Capítulo 23
Raj fez uma varredura final da área, verificou que Sarah estava sentada no carro, que ele esperava que estivesse trancado como prometido, e abriu a porta do armazém, pronto para se desculpar com Em. No interior, as luzes estavam ligadas. Elas eram muito fracas para os olhos humanos, porém ideais para um vampiro. E o grande espaço não estava mais vazio. Quatro grandes veículos, todos pretos e com vidros fumados, estavam estacionados próximos às portas da plataforma de carga. Próximo ao grande refrigerador, os oito membros da equipe que Emelie havia trazido de Manhattan estavam envolvidos em diferentes atividades. Alguns descansavam, assistindo TV de tela grande, utilizando fones para preservar a idéia de silêncio do lado de fora do armazém. Outros estavam verificando equipamentos, em sua maioria armas e facas. Vampiros não precisam de muitas ferramentas. Com sua força, velocidade e presas, eles eram a sua própria arma mortífera. Mas uma arma era útil algumas vezes, e facas eram sempre divertidas.
Em estava conversando com Abel, um dos “filhos” mais velhos e confiáveis de Raj. Abel encontrou o olhar de Raj e acenou para ele, o grande diamante em seu ouvido piscou alegre contra a sua pele quase negra. Emelie terminou o que quer que estivesse dizendo e foi até ele, contornando uma mesa carregada com equipamentos de informática e eletrônicos. O mago tecnológico da equipe, um humano chamado Simon, estava montando as coisas lá em cima, seus dedos voavam sobre o teclado enquanto seus fones de ouvidos bombardeavam música tão alta que Raj podia ouvir de onde estava.
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Os olhos de Emelie estavam baixos enquanto ela se aproximava. Para seu total horror, ela se prostrou em um joelho e disse: — As minhas desculpas, meu senhor. Não percebi…
— Jesus Cristo, Em, levante-se! — Raj puxou-a para seus pés. — Eu sou o único que tem que se desculpar. Não deveria ter estourado com você daquela forma. Não sei o que há de errado comigo.
Em estudou-o, seus escuros olhos castanhos estavam solenes, os encantadores planos de seu rosto exibidos devido ao rabo de cavalo apertado que estava puxado bem alto em sua cabeça. — Raj, meu amigo. — ela disse suavemente. — Isso não é verdade. Passei somente alguns minutos com vocês dois, mas sei o que está acontecendo. E você também sabe.
Raj igualou seu olhar sério por alguns momentos. Quando ele desviou o olhar, ele xingou viciosamente. — Porra! Por que agora? Por que ela? Jesus Cristo, Em, esta cidade está uma bagunça total. O Krystof está fazendo novos vampiros como se eles não fossem nada a não ser brinquedos, alguém está sequestrando mulheres das casas de sangue, e agora ela! Eu não preciso dessa merda!
A sua voz estava cada vez mais alta, até que chamou a atenção dos vampiros que estavam do outro lado do cômodo. Todos eles haviam parado o que estavam fazendo. Até mesmo os que estavam assistindo TV tinham tirado os seus fones. Eles não tinham a intensão de escutar, mas não podiam evitar, já que ele estava gritando como um idiota. Ele respirou fundo e soltou o ar lentamente. — Não posso lidar com isso agora. Há muito em risco. Não posso me permitir ser distraído por alguma garotinha que pensa que vampiros são algo sobre o que ela lê nos livros com homens seminus nas capas.
A boca da Em se apertou em um esforço óbvio para não rir, mas os olhos a entregaram. — Por que não apenas pegar a garota, chefe? — ela perguntou de maneira prática. — Talvez seja isso que você precise — um gole rápido, um rala e rola no palheiro e você é um vampiro livre.
— E se eu não for? Então ela estará presa a um maldito vampiro pelo resto da vida. Sem mencionar que as coisas vão ficar cabeludas por aqui, e existem muitos vampiros que adorariam colocar as mãos em Sarah se ela estivesse ligada a mim. Ela não merece ficar enrolada em tudo isso.
Em deu de ombros. — Talvez você devesse deixar a Sarah tomar esta decisão sozinha. Ela é uma mulher crescida, você sabe, não uma criança. Além disso, há piores coisas na vida do que estar ligada a um vampiro, especialmente um tão poderoso quanto você.
Raj simplesmente franziu a testa para ela. — Por que não encerramos a conversa sobre a minha vida amorosa?
Em deu de ombros e disse: — Você é o chefe. Você quer me dizer o que está acontecendo, ou quer dar um resumo para todos de uma vez?
— Vamos fazer de uma vez só. Não gosto de deixar a Sarah lá fora sozinha.
— Então traga-a para dentro.
— Não. — ele disse instantaneamente.
Em ergueu suas sobrancelhas de forma significativa, balançando a cabeça enquanto ela guiava Raj para onde a equipe o aguardava.
— Tudo bem pessoal. — Raj começou. — Aqui está o que nós temos. Diversas mulheres humanas desapareceram no último mês, todas conectadas de alguma forma às atividades vampíricas. A última é a filha do William Cowens. — Ele olhou ao redor e viu cada membro de sua equipe assentindo conhecedoramente.
— Foi o Cowens que insistiu para a polícia seguir pelo ângulo vampírico. Krystof concordou em cooperar, em grande parte, eu acho, porque ele tinha certeza que não havia nada e era uma maneira fácil de conseguir um pouco de crédito de cidadania. Ele me chamou para aguentar com o calor, e se houver um desentendimento, ter certeza que não recaía sobre ele. Nenhuma surpresa até agora.
— Mas. — Ele pausou, encontrando os olhos de cada um dos presentes. — Informações recentes me levaram a acreditar que possa realmente haver um vampiro envolvido. Não estou certo se o Krystof sabe sobre isso ou não, mas ele claramente sente-se ameaçado por alguém ou algo, e não acho que seja apenas eu. Ele está fazendo novos vampiros a torto e a direito, tantos que o Jozef nem sabe sobre todos eles.
— A solução está nas casas de sangue. Com todos estes novos vampiros correndo por aí, as casas tendem a estar lotadas e alguém pode estar entrando às escondidas. Eu quero que vocês se dividam em equipes de dois, vestidos como civis. Há quatro casas de sangue na grande área de Buffalo. Eu já parei na casa Corfu e houve… uma mudança na gestão. — Emelie lhe deu um olhar afiado. — Não tive a chance de fazer muitas perguntas no início, então ainda vou querer uma equipe lá, e em cada uma das outras casas em um esquema rotativo. Com todos os novos vampiros, não deverá ser um problema para vocês se misturarem, mas não vamos abusar.
— Em e eu estaremos fazendo a geral; vocês têm nossos números de telefone. Se vocês encontrarem qualquer coisa estranha, nos liguem. A menos que as suas vidas estejam ameaçadas, se for assim vocês façam o que for necessário. Perguntas?
— Você quer que nós utilizemos as bolsas ou podemos nos alimentar? — Abel perguntou.
Raj pensou nisso por um minuto e disse. — Podem ir em frente e se alimentarem nas casas de sangue; vocês chamariam atenção se não o fizessem. Mas não exagerem. Preciso de vocês alertas e prontos para avançar.
Abel assentiu em entendimento e Raj olhou em volta. — Mais alguém?
Não havia outras perguntas, então Raj se virou para a sua tenente. — Em. — ele disse, indicando que ela deveria andar com ele até à porta.
Uma vez do lado de fora, ele verificou que a Sarah estava onde a havia deixado. Ele ficou surpreso quando ela lhe ofereceu um pequeno aceno animado, mas então olhou por cima de seu ombro e fez uma careta ao encontrar Em acenando de volta.
— Cristo. — ele xingou de novo. — Pare com isso. — Ele se posicionou entre Em e o carro, bloqueando efetivamente qualquer visão de Sarah. — Olhe, Em. — ele disse baixinho. — Isso pode ser algo muito ruim. Algumas das coisas que eu estou ouvindo me fazem pensar… Ah, merda, nem gosto de falar nisso. — Ele desviou o olhar, balançou sua cabeça, depois olhou-a. — Acho que alguém está vendendo sangue de vampiro para pesquisas.
Os olhos de Em se arregalaram em choque, o que espelhava seus próprios sentimentos. — Não um dos nossos!
— Diabos, não. Alguém daqui, um local. Uma das mulheres desaparecidas era uma pesquisadora na universidade. O marido alega que ela estava se encontrando com alguém que disse que poderia garantir acesso a amostras de sangue vampírico.
— Krystof? — Em perguntou sem acreditar.
Raj balançou a cabeça. — Parece fora do normal. Nunca o vi arriscar sequer um corte de papel. E por algo como isso? O Conselho iria crucificá-lo à meia noite e deixá-lo no sol, ele sabe disso.
— Há muito dinheiro envolvido em algo assim, no entanto.
— Sim, mas ele não precisa de dinheiro. Pensei que talvez fosse sobre encontrar uma solução para o que há de errado com ele, mas então por que me trazer aqui para investigar? — Ele balançou a cabeça. — Não acho que seja Krystof. Não estou excluindo nada, mas não parece certo. — Ele olhou rapidamente por cima do ombro e viu Sarah observando-os atentamente, embora ela não pudesse ouvir o que eles estavam falando.
Ele se virou novamente para Em, abaixando sua voz ainda mais. — Irei falar com o marido da pesquisadora desaparecida amanhã. Os policiais não querem que eu me envolva, mas não preciso da permissão deles, e se isso envolve vampiros, não é da conta deles de qualquer jeito. Entrarei em contato contigo depois. Neste meio tempo, cuide do que é meu. Certifique-se de que ninguém saia sozinho e isso inclui você, Em. Você sai com uma das equipes ou comigo. Não quero perder ninguém por causa disso.
— Amo você também, chefe. Eu te beijaria, mas a sua nova namorada lá não iria gostar.
— Em. — ele balançou a cabeça, incomodado. — Estou indo agora, mas entrarei em contato.
Sarah observou quando Raj se afastou de Emelie e caminhou de volta para o carro, movendo-se com aquela sua graça letal, cada músculo tenso e pronto. Ele olhou-a e ela pôde ver que seus olhos haviam ficado daquela estranha cor de azul gelo novamente. Ela sorriu e capturou o seu olhar de surpresa, seguido rapidamente por uma careta. Isso a fez se perguntar por que ele estava se esforçando tanto para não gostar dela.
Ele abriu a porta do motorista com força e se acomodou no carro, mal esperando que a porta estivesse fechada para sair apressadamente do estacionamento sombrio com uma virada que fez os pneus guincharem. Ele nada disse enquanto eles seguiam de volta para a cidade, mas Sarah não se importou. Ela aprendeu bastante sobre Raj esta noite, provavelmente muito mais do que ele pretendia que ela soubesse. Você podia aprender coisas ao assistir as pessoas se relacionarem umas com as outras, até mesmo sem escutar o que estavam dizendo. Na verdade, algumas vezes era melhor não ouvir as palavras porque palavras nem sempre diziam a verdade, mas o corpo geralmente fazia. Por exemplo, ela sabia ao certo que Raj lhe havia dito a verdade sobre Emelie. Não havia nada sexual entre eles e nunca houve. Eles eram amigos, amigos antigos e próximos que estavam totalmente confortáveis um com o outro. Mas só isso. Nem um pingo de tensão sexual entre eles. Sem flerte, sem fazer pose para efeito, até mesmo inconscientemente.
Por outro lado, houve a reação de Emelie à Sarah, e a reação de Raj à reação de Emelie. Sarah sorriu muito privadamente. Sim, ela havia aprendido algumas coisas sobre Raj esta noite e tudo estava começando a fazer sentido para ela.
— Você ainda está com fome?
Ela interrompeu seus pensamentos privados para olhá-lo. — Como?
— Jantar. — ele disse pacientemente. — Você ainda está com fome?
— Oh, claro. Sim. Hum, você vai a restaurantes?
Ele riu. — Normalmente não. Bem, não para comer comida de qualquer forma.
Ela corou com o seu lembrete sutil. — Não estou morrendo de fome. Quer dizer, está tudo bem se…
— Conheço um lugar. — ele disse. — E nós ainda precisamos conversar.
— Sobre o quê? — ela perguntou nervosamente.
Ele olhou-a. — Sobre aquelas mentiras que você continua me contando.
Cara, ele realmente conhecia um lugar, Sarah pensou para si mesma. Ela garfou o último pedaço do mais suculento salmão que já havia experimentado. Eles estavam em um pequeno restaurante, um que ela havia passado quase todo dia em seu caminho para o campus sem nunca perceber o tesouro que era. Em uma dessas frustrantes mudanças rápidas de humor que ela estava começando a associar ao Raj, ele havia quase se tornado alegre. Ele parecia ser amigo de longa data do proprietário polaco — pelo menos essa era a linguagem incompreensível que os dois estavam falando. Somente o polonês possuía tantas variações da letra S.
Raj estava até mesmo bebendo vodka, para sua grande surpresa e para o óbvio divertimento dele. — Não é que não possamos comer comida normal, querida. — ele disse, inclinando-se na mesa para sussurrar de forma conspiratória. — É só que o sabor é insípido em comparação com a nossa dieta habitual. — Ele piscou-lhe então, aqueles olhos azuis gelo brilhando quentes, e ela começou a se perguntar como seria ter toda aquela sensualidade vampiresca concentrada nela por uma única noite… ou talvez duas.
Raj lhe ofereceu um sorriso confiante, como se soubesse o que ela estava pensando, o que fez com que o encarasse. O que apenas fê-lo rir mais uma vez antes que o proprietário passasse por lá e os dois tomassem mais uma dose de vodka. Não que isso parecesse ter algum efeito sobre Raj. Ela, por outro lado, estava cuidadosamente vigiando sua única taça de vinho branco. Já era difícil o bastante resistir ao charme dele enquanto sóbria.
— Sr. Gregor. — uma voz cordial ecoou por todo o local e Sarah olhou para cima em estado de choque ao encontrar Edward Blackwood se aproximando deles. O proprietário deu a Raj um olhar questionador, mas Raj balançou sua cabeça de leve e deslizou para fora do assento, ficando próximo da mesa e não parecendo muito mais contente em ver o fundador do HR12 do que Sarah estava, apesar de que talvez não pela mesma razão.
12 Humanity Realized.
— Sr. Blackwood. — ele disse suavemente. — Isso é inesperado.
— Um inesperado prazer, com certeza. — Blackwood sorriu. — Foi uma pena nós não termos tido a oportunidade para conversar um pouco mais na outra noite. Talvez pudéssemos ter um momento agora, se a sua companhia não… — Ele correu um olhar sobre Sarah, e ela endureceu, convencida de que ele parou por um breve segundo com algo próximo a reconhecimento. Raj pareceu sentir o seu desconforto. Ele deu um passo na frente dela novamente, bloqueando os olhares inquisidores de Blackwood.
— Sinto muito, Blackwood. — Raj disse, não soando nem um pouco triste. — Nós temos planos.
— Claro que vocês têm. Que rude da minha parte achar diferente. Como a investigação está indo? Se é que posso roubar um pouco do seu tempo.
— Investigação?
— Bem, sim, com a polícia. Fizeram algum progresso?
— Você terá que perguntar isso para eles. Receio que me foi pedido educadamente para ficar fora do caso.
Blackwood fez uma careta. — Mas pensei, isto é, era do nosso entendimento que você estaria envolvido.
— Não. — Raj disse, balançando a cabeça. — Estou investigando com meus próprios recursos, eu não me importaria em falar com algumas das testemunhas, mas não tenho acesso. Não oficialmente de qualquer forma.
— Sério. Bem, talvez eu possa fazer algumas ligações. — Ele pegou uma fina carteira do bolso de seu casaco e extraiu um cartão de negócios. Entregando-o para Raj, ele disse: — Em troca, talvez você concorde em se encontrar comigo quando tudo isso acabar. — Raj pegou o cartão e deslizou-o para dentro do seu bolso enquanto Blackwood esperava com óbvia expectativa por alguma oferta recíproca. Quando nada aconteceu, ele alisou sua gravata nervosamente, tossiu e disse: — Bem, farei aquelas ligações então. Vocês tenham uma noite agradável.
Raj não se moveu até que Blackwood havia cruzado a sala de jantar principal e tinha saido de vista, entrando em uma das pequenas salas privadas. Sem sentar-se, ele fez algum tipo de gesto para o seu amigo proprietário e deslizou uma mão sob o braço de Sarah. — Estamos indo. — ele disse, quase levantando-a da cadeira.
Sarah não protestou já que o que mais queria era se afastar o mais possível de Blackwood. Ela deixou Raj levá-la para fora do restaurante, mas depois cavou seus pés no chão, sendo que ele a estava arrastado como algum tipo de boneca de pelúcia para onde o carro estava estacionado. — Pare. — ela disse, balançando seu braço até se soltar de seu firme aperto.
Ele ofereceu-lhe um olhar frio. — Fiquei com a impressão que você queria evitar Blackwood.
Sarah corou, mas ergueu seu queixo desafiadoramente. — Isso não significa que eu queira ser arrastada pela rua como uma criança rebelde. Posso andar, sabia.
— Sim, eu sei. — ele disse de uma maneira que a fez corar ainda mais.
— Como você faz isso?
— Isso o quê?
— Fazer tudo parecer como algum tipo de preliminares. É apenas caminhar. — ela reclamou.
Ele riu e colocou um braço ao redor de sua cintura, fazendo-a mover-se novamente na direção do seu carro. — Não quando é você que está caminhando, querida. E não com estes saltos que você está usando.
Sarah sorriu a despeito de si mesma enquanto Raj abria a porta do carro e ela deslizava para dentro. Mas seu sorriso sumiu quando viu Blackwood de pé no lado de fora do restaurante olhando na direção deles.
— Ele está nos observando. — ela murmurou enquanto Raj se acomodava no assento do motorista.
— Eu sei. — Ele se afastou da curva, executando uma inversão de marcha ilegal que os levou na direção oposta da qual eles queriam ir, mas evitou que eles passassem pelo restaurante e pelos olhos curiosos de Blackwood.
Sarah esperou ele virar em algum lugar, mas ele pegou a estrada principal para fora da cidade ao invés disso.
— Onde nós estamos indo? — As palavras mal tinham abandonado a sua boca e ele já estava cruzando várias faixas de tráfego e fazendo uma parada em uma rua escura com casas silenciosas. Ele deixou o motor ligado, mas estacionou o carro e se virou para encará-la, um longo braço ao longo das costas de seu assento.
— Acho que é hora para a nossa pequena conversa, Sarah.
— Aqui? — ela perguntou.
— Aqui. Podemos começar com por que você tem medo do Edward Blackwood. O cara faz os vendedores de carros usados parecerem escoteiros, mas ele é inofensivo. A menos que você tenha alguns milhões guardados num fundo em algum lugar? — Ele ofereceu-lhe um olhar inquisidor.
— Não. — Ela respirou profundamente e roubou uma rápida olhada de Raj. Ele sentou-se observando-a com aquele seu olhar azul tranquilo, parecendo como se tivesse todo o tempo do mundo e estava pronto para passá-lo esperando que ela contasse tudo. Ela batia os dedos sem parar sobre a sua coxa até que ele se esticou e colocou a sua mão sobre a dela, parando-as.
— Olhe para mim, Sarah. — Ela olhou. — Seja o que for, o que seja que esteja acontecendo… não pode ser tão ruim. Sou um vampiro, querida. Eu bebo sangue humano diariamente. O que você possivelmente poderia me contar que superaria isso?
Ela riu e, para seu horror, sentiu as lágrimas pressionarem contra a parte de trás de seus olhos. — É só que… passei anos fugindo de tudo, e agora…
— Na outra noite você me perguntou sobre as outras mulheres. Você queria saber os nomes delas. Por quê?
As lágrimas estavam ameaçando transbordar e rolar pelas suas bochechas. Ela queria lhe contar a verdade, e algo lhe disse que ele entenderia se ela o fizesse. Talvez ele estivesse certo, talvez era porque ele era um vampiro e nada que lhe pudesse contar seria pior que isso. Mas…
— Me conta, Sarah.
— Eu saí de casa quando tinha dezesseis anos. — ela sussurrou miseravelmente, odiando a si mesma. — Não podia mais viver lá. Mudei o meu nome e cortei todos os contatos para que eles não me pudessem encontrar. — Era próximo da verdade, tão próximo que ela esperava que ele não notasse a diferença.
Ele franziu-lhe a testa no carro escuro. — Por quê? Algo aconteceu?
Ela assentiu, recusando-se a encontrar o seu olhar. — Apenas não era um bom lugar para mim.
— Então onde o Blackwood entra nisso? — ele perguntou, claramente confuso.
— O quê?
— Blackwood. — ele repetiu. — Vi a sua reação na delegacia e novamente esta noite. Você realmente ficou assustada por causa dele.
— Blackwood… — Sarah disse, pensando rapidamente —…conhecia os meus pais. Ele me reconheceu e então… já faz doze anos desde que vi qualquer membro da minha família. Gostaria de manter assim.
Raj estava quieto, batendo levemente no volante, seu olhar no tráfego noturno, mas seus pensamentos pareciam bem longínquos. Abruptamente, ele olhou de volta para ela e perguntou: — Então por que este caso? Por que o seu interesse nas mulheres desaparecidas?
— Eu só… li sobre Trish no jornal. Senti pena dela e pensei… já que meio que conhecia o Tony, e a Cyn é minha amiga. Pensei que talvez pudesse fazer algo ao invés de apenas esperar que Trish morresse. — Esta parte, pelo menos, era verdade.
Ela esperou pela reação do Raj, esperou que ele fosse estourar com ela, acusá-la de mentir mais uma vez, mas ele apenas bateu seus dedos no volante um pouco mais, e então verificou seu relógio e disse: — Tenho que te levar para casa.
Quando eles chegaram a casa, Sarah abriu a porta do carro sem esperar que Raj desligasse o motor. Ela começou a ir em direção às escadas, procurando suas chaves na bolsa enquanto caminhava. Atrás de si, ela escutou o bip do controle remoto do BMW e então Raj estava ao seu lado, chegando primeiro do que ela na porta e esperando enquanto ela a destrancava. Ela abriu a porta, entrou e jogou sua bolsa nas escadas, tirando o seu casaco. Ela estava ciente de que Raj estava elevando-se sobre ela por isso manteve seus saltos, mas ainda assim podia sentir o olhar tranquilo dele seguindo todos os seus movimentos. O quanto ele viu? Ela se perguntou. Os vampiros podiam ler os pensamentos humanos? Alguns diziam que era um mito, mas os vampiros não estavam exatamente fazendo fila para serem estudados, então quem realmente sabia a verdade?
— Eu vou colocar um pouco de água para fazer chá. — ela disse, sem saber exatamente o que mais fazer. Raj a seguiu até à cozinha. Enquanto alcançava a chaleira, a sombra dele caiu em cima dela e ela teve um momento de déjà vu tão forte, que teve que se agarrar ao fogão para não cair. Ela podia senti-lo bem atrás de si, bloqueando a porta, seu olhar gelado contra as suas costas. O coração dela começou a acelerar e um suor frio cobriu a sua pele enquanto ela lutava pelo seu próximo fôlego.
— Sarah?
Ela se virou ao ouvir a sua voz, esmagada pelo desejo de fechar a distância entre eles, de alcançar e tocar o seu rosto, de correr seus dedos pelo seu cabelo grosso e ver se era tão sedoso quanto parecia. De sentir seus braços segurando-a sem dificuldade enquanto ele a pegava e mergulhava seu pênis profundamente dentro dela, uma e outra vez, até que estivesse gritando o nome dele.
Chocada com seus próprios pensamentos, ela se forçou a desviar o olhar. Evitando seu toque, ela deslizou lateralmente pelo balcão até chegar à geladeira. Ela se virou e abriu a porta, tirando uma garrafa de água gelada e segurando-a em seu rosto superaquecido. — Desculpe. — ela disse. — Estou um pouco cansada. Não tenho dormido bem.
— Eu deveria ir, então. Deixar você dormir.
— Não. — ela disse rapidamente, e então revirou seus olhos pela sua própria estupidez, grata por estar de costas e ele não poder vê-la. Ela respirou fundo e se virou, seu olhar se firmou na garrafa de água enquanto ela torcia a tampa. — Eu estava pensando que talvez fosse capaz de ajudar na sua investigação. Você provavelmente quer falar com algumas pessoas no campus, e eu poderia ir com você, talvez, você sabe, já que trabalho lá. Pensei que nós pudéssemos ser parceiros. — ela disse razoavelmente. Infelizmente, quando ergueu seus olhos, ele não a estava olhando como uma parceira. Era mais como se ela fosse um filé e ele fosse um homem faminto.
Raj se inclinou no batente da porta, negando a si mesmo dar mais um passo, com medo de chegar demasiado perto de Sarah. Suas gengivas doíam e seus lábios estavam fechados com força sobre as presas que queriam nada mais do que se afundar na suave carne dela e beber o doce néctar de seu sangue. Ele notou a sua reação, soube o exato momento que o seu corpo se lembrou do que aconteceu na cozinha na noite anterior, apesar da mente dela ter sido limpa. Ele havia escutado o coração dela acelerar, havia visto o brilho de suor em cima de seus lábios, e sabia que o delicado vale entre seus seios estaria quente e molhado.
Ele se esticou para longe da porta, mais para aliviar a pressão em sua virilha do que qualquer outra coisa. — Tudo bem. — ele disse, pensando que isso era uma idéia muito ruim. Ele deveria estar evitando qualquer contato com ela, não aceitando-a como sua parceria. Mas por alguma razão, a boca dele apenas continuou falando. — Preciso falar com algumas pessoas. — ele disse. — Testemunhas, familiares, este tipo de coisa. E certas pessoas me acham intimidante.
— Sério? — ela disse com uma voz fraca.
— Você por outro lado… — ele não conseguiu evitar. Ele fechou a distância entre eles e se esticou para colocar uma mecha de cabelo loiro ao redor de seu dedo. — Você é uma torta de maçã e catequese de domingo. As pessoas provavelmente devem chegar até você na rua e contar todos os seus segredos. Criancinhas devem te procurar em uma multidão quando elas perdem suas mães.
Sarah fez uma careta para ele, claramente sem saber se devia ficar lisonjeada ou insultada pela descrição.
Raj riu, sentindo a tensão sexual de esvair. Ela ofereceu-lhe aquele meio sorriso. — Que seja. — ela disse. — Quando começamos?
— Amanhã à noite, se você estiver disponível.
— Claro, por que não? Quem precisa dormir?
— Eu quero começar com o marido da Dra. Edwards. Ele é um homem e um estudioso de modo que a sua presença deverá ser particularmente útil.
— Deus, obrigada. Eu amo ser útil. Quem é a Dra. Edwards?
— Estelle Edwards. Uma pesquisadora médica e a primeira mulher a desaparecer. Ela não se encaixa no perfil e gostaria de saber o porquê.
Ela deu de ombros. — Tudo bem.
Raj sorriu. — Eu te deixarei dormir, então. — disse. Ele caminhou pelo corredor, satisfeito por ter feito uma saída limpa, já pensando em maneiras de escapar desse encontro com ela amanhã à noite. Só Deus sabia o quanto ele queria passar um tempo com ela. Mas ele queria muito isso e isso não era saudável para nenhum dos dois. Ele alcançou a porta da frente e se virou para dizer adeus, mas Sarah estava bem atrás dele.
Ela ficou lá parada olhando-o, as suas mãos atrás das costas como uma criança bem comportada. Ela respirou fundo, o que não ajudou em nada a sua repressão recém descoberta, e disse: — Você não quer me dar um beijo de boa noite?
Ele congelou. — O quê?
— Um beijo de boa noite. — ela persistiu.
Ele fez uma careta. — Sarah…
Ela deu-lhe um olhar impaciente. — Qual é o problema, Raj? Você me beijou ontem à noite, não é? E na noite anterior. De repente me cresceu uma segunda cabeça ou algo assim? — Ela deu um tapinha em seus ombros, como se estivesse procurando a segunda cabeça.
— Ótimo. — Ele se abaixou, pretendendo dar um beijo casto na bochecha dela, mas Sarah tinha outros planos. Ela virou sua cabeça no último segundo para que seus lábios se encontrassem. E ele estava perdido.
Os lábios dela eram suaves e quentes, derretendo-se sob os lábios dele enquanto a boca dela abria com um pequeno gemido ofegante. Ele abraçou o redor de sua cintura com um braço e os virou, prendendo-a contra a parede, pressionando o corpo dele no dela enquanto explorava a sua doce boca. Suas línguas se enroscaram, os braços esguios dela se entrelaçaram ao redor de seu pescoço e puxaram-no mais para perto até que ele pensou que eles se fundiriam em uma única entidade, presos para sempre em um abraço abrasador. E certamente havia maneiras piores para acabar com a vida de alguém?
Ela gritou quando suas presas cortaram seu lábio e ele se afastou, perdido na primeira prova de seu sangue, o feitiço estonteante disso enquanto o sangue percorria seu sistema. Ele a segurou por mais um momento, aproveitando a sensação de seu corpo quente e disposto, a imagem da excitação dela, suas bochechas coradas e seus olhos nublados pelo desejo, e então a deixou deslizar novamente até que os pés dela tocaram o chão.
— Tome cuidado, pequena. — ele sussurrou roucamente. — Não provoque a menos que você esteja preparada para lidar com as consequências. — Ele a segurou até ela conseguir ficar de pé sozinha, permitindo a si mesmo mais um beijo tenro contra a sua boquinha faminta antes de se afastar. — Te ligo amanhã. — ele disse, e então ele se foi, o protesto frustrado dela ecoando pela calçada vazia atrás dele.
Capítulo 24Raj trancou a porta de seu jazigo particular e foi diretamente para o bar, servindo-se com uma dose de vodka e jogando-a goela abaixo. Mas nada podia lavar o sabor persistente do sangue de Sarah. Talvez se nunca tivesse experimentado além da doçura de sua pele, ele poderia ter ficado longe dela. Mas agora… Aquele pequeno gole havia selado seu destino. Ele ainda poderia deixá-la para trás, podia correr de volta para Manhattan no jato mais rápido que ele possuía, mas isso não apagaria a memória, a necessidade. Ela era dele, e ele seria condenado se deixasse alguém, humano ou vampiro, tê-la. Mas será que Sarah estaria condenada se ele a tomasse ao invés?
Ele colocou o copo vazio de volta no bar e arrancou suas roupas, consciente do sol nascente drenando sua energia. Quando ele caiu por fim em sua cama, deu as boas-vindas ao doce esquecimento do sono diurno. Ao menos por algumas horas, estaria livre.
Quando acordou aquela noite, havia uma mensagem de Tony Scavetti esperando por ele em seu correio de voz, pedindo que telefonasse. Não era algo esperado, mas era bom saber que seus cartões de negócio não tinham ido para o lixo.
Raj tomou banho e se vestiu antes de ligar para o número do detetive.
— Scavetti.
— Raymond Gregor, Detetive. Você ligou.
— Sim. — Scavetti disse, soando como se preferisse arrancar cada um de seus próprios dentes a fazer aquela ligação. — Eu entendo que você gostaria de falar com algumas das testemunhas.
Já que isso era a última coisa que Raj esperava que o homem dissesse, ele demorou um minuto para responder. — Eu gostaria. — ele disse finalmente.
— Sim, bem. Eu fiz algumas ligações. O Dr. Edwards estará em casa esta noite se você quiser vê-lo.
— Estarei lá por volta das nove. — Raj disse. — Por que a mudança de atitude, Detetive?
— Não sei sobre o que…
— Não vamos fazer jogos, Tony. Não entre nós. — Raj acrescentou secamente. — Por que a repentina cortesia?
Ele escutou a forte respiração de Scavetti e então algo que soou como uma cadeira acertando a parede. — Você tem amigos, Gregor. Te darei isso. Amigos com um monte de dinheiro. E o dinheiro fala, mesmo quando deveria manter a porra da boca fechada.
E o verdadeiro Scavetti retorna, Raj pensou. Era quase reconfortante.
— William Cowens ligou para o Comissário e solicitou a nossa cooperação. — Scavetti acrescentou. — Solicitou a porra do meu traseiro. O Capitão desceu a lenha na gente com força. Então você conseguiu suas malditas entrevistas. Isso é bom o bastante?
— É, e obrigado.
— Sim, que seja. Ei, Gregor, já que nós estamos sendo amiguinhos e tudo, por que você está aqui?
— Desculpe?
— Quero dizer, o seu território habitual é Manhattan, certo?
Raj não lhe havia dito isso, e não deve ter sido fácil para ninguém cavar informações sobre ele e seus negócios. Talvez a polícia tivesse alguém dentro do círculo de Krystof.
— Deve haver mais do que apenas alguns caras locais que poderiam lidar com algo como isso. — Scavetti estava dizendo. — Então por que trazer um chefão como você da cidade grande? O que vocês estão tentando esconder?
Raj gostaria de ter a resposta para essa pergunta, mas tudo o que ele disse foi: — Você terá que perguntar isso para o Lorde Krystof. Como você, eu só faço o que mandam.
— Certo. — Scavetti disse, claramente sem acreditar em uma única palavra. — Assim como eu tenho certeza que você me avisará se descobrir qualquer coisa sobre aquelas garotas desaparecidas.
— Você e eu temos os mesmos objetivos, Detetive. Sinto muito se você não acredita nisso.
— Sim. Que seja.
O telefone ficou mudo contra a orelha de Raj. Ele desconectou e discou o número de Sarah que sabia de cor.
— Alô?
Ele não se identificou. — Temos um encontro com o Dr. Edwards às nove da noite. Você pode ir?
— Bem, boa noite para você também, Raj.
Ele ficou em silêncio por um momento, e então disse. — Sarah.
— Sim.
— Você pode ou não?
— Sim, meu senhor.
Ele fez uma careta. Droga, Emelie. — Não me chame assim.
— Mas Emelie…
— Emelie gosta de joguinhos.
Ele podia ouvir o ligeiro bater de teclas de computador e percebeu que ela continuava a trabalhar em outra coisa enquanto conversava com ele. — Estou interrompendo algo? — ele grunhiu.
— Bem, alguém certamente acordou do lado errado do caixão esta noite. Então você vai me pegar, ou o quê?
Raj teve um pensamento fugaz sobre a parte do ‘ou o quê’ da frase, mas ele disse. — Estarei aí antes das nove.
— Vejo você então.
— Sim, você verá. — ele disse e desligou, determinado a ter a última palavra.
Seu telefone tocou quase que instantaneamente. Era Sarah. Ele pressionou o botão com o seu polegar, e antes que pudesse dizer qualquer coisa, ela disse: — Boa noite, Raj. — e desligou.
Capítulo 25
— Passaremos pela Universidade depois de nos encontrarmos com o Edwards. — Raj disse quando Sarah abriu a porta da frente. Ela havia decidido trancá-la, e ele deixou bem claro a sua irritação quando ela finalmente o deixou entrar. — Quero falar com a colega de quarto de Trish, também. — ele continuou. — Você poderia ligar com antecedência e ter certeza de que ela estará lá.
Sarah ofereceu-lhe um olhar obscuro. — Quem te colocou no comando desta parceria? Talvez eu tivesse outra coisa em mente.
— Você tinha? — ele perguntou curiosamente.
Ela apertou seus lábios em aborrecimento e pisoteou até pegar o seu casaco do sofá onde o havia jogado mais cedo. — Não. — ela estourou e começou a colocar o casaco com raiva. Ela ficou surpresa quando Raj o pegou dela, deslizando-o graciosamente sobre seus braços, suas mãos demorando-se em seus ombros uns poucos segundos a mais.
Ela se arrepiou e ele ergueu suas mãos imediatamente.
— Nós levaremos o meu carro. — ele disse, segurando a porta aberta. Ele ergueu uma sobrancelha. — Isso é, a menos que você tenha outro plano?
Ela mostrou a língua enquanto passava por ele, arrancando-lhe uma repentina risada genuína. Aparentemente até o Raj poderia ser surpreendido. Bom saber.
Demorou meia hora para chegar à casa dos Edwards, que era uma imensa casa estilo rancho em um grande lote duplo num dos muitos subúrbios de Buffalo. Este subúrbio em particular possuía um tema country, com cercas de ferro brancas e grandes áreas de gramado onde caberiam seis casas em outras partes da cidade.
— Os Edwards têm filhos? — Sarah perguntou enquanto eles estacionavam na entrada de carros em formato de U.
— Não. Eles têm carreiras. — Ele olhou para encontrá-la observando a casa duvidosamente. — Você não aprova?
— Realmente não me importo de qualquer forma, contanto que eles estejam felizes. É só, eu olho para esta enorme casa e tento imaginar os dois perambulando lá dentro. Eles provavelmente poderiam passar dias sem ver um ao outro.
— Talvez seja isso o que aconteceu. Talvez a Estelle esteja na verdade trabalhando em algum lugar dentro da casa e o Dr. Edwards nem sabe. — Ele desligou o motor. — Vamos.
A casa estava toda iluminada, tanto do lado de dentro como de fora. Possuía um único andar, provavelmente com um porão, mas o telhado era alto e as janelas tiravam vantagem disso, esticando-se desde perto do chão até quase à linha do telhado. Altas portas duplas estavam ladeadas por painéis de vidro obscurecido, e eles puderam ver alguém se movendo lá dentro quando tocaram a campainha.
— Eu assumo. — Sarah disse. — Ele provavelmente está chateado, e uma mulher…
Raj fungou. — Até onde você sabe, esse cara matou a esposa. O marido sempre é o principal suspeito em casos assim.
Ela olhou-o pensativamente. — Ou você é um grande fã de programas policiais… — Raj revirou os olhos. — Ou você não me contou todos os seus segredos.
Ele deu-lhe um olhar seco.
— Ok, então você não me contou nenhum de seus segredos. Mas você irá. — ela disse confiante. — As pessoas sempre…
A porta da frente se abriu, interrompendo o que quer que fosse que as pessoas sempre faziam no mundo de Sarah. Donald Edwards era somente um pouco mais baixo que Raj, mas parecia ter metade de seu peso. A calça de veludo marrom, a camisa branca e o casaco de lã cinza caíam folgadamente sobre uma armação de ossos pesados, como se ele tivesse ficado doente ou tivesse perdido peso recentemente. Seu cabelo negro era cortado bem curto, liberalmente salpicado de fios prateados.
— Doutor Edwards? — Sarah disse. — Eu sou Sarah Stratton. Acredito que você esteja nos esperando? — Ela esticou a sua mão, que Edwards encarou sem emoção, como se não soubesse muito bem o que fazer com ela. Quando ele finalmente reagiu, foi de maneira lenta e metódica, um aperto frouxo que ele soltou quase que imediatamente.
Sarah deu a Raj um olhar perturbado.
— Raymond Gregor. — Raj disse, estendendo a mão por sua vez. O aperto de mão de Edwards veio mais rápido desta vez, como se já tê-lo feito com Sarah, houvesse-lhe lembrado de qual era a resposta adequada. Longos dedos finos envolveram os de Raj e ele podia sentir o pulso sob a pele do homem.
Eles esperaram que Edwards dissesse algo, que os convidasse a entrar ou talvez que os mandasse embora. — O Detetive Scavetti disse-nos que ligou? — Raj o lembrou.
Os olhos castanhos do homem se voltaram para Raj e ele assentiu. — Sim, claro. Entrem. — ele disse. Ele saiu da entrada da porta, dando-lhes espaço para entrar. Sua voz estava rouca pelo desuso. Ou este era um homem em profunda tristeza pelo desaparecimento de sua esposa, ou alguém que estava usando produtos farmacêuticos com muita frequência.
Eles seguiram-no para uma área de estar um pouco além do foyer. Era um cômodo estranho, grande e com teto alto, com um centro afundado que possuía um sofá em formato de L e diversas cadeiras, como também uma fogueira. Uma televisão de tela ampla estava em um lado, posicionada para que ficasse conveniente para quase todos os assentos no cômodo. Edwards sentou-se em uma cadeira demasiado pequena para a sua altura e gesticulou na direção do sofá adjacente.
Sarah sentou-se na beirada do sofá radiando preocupação, seus joelhos estavam juntos e suas mãos apertadas, o corpo inclinado de leve para frente. Raj sentou-se no braço do sofá próximo a ela. Ele não estava recebendo uma vibração clara do Edwards e isso o deixava nervoso.
— Ela está morta? — O rosto de Edwards não demonstrava nenhuma expressão. Ele nem mesmo olhou para o Raj, mas encarou Sarah, como se sabendo que ela era aquela que entregaria as más notícias.
— Não! Oh, não, Dr. Edwards. — Sarah esticou uma mão para tocar em seu joelho nodoso, coberto pelo veludo. Raj teve que se segurar para não pegar sua mão de volta quando ela permaneceu por tempo o bastante para dizer. — Sinto tanto. Não estamos aqui para isso.
O corpo inteiro de Edwards pareceu entrar em colapso. Raj sentiu o cheiro das lágrimas antes de vê-las correndo por debaixo das pálpebras fechadas do homem. Scavetti havia estado errado sobre a parte do casamento de Edwards. Este homem amava a sua esposa.
— Sinto tanto. O Detetive Scavetti deveria ter-lhe contado. — Sarah acrescentou tristemente. — Nós não…
— Nós fazemos parte de uma nova investigação. — Raj interrompeu. — Certas informações chamaram nossa atenção e estas informações levam-nos a acreditar que o caso da sua esposa pode ser parte de um esquema maior. Nosso propósito em estar aqui é coletar quaisquer detalhes que consigamos na esperança de conseguirmos uma visão mais clara do crime.
Sarah franziu a testa para ele, mas Edwards respondeu ao tom de negócios. Ele se endireitou visivelmente, sentando-se direito na cadeira e puxando uma respiração estabilizadora. Ele olhou diretamente para Raj. — Claro. — ele disse, parecendo alerta pela primeira vez desde que eles chegaram. — Apesar de que a polícia já esteve aqui diversas vezes. Eu não…
— Novos olhos, Dr. Edwards. — Raj disse vigorosamente. — E uma nova perspectiva. Somente algumas perguntas.
— Claro. Sinto muito. Vocês gostariam de algo para beber? Acabei de fazer café.
O café estava frio e intocado, e Edwards ainda não lhes havia dito muito mais do que eles já sabiam. Ele alegava não saber quase nada sobre o contato vampiro que sua esposa planejava encontrar, o que Raj achou inacreditável. Se a mulher que ele gostava tivesse saído para um encontro tardio com um vampiro desconhecido, ele com uma maldita certeza teria sabido com quem ela estaria se encontrando. Inferno, ele teria ido junto com ela.
— Você não se preocupou que a sua mulher estivesse encontrando alguém, talvez até um vampiro, tão tarde da noite? — Raj perguntou sem rodeios, o que fez com que ele ganhasse um olhar chocado da Sarah.
O Dr. Edwards parecia aturdido pela pergunta também. Ele não respondeu imediatamente, encarando Raj e depois desviando o olhar, como se debatendo se respondia ou não a pergunta. Quando ele olhou novamente, seus olhos estavam cheios de perda, e algo mais — culpa.
— Nós deveríamos ter jantado naquela noite. — ele disse baixinho. — Parece insignificante agora, mas na época… — Ele inspirou antes de continuar. — Eu havia conseguido uma espécie de golpe profissional e nós iríamos celebrar. Estelle cancelou no último minuto. Eu fiquei bravo. Ela tinha feito este tipo de coisa tantas vezes antes, sempre colocando seu trabalho na frente de tudo o resto. Ela deixou uma mensagem no telefone, cancelando nossos planos e me dizendo sobre a sua reunião. Nem liguei de volta.
— A sua esposa mantém uma agenda? Qualquer coisa que liste seus compromissos?
Lágrimas brilharam nos olhos de Edwards e ele engoliu com dificuldade antes de assentir. — No computador dela, mas a polícia já levou isso. Acho que eles não encontraram nada.
— Ela tem uma secretária? — Sarah perguntou. — Alguém que poderia ter ligado para o contato dela?
Edwards balançou a cabeça. — Estelle era muito cuidadosa com o seu trabalho. Pesquisa médica é um campo altamente competitivo, cruel alguns diriam, e ela já tinha sido passada para trás antes por uma colega. Ela raramente dividia quaisquer detalhes, e até mesmo seus assistentes sabiam somente sobre o que eles estavam trabalhando no momento, muito pouco de um grande projeto.
Raj ficou de pé para partir. Isso era inútil. — Obrigado, Dr. Edwards, por…
Edwards também ficou de pé, interrompendo-o. — Você deve entender. Vivemos bem aqui, mas nem sempre foi assim. É difícil ver sob sua personalidade profissional, mas Estelle é muito inteligente. Ela me disse que iria se encontrar com alguém da comunidade vampírica, alguém poderoso o bastante para garantir acesso às amostras de sangue que ela precisava. Acreditei nela, Sr. Gregor. E acredito que quem quer que seja que ela encontrou… — Ele respirou fundo antes de continuar — … aquele com quem ela se encontrou sabe onde ela está.
Raj fez uma careta e assentiu afiadamente. — Pelo que vale, acho que você está certo, Dr. Edwards. — Ele gesticulou para Sarah, indicando que era hora de partir.
Sarah deixou seu café intocado em seu delicado pires e ficou de pé. Ela havia tirado o seu casaco quando tinha se sentado e agora o recolheu, ficando pronta para partir. Algo chamou sua atenção, e Raj a viu caminhar até um grande aparador contra a parede do vestíbulo.
— Esta é a sua esposa? — ela perguntou para o Edwards, tocando uma fotografia numa moldura prateada.
— Sim. — o doutor respondeu, parecendo confuso. — Mas já entreguei a fotografia para a polícia.
— Você fez isso, senhor. — Raj disse rapidamente. — Dra. Stratton é nova no caso. Obrigado por concordar nos ver tão em cima da hora. Nós entraremos em contato. — ele adicionou e apressou Sarah pela porta.
Capítulo 26
Sarah esperou até que eles estavam no carro de Raj e de volta à estrada principal, antes de dizer: — Lembra quando disse a você que Krystof estava conversando com alguma mulher na recepção da universidade?
— Mmm. — Raj disse distraidamente.
— Era com Estelle Edwards.
Ele olhou-a em descrença. — Por que você não disse nada antes? — Perguntou ele.
— Nunca vi a fotografia dela antes. — respondeu ela calmamente.
— Mas você se encontrou com Scavetti…
— Durante cinco minutos, para que ele me dissesse todas as razões pelas quais não pertencia a seu precioso caso. Só sei a aparência de Trish porque ela estava no jornal.
— Porra.
— Não entendo, Raj.
— O que você não entende? — Ele perguntou. Ele parecia irritado, de repente, embora não necessariamente com ela.
— Qual é a conexão? Por quê Estelle Edwards, e por quê essas mulheres?
— Sangue. — ele disse de forma sucinta. — Aquele filho da puta.
— Explique por favor.
Ele fez uma careta. — Os vampiros ficam jovens para sempre. Os seres humanos gostariam disso também. Está tudo no sangue.
Os olhos de Sarah se arregalaram em entendimento. — Oh, meu Deus! — disse ela. — E Estelle Edwards é uma hematologista! Ela poderia fazer uma fortuna.
— Exatamente.
— Mas por que ninguém fez isso antes? Inferno, por que você não montou uma sociedade anônima?
Ele parou em um sinal vermelho e virou-se para olhá-la. — Por quanto tempo você acha que os vampiros continuariam livres se os seres humanos descobrissem uma maneira de nosso sangue fazê-los viver para sempre? — Perguntou ele seriamente.
Ela olhou-o quando percebeu o que ele quis dizer. — Certo. — ela disse. — Entendi. — A luz mudou e o BMW arrancou como se estivesse em uma pista de corridas. — Então Krystof está em apuros? — Ela perguntou.
O Sr. Inescrutável apenas deu de ombros, ignorando a sua pergunta, o que fez com que Sarah tivesse um súbito desejo de jogar alguma coisa nele. Infelizmente, não havia nada útil, e além disso, na velocidade que ele ia, o carro provavelmente falharia de uma forma espetacular e ela morreria. Ele ficaria bem, é claro. Vampiro estúpido.
Olhando para a frente, ele chicoteou o poderoso sedan pelas ruas vazias, sua raiva irradiando dele. Ela esperava que ele a levasse direto para casa e a deixasse na calçada, de modo que ficou surpresa quando ele virou em direção à universidade.
— O nome da colega de quarto é Jennifer Stewart. — disse ele abruptamente e recitou seu número de telefone. — Tente lhe ligar.
— Sim, meu senhor. — respondeu ela, o que lhe valeu um olhar de lado. Ela digitou o número.
— Se ela não estiver lá, vou deixá-la…
— Olá, é Jennifer? — Sarah fez uma careta para Raj. — Jennifer, meu nome é Sarah Stratton.
Jennifer Stewart poderia ser irmã gêmea de Patricia Cowens, Raj pensou. Elas tinham o mesmo rosto em formato de coração cercado por longos cabelos pretos encaracolados e o mesmo corpo recém-maduro, implorando para ser depenado.
— Eu disse à polícia. — ela estava dizendo. — Trish nunca foi a uma dessas festas antes. Ela era realmente doce, mas quase não ia a parte alguma. Era realmente importante para ela que seu pai a tivesse deixado viver no dormitório, e ela não queria fazer nada que o fizesse mudar de idéia. Ele é bastante protetor, como quase totalmente obcecado. Você sabia que ele comprou uma casa aqui só para poder visitá-la nos fins de semana? É fora do campus e é realmente enorme.
— Ele comprou uma casa por que Trish estava vindo estudar aqui? — Sarah perguntou.
— Yeah. Trish não se importava, no entanto. Ela disse que era por causa de sua mãe ter sido assassinada. Ele é realmente um cara muito legal para ser tão maciçamente rico.
Raj estava ficando impaciente com a conversa. Eles já tinham passado por uma longa e desnecessária série de apresentações, durante a qual Jennifer sabiamente pediu para ver a sua identificação. Raj conseguia entender isso. Afinal, a sua companheira de quarto estava desaparecida. Mas a verificação da identificação tinha sido seguida por uma longa explicação de por que eles deveriam chamá-la de “Jen” e não de “Jennifer” e nunca de “Jenny”. Raj a chamaria tudo que ela quisesse se isso significasse obter algumas respostas antes do próximo milênio.
— Não acho que ela tenha se divertido na festa, no entanto. — Jen estava dizendo. — Às vezes tem uma espécie de uma vibração estranha lá, entendem?
Raj não entendia. Ele não queria entender. O que ele queria era saber o que Jen tinha a dizer que poderia o ajudar a descobrir se Krystof estava negociando sangue vampiro. Cristo, se isso fosse verdade, o velho realmente tinha perdido o juízo. Ele perambulou até a pequena secretária do lado da janela, inclinando-se para observar uma fotografia das duas companheiras de quarto que estava presa num quadro de cortiça. Sem sequer olhar por cima do ombro, ele arrancou a fotografia do quadro e colocou-a no bolso antes de se virar a apoiar-se contra a secretária.
— Será que você ou Trish alguma vez foram a algo mais sério que estas festas? — Perguntou impaciente. — Qualquer coisa envolvendo vampiros?
Jen olhou-o com aqueles grandes olhos de menina e balançou a cabeça. — Oh. Você se refere às casas de sangue?
Isso era exatamente ao que Raj se referia e ele achou curioso que uma garota de olhar inocente tivesse percebido tão rapidamente. — Entre outras coisas. — ele disse. — Alguma coisa do gênero?
— Não, senhor. — disse ela, balançando a cabeça vigorosamente e jogando seus cachos brilhantes. — Nunca.
Raj se endireitou. — Jennifer. — disse ele numa voz baixa e sedutora. Seu olhar voltou-se para ele tão rapidamente como uma bússola para o norte.
Ele se pôs em um joelho à frente dela e pegou a sua mão, como um cortesão ante uma princesa. Jennifer, você sabe o que sou não é?
Sim. Até mesmo a voz mental dela era jovem e sem fôlego. Isso o fez sorrir.
Estou tentando encontrar Trish, Jennifer, e sei que você quer ajudar, não é?
Ela balançou a cabeça ansiosamente.
Vou ajudar você a lembrar algumas coisas, tudo bem?
É isso uma espécie de hipnose?
É exatamente isso.
Ela franziu o cenho. Você não vai me fazer cacarejar como uma galinha ou algo parecido, vai?
Raj queria rir, mas ele respondeu de forma séria. Não. Isso seria trair a sua confiança e eu nunca faria isso, querida.
Ok, então.
Raj ouviu Sarah se movendo sem parar atrás dele. Toda a conversa com Jennifer tinha levado apenas alguns minutos, mas ele de repente se deu conta do que Sarah estava vendo. Ele ajoelhado na frente da jovem, o seu olhar bloqueado no dele, com o rosto repleto de felicidade, como se ele fosse a pessoa mais maravilhosa que ela alguma vez conheceu. Ele limpou a garganta e falou em voz alta. — Jennifer, você mentiu antes, quando perguntei sobre as casas sangue?
Os olhos da menina se encheram com lágrimas que caíram por seu rosto. — Sinto muito. — ela sussurrou.
— Por que você mentiu, querida?
— Não tenho permissão. — disse ela com uma voz infantil. — Meus pais ficariam muito, muito bravos comigo.
— Você contou à polícia sobre isso?
— Não! Eles contariam!
— Eu não vou contar.
Ela sorriu feliz. — Eu sei.
— Assim, você pode me dizer a verdade, não pode? Você pode me contar sobre a casa de sangue.
— Sim. — ela balançou a cabeça vigorosamente. — Minha amiga Kara e eu fomos lá duas vezes. Foi assustador no início, mas os vampiros foram muito legais. E alguns deles eram bonitos também, assim como os livros de romance dizem.
Raj virou a cabeça para compartilhar sua diversão com Sarah e ficou surpreso ao encontrá-la olhando-o. Ele franziu a testa, mas mudou sua atenção de volta para Jennifer, não querendo perder a ela ou à imagem perfeitamente clara que ele estava recebendo sobre a casa de sangue que ele reconheceu como sendo aquela que estava sob sua gestão nesta cidade. — Você conheceu alguém na casa de sangue, Jennifer? Alguma pessoa especial?
A jovem corou. — Havia um cara. Ele realmente parecia gostar de mim. Dançamos a noite toda e ele disse que eu deveria voltar de novo, que talvez pudéssemos sair ou algo assim.
Raj franziu a testa para a imagem que ele estava recebendo dela, que não era exatamente uma imagem. Fosse quem fosse, tinha passado tempo suficiente com ela para seduzir sua mente e alterar suas memórias.
— Ele realmente gostou do meu casaco.
Raj piscou. — Do seu casaco?
— Não era realmente meu. — Jen confidenciou, inclinando-se mais perto dele. — Peguei emprestado de Trish. Ela tem roupas bonitas. — Jen parecia triste. — Ela estava usando o nosso casaco quando foi embora.
Raj olhou-a atentamente. — Você lembra o nome do vampiro, Jennifer? Aquele que dançou com você?
Ela franziu o cenho. — Não me lembro.
— Como ele se parece?
Ela franziu a testa novamente, olhando suas mãos unidas e concentrando-se. — Não consigo lembrar também. Sinto muito. — Ela olhou-o e ele podia dizer que ela estava ficando mais e mais perturbada enquanto tentava quebrar o condicionamento do outro vampiro, a fim de agradá-lo. Ele não queria isso.
— Está tudo bem. — ele disse rapidamente, acalmando-a. — Você foi muito útil esta noite.
— Eu fui?
— Absolutamente. — Ele a pegou pelo braço e levou-a até uma das camas gêmeas. — Você deve dormir agora.
— Estou cansada. — ela disse, bocejando amplamente e enrolando-se na cama.
Ele inclinou-se, puxou as cobertas sobre ela e tocou seu ombro. — Boa noite, Jennifer.
Ele ficou de pé e encontrou Sarah parada ao lado dele, quase vibrando com raiva. — O que… — começou ele.
— Lá fora. — ela disse furiosamente.
Ele deu-lhe um olhar estreito, não gostando que alguém lhe desse ordens. — Qual é o seu problema?
— Eu disse, lá fora.
— Olha Sarah, se você quer sair, vá em frente. Preciso ter certeza de que…
— Não vou te deixar sozinho com ela.
Raj sentiu sua própria raiva crescer para atender à dela. Ele agarrou seu braço, segurando-a quando ela tentou se afastar, puxando-a do quarto e levando-a escada abaixo, não largando-a até que estavam ao lado do seu BMW.
— O que diabos está errado com você? — Ele exigiu
— Comigo? O que está errado com você? — Ela exigiu. — Você praticamente estuprou aquela garota!
— Você está fora de sua maldita mente? — Ele disse, cada palavra enunciada de forma clara. Ele estava segurando a sua raiva pelo mais fino dos fios. Que ela iria acusá-lo de…
— Por que? Porque você não a tocou? Você pensa que estupro só acontece com o corpo? Pense outra vez. Sei como se parece…
— Você não sabe de merda alguma porque eu nunca faria mal a uma mulher. — ele rosnou, chegando tão perto que podia sentir o corpo dela tremendo. — Nunca mais me acuse de algo assim. Nunca. Você entendeu?
Sarah olhou-o. — Foda-se, Raj. — ela sussurrou. Ela virou-se e afastou-se pelo estacionamento, tirando o seu celular da bolsa.
Raj usou sua velocidade de vampiro para se colocar em seu caminho. — Volta para o carro. Não deixarei você aqui.
Ela riu. — Bem, não vou entrar no carro com um estuprador, então má sorte a sua.
Raj encarou-a, não acreditando no que ela estava dizendo. Como ela poderia pensar aquilo dele? Como poderia qualquer mulher achar que ele era aquele tipo de monstro, ainda mais aquela mulher?
Ela estava falando ao telefone com alguém e ele percebeu que ela estava chamando um táxi. Ele considerou agarrá-la e jogá-la de volta em seu carro. Inferno, ele poderia apagar este pesadelo todo de sua mente e ela nunca lembraria de nada. Mas ele não faria isso. Não de novo. E não com Sarah.
Ele viu-a passar pelo estacionamento, em direção à rua onde, presumivelmente, o táxi iria encontrá-la. Talvez tenha sido melhor assim. Ele queria uma desculpa para se afastar dela. Para fazê-la caminhar para longe dele. Para levá-la o mais longe possível de vampiros em geral, e dele em particular. Isto não era o que ele tinha em mente, mas serviria. Isso serviria perfeitamente.
Ele caminhou de volta para seu carro sem dizer uma palavra, sentado lá até que viu o táxi chegar, até que Sarah estava segura no seu interior. E então ele dirigiu pela noite sozinho.
Capítulo 27
Raj parou na frente do armazém e tirou a chave da ignição. Ele sentou-se lá por um tempo escutando o assobio do arrefecimento do motor e o zumbido ocasional de um grande caminhão nas proximidades da Estrada Genesee. O aeroporto estava silencioso. O último vôo com passageiros veio de Chicago por volta da meia-noite. Depois disso, os terminais praticamente fecharam até a manhã seguinte e os primeiros vôos de carga começavam às seis da manhã.
Ele tinha a conexão que estava procurando. Jennifer, a doce Jennifer, havia lhe dado. Eram as casas de sangue. O rapto de Trish Cowens nunca tinha feito sentido para ele. Por que qualquer vampiro perseguiria uma vítima na rua, quando poderia encontrar muitas mulheres nas casas de sangue que estavam dispostas a passar uma hora ou até mesmo o fim de semana se era isso o que o vampiro queria? Mas não era Trish Cowens quem o vampiro queria. Era Jennifer Stewart, que se parecia tanto com sua companheira de quarto e que havia usado uma jaqueta de couro na noite em que tinha ido visitar a casa de sangue. O mesmo casaco que Trish estava usando na noite em que foi levada.
Mas qual era a conexão entre as mulheres raptadas e o projeto de pesquisa sobre vampiros de Estelle Edwards? Ela precisava de humanos para testar a sua pesquisa? E quanto a Krystof? Mesmo que estivesse por trás deste esquema, ele certamente não tinha sido aquele que havia dançado com Jennifer Stewart na casa de sangue ou, para que conste, aquele que tinha raptado Trish Cowens. E ainda havia o fato de que tinha sido Krystof quem o trouxe a Buffalo para descobrir o que estava acontecendo.
Raj xingou e abriu a porta. Muitas malditas perguntas e poucas respostas. Ele caminhou até o armazém, esperando que estivesse vazio. Mas quando entrou, encontrou Em se dirigindo para um dos grandes SUVs, o único que sobrava no compartimento do armazém.
— Raj. — disse ela, virando na direção dele. — Não esperava que você aparecesse por aqui.
— Temos alguns humanos ativos na cidade, além desses guardas?
Ela piscou, obviamente surpresa com o seu comportamento frio, mas ele não estava em um humor amigável.
— Nenhum em quem confio, meu senhor, mas posso ter alguém aqui ao amanhecer.
— Faça-o. Preciso de mais guardas diurnos para este lugar e uma vigilância de vinte e quatro horas para Sarah.
Emelie pausou no ato de pressionar os botões do seu celular. — Você acha que ela…
— Não tenho tempo para fazer de babá dela, mas preciso saber qual é o seu envolvimento. Ela tem me mentido desde o começo e preciso saber o porquê. Simon encontrou mais alguma coisa sobre ela?
— Nada relevante, meu senhor, mas ele ainda está procurando. Há uma coisa estranha…
Raj olhou-a bruscamente. — O quê?
— Ao que parece, ela não existe até dez anos atrás. Talvez um pouco menos.
— O que isso significa?
Ela deu de ombros. — Não há certidão de nascimento, nem graduação do ensino médio, nem carteira de motorista que possamos encontrar até então. Obviamente, é possível que ela estudasse em casa e que não dirigisse um carro até que se tornou independente, mas isso está soando estranho para Simon. Ele está procurando mais profundamente.
Raj franziu a testa. — Me informe assim que você encontrar alguma coisa. Onde estão todos?
— Por toda a cidade, como você pediu, meu senhor. Nós estivemos rodando as casas de sangue entre nós, e posso lhe dizer uma coisa. Não há ninguém no comando aqui. Nenhum dos vampiros locais levantou uma sobrancelha quando apareci, e eu não passo exatamente despercebida.
Raj assentiu. A maioria dos vampiros eram homens, embora tenha sido mais por acaso do que por planejamento. Ao contrário do que a ficção popular queria fazer as pessoas acreditarem, não havia muitos vampiros no mundo. Apenas mestres vampiros tinham o poder de fazer e manter uma criança, e a razão mais comum para um mestre fazer crianças era defender seu território. Havia um forte preconceito cultural entre todos, exceto os vampiros mais jovens, que colocavam as mulheres na categoria “para-serem-protegidas”, enquanto os machos eram vistos como defensores. E então havia a necessidade de sangue — se um vampiro tinha uma amante do sexo feminino, mesmo que por um curto período de tempo, ele iria querer que ela permanecesse humana para que ele pudesse continuar a alimentar-se dela. Tudo isso resultava em mais vampiros do sexo masculino do que do sexo feminino, o que por sua vez significava que Emelie definitivamente deveria ter sido notada.
— Jozef me disse na minha primeira noite na cidade que Krystof estava fazendo crianças a torto e a direito. — Raj disse. — Os gestores das casas de sangue locais estão, provavelmente, tão acostumados com caras novas que não se incomodam em questionar ninguém.
— Ou talvez eles estejam sobrecarregados. — disse Emelie. — As casas a que eu fui estavam demasiado lotadas. Os sistemas de ventilação não estavam funcionando corretamente e os humanos estavam embriagados com feromônios vampíricos.
Raj balançou a cabeça, não totalmente surpreso com isso. — As casas de sangue são a chave, Em. Acho que Trish Cowens foi um erro. Alguém tinha intenção de levar sua companheira de quarto, mas levou Trish em vez disso. — Ele franziu o cenho. — E Sarah diz que viu Krystof conversando com Estelle Edwards em uma recepção da universidade.
O rosto de Em refletia seu choque. — Isso é bem condenatório, chefe.
Ele assentiu. — Parece que sim, mas maldição, Em, simplesmente não se encaixa. Krystof não teria me trazido até aqui se fosse culpado. Ele sabe que eu descobriria isso. Alguma coisa está me escapando. Só não sei o que é. — Ele tomou uma inspiração difícil. — Não importa. — disse ele finalmente. — Se for Krystof, vou lidar com ele mais cedo que o planejado, isso é tudo. E não pode ter sido ele a raptar as mulheres das casas, porque os gerentes das casas lembrar-se-iam se Krystof tivesse visitado. Estive em Corfu na outra noite e ninguém me disse uma palavra sobre Krystof. Assim, mesmo que ele esteja por dentro disso, não está agindo sozinho.
— Sejam quem forem — Em afirmou. — Devem estar ficando um pouco frenéticos com toda a imprensa que isso está recebendo. Precisamos encontrar essas mulheres antes que os bandidos comecem a se livrar das evidências, assumindo que eles ainda não o fizeram.
Raj balançou a cabeça em desgosto. — Faça as suas chamadas, Em. Traga mais alguns de nossos humanos ativos para cá. E então você e eu estaremos indo visitar a casa de sangue no Este de Amherst. Jennifer Stewart, a colega de quarto de Trish, foi lá duas vezes. Quero ver o aspecto das coisas por aquelas bandas.
Capítulo 28
A casa estava bem do jeito que ele lembrava. Construída no começo dos anos setenta, era uma casa de madeira e vidro — dois andares, com um formato incoerente de A que a teria feito parecer ridícula se não fosse pelas casas idênticas ao redor. Era uma espécie de comunidade de mini-chalés suíços no norte do estado de Nova Iorque.
O interior estava tão firmemente preso nos anos setenta como o exterior. A pequena entrada levava a uma sala de estar rebaixada com paredes que se alternavam em painéis de madeira e espelhos com veios dourados. Sem dúvida o carpete devia ter sido originalmente algum tipo de tapete felpudo, mas isso tinha sido há muito tempo. Este tinha sido substituído por algo mais resistente, algo que não mostrava as manchas de sangue. O interior estava escuro e esfumaçado, música pulsando com cada batida pesada que fazia o piso barato vibrar sob seus pés. E Em estava certa. O ar estava nublado com feromônios e suor humano.
Raj parou no batente da porta e esperou que alguém o desafiasse, ou que pelo menos reconhecesse que ele pertencia ali. Mas ninguém o fez. Ele olhou para Em e começou a andar em direção à parte traseira da casa, terminando em uma cozinha que havia sido esvaziada para dar lugar a duas grandes geladeiras subzero que estavam situadas lado a lado. Raj trotou até às geladeiras e abriu uma.
Havia fileiras e fileiras de sangue empacotado lá dentro. Ou o gerente da casa possuía um acordo com o banco de sangue local ou ele estava drenando mais dos doadores humanos do que qualquer um sabia. Raj fechou a porta pesada. Ele ainda não havia sido desafiado por ninguém. — Lá em cima. — ele disse a Emelie.
Ela assentiu e liderou o regresso até ao fundo do corredor, fazendo uma virada em torno de um frágil corrimão de ferro. A escadaria estava abarrotada, mas quando eles chegaram ao andar de cima, verificaram que o salão estava mais ou menos livre das atividades que estavam decorrendo atrás das portas fechadas. Os sons habituais estavam emanando por aquelas portas — mulheres, homens e vampiros, no auge da paixão sexual e liberação. Não eram poucas as explosões pontuadas com gritos de dor, alguns vampiros nem tentavam ser gentis.
Raj sentiu as suas próprias presas empurrando para serem liberadas. Ele não se havia se alimentado de uma veia desde a mulher do bar, na sua primeira noite na cidade, e embora o sangue empacotado continha todos os nutrientes que ele precisava, não possuía nem um pouco da satisfação visceral que ele tanto ansiava. Entre o sistema de ventilação ruim e a multidão de humanos dispostos, era como pedir a um homem faminto para andar por um McDonald’s sem provar nem uma batata frita. A porta da suíte principal se abriu e ele se virou, presas totalmente estendidas. Um vampiro estava lá, seu braço ao redor da cintura de um jovem que certamente teria desmoronado se não fosse pela assistência do vampiro.
— Raj! — O vampiro disse. — Soube que você estava na cidade. E aí, grandalhão?
— Livre-se do humano, Kent. — Raj grunhiu.
— Claro. — Kent disse concordando. — Volte para dentro, querido. — ele disse a seu companheiro. — Você parece um pouco exausto. — Ele virou o humano e deu-lhe um pequeno empurrão em direção à grande cama no fundo. O jovem mal conseguiu alcançar a cama, caindo de bruços quando seus joelhos bateram no colchão.
Kent assistiu, balançando sua cabeça com carinho. — Um doce garoto, mas um encontro barato. — Ele fechou a porta e se virou novamente para Raj com nada além de negócios em seu rosto.
— Vamos conversar. — ele disse. Kent pegou um molho de chaves do bolso de sua apertada calça jeans e abriu a porta do lado direito do quarto principal. Era uma espécie de pequeno escritório, com uma secretária de metal do tipo industrial e duas cadeiras. Não havia janelas, e pela configuração, Raj imaginou que aquele espaço devia ter sido cortado do quarto ao lado.
Kent se apoiou na secretária, suas costas contra a parede exterior, e indicou as duas cadeiras, olhando Em curiosamente antes de dizer: — Estou surpreso em ver você, Raj. Agradado, mas sem dúvida surpreso. Então, o que aconteceu?
Raj não sentou-se. Ele ficou bem ao lado da porta, consciente de que Emelie estava às suas costas e a casa cheia de vampiros ao seu redor. Kent era um amigo, ou havia sido uma vez, mas Raj não iria tão longe a ponto de dizer que confiava nele. Raj não confiava em ninguém que tivesse permanecido no enlace de Krystof. Ele estudou Kent e viu uma fina camada de suor trair seus nervos, viu a sua mão agarrar as chaves com tanta força que o sangue estava começando a escorrer por entre seus dedos. Raj encontrou seus olhos e os segurou até que Kent baixou seu olhar com um pequeno gemido. Ele deslizou para o chão e ficou de joelhos.
— Mestre. — ele forçou a palavra a sair de seus lábios, que estavam apertados dolorosamente.
Raj o deixou lá por mais alguns minutos, enquanto Emelie ficou totalmente parada ao lado dele, provavelmente lutando contra o próprio impulso de ficar de joelhos.
— Levante-se Kent. — ele disse finalmente, e sentou-se na maior das duas cadeiras, empurrando-a contra uma parede.
Kent suspirou aliviado e, depois de olhar para Raj, levantou-se de modo vacilante e se encostou fracamente contra a parede por cima da secretária.
— Como posso servi-lo, meu senhor? — Kent perguntou de um modo bastante subserviente.
— Eu não sou o seu senhor, Kent.
O outro vampiro ousou dar uma rápida olhada para o rosto de Raj, mas desviou o olhar rapidamente. Ele deu de ombros. — Krystof não se importa com nada fora dos limites de Delaware Park. Você é o único mestre que vejo em dois anos.
Raj disfarçou o seu desânimo. — Ninguém verifica as casas?
— Jozef, às vezes. Ele vem a cada poucos meses, mas ele esteve aqui no último mês, então não espero que ele apareça por algum tempo.
Raj ficou em silêncio, pensando. — Alguém lhe perguntou algo sobre mulheres desaparecidas?
— Mulheres?
— Três mulheres, Kent. Três desaparecimentos separados, mas cada uma delas havia visitado casas de sangue, incluindo esta aqui. Uma quarta… — Ele considerou o quanto queria dizer. — Uma quarta mulher possui uma conexão diferente com a comunidade vampírica, mas ela também desapareceu. Ninguém te contou?
— Não. Esta é a primeira vez que estou ouvindo isso.
Raj balançou sua cabeça. Kent estava falando a verdade, o que significava que Krystof nem sequer tinha tido o cuidado de avisar os gerentes das casas. Ele pegou a foto de Jennifer Stewart e Trish Cowens que ele havia roubado do quadro de avisos no dormitório e rasgou-a ao meio, para que ficasse somente Jennifer. — Você reconhece esta garota?
Kent estudou a foto cuidadosamente, mas balançou a cabeça. — Sinto muito, meu senhor, ela poderia ser uma das cem, uma das mil, mulheres que passam por aqui. Elas vêm e vão e, você me conhece, não presto muita atenção nas senhoritas.
— E quanto a todos aqueles pacotes de sangue lá embaixo, Kent? De onde estão vindo?
O outro vampiro pareceu congelar por um momento e Raj grunhiu suavemente. — Kent.
— Ordens. — ele engasgou, e Raj notou que ele estava lutando contra a compulsão de algum outro mestre. Ele teria caído no chão novamente, mas Raj colocou-se de pé e o segurou antes que ele pudesse atingir o chão.
— Ordens de quem, Kent? — Ele perguntou atentamente.
Kent balançou a cabeça, como se estivesse tentando clareá-la, e então jogou sua cabeça para trás e gritou. Raj reagiu instantaneamente, agarrando o outro vampiro com as duas mãos e cercando-os aos dois em uma esfera de puro poder. Kent caiu contra ele e Raj procurou em sua mente, desfazendo o emaranhado de comandos e contra-comandos que algum mestre desajeitado havia deixado para trás.
Quem quer que tenha feito isso tinha a força para sobrepujar a vontade de outro vampiro, mas não a delicadeza ou a experiência para fazer isso sem dano. Ele amaldiçoou a ignorância que poderia muito bem deixar Kent permanentemente danificado e sentiu a essência do outro. Era familiar, mas… quem? Alguém que ele conhecia? Ou somente alguém cujo poder ele havia cruzado anteriormente? Raj se afastou suavemente e ergueu Kent em seus braços. Emelie estava de pé pronta, e ela respondeu ao aceno de cabeça de Raj abrindo a porta e saindo no corredor para olhar ambos os lados.
— Está limpo, meu senhor.
Raj o levou para o quarto principal. Ele considerou deixá-lo na cama com o amante, mas havia muitas janelas no quarto e ele não podia ter certeza se Kent acordaria a tempo. Ele se decidiu pelo closet, enfiando o vampiro inconsciente no canto dos fundos e cobrindo-o com uma pilha de cobertas que obviamente haviam sido usadas antes. Saindo do armário, ele fechou a porta, verificou o humano que dormia e levou Emelie de volta para o corredor. Ela olhou-o, seus olhos cheios de perguntas, mas ele balançou a cabeça. — Mais tarde.
Eles tinham voltado ao SUV antes que qualquer um na casa estivesse consciente da passagem deles. Raj não disse nada por um longo tempo, tentando lembrar onde ele tinha se cruzado com aquele poder antes, o gosto do vampiro que havia bagunçado tanto com a cabeça de Kent. Não foi até que Em pegou uma estrada lateral, que passava por detrás do aeroporto e que dava para o armazém, que ele estalou os dedos para a lembrança repentina. — Trish Cowens. — ele disse.
— Meu senhor? — Em tirou seus olhos da estrada para lhe lançar um olhar preocupado.
— O bastardo que mexeu com a cabeça do Kent. É o mesmo idiota que raptou Trish Cowens. Ele é forte o bastante para esconder sua identidade, mas não forte o bastante para evitar fazer uma bagunça enquanto isso. E isso com certeza não é coisa do Krystof, mesmo estando fodido do jeito que ele está ultimamente. — Ele tamborilou os dedos no painel da porta, pensando. — Você e eu vamos visitar todas as casas de sangue da cidade nos próximos dois dias. Kent estava muito ferrado para fazer uma identificação, mas talvez os outros não estejam. Talvez o nosso homem tenha melhorado a sua técnica com a prática. — Ele deixou de fora a possibilidade de que o Kent era a melhoria e que os outros estariam piores — perigosamente piores. Ele olhou para o relógio. Menos de duas horas até o amanhecer. As casas de sangue já estavam fechando, e se ele não quisesse dormir no armazém, teria que fazer o mesmo. — Começaremos amanhã à noite. Estarei no armazém depois do pôr do sol. Os outros podem seguir em frente, mas você ficará comigo.
O celular da Emelie tocou e ele esperou enquanto ela atendia a ligação, dizia algumas poucas palavras e desligava. — A equipe humana adicional estará aqui pela manhã, meu senhor. Quem você quer que fique com a Sarah?
— Alguma mulher no grupo?
— O Yossi já está aqui, então a Angel está vindo. — ela disse.
Yossi era um dos vampiros de Raj. Angel era a sua amante humana de várias décadas. — Coloque Angel e um dos caras junto com ela durante o dia. Quero alguém que possa ficar por perto se ela sair. Quero saber sobre todo mundo que ela vê e sobre o que falaram.
Em lhe deu um olhar confuso enquanto dirigia-se para a garagem do armazém e estacionava próximo à porta, deixando o motor ligado. — Você acha que ela está tramando algo?
Raj fez uma careta. — Não sei. Mas alguém com rancor para comigo poderia pensar que ela é importante e um alvo fácil.
— Então, você acha que há mais humanos envolvidos do que apenas Estelle Edwards?
— Talvez. Encontrei o Edward Blackwood ontem à noite em um restaurante. Ele adoraria colocar suas mãos em um pouco de sangue de vampiro para investigação, e o instituto dele com certeza tem o dinheiro para financiar algo do gênero.
— Talvez este outro vampiro, aquele tentando se infiltrar, esteja oferecendo o próprio sangue como amostra. — Em sugeriu.
— Isso seria o bastante? O marido da Dr. Edwards parecia achar que ela precisaria de vários doadores.
— Não tenho a mínima idéia a respeito disso, chefe. Precisamos de alguém que entenda de sangue.
— Não somente de sangue, mas sangue de vampiro. — Raj disse pensativamente. — Ok, Em, estou indo. Vejo você amanhã.
Ele não perdeu tempo, cantando pneus para fora do estacionamento, foi direto para o seu covil no centro. Havia apenas uma pessoa que ele conhecia que poderia ter respostas para suas perguntas e estaria disposto a falar com ele. Ele era Peter Saephan, o médico humano particular de Raphael. Raj nem mesmo consideraria tal coisa antes de sua recente reunião com Raphael. Mas se o Lorde Vampiro do Oeste estava falando sério a respeito da cooperação, esta era a oportunidade perfeita para prová-lo. Além disso, se alguém estava vendendo sangue de vampiro, a comunidade vampírica do mundo inteira seria afetada. Camponeses com tochas não seriam nada comparados com a caça que estouraria se os humanos descobrissem sobre o que o sangue de vampiros poderia fazer por eles.
Ele verificou seu relógio novamente. Ainda era cedo na costa oeste e ele tinha tempo suficiente apenas para uma ligação antes do sol o levar.
Capítulo 29
Buffalo, New York
Sarah ficou na cama até tarde na manhã seguinte. Ela manteve seus olhos fechados, com esperança de que pudesse voltar a dormir, mas isso não estava acontecendo. Não que ela não estivesse cansada. Ela não havia dormido bem ontem à noite, mas não tinham sido os sonhos que a mantiveram acordada desta vez, tinha sido a consciência pesada. E ela estava começando a pensar que preferia os sonhos.
O problema era que ela não sabia exatamente porque estava se sentindo culpada. Seria porque ela não fez nada enquanto Raj fazia uma lavagem cerebral de modo vampiro em Jennifer Stewart? Ou porque tinha acusado o Raj de algo horrível sem nenhuma prova concreta?
Ela havia repassado o que tinha acontecido no dormitório de Jennifer várias e várias vezes em sua cabeça, deitada na cama encarando o teto a noite toda. E ela não conseguia deixar de pensar que tinha perdido algo. Algo vital.
Ela suspirou. O sol entrava brilhante em seu quarto. Suas janelas ficavam de frente para o leste, e somente a parte mais baixa estava coberta.
Normalmente, ela gostava que o seu quarto estivesse ensolarado e quente pela manhã, especialmente no inverno. Hoje, ele apenas destacava a poeira em seu armário e lhe lembrava que o Raj estava além do seu alcance. Claro, mesmo que estivesse de noite, ele provavelmente não falaria com ela. Ele tinha ficado bastante chateado ontem à noite.
Por outro lado, Jennifer tinha dezoito anos de idade e provavelmente dormia com o celular grudado na orelha. Sarah saiu da cama e pegou seu próprio celular de sua bolsa. Uma rápida verificada em seu registro de chamadas lhe deu o número que ela havia utilizado na noite anterior, quando ela tinha ligado para Jen do carro do Raj.
A garota respondeu imediatamente. — Jen. — Ela certamente soava alegre o bastante, Sarah pensou.
— Oi, Jen. Aqui é Sarah Stratton. Fui visitar você ontem à noite no dormitório, recorda? Sobre a Trish?
— Sim, claro. Oi, Professora Stratton.
— Tenho mais algumas perguntas para você. Poderíamos nos encontrar mais tarde hoje?
— Eu acho. Estou meio que estudando, no entanto. Tenho um trabalho de literatura infantil que é tipo trinta por cento da minha nota para entregar no dia que voltarmos das férias. Que tipo de idiota marca um trabalho para ser entrege um dia depois das férias de primavera? — ela reclamou, e então pareceu se lembrar com quem estava falando. — De qualquer forma — ela murmurou. — Tenho umas duas horas. O meu irmão vem me pegar mais tarde para ir até à casa dos meus pais. Acho que poderia te encontrar.
Sarah ignorou a falta de entusiasmo e disse, — Ótimo. Você está no seu quarto?
— Certo. — Jen disse, rindo de uma forma que dizia a Sarah que ela tinha feito uma pergunta idiota. — Como se alguém conseguisse estudar naquele lugar hoje! Está como uma tumba. Não. Estou na Union. Acho que poderia fazer uma pausa para comer, em talvez uma hora?
— Ok. — Sarah concordou, de repente se sentindo velha e fora de prática. — Encontro você na porta da frente.
— O Raj virá com você? — Jen perguntou com uma explosão repentina de entusiasmo.
— Hum, não, Jen, ele está…
— Oh, dã! Vampiro. — Ela riu. — Ok, olha tenho que ir.
— Espera, como você sabe… — Mas Jen já tinha desligado.
— Claro que sabia que ele era um vampiro! — Jen estava olhando para Sarah como se ela tivesse ficado louca. — Cara lindo, olhos assombrosos, consegue falar na minha cabeça. O que mais ele poderia ser?
Sarah olhou ao redor da sala de jantar lotada, mas ninguém estava prestando atenção, ou pelo menos ninguém que achava estranho falar a respeito de vampiros. — Não sei. — ela disse. — Apenas pensei…
— Você precisa expandir seus horizontes, Professora Stratton. Isso foi o que o meu professor de literatura me disse semana passada. ‘Expanda seus horizontes’. Claro que não acho que ele se referia à literatura de vampiros, mas, ei, cada um com o seu, certo? Não foi Shakespeare quem falou isso ou algo assim?
— Hum, não, isso foi o Cícero. Então você não acha que ele, sei lá, se aproveitou de você ontem à noite?
Jen ficou boquiaberta, ela pareceu tomar consciência do que estava fazendo e fechou sua boca, verificando ao redor rapidamente antes de dizer, — Raj é o cara mais doce que conheci. E vamos lá, Professora Stratton, até mesmo você deve ter notado que ele é um gato total. Queria que o meu último namorado fosse tão legal quanto ele. Tudo o que ele queria era…
— Ok. — Sarah ergueu a mão. Ela não estava realmente interessada em escutar o que o último namorado da Jen queria. — Isso está ótimo. Estou indo agora. Só queria me assegurar de que você estava bem.
— Claro. — disse Jen, parecendo confusa. — Por que eu não estaria? — O seu rosto se iluminou. — Escute, se você vir o Raj diga-lhe ‘oi’ por mim, ok? E diga-lhe…
— Eu digo-lhe. — Sarah disse rapidamente, ficando de pé. — Obrigada, Jen. Se precisarmos de mais alguma coisa, eu ligo.
— Ou o Raj poderia ligar. — Jen falou atrás dela enquanto Sarah se apressava pela sala de jantar. — Fico acordada até bem tarde.
Sarah não estava somente exausta, ela estava depressiva quando chegou a casa depois da reunião com a Jen. A sua primeira reação tinha sido alívio pela garota estar bem, mas enquanto dirigia para casa, tudo o que ela podia pensar eram as coisas que ela havia dito para Raj na noite anterior antes de lhe virar as costas. Ela se lembrou da expressão em seu rosto, a descrença em seus olhos quando ela o acusou de estupro, e então o seu olhar de traição enquanto o significado das palavras se aprofundava. Que idiota ela havia sido. Que grande imbecil. E ele ainda esperou até aquele estúpido táxi chegar e ela estar a caminho de casa antes de sair do estacionamento. Ela fechou os olhos contra uma onda de arrependimento. O que ela havia feito?
Ela estacionou na frente de sua casa e arrastou-se pela escada, se perguntando se ela deveria ligar para Raj e desculpar-se. Ainda era de dia, o que significava que não corria o risco dele desligar na cara dela. Ela poderia simplesmente deixar uma mensagem no seu correio de voz e se escapulir de volta para o seu cantinho de culpa. Mas, talvez ele nem escutaria a sua mensagem, talvez ele escutasse a sua voz e apertasse apagar, o que era o que ela merecia. Droga.
Ela destrancou a porta da frente, grata pela Sra. M estar na casa do filho hoje e não esperando para atacar com outro recipiente Tupperware. O seu celular tocou enquanto estava tentando abrir a porta, o que fez com que ela deixasse cair sua bolsa no chão, atrapalhando-se com as chaves enquanto apalpava seus bolsos procurando pelo telefone. Ela agarrou-o no quarto toque, um pouco antes de ir para o correio de voz.
— Alô. — ela disse, um pouco sem fôlego.
— Sarah Stratton?
Ela ficou parada, escutando com atenção. A voz era familiar, mas… — Sim. — ela disse cuidadosamente.
— Aqui é Edward Blackwood. Acredito que nos conhecemos, vamos assim dizer, na outra noite. Você estava jantando com o vampiro Raymond Gregor.
— Oh. — Seus pulmões se esticaram para produzir ar suficiente para aquela única sílaba, para manter a inspiração e a expiração. Ela caiu sobre as escadas, não se importando com sua bolsa jogada no chão perto da porta aberta.
— Claro, nós não fomos devidamente apresentados. — Blackwood estava dizendo. — Mas eu estava falando com aquele detetive da polícia, o Sr. Scavetti, e ele mencionou o seu nome.
— Eu vejo.
— Pensei que talvez pudéssemos almoçar, Srta. Stratton.
Ela podia sentir o seu coração palpitando forte em seu peito, mas não parecia ter nenhum sangue indo para o seu cérebro. Ele havia dito o seu nome de forma sarcástica? Ou ela estava ouvindo coisas que não estavam lá porque estava tão aterrorizada?
— Isso é muito gentil — ela conseguiu falar, — mas receio estar um pouco ocupada agora, com os exames e a minha própria pesquisa. Não poderia possivelmente…
— Fiquei com a impressão de que você estava trabalhando com o vampiro no caso dos Cowens.
Sarah colocou a cabeça entre as pernas, forçando o sangue a voltar para o seu cérebro para que assim ela pudesse pensar. Isso tornava a respiração mais difícil, mas ela teria desmaiado de outra forma.
— Você está bem? — A voz oleosa de Blackwood estava cheia de preocupação.
— Sim. — ela quase engasgou. — Sim, sinto muito. Você me pegou no meio da minha rotina de exercícios; estou um pouco sem fôlego, só isso.
— Ah. Sinto muito interromper. Nós no Instituto acreditamos firmemente em um regime de exercícios saudável. Eu mesmo me exercito com um treinador regularmente, apesar de que tenho uma fraqueza por boa comida. — Ele deu uma risada de autocensura que era tão falsa quanto qualquer outra palavra que ele havia pronunciado desde que ela tinha estupidamente atendido o telefone sem ter verificado seu identificador de chamadas. Não que isso teria importado. Blackwood era um homem persistente. Ela se lembrava bem.
— Poderíamos almoçar amanhã? — ele disse, provando a exatidão da sua impressão.
— Perdoe a minha franqueza, mas por que, exatamente, você quer almoçar comigo? — Sarah perguntou, lembrando-se a si mesma mais uma vez que ela já não era uma adolescente assustada. Ela era uma mulher crescida e se não quisesse almoçar com alguém, não tinha que o fazer.
— Bem, como você deve saber, estou ajudando o meu amigo William — que é o pai da Patrícia — a passar por esta terrível experiência. E como parece que você tem informações…
— O Sr. Gregor é um amigo, Sr. Blackwood. Nós estávamos jantando, nada mais. Não sei por que você acha…
— Vamos lá, Susan, não há necessidade disso comigo.
O coração de Sarah pulou com tanta força, que o sobressalto fez com que ela atingisse a ponta afiada da escada atrás de suas costas. — Desculpe? — ela sussurrou.
— O seu cabelo está de alguma forma mais escuro e, claro, já se passaram dez anos, mas se me permite dizer, você cresceu e virou uma mulher adorável, Susan. — Ele repetiu seu nome com ênfase.
— Não me chame assim. — ela conseguiu dizer com alguma convicção.
— Claro. — ele disse suavemente. — Eu certamente entendo o seu desejo por privacidade. Os tablóides sempre foram intrusivos, mas agora com a internet onde as imagens se espalham ao redor do mundo em apenas alguns momentos, eles ficaram completamente fora de controle. — Sarah encontrou a sua raiva.
— Isso é uma ameaça, Sr. Blackwood?
— Estou ofendido por você achar isso. — ele protestou, mas não colocou nenhum esforço verdadeiro nisso. — O meu único propósito em entrar em contato contigo é de ajudar um querido amigo a salvar sua filha antes que seja tarde. — Ele pausou para um efeito calculado. — Não é muito tarde, é, minha querida? Quer dizer, por que mais…
Sarah fechou seus olhos, sentindo o peso do destino inevitável caindo sobre ela. — O que você quer? — ela perguntou sem emoção.
— Um simples encontro. Talvez um almoço agradável entre dois velhos amigos.
Nós não somos amigos, ela pensou ferozmente, mas somente para si mesma. Blackwood podia ser um inimigo formidável, e ela tinha pouca ou nenhuma defesa contra o tipo de campanha que ele poderia lançar-lhe. — Quando? — ela perguntou.
— Amanhã no Chloe’s. Lá pelas duas? Ao meio-dia é tão comum.
E Edward Blackwood nunca queria ser comum. — Ótimo.
— Maravilha. Estou ansioso, então. Boa tarde… Sarah.
Ela sentou-se e escutou o ar morto, sentindo o pânico se acumular em seu peito até que se tornou uma dor física. Ela queria gritar pela frustração, raiva, desespero. Lágrimas encheram seus olhos. Ela queria falar com alguém; ela precisava falar com alguém. Ela queria o Raj. Mas ela não podia tê-lo, porque havia sido estúpida, demasiado cega, para ver o homem atrás do vampiro antes de deixar seus próprios medos fugirem com as suas emoções e descontado tudo nele.
Ela puxou seus joelhos para cima e deixou cair seu rosto em suas mãos, deixando as lágrimas virem enquanto o sol se punha abaixo do horizonte, sua luz difusa brilhando pela sua porta entreaberta.
Foi o som de vozes que a acordaram. Sarah ergueu sua cabeça. O quarto estava escuro e ela demorou um minuto para descobrir onde estava. Ela estremeceu com mais do que frio, percebendo que ela havia adormecido sentada nas escadas, sua porta permanecendo entreaberta. Suas costas doíam enquanto ela se esticava da posição desconfortável, e ela segurou o balaustre com força quando se levantou, apoiando as pernas que estavam com câimbras pelo tempo que ela esteve sentada. A batida da porta de um carro a fez pular e se apressar para a porta, fechando-a e trancando-a antes de olhar cuidadosamente para fora da janela. Mas ninguém estava lá. Ela ligou a luz da varanda de qualquer forma e cuidadosamente subiu as escadas, esperando que conseguisse dormir… e não sonhar.
Capítulo 30
Raj dirigiu até o armazém, estacionando nas sombras entre as luzes de segurança. O interior estava silencioso e sombrio. Alguns dos guardas humanos estavam relaxando na sala de estar, jogando o que parecia ser um vídeo game, com fones de ouvidos. Em estava inclinada contra um dos SUV’s, falando com a Angel, ou melhor, escutando atentamente o que a mulher bem menor estava dizendo. Raj não sabia o verdadeiro nome da Angel, mas dada a sua idade real e origem japonês, era pouco provável que fosse Angel. Para todos na comunidade vampírica, no entanto, ela era a Angel do Yossi. Ela também era um dos melhores ativos humanos de Raj, com uma mente rápida e um temperamento controlado, e como bônus ela conhecia várias artes marciais. Talvez o mais importante, ela podia mudar a sua aparência e atitude de forma impressionante. Esta noite, ela parecia com ela mesma, uma garota de dezoito anos, com cabelo negro até a cintura. Quando Em viu Raj, ela indicou que ele se aproximasse. Ele suspirou impacientemente e verificou o seu relógio, ainda havia algum tempo antes que ele pudesse ligar para a Costa Oeste. Ele caminhou até elas, dando a Em um olhar questionador.
— Diga ao nosso mestre o que você me contou. — ela disse a Angel.
Angel se apoiou em um joelho. — Meu senhor. — ela murmurou e esperou pela permissão para poder continuar a falar. Raj deu a Emelie um olhar aflito e olhou para a linha perfeitamente reta do pálido couro cabeludo no meio da cabeça escura de Angel. Ele odiava essa merda vampírica.
— Levante-se, Angel. — ele disse gentilmente. — E me diga o que está acontecendo.
— Sim, meu senhor. — Ela ficou de pé com a sua habitual economia de movimentos. — Como instruído, eu segui Sarah Stratton o dia inteiro. Ela permaneceu em casa até o final da manhã, depois ela foi até a universidade local e se encontrou com uma estudante, Jennifer Stewart. Jennifer é a companheira de quarto…
— Eu sei quem ela é. Vá em frente.
— Jennifer e Sarah se encontraram para o almoço. Fui incapaz de ouvir a maior parte da conversa delas, já que o local estava extremamente barulhento. No entanto, quando Sarah estava indo embora, Jennifer a chamou, dizendo-lhe que você, meu senhor, poderia lhe ligar a qualquer hora.
Angel manteve seus olhos abaixados com vergonha, claramente pensando que Raj estava mirando a jovem humana. Isso fez com que lembrasse desconfortavelmente as acusações ainda recentes de Sarah. — Que mais? — ele perguntou muito rudemente.
Angel abaixou sua cabeça rapidamente e continuou. — Sarah estava visivelmente perturbada após o encontro. Ela foi diretamente para casa, mas quando ela estava abrindo a sua porta da frente, o seu celular tocou. Na urgência de atender o telefone, ela derrubou diversos itens e deixou sua porta aberta enquanto falava, então eu fui capaz de ouvir o lado dela da conversa. Era Edward Blackwood quem estava lhe ligando, meu senhor.
Raj endureceu e ficou atento. — Blackwood? O que ele queria?
— Pelo que pude deduzir, ele queria se encontrar com ela. Sarah estava claramente relutante em fazê-lo, mas acabou por concordar com o encontro.
— Detalhes?
— Restaurante Chloe às duas da tarde amanhã. Já tenho tudo coordenado com o Simon. Ele vai fornecer um pequeno transmissor que estou planejando colocar em Sarah. Simon está bastante confiante de que ele será capaz de gravar todo o encontro.
Raj queria bater em alguma coisa. Por que Sarah iria se encontrar com o Blackwood? Ela tinha lhe dito que ele era amigo da família, alguém que ela queria evitar. Havia ela mentido a respeito disso, também? — Tudo bem, — ele disse finalmente. — Fique perto dela amanhã, Angel. Aconteça o que acontecer, eu não quero que ela se encontre com o Blackwood sozinha. Em, vamos colocar o Simon mais perto. Ele pode monitorizar a escuta e ajudar a Angel ao mesmo tempo.
— Sim, meu senhor. Já falei com ele, e ele irá montar o equipamento do outro lado da rua. O Chloe tem janelas em toda a parte da frente, então há uma boa chance de nós termos visual, também.
— Perdoe-me meu senhor. Mas há mais.
Raj olhou para Angel. — Mais?
— Meu senhor… ao que parece, isto é, eu presumo…
— Só diga, Angel. — ele disse impacientemente, pensando que talvez ele fosse um monstro se até mesmo Angel estava com medo de lhe falar abertamente.
— Não quero presumir, mas achei que você quisesse saber… — ela respirou pelo nariz e seguiu em frente. — Depois da ligação, ela ficou ainda mais perturbada. A porta dela ainda estava aberta e eu pude ouvi-la chorando. — Angel disse suavemente, sem olhá-lo diretamente.
Raj a encarou, seus pensamentos em branco pela fúria que ameaçava inundar cada centímetro de autocontrole que ele possuía.
— Vá dormir um pouco, Angel. — Em disse baixinho.
— Sim, senhora. Meu senhor. — Angel sussurrou.
Raj mal registrou a sua partida. As mãos dele estavam fechadas contra um desejo quase esmagador de enfiar um punho através do para-choque preto reluzente do SUV ao lado dele, sua mandíbula se apertou contra um uivo de frustração. Ele olhou para cima e até mesmo Em deu um passo para trás quando viu a fúria em seu rosto.
— Quem está com a Sarah esta noite? — ele grunhiu.
— Cervantes.
— Coloque-o no telefone. — Enquanto Em discava, Raj se virou e saiu como uma tempestade em direção à saída. Em o seguiu, lhe entregando o telefone assim que eles estavam no lado de fora. Ele o colocou em seu ouvido. — Onde ela está?
— Acredito que ela se recolheu para a noite, meu senhor. A porta ainda estava aberta quando cheguei, mas ela fechou-a e trancou-a um pouco depois. A luz da varanda foi ligada e depois ela ligou as luzes do andar de cima.
Raj xingou suavemente. Ela havia deixado a porta aberta? Isso não parecia coisa dela, não era? Mas que infernos ele sabia? Ele mal a conhecia. Droga. O que ele queria fazer era correr até a casa e se assegurar que ela estava segura, mas desde que ela claramente o contava como um de seus pesadelos, ele não achava que uma visita sua iria fazê-la se sentir melhor.
— Obrigado, Cervantes. Me deixe saber se algo mudar. — Ele entregou o telefone de volta a Em. — Iremos para Corfu e eu tenho uma ligação para fazer no caminho.
— Meu senhor. — Emelie se arriscou, — talvez nós devêssemos passar…
Raj se virou e perfurou-a com um olhar de ferro. — Isso não foi uma sugestão, Emelie.
Ela segurou a respiração. — Sim, meu senhor.
Ele caminhou até o BMW, abrindo a porta do passageiro com força e jogando as chaves por cima do teto em direção a Emelie. — Você dirige. — ele grunhiu.
Em pegou as chaves com uma mão e deslizou para o assento do motorista. Enquanto ela manobrava delicadamente para fora do estacionamento do armazém e ia em direção à rua, ele discou o número do Duncan.
— O que está acontecendo, chefe? — ela perguntou.
Ele a ignorou, encarando a janela e pensando sobre a Sarah chorando nas escadas de seu maldito apartamento duplex. Do receptor do celular, a voz de Duncan disse: — Boa noite, Raj.
Raj agradeceu a Peter Saephan e desligou. Ele havia prometido manter Raphael informado, assumindo que este assunto se tornasse algo mais que uma preocupação local.
— O que foi tudo isso, chefe? — A voz de Em interrompeu seus pensamentos.
— Era o médico de estimação do Raphael. — ele disse casualmente. Em se virou para encará-lo. — Preste atenção na estrada, Em. — Ela prestou atenção na estrada bem a tempo de evitar passar por um sinal vermelho. —
A última coisa que fiz esta manhã foi ligar para o Duncan. Havia uma mensagem esperando por mim quando acordei esta noite.
— Raphael deixou você falar com o Saephan?
O semáforo mudou e Raj se encolheu quando ela pisou fundo no acelerador. — Ele deixou. — ele disse, respondendo à sua pergunta. E então ele deu de ombros. — Se alguém está realmente vendendo sangue de vampiro, poderia ser prejudicial para todos nós. E tudo o que eu queria era fazer algumas perguntas.
— Uau. Talvez ele estivesse realmente falando sério a respeito daquele papo de aliança que você me contou.
Raj assentiu enquanto olhava pela janela. — Talvez ele estivesse.
— Então, o que o Dr. Saephan disse sobre a nossa pesquisadora desaparecida?
Ele olhou-a para ela. — Ele diz que se a Edwards está fazendo isso, ela precisaria normalmente do máximo de doadores que fosse possível, mas já que é com sangue de vampiro que estamos lidando, ele pensa que dois ou três devem bastar.
— Vampiros ou humanos?
— Ambos. Ele disse que a escolha por mulheres é provavelmente devido às preferências dos vampiros. Ela não pode apenas usar sangue empacotado para os humanos, porque a mordida física muda a química.
Em estava encarando a estrada, escutando cada palavra. — Então as mulheres provavelmente ainda estão vivas. Isso é algo.
— Por algum tempo de qualquer maneira, sim.
Eles viraram na Lake Road e a casa de sangue apareceu. Raj estudou a casa de fazenda branca e disse suavemente. — Bem, isso é uma melhora.
A cabeça de Em girou em direção a ele. — Eu queria falar contigo sobre isso. — ela falou. — Não posso acreditar que você veio até aqui sem reforços. E se…
Raj lhe deu um olhar frio. — Você está sugerindo que eu não sou capaz de me defender, Emelie?
Em pestanejou e engoliu com dificuldade, mas manteve sua posição. — Nem um pouco, meu senhor. — ela disse formalmente, mas então acrescentou com um rosnado. — e você sabe disso. Mas isso não significa que você seja invencível. Uma simples ligação, é só o que estou pedindo.
Raj se permitiu um sorriso sincero. — Feito. Podemos entrar agora, mamãe?
— Foda-se. — Em disse alegremente e abriu sua porta.
Eles cruzaram o gramado irregular juntos, evitando uma fila ordenada de frequentadores do clube que esperavam admissão. Dois seguranças vampiros estavam parados na porta, verificando identidades e entregando renúncias, que eram então assinadas e entregues a um terceiro vampiro que estava sentado em uma pequena mesa no lado de dentro. Os seguranças observaram Emelie de cima a baixo, o que ela ignorou, e assentiram respeitosamente para o Raj, mandando a multidão dar alguns passos atrás para que ele pudesse seguir em frente. A música estava tão alta quanto antes, mas pelo jeito todo mundo parecia preferir dessa maneira. Para que ter uma casa de sangue no meio do mato se você não puder aumentar o som? Havia um fluxo constante de vampiros e humanos seguindo para os quartos privados no andar de cima, e mais do que alguns gritos de prazer emanando dos cantos escuros no andar de baixo. Mas desde que eles permanecessem dentro da casa, Raj não ligava muito para o que eles faziam.
— Meu senhor.
Raj se virou para encontrar Mick esperando por ele. Quando seus olhos se encontraram, Mick baixou seu olhar imediatamente e curvou-se até a cintura, segurando a reverência por diversos segundos antes de se endireitar com um sorriso. — Estou honrado pelo seu retorno, meu senhor, e com tal adorável companhia. — Ele admirou a forma torneada de Emelie, a sua apreciação descansando em algum lugar ao sul do seu rosto.
Em deu a Raj um olhar de ‘posso bater nesse filho da puta’, mas, para o seu óbvio desgosto, Raj somente balançou sua cabeça com diversão. — Minha tenente, Emelie. — ele disse a Mick. Os olhos do outro vampiro se arregalaram de leve por causa do título de Em e Raj sentiu um salto de poder quando o grande vampiro instintivamente desafiou Em pela sua posição. Ele abafou um sorriso de satisfação quando Emelie jogou em Mick um aumento de poder e um sorriso vicioso. Ela podia parecer uma modelo de passarela, mas Em era durona. Certamente mais resistente do que qualquer um dos outros vampiros de Raj, e isso dizia muita coisa.
Mick cambaleou para trás, sua expressão estava sombria, mas ele deu a Em um relutante aceno de reconhecimento e se voltou para Raj. — Acredito que tudo esteja da maneira que você queria, meu senhor?
— Sim, parece ótimo. Escuta, há algum lugar onde possamos conversar?
Os olhos do outro vampiro se arregalaram com surpresa uma segunda vez. — Por aqui. — Ele os guiou através da casa para o que provavelmente tinha sido um alpendre fechado em outra época. Quando Mick fechou a porta que dava para a casa, a música alta se desligou como se um botão tivesse sido pressionado. — Às vezes, um vampiro não consegue nem pensar com esse barulho. — ele brincou. — Por favor, meu senhor. — Ele acenou para um conjunto de cadeiras, e então se sentou, inclinando-se e parecendo completamente relaxado, apesar do seu confronto com Raj a apenas algumas noites atrás. Raj havia notado isso a respeito dos vampiros. Eles ficavam mais confortáveis quando havia uma cadeia clara de dominância. Mick se acostumou facilmente com poder de Raj uma vez que Raj demonstrou sua força superior. Os problemas só surgiam quando não havia uma hierarquia óbvia, ou quando, como aconteceu com o Krystof, o que seria dominante deixava o seu reinado tão solto que ele se tornava ineficaz.
— Então, Mick. — Raj começou, — você sabe porque estou na cidade, certo?
Mick encolheu os ombros. — Sei o que ouvi. Krystof te trouxe para lidar com aquelas garotas desaparecidas porque os policiais o deixaram preocupado. — Ele olhou Raj especulativamente. — Jozef acha que é balela. Ele não está exatamente contente em ter você de volta.
— Sim, eu notei isso. — Raj disse secamente. — Também não estou muito contente em estar aqui. — Ele teve um pensamento repentino e se inclinou para frente, sua cabeça empinada curiosamente. — Jozef não acha que existe uma conexão vampírica com esses crimes?
— Ele não disse isso com todas as letras, mas fiquei com essa impressão. Por que, você acha que tem?
— Notei vários rostos novos na cidade. — Raj disse, mudando de assunto. — E não somente nas casas de sangue. Metade da carne no porão do Krystof na outra noite era novidade para mim.
Mick fungou. — Por que você acha que as coisas estão tão fora de controle por aqui? O velho está fazendo novos vampiros tão rápido que eu estou surpreso que os policiais não estejam investigando isso em vez de alguns pedaços desaparecidos de… — O olhar dele se voltou para Emelie. —… de jovens mulheres. Pelo menos alguns daqueles caras têm que ser de fora da cidade.
— Alguma teoria sobre o porquê de Krystof estar tão ansioso a ponto de converter? Alguma ameaça que você saiba?
Mick fungou. — Além de você, você quer dizer? — ele disse numa imitação inconsciente de Jozef. Ele balançou a cabeça. — Nah. Uns dois dos mais antigos desapareceram, no entanto. Talvez Krystof esteja preocupado…
— Antigos? — Raj interrompeu. — Como quem?
— Apenas posso te contar o que eu ouvi. Mas você conhece o Byron?
Raj assentiu.
— Sim, bem, o parceiro dele, Serge, desapareceu algumas semanas atrás. A princípio pensei que ele havia seguido em frente, sendo o Krystof do jeito que ele é. Mas Serge não teria ido embora sem Nina — que é o caso dele de longa data. Ela se converteu num maldito fantasma desde que ele se foi, e Byron não está dizendo nada. É com ele que você deveria estar conversando.
Raj fez uma careta. — Eles ainda têm aquela loja de vídeo na cidade?
— Sim, mas é mais provável ele estar em casa. Ouvi dizer que o Byron não está realmente prestando atenção nos negócios atualmente.
Raj e Emelie se levantaram, seguidos por Mick. — Tudo bem. — Raj disse. — Obrigado, Mick. Bom trabalho, por falar nisso.
Mick colocou uma mão sobre seu coração e se curvou novamente. — Obrigado, meu senhor.
— Sim. — Raj disse. — Ok. Nós estamos saindo daqui, Em.
Em seguiu os rápidos passos de Raj pela grama quando ele voltou para o BMW. — Chaves. — ele vociferou. Ela entregou-as com um suspiro.
— Sabia que isso não duraria. — ela murmurou.
Raj quase não a ouviu. — Você ou qualquer um dos caras ouviram qualquer coisa parecida nas outras casas de sangue?
— Não, meu senhor. Nem um sussurro. Somente que as casas estão superlotadas, e como te falei antes, ninguém nem mesmo pestanejou com os nossos rostos desconhecidos, embora eu falei para os caras diminuírem um pouco os níveis de poder, fazer parecer como se eles fossem mais novos do que realmente são.
Raj franziu. Vampiros antigos. Ele tinha que descobrir quem estava faltando além do Serge. Se os vampiros desaparecidos fossem fortes o bastante para ser um desafio, poderia ser alguém eliminando a competição antes de fazer uma jogada, mas se não fosse… Ele não conhecia o Serge ou o Byron tão bem, mas Serge nunca pareceu ser o tipo de atacar seus próprios e Byron era fraco.
Ele caiu no assento do motorista e ligou o carro. — Byron e Serge vivem próximos da loja, talvez até no mesmo terreno. Veja se… — Mas Em já tinha o endereço e estava digitando-o no teclado do GPS, com seu Blackberry na mão. — Muito bem. — ele disse.
— Eu vivo para servir, meu senhor.
— Certo. — Raj fungou.
A locadora de vídeo estava às escuras quando eles chegaram, o que consistia com o que Mick havia lhe contado, mas ainda surpreendeu Raj. Byron e Serge sempre haviam ficado abertos até tarde, já que os seus companheiros vampiros eram alguns dos seus melhores clientes, especialmente os mais velhos que eram lerdos para aceitar as novas tecnologias. Ele circulou ao redor da quadra até a casa modesta que ficava na parte de trás da loja. Esta era a parte antiga da cidade, de quando muitos mercadores viviam no mesmo prédio onde ficavam seus negócios. Com o aumento dos crimes na cidade, a maioria das lojas haviam se realocado à anos atrás, mas dois vampiros não precisavam se preocupar com a criminalidade. Uma simples demonstração do que podia acontecer e as gangues locais deixavam a loja em paz.
Ele e Em foram até a pequena casa arrumada. — Você acha que tem alguém em casa?
— Tudo está bem fechado, mas há pelo menos um humano dentro. — Em disse, concentrando-se. — E um vampiro também.
— Byron e Nina, se o Mick estiver certo. Ok, vamos tocar à campainha como os convidados indesejados que somos.
Eles nem se esforçaram para fazer silêncio, deixando suas botas baterem na varanda de madeira e apertando a bonita e pequena campainha com força por um longo tempo. Raj esperou um minutou e tocou novamente. Mesmo que Byron tivesse o cérebro que Deus deu a um hamster, ele não só saberia que havia dois vampiros em sua porta, mas que qualquer um deles poderia arrebentar a porta sem a cortesia de tocar na porra da campainha.
Uma fatia de luz fraca dividiu o batente da porta quando esta se abriu e o rosto pálido de Byron veio à tona. Ele encarou Raj por um longo tempo, deu uma olhada de relance em Emelie e de volta para o Raj, e então abriu a porta mais amplamente. — Entrem. — ele disse de modo indiferente.
Emelie passou por Raj para entrar primeiro — ela estava se tornando um pé no saco frequente quando se tratava da segurança dele. Ele pegou um breve lampejo de movimento ao fundo do corredor — Nina, ele presumiu. Byron fez um leve som de angústia, e Raj se virou para encontrar o outro vampiro assistindo-o com medo.
— Eu não vou machucá-la, By. Você deveria saber disso.
Os ombros de Byron caíram. — Não sei de mais nada, Raj. Nem uma maldita coisa. — Ele olhou ao redor como se não soubesse onde sentar, como se esta não fosse a sua casa. Finalmente, ele gesticulou para o que era obviamente a sala de estar e os guiou naquela direção, ligando um interruptor enquanto ele entrava no cômodo. Uma lâmpada permanente estava no canto, destacando uma grande cadeira confortável e uma velha mesa cheia de livros. Acompanhando-a estava um grande sofá estofado, com uma daquelas cobertas feitas à mão jogada por cima. A luz estava clara o bastante para se ler, mas suave o bastante para os olhos dos vampiros.
— Sente-se. — Byron disse. Ele dirigiu-se para a grande cadeira, mas pausou, e com um olhar para o Raj, acomodou-se no sofá ao invés, se apertando para dar lugar a Em, deixando cuidadosamente um espaço entre eles para que não tivessem que se tocar.
— Obrigado. — Raj disse. Ele se sentou na cadeira grande, mas não se acomodou nela. Sentia-se como um intruso nesta casa, nesta sala. — Desculpe te incomodar, By.
— Não tem problema. Acho que sabia que você chegaria aqui eventualmente.
— Por que isso?
Byron estudou o rosto de Raj cuidadosamente antes de responder. — Porque algo está acontecendo. — A voz dele tremeu com uma raiva que crescia com cada palavra. — E alguém te contou a respeito de Serge, ou você não estaria aqui. Então não faça malditos joguinhos comigo, ok?
Emelie se eriçou, mas Raj ergueu uma mão, acalmando-a. — O que você acha que está acontecendo? — ele perguntou suavemente.
— Como diabos vou saber? Krystof manda dizer que quer o Serge, então o Serge vai. Isso foi mais ou menos seis semanas atrás e nós não ouvimos uma única palavra dele desde então. Nina diz que ele ainda vive, e que ela saberia se ele estivesse morto. Mas onde infernos ele está então? — A voz dele se quebrou na última frase e Raj desviou o olhar, dando-lhe privacidade para seu pesar.
— Mick disse que podem haver outros desaparecidos também. — ele disse baixinho.
— Sim. — Byron murmurou. — Talvez. Havia uns dois que vinham sempre à loja, mas eu não os vi ultimamente. Um deles é o Barney. Ele é dos antigos e gosta de filmes, especialmente os clássicos que são difíceis de encontrar. Charles é mais novo… quer dizer, sabe, relativamente falando. Ele gosta de vídeo games e pornô – nossas grandes vendas, sabe?
Raj assentiu.
— Sim, bem. Não vejo nenhum dos dois a um tempo. Claro que tal como eu, eles podem estar muito assustados para deixarem suas casas.
Raj ficou de pé e inclinou sua cabeça em direção da porta, dizendo a Emelie que eles estavam indo embora. Byron olhou para cima surpreso e ficou de pé rapidamente. Ele cambaleou desajeitadamente e Raj franziu o cenho. — Você está se cuidando, By? Você não fará nenhum bem a Nina ou a Serge se você estiver passando fome.
— Nina não quer que eu deixe a casa. Ela está com medo que eu desapareça também… — Sua voz foi sumindo. — Ela não está comendo direito, não está dormindo. Não posso arriscar sua…
— Farei com que algum sangue seja entregue aqui… — Raj olhou para o relógio e franziu. — Amanhã à noite. Nesse meio tempo, se você precisar de algo, ligue para mim ou para a Em aqui. — Ele entregou a Byron um de seus cartões antes de voltar para a porta da frente. Ele começou a abri-la, mas a voz de Byron o parou.
— Você me informará? — ele pediu.
Raj se virou.
— Seja o que for que você descobrir. — Byron pediu. — Seja o que for, Raj. Me fale. Nada pode ser pior do que não saber.
Ele assentiu. — Eu te informarei. Nesse meio tempo, cuide-se e cuide da Nina. — Ele não podia sair da casa rápido o bastante, caminhando pela calçada e passando o portão até onde o seu carro estava estacionado. Ele destrancou-o, mas ao invés de entrar, ele caminhou às voltas pelo beco com passadas fortes. — Droga, Emelie. Que diabos Krystof está pensando?
— Talvez ele não esteja. — ela disse. Raj parou e olhou-a enquanto ela acrescentava. — Você esteve me dizendo isso por meses, inferno, por anos, que o velho não está bem da cabeça. Talvez ele finalmente tenha perdido a cabeça de vez e não esteja pensando em nada mais.
— Porra. Tudo bem, chegou a hora. Farei uma visita ao velho amanhã à noite. Ver o que ele sabe sobre tudo isso. — Ele fechou seus olhos, sentindo o sol ameaçando o horizonte. — Não posso fazer mais nada esta noite. Vamos embora. Não quero terminar dormindo com os macacos na jaula. — ele disse ecoando o comentário anterior de Em sobre o resto dos seus vampiros.
— Mas está tudo bem se for eu? — Em observou enquanto ela deslizava para o banco do passageiro no BMW.
— Sim, porque você vive para servir, certo? — Sua única resposta foi um dedo do meio levantado. Raj sorriu, e passou pela cabeça dele que talvez esta pudesse ser a última vez que ele iria sorrir a respeito de algo por um bom tempo.
Capítulo 31
,Sarah estava um pouco atrasada por isso ela se apressou pela rua em direção ao toldo elaborado em vermelho e dourado do Chloe. Ela tinha ficado relutante em utilizar o estacionamento com manobrista do restaurante, preferindo estacionar o carro ela mesma para o caso de precisar de uma fuga rápida. Mas isso significava ter que utilizar a via pública e ficar a dois quarteirões de distância. Ela olhou para as grandes janelas que ficavam a alguns metros acima do nível da rua com vista para a praça principal. Blackwood já estava lá, sentado em uma mesa próxima da janela em plena vista de qualquer pessoa que passasse por ali — sem dúvida de forma intencional. O maître estava próximo de seu convidado famoso que provava um vinho tinto, conversando amigavelmente.
A luz estava perfeita, dando destaque ao cabelo loiro falso de Blackwood. O cabelo loiro havia sido com certeza muito caro, mas era também um claro trabalho de descolorante… Ela sorriu e pela primeira vez desde que se tinha levantado pela manhã, ela sentiu-se um pouco melhor sobre tudo.
Não que isso fosse durar. Ela subiu as escadas, colocando-se de lado para deixar passar um grupo bem alinhado de homens de negócios que abriram a porta assim que ela se aproximou. Ela não tinha dado mais que dois passos no interior do restaurante quando Blackwood a avistou. Ele acenou e disse algo para o maître, enviando o homem correndo de forma agitada na sua direção.
— Srta. Stratton. — disse ele sem fôlego. — Permita-me…
— O banheiro feminino? — Ela perguntou, interrompendo.
— Oh — ele disse, claramente atordoado por ela não estar correndo para a mesa do grande homem — Sim, claro. Por aqui. Irei informar ao senhor…
— Obrigada. — Sarah fugiu pelo corredor ornamentado, chamando-se de todos os nomes para covardes que ela conseguiu lembrar. Não era como se assim ela pudesse fugir da reunião, então qual era o ponto de adiar os cinco minutos que levaria para lavar as mãos? Ela suspirou e abriu a porta, quase engasgando com o perfume do aromatizador. Ela lavou as mãos rapidamente, secando-as com algumas toalhas de papel que estavam numa cesta de vime sobre a pia. Jogando a toalha de papel em um cesto de lixo, ela procurou na bolsa o seu gloss labial. Não que ela se importasse com a sua aparência, mas adiava o inevitável por mais alguns segundos.
Uma jovem asiática entrou por trás dela e parou, agitando uma mão na frente do rosto. — Eca! Está muito perfumado aqui.
Sarah sorriu por cima do ombro. — Eu sei.
A mulher caminhou até à pia próxima de Sarah, lavando as mãos rapidamente e se inclinando para a frente como ela fez para estudar a sua tez perfeitamente dourada. Obviamente satisfeita com o que viu — e quem não estaria, pensou Sarah com inveja — ela estendeu a mão para pegar uma toalha de papel, sem querer jogando a bolsa de Sarah no chão. Ela rapidamente virou-se para pegá-la, mas Sarah havia feito o mesmo. Elas apanharam a bolsa juntas e então a mulher soltou, passando e dando um toque no ombro de Sarah com um sorriso de arrependimento.
— Desculpe.
— Tudo bem — Sarah respondeu — Não tem nada aqui além de lixo de qualquer maneira.
— Nem me diga. Não me estava a referir à sua, claro. Mas juro que a minha bolsa fica mais pesada a cada dia e não consigo descobrir o porquê. — Elas compartilharam um sorriso de conhecimento enquanto Sarah jogava a alça da bolsa em seu ombro, reunindo sua coragem e saindo para enfrentar a ‘música’.
Blackwood levantou a sua grande bunda da cadeira com uma aparência cortês e disse: — Obrigada por encontrar-se comigo, minha querida.
Sarah quase não o reconheceu, se concentrando em sentar-se, pendurar sua bolsa na cadeira e em abrir os botões do casaco. Ela não o tirou, não pretendia ficar muito tempo. Blackwood olhou-a atentamente. Ela tomou um nervoso gole de água quando ele começou a falar.
— Então, diga-me Susan. — ele começou. Ela lhe lançou um olhar furioso e ele recuou, fingindo estar atrapalhado. — Que tolice a minha. Obviamente é Sarah agora, não é? — Ele sorriu de forma insinuante. — Entendo o seu desejo por sigilo, você sabe. O brilho das câmeras pode ser desgastante. — Ele esperou que Sarah respondesse, que comentasse sobre suas misérias compartilhadas, mas ela manteve-se em silêncio, bebericando sua água e contando os fios da toalha de mesa. — Bem então. — Blackwood disse, preenchendo o silêncio. — Eu me pergunto como você passou a trabalhar com um vampiro neste assunto? Nem sequer sabia que você estava na cidade e acredite em mim, tenho ótimas fontes.
— Eu já lhe disse, Sr. Blackwood…
— Edward, por favor.
— Sr. Blackwood. — ela repetiu com firmeza. — O Sr. Gregor é um amigo. Nada mais. — E provavelmente nem mais isso, ela pensou consigo mesma, sentindo uma dor estranha no peito com o pensamento. — Estávamos apenas jantando juntos quando você nos viu.
As bochechas de Blackwood coraram e sua boca estava apertada em irritação óbvia, mas ele mudou de tática dizendo. — William está bastante convencido de que os vampiros estão por trás disso, sabe. Mas eu não estou tão certo.
Sarah olhou-o. — Você não acha que existem vampiros envolvidos?
— Não, eu… — Blackwood começou, mas depois olhou-a de forma curiosa e se inclinou para frente conspirando. — A menos que você tenha algo para nos dizer? Sempre achei que a polícia faria bem em ouvir o que você tem a…
— Não tenho qualquer conhecimento…
— Não brinque comigo. — Blackwood retrucou, qualquer vestígio de amizade desapareceu em um instante, sendo substituída por uma expressão rígida. — Entendo o porque de você não ter ido à polícia. — ele disse. — Aqueles idiotas não reconheceriam um verdadeiro talento, nem se ele mordesse as suas bundas. O que não entendo é porque você escolheu jogar sua sorte naqueles bebedores de sangue nojentos. Se você está tendo sonhos…
— Os sonhos foram há anos atrás. — Sarah insistiu. — Eu não tenho…
— Isso é bobagem! — Blackwood quase gritou. O espaço ficou subitamente silencioso. Blackwood respirou fundo e recostou-se com um sorriso, alisando a gravata cor de rubi sobre a maior parte de sua barriga e dispensando o maître que estava vindo de forma ansiosa em sua direção. Ele então tomou um longo gole de seu vinho e afagou a sua boca afetadamente com o guardanapo bem passado.
— Nós dois sabemos do que você é capaz. — ele disse numa voz baixa, aquele sorriso falso mais uma vez plantado firmemente em seu largo rosto. — Assim, não me insulte fingindo o contrário.
— O que você quer de mim? — Sarah perguntou com firmeza.
— O que eu quero é o que você sabe sobre Patricia Cowens e toda essa questão.
— Eu já lhe disse. Não sei de nada e não quero saber de nada. Você tem alguma ideia de tudo o que me fez passar naquela época? A polícia me tratou como se eu fosse uma assassina e meus pais pensaram que eu estava louca. Eles me internaram, Edward. Passei os últimos dez anos fazendo qualquer coisa que eu pudesse para esquecer esse chamado presente e nada que você diga vai mudar isso.
Blackwood a considerou com um sorriso presunçoso. — Nada? Bem, Susan, estou bastante certo que os tablóides ficariam encantados em descobrir que a sua adolescente psíquica favorita está viva e bem, e ainda por cima vivendo aqui em Buffalo. Por que, imagino que faria as primeiras páginas durante semanas se você aparecesse. Você estaria bem ao lado de vacas de duas cabeças e do Elvis. E claro, os tablóides estão por toda a internet também, não estão? O que você acha que seus colegas da Universidade pensariam disso?
Sarah pregou-se à sua cadeira, seu coração saindo pela garganta, vendo os últimos dez anos de sua vida irem por água abaixo com cada palavra dita por Blackwood. Ela estava tão errada sobre Raj. Ele não era um monstro. Ele não estava nem perto. O verdadeiro monstro estava sentado à sua frente na mesa deste elegante restaurante, com um sorriso presunçoso em seu rosto gordo que dizia que ele não dava a mínima para ela ou para qualquer outra pessoa.
— Sua recusa em encarar a verdade sobre o seu talento é uma perda para toda a raça humana.— ele estava dizendo. — Uma verdadeira perda. E, devo dizer, egoísta de sua parte. Você certamente deve isso…
— Não devo nada a ninguém. — ela conseguiu sussurrar — Muito menos a qualquer um de vocês. — Ela agarrou o guardanapo e cegamente o pôs sobre a mesa, dando de ombros e colocando a alça de sua bolsa sobre o ombro. Ela deslizou sua cadeira para trás para levantar-se, mas Blackwood colocou uma mão firmemente em seu braço sobre a mesa, segurando-a no lugar.
— Agora, Sarah, não acho que nenhum de nós …
— Diretor Blackwood? — Ela olhou e viu uma mulher de meia-idade que usava joias suficientes para alimentar uma pequena vila por um ano. — É você! Ouvi dizer que você estava na cidade…
Blackwood ficou de pé em um instante. — Claro, minha querida, e é uma alegria vê-la. — A mulher tomou seu braço, levando-o com ela para longe da mesa, chamando alguém do outro lado da sala. Sarah viu sua chance e aproveitou-a, saindo às pressas do restaurante. Ela passou por um maître de olhos arregalados e por um trio de matronas que ofegaram com sua grosseria. Como se ela se importasse.
Ela quase caiu das escadas na urgência de escapar. Havia uma grande van preta estacionada mesmo em frente ao restaurante, e uma parte de sua mente registrou o manobrista discutindo com o motorista enquanto ela passava correndo. Mas ela deixou isso para trás, junto com os olhares curiosos dos executivos de terno e adolescentes com seus iPod’s que ela empurrou para fora de seu caminho. Ela tomou um atalho através de uma passagem que fedia entre dois edifícios, correndo em torno de latas de lixo, quase tropeçando em um sem-teto que reclamou com raiva quando ela interrompeu a sua sesta. Ela chegou a seu carro, chaves na mão, grata pelo controle eletrônico das portas, porque ela não achava que poderia inserir uma chave na fechadura com as mãos tremendo do jeito que estavam.
Uma vez dentro do seu carro, ela trancou todas as portas e encostou a testa contra o volante, tentando pensar. Ela tinha que fugir, sair de Buffalo, de Nova York. Tudo o que ela tinha construído ao longo destes últimos anos desapareceria — sua carreira, sua educação — nada disso tinha importância agora. Ela começaria tudo de novo. Ela tinha guardado algum dinheiro, o suficiente para durar um ano se ela fosse cuidadosa. O som de algo raspando fê-la sentar-se rapidamente e olhar ao redor. Não tinha ninguém lá, mas ela não devia estar sentada aqui como estava. Ela respirou fundo e deu partida no carro. O carro pelo menos era dela. Ela o comprou em dinheiro, menos uma coisa para ela se preocupar, uma trilha a menos para levá-los a ela.
Ela saiu do estacionamento e foi para casa.
Sarah virou para a sua rua, passando o duplex e contornando o prédio para estacionar no beco. Uma cerca usada com um portão frágil servia como abertura do beco para o quintal mal cuidado que ela compartilhava com a Sra. M. Havia um cadeado no portão, mas ele estava no interior e ficava aberto na maioria das vezes. Nenhuma delas passava muito tempo aqui, a não ser para remover o lixo. Sarah se atrapalhou com suas chaves, enquanto caminhava para casa, tentando se lembrar qual delas abria a porta traseira. Ela nunca precisou usá-la antes, mas tinha certeza que a Sra. M. tinha lhe dado uma chave quando ela mudou-se.
Ela encontrou a chave certa e empurrou-a na fechadura, escorregando para dentro e fechando a porta atrás de si. Seu primeiro pensamento foi de verificar cada persiana e cortina do andar de baixo, fechá-las todas antes de correr escadas acima para colocar toalhas sobre as brechas das janelas de seu quarto. Estava escuro com as janelas cobertas, então ela ligou algumas luzes e andou de aposento em aposento fazendo um inventário. Não havia nada de seu mobiliário que ela não pudesse deixar para trás. Talvez ela tivesse feito isso inconscientemente ao longo dos anos, nunca comprando qualquer coisa que significasse algo para ela. Talvez uma parte dela sabia que esse dia chegaria, o dia que ela teria que abandonar tudo novamente.
Em seu escritório, ela abriu um pequeno cofre escondido na gaveta inferior da mesa. Seu passaporte e sua carteira de motorista sobressalente estavam lá, embora ela fosse precisar de uma nova identidade o mais rápido possível. Cartões de crédito seriam a maneira mais fácil de rastreá-la, assim eles teriam que ir imediatamente. Ela girou sua cadeira, ligando o computador e indo para o site de seu banco na Internet. Com alguns comandos no teclado, ela transferiu todos os fundos de sua conta corrente para uma conta separada sob o nome de sua avó materna. Sua avó Maude tinha falecido há muito tempo e não se importaria. Sarah tinha sido sua única neta e elas eram muito próximas. Ela morreu antes de tudo começar a desabar, o que foi provavelmente uma coisa boa. Em qualquer caso, a conta não permaneceria aberta por muito tempo. Eventualmente, alguém — a imprensa ou a polícia — rastrearia a transferência. Mas a essa altura o dinheiro teria ido, sacado de bancos ou caixas eletrônicos em seu caminho para onde quer que ela estivesse indo.
Feito isso, ela deu mais olhada ao seu redor. Nenhum dos móveis importava, mas seus livros com certeza ela gostaria de levar. Então seria o seu computador de mesa, e claro, seu laptop. As caixas de quando ela se mudou estavam no armário debaixo da escada. Ela poderia começar a arrumar esta noite e ter ido até a manha seguinte. O aluguel estava pago até o final do mês, mas ela daria à Sra. M. o suficiente para cobrir mais um mês, para compensar sua partida repentina.
Ela atravessou o corredor e foi para o seu quarto. Não havia memórias aqui. Sem amores perdidos, sem noites quentes de paixão. Ela pensou novamente em Raj. Ele seria um amante apaixonado, não havia nenhuma dúvida nisso. Lembranças de seus poucos encontros ainda causavam arrepios através de seus ossos e apertos de saudade em seu estômago. O que teria sido se eles tivessem feito amor?
Ela fechou os olhos e deliberadamente afastou o pensamento. Isso nunca aconteceria. A menos que ela desse uma parada em seu caminho para fora da cidade, ela nunca mais o veria. Seu peito inchou com a dor da ideia e ela esfregou distraidamente, surpresa ao encontrar-se chorando. — Não seja estúpida, Sarah. — ela ralhou consigo própria. — Ele nem mesmo está falando com você.
Ela tomou uma respiração profunda e estabilizadora. Roupas, ela pensou propositadamente, indo até o armário. Todas as suas roupas iriam. Ela não tinha muitas e não podia dar-se ao luxo de deixá-las para trás, em qualquer caso. Não se ela iria viver de suas economias por um tempo.
Ela estava lá, olhando ao redor e se perguntando por onde começar, quando a campainha tocou lá embaixo. Ela congelou, escutando, e pulou quando seu telefone tocou alto em contraponto com a persistente campainha da porta. Ela ignorou o telefone; fosse quem fosse seria encaminhado para o correio de voz. Em vez disso, ela andou em silêncio até a janela, estremecendo quando o velho piso de madeira rangeu ruidosamente sob seus pés. Levantando o canto de uma das toalhas que tinha pendurado sobre a haste da cortina, ela viu uma van preta estacionada em frente de sua casa. Era uma van de carga, sem janelas, e havia algo sobre ela — um homem descabelado surgiu da parte de trás, parecendo como se tivesse dormido lá dentro, ou talvez vivesse lá. Ele fechou a porta dupla ruidosamente e arrastou-se para o lado, onde abriu a grande porta de correr. O interior era surpreendentemente bem iluminado e estava repleto de equipamentos, uma espécie de… Sarah recuou consternada. Era uma van de imprensa, e ela agora lembrava onde a tinha visto antes. Tinha sido em frente do restaurante onde ela encontrou-se com Blackwood; ela se lembrava dela de sua corrida louca pela rua.
Seu coração afundou quando o sorriso falso Blackwood encheu seus pensamentos. A imprensa esteve lá o tempo todo. Não é de admirar que ele plantou-se de forma tão proeminente na janela da frente, ele queria que eles a vissem, que tirassem fotos dos dois juntos. Ele lhe mentiu. Quer ela concordasse ou não em trabalhar com ele, já havia planos em movimento para divulgar a coisa toda.
Ela amaldiçoou aquele homem desprezível, lutando contra o pânico que estava tentando mostrar sua cara feia. Não fazia sentido entrar em pânico. Era apenas um cara — a campainha tocou novamente e ela ouviu alguém gritar lá embaixo. Ok, dois caras. O homem da van olhou para cima e gritou alguma coisa. Ele era provavelmente de um dos jornais sensacionalistas, ou talvez de uma daquelas revistas de entretenimento. Elas seguiam de perto as aventuras de Blackwood, embora ela nunca tivesse sido capaz de descobrir o porquê.
Okay. Ela podia lidar com isso. Ela empacotou rapidamente, levando apenas o que ela precisava para o próximo mês ou algo assim. A maioria de suas roupas, até mesmo os seus livros estariam a salvo aqui, enquanto ela pagasse o aluguel. Ela poderia usar esse tempo para criar sua nova identidade, encontrar um novo lugar para morar e em seguida, quando tudo tivesse se acalmado, voltar e pegar o resto das suas coisas. Esse era o plano, sim. Ela definitivamente poderia fazer isso. Ela então pegou uma mala de seu armário e começou a arrumar.
Duas horas mais tarde, a imprensa local chegou em peso, não querando ser ultrapassada pelos tablóides quando se tratava de uma história sobre um dos seus. Eles bateram várias vezes em sua porta até que ela achou que suas juntas deviam estar sangrando. Eles ainda questionaram a Sra. M. da porta ao lado, as câmaras rolando. Sarah ligou alertando, mas a sua senhoria tinha levado tudo na esportiva, embora ela parecia estar aproveitando um pouco a notoriedade.
Sarah agradeceu a senhoria novamente e desligou, e então apenas para sua infelicidade, ela verificou seu correio de voz, excluindo uma mensagem após a outra, praticamente na primeira sílaba prenunciada. Aquele imbecil do Blackwood tinha ligado várias vezes, oferecendo a segurança duvidosa da casa do William Cowens como um refúgio. Quão gentil da parte dele, Sarah pensou cruelmente, considerando que foi ele quem colocou os chacais da imprensa sobre ela em primeiro lugar.
Ela subiu as escadas para continuar a empacotar, dizendo a si mesma que toda essa coisa iria estourar rapidamente. Alguma outra história iria capturar a atenção dos tabloides e eles esqueceriam dela e veriam que tudo isso não era realmente uma história em tudo. Ela espiou pela janela novamente. A mulher do noticiário local estava lá embaixo, fazendo algum tipo de reportagem ao vivo. Mas os caras dos jornais pareciam ser a fonte principal da sua matéria. Era suposto estar frio esta noite, e, além disso, havia pouca coisa que eles pudessem explorar em uma casa fechada. Uma vez que eles tivessem ido embora, ela carregaria algumas coisas para seu carro e iria embora antes do sol nascer, sem que ninguém mais soubesse.
Isso não era bom. Sarah olhou pela janela do andar de cima pela enésima vez. Isto definitivamente não era nada bom. Ao invés de desistirem e irem para casa assim que o sol se pôs, a multidão de repórteres em seu gramado da frente só tinha aumentado. Lágrimas encheram os seus olhos e ameaçaram transbordar, mas ela as enxugou, assim como tinha feito dez minutos atrás, e dez minutos antes disso. Chorar não ajudaria em nada. Ela tinha considerado ir lá e fazer uma declaração, mas desistiu da ideia quase que imediatamente. Ela sabia por experiência própria que isso só aumentaria ainda mais o interesse da mídia. E eles nunca ficavam satisfeitos, especialmente nos dias de hoje em que não havia nenhum segredo muito pessoal, nenhum detalhe demasiado íntimo, para ser publicado nas páginas de jornais, revistas e sites, onde seriam sugados por um público que abraçava o direito de saber de toda e cada mínima coisa.
Uma sirene tocando fez com que ela voltasse correndo para a janela. Luzes vermelhas piscaram quando um sedan da polícia chegou. Já não era sem tempo, ela pensou furiosamente. Todos esses repórteres e câmeras tinham que estar violando uma regulamentação ou outra. Deixe os policiais levá-los embora e ela estaria bem atrás deles, correndo tão longe e tão rápido quanto poderia. Alguém começou a bater em sua porta lá embaixo, mas ela ignorou-o como tinha feito com todos os outros.
— Sarah Stratton. — uma voz profunda gritou — Polícia. Abra.
Ok, isso era novo. Ela correu escada abaixo, tendo o cuidado de verificar se era realmente a polícia. Ok, então não era a polícia; era apenas um policial. Tony Scavetti. E o que diabos ele estava fazendo aqui? — Abra a porta, Sarah! — Ele bateu outra vez, sacudindo a estrutura da porta, e ela começou destravando as diferentes fechaduras para poder abrir a porta.
Sarah estava em sua sala da frente encarando Scavetti que estava mais furioso do que ele tinha o direito de estar. Ela não tinha pedido por nada disso. — Olha. — ele estava dizendo. — Isto é uma besteira. Quero que este circo da mídia acabe agora. Vou levá-la em…
— Eu não vou a lugar nenhum. — ela insistiu, recusando-se a ser intimidada. Ela conhecia os seus direitos. — Se você quer que isso acabe, sugiro que comece por se livrar dos palhaços que estão lá fora. — Ela apontou um dedo na direção do seu lotado jardim. — Não fiz nada errado.
Scavetti deu um passo para mais perto, invadindo o seu espaço pessoal, tentando ameaçá-la com a sua altura e volume. — Se eu tiver que prendê-la…
— Com que motivos? — Sarah exigiu, ficando bem na sua frente. Ela passou toda a sua vida sendo menor do que a maioria das outras pessoas. Ele teria que vir com algo muito melhor do que o seu tamanho se queria intimidá-la.
— Interferência em uma investigação em curso, retenção de evidências e…
— Sarah latiu uma gargalhada. — E que provas você teria disso, Tony? — Ela zombou. — Você quer dizer ao D.A. que eu tenho mantido os meus sonhos de você? O que você é agora, o meu psiquiatra?
Scavetti corou de raiva e abriu a boca para responder, mas outra pessoa começou a bater na porta. — Sarah. — uma mulher estava gritando.
Sarah franziu o cenho. Seu primeiro instinto foi o de ignorá-la, assim como havia ignorado todos os outros antes, mas havia algo de familiar na voz. Ela começou a ir em direção à janela mais próxima da porta, mas Scavetti chegou lá primeiro.
— Quem diabos é essa? — Scavetti rosnou.
Espiando em torno dele pela persiana semiaberta, Sarah deu uma segunda olhada. Era a mulher do banheiro do restaurante. Aquela que tinha derrubado a sua bolsa. O que diabos ela estava fazendo aqui?
Como se tivesse ouvido a pergunta silenciosa de Sara, a mulher chamou urgentemente através da porta, — Sarah, meu nome é Angel. Eu trabalho para Raj. Quero ajudá-la. Deixe-me entrar.
O coração de Sarah deu uma pequena sacudida. Raj? Mas isso significava que ele sabia do seu encontro com Blackwood. Tinha ele a espionado todo esse tempo? Por que ele iria fazer isso, a menos…
— Sarah, por favor. Deixe-me ajudá-la.
Sarah correu até a porta da frente. Se havia uma pessoa em quem ela confiava no meio dessa confusão toda, ela percebeu de repente, era Raj.
— O que diabos você está fazendo? — Scavetti exigiu, estendeu a mão para ela, mas Sarah abriu os bloqueios, puxando a porta apenas o suficiente para espiar cautelosamente. — Como posso saber que Raj lhe enviou?
— Não sei. — Angel disse, parecendo perturbada com a pergunta. Ela começou a dizer algo, mas cortou-se com uma maldição, colocando os seus dedos num ouvido, como se tentasse escutar alguma coisa. Olhando com atenção, Sarah viu que ela estava usando algum tipo de rádio fone no ouvido, como os seguranças de Rafael usavam. Ela assentiu para o que a outra pessoa estava dizendo. — Vá em frente e ligue para Raj. — Angel disse a Sarah. — Não, espere. Ligue para Emelie. Ela disse para lhe dizer…
Se essa mulher sabia tanto o nome de Raj como o de Emelie, então ela tinha que ter sido enviada por Raj. Sarah abriu a porta e deu um passo para trás. Angel entrou e fechou a porta rapidamente, encerrando a corrida de ruído e corpos que tentavam segui-la. — Obrigado. — ela disse sem fôlego. — E eu realmente trabalho para Raj.
— Você estava no restaurante hoje.
— Estava. Nós sabíamos sobre a reunião com o Blackwood e não queríamos que você fosse sozinha. Por uma boa razão, como se pode constatar.
— Eu não entendo. — disse Sarah. — Por que Raj… — Scavetti limpou a garganta ruidosamente atrás dela. — Ah. — disse ela virando ligeiramente para indicar o irritado detetive. — Este é o detetive Scavetti, Departamento da polícia de Buffalo. Ele quer…
— Você não tem que ir com ele. — Angel disse imediatamente, dando a Scavetti um olhar hostil. — Raj vai estar aqui…
— Que porra esse maldito vampiro tem a ver com isso?
Angel o interrompeu com um frio olhar. — Vamos esperar até que ele chegue aqui antes que qualquer coisa seja decidida.
— Quem o nomeou Deus? — Scavetti rosnou. — Não tenho que esperar por um maldito vampiro…
— Pare — Sarah gritou para Scavetti. — Vamos esperar. — ela lhe disse com firmeza. — A menos que você esteja preparado para me tirar daqui chutando e gritando na frente de todo mundo. — Ela fez um gesto para a multidão de pessoas enlouquecidas da imprensa.
Scavetti franziu a testa, claramente pensando em fazer exatamente isso.
— Vamos, Tony. — ela o persuadiu. — Vai machucar se você esperar até que Raj chegue aqui? — Se você me arrastar lá para fora vai sair em todos os jornais. E que bem isso vai fazer? Você não quer me envolvida no seu caso, e isso é basicamente a última coisa neste mundo que quero também. Talvez juntos possamos descobrir alguma coisa.
Scavetti olhou-a, e ela poderia dizer que ele não estava feliz. Mas ela também sabia que havia tocado em um nervo ao falar da imprensa estar sobre toda a história. Ele finalmente deu-lhe um aceno de cabeça, curto e infeliz.
— Muito bem. Vamos esperar. — Ele verificou o relógio. — Dez minutos. Depois disso, não dou a mínima para o que você diz. Vou levar a sua bunda daqui.
Sarah sabia quando parar. — Obrigado, Tony. Vou lá pra cima para embalar algumas coisas, apenas no caso. — ela disse.
— Boa ideia. — Angel disse. Ela deu um olhar presunçoso a Scavetti enquanto seguia Sarah para as escadas. — Vou te ajudar com isso.
Capítulo 32
Raj abriu seus olhos para a familiaridade do seu lar em Buffalo. As luzes já estavam acesas, ligadas por um temporizador que permitia que quando ele acordasse houvesse o pouco de luz que ele precisava para conseguir enxergar. Enquanto ele se levantava da cama, a luz aumentava até atingir um nível estável, um nível suave de iluminação. O seu primeiro pensamento foi que estava fome, mas ele não tinha tempo para um doador vivo. Ou isso foi o que ele disse a si mesmo. Ele não estava disposto a enfrentar sua relutância em tocar mulheres anônimas por sangue e sexo. Estava sem disposição para lidar com o significado desta relutância levando em conta os seus sentimentos por Sarah Stratton — que eram passado, ele lembrou-se firmemente.
Ele foi até o refrigerador e tirou uma bolsa de sangue. Soltando a válvula de libertação o suficiente para evitar que o conteúdo explodisse por todo o seu microondas, ele configurou-o para um rápido aquecimento. Menos de um minuto mais tarde, ele revirou a bolsa entre suas mãos para nivelar a temperatura e bebeu rapidamente, tentando não pensar na mulher que ele preferia estar bebendo no lugar disto.
A memória do doce sangue de Sarah o atingiu de todo jeito — a explosão repentina de quando ele tinha mordido aquele lábio cheio com as suas presas, o calor que sentiu quanto o sangue acariciou a sua língua e deslizou por sua garganta com uma lentidão extraordinária. Seu cérebro continuou, pensando o quão delicioso seria tocar sua veia, perfurar a suavidade aveludada daquele pescoço enquanto seu pênis entrava em seu pequeno corpo apertado. Ele podia sentir as suaves curvas dela nas suas mãos, ouvir os pequenos e famintos choros enquanto ele a pressionava contra a parede — Chega!
Ele jogou a bolsa vazia de lado com desgosto e forçou seus pensamentos em outra coisa. Sarah não queria nada com ele, e ele tinha coisas melhores para fazer do que perseguir uma mulher que pensava que ele estuprava pequenas garotas por diversão. Ele sentiu um fluxo quente de raiva e deu boas vidas a isto, deixando-a encher seu peito com determinação enquanto começava a tomar banho. Ele se encostou contra a parede de azulejos, olhos fechados, braços esticados em frente a si enquanto a água quente atingia seu pescoço e costas, revendo tudo que sabia até então. Ele pensou novamente nos rostos das jovens mulheres, imaginando as cenas nas casas de sangue de onde elas tinham desaparecido. Quando ele chegou em Estelle Edwards, seus pensamentos deslizaram até parar. Tudo girava em torno dela. Ela era a laranja na tigela de maçãs, a rosa solitária no buquê de margaridas. Ela era a chave. A pesquisadora especializada em sangue, que foi vista falando com Krystof e depois disse ao marido que tinha um contato na comunidade vampira que poderia providenciar…
Ele praguejou viciosamente quando o pensamento o atingiu. Ele deu um soco contra o azulejo com tanta força que este rachou sob a tensão.
Jovens mulheres estavam desaparecidas, mas também vampiros antigos! Antigos, mas não poderosos. Este era o elemento crucial. Eles eram velhos o suficiente para terem desenvolvido a característica que mais interessava aos pesquisadores humanos — resistência às doenças e ao envelhecimento — mas não poderosos o suficiente para dominar suas próprias crianças ou para dobrar vampiros à sua vontade. E se os vampiros desaparecidos fossem prisioneiros, assim como as jovens mulheres? E se todos eles — vampiros e humanos — não fossem nada mais do que ratos no laboratório de Estelle Edwards?
Mas estão por que trazer Raj para desvendá-lo? Krystof devia saber que ele nunca ficaria parado com algo como isso. A não ser que este fosse o plano do velho o tempo todo? Talvez ele tivesse perdido o controle do projeto e não sabia como desligá-lo ele mesmo. Cristo! Isto também não fazia nenhum sentido.
Ele desligou o chuveiro, revoltado com todo esse negocio. Ele secou-se rapidamente e quando estava semivestido o seu telefone tocou. Ele o pegou, não surpreso em ver que era Emelie.
— Em. — ele disse a saudando. — Como foi hoje com Sarah e Blackwood?
Emelie respirou fundo pelo que estava prestes a falar e disse: — Certo, vamos começar pelo restaurante, então. — Raj franziu a testa, mas Emelie lançou-se em seu relatório, então ele a ouviu cuidadosamente. — Angel conseguiu colocar a escuta em Sarah com antecedência, então conseguimos a coisa toda. Blackwood tentou chantageá-la, ameaçando ir à impressa com a verdadeira identidade dela…
— Chantageá-la? Espera, que identidade — Raj interrompeu.
— Ok, aqui é onde fica complicado. Blackwood parece conhecer Sarah da Califórnia.
— Sim, ela me disse. Um amigo da família ou algo assim.
— Não exatamente. A doce e pequena Sarah não tem sido exatamente honesta conosco. O seu verdadeiro nome é Susan Siemanski. Este nome é familiar para você?
Raj franziu a testa. Sarah não era realmente Sarah? Que porra é essa? — Não — ele disse — Deveria ser?
— Não a menos que você passe muito tempo na internet.
— Eu pago pessoas para fazerem isso por mim. — Ele disse impaciente — Que porra está acontecendo, Em?
— Susan Siemanski aparece em diversos sites, todos dedicados ao estranho e ao desconhecido. Merda paranormal. Nossos rapazes se cruzaram com esses sites procurando por supostas atividades de vampiros. Às vezes isto é uma cobertura para coisas reais e nós…
— Sei disso, Em. Vá direto ao ponto.
— Desculpe. Susan, conhecida como Sarah Stratton, tinha quinze anos quando alegou ser – acho que a palavra é canalizada por mulheres sequestradas em seus sonhos. Houve dois casos públicos, com alguns meses de intervalo. Em cada caso, a mulher foi encontrada morta depois da polícia ignorar os avisos de Siemanski. Ela saiu dos radares depois disto, o que explica porque Sarah não existia até dez anos atrás. Ela deve ter mudado…
— Certo. — Raj cortou-a, sentindo sua própria raiva crescer. Ela tinha lhe mentindo o tempo todo, deixando-o pensar que ela tinha fugido para escapar de uma situação ruim em casa, deixando-o imaginar todos os tipos de possibilidades. E nada disto era verdade. Ela era uma fudida psíquica. Era essa a conexão dela com esse caso? Ela estava recebendo dicas das mulheres desaparecidas em seus sonhos ou qualquer que seja a porra que ela fazia? Maldita seja, ela estava jogando com ele, fazendo-o de completo idiota.
— Raj, você tá aí?
— Sim. Então o que Blackwood quer?
— Saber os sonhos dela e esse tipo de treta, mas é obvio que ele a queria trabalhando exclusivamente para ele, ninguém mais, e especialmente não nós bebedores de sangue nojentos. Acredito que foi assim que ele colocou.
— Imagine isto. — Raj disse distraidamente, tirando uma camisa do armário e colocando-a sem baixar o telefone. — E ele parecisa um homem tão bom.
— Sim, bem, felizmente um dos seus fãs o parou e Sarah conseguiu sair discretamente. Ela voltou para casa e ficou lá. Infelizmente, o idiota escorregadio tinha uma equipe de filmagem esperando lá na frente para filmar a sua triunfante redescoberta da adolescente psíquica há muito tempo perdida, ou barrá-la, para seguir com a sua ameaça de expô-la. Que aparentemente, ele decidiu fazer.
Ele parou o que estava fazendo. — O que está acontecendo?
— Nós temos uma situação.
Raj ouviu Emelie falar com mais alguém, uma conversa de um só lado, como se ela estivesse em um segundo celular. Ele a ouviu praguejar e então gritos de ordens para alguém no armazém. — Era Yossi. — Ela disse, voltando a falar com ele. — A casa da Sarah está repleta de repórteres querendo saber por que uma psíquica foi chamada para ajudar a achar a filha de William Cowens. A polícia também está lá, com aquele cara Scavetti. Ele quer levá-la sob custódia…
— Não! — Raj praticamente rugiu. Ele ouviu Em conversando com o outro celular de novo.
— Angel acha que consegue persuadir Sarah a deixá-la entrar. Você quer que ela…
— Sim. Quero alguém dentro daquela casa. Não quero Sarah desaparecendo sob custódia da polícia. Preciso saber qualquer coisa que ela saiba sobre esse caso. Fale com a Angel agora, Em. Eu vou esperar.
Em falou rapidamente e voltou. — Ok, Yossi e Cervantes estão esperando no lado de fora, mas a Angel está batendo à porta agora. O que vem depois?
Raj já estava colocando a sua jaqueta, o telefone prensado entre sua orelha e ombro. Ele podia ouvir um monte de barulhos vindo do lado de Em, motores de SUV prontos para partir.
— Em — Ele gritou, querendo ter certeza que ela o ouvia. — Precisamos de um carro de fuga, algo anônimo.
— Nós teremos, chefe — As palavras dela pulavam enquanto ela corria para se juntar aos caras nos SUV.
Raj socou o código de saída no teclado e esperou impacientemente enquanto a porta se abria. — Encontro você na casa da Sarah — ele disse e desligou, correndo para garagem.
— Que porra é essa? — Raj deu uma olhada na rua em frente ao duplex de Sarah e circulou ao redor do quarteirão, lembrando de algo parecido a um beco e assumindo que ela tinha uma porta traseira. Ele havia estado um pouco distraído nas duas vezes que tinha estado na cozinha dela. O extremo leste do beco estava bloqueado por um cerca de arame. Ele praguejou viciosamente e deu a volta de novo, virando para baixo na extremidade oeste da rua e pressionando a discagem rápida para Em enquanto estacionava atrás do carro da Sarah.
— Onde você está? — Ele perguntou, antes que ela pudesse falar qualquer coisa.
— Estamos em três veículos, dois SUVs e um sedan alugado. Os dois SUV estão segurando em cada uma das extremidades do quarteirão. Está uma bagunça lá fora, chefe.
— Sim, eu vi isso. Estou num beco atrás da casa da Sarah. Tem alguns repórteres por aqui, mas nada que eu não consiga lidar. Muito tarde para alguns deles, eu acho. Quero que os dois SUVs venham para a frente. Fale para eles chamarem atenção. Você trás o sedan por trás; você e eu iremos desta forma. Angel está na casa?
— Sim, meu senhor, juntamente com o Detetive Scavetti que não é um campista feliz, de acordo com a Angel. Sarah cravou seus calcanhares e se recusa a fazer qualquer coisa até você chegar lá. Scavetti está a ponto de explodir, mas Angel não parece muito preocupada com isso.
— Eu conheci Scavetti. Vou apostar em Angel qualquer dia. Ligue para ela, e fale o que está para acontecer e diz-lhe para dar uma segurada em Scavetti. Eu não quero uma arma na minha cara quando entrar pela porta de trás.
— Eu não acho que você seja a pessoa favorita de Scavetti no momento.
— Estou lisonjeado. — Raj olhou para cima quando um Taurus branco apareceu no seu retrovisor, com Em na direção. Ele executou uma rápida virada em U para que o BMW ficasse de frente para a entrada do beco. Em fez o mesmo, colocando-se atrás dele. Ela saiu do carro e deu um sorriso animado.
— Teremos diversão hoje, hein, chefe?
Raj balançou sua cabeça. Ele às vezes precisava se lembrar que por atrás da aparência de modelo, Emelie era uma viciada em adrenalina. Ela vivia por esse tipo de coisa. — Todo mundo pronto?
Ela assentiu. — Ao seu comando, eles irão acertar o gás. Dois minutos na frente da casa, dois minutos dentro.
Raj deu uma olhada na situação em volta. O quintal imundo estava rodeado por uma cerca de madeira, e se houvesse alguma lâmpada, não estava acesa. O portão desigual estava meio aberto, o cadeado estava pendurado inutilmente na cerca em um formato de U, provavelmente posto lá por um dos dez ou mais obstinados tipos da imprensa que estavam reunidos ao redor com seus Blackberries na escuridão. Ocasionalmente, um deles olhava para casa, mas nada acontecia lá, também. As janelas de Sarah estavam todas cobertas, persianas para baixo e cortinas fachadas, mas ele pegou um rápido movimento do rosto curioso da proprietária em uma das janelas do andar acima na casa do lado. A mulher daria uma ótima espiã. Não havia luz banhando o pátio interno do duplex de Sarah, e atrás dele, o beco estava muito mal iluminado, sem luzes de rua. A lâmpada que ligava com um sensor de movimento, que tinha acendido quando ele passou, estava novamente apagada. Três carros estavam estacionados no lado lateral, todos eles direcionados para um beco sem saída, provavelmente pertenciam aos repórteres, uma vez que os moradores saberiam do beco.
— Tudo bem. — ele disse para Em — Darei a essas pessoas um bom cochilo e então você e eu iremos pelos fundos ao mesmo tempo em que Yossi e os outros vão pela frente. Eles que façam muito barulho, peguem Angel como chamariz e saíam como um furacão. Ela é do mesmo tamanho que Sarah, iremos cobrir o cabelo dela. Você sai pelos fundos com Sarah e a leva para o armazém. Eu irei cuidar de Scavetti e qualquer coisa a mais que aparecer e te encontro lá mais tarde.
— Posso lidar com o policial se você preferir…
— Ele me conhece. Você pega a Sarah.
Em o estudou rapidamente. — Você é o chefe.
Raj assentiu. — Diga para Yossi começar.
Sarah se sentou encolhida no meio da escada, abraçando seus joelhos contra o peito, se sentindo miserável. A pobre Sra. M. estava tão presa na casa ao lado quanto Sarah. Scavetti não conseguia decidir se estava mais puto com o Raj, ou com o fato de que todo mundo agora pensaria que o Departamento da Polícia de Buffalo, ou seja, Tony Scavetti, estava usando uma psíquica para solucionar o seu caso de perfil bastante alto. Uma vez que ele concordou em dar a Raj dez minutos, o detetive jogou suas mãos para cima em sinal de desgosto e desapareceu na sala de Sarah, onde ela podia o ouvir xingando alguém pelo celular. Angel estava fazendo quase a mesma coisa, embora com muito menos xingamentos, sussurrando para alguém através de seu fone de ouvido igual a alguns agentes especiais dos filmes de ação.
Por sua vez, Sarah não sabia se a iminente chegada de Raj era uma boa ou uma má notícia, mas sabia que ele poderia fazê-la desaparecer muito mais rápido do que se ela estivesse por conta própria e sem envolver a polícia. Então ela se sentou nas escadas onde ninguém podia vê-la do exterior, ouvindo a competição entre os múrmuros de Scavetti e os de Angel, e esperando Raj que provavelmente a odiava.
Ela sentou abruptamente, então duas coisas aconteceram ao mesmo tempo. Angel gritou, “Eles estão vindo,” e um súbito som de motores e pneus cantando mandaram Scavetti correndo para a porta da frente. Ele xingou violentamente quando Angel fechou a porta na cara dele, mas então os dois foram para trás quando quatro homens em trajes de combate preto passavam pela multidão de repórteres furiosos, pisando na varanda e entrando casa. Angel fechou a porta atrás deles e então o pequeno corredor de Sarah estava cheio de grandes e corpulentos vampiros, enquanto Scavetti estava praticamente batendo no próprio peito de tanta raiva. A testosterona era tão espessa no ar que ela olhou para o teto, esperando ver um nuvem pairando visivelmente sobre as suas cabeça.
— Que porra é essa? — Scavetti gritou — Quem diabos autorizou…
— Eu autorizei. — Raj disse da cozinha. Com toda a confusão e barulho na porta da frente, Sarah não havia ouvido a porta do fundo abrir. Ela percebeu que esse havia sido o plano, aquela equipe que entrou pela porta da frente tinha um propósito — cobrir a entrada do mestre deles.
Ao som da voz dele, todos os quatro vampiros se viraram como um, músculos tremendo como cavalos em um portão de partida enquanto eles se apoiaram em um joelho, juntamente com Angel. Scavetti olhou, sua boca mostrava sua curiosidade, seu olhar viajava dos vampiros de joelhos para Raj e de volta em descrença.
Sarah ouviu os passos pesados, e então a cabeça e os ombros de Raj entraram em vista através do corrimão à sua direita. Vestindo couro preto e jeans, ele irradiava uma espécie de perigosa autoridade, parecendo mais largo do que nunca e duas vezes mais letal do que qualquer um dos seus lacaios vampiros ajoelhados diante dele. E mesmo ele sabendo onde ela estava sentada, ele não fez muito a não ser não olhar em sua direção. O coração dela se apertou dolorosamente. Em apareceu atrás dele, vestindo uma roupa de combate preta e parecendo muito melhor do que Lara Croft alguma vez pareceu. Raj fez um gesto para os vampiros ajoelhados e eles levantaram.
— Detetive Scavetti — Raj disse calmamente — A senhorita Stratton está sob custódia?
Sarah se sacudiu ao som do seu nome, enquanto o policial olhava afiado para todos os lados. — Eu não preciso dessa porcaria, Gregor. — Ele rosnou.
Os vampiros fortemente armados de Raj eriçaram-se com indignação perante o tratamento desrespeitoso para com o mestre deles, e Sarah pressionou-se contra a parede, esperando violência. Mas Raj apena sorriu. — Deixe-me tirar isso das suas mãos, Detetive. Posso lhe assegurar que nada disso é culpa da senhorita Stratton. Se você estiver procurando quem revelou a identidade dela, deveria ligar para o Edward Blackwood.
Então ela estava certa sobre Blackwood. Não que tivesse alguma dúvida. O bastardo havia ligado a tarde inteira, presumindo claramente que Sarah não teria ninguém a quem recorrer além dele. Ele não sabia que ela preferia deixar Scavetti prendê-la que se colocar nas mãos gordurosas dele.
— Faremos. — Scavetti murmurou em resposta ao comentário de Raj sobre Blackwood. Ele olhou em volta — Obviamente, você tem um plano.
— Angel irá servir como chamariz — Ele fez um gesto para mulher pequena. — Meu pessoal irá sair pela porta da frente, como se estivessem tirando a senhorita Stratton rapidamente, saindo pela noite em um grande alarde e chamando tanta atenção quanto possível.
Sarah olhou para Angel que capturou o seu olhar e sorriu de forma conspiratória. Ela estava inclinada no vampiro atrás dela e Sarah se perguntou se eles eram um casal, se era por isso que Angel, que obviamente não era uma vampira, fazia parte da equipe de Raj.
— Enquanto isso, a minha tenente — Raj estava dizendo, indicando Emelie que fez um rápido sinal de continência em resposta. Ele lhe deu um olhar repressor, mas também havia um pequeno sorriso brincalhão em sua boca enquanto fazia isso. — Minha tenente — ele continuou — Irá pegar a senhorita Stratton e sair pela porta dos fundos e transportá-la para um local que só o meu pessoal conhece.
Scavetti parecia satisfeito até aquele ponto, mas agora ele fazia uma careta. — Nós iremos querer saber para onde você a está levando. E que porra você estará fazendo durante tudo isso?
Raj deu ao detetive um olhar paciente. — Pensei que você e eu poderíamos aproveitar essa oportunidade para nos atualizarmos sobre nossos progressos, Detetive, incluindo, claro, a localização da senhorita Stratton. Nosso objetivo neste assunto tem sido de ajudá-lo repetidamente a resolver esta investigação, não atrapalhá-la. Assim que tivermos concluído para sua satisfação, irei me encontrar com a minha equipe.
Scavetti parecia que tinha engolido algo podre, mas ele assentiu.
Por sua vez, Sarah tinha algumas dúvidas bastantes reais sobre Raj ter a intenção de informar para qualquer um sobre o seu paradeiro uma vez que tivessem deixado a casa. Mas ela também não podia deixar de notar que era Emelie que a estava levando embora, não Raj. Lá se vai o cenário do cavaleiro-em-um-cavalo-branco. Ela tinha certeza que em nenhuma dessas cenas aparecia o ajudante do cavaleiro resgatando a donzela. Ele também especulou se alguém ia pedir a sua opinião sobre algo, ou se ela seria tratada apenas como uma bagagem…
— Isso é aceitável para você, Sarah?
Empurrada para fora de seus pensamentos, ela levantou sua cabeça e encontrou Raj olhando-a pela primeira vez desde que ele apareceu do nada. Ela estudou os olhos azuis gelados e não encontrou nenhum traço de calor para ela em nenhum lugar de suas profundezas frias. Ela engoliu através do aperto em sua garganta e assentiu. — Sim. Obrigada.
Raj segurou o seu olhar por mais um momento. — Você deveria ligar para sua vizinha e perguntar se ela precisa ser resgatada também. — Ele disse em uma voz gelada.
— Ok. — Sarah sussurrou. Ela levantou rapidamente, grata pela desculpa para subir e fugir dos olhares especulativos de Emelie e dos outros vampiros. Ela havia subido apenas um degrau quando um pensamento lhe ocorreu. Ela parou e virou-se para perguntar: — E o meu carro? — Raj só olhou para ela. — Vou precisar do meu carro, não importa para onde vamos. — Ela insistiu. Ela não sabia exatamente o que faria ou para onde iria, mas ela definitivamente sabia que não suportaria a atitude frigidamente educada de Raj por mais tempo que o necessário.
Ele olhou-a por mais um momento e então olhou para Emelie. — Me dê suas chaves — ela disse, dirigindo-se a Sarah. — Irei pedir para um dos caras trazê-lo para a casa segura depois.
— Ok. — Sarah concordou. Ela subiu as escadas para ligar para a Sra. M e pegar a mala que ela havia empacado mais cedo, antes que a imprensa tivesse chegado e jogado todos os seus planos no espaço. Ela iria em frente com o plano de fuga de Raj por enquanto. Mas na primeira oportunidade, iria embora. Se ele não queria nada com ela, tudo bem. Ela não precisava dele para sair da cidade. Ela já havia orquestrado o seu primeiro desaparecimento quando tinha dezoito anos e estava quebrada. Ela com toda a certeza conseguiria fazer isso agora. Raj não teria que se preocupar muito mais com ela.
Capítulo 33
A manobra saiu como um mecanismo de relógio. Não que Sarah esperasse outra coisa. Emelie parecia saber o que Raj queria antes que ele pudesse pedir, e não havia como discutir depois algo era decidido. Os seus guardas vampiros prestava uma atenção quase fanática em cada palavra que ele dizia, mas então, o que ele dizia parecia fazer sentido, então por que não?
A Sra. M. tinha concordado em evacuar e os planos foram feitos rapidamente para deixá-la com seu filho. Raj disse que cuidaria dela depois que todo mundo tivesse ido embora, e ele e Scavetti tivessem terminado a sua discussão. E ele não tinha dito uma única palavra para Sarah desde que pediu-lhe para ligar para a Sra. M.
Quando chegou o momento, todas as luzes da casa foram apagadas, e a equipe de vampiros vestidos de preto de Raj, com Angel aninhada entre eles, saíram pela porta da frente e para o pátio, como se os cães do inferno estivessem em seus calcanhares. Antes que eles estivessem fora da varanda, Emelie apressou Sarah pela porta dos fundos e através do quintal, onde ela quase tropeçou no corpo de alguém. Ela sufocou um grito e agarrou Em, que riu baixinho.
— Não se preocupe. Eles ainda estão vivos.
— O que aconteceu com eles? — Sarah sussurrou, manobrando em torno do que ela agora via serem várias pessoas, parecendo particularmente fantasmagóricas à luz azulada dos seus Blackberries e telefones celulares.
— Raj aconteceu para eles. — Em disse, com alguma satisfação.
— O que isso significa? — Sarah falou irritada.
Em não falou, segurando uma mão de modo a pedir silêncio enquanto elas passaram pelo portão para se dirigirem ao beco, onde um chato e branco Taurus estava estacionado atrás do Sedan de Raj. Havia dezenas de milhares de sedans brancos e americanos como este ao redor de Buffalo. Eles eram tão comuns como o vento, e Buffalo era uma cidade muito ventosa.
Em minutos, elas estavam saindo do beco e entrando rua. Emelie fez um comentário depreciativo sobre o motor do carro, mas ela ficou dentro do limite de velocidade enquanto seguiam em direção ao aeroporto. Ela olhou para Sarah e disse: — Vou te levar para o armazém por agora.
— Por que Raj não veio conosco?
— Porque qualquer um pode dirigir este pequeno carro entediante, mas só Raj pode fazer o que Raj faz.
— O que isso significa? — Sarah exigiu novamente.
— Fazer todos os repórteres irem embora. — Emelie disse com uma voz de filme assustador e riu.
— Ótimo. — Sarah murmurou, sem ver o humor.
— Não se preocupe. Ele vai mexer com suas memórias um pouco, mas todos eles ficarão bem, mesmo aquele desagradável detetive da polícia — ou pelo menos tão bem como ele sempre fica. Raj apenas não quer que ninguém se lembre de um bando de vampiros chegando em massa para salvar sua pequena bunda bonita.
Sarah corou. — Não me importo com o que ele lhes faça. Eu odeio essas pessoas.
Emelie deu-lhe um longo olhar. — Existe algum lugar que você prefira ir? Família, talvez?
Sarah olhou pela janela e balançou a cabeça. — Não. Nenhuma família.
— E quanto a seus pais ou seus irmãos?
Sarah virou-se e deu a Emelie um olhar insípido. — Você me verificou.
Emelie acenou com a cabeça facilmente, sem embaraços, sem desculpas. — Não foi fácil, se isso serve de consolo. — ela ofereceu.
Sarah respirou fundo. — Isso não importa mais, não é? — Ela apontou o polegar por cima do ombro. — Todos sabem quem eu sou agora. Vou ter que começar tudo de novo.
— Raj poderia ajudá-la com isso. A comunidade vampírica tem recursos.
Sarah riu amargamente. — Não acho que Raj me daria a hora do dia, a menos que ele tivesse que fazê-lo.
Emelie deu-lhe um olhar intrigado. — Ele correu em seu socorro hoje, não foi?
— Sim. — Sarah admitiu. — Mas só porque ele quer esse caso resolvido e eu sou a melhor pista que ele tem. Até ao momento, de qualquer maneira. Provavelmente não serei nem isso por muito mais tempo.
Emelie a surpreendeu quando estalou os dedos na frente do rosto de Sarah. Quando ela recuou, Emelie disse. — Huh. Bem, você não é cega, então a única alternativa é estúpida.
— Desculpe-me?
— Raj é louco por você, pequena humana.
— Raj odeia as minhas entranhas, vampira magricela.
Emelie riu. — Vampira magricela. — repetiu ela. — Estranho, mas preciso. Então me diga, Sarah. — ela disse deliberadamente. — O que exatamente você fez ao meu mestre para transformá-lo da maneira que você fez? Ele tem sido uma cadela nos últimos dias e acho que a culpa é sua.
Sarah encontrou o olhar de Emelie e virou-se, não querendo admitir o que tinha feito.
— Oh, vamos lá, Sarah. Vamos passar muito tempo juntas por um par de dias. Será mais divertido se nós pudermos falar de coisas de garotas. — você sabe, caras, maquiagem, cabelo, merdas como essas.
Foi a vez de Sara rir com a ideia de Emelie estar interessada em conversas de garotas. — O que Raj lhe disse? — Ela perguntou ela.
— Você não deve ter notado, Sarah, mas Raj pode fazer uma fiel imitação da Esfinge quando ele quer. Ele não me disse merda alguma. E isso é estranho, porque Raj me diz praticamente tudo. Ele é o meu Senhor, o que o faz muito importante, mas ele também é o meu melhor amigo. Ele foi a primeira pessoa a me ver como algo diferente do que ele precisava que eu fosse. Eu morreria sob seu comando sem hesitar e eu irei matar quem o prejudique.
— Oh.
Emelie sorriu. — Não se preocupe, isso não era uma ameaça. Raj me mata se eu prejudicar um fio de cabelo da sua linda cabeça. Mas eu estou pensando que o que você fez teve de ser algo ruim, porque aquele vampiro é louco por você.
Sarah suspirou. — Será que Raj lhe disse que foi até a universidade na outra noite e conversou com Jennifer Stewart? A companheira de quarto de Trish?
— Sim. Estamos fazendo a turnê de três dólares nas casas de sangue em Buffalo no último par de noites por causa disso.
Sarah piscou, surpresa. Raj tinha continuado a investigação sem ela? Era estúpido, mas ela estava com uma espécie de mágoa por descobrir isso.
— E? — Emelie disse impaciente.
Sarah se encolheu. Ela tinha uma ideia muito boa de qual seria a reação de Emelie ao que ela estava prestes a dizer.
— Não sei nada sobre como todos vocês fazem coisas. Quer dizer, sei que vocês podem fazer o ato de beber sangue parecer muito bom,— não que eu tenha feito isso.
Emelie vaiou ruidosamente, obviamente, divertindo-se com a inexperiência de Sarah.
Sarah fez uma careta para ela e continuou. — Aparentemente Raj estava falando com Jennifer, um, em sua cabeça, acho que você diria. Você sabe, telepaticamente ou o que quer que isso seja. Acho que ele só a fez conversar em voz alta, eventualmente, para que eu pudesse ouvir, mas só descobri isso quando já era tarde. Eu não sabia então o que estava acontecendo.
O rosto de Emelie ficou solene. — O que você lhe disse? — Ela perguntou, seus olhos de repente escuros com acusação.
— Eu disselhe que o que ele tinha feito era o mesmo que violação. — Sarah disse em voz baixa. — Que ele estuprou a mente de Jen, em vez de seu corpo.
Emelie fechou os olhos por um momento, como se sentisse dor, sacudindo a cabeça ligeiramente. — Você e eu temos que falar. — ela disse sombriamente. Mas então ela mergulhou em um silêncio, fazendo uma curva à esquerda por uma longa rua escura, eventualmente parando em frente a um armazém abandonado de aparência igual aquele onde Sarah e Raj tinham parado no que parecia ser uma vida inteira atrás. Antes, quando ele ainda gostava dela.
Sarah suspirou quando Emelie passou pela porta do escritório, parando ao invés disso, na frente de uma das três grandes portas do compartimento de carga. Estacionando o carro em uma vaga, ela estendeu a mão para o banco de trás e cavou em um saco preto de lona, emergindo com o que parecia ser um pesado controle da porta da garagem. Apontando e clicando, a porta mais à esquerda se enrolou para cima quase que silenciosamente. Emelie deixou o controle remoto cair em seu colo e dirigiu para o interior com o carro, clicando nele novamente para fechar a porta atrás delas assim que estavam dentro.
— Lar doce lar. — Emelie anunciou e desligou o motor.
— Que lugar é esse? — Sarah perguntou, olhando através da janela.
— Isto, minha cara, é o porque Raj vai ser o próximo Senhor Vampiro do Nordeste. Força bruta é bom e ele tem muita, mas é o cérebro que faz a diferença, e Raj é um gênio quando se trata de planejamento estratégico. Ele comprou este lugar um ano atrás em antecipação a este dia.
Sarah deu-lhe um olhar cético. — Este dia? — Ou Emelie estava falando sobre algo diferente da sua própria situação, ou Raj era mais do que um gênio estratégico, ele era um adivinho.
Emelie riu quando ela abriu a porta do carro e saiu. Ela agarrou a bolsa da parte de trás e disse: — Há muito mais neste dia do que você imagina, pequena humana. Um inferno de muito mais.
— Diga-me algo que eu não sei. — Sarah retrucou.
— Quanto tempo você tem?
Sarah virou-se. — O quê?
— Você disse para lhe dizer algo que você não sabe. Bem, quanto tempo você tem?
Sarah observou com inveja quando Emelie caminhou para longe dela. Ela parecia uma modelo em uma passarela, apesar da pesada bolsa jogada sobre um ombro e os equipamentos de combate pretos que ela usava. Ou talvez por causa disso. O contraste só acentuava a sua sensualidade bastante feminina. Como se estivesse ciente que Sarah estava olhando-a, ela se virou e andou alguns passos para trás, sorrindo. — Vamos, Sarah. Tenho uma história para te contar e vou precisar de uma bebida primeiro.
— Uma bebida? Mas…
— Não seja tão covarde. — Emelie deixou cair a bolsa perto de uma pilha de artes similares e passou o braço em volta do braço de Sarah, levando-a através do grande espaço vazio em direção a algum tipo de sala num canto. Desde que Emelie era tão forte quanto qualquer outro vampiro, Sarah podia escolher entre ir junto ou ser arrastada como uma boneca de pano. Ela foi junto.
Elas foram para a falsa área de estar, que era aproximadamente do tamanho do primeiro andar inteiro de Sarah. Era definido por um carpete espesso, ou talvez apenas um tapete realmente grande. Vários sofás e cadeiras estavam espalhadas em ângulos estranhos, embora todas estivessem voltadas para um ecrã panorâmico digno de um cinema privado e completo com uma variedade estonteante de dispositivos eletrônicos. Emelie soltou o braço de Sarah e caminhou até um bar que ficava ao longo de uma parede, com várias linhas de garrafas alinhadas em um balcão atrás dele. Emelie pegou uma das garrafas e serviu-se de uma dose de um líquido claro. Ela ofereceu a garrafa para Sara, que balançou a cabeça.
— Raj me viciou em vodka décadas atrás. — disse Emelie. — Quando ainda era apenas comunistas que bebiam isso. — Ela riu da sua própria piada e jogou a dose de licor em sua garganta. Sarah quase tossiu em simpatia, mas Emelie não parecia se incomodar com o álcool. — Tem um sabor melhor com sangue, mas não quero manchar sua sensibilidade inocente. — Ela piscou para Sarah e serviu-se de uma outra dose, bebendo-a da mesma maneira.
— Ok. — ela disse, dando uma respiração profunda e soltando-a, como se chegasse a alguma decisão importante. Com mãos apoiadas nos quadris estreitos, ela deu a Sarah um olhar especulativo. — Sente-se, Sarah. Vou lhe contar uma história. É aquela que muitas poucas pessoas sabem, na verdade, apenas duas pessoas no mundo sabem, e isso inclui a mim.
—Uh, eu não tenho certeza…
— Oh. Você é uma estudiosa, certo? Onde está a sua curiosidade? Você está prestes a ouvir como me tornei uma vampira.
Capítulo 34
Em serviu uma outra dose, engolindo-a rapidamente. — Eu fui estuprada. — Ela olhou para Sarah, como se desafiando-a a comentar o assunto. Quando Sarah não disse nada, ela continuou. — As circunstâncias não importam. Vamos apenas dizer que eu estava mais atraída pela filha da cozinheira do que pelos jovens homens que ligavam para a casa dos meus pais querendo ser pretendente, e fiz uma coisa estúpida tentando compensar isso.
— Raj encontrou-me a tempo… De qualquer forma, ele tirou alguns deles de cima de mim, assustando o resto. Não me lembro de muito sobre essa parte. Eu realmente não me esforço. Mas me lembro do depois. Ele me levou de volta para seu covil. Não era extravagante, mas era seguro.
Ela recostou-se contra o bar, um meio sorriso no rosto. — Sei o que você está pensando. Ele é um vampiro, certo? Uma menina sensata teria corrido dele gritando. Mas eu sabia quem eram os verdadeiros monstros e não era o vampiro bonzinho que me ofereceu uma sopa quente.
Esfregando as mãos para cima e para baixo nos braços, como se de repente sentisse frio, ela caminhou até um dos sofás, pegou a jaqueta descartada de alguém e vestiu-a. — Os monstros eram totalmente humanos. Aqueles homens poderiam ter sido meus primos ou tios. Infernos, pelo que sei, alguns deles eram. Fui espancada e estuprada quase até à morte. — Ela olhou para o chão, com o rosto branco, livre de qualquer emoção. — Estúpida. — ela disse finalmente, em seguida, respirou fundo e encontrou o olhar de Sarah.
— Raj ofereceu-me uma escolha naquela noite. Ele me curaria, limparia minhas memórias do estupro e me mandaria de volta para meus pais. Ou liberdade. A chance de ser eu mesma. A escolha foi fácil.
— Alguma vez você se arrependeu…
— Nunca. — Emelie disse imediatamente. — Nunca. Raj poderia dizer de forma diferente. Como bom líder que ele é, como um vampiro poderoso, ele nunca pediu para ser transformado. Mas eu amo a minha vida, e adoro Raj. Não como um amante. Nunca fomos isso. Não tenho interesse nos homens, e Raj nunca, jamais forçou-se a ninguém. Você estava bastante enganada sobre o assunto. Mas eu o amo como meu mestre e meu amigo, meu verdadeiro criador. Ele é o melhor homem que alguma vez conheci, Sarah, vampiro ou não, e eu vivi muito tempo. — Ela se inclinou para frente atentamente, forçando Sarah a olhá-la. — E não tolerarei que ninguém lhe cause dor.
Sarah suspirou. — Eu realmente fodi tudo, não é?
Emelie latiu uma risada. — Sim, você realmente fez. E ele não está feliz, você mentiu sobre quem você é, também.
— Menti para todos sobre isso. — Sarah disse com desdém. — Ninguém sabia até hoje.
— E seus amigos?
— Ninguém. — Sarah repetiu.
Emelie inclinou a cabeça como se estivesse escutando, em seguida, deu dois passos e se agachou na frente de Sarah. — Ouça-me. Raj está quase aqui. Nunca o vi se preocupar com uma humana do jeito que ele faz por você. Toda esta coisa hoje? Ele não teria feito isso por qualquer outra pessoa. Mas se você o quer — e você seria uma tola se não o quisesse — você tem que fazê-lo acreditar que ele não é um monstro.
— Ele não é! — Sarah disse, muito indignada com a sugestão.
— Não, mas às vezes ele pensa que é, e você praticamente lhe disse que pensa assim também.
— Eu… — Sarah lembrou das coisas que havia dito a Raj e soltou um longo suspiro. — Droga.
— Isso resume tudo. — Emelie concordou. Ela se levantou e caminhou em direção à saída. Quando ela chegou à porta, esta estava se abrindo e Raj estava caminhando através dela.
— Meu senhor. — disse Emelie, sua voz cheia de respeito afetuoso.
— Em. — ele disse, nem mesmo olhando de relance para Sarah. — Quando você enviar alguém para pegar o carro, diga-lhe para verificar dentro e ao redor da casa. Quero ter certeza de que não perdi ninguém.
Sarah se afundou ainda mais nas almofadas e olhou para ele, pensativa. Verdade, ela tinha saído da linha na outra noite, e se ele alguma vez lhe desse a chance, ela ficaria feliz em se desculpar abundantemente, mas ele não tinha que ser um babaca sobre isso. Ela nunca disse a ninguém o seu verdadeiro nome, nunca confiou em alguém a esse ponto, nem mesmo em Cyn, então por que ele achava que ela derramaria suas entranhas para ele? Ela tentou direcionar um pouco de raiva para ele, mas não estava funcionando. Claro, não ajudava ele parecer tão malditamente delicioso parado ali com seus jeans apertados, sua t-shirt esticada sobre o seu peito largo e com a jaqueta de couro. Ela se lembrou do cheiro daquela jaqueta, do couro macio contra a sua bochecha, o zíper friccionando… Ah deuses. Ela se virou na cadeira, dando-lhe as costas e inclinando-se para baixo de modo a não ter que olhá-lo. Ele estava provavelmente aliviado por não ter que olhá-la mais, também. Não que ele tivesse olhado de qualquer maneira. Filho da puta.
Raj sabia que Sarah estava olhando para ele, sabia que ela estava esperando por algum reconhecimento da sua parte. Ele viu-a estremecer quando disse para Em conseguir que um dos caras verificasse a casa e se sentiu um pouco culpado. Ela passou por muita coisa hoje e o pior ainda estava por vir. Ela provavelmente perderia o emprego por causa disso e seria difícil, se não impossível, conseguir um novo com toda a má publicidade. Aquele idiota do Blackwood teria sem dúvida o maior prazer em dar-lhe um emprego no seu falso instituto, mas Raj sabia que ela não iria sequer considerar isso. Ele se perguntou se ela tinha dinheiro suficiente para sobreviver por um tempo, e depois se perguntou por que se importava. Não era como se ela tivesse sido honesta com ele sobre qualquer coisa.
Além disso, ele sabia que se desse uma polegada, que se deixasse se importar mesmo que um pouco, aquela polegada se tornaria uma milha e ela estaria de volta em seu estômago, sua presença o roendo até que fosse forçado a tocá-la, e, em seguida… Bem, não havia dúvidas de onde terminaria. Ele balançou a cabeça, enojado consigo mesmo. Jesus, ele tinha quase duzentos anos de idade. Talvez devesse crescer um pouco e parar de agir como um maldito adolescente apaixonado. Ele ouviu o suspiro de Sarah atrás do sofá e se perguntou se ela estava chorando. Maldição. Ele tinha que sair daquele fodido armazém.
Ele moveu seu olhar para Em e encontrou-a lutando contra um sorriso. Ótimo. Fodidamente ótimo. — Acho que é hora de ligar para Blackwood. — ele disse rispidamente. — Ele tem recursos para apoiar algo como isso, e estou curioso do por que ele estava tão determinado a manter Sarah para si mesmo.
— Além disso, ele é meio que um imbecil.
— Isso também. — Uma das portas do compartimento de repente se abriu para admitir os dois SUVs que transportavam Angel e a equipe da armadilha que a tinham levado embora. As portas se fecharam atrás deles e eles se empilharam fora dos caminhões, as suas animadas conversas pós-operação ficando tranquilas depois que viram Raj ali. — Problemas, Yos?
— Nenhum, meu senhor.
— Bom. Simon, preciso saber onde Blackwood está agora, então você, Danny e Cervantes irão comigo. Todos os outros, verifiquem os seus equipamentos e tirem o resto da noite de folga. Nós nos encontraremos amanhã à noite e veremos onde estamos.
Emelie inclinou-se perto, falando baixo o suficiente para que só ele pudesse ouvir. — Não estou adequada para o papel de babá, chefe. Yossi e Angel estão aqui. Eles podem cuidar da… — Ela parou quando viu a expressão no rosto de Raj. — Sim, sim. — Ela deu um longo suspiro de sofrimento. — Você era muito mais fácil de trabalhar antes…
— Não diga isso, Em. — Ele alertou.
Ela encolheu os ombros. Ela não necessitava dizer as palavras. Sarah Stratton tinha entrado debaixo de sua pele, e se ele não saísse logo, nunca faria. Era provavelmente muito tarde já, mas ele não estava pronto para admitir isso, tolo que era.
Sarah ouviu Raj sair. Não tanto por ele ser barulhento mas mais porque todos os seus vampiros ficavam muito quietos quando ele estava por perto. A porta do compartimento bateu e o nível do ruído cresceu enquanto seus subordinados faziam suas atividades habituais. Vários estavam indo em sua direção e ela enxugou os olhos rapidamente, não querendo que ninguém visse que estava chorando como um grande bebê. Ela enxugou o rosto em sua t-shirt e olhou ao redor, tentando lembrar onde tinha deixado cair a sua mochila. Ou se a tinha trazido do carro.
— Sua bolsa está no quarto de dormir. — Sarah pulou com o som da voz de Em bem atrás dela. Ela se sentou e olhou em volta para encontrar a tenente de Raj olhando-a com uma expressão cuidadosamente em branco. — Por que não mostro onde você dormirá? — Em perguntou.
Sarah concordou. Ela tinha que pensar sobre o que ia fazer a seguir, mas estava muito cansada no momento. Amanhã iria conduzir… Espere um minuto. — O meu carro? — Ela perguntou a Em.
— Vamos enviar um dos guardas humanos pela manhã. Ele vai verificar a casa e pegar o seu carro. Por quê? Você está com pressa para ir a algum lugar?
— Não. — Sarah disse rapidamente. — Eu me sinto melhor, você sabe, tendo o meu próprio transporte.
Em deu-lhe um olhar cético. — Claro. Bem, o carro provavelmente estará aqui quando você acordar. Venha, vou lhe mostrar as redondezas. Você provavelmente vai ficar conosco alguns dias de qualquer maneira.
Não conte com isso, Sarah pensou. Ela teria ido bem antes disso.
Capítulo 35
Raj e sua equipe chegaram bem depois da meia-noite. Era uma casa comum em uma rua tranquila cheia de casas comuns. Esta era uma casa de dois andares com sequóias espalhadas por uns exuberantes dois hectares com uma piscina turquesa brilhando com luzes de festa. Uma grande tenda branca tinha sido montada e um monte de festeiros se misturavam dentro e fora, usando ternos pretos.
— É esta, Simon? — Raj perguntou.
— Yep. Ele ainda está lá. Várias pessoas estão usando o Twitter na festa.
— Espera aqui. Danny, Cervantes… vamos lá.
Raj parou nos degraus da entrada, examinando as mentes dos festeiros, procurando por Blackwood. Ele estremeceu com a sobrecarga de raiva, inveja e cobiça associadas a uma reunião deste tipo, mas finalmente se focou no fundador da HR e plantou uma sugestão que o levaria para dentro da casa e para longe da multidão. Telepatia era a força particular de Raj — mas quanto menos humanos ele tivesse que lidar melhor.
— Não há necessidade de bater. — disse ele, caminhando até à porta. — O Sr. Blackwood está prestes a nos deixar entrar.
Fiel à sua previsão, a porta se abriu e Blackwood ficou ali, olhando-os com confusão. — Gregor? — Perguntou ele. — O que… — Seus olhos se alargaram quando ele viu os dois vampiros volumosos que acompanhavam Raj.
— Vamos conversar, Blackwood. — Raj disse agradavelmente.
— Realmente, não acho que…
— Não. — Raj comentou. — Você não acha, não é? Bem, talvez seja hora de começar a achar. Existe algum lugar nesta monstruosidade onde podemos falar sem sermos interrompidos? — Ele olhou ao redor friamente.
— Sim. — disse Blackwood, de repente tornando-se ciente do potencial embaraço. — Claro. Por aqui.
Ele os conduziu por um corredor e para dentro de uma biblioteca de dois andares. Danny e Cervantes fecharam as portas duplas e ficaram bloqueando a saída enquanto Raj cruzou para ficar na frente da grande mesa que Blackwood tinha interposto entre eles, como se fosse fazer-lhe algum bem. O fundador da HR tinha redescoberto suas bolas na viagem para a biblioteca e agora estava inchado de ira. — Gostaria de saber o significado disto, Gregor. O prefeito e o comissário da polícia estão entre os convidados desta noite, por isso não ache que pode…
— Silêncio. — Raj disse calmamente. A voz de Blackwood parou no meio da frase, seu rosto avermelhado pelo esforço de tentar lutar contra o comando de Raj. Aquilo que estava acontecendo pareceu atingi-lo finalmente e ele se afundou na cadeira de couro, suor surgindo em seu rosto repentinamente pálido.
— Eu ia fazer isso da forma agradável, Blackwood. — disse Raj. — Mas vê-lo aqui nesta grande festa com seu smoking extravagante enquanto Sarah Stratton está se escondendo e querendo saber para onde vai correr da próxima vez… Encontro-me com vontade de causar alguma dor.
Raj olhou desapaixonadamente para o homem que tremia e desejou que as manchas saíssem do tapete. Era um tapete muito bonito, afegão, ele pensou e provavelmente caro. Blackwood se contorceu, gemendo quando Raj o cutucou experimentalmente com uma bota. A viagem até aqui não tinha sido um desperdício total. Ele tinha tido algum prazer pessoal em causar dor ao fundador da HR, especialmente depois do que tinha encontrado na mente narcisista do homem. Não era ele quem estava por trás dos sequestros e ele não sabia mais sobre isso do que aquilo que os jornais poderiam dizer-lhe. Todo o caso tinha significado nada mais para ele do que a chance de obter favores com William Cowens. Encontrar Sarah no meio da situação tinha sido puro acaso, como encontrar um diamante na rua. Principalmente, ele não gostava dela e ficou feliz com os seus problemas depois da maneira como ela o tratou na reunião ao almoço. Este último pensamento tinha enfurecido tanto Raj que ele quase matou o homem. Mas ele não queria que ninguém visse uma conexão entre o reaparecimento de Sarah e a súbita morte de Blackwood.
Ele chutou o ser humano novamente, desta vez com mais força. Os olhos de Blackwood se abriram e ele rastejou pelo chão, indo descansar contra a parte de trás da mesa onde ele se balançou para uma posição sentada, seus olhos observando Raj com medo.
— Você está saindo da cidade amanhã, Blackwood. E você não vai voltar. Nem para Buffalo, nem para Nova Iorque. Não quero que você coloque um pé nessa parte do país novamente, entendeu?
Blackwood acenou com a cabeça rapidamente.
— Você vai esquecer que Susan Siemanski alguma vez existiu. Sarah Stratton é alguém que você nunca ouviu falar. Se você ou algum dos seus contactá-la ou entrar em qualquer lugar perto dela novamente eu vou saber. Você acredita em mim, não é, Edward?
Outro aceno espasmódico.
— Bom. Então terminamos aqui. Só mais uma coisa. — Ele descansou o seu olhar sobre Blackwood e piscou preguiçosamente. A boca de Blackwood se abriu e ele tentou gritar, mas nada saiu.
Cervantes fechou as portas quando eles saíram da biblioteca, caminhando sem pressa pelo corredor, suas botas silenciosas sobre o espesso tapete. Raj agarrou um dos garçons enquanto eles passavam pela cozinha, segurando o braço do homem e capturando o seu olhar. — Acho que o Sr. Blackwood pode estar tendo um ataque cardíaco. — disse ele, e depois limpou a memória do homem de si mesmo e de seu povo, e saiu pela porta.
Capítulo 36
Ela estava em um carro, o tecido áspero do assento abrasava sua pele nua como se fosse aço. Ela gemeu e tentou parar de rolar, mas não conseguiu. Ela estava fraca, muito fraca. Algo estava errado. Havia vozes, homens conversando, discutindo brevemente, e então o carro virou de repente, esmagando-a contra alguma parte metálica. Os seus olhos se abriram para a escuridão e ela percebeu que não estava no carro, mas no porta-malas. Lágrimas salgadas rolaram pelo seu rosto, queimando como ácido.
O carro parou e o porta-malas se abriu, cegando-a com a luz fraca. Alguém estava lá, um grande homem se aproximou dela, pegando-a como se ela não pesasse nada. Ele deu alguns passos, ergueu os braços e… ela estava voando pelo ar, o seu grito de terror não era mais do que um lamento triste. Rochas arranharam a sua carne quando ela atingiu o chão e rolou colina abaixo, ervas daninhas e arbustos a rasgando e raspando.
Ela ficou imóvel, incapaz de se mover, ouvindo a tampa do porta-malas bater, as portas do carro fecharem e o motor desaparecer na distância. Tremendo de frio, quase engasgando com o fedor de onde quer que eles a tinham deixado, ela forçou os seus olhos a abrirem e olhou para a lua que era pouco mais que uma fatia curva de branco em um céu claro. Era lindo. Apesar do esmagador cheiro de podridão, apesar do ar gelado mordendo sua pele nua, ela sorriu. E algures em seu cérebro, uma pequena voz lhe disse o que ela já sabia. Ela estava morrendo. Ela silenciou a voz, apenas desligou-a. Ela olhou para a lua, e para os edifícios iluminados demasiado longe para fazer-lhe qualquer bem e em seguida fechou os olhos.
Sarah sentou-se com um grito, alcançando automaticamente o interruptor ao lado da sua cama. Ela caiu no chão com um baque duro, choramingando com a sensação do linóleo duro onde deveria haver um tapete quente. Seu coração martelava enquanto tudo voltava a ela em uma onda. A multidão de repórteres, o armazém… Regina!
Ela engatinhou, finalmente localizando a mesa ao lado da cama onde tinha deixado o seu relógio. Ela verificou a hora em seu mostrador iluminado. Nove horas, mas era da manhã ou da noite? Ela se esforçou para ficar de pé e abriu a porta. Uma onda de som, motores de caminhão e vozes altas, cumprimentaram-na. Ela tropeçou para fora e desceu as escadas, quase caindo contra Danny, o assassino da moça que tinha sido o bartender de Raj no clube naquela noite em Manhattan há cem anos atrás.
— Whoa, linda — Danny disse divertidamente, segurando-a de pé. — Você está bem?
— Ela está viva. — Sarah resmungou. As vozes morreram e ela ficou ciente pela primeira vez que tinha interrompido uma reunião de algum tipo. Raj estava lá, assim como Em e um monte de outros vampiros e seres humanos. E todos eles estavam olhando para ela. Ela encontrou o rosto Raj no meio da multidão. — Ela está viva. Regina Aiello. Temos que encontrá-la.
A expressão em seu rosto bonito ficou escura e fria.
— Por favor. — ela implorou, lágrimas de medo e frustração protegendo-a do gelo no olhar dele. — Você pode me odiar se quiser, mas por favor, encontre-a. Por favor, Raj. Eles nunca me escutaram antes, e todas elas morreram. Mas podemos salvar Regina. Por favor. Por favor. — Ela sentou-se nas escadas, soluçando, seu coração se quebrando. Isso não podia estar acontecendo de novo. De novo não. Droga! Ela não ia deixar isso acontecer de novo!
Esfregando com raiva as lágrimas inúteis, ela agarrou o corrimão e se levantou. Raj ainda estava olhando-a. Ela achava que havia um lampejo de compaixão em seu olhar, mas não podia confiar nele. Não quando a vida de Regina estava em jogo.
— Sei onde ela está. — disselhe ela, sua voz ficando mais forte com cada palavra. — E se você não me vai ajudar, vou encontrá-la eu mesma. — Um pequeno soluço escapou dos seus lábios com a última palavra e ela engoliu em seco.
— Vista-se. — ele disselhe bruscamente. — Danny, você e Cervantes vêm comigo. — ele ordenou, seus olhos nunca deixando Sarah. — Em, envie as equipes para fora, mas fique em contato.
Sarah ainda estava fechando seu casaco quando a porta de tamanho industrial foi aberta e eles se apressaram para a noite. Danny estava dirigindo, então ela lhe disse o que eles estavam procurando. Tudo o que ela tinha para se guiar era o pouco que tinha visto através dos olhos de Regina, mas ela tinha reconhecido aqueles edifícios ao longe.
— Que lado, linda? — Danny perguntou, parando no primeiro grande cruzamento que eles encontraram.
Sarah estava sentada no assento do banco dianteiro de um SUV enorme, com Danny de um lado e Raj de outro, seu braço pendurado sobre o assento atrás dela. Ele atirou em Danny uma carranca pelo carinho e deixou cair a grande mão em seu ombro, puxando-a ligeiramente para longe do outro vampiro. Ela limpou a garganta, determinada a não ser intimidada. Eles não podiam fazer isso sem ela. — Estamos indo para o campus da universidade. Você sabe onde é?
— Com certeza. — Danny disse, piscando para ela. — É um lugar grande, no entanto. Algum lugar em especial?
— Sul do centro médico, mas não vamos parar. Só preciso me posicionar em relação aos edifícios principais e vamos para fora a partir daí.
— O quê? — Raj estalou.
— Sei o que Regina sabe. — Sarah disse calmamente. — Ela está em uma colina de algum tipo ao sul do campus. A distância é difícil julgar, mas cheira como um despejo ou um aterro sanitário.
Raj praguejou sob a sua respiração, mas acenou para Danny, que sorriu e virou à direita, acelerando o SUV bem acima do limite de velocidade.
O coração de Sarah acelerou quando eles chegaram ao campus. Ela tinha quase certeza que estava certa sobre os edifícios, mas vê-los trouxe lágrimas de alívio para os seus olhos. Buffalo era um lugar muito plano, e ela questionou a ideia de algo como uma colina nas proximidades. — É isso. — ela sussurrou. — É exatamente isso. — Ela engoliu as lágrimas. — Ok, você pode dirigir por aqui, Danny? — Ela apontou em uma direção que ficava para sul. — Não sei exatamente…
— Tenho-o, querida. — disse ele com um sorriso encantador. — Vou encontrar a sua garota para você.
Raj rosnou suavemente por sobre a cabeça dela e Danny ficou sóbrio imediatamente, tornando-se todo negócios. Ela ouviu um ronco de risos vindo do banco traseiro, onde Cervantes estava sentado. Ele tinha estado em silêncio até este ponto e ela tinha quase esquecido que ele estava lá.
Sarah se remexeu nervosamente enquanto eles se dirigiam para mais longe do campus. Ela olhava por cima do ombro, tentando alinhar a sua posição com o que podia ver dos edifícios. Cervantes a observou toda vez que ela se virou, seus olhos brilhando em um amarelo pálido na luz fraca. Isso a teria assustado uma vez, mas as últimas semanas fizeram-na praticamente imune às esquisitices dos vampiros.
Algum dia no futuro, quando tudo isso tivesse terminado e a sua vida estivesse de volta a algo próximo do normal, ela faria uma pequena pesquisa. Havia um monte de coisas que Cyn não lhe tinha contado sobre os vampiros, como o fato de que seus olhos brilhavam no escuro ou quando estavam irritados, ou sobre como perpetuamente agressivos eles eram, constantemente testando dominância uns contra os outros. Mas talvez fosse apenas aqueles que pairava em torno dos vampiros realmente poderoso, como Raphael ou Raj. Tinha que haver centenas, talvez milhares deles, que viviam vidas tranquilas e monótonas.
— Sarah.
Ela pulou ao som da voz de Raj. O SUV tinha parado. As mãos de Danny estavam cerradas no volante e ela podia sentir a tensão que emanava do corpo de Raj. E havia algo mais. Ela respirou e quase se engasgou. O cheiro era repugnante. — Oh meu Deus. — ela ofegou. Ela começou a empurrar Raj, desesperada para sair do SUV. — Saia. — ela exigiu. — Me deixe sair!
— Sarah… — Ele começou a dizer outra coisa, mas depois deu de ombros e abriu a porta, deslizando para fora do caminho e pegando-a quando ela quase caiu do assento alto. O chão sob os seus pés estava mole devido à umidade, a sujeira e os detritos decompostos pelo congelamento constante e o ciclo de degelo que era comum naquela época do ano. Ela girou até que pudesse ver os edifícios ao longe, e depois correu.
— Espera! — Raj chamou atrás dela, mas ela ignorou-o, trocando olhares entre o terreno irregular que ela mal podia ver sob seus pés e as luzes do campus ao longe. — Sarah. — Sua mão pesada a agarrou por trás, pegando-a e segurando-a quando ela tentou se livrar do seu aperto. — Pare com isso. — ele ordenou. — Nós vamos encontrá-la. — disse ele em uma voz mais suave, junto ao seu ouvido. — Olha.
Danny e Cervantes estavam por perto, seus olhos brilhando na noite escura como breu enquanto suas cabeças giravam lentamente de um lado para o outro, parecendo alheios ao que acontecia nas proximidades e mesmo tempo bem consciente de tudo. Os braços de Raj ao seu redor se afrouxaram, mas ele não a soltou, impedindo-a de interferir no que quer que fosse que seus asseclas estavam fazendo. Quase como um, os dois vampiros olharam para o mesmo lugar, abaixo da colina onde estavam.
— Meu senhor. — disse Danny, mas Cervantes já estava se movendo mais rápido do que Sarah podia seguir. Num momento ele estava a cinco metros de distância dela e no próximo ele estava tão longe para baixo que ela não teria sido capaz de o ver se não fosse pelo brilho pálido de seus olhos. Danny se aproximou de Raj, como se aquilo que ele tinha encontrado o deixasse inquieto, trazendo à tona o vampiro que necessitava proteger o seu mestre de que Cyn tinha falado.
— Cervantes? — Raj chamou.
Cervantes era um homem grande, não enorme como Raj ou mesmo Danny, mas mesmo assim grande. Ele surgiu da escuridão fétida como um golem13 de um conto de fadas, olhos brilhando num amarelo pálido, sua cabeça um bloco quadrado sobre os ombros largos, e carregando a forma flácida de uma jovem mulher em seus braços.
13 Como um gigante de pedra, um material inanimado.
Sarah gritou e teria ido para eles, mas Raj a parou novamente. — Me solte. — ela exigiu, empurrando-o.
— Leve-a para o SUV. — Raj ordenou. — Danny, abra a parte traseira e pegue o cobertor.
— Ela está viva? — Sarah perguntou, atordoada. Ela não tinha realmente acreditado que Regina poderia ser salva. Não depois de todas as outras terem morrido.
— Por pouco. — Raj disse com uma voz firme. Ele a abraçava, quase arrastando-a para a parte traseira do SUV, esperando enquanto Danny estendia o cobertor e Cervantes colocava a pequena forma na parte traseira.
Raj encontrou o olhar de Danny e depois transferiu o seu olhar para Sarah em um claro sinal para o outro vampiro. Antes que Sarah pudesse objetar, o outro vampiro tinha tomado conta dela, enquanto Raj se aproximava do SUV e da jovem mulher ferida.
— O que está acontecendo? — Sarah perguntou confusa. Ela não podia ver o que Raj estava fazendo, não com Cervantes parado ao pé dele e Danny a segurando no lugar. Então de repente ocorreu-lhe que eles não queriam que ela visse o que ele estava fazendo.
— Oh, querida. — ela ouviu Raj murmurar em voz baixa. — Ela tem sido drenada e não suavemente. — ele disse mais alto. Ele tirou o casaco e empurrou a manga da sua camisola até o cotovelo. Sarah viu-o levantar o braço até à boca e curvar-se para a jovem mulher que estava morrendo.
— Espere. O que você está fazendo? — Ela exigiu.
O olhar agudo de Raj era um brilhante azul gelado por cima do seu ombro antes dele se virar de volta para Regina. — Ele vai salvar sua vida de merda. — Danny sibilou perto do seu ouvido. — Agora, cale-se.
Sarah engasgou com surpresa pelo simpático Danny ter falado com ela dessa forma, seguido rapidamente por constrangimento intenso que ela provavelmente merecia. Mais uma vez, ela assumiu o pior de Raj, e desta vez isso poderia ter custado a vida de Regina. — Sinto muito. — ela murmurou.
Raj a ignorou, mas Danny aliviou um pouco. Sarah estremeceu no ar frio, tentando imaginar quão pior deve ter sido para Regina, nua e morrendo em uma pilha de lixo. Jogada fora porque não tinha mais utilidade para eles.
— Coloque-a no carro, Danny. — A voz de Raj derivou até eles, e levou um minuto para Sarah perceber que ele quis dizer ela, não Regina. Ela abriu a boca para protestar, depois fechou-a com um piscar de olhos, deixando Danny levá-la de volta ao habitáculo14, onde a ergueu no assento e fechou a porta. Caminhando rapidamente para o outro lado, ele se sentou no assento do motorista e ligou o motor, ligando o aquecedor. Sarah colocou os joelhos contra o peito e esperou.
Ela ouviu mais do que viu Raj se levantar. — Cuidado. — ele disse.
Sarah virou e viu Cervantes embrulhando Regina no cobertor antes de agarrá-la, embalando-a contra o seu peito, então deu a volta e deslizou para o banco traseiro enquanto ainda a segurava em seus braços.
— Vamos. — Raj disse numa voz firme e zangada enquanto Sarah se afastava, abrindo um espaço para ele na frente. Ele cuspiu um endereço e Danny acelerou.
Ela esperou até que eles estavam de volta à estrada principal antes de se atrever a perguntar baixinho. — Será que estamos levando-a para um hospital?
Raj olhou para ela e depois para longe. — Casa. Nós estamos levando-a para casa.
Sarah piscou, engolindo o seu primeiro instinto que era o de exigir saber o porquê. Em vez disso, ela se sentou e pensou por um momento e então entendeu. Raj provavelmente já tinha feito mais por Regina ao dar-lhe o seu sangue do que um hospital cheio de médicos poderia fazer, e se eles a levassem para um hospital, haveria perguntas. Perguntas que nem ela e nem Raj queriam responder.
— Será que alguém vive com ela? — Ela perguntou em voz baixa.
— A mãe dela.
Sarah balançou a cabeça, permanecendo em silêncio até que eles pararam em frente de um duplex de dois andares muito parecido com o que ela compartilhou com a Sra. M. A única diferença era o bairro.
— Posso… — A sua pergunta desapareceu quando Raj virou-se para estudá-la. Seu rosto estava vazio, mas os seus olhos ainda tinham aquele brilho gelado neles. — Umm. — ela engoliu nervosamente. — Não quero dizer… isto é, os seus olhos.
A expressão de Raj mudou em um instante, tornando-se mais animada, mais humana. Um rápido piscar e seus olhos voltaram à sua normal cor pálida. — Cervantes. — disse ele, abrindo a porta do SUV. — Você vai levar a menina. Danny, espere aqui. Vamos lá, Sarah.
Era mais um comando que um pedido, mas uma vez que era o que ela queria de qualquer maneira, Sarah não discutiu. Enquanto eles caminhavam até à estreita calçada de concreto e para a escuridão da casa, Raj se inclinou perto o suficiente para dizer: — É a sua vez, querida. Use essa sua cara de mocinha americana e convença a mãe de que somos os mocinhos. Não quero que os policiais apareçam.
O coração de Sarah começou a palpitar. Ela verificou o que estava vestindo — jeans, tênis Nike e uma camiseta debaixo de um casaco de lã de cor clara. Ela parecia mais uma das suas alunas que uma professora, mas talvez ela pudesse fazer isto funcionar. Ela desamarrou o seu cabelo, penteou-o com os dedos para baixo e por sobre os seus ombros sabendo que isso suavizava os ângulos de seu rosto e a fazia parecer mais jovem. Raj se aproximou da porta e colocou-se de lado, olhando-a à procura de um sinal verde antes de tocar na campainha.
Demorou alguns minutos, e ele teve que tocar o sino mais de uma vez. Era, afinal, quase meia-noite. Mas, eventualmente, Sarah ouviu o barulho dos chinelos que a proprietária usava e depois a luz da varanda se acendeu. A mulher que atendeu a porta poderia ser a Sra. M. com mais quinze anos e foi assim que Sarah soube como convencê-la.
— Sra. Aiello?
A mulher piscou, observando o trio improvável parado em sua varanda.
— Sim?
— Sra. Aiello, meu nome é… — Sarah tropeçou nas sílabas desconhecidas. — Susan Siemanski. Tenho trabalhando com a polícia. — Ela viu os olhos da mulher se alargarem, viu o seu olhar se fixar no pacote embrulhado com tanto cuidado nos braços de Cervantes.
— É isso… — ela disse com dedos trêmulos. A Sra. Aiello cobriu os seus lábios, com medo de dizê-lo em voz alta.
— Nós podemos entrar, senhora? — Raj disse suavemente. — Está frio.
— Oh meu Deus, oh meu Deus. — A voz da mulher aumentou quando ela se atrapalhou com a fechadura frágil na porta de tela. Sarah sentiu Raj ficar tenso ao seu lado e sabia que ele estava preocupado com a atenção que o ruído podia atrair. Ela abriu a porta e empurrou-a, colocando os braços em volta da mãe aflita, apressando-a para dentro novamente.
— Silenciosamente, Sra. Aiello. Por favor. Não queremos que a imprensa…
— Não, não. Claro que não. Sinto muito. Você quer… — Ela parecia não saber para onde ir, seu rosto estava pálido e as mãos trêmulas.
— Está tudo bem, Sra. Aiello. Regina está bem. Ou ela vai ficar agora que está em casa com você. — Pelo canto do olho, ela viu Cervantes colocar a menina suavemente sobre um grande sofá. A Sra. Aiello saiu de seu estado de choque, correndo para se ajoelhar diante de sua filha.
— Meu bebê, oh, obrigado, Jesus, Maria e José. — Ela inclinou a cabeça sobre Regina, ombros tremendo com os soluços.
Raj deu a Sarah um olhar longo. Ela corou e ficou de lado, abrindo o caminho para ele se ajoelhar ao lado do sofá. Cervantes se afastou quase relutantemente, como se não quisesse renunciar às suas pretensões sobre as feridas de Regina, mas um olhar de Raj o fez cruzar de volta para a porta da frente, onde ele ficou esperando.
— Sra. Aiello. — A cabeça dela apareceu e ela se virou para encontrar o olhar de Raj. Ela sorriu quando ele pegou a sua mão, e Sarah ficou surpresa ao ver Raj sorrindo de volta. Não o meio sorriso de desprezo que ela esperava dele ultimamente, mas um sorriso genuíno, o sorriso que você daria a uma criança. Ele se inclinou para mais perto e acariciou o rosto da mulher com uma de suas mãos grandes. Era um toque amoroso, gentil e compreensivo, e Sarah se envergonhou quando a memória das coisas horríveis que ela lhe disse voltou para assombrá-la.
— Ela é uma pessoa feliz, a minha Regina, — a Sra. Aiello sussurrou de repente. — Sempre rindo e sorrindo, mesmo quando discutimos. Ela nunca guarda rancor por muito tempo.
Raj assentiu silenciosamente, em seguida, colocou a mão da mãe em sua filha e levantou-se sem problemas, encontrando o olhar de Sarah através da sala. Ela fez tudo o que podia para não dar um passo atrás com medo. Seus olhos estavam brilhantes, parecendo sangrar poder enquanto ele estava ali olhando para ela. Ela congelou, presa em seu feitiço. Então ele se moveu, e de repente, ele era apenas Raj de novo, bonito, arrogante, e impaciente para dar o fora dali. Ele atravessou a sala em dois passos largos. — Vamos. — disse ele.
— Adeus, Sra. Aiello. — Sarah disse em voz baixa, mas a mãe de Regina já tinha esquecido tudo sobre eles.
Sarah saiu para a varanda com um suspiro de alívio, respirando o ar fresco, limpando a sua cabeça não só do calor da casa superaquecida, mas das teias de aranha que pareciam agarrar-se a seus pensamentos. Cervantes já estava subindo no SUV e Raj não estava muito atrás. Ela correu para alcançá-lo.
— O que você fez? — Ela perguntou sem fôlego. Quando ele a ignorou, ela estendeu a mão e agarrou seu braço, forçando-o a parar ou arrastá-la junto. Raj virou, seu olhar era mais frio que a noite. Uma pequena sensação de terror correu através dela, seu coração bateu mais rápido por um momento.
— O que você acha que eu fiz, Sarah? — Ele deu à mão em seu braço um olhar aguçado e ela o deixou cair com um pedido de desculpas murmurado.
Ele afastou-se mais uma vez e ela correu para alcançá-lo novamente. — Você podia muito bem desacelerar, porra. — ela queixou-se. — Você não vai me deixar aqui e sabe disso.
Ele a ignorou, parando na porta do SUV aberto e esperando impacientemente enquanto ela subia e deslizava para o meio do assento. Aparentemente Raj estava com raiva. Que novidade. Se eles estivessem sozinhos, ela poderia ter exigido saber qual era o problema desta vez, mas Danny e Cervantes estavam ouvindo cada palavra, então ela mordeu a língua e não disse nada.
Raj fechou a porta e virou-se para Danny. — Vamos dar o fora daqui. — Talvez Danny soubesse qual era o problema, porque ele girou o SUV para longe do meio-fio e arrancou com um guincho de pneus.
A viagem de volta para o armazém foi silenciosa, mas em vez de entrar, Danny puxou o SUV para o estacionamento e olhou para Raj, as suas sobrancelhas levantadas em questionamento.
— Vocês dois verifiquem com Em. — Raj ordenou, abrindo a porta do seu lado. — Visitem uma das casas de sangue. Sarah fica aqui comigo.
Sarah olhou ao redor. Ela não tinha certeza se queria ir a qualquer lugar com ele neste estado de espírito, ou qualquer outro, pelo que interessa. Mas nem Danny nem Cervantes pareciam se importar com o que Sarah queria. As lanternas traseiras do SUV já estavam desaparecendo pelo tempo que ela processou o fato de que eles estavam saindo.
— Entra no carro. — Raj disse, destrancando o seu carro.
— Talvez eu deva…
— Entra no carro, Sarah. — disse ele, olhando-a por sobre o teto preto reluzente de seu BMW.
— Onde estamos…
— Entre. No. Carro.
Sarah respirou fundo e olhou em volta. Ela estava no meio de um estacionamento vazio, em uma rua escura, a milhas de distância de alguém ou alguma coisa, nem mesmo com seus vinte dólares de emergência no bolso. O armazém estava logo atrás dela, é claro, mas de alguma forma ela duvidava que ele a deixasse lá dentro, mesmo se alguém estivesse lá. E ela realmente não acreditava que Raj ia machucá-la. Ela suspirou, abriu a porta do carro e caiu no assento, grata que pelo menos não teria que subir um metro e meio em linha reta para chegar lá. Pequenos favores.
Raj pensava enquanto ele acelerava pelas ruas escuras, não tendo certeza de onde estava indo. Sarah se sentou ao seu lado, silenciosa por uma vez, não exigindo saber o que ele estava fazendo ou para onde eles estavam indo ou qualquer uma das inúmeras explicações que ela sempre estava exigindo. Ela provavelmente pensava que ele estava zangado. O que ele estava, embora não com ela. O que o deixou furioso foi o que ele tinha descoberto dentro da cabeça de Regina Aiello.
Tomando uma decisão de última hora, ele virou à direita para a autoestrada, a parte traseira derrapando atrás dele na superfície escorregadia. Ele vislumbrou a mão de Sarah quando ela agarrou o apoio de braço e sorriu com satisfação.
— O que aconteceu, Raj? — Sarah disse de repente, numa voz baixa e tensa. — Por favor me diga.
Lá se vai o seu silêncio. Quando ele não disse nada, ela continuou. — Sei que você esteve na mente de Regina. Gostaria de saber o que você encontrou lá.
— Por quê? Assim você pode ter certeza que eu não a estuprei?
Ela se afastou dele tão rapidamente que a sua cabeça bateu contra a janela. Ele podia ouvir as lágrimas em sua voz quando ela disse calmamente. — Tentei ligar para você. Deixei mensagens.
Ele ignorou-a e continuou dirigindo.
— Falei com Jennifer,.— ela acrescentou.
— Eu sei. Ela me disse.
— Você falou com a Jen? Mas…
Ele olhou para cima e viu dor nos olhos dela por ele ter telefonado a Jennifer mas não a ela. Mas então Jennifer não o tinha acusado de ser um estuprador, tinha?
— Eu disse que estava arrependida. — ela disse suavemente. — Sei que você não faria… — Ela olhou para longe dele e engoliu em seco. — Você tem que entender o que é para mim. O que é para elas.
Ele deu-lhe um olhar de soslaio. — Elas?
— As mulheres dos meus sonhos, dos meus pesadelos. Estou dentro de suas cabeças. Sinto tudo o que elas sentem — a dor, o terror, a horrível esperança de que alguém chegará a tempo. — Ela balançou a cabeça e afastou-se dele, olhando pela janela. — Por favor, me deixe em algum lugar. — ela murmurou desesperadamente. — Não me importo onde. Me deixe em um telefone. Posso…
— Fugir de novo, Sarah? — Ela se virou para ele.
— Como você ousa…
— Acusá-la de algo assim? É isso que você queria dizer, querida?
Ela puxou uma respiração profunda. — Eu disse que estava fodidamente arrependida Raj riu abruptamente. — Sabe, acho que é a primeira vez que eu ouvi você xingando. — disse ele, só para irritá-la.
— Sim? Bem, então, foda-se novamente. Deixe-me sair do maldito carro.
— Não.
— Não? — ela gritou para ele. — Estou tão cansada de você… — Suas palavras foram cortadas quando ele atravessou três faixas de tráfego, colocando-se entre duas enormes rodas com apenas alguns centímetros de sobra, antes de zipar para baixo numa rampa e entrar em um dos bairros de classe trabalhadora de Buffalo. Ao seu lado, Sarah liberou o seu aperto de morte do apoio de braço e estava olhando em volta, examinando as ruas. Ela provavelmente não tinha ideia de onde estavam, provavelmente nunca tinha se aventurado para muito longe do campus, com seus restaurantes modernos e bares arrumados.
Raj, por outro lado, sabia exatamente para onde estava indo. Ele fez uma série de voltas rápidas para baixo em ruas estreitas e puxou o carro para uma mancha de asfalto na frente de um bar com aparência decadente. Ele estacionou, saiu do carro e começou a atravessar o lote mal iluminado sem dizer uma palavra. Ele colocou o controle remoto em alerta e a ouviu xingar suavemente. Ela abriu a porta do carro e ele sorriu, sentindo o calor de seu olhar irritado nas suas costas. Ele parou na entrada do bar, educadamente esperando até que ela o alcançou e, em seguida, abriu a porta e fez sinal para ela ir à sua frente. Ela fez uma pausa para olhar cautelosamente através da porta, deu-lhe um olhar duvidoso e cruzou o limiar. Raj riu e seguiu para dentro, deixando a porta se fechar lentamente atrás dele.
Sarah parou no interior, deixando seus olhos se ajustarem. Era ainda mais escuro no interior do que no exterior, especialmente uma vez que Raj deixou a porta fechar com um baque surdo. Ela estava consciente dele impaciente atrás de si então afastou-se, observando quando ele atravessou a sala. Um trio de luminárias baratas estavam pendurados na parede à frente, daqueles com um padrão perfurado no metal que emitiam uma luz fraca e amarelada sobre uma fileira de banquetas. Havia um longo bar à direita. Raj gritou algo para o barmen em polonês. O barman grunhiu e se dirigiu a um freezer pequeno no extremo do balcão.
Sarah andou por entre as mesas vazias para chegar ao bar onde ela deu uma olhada na maçante superfície pegajosa e decidiu ficar afastada. Raj não tinha tais reservas, ele estava inclinado sobre os seus dois cotovelos e um de seus pés estava sobre uma grade que poderia ter sido de bronze em alguma vida passada. Ele olhou-a por cima do ombro. — Você quer algo para beber?
— O que você pediu? — Perguntou ela.
— Vodka. — ele bufou, como se essa fosse uma pergunta estúpida.
— Vou querer o mesmo.
Ele deu uma risada de surpresa e pediu ao barman que servisse dois copos. Carregando os copos em uma mão e uma garrafa de vodka gelada na outra, ele depositou ambos na frente de Raj sem nenhum comentário. O rótulo da garrafa estava em polonês, mas não era uma daquelas vodkas polacas modernas “feito para a América” em uma garrafa bonita, e Sarah tinha a sensação de que o teor de álcool era um pouco maior.
Raj pegou os dois copos e a garrafa e se dirigiu para uma cabine no canto mais escuro do já escuro espaço. Sarah não viu outra escolha senão segui-lo.
— Sente-se. — ele disse. Ele seguiu o seu próprio conselho e deslizou para um dos bancos, deixando cair os copos sobre a mesa e girando a tampa da garrafa com um estalar de juntas de metal. A vodka estava tão fria, que vertia como uma calda fina de líquido, o álcool impedindo-a de congelar.
— Vocês bebem muito. — ela comentou. Ela limpou o assento em frente a ele e se sentou.
Ele deu-lhe um olhar preguiçoso. — Isso é tudo o que fazemos, querida.
Ela odiava quando ele a chamava de querida daquela maneira. Como se o que ele realmente queria dizer era puta, mas ele era demasiado educado. — Não foi isso que quis dizer e você sabe. — disse ela.
Ele sorriu e empurrou um dos copos cheios sobre a mesa para ela. — Tome uma bebida. Você vai se sentir melhor.
Ela duvidava disso. Ela não era muito de beber, mas as poucas vezes que ela tinha bebido as coisas tinham ficado muito piores, não melhores. Ela olhou para o pequeno copo, agora fosco com o líquido frio. A risada dele fez com que o seu olhar se voltasse rapidamente para aqueles olhos azuis que estavam tão gelados como a vodka na frente dela. O olhar dele se moveu lentamente para o copo e novamente para ela em desafio evidente. Merda. Sarah respirou fundo, pegou o copo e trouxe-o aos lábios. Seus olhos lacrimejaram imediatamente com a fumaça de álcool e ela hesitou, mas ele estava olhando-a com aquele sorriso condescendente dele.
Ela abriu a boca e jogou o líquido frio direto na sua garganta, sentindo os músculos lá contraindo em choque. Ela engasgou, lutando contra uma tosse reflexiva, recusando-se a dar-lhe a satisfação, mesmo que seu estômago estivesse em chamas. Jesus Cristo! Como alguém bebia aquela coisa.
Raj riu apreciativamente. — Nazdrovia15 — ele disse e jogou para trás seu próprio copo, batendo-o na mesa e imediatamente levantando a garrafa novamente. Ele apontou para o seu copo, mas ela balançou a cabeça, ainda incapaz de falar, lágrimas rolando por seu rosto. Raj deslizou para fora da cabine, caminhou até o bar e voltou com um copo de água, sem gelo.
— Isso vai ajudar. — disse ele, colocando-o sobre a mesa na frente dela.
Sarah esperou até ter certeza que ela podia abrir a boca sem lhe faltar o ar, em seguida, pegou o copo e bebeu lentamente. A água estava apenas um pouco mais fria que a temperatura ambiente, acalmando a sua garganta traumatizada e lavando o resíduo daquilo que certamente era puro álcool. Ela agarrou alguns guardanapos da mesa e enxugou os olhos com eles, a sua textura áspera parecendo uma lixa em sua pele superaquecida.
— Não é muito de beber? — Perguntou ele.
— Isso — Sarah respondeu — não é bebida.
— É, de onde eu venho.
Sarah tomou outro gole de água e mais outro, antes que ela confiasse em si mesma para dizer algo mais. — Será que você pode me dizer o que descobriu de Regina?
Ele deu-lhe um olhar frio.
— Fui eu quem a encontrou, não você. — ela insistiu.
Ele ainda não disse nada, apenas levantou as sobrancelhas em dúvida.
Ela jogou o guardanapo molhado na mesa. — Você deve ser um dos homens mais frustrantes que eu já conheci.
— Isso é porque eu não sou um homem, querida. Continuo te dizendo isso, mas você não está ouvindo.
— Ótimo. Você é um dos machos mais frustrante que eu já conheci, e quanto a isso? Você ainda é um macho não é?
— Oh, sim. — ele disse sugestivamente. — Definitivamente.
Sarah sentiu calor no rosto mais uma vez, e não era devido à vodka. — Tudo bem. O que estamos fazendo aqui?
Ele encolheu os ombros. — Tomando uma bebida.
Ela suspirou e deslizou mais para a banqueta, virando-se lateralmente e inclinando-se para se apoiar contra a parede e trazer os seus pés para a frente dela. Ela colocou os braços ao redor dos seus joelhos e deixou a cabeça cair para trás e seus olhos se fechar. Ela estava cansada. Ela não conseguia se lembrar da última vez que tinha tido uma noite de sono decente, e não sabia quanto tempo passaria até que pudesse ter uma próxima. Ela pensou em todas as coisas que tinha que fazer uma vez que isto acabasse, uma vez que eles encontrassem Trish e as outras. O pesadelo teria acabado para todos os outros então, mas seria apenas o começo para Sarah.
Ela se demitiria da Universidade, é claro. Ela se sentia mal por deixá-los em apuros como aquele, mas o prazo estava quase acabando e eles encontrariam alguém para cobrir suas aulas. Ela tinha certeza de que eles prefeririam isso a tê-la para terminar o semestre, de qualquer maneira. Era ruim o suficiente que ela estivesse vivendo sob uma identidade falsa, embora eles provavelmente poderiam ter deixado isso passar. Ela não tinha feito nada ilegal. Mas uma médium? Uma mulher que canalizava mulheres cativas em seus sonhos? Isso era coisa daqueles jornais de mau gosto vendidos em balcões de supermercados e não de todo adequado para um professor de qualquer universidade decente. Ela suspirou novamente, desta vez mais profundamente, e alegrou-se por já ter chorado devido à vodka. A última coisa que ela precisava era ficar chorosa com Raj por perto.
— Cansada? — Perguntou ele.
Seus olhos cintilaram abertos e ela deu-lhe um olhar desconfiado. Ele soava quase simpático.
Ele deu uma risada cínica, mais como uma respiração que qualquer outra coisa, como se ele soubesse o que ela estava pensando. — Regina não sabe nada sobre onde ela ficou presa. — disse ele sem preâmbulo. — Ela foi drogada em primeiro lugar e depois… — Ele franziu a testa para ela. — Mas você já sabia, não é mesmo, Sarah? O que mais você não me disse?
Sarah estudou-o por um minuto e desviou o olhar. — Emelie disse que você não entenderia.
— Entender o quê?
— Por que não te contei.
— Você quer dizer por que mentiu para mim?
Ela soltou um suspiro frustrado e deu-lhe um olhar incrédulo. — Por que eu deveria ter dito alguma coisa? O que nós somos, melhores amigos agora, Raj? Inferno, eu nem disse aos meus melhores amigos sobre isso.
— E quanto à sua amiga Cynthia. Aposto que ela sabe.
— É isso o que realmente está incomodando você? Cyn poder saber algo que você não sabe? — A mandíbula dele se apertou e ela tossiu uma risada incrédula. — É isso, não é? Não, espere. Não é Cyn, é Raphael! Você acha que Cyn disse a Raphael. Este é apenas um estúpido caso de superioridade vampírica. — Ela riu amargamente. — Bem, não se preocupe, Raj. Cyn não sabe. Ninguém sabe. — ela murmurou. — Ou, pelo menos não sabiam até que tudo isso aconteceu.
Ela inclinou a cabeça para trás novamente, fechando os olhos. Ela também teria que ligar para Cyn quando isso acabasse, ela pensou cansada. Tinha que explicar tudo novamente. Embora alguma coisa lhe dizia que Cyn entenderia muito melhor que Raj.
Raj se serviu de outra bebida e jogou-a garganta abaixo, batendo o copo vazio para baixo com um estalo de som. — Há pelo menos um vampiro envolvido. — disse ele de repente, sua voz carregada de desprezo. — Ele está colocando as mulheres sob seu controle para elas só verem o que ele quer que elas vejam.
Sarah olhou para ele. — Você sabe quem é?
— Não. Mas posso dizer quem não é. Ele tem poder, mas não sabe o que está fazendo. Seu trabalho é desajeitado e potencialmente prejudicial.
— Regina?
Ele balançou a cabeça. — Ela vai ficar bem.
— Ela não foi raptada de uma das casas sangue?
Raj assentiu. — Sim, mas isso não…
— Foram todas as outras raptadas da mesma maneira? Quero dizer, com exceção de Trish.
— Praticamente, e acho que quem levou a Trish queria na verdade levar a Jen. Ela esteve em uma das outras casas na semana antes. Espere um minuto. — disse ele lentamente. — Por quê?
— Bem, é assim que vamos encontrá-lo.
Seu olhar tornou-se aguçado. — Nós não faremos nada. Eu farei. Você não faz mais parte desta investigação. É muito perigoso. — Ele deslizou para fora da cabine e ficou ao lado dela, esperando-a. — Vamos, vou te levar de volta para o armazém.
Sarah pôs as pernas para baixo, deslizou para fora da cabine e disse calmamente: — Não vou voltar para o armazém. Preciso ajudar a Trish e as outras, e não posso…
— Não.
— Desculpe-me? — Exigiu. Ela viu-o elevar-se sobre ela e desejou estar usando saltos em lugar de seus Nikes.
— Eu te disse. — ele explicou com irritante paciência. — É muito perigoso para…
— E eu te disse — ela o cortou, cada palavra claramente enunciada. — Vou fazer o que quero. Não sou um de seus malditos vampiros, agarrando-se a cada palavra…
Ele agarrou-a em seguida, erguendo-a fora de seus pés e engolindo as suas próximas palavras quando esmagou sua boca contra a dele. Seu beijo era faminto e exigente, o seu toque áspero e familiar ao mesmo tempo, cheio de raiva e necessidade, tudo de uma vez. Ela o beijou de volta, envolvendo os braços à volta de seu pescoço com um pequeno gemido. Deus, ela tinha sentido falta disso. Falta dele. Cada frustrante, detestável e maravilhosa polegada dele.
Ele aprofundou o beijo e ela sentiu suas presas pressionarem contra a carne macia de seu lábio, sentiu a picada e o sangue começar a fluir. Ele gemeu e engatou o corpo dela no seu, deslizando uma das mãos debaixo de sua bunda e apertando-a contra sua ereção que estava dura e longa contra o tecido áspero de seus jeans. Sarah envolveu as pernas ao redor de sua cintura com um suspiro de prazer contra sua boca. — Isso não me vai impedir…
Ele se afastou o suficiente para dizer. — Você fala demais. — E então ela se perdeu na sensação. O toque dele estava em toda parte, sua língua acariciando a dela, o seu beijo passando de sua boca para a mandíbula e depois para o seu pescoço, onde ele permaneceu, sugando a pele logo abaixo da orelha, acariciando-a com sua língua.
Ela estava vagamente ciente de que o barman estava gritando algo em Polonês e que Raj estava lutando para tirar algo do bolso. Dinheiro, ela pensou, quando ele o jogou na mesa e se dirigiu para a porta. Ela não sabia como chegaram lá fora, mas de repente eles estavam no carro, o corpo pesado de Raj esmagando-a contra o metal frio, suas mãos sob a blusa dela, empurrando o sutiã de lado até que seus seios encheram suas mãos e ele estava tocando seus mamilos com dureza requintada. Ela podia sentir seu coração batendo descontroladamente e sabia que ele devia estar ciente disso, sabia que ele podia sentir a corrida do seu sangue sob a pele. Ela passou as mãos pelo seu grosso cabelo ondulado, trazendo-o para mais perto de seu pescoço, sentindo a pressão de seus dentes contra sua pele, querendo sentir…
Um som de repente ecoou, parecendo insuportavelmente alto no estacionamento tranquilo. — Ignore-o. — ela murmurou, apertando as suas pernas em torno dele. O toque voltou e Raj congelou, a respiração dele trazendo tremores para a sua pele quente e úmida. Ela sentiu-o endurecer debaixo dela, e não no bom sentido.
— Não. — Sarah pediu suavemente.
— Jesus. — disse Raj. — Eu não posso…
O toque das mãos dele mudou, não mais carícias, mas uma gaiola impessoal apoiando-a enquanto suas pernas caiam no chão. Ela deslizou seu corpo, sentindo sua evidente excitação quando ele a colocou em seus pés, colocando alguns centímetros e uma centena de quilômetros entre eles. — Eu não devia ter feito isso. — ele murmurou. O maldito telefone tocou uma terceira vez. — Porra. — ele amaldiçoou e se afastou dela, procurando no seu bolso pelo seu celular.
Sarah inclinou-se contra o carro, chocada demais para dizer qualquer coisa, ainda se recuperando da adrenalina de sentir a boca dele contra o seu pescoço, suas mãos em todo o corpo. Ela sacudiu-se ligeiramente. Raj olhou-a, seus olhos não mais quentes, mas fechados e em branco, e Sarah rangeu os dentes, imaginando se ela poderia encontrar um pedaço de madeira afiada em algum lugar próximo. Ela endireitou as suas roupas, recusando-se a olhá-lo, recusando-se a ver o olhar em seu rosto. Ela ouviu as fechaduras sendo destrancadas e entrou no carro, sentando de lado no banco, correndo as mãos trêmulas através de seus longos cabelos, tentando ajeitar da maneira que ela podia, lembrando os seus dedos grossos torcendo-o para fora do caminho, a sua boca… Ela fechou seus olhos contra a sobrecarga sensorial, tremendo ligeiramente.
Raj ficou de costas para ela, o telefone em seu ouvido. — Não vá sem mim, Em. Vejo você em… Porra, vou chegar lá assim que puder. — Ele desligou e empurrou o telefone de volta no bolso, então virou-se e foi para o seu lado do carro. Sua porta se abriu e ele deslizou para dentro, enchendo o carro com a sua presença, sugando todo o ar de seus pulmões. Sarah balançou as pernas para dentro do carro e fechou a porta.
— Você está bem? — Perguntou ele.
— Claro. — ela mentiu. Ela tirou uma fibra inexistente de sua calça, evitando o seu olhar sem dúvida sincero.
— Vou levá-la de volta para o armazém. — disse ele. — Alguns dos guardas estão lá e Em deve estar de volta…
— Não se preocupe com isso. — ela interrompeu. Podia senti-lo olhando-a através do abismo sem fim entre os seus dois assentos.
— Sarah. — ele começou.
— Você não tem de dizer isso. Eu entendo. — Ela se virou e forçou-se a sorrir para ele, encontrando os seus olhos por alguns instantes. — Parece que você precisa ir.
Ele franziu o cenho. — Tenho pessoas no campo, querida, ou eu…
— Não me chame assim. — ela retrucou.
Ele olhou-a, claramente assustado com a nitidez de suas palavras. Ela sacudiu a sua cabeça. — Sinto muito. Isso não importa.
Ele praguejou suavemente sob a sua respiração, mas não disse mais nada, colocando o carro em marcha e tirando-o para fora do estacionamento. Sarah ficou lá, olhando pela janela e dizendo a si mesma que era melhor assim. Ela iria embora de qualquer maneira e a última coisa que precisava era de mais uma complicação, mais um detalhe para limpar antes de pegar a estrada. Não que esse detalhe em particular precisasse ser limpo. Raj tinha deixado bem claro que ele a considerava um erro de sua parte. Então, era melhor assim. Uma ruptura limpa. Ela pegaria seu dinheiro e seria livre de novo, talvez tirasse algumas semanas de folga, dirigindo ao redor e visitando alguns pontos turísticos antes de se estabelecer em algum lugar e construir uma nova vida. Ela cerrou o seu maxilar e olhou pela janela, se perguntando por que a liberdade tinha um gosto tão amargo desta vez.
Capítulo 37
Raj tomou algumas ruas secundárias para voltar ao armazém, quebrando o limite de velocidade por todo o caminho, passando por sinais vermelhos e não diminuindo até que estava entrando no grande armazém. O pequeno sedan de Sarah estava em uma extremidade do estacionamento e ele franziu a testa, não tendo certeza se estava feliz em vê-lo lá. Ela não precisava do seu carro. O que ela precisava era ficar quieta até que ele tivesse certeza que era seguro para ela estar nas ruas. Certo, ele pensou em privado. Como se ela estivesse mais segura aqui com você.
Ele balançou a cabeça em desgosto. Ele a tinha praticamente atacado quando estavam no bar. Ela tinha estado lá dando-lhe um sermão do inferno, como sempre fazia e algo nele tinha acabado por se partir. Ele tentou colocar a culpa na fome. Ele não tinha se alimentado corretamente em dias; o sangue ensacado era bom para beliscar, mas ele precisava de mais. Ele queria mais. O que ele queria era Sarah, e ele a queria da pior maneira, inferno, de todas as maneiras.
Ele estacionou ao lado da porta da frente e Sarah imediatamente abriu a porta, saltando do carro, claramente ansiosa para se afastar dele. Garota inteligente. Ele a seguiu, caminhando ao redor para destravar a porta do armazém, abrindo-a e segurando-a enquanto ela passava por ele. Ele abriu a porta interior antes que ela pudesse chegar nela, segurando-a para ela também. Sarah deu-lhe um aceno silencioso de agradecimento e foi diretamente para a escada, indo para o mezanino.
— Sarah. — ele chamou baixinho, incapaz de suportar o silêncio por mais tempo. Ela parou no pé da escada, de costas para ele, de cabeça baixa. — Eu não pretendia… — começou. — Isto é… Olha, eu provavelmente voltarei esta noite muito tarde, mas estarei aqui amanhã e…
Ela se virou para ele, seus olhos cor avelã estavam escuros e planos, as manchas de ouro praticamente invisíveis. — Não se preocupe com isso. — disse ela com desdém. — Estou bem. — Ela se virou e começou a subir as escadas. — Estou sempre bem. — disse ela em palavras tão suaves que se ele fosse humano não as teria escutado. Isso o perturbava e ele deu o primeiro passo para segui-la, mas seu telefone escolheu aquele momento para tocar mais uma vez, ecoando por todo o armazém.
— O quê? — Perguntou ele.
— Meu senhor.— Em disse com uma voz firme. — Não sei por quanto tempo…
— Estarei aí em cinco minutos, Em. Ninguém faz nada…
— Estou segurando-os, meu senhor, mas não sei quanto tempo mais…
— Ninguém se move antes de eu chegar. — ele rosnou. Ele colocou o telefone no bolso e correu para fora do armazém, entrando no carro com a velocidade desumana de seu sangue de vampiro.
Alguma parte de Sarah ouviu Raj sair, ciente de que havia problemas em algum lugar. Essa mesma parte sua esperava que ninguém se machucasse, muito menos Emelie, ou até mesmo Raj. Mas a maioria de seus pensamentos estavam em algo completamente diferente. Ela tinha visto o seu carro na frente e imaginou se eles haviam deixado as suas chaves. Não que isso importasse. Ela tinha uma segunda chave em sua bolsa, uma cópia de segurança que ela começou a carregar depois que trancou pela primeira vez as chaves em seu carro há dois anos e decidiu que a chave reserva não lhe faria nenhum bem em casa quando ela estava a quilômetros de distância. Ela caminhou pelo mezanino em direção aos seus aposentos temporários, sentindo o piso irregular da superfície do metal sob seus pés, meio que ouvindo os sons de algum evento desportivo vagando ao longo da área de estar, onde um par de guardas humanos estava na frente da grande tela. Os vampiros, ela supunha, estavam todos fora para fazer o que eles fazem no meio da noite. Ela checou o seu relógio. Faltavam alguns minutos para a uma da manhã.
Ela entrou no quarto, verificando automaticamente para ter certeza de que tudo estava do jeito que ela tinha deixado. Maníaca por controle, isso era o que ela era. Ela sabia até a ordem da colocação de cada lápis e caneta. Linda tinha brincado com ela sem dó por causa disso, mas depois Linda não entendia. Ninguém o fazia. Uma vez que sua vida tenha sido tirada de você, cada momento seu entregue nas mãos de estranhos com pranchetas e olhos burocráticos… Quando você finalmente a consegue de volta, quando sua vida é sua outra vez, cada momento, cada detalhe, torna-se importante.
Um rápido exame no pequeno espaço lhe disse que seu computador portátil estava onde ela o tinha deixado, juntamente com as poucas coisas que ela tinha conseguido colocar em sua mochila antes de se apressar para longe do duplex… nem mesmo há dois dias atrás? Parecia muito mais tempo do que isso. Não parecia certo que o seu mundo inteiro pudesse ser virado de cabeça para baixo em um tempo tão curto.
Ela puxou uma bolsa de debaixo da cama e começou a arrumar tudo, inventariando o que ela tinha, fazendo uma lista mental do que precisava comprar e combinando-o com o seu dinheiro. Ela teria que parar num caixa eletrônico em seu caminho para fora da cidade, e na primeira chance que tivesse, ela retiraria todo o montante guardado. Ela tinha que pagar uma taxa inicial para isso, o que parecia injusto, mas pelo menos ela teria todo o dinheiro, com nenhuma maneira para qualquer um usar as contas para encontrá-la.
Pegando a sua mochila e seu computador portátil, ela verificou o quarto uma última vez e saiu para o mezanino, fechando a porta atrás dela. Os guardas que estavam à frente da TV olharam para cima, e ela pensou a princípio que eles iriam tentar detê-la, mas ela acenou alegremente, como se não fosse grande coisa e eles relaxaram. Prendendo a sua respiração, ela abriu primeiro uma porta e então a outra, caminhou até o seu carro, abriu a porta, jogou suas coisas dentro e foi embora. Ela não sabia para onde iria eventualmente, mas sabia onde seria a sua primeira parada. Raj podia pensar que este caso se tornou muito perigoso para ela, mas ele não entendia. O verdadeiro perigo era para Trish e quem mais ainda estava sendo mantido pelos vampiros que tinham jogado Regina fora como lixo ontem. E independentemente do que Raj poderia pensar, Sarah não iria fugir desta vez.
Enquanto dirigia através do tráfego escasso, ela procurou no telefone celular até que encontrou o número de Jennifer Stewart. Era muito tarde para a Professor Stratton chamar um aluno, mas desde que Sarah não seria professora por muito mais tempo, isso não importava.
Jen respondeu com uma voz animada. Sarah podia ouvir música e risos ao fundo e pensou sobre como deveria ser adorável ter dezoito anos e não ter preocupações. Aparentemente, a ausência continua de Trish não era exatamente um peso na mente de sua companheira de quarto.
— Jennifer. — disse Sarah, — Olá, aqui é Sarah Stratton, Professora Stratton?
— Oh, sim. — disse Jen, obviamente confusa e não muito emocionado com a chamada tarde da noite. — Olá, Professora Stratton.
— Só tenho uma pergunta rápida, Jen. Raj pediu que eu ligasse. — Ok, isso era uma mentira — uma pequena mentira deslavada.
— Claro! — O entusiasmo de Jen aumentou cerca de mil pontos. — Tudo o que eu puder fazer!
— Obrigado, Jen. Ouça, você disse a Raj sobre a casa de sangue que você visitou, mas existe um par delas nessa área, e queremos ter certeza que temos a certa.
— Claro, eu entendo. É aquela em East Amherst, uma espécie de casa de funk com uma vibração de discoteca. Totalmente da velha escola.
— Mmhmm. — Sarah murmurou. — Sabe qual é a rua?
— Oh, deixe-me pensar. Eu não conduzi e você sabe como é.
— É importante, Jen. — Sarah disse distraidamente, passando pelo seu velho duplex. — Estamos muito perto e isso pode nos ajudar a encontrar Trish. — Um pouco de culpa nunca fez mal.
— Oh, cara. Trish. Sim. Vejamos, Evergreen ou qualquer coisa Christmasy. Alpine! Era isso. Foi em Alpine, logo depois de Stahley. Lembro-me porque uma das minhas amigas tem esse sobrenome e eu perguntei-lhe se tinha algo a ver com o avô, mas ela disse que não.
Sarah percebeu que entre isso e um mapa on-line, ela poderia encontrar o lugar. Se o pior acontecesse, ela tinha apenas que subir e descer a rua à procura de uma casa com um monte de gente entrando e saindo.
— Obrigada, Jen. Isso realmente ajudou. E desculpa por telefonar assim tarde.
— Hey, não há problema, professora Stratton. Estamos nas férias de primavera, sabe?
— Certo. Divirta-se, Jen.
— Uh. Ok. Tchau.
Por esse tempo, Sarah tinha dado a volta e estacionado no beco sem iluminação por trás do duplex. A frente estava completamente escura, sugerindo que a Sra. M. ou já estava dormindo ou ainda continuava na casa do seu filho. Sarah esperava que fosse o último porque a mulher tinha os ouvidos de um morcego.
Ela correu até o portão e por toda a grama seca do quintal para chegar à entrada da sua cozinha, inserindo a chave e abrindo a porta o mais silenciosamente possível. Colocando seu computador portátil na mesa, ela virou-o e, em seguida, na ponta dos pés foi até às escadas para se dirigir ao seu quarto em busca de algo para vestir. Ela não sabia que código de vestimenta tinha uma casa de sangue, mas provavelmente não era jeans e camiseta. E se ela esperava obter qualquer informação, ia ter que se misturar.
Capítulo 38
Raj deslizou até uma vaga e estacionou o carro no lado de fora da propriedade de Krystof. Ele deixou o motor ligado, abriu a sua porta e atravessou a rua, indo para onde Emelie e os outros três estavam reunidos, o seu poder vibrando em torno dele como uma corrente elétrica, seus olhos tão brilhantes como o sol através do gelo glacial.
Todos os seus vampiros, mesmo Emelie, caíram de joelhos quando ele se aproximou.
— Levante-se e me diga que porra está acontecendo.
Em levantou-se graciosamente, assumindo uma posição de descanso num desfile, as mãos cruzadas atrás dela e os ombros para trás. Ela elevou os olhos momentaneamente para os dele, mas rapidamente baixou-os. — Meu senhor. — ela começou. — Nós estávamos fazendo as nossas rondas usuais. Quatro equipes, visitava-se cada casa por um tempo e seguia-se em frente. Eu estava com Abel quando recebi um telefonema de alguém que usava o telefone celular de Simon.
— Onde Simon deveria estar?
— No armazém, meu senhor, mas ele tinha ligado mais cedo para avisar que estava indo comprar produtos eletrônicos de algum tipo.
— Quem te ligou?
— A pessoa não se identificou, meu senhor, apenas disse que se eu quisesse Simon de volta vivo, era melhor eu encontrar você e te trazer aqui na próxima meia hora. Isso foi… — Ela consultou o seu relógio. — Quarenta minutos atrás, meu senhor.
Ele não ouviu qualquer julgamento na voz de Emelie. Não precisava. Ele estava praticamente transando com Sarah num estacionamento enquanto alguém sequestrava Simon debaixo do seu nariz.
— Eu te chamei primeiro, claro. — Emelie continuou. — E em seguida Abel e eu viemos diretamente para cá, junto com Danny e Cervantes. — Ela acenou para os outros vampiros. — Liguei para o resto das equipes e os mandei de volta para o armazém, caso essa fosse uma espécie de operação para tirar todo mundo de perto.
— Eu vim do armazém. Eles ainda não estavam lá.
— Não, meu senhor. Eles estavam mais longe, foi por isso que os mandei para o armazém enquanto nós vínhamos para cá. Chegamos à mais ou menos trinta minutos atrás, mas não houve confirmação da nossa presença. Por seu comando, não fizemos nenhuma tentativa para nos aproximarmos da casa.
— Tudo bem…
O telefone de Em tocou naquele momento. Ela verificou o visor, olhou para Raj e disse: — Yossi. — Ela escutou por menos de um minuto e desligou. — Ele e os outros estão no armazém. Tudo parece normal, mas eles estão despertando o resto dos guardas humanos como medida de precaução.
Sarah estava no armazém. Mas ele não podia pensar nisso agora. — Tudo bem, vamos ver o que o velho quer.
Raj levou os seus vampiros para a parte traseira da casa e, sem se preocupar em bater, abriu a porta da cozinha. Ele olhou para o pedaço de carne que Krystof tinha colocado de guarda lá e passou caminhando. Ele não correu, não atirou coisas, apenas caminhou como se tivesse o direito de estar lá e ai de quem ousasse dizer-lhe o contrário. Ele podia sentir Em e os outros atrás dele, uma parede de força tanto física como vampírica. Ele não era como Krystof. Ele não fazia vampiros de seres humanos estúpidos e nunca transformou ninguém que estivesse relutante. Seus filhos eram inteligentes e fortes e eles lhe serviam com algo mais do que lealdade pessoal, de acordo com o Em, afeto.
Mas Simon não era um vampiro. Ele era humano. Ele podia ser mais inteligente que qualquer um deles, mas não era fisicamente forte, que era provavelmente a razão dele ter sido escolhido como cabra de sacrifício por Krystof. No entanto, ele ainda não tinha sido magoado. Simon estava com Raj há um longo tempo, muito mais do que as aparências levariam a acreditar. Ele alimentava-se regularmente do sangue de Raj e isso mantinha-o vivo e bem, o que significava que Raj saberia se ele tivesse sido ferido.
A sala que ficava no fundo da escada estava tão lotada como tinha estado antes, mas ele não fez nenhuma pretensão de amizade. Ele deixou o seu poder crescer, empurrando tudo e todos do seu caminho como se fossem lixo na rua — que era basicamente como ele os via. Ele não viu Jozef, mas talvez o chefe de segurança estivesse dentro do escritório com seu mestre… e Simon.
A porta abriu-se antes que ele chegasse lá, balançando aberta em modo de convite. Ele sorriu. Se Krystof pensou que ia impressioná-lo com um truque de magia barata, estava enganado. Ele deu a Em um aceno de cabeça por cima do ombro e soube que ela ia colocar os outros na porta enquanto o seguia para dentro. Ele teria gostado que fosse ao contrário. Não porque não confiava em Em, mas porque ele o fazia. Se por acaso houvesse um confronto entre ele e Krystof, ele gostaria que Em estivesse longe para que ela tivesse a chance de salvar tantos dos seus filhos quanto possível. Mas ele não faria isso com ela. Não iria pedir-lhe para ficar de fora enquanto ele enfrentava a maior ameaça de suas vidas.
— Rajmund. — Krystof disse suavemente. Ele estava sentado no mesmo sofá onde a garota tinha ficado na outra noite. Ele se recostou em um travesseiro, pernas cruzadas no joelho, uma mão descansando graciosamente sobre o braço estofado do sofá, enquanto a outra estava na cabeça de Simon, acariciando seus finos cabelos castanhos como se ele fosse uma espécie de cão que estava ajoelhado ao lado do seu mestre. Mas Krystof não era o mestre de Simon.
Raj sentiu a sua fúria crescer e rapidamente refreou-a, sabendo que essa era a reação que Krystof estava esperando. Ele olhou para o rosto do velho e viu decepção lá. Ele sorriu. — Acredito que você tem algo meu. — disse ele suavemente.
Krystof riu levemente, mas o olhar que ele deu a Raj não era de divertimento. — Mas, Rajmund. — ele repreendeu suavemente, sua voz estava mais dura quando ele continuou — você não deveria ter nada seu.
O sorriso de Raj só cresceu, e por um momento, ele viu um lampejo de medo substituir o olhar presunçoso nos olhos do seu Senhor. — Deixe de brincadeiras, Krystof. O que você quer?
O lorde vampiro encolheu os ombros graciosamente e levantou-se, deixando Simon para trás. O único movimento de Raj foi se virar, mantendo Krystof à vista. Mas ele estava ciente que Emelie rapidamente deu um passo para o seu lado, colocando Simon atrás deles. Krystof sentou-se em sua mesa e apontou para Emelie. — Você os treinou bem, eu vejo. Nem mesmo consegui que esse humano… — Ele acenou para Simon, que tinha se levantado. — Me dissesse qualquer coisa. Claro, eu poderia tê-lo forçado.
— Você poderia ter tentado. — Raj corrigiu.
A boca de Krystof se apertou em irritação. — O que eu quero — disse ele, ignorando a verdade na declaração de Raj — é um relatório sobre a investigação.
Raj olhou-o. — Você não poderia telefonar? — Ele zombou.
— Eu não deveria ter que fazê-lo — disse Krystof de forma petulante, batendo na mesa com uma mão. — Trouxe você aqui para resolver o meu problema, não para ter o teu povo correndo por toda a minha cidade a cutucar os meus assuntos.
Raj não poderia acreditar em seus ouvidos. Ele teve que se esforçar para manter a surpresa fora de seu rosto, e esperou que Emelie estivesse fazendo o mesmo. Krystof, um maldito senhor vampiro, tinha efetivamente cedido o seu território. Ele não só tinha admitido ter conhecimento sobre o exército privado de Raj, mas se queixou, queixou-se, como uma criança que não estava feliz por eles se estarem a infiltrar em sua cidade natal.
— O que você gostaria de saber? — Raj perguntou.
— Eu gostaria de saber — Krystof disse, imitando Raj — o que você descobriu. Existe um vampiro envolvido nesses crimes ou não?
Raj pensou sobre o que dizer, sobre o quanto devia admitir que sabia. Ele não tinha perdido o fato de que Jozef não estava em parte alguma e se perguntou o que aquilo significava. Estava o chefe de segurança se preparando para atacar o armazém enquanto Raj permanecia ali respondendo àquelas perguntas ridículas? Ou teria ele se ausentado como demonstração passiva de apoio a Raj? Demasiadas incógnitas, ele pensou.
— Parece haver envolvimento da parte de um vampiro. — disse ele com cuidado. — Ainda estou investigando e espero ter uma solução nas próximas quarenta e oito horas. Tenho certeza que você concorda que quem quer que seja, deve ser destruído imediatamente.
Krystof olhou rapidamente para ele, e Raj sentiu-o pressionando a sua consciência, tentando forçá-lo a revelar mais do que ele tinha dito. Raj olhou-o de volta lhe dando nada e isso lhe disse tudo. Seu senhor deu de ombros e desviou o olhar primeiro. — Muito bem. Você vai me informar antes de tomar qualquer decisão final.
— Claro. Emelie. — ele disse, e esperou enquanto ela escoltava Simon até à porta e abria-a. Ele viu pela sua visão periférica como Cervantes e Abel agarraram o ser humano muito menor e colocavam-no entre eles, e ele pôde sentir a atenção do seu povo, tanto dos vampiros como do humano, centrada exclusivamente nele, esperando pelo seu comando. Ele sentiu uma onda de orgulho por sua disciplina e dedicação total. Eles ficariam com ele nas Portas do Inferno se ele pedisse. — Estamos saindo. — ele disse.
Ele deu a Krystof um pequeno aceno de reconhecimento e saiu do escritório. — Eu queria pegar a tua mulher. — Krystof provocou por detrás dele. — mas não consegui encontrá-la.
Raj congelou. Ele olhou para cima e viu Emelie observá-lo, claramente preocupada com o que ele poderia fazer. Ele sentiu-se um pouco decepcionado por ela duvidar dele e deixá-lo mostrá-lo em seus olhos. Em corou e baixou o olhar.
Quanto a Krystof, Raj virou para onde ele estava e disse na voz mais fria que conseguiu reunir — Nunca mais toque em alguém meu novamente, Krystof. Em ninguém.
Ele passou por entre os seus vampiros, levando Simon à sua frente, sentindo os outros se aproximarem de suas costas. Emelie liderou o caminho até às escadas e através da cozinha, não parando até que eles estavam na rua.
— Sinto muito, meu senhor. — Simon estava dizendo miseravelmente. — Fui estúpido e me distraí. Não os vi até que estavam em cima de mim e…
— Não se preocupe com isso, Simon. — disse Raj. — Se não fosse você, teria sido outra pessoa. — Ele consultou o relógio e viu que ainda tinha algum tempo para parar e arranjar um doador antes que o sol o forçasse a voltar ao seu covil. Ele usaria um dos bares; Eles estavam sempre mais lotados do que os clubes que estavam abertos durante a semana, e era tempo dele superar essa fixação que tinha por Sarah. — Emelie. — ele disse, — dê a Yossi uma ajuda e leve Simon de volta ao armazém. Vou…
O telefone de Em tocou. Ele franziu a testa, mas sacudiu a cabeça, dizendo-lhe para atender. Droga, ele precisava ir antes que ficasse muito tarde.
Ele viu o rosto de Em cair, viu-a se virar para ele, seus olhos arregalados de medo.
Capítulo 39
— Maldição! — Raj rosnou. — No que diabos ela estava pensando?
Em estava ao telefone falando rapidamente, enquanto Raj dirigia feito um louco, passando sinais vermelhos e gritando nas curvas. Sarah estava na casa de sangue de Kent. Sarah que era tão suscetível à sugestão dos vampiros que quase teve um orgasmo depois de dançar com ele por cinco minutos naquele maldito clube em Manhattan. Condenada. Ele a avisou sobre os perigos, mas isso a tinha parado? Não. É claro, a culpa era pelo menos em parte dele. Ele deveria ter pensado melhor antes de dar-lhe qualquer pequena informação, devia ter sabido que ela iria…
Em desligou e discou outro número. Raj olhou-a. — Se certifique que é ela. — Em estava dizendo. — Se parecer que ele vai afundar as presas nela você deve detê-lo. Não me importa o que é necessário. Estaremos aí em quinze minutos. — Ela desligou e deu-lhe um olhar preocupado. — Era Yossi. Ele e Gino já estão na casa de sangue. Yossi está no interior.
Maldito Kent. Ele mataria aquele filho da puta se Sarah tivesse sequer um arranhão sobre ela. Ele deu uma guinada sobre duas rodas e pressionou o pedal do acelerador, sentindo a sua raiva crescer com cada milha que passava. — Que merda ela estava pensando? — Ele repetiu.
— Provavelmente que se você não lhe contaria nada, ela descobriria por si mesma.
Raj rosnou baixo, poupando-a de um olhar frio. — Não abuse da sua sorte, Em.
Ela deu de ombros. — Não sei porque você está jogando este jogo com ela ou com você mesmo. Você a quer, então pegue-a.
— Foda-se. — Ele bateu com o punho no volante e teria o quebrado em dois se ele não tivesse recuado no último segundo. — Sou um fodido vampiro. Você acha que isso é o que ela quer? Acordar todas as noites para um homem morto que bebe sangue para sobreviver? Além disso, ela me acusou de fazer masturbação mental em Jennifer Stewart, pelo amor de Deus.
Era difícil para ele admitir que a mulher com quem estava obcecado — a primeira mulher desde a sua transformação que significava mais para ele do que apenas uma rápida refeição — pensou que ele era capaz do ato mais hediondo que um homem pode cometer.
Em estava o encarando, mas ele ignorou-a. — Sarah errou. — Em disse pacientemente. — Ela admitiu-o. Ela não entendia as coisas que fazemos, não naquela altura de qualquer maneira. E quanto ao resto… Raj, meu amigo, você é um dos melhores homens que eu conheço. Uma das melhores pessoas que já conheci. Então você é um vampiro, e daí? Eu também sou. E Sarah tem idade suficiente para tomar as suas próprias decisões. Ela é uma maldita professora universitária, por Deus. Você não tem o direito de tomar essa decisão por ela.
— Se ela foi tocada de alguma maneira, eu vou destruir todos que estiverem naquela maldita casa. — ele rosnou.
— Eu sei.
Gino estava esperando por eles lá fora, parado nas sombras perto da porta. Ele desceu da varanda com um salto, encontrando-os na metade do caminho, seu olhar repousando cautelosamente em Raj. Gino era um vampiro forte, fisicamente poderoso e destemido. Mas ele deu uma olhada na fúria que aparecia no rosto do seu mestre e se ajoelhou, falando para o chão. — Ela ainda está lá, meu senhor. Yossi está com ela.
Raj agarrou Gino pela frente da sua jaqueta e arrastou-o para seus pés. — Com ela como?
— Guardando-a, meu senhor. — Gino insistiu. — Apenas observando. Os outros estão… — Seus olhos se arregalaram com medo quando Raj o aproximou dele, suas presas estavam totalmente estendidas e os seus olhos brilhavam num azul gelado. — Mestre. — ele guinchou.
Em estendeu a mão e agarrou o braço de Gino, puxando-o para fora do alcance de Raj e jogando-o atrás dela. — Isto é um desperdício de tempo, meu senhor. Precisamos entrar. — Ela deu a Raj um empurrão que mais ninguém teria ousado e tentou andar na frente dele, mas ele rosnou para ela, caminhando para a varanda e entrando na casa, ignorando o protesto de Em. — Pode ser uma armadilha!
— Jesus, Em. — Gino queixou-se enquanto seguia-o através da porta. — Você acha que eu ia deixá-lo entrar em uma armadilha?
— Apenas cubra as nossas costas. — Em disse.
Estava quase tão escuro no interior como estava no exterior. A iluminação por cima de suas cabeças tinha sido ofuscada até que as pequenas lâmpadas quase não brilhavam, mesmo para a visão de um vampiro. A música era alta o suficiente para dar aos seres humanos uma falsa sensação de anonimato no meio da multidão, mas não o suficiente para incomodar os vizinhos. Ele ouviu Gino dizer por trás dele — Sempre em frente, meu senhor, para o quarto dos fundos.
Raj seguiu em frente, ciente dos seres humanos e vampiros que corriam para sair do seu caminho, deixando uma onda de sua ira bater de leve em quem não se moveu rápido o suficiente. Alguns dos vampiros o conheciam pessoalmente, outros só reconheceram o peso do seu poder. Mas todos eles se dispersaram. Um ou dois dos seres humanos mais ignorantes se opuseram em voz alta, suas palavras interrompidas pela mão apertada de algum vampiro sobre a boca do insano.
Raj estava ciente de tudo e ao mesmo tempo de nada, sua mente completamente ocupada com a imagem de Sarah escondida em algum espaço privado, embriagada com a sobrecarga química dos feromônios dos vampiros que ele podia sentir obstruindo o ar da casa de sangue.
Ele caminhou através do corredor estreito e foi para o grande quarto traseiro que fora outrora o quarto de alguém da família. Estava igualmente lotado aqui atrás, mas os seres humanos eram mais corajosos, mais utilizados pelos vampiros com posições elevadas. Uma mulher, sombriamente bela e voluptuosa, pensou oferecer-se para Raj. Ele olhou-a, mal compreendendo o que estava vendo, e então ela se foi, puxada para longe por Em ou outro alguém. Ele não se importou com isso porque de repente ele viu uma mecha de cabelo loiro no meio da multidão e ouviu um riso melodioso que lhe era familiar. Ele viu uns dedos grossos passearem através daquele cabelo para segurar a parte traseira de seu pescoço. E tudo o resto foi perdido em seu rugido de desafio.
Raj atravessou a pista de dança lotada como um tornado, jogando corpos fora do seu caminho até que chegou a Sarah. Agarrando-a pela cintura, ele colocou-a atrás dele, vagamente consciente de que Em estava lá para levá-la. Com o mesmo movimento, ele impulsionou a mão em direção ao vampiro que ousara tocar em Sarah e empurrou-o através do quarto, fazendo-o bater na parede com um estalo alto. O vampiro era tão grande quanto Raj, com longos cabelos escuros que pendiam em cachos sobre os ombros e olhos escuros que queimavam vermelhos de raiva por sua presa ter sido roubada dele. Ele uivou sua fúria e colocou-se de pé, presas totalmente distendidas, levando um punho carnudo à mandíbula de Raj. Raj não se incomodou em abaixar-se, apenas deu um pequeno balanço, deixando o punho acertar nada mais que ar e mal sentindo o impacto do braço grosso do vampiro em seu ombro. Mandando o seu próprio punho ao intestino de seu oponente, ele agarrou a garganta do vampiro e deixou uma onda de poder colocá-lo sobre seus joelhos.
Os olhos do vampiro se arregalaram de dor e choque quando o poder de Raj o atingiu, que foi quando o seu cérebro finalmente registrou quem o estava atacando. Algum instinto animal de autopreservação surgiu e um confuso som de lamento saiu de sua garganta, um apelo por compreensão, por misericórdia.
— Raj. — Em disse atrás dele, sua voz mal ouvida acima da raiva que martelava em sua cabeça. — Meu senhor. — ela gritou, mais alto desta vez e ele deu um grunhido irritado por cima do seu ombro sem largar a sua vítima.
— Ele não poderia ter sabido, Raj. — Em disse atentamente, e depois com maior urgência — Meu senhor, estas são as suas pessoas.
— Ainda não, eles não são. — ele disse.
— Senhor Rajmund! — Ela exigiu, sua voz dura com condenação.
Ele olhou para o vampiro aterrorizado que estava de joelhos diante dele, pensando, depois de dias a brincar de política com o Krystof e com os policiais, como seria boa a sensação de rasgar a garganta desse vampiro fora, de provar o seu sangue e deixar de lado o seu corpo sem vida para que virasse pó diante dele. Ele ficou ciente de que o quarto estava mortalmente silencioso, que todos os seres humanos tinham ido, empurrados para longe pelos poucos vampiros que ainda conseguiam pensar racionalmente diante do estrondoso poder de Raj. Ele levantou os olhos e examinou os rostos dos vampiros que ficaram. A maioria se recusou a olhar para ele, seus olhos se afastando dele, alguns chegando ao ponto de se deixarem cair a um joelho em submissão. Outros estavam ansiosos, antecipando o frenesi que se seguiria se Raj matasse o vampiro de cabelos escuros. Ele segurou o olhar daqueles até que cada um deles tinha caído de joelhos, curvando-se diante do seu poder maior.
Mas havia alguns, muito poucos, que se ajoelharam submissamente, mas que também observaram. Eles sabiam quem ele era, sabiam que ele seria provavelmente o seu próximo senhor, e eles estavam julgando-o, esperando para ver que tipo de senhor ele seria. Raj queria uivar de frustração.
Ele olhou para o vampiro de cabelos escuros, viu terror e resignação nos seus olhos. — Foda-se. — ele rosnou. Ele puxou de volta o seu poder e libertou o vampiro, deixando-o cair no chão onde ele tossiu e ofegou por ar.
— Perdoe-me, meu senhor. — ele respondeu asperamente.
Raj girou para longe e pegou Sarah de Yossi, que estava a segurando cuidadosamente longe do seu corpo, deixando claro que ele era apenas um zelador e nada mais. — Foda-se, também, Em. — Raj estalou quando passou por ela, puxando Sarah para fora do quarto e pelo corredor.
Ele esperava que Sarah lutasse, que protestasse contra o seu agarre brusco, mas ele não tinha contado com a sobrecarga de feromônios de vampiros ou sua suscetibilidade a eles. Em vez de lutar, ela colocou os braços ao redor do seu pescoço e começou a abraçá-lo, esfregando os seus macios seios fartos contra o seu peito. — Pare com isso, Sarah. — ele murmurou, constrangido por ela.
— Raj! — Ela disse em deleite, como se percebendo quem estava segurando-a. — O meu vampiro favorito!
— Cristo. — ele murmurou. Ele reforçou o seu domínio sobre ela, gemendo quando ela deu um pequeno salto e envolveu as pernas ao redor de sua cintura. Ele podia sentir o calor dela contra o seu quadril, podia sentir o cheiro familiar do seu cabelo, seu perfume. Seu próprio corpo, que já estava acelerado devido à adrenalina, reagiu à sua presença e ele amaldiçoou em voz baixa. Ele precisava levá-los para bem longe deste lugar.
Kent pisou na frente dele, caindo de joelhos. — Perdoa-me, meu senhor, não tinha ideia de que ela era… — Sua voz foi silenciada pelo aperto forte do poder de Raj, que tirou o seu fôlego sem nem o tocar.
— Você sabe agora, seu bastardo. — Raj rosnou e libertou Kent que cedeu quase até ao chão, ofegando severamente. — Em! — Raj rugiu por cima do ombro e saiu da casa, meio que carregando Sarah que agora estava beijando-o, passeando os lábios macios ao longo do seu pescoço, sua língua mergulhando em seu ouvido e saindo novamente.
Caminhando para o BMW, ele tentou livrar-se do emaranhado de braços e pernas sem machucá-la. Ela começou a rir, como se esse fosse um jogo divertido, deixando-o puxar um braço para longe apenas para substituí-lo quando ele se mudou para o outro, caindo para os seus pés de forma obediente quando ele exigiu, e em seguida pulando para cima novamente quando ele chegou ao carro, forçando-o a pegá-la ou deixá-la cair em sua bunda. Ele ficou tentado a fazer exatamente isso, mas Emelie e os outros tinham saído da casa e estavam assistindo todo o circo. Pelo menos ninguém mais ousou aventurar-se fora, ele pensou com gratidão.
Mas enquanto Yossi e Gino estavam conscientes da raiva que Raj mostrou anteriormente e mantiveram o rosto cuidadosamente em branco, Em não se preocupou em esconder a sua diversão. — Você pelo menos devia marcá-la se for agir como homem das cavernas com ela, meu senhor. — ela comentou.
— Sim, Raj. — Sarah sussurrou. — Você devia pelo menos… — Suas palavras foram substituídas por um som agudo quando Raj a pegou e jogou-a em seu carro.
Em sufocou uma risada, mas Raj não achou graça e deixou que ela soubesse disso. — Vejo você amanhã à noite. — disse ele friamente. — No armazém.
Em ficou sóbria imediatamente, parecendo perceber pela primeira vez quão zangado ele ainda estava. — Raj. — disse ela, tocando em seu braço. — Talvez você deveria deixar-me…
Ele olhou para sua mão e ergueu um frio olhar azul para o seu rosto. — Você acha que eu vou machucá-la, Emelie?
Em puxou a sua mão para trás e a sua boca se apertou por alguns instantes. — Não. — ela afirmou.
— Então te verei amanhã.
Ele entrou no carro e fechou a porta. — Coloque seu cinto de segurança. — ele ordenou a Sarah.
— Talvez eu não queira…
— Ponha a porra do cinto de segurança ou farei isso por você, e nós dois sabemos que eu posso.
Sarah mostrou a língua para ele e colocou o cinto, sentando em silêncio de braços cruzados enquanto Raj acelerou para longe da casa de sangue, seus pneus cuspindo sujeira na estrada.
Capítulo 40
Raj estava indo demasiado rápido quando ele entrou na garagem estreita. Seus pneus giraram sobre a superfície lisa quando ele pisou no freio e o para-choques beijou a parede mais adiante. Seu sangue ainda estava fervendo, a adrenalina continuava correndo através do seu sistema. Era difícil tentar se livrar do efeito da adrenalina após um confronto como o da casa de sangue, mas era ainda mais difícil fazer isso quando as mãos delgadas de Sarah estavam passeando por todo o seu corpo enquanto ele dirigia pelas ruas de Buffalo.
— Pare com isso, Sarah. — disse ele pelo que parecia a centésima vez. Sua resposta foi a mesma de antes – uma gargalhada suave e ronronada que fez seu pau ficar duro e suas presas doerem.
Ele abriu a porta do carro com uma maldição rosnada e marchou até o lado dela. Ela não se moveu, nem sequer soltou o seu cinto de segurança. Rangendo os dentes contra o que ele sabia que ia acontecer, ele estendeu o braço e soltou o cinto, não ficando surpreso quando sentiu os dedos dela percorrendo o seu estômago e entre as suas pernas.
— Ooooooh. — ela balbuciou. — Isto é para mim?
— Jesus Cristo. — Raj tirou-a do carro, apoiou-a por tempo suficiente para introduzir o seu código de segurança, então jogou-a por cima do ombro e impulsionou-os grosseiramente através da porta. Ele esperou até que ouviu o encaixe do bloqueio fechar atrás dele, introduziu um segundo código no painel interior e levou-a escada abaixo, abrindo a porta da abóbada antes de colocá-la lá dentro.
Surpreendentemente, ela parecia ter ficado cansada, inclinando-se contra ele com um pequeno suspiro e descansando a cabeça dela contra o seu peito, os braços enrolados na sua cintura por baixo da sua jaqueta. Raj olhou para a cabeça loira dourada contra o negro da sua camiseta, o rosto escondido por trás de seu cabelo caído. — S arah? — Ele disse em voz baixa.
— Mmmm?
— Você ainda está comigo?
Ela riu suavemente e fez um pequeno movimento de torção com seus quadris, lembrando-o que ele ainda estava duro como uma rocha contra a sua barriga. Ele colocou-a de lado e ativou o seu sistema de segurança diurno, voltando-se para encontrá-la o observando, seus olhos cor de avelã ardendo com emoção, suas manchas de ouro cintilando pelo brilho das lâmpadas. Ela deixou cair o casaco no chão e, pela primeira vez, ele percebeu o que ela estava vestindo. Jeans desbotados que se agarravam a suas pernas e quadris como uma segunda pele, mostrando as coxas firmes e aquela maravilhosa bunda em forma de coração. Seus peitos eram exibidos por um top sem alças de cetim vermelho que contrastava com a sua pele pálida, apertado o suficiente para que os cheios montes saltassem de forma convidativa. Ele queria fechar os olhos contra a tentação, mas não conseguiu convencer-se a fazê-lo.
Sarah viu que ele estava observando e passou um dedo provocador ao longo do top vermelho, descendo a mão em um movimento de carícia até que ela descansava em sua cintura. Ela sorriu. — Finalmente nos encontramos, Raj.
— Não, Sarah. — ele disse baixinho.
— Por que não? — Ela perguntou docemente. — Eu sei que você quer. Vamos lá, querido. Vamos foder.
Sua ira voltou rapidamente. Ele estava furioso por ela ter se colocado em perigo, furioso por ela tê-lo obrigado a mostrar o seu poder antes que ele estivesse pronto. — Quando eu te foder — ele rosnou. — Não será porque você está agindo como uma cadela no cio por causa do cheiro de um bando de cachorros vira-lata.
Sarah se sacudiu como se ele tivesse lhe dado um tapa, seus olhos se encheram de lágrimas, dor estava escrita sobre cada centímetro de seu rosto. — Isso foi cruel. — ela sussurrou — mesmo para você.
Foi cruel. Cruel e injusto. Ele sabia disso, mas que se dane se ia pedir desculpas, não depois dela ter feito aldo estúpido como ir à casa de sangue. Ela sabia que as outras mulheres tinham sido levadas de casas de sangue. Ela tinha visto o tipo de segurança que ele tinha arrumado para a sua protecção no armazém, e ainda tinha saído sozinha, só para provar que podia.
— Quero ir para casa. — disse ela em voz baixa.
— É uma pena. — Ela olhou-o com desânimo. — Está quase a amanhecer. — ele explicou.
— Mas. — ela olhou ao redor, como um animal preso que procurava escapar. — Apenas abra a porta. Posso…
— Eu não penso assim. — ele disse com desdém. — Você deve tomar uma ducha— disse ele, gesticulando em direção ao banheiro. — Tenho algumas roupas que você pode colocar.
— Tudo bem. — ela disse com aquela voz pequena, como se ela quisesse desaparecer. Isso o enfureceu porque ele sabia que tinha sido ele que a tinha feito se sentir dessa maneira. Sentia-se como um idiota enquanto a observava se afastar, assistindo-a chutar os sapatos e andar descalça para o banheiro que estava com a porta semiaberta, fechando-a atrás dela com uma exalação.
Ele já havia mudado de roupa pelo tempo que ela saiu. Ela estava vestindo o moletom que ele tinha colocado no lado de dentro da porta, mas não as calças. Suas pernas estavam nuas, mas o moletom descia até os seus joelhos, como se fosse uma camisola. Suas roupas. Ela estava vestindo as suas roupas. E quando ela foi forçada a se aproximar, a fim de chegar à cama, ele pôde sentir o cheiro de seu sabão em sua pele. Em estava certa. Se ele a queria, ele precisava fazer algo sobre isso. E se não, ele precisava deixá-la ir.
— Você pode ficar com a cama. — disse ele delicadamente, tentando fazer as pazes. — Ficarei no sofá.
— Não importa. — ela disse, novas lágrimas rolando pelo seu rosto. — Provavelmente nem vou dormir.
— Claro que vai.
Seu olhar de confusão foi a última coisa que ele viu antes que ela caísse em seus braços. — Desculpa, querida — ele sussurrou, — mas não posso correr o risco de você acordar antes de mim. — Ele levou-a para a cama e aconchegou-a, escovando uma mecha de cabelo dourado para fora do seu rosto. — Durma bem.
Ele se deitou no sofá de couro, requintadamente ciente de Sarah dormindo em sua cama a apenas alguns metros de distância. Ele rolou uma ou duas vezes, sentou-se e mudou para o outro lado, tentando encontrar uma posição confortável. Ele deitou-se e deu-o como uma causa perdida. Depois que o sol nascesse, não importaria de qualquer maneira.
Capítulo 41
Raj acordou com fome e com tesão, com a solução para ambos os seus problemas ali deitada em sua cama, toda quente e cheia de saúde. Ele levantou-se lentamente, alongando cada músculo, ouvindo seu pescoço ranger por ter passado o dia no sofá desconfortável que era demasiado curto para ele. Ele atravessou o quarto e se colocou sobre ela no escuro quase perfeito de seu santuário interior, observando-a dormir. Ele podia ouvir cada batida de seu coração, podia sentir a umidade de cada respiração, o calor do seu corpo aquecendo os frios lençóis de sua cama. Tinha sido um erro trazê-la aqui. Um erro ainda maior foi trazê-la quando ele tinha ficado tanto tempo sem se alimentar. Ele pretendia fazer uma parada e se alimentar na noite passada, mas então tinha recebido a chamada a avisar que Sarah estava na casa de sangue e agora… aqui estava ela.
Memórias encheram a sua cabeça — da dança dela com o vampiro de cabelos escuros, o corpo dela esfregando-se contra o dele, as mãos dele sobre o corpo dela. Raj fechou os olhos contra uma onda renovada de raiva. Quando os abriu, ela continuava lá, ainda dormindo. Ela era sua. Por que não tomá-la?
Suas presas se alongaram ansiosamente, emergindo de entre os seus lábios. Ele abriu a boca para estender a sua mandíbula. Como se consciente do perigo que espreitava sobre ela, Sarah murmurou em seu sono e se virou.
O cheiro dela viajou até ele, delicado e doce, misturado com o aroma de seu sabão, de sua roupa. Seu pau cresceu duro e pesado, alongando-se sem restrições na calça solta que ele colocou só porque ela estava com ele. Ele resmungou baixinho, ciente de um brilho azul frio no quarto, a luz de seus olhos, queimando com o calor de duas fomes diferentes.
Seu telefone celular tocou. A bem-vinda distração. Ele atravessou o quarto e verificou o identificador de chamadas. Era Emelie. É claro. Ela provavelmente estava preocupada com ele. Ou talvez com Sarah.
Raj não atendeu. Que ela pensasse que ele estava no chuveiro, o que ele estaria em breve. Ele pegou um par de jeans e caminhou até o banheiro sem olhar para a cama, fechando a porta antes que pudesse pegar outro vislumbre da tentação que estava deitada ali.
O chuveiro acordou Sarah. Pelo menos ela pensou que era isso. Não havia outro ruído no quarto, e embora as luzes fossem baixas, era o suficiente para que ela pudesse ver. A porta do banheiro estava fechada e ela se sentou, puxando as cobertas com ela. Ela não lembrava de ter adormecido, mas ela se lembrava de todo o resto. Seu corpo inteiro corou com constrangimento quando ela lembrou de Raj entrando pela sala lotada, indo resgata-la de sua própria estupidez.
Ela não tinha ideia de como a casa de sangue seria, não tinha sequer considerado que podia ter um efeito afrodisíaco tão forte no ar em si. Ela lembrou-se de Raj dizendo algo sobre isso em seu clube em Nova Iorque. Quando ela teve aquele… o que quer que tivesse sido, ali mesmo na pista de dança. Mas ela pensava que tinha sido uma reação ao próprio Raj. Estúpida.
Mas não era tudo culpa dela. O que ele pensava que ela iria fazer, sentar-se naquele armazém estúpido como um cão esperando o seu mestre vir acariciar a sua cabeça? Se ele apenas lhe dissesse o que estava acontecendo, ou melhor ainda, se ele tivesse concordado em visitar as casas de sangue com ela como ela queria, nada disso teria acontecido.
Honestidade a obrigou a admitir que tinha sido descuidada, entretanto. Ela percebeu que a partir do minuto em que ela entrou na casa, começando com a renúncia que eles a fizeram assinar, a avaliação era dos vampiros na porta. Ela soube imediatamente o que todo mundo achou que ela queria. Era a mesma coisa que todo mundo ali queria. Sexo e sangue. Não que ela teria se importado com um pouco de sexo e sangue, era só que ela queria Raj e apenas ele. Mas ele não a queria. Ou ele não queria querê-la, o que era a mesma coisa. Especialmente quando o vampiro em questão era o senhor estou-no-controle Raj.
Os outros vampiros pareciam gostar dela o suficiente. O vampiro de cabelos escuros tinha estado sobre toda ela. Oh, seja honesta, Sarah, você estava sobre todo ele também. Era por isso que ela raramente bebia. Isso fazia as pessoas estúpidas. Mas ela teve um gosto na noite passada do que se sente ao estar bêbado, e não tinha sido de todo ruim. Pela primeira vez em sua vida, ela não tinha se preocupado com a sua estatura baixa ou com os seios muito grandes. Não tinha temido que o rapaz legal que estava sentado ao seu lado pudesse ser um estuprador ou algum outro tipo de aberração que só queria segui-la até casa e fazer coisas horríveis com ela. Tinha se sentido bem, ou pelo menos tinha sido bom até que Raj apareceu e a fez sentir como uma completa prostituta. Uma completa prostituta indesejada.
A porta do banheiro se abriu, jogando salpicos de luz no quarto. Ela se encolheu para longe da luz que ficou mais forte quando Raj surgiu, vestindo apenas calças. Eles eram jeans pretos, pendurado na em seus quadris com o botão aberto e o zíper apenas meio fechado. Seu peito estava nu e úmido. Sarah engoliu um suspiro pelo modo como ele era lindo. Seus ombros eram largos e grossos com músculos, peito bem definido, afinando até a cintura estreita e barriga dura e plana. Sua pele dourada brilhava pela luz do banheiro, e uns poucos cabelos loiros encaracolados que eram quase invisíveis salpicavam o seu peito antes de descer direto para a abertura de sua calça desabotoada.
Seu olhar viajou até o rosto dele e encontrou seus olhos azuis gelados olhando para ela. Eles estavam brilhando um pouco, como faziam quando ele estava com raiva, e ela puxou as cobertas mais para si, feliz com a sua frágil proteção. Ela se sentiu de repente como um pequeno animal sob o olhar de um predador, uma imagem infeliz. Ela franziu a testa e sentiu sua própria raiva endurecer a sua determinação. Ela não era um animal, ela não era presa de ninguém, e ela, por Deus, também não era uma prostituta.
— Raj. — ela disse friamente. Foi um reconhecimento de sua presença, nada mais.
— Sarah. — Sua voz era baixa e rouca, e definitivamente usada para intimidar. Aparentemente, ele ainda estava chateado com ela. Bem, uma pena.
Convocando a sua coragem e a sua voz mais fria, Sarah disse. — Se você terminou, eu gostaria de usar o banheiro.
Ele piscou. E piscou novamente. Ele não disse nada, mas deu dois passos para longe da porta do banheiro, desimpedindo o caminho para ela passar.
Sarah saiu da grande cama, tomando cuidado para manter o moletom de grandes dimensões que ela estava usando — um dos dele, obviamente — de subir. Ela teve um momento de dúvida quando passou correndo, eles estava parado lá todo grande e bonitão e brilhante para baixo para ela. Mas ela continuou em movimento e rapidamente fechou a porta entre eles. Uma vez lá dentro, ela encostou-se na porta fechada e soltou um suspiro de alívio. Isso não tinha sido tão difícil. Então ele era um vampiro mau e grande. Os seus asseclas podiam correr por aí obedecendo as suas ordens, mesmo Emelie se prostrava ao seu mal-humor, mas Sarah não precisava fazer isso. Ele deixou claro que não havia nada entre eles, então quem era ele para dizer-lhe onde podia e não podia ir? Se ela quisesse ir a cada casa de sangue da cidade e dançar a noite toda, não era da conta dele. Inferno, talvez ela dissesse isso a ele. Isso seria um choque para ele, não é? Uma humana fraca lhe dizendo onde ele poderia enfiar sua besteira de macho? Ele deveria voltar para Manhattan e para todas aquelas mulheres bonitas. Elas provavelmente caíam todas em cima dele, fazendo fila para abrir suas veias e suas pernas também.
Pelo tempo que ela tinha terminado o seu banho rápido e encontrado uma escova de dentes fechada para usar — e o que era aquilo? Ele trazia mulheres estranhas aqui o tempo todo para ter que manter uma escova de dentes de reposição à mão? — ela estava pronta para o confronto que sabia que iria acontecer. Ele provavelmente esperava que ela estivesse toda apologética e envergonhada. Bem, pense mais uma vez, menino com presas.
Ela encontrou os seus jeans ainda pendurados na parte de trás da porta onde os tinha deixado na noite anterior. Eles estavam um pouco úmidos por estarem pendurados lá por dois banhos, mas com um pouco de esforço ela finalmente conseguiu colocá-los. Ela se sentia um pouco desconfortável, é claro, mas era melhor do que não ter nada em absoluto. Ela deu uma olhada no apertado corpete de cetim vermelho que tinha usado, pensou em se apertar nele novamente, e puxou o moletom de Raj sobre sua cabeça em vez disso. Era solto o suficiente para que ela pudesse ir sem sutiã na curta viagem de volta para sua casa. Não haveria ninguém para vê-la além de Raj, e ele não estava interessado de qualquer maneira.
Ela respirou fundo, deixando o ar entrar e sair de seus pulmões para aliviar o stress, e depois abriu a porta do banheiro.
Raj estava de pé no outro lado do quarto, perto do armário, quando a porta do banheiro se abriu e Sarah saiu de lá. Ela começou imediatamente a procurar por alguma coisa, ignorando-o completamente. Isso o surpreendeu. Isso e a sua atitude. Ele esperava embaraço, mesmo vergonha. Ele achava que ela iria escorregar para o quarto silenciosamente, tão dominada pela culpa que não iria sequer olhar para ele. Ele poderia ter lidado com isso, tinha até mesmo se preparado para tornar a coisa mais fácil para ela e fingir que eles podiam esquecer aquela noite humilhante. Mas lá estava ela, marchando ao redor, puxando as roupas de cama para o lado, murmurando baixinho e curvando-se naqueles malditos jeans apertados de uma maneira que era muito perigosa. Para os dois. Ele já estava pendurado por um fio no que lhe dizia respeito.
Ela encontrou os seus sapatos, colocando-se primeiro em um pé e depois mudando para outro, deslizando assim os sapatos em seus pés. Ela ficou instantaneamente vários centímetros mais alta, e suas pernas pareciam muito mais longas. Ele quase gemeu.
Ela finalmente olhou para ele. — Eu gostaria de ir agora.
— Vou levá-la para o armazém. Em pode providenciar… — Ele parou e olhou para ela. Ela estava fazendo algo com a mão, segurando-a em direção a ele e abrindo e fechando os dedos e o polegar como um fantoche falando ou alguma coisa. — Que porra é essa? — Perguntou ele.
— Isso, oh grande vampiro, é blah, blah, blah. Preciso saber onde está o meu carro, com minhas coisas nele, e então vou para casa. Se você não quer me levar lá, você pode simplesmente abrir essa porta idiota e me deixar sair desta masmorra. Pegarei um táxi. Talvez você se surpreenda ao saber que eu consegui me virar por vários anos com…
Ela parou no meio da palavra, finalmente em silêncio pelo choque que foi ver que ele estava a apenas alguns centímetros de distância dela, os seus sentidos humanos falhando quando não o viram se mover.
— Tenha cuidado, pequenina. — ele alertou. — Você não quer me testar. Não hoje.
Seus olhos escurecidos de raiva, estreitaram quando ela encontrou o olhar dele uniforme apesar de sua surpresa. — Sério? E porque, Raj? Estou cansada de você pensar que tem o direito de me controlar. Você não é meu namorado e você com certeza não é meu guarda, então que eu saiba, você não tem nenhum direito sobre mim. Como diz a canção, você não me quer para si mesmo então deixe-me encontrar alguém, Raj. É agora ou nunca. Hora de…
Ela deu um grito assustado quando Raj colocou um braço à volta da sua cintura e a levantou fora de seus pés. Ele enroscou os dedos de uma mão pelos cabelos e puxou-os para o lado, liberando a longa linha de seu pescoço. — Então eu escolho agora. — ele rosnou.
Sarah gritou quando Raj afundou suas presas na pele de veludo de seu pescoço e perfurou a parede frágil de sua jugular. Seus gritos se transformaram em gemidos de prazer e o sangue começou a fluir, quente e doce, assim como ele sabia que seria. Ela colocou os braços em torno dele, embalando a sua cabeça, segurando a sua boca contra aquela veia. O primeiro orgasmo estremeceu através de seu corpo e ela sussurrou o seu nome mais e mais, até que ela estava mole em seus braços.
Ele ergueu a cabeça para longe do pescoço dela e lambeu a ferida para fechá-la, saboreando o buquê de seu sangue, o gosto de sua pele. Ela se aninhou contra ele com um suspiro satisfeito e ele a levantou mais alto, pegando sua bunda com as duas mãos e caminhando em direção à cama.
— Não fique demasiado confortável, coração. — Ele murmurou. — Estou longe de terminar com você. — Ele a deitou na cama e jogou longe o moletom que ele lhe tinha dado, saboreando a visão de cada centímetro de pele quando esta ficou exposta. Ele gemeu com a visão de seus seios, cheios e pesados, com mamilos e aréolas tão levemente rosadas que ele mal conseguia dizer onde eles terminavam e começava a sua pele pálida. Incapaz de resistir, ele abaixou a cabeça para prová-los, provando cada mamilo duro e redondo, sentindo-os crescer na sua boca como uma suculenta fruta madura. Traçando o contorno de seus seios com a língua, ele se moveu mais para baixo em seu corpo, desabotoando os jeans apertados, rolando-os pelos seus quadris.
Ela se arqueou contra suas mãos quando ele deslizou as calças jeans mais para baixo com as pernas, fazendo com que a fenda de seu sexo ficasse à vista, suave e aveludada, mas com um pequeno pedaço de macios cachos loiros no topo de seu monte. Ele puxou as calças e as jogou longe, então se levantou e tirou os seus próprios jeans.
— Abre as pernas para mim, Sarah. — ele murmurou, baixando-se na cama, deslizando suas coxas por baixo das dela. Sarah mordeu o lábio, mas abriu as coxas o suficiente para que as pernas dela ficassem sobre as suas. Ele riu baixo em sua garganta, quase rosnando quando ele colocou as mãos sobre os joelhos dela, correndo os dedos por dentro de suas coxas. — Mais um pouco, pequenina.
Ela ofegou, seu corpo inteiro corou de vergonha quando ele a estendeu bem aberta para seu olhar. — Que buceta bonita. — Ele molhou um dedo em sua boca e depois deslizou-o através de sua fenda, abrindo-a ainda mais para sua inspeção. — E tão molhada para mim. — Ele respirou o doce aroma de sua excitação e cantarolou com prazer.
— Raj! — Ela protestou, mas o corpo dela a entregou, suas costas arqueadas com prazer, os mamilos rechonchudos implorando por atenção. Seu dedo viajou até o botão duro do seu clitóris e permaneceu lá, observando-a tremer de desejo enquanto ele circulava-o uma e outra vez. — Raj. — repetiu ela, mas num sussurro desta vez, cheio de saudade.
Querendo, precisando provar tudo dela, ele enterrou o rosto entre suas pernas, sua língua substituindo seus dedos, seus sucos fluindo, o clitóris pulsando quando ele a levou a orgasmo após orgasmo, até que ela gritou o seu nome, com os dedos cerrados em seus cabelos, se sacudindo espasmodicamente como se não soubesse se o forçava mais perto ou se o mandava embora. Sua língua continuou a explorá-la, degustando cada novo vale secreto, enquanto seus longos dedos grossos brincava com ela do interior, a fodendo, a atormentando, lhe mostrando o que estava por vir. Ela tremeu sob seu ataque, encharcada com os sucos de seu último clímax, sua voz rouca de tanto gemer, que foi mais do que ele pôde contar. Ela gemeu mais uma vez, sua cabeça batendo de lado a lado. — Raj. Por favor.
Ele circulou o seu clitóris com a língua mais uma vez antes de levantar a cabeça o suficiente para perguntar — Por favor, o que, pequenina?
Ela estremeceu debaixo dele. — Preciso de você dentro de mim. Por favor.
Ele deslizou par cima do corpo dela, esfregando o seu queixo, o seu peito, o comprimento de seu pênis duro contra o clitóris sensibilizado. — Diga-me o que você quer, Sarah. — ele exigiu.
Ela olhou-o, aqueles olhos cor de avelã estavam escuros de fome e cheios de lágrimas. — Me foda, Raj. Por favor, me foda.
Ele a premiou com um sorriso lento e satisfeito, abrindo as pernas dela amplamente ao redor de seus quadris quando ele afundou entre as suas coxas. Não havia necessidade de preliminares. Ela estava molhada e pronta para ele. Mas ela era pequena. E ele não. Ele deslizou dentro dela com um golpe longo e lento, sentindo a resistência do seu corpo quando este abriu espaço para ele. Ela estava apertada. Tão apertada. Ela ofegou em voz alta, seus dedos apertando contra seus braços, os músculos de seu túnel escorregadio e quente apertando o seu pau como protesto pela invasão repentina. Ele parou por alguns segundos, deixando o corpo dela se ajustar ao seu tamanho, e depois começou a se mover com cuidado dentro e fora, indo mais fundo a cada estocada até que seus músculos internos se suavizaram em torno dele, acariciando-o num abraço acolhedor.
Ele empurrou duro, afundando-se nela até ao punho quando ele começou a fodê-la a sério, dirigindo dentro e fora, mantendo-se acima dela com os braços, olhando seu rosto, segurando o seu olhar com cada estocada de seu corpo. Ela estava murmurando seu nome, perdida em prazer, sua pele brilhando superaquecida com suor quando ela se arqueou para cima para encontrá-lo. Ele lambeu sua pele, saboreando ainda mais o gosto dela, salgado e quente. Ela levantou os joelhos ainda mais e ele os empurrou contra o peito dela para que assim ele pudesse ir ainda mais fundo. Ela gritou e o puxou para mais perto, as unhas cavando em suas costas.
Ele rosnou o seu prazer e acelerou ainda mais, seu corpo pequeno levantando com cada golpe baixo, seus seios balançando, os mamilos tão duros e grandes como cerejas, e ela estava corada como uma rosa brilhante. Ele abaixou a cabeça e a mordeu, provando o suco vermelho do seu sangue, ouvindo seus gritos de prazer quando ela gozou mais uma vez.
A sensação de orgasmo dela em torno de seu pênis foi muito para ele. Isso ondulava ao longo do seu comprimento como mil dedos, tocando em todos os lugares, acariciando, massageando, incentivando, implorando-lhe para desistir de sua semente. Ele jogou a cabeça para trás e rugiu quando ele caiu sobre a borda do desejo e encheu-a completamente.
Raj desmoronou contra Sarah, não tendo certeza se ele podia mover-se, cada respiração cheia de seu perfume. Ele poderia sentir seu coração batendo embaixo dele, podia sentir o cheiro do seu sangue. Ele gemeu e rolou antes que ele a esmagasse completamente, puxando-a contra ele e aconchegando-a sob seu braço com a cabeça em seu peito. Ele acariciou os longos cabelos suavemente, ouvindo o ritmo de sua respiração ficar mais suave até que ela estava relaxada. Seus olhos estavam fechados, mas ela continuou a acariciá-lo com uma mão, começando no alto de seu peito e deslizando para baixo ao longo das suas costelas para chegar ao seu quadril e depois ao contrário de novo.
Isso foi um erro. Ele sabia disso. Mas isso não explicava a profunda satisfação que sentia por tê-la saciada e quente ao seu lado, seu sangue já aquecendo-o enquanto ele corria em suas veias e em seu coração. Ela era sua. Ele soube desde o momento em que a viu, e não importava o quanto ele lutou, não importava o perigo em que iria colocá-la, ele queria que ela ficasse com ele. Em sua cama, em sua vida. Ele suspirou profundamente, e todo o corpo de Sarah se deslocou para cima e para baixo com o movimento do seu peito.
— Se você disser que está arrependido — ela murmurou sonolenta — irei te estacar enquanto dorme.
Raj sorriu e em seguida riu, segurando-a mais perto. — Eu não me arrependo — ele admitiu. — Embora isto provavelmente não foi sábio.
— Que se dane o ser sábio. Nós nunca deixaríamos as nossas casas se o que importasse fosse ser sábio. Eu não quero ser sábia, eu quero viver.
— Ah.
Ela sentou-se e olhou-o com firmeza, o efeito arruinado pela queda de seu cabelo loiro e pelo balanço de seus lindos seios.
— Deus, você é linda! — ele disse baixinho. — Poderia ficar aqui e fazer amor com você por alguns dias.
Sarah corou, mas lhe deu um sorriso muito satisfeito. — Apenas alguns dias?
— Bem. — começou ele, puxando-a mais perto para que ele pudesse acariciar um monte cheio. Ele mordeu o mamilo levemente e disse, — Tenho toda a comida que preciso aqui mesmo, mas você vai precisar comer eventualmente, também.
— Certo — disse ela, sem fôlego, já arqueando as costas para incentivar a sua língua em sua renovada exploração. — Oh, Deus, Raj!
Ele a revirou sob ele, abrindo as pernas com os quadris e deslizando para dentro de seu escorregadio calor molhado. Seu corpo o levou com facilidade desta vez. Ela ainda estava aberta, suas paredes ainda pulsando pelos seus orgasmos anteriores. Ele começou devagar, empurrando para dentro e para fora, retirando-se até que apenas a ponta do seu pau repousava contra ela e em seguida mergulhando fundo mais uma vez. Ela colocou as pernas dela em torno de seus quadris, seus gritos de prazer instando-o a uma velocidade mais rápida. Ele sentiu o clímax começar a subir, sentiu corpo dela pulsando em torno dele, sugando-o, acariciando seu pau, até que ela caiu sobre a borda de êxtase e gritou silenciosamente. Raj jogou a cabeça para trás e uivou seu nome, reivindicando-a para o mundo. Ela era sua, só sua, sempre sua.
Sarah estava sob o peso do corpo grande de Raj, sentindo como se cada osso, cada músculo, cada tendão seu tivesse derretido, deixando-a uma poça de líquido humanóide. Um líquido muito feliz e satisfeito com certeza, mas certamente não capaz de algo tão ambicioso como um pequeno movimento. Ele murmurou algo que ela não entendeu, então levantou-se com aqueles braços poderosos e a transferiu para um lado, um braço chegando para trazê-la mais para perto, como se temesse que ela fugisse.
Ela não tinha intenção de ir a qualquer lugar, mas ela conhecia Raj, e as próximas palavras a sair de sua boca ia ser alguma coisa sobre mantê-la longe de tudo o que estava acontecendo aqui na cidade. Ela ia ter que se acostumar com isso, ela supunha. Ele se preocupava com ela. Ele não tinha dito isso, não em palavras, mas havia algo sobre a maneira como ele a abraçou, a maneira como ele a olhou quando eles fizeram amor que lhe disse que ela era importante para ele. Ele a considerava sua. E Sarah achava que certamente havia coisas piores na vida que ser estimada por alguém como Raj.
— Estou surpreso por você conhecer essa música. You Keep Me Hangin ‘On das The Supremes. — ele disse inesperadamente. — Isso foi de antes de você nascer.
Sarah sorriu contra seu peito. Ok, talvez as segundas palavras da sua boca, ela pensou sonhadoramente. — Quando eu estava naquela casa porca que meus pais encontraram para mim… — Ele resmungou baixinho e ela colocou um beijo no seu peito em agradecimento. — Havia um toque de recolher. O hospital não permitia qualquer tipo de música; eles diziam que perturbava os pacientes, mas esse cara pensou que era uma punição cruel e incomum. Então, ele arranjou um rádio e nós costumávamos nos sentar lá a ouvir música.
Raj emitiu um grunhindo de desaprovação. — É assim que você chama isso?
Ela bateu em seu peito no mesmo lugar que tinha beijado antes. — Ele era muito mais velho que eu, idade suficiente para ser meu avô, e ele gostava de músicas antigas então era isso que ouvíamos. Ele amava música soul. — Ela ficou quieta por um momento, lembrando e então disse: — Estou surpresa que você conhece a canção.
Ele bufou uma lufada de desprezo. — Estava correndo clubes em Nova York antes de você nascer, menina. E eles nem sempre eram os pontos quentes de Manhattan também. Começamos com um clube de dança da classe trabalhadora em Brooklyn na década de sessenta.
— Huh. — disse ela, evidentemente pensando em algo. — Então isso quer dizer que você também tem idade para ser meu avô.
Raj riu. — Trisavô, mais provavelmente, mas quem está contando.
Sarah se aconchegou mais perto, feliz que ele pudesse brincar com ela e se perguntando quando o outro assunto ia chegar e estragar sua noite. Não ia demorar muito.
— Sarah. — Ele respirou fundo.
Aqui vem, ela pensou.
— Você não pode fazer parte desta investigação por mais tempo. Apenas ouça — ele acrescentou, quando ela se sentou e olhou para ele, parando seu protesto antes que ela pudesse arranjar fôlego para se expressar. — Isto tornou-se negócios de vampiros, e todos os seres humanos envolvidos só vão se machucar. Você vai ter que confiar em mim para cuidar disso, para encontrar Trish e as outras. — Ele encontrou o seu olhar de maneira uniforme. — Você confia em mim, não é?
Ela deu-lhe um olhar estreito. — Isso é um truque barato, Raj. — Ele arregalou os olhos inocentemente. Ela soltou um suspiro enojado. — Não me dê esse olhar. — ela zombou. Ela mastigou o interior de seu lábio, e depois xingou baixinho. — Droga. — Ela puxou os joelhos para cima e virou, ficando assim sentada ao lado dele. — O que você vai fazer a seguir?
Raj descansou a cabeça em um braço musculoso, estendendo o outro braço até ela para circundar o seu corpo, tocando a sua bunda com a mão. — Vou descobrir quem está fazendo isso e destruí-lo.
— Não pode ser assim tão fácil ou você já o teria feito.
Ele sorriu. — Eu sei mais agora do que sabia a alguns dias atrás. Não consegui muito da Regina, mas tenho o suficiente para saber aonde olhar. Confie em mim, querida. Esta operação está prestes a ser desligada.
Sarah suspirou, se rendendo. — Não posso ficar aqui sentada no escuro esperando por você. Vou ficar louca.
Ele riu. — Não se preocupe. Não vou deixá-la em minha masmorra.
— Não foi isso que eu quis dizer.
— Eu sei. Mas eu acho que nunca vi você antes com raiva. Foi… impressionante.
Sarah bufou. — Isso tirou você de cima da sua bunda, de qualquer maneira.
— Falando em bundas. — ele deu um tapinha na dela de forma apreciativa. — Mas, primeiro, eu tenho que ligar para Em.
Capítulo 42
— Raj! — A voz de Emelie estava desesperada, ele nunca a tinha ouvido soar assim antes ao telefone.
— Está tudo bem aí, Em?
— Sim. — ela disse rapidamente. — Era com você que eu estava… Sarah está com você?
— Sim.
— Ela está… bem?
— Sim, ela está. — Ele olhou para Sarah quando ela sorriu, obviamente adivinhado qual tinha sido pergunta de Em.
— Bem, merda. — Em xingou. — Já era tempo.
— Ouça, Em. Irei para aí antes de amanhecer com Sarah, e vou ficar. Quero verificar as redondezas amanhã, portanto não chame atenção essa noite. Se os caras quiserem se alimentar, diga-lhes para caçarem na cidade, não nas casas de sangue e que eles fiquem atentos. E tenho certeza que não tenho que te dizer para ser discreta.
— O meu nome do meio, chefe.
— Nunca soube disso.
— Beije a minha bunda.
— É “beije a minha bunda, meu senhor” para você. — Ele ouviu a risada de Em antes de desligar. — Quanto a você, pequenina — ele murmurou, puxando Sarah para perto e a colocando debaixo dele. — Tenho planos completamente diferentes para a sua bunda, mas se você pedir gentilmente, irei beijá-la primeiro.
Sua bunda e todas as outras partes de seu corpo estavam deliciosamente doloridas quando ela entrou no chuveiro, seus músculos pareciam elásticos que tinham sido demasiado esticados. Ela colocou a cabeça sob a água quente, deixando que esta molhasse o seu cabelo. A sensação era boa, quase tão boa como quando o corpo quente de Raj entrou no chuveiro e puxou-a contra ele.
Ela o deixou apoiá-la quando ele pegou o sabonete e começou a correr aquelas maravilhosas mãos grandes por todo o seu corpo em um esforço indiferente de lavar as horas de suor gerado pelo sexo. Ela fechou os olhos e se inclinou contra ele, semiadormecida em seus pés. — Quanto tempo até o amanhecer? — perguntou ela sonolenta.
— Umas duas horas — ele murmurou. Ele passou um braço à volta da sua cintura, fazendo-a deslizar para cima até que seus seios descansavam totalmente em seu antebraço musculoso. A outra mão dele escorregou pela sua barriga e foi parar entre suas pernas, os dedos dele balançando suavemente para dentro e para fora. Ela engasgou quando ele acariciou seu clitóris inchado, a sensação era como se um choque elétrico tivesse começado entre as pernas a viajado até seus seios, onde os seus mamilos endureceram em resposta imediata. Raj riu suavemente contra sua orelha. — Poderia simplesmente foder-te por dias depois de tudo.
Ela estremeceu quando as suas palavras desencadearam memórias das últimas horas, horas gastas em um estado de permanente excitação enquanto a euforia de sua mordida rugia através de seu sistema várias vezes até que ela estava muito mole para fazer qualquer coisa que não fosse deitar nos braços de Raj e tremer. Ela apertou a bunda contra o comprimento de seu pênis duro, amassando as coxas dele enquanto ela esfregava-se para cima e para baixo, sentindo sua ereção deslizar contra ela. Foi a vez de Raj gemer, seus braços aumentando o controle sobre ela, a mão entre as pernas dela pressionando mais forte à medida que ele baixava a cabeça para seu pescoço e ombro, mordendo suavemente.
Sarah se contorcia contra o seu ataque, desejando que ele estivesse certo, desejando que eles pudessem permanecer no seu refúgio subterrâneo, seguros em seu brilho suave e lençóis de seda enquanto o mundo e suas tensões continuavam sem eles. Ela ouviu a respiração de Raj acelerar quando ele levantou-a por trás, prendendo-a contra a parede, abrindo as pernas com um joelho enquanto ele deslizava seu comprimento dentro dela. Ela estremeceu e gritou seu nome, virando-se um pouco quando a sua boca caiu sobre a dela com surpreendente ferocidade, esmagando os lábios dele contra seus dentes com tanta força que o sangue fluiu, enchendo a sua boca e garganta. Ela engasgou e teria se afastado, mas ele segurou-a firmemente, não a deixando ir. — Apenas um gole, pequenina. — ele murmurou contra a sua pele. — É importante. — Seu pênis continuou a bater dentro e fora, os dedos dele tocando seu clitóris, oprimindo-a com a sensação, distraindo-a para que ela bebesse o sangue quente reflexivamente. — Essa é a minha boa menina. — ele sussurrou, redobrando seus esforços até que o poder de seu sangue bateu nela, e ele engoliu o grito de seu primeiro orgasmo. Não parando, ele acariciou mais duro, mais rápido, explodindo dentro dela enquanto seus dedos a trouxeram para o limite mais uma vez e ela se juntou a ele em um clímax crescente que rugiu através de seu corpo, deixando-a mole em seus braços.
— Sarah.
Seus olhos se abriram. Havia água por todo o lado e o ar estava fumegante. — Oh, merda. — ela engasgou. Raj riu e ela deu um tapa nele. Ela tinha adormecido no maldito chuveiro. — Muito engraçado. Isto é tudo culpa sua, você sabe.
— Se você está sugerindo que se esgotou com a minha extraordinária proeza sexual, fico feliz em assumir a culpa.
Ela virou-se e bocejou em seu peito. — Eu já estou limpa?
— Sim. Tão limpa e doce como sempre. — Ele estendeu-se por cima do ombro dela e desligou a água. — Vamos lá. Vamos te deixar seca e vestida. Estamos indo para o armazém passar dia.
— Você vai ficar lá também?
— É isso ou nós dois ficaremos aqui, e eu não acho que você quer isso.
Sarah pensou em ser trancada no quarto/abóbada de Raj o dia inteiro, com ele deitado praticamente sem vida na cama. — Não. — disse ela, balançando a cabeça. — Mas há espaço para você lá?
Raj riu. — Acho que eles vão arranjar espaço para o seu senhor e mestre. Além disso, depois de ontem à noite, Krystof sabe que você é minha, e eu não quero você muito longe de mim até que toda esta coisa esteja acabada.
Capítulo 43
— Você vê essa porta?
Sarah parou e se virou para examinar a porta do armazém que ela tinha acabado de atravessar. Ela olhou para Raj com uma careta de confusão. — Sim?
— Não passe por esta porta sem que eu esteja ao seu lado.
Sarah deu-lhe um olhar cético. — Sim, claro.
— Estou falando sério, Sarah. Você está perfeitamente segura enquanto ficar aqui, e eu confio completamente nos meus guardas humanos. Se eu não confiasse, você estaria lá embaixo comigo quisesse estar ou não.
Sarah abriu a boca para protestar contra o seu tratamento arrogante de costume, mas de repente ele estava bem ao seu lado, puxando-a contra seu peito. — Eu confio neles, mas estou confiando em você também, Sarah. Não me faça procurar por você, porque eu vou encontrá-la. Já provei o seu sangue e você provou o meu. Você não pode se esconder de mim e eu vou ficar puto se o fizer.
Sarah esticou-se para colocar os braços em volta de seu pescoço e puxou seu rosto para baixo para um beijo longo e demorado. — Tudo bem.
— Venha. — disse ele, colocando seus lábios junto ao ouvido dela. — Vamos para dentro. — Seu corpo inteiro corou com calor pela sugestão em suas palavras e ela olhou para o relógio. Raj riu conscientemente. — Há tempo, amor. — Ele afirmou. — Há sempre tempo.
Sarah afastou os cobertores muito quentes e se virou. Ela poderia estar cansada o suficiente para adormecer em pé no chuveiro, mas nesta cama era muito difícil e cada vez que ela fechava os olhos, tudo que ela podia ver era Raj, seus olhos azuis brilhando com satisfação enquanto ela estremecia debaixo dele, onda após onda do orgasmo rolando impotente sobre ela. Ela xingou suavemente e sentou-se, estendendo a mão para a garrafa de água que havia deixado na mesa-de-cabeceira. Por mais estranho que ela achasse a ideia de beber até mesmo a menor quantidade de sangue de Raj, só havia uma palavra para o que ela sentiu quando o seu sangue rolou por sua garganta e seu pau bateu em seu corpo. Êxtase, total e completo êxtase. Só o pensamento a fez tremer de entusiasmo, seus seios incharam, seus mamilos endureceram, e ela sentiu uma forte antecipação entre as pernas. Ela suspirou e olhou o relógio. Ainda faltava horas. Raj estaria rindo em seu sono se ele pudesse vê-la agora.
Mas pelo menos o pouco de sangue que ela tinha consumido havia ajudado com as dores e mazelas que apareceram após a longa noite de sexo, especialmente porque ela estava solteira e sem sexo há mais de um ano. A dor que ela tinha experimentado já estava começando a desaparecer, graças ao efeito curativo do sangue de vampiro. Claramente, havia vantagens em ter um amante vampiro. Isso é, além do sexo incrível, é claro. Cyn tinha dado algumas pistas, mais do que apenas algumas pistas, sobre sexo alucinante. Mas Sarah não tinha entendido até agora. E o sexo com Raj era mais do que apenas sexo. Era, bem, era a velha frase… fazer amor. Havia mais entre eles do que simples atração sexual. Muito mais. Parecia impossível que ela pudesse amar alguém depois de um tempo tão curto, mas ela estava. Ela amava Raj. Total e absolutamente. Quem teria imaginado? Ela riu alto e cobriu a boca rapidamente, não querendo que ninguém ouvisse.
Meu Deus, o que os seus colegas na universidade achariam? A adequada Professora Stratton — ela gaguejou em seus pensamentos. Ela já não era a Professor Stratton, era? Essa parte de sua vida se foi. A verdade era uma nuvem negra que pairava sobre a sua felicidade, e ela empurrou-a para o lado juntamente com os cobertores. Ela não ia pensar nisso hoje.
Ela saiu da cama. Havia horas para matar antes de anoitecer. Horas antes que ela pudesse ver o Raj e ele pudesse fazê-la esquecer tudo sobre carreiras arruinadas. Ela suspirou e olhou ao redor. Bem, ela podia ter que ficar no armazém, mas ela com certeza não iria ficar nesse maldito quarto durante todo o dia. Ela precisava gastar alguma energia ou realmente iria enlouquecer.
Tirando o moletom de Raj, ela o segurou em seu rosto, aspirando o cheiro quente que era o perfume de Raj. Essa foi a única razão pela qual ela tinha dormido com ele, não que fosse admitir isso a alguém, muito menos a ele. Ele não tinha necessidade alguma no departamento arrogância. Ou qualquer outro departamento, ela pensou maliciosamente. Sentindo-se um pouco presunçosa, ela vestiu um sutiã esportivo e roupas íntimas e, em seguida, puxou um par de leggings e uma camiseta. Ela podia ter que ficar dentro, mas era um armazém muito grande. Mais do que grande, o suficiente para servir-lhe de lugar para correr.
Uma hora mais tarde, Sarah estava correndo em torno dos SUVs estacionados, esquivando-se instintivamente quando ela começou a correr ao longo da parede sob o beiral do mezanino. Havia escritórios vazios aqui e ela se perguntou para que este armazém tinha sido utilizado antes. Produtos manufaturados, talvez, dos bons velhos tempos quando Buffalo tinha sido o coração do cinturão de aço. Agora era a ferrugem como todo o resto.
Ela desviou para longe da parede para evitar as grades abertas da escada de metal e foi em direção à sala de estar. Simon estava na frente dos seus computadores. Ele nem sequer olhou para cima quando ela passou correndo, assim como ele não o tinha feito nos últimos dezenove circuitos. Ela continuou até chegar às escadas novamente antes de decidir que tinha atormentado seu corpo o suficiente para um dia. Além disso, não era como se ela não tivesse feito um monte de exercícios na noite anterior. Ela sorriu com pensamento e diminuiu ainda mais, balançando as pernas para fora em um pequeno círculo no pé da escada, com intenção de ir diretamente para seu quarto e tomar uma ducha quente.
— Oi.
Sarah pulou alguns centímetros devido ao susto, depois girou ao redor para olhar a jovem mulher esquecida que estava sentada nos degraus das escadas.
— Eu sou Nina. — disse a mulher quando Sarah piscou para ela em confusão. — Você deve ser Sarah.
— Uh, sim. Desculpe, mas quem é você?
— Oh, eles não te disseram?
— Disseram o quê?
A menina corou e Sarah se sentiu como uma idiota. Ela era magra, pequena, usava um vestido de verão e um suéter rosa, segurava um daqueles minúsculos telefones celulares com dedos que eram mais osso do que carne. E ela estava olhando para Sarah com desbotados olhos azuis em um rosto pálido que parecia muito velho para a sua idade.
— Desculpe. — Sarah disse de novo. — Você apenas me surpreendeu, isso é tudo. Não sabia que tinha alguém aqui. Bem, exceto os guardas, você sabe, e Simon.
— Sim. — a menina disse vagamente.
— Então, quem é você?
— Nina. — ela repetiu, como se isso significasse alguma coisa.
— Você está com um dos guardas humanos? — Mais provavelmente, Sarah pensou em particular, esta criança estava com um dos vampiros. Ela certamente parecia que tinha sido drenada de não apenas sangue, mas vitalidade.
— Não. Estou com Byron e Serge.
— Eles estão aqui também?
— Não. — a garota disse com tristeza.
Sarah estava começando a pensar que talvez Nina não jogasse com o baralho todo. — Tudo bem. Tenho que, uh, subir as escadas e, hum, tomar um banho, então vou… — Ela deu um passo em direção à escada, com a intenção de passar por Nina, mas a menina de repente ganhou vida.
— Você tem alguma revista para ler?
Sarah parou com um pé na escada e franziu a testa. — Eu poderia ter algo no meu carro.
Nina se iluminou. — E o seu carro está aqui?
— Bem, sim, mas…
— Talvez você possa me levar a uma loja, então!
— Oh. Não. Eu não posso fazer isso. Quer dizer, eu prometi…
— Oh.
A menina parecia tão abatida que Sarah se sentiu compelida a acrescentar — Mas posso olhar no meu carro. Provavelmente tenho algo para ler. Talvez não uma revista, mas tenho certeza que há um livro ou dois.
— Que tipo? — Nina perguntou descaridosamente.
— Romance, eu acho. Provavelmente de vampiros. — Sarah sabia que havia provavelmente um par de títulos mais sérios lá também, mas percebeu que não era o que Nina estava procurando.
— Legal. Eu gosto desses. Podemos ir olhar?
— O quê? Agora?
— Bem, sim.
Sarah suspirou. — Tudo bem. Deixe-me pegar as minhas chaves.
O guarda não ficou feliz. Sarah estava bastante certa de que ele tinha cedido apenas para fazer Nina calar a boca, que era basicamente a motivação dela também. Mas a verdade era que ela não achava que era grande coisa. Claro, ela tinha prometido a Raj que não sairia, mas ele quis dizer lá fora, como em uma viagem ao shopping, e não a poucos metros da porta, pelo amor de Deus. Aquela coisa toda de não cruzar o limiar tinha sido ele fazendo uma piada com isso. Afinal, era dia. Os bandidos eram todos vampiros e eles estavam escondidos em suas escuras e pequenas camas assim como os que estavam dormindo lá embaixo.
O guarda abriu a porta interior e esperou enquanto eles se amontoaram na antecâmara entre as duas portas, e em seguida abriu a pesada porta exterior, saindo para a luz do sol por um breve momento para olhar ao redor. Ele murmurou algo em seu rádio, em seguida acenou com uma mão impaciente para que elas saíssem. Sarah tinha apenas começado a se mover para a frente quando a cabeça dele de repente girou e ela ouviu o som de um motor de carro, acelerando duro e se aproximando rápido demais.
Depois disso, tudo aconteceu em câmara lenta, parecendo demorar uma eternidade, embora não poderia ter sido mais do que alguns segundos. O guarda cambaleou atrás para o barulho de tiros. Ela ouviu homens gritando e virou, puxando a porta para dentro com a intenção de avisar os outros, mas o sistema de segurança não a libertou porque a porta de fora estava aberta. Nina estava de pé lá, com o rosto pálido distorcido pelo pânico, só que ela não estava olhando para os homens mascarados que estavam correndo em direção a elas, mas para a porta que Sarah estava lutando para conseguir abrir. Sarah finalmente entendeu quando sentiu os dedos ossudos da outra mulher agarrando o seu braço, sentindo uma força surpreendente quando ela empurrou Sarah para dentro de um longo carro escuro.
Como se estivesse acontecendo com outra pessoa, ela ouviu a batalha acontecendo ao seu redor, a batida da pesada porta atrás dela, o cheiro da pólvora que provinha dos disparos das armas de fogo, a borracha queimada dos pneus guinchando e acima de tudo os gritos dos homens feridos. Mas então ela estava sendo tomada por um par de braços poderosos, jogada no banco traseiro de um carro. Alguma coisa áspera e malcheirosa foi presa em sua boca e suas mãos foram puxadas para trás para serem amarradas com uma pequena corda de plástico. Uma agulha foi empurrada em seu quadril e ela sentiu tudo desaparecer na inconsciência. Seu último pensamento foi que Raj realmente ia ficar puto desta vez.
Capítulo 44
Raj acordou com um rugido, saltando da cama estreita e liberando todo o peso de seu poder pela primeira vez em anos. Este trovejou através do armazém, balançando os próprios alicerces, as paredes tremeram e ele sentiu cada um de seus guardas, tanto humano como vampiro, cair de joelhos em apreensão.
Sarah! Ele procurou por ela, amaldiçoando-se por não ter feito com que a ligação de sangue fosse mais forte, por não obrigá-la a tomar mais do seu sangue. Não havia nada, e por um momento ele conheceu o desespero. Mas próximo a isso havia a certeza de que ela não estava morta. Ela estava inconsciente, drogada, ele não sabia qual, mas ela estava viva.
Ele vestiu a sua roupa, pensando furiosamente. Ele podia sentir os seus vampiros à sua volta, seus pensamentos temorosos de sua raiva, pensando na causa da mesma, mas ainda firmes, ainda segurando forte e preparando o seu poder para o uso de Raj. Ele tinha escolhido bem os seus filhos. Não havia covardes entre eles, nem fracos. Ele abriu a sua porta e irrompeu o corredor. Eles esperaram por ele lá, de joelhos, cabeças inclinadas em fidelidade e submissão.
Seu olhar encontrou Emelie. Ela levantou a cabeça pela sua convocação silenciosa e seus olhos estavam cheios de conhecimento e de medo, mas o medo era por ele, não dele. — Sem mais jogos, Em. Vamos ficar todos carregados e em movimento. Isso acaba esta noite.
Raj olhou sobre o ombro de Simon quando o assistente técnico iniciou o vídeo do rapto mais uma vez. Ele sentiu Em se aproximando por trás e virou-se, dando-lhe um olhar frio. — Que porra Nina estava fazendo aqui?
— Eu assumo a responsabilidade, meu senhor. Byron ligou ontem à noite enquanto você estava fora. Ele disse que Krystof tinha ouvido que ele estava falando com você, que ele havia feito ameaças. Ele perguntou se Nina poderia ficar connosco. Ele queria trazê-la e ficar também, mas eu não confiava tanto nele. Abel e eu fomos buscá-la. Ela deve ter chamado alguém. Sinto muito. Nem sabia que ela tinha um telefone.
— Quero falar com o guarda que abriu a porra da porta para elas esta tarde.
— Ele está quase morto, meu senhor. Demos-lhe sangue suficiente para estabilizá-lo por agora, mas ele está fora de si. Consegui apenas o suficiente dele para saber o que aconteceu, e confirmei os detalhes com os dois guardas que tínhamos no telhado. Todos os três foram atacados no minuto que a porta se abriu, antes que Sarah sequer fosse tocada.
— Filho da puta. Onde está o idiota do Byron?
— Cervantes e Abel estão a caminho. Se tivermos sorte, vamos pegá-lo antes que ele acorde o suficiente para correr. Podemos apenas esperar que Nina tenha sido estúpida o suficiente para ir para casa com ele.
— Tudo bem. Vamos ficar todos prontos e em movimento. Se Byron não estiver lá, não vamos perder tempo procurando por ele. Ele e a cadela vão pagar, mas Sarah vem em primeiro lugar. — Ele colocou a sua jaqueta, sentindo seu peso se instalar sobre seus ombros, inalando o cheiro quente do couro fino. Ele tinha vivido bem como um vampiro. Por mais que possa ter lamentado a mudança no passado, por mais que ele ainda desprezasse Krystof por tê-lo transformado contra a sua vontade, ele teve que admitir isso. Sua longa vida tinha sido mais fácil do que a sua vida humana alguma vez foi.
— Meu senhor. — disse Em hesitante. Ele olhou para cima e viu o brilho de lágrimas nos olhos dela.
— Não chore, Em. Tivemos um bom funcionamento.
— Droga, Raj, não se atreva…
Ele deu-lhe um sorriso cruel. — Não se preocupe. Não tenho intenção de me jogar sobre a minha espada. Krystof cairá hoje à noite, mas eu seria um tolo e um péssimo Senhor se não tomasse as devidas precauções.
Os olhos de Em se arregalaram. — Eu não irei…
— Sim, você vai. — disse ele em uma voz dura. — Levarei dois comigo. Até vou deixar você escolher quais. Mas você fica de fora, Em. Preciso que você…
— Você não pode fazer isso comigo, é…
— Eu posso e vou. — Ele deu um passo para mais perto e em um raro gesto de carinho, colocou a mão na bochecha dela. — Você foi a minha primeira criança, Emelie, e você sempre será a minha melhor. Mas você não é a única. Tenho muitos vampiros aqui e em casa que contam com a minha proteção. Se algo der errado, preciso de alguém fora da zona de matança que é forte o suficiente para proteger o meu povo da reação. Já é ruim o suficiente se alguns morrerem. Não quero que todos caiam comigo. Você entende? Eu preciso de você, Em. Você pode salvá-los se eu cair.
— Você não vai cair. — ela sussurrou ferozmente.
— Não. — disse ele com outro sorriso — Eu não vou. Vou derrubar aquele filho da puta e qualquer outra pessoa que tiver alguma coisa a ver com isso. E então irei encontrar Sarah e ensinar-lhe o preço de quebrar uma promessa ao seu senhor e mestre.
Em sufocou algo que ficava entre um soluço e um sorriso. — Boa sorte com isso.
— Tenha um pouco de fé, Emelie.
— Tenho toneladas de fé, meu senhor. Se eu não tivesse, você teria que passar por cima do meu cadáver para sair por aquela maldita porta.
O armazém zunia com energia. Raj se levantou e absorveu tudo — a alegria viciosa de vampiros que sabiam que logo estariam em liberdade, que os laços de civilização, o confinamento das leis e costumes que foram forçados a viver sob este novo mundo de câmaras de vigilância e DNA, essas seriam postas de lado por uma noite. Esta noite era sobre vampiros, esta noite era sobre derramamento de sangue e caos, e eles estavam estourando de alegria por isso.
Ele deu um sorriso aberto, estendendo os braços como se pudesse recolher toda essa energia. Ele deixou seu próprio poder lavar sobre eles, enchendo-os de confiança e garantia de sua força ao lado deles. Eles iriam fazer isso juntos e veriam a vitória antes que a noite acabasse. Ele acenou para Emelie e ela sorriu de volta. Seus vampiros uivaram e começaram a se dirigir para os veículos. Os motores foram acessos e as grandes portas foram abertas.
Ele caminhou em direção à porta aberta do último SUV e ficou num impasse quando a consciência de Sarah de repente inundou os seus sentidos. Ela estava acordada e alerta. Ele empurrou uma lança de poder para fora, lutando para alcançá-la sobre o laço fraco de sangue, mas não foi suficiente. Ele bateu no telhado do SUV com frustração e resolveu enviar um impulso poderoso de confiança e carinho. Ela saberia que ele estava aqui. Que ele estava indo. Isso teria de ser suficiente.
Ele virou-se ao ouvir o toque do telefone de Em. Ela levou-o até seu ouvido e escutou. Seus olhos deslocaram-se para ele e ela murmurou um nome — Byron.
— Eles o têm. — disse ela, desconectando e empurrando o telefone de volta no bolso.
Raj arreganhou os dentes num rosnar de presas à mostra. — Então essa é a nossa primeira parada.
Capítulo 45
O lugar onde ela estava era frio, escuro e úmido. Ela podia sentir o cheiro da umidade rastejando para fora das paredes e subindo a partir do chão para trazer uma dor a seus ossos. Ela rolou para o lado, o que provocou um ataque vicioso de vertigem que a fez procurar cegamente por algo sólido para se estabilizar. Ela encontrou o trilho frio de uma cama de metal e se agarrou a ele, sentindo as crateras ásperas onde a tinta estava lascada. Ela ficou ali respirando com cuidado e esperou, convencida de que estava sonhando e logo acordaria em sua cama, em seu próprio quarto.
— Olá? — Uma frágil voz de menina chamou.
O choque fez os olhos de Sarah abrirem e ela acordou com seu pior pesadelo se tornando realidade. Sua frequência cardíaca disparou, espremendo o ar de seus pulmões e estremecendo seu corpo inteiro a cada batimento.
— Olá? Tem alguém aí? — A menina chamou de novo.
A cabeça de Sarah girou na direção da voz e ela viu uma fresta de luz onde a porta estava entreaberta. Seus olhos se arregalaram e ela colocou uma mão sobre a boca para não gritar. Ela conhecia este lugar. A porta se abriu e ela olhou para cima, esperando ver a forma sombreada de seus pesadelos, esperando ver aquele que tinha tomado Trish e deixado Regina para morrer.
— Você está acordada. — Uma jovem ficou delineada pela luz do corredor. Ela era baixa como Sarah, mas mais magra e muito mais jovem. Trish, Sarah percebeu. Esta era Trish Cowens.
— Está tudo bem. — Trish estava dizendo. — Eles foram embora por agora. — Ela chegou mais perto, movendo-se lentamente, uma de suas mãos erguida como se ela estivesse se aproximando de um animal assustado.
Sarah piscou. E sentiu uma onda de raiva ardente que começou em seu coração e saiu correndo para aquecer todas as partes do seu corpo. Era Raj. Ela podia senti-lo como uma enorme, porém distante, labareda de fúria. A memória de seu caloroso sangue contra a língua dela brilhou tão vividamente que ele quase podia prová-lo. Ela não queria tomar o seu sangue, apenas tinha concordado para agradá-lo. A ideia de tomar mais tinha sido repugnante. Mas agora ela entendia por que isso havia sido importante. Era a ligação que Cyn tentou descrever. Ela só esperava que fosse o suficiente para ele encontrá-la antes que fosse tarde demais.
— Você está bem? — Trish perguntou.
Sarah conseguiu dar um sorriso fraco, mas percebeu que a menina podia não ser capaz de vê-lo. — Sim. — disse ela em voz alta. — Ou estarei em um minuto. — Ela engoliu a náusea, inalando profundamente, deixando o ar sair lentamente e repetindo o ciclo. Ela olhou para cima. — Você é Trish Cowens, não é?
Trish correu para a cama, quase tropeçando na sua urgência de se aproximar. — Eles estão procurando por mim? Meu pai está… — Sua voz se quebrou e Sarah estendeu a mão, puxando a menina para baixo para se sentar ao lado dela. Como se o toque fosse um sinal, Trish começou a chorar, soluçando como uma criança pequena. Sarah colocou os braços em torno dela e a deixou chorar, segurando-a firme e embalando-a ligeiramente.
Os soluços de Trish eventualmente diminuíram, mas ela continuou perto, esfregando o rosto molhado contra a t-shirt de Sarah. — Você está com a polícia? — Perguntou ela com uma pequena voz esperançosa.
Sarah suspirou. Se ela saísse disso viva, Raj ia matá-la. — Não estou com a polícia, Trish, mas meus amigos sabem onde eu estou e eles virão por nós.
— Vampiros. — disse Trish entorpecidamente. — São eles que nos têm.
— Eu sei. — disse Sarah reforçando o seu abraço sobre a garota assustada.
— Eles mataram Regina.
— Não. — Sarah disse rapidamente. — Encontramos Regina a tempo e a salvamos.
Trish se sentou e olhou para ela na luz fraca. — Sério? Você não está apenas dizendo isso para me fazer sentir melhor?
— De jeito nenhum, querida. Ela está viva e nós também, e pretendo continuar assim. Vamos sair daqui, Trish. Ainda não sei como, mas vamos definitivamente sair daqui vivas.
Capítulo 46
A casa de Byron parecia a mesma que tinha sido quatro noites atrás. Byron, no entanto, parecia diferente. Ele se humilhava no chão em frente a Raj, nu exceto por um par de calças de moletom soltas, sangue escorrendo de vários cortes profundos no peito e nos braços.
Raj olhou para Cervantes com uma careta.
— Ele tentou escapar, meu senhor, — Cervantes disse imperturbável.
Raj considerou o contraste entre o esguio Byron e Cervantes, permitindo a si próprio um pequeno sorriso. Ele não durou muito tempo. Ele caminhou até Byron e agachou-se para olhar nos olhos do vampiro mais fraco, seus antebraços sobre os joelhos e as mãos soltas entre eles. — Você não parece muito bem, By.
Byron deu-lhe um olhar de intensa aversão antes de abaixar rapidamente a cabeça e se esconder atrás de uma queda de cabelo desengonçado. — Eu não fiz nada. — ele murmurou.
— Não? Então talvez fosse apenas Nina. O que você acha? Não podemos ter os nossos humanos nos desafiando assim, podemos? Devo matá-la por você?
A cabeça de Byron subiu, puro pânico em seus olhos. — Nina não fez isso, Raj. Eu juro.
— Fez o quê? — Raj perguntou suavemente.
Byron piscou rapidamente, sabendo que tinha sido pego. — Seja o que for — insistiu ele, sua voz caindo para um lamento melancólico. — Você enviou esses caras para me pegarem, imagino que algo está acontecendo, mas eu estava dormindo. Você sabe disso. E Nina, ela não faria…
Raj entortou um dedo e Byron gritou, sua a cabeça jogada para trás, os tendões em seu pescoço destacando-se como fragmentos de osso. Raj deixou cair sua mão e Byron caiu para frente, curvado sobre si mesmo como um animal ferido, com as mãos em volta de sua cabeça enquanto ele chorava alto.
Raj se inclinou para sussurrar em seu ouvido. — Você está ouvindo o coração de Nina batendo, By? Eu estou.
O choroso vampiro levantou a cabeça para olhar Raj com horror.
— Quão alto você acha que vai ter que gritar antes que ela deixe o seu esconderijo? Vamos ver, vamos?
— Não, — Byron choramingou. — Não, você não pode… — A voz dele ficou desafinada quando ele gritou em agonia, sangue escorrendo de seus ouvidos, de seus olhos, e de todos os poros quando Raj fechou o punho e apertou-o até deixar Byron seco. O sangue começou a formar uma piscina debaixo dele e Cervantes recuou fastidiosamente, seus olhos brilhando amarelo com a combinação de sede de sangue e emoção.
Raj levantou a cabeça para capturar o olhar de Cervantes antes de lançar um olhar preguiçoso em direção a uma seção de painéis de lambris baratos que revestiam o quarto sombrio. Cervantes arregalou os olhos estudando cuidadosamente os painéis, correndo uma mão de dedos grossos ao longo da superfície até que encontrou o que estava procurando. Ele olhou por cima do ombro para Raj, que balançou a cabeça brevemente antes de voltar sua atenção para o moribundo Byron.
— Que desperdício, By, — disse ele com verdadeiro pesar. — Eu teria protegido você. — Ele se levantou com um gesto ligeiro e observou desapaixonadamente quando Byron desmoronou a seus pés. Ele escovou as mãos rapidamente e assentiu com a cabeça em um sinal para Cervantes.
O grande vampiro fechou a mão num punho e esmagou-a nos lambris, provocando o grito de surpresa e medo de Nina que estava encolhida dentro de seu esconderijo. Cervantes alcançou-a e arrastou-a para fora com mais compaixão do que ele havia mostrado a Byron, segurando-a pela nuca para que ela balançasse na sua frente. — O que devo fazer com esta, meu senhor?
Raj encolheu os lábios em desgosto quando ele tocou a mente da mulher chorosa. Seus pensamentos estavam caóticos devido ao medo, espalhados diante dele como folhas ao vento. Ele pegou uma imagem de Sarah e se agarrou a ela, arrancando a memória do cérebro de Nina sem se preocupar com os danos que ele poderia provocar. Ele viu os raptores, viu o seu guarda humano cair tentando empurrar Sarah de volta à segurança, viu-a ser jogada no banco de trás enquanto a batalha se desenrolava ao redor. Mas ele sabia de tudo isso. Ele procurou na confusão que era o cérebro de Nina uma vez mais e descobriu o que estava procurando. Um telefonema, a voz no outro lado. Uma que Raj reconhecia.
Ele retirou-se da consciência de Nina, o seu poder empurrando-a para longe como o pedaço desagradável de carne que ela era. Ela caiu na poça de poeira e sangue que havia sido Byron e tentou empurrar-se para cima, olhando para a gosma sangrenta em suas mãos e gritando de horror quando percebeu o que aquilo devia ser. Ela se arrastou para longe, deixando manchas vermelhas para trás enquanto ela se encolhia contra a parede, os olhos selvagens enquanto ela balbuciava loucamente.
— Meu senhor, — Em disse atrás dele. — Devo…
— Não, — disse ele bruscamente. — Deixe-a como está.
— Mas…
Raj virou-se e estudou a sua tenente com olhos que brilhavam num profundo azul gélido. Todos se calaram, os únicos ruídos que se ouviam eram os murmúrios desmedidos de uma louca e o som de Em caindo de joelhos.
— Perdoe-me, meu senhor.
Ele a deixou ficar de joelhos por três respirações e depois caminhou para fora do quarto. — Estamos indo para a mansão de Krystof — disse ele categoricamente.
Seus vampiros correram para acompanhá-lo, alguns foram à sua frente para servir como uma vanguarda contra todos os inimigos que poderiam ter antecipado os seus movimentos e estavam o esperando lá fora. Raj franziu a testa, mas reconheceu a necessidade. Ele teria que se acostumar a partir de agora. Assumindo que ele sobreviveria a esta noite.
A casa de Krystof parecia a mesma de sempre. Uma antiga mansão com janelas fechadas e uma garagem cheia de carros antigos. Raj parou na rua, o seu poder jogado para baixo mais uma vez — não havia motivos para anunciar a sua presença ao lorde vampiro. Embora entre a sua explosão de mais cedo e o seu confronto com Byron, o velho tinha que saber que ele estava vindo, especialmente depois dele ter tomado Sarah. Mas era a extrema normalidade da casa que o angustiava. Ele esperava mais resistência, uma linha de defesa, algo para dar a Krystof um aviso prévio e gastar os recursos de Raj, enfraquecendo-o antes que ele entrasse na casa.
Ele sentiu Em se aproximar por trás dele. — O que há de errado neste quadro? — Perguntou ele.
— Está muito tranquilo, — respondeu ela imediatamente. — Eu esperava que Krystof definisse a linha da frente bem longe de sua importante pessoa. — Ela acenou com a cabeça em direção à casa do senhor vampiro. — Já vi maior segurança em uma casa de fraternidade.
Raj sorriu firmemente. — Estiveste em muitas dessas, Em?
— Algumas, — ela reconheceu. — Aqueles homens bem alimentados estão sempre tão ansiosos para compartilhar.
Ele bufou em diversão. — Vou levar dois comigo.
— Meu senhor… Raj, eu…
— Preciso de você aqui fora, Em.
Ela suspirou e acenou por cima do ombro. Cervantes e Yossi deram um passo à frente e tomaram posições em ambos os lados dele. Raj deu a Em um olhar questionador.
— Tiraram no palitinho pela honra, — disse ela.
Ele bufou, pensando que acompanhar o seu Senhor para uma possível morte era dificilmente uma honra. — Eu aprecio a ideia, meus senhores.
Cervantes deu-lhe um sorriso, enquanto Yossi balançou a cabeça silenciosamente. Ambos olharam a casa silenciosa com avidez, músculos tensos pelo esforço de permanecerem parados, olhos brilhando nas luzes da rua.
— Vamos dar a volta, — Raj disse friamente. — Se as minhas visitas anteriores são algo pelo que me possa guiar… — Ele levantou a cabeça para indicar a casa na frente deles com um sorriso. — … Eu não acho que teremos problemas. Vocês podem flanquear-me como quiserem, até… — Ele desviou o olhar, fazendo contato visual com cada um deles, maravilhado por ter ganhado a lealdade incondicional de vampiros tão fortes e capazes. — Até que, — ele repetiu, continuando em uma voz mais suave, — cheguemos ao santuário interno de Krystof. Naquele momento, eu procederei sozinho.
Ele viu as reações desconfortáveis deles e sorriu. — Entendo as vossas preocupações, — ele disse e levantou os olhos para incluir Emelie em suas palavras. — Mas deve ser assim. Emelie?
— Sim, meu senhor.
— Lembre-se da sua promessa.
Os olhos dela se encheram de lágrimas rosa, mas ela balançou a cabeça uma vez, rapidamente. — Sim, meu senhor.
Ele olhou em volta para os vampiros reunidos e notou com alguma surpresa o número de guardas humanos que tinham escolhido para acompanhá-los. Ele não os tinha notado na casa de Byron, o que significava que alguém os tinha chamado. Ele olhou para cima e viu Emelie evitando o seu olhar. Ele balançou a cabeça com espanto. Ela era uma joia rara, sua Emelie.
Ele ergueu a cabeça e deixou o seu poder fluir, deleitando-se com a corrida de alegria sem precedentes que ele sentiu quando girou para a noite, anunciando a sua presença ao Krystof e a qualquer outra pessoa nas redondezas com a capacidade de detectar essas coisas. Ele respirou fundo e o ar enchendo seus pulmões provou ser tão doce e puro como qualquer respiração que ele já tenha experimentado. Sua consciência se estendia preguiçosamente, como um gato acordando de um cochilo à tarde, os seus sentidos se ajustando à noite ao seu redor. O bater dos corações de seus vampiros rodeava-o como se fosse um concerto, os de seus seguidores humanos mais fracos, mas igualmente verdadeiros. Ele fechou os olhos contra a sobrecarga de sensações, a intoxicação tentadora, e em seguida abriu-os novamente com um claro propósito.
— Não vamos deixar Krystof esperando.
Ele deu a volta à casa e entrou na cozinha, surpreendendo três vampiros que pareciam ter sido pegos tirando sangue da geladeira. Eles olharam para ele em choque, e só tardiamente mostraram uma fraca resistência. Raj escovou-os para longe com um pequeno fio de seu poder, batendo-os contra as paredes e armários, drenando seus poderes e deixando-os deitados no chão num estado de estupor. Este era o preço que Krystof estava pagando por escolher apenas os fracos e os estúpidos para seus asseclas. Mal desacelerado pelo encontro, Raj caminhou mais para dentro da casa e desceu as escadas.
O porão estava um pandemônio. Advertidos por sua abordagem através da cozinha, vários dos defensores brutais de Krystof correram para o pé das escadas cheios de fúria e exalando testosterona, mas sem nenhuma organização em seus ataques. Eles pareciam sem direção, como se estivessem em uma máquina de pinball, indo e voltando, não sabendo se avançavam para o intruso ou se recuavam para defender o santuário de seu mestre. Entre eles, Cervantes e Yossi trataram do ataque inicial, e Raj facilmente dominou o resto. Ao chegar ao degrau mais baixo ele examinou os destroços, pensando mais uma vez sobre a fraca resistência do senhor vampiro. E onde estava Jozef?
Ele balançou a cabeça. Essas coisas já não importavam. O desafio tinha sido bom e verdadeiramente colocado agora, e não havia como voltar atrás. Ele atravessou a sala rapidamente e abriu a porta sem qualquer cerimônia. Krystof estava debruçado em seu sofá elaborado, com o rosto enterrado no pescoço ensanguentado de uma jovem mulher. Ele recuou devido à entrada abrupta de Raj, a boca aberta num rosnado furioso, presas pingando sangue em sua camisa de linho branca. Raj mal registrou a raiva do senhor vampiro, seus olhos se encheram com a visão do longos cabelos loiros da mulher, suas graciosas pernas nuas penduradas frouxamente para o chão, um braço branco estendido, sua mão aberta em súplica.
Ele rugiu, cruzando a sala em dois passos duros e arrancando a mulher das garras de Krystof. O cabelo dela caiu e ele ficou olhando para um rosto desconhecido. Alívio cresceu através dele. Não era Sarah quem jazia morta em seus braços. Um momento depois ele sentiu culpa por ter encontrado algum alívio na morte sem sentido daquela mulher. Ele levantou o olhar e encontrou o lorde vampiro que a matou em pé diante dele, a boca aberta em uma paródia repugnante de riso.
— Você acha que pode me destituir, Rajmund? — Ele zombou desdenhosamente. Seus olhos brilhavam como chamas gêmeas contra a sua alma enegrecida quando ele deu rédea solta ao seu poder, deixando-o crescer até a casa gemer com a pressão, móveis voaram contra as paredes e se quebraram em pedaços como se um furacão houvesse repentinamente se formado no centro do pequeno escritório. Mas mesmo isso não foi suficiente. Uma onda de energia elétrica quase sacudiu a sala quando Krystof estendeu a mão para seus asseclas, rasgando as suas defesas e sugando-os até secarem, roubando a força que tinham e assim tecendo um casulo aparentemente impenetrável de proteção para si mesmo.
— Você não é nada além de um rato do cais, — ele rosnou para Raj. — Nasci para governar séculos antes de você nascer, e vou governar por séculos depois de tê-lo soprado ao vento junto com sua coleção lamentável de crianças. — Ele zombou da última palavra, jogando-a na cara de Raj como se não fosse nada.
Raj flexionou a sua vontade, concentrando seu poder com uma elegância clara e direta. Este cresceu como a primeira onda de uma grande tempestade furiosa e densa, puxando forças daquele lugar impossível dentro de si, esse reservatório de poder vampírico que faz a diferença entre um servo e um senhor. Ele estendeu a mão e estava ciente de Cervantes e Yossi de e pé intactos fora da porta do escritório, de Emelie na rua acima canalizando o poder de cada um de seus vampiros, tanto aqui como na distante Manhattan. Ela reuniu ainda a escassa força da vida de seus guardas humanos, abrigando-os a todos quando ela ofereceu uma tábua de salvação de poder para ele recorrer se tivesse necessidade.
Ele sabia que seus olhos começaram a arder num frio fogo azul, e ele sorriu, vendo a compreensão surgir no rosto do seu Criador. — Falar é fácil, meu senhor.
Krystof o golpeou sem aviso prévio, quebrando o casulo defensivo de seu poder para lançar uma onde de pura energia através da pequena sala. Raj grunhiu quando foi atingido, sentindo o seu próprio poder mergulhar sob o ataque letal, cedendo sem quebrar, fluindo ao redor da lança de poder de Krystof, absorvendo-a para si, o que deixou-o mais forte do que antes, e não mais fraco. Os olhos do vampiro se arregalaram em choque e ele lutou ferozmente para recuar, esforçando-se para se libertar do poder de Raj antes que ele se encontrasse tão seco como seus próprios asseclas.
Raj estendeu a mão e deixou-a cair, como se para afastar os restos dos destroços. Ele sentiu um choque de energia quando o seu poder se fechou em torno dele mais uma vez, e ele viu Krystof cair para trás, cambaleando ligeiramente contra o entulho que havia sido a sua secretária. Mas o velho não tinha terminado. Ele era um lorde vampiro, não um simples escravo que poderia ser demitido com uma flexão rápida de poder. Ele ficou de pé, os braços estendidos, as mãos cerradas como se estivesse reunindo um relâmpago do próprio ar. Ele trovejou o seu desafio, sacudindo as paredes e lançando uma parede sólida de energia por toda a sala, que colidiu com Raj como se fosse toneladas de pedras implacáveis, levando-o para trás, forçando-o a ficar de joelhos. Raj uivou em desafio, furioso pela sua estupidez, seu orgulho altaneiro. Ele havia estado tão supremamente certo de sua superioridade, tão arrogante da sua parte. Enquanto ele estava rindo dos esforços do velho, Krystof tomou a iniciativa e golpeou-o com rajada após rajada de força letal. Ele sentiu-se enfraquecer sob o ataque implacável, enquanto Krystof ficava cada vez mais forte, drenando mais e mais de seus asseclas, chegando até os confins de seu território, a sua crueldade sendo a sua maior vantagem.
Raj podia ouvir Emelie gritando em sua cabeça, exigindo que ele tomasse o que ela oferecia, implorando-lhe quando suas exigências não foram ouvidas. Ele pensou em seus filhos vampiros, em Cervantes e Danny, em Yossi e em seu anjo, Emelie. O que aconteceria com eles, qual seria a vingança exata de Krystof contra o seu pela arrogância de seu mestre? Inaceitável.
Ele abriu-se ao fluxo de poder de Emelie, bebendo da força combinada de seus muitos filhos, usando sua raiva como combustível para a sua determinação quando ele ficou de pé com um rugido que ameaçou derrubar a casa ao seu redor. Ele atacou Krystof com rajadas de poder, uma após outra, se recusando a permitir que o vampiro ditasse os termos deste encontro. Ele lutou à sua própria maneira, atacando por todos os lados, forçando Krystof a se defender contra todas as suas rajadas. O lorde vampiro uivou, lutando desesperadamente para recriar seu casulo impenetrável mesmo quando o poder de Raj corroía a sua própria estrutura.
Krystof finalmente caiu de joelhos em um último esforço defensivo, sugando o poder em si mesmo como um vácuo, desistindo de qualquer tentativa de ataque em favor da simples sobrevivência. Quando mesmo isso falhou, ele olhou para cima e encontrou os olhos de Raj, sua boca aberta num sorriso sangrento, o fogo de seus olhos morrendo para brasas fracas. — Espero que aproveites, — disse ele, e depois riu-se, uivando como um louco quando Raj atirou os braços abertos até que se materializaram diante dele como dois pilares de energia cerrada. Krystof gritou em agonia quando um peso terrível esmagou-o contra o chão, cada osso em seu corpo quebrado sob a pressão insuportável, articulações rasgando e pulmões estourando, sangue escorrendo por todos os poros, todos os orifícios, enquanto o seu corpo parecia dobrar sobre si mesmo. Raj abriu um punho, a sua pele clareando com a tensão, até que ele fechou o punho e o coração Krystof explodiu em chamas dentro de seu peito.
O ar na sala ficou repentinamente quieto, nem um sussurro de movimento, nem um grão de poeira à deriva, e em seguida como um vácuo colapsando instantaneamente, o corpo de Krystof vaporizou-se e desapareceu, tornando-se não mais do que um monte de poeira e roupas sangrentas no tapete.
Raj fechou-se para Emelie e caiu de joelhos, sua cabeça caindo para a frente em seu peito de exaustão quando ele respirou fundo… e gritou em agonia. Sua mente se encheu de milhares de vozes quando todos os vampiros que vivem no território clamaram com medo, estendendo a mão a ele para sustento, para proteção, por suas próprias vidas. Ele estava ciente da porta do escritório voar aberta, e de Cervantes e Yossi correndo para cercá-lo, juntando-se com o seu poder em um esforço para amortecer a demanda esmagadora de novos sujeitos de Raj. Ele se balançou lentamente para trás e para frente, esticando os músculos, os tendões se destacando em seu pescoço quando ele se esforçou para entender o que estava acontecendo, para trazer alguma aparência de ordem e razão para a cacofonia sem fim. A parede de poder em torno dele ficou mais forte quando Emelie acrescentou sua própria força, quando ela canalizou os outros com cuidado, construindo a parede tijolo por tijolo até que finalmente as vozes acalmaram, tornando-se não mais do que um zumbido constante no fundo.
Raj permaneceu de joelhos, a cabeça pendurada para frente, queixo no peito. Sangue jorrava de seus olhos e brotaram de suas mãos onde as unhas haviam cavado em suas palmas. Ele ouviu vozes lá fora, passos descendo as escadas, e depois Emelie estava lá em carne e osso, ajoelhado ao lado dele.
— Meu senhor? — Ela disse suavemente. — Raj? — Acrescentou ela com urgência quando ele não respondeu.
Ele semicerrou os olhos um pouco e disse, — Eu odeio essa merda de vampiros.
Ela latiu uma risada que mais parecia um soluço de alívio e chamou alguém para trazer-lhe um pouco de sangue. Mais gritos e passos, e um saco de sangue aquecido foi empurrado em suas mãos. Ele rasgou-o aberto com as suas presas e sugou-o, passando o saco vazio e tendo outro oferecido até que ele tinha derrubado seis sacos cheios de sangue, muito mais do que qualquer humano poderia ter oferecido com segurança.
Ele respirou fundo e olhou para Emelie, sua mente finalmente clara. — Sarah? — Perguntou a ela.
— Não nesta casa, meu senhor.
Raj praguejou tolamente. Ele tinha acessado cada canto sujo do cérebro doente de Krystof e não havia encontrado nada sobre o rapto de Sarah, ou de qualquer conspiração para vender segredos de vampiros para as empresas farmacêuticas, portanto onde no inferno…
Houve um som de passos descendo as escadas do porão e mais vozes discutindo. — Droga, — ele gemeu. — O quê agora?
Emelie permaneceu ao seu lado, mas ela colocou-se numa posição defensiva. Raj olhou para cima e não viu nada além dos corpos de seus vampiros formando uma muralha defensiva entre ele e o que estava vindo. Ele bufou uma risada, percebendo que tinha de alguma forma adquirido a sua própria parede de carne. Ele ouviu a voz de Simon se levantar entre a dos outros. Bem, pelo menos sua parede de carne tinha um cérebro. — Deixe-o passar, Em.
Simon se espremeu entre as formas volumosas dos guardas de Raj, caindo para o espaço livre ao seu redor como uma pasta de dente de um tubo. Ele foi para um joelho e sorriu. — Meu senhor.
— Simon, — Raj reconheceu. — Aconteceu algo que você queria me dizer?
— Oh! Sim, meu senhor. Você sabe que eu monitoro todas as linhas de telefone celular, porque nunca se sabe…
— O ponto, Simon. — O cara era um gênio técnico, mas às vezes se perdia em suas próprias explicações.
— Sim, meu senhor. Desculpe. Bem, eu notei um número que continuava entrando em seu correio de voz. Quatro chamadas em menos de uma hora. É claro, eu não posso acessar ao seu correio de voz, meu senhor, isso seria…
— O ponto?
— Liguei para o número de volta e era Kent da casa de sangue de Amherst. Ele disse para lhe dizer que era Jozef.
Raj congelou, olhando para o especialista em tecnologia. — Qual foi a mensagem exatamente? — Perguntou ele em voz baixa.
— Ele disse para lhe dizer que encontrou alguém que lembrou de ver a garota que você estava procurando e que ela saiu com Jozef.
— Filho da puta. — Raj falou abruptamente. Tudo fazia sentido agora. Krystof não estava participando do jogo. O bastardo estúpido realmente não sabia o que estava acontecendo bem debaixo do seu nariz. E isso explicava por que o chefe de segurança não tinha estado aqui para defender o seu mestre. Mas Jozef realmente acreditava que ele poderia derrotar Raj? Ele havia pensado que Raj estaria tão enfraquecido pela batalha com Krystof que ele seria facilmente derrotado? — Emelie, — disse ele.
— Já trabalhando nisso, meu senhor, — respondeu ela, ocupada com os botões do seu Blackberry. — Ele tem uma casa alguns blocos à frente, mas este não pode ser o lugar. É muito pequeno. Maldição.
— Aqui, deixe-me. — Simon pegou o seu próprio dispositivo. — Aqui está. Há uma casa em Clarence, tem três hectares. A casa está no nome de solteira de sua esposa. Tem que ser isso. — Ele gesticulou para Em. — Estou enviando o endereço para você.
— Devemos ligar primeiro? — Em perguntou. — Verificar se…
Raj levantou uma mão. — Ele está lá, — ele rosnou. Eles tinham esquecido. Ele próprio havia se esquecido com toda a correria. Ele era agora o Senhor do Território do Nordeste e seu poder havia crescido exponencialmente com o pressuposto desse manto. Assim como ele fornecia vida e proteção para seus vampiros, eles lhe emprestavam uma reserva de poder que ele poderia usar à vontade. Ele sabia onde estava Jozef, e ele sabia que Sarah estava com ele. O vínculo de sangue de Raj com ela havia sido intensificado até que ele podia senti-la em sua cabeça, assim como ele podia sentir todos os vampiros no território. Incluindo Jozef. Ele poderia estender a mão e acabar com a vida Jozef apenas com um pensamento. Mas qual seria a graça disso?
— Emelie.
— Meu senhor?
— Deixe um reserva aqui para limpar essa bagunça e para eliminar qualquer um que tente tirar proveito da situação. Você vai comigo.
Capítulo 47
Algo estava acontecendo. Sarah virou-se na desconfortável mesa de exame em que eles a tinham algemado e viu aquela cadela Edwards correndo ao redor do laboratório como um de seus ratos. Ela estava fazendo o backup dos arquivos do computador como uma louca enquanto agarrava cada pedaço de papel que conseguia colocar nas mãos e jogava tudo em caixas. Como se isso fosse enganar alguém. Ela tinha um laboratório todo equipado aqui embaixo. Será que ela achava que ninguém notaria? Que ela realmente se safaria dessa? A estúpida mulher passou meses trabalhando com vampiros e ela ainda pensava que poderia se esconder deles? Sua vida não valeria dois centavos se ela tornasse público algum destes materiais.
— Eles vão matar você, você sabe, — Sarah disse em modo de conversação. Edwards ignorou-a, sentado em seu computador e alternando os drives. Claramente havia uma grande quantidade de dados. Sarah se perguntou por quanto tempo este projeto vinha acontecendo. Mais do que qualquer um suspeitava, isso era certo. — Eles vão caçar e matar você. Provavelmente de modo doloroso, — ela acrescentou.
— Cale a boca, sua puta estúpida!
Sarah sorriu. A boa doutora estava soando um pouco esganiçada. Ela esperava que a ajuda estivesse a caminho porque tinha a sensação que esses caras não iriam deixar qualquer testemunha para trás.
As janelas do porão sacudiram com o que parecia ser um comboio inteiro de caminhões chegando, seguido pelo som de várias vozes. Ela olhou para cima automaticamente, mas não conseguiu ver nada. As malditas janelas estavam completamente fechadas e escurecidas. Mas isso não impediu Edwards de olhar para elas em estado de choque, apenas um pouco antes dela começar a arrancar os cabos fora da parte traseira do seu CPU. — Foda-se, — a mulher xingou sob sua respiração. — Vou só pegar todo o maldito…
O que quer que ela ia dizer em seguida foi perdido quando uma onda de poder pegou a casa e sacudiu-a como se fosse um cofrinho de criança, quebrando as janelas enegrecidas do porão e enviando cacos de vidro para todo o lado. Edwards deu um grito de pânico e foi para debaixo da sua mesa, braços cobrindo a cabeça. Quando ela finalmente olhou para cima, seu rosto estava pálido e os olhos arregalados, o que disse a Sarah que ela estava cheia de medo. Sarah apenas sorriu. — Meu namorado voltou.
Raj olhou em volta quando deslizou para fora do banco de trás do SUV. Ele queria dirigir, mas Em tinha o colocado no banco de trás do grande carro, resmungando alguma coisa sobre como era melhor ele se acostumar com isso. Com isso e muito mais, aparentemente. Quando ele começou a subir a calçada em direção ao colonial de dois andares onde Jozef havia montado o seu pequeno projeto, ele foi cercado por um cordão de segurança que rivalizava com o de qualquer líder mundial. Ele suspirou, imaginando se algum dia voltaria a conduzir o seu BMW novo.
— Em. — Ela olhou-o de sua posição no seu ombro esquerdo. — Irei em… — Ele parou no meio da frase assim que ela lhe deu um olhar sujo. — Tenho que fazer isso. — ele disse pacientemente.
A boca dela se apertou em irritação. — Pelo menos nos deixe ir à frente para podermos verificar se há algum tipo de armadilha. O Jozef deve saber que ele não tem nenhuma chance em uma luta frente a frente.
Raj sorriu, divertido com a avaliação dela de Jozef. Sua atenção foi atraída para a casa de repente e seu sorriso sumiu. A porta da frente se abriu e Jozef estava lá, ladeado por Serge e Charles, que aparentemente não estavam sendo mantidos contra suas vontades. Ele não podia deixar de imaginar se Nina havia percebido que Serge não tinha sido raptado, mas a tinha abandonado ao seu próprio destino. Não que o desgraçado viveria o suficiente para qualquer um se preocupar com isso.
— Mexam-se. — disse Raj. Seu cordão vampírico se dividiu, e ele avançou até que apenas uns poucos metros o separavam de Jozef e seus lacaios.
Raj rosnou. — Onde ela está, Jozef? Quero Sarah aqui agora.
— Não lhe dês ouvidos, Joey! — Ouviu-se a voz estridente da esposa de Jozef um pouco antes dela caminhar em torno dos vampiros e sair para a varanda. O seu pequeno rosto estava deformado pela indignação, seus cabelos crespos apontando para todos os lados, parecendo alguém que tinha sido recentemente eletrocutado. Ela deu um passo para a beira da pequena varanda e gritou para ele, saliva voando. — Quem diabos você pensa que é para vir aqui e dizer ao meu Joey o que fazer? Você foi aquele que aguentou aquele velho louco todos estes anos, curvando-se e rastejando-se e não recebendo nada além de sobras? — Ela exigiu. — Não foi você, não foi o grande Raj. Você voou para a cidade grande, o grande homem de Manhattan. Bem, não mais. Meu Joey está tomando isso aqui e nós vamos dizer o que acontece, não você!
Raj ficou sem palavras por três segundos, e então ele riu. — Você está brincando comigo, Jozef? Você deixou esta cadela humana te convencer a fazer isso? Será que ela não entende nada? Você não entende porra nenhuma? — Sua voz aumentou, ficando cada vez mais alta e mais furiosa com cada palavra. — COLOQUE-SE SOBRE OS SEUS MALDITOS JOELHOS, AGORA! — Ele rugiu.
Seu comando atingiu a casa como uma onda, uma explosão de força letal que quebrou todas as janelas e mandou uma chuva de vidro para baixo na escuridão. Os três vampiros rebeldes foram esmagados pelo poder do comando de Raj, ficando em seus joelhos, onde se encolheram para longe da raiva que estava estampada no rosto de Raj. Jozef se atreveu a levantar a cabeça, mas mesmo ele só podia olhar de boca aberta em choque.
— Você acha que Krystof me deu Manhattan porque ele gostava de mim, Jozef? — Raj exigiu com uma voz áspera e baixa. — Você de todas as pessoas deveria ter entendido os motivos dele. — Ele caminhou para a frente, andando para a varanda e olhando o trio derrotado com nojo absoluto. — Você realmente achou que poderia escapar? Você é tão fodidamente idiota?
Com um grito estridente, Célia lançou-se nas suas costas, os dentes arreganhados, as unhas vermelhas curvadas como garras. Raj não se incomodou em virar-se, repelindo-a com um murro de poder que atingiu-a como um golpe invisível, atirando-a fora da varanda para se deitar no chão coberto de vidro como um inseto derrotado.
— Celia! — Jozef resmungou e teria ido até ela, mas Raj o deteve com um olhar frio.
— Não se preocupe, Jozef. Ela ainda não está morta. — A cabeça de Jozef virou, os olhos cheios de medo.
— Não foi culpa dela, Ra… Quero dizer, meu senhor. Por favor, deixe-a viver. — Raj olhou para o grande vampiro, seu lábio curvado com desdém, mas tudo o que ele disse foi: — A vida dela está ligada à sua. — Ele estendeu a mão e Emelie colocou uma lisa estaca de madeira na sua palma. Ele curvou os dedos em torno do seu eixo e disse agradavelmente. — Vá para o inferno, Jozef.
Jozef encontrou algum último resquício de orgulho e rosnou: — Te vejo lá, seu bastardo.
Raj sorriu, assentiu com a cabeça e disse: — Talvez você veja. — Ele balançou o braço para baixo em uma curva suave, empurrando tão duro e profundo que o punho bateu no peito espesso do vampiro com um baque sonoro. Jozef caiu para trás com um suspiro, um olhar de descrença piscou brevemente em seu rosto antes que ele se transformasse numa nuvem de poeira. Raj ouviu um longo suspiro ser exalado atrás dele quando Celia morreu junto com seu companheiro, suas vidas demasiado atadas pelo vínculo de acasalamento para que ela sobrevivesse a sua morte.
Serge e Charles baixaram suas cabeças , rastejando, implorando por suas vidas, no que eles tinham que saber era um esforço inútil. Ninguém envolvido nesta operação poderia viver. Violava o princípio mais básico dos Vampiros. Raj nem mesmo lhes deu um olhar, passando por cima da pilha de poeira e entrando na casa. Em poderia cuidar desses dois. Ele queria encontrar Sarah.
Capítulo 48
No porão, Sarah assistia com alguma diversão como Estelle Edwards tentava jogar o seu computador em uma caixa estreita. A doutora estava suando baldes e grunhia como um porco devido ao esforço, mas não estava funcionando. Ela finalmente desistiu, deixando a CPU cair desajeitadamente no chão com um estrondo. Ela estava xingando violentamente, usando palavras que Sarah sabia que existiam, mas nunca tinha ouvido antes. Uau.
A porta no final do corredor se abriu com um estrondo, batendo na parede com mais força do que a habitual. Edwards olhou para cima em pânico antes da sua boca se apertar em uma linha sombria de determinação. Esta não era uma mulher que desistia facilmente. Ela puxou as chaves do bolso de seu jaleco branco e rapidamente tirou Sarah da mesa, agarrando um punhado de seus cabelos e arrastando-a para trás através da sala para enfrentar a porta. Sarah tropeçou, seus pés enfaixados lutavam para se libertarem, mas a mulher aumentou seu aperto, trazendo lágrimas aos olhos de Sarah. Parecia que o cabelo dela estava sendo arrancado das raízes.
— Não diga uma palavra, puta! — Edwards sussurrou no ouvido de Sarah, e ela podia sentir a ponta afiada de alguma coisa cutucando as suas costas logo acima do rim.
Ela ouviu passos no corredor, e depois um ruído mais alto quando alguém chutou as portas das três celas. Ela respirou aliviada, sabendo que Trish e as outras tinham sido encontradas a tempo, mas depois exalou rapidamente quando o movimento fez com que a arma de Edward cortasse sua pele, tirando sangue.
O barulho parou de repente e ela ouviu um grunhido familiar que a fez sorrir. Raj estava vindo.
Raj se apressou em direção à última porta do corredor, a única aberta. Ele podia sentir o cheiro do ar noturno que entrava através de uma janela quebrada, mas acima disso ele sentia cheiro de sangue — do sangue de Sarah. Emelie teria corrido em torno dele, mas ele segurou-a com um comando forte, entrando pela porta para encontrar ninguém menos do que Estelle Edwards, e à frente dela, com a cabeça mantida em um ângulo doloroso, estava a sua Sarah.
Raj deixou seu olhar vagar sobre o corpo da sua amante, observando o hematoma escuro num lado de seu rosto, o inchaço púrpura dos tornozelos nus onde alguém tinha amarrado os pés com uns laços de plástico tão apertados que ela mal conseguia ficar de pé. Ele catalogou os ferimentos, calculando o dano que iria infligir na humana antes que a matasse. Ele olhou para cima e encontrou os olhos de Sarah, vendo um flash desafiador de raiva apesar de sua situação. Ele sorriu e disse gentilmente: — Sarah.
— Hey, Raj. — Ela lhe deu um sorriso. — Meio que… — Ela gritou quando Edwards a puxou para trás e Raj sentiu o cheiro de sangue fresco. A mulher tinha uma faca. E ela estava cortando Sarah com ela.
Sua raiva era tão grande, era quase paralisante. Ele rosnou alto, abrindo a boca e expondo as suas presas. — Emelie.
Emelie apareceu ao lado dele. — Sim, meu senhor.
Edwards endureceu, e disse: — Deixa-me sair daqui, ou mato…
Isso foi o que ela conseguiu dizer antes de tudo mudar. Com movimentos rápidos demais para o olho humano ver, muito menos responder, Raj atravessou a sala e girou Sarah para longe de Edwards, jogando a médica em direção a Emelie que a agarrou e quebrou o pulso como um incentivo para ela largar a arma. A atenção de Raj foi toda para Sarah, levantando-a e sentando-a com segurança na mesa de exame antes de girar para enfrentar a mulher humana que estava gritando de dor, segurando o seu braço quebrado.
Ele cruzou a pequena sala num passo longo e envolveu seus dedos em torno da garganta dela, cortando o ruído. — Conheci o seu marido, o Dr. Edwards. — ele disse baixinho. Os olhos dela arregalaram e seu rosto começou a ficar roxo enquanto ela lutava por ar, agarrando os dedos dele com a única mão funcional. — Ele merece mais. — disse Raj. Ele jogou Edwards no chão e Cervantes estava lá, jogando o corpo inerte sobre seu ombro. Ele saiu da sala rapidamente, seus passos soando pelo corredor e nas escadas.
Raj se voltou para Sarah, que olhou para cima enquanto ele se aproximava, os olhos cheios de preocupação, assim como alívio. Emelie estava agachada em frente a ela, cuidadosamente cortando os laços de plástico que estavam enterrados na carne dos tornozelos inchados. Raj encontrou os olhos de Sarah e sorriu tristemente. Ela tinha o direito de estar preocupada. Tão aliviado quanto ele estava por encontrá-la viva e razoavelmente bem, ele estava furioso por ela se ter colocado nesta posição em primeiro lugar.
Ele pegou as suas mãos atadas e tirou as algemas de metal, jogando-os pela sala. Seus olhos se encheram de lágrimas e ela esfregou os pulsos com cuidado, chorando em voz alta quando Em finalmente conseguiu tirar os laços e o sangue voltou para seus pés.
— Emelie. — ele disse baixinho, sem tirar os olhos de Sarah.
Ele sentiu mais do que viu Emelie olhar dele para Sarah e vice-versa, e ouviu-a suspirar. Ela se inclinou para dar um abraço em Sarah, sussurrando, — Falaremos depois.
Raj franziu-lhe o cenho quando ela saiu da sala, e depois transferiu a carranca para Sarah.
— Eu sei. — ela disse numa voz resignada. Ele a pegou e moveu-a mais para trás em cima da mesa, levantando suavemente as pernas uma de cada vez para aliviar a dor, enviando ondas de poder para o tecido inchado dos pés e tornozelos. Teria sido mais rápido se ele compartilhasse sangue com ela, mas ele sabia que ela não iria querer isso.
— Raj. — ela disse em voz baixa. Ele olhou para ela. — Você está chateado?
Ele soltou seu pé com cuidado e tomou-a nos braços, segurando-a contra seu peito e sentindo o ruído constante de seu coração sob as costelas. Ele beijou o topo de sua cabeça. — Estou feliz em vê-la viva.
Ela suspirou satisfeita e afundou-se em seu abraço, inclinando-se para a frente para embrulhar os braços ao redor de sua cintura.
— Também estou chateado como o inferno. — ele acrescentou secamente. Os braços dela se apertaram e ela esfregou o rosto contra a frente de seu suéter.
— Sinto muito. — ela disse.
— Tenho certeza que você sente.
Ela deu-lhe um tapa de leve. — Não seja mau. Você sabe o que eu quis dizer.
Ele riu baixinho e segurou-a, sabendo que não poderia durar. Seus inimigos tinham chegado perto de tirar a vida de Sarah. Ele não podia correr esse risco novamente, não podia deixar Sarah pagar por aquilo que ele era. — Temos de tirar você daqui. — ele disse finalmente. — Era esta a localização principal?
— Penso que sim. Edwards vivia aqui e acho que todos os dados foram mantidos aqui. Não sei se ela enviou algo.
— Simon vai cuidar disso. Este lugar, este projeto inteiro, irá desaparecer. Isso nunca aconteceu.
— Eu vou ter de desaparecer de novo também. — ela disse com um suspiro cansado.
Raj suspirou e se afastou. — Simon pode ajudá-la. — ele disse. — Tudo o que você precisar, você pode pedir a ele ou a Emelie. Eles vão dar-lhe uma nova identidade, transporte… o que é necessário.
Sarah olhou-o e ele podia ver confusão e dor no seu rosto. — Raj?
— Eu não posso ficar, Sarah, e não posso levá-la comigo. Eu tenho… responsabilidades. Coisas que preciso fazer agora que… — Ele parou. Ela não tinha necessidade de ouvir cada detalhe amargo de sua nova vida como lorde vampiro. Levaria meses para ele ter o território sob controle. Meses que ele passaria a viajar, encontrando e combatendo desafio após desafio, destruindo aqueles que tinham ficado independentes demais sob o governo de Krystof para aceitar um novo senhor, arrebanhando aqueles que precisavam de ajuda, fosse por negligência ou simplesmente pelo trauma da transição. Meses de trabalho, esgotamento brutal seguido de uma longa, longa vida de regras. Era um fardo que ele nunca tinha pedido, mas era o seu fardo, não de Sarah. Ela merecia melhor.
Ele pegou o rosto dela em suas mãos, passando o dedo sobre os lábios macios, beijando-a ternamente na têmpora inchada que tinha uma contusão feia. Ela fechou os olhos cheios de lágrimas quando ele se inclinou para beijá-la uma última vez, demorando-se para saborear a doçura de sua boca. — Mandarei Emelie voltar. — Ele saiu antes que ela pudesse abrir os olhos, antes que ele pudesse ver a dor que tinha acabado de colocar lá.
*
Emelie virou a esquina, ainda carrancuda por Raj tê-la mandado embora. Ela pegou o olhar perplexo e ferido de Sarah quando este cruzou com o dela rapidamente, balançando a cabeça em desgosto. Ela fez um som de desaprovação e disse: — Os homens são tão idiotas. Me deixa feliz eu ser lésbica. — Ela olhou Sarah de cima a baixo, franzindo a testa ao ver os seus ferimentos. — Ele não compartilhou sangue com você?
Sarah corou. — Não.
— Bem, o que diabos ele estava fazendo aqui então? Jesus, não posso acreditar…
— Não foi culpa dele. — Sarah insistiu, saltando em defesa de Raj. — Sou eu. Ele tentou, hum, antes e eu não quis, quer dizer, eu não… — Para seu horror, ela começou a chorar.
— Oh, baby,.— Emelie disse. — O que vou fazer com vocês dois agora? — Ela segurou Sarah, deixando-a chorar fora todo o medo que ela tinha empurrando para trás desde que tinham batido em sua cabeça e a jogado no banco de trás daquele carro, toda a dor de seus miseráveis pés doloridos e braços, o latejar em sua cabeça. E acima de tudo a dor em seu coração com o pensamento de nunca mais ver Raj novamente.
— Melhor agora? — Emelie perguntou.
Sarah assentiu, pegando um lenço de papel do suporte que estava perto. Ela assoou o nariz e jogou o lenço usado no lixo. — Desculpa.
— Tudo bem. Estou acostumada a isso. Raj tem esse efeito em muitas pessoas.
Sarah riu e sentiu seus olhos se enchem de lágrimas frescas. Ela olhou as suas mãos para que Emelie não notasse e viu o contorno borrado de um cartão branco. Ela franziu a testa e olhou para Em.
— Dê-lhe um par de meses. — Em disse pacientemente. — Vai ser difícil por um tempo, mas depois disso… — Ela acenou para o cartão, que Sarah viu que tinha o nome e telefone celular de Em impresso nele. Em encontrou os olhos dela, dando-lhe um olhar firme e significativo. — Confie em mim nisso, baby.
Sarah apertou o cartão e acenou com a cabeça. — Ok.
— Certo. — Em afirmou. — Agora, vamos te tirar daqui. Os caras vão explodir este lugar, e então teremos Simon começando a trabalhar no seu pequeno problema. Ele é um gênio em fazer as pessoas desaparecerem. — Ela sorriu maliciosamente. — De um jeito bom.
Sarah riu e esperava que Em estivesse certa. Sobre Simon e tudo o resto.
Capítulo 49
Nova Iorque, Nova Iorque — Manhattan
Raj estava num dos telhados acima de Manhattan, observando os carros subindo e descendo a rua abaixo, o vermelho e o branco das suas luzes refletindo no asfalto molhado em um borrão de cores. Havia chovido novamente hoje; aquele estava para se tornar um dos meses mais chuvosos da história de Nova Iorque. Mas por agora, a chuva tinha parado. O ar estava quente e abafado, mas muito melhor do que aqueles processos que esperavam por ele lá dentro, junto com mais outra maratona de encontros com vários de seus subordinados.
Se alguém lhe tivesse dito há três meses atrás que a vida de um lorde vampiro era semelhante ao de um executivo, ele teria rido. Oh, ele sabia que havia negócios envolvidos. Afinal, ele havia dirigido vários negócios para Krystof em Manhattan por décadas. Mas aquelas intermináveis conversas sobre cada pequeno detalhe de até mesmo as menores empresas vampiras nos confins de seu território… Cristo, havia horas que tudo que ele queria era correr o mais rápido e o mais distante que ele conseguisse. Encontrar algum paraíso tropical com quentes noites aveludadas e suaves ondas que rebentavam em praias ensolaradas — apenas deixar toda aquela merda para trás e dizer se fodam.
Mas havia tantas almas com que ele se preocupava e que confiavam nele — Emelie e resto de seus filhos. E agora um número aparentemente interminável de outros que ele realmente não dava a mínima, mas que confiavam nele tanto quanto os outros, se não mais.
E além disso, quem iria passar essas noites aveludadas com ele? O paraíso não seria o paraíso se ele estivesse sozinho.
Ele suspirou, movendo-se para longe do parapeito e se virando para olhar os muitos vampiros e vigilantes que dividiam o espaço com ele. Certamente nunca estava sozinho aqui. Não mais. Os olhos dele passaram por sobre a sua equipe de segurança, notando a ausência de Emelie. Em parecia ter notado a sua falta de paciência para encontros e sugeriu que ele a deixasse limpar a sua agenda para o resto da noite. Faltavam apenas algumas horas para o sol nascer, mas ele concordou rapidamente, originalmente pensando em ir a um de seus clubes, porém ele descartou rapidamente a ideia porque apareceriam mais negócios. Sempre havia os clubes humanos que estavam na moda, cheios de pessoas bonitas desesperadas por atenção. Mas isto não o agradou também. Talvez ele devesse apenas passar algumas horas tranquilas em casa — um pouco de vodka gelada, boa música. Ele balançou a cabeça em divertimento. Ele deveria estar ficando velho se esta era a sua ideia de diversão.
Ele se dirigiu à escada que o levaria para baixo até ao último andar do prédio e para seu apartamento de cobertura. Sua equipe de segurança se moveu com ele, antecipando seus movimentos e mandando dois deles à sua frente, enquanto o resto tomava posições ao redor dele. Raj abafou outro suspiro e deixou que eles fizessem o trabalho deles, andando pelo caminho mais curto para descer as escadas, passando pela porta de incêndio e descendo pelo corredor para chegar à porta dupla de seu apartamento.
Eles pararam lá, esperando enquanto ele digitava o seu código de segurança, ocupando posições em cada um dos lados do corredor enquanto ele entrava sozinho no apartamento escuro. Esta foi a única coisa em que ele insistiu, a única coisa que ele e Emelie haviam discutido insistentemente por horas, mesmo ela sabendo que ele iria ganhar no final. Ele não permitia seguranças no interior — esta era a sua casa, o seu santuário pessoal. Era o único lugar onde não havia petições, ninguém o procurando para pedir respostas ou proteção. O único lugar em que ele poderia ficar realmente sozinho.
Só que ele não estava sozinho essa noite.
Ele ouviu primeiro a respiração dela, acelerando para combinar com os seus rápidos batimentos cardíacos. Ela estava de frente para ele, uma das suas mãos tocando as costas de uma cadeira como se isso a ancorasse na sala escura. Ele inalou profundamente, fechando os olhos quando tudo voltou para ele, a sensação dela embaixo dele, em torno dele, os pequenos gritos de prazer que ela dava quando se vinha uma e outra vez até estar flácida nos braços dele, a sua pele pálida úmida de suor. Com um pensamento ele fez com que as chamas das velas se acendessem por todo o quarto, elas eram mais acolhedoras do que as ásperas e artificiais luzes da era moderna.
Os olhos dela arregalaram, os salpicos dourados deles ecoando nas chamas. Finalmente ela olhou para ele, levantando o queixo desafiadoramente, como se ela esperasse alguma argumentação. Ele sorriu. Ela não conseguiria nenhum argumento dele, não hoje à noite.
— Sarah.
— Raj? — A voz dela vacilou e ele viu o brilho de lágrimas naqueles olhos.
— Venha aqui, pequena.
Ela correu pela sala. Ele tinha a intenção de deixá-la vir até ele, mas sua vontade falhou, sua necessidade de tocá-la era muito forte, e o coração dele muito fraco. Ele a encontrou no meio do caminho, pegando-a quando ela pulou nos braços dele, segurando-a facilmente enquanto as suas bocas se encontravam pela primeira vez no que parecia ser séculos. Ele a esmagou contra seu peito, o beijo começou difícil, um choque de dentes e línguas, como se o tempo fosse limitado e eles precisassem saborear o outro tanto quanto fosse possível no pequeno tempo dado a eles. Ela estava sussurrando o nome dele de novo e de novo, lágrimas rolando por seu rosto. Ele sentiu a salinidade delas e a segurou mais perto, a carregando para o quarto dele, chutando a porta e deitando os dois na enorme cama onde ele dormia sozinho e faminto por demasiados meses.
A mente dele zumbia com questões. Como ela havia chegado aqui? Onde ela havia estado?, mas o corpo dele tinha seus próprios planos. Ele podia sentir as suas presas pressionando contra sua gengiva, seu pênis lutando contra o confinamento das calças do terno que ele havia usado na sua última reunião toda uma vida atrás. Ele se afastou um pouco e olhou para ela, passando um dedo pela borda das suas pálidas sobrancelhas, pelas suas suaves bochechas e pelos seus lábios. Ela colocou o dedo dele dentro de sua pequena e quente boca e ele riu. — Faminta, querida?
— Esfomeada — ela disse fervorosamente, colocando os braços em volta do pescoço dele — Você está usando um terno.
Ele olhou para si mesmo. — É, eu estou.
— Acho que você deveria tirá-lo. — ela disse — Agora.
— Quanta pressa. Talvez nós devêssemos ir mais devagar…
Os hábeis dedos dela deslizaram entre os seus corpos para apertar a ereção dele através das suas calças, e ele gemeu, jogando a cabeça para trás com um prazer tão grande que ele queria uivar. Ele abaixou a cabeça e deu a ela um olhar suave. — Cuidado, pequena — ele rosnou. — Faz tanto tempo.
Ela encontrou seu olhar. — Eu senti sua falta, Raj. Eu senti tanto a sua falta.
O coração dele apertou com uma emoção estranha e ele tirou a mão do pescoço dela, deslizando pela seda branca da sua blusa, desabotoando os botões até descobrir o vale entre os seios dela. — Eu também senti sua falta, Sarah. — Ele abaixou a cabeça e beijou-a suavemente, saboreando a doçura da boca dela, a sua língua explorando, relembrando. Ela fez um pequeno e ansioso barulho e seu pênis pulsou em resposta. Ele gemeu, expondo suas presas ao beijo deles, sentindo a língua dela ao redor delas até que ela fez um pequeno corte e o seu sangue quente fluiu para a boca dele. O gosto levou-o além do limite.
Ele rasgou o resto da blusa, revelando os seios fartos mal disfarçados por um sutiã de espuma e rendas. Ele tirou isso do caminho também, sugando duramente os mamilos dela, explorando cada um com sua língua até eles ficarem ávidos e eretos, duas lindas pérolas rosas brilhando molhadas à luz das velas. Ele renovou seu ataque, raspando os seios sensíveis dela com as suas presas e lambendo o pequeno fluxo de sangue enquanto ela gritava e enterrava as mão no cabelo dele para o trazer mais para perto, arqueando as costas contra a boca dele.
Raj moveu o corpo dela para baixo, ignorando seus protestos de que ele havia deixado os seus seios nus ao ar frio do quarto. Ela estava usando uma saia pequena e apertada. Ele não se incomodou com o zíper, simplesmente levantou a saia até esta se enrolar à volta da cintura dela. Ele deixou uma trilha de beijos em seu abdômen, esfregando o queixo contra a pele macia da barriga dela, arrancando a frágil calcinha de renda para longe do pequeno monte quando ela impediu que ele continuasse a sua exploração. Sarah grunhiu suavemente, abrindo suas pernas em convite e fazendo com que o doce aroma de sua excitação o atormentasse.
Ele passou suas grandes mãos pelas coxas dela, abrindo mais suas pernas, baixando a boca até as suas dobras sedosas e as abrindo com a língua. Ele encontrou seu pequeno e duro clitóris e passou a língua sobre ele. Ela gritou, puxando o cabelo dele freneticamente, implorando: — Por favor, Raj, Por favor.
Ele não sabia pelo que ela estava implorando, mas sabia o que ele queria. Ele chupou o clitóris com avidez enquanto mantinha as mãos nos mamilos dela, estimulando sua pequena e quente protuberância até que ela estava gritando, até que ele pôde sentir aquela parte dela apertar sob sua boca e ela gozar. Ele sorriu e lambeu todo o suco lenta e calmamente enquanto ela gemia desesperadamente. — Raj. Querido, meu lorde, mestre, qualquer coisa que você queira. Apenas me foda, por favor, por favor.
Raj riu com pura satisfação masculina. Ele colocou-se de pé em frente à cama e tirou o terno, observando avidamente como ela se contorcia diante de seu olhar, seus pequenos dedos deslizando entre as coxas e esfregando freneticamente, tentando apegar o inextinguível desejo que queimava lá. Ele tirou a sua roupa interior e ficou de joelhos na cama, olhando o delicioso corpo dela, os seios fartos e doloridos, as pálidas auréolas rosas com seus mamilos profundamente rosados implorando por sua boca. O olhar dele foi mais para baixo, passando pela saia ainda enrolada na cintura dela e indo para seu pequeno centro quente, todo molhado e pronto para ele. Ele rosnou baixo em seu peito e os olhos dela ficaram maiores, observando o seu corpo de cima a baixo, fixando-se em seu pênis. A língua cor de rosa dela surgiu, molhando os lábios ansiosamente. Ela levantou os olhos para encontrar os dele e sem desviar o olhar deliberadamente abriu ainda mais as suas pernas.
Ele mostrou suas presas num sorriso e caiu na cama entre as coxas dela, empurrando o seu comprimento total profundamente dentro de sua apertada vagina com golpes longos e lentos. Sarah gritou silenciosamente, envolvendo as pernas ao redor dos seus quadris e o segurando mais próximo, fincando as unhas nas costas dele até que ele sentiu o quente gotejar de sangue sobre suas costelas. Ele se moveu para dentro e para fora, ansioso para sentir o clímax dela em torno dele, pela sua própria libertação. Fazia muito tempo. Ele esperou até ela começar a tremer embaixo dele, até o corpo dela começar a pressionar o seu pênis, persuadindo-o a libertar a sua semente. Ele colocou a boca no pescoço dela, esfregando todo o comprimento de suas presas ao longo de sua pele suada, antes de levantar a cabeça ligeiramente e afundar suas presas no fluxo delicioso do sangue dela.
Ela veio imediatamente, gritando, suas pernas quase tendo espasmos nas costas dele, erguendo-se ainda mais para o seu pênis quando ele se juntou a ela em uma ardente e incontrolável queda livre de puro êxtase.
Ele desabou sobre ela, movendo-se para o lado no último minuto para evitar esmagá-la. O movimento ameaçou fazer com que seu pênis pulsante deslizasse para fora da sua quente e apetada bainha, mas ela reagiu rapidamente, colocando as pernas em tesoura de lado para segurá-lo dentro dela. Ele riu suavemente e segurou o seu quadril, puxando-a mais firmemente para a curva do seu corpo. Ele lambeu o pescoço dela preguiçosamente, selando o ferimento, saboreando o delicioso sabor do seu sangue, um sabor que era único, o sabor da sua Sarah.
— Você tem um gosto bom. — ele murmurou, um som rouco que veio do fundo do peito dele.
Ela estremeceu e passou as mãos pelas costas dele ao longo das costelas, onde ela havia aberto um ferimento com as unhas. Levantando os dedos agora vermelhos com o sangue dele para a boca, ela os chupou até os deixar limpos, e lambeu os lábios como se estivesse saboreando o mais doce mel, disse: — Você também.
Raj ficou imóvel. — Sarah. — ele disse cuidadosamente — Se você…
— Eu sei. — ela disse com firmeza — Sou sua por quanto tempo você me quiser.
— Será um tempo muito longo, — ele disse, beijando a boca dela gentilmente. — Muito… — Ele a beijou de novo. — …muito longo.
Ela colocou os braços ao redor do pescoço dele e encontrou o seu olhar. — Ok. Mas nada dessa merda de acasalamento de vampiro. Não sou um gorila. Eu quero um casamento.
Ele grunhiu e rolou sua cabeça para trás em protesto, mas depois ele baixou o olhar para o dela novamente e sorriu. — Terá de ser um casamento noturno.
Sarah riu. — Eu te amo, Rajmund.
— Sim, você ama. — Ele disse presunçosamente. Ela olhou-o até ele ceder e admitir. — Eu também amo você.
Ele a beijou vagarosamente, saboreando o conhecimento de que ela era sua. — Eu só tenho uma pergunta. — ele disse por fim. Os olhos dela se arregalaram. — Há quanto tempo você e Emelie andam conspirando contra mim?
Sarah riu e começou a se mexer contra ele. — Isso… — Ela arqueou as costas, deslizando-se em seu pênis endurecido. — … não é o importante, meu lorde. Penso que preciso refrescar um pouco a sua memória.
Raj grunhiu, rolando-os e forçando-a para baixo na cama, fazendo com que ele entrasse mais fundo nela. — Vejo que preciso te ensinar o seu lugar, pequena. E esse seria embaixo do seu mestre.
Sarah colocou os braços à volta do pescoço dele e sussurrou-lhe: — Eu te amo, mestre.
Raj sorriu quando o seu telefone tocou. Ele estendeu-se para conseguir tirar o seu celular do bolço da calça que estava jogada no chão. Ele verificou o visor. — Emelie. — ele respondeu, sem esperar que ela dissesse qualquer cosa. — Limpe minha agenda para os próximos três dias. — Os olhos de Sarah arregalaram quando ele começou a se mover lentamente para dentro e para fora dela. — E, Em? Obrigado.
Epílogo
Malibu, Califórnia
Cyn se inclinou para frente, sorrindo ao ler o último e-mail de Sarah. Perturbou-a saber que Sarah e Raj tinham ficado juntos. E, ao mesmo tempo, ela estava feliz por ter uma amiga que verdadeiramente entendia o que significava ser acasalada com um vampiro. Ou prestes a ser casada, no caso de Sarah. Cyn franziu os lábios pensativa, tentando descobrir a melhor maneira de convencer Raphael de que eles deveriam ir ao casamento. Os vampiros eram tão malditamente irritadiços uns com os outros, especialmente agora que Raj tinha assumido o território do seu Criador.
Ela se afastou do computador e pegou uma garrafa de água, inclinando a cabeça para trás e bebendo profundamente. Sem ar fresco, a toca subterrânea de Raphael tendia a ser fria e um pouco seca. Ainda assim, ela preferia trabalhar aqui durante o dia, enquanto ele dormia do outro lado do quarto. Ela normalmente dormia com ele nas primeiras horas, e depois trabalhava por algum tempo, finalmente terminando de volta na cama com ele antes de anoitecer. Ele gostava de tê-la lá quando acordava, e ela também não se importava, uma vez que…
Ela congelou, afastando a garrafa lentamente de sua boca e pousando-a cegamente na área de trabalho ao mesmo tempo que se virava para olhar as sombras profundas sobre a cama. Ela tinha ouvido… Sua mente se apressou a tentar recriar o som preciso e não conseguiu fazê-lo. Não devia haver qualquer barulho. Raphael sempre dormia perfeitamente imóvel. Ela se levantou e andou até a cama, sua respiração presa na garganta quando ouviu algo de novo, mas desta vez… Aquilo era um gemido?
— Raphael? — Sua voz falhou com a tensão, o coração dela batendo ferozmente dentro do peito. Ele gemeu mais alto, um som de tal angústia e dor que ela se jogou em cima da cama em pânico, rastejando para ele, estendendo a mão às cegas na escuridão para tocar seu rosto. Seus pulmões apertaram com medo e ela rastejou de volta para a lâmpada de cabeceira, acendendo-a o mais possível, antes de girar para examinar o seu rosto na luz. Ele estava coberto de sangue.
Cyn gritou. — Raphael!
D. B. Reynolds Aden
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