou em seu peito e ela se levantou, sentindo-se ligeiramente pervertida, como se ela tivesse se aproveitado dele em seu estado indefeso.
Ela se endireitou e olhou ao redor da pequena cela — quatro paredes quadradas, pintadas de um cinza fosco, com uma única plataforma de dormir saliente de um lado e uma pia e banheiro no canto. Não havia janelas, eles tinham acertado nessa parte. Ela atravessou a cela e usou o banheiro, depois de uma análise muito profunda para adicionais câmeras. Lavou o rosto e as mãos, torcendo o nariz para o sabão áspero fornecido, e não tinha nem secado suas mãos em uma toalha de papel, quando as luzes desligaram sem nenhum aviso.
Ela ouviu o zumbido desvanecendo e riu. Santillo e a tripulação não poderiam reclamar por ela ter sabotado as câmeras, que nem deveriam estar lá, então eles tinham claramente decidido puni-la, desligando as luzes do quarto sem janelas. Eles ficariam desapontados ao saber que ela não se importou. Ela tinha passado a noite à procura de Liz; seria realmente mais fácil para ela dormir.
Infelizmente, ia ser o chão ou a cama; não havia outro lugar para sentar.
Outro lapso intencional, sem dúvida. Ela se perguntou novamente se Raphael estava de alguma forma consciente sob o exterior sereno, e percebeu que ele estava provavelmente rindo agora mesmo. Mas ela estava muito cansada para lutar contra isso.
Grata pela sala escura, ela escorregou a arma do seu cós e colocou-a debaixo do travesseiro, em seguida, estendeu-se na cama ao lado do vampiro e girou para que ela enfrentasse a porta. Ela fechou os olhos, agradecida por ser quase inverno e os dias serem mais curtos, embora ela suspeitasse que este dia seria muito, muito longo.
Capítulo 36
Cyn acordou no instante em que Raphael começou a se mexer. Tinha sido um dia agitado para ela, com as pessoas indo e vindo quase que constantemente no corredor. A instalação tinha estado praticamente abandonada apenas alguns dias antes, mas eles provavelmente tinham trazido pessoal extra, uma vez que estavam segurando um prisioneiro real. Ainda assim, Cyn não conseguia deixar de se perguntar se todo aquele barulho no corredor tinha sido intencional. Havia momentos em que tinha soado mais como uma festa da fraternidade do que uma instalação de detenção pertencente à polícia. Ela se mexeu na cama estreita, pronta para sentar-se, quando um braço familiar enrolou-se em torno de sua cintura para segurá-la no lugar.
— Este é o meu castigo ou o seu, doce Cyn? — Ele murmurou.
Cyn se concentrou em respirar normalmente, intensamente consciente da sua proximidade… E do fato de que a porta poderia abrir a qualquer minuto.
A respiração de Raphael estava quente em seu pescoço. — As câmeras?
— O visual continua bloqueado. — Ela também falou em um sussurro. — Não sei sobre o som.
Ele relaxou. — Senti sua falta, minha Cyn.
— Você me deixou, seu desgraçado.
— Eu fui um tolo.
Cyn fechou os olhos contra a onda de emoção desencadeada por suas palavras. Ela estava grata pelo quarto ainda estar escuro, mesmo sabendo que ele podia sentir o choque repentino no seu pulso e, provavelmente, o cheiro das lágrimas que estavam inexplicavelmente lhe enchendo os olhos. Ele se aproximou dela, deslizando os braços ao seu redor com um suspiro arrependido.
— Eu sinto muito, lubimaya.
Cyn deixou a cabeça descansar na espessura de seu braço. Lubimaya, ele a chamou. Era russo. Meu amor. Você é uma boba, Cynthia.
Uma porta bateu em algum lugar fora da cela e Raphael ficou tenso novamente. — Boyd. — disse ele enquanto as luzes acendiam. — E outros estão com ele.
Quando a porta se abriu, eles estavam de pé, Cyn ligeiramente atrás de Raphael. Ele a tinha empurrado para trás no primeiro clique da fechadura. Foi instintivo de sua parte, assim Cyn tentou ignorar a implicação de que ela precisava de proteção. Ela fez uma careta às suas costas, mas não podia deixar de se sentir um pouco satisfeita.
A primeira pessoa a entrar no quarto foi Boyd. Ele deslizou para dentro rapidamente e puxou a porta quase fechada atrás dele, caminhando diretamente para Raphael com os itens confiscados do vampiro, o cinto e a gravata.
— Meu senhor. — disse ele, segurando-os com um sorriso irônico.
Raphael pegou primeiro no cinto, deslizando-o através das presilhas em sua cintura e afivelando-o com rápidos movimentos. A gravata veio em seguida.
Ele colocou-a no pescoço e se virou para Cyn com uma sobrancelha levantada.
Não havia espelhos no quarto. Ela amarrou a seda com os movimentos praticados de uma mulher que tinha conhecido um monte de homens em ternos, então ajeitou o colarinho e alisou a gravata em seu peito largo. Quando ela terminou, ele pegou sua mão e levantou-a aos lábios para um beijo suave, antes de se voltar para Boyd.
A expressão do advogado estava cintilando de alegria mal escondida quando ele relatou.
— O Procurador Distrital oferece suas profundas lamentações, meu senhor, e me assegurou que todas as acusações foram retiradas. Ele estaria aqui em pessoa para comunicar o mesmo se eu não o tivesse convencido do contrário, avisando-o que você certamente preferia manter um perfil baixo. A propósito, a pesquisa da Srta. Leighton foi muito útil. — acrescentou com um aceno de cabeça na direção de Cyn.
Seu telefone celular assinalou a entrada de uma mensagem de texto e ele fez uma pausa, verificando o visor. — Duncan chegou com uma escolta adequada, meu senhor. Vamos sair pela parte traseira do edifício.
Raphael concordou formalmente, mas bateu a mão no ombro delgado de Boyd em agradecimento antes de dizer: — Cyn. — sem olhar para ela. Ela veio até ao lado dele. — Você está pronta, lubimaya? — Ele perguntou a ela.
Cyn bufou uma risada. — Mil vezes pronta. — ela concordou.
Ele a puxou para um abraço rápido, beijando o topo de sua cabeça. Ela captou um olhar de surpresa na face do advogado, antes de Raphael a deixar ir.
— Estamos prontos, então. — Disse ele.
A área do corredor estava mais uma vez cheia de gente, parecendo consideravelmente menos feliz do que antes. Santillo se escondia no fundo, atirando punhais no vampiro com os olhos, seu olhar se deslocando para lançar a Cyn nada menos que ódio, quando Boyd abriu um caminho através da multidão. Cyn ignorou Santillo, mas viu Hartzler encostado numa porta aberta olhando para Raphael em reverência. Ela chamou sua atenção e acenou com gratidão. Ela faria mais depois, em um local menos público. Não fazia sentido colocar o técnico em problemas com Santillo e seus amigos. Ela podia não entender a obsessão de Hartzler, mas ele tinha demonstrado claramente sua lealdade e não faria mal nenhum tê-lo ao seu lado no futuro.
Eles viraram à esquerda, longe da frente do edifício, em direção à uma saída de emergência estreita. Boyd trocou um olhar com alguém na multidão, aparentemente verificando se o alarme tinha sido desligado. Ele abriu a porta devagar. Duncan estava esperando lá fora, o alívio em seu rosto durou pouco, pois ele rosnou para os humanos que se arrastavam atrás de Raphael. Ele fez um gesto brusco e os guarda-costas vampiros se aproximaram, formando um círculo protetor em torno de Raphael e Cyn enquanto fizeram o seu caminho até um grande SUV preto, cuja maior parte bloqueava o estreito beco. Havia espaço suficiente para as portas de passageiros em de um lado, mas não mais.
Raphael parou e gesticulou para Cyn ir antes dele, mas ela balançou a cabeça.
— Meu carro está estacionado na frente.
Raphael franziu o cenho. — Um dos outros…
— Não. — ela interrompeu e disse em voz baixa. — Eu aprecio isso, mas não. Eu quero verificar Mirabelle, ver se ela já ouviu algo sobre Liz. Se não, eu preciso começar a procurar novamente. Não deve tomar tanto tempo e…
Suas palavras se acalmaram. Raphael a olhava com… Dor? O que ele pensou, que ela iria direto para sua cama, agora que ele tinha feito tudo legal com ela, agora que ele tinha se desculpado? Bem, ok, que na verdade não era uma má idéia, mas… Não. Ela não ia ser tão fácil. Ela tinha uma vida, um trabalho, e uma adolescente que ainda estava lá fora nas ruas com um assassino à solta. Mas ela não ia dizer nada disso aqui com seus vampiros ouvindo.
— É importante, Raphael. Eu preciso encontrá-la.
Ele a considerava fixamente, seus olhos brilhando de emoção. — Muito bem. — disse ele um pouco tenso. — Se precisar…
— Eu vou. — Ela se afastou, deixando o círculo protetor fechar em torno dele, formando uma parede entre eles. Ele a encarou por mais um momento, e depois desapareceu no SUV. Duncan fechou a porta atrás dele, mas aproximou-se de Cyn antes de subir no banco da frente.
— A nomeação de Mirabelle é…
— Eu sei, Duncan. Não se preocupe. Nós duas estaremos lá.
Ele deu-lhe um olhar intrigado, deu de ombros e disse: — Então vejo você domingo.
Cyn observou-os se afastarem antes de caminhar lentamente pelo beco e para a rua, saindo a mais do que um quarteirão de distância da instalação. Ela cruzou para o outro lado e foi calmamente até o Range Rover. Seu corpo protestou quando ela subiu no carro. Ela estava rígida e dolorida após mais um dia de pouco sono, e que foi passado em uma borda estreita da cama que nem sequer era larga o suficiente para Raphael sozinho, muito menos para os dois.
Ela virou a ignição e pegou seu celular, percebendo que era provavelmente muito cedo para fazer uma chamada a um vampiro jovem, Mirabelle não estaria acordada ainda. Ela deixou uma mensagem e voltou para casa, com nada em mente além de um banho quente e roupas frescas. Ela podia ter passado sua primeira noite na prisão, mas ela não tinha que cheirar como tal.
Capítulo 37
Depois de um banho, Cyn dirigiu para Malibu e tomou o café da manhã…
Ou jantar. O que quer que ela lhe chamasse, diversos dias de horários estranhos e refeições irregulares tinham feito com que ela se sentisse drenada de energia.
Então ela se sentou em uma mesa real, com uma omelete de bacon e queijo, vários pedaços de pão de trigo untados com conserva de pêssego e uma garrafa fresca de café quente. Assim fortificada, ela estava de volta à Pacific Coast Highway, quando seu telefone tocou. Um olhar para o visor lhe disse que era Mirabelle retornando sua mensagem anterior, então ela deixou que fosse para o correio de voz e fez uma rápida curva à esquerda sobre a pista estreita na entrada para a propriedade de Raphael. As árvores adultas arqueavam para cima, tão densas e próximas que formavam um túnel vivo. Algumas noites era tão escuro sob essas árvores que seus faróis mal conseguiam iluminar o caminho. Hoje à noite, com algumas das árvores desfolhadas para o inverno e a lua crescente para cheia, pedaços de luz se filtravam através dos galhos nus, dos troncos pálidos de plátano e do vidoeiro.
Profundo entre as árvores estava o portão principal, para além do qual estavam os campos bem cuidados e artisticamente iluminados, um gracioso rolo de relva verdejante ia até a casa principal, com a floresta escura por trás dela escondendo a mansão de Alexandra.
Os guardas devem ter ligado com antecedência porque Mirabelle estava esperando quando ela chegou. Ela encontrou Cyn no meio da entrada de automóveis, nervosa de excitação. — Senhor Raphael está em casa, Cyn, você sabia? O mantiveram na cadeia o dia todo! Meu Deus! Todo mundo aqui estava totalmente transtornado, até Alexandra estava nervosa esta noite, e ela normalmente é calma. Eu tinha certeza de que os vampiros iam entrar em guerra ou algo assim. Você deveria ter visto isso!
Cyn olhou a menina silenciosamente e soltou um suspiro profundo. Ela estava emocionada por Mirabelle ter se recuperado tão rapidamente.
Realmente. Ela estava. Sua boca se curvou num sorriso carinhoso. — Mas ele já voltou, certo, Mirabelle?
— Certo. Ele chegou em casa horas atrás. Todo mundo correu para a casa principal. Todos queriam estar lá para cumprimentá-lo. Meio assustador, na verdade. Todos aqueles vampiros ali esperando por ele, totalmente focados, não dizendo uma palavra. E, de repente esse grande SUV chega e ele sai e… Eu juro, Cyn, era como se todos eles respirassem ao mesmo tempo. — Ela balançou a cabeça. — Meu coração estava batendo como louco, eu estava tão feliz em vê-lo. Você acha que é assim?
Cyn analisou a questão. — O que é assim? — Ela perguntou finalmente.
— Ter um mestre, você sabe. Sendo prometida a alguém como Raphael.
Como se você não conseguisse respirar, se ele não estiver por perto.
Uma vez que Cyn tinha a mesma dificuldade para respirar quando Raphael estava por perto, ela levou a idéia a sério. Ela pensou sobre o que Duncan lhe havia dito uma vez, sobre sua lealdade inabalável ao Raphael, sobre o poder absoluto que Raphael tinha sobre cada um de seus vampiros jurados.
— Você sabe, Mirabelle. Penso que é exatamente assim.
— Legal.
Cyn levantou uma sobrancelha cética. — Se você o diz. Não creio que você ouviu de Liz? — Ela perguntou esperançosa.
— Mas, eu fiz! Eu estava prestes a ligar para você ontem quando essa coisa toda com Raphael explodiu.
Cyn olhou para Mirabelle. Esqueça a respiração, era isso o que acontecia entre um vampiro mestre e seus filhos? Toda a lealdade e afeição de Mirabelle tão completamente destruídas pela crueldade casual de Jabril, agora estavam sendo ressuscitadas e canalizadas completamente em Raphael. Era este o tipo de lealdade não diluída que Raphael gostava em todos os seus vampiros? Bons deuses, havia milhares deles! Não admira que ele fosse um bastardo arrogante.
— De qualquer forma, sim. — Mirabelle continuava. — Liz me deixou uma mensagem. Um cara está deixando-a ficar em sua casa, diz que vai ajudá-la a obter o seu dinheiro, uma vez que ela tiver dezoito anos. — Mirabelle revirou os olhos. — Disselhe que era uma péssima idéia e que estamos aqui na Califórnia e que Raphael realmente é legal, mas ela não acredita em mim. Então eu disse a ela…
— Espere. Como vocês tiveram essa conversa? Ela te ligou?
— Oh, não. Nós nos encontramos numa sala de chat mais cedo esta noite.
Aquele cara a deixa usar o seu computador. O dela foi roubado, como você disse. De qualquer forma, então eu disselhe para chamar aquela sua amiga, Luci. Ela disse que iria, mas depois tivemos uma espécie de corte, e a palavra veio da casa principal que Raphael estava a caminho e eu não queria perder isso, então…
Cyn fez uma pausa, tentando absorver a corrida de informação. — Okay.
Deixe-me ligar…
Seu telefone vibrou, interrompendo. Ela conferiu o visor e abriu.
— Ei, Luci.
— Oi, Cyn. Ouça, eu acho que tenho sua criança perdida aqui. — Cyn olhou para Mirabelle e apontou para ela de forma significativa. — Ela está um pouco inquieta. — Luci continuou em voz baixa. — mas eu estou tentando convencê-la que você é um dos caras bons.
— Eu aprecio isso. Posso falar com ela?
— Ainda não. Na verdade, por que você não aparece mais tarde? Ela está bastante estressada no momento. O cara que a estava hospedando meio que a apavorou.
— Ela está machucada?
— Não fisicamente, não. Um par de arranhões, algumas contusões, mas eu não acho que ele bateu nela, não diretamente de qualquer maneira. Não pelo que ela me disse. Medo na maior parte.
— Vamos esperar que ela esteja dizendo a verdade. Quando devo passar por aí?
— Dê-nos uma ou duas horas. Eu vou chamar, mas eu acho que ela vai se encontrar com você.
— A irmã pode ir?
— Ela é uma vampira, certo?
— Certo.
Luci ficou em silêncio, pensando sobre isso. Cyn podia ouvir a televisão ao fundo, pontuada por um comentário alto ocasional. — Isso provavelmente não é uma boa idéia. — Luci disse finalmente. — Deixe-a ver primeiro a humana boa que você é, e então veremos depois disso.
— Certo. Falo com você depois. — Cyn nunca questionava os instintos de Luci quando se tratava deste tipo de coisa.
Mirabelle estava ao seu lado assim que o telefone capotou fechado. — Liz?
— Ela está na casa de Luci. Estou indo para lá.
— Tudo bem! Vamos embora.
— Hum, bem, sobre isso. Luci pensa, e eu concordo, que é melhor que eu vá sozinha primeiro. Ela está segura com Luci, então não há motivo para pressionar agora. Eu vou me encontrar com ela mais tarde e veremos aonde vai a partir daí. Ela está meio nervosa sobre essa coisa toda de vampiros.
— Ela sabe que eu nunca a machucaria. — protestou Mirabelle.
— Não de propósito, não. Mas vamos lá, Mirabelle, ela foge para a Califórnia e de repente você está aqui. Pelo que ela sabe, Jabril enviou você para encontrá-la e levá-la de volta para ele.
— Oh, certo, como se Raphael alguma vez…
— Liz não sabe nada sobre Raphael, ela nem sequer sabe quem ele é. — disse Cyn com paciência. — Ela só sabe o que você lhe disse, e ela não pode confiar nisso. — Ela olhou para cima quando Alexandra apareceu na entrada da garagem. — Legal, Alexandra. — disse ela, apontando para o jardim topiário rapidamente assumindo o antigo pátio.
— Sim, ele está indo bem. Recebi a inspiração de um livro que li enquanto estávamos em Colorado. Um dos outros vampiros recomendou. O nome do autor era King, eu acho.
Cyn piscou, um calafrio puramente instintivo ondulou por sua pele e aumentou o arrepio. Ela olhou para cima para encontrar Alexandra estudando-a com uma expressão divertida e manteve seu próprio rosto cuidadosamente em branco. Alexandra parecia tão recatada que era fácil, por vezes, esquecer que ela era antiga e letal em sua própria maneira. Mas Cyn não gostava de ser brinquedo de ninguém.
— Parece que encontramos Liz. — disse ela em vez disso. — Ou ela nos encontrou. Mirabelle pode dar-lhe os detalhes. — O celular dela vibrou, indicando uma mensagem recebida, e ela puxou-o para fora, verificando o visor.
— Certo. Era Luci, então eu estou fora daqui. Eu poderia vê-la mais tarde, dependendo. Se não, então amanhã. — Ela olhou para Mirabelle. — Vou ligar para você, Mirabelle, depois de eu conversar com Liz, e dizer-lhe o que está acontecendo. Nesse meio tempo, não se preocupe.
Capítulo 38
Cyn se apressou a subir os degraus da casa que ela e Luci tinham comprado e reformado há alguns anos. Era uma estrutura dos anos cinqüenta, dois andares com uma larga varanda à moda antiga e tapume de madeira. O lote de meio acre estava em uma parte de L.A. que tinha sido o bairro de escolha para médicos e advogados. Mas a cidade havia mudado, os médicos e os advogados tinham todos se movido para o sul e oeste, e muitas dessas casas antigas tinham sido divididas em apartamentos para estudantes universitários.
Ela e Luci tinham conseguido um bom preço por essa, principalmente porque estava em péssimo estado. A senhora idosa de quem elas compraram a casa, tinha vivido lá por mais de sessenta anos, e não tinha colocado um centavo para manutenção durante pelo menos vinte anos.
Ela abriu a porta sem bater e foi direto para a parte de trás, passando por uma ampla sala de estar. A televisão panorâmica estava explodindo com a cor e o som de um filme que Cyn não reconhecia. Sofás, cadeiras e piso estavam repletos de adolescentes que não lhe deram nenhuma atenção quando passou, embora ela suspeitasse que era mais uma questão de escolha do que de atenção.
O escritório de Luci era na parte de trás da casa perto da cozinha, em uma pequena sala que havia sido uma despensa ou algo assim. Elas tinham arrancado o encanamento e colocado janelas para as muitas plantas de Luci, que estavam ameaçando saturar o pequeno espaço.
Luci estava sentada em sua mesa, de costas para a porta. Uma adolescente estava sentada na cadeira ao lado dela e a semelhança com Mirabelle era inegável. Ela olhou para cima quando Cyn entrou na sala, seus olhos cansados e desconfiados. Cyn deu-lhe um pequeno aceno de cabeça, olhou para a amiga e disse: — Luci.
Lucia se virou, a preocupação se dissolvendo em um sorriso de boas-vindas. — Cyn. — disse ela calorosamente, ficando em pé e vindo para um abraço. Luci era uma pessoa de muitos abraços. Cyn realmente não era, mas ela tentava por causa de Luci. Liz observava o intercâmbio com atenção.
— Liz, esta é minha grande amiga Cynthia Leighton. Ela e eu abrimos esta casa juntas, há muitos anos atrás.
Os grandes olhos azuis de Liz estudaram Cyn com cuidado, verificando sua boca, as mãos, até mesmo seus olhos. Procurando indicadores vampíricos, Cyn pensou. Não que ela estivesse ofendida. Ela teria feito a mesma coisa.
— Então, você é uma amiga de Luci? — Liz perguntou em dúvida.
Cyn acenou com a cabeça. — Desde a faculdade.
— E você está trabalhando para a minha irmã?
— Não é realmente trabalhando para, mais como trabalhar com. Tenho certeza que Luci lhe disse… — Ela olhou sua amiga para confirmação. Luci assentiu, depois sentou, puxando mais uma cadeira de madeira desgastada para Cyn fazer o mesmo.
— Jabril na verdade me contratou para te encontrar. — continuou Cyn, tomando o assento desconfortável relutantemente. — Mas então eu conheci Mirabelle e, bem, inferno, eu conheci Jabril. Eu ajudei Mirabelle a sair de lá e viemos procurar por você. Sorte para mim, você decidiu L.A.
— Há outro cara procurando por mim também. — Liz ofereceu com cautela. Um ligeiro sotaque tornou-se mais evidente em seu discurso quando ela começou a relaxar.
— Yeah. Eu o conheci. Cara musculoso, com cabelo branco curto?
— Eu acho que sim. Eu não o vi, mas alguns dos meus amigos me disseram que ele estava procurando. Isso foi antes… — Ela desviou o olhar, desconfortável, e Luci interveio, chegando a tomar a mão de Liz em ambas as dela.
— Está tudo bem, querida. Nada disso importa agora, e Cyn entende. Não é mesmo, Cyn?
— Sin11? — Liz disse. — Te chamam de Pecado?
— Cyn com um CY. — Cyn disse. — Eu sempre odiei o nome Cyndi e Cynthia soa tão… Não sei… Respeitável. — Luci bufou e revirou os olhos, surpreendendo um risinho de Liz.
— Meus pais sempre me chamaram de Elsie. — Liz ofereceu. — Pensei que eu odiava isso também. — acrescentou melancolicamente.
Cyn sabia o suficiente sobre os pais da garota e sua morte prematura para mudar de assunto. — Então me diga o que aconteceu, Liz. Eu estive procurando por você em todo o lugar.
11 Pecado em inglês.
— Sim, eu ouvi. Você parecia legal, e deu os cupons de alimentos para todas as crianças. Mas eu não sabia em quem podia confiar. — Ela olhou para suas mãos, seguras firmemente pela Luci. — E todas aquelas meninas estavam morrendo. — Ela olhou para cima, encontrando os olhos de Cyn. — Eu estava com medo e Todd começou a vir ao redor. Ele faz um monte de coisas com as crianças de rua, jogos de basquete e merdas como essa. Ele começou a falar comigo e ele me pareceu muito legal, apesar de ser velho e fora de forma para um cara que gosta de esportes. Ele usa aquelas grandes camisas listradas o tempo todo, você sabe, como aqueles caras Australianos fazem? Mas todas as crianças pareciam conhecê-lo, então… — Ela deu de ombros.
— Quando ele descobriu que eu era do Texas, ele disse que tinha família lá também. Alguns primos ou algo assim. E eu contei sobre Mirabelle e Jabril e tudo, era como se se eu pudesse me esconder até o meu aniversário de dezoito anos e tudo estaria bem, porque então eu teria o meu próprio dinheiro. Então ele disse: porque eu não ia ficar com ele até então, você sabe, faltam só umas duas semanas? — Ela fez uma pausa para dar a Cyn um olhar triste. — Ele parecia um cara legal. — ela repetiu.
— Então o que aconteceu? O que fez você mudar de idéia?
— Ele nunca me tocou. Não assim. Eu teria saído de lá se ele tivesse, porque ele é… Bem, tem quarenta ou algo assim. De qualquer forma, ele começou a ficar realmente mandão. Como se eu tivesse que lhe dizer onde quer que eu fosse e o que eu estava fazendo e tudo mais. E então recebi a mensagem de Mirabelle dizendo que ela estava aqui e que deveríamos nos encontrar. Eu perdi o meu computador, mas ele deixou-me usar o seu para verificar minhas mensagens e outras coisas. Ele trabalha à noite em algum lugar, e eu não queria sair depois de escurecer, além de que era um bom momento para tentar chegar a Mirabelle e deixá-la saber que eu estava segura. De qualquer forma, eu tenho essa mensagem dizendo que ela estava aqui na Califórnia e parecia estranho.
Quero dizer, por que ela estaria aqui? Então eu escrevi de volta para ela que eu não tinha certeza e como eu sabia que era seguro? E ela me disse sobre aquele cara Raphael, que ele não é como o idiota do Jabril ou qualquer coisa, e ela está vivendo em um lugar agradável e eu posso ir ficar com ela.
Cyn assentiu. Ela já tinha ouvido a maior parte de Mirabelle.
— De qualquer forma, então eu estou on-line com Mirabelle, e ele veio e começa a enlouquecer sobre vampiros e especialmente Raphael, e me diz que Raphael foi preso por matar aquelas meninas e não quer que eu tenha nada a ver com ele ou com Mirabelle, porque esse vampiro do caralho — foi assim que ele o chamou, esse vampiro do caralho — está usando Mirabelle para chegar a mim porque eu sou seu tipo. E eu disse: o que você quer dizer comeu sou o seu tipo? Mas então ele diz que eu não preciso me preocupar porque eu não sou como todas as outras meninas.
— Não é igual a elas como? — Cyn disse calmamente.
— Ele disse que todas aquelas meninas saíam com vampiros e por isso elas morreram.
Cyn trocou um olhar com Luci. — Como você disse que seu nome era, Liz?
— Todd. Todd Ryder. Ele mora perto da praia, porém nesse tipo de parte espumosa onde é realmente lotado. Veneza, eu acho que eles chamam. Alguém me disse que eles têm canais lá como na Itália, mas nunca vi nenhum.
— Eu mostrarei a você em algum momento. — disse Cyn distraidamente.
— O que aconteceu então?
— O filho da puta tentou me trancar em sua casa, foi isso que aconteceu!
Depois nós discutimos, eu fui para o quarto e dormi. E quando me levantei, ele tinha trancado a porta do quarto! E todas as janelas tinham aquelas barras, como na prisão sabe? Então eu estou batendo na porta, mas ele foi para o trabalho e me deixou lá sem mesmo um banheiro ou qualquer outra coisa!
Luci olhou por cima do ombro, para Cyn, com um sorriso satisfeito. — Minha menina Liz aqui quebrou a porta. — disse ela.
Liz corou, envergonhada e orgulhosa ao mesmo tempo. — Sim, bem, era uma daquelas portas baratas e ocas. Não demorou muito. Ele tinha essa lâmpada de metal velha na mesa. Realmente feia, mas pesada. Então, eu bati e bati. Machuquei meu braço, mas uma vez que eu quebrei através dela foi muito rápido. Meti a mão e abri a porta, e então eu saí de lá. Eu não tinha nada além da minha bolsa de qualquer jeito, então eu a agarrei e saí correndo. — Ela olhou para Cyn e encolheu os ombros novamente. — E aqui estou eu.
— Então você está aqui e estou muito feliz em ver você. — Cyn concordou. — O que você quer fazer agora?
— Eu não sei. Eu realmente não pensei chegar até aqui.
Cyn acenou com a cabeça. — E provavelmente você está bem aqui, por agora, mas você precisa ser cuidadosa. O homem de Jabril não vai pensar duas vezes sobre violar a lei para agarrá-la. Eu me sentiria melhor se você ficasse comigo até conseguirmos tudo esclarecido.
— Eu não quero viver com vampiros.
Cyn abriu a boca para ressaltar que ela não vivia com vampiros, mas Luci falou. — Talvez Liz pudesse ficar aqui por algum tempo. — sugeriu. — Tudo vai parecer diferente depois que você tiver alguns dias para pensar. — ela disse à Liz.
— E quanto a Mirabelle? — Liz perguntou, olhando para Cyn. — Ela está morando com você?
Cyn balançou a cabeça. — Mirabelle tem necessidades nutricionais que não posso cumprir. Ela vai ficar na propriedade de Raphael, na casa de sua irmã Alexandra, que está separada de todos os outros. As duas descobriram as compras pela Internet, Deus nos ajude. — Ela estremeceu dramaticamente. — Se você não quiser ficar comigo agora, talvez você possa, pelo menos, ir a uma visita à Mirabelle. Eu ficaria feliz em lhe dar uma carona, e sei que ela gostaria de ver você, saber que você está realmente bem.
Liz torceu a boca, mordendo o interior de seu lábio inferior em pensamento. Ela olhou para Cyn, depois de volta para Luci. — Eu acho que eu gostaria de ficar aqui esta noite, pelo menos. Confio em Luci. — Cyn ignorou a implicação de que ela, por outro lado, não deveria ser confiável. — E talvez amanhã à noite — Liz continuou, — eu possa ver Mirabelle. Isso seria aprovado? — Ela dirigiu a pergunta à Luci, não à Cyn.
Luci inclinou-se e abraçou a menina, na altura. — É claro, o que você quiser. Vamos lá, nós vamos te arrumar um lugar. Você precisa de um banho, e eu acho que eu tenho algumas roupas que lhe servirão. — As duas estavam praticamente ignorando Cyn quando elas começaram a sair da sala, mas Cyn tocou o braço de Liz, puxando a atenção dela quando a surpreendeu.
— Você pode me dizer onde esse cara Todd vive? Se não o endereço, então como chegar lá?
Liz deu-lhe um olhar preocupado. Ela olhou para Luci, e Luci afagou-lhe o ombro. — Porque não vai para cima. — ela disse para a garota. — É o quarto no topo da escada, com a porta azul. Eu estarei lá em um minuto. — Ela deu um olhar sombrio à Cyn quando Liz tomou dois degraus de cada vez.
— Eu tenho o endereço de Todd. — Luci disse baixinho, voltando para seu escritório. — Nós nunca tivemos qualquer problema com ele. Ele faz um monte de coisas com as crianças, organização de jogos e assim por diante, para mantê-las fora das ruas. Ele costumava fazer alguma divulgação também, quando ele tinha uma namorada, mas eles se separaram e ele adere muito bem às atividades organizadas agora.
Cyn teve um palpite. — A namorada tem um nome?
— Hum, Patty alguma coisa, eu acho. — respondeu Luci, buscando em seu banco de dados de computador. — Ela era mais jovem que Todd, não bonita, mas bonita o bastante. Tipo de rosto pontudo e boca pequena. O quê? — Ela perguntou em alarme, vendo o olhar angustiado na face da Cyn.
Capítulo 39
A caminho de Veneza e da casa de Todd Ryder, Cyn deu um rápido telefonema para Mirabelle, explicou a situação e lhe disse para contar com uma visita de Liz na noite seguinte.
— Por que não hoje à noite? Ela poderia ficar aqui; Alexandra não se importaria.
— Primeiro de tudo, ela está bem pra baixo, Mirabelle. Foi um par de semanas ásperas para ela em uma cidade estranha, completamente sozinha na rua. Quer dizer, dê-lhe uma pausa. E em segundo lugar, ela não está exatamente entusiasmada com a idéia de viver com mais vampiros, você sabe?
— Eu acho. Mas ela não quer me ver, pelo menos? — A última parte foi mais um gemido plangente.
— Claro que ela quer. E ela vai. Amanhã à noite. Além disso, já é quase madrugada. No momento em que chegássemos aí, você estaria pronta para ir dormir.
— Suponho que você está certa. Mas ela está definitivamente bem, não é?
Você não está protegendo-me da verdade ou alguma coisa assim?
— Eu não faria isso, Mirabelle. Liz está bem. Muito cansada, mas só isso.
Você verá por si mesma amanhã.
— Okay. Obrigado, Cyn. Você quer falar com alguém aqui?
— Não, obrigado. Estou indo para casa também. Ouça, vou chamá-la antes de ir. Durma bem.
Mirabelle deu uma risada juvenil. — Certo. Você também. Tchau.
Cyn deixou cair o telefone sobre o suporte quando ela virou para rua escura de Ryder. Ao contrário das observações desdenhosas de Liz, este era realmente um bairro caro, embora à primeira vista talvez não parecesse a ela.
As casas eram pequenas e amontoadas, e havia um pouco de problemas criminais de vagabundos que faziam da praia a sua casa. Mas era apenas alguns quarteirões de areia, e Ryder tinha que estar fazendo muito bem para se dar ao luxo de comprar este lugar. É claro, era sempre possível que ele tenha alugado.
Cyn ainda não tinha executado uma verificação de antecedentes sobre ele.
Ela estacionou seu carro um par de casas para baixo e sentou-se lá estudando o lugar de Ryder. Era uma casa antiga, estreita com um único andar e com uma garagem. As casas de ambos os lados tinham sido remodeladas para adicionar um segundo andar — os lotes eram pequenos e as pessoas tinham que construir para aumentar — e a casa de Ryder parecia amontoada sobre si mesma entre as dos seus vizinhos, encolhendo-se sob o olhar desdenhoso das duas casas atualizadas. Liz disselhe que Ryder mantinha um horário regular, deixando o trabalho e voltando para casa praticamente à mesma hora todos os dias, o que significava que ele não devia voltar por um bom par de horas. Seria melhor esperar e voltar logo depois que ele saísse para trabalhar em outro dia, mas era sexta-feira e Liz achava que ele não trabalhava sextas-feiras ou sábados à noite. O que significava que Cyn teria que esperar até domingo à noite para pegá-lo indo trabalhar e a paciência nunca foi seu ponto forte. Além disso, a audiência de Mirabelle com Raphael era domingo.
Não havia luzes acesas na casa de Ryder, nem mesmo uma luz na varanda. Seus vizinhos tinham instalado luzes ao ar livre e uma mostrava o brilho fraco do que era provavelmente uma luz noturna no andar de cima. Ela bateu seus dedos nervosamente no volante e decidiu aproveitar a oportunidade. Desligando a luz do teto, ela colocou seu telefone para vibrar, colocou-o em seu bolso do casaco e fechou sua porta aberta silenciosamente.
Ela fez seu caminho pela rua escura, passando pela casa de Ryder só para atravessar e chegar na sua propriedade a partir da garagem ao lado. A entrada da garagem estreita estava inacabada, exceto por duas linhas paralelas de concreto que Cyn seguiu quando ela fez seu caminho em silêncio à volta da casa.
Foi uma questão de alguns minutos de trabalho para ela entrar.
Colocando luvas de borracha finas, ela abriu a fechadura e entrou pela porta dos fundos. A frente era muito aberta para a rua e, além disso, como tantas pessoas, a porta traseira de Ryder tinha uma fechadura muito mais frágil do que a da frente. Por que as pessoas assumem que os bandidos usariam a porta da frente?
Uma vez lá dentro, ela examinou a pequena casa pelo brilho dos LEDs de vários aparelhos eletrônicos — dois quartos e uma pequena sala de estar, com piso de madeira e sem um único tapete de lance para suavizar o efeito, nem mesmo um tapete de porta. Cyn começou a atravessar a sala da frente, rindo dos destroços da porta que Liz havia deixado para trás. Ela parou de rir quando viu a confusão dentro do quarto. Lençóis e cobertores tinham sido arrancados da cama e atirados ao redor do pequeno quarto. O colchão e os travesseiros tinham sido barbaramente cortados com algo afiado, e espalhados pelo chão.
Pequenos pedaços ainda flutuavam no ar, iluminados por um raio de luz vinda da rua através de uma janela agora sem grades. A lâmpada que Liz tinha usado para cacetear a porta estava dobrada ao redor do aro da porta, o seu metal barato dividido pela metada.
Então Todd Ryder tinha temperamento. Cyn verificou a lixeira da sala rapidamente, mas não esperava encontrar nada aqui. Muito mais interessante era o quarto principal ao fundo do corredor, que estava perfeitamente limpo e arrumado. A cama estava feita e os travesseiros organizados. Ela fez um rápido abrir e olhar em cada gaveta, levantando uma sobrancelha para a grande e parcialmente usada caixa de preservativos na gaveta da cabeceira. Com ou sem namorada, Todd, aparentemente, tinha planos. No armário, as camisas estavam agrupadas de acordo com o estilo, polo de mangas curtas para o verão, de mangas compridas de rugby para um tempo mais frio. Vários pares de calças cáqui estavam pendurados e engomados, ainda nos sacos de plástico da lavanderia. Sapatos foram colocados em pares, lado a lado no chão.
O minúsculo banheiro tinha ainda menos para lhe dizer. Todd Ryder era aparentemente a imagem de boa saúde. Não havia sequer uma garrafa de aspirina para dividir o espaço com seu creme de barbear e barbeador, e a sua loção pós-barba tinha um cheiro muito parecido com perfume para o gosto de Cyn.
De volta à sala de estar, Cyn esfregou as mãos de alegria ao ver a mesa e o computador de Ryder. A porta de um carro bateu no lado de fora e ela congelou, o coração martelando, mas o ronronar suave de um motor afastou-se ao longo da rua. Ela foi rapidamente para a mesa, lembrando que seu tempo era curto.
Ela se sentou e ligou o computador enquanto verificava as gavetas uma a uma.
Havia um arquivo organizado para as contas devidas e pagas que ela folheou rapidamente, não encontrando nada interessante para além de um projeto de lei para uma unidade de armazenamento em Culver City. Ela observou a localização e número do armário automaticamente, mas continuou procurando.
A pasta azul separada estava cheia de contracheques que lhe disseram que Todd Ryder trabalhava para uma fábrica de embalagem de carne. Agora isso era interessante. Um homem que passava suas noites massacrando lados de carne não iria hesitar um pouco, ou mesmo muito, com sangue. Um arquivo final continha panfletos sobre os jogos que Ryder organizou para as crianças de rua, uma lista de nomes e números de telefone — treinadores, talvez? — um calendário de jogos e alguns formulários de consentimento em branco.
Provavelmente não muito utilizado este último, a maioria dessas crianças não tinha ninguém que se importasse o suficiente para se preocupar com o seu consentimento.
No momento em que ela terminou com as gavetas, o computador tinha terminado a sua inicialização. Uma rápida verificação a fez balançar a cabeça. O organizado Todd não praticava a computação segura. Bom para ela, não tão bom para Todd. Ele sabia o suficiente para não armazenar sua senha de e-mail, que foi decepcionante, mas não o suficiente para instalar até mesmo um rudimentar programa de varredura. Cyn quase gargalhou quando ela começou a erguer o histórico do computador de Todd. Ele visitou um monte de fóruns dedicados à discussão dos vampiros. Muitos dos sites eram do tipo que Ian Hartzler teria freqüentado, fóruns povoadas por fanáticos que queriam ser vampiros, e outros que alegavam já terem sido trazidos. Outros sites eram mais escuros, conspiração orientada e cheia de terríveis advertências de uma aquisição de vampiros, alegando que todos, desde o presidente até o cobrador de impostos local ou era escravizado pelos vampiros ou era um vampiro. Cyn anotou os endereços, usando seu celular para deixar uma mensagem de voz a si própria com as informações e acrescentando a informação da empresa de armazenamento por precaução.
Ainda mais interessante, ela descobriu que Todd tinha feito várias pesquisas nos últimos dias, procurando histórias sobre meninas mortas, e especificamente por mortes envolvendo vampiros. Havia pouca publicidade sobre assassinatos e nenhuma sobre a teoria de estimação de Santillo. A prisão de Raphael não tinha nem feito notícia. Era em parte porque o tinham levado à instalação que praticamente ninguém conhecia, mas também porque os assassinatos simplesmente não eram notícia. Além disso, Raphael vivia bem abaixo do radar; não era como se sua prisão teria sido manchete de qualquer maneira. É claro que, trabalhando com crianças de rua, Ryder deve ter ouvido falar sobre os assassinatos, mas por que relacionar tudo com os vampiros? Mais uma vez, interessante, mas não convincente.
Cyn continuou sua busca no computador, mas não aprendeu nada de novo. Havia algum software de contabilidade e alguns jogos, mas parecia que Ryder usava seu computador principalmente para acessar a Internet. Se ele estava guardando o diário de um serial killer em algum lugar, não era neste computador. Ela desligou o sistema e se afastou da mesa, tendo o cuidado de guardar a cadeira da maneira que ela a encontrou.
A cozinha era a próxima, mais revestimento de madeira com muito azul e branco nas bancadas de azulejo e armários de pinho. Os armários guardavam uma banal variedade de alimentos; debaixo da pia estavam os usuais suprimentos de limpeza. A geladeira estava praticamente vazia, com um pacote de seis cervejas faltando uma garrafa e um litro de leite. Panelas e frigideiras pareciam virtualmente não usadas. Mesmo a cafeteira tinha sido limpa, o pote de vidro sentado de cabeça para baixo sobre uma grelha de madeira a um lado da pia brilhando. Ryder teria sido uma ótima dona de casa para alguém. Ou talvez essa era a razão pela qual ele ainda estava solteiro na casa dos quarenta anos. Ele nunca conheceu uma mulher que se poderia igualar a ele no departamento de dona de casa. Infelizmente, ser uma aberração arrumada não era um crime. A luz ambiente mudou quando ela estava na porta fazendo uma varredura final. As luzes da rua tinham desligado; hora de ir.
Em segurança no seu carro e perversamente decepcionada por não ter encontrado nada realmente suspeito, Cyn assistiu quando um velho sedan BMW entrou na garagem. Todd Ryder era mais jovem do que ela esperava pela descrição de Liz. Provavelmente mais perto de 35 que quarenta, com cabelo castanho claro e o corpo ligeiramente rechonchudo de um ex-atleta.
Provavelmente jogou no ensino médio ou mesmo na faculdade. Ele estava usando um de seus muitos pares de bem passadas calças cáqui, junto com uma camisa azul e vermelha de rugby. A camisa era de um tamanho muito grande, que era provavelmente uma tentativa de cobrir os 15 quilos extras na zona da barriga. Ele saiu do carro e fez uma pausa para passar o polegar sobre a guarnição da porta, sacudindo a cabeça em desgosto antes de ir para baixo na entrada de automóveis e dentro da casa. BMW eram bons, carros sólidos, Cyn pensou, lembrando o garoto do beco que tinha ouvido o carro do assassino.
Definitivamente não é cheio de chacoalhos e essa merda.
Ela esperou mais alguns minutos antes de dirigir para casa, cruzando o norte ao longo de Pacific Coast Highway a velocidade de rodovia e sentindo pena das pessoas presas na hora do rush matinal da zona sul. Ela pensou sobre o que ela sabia. A única vítima de que a polícia tinha alguma informação era sobre Patti Hammel, que por acaso era a antiga namorada de Todd Ryder e que apesar de ser a primeira vítima, não se encaixava no perfil. Conveniente que ela não tenha família ou amigos. Ninguém para reclamar o corpo, ninguém a quem apresentar um relatório, exceto seu antigo namorado Todd, que não tinha dado um sussurro de preocupação. Todd, cujo temperamento era violento quando ele explodia. E então havia a testemunha que tinha apontado Raphael como o assassino e que talvez odiasse vampiros o suficiente para fazer a coisa toda. Ela abriu seu telefone e chamou Eckhoff do celular.
— Merda, Leighton, você sabe que horas são?
— A cidade nunca dorme, meu velho. Seja legal para mim; estou prestes a lhe fazer um favor.
— Você pode começar com um pedido de desculpas por sua última mensagem.
— Quem é sua testemunha sobre o caso? Aquela que apontou um vampiro como assassino?
— Você me acordou para isso? Não é meu maldito caso. Além disso, eu disse a você…
— Yeah, yeah. Mas você verificou nele quando eu perguntei sobre isso antes. Eu conheço você. Então não me diga. Eu vou te dizer. O nome dele é Todd Ryder.
— Como… Que porra é essa, Leighton. Quem no inferno…
— E que coincidência… Você sabe o nome do antigo namorado de Patti Hammel? — Ela perguntou com falso entusiasmo. Houve um silêncio mortal, seguido pelo juramento vicioso e o som do movimento de Eckhoff. Cyn sorriu.
— Fica em torno, não é?
— Onde você conseguiu isso? — Eckhoff disse em voz baixa. — Nem mesmo Santillo teria ignorado algo tão óbvio.
— Você tem que procurar algo para ignorar isso, Dean. Santillo ouviu o que ele queria ouvir. Você quer minha informação ou não?
— Merda. Sim, caramba. E nem me diga onde você conseguiu.
— Ok. — disse ela alegremente, em seguida, passou todos os detalhes que ela tinha descoberto, a partir do seu menino perdido sem nome sendo testemunha da obsessão de Todd Ryder por vampiros, seu bom carro e sua unidade de aluguel. — Eu tenho os detalhes sobre os sites e sua unidade de aluguel no meu correio de voz. Vou enviá-lo para você quando desligar, e eu só quero uma coisa em troca de todos os meus esforços em nome da polícia de Los Angeles.
— Sim? O que é? — Ele perguntou acidamente.
— Puxa Dean. Eu acho que mereço alguma coisa aqui.
— Tudo bem, tudo bem. O quê?
— Eu quero saber por que ele fez isso. Eu quero 10 minutos em uma sala com ele após a detenção.
Eckhoff ficou em silêncio. — Só você, certo, não…
Cyn riu. — Eu não vou matar o seu suspeito, Eckhoff. Dez minutos, isso é tudo que eu peço. Fora do registo, é claro.
Eckhoff suspirou profundamente. — Por que você está fazendo isso, Cyn?
Você poderia causar alguns problemas aqui, se você quisesse. Santillo e seus amigos prejudicaram o seu menino, por que não machucá-los de volta?
— Porque, ao contrário do que todos vocês parecem pensar, eu ainda acredito na lei, chefe. E tudo que eu realmente quero é parar este idiota antes que ele mate mais alguém.
— Estou ficando com os olhos marejados aqui, novata.
— E essa é a minha dica para desligar. Lembre-se de sua promessa.
Capítulo 40
Houston, Texas
Jabril saiu de seu chuveiro, secando-se rapidamente antes de vestir o roupão de seda pendurado atrás da porta. Ele envolveu-o em torno de si, desfrutando do contato dele contra sua pele nua. Não adiantava se vestir. Ainda não. Ele estava tentando uma nova escrava esta noite — alguém para substituir a sua antiga favorita. Ela estava se mostrando ser mais difícil de substituir do que ele esperava, o que só lhe disse que deveria ter se livrado dela antes. Nunca era bom apegar-se à um escravo de sangue. Eles existiam para servi-lo, nada mais.
Ele caminhou de volta para o quarto, admirando a mobília nova. Sua equipe havia sido admiravelmente rápida em remontar o quarto, ele estava bastante satisfeito.
Uma batida soou na porta. — Justo na hora. — ele murmurou. — Vem. — ele gritou.
— Meu senhor. — Asim escorregou dentro do quarto em sua forma usual. O vampiro nunca abria totalmente uma porta para entrar, mas sim apenas o suficiente para que ele pudesse deslizar na abertura.
Jabril franziu o cenho. — Eu não estava esperando você, Asim.
— Não, meu senhor, mas eu tenho notícias de Elizabeth que eu pensei que você gostaria de ouvir.
Jabril sentiu uma onda de prazer avarento. — Ela foi encontrada então.
Ela está segura?
— Encontrada, sim, meu senhor. Windle ainda não a tem sob custódia, embora ele espere que isso aconteça muito em breve.
— Se ele sabe onde ela está, então por que a demora?
— Ele vem seguindo sua trilha de perto por vários dias, meu senhor, e seguia-a até uma casa particular onde ela estava hospedada. Infelizmente, ela agora mudou-se para algum tipo de casa para fugitivos. Existem várias pessoas hospedadas na casa, e ele viu a mulher Leighton entrar e sair mais de uma vez.
Jabril praguejou violentamente. — Ela não pode ser permitida…
— Não, meu senhor. — Asim se atreveu a interromper. — Windle estabeleceu uma vigilância na casa e está muito confiante de que ele terá Elizabeth sob sua custódia em poucos dias, se não horas.
Jabril estudou seu tenente, considerando se esta notícia merecia punição.
Qualquer investigador competente já teria a menina sob custódia. Claro, ele tinha sido forçado a depender de agentes humanos. Ele só podia pressionar Raphael até um certo ponto, e enviar agentes vampiros para pegar a menina iria atravessar uma fronteira que não estava preparado para violar. Ainda não.
Uma batida soou na porta e Asim afastou-se para permitir que ela se abrisse. Uma jovem mulher estava ali — nua, com o cabelo longo, preto pendurado até a curva de sua bem torneada bunda. Sua pele era um adorável castanho dourado, e as pontas dos seus pequenos mamilos, dos seios altos, já estavam duros com medo. Jabril piscou preguiçosamente e estendeu a sua mão.
— Muito bem, Assim. — disse ele distraidamente, puxando a garota para mais perto e envolvendo seu punho na abundância daqueles cabelos sedosos.
Ele puxou a cabeça para um lado, expondo seu pescoço. Suas presas dividiam a gengiva com fome. — Mantenha-me informado. — ele conseguiu dizer, antes de cortar suas presas na pele macia de seu pescoço, sentindo a vibração de seus gritos ecoando nos seus ossos.
Ele estava vagamente consciente de Asim se retirando e fechando a porta enquanto bebia profundamente o sangue da menina, sentindo-o correr quente e fresco pela sua garganta. Ele rosnava de prazer enquanto o seu pau endurecia, ávido por um sabor próprio. Ele levantou a cabeça, pegou-a e jogou-a na cama, seus leves gritos de dor só fazendo-o mais duro. Sim, era definitivamente tempo para uma mudança.
Capítulo 41
Los Angeles, Califórnia
A instalação estava escura e silenciosa na noite após a prisão de Todd Ryder. Parecia vazia, um nítido contraste com a noite em que Raphael tinha sido trazido e as salas tinham sido embaladas de parede a parede com pessoas de uniforme azul. Cyn caminhou calmamente pelo corredor coberto de linóleo, fazendo um esforço para impedir que suas botas fizessem barulho, de alguma forma não querendo perturbar o silêncio. Atrás dela, Duncan poderia muito bem ter sido um fantasma por todo barulho que ele fez. Se ele não tivesse vindo com ela, ela não saberia que ele estava lá.
A porta se abriu e Eckhoff entrou na luz. Seu olhar passou dela para Duncan e ele franziu a testa. — Cyn. — Ele abriu a porta completamente e ela viu seu tenente situado dentro, com um Santillo carrancudo atrás dele.
— Tenente Garzon. — ela reconheceu. Ela ignorou Santillo.
— Leighton. — disse Garzon. — Agradecemos a sua ajuda sobre este assunto. — Santillo mostrou a seu tenente um olhar furioso.
— Estou sempre feliz em ajudar o departamento, senhor. — respondeu Cyn honestamente. Ela se afastou um pouco e indicou Duncan. — Este é o Chefe da segurança do Senhor Raphael, Duncan… — Ela percebeu que não tinha idéia do sobrenome de Duncan, mas ele resolveu rapidamente a situação.
— Duncan Milford. — disse ele, seu sotaque do sul, mais uma vez tornando-se uma evidente aparência. Ele estendeu o braço para um aperto de mão e o tenente respondeu automaticamente oferecendo a sua mão em troca.
Eckhoff seguiu o exemplo. Por um minuto, ela pensou que Duncan ia realmente apertar a mão de Santillo também, mas ele se estabeleceu por um amistoso aceno na direção do detetive, que deve ter sido um esforço.
Cyn não sabia se era o sotaque do Sul ou a boa aparência humana de Duncan, mas todo mundo relaxou após isso. Foi preciso todo o seu auto-controle para não rir em voz alta. Claro, uma das razões para ser Duncan ali ao lado dela e não outra pessoa era justamente porque ele parecia tão humano.
— Então o que é que você gostaria de nós? — Garzon perguntou a Duncan.
— Bem, senhor, é uma questão de segurança. — Duncan falou lentamente. — Você entende. O suspeito… — O jeito que ele disse convidou todos eles a se juntar a ele em substituir a palavra por “assassino.” Não havia nenhuma dúvida nesta sala quanto à culpabilidade de Ryder. — O suspeito tentou enquadrar o meu chefe em algumas acusações muito graves e não consigo descobrir o porquê. Nós não o conhecemos, ele não está em nenhum dos nossos arquivos. Então imaginei, uma vez que a Sra. Leighton aqui foi útil no rastreamento desse cara, você poderia deixar-nos ter uma palavra com ele, descobrir porque ele quis culpar o Senhor Raphael. Gostamos de ficar de olho nesse tipo de coisa.
Cyn queria vomitar no bom e velho ato, mas pareceu funcionar. O tenente estava balançando a cabeça antes mesmo de Duncan ter acabado de falar. — É claro. Não deve ser um problema. Leighton aqui sabe as regras de interrogatório, e você deve ter alguma experiência, Sr. Milford?
— Duncan, senhor. Apenas Duncan. E sim, eu tenho. Fiz meu tempo no trabalho.
Quase 200 anos atrás, Cyn queria acrescentar. Duncan olhou para ela de soslaio, como se soubesse o que ela estava pensando.
— Bem, bom, então — o tenente estava dizendo. — Nós estaremos levando-o daqui a pouco tempo. Ele pertence ao centro, mas queríamos manter esta pequena visita em baixo perfil. Então, vamos a isso. Dez minutos, certo, Leighton?
— Sim, senhor.
— Bom o suficiente. Eckhoff…
— Como você soube? — Santillo exigiu, seu olhar tornando claro que ele estava falando com ela.
Cyn olhou para ele, as sobrancelhas levantadas em questão.
— Como você conectou a Ryder?
Cyn encarou-o de maneira uniforme, decidindo se ia responder sua pergunta. Que diabos. — O caso em paralelo com um dos meus próprios — disse ela. — Uma adolescente fugitiva do Texas. Falei com um monte de garotos tentando encontrá-la e todos eles queriam falar sobre o assassino. Tudo o que eles disseram conduziu de volta ao Ryder. Ele trabalhou com os meninos de rua, tinha o hábito de tomar uma menina de vez em quando, ele até tinha um emprego que lhe daria o conhecimento para drenar os corpos da forma que o assassino fez.
— Mas foi Lucia Shinn que o identificou como namorado de Hammel. Ela tem tentado falar com vocês há semanas sobre isso e ninguém quis ouvir.
Santillo ficou vermelho de raiva, mas ele não disse mais nada. Eckhoff limpou a garganta e fez um movimento em direção à porta. — Vamos terminar isto, Leighton.
Eckhoff levou-os ao fundo do corredor e passou a cela onde Raphael tinha sido detido. — Por aqui. — disse ele abrindo uma porta sem marcação. — Estamos equipados para gravar, mas…
— Isso não será necessário. — Cyn disse rapidamente.
— Não desta vez. — Eckhoff concordou. — Quer que eu vá com você?
— Duncan estará comigo. — Eckhoff abriu a boca para protestar, mas Cyn levantou a mão. — Ele não vai dizer nada, mas eu quero que Ryder o veja.
Uma pequena intimidação nunca fez mal, Dean, e se Ryder matou aquelas meninas…
— Ele matou todas elas. A unidade de armazenamento acabou por ser um daqueles lugares RV. Geralmente usados como um grande espaço para estacionamento, mas o nosso menino tinha uma garagem cheia, completa com água corrente e um dissipador caso quisesse lavar o velho trailer. Ele havia criado um matadouro pessoal lá dentro.
— A evidência?
— Todo o lugar cheirava a lixívia, mas parece que Hammel estava passando muito tempo em sua casa quando ele a matou, porque ele tinha um monte de coisas pessoais dela, livros, papéis, esse tipo de coisa. Ele deveria ter incinerado tudo. Sorte para nós, ele guardou tudo na unidade de armazenamento, agradável e limpo.
— Sim, Todd é um cara arrumado. Alguma arma do crime?
— Provavelmente um velho garfo de churrasco liso. Havia alguns na unidade, parte alta, os do tipo pesado. O médico procurou fragmentos de metal nas feridas no pescoço.
— O que deveriam ter feito antes.
Eckhoff encolheu os ombros. — Dez minutos, Leighton.
Ryder olhou para cima quando eles entraram na sala. Ele estava sentado em uma simples cadeira de metal presa ao chão. Havia uma mesa correspondente, mas tinha sido afastada e empurrada contra uma parede para que o prisioneiro se sentasse exposto, as mãos algemadas atrás das costas e os tornozelos algemados. Ele ainda estava usando a camisa listrada de rugby e calça cáqui, porém não pareciam estar tão bem passadas. — Quem diabos é você? — Ele retrucou.
— Não é importante, Todd. — Cyn disse agradavelmente. — Mas já que você perguntou tão gentilmente, eu vou lhe dizer. Eu sou aquela que o encontrou.
— Besteira.
— Cuidado com a boca. — Ela disse. — Então me diga. Sei que tudo volta para Patti. Acho que ela provavelmente foi um acidente, talvez por causa de uma discussão. Ela quer sair, você est| chateado…
— Foda-se! Eu pareço o tipo de cara que precisa implorar a uma mulher para ficar ao redor? Merda. Duas horas depois de ela ter saído, eu tinha alguém mais jovem deslizando em minha cama.
— Sim, mas será que ela deslizou para fora de sua cama Todd? Suas amigas têm expectativa de vida bastante curta ultimamente.
— Isso não é culpa minha. Elas ficam por aí com a porra dos sanguessugas, as coisas acontecem.
Cyn olhou para ele e deu um sorriso que teria feito Raphael orgulhoso.
Todd Ryder obviamente viu porque ele começou a suar. — Sinto muito, Todd.
— Cyn disse docemente. — Eu não apresentei você ao meu companheiro. — Ela ficou de lado para que ele pudesse ver claramente Duncan. — Este é Duncan.
Os olhos de Ryder faiscaram para onde Duncan estava de costas para a janela, observando com os braços cruzados casualmente.
— Yeah? Grande maldito negócio. Você vai jogar seu namorado sobre mim ou algo assim? Estou apavorado. Espero que você tenha um bom advogado, senhora, porque eu não irei cair por algo que não fiz. Foda-se.
Cyn balançou a cabeça em desapontamento escarnecido. — Você é tão amig|vel. Mas não se preocupe…
— Eu não estou preocupado. — ele cortou rapidamente, mas Cyn continuou como se ele nunca tivesse falado.
—… Duncan aqui não vai bater em você. — Ela se inclinou para frente e confidenciou: — Não é realmente o seu estilo. É, Duncan? — Ela olhou por cima do ombro.
Duncan nunca mudou de posição, ele só abriu a boca e sorriu.
Os olhos de Ryder se arregalaram e gotas de suor caíram de sua testa quando a sala se encheu com o cheiro do medo. — Que porra ele está fazendo aqui? — Ele engasgou. — Você não pode fazer isso. Eu tenho direitos.
— Patti tinha direitos também, Todd. Tal como todas aquelas meninas que você matou para salvar seu próprio traseiro. Ou espere… Talvez você gostasse disso, hein? Os policiais vão encontrar traços de esperma naquelas pequenas lembranças em seu esconderijo?
Ele olhou para longe de Duncan, com o rosto torcido de nojo. — Jesus, você é uma puta repulsiva… — Seu olhar retrucou, suas palavras cortadas quando Duncan avançou um passo.
— Cuidado com sua boca, humano.
Ryder piscou furiosamente, os músculos da coxa tremendo debaixo do material castanho enquanto ele lutava para empurrar a cadeira aparafusada longe do vampiro. — Olha, olha. Eu gostaria de ajudar, mas eu não…
Duncan se inclinou um pouco mais perto e cheirou. — Nervoso homenzinho? — Ele sussurrou e soprou uma lufada suave sobre Ryder, suor humedecendo a pele.
Ryder saltou como se tivesse sido esfaqueado, seus olhos rolando quase brancos de medo quando um ruído agudo estridente veio da sua garganta. — Você não pode fazer isso. — disse Ryder de novo, sua voz um sussurro rouco.
— Mas, Todd, eu nunca estive aqui. — disse Cyn razoavelmente.
Ele encarou-a, tentando dar um sentido a suas palavras. Seu rosto empalideceu. — Não. — ele sussurrou. — Você não pode, eu não sou…
Cyn sorriu.
— Ok. — ele resmungou, deslocando seu olhar freneticamente entre Cyn e Duncan enquanto esforçava-se para ficar de olho no vampiro enquanto conversava com ela. — Olhe. Vou dizer o que você quer saber, mas não deixe que ele… — Ele sacudiu a cabeça em direção Duncan.
— Confessar é bom para a alma. — Duncan disse suavemente. — Ou assim ouvi. — Ele riu e foi um som aterrorizante.
— Por favor. — Ryder sussurrou sem fôlego. — Eu vou falar, mas não…
— Então, fale. — Cyn disse em uma voz entediada. — Comece pelo início.
— Ok, ok. — disse Ryder, depois engoliu ruidosamente. — Você tem que acreditar em mim, no entanto. Eu não queria matá-la. — ele disse rapidamente.
— Patti. Tivemos uma briga, como você disse. — Ele acenou para Cyn. — Ela foi convidada para uma dessas festas com os vampiros, essas casas de sangue. Ela estava tão animada. Foi revoltante.
Ele obviamente se lembrou da sua audiência e olhou para cima, os olhos arregalados. — Eu não quis dizer… — Ele engoliu em seco novamente nervoso e continuou. — Eu a amava e pedi-lhe para não ir, mas ela não se importou. Eu fiquei chateado e joguei alguma coisa. Eu nem me lembro do que era, mas eu não queria bater nela. Eu a amava — repetiu ele em um lamento, como se isso desculpasse tudo.
— Mas eu sabia que a polícia não iria acreditar em mim, assim eu… — Ele sentou-se em linha reta de repente, sugando uma respiração, como se ciente pela primeira vez do que estava prestes a dizer. Ele franziu a testa e deu a Cyn um olhar calculado, mas Duncan de repente estava ali, bem na frente dele, bloqueando-o de ver alguém ou alguma coisa. Com os olhos vidrados Ryder continuou a falar.
— Decidi uma vez que foram os vampiros que começaram tudo, eles deveriam pagar por isso. Mas eu tinha que fazer algo rápido. Levei Patti para a banheira e sangrei-a de modo que parecesse que um vampiro o tinha feito, então eu despejei o corpo em algum lugar que policiais iriam encontrar. Eu só fiz com as outras meninas para parecer que Patti fazia parte de uma matança.
Quero dizer, aqueles vampiros matam pessoas o tempo todo, então que diferença…
Cyn desligou a voz de Ryder, desgostosa por suas tentativas patéticas de justificar tudo o que tinha feito. Como se aquelas meninas merecessem morrer porque Patti Hammel tinha fodido com um vampiro. Ela não precisava ouvir para saber o tipo de merda que ele era. E, além disso, não importa o que Eckhoff disse, ela sabia que a conversa estava sendo gravada. Não oficialmente, e os policiais não seriam capazes de usá-la como evidência, mas iria lhes dizer tudo o que precisavam saber para culpar Ryder pelos assassinatos. Ela se sentou na cadeira, olhando para seus pés, até que Duncan tocou o ombro dela suavemente.
— Cynthia.
Ela olhou para cima, espantada por perceber que Ryder tinha parado de falar. Todo quarto fedia a suor e medo e ela queria sair. Ela se levantou. — Duncan? Terminamos? — Ela teve presença de espírito suficiente para continuar com as costas viradas para a janela, mas Duncan estava estudando-a com preocupação, então ela respirou fundo e soltou lentamente. — Eu estou bem. Vamos apenas dar o fora daqui.
Quando ela deixou Duncan em frente à casa principal, não era sequer meia-noite ainda. Ela parou e deixou o motor ligado, Duncan voltou-se para ela, surpreso. — Você não está entrando?
— Hoje não. Ouça Duncan. Obrigada. Eu não poderia ter feito isso sem você.
Ele deu de ombros. — Nada do que ele disse vai ser usado no tribunal.
— Não, mas agora eles sabem o que perguntar e eles vão tirar algo dele.
Suficiente para condenar de qualquer maneira. Além disso, você é um vampiro assustador. Eu não acho que Todd vai ter pressa para sair da cadeia.
— Vou contar a Raphael os detalhes a menos que você… — Ele não terminou, mas olhou para ela com expectativa.
— Não, vá em frente. Eu preciso dormir um pouco. Há sempre uma espécie de decepção depois de eu fechar um caso, sabe?
Duncan sorriu consciente que a irritava de alguma forma, e assim ela resmungou, — O que há com o sotaque? Você tinha no aeroporto, também, com Mirabelle. Você normalmente não fala assim.
Seu sorriso ampliou. — Mas eu faço, Cynthia. — ele disse com um sotaque pesado. — É esse discurso do norte que não é normal.
Cyn riu. — Você é um homem de muitas surpresas, Duncan Milford. É seu nome verdadeiro?
— Já foi. — disse ele sombriamente. — Agora é apenas Duncan.
— Bem, apenas Duncan, obrigado.
Ele inclinou a cabeça em uma pequena reverência e deslizou para fora do carro. — Aproveite o seu descanso, Cynthia.
— Obrigado. E eu acho que eu vou te ver no domingo, certo?
— Oh, sim. — disse ele com uma expressão satisfeita. — Eu não perderia isso.
Capítulo 42
No dia seguinte, Liz estava esperando quando Cyn chegou à casa. Luci tinha encontrado roupas para ela em algum lugar, um par de jeans limpos que pendia baixo o suficiente para mostrar o brilho de prata em seu umbigo, junto com um par de tops em camadas, um sobre o outro em um confronto de cores que era devidamente desafiador. Cyn sorriu. Ela tinha uma sensação de que ela e Liz teriam tido muito em comum certa vez.
— Eu conversei com Mirabelle. — Liz disse, sem preâmbulo. — Ela sabe que estamos indo.
— Assim ouvi. Você está pronta?
— Yeah. Este carro é seu? — Ela perguntou, olhando para o grande SUV.
— Legal. Posso dirigir?
— Você tem uma licença? — Liz sacudiu a cabeça. — Então a resposta é não. Mas veremos como corrigir isso em breve. Vamos lá, não é longe.
— Estamos quase lá? — Liz perguntou 30 minutos mais tarde. — Pensei que você disse que não era tão longe?
Cyn não respondeu imediatamente. Ela estava se concentrando em quatro faixas de cruzamento de trânsito congestionado no último minuto, aventurando-se entre auto-estradas e ganhando mais do que um gesto obsceno e um coro de buzinas de seus companheiros motoristas.
Alguns minutos depois, eles passaram pelo Tunel McLaren e foram jogadas na Pacific Coast Highway em Malibu. — Qualquer coisa menos do que uma hora não é muito nesta cidade. Mas não vai demorar muito agora. — assegurou-lhe Cyn.
Liz olhou para a estreita fileira de casas caras assentadas ao lado da rodovia, as portas da frente apenas a metros de distância do tráfego correndo.
Além delas não havia nada, exceto a areia e o turvo preto de veludo do Oceano Pacífico debaixo de uma lua quase cheia. — LA é maior do que eu pensava. — disse ela em voz baixa.
— Parece dessa maneira. — Cyn concordou. — O problema é que não há um verdadeiro centro. É uma espécie de espalhar por todo o lugar.
— Eu acho.
Cyn deu uma olhada. — Mirabelle está realmente animada em ver você.
— Mmm. Eu também. — Ela deu a Cyn um olhar lateral. — Você tem certeza que está tudo bem, certo? Quero dizer, Luci disse que eu deveria confiar em você e tudo, mas você não sabe como é Jabril. Ele é realmente furtivo, e ele d| dinheiro aos juízes, então eles fazem o que quer que…
— Liz.
— Eu amo Mirabelle e eu sei que ela tenta, mas ele a machuca e…
— Liz.
Elizabeth olhou para ela com os olhos arregalados com temor.
— Elizabeth, querida, está tudo bem. Jabril não tem nenhum poder aqui, e você pode confiar em Raphael. Eu confio nele. Ele não vai machucar Mirabelle e ele não vai te machucar. E mesmo que alguém tentasse te prejudicar, eu não iria deixar, ok? Eu vou ficar com você enquanto você quiser, até se sentir segura. E sempre que você quiser voltar para Luci, diga a palavra e nós voltamos.
Liz engoliu em seco.
— Tudo bem? — Cyn perguntou.
— Tudo bem. — Foi fraco, mas definitivo.
— Bom o suficiente. — Cyn disse com um sorriso. — Porque é isso. — Ela fez um gesto à frente e à esquerda, onde a propriedade de Raphael não era nada mais do que uma floresta escura de árvores altas na lateral da estrada. — Parece pior do que é. — ela confidenciou. — Assim que passar pelo portão, será muito agradável. — Ela fez a virada, mas parou antes de chegarem ao portão. — Tem certeza que você está bem com isso, certo? Se não, nós viramos agora mesmo e esquecemos a coisa toda.
Liz sacudiu a cabeça, absorvendo uma respiração profunda. — Não. Não, eu estou bem. Quero ver minha irmã.
— Não se preocupe com eles. — disse Cyn, quando estacionou em frente ao portão. Os guardas vampiros de Raphael fecharam sobre o Range Rover, olhando com muito cuidado. O mais próximo ao seu lado reconheceu Cyn com um amigável assentimento, e ela sabia que Alexandra tinha-os advertido sobre a visita de Elizabeth, mas eles seguiram o procedimento de qualquer maneira, que era como devia ser. Ela ouviu um exalar aliviado de Liz quando os guardas se afastaram e acenaram através da porta.
— Assustador. — disse Liz.
— Sim, bastante. A segurança de Raphael parece-me muito mais apertada do que a de Jabril.
— Você quer dizer do que a do Cretino.
— Sim, isso é o que eu quero dizer. Aqui estamos nós. — Ela puxou o Range Rover para o lado da estrada perto da Mansão de Alexandra e desligou o motor.
Liz olhou pela janela da frente. — Que tipo de casa é essa? Parece algo de um filme antigo.
— Uh huh. Mas não diga a Alexandra, ok? Ela adora esta casa.
— Duh. Como seu fosse dizer. Então e agora?
— Bem, agora, saímos do carro e… — Sua visão periférica pegou um movimento perto da casa. — Aqui vem Mirabelle.
Liz ficou tensa quando Mirabelle deixou a porta da cozinha aberta atrás dela e desceu a calçada em direção a elas. — Ela quase parece normal. — Liz sussurrou.
— Ela é quase normal. — Cyn sussurrou de volta.
Liz subitamente riu e abriu a porta, quase caindo do carro em sua ânsia de encontrar Mirabelle no meio do caminho. Cyn assistiu as duas irmãs se abraçarem, envergonhada de sentir lágrimas puxando os olhos. — Meu trabalho aqui está feito.
Cyn desviou da mansão e foi para o meio das árvores, fazendo uma pausa enquanto passava no recém-plantado jardim de labirinto. Era incrível o que bastante dinheiro poderia fazer em um tão curto período de tempo. Você quer um labirinto? Não é preciso esperar para os arbustos crescerem. Nós trazemos exemplares já crescidos e os esculpimos em qualquer formato que você escolher. Sem dúvida, Alexandra planejava que esses crescessem ainda mais alto, especialmente se o livro de Stephen King, The Shining, fosse o seu modelo.
Ela caminhou sobre a borda, não tendo desejo de testar os caminhos sombrios entre os arbustos. Talvez em plena luz do dia, mas não na escuridão e não cercada por vampiros, não importa o quão amigáveis.
Ela ouviu alguém começar a tocar piano no andar de cima e sorriu, imaginando que Mirabelle estava mostrando suas recém-adquiridas habilidades. Ela não conseguia imaginar que a prestação entusiasta vinha da mão meticulosa de Alexandra.
Alexandra a tinha convidado para ficar, é claro. Mirabelle e Liz tinham se retirado quase que imediatamente, suas cabeças dobradas juntamente, trocando sussurros conspiratórios. Mas Cyn não estava no humor para os jogos de Alexandra. Era muito parecido com o trabalho e Cyn achava que merecia uma pausa. Afinal, ela tinha encontrado Elizabeth e resolvido vários assassinatos, tudo num espaço de 24 horas. A idéia da reação de Jabril ao que o seu dinheiro adiantado tinha comprado fez Cyn sorrir.
Ela fez seu caminho em torno do perímetro do labirinto e saiu para o percurso entre as duas casas. O recinto foi cuidadosamente preparado aqui, a vegetação densa varrida para criar mais de floresta do que uma barreira. O cascalho debaixo dos seus pés brilhava branco ao luar, que era a única iluminação do caminho. Os vampiros não precisavam de nada mais, e ninguém jamais foi convidado a caminhar aqui. Com exceção de Cynthia, é claro. Ela tinha vindo por este caminho com Raphael na noite que eles se conheceram, quando ela concordou em ajudá-lo a recuperar Alexandra. O chão sob seus pés começou a inclinar-se para cima delicadamente, e ela sabia que a casa principal estava além da ascensão. Mas ela não queria ir para lá. Ainda não. Então, ela saiu do percurso e encontrou seu caminho através das árvores, deslizando os dedos sobre a casca áspera quando ela passou até chegar a uma espécie de clareira, um vale privado criado pela arte do jardineiro.
Ela caiu no chão, aproveitando o pretexto de estar sozinha na floresta.
Estava uma temperatura agradável, não quente, mas confortável o suficiente em sua jaqueta de couro. Ela recostou-se contra um tronco de árvore e fechou os olhos, ouvindo o murmúrio constante do oceano.
— Você encontrou o seu passarinho. — A voz dele saiu da noite, como mel suave e insinuando coisas escuras.
Capítulo 43
Cyn sabia que ele estava lá, sentia sua abordagem através dessa conexão indefinível que pareciam compartilhar. Ela abriu os olhos, mas ele não passava de uma escuridão profunda sob as árvores. — Eu encontrei. — disse ela sem se mover.
Raphael lançou as sombras que o cercavam e entrou na clareira, selecionando uma árvore para se encostar. Ele usava seu elegante traje habitual, e Cyn observou com diversão quando ele tirou a jaqueta e jogou-a de lado para sentar graciosamente no chão. Ele sentou-se à sua frente, afrouxando o nó da gravata e esticando as pernas compridas, até que seus pés estavam quase se tocando.
Nenhum deles falou em primeiro lugar. Cyn podia ouvir sua lenta respiração constante e sabia que ele podia detectar muito mais que isso dela — a repentina corrida de seu coração à vista dele, o sangue que corria para suas bochechas com nervosismo e excitação, até mesmo o calor do desejo que era uma reação quase instantânea à sua presença.
— Por quê? — Ela perguntou finalmente.
Os olhos negros de Raphael estavam foscos com o luar quando o seu olhar encontrou-a na noite. Ele não a insultou fingindo não entender a pergunta, mas ele desviou o olhar, olhando para um passado que ela não podia ver.
— Em minhas primeiras décadas como Vampiro, eu morava sozinho. — disse ele. — Eu matei, mas só quando eu estava com fome. Dou-me isso pelo menos. Alguns vampiros jovens deixam-se levar pelo seu novo poder, saem matando indiscriminadamente até que sejam parados de um jeito ou de outro.
Eu nunca fui um desses. Mas, mesmo assim, quando eu matei, não dei atenção ao individual, à vida que eu estava tomando. Era comida, nada mais e eu precisava dela para viver, então eu pegava. Jamais conscientemente considerava essas coisas no momento, é claro. Eu era pouco mais que um animal, uma criatura de astúcia e instinto, sabendo apenas com empenho para sobreviver a este dia e ao seguinte e a um depois desse. — Ele tirou uma partícula invisível das suas calças, em um gesto que ela teria assumido como nervos de qualquer outra pessoa.
— O tempo passou. — continuou ele. — E eu comecei a dominar minha nova vida, recuperar o controle sobre quem e o que eu era. E o que eu encontrei dentro de mim foi poder. Verdadeiro poder pela primeira vez na minha vida.
Não mais sendo o lacaio do meu pai ou uma ferramenta mal utilizada de um príncipe. Eu era um Vampiro, e não apenas um Vampiro, mas um mestre com grande poder. Minha senhora, aquela que me criou, sentiu meu despertar e minha crescente força e me chamou à ela finalmente, pretendendo me usar para seus próprios propósitos, assim como eu tinha sido usado por outras pessoas durante toda a minha vida.
Sua voz endureceu. — Eu não tinha intenção de ser usado. Não por ela, não por qualquer pessoa, nunca mais. Mas havia coisas que eu precisava aprender, coisas de Vampiros e humanos, de poder e de vida. Eu poderia desprezar os príncipes que me usaram, desprezar o meu pai que me manteve ligado à terra de sua fazenda, mas eles me viram pelo que eu fui — um ignorante fazendeiro, nada mais.
Uma coruja piou bem alto, seguida por uma lufada de som, uma vez que voou através das copas das árvores. Raphael jogou seu olhar para cima, seguindo o movimento da ave facilmente enquanto Cyn tentava ver mesmo que um flash de uma pálida asa. Ele baixou os olhos, olhou para ela de forma rápida e em seguida desviou os olhos, como se fosse muito difícil para ele dizer-lhe essas coisas enquanto encontrava o seu olhar.
— Fiquei com a minha senhora por muitos anos. — continuou ele. — Eu deixei-a usar a minha mente — e meu corpo — para seus próprios fins. E eu aprendi. Como ser um cavalheiro, como governar os outros, ou no caso dela, mais como não governar os outros, mas ainda assim eu aprendi, mesmo apenas por seu mau exemplo. E estudei poder. Meu poder, que eu rapidamente descobri era bem maior que o dela. Eu praticava em segredo, testando a minha vontade sobre os outros, experimentando, expandindo os limites do que eu poderia conseguir com um simples pensamento. Tive o cuidado de esconder a minha crescente força da minha senhora. Um contra um, eu podia ter acabado com ela assim, mas ela teria se unido aos seus outros filhos contra mim, e eu ainda não era hábil o suficiente para todos.
— E depois ela morreu. — Ele balançou a cabeça e riu baixinho. — Ela era totalmente auto-indulgente, confiante em seu charme e sua beleza, que era considerável, eu garanto. Mas no final, sua beleza não foi nada, ou talvez tudo.
Foi uma esposa ciumenta que a destruiu, apunhalando-a através do coração enquanto ela estava em seu descanso diurno ao lado de seu amante, que também era o marido da mulher. Foi um erro estúpido deixar-se vulnerável assim, e tão completamente previsível que ela terminaria de uma forma tão vergonhosa.
Ele permaneceu em silêncio pelo espaço de uma respiração e quando ele falou em seguida, houve uma tristeza subjacente às suas palavras. — A maioria de seus filhos morreu junto com ela. Eles estavam indissoluvelmente ligados à sua vontade, e no seu momento final, ela deixou-os secos em uma vã tentativa de se salvar. Ela deve ter sabido que era fútil, deve ter sabido que estava apenas arrastando-os para a morte com ela, mas não se importou. Nenhum preço seria muito grande se houvesse mesmo que a mais fina chance de que sua própria longa vida pudesse ser salva.
— Eu e alguns outros sobrevivemos, aqueles que tiveram o poder de resistir ao seu apelo final. Alguns desses morreram logo depois, caindo na vida de libertinagem que foi tudo que ela lhes ensinou. O resto se perdeu na busca de um novo mestre, quando eu peguei a minha nova liberdade e criei um território meu. Até então, nenhum dos velhos mestres sozinho tinha força para me desafiar. E quando eles se uniram contra mim, eu peguei minhas poucas pessoas e vim aqui para a América, o novo mundo.
Ele encontrou o seu olhar diretamente, enfatizando as palavras seguintes. — Em mais de 500 anos como Vampiro, eu não reconheci nenhum mestre, nenhum senhor, nenhuma senhora. Desde a morte de minha senhora nenhuma criatura viva ou morta pediu mais de mim do que eu estou disposto a dar, a lealdade entre companheiros, a fidelidade entre Senhor e filho.
— Mas Alexandra… — Cyn protestou.
— Alexandra — disse ele quase cansado — é uma mulher mesquinha que já foi uma criança que eu amava. Eu às vezes acho que ela teria feito melhor se eu nunca a tivesse encontrado naquele calabouço em Paris, ou se eu a tivesse deixado para fazer seu próprio caminho ou falhar ao tentar.
Ele balançou a cabeça. — Não, minha Cyn, não houve uma em todas estas centenas de anos que me dominou. Até que eu conheci você. Desde o início, eu quis você e a sua resistência a meus avanços só me fez te querer mais. Quando eu finalmente me coloquei dentro de você, senti você arqueando embaixo de mim com paixão, tudo que eu conseguia pensar era ter você outra vez e mais outra vez. Minha fome por você era tão fresca, era como se não tivéssemos estado juntos apenas momentos antes. Eu olhei para seu rosto, para seus olhos cheios de desejo só para mim e eu soube que daria tudo o que eu tinha para manter você segura ao meu lado e na minha cama.
— Assim, tendo finalmente encontrado um adversário que não consegui derrotar, eu fugi — disse ele em desgosto. — Ao invés de enfrentá-la na minha fraqueza, pensei em te deixar para trás, esquecer sobre você, que eu achava que era certamente possível. Afinal, como poderia um ser humano me oprimir com sentimentos em um período tão curto de tempo? — Ele sorriu amargamente, sacudindo a cabeça diante de sua própria tolice.
— Você me disse uma vez que eu assombrava seus sonhos. — disse ele em voz baixa. — Com você indo embora, eu tenho vivido por aqueles momentos roubados de seu sono. Eu queria que você se lembrasse de mim de forma que nenhum outro homem conseguisse tocá-la do jeito que eu tinha. A própria possibilidade me deixou louco. Quando eu soube que você tinha ido para o Texas, meu primeiro pensamento foi de destruir Jabril Karim antes que seus olhos sequer olhassem você, para que ele nem mesmo pensasse em tomá-la para ele próprio.
Uma nuvem cobriu a lua no alto, escondendo o rosto dele até que apenas a prata brilhante de seus olhos era visível quando ele encontrou o seu olhar. — Eu fui dominado por fim, doce Cyn, indefeso diante da falha da maioria dos humanos. Eu te amo.
Cyn olhou para ele, seu coração batendo tão forte, tão depressa, que esmagou o fôlego de seus pulmões. Uma parte dela queria lembrar cada detalhe desta noite, as sombras profundas sob as árvores, a dispersão da luz da lua para onde poderia, o cheiro do eucalipto, afiado e picante — o momento em que ele revelou sua alma para ela pela primeira vez. Ela queria se jogar em seus braços, senti-lo embrulhar o corpo grande em torno dela e dizer-lhe mais uma vez que a amava. E então ele pensava que era uma falha amá-la dessa maneira? Ela entendia perfeitamente. Ela lutou contra o amor a maior parte de sua vida — amor pelo seu pai, sua mãe ausente, a sucessão de babás dentro e fora de seu mundo. Amor deixa você para baixo, faz você vulnerável. Nenhuma outra emoção tinha o poder de apagar a razão, de destruir paredes cuidadosamente construídas e deixá-lo sangrando em meio aos destroços.
Mas porque ela entendeu, porque ela se lembrava muito bem da dor de perdê-lo, ela permaneceu imóvel, sentada no escuro silencioso sob sua árvore.
Raphael sorriu tristemente, levantando a cabeça de repente na direção da mansão de Alexandra, como se estivesse ouvindo. — Seu pequeno pássaro está pronto para voar. — comentou ele. Quase imediatamente, ele se levantou, varrendo o paletó e oferecendo a Cyn uma mão levantada.
Ela colocou a mão na sua, deixando-o puxá-la de pé, sentindo a fácil força em cada movimento. Ele a abraçou e puxou-a para perto, deslizando sua mão em torno das costas para segurá-la. — A escolha é sua, doce Cyn — ele murmurou em seu ouvido. Ele levantou o rosto e beijou-a em seguida, um suave, lento beijo a que ela não podia evitar responder. — Venha a mim, quando estiver pronta. — ele sussurrou, e então ele a soltou e se afastou.
— Raphael… — ela começou, mas ele a interrompeu.
— Ela não pertence aqui. — disse ele, olhando em direção à casa de Alexandra. — A irmã, Elizabeth. — Ele olhou de volta para Cyn. — Ela não pertence entre o meu povo. Ela deveria estar fora no mundo.
— Eu sei. — Cyn acenou com a cabeça. — Eu vou encontrar algo para ela, em algum lugar.
— Eu não quero Mirabelle vivendo com Alexandra também. — disse ele numa voz pensativa. — Eu entendo o pensamento de Duncan em trazê-la aqui.
De certa forma, foi bem feito. Mas eu tenho outros planos para Mirabelle.
— O que quer dizer com planos? Que tipo de planos? — Cyn exigiu, de repente se sentindo muito protetora de ambas as irmãs.
Raphael sorriu para ela, como se esperasse a reação. — Nada sem o seu consentimento, minha Cyn. Não tem que se preocupar por isso. Eu estava pensando em faculdade, na verdade. Ela vale mais do que uma vida como brinquedo de Alexandra.
— Oh.
Ele encontrou seus olhos de forma constante. — Mas lembre-se disso, lubimaya, agora ela é minha, não sua.
Cyn suspirou. — Eu sei. — ela admitiu a contragosto.
Raphael riu. — Vinde a mim, doce Cyn. Eu estarei esperando.
E ele se foi, sem deixar vestígios da sua partida além do sussurro das folhas e do sabor persistente de lábios macios contra sua boca.
Capítulo 44
Houston, Texas
Jabril estava sentado à sua mesa, lendo os últimos relatórios dos seus contadores. Ele se esforçou para manter a calma, alimentando sua agitação crescente na intercepção de uma caneta-tinteiro elegante em sua mão direita enquanto examinava as longas filas de números. Seu povo estava trabalhando febrilmente, saqueando o máximo de dinheiro de Mirabelle enquanto podiam, antes que a garota estúpida descobrisse o que ele estava fazendo e colocasse um fim nisso. Era o mínimo que ela lhe devia por todos os anos que ele tinha cuidado dela quando ninguém mais tinha se incomodado. Puta ingrata.
Claro, ela já havia contratado uma série de gananciosos advogados lá fora, na Califórnia, para desafiar tudo o que ele tinha feito. Sem dúvida, Raphael tinha ficado mais do que feliz em ajudar, razão pela qual as pessoas de Jabril estavam movendo os fundos o mais rapidamente que podiam para roubá-los.
Não que isso poderia ser chamado de roubo. Ele estava apenas tomando o que era seu por direito, afinal de contas. Se ao menos ele tivesse mais tempo. A caneta delicada estalou e o reservatório de tinta rachou, derramando um líquido escuro sobre seus dedos e os papéis por baixo. Jabril pulou da cadeira, jurando enquanto ele jogava os pedaços quebrados de lado. Ele olhou para cima com um rosnado furioso quando a porta se abriu e Asim correu dentro.
Asim registou no instante o seu desânimo quando viu a bagunça com as manchas de tinta. Jabril olhou para ele.
Ele precisava de alguém para suportar o peso da sua ira e Asim faria tão bem quanto qualquer outro.
— Não fique aí, seu idiota patético. — ele arrebentou. — Pegue uma toalha.
Asim correu para o banheiro contíguo, retornando com uma grossa toalha branca, que estendeu diante dele como uma oferta. — Meu senhor. — disse Asim quando Jabril arrancou a toalha e começou a limpar as mãos. — Você tem uma chamada telefônica.
Jabril sibilou para ele, incrédulo. — Será que parece que eu estou ansioso para falar ao telefone, Asim? Quem está ligando agora?
Os olhos de Asim balançaram nervosamente de um lado da sala para o outro, como se verificando ouvintes invisíveis. Ele deu um passo muito perto e sussurrou um nome.
Os olhos de Jabril se arregalaram de surpresa. — Bem, isso é interessante. O que ela quer?
Asim tossiu. — Amizade. Eu a persuadi a falar diretamente com você.
— Amigos? Quão pitoresco. — Jabril sentou-se e estendeu a mão para o telefone, com a boca torcendo com desgosto ao ver o azul manchando as mãos antes de ele pegar o marfim antigo do receptor de ouro.
— Como é agradável ter notícias suas, minha querida. — disse ele, sua voz suave modulada para refletir nenhuma de sua raiva anterior. Ele ouviu, recostando-se à toa e cruzando as pernas na altura do joelho. — Mmm. E por que você faria isso para mim? — Ele riu levemente. — Não, não, estou interessado, estou apenas surpreso. Você dificilmente pode me culpar por isso.
— Ele escutou a voz suave e feminina. Ela estava quase sussurrando, com medo de ser ouvida. E quem podia culpá-la? — E quando isso seria? — Perguntou. — Assim, em breve? Bem, excelente. Isso pode funcionar muito bem. — Ele ouviu ainda como seu interlocutor fez um pedido.
— Eu vejo. De repente, tudo fica claro. — Ele riu de novo, desta vez com desdém. — Realmente, minha querida. Se aprende algumas coisas ao longo dos séculos. Isso não muda nada, no entanto. Seus propósitos e os meus coincidem.
Você tem certeza do tempo?
— Eu vou ter alguém à espera, então. Ah, e, minha cara? Não seria sábio me decepcionar. — Ele desligou e encontrou o olhar questionador de Asim. — Esse seu investigador incompetente, qual era o seu nome?
— Windle, meu senhor. Patrick Windle.
— E ele ainda está em Los Angeles, procurando cegamente por Elizabeth?
— Sim, meu senhor. Ele me garantiu que a terá sob sua custódia em breve.
— Será mesmo? Que otimista. Bem, nós podemos ter feito seu trabalho por ele, a chance de agarrar não só nossa doce Elizabeth, mas também a puta traiçoeira de Raphael. Eu sonhava em colocar minhas mãos nela mais uma vez, Asim, e ela está prestes a cair em minhas mãos.
Capítulo 45
Depois de toda a antecipação e preocupação, a audiência de Mirabelle perante Raphael foi relativamente simples. Como Cyn tinha dito a Mirabelle, ela esperava algo pomposo e formal, mas ela deveria saber melhor. Raphael era muito mais um Diretor Executivo do que um rei. Concedido, um Diretor Executivo com o poder de matar qualquer um que o desagradasse, mas quem disse que as empresas não fazem o mesmo? Os métodos de Raphael eram simplesmente mais diretos.
Cyn chegou antes da hora marcada por Alexandra. A mansão estava tranqüila, toda a remodelação feita, pelo menos por agora. O som do piano clássico derivou escada abaixo, deixando Cyn saber que era Alexandra na sala de música e não Mirabelle. Ela pensou em parar para dizer olá, por cortesia, mas seguiu para o quarto de Mirabelle em vez disso.
Cyn apreciou tudo que Alexandra tinha feito — que ela tinha tomado Mirabelle em sua casa, lhe dado um lugar para pertencer. Mas ela não estava muito confortável com a irmã de Raphael.
Havia algo sobre Alexandra que fazia Cyn pensar que os pensamentos da mulher vampira raramente combinavam com suas palavras.
A porta de Mirabelle estava aberta, mas Cyn bateu levemente antes de entrar para encontrá-la envolvida em uma longa túnica de seda azul safira e em pé na frente do espelho. Ela estava olhando pensativamente para seu reflexo, seus pensamentos aparentemente longe de tudo o que estava vendo lá.
— Mirabelle? — Cyn disse suavemente.
A jovem vampira olhou lentamente ao longo do seu ombro, não de todo espantada, então ela deve ter ouvido Cyn entrar afinal. — Olá, Cynthia. — ela disse com um pequeno sorriso.
— Você está pronta para esta noite?
— Oh, sim. — ela disse. Ela vagueou até a antiga penteadeira, pegou uma escova e começou a passá-la através de seu cabelo com suavidade, com movimentos longos. Seu cabelo loiro escurecera depois de anos longe do sol, tinha sido atenuado por um estilista e agora brilhava com um tom ouro mel.
Cyn olhou em volta. O quarto era todo de renda branca e linho. A cama de dossel estava empilhada com travesseiros espumosos de todas as formas e tamanhos, o edredom grosso e rechonchudo era de renda bordada. Cyn teve um pensamento passageiro sobre o porquê de uma vampira se dar ao trabalho de decorar um quarto que ela nunca dormia. Por que não projetá-lo como uma sala de estar em seu lugar? Os vampiros todos dormiam no cofre lá embaixo de qualquer maneira. Embora, em algum momento, a cama poderia ter outro uso, ela supunha. Ela olhou para Mirabelle, que estava mais uma vez mergulhada na contemplação, seu braço levantado para escovar os cabelos quase que automaticamente.
— Você redecorou. — Cyn disse.
Mirabelle olhou ao redor, como se surpresa com as mudanças. — Alexandra fez isso.
Cyn inclinou a cabeça ligeiramente, intrigada. — Você não gosta?
Mirabelle olhou sobre seu ombro com um sorriso triste. — Não é realmente o meu gosto, sabe?
— Você está bem, Mirabelle? — Cyn perguntou baixinho.
Os olhos azuis da menina centrados nela, de repente se encheram de lágrimas. — Eu queria fazer a coisa certa, Cyn. Tudo está tão confuso e eu…
Cyn atravessou a sala e puxou a mulher mais nova ao redor, colocando as mãos sobre os ombros de Mirabelle. — Você está fazendo a coisa certa, Mirabelle. Você fez a coisa certa. Foi preciso coragem para se afastar de Jabril, para pegar sua vida de volta dele e torná-la sua própria. Estou orgulhosa de você. Sua mãe e seu pai estariam orgulhosos de você. Eles teriam odiado o que ele fez com você e com Elizabeth.
— Elizabeth. — repetiu Mirabelle, endireitando-se para fora do abraço e dando uma respiração profunda. — Certo.
Ela caminhou até o armário onde a sua roupa para a noite estava pendurada em um cabide acolchoado. Ela e Alexandra haviam escolhido dentre uma seleção enviada por uma das melhores lojas da Rodeo Drive, junto com uma série de outras roupas do armário agora preenchido de Mirabelle. Não há necessidade de deixar a segurança da propriedade de Raphael em Malibu — se você tivesse bastante dinheiro, tudo era possível nesta cidade, e Mirabelle tinha um monte de dinheiro. Cyn tinha ficado um pouco irritada por ter sido excluída do frenesi de compras, mas ela teve que admitir que a escolha foi boa. A calça equipada era de uma fina lã penteada e o longo casaco correspondente batia abaixo do joelho. A roupa toda era negra, mas com um brilhante, quase iridescente forro azul na jaqueta. O estilo era provavelmente demasiado velho para Mirabelle, muito sombrio, mas o forro era bonito, e o negro ia esconder qualquer lamentável mancha de sangue. Mirabelle entrou na calça e colocou o manto em seus ombros. Cyn se aproximou para ajudar, tomando o manto de modo que mulher mais jovem pudesse vestir o tanque de seda sem mangas que ia debaixo da jaqueta.
— Você já falou com Elizabeth esta noite? — Cyn perguntou.
— Eu liguei, mas nós não falamos muito. Ela disse boa sorte e para eu ligar-lhe depois. Ela realmente não entende tudo isso, você sabe. Essa coisa de vampiro. — Cyn assistiu em silêncio enquanto Mirabelle sentou-se para colocar seus sapatos pretos Ferragamo com um salto de três polegadas. — Amanhã é o aniversário de Liz. Ela vai ter oficialmente dezoito anos.
— Eu sei. Luci tem uma pequena festa planejada na casa. Você vai?
Mirabelle ignorou o convite, dizendo em seu lugar. — Liz disse que você a está levando a sua primeira aula de condução também.
— Yep. Era isso ou ensiná-la eu mesma. — Cyn comentou casualmente.
— Vai ser mais fácil para ela depois que receber sua licença. Ela poderá visitá-la quando quiser.
— Eu acho.
Cyn se aproximou e sentou na cama, ficando ao nível dos olhos da garota sentada.
— O que está acontecendo aqui, garota?
Mirabelle olhou para cima, seus olhos encontrando os Cyn com uma súbita e desesperada intensidade. — Liz é minha irmãzinha. Minha irmãzinha!
Eu nunca percebi até que a vi no outro dia, que ela está ficando mais velha, mas eu estou exatamente a mesma. Eu serei sempre exatamente a mesma. Muito em breve, ela estará mais velha do que eu e depois… — Ela deixou cair a cabeça e engoliu em seco. — Ela vai morrer. — ela quase sussurrou. — E eu vou estar sozinha. Não é como Alexandra. Ela tem Raphael. Ela sempre terá Raphael.
Cyn olhou para a cabeça curvada de Mirabelle, profundamente perturbada e se perguntando de onde diabos isso tinha vindo. Mirabelle não tem contato com muitas pessoas, somente Alexandra e os guardas. Ela se lembrou de Alexandra dizendo que queria transformar Cyn, queria fazê-la Vampira, para ser sua amiga para sempre. Teria ela se concentrado em Mirabelle ao invés? Uma agradável pequena bebê vampiro, sozinha no mundo, para Alexandra a moldar em uma amiga permanente e acólita?
— Você assumiu um grande risco ao vir aqui. — Cyn disse suavemente.
— De certa forma, você fez o possível para Liz sobreviver, para ficar longe de Jabril e ter uma vida real. E agora você tem que deixá-la viver à sua maneira.
Mas a família é mais do que sangue, Mirabelle. São os seus amigos, as pessoas que se preocupam com você, as pessoas que você gosta. Você pode fazer a sua própria família.
Ela se levantou, puxando Mirabelle com ela.
— Eu fiz alguns amigos aqui. — Mirabelle disse de repente. — Elke veio hoje. Ela me mostrou o ginásio, aquele utilizado pelos guardas de Raphael.
— Eu já trabalhei com Elke. — disse Cyn. Elke era, de fato, a única mulher vampira na primeira linha de segurança de Raphael. Havia outros vampiros do sexo feminino entre o pessoal de segurança dele, mas Elke era a única que Cyn conhecia a quem foi confiado guardá-lo pessoalmente. Ela e Elke não eram exatamente amigas, mas elas tinham alcançado um estranho tipo de respeito uma pela outra após o seqüestro de Alexandra.
— Ela se ofereceu para me ajudar a fazer algum treinamento físico. Você sabe, como levantamento de peso e coisas de artes marciais.
— Provavelmente uma boa idéia. — comentou Cyn.
— Eu achava que sim, mas Alexandra disse…
— Deixe-me lhe dizer algo, Mirabelle. — Cyn interrompeu, sua voz baixa.
— Alexandra foi seqüestrada um par de meses atrás. Não importa o porquê, mas quando eles a levaram, você sabe o que ela fez?
Os olhos de Mirabelle estavam bem abertos quando ela balançou a cabeça.
— Ela sentou lá em uma casa suja, exatamente onde a colocaram e esperou que alguém viesse resgatá-la. Você acha que isso é o que Elke teria feito? O que Liz deveria ter feito? Sentar lá e esperar por alguém para salvá-la?
Pegue as aulas com Elke, fique tão forte quanto possível, e aprenda o máximo que puder. E se alguma vez você precisar ser resgatada, você estará pronta para salvar a si própria.
Os olhos de Mirabelle estavam brilhando de repente com lágrimas. — Sinto muito, Cyn. Eu não…
Cyn pulou para trás, surpresa e consternada com a reação. — Eu não estou falando de você, Mirabelle. Você era uma criança quando Jabril tomou você, e estava sozinha, eu quis dizer…
— Oh. — Mirabelle interrompeu. — Não. Eu sei que não foi isso que você quis dizer. Realmente, está tudo bem.
Ela parou e respirou fundo, enxugando as lágrimas.
— Você não está preocupada com a testemunha de Jabril, está? Porque Raphael nunca…
— Oh, não, — Mirabelle assegurou-lhe rapidamente. — Não estou preocupada com isso. É que está tudo acontecendo tão rápido. Mas você está certa. Eu vou aceitar a oferta de Elke e eu vou ser forte. Mais forte do que qualquer um pensa que eu sou. Começando hoje à noite.
Alexandra estava esperando por elas fora da sala de música. Ela estava usando um terno caramelo St. John de malha, com um estilo quase militar.
A saia abraçando o corpo se agarrou à sua figura pequena, a imagem perfeita de uma mulher St. Jonh. Ela deu a Cyn um olhar estranho. Um olhar que fez Cyn pensar que Alexandra tinha ouvido cada palavra que ela disse à Mirabelle.
— Não estamos adoráveis esta noite? — disse Alexandra à medida que se aproximava. — Essa é uma cor maravilhosa em você, Cynthia.
Cyn olhou para baixo automaticamente em seu próprio vestido. Era um profundo e rico verde esmeralda cintilante em seda grega com um pescoço de barco e mangas compridas afiladas. Ela escolheu intencionalmente, sabendo que a cor realçava o verde de seus olhos e a saia exibia pernas longas ainda mais com saltos agulha de dez centímetros. Ela talvez não soubesse exatamente o que queria de seu relacionamento com Raphael, mas ela queria ter a maldita certeza de que ele a notava.
— Vamos levar o meu carro? — Cyn perguntou. — Eu não acho que estes saltos foram projetados para um passeio na floresta.
Alexandra riu alegremente e virou-se para liderar a descida das escadas.
— Pena que você não é uma vampira, Cynthia. Mirabelle e eu não teríamos qualquer problema. — Ela se virou com um olhar privado para Mirabelle. — Será que nós teríamos, querida?
Mirabelle corou e deu a Cyn um olhar de soslaio. — O carro está muito bem, Cyn. Eu não quero ficar toda suada antes mesmo de eu chegar lá. — Ela bufou uma risada depreciativa. — Eu tenho certeza que vou suar bastante uma vez que começar.
— Não seja tola. — disse Alexandra despreocupadamente, esperando por Mirabelle para recuperar o atraso com ela e ligando seus braços. — Você vai ficar bem. Não vai Cynthia? — Este último foi lançado por cima do ombro enquanto as duas vampiras desciam as escadas.
— Sim, Alexandra, ela irá. — disse Cyn. — Mirabelle vai ficar bem.
Capítulo 46
Juro estava esperando por elas na casa principal, seu irmão gêmeo — que parecia nunca falar e cujo nome Cyn ainda não sabia — estava ao lado dele, como sempre. Duas árvores imperturbáveis guardando o santuário de Raphael.
Juro olhou Cyn cautelosamente, claramente convencido de que ela tinha uma arma escondida em algum lugar, mas não tendo idéia de onde poderia estar escondida sob o vestido. Ele deu-lhe um olhar resignado e Cyn afagou-lhe o braço em simpatia.
— Meu irmão está nos esperando, Juro. — Alexandra disse com um traço de impaciência.
— Ele está, Alexandra. — Juro concordou. Cyn viu a boca elegante de Alexandra apertar um pouco e imaginou se havia alguma tensão entre a irmã de Raphael e seu guarda-costas chefe. Se houvesse, Juro estava claramente imperturbável por isso. Ele se virou e abriu o caminho, seu gêmeo esperou até que eles tivessem passado antes de assumir a retaguarda.
Subiram as escadas e no longo corredor andaram em um pequeno desfile até chegar ao enorme par de portas elaboradamente esculpidas em frente ao escritório de Raphael. Juro parou para bater uma vez, esperando que as portas balançassem, sem a ajuda de uma mão visível. Ele deu um passo atrás e as três mulheres entraram, Alexandra em primeiro lugar, Mirabelle e Cyn atrás dela.
Raphael estava no escritório de trabalho, com estantes que iam desde o chão até o teto alto. Escadas deslizantes estavam posicionadas em intervalos para fornecer acesso às prateleiras mais altas, que estavam cheias de livros de todas as formas, tamanhos e idades. Era uma sala mais adequada para um pesquisador, um professor de história, talvez, ao invés de um vampiro. Mas quando se vive durante séculos, a história torna-se um caso pessoal, Cyn supôs.
Raphael estava sentado atrás de uma mesa enorme, Duncan de pé de um lado. Atrás deles estava uma parede de vidro mostrando nada além do oceano e a lua. Juro tinha tomado uma posição à direita da porta, ao lado de seu irmão gêmeo e espremido entre eles estava um vampiro que Cyn não reconhecia. Ela examinou a sua roupa escura em desprezo perpétuo e percebeu que ele era certamente a testemunha do Jabril. Não admira que Juro e seu irmão estavam guardando-o com tanto cuidado.
Ela olhou para Mirabelle, mas a menina parecia não ter olhos para ninguém além de Raphael. Cyn encontrou seu olhar negro e teve que admitir que ele era uma visão que valia a pena olhar.
Raphael ficou parado quando elas se aproximaram, o seu olhar sobre as pernas nuas de Cyn de forma cobiçante antes de finalmente encontrar os seus olhos com um calor que a deixou muito contente por ela ter tomado tempo para escolher com cuidado. Seus lábios mal se curvaram em um sorriso apreciativo, antes de ele usar uma expressão mais sombria e olhar para Mirabelle em expectativa.
— Você pediu para me ver, Mirabelle. — ele questionou formalmente.
— Sim, meu senhor. — A voz de Mirabelle estava rouca com os nervos e ela levou duas tentativas para conseguir colocar as poucas palavras para fora.
Ela fez uma pausa, obviamente irritada consigo e então chamou um longo suspiro de coragem e se curvou profundamente. — Meu Senhor Raphael. — disse ela, pondo-se na posição vertical. — É uma honra solicitar sua permissão para me mudar do território e soberania de meu pai, Jabril Karim. Eu ofereço a você minha lealdade e o meu serviço, se você me aceitar, meu senhor.
Alexandra acenou com aprovação e sorriu com orgulho, seu olhar alternando entre Mirabelle e Raphael.
— E o seu senhor deu seu consentimento para esta deslocalização, Mirabelle? — A voz suave de Raphael fez a pergunta necessária, embora todos ali soubessem a resposta.
— Não, meu senhor, ele não deu. Eu vim a você por minha própria vontade e desejo.
Cyn ouviu uma agitação por trás dela com as palavras de Mirabelle e viu os olhos de Raphael piscarem por cima do ombro para onde estava a testemunha de Jabril. Ele segurou o olhar do vampiro por apenas um segundo antes de virar sua atenção de volta para Mirabelle.
— Você entende. — ele disse a ela. — Se eu aceitá-la, qualquer aliança com seu Senhor será perdida. Você será como minha.
— Sim, meu senhor.
— E é isso o que você realmente deseja?
— Com todo o meu coração, meu senhor, é meu desejo.
— Muito bem. — Raphael escorregou para fora do paletó com um encolher de ombros graciosos e colocou-o sobre sua mesa. Cyn sentiu um puxão de desejo em seu corpo quando ele desabotoou a manga esquerda da camisa e começou a enrolá-la em seu antebraço com movimentos uniformes. Ela tinha uma fraqueza pelas belas mãos de um homem. As mãos de Raphael eram fortes, seus dedos longos, seus antebraços suavemente musculosos. Ela engoliu em seco e reprimiu as memórias do que aquelas mãos poderiam fazer.
Duncan tinha produzido uma faca pequena, não mais que quinze centímetros de comprimento, sua borda afiada brilhando contra o antigo metal enegrecido da lâmina. Raphael olhou para a arma e assentiu enquanto caminhava em torno da mesa. — Ajoelhe-se diante de mim, Mirabelle.
Mirabelle deu um passo em frente e caiu de joelhos, aterrando com uma graça que teria feito qualquer cortesão orgulhoso. Toda a prática a estava ajudando hoje à noite. Raphael colocou as duas mãos na cabeça baixa de Mirabelle. Nada pareceu acontecer por alguns minutos, e depois Mirabelle suspirou em óbvio prazer e lágrimas rosa começaram a rolar por debaixo das suas pálpebras fechadas.
Raphael levantou as mãos, estendendo a direita em direção a Duncan, que silenciosamente entregou-lhe a faca. Cyn engoliu um suspiro pequeno quando, sem aviso, Raphael correu a lâmina afiada sobre a pele macia sob seu pulso esquerdo, abrindo um corte de oito centímetros na vertical.
Sangue jorrou imediatamente, manchando a borda de seu punho branco imaculado, antes que ele baixasse a mão e o deixasse correr na palma dele em concha. O nariz de Mirabelle se contraiu e seus olhos se abriram para um olhar faminto — o sangue de um vampiro, mais rico e mais poderoso do que o sangue de qualquer criatura na Terra, muito mais rico do que qualquer coisa que Mirabelle teria alguma vez provado antes, exceto talvez para seu pesadelo transformado nas mãos de Jabril. E Cyn tinha que acreditar que o sangue de Raphael seria mais doce do que qualquer coisa que Jabril poderia produzir.
Raphael assistiu a jovem vampira silenciosamente, retendo seu braço até que o sangue era uma piscina crescente na palma da mão larga, até que encheu os vincos entre os dedos e ameaçou gotejar para o tapete, até que Mirabelle estava perto de romper com a tentação diante dela. E então ele ofereceu-o com o mais minúsculo movimento em direção à boca em espera. Mirabelle respondeu ansiosamente, procurando seu braço, as mãos tremendo com o esforço de mover-se lentamente, deliberadamente. Quando Raphael não fez nenhum movimento para negar-lhe, para puxar a sua mão, ela fechou os olhos em êxtase e baixou sua boca para o sangue correndo.
Mirabelle deu um gemido orgástico, sua garganta trabalhando firmemente enquanto ela bebia de Raphael. Cyn queria desviar o olhar, sentindo-se como uma intrusa, uma voyeur testemunhando algo que deveria ter sido intensamente privado. Em vez disso ela o observava, determinada a testemunhar a submissão de Mirabelle para seu novo senhor, para reconhecer esta parte da vida de Raphael. Ela o observava também, sua escura cabeça inclinada, olhos fechados, os músculos de seu antebraço cerrados para manter o sangue fluindo. Por quanto tempo ele poderia continuar com isso?
Assim que o pensamento ocorreu, Raphael estava tocando Mirabelle suavemente com a outra mão. Ela afastou-se imediatamente com um suspiro de prazer, sua língua lambendo os lábios ensangüentados, para salvar até a última gota do líquido precioso. Ela se sentou sobre os calcanhares e olhou para seu novo mestre, um olhar de absoluta adoração em seu rosto corado.
— Obrigado, Mestre. — disse ela em um ronronar, baixo e sensual, nada como a voz regular dela.
Raphael olhou para ela, com uma expressão de paciência confusa. — Você é muito bem-vinda, Mirabelle.
Duncan avançou quase imediatamente, descendo para ajudar Mirabelle a seus pés. Ela tropeçou ligeiramente, tonta, quase embriagada, devido ao sangue potente. — Venha, pequena. — disse ele. — Nós temos planejado uma pequena celebração em sua honra.
Ela deu-lhe o sorriso encantado de uma criança. — Uma festa? Para mim?
— Para você. — Duncan concordou. Ele a pegou pelo braço e guiou-a para fora da sala. A testemunha de Jabril tinha ido embora, aparentemente escoltado para longe em algum momento por Juro que também estava ausente.
Cyn só podia esperar que a escolta o levasse todo o caminho para o aeroporto e para um avião de volta para o Texas.
Juro ficou esperando fora da porta aberta, com o rosto normalmente solene em diversão quando Mirabelle saudou-o como um amigo perdido há muito tempo. Alexandra começou a seguir, mas fez uma pausa, voltando a olhar para Cyn.
— Cynthia?
Cyn estava assistindo Raphael quando ele parou o fluxo de sangue, dobrando seu braço e colocando pressão sobre a ferida. Seu rosto estava inexpressivo, como se esse tipo de coisa acontecesse o tempo todo, como se o sangue escorrendo de seus dedos e molhando o elegante tapete persa fosse um inconveniente, nada mais. Seus olhos negros de repente surgiram para encontrar os dela e Cyn foi atingida por uma necessidade tão forte que a teria conduzido para ele de joelhos se ela não tivesse uma cadeira para se segurar.
— Vá em frente, Alexandra. — disse ela sem fôlego. — Irei depois.
O protesto crescente de Alexandra foi abortado quando o olhar de Raphael passou para ela. Não havia nada de calor fraternal naquele olhar.
Alexandra suspirou tristemente e girou, batendo seus saltos da moda suavemente contra o tapete quando ela saiu pela porta que se fechou silenciosamente atrás dela.
Raphael soltou um pequeno suspiro aliviado e recostou-se para se sentar na borda de sua mesa.
— Você está bem? — Cyn perguntou, indicando o seu braço ferido com um aceno de cabeça.
Raphael deu-lhe um sorriso torto. — Adoro quando você se preocupa comigo, minha Cyn. Ninguém mais faz.
Ela soltou um pequeno acesso de descrença. — Duncan se preocupa com você. — ela discordou. — Ele é pior do que uma mãe galinha.
— Sim, bem. — Raphael disse suavemente. — Isso não é exatamente a mesma coisa, não é?
Cyn estudou-o do outro lado da sala, e depois balançou a cabeça em desgosto. — Quem estou enganando? — Ela murmurou. Ela caminhou até a mesa, aproveitando o balanço natural dado aos seus quadris pelos saltos altos.
Raphael permaneceu imóvel, mas seu cuidadoso olhar seguia cada movimento.
Quando ela estava perto o suficiente para tocar, ele disse: — Você não quer se juntar à celebração de Mirabelle?
A boca de Cyn se curvou para cima. — Eu prefiro comemorar com seu mestre. — Ela estendeu a mão e tomou o seu braço ferido na mão, puxando-o até sua boca. Os olhos nunca deixando os seus, ela passou a língua lentamente pela ferida, tendo tempo para lamber a pele macia de seu pulso antes de fechar a boca sobre o seu pulso com um beijo suave.
Um grunhido retumbou profundamente no peito de Raphael e ele estendeu a mão para puxá-la para ele, seu braço ileso serpenteando em torno de suas costas, os dedos espalmados sobre sua bunda para pressioná-la perto.
Seus lábios dançavam ao longo da pele nua do pescoço e ombros, seguindo a linha de sua mandíbula, antes que ele tomasse sua boca em um longo e lento beijo. — Este é um lindo vestido, minha Cyn. — ele sussurrou contra seus lábios. — Quão rapidamente podemos tirar você dele?
Ela riu de alegria, torcendo os dedos pelos cabelos grossos, apreciando a sensação de seus lábios contra ela, cada nervo hiper-vivo com o sangue que ela tinha lambido de seu braço acelerando através de seu sistema. Ela inclinou-se totalmente contra ele e seus braços vieram em torno dela para abraçá-la.
Ele parou de repente, levando-a com ele. — Venha. — disse ele.
Ela sorriu contra seus lábios macios. — Você acha que será assim tão fácil, meu senhor?
— Doce Cyn. — Raphael ronronou. — Não tenho intenção de fazer com que seja fácil.
Cyn estremeceu debaixo da promessa, a sua voz escura quando ele a pegou e levou-a através da sala. As arestas de uma estante escovaram suas costas antes que ele estendesse a mão e acendesse um interruptor invisível. As prateleiras ao lado dela começaram a se mover, girando para revelar uma porta escondida.
— Um quarto secreto. — ela brincou. — Quão misterioso.
— Um elevador. — ele corrigiu e apoiou-a para dentro, batendo-a contra a parede e cobrindo seu corpo com o seu quando a pequena caixa começou a se mover para baixo.
Capítulo 47
O Escritório de Raphael era no segundo andar, mas Cyn não podia dizer o quanto o elevador viajou. Ela não pensava em qualquer coisa além da necessidade de tocar e ser tocada por Raphael. Sua boca devorou a dela avidamente, seus lábios trancados em um beijo ardente que ela não quis terminar quando seus corpos moldaram-se um ao outro, nada os separando além de uma fina camada de roupa. E ainda não era o suficiente. Ela precisava senti-lo, pele nua contra pele nua, o deslizar dos músculos, o repicar dos nervos estimulados a uma intensidade quase dolorosa.
Ela estava consciente de que tinha deixado o elevador só porque havia um carpete debaixo dos seus pés quando ela tirou os sapatos. Os dedos frios de Raphael deslizaram pelas costas dela enquanto ele tirava o vestido verde, deslizando as mangas de seus ombros até que estavam agrupadas em torno de seus pés. Ele cantarolou com prazer ao ver a renda contendo os seios antes que isso também caísse no tapete, expondo montes totalmente pesados com desejo, os rosados mamilos estavam duros e doloridos por seu toque. Cyn gritou quando sua boca provou um, depois o outro, passando os dentes ao longo da carne tenra enviando pontadas de desejo carregado através de seu corpo inteiro, até que ela mal conseguia se manter de pé.
Enquanto a boca de Raphael trazia um tormento glorioso para seus seios, suas mãos vagavam pelas costas, mergulhando abaixo da faixa estreita de sua tanga e tirando-a sem esforço, um pouco mais de renda adicionada à pilha a seus pés. Cyn gemeu com a necessidade de tê-lo agora, duro e rápido, batendo entre suas pernas. Ela rasgou a sua camisa, botões voando em sua urgência. O cinto não foi um obstáculo, seu zíper apenas a entrada para o seu comprimento suave lá dentro. Ela enfiou a mão por baixo do tecido das calças e o encontrou duro e pronto, seus dedos mergulharam mais baixo para acariciar seu saco pesado.
Ela colocou uma fileira de beijos em seu peito, seguindo a linha de pelos sedosos para baixo em toda a plana e lisa extensão de sua barriga. Ela caiu de joelhos, deslizando as mãos pelos seus quadris para empurrar suas calças para longe e libertar sua ereção. Raphael sibilou em surpresa quando ela o levou em sua boca, girando a língua ao redor da cabeça e provocando a espessura de seu pênis, levando-o mais profundo até que ele atingiu a traseira de sua garganta enquanto seus dedos continuaram a acariciar suas bolas. Ele agarrou seus cabelos, segurando-a no lugar e gemendo com o prazer, antes de descer para puxá-la e jogá-la sobre o que parecia ser uma extensão infinita de cama.
Os olhos de Raphael brilhavam prata, seu olhar nunca deixando-a quando ele tirou o resto de sua roupa e se estendeu sobre ela. Sua cabeça caiu para o pescoço e mais abaixo, sugando seus seios com suave dor, sugando um bocado da carne entre os dentes, as presas dele deixando rastros de sangue que escorriam sobre os montes rechonchudos, até que ele os lambeu deixando limpos com um rosnado baixo de fome.
Cyn se contorcia sob seu ataque sensual, cada nervo cantando na afiada ponta de êxtase, seu coração inchado com a simples alegria de estar com ele novamente. Ela arqueou as costas, oferecendo-se, querendo mais, gritando quando suas presas afundaram em sua carne e tremendo com prazer quando a sua suave língua seguiu. Ela protestou quando ele levou sua boca longe de seus seios, apenas para suspirar com prazer quando ele deslizou para baixo entre as suas pernas e começou a se animar com os sucos de sua excitação. Suas presas afundaram-se na protuberância macia de seu clitóris, jogando-a em um clímax de tal intensidade requintada que ela achava que ia perder a consciência.
Ela cerrou ambas as mãos em seu cabelo curto e puxou-o de volta até o comprimento de seu corpo.
— Foda-me, Raphael. Foda-me a… — Sua demanda se transformou em um gemido de satisfação, quando ele obedeceu, dirigindo o seu enorme pênis profundamente entre suas pernas em um único golpe poderoso. Ela estava molhada e pronta para ele, tremendo de necessidade e ainda assim ele esticou-a gloriosamente, enterrando o comprimento total dentro dela e segurando lá, mal se movendo, ofegando enquanto seu calor o rodeava. Com a visão embaçada com o desejo, Cyn observou-o acima dela, os olhos fechados com o esforço de permanecer imóvel. Ela podia sentir seu pau pulsando dentro dela, podia ver seu peito mexer com a batida do seu coração, o fôlego de seus pulmões. Ela estendeu a mão e correu os dedos suavemente sobre sua testa, em todo do arco de seu belo rosto cinzelado e para baixo para a plenitude de seus lábios.
Seus olhos se abriram e encontraram seu olhar, brilhando sob a luz baixa quando ele começou a empurrar.
Lentamente no início, um suave deslizar dentro e fora enquanto seus sucos lubrificavam o movimento, enquanto suas paredes interiores ajustavam-se à sua espessura e saudaram sua invasão. Mais rápido quando a fome aumentou, enquanto se levantava para encontrá-lo, envolvendo suas longas pernas em torno de suas costas e puxando-se sobre seu eixo. Seu clímax começou lá no fundo, uma flexão do seu ventre que estremeceu para fora até que estava acariciando seu pau, quando ele bombeou ainda mais rápido, dirigindo ambos para o ponto de delírio e além.
Cyn gritou quando a onda a varreu, arqueando as costas, agarrando seus músculos. Ela agarrou-se a Raphael, querendo que esse sentimento, essa união de seus corpos, continuasse para sempre, o ouviu rugir quando seu clímax ondulou ao longo de seu pau e desencadeou o seu, drenando-o enquanto a sua quente libertação enchia corpo dela.
Ele caiu contra ela, rolando um pouco para suportá-la em seus braços, tirando o seu peso fora dela enquanto mantinha-se firmemente embainhado dentro. Cyn estava em seus braços, sentindo seu pau ainda flexionando dentro dela, tremendo com as consequências de sua união. Raphael apertou seus braços, segurando-a como se ela fosse algo precioso para ele, algo que ele tinha perdido e agora encontrado, que nunca iria deixar ir de novo.
Cyn virou o rosto contra seu peito quando as lágrimas começaram a fluir.
— Eu senti sua falta, também. — ela sussurrou, não sabendo se ele ouviu.
Raphael beijou sua testa e as bochechas, saboreando as lágrimas.
— Lubimaya?
Cyn tentou controlar a necessidade terrível e insensata de chorar, envergonhada por sua própria emoção. — Os sonhos eram agradáveis, Raphael, mas isto foi muito melhor. — ela conseguiu dizer, forçando um riso leve.
Ele não disse nada por um momento, enquanto Cyn silenciosamente pedia para ele esquecer o assunto. Quando ele riu, ela relaxou, enganchando a perna em torno de seu quadril e rolando para cima, com ele ainda enterrado entre suas coxas. Encontrando seu olhar, ela começou a se mover lentamente, balançando para frente e para trás em seu eixo sensível, apertando os músculos de seu núcleo, colocando seus seios em oferta. Seu olhar ficou aquecido e ele endureceu mais uma vez. Ele alcançou por trás dela para fazer a bunda dela com as duas mãos em forma de concha, segurando-a contra ele quando começou um constante dentro e fora, tomando o controle dela. Cyn ofegou quando ele foi muito mais profundo, enchendo-a completamente. Seus olhos fecharam e ela caiu sobre o peito dele, saboreando a sensação de seus rígidos músculos e pelos sedosos contra a suavidade de seus seios. Ela levantou o suficiente para beijá-lo, acariciando suas presas distendidas com a língua, sentindo a leve picada quando ela tirou seu próprio sangue.
Raphael rosnou o nome dela, um estrondo de som baixo em seu peito, vibrando através de seus ossos. Enquanto seu sangue continuava a fluir, ele agarrou-a com força e virou-os, se impulsionando agora entre as suas coxas, levantando as suas pernas ainda mais para aprofundar, dirigindo dentro dela com golpes poderosos que a ergueram da cama. Cyn gemeu baixinho, perdida na corrida de sensações. Ela colocou seus braços ainda mais firmemente em torno dele, prendendo-o dentro dela, nunca querendo deixá-lo ir. Outro orgasmo iniciou um lento estremecer através do seu corpo, e a boca de Raphael encontrou a doce veia em seu pescoço. Ela tremeu com a dureza de diamante de seus dentes contra sua pele, gritando quando elas perfuraram sua veia, quando sentiu a força do seu sangue deslizando pela garganta dele. Cada nervo em seu corpo ganhou vida de uma vez, um pequeno choro de alegria perdido no rugido de satisfação de Raphael. Sua libertação disparou dentro dela, e ela convulsionou em um orgasmo intenso, suas unhas abrindo linhas de sangue nas costas dele, mandando-o em mais outro climax.
Cyn estava nos braços de Raphael, ofegante, atordoada em silêncio pela força de suas emoções, apavorada que ela acordasse para descobrir que não era nada além de outro sonho.
Seu coração acelerou ainda mais rápido com pensamento, e ela apertou-o pegando nele, desejando nunca mais acordar se fosse um sonho. Como se detectando o medo dela, Raphael acariciou uma confortável mão pelas suas costas, beijando a sua pele e lambendo as trilhas de sangue de seu pescoço.
Doces arrepios de prazer dispararam através de si e ela gemeu. — Pare com isso. — ela sussurrou aconchegando-se mais perto dele. — Eu preciso de pelo menos 10 minutos de pausa aqui.
Raphael riu e beijou-a na boca. — Dez minutos, dez anos, dez séculos, doce Cyn. — ele murmurou, subitamente sério. — Eu te amo. O tempo que me resta é seu.
Cyn congelou, seu coração batendo com algo mais do que apenas sexo fantástico. — Eu também te amo. — ela sussurrou, quase com medo.
— Então fique, minha Cyn. Fique comigo para sempre.
Cyn sabia que o amanhecer estava chegando, quando ela ouviu o baque surdo das pesadas portas se fechando, fechando-os por dentro e deixando todos os outros fora. Raphael despertou de um cochilo quando ela se sentou, o lençol caindo de seu corpo nu.
— Eu prometi a Liz que a levaria à sua primeira aula de direção hoje. — disse ela.
Raphael a puxou de volta para baixo e se inclinou para frente para sugar preguiçosamente os seios ainda inchados de sua noite juntos. Ele levantou a cabeça tempo suficiente para dizer: — Você pode sair quando quiser. Tudo vai bloquear atrás de você. — Então, ele baixou a boca para o peito mais uma vez, empurrando-a de volta para os travesseiros quando sua língua vagou mais abaixo.
— Você vai voltar? — Ele perguntou, seu hálito quente contra a pele úmida do seu ventre.
— Tente… — Ela ofegou quando sua língua passou sobre seu clitóris. Ela engoliu em seco e começou novamente.
— Tente manter-me afastada. — ela conseguiu.
— Não. — Rafael murmurou. — Nada vai me impedir de ter você.
Lembre-se, minha Cyn. Nada.
Cyn estremeceu pelo pressentimento súbito e sussurrou uma prece aos ventos para que o destino estivesse ocupado em outros lugares esta manhã.
Capítulo 48
Cyn subiu os degraus da frente para ir ter com Lucia correndo alegremente, mesmo que ela tivesse tido pouco mais de duas horas de sono. Seu corpo estava ferido e dolorido, mas era um tipo bom de dor, o tipo que faz você se sentir energizada… Pelo menos por algumas horas. Em algum momento, ela iria bater de cara com um travesseiro, mas ainda não. Nem sequer um nível de ruído que fazia a parede balançar da gangue de adolescentes usuais vendo televisão e jogando jogos poderiam perturbá-la esta manhã.
Lucia estava ao telefone em seu escritório. Ela deu um aceno silencioso a Cyn e levantou a sobrancelha intencionalmente antes de voltar a qualquer burocracia que ela estivesse discutindo. Cyn recuou pelo corredor até o pé da escada e gritou por Liz. Não seu modo usual de comunicação, mas quando em Roma…?
Ao fundo do corredor, ela ouviu Lucia falando ao telefone com uma maldição, e ela entrou novamente no escritório a tempo de ver sua amiga escrever notas furiosamente, resmungando baixinho sobre os idiotas da respiração oral que dirigiam o governo nestes dias. Lucia virou e olhou para Cyn.
— E você! — Disse ela, continuando a sua diatribe não relacionada. — Eu sei o que você andou fazendo, sua cadela. Olhe para você, toda brilhante e incandescente, com satisfação enquanto estou aqui nas trincheiras lutando contra os idiotas lá do serviço social. Diga-me que não foi o vampiro.
Cyn lhe deu um sorriso largo.
— Oh, Merda, Cyn, por que… — Luci se deteve e olhou atentamente para a amiga.
— Você está feliz. — disse ela, então apertou ainda mais perto. — Não, você está fodidamente apaixonada. — Ela suspirou. — Se você está feliz, eu estou feliz. Mas, querida. — ela colocou a mão no braço de Cyn. — Tenha cuidado.
Cyn lhe deu um abraço espontâneo, algo que ela raramente fazia. Luci riu e disse: — Ok, agora eu sei que você está apaixonada. Mas diga àquele grande sanguessuga que se ele quebrar seu coração novamente, eu estou indo para ele com uma estaca.
Ouviu-se passos descendo as escadas e Liz apareceu na porta. Ela parou quando viu as duas mulheres se abraçando. — O que foi? — Ela disse, soando um pouco preocupada.
— Não é nada. — Luci disse rapidamente, dando a Cyn um olhar de advertência antes que ela pudesse responder com a evidente réplica de mau gosto. Não que ela faria. Honestamente.
— Hey, garota, Feliz Aniversário! — Cyn disse alegremente. — Pronta para o grande dia?
— Dá um tempo, como se eu nunca tivesse dirigido antes. — Liz revirou os olhos com o desgosto intemporal de todos os adolescentes. — Eu preciso dessas lições estúpidas para obter a minha licença, mas não é como se eu já não soubesse dirigir.
— Certo. — Cyn disse, com um sorriso privado para Lucia. — Vamos começar este exercício inútil então. Estaremos de volta em um par de horas. — acrescentou ela em direção da Luci. — Você quer alguma coisa enquanto estou fora?
— Sim, como algumas das coisas que você teve na noite passada. — Luci disse secamente. — Já faz um tempo.
Cyn riu. Liz parecia confusa, mas não queria admitir que se importava com o que elas estavam falando, ela dançou com impaciência. — Então, estamos fazendo isso ou o quê?
— Estamos fazendo isso e estamos indo embora. Me ligue se você pensar em algo, Luce. Qualquer coisa que eu possa lhe trazer, de qualquer maneira. — O riso de Luci seguia pelo corredor e para fora da porta.
A escola de condução era no distrito Leste de LA, uma área de armazéns e indústrias, não muito longe da nova instalação onde Raphael tinha sido tão recentemente encarcerado. Normalmente, o instrutor de condução teria tomado a localização do aluno, mas como a atual residência de Liz era o abrigo de fugitivos, Cyn imaginou que seria melhor ir com ela e usar seu condomínio em Malibu como endereço oficial da Liz. Não que a maioria desses lugares se importava em demasia com sutilezas como uma morada permanente, mas eles deveriam e Cyn provavelmente teria a sorte de conseguir um empregado que tivesse o trabalho de verificar.
Liz tinha obtido uma cópia autenticada de sua certidão de nascimento no Texas antes que ela fugisse de Houston, sabendo que seria necessário quando chegasse a hora de salvaguardar a sua herança de Jabril. Por agora, era a sua única prova de idade e identificação, e para backup, sua “tia” Cynthia estava indo como adulto responsável. De sua parte, tia Cynthia queria salientar que era uma tia muito jovem, mais como uma irmã, realmente.
Estacionar na rua sempre foi problemático nesse bairro, especialmente durante a semana de negócios, então elas entraram em uma garagem a cerca de um quarteirão de distância da escola. Liz estava contando a ela sobre um desentendimento em curso na casa que era de meninos versus meninas e algo a ver com a seleção de filmes. Cyn estava apenas ouvindo, sua atenção em um sedan azul escuro que parecia ter as escolhido quando elas passaram a escola e agora estava seguindo-as na estrutura de estacionamento. Ela não conseguia ver muito detalhe no interior da garagem, mas a própria insipidez do veículo a deixou inquieta. Ela considerou ter uma das guardas de Raphael hoje, mas tinha descartado a idéia quase que imediatamente. Sua Glock estava aninhada sob sua jaqueta, segura em seu usual coldre de ombro. E era dia. O pior que ela teria de lidar era com um bandido contratado por Jabril. Ela podia lidar com isso.
No entanto, quando ela virou-se para fora da rampa e viu o carro sedan passar, continuando para níveis mais elevados, ela deu um suspiro de alívio.
Rondando acima e para baixo de alguns corredores, ela finalmente estacionou a Range Rover em uma vaga não muito longe da escada aberta. Uma vez fora do carro, ela fez uma pausa para olhar cuidadosamente em torno da garagem, antes de abrir a porta do passageiro para recuperar sua mochila, dizendo a si mesma que ela era preocupada demais.
A súbita arremetida de movimento a fez virar, metade para dentro do banco de trás, tarde demais para evitar a Taser12 que foi empurrada contra seu peito. Seus dentes apertaram e ela deu um gemido involuntário quando ela bateu no carro antes de cair desajeitadamente no chão de cimento frio. Ela teve um confuso vislumbre do rosto vermelho e de cabelos brancos do investigador de Jabril, antes que ele emitisse uma segunda onda da Taser e então o som de Liz gritando o seu nome enquanto ela corria ao redor do carro.
Não, ela pensou quando caiu na inconsciência. Não, Liz, corra!
12 Tipo de arma com fios que se prendem ao suspeito e dão choque.
Capítulo 49
— Meu senhor.
Raphael estava sentado à sua mesa, revendo a proposta de um novo complexo, em Seattle. A população humana havia crescido substancialmente nos últimos cem anos, e seus vampiros em Washington estavam sentindo necessidade de reforçar a segurança. O que tinha sido um refúgio rural com poucos vizinhos era agora um subúrbio movimentado e seu povo estava sugerindo um movimento ainda mais além dos limites da cidade. Ele deu a Duncan um sorriso ausente, se perguntando onde estava Cyn e quão logo ela voltaria. Ela disse algo sobre uma festa de aniversário para a menina Liz, mas ele passou muitas noites sem ela e a queria aqui. Agora.
Ele olhou para cima casualmente e estava abruptamente ciente da expressão solene de seu tenente.
— Duncan?
— Eu recebi um telefonema da amiga de Cynthia, Lucia Shinn. Ela administra o abrigo onde a irmã de Mirabelle, Elizabeth está ficando. Parece que Cynthia e Elizabeth não voltaram de sua excursão à escola de condução esta manhã e a Sra. Shinn não conseguiu alcançá-las, apesar das repetidas tentativas.
Raphael ficou de pé. — Você verificou com Alexandra? Talvez elas estão com Mirabelle. — Ele não acreditava nisso. Se Cyn estivesse na propriedade, ele saberia disso, ele sentiria em seu sangue.
— Sra. Shinn me disse que ela ligou para a mansão de Alexandra imediatamente após o pôr do sol.
Raphael e Duncan compartilharam um olhar. — E ainda assim ninguém da mansão entrou em contato comigo.
— Sra. Shinn ficou preocupada o suficiente para ela ligar-nos diretamente, rastreando o número através de sua frente comercial.
O telefone da casa tocou e Duncan o pegou, ouviu durante alguns minutos e emitiu um conciso comando. Ele desligou e voltou-se para Raphael.
— Nossa segurança conectou-se ao GPS no carro de Cynthia há algum tempo atras. Foi sem o seu conhecimento, mas achei sabio…
Raphael o cortou. — Onde ela está?
— Seu veículo — salientou Duncan — seguiu o padrão esperado nesta manhã, indo primeiro pegar Elizabeth, então para um local próximo à escola de condução, muito provavelmente uma estrutura de estacionamento. Ele ficou lá por um tempo muito breve, uma questão de minutos, tempo suficiente para não ter realizado qualquer tipo de negócio. Desde então, tem estado se movendo firmemente na direção sudeste, permitindo múltiplas paradas para reabastecimento. Está agora ligeiramente a oeste de Tucson, no Arizona.
— Você ligou para seu telefone celular? — Raphael perguntou enquanto caminhava para a porta.
— Nenhuma resposta, mas nós rastreamos o GPS do celular para a estrutura de estacionamento perto da escola de condução, o que sugere que ou o telefone não esta com ela ou…
— Ou ela não está se movendo. Mande alguém para lá.
— Já a caminho, meu senhor. Eu devo ter um relatório momentaneamente. — Ele apressou-se para acompanhar Raphael, que estava tomando as escadas, duas de cada vez. Juro se encontrou com eles no fundo e abriu o caminho através da grande porta dupla e para fora na calçada onde dois SUVs estavam esperando, os motores em marcha lenta.
O telefone de Duncan tocou novamente quando se apressavam para baixo na Pacific Coast Highway em direção à Santa Monica, a direção de ambos, o aeroporto e última posição conhecida de Cyn. Raphael estava ciente do toque do telefone e da conversa baixa de Duncan, mas sua mente estava cheia de pensamentos sobre Cyn. Ele tinha inimigos. E Cyn era muito humana, muito vulnerável.
E muito importante para ele, caramba.
Duncan terminou a sua chamada. — O telefone foi encontrado em uma garagem, junto com sua mochila. — ele disse severamente. — Sua última chamada foi para o número dela própria, o de casa logo depois que ela deixou a fazenda esta manhã. Provavelmente verificando as mensagens.
No banco da frente, Juro olhou por cima do ombro e falou sem ser perguntado. — Marcamos um voo para Tucson, meu senhor. — disse ele. — Seu povo em Phoenix irá encontrar-nos no chão.
Capítulo 50
Tudo doía. Cyn tentou se mover para aliviar a pressão em seu braço direito que estava de, alguma forma, torcido e começando a adormecer. Pânico deflagrou quando a memória voltou, mas ela se obrigou a permanecer imóvel e silenciosa.
Ela estava num carro, ou um veículo de algum tipo e estava em movimento. Havia uma fita sobre sua boca, ela podia sentir o puxão do adesivo em seu rosto. Suas mãos e pés estavam atados, provavelmente com o mesmo tipo de fita de sua boca, e suas mãos estavam atrás das costas.
Ela ouviu um suave soluço nas proximidades. Então, não estava sozinha em seu cativeiro. Elizabeth, ela se lembrou, e soube imediatamente quem as tinha, mesmo antes de seu cérebro produzir a última imagem que tinha visto antes de sua perda de consciência. O filho da puta que trabalhava para Jabril. O que significava que estavam voltando para o Texas. Mas quão longe eles tinham ido?
Ela virou-se e lutou para ver algo, qualquer coisa, agradecida que o imbecil não lhe tivesse vendado os olhos. Estava escuro lá fora, totalmente escuro, ainda mais pelos vidros fumês do Range Rover. Range Rover. Elas estavam no porta-malas de seu próprio carro, o que era na verdade uma notícia muito boa. Se ela pudesse se soltar de alguma forma, havia armas escondidas aqui que viriam bem a calhar, até mesmo contra um vampiro.
Especialmente contra um vampiro.
Ela deslizou ao redor com cuidado, recolhendo mais detalhes. Liz estava ao lado dela, igualmente amarrada.
Ela estava olhando silenciosamente para Cyn com olhos que estavam inchados e vermelhos de tanto chorar, então ela provavelmente estava consciente há algum tempo. Esperançosamente, isso significava que a mulher mais jovem não tinha sido atingida com a Taser, ou pelo menos não tanto. Cyn encontrou o olhar da menina com cuidado, certificando-se que ela soubesse que Cyn estava acordada e consciente. O olhar de terror em seu rosto disse que ela entendia tão bem quanto Cyn quem as tinha e o que o futuro lhes reservava se elas não conseguissem escapar.
Cyn sentiu uma onda de raiva por sua situação, mas lutou contra isso, guardando-a para mais tarde. Ela usaria essa raiva, mas ainda não.
Ok, então elas estavam em seu carro e o investigador provavelmente estava conduzindo. Ele tinha estado sozinho quando a atacou — ela sentiu uma renovada onda de raiva pela memória e jurou que lhe pagaria de volta em espécie, se ela alguma vez tivesse a chance. Mas como conseguir essa chance?
A luz ambiente brilhou de repente e Cyn congelou. Eles estavam encostando em uma espécie de parada de caminhões ou posto de gasolina. Ela podia ouvir vozes próximas e o zumbido constante de motores a diesel em marcha lenta à esquerda, enquanto seus motoristas cuidavam de qualquer negócio que os trouxe aqui. A porta da frente do Range Rover foi aberta e as luzes interiores acenderam brevemente, antes de ela ouvir uma maldição murmurada e as luzes serem desligadas. A porta do carro bateu.
Silêncio e depois a batida de um bico sendo introduzido no tanque de combustível logo atrás de Cyn, onde ela estava contra a parede lateral do porta-malas. Ela cheirou os gases e ouviu o gorgolejar da gasolina quando o investigador de Jabril encheu o tanque. Isto durou tempo suficiente para que ela soubesse que o tanque tinha estado quase vazio. Ela tinha abastecido o carro no caminho para Luci, mas o motor V8 era um inferno no gás, então eles viajaram menos de 200 milhas desde o seqüestro. A menos que esta não tenha sido a primeira parada para combustível. Liz poderia saber sobre isso, mas ela estava tão muda quanto Cyn no momento.
A tampa do tanque foi fechada e depois mais silêncio até que o carro mudou com o peso de alguém subindo de volta para o banco do motorista. Cyn começou a fazer barulho, chutando a lateral do compartimento, gritando sem palavras por baixo da fita.
— Cale-se senão lhe darei outro choque — uma voz de homem rosnou.
Cyn respondeu fazendo mais barulho que nunca, sabendo que ele poderia não só ouvi-la, mas que o irritava — esperançosamente o suficiente para fazer algo sobre isso.
O motor ligou e o carro começou a se mover. O coração de Cyn afundou e ela pensou que tinha falhado, mas não desistiu, gritando ainda mais alto, batendo seus pés enfaixados contra a porta e os lados do SUV. Liz juntou-se à ela, seja porque imaginou que Cyn tinha um plano ou apenas porque ela estava assustada e chateada. Cyn aplaudiu-a silenciosamente, quanto mais barulho melhor.
— Maldição! — O motorista jurou. O carro desviou, viajou uma distância curta e parou com o motor em funcionamento. Estava mais escuro aqui, e Cyn sabia que seu captor tinha se afastado de qualquer área pública que eles tenham estado antes. A escotilha se abriu de repente e o rosto corado e com raiva do investigador apareceu. O olhar de Cyn foi imediatamente para a Taser em sua mão direita.
— Você cala a boca, cadela — disse ele a Cyn, claramente vendo-a como a instigadora. — Eu só preciso de você viva, não funcionando, você entendeu? Eu lhe darei um choque que fará um idiota babando parecer Einstein comparado com você.
Cyn olhou para ele, mas continuou fazendo barulho, pedindo agora. O
homem franziu a testa, em seguida virou-se para Liz e rasgou a fita de seu rosto.
— Qual é o problema, mocinha? — Ele perguntou.
Liz gritou quando ele rasgou a pele junto com a fita, e levou vários minutos enquanto ela se esforçava para controlar seu choro o suficiente para falar.
— Foda-se — o investigador rosnou e moveu-se para fechar a escotilha, mas Liz levantou-se ligeiramente e gritou impedindo-o.
— Por favor — ela soluçou. — Por favor, senhor. Temos que… — Ela corou furiosamente, engoliu em seco e sussurrou. — Temos de fazer xixi.
Boa menina, Cyn pensou. Esta era a Liz que tinha engenhado sua própria fuga do Texas.
— Merda. Porra de mulheres, têm as bexigas como ervilhas. Caramba. Eu deveria deixá-las mijarem nas calças, mas então eu tinha que sentir o cheiro até ao Novo México.
Novo México. Cyn pensou furiosamente. Ele as estava levando para o Novo México, o que significava território de Jabril. Quão mais longe?
— Tudo bem. Tudo bem — ele murmurou para si mesmo e olhou para as duas mulheres. — Vocês podem ir uma de cada vez. E não façam nada engraçado ou a outra paga, entenderam? As mãos vão ficar amarradas, então é melhor esperar…
— Por favor — Liz choramingou. — Eu não vou ser capaz de chegar as minhas calças para baixo. — Seus olhos se arregalaram e ela olhou para ele com horror. — Oh Deus — ela sussurrou e começou a chorar ainda mais.
— Foda-se, o que você acha que eu sou? Algum tipo de pervertido? Olha, cala a boca, as mãos ficam amarradas, mas eu vou mudá-las para frente e você se considere sortuda por eu não suportar o cheiro de mijo. Você também, garota durona — ele zombou de Cyn. — É melhor você pensar um pouco nesse docinho aqui antes de tentar qualquer coisa.
Cyn acenou com a cabeça.
Ele dirigiu o caminhão por outra curta distância, estacionou e deu a volta para abrir a escotilha novamente. Ele libertou Liz primeiro, cortando a fita das mãos dela enquanto seus pés ainda estivessem ligados, não fazendo nenhum esforço para ser gentil quando rolou rapidamente suas mãos para frente. Então, ele cortou a fita dos pés com a mesma faca e puxou-a da parte traseira do caminhão. — Vá em frente. Você tem cinco minutos.
— Cinco minutos, mas eu nem…
— Cinco minutos, mocinha. Pegar ou largar.
Liz pegou. A escotilha desceu e Cyn ficou imóvel, ouvindo os passos arenosos do investigador no lado de fora. Ele parou e o carro balançou um pouco sob o seu peso quando ele se inclinou contra a lateral, perto da frente.
Cyn levantou a cabeça cautelosamente e deu uma olhada rápida ao redor. Eles estavam estacionados em frente a um banheiro de tijolo, do tipo visto em praias públicas e ao longo das estradas por todo o oeste americano. A uma curta distância, ela ainda podia ver as luzes da parada de caminhões, podia ouvir o barulho de freios e as chamadas dos motoristas — tentadoramente perto, mas demasiado longe para fazer algo bom.
Ela mergulhou de volta para baixo das janelas e tentou chegar a um plano. Com as mãos amarradas na frente, teria muito mais opções, mas ela não queria correr o risco dele ferir Liz ou, até mesmo, matar e deixar à beira da estrada a ela mesma. Liz tinha que ser a prioridade máxima de Jabril, mas ele queria Cyn como vingança, não só contra ela, mas contra Raphael. Ela estremeceu com a idéia do que o lorde vampiro do Texas faria se ele colocasse as mãos sobre ela. Mirabelle tinha sido bastante eloqüente em suas descrições do abuso de Jabril sobre seus escravos de sangue.
Pensar em Mirabelle a fez perceber que alguém deveria ter sentido falta delas por essa altura.
Luci teria ligado quando elas não voltaram para a festa de aniversário.
Iria Raphael pensar que ela tinha fugido dele novamente? Não. Mesmo se ele achasse que ela tinha fugido, não fazia sentido levar Liz com ela. Ele saberia que algo estava errado e ele saberia que Jabril estava envolvido.
Mas será que ele a encontraria a tempo? Tinham passado horas desde que tinham sido raptadas, horas cheias de luz natural e de sol que deram ao seu captor uma vantagem considerável.
A escotilha abriu sem aviso para revelar Liz, fita mais uma vez lhe silenciando a boca, as mãos amarradas na frente.
— Certo, cadela, sua vez — o homem rosnou. Agarrou Cyn pelos cabelos e puxou-a para fora do carro, deixando-a cair. Ela rachou seu cotovelo duro no asfalto e deixou-o ouvir seu grito de dor. Quanto mais assustada e indefesa ele pensasse que ela estava, melhor. Ele agachou-se ao lado dela, um joelho esmagando seu quadril, segurando-a no lugar enquanto ele libertava as mãos de trás, em seguida, virando-as e amarrando-as na frente. De pé, ele se inclinou para cortar a fita em torno de seus tornozelos e puxou aos seus pés.
Cyn tropeçou nas pernas dormentes e fracas da combinação do choque e das horas de imobilidade, mas ela teve o cuidado de manter seus olhos baixos para que ele não visse a sua raiva.
— Vai. — disse ele, empurrando-a. — E não se esqueça que eu tenho sua amiguinha aqui.
Cyn começou a caminhar, lentamente no início. Ela ouviu um barulho como um rasgar atrás dela, e se virou para ver o investigador amarando os tornozelos de Liz novamente. Sua mente correu, seguiu para o banheiro público na esperança de haver algo dentro que ela pudesse usar como arma.
A entrada era um buraco escuro, sem portas, iluminado apenas por uma única lâmpada amarela atrás de uma rachada tampa de plástico. Ela tropeçou na calçada desigual, caindo na parede da entrada do bloco. Ela se inclinou ali por um momento, deixando seu captor ver sua fraqueza, usando o tempo para pensar. Quando ela pensou que tinha atrasado o máximo que podia, ela endireitou-se e entrou.
Era tão escuro no banheiro que ela teria usado uma lanterna sob condições normais. Felizmente, ela não tinha realmente necessidade de utilizar as instalações. Independentemente do que aquele idiota pensasse, em sua experiência, as mulheres poderiam segurar muito melhor do que os homens.
Elas tinham mais prática esperando em longas filas.
Ela usou seu tempo para procurar no banheiro mofado, apertando os olhos no escuro, tentando encontrar algo para usar como uma arma, ou apenas uma borda afiada. Isso era tudo que ela precisava. Algo para cortar a fita.
Windle a tinha despojado do coldre de ombro, mas ela continuava com uma abundância de armas no carro e ela supunha que o Sr. Super Investigador ou não tinha tido tempo ou não tinha pensado em procurar, já que a tampa do compartimento lateral havia estado intacta. Se ela estivesse certa, era um descuido que ela pretendia usar contra ele. E se ela estivesse errada? Bem, era melhor estar certa.
Grandes palavras, Cyn. Como você vai fazer isso? Pense, pense, pense. Ela caiu no chão úmido, seus músculos ainda fracos e tremendo de seu calvário.
— Vamos embora, cadela! — Seu sequestrador gritou do lado de fora, claramente não se importando se alguém ouvisse.
Cyn esfregou os olhos cansados e torceu o pé embaixo dela para se levantar. O calcanhar da bota pegou na bainha da calça jeans e ela puxou impacientemente, xingando quando a borda de metal decorativo do calcanhar prendeu no seu jeans. Ela congelou, olhando para suas botas favoritas, em seus enfeites de metal elaborados no calcanhar. Um dos quais, ela viu agora, estava solto o suficiente para ser arrancado da bainha. Poderia funcionar, mas ela precisava de algum tempo… E suas mãos teriam de permanecer presas na frente dela.
Cyn voltou lá para fora, fazendo o seu melhor para parecer exausta e abatida. Deixou-se cair duas vezes no caminho de volta para o Land Rover, deitando-se no chão pela segunda vez até que o homem veio e a arrastou até seus pés. Mesmo assim, ela deixou-se cair frouxamente em suas mãos, fazendo com que ele praticamente a carregasse para o grande SUV.
— Não é tão dura, afinal, é, cadela? — Ele regozijou-se. Quando chegaram ao carro, ele levantou a tampa e jogou-a na traseira. Ela gemeu impotente e começou a chorar, deixando seus ombros tremerem visivelmente com os soluços de desespero quando ele amarou seus pés novamente.
— Inútil. — O investigador murmurou com nojo. Bateu a escotilha fechada e logo estava de volta ao assento do motorista, acelerando para fora do estacionamento, pneus girando no asfalto sujo.
Na bagageira, os soluços da Cyn silenciaram e ela sorriu. — Apanhei-te, desgraçado. — ela sussurrou ferozmente.
Capítulo 51
Raphael olhou pela janela do jato quando o elegante Gulfstream13 abandonou o céu noturno sobre Tucson. Ele estava fervendo por dentro, querendo nada mais do que um inimigo à mão, o sangue de alguém para saciar a sua fúria. Ele pensou em Jabril Karim, sobre quão cuidadosamente o Lorde Vampiro do Sul manipulou os políticos locais, lhes aplicando dinheiro e presentes e mostrando-se como o bom cidadão para o mundo. E ao mesmo tempo o seu domínio privado era como uma cena saída de algum jogo arcaico.
Jabril poderia facilmente ter pegado para si o dinheiro que ele tentou roubar de Mirabelle e sua irmã. Sua família era bem relacionada em seu país de origem, mesmo agora, com contatos e oportunidades de investimentos o suficiente para fazer dele um homem rico. Mas em vez disso, ele decidiu jogar o príncipe ocioso, roubando o que ele queria, deixando seus lacaios pagarem o preço de seus excessos.
Duncan murmurava atrás dele. Seu tenente havia estado ao telefone quase que constantemente, permanecendo em contato com os seus seguranças que estavam em Malibu. Eles ainda estavam rastreando o SUV de Cyn, observando como ele se dirigia continuamente em direção ao território de Jabril. Jabril provavelmente se achava inteligente por ter obtido um humano para seqüestrar as duas mulheres à luz do dia. Isso deu ao seqüestrador várias horas de vantagem, enquanto os vampiros dormiam e sem dúvida Jabril assumiu que Raphael não teria nenhuma maneira de traçar o seu paradeiro, em qualquer caso.
Ironicamente, se o outro lorde vampiro tivesse tomado somente Elizabeth, poderia ter funcionado.
Raphael não teria nenhuma maneira de seguir o agente humano de Jabril e ainda menos motivação para tentar um resgate. Mas Jabril tinha tomado Cyn.
Cyn pertencia a Raphael. Iria ser um grande prazer educar Jabril nas maravilhas da tecnologia moderna.
Duncan se inclinou para frente. — Eles continuam na Interstate 10, meu senhor, mas o nosso povo me disse que o veículo entrará em uma zona de recepção questionável em pouco tempo.
13 Marca de jato.
— O que isso significa, Duncan?
— Nosso programa de monitoramento baseia-se na rede sem fio para comunicação, como um telefone celular. O satélite continuará a rastrear o veículo, mas não terá nenhuma maneira de atualizar nosso sistema, para nos informar sobre a atual localização, até que ele recupere a cobertura sem fio.
Deve ser por pouco tempo, e em qualquer caso, acredito que o destino é claro.
Ele está seguindo uma linha direta para o Novo México, visando o território de Jabril.
— Isso não vai salvá-lo. — Raphael rosnou. Jabril claramente assumiu que Raphael não estaria disposto a persegui-lo através dos limites territoriais, o que envolveria o Conselho Vampiro na disputa. Jabril era um tolo.
O jato particular deu uma parada e Raphael esperou impacientemente uma de suas pessoas abrir a escotilha. Ele teria saído do avião imediatamente, mas Juro se meteu à sua frente e desceu a curta escada sozinho enquanto seu irmão eficazmente bloqueava a saída.
Raphael fez uma careta e estava prestes a remover este obstáculo para sua saída quando o guarda-costas abruptamente desocupou a escotilha, tomando as escadas até ao chão em um único salto.
Havia três enormes SUVs em marcha lenta na pista, o seu acabamento preto e janelas escuras metalizadas brilhavam com as luzes do avião. Seis vampiros de seu ninho em Phoenix estavam esperando por ele quando pisou na pista, incluindo um motorista que permaneceu em cada veículo. Uma vampira deu um passo adiante, indo a um joelho.
— Mestre.
— Levante, Winona. — Ele disse à líder do ninho. — Nós não temos tempo para isso. Duncan tem informado você?
Winona levantou graciosamente, girando para andar ao lado de Raphael em direção aos veículos. — Ele tem, meu senhor e nós temos mantido contato direto com a sua base de segurança também. Conheço a área para onde o veículo está se dirigido. Há talvez 50 milhas de ponto cego na cobertura sem fio, não mais, mas estão se aproximando da fronteira do Estado.
— Eu entendo. Me coloquem perto o suficiente e isso não importará. — Raphael já estava sentindo o zumbido fraco em seu sangue que dizia que Cyn estava próxima. Quanto mais se aproximasse mais forte seria.
— Como você diz, meu senhor. — Winona sinalizou para seu povo em espera e todos se empilharam nos veículos. Juro colocou Raphael no segundo dos três SUVs, em seguida, empurrou sua massa no banco da frente, enquanto Duncan manobrou para a terceira fila, deixando o assento do meio para Raphael e Winona.
Em alguns momentos, eles estavam acelerando para fora do aeroporto, as luzes rotativas nos telhados dos carros marcando-os como veículos oficiais e facilitando o seu caminho através do tráfego à noite.
Era tudo muito legítimo; Jabril não era o único vampiro que mantinha relações cordiais com as autoridades locais. Mas, finalmente, as luzes rodando já não eram necessárias uma vez que deixaram a cidade para trás e se dirigiam para a escuridão impenetrável do deserto do Arizona.
Capítulo 52
Elizabeth há muito havia desmaiado de exaustão, mas Cyn continuou a trabalhar obstinadamente na fita que ligava seus pulsos juntos. Seus braços doíam, os dedos dormentes e os pulsos sangrando em numerosos cortes enquanto ela se debatia para cortar a fita usando apenas a borda irregular do calcanhar de sua bota. Mesmo com suas mãos em frente dela, era difícil. A bagageira estava cheia com ambas deitadas ligadas e ela tinha que ter cuidado para não chamar a atenção de seu captor com movimentos demais. Ela fez uma pausa para descansar seus trêmulos músculos do braço e deitou sua cabeça no tapete, querendo nada mais do que fechar os olhos e cair no sono, mesmo que apenas por um curto período de tempo.
Ela sacudiu acordada quando um telefone celular tocou nas proximidades. Seu primeiro pensamento foi que era o seu próprio telefone e ela se perguntou onde ele estava. Certamente Luci ou Raphael teriam tentado chamar quando não conseguiram encontrá-la. O telefone tocou novamente, mas não era dela. O investigador de Jabril xingou, e depois respondeu com um ríspido — Olá. — Cyn esticou-se para ouvir a conversa unilateral.
— Sim, senhor. Eu tenho as duas.
— Eu não estou feliz com isso. Aquele grande desgraçado deve estar vindo atrás de mim. O sol se pôs horas atrás. Sim? Bem, tente você colocar duas mulheres inconscientes em um avião sem que ninguém faça perguntas. Além disso, eu acho que levando o carro da cadela me comprou algumas horas.
— Ninguém está nos seguindo, isso eu posso dizer, não que eu saberia se… Sim senhor, ainda na interestadual, talvez 60 milhas da fronteira do Novo México. Sim, senhor, o que você quiser. Quanto mais cedo eu entregar essas duas a você, mais feliz estarei.
Cyn podia ouvir ruídos de sinal sonoro fraco quando ele ingressou alguma coisa no painel do seu sistema de navegação — Eu tenho isso. Você tem certeza… Sim, senhor. Como você diz, é seu dinheiro. Eu estarei lá em menos…
Fodido telefone celular. — Cyn ouviu um baque quando algo bateu no assento de carro, então — Vampiro idiota. Se ele ia me encontrar, por que eu tive que dirigir até aqui em primeiro lugar?
Todos os pensamentos de descansar fugiram quando Cyn percebeu que seu tempo tinha se esgotado. Ela se encolheu até onde pôde e começou a esfregar as mãos atadas contra a placa de metal minúscula, os dedos e punhos sangrando estavam esquecidos. Ela tinha menos de 60 milhas para se soltar ou ela estaria se preocupando com muito mais do que alguns cortes rasos.
Capítulo 53
No interior escuro da limusine, Jabril deu a Asim um olhar interrogativo.
— Windle vai alcançar a fronteira um pouco antes de nós, menos de uma hora agora. — Asim se deslocou com nervosismo. — Meu Senhor, eu estou desconfortável com a idéia de cruzar a fronteira. É desnecessário e provocativo.
Você poderia deixar seus guardas irem ao encontro com o investigador em vez disso e trazerem as prisioneiras para você aqui em seu próprio território. — Ele fez um gesto para o deserto vazio em torno deles.
— Quem é que você teme, Asim? O ser humano? — Jabril zombou. — Você é uma mulher velha, às vezes. Talvez eu devesse ter trazido Calixto em vez de você, afinal de contas. Ele, pelo menos, não estaria se preocupando com os perigos invisíveis. Não, Asim. Em breve, Raphael vai ser humilhado e Elizabeth vai ser minha. Permita-me aproveitar o momento.
Tendo pouca escolha no assunto, Asim concordou com um afiado aceno de cabeça. — Sua vontade, meu senhor.
— Sim, Asim. Sempre.
Capítulo 54
O Range Rover havia se retirado da rodovia há algum tempo, deixando a estrada para trás e colidindo através do deserto. Seu movimento finalmente parou e Cyn ouviu o investigador resmungando enquanto descia do assento do motorista. Ela ousou uma espiada pela janela.
Eles estavam estacionados no meio do nada, as luzes de uma pequena cidade visíveis ao longe.
Os faróis de halogênio do seu carro formavam um retângulo de luz próximo ao chão, tornando mais difícil de ver qualquer coisa além do seu brilho. O homem de cabelos brancos estava parado ao lado do carro, esfregando suas costas. Aparentemente, a longa viagem tinha tomado um preço sobre ele fisicamente.
— Experimente vir aqui atrás, seu merda. — ela rosnou.
Ela mergulhou novamente embaixo da parte traseira do assento. A fita em suas mãos e boca se foi, mas seus pés ainda estavam ligados, os dedos muito escorregadios com sangue e desajeitados com fadiga para obter o controle sobre as múltiplas camadas de fita. Assim, ao inferno com seus pés, ela não precisava de seus pés para disparar uma arma e Jabril poderia estar aqui a qualquer momento.
— Elizabeth, — ela disse baixinho, sacudindo a mulher mais jovem. — Acorde, querida. Eu preciso que você se mova.
Elizabeth acordou com um sobressalto, seus olhos se alargando com confusão. — O quê? Hein? — Ela se esforçou para sentar-se, e Cyn viu o conhecimento de onde estavam piscar em seu rosto antes dela cair de costas no chão com um gemido.
Cyn concordou com o sentimento. — Isso resume tudo. — Disse ela rapidamente. Sem tempo a perder, ela agarrou os braços de Liz com ambas as mãos e pediu para ela se afastar do compartimento do lado onde suas armas estavam guardadas.
— Suas mãos! — Liz sussurrou em choque. — Como… Poderá libertar-me também? — Ela estendeu as mãos ansiosamente, franzindo a testa quando viu sangue escorrendo dos dedos de Cyn. — O que aconteceu? Oh meu Deus…
— Não se preocupe com isso, temos problemas maiores. Troque de lugar comigo.
Cyn olhou para cima novamente quando elas manobraram em torno de si, sentindo o carro mexer ligeiramente com o movimento, mas o seu captor tinha andado para longe e fitava a distância.
— Eu tenho um mau pressentimento sobre isso. — Ela murmurou, arranhando as bordas do compartimento lateral. Ele finalmente se soltou e ela empurrou-o de lado, dando um suspiro de alívio quando viu que tudo continuava lá e alcançou imediatamente a faca dobrável na parede do compartimento. Ela cortou a fita que ligava seus próprios pés primeiro e depois libertou as mãos de Liz com um golpe rápido entregando-lhe a faca. — Faça em seus pés. — disse secamente.
Ela pegou uma mala de lona preta, descompactando-a para revelar duas pistolas Sig Sauer.
Ela pegou uma de cada vez, fez uma rápida verificação de segurança em cada e pegou uma caixa de munições 147 Hydra-Shok. Esta era a sua carga para matar vampiros, fazia um buraco arrumado ao entrar, mas uma confusão realmente grande ao sair. Ela supunha que até mesmo um vampiro não conseguia ficar de pé tendo seu cérebro espalhado em pedaços minúsculos.
Quanto mais não fosse para colocá-lo no chão tempo o suficiente para que ela o estacasse. Ela fechou o compartimento da primeira arma com eficiência praticada e pegou a segunda.
— Ok, estamos num mundo de merda aqui, Liz. — Disse ela, falando rápido e baixo. — Mas não vamos descer ainda. Alguma vez você já disparou uma arma?
Ela olhou para cima e viu medo total no rosto da adolescente. Cyn parou o que estava fazendo, colocou a arma para baixo e respirou fundo. Pânico mataria as duas. — Ouça-me, Liz. — disse ela lentamente. — Raphael está a caminho. Eu posso senti-lo na minha cabeça, mas não sei o quão longe ele está ou quanto tempo ele vai levar para chegar aqui. De qualquer maneira, não podemos nos dar ao luxo de sentar e esperar, então eu preciso de sua ajuda. — Ela tomou as mãos trêmulas da menina em seus dedos ensangüentados. — Você pode fazer isso? Você foi forte o suficiente para fugir uma vez, você pode fazê-lo novamente?
Grandes lágrimas começaram a rolar pelo rosto de Liz e a mente de Cyn já estava executando planos alternativos quando a menina de repente devolveu o aperto de Cyn. — Prefiro morrer a voltar para lá. — ela sussurrou. — Diga-me o que eu preciso fazer.
— Boa menina. — Cyn respirou. — Okay. Alguma vez você já disparou uma arma? — Ela repetiu. Liz balançou a cabeça em silêncio. Talvez fosse melhor se ambas pudessem atirar, mas a verdade era que um tiro reto de uma 9mm não ia fazer nada para um vampiro e Cyn não tinha intenção de entregar uma carga de sua munição “especial” para uma novata. Seria muito fácil as pessoas erradas, como Cyn ou Liz mesma, acabarem mortas.
— Tudo bem. Não podemos vencê-los em uma briga de qualquer maneira. Eles são muito rápidos e muito fortes, por isso precisamos ser mais espertas. Quero que você lute. Grite, chute, morda, eu não me importo o que você faz, mas não vá facilmente. Jabril quer você viva, mas ele é um merda doente, então ele provavelmente vai morder você só para te ensinar uma lição.
— Cyn não tornou bonita a possibilidade. Ela queria Liz com raiva e pronta para lutar, não histérica porque o vampiro mau e grande tinha chupado um pouco de sangue, ou mesmo um monte de sangue. — Lembre-se disso, Liz. Pode doer como o inferno, mas não vai matá-la e não vai torná-la uma vampira. É preciso muito mais que uma mordida para fazer isso.
Cyn abaixou-se quando a escuridão foi subitamente abafada por um banho de luz. Espiando por cima do assento, ela viu três carros passarem o seu e darem uma parada que produziu poeira em um bruto semicírculo de frente para a traseira do veículo. Um desses carros era uma longa e agradável limusine e Cyn tinha uma boa idéia de quem estava sentado na parte de trás do assento.
O aparecimento do guarda-costas de Jabril confirmou sua suspeita e ela deu ao destino um aceno de agradecimento pelo gigante Calixto não estar entre os seguranças que viajaram com o lorde vampiro. Os vampiros saltaram dos sedans e assumiram posições ao redor da limo quando o investigador de cabelos brancos se aproximou para cumprimentar seu empregador.
Cyn assistiu tempo suficiente para ver Asim emergir, carregando uma pasta preta, depois disso ela caiu de volta no piso de seu compartimento e enviou um apelo silencioso para Raphael se apressar. — É Jabril. — disse ela a Liz, lutando para manter a voz firme. — Asim está com ele e um monte de outros. Você está pronta para isso?
— Não. — A voz de Liz estava tremendo e ela deu risada desesperada. — Eu tenho uma escolha?
— Bom ponto. — Cyn sussurrou quando ouviu passos esmagando mais perto.
A escotilha balançou para cima. — Vosso transporte aguarda, senhoras, — o homem disse com uma voz que fez o estômago de Cyn virar. Jabril deve estar pagando a esse imbecil um monte de dinheiro.
O homem agarrou Liz em primeiro lugar, empurrando-a para fora do carro. Sua boca se abriu quando viu a fita cortada e Cyn rolou de joelhos, preparada para tirar proveito de sua surpresa.
Mas Asim saltou para frente e capturou-a com aquela estranha agilidade de vampiro, tomando a arma da mão dela tão facilmente como se ela fosse uma criança. O investigador grunhiu um envergonhado agradecimento de ajuda para Asim, e olhou para Cyn antes de colocar Elizabeth em posição vertical para enfrentar a limo quando Jabril emergiu de suas profundezas.
— Não faça isso. — Liz pediu, torcendo-se nos braços do investigador. — Você não sabe o que ele é, o que ele vai fazer comigo? — Ela estava fazendo o seu melhor para tornar difícil para ele se agarrar a ela.
Não havia necessidade de fingir o terror em sua voz. — A lei diz que ele é seu dono, mocinha.
— Não! Não mais. Eu tenho dezoito anos. Hoje é meu aniversário. Por favor! Por favor, deixe-me ir. Ele vai me matar.
— Bem, agora, como eu sei que você está dizendo a verdade, hein?
Considerando que o Sr. Jabril Karim lá, me deu 50 mil razões para acreditar nele.
— Seu filho da puta. — gritou Liz. — Me deixe ir! — Ela estava sacudindo os braços, chutando-o, até mesmo quebrando a cabeça para frente em uma cabeçada que falhou. O investigador esforçou-se para agarrá-la e ela o mordeu, afundando seus dentes duro o suficiente para tirar sangue.
— Maldita! — Ele jurou. Ele ergueu a mão para bater nela, mas Jabril interceptou-o com um gesto casual, bloqueando o grosso punho do homem em uma mão delicada.
— Isso não será necessário. — Ele segurou o queixo de Liz com uma mão, virando-a suavemente para olhá-lo. Ele sorriu.
Cyn assistiu impotente enquanto Liz sucumbia ao poder de Jabril, e se perguntou por que ela pensou que elas seriam capazes de resistir-lhe. O lorde vampiro falou suavemente e Liz se inclinou para ele, esfregando-se contra ele como um gato. Jabril abraçou-a em uma paródia obscena de afeto e sentou no chão, segurando-a sem esforço em seu colo, enquanto as presas dele deslizavam para fora e ele baixava a boca para seu pescoço. Cyn se virou, incapaz de assistir, mas Asim forçou sua cabeça naquela direção, segurando-a com uma força inesperada.
Seus olhos se fecharam contra a visão e Asim riu.
— Você pensou resistir a nós, Cynthia? — Ele sussurrou em seu ouvido.
Ele apertou ainda mais, uma mão deslizou sobre seus seios e para baixo de seu abdômen sugestivamente. Cyn não se preocupou em esconder o arrepio de repulsa, a voz de Asim endureceu com raiva. — Diga-me. — ele disse, apertando-a ligeiramente. — Você pensou que sua arma insignificante poderia prejudicar o meu mestre?
— Com respeito, senhor. — o investigador falou por trás deles, donde estava vasculhando o esconderijo de armas de Cyn. — Essa arma embala uma carga muito pesada. A cadela sabe o que está fazendo.
— Sério? — Asim ronronou. Ele sacudiu a cabeça para o investigador. — Você aí. Auxilie o Senhor Jabril Karim. Quando ele terminar com a menina, você pode colocá-la na limusine.
Cyn pensou no início que o homem recusaria, mas depois ele deixou cair a caixa de munição e tomou vários passos para mais perto de Jabril, murmurando, — …não um servo de merda. — Cyn olhou para suas costas. Ela não precisava ver o que Jabril estava fazendo com Liz. Ela podia ouvir os sons de sua alimentação perfeitamente bem.
— É verdade o que ele disse? — Asim murmurou em seu ouvido. — Você pode matar meu mestre com essa arma?
Cyn lutou contra o impulso instintivo de se afastar da sua respiração sibilante. — Provavelmente. O suficiente para estacá-lo de qualquer maneira.
Eu estava ansiosa por isso.
Asim ficou em silêncio pelo tempo de duas respirações. — Então, faça. — disse ele em voz tão baixa que as palavras eram pouco mais que ar.
Cyn congelou, atordoada e suspeita. Ela poderia confiar no vampiro? Por que ele faria isso?
Por outro lado, que escolha ela tinha?
— Por que você não faz isso? — Ela respirou.
— Eu não posso. — disse Asim com simples honestidade. — Ele é meu pai, meu mestre de vários séculos. — Sua voz cresceu mais suave, mais persuasiva. — Mas você pode, Cynthia. — Ele fez um gesto com um ombro para onde Liz estava enquanto Jabril lambia o sangue de seu pescoço como um gato exigente. — Não vale a pena dar uma chance? O que você tem a perder?
De fato, Cyn pensou. Ela abriu a boca para concordar, mas então se lembrou de algo que Raphael tinha lhe dito sobre a morte de sua Senhora. — O que acontece quando ele morre? E os outros? — Ela assentiu com a cabeça para os lacaios de Jabril que se concentraram com uma fome singular no que seu mestre estava fazendo.
— Eles são fracos. Vou lidar com eles.
— Lidar como? — Visões de Asim jogando a ela e a Liz aos lobos passou vividamente em sua mente.
Asim riu novamente. — Tão desconfiada. Não somos aliados? — Ele passou um dedo fino pelo seu rosto. — Eu não desperdiçaria tal beleza nos gostos deles. Não, eu tenho um outro sacrifício em mente. — Ele olhou de volta para o investigador.
Cyn sentiu repulsa por sua casual crueldade, mas se era uma escolha entre ela e Liz ou o homem que as tinha entregado aos vampiros. .
— O que acontece com Liz?
— Ela vem comigo.
— Não.
— Sim. — sua voz endureceu. — Elizabeth continua comigo e você vai embora livre. Essa é a minha oferta. Fique tranqüila, vou tratá-la muito melhor do que Jabril tratou Mirabelle.
— Eu quero Liz segura.
— Tal como eu. O tempo está se esgotando, Cynthia. Ele vai terminar em breve e sua única chance será enquanto ele está distraído com a alimentação.
Será que temos um acordo?
Cyn respirou, engasgada com sua palavra seguinte. — Sim.
A arma cutucou em sua mão e ela tomou-a, correndo os dedos sobre a superfície, verificando a sua prontidão. As mãos de Asim caíram dela e ela sacudiu rapidamente para longe dele, para sua diversão. Ela esperou até que a boca de Jabril se levantasse para longe de pele pálida de Liz, observou quando ele jogou a cabeça para trás para saborear o sangue escorrendo pela sua garganta.
Em um único, suave movimento, ela levantou a arma, mirou cuidadosamente e disparou. Seu dedo apertou o gatilho duas vezes em rápida sucessão.
Os olhos de Jabril brilharam abertos nos segundos finais, mais irritado do que assustado, mas era tarde demais até mesmo para um lorde vampiro. Dois buracos perfeitamente redondos apareceram acima da ponte de seu nariz, se enchendo rapidamente com sangue enquanto o resto de sua cabeça explodia.
Ele caiu para trás, impulsionado pela força da explosão, Liz rolando dos braços sem vida dele.
Os seguranças de Jabril congelaram tempo suficiente para Asim, em uma explosão de velocidade de vampiro, pegar Liz e jogá-la no carro. Cyn fez um movimento abortado na direção do investigador, mas Asim tombou-a em cima de Liz e empurrou a homem desnorteado em direção ao Jabril morto com o mesmo movimento. Cyn tentou gritar um aviso, mas teve de se afastar quando Asim fechou a escotilha.
Ela escalou de volta para a janela a tempo de ver vários dos vampiros de Jabril colapsarem em seus joelhos, os seus rostos contorcidos de dor e tristeza.
Os outros permaneceram em pé, mas mal.
Balançando de um lado para outro, olhos vazios e fixos, seus músculos tensos e veias salientes como se estivessem sob alguma tensão terrível. De repente, um deles jogou a cabeça para trás e uivou, com as mãos rasgando seu próprio cabelo, arrancando grandes pedaços sangrentos do couro cabeludo junto com ele.
Como se isso fosse algum tipo de sinal, os outros responderam batendo na sua própria carne, virando as faces para o céu noturno em uma horrível cacofonia de luto.
O primeiro virou-se abruptamente, seu próprio sangue escorrendo pelo rosto e mãos, a cabeça girando lentamente da esquerda para a direita enquanto examinava a área, olhos piscando amarelo com fúria quando viu o homem aterrorizado saindo lentamente para fora do círculo de carros. A boca do vampiro abriu em um sorriso cruel, suas presas reluzindo brancas e afiadas. Ele uivou novamente, mas já não em sofrimento. Os vampiros enlouquecidos viraram como um só.
E Cyn gritou.
Capítulo 55
Eles aceleraram durante a noite em silêncio, o único barulho era do assobio de pneus no asfalto. Sem outros carros na estrada, os motoristas vampiros tinham desligado os faróis, vendo melhor com apenas o luar para guiá-los. Os pensamentos de Raphael estavam na estrada à frente, onde ele podia sentir Cyn cada vez mais frenética a cada milha mais perto da fronteira.
Certamente ela sabia para onde estava sendo levada e o que a esperava lá. Seu povo tinha perdido todo o contato com o mundo externo algumas milhas atrás, na entrada da zona morta de wireless. Ele achou estranho que tal coisa ainda podia existir em um mundo onde cada pessoa parecia possuir um telefone celular. Ele ouviu a maldição de Duncan sob sua respiração enquanto tentava mais uma vez estabelecer contato.
— Não importa, Duncan. — disse ele em voz baixa. — Ela está muito próxima.
— Meu senhor… — Winona começou, mas Raphael a interrompeu com uma acentuada inspiração de ar. Ele endureceu de forma abrupta, seu olhar treinado para frente, os olhos brilhando em prata fundida quando ele estendeu a mão instintivamente para proteger seu povo contra uma súbita onda de poder desenfreado.
— Jabril. — ele rosnou.
Os olhos de Winona estavam arregalados com confusão, mas Duncan compreendeu. — Ele está morto?
Duncan assentiu em descrença.
— Ele estará em breve. — disse Raphael distraidamente, esforçando-se para encontrar Cyn em meio à tempestade da morte de Jabril. Sua cabeça ergueu quando o grito de terror de Cyn de repente perfurou o tumulto.
— Pare! — Ele disse com tanta força de vontade que todos os três motoristas estavam atingindo os freios antes de suas mentes conscientes sequer saberem que uma ordem tinha sido dada. — Duncan. — Raphael disse bruscamente e então ele se foi, a porta entreaberta para a brisa de sua passagem.
— Traga os veículos. — Duncan ordenou a uma Winona surpresa quando ele passou por ela para seguir Juro, que tinha arrancado a porta do passageiro aberta com tanta fúria que o metal ainda estava gemendo com a tensão.
Em questão de momentos, os veículos estavam vazios, deixando apenas Winona e os motoristas na estrada deserta.
Capítulo 56
Cyn tapou os ouvidos contra os uivos dos vampiros enlouquecidos. Ela só desejou conseguir tirar seu horrorizado olhar para longe da vista de Windle sendo dilacerado pedaço por pedaço, os vampiros arrancando pedaços de carne, chupando a carne e lutando uns com os outros pelos despojos.
Apenas Asim parecia não afetado, de pé, imóvel com as costas para o carro. Um dos vampiros loucos saltou para o carro e Cyn tentou gritar sobre a bile subindo até a sua garganta. Ela empurrou-se para longe da janela e contra a parte traseira do assento, mas Asim repeliu o atacante com facilidade. Ele jogou o vampiro nos braços de outro e assistiu calmamente enquanto os dois começaram a rasgar um ao outro em um renovado frenesi.
Aparentemente, o plano de Asim para lidar com os lacaios de Jabril envolvia deixá-los destruírem-se uns aos outros para que ele não tivesse que o fazer.
Cyn olhou em choque por mais uns momentos e depois sacudiu-se em movimento. Ela não tinha ilusões sobre a disposição de Asim em manter o seu acordo, porque ela não tinha intenção de manter sua parte também. Será que ele realmente achava que ela iria entregar Liz para se salvar? Claro, ele achava.
Este era o cara que, neste preciso momento, estava deixando seus futuros súditos rasgarem-se, a fim de tornar sua vida mais fácil ao longo dos próximos dias. Nada que Asim fizesse a surpreenderia.
Seu olhar caiu sobre a arma que ele a deixou usar para matar Jabril. Bem, quase nada, pensou ela. Ela procurou no compartimento até que encontrou a segunda arma com seu carregador cheio de Hydra-Shok, verificou rapidamente e enfiou-a contra as costas sob o seu casaco, então se virou para uma Liz inconsciente.
A ferida do pescoço já tinha selado, o que era típico de uma mordida de vampiro. A natureza era uma coisa maravilhosa. Às vezes. Cyn sentiu a testa da menina, afastando uma mecha de cabelo loiro. Estava fresca, mas seca e quando ela checou o pulso, ele era forte. Jabril tinha muita experiência em drenar mulheres, ele sabia o quanto poderia tomar sem prejudicar sua vítima. Ainda bem que ele precisava de Liz viva.
Cyn percebeu que cresceu um silêncio fora do carro e ela olhou acima para ver Asim pondo as mãos sobre um vampiro de joelhos. Ela lembrou da cerimônia de Raphael com Mirabelle e percebeu que ele estava provavelmente fazendo a mesma coisa. Perguntou-se se Asim era forte o suficiente para manter o território de Jabril, mas não perdeu muito tempo se preocupando com isso.
Afinal, se as coisas corressem à sua maneira, o território de Jabril ainda precisaria de um novo senhor depois desta noite.
Asim levantou as mãos da cabeça de seu mais novo servo, ombros caídos brevemente em exaustão. O recém jurado vampiro permaneceu de joelhos, balançando levemente, os olhos fechados. Apenas um outro vampiro se ajoelhou ao lado dele e este estava em um estado ainda pior, recostando-se sobre seus calcanhares, a cabeça pendendo em semiconsciência. Ambos estavam salpicados com sangue e mostravam sinais de uma luta dura. Como se ciente de sua análise, Asim virou e caminhou em direção ao carro, seus olhos encontrando os dela através da distância.
Cyn deu uma respiração profunda. Adrenalina fazia seu coração bater forte, seu sangue fluir e cada nervo zumbir. Ela lutou contra o impulso de tocar a arma escondida nas suas costas e em vez disso ela cerrou os dedos ao redor da arma que Asim conhecia, a que ela tinha usado para matar Jabril. Ela segurou-a à vista, nem mesmo pestanejando quando Asim chegou ao carro e puxou a porta pesada para cima. Mais rápido do que ela poderia seguir, ele se inclinou e pegou a arma da mão dela, segurando seu pulso e apertando-o dolorosamente. — Nós não queremos nenhum acidente agora, não é Cynthia?
Ele lhe deu um sorriso rápido e depois trouxe sua mão à boca, lambendo o sangue que continuava vazando de seus dedos rasgados. — Jabril estava certo. Seu sangue é delicioso.
Cyn engoliu sua repulsa e olhou para ele em vez disso. — Elizabeth precisa de ajuda médica, um hospital.
Ele a ignorou, soltando a mão dela e chegando para levantar Liz em seus braços. — Você sabe o que acontece quando um vampiro morre, Cynthia? — Ele perguntou. Seus olhos fixos nela, então em todos os corpos espalhados no deserto. — Quero dizer à parte desses. — ele descartou. — Você sabe como um substituto é escolhido? Seu assassino herda tudo. Seu poder, o seu território. — Ele acariciou uma Liz inconsciente com um sorriso sonhador. — Tudo o que foi de Jabril agora é meu.
— Mas você não o matou. Eu fiz.
Asim riu. — Quem iria acreditar nisso? Jabril tinha Mirabelle, mas eu terei Elizabeth. — Ele desviou o olhar para ela e endureceu. — E você também, minha querida. — Lambeu os lábios como se saboreando o gosto de seu sangue.
— Meu harém pessoal.
Ela nem estava surpresa. — Isso não foi o nosso acordo. — ela lembrou-o gentilmente.
— Não, eu acho que não. — ele concordou. — Talvez eu a devolva a Raphael eventualmente. Em troca de seu apoio. — Ele mudou Elizabeth de posição em seus braços e sacudiu a cabeça em direção a Cyn.
— Venha comigo agora. Vamos deixar esses outros para o sol — Ele se virou e caminhou em direção à limusine esperando.
Cyn deu dois passos atrás dele, tirou a segunda arma e disparou. Três tiros na nuca. Bam, bam, bam. Ela teve o cuidado de angular o cano para cima e para longe de onde ele carregava Liz contra seu fino peito, mas não poderia ajudar com a pulverização de sangue quando a cabeça do vampiro explodiu. — Pense novamente, imbecil. — ela sibilou.
O novo lorde vampiro caiu ao chão, derrubando Elizabeth e caindo em cima dela. Cyn ficou olhando para ele, respirando com dificuldade, quase incapaz de acreditar que havia funcionado. Com um sobressalto de medo, ela se lembrou dos outros vampiros e girou, arma levantada para atirar. Mas o choque de perder um segundo mestre em uma noite foi demais para os vampiros já enfraquecidos. Ambos estavam deitados mortos na sujeira.
Cyn tomou um cansado fôlego e quis saber onde ela ia encontrar a força para terminar o trabalho de hoje à noite. Ela se inclinou para frente, descansando as mãos nos joelhos, sabendo que se ela sentasse, ela nunca levantaria novamente. Finalmente, demasiado fraca para carregar Elizabeth para o Range Rover, ela arrastou o corpo de Asim para longe dela e para mais perto dos outros, obteve um cobertor na parte de trás do SUV e cobriu a garota inconsciente, onde ela estava. E então ela se forçou a continuar em movimento, andar em torno da clareira e sistematicamente colocar uma bala no cérebro de todos os vampiros lá.
De volta à bagageira do Range Rover, ela abriu uma outra mala de armas.
Esta era de couro, macia como manteiga e luxuosa ao toque, com um design elegante. Dentro havia quatro leves estacas de madeira lixada, cada ponta com uma borda de aço dobrada. Eram lindas e letais, especialmente desenhadas para ela por um fabricante de facas que havia tomado orgulho em seu produto e gravado intrincados desenhos ao redor da faixa de cada lâmina que se agarrava à madeira. Era preciso força para apunhalar uma estaca de madeira no peito de um vampiro. O aço tornava mais fácil.
Ela olhou para as estacas, agarrou as quatro e voltou à sua tarefa macabra.
Um vampiro não estava morto, se ele ainda tinha um corpo. Ela não queria nada além de um monte de poeira no chão do deserto.
Pouco tempo depois, Cyn se agachou ao lado do que restava da sua última vítima, arma em uma mão, estaca na outra. Em volta dela, pilhas de vampiros em pó começaram a se deslocar suavemente enquanto um vento frio soprava através do deserto. Como se perigo seguisse o vento, a noite ficou de repente mais escura e cheia de ameaças. Ela virou-se. Fora do estreito círculo de luz formado pelos faróis dos carros, as sombras se moveram, envolvendo a noite em torno delas e se aproximando. Cyn segurou suas armas com mais força, seu lábio curvando em um grunhido selvagem.
O vento soprou mais forte, esbofeteando os carros com sua ferocidade. O cabelo de Cyn voou em seu rosto e ela o escovou com um gesto impaciente, olhando como um redemoinho surgia da tempestade, mais negra do que a noite ao seu redor, movendo-se mais rapidamente, sugando a escuridão que se aproximava. Ela se levantou e aproximou-se de onde Liz estava indefesa, o coração batendo forte, a boca seca de medo.
O vento da meia-noite soprava por entre os carros. Cyn levantou a arma.
E as sombras desapareceram.
Juro moveu-se em primeiro lugar, colocando-se entre Raphael e a arma de Cyn. Raphael levantou a mão e Juro se afastou.
— Lubimaya. — Raphael disse com tristeza. — Sinto muito estarmos atrasados.
Cyn piscou. Seus braços caíram ao lado do corpo, as armas que ela segurara de forma tão eficaz subitamente ficaram muito pesadas para segurar.
Sua cabeça pendeu e ela teria caído, mas Raphael a pegou, embalando-a em seus braços enquanto seus vampiros olhavam incrédulos para os danos que uma mulher humana havia forjado.
Capítulo 57
Cyn ouviu os rotores do helicóptero desacelerarem do lado de fora enquanto as portas se fechavam e o elevador começava a se mover. Raphael se encostou na parede, olhando para ela silenciosamente. Ele não falou muito desde que a encontrou em meio a pilhas de pó de vampiros no deserto. Não que tivesse havido muita oportunidade. Eles tinham conduzido de volta a Tucson, indo diretamente para o aeroporto. O médico pessoal de Raphael estava esperando por eles lá e enquanto ele tratava Liz, Cyn teve tempo para um banho rápido e uma muda de roupa. As roupas eram de Winona e não se encaixavam, mas elas eram melhores do que aquilo que ela estava usando.
Depois de um vôo rápido para Santa Monica e um passeio de helicóptero para Malibu, eles chegaram à propriedade um pouco antes do amanhecer.
Duncan e Juro tinham voado com eles no helicóptero, junto com o Dr. Saephan e Liz, mas o resto da equipe de Raphael estaria no aeroporto hoje durante a luz do dia. Não houve tempo suficiente para trazer todos em segurança de volta para a fazenda em Malibu. Alguns dos guardas humanos de Raphael já estavam a caminho para proteger o hangar privado e zelar pelos vampiros adormecidos.
As portas do elevador abriram no santuário de Raphael e Cyn se apressou a sair da pequena caixa, derrubando sua jaqueta emprestada. Velas espalhadas por toda a sala explodiram para a vida quando Raphael exerceu sua vontade e ela pulou, rindo do seu próprio nervosismo.
Ela não conseguia ficar parada e passeava de um lado para o outro, sua pele muito apertada, seus nervos tilintando até que teve vontade de gritar.
— Cyn. — disse Raphael.
Ela parou e olhou para ele. — Ele estava esperando por nós. — disse ela.
— Na escola de condução. Ele sabia que estaríamos lá.
— Sim.
A simples palavra estava repleta de informações, mas ela estava cansada demais para analisar tudo e Raphael não disse mais nada.
Ela retomou seu ritmo e Raphael continuou a observar em silêncio. — Onde está Liz? — Ela perguntou distraidamente.
— Dr. Saephan está cuidando dela. Suas instalações aqui são modernas e completas. Ela vai acordar e não se lembrará de nada.
Cyn fez uma pausa para dar-lhe um olhar duro. — Você vai apagar sua memória?
— Suas memórias serão apagadas. Não por mim pessoalmente, não. Cyn, é importante, extremamente importante que ninguém saiba que foi você quem matou Jabril. Os outros não importam, mas Jabril…
Ela cruzou o quarto para ficar na frente dele. — Você vai limpar minhas memórias também?
— Não. — Ele parecia um pouco ofendido por ela ter perguntado.
— E quanto a Lucia? Ela saberá que algo aconteceu, ela não é idiota.
— Eu vou deixar isso para você. — disse ele rigidamente. — Mas o Dr.
Saephan tem uma excelente reputação na comunidade local e ela não terá nenhum motivo para duvidar do que ele lhe diz. Ela foi informada de que você e Elizabeth estão bem e foi convidada a visitá-las mais tarde. Se desejar, Duncan pode… Falar com ela.
— Falar com ela. — Cyn repetiu.
— Cyn. — Era uma demanda de compreensão.
— Pare com isso. — disse ela.
— Parar o quê?
— Pare de me olhar como se estivesse esperando o outro sapato cair.
— Existe um outro sapato?
— Não. — Ela deu um longo suspiro cansado e foi para seus braços, finalmente deixando-o puxá-la para descansar contra seu peito, onde ela ouviu a lenta batida de seu coração. — Eles o rasgaram em partes. — ela sussurrou enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas. — Ele era nada mais do que pedaços de carne sangrenta. Você não poderia nem dizer… — Ela engoliu em seco. — Eles teriam feito o mesmo comigo. — Seus braços se apertaram em volta dela e ela colocou os braços em torno de sua cintura. Ele estava vestindo uma longa túnica de seda e nada mais. Ela não se lembrava de vê-lo se trocando.
— Você não está vestindo nenhuma roupa.
— É quase amanhecer, lubimaya. — As palavras mal tinham saído da sua boca antes dela ouvir o som sólido do fechamento das portas em torno deles.
Era estranhamente reconfortante.
— Eu estou tão cansada. — ela respirou.
Raphael beijou sua testa e ajudou a retirar o resto de sua roupa, praticamente carregando-a para a grande cama e aconchegando-a debaixo das cobertas. Ela virou quando ele deslizou ao lado dela. — Me abrace.
— Para sempre, minha Cyn.
Capítulo 58
Cyn inclinou-se contra a janela atrás da mesa de Raphael, sentindo-a vibrar com cada onda que rolava na praia abaixo. Raphael estava sentado em frente a ela, observando impassível quando Juro escoltou Mirabelle até a sala.
Duncan entrou em seguida, uma mão no cotovelo de Alexandra, como se estivesse acompanhando-a em um salão elegante. Raphael se levantou, prolongando tempo o suficiente para trilhar uma mão ao longo do braço de Cyn antes de fazer seu caminho em torno da mesa para enfrentá-los. Ele se posicionou um pouco de lado para que Cyn pudesse ver seu rosto claramente.
Mirabelle não esperou o lorde vampiro falar com ela. Ela se separou de Juro e se jogou aos pés de Raphael, enterrando seu rosto nas mãos, seus ombros tremendo com lágrimas silenciosas.
Raphael considerou sombriamente sua forma prostrada, antes de levantar a cabeça para encontrar o olhar frio de Alexandra do outro lado da sala. Ela ergueu o queixo em desafio, os olhos negros piscando.
— Mirabelle. — disse Raphael.
— Meu senhor, — ela gritou, chorando tanto que mal podia falar. — Eu nunca trairia você, Mestre! Nunca.
Raphael inclinou a cabeça, intrigado. — Eu disse que você o fez, criança?
Mirabelle não ergueu os olhos de sua posição submissa, dirigindo a sua resposta ao tapete que estava a centímetros do seu rosto. — Eu ouvi os guardas falando, meu senhor. Eu sei que alguém telefonou a Jabril. Mas não fui eu. Juro para você, meu senhor. — Ela olhou para cima então, seus olhos azuis cheios de dor. — Eu não traí você, Mestre. Eu não faria!
Cyn estudou o rosto de Mirabelle. Ela viu desespero ali e perda, mas não culpa, nenhum medo de ser descoberta. Mirabelle não era o traidor, ela pensou, e sabia que era verdade.
O olhar de Raphael mudou para onde Alexandra estava orgulhosa e altiva, extremamente confiante.
— Eu não avisei você, Alexandra? — Perguntou. — Você achou que eu poderia perdoar isso?
— Eu não faço idéia…
— Silêncio. — Era uma simples palavra, falada com suavidade e sem emoção. Mas a raiva de Raphael era uma presença física na sala, pesando o ar como uma tempestade prestes a quebrar. — Você esquece, Alexandra, que eu sou mais do que o filho de nossa mãe. Eu sou seu mestre. Você não tem segredos para mim.
Os olhos de Alexandra se arregalaram em surpresa e pela primeira vez, seu rosto refletiu uma preocupação desconfortável. — Você foi enfeitiçado por essa humana. — ela rosnou. — Eu tentei apenas salvar você. Você vai entender um dia e você me agradecerá.
Raphael a considerou em silêncio, esperando.
Alexandra abanou a mão num gesto nervoso, como se afastando sua raiva. — Eu sou sua irmã, Raphael. O seu sangue. Você não pode escolher um humano, mesmo esta, sobre o seu próprio sangue. Você me ama.
— Quinhentos anos atrás… — Raphael disse gentilmente, — Eu amei uma criança chamada Sasha. — Sua voz endureceu. — Eu nem conheço você. — Ele fez um gesto e Juro se aproximou de Alexandra, sua enorme mão fechando em torno do braço dela como uma algema.
Alexandra lutou inutilmente, tentando se afastar. — Raphael, — ela chorou. — Você não pode fazer isso! Eu sou sua… — Raphael simplesmente olhou para ela. Seus apelos foram cortados em meio da frase enquanto ela lutava para falar contra a sua compulsão, deixando-a com nada além de soluços mudos de descrença quando Juro e seu irmão a levaram entre eles.
Mirabelle ainda estava ajoelhada no chão, sua boca aberta em estado de choque, sua expressão mais do que ligeiramente tocada pelo alívio quando Alexandra foi escoltada da sala.
— Mirabelle. — Sua cabeça girou quando Raphael falou seu nome e ela encolheu-se de medo.
— Eu nunca faria… — ela começou novamente.
— Eu sei, criança. Eu nunca suspeitei de você. Vá agora. Elizabeth tem perguntado por você.
Mirabelle se esforçou para ficar de pé e se curvou rapidamente. — Obrigado, meu senhor. — disse ela com fervor. Seu olhar deslizou rapidamente sobre a Cyn e para longe antes que ela corresse da sala. Duncan a seguiu, fechando a porta atrás dele e deixando-os sozinhos.
Cyn circulou em torno da mesa para Raphael e ele estendeu a mão automaticamente para puxá-la perto. Ela se enterrou contra o seu peito largo e perguntou: — O que você vai fazer?
— O Conselho convocou uma reunião para tratar do território vazio de Jabril. — Raphael respondeu cansado. — Provavelmente vão jogá-lo aberto a qualquer um que possa segurá-lo. Nenhum dos servos de Jabril é forte o suficiente para lutar pelo direito — ninguém que o queira, de qualquer maneira. E, além disso, há muitos jovens querendo maior poder nos territórios.
Isso vai liberar um pouco dessa pressão.
— Isso não é o que eu… — ela começou a dizer, mas o olhar em seus olhos lhe disse que ele não pretendia lhe dar qualquer outra resposta. Ela olhou para ele, sem saber como se sentia sobre isso.
— Eu sou Vampiro, Cyn. — disse ele, como se isso explicasse tudo.
— Isso não é bom o bastante. — disse ela. — Eu não vou deixar você se esconder atrás dessa merda de vampiro inescrutável. Eu quero saber o que você vai fazer com Alexandra.
Raphael considerou-a com seus olhos negros. — Você quase morreu.
— Eu estou ciente disso. E se eu tivesse morrido lá fora, no deserto, o meu fantasma teria assombrado você impiedosamente até que você destruísse cada um dos filhos da puta que fizeram isso.
Seus lábios macios curvaram em um leve sorriso. — Mas eu não morri, Raphael.
— Ela pretendia que você morresse. Ou pior. Muito pior.
Cyn franziu a testa para ele. — Isso é realmente sobre mim? Ou é sobre você? Ela traiu você também naquela noite. Mais do que a mim. É esta alguma besteira de vampiros?
Ele deu um suspiro impaciente e se afastou. Ele teria se afastado dela, mas ela colocou a mão em seu braço, segurando-o no lugar. — Não a mate, Raphael. Você nunca vai se perdoar. Você jamais me perdoará.
Seus olhos brilharam para encontrar os dela.
— Esta é a mulher pelo qual você moveu céu e terra, satisfazendo todos os seus caprichos, por quantos séculos, Raphael? Você me contratou para encontrá-la quando seus inimigos a levaram de você e destruiu cada um deles por vingança. Não me diga que você não tem amor por ela, mesmo que seja apenas o amor pela criança que ela costumava ser. Sua morte vai pairar sobre você, sobre nós, como um câncer, corroendo tudo o que somos até que cada vez que você me olhar não verá nada além de sua morte. — Ela deu um passo para mais perto dele, colocando as palmas das mãos contra seu peito. — Eu não posso viver dessa maneira, Raphael. Eu não vou. Eu amo você demais.
Ele olhou para longe dela, mas antes de seus olhos deixarem o rosto dela, ela viu um breve lampejo de alívio em suas profundidades de obsidiana14. Ela sentiu-o suspirar, sentiu seu corpo inteiro relaxar sob suas mãos.
— Muito bem, lubimaya. Vou poupá-la. Mas ela vai saber que é a você que deve sua vida.
Cyn encolheu os ombros. — Espero que ela se engasgue com isso.
Acredite em mim, eu não tenho amor por Alexandra.
Ele sorriu então, como se ela tivesse novamente dito algo que ele esperava, e isso agradou-lhe.
Ele a puxou contra seu corpo, segurando-a firmemente dentro do círculo de seus braços. — Estou pensando em encadear você na minha cama a partir de agora. — ele murmurou contra seu cabelo. — Estou cansado de acordar para ver que você se foi.
Ela bufou. — Você pode tentar.
Apertou-a mais em seus braços. — Eu posso fazer melhor do que tentar, lubimaya. Existem muitos tipos de correntes.
— Excêntrico. — comentou. — Faça o seu melhor, Lorde Raphael.
— Com você, minha Cyn, sempre.
14 É um tipo de vidro vulcânico, formado quando a lava esfria rápidamente.
Epílogo
— Buffalo? — Cyn repetiu incrédula.
— Eu sei. — Sarah concordou com tristeza. — Mas é uma boa universidade, e o trabalho é por mandato15. Além disso, não é na Califórnia e você sabe que eu quero sair daqui.
— Querida, Buffalo é o mais longe da Califórnia que você pode ir e continuar a estar nos Estados Unidos. Eles têm verdadeiros invernos lá, você sabe. Assista ao canal do tempo. Eles estão sempre mostrando imagens de Buffalo com pessoas enterradas até suas bundas na neve.
Sarah riu. — Você é tão bruta, Cyn.
— Sim, bem. Conseqüência de ser uma policial.
— Eu acho que você apenas usa isso como desculpa.
Cyn sorriu. — Apanhada.
— Então. — disse Sarah, prolongando as sílabas. — Você tem algo que queira compartilhar comigo?
Cyn tomou um gole de seu Martini, dando a Sarah um olhar arregalado sobre a borda do copo.
— Oh, vamos, Cyn. Deixe-me ver a pedra.
Cyn riu. — Oh, você quer dizer essa coisa? — Ela estendeu a mão e Sarah tomou aquela coisinha linda. Havia pelo menos cinco quilates assentados nesse fino dedo, e isso era apenas o travesseiro de diamante no centro. Ela apostava em outros poucos quilates na faixa de canais em torno dele.
— É lindo, Cyn. Mas você sabe disso. Então, quando é o casamento?
15 Do original ‘job’s tenure track’, que é uma expressão usada para trabalhos académicos em que não pode haver despedimento sem justa causa.
— Casamento? — Zombou de sua amiga. — Você sabe como me sinto sobre casamento. Além disso, os vampiros não se casam, eles têm toda essa coisa de acasalamento que fazem.
— Acasalamento? Como gorilas?
Cyn riu. — Muito semelhante, sim.
— Então isso significa que você vai se tornar uma vampira? Devo começar a cobrir meu pescoço quando você estiver ao redor?
— Dificilmente. Vampiros não costumam se casar com outros vampiros.
Eu fiz a mesma pergunta uma vez. — Ela fez uma pausa para tomar outro gole de sua bebida. — Você sabe como o sexo tem fama de ser…
— Imagino. — Sarah disse secamente.
— Bem, sim. De qualquer forma, tomar sangue está ligado ao sexo para eles, então se eu me tornasse uma vampira, Raphael teria que ir para outro lugar para o seu sangue, e uma vez que é ligado com o sexo…
— Oh.
— Certo. Você me conhece. Eu não compartilho bem.
Sarah riu. Na verdade Cyn era generosa ao extremo, mas ela nunca diria isso na cara de sua amiga. Poderia arruinar aquela imagem cuidadosamente cultivada de menina resistente. — E sobre a coisa da idade? Quero dizer, ele vai ficar jovem e você…
— Essa é a beleza disso. Ele toma o meu sangue e eu tomo o seu. Não muito, mas…
— Nojento! Você está bebendo o seu sangue? — Sarah olhou ao redor rapidamente e baixou a voz. — Eca, Cyn!
— Não é assim tão mau. — Cyn repreendeu. — Além de que é apenas um pouco e isso me mantém jovem e linda. — Ela sorriu e se inclinou para frente conspirando. — E isso faz com que o sexo fique ainda melhor.
Sarah soltou um suspiro. — Okay. Vamos mudar de assunto. Você ainda tem sua agência?
— Não. — Cyn disse com pesar. — Isso teve que ir. É difícil fazer um trabalho à paisana quando você tem um guarda-costas por perto o tempo todo.
— Você tem um guarda-costas?
— Yeah. Era isso ou uma tatuagem na minha testa. Peguei o guarda-costas. Por falar nisso… — Ela apontou por cima do ombro de Sarah. — Vê aquele cara ali no bar?
Sarah se torceu para olhar e viu-se olhando para um alto, bem musculoso homem negro que parecia estar obsessivamente focado em seu cantinho da sala. Seus olhos se arregalaram e ela chicoteou de volta em torno de Cyn. — Isso é um vampiro? — Ela sussurrou.
— Yeah. Difícil dizer, né? Você se acostuma. E por falar em vampiros…
Houve uma agitação súbita no bar lotado. Conversas morreram para sussurros e as pessoas se chegaram para os lados, abrindo caminho para alguém entrando pela porta da rua. Havia dois homens, um loiro e um moreno, mas foi o de cabelos escuros que chamou a atenção de todos. Alto e de peito largo, com um rosto que só poderia ser descrito como belo, ele se movia com graça do tipo letal que ela geralmente associava a algo perigoso e selvagem.
Tanto mulheres como homens se endireitaram onde estavam ou sentaram-se, os seus rostos absortos, olhos vidrados quando eles meio que se… Inclinaram em sua direção. Ela ouviu Cyn rir alegremente e olhou para a amiga.
— Diga-me que não é ele. — disse ela em descrença.
— Esse é o meu querido. — Cyn confirmou.
— Oh, homem. — Sarah disse em admiração. — Onde eu posso conseguir um desses?
— Provavelmente não em Buffalo. — Cyn comentou secamente. Ela tomou um gole final de seu Martini e se levantou. — Minha carona está aqui querida. Boa sorte com o trabalho. Espero que eles saibam a sorte que é ter você.
— Eu vou ter a certeza e dizer-lhes. — disse Sarah. Ela estendeu a mão e trocaram abraços.
— Envie-me seu novo endereço quando você o tiver.
— Eu vou. E boa sorte com… Você sabe. Tudo. Estou realmente feliz por você, Cyn.
— Eu sei. — Ela beijou a bochecha de Sarah e sussurrou: — O seu virá também. É só você esperar.
Sarah viu quando Cynthia caminhou para encontrar seu amante vampiro.
Seu braço passou em volta de sua cintura assim que ela chegou a ele e eles trocaram um beijo tão terno que trouxe lágrimas aos olhos de Sarah. Ela balançou a cabeça. — Sim. — ela murmurou para si mesma. — Mas será que ele sabe que ele é suposto me procurar em Buffalo?
D. B. Reynolds Aden
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